Seminário: Retórica e Imagem Publicitária Retórica e Imagem
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Seminário: Retórica e Imagem Publicitária Retórica e Imagem
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO DEPARTAMENTO DE ARTES E DESIGN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN TRABALHO DE ART2235 O LUGAR DO NARRATIVO NA MÍDIA VISUAL PROFESSOR LUIZ ANTONIO LUZIO COELHO, PHD. :::::::::: :::::::::: Seminário: Retórica e Imagem Publicitária (Durand in Metz, 1974) :::::::::: :::::::::: ALUNO LICINIO NASCIMENTO DE ALMEIDA JUNIOR, MSC. 2005.1 Seminário: Retórica e Imagem Publicitária DURAND, Jacques. Retórica e Imagem Publicitária. In: METZ, Christian. A Análise das Imagens. Petrópolis: Vozes, 1974. Resumo O presente trabalho é produto do seminário apresentado, em maio de 2005, no curso “O Lugar do Narrativo na Mídia Visual” (ART2235), sobre a obra de Jacques Durand, “Retórica e Imagem Publicitária”. São apresentados os conceitos das figuras de retórica, delineados por Durand, além de uma análise desses conceitos e uma abordagem sobre o uso do discurso narrativo na linguagem publicitária. Sumário 1. Introdução – página 3 2. Princípios de classificação das figuras – página 5 2.1. Operações retóricas – página 6 2.2. Relações – página 7 2.3. Quadro de classificação das figuras de retórica – página 8 2.4. Figuras de retórica analisadas por Durand – página 8 3. As figuras ao nível dos conjuntos dos anúncios – página 57 4. Sobre o discurso narrativo – página 58 5. A narrativa nos anúncios publicitários – página 59 6. Considerações finais – página 63 7. Referências bibliográficas – página 65 2 1. Introdução Jacques Durand, em seu texto “Retórica e Imagem Publicitária”, analisa a retórica como um instrumento que interfere e constrói o discurso das imagens publicitárias. Para o autor, a retórica, abandonada pelo ensino oficial e pela “literatura superior”, encontrou seu refúgio na publicidade. A retórica pode ser definida, ao menos sumariamente, como ‘a arte da palavra artificial’. Em literatura, após o romantismo, predomina o culto do ‘natural’ e da ‘sinceridade’. A publicidade se apresenta, ao contrário, como artifício, exagero voluntário, esquematismo rígido. Ela divulga suas convenções e o público entra no jogo, discernindo claramente o que é verdade e o que é artifício” (Durand, in Metz, 1974:19). Durand descreve que uma primeira análise de imagem publicitária, por meio de conceitos retóricos, foi proposta por Roland Barthes. A análise profunda de um anúncio originou ao estudo de uma retórica da imagem. Para Barthes, esta retórica não podia ser constituída senão a partir de um inventário bastante amplo, em que se previa, desde então, que se encontrariam algumas das figuras já descobertas pelos Antigos e pelos Clássicos. Esse inventário foi aplicado a milhares de outros anúncios e permitiu encontrar na imagem publicitária, “não algumas, mas todas as figuras clássicas da retórica” (ibid., p.20). Nesse sentido, segundo Durand, evidenciou-se que grande parte das “idéias criativas” dos “melhores anúncios pode ser interpretada como a transposição (consciente ou não) das figuras clássicas” (ibid.). O que a retórica pode trazer à publicidade é antes de tudo um método de criação. Na criação publicitária reina atualmente o mito da ‘inspiração’, da ‘idéia’. De fato, as idéias mais originais, os anúncios mais audaciosos aparecem como transposição de figuras de retórica repertoriadas desde muitos séculos. Isto se explica por que a retórica é em suma o repertório das diferentes maneiras pelas quais se pode ser ‘original’1” (ibid., p.53). De acordo com a abordagem levantada, o autor expõe, primeiramente, que, seguindo a tradição antiga, a retórica coloca em jogo dois tipos de linguagem: a própria e a figurada.2 Sendo que a figura é um tipo de operação que faz passar de um nível de linguagem a outro, ou seja, o que é dito de maneira “figurada”, poderia ser transmitido de forma direta, mais 1 “Quase todas as figuras de retórica podem nos fornecer pistas para idéias novas”. OSBORN, L’imagination constructive, Dunod. 1959, p. 262 (apud. Durand, in Metz, 1974:53). 2 “Linguagem figurada liga-se estreitamente às noções de conotação. Uma idéia pode ser expressa em linguagem usual, referencial ou apresentar-se envolta em sentidos figurados, conotativos. (...) Na retórica clássica, havia a idéia de que todo texto, ou todo enunciado poderia ser ‘traduzido’ para a linguagem comum, pois só há figura quando houver possibilidade de substituir o termo ausente pelo presente. (...) As causas geradoras da linguagem figurada são a imaginação, o intelecto ou a paixão. Tais causas pressupõem como efeitos de nobreza e dignidade; concisão e energia; claridade e força; interesse e encanto. Muitas vezes, as palavras devem assumir sentido figurado para expressar de maneira eficaz sentimentos e idéias e, para isso, valem-se das imagens” (Andrade e Medeiros, 2001:281-282). 3 simples, mais neutra. Em seguida, Durand (op. cit., p.21) lança alguns questionamentos que justificam e sustentam seu estudo: O que há na proposição figurada que não existe na proposição simples3? Que é que, na proposição figurada, adverte o ouvinte de que ela não deve ser tomada ao pé da letra? E se o ouvinte restitui a proposição simples, o que terá recebido além do que teria se lhe houvesse sido comunicada uma proposição simples. Pois, se se quer dar entender uma coisa, por que dizer outra coisa?. Durand explica e conclui resumidamente que estamos na presença de duas proposições: uma é real mas não tem sentido, ou não tem “o” sentido, que no caso é a linguagem própria (denotativa), e a outra tem um sentido, mas não existe, que é a linguagem figurada (conotativa, fantasiosa). Sendo assim, toda figura de retórica pode, para Durand, ser analisada na transgressão artificial de uma norma. Conforme o caso, tratar-se-á das normas da língua, da moral, da sociedade, da lógica, do mundo físico, da realidade, etc. Compreendem-se assim as liberdades que a publicidade toma como a ortografia, com a gramática, o emprego intensivo que faz do humor, do erotismo, do fantástico – e, ao mesmo tempo, quão pouco leva a sério suas transgressões: estas liberdades, que tanto irritam as pessoas, não são duplicidade ou indigência do pensamento, mas sim um exercício de retórica” (Durand, in Metz, 1974:22). Percebe-se, então, que é na publicidade que a retórica encontra um vasto campo para a transgressão das normas da linguagem. E essa transgressão é colocada pelo autor como uma forma de liberdade estilística, caracterizada pelo exercício da retórica, pois, de acordo com Durand, é através desse exercício que se chega às idéias criativas, originais, que são inerentes ao discurso publicitário. Jacques Durand salienta, ainda, que em literatura, as normas contestadas são essencialmente as do bom falar, enquanto que na imagem, as normas são, sobretudo, “as da realidade física, tais como são transmitidas pela representação fotográfica” (Ibid., p.22). Com isso, a imagem sob a influência da retórica, em sua leitura imediata, liga-se ao sonho, ao fantástico, às alucinações: “a metáfora se torna metamorfose, a repetição desdobramento, a hipérbole gigantismo, a elipse levitação, etc” (Ibid). Considerando os aspectos já relatados, o autor descreve e classifica várias formas de interpretação da imagem publicitária embasadas nos conceitos da retórica. 3 Proposição simples é “a proposição mais provável dado o contexto” (Durand, in Metz, 1974:20). 4 2. Princípios de classificação das figuras Para iniciar a classificação, Jacques Durand toma Roland Barthes como referência. Barthes propôs duas grandes famílias para classificar as figuras de retórica: metáboles4 e parataxes5. FAMÍLIAS Metáboles Parataxes • Jogam com a substituição de um significante por outro. Situam-se ao nível do paradigma6. • Modificam as relações normalmente existentes entre signos sucessivos. Situam-se ao nível do sintagma7. • Jogo de palavras, metáforas, metonímias, etc. • Anáfora8, elipse, suspensão, anacoluto, etc. Conclui-se que nas metáboles predominam as comparações e as substituições de elementos da mensagem envolvidos por alguma similaridade (ou jogo de palavras) – é a substituição de um significante por outro. Enquanto que nas paradaxes ocorrem “quebras” no discurso; omissão de elementos da mensagem que, mesmo assim, constroem uma comunicação com sentido; além de seqüências desconexas na mensagem – modificando as relações entre os signos sucessivos. A classificação utilizada por Durand também se refere aos mesmos conceitos de paradigma e sintagma. Contudo, “sendo a figura de retórica definida como uma operação que, 4 Metábole: “s.f. 1 RET figura que se resume na repetição de uma idéia por meio de palavras diferentes 2 RET figura que consiste na repetição de palavras já ditas, alterando-lhes a ordem (...)” (Houaiss e Villar, 2001:1906). 5 Parataxe: “s.f. (...) 1 GRAM LING num enunciado, seqüência de frases justapostas, sem conjunção coordenativa (...)” (Houaiss e Villar, 2001:2131). 6 Paradigma: “s.m. (...) LING. EST conjunto dos termos substituíveis entre si numa mesma posição da estrutura a que pertencem (...)” (Houaiss e Villar, 2001:2127). 7 Sintagma: “s.m. (...) LING unidade da análise sintática composta de um núcleo (p.ex. um verbo, um nome, um adjetivo etc.) e de outros termos que a ele se unem, formando uma locução que entrará na formação da oração (...) combinação de morfemas ou de palavras que se seguem e produzem um sentido (...) grupo de unidades lingüísticas significativas, que formam uma unidade numa organização hierarquizada da frase (...)” (Houaiss e Villar, 2001:2581). 8 Anáfora: “s.f. (...) ESTL RET repetição de uma palavra ou grupo de palavras no início de duas ou mais frases sucessivas, para enfatizar o termo repetido (p.ex.: este amor que tudo nos toma, este amor que tudo nos dá, este amor que Deus nos inspira, e que um dia nos há de salvar) (...) GRAM LING processo pelo qual um termo gramatical (um pronome ou um advérbio de lugar, p.ex.) retoma a referência de um sintagma anteriormente usado na mesma frase (p.ex. Comeram, beberam, conversaram e a noite ficou nisso) ou no mesmo discurso (p.ex. Fui ao Museu de Artes Modernas. Lá, encontrei vários de meus amigos) (...)” (Houaiss e Villar, 2001:200). 5 partindo de uma proposição simples, modifica certos elementos desta” (ibid., p.23), as figuras são classificadas segundo duas dimensões: operação e relação. Operação Relação • Situa-se ao nível do sintagma. • Situa-se ao nível do paradigma. • Prende-se à forma da expressão (significantes). • Prende-se à forma do conteúdo (significados). 2.1. Operações retóricas Durand (op. cit., p.23) explica que a quantidade de figuras clássicas reduz-se a um pequeno número de relações fundamentais: Figuras de Dicção (relacionadas ao som) Figuras de Construção (relacionadas às palavras) 1. Repetição de um mesmo som (rima, assonância9); 2. Adjunção de um som (prótese10, paragoge11); 3. Supressão de um som (aférese12); 4. Substituição de um som por outro (diérese13) e 5. Interversão de dois sons (metátese14). 1. Repetição de uma mesma palavra (anáfora); 2. Adjunção de uma palavra (pleonasmo15); 3. Supressão de uma palavra (elipse), etc. 9 Assonância: “s.f. (...) Semelhança ou igualdade de sons em palavras próximas (...) ESTL na prosa ou na poesia, repetição ritmada da mesma vogal acentuada para obter certos efeitos de estilo (p.ex. ardem na alvorada as matas destroçadas) (...)” (Houaiss e Villar, 2001:324). 10 Prótese: “s.f. (...) GRAM LING acréscimo de um elemento fonético (sílaba ou som) no início de um vocábulo, sem alteração do significado (p.ex. abagunçar, de bagunçar)” (Houaiss e Villar, 2001:2318). 11 Paragoge: “s.f. (...) GRAM LING acréscimo de um fonema não etimológico no final de uma palavra, epítese (...) no port. moderno, acrescenta-se o /e/ paragógico a empréstimos terminados em consoantes como fr. chic > port. chique, ing. club > port. clube (...)” (Houaiss e Villar, 2001:2128). 12 Aférese: “s.f. (...) FON processo de mudança lingüística que consiste na supressão de fonema(s) no princípio do vocábulo (p.ex. de enojo formou-se nojo; de enamorar formou-se namorar) (...) GRAM uso sincronicamente, ocorre com freqüência em uso informal ou popular da língua (p.ex. de professor forma-se fessor; de você forma-se ocê e cê; de estava forma-se tava; de espera forma-se pera (...) supressão de uma sílaba ou uma letra no início de uma palavra (...)” (Houaiss e Villar, 2001:101). 13 Diérese: “s.f. (...) FON GRAM passagem de ditongo a hiato (p.ex. sal-da-de por sa-u-da-de) [Esse alongamento silábico é freqüente na fala coloquial e ocorre na poesia como recurso métrico] (...) separação de duas vogais de um ditongo” (Houaiss e Villar, 2001:1037). 14 Metátese: “s.f. (...) FON LING mudança lingüística que consiste na troca de lugares de fonemas ou sílabas dentro de um vocábulo (p.ex. capio > caibo; semper >sempre; merulu > melro; estuprar > estrupar; depredar > depedrar; víbora > bívora); hipértese, permutação (...) troca de posição, transposição de termos; troca, mudança, GRAM troca de uma ou mais letras; transposição de letras (...)” (Houaiss e Villar, 2001:1909). 6 Considerando as figuras clássicas da retórica, Durand (op. cit.) descreve as operações fundamentais: Adjunção Junta-se um ou mais elementos fundamentais à proposição (compreende como caso particular: adjunção de elementos idênticos). Supressão Tira-se um ou mais elementos da proposição; e duas proposições derivadas. Substituição É uma supressão seguida de uma adjunção. Tira-se um elemento para substituí-lo por outro. Troca Compreende duas substituições recíprocas. Permutam-se dois elementos da proposição. 2.2. Relações Antes de descrever as relações das figuras da retórica, é importante compreender a definição dos elementos constituintes de uma proposição. Jacques Durand (op. cit, p.2526) explica que “são aqueles que sustentam as relações elementares: a análise das figuras da retórica indicará simultaneamente quais são os elementos constituintes e quais as relações que existem entre eles”. Durand (op. cit.) ainda esclarece que os elementos constituintes não recobrem “necessariamente o conjunto de unidades de significação contidas na proposição, mas apenas aquelas que foram utilizadas conscientemente pelo criador em seu jogo retórico”. Nesse sentido, duas proposições poderão ser ligadas pelas seguintes relações: identidade, similaridade, oposição e diferença. Após as explicações sobre operações e relações, Durand monta um quadro geral de classificação das figuras da retórica. 15 Pleonasmo: “é o emprego de termos desnecessários, cujo objetivo é enfatizar a comunicação. O pleonasmo pode ser semântico (Vi com meus próprios olhos) e sintático (A mim ninguém me engana). O pleonasmo só é figura de linguagem, ou seja, só possui valor literário, quando a repetição tem finalidade expressiva, quando traz objetivo estilístico; do contrário constitui redundância (...)” (Sacconi, 1989:357). 7 2.3. Quadro de classificação das figuras de retórica RELAÇÃO ENTRE ELEMENTOS VARIANTES A Adjunção B Supressão C Substituição D Troca 1. Identidade Repetição Elipse Hipérbole Inversão 2. Similaridade • de forma • de conteúdo Rima Comparação Circunlocução Alusão Metáfora Hendíadis Homologia 3. Diferença Acumulação Suspensão Metonímia Assíndeto Emparelhamento Antítese Dubitação Reticência Perífrase Eufemismo Anacoluto Quiasmo Antanáclase Paradoxo Tautologia Preterição Trocadilho Antífrase Antimetábole Antilogia 4. Oposição • de forma • de conteúdo 5. Falsas homologias • duplo sentido • paradoxo OPERAÇÃO RETÓRICA Jacques Durand (in Metz, 1974:27) Com o cruzamento entre a operação de retórica e a relação entre elementos variantes, surgem as classificações das figuras. Essas classificações serão abordadas a seguir. 2.4. Figuras de retórica analisadas por Durand A) Figuras de Adjunção Como a própria nomenclatura nos remete, ocorre a adjunção quando há a ação ou efeito de juntar elementos. É a união ou justaposição de alguma coisa a outra cujo resultado final será a formação de uma totalidade. A1) Repetição “A repetição pode ser analisada numa dupla relação de identidade: identidade de forma e identidade de conteúdo. Difícil e tediosa na linguagem, ela pode ser obtida de modo mais 8 simples e mais puro no domínio visual, pela reprodução fotográfica de uma mesma imagem” (Durand op. cit., p. 27). “A repetição fotográfica pode aparecer como a expressão enfática da multiplicidade: a justaposição de fotos idênticas de um mesmo indivíduo pode ilustrar a utilização de um mesmo produto (...) ou mesmo um conjunto de indivíduos diferentes (...)” (ibid.). Figura 1 – A Hoechst, empresa alemã de produtos químicos e farmacêuticos, fez, em 1976, uma campanha para ensinar os brasileiros a falarem seu difícil nome. Nos anúncios, utilizou-se da repetição das personagens tentando pronunciar H-O-E-C-H-S-T. Figura 2 – No anúncio da água mineral Minalba, repete-se a garrafa para passar a idéia de que vende muito. Figura 3 – Mais um exemplo do uso da imagem repetida. No anúncio, a foto é o seu melhor momento que deve ser revelada na De Plá. Figura 4 – Durand (op. cit., p.28) explica que a repetição fotográfica pode aparecer como a expressão enfática da multiplicidade e esse efeito é também possível com “um conjunto de indivíduos diferentes, como é ilustrado no anúncio da Volkswagen. Para o autor, “este procedimento acaba por realizar ao nível da imagem a redução implicada pela numeração: contar é fazer abstração das diferenças”. A2) Similaridade Durand (op. cit., p.28-29) coloca que os dois elementos essenciais dos anúncios são “o produto (que interessa ao anunciante) e os personagens (que interessam ao leitor)” (ibid.). Descreve, ainda, que na retórica clássica há dois tipos de figuras de similaridade que podem ser transpostas para a imagem: • As que repousam sobre uma similaridade de forma (rima, apofonia16, paranomase17); 16 Apofonia: “s.f. (Gram.) Alteração do valor fonético da vogal de um radical, sem ser por influência da vogal final: coro, coros (ó); devo, deves; etc. Esse desvio de som ou alternância vocálica é herança indo-européia e explica, por ex., a diferença entre um vocábulo latino e o grego cognato correspondente: ped (raiz latina oriunda de pés, pedis = pé) e pod (raiz grega oriunda de pous, podós = pé); daí os sufixos pede (lat.) e poda ou pode (gr.), que entram na composição de vocábulos portugueses (bípede, antípoda, miriápode). Explica também, variantes de raiz em vocábulos portugueses originários do latim: pé (raiz ped), repudiar (raiz pod); faço (lat. faciö), fiz (lat. fecï), fez (lat. fecït)” (Bueno, 1981:112). 17 Paranomase: “Paranomásia, s.f. Semelhança entre palavras de idiomas diferentes, com origem comum” (Bueno, 1981:827). 9 Figura 2 - Minalba (Anuário Clube de Criação, 1980/1981 in Gracioso e Penteado, 2001:190) Figura 1 - Hoechst (Magy Imoberdorf in Ribeiro et. al., 1989:138-139) Figura 3 - De Plá (Casa da Criação in Domingo, 11 jul. 2004) Figura 4 - Volkswagen (in Época, 14 mar. 2005) • As que repousam sobre uma similaridade de conteúdo (comparação, pleonasmo, expolição18, epanortose19). Para o autor (ibid.) a definição mais abstrata de similaridade é considerá-la como o “conjunto de elementos dos quais uns são portadores de similitude e outros de diferença”. Cita como exemplo um anúncio em que compara a forma de um biscoito à de um dedo, sendo que a similaridade visual ainda é sublinhada pelo texto: “é como um dedo”. Também comenta que pode haver similaridade em um anúncio quando há identidade de forma e de personagem e produtos diferentes – um mesmo personagem apresenta os diversos modelos de uma coleção ou as diversas utilizações de um produto. É quando se explora um paradigma (variedades de um produto e suas utilizações) e “o personagem se congela numa imobilidade contemplativa, sublinhando o caráter abstrato do paradigma” (ibid.). Como distinção entre forma e conteúdo, Durand (op. cit.) coloca que “o que é forma na imagem torna-se conteúdo no texto”. Figura 5 – O doce da Dunkin’Donuts tem a similaridade com a lua, que é reforçada com a chamada “Dieta da Lua”. Figura 6 – A árvore, simbolizando o meio ambiente que deve ser protegido, possui uma similaridade com o orelhão (telefone), que representa o meio pelo qual se faz a denúncia. Figura 7 – O texto do anúncio indaga “Uma caixa inteira de Calipso?” e responde “Não vi não”. A similaridade encontra-se entre o conjunto dos biscoitos e o colar da mulher africana. Figura 8 – Neste exemplo, Carlos Moreno, garoto propaganda Bombril, posa como Monalisa e apresenta diversos modelos MonBijou. Conforme Durand, a similaridade também se quando um mesmo personagem apresenta as variedades um produto. da de dá de Figura 9 – A similaridade também pode ocorrer entre as próprias personagens, como neste caso, no anúncio da Embratel. 18 Expolição: “s.f. (...) RET ato de aperfeiçoar, ornar ou ampliar um discurso” (...)” (Houaiss e Villar, 2001:1289). 19 Epanortose: “s.f. (...) RET retorno a uma palavra ou frase proferida, seja para corrigir a afirmação, seja para enfatizá-la ou atenuá-la (...) correção ou substituição enfática de uma palavra” (...)” (Houaiss e Villar, 2001:1177). 11 Figura 5 - Dunkin'Donuts (Anuário Clube de Criação, 1993/1994 in Gracioso e Penteado, 2001:226) Figura 6 - Governo da Bahia (Engenhonovo, 1999 in Gracioso e Penteado, 2001:214) Figura 7 - Calipso (Anuário Clube de Criação, 1990/1991 in Gracioso e Penteado, 2001:234) Figura 8 - Mon Bijou / Bom Bril (W/Brasil, 1998 in Gracioso e Penteado, 2001:211) Figura 9 - Embratel (AlmapBBDO in Época, 28 jun. 2004:16-17) A3) Acumulação A acumulação ocorre quando se juntam numa mensagem elementos diferentes. Há uma estruturação pelas relações de identidade e de diferença, como, por exemplo, imagens que ilustram acumulações verbais ou de imagens que possuem acumulação de variantes de um produto (significado de quantidade). Há também o caso em que “os personagens e os objetos apresentados não estão sabiamente alinhados, mas empilhados, acumulados, misturados; as relações de identidade não estão apenas ausentes, estão recusadas” (ibid.) (significado de desordem). Figura 10 – Este exemplo da H.Stern ilustra o que Durand (op. cit., p.33) considera “a acumulação de variantes de um produto, sem personagem ou com um apresentador único”. Figura 11 – Nova linha de celulares Motorola V 172 da Claro: outro exemplo de variantes do produto, sem personagem. Figura 12 – O anúncio dos faróis Cibié é um exemplo de acumulação que Durand identifica com o significado de desordem, do caos, em que os objetos apresentados estão empilhados, misturados. Durand (op. cit., p.33) também identifica como um tipo de acumulação os anúncios que possuem “variações de personagens apresentando diversas variedades do produto, com uma homologia mais ou menos marcada entre personagens e variedades”. Essa conceituação pode ser facilmente encontrada em anúncios de coleções de roupas. Figura 13 – Campanha de inverno da C&A: diversas personagens e variações da coleção de jaquetas. Figura 14 – Coleção moda inverno 86 da Mesbla: outro exemplo de variação de personagens e roupas com a presença de uma homologia. A4) Oposição Segundo Durand (op. cit., p.34), pode ser repartida em duas famílias: ao nível da forma (anacronismo, emparelhamento) ou ao nível do conteúdo (antítese). Figura 15 – Neste anúncio da Coral, há a contraposição entre as cores amarelo e azul. Figura 16 – Aqui a oposição é apresentada na contraposição entre forte e fraco. No anúncio de 1915, quem tem força e vigor é quem consome a Farinha Lactea Nestlé. 13 Figura 12 - Cibié (Manchete, 1978 in Gracioso e Penteado, 2001:151) Figura 10 - H.Stern (Anuário Clube de Criação, 1993/1994 in Gracioso e Penteado, 2001:226) Figura 13 - C&A (Anuário Clube de Criação, 1982/1983 in Gracioso e Penteado, 2001:182). Figura 11 - Motorola / Claro (F/Nazca S&S in Domingo, 20 mar. 2005) Figura 14 - Mesbla (Paulo Novis, 1986 in Gracioso e Penteado, 2001:182) Figura 15 - Coral (Seleções, 1965 in Gracioso e Penteado, 2001:127) Figura 16 - Farinha Lactea Nestlé (Acervo Histórico Nestlé, 1915 in Gracioso e Penteado, 2001:30) Ao abordar a oposição, é fundamental destacar a antítese. Perez (2004:163) explica que a antítese se configura como palavras ou pensamentos com sentidos contrários, criando um contraste ou até mesmo um conflito. Muitas vezes são utilizadas com o objetivo de romper com o convencional, transgredir. A publicidade produzida pelo publicitário italiano Olivieri Toscani tinha na antítese imagética sua sustentação. Nessa linha, exibia, por exemplo, uma freira beijando um padre em campanhas da Benetton gerando polêmicas que extrapolavam o mercado publicitário. Figura 17 – A Benetton já se utilizou muito da antítese. Sua estratégia de marketing consistia em construir uma imagem polêmica, por meio de uma propaganda que, estabelecendo um conflito, rompia com o convencional. a) Comparação entre duas marcas Faz-se um paralelo entre a marca e uma concorrente anônima. As duas marcas são apresentadas em duas imagens colocadas lado a lado – por exemplo, uma das imagens pode ser escura e a outra luminosa, uma preto e branco e a outra em cores... Para Durand (op. cit., p.35), a presença simultânea de relações de identidade e de oposição se explica: “é preciso por um lado insistir sobre as condições de realização de teste, indicar que as duas marcas oferecem oportunidades iguais: as relações de identidade são os significantes de imparcialidade do teste; é preciso por outro lado insistir sobre os resultados, mostrar que a marca anunciada supera nitidamente sua concorrente: as relações de oposição são os significantes de superioridade da marca”. Figura 18 – Aqui a marca Report compara as impressões da foto da personagem, demonstrando que é uma folha de papel superior às concorrentes. A chamada descreve: “Qualquer um vê a diferença entre uma folha de papel e uma folha Report”. Portanto, quando o texto coloca “...entre uma folha de papel...” está insinuando sobre as outras marcas de papel para, em seguida, enfatizar que a melhor qualidade é da marca Report. Figura 19 – O anúncio compara o Vírtua Double Flash com outros serviços de acesso à internet por banda larga. O texto confronta a seguinte idéia: “Tem banda larga que até recebe arquivo rápido” – mostrando a foto de um cão veloz – em seguida descreve que “o problema é na hora de enviar” – esse problema é representado por um cão, aparentemente, preguiçoso. A solução é apresentada pelo texto: “Só Vírtua tem Double Flash: você recebe e envia tudo rápido, sem pagar mais por isso”. Nesse caso, as imagens representam os serviços de banda larga que não são totalmente eficientes como a marca Double Flash do Net Vírtua. 15 b) Comparação entre a utilização e não-utilização da marca Aqui são colocadas duas situações paralelas: a que existe antes da utilização da marca e a que existe depois. Nesse caso, evita-se cuidadosamente a existência de marcas concorrentes. Figura 20 – O anúncio compara a diferença entre possuir ou não os serviços da Localiza e, em nenhum momento, faz alusão aos concorrentes. Apenas ilustra, com as chaves, que com a Localiza o cliente sempre terá um carro à disposição. Figura 21 – A Linha Supreme da Tramontina é intitulada como “A arte de transformar ingredientes em receitas”. O antes e o depois é a comparação da abóbora quando se usa ou não a Tramontina – antes é ingrediente e depois, receita. Figura 22 – Sem mencionar o uso de marcas concorrentes, o anúncio do OMO faz a comparação entre a utilização e nãoutilização do recém-lançado sabão em pó Multiação Aloe Vera. c) Paradigma das variedades de uma marca, ou de suas diversas utilizações Desempenhando o mesmo papel das figuras de similaridade, só que, em lugar de serem quaisquer elementos, são termos extremos. Durand (op. cit., p.36) apresenta como exemplos: calhambeque e carro moderno, apartamento e casa de campo, situação de trabalho e situação de lazer, dia e noite. Para o autor, “esta figura pode ter por meta seja exprimir de maneira enfática a diversidade da gama, seja neutralizar a competição instalando-a entre os modelos” (ibid.). Figura 23 – Seguindo o exemplo “calhambeque e carro moderno” dado por Durand, segue-se o exemplo do Peugeot 206 em que é demonstrado como um bem tão irresistível que o dono do carro antigo colocou a foto do Peugeot na porta de sua garagem. Figura 24 – A diversidade é expressa pelo contexto cultural. No anúncio, a maquiagem exótica japonesa é uma tendência extrema que segue a mulher brasileira, por meio da nova linha de maquiagem do O Boticário. d) Paradigma dos usuários Como nas figuras de similaridade, insiste sobre a diversidade dos usuários da marca, mostrando sua utilização por dois personagens situados num modelo limitado. Durand exemplifica como masculino/feminino, pai/filho, adulto/criança, branco/preto. 16 Figura 25 – O Vivo Família é um bom exemplo de paradigma dos usuários. É um serviço destinado aos pais e aos filhos, demonstrando a diversidade de utilização da marca. Figura 26 – Anúncio “Meu primeiro Gradiente”: demonstra a utilização da marca pelo pai e pelo filho. As figuras 27, 28 e 29 mostram-nos exemplos de paradigmas de usuários, segundo a relação masculino/feminino citada por Durand. Figura 27 – Toalhas Artex Figura 28 – Chambourcy Figura 29 – Anúncio do Carrefour A5) Duplo Sentido e Paradoxo Figuras que jogam com a oposição entre aparência e realidade. Diferem-se, conforme a retórica clássica, pelo grau de semelhança (similitude ou identidade) ou pelo grau de dissemelhança (diferença ou oposição). a) Duplo Sentido Na retórica clássica é essencialmente a “antanáclase”20 que são os mesmos sons repetidos duas vezes com um sentido diferente. Segundo Durand (op. cit., p.38), “uma forma de antanáclase freqüentemente utilizada em publicidade consiste em apresentar na imagem objetos e personagens que aparecem como idênticos e identificar sua diferença no texto”. Para o autor, trata-se, na maioria dos casos, de um falso enigma, tendo em vista que o texto revela a verdadeira mensagem para o leitor. Contudo, há ainda uma segunda forma que não é centrada no texto, logo, puramente visual – os elementos visuais que indicam que duas formas idênticas encobrem realidades diferentes. Jacques Durand exemplifica que é quando uma imagem nos apresenta o real e o imaginário ao mesmo tempo (quando surge um personagem e seu reflexo num espelho). Figura 30 – Este exemplo demonstra um falso enigma sobre perfume importado: “Qual deles é o falsificado?” E o texto revela: “Simples, aquele que não possui o selo ADIPEC”. 20 Antanáclase: “(...) Repetição de uma palavra com outro sentido” (Houaiss e Villar, 2001:228). 17 b) Paradoxo É quando o texto informa as semelhanças (similitudes) reais que existem entre personagens e objetos aparentemente contrapostos (dissemelhantes, assimétricos). Consiste no dilema ou na falsa alternativa. “A marca surge como instrumento miraculoso que vem trazer uma solução a um dilema do qual até então não se podia escapar” (Durand, 1974:40). Figura 31 – Um exemplo clássico de paradoxo é a ilustração criada por Teresa Fasolino para a empresa Procter et Gamble. Fiorin e Platão (1998:143) comentam que a imagem do cordeiro refletida na água revela o paradoxo visual: “sob a aparência frágil e plácida convive um outro cordeiro, mais forte e destemido, representado pelo leão”. Figura 32 – Neste caso, surgem duas embalagens com formatos diferentes e o texto explica suas semelhanças: “Foi bom enquanto durou. Linha OX tutano de boi. Nova embalagem”. Trata-se de uma linha de xampu Tutano de Boi que apenas mudou a embalagem. Logo, a semelhança constitui que o produto continua o mesmo, porém em outro tipo de embalagem. B) Figuras de Supressão As figuras de supressão são mais raras que as adjuntivas. Normalmente, a publicidade costuma mais a aumentar que a diminuir. Durand (op. cit., p.41) coloca que a supressão possui uma eficácia duvidosa. Revela, ainda, que sua realização é delicada: “não se trata apenas de suprimir um elemento, mas de levar o leitor a perceber esta ausência e reconstituir o elemento ausente”. B1) A Elipse É considerada a figura inversa da repetição. Enquanto na repetição o elemento surge várias vezes, na elipse não é apresentada sequer uma vez. “Consiste na omissão de um termo que, no entanto, pode ser facilmente identificado” (Tufano, 1990:236) ou na supressão de certos elementos de uma imagem que também podem ser subentendidos (pode ser partes do produto ou o próprio)21. 21 Sobre a elipse, Iasbeck (2002:101 apud. Perez, 2004:166) comenta que “o receptor pode, de certa forma, sentir-se cúmplice do enunciado; por decorrência, oferecerá menor resistência à persuasão”. O autor apresenta como exemplos: “Passa Gourmet que dá, slogan da maionese Gourmet, e O sucesso, slogan dos cigarros Hollywood. Nesses casos fica evidente que a mensagem não requer explicações, não precisa dizer o que é e nem onde passar Gourmet para que se entenda e muito menos o que é Hollywood e de quem é o sucesso” (ibid.). 18 Figura 17 - Benetton (in Perez, 2004:163) Figura 18 - Report (Light in Veja, 7 nov. 2001:118) Figura 19 - Double Flash / Net Vírtua (Talent in Época, 22 nov. 2004:65) Figura 21 - Tramontina (DCS in Época, 12 jul. 2004) Figura 20 - Localiza (Solution in Veja, 7 nov. 2001:123) Figura 22 - OMO (in Marie Claire, maio 2004:68-69) Figura 23 - Peugeot 206 (Carillo Pastore Euro RSCG in Época, 22 nov. 2004:33) Figura 24 - O Boticário (OpusMúltipla in Marie Claire, maio 2004:44-45) Figura 25 - Vivo (in Época, 12 jul. 2004:10-11) Figura 27 - Artex (Anuário Clube de Criação, 1986/1987 in Gracioso e Penteado, 2001:190) Figura 26 - Gradiente (DPZ, 1989 in Gracioso e Penteado, 2001:199) Figura 28 - Chambourcy (Anuário Clube de Criação, 1989 in Gracioso e Penteado, 2001:197) Figura 29 - Carrefour (Manchete, 1989 in Gracioso e Penteado, 2001:202) Figura 30 - ADIPEC (AM10 in Nova, dez. 2002) Figura 31 - Procter et Gamble (Teresa Fasolino in Fiorin e Platão, 1998:143) Figura 33 – A garrafa de Campari é omitida, no entanto, é facilmente subentendida. Figura 34 – O movimento das pernas, durante a ginástica, forma o contorno da marca Lycra. B2) Circunlocução Em um texto verbal, pode-se considerar a circunlocução como o artifício de se “(...) usar de rodeios de linguagem, fazer perífrase22 (...)” (Houaiss e Villar, 2001:728). Durand (in Metz, 1974:42), numa acepção sobre imagens publicitárias, coloca que é quando um elemento omitido é ligado a um outro elemento da mensagem por uma relação de similaridade (de forma ou de conteúdo). O autor apresenta como exemplo, o reflexo de uma personagem em um espelho, sem apresentar a própria personagem. Figura 35 – O que aparece é apenas o reflexo do maço de cigarros no relógio e não próprio maço. Observa-se, como curiosidade, que o reflexo da palavra Galaxy não se encontra invertido. Figura 36 – A imagem de uma pessoa magra refletida numa faca, para simbolizar o consumo do requeijão light da Nestlé, que possui 45% menos de gordura e 30% menos de calorias. B3) Suspensão e Digressão É quando se retarda um elemento da mensagem, mantendo-se apenas relação de proximidade imediata (contigüidade). Durand (op. cit.) salienta que isso ocorre em “anúncios que apresentam duas faces de uma mesma folha, a primeira página apresentando um texto ou uma imagem enigmática” (em publicidade, é uma espécie de teaser). Figura 37 – Neste exemplo, estão apresentadas duas partes do anúncio do Anador, publicadas em páginas ímpares. Na primeira página, é mostrada, como diz Durand, uma imagem e um texto enigmáticos: uma mulher com dor de cabeça. Na segunda página, o enigma é desvendado ao mostrar uma família feliz, pois consome o analgésico Anador. Figura 38 – A primeira página do anúncio da Dove suscita uma continuidade. Primeiro, o sabonete não agüenta ficar branco no verão, em seguida, é o sabonete da nova linha Dove, que mantém o bronzeado por mais tempo. 22 Perífrase: “s.f. (...) frase ou recurso verbal que exprime aquilo que poderia ser expresso por menor número de palavras; circunlóquio • p. lexical GRAM LING locução ou frase que transmite um conceito [Usa-se por três motivos: 1) por eufemismo (cuidado com os amigos do alheio, em vez de ladrões); 2) para garantir o entendimento (lado maior de um triângulo retângulo, em vez de hipotenusa); para dar mais riqueza e colorido ao texto; aqui se incluem metáforas e epítetos constantes, us. em lugar do nome, como a cidade maravilhosa, em vez de Rio de Janeiro, o país do sol nascente, em vez de Japão, o sumo pontífice, em vez de papa etc.] (...)” (Houaiss e Villar, 2001:2188). 22 Figura 32 - OX (TATERKA in Marie Claire, set. 2002:41) Figura 33 - Campari (in Nova, out. 2001:27) Figura 34 - Lycra (DM9DDB in Marie Claire, jul. 2003:84-85) Figura 35 - Galaxy (Anuário Clube de Criação, 1981/1982 in Gracioso e Penteado, 2001:181) Figura 36 - Nestlé (Anuário Clube de Criação, 1997/1998 in Gracioso e Penteado, 2001:219) Figura 37 - Anador (Grottera.com in Nova, out. 2001, p. 93 e 95) Figura 38 - Dove (Ogilvy in Nova, dez. 2002, p. 55 e 57) B4) Dubitação e Reticência a) Dubitação Durand (op. cit., p. 43) explica que há dubitação quando a supressão de um elemento é devida a uma oposição de forma (hesita-se entre várias formas para transmitir um mesmo conteúdo). A dubitação é o “ato ou efeito de duvidar” (Houaiss e Villar, 2001:1087). É, portanto, quando se apresentam dúvidas do que se pretende afirmar. Figura 39 – O anúncio da Goodyear, de 1945, lança a indagação “Será este o transatlântico do futuro?”. Junto há um extenso texto explicando sobre o “grande aerostato dirigível” Neste caso, é lançada a dúvida para afirmar sobre a existência de um novo transporte luxuoso. b) Reticência A reticência ocorre quando “é devida a uma oposição de conteúdos: existe censura de um elemento que se opõe a um tabu” (ibid., p.43). A idéia de reticência pode ser complementada nas palavras de Clotilde Perez (2004:166): Caracteriza pela suspensão do pensamento ou ainda por indicar um período de silêncio no início de um discurso. Utilizada na supressão de um pensamento traz consigo a força da liberdade para a interpretação, assim perde-se, de certa maneira, o controle dos interpretantes. Não que sempre de tenha o controle, mas a utilização das reticências pode gerar insinuações indesejadas. Contudo, é um forte recurso quando não se quer ‘fechar questão’ a respeito de determinado discurso proposto, permitindo que se diga sem dizer, criando sugestões sedutoras... Um bom exemplo de figura de reticência seria uma imagem que apresentasse uma “estrada com uma bifurcação”, dando a entender que o receptor deveria escolher um caminho, uma opção, com isso, a questão não se fecharia. No entanto, poderiam os anúncios a seguir serem considerados exemplos de figura de reticência, a partir do momento que são mensagens institucionais, logo passíveis de interpretações diversas? Figura 40 – Anúncio do PETA (People for the ethical treatment of animals): “Eis o que sobrou do seu casaco de pele”. Um protesto contra o uso da pele dos animais para roupas. A reflexão sobre o tema caracteriza a reticência, já que pode suscitar interpretações diversas? Figura 41 – No anúncio da Belgo, a árvore ainda não cresceu mas já tem o balanço. Passa o conceito de investimento para o futuro – desenvolvimento sustentável. Como aqui a idéia também sugere interpretações variadas? Pode haver a reticência? Figura 42 – “Food for life” – campanha de 2003 da Benetton. Sua mensagem nos leva à reflexão sobre a fome, o racismo. As possibilidades interpretativas podem caracterizar a reticência? 25 B5) Falsa Homologia As figuras de falsa homologia podem ser de dois tipos: Tautologia e Preterição. a) Tautologia Durand (op. cit.) destaca que a verbal é mais freqüente em publicidade: “Só Klaxon klaxona” – “Um Volkswagen é um Volkswagen” – “Quanto mais um homem é um homem...” etc. E ressalta também que visualmente ocorre com a “simples apresentação do produto, como se apenas sua presença dispensasse qualquer comentário” (ibid.). 23 Figura 43 – A repetição da palavra Skol é um caso de tautologia. Figura 44 – A repetição de HOM é um outro exemplo de tautologia verbal. Durand (op. cit.) considera como tautologia visual a simples apresentação do produto (sua presença já é o bastante). As figuras 45, 46 e 47 ilustram esses tipos de tautologia. Figura 45 – Brahma Figura 46 – Pepsi Figura 47 – Coca-Cola b) Preterição A verbal se encontra nos textos publicitários que fingem segredo ou em anúncios em que afirmam que o produto não necessita de publicidade (quando omite o nome do produto). Para Durand (op. cit., p.44), “a preterição visual consiste por exemplo num gesto de falso pudor” – braços cruzados sobre seios nus que são bem visíveis24. Figura 48 – Exemplo do gesto de falso pudor relatado por Durand: braços cruzados sobre os seios nus bem visíveis. 23 Tautololgia: “s.f. (...) 1 GRAM uso de palavras diferentes para expressar uma mesma idéia; redundância, pleonasmo 2 LÓG proposição analítica que permanece sempre verdadeira, uma vez que o atributo é uma repetição do sujeito (o sal é salgado) 3 RET expressão que repete o mesmo conceito já emitido, ou que só desenvolve uma idéia citada, sem aclarar ou aprofundar sua compreensão • ETIM gr. tautología,as ‘repetição (de forma ou significado), o que diz a mesma coisa já dita’ (...)” (Houaiss e Villar, 2001:2679). 24 Preterição: “s.f. (...) 1 ação ou efeito de preterir 2 ação ou efeito de deixar de lado, desprezar, omitir, omissão, esquecimento (...) 5 RET figura pela qual se finge não querer falar de coisas sobre as quais está, indiretamente, falando; paralipse (...)” (Houaiss e Villar, 2001:2295). 26 C) Figuras de Substituição C1) Substituição Idêntica É a mais simples das substituições. Substitui um elemento por outro idêntico. Durand (op. cit., p. 44) esclarece que não encontrou exemplo em publicidade, no entanto, acredita ser concebível. Contudo, o autor ainda relata que a substituição idêntica pode ser acompanhada de uma diferença de grau (caso da gradação), obtendo-se assim a substituição majoritária (ênfase, hipérbole) ou minoritária (lítote). a) Ênfase É o processo de valorização de um elemento ao nível da enunciação, pode-se ser realizado visualmente pela presença de um elemento a cores em uma imagem preto e branco, por exemplo. Figura 49 – No anúncio de página dupla da Nova Schin, o único elemento colorido é a imagem da própria garrafa de cerveja, colocada em substituição à torre do presídio, o que caracteriza a ênfase. b) Hipérbole Com freqüência nos textos publicitários, “ocorre a hipérbole quando, para realçar uma idéia, exageramos na sua representação” (Tufano, 1990:245). Figura de linguagem que tem por objetivo adensar e fortalecer o sentido de um determinado termo. Trata-se também de um exagero, como encontramos em frases já consagradas no cotidiano da nossa fala: “morrer de fome”, “morrer de remorso”, “matar a saudade”, “cair no abismo da paixão”, “afogar as lágrimas” etc (Perez, 2004:164). Figura 50 – No anúncio do Chancy da Chambourcy, o exagero visual se dá na relação entre o tamanho do garoto e do produto. Figura 51 – No anúncio da Chanel, o exagero visual está no frasco do perfume Chance. Figura 52 – A embalagem de Kolynos, neste anúncio de 1940, é o exagero visual que caracteriza a hipérbole. Figura 53 – Aqui a hipérbole está no exagero visual do solado do calçado Conga. 27 Figura 39 - Goodyear (1945 in Gracioso e Penteado, 2001:67) Figura 40 - Peta (in JB Ecológico, 2 set. 2004:24) Figura 41 - Belgo (ASA in JB Ecológico, 5 jun. 2004) Figura 42 - Benetton (in Perez, 2004:116) Figura 44 - Hom (Anuário Clube de Criação, 1981/1982 in Gracioso e Penteado, 2001:185) Figura 43 - Skol (Manchete, 1978 in Gracioso e Penteado, 2001:151) Figura 46 - Pepsi (Anuário Clube de Criação, 1984/1985 in Gracioso e Penteado, 2001:187) Figura 45 - Brahma (DM9DDB in Domingo, 21 dez. 2003) Figura 47 - Coca-Cola (Cláudia, 1974 in Gracioso e Penteado, 2001:145) Figura 48 - Kelkoo.com (Ghirotti & Cia., 2000 in Gracioso e Penteado, 2001:228) Figura 49 - Nova Schin (Fischer América in Época, 28 jun. 2004:84-85). Figura 50 - Chancy (Anuário Clube de Criação, 1981/1982 in Gracioso e Penteado, 2001:195) c) Lítote Textualmente, é “uma afirmação branda por meio da negação do contrário [p.ex.: ‘Esse rapaz não é nada bobo. (= é esperto)’; ‘Não estou nada contente com você. (= estou descontente)’]” (Sacconi, 1989:361). Durand (in Metz, 1974:45) descreve que “consiste no inverso, numa escrita cerrada, lacônica. Visualmente, serão por exemplo os textos em língua estrangeira, os textos e as imagens minúsculas e, num caso extremo, a página vazia, inteiramente branca ou inteiramente negra”. Clotilde Perez (2004:165) explica que a lítote é uma Figura de linguagem que sugere uma idéia por meio da negação do seu contrário, quer dizer, acaba por se configurar também em uma atenuação. Não exatamente como o eufemismo, as lítotes é uma negação gramatical em que, ao negar, afirma-se. Na expressão ‘você não é nada bobo’, na verdade o que se está querendo dizer é ‘você é esperto’. Há também uma certa dose de ironia que pode ser bem empregada na comunicação publicitária. Figura 54 – Para Durand, o termo em inglês “on the rocks” se caracteriza em uma lítote. Figura 55 – Outro exemplo de lítote textual. No anúncio da Diet Pepsi em “você bebe e não ganha nada” quer dizer que o consumo da bebida contribuirá para você perder peso. Portanto, afirma-se com a negação. Figura 56 – Um exemplo de lítote visual, segundo Durand, são os textos em minúsculos. No caso da chamada deste anúncio da Kolynos, publicada em O Cruzeiro, de 1955, são os termos “v. obtém” e “do que nunca”. Figura 57 – No texto deste anúncio de Chivas, afirma-se por meio da negação. Em “não vão pensar mal de você” quer dizer que vão pensar bem... C2) Substituição de um elemento similar Há duas categorias reconhecidas pela retórica clássica: as fundadas numa similaridade formal (alusão, anominação25) e as fundadas numa similaridade de conteúdo (metáfora, símbolo, catacrese). 25 Anominação: Mesmo que Paronomásia (Houaiss e Villar, 2001: 226). Paronomásia: “s.f. (...) 1 LING conjunto de palavras de línguas diferentes que possuem origem comum (p.ex. push, inglês, e puxar, português, ambos do latim pulsare), ou de outras palavras com sentidos diferentes numa mesma língua, tb. com origem comum (p.ex. tenro e terno, no português); adnominação 2 ESTL RET figura de linguagem que extrai expressividade da combinação de palavras que apresentam semelhança fônica (e/ou mórfica), mas possuem sentidos diferentes (p.ex. anda possuído não só por um sonho, mas pela sanha de viajar); agnominação (...) ‘aproximação de duas palavras da mesma família (figura de retórica)’ (...) ‘formação de uma palavra derivando-a de outra com pequena mudança’ (...)” (ibid., p.2137). 31 Figura 52 - Kolynos (1940 in Gracioso e Penteado, 2001:55) Figura 51 - Chance Chanel Figura 53 - Conga (Livro Alpargatas, 1972 in Gracioso e Penteado, 2001:142) Figura 54 - Vinho do Porto Adriano (Status, 1979 in Gracioso e Penteado, 2001:172) Figura 55 - Diet Pepsi (Anuário Clube de Criação, 1995/1996 in Gracioso e Penteado, 2001:225) Figura 56 - Kolynos (in O Cruzeiro, 7 maio 1955) Figura 57 - Chivas (Status, 1979 in Gracioso e Penteado, 2001:155) a) Alusão São as substituições encontradas em semelhanças formais (p.ex. uma taça de champanhe e uma flor). Figura 58 – Os orelhões da operadora “Telefonica” são as asas do anjo. A chamada é: “Anjos, ajudem as crianças com câncer”. Figura 59 – A “campanha da vodka Absolut. Reforço da garrafa como referência desencadeadora de associações positivas para a marca” (Perez, 2004:128). As associações nas formas das garrafas fazem alusões a uma bebida “santificada” e “iluminada”. Figura 60 – A forma e as cores dos biscoitos são uma alusão à marca MasterCard. O texto ainda faz o jogo de palavras destacando que o cartão de crédito é aceito tanto em docerias como em academias de ginástica. b) Metáfora Há metáfora26 quando ocorre as substituições fundadas em comparações de conteúdos. Na metáfora há uma transferência, quer dizer, com base na semelhança, um significante de signo passa a referir-se a outro objeto ou fato do nosso universo. No sentido literal comum, costurar refere-se ao resultado que obtemos com a máquina chamada máquina de costura. Com base na semelhança entre o que faz a máquina de costura e certos motoristas com suas “máquinas” nas ruas, no trânsito de nossas cidades, dizemos que eles também “costuram” (...) (Sandmann, 1993:85-86). Constitui-se na substituição de uma palavra por outra quando há uma relação de semelhança. Etimologicamente, metáfora significa mudança, transposição. Exemplo: coração de manteiga para designar pessoa com coração fraterno, de bom coração, mais sensível às emoções. Ou, ainda, o slogan da marca Skol, “a cerveja que desce redondo”. (...) Os slogans fazem largo uso das metáforas para se constituírem, pois semioticamente percebemos que elas abandonam os códigos e penetram na linguagem icônica, favorecendo a qualidade das sensações e das emoções. As metáforas são, portanto, metassignos por não se referirem a um objeto e sim a outro signo constituído a partir da relação de semelhança anteriormente estabelecida (Perez, 2004:162). Figura 61 – Somente a chamada, sem a associação com a foto, passa a idéia de que o que se vende é um apartamento. Na linguagem figurada, percebe-se que a cobertura são os Lençóis Artex e a área de lazer é outra coisa... Figura 62 – O que está sendo feito? Pintando os lábios ou colando o cartaz? Nesta campanha do Shopping Rio Sul, um exemplo de metáfora puramente visual. 26 Sacconi (1989:354) explica que a “metáfora é o emprego de palavra fora do seu sentido normal, por efeito de analogias” p.ex. “Esse homem é uma fera!”; “A vida é uma cartola de mágico”; “No calor da discussão, trocaram ofensas” (ibid.). 34 Figura 58 - Telefonica (Anuário Clube de Criação, 1999/2000 in Gracioso e Penteado, 2001:229) Figura 59 - Absolut (in Perez, 2004:128) Figura 60 - MasterCard(McCANN in Nova, out. 2001:19) Figura 63 – O sabor manga do picolé Kibon é representado metaforicamente pela própria fruta. Figura 64 – O verbo sacar tem um sentido metafórico ao ser associado à ação do jogador. Neste caso, mesmo o personagem estando uniformizado e com uma bola de vôlei, o termo “não saca nada” diz respeito à caderneta de poupança do Montanaro. Figura 65 – Embora a foto revele que o macaco está realmente curtindo suas férias, a mensagem do anúncio do Pneuback é destinada à ferramenta que ajuda a trocar pneus. Logo, evidencia-se a aplicação de uma linguagem metafórica. Figura 66 – É uma língua? Aqui, um bom exemplo de imagem metafórica. Na verdade, é o anúncio de uma marca de catchup... Figura 67 – Será que dá para colocar um tigre no carro? O tigre, mascote da Esso na década de 60, é usado de forma figurada. É um símbolo de força e potência. Figura 68 – O prendedor em forma de correntes indica, metaforicamente, uma forma de não deixar as cores dos cabelos escaparem. Figura 69 – Colocar o Volvo na largada de uma corrida de cavalos é uma forma de representar, em linguagem figurada, que o motor a diesel do carro tem 115 cavalos. c) Catacrese De acordo com Tufano (1990:241-242), “a catacrese consiste em transferir a uma palavra o sentido próprio de outra. No entanto, se a metáfora surpreende pela originalidade da associação de idéias, o mesmo não ocorre com a catacrese, que já não chama a atenção porque a transferência de sentido está de tal forma incorporada aos usos da língua que nem percebemos”. Sacconi (1989:356) descreve como exemplos de catacrese: Formigueiro humano. (formigueiro = porção de formigas); Embarcar no avião. (embarcar = tomar barco); Ferradura de prata. (ferradura = peça de ferro); Espalhar dinheiro. (espalhar = separar palha); Péssima caligrafia (caligrafia = boa letra). É, portanto, outra figura que também é caracterizada pela utilização do exagero. Segundo Perez (2004:163) “poderia se constituir em uma metáfora, mas como já foi incorporada na linguagem cotidiana, perde suas características”. A autora cita o seguinte exemplo: “virar a garrafa de cabeça para baixo. Rigorosamente garrafa não tem cabeça!” (ibid.). 36 Figura 61 - Artex (Anuário Clube de Criação, 1989 in Gracioso e Penteado, 2001:187) Figura 62 - Shopping Rio Sul (Anuário Clube de Criação, 1996/1997 in Gracioso e Penteado, 2001:229) Figura 63 - Kibon (ALMAP/BBDO, 1993 in Gracioso e Penteado, 2001:213) Figura 64 - Banespa (in Carvalho, 2000:56) Figura 65 - Pneuback (Brasil.com in Revista O Globo, 19 dez. 2004:75) Figura 66 - Catchup (Anuário Clube de Criação, 1999/2000 in Gracioso e Penteado, 2001:213) Figura 67 - Esso (Realidade, 1969 in Gracioso e Penteado, 2001:135) Assim como na língua portuguesa, conforme Durand (in Metz, 1974:46), na catacrese, semelhantes comparações também são permitidas na expressão visual, como por exemplo: “o frescor expresso pela apresentação de um pedaço de gelo” ou “a potência de um freio e de controle da direção de um carro expressos por trilhos e um pára-choque”. Figura 70 – O slogan da Pirelli ressalta que “potência não é nada sem controle”, ou seja, não adianta ter um carro potente se este não tiver segurança nos pneus. Neste anúncio, a segurança está representada por um conjunto de pneus que forma o desenho de uma mão fechada, como se fosse um soco. A chamada enfatiza a ilustração com o texto: “Garra e controle em mãos seguras”. Neste caso, a catacrese se dá na associação da segurança das mãos relacionada à segurança dos pneus. d) Símbolo Para Durand (op. cit.) quando a comparação se torna convencional à força da repetição, ocorre o símbolo: “a pluma significando leveza”, “o diamante, a pureza”. Figura 71 – Neste anúncio, o diploma da UniSuam muda a vida do recém-formado “da água para o vinho”. Conforme Durand, o termo “da água para o vinho” pode ser caracterizado como um símbolo pelo seu uso corrente. Nos exemplos das figuras 72 e 73, o porquinho surge como símbolo de economia. Nestes casos, de acordo com Durand, os porquinhos em forma de cofrinho são símbolos pela força do uso cotidiano. Figura 72 – Anúncio institucional da AngloGold para a preservação da natureza, por meio da economia de água. Figura 73 – Anúncio de página dupla da companhia aérea Gol. O porquinho voando é um símbolo de que as passagens aéreas da Gol são mais baratas. 39 Figura 68 - Seda (JWThompson in Marie Claire, maio 2004) Figura 69 - Volvo (in Visão, 15 a 21 mar. 2001:101) Figura 70 - Pirelli (in Época, 28 jun. 2004) Figura 71 - UNISUAM (in Domingo, 30 maio 2004) Figura 73 - Gol (Almap BBDO in Época, 14 mar. 2005:8-9) Figura 72 - AngloGold (Where in JB Ecológico, 5 jun. 2004) C3) Substituição de um elemento diferente Ocorre com o uso da metonímia. Há metonímia quando se emprega um termo pelo outro existindo entre ambos uma relação objetiva.27 Jacques Durand (op. cit.) relaciona alguns exemplos: substituição da causa pelo efeito (refrigerador substituído por um bloco de gelo de mesmo formato); substituição do efeito pela causa (a lã substituída pelo carneiro); substituição de um objeto por seu destino (o rádio representado por uma orelha e a televisão por um olho) e substituição do todo pela parte – sinédoque28 – (o carro representado por um volante ou por uma placa de registro / o personagem representado por uma parte do corpo). Como na metáfora, na metonímia também temos uma transferência, isto é, um significante de signo passa a referir-se a outro objeto ou fato do nosso universo, só que a base da transferência é outra: é a contigüidade, é a associação espacial histórica. Um exemplo: o que alguém ia representar no palco estava escrito em papel. Ora, papel, além do seu sentido básico, passou a significar também, por associação espacial, a parte, o personagem que cada ator ia representar numa peça (...) (Sandmann, 1993:88). Em outra explicação, Perez (2004:163) complementa que “há metonímia quando se estabelece uma relação de representação parcial do signo” A autora dá o exemplo do antigo slogan utilizado pelo iogurte Danone – “o magro gostoso”. “Aqui a metonímia se evidencia pela substituição do atributo (gostoso) pelo produto (magro – iogurte com baixas calorias) – o produto que é gostoso” (ibid.). Ainda segundo Perez: Há autores que diferenciam as relações de contigüidade, separando-as em quantitativa e qualitativa. A metonímia seria o exemplo de substituição parcial qualitativa. Quando a substituição parcial for quantitativa temos sinédoque. Essa figura de linguagem normalmente é entendida como um tipo de metonímia em que a substituição tem por objetivo amplificar a abrangência. Essa situação pode ser ilustrada com este exemplo: “a maldade de certas pessoas” por “a maldade da espécie humana”. Aqui a amplificação do sentido é flagrante (ibid.). Figura 74 – “Jesus era vegetariano. Respeite as criaturas de Deus – siga-o”. A idéia deste anúncio do PETA, ONG destinada à defesa dos animais, é passar que Jesus era vegetariano, portanto, devíamos seguir seu exemplo e não consumir carne animal. Para isso, usa-se, como metonímia, a fatia de uma laranja ao substituir a aréola de Cristo. 27 Andrade e Medeiros (2000:293) especificam os seguintes casos de metonímia: “(1) causa pelo efeito ou vice-versa (o sol [calor] me sufoca); (2) lugar do produto pelo produto (um conhaque); (3) descobridor pela descoberta (um volt, um ampère); símbolo pela coisa simbolizada (altar/religião; cruz/cristianismo); (5) autor pela obra (ler Camões, comprar um Portinari); (6) abstrato pelo concreto e vice-versa (cérebro/inteligência; juventude/os jovens); (7) a coisa pelo lugar (esteve na editora); (8) gênero pela espécie ou vice-versa (pão por alimento; poeta por Camões)”. 28 Na sinédoque “as relações entre as figuras e seus referentes são internas. Dá-nos uma amostra de alguma coisa, uma parte com que pretende representar-se um todo, uma espécie que representa um gênero, a matéria assumindo a função a que se aplica. Assim, emprega-se uma parte do corpo pela pessoa; teto por lar, vela por embarcação, réptil por serpente, peixe por carpa, pássaro por canário; árvore por pinheiro, bronze por sino, ferro por espada” (Wellek, 1971:244 apud. Andrade e Medeiros, 2000:292). 42 Figura 75 – O anúncio é destinado a divulgar o novo celular Siemens C55 que grava qualquer som para personalizar o toque de quem liga. A imagem nos mostra uma mulher em um galinheiro dando a seguinte explicação: “Fui gravar o toque do meu ‘ex’ e já volto”. No caso, quando o “ex” dela ligar, o som será de uma galinha. Portanto, o cacarejar substitui o som convencional do celular e representa o “ex”: uma metonímia de rapaz promíscuo. Figura 76 – A objetiva da câmera digital da HP é o olho do personagem. Na chamada, “Você e sua câmera, olhos nos olhos” enfatiza o uso da metonímia. Figura 77 – Inspirado na expressão “sim, nós temos banana”, os telefones em forma de cacho de banana e o texto “Yes, we have technology” formam um conjunto metonímico para representar a idéia de que há desenvolvimento tecnológico, por meio do sistema Telebrás. Figura 78 – Aqui se evidencia o uso da Sinédoque – quando a parte representa o todo. Neste caso, o volante é a representação do novo Audi A4. C4) Substituição de um elemento oposto Segundo Durand (in Metz, 1974:46), um elemento pode estar ligado a um outro elemento da mensagem por uma oposição de forma ou por uma oposição de conteúdo. No caso da forma ocorre a perífrase e do conteúdo a metalepse e o eufemismo. a) Perífrase A perífrase, de acordo com Douglas Tufano (1990:246) “consiste em substituir uma palavra por uma expressão ou frase. O uso da perífrase pode ser motivado pela intenção de destacar uma qualidade que a palavra sozinha não evoca (...)” (p.ex. Cidade Maravilhosa = Rio de Janeiro / vide nota de rodapé nº 22). É portanto a substituição de um nome por uma expressão que o identifique. Figura 79 – O exemplo de perífrase encontra-se no termo “pausa que refresca”, descrito na chamada e no texto. No anúncio, de 1945, Coca-Cola é a “pausa que refresca”. 43 Figura 74 - Peta (in JB Ecológico, 2 dez. 2004:29) Figura 75 - Siemens (McCANN in Marie Claire, jul. 2003:60-61) Figura 77 - Telebrás (Propeg, 1987 in Gracioso e Penteado, 2001:203) Figura 76 - HP (in Época, 28 jun. 2004) Figura 78 - Audi A4 (Anuário Clube de Criação, 1999/2000 in Gracioso e Penteado, 2001:215) b) Metalepse A metalepse29, conforme o exemplo de Durand (op. cit.), pode ser um copo ou uma garrafa vazia para lembrar a cerveja que lá se encontrava ou um personagem de pé num deserto em que a imagem da extrema nudez sugere por contraste a profusão do que o produto anunciado pode fornecer. É, portanto, uma figura que demonstra uma causa pela sua conseqüência e vice-versa. Figura 80 – Neste anúncio da Carolina Herrera, há um caso de metalepse. A personagem só numa praia é um exemplo de liberdade, conseqüência do uso sistemático do perfume Chic. c) Eufemismo O eufemismo, conforme é exposto por Tufano (1990:246) ocorre “quando, no lugar do termo próprio, empregamos outro que atenue ou evite a expressão direta de uma idéia desagradável ou grosseira.”30 Durand (op. cit., p.47) destaca que, na publicidade, é raro o eufemismo ser puramente visual (o autor cita a possibilidade das posturas dos personagens em um anúncio sugerir outra coisa). É uma figura que pode ser entendida como o contrário da hipérbole – há uma suavização das expressões, atenuando-as. “É mais ou menos como falar de algo não muito agradável de maneira delicada e não direta. Anúncio de remédio para impotência sexual é um bom exemplo” (Perez, 2004:165).31 Figura 81 – A leveza como foi tratada a campanha do câncer de mama, em 1997, é um exemplo de eufemismo – seu slogan foi: “Quem tem peito, participa”. Na foto, Maitê Proença aparece sorridente e descontraída vestindo a camiseta da campanha. 29 Metalepse: “s.f. (...) ESTL RET 1 tropo de ordem das metonímias em que se faz perceber uma causa, exprimindo a sua conseqüência e vice-versa, ou se faz entender a coisa significada por um sinal (o suor do teu rosto por ‘teu esforço’; respeito aos teus cabelos brancos por ‘a tua maturidade ou velhice’) (...) 2 (...) participação; troca; permuta (...) RET figura que consiste no emprego duma palavra por outra (...)” (Houaiss e Villar, 2001: 1907). 30 Exemplo de Eufemismo: “Depois de alguns momentos de delírio, entregou a alma a Deus” (Tufano, 1990:246). “Toalete (por mictório); tumor maligno (por câncer); dar o último suspiro (por morrer); criança excepcional (por retardada); faltar a verdade (por mentir) (Sacconi, 1989:362). Douglas Tufano (op.cit.) salienta, ainda, que a perífrase, muitas vezes, é usada com a finalidade do eufemismo. 31 “(...) Produtos como remédios e seguros de vida podem fazer uso de eufemismo para aliviar o impacto da comunicação. (...) Ainda outras questões, menos trágicas, podem ter no eufemismo uma interessante estratégia lingüística; por exemplo, para comunicar questões que envolvam tabus, preconceitos ou crenças. Ou seja, ao tratar de questões que não sejam nada fáceis, o eufemismo pode auxiliar suavizando o grau de conotação de uma determinada mensagem” (Perez, 2004:165). 46 Figura 81 - Campanha câncer de mama (Colucci, 1997 in Gracioso e Penteado, 2001:233) Figura 79 - Coca-Cola (1945 in Gracioso e Penteado, 2001:60) Figura 80 - Chic / Carolina Herrera (in Marie Claire, set 2002:12-13) C5) Falsa Homologia Uma situação é homóloga quando se mantém com outro elemento similar uma relação de correspondência. Logo, no caso da falsa homologia, é quando há o trocadilho: forma é idêntica e o conteúdo é oposto (antanáclase) ou forma é oposta e o conteúdo é idêntico (antífrase). Durand (in Metz, 1974:47) cita como exemplo de trocadilho visual um anúncio em que “mostra um fonógrafo sobre o qual o disco é substituído por um prato de macarrão”. Figura 82 – Neste exemplo, o trocadilho visual se dá pelos elementos que representam a refeição. Como se trata da nutrição dos cabelos, o alimento nutritivo que está no prato é o produto da Wella, os talheres são a escova e o pente. D) Figuras de Troca Há geralmente, na publicidade, quatro figuras de troca: dois na proposição inicial e dois na proposição transformada, podendo ser unidos por relações múltiplas. D1) Inversão É quando os elementos que permanecem no anúncio são idênticos, modificando somente a sua ordem – p.ex. visualmente, a inversão é realizada pela a apresentação de uma personagem de cabeça para baixo ou de costas. (...) Também ela pode se realizar com a deformação dos objetos (Durand op. cit., p. 47). Figura 83 – No anúncio da Paquetá, os calçados têm formatos idênticos, porém, apresentam-se em ordens invertidas, caracterizando a inversão. D2) Hendíade e Homologia a) Hendíade A hendíade é o mesmo que “hendíadis”. Significa uma “expressão de um conceito por dois substantivos quando um só bastaria: no silêncio e nos mares, por: nos mares silenciosos” (Bueno, 1981:560). A hendíade, para Durand (op. cit., p.48) ocorre quando se cria uma similaridade de forma gramatical entre dois elementos diferentes – p.ex. “o espaço límpido” se torna “o espaço e a limpidez”. 48 Figura 84 – Neste anúncio do Citibank, as personagens são seres diferentes – uma mulher na areia da praia e uma baleia. No entanto, é criada uma similaridade de forma. A relação entre as posições da mulher e o rabo da baleia, ambas de cabeça para baixo, evidenciam uma hendíade. b) Homologia A homologia, como figura de troca, é fundada numa similaridade do conteúdo, em que o mesmo conteúdo será apresentado sob formas gramaticais diferentes. Figura 85 – Durand (op. cit., p.48) cita como exemplo o anúncio, de 1945, do Stock em que apresenta inicialmente o bife cru e um pacote de Stock, depois o bife guarnecido de purée num prato”. O mesmo pode ser entendido no anúncio do Almadén de 2004. Em sua chamada está descrito: “Coisas especiais acontecem no paralelo 31. A mais especial delas, a gente engarrafou”. A imagem nos mostra uma videira. A uva – matéria-prima – transformada está logo abaixo, nas garrafas de vinho Almadén. A homologia se encontra na diferença de mostrar o mesmo conteúdo. D3) Assíndeto Na língua portuguesa, o assíndeto surge “quando certas orações ou palavras, que poderiam vir ligadas pelo conectivo, aparecem apenas justapostas – p.ex. Vim, vi, venci” (Tufano, 1990:238). Em relação à imagem, Durand (op. cit.) descreve que é quando “modifica as relações existentes entre os elementos da proposição suprimindo as coordenações”, ou seja, uma espécie de desconstrução das imagens. “Consiste em recortar a imagem em faixas verticais ou horizontais e em deslocar umas em relação às outras” (ibid.). Figura 86 – A foto cortada em tiras verticais, no anúncio do Itaú, é, segundo Durand, um exemplo de assíndeto. Figura 87 – Outro exemplo de assíndeto. Dessa vez, no anúncio da Vivo, a foto é cortada horizontalmente. 49 Figura 82 - Wella (Glam Rio, 17 jul. 2004:21) Figura 84 - Citibank (Wunderman in Época, 22 mar 2004:23) Figura 83 - Paquetá Calçados (Competence in Domingo, 5 out. 2003:25) Figura 85 - Almadén (Ogilvy in Época, 22 nov. 2004:61) D4) Anacoluto e Quiasmo a) Anacoluto “A troca dos elementos implica uma oposição a nível formal: a proposição se contrapõe às regras da gramática”. “(...) Consiste em realizar por fotomontagem uma imagem impossível” (ibid., p.49). Figura 88 – Exemplo de anacoluto: a montagem da Philips Radio de 1948. Uma mulher voa em uma prancha, demonstrando prazer como se estivesse ouvindo uma música. Figura 89 – Uma mulher flutuando e o Citroën C3 Ocimar Versolato sendo seu vestuário. Na chamada, o texto “vista esse carro” expõe a idéia da imagem construída que, como só é possível por meio de uma fotomontagem, é, para Durand, um anacoluto. Figura 90 – No anúncio da Smirnoff, outra imagem construída que só é possível por meio de montagem. Neste caso, encontra-se prazer ao consumir Smirnoff: até os problemas do trânsito confuso desaparecem. Figura 91 – No anúncio da Tim Festival 2004 o anacoluto se evidencia com o conjunto de imagens sobrepostas que demonstram um clima de festa, descontração, agitação. b) Quiasmo O quiasmo é a “disposição cruzada da ordem das partes simétricas de duas frases, de modo que formem uma antítese ou um paralelo (p.ex.: [1] vou sempre ao cinema, ao teatro não vou nunca; [2] meu filho abraçou-me carinhosamente, carinhosamente o abracei)” (Houaiss e Villar, 2001:2357). É então quando ocorre a “inversão e repetição de termos com ou sem alterações [p.ex.: tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra. / Uma ilusão de mim em cada canto, chorava em cada canto uma saudade. / Havia flores no seu olhar, no seu olhar havia flores. Vinhas fatigada, e triste, e triste e fadigado eu vinha]” (Aquino, 2003:254). Reboul (1998:128) explica que “o quiasmo é uma oposição baseada numa inversão, AB-BA, e não mais uma repetição” O autor descreve que às vezes cômico “o quiasmo no entanto integra-se muito bem nas visões trágicas do mundo, de São Paulo a Karl Marx:” Quem se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado. (Lc, XVIII, 14) Ao contrário da filosofia alemã, que vai do céu à terra, aqui subimos da terra ao céu (...) Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência. (Marx, A ideologia alemã.) 51 Figura 92 – No anúncio da Natura, o quiasmo é textual e encontra-se na construção da chamada “Cada idade tem sua beleza... E cada beleza tem sua idade”. O conceito da propaganda é explicitado pelas várias mulheres, mostrando a respectiva beleza de cada idade. Por se apresentar em mais de uma página, este anúncio também é um exemplo de suspensão e digressão. D5) Antimetábole e Antilogia a) Antimetábole Numa imagem, segundo Durand, pode apresentar lado a lado uma mesma personagem executando distintas ações em posições diferentes. Figura 93 – No anúncio da loja de moda infantil Lilica Riplica surge a mesma personagem em posições diferentes (sentada e em pé) mostrando uma variedade de roupas, caracterizando a Antimetábole. Figura 94 – O anúncio do McDonald’s faz um jogo interpretativo baseado na antimetábole. Mostra-nos a China “antes de meio-dia (AM)” e “depois de meio-dia (PM)”, ou seja, na hora do almoço. Ao mesmo tempo, é um exemplo da China como era antes da abertura de seu mercado. Com o McDonald’s, a China está, agora, mais colorida, mais alegre. A figura de retórica está na utilização da mesma personagem (criança chinesa) e sua mudança de atitude (de triste para alegre) que é aqui representada pela troca das roupas e pelo consumo do sanduíche. b) Antilogia A antilogia é uma “contradição ou confronto em idéias e argumentações; (...) é a oposição incoerente entre idéias ou sentenças de um mesmo discurso (...); contraditório, contrário” (ibid.). Para Durand (in Metz, 1974:49), é “uma figura de paradoxo, que consiste em unir numa mesma proposição elementos aparentemente contraditórios (‘obscura clareza’) (...) – como exemplo o autor cita: “uma mulher com roupa de banho numa paisagem de inverno”. Figura 95 – No anúncio da Cafiaspirina, de 1950, da Bayer, a antilogia consiste numa contradição proposta pela imagem: um passarinho e um gato dividindo, em harmonia, o mesmo prato de leite. Na chamada, a interjeição “Confiança!” ratifica a situação paradoxal da imagem. 52 Figura 86 - Itaú (DM9 é DDB in Época, 14 mar. 2005) Figura 87 - Vivo (Africa in Glam Rio, 17 jul. 2004) Figura 88 - Philips (1948, Gracioso e Penteado, 2001:64) Figura 89 - Citroën C3 Ocimar Versolato (Duezt Euro RSCG in Contigo, 24 jun. 2004) Figura 90 - Smirnoff (Anuário Clube de Criação, 1998/2000 in Gracioso e Penteado, 2001:216) Figura 91 - Tim Festival 2004 (in Domingo, 3 out. 2004:12-13) Figura 93 - Lilica Riplica (OpusMúltipla in Nova, out. 2001:117) Figura 92 - Natura (Guimarães in Nova, jul. 2002:9-11) Figura 94 - McDonald’s (Anuário Clube de Criação, 1992/1993 in Gracioso e Penteado, 2001:212) Figura 95 - Cafiaspirina (Seleções, 1950 in Gracioso e Penteado, 2001:89) 3. As figuras ao nível dos conjuntos dos anúncios Na maior parte do texto de Durand, a análise da retórica publicitária limitou-se unicamente aos anúncios normalmente veiculados na mídia impressa. No entanto, o autor ainda comenta que o anúncio não é uma mensagem isolada, pois ele está integrado em um conjunto de anúncios de uma campanha publicitária, ou seja, o discurso de cada anúncio faz parte de um contexto ainda maior, integrante do conceito publicitário que se quer transmitir. Esse conceito é alcançado pelo conjunto das mensagens veiculadas em diferentes formatos de mídia (televisão, rádio, cinema, outdoor, etc.). Sendo assim, Durand explica que também “encontra-se ao nível da campanha de publicidade as mesmas figuras de retórica (analisáveis nos termos de similitude e diferença) que no interior do anúncio” (ibid., p.50). Para ele, quando analisada a campanha como um todo, as figuras aparecem inclusive de maneira mais nítida e mais pura. Durand ainda salienta que ao nível dos conjuntos de anúncios, as figuras mais freqüentes são as de adjunção e as de similaridade, o que é perfeitamente lógico, pois cada anúncio deve manter uma unidade, visual e textual, para se fazer entender a mensagem global de uma campanha. Os diversos anúncios de uma campanha se sucedem de maneira descontínua, misturados com anúncios de outros produtos, com outros elementos redacionais. Logo, o leitor recebe os anúncios em intervalos espaçados, numa ordem qualquer, pode receber apenas uma parte das mensagens ou encontrá-las várias vezes. Portanto, segundo Durand, “o reconhecimento desta mensagem global pode trazer uma solução na medida da eficácia de uma campanha” (ibid.). Seguindo o raciocínio, a análise das figuras, tomando por base o conjunto dos anúncios de uma campanha, permite uma interpretação mais elaborada, considerando os objetivos comerciais e ideológicos do anunciante. 57 4. Sobre o discurso narrativo O que determina o componente de um discurso narrativo é a alteração temporal, a mudança de situação (visa relatar as transformações). Para Fiorin e Platão (1998:227) a “narrativa é, pois, uma mudança de estado operada pela ação de uma personagem”. No interior de um discurso narrativo “haverá sempre uma progressão temporal entre os acontecimentos relatados, isto é, conta ele eventos concomitantes, anteriores ou posteriores uns aos outros” (ibid. 230). Na narração, “há a alteração temporal, mudança causada entre um tempo anterior e um tempo subseqüente. O tempo inicial é diferente do tempo final” (Andrade e Medeiros, 2001:130). Verifica-se, portanto, que, numa narrativa, normalmente o leitor espera uma conclusão. Andrade e Henriques (1999:119) explicam que “só se narra o que é factual, o que tem história, o que acontece no tempo (...)”. Andrade e Medeiros (2001) explicam que, de modo geral, uma narrativa se estrutura em quatro fases: criação da expectativa (explicita espaço e tempo em que ocorrem a ação, apresenta as personagens); quebra da expectativa (conseqüência da ação ou movimentação das personagens, criação de um conflito); tentativa de resolução de um conflito (é o desenlace da narrativa, desfecho) e uma avaliação (pode apresentar uma moral, uma conclusão, uma lição). Muitas vezes a mensagem publicitária busca passar alterações temporais, movimentos, ação, relações das personagens com os acontecimentos, situações de causa efeito. Nesses casos, os elementos que compõem uma estrutura narrativa são, constantemente, utilizados. Ao narrar uma história, possibilidades de interação diversas entre público-receptor e a mensagem do anunciante podem ser criadas. 58 5. A narrativa nos anúncios publicitários Os exemplos de Suspensão e Digressão (B3), abordados por Durand, podem ser caracterizados como casos em que há a presença da narrativa (figura 96). Os acontecimentos são apresentados seqüencialmente: demonstram no início um “enigma” a ser desvendado, como se fosse um conflito (primeira página). Há, portanto, uma transformação do fato, marcado por uma progressão temporal (segunda página). Figura 96 – Nos exemplos de suspensão e digressão é evidenciada a estrutura narrativa pela seqüência dos acontecimentos. 59 Considerando que o discurso narrativo apresenta mudanças de situação de um ser particular, numa progressão temporal, numa relação de anterioridade e de posterioridade, demonstrando o dinamismo de suas transformações, no exemplo de Repetição (A1) também há a presença da narrativa (figura 97). A personagem não consegue pronunciar o nome da empresa (conflito), porém, os dois últimos quadros levam à aparente conclusão que ela obteve sucesso (desenlace, desfecho). Figura 97 – A seqüencialidade das imagens caracterizam a presença de uma narrativa. Na composição gráfica do anúncio da Tramontina, tem-se, também, na seqüência das imagens, a presença de uma estrutura narrativa. O texto é “Linha Supreme. A arte de transformar ingredientes em receitas”. As abóboras plantadas são, no caso, os ingredientes, antes do uso da faca. Após o uso, transformam-se em receitas. O antes e o depois caracterizam a relação causa e efeito. Conseqüentemente, a faca, ao separar os quadros, simboliza a ação da metamorfose entre ingrediente e receita e, ainda, representa o “corte temporal”. Figura 98 – Estrutura narrativa no anúncio da Tramontina. 60 A composição das imagens, no anúncio da UNISUAM, traz outro exemplo da relação causa / efeito. Nesta peça publicitária, o diploma é o elemento que mudará a vida do recém-formado “da água para o vinho”. O diploma, assim como a faca no anúncio da Tramontina, é o “corte no tempo”, do antes (água) e do depois (vinho), das ações anterior (vestibulando) e posterior (formado) – o tempo inicial é diferente do tempo final, o que caracteriza a presença de uma narrativa. Figura 99 – Estrutura narrativa no anúncio da UNISUAM. Contudo, uma narrativa não ocorre apenas com a disposição de diferentes imagens seqüenciadas. Fiorin e Platão (1998) ao abordarem o tema, exemplificam que pode ocorrer uma narrativa numa única imagem, citando como exemplo o cartum de Roger Blachon: Figura 100 – Segundo Fiorin e Platão (1998:231), "este cartum é um exemplo de seqüência narrativa concentrada numa só imagem. A partir da cena retratada, podemos perceber com base em relações de implicação, a anterioridade, a posterioridade e a concomitância das ações ocorridas: o toureiro enfrentando o touro, o touro chifrando-o na perna, o toureiro caindo, a entrada do homem para socorrer o toureiro e do juiz para repreender o touro". 61 No anúncio da Nova Schin, há a presença da seqüência narrativa em uma única imagem. A personagem, sob o solo, está cavando para chegar até a garrafa de cerveja. É uma ação a qual o tempo inicial será diferente do tempo final. Figura 101 – Anúncio da Nova Schin: seqüência narrativa em uma única imagem. 62 6. Considerações finais Por que, em certos momentos, quando nos comunicamos não somos diretos? Por que, às vezes, para transmitirmos uma mensagem com mais eficiência, montamos um discurso inverso ao o que realmente queríamos dizer? Entender as figuras de linguagem nas mensagens publicitárias é, muitas das vezes, interpretar suas “entrelinhas”. O texto de Durand nos mostra como é vasto o estudo das figuras de retórica. Olivier Reboul (2000, XIV) define que retórica é a “a arte de persuadir pelo discurso”. Nesse sentido, persuadir é “levar alguém a crer em alguma coisa” (ibid). A Retórica, segundo Andrade e Medeiros (2001:284), ensina, portanto, a encontrar idéias (argumentos), a dispô-las segundo o objetivo visado (informar, demonstrar, convencer, emocionar). O produtor do discurso deve estabelecer um plano de idéias e elaborar o texto, concatenando-as. Para a apresentação dos argumentos, o emissor recorre às figuras de linguagem. Se se tratar de exposição oral, ainda lhe caberá preocupar-se com a dicção e gestos. Martine Joly (2003:84) afirma que o trabalho de Jacques Durand é uma referência ao estudo das relações entre retórica e publicidade. Ela relata que o aspecto mais famoso desse trabalho é precisamente ter mostrado, por meio do estudo de mais de mil anúncios, que a publicidade utilizava toda a galeria de figuras de retórica que antes se acreditava reservadas à linguagem falada: figuras de sintagma (senão figuras de frase) e figuras de paradigma (senão de palavras). Jacques Durand ressalta que o campo de aplicação da retórica clássica já foi estritamente limitado à linguagem. Segundo o autor, para aplicar as figuras de retórica no domínio da imagem, foi necessário, contudo, extrair uma definição mais abstrata. Com tal abstração, “dispomos agora de um instrumento universal, que pode encontrar aplicação nos mais variados domínios” (ibid., p.53). Nesse sentido, quando falamos sobre criação automática, Durand explica que é com “a utilização dos conceitos retóricos que [se] poderá trazer uma solução: a retórica oferece efetivamente o interesse de definir uma tipologia entre o conjunto das mensagens logicamente possíveis” (ibid., p.55). Logo, o conceito de retórica adotado por Jacques Durand constitui na arte de se fazer crer através do discurso, sendo que a ênfase se encontra no discurso da imagem. Nas palavras de Joly (2003:87) “propõe, portanto, considerar a retórica da imagem publicitária como uma retórica da busca do prazer. Para reformular esse postulado, digamos que a imagem publicitária emprega em abundância a galeria de figuras de retórica para servir uma retórica hedonista”. A autora ainda ressalta que “Durand demonstrou não apenas que os mecanismos das figuras de retórica não eram à linguagem verbal, como também que o terreno da publicidade era um terreno particularmente rico para observações” (ibid.). 63 Deduz-se, então, que ao aplicar a retórica a um discurso, principalmente o publicitário, busca-se o reforço e/ou a aceleração dos efeitos comunicativos da mensagem, tendo em vista que a retórica é uma “roupagem” que se baseia no belo, porém, não o belo fútil, mas o belo persuasivo, “amplificador” do discurso. O uso da retórica em uma imagem, cuja sua estrutura seja narrativa, possibilita-nos refletir sobre o envolvimento do público-receptor: estaria este, ao se deparar com uma narrativa publicitária, repleta de atributos retóricos, subordinado a uma interação diferenciada com o anúncio? Ou talvez a mensagem poderia ser mais persuasiva, considerando o casamento entre retórica e estrutura narrativa? O público poderia sentir-se parte integrante da história narrada – uma personagem da história? A partir dos estudos de Durand, são questões que merecem ser levantadas e pesquisadas de forma mais aprofundada. ********* Apesar de o texto de Jacques Durand se referir à “retórica das imagens publicitárias”, não é ilustrado com imagens. Os exemplos são apenas descritos, o que realmente dificulta o entendimento das figuras de linguagem. Nesse trabalho, foram analisados 95 anúncios, dos mais diversos tipos de organizações, produtos e serviços. Verificou-se que, em muitos casos, é quase impossível desvincular as imagens dos textos, uma vez que eles se complementam. Em certos momentos, é apenas no texto que há a evidência da utilização de uma figura. Outra situação observada é que dificilmente haverá apenas a presença de uma única figura de retórica numa mensagem publicitária. Normalmente elas se mesclam, misturam-se. O que ocorre, freqüentemente, é a predominância de uma figura em relação à outra. A abordagem do trabalho de Durand nos possibilita reconhecer que foi aberto um grande leque investigativo na Comunicação: a análise do discurso persuasivo. Conclui-se, então, que o estudo da retórica nos instrumentaliza com recursos essenciais para a análise da mensagem publicitária. É por meio da retórica que observamos e compreendemos o conjunto argumentativo de uma peça publicitária. Forma e conteúdo são os códigos, verbais e não-verbais, que juntos construirão a mensagem persuasiva. 64 7. Referências Bibliográficas Livros: ANDRADE, Maria Margarida; HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa: noções básicas para cursos superiores. 6 ed. São Paulo: Atlas, 1999. _____________________; MEDEIROS, João Bosco. Comunicação em língua portuguesa: para os cursos de jornalismo, propaganda e letras. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2000. AQUINO, Renato. Português para concursos: teoria e 900 questões. 12 ed. 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