Nanotecnologia significa a habilidade de manipulação átomo por
Transcrição
Nanotecnologia significa a habilidade de manipulação átomo por
1 FABIANA APARECIDA DE LIMA EMPREGO DE NANOPARTÍCULAS SÓLIDAS NA LIBERAÇÃO DE FÁRMACOS POUCO SOLÚVEIS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Farmácia, Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná. Orientador (a): Dra. Letícia Norma Carpentieri Rodrigues CURITIBA 2008 2 SUMÁRIO Lista de Abreviaturas e Siglas Lista de Figuras Lista de Tabelas Resumo Abstract I INTRODUÇÃO .........................................................................01 II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................. 03 2.1 Conceitos Fundamentais sobre nanotecnologia.........................03 2.2 Nanotecnologia no Campo Farmacêutico ..................................06 2.3 2.2.1 Preparação de Nanopartículas .................................................08 2.2.2 Polímeros Biodegradáveis ........................................................11 2.2.3 Caracterização de Nanopartículas ...........................................12 2.2.4 Estabilidade das Nanopartículas Poliméricas ......................... 21 Aplicações da Nanotecnologia no campo farmacêutico.............. 23 III CONCLUSÃO ...........................................................................27 IV REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 28 3 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS nm nanômetro N&N Nanotecnologia & Nanociência PCA Precipitação com fluido supercrítico RESS Expansão rápida sob uma interface líquido-gás SFL Congelamento por atomização em líquido EPAS Precipitação por evaporação em solução aquosa SPM Scanning probe microscopy STM Scanning tunneling microscopy AFM Atomic force microscopy SEM Scanning electronic microscopy TEM Transmission electron microscopy HM High resolution optic microscopy PCM Phases constrast microscopy FIM Field ion microscope MFM Magnetic force microscopy NSOM Near field scanning microscopy PCL Poli (caprolactona) PLA Poli (ácido lático) PLGA Poli (ácido lático-co-glicólico) PVP Polivinil pirrolidona psi SThM pound per square inch (libra por polegada quadrada). Unidade de pressão no sistema inglês/americano: Psi x 0,07 = Bar; Bar x 14,3 = Psi 1 bar = 106 bárias. Bária é unidade de pressão no sistema c,g,s e vale uma dyn/cm2 Scanning thermal microscopy SICM Scanning ion-conditance microscopy SCM Scanning capacitance microscopy. REM Reflection electron micoscopy TGI Trato gastrintestinal bar 4 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Espacialização da escala nanométrica..................................................... 06 Figura 2. Representação esquemática de nanocápsulas e nanoesferas poliméricas: a) fármaco dissolvido no núcleo oleoso das nanocápsulas; b) fármaco adsorvido à parede polimérica das nanocápsulas; c) fármaco retido na matriz polimérica das nanoesferas; d) fármaco adsorvido ou disperso molecularmente na matriz polimérica das nanoesferas).......................................... 07 Figura 3. Comparação da resolução de diferentes tipos de microscópios. STM, microscópio de varredura por tunelamento (área sombreada); HM – microscópio óptico de alta resolução; PCM: microscópio de contraste de fases; (S) TEM, microscópio de transmissão eletrônica (de varredura); SEM: microscópio de varredura eletrônica; REM: microscópio de reflexão eletrônica e FIM: microscópio de feixes iônicos.................................................................................. 14 Figura 4. Representação de duas aplicações terapêuticas dos nanoimãs ................ 24 5 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Sistema de classificação biofarmacêutica................................................ 01 Tabela 2. Cronologia de fatos importantes na história da nanotecnologia........................................................................................................ 04 Tabela 3. Exemplos de aplicações da Nanotecnologia............................................ 05 Tabela 4. Comparação entre as diferentes características do microscópio óptico, o SEM e o AFM ...................................................................................................... 14 Tabela 5. Resolução típica das diferentes técnicas de microscopia de varredura por sonda (SPM)..................................................................................................... 15 6 RESUMO Paralelamente à permeabilidade nas membranas biológicas, a solubilidade/dissolução constitui-se em fator essencial para efetividade dos fármacos independente da via de administração. Tal fato é considerado um desafio para a indústria farmacêutica já que mais de 40% das substâncias ativas hoje investigadas apresentam-se insolúveis ou pouco solúveis. A dissolução de um fármaco é função da sua solubilidade intrínseca e do tamanho da partícula. A redução do tamanho da partícula em escala micrométrica ou nanométrica, de acordo com a equação de NoyesWhitney, conduz a um aumento da área de superfície das partículas e, conseqüentemente, ao aumento da biodisponibilidade. Os materiais e sistemas nanoestruturados exibem propriedades e fenômenos físicos, químicos e/ou biológicos significativamente novos e modificados devido à sua escala nanométrica. Explorar estas propriedades por meio de controle de estruturas e dispositivos em níveis atômico, molecular e supramolecuar e aprender a fabricar e usar estes dispositivos de maneira eficiente e, além de manter a estabilidade de interfaces e a integração dessas nanoestruturas em escala micrométrica e macroscópica é a chave para o progresso da nanotecnologia. 7 ABSTRACT Parallel the permeability in the biological membranes, the solubility/dissolution constitutes essential factor for effectiveness of the drugs independent of the administration way. Such fact has constituted a challenge for the pharmaceutical industry since more than 40% of active substances today investigated are presented insoluble or little soluble. The dissolution of a drug is function of its intrinsic solubility and its size of particle. The reduction of the size of the particle in micrometric or nanometric scale, in accordance with the equation of Noyes-Whitney, then leads to an increase of the area of surface of particles and increase of the bioavailable. The nanoparticles materials and systems show properties and physical, chemical and/or biological phenomena significantly new and modified due to its nanometric scale. To explore these properties by means of atomic, molecular control of structures and devices in levels and to supra molecular and to learn to manufacture and to use these devices in efficient way e, to keep the stability of interfaces and the integration of these nanostructures in micrometric and macrocospic scale are the key for the progress of the nanotechnology. 8 I. INTRODUÇÃO Os fatores que mais influenciam a biodisponibilidade de fármacos, em formulações para administração oral, são a solubilidade e a permeabilidade (LIPKA e AMIDON, 1999). Baseado nestes dois importantes fatores surgiu o Sistema de Classificação Biofarmacêutica (BCS), no qual os fármacos são classificados de acordo com sua permeabilidade e solubilidade, como representado na tabela 1: Tabela 1: Sistema de Classificação Biofarmacêutica Fármaco Grupo I II III IV Solubilidade alta baixa alta baixa Permeabilidade alta alta baixa baixa Absorção depende principalmente de: esvaziamento gástrico dissolução permeabilidade caso a caso Fonte: adaptado de Amidon et. al., 1995. Paralelamente à permeabilidade nas membranas biológicas, a solubilidade/dissolução constitui-se em fator essencial para efetividade dos fármacos independente da via de administração, especialmente os de classe II no BCS. Tal fato é considerado um desafio para a indústria farmacêutica já que mais de 40% das substâncias ativas hoje investigadas apresentam-se insolúveis ou pouco solúveis (PRENTIS et al., 1998). Fármacos pouco solúveis tendem a ser eliminados através do TGI antes de alcançarem a circulação, o que compromete a biodisponibilidade e a eficácia do medicamento. Embora várias metodologias como solubilização, cossolvência, complexação com ciclodextrina e dispersões sólidas possam ser usadas para aumentar a solubilização de fármacos, apresentam limitações como o emprego de solventes orgânicos muito tóxicos, ou necessidade de administração em altas dosagens ou ainda um elevado índice terapêutico – dose letal próxima a dose terapêutica. (KHARB et al., 2006). A dissolução de um fármaco é função da sua solubilidade intrínseca e seu tamanho de partícula. Vários estudos com vários fármacos pouco solúveis têm demonstrado que a redução do tamanho das partículas pode conduzir a um aumento na quantidade dissolvida a aumentar a biodisponibilidade oral, incluindo estradiol e estrona (ENGLAND e JOHANSSON, 1981), progesterona (HARGROVE et al., 1989), nitrofurantoína (WATARI et al., 1983), danazol (LIVERSIDGE e CUNDY, 1995), nifedipina (HECQ et al., 2005), ibuprofeno (KOCBEK e 9 KRISTL, 2006), entre outros. A redução do tamanho da partícula em escala micrométrica ou nanométrica, de acordo com a equação de Noyes-Whitney, conduz a um aumento da área de superfície das partículas e consequentemente aumento da biodisponibilidade (LIVERSIDGE e CUNDY, 1995; DOUROUMIS e FAHR, 2006). Nanotecnologia significa a habilidade de manipulação átomo por átomo na escala compreendida entre 0,1 e 100 nm, para criar estruturas maiores fundamentalmente com nova organização estrutural, normalmente, para fins comerciais (DURÁN et al., 2006). A nanotecnologia se baseia nos mais diversos tipos de materiais (polímeros, cerâmicas, metais, semi-condutores, compósitos e materiais) estruturados em escala nanométrica – nanoestruturados – de modo a formar blocos (building blocks) como clusters, nanopartículas, nanotubos e nanofibras, que por sua vez são formados por átomos ou moléculas (DURÁN et al., 2006). Os materiais e sistemas nanoestruturados exibem propriedades e fenômenos físicos, químicos e/ou biológicos significativamente novos e modificados devido à sua escala nanométrica. Explorar estas propriedades por meio de controle de estruturas e dispositivos em níveis atômico, molecular e supramolecuar e aprender a fabricar e usar estes dispositivos de maneira eficiente e, manter a estabilidade de interfaces e a integração dessas nanoestruturas em escala micrométrica e macroscópica é a chave para o progresso da nanotecnologia (DURÁN et al., 2006). Os estudos sobre os benefícios e/ou danos que a nanotecnologia poderá trazer à sociedade e/ou ao meio ambiente desempenharão um papel importante na afirmação e no seu crescimento. O caráter multidisciplinar da nanotecnologia poderá trazer descobertas e/ou inovações em praticamente todas as áreas do conhecimento, sobretudo em campos como química, física, biologia moderna, entre outros (DURÁN et al., 2006). O objetivo deste trabalho foi investigar, por meio de revisão bibliográfica, o emprego de nanopartículas sólidas no campo farmacêutico, particularmente na liberação de fármacos de baixa solubilidade. 10 II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Conceitos Fundamentais A nanotecnlogia e a nonociência (N&N) são consideradas, atualmente, como uma dos mais fascinantes avanços nas áreas de conhecimento e constituem um dos principais focos das atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação em todos os países industrializados (PIRES, 2004). A ciência é o conjunto de conhecimentos adquiridos ou produzidos que visam compreender e orientar a natureza e as atividades humanas, enquanto a tecnologia é o conjunto de conhecimentos, especialmente, princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade, geralmente, com fins industriais, isto é, a aplicação do conhecimento científico adquirido de forma prática, técnica e economicamente viável. Assim, a distinção entre os termos nanociência e nanotecnologia é igualmente comparável à diferenciação entre ciência e tecnologia (CNPq, 2002). Muitos consideram o ponto inicial da nanotecnologia, a palestra proferida em 1959, por Richard Feynman - prêmio Nobel de Física em 1965 - no qual ele sugeriu que um dia seria possível manipular átomos individualmente, uma idéia revolucionária para a época (FEYNMAN, 1959). O visunarismo de Feynman, contudo, somente se tornou realidade nos anos 80 com o desenvolvimento dos chamados microscópios de varredura por sonda. Esses microscópios mapeiam objetos de dimensões nanométricas por meio de uma agulha muito fina (sonda), construindo uma imagem com resolução de escala atômica. Tal acessório tornou possível manipular individualmente nada menos do que um átomo, a menor unidade possível de um elemento químico. Alguns acontecimentos históricos mais importantes na era da nanotecnologia estão ilustrados na Tabela 2. 11 Tabela 2. Cronologia de fatos importantes na história da nanotecnologia. Ano 1959 1974 1981 1981 1986 1996 1997 Fato Importante na Nanotecnologia Richard Feynman proferiu a palestra There’s a plenty of room at the bottom para a Americam Chemical Society, no Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA). No seu discurso propôs que era possível a manipulação átomo por átomo. Nori Taniguchi (Universidade de Tóquio) atribui o nome de nanotecnologia ao campo da engenharia na escala submicrométrica. O microscopio de varredura por tunelamento (SPM) foi inventado pelos pesquisadores da IBM, Gerd Binning e Henrich Röhrer. Primeiro artigo científico publicado sobre nanotecnologia por K. Eric Drexler, pesquisador de Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT. O Instituto Foresight é estabelecido para auxiliar no desenvolvimento e promoção da nanotecnologia, promovendo muitas conferências. Publicação do livro The engines of creation por K. Eric Drexler, com teorias que continuam revolucionando a nanotecnologia. Invenção do microscópio de força atômica (AFM), também pelos pesquisadores da IBM, Gerd Binning e Henrich Röhrer. Richard Smalley desenvolve um método de produção de nanotubos de diâmetros uniformes. Criada a primeira empresa em nanotecnologia – Zyvex. 1997 Primeiro dispositivo nanomecânico baseado na estrutura da molécula de DNA é criado por Ned Seeman. 1999 Os cientistas Mark Reed e James M. Tour criam um interruptor do “computador molecular” usando uma única molécula. 2000 2000 2001 Um produto que incorpora a Nanocrystal technology® de Elan Drug Delivery (King of Prússia, PA, USA) - uma formulação sólida de agente imunossupressor - foi aprovado pela FDA. Pesquisadores da Universidade de Rice desenvolvem métodos de transformação de nanotubos de carbono em estruturas rígidas multicomponentes. Pesquisadores da IBM desenvolvem métodos para o crescimento de nanotubos. Fonte: REYNOLDS, 2002; TSUKRUK, 1997. A Nanotecnologia já encontra aplicações praticamente em todos os setores industriais e de serviços. Estas podem ser em grande escala como os nanocompósitos poliméricos, produzidos a partir de commodities como os termoplásticos e as argilas, ao lado de produtos fabricados em quantidades reduzidas, mas com valor agregado elevado e criados para as tecnologias de informação e de telecomunicações. Estima-se que, de 2010 a 2015, o mercado mundial para materiais, produtos e processos baseados em nanotecnologia será de um trilhão de dólares (Tabela 3) (NSTC, 1999). 12 Tabela 3. Exemplos de aplicações da Nanotecnologia. Indústrias Indústria automobilística e aeronáutica Indústria eletrônica e de telecomunicações Indústria química e de materiais Indústria farmacêutica, biotecnológica e de biomedicina Setor de fabricação Setor energético Meio ambiente Defesa Fonte: (NSTC, 1999). Aplicações Materiais mais leves, pneus mais duráveis, plásticos não inflamáveis e mais baratos, etc. Armazenamento de dados, telas planas, aumento na velocidade de processamento, etc. Catalisadores mais eficientes, ferramentas de corte mais duras, fluidos magnéticos inteligentes, etc. Novos fármacos baseados em nanoestruturas, conjunto para autodiagnóstico, materiais para regeneração de ossos e tecidos, etc. Novos microscópios e instrumentos de medida, ferramentas para manipulara a matéria a nível atômico, bioestruturas, etc. Novos tipos de bateria, fotossíntese artificial, economia de energia ao utilizar materiais mais leves e circuitos menores, etc. Membranas coletivas para remover contaminantes ou sal da água, novas possibilidades de reciclagem, desenvolvimento de materiais para “tratamento” de áreas poluídas, criação dos “Lab on a chip” para detecção e quantificação de poluentes, etc. Detecção de agentes químicos e orgânicos, circuitos eletrônicos mais eficientes, sistemas miniaturizados de observação, tecidos mais leves, etc. 13 2.2 Nanotecnologia no Campo Farmacêutico No campo farmacêutico, o termo “nanopartícula” tem sido aplicado para estruturas sólidas coloidais com diâmetro entre 1 a 1000 nm, usadas como sistemas de liberação de fármacos (Figura 1) (KIP, 2004). A redução do tamanho da partícula para a nanoescala aumenta a velocidade de dissolução e solubilidade de saturação do fármaco, o que conduz ao aumento do desempenho in vivo (KHARB et al., 2006). Figura 1. Espacialização da escala nanométrica (KIP, 2004). O termo “nanopartícula” inclui as nanocápsulas e as nanoesferas, as quais diferem entre si segundo a composição e a organização estrutural. As nanocápsulas são constituídas por um invólucro polimérico disposto ao redor de um núcleo oleoso, podendo o fármaco estar dissolvido neste núcleo e/ou adsorvido à parede polimérica. Por outro lado, as nanoesferas, que não apresentam óleo em sua composição, são formadas por uma matriz polimérica, onde o fármaco pode ficar retido ou adsorvido (Figura 2) (SCHAFFAZICK e GUTERREZ, 2003). 14 Figura 2. Representação esquemática de nanocápsulas e nanoesferas poliméricas: a) fármaco dissolvido no núcleo oleoso das nanocápsulas; b) fármaco adsorvido à parede polimérica das nanocápsulas; c) fármaco retido na matriz polimérica das nanoesferas; d) fármaco adsorvido ou disperso molecularmente na matriz polimérica das nanoesferas) (SCHAFFAZICK e GUTERREZ, 2003). 2.2.1 Preparação de Nanopartículas O processo de preparação de nanopartículas deverá ser simples, continuo e eficiente; viável para larga escala; aceito por autoridades regulatórias; e permitir quantidades flexíveis de fármaco. Vários processos tal como moagem úmida, homogeneização sob alta-pressão, emulsificação, expansão rápida e congelamento por atomização podem ser usados para produzir nanopartículas (KHARB et al., 2006), os quais serão descritos a seguir. Moagem úmida. O processo envolve atrito do fármaco com uma solução aquosa do fármaco contendo surfactante. O fármaco é disperso em uma solução aquosa contendo um surfactante e submetido a moagem úmida. O impacto do fármaco com o meio de moagem gera energia suficiente para converter os cristais do fármaco em nanopartículas. O elemento de moagem geralmente é composto de vidro, óxido de zircônio estabilizado com silicato de zircônio, ou uma resina de poliestireno de alta densidade de forma esférica (0.4–3.0-mm diâmetro). A temperatura do processo é inferior a 40 °C e pressão aproximada de ~20 psi. O tempo de moagem pode levar horas ou dias dependendo da dureza do fármaco. Entre as limitações deste processo estão a contaminação do produto pelo atrito com as esferas e o tamanho variável das partículas (KHARB et al., 2006). Nanocristais de naproxeno foram preparados por moagem úmida; sua ® biodisponibilidade foi comparada com o Naprosym (naproxen suspension, Roche, Geneva Switzerland) e Anaprox® (naproxen tablet, Roche). O estudo revelou que o tempo requerido 15 para alcançar a concentração terapêutica máxima reduziu em 50% para a dispersão dos nanocristais. Paralelamente a área sobre curva (ASC) aumentou de 2,5 a 4,5 vezes durante a primeira hora do estudo (LIVERSIDGE e CONZENTINO, 1995). Homogeneização por alta pressão. O processo de homogeneização sob alta-pressão é baseado no princípio da cavitação, no qual bolhas ou cavidades de vapor são formadas dentro de um liquido, devido a aplicação de determinada pressão e, a implosão destas bolhas gera grande quantidade de energia. No processo de homogeneização, uma pré-suspensão do fármaco (na ordem micrométrica) é preparada por moagem na presença de uma solução de surfactante. A pré-suspensão é sujeita a homogeneização por alta pressão através de passagem através de um pequeno homogeneizador com aproximadamente 25 mm. A força de cavitação (energia gerada pela implosão das bolhas de vapor) é suficiente para desintegrar o fármaco da ordem de micropartículas para nanopartículas. A pressão de homogeneização varia entre 100 a 1500 bar a homogeneidade do produto. A principal vantagem da homogeneização por altapressão é que permite produção em pequena e larga escala, já que diversos modelos de homogeneizadores são disponíveis. Paralelamente, o nível de contaminação do fármaco neste processo é negligenciável. Uma limitação do processo é que a elevada pressão empregada em muitos casos muda a estrutura cristalina do fármaco. Este efeito leva um aumento da fração amorfa do fármaco. A variação da cristalinidade pode resultar em instabilidade e problemas de controle de qualidade do fármaco. (KHARB et al., 2006). Scholer e colaboradores (2001) mostraram o aumento da biodisponibilidade do Atovaquone® fármaco usado no tratamento da leishmaniose, por formulação como nanosuspensão. Em comparação com o fármaco micronizado, nanosuspensões de Atovaquone em dose equivalente reduziram a inefetividade de 40 para 15% em uma concentração reduzida de 7,5 mg/kg. A dosagem do fármaco diminuiu de 22,5 (fármaco micronizado) para 7,5 mg/kg (nanosuspensão), mas a atividade aumentou em 2,5 vezes. Tecnologia da Emulsificação ou nanoprecipitação. A Emulsificação pode ser usada para preparar suspensões de nanopartículas. Neste método, o fármaco - disperso em um solvente orgânico - é disperso em uma fase aquosa contendo surfactante. Esta etapa é seguida de evaporação do solvente orgânico sobre pressão reduzida (rotaevaporação), o qual resulta na precipitação de partículas do fármaco para formar uma suspensão de nanopartículas, a qual é estabilizada pela adição de surfactante. A emulsificação não deve ser empregada para 16 fármacos que apresentem baixa solubilidade em ambos os meios empregados (aquoso ou orgânico) (KHARB et al., 2006). A velocidade de dissolução do mitotano, uma agente antineoplásico, preparado em nanosupensão por emulsificação aumentou cinco vezes comparada com o produto comercial (TROTTA, 2001). Métodos mais recentes envolvem a formação de nanopartículas a partir de fluidos supercríticos, em emulsões do tipo H2O/CO2 supercrítico (neste caso, o surfactante deverá ter boa solubilidade em CO2, com fracas forças de dispersão das cadeias, como por exemplo, um perfluorpoliéter). Precipitação com fluido supercrítico (PCA). No processo PCA (RTP Pharmaceuticals and licensed to SkyePharma Plc [London, UK]), dióxido de carbono supercrítico é misturado com solvente orgânico contendo o fármaco. O solvente expande no dióxido de carbono supercrítico, aumentando assim a concentração do soluto em solução, resultando em uma solução supersaturada e causando a precipitação do soluto. Micropartículas e nanopartículas são formadas após a precipitação do fármaco por transferência de massa devido a extração do solvente orgânico junto ao dióxido de carbono. Elevada transferência de massa é importante para minimizar a aglomeração das partículas e reduzir o tempo de secagem (KHARB et al., 2006). Expansão rápida sob uma interface líquido-gás (RESS). No processo RESS uma solução ou dispersão de fosfolipídeos ou outro surfactante disponível em fluido supercrítico é formada. Assim, rápida nucleação do fármaco é induzida no fluido supercrítico contendo o surfactante (KHARB et al., 2006). Este processo foi usado por Young e colaboradores (2000) para preparar nanopartículas de ciclosporinas na faixa de 500–700 nm. Solução de Tween 80® foi usada como surfactante para prevenir a floculação e aglomeração das nanopartículas. Congelamento por atomização em líquido (SFL). Neste processo, desenvolvido na Universidade do Texas (Austin, TX) e comercializado pela Dow Chemical Company (Midland, MI), uma solução cosolvente aquosa, orgânica ou aquosa-orgânica; uma emulsão aquosa-orgânica; ou suspensão do fármaco é atomizado junto a um líquido criogênico tal como nitrogênio líquido para produzir nanopartículas congeladas, as quais são subsequentemente liofilizadas para obter um pó congelado. O rápido resfriamento causado 17 pelas baixas temperaturas no nitrogênio líquido e elevado grau de atomização resulta em nanopartículas amorfas. Hélio, propano, outros líquidos criogênicos como argônio e diidrofluoroéters ou dióxido de silício podem ser empregados para atomização. (KHARB et al., 2006). Nanopartículas de danazol foram produzidas pelo processo SFL. O pó obtido exibiu significativo aumento na velocidade de dissolução, comparado ao danazol micronizado: somente 30% do danazol micronizado foi dissolvido em 2 minutos, sendo que para as nanopartículas obtidas por SFL foram dissolvidos 95%. Estudos recentes empregaram nanopartículas de danazol/PVP K-15 obtidas por SFL para avaliar a estabilidade em longo prazo e verificaram que elas permaneceram amorfas, mas apresentaram rápida velocidade de dissolução após seis meses de armazenamento (HU et al., 2004). Precipitação pro evaporação em solução aquosa (EPAS). O processo EPAS também foi desenvolvido pela Universidade do Texas (Austin) e comercializado pela Dow Corning. Neste processo, o fármaco disperso em solvente orgânico é aquecido sob pressão em temperatura inferior a temperatura de ebulição do solvente orgânico e então atomizado junto a uma solução aquosa aquecida contendo um surfactante (estabilizante). O surfactante também pode ser adicionado juntamente com um solvente orgânico para inibir a cristalização e crescimento das partículas. Este processo permite a obtenção de nanopartículas para incorporação em preparação parenteral, ou podem ser secos para produzir formas farmacêuticas sólidas. O EPAS foi empregado para produzir nanopartículas de ciclosporina A e danazol, os quais mostraram elevadas velocidades de dissolução. Em estudos recentes, nanopartículas de danazol preparadas pelos processos SFL e EPAS produziram um pó amorfo; nanopartículas obtidas pelo processo SFL apresentaram valores de dissolução superiores àquelas obtidas pelo processo EPAS, embora ambas as metodologias possam ser empregadas (CHEN et al., 2002; CHEN et al., 2004). Os materiais e sistemas nanoestruturados formados exibem propriedades e fenômenos físicos, químicos e/ou biológicos significativamente novos e modificados devido à sua escala nanométrica. O objetivo é explorar estas propriedades por meio de controle de estruturas e dispositivos em níveis atômico, molecular e supramolecuar e manter a estabilidade de interfaces e a integração dessas nanoestruturas (DURÁN et al., 2006). 18 2.2.2 Polímeros Biodegradáveis A aplicação de materiais poliméricos nos diversos campos da ciência como engenharia de tecidos, implantes de dispositivos médicos e órgãos artificiais, próteses, proporcionou o desenvolvimento de matrizes poliméricas biodegradáveis ou biocompatíveis e degradáveis, isto é, degradadas in vivo em fragmentos menores que podem ser excretados pelo corpo (AZEVEDO, 2002). Os polímeros empregados nessas preparações são macromoléculas biodegradáveis que apresentam várias unidades monoméricas iguais (homopolímeros) ou diferentes entre si (copolímeros), podendo ser iônicos (polieletrólitos) ou não iônicos (neutros). Atualmente diversos polímeros biologicamente degradáveis são disponíveis (AZEVEDO, 2002): Polímeros naturais. São sempre biodegradáveis como, por exemplo, o colágeno, a celulose e a quitosana e são muito utilizados como matrizes em liberação de fármacos. Um exemplo é a aplicação de quitosana enxertada com poli (ácido acrílico), formando um copolímero, na confecção de nanoesferas para se estudar a liberação controlada em função do tempo, utilizando-se de eosina, um corante solúvel em água, como marcador (AZEVEDO, 2002). Polímeros naturais modificados. Um problema encontrado em polímeros naturais é que eles freqüentemente levam muito tempo para degradar. Isto pode ser resolvido adicionando-se grupos polares às cadeias, que por serem mais lábeis podem diminuir o tempo de degradação. Exemplos destas modificações podem ser a reticulação de gelatina utilizando-se formaldeído, a reticulação de quitosana utilizando-se glutaraldeído e transformação de celulose em acetato de celulose. Modificações enzimáticas também são utilizadas, como a modificação de quitosana por tirosinase (AZEVEDO, 2002). Polímeros sintéticos. São também largamente utilizados, como, por exemplo, poli(etileno), poli(álcool vinílico), poli(ácido acrílico), poli(acrilamidas), poli(etilenoglicol), poliésteres. No caso dos poliésteres, estes são mais utilizados pelo químico e têm no poli(ácido glicólico) o polímero alifático linear mais simples. O monômero glicolide é sintetizado a partir da dimerização do ácido glicólico e a polimerização por abertura de anel leva a materiais de alta massa molar, com aproximadamente 1-3% do monômero residual. São também preparados copolímeros-bloco compostos de PEO-PPO-PEO (Pluronic, um copolímero-bloco relativamente hidrofílico) e poli(e-caprolactona) (hidrofóbico) obtido a partir da abertura de 19 anel de e-caprolactona, na presença de PEO-PPO-PEO e catalisador octoato estanhoso (AZEVEDO, 2002). 2.2.3 Caracterização das nanopartículas O desenvolvimento da nanotecnologia depende fundamentalmente do tipo de material, assim como da caracterização de suas propriedades. Em função de sua natureza coloidal, dificuldades técnicas são encontradas na caracterização físico-química das nanopartículas. A caracterização das suspensões engloba a avaliação morfológica, a distribuição de tamanho de partícula, a distribuição de massa molar do polímero, a determinação do potencial zeta e do pH, a determinação da quantidade de fármaco associado às nanoestruturas, a cinética de liberação do fármaco e, ainda, a avaliação da estabilidade em função do tempo de armazenamento. O conjunto de informações obtidas pela caracterização destes sistemas pode conduzir à proposição de modelos que descrevam a organização das nanopartículas em nível molecular, que será dependente da composição quali-quantitativa das formulações (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). 2.2.3.1 Avaliação morfológica As microscopias eletrônicas de varredura (SEM) ou de transmissão (TEM) têm sido muito empregadas na obtenção de informações relativas à forma e ao tamanho das nanopartículas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). A microscopia eletrônica de varredura (SEM) usa um feixe de 2 a 3 nm de elétrons que varrem a superfície da amostra para gerar elétrons secundários, oriundos do material analisado, que são detectados pelo sensor; a imagem final formada na SEM dá a impressão de três dimensões. Já a microscopia eletrônica de transmissão (TEM) projeta elétrons através de uma fatia muito fina de material a ser analisado (70-10 nm de espessura) para produzir uma imagem bi-dimensional em uma tela fosforescente ou filme fotográfico. A TEM permite diferenciar nanocápsulas e nanoesferas, possibilitando, inclusive, a determinação da espessura da parede das nanocápsulas. A técnica de criofratura também tem sido associada a esta técnica para auxiliar a análise morfológica destes sistemas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Rollot e colaboradores (1986) demonstraram que nanoesferas apresentam forma esférica, com estrutura polimérica sólida, ao passo que, as nanocápsulas são formadas por um fino (cerca de 5 nm) invólucro polimérico ao redor do núcleo oleoso. A utilização de 20 microscopia eletrônica, associada à técnica de criofratura, permitiu evidenciar a organização morfológica de nanocápsulas de poli(cianoacrilato de etila), nas quais o óleo, um triacilglicerol (Miglyol 812®), está circundado por uma parede polimérica. Nos últimos vinte anos, a microscopia vem surpreendendo com avanços extraordinários. O surgimento das técnicas que compõem a família dos microscópios de varredura por sonda, e em particular, a microscopia de força atômica (AFM), representa talvez o mais notável avanço na microscopia, trazendo novo alento ao desenvolvimento da nanotecnologia, já que permitem não apenas a visualização, mas também a manipulação das amostras em escala nanométrica. As principais vantagens do AFM, quando comparado ao SEM, para análise morfológica e estrutura de materiais em geral, são: a) maior resolução, imagem em 3 dimensões, não existir necessidade de recobrimento com material indutivo; b) não exigir métodos específicos de preparação da amostra, permitir quantificação direta da rugosidade da amostra; c) permitir a medida da espessura dos filmes em ultrafino sobre substratos; d) medida das propriedades mecânicas do material em escala nanométrica; e) análise de amostras imersas em meio líquido, aliadas ao menor custo do equipamento (US$30 a US$ 200 mil). A Figura 3 representa a resolução de diferentes microscópios da família dos microscópios de varredura por sonda - atualmente considerados com maior resolução lateral e vertical. E em seguida, na Tabela 4, temos uma comparação entre as diferentes características do microscópio óptico, o SEM e o AFM (DURÁN et al., 2006). 21 Figura 3. Comparação da resolução de diferentes tipos de microscópios. STM: microscópio de varredura por tunelamento (área sombreada); HM – microscópio óptico de alta resolução; PCM: microscópio de contraste de fases; (S) TEM: microscópio de transmissão eletrônica (de varredura); SEM: microscópio de varredura eletrônica; REM: microscópio de reflexão eletrônica e FIM: microscópio de feixes iônicos. Fonte: DURÁN et al., 2006. Tabela 4. Comparação entre as diferentes características do microscópio óptico, o SEM e o AFM. Meio de Operação Microscópio óptico Ambiente, líquido, vácuo SEM Vácuo AFM Ambiente. Líquido, vácuo Profundidade do Campo Pequeno Grande Médio Profundidade do Foco Médio Pequeno Pequeno Resolução x, y x Faixa de aumento 200 nm Não determinado 1 – 2000 0,1 – 1,0 nm 0,01 nm 500 – 10 Preparação da amostra Pouca 5 nm Não determinado 10 - 106 Secagem e recobrimento condutor Características da amostra Amostra totalmente transparente ao comprimento de onda da luz utilizada Superfície não carregada e deve suportar vácuo Amostras não devem conter variações muito grandes de altura Fonte: DURÁN et al., 2006. Nenhuma 22 A AFM chegou ao conhecimento da comunidade científica em 1982 (BINNING et al., 1982). Os microscópios de varredura por sonda não usam lentes que desviam feixes de luz (ou de elétrons) para gerar a imagem ampliada. A extremidade de uma sonda é colocada em contato direto com a amostra para varrer a sua superfície e mapear sua topografia e propriedades. O tipo de sensor empregado define o tipo de microscopia de varredura por sonda (SPM): quando a interação medida é a força entre os átomos da extremidade da agulha e átomos da amostra, a técnica é denominada microscopia de força atômica (AFM); quando a corrente de tunelamento entre estes elétrons é medida, a técnica é denominada como microscopia de varredura por tunelamento (STM). A microscopia por tunelamento (STM) é a técnica pioneira que levou ao surgimento de mais doze técnicas que formam a família de microscopia de varredura por sonda (SPM) (DURÁN et al., 2006). Na tabela 5 são mostradas as resoluções dos SPM. Tabela 5. Resolução típica das diferentes técnicas de microscopia de varredura por sonda (SPM). SPM Interações Resolução Aplicações AFM Van der Waals, eletrostáticas 1 Qualquer superfície FMM Magnéticas 250 Superfícies magnéticas STM Elétron-elétron 0,1 Substratos condutores NSOM Eletrodinâmicas 500 Espectroscopia SThM Fônons 500, 10-4 Adsorção fototérmica SICM Correntes iônicas 103 Eletroquim. e canais iônicos SCM Eletrostáticas 10 Medidas de capacitância Fonte: DURÁN et al., 2006. Feng e Huang (2001) empregaram microscopia de força atômica (AFM) visando um estudo morfológico mais detalhado de nanoesferas de PLGA, preparadas empregando-se diferentes emulsificantes. Através do estudo, foi verificada uma topografia complexa na superfície das partículas e, mediante a análise seccional das amostras, foi revelada a presença de pequenas cavidades e de poros. 23 2.2.3.2 Distribuição de tamanho de partícula De uma forma geral, as nanopartículas obtidas através de diferentes métodos, após a preparação, apresentam uma distribuição unimodal, com um baixo índice de polidispersão. Os métodos usuais para a determinação da distribuição de tamanho das nanopartículas consistem em espectroscopia de correlação de fótons e SEM ou TEM. Dependendo da formulação, podem ser verificadas diferenças de tamanho de partículas conforme o método empregado na sua determinação, uma vez que a microscopia eletrônica fornece uma imagem da partícula isolada do meio, enquanto a espectroscopia de correlação de fótons possibilita a determinação do raio hidrodinâmico das partículas em suspensão (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Vários estudos têm sido desenvolvidos para a avaliação dos principais fatores que afetam o diâmetro das partículas de sistemas nanoestruturados. Geralmente, as nanopartículas, mesmo preparadas através de diferentes métodos, apresentam diâmetros médios entre 100 e 300 nm, no entanto, partículas com diâmetros em torno de 60 a 70 nm ou mesmo inferiores a 50 nm podem ser obtidas. A composição quali-quantitativa e o método de preparação das nanopartículas são fatores determinantes do diâmetro médio e da polidispersão das partículas. No caso das nanocápsulas, um fator importante, que influencia o diâmetro das partículas, é a natureza do óleo utilizado como núcleo. Os resultados são atribuídos às diferenças de viscosidade, hidrofobicidade ou tensão interfacial das substâncias empregadas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Outra observação relevante é que a adição de monômero à emulsão (método de polimerização interfacial) ou, ainda, a presença do polímero (método de deposição de polímero pré-formado) podem conduzir à diminuição de tamanho de partícula em relação à emulsão devido, provavelmente, à redução da energia livre interfacial do sistema, no primeiro caso, ou mediante um efeito estabilizador do polímero ao redor das gotículas, no segundo (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Empregando-se o método de polimerização in situ, a presença do fármaco no meio pode alterar ou não o diâmetro médio das partículas, uma vez que esse, assim como o tipo de tensoativo empregado, pode interferir ou não na síntese e deposição das cadeias oligoméricas formadas. A presença do fármaco no meio reacional influencia o processo de nucleação, conduzindo a partículas maiores com ampla distribuição de tamanho. Quando o fármaco é adicionado após o término da polimerização, o tamanho destas não foi alterado pela sua associação. Utilizando-se o método de precipitação de polímeros pré-formados, a presença do 24 fármaco na fase orgânica, antes da precipitação do polímero em meio aquoso, também pode ou não influenciar o diâmetro médio de partículas. É importante mencionar que a tendência à agregação e sedimentação das nanopartículas dispersas, em função do tempo, pode ser monitorada pela determinação de mudanças na distribuição de tamanho de partículas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). 2.2.3.3 Massa molar e distribuição de massa molar do polímero A determinação da distribuição de massa molar do polímero, após preparação, pode fornecer informações em relação à influência de componentes da formulação sobre o processo de polimerização, sobre a ocorrência de reações químicas entre o fármaco e o polímero e, ainda, sobre a degradação do polímero, em função do tempo. A técnica comumente utilizada para a determinação da distribuição de massa molar do polímero é a cromatografia de exclusão de tamanho. Outra técnica que pode ser empregada é o espalhamento de luz estático, mediante a análise da intensidade de luz espalhada pelas partículas. (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Fresta e colaboradores (1995) verificaram que ofloxacino, um antibiótico fluorquinolônico, funciona como um iniciador da polimerização, conduzindo a cadeias poliméricas com menor massa molar, enquanto que o mesilato de pefloxacino foi capaz de levar à formação de cadeias poliméricas de maior massa molar, em relação às partículas obtidas na ausência destes fármacos. 2.2.3.4 Potencial zeta O potencial zeta reflete o potencial de superfície das partículas, o qual é influenciado pelas mudanças na interface com o meio dispersante, em razão da dissociação de grupos funcionais na superfície da partícula ou da adsorção de espécies iônicas presentes no meio aquoso de dispersão. Este parâmetro é determinado utilizando- se técnicas de eletroforese (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Os fosfolipídios (lecitinas), os poloxamers (copolímeros dos óxidos de etileno e de propileno) e os polímeros constituintes das nanopartículas são os principais componentes presentes nas formulações capazes de influenciar o potencial zeta. Especialmente os poliésteres, como o PLA, e as lecitinas fornecem um potencial negativo à interface, enquanto que, os poloxamers (tensoativos não-iônicos) tendem a reduzir o valor absoluto deste 25 parâmetro. Em módulo, um valor de potencial zeta relativamente alto é importante para uma boa estabilidade físico-química da suspensão coloidal, pois grandes forças repulsivas tendem a evitar a agregação em função das colisões ocasionais de nanopartículas adjacentes (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). As características de superfície das partículas também podem alterar a resposta biológica do fármaco associado. Quando se administram intravenosamente sistemas de nanopartículas convencionais, estes são rapidamente removidos da circulação sanguínea pela ação de células do sistema fagocitário mononuclear, dificultando a chegada do fármaco ao sítio de ação, com exceção de casos onde a captura por macrófagos é necessária, como no tratamento da leishmaniose. Diferentes estratégias têm sido proposta para modificar a distribuição in vivo das nanopartículas, baseadas principalmente na redução da hidrofobicidade da superfície das partículas através da adsorção física de um polímero hidrofílico [poli(etilenoglicol)]. Calvo e colaboradores (1996) prepararam nanoemulsões e nanocápsulas de PCL, nas quais quitosana (um polissacarídeo catiônico) foi incorporada às formulações para fornecer potencial de superfície positivo às partículas (ζ = +37 mV a ζ = +61 mV), objetivando facilitar a interação destas com as membranas biológicas fosfolipídicas, além de prevenir a desestabilização das nanoestruturas preparadas, devido à adsorção de cátions e proteínas catiônicas presentes nos fluidos biológicos. 2.2.3.5 pH das suspensões Informações relevantes sobre a estabilidade de suspensões nanoparticuladas podem ser obtidas mediante o monitoramento do pH, em função do tempo. Por exemplo, a alteração do pH pode ser indício de degradação do polímero. Em um trabalho realizado por Calvo e colaboradores (1996) foi verificada uma diminuição da massa molar da PCL em suspensões de nanocápsulas e de nanoesferas, após 6 meses de armazenamento, com conseqüente diminuição do pH destas formulações. No entanto, a diminuição dos valores de pH de suspensões coloidais poliméricas, em um curto período de tempo, pode ser atribuída tanto à ionização de grupos carboxílicos presentes no polímero, quanto à hidrólise, dependendo da hidrofobicidade do poliéster. Suspensões de nanopartículas preparadas com PCL apresentaram redução dos valores de pH, num período de 3,5 meses. Este fato foi atribuído à exposição de maior número de grupos 26 ácidos carboxílicos terminais, em função do tempo, promovida pelo relaxamento das cadeias poliméricas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). 2.2.3.6 Determinação da quantidade associada e da forma de associação do fármaco A determinação da quantidade de fármaco associada às nanopartículas é especialmente complexa devido ao tamanho reduzido destas, que dificulta a separação da fração de fármaco livre da fração associada. Uma técnica de separação bastante utilizada é a ultracentrifugação, na qual a concentração de fármaco livre, presente na suspensão, é determinada no sobrenadante, após a centrifugação. A concentração total de fármaco, por sua vez, é geralmente determinada pela completa dissolução das nanopartículas em um solvente adequado. Por conseguinte, a concentração de fármaco associada às nanoestruturas é calculada pela diferença entre as concentrações de fármaco total e livre. Outra técnica que também tem sido empregada é a ultrafiltração-centrifugação, na qual uma membrana (10 kDa) é empregada para separar parte da fase aquosa dispersante da suspensão coloidal. A concentração livre do fármaco é determinada no ultrafiltrado e a fração de fármaco associada às nanoestruturas é calculada também pela subtração das concentrações total e livre (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Diversos fatores são capazes de influenciar a quantidade de fármaco associada aos sistemas nanoestruturados, dentre os quais destacam- se as características físico-químicas do fármaco, o pH do meio, as características da superfície das partículas ou a natureza do polímero, a quantidade de fármaco adicionada à formulação, a ordem de adição do fármaco na formulação, ou seja, antes (incorporação) ou após (incubação) à formação das nanoestruturas, a natureza do óleo utilizado (no caso das nanocápsulas) e o tipo de tensoativo adsorvido à superfície polimérica. Modificando-se as características de superfície das partículas, é possível obter diferentes taxas de associação do fármaco por adsorção, para uma mesma concentração inicial do mesmo. Este parâmetro é provavelmente muito importante para determinar a capacidade de prolongar o tempo de ação do fármaco. Portanto, é relevante determinar a isoterma de adsorção de fármacos à superfície das nanopartículas, uma vez que a mesma fornece informações de como o fármaco está distribuído na superfície das partículas e, ainda, sobre a capacidade de associação do mesmo. Experimentalmente, em uma dada temperatura, diferentes quantidades de fármaco são adicionadas a um determinado volume de suspensão. Após estabelecido o equilíbrio, pela distribuição do fármaco entre a fase fluida e o adsorvente 27 (nanopartículas), uma alíquota de cada mistura é ultracentrifugada e a concentração do fármaco é determinada no sobrenadante. A isoterma de adsorção, que expressa a variação da concentração de equilíbrio no adsorvente, é obtida plotando-se os valores de concentração de equilíbrio contra os valores de fármaco adsorvido. Além disso, uma pequena variação nas quantidades adsorvidas pode induzir a grandes diferenças no perfil de liberação do fármaco, principalmente para aqueles fracamente ligados às nanopartículas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Em relação às nanoesferas, diferentes formas de associação do fármaco são descritas, sendo relatado que este pode estar dissolvido ou disperso dentro da matriz polimérica, ou ainda que pode estar adsorvido ao polímero. No entanto, até o presente momento, não está clara a diferença entre a adsorção do fármaco à matriz polimérica e a sua dispersão molecular na partícula. Por outro lado, nas nanocápsulas, as quais foram desenvolvidas para aumentar a eficiência de associação de fármacos lipofílicos, estes deveriam estar encapsulados pela membrana polimérica, ou seja, dissolvidos no núcleo oleoso. Entretanto, alguns artigos relatam a possibilidade da adsorção do fármaco à parede polimérica das nanocápsulas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Segundo Fresta e colaboradores (1995), os fármacos, quando associados pelo processo de incorporação, estariam dissolvidos, dispersos, adsorvidos ou quimicamente ligados à matriz polimérica. Por outro lado, utilizando-se o método de incubação, dependendo da natureza química do fármaco e do polímero, esse poderia estar adsorvido às nanoestruturas. Em vista disto, outro ponto que merece destaque, é a proposição da forma de associação do fármaco às nanopartículas, a qual é bastante complexa, uma vez que os métodos disponíveis apenas determinam a concentração de fármaco associada aos sistemas, ou seja, não são capazes de diferenciar se o fármaco está adsorvido ou retido na matriz polimérica das nanoesferas, ou se está dissolvido no óleo das nanocápsulas e/ou adsorvido à parede polimérica. Neste contexto, os pesquisadores têm feito inferências a respeito da associação do fármaco às nanopartículas através de estudos comparativos de potencial zeta, de perfis de liberação, de distribuição de massa molar do polímero, de estudos de adsorção e/ou de taxa de associação do fármaco às nanoestruturas, ou, ainda, através do uso de sondas fluorescentes (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Outras técnicas empregadas para a determinação da forma de associação do fármaco a nanopartículas incluem a calorimetria exploratória diferencial, a difração de raios X e/ou a espectroscopia no infravermelho. 28 2.2.3.7 Métodos - in vitro - utilizados para prever a cinética de liberação do fármaco Segundo Soppimath e colaboradores (2001), a liberação dos fármacos a partir de sistemas nanoparticulados poliméricos depende de diferentes fatores: a) da dessorção do fármaco da superfície das partículas; b) da difusão do fármaco através da matriz das nanoesferas; c) da difusão através da parede polimérica das nanocápsulas; d) da erosão da matriz polimérica ou e) da combinação dos processos de difusão e erosão. Métodos como a difusão em sacos de diálise e a separação baseada na ultracentrifugação na filtração a baixa pressão ou na ultrafiltração-centrifugação têm sido utilizados para este fim. 2.2.4 Estabilidade dos sistemas nanoparticulados Durante o tempo de armazenamento, pode ocorrer a agregação das nanopartículas no meio, resultando na formação de precipitados. Além disso, problemas de estabilidade química do polímero ou das demais matérias-primas, incluindo o fármaco, podem ocorrer. A conseqüência de uma estabilidade físico-química limitada, em função do tempo, constitui um obstáculo para a aplicabilidade industrial das suspensões aquosas de nanopartículas. Neste sentido, o interesse pelo desenvolvimento de formas farmacêuticas sólidas de nanopartículas estáveis é um ponto de convergência das pesquisas. Os problemas de estabilidade limitada podem ser minimizados através da secagem dos sistemas. A desidratação das suspensões de nanopartículas tem sido realizada através das operações de sublimação (liofilização) ou de aspersão (“spray-drying” ou nebulização) (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). 2.2.4.1 Liofilizados de nanopartículas A liofilização consiste na remoção da água (gelo) através de sublimação e tem sido amplamente empregada para a secagem de suspensões de nanoesferas (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Em artigos recentes, tem sido relatado que a presença de um crioprotetor é fundamental para a desidratação de suspensões de nanopartículas através de liofilização. Os crioprotetores mais comuns, citados na literatura são os carboidratos (glicose, sacarose, manitol, frutose), sendo os mono- e dissacarídeos os mais efetivos na manutenção das características iniciais de tamanho das partículas. Este efeito crioprotetor ou lioprotetor dos 29 açúcares é atribuído à formação de uma matriz amorfa ao redor das nanopartículas, promovendo um espaçamento entre as mesmas, evitando, assim, a agregação durante o congelamento, tornando-as ressuspendíveis (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). A seleção dos carboidratos mais adequados para atuarem como crioprotetores, na liofilização de nanopartículas, tem sido feita pelo índice de redispersão, o qual é obtido pela relação entre os diâmetros médios de partícula após a ressuspensão dos liofilizados e antes da secagem. Para um adequado efeito protetor, geralmente, é necessário adicionar quantidades elevadas de carboidrato. O produto apresenta um aspecto de sólido aglomerado. Cabe ressaltar que, quando estas formulações são planejadas para a administração parenteral, a manutenção do tamanho médio das partículas é um fator crítico (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). 2.2.4.2 Nebulizados de nanopartículas A operação de secagem por nebulização consiste na passagem da solução ou da suspensão, através de um orifício atomizador, para a câmara de secagem sob a forma de gotículas, em co-corrente, contracorrente ou fluxo misto de ar quente, que promove a rápida secagem das gotículas. As partículas sólidas secas são, então, separadas e recolhidas, podendo apresentar-se sob a forma de pós finos, granulados ou aglomerados (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Freitas e Müller (1998) empregaram a nebulização como uma alternativa à liofilização, objetivando aumentar a estabilidade de nanopartículas formadas por lipídeos sólidos, utilizando como adjuvante carboidratos (manitol, lactose, trealose, sorbitol, glicose e manose). Guterres e colaboradores (2004) usaram o processo de nebulização em suspensões de nanocápsulas de diclofenaco e investigaram os parâmetros que afetam a degradação e estabilidade destes sistemas. 30 2.3 Aplicações de Nanopartículas no campo farmacêutico. A busca por sistemas que realizem tarefas complexas em regiões restritas, e que podem ser controlados e manipulados, tem impulsionado a pesquisa em vários campos. A alternativa encontrada tem sido a associação destes fármacos a sistemas de liberação adequados. Dentre os sistemas de liberação sítio-específicos merecem destaque os lipossomas. Constituído principalmente de moléculas de fosfolipídeos, organizadas em bicamadas, delimitando um espaço aquoso central, os lipossomas apresentam características da membrana celular em proteção, composição química e funcionalidade, permitindo a permeação de compostos encapsulados. Os lipossomas são certamente os sistemas carregadores mais avaliados nas últimas décadas e têm sido extensivamente descritos em publicações, revistas e livros. As principais vantagens dos lipossomas estão associadas ao seu pequeno tamanho, biocompatibilidade e versatilidade de composição. Atualmente, os mais diversos compostos e polímeros são associados produzindo partículas esféricas, com dimensões da ordem de nanômetros (SANTANA et al., 2006). No entanto, estes sistemas também apresentam algumas desvantagens, particularmente relacionados a sua instabilidade in vivo e rápida eliminação pelo sistema retículo endotelial. Desde então, o interesse por sistemas nanoparticulados tem crescido exponencialmente. Suas aplicações têm sido consideradas e indicadas em inúmeras aplicações terapêuticas, nas mais diversas formas farmacêuticas. Uma das áreas mais promissoras na utilização das nanopartículas é a vetorização de fármacos antineoplásicos e de antibióticos, principalmente através de administração parenteral, almejando uma distribuição mais seletiva dos mesmos e, assim, um aumento do índice terapêutico. Estudos de sistemas nanoestruturados de lipossomas de doxorrubicona (DOXIL/Caelyx, SEQUUS Pharmaceuticals Inc., Menlo Park, EUA) em pacientes portadores de Sarcoma de Kaposi associado ao HIV mostraram redução da cardiotoxidade em 4,5 vezes comparada a doxorrubicina não encapsulada (HARRRINGTON et al., 2000). Tedesco e colaboradores (2003) empregaram sistemas nanoestruturados contendo fármacos fotosensibilizadores na terapia antineoplásica. A terapia fotodinâmica (TFD) tem sido empregada em diversos países, inclusive o Brasil, desde 2000, para o tratamento de tumores. Basicamente a técnica consiste na administração de um fármaco fotossensível por via tópica ou intravenosa, que após retido seletivamente pela célula tumoral em concentração 31 desejável e detectada, é submetido a irradiações com luz visível monocromática (usualmente de comprimento de onda de máxima absorção do fármaco fotossensibilizador), induzindo a formação de espécies reativas do oxigênio denominadas de EROS (O2, O2*, *OH, H2O2) os quais conduzem à morte dos tecidos tumorais por um processo apoptótico ou necrótico. Guedes e colaboradores (2004) utilizaram nanopartículas magnéticas (NPM) associadas a anticorpos monoclonais (AcM) que reconhecem e se associam especificamente a proteínas exclusivas das células tumorais para tratamento de tumores através do procedimento terapêutico de hipertermia. Após se associarem às células tumorais, as NPM’s são submetidas a um campo magnético, o que resulta na elevação da temperatura e subseqüente lise da célula tumoral. Na Figura 4 são representadas duas aplicações terapêuticas possíveis dos nanoimãs. Carreados pelo corpo com a ajuda de um campo magnético, eles poderiam ser levados até células cancerosas e agitados por alterações sucessivas do campo. O processo geraria calor e lise das células tumorais. Em outro cenário, eles seriam agregados a um pacote que contém fármaco e uma capa de polímero biodegradável. O campo magnético serviria para carregá-los até células doentes, cedendo o fármaco (KNOBEL e GOYA, 2004). Figura 4. Representação de duas aplicações terapêuticas dos nanoimãs (KNOBEL e GOYA, 2004). 32 Com relação à administração oral de nanopartículas, as pesquisas têm sido direcionadas especialmente à: a) diminuição dos efeitos colaterais de certos fármacos, destacando-se os antiinflamatórios não-esteróides (diclofenaco, indometacina), os quais causam freqüentemente irritação à mucosa gastrintestinal; b) proteção de fármacos degradáveis no trato gastrintestinal, como peptídeos, proteínas e/ou hormônios, aumentando a biodisponibilidade dos mesmos e, nos últimos anos, c) aumento da solubilidade de fármacos insolúveis ou pouco solúveis aumentando a biodisponibilidade dos mesmos (SCHAFFAZICK e GUTERRES, 2003). Liversidge e Cundy (1995) estudaram o potencial dos sistemas nanoparticulados obtidos por moagem úmida na solubilização do danazol, fármaco pouco solúvel (10 µg/mL). A biodisponibilidade absoluta da dispersão aquosa de danazol (5% v/v) e PVP (1,5% v/v) com 169 nm de diâmetro, complexos danazol-ciclodextrinas e a suspensão convencional de danazol foram respectivamente: 82,3±10,1%, 106,7±12,3% e 5,1±1,9%. Hecq et al. (2005) avaliaram o aumento da solubilidade dos sistemas nanoparticulados contendo nifedipina (∼ 20 µg/mL). Os estudos mostraram que o estado cristalino inicial do fármaco não foi alterado com a redução do tamanho da partícula e as características de dissolução das nanopartículas de nifedipina são significativamente maiores que o produto comercial. A anfotericina B é empregada no tratamento da leishmaniose visceral, entretanto, a baixa solubilidade do fármaco conduz a problemas de biodisponibilidade. Kayser e colaboradores (2003) desenvolveram uma nanosuspensão de anfotericina B para administração oral. As nanosuspensões foram produzidas por homogeneização em alta pressão e o diâmetro médio das partículas obtidas foi de 528 nm. A estabilidade foi determinada em fluido gastrintestinal artificial em diferentes pH e concentração de eletrólitos. A eficácia in vitro foi avaliada em ratos com leishmaniose visceral. Nenhum efeito terapêutico foi observado pela administração oral de anfotericina B micronizada (5mg/Kg), entretanto, a administração oral da nanosuspensão de anfotericina B reduziu a parasitose em cerca de 28%. A biodisponibilidade de nanopartículas de ciclosporina A na forma de nanocristais (962 nm) e nanopartículas lipídicas sólidas, SLN®, (157 nm) foram comparadas com o produto comercial Sandimmum Neoral/Optoral®. As SLN® mostraram-se mais eficazes como sistemas de liberação oral para aumento da biodisponibilidade da ciclosporina A, comparado com os demais sistemas analisados, devido à maior flexibilidade na modulação da liberação 33 do fármaco, que ocorre tanto por difusão como degradação da matriz lipídica. No entanto, os nanocristais também são considerados ótima solução para substâncias pouco solúveis, tendo em vista a simplicidade do sistema (MULLER et al., 2006). Teixeira e colaboradores (2005) estudaram xantona e 3-metoxixantona encapsuladas em nanoesferas (170 nm) e nanocápsulas (300 nm) de PLGA - poly (D-L lático-co-glicólico) – e nanoemulsões, preparadas pelo método de nanoprecipitação. As nanocápsulas apresentaram maior velocidade de liberação para ambas as drogas analisadas. Paralelamente, a liberação da xantona mostrou-se mais lenta que da 3-metoxixantona, sugerindo possível interação da droga com o polímero. Hecq e colaboradores (2006) estudaram o aumento da velocidade de dissolução do ucb-35440-3, um novo fármaco para tratamento de asma e renite alérgica, sob investigação pela USB S.A. Nanocápsulas foram preparadas usando homogeneização em alta pressão e comparadas com o fármaco micronizado. A velocidade de dissolução aumentou significativamente em pH 3.0, 5.0, e 6.5 para as nanopartículas. Zhang e Zhuo (2005) sintetizaram nanopartículas de 4-dimetilepipodophyllotoxin (DMEP), um fármaco pouco solúvel, atualmente em estudo para tratamento de tumores. Nanopartículas foram produzidas usando copolímero tri-bloco anfifílico de PEG-PCL-PEG obtido a partir de poly(etileno glicol) (PEG), um polímero hidrofílico, e ξ-caprolactona (PCL), polímero hidrofóbico. Os resultados mostraram que quanto maior a porção PEG do copolímero, mais rápida é a velocidade liberação do DMEP. Zhang e colaboradores (2006) empregaram a técnica de nanoprecipitação sem uso de surfactantes - nanoprecipitação controlada – para preparar nanopartículas de acetilcefuroxime (CFA), um fármaco pouco solúvel. O produto obtido, apesar de amorfo, exibiu significante aumento nas propriedades de dissolução quando comparadas com o produto comercial preparado por spray drier. Os resultados demonstraram que o método por nanoprecipitação controlada é prático e fácil e pode ser usado na preparação de nanopartículas de fármacos pouco solúveis. Estudos de nanoparticulados contendo ibuprofeno, obtidos por duas metodologias distintas – polimerização por emulsificação e difusão por solvente – foi demonstraram que o tamanho da partícula varia com o processo, bem como concentração de estabilizadores, condições de resfriamento e processo de homogeneização. A formulação de ibuprofeno como nanoparticulada teve mais que 65% do fármaco dissolvido nos primeiros 10 minutos comparado com menos de 15% para o fármaco na forma micronizada (KOCBEK et al., 2006). 34 III. CONCLUSÃO A tecnologia de nanopartículas tem mostrado elevado potencial para aumentar a biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis. Fármacos até então abandonados, devido problemas de solubilidade e dificuldades de desenvolvimento farmacotécnico, têm sido reavaliados através do emprego da nanotecnologia. Assim, a nanotecnologia mostra-se uma tecnologia fundamental para o desenvolvimento farmacêutico mundial. 35 IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, M.M.M. Nanoesferas e a Liberação Controlada de Fármacos. 20p. Monografia Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, 2002. Disponível em: http://lqes.iqm.unicamp.br. Acesso em: 20 nov 2006. CNPq – A iniciativa brasileira em nonociência e nanotecnologia. CNPq/MCT, Brasília, Novembro de 2002. BINNING, G.; ROHRER, H.; GERBER, CH; WEIBEL, E. Surfaces studies by scanning tunneling microscopy. Physical Review Letters, v.49, n.1, p. 57-61, 1982. CALVO, P.; VILA-JATO, J. L.; ALONSO, M. J. J. Pharm. Sci., v.85, p.530, 1996. Apud: SCHAFFAZICK, S. R.; GUTERREZ, S.S. Caracterização e estabilidade físico-química de sistemas poliméricos nanoparticulados para administração de fármacos. Química Nova, v.26, n.5, p.726-737, 2003. CHEN, X.; YOUNG, TJ; SARKARI, M.; WILLIAMS, R.O.; JOHNSTON, K. P. Preparation of Cyclosporine A Nanoparticles by Evaporative Precipitation into Aqueous Solution. Int. J. Pharm., v.242, n.1–2, p.3–14, 2002. CHEN, X.; WILLIAMS; R.O.; JOHNSTON, K.P. Rapid Dissolution of High Potency Danazol Powders Produced by Evaporative Precipitation into Aqueous Solution. J. Pharm. Sci., v.93, n.7, p.1867–1878, 2004. DOUROUMIS, D.; FAHR, A. Nano- and micro-particulate formulate of poorly water-soluble drugs by using a novel optimized technique. Eur. J. Pharm. Biopharm., v.63, p. 173-175, 1996. DURÁN, N.; MATTOSO, L. H. C.; MORAIS, P. C. Nanotecnologia: Introdução, preparação, caracterização de nanomateriais e exemplos de aplicação. São Paulo: Artliber Editora, 2006. ENGLAND, D.E.; JOHANSSON, E.D. Ups. J. Med. Sci., v.86, p.297-307, 1981. apud: LIVERSIDGE, G.G.; CUNDY, K. C. Particle size reduction for improvement of oral bioavailability of hydrophobic drugs: I. Absolute oral bioavailability of nanocrystalline danazol in beagle dogs. Int. J. Pharm., v.125, p. 91-97, 1995. FEYNMAN, R. There’s plenty of room at the bottom. In: Annual Meeting of the Americam Physical Society, 20 dez 1959. California Institute of Technology (Caltech). Eng Sci. California: Caltech, fev 1960. Disponível em: <http://www.zyvec.com/nanotch/feynman/html>. Acesso em 20 nov. 2006. FENG, S.S.; HUANG, G. Effects of emulsifiers on the controlled release of paclitaxel (Taxol®) from nanospheres of biodegradable polymers. J. Controlled Release, v.71, n.1, p. 53-69, 2001. FREITAS, C.; MULLER, R. H. Spray-drying of solid lipid nanoparticles (SLNTM). Eur. J. Pharm. Biopharm., v.46, n.2, p.145-151, 1998. 36 FRESTA, M. ; PUGLISI, G. ; GIAMONNA, G. ; CAVALLARO, N. ; MICALI, N. ; FURNERI, P.M. Nanoparticles: Characterization of the Colloidal Drug Carrier Formulation. J.Pharm. Sci., v.84, p.895-902, 1995. GUEDES, M.H.A.; GUEDES, M.E.A.; MORAIS, P.C.; SILVA, M.F.; SANTOS, T.S.; ALVES, J.P.; BERTELLI, C.E.; AZEVEDO, R.B.; LACAVA, Z.G.M. Proposal of a magnetohyperthermia system: preliminary biological tests. J. Magn. Magn. Mater., v. 272276, p. 2406-07, 2004. GUTERRES, S. S.; BASSANI, V. L.; HAAS, S. E.; MÜLLER, C. R,; FESSI, H.; PERALBA, M. C. R.; POHLMANN, A. R. Degradação e estabilização do diclofenaco em nanopartículas poliméricas. Quím. Nova, v.27, p. 555-560, 2004. HARGROVE, J.T.; MAXSON, W.S.; WENTZ, A.C. Am. J. Obstet. Gynecol., v.161, p.948951, 1989. apud: LIVERSIDGE, G.G.; CUNDY, K. C. Particle size reduction for improvement of oral bioavailability of hydrophobic drugs: I. Absolute oral bioavailability of nanocrystalline danazol in beagle dogs. Int. J. Pharm., v. 125, p. 91--97, 1995. HARRINGTON, K. J.; LEWANSKI, C.R. AND STWART, J. S. W. Lipossomas as vehicles for targeted therapy of cancer. Part I: Preclinical development. Clinical Oncology, v.12, p. 215, 2000. HECQ, J.; DELLERS, M.; FANARA, H.; VRANCKX, H. AMIGHI, K. Preparation and characterization of nanocrystals for solubility and dissolution rate enhancement of nifedipine. Int. J. Pharm., v.299, p.177-167, 2005. HECQ, J.; DELLERS, M.; FANARA, H.; VRANCKX, H.; BOULANGER, P.; LE LAMER, S.; AMIGHI, K.; Preparation and in vitro/in vivo evaluation of nano-syzed crystals for dissolution rate enhancement of ucb-35440-3, a highly dosed poorly watersoluble weak base. Eur. J. Pharm. Biopharm., v.XX, p. XXX-XXX, 2006. HU, J.; JOHNSTON, K.P.; WILLIAMS, R.O. Stable Amorphous Danazol Nanostructured Powders with Rapid Dissolution Rates Produced by Spray Freezing into Liquid," Drug Dev. Ind. Pharm., v.30, n.7, p.695–704, 2004. KAYSER, O.; OLBRICH, C.; YARDLEY, V.; KIDERLEN, A. F.; CROFT, S. L. Formulation of amphotericin B as nanosuspension for oral administration. Int. J. Pharm, v.254, p.73-75, 2003. KHARB, V.; BHATIA, M.; DUREJA, H.; KAUSHIK, D. Nanoparticle Technology for the Delivery of Poorly Water-Soluble Drugs. Pharmaceutical technology, v.2, 2006. KIP, J. E. The role of solid nanoparticle technology in the parenteral delivery of poorly watersoluble drugs. Int. J. Pharm., v.285, p. 109-122, 2004. KNOBEL, M.; GOYA, G.F. Ferramentas magnéticas na escala do átomo. Scientific American Brasil, p. 58-66, 2004. 37 KOCBEK, P.; BAUMGARTNER, S.; KRISTL, J. Preparation and evaluation of nanosuspensions for enhancing the dissolution of poorly soluble drugs. Int. J. Pharm., v.312, p.179-186, 2006. LIPKA, E.; AMIDON, G.L. Setting bioequivalence requirements for drug development based on preclinical data: optimizing oral drug delivery systems. J.Controlled Release, Shannon, v.62, p.41-49, 1999. LIVERSIDGE, G.G.; CONZENTINO, P. Drug Particle Size Reduction for Decreasing Gastric Irritancy and Enhancing Absorption of Naproxen in Rats. Int. J. Pharm. v.125, n.2, p.309–313, 1995. LIVERSIDGE, G.G.; CUNDY, K. C. Particle size reduction for improvement of oral bioavailability of hydrophobic drugs: I. Absolute oral bioavailability of nanocrystalline danazol in beagle dogs. Int. J. Pharm., v.125, p. 91-97, 1995. MÜLLER, R.H.; RUNGE, S.; RAVELLI, V.; MEHNERT, W.; THÜNEMANN, A. F.; SOUTO, E. B. Oral bioavailability of cyclosporine: Solid Lipid nanoparticles (SLN®) versus drug nanocrystals. Int. J. Pharm., v.317, p. 82-89, 2006. National Science and Tecnhology Council (NSTC). Nanotechnology Research Directions: IWGN Worksho Report, Washington: NSTC, 1999. PIRES, T.C. (ED). Parcerias Estratégias/Centro de Estudos Estratégicos., n.18. Brasília: CGEE, 2004. PRENTIS, R.A.; LIS, Y. WALKER, S.R. Pharmaceutical innovation by the seven U.K.owned pharmaceutical companies (1964-1984). Br. J. Clin. Pharmcol., v.25, p. 387-396, 1998. REYNOLDS, G. H. Forward to the future: nanotechnology and regulatory policy: Brifing of the pacific research Institute., November 2002. Disponível em: http://www.pacificresearch.org. Acesso em: 20 dez. 2006. ROLLOT, J. M.; COUVREUR, P.; ROBLOT-TREUPEL, L.; PUISIEUX, F. J. Pharm. Sci., v;75, p.361, 1986. apud: SCHAFFAZICK, S. R.; GUTERREZ, S.S. Caracterização e estabilidade físico-química de sistemas poliméricos nanoparticulados para administração de fármacos. Química Nova, v.26, n.5, p.726-737, 2003. SANTANA, M.H.A.; OLIVEIRA, M.C.; GREMIÂO, P.D. Liposssomas. In: DURÁN, N.; MATTOSO, L. H. C.; MORAIS, P. C. Nanotecnologia: Introdução, preparação, caracterização de nanomateriais e exemplos de aplicação. São Paulo: Artliber Editora, 2006. SCHAFFAZICK, S. R.; GUTERREZ, S.S. Caracterização e estabilidade físico-química de sistemas poliméricos nanoparticulados para administração de fármacos. Química Nova, v.26, n.5, p.726-737, 2003. SCHOLER, N. Atovaquone Nanosuspensions Show Excellent Therapeutic Effect in a New Murine Model of Reactivated Toxoplasmosis. Antimicrob. Agents. Chemother. v. 45, n.6, p.1771–1779, 2001. 38 SOPPIMATH, K.S.; AMINABHAVI, T.M.; KULKARNI, A.R.; RUDZINSKI, W.E. Biodegradable polymeric nanoparticles as drug delivery devices. J. Controlled Release, v.70, n.1-2, p.1-20, 2001. TEDESCO, A.C.; ROTTA, J.C.G.; LUNARDI, C.N.; Synthesis, photophysical and photochemical aspects of phthalocyanines for photodynamic therapy. Current Organic Chemistry, v.7, n.2, p. 187-96, 2003. TEIXEIRA, M.; ALONSO, M. J.; PINTO, M. M. M.; BARBOSA, C. M. Development and characterization of PLGA nanospheres and nanocapsules containing xanthone and 3-methoxyxanthone. Eur. J. Pharm. and Biopharm, v.59, p. 491-500, 2005. TROTTA, M. Emulsions Containing Partially Water-Miscible Solvents for the Preparation of Drug Nanosuspensions,. J. Controlled Release, v.76, n.1–2, p.119–128, 2001. TSUKRUK, V.V. Scanning probe microscopy of polymer surfaces. Rubber Chemistry and Technology, 70, 1997, p. 430-466. WATARI, N.; FUNAKI, T.; AIZAWA, K.; KANENIWA, N. J. Pharmacokinet. Biopharm., v.11, p.529-545, 1983. apud: LIVERSIDGE, G.G.; CUNDY, K. C. Particle size reduction for improvement of oral bioavailability of hydrophobic drugs: I. Absolute oral bioavailability of nanocrystalline danazol in beagle dogs. Int. J. Pharm., v. 125, p. 91-97, 1995. YOUNG, T.J. Rapid Expansion from Supercritical to Aqueous Solution to Produce Submicron Suspensions of Water-Insoluble Drugs. Biotechnol. Prog., v. 16, n.3, p.402–407, 2000. ZHANG, Y.; ZHUO, R. Synthesis and in vitro drug release behaviour of amphiphilic triblock copolymer nanoparticles based on poly (ethylene glycol) and polycaprolactone. Biomat., v.26, p. 6736-6742, 2005. ZHANG, J.; SHEN, Z.; ZHONG, J.; HU, T.; CHEN, J.; MA, Z.; YUN, J. Preparation of amorphous cefuroxime axetil nanoparticles by controlled nanoprecipitation method without surfactants. Int. J. Pharm., v.323, p. 153-160, 2006.
Documentos relacionados
Revisão - Nanobiotec
técnica de criofratura, é o realizado por Rollot e colaboradores63, o qual demonstrou que nanoesferas apresentam forma esférica, com estrutura polimérica sólida, ao passo que, as nanocápsulas são f...
Leia maisNanotecnologia
O conceito de nanotecnologia inclui um ou ambos do que se segue: 1. Compreensão e controle da matéria e processos em nanoescala, normalmente, mas não exclusivamente, abaixo de 100 nanômetros em uma...
Leia mais