Nº 102 Primeiro quadrimestre 2009
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Nº 102 Primeiro quadrimestre 2009
Becas BOLSAS DE ESTUDOS 2008/2009 INSTITUTO DE CIENCIAS DEL SEGURO Instituto de Ciências do Seguro w w w. f u n d a c i o n m a p f r e . c o m PROGRAMA DE AUXÍLIO AO ESTUDO Formação e-learning e presencial em: - Seguros - Gerência de Riscos - Operação de Seguros e Resseguros Privados Maiores informações: Tel. +34 91 581 2008 Fax. +34 91 307 6642 Informació[email protected] editorial Novas conquistas, novos objetivos Gerência de Riscos e Seguros Foi intenção deste Conselho de Redação, da mesma forma que ocorreu com o anterior, transformar a revista em um lugar de encontro para os profissionais da gerência de riscos. Por essa razão, convidamos os membros desse grupo a considerar a revista como sua. E agora, em um gesto de promoção e apoio à gerência de riscos e seguros, de forma mais enfática, a FUNDACIÓN MAPFRE decidiu, a partir deste número, presentear todos os interessados com a assinatura gratuita da revista. De nossa parte, para torná-la mais atrativa como publicação, empregamos um notável esforço, submetendo-a a vários processos de avaliação de qualidade e conseguindo, em 2008, que, por exemplo, fosse registrada em índices como o LATINDEX, sistema regional de informação on-line sobre revistas científicas da América Latina, do Caribe, da Espanha e de Portugal, e no IN-RECS, índice bibliométrico que oferece informação estatística com o objetivo de determinar a relevância, a influência e o impacto científico das revistas espanholas de ciências sociais, dos autores que publicam em suas páginas e das instituições a que se destinam. Ainda assim, garantimos a vocês não cair na autocomplacência e seguir trabalhando duro para continuar merecendo sua fidelidade. Dessa forma, abrimos este número com uma entrevista com Gérard Naisse, diretor de Gerência de Riscos e Seguros da Total, quarto grupo petroleiro e de gás do mundo, com presença nos cinco continentes, que nos relata, com o conhecimento do negócio e a aprendizagem da experiência, os segredos da gerência de riscos para contribuir com a satisfação das necessidades energéticas da sociedade. No primeiro, dos três estudos incluídos nesta edição, apresentamos a visão com que, da Argentina, brinda nos um consultor e professor universitário de Administração de Riscos e membro da Comissão Diretiva da ADARA, sobre os três pilares nos quais se sustenta o novo regime regulador, Solvência II, para as companhias seguradoras Não-Vida. O segundo artigo é leitura obrigatória para quem se interessa pela situação atual do sistema financeiro internacional e pela do sistema financeiro espanhol, em particular. Nele, sua autora, ex-presidente do Instituto Nacional de Estatística, anima nos a superar a crise financeira que ainda não terminou, incentivando-nos a ser mais competitivos • nº 102-2009 3 editorial para reduzir nosso grau de alavancagem e podermos gerar, assim, um maior fortalecimento de nossas empresas. O último estudo expõe, a partir da visão acadêmica de dois professores universitários espanhóis e colaboradores habituais de nossa revista, a natureza e a versatilidade das técnicas de simulação aplicadas à estimativa do capital associado ao binômio valor-risco das empresas seguradoras. O Observatório de Sinistros, que constitui o habitual fechamento da revista, conclui com um trabalho elaborado pela Law School da Universidade de Chicago sobre o importante grupo de doenças conhecido como pneumoconiose por asbesto, ou asbestose, que constitui as doenças broncopulmonares das quais com maior frequência padecem os trabalhadores expostos às fibras de amianto. Também analisa as formas de compensação dos danos e dos prejuízos sofridos pelas vítimas. expediente Obrigado por nos acompanhar, obrigado por permanecerem conosco. EDITOR • FUNDACIÓN MAPFRE ESTUDIOS - MONTE DEL PILAR, S/N. 28023 MADRI - EL PLANTÍO (ESPANHA) TEL.: (34) 91 581 1234. FAX: (34) 91 307 66 41 • WWW.FUNDACIONMAPFRE.COM/CIENCIASDELSEGURO • [email protected] DIRETOR • JOSÉ LUIS IBÁNEZ GÖTZENS REDATORA CHEFE • ANA SOJO GIL COORDENAÇÃO • MARÍA RODRIGO LÓPEZ CONSELHO DE REDAÇÃO • IRENE ALBARRÁN LOZANO, ALFREDO ARÁN IGLESIA, FRANCISCO ARENAS ROS, MONTSERRAT GUILLÉN ESTANY, GONZALO ITURMENDI MORALES, ALEJANDRO IZUZQUIZA IBÁÑEZ DE ALDECOA, CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ, JORGE LUZZI, FRANCISCO MARTÍNEZ GARCÍA, FERNANDO MATA VERDEJO, EDUARDO PAVELEK ZAMORA, Mª TERESA PISERRA DE CASTRO, CÉSAR QUEVEDO SEISES, EDUARDO ROMERO VILLAFRANCA. REALIZAÇÃO EDITORIAL • COMARK XXI CONSULTORES DE COMUNICAÇÃO E MKT IMPRESSÃO • GRÁFICAS MARTE VERSÃO BRASILEIRA: JORNALISTAS RESPONSÁVEIS • TATIANA CEREZER - MTB 28.298, ANDRÉ GUERRA - MTB 33.675 CONSELHO DE REDAÇÃO • ANTONIO CÁSSIO DOS SANTOS, DIRCEU TIEGS, SÉRGIO W. MARINS BARBOSA TRADUÇÃO • ELIZABETH PINHEIRO COLABORADORES • CARINA RODRIGUES, HAMILTON ATTAN RODRIGUES, MICHELL NIERO E SYLVIA FERRARI PROJETO GRÁFICO ADAPTADO • bmew PROPAGANDA DESIGNERS • FLÁVIO BARÃO E MIGUEL DALLACQUA JUNIOR PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO • IPIIS GRÁFICA EDITORA GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS Não é responsável pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores. O fato de publicá-los não implica conformidade ou identificação com os trabalhos expostos. Está proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem autorização prévia e por escrito dos editores. 4 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 PRIMEIRO QUADRIMESTRE 2009 Obs.: Versão brasileira traduzida, originalmente, da edição espanhola da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 3º Quadrimestre de 2008. índice 102 Atualidade 6 Novidades legislativas. MAPFRE organiza as Jornadas Internacionais sobre Catástrofes Naturais. Agenda 2009 11 Entrevista 12 Gèrard Naisse, Diretor de Riscos e Seguros do Grupo Total: “A gerência do risco tem pela frente um vasto campo de desenvolvimento”. Estudos Solvência II para seguradoras Não Vida ALBERTO A. ALONSO ................................................................................................. 22 A crise internacional... e a espanhola. Evitaremos a depressão? CARMEN ALCAIDE ....................................................................................................... 38 A ótima determinação de capitais por meio de técnicas de simulação IRENE ALBARRÁN LOZANO E PABLO ALONSO GONZÁLEZ .................................. 46 Observatório de Sinistros Indenização das vítimas do amianto na Espanha ALBERT AZAGRA .......................................................................................................... 56 Livros 70 Notícias AGERS 74 Caderno Brasil Investimentos no Setor Elétrico .................................................................................... 76 Mudanças Climáticas e o Mercado de Seguros ........................................................... 80 Marcos Lima do Grupo Odebrecht .............................................................................. 84 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 5 LEGISLAÇÃO • Resolução de 12 de novembro de 2008, da Diretoria Geral de Seguros e Fundos de Pensão, por meio da qual se modifica a Resolução de 27 de novembro de 2006, segundo a qual são aprovados os encargos em favor do Consórcio de Compensação de Seguros em matéria de seguro de riscos extraordinários, a ser quitada obrigatoriamente pelos segurados a cláusula de cobertura a ser inserida nas apólices de seguro ordinário e a informação a ser fornecida pelas seguradoras referente às apólices incluídas no regime de cobertura dos riscos extraordinários. (B.O.E. nº 280, de 20 de novembro de 2008) • Circular 5/2008, de 5 de novembro, da Comissão Nacional do Mercado de Valores, referente a requerimentos de informação estatística sobre ativos e passivos das instituições de investimento coletivo da União Europeia. (B.O.E. nº 279, de 19 de novembro de 2008) • Resolução de 3 de novembro de 2008, da Diretoria Geral da Marinha Mercante, pela qual se regula o procedimento de solicitação e expedição dos certificados de seguros a que se refere o Real Decreto 1795/2008, de 31 de outubro, pelo qual são ditadas as normas sobre a cobertura da responsabilidade civil por danos causados pela contaminação por hidrocarbonetos para combustível dos navios, e o Real Decreto 1892/2004, de 10 de setembro, em que são ditadas as normas para a execução do Convênio internacional sobre responsabilidade civil por danos devidos à contaminação das águas do mar por hidrocarbonetos, 1992. (B.O.E. nº 278, de 18 de novembro de 2008) 6 Atualidade Novidades • Resolução de 20 de outubro de 2008, da Diretoria Geral de Seguros e Fundos de Pensão, sobre obrigações de informação das seguradoras que comercializam planos de previdência segurados. (B.O.E. nº 260, de 28 de outubro de 2008) • Resolução de 23 setembro de 2008, da Diretoria Geral de Seguros e Fundos de Pensões, por meio da qual se publica a atualização prevista na cláusula 2 da disposição transitória terceira da Lei 26/2006, de 17 de julho, de mediação de seguros e resseguros privados. (B.O.E. nº 236, de 30 de setembro de 2008) • Real Decreto 1507/2008, de 12 de setembro, por meio do qual é aprovado o Regulamento do seguro obrigatório de responsabilidade civil na circulação de veículos motorizados. (B.O.E. nº 222, de 13 de setembro de 2008) • Real Decreto 1318/2008, de 24 de julho, por meio do qual é modificado o Regulamento de ordenação e supervisão dos seguros privados, aprovado pelo Real Decreto 2486/1998, de 20 de novembro. B.O.E. nº 220, de 11 de setembro de 2008) • Real Decreto 1317/2008 de 24 de julho, por meio do qual é aprovado o Plano de contabilidade das seguradoras. B.O.E. nº 220, de 11 de setembro de 2008) Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 A MAPFRE organizou as Jornadas Internacionais sobre Catástrofes Naturais A MAPFRE realizou durante os dias 8 e 9 de outubro de 2008, no Auditório MAPFRE, as Jornadas Internacionais sobre Catástrofes Naturais, com o título “Medidas para a diminuição dos danos e capacidade de recuperação da sociedade”, como uma das atividades organizadas para comemorar seu 75º aniversário. Mais de 450 pessoas participaram deste encontro, que teve por objetivo divulgar o conhecimento sobre os efeitos dos fenômenos naturais e promover o debate sobre as formas de diminuir os danos causados por eles. Das jornadas participaram especialistas internacionais do mundo segurador, Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 empresarial e científico. As conferências foram publicadas em um livro editado pela FUNDACIÓN MAPFRE. O vice-presidente da MAPFRE, Filomeno Mira, informou, durante a apresentação das jornadas, que a data escolhida para seu início coincidia com o Dia Internacional pela Redução de Desastres Naturais, adotado pelas Nações Unidas em 1989. Também lembrou a grande experiência da MAPFRE e seu compromisso com a prevenção dos efeitos dos desastres naturais. A conferência de abertura ficou a cargo do presidente da Fundação Cultura de Paz e ex-diretor-geral da UNESCO, Federico Mayor Zaragoza, que insistiu na necessidade de se conhecer as consequências dos desastres provocados pela natureza para, assim, poder preveni-las, na medida do possível. “Quando é possível prevenir, pode-se atenuar o efeito, se foram estabelecidos de antemão os diferentes cenários possíveis e as medidas a serem adotadas em cada um deles. Devemos ser proativos – melhor do que só reativos –, para proporcionar a solução correta se ainda há tempo. Com relação a isso, é importante que a comunidade científica se faça ouvir e que as decisões relacionadas aos temas globais do meio ambiente se baseiem no rigor científico.” 7 O Diretor Geral de Comunicação e Responsabilidade Social de MAPFRE, Juan José Almagro, explicou as diferentes atuações humanitárias desenvolvidas pela MAPFRE em diferentes emergências, como a tempestade Noel, na República Dominicana, as inundações em Tabasco (México) e o terremoto em Pisco (Peru). Por sua vez, o chefe de operações da Unidade Militar de Emergências (UME), tenente-coronel Domingo Vielba, explicou as funções dessa unidade, dotada de um alto grau de especialização, e destacou o efeito tranquilizador sobre a população civil que a atuação das Forças Armadas exerce em uma situação de emergência. A diretora de Saúde e Socorro da Cruz Vermelha Espanhola, Carmen Martín, lembrou que os desastres afetam de maneira desproporcional os mais pobres e destacou que mais de 90% das mortes relacionadas a desastres ocorrem nos países em desenvolvimento. O presidente da Associação Espanhola de Gerentes de Riscos e Seguros (AGERS), Miguel Ángel Macías, reiterou que, em alguns países, é difícil avaliar a probabilidade de se sofrer catástrofes por falta de dados históricos. Destacou na sua palestra que, “considerando o fato de que não podemos evitar que ocorram fenômenos da natureza, nossos esforços devem ser no sentido de atenuar seu impacto, por meio 8 da prevenção e da preparação, antes e depois da ocorrência”. Finalizou seu discurso apontando que “as empresas que estiverem preparadas para enfrentar catástrofes são as que sobreviverão a elas”. Raúl González, conselheiro delegado para a Europa, Oriente Médio e África do Grupo Barceló, centralizou sua palestra em três aspectos: a necessidade de contar com um plano de gestão de crises que permita reduzir a perda de vidas e propriedades e reiniciar as operações o mais rápido possível; a importância de uma correta construção dos hotéis, que devem incluir medidas anticatástrofe e de reforços, mesmo que isso possa encarecer o orçamento da construção e, por último, o estabelecimento de uma correta comunicação, para se conseguir, em uma situação de crise, a fidelização do cliente. Gérard Naisse, diretor de Avaliação de Riscos e Seguros do Grupo TOTAL e presidente do Conselho da Oil Insurance Limited (OIL) e da Oil Casualty Insurance Limited (OCIL), ressaltou na conferência os importantes investimentos que seu grupo realiza na construção de plantas para minimizar o impacto dos fenômenos da natureza, especialmente os motivados pelo deslocamento de icebergs e por furacões. Além disso, seu grupo conta com planos de atenuação do impacto de catástrofes naturais para cada uma de suas atividades (offshore e onshore). Peter Klatt, que após vários anos trabalhando no mercado segurador é desde 2007 diretorgeral da Bavaria – a companhia seguradora cativa do Grupo BMW –, assinalou em sua palestra a importância de um planejamento adequado e de uma boa preparação para minimizar os danos produzidos pelas catástrofes naturais. Destacou, de forma especial, o impacto do granizo, apresentando aos presentes o sistema utilizado pela BMW para a reparação dos veículos danificados por essa causa. Por sua vez, Eduardo Escaffi, diretor de Riscos da Endesa, responsável pelos riscos relacionados ao negócio, ao mercado, ao crédito e pelos riscos operacionais, expôs o que deve ser feito para reduzir a responsabilidade nas catástrofes naturais: cumprir as normas de construção antissísmica, investir em infraestrutura e eliminar os subsídios estatais nos seguros em zonas de catástrofe, entre Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 outras medidas. Nas repartições do grupo energético são cumpridas rigorosas normas de construção, o que lhes permitiu ter uma experiência em sinistro catastrófico muito positiva, apesar de sua alta exposição ao risco. Durante as jornadas apresentaram-se também representantes da Repsol YPF, da Ferrovial e da Sitesa Ingenieros, que detalharam suas respectivas experiências em gestão de catástrofes e como abordam esse tipo de situação, ao mesmo tempo que analisaram o efeito da mudança climática nas empresas e nas economias. Nesse sentido, é preciso destacar as palavras de Valentín Alfaya, que insistiu na importância dos esforços em nível setorial: Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 “Necessitamos avançar não só na escala empresarial, mas também na escala setorial. Devemos fomentar a colaboração entre governos, empresas e outros agentes econômicos se quisermos dar uma resposta solucionante aos desafios que se apresentam em escala global. Devemos ser ambiciosos”, assinalou. Diversos representantes de Empresas, como Insurance Solutions, Citigroup Global Inc., Benfield Internacional e Münchener Rück; de universidades, como a Complutense e a Carlos III de Madri; e de centros como o Instituto para Ciências Oceânicas de Bermudas (BIOS), bem como o diretor-geral do Consórcio de Compensação de Seguros, Ignacio Machetti, entre outros, contribuíram igualmente com sua visão sobre as catástrofes naturais e os diferentes instrumentos financeiros e técnicos de gestão para enfrentar essas situações. Ignacio Machetti apontou que, nos últimos tempos, alguns países em desenvolvimento puseram em prática estratégias para obter mecanismos de segurança de catástrofes com apoio público, mas a maioria será inviável de uma perspectiva seguradora se não contarem com o apoio de organizações econômicas internacionais, cuja participação generalizada parece improvável. As dificuldades para colocar a termo plataformas de cobertura de catástrofes em muitos desses países não provêm unicamente – ainda que 9 também – de seu baixo nível de desenvolvimento ou da escassa implantação da instituição seguradora, mas da alta vulnerabilidade a determinados perigos, em consequência dos quais vivem, na prática, em uma situação de catástrofe permanente”. Além disso, o Dr. Robert Muir-Wood, da Risk Management Solutions (RMS), e o doutor Emilio Carreño abordaram, em suas Palestras, os novos instrumentos para realizar modelos de estimativa de danos por terremotos e furacões e as últimas tendências da sismologia e os avanços tecnológicos para atenuar os efeitos das grandes catástrofes. O encerramento das jornadas ficou por conta de Manuel Toharia, diretor científico da Cidade das Artes e das Ciências de Valência, que, em sua conferência, “Viver à beira do abismo… de que abismo?”, dissertou sobre o medo. “Os humanos podem ser insensatos por culpa precisamente da inteligência, que às vezes nos faz desatentar para perigos certos”, sublinhou. Andrés Jiménez, presidente da MAPFRE INTERNACIONAL, foi o encarregado de encerrar as jornadas. Em sua palestra, mostrou seu desejo de que as conclusões deste congresso sejam uma referência útil para o esforço comum de diminuir os danos que ocasionam as catástrofes naturais, bem como para reduzir o tempo que a sociedade demora para se recuperar delas. 10 Conclusões As conclusões das jornadas podem ser agrupadas em quatro grandes temas: De caráter científico: -É conveniente repassar os resultados da pesquisa científica à sociedade, para valorizar suas contribuições. “Que o cientista se faça ouvir.” -É necessário aumentar o investimento em I+D (Investigação e Desenvolvimento). -É preciso insistir na aplicação prática da pesquisa científica, para que a sociedade adapte tais avanços às suas necessidades. materiais necessários para garantir uma interferência eficaz. -A fórmula consiste na adequada coordenação entre as empresas pública e privada e na capacidade de interferência imediata. Do mercado segurador-financeiro: -A resposta seguradora e resseguradora pode ser complementada com instrumentos provenientes do mercado financeiro e investidor internacional que garantam a disponibilidade de fundos que se acrescentem aos tradicionais da No âmbito empresarial: indústria. -As empresas multinacionais envolvidas ressaltaram seus -Os órgãos de retenção nacional importantes investimentos (pools, fundos nacionais em planos de emergência e de catástrofe, entre outros) na atenuação dos danos para desempenham um papel proteger seus funcionários e importante na disciplina dos seus clientes das consequências mercados e em uma menor dos fenômenos naturais. volatilidade da capacidade e sinistralidade catastrófica. -De uma boa gestão de Para concluir, pode-se afirmar tais parâmetros derivam que o denominador comum adicionalmente benefícios comerciais e corporativos muito de todas as interferências foi a necessidade de dispor de uma importantes. comunidade científica que -Os produtos e serviços dessas compartilhe o fruto de suas empresas estão sendo pesquisas, bem como de reforçar gradualmente adaptados a gerência e a prevenção de aos requisitos no campo do riscos de catástrofe e aumentar impacto ambiental e climático os investimentos em I+D+i dos novos regulamentos, dos (Investigação, Desenvolvimento consumidores e do mercado. e inovação). Como não se pode evitar que ocorram fenômenos da De tipo assistencial: natureza, nossos esforços devem -A prestação de socorro e a ajuda ser no sentido de reduzir seu imediata após os desastres impacto por meio da prevenção e naturais se baseiam na da preparação, antes e depois de antecedência e na disposição de sua ocorrência. meios humanos capacitados e Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 AGENDA 2009 CONGRESSOS E JORNADAS JORNADA DATAS 31 MAIO - 3 JUNHO 30º CONGRESSO LOCAL EXPOSITORES DALLAS, TX (EUA) PRIMA ASSEMBLÉIA GERAL 11 JUNHO BRUXELAS (BÉLGICA) BELRIM CONGRESSO ANUAL 16 - 17 JUNHO BOURNEMOUTH (REINO UNIDO) AIRMIC 7ª MESA REDONDA CRO 29 - 30 JUNHO VARSÓVIA (POLÔNIA) ASOC. DE GINEBRA 2 - 5 AGOSTO PROVIDENCE, RHODE ISL (EU A) ARIA RISK FORUM 21 - 23 SETEMBRO WARWICK (REINO UNIDO) IRM ENCONTRO INTEREUROPEO DE RESSEGUROS 4 - 7 OUTUBRO MADRI (ESPANHA) INESE 30 SET - 2 OUTUBRO PRAGA (REPÚBLICA CHECA) FERMA CONGRESSO ANUAL FÓRUM 2009 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 11 entrevista 12 Gerência de Riscos e Seguros • nº 101-2008 “A gerência do risco tem pela frente um grande campo de desenvolvimento” “A noção de risco é cada vez mais importante dentro da empresa”, diz Gérard Naisse. O responsável por Riscos e Seguros do Grupo Total se apresentava, como palestrante, nas Jornadas Internacionais sobre Catástrofes Naturais, organizadas pela MAPFRE, durante as quais foi realizada esta entrevista. Conhecer o negócio a fundo, reduzir os riscos e aprender a partir da experiência são alguns de seus segredos na hora de aplicar a Gerência de Riscos. Gerard Naisse TEXTO: ALICIA OLIVAS FOTOS: ALBERTO CARRASCO GEREN T E DE RI S C O S E S EGU RO S DO GRU PO T O TA L Gerência de Riscos e Seguros • nº 101-2008 13 entrevista Em primeiro lugar, poderia nos dizer quais são as responsabilidades do Diretor de Gerência de Riscos e Seguros da Total? Na verdade, a Total não difere muito de qualquer outra grande companhia internacional que possa ter um Departamento de Gerência de Riscos e Seguros. Para entender quais são essas responsabilidades, é necessário saber que, em nosso grupo, a gestão do risco e sua cobertura seguradora são realizadas em nível corporativo, isto é, são aplicadas em todos os segmentos: Upstream (Exploração e Produção), Downstream (Refinação e Marketing, Trading e Transporte Marítimo) e Químico. Dentre minhas responsabilidades estão as etapas tradicionais de identificação, quantificação e, obviamente, redução dos riscos, em colaboração com as Divisões de Saúde, Segurança e Meio Ambiente para cada segmento e em cada uma das operadoras locais. Na sequência, uma vez diminuídos os riscos na medida do possível, precisamos tomar decisões em termos de transferência de riscos. Basicamente, esta etapa consiste em decidir quais riscos serão assumidos dentro da empresa – o que denominamos retenção. Isso pode ser feito assumindo-os com encargo sobre os resultados da companhia em questão ou através de empresas “cativas”. Esses são os dois níveis de retenção de riscos que existem no grupo. Minha função consiste em apresentar ao Comitê Executivo da companhia uma proposta de transferência de riscos. Outra parte do meu trabalho é participar do Comitê de Riscos do Grupo Total, que conta com uma vasta presença e que se encarrega de examinar todos os projetos de investimento ou desinvestimento que são apresentados ao Comitê Executivo. Este Comitê está encabeçado pelo diretor de Estratégia e Planejamento Corporativo, e também dele fazem parte o diretor financeiro, o diretor de Serviços Jurídicos, o chefe de Segurança e Meio Ambiente e 14 “A EXPERIÊNCIA NOS MOSTRA O PAPEL CRESCENTE DO GERENTE DE RISCOS NA CRIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMPANHIA” o diretor de Gestão de Riscos e Seguros, bem como representantes dos segmentos que afetem a operação. O Comitê de Riscos trata de toda classe a de riscos (seguráveis ou não), incluídos, por exemplo, os riscos políticos. A Total é um grupo energético internacional cuja missão é satisfazer de forma duradoura, mediante inovação e ação, as necessidades energéticas do ser humano. Como a gestão de riscos pode contribuir para esse objetivo? Em linhas gerais, podemos dizer que a Total, no seu conjunto, está desenvolvendo tecnologias muito inovadoras. Se repassarmos os últimos avanços que tivemos, podemos destacar o que chamamos perfuração “offshore ultraprofunda”, novas jazidas de areias betuminosas no Canadá, etc., o que implica muita inovação. Certamente, nosso trabalho como gerentes de riscos e seguros consiste em comprovar que o mercado recebe a informação adequada e tratar de explicar e de mostrar esses novos riscos a nossa seguradora. Essa é a nossa principal contribuição. Que peculiaridades a gestão do risco possui dentro de uma empresa como a Total, cujas atividades principais são o petróleo e o gás? Evidentemente, o petróleo e o gás implicam em riscos muito específicos. Trata-se de atividades de alto risco, e a chave, para nós, está em atualizar essas ameaças de modo permanente e com precisão; comprovar que recebemos a informação adequada por parte do pessoal de operações e sermos capazes, então, de cobrir esse risco tão específico. O mercado de riscos energéticos não é tão amplo como o automotivo ou o de outros fabricantes de bens de consumo. Nas companhias de seguros, a Área Energética faz parte de uma divisão independente. Trata-se de um mercado verdadeiramente especializado. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 A segurança das instalações e no transporte e a proteção do meio ambiente são dois dos compromissos assumidos pela Total. Como esses dois desafios se encaixam dentro da estratégia geral de Gerência de Riscos? Tanto a segurança como a proteção do meio ambiente são dois objetivos diretamente ligados à gestão do risco. Em geral, nós nos identificamos com esses compromissos e colaboramos muito estreitamente com todas as pessoas do grupo envolvidas nos aspectos relacionados com a segurança e o meio ambiente. Por outro lado, encomendamos estudos específicos aos auditores que trabalham no setor atuarial e, particularmente, com grandes seguradoras. Toda essa visão de conjunto ajuda o grupo a fazer uma análise geral de seu proceder nesse campo. A Total conseguiu criar uma verdadeira cultura do risco em toda a organização, apesar de sua dimensão? Como essa questão foi abordada? Sim, temos uma “Carta de Princípios” assinada pelo principal responsável da empresa. Cada funcionário possui uma cópia desta Carta. Trata-se de um compromisso do grupo com a segurança e com o meio ambiente, e faz parte da cultura sobre o risco que estabelecemos. Também destacamos que todos os funcionários do grupo são avaliados uma vez ao ano por seus superiores nesta área. Seja qual for seu posto de trabalho na companhia, analisa-se sua contribuição para a segurança e para o meio ambiente no trabalho cotidiano. Além disso, se visitar nossos escritórios, verá que temos quadros em cada planta do edifício, onde estão expostos dados básicos, como o preço do petróleo, a margem de refinação ou a cotação das ações da Total, bem como outra informação de suma importância: nossa atuação na área de acidentes, com um gráfico que indica a melhora conjunta do grupo neste Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 “O MERCADO DE RISCOS ENERGÉTICOS NÃO É TÃO AMPLO COMO O AUTOMOTIVO OU O DE OUTROS FABRICANTES DE BENS DE CONSUMO” aspecto. Portanto, pode-se dizer que, na Total, foi desenvolvida, realmente, uma cultura da segurança. Ou seja, o senhor trabalha com este tipo de informação, com relatórios e com estatísticas de sinistralidade no mesmo nível que o do preço das ações...? Exatamente. Assim nos certificamos de que todo mundo avança na mesma direção, tanto se estiver situado nos escritórios, em uma plataforma marítima ou em uma refinaria. Na verdade, o que pretendemos é que essa cultura envolva todos os funcionários do grupo. A Total opera em mais de 130 países em todo o mundo. Que medidas concretas de controle de riscos foram iniciadas para fazer frente a esta grande diversidade? Bem, a ideia fundamental é que todas as áreas de atividade, tanto as de exploração e de produção como as de refinação ou produtos químicos, estejam submetidas a um mesmo sistema referencial de segurança. Essa é a norma, de maneira que, se estamos no país X e nos mudamos para o país Y, trabalharemos de acordo com um mesmo padrão de referência.Todos esses métodos de trabalho são objeto de auditorias internas com regularidade. No mundo inteiro, portanto, as operações são realizadas de acordo com as mesmas regras e especificações gerais da companhia. Além disso, evidentemente, é preciso respeitar a legislação local. Para cumprir a legislação em qualquer país onde possamos operar, temos de ser o que se chama “bons cidadãos”. É necessário levar em conta as diferentes culturas. Na hora de fazer negócios na Ásia, no Oriente Médio ou na África, mesmo que sejamos europeus, temos de nos encaixar às demais culturas.Talvez isso seja o mais interessante do meu trabalho. Como se pode criar o melhor mapa de riscos, sem deixar nada ao acaso? Penso que, quando se trabalha com 15 entrevista materiais como os hidrocarbonetos, não se pode deixar nada ao acaso. Portanto, basicamente, a linha que se deve seguir é o respeito rigoroso a todos os procedimentos e legislações, e nos garantirmos quanto ao seu devido cumprimento. Realmente não encontro outra forma de abordar o risco. Neste momento, quais são os riscos que mais o preocupam: as oscilações do preço do petróleo, a instabilidade política de alguns países onde operam, uma maré negra ou, talvez, as catástrofes naturais ou o terrorismo? Obviamente, todos esses riscos são muito importantes para nós e nos preocupam. Em particular, estamos muito sensibilizados com as condições climatológicas do ambiente no qual operamos. Também mencionou acertadamente as oscilações no preço do petróleo. Isso, certamente, constitui um grande problema para nós, principalmente se levarmos em conta os prazos que aqui se manipulam. Podem se passar cinco anos desde o início de um projeto até que se comece a produzir. É preciso tratar de conciliar os projetos a longo prazo com a volatilidade a curto prazo do preço do petróleo. Do ponto de vista geográfico, onde se encontram, na sua opinião, os riscos mais difíceis de controlar? Isso está mais relacionado aos problemas tecnológicos e às condições climáticas em uma zona geográfica específica, seja na América, na Ásia, na África ou em outro lugar. Sempre que perfuramos em águas a 2.000 metros de profundidade, estamos diante de uma missão difícil, seja onde for. Sem dúvida, as condições ambientais acarretam problemas tecnológicos. Por exemplo, estamos desenvolvendo o projeto de Kashagan, no Mar Cáspio, onde as temperaturas oscilam de -40°C no inverno a +40°C no verão. O Mar Cáspio está gela16 "NA HORA DE FAZER NEGÓCIOS NA ÁSIA, NO ORIENTE MÉDIO OU NA ÁFRICA, TEMOS DE NOS ADAPTAR ÀS DEMAIS CULTURAS" do no inverno, o que implica numerosos problemas técnicos. Portanto, em geral, todos os aspectos tecnológicos e ambientais podem gerar grandes dificuldades. Outro bom exemplo é o enorme projeto de gás do Ártico, denominado projeto Shtokman. Este é também um ambiente muito, muito duro, não só pela tecnologia que devemos aplicar, mas, evidentemente, pelas condições climáticas. A que conclusões pode chegar uma companhia após se deparar com uma perda importante? O essencial é aprender da experiência, e sem dúvida se aprende muito depois da ocorrência de uma grande catástrofe; nisso concordarão todas as partes. O que quero dizer é que, quando se produz uma catástrofe em uma refinaria, em qualquer lugar do mundo, é informado a “todos” o que deu errado e “todos” adotam as medidas corretivas necessárias. Também aprendemos com as atitudes das equipes de emergência, pois devemos nos assegurar de que estamos preparados para enfrentar qualquer catástrofe. Uma maneira importante de atenuar os efeitos dos riscos são os seguros. Neste caso, que riscos o senhor decidiu deixar nas mãos de um seguro e quais optou por assumir por meio do autosseguro? Em primeiro lugar, nós nos esforçamos para conhecer nossos riscos e torná-los menores. Este é o primeiro passo. A existência ou não de um seguro que cubra esse risco seria o passo seguinte. Portanto, a primeira coisa a ser evitada é a materialização do risco. Esse é nosso planejamento diante dos riscos e, em qualquer caso, alguns desses riscos não podem ser transferidos para o mercado de seguros. Por exemplo, não podemos contratar uma apólice que cubra a possibilidade de termos ou não sucesso na busca de um poço novo. A Total é um grupo muito grande, soGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 17 entrevista mos, em tamanho, a quarta ou quinta empresa petroleira internacional do setor privado. Portanto, podemos assumir muito risco em comparação com outras empresas menores, que só podem se permitir níveis de retenção muito baixos. Nossa política é reter o risco de frequência e transferir os riscos de catástrofes aos consórcios das companhias petroleiras, OIL e OCIL, e ao mercado comercial. Basicamente tratase de uma combinação de autosseguro e transferência de riscos. Certamente, tudo isso depende de que o mercado possa aceitar o risco, em função de sua capacidade e de seu interesse. Nesses momentos, para que riscos pode ser mais difícil encontrar cobertura seguradora? O mercado está respondendo de uma forma adequada em relação aos riscos que são seguráveis normalmente, mas isso pode mudar. Por exemplo, depois do furacão Katrina, foi quase impossível cobrir danos por furacões, mas agora esses seguros voltam a estar disponíveis, motivo pelo qual o mercado, sem dúvida, está reagindo aos eventos. O mesmo ocorreu depois do 11 de setembro: tornou-se impossível conseguir cobertura para ataques terroristas; no entanto, agora é mais simples. A situação atual é que as companhias petroleiras e de gás desfrutaram boa consideração durante esses dois últimos anos, por isso o mercado segurador está se adaptando razoavelmente. Como estão se apresentando as renovações de seguros? Sem dúvida, trata-se de uma boa pergunta. Para respondê-la, eu me pergunto: “qual será o efeito da crise econômica?”. A questão essencial é que, mesmo que as companhias de seguros tenham bons resultados técnicos, particularmente em nosso setor energético, também possuem amplas carteiras de ativos e de bônus. A cha18 "O ESSENCIAL É APRENDER DA EXPERIÊNCIA, E SEM DÚVIDA SE APRENDE MUITO DEPOIS DA OCORRÊNCIA DE UMA GRANDE CATÁSTROFE" ve estará em como essas carteiras se verão afetadas pela crise econômica. Uma companhia de seguros pode ter, por um lado, benefícios técnicos, e, por outro, grandes perdas nos seus investimentos financeiros. Se você é um segurado, talvez tenha certo temor de que sua companhia seguradora decida compensar as perdas nos seus investimentos aumentando as gratificações. Em breve saberemos a resposta. Por que a Total decidiu criar sua cativa, Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 a Omnium Insurance & Reinsurance? Qual é o balanço de sua atividade? Atualmente, essa companhia cativa desempenha um papel muito importante em nossa política de riscos e seguros. Sua função principal é servir de veículo para a implantação dessa política, já que todo o risco assegurado reverte na companhia cativa e é o instrumento que permite aderir no mundo inteiro à mercado de resseguros como grupo, e assim beneficiar-se de economias de escala. Portanto, eu diria que seu papel é indispensável para nossa política corporativa de gestão de riscos e de seguros. Cobrará maior protagonismo no futuro? Certamente, já que (e este é o segundo aspecto funcional) constitui também uma ferramenta fundamental para reter o risco dentro do grupo. Quando, dentro do campo da segurança, um diretor desejar diminuir o efeito de uma perda, a companhia cativa ajudará, mantendo a retenção no grupo para compensar a operadora. Esta última manteria uma retenção de 20 milhões de dólares, por exemplo, e a companhia cativa se faria responsável a partir desse ponto. Faz parte de seus planos utilizar fórmulas alternativas? A atual situação econômica mundial poderia reduzir a disponibilidade de instrumentos financeiros. A gestão de risco não só requer a vontade da Direção da empresa, mas também semear uma cultura do risco em toda a organização. Corresponde esse papel de impulsor ao gerente de riscos? A cultura do risco é o que importa, e mesmo que seja o melhor gerente de riscos do mundo, não é possível fazer nada Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 “NOSSA POLÍTICA É RETER O RISCO DE FREQUÊNCIA E TRANSFERIR OS RISCOS DE CATÁSTROFES individualmente. As medidas de prevenção de riscos devem ser cumpridas em todos os níveis da companhia. Nossa meta é ativar e coordenar, mas, definitivamente, o gerente de riscos de mais alto nível da empresa é seu principal responsável. AOS CONSÓRCIOS DAS PETROLEIRAS E AO MERCADO COMERCIAL” Que papel vão desempenhar esses profissionais dentro das empresas nos próximos anos? Trabalho há bastante tempo no negócio e claramente vi que este Departamento se tornou mais poderoso nos últimos anos. Já foi mencionei que o Comitê de Riscos, do qual, evidentemente, faz parte o gerente de riscos, e esse Comitê possui um planejamento holístico do risco, já que assume não só os riscos seguráveis, mas todos os que enfrenta a companhia. A experiência nos mostra o papel crescente do gerente de riscos na criação da estratégia da companhia. Como devem ser formados, na sua opinião, os gerentes de riscos do amanhã? Não acho que exista uma formação específica, porque os gerentes de riscos procedem de âmbitos diferentes: uns são engenheiros, outros provêm da esfera jurídica ou econômica. Portanto, trata-se de uma combinação de diferentes habilidades. Na França existem algumas universidades especializadas em gerência de riscos, mas acho que também se aprende muito na prática. É necessário conhecer bem o trabalho realizado na empresa. Se você é gerente de riscos de uma companhia petroleira e de gás, não pode passar da noite para o dia a tramitar os riscos de um fabricante de automóveis. É necessário conhecer o negócio da empresa, compreendê-lo e, depois, gerenciar seus riscos da melhor forma possível. 19 19 entrevista Do seu ponto de vista, como está evoluindo o mundo da Gerência de Riscos? Está claro que a noção de risco é cada vez mais importante dentro da empresa. As últimas tendências dos setores financeiros estão, sem dúvida, ampliando o conceito de controle do risco entre a alta direção. E realmente acho que a gestão do risco tem pela frente um grande campo de desenvolvimento. A qual dessas facetas o senhor dedica mais tempo? Dado que meu cargo é de caráter diretivo, dedico muito tempo a coordenar os diferentes aspectos do trabalho. Disponho de uma equipe formada por engenheiros, advogados e especialistas em finanças.Tenho que despachar com a alta direção e também dedico parte de meu tempo aos consórcios do setor petroleiro, como o Oil Insurance Limited (OIL) e o Oil Casualty Insurance Limited (OCIL), que oferecem cobertura de seguros patrimoniais e de responsabilidade civil, respectivamente. Sou membro do Comitê Executivo de ambas as empresas e recentemente passei a presidir o Conselho de OIL. Além disso, viajo para países nos quais temos que entabular relações com companhias petroleiras locais ou nacionais. Em que lugar do organograma se encontra exatamente seu departamento? Em meu caso, respondo ao diretor financeiro da companhia, que é membro do Comitê Executivo. “É NECESSÁRIO CONHECER O NEGÓCIO DA EMPRESA, COMPREENDÊLO, E DEPOIS GERENCIAR SEUS RISCOS DA MELHOR FORMA POSSÍVEL” quais são os principais desafios que se enfrenta na atualidade? O que realmente gosto no meu trabalho é que posso vê-lo integralmente. É um desses postos nos quais você é responsável, de alguma forma, por todos os segmentos de atividade, desde quem perfura os poços, refina ou transporta o petróleo até a área petroquímica ou química; nosso departamento de seguros cobre todas essas atividades. Portanto, um dos aspectos mais importantes consiste em ser bom conhecedor de tudo o que se faz. Devo dizer, com toda modéstia, que nosso departamento é muito respeitado dentro do grupo e toda a informação circula com fluidez. Uma parte muito importante deste desafio consiste em manter o fluxo de informação. Além disso, do ponto de vista do risco, obviamente, um dos principais problemas na atualidade é a situação dos mercados financeiros, e em particular como vai afetar as companhias de seguros e resseguros. De fato, no que diz respeito à transferência de riscos, o risco creditício das empresas de seguros e resseguros é fundamental.Também sou o responsável pelas pensões e pelos benefícios sociais para os empregados, um compromisso de longo prazo, por isso é necessário examinar detalhadamente as companhias de seguros. No último dia 8 de outubro, Gérard Naisse participava como conferente das Jornadas Internacionais sobre Catástrofes Naturais, organizadas pela MAPFRE, durante as quais foi realizada esta entrevista. Para Naisse, “os seguros cobrem o risco, mas são muito mais importantes para nos- Depois 16 anos à frente do departamento, 20 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 GÉRARD NAISSE: UM EXTENSO TRABALHO Graduado pela Escola Francesa de Estudos Superiores Comerciais (HEC), Gérard Naisse passou a fazer parte do Departamento Financeiro da Total em 1976 e, três anos depois, do Departamento de Gerência de Riscos e Seguros da petroleira, onde continuou assumindo novas tarefas. Assim, em 1982 tornou-se diretor-geral da cativa do grupo (Omnium Insurance & Reinsurance Company, OIRC), iniciando seu trabalho em Genebra (Suíça). Em 1989 retornou a Paris como subdiretor do Departamento de Gerência de Riscos e Seguros, e em 2002 foi nomeado seu diretor. O principal responsável da Gerência de Riscos da Total também é presidente e conselheiro delegado da OIRC e das filiais OPSA (Omnium de Participations S/A) e Total Trading International, com sede em Genebra. Além disso, tem assento no Conselho de Administração de outras duas companhias do grupo, na França. Seu currículo não termina aqui, já que atualmente faz parte da Diretoria da Oil Insurance Limited (OIL) – onde foi o principal responsável entre 2004 e 2007– e da Oil Casualty Insurance Limited (OCIL); também, é chefe do Comitê de Compensação criado por ambas as empresas. Naisse foi, ainda, membro do Conselho Consultivo da Marsh na França de 1997 a 2000 e diretor da companhia de resseguro francesa Corifrance, entre 1995 e 1999. so grupo no sentido de nos proteger a longo prazo e de tomar as medidas específicas diante das adversidades”. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 21 estudos SOLVÊNCIA II para seguradoras Não-Vida O projeto Solvência II constitui uma parte muito destacada da futura arquitetura da supervisão do seguro na União Europeia que está se constituindo atualmente. Neste artigo são descritos os fundamentos do projeto e os três pilares sobre os quais se sustenta este novo regime regulador da solvência das companhias de seguros, que é chamado a zelar mais e melhor pela segurança do segurado em particular e do mercado em geral. ALBERTO A. ALONSO Membro dos Conselhos Diretivos da ADARA e da ALARYS 22 C onsiderando que vamos tratar o tema relacionado com a solvência das companhias seguradoras europeias, à luz das normas reguladoras da União Europeia, é conveniente definir, previamente, o conceito financeiro do termo solvência. Entende-se por solvência a capacidade financeira ou capacidade de pagamento de uma empresa para enfrentar todas as suas obrigações de vencimento a curto prazo. Partindo do pressuposto de que uma empresa séria deve contar com recursos suficientes para cumprir seus compromissos, a solvência é uma relação entre o que a empresa tem e o que ela deve. Para que uma empresa tenha solvência, deve estar capacitada para cancelar os passivos contraídos, em seus respectivos vencimentos, e demonstrar, também, mediante estudo correspondente, que poderá seguir uma trajetória normal que lhe permita cumprir seus compromissos no futuro. Devem-se diferenciar os conceitos de solvência e de liquidez: liquidez significa ter o dinheiro necessário, na hora certa, que nos permita pagar os compromissos anteriormente contraídos, enquanto solvência é dispor de bens e recursos suficientes para respaldar os passivos contraídos, mesmo que esses bens sejam diferentes do efetivo. Ou seja, liquidez é cumprir os Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 compromissos e solvência é ter com que pagar esses compromissos. No entanto, mesmo que a solvência seja, em certa medida, uma função dos bens da empresa, se não houver facilidade para transformar esses bens em dinheiro para fazer os pagamentos em tempo e forma, a liquidez não existirá. Por isso: “toda empresa que tem liquidez é solvente, mas nem toda empresa solvente tem obrigatoriamente liquidez”. Os projetos conhecidos como Solvência I e Solvência II são normas europeias relacionadas à regulação da solvência das empresas de seguros, aos quais nos referiremos a seguir. ANTECEDENTES Considerando que qualquer mercado sólido é aquele que assume e honra seus compromissos em tempo e forma, a Comunidade Econômica Europeia ditou a Primeira Diretiva do Conselho 73/239/CEE em 1973, para seguGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 radoras Não-Vida, a fim de eliminar as divergências existentes nas legislações dos diferentes Estados-membros em matéria de controle das companhias de seguros, garantindo, por sua vez, uma proteção adequada dos segurados e dos terceiros. A diretiva considerava necessário que as empresas de seguros dispusessem, além de reservas técnicas suficientes para honrar compromissos contraídos, de uma reserva complementar, denominada margem de solvência, representada pelo patrimônio livre, para enfrentar os riscos de exploração. Para garantir as obrigações impostas em função de critérios objetivos, situando em condições de igualdade de concorrência as empresas de mesma importância, decidiu-se que tal margem guardasse relação com o volume global das operações da empresa e fosse determinada em função de dois índices de segurança: um baseado nos prêmios e outro nos sinistros. Além disso, considerou-se necessário exigir 23 estudos um fundo de garantia mínima em função da gravidade do risco, de acordo com os ramos em que a companhia atua, tanto para garantir que as empresas disponham, no momento de sua constituição, de meios adequados, como também para garantir que, em nenhuma situação, a margem de solvência seja reduzida durante as atividades abaixo de um mínimo de segurança ou que a situação financeira da empresa seja tal que lhe seja difícil cumprir seus compromissos. Essas medidas de segurança buscavam a proteção dos segurados através de um aporte de capital para enfrentar a incerteza que obrigatoriamente se soma ao risco. A margem de solvência era definida como o maior dos índices de prêmios ou de sinistros. Para computar o Índice de Prêmios (IP), devia-se calcular primeiro sua base, seguindo o disposto no art. 16. inc. 3 – primeiro resultado da primeira Diretiva do Conselho 73/239/CEE. Uma vez calculada, a base é dividida em dois intervalos: um até 10 milhões de unidades de conta e outro pelo excesso dos 10 milhões de unidades de conta. Dessa forma, o Índice de Prêmio (IP) é calculado com a seguinte fórmula: IP= (18% sobre 10 milhões de unidades da conta1 + 16% sobre o excesso de 10 milhões de unidades da conta) x TR Para calcular o Índice de Sinistros (IS), devese calcular primeiro sua base, seguindo o disposto no art. 16 inc.3 – segundo resultado da primeira Diretiva do Conselho 73/239/CEE. Uma vez calculada, a base é dividida em dois intervalos: um até 7 milhões de unidades de conta e outro pelo excesso dos 7 milhões de unidades de conta. Dessa forma, o Índice de Sinistro (IS) é calculado com a seguinte fórmula: IS= (26% sobre os primeiros 7 milhões de unidades da conta + 26% sobre o excesso de 7 milhões de unidades da conta) x TR A Taxa de Retenção (TR) é definida como: TR= sinistros líquidos2 / sinistros brutos (para Entende-se por “unidade de conta” a definida no artigo 4 dos Estatutos do Banco Europeu de Investimentos. 1 2 Os sinistros líquidos são definidos como o valor dos sinistros a cargo da empresa depois da cessão do resseguro. 24 o último exercício. Não menor que 50%). Quando, em meados da década de 90, foram abertos os mercados do seguro dentro da União Europeia, o controle de solvência adquiriu uma maior transcendência, já que permitia que as autoridades supervisoras pudessem efetuar um alerta adiantado se fossem observados descumprimentos que pudessem prejudicar o segurado. A outra grande mudança relacionada com as margens de solvência ocorreu quando foram adotadas as Diretivas de Solvência I em fevereiro de 2002 (Diretiva 2002/13/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 5 de março de 2002), pela qual se modifica a Diretiva 73/239/ CEE do Conselho, referente aos requisitos da margem de solvência das seguradoras diferentes do seguro de Vida. Novamente, a margem de solvência era definida como o maior dos índices, de prêmios ou de sinistros, mesmo que sua base tivesse mudado, da mesma forma que a taxa de retenção, que agora é calculada com base nos três últimos exercícios, não inferior a 50%. Para calcular o Índice de Prêmios devia-se calcular primeiro sua base, seguindo o disposto no art. 16. inc. 3 – primeiro resultado da primeira Diretiva 2002/13/CEE. Uma vez calculada, a base é dividida em dois intervalos: um até 50 milhões de euros e outro pelo excesso dos 50 milhões de unidades da conta. Dessa forma, o Índice de Prêmio (IP) é calculado com a seguinte fórmula: IP= (18% sobre 50 milhões de euros + 16% sobre o excesso de 50 milhões de euros) x TR Para calcular o Índice de Sinistros (IS) devese calcular primeiro sua base, seguindo o disposto no art. 16bis inc. 4 da Diretiva do Conselho 2002/ 13/CEE. Uma vez calculada, a base é dividida em dois intervalos: um até 35 milhões de euros e outro pelo excesso dos 35 milhões de unidades de euros. Dessa forma, o Índice de Sinistro (IS) é calculado com a seguinte fórmula: IS= (26% sobre os primeiros 35 milhões de euros + 26% sobre o excesso de 35 milhões de euros) x TR Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 diretiva simples e de fácil aplicação, que permite comparar os resultados financeiros das diferentes companhias seguradoras atuantes no mercado europeu e, de certa maneira, efetuar algum tipo de ranking de solvência para que o segurado possa saber com que companhia de seguros está operando e a quem está confiando a integridade de seus bens. Poderíamos dizer que a norma não contempla outros tipos de riscos de uma seguradora diferentes dos técnicos, como os de investimento, tão importantes nesta atividade, ou os de mercado, e que, por outro lado, também a qualidade do resseguro não é avaliada em toda sua magnitude, nem as porcentagens cedidas. PARA UM SISTEMA DE MAIOR SOFISTICAÇÃO – SOLVÊNCIA II A Taxa de Retenção (TR) é definida como: TR= sinistros líquidos / sinistros brutos (média dos três últimos exercícios. Não menor que 50%). Nota: para os casos de seguros de Responsabilidade Civil – com exceção da Responsabilidade Civil de Automóveis – e para o Seguro Marítimo e de Aviação, os índices IP e IS devem ser aumentados em 50%, isto é, deve-se multiplicá-los por um fator 1,5. Como se pode ver, Solvência I trata de uma Era necessário, então, precisar a norma a fim de proporcionar uma melhor proteção aos segurados, estabelecendo requerimentos de capital que reflitam de alguma maneira os riscos de uma seguradora, que levem em conta os mercados e que evitem uma excessiva capitalização ou sobrecapitalização. Além disso, os participantes da Comissão da União Europeia pensaram que a nova norma deveria continuar sendo simples e não deveria cair em um excesso normativo. Esse processo de revisão começou em 2001 e espera-se que possa entrar em vigência aproximadamente na primeira década deste século. Durante a primeira fase, concluída em 2003, foram discutidas e fixadas as delineações do Solvência II. Durante a segunda fase, espera-se finalizar o texto definitivo da norma. O novo regime de supervisão, cujas delineações básicas foram amparadas favoravelmente pelo Comitê de Seguros da União Europeia em abril de 2003, proporciona aos supervisores PARA PROPORCIONAR UMA MELHOR PROTEÇÃO ÀS SEGURADORAS, A COMISSÃO DA UNIÃO EUROPEIA ESTABELECEU QUE A NOVA NORMA DEVERIA CONTINUAR SENDO SIMPLES, SEM CAIR EM UM EXCESSO NORMATIVO Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 25 estudos ferramentas apropriadas para avaliar a solvência global de uma seguradora. Portanto, e tal como especificam os participantes da Comissão, o sistema não deveria consistir só em uma série de coeficientes e indicadores quantitativos, mas também deveria incluir os aspectos qualitativos que influenciem no tipo de riscos de uma empresa, como a gestão, o controle interno do risco, a situação competitiva, etc. Esse sistema de solvência, assim definido, permite avaliar a solvência das seguradoras mediante um enfoque baseado em três pilares, inspirado no ocorrido com a Basileia II, mesmo que adaptando os riscos operacionais do setor bancário ao mercado segurador. Tal como se fez no sistema bancário com o Basileia II, o Solvência II deveria incentivar as empresas de seguros a medir e a administrar seus riscos mediante modelos que refletissem o verdadeiro perfil de riscos além de uma simples fórmula. No entanto, o Solvência II não é um decalque do Basileia II: há elementos similares e outros bastante diferentes. A semelhança reside no já clássico modelo dos três pilares, com requisitos quantitativos, qualitativos e de disciplina de mercado. Am- bos os projetos também lhe atribuem uma importância essencial à gestão sólida dos riscos, à transparência e ao regulamento. Entre suas diferenças mais importantes, podemos mencionar que o Basileia II tem por finalidade fortalecer a solidez e a integridade do sistema bancário internacional, enquanto o Solvência II se volta para um princípio que a cada dia ganha maior importância no mundo: a defesa do consumidor. Isto é, o Basileia II está direcionado para dentro e o Solvência II para fora. Além disso, o Basileia II, em princípio, é mais corporativo, pois está voltado às instituições bancárias com negócios internacionais, enquanto o Solvência II não realiza tal distinção e será aplicável à totalidade das seguradoras europeias. Do ponto de vista técnico, enquanto o Basileia II emprega modelos diferentes para os riscos de crédito, de investimento e operacionais, o Solvência II está focado em uma análise do portfólio baseada no risco de maneira holística, sem deixar de considerar as interações e as dependências entre os diferentes tipos de riscos, e reconhecendo os esforços direcionados à diversificação do risco. A DIFERENÇA ENTRE O BASILEIA II E O SOLVÊNCIA II É QUE, ENQUANTO O PRIMEIRO TEM POR FINALIDADE FORTALECER A SOLIDEZ E A INTEGRIDADE DO SISTEMA BANCÁRIO INTERNACIONAL, O SEGUNDO ESTÁ DIRECIONADO À DEFESA DO CONSUMIDOR 26 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 No entanto, devemos reconhecer que um sistema como o Basileia II, mesmo que vise alcançar a maior solidez do negócio bancário internacional, acaba de alguma forma favorecendo os interesses dos consumidores. Voltando à análise do Solvência II, a Comissão Europeia considera que: “O marco normativo e de supervisão futuro deveria ser tão eficiente e tão flexível quanto fosse possível. Deveria ser adaptável à natureza mutável do mercado de seguros e ao rápido desenvolvimento de produtos, métodos e modelos. Deveriam utilizar, portanto, as técnicas de Lamfalussy ou de comitologia 3 para construir um marco de supervisão que pudesse permitir a utilização de métodos mais complexos sem deixar de ser flexíveis...” OS TRÊS PILARES DO SOLVÊNCIA II Como já dissemos, este novo sistema de solvência da UE para as companhias de seguros se baseia no enfoque de três pilares (Fig.1). S O L V Ê N C I A II REQUISITOS QUANTITATIVOS REQUISITOS QUALITATIVOS (Exigência de Recursos (Processos de Supervisão) DISCIPLINA DE MERCADO próprios) • Princípios de • Princípios • Requerimento de controle interno relacionados à capital mínimo • Princípios de divulgação da • Requerimento de gestão do risco informação capital de solvência • Princípios para • Princípios • Regras claras de o processo de referentes à investimento supervisão transparência PRIMEIRO PILAR SEGUNDO PILAR TERCEIRO PILAR PRIMEIRO PILAR Dentro do primeiro pilar, onde serão estabelecidos os princípios quantitativos do sistema, se tem especialmente em conta os aspectos relacionados com as provisões técnicas e com o capital. Provisões técnicas para o setor Não-Vida O aumento da harmonização das provisões para os sinistros pendentes de liquidação e de pagamento é a base deste novo regime de solvência na União Europeia. Os participantes da Comissão recomendam, neste aspecto, que sejam estabelecidos certos parâmetros quantitativos para o nível prudencial das provisões técnicas, e que seja elaborado um padrão das provisões técnicas com os elementos do primeiro e do segundo pilar. Tais serviços reconhecem as dificuldades para o estabelecimento das distribuições de probabilidades pertinentes, mas consideram que esse planejamento seria útil como estímulo para um processo estruturado de constituição de provisões, para o processo de estudo da supervisão, bem como para o fomento do desenvolvimento de modelos internos. Ainda que a questão se aproxime dos parâmetros que serão utilizados, deverão ser discutidas, na parte final da segunda etapa, se as técnicas e os métodos que deveriam ser empregados teriam de ser compatíveis com os utilizados para elaborar a contabilidade de acordo com o International Accounting Standards Board (Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade) – IASB. Os participantes da Comissão, no entanto, Conforme o Tratado constitutivo da Comunidade Europeia (TCE), a Comissão Europeia executa a legislação em nível comunitário (artigo 202 do TCE). Concretamente, cada ato legislativo precisa o alcance das concorrências de execução atribuídas à Comissão pelo Conselho da União Europeia. Neste contexto, o Tratado prevê que a Comissão esteja assistida por um comitê, segundo um procedimento chamado “comitologia”. 3 4 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Comissão Europeia. MARKT/2509/03-ES – ponto 13. 27 estudos estimam que as companhias de seguros deveriam continuar tendo a possibilidade de constituir reservas livres de impostos como capital restringido em um futuro sistema de solvência da UE, e que tais reservas estatutárias poderiam fazer parte das exigências do capital que garante a solvência. Capital Oportunamente, durante a primeira fase do trabalho, propôs-se introduzir dois níveis de exigência do capital regulamentar: um nível de capital objetivo e um nível de capital mínimo. Ambos os requisitos serão calculados em função dos ativos e dos passivos avaliados de acordo com o mercado. Também pode ser necessário definir uma escala de ação de supervisão quando o capital de uma empresa de seguros se situar entre o nível objetivo e o mínimo (isto é, uma rede de segurança cuja função primária é promover proteção ao segurado e, em segundo lugar, ao sistema no seu conjunto). O nível de capital objetivo deveria refletir em princípio o capital econômico que uma empresa necessitaria para funcionar com uma probabilidade baixa de falência. O cálculo do capital regulamentar objetivo deverá refletir e quantificar a maioria dos riscos aos quais uma empresa de seguros está exposta. Os participantes da Comissão acreditam que o nível objetivo deveria ser a principal ferramenta de supervisão para as empresas que funcionam em circunstâncias normais. O novo sistema da União Europeia permitirá às empresas utilizar modelos internos de risco para o cálculo de seu nível de capital objetivo, embora possam aceitar modelos parciais para facilitar a introdução dos modelos internos. Como já comentado, deveria ser estabelecido um nível de capital mínimo ou rede de seguridade que constituísse o nível a partir do qual as operações da seguradora constituem um risco inaceitável para os tomadores e no qual entraria em última instância a supervisão. Esse nível deveria poder ser calculado de maneira simples e objetiva, ser determinado de maneira independente ou ser uma fração do nível de 28 capital objetivo. O capital mínimo poderia ser calculado de maneira similar ao atual requisito de margem de solvência, embora também pudessem introduzir algumas características para que a exigência fosse mais eficiente. Uma ideia poderia ser expressar a exigência como porcentagem das provisões técnicas, ainda que com maior harmonização. O nível absoluto poderia ser estabelecido em torno do nível atual do sistema para o seguro de Não-Vida. O capital de solvência requerido “deve garantir um nível de capital que permita a uma empresa de seguros absorver grandes perdas imprevistas e que proporcione aos segurados uma segurança razoável de que os pagamentos serão realizados quando estes forem cumpridos. Deve refletir o valor do capital necessário para cumprir com todas as obrigações durante um período de tempo especificado a um nível de confiança definido”. Por isso, devem ser levados em conta em seu cálculo todos os riscos importantes e quantificáveis aos quais uma seguradora está exposta (risco técnico, operacioGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 nal, de investimento, de crédito e liquidez). O capital de solvência requerido será calculado com enfoque padrão ou com o próprio modelo interno de risco do segurador, que deve ser avaliado e autorizado pelas autoridades de supervisão. Até o momento não foi adotado nenhum modelo padrão de Solvência II. A opção de utilizar modelos de risco próprios deve permitir às seguradoras calcular seu capital de solvência de forma que ele reflita seu verdadeiro perfil de risco. Em geral, espera-se que o capital de solvência requerido que surge dos modelos internos seja inferior ao do modelo padrão. Para calcular o capital de solvência exigido, é preciso definir uma medida do risco e um nível de confiança. A medida do risco é uma função que atribui um valor de capital a uma distribuição de perda e ganho econômica. As medidas de risco usadas normalmente são o Value at Risk (VaR) e o Expected Shortfall (É), também denominado Tail Value at Risk (TailVaR ou TVaR). A medida do risco VaR1% é definida como a diferença entre o resultado adverso que só é excedido em um a cada cem anos e o resultado esperado (figura 2). Por conseguinte, o VaR é um umbral que só se ultrapassa com a baixíssima probabilidade de 1%. O ES1% é mais restritivo; acrescenta ao Value at Risk a perda adicional esperada se o umbral especificado for superado e considera a distribuição na fila. A utilização do Expected Shortfall como medida do risco levaria a concentrar-se nas consequências de um possível descumprimento de pagamento, em vez da simples probabilidade de insolvência. O Comitê Europeu de Supervisores de Seguros e Pensões de Aposentadoria (CESSPJ)5 aprecia muito o TailVaR para efeito de supervisão e como medida sensível ao risco. De um ponto de vista técnico-econômico, é preferível a medida do Expected Shortfall, porque a diferença do Value at Risk atende às características de uma medida coerente do risco. No entanto, o CESSF reconhece que, dependendo das características de risco da carteira, o Value at Risk pode ser aferido de tal forma que projete aproximadamente o mesmo grau de prudência que o conceito de Tail Value at Risk. Como hipóteses de trabalho, o CESSPJ considera um nível de VaR de 99,5%, que equivale a uma probabilidade objetiva de falta de pagamento de 0,5%, e fixa um horizonte de tempo de um ano como base geral para o capital de solvência requerido. Não obstante, a medida do risco apropriada, o nível de confiança e o período de tempo continuam pendentes, considerando que o marco final para o capital de solvência requerido será decidido somente nos meses seguintes6. Probabilidade PERDA LUCRO Perda registrada 1 a cada 100 anos Resultado esperado (média) Distribuição de lucros e perdas econômicas CESSPJ: Integrado por representantes de alto nível das autoridades de supervisão do seguro e planos de pensão de empresas dos Estados-membros da União Europeia. 5 6 Informe Sigma, N º 4/2006– pág. 10 (Swiss Re). O CAPITAL DE SOLVÊNCIA REQUERIDO DEVE GARANTIR UM NÍVEL DE CAPITAL QUE PERMITA A UMA EMPRESA DE SEGUROS ENFRENTAR GRANDES PERDAS IMPREVISTAS E QUE PROPORCIONE AOS SEGURADOS UMA SEGURANÇA RAZOÁVEL. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 29 estudos SEGUNDO PILAR O segundo pilar leva em conta dois requisitos qualitativos extremamente importantes: A. Controle interno e gestão de riscos B. Supervisão cautelar Analisaremos separadamente cada um desses aspectos. A. Controle interno e gestão de riscos Os participantes da Comissão entendem que deveriam elaborar princípios para o controle interno das empresas de seguros de acordo com as recomendações futuras do grupo da Conferência de Madri7. Dever-se-ia trabalhar e induzir as empresas de seguros para que elas seguissem princípios para a gestão sólida de seus riscos, tal como assinala o esquema geral preparado pelo grupo da Conferência de Londres ou Sharma 8. Também poder-se-ia adaptar o trabalho desenvolvido no setor bancário 7 A Conferência de supervisores da UE continuará desempenhando um papel importante no projeto Solvência II. O resultado de seu trabalho, no entanto, mudará de natureza de acordo com o planejamento Lamfalussy previsto. O relatório Londres/Sharma teve contribuições de grande qualidade para a discussão da fase I e boa parte do trabalho sobre gestão de riscos da fase II estará baseada nesse trabalho. Os resultados do Grupo de Madri sobre o controle interno de riscos serão incorporados diretamente ao trabalho na segunda fase do projeto. De acordo com o enfoque Lamfalussy, a Comissão/nível 2 pedirá à Conferência/nível 3 que prossiga o trabalho. MARKT/2509/03-É. 8 Ver referência 6. (Basileia II) ao de seguros. No entanto, seria conveniente que as normas incluíssem princípios relacionados às garantias da atividade empresarial, bem como instruções gerais para a gestão de políticas, sinistros e provisões técnicas. Além disso, pensou-se que a empresa de seguros poderia manter uma atitude justa com relação aos tomadores de seguros, por exemplo, no tocante a sua política de participação nos benefícios e à informação que lhes é proporcionada (pilar 3), como uma forma de premiar a boa gestão do risco dos tomadores de seguros. B. Processo de supervisão cautelar É óbvio que o processo de supervisão cautelar é um item medular para o bom funcionamento de um sistema de solvência na União Europeia, tal como o Solvência II pretende. Para tal fim, uma questão central seria harmonizar alguns aspectos importantes do processo de supervisão cautelar sem perder de vista a necessidade de adaptar a supervisão às necessidades de cada empresa. Tendo em vista que as autoridades supervisoras necessitam de um marco comum para avaliar a boa gestão empresarial, os indicadores de alerta precoce e as situações hipotéticas de referência para provas de resistência (stress tests) também poderiam ser harmonizados, em nível europeu, com as possíveis adaptações que reflitam as características específicas dos mercados. Paralelamente, deveriam ser estabelecidos critérios mínimos para as inspeções in situ, já que é provável que essas visitas sejam um elemento obrigatório do processo de validação dos modelos internos. SERIA PRECISO INDUZIR AS EMPRESAS DE SEGUROS A SEGUIR PRINCÍPIOS PARA A GESTÃO SÓLIDA DE SEUS RISCOS, E TAMBÉM CONVIRIA QUE AS NORMAS INCLUÍSSEM PRINCÍPIOS RELACIONADOS ÀS GARANTIAS DA ATIVIDADE EMPRESARIAL 30 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Coordenação de ação de supervisão em épocas de crises: o Solvência II deveria abordar a necessidade de coordenar a supervisão quando uma ou várias empresas, ou todo um setor, tivessem problemas para cumprir as exigências cautelares, evitando os requisitos prócíclicos que poderiam agravar uma situação delicada. Concorrências e medidas cautelares: durante a segunda fase desse processo, devem ser definidas claramente a capacidade de intervenção e as responsabilidades das autoridades supervisoras. O objetivo de reforçar o processo de supervisão cautelar é conseguir que o sistema cautelar seja mais sensível aos perfis de risco individuais das empresas de seguros. É por esse motivo que os supervisores poderão, em casos concretos, estabelecer exigências que excedam às habituais ou exigir informação mais detalhada, embora devessem elaborar princípios gerais para as exceções às normas padrão. Transparência e responsabilidade das autoridades supervisoras: a fim de alcançar princípios de funcionamento que garantam a transparência da ação de supervisão com relação ao mercado, os critérios gerais e as metodologias de avaliação das autoridades supervisoras deverão ser de domínio público. Avaliações interpares: o aumento da complexidade do futuro sistema de solvência, em geral, e a importância do trabalho de supervisão, em particular, podem requerer que o sistema seja completado por um processo de avaliação interpares das modalidades de trabalho das autoridades supervisoras. Essas avaliações poderiam ser organizadas, por exemplo, pela Conferência de Supervisores da União Europeia. TERCEIRO PILAR Como ocorrido com o Basileia II, o terceiro pilar se baseia no conceito de disciplina de mercado e leva em conta dois aspectos essenciais: A. A divulgação da informação B. A transparência Segundo opinião dos participantes da Comissão, as informações relacionadas ao terceiro pilar serão uma parte importante da futura arquitetura da supervisão do seguro na União Europeia. A transparência e a provisão de informação poderiam servir para reforçar os mecanismos do mercado e a supervisão com ponderação do risco. Como a exigência de informação dependerá dos métodos e das medidas adotados para o primeiro e segundo pilares, só será possível definir as exigências de apresentação da informação no decorrer da segunda fase do Solvência II, que já está entrando em suas etapas finais. Os serviços da Comissão estimam, seguindo o espírito das recomendações do grupo de discussão sobre as exigências de informação, que é importante seguir estritamente os avanços dos trabalhos do IASB, da IAIS (International Asso- Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 31 estudos ciation of Insurance Supervisors, ou Associação Internacional de Supervisores de Seguros) e Basileia II, de modo que possam ser coordenadas as exigências de informação para reduzir a carga administrativa prevista para as empresas. Um tema delicado que deverá ser levado em conta e definido com precisão é o relacionado a que tipo de informação – da obtida no processo de supervisão – poderá fazer-se pública e qual não poderá. Especialmente no caso de empresas que enfrentem problemas de cumprimento da normativa, a simples difusão da informação poderia agravar seriamente sua situação. No entanto, paralelamente, também não deverá ser perdida de vista a meta dominante do Solvência II, que é zelar pela segurança do segurado, em particular, e do mercado em geral. CONCLUSÕES Dizia Javier Bernaldo de Quirós9, em seu discurso de encerramento do 2º Encontro Financeiro sobre Modelos de Capital Baseados na Gestão de Riscos, organizado pelo ICEA na Espanha (2003), referindo-se à visão global do projeto Solvência II: “a primeira ideia que eu gostaria de transmitir-lhes é que o Solvência II não consiste só em um projeto que tem por finalidade desenhar uma metodologia de análise e de quantificação que permita determinar qual é o posicionamento das seguradoras frente aos riscos, e com isso estabelecer os níveis de recursos próprios que necessitam. Se esse fosse o único objetivo do Solvência II, o problema do projeto se veria reduzido à reorientação do sistema vigente de cálculo de solvência com o objetivo de fazê-lo mais sensível frente aos riscos. A realidade é que o Solvência II é muito mais ambicioso e, como vocês sabem, pretende-se 9 Inspetor de seguros da Espanha - Coordenador do Projeto de Solvência II na Espanha pela Direção de Seguros e Fundos de Pensões Espanhola (DGSFP) 32 que se articule em torno de uma estrutura de três pilares, com a qual se deseja fazer especial empenho em transmitir que o Solvência II tenta contribuir com soluções mediante a reformulação dos planejamentos vigentes na maioria dos aspectos ou pontos críticos que o mercado segurador apresenta, e concretamente a respeito dos seguintes pontos: O ponto crítico consistente em que os sistemas vigentes de determinação dos níveis de solvência são raramente sensíveis com relação à maioria dos riscos que as seguradoras suportam. Como vocês sabem, infelizmente, para o entendimento do projeto, este é o aspecto que, de forma quase única, está sendo transmitido à indústria seguradora. Em segundo lugar, o ponto crítico da qualidade da gerência empresarial: o Solvência II pretende implantar uma nova cultura de gerência empresarial orientada a conseguir uma maior qualidade gerencial mediante a consideração de novos aspectos ou ambientes até então nunca considerados. Com relação a isso, recomendo que consultem o relatório elaborado no Grupo de Trabalho de Londres, no qual, depois de analisar casos reais de insolvências de seguradoras europeias ocorridos nos últimos cinco anos, chegou-se a diversas conclusões sobre os erros de estratégia, aptidão e atitude cometidos pelos gerentes. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Em terceiro lugar, o ponto crítico da qualidade da supervisão europeia: o Solvência II pretende melhorar a atuação dos supervisores mediante o design de novos métodos de trabalho que lhes permitam cumprir sua principal missão: detectar, com a suficiente antecedência, situações com potencialidade de poder colocar em perigo a saúde econômica e gerencial das seguradoras. E, por último, o ponto crítico da opacidade do mercado segurador: o Solvência II pretende, mediante uma maior transparência das seguradoras, impulsionar a disciplina de Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 “ O SOLVÊNCIA II TENTA CONTRIBUIR COM SOLUÇÕES MEDIANTE A REFORMULAÇÃO DOS PROJETOS VIGENTES NA MAIORIA DOS PONTOS CRÍTICOS QUE O MERCADO SEGURADOR APRESENTA” mercado como mecanismo que as estimule a manter os níveis de recursos próprios adequados. Deve-se também destacar que foi introduzida a aplicação na tramitação do projeto do modelo de elaboração de normas conhecido como comitologia dos quatro níveis, ou, mais sucintamente, como projeto Lamfalussy. O objetivo do projeto Lamfalussy no setor de valores mobiliá- rios era garantir o estabelecimento de uma estrutura comunitária de regulação e supervisão eficaz para facilitar a adoção rápida e flexível da legislação e uma maior convergência em matéria de supervisão, que se traduziria em uma aplicação mais coerente e completa da normativa. Com isso, remediar-se-iam as deficiências que encontrou no marco atual o Plano de Ação para os serviços financeiros. O benefício que se obteria com isso em termos econômicos seria um mercado comunitário de valores mobiliários verdadeiramente integrado e eficiente, que geraria mais crescimento, emprego e produtividade. Lamfalussy advogava que, para adotar normas comunitárias no setor dos valores mobiliários, deveria ser aplicado um enfoque baseado em quatro níveis. Na sequência são descritas as características básicas desse projeto: Nível 1. Após um processo completo de consulta, a Comissão adota uma proposta de diretiva ou de regulamento que reúna os princípios gerais essenciais ou chave. Uma vez que o Parlamento e o Conselho acordem sobre esses princípios gerais e sobre as concorrências de execução previstas na proposta, as medidas concretas de execução são desenvolvidas no nível 2. Nível 2. Prévia consulta a um comitê de nível 2, a Comissão consulta com o comitê de nível 3 as medidas técnicas de execução. Este prepara seu parecer em consulta com os ope33 estudos radores do mercado, os usuários finais e os consumidores e o submete à Comissão, que prepara uma proposta formal e a submete ao comitê de nível 2, que deve submetê-la a votação em um prazo máximo de três meses. A seguir, a Comissão adota a medida. Ao longo desta fase de nível 2, o Parlamento Europeu é mantido plenamente informado e se concede a máxima consideração a sua opinião. Nível 3. Cabe ao comitê de nível 3 a tarefa de elaborar recomendações interpretativas conjuntas, diretrizes coerentes e normas comuns. Também avalia o trabalho de outros especialistas (peer reviews) e compara a prática reguladora para garantir uma implementação e uma aplicação coerentes. Nível 4. A Comissão verifica o cumprimento da normativa comunitária pelos Estadosmembros e pode empreender atuações judiciais contra os Estados-membros que presumivelmente infrinjam o Direito Comunitário. A chave deste projeto é a rápida tomada de decisões combinada com uma consulta ampla e transparente de todos os interessados. Tanto o próprio informe Lamfalussy como o Parlamento, quando aceitaram as propostas de Reflexões sobre a relação entre o projeto Solvência II e a extensão do projeto Lamfalussy com a normativa de Seguros. MARKT/2519/02- ES. 10 11 34 Ver citação 9. compromisso no setor de valores mobiliários, tiveram especial empenho na consulta ampla e transparente de todos os interessados. Em resposta a este requisito, está previsto utilizar a internet para uma maior difusão da informação e uma consulta ampla. Esse aspecto influirá no método de trabalho dos comitês de nível 2 e 3. EXTENSÃO DO PROJETO LAMFALUSSY NOS SEGUROS A maneira mais óbvia de aplicar o projeto Lamfalussy nos seguros é transformar o Comitê de Seguros (CS) e a Conferência de Autoridades de Supervisão de Seguros da União Europeia (Conferência) em comitê regulador (nível 2) e comitê supervisor (nível 3), respectivamente, dadas suas funções e concorrências atuais. Em uma reunião extraordinária ocorrida no dia 5 de junho de 2002, a Conferência declarou sua disposição para assumir o papel de comitê supervisor de nível 3. As associações europeias de empresas do setor dos serviços financeiros foram consultadas a respeito em outra reunião ocor- rida no dia 6 de junho. O relatório provisório da Comissão defendia que o projeto Lamfalussy fosse aplicado aos seguros do seguinte modo: O Comitê de Seguros poderia dar lugar ao Comitê Regulador de Seguros e Pensões (CRSP), presidido pela Comissão e integrado por representantes dos Ministérios da Fazenda da União Europeia. O presidente do Comitê Supervisor (o CSSP, ver a seguir) teria o estatuto de observador. O Comitê se encarregaria das questões relacionadas com os fundos de pensão e os seguros, e poderia ser criado mediante decisão da Comissão. O Comitê de Autoridades de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (CASSFP) poderia ser criado a partir da Conferência de Autoridades de Supervisão de Seguros. Estaria presidido por um supervisor de seguros ou de fundos de pensão de um Estado membro e seus membros seriam supervisores de seguros e de fundos de pensões. O CASSFP teria um grau de independência semelhante ao do CRSP e contaria com sua própria secretaria.Também poderia ser criado mediante decisão da Comissão. Deveria ser Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 criado um grupo de representantes do setor segundo os prognósticos do CASSFP encarregado das orientações estratégicas globais e de defender os interesses do setor. A respeito da proposta da diretiva relacionada aos órgãos de previsão para a aposentadoria, um comitê ampliado de seguros e pensões se ocuparia dela. Certamente, seria necessário levar em consideração as particularidades dos diferentes órgãos de previsão para a aposentadoria10. Na opinião de Quirós11, “se finalmente fosse acordada a aplicação do processo de comitologia para seguros e, com isso, para o projeto Solvência II, nós nos encontraríamos diante do seguinte contexto: As normativas nacionais de incorporação da Diretiva Marco emitida no nível 1 poderiam variar de um país para outro, conforme os acordos que fossem adotados no nível 2. Essa possibilidade, sempre e quando respeitados os princípios fixados pela Diretiva Marco, permitiria uma melhor adaptação às situações de partida nas quais se encontram cada um dos setores nacionais. Opapel dos reguladores e supervisores nacionais seria mais participativo, em cooperação direta com as demais autoridades de controle, os representantes dos setores envolvidos e os representantes dos consumidores. Definitivamente, na hipóteGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 NA EUROPA FUNCIONAM APROXIMADAMENTE 5.500 SEGURADORAS. A MAIORIA DELAS JÁ ESTÁ TRABALHANDO EM SEUS RESPECTIVOS PAÍSES PARA QUE O NOVO REGULAMENTO, EM VIGOR A PARTIR DE 2010, NÃO AS SURPREENDA se de ser aplicada a comitologia Lamfalussy ao projeto Solvência 2, nós nos encontraríamos diante de um fator estratégico novo para a indústria, os consumidores e o regulador supervisor nacional, e, devido a isso, deveríamos ser capazes de implantar novas formas de trabalhar e de abordar os desafios comuns.” É importante lembrar que, na Europa, funcionam aproximadamente 5.500 seguradoras que serão afetadas por este novo regulamento. A maioria delas já está trabalhando em seus respectivos países e em grupos regionais para que, em 2010, não sejam surpreendidas. Os temas relacionados com o conceito de solvência futura das seguradoras vinculada ao posicionamento diante dos riscos sobre os quais se divulgou que estão sendo trabalhados são as ameaças derivadas: -de uma inadequada seleção de riscos -da aplicação de tarifas de prêmios -da existência de desvios significativos na sinistralidade -de política de resseguro inadequada -de outra situação que possa gerar, no futuro, uma situação grave de desequilíbrio ou enfraquecimento financeiro. Em resumo, pode-se concluir que, diante do que o Solvência II possa exigir e da novidade de suas propostas, as seguradoras europeias devem trabalhar, e muitas já estão fazendo isso, para: Identificar todos os fatores de risco com capacidade potencial de agravar seu posicionamento diante dos diferentes riscos contemplados no seu mapa ad hoc. Identificar e definir a rede de inter-relações entre os diferentes fatores de risco que sua empresa suporta. Implantar um conjunto de ferramentas e sistemas de controle interno que lhes permita obter informação quantificada sobre a evolução dos fatores de risco previamente identificados. 35 estudos E, o que é muito importante, trabalhar arduamente a fim de envolver toda a organização no projeto, mediante a implantação de uma primeira aproximação à redefinição de suas funções tradicionais. Nesse sentido, os riscos tradicionais sobre os quais se deverá trabalhar são, principalmente: Risco de mercado: isto é, a perda potencial por mudanças nos fatores de risco que incidam sobre a avaliação de algum instrumento ou operação. Risco de crédito: o que envolve a perda potencial devido a uma mudança na capacidade da contraparte de pagar as obrigações contraídas, e que pode significar uma diminuição na qualidade creditícia ou um descumprimento parcial ou total de um contrato. Risco de liquidez: nas suas três vertentes e referente a: Perda potencial devida à impossibilidade de renovar passivos ou de contratar outros em condições normais de mercado. Perda antecipada como consequência da venda antecipada ou forçada de ativos em condições incomuns e desvantajosas para fazer frente às obrigações de curto prazo. Risco inerente a uma posição que não possa ser oportunamente alienada, adquirida ou coberta mediante o estabelecimento de uma posição contrária equivalente (hedging). 36 Risco operacional: entendido como a perda potencial por falhas ou deficiências nos sistemas, nos controles internos ou por erros em processos e/ou operações. Risco legal: devido principalmente: Á perda potencial pelo descumprimento das disposições legais e/ou administrativas. Ao estabelecimento de resoluções legais e/ou administrativas desfavoráveis para a empresa. Risco dinâmico: referente às perdas potenciais originadas pela tomada inadequada de decisões gerenciais, de acordo com alguns dos seguintes cenários: as condições assumidas PRINCIPALMENTE, SÃO SEIS OS RISCOS TRADICIONAIS SOBRE OS QUAIS TODA A ORGANIZAÇÃO DEVE TRABALHAR: RISCO DE MERCADO, RISCO DE CRÉDITO, RISCO DE LIQUIDEZ, RISCO OPERACIONAL, RISCO LEGAL E RISCO DINÂMICO os cálculos realizados a plataforma tecnológica a falta de conhecimento e capacitação de seus usuários. Paralelamente, deve-se formular uma normativa prudente para a administração de riscos baseada na existência de: Um Comitê de Investimentos que conte, no mínimo, com um membro independente da empresa ou de seu grupo de interesse econômico. Um Comitê de Riscos que também conte com pelo menos um membro externo (diferente do anterior). Nesse contexto, a gerência de Administração Holística de Riscos: Será a encarregada pela gestão dos riscos da empresa. Será responsável pelo desenvolvimento de metodologias de medição de riscos. Estará composta por um grupo de profissionais da área técnica, especializados e independentes das atividades operacionais e comerciais da empresa. Terá de contar obrigatoriamente com Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 um Manual de Políticas e Procedimentos para a Administração de Riscos. Deverá ser auditada por Auditoria Independente de Riscos. Deverá necessariamente servir de apoio e responder aos requerimentos do Conselho de Administração da empresa. Deverá cumprir as normas de Bom Governo das empresas. Quando corresponda, deverá se adequar aos requerimentos das normas de compliance. Para finalizar, podemos dizer que, a partir dos lamentáveis atos terroristas que se desencadearam depois do 11 de Setembro e das fraudes empresariais que sacudiram os Estados Unidos no início deste novo século, como a Enron e a World Com, dentre outros, os governos e a sociedade, como tem feito o homem desde sempre, reagiram diante de tais situGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 ações, chame-se Sarbanes-Oxley Act, Normas de Bom Governo Corporativo, Novas Normas de Auditoria, Basileia II ou Solvência II. No entanto, a cultura,como muitas vezes sucedeu, se antecipou à realidade. Em 1996, a temática associada com o risco foi um best-seller na América do Norte e na Europa, com a publicação de Against the Gods: The Remarkable Story of Risk (em português, Desafio aos Deuses: a Fascinante História do Risco), de Peter Bernstein. Atualmente traduzido para onze idiomas, este livro, mais que qualquer documento, procedimento, discurso, ideia ou ato governamental, populariza nossa compreensão dos riscos e os esforços para conduzi-los. Diz Bernstein na obra: "não podemos quantificar o futuro porque ele é desconhecido, mas temos aprendido a usar os números para esquadrinhar o passado. Até que ponto deveríamos confiar nas pautas do passado para dizer como será o futuro? O que importa mais quando se enfrenta um risco: os fatos como os vemos ou nossa crença subjetiva no que se esconde no vazio do tempo? É a gestão do risco uma arte ou uma ciência? Podemos dizer com precisão onde se encontra a divisa entre ambos os enfoques?" Tal é a importância que o autor concede ao risco, que se anima a colocá-lo no ponto mais alto da evolução, quando diz: "a ideia revolucionária que define a fronteira entre a era moderna e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que um capricho divino e de que os homens e mulheres não são indefesos diante da natureza". É por esse motivo que lembrar o livro de Bernstein é o final mais adequado para este artigo, já que ilustra a importância da comunicação, pois, frequentemente, as novas ideias se restringiram inutilmente ao conhecimento. A prosa lúcida do autor, sintetizando conceitos difíceis e suas descrições pessoais com novas ideias, nos mostra uma valorização dos benefícios que a Administração de Riscos pode proporcionar tanto para as organizações como para os governos e para as pessoas. A comunicação do que nós aprendemos sobre o risco, tanto positivo como negativo, é a próxima barreira a ser superada. Porém nenhum desses fatos do passado terá algum significado ou valor, a menos que também atuem como um estímulo para se olhar adiante de maneira mais prudente e inteligente e com otimismo, usando as ideias e ferramentas que o último século nos deu. Para sermos justos, deveríamos também lembrar que nós homens alcançamos o progresso a partir da capitalização das experiências e das conquistas de nossos antecessores. Nas palavras de Blaise Pascal: "a raça progrediu, como qualquer geração, lembrando ao menos o que uma parte das gerações anteriores tinha aprendido". 37 estudos A CRISE INTERNACIONAL E…ESPANHOLA depressão? Evitaremos a Na atual conjuntura parece obrigatório escrever sobre a crise financeira internacional, seu diagnóstico e seus efeitos sobre a economia real, bem como sobre as medidas que estão sendo tomadas coordenadamente e por cada país. CARMEN ALCAIDE Analista econômica e ex-presidente do INE 38 M uito já se escreveu sobre as origens e as medidas tomadas para solucionar a crise financeira internacional, mas ainda não se vê o fim do túnel, e os temores atuais se concentram na sua intensidade e duração. Uma vez aceita a recessão econômica generalizada no mundo ocidental em 2009, há dúvidas sobre os prognósticos atuais de que a recuperação chegue em 2010. A Espanha, certamente, está imersa na situação financeira internacional, mas a crise da economia real tem características específicas que requerem também ações específicas. Excepcionalmente, com a intenção de focar os antecedentes, vou me referir às origens e às consequências da crise financeira que teve início nos Estados Unidos. As causas que se deduzem das análises realizadas a posteriori são: a aplicação de uma política moGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 netária excessivamente frouxa, que permitiu crescimentos exagerados da economia em geral e do mercado imobiliário em particular; o forte aumento do preço das moradias, que originou a existência de um mercado hipotecário muito especulativo; e a atuação das instituições financeiras, que, com o consentimento das agências de rating, desenharam produtos de engenharia financeira para o mercado de hipotecas de alto risco. Tudo isso foi possível, em grande parte, por causa da confiança do FED no bom funcionamento dos mercados de derivados e ativos estruturados sem a necessidade de um maior controle dos órgãos reguladores. A crise financeira se estendeu posteGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 riormente aos demais sistemas financeiros europeus e afetou tanto os investidores particulares de todo o mundo como as instituições que investiram e ofereceram os produtos financeiros tóxicos. Em alguns países estão sendo gerados problemas de solvência em bancos de primeira linha, e, em outros países, mesmo que ainda não tenham surgido problemas desse tipo, pode-se notar a desconfiança geral e a falta de liquidez que isso gera. Diante da grave situação gerada nos mercados financeiros, refletida claramente nos mercados de ações, e depois da detonante queda do Lehman Brothers, as instituições monetárias e os A CRISE PODE SER SENTIDA DE DIFERENTES FORMAS: EM ALGUNS PAÍSES, GERA PROBLEMAS DE SOLVÊNCIA, E EM OUTROS, PROVOCA DESCONFIANÇA E FALTA DE LIQUIDEZ 39 estudos EM DIVERSAS ÁREAS É PREOCUPANTE O FATO DE QUE AS MEDIDAS CONTRA A CRISE DERIVEM DE UM INTERVENCIONISMO ESTATAL EXCESSIVO NOS SISTEMAS FINANCEIROS 40 governos começaram a buscar soluções. As ações se concentraram em três áreas diferentes, mas complementares: as destinadas a manter as instituições financeiras, as direcionadas a garantir a liquidez dos sistemas e a necessidade de restaurar a confiança, especialmente dos depositantes das instituições bancárias. Com o objetivo de salvar as instituições financeiras, a primeira atuação foi dos Estados Unidos, no dia 3 de setembro, com a aprovação pelo Congresso do plano de resgate, cuja peça básica foi a compra de ativos, de qualidade duvidosa, relacionados com o setor imobiliário. Na Europa, após várias reuniões inúteis de alguns países, chegou-se ao consenso da necessidade de soluções coordenadas em todos eles. Na reunião de chefes de governo dos países do euro, ocorrida no dia 12 de outubro em Paris, com a participação extraordinária do primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, foi acordado garantir a solvência das instituições financeiras. Abriu-se a via da nacionalização total ou parcial, conforme o caso, seguindo o plano desenhado pelo Reino Unido, com a interferência dos estados no capital das instituições financeiras. Decisão que, uma vez aceita e solicitada voluntariamente pelas instituições afetadas por problemas de solvência, suporá uma injeção de capital nelas, mesmo que sujeitas a alguns requisitos referentes à repartição dos dividendos e às remunerações dos diretores. Por último, as instituições europeias acordaram que os esforços para restabelecer a liquidez tinham que chegar às empresas. Embora as medidas tenham sido totalmente aceitas devido à gravidade da situação, existe a preocupação em diversas áreas, acadêmicas e não acadêmicas, de que essas atuações possam derivar em um intervencionismo excessivo dos estados nos sistemas financeiros. Também existe a preocupação de que os fundos empregados sejam utilizados corretamente e de que ajudem a solucionar a falta de li- Financiamento a residentes na Espanha Variação anual em % TOTAL Empresas e famílias AAPP Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Índice Ibex 35 Dados diários janeiro 1990 - outubro 2008 Base 3.000 : 31/12/1989 quidez das empresas. Por isso, em alguns países foi proposto como medida garantir a dívida nova das instituições financeiras com empresas e particulares. Por enquanto, várias autoridades econômicas e financeiras estão de acordo sobre a importância de recuperar as bases de crédito para as famílias e para as empresas, mas na prática ainda não se notam resultados. E, ENQUANTO ISSO, O QUE FIZERAM AS INSTITUIÇÕES MONETÁRIAS? Mais importante ainda foi a decisão de atuação monetária conjunta das autoridades monetárias (8 de outubro) para diminuir em meio ponto as taxas de juros, deixando-as em 1,5% nos Estados Unidos e em 3,75% na União Monetária. No entanto, nem as bolsas de valores nem os A PRIMEIRA PREOCUPAÇÃO DAS AUTORIDADES MONETÁRIAS DIANTE DA CRISE ESTEVE FOCADA NA FALTA DE LIQUIDEZ DO SISTEMA Em um primeiro momento, a preocupação das autoridades monetárias se concentrou na falta de liquidez do sistema. Por esse motivo, o FED, o BCE e o Banco da Inglaterra injetaram fundos e aumentaram as facilidades de crédito para lubrificar o sistema. O BCE também tomou decisões que facilitam o acesso das instituições ao financiamento, concedendo liquidez sem mais limite que o de dispor dos colaterais necessários. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 41 estudos NA ESPANHA, POR ENQUANTO, O PROBLEMA NO SISTEMA FINANCEIRO NÃO PARECE SER DE SOLVÊNCIA, MAS EXISTE SIM UM GRAVE PROBLEMA DE LIQUIDEZ mercados financeiros responderam a esse incentivo. Posteriormente, no dia 29 de outubro, o FED reduziu novamente as taxas de juros em 1%, e o Banco Central também as baixou dias depois, em 6 de novembro, até 3,25%. Mesmo que lentamente, as taxas de juros dos mercados indicativos para os empréstimos às empresas (Mibor) e às famílias (Euribor) estão sendo reduzidas moderadamente, entre 4% e 4,5%. As expectativas das taxas de juros continuam em baixa e espera-se que terminem o ano abaixo de 4%. Na Espanha, por enquanto, o problema no sistema financeiro não parece ser de solvência, mas existe sim um grave problema de liquidez. O elevado nível de endividamento das famílias e das empresas obrigou as instituições financeiras espanholas a se financiarem no exterior. Grande parte dos vencimentos de dívida internacional espanhola se dará em 2009, mesmo que outros se prolonguem até 2011. Mas, se nos próximos trimestres a crise não começar a ser solucionada, a situação financeira pode se agravar. O governo, apesar de seu convencimento da solidez do sistema financeiro, aprovou um plano em dois decretos-lei. No Real Decreto-Lei 6/2008, de 10 de outubro, estabeleceu-se o fundo de aqui- Taxas de variação PIB Intertrimestral 42 ESPANHA UEM sição de ativos com uma dotação em 2008 de 10 milhões de euros, ampliável a até 30 milhões, e a intenção de incluir nos orçamentos de 2009 um fundo de 30 milhões, ampliáveis a até 50 milhões. Posteriormente, com a finalidade de se adaptar ao estipulado na União Europeia em 12 de outubro, no Real Decreto-Lei 7/2008, de 13 de outubro, estabelece-se a outorga de avais do Estado a produtos financeiros como letras de câmbio, bônus e obrigações, que Taxas de variação PIB anualizado ESPANHA Gerência de Riscos e Seguros UEM • nº 102-2009 poderia ser estendida aos empréstimos interbancários. A quantia deste fundo é de até 100 milhões em 2008, e a de 2009 não foi estabelecida. O prazo de vencimento é de cinco anos e os custos, requisitos e obrigações da instituição financeira serão estabelecidos pelo Ministério de Economia. Além disso, inclui a autorização, em caráter excepcional, da aquisição, por parte do Estado, de títulos para reforçar os recursos próprios das instituições financeiras que os solicitem. O principal partido da oposição (PP) apoiou o plano, mas exige que seja ampliado o controle do Banco da Espanha e da CNMV e que o Parlamento tenha mais envolvimento no seguimento da execução concreta do plano. A redação conjunta da minuta do Regulamento do Fundo para a Aquisição de Ativos Financeiros (FAAF) garante as condições de controle e transparência das operações do fundo. A prioridade que se dá aos ativos respaldados com créditos outorgados às empresas e aos cidadãos após 7 de outubro de 2008 tenta garantir que a liquidez chegue finalmente à economia real. As críticas referiam-se à falta de transparência nessas atuações, já que não se tornariam públicos os dados sobre as instituições que recorressem a elas. Por enquanto, o governo se comprometeu a informar o Parlamento a cada quatro meses, tornando públicos os resultados. duzidos de forma drástica, rebaixando as expectativas de inflação, e as taxas de juros estão baixando até níveis muito moderados. Os mercados de ações não estão respondendo a todo esse pacote de medidas e mantêm uma elevada volatilidade. Embora pareça que estejam encontrando alguns suportes, não se observa uma maior confiança, provavelmente porque não creem que a execução das medidas seja rápida e porque consideram que, levando em conta a falta de liquidez, a desconfiança e a recessão que se aproxima, ainda seguem em baixa. Há quem tenha se situado na base do Ibex 35 em 6.000 pontos, ainda que ultimamente pareça estar encontrando suportes em níveis mais elevados. OS MERCADOS DE AÇÕES DESCONFIAM DAS MEDIDAS CONTRA A CRISE PORQUE NÃO CREEM QUE SUA EXECUÇÃO SEJA RÁPIDA E O QUE ACONTECE COM A ECONOMIA REAL? No momento de escrever este artigo, a preocupação foi focar a crise internacional da economia real, que já está sendo qualificada como depressão (alta duração), com referência à depressão de 1929. Por enquanto, as estimativas do terceiro trimestre do ano começam a registrar ta- POR QUE NÃO SE VEEM INDÍCIOS DE ALGUMA NORMALIZAÇÃO DOS MERCADOS FINANCEIROS E DE AÇÕES? É preocupante a lentidão na recuperação da liquidez. É difícil entender essa lentidão na resposta, uma vez que as autoridades políticas e monetárias definiram as condições para uma recuperação financeira das instituições, os preços das matérias-primas e do petróleo foram reGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 xas negativas de crescimento do PIB nos Estados Unidos, no Reino Unido e em alguns países da União Europeia, inclusive na Alemanha e na Espanha. O Instituto Nacional de Estatística alcançou pela primeira vez taxa negativa do PIB (-0,2%). 4343 estudos A SOLUÇÃO PARA VOLTAR À ROTA DO CRESCIMENTO E DA GERAÇÃO DE EMPREGOS NA ESPANHA PASSA PELO AUMENTO DA COMPETITIVIDADE Tanto o FMI como a Comissão Europeia, a OCDE e grande parte dos analistas estimam para a Espanha taxas negativas no quarto trimestre de 2008 e mantêm previsões negativas para alguns trimestres de 2009. Não estão certos sobre o número de trimestres que durará a recessão e sobre o momento em que se possa iniciar uma recuperação (não antes de 2010). Embora a situação de crise seja generalizada no mundo ocidental, na Espanha temos que nos concentrar nas condições específicas que ocorrem no país. Além da bem conhecida bolha imobiliária e da permanente tendência a um aumento dos preços superior ao dos demais países da União Europeia (clientes e concorrentes), o aspecto mais preocupante é o excessivo déficit exterior (11% do PIB). No entanto, a moderação do preço do petróleo ajuda na redução da fatura e, portanto, reduz o aumento do déficit exterior. A melhora da competitividade se apresenta no momento atual como o desafio fundamental para voltar à rota de crescimento e de criação de emprego. A redução do valor dos ativos, tanto mobiliários como imobiliários, significa um empobrecimento dos cidadãos, não só pelo “efeito pobreza” (redução do valor dos patrimônios), mas pela perda de rendas de todo tipo. A consequência imediata é a redução e o ajuste do consumo. Sendo certo que o país viveu esses anos acima de suas possibilidades, como reflete o elevado nível de endividamento, agora ele precisa se ajustar. Já se notam indicadores muito alarmantes. Em termos macroeconômicos, a extinção do emprego e o consequente aumento do desemprego; os indicadores do consumo, que se retraem como consequência do empobrecimento das famílias; as taxas negativas em indicadores de atividade do setor da construção e de automóvel, com o efeito multiplicador sobre todas as indústrias auxiliares; e a queda dos resultados turísticos, como consequência das crises de nossos clientes europeus. Em termos microeconômicos, as notícias empresariais de todos os setores, tanto sobre suas expectativas como sobre seus resultados. Tipos de intervenção 44 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 A situação é tão grave que, se não forem estabelecidos meios para ajustar a economia e aumentar a competitividade de nossos produtos, não estaremos preparados para o momento da saída da crise. Se o modelo de crescimento baseado no consumo e na construção se esgotou, a única via é a das exportações, e para isso temos que ser competitivos dentro e fora da Europa. Não se pode desprezar a ideia lançada por alguns de recorrer a um grande pacto social que permita que a repartição do ajuste seja generalizada. Congelamento dos salários, mas não só dos funcionários e trabalhadores médios, mas colocando também algum tipo de limite máximo nos salários dos diretores (pelo menos nas empresas que requerem ajudas estatais), dividendos, ajustes e cortes de gastos correntes nas administrações públicas (estatal, autôGerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 nomas e locais). No pacto poderiam ser incluídas algumas medidas orçamentárias e de reforma fiscal que aliviassem o esforço de uma forma equitativa, com redução de alguns impostos (IRPF, Sociedades), mas aumento de outros (IVA, gasolinas, tabaco), sempre com o objetivo de harmonizar-se com os dos países da União Européia. Na minha opinião, as medidas para solucionar a crise financeira internacional estão em andamento, mas no que se refere à crise da economia real, estão sendo tomadas medidas muito parciais que tentam suavizar os efeitos sobre alguns grupos sociais muito afetados (desempregados), mas não estão orientadas à recuperação das empresas (especialmente pymes) dos setores auxiliares da construção e de automóvel. Se as taxas negativas do PIB se prolongarem por mais de quatro trimestres, não só teremos recessão, mas cairemos na depressão. É certo que é necessário haver uma mudança no modelo de crescimento que corrija os excessos do consumo e de investimento em moradia. Mas isso não quer dizer que se precise inventar nada novo, já que continuará existindo um elevado consumo e uma importante demanda de moradias, ambos em função da população residente na Espanha. Teremos de conseguir ser mais competitivos nos mercados interior e exterior de bens e serviços, de forma que se reduza nosso déficit exterior com a correspondente redução das necessidades de financiamento espanholas. Com isso melhoraria a contribuição para o crescimento do PIB da demanda externa (exportações-importações) e, apesar de um crescimento mais moderado da demanda interior, permitiria que o PIB tivesse capacidade de crescer em um ritmo de acordo com o crescimento potencial da economia espanhola e suficiente para gerar a criação de empregos. NÃO SE DEVE DESCARTAR A IDEIA DE UM GRANDE PACTO SOCIAL NA ESPANHA QUE PERMITA QUE A REPARTIÇÃO DO AJUSTE SEJA GENERALIZADA 45 estudos A ótima determinação de CAPITAIS medianteTÉCNICAS de SIMULAÇÃO “Só depois de uma longa cadeia de experiências uniformes de um modelo, alcançamos segurança e confiança firme com relação a um acontecimento particular” David Hume (1711 – 1776). Pesquisa sobre o entendimento humano. A situação atual, sobre a qual tanto se questiona a força financeira das instituições, exige a determinação adequada dos recursos próprios que permitam enfrentar os compromissos assumidos com as maiores garantias. Este é um dos objetivos do projeto conhecido como Solvência II. Uma maneira de poder estimar a cifra adequada de capital é mediante a utilização de técnicas de simulação. Neste trabalho são apresentadas as possibilidades de duas delas, Monte Carlo e Bootstrapping, as quais têm se demonstrado particularmente úteis na determinação do capital associado ao risco de mercado e aos riscos técnicos. IRENE ALBARRÁN LOZANO Universidad Carlos III de Madri PABLO ALONSO GONZÁLEZ Universidad de Alcalá 46 S e fosse necessário definir o que mais caracteriza nosso tempo, a resposta seria, sem dúvida alguma, a mudança, e embora contínua, às vezes suave, às vezes brusca. Tudo se modifica: o gosto dos consumidores, suas necessidades e, por que não, a resposta empresarial a essas novas circunstâncias, pois diante de uma situação que se modifica com tanta facilidade já não cabe prender-se a fórmulas ou procedimentos que no passado demonstraram seu valor. Portanto, não há outro remédio que não se adaptar, mesmo quando isso implique um custo de aprendizagem que se traduza em saída de recursos. Não é necessário encarar esse desembolso como um despesa, mas como um investimento absolutamente necessário para continuar vivo no mercado. Já se sabe: camarão que dorme, a onda leva. Essas modificações da realidade que nos cerca supõem que o que antes era seguro - entenda-se como Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 adjetivo – agora já não o é mais, e que talvez a única certeza é de que, diante de tanta incerteza, é certo que faz falta um bom seguro – agora sim, entenda-se como substantivo. Mas, para que essa proteção cumpra com os objetivos para os quais foi criada, fazem falta dois elementos. Por um lado, é necessário ter uma boa percepção das circunstâncias e eventualidades que possam ativar o mecanismo indenizatório associado ao seguro. Por outro, também é necessário que os que oferecem este serviço à sociedade sejam capazes de responder adequadamente quando lhes for solicitado e, dessa forma, não frustrem as expectativas neles depositadas. O que querem dizer essas duas exigências? Simplesmente que as seguradoras sejam capazes de avaliar de forma adequada a ocorrência e a intensidade de certos eventos diante dos que se oferecem para dar proteção econômica em caso de sua ocorrência e que tenham recursos Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 suficientes para garantir a contraprestação acordada nos contratos. O primeiro fator afeta fatores relacionados com o design de produtos, como preços, condições de aplicação e indenizações a serem pagas aos segurados. O segundo afeta o procedimento de avaliação de sua capacidade financeira para enfrentar possíveis contingências que se esperam cobrir. RISCO E CAPITAL BASILEIA II e SOLVÊNCIA II Imersos nesta dinâmica mutável, nos últimos anos foi dada uma especial relevância à análise deste último fator. Este não é um fenômeno exclusivo das companhias seguradoras nem se restringe só ao âmbito europeu. A preocupação em ter empresas com capacidade financeira suficiente não é algo novo. De fato, existe legislação sobre o tema que vem de longa data. E não 47 estudos só no campo de seguros, mas também no bancário. No entanto, essa normativa é generalista e não considera as especificidades de cada companhia. Os bancos, já há anos, mostraram certa preocupação em ajustar a quantidade de recursos próprios com as atividades que empreendiam. Definitivamente, trata-se de que aqueles que venham a assumir maior quantidade de riscos e/ou de maior intensidade tenham mais recursos disponíveis do que os outros que optem por atividades mais conservadoras ou por um menor nível de contratação. O Banco de Compensações Internacionais – BIS – iniciou há anos o que se denominou processo de Basileia II, que nada mais é do que a formação, na prática, do princípio anteriormente exposto. O equivalente no mercado segurador adotou múltiplas formas. Uma delas é a que afetará os países da União Europeia e que se buscará em uma Diretiva, que é geralmente conhecida como Solvência II. Seu objetivo final é uma melhor defesa dos segurados europeus. Esse é o fim. O meio para se conseguir nada mais é do que uma adequada avaliação do risco, para a qual é necessário não só identificar as diferentes causas que possam supor perdas de recursos para as seguradoras, mas também quantificá-las corretamente. Para isso é preciso empregar o arsenal técnico necessário. Ou seja, são exigidas duas premissas: por um lado, conhecer adequadamente todas as situações que possam ocasionar perdas, e, por outro, avaliar quanto se pode perder com cada uma delas, o que comporta a estimativa da probabilidade de ocorrência dos fenômenos considerados. Para a primeira tarefa, a União Europeia do CEIOPS – Committee of European Insurance and Occupational Pensions Supervisors – elaborou sucessivos estudos de campo com os quais se espera identificar todas as situações que possam dar origem a um desgaste de recursos próprios. São conhecidos como QIS – Quantitative Impact Study. De forma muito resumida, pretende-se elaborar uma classificação dos riscos em módulos e, dentro deles, incluir aqueles que sejam afins. Até o momento (outono de 2008) já foram realizados quatro, não se descartando um quinto e até um sexto. Porém não se trata só de identificá-los individualmente, mas também de realizar algo mais complicado, como sua quantificação e avaliação da relação que esses riscos guardam entre si. Sobre esses dois aspectos poderia se discutir por um longo tempo e questionar a “bondade” dos métodos utilizados. Assim, caberia pensar que, para a calibragem dos riscos, foram utilizados os dados de um determinado ramo ou situação correspondente a todos os países da União Europeia que poderão ser afetados pela reforma do Solvência II. No entanto, não tem sido assim, mas, em função da situação que está sendo analisada, foram utilizados uns ou outros dados. Por exemplo, para todos os riscos associados ao módulo de mercado, os dados empregados foram os seguintes: Para o risco de juros, as taxas de cupom zero alemãs para títulos com uma vida residual de um ano e as taxas IRS (Internal Revenue Service) em euros. Para o risco de renda variável, os rendimentos obtidos pelo índice MSCI (Morgan Stanley Capital Investment) de mercados desenvolvidos, em que são coletadas cotações de 23 países do mundo inteiro. Para imóveis e propriedades são utilizados os índices IPD (Investment Property Databank), correspondentes a Holanda, França, Alemanha, Suécia e Grã-Bretanha. Para o risco em divisas, as taxas de câmbio contra o euro de um conjunto de divisas – dólar norte-americano, libra esterlina, peso argentino, iene japonês, coroa sueca, O SOLVÊNCIA II PRETENDE OFERECER UMA MELHOR DEFESA DOS SEGURADOS EUROPEUS MEDIANTE UMA ADEQUADA AVALIAÇÃO DO RISCO, PARA O QUAL É NECESSÁRIO IDENTIFICAR NÃO SÓ AS CAUSAS QUE PODEM SUPOR PERDAS, MAS TAMBÉM SUA CORRETA QUANTIFICAÇÃO 48 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 dos capitais necessários. Com relação a este último aspecto, é preciso mencionar que a medida escolhida foi o VaR -Value at Risk, que conta com uma ampla experiência de uso na área bancária. Esse conceito leva, necessariamente, na maioria dos casos, à ascensão de uma determinada função de distribuição de probabilidade. A eleita nas provas QIS foi a normal, ou gaussiana, que tem a facilidade do uso como principal vantagem. Não obstante, é temível assumir este comportamento sem ter realizado os correspondentes contrastes estatísticos que permitam ponderarmos por uma ou outra distribuição. Considere-se o seguinte exemplo, baseado na cotação diária EUR/US$ de 2/1/2004 a 10/10/2008 (n = 1.229), em que se obtêm os seguintes valores para suas estatísticas básicas: franco suíço e dólar australiano – com os quais se forma uma cesta cujos pesos são os correspondentes às posições mantidas pelas instituições financeiras holandesas. Para o risco de diferencial, foram utilizadas séries de Moody's, em que se tomam como referência os títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A partir daqui, o passo seguinte é a avaliação das possíveis perdas. Isso conduz à estimativa dos capitais expostos ao risco, para o qual é necessário definir o nível de segurança que se deseja para tal fim. Isto é, quanto mais amplo for o leque de situações que se queira proteger e quanto maior a confiança que se queira ter, maior será a quantidade de capital que faltará para preservar a fortaleza financeira da empresa. Isso leva a aprofundar-se no campo da probabilidade e das ferramentas disponíveis para avaliar o tamanho Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 rendimento médio diário (%) 0,007% desvio típico diário (%) 0,547% Assim, o VaR diário1 a diferentes níveis de probabilidade, obtido tanto a partir de dados históricos como pelo uso da hipótese de normalidade, é o seguinte: Esta utilização de modelos estocásticos não é uma originalidade preparada para ser usada no Solvência II. 95,0% 97,5% 99,0% 99,5% Empírico Normal diferença -0,76% -1,015% -1,420% -1,765% -1,221% -1,396% -1,727% -1,921% 0,345% 0,381% 0,307% 0,148% Fonte: elaboração própria Embora o Solvência II estabeleça que é preciso calcular as cifras de capital para um horizonte de um ano, aqui, para efeito de mera exposição, foram calculadas por um dia. 1 49 estudos Ao contrário, existem precedentes históricos. O mais antigo data de 1953, quando, na Finlândia, começou-se a utilizar modelos de capital específicos para cada companhia. Também foi considerado o caráter estocástico do negócio segurador mediante Reservas Especiais de Nivelamento – Special Equalization Reserves. Mais recentemente, e como antecedente mais próximo no tempo, encontra-se o Teste Suíço de Solvência – Swiss Solvency Test, ou SST. Este instrumento objetiva uma dupla finalidade, pois não só busca obter a cifra de capital associada ao risco suportado, mas também a distribuição estatística dessa magnitude. Seu cálculo se baseia no uso combinado de modelos estocásticos e cenários. Os eixos principais do SST, muito semelhantes aos do Solvência II, são os seguintes: Avaliação pelo preço de mercado tanto de ativos como de passivos. O valor de mercado dos compromissos de pagamento é igual ao melhor estimador mais uma margem de risco. Os riscos-chave em uma empresa são os de mercado, de crédito e os técnicos. A medida do risco usada é a perda esperada em um ano ou Tail VaR. Os riscos-chave têm um modelo padrão. O capital objetivo é obtido agregando ao resultado do uso do modelo padrão o obtido com o uso de cenários. No caso de dificuldades financeiras, os tomadores estão protegidos pela margem de risco. Podem ser usados modelos internos, cujas hipóteses devem estar devidamente documentadas em um relatório que deve ser entregue ao regulador. O resseguro deve ser considerado. MONTE CARLO VALORIZAÇÃO DE ATIVOS Tanto no Teste Suíço como no Solvência II, as situações que poderíamos considerar intimamente relacionadas com a aplicação de técnicas de simulação seriam as associadas à valoração de mercado, tanto dos ativos como dos compromissos de pagamento, mais concretamente, A RESPEITO DA VALORAÇÃO DE ATIVOS, O MÉTODO MONTE CARLO PERMITE SABER O VALOR FINAL QUE TERÁ UM ATIVO FINANCEIRO, OU UMA CARTEIRA DELES, DEPOIS DE REPLICAR MILHARES DE VEZES A TRAJETÓRIA QUE PODE SEGUIR NO TEMPO 50 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 o que se conhece como valor mais provável ou Best Estimate. Uma vez obtidos esses valores, dispor-se-á de uma estimativa da distribuição de valores que podem ser apresentados no fenômeno considerado. Sobre a valorização de ativos, a utilização do método Monte Carlo permite obter o valor final que um ativo financeiro teria, ou uma carteira deles, depois de replicar milhares de vezes a trajetória que pode seguir no tempo. Este exercício irá desde o caso mais simples, em que se avalia um único ativo básico – um bônus ou uma ação –, até o mais complexo, em que se avalia uma carteira composta por vários ativos e/ou derivados. Em todos os casos, a premissa básica é o levantamento de alguma hipótese sobre o comportamento estocástico dos preços. Tradicionalmente, a teoria financeira supõe que os preços seguem uma distribuição lognormal, ou ainda que os rendimentos seguem uma normal, em cujo caso o valor do ativo, a qualquer momento, pode ser expresso como: sendo μ o rendimento médio e a volatilidade. Assim, se temos uma ação cujo preço atual é 25€, com um rendimento e uma volatilidade médios anuais de 15% e 25%, respectivamente, e desejamos saber qual é a perda provável que se pode sofrer, bastaria apenas gerar milhares de números aleatórios que seguissem uma norma padrão, substituir cada um deles na expressão anterior e obter, para cada um deles, o preço ao longo do ano. Após realizar 10.000 réplicas, a distribuição de frequências obtidas para o preço final é a coletada no gráfico seguinte: Os valores do VaR e do TVaR para diferentes níveis de confiança são os reunidos na seguinte tabela: Ao nível requerido no Solvência II, o VaR é 31,19%, e a quantidade de capital é a diferença entre o preço inicial (25€) e o associado a essa perda (17,204€), isto é, 7,796€. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 51 estudos BOOTSTRAPPING DETERMINAÇÃO DO NÍVEL DE RESERVAS Para estimar o valor mais provável das provisões técnicas, utiliza-se a técnica de reamostra ou bootstrapping. De uma forma muito simples, a simulação consiste em repetir um processo de geração de amostras um número suficientemente elevado de vezes –digamos 10.000 – para se poder realizar inferências. Definitivamente, por meio da repetição e da geração de amostras de dados, trata-se de estudar a precisão associada à de determinadas estatísticas que queiramos utilizar, como, por exemplo, a média ou a mediana. O número de possíveis amostras diferentes que podem ser extraídas é determinado pela seguinte expressão2 : Como indicado anteriormente, uma das aplicações mais divulgadas da reamostragem na área atuarial é a associada à estimativa da cifra de reservas. Em linhas gerais, trata-se de combinar o uso dessas metodologias com sistemas de cálculo de reservas tão estendidos como o Chain Ladder pode ser. Para isso, partindo de um modelo que explique as quantidades liquidadas por sinistros, é feita a reamostragem com os resíduos desse modelo e obtida uma estimativa das quantidades a serem dotadas para se enfrentar os futuros sinistros. O primeiro passo é, portanto, a eleição do modelo a ser utilizado. Não obstante, este é um tema que foge do objetivo deste trabalho, por isso o leitor interessado pode encontrar uma plêiade de artigos científicos sobre o assunto, destacando-se os traba- lhos de autores como Mack, England, Verrall e Renshaw, entre outros. O processo de estimativa se baseia na realização de uma série de fases que permitam obter a cifra desejada. Este processo deverá se repetir um número elevado de vezes, e com os resultados obtidos em cada repetição se constrói a distribuição de resultados. De forma muito breve, o caminho começa com a realização de um Chain Ladder tradicional, que supõe a obtenção dos fatores de desenvolvimento, a estimativa dos valores acumulados a partir desses fatores e o cálculo dos acréscimos anuais associados. A partir desses valores anuais se obtém o que se conhece como resíduos adimensionais de Pear- A TÉCNICA DA REAMOSTRAGEM OU BOOTSTRAPPING CONSISTE EM REPETIR UM PROCESSO DE GERAÇÃO DE AMOSTRAS UM NÚMERO SUFICIENTEMENTE ELEVADO DE VEZES –POR EXEMPLO, APROXIMADAMENTE 10.000 – PARA PODER REALIZAR INFERÊNCIAS 52 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 son. É precisamente com eles que se vai realizar o Bootstrapping por meio da extração aleatória. A partir daqui se percorre o caminho contrário ao realizado até esse momento, isto é, partindo deste novo conjunto de resíduos obtêm-se os valores associados às cifras anuais e, a partir delas, as acumuladas. Com elas são calculados os novos fatores de desenvolvimento e, finalmente, calculadas as reservas a partir dos resultados da amostra regenerada. O processo finaliza com a estimativa do valor atual das reservas, já que essa é uma das exigências do Solvência II. Para isso, se faz necessário ter uma via de taxas futuras que permita concluir o desconto de fluxos, para, dessa maneira, obter o valor procurado. Todo este processo deve ser repetido um número de vezes – por exemplo, 10.000 –, para se alcançar a distribuição estimada dos pagamentos, a partir da qual se pode calcular, no nível desejado de confiança, o VaR ou a medida de risco selecionada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho se oferece uma breve visão do que são e como podem ser aplicadas as técnicas de simulação no campo das empresas seguradoras, principalmente de Monte Carlo e de Bootstrapping. Apesar de sua enorme flexibilidade, todas elas partem de premissas ou modelos de partida, cuja validade é absolutamente necessário comprovar, bem como estar atentos a sua modificação ou atualização, especialmente se, como ocorre em nossos dias, o ambiente muda continuamente e com uma magnitude até agora desconhecida3. 2Hall, P. (1992): The Bootstrap and the Edgeworth Expansion, Springer-Verlag, Appendix I. 3 O presente trabalho tem sua origem no livro “Análise do risco em seguros no marco do Solvência II: técnicas estatísticas avançadas. Monte Carlo e Bootstrapping”, dos mesmos autores. Este livro foi editado pela FUNDACIÓN MAPFRE como o número 119 da coleção Cuadernos de la Fundación e é o resultado de uma bolsa de estudos Risco e Seguro da mesma fundação, obtida pelos autores na convocação de 2005. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 BIBLIOGRAFIA APRA (2002). Future Policy directions for the regulation and prudential supervision of the General Insurance Industry. 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Por isso, durante boa parte do século XX, foi utilizado na Espanha em materiais para construção, maquinaria industrial, embarcações, trens, automóveis e em muitos outros produtos. Atualmente, é considerado um poderoso agente cancerígeno e seu uso e consumo estão, salvo contadas exceções, proibidos. No entanto, as doenças de etiologia asbestina se caracterizam por um longo período de latência, e as vítimas atuais e futuras chegam a milhares. Esse trabalho informa sobre o uso e o consumo do amianto na Espanha durante o século XX, bem como sobre os danos pessoais resultantes, e analisa as alternativas de indenização das vítimas do amianto. amia das vítimas do na Espanha 56 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 nto Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 57 observatório de sinistros A ESPANHA E O AMIANTO Amianto ou asbesto são denominações genéricas e sinônimas de silicatos hidratados que se decompõem facilmente em fibras flexíveis, incombustiveis e quimicamente inertes, com milhares de aplicações industriais1 . Na Espanha quase não houve extração de amianto, mas durante o século XX foram importadas cerca de 2,6 milhões de toneladas. Aproximadamente três quartos foram destinados à produção de fibras de cimento. O resto foi destinado a outros usos, na maioria, embalagens e papelões, isolamento e calorífugos ou elementos de fricção, reposições e filtros2. O consumo do amianto foi especialmente pronunciado nos anos 60 e 70. Em 1975, por exemplo, foram consumidas 94.114 toneladas de amianto. 1 Sobre as características e grupos do amianto, cfr. Bates, Robert L. e Jackson, Julia A. (Eds.). Glossary of Geology, 2nd ed. Falls Church, VAI: American Geological Institute, 1980, p. 37; Martin, Christiane et alii (Rede.). Lexikon der Geowissenschaften, Erster Band. Heidelberg-Berlin: Spektrum Akademischer Verlag, 2000, pp. 133 e 134; e Virta, Robert L. [Site]. Asbestos: Geology, Mineralogy, Mining and Você use. Reston, VAI: US Geological Survey, 2002, pp 5-11. http://pubs.usgs.gov/of/2002/ of02-149/of02-149.pdf [Consulta: 11.11.2008]. Cfr. Perdigó Solà, Manuel e Casanovas e Boixereu, Xavier (Dir.). 2 58 Nos anos 80 e 90, o consumo diminuiu progressivamente, em boa parte como consequência do regulamento que proibiu paulatinamente os usos e variedades mais perigosos para a saúde3. Finalmente, a Ordem do Ministério da Presidência, de 7 de dezembro de 2001 (BOE núm. 29, de 14 de dezembro de 2001, em vigor desde 14 de junho de 2002), estabeleceu, com raras exceções4, uma proibição geral de consumo e de uso de amianto. Atualmente o consumo de amianto é residual, mesmo que boa parte do amianto instalado durante o século XX não tenha sido retirado5. DANOS DO AMIANTO A exposição às fibras do amianto é a causa principal de duas doenças caracterizadas por um longo período de latência: O CONSUMO DE AMIANTO NA ESPANHA FOI ESPECIALMENTE PRONUNCIADO NOS ANOS 60 E 70 DO SÉCULO PASSADO, DIMINUINDO NOS ANOS 80. SEU CONSUMO ATUAL É RESIDUAL, MESMO QUE BOA PARTE DO AMIANTO INSTALADO DURANTE O SÉCULO XX NÃO TENHA SIDO RETIRADO. o mesotelioma, um tumor que se localiza habitualmente na pleura, e a asbestose, uma fibrose pulmonar. Além disso, pode causar outras patologias pleurais benignas e aumentar o risco de se sofrer de câncer de pulmão6. O mesotelioma é maligno [Site] Prospecção sobre a presença de amianto ou de materiais que o contenham em edifícios. Barcelona: Fundação para a prevenção de riscos do trabalho, 2001, p. 18. http:// www.csostenible.net/Documents/ residus/relatório2001.pdf [Consulta: 11.11.2008] Sobre os usos do amianto na Espanha, cfr. também Cárcoba Alonso, Anjo R. Relatório sobre o amianto na Espanha, em AAVV, O amianto na Espanha. Madri: GPS- CCOO Unión Sindical de Madri, 2000, pp. 17 e ss. 4 Sobre a evolução do regulamento espanhol do amianto, cfr. Azagra Malo, Albert. A tragédia do amianto e o direito espanhol. Barcelona: Atelier, 2007, pp. 44 e seguintes. 5 3 Duas são as exceções. Em primeiro lugar, o uso de “diafragmas destinados a instalações de eletrólise já existentes, até que alcancem o fim de sua vida útil ou até que se disponha de substitutos adequados sem amianto (…)”. Em segundo lugar, “o uso de produtos que contenham [fibras de amianto] (…) que já estavam instalados ou em serviço antes do início de vigência da presente Ordem, continuará permitido até sua eliminação ou o fim de sua vida útil”. Sobre o consumo do amianto na Espanha ao longo do século XX e até Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 em praticamente todos os casos e, uma vez diagnosticado, a média de sobrevivência é entre 6 e 14 meses. O único tratamento para a cura é a pleuropneumonectomia seguida de radioterapia e quimioterapia, e só é eficaz se o tumor for epitelial e o diagnóstico precoce, condições que ocorrem em menos de 5% dos pacientes7. Na Espanha, entre 1977 e 2001, o mesotelioma trouxe complicações à vida de 2.929 pessoas. Além disso, boa parte de mais dos 200 falecimentos anuais por câncer pleural que se registram na Espanha estão associados à exposição histórica ao amianto e, segundo as projeções epidemiológicas mais recentes, entre 2007 e 2016 morrerão 1.321 homens por mesotelioma8. Se, como sugere um estudo epidemiológico, nos países desenvolvidos nota-se uma mortalidade por mesotelioma para cada 170 toneladas consumidas, a cifra total de vítimas poderia superar 15.0009. A asbestose evolui lentamente e não é maligna, pode provocar insuficiência respiratória e aumenta o risco de se desenvolver câncer de pulmão, ainda que não de mesotelioma. Não existem tratamentos para a cura da 2003 (2 TM), cfr. Virta, Robert L. [Site]. Worldwide Asbestos Supply and Consumption Trends from 1900 and through 2003. Reston, VAI: US Geological Survey, 2006, pp. 36-80. http://pubs.usgs. gov/circ/2006/1298/c1298.pdf [Consulta: 11.11.2008]. 7 A quimioterapia mediante uma combinação de PemetrexedALIMTA e Cisplatin pode aumentar a média de sobrevivência, mas não é a cura. Cfr. a informação disponível em http://www.nice. org.uk/Guidance/TA135#summary [Consulta: 18.11.2008] e http:// www.portalfarma.com/pfarma/ taxonomia/geral/gp000011.nsf/ voDocumentos/ CD33188D742B 2436C1256FC7005705C5/$File/ 283_nuevos_ productos_03.htm [Consulta: 18.11.2008]. 6 Sobre as doenças do amianto e seus tratamentos, cfr. Agudo Trigueros, Antonio. [Site] Mesotelioma pleural e exposição ambiental ao amianto. Barcelona: Institut Català d'Oncologia, 2003, pp. 9-20 e 49-52. http://www.tdr.cesca.es/ TDX-0621104-145445/ [Consulta: 11.11.2008]. De onde se obteve a informação contida na epígrafe 2, salvo quando indicadas outras fontes. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 A EXPOSIÇÃO ÀS FIBRAS DO AMIANTO É A CAUSA PRINCIPAL DE DUAS DOENÇAS CARACTERIZADAS POR UM LONGO PERÍODO DE LATÊNCIA: O MESOTELIOMA, UM TUMOR QUE SE LOCALIZA NA PLEURA, E A ASBESTOSE, UMA FIBROSE PULMONAR Cfr. López Abente, Gonzalo et alii. Municipal Pleural Cancer Mortality in Spain. Occup. Environ. Med., 2005, vol. 62, pp. 195 e ss.; López Abente, Gonzalo et alii. [Site]. 8 doença, mas se recomenda interromper a exposição ao amianto, evitar ambientes empoeirados e deixar de fumar. As patologias pleurais benignas incluem pleurisia benigna (inflamação exsudativa da pleura), engrossamento pleural difuso (afeta a pleura visceral) e as placas pleurais (engrossamentos focais de fibrose hialina localizados preferencialmente na pleura parietal que raramente afetam a função pulmonar). A exposição ao amianto também é um agente causador do câncer de pulmão e, em especial, multiplica exponencialmente as possibilidades de que os fumantes habituais contraiam a doença. Alguns estudos apontaram a relação entre exposição ao amianto e outros cânceres. No entanto, não existe consenso na comunidade científica a respeito. Atlas municipal de mortalidade por câncer na Espanha. Madri: Instituto de Saúde Carlos III. http:// www.isciii.es/htdocs/centros/ epidemiologia/ epi_cancer.jsp [Consulta: 13.11.2008]; e Pitarque, Silvia et alii. Mesothelioma mortality in men: trends during 1977-2001 and projections for 2002-2016. Occup. Environ. Med, 2008, vol. 65, núm. 4, pp. 279 e ss. (9)Cfr. Tossavainen, Antii. National Mesothelioma Incidence and the Past Use of Asbestos. Monaldi Arch. Chest Dis., 2003, vol. 59, núm. 2, pp. 146 e ss. 59 observatório de sinistros O reconhecimento dos danos do amianto pela comunidade científica ocorreu em meados dos anos 60 do século passado, com a publicação de dois estudos epidemiológicos dirigidos por Irving J. Selikoff (1915- 1992)10. Consequentemente, e como sugeriu a jurisprudência menor, desde a segunda metade dos anos 60 a comunidade científica e a indústria do amianto espanholas também deviam conhecê-los11. A COMUNIDADE CIENTÍFICA INTERNACIONAL RECONHECEU OS DANOS CAUSADOS PELO AMIANTO EM MEADOS DOS ANOS 70 DO PASSADO SÉCULO, COM A PUBLICAÇÃO DE DOIS ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS CONDUZIDOS POR IRVING J. SELIKOFF ASSISTÊNCIA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, MELHORAS VOLUNTÁRIAS E SOBRECARGA DE ASSISTÊNCIAS específica12. A cobertura da Segurança Social compreende, além da assistência médica, indenizações a quantias orçadas e pensões vitalícias13. Em relação à assistência médica, o INSS, os planos de acidentes de trabalho e as doenças profissionais da Previdência Social ou os empresários colaboradores dispõem de uma ação de repetição contra o responsável do dano ou o sub-rogado legal ou contratualmente nas suas obrigações pelo valor dos custos14. No entanto, o exercício desta ação é excepcional na prática. Em relação ao valor das assistências financeiras, a Previdência Social publica estatísticas de seu número e de sua quantia15. Na tabela 1 são apresentadas as quantias médias das pensões por grande invalidez, incapacidade permanente absoluta e incapacidade permanente total na data de 1 de setembro de 2008. Ao analisar o valor das assistências devem ser levadas em conta as seguintes considerações: As assistências por incapacidade permanente absoluta e por grande invalidez estão isentas de imposto sobre a renda das pessoas físicas16. de fibra de cimento demandada em ambos os casos devia conhecer os efeitos e as consequências da exposição ao amianto desde 1967. López Gandía, Juan; Momparler Carrasco, Mª Ángeles. Curso de Seguridad Social. Valencia: Tirant lo Blanch, 2008. Cfr. arts. 128 e seguintes do Real Decreto Legislativo 1/1994, de 20 de junho, no qual é aprovado o Texto Refundido da Lei Geral da Seguridad Social (BOE núm. 154, de 29.7.1994; adiante, Real Decreto Legislativo1/1994) e as disposições normativas concordantes. Cfr. também com informação disponível no http:// www.seg-social.es [Consulta: 13.11.2008] ou, mais detalhado, em Blasco Lahoz, José Francisco; 13 As vítimas do amianto ou seus herdeiros podem ser beneficiários de assistências da Previdência Social se atenderem aos requisitos previstos na normativa Cfr. Selikoff, Irving et alii. Asbestos Exposure and Neoplasia. JAMA, 1964, vol. 188, núm. 1, pp. 142 e seguintes e Selikoff, Irving et alii. The Occurrence of Asbestosis Among Insulation Workers in the United States. Annals of the New York Academy of Science, 1965, vol. 132, pp. 139 e seguintes. 10 Em um sentido parecido, as SSTSJ Cataluña, Social, 10.11.2005 (JUR 2006\7794. MP: Ángeles Vivas Larruy) y 25.1.2006 (AS 2006\655. MP: Jordi Agustí Julià), indicam, em suas FFDD, 3º e 8º, respectivamente, que a empresa 11 60 12 Assim, por exemplo, subsídio à incapacidade temporária para o trabalho, indenização pela quantia orçada por lesões permanentes não invalidantes, indenização pela quantia orçada por incapacidade permanente parcial para a profissão habitual, pensão vitalícia ou indenização pela quantia orçada por incapacidade permanente total para a profissão habitual, pensão vitalícia por incapacidade permanente Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 O valor da ajuda econômica é maior se a exposição tiver sido ocupacional e a doença estiver incluída no quadro de doenças profissionais. Além disso, neste caso, os requisitos que dão direito a ela são menos exigentes, especificamente os referentes à cotação. O quadro de doenças profissionais vigente atualmente inclui: asbestose, mesotelioma, neoplasia maligna de brônquio e pulmão e infecções fibrosantes da pleura e do pericárdio que compreendem a restrição respiratória ou cardíaca provocadas por amianto17. Os convênios coletivos ou os contratos de trabalho podem estabelecer melhoras voluntárias Incapacidade da ação protetora da AS VÍTIMAS DO AMIANTO PODEM SER BENEFICIÁRIAS DAS ASSISTÊNCIAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL SE ATENDEREM AOS REQUISITOS PREVISTOS NA NORMATIVA. A COBERTURA INCLUI, ALÉM DA ASSISTÊNCIA MÉDICA, INDENIZAÇÕES E PENSÕES VITALÍCIAS Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 absoluta para toda profissão ou ofício, pensão vitalícia por grande invalidez derivada de reduções anatômicas ou funcionais definitivas que comportem a necessidade de assistência de outra pessoa para os atos mais essenciais da vida, pensão vitalícia ou indenização ao valor alcançado por incapacidade permanente total para a profissão habitual, pensão vitalícia por incapacidade permanente absoluta para toda profissão ou ofício, pensão vitalícia por grande invalidez derivada de reduções anatômicas ou funcionais definitivas que comportam a necessidade de assistência de outra pessoa para os atos mais essenciais da vida, pensão vitalícia de viuvez, pensão vitalícia de orfandade e, de forma complementar às duas últimas e em casos de acidentes de trabalho ou doença profissional, indenização al valor alcançado de viuvez ou orfandade. Cfr. art. 127.3 II del Real Decreto Legislativo1/1994. 14 Cfr. o item de estatísticas em http://www.seg-social.es [Consultado: 13.11.2008]. 15 61 observatório de sinistros Tabela 1 SITUAÇÃO PROTEGIDA PENSÃO MÉDIA €/mês) Grande Invalidez Incapacidade Permanente Absoluta Incapacidade Permanente Total Qualificada Incapacidade Permanente Total Previdência Social a cargo do empresário18. O Instituto Nacional da Segurança Social pode impor um novo aumento entre 30 e 50% das ajudas financeiras se forem descumpridas as medidas de precaução, segurança e higiene 19. A responsabilidade pelo pagamento do novo aumento recai diretamente sobre o empresário infrator e não é segurável, nem transmissível de nenhum outro modo, ainda que a jurisprudência menor tenha declarado em alguma ocasião que a responsabilidade do sucessor empresarial inclui o novo aumento de 1.673,07 1.114,40 821,07 518,21 assistências . A imposição ou recusa do novo aumento de prestações pode ser apelada ante a jurisdição social e deu lugar a 19 resoluções (11 sentenças e 8 autos) dos Tribunais Superiores 20 AS AUDIÊNCIAS ESTADUAIS, OS TRIBUNAIS SUPERIORES DE JUSTIÇA E A CORTE SUPREMA DITARAM, ENTRE 1996 E 2008, 115 RESOLUÇÕES EM MATÉRIA DE RESPONSABILIDADE CIVIL OU RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL DA ADMINISTRAÇÃO POR DANOS DO AMIANTO de Justiça e do Tribunal Supremo, entre elas 5 sentenças que confirmaram ou impuseram novo aumento 21. INDENIZAÇÕES DE RESPONSABILIDADE CIVIL O tributarista de assistências da Previdência Social pode exigir as indenizações procedentes dos supostos responsáveis civis ou criminais22, e um número de vítimas cada vez maior recorre a justiça. Entre janeiro de 1996 e julho de 2008, as Audiências Estaduais, os Tribunais Superiores de Justiça e a Corte Suprema ditaram pelo menos 115 resoluções em matéria de responsabilidade civil ou responsabilidade patrimonial da Administração por danos do amianto. De um total de 115 resoluções, 45 condenaram a indenizações entre 17.213 € e 240.000 €23 (tabela 2). Nessas resoluções, os demandantes foram trabalhadores que contraíram mesotelioma, asbes- Tabela 2 62 JURISDIÇÃO CIVIL PENAL CONT. -ADMIN. SOCIAL TOTAL RESOLUÇÕES 17 15 sentenças 2 autos 1 1 sentença 4 4 sentenças 93 75 sentenças 18 autos 115 95 sentenças 20 autos SENTENÇAS ESTIMATIVAS 7 3 35 45 INDENIZAÇÃO MÍNIMA 45.075 € Doença não especificada 75.121 € Carcinoma de pulmão 17.213 € Asbestose 17.213 € Asbestose INDENIZAÇÃO MÁXIMA € 150.253 € Mesotelioma 88.563 € Asbestose 240.000 € Mesotelioma 240.000 € Mesotelioma Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 tose ou outras doenças provenientes da exposição ocupacional ao amianto ou seus familiares. As demandadas foram as empresas empregadoras, entre outras, algumas empresas necessário orientadas ao design, fabricação, manutenção e abastecimento de equipes e componentes para sistemas ferroviários, à construção, à transformação e reparação de embarcações e navios e à fabricação de produtos de fibra de cimento. A jurisprudência por danos do amianto é rica em matizes e atribui as dificuldades de adaptação das categorias e doutrinas tradicionais da responsabilidade civil às particulares características de alguns danos em massa. A seguir, destacam-se as questões mais relevantes colocadas nas resoluções reportadas. Dano indenizável. No direito espanhol, para que um dano seja indenizável, deve ser certo na sua existência e na sua quantia. De acordo com essa definição, as placas pleurais, geralmente assintomáticas, não deveriam ser compensadas. Assim tem entendido também os tribunais que tiveram oportunidade de se pronunciar a respeito24 . No entanto, em nenhuma das resoluções é considerado se seriam indenizáveis, uma vez diagnosticadas as placas pleurais, a angústia sobre a Cfr. art. 123 do Real Decreto Legislativo1/1994. 19 Cfr. art. 7, Ley 40/1998, de 9 de dezembro, do Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas e outras normas tributárias (BOE núm. 295, de 10.12.1998). 16 Cfr. o Anexo I do Real Decreto 1299/2006, de 10 de novembro, pelo qual se aprova o quadro de doenças profissionais no sistema de Previdência Social e são estabelecidos critérios para sua notificação ou registro (BOE núm. 302, de 19.12.2006). 18 Cfr. arts. 191 y ss. do Real Decreto Legislativo 1/1994. 17 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Cfr. STSJ Madrid, Social, 15.11.2004 (JUR 2005\36239. MP: José Ramón Fernández Otero) y STSJ, Madrid, Social, 21.3.2006 (AS 2006\1326. MP: Josefina Triguero Agudo). possibilidade de se desenvolver asbestose ou mesotelioma ou o aumento do risco de se padecer desses males. A questão do caráter indenizatório deste tipo de dano não está em absoluto liquidada no direito espanhol e deu lugar a muitos problemas no direito comparado25. 208 e ss. A referência dos demais pode ser consultada no anexo deste trabalho. 20 As sentenças e autos que se tem conhecimento são os incluidos na base de dados Westlaw.es referente ao período de janeiro 1996 a julho de 2008. Sete das resoluções foram identificadas e comentadas em Azagra. A tragédia … Op. cit., pp. 21 22 Cfr. art. 127.3 I do Real Decreto Legislativo 1/1994. As sentenças e autos considerados são os incluidos na base de dados Westlaw.es referente ao período de Janeiro de 1996 a julho de 2008. 85 das resoluções foram identificadas e comentadas em Azagra. A tragédia … Op. cit., pp. 208 e ss. A referência dos demais pode ser consultada no anexo deste trabalho. 23 63 observatório de sinistros Regras de responsabilidade. Como em outros campos da litigação por acidentes de trabalho e doenças profissionais, os juízes e tribunais da ordem civil e os da ordem social vêm se declarando competentes para conhecer os casos de danos do amianto e os resolveram em conformidade com as regras de responsabilidade diferentes: por risco e por culpa, respectivamente 26. A jurisprudência recente da Primeira Sala do Supremo Tribunal pode dar fim a esta dicotomia, pois afirmou a capacidade da ordem da jurisdição social para conhecer as reclamações por acidentes de trabalho contra o empregador, mesmo que ainda não para as dirigidas contra terceiros 27. Cfr. STSJ Galicia, Social, 19.6.2006 (JUR 2007\208500. MP: Antonio Jesús Outeiriño Fuente) e SAP A Coruña, Secc. 5ª (Civil), 3.7.2006 (JUR 2007\297925. MP: José Manuel Busto Lago). 24 Para uma opinião contraria da indenização destas categorias de danos, cfr. Azagra Malo, Albert. placas pleurais, angústia e aumento de risco. InDret, 2008, núm 1. http://www.indret.com [Consultado: 18.11.2008]. 26 Cfr., entre outras: STS, 1ª, 8.11.1990 (Ar. 8534. MP: Jaime Santos Briz), STS, 1ª, 7.3.1994 (RJ 1994\2197. MP: José Almagro Nosete), STS, 4ª, 30.9.1997 (RJ 25 64 OS TRIBUNAIS ENTENDEM QUE AS PLACAS PLEURAIS ASSINTOMÁTICAS CAUSADAS POR AMIANTO NÃO DEVEM SER COMPENSADAS, MAS SUAS RESOLUÇÕES NÃO CONSIDERAM SE DEVERIA SER INDENIZADA A ANGÚSTIA SOBRE A POSSIBILIDADE DE SE DESENVOLVER ASBESTOSE dições, os casos de incerteza causal são excepcionais28. Mais comuns são os casos nos quais se discute se a etiologia de um câncer de pulmão é derivada do tabaco ou asbestósica. De um modo geral, a jurisprudência menor entendeu que o tabagismo é uma contribuição causal da vítima ao dano e reduziu a quantia indenizatória correspondente de acordo com seu prudente arbítrio 29. Causalidade alternativa e contribuição causal da vítima.A maioria dos casos de mesotelioma ou asbestose se deu como consequência da exposição ocupacional em uma única empresa. Por isso, diferentemente do que ocorre em outras juris- Cumprimento de normas imperativas. Em pelo menos uma ocasião, a jurisprudência menor por danos do amianto excluiu a responsabilidade por danos que talvez poderiam ter sido derivados do uso de equipamentos de proteção individual que, de 1997\6853. MP: Leonardo Bris Montés) y STS, 1ª, 8.2.2007 (RJ 2007\561. MP: Román García Varela). acidente de trabalho: o princípio do fim de um desencontro. A Lei, 2008, núm. 3117, pp. 1 y ss. Cfr. STS, 1ª (Pleno),15.1.2008 (RJ 2008\1394. MP: Encarnación Roca Trias). Sobre o alcance da sentença e seus possíveis efeitos, cfr. Gómez Ligüerre, Carlos [Web]. Responsabilidade por acidente de trabalho, infração de normas trabalhistas e jurisdição competente. InDret, 2008, núm. 4. http://www.indret. com [Consultado 14.11.2008]. Cfr. também Pérez de los Cobos Orihuel, Francisco. A jurisdição competente para conhecer a responsabilidade civil derivada de Cfr. Azagra. A tragédia ..., Op. cit, pp. 104 y ss. e a jurisprudência e doutrina nele citada. 27 28 Cfr. STSJ Andalucía, Social, 9.10.2002 (AS 2003\947. MP: José María Benavides Sánchez Molina); SAP Valencia, Civil, Sec. 6ª, 30.4.2003 (JUR 2003\151208. MP: María Mestre Ramos); SAP Valencia, Civil, Sec. 11ª, 27.4.2005 (AC 972. MP: Manuel José López Orellana); y, STSJ Murcia, Social, 23.5.2005 (AS 2005\985. MP: José Luis Alonso Saura). 29 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 acordo com o disposto nas normas preventivas, continham amianto30. Cálculo do valor indenizável. As jurisdições civil e social também aplicam regras de cálculo do valor indenizável diferentes. Assim, enquanto a primeira acumula as prestações de Previdência Social e a sobrecarga, a segunda deduz as assistências de Previdência Social, mas acumula o novo agravo. No entanto, não parece que essa diferença leve Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 AS JURISDIÇÕES CIVIL E SOCIAL APLICAM DIFERENTES CÁLCULOS DO VALOR INDENIZÁVEL: A PRIMEIRA ACUMULA AS PRESTAÇÕES DE PREVIDÊNCIA SOCIAL E O NOVO AGRAVO, E A SEGUNDA DEDUZ AS PRESTAÇÕES DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, MAS APLICA O NOVO AGRAVO a maiores indenizações na jurisdição civil. De fato, o maior erro indenizável até o momento foi fixado por um tribunal da ordem social31. Início do cálculo dos prazos de prescrição. Em geral, os prazos para o exercício da ação indenizável32 e, especialmente, os anuais da legislação trabalhista e civil estatal, começarão a ser calculados a partir da data da resolução do INSS, que põe um fim no expediente administrativo encaminhado ao 65 observatório de sinistros reconhecimento de incapacidade. Porém, nos casos de falecimento, o prazo começará a ser calculado a partir da data de falecimento, se não pôde ser reconhecido na data da resolução do INSS o alcance do dano e sua evolução futura33. Responsabilidade patrimonial da Administração.Três ddas quatro sentenças da jurisdição contencioso-administrativa se referiam à compensação de militares da Marinha que estiveram expostos ao amianto instalado em navios de guerra34. No entanto, em uma ocasião foi declarada a responsabilidade patrimonial da Administração pelos danos sofridos por um trabalhador de uma empresa privada com fundamento nas deficientes revisões médicas e inspeções trabalhistas35. Cfr. STSJ País Vasco, Social, 15.1.2008 (JUR 2008\175168. MP: Jaime Segales Fidalgo). 30 Cfr. STSJ País Vasco, Social, 24.5.2005 (AS 2005\1529. MP: Jaime Segales Fidalgo). 31 Os prazos são anuais, exceto se é ejercida uma ação de responsabilidade civil extracontratual na Catalunha ou de responsabilidade civil por produto defeituoso. Nestes últimos casos, os prazos são trienais. Cfr., respectivamente, os arts. 59 do Real Decreto Legislativo 1/1995, de 24 de março, pelo qual se aprova o texto refundido da Lei do Estatuto dos Trabalhadores (BOE núm. 75, de 29.3.1995), 1968.2 do Código 32 66 um processo de classe, nem se referiu a casos de exposição não ocupacional. No entanto, recentemente, os meios de comunicação informavam sobre a admissão a trâmite de uma demanda coletiva indenizável introduzida por vizinhos de Cerdanyola do Vallès (Barcelona) contra uma empresa dedicada à fabricação de fibras de cimento36, que pode servir de estímulo para que outros grupos de vítimas interponham demandas similares. AS VÍTIMAS DO AMIANTO PODEM SER BENEFICIÁRIAS DE SEGUROS DE PESSOAS. CONSEQUENTEMENTE, SE OS RISCOS SEGURADOS (MORTE, DOENÇA, ETC.) SÃO CONCRETIZADOS, O BENEFICIÁRIO TERÁ DIREITO À ASSISTÊNCIA ESTIPULADA A essas questões devem ser somadas outras que, muito provavelmente, terão um peso crescente na litigação por danos do amianto: Ações de classe e exposição não ocupacional. Nenhuma das resoluções reportadas neste trabalho foi ditada no marco de Civil, 142.5 da Lei 30/1992, de 26 de novembro, de regime jurídico das Administrações Públicas e do procedimento administrativo comum (BOE núm. 285, de 27.11.1992), 121.1 d) Código Civil da Catalunha e 143 do Real Decreto Legislativo 1/2007, de 16 de novembro, pelo que se aprova o texto refundido da Lei Geral para a Defesa dos Consumidores e Usuários e outras leis complementares (BOE núm. 287, de 30.11.2007; em antecipe Real Decreto Legislativo 1/2007). Cfr. ATS, Social, 8.5.2008 (JUR 2008\222724. MP: Jesús Souto Prieto) que esclarece a jurisprudência menor anterior na matéria. 33 Requerimentos perante tribunais dos Estados Unidos. Em maio de 2008, o Tribunal Superior de Nova Jérsei declarou a capacidade dos tribunais daquele Estado para conhecer a demanda de quinze trabalhadores espanhóis que contraíram doenças de etiologia de Assim, por exemplo, a recente SAN, Sala do ContenciosoAdministrativo, 9.7.2008 (JUR 2008\243117. MP: José Luis Gil Ibáñez). 34 35 Cfr. STSJ Valência, Sala do Contencioso-Administrativo, 7.3.2007 (JUR 2007\115706. MP: Rafael Salvador Manzana Laguarda). Cfr. http://wwworg. tv3.cat/ videos/750929 [Consultado: 18.11.2008]. O regulamento das ações coletivas indenizáveis está dispersa em diversos preceitos da Lei 1/2000, de 7 de janeiro de Ajuizamento Civil (BOE núm. 7, de 8.1.2000), entre eles o art. 11, assim como em outras disposições 36 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 asbestose como consequência da exposição ao amianto que se desprendia dos materiais fabricados pela empresa Owens-Illinois, Inc. instalados em navios de guerra norteamericanos. Os trabalhadores repararam esses navios entre 1950 e 1998 na base militar de Rota (Cádiz) e em estaleiros privados da zona37. cluem da cobertura as doenças profissionais39 e, em algumas ocasiões, excluem expressamente as doenças derivadas da exposição ocupacional ao amianto ou a produtos que o contenham40. Contudo, é frequente que as companhias seguradoras sejam demandadas junto às indústrias do amianto e devam, consequentemente, enfrentar as despesas de defesa jurídica. Em relação a outro tipo de apólice, em particular as de responsabilidade civil de produto, as mais recentes também excluem expressamente as doenças de etiologia asbestina 41. Em qualquer caso, a responsabilidade civil por produto defeituoso é uma via ainda a ser explorada na litigação por danos do amianto e, se o produto foi comercializado depois de 8 de julho de 1994, submetida a um prazo de preclusão a cada dez anos42 . SEGURO DOS DANOS DO AMIANTO As vítimas do amianto podem ser beneficiárias de seguros pessoais. Consequentemente, se os riscos segurados – por exemplo, morte, sobrevivência a uma determinada data ou doença – se concretizam, o beneficiário terá direito à assistência estipulada38. Por outro lado, as apólices de responsabilidade civil patronal ex- normativas concordantes e coloca não poucos problemas interpretativos. Cfr. o parágrafo dedicado às ações de classe em Gómez Pomar, Fernando et alii. Limites de responsabilidade e modificação de quantias. Tratado de responsabilidade civil do fabricante em direito espanhol (Salvador Coderch, Pablo e Gómez Pomar, Fernando, eds.). Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2008 (en prensa) e a normativa, jurisprudência e doutrina nele citadas. Cfr. Francisco Varo Varo and Carmen Herrera Laynez, h/w et al., v. Owens- Illinois, Inc. (Superior Court of New Jersey, Appellate Division, Docket No. A- 3332-06T3 and others, May 27, 2008). Disponible en http://www. judiciary.state.nj.us/opinio ns/ a3332-06a4020-06%20to%20a403406.pdf [Consultado el 29.5.2008]. • nº 102-2009 Pavelek Zamora, Eduardo. O seguro de responsabilidade civil de produtos (I)”. Revista Española de Seguros, núm., 102, pp. 281 y ss., p. 329. 41 Cfr. arts. 80 a 106 da Lei 50/1980, de 8 de outubro, de Contrato de Seguro (BOE núm. 250, de 17.10.1980). Uma introdução aos seguros de pessoas pode ser lido em Tapia Hermida, Alberto J., Manual de derecho de seguros y fundos de pensões. Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2006. 38 37 Gerência de Riscos e Seguros Cfr., por exemplo, el AH 16º de la STSJ País Vasco, Social, 15.1.2008 (JUR 2008\175168. MP: Jaime Segales Fidalgo). 40 Cfr., neste sentido, el AH 2º da STSJ Galicia, Social, 6.2.2004 (AR 2004\1442. MP: José Fernando Lousada Arochena). 39 Cfr. art. 144 del Real Decreto Legislativo 1/2007. 42 A favor do establecimento de um Fundo Espanhol da Vítimas do Amianto, cfr. Azagra Malo, Albert. [web] Os fundos de compensação do amianto na França e na Bélgica. InDret, 2007, núm. 3. http:// www.indret.com [Consultado: 28.11.2008]. 43 67 observatório de sinistros CONCLUSÕES As principais formas de compensação das vítimas do amianto na Espanha são as assistências de Previdência Social e, de forma crescente, as indenizações de responsabilidade civil. Neste trabalho foram apontadas algumas carências desses mecanismos de compensação. À medida que o número de vítimas aumenta, essas carências se acentuarão e deverão ser consideradas outras alternativas43. Anexo: resoluções não incluídas na tragédia do amianto e o direito espanhol. Barcelona: Atelier, 2008. Sentencias estimatorias (o confirmatorias de recargo): STS, 1ª, 8.2.2007 (RJ 2007\561. MP: Román García Varela); SAN, Sala do ContenciosoAdministrativo, 9.7.2008 (JUR 2008\243117. MP: José Luis Gil Ibáñez); STSJ Asturias, Social, 9.11.2007 (JUR 2008\45469. MP: Jorge González Rodríguez); STSJ Valencia, Social, 6.2.2007 (AS 2007\1235. MP: Juan Montero Aroca); STSJ Andalucía, Social, 19.1.2007 (JUR 2007\127788. MP: Mª del Cármen Pérez Sibón) (elevação de assistências); STSJ Valencia, ContenciosoAdministrativo, 7.3.2007 (JUR 2007\115706. MP: Rafael Salvador Manzana Laguarda); STSJ Asturias, Social, 30.3.2007 (JUR 2007\213294. MP: Eduardo Serrano Alonso); STSJ Cataluña, Social, 16.4.2007 68 (JUR 2007\281780. MP: Miquel Angel Falguera i Baró); STSJ Asturias, Social, 22.6.2007 (JUR 2007\310716. MP: José Alejandro Criado Fernández); STSJ Cataluña, Social, 14.2.2008 (AS 2008\1482. MP: Antonio García Rodríguez). Sentenças não estimadas: STS, 4ª, 30.1.2007 (RJ 2007\1029. MP: Luis Gil Suárez) (aumento de assistência); STS, 4ª, 22.10.2007 (JUR 2008\807. MP: Jesús Gullón Rodríguez); SAN, Secc. 5ª, 21.11.2007 (JUR 2007\362434. MP: José Luis Gil Ibáñez); STSJ Galicia, Social, de 19.6.2006 (JUR 2007\208500. MP: Antonio Jesús Outeiriño Fuente); STSJ Murcia, Social, 20.11.2006 (JUR 2007\59499. MP: Manuel Rodríguez Gómez); STSJ País Vasco, Social, 13.2.2007 (JUR 2007\126761. MP: Garbiñe Biurrun Mancisidor); STSJ Valencia, Social, 5.6.2007 (JUR 2007\259647. MP: María Luisa Mediavilla Cruz) (aumento de assistência); STSJ País Vasco, Social, 8.5.2007 (JUR 2007\350340. MP: Juan Carlos Benito-Butrón Ochoa) (aumento de assistência); STSJ Asturias, Social, 5.10.2007 (JUR 2008\5022. MP: Paloma Gutiérrez Campos); STSJ Madrid, Social, 18.10.2007 (JUR 2007\316877. MP: Luz García Paredes); STSJ Cataluña, Social, 21.11.2007 (AS 2008\506. MP:Adolfo Matías Colino Rey); STSJ País Vasco, Social, 15.1.2008 (JUR 2008\175168. MP: Jaime Segales Fidalgo); SAP A Coruña, Secc. 5ª, 3.7.2006 (JUR 2007\297925. MP: José Manuel Busto Lago); SAP Alicante, Secc. 1ª (Penal), 28.12.2006 (JUR 2007\226749. MP:Vicente Magro Servet). Autos: ATS, 4ª, 21.11.2006 (JUR 2007\44749. MP:Víctor Fuentes López); ATS, 4ª, 29.11.2006 (JUR 2007\59499. MP: Gonzalo Moliner Tamborero);ATS, 4ª, 30.11.2006 (JUR 2007\66480. MP: Luis Gil Suárez);ATS, 4ª, 5.12.2006 (JUR 2007\66469. MP: Juan Francisco García Sánchez): não consta doença; ATS, 4ª, 14.12.2006 (JUR 2007\93772. MP: Jesús Gullón Rodríguez);ATS, 4ª, 24.4.2007 (JUR 2007\283918. MP: Aurelio Desdentado Bonete);ATS, 4ª, 26.4.2007 (JUR 2007\241314. MP: Luis Gil Suárez);ATS, 4ª, 26.4.2007 (JUR 2007\283892. MP: Jesús Souto Prieto); ATS, 4ª, 22.5.2007 (JUR 2007\241225. MP:Víctor Fuentes López);ATS, 4ª, 12.6.2007 (JUR 2007\306550. MP: Luis Gil Suárez);ATS, 4ª, 14.6.2007 (JUR 2007\306516. MP: Luis Ramón Martínez Garrido);ATS, 4ª, 14.6.2007 (JUR 2007\306518. MP:Antonio Martín Valverde);ATS, 4ª, 3.7.2007 (JUR 2007\315891. MP: José Luis Gilolmo López);ATS, 4ª, 3.7.2007 (JUR 2007\324940. MP: José Souto Prieto); ATS, 4ª, 10.7.2007 (JUR 2007\315828. MP: Milagros Calvo Ibarlucea);AAP Madrid, Sección 4ª (Penal), 14.1.2008 (JUR 2008\125649. MP: Mª Teresa García Quesada). Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO Centro de Documentação Seguros Gerência de Riscos Segurança Meio ambiente O Centro de Documentação da FUNDACIÓN MAPFRE, especializado em seguros, gerência de riscos, segurança e meio ambiente, tem como objetivo primordial a gestão da informação e portanto, o tratamento técnico e difusão da mesma à sociedade. Atualmente o Centro de Documentação projeta a excelência na qualidade de seus serviços pela potencialização das novas tecnologias da informação e comunicação de acordo com os objetivos da FUNDACIÓN MAPFRE. Todo o acervo de documentos, aproximadamente 100.000 referências bibliográficas, está disponível e acessível aos profissionais do setor do seguro e da segurança, estudantes, pesquisadores e em geral, a qualquer pessoa interessada nestes temas, também através do site ou nas instalações do Centro. www.fundacionmapfre.com/documentacion Monte del Pilar, s/n 28023 El Plantío, Madrid Tel.: 34 91 581 23 38 Fax 34 91 307 66 41 [email protected] Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 69 livros Teoria da Credibilidade: Desenvolvimento e aplicações em prêmios de seguros e riscos operacionais EMILIO GÓMEZ DÉNIZ / JOSÉ MARÍA SARABIA ALEGRIA sucessivamente à medida que se incorpora a informação da sinistralidade. São os denominados sistemas de tarifação bonus-malus. Existe, em castelhano, um vazio importante nesta área de conhecimento, além de não ter sido publicada nenhuma obra suficientemente atualizada que inclua os recentes avanços e suas aplicações. Esta publicação é o resultado de uma investigação rigorosa, e ao mesmo tempo aplicada, tanto dos modelos clássicos como dos de desenvolvimento mais recente, além de diversas propostas novas. Este livro foi premiado em novembro de 2008 com o IV Prêmio Internacional de Seguros Julio Castelo Matrán. FUNDACIÓN MAPFRE, 2008 ISBN 978-84-9844-105-5 240 páginas A teoria da credibilidade é um conjunto de técnicas que permitem à seguradora ajustar de modo sistemático os prêmios dos seguros em função da experiência de sinistralidade. Entram em jogo os dois conceitos clássicos de risco individual e risco coletivo e é resolvido de forma rigorosa o problema de como analisar a informação obtida dessas duas fontes para se chegar ao prêmio de seguros e obter uma tarifa justa. Um dos principais usos dessa teoria se faz presente no seguro do automóvel, em que o prêmio inicial vai se transformando 70 Risk Management for Insurers: Risk Control, Economic Capital and Solvency II RENÉ DOFF A indústria seguradora está enfrentando épocas turbulentas, e a gerência de riscos está cumprindo um importante papel. Este é particularmente o caso da Europa, onde a introdução do Solvência II reajustará de maneira drástica as regras de supervisão do capital requerido pelas companhias de seguros. Por tudo isso, é crucial que a indústria entenda como melhorar a prática da gestão de riscos. Risk Management for Insurers é uma obra de referência acessível que trata de como identificar, medir e tramitar sete tipos importantes de risco, como: risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez, risco não-vida, risco vida, risco operacional e risco de negócio. A principal contribuição desta obra é insistir na prática e nos conceitos de gestão de riscos, em lugar de cálculos técnicos e detalhada teoria, por isso ela é fácil de entender, inclusive por leigos na matéria. Todos os conceitos e termos são explicados em claros exemplos ilustrativos sobre regulamento e supervisão. Sua leitura é recomendada a gerentes de risco, atuários, contadores, auditores, diretores de finanças corporativas, acionistas de resseguro, etc. Risk Books, 2007 ISBN 204 páginas Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 práticos incluem questões como o desenvolvimento e a aplicação de uma sólida estrutura de controle do risco focalizados no controle do risco de abastecimento e de planejamento de recursos empresariais, riscos nos sistemas de informação e gestão de catástrofes. FUNDACIÓN MAPFRE Instituto de Ciências do Seguro Enterprise Risk Management DAVID L. OLSON / DESHENG DASH WU World Scientific Publishing Co. Pte. Ltd., 2008 ISBN13: 978 981 279 148 1, 264 páginas E ste livro amplia o campo da gestão do risco além dos seguros e das finanças, a fim de incluir riscos como o risco contábil, riscos de ataque terrorista e outras questões que podem colocar em perigo uma organização. Oferece uma aproximação à gerência de riscos empresarial a partir de cinco perspectivas: além da perspectiva central da gestão do risco financeiro, aborda as perspectivas do risco contábil, risco de abastecimento, risco dos sistemas de informação e risco de catástrofe. O livro conclui comentando quatro casos práticos que abrangem uma ampla gama de temas. Esses casos Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Prognóstico de tabelas de mortalidade dinâmicas mediante um procedimento de bootstrap ANDRÉS M. ALONSO FUNDACION MAPFRE, Madrid 2008 Caderno 124/ Coleção Cudernos de la Fundación 231 páginas ISBN 978-9844-101-7 N este trabalho é proposto um procedimento baseado em técnicas de bootstrap para a projeção das taxas de mortalidade por sexo dos países com informação disponível na Human Mortality Database para, pelo menos, o período de 1950-2004. Identifica-se um modelo fatorial dinâmico para cada país e sexo, baseando-se na seleção final do número de fatores no comportamento de diferentes modelos considerados em um exercício de prognóstico para o período de 2000-2004. O exercício de prognóstico sugere que a modelação dos fatores específicos geralmente melhora – e em, alguns casos, de maneira notável – os resultados de prognóstico. Finalmente, são dados os prognósticos das taxas de mortalidade por idade, sexo e país para o período de 20052030. São estabelecidos grupos de países por sexo, levando em conta as densidades de prognóstico da esperança de vida ao nascer. Dada a alta correlação entre este indicador sintético e o primeiro fator comum, é recomendável o estudo da modelação conjunta das taxas de mortalidade dos países componentes de cada grupo. 71 livros São obtidas tabelas geracionais de sobrevivência espanholas para as gerações nascidas no período de 1910-1990 e são comparadas com as obtidas a partir das tábuas PERFM/ F2000P, concluindo que estas são mais conservadoras que as tabelas obtidas nesta obra. Em trabalhos futuros serão consideradas as implicações quanto à tarifação das diferenças entre essas tabelas. A segurança jurídica das tecnologias da informação no mercado segurador ISABEL ÁLVAREZ-RICO FUNDACIÓN MAPFRE, Madrid 2008 Caderno 125/ Coleção Cuadernos de la Fundación 245 páginas ISBN 978-84-9844-102-4 O uso crescente das tecnologias da informação no mercado segurador enfatiza 72 sua extraordinária perspectiva de crescimento, que redunda, por sua vez, em uma melhora do próprio negócio. Para entender como funciona o mercado segurador na internet e que proteção existe atualmente, a autora dividiu o trabalho em duas partes. Na primeira parte, é justificado o novo ambiente em que se atua: aspectos sociais e tecnológicos, bem como o panorama jurídico em que se desenvolve. Na segunda, é feito um aprofundamento sobre os problemas que o uso das novas tecnologias implica para o mercado segurador, do pontode vista da segurança jurídica das relações on-line. Para isso, delimita-se o campo de análise àquelas matérias que colocam maiores dúvidas: a identidade das partes, a contratação de seguros online, o valor da prova e o cumprimento da normativa sobre proteção de dados. Para os profissionais do seguro, além de contribuir com soluções para problemas concretos, trata-se de um verdadeiro guia de atuação para o tratamento dos dados pessoais, em geral, e quanto a sua aplicação às tecnologias da informação, em particular. Nós nos atrevemos a dizer que se trata de uma obra muito recomendável para o profissional do mercado segurador, em qualquer de suas facetas. Com o valor adicional de afetar todos os campos do seguro. Com isso pretende-se dar um panorama sobre a situação jurídica do mercado segurador à luz das tecnologias da informação e das comunicações e suscitar no leitor novas dúvidas, para as quais possa encontrar resposta com a ajuda das páginas deste trabalho, ou ao menos utilizá-las na busca delas. A responsabilidade originada da utilização de organismos geneticamente modificados e a redistribuição do risco através do seguro JUSTO CORTI VARELA FUNDACIÓN MAPFRE, Madrid 2008 Caderno 127/Coleção Cuadernos de la Fundación 159 páginas ISBN 978-84-9844-104-8 O autor trata a controvertida questão dos Organismos Geneticamente Modificados Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 (OGM), a responsabilidade que pode derivar de sua utilização e a oportunidade de criar seguros específicos. A Espanha, com quase 100.000 hectares de milho transgênico, é o principal produtor de OGM da União Europeia e, portanto, o primeiro lugar onde podem ocorrer disputas no hipotético caso de se produzirem danos a assistência e/ou meio ambientais, ou simplesmente de se gerarem perdas econômicas devido à presença de plantas transgênicas em produtos não etiquetados como tais. Na sua primeira parte, o trabalho estuda as consequências que terá sobre os cultivos biotecnológicos a recente legislação de responsabilidade ambiental (Lei 26/2007). Na segunda parte, o autor aborda o problema dos danos excluídos da referida legislação, em particular aqueles de natureza econômica. Para isso, identifica e classifica em termos jurídicos cada um dos possíveis danos que podem derivar do cultivo de OGM e analisa, de forma comparada, a legislação nacional de sete Estadosmembros da União Europeia. Finalmente, realiza um estudo crítico sobre a oportunidade e a conveniência de se criar um produto de seguro que cubra tais riscos. Se bem que a questão ainda não esteja fechada, o trabalho publicado constitui Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 uma primeira aproximação que pode ser útil para advogados, agricultores e empresas seguradoras, agroalimentares e biotecnológicas. Questões sobre a cláusula ‘Cut through': Transferência e reconstrução. Estudo comparativo GRUPO DE TRABALHO DE RESSEGURO DE AIDA FUNDACIÓN MAPFRE, 2008 ISBN 978-84-9844-107-9 98 páginas N o decorrer das últimas décadas, o marco regulador do resseguro experimentou transformações significativas. Sem dúvida, a instituição mantém suas particularidades essenciais, mas tanto do ponto de vista regulador como do contratual ocorreram novidades que merecem uma cuidadosa análise. No plano estritamente obrigatório, observa-se uma tendência caracterizada pela progressiva deterioração da confiança entre os sujeitos da relação de negócio, que se manifesta na aparição de um esquema de contratação impregnado de previsões orientadas a intensificar o controle do risco de contraparte e organizar a atribuição de direitos e a ascensão de obrigações dos sujeitos da relação, de modo que cada qual cumpra a função que lhe é possível desempenhar de forma mais eficiente conforme sua posição contratual, sua solvência patrimonial ou sua capacidade técnica. Nesse contexto, aparecem no mercado as denominadas cláusulas Cut through, que suscitaram uma viva polêmica e mereceram críticas severas por parte de algum setor da doutrina, que quiseram ver nelas um elemento de desestabilização dos fundamentos do contrato de resseguro, quando não uma alteração de sua própria essência. O trabalho que hoje publica a FUNDACIÓN MAPFRE oferece uma descrição objetiva do modo como as questões mais fervorosas relacionadas à validade das cláusulas Cut through foram resolvidas pelos tribunais e pelos legisladores de quinze países. Trata-se de um estudo de inquestionável valor prático, que responde ao interesse por mostrar uma realidade viva e por contribuir, de uma forma clara e sintética, com uma visão comparativa do estado da questão em mercados com diferentes graus de evolução e no marco de ordens jurídicas de tradição diversa. 73 NOTÍCIAS XIV JORNADA DE RENOVAÇÕES A GERS realizou sua XIV Jornada de Renovações no dia 13 de novembro de 2008, no Hotel Meliá Castela de Madri, com a participação de brokers de seguros, companhias seguradoras e gerentes de riscos das principais empresas espanholas. A Jornada despertou o máximo interesse em meio à incerteza financeira, à ameaça de recessão econômica e à cúpula do G-20. Os gerentes de riscos analisaram a situação econômica mundial e os diferentes merca- 74 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 O encerramento da Jornada ocorreu com o pronunciamento do presidente da AIG Europe, Julio Portalatín. dos seguradores para orientar os clientes e a sociedade sobre as perspectivas de renovação de seguros para o próximo ano. As conclusões da Jornada cobram, portanto, um valor especial como indicador da insegurança que a situação econômica pode alcançar em 2009 e o modo como o planejamento das estratégias que o mercado de seguros vai desenvolver para enfrentar a realidade nos próximos meses. A abertura da Jornada ficou a cargo do presidente de AGERS, Miguel Ángel Macías. Na sequência se pronunciaram o diretor-geral de Seguros, Ricardo Lozano, que refletiu sobre as mudanças regulatórias, e órgãos de controle; o economista-chefe de Cenários Financeiros do Serviço de Estudos do BBVA, Daniel Navia, e o diretor-geral de AXA Corporate Solutions na Espanha, Cayetano Ramírez, que falou sobre “A situação da Gerência de Riscos na Europa”. Ao longo da manhã foram desenvolvidos quatro painéis, para analisar os mercados de Resseguros, Danos Patrimoniais, Responsabilidade Civil e Crédito. A sessão foi finalizada com o pronunciamento de Javier Esteban, senior advisor da Aon Re Global, que expôs aos presentes as chaves do mercado de resseguro. A PORTAS FECHADAS Como uma extensão das denominadas Salas de aula de Experiência, que a AGERS vem desenvolvendo com grande sucesso, e onde agrupa diferentes profissionais do mercado com o objetivo de informar e debater temas de interesse para suas atividades, foi criada uma nova iniciativa – gratuita para os membros associados – a fim de convocar Gerentes de Riscos e debater a influência em suas empresas diante da crise atual. Sua primeira edição aconteceu no dia 25 de novembro, com o título “A portas fechadas”. Para maiores informações podem consultar o site www.agers.es AGERS. Príncipe de Vergara, 86, 1º esc, 2º esq. 28006 Madri. Telefone: 91 562 84 25. Fax: 91 561 54 05 E-mail: [email protected] Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 75 caderno nacional DENISE BUENO E ADRIANA AGUILAR SEM CRISE financeira Investimentos no setor elétrico ultrapassam R$ 100 bilhões 76 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 A crise financeira internacional passa longe dos investimentos de mais de R$ 100 bilhões a serem feitos no setor de energia elétrica no Brasil, seja em geração, transmissão e distribuição. No setor, a estatal Eletrobrás ocupa uma posição de destaque na implantação dos empreendimentos contemplados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pois detém 39.402 megawatts (MW), correspondentes a 38% do total nacional, incluindo metade da potência de Itaipu pertencente ao Brasil. O Sistema Eletrobrás ainda tem 59.765 quilômetros (Km) de linha de transmissão. No PAC, o setor elétrico receberá um investimento de cerca de R$ 102,5 bilhões em quatro anos, até 2010, previstos para a instalação de 39.806 MW e a construção de 19.083 km de Linhas de transmissão. Dentro do programa, parte dos recursos é proveniente do governo federal e a outra parte vem das empresas estatais federais e do setor privado. Para atender a demanda deste pontencial mercado, a MAPFRE criou um programa que começou em 2008 e termina em 2010, quando será reavaliado para comportar os empreendimentos do próximo governo brasileiro. “Nosso foco é criar produtos e serviços para atender a esta explosão de demanda no Brasil”, diz Octavio Bromatti, diretor de riscos industriais da MAPFRE Seguros. O projeto, explica, abrange tanto o mercado de construção de novas hidrelétricas como também o parque energético nacional. O sucesso do projeto pode ser mensurado pelo desenvolvimento da carteira de seguros de energia da companhia. Em 2007, os prêmios com seguros no ramo energia totalizaram R$ 18 milhões. Em 2008 e início de 2009, os prêmios já ultrapassam R$ 50 milhões. Entre os clientes Bromatti exibe nomes como Furnas Centrais Elétricas, Energy Works do Brasil, Lagoa Grande Energética, Riacho Preto Energética, Eletroprimavera, Grupo Endesa, Eólica SIFF Conco, Centrais Elétricas do Rio Jordão, Rosa dos Ventos Geração, Eletrosul, com a Usina Hidrelétrica Mauá, um empreendimento no Rio Tibagi, entre Ortigueira e Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, entre outros. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Como cosseguradora, a MAPFRE participa dos projetos da hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, da usina de Estreito, na divisa entre São Paulo e Minas, construída por Furnas; da usina Simplício, no Rio Paraíba do Sul, entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. “Nos tornamos, em pouco tempo, uma das principais seguradoras de energia do Brasil”, orgulha-se o executivo. Além de “player” importante no PAC, controlando grande parte dos sistemas de geração e transmissão de energia elétrica do Brasil, a Eletrobrás apresentou em meados de março passado seu primeiro Programa de Ações Estratégicas (PAE), abrangendo o período 2009 a 2012, com projeção de investimentos, públicos e privados, de até R$ 30,2 bilhões. Do total, R$ 26 bilhões serão empregados apenas em projetos de geração, transmissão e distribuição realizados por empresas do Sistema Eletrobrás. Outros R$ 4,2 bilhões Programa de Ações Estratégicas (PAE, abrangendo o período 2009 a 2012) Investimentos, públicos e privados, de até R$ 30,2 bilhões. R$ 26 bilhões serão empregados apenas em projetos de geração, transmissão e distribuição realizados por empresas do Sistema Eletrobrás. Outros R$ 4,2 bilhões serão investidos pelas subsidiárias da Eletrobrás em parcerias com outras companhias. Até o fim de 2009 (PAE aponta investimentos de R$ 7,2 bilhões) • R$ 3,6 bilhões destinados à geração; • R$ 1,9 bilhão à transmissão; • R$ 1 bilhão às empresas de distribuição das regiões Norte e Nordeste. 77 caderno nacional “NOS TORNAMOS, EM POUCO TEMPO, UMA DAS PRINCIPAIS SEGURADORAS DE ENERGIA DO BRASIL”. 78 serão investidos pelas subsidiárias da Eletrobrás em parcerias com outras companhias. Até o fim de 2009, o PAE aponta investimentos de R$ 7,2 bilhões, sendo R$ 3,6 bilhões destinados à geração, R$ 1,9 bilhão à transmissão e R$ 1 bilhão às empresas de distribuição das regiões Norte e Nordeste. O primeiro programa de investimento da estatal na área de energia ainda prevê um projeto de internacionalização, incluindo seis usinas no Peru e uma na Argentina. Os novos projetos envolvem, por exemplo, complexos no Rio Madeira, no Rio Tapajós, aproveitamento hidrelétrico Belo Monte, localizado no rio Xingu. Só aqui, são mais de R$ 30 bilhões, investidos em diferentes regiões do País. “Há a preocupação com o meio ambiente e com uma forma de gestão de risco integrada, com o máximo de padronização nas linhas de ações em todas as subsidiárias da holding”, afirma o gerente da divisão de análise de Riscos da Eletrobrás, Antonio João Queiroz Lima. “A gestão de risco tem de ser aderente às práticas atuais no Brasil e no mundo”, completa. O PAE determina que até 2010 o plano de gestão de risco esteja implementado na holding, com a criação de uma nova estrutura organizacional, localizada na presidência da Eletrobrás, atuando de forma independente e com controles interno de auditoria. Mais tarde, virá a constituição da área de risco em cada uma das empresas do sistema Eletrobrás. Fazem parte das iniciativas de tratamento de risco as cláusulas contratuais, operações de hedge com derivativos, reestruturações de processos internos e contratação de seguros, por ser um poderoso instrumento na fase de execução dos projetos até a conclusão das obras, explica Queiroz Lima. O projeto de gestão de risco foi aprovado pela diretoria em fevereiro de 2009, sendo autorizada a execução dele de maneira escalonada. Em um primeiro momento na holding, depois nas empresas controladas de geração e transmissão e, em terceiro lugar, nas empresas de distribuição. Ao todo, a Eletrobrás apresenta as subsidiárias: Chesf, Furnas, Eletrosul, Eletronorte, CGTEE e Eletronuclear. A holding, em nome do governo brasileiro, ainda detém metade do capital de Itaipu Binacional. Além disso, atua na área de distribuição de energia por meio das empresas Eletroacre , Ceal, Cepisa , Ceron, Manaus Energia e Boa Vista Energia. Também controla o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) e a Eletrobrás Participações S.A. (Eletropar). Queiroz Lima conta que a Eletrobrás montou um grupo de trabalho com dois representantes de cada empresa de geração e transmissão de energia. Individualmente, em cada uma delas, os representantes vão prospectar práticas de risco e, a partir daí, elaborar relatórios para serem apresentados ao grupo de trabalho. O objetivo é a consolidação da gestão de risco padronizada em todas as subsidiárias, inclusive com metodologia e plano de ações para serem colocados em prática. Todas as decisões do grupo de trabalho serão replicadas às demais empresas por meio dos representantes. O reforço na gestão de risco, com padronização, comparado a de um grupo empresarial coeso, reforça os princípios de Governança Corporativa na Eletrobrás e a preocupação constante com o meio ambiente. A energia de origem hidráulica - vocação natural do Brasil - detém a maior participação e apresenta grande capacidade de expansão, visto que até hoje o País Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 explorou apenas cerca de 30% de seu potencial hidrelétrico. Segundo o analista do setor de energia elétrica da Banif Corretora, Vicente Koki, mais de 80% da eletricidade gerada no Brasil têm origem em fontes não-fósseis, como hídrica, eólica e biomassa. A matriz energética brasileira está entre as mais limpas do planeta, com 46% de energia proveniente de fontes renováveis, enquanto nos demais países essa participação é, em média, inferior a 15%. Vale ressaltar que os projetos no setor de energia, previstos no PAC (ver tabela), visam à continuidade, no futuro, da ampliação da oferta de energia limpa, renovável, com a hídrica e a eólica. Um dos mais importantes empreendimentos do PAC, o Complexo Rio Madeira, por exemplo, com as usinas hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, aumenta a segurança e oferta de energia renovável, mantendo o Brasil como referência neste tipo de exploração. Obras do setor de energia previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Valores (R$/milhões) R$ 2.810 R$ 1.580 R$ 1.792 R$ 609 R$ 366 R$ 274 R$ 298 R$ 282 R$ 3.122 R$ 6.440 R$ 5.700 R$ 735 R$ 530 R$ 1.193 R$ 3.600 R$ 5.131 R$ 454 R$ 787 R$ 1.169 R$ 2.138 Fonte: Comitê Gestor do PAC (por tal do governo brasileiro) Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 79 caderno nacional DENISE BUENO Mudanças Climáticas atraem um aliado O de peso assunto mudanças climáticas já faz parte das prioridades da indústria de seguros mundial desde 2005, ano em que o setor registrou perdas recordes com a passagem de quatro devastadores furacões na costa dos Estados Unidos, com custos recordes para a indústria de seguros mundial avaliados em mais de US$ 80 bilhões. Em abril deste ano, quem elegeu a mudança climática como uma de suas prioridades foi o 80 órgão regulador dos Estados Unidos, National Association of Insurance Commissioners (NAIC). Trata-se de um aliado e tanto na luta para salvar o planeta. “É certo que as alterações climáticas têm provocado novos impactos ambientais, sentidos também no território nacional, e, consequentemente, novos riscos. Esses riscos precisam ser analisados, avaliados e mitigados, em conjunto com todos os stakeholders”, alerta Arthur Santos, diretor executivo da MAPFRE Seguros. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 O órgão regulador está preocupado com a conclusão de recentes estudos vsobre os efeitos provocados pelo aumento de apenas um grau nas temperaturas globais. Somente este efeito já poderia custar centenas de bilhões de dólares anualmente nas próximas décadas. Segundo a Worldwide Fund for Nature (WWF), dos Estados Unidos, uma das mais conhecidas ONGs ambientalistas do mundo, o aquecimento global é a maior ameaça ambiental enfrentada pelo mundo e pelas pessoas e animais que o habitam. A WWF foi responsável pelo relatório “Mudança Climática e Seguro: uma pauta de ação nos Estados Unidos”, em outubro de 2006 e que agora surte seus efeitos com a adesão do NAIC para pressionar ainda mais as seguradoras a olhar para o futuro e não somente para estatísticas passadas na hora de precificar riscos a que estão expostas. “A omissão acarretará um custo com o qual nenhum de nós poderá arcar”, afirma o estudo. Segundo dados da Sigma, divisão de estudos da Swiss Re, cerca de 25% das perdas econômicas causadas por catástrofes nos países desenvolvidos são pagas pelas seguradoras em países desenvolvidos. Nos países emergentes este percentual cai para apenas 7%. O Tsunami, na Indonésia, em 2004, por exemplo, trouxe perdas econômicas que representaram 5% do PIB do país. O excesso de chuvas, em Honduras, em 1998, causou perdas equivalentes a 95% do PIB, informa Nikhil da Victoria Lobo, gerente de desenvolvimento de negócios com o setor público, da divisão de riscos financeiros da Swiss Re. Caso as seguradoras não estejam preparadas para arcar com os custos, a situação recairá sobre o governo, seja em termos financeiros para ajudar a nação a se recuperar dos estragos, seja pela responsabilidade por ter falhado na regulação, assim como aconteceu com a crise financeira que atinge todo o mundo. Para mitigar este risco, o NAIC determinou que as companhias de seguro divulguem aos reguladores os riscos financeiros que enfrentam em razão da mudança do clima, assim como as ações que estão implementando para mitigar os efeitos dos riscos a que estão expostas. As novas regras começarão a valer a partir de abril de 2010 nos EUA. E com certeza deverá ser seguido por outros países. O NAIC afirma que a mudança climática terá impactos enormes na indústria de seguro e “nós necessitamos ter mais informações sobre como os seguradores estão respondendo a mais este desafio”. O objetivo do NAIC é saber o que as seguradoras fazem para se protegerem financeiramente dos riscos e que tipo de produtos oferecem aos consumidores preocupados com perdas que possam ter com os efeitos climáticos. Entre as perguntas que as seguradoras terão de responder ao NAIC estão quais os desafios impostos pelas mudanças climáticas à indústria de seguros, qual a exposição ao risco financeiro que acreditam estar expostas, como estão gerenciando esses riscos, como estão conscientizando segurados e acionistas Arthur Santos, diretor executivo da MAPFRE Seguros “É certo que as alterações climáticas têm provocado novos impactos ambientais, sentidos também no território nacional, e, consequentemente, novos riscos. Esses riscos precisam ser analisados, avaliados e mitigados, em conjunto com todos os stakeholders”. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 81 caderno nacional sobre estes os riscos a que estão expostos e de que forma isso tem afetado a estratégia de investimentos. Para José Rubens Alonso, sócio especialista em seguro da consultoria KPMG, a iniciativa do órgão regulador americano é muito interessante. Principalmente por abordar este assunto diante da crise financeira. “É um tema importante e requer atenção de todos, pois pode trazer perdas sérias para as seguradoras. E a situação ficaria ainda pior ter de arcar com dois imprevistos: perdas de capital em razão da crise e aumento substancial de pagamentos de indenização consequente de excesso de chuvas, por exemplo”, cita o consultor. No Brasil, no entanto, este assunto está ainda distante de ser abordado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). A pequena equipe de técnicos do órgão regulador brasileiro tem dedicado horas de trabalho para regular o normativo de capital baseado em risco, de acordo com as regras de Solvência II. Até agora, apenas o risco de subscrição foi implementado, faltando ainda de mercado, crédito, legal e operacional. Para os analistas brasileiros, o perfil dos produtos vendidos pelas seguradoras no Brasil é diferente dos países desenvolvidos e por isso as perdas resultantes das mudanças climáticas ainda não preocupam. Mais de 80% de vendas de seguros no Brasil vem de apólices massificadas, Lloyd’s apóia estudos no Brasil No Brasil, a CNSeg, confederação que reúne as seguradoras, criou em 2007 uma comissão para estudar os efeitos das mudanças climáticas no setor. Para esquentar as discussões no Brasil, o Lloyd’s, principal mercado de seguros do mundo, anunciou em abril deste ano que investindo US$ 35 mil na parceria com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) para aumentar a conscientização sobre a mudança climática no País. O objetivo é ajudar empresas, órgãos do governo e indivíduos a entender a mudança climática e como poderão responder e se adaptar às mudanças futuras. Segundo o presidente do conselho do Lloyd’s, Lord Levene, apesar de o Brasil sofrer muito pouco com catástrofes naturais, é essencial que governo e empresas se prepararem para o que pode acontecer no futuro. “O Brasil já está começando a vivenciar eventos que são desencadeados pela mudança climática”, disse durante a inauguração do escritório brasileiro, em abril de 2009. Entre os exemplos citados estão as inundações em Santa Catarina, chuvas de granizo em Belo Horizonte e a bipolaridade entre seca e enchente na Amazônia. “O Sudeste do País tem visto um aumento de 58% na frequência de precipitação pluviométrica nos últimos 100 anos, enquanto a Amazônia passou por uma seca em 2005", destacou. Para Israel Klabin, presidente do conselho de administração da FBDS, a mudança climática é o problema mais importante que a humanidade enfrentará ao longo deste século e é a essência do trabalho da FBDS. “Nossa parceria com o Lloyd’s é muito importante e com certeza contribuirá para aumentar a mobilização dos principais envolvidos no Brasil em relação a este assunto”. 82 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 com validade de um ano, como automóveis, ou de planos de previdência. São riscos de curto prazo e a perda não é significativa. Uma prova disso está no evento de Santa Catarina, região Sul do Brasil. O excesso de chuvas causou morte e destruição em uma das regiões mais industrializadas do Estado no final de 2008. As indústrias catarinenses estimaram perdas superiores a R$ 350 milhões. Segundo estatísticas oficiais, foram registrados 12 mil desabrigados e 135 mortes. Por ser um estado com cultura européia, o seguro é bem difundido no local. Mesmo assim, as perdas registradas pelas seguradoras não tiraram a robustez do lucro do setor no ano passado. As companhias mais expostas a este tipo de perda são as que atuam com programas de seguros de grandes riscos, como plataformas de petróleo, siderúrgicas, indústrias e projetos de infra-estrutura em geral. No entanto, há pouca oferta de seguros que atendam as necessidades das empresas que querem proteção de perdas causadas pela natureza. A carteira de grandes riscos representa menos de 20% dos prêmios de seguros do mercado brasileiro. E mesmo assim as carteiras estão resseguradas com grandes grupos. Estes sim se preocupam com as mudanças climáticas. “À MEDIDA QUE O MERCADO DE SEGUROS BRASILEIRO EVOLUA, NUM RITMO MAIS ACELERADO AGORA COM A ABERTURA DO RESSEGURO, A PERCEPÇÃO DO RISCO DA MUDANÇA CLIMÁTICA VAI COMEÇAR A APARECER. CONSEQÜENTEMENTE, A DEMANDA FARÁ AUMENTAR O LEQUE DE PRODUTOS BEM COMO A REGULAMENTAÇÃO” José Rubens Alonso, sócio especialista em seguro da consultoria KPMG Veja os quatro principais focos do projeto: • Mudança climática global e eventos extremos no Brasil – este documento abordará como os efeitos da mudança climática global afetam a ocorrência de fenômenos climáticos extremos no Brasil, tais como enchentes e os impactos na sociedade brasileira. • Adaptação no setor agrícola do Brasil – o conhecimento de atividade rural tradicional permitiu aos fazendeiros entender quais cultivos são mais apropriados para suas terras. Com a mudança climática global (incluindo o aquecimento da superfície e a instabilidade pluviométrica), este conhecimento precisará ser revisado, pois os cultivos que foram adaptados para certas regiões terão que ser plantados em outros lugares para manter a mesma produtividade. • Risco e adaptação no setor energético do Brasil – a geração de eletricidade brasileira é altamente dependente das hidroelétricas. As mudanças na intensidade e distribuição da chuva durante o ano podem afetar o equilíbrio entre a oferta e a demanda. A diversificação da geração de eletricidade (sem aumentar a utilização de combustíveis fósseis) é o principal desafio para o Brasil neste setor. • Aumento do nível do mar e adaptação nas principais cidades litorâneas do Brasil – grande parte da população e infra-estrutura brasileiras estão próximas do Oceano Atlântico. O Rio de Janeiro e o Recife são duas grandes cidades que podem ser altamente afetadas pelo aumento do nível do mar. Assim, para evitar grandes perdas, as empresas, o governo e a sociedade civil precisarão adaptar suas infra-estruturas. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 83 caderno nacional DENISE BUENO Marcos Lima, do grupo o zelador do patrimônio Odebrecht G erenciar riscos é uma cultura arraigada no conglomerado Odebrecht. Começou com o fundador. Doutor Norberto Odebrecht, como ainda é conhecido por todos. Ele tinha apenas um caminhão em 1945, comprado financiado no auge da crise, para transportar material e pessoas. Certo dia, este veículo foi para a oficina para ter a carroçaria ampliada. Foi quando doutor Norberto percebeu que seu negócio corria um sério risco por depender de apenas um veículo, que nem pago ainda estava. Decidiu então fazer um seguro. No dia seguinte, a oficina pegou fogo. Ainda bem que doutor Norberto estava segurado. Hoje 84 o grupo emprega mais de 82 mil integrantes no Brasil e no exterior. Em seguros, o grupo investe anualmente mais de US$ 100 milhões. Boa parte dos negócios envolve a proteção do patrimônio dos acionistas e de terceiros e também o seguro garantia, um instrumento que permitiu o avanço internacional do conglomerado. “Nos EUA você não bate um martelo sem apresentar uma garantia”, explica Marcos Lima, diretor da OCS Administradora e Corretora de Seguros, corretora cativa do grupo Odebrecht, que completou 30 anos. Veja a seguir os principais trechos da entrevista concedida por Marcos Lima à Revista Gerência de Riscos e Seguros. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 85 caderno nacional Por que o grupo decidiu criar uma corretora? Inicialmente, o grupo possuía apenas uma divisão de seguros, que tinha como estratégia contratar várias corretoras. O fundador passou a perceber que ter uma divisão não era mais o suficiente. Queria concentrar a história do seguro das obras em um só local. Também tínhamos em mente estabelecer um relacionamento de longo prazo com as seguradoras e ter estatísticas para saber quais os principais riscos e incidências para poder criar mecanismos de prevenção e cláusulas que gerassem menos polêmicas na hora da indenização. Foi quando a OCS nasceu? A corretora, única atividade centralizada do grupo, nasceu em 1978 com o nome Fundação Emílio Odebrecht (FEO) e a partir de 1995 passou a chamar OCS. Ela nos ajudou a criar parcerias de longo prazo na internacionalização do grupo com o desenvolvimento do seguro garantia. As pessoas sempre acham que nada vai acontecer, principalmente se acham o seguro caro. Nosso foco é fazer um programa de seguro para proteger o patrimônio de riscos imprevisíveis. O seguro garantia para viabilizar operações estruturadas, que se tornou um modelo para outras empresas, tem grande fatia dos negócios da corretora, não? Sim. São mais de US$ 16 bilhões em garantias nos últimos 18 anos sem nunca ter executado um pedido de indenização. O PRINCIPAL NEGÓCIO JÁ FECHADO PELA OCS NESTES 30 ANOS FOI O SEGURO DE GARANTIA, CONTRATADO PARA O PROJETO SANTO ANTONIO ENERGIA - MADEIRA, CONSIDERADA A MAIOR APÓLICE DO MUNDO. Quanto o grupo Odebrecht investe em seguros anualmente? Acima de US$ 100 milhões, sendo a principal apólice a dos complexos petroquímicos. Como se tornou o guardião do patrimônio do grupo? Em 1979, o doutor Norberto Odebrecht solicitou que preparasse uma “Política de Seguros” para ser discutida e negociada com os acionistas. Naquele momento eu nem sabia o que era uma apólice de seguros. Minha formação era em Finanças, Auditoria e Desenvolvimento Organizacional, com pós-graduação nessas 86 áreas. Naquele mesmo dia lendo num jornal a realização do primeiro curso de corretor de seguros em Salvador, resolvi participar do curso para atender à solicitação, buscando entender tudo e aprofundar-me o máximo possível em conversas e questionamentos com os professores. Quando apresentei ao Conselho de Administração uma proposta para a Política de Seguros para a Organização Odebrecht, o doutor Norberto perguntou-me se eu aceitava assumir a liderança da corretora. Topei na hora. Qual a primeira apólice de garantia (surety) que fechou? O grupo começou a atuar nos EUA em 1991. Lá não se bate um prego sem ter seguro. Passamos a conhecer e entender um seguro que sequer existia no Brasil. Em 1992 tivemos uma prova de fogo. Encontrei os empresários Fernando Barbosa e Roberto Benjamin no escritório do Rio. Eles estavam felizes de ter conquistado o contrato para a construção da plataforma marítima Petrobras 18. Estavam as voltas para fechar o financiamento do projeto. Em razão do elevado valor, a fiança bancária tinha limites. Foi quando sugeri o seguro garantia, explicando que era uma espécie de aval que se a Odebrecht não concluísse a obra, a seguradora garantiria o término. Em pouco tempo, um pool de seguradoras estrangeiras emitiu uma garantia de US$ 272 milhões e a P-18 ainda opera na Bacia de Campos, no Rio, com capacidade de 100 mil barris diários de petróleo. Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Foi então um grande marco para a vida da corretora? A partir de então o seguro passou a ser um instrumento não só de proteção do patrimônio, como também vital para dar sustentabilidade aos projetos. Uma operação estruturada de financiamento, usando o seguro viabilizou a formação da Braskem,a empresa petroquímica da Odebrecht, em 2002. Qual o principal negócio já fechado pela OCS nestes 30 anos? Sem dúvida foi o recente seguro de garantia contratado para o Projeto Santo Antonio Energia – Madeira, considerada a maior apólice do mundo, num momento em que as seguradoras estavam fortemente atingidas pelo tsunami provocado pela crise financeira global. E o contrato mais difícil? Foi fechar os seguros de Property para as plantas química e petroquímica do grupo Odebrecht, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2000. Nossa renovação estava agendada para 28 de novembro. Tivemos de enfrentar um cenário complicado, com dificuldades para obter as capacidades necessárias para proteger a empresa e o custo estava elevadíssimo. Vista interna do túnel Airton Senna Qual o pior sinistro já gerenciado pela OCS? O sinistro do Túnel Airton Senna, que caiu, enquanto discutíamos a apólice de Risco de Engenharia para o projeto. Embora só tivéssemos o pedido de cobertura feito à Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 seguradora, não tínhamos a apólice de seguro emitida. Após longos sete meses de debates e negociações, foi acordado que tínhamos uma cobertura de seguro baseada apenas no nosso pedido. A regulação do sinistro deu-se de acordo com o clausulado usado normalmente em nossas apólices anteriores, resultando no recebimento de uma indenização de aproximadamente US$ 9 milhões. Este fato veio demonstrar e comprovar a boa fé que embasa as relações de seguro. O mercado segurador honrou o pagamento de importante sinistro baseado apenas na manifestação do segurado quanto à sua intenção comprovada de contratação do seguro. Conte um sinistro que ajudou a mudar procedimentos e aperfeiçoar o gerenciamento de risco? O sinistro acima é um exemplo. A partir desse sinistro fizemos uma revisão em todo o nosso processo de encaminhamento do pedido de seguro e também no processo de gestão para viabilizar a apólice. O projeto do Rio Madeira foi o maior programa de seguros fechado nesta crise. Como foi encontrar capacidade? Sim, foi o maior programa de seguros fechado nesta crise. A capacidade foi alcançada pelo fato de termos uma filosofia clara de relação de longo prazo com os seguradores e resseguradores, onde privilegiamos nossas parcerias, sempre buscando uma relação que seja boa para as partes, e que o cliente, no caso a Odebrecht, receba o melhor serviço, ao preço adequado e no prazo acordado. Qual o argumento mais usado para tranquilizar os subscritores e conseguir a cobertura desejada? O Track Record (histórico de desempenho) da Odebrecht e a qualidade dos players envolvidos nos projetos que investem em seguro. Tiveram de fazer mudanças no projeto para atrair um número maior de resseguradores? Nenhuma mudança foi necessária. 87 caderno nacional A OCS tem muitos negócios com a AIG. Qual a primeira reação dos executivos do grupo quando a então maior seguradora do mundo foi socorrida pelo governo dos EUA? Nós que estamos muito próximo da AIG sempre fomos informados de tudo a tempo e hora. A posição foi de parceiro. Ligamos imediatamente para Hamilton da Silva, o COO da AIG, e dissemos a ele que contasse conosco no que fosse preciso. Afirmamos que nossa relação não mudaria em nada e que continuaríamos fazendo negócios. É isto que esperamos de um parceiro, estar sempre junto. momentos bons, com riscos bons, sem sinistros, e momentos ruins, onde a sinistralidade é alta e danosa. É preciso ter um balanço desta convivência pelo menos a cada três anos para poder auferir o nível de relação de parceria. Como vê o desenvolvimento do Brasil na área de infraestrutura? O programa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma realidade. Os recursos disponíveis tornam o programa factível. SINTO FALTA DE MAIS DINAMISMO E NOVIDADES NAS COBERTURAS DE RISCOS DE ENGENHARIA, TRANSPORTE, ALLOP, DELAY IN START UP E GARANTIAS CONTRATUAIS. De que forma os problemas da AIG afetaram os negócios da OCS? Não afetaram em nada. Pelo contrário. As relações hoje são ainda mais fortes. Neste episódio, qual a estratégia adotada para gerenciar o risco financeiro? Avaliamos juntamente com o executivo da AIG a saúde da seguradora responsável por nossas apólices e concluímos que além do rating “A” mantido pela S&P, as atitudes e postura da AIG na nossa relação nos deixaram plenamente confortáveis. Não vejo risco financeiro. Qual o maior desafio do gerente de risco diante desta crise financeira global? Existem aqueles que sempre estão comprando cobertura e, conseqüentemente, estão colocando as seguradoras em leilão. Estes estão tendo e terão dificuldades para fechar seus programas de seguro. Aqueles que tem como filosofia vender seu risco, buscando, identificando e encontrando parceiros que estejam dispostos a comprar esses riscos, têm uma situação de certa maneira confortável. O desafio é como estabelecer esta parceria porque há 88 Como a indústria de seguros pode ajudar os investidores em projetos de infra-estrutura? Temos que buscar e criar uma mentalidade de Project Finance e, neste sentido, o seguro e as garantias por seguro são vitais para conclusão. Esta estrutura ajudou o grupo Odebrecht ser o que é hoje. Como conciliar crescimento e sustentabilidade social e ambiental? Já existe uma consciência nas grandes empresas sobre a necessidade desta conciliação. O processo é demorado, mas aos poucos está se tornando uma realidade. De que forma a indústria de seguros pode ajudar no crescimento sustentável? Introduzindo produtos como o seguro ambiental, por exemplo. No Brasil, por exemplo, poucas operam com esta apólice. Também participando ativamente nos grupos de estudo em apoio ao governo e introduzindo novos produtos no mercado brasileiro que permitam uma redução dos custos com seguro e a sua conseqüente massificação. Há muitos projetos e obras embargados por questionamentos judiciais. Como Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 gerenciar obras nesta situação, uma vez que o ressegurador comprometeu capital em contratos que estão suspensos? Na realidade o segurador e o ressegurador recebem na frente o prêmio de seguro para fazer face a um provável sinistro num futuro incerto. Estas suspensões, de um modo geral, não geram problemas à industria de seguros e sim à sociedade. com o valor dos riscos assumidos. Temos como referencial uma avaliação equivalente ao Rating “A” ou acima desse, atribuído por empresa avaliadora com reputação reconhecida no mercado segurador. A competência técnica, estrutura e disposição da seguradora para servir globalmente, visando atender as necessidades especificas de avaliação e cobertura dos riscos preponderantes para cada caso é também fundamental. Como avalia este primeiro ano da abertura do resseguro no Brasil? Excelente. O trabalho da Superintendência de Seguros Privados (Susep) tem sido excelente. Com uma postura pró-ativa, a Susep tem ajudado o mercado a superar as dificuldades naturais de abertura, após quase 70 anos de monopólio, e que ainda coincidiu com a explosão da pior crise financeira mundial depois do crash da Bolsa, em 1929. É preciso ser parceiro? Sim. Levamos em conta também a parceria estratégica de longo prazo em nível global com atendimento local nos países de atuação da organização; a rapidez e flexibilidade na regulação de sinistros; o cumprimento de obrigações pactuadas; a criatividade e coragem de mudar, demonstradas pelo efetivo interesse no estudo e na solução de novas condições; e o limite de crédito em Surety Bonds (Seguro-Garantia). O que acha que precisa ser aprimorado no resseguro brasileiro para facilitar o dia a dia dos gerentes de risco? Um maior envolvimento interativo. É preciso sair da postura de esperar e aguardar a decisão do ressegurador. Em suma, empresariar o negócio seguro. A OCS tem quantos funcionários? Atualmente temos 45 pessoas trabalhando conosco, baseados em diversas localidades. Também contamos com o apoio de corretoras internacionais como AON e Marsh. Que tipo de coberturas as seguradoras precisam desenvolver junto aos resseguradores para proteger os investidores interessados em projetos de infra-estrutura? Sinto falta de mais dinamismo e novidades nas coberturas de riscos de engenharia, transporte, Allop, Delay in Start Up e Garantias Contratuais. O que você mais valoriza quando escolhe corretores, seguradoras e resseguradores? São seis fatores básicos. O primeiro deles é a capacidade econômico-financeira. Este item sempre foi importante e ficou ainda mais com a crise financeira desencadeada pelas hipotecas de alto risco (subprime) nos Estados Unidos e que se alastrou pelo mundo a partir de junho de 2007. A capacidade dos seguradores e dos resseguradores tem de ser compatível Gerência de Riscos e Seguros • nº 102-2009 Qual o principal conselho aos gerentes de risco que querem se tornar o guardião do patrimônio dos acionistas? Disposição em servir e avaliar os riscos com acuidade, de modo a poder vendê-los com propriedade ao mercado segurador. Sair da postura de comprador de cobertura para vendedor de risco. Também é preciso ter capacidade de disseminar a visão do desenvolvimento sustentável nas dimensões sócio econômicas, ambientais e culturais nas ações da empresa. O gerente de risco tem um grande poder em suas mãos hoje. Para isso é preciso desenvolver uma competência empreendedora que consiga romper o conhecido, ousando, viabilizando a concepção de inteligência de risco. Não basta somente ser um técnico muito bom, pois fatalmente terá seu momento de obsolescência. Precisa ser alguém que vai deixar sua marca. 89 c Você faria seguro om uma empresa que tem 4.273 escritórios, está em 44 países, tem 50 mil corretores e 70 mil ntes? hões de clien ente. Então, bem-vindo à MAPFRE: a seguradora difere A MA MAPF PFRE RE es está tá nno o Br Bras a il há 53 5 ano nos e é a pr prim imei e ra n no o ra rank n in nk ingg en entr tree as sseg egur urad ador orras a estr es tran ange geeir iras as n ão ão l ig i ad a as a a banco c . Ma Mas nãão é is isso so q que ue tor o na eela l uma sseg la egur urad ador oraa di d feereen ntt e. e A MA MAPF PFRE RE é f ei eita ta dee pe pesss oa oass qu que pa p ssam m p or i mp mpre revi vist stos os ccom omo o vo você cê e ssab abem em q uaa ntt o um s egg ur u o é im impo p rtante te n es essaa s ho h ra r s. É p orr i ss sso o qu quee of ofer erec ecee ma mais is d dee 80 s ol oluç uçõe õess em s eg e ur uros,, perfei eito t s paa ra c ad to adaa fa f se d a suaa vi vida da. Af Afin inal al, ma m is d do o qu quee se segu guro ros, s o o bjj et s, etiv ivv o d MAP da APFR FRE R E é pr prot o eggerr t ud udo aquilo lo que ue é i mp mpor o tant ntee pa para ra vvoc ocê. ê. P Pod ode pee rg rgun unta tarr pa para raa qual qu a qu q er e um do os no osssos 1 5 milhh õe õ s dee clil entess no B Bra raasi sil.l. Proc Pr ocur ure e um c or o re r torr de seg egur uros o MAPFR FRE E ou ace cessse ww www. w.ma mapf pfre re.c com om.b .br. r. A seguradora diferente. 1.11 3 1. e taal 3. Ambbien RE Am APFR ro MAP guro Segu Se Porq Po rque ue o m maior o patri rimô m ni n o daa sua ua emp mpre resa sa é o planeta. Segu Se guro ro M MAP APFR FRE E Am Ambi bien enta tall 3. 3.1. 1.11 Processos SUSEP: 15414.003621/2008-16 , 005-01627/01, 15414.001054/2008-63. CNPJ: 61.074.175/0001-38 O registro deste plano na SUSEP não implica, por parte da autarquia, incentivo ou recomendação à sua comercialização. 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