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ISSN 1980-2064 Revista Brasileira de Volume 3 – nº 3/4 Janeiro a Junho de 2009 Associação Brasileira de Genitoscopia Revista Brasileira de Genitoscopia Órgão Oficial de Divulgação Científica da Associação Brasileira de Genitoscopia Rev Bras Genitoscopia v. 3, n. 3-4, p. 68- 110, jan-jun 2009 Revista Brasileira de Genitoscopia, ISSN 1980-2064, é uma publicação trimestral da Associação Brasileira de Genitoscopia. A responsabilidade dos conceitos emitidos nos artigos é de inteira responsabilidade de seus autores. Não é permitida a reprodução de textos parcial ou total sem permitir expressa da Associação Brasileira de Genitoscopia. Tiragem: 3.000 exemplares Endereço editoria: Rua Santa Clara - 115 - sala 504 – Copacabana - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22041-011 Fone: (21) 2256-2295 E-mail: [email protected] Editores Cíntia Irene Parellada (São Paulo/SP) Nelson Valente Martins (São Paulo/SP) Revisora Médica Ana Carolina Silva Chuery Coeditores Adriana Bittencourt Campaner (São Paulo/SP) Ana Katherine da S. Gonçalves (Natal/RN) Nilma Antas Neves (Salvador/BA) Rita Maira Zanine (Curitiba/PR) Walquíria Quida Salles Pereira Primo (Brasília/DF) Conselho editorial Adalberto Xavier Ferro Filho (Brasília/DF) Angela Cristina Vasconcelos de Andrade (Rio de Janeiro/RJ) Aristóteles Maurício Garcia Ramos (Vitória /ES) Cláudia Márcia de Azevedo Jacyntho (Rio de Janeiro/RJ) Edson Natal Fedrizzi (Florianópolis/SC) Etelvino de Souza Trindade (Brasília/DF) Garibalde Mortoza Jr. (Belo Horizonte/MG) Gerson Botacini das Dores (São Paulo/SP) Gutemberg Leão de Almeida Filho (Rio de Janeiro/RJ) Iara Moreno Linhares (São Paulo/SP) Ildete Soares Caldas (Aracaju/SE) Isabel Cristina C. do Val Guimarães (Rio de Janeiro/RJ) Ismael Dale Cotrin Guerreiro Silva (São Paulo/SP) José Focchi (São Paulo/SP) José Eleutério Júnior (Fortaleza/CE) Julisa Chamorro Lascasas Ribalta (São Paulo/SP) Jupira Mesquita (São Paulo/SP) Jurandyr Moreira de Andrade (Ribeirão Preto/SP) Luiz Carlos Zeferino (Campinas/SP) Luís Fernando Sommacal (Florianópolis/SC) Manoel A. Guimarães Gonçalves (Porto Alegre/RS) Márcia Fuzaro Terra Cardial (Santo André/SP) Maria Bethania da Costa Chen (São Luis/MA) Maricy Tacla (São Paulo/SP) Marlene Ferreira Freitas (Fortaleza/CE) Neide Aparecida T. Boldrini (Vitória/ES) Neila Maria de Góis Speck (São Paulo/SP) Newton Sergio de Carvalho (Curitiba/PR) Paula Ribeiro de Miranda Maldonado (Rio de Janeiro/RJ) Paulo César Giraldo (Campinas/SP) Paulo Sergio Viero Naud (Porto Alegre/RS) Sílvia Lima Farias (Belém/PA) Sidney Roberto Nadal (São Paulo/SP) Sophie Françoise Mauricette Derchain (Campinas/SP) Yoshiko Aihara Yoneda (São Paulo/SP) DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GENITOSCOPIA 2009 – 2011 Presidente Paula Maldonado coordenador científico Nelson Valente Martins Vice-Presidente Claudia Jacyntho coordenador DE ÉTICA MÉDICA Nilma Antas Neves tesoureiro Fabio Russomano valorização profissional Salomão Katz Iracema Fonseca diretor do título de qualificação Gutemberg Almeida Leão tesoureiro adjunto Adalberto Ferro secretário geral Garibalde /Mortoza Jr secretário adjunto Newton Carvalho conselho fiscal Silvia Lima Etelvino Trindade Manoel Afonso Índice • Editorial 68 • Artigos originais - Papanicolaou após histerectomia total por doença benigna: Exame necessário? Marilene Lucas de Oliveira Bicca, Guilherme Lucas de Oliveira Bicca - Frequência de HPV genital em adolescentes com citologia e colposcopia normais Renata Mirian Nunes Eleutério, José Eleutério Junior, Cláudia Márcia de Azevedo Jacyntho, Josele Rodrigues de Freitas - Prevalência de alteração citológica anal em mulheres com anormalidade citológica cervicovaginal Rita Maira Zanine, Ana Paula Willy Fabro, Deborah Beltrami Gomez, Caroline Pritsch, José Ederaldo Queiroz Telles 69 72 76 - Identificação e quantificação de células de defesa na mucosa vaginal de mulheres com vaginose bacteriana, candidíase vaginal e sem vulvovaginites 80 - Tratamento da neoplasia intraepitelial vulvar com imiquimode 84 89 Sandra Baptista do Nascimento Feitoza, Paulo Cesar Giraldo, Ana Katherine da Silveira Gonçalves, Rose Luce Gomes do Amaral, José Eleutério Jr, Andréia Tristão, Maria Conceição de Mesquita Cornetta Fabíola Zoppas Fridman, Suzana Arenhart Pessini • Artigos de revisão - Líquen plano vulvovaginal Angelina Maia - Neoplasia intraepitelial vulvar escamosa Adriana Bittencourt Campaner, Fernada de Araujo Cardoso 93 - O valor do rastreamento da infecção por clamídia na redução da morbidade do trato genital feminino Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva, Ana Katherine da Silveira Gonçalves, Cíntia de Freitas Andrade, Ana Claudine Pontes, 97 Gilzandra Lira Dantas Florêncio, Edilson Dias de Araújo, Luis Guilherme Pessoa da Silva • Relato de caso - Estrogenioterapia tópica na atrofia urogenital: relato de caso 101 Ana Carolina Silva Chuery, Neila Maria de Góis Speck, Patrícia Napoli Belfort, Kátia Franco Q. de Moura, Célia Sakano, Julisa Chamorro Lascasas Ribalta • Recomendações em PTGI e Colposcopia - Indicações para uso do teste de DNA HPV do Papilomavírus humano - Rastreamento citológico cervical 104 105 - Vacinação contra o Papilomavírus humano • Agenda de eventos 106 108 Imagem da capa: Vasos atípicos em arabesco, fio solto e raiz forte. Aumento de 40x. Diagnóstico histopatológico: adenocarcinoma cervical in situ, padrão endometrioide. IV Normas para publicação na Revista Brasileira de Genitoscopia Objetivo e política A Revista Brasileira de Genitoscopia é órgão oficial de Divulgação Científica da Associação Brasileira de Genitoscopia (ABG). É periódico trimestral com revisão de pareceristas e apresenta versão em português impressa e online, sendo distribuído para associados e principais instituições do Brasil. Tem o propósito de publicar contribuições que versem sobre temas relevantes no campo da genitoscopia (patologia do trato genital inferior e colposcopia) e áreas correlatas e é aberta a contribuições nacionais e internacionais. O manuscrito enviado para publicação não deve ter sido publicado anteriormente ou submetido para publicação em outros periódicos. Deve ser redigido em português e se enquadrar em uma dessas categorias: a) Artigo original: trabalhos completos prospectivos ou retrospectivos, realizados em seres humanos ou em animais. b) Artigo de revisão: incluindo avaliação crítica e sistematizada da literatura. c) Descrição de caso clínico: deve ser de grande interesse e bem documentado. Deve incluir descrições originais de observações clínicas, representar originalidade no diagnóstico ou tratamento, ilustrar situações infrequentes ou não convencionais na prática clínica. O texto deve ser baseado em revisão bibliográfica atualizada. d) Editoriais: os editoriais são escritos sob solicitação dos editores. e) Resumos de Teses: apresentadas e aprovadas nos últimos 12 meses da data do envio do resumo. Devem conter até 250 palavras, título em português e inglês e palavras-chave. Informar nome completo do autor, participantes da banca, data e local onde foi realizada e apresentada a tese. f ) Cartas ao editor: cartas de conteúdo científico que comentam ou discutem artigos recentemente publicados na Revista Brasileira de Genitoscopia. Quando a carta inclui críticas, os autores do artigo original citado serão convidados a responder. O conceito e declarações contidas nos trabalhos são de responsabilidade dos autores. Por motivos editoriais, os Editores reservam o direito de realizar modificações gráficas ou de palavras no texto, sem interferir com seu conteúdo. A Revista Brasileira de Genitoscopia apóia as políticas para registro de ensaios clínicos da OMS e do ICMJE, reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e do International Committee of Medical Journals Editors (ICMJE), cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE (www.icmje.org). O número de identificação deverá ser registrado ao final do estudo. Submissão dos manuscritos Os trabalhos podem ser encaminhados em formato eletrônico via e-mail: [email protected] ou por correio através de disquete/ CD com duas vias impressas. Deve ser enviada declaração assinada por todos os autores ao endereço da editoria (Rua Santa Clara, 115, sala 504, Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22041-011), onde deve ficar explícita a concordância com as normas editoriais, com o processo de revisão, transferência de copyright para à ABG e a inexistência ou existência de conflitos de interesse dos autores. Trabalhos originais devem encaminhar cópia da aprovação do Comitê de Ética da Instituição onde foi realizado o mesmo. Na seleção dos manuscritos para publicação, avaliamse a originalidade, a relevância do tema e a qualidade da metodologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pela revista. Os manuscritos que não se enquadram na política editorial e nas normas para publicação da Revista Brasileira de Genitoscopia serão devolvidos aos autores para as devidas adaptações antes da avaliação pelos pareceristas. O autor principal será informado, por carta ou por correio eletrônico, do recebimento dos trabalhos e o seu número de protocolo na Revista. Todos os manuscritos submetidos à revista que estão de acordo com as normas para publicação e se enquadram na política editorial da revista serão submetidos à avaliação de dois revisores anônimos (peer review), que sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editores Chefes O sistema de parecer adotado na Revista Brasileira de Genitoscopia é o duplo cego: o parecerista não é informado sobre a autoria do texto que examina e os autores tampouco são informados sobre o parecerista que examinou o seu texto. O sigilo é garantido em todo o processo de revisão. O texto que obtiver dois pareceres favoráveis estará aprovado e aquele que receber dois pareceres contrários estará definitivamente recusado. No caso de um texto obter um parecer favorável e outro contrário, será solicitado um terceiro parecer para desempate. O material referente ao artigo recusado não é devolvido. O artigo aceito será enviado para os autores para que sejam efetuadas as modificações e para que os mesmos tomem conhecimento das alterações a serem introduzidas no processo de edição. O prazo para a devolução do artigo com as modificações solicitadas pelos revisores e resubmissão do artigo é de 90 dias. Caso não haja retorno dentro desse período, presume-se que não haja mais interesse dos autores na publicação do mesmo. Se houver envio do manuscrito após esse período, será considerado como nova submissão. O número de autores de cada manuscrito fica limitado a sete. Trabalhos de autoria coletiva (institucionais) deverão ter os responsáveis especificados. Trabalhos do tipo V colaborativo e estudos multicêntricos deverão ter como autores os investigadores responsáveis pelos protocolos aplicados (no máximo cinco). Os demais colaboradores poderão ser citados na seção de agradecimentos ou como “Informações Adicionais sobre Autoria”, no fim do artigo. Todos os autores deverão aprovar a versão final a ser publicada. Conflitos de interesse: devem ser mencionadas as situações que poderiam influenciar de forma inadequada o desenvolvimento ou as conclusões do trabalho. Entre estas situações estão a participação societária nas empresas produtoras de drogas ou equipamentos citadas ou empregadas no trabalho, assim como em concorrentes. São também consideradas fontes de conflito os auxílios recebidos, as relações de subordinação no trabalho, consultorias etc. Reprodução: somente a Revista Brasileira de Genitoscopia poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Revista Brasileira de Genitoscopia. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Revista Brasileira de Genitoscopia. Preparação dos manuscritos Este periódico segue as normas estabelecidas pelo The Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journal Editors – “Vancouver Group” – disponível no endereço eletrônico http://www.icmje.org/. Todo o manuscrito deve ser digitado em processador de texto, de preferência Microsoft Word®, utilizando espaço 2 e fonte Times New Roman 12. Numerar todas as páginas consecutivamente, iniciando pela página de rosto. As siglas e abreviaturas devem ser descritas na primeira vez que aparecem no texto e não devem ser separadas por pontos (exemplo: neoplasia intraepitelial cervical (NIC)). Os manuscritos enviados pelo correio devem ser impressos em duas vias, em folha branca A4, com espaço de 2,5cm em cada margem, iniciando cada seção em uma nova página: Página de rosto; Resumo e palavras-chave; Abstract e key words; Texto; Agradecimentos; Referências; Tabelas (cada uma com título e legenda); Gráficos (cada um com título e legenda); Figuras e legendas. Na categoria de Artigo Original deve constar: resumo, abstract, introdução, casuística e métodos (obrigatório incluir número de aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição), resultados, discussão, conclusão e referências bibliográficas. Se a pesquisa foi realizada em seres humanos, a declaração de que os participantes assinaram o termo de consentimento livre e informado deve ser incluída. Na categoria de Artigo de Revisão deve fazer parte: resumo, abstract, introdução do tema, revisão da literatura, discussão, comentários finais e referências bibliográficas. Na categoria Relato de Caso deve constar: resumo, abstract, introdução (com breve revisão da literatura), VI descrição do caso clínico, discussão, comentários finais e referências bibliográficas. Página de rosto Deve apresentar o título conciso e descritivo do artigo em português e em inglês; nomes completos dos autores sem abreviaturas e com respectivos títulos acadêmicos; nome da Instituição onde o trabalho foi desenvolvido, afiliação institucional dos autores, informações sobre auxílios recebidos sob forma de financiamento, equipamentos ou fornecimento de drogas. Indicar o nome, endereço, telefone, fax e correio eletrônico do autor para o qual a correspondência deverá ser enviada. O título não deve conter abreviaturas, exceto as internacionalmente conhecidas. Resumo Resumo do trabalho em português, sem exceder limite de 250 palavras; para artigos originais deve ser redigido resumo estruturado dividido em seções identificadas: objetivos, métodos, resultados e conclusões. O resumo de casos clínicos não deve ser estruturado e será limitado a 100 palavras. O resumo deve indicar os principais objetivos, descrever a metodologia empregada e apresentar os principais resultados e conclusões. Abreviaturas devem ser evitadas. Palavras-chave ou unitermos logo abaixo do resumo, em número de 3 a 5 (deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico: http://decs.bvs.br). Em outra página incluir abstract consistente com versão do resumo em português, seguido de Key words. Introdução A introdução mostra a situação atual do tema, descreve o racional para o estudo, justificando com base na literatura médica, porém sem revisão extensa da literatura. Os objetivos do trabalho devem estar claramente mencionados. Métodos Esta seção apresenta o desenho do estudo, como foi feita a seleção da amostra, sua composição e perdas amostrais. Deve-se descrever com clareza o processo de coleta de dados, os instrumentos e/ou equipamentos utilizados (nome do fabricante e/ou origem do material em parênteses) e como foi feita a análise estatística. No caso de estudo com medicamentos, a marca e o fabricante deverão ser citados apenas nesta seção, reservando-se, nas demais seções, a utilização da denominação comum brasileira do fármaco, que pode ser averiguada no site http://www.anvisa.gov.br No caso de estudos em humanos, indicar a aprovação do estudo (incluindo o número de aprovação do projeto) pelo Comitê de Ética e se os pacientes assinaram o consentimento informado. Resultados Os resultados devem ser apresentados em sequência lógica, de forma clara, evitando a repetição dos dados mostrados em tabelas ou figuras. Deve-se expor os resultados que são relevantes para o(s) objetivo(s) do trabalho. Hay R. Atlas of human tumor cell lines. San Diego: Academic Press; 1994. DiSaia PJ, Creasman WT. The adnexal mass and early ovarian cancer. In: DiSaia PJ, Creasman WT, editors. Clinical gynecologic oncology. 5th ed. St. Louis: Mosby-Year Book;1997. p. 253-61. Discussão Deve estar diretamente relacionada ao tópico e fundamentada pela literatura. Esta seção comenta sobre os aspectos novos e significativos do estudo, suas implicações e limitações e realiza comparações com outros estudos. Evitar repetir os resultados ou informações já apresentadas em outras seções. As conclusões devem ser baseadas nos achados dos estudos e ser incluídas no último parágrafo dessa seção. O último parágrafo também deve expressar, se pertinente, recomendações e implicações clínicas. Agradecimentos Os agradecimentos devem aparecer após o texto e são dirigidos às pessoas que contribuíram intelectualmente (mas que não justifica autoria) ou com apoio técnico, financeiro ou material, incluindo assistência governamental e/ou assistência de laboratórios farmacêuticos. Referências As referências devem ser citadas no texto de acordo com o sistema numérico (número arábico) e numeradas consecutivamente na ordem de aparecimento no texto, utilizando-se o sistema Vancouver http://www.library.uq.edu.au/training/ citation/vancouv.pdf Apenas artigos publicados devem ser incluídos. Até 6 autores listar todos; para 7 ou mais autores, listar os primeiros 6 seguido de “et al.”. O número máximo de referências fica limitado a 30. Total de 70% das referências devem ser de periódicos nacionais ou internacionais atuais (publicados há no máximo, dez anos). Kim M. Amenorrhea: primary and secondary. In: Zuspan FP, Quilligan ED, eds. Handbook of Obstetrics, Gynecology, and Primary Care. St. Louis: Mosby; 1998:3-10. Breast Cancer Information Core (BIC) databases (http:// www.nhgri.nih.gov/Intramural_research/Lab_transfer/ Bic/). • Formato eletrônico: Cabar FR, Nomura RMY, Costa LCV, Alves EA, Zugaib M. Cesárea prévia como fator de risco para o descolamento prematuro da placenta. Rev Bras Ginecol Obstet. [periódico na Internet]. 2004 Out [citado 2005 Mar 19]; 26(9):[cerca de 15 telas]. Disponível em: h t t p : / / w w w. s c i e l o. b r / s c i e l o. p h p ? s c r i p t = s c i _ arttext&pid=S0100- 72032004000900006&lng=pt&nrm= iso&tlng=pt Acessado em: 10/07/2007. Kremer LCM, Caron HN. Anthracycline cardiotoxicity in children [perspective]. N Engl J Med [serial on the Internet]. 2004 Jul [cited 2004 Sep 29];351(2):[about 2 p.]. Available from: http://gateway.ut.ovid.com/gw1/ovidweb.cgi. Tabelas, gráficos e figuras (fotografias e ilustrações) Tabelas, gráficos, figuras e fotografias são adicionados no final do texto e devem ser referidos em números arábicos (exemplos: Fig.5, Gráfico 10), constando sempre o respectivo título e legendas. Somente serão aceitas ilustrações que permitam boa reprodução. As figuras (fotografias) devem ser enviadas no formato JPG com resolução mínima de 300 DPI. Colocar cada tabela, gráfico, figura ou fotografia em uma página. Exemplos de referências: • Formato impresso: Teixeira JC, Derchain SFM, Teixeira, LC, Santos CC, Panetta K, Zeferino LC. Avaliação do parceiro sexual e risco de recidivas em mulheres tratadas por lesões genitais induzidas por Papilomavírus Humano (HPV). BRGO 2002; 24(5): 315-320. Barreto NA, Sant’anna RRP, Silva LBG, Uehara AA, Guimarães RC, Duarte IMD et al. Caracterização fenotípica e molecular de Neisseria gonorrhoeae isoladas no Rio de Janeiro, 2002-2003. DST - J bras Doenças Sex Transm 2004; 16(3): 32-42. VII Editorial Caro leitor, Faz aproximadamente quatro décadas, mais precisamente em outubro de 1972, na sessão de temas livres do X Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, em Curitiba, que apresentamos a primeira casuística sobre câncer do colo do útero do então recém-inaugurado Posto de Prevenção do Câncer Ginecológico da Escola Paulista de Medicina. Nossos dados davam conta de que somente dois por cento dos casos encontravam-se na fase de carcinoma in situ. Pelo fato de que dos 98% restantes, a maioria havia sido diagnosticada nos estádios I e II, o trabalho, pelos bons resultados, foi elogiado pelos coordenadores das atividades! Uma década depois, novo levantamento demonstrava que um terço dos casos era encontrado na fase intraepitelial. No final do século, nos anos 90, já era raro o encontro de lesões tumorais, sangrantes e fétidas, tão características das neoplasias invasoras. Estes bons resultados, que devem ser creditados à excelente gestão do Professor Geraldo Leitzke, em nada diferiam daqueles apresentados pelos países desenvolvidos, onde o rastreamento das neoplasias cervicais era praticado de maneira sistemática. Números semelhantes eram obtidos em vários centros de referência no Brasil, em especial em Centros Universitários como o Rio de Janeiro, com João Paulo Rieper, e Belo Horizonte, com Alberto Henrique Rocha, pioneiros no ensino da colposcopia em nosso meio. Óbvio que esses resultados não foram extrapolados para todo o país, haja vista as diferenças ainda observadas até hoje nas diversas regiões. Os êxitos obtidos em nossos poucos centros de excelência não são suficientes, no entanto, para que possam ser comparados, no país como um todo, àqueles alcançados pelas nações desenvolvidas. Basta verificar que nos Estados Unidos da América, de população maior que a nossa, são diagnosticados anualmente 12.500 casos de neoplasias cervicais invasoras contra mais de 18.000 em nosso meio, segundo os dados do INCA. Não existem dúvidas de que melhoramos; no entanto, nos últimos 10 anos, os índices de mortalidade pela doença teimam em persistir imutáveis, tanto em nosso meio como em todo o mundo. Mesmo com as novas metodologias de rastreamento, baseadas em biologia molecular, que conseguem precocemente diagnosticar as infecções pelo Papilomavírus humano, agente causal da doença, são diagnosticados anualmente em todo o mundo, meio milhão de casos novos de neoplasias cervicais invasoras, responsáveis por quase 250.000 óbitos. Cifras inacreditáveis de um óbito a cada dois minutos! Os estudos que comprovam a alta eficácia dos métodos de diagnóstico precoce não deixam dúvidas, em nosso modo de entender, de que melhores resultados só não são obtidos em decorrência das falhas gerenciais dos programas de rastreamento, muito melhor estruturados nos países desenvolvidos. Apesar de sermos considerados como a oitava economia do mundo, os índices de incidência de câncer do colo do útero, situados ao redor de 20 casos novos/100.000 habitantes, nos coloca em uma situação vexatória diante de países não tão bem posicionados economicamente! A partir de 2001, novas possibilidades se apresentam para que, neste quesito, nos aproximemos dos países desenvolvidos. A síntese de vacinas contra o HPV, eficazes para evitar aproximadamente 80% das infecções pelo vírus, deverá se constituir em considerável aliado no combate a doença, em especial para os países em desenvolvimento, os responsáveis por 80% dos casos. Indicadas em nosso meio para mulheres jovens entre 9 e 26 anos de idade, de preferência às ainda não iniciadas sexualmente, as vacinas já são utilizadas de forma sistemática em alguns países Europeus, nos da América do Norte e na Austrália para grupos de meninas entre 12 e 15 anos. No Brasil, não percebemos ainda quaisquer iniciativas que visem a vacinação em massa. A prescrição tem sido restrita às jovens de maior poder aquisitivo, justamente aquelas que, com mais frequência se submetem aos exames preventivos e, como consequência, as que menos possibilidades têm de desenvolver neoplasias invasoras. Um raciocínio bastante simplista nos leva a crer que, se continuarmos vacinando apenas esse privilegiado grupo de mulheres, a redução dos índices de mortalidade por câncer do colo do útero entre nós será praticamente zero. Na realidade, hoje somos uma nação em desenvolvimento e estamos entre os 10 países emergentes com maior taxa de crescimento. No entanto, o crescimento econômico nem sempre vem acompanhado de planejamentos ideais em todas as áreas e nosso país continua sendo marcado por diferenças econômicas e sociais importantes. Nos próximos 20 anos, caso nossas atenções com relação à saúde continuem sendo objetivos de segunda linha, seremos um Brasil com ainda maiores distorções sociais e mais afastados estaremos dos ideais índices marcadores de desenvolvimento. José Focchi Ex-Presidente da Associação Brasileira de Genitoscopia, São Paulo, SP, Brasil artigo original Papanicolaou após histerectomia total por doença benigna: Exame necessário? Is pap smear after hysterectomy by benign disease needed? Marilene Lucas de Oliveira Bicca1, Guilherme Lucas de Oliveira Bicca2 Resumo Objetivo: Avaliar a necessidade de seguimento citológico em mulheres que realizam histerectomia total por doença benigna. Métodos: Estudo transversal retrospectivo, incluindo 134 mulheres, com idade variando entre 48 e 64 anos, submetidas à histerectomia total por patologia benigna. O seguimento após a cirurgia foi realizado anualmente através de exame citológico e colposcópico. Resultados: A média etária das mulheres submetidas à histerectomia foi de 56 anos. Um total de 633 exames citocolposcópicos foi realizado. No seguimento, seis mulheres (4,5%) tiveram alterações citológicas sugestivas de neoplasia intraepitelial vaginal, sendo três casos de grau I e três de grau II. A histologia da biópsia dirigida pela colposcopia confirmou o diagnóstico. Nos três casos onde se realizou a hibridização molecular para Papilomavírus humano, confirmou-se a presença do grupo de alto risco. Todas as pacientes eram assintomáticas e as lesões foram detectadas entre três e cinco anos após a cirurgia. Conclusões: Embora a incidência do carcinoma de vagina seja muito baixa, é inegável que sua prevenção só é possível através do diagnóstico precoce das lesões precursoras. Neste estudo, o seguimento com citologia oncótica e colposcopia após histerectomia por doença benigna mostrou valor prático no diagnóstico de seis casos de neoplasia intraepitelial vaginal. A frequência entre os exames citológicos bem como o uso de teste de DNA de HPV, nestes casos, deve ser motivo de maior número de estudos para definição do intervalo ideal que contemple a segurança e saúde dessas mulheres. Palavras-chave: Esfregaço vaginal. Colposcopia. Histerectomia. Neoplasias Vaginais. Abstract Objective: The objective of this study was to evaluate the need of follow-up of women submitted to total hysterectomy by benign disease. Methods: Retrospective cross sectional study including 134 patients, age range 48 to 64 years, submitted to total abdominal hysterectomy by benign disease. Follow-up after the surgery was done annually by Pap smear and colposcopy. Results: The mean age of women submitted to hysterectomy was 56 years. A total of 633 vaginal smears and colposcopies were done. During the follow-up, six women (4.5%) had cytological alterations in Pap smears; three were vaginal intraepithelial neoplasia grade I and three grade II. Histology of colposcopy-directed biopsy confirmed the diagnosis of Pap smear. Human papilomavirus hybridization was done in three cases, all positive for high risk HPV. All patients were asymptomatic and the lesions were diagnosed after 3 and 5 years after the surgery. Conclusions: Although the incidence of carcinoma of the vagina is very low, it is undeniable that its prevention will only be possible if early diagnosis of precursor lesions is done. In this study, the follow-up with Pap smears and colposcopy after hysterectomy for benign disease showed practical value in the diagnosis of six vaginal intraepithelial neoplasia cases. The frequency between the Pap smears as well as HPV DNA, in these cases, should be grounds for more studies in order to define the optimal interval that offers safety and health for these women. Keywords: Vaginal smears. Colposcopy. Hysterectomy. Vaginal Neoplasms Endereço para correspondência: 1 Marilene Lucas de Oliveira Bicca Católica de Pelotas, RS. Mestre em Saúde e Comportamento pela UCPel. Especialista em PTGI e Av. Dom Joaquim, 819 Citopatologia. CEP 96020-260 - Pelotas - RS 2 e-mail: [email protected] Católica de Pelotas, RS. Mestre em Saúde e Comportamento pela UCPel. Professora Adjunta de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Professor Auxiliar de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Recebido: 26/06/2009 Aceito com modificações: 07/09/2009 69 Bicca MLO et al. Introdução A histerectomia total abdominal é procedimento cirúrgico frequente em ginecologia. Estudos americanos referem que 33% das mulheres são submetidas à retirada do útero até os 60 anos, realizadas através de diferentes técnicas e tendo por indicações diversas doenças e sintomas, em sua maioria condições não malignas1. O exame citopatológico de Papanicolaou é mundialmente aceito como método de rastreamento para detecção de doenças do colo uterino por se tratar de exame de fácil execução e custo acessível. Sua indicação na avaliação do fundo de saco vaginal em pacientes histerectomizadas por doença benigna, no entanto, ainda é questionada por diversos profissionais, até mesmo relegada a segundo plano, juntamente com o estudo colposcópico da cúpula vaginal. Tal medida é justificada pela baixa incidência do câncer de vagina 2. O primeiro relato de Neoplasia Intraepitelial Vaginal (NIVA) foi descrito por Graham e Meigs em 1952 3. A NIVA é um estado precursor de patologia maligna da vagina e está relacionada ao papilomavírus humano (HPV ). O grau histológico da NIVA é dado pelo critério similar ao da Neoplasia Cervical Intraepitelial (NIC)4. Os potenciais fatores de risco para NIVA e câncer de vagina são: faixa etária elevada (acima de 60 anos); exposição intrauterina ao dietilestilbestrol; infecção por HPV anterior ou recente; antecedentes de lesões precursoras cervicais; adenose vaginal; irritação vaginal; prolapso uterino ou de cúpula e tabagismo 5. Outros fatores importantes que aumentariam o risco para doenças vaginais seriam: múltiplos parceiros sexuais, início da atividade sexual antes dos 17 anos de idade, parceiros com história de parceiras com câncer cervical, infecção concomitante pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV ), história de outras doenças sexualmente transmissíveis, imunossupressão, alcoolismo bem como drogadição. Acredita-se que HPV de alto risco ofereça fator importante em sua gênese 6. Na verdade, NIVA e câncer de vagina são geralmente diagnosticados pelo exame de Papanicolaou que traz consigo células do raspado vaginal e menos frequentemente detectados pela visualização da lesão per se, exceto em casos avançados. Nas pacientes após histerectomia total o raspado é realizado do fundo de saco vaginal. A sensibilidade do esfregaço vaginal para detecção de NIVA nestas pacientes é de 83%7. O objetivo deste estudo foi avaliar a necessidade de seguimento citológico para pacientes após histerectomia total por doença benigna. Material e métodos Estudo transversal retrospectivo, incluindo 134 mulheres, com idade variando entre 48 e 64 anos, submetidas à histerectomia total por patologia benigna (leiomioma uterino ou adenomiose) no período entre 2000 e 2008 no Serviço de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Católica de Pelotas. Em todas as mulheres, o exame citológico cervicovaginal prévio à cirurgia não tinha alterações e o anatomopatológico da peça de histerectomia, especificamente a cérvice uterina também não revelou anormalidades. O seguimento após a cirurgia foi realizado anualmente por meio de exame citológico e colposcópico da cúpula e parede vaginal, perfazendo um total de 633 exames citológicos e colposcópicos. A colposcopia foi realizada com uso de ácido acético 5% e solução de 70 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 69-71 Lugol. Pacientes com citologia e colposcopia alteradas foram submetidas à biópsia dirigida para análise histológica com pinça Tischler Morgan (Baby), sendo os fragmentos encaminhados ao serviço de Patologia daquela Universidade e processados de acordo com as normas técnicas vigentes. Resultados A média etária das mulheres submetidas à histerectomia foi de 56 anos. Um total de 633 exames citológicos e colposcópicos foram realizados. No seguimento, seis mulheres (4,5%) tiveram alterações citológicas sugestivas de neoplasia intraepitelial vaginal, sendo três casos de NIVA de grau I e três de NIVA de grau II. O estudo colposcópico demonstrou resultados compatíveis com a alteração citológica em todos eles, sendo os achados encontrados: áreas acetorreagentes, pontilhado e erosão. O teste com Lugol mostrou-se como método útil na delimitação das lesões. Os resultados histológicos confirmaram se tratar de três casos de NIVA I e três casos de NIVA II. Todas as alterações foram encontradas após três a cinco anos da histerectomia e todas as mulheres eram assintomáticas. Nos três casos onde se realizou a hibridização molecular para Papilomavírus humano, confirmou-se a presença do grupo de alto risco. Discussão Como a prevalência de alterações citológicas vaginais após histerectomia por doença benigna é baixa, fica o questionamento sobre a necessidade de realização de seguimento citológico e colposcópico de rotina nestas pacientes. Na realidade, existem diretrizes conflitantes para estas pacientes e também dados restritos sobre o risco para o carcinoma de vagina e seus precursores 8. A prevalência de achados precursores anormais na vagina de pacientes histerectomizadas por doença benigna é de 1,1% 9. Por outro lado, as pacientes submetidas à histerectomia total por NIC, 0,9 a 6,5% apresentarão em seu seguimento NIVA, sendo estes números atribuídos à recorrência, multicentricidade das lesões e ou doença residual após a extirpação cirúrgica. O percentual de progressão da NIVA para a forma invasora é em torno de 5%. Em um pequeno estudo com 23 pacientes com NIVA, duas (9%) das pacientes apresentaram progressão para câncer invasor de vagina, três (13%) persistiram inalteradas e 18 (78%) regrediram em um período de três anos de seguimento 10. Em estudo de custo-efetividade da citologia oncótica vaginal, a realização rotineira deste exame após a histerectomia total por doença benigna estaria indicada na presença de fatores de risco para o desenvolvimento de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas do trato genital inferior. Dentre esses fatores destacam-se: infecção pelo HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis, múltiplos parceiros e alteração do sistema imunológico. Para as mulheres com relacionamento estável e somente um parceiro, concluíram que a citologia oncótica não é obrigatória, pois a análise de custo-efetividade mostrou que este exame não fornece ganho da expectativa de vida 11. Em revisão sistemática da literatura de 19 estudos publicados em período de mais de 40 anos, com um total de 11.659 histerectomias realizadas, sendo 6.546 por doença benigna, 76 por NIC I ou II Bicca MLO et al. e 5037 por NIC III, os resultados demonstraram que as proporções de citologias oncóticas vaginais e biópsias alteradas durante o seguimento aumentaram com a piora do resultado histopatológico da histerectomia 12. A Sociedade Americana de Câncer recomenda nas pacientes histerectomizadas por patologia benigna a não realização exame de Papanicolaou 13. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas em sua última recomendação não indica a realização de exame especular, toque bimanual para exploração pélvica em pacientes com histerectomia e ooforectomia bilateral por indicações benignas, mantendo apenas o exame da genitália externa 14. Sendo o HPV um vírus cosmopolita relacionado às lesões precursoras e carcinomas do trato genital inferior (NIC, NIV, NIVA), considera-se importante o seguimento habitual com citopatologia em pacientes histerectomizadas, mesmo que por doença benigna, pois as alterações displásicas não necessariamente precisam da existência do colo uterino para que ocorram. O exame colposcópico do fundo de saco e parede vaginal em paciente histerectomizada é valioso para detectar pequenas lesões que acrescidas do teste de Schiller são francamente evidentes e de fácil acesso diagnóstico e terapêutico, apesar de sua baixa incidência. Outro recurso diagnóstico que merece maiores estudos é a aplicação clínica do teste de DNA de HPV como método de rastreamento de NIVA em mulheres histerectomizadas em substituição ao exame de citologia convencional e colposcopia. Neste estudo, nos três casos onde se realizou a hibridização molecular para Papilomavírus humano, confirmou-se a presença do grupo de alto risco. Infelizmente não existe nenhum estudo publicado sobre a custoefetividade deste método neste grupo de mulheres. Embora a incidência do carcinoma de vagina seja muito baixa, é inegável que sua prevenção só é possível através do diagnóstico precoce das lesões precursoras. Neste estudo, o seguimento com citologia oncótica e colposcopia após histerectomia por doença benigna mostrou valor prático no diagnóstico de seis casos de neoplasia intraepitelial vaginal. A frequência entre os exames citológicos bem como do teste de DNA de HPV, nestes casos, deve ser motivo de maior número de estudos para definição do intervalo ideal que contemple a segurança e saúde dessas mulheres. A individualização dos casos pode assegurar a realização de procedimentos que garantam melhor proteção. Referências 1. Videlefsky A, Grossl N, Denniston M, Sehgal R, Lane JM, Goodenough G. Routine vaginal cuff smear testing in post-Hysterectomy patients with benign uterine conditions: when is it indicated? 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Effectiveness of vaginal Papanicolaou smear screening after total hysterectomy benign disease. JAMA. 1996;275(12):940-7. Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 69-71 71 artigo original Frequência de HPV genital em adolescentes com citologia e colposcopia normais Frequency of genital HPV in adolescents with normal cytology and colposcopy Renata Mirian Nunes Eleutério1, José Eleutério Junior2, Cláudia Márcia de Azevedo Jacyntho3, Josele Rodrigues de Freitas4 Resumo Objetivo: O objetivo deste estudo foi identificar a positividade do DNA de HPV em amostra vaginal e endocervical de adolescentes com atividade sexual e com citologia e colposcopia sem alterações. Métodos: Estudo transversal e descritivo incluindo 22 adolescentes, com idade entre 13 e 20 anos, com atividade sexual e sem lesões morfológicas pelo HPV na citologia e colposcopia. A pesquisa de HPV de baixo e alto risco foi realizada por captura híbrida de 2 a geração em dois diferentes sítios: endocérvice e vagina. As variáveis estudadas foram: idade, sexarca, número de parceiros sexuais, diferença etária com parceiro e uso de preservativo. Realizou-se análise das variáveis segundo a positividade para o HPV em amostra vaginal e endocervical. A análise estatística foi realizada pelo teste de Mann Whitney. Resultados: A positividade do teste de DNA de HPV foi de 50%. Oito pacientes foram positivas para HPV de alto risco na amostra vaginal (72,7%), e destas, seis (75%) também foram positivas para amostra endocervical. Três pacientes (27,3%) tiveram positividade nas amostras vaginais para HPV de ambos os grupos, e destas, duas (67%) tiveram amostra endocervical positiva. Nenhuma das variáveis estudadas mostrou diferença estatística entre as amostras endocervicais e vaginais. Conclusão: A positividade do teste de DNA de HPV é alta em adolescentes, mesmo naquelas sem alterações à citologia e colposcopia, principalmente para o grupo de alto risco oncogênico. A positividade para HPV foi maior em amostra vaginal em comparação à amostra endocervical. Palavras-chave: Infecções por Papilomavírus. Adolescente. Biologia molecular. Esfregaço vaginal. Colposcopia. Abstract Objective: The purpose of this study was to identify the HPV DNA presence in vaginal and endocervical samples of adolescents with sexual activity and without morphological lesion in cytology and colposcopy. Methods: Cross sectional and descriptive study including 22 teenagers, age range 13 to 20 years, with sexual activity and without any HPV morphologic lesion in cytology and colposcopy. Research of low and high risk HPV was processed by 2nd generation hybrid capture in two different sites: vaginal and endocervical. The following variables were analyzed: age, age at first intercourse, number of sexual partners, age difference between partners and condom use. Analysis of variables was done according to HPV positivity in vaginal and endocervical samples. Statistical analysis was done by Mann Whitney test. Results: The HPV DNA was detected in 50% of the cases. Eight patients were positive for high risk HPV in vaginal sample (72.7%), and of these, six (75%) were also HPV positive in endocervical sample. In three patients (27.3%), both low and high risk HPV were detected in vaginal samples, and of these, 2 (67%) were positive in the endocervical sample. None of studied variables showed statistical difference between vaginal and endocervical samples. Conclusion: HPV prevalence was very high in this sample of sexually active teenagers, even in the group without any cytological or colposcopic lesion, and the most common group was the high risk HPV. The HPV DNA presence is higher in vaginal sample in comparison to endocervical sample. Keywords: Papillomavirus infections. Adolescence. Molecular biology. Vaginal smears. Colposcopy. 1 Mestranda da Pós Graduação em Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Endereço para correspondência: Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Renata Mirian Nunes Eleutério 2 Av. Padre Antônio Tomás, 3885, apto 202. Cocó. Federal do Ceará (UFC). Chefe do Setor de Colposcopia da Maternidade Escola Assis Chate- Professor Adjunto Doutor do Departamento de Saúde Materno-infantil da Universidade CEP: 60192-120 Fortaleza-CE aubriand – UFC, Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Professora Adjunta Doutora da Faculdade de Medicina Souza Marques. Chefe do Setor de Colposcopia do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro- Ministério da Saúde, Recebido em 10/09/2008 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Aceito com modificações: 07/10/2009 4 Médica Ginecologista responsável pelo Ambulatório de Ginecologia Infanto-Puberal do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 72 Eleutério RNM, et al Introdução O Papilomavírus humano (HPV ) é um vírus DNA que tem elevada prevalência em ambos os sexos e que causa verrugas e câncer anogenital. É mais comum entre indivíduos jovens e sexualmente ativos e é tão prevalente que 75 a 80% da população foi, está ou será infectada durante sua vida1. Conforme sua associação com as neoplasias pode ser de dois grupos: baixo risco oncogênico (Grupo A), que compreende principalmente os tipos 6, 11, 42, 43 e 44; e alto risco oncogênico (Grupo B), que engloba os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68. O conhecimento do genoma de HPV tem conduzido à melhor compreensão da história natural da infecção em mulheres, desde a simples infecção até o desenvolvimento de câncer. As lesões intraepiteliais de baixo grau estão associadas com a replicação do HPV, em especial dos tipos de baixo risco oncogênico, que na maioria das mulheres a infecção é erradicada pelo sistema imunológico. Os tipos de alto risco oncogênico estão mais associados ao processo de integração do DNA viral ao DNA da célula do hospedeiro, resultando em lesões intraepiteliais de alto grau, que podem evoluir para invasão 2-5. A infecção pelo HPV de alto risco representa o fator de risco mais importante na gênese do carcinoma de colo uterino 4. A adolescência é fase de transição onde há grande exposição da zona de transformação do colo, com defesas limitadas aos agressores. Pelo crescente aumento de níveis de esteroides sexuais, há estímulo do trato genital inferior, levando à metaplasia imatura que consiste de células jovens expostas na superfície epitelial e que seria a porta de entrada para o HPV e outras infecções. Infecções latentes e subclínicas são mais comuns na adolescência do que em adultas. A maioria destas infecções tende a desaparecer espontaneamente, sendo infecções transitórias, portanto não inquietantes clinicamente. Quando a citologia está alterada nas adolescentes, cabe ao colposcopista definir conduta para as lesões induzidas pelo HPV, de maneira mais conservadora possível 6-9. Entre os fatores de risco para aquisição de infecção por HPV, destaca-se a idade e o início precoce da atividade sexual, já que o pico de incidência da infecção relaciona-se ao início da vida sexual e há maior positividade de HPV de alto risco em adolescentes que iniciam a vida sexual precocemente associado ao comportamento de risco. Também são importantes o número de parceiros sexuais (o risco pode aumentar 10 vezes para cada novo parceiro por mês), parceiros com múltiplas parceiras ou que não usam condom e diferença etária com o parceiro, que se relaciona com risco cinco vezes maior quando o 1º parceiro tem 10 anos a mais. Além de outros, outras doenças sexualmente transmissíveis (DST ), imunodepressão, dieta, tabagismo, etilismo ou uso de anticoncepcionais orais8. Assim, diante destes dados torna-se importante observar as características de grupo de adolescentes sexualmente ativas com relação à positividade para DNA de HPV. pacientes adolescentes com diagnóstico morfológico (por citologia) de neoplasia intraepitelial cervical (NIC) e/ou HPV ou história de NIC e/ou HPV e câncer anogenital e aquelas com colposcopia anormal. A coleta de material para estudo foi realizada por ginecologista experiente, observando preceitos éticos. A mesma foi realizada em dois sítios: vagina e endocérvice utilizando-se o Kit coletor do teste de HPV da Qiagen®. O material colhido foi acondicionado separadamente em dois frascos contendo UCM® (Universal Medium Collection – Qiagen Corp®) para preservação das amostras e envio para o laboratório, devidamente identificados e mantidos em geladeira. O processamento das amostras foi realizado pelo Laboratório Professor Eleutério da Costa, localizado em Fortaleza – CE utilizandose a metodologia de captura híbrida de 2 a geração, versão 2, onde houve a identificação de DNA de HPV e a qualificação do HPV de alto ou baixo risco oncogênico. Os resultados foram obtidos a partir do estudo das seguintes variáveis: idade, sexarca, número de parceiros, diferença etária com parceiro e positividade para o HPV em amostra vaginal e endocervical. Os resultados foram organizados em planilha para análise e coerência dos achados, aplicando-se teste estatístico de Mann Whitney para significância com intervalo de confiança de 95%. Resultados As pacientes apresentaram idade entre 13 e 20 anos (média [x]=16,1 + 1,5). A idade de início de vida sexual (sexarca) se deu entre 12 e 18 anos (x=14,45 + 1,65). O número de parceiros relatados foi de um a cinco (x=1,6+1,2). Três pacientes relataram não estar tendo contato sexual atual, e das 19 que referiram contato sexual atual, 10 (52,3%) relataram a idade do parceiro variando de 18 a 28 anos (x= 20,7 + 3,1). Vale salientar que a diferença etária entre as pacientes e os parceiros variou de 2 a 12 (x= 4,5 + 3,3). Em relação ao método contraceptivo utilizado, 10 (45,5%) referiam uso de preservativo, sendo que destas, cinco (50%) o faziam de forma irregular. Três (13,6%) referiam contracepção oral associada, embora irregular, duas (9,1%) referiam contraceptivo oral isolado e sete (31,8%) não referiam uso de método contraceptivo. Houve positividade para DNA de HPV em 11 dos 22 casos, levando à prevalência de 50% dentro do grupo estudado. Oito pacientes foram positivas para HPV de alto risco na amostra vaginal (72,7%), e destas, seis (75%) também foram positivas para amostra endocervical. Três pacientes (27,3%) tiveram positividade nas amostras vaginais para ambos os grupos de HPV, dentre estas duas (67%) foram positivas na amostra endocervical. Não houve amostra positiva apenas para HPV de baixo risco (Figura 1). Material e Métodos Trata-se de estudo transversal e descritivo. O grupo estudado foi formado por 22 adolescentes com atividade sexual atendidas no Ambulatório Infanto-Puberal do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. As pacientes selecionadas tinham de 13 a 20 anos de idade e menarca de pelo menos dois anos. O material para estudo foi coletado no momento da consulta de prevenção de câncer do colo uterino. Foram excluídas do estudo Figura 1. Pesquisa de DNA HPV de alto e baixo risco, em cada sítio, em adolescentes com atividade sexual no Hospital Universitário do Rio de Janeiro (n=11). Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 72-75 73 Eleutério RNM, et al Nenhuma das variáveis estudadas mostrou diferença estatística entre as amostras positivas endocervicais e vaginais (tabela 1). Nas adolescentes com amostras negativas para HPV, a diferença etária com relação ao parceiro sexual teve média de 3,2 anos, enquanto que nas pacientes positivas esta média foi de 5,8 anos Não houve diferença significativa entre os grupos através do teste não paramétrico de Mann-Whitney. Tabela 1 - Perfil das adolescentes atendidas no Hospital Universitário Pedro Ernesto, na cidade do Rio de Janeiro, com amostras endocervicais e vaginais positivas para DNA de HPV. Discussão A prevalência de 50% de DNA de HPV encontrada neste estudo realizado no Rio de Janeiro condiz com a encontrada por Zampirolo et al. 10 ao estudar mulheres em Santa Catarina também utilizando método de captura híbrida de 2 a geração, que foi de 44%. Essa taxa foi pouco inferior à encontrada em nosso estudo, pois os autores realizaram a pesquisa também em mulheres jovens (até 25 anos), além das adolescentes. Neste mesmo estudo, os autores encontraram 48% de DNA de HPV de baixo risco e 41% de alto risco, enquanto no nosso estudo o grupo de alto risco foi encontrado em todos os onze casos positivos (100%), com a presença de baixo risco em apenas três destas pacientes (27%). Vale salientar que além da diferença entre a população estudada, o estudo de Zampirolo et al. 10 utilizou amostras endocervicais, enquanto o nosso estudo realizou, em cada paciente, uma coleta vaginal e outra endocervical, além do que naquele estudo o foco não foi a infecção latente, não tendo sido excluídos casos com anormalidade morfológica. A maioria das pacientes teve positividade para HPV vaginal, contra menor número com amostras endocervicais positivas. Isto nos faz crer que para a maior certeza da real prevalência de infecção pelo HPV nesta faixa etária o melhor sítio de pesquisa é vaginal e não endocervical, de forma que alguns estudos podem estar subestimando seus números se fazem apenas a pesquisa endocervical. Ressalta-se que é pesquisa de infecção e não de doença. Dentre os casos que tiveram HPV vaginal para ambos os grupos de HPV, quase 70% tinha também HPV endocervical contra 25% dos casos com positividade apenas para o grupo B. O número de pacientes com amostras positivas é concordante com a literatura mundial, onde a faixa de prevalência em adolescentes pode ser de 50-80% em amostras endocervicais 11. Os considerados altos índices de infecção pelo HPV são justificados tanto pela vulnerabilidade biológica que a adolescente apresenta, quanto pelo comportamento de risco destas pacientes 11. Porém, a maioria destas infecções é transitória, não chegando a causar anormalidades na citologia. Por esse motivo, optamos em fazer estudo em adolescentes sem alterações morfológicas, para evidenciar a frequência do que se poderia considerar como infecção latente. Poucas adolescentes irão continuar com a infecção, já a persistência 74 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 72-75 do vírus é importante fator para o desenvolvimento de lesões intraepiteliais 11. Estudos anteriores realizados em mulheres brasileiras mostraram que entre adultas a prevalência da infecção latente não é superior a 30% 12. Em estudo realizado também no Hospital Universitário Pedro Ernesto, Taquette et al.13 mostraram a média etária de início de atividade sexual de 14,7 anos em grupo portador de DST e 15 anos em grupo não portador de DST. Em relação ao condom, o estudo mostrou que 22% dos pacientes referiram utilizar condom sempre ou quase sempre no grupo portador de DST e 51,3% no grupo não portador de DST. Neste estudo participaram pacientes do sexo feminino e masculino. Já Murta et al. 14 realizaram, em Minas Gerais, estudo comparativo entre pacientes com citologia suspeita para citopatia por HPV e outro grupo com pacientes sem sinais citológicos de HPV. As adolescentes que utilizavam condom foram as que tiveram menor incidência de alterações sugestivas para HPV. No estudo realizado por Collins et al. 15, utilizando técnica de PCR (reação em cadeia da polimerase) para detecção de DNA de HPV, foi encontrado risco de 46% de adolescentes adquirirem HPV cervical durante os três primeiros anos após o primeiro intercurso sexual, e o tempo médio entre a primeira relação e a detecção de HPV foi de apenas três meses. Kjaer et al. 16 demonstraram que pacientes que possuíam mais que três parceiros tinham 9,1 vezes maior risco de adquirir o HPV quando comparadas com aquelas que possuíam um parceiro. Do mesmo modo, aumento da diferença etária entre a paciente e o seu primeiro parceiro sexual foi associado com o risco de aquisição de DNA de HPV. Em comparação com parceiro da mesma idade ou cinco anos mais velho, as mulheres com primeiro parceiro 10 anos mais velho, tinham razão de chance de 5,9 de aquisição de infecção por HPV. Este último dado não foi confirmado no presente estudo, talvez por ser população de evidente infecção latente em região geográfica distinta ou ainda até pelo número pequeno da amostra. De qualquer forma, acredita-se que o fato de ser grupo com características distintas levou à discordância, ao mesmo tempo em que acrescentou mais dados aos estudos da relação de HPV e adolescência, que variam de acordo com as características das populações estudadas. Mediante os achados deste estudo fica evidente a alta prevalência de DNA de HPV nesta faixa etária, predominando o grupo de alto risco oncogênico. O pequeno número estudado se justifica pela Eleutério RNM, et al dificuldade de estudo no grupo específico, mas questiona alguns importantes fatores que têm sido associados ao maior risco para aquisição do HPV, como diferença etária com o parceiro sexual, sexarca, número de parceiros, entre outras, uma vez que nos casos negativos não se detectou diferença estatisticamente significativa. Isto nos permite refletir sobre a associação HPV e hospedeiro nesta faixa etária, em especial em casos de latência viral, e a importância de uma abordagem mais conservadora. Referências 1. Tortolo-Luna G. Current therapeutic issues in gynecologic cancer: epidemiology of genital human papilomavirus. Hematol Oncol Clin North Am. 1999;13:245-57. 10. Zampirolo JA, Merlin JC, Menezes ME. Prevalência de HPV de baixo e alto risco pela técnica de biologia molecular (Captura Hibrida II) em Santa Catarina. Rev Bras Anál Clín. 2007;39:265-8. 2. Schiffmann MH, Brinton LA. The epidemiology of cervical carcinogenesis. Cancer 1995;76:1888-901. 11. Moscicki AB. HPV infections in adolescents. Dis Markers 2007;23: 229-34. 3. Moscicki AB. Human papillomavirus infection in adolescents. Pediatr Clin North Am. 1999;46:783-807. 12. Eleutério J Jr, Giraldo PC, Gonçalves AK, Cavalcante DI, Ferreira FVA, Mesquita SM, et al. 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Resultados: Em relação à citologia anal no grupo estudo, 26 (65,0%) foram negativas para malignidade, seis (15,0%) demonstraram células escamosas atípicas de significado indeterminado, uma (2,5%) lesão intraepitelial de baixo grau e sete (17,5%) foram insatisfatórias. No grupo controle, 33 amostras (82,5%) foram negativas, uma (2,5%) demonstrou células escamosas atípicas de significado indeterminado e seis (15%) foram insatisfatórias. No grupo estudo, foram identificadas sete alterações citológicas anais enquanto que no grupo controle apenas um caso. Dentre as sete citologias anais alteradas no grupo estudo, seis foram encontradas em pacientes com lesão intraepitelial de alto grau na citologia cervical (com confirmação histológica) e um caso em uma paciente que apresentava lesão intraepitelial de baixo grau apenas à citologia cervical. Conclusão: A prevalência de alteração citológica anal no grupo estudo foi de 17,5% em comparação a 2,5% no grupo controle. O risco de alterações na citologia anal foi significativamente maior nas amostras das pacientes do grupo estudo em relação às do grupo controle. Palavras-chave: Neoplasia intraepitelial cervical. Neoplasias do ânus. Citodiagnóstico. ABSTRACT Objective: To evaluate the prevalence of abnormal anal cytology in women with abnormal Pap smear. Methods: Case-control study consisted of 80 women, separated in two groups: 40 women with abnormal Pap smear (study group) and 40 women with normal Pap smear (control group). The women from both groups underwent collection of uterine cervix and anal canal cytology. Colposcopy and, when necessary, cervical biopsy were performed in all women with abnormal Pap smear. Results: In study group, 26 samples of anal cytology (65.0%) were negative, 6 (15.0%) showed atypical squamous cells of undetermined significance, one (2.5%) low-grade squamous intraepithelial lesion and 7 (17.5%) were unsatisfactory. In control group 33 samples (82.5%) were negative, one (2.5%) showed atypical squamous cells of undetermined significance and 6 (15.0%) were unsatisfactory. We found 7 cases of abnormal anal cytology in study group and one in control group. Among 7 abnormal anal samples from study group, 6 were from patients who had high-grade squamous intraepithelial lesion in Pap smear and histology, and one case was from a patient whose Pap smear showed low-grade squamous intraepithelial lesion. Conclusion: The prevalence of abnormal anal cytology in study group was 17.5%, in comparison with 2.5% in control group. Women from the study group had a higher risk of abnormal anal cytology than did women from the control group. Keywords: Cervical intraepithelial neoplasia. Anus neoplasms. Cytodiagnosis. Endereço para correspondência: Rita Maira Zanine 1 Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências da Saúde, Departa- sidade Federal do Paraná (UFPR). Research Fellow MD Anderson Cancer Center, University of Texas, mento de Tocoginecologia. Curitiba, PR, Brasil. Rua Gal. Carneiro 181 - 6º Andar da Maternidade do Hospital de Clínicas 2 Acadêmico do curso de Medicina da UFPR, Curitiba, PR, Brasil. da UFPR. Centro. 80060-150 - Curitiba, PR – Brasil. 3 Professor-adjunto-doutor do Departamento de Patologia Médica do Hospital de Clínicas, UFPR, E-mail: [email protected] Curitiba, PR, Brasil. Recebido em 28/08/2009 Aceito com modificações: 10/10/2009 76 Professora-adjunta-doutora do Departamento de Tocoginecologia do Hospital de Clínicas, Univer- Zanine RM et al. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, a incidência do carcinoma escamoso anal vem aumentando consideravelmente, particularmente entre as mulheres1-2. Assim como em outras neoplasias do trato genital inferior, sua etiologia vem sendo relacionada à presença do Papilomavírus humano (HPV ) e acredita-se que as neoplasias intraepiteliais anais (NIA) sejam lesões precursoras deste carcinoma3-8. Já é bem estabelecido que a incidência de NIA e câncer anal é maior em alguns grupos do que na população em geral, como em homens homo e bissexuais HIV positivos8-9. Em mulheres saudáveis, podem ser citados como fatores de risco relacionados à NIA e carcinoma anal a presença de HPV no canal anal, infecção persistente por HPV oncogênico, idade precoce de início da atividade sexual, número elevado de parceiros sexuais, história de relação sexual anal, tabagismo e história de verrugas genitais, particularmente verrugas anais5,6,10-12. Desta forma, seus fatores de risco parecem ser semelhantes ao relacionados com o aparecimento de neoplasia intraepitelial escamosa de colo uterino (NIC), e estudos prévios mostram maior risco de desenvolvimento de NIA em mulheres com NIC 6,13-19. O rastreamento citológico de rotina para detecção de câncer cervical e lesões precursoras, seguido do tratamento da NIC II e III, proporcionou redução substancial na incidência de carcinoma cervical invasivo. De forma semelhante aos modelos de rastreamento das lesões de colo, esfregaços anais vêm sendo utilizados de forma satisfatória para realizar o rastreamento das lesões anais, selecionando os pacientes com necessidade de realizarem colposcopia anal e biópsia, bem como tratamento das lesões precursoras 20-21. Enquanto os estudos estão avançados em relação ao gênero masculino, existe escassez de dados na literatura em relação ao grupo de mulheres que seriam beneficiadas pelo rastreamento anal e sua correlação com a citologia cervicovaginal. Este estudo foi realizado com o objetivo de identificar a prevalência da lesão citológica anal entre dois grupos de mulheres: com e sem anormalidade citológica cervicovaginal. patologista segundo os critérios do sistema Bethesda. Correlacionou-se os resultados da citologia anal aos exames de citologia oncótica cervicovaginal e, quando realizadas, aos resultados de biópsias. Para a análise estatística dos dados obtidos foi utilizado o teste de Qui-Quadrado (c2), através do software estatístico SAS. RESULTADOS As características das pacientes do grupo controle e do grupo estudo podem ser vistas na tabela 1. CASUÍSTICA E MÉTODOS Foram selecionadas 80 mulheres entre 13 e 70 anos, sem distinção de raça ou grupo social, atendidas no Ambulatório de Ginecologia do Serviço de Tocoginecologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do HC/UFPR (CEP: 1796.213/2008-10). Todas as mulheres participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídas do estudo pacientes com menos de 13 ou mais de 70 anos, pacientes virgens, gestantes e aquelas com doença anal maligna ou invasora. Dois grupos foram formados: o grupo estudo, composto por 40 pacientes com presença de anormalidade na colpocitologia oncótica cervicovaginal e o grupo controle, constituído por 40 pacientes sem história de alteração de colpocitologia oncótica prévia e sem história prévia de infecção por HPV. Todas as pacientes foram submetidas à coleta de citologia oncótica de canal anal. O material foi obtido utilizando-se escova cervical (Cytobrush) inserida cerca de 2,0 cm no canal anal e girada 360° duas vezes. Este material foi imediatamente fixado em álcool absoluto e enviado ao Laboratório de Citologia e de Técnica Histológica do Serviço de Anatomia Patológica do HC-UFPR. Todas as amostras foram coradas segundo as técnicas de Papanicolaou e avaliadas pelo mesmo médico A média etária encontrada no grupo estudo foi de 32 anos e no grupo controle de 40 anos. Quatro pacientes (10,0%) do grupo estudo apresentaram verrugas genitais e três pacientes (7,5%) apresentaram imunossupressão, sendo uma delas usuária de medicação imunossupressora devido a transplante hepático e as outras duas por possuírem doenças autoimunes. Nenhuma paciente do grupo controle apresentava imunossupressão ou verrugas genitais. Em relação ao número de gestações, 35 pacientes (87,5%) do grupo estudo e 34 (85,0%) do grupo controle haviam gestado pelo menos uma vez. Quatorze pacientes (35%) do grupo estudo e nove (22,5%) do grupo controle eram tabagistas. O número médio de parceiros sexuais foi de quatro para o grupo estudo e de dois para o controle, e a média etária de início da atividade sexual foi de 16 anos para o grupo estudo e de 18 anos para o grupo controle. A prática de atividade sexual anal foi relatada por 18 pacientes (45%) do grupo estudo e 11 (27,5%) do controle. Dentre as anormalidades citológicas cervicovaginais encontradas nas mulheres que compunham o grupo estudo, três (7,5%) apresentaram ASCUS, 12 (30,0%) lesão intraepitelial de baixo grau e 25 (62,5%) lesão intraepitelial de alto grau. Todas estas pacientes foram submetidas à colposcopia e, em 28 delas (70,0%), foram realizadas biópsias dirigidas Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 76-79 77 Zanine RM et al. da zona de transformação anormal. Destas, cinco (12,5%) demonstraram lesão intraepitelial de baixo grau, 21 (52,5%) lesão intraepitelial de alto grau e em duas (5,0%) a biópsia foi negativa (tabela 2). na citologia de canal anal com a gravidade citológica das lesões cervicais. Dentre as sete citologias anais alteradas no grupo estudo, seis foram encontradas em pacientes com lesão intraepitelial de alto grau na citologia cervical (e confirmadas pela biópsia) e um caso em uma paciente que apresentava lesão intraepitelial de baixo grau apenas à citologia cervical. DISCUSSÃO Em relação à citologia anal no grupo estudo, 26 (65,0%) foram negativas para malignidade, seis (15,0%) demonstraram ASCUS, uma (2,5%) lesão intraepitelial de baixo grau (NIC I) e sete (17,5%) foram insatisfatórias. No grupo controle, 33 amostras (82,5%) foram negativas, uma (2,5%) demonstrou ASCUS e seis (15%) foram insatisfatórias. O número de amostras insatisfatórias foi equivalente entre os dois grupos. A análise estatística destes dados demonstrou que a prevalência de alterações na citologia anal foi significativamente maior nas amostras das pacientes do grupo estudo em relação às do grupo controle (pvalor = 0,0416) (Figura 1). Figura 1: Análise da citologia oncótica de canal anal nos dois grupos. Correlacionou-se também a gravidade das lesões encontradas 78 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 76-79 Demonstramos neste estudo que mulheres com anormalidade citológica cervicovaginal, particularmente a lesão intraepitelial de alto grau, apresentam risco significativamente maior de desenvolverem alterações na citologia de canal anal em relação às mulheres sem doença. A prevalência de alteração citológica anal no grupo estudo foi de 17,5% em comparação a 2,5% no grupo controle. Estes resultados confirmam o que já havia sido descrito anteriormente por outros autores. Giraldo et al. 19, analisando um grupo de 184 pacientes com diagnóstico histológico de lesão escamosa intraepitelial genital através de anuscopia e biópsia anal, encontraram lesão escamosa intraepitelial anal em 17,4% dos casos, e em apenas 2,6 % das pacientes do grupo controle. Ao analisar um grupo de 152 mulheres com NIC de alto grau histológico, Scholefield et al. 15 encontraram evidências histológicas de NIA em 29 (19%) delas, mas em nenhuma das pacientes do grupo controle. Um grande estudo de coorte realizado na Suécia, com população de mais de 3,7 milhões de mulheres, demonstrou associação consistente entre história de NIC III e carcinoma de ânus 18. Holly et al. 6 demonstraram também numa população de mulheres com HIV um risco maior para anormalidades na citologia anal em pacientes que apresentavam citologia cervical alterada, sendo que este risco estava aumentado quanto maior a gravidade das anormalidades encontradas no material cervical. Descreveu-se também que a infecção anal pelo HPV parece ser mais frequente em mulheres com diagnóstico de NIC. Véo et al. 13 encontraram risco de detecção do HPV no canal anal 3,5 vezes maior em mulheres com NIC III em relação ao controle. Hernandez et al. 16 demonstraram que mulheres com infecção cervical pelo HPV tinham três vezes mais risco de apresentar infecção anal concomitante, sendo que 13% das 1.363 mulheres estudadas estavam infectadas em ambos os sítios anatômicos. Nosso estudo analisou 80 amostras de citologia oncótica de canal anal. Em 13 (16,25%) delas o material foi insatisfatório para análise, sendo o número de amostras insatisfatórias semelhante entre os dois grupos. Como as coletas foram feitas por diferentes profissionais, acreditamos que a inexperiência de alguns deles em realizar este tipo procedimento e que também a falta de consenso na literatura médica sobre a metodologia ideal para coleta de material anal possam explicar este número de amostras insatisfatórias. Entre as amostras de citologia anal, oito demonstraram alterações, sendo que em sete delas foi encontrado ASCUS e em uma delas lesão intraepitelial de baixo grau. Ao realizar-se a coleta de material anal com a escova cervical, é necessário que as pregas glúteas sejam adequadamente afastadas, e que a escova seja inserida corretamente no canal anal, de forma que se obtenha um material adequado. A coleta de células queratinizadas da borda anal pode dificultar a análise da amostra pelo patologista, levando-o a interpretar o material visualizado como ASCUS. Não podemos descartar, portanto, que tenha havido um viés na coleta e interpretação destas amostras, resultando no número encontrado de citologias anais demonstrando ASCUS. Zanine RM et al. Neste estudo, mulheres com anormalidade citológica cervical, particularmente as com lesão intraepitelial de alto grau, apresentaram risco significativamente maior de desenvolverem alterações na citologia de canal anal em relação às mulheres sem doença (p-valor = 0,0416). Os autores sugerem que a análise de maior número de casos poderia levar ao maior conhecimento a respeito das características das NIA em mulheres diagnosticadas com lesão genital por HPV em nosso meio, auxiliando o entendimento das indicações para a realização de rastreamento com coleta de material anal nestas pacientes. Referências 1. Frisch M, Melbye M, Moller H. Trends in incidence of anal cancer in Denmark. BMJ 1993;306:419-22. 2. Melbye M, Rabkin C, Frisch M, Biggar RJ. Changing patterns of anal cancer incidence in the United States, 1940–1989. Am J Epidemiol 1994;139:772-80. 3. Schiffman M, Kjaer SK. Natural history of anogenital human papilomavirus infection and neoplasia. J Natl Cancer Inst Monogr 2003;2003:14–9. 4. Frisch M, Glimelius B, van den Brule AJ, Wohlfahrt J, Meijer CJ, Walboomers JM, et al. Sexually transmitted infection as a cause of anal cancer. N Engl J Med 1997;337:1350–58. 5. Daling JR, Madeleine MM, Johnson LG, Schwartz SM, Shera KA, Wurscher MA, et al. Human papillomavirus, smoking, and sexual practices in the etiology of anal cancer. Cancer 2004;101:270-80. 6. Holly EA, Ralston ML, Darragh TM, Greenblatt RM, Jay N, Palefsky JM. Prevalence and risk factors for anal squamous intraepithelial lesions in women. J Natl Cancer Inst 2001;93:843-9. 7. Vuyst H, Clifford GM, Nascimento MC, Madeleine MM, Franceschi S. Prevalence and type distribution of human papillomavirus in carcinoma and intraepithelial neoplasia of the vulva, vagina and anus: A meta-analysis. Int J Cancer. 2009;124:1626-36. 8. Nadal SR, Manzione CR. Papilomavirus Humano e o Câncer Anal. Rev bras Coloproct 2006;26:204-7. 9. Frisch M, Biggar RJ, Goedert JJ. Human papillomavirus-associated cancers in patients with human immunodeficiency virus infection and acquired immunodeficiency syndrome. J Natl Cancer Inst 2000;92:1500-10. 10. Moscicki AB, Hills NK, Shiboski S, Darragh TM, Jay N, Powell K, et al. Risk factors for abnormal anal cytology in young heterosexual women. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 1999;8:173-8. 12. Hessol NA, Holly EA, Efird JT, Minkoff H, Schowalter K, Darragh TM, et al. Anal intraepithelial neoplasia in a multisite study of HIV-infected and high-risk HIV-uninfected women. AIDS 2009;23:59–70. 13. Véo CAR, Saada SS, Nicolau SM, Melani AG, Denadai MV. Study on the prevalence of human papillomavirus in the anal canal of women with cervical intraepithelial neoplasia grade III. Eur J Obstet Gynecol. 2008;140:103-7. 14. Melbye M, Sprogel P. Aetiological parallel between anal cancer and cervical cancer. Lancet 1991;338:657–9. 15. Scholefield JH, Hickson WG, Smith JH, Rogers K, Sharp F. Anal intraepithelial neoplasia: a part of a multifocal disease process. Lancet 1992;340:1271-3. 16. Hernandez B, McDuffie K, Zhu X, Wilkens LR, Killeen J, Kessel B, et al. Anal human papillomavirus infection in women and its relationship with cervical infection. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev. 2005;14:2550-6. 17. Hemminki K, Dong C, Vaittinen P. 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Human papillomavirus infection and abnormal cytology of the anus in HIV-infected and uninfected adolescents. AIDS 2003;17:311-20. Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 76-79 79 artigo ORIGINAL Identificação e quantificação de células de defesa na mucosa vaginal de mulheres com vaginose bacteriana, candidíase vaginal e sem vulvovaginites Identification and quantification of defense cells in vaginal mucosa of women with bacterial vaginosis, vaginal candidiasis and without vulvovaginitis Sandra Baptista do Nascimento Feitoza1, Paulo Cesar Giraldo2, Ana Katherine da Silveira Gonçalves3, Rose Luce Gomes do Amaral4, José Eleutério Jr5, Andréia Tristão6, Maria Conceição de Mesquita Cornetta7 RESUMO Objetivo: Investigar e comparar as células de defesa presentes na mucosa vaginal de mulheres com vaginose bacteriana e candidíase vaginal e sem vulvovaginites. Métodos: foram avaliados esfregaços de 128 mulheres atendidas em ambulatório de infecções genitais, preparados com material proveniente da parede vaginal. As lâminas foram fixadas em álcool 95% e coradas com hematoxilina-eosina. Estudou-se sistematicamente as células do tipo neutrófilo, linfócito, macrófago, eosinófilo, e plasmócito em 32 mulheres com diagnóstico de candidíase vaginal, 32 com vaginose bacteriana e 64 sem infecção. A análise estatística foi feita utilizando-se o teste Exato de Fisher e testes não paramétricos de Kruskal-Wallis, Mann-Whitney e teste de Dunn para comparações múltiplas. Resultados: No grupo de mulheres com candidíase vaginal houve predominância de neutrófilos e linfócitos (medianas: 67,5 e 2,5), sendo esse achado significante em relação ao grupo de mulheres com vaginose bacteriana (mediana 3,0 e 0 respectivamente - p<0,01) e, com o grupo controle apenas houve significância para os neutrófilos (mediana 20,5 - p<0,01). Houve também diferenças significativas entre os controles e o grupo de mulheres com vaginose bacteriana, apenas dos neutrófilos (p<0,01). Os plasmócitos não foram vistos nos grupos vaginose bacteriana e controles e apenas uma célula foi vista no grupo com candidíase vaginal. Conclusões: É possível identificar e quantificar as células de defesa (neutrófilos, linfócitos, eosinófilos e macrófagos) do conteúdo vaginal de mulheres com e sem vulvovaginites, sendo estas células morfologicamente semelhantes às células sangüíneas. Os neutrófilos e linfócitos foram às células de defesa mais encontradas. Palavras-chave: Imunidade nas mucosas. Imunidade celular. Vulvovaginite/imunologia. Vaginose bacteriana. Candidíase vulvovaginal. ABSTRACT Objective: To investigate and compare the defense cells present in the vaginal mucosa of women with bacterial vaginosis, vaginal candidiasis and without any vulvovaginitis. Methods: Vaginal smears of 128 women attended at out-patient clinic of genital infections were evaluated in order to identify defense cells. The smears were fixed with alcohol 95% and stained with hematoxylin-eosin. It was studied systematically the cells of the type neutrophil, lymphocyte, macrophage, eosinophil, and monocyte in 32 women with diagnosis of vaginal candidiasis, 32 with bacterial vaginosis and 64 without infection. The statistical analysis was made using the Exact test of Fisher and tests no parametric of Kruskal-Wallis, Mann-Whitney and test of Dunn for multiple comparisons. Results: In the group of women with vaginal candidiasis, there was predominance of neutrophil and lymphocyte (medium: 67.5 and 25), this finding was significant in relation to the group of women with bacterial vaginosis (medium 3.0 and 0 respectively - p < 0.01). In the control group, significance was only observed for the neutrophil (medium 20.5- p < 0.01). There was also significant difference between the control group and the group of women with bacterial vaginosis, only for the neutrophil (p < 0.01). Monocytes were not seen in both groups, bacterial vaginosis and control, and just a cell was seen in the group with vaginal candidiasis. Conclusions: It is possible to identify and quantify the defense cells (neutrophil, lymphocyte, eosinophil, and macrophage) of the vaginal content of women with and without vulvovaginitis, being these cells morphologically similar to the blood cells. The neutrophil and lymphocyte were the defense cells more frequent. Key words: Immunity, mucosal. Immunity, cellular. Vulvovaginitis/immunology. Bacterial vaginosis. Candidiasis, vulvovaginal. 1 Mestre em Tocoginecologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. Endereço para correspondência: 2 Professor Livre-Docente do Departamento de Tocoginecologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. Paulo César Giraldo 3 Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Doutora em Tocoginecologia pela Universidade Estadual Rua Dom Francisco de Campos Barreto, 145. de Campinas, Natal, RN, Brasil. Campinas - São Paulo, Brasil. CEP: 13092-160 4 Mestre em Tocoginecologia, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brasil. Email: [email protected] 5 Professor Adjunto da Universidade Federal do Ceará. Doutor em Tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas, Fortaleza, CE, Brasil. Recebido em 06/09/2009 6 Mestre em ginecologia – Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil. Aceito com modificações: 11/10/2009 7 Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Doutora em Obstetrícia pela Universidade Federal de São Paulo, Natal, RN, Brasil. 80 Feitoza SBN, et al INTRODUÇÃO Os mecanismos de defesa das mucosas em geral e em especial o da vaginal têm se revestido de especial importância no entendimento da fisiopatogênese das infecções genitais femininas, principalmente após o aparecimento da epidemia da AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida). As alterações locais por processos inflamatórios, independentes do agente causal, aumentam a predisposição à infecção pelo HIV mesmo nas mulheres com atividade heterossexual estável e monogâmica1,2. A resposta imune celular é talvez um dos principais mecanismos de proteção da mucosa vaginal mediante desenvolvimento de resposta imune local. O controle do crescimento bacteriano, fúngico e viral se fazem principalmente pela resposta imune tecidual, sendo esta função desenvolvida pelas células de defesa dos tecidos genitais, mediante a ativação de vários processos como a opsonização, a fagocitose e a produção de imunoglobulinas entre outros. Qualquer alteração descontrolada poderá favorecer a proliferação de microorganismos, que deixarão de ser agentes comensais passando a atuar como patógenos. A instalação das vulvovaginites e principalmente a sua recorrência, devem-se principalmente às alterações da imunidade local do hospedeiro 1,3. Básica e sucintamente falando, existem dois tipos de resposta imune: a inata (inespecífica) e a adaptativa (específica). Durante a resposta imune inata são recrutadas células de atividade fagocitária (neutrófilos, macrófagos, monócitos), célula natural “killer”, as inflamatórias (mastócitos, basófilos, eosinófilos) e as apresentadoras de antígenos (células dendríticas, macrófagos, células B). Durante a resposta inespecífica ocorrem produção e liberação de citocinas que ativarão outros tipos celulares, como os linfócitos, que por sua vez, são os responsáveis pela ativação da resposta imune específica humoral e ou celular 3-5. Apesar dos mecanismos celulares locais de defesa da mucosa vaginal estarem bem definidos, os mecanismos de instalação dos processos infecciosos na mucosa vaginal (vulvovaginites), ainda não estão totalmente compreendidos. Na dependência da relação com o hospedeiro, a Candida albicans pode atuar como comensal ou agente agressor 6. A sintomatologia será determinada principalmente pela resposta intensidade da resposta inflamatória que poderá variar na dependência da quantidade e da qualidade do patógeno7. A fagocitose é o principal mecanismo pelo qual o fungo é destruído pelos neutrófilos e às vezes, para as hifas de maior tamanho é necessário que as células fagocíticas liberem substâncias proteolíticas no ambiente para destruílas. Os antígenos dos fungos que foram destruídos promovem ativação dos linfócitos T, acentuando ainda mais a resposta imune celular 3,8. Na falha desta, com a exposição ao antígeno, ocorre predomínio de resposta humoral e produção de anticorpos do tipo IgE pelos mastócitos presentes na membrana basal. A presença de alérgenos no lúmen vaginal e seu transporte através dos canais interepiteliais propiciam a produção de IgE específica que induz a de granulação dos mastócitos com liberação de histamina e mediadores inflamatórios culminando com episódios de candidíase recorrente 9. Algumas mulheres podem desenvolver reação de hipersensibilidade ao sêmen ou a componentes alergênicos ingeridos pelo parceiro, o que determina produção de prostaglandina E2 pelos macrófagos com diminuição transitória da imunidade celular mediada e recorrência da infecção fúngica. Nestes casos, a resposta imune inadequada pode ser decorrente de constituintes genéticos de cada indivíduo. Se houver produção diminuída de citocina (IL1), ocorre redução da resposta imune do tipo celular havendo então dificuldade de erradicar a Candida albicans 9. Nos casos de vulvovaginites por Trichomonas vaginalis (TV ) o principal mecanismo de controle é a fagocitose pelos neutrófilos que são estimulados pelos linfócitos T10,11. O TV possui a capacidade de fagocitar os lactobacilos, o que altera o pH vaginal tornando-o básico e deixando o local mais apropriado para a sua sobrevivência. Além disso, ele também atua sobre as células epiteliais vaginais mediante contato direto, provocando a lise celular para obter material nutriente 12. Talvez seja por essa razão que em esfregaços citológicos de pacientes com tricomoníase ocorra uma agregação de leucócitos na superfície das células epiteliais chamada de “Cannon ball”. Esse achado pode significar uma tentativa de proteção do epitélio contra o agente agressor13. Na vaginose bacteriana (VB) encontram-se as células guia (“clue cells” - células epiteliais recobertas por Gardnerella vaginalis , dando aspecto de “rendilhado”), e “comma cells” ( Mobilluncus sp recobrindo as células epiteliais), achados sugestivos da infecção, na qual se observa um número pequeno ou até inexistente de leucócitos13,14. A ausência de processo inflamatório ocorre porque provavelmente a Gardnerella vaginalis assim como o Mobilluncus sp e as outras bactérias que fazem parte desta síndrome são constituintes da microbiota normal da vagina mesmo se estiverem em grande número 15. Existem indícios que a flora anaeróbica predominante na VB estimula a expressão do HIV nos macrófagos e nos linfócitos T16. Até o presente momento não existem estudos que estabeleçam uma correlação clara entre os diferentes tipos de vulvovaginites e as células responsáveis pela proteção do epitélio vaginal. Para melhor compreensão das alterações imunológicas locais, faz-se necessário determinar o padrão de células do sistema imune presentes na mucosa vaginal normal e durante o processo infeccioso. O presente estudo propõe identificar e quantificar as células de defesa no conteúdo vaginal de mulheres portadoras de vulvovaginites, para talvez no futuro ajudar no diagnóstico destas infecções. CASUÍSTICA E MÉTODO Com a finalidade de tentar identificar e quantificar as células de defesa do organismo, presentes das mucosas, selecionaram-se mulheres com corrimento vaginal, atendidas em ambulatório especializado de doenças sexualmente transmissíveis, no período de junho a dezembro de 2001. Após informação sobre as propostas do estudo, todas aceitaram voluntariamente fazer parte da pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídas as mulheres com doença crônica degenerativa, usuárias de qualquer tipo de medicação, exceto anticoncepcional hormonal oral e injetável, e também de drogas imunossupressoras. Também não participaram da pesquisa as que tinham suspeita ou confirmação de gravidez ou de DST no momento do exame ginecológico, além daquelas que faziam uso de espermicidas e de antibiótico há menos de 30 dias. As mulheres que tiveram relação sexual, as que usaram ducha vaginal há menos de 24 horas ou estavam menstruadas, também foram excluídas. Foram constituídos dois grupos de mulheres, sendo 64 com queixa de corrimento genital e 64 sem qualquer sintomatologia. A presença de infecção foi definida através da correlação entre os achados do exame ginecológico, medida de pH vaginal, teste de whiff e exame bacterioscópico a fresco e corado pelo Gram. Das 64 pacientes pertencentes ao grupo de estudo, 32 apresentaram resultados compatíveis com VB e 32 com candidíase vaginal (CV ). Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 80-83 81 Feitoza SBN, et al Técnicas, testes e exames. - Mensuração de pH. A mensuração da acidez vaginal foi realizada por meio de fita colorimétrico da marca MERCK® (com variação de 3 a 7), colocada na parede lateral direita da vagina, em seu terço superior, evitando-se o contato com o muco cervical. - Teste das aminas: foi coletado material do conteúdo vaginal, colocado em uma lâmina onde foram adicionadas duas gotas de KOH para observação do desprendimento de aminas aromáticas. - Exame bacterioscópico do conteúdo vaginal foi realizado após a colocação do conteúdo vaginal em duas lâminas de vidro. A primeira lâmina foi deixada secar ao ar livre para realização da coloração de Gram e sobre a segunda lâmina, foi adicionado uma gota de solução salina, para a leitura a fresco do material, sob observação em microscopia óptica. - Exame de identificação citológica (coloração em Hematoxilina – Eosina): para sistematizar e homogeneizar os exames de identificação das células de defesa, uma lâmina de vidro quadriculada de pequena espessura foi sobreposta à lâmina com material corado. Por convenção a parte fosca da lâmina foi colocada no microscópio, à direita e utilizado um aumento de 40X para todas as células. Procedeu-se à leitura das lâminas escolhendo-se o melhor campo para contagem, sendo o critério de escolha o local com maior concentração de células de defesa onde fosse possível a leitura. Foram analisadas 10 campos por lâmina. Quando houve necessidade de confirmação do tipo de célula de defesa, foi usada objetiva de imersão (aumento de 100X) no ponto desejado, voltando-se à objetiva anterior e prosseguindo-se a contagem. Procurou-se identificar e quantificar as seguintes células: neutrófilos, eosinófilos, macrófagos, mastócitos, além de células epiteliais vaginais descamativas. As lâminas foram revisadas por três citopatologistas de formação acadêmica. Casos discrepantes foram excluídos. Criou-se um programa de consistência de dados e a digitação foi feita por verificação manual, com duas revisões pelo pesquisador antes da transferência para o programa SAS (Statistical Analysis System). Para a análise estatística foram aplicados o teste de Kruskal-Wallis e o de Dunn para comparações múltiplas. O nível de significância utilizado foi de 5% (p=0,05). O projeto foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética da instituição em que foi realizado. RESULTADO Observou-se que houve predominância de neutrófilos seguida de linfócitos nos três grupos estudados. Os neutrófilos apareceram em maior número no grupo das pacientes com CV cujo valor da mediana foi de 67, 5, mínimo 0 e máximo 1063, seguido do grupo controle com mediana de 20,5, mínimo 0 e máximo 364 e em menor quantidade no grupo de VB com valor da mediana de 3,0, mínimo 0 e máximo 526. Estes dados foram estatisticamente significativos (p<0,01). Os eosinófilos, macrófagos e plasmócitos também foram encontrados nos esfregaços vaginais. Os valores obtidos no grupo de CV foram respectivamente: eosinófilos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 8, macrófagos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 15 e plasmócitos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 1. No grupo de VB a quantidade observada também foi pequena, com eosinófilos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 15; macrófagos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 3 e plasmócitos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 0. O grupo controle teve igualmente 82 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 80-83 pequena quantidade de cada uma destas células. Eosinófilos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 1; macrófagos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 1 e plasmócitos: mediana 0, mínimo 0 e máximo 0, não sendo, portanto estatisticamente significativo (p=0,82; p=0,29; p=0,22). Os plasmócitos não foram encontrados nos grupos das pacientes portadoras de VB e no grupo de controles e apenas uma célula foi vista no grupo das pacientes portadoras de CV (Tabela 1). DISCUSSÃO Existem fatores envolvidos na gênese das vulvovaginites que ainda não estão bem definidos. Provavelmente os fatores intrínsecos de cada mulher são mais importantes na ocorrência da infecção que a simples presença do agente agressor no epitélio vaginal. É interessante notar que algumas mulheres raramente apresentam vulvovaginites em nítido contraste com outras que apresentam repetidos episódios agudos. Fatos como estes sugerem fortemente que a resposta imune da mucosa vaginal possa ser fator decisivo na instalação do processo infeccioso8. Ao analisarmos as células de defesa das pacientes estudadas, observamos claramente a possibilidade de identificar e quantificar as células de defesa deste epitélio, da mesma forma que se pode estudar a composição da flora vaginal. Infelizmente o estudo das células de defesa na mucosa vaginal não tem sido usado para ajudar na identificação das doenças vaginais. A presença de células de defesa no sangue tem sido exaustivamente explorada para a identificação de processos infecciosos sistêmicos, sejam virais, bacterianos ou fúngicos. Da mesma forma, o estudo destas células tem ajudado no raciocínio médico para a identificação e caracterização de doenças, como por exemplo, na análise do liquor cefalorraquidiano, do conteúdo gastresofágico ou da mucosa traqueobrônquica. Infelizmente, o diagnóstico das vulvovaginites e das outras doenças vaginais tem levado em consideração apenas a análise da microflora vaginal, desconsiderando a presença das células de defesa. Da mesma forma, o exame de citologia oncológica para identificação de lesões pré-neoplásicas do colo uterino, apesar de relatar a presença de processo inflamatório, o faz de forma subjetiva e considera todas as células de defesa como se fossem polimorfos nucleares neutrófilos. A análise do nosso material mostrou claramente que é factível identificar a presença destas células na mucosa vaginal e que elas variam conforme as diferentes infecções, sugerindo que a quantificação sistemática poderia se tornar um bom método para ajudar no diagnóstico das doenças vaginais. Os neutrófilos foram encontrados mais freqüentemente nos três grupos de mulheres estudadas, porém, foi na CV que a presença destas células foi significativamente maior, mostrando sua importante participação no combate a esta infecção. Esse achado é concordante com a literatura, que refere serem os neutrófilos as principais células controladoras da infecção fúngica 14,16. Apesar dos linfócitos T terem sido mais encontrados no grupo de mulheres com CV, não houve diferença significativa quando comparado ao grupo controle. Estudo experimental em ratas infectadas por fungo analisou que o número destas células na vagina não se modifica, seja em infecções primárias ou em reinfecções, porém estão funcionalmente ativas e provavelmente ficam mais nos tecidos que propriamente liberados para a luz vaginal. Na presença de Candida sp, os linfócitos produzem nos tecidos, uma quantidade maior de interleucinas que determinaram uma grande Feitoza SBN, et al migração de leucócitos para o local, sendo liberados para a luz vaginal, a fim de controlar crescimento fúngico16. Na infecção vaginal pela Candida albicans, os anticorpos parecem não atuar diretamente nos mecanismos de defesa. Estudo com modelo em ratas analisando a quantidade de imunoglobulinas IgA, IgM e IgG em lavados vaginais dos animais infectados (com primo infecção e infecção secundária), evidenciou que os anticorpos existem em concentrações extremamente baixas mesmo na presença do agente agressor, mostrando que as imunoglobulinas não atuam de forma ativa no controle da infecção 17. Podem-se encontrar ainda vários macrófagos nos três grupos de mulheres estudadas, apesar de não ter sido visto diferenças significativas nos grupos estudados18. Houve diminuição das células de defesa na mucosa vaginal de mulheres com VB em relação ao grupo de CV e ao grupo controle. Ainda não está claro e definido se a Gardnerella vaginalis e o predomínio das bactérias anaeróbias poderiam liberar substâncias inibidoras do processo inflamatório ou se as mulheres portadoras de VB seriam incapazes de reagir apropriadamente ao estímulo bacteriano. Os achados atuais deste estudo permitem concluir ser possível a identificação e quantificação das células de defesa (neutrófilos, linfócitos, eosinófilos, macrófagos e plasmócitos) no conteúdo vaginal de mulheres com e sem vulvovaginites, sendo estas células morfologicamente semelhantes às células sangüíneas. Novos estudos sobre as células de defesa do conteúdo vaginal ainda são necessários para melhor compreensão da fisiopatologia destas infecções. Referências 1. Hladik F, Hope TJ. HIV infection of the genital mucosa in women. Curr HIV/AIDS 2009;6:20-8. 2. Abbas AK, Lichtman AH, Pober JS. Cellular and molecular immunology. 5ªed. California, US: WB Saunders Press, 2003. 10. Steele C, Fidel PL. Cytokine and chemokine production by human oral and vaginal epithelial cels in response to Candida albicans. Infect immune 2002;70:577-83. 3. Roitt I, Brostoff J, Male D. Imunologia. 6ª ed. São Paulo, Brasil: Manole Press, 2003. 11. Cauci S, Driussi S, Guaschino S, Isola M, Quadrifoglio F. 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Após oito semanas, aquelas pacientes com regressão do tamanho da lesão inferior a 50% foram submetidas a tratamento com laser e naquelas com regressão ≥ 50%, o tratamento foi mantido por mais oito semanas. As pacientes foram seguidas por um período de até dois anos, observando-se índice de cura e taxa de regressão, bem como efeitos adversos do imiquimode 5%. Resultados: A média etária foi de 34 anos. Ao final de oito semanas de tratamento, 16 pacientes (64%) tiveram regressão ≥ 50%, evoluindo para remissão completa em 16 semanas; as outras nove pacientes (36%) obtiveram resposta parcial (<50%) em oito semanas e foram submetidas à vaporização com laser. O tempo médio de seguimento foi de 24 meses, sendo que apenas três pacientes apresentaram recidiva em período de até 12 meses. Conclusões: o tratamento com o creme de imiquimode 5% foi bem tolerado e possibilitou, exclusivo ou em associação com laser, tratamento efetivo e mais conservador, estando associado ao menor risco de dano estético e funcional, sem distorção da anatomia local. Palavras-chave: Vulva. Neoplasias Vulvares/terapia. Terapia a Laser. Terapia Combinada. Imunoterapia. ABSTRACT Objectives: to evaluate the effectiveness and tolerability of the imiquimod cream 5% in patients with diagnosis of high-grade vulvar intraepitelial neoplasia and the necessity of complementary treatment with carbon dioxide laser. Methods: Prospective, open label, nonrandomized and non-controlled trial including 25 patients, with age between 18 and 54 years, with histological diagnosis of high-grade intraepitelial neoplasia. All patients used imiquimod cream twice a week. After 8 weeks, those patients with regression of the lesion size < 50% were submitted to laser treatment and for those who had regression ≥ 50%, additional 8 week of imiquimod treatment was considered. The patients were followed by a period of up to 2 years, observing cure and regression rates, as well as adverse effects of imiquimod 5%. Results: The average age was 34 years. At the end of 8 weeks of treatment, 16 patients (64%) had regression ≥ 50%, evolving for complete clearance in 16 weeks; the other 9 patients (36%) had partial clearance (<50%) in 8 weeks and were submitted to laser vaporization. The average time of follow-up was 24 months; only three patients had relapse in the first period of 12 months. Conclusions: imiquimod cream 5% treatment was well-tolerated and it made possible, exclusive or combined to with laser, effective and more conservative treatment, being associated with lower risk of aesthetic and functional damage, without distortion of the local anatomy. Key words: Vulva. Vulvar Neoplasms/therapy. Laser Therapy. Combined Modality Therapy. Immunotherapy. Endereço para correspondência: Fabíola Zoppas Fridman 1 Avenida Borges de Medeiros, 453/103 – Centro – Porto Alegre Cirurgia de Alta Frequência, Mestre em Clínica Médica pela Pontifícia Universidade Católica CEP: 90020-023 F. (51) 3226-5200 do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS E-mail: [email protected] 2 Médica do Serviço de Ginecologia e Instrutora do Ambulatório de Patologia Cervical e Professora Assistente de Ginecologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Chefe do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal Recebido em 26/08/2009 Aceito com modificações em 15/01/2010 84 de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. Fridman FZ, et al INTRODUÇÃO A neoplasia intraepitelial vulvar (NIV ) é considerada lesão precursora do câncer invasivo e estima-se sua prevalência em 1/1200 mulheres acima de 15 anos. Cerca de 50% das pacientes com neoplasia vulvar têm a forma intraepitelial no momento do diagnóstico; como ainda não existem programas de rastreio, sua incidência e prevalência podem ser diferentes do estimado1,2. Como se sabe, o Papilomavírus humano (HPV ) está frequentemente associado às lesões vulvares em pacientes jovens. Estima-se cerca de 30 milhões de casos novos/ano de lesões vulvares por HPV, a maioria delas em forma de condilomas. A NIV está relacionada ao HPV em cerca de 90% dos casos 3. A International Society for the Study of Vulvar Diseases (ISSVD) publicou em 2004 uma nova classificação da NIV: tipo usual (verrucoide, basaloide e mista) e tipo diferenciada 4,5 . A NIV tipo usual substitui a terminologia antiga de NIV II e III relacionadas ao HPV. Estas lesões são frequentemente tratadas, mesmo quando assintomáticas, pois apresentam risco de evolução para lesão invasora, em probabilidade variável de 4 a 18% de acordo com as suas características clínicas4. O tratamento da NIV pode ser feito através de vários métodos, entre eles excisional, destrutivo, uso de imunomoduladores e/ou tratamentos combinados. Os procedimentos mais utilizados são a cirurgia, o laser de dióxido de carbono (CO2), a cirurgia de alta frequência e a imunoterapia; sendo muitas vezes necessário usar métodos terapêuticos combinados 6. A excisão cirúrgica é a abordagem clássica, mas pode ocasionar deformidade na anatomia vulvar, podendo levar à cicatriz e dispareunia, embora tenha resolução imediata. Muitas vezes, procedimentos repetitivos são necessários para tratar as recorrências, que ocorrem em até 60% dos casos7. Esta patologia acomete cada vez mais mulheres jovens, com vida sexual ativa e, em muitos casos, localiza-se em regiões da vulva de difícil manejo cirúrgico. E ainda, apresenta recidiva frequente, geralmente ocasionada pela persistência do HPV ou associada a condições clínicas de imunossupressão. A depender da localização e extensão da NIV, a excisão cirúrgica pode ser mutilante. Precisa-se então, oferecer tratamento às pacientes, tendo-se o cuidado para que o mesmo não seja mais agressivo que a própria doença. A imunoterapia tem o objetivo de eliminar o vírus, com isso tratando as lesões e melhorando a imunidade local, prevenir recidivas e propiciar melhor eficácia das demais modalidades terapêuticas8. O creme de imiquimode a 5% tem alta efetividade contra infecções por HPV proporcionando modificações da resposta imune local, através de citocinas e produção de interferon, ativação de células T HPV-específicas, destruição das células infectadas pelo HPV com fagocitose pelos monócitos e macrófagos, redução da carga viral do HPV, entre outras ações. Os efeitos adversos locais são mínimos, facilmente tratados, sendo que a absorção sistêmica é inferior a 1%. As reações adversas mais comuns são vermelhidão, queimação, irritação e ulceração, a qual não é muito frequente e, todas elas, tendo rápida resolução com a suspensão temporária da aplicação do produto. Outras reações menos frequentes são febre e mialgia 8. Embora a indicação aprovada no Brasil para o creme de imiquimode inclua apenas o tratamento de verrugas genitais, o imiquimode já está sendo usado em vários estudos e séries de casos como opção terapêutica única ou como tratamento adjuvante para a NIV, ainda com resultados definitivos a serem conhecidos, porém promissores8-10. Baseado em estudos anteriores sobre a efetividade do creme de imiquimode 5% nas infecções clínicas pelo HPV, foram avaliadas sua eficácia e tolerabilidade no tratamento da NIV. MÉTODOS Estudo clínico aberto, prospectivo, não controlado e não randomizado realizado no período de maio de 2005 a dezembro de 2007, no Setor de Oncologia Ginecológica e Patologia Cervical do Complexo Hospitalar Santa Casa, Porto Alegre – RS. Foram selecionadas 25 pacientes encaminhadas ao ambulatório de doenças da vulva de forma aleatória, com diagnóstico histológico de NIV de alto grau. Destas, 10 pacientes (40%) apresentavam carcinoma in situ e 15 pacientes (60%) apresentavam NIV II e III. Optou-se por manter a terminologia antiga, pois é a que foi utilizada para a descrição dos resultados anatomopatológicos quando da realização do estudo. A faixa etária variou de 18 a 54 anos, com média etária de 34 anos. Destas, nove pacientes (36%) apresentavam algum grau de imunossupressão, mas nenhuma tinha positividade para HIV. Entre as patologias associadas à imunossupressão estavam lúpus eritematoso sistêmico, psoríase, doença de Crohn, esclerose múltipla e cinco transplantadas renais. Do total de 25 pacientes, 11 eram tabagistas, fumando em média 10 a 15 cigarros/dia. As pacientes foram submetidas a avaliação colposcópica completa de todo o trato genital inferior e área perianal, com biópsia direta das áreas suspeitas, sendo excluída a possibilidade de carcinoma invasor. As pacientes foram orientadas a aplicar o creme de imiquimode a 5% em frequência de duas vezes por semana por um período de oito semanas, sendo reavaliadas em relação à eficácia (regressão clínica das lesões) e tolerabilidade (intensidade de reações adversas que limitem o uso da medicação) a cada duas semanas. Depois de oito semanas, todas as pacientes foram avaliadas quanto a manutenção da terapia com imiquimode ou troca do método terapêutico. Aquelas pacientes com regressão do tamanho da lesão inferior a 50% foram submetidas a tratamento com laser e aquelas que apresentavam regressão do tamanho da lesão ≥ 50%, o tratamento era mantido por mais oito semanas. As pacientes foram seguidas por um período de até dois anos, observando-se índice de cura (resposta total com regressão da lesão) e taxa de regressão (resposta parcial maior ou menor que 50%), bem como os efeitos adversos do imiquimode 5%. Foram realizadas consultas a cada três meses, com anamnese e exame ginecológico com vulvoscopia. RESULTADOS Os dados são apresentados de forma descritiva e comparativa entre as pacientes. Ao final de oito semanas de tratamento, 16 pacientes (64%) tiveram regressão ≥ 50%, evoluindo para regressão completa da doença em 16 semanas; as outras nove pacientes (36%) tiveram resposta parcial (<50%) em oito semanas e foram submetidas à vaporização com laser de CO2. Este grupo das mulheres obteve resposta completa em período de reavaliação de 30 a 60 dias após o tratamento com laser de CO2. Não se encontrou diferença entre o grau de resposta e a taxa de regressão em período de oito ou 16 semanas entre as pacientes previamente hígidas e aquelas com algum grau de imunossupressão. Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 84-87 85 Fridman FZ, et al O tempo médio de seguimento foi de 24 meses, sendo que apenas três pacientes (12%) apresentaram recidiva em período de até 12 meses, sendo tratadas novamente com creme de imiquimode a 5% e laser de CO2. Todas estas três pacientes que recidivaram apresentavam doença imunossupressora concomitante (lúpus eritematoso sistêmico, psoríase e uma paciente era transplantada renal). Não foi possível avaliar recidiva em todas as pacientes após 24 meses porque apenas dez pacientes mantiveram seguimento, entre elas quatro imunodeprimidas, sendo que apenas uma paciente apresentou doença de difícil controle (fazia uso crônico de corticoide via oral em doses altas para doença de Crohn). A maioria dos casos de recidiva recente ou tardia ocorreu em pacientes com imunossupressão e em período de até 12 meses do tratamento inicial. De forma geral, o tratamento foi bem tolerado e não houve necessidade de redução da dose e/ou frequência das aplicações devido à hiperemia e ardência vulvar, os quais foram os efeitos adversos mais frequentes. Três pacientes (12%) tiveram reações locais, sendo orientadas a suspender a aplicação por sete dias. No entanto, nestes casos de eventos adversos a intensidade foi leve e o tratamento foi fácil (suspensão temporária do imiquimode 5%). Uma paciente apresentou, 24 horas depois da segunda aplicação, sintomas tipo “flu-like síndrome”, com melhora apenas com tratamento sintomático. DISCUSSÃO Vários estudos têm observado importante resposta na taxa de regressão da NIV com o uso do creme de imiquimode 5%. Em nosso estudo, o uso do imiquimode 5% por oito semanas resultou em cura clínica em 64% das pacientes e resposta parcial em 36% dos casos. Uma das possíveis críticas ao nosso estudo é o período estabelecido de oito semanas para avaliação quanto à mudança de terapia e realização de laser CO2. Este período foi adotado após análise da literatura que mostra que o tempo médio de resposta é de 2 meses11. Haidopoulos et al.12 mostraram em seu estudo que 40% das mulheres apresentou resposta completa nas seis primeiras semanas de tratamento. Le et al. 8 tiveram remissão completa em cerca de 50% das pacientes e o tempo médio foi de sete semanas; nas pacientes que apresentaram remissão parcial foi utilizado laser de CO2. Em publicação posterior, os mesmos autores observaram regressão sempre superior a 25% em todos os casos tratados com imiquimode, variando de 28% até regressão completa em tempo médio de até 16 semanas13. Nas lesões queratinizadas associadas ao HPV pode se obter melhores resultados com o tratamento a laser das lesões residuais, pois nestes locais a carga viral do HPV é muito baixa, o que pode dificultar o reconhecimento pelas células T8-10. Outro tema ainda em discussão é o regime ideal de dose empregada; existe diminuição dos efeitos colaterais quando as aplicações são realizadas duas vezes por semana quando comparadas a dose padrão de três vezes por semana13,14. Parece ser interessante usar regime de dose escalonada, como por exemplo, iniciar o tratamento com uma aplicação por semana e a cada duas semanas aumentar uma aplicação, mantendo após 45 dias, três aplicações por semana 14. Entretanto, os resultados foram limitados no estudo em que a frequência da dose utilizada foi uma aplicação semanal 15. Os autores justificaram esta redução da dose para tentar reduzir efeitos colaterais vulvares. No entanto, deve-se ter ponderação nesta redução, já que o processo inflamatório local é esperado e demonstra a atividade do produto e 86 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 84-87 está associado à resposta ao tratamento. Em nosso estudo, a dose de duas vezes por semana mostrou-se efetiva e com efeitos adversos de leve intensidade. Os efeitos adversos mais frequentes foram hiperemia e ardência vulvar, em todos os casos de leve intensidade e de fácil manejo (apenas orientou-se suspender temporariamente as aplicações, em média por uma semana). É discutível se o tratamento combinado deveria ser realizado apenas com laser de CO2, visto que poderia ser empregado o tratamento excisional clássico das lesões residuais16,17. Sobre o tratamento com laser de CO2, este apresenta taxas de cura semelhantes às modalidades terapêuticas tradicionais, com o benefício de manter e preservar a função e anatomia do órgão genital, fundamental quando se trata de lesões causadas por HPV em pacientes jovens6,18. O laser não ocasiona fibrose, cicatriz ou despigmentação dos tecidos, quando corretamente indicado e realizado por profissional experiente17,18,20. O laser de CO2 apresenta algumas desvantagens, como a produção de muita fumaça durante o procedimento, a qual pode conter partículas virais, tem pouco poder para coagular vasos com diâmetro maior que 1 mm e tem alto custo do equipamento, requerendo também profissional especializado para seu uso 16,17. Sobre as complicações, vários autores relatam dor, moderada a intensa, como a mais frequente (6%), seguida de sangramento e infecção (inferior a 3%). As recidivas ficam em torno de 12 a 40% para condições associadas ao HPV19,21. A respeito das recidivas, comparando o método terapêutico empregado, Townsend et al.22 revelaram percentual de recidiva de 12% no tratamento da NIV com laser CO2, semelhante a outras modalidades terapêuticas, como a cirurgia convencional. Outros autores, como Kuppers et al.7 demonstraram recorrência em 36,6%, tanto com uso do laser de CO2 (vaporização ou excisão) como com a excisão local (cirurgia convencional). Wright et al.19 avaliaram pacientes com NIV III e demonstraram taxa de cura de aproximadamente 70% com uma única aplicação e próxima de 95% com duas aplicações de laser de CO2 (vaporização/excisão). Nosso estudo por ser não-comparativo, não consegue afirmar se o tratamento com imiquimode oferece benefício em relação à recidiva da doença. De grande interesse seria a comparação entre a duração do período livre de recorrência em pacientes tratadas com imiquimode versus aquelas tratadas com técnicas cirúrgicas. Um estudo comparativo entre laser de CO2 e tratamento com imiquimode 5% em longo prazo seria necessário para estabelecer o exato papel da imunoestimulação local neste tipo de condição clínica. Em nosso estudo, observou-se adequada resposta clínica em pacientes imunodeprimidas quando comparadas com pacientes com status imune normal, apenas podendo ocorrer recidiva mais frequente na condição clínica de imunossupressão, necessitando de tratamentos mais assíduos. Carvalho e Takimura 23, utilizando imiquimode para tratamento de mulheres com HIV, observam resposta superior ao tratamento convencional, porém inferior quando comparada ao grupo sem HIV. Embora não indicado para tratamento da NIV, pode-se observar que o imiquimode apresenta excelentes resultados nesta condição clínica até o presente momento. Estudos com maior tempo de follow-up são necessários para se definir melhor os critérios para sua utilização. O uso do imiquimode também ajuda a preservar a funcionalidade do aparelho anogenital, como relatado por Coelho et al.24, onde é possível a preservação da funcionalidade de esfíncter anal em lesão do Fridman FZ, et al ânus tratada previamente por imiquimode. Em nosso estudo, em todos os casos o creme de imiquimode permitiu a realização de tratamento mais conservador, mas efetivo, sendo exclusivo ou em associação com laser de CO2, evitando sequelas e deformidades estéticas. Devido à tendência do aparecimento da NIV em pacientes cada vez mais jovens e a grande taxa de recidiva desta doença, principalmente em mulheres com imunossupressão, é importante considerar o imiquimode como opção terapêutica única ou combinada. Referências 1. Preti M, Van Seters M, Sideri M, Van Beurden M. Squamous vulvar intraepithelial neoplasia. Clin Obstet Gynecol. 2005;48:845-61. 2. Akerman G, Dussour C, Haddad B, Paniel BJ, Rouzier R. [Epidemiology of vulvar intra-epithelial neoplasias]. 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Coelho FMP, Mano AL, Bacelar MS, Codes LMG, Souza ELQ, Azaro Filho EM. Tumor de Buschke-Lowestein: tratamento com imiquimod para preservação esfincteriana. Relato de caso. Rev Bras Coloproctol. 2008;28:342-6. Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 84-87 87 Realização: Apoio: International Federation for Cervical Pathology and Colposcopy Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Obtenha Todas as Informações Acessando o Site: w w Revw . c o l p o s c o p y 2 0 1 1 . c o m . b r Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 84-88 88 artigo de revisão Líquen plano vulvovaginal Vulvovaginal lichen planus Angelina Maia1 Resumo O líquen plano é desordem mucocutânea inflamatória autoimune que afeta a pele e mucosa. A forma anogenital é rara, acometendo cerca de 1% das mulheres, com pico de incidência dos 30 aos 60 anos de idade. No entanto, o diagnóstico do líquen plano vulvovaginal é muitas vezes difícil, sendo frequentemente confundido com outras doenças, como vulvovaginites. Esse aspecto adicionalmente ao fato de ser condição recorrente, também faz com que seu tratamento seja um desafio. Esse artigo tem como objetivo revisar os aspectos clínicos, bem como o diagnóstico e o tratamento do líquen plano vulvovaginal, uma doença que deve ser lembrada no dia-a-dia do ginecologista/ colposcopista. Palavras-chave: Líquen plano/diagnóstico. Líquen plano/terapia. Doenças da vulva. Corticosteroides. Abstract Lichen planus is an autoimmune inflammatory mucocutaneous disorder that affects skin and mucosa. The anogenital type is rare, affecting around 1% of women, with peak of incidence between 30 to 60 years-old. However, vulvovaginal lichen planus diagnosis is sometimes difficult, being frequently misdiagnosed with other diseases, like vulvovaginitis. Additionally to this fact, the disease has a recurrent character, and these become its treatment a challenge. This paper has the objective to review clinical aspects, as well as diagnosis and treatment of vulvovaginal lichen planus, a disease that should be remembered day by day in the gynecologist/colposcopist office. Keywords: Lichen planus/diagnosis. Lichen planus/therapy. Vulvar diseases. Adrenal cortex hormones. Introdução Líquen plano é uma dermatose mucocutânea inflamatória comum na clínica dermatológica e odontológica. Foi descrita pela primeira vez em 1869, por Erasmus Wilson 1 e pode envolver pele/ anexos e mucosas, separada ou simultaneamente. Em ginecologia o diagnóstico da lesão vulvar é raro. Afeta 1% das mulheres e cerca de 25% das mulheres com líquen plano oral tem envolvimento vulvovaginal 2. O pico de incidência é de 30 a 60 anos de idade 3. Sua patogênese é incerta, mas provavelmente imunológica, através de mecanismo autoimune que resulta em células T ativadas atacando os queratinócitos basais 2,4. Apresenta-se como pápulas lisas violáceas bem demarcadas na pele e/ou como placas leucoplásicas menos demarcadas na mucosa da boca e da vulva. Nesta, podem ser observados dois aspectos: lesões leucoplásicas com padrão reticular e lesões eritematosas e erosivas no vestíbulo e na vagina. Esse quadro envolvendo mucosa oral e trato anogenital foi descrito em 1982 por Monique Pelisse como síndrome vulvovaginal-gengival 5. líquen escleroso, com fusão do prepúcio do clitóris, hipotrofia e/ou atrofia dos pequenos lábios. Diferencia-se do líquen escleroso por um eritema do vestíbulo geralmente acompanhado de erosão; na periferia da erosão pode ser visto um padrão reticular leucoplásico (hiperqueratose), conhecido por estrias de Wickham (Figura 1) 6. É indispensável realizar um exame especular, podendo encontrar uma vagina eritematosa, frequentemente erosiva, com secreção serossanguinolenta, favorecendo infecções. Se frequentes, as erosões Figura 1 – Lesões vulvares do líquen plano Clínica genital O líquen plano vulvar apresenta três variantes. A forma erosiva é a mais comum e afeta vulva e vagina. A forma papuloescamosa afeta a vulva e a hipertrófica envolve o períneo e região perianal 2. A morfologia vulvar pode se apresentar modificada como no Vestíbulo eritematoso Padrão reticular leucoplástico Endereço para correspondência: Angelina Maia Recebido em 23/08/09 Rua Xavier Marques, 209 apto 1801 Aceito com modificações: 07/10/09 CEP 52050-230 – Recife – PE 1 Médica e coordenadora do Setor de Colposcopia e Trato Genital Inferior da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil. 89 Maia A. determinam aderências nas paredes vaginais com dificuldade para o coito e para o exame ginecológico, não sendo possível, ocasionalmente, visualizar o colo uterino (Figura 2) 7. Figura 2 - Líquen plano com vaginite descamativa. Exame especular: dificuldade em expor o colo Terço superior da vagina da vagina estenosada, Colo embutido e erosão Clínica extragenital Tratamento Pápulas violáceas na pele que podem ser pruriginosas; perda de cabelo; gengivite; estrias de Wickham na mucosa oral e linhas longitudinais nas unhas. O tratamento do líquen plano é realizado com o uso de corticosteroide tópico de média ou de baixa potência na vagina, como hidrocortisona, geralmente associado a antibióticos, por sete a dez noites. Com frequência, esse tratamento será repetido e se faz necessário o acompanhamento da condição vaginal no sentido de evitar aderências consequentes às erosões. Caso não haja atividade sexual é recomendável o uso de moldes e exercícios para evitar as aderências vaginais. Raramente será necessário corticoterapia sistêmica 4,8. Na vulva, caso existam sintomas, deve ser feito esquema com corticosteroide de potência alta ou muito alta, como o propionato de clobetasol 0,05% semelhante ao usado no líquen escleroso vulvar. Passar uma pequena quantidade da pomada, à noite, diariamente por um mês e noites alternadas por mais um mês. Em estudo realizado com 114 mulheres menopausadas com diagnóstico de líquen plano erosivo vulvar, o uso de corticosteroides tópicos de potência muito alta causou alívio dos sintomas em 71% dos casos e cicatrização das erosões em 50% 10. O líquen plano vulvovaginal é condição recidivante. O seguimento deve ser de longo prazo para o controle dos sintomas e pelo risco, ainda que baixo, de carcinoma de células escamosas3. Deve ser realizada biópsia em todas as lesões papulares e lesões ulcerativas que não cicatrizam. Diagnóstico O diagnóstico é clínico com confirmação histopatológica. A biópsia não deve ser feita nas áreas erosivas, mas sim em tecidos intactos da lesão, pois a inflamação prejudica a avaliação histopatológica 8. O aspecto histopatológico do líquen plano característico é a vacuolização da camada basal acompanhada por infiltrado linfoistiocitário disposto em faixa superficial, junto a alterações das camadas córnea (hiper, orto ou paraceratose), granulosa (hipergranulose por vezes em cunha), queratinócitos apoptóticos (corpos de Civatte) e alterações da zona da membrana basal (fragmentação, espessamento) 9. O diagnóstico diferencial inclui: líquen escleroso, pênfigo, penfigoide cicatricial, doença de Behçet, lúpus eritematoso, neoplasia intraepitelial vulvar, vaginite atrófica, vaginite inflamatória descamativa e reações alérgicas. No líquen escleroso, o restante da pele vulvar e perianal está frequentemente acometido enquanto a mucosa oral e vaginal não estão comumente afetadas. O líquen plano afeta mulheres adultas e a literatura não relata sua ocorrência antes da puberdade, em contraste com o líquen escleroso que é visto em crianças. Os casos típicos de líquen plano de mucosa genital possuem eritema circundado por borda reticulada, chamado de fenômeno de Wickman, como visto no líquen plano de boca e é a melhor área para realizar a biópsia para confirmação diagnóstica. O líquen plano de mucosa genital pode estar associado a lesões orais, assim, a inspeção da mucosa oral pode levar a importantes pistas diagnósticas 3,4,8. 90 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 89-91 Conclusões Líquen plano não é um diagnóstico frequente entre os ginecologistas. Alguns autores defendem que a falta de diagnóstico se deve ao desconhecimento dos sinais e sintomas da doença. O que motivou a escrever sobre o líquen plano em uma revista de colposcopia foi o fato de acreditar que muitas das colposcopias insatisfatórias, por erosões, sangramentos e infecções podem ser essa doença. Maia A. Os médicos ginecologistas e/ou colposcopistas devem ficar mais atentos a esse diagnóstico. A paciente com líquen plano com comprometimento vaginal não tratado adequadamente vai continuar a ter colposcopias insatis- fatórias, favorecendo o distanciamento dos seus exames especulares por serem sempre muito dolorosos. Vale a pena ressaltar que, devido à dispareunia de penetração, essas mulheres têm tendência a diminuir sua atividade sexual. Referências 1. Kennedy CM, Galask RP. Erosive vulvar lichen planus. Retrospective review of characteristics and outcomes in 113 patients seen in a vulvar speciality clinic. J Reprod Med. 2007;52:43-7. 6. Fischer G, Spurrett B, Fischer A. The chronically symptomatic vulva: aetiology and management. Br J Obstet Gynaecol. 1995;102:773-9. 2. Burrows LJ, Shaw HA, Goldstein AT. The vulvar dermatoses. J Sex Med. 2008;5:276-83. 7. Martell A, Sánchez F, González M, González U. Vulvoscopia en el diagnóstico de la patología vulvar. 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Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 89-91 91 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GENITOSCOPIA CURSOS DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA PARCERIA CONEXÃO MÉDICA 92 artigo de revisão Neoplasia intraepitelial vulvar escamosa Squamous vulvar intraepithelial neoplasia Adriana Bittencourt Campaner1, Fernada de Araujo Cardoso2 Resumo A neoplasia intraepitelial vulvar escamosa é entidade patológica proposta há mais de 20 anos. As modificações nos hábitos sexuais e aumento da prevalência das infecções pelo Papilomavírus humano observados nos últimos anos têm sido uma das prováveis causas para o aumento de sua incidência mundialmente. É atualmente classificada em condiloma acuminado/alterações celulares relacionadas ao HPV e neoplasia intraepitelial escamosa tipos usual, diferenciado e não classificado. Apresenta sintomatologia inespecífica e lesões de aspectos variáveis. Seu tratamento deve ser individualizado, dependendo da idade da mulher, potencial maligno, tipo, localização e extensão da lesão, e pode ser feito de diferentes maneiras: observação clínica, métodos destrutivos ou excisionais ou uso de agentes tópicos imunomoduladores. Com a introdução de novas modalidades terapêuticas, o tratamento mais conservador da neoplasia intraepitelial escamosa tem sido possível, sem alterar a anatomia vulvar. Devido às diversas sinonímias e modificações em sua terminologia, faz-se necessária a atualização sobre a classificação proposta pela Sociedade Internacional para o Estudo das Doenças Vulvares bem como dos fatores de risco, história natural, diagnóstico e tratamento. Palavras-chave: Neoplasias vulvares. Condições pré-cancerosas. Infecções por Papillomavirus. Doenças da vulva. Abstract Squamous vulvar intraepithelial neoplasia is a pathologic entity proposed more than 20 years ago. Modifications of sexual behavior and increase of Human papillomavirus infections prevalence seen in the last years are one of the possible causes for the increase in its incidence worldwide. Nowadays, it is classified into condyloma acuminatum/cellular changes related to human papillomavirus and squamous vulvar intraepithelial neoplasia, usual, differentiated and unclassified types. It presents unspecific symptomatology and lesions with variable characteristics. Its treatment should be individualized according to age, malign potential, type, location and extension of the lesion, and it could be done by different ways: expectant management, destructive or ablative methods or use of topical immunomodulators agents. With the introduction of new therapeutic options, more conservative treatment of squamous intraepithelial neoplasia has been available, without changing vulvar anatomy. Due to several synonyms and modifications in its terminology, it is necessary a review about the classification proposed by the International Society for the Study of Vulvar Diseases as well as risk factors, natural history, diagnosis and treatment. Keywords: Vulvar neoplasms. Precancerous conditions. Papillomavirus infections. Vulvar diseases. Introdução A neoplasia intraepitelial vulvar (NIV ) é entidade patológica proposta há mais de 20 anos. Antigamente era conhecida como eritroplasia de Queyrat, distrofia com atipia, carcinoma simplex, displasia condilomatosa, doença de Bowen, papulose bowenóide, entre outras, sendo que a atual denominação de NIV apresenta caracterização histológica e prognóstica mais definida1. Nos últimos anos observou-se aumento progressivo das taxas de incidência de NIV mundialmente, com estabilização das taxas do câncer invasivo de vulva. Cada vez mais mulheres jovens têm sido acometidas por NIV, provavelmente devido às modificações dos hábitos sexuais e ao aumento da prevalência de infecção pelo Papilomavírus humano (HPV ). Isso também pode explicar o maior aparecimento do câncer vulvar em faixas etárias menores2,3. Fatores de risco Entre os principais fatores de risco da NIV citam-se: distrofias vulvares, neoplasia intraepitelial cervical (NIC) e vaginal (NIVA), infecção pelo HPV, condilomas vulvares, tabagismo, imunossupressão de qualquer etiologia e antecedentes de câncer de colo uterino. Outros fatores também estão relacionados à NIV, porém sua importância é menor: dieta, hereditariedade, hábitos de higiene, atividade profissional, radiações ionizantes, determinados produtos químicos, Endereço para correspondência: Adriana Bittencourt Campaner 1 Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, Faculdade de Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), São Paulo, SP, da Santa Casa de São Paulo Brasil. Doutora; professora instrutora de ensino do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia Rua Cesário Mota Junior, 112 – Vila Buarque - CEP 01221-020 – São Paulo (SP) 2 E-mail: [email protected] SP, Brasil Pós-graduanda do departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FCMSCSP, São Paulo, Recebido em 06/04/2009 Aceito com modificações em 07/10/2009 93 Campaner AB, et al fatores ambientais, hipertensão, diabetes, doença cardiovascular, obesidade, menopausa precoce e irritação vulvar crônica. de lesão (1, 2 e 3), por analogia à NIC. Em 2004, a Sociedade Internacional para o Estudo das Doenças Vulvares (Internacional Society for the Study of Vulvar Diseases - ISSVD) atualizou a classificação da NIV escamosa, considerando que a vulva não apresenta zona de transformação como a cérvice, que a NIV2 é rara e tem fraca reprodutibilidade e que a NIV1 em geral corresponde a reações do epitélio a estímulos diversos, principalmente ao HPV (Quadro 1) 4. Patologia e história natural Há evidências clínicas e morfológicas que a NIV pode progredir para o carcinoma vulvar, bem como sofrer regressão espontânea, dependendo do tipo de lesão. A antiga classificação da NIV escamosa considerava três graus Quadro 1 – Classificação da ISSVD para NIV escamosa 4 Classificação atual (ISSVD 2004) Termos prévios substituídos (ISSVD 1986 e pregressos) Condiloma acuminado e alterações celulares relacionadas ao HPV NIV Tipo Usual - Verrucoso - Basaloide - Misto Tipo Diferenciado (previamente NIV tipo simplex) Tipo não classificado (inclui NIV do tipo Pagetoide) NIV 1 (displasia leve) A ISSVD considerou que não existem evidências sugerindo que o espectro morfológico NIV 1-3 reflita um continuum biológico, nem que NIV1 é precursor do câncer 4. NIV1 é um diagnóstico histológico que representa, na maioria das vezes, efeitos citopáticos da infecção pelo HPV e não deve ser interpretado como lesão de potencial maligno5. Desta forma, a ISSVD retirou o termo NIV1 e passou a denominar como NIV apenas as NIV2 e NIV3 (consideradas lesões de alto grau). NIV 2 (displasia moderada) NIV 3 (displasia severa, carcinoma in situ; os seguintes termos eram usados anteriormente para descrever as variantes da NIV 3 - Eritroplasia de Queyrat, Doença de Bowen, papulose bowenoide e carcinoma in situ simplex) No entanto, deve-se destacar a possibilidade de coexistência dos três graus na mesma lesão 4. De acordo com a natureza biológica da lesão, a NIV pode ser dividida em dois principais grupos: a do tipo usual e a do tipo diferenciada. As principais diferenças entre os dois grupos são apresentadas no Quadro 2. A NIV usual é mais frequente, enquanto diferenciada abrange menos de 5% das NIV3,4,6. Quadro 2 – Diferenças entre NIV usual e diferenciada 3,4,6 NIV usual NIV diferenciada • Acomete mulheres jovens, pré-menopausadas; • Associada à infecção por HPV; • Geralmente multifocal e multicêntrica; • Associa-se a condilomas anogenitais e em 50% dos casos há lesões multicêntricas. • Apresenta elevado índice de regressão. • Pode ser tratada conservadoramente. • Presentes nos sulcos interlabiais, fúrcula e períneo. • Acomete mulheres após a menopausa; • Lesões extensas geralmente são confluentes (em até 2/3 das mulheres), envolvendo lábios maiores e menores e região perianal. • Ocorre habitualmente em áreas com pelos; parece ter fase intraepitelial breve antes de progredir para invasão. 94 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 93-96 • Não associada à infecção por HPV; • Habitualmente unifocal (unilateral e focal); • Não se associa com outros tipos de NIV; • Associa-se ao líquen escleroso e à hiperplasia de células escamosas; • Apresenta baixo índice de regressão. • Prefere-se a exérese da lesão. Campaner AB, et al Cerca de 90% de todas as NIVs do tipo usual apresentam teste positivo para o HPV, sendo mais frequentes os tipos 16, 18 e 31 3,7. O tipo usual também está relacionado a outros fatores de risco, como tabagismo, uso de contraceptivos hormonais e imunossupressão3. Quanto à NIV diferenciada, é comumente encontrada adjacente aos carcinomas escamosos queratinizados ou em pacientes com história de câncer vulvar. É provavelmente um precursor do câncer vulvar HPV negativo. As NIV do tipo verrucoso e basaloide podem coexistir em uma mesma paciente, às vezes em íntimo contato. Suas variantes clínicas podem consistir da presença de melanina intraepitelial e/ou intradérmica. Independente de seu tipo morfológico, as NIV tendem a envolver as unidades pilossebáceas do epitélio local em cerca de 30-50% casos, podendo se estender a uma profundidade de 3,5 mm, dado este de grande importância no planejamento terapêutico 1. Sinais e sintomas Os sinais e sintomas das doenças benignas e malignas da vulva não são específicos. Além disso, as lesões dermatológicas vulvares podem sofrer alterações que as tornam de difícil interpretação e diferentes regiões da vulva podem apresentar o mesmo tipo de lesão com características diversas. O prurido, em geral de longa duração, é o sintoma mais comum e acontece em quase 70% das mulheres. Outras apresentações incluem lesões visíveis de tamanhos, formas e cores variáveis, anormalidade/ nodulação palpável, dor local, presença de secreção, disúria, sangramento, ulcerações, edema e dispareunia superficial. Cerca de 10% das mulheres não apresentam sintomas, sendo o diagnóstico da lesão realizado durante exame ginecológico de rotina 1,2. Por outro lado, estima-se que 20% das mulheres apresentam sintomas relativos à doença há mais de um ano, muitas vezes pela ausência de diagnóstico correto. Diagnóstico O diagnóstico das lesões vulvares inclui a inspeção meticulosa da região vulvar e palpação durante o exame ginecológico. Também é utilizada a vulvoscopia como propedêutica subsidiária, realizando-se a inspeção ampliada de toda vulva, introito vaginal, uretra terminal, região perianal, ânus, pregas interglúteas e intercrurais após a aplicação de ácido acético a 5%. O teste de Collins, que consiste na embrocação com azul de toluidina a 1%, era realizado rotineiramente durante a vulvoscopia, porém, atualmente seu valor é discutível, por apresentar elevada taxa de falso-positivos principalmente em processos inflamatórios e falso-negativos quando a lesão for hiperceratótica 1. Como as lesões vulvares associadas à NIV podem ser multifocais e multicêntricas a vagina e colo uterino também devem ser avaliados. O aspecto macroscópico das lesões é variável, incluindo lesões únicas ou múltiplas, discretas ou exuberantes, planas ou sobrelevadas, hiperceratóticas, hipopigmentadas, hiperpigmentadas, eritematosas ou ulceradas. Não existem sinais vulvoscópicos específicos da NIV2. A NIV frequentemente é encontrada em associação com câncer escamoso invasivo, líquen escleroso ou plano. Estas anormalidades podem ser difíceis de distinguir entre si, especialmente quando ocorrem em conjunto 8. Dessa maneira, qualquer lesão suspeita em vulva deve ser biopsiada e seu diagnóstico confirmado pelo estudo histopatológico. Na presença de diversas áreas de anormalidades, múltiplas biópsias devem ser realizadas. O diagnóstico diferencial inclui: cistos epidérmicos de inclusão, lentigos, desordens da glândula de Bartholin, acrocordons, ceratose seborreica, hidradenomas, líquen escleroso, condiloma e outras dermatoses. Tratamento Os objetivos do tratamento da NIV incluem a prevenção do câncer invasivo e a melhora dos sintomas, enquanto se preserva a anatomia e funcionalidade da vulva. O tratamento é individualizado de acordo com o tipo, localização e extensão das lesões, extensão para anexos, potencial maligno, idade, sintomas, dentre outros. Outros fatores que são considerados na escolha no método terapêutico incluem facilidade técnica, disponibilidade de recursos técnicos, baixa morbidade, custos, resultados a longo prazo, prevenção de distorções anatômicas e funcionais. As lesões por efeito citopático pelo HPV (antiga NIV 1) apresentam elevada taxa de regressão, podendo somente ser observadas com acompanhamento clínico e vulvoscopia. Na NIV (antiga NIV 2 e 3), o tratamento deve ser instituído. Entre as opções terapêuticas estão: métodos citodestrutivos físicos e químicos; métodos excisionais; e uso de imunomoduladores tópicos (imiquimode creme a 5%). O tratamento excisional inclui excisão ampla da lesão com margem de segurança de 1 cm e vulvectomia total ou parcial (somente retirada do epitélio). Possui a vantagem de permitir avaliação histológica do espécime, possibilitando afastar invasão estromal subjacente. Está indicado na NIV diferenciada pelo potencial de transformação neoplásica (3-5%) ou em lesões em mulheres acima de 50 anos, pois estas apresentam risco maior de invasão estromal 1,2. A vulvectomia está indicada para lesões mais extensas ou aquelas que são multifocais e confluentes3. Por outro lado, o tratamento destrutivo não permite o estudo histopatológico, devendo ser excluída previamente a coexistência de câncer invasor. Pode ser utilizado em casos de NIV usual e em pacientes jovens 2. Entre os métodos físicos, estão a cirurgia de alta frequência e a vaporização a laser, que apresenta excelentes resultados clínicos e cosméticos, com taxas relatadas de remissão de 75% a 80% com apenas uma sessão 3. A profundidade da destruição deve ser de 1mm em áreas sem pelos e de 3 mm em áreas com pelos, pois as lesões podem estender-se pelo folículo piloso até no máximo de 2,8 mm6. Entre os métodos químicos sugere-se o emprego do quimioterápico 5-fluorouracil (5-FU) ou ácido tricloroacético (ATA) 70% a 90%, ambos aplicados pelo médico, semanalmente, por cerca de quatro semanas. O uso tópico do 5-FU pode ocasionar irritação local, responsável muitas vezes pela descontinuidade de uso. São necessárias, em média, seis a dez semanas de tratamento para o desaparecimento das lesões e o creme deve ser retirado após quatro a cinco horas. Ocasiona cicatrizes mínimas. As taxas de resposta podem chegar a 75%. Devese ter precaução visto que a droga pode não atingir ductos sebáceos e folículos pilosos. O ATA deve ser usado preferentemente em áreas não pilosas 2,3. O imiquimode é droga imunomoduladora que induz a resposta imune inata e adquirida, aumentando a produção local de interleucina, interferons e fator de necrose tumoral. Apresenta boa resposta como Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 93-96 95 Campaner AB, et al terapia de primeira opção em casos de NIV. Alguns estudos mostram taxas de resposta completa de cerca de 50% a 80% e de resposta parcial de 10% a 28% 9,10. Deve ser utilizado nas lesões três vezes por semana, à noite, retirando-se pela manhã, até a remissão das lesões ou até 16 semanas. Efeitos colaterais são comuns, como eritema local, edema, ulceração, formação de crosta, ocasionalmente alteração da pigmentação da pele e flue-like syndrome. Os métodos químicos e imiquimode têm sido empregados como tratamento único ou em lesões multifocais ou para redução dimensional das lesões antes da terapêutica excisional ou destrutiva. Outras terapêuticas, tais como aplicação local de interferon, isotretinoina e corticosteroides, não se mostraram eficazes no tratamento das NIV. Apesar do tratamento, a recorrência da NIV ocorre em 1/3 das mulheres e 4 a 8% desenvolverão câncer vulvar. O seguimento após o tratamento deve ser rigoroso e para o resto da vida. O primeiro controle deve ser ao fim do primeiro mês de tratamento. Na ausência de lesões, recomenda-se retorno semestral até completar dois anos e depois anual2,11. A avaliação deve incluir o exame do canal anal, vulva, vagina e colo, pois cerca de 32,8 a 70% das pacientes apresentam neoplasias sincrônicas ou metacrônicas em outras localizações genitais. NIV deve ser considerada como parte de campo contínuo de risco, pois cerca da metade das mulheres com NIV tem em qualquer tempo doença invasiva ou pré-invasiva do colo uterino e vagina e porque toda a vulva e pele perianal permanecem sob risco de doença intraepitelial ou invasiva 2,11. Recidivas ocorrem principalmente nas margens da lesão ressecada ou mesmo na pele previamente normal. Lesões multicêntricas, presença de HPV de alto risco, multifocalidade e margem de ressecção exígua são os principais fatores de risco para a recidiva da NIV3. Conclusões A NIV é condição que apresenta sintomatologia inespecífica com lesões de diferentes aspectos e está associada à infecção pelo HPV na grande maioria dos casos. O exame minucioso da vulva com o auxílio da vulvoscopia e estudo histopatológico das lesões suspeitas permite que seu diagnóstico seja feito de forma adequada. O tratamento da NIV deve ser individualizado e pode ser feito de diferentes maneiras. A introdução de novas modalidades terapêuticas permitiu que as lesões sejam tratadas de forma mais conservadora e com bons resultados, sem alterar a anatomia vulvar. Talvez o tratamento das NIV seja o responsável pela estabilidade na incidência do câncer vulvar observada nos últimos anos. Referências 1. 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O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) preconiza o rastreio da infecção por clamídia em todas as mulheres com menos de 25 anos ou acima desta idade se em situação de risco. Esta medida é inviável para a realidade nacional e o Ministério da Saúde preconiza a abordagem sindrômica para o diagnóstico e tratamento das endocervicites. Desta forma, a presente revisão destina-se a analisar a efetividade do rastreamento das endocervicites por clamídia. Palavras-chave: Cervicite uterina. Doenças sexualmente transmissíveis. Programas de rastreamento. ABSTRACT Chlamydia is one of the sexually transmitted disease most prevalent in the world. Although it is a silent infection in most cases, its impact on the female genital tract can be very severe, associated with pelvic inflammatory disease, chronic pelvic pain, infertility, miscarriage and premature birth. The Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recommends screening for Chlamydia in all women under 25 years of age and under conditions of risk. This measure is not feasible to national reality and the recommendation is to follow the syndromic approach to diagnose and treat endocervicitis. Thus, this review has the objective to analyze critically the effectiveness of Chlamydia screening. Key words: Uterine Cervicitis. Sexually transmitted diseases. Mass screening. INTRODUÇÃO A clamídia é uma das infecções de transmissão sexual de maior prevalência no mundo. Nos Estados Unidos é a doença sexualmente transmissível (DST) mais notificada e estima-se que, nos países em desenvolvimento, seja a segunda infecção mais prevalente em mulheres jovens. Nos últimos cinco anos, tem se registrado aumento de 50% e inversão na razão desta infecção, com acometimento de três mulheres para cada homem. A sua real prevalência é desconhecida em função da escassa sintomatologia clínica manifestada durante a fase aguda do quadro infeccioso1,2. Pode-se dizer que a clamídia é uma infecção silenciosa. Sua repercussão no trato genital feminino, no entanto, pode ser devastadora, estando associada a altos índices de doença inflamatória pélvica (DIP), dor pélvica crônica, infertilidade, abortamentos e partos prematuros1. O diagnóstico da infecção por clamídia é outro problema: a cultura, considerada padrão-ouro, é de difícil realização, não sendo possível sua utilização rotineira na prática clínica. Já os métodos de biologia molecular apresentam boa acurácia diagnóstica, ampliando a sensibilidade da cultura e mantendo os parâmetros de especificidade. Tem como vantagens a facilidade na coleta e no preparo do material e maior homogeneidade dos resultados, mas o alto custo é o maior fator limitante1,3. O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomenda o rastreamento para clamídia em população considerada de maior risco à exposição de infecção e em todas as mulheres com idade inferior a 25 anos3. O benefício desta recomendação poderia ser demonstrado com a redução da prevalência de DIP em países que instituíram programas de rastreamento. Contudo, estes dados não vêm sendo registrados4. O Ministério da Saúde do Brasil preconiza a abordagem sindrômica para o diagnóstico e tratamento das endocervicites, isto é, se baseia na presença de fatores de risco para infecção por clamídia e em manifestações clínicas inespecíficas para definição da conduta5. O grande questionamento da efetividade da abordagem sindrômica deve-se ao grande número de mulheres com infecção assintomática. Endereço para correspondência: Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva Rua Dionísio Filgueiras, 777, 1602 1 Professor Assistente, Mestre, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, Brasil. CEP: 59000-000 - Natal, RN - Brasil 2 Professor Adjunto Doutor, UFRN, Natal, RN, Brasil. Email: [email protected] 3 Aluna de graduação, UFRN, Natal, RN, Brasil. 4 Aluna de pós-graduação, UFRN, Natal, RN, Brasil. Recebido em 11/09/2009 Aceito com modificações 12/10/2009 97 Silva MJPMA, et al O presente artigo destina-se a revisar a importância do rastreamento da infecção por clamídia na população geral, bem como a avaliar o impacto desta conduta na redução da morbidade associada à infecção clamidiana. REVISÃO DA LITERATURA A Chlamydia trachomatis é um microorganismo intracelular obrigatório, que acomete essencialmente seres humanos e tem seu ciclo reprodutivo com duas fases. Na fase latente, apresenta-se como corpos elementares incapazes de se reproduzir. Na fase reticular, torna-se metabolicamente ativa e se reproduz, caracterizando a fase ativa da infecção2. Na mulher existe um grande tropismo da clamídia pelo trato geniturinário baixo, acometendo principalmente a cérvice uterina1. As principais manifestações incluem corrimento vaginal, muco endocervical turvo, colo friável e sangrante à coleta de citologia, dor pélvica e dispareunia. Queixas urinárias como disúria e estrangúria também fazem parte do quadro. A expressão uretral dolorosa ou com saída de secreção, associada ao sumário de urina sugestivo de infecção, com urocultura negativa, deve levar à suspeição diagnóstica. A principal dificuldade reside no fato de que a mulher infectada pode apresentar exame clínico normal, o que não exclui a possibilidade de complicações associadas à infecção1-3,5. A infecção por clamídia pode ascender à cérvice e levar ao quadro de DIP, com ou sem endocervicite. Em geral, o quadro se manifesta de forma subaguda e no início do ciclo menstrual. As queixas de dispareunia, dor pélvica, menstruação prolongada e sangramento intermenstrual também são sintomas que devem alertar o clínico para este diagnóstico4,5. Complicações da infecção por clamídia podem estar associadas a eventos mediados pela resposta imunológica, à predisposição específica e também à característica da cepa da clamídia6. A persistência de infecção, registrada em análise multivariada, evidencia que o risco de complicações como gravidez ectópica ou DIP está diretamente relacionado ao número de episódios diagnosticados7. As mulheres jovens são mais susceptíveis à infecção, em função da maior exposição do epitélio colunar, característica desta idade, facilitando assim a transmissibilidade da doença. Homens e mulheres assintomáticos servem como importante reservatório para novas infecções. Quanto à investigação diagnóstica, a cultura de swab endocervical ou uretral é tradicionalmente considerada o exame padrão-ouro para a infecção por clamídia, porém na prática clínica sua acessibilidade e reprodutibilidade são limitadas. Apesar de muito especifico (especificidade de 100%), sua sensibilidade é variável, com registro entre 42 e 100%, o que prejudica a comparação com novos testes diagnósticos7. Testes de detecção de antígeno registram sensibilidade entre 70 e 80% e especificidade entre 96 e 100%. Testes de biologia molecular evidenciam sensibilidade entre 70 e 100% e especificidade entre 82 e 100%, na dependência do método e do local de coleta7,8. Os métodos de biologia molecular acrescentaram grande agilidade no diagnóstico da infecção por clamídia. O CDC recomenda que na investigação diagnóstica para clamídia sejam também realizados testes para o diagnóstico de gonococo, pois esta associação está presente em 20% dos homens e em 42% das mulheres5,9. Atualmente, os estudos consideram que o diagnóstico de certeza da infecção por clamídia pode ser dado pelo padrão-ouro expandido, ou seja, considera-se infecção se dois testes diagnósticos forem positivos, 98 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 97-100 mesmo que a cultura seja negativa. A importância clínica do tratamento das mulheres com cultura negativa ainda não é bem estabelecida7. Na verdade, não há dúvida de que, na presença de manifestação clínica de endocervicite, deve-se indicar o tratamento da infecção por clamídia, como recomenda o Manual do Ministério da Saúde, pautado nos critérios para o diagnóstico sindrômico5. No que tange ao tratamento, observa-se que a utilização de doxiciclina por sete dias ou azitromicina em dose única é efetiva, com taxa de cura de 97% em mulheres não gestantes e homens. Em gestantes, a amoxicilina se mostra comparável à eritromicina oral10-12. Dentre as estratégias de controle das infecções de transmissão sexual destaca-se o rastreio das infecções assintomáticas, a fim de reconhecer os casos índices e quebrar a cadeia de transmissão epidemiológica2,5. Para que esta medida seja custo-efetiva, é preciso o reconhecimento de infecções de alta prevalência na população, com possibilidade diagnóstica e terapêutica, e que resulte na redução da morbimortalidade dos casos. Somente desta forma, o investimento na busca de casos assintomáticos pode diminuir os custos sociais e financeiros da infecção na população. Pautado neste conceito, o CDC recomenda o rastreio anual da infecção por clamídia em todas as mulheres sexualmente ativas menores que 25 anos, ou maiores, quando presentes os fatores de risco de DSTs12-14. Segundo o Ministério da Saúde, são considerados fatores de risco relevantes ao quadro de corrimento vaginal: história de parceiro com corrimento uretral, mais de um parceiro ou novo parceiro nos últimos três meses, falta de parceiro fixo e idade menor que vinte anos. Estes fatores são responsáveis por um escore de risco, recebendo dois pontos a presença de parceiro com queixa de corrimento uretral e o restante dos itens recebendo o valor de um ponto. Se o somatório alcançar dois ou mais pontos, está indicado o tratamento simultâneo de endocervicite por clamídia e gonococo, mesmo na ausência de sinais e sintomas clínicos5,6. Em grande estudo de avaliação de risco, registrou-se como variáveis preditoras independentes selecionadas para rastreio seletivo: idade menor que 25 anos, raça não branca, mais do que um parceiro ou novo parceiro em 90 dias, não utilização de condons e história prévia de DST. Este estudo evidenciou que quando se realiza o rastreio pautado somente na idade, 87,9% da população de risco é testada e o diagnóstico seria realizado em 95,3% da população infectada. É importante ressaltar que a idade é importante preditor de risco para a infecção clamidiana, estando entre adolescentes e adultos jovens as maiores taxas de prevalência6,15. Existe concordância entre a recomendação do Ministério da Saúde e do CDC no que tange ao diagnóstico e tratamento das endocervicites por clamídia e gonococo pautado nos fatores de risco e/ou nas manifestações clínicas. Avaliação mais acurada deve ser realizada para os casos assintomáticos e sem fatores de risco reconhecidos pela história clínica. Estudos clínicos controlados têm evidenciado que o rastreio em mulheres não grávidas com fatores de risco tem reduzido o risco de DIP. No estudo de Scholes et al.16 foi observada significativa redução de DIP em mulheres solteiras com idade entre 18 e 34 anos no período de um ano. Stergachis17 utilizou, em seu trabalho, um questionário para avaliação de risco, com pontuação para idade <25 anos (1 ponto), raça negra (2 pontos), uso de duchas vaginais (1 ponto), nuliparidade (1 ponto), ter dois ou mais parceiros nos últimos doze meses (1 ponto). Silva MJPMA, et al Quando o somatório era igual ou superior a três a mulher participaria do estudo. Nesta situação, o tratamento das mulheres infectadas também demonstrou redução de DIP, com risco relativo de 0,44 (intervalo de confiança 95% [IC]=0,20 a 0,90). Outros estudos ecológicos ratificaram esta observação18. O grande problema em utilizar os escores para o rastreio da infecção por clamídia na população geral são as diferenças dos fatores de riscos observados nos estudos e o peso que cada um acresce ao escore, na dependência da população estudada7,19. É reconhecido que a recorrência da infecção por clamídia aumenta o risco de complicações no trato geniturinário a cada novo episódio infeccioso. A efetividade na manutenção do rastreamento para o diagnóstico da recorrência, no entanto, é limitada, o que prejudica a determinação do intervalo no qual devem ser empregados os métodos de rastreamento após a primeira infecção7. Há grande limitação de dados no que tange ao rastreio e tratamento da infecção por clamídia em gestante e não foram encontrados ensaios clínicos para avaliação deste efeito7. Do mesmo modo, não há evidência que justifique o rastreio e o tratamento precoce em homens com o objetivo de reduzir suas complicações ou prevenir infecções em mulheres. Nos homens, o risco de complicações em longo prazo é pequeno7. Alguns estudos de revisão refletem a importância do rastreamento para clamídia em populações de risco e com moderada a alta prevalência, a fim de minimizar suas complicações20-22. A utilização de fatores de risco para seleção de população a ser rastreada parece ser mais custo-efetiva do que o rastreamento universal, principalmente quando são utilizados testes de baixa sensibilidade21,23. Em revisão sistemática para avaliação de estudos de custo-efetividade do rastreamento de clamídia, o autor identifica sérios problemas metodológicos, concluindo que novos estudos são necessários para definir a questão de custo-efetividade do rastreamento para clamídia24. DISCUSSÃO O principal argumento para utilização de rastreamento na infecção por clamídia baseia-se na redução da morbidade associada à infecção, principalmente no que tange à DIP e gravidez ectópica. Em ensaios clínicos bem controlados, o rastreamento de mulheres não grávidas com risco de DST tem se mostrado efetivo na redução de morbidade no período de um ano. Porém, países que assumiram tal conduta não têm evidenciado quedas significativas na prevalência de complicações associadas à infecção por clamídia. Tal fato pode estar associado em parte ao aumento da sensibilidade dos testes de biologia molecular no diagnóstico da infecção por clamídia5,7. A maior dificuldade na utilização do rastreamento de mulheres assintomáticas está em identificar quais mulheres devem realizar os exames e em qual intervalo tal procedimento deve ser realizado. A utilização de ensaios clínicos em populações específicas pode não ter o reflexo desejado quando introduzido na população geral. Existe consenso na literatura de que a idade da mulher, principalmente abaixo dos 25 anos, é dado importante na predição de risco. Contudo, não se pode afirmar que seja uma medida custo-efetiva o rastreamento universal pautado somente na idade. A utilização de outros fatores de risco pode acrescentar maior especificidade ao rastreamento e consequente redução de custo. É importante que conheçamos outras variáveis, tais como: prevalência da infecção, evolução da doença e taxas de complicações na nossa população, para que assim possamos avaliar a razão de custo-efetividade do rastreamento da infecção por clamídia na nossa realidade. COMENTÁRIOS FINAIS Existem ainda limitações nas evidências que suportam a rotina de rastreamento para infecção por clamídia. Mais estudos são necessários antes de assumirmos uma postura mais ativa na busca desta infecção, com critérios mais definidos para a população que deverá ser rastreada, métodos diagnósticos utilizados no rastreio e intervalo entre os testes. É muito importante a realização de estudos que reconheçam o perfil da nossa população para que um programa nacional de rastreamento seja implantado. Referências 1. Bebear C, de Barbeyrac B. Genital Chlamydia trachomatis infections. Clin Microbiol Infect. 2009;15(1):4-10. 6. Stamm WE. Chlamydia trachomatis infections: progress and problems. 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Esse texto relata o caso de mulher pós-menopausada com atrofia urogenital mostrando os resultados antes e depois do uso de terapia estrogênica tópica por via vaginal no alívio dos sintomas, achados da citologia oncótica e colposcopia. Palavras-chave: Esfregaço vaginal. Colposcopia. Menopausa. Terapia de reposição de estrogênios. Administração tópica de medicamentos. Abstract Urogenital atrophy is a clinical condition that affects women during late post menopause, causing symptoms and impairing cytological and colposcopic evaluations. Hormone replacement therapy is a therapeutic option to ameliorate its signs and symptoms. This is a case report of a postmenopausal woman with urogenital atrophy showing the results before and after the use of vaginal topical estrogen therapy in the relief of symptoms, findings of vaginal smear and colposcopy. Keywords: Vaginal smears. Colposcopy. Menopause. Estrogen replacement therapy. Administration, topical. Introdução A atrofia urogenital é condição clínica que acomete mulheres que se encontram em período de pós-menopausa tardia (pelo menos, três a cinco anos de menopausa) 1. É responsável pelo aparecimento de diversos sintomas, como secura vaginal, prurido, ardência, disúria, entre outros, além de prejudicar a vida sexual e, consequentemente, a qualidade de vida da mulher2,3. Em estudo realizado com 31 mulheres pós-menopausadas com tempo médio de menopausa de 10 anos, o principal sintoma de atrofia urogenital foi a secura vaginal, em 51,6%, seguida pela urgência urinária (45,2%), dispareunia (35,5%), ardência vulvar (35,5%), prurido vulvar (29,0%) e disúria (22,6%) 4. Os resultados dos esfregados citopatológicos ou da colposcopia são prejudicados na presença de atrofia. O esfregaço citopatológico atrófico apresenta predomínio de células profundas, dificultando o diagnóstico diferencial com lesões intraepiteliais, sendo frequentes os resultados de citologia inconclusiva ou insatisfatória para a avaliação2,3,5. Na colposcopia, o epitélio escamoso mais fino, sem glicogênio, é observado como mucosa friável, com pequenas hemorragias subepiteliais de aspecto petequial. A avaliação da mucosa endocervical é difícil pela estenose do orifício externo e, desta maneira, é frequente a não visualização da junção escamocolunar (JEC) no canal endocervical5. A atrofia urogenital na pós-menopausa pode ser tratada de maneira eficaz pela reposição hormonal, especialmente com o uso de estrogênios tópicos via vaginal, entre eles, o estriol 3,6. O objetivo foi descrever o caso de uma paciente que se encontrava na pós-menopausa tardia apresentando atrofia urogenital e o efeito do uso de estriol por via vaginal sobre os sintomas, esfregaço citopatológico e achados colposcópicos. Descrição do caso clínico G.O.L., 58 anos, foi encaminhada ao ambulatório do Núcleo de Prevenção de Doenças Ginecológicas (NUPREV) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) para rastreamento de rotina. Apresentava história de hipertensão arterial, hipotireoidismo e osteoporose. Encontrava-se menopausada há 10 anos, sem uso prévio de terapia hormonal. Na primeira consulta referia queixas de secura vaginal, dispareunia e disúria. Negava prurido, irritação vulvar ou urgência urinária. Foi realizada coleta de material para colpocitologia oncótica (CO), avaliação hormonal e colposcopia. A colposcopia foi considerada insatisfatória pela não visualização da JEC e pelo processo atrófico (Figuras 1 e 2). Pós-graduanda do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina Endereço para correspondência: 1 Ana Carolina Silva Chuery (UNIFESP-EPM), São Paulo, SP, Brasil. Rua Vigário Albernaz, 845 apto 53 - CEP: 04134-021 2 Professora adjunta afiliada, Departamento de Ginecologia, UNIFESP-EPM, São Paulo, SP, Brasil. São Paulo – SP - E-mail: [email protected] 3 Médica estagiária do NUPREV, UNIFESP-EPM, São Paulo, SP, Brasil. 4 Médica contratada do setor de citologia do Departamento de Ginecologia da UNIFESP-EPM, São Paulo, SP, Brasil. 5 Professora Livre-Docente do Departamento de Ginecologia da UNIFESP-EPM, São Paulo, SP, Brasil. Recebido em 31/08/2009 Aceito com modificações 07/10/209 101 Chuery ACS, et al Após o término do exame, a paciente foi questionada a respeito do desconforto durante o mesmo, referindo pouco incômodo. Recebeu prescrição de estriol creme vaginal na dose de 1 mg/dia (1 aplicação) durante o período de 21 dias e retornou três dias após o término do tratamento a fim de ser submetida novamente aos mesmos exames. Quando questionada, referiu melhora dos sintomas, tais como: secura vaginal, dispareunia e disúria. A colposcopia evidenciou melhora do trofismo do epitélio escamoso, a JEC estava em localização endocervical visível e o teste de Schiller foi iodo positivo, sendo a colposcopia satisfatória (Figuras 3 e 4). Além disso, referiu ausência de incômodo durante a realização da coleta de CO e do exame colposcópico. Os dois resultados da CO, antes e depois do tratamento, foram negativos para malignidade. Comparando os achados da CO, antes do tratamento havia presença de células profundas, intermediárias, superficiais, endocervicais e leucócitos, avaliação hormonal de nível atrófico e índice de maturação 70/20/10 (Figura 5). Após o tratamento, evidenciou células intermediárias, superficiais, metaplásicas, endocer- Figura 1 – Colposcopia após aplicação de ácido acético evidenciando colo hipotrófico, presença de petéquias subepiteliais e colpite atrófica. Nesta imagem pode-se visualizar o orifício externo circular e a presença de muco. A JEC não é visível. vicais e leucócitos, com índice de maturação 00/30/70 (Figura 6). Figura 2 – Aspecto do colo após aplicação da solução de lugol. Observamse áreas de captação irregular do iodo. O resultado do Teste de Schiller foi iodo parcialmente positivo. bilidade e sensibilidade da mucosa cérvico-vaginal 9. O mesmo efeito foi observado no caso relatado, o que permitiu que a colposcopia se tornasse satisfatória após o tratamento. Em relação aos achados citológicos, diferentes autores mostram redução significativa do pH vaginal e aumento significativo no índice cariopicnótico após tratamento com estriol 0,5 ou 1mg por dia durante duas a três semanas6,9. A análise prévia dos achados citológicos em 31 mulheres pósmenopausadas com média de 10 anos de menopausa mostrou que o tratamento com 1mg por dia de estriol via vaginal aumentou o número de mulheres com CO mostrando células superficiais (64,5%) em comparação a antes do tratamento (3,2%). Também houve melhora significativa do índice de maturação após o tratamento (83,9% de esfregaços atróficos antes vs 87,1% de esfregaços com bom nível estrogênico após o tratamento; χ2 = 20,045, p=0,000)10. Na comparação dos índices de maturação do caso relatado observou-se claramente o efeito estrogênico após o tratamento, evidenciado pelo aumento de células intermediárias e superficiais, diferente do índice de maturação pré-tratamento, no qual há predomínio de células profundas. Discussão A terapêutica com estriol creme vaginal na dose de 1mg por dia durante três semanas tem mostrado efeito benéfico na atrofia vaginal em mulheres na pós-menopausa, com alívio dos sintomas em 80% a 95% delas3,6. Entre os estrogênios naturais, o estriol é o que apresenta a maior ação vaginotrófica7. A comparação do uso de anel de estradiol com creme de estriol por via vaginal em 165 mulheres pós-menopausadas mostrou que os dois tratamentos foram eficazes na atrofia urogenital. Nas mulheres que utilizaram o creme houve melhora em 80% da dispareunia, 79% de secura vaginal e 70% de disúria8. No caso relatado, após o tratamento a paciente referiu melhora dos sintomas urogenitais de secura vaginal, dispareunia e disúria relatados na primeira consulta. Na avaliação colposcópica após a menopausa, os estudos que utilizaram estriol por via vaginal encontraram benefício em todas as mulheres tratadas, com desaparecimento da palidez, petéquias, fria102 Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 101-103 Figura 3 – Colposcopia após estrogenioterapia tópica. Observa-se melhora do trofismo do epitélio escamoso. Nesta imagem observa-se o orifício cervical externo e a presença de muco. Chuery ACS, et al Este caso clínico expõe que a utilização do estriol via vaginal, na dose de 1mg por dia durante 21 dias, antes da colpocitologia oncótica e colposcopia, foi eficaz tanto na melhora dos sintomas relacionados à atrofia urogenital como também na avaliação citopatológica e colposcópica em mulheres na pós-menopausa. Estes métodos são fundamentais para o rastreamento do câncer de colo uterino e auxílio no diagnóstico diferencial de lesões pré-malignas e malignas do trato genital inferior nesse período. Entre as opções terapêuticas para a atrofia urogenital em mulheres na pós-menopausa, o uso de reposição estrogênica tópica por via vaginal, em particular com o estrogênio natural estriol, tem se mostrado eficaz, assim como melhora sobremaneira o rastreamento colpocitológico e colposcópico. Figura 5 – Presença de células profundas, intermediárias, leucócitos, caracterizando esfregaço atrófico. Figura 4 – Teste de Schiller iodo positivo após estrogenioterapia tópica. Pode-se observar o aumento da captação do iodo comparado à colposcopia pré-tratamento. Figura 6 – Esfregaço com células intermediárias e superficiais caracterizando bom nível estrogênico. Referências 1. Dugal R, Hesla K, Sordal T, Aase KH, Lilleeidet O, Wickstron E. Comparison of usefulness of estradiol vaginal tablets and estriol vagitories for treatment of vaginal atrophy. Acta Obstet Gynecol Scand 2000;79:293-7. 7. van Haaften M, Donker GH, Haspels AA, Thijssen JH. Oestrogen concentrations in plasma, endometrium, myometrium and vagina of postmenopausal women, and effects of vaginal oestriol (E3) and oestradiol (E2) applications. J Steroid Biochem 1989;33:647-53. 2. Bachmann GA, Nevadunsky NS. Diagnosis and treatment of atrophic vaginitis. Am Fam Physician 2000 May 15;61:3090-6. 8. Barentsen R, van de Weijer PHM, Schram JHN. Continuous low dose estradiol released from a vaginal ring versus estriol vaginal cream for urogenital atrophy. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol 1997;71:73-80. 3. Ballagh SA. Vaginal hormone therapy for urogenital and menopausal symptoms. Semin Reprod Med 2005;23:126-40. 4. Chuery ACS, Speck NMG, Moura KFQ, Belfort PN, Sakano C, Ribalta JCL. Avaliação colposcópica na pós-menopausa: efeito da estrogenioterapia tópica. Rev Bras Genitoscopia 2007;2:15-9. 9. Kicovic PM, Cortes-Prieto J, Milojevic S, Haspels AA, Aljinovic A. The treatment of postmenopaual vaginal atrophy with ovestin vaginal cream or suppositories: clinical, endocrinological and safety aspects. Maturitas 1980;2:275-82. 5. Campaner AB. Utilização da estrogenioterapia tópica na Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia. Rev Bras Genitoscopia 2007;1:17-22. 10. Chuery ACS, Speck NMG, Moura KFQ, Belfort PN, Sakano C, Ribalta JCL. Avaliação citológica na pós-menopausa: efeitos da estrogenioterapia tópica. Rev Bras Genitoscopia 2007;2:5-8. 6. Dessole S, Rubattu G, Ambrosini G, Gallo O, Capobianco G, Cherchi PL, et al. Efficacy of low-dose intravaginal estriol on urogenital aging in postmenopausal women. Menopause 2004;11:49-56. Rev Bras Genitoscopia. 2009; 3(3-4): 101-103 103 recomendações em ptgi e colposcopia Indicações para o uso do teste de DNA do Papilomavírus Humano Consenso das Sociedades Americanas Fonte: Solomon D, Papillo JL, Davey DD; for the Cytopathology Education and Technology Consortium (CETC). Statement on human papillomavirus DNA test utilization. Cancer Cytopathol. 2009;177:154-6. As indicações para o uso do teste de DNA do papilomavírus humano (HPV) foram publicadas na Revista Cancer Cytopathology e foram endossadas pelas seguintes sociedades americanas: American Cancer Society, American Society for Clinical Pathology, American Society for Colposcopy and Cervical Pathology, American Society of Cytopathology, American Society for Cytotechnology, College of American Pathologists, International Academy of Cytology, Papanicolaou Society of Cytopathology. O teste de HPV provou sua utilidade no rastreamento do câncer cervical populacional e em muitas situações da prática clínica na prevenção do câncer cervical. Entretanto, o seu uso de maneira indiscriminada, além de não trazer benefícios, aumenta os custos e resulta em tratamento desnecessário e excessivo de algumas mulheres. 1. O TESTE DE HPV ONCOGÊNICO É APROPRIADO NAS SEGUINTES CIRCUNSTÂNCIAS: 1.1 Rastreamento de rotina do câncer cervical juntamente com a citologia cervical em mulheres ≥ 30 anos: 1.1.1 Para mulheres que tem citologia negativa e teste de HPV positivo, repetir ambos os testes em 12 meses. Mulheres ≥ 30 anos positivas para HPV 16 e 18, devem ser encaminhadas para colposcopia. 1.1.2 Para mulheres que tem citologia e teste de HPV negativos, repetir ambos os testes apenas de 3/3 anos. 1.2 Conduta na triagem inicial em mulheres ≥ 21 anos com citologia ASC-US 1.3 Conduta na triagem inicial de mulheres na pós-menopausa e com citologia LSIL1. 1.4 Conduta pós-colposcopia em mulheres de qualquer idade com citologia AGC ou células escamosas atípicas, onde não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau (ASC-H) (quando a colposcopia não identifica lesão de alto grau)1. 1.5 Conduta pós-colposcopia de mulheres ≥ 21 anos com citologia ASC-US ou LSIL (quando a colposcopia inicial não identifica lesão de alto grau) 1.6 Seguimento pós-tratamento. 2. O TESTE DE HPV ONCOGÊNICO GERALMENTE NÃO É APROPRIADO PARA AS SEGUINTES SITUAÇÕES: 2.1 Rastreamento de rotina do câncer cervical em mulheres < 30 anos 2.2 Rastreamento de rotina do câncer cervical juntamente com a citologia cervical com intervalo menor de 3/3 anos em mulheres ≥ 30 anos 2.3 Triagem ou conduta inicial em adolescentes (≤ 20 anos) com citologia anormal. Testes de HPV realizados inadvertidamente podem influenciar a conduta a ser adotada para esta paciente. 2.4 Triagem inicial de LSIL (exceto em mulheres na pós-menopausa) 104 2.5 Triagem inicial do ASC-H, HSIL, AGC& e adenocarcinoma in situ em mulheres de qualquer idade 3. A REPETIÇÃO DO TESTE DE HPV ONCOGÊNICO NÃO DEVERIA SER REALIZADA EM PERÍODO < 12 MESES: 3.1 Exceções incluem seguimento de AGC, quando não se encontra patologia na investigação inicial e seguimento pós-tratamento de neoplasia intraepithelial de alto grau. 4. O TESTE DE HPV PARA TIPOS NÃO-ONCOGÊNICOS (BAIXO RISCO) NÃO TEM PAPEL NO RASTREAMENTO DE ROTINA DO CÂNCER CERVICAL OU NA AVALIAÇÃO DE MULHERES COM CITOLOGIA CERVICAL ANORMAL. Idade Rastreamento Triagem inicial Cervical de rotina ASC-US LSIL ASC-H AGC& HSIL ≤ 20 21-29 30+ ** Pósmenopausa ** Teste de HPV apropriado Teste de HPV inapropriado Figura 1. Uso do teste de HPV no rastreamento e triagem. ASC-US= células escamosas de significado indeterminado; LSIL= lesão intraepitelial de baixo grau; ASC-H= células escamosas atípicasonde não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau; AGC= células glandulares atípicas; HSIL= lesão intraepitelial de alto grau & O teste de HPV não deve ser usado para definir quem será encaminhada para colposcopia, pode ser realizado apenas para guiar conduta pós-colposcopia. ** Mulheres ≥ 30 anos com citologia e teste de HPV negativos, devem repetir ambos os testes em intervalo de 3/3 anos. recomendações em ptgi e colposcopia Rastreamento citológico cervical Recomendações 2009 do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas Fonte: ACOG. ACOG Practice Bulletin. Cervical cytology screening. Obstet Gynecol. 2009;114(6):1409-20. Na edição de dezembro de 2009 da revista Obstetrics & Gynecology foi publicado o boletim do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas a respeito do rastreamento citológico cervical, que substitui o boletim anterior publicado em 2003. A publicação destaca que, apesar da implementação de programas de vacinação contra o HPV, o impacto em termos de redução do câncer de colo uterino não começará a ser observado por cerca de 15-20 anos. Nesse meio tempo, o programa de rastreamento citológico cervical com ou sem teste de HPV é a melhor conduta na prevenção do câncer. Independente da frequência do rastreamento citológico, os exames ginecológicos anuais podem ainda ser apropriados e as mulheres imunizadas com a vacina devem ser rastreadas da mesma forma que as não imunizadas. A seguir encontra-se o resumo das recomendações. QUANDO O RASTREAMENTO DEVE SER INICIADO? · Tanto a citologia de base líquida quanto a citologia convencional são métodos aceitáveis para o rastreamento. · O rastreamento deve ser iniciado aos 21 anos, independente da idade de início da atividade sexual. Essa recomendação tem como base que: ·Apesar de maior prevalência de infecção pelo HPV em adolescentes, a maioria é eliminada pelo sistema imune dentro de um a dois anos; · A incidência de câncer em mulheres jovens é muito baixa, apenas 0,1%; ·o início mais precoce do rastreamento pode causar ansiedade, morbidade e maiores gastos; · Apesar da maior incidência de lesões precursoras em adolescentes, observa-se maior taxa de regressão. Muitas vezes, o tratamento em excesso de lesões precursoras com conização traz consequências obstétricas, como maior taxa de prematuridade. QUAL É O INTERVALO IDEAL PARA O RASTREAMENTO? · O rastreamento citológico cervical é recomendado a cada dois anos para as mulheres de 21 a 29 anos de idade, com a citologia de base líquida ou convencional. · Nas mulheres de 30 anos ou mais com três resultados consecutivos de citologia negativos para lesão intraepitelial ou malignidade, o rastreamento pode ser feito a cada três anos. · Os fatores de risco que determinam o rastreamento mais frequente incluem: mulheres com infecção pelo HIV; imunossuprimidas (por exemplo, transplantadas); mulheres que foram expostas ao dietilestilbestrol in utero; mulheres que foram tratadas por neoplasia intraepitelial cervical (NIC) graus 2 ou 3 ou câncer. · As mulheres com HIV devem realizar citologia semestral no primeiro ano após o diagnóstico e depois anual. · As mulheres tratadas por NIC 2, 3 ou câncer permanecem de risco para doença persistente ou recorrente por 20 anos e devem realizar rastreamento anual durante esse período. EM QUAL IDADE É RECOMENDADO INTERROMPER O RASTREAMENTO? · Como o câncer de colo uterino se desenvolve lentamente e os fatores de risco diminuem com a idade, é razoável interromper o rastreamento em mulheres de 65 ou 70 anos de idade com três ou mais citologias consecutivas negativas e sem resultados anormais nos últimos dez anos.·Mulheres com história prévia de citologia anormal ou mulheres mais velhas sexualmente ativas com múltiplos parceiros possuem algum risco de adquirir HPV e NIC, portanto, o rastreamento deve continuar rotineiramente. · Quando o rastreamento é interrompido, os fatores de risco devem ser avaliados durante o exame ginecológico anual, mesmo que não seja feita coleta para citologia, para determinar se o mesmo deve ser reiniciado. QUANDO É APROPRIADO INTERROMPER O RASTREAMENTO NAS MULHERES HISTERECTOMIZADAS? · Nas mulheres que realizaram histerectomia total por condições benignas e não tiveram história de NIC de alto grau, o rastreamento citológico pode ser interrompido. O risco de câncer de vagina nesses casos é muito baixo.· Mulheres que realizaram histerectomia total e apresentavam história de NIC de alto grau podem desenvolver lesões de forma que devem continuar a fazer o rastreamento, mesmo após o período de vigilância pós-tratamento. É importante assegurar que se tenha a história do rastreamento citológico para a sua interrupção nas mulheres histerectomizadas. Se a história não pode ser obtida, recomenda-se que o rastreamento seja mantido. QUANDO O TESTE DE HPV É APROPRIADO? · O teste de HPV é utilizado como triagem para estratificar risco em mulheres de 21 anos ou mais de idade e com citologia ASC-US ou mulheres pós-menopausadas com citologia de lesão de baixo grau.· O teste de HPV pode ser utilizado como adjunto à citologia para o rastreamento primário em mulheres com mais de 30 anos de idade. ·Pode ser utilizado como teste de seguimento após NIC 1 ou nos casos de colposcopia negativa e diagnóstico de citologia com ASC-US, ASC-H, lesão de baixo grau ou atipias glandulares. ·Também pode ser utilizado no seguimento após tratamento de NIC 2 ou 3. ·O teste de HPV não deve ser utilizado em mulheres com menos de 21 anos de idade, já que a chance de ser positivo nas adolescentes é alta, o que poderá causar maior ansiedade. Não se deve esquecer que a infecção pelo HPV em adolescentes é transitória. QUANDO A CITOLOGIA E O TESTE DE HPV SÃO FEITOS JUNTOS, AS MULHERES DE BAIXO RISCO PODEM SER RASTREADAS MENOS FREQUENTEMENTE? · O teste em conjunto com citologia e HPV-DNA é apropriado como rastreamento em mulheres com mais de 30 anos de idade. ·As mulheres de baixo risco, com 30 anos ou mais que apresentam resultados negativos na citologia e teste de HPV realizados conjuntamente devem ser rastreadas novamente após três anos, pois o risco de desenvolver NIC 2 ou 3 nos próximos quatro a seis anos é muito baixo. 105 recomendações em ptgi e colposcopia Vacinação contra o Papilomavírus humano QUAIS SÃO AS VACINAS CONTRA HPV EXISTENTES NO MERCADO BRASILEIRO? Existem 2 vacinas contra HPV, aprovadas pela ANVISA e disponíveis comercialmente no Brasil. De acordo com Resolução RDC nº 61, de 25 de agosto de 2008 da ANVISA, o nome principal da vacina deve ser constituído do nome da doença ou, para algumas situações em que o agente etiológico não causa uma doença específica, o nome da vacina deve ser constituído do nome formal em latim/grego daquele agente. Assim temos: 1. Vacina quadrivalente contra o papilomavírus humano (6,11,16 e 18) , produzida pela MSD 2. Vacina bivalente contra o papilomavírus humano (16 e 18), produzida pela GSK PARA QUE FAIXA ETÁRIA ESTÁ INDICADA A VACINA CONTRA O HPV? 1. Vacina quadrivalente HPV 6,11,16 e 18 para meninas e mulheres de 9 a 26 anos 2. Vacina bivalente HPV 16 e 18 para meninas e mulheres de 10 a 25 anos. O ideal seria que as meninas fossem vacinadas precocemente, isto é, antes do início da atividade sexual. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) recomenda, o uso rotineiro em meninas preferencialmente entre 11 e 12 anos de idade. Porém, mulheres que ainda não se infectaram ou que já tiveram contato com algum dos tipos, podem se beneficiar protegendo-se contra os demais tipos. QUAL É A INDICAÇÃO DA VACINA CONTRA O HPV? 1. Infecção por HPV, adenocarcinoma in situ, lesões precursoras e câncer de colo do útero, vagina e vulva e verrugas genitais causadas pelo HPV 6, 11, 16 e 18. 2. Infecção por HPV, adenocarcinoma in situ, lesões precursoras e câncer do colo do útero por HPV 16 e 18 QUAL É O ESQUEMA VACINAL? Em 3 doses1. Vacina quadrivalente contra o HPV (6,11,16 e 18) - 0, 2 e 6 meses2. Vacina bivalente contra o HPV 16 e 18 - 0, 1, 6 meses QUAL É A VIA E LOCAL DE APLICAÇÃO? As duas vacinas são administradas por via intramuscular. 1. Vacina quadrivalente contra HPV (6,11,16 e 18) - músculo deltoide ou vasto lateral da coxa2. Vacina bivalente contra HPV 16 e 18 - músculo deltóide QUAL É A DISPONIBILIDADE DA VACINA? A vacina contra HPV está disponível apenas em clínicas privadas de imunização. Clínicas acreditadas pela Sociedade Brasileira de Imunização podem ser vistas em http://www.sbim.org.br/clinicas.htm A VACINA CONTRA HPV É DE VÍRUS VIVO OU INATIVADO? As duas vacinas não contêm o DNA do vírus (vacina inativada), apenas proteínas do capsídeo viral (envoltório do vírus). Estas proteínas são chamadas de VLP (virus-like particle), ou seja, partículas semelhantes a vírus. Estas proteínas induzem a produção de grandes quantidades de anticorpos neutralizantes e não tem capacidade de produzir doença. 106 É NECESSÁRIO DOSE DE REFORÇO? Até o presente, não há recomendação de reforço. Os resultados são limitados pelo tempo de seguimento dos ensaios clínicos (7,5 anos) e não podem ser interpretados como indicando o período máximo de proteção desta vacina. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE O DESENVOLVIMENTO DE ANTICORPOS NA INFECÇÃO NATURAL E APÓS A VACINAÇÃO? O desenvolvimento de anticorpos na infecção natural pelo HPV é baixo e pode não ocorrer em algumas mulheres. Os VLPs das vacinas induzem grandes quantidades de anticorpos neutralizantes, sendo de 10 a 1.000 vezes maiores do que os gerados na infecção natural. OS NÍVEIS DE ANTICORPOS ESTÃO RELACIONADOS À PROTEÇÃO? Não existe um nível definido de anticorpos para indicar proteção, eles são utilizados apenas em estudos clínicos para verificar soroconversão. A maior medida mensurável de proteção da vacina é a eficácia comprovada em estudos clínicos contra lesões precursoras do câncer genital (NIC 2/3 e adenocarcinoma in situ para ambas as vacinas) e verrugas genitais (na vacina quadrivalente). EXISTE ALGUM TESTE QUE POSSA INDICAR QUAIS AS MULHERES QUE TERÃO BENEFÍCIO EM SE VACINAR CONTRA O HPV? Não. Testes para mensuração de anticorpos para HPV não estão disponíveis comercialmente e a biologia molecular só faz o diagnóstico de infecções atuais, não conseguindo prever se existiram infecções passadas. Biologia molecular positiva (PCR, captura híbrida, entre outros) também não é uma boa ferramenta, pois este teste apenas afirma a presença atual do DNA do HPV e não consegue prever se haverá criação de anticorpos neutralizantes em níveis adequados para prevenir contra nova infecção deste tipo. O QUE FAZER SE NÃO SE RESPEITOU O INTERVALO ENTRE AS DOSES? Completar o esquema independente do tempo decorrido desde a última dose. QUAL É A EFICÁCIA DA VACINA? Ambas as vacinas possuem eficácia próxima a 100% na proteção de lesões pré-cancerosas e adenocarcinoma in situ relacionadas ao HPV 16 e 18 e a vacina quadrivalente possui eficácia de 100% na prevenção de verrugas genitais causadas pelos HPVs 6 e 11. A VACINA CONTRA HPV É SEGURA? QUAIS REAÇÕES ADVERSAS PODEM OCORRER? Sim, o comitê consultivo de segurança vacinal da OMS estabeleceu que as vacinas possuem excelente perfil de segurança. Nos estudos clínicos, reações locais leves e temporárias no local da injeção (eritema, dor ou edema) foram de 10 a 20% mais freqüentes entre aqueles que receberam a vacina contra HPV em comparação com o grupo controle. Nenhuma das reações sistêmicas teve relação causal com a vacina contra o HPV. MULHERES GRÁVIDAS PODEM TOMAR A VACINA CONTRA HPV? Não. Se já foi iniciada a vacinação, no puerpério completar o esquema independente do tempo decorrido desde a última dose. Mulheres grávidas que se expuseram inadvertidamente a vacinação nos estudos, não apresentaram complicação fetal ou maternas maiores que o grupo controle. MULHERES QUE JÁ POSSUEM O HPV PODEM TOMAR A VACINA? Sim. Em mulheres que eram positivas à inclusão no estudo, a um ou mais tipos de HPV cobertos pela vacina (HPV 6, 11, 16 ou 18), a vacina quadrivalente recombinante contra o papilomavírus humano (tipos 6, 11, 16 e 18) proporcionou proteção contra a doença relacionada aos outros tipos (isto é, proteção contra os tipos pelos quais não haviam sido contaminadas). Em outras palavras, uma pessoa infectada pelo HPV do tipo 6 antes da vacinação pode ainda receber proteção contra a doença causada pelos HPV dos tipos 11, 16 e/ou 18. Sabe-se que apenas 0,1 a 0,3% das mulheres apresentam positividade para os 4 tipos de HPV (6,11,16 e 18). O QUE É PROTEÇÃO CRUZADA? É definida como a possibilidade da vacina em disparar respostas imunes capazes de neutralizar tipos de HPV não contemplados na vacina e isto se deve a sua relação filogenética. Ambas as vacinas mostram eficácia parcial contra infecções causadas pelo HPV 31 e 45, relacionados geneticamente ao HPV 16 e 18. A VACINA CONTRA HPV PODE SER ADMINISTRADA SIMULTANEAMENTE COM A VACINA H1N1 (GRIPE SUÍNA)? Sim. No informe operacional da Estratégia Nacional de Vacinação Contra o Vírus Influenza Pandêmico (H1N1) do Ministério da Saúde, a recomendação em relação à administração simultânea com outras vacinas é de que como regra geral, uma vacina inativada como a vacina contra HPV pode ser administrada simultaneamente ou em qualquer data antes ou depois de outra vacina (viva ou inativada), não devendo perder-se oportunidades de vacinação. Assim, quando for necessária a administração simultânea de outra vacina ou com um intervalo inferior a quatro semanas, esta deve ser efetuada em locais anatômicos diferentes, com registro do local de cada injeção, de acordo com o recomendado pelo Programa Nacional de Imunização. EM MULHERES VACINADAS, COMO REALIZAR A PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO? Até o momento, preconiza-se o mesmo rastreamento que em mulheres não vacinadas. Considerar teste de HPV e triagem apropriada a intervalos maiores (3 a 5 anos). IMPACTO NAS APRESENTAÇÕES DE VERRUGAS GENITAIS APÓS IMPLEMENTAÇÃODA VACINA QUADRIVALENTE CONTRA O HPV NO PROGRAMA NACIONAL DA AUSTRÁLIA PARA MULHERES JOVENS Este estudo (Fairley et al. 2009) examinou as alterações nas apresentações das verrugas genitais após a introdução do programa de vacinação contra o HPV. O governo australiano vacinou em abril de 2007 as meninas que estudavam nas escolas e em julho de 2007 as mulheres com até 27 anos (fora da escola). A proporção de mulheres < 28 anos diagnosticadas com verrugas diminuiu 25% por trimestre em 2008 em comparação ao aumento de 1,8% visto de 2004 a 2007 (diferença significativa p<0,001). Também se observou redução trimestral de 5% no grupo de homens heterossexuais. A proporção de herpes ficou estável no período estudado. A magnitude da redução das verrugas genitais tem importantes implicações na morbidade e custos associada a verrugas genitais. Fontes: 1.Bulas das vacina bivalente e quadrivalente recombinante contra HPV. 2. Calendário de vacinação do adolescente. Associação Brasileira de Inunizações (SBim). Disponível em: www.sbim.org.br/ sbim_calendarios2008_adolescente.pdf. Acessado em março de 2010. 3. WHO. Human papillomavirus vaccines WHO position paper. Disponível em http://www.who.int/hpvcentre/publications/en/ 4. Ministério da Saúde. Informe técnico operacional. Estratégia Nacional de Vacinação Contra o Vírus Influenza Pandêmico (H1N1) 2009 Disponível em http:// www.conasems.org.br/files/Informe_Tecnico_05_03.pdf. Acessado em março de 2010. 5. Bosch FX. Broad-Spectrum Human Papillomavirus Vaccines: New Horizons but One Step at a Time. JNCI. 2009;101:771-3. 6.Lepique AP et al. HPV vaccination: the beginning of the end of cervical cancer? - A Review. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2009;104:1-10. 7. Bayas JM et al. Cervical cancer vaccination indications, efficacy, and side effects. Gynecol Oncol. 2008;110(3 Suppl 2):S11-4. 8. Monsonego J. The new challenges in the prevention of cervical cancer. Vaccine 2008;26 Suppl 1:A4-6. 9. Fairley CHK et al. Rapid decline in presentations of genital warts after the implementation of a national quadrivalent human papillomavirus vaccination programme for young women. Sex Transm Infect. 2009;85:499-502. 107 Eventos AGENDA 2010 JUNHO SETEMBRO 23/06 a 26/06 XV TROCANDO IDÉIAS Capítulo do Rio de Janeiro Local: Flórida Hotel – Rio de Janeiro - RJ Informações: www.abgrj.org.br 14/09 a 18/09 WORLD FORUM OF COLPOSCOPY, GYNAECOLOGICAL ONCOLOGY AND MASTOLOGY Local: Toluca – Edo. de México Informações: www.cancermujer.com 26/06 CURSO DE IMUNOLOGIA Capítulo de São Paulo Local: Hotel Golden Tulip – São Paulo - SP Informações: (11) 3283-4121 com Elza / 5611-2702 com Nilza - [email protected] ou [email protected] OUTUBRO 07/10 a 10/10 XIV Congresso Brasileiro de Genitoscopia Local: Porto Alegre - RS Informações: www.colposcopia.org.br / www.nossaequipe.com JULHO 03/07 A 08/07 26th INTERNATIONAL PAPILLOMAVIRUS CONFERENCE AND CLINICAL WORKSHOP Local: Montreal - Canadá Informações: www.hpv2010.org 13/10 a 16/10 CONGRESO DE LA FEDERACION LATINOAMERICANA DE PATOLOGIA DEL TRACTO GENITAL INFERIOR Y COLPOSCOPIA. Local: Cartagena - Colômbia Informações: www.colpolatin2010.org AGENDA 2011 08/07 A 11/07 14º. Congreso Internacional de Colposcopía Local: México Informações: Tel / Fax: 55 84 31 31 e 55 64 11 11 Homepage: [email protected] AGOSTO 14/08 CERVICOLP JAÚ 2010 Local: Jau - SP Informações: Tel: (14) 3602-1241 e 3602-1398 Homepage: [email protected] 26/08 A 28/08 IV CONGRESO NACIONAL E INTERNACIONAL DE COLPOSCÓPIA Y PATOLOGÍA DEL TRACTO GENITAL Local: Mexico Informações: [email protected] / www.conadico.org.mx 108 4 a 7 de Julho XIV WORLD CONGRESS OF CERVICAL PATHOLOGY & COLPOSCOPY Informações: www.colposcopy2011.com.br Título de qualificação em patologia do trato genital inferior e colposcopia Associação Brasileira de Genitoscopia Edital do concurso 2010 DATA: 05 de Outubro de 2010 LOCAL: Porto Alegre - RS - durante o XV Congresso Brasileiro de Genitoscopia – Patologia do Trato Genital Inferior COMISSÃO DE QUALIFICAÇÃO: Presidente da Comissão de Título de Qualificação Gestão 2009-2011: Gutemberg Almeida Comissão: Aristóteles Ramos, Ângela Andrade, Isabel do Val, Nathalia Ferré e Yara Furtado. · Fotocópia de comprovante de estágio em Genitoscopia e/ou Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia; · Comprovante do pagamento da anuidade da Associação Brasileira de Genitoscopia do ano do concurso; · Comprovante do pagamento (recibo ou comprovante de depósito) das taxas de inscrição no Concurso e no XV Congresso Brasileiro de Genitoscopia; Esses documentos deverão ser encaminhados pelo correio através de carta registrada ou SEDEX, impreterivelmente, até 20/07/2010 aos cuidados da Comissão do Título de Qualificação 2010 – Rua Santa Clara 115 sala 504 CEP 22041-010 Rio de Janeiro-RJ. PRÉ-REQUISITOS PARA REALIZAR O CONCURSO DO TÍTULO DE QUALIFICAÇÃO EM PATOLOGIA DO TRATO GENITAL INFERIOR E COLPOSCOPIA: OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: 1. Ser filiado a Associação Brasileira de Genitoscopia em qualquer um de seus Capítulos. · O pagamento da taxa de inscrição do XV Congresso Brasileiro de Genitoscopia deve ser realizado na conta: Banco do Brasil Banco 001 – UNICRED POA - Agência: 1249 Conta: 38637-5 e o pagamento da taxa para do Concurso do Titulo de Qualificação deverá ser realizado na conta da ABG no Banco Real Agência: 0254 conta: 6717475 e os comprovantes enviados por fax para a secretaria: Nossa equipe - 051-3335-1933 ou para o e-mail [email protected] 2. Graduação em Medicina, em instituição de ensino superior aprovada pelo MEC. Para os estrangeiros é necessária graduação equivalente, com o respectivo certificado de revalidação do diploma fornecido pelo MEC. 3. Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia em Instituição Oficial reconhecida pelo MEC ou 4. Especialização em Ginecologia e Obstetrícia em Instituição Oficial. ou 5. Residência Médica em uma das especialidades afins da ABG (Anatomia Patológica, Dermatologia, Urologia ou Protologia), em instituição oficial reconhecida pelo MEC. ou 6. Título Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) da FEBRASGO. ou 7. Estágio em Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia que perfaça 180 (cento e oitenta) horas. Poderá haver somatória de cursos com a finalidade de totalizar as 180 (cento e oitenta) horas. · Os documentos citados não serão devolvidos. · A ficha de inscrição para o concurso 2010 assinada, com as fotocópias dos documentos obrigatórios, deverá ser enviada, impreterivelmente, até 20/07/2010 pelo correio via carta registrada ou SEDEX aos cuidados da Comissão do Título de Qualificação 2010 – Rua Santa Clara 115 sala 504 CEP 22041-010 Rio de Janeiro-RJ. · A inscrição somente será válida se estiver acompanhada de toda a documentação exigida. Verificado, a qualquer tempo, que a inscrição recebida não atende a todos os requisitos estabelecidos neste documento, ou que contém qualquer declaração falsa ou inexata, será a mesma cancelada para todos os fins, mesmo que o candidato tenha sido aprovado. · Toda declaração deverá ser efetuada em impresso próprio da entidade emitente e com o nome legível do responsável sob a respectiva assinatura. Em caso de dúvida a COMISSÃO poderá exigir prova de autenticidade do documento reconhecida em cartório. DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA A INSCRIÇÃO DEFINITIVA Para efetivar a inscrição o candidato deverá apresentar ficha de inscrição para prova de título em Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia fornecida pela Associação Brasileira de Genitoscopia, completa e corretamente preenchida, com os documentos abaixo: · A não integralização dos procedimentos de inscrição (pagamento da taxa de inscrição, entrega da Ficha de Inscrição devidamente preenchida) implica DESISTÊNCIA do candidato e sua conseqüente ELIMINAÇÃO do Concurso. · Fotocópia do diploma de graduação em Medicina; · Fotocópia da carteira do Conselho Regional de Medicina; · Fotocópia do comprovante de Conclusão de Residência Médica, Especialização ou TEGO; · Em casos de dúvidas quanto à documentação, a comissão de qualificação entrará em contato com o candidato, preferencialmente, via e-mail. Se não houver resposta, a secretaria da ABG fará três tentativas de conta109 to via telefônico por três dias consecutivos, se não for possível contatar o candidato, a inscrição será cancelada. · Não serão aceitos documentos entregues após o término do período estipulado pela Comissão do Título de Qualificação que é de 20/07/2010. DIVULGAÇÃO DA LISTA DE APROVADOS Será publicada no site da ABG www.colposcopia.org.br em até 30 dias do término das provas. CASOS OMISSOS DAS PROVAS O concurso para obtenção do título constará de duas provas, a saber: · Prova teórica com peso 4. · Prova prática com peso 6. O candidato só se submeterá à prova prática se obtiver 50% de acertos na prova teórica. A) PROVA TEÓRICA Constará de 60 questões de múltipla escolha com 4 alternativas, sendo que somente uma será a correta, valendo cada uma 0,167 de ponto. Total da prova será de 10 pontos. As questões versarão sobre os temas abaixo: · Fisiologia do Trato Genital Inferior. · Citologia e histologia do trato genital inferior. · Aparelhagem, instrumental, técnicas do exame colposcópico. · Terminologia colposcópica: Achados colposcópicos normais, anormais, miscelânia, insatisfatórios e sugestivos de câncer invasor no TGI. · Técnicas de biópsia no TGI. · Colposcopia no ciclo grávido-puerperal. · Colposcopia na adolescência e no climatério. · Neoplasia intraepitelial escamosa e glandular no TGI. · Doença anal e perianal HPV-induzidas. · Classificações citopatológicas e histopatológicas no TGI. · Aspectos cito-histológicos das infecções, das neoplasias intraepiteliais e do carcinoma invasor no TGI. · Carcinoma micro-invasor do colo uterino. · Neoplasias invasoras do TGI. · Biologia molecular aplicada à patologia do TGI. · Princípios básicos de imunologia do TGI e da infecção pelo HPV. · Imunossupressão e o TGI. · Doenças sexualmente transmissíveis. · Ecossistema vaginal: Flora normal e patológica. · Vulvovaginites. · Dermatoses vulvares. · Vacinas contra o HPV. B) PROVA PRÁTICA Constará da interpretação de imagens colposcópicas, citológicas e histológicas acompanhadas de questões relacionadas com respostas de múltipla escolha com 4 alternativas, sendo que somente uma será a correta, no total de 20 questões de múltipla escolha, valendo cada uma 0,5 (cinco décimos) de ponto. O total da prova será de 10 pontos. Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão do Título de Qualificação, “ad referendum“ da Diretoria da ABG. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA · DePalo G, Chane W, Dexeus S. Patología y tratamiento del tracto genital inferior. Ed Masson, Barcelona, 2002. · Gross G, Barrasso R. Infecção pelo Papilomavírus humano. Atlas Clínico de HPV. ARTMED, Porto Alegre, 1999. · Kurman RT, Solomon D. O sistema Bethesda para relato do diagnóstico citológico cervicovaginal. Revinter, Rio de Janeiro, 2005. · Leibowitch M, Staughton R, Marwood R. An atlas of vulval disease. London, Martin Dunitz Ltda, 1995. · Martins NV, Ribalta JCL. Patologia do trato genital inferior. São Paulo: ROCA, 2005. · Mortoza Jr G. Patologia Cervical – Da teoria à prática clínica. Rio de Janeiro: Medbook, 2006. · Singer A, Monaghan J. Colposcopia, Patologia e Tratamento do Trato Genital Inferior. Rio de Janeiro, Revinter 2ª edição 2002. · INCA - Ministério da Saúde. Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condutas Preconizadas, recomendações para profissionais de saúde. 2ª. Edição, Rio de Janeiro, 2006. · Consensus Guidelines of American Society for Colposcopy and Cervical Pathology. Disponível em http://www.asccp.org/consensus.shtml · Marchetta Jacques e Phillippe Descamps. Colposcopia técnica, indicações, diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro, Revinter, 2004. · Ridley CM e Neil SM. A Vulva. Rio de Janeiro, Revinter 2ª edição, 2003. · Apgar. Colposcopia, princípios e prática. Rio de Janeiro, Revinter 2ª edição, 2010. · Passos MRL. Doenças Sexualmente Transmissíveis. Rio de Janeiro. Cultura Médica 5ª edição 2006. DA APROVAÇÃO O candidato que obtiver média ponderada igual ou superior a 6,0 será considerado aprovado. ATENÇÃO Devido ao Congresso Mundial de Patologia Cervical e Colposcopia, não haverá prova de título de qualificação em 2011. 110
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