A Indústria do Disco
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A Indústria do Disco
A Indústria do Disco Economia das Pequenas e Médias Gravadoras da Indústria Fonográfica da Cidade de Buenos Aires Pesquisas OiC Chefe de Governo ANIBAL IBARRA Vice-Chefe de Governo JORGE TELERMAN Secretário da Cultura GUSTAVO LOPEZ Subsecretária de Gestão e Indústrias Culturais STELLA PUENTE Subsecretária de Patrimônio Cultural SILVIA FAJRE Observatório de Indústrias Culturais COORDENADOR OCTAVIO GETINO EQUIPE DE PESQUISAS Fernando Arias Gabriel Mateu Andrés Rabinovich Gabriel Rotbaum Revisão - Espanhol Julieta Lopérgolo Tradução - Português Maluh Duprat Revisão Técnica - Português Jerome Vonk ISBN 987-22339-0-X Av. de Mayo, 575 P.B. Oficina 5 054-11-43239705 www.buenosaires.gov.ar/observatorio 2 Com o apoio da Aliança Global para a Diversidade Cultural, uma iniciativa da UNESCO, e da OEI. A Indústria do Disco Economia das Pequenas e Médias Gravadoras da Indústria Fonográfica da Cidade de Buenos Aires Série Pesquisas OiC Observatório de Indústrias Culturais Subsecretaria de Gestão e Indústrias Culturais Secretaria da Cultura Governo da Cidade de Buenos Aires Pesquisador responsável: César Palmeiro Assistente: Fernando Krakowiak 3 Índice Apresentação .......................................... 5 Introdução ............................................... 6 A Indústria do Disco ................................ 8 Anexos .................................................. 98 Bibliografia .......................................... 122 Agradecimentos .................................. 123 4 Apresentação 5 A música, como ocorre desde o início da história, constitui um dos recursos mais geniais produzidos pelo homem para expressar suas emoções e imaginação, e ainda construir seus processos de identidade. As inovações tecnológicas do último século e as mudanças radicais incorporadas à produção, registro e percepção musical incidem, hoje mais do que nunca, em diversos campos da economia e da cultura. Integrante de um complexo industrial mais amplo – o audiovisual -, a música gravada enfrenta hoje novos desafios, se considerarmos o contexto mundial no qual está inserida, altamente condicionado pela concentração e globalização da economia do setor, além de intensos processos transculturais. Isso força a estudar e avaliar a situação do setor, analisando, principalmente, os problemas que essas mudanças estão gerando em sua área mais vulnerável – ao mesmo tempo que, culturalmente, a mais representativa - a da produção musical. Estamos nos referindo às pequenas e médias gravadoras, que tanto por seu trabalho com a diversidade autoral e criativa, como por sua dimensão econômica e empregatícia, formal e informal, constituem um dos focos de maior atenção por parte da Subsecretaria de Gestão e Indústrias Culturais do Governo da Cidade de Buenos Aires.. Assim, o Observatório de Indústrias Culturais (OIC) pretende contribuir com esta nova publicação – a cargo de César Palmeiro, com a assistência de Fernando Krakowiak -, a uma maior compreensão dos desafios que enfrentam na atualidade as pequenas e médias empresas dessa indústria em nossa cidade. E também na formulação de algumas propostas de políticas que promovam o desenvolvimento produtivo e criativo da música gravada, como parte de um projeto de incentivo ao trabalho de nossos autores e intérpretes, além do fortalecimento da indústria e da cultura nacional. Com a publicação deste trabalho, damos início à “Série Pesquisas OiC”, que terá continuidade tanto com pesquisas específicas (a próxima será sobre o setor Editorial), como de caráter mais amplo, que analisem as potencialidades e dificuldades da criação e da produção cultural da cidade. Observatório de Indústrias Culturais (OIC) da Cidade de Buenos Aires A Indústria do Disco Economia das Pequenas e Médias Empresas da indústria fonográfica da Cidade de Buenos Aires Introdução A música é uma das formas mais fundamentais da expressão humana e, como tal, um elemento essencial dentro da cultura local, regional e internacional. Todos escutamos música em algum momento do dia e estamos expostos a ela em inúmeras situações cotidianas, não necessariamente vinculadas ao lazer. A música enriquece continuamente nossas vidas, ao mesmo tempo em que constitui o meio de vida de uma grande quantidade de trabalhadores envolvidos em sua produção e distribuição, além de ser um fator chave e de vital importância em muitas das demais atividades culturais, como o cinema, a publicidade, o rádio e a TV. Mas talvez sua característica mais importante, diferentemente de outras expressões artísticas, seja sua penetração manifesta em praticamente todos os grupos e segmentos da sociedade, e por isso não é de se estranhar que seja considerada a mais fundamental de todas as manifestações artísticas. O disco é o elemento essencial da indústria musical: constitui o meio de catalisação e distribuição da música por excelência. A possibilidade técnica de codificar a música em um suporte físico para sua posterior reprodução, permite que a materialize e, ao desvincular o consumo da execução, a desloca, fazendo-a chegar a um número virtualmente ilimitado de consumidores. Sua grande relevância nos negócios musicais é a razão pela qual, hoje em dia, os termos “indústria da músca” e “indústria fonográfica” tenham praticamente o mesmo significado. Na verdade, é graças à padronização, à reprodução em série e à possibilidade de armazenamento que o disco permite, é que podemos falar em uma verdadeira indústria da música. 6 Atualmente, as pequenas e médias gravadoras (¿ Nota do revisor: no âmbito desta publicação, selo e gravadora são considerados sinônimos) têm um papel vital no setor. A lógica corporativa de máxima rentabilidade das grandes gravadoras, baseada na oferta em grande escala de produtos homogêneos, investimentos seguros e rápido retorno dos mesmos, impede muitas vezes o desenvolvimento de grandes talentos locais, autorais e criativos, com o conseqüente prejuízo para a identidade e diversidade cultural no campo da música gravada. De outro lado, as pequenas e médias gravadoras (isto é, a produção independente), graças ao seu maior número, ao elevado grau de heterogeneidade e o privilégio de critérios estéticos (antepondo-se com freqüência aos estritamente comerciais), contribuem significativamente para a diversidade cultural da sociedade, a ponto de converter-se em verdadeiros espaços de política cultural. As grandes gravadoras suspenderam quase por completo a busca e o aprimoramento de novos artistas e conteúdos (de fato, quase todas as filiais argentinas eliminaram de suas estruturas o departamento de direção artística, responsável por essa tarefa), deixando nas mãos dos selos e produtores independentes essa primordial e necessária função. Esses fatores revelam a grande importância de um setor independente, forte e diversificado – disso dependerá, em grande parte, uma indústria fonográfica prolífera e saudável. O objetivo deste trabalho é justamente analisar a situação atual, dificuldades e perspectivas da indústria fonográfica na cidade de Buenos Aires, com especial atenção às pequenas e médias gravadoras do setor. Apesar de seu papel fundamental na cadeia industrial, a grande vulnerabilidade dos selos independentes – inclusive pela atual situação crítica -, representa uma visível ameaça para o conjunto do negócio. Com o propósito de garantir a continuidade e o desenvolvimento desse subsetor, esta pesquisa tentará elucidar os principais obstáculos para sua consolidação e crescimento, a fim de elaborar recomendações de políticas que contribuam para a melhoria dos programas, projetos e atividades do Governo da Cidade de Buenos Aires nessa área. O presente trabalho está dividido em sete seções principais. Na primeira, serão expostas as particularidades da música como bem de consumo e seu impacto na estrutura do negócio a nível global, analisando os processos na cadeia produtiva da música gravada, assim como os agentes envolvidos. Nas duas seções seguintes, será descrita a situação tanto do mercado mundial de discos, como do mercado argentino, enfatizando-se algumas características da Cidade de Buenos Aires como centro fonográfico nacional. A seguir, analisaremos as tendências de consumo e pirataria na Argentina, para depois darmos lugar a uma análise mais profunda da cadeia produtiva da indústria fonográfica: agentes, custos de produção, investimentos e rentabilidade dos projetos independentes. Finalmente, concluímos o trabalho com a descrição dos principais obstáculos para o desenvolvimento das pequenas e médias gravadoras e algumas recomendações de políticas para tentar sanar esses problemas. 7 A música gravada como bem de consumo A indústria fonográfica pertence ao conjunto das denominadas indústrias culturais. Essas indústrias são constituídas por empresas que provêem o mercado de bens e serviços, os quais incorporam determinados valores culturais, artísticos ou simplesmente de entretenimento. Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, é possível categorizá-las entre aqueles setores produtivos que, de uma ou outra maneira, satisfazem a demanda dos consumidores por entretenimento, adorno, auto-afirmação, cultivo do espírito, projeção social e diferenciação. Seus produtos são determinados por um alto conteúdo simbólico em relação ao seu propósito utilitário: livros, periódicos, rádio, televisão, vídeo, cinema, publicidade e, é claro, discos, são os campos mundialmente reconhecidos das indústrias culturais. As características dos produtos e serviços provindos desse tipo de indústria, assim como as particularidades de seus processos de produção, têm importantes conseqüências, tanto na dinâmica como na organização econômica dessas indústrias. Nesse sentido, elucidar as particularidades dos produtos e serviços musicais é uma etapa fundamental deste trabalho, para a compreensão do funcionamento e da estrutura da indústria fonográfica. O impacto da música na sociedade apresenta características bastante especiais, que pode ser compreendido através da análise de dois componentes fundamentais: seu valor simbólico e seu valor funcional. O valor simbólico inerente à música confere à produção de conteúdos musicais um status adicional, diferenciando-a das demais indústrias de bens e serviços tradicionais. Proporciona a ela atributos de bem público, uma vez que os benefícios derivados de sua produção superam em grande escala os benefícios econômicos que possam advir de sua comercialização no mercado. A música, como elemento constitutivo do patrimônio nacional cultural, ao mesmo tempo em que revela um valor de pertinência e identidade nacional, contribui para o espírito criativo e inovador dos indivíduos, com tudo o que isso implica tanto a nível econômico, como social. 8 Em outras palavras, a provisão da música e a existência de um patrimônio musical-cultural de uma sociedade, representam valores não considerados pelo mercado, ou seja, que não se refletem (ou refletem-se erroneamente) nos preços dos produtos musicais. Se o mercado atuar por sua conta, gerase uma oferta de produtos e serviços musicais inferior ao máximo benefício social desejado, o que se conhece como falha de mercado. Essa ineficiên- cia do mercado em estabelecer recursos no âmbito da cultura, constitui o principal argumento para a intervenção e o apoio do Estado na atividade musical. 9 O conceito de valor funcional refere-se ao valor prático ou utilitário resultante do consumo do produto ou serviço musical. Esse valor é traduzido em preços, mediante mecanismos do mercado, quantificando seu impacto diretamente na economia. Nesse sentido, a música representa um elemento gerador de valor econômico e empregatício. Em relação ao direito de propriedade sobre composições e interpretações, a música pode ainda gerar benefícios econômicos diretos a partir de sua produção e distribuição. Dada a grande quantidade de ramificações em relação a outras indústrias (gráfica e editorial, por exemplo), ela pode representar ainda um importante fator de desenvolvimento econômico. A indústria da música Não existe uma única forma de comercializar a música. Uma obra musical é a expressão de um conjunto de idéias em um dado momento; sua exploração econômica consiste em levar essas idéias ao mercado de diferentes formas, como bens tangíveis (gravações musicais fixadas em suportes físicos ou fonogramas), serviços - como os que os músicos oferecem durante um show -, e também como licenças, direitos e outras formas de usufruto da propriedade intelectual. Não obstante, de todas essas formas de mercantilização da música, a indústria fonográfica é atualmente a mais importante em termos econômicos de todo ramo da música. Para compreender melhor a estrutura, a dinâmica e a organização da indústria fonográfica, nesta primeira seção do trabalho serão analisadas descritivamente algumas das características inerentes à música como bem de consumo em uma moderna economia capitalista, assim como os principais processos e agentes envolvidos na produção e distribuição de fonogramas. Principais agentes As atividades da indústria fonográfica concentram-se em torno da possibilidade técnica de reproduzir maciçamente gravações musicais fixadas em suportes físicos (fonogramas). Desde a composição da obra até sua chegada às mãos do consumidor, uma série de agentes intervêm nos diferentes processos envolvidos na indústria do disco. Esses agentes são os seguintes: 10 • Autor ou compositor: é o criador da obra que será objeto da gravação sonora. • Intérpretes: são os cantores e músicos que executam as obras quando são gravadas. Ultimamente, as funções de compositor e intérprete acabam por se fundir, já que é bastante freqüente, na música popular, que o artista seja o intérprete de sua própria obra. • Produtor artístico: é o encarregado de coordenar as tarefas de gravação, nas quais se efetiva a execução dos intérpretes. Seleciona, freqüentemente, as instalações onde se realizam as interpretações (estúdios musicais), assim como o pessoal envolvido (engenheiros, técnicos de som, outros músicos). Sua tarefa tem um componente criativo importante: em geral, dirige artística e tecnicamente a gravação a fim de desenvolver um produto comercialmente atraente. • Editoras: as editoras podem ser definidas como empresárias dos autores ou compositores. O arranjo se dá da seguinte forma: o compositor cede seus direitos autorais à editora e esta, por sua vez, compromete-se a otimizar a exploração da obra em questão. Isto consiste, basicamente, em encontrar intérpretes para suas composições e expedir licenças para seu uso, em troca de uma comissão sobre o a receita. • Fabricantes: encarregam-se da manufatura e replicação dos suportes (CDs, K7s, etc.) a partir do master fornecido pela gravadora. • Distribuidores: têm a função de fazer com que os discos cheguem às lojas ou locais onde serão vendidos aos consumidores. • Gravadoras: encarregadas de selecionar artistas e repertórios e de coordenar os processos descritos anteriormente. Sua função principal é utilizar diferentes ferramentas de marketing a fim de divulgar seus produtos e promover as vendas. • Varejistas: ocupam-se da venda dos proudutos finais ao consumidor. Dinâmica da indústria fonográfica A dinâmica da indústria fonográfica é composta por três processos fundamentais: 1. Criação da música: um processo essencialmente criativo, mas que requer também a colaboração e coordenação de um grupo de distintos agentes. Compositores, letristas, músicos, produtores, engenheiros de som e outros artistas “providos de criatividade e talento” compõem, executam, editam e fixam a obra em fitas ou outro suporte de armazenamento, habitualmente em um estúdio de gravação. 2. Comercialização da música: A comercialização inclui tanto o “branding” (construção de marcas), como a difusão de informação e a criação de comunidades. Os canais mais importantes de difusão e branding são os promotores profissionais, os DJs, discotecas, estações de rádio e televisão. São eles que divulgam informações sobre novos lançamentos e servem de mostruário aos amantes da música e aos potenciais consumidores, sendo de grande importância no desenvolvimento de comunidades de fãs com gostos similares. Outros canais para o branding são a venda no varejo de merchandising (produtos propagandísticos associados aos artistas promovidos, como camisetas, adesivos, chaveiros etc.) e a colocação de cartazes promocionais em lojas de discos e locais afins. 3. Distribuição da música: Como dito anteriormente, a música pode chegar ao mercado na forma de bens tangíveis, como CDs, K7s e vinil, para ser adquirida pelos consumidores como qualquer outro produto, como por exemplo, roupas ou jogos. A distribuição consiste precisamente em fazer os produtos musicais chegar às mãos – ou ouvidos, melhor dizendo -do consumidor. Sua forma mais tradicional é o comércio varejista em lojas de disco, supermercados e, mais recentemente, em bancas de jornal, ainda que shows e discotecas também sejam espaços relevantes de distribuição de música. Atualmente, os processos inerentes à indústria fonográfica acontecem, em geral, da seguinte forma: em primeiro lugar, os músicos levam uma amostra de sua obra às gravadoras ou às editoras, onde é avaliada pelo pessoal da direção artística (também chamados A&R, ou artista e repertório, encarregados de descobrir novos talentos). Se esses porteiros (“gatekeepers”) julgarem o material promissor, têm início as negociações. 11 O artista assina um contrato com a gravadora e outro com a editora (muitas vezes filiada à primeira)1 , e a gravadora financia a gravação do disco sob a direção e supervisão de um produtor artístico (que às vezes também recebe uma porcentagem sobre as vendas, a título de pagamento). Em geral, o contrato reconhece a gravadora como proprietária da gravação ou máster (fita original do produto obtido em estúdio, de onde se originam todas as cópias posteriores), sobre a qual o artista não tem nenhum direito e pelo qual só recebe uma compensação contratual (adiantamento por futuras vendas) e “royalties” por disco vendido. Estas remunerações são independentes das outorgadas pelos direitos autorais, e correspondem a uma porcentagem sobre o faturamento dos discos comercializados pelo preço de venda sugerido, em geral de 4 a 20%, de acordo com o poder de negociação do artista. Cabe ressaltar que o artista só começa a receber “royalties” quando estiverem cobertos todos os custos de produção do disco, descontado-se o adiantamento inicial e uma determinada porcentagem dos custos dos videoclips promocionais, se for o caso.* Finalmente, a gravadora leva o master para fabricação, onde se realiza a reprodução “mecânica” do disco, dando origem ao pagamento de direitos “fonomecânicos”, a título de direitos autorais (este conceito será aprofundado mais adiante). As cópias são então entregues ao distribuidor, que se encarrega de distribuí-las às lojas de discos, enquanto a gravadora investe na promoção e no marketing do produto. Os direitos autorais e o estímulo à criatividade O direito autoral, por definição, é um monopólio por período limitado de tempo, que tem por objetivo promover o progresso da ciência e das artes, outorgando temporariamente aos criadores direitos exclusivos sobre sua obra. Esses direitos são: reproduzir a obra, distribuir cópias, apresentá-la publicamente, criar um derivativo ou subproduto da mesma e exibi-la publicamente (este último direito não se aplica à música, mas sim às artes plásticas). 12 1 Em geral, as gravadoras estão associadas às editoras, para incorporar as receitas resultantes da promoção do artista. * Nota do revisor: vale lembrar que algumas das práticas de mercado descritas neste estudo diferem sensivelmente daquelas adotadas no Brasil. O direito autoral é uma instituição constitutiva da indústria musical. De fato, a estrutura atual da indústria da música não pode ser compreendida sem considerarmos o copyright. O argumento afirma que, por não existir um sistema de proteção de direitos de propriedade intelectual, os indivíduos não teriam incentivos para produzir obras musicais únicas e criativas para o benefício da sociedade. Para garantir o provimento dessa tarefa criativa, as receitas financeiras, provenientes da utilização da obra por parte de terceiros, deveriam ser apropriadas pelo autor da obra, pelo menos por um tempo. É justamente o direito de explorar o trabalho de criação do autor ou do intérprete que constitui o núcleo dos processos econômicos e jurídicos que intervêm na indústria musical (Throsby, 1998). Desta forma, o sistema de direitos autorais seria de interesse ao bem comum, promovendo um estabelecimento eficiente de recursos. A não existência de proteção à propriedade intelectual desestimularia os autores a criarem novas obras, e as editoras e gravadoras a se interessarem pelo apoio à comercialização de obras, sua promoção e venda ao público (Zuleta e Jaramillo, 2003). Conseqüentemente, a produção de obras criativas e autênticas ficaria abaixo do nível desejado para a elevação do bem estar social. Existem, ainda, outros direitos conhecidos como “direitos conexox aos direitos autorais”. Estes têm por objetivo recompensar os intérpretes e produtores de fonogramas pela execução pública de obras das quais tenham participado. Os direitos autorais na indústria musical geram lucro a seus proprietários através de quatro canais principais: Direito de execução pública: a utilização e execução de composições musicais em público, qualquer que seja o meio e as modalidades, geram receita para seus criadores. Direito fonomecânico: este conceito vem do tempo em que os fonogramas eram replicados mecanicamente. Outorga aos criadores o direito de receber um valor pela reprodução de suas obras. Direito de sincronização: a utilização de composições musicais em “sincronia” com imagens visuais (cinema e TV) geram pagamento de direitos aos seus proprietários. Direito de edição gráfica: advêm da publicação e distribuição de partituras musicais. 13 Aspectos econômicos da música gravada Como assinalamos no início desta seção, o conhecimento das particularidades da música como bem de consumo é essencial para compreender a configuração do negócio fonográfico. O objetivo desta seção é justamente enumerar algumas destas características, de modo a compreender como esta funciona atualmente. Aleatoriedade da demanda Como em toda indústria de conteúdos artísticos-culturais, a indústria fonográfica apresenta um grau maior de incerteza acerca da demanda que nas indústrias de bens tradicionais. Qualquer atividade produtiva tem um componente de incerteza, que se relaciona à capacidade de vender um determinado volume de produtos ou serviços necessários à obtenção de um benefício esperado. No caso da indústria musical, no entanto, as bases de satisfação e utilidade provenientes do consumo de música apresentam um caráter intrinsecamente subjetivo, e dão à demanda de produtos musicais um grau de aleatoriedade e um risco econômico significativamente superiores que a dos produtos tradicionais. O sucesso de um produto musical poucas vezes é devidamente explicado, tanto a priori, como a posteriori. De dois produtos virtualmente idênticos, não é improvável que um resulte em sucesso absoluto, enquanto que o outro seja um fracasso total. Isso representa um importante fator de risco para a atividade fonográfica e, por sua vez, tem fortes implicações na configuração da indústria e nas relações entre as diferentes empresas envolvidas, assim como no tamanho e grau de concentração das mesmas, como será visto ao longo desta seção. Simetrias de desconhecimento 14 Do parágrafo anterior se depreende que, apesar do grande conhecimento que as empresas têm sobre as tendências do mercado e dos processos de produção, a princípio não há como saber se o disco será ou não bem recebido pelos consumidores. Os executivos das gravadoras sabem o que fez sucesso no passado e tentam extrapolar esse conhecimento às próximas inovações. Entretanto, dado o caráter subjetivo da demanda, sua habilidade para prever o êxito comercial de um produto é praticamente nula nas etapas iniciais do processo de produção. Por outro lado, a música gravada é um bem de informação. Qualquer coisa que possa ser digitalizada, isto é, transformada em sistema binário, é entendi- da com um bem de informação, e a música é um exemplo claro disso. Os atributos mais importantes desse tipo de bem só são conhecidos pelo consumidor depois que o produto já foi adquirido e utilizado. 15 Esses dois elementos – a subjetividade da demanda e as características dos bens de informação-, geram nos produtos musicais o que denominamos “simetria de desconhecimento” por parte da demanda, tanto na relação artista-produtor, como na relação produtor-consumidor. A simetria se dá, por um lado, pelo fato de o consumidor não saber se o produto satisfará suas exigências enquanto não o consumir, ou seja, não sabe se o disco vale a pena até comprá-lo e escutá-lo. Ao mesmo tempo, o produtor não tem como ter certeza se o produto do artista que está contratando será bem recebido pelos consumidores. Esse fenômeno bipolar representa um claro obstáculo para o desenvolvimento da atividade fonográfica. Relações culturais e sociais do produto musical Apesar de a utilidade dos fonogramas ser determinada pela satisfação obtida com o conteúdo do produto, as relações sociais e culturais também representam um importante papel em seu consumo. O gosto do consumidor e seu padrão de compra estão fortemente relacionados à estética da moda e às tendências populares. Nesse sentido, a dimensão sócio-cultural afeta significativamente o grau de satisfação e utilidade do produto; um bom exemplo disso, é o fanatismo e a histeria coletiva gerados freqüentemente por alguns ídolos pop. Fenômenos extra-preços, como tendências da moda e comportamentos de massa, têm fortes implicações na demanda da música gravada e na organização da indústria. Para vender música, os selos fonográficos não só devem estar atentos às tendências da própria música, como também às tendências globais de estilo de vida e outros segmentos da indústria criativa (cinema, moda, arte, dança). Estruturas de custo Como mencionamos anteriormente, a música gravada pode ser entendida como um bem de informação. A música pode ser muito cara em termos de produção, mas o custo para reproduzi-la é praticamente desprezível. Em termos econômicos, a produção desse tipo de bens representa altos custos fixos e baixos custos secundários. O caso da indústria musical é um bom exemplo nesse sentido: os custos ligados à gravação de um disco podem ser muito altos. Os grandes astros – tantos intérpretes como produtores -, cobram altos cachês, aos quais se somam os custos efetivos da produção do disco (horas de estúdio, equipamentos e tecnologias utilizados, honorários de outros artistas e técnicos envolvidos, e, principalmente, gastos com promoção e comercialização), enquanto que o custo para a fabricação de cópias adicionais em CDs é de aproximadamente 1 dólar. Esse tipo de estrutura de custos representa uma clara economia de escala; quanto maior a quantidade produzida, menor é o custo médio dos produtos e maior a margem de lucros para a gravadora. Em relação aos custos fixos, são compostos em sua maior parte por “fundos perdidos”. Trata-se de investimentos irrecuperáveis, de gastos anteriores à produção. Em geral, são custos pagos antecipadamente, antes do início da produção. Quando o artista firma contrato com a empresa e o disco é gravado, grande parte do investimento já foi realizado, e se o disco fracassa, não há como recuperar o dinheiro gasto com os primeiros pagamentos feitos aos artistas, horas de estúdio, fitas, músicos, produtores etc. A irreversibilidade do investimento aumenta os riscos associados à atividade e agrava ainda mais o problema da incerteza da indústria. Ciclo de vida dos produtos 16 O ciclo de vida dos produtos musicais populares são normalmente curtos. O mercado fonográfico pode ser entendido como a superposição de uma ampla gama de ciclos de produtos. Estes são determinados, pelo menos no mercado de música popular, por linhas de inovação musical. São o resultado de alguma inovação em particular de um determinado produto musical capaz de instaurar um novo paradigma musical. Os artistas procuram imitar esse novo paradigma ou o padrão particular que este apresenta. Na medida em que cresce a familiaridade dos potenciais compradores com a nova música (isto graças ao esforço dos supply-siders, que disparam uma reação em cadeia nas estações de rádio, canais de TV e revistas musicais para jovens), produz-se a ascensão e consolidação do novo paradigma musical. Nesta etapa, ele se estabelece como um novo estilo musical. No entanto, depois de um tempo, o gosto dos consumidores se satura e já não há mais incentivos para que se continue imitando um estilo em decadência. Então, uma outra inovação deverá surgir para que as vendas não despenquem e a indústria continue seu curso. Nesse sentido, é muito importante que novos produtos sejam lançados permanentemente para manter um volume de negócio; algum deles deverá conquistar um segmento importante do mercado e gerar ganhos significativos, marcando uma nova linha de inovação ou paradigma musical. Assim mesmo, é necessário uma grande variedade de novos lançamentos para compensar a instabilidade do mercado, pois apesar dos esforços de promoção e marketing, nove entre dez lançamentos causam prejuízos para as gravadoras2 . Um bem de luxo A música gravada é considerada um bem de custo elevado ou de luxo, dada a alta elasticidade da demanda que apresenta. Isto significa que uma queda no nível de renda dos consumidores tem um impacto negativo proporcional sobre as vendas. Os ciclos de atividade econômica – e mais especificamente as fases descendentes - representam grandes riscos para as empresas do setor fonográfico, particularmente para os selos independentes, que muitas vezes não contam com respaldo financeiro para enfrentar prolongadas recessões. Tamanho do mercado O tamanho do mercado também tem fortes implicações, sobretudo em relação à diversidade de produtos oferecidos. Nas palavras de Luis Stolovich, “quanto menor o mercado, mais restrito o diapasão das criações culturais com viabilidade econômica, ou seja, que podem ser transformadas em “produtos”, com um mercado que lhes garanta a recuperação dos custos materiais, a remuneração dos agentes e um certo retorno financeiro. A diversidade criativa, em uma mera perspectiva econômica, fica restrita aos limites impostos pelo tamanho do mercado.” Esse fator deve ser bastante considerado no caso das economias em desenvolvimento e de baixo/médio poder aquisitivo, como a Argentina. Implicações das particularidades A configuração da indústria fonográfica é o resultado da combinação das particularidades mencionadas anteriormente com o afã pelo lucro, próprio da moderna empresa capitalista. O desejo de reduzir a incerteza em um mercado inerentemente arriscado, assim como o aproveitamento de economias de escalas e internas, são a pedra fundamental para entender a estrutura da indústria fonográfica. 2 Segundo informação fornecida pela RIAA (Record Industry Association of America). 17 Redução da incerteza A fim de reduzir os riscos associados à aleatoriedade da demanda, as empresas se vêem obrigadas a realizar importantes investimentos em promoção e marketing de seus produtos. Apesar de as possibilidades de sucesso dos produtos se basearem na qualidade artística e sonora de seus conteúdos, os investimentos em marketing e promoção têm um papel fundamental. Produção de videoclips, assessoria de imprensa, apoio em turnês, campanhas de marketing em rádio, televisão, vias públicas e imprensa escrita, são algumas das principais ferramentas utilizadas pelas empresas fonográficas para tentar influir no gosto dos consumidores e reduzir a incerteza. Desta forma, a promoção permite ao consumidor conhecer um pouco mais sobre o produto, sem a necessidade de comprá-lo, reduzindo assim a simetria do desconhecimento a que nos referimos em parágrafos anteriores e, dessa maneira, dinamizando significativamente o negócio. É certo que o gasto em publicidade requer um cacife financeiro considerável, quesito raro para a grande maioria dos selos, e que levanta imensas barreiras para o ingresso na indústria, favorecendo assim um alto grau de monopólio. Ao mesmo tempo, a necessidade contínua de introduzir novos produtos e o grande número de lançamentos mal sucedidos, imersos no esquema “winnertakes-all” (o ganhador leva tudo), acentua a exigência de possuir uma grande retaguarda financeira, reforçando a concentração empresarial. Economia de escopo A relação cada vez mais estreita, técnica e mercadológia, em meios como os discos, vídeos, filmes, a televisão em todas as suas formas e a Internet (Zuleta e Jaramillo, 2003), permite que se comercialize um mesmo artista em diversos formatos, multiplicando as fontes de lucro e aproveitando melhor o investimento em promoção. Essa relação favorece a presença das “economias de escopo”, como são conhecidas no jargão econômico. São aquelas reduções no custo médio de produção (e especificamente de promoção) de dois ou mais bens horizontalmente diferentes dentro de uma mesma empresa. 18 Esse tipo de benefício tem levado as grandes companhias fonográficas a fundir-se com outras indústrias correlatas. Dessa forma, as grandes empresas deixam de ser simples produtoras de discos para se tornar parte de conglomerados multimidiáticos de entretenimento (Yudice, 1999), que integram o cinema, a televisão, as editoras e os videogames, entre outras atividades. Não obstante, os efeitos desse tipo de estratégias não terminam aí. As interrelações entre os diferentes meios de entretenimento retroalimentam esses esforços em promoção, multiplicando seu impacto sobre os consumidores e aumentando consideravelmente sua influência nas preferências populares. A expansão e consolidação horizontal confere a essas empresas um grande poder quanto à criação e delineamento de tendências e modismos populares, influindo significativamente na demanda e com isso reduzindo sua aleatoriedade. Obviamente, esse tipo de estratégias limita ainda mais a visibilidade e potencialidade dos pequenos selos, e eleva ainda mais o monopólio empresarial e as barreiras para o ingresso na indústria fonográfica. Economias de escala Como explicamos anteriormente, a estrutura de custos da produção de discos goza de importantes economias de escala. A fim de tirar proveito dessas economias, desde o início do século passado, as grandes empresas fonográficas – isto é, as poucas companhias que estavam em condições de fazê-lo -, iniciaram um importante processo de internacionalização para abranger uma maior quantidade de mercados onde comercializar seus produtos. Isso resultou na instalação de filiais em praticamente todos os mercados com algum poder de compra, fortalecendo o monopólio empresarial a nível mundial. Ao mesmo tempo, essa filiais permitiram a produção e comercialização de talentos locais, atendendo assim uma significativa parcela da demanda dos países periféricos e constituindo uma fonte adicional de lucro. A comercialização do disco em mercados periféricos por vezes assume a forma de dumping. Os mercados predominantemente exportadores de música (Estados Unidos, Reino Unido, Europa) são suficientemente grandes para garantir o retorno do investimento realizado em produção e promoção, e, nesse sentido, os mercados periféricos constituem simplesmente uma fonte extra de lucros. Ainda que o câmbio não seja favorável e o produto seja vendido a preços inferiores que do mercado de origem, o baixo custo da replicação faz com que os lucros representem ganhos líquidos para as gravadoras multinacionais. Esse tipo de conduta gera a denominada “concorrência desleal” e contribui consideravelmente para que a balança penda ainda mais a favor das majors, em detrimento dos selos fonográficos nacionais.* * Nota do revisor: Major é a palavra inglesa para gravadora multinacional; indie traduz-se por gravadora independente) 19 Conseqüências Concentração de mercado, internacionalização e expansão horizontal O elevado grau de incerteza, as altas barreiras no ingresso ao mercado, as economias de escopo e de escala, promovem, em grande medida, o oligopólio, a internacionalização e a expansão horizontal da atividade fonográfica. Além disso, esses fatores se vêem potencializados pela crescente globalização da economia mundial, que multiplica o alcance e a efetividade das estratégias internacionais de comercialização, permitindo que as grandes empresas se aproximem cada vez mais de um número maior de consumidores. As conseqüências de todos esses fatores são evidentes: um pequeno grupo de empresas (Sony-BMG, Warner, Universal e EMI,), controlam 75% do mercado mundial de música gravada, deixando os 25% restantes nas mãos de um grande número de pequenos e médios selos denominados independentes ou indies, cuja exposição e campo de ação são severamente limitados pelas grandes dimensões das majors. Em termos de diversidade cultural, o oligopólio empresarial na atividade fonográfica representa um grave problema. Como mencionado anteriormente neste trabalho, a incerteza da atividade leva as grandes companhias a montarem estratégias de marketing baseadas em hegemônicas campanhas multimídias, para reduzir a aleatoriedade da demanda e tentar adaptá-la aos seus próprios interesses. Esse esquema exerce uma pressão endógena na produção, no sentido de uma homogeneização do gosto do consumidor, e na consolidação de um star-system na indústria da música. 20 A luta pela diminuição do risco conduz ao endeusamento midiático de umas poucas figuras, concentrando a maior parte dos lançamentos nestes megastars. De fato, as grandes lojas de discos demonstram uma significativa predileção em confirmar o gosto das pessoas, em vez de procurar revolucioná-lo; é muito menos arriscado concentrar recursos no lançamento de um artista consagrado que apostá-los em um novo artista ou repertório diferente sobre os quais o mercado ainda não emitiu nenhum veredito. Tudo isso tende a limitar muito a diversificação de conteúdos da indústria musical, dificultando seriamente o acesso ao mercado de uma importante quantidade de talentos, repertórios e gêneros, fator que se vê ainda mais agravado no caso de mercados pequenos e periféricos, como é o argentino. As gravadoras Hoje em dia, a relação entre os dois modelos – major e independente – é um elemento essencial da atividade, e define, em grande parte, a organização do setor fonográfico. Nesta seção, examinaremos mais de perto esta complexa rede de inter-relações entre majors e indies, a fim de compreender melhor a dinâmica da atividade. Cada grupo responde a diferentes lógicas de funcionamento; enquanto as majors aplicam um modelo de negócios corporativo, baseado fundamentalmente em critérios comerciais, os selos independentes se valem de uma lógica quase artesanal, antepondo muitas vezes critérios estéticos pessoais aos comerciais. A partir da segunda metade do século XX, duas claras tendências ajudariam a delinear a estrutura da indústria fonográfica a nível mundial. Já a partir da década de 60, os executivos das grandes gravadoras começavam a perceber que a maior rentabilidade do negócio encontrava-se nos últimos elos da cadeia produtiva fonográfica, isto é, na fabricação e distribuição. Desde então (e muito mais intensamente nos anos 90), as majors têm se afastado das atividades criativas ou upstream (isto é, começaram a subcontratar as atividades de busca, seleção e produção artística), voltando-se para o downstream da indústria (basicamente, a fabricação e distribuição). Por outro lado, e sobretudo a partir dos anos 80, as grandes companhias têm se mostrado progressivamente mais interessadas na obtenção do maior volume de receita com a menor quantidade possível de lançamentos e artistas. Essa lógica do blockbuster é baseada na produção de alguns poucos megastars, e na oferta em grande escala de produtos massificados, homogeneizados e cuidadosamente adaptados aos gostos mais populares. Seu objetivo é permitir sua comercialização em uma maior quantidade de mercados, utilizando economias de escala e minimizando os custos. Não obstante, esse tipo de estratégia deixa descobertos outros mercados ou nichos menores, vinculados a gêneros e repertórios menos populares. Em geral, são gêneros musicais especiais, regionais ou mais sofisticados (como o jazz experimental ou o death metal), que por sua menor demanda, não interessam às grandes empresas. Nesse contexto, os selos independentes começaram a explorar os nichos que as grandes corporações deixavam a descoberto e, ao mesmo tempo, se especializando nas etapas “criativas” ou primárias da atividade fonográfica, su- 21 prindo as majors nas “descobertas e aprimoramentos de talentos”. Segundo George Yudice, os selos independentes objetivaram cada vez mais “descobrir e disseminar novos talentos até onde lhes seja possível, em geral no mercado local, sem os investimentos em promoção típicos das majors (...), definindose um novo acordo, segundo o qual as indies vendem ou licenciam seus contratos às majors, para que os promovam e distribuam.” (Yudice, 1999). Dessa forma, os selos independentes e as grandes companhias, em vez de se antagonizar, passaram a complementar-se, dando lugar a uma nova divisão de trabalho na indústria fonográfica, onde as indies atuam como departamentos externos de descoberta e desenvolvimento de novos talentos para as majors. As grandes gravadoras As grandes corporações são a principal fonte de lançamentos fonográficos. Como se mencionou anteriormente, as grandes empresas transformaram-se em conglomerados multimidia de entretenimento, que abrangem o cinema, a televisão, cadeias de lojas de discos e shows, entre outras atividades. Nesse sentido, a atividade fonográfica pode ser entendida como um componente integrante de uma rede globalizada de indústrias interconectadas de lazer e entretenimento. Assim, as majors caracterizam-se pelo predomínio de um modelo de negócios baseado numa lógica corporativa, determinada, por sua vez, pela maximização de receitas e de fontes de lucro. Seu alto grau de concentração e grande poder de mercado lhes permite fixar preços mediante acordos tácitos entre elas, a fim de evitar guerra de preços que acabem minando a rentabilidade do negócio. Assim, a concorrência no setor fonográfico se dá, principalmente, entre repertórios e não entre preços. Uma outra das principais características que as diferenciam dos selos independentes é que as grandes gravadoras tradicionalmente possuem seu próprio esquema de distribuição a nível nacional, enquanto que os independentes freqüentemente se vêem obrigados a terceirizar sua distribuição, ou realizá-la por sua própria conta, em geral com menor alcance. As estratégias multimídias 22 Na cúpula destes conglomerados, como administradora de todas as divisões – editorial, musical, audiovisual etc. - uma direção geral central planeja, coordena e supervisiona uma série de decisões, gerenciando pessoal, instalações, fundos e outros recursos necessários ao seu funcionamento. Este é o esquema habitualmente presente na estrutura dos grupos industriais, não sendo exclusivo da indústria de entretenimento. Dentro da organização, a divisão de discos se encarrega das operações necessárias para a execução de um conjunto de produtos e serviços: fabricar e vender música gravada em diferentes suportes (CDs, K7s, DVDs), explorar direitos autorais e prestar contas dessas atividades à direção geral. O fato de um conglomerado multinacional diversificado deter a propriedade da atividade fonográfica tem importantes conseqüências no modo de funcionamento das empresas fonográficas. Como já foi dito, a ingerência das grandes companhias nas indústrias correlatas ou complementares a dos disco, como as indústrias de livros, cinema, rádio, revistas, televisão e vídeo, permite a comercialização dos mesmos conteúdos em diversos suportes e a realização de grandes campanhas multimidia de promoção. Dessa forma, o negócio dos gigantes industriais do entretenimento baseia-se na produção de personalidades globais que possam ser difundidas e exploradas por diferentes mídias e suportes, através da publicidade, distribuição e patrocínio de produtos de consumo. Esses conglomerados utilizam seu peso e seu poder para definir tendências e modas, na tentativa de alinhar a demanda como os produtos que oferecem, diminuindo assim o alto risco associado aos lançamentos fonográficos. A constituição da BMG (Bertelsmann Music Group) insere-se claramente no modelo corporativo aqui descrito. A título ilustrativo, apresentamos a seguir um gráfico da estrutura organizacional da Bertelsmann AG. 23 Quadro 1 – ORGANOGRAMA DA BERTELSMANN AG Bertelsmann AG Direção Financeira (CFO) Conselho Diretor RTV Rádio e TV Random House Editora Gruner+Jahr Gráfica BMG Divisão Musical Arvato Serviços p/ mídia Direct Group e-commerce e clube do livro Fonte: www.bertelsmann.com O marketing multimídia e os entrelaçamentos horizontais são cruciais nesse tipo de estratégias, especialmente pela influência da “moda” sobre a demanda de bens culturais como a música gravada. A promoção de um filme serve também para promover o disco da trilha sonora, assim como o livro em que ele se baseia. Não é raro, tampouco, encontrar estrelas musicais vinculadas a lançamentos cinematográficos de primeira linha, seja fazendo parte da trilha sonora, ou atuando diretamente nos filmes (podemos citar os exemplos de Whitney Houston, Will Smith e também Diego Torres a nível local). Cada produto serve para promover ou relançar outro, gerar novas tendências e assim multiplicar o efeito publicitário e as fontes de receita da empresa, que fatura em cada uma das etapas. Em síntese, as grandes empresas aproveitam eficazmente a tecnologia e as ferramentas de marketing disponíveis, criando assim um rol internacional de superstars, capaz de gerar grandes receitas com uma menor quantidade de lançamentos, baseados na interação de um maior número de suportes de comercialização. 24 Quadro 2 – VOLUME DE NEGÓCIOS DOS CONGLOMERADOS E IMPORTÂNCIA DA DIVISÃO MUSICAL3 (em milhares de dólares) 25 Grupo Faturamento Faturamento por Divisão musical Total divisão musical Participação da divisão musical Outras atividades principais do grupo Bertelsmann $22.894 $ 3.552 15,51% Editora, Radio, TV, Jornal, Serv. de Informática, Gráficos etc. VivendiUniversal $ 32.592 $ 6.545 20,08% TV, cinema, videogames, Telecomunicações. Sony $ 72.780 $ 5.436 7,47% Eletrônicos, Cinema, Videogames, TV, Serviços Financeiros etc. $ 3.605 $ 3.605 100% Nenhuma $ 40.961 $ 4.205 10,27% EMI Group Time-Warner Internet, TV a cabo, TV. Cinema, editora. Os grandes selos fonográficos, além de pertencer a grandes conglomerados multinacionais, são ao mesmo tempo organizações nacionais e multinacionais. Mediante o estabelecimento de filiais ou da aquisição de empresas locais, as grandes gravadoras conseguiram nacionalizar-se em quase todos os países com mercados relativamente importantes. As grandes companhias fonográficas estão organizadas jurídica e economicamente sobre uma base regional, constituída por uma direção central ou matriz e por um grupo de filiais regionais. A função de intermediação entre a matriz e as filiais é realizada pelas vice-presidências encarregadas dos diferentes grupos de filiais (por exemplo, a VP Latinoamérica, a VP Europa etc.). O grau de autonomia das filiais é determinado pelos resultados que reportam à matriz. Os recursos e ativos que a matriz colocará à disposição dependerão dos rendimentos e da rentabilidade da filial e, portanto, o raio de ação da filial. Se os resultados não forem os esperados, é provável que a matriz intervenha nos assuntos locais da filial, seja realocando recursos ou dispensando os res- 3 Os dados de Bertelsmann, Sony e EMI correspondem ao ano de 2004, enquanto que os da Vivendi-Universal são de 2003 e os da Time-Warner, de 2002 (em 2003, a Time–Warner vendeu sua divisão musical para um grupo de investidores liderado por Edgar Bronfman Jr.). ponsáveis pela mesma. Por outro lado, as multinacionais dão um importante suporte financeiro a suas filiais, o que lhes permite enfrentar eventuais crises econômicas locais, garantindo sua continuidade e presença no mercado onde se encontram. Em termos organizacionais, normalmente são encontradas nas filiais os seguintes departamentos: • • • • • • • • • • A&R ou Direção Artística: encarregada de descobrir novos talentos e trabalhar com os artistas os aspectos criativos. Vendas: ocupa-se da comercialização dos discos nas lojas. Marketing: publicidade, arte da capa dos discos, vídeos promocionais, merchandising promocional etc. Promoção: ocupa-se, basicamente, em fazer com que o disco toque em todos os meios, em especial nas rádios. Gerência de Produtos: monitora e coordena as atividades dos outros departamentos (vendas, marketing, promoção). Apoio ao artista: encarrega-se de promover e apoiar as turnês dos artistas, garantindo a disponibilidade de discos nos lugares visitados etc. Produção: manufatura, impressão de capas, embalagem e envio de discos aos distribuidores. Finanças: calculam e pagam royalties, controlam receita e despesas da empresa. Jurídico: ocupa-se essencialmente dos contratos (não só com artistas) e presta assessoria legal em geral. Internacional: como o nome indica, encarrega-se das relações internacionais da gravadora, principalmente entre matriz e filial.* Conforme a empresa, algumas dessas funções podem estar reunidas num só departamento ou cargo. O tamanho do mercado da filial é também um fator fundamental nesse sentido: as filiais de mercados relativamente pequenos (como o argentino), tendem a ter um quadro funcional menor, agrupando várias funções em um mesmo departamento. No caso de selos independentes, muitas vezes todas essas funções são exercidas pela mesma pessoa. 26 * Nota do revisor: a estrutura das majors normalmente segue o mesmo padrão nos diversos territórios/países nos quais elas mantêm operações, apresentando apenas pequenas variações locais. Os selos independentes Não existe um único critério para definir um selo independente. Ao contrário das majors, que constituem um grupo relativamente homogêneo, os selos independentes apresentam uma grande diversidade de características. Há tanta variedade de tipos, estruturas e tamanhos, que talvez a melhor forma de definir um selo independente seja: empresas produtoras de fonogramas que não pertencem às grandes multinacionais, ainda que com elas mantenham acordos de distribuição. Em geral, os diretores desse tipo de selo têm alguma experiência prévia no setor da música, seja como músicos, produtores artísticos, empresários ou ex-funcionários de grandes empresas. Da mesma forma, muitos iniciaram no ramo da produção fonográfica com o objetivo de editar suas próprias obras e logo expandiram suas operações, lançando material de outros grupos e artistas; outros, simplesmente pelo vínculo com um determinado gênero musical. Os selos independentes representam o setor mais diversificado a nível econômico, político, social e cultural do mercado fonográfico. São os agentes do setor que inovam e se arriscam e, nesse sentido, os que possuem uma mentalidade de “adoção precoce”, praticamente ausente nas grandes companhias. Descobrem e incubam novas tendências e artistas, focalizando nichos e gêneros específicos. Esse tipo de empresas costuma concentrar-se em suas habilidades primárias: a descoberta de novos talentos. É raro encontrar-se integradas verticalmente e, em geral, terceirizam aquilo que não percebem como sua atividade principal. Isso lhes permite manter-se ágeis, alertas e enxutas, o que explica por que são tão boas inovadoras. As indies podem ter um catálogo de 5 ou de 500 títulos, estarem limitadas a uma pequena região ou ter um campo de ação internacional, trabalhar um ou uma variedade de gêneros e repertórios, serem individuais ou contar com uma estrutura organizacional completa etc. Sua atividade está, muitas vezes, relacionada pessoalmente com a música que produzem e editam, seja por algum interesse especial em algum gênero em particular, a busca de novos talentos desconhecidos como política da empresa ou algum tipo de compromisso político com um certo tipo de música (Yudice e Ochoa, 2002). Nas palavras de Ana Maria Ochoa, “a maioria dos selos independentes ainda se caracteriza por uma relação determinante entre estilos musicais, compromissos familiares e pessoais com um estilo em particular, e culturas de produção e 27 distribuição baseadas sobre o compromisso pessoal com a música e com um estilo particular de produção que esse compromisso gera. Portanto, a maneira como se concebe uma empresa independente, seu produto musical e sua forma de ação no mercado, varia enormemente de uma para outra. É precisamente essa pluralidade de selos que permite um processo de diversificação e enriquecimento da oferta cultural, convertendo essas empresas em verdadeiros espaços de política cultural. No entanto, a diminuição progressiva da demanda de discos em todo o mundo, somada às exigências de um mercado cada vez mais competitivo e a instabilidade econômica, levam muitas dessas companhias a redefinir-se, em muitos casos sacrificando o critério estético/ cultural pela viabilidade comercial, em prol de sua sobrevivência. Os selos independentes, em geral, não possuem departamentos que reúnam informações sobre diferentes mercados regionais e coordenem a promoção e comercialização de seus produtos em mercados variados, com é o caso das majors. De fato, as decisões são tomadas por alguns poucos agentes; o processo de decisão não tem caráter coletivo entre várias filiais e uma autoridade central encarregada da coordenação, pois é o mercado local que geralmente predomina. Assim, o processo é muito mais simples e rápido que em uma multinacional. No caso extremo do selo individual, a mesma pessoa que se ocupa dos aspectos artísticos, toca os aspectos comerciais e financeiros da organização. A separação entre as operações de desenvolvimento do produto e os níveis de decisão e controle estratégicos em uma empresa independente é pouco pronunciada. Dessa forma, por serem muito menores e ágeis, as independentes podem assimilar as oscilações do mercado com maior rapidez que uma major. As estratégias das indies 28 Por sua estrutura simplificada, menor tamanho e escasso poder financeiro, os selos independentes não utilizam estratégias multimídias de promoção e comercialização, como os grandes selos internacionais. Para compensar, as indies fazem uso de pequenos planos de promoção, apoiando-se geralmente em relações pessoais para obter a difusão de seus produtos. Nesse sentido, a possibilidade de divulgá-los junto aos consumidores representa um de seus principais desafios, já que suas opções de visibilidade na mídia ficam drasticamente restringidas diante das enormes campanhas realizadas pelas grandes empresas. Desta forma, diferentemente do modelo de negócios abraçado pelas majors – que se baseia na descoberta de alguns poucos blockbusters que vendam milhões de cópias – o modelo de atuação das gravadoras independentes repousa sobre a busca de um nível normal de receitas, geradas pela venda regular do catálogo de produtos. Em nosso país, a dificuldade dos selos independentes para ter acesso aos meios de difusão, especialmente às rádios mais importantes, é ainda maior. O rádio, juntamente com a TV, é um dos meios de promoção mais eficientes da indústria fonográfica. As rádios argentinas, ao contrário de outros países, dedicam a maior parte do tempo de transmissão à informação deixando menos tempo disponível para a execução de músicas. Por outro lado, não é segredo nenhum que as grandes gravadoras negociam com as rádios grande parte do espaço musical em troca de publicidade, o que faz com que não haja nas rádios praticamente nenhum espaço disponível para a difusão musical independente. O principal negócio das rádios não se baseia na execução de músicas, mas na venda de anúncios publicitários, cujo valor depende do número de ouvintes. Nessa perspectiva, é comum que os executivos das rádios mais importantes prefiram dar um espaço maior aos artistas das grandes gravadoras, que geralmente contam com o apoio promocional de outros meios, como a televisão e a imprensa escrita, procurando assim garantir um nível de audiência que lhes permita fixar preços mais altos para seus espaços publicitários. Muitos selos independentes, diante da impossibilidade de promover e difundir novos artistas em canais populares, optam diretamente por suspender a busca e promoção de novos artistas para dedicar-se às venda de catálogo e à aquisição de licenciamentos. Na distribuição varejista, os selos independentes sofrem de um problema muito parecido. As principais lojas possuem um espaço físico limitado para a exibição dos discos que vendem (espaço esse cada vez mais escasso diante do aumento do leque de produtos oferecidos), e por isso estão mais preocupadas em colocar em suas gôndolas produtos de alta exposição midia, reconhecidos pelo consumidor, em vez de arriscar-se a expor produtos de menor projeção, como os dos selos independentes. Isso muitas vezes impossibilita estes últimos de oferecer seus produtos através desses canais, obrigando-os a fazê-lo por canais alternativos de menor impacto, como shows, festivais e pequenas lojas. Complementaridade entre majors e independentes Hoje, mais do nunca, os selos independentes e as grandes gravadoras vivem uma situação de mútua interdependência. Nos próximos parágrafos procuraremos ressaltar alguns dos aspectos mais importantes dessa interação. 29 Por um lado, nas últimas décadas, os custos associados à produção de fonogramas baixaram consideravelmente, dando lugar a um grande número de novos selos independentes e a uma maior quantidade de música gravada disponível, brigando pela atenção dos consumidores. Com efeito, ano após ano, cada vez mais discos são gravados. No entanto, no que se refere á difusão dessa música, os meios de comunicação através dos quais se difunde e se promove a música popular, são na maior parte controlados de alguma maneira pelas grandes empresas ou por alguma de suas afiliadas. Sem acesso aos meios fundamentais como as rádios, a TV, jornais e revistas, um selo independente terá muitíssima dificuldade em divulgar e comercializar seus produtos (ainda que, como mencionado anteriormente, muitos selos independentes sobrevivam graças à exploração de nichos de mercado ignorados pelas grandes gravadoras). Associar-se a uma major poderia representar para o selo um incremento importante no grau de exposição de mídia e na difusão de seus artistas (caso a major aceite fazer a promoção), assim como a expansão de suas redes de distribuição, ao permitir ou melhorar seu acesso às grandes cadeias varejistas. Além disso, diferentemente das distribuidoras independentes, as distribuidoras das majors contam com o respaldo financeiro do grupo multinacional a que pertencem, e são mais resistentes às oscilações da economia, evitando o risco de que as mesmas quebrem e não honrem com as obrigações assumidas pelo selo. Já dissemos que os selos independentes cumprem uma função essencial na indústria fonográfica: descobrir e desenvolver novos talentos e estilos. Apesar de as grandes companhias estarem em melhores condições para inovar (dada a maior quantidade de recursos e melhores oportunidades para se beneficiar com as inovações), os pequenos selos são mais inovadores, pois possuem um maior componente de criatividade e flexibilidade que as grandes empresas; eles são capazes de responder mais rapidamente à demanda e estão mais propensos a mudanças que as majors. 30 Essas funções desenvolvidas pelas indies são vitais para a continuidade do negócio, pois o curto ciclo de vida dos produtos exige a contínua injeção de novidades. Dessa forma, os selos independentes foram convertendo-se em departamentos de pesquisa e desenvolvimento, virtualmente imersos na estrutura corporativa das grandes gravadoras. Quadro 3 – TABELA COMPARATIVA ENTRE EMPRESAS MAJORS E INDEPENDENTES 31 Modelo major de negócios Modelo independente de negócios Conglomerado multimídia diversificado Empresa com pouca ou nenhuma diversificação com interesses no ramo fonográfico Grande empresa com importante número de filiais Empresário individual. Empresa predominantemente nacional com nenhuma ou poucas filiais. Importante participação no mercado mundial Insignificante participação no mercado mundial Empresa líder nos principais mercados Participação pequena ou importante no mercado regionais nacional, mas raramente líder Produtos homogêneos, previstos para Produtos concebidos em função do mercado comercialização no mercado Internacional nacional, eventualmente exportados. Importante participação de produtos Pequena participação das exportações no internacionais no volume global de negócios volume de negócios Geralmente distribuidor Raramente distribuidor Grandes estrelas Gêneros especializados Segmento produto-mercado bem estruturado Segmento produto-mercado mais ou menos e independente do segmento finanças/estratégias independente; segmento finanças/estratégias pouco constituídos Predomínio de critérios comerciais Predomínio de critérios estéticos Grandes verbas para a promoção Poucas verbas de promoção, baseada Divulgação global e multimídia de seus produtos principalmente em contatos pessoais Estratégias tipo blockbuster Estratégias de vendas regulares O mecanismo pelo qual as companhias independentes provêem as majors de novos talentos é bastante variado: acordos de manufatura e distribuição, de simples distribuição, acordos de produção artística, joint ventures, licenciamentos, compra de direitos e, inclusive, aquisição do selo pela major (nesse caso, o selo deixaria automaticamente de ser independente), são algumas das formas possíveis deste processo. No entanto, cabe esclarecer que o cenário não foi sempre assim. Até os anos 80, havia uma grande concorrência entre as grandes gravadoras e os selos menores, resultando, muitas vezes, na falência destes últimos. Alguns estudos (Van der Wurff, 2004) revelam que isso resultou numa importante diminuição das novidades(em termos de novos conteúdos e artistas que conseguiram chegar ao mercado). É a partir da década de 90 que começará a ser observada uma clara cooperação entre indies e majors, ainda que, como vimos anteriormente, o controle sobre o downstream da indústria e o acesso aos principais canais de difusão sempre se mantiveram nas mãos das grandes empresas. O resultado dessa operação é o que chamamos de “sistema aberto” de produção musical, onde grandes níveis de concentração (no downstream) convivem com grandes níveis de diversidade (no upstream). Esse esquema garante às grandes empresas o acesso a um contínuo fluxo de artistas e novos repertórios. A indústria fonográfica no mundo Para compreender melhor a importância e a estrutura da indústria fonográfica argentina, é necessário conhecer as tendências do setor a nível global. Os próximos parágrafos apresentam uma síntese da situação da indústria fonográfica, tanto a nível mundial, como a nível regional (latino-americano). Segundo os últimos dados oficiais da IFPI4 , as vendas globais de música gravada (áudio e vídeo) no ano de 2003 caíram em torno de 7,6% em valores e 6,6% em unidades, em relação ao ano anterior. O mercado mundial para 2003 foi calculado em aproximadamente 32 bilhões de dólares, com um total de 2.7 bilhões de unidades vendidas. As vendas globais de CDs caíram 8,9%, e a queda das vendas de singles e K7s foi de 18,9% e 27,2%, respectivamente. Por outro lado, as vendas de vídeos musicais experimentaram um incremento de 45,6%, impulsionadas pelo formato do DVD musical. 32 4 IFPI - International Federation of the Phonographic Industry. Representante da indústria fonográfica mundial, com mais de 1.450 membros em75 países, e associações afiliadas em 48 países. Quadro 4 – VENDA EM UNIDADES (em milhões) 33 Venda em unidades (em milhões) Unidades Valor Variação Anual Ano Singles LPs Cassete CDs DVD VHS Total U$ Variação Variação Constantes unidades valor 2003 232,5 7,3 426,0 2.111,0 106,1 9,5 2.746,5 32.036,0 -6,6% -7,60% 2002 265,0 8,6 478,0 2.247,1 63,6 16,1 2.909,0 34.628,7 -9,1% -7,10% 2001 318,0 11,8 600,5 2.372,2 34,7 22,3 3.155,4 37.110,2 -5,1% -1,40% 2000 370,1 13,5 677,8 2.504,9 3.325,4 37.613,4 -1,9% -1,60% 1999 439,6 15,6 773,9 2.449,0 3.390,6 38.228,6 1,0% 1,80% Fonte: IFPI, The recording industry in numbers, Londres, 2004. Como se pode observar no quadro anterior, esse setor, que há menos de dez anos era considerado como o de maior crescimento e dinamismo de todas as indústrias culturais, hoje se encontra em franco declínio, depois de quatro anos consecutivos de queda de vendas. Entre as razões apontadas pela IFPI diante do contínuo declínio da atividade, encontramos três fatores principais: • A “queima” de CDs e o download de conteúdos a partir de sites não autorizados da Internet: estas práticas se intensificaram nos últimos anos, graças ao crescimento da quantidade de domicílios com gravadores de CDs e conexões de banda larga. • Concorrência com outros setores de entretenimento pelo gasto com lazer dos consumidores: a ascendente penetração dos aparelhos de DVD, a crescente popularidade dos videogames domésticos, telefones celulares e acessos a Internet, em seu conjunto afetam negativamente a demanda de música gravada. Não obstante, há esperança de que esses setores possam vir a representar benefícios para a indústria fonográfica em curto prazo: pouco a pouco, vão surgindo serviços de download autorizados na Internet (alguns com relativo sucesso, como o iTunes da Apple) e a popu- larização de tons de chamada de telefones celulares (ringtones) começam a render ganhos significativos para as empresas fonográficas. Da mesma forma, o crescente número de domicílios com aparelhos de DVD parece estar dando um grande impulso no consumo de DVDs musicais. • Incerteza econômica: a instabilidade econômica de certas regiões, em particular a Ásia e a América Latina, afetam negativamente as vendas nesses mercados, sobretudo por ser a música um bem de luxo, com alta variação de preço. Estrutura geográfica O mercado mundial é visivelmente dominado por quatro empresas multinacionais (as majors). Juntas possuem, aproximadamente, 75% do mercado, deixando os 25% restantes nas mãos de empresas independentes, ou indies. Gráfico 1 – PARTICIPAÇÃO NO MERCADO MUNDIAL / 2004 Fonte: IFPI 34 No próximo quadro, pode-se observar a evolução das vendas de fonogramas nas diferentes regiões. Ali se evidencia o impacto que a crise econômica, e as posteriores desvalorizações sofridas pelos países latino-americanos, tiveram em sua participação no mercado global, com uma queda de 2,4 pontos percentuais no share mundial.* * Nota do revisor: Share ou market share. Palavra inglesa que significa (percentual) de participação de mercado. Quadro 5 – EVOLUÇÃO DE MERCADOS POR REGIÃO 2000 / 2003 Ano Região 2000 milhões de U$ % milhões de U$ % 2003 Variação América do Norte 14.863,5 40,2% 12.523,9 39,1% -1,1% Europa 11.177,2 30,2% 11.797,8 36,8% 6,6% Ásia 7.863,4 21,3% 5.791,1 18,1% -3,2% América Latina -2,4% 1.864,9 5,0% 840,3 2,6% Oceania 649,2 1,8% 784,4 2,4% 0,7% Oriente Médio 343,2 0,9% 138,0 0,4% -0,5% África Total 202,8 0,5% 160,4 0,5% 0,0% 36.964,2 100,0% 32.035,9 100,0% 0,0% Fonte: Elaboração própria, com base em dados da IFPI. As cifras estão em preços correntes. Também se pode observar o crescimento relativo da Europa em relação à América do Norte, apesar de esta última região manter-se na liderança a nível mundial. O avanço europeu explica-se, em grande parte, pela valorização do euro frente ao dólar (de fato, as vendas a preços constantes na Europa caíram aproximadamente 8,5%). Nível de penetração do hardware Segundo analistas, o potencial de crescimento dos mercados fonográficos se dá tanto pela margem de crescimento econômico exibido por suas respectivas economias, como pelo grau de penetração dos dispositivos reprodutores nas residências. Como se observa no próximo gráfico, os níveis de penetração de aparelhos de CDs e DVDs ainda são muito baixos nas economias em desenvolvimento, havendo espaço para um eventual incremento neste sentido. O aumento da porcentagem de domicílios com aparelhos desse tipo impulsionará significativamente o nível de vendas nessas regiões, tanto pela possibilidade de consumir uma nova gama de produtos mais atraentes, com pela eventual substituição de discos de vinil e K7s por novos formatos5 . 5 Acredita-se que a incorporação de novas tecnologias de transmissão de conteúdos musicais tende a estimular os indivíduos a readquirirem em novo formato suas gravações favoritas, particularmente se o novo suporte oferece melhores vantagens, seja em qualidade sonora ou em portabilidade. 35 Filipinas Venezuela Tailândia África do Sul Brasil Argentina México Itália Chile Coréia do Sul Austrália Portugal Suécia Espanha Japão Canadá França Estados Unidos Gráfico 2 – NÍVEIS DE PENETRAÇÃO DE APARELHOS DE CD E DVD (em porcentagem de residências) Fonte: Elaboração própria, com base em dados da IFPI. A pirataria no mundo O termo pirataria é utilizado geralmente para descrever a violação deliberada de direitos autorais em âmbito comercial. Na indústria da música, representa a cópia não autorizada de suportes musicais. Segundo a IFPI, há três tipos de pirataria: • Pirataria simples: consiste na duplicação não autorizada de gravações originais para uso comercial, sem o consentimento do detentor dos direitos autorais. A embalagem das cópias piratas é diferente da original. As cópias piratas muitas vezes são compilações, como os “grandes sucessos” de um determinado artista, ou uma coleção de um gênero específico. • Falsificações: são cópias embaladas da maneira mais fiel possível ao original. Os logos do produtor original são reproduzidos para confundir o consumidor, fazendo-o crer estar comprando o produto original. • Bootlegs: são gravações não autorizadas de apresentações ao vivo ou de transmissões de rádio. Estas são duplicadas e vendidas sem a permissão do artista, compositor ou selo fonográfico. 36 A estas três modalidades, cabe acrescentar mais uma categoria: a pirataria realizada pelas próprias gravadoras que, para evitar ter que pagar mais aos autores e intérpretes, às vezes manipulam os números das quantidades fabricadas e vendidas. Quadro 6 – PIRATARIA NO MUNDO / 2004 (porcentagem dos mercados) Menos de 10% 10 a 24% 25 a 50% Mais de 50% Australia Áustria Canadá Dinamarca França Alemanha Islândia Irlanda Japão Noruega Suécia Suíça Reino Unido Estados Unidos Bahrein Bélgica Finlândia Hong Kong Itália Holanda Nova Zelândia Omã Qatar Cingapura Eslovênia Coréia do Sul Espanha Turquia EAU Zimbábue Chile Costa Rica Croácia Chipre Rep. Checa Grécia Hungria Índia Israel Filipinas Polônia Portugal Arábia Saudita Eslováquia África do Sul Taiwan Tailândia Argentina Brasil Bulgária China Colômbia Equador Egito Estônia Indonésia Kuwait Letônia Líbano Lituânia Malásia México Paquistão Paraguai Peru Romênia Rússia Ucrânia Uruguai Venezuela Fonte: IFPI, Commercial and Piracy Report 2004. A pirataria a nível mundial, em 2003, foi calculada em 1.7 bilhões de unidades. A IFPI estima que um em cada três CDs musicais no mundo é de origem ilegal (proporção que aumenta para 40% se considerarmos as fitas K7s). A quantidade de discos piratas aumentou em 45 milhões de unidades, um incremento de 4% em relação ao ano anterior. Por outro lado, a pirataria em K7s caiu 25%, em conseqüência do avanço do CD como formato padrão de transmissão de conteúdos musicais. 37 O formato dos produtos musicais piratas varia segundo a região do mundo. Na Rússia, por exemplo, predominam os discos de vinil (do mesmo tipo dos discos originais), enquanto que o formato pirata por excelência, na América Latina e Europa, é o CD-R. Um dos fatores que pode estimular a pirataria é a crescente superprodução na fabricação de discos a nível mundial. A IFPI estima que exista aproximadamente 1.040 f’ábricas de CDs no mundo, 300 das quais abertas nos últimos cinco anos. Isso é um terreno fértil para o aumento do mercado pirata, uma vez que a produção ultrapassa em muito a demanda do mercado legal de discos. Na tabela seguinte, mostra-se o quão desproporcional é a capacidade de produção de alguns países, em relação à demanda por produtos genuínos. Nesses países, a capacidade produtiva supera a demanda legal doméstica em não menos de nove vezes e, em alguns casos, em mais de trinta. Quadro 7 – CAPACIDADE DE FABRICAÇÃO DE SUPORTES / 2004 (por país) País Capacidade (milhões de unidades) Demanda (milhões de unidades) Superprodução (milhões de unidades) Taiwan 7.900 270 7.630 China 4.900 1.100 3.800 Hong Kong 2.500 140 2.360 Índia 1.900 400 1.500 Malásia 1.800 1.860 60 Cingapura 620 60 560 Brasil 630 140 490 Tailândia 570 27 540 Polônia 500 150 350 Rússia 370 30 TOTAL 340 19.370 Fonte: IFPI, Commercial and Piracy Report 2004. O cenário latino-americano 38 Em relação às vendas de música gravada na América Latina, as cifras não representam uma exceção ao que acontece no resto do mundo, sendo 2003 o terceiro ano consecutivo de queda de vendas (nesses três anos, as vendas em unidades registraram uma queda acumulada de 36.5%). Segundo os últimos dados oficiais, o valor em dólares do mercado fonográfico latino-americano é de aproximadamente 900 milhões de dólares. Esta cifra torna-se alarmante se comparada com os 2.600 milhões de dólares que representava o mercado em 1997, ano pico de vendas dessa região. A desvalorização experimentada por quase todos os países latino-americanos nos últimos anos, a pirataria em grande escala (sobretudo nos dois maiores mercados, o Brasil e o México), a instabilidade econômica global e a popularização das novas tecnologias de gravação domésticas, são algumas das causas apontadas pelos analistas para explicar a dramática redução do mercado fonográfico latino em milhões de dólares. Quadro 8 – MERCADO LATINO-AMERICANO / 1999-2003 (em milhões) Unidades CDs DVD VHS Valor Total 3,7 138,5 4,4 1,4 148,7 840,3 -10,3% -13,80% 0,0 4,9 156,0 3,1 1,3 165,8 974,4 -5,4% 0,3 0,1 11,3 162,0 1,7 0,4 176,2 1.077,1 -20,8% -19,40% 2000 0,9 0,1 21,6 198,3 221,6 1.305,8 -2,4% 1,00% 1999 0,8 0,2 32,0 194,9 227,4 1.290,9 -6,5% 2,80% Ano Singles LPs Cassete 2003 0,5 0,0 2002 0,7 2001 Variação Anual U$ Variação Variação Constantes unidades valor -9,20% Fonte: IFPI, The recording industry in numbers, Londres, 2004. Calculado com base em dados de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México (mais de 95% do mercado latino-americano). É preciso assinalar que as estratégias das empresas multinacionais também afetaram negativamente a performance do mercado latino-americano (Yudice e Ochoa, 2002). É sabido que a tecnologia de proteção anti-pirataria adotada pelas majors nos últimos tempos, na verdade não fez outra coisa senão desestimular as vendas (esses mecanismos são facilmente desativados, ao mesmo tempo em que os CDs protegidos podem não ser lidos em qualquer aparelho). Por outro lado, o alto preço fixado para os CDs, em relação à baixa renda per capita dos países em desenvolvimento, é um grande estímulo à pirataria. 39 A redução do mercado regional acarretou uma significativa queda de novos lançamentos e novos conteúdos. Nesse sentido, a IFPI tem se mostrado bastante preocupada, dado que essa redução não só prejudica os países latinoamericanos individualmente, mas afeta em grande medida a exportação de conteúdos para outras regiões, como Europa e Estados Unidos, causando impacto nas vendas a nível global. Cabe lembrar que a América Latina é uma importante fonte de artistas de consumo internacional, como Shakira, Juanes, Maná, Thalía, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre muitos outros, e “é essencial para o desenvolvimento desses mercados que se continue produzindo conteúdos internacionais.” (IFPI, 2004: 114). Em conseqüência das dificuldades mencionadas nos parágrafos anteriores, o consumo anual de discos por habitante na América Latina caiu de 0,46 para 0,30 nos últimos cinco anos. Esta cifra está muito abaixo daquelas registradas nas economias desenvolvidas (que registram, em média, 2 unidades vendidas anualmente por habitante). Como se pode observar no gráfico, a evolução mais desfavorável foi a da Argentina, que de 0,59 em 1999, passou a 0,29 em 2003, praticamente a metade, ficando assim abaixo da média latino-americana. Quadro 8 – CONSUMO ANUAL DE DISCOS POR HABITANTE / 1999 – 2003 Na Argentina, Brasil, Chile e Colômbia 40 Fonte: Elaboração própria, com base em dados da IFPI. Com referência à concentração empresarial, a relação major-indie se mantém praticamente intacta no que se refere ao rateio mundial, com 74% do mercado latino-americano nas mãos de empresas multinacionais. A única diferença se encontra na composição do mercado, com uma evidente predominância da nova Sony-BMG (31,8%) sobre as demais empresas (EMI 12,1%; Universal 14,7%; Warner 15,4%). No que se refere à participação dos diferentes países no mercado, México e Brasil se apresentam como os principais consumidores de música gravada na região, com 38% e 33,6% respectivamente. Segue-se Argentina (14,3%), Colômbia (5,3%) e Chile (4%). Gráfico 4 – PARTICIPAÇÕES NO MERCADO LATINO-AMERICANO 2004 Fonte: Elaboração própria com base em dados da IFPI. A pirataria na América do Sul Segundo a IFPI, o progressivo declínio no mercado legal é resultado direto dos altos níveis de pirataria existentes na maioria dos mercados latino-americanos. A instabilidade econômica, ao lado de políticas ineficientes e baixas penalidades para infratores, têm levado a inusitados níveis de pirataria na maioria dos países da região, gerando uma diminuição de 14% do mercado legal no período de 2002-2003. Como exposto anteriormente, apesar dos esforços conjuntos da IFPI e das autoridades locais, os dois maiores mercados latino-americanos (México e Brasil) sofrem com a pirataria em larga escala, ameaçando a estabilidade da 41 região. Os laboratórios de gravação de CD-R atuam com relativa impunidade nesses países, onde uma legislação fraca e uma fiscalização ineficiente garantem poucas probabilidades de localização e autuação dos piratas. Paraguai é outra das grandes preocupações da IFPI, por ser um grande pólo exportador de CD-Rs virgens para o resto da América Latina. Somente em 2003 foram detectados 150 milhões de discos virgens provenientes do sudeste da Ásia para esse país. Em alguns países da América Latina, a batalha foi perdida, como no caso do Peru e do Equador. Nesses países, o mercado fonográfico legal foi praticamente eliminado (a pirataria abrange 95% do mercado total). Quanto ao tipo de suporte, 98% dos discos apreendidos em 2003 são CD-Rs gravados, mantendo-se com principal formato pirata. A indústria fonográfica na Argentina Durante a década de 90, a indústria fonográfica argentina experimentou um crescimento de inusitadas dimensões. As vendas de fonogramas passaram de 6,4 milhões de unidades em 1990 para um pico histórico de 23,4 milhões em 1998. A introdução de um novo formato mais vantajoso (o CD), em combinação com positivas taxas de crescimento econômico e uma moeda supervalorizada, atuaram conjuntamente como fatores dinamizadores do mercado fonográfico. O CD, introduzido originalmente em 1986 em nosso país, tornou-se gradualmente o suporte fonográfico por excelência ao longo da década de 90. Enquanto aquele ano representou 0,07% das vendas, em 1992 já alcançava mais de 40% das vendas fonográficas, chegando a mais de 80% do mercado no final da década. A história da indústria fonográfica demonstra que a introdução de novos formatos tecnológicos, com atributos superiores, tende a impulsionar o nível de vendas dos discos. A novidade do formato e sua qualidade superior, estimulam, em grande medida, a demanda do consumidor pelo novo e atraente suporte. 42 Além disso, é comum observar o efeito a que denominaremos “efeito migração” nas discotecas pessoais do consumidor, ao menos por um período de tempo. Os indivíduos tendem a substituir suas gravações favoritas em velhos formatos pelas mesmas gravações em formatos novos, migrando dessa maneira uma parte de seus discos para o novo suporte e impulsionando temporariamente as vendas. Por outro lado, o crescimento da economia com uma moeda fortemente valorizada, gerou um importante incremento na renda per capita em dólares, impulsionando a introdução de aparelhos de CDs nas residências e convertendo o novo formato no suporte padrão do mercado. Além disso, por ter o fonograma uma grande variação de preço (isto é, a demanda por esse tipo de produto reage mais que proporcionalmente diante das variações de preço disponível), o aumento da oferta por habitante gerou um significativo aumento no volume de vendas do mercado fonográfico. Alem disso, a supervalorização do peso naqueles anos resultou na proliferação de grandes artistas internacionais (Getino, 1995), que contribuíram fortemente com a promoção de seu material em nosso mercado, impulsionando as vendas a nível nacional. Entretanto, a partir de 1998, a economia argentina viveu a recessão mais prolongada e profunda de sua história, o que afetou enormemente a indústria do disco, muito mais que a outros setores da economia. Os discos são considerados bens de luxo, e como exposto no parágrafo anterior, têm uma alta e positiva elasticidade de preço. A crise levou a indústria a uma queda no volume de vendas sem precedentes, caindo para 5,8 milhões de unidades em 2002, menos de 25% do volume atingido em 1998. Gráfico 5 – VENDA DE DISCOS POR ANO / 1998-2004 (em pesos) Fonte: Elaboração própria, com base em dados da CAPIF. 43 No próximo gráfico, pode-se observar uma comparação entre as taxas de variação correspondentes às vendas de fonogramas, compras de supermercados e o EAE (Avaliador da Atividade Econômica, criado pelo INDEC pra avaliar a performance da economia). Ali podemos apreciar a maior sensibilidade da demanda de fonogramas diante das oscilações econômicas em comparação com outros setores (neste caso, compras em supermercados) de menor elasticidade de demanda. Gráfico 6 – COMPARAÇÃO DE TAXAS DE ATIVIDADES ECONÔMICAS (porcentagem) / 1998-2004 Fonte: Elaboração própria com base em dados do INDEC e CPIF. O mercado na atualidade 44 O ano de 2004 foi o segundo ano consecutivo de crescimento no volume de vendas de discos, com um incremento de 22% em relação ao ano anterior. Segundo a Câmara Argentina de Produtores de Fonogramas e Videogramas (CAPIF), o valor de mercado para esse ano foi de aproximadamente 180 milhões de pesos, representando um incremento de mais de 30% em relação ao ano de 2003 e deixando a Argentina no trigésimo sexto posto no ranking mundial de mercados fonográficos. Gráfico 9 – VENDA DE DISCOS (em unidades e faturamento) 1998 / 2004 45 Ano Unidades Variação % Faturamento Variação % 2004 13.025.714 22,0% $ 183.185.966 31,6% 2003 10.678.150 83,5% $ 139.193.689 76,2% 2002 5.817.700 -49,0% $ 79.019.366 24,3% 2001 11.405.243 -24,3% $ 104.399.545 -35,6% 2000 15.070.497 -29,3% $ 162.166.882 -36,3% 1999 21.320.298 -8,8% $ 254.659.708 -9,6% 1998 23.379.414 12,6% $ 281.854.294 5,1% Fonte: Elaboração própria, com base em dados obtidos em www.capif.org.ar Os volumes monetários estão em preços correntes. Apesar das cifras alentadoras e do volume de vendas estar próximo do nível que teriam em 2000 (antes da crise de 2001, a mais profunda da Argentina), o nível de vendas da década de 90, contudo, não se restabeleceu. Assim como o resto do mundo, a propagação da pirataria e a mudança de hábitos dos consumidores, no que diz respeito à utilização de seu tempo livre, aparecem como os principais responsáveis por essa não recuperação, segundo análises oficiais. Não obstante, aqui devemos considerar a importância do efeito “migração” no mercado fonográfico. Supondo que uma parte do crescimento do mercado ao longo da década passada seja explicada por esse motivo e que a esta altura os consumidores mais abonados (classes média e alta) já tenham atualizado suas coleções para o novo formato, é provável que não se volte a alcançar os níveis de venda da década passada, ao menos sem a introdução de um novo formato que estimule novamente a demanda. A Argentina tem um nível de penetração de aparelhos de CD relativamente baixo (4 em cada 10 residências em média, segundo a IFPI), o que dá lugar à possibilidade técnica de um incremento na quantidade de casas a possuí-los, como todos os benefícios que isso traria à indústria fonográfica. No entanto, é muito difícil prever um aumento significativo no percentual de posse a curto ou médio prazo, numa economia em que 33,5% dos lares e mais de 44% da população situam-se abaixo da linha de pobreza (fonte: INDC). Ainda que alguns apostem no DVD como possível propulsor de vendas do setor, as coleções de vídeos musicais não são tão populares entre os consumidores como os discos, portanto, um efeito “migração“ neste aspecto não seria tão significativo. Inclusive no Canadá, o país com maior penetração de aparelhos de DVD nos domicílios (78%), o consumo de DVDs musicais é de apenas 10% do mercado fonográfico total (fonte: Canadian Recording Industry Association). Na verdade, a aquisição desses aparelhos é vista por muitos como uma faca de dois gumes para a indústria da música, pois sua utilização pelo consumidor, para ver filmes e outros vídeos não musicais, lhe deixa menos tempo livre para escutar discos ou ir a shows. A composição do mercado O mercado fonográfico argentino está fortemente dominado por quatro empresas multinacionais (Universal, Sony-BMG, EMI e Warner Music), com uma concentração de 82,6% do mercado, segundo o anuário 2004 da IFPI. Gráfico 6 – PARTICIPAÇÃO DAS GRAVADORAS NO MERCADO ARGENTINO / 2004 Fonte: Elaboração própria, com base em dados da IFPI. O grau de concentração do mercado nas mãos de companhias de capital estrangeiro é o mais alto da América Latina, depois do Chile (90,9%), e está muito acima da média mundial (74,7%). 46 Os 17,4% restantes do mercado argentino estão nas mãos de selos independentes. Como exposto no início do trabalho, não existe nenhuma definição ou critério para definir uma empresa fonográfica independente, exceto não pertencer a algum dos conglomerados multinacionais de entretenimento. Apenas na cidade de Buenos Aires há mais de setenta selos independentes registrados. Sua estrutura, tamanho e catálogo varia enormemente de um para outro, desde selos individuais com poucos discos em seu catálogo, até grandes empresas que não ficam muito a dever às multinacionais (como é o caso da DBN Discos, braço fonográfico da conhecida Distribuidora Belgrano Norte, que edita lançamentos de artistas do calibre de Los Redonditos de Ricota, Los Piojos e Lãs Pelotas, entre outros). No entanto, a maioria das companhias argentinas independentes são pequenas empresas com pouco capital e infraestrutura, que editam lançamentos com tiragens pequenas (geralmente inferiores a 5.000 unidades), muitas vezes sem obtenção de lucro e,em geral, antepondo critérios estéticos e políticos sobre os comerciais, De fato, é muito comum encontrar lançamentos independentes de 500, 1.000 ou 2.000 unidades, cujo propósito não é lucrar com a venda de discos, mas difundir o material de artistas que não tiveram espaço em uma companhia multinacional. Tipos de repertório6 Quanto à divisão do mercado argentino por tipo de repertório, nos últimos anos observou-se uma diminuição na participação do repertório local em favor da categoria “Inglês e outros”, tanto em valores como em unidades. Em valores, próximo de alcançar picos de 48 e 47% nos anos de 1999 e 2002, respectivamente, a participação do repertório local em 2004 foi cerca de 40%, com 18% de repertório estrangeiro em idioma espanhol e 38% correspondente ao repertório em inglês. Quadro 8 – TIPOS DE REPERTÓRIO SEGUNDO SUA PARTICIPAÇÃO NO MERCADO ARGENTINO (porcentagem) 1998 / 2004 Fonte: Elaboração própria com base em dados da CAPIF. 6 A análise dos tipos de repertório foi realizada distinguindo apenas as categorias “Local”, “Espanhol estrangeiro”, “Inglês e outros idiomas” e “Clássico” (ou seja, deixando de lado produtos fora do catálogo ou especiais, como compilações de muitos artistas). 47 As cifras parecem ser melhores se levarmos em conta os números absolutos em termos de unidades. 46% das unidades vendidas correspondem a repertórios locais, com 18% para o repertório em espanhol estrangeiro e 33% para a categoria “Inglês e outros”. Não obstante, as cifras referentes à variação de tipos de repertório dos últimos anos não são boas, se considerarmos que a participação de repertórios nacionais em 2002 era de 51%. Gráfico 9 – REPERTÓRIO SEGUNDO UNIDADES VENDIDAS MERCADO ARGENTINO / 1998 – 2004 Fonte: Elaboração própria com base em dados da CAPIF. A diminuição na participação do repertório local pode ser o resultado de menores investimentos realizados na descoberta e desenvolvimento de novos talentos, devido à incerteza sentida pelas grandes lojas de discos, em relação à capacidade do mercado argentino para absorver os investimentos, em novos lançamentos, de artistas locais. Uma prova disso é a eliminação do departamento artístico (A&R no jargão, ou Artista e Repertório), na maioria das multinacionais. O relativo retrocesso do repertório local é de particular relevância, se considerarmos a incidência da cultura musical e da atividade de autores, intérpretes, músicos e produtores locais, no que se refere à cultura e ao desenvolvimento em geral (Getino,1995). 48 A nível regional, a Argentina divide o terceiro posto com o Uruguai, em relação aos países com maior participação de repertório nacional em seu mercado, depois do México (54%) e Brasil (com invejáveis 72%). Como se pode observar no gráfico, existe uma clara preponderância de conteúdos em idioma espanhol (58%), sobre aos conteúdos em outra língua (38%), no que se refere à demanda local. Nesse sentido, a porcentagem de participação do repertório estrangeiro em espanhol poderia ser uma referência de até onde poderia crescer a participação dos repertórios locais no mercado argentino se, como parece, considerarmos o idioma como uma verdadeira barreira para a penetração dos repertórios em idioma estrangeiro. Evolução dos preços Nem todos os discos custam a mesma coisa. Há três faixas de preços, conhecidas no meio como full-price ou primeira linha (o preço típico dos lançamentos de artistas de primeira categoria), mid-price ou linha intermediária (geralmente 50-75% do full-price) e os budget-price ou discos em oferta, de 35 a 50% aproximadamente do preço “cheio”. Gráfico 10 – EVOLUÇÃO DOS PREÇOS SEGUNDO O SUPORTE MERCADO ARGENTINO / 1998 – 2004 Fonte: Elaboração própria com base em dados da CAPIF. 49 Hoje em dia, o preço para o público de um disco de primeira linha oscila normalmente entre 22 e 29 pesos (IVA incluso), conforme o artista, a origem do repertório e a expectativa gerada pelo lançamento. Da mesma forma, um disco de linha intermediária custa entre 11 e 22 pesos, enquanto que os discos em oferta oscilam entre 4 e 14,50 pesos. Gráfico 11 – EVOLUÇÃO DOS PREÇOS SEGUNDO O REPERTÓRIO MERCADO ARGENTINO / 1998 - 2004 Fonte: Elaboração própria com base em dados da CAPIF. No período analisado, o preço médio dos produtos fonográficos exibe uma fase descendente até o ano de 2001, quando, em meio a crise, chega ao piso de $ 9,15. Não obstante, como se pode ver no gráfico, a partir de 2002 uma combinação de fatores dispara os preços em aproximadamente 50%. 50 Em primeiro lugar, a desvalorização cambial gerou um aumento significativo no custo de fabricação e embalagem dos suportes. Muitos dos insumos utilizados nesses processos são importados e/ou exportados (bens transacionáveis, no jargão econômico), o que resultou na dolarização desses custos. Da mesma forma, os royalties pagos aos selos estrangeiros se viram seriamente diminuídos a partir da desvalorização do pelo, por ser geralmente uma porcentagem do preço de venda local. Por esse motivo, as matrizes das grades empresas começaram a pressionar suas subsidiárias argentinas, que acaba- ram elevando o preço de seus produtos, especialmente os de repertório estrangeiro e, em particular, a categoria “Inglês e outros” (65% de 2001 a 2004). Ao mesmo tempo, esse repertório incrementou sua participação de 32 a 38% nos últimos quatro anos, acentuando o efeito inflacionário. Quadro 10 – PARTICIPAÇÃO DOS DIFERENTES FORMATOS FONOGRÁFICOS 1998 / 2004 Ano %CD Variação %Cassete Variação %DVD Variação 2004 89,6% -2,1% 2,9% -1,6% 7,0% 3,7% 2003 91,7% 0,6% 4,5% -1,1% 3,3% 0,9% 2002 91,1% 1,4% 5,7% -4,2% 2,4% 2,4% 2001 89,7% 2,7% 9,8% -3,2% 0% 0,0% 2000 87,0% 3,0% 13,0% -3,0% 0% 0,0% 1999 84,0% 2,0% 16,0% -1,0% 0% 0,0% 1998 82,0% — 17,0% — 0% — Fonte: Elaboração própria com base em dados da CAPIF. A isto ainda devemos somar o efeito da mudança nas participações dos diferentes formatos. Nesse sentido, o aumento relativo na participação dos suportes de maior preço (concretamente, a gradual diminuição das vendas em formato de K7s, o incremento na participação do CD e o surgimento dos DVS musicais) acabou intensificando ainda mais o aumento do preço médio dos produtos oferecidos pelas gravadoras. A indústria fonográfica na cidade de Buenos Aires A cidade de Buenos Aires é o cluster7 fonográfico argentino por excelência. Não só concentra em uma mesma localidade geográfica as filiais das quatro gravadoras multinacionais, mas também aproximadamente 70 selos independentes, estúdios de gravação de primeira linha, fábricas de CD com tecnologia de ponta e gráficas, além do insumo básico: talentosos autores e intérpretes capazes de gerar novos conteúdos continuamente. Além disso, a cidade possui uma forte identidade cultural e até um gênero musical que lhe é próprio, o tango. 7 O termo cluster refere-se à concentração geográfica e setorial de empresas, com os benefícios que elas incluem. 51 A concentração espacial das empresas inter-relacionadas, provedores de bens e serviços especializados, empresas de indústrias correlatas (como emissoras de rádio e TV, produtoras audiovisuais e importantes espaços para shows), estimula tanto a cooperação como a concorrência entre elas, ao mesmo tempo em que permite o aproveitamento de economias de escala, como a criação de mão de obra especializada e a difusão de tecnologia e know-how entre as empresas do cluster. Isso faz de Buenos Aires um centro geográfico ideal para a produção fonográfica. A cidade de Buenos Aires concentra a quase totalidade da atividade fonográfica nacional. A presença jurídica das gravadoras multinacionais, assim como da maioria dos estúdios e várias fábricas de discos na cidade, são provas suficientes disso. Dessa forma, a informação disponível reflete uma importante concentração do mercado de fonogramas nessa cidade, ainda que muito menor que o da atividade produtiva. Mesmo não havendo ainda estatísticas oficiais, dados de consumo fornecidos pela CAPIF estima que 56% das compras legais de fonogramas concentram-se na capital e Grande Buenos Aires. Uma outra informação, obtida junto a um dos selos, assinala que 68% das vendas fonográficas realiza-se na Capital Federal. Ao mesmo tempo, 52% da arrecadação da SADAIC com shows, festivais e apresentações provêem de eventos realizados nessa cidade. No tocante à atividade fonográfica independente, atualmente há mais de setenta selos ativos na cidade de Buenos Aires. A maioria desses selos têm menos de quinze anos. Os avanços tecnológicos da década de 90 baratearam consideravelmente os custos de produção, estimulando a abertura de uma grande quantidade de selos ao longo dos últimos anos. Por outro lado, muitos dos selos mais tradicionais foram absorvidos por grandes multinacionais, como o caso da Microfón, cujo catálogo foi adquirido pela Sony Music. Segundo nossas estimativas8 , os selos independentes da cidade apresentam um mercado de aproximadamente 3 milhões de discos por ano, superando as cifras fornecidas pela IFPI para o total de discos independentes produzidos em todo o país (cerca de 2,3 milhões). Esse volume significaria aproximadamente 23% da indústria fonográfica nacional. Traduzido em valores de preço de venda aos lojistas, o mercado fonográfico independente portenho estaria ao redor dos 41,2 milhões de pesos. 8 52 Para calcular o volume de discos produzidos anualmente pelo setor independente da cidade de Buenos Aires, classificou-se os 71 selos independentes registrados por esta pesquisa dentro de seis categorias, segundo o volume anual de vendas (menos de 1.000, 1.000-5.000, 5.000-10.000, 10.000-30.000, 30.000100.000, e mais de 100.000). A classificação foi realizada com base em diversas entrevistas e questionários feitos com diferentes selos. Com uma amostra de 22 casos, calculou-se a média amostral de cada estrato, a fim de se fazer uma estimativa por pontos do total de cada estrato. Uma vez obtidos os cálculos para cada um, somaram-se os resultados para obter-se a estimativa de todo o setor independente. Buenos Aires apresenta muitas características que fazem dela uma cidade com grande potencial para o crescimento e desenvolvimento da atividade fonográfica. Durante o período de transição*, fábricas de discos e gráficas modernizaram sua infraestrutura tecnológica, de acordo com os padrões mais avançados, o que lhes conferiu competitividade a nível internacional. A posterior desvalorização tornou essas empresas ainda mais competitivas. A presença de estúdios de gravação bem equipados fomenta a afluência de artistas do exterior, levando-se em conta a desvalorização cambial e a importante infraestrutura turístico-hoteleira da cidade, encontram em Buenos Aires um lugar ideal para realizar suas gravações, tornando a cidade um cluster fonográfico, muito além da esfera nacional. A presença de produtores audiovisuais também estimula isto, já que contam ainda com capital humano e tecnológico adquado para a filmagem de videoclips. O crescimento do turismo nos últimos anos está consideravelmente ligado à forte identidade da cidade e o reconhecimento mundial do tango como gênero próprio. A música é um dos principais produtos eleitos pelos turistas como souvenir da cidade. Uma prova disso é que a grande maioria dos discos de tango são vendidos nas lojas da rua Florida, um dos locais mais visitados pelos turistas. Além disso, Buenos Aires conta com uma renda e poder aquisitivo maiores que o interior do país. Um maior gasto em lazer e entretenimento gera uma demanda mais dinâmica e um mercado com maior capacidade de absorção que em outras localidades do país. Por fim, mas não menos importante, a presença de um governo local que se interessa pela diversidade cultural e o desenvolvimento dos selos independentes constitui um importante fator adicional para estimular a atividade fonográfica na cidade. Os programas de subsídios a selos independentes, a disponibilidade de centros culturais e outros cenários para shows de bandas menores, e inclusive a realização desta pesquisa, são algumas das iniciativas tomadas pelo Governo da Cidade de Buenos Aires para favorecer o desenvolvimento do setor fonográfico independente. Tendências de consumo e pirataria Consumo A grande maioria dos argentinos escuta música. Um dado da Secretaria Nacional de Meios de Comunicação assinala que 93,6% dos argentinos escutam * Nota do revisor: transição para a realidade digital 53 música, sendo o CD o segundo meio de maior difusão, com 57,2%, depois do rádio (87,9%). O terceiro posto em termos de difusão da música é ocupado pela TV (27,7%) e em quarto lugar, as fitas K7s, com 21,1%. É um dado de grande importância, pois reforça a idéia de que a música, por seu nível quase absoluto de exposição, é a mais importante das indústrias culturais. Quadro 11 – DIFUSÃO DA MÚSICA EM DIFERENTES MEIOS ARGENTINA / 2004 SEXO Masc. Fem. CLASSE SOCIAL ABC1 C2 DE IDADE 12 a 17 18 a 34 35 a 49 50 ou mais Radio 87.9% 85.8% 89.9% 81.0% 82.4% 90.9% 80.6% 86.7% 89.0% 92.1% CD 57.2% 59.5% 57.9% 80.7% 75.0% 47.0% 70.8% 69.7% 57.4% 34.9% TV 26.7% 24.6% 28.9% 28.4% 28.2% 25.9% 35.3% 28.1% 22.7% 24.0% Cassete 21.1% 20.8% 21.3% 18.0% 20.3% 21.8% 20.9% 19.6% 23.1% 21.3% Discotecas 7.4% 7.2% 7.7% 11.0% 10.6% 5.7% 12.2% 13.7% 2.6% 1.2% 3.9% 3.7% 4.1% 7.4% 5.4% 2.8% 7.2% 5.0% 2.6% 1.8% 1.3% 1.9% 0.8% 4.7% 1.8% 0.6% 3.1% 1.8% 1.2% — Walkman/ Discman Computador/ Internet Fonte: Secretaria de Meios de Comunicação – Dados sobre consumo cultural 2004 Segundo os dados, os indivíduos que mais escutam música em CDs são os menores de 34 anos e os pertencentes às classes mais abastadas (classes média e alta). No mesmo trabalho também se ressalta a relativa importância do cassete como meio de difusão, principalmente no interior e em particular nas localidades menos populosas. 54 As preferências musicais em nosso país variam em grande medida segundo à localização geográfica e o estrato social dos indivíduos. A música folclórica, uma das mais difundidas (59,7%) tem seu núcleo propulsor no interior do país, especialmente entre os homens de classes baixas e de mais idade. Outros gêneros fortes no interior do país são o tropical ou a cumbia (50%), e o cuarteto (44,8%), especialmente nas classes mais baixas. Outros estilos muito difundidos são o rock, alcançando 57% dos argentinos, sobretudo menores de 34 anos, de classe média e alta, independente do local de residência. Por outro lado, as grandes cidades mostram-se impulsoras de outros gêneros, como o pop (41,1%), a salsa (29,5%), a música clássica (22,6%), a música disco (23,8%), o jazz/blues (20,5%) e o tecno (17,2%). 55 O tango, um dos baluartes mais importantes da cultura argentina, apresenta um nível de difusão de apenas 35,9%, abaixo do folclore, do rock, da cumbia, do cuarteto e do pop. Quadro 12 – PREFERÊNCIA DE GÊNEROS MUSICAIS ARGENTINA 2004 Gênero de Preferência % Universo demográfico onde se destaca FOLCLORE 59.7% Homens, acima de 50 anos, classe baixa e residentes no interior ROCK/ROCK NACIONAL 57.0% Abaixo de 34 anos, classe alta e média TROPICAL/CUMBIA 50.0% Abaixo de 34 anos, classe baixa e residentes no interior QUARTETO 44.8% Abaixo de 34 anos, classe baixa e residentes no interior POP 41.1% Mulheres abaixo de 34 anos, classe alta e média, residentes nas principais cidades do país TANGO 35.9% Homens, acima de 50 anos SALSA 29.5% Mulheres de 35 a 49 anos, classe alta e residentes nas principais cidades do país BRASILEIRA 28.2% Homens de classe alta DISCO 23.8% Abaixo de 34 anos de classes alta e baixa ÓPERA/CLÁSSICA 22.6% Mulheres, acima de 50 anos, classe alta e média, residentes nas principais cidades do pais JAZZ/BLUES 20.5% Classe alta e residentes nas principais cidades do país TECNO 17.2% Abaixo de 34 anos,de classe alta e média, residentes nas principais cidades do país. Fonte: Secretaria de Meios de Comunicação – Dados sobre consumo cultural 2004 Hábitos de compra Em relação aos hábitos de compra dos argentinos que escutam música em CDs, 82,7% garantem ter comprado seus CDs (entre CDs originais e cópias). Nesse sentido, apenas 4 entre 10 dos compradores afirmam haver adquirido cópias legítimas e pouco mais de 17% é a proporção de entrevistados que escuta CDs comprados pessoalmente e de forma legal. Além disso, do total de argentinos que escutam música em CDs, 30,6% afirmam tê-los pego emprestados e15,3% baixaram da Internet, uma prática cada vez mais comum entre os jovens. Com relação aos canais de compra formais eleitos pelos consumidores de música, as lojas especializadas se mantêm na liderança com um crescimento de 8 pontos percentuais no período 2003-2004, alcançando 62%. Em segundo lugar e com uma participação de 26%, estão as lojas de discos dos bairros, ainda que mostrem uma queda de 2 pontos porcentuais em relação a 2003, ampliando assim a distância das lojas especializadas. As vendas em supermercados também caíram 2%, enquanto que as bancas de jornais mantiveram constante sua participação. Quadro 13 – CANAIS DE COMPRA DE FONOGRAMAS ARGENTINA 2003 / 2004 Canais formais 2003 2004 Variação Lojas especializadas 54% 62% 8% Lojas de discos de bairro 28% 26% -2% Supermercado 10% 8% -2% Banca de jornais 4% 4% 0% Fonte: Elaboração própria com base em dados da CAPIF. 56 A preferência pelos diferentes canais de compra está em função da localização geográfica, idade e extrato social dos consumidores. Por exemplo, a preferência pelas lojas de discos de bairro é quase três vezes maior na Capital Federal e Grande Buenos Aires que no interior do país, onde predomina o consumo em lojas especializadas. As classes mais favorecidas, no entanto, preferem comprar suas músicas em lojas especializadas, enquanto que as classes mais baixas tendem a preferir as lojas de discos dos bairros. Quadro 14 – CANAIS DE COMPRA POR ÁREA E CLASSE SOCIAL ARGENTINA 2004 57 Canais Formais TOTAL Área GBA* Interior ABC1 Classe Social C2 C3 Lojas especializadas 62,0% 55,6% 71,1% 76,8% 69,1% 52,4% 39,0% Lojas de discos de bairro 26,0% 35,2% 13,3% 14,5% 21,8% 31,0% 43,9% D Supermercado 8,0% 3,7% 13,3% 8,7% 5,5% 9,5% 14,6% Bancas de jornal 4,0% 5,6% 2,2% 0,0% 3,6% 7,1% 2,4% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% TOTAL Fonte: Elaboração própria, com base em dados da CAPIF. No que se refere à idade, existe uma tendência generalizada a procurar por lojas especializadas, qualquer que seja a idade, ainda que se possa notar que os jovens entre 19 e 24 anos comprem menos discos em supermercados que as outras faixas de consumidores. Os maiores de 35, pelo contrário, procuram mais os supermercados e menos as lojas especializadas em relação aos consumidores de outras idades, comprando na maioria das vezes em lojas de bairro (53,2%). Quadro 15 – CANAIS DE COMPRA POR IDADE ARGENTINA 2004 IDADE Canais formais 12 a 18 19 a 24 25 a 35 Mais de 35 Lojas especializadas 63,9% 68,5% 65,2% 53,2% Lojas de discos de bairro 22,2% 25,9% 23,9% 27,4% Supermercados 8,3% 3,7% 8,7% 11,3% Bancas de jornais TOTAL 5,6% 1,9% 2,2% 8,1% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: Elaboração própria, com base em dados da CAPIF. * Nota do revisor: GBA significa Grande Buenos Aires A pirataria No ano de 2004, a CAPIF estimou que 55% das unidades comercializadas na Argentina foram de origem ilegal, algo em torno de 16 milhões de unidades, segundo o volume de mercado legal publicado pela mesma entidade. Esse atual nível de pirataria nos coloca no ranking dos países com maior índice de pirataria do mundo, segundo a classificação da IFPI. Se considerarmos que o preço médio de um disco pirata é de aproximadamente 5 pesos, o mercado pirata atingiria um valor médio de 80 milhões de pesos. Somando esta cifra aos 180 milhões do mercado legal em 2004, o gasto total dos consumidores argentinos em produtos fonográficos seria em torno de 260 milhões de pesos. Por outro lado, dados da consultora Cuore estimam um mercado pirata de aproximadamente 24 milhões de unidades por ano. O mesmo estudo calcula o mercado total (legal e ilegal) em 44 milhões de discos, cifra bem maior que a registrada pela CAPIF em seu website. Os principais canais de distribuição de cópias ilegais são os camelôs, as feiras livres, a entrega em domicílio (ou delivery) e os locais do tipo tudo-pordois-pesos. Em 2004, os camelôs foram o canal de distribuição de maior alcance, com um avanço de 6 pontos percentuais em relação ao ano anterior e alcançando 46% do mercado ilegal. O segundo meio de distribuição mais importante é o delivery, ainda que tenha mostrado uma significativa queda no período 2003-2004 (- 9%). As feiras livres, por sua vez, são a origem de 22% das cópias piratas distribuídas (com um incremento de 5% em relação a 2003), enquanto que as lojas tudo-por-dois-pesos constituem 4% do esquema de distribuição pirata. Quadro 16 – CANAIS ILEGAIS DE DISITRIBUIÇÃO / 2003 – 2004 58 Canais ilegítimos 2003 2004 Variação Camelôs 40% 46% 6% Feiras livres 17% 22% 5% Delivery/encomenda 37% 28% -9% Tudo por dois pesos 6% 4% -2% Fonte: Elaboração própria com base em dados da CAPIF. O principal formato das cópias piratas é o CD-R. Estima-se que na Argentina se comercializem aproximadamente 100 milhões de CD-R virgens por ano, dos quais grande parte se destina à duplicação de conteúdos musicais (tanto para uso comercial como para uso pessoal/familiar) A IFPI considera que na Argentina as ferramentas de luta contra a pirataria têm sido ineficientes e as penalidades legais muito suaves para deter a atividade ilegal. Ao mesmo tempo, os dados mostram a responsabilidade do governo ao não reconhecer a pirataria como um problema prioritário, que põe em risco a cultura local e contribui simultaneamente para o aumento do nível de criminalidade. O impacto da Internet Segundo os últimos dados disponíveis, 13% dos lares argentinos contam com acesso à Internet. Entre acessos domiciliares e comerciais, existe aproximadamente 2 milhões de conexões a Internet que por sua vez dão acesso a mais de 6 milhões de pessoas. Cabe ressaltar que 11% dessas conexões correspondem a acessos de banda larga, um verdadeiro perigo para o mercado fonográfico, pelo grande volume de downloads que permitem. Segundo dados da Cuore, foram baixadas na Argentina cerca de 270 milhões de músicas pela rede durante 2004, algo equivalente a 20 milhões de álbuns de longa duração (25% maior que a quantidade de discos piratas vendidos no mesmo ano). Esse estudo mostra que, dos consumidores de música gravada com acesso à Internet, 24% utiliza esse meio para baixar música, com uma média de 10,9 faixas por semana. E 58% dos que o fazem, a gravam em CD (segundo estimativas, de cada 10 arquivos baixados, 6,4 são gravados em CD). A faixa de consumidores que mais realiza esse tipo de prática, habitualmente, é constituída pelo público com menos de 24 anos, de nível sócio-econômico alto e médio alto. Vários fatores contribuem para isso. Em primeiro lugar, os jovens tendem a dedicar uma maior quantidade de tempo para ouvir música que as faixas etárias mais altas. Além disso, a busca e o download de músicas na Internet nem sempre é uma tarefa fácil (é preciso saber de onde baixá-las e muitas vezes os sites estão contaminados com vírus), o que requer um maior tempo livre, fato que diminui com a idade. Ao mesmo tempo, requer também conhecimentos sobre o manejo de computadores e Internet, o que é 59 menos comum nas classes menos favorecidas. Não obstante, não é uma condição necessária contar com um computador e um acesso a Internet em casa para baixar e gravar músicas em CD-R, já que muitos cybercafés oferecem essa possibilidade. Essa combinação de fontes gratuitas de download de música com a disponibilidade de gravadores de CDs representa um grave problema para a indústria fonográfica. Muitas vezes o produto resultante é percebido pelos consumidores como mais valioso que o disco legítimo, uma vez que podem personalizá-lo segundo suas preferências mais pessoais, escolhendo apenas as músicas que lhes interessam e desenhando eles mesmos a capa do disco (ou baixando a capa de sites especiais), além de ser muito mais barato do que adquirir um disco original. Inclusive, esse processo de seleção e montagem do disco, inclusive, é também para eles uma forma de entretenimento. A alta porcentagem de utilização da Internet para o download de músicas não deveria surpreender, sobretudo se considerarmos que um dos pilares fundamentais das campanhas publicitárias dos provedores de Internet consiste precisamente em descrever a grande velocidade com que o usuário poderá baixar música por ela. Nesse sentido, se poderia dizer que a atividade dos provedores de Internet está sendo de alguma forma subsidiada pelos selos fonográficos, sofrendo grandes conseqüências negativas e prejuízos. Apesar do impacto que a Internet e o download de conteúdos digitais possa ter sobre as vendas, os diretores da CAPIF se mostram muito mais preocupados com a pirataria física em formato de CD-R. Seus colegas do setor cinematográfico, no entanto, já lançaram campanhas com o objetivo de conscientizar o consumidor sobre os prejuízos causados pelo download de filmes pela rede para a indústria cinematográfica. A cadeia produtiva da indústria fonográfica argentina 60 Uma análise de custos de produção ajudará a desmembrar a cadeia da indústria e a entender mais profundamente o papel que cabe a cada um dos agentes participantes da atividade fonográfica. Nesta seção, tentaremos expor detalhadamente os processos envolvidos na cadeia, assim como os custos inerentes a cada um deles, para se entender com maior profundidade o funcionamento de um selo independente. Produção Uma vez que o selo avalia o potencial estético de um artista e aprova a viabilidade comercial dos conteúdos, é dado prosseguimento à produção do disco, ou seja, a gravação e edição das execuções dos intérpretes em suporte magnético ou digital. Desse processo resultará o master, do qual se farão as cópias posteriores. Os agentes envolvidos nessa primeira etapa são: o estúdio de gravação, técnicos de gravação, arranjadores, engenheiros, masterizadores, produtores e músicos executantes, tanto instrumentais, como vocais. Os custos que esses agentes representam para a produção variam segundo sua idoneidade, prestígio e equipamentos. Nos próximos parágrafos detalharemos os papéis que esses agentes têm nesta etapa. Cabe esclarecer que os valores mencionados abaixo são aproximados, sem IVA icluso.* Estúdios de gravação: consistem em infraestruturas especialmente construídas e equipadas para registrar as interpretações dos músicos. As execuções dos músicos são registradas em canais separados, para depois se mixar as diversas partes independentemente, editando os diferentes canais em busca do balanço sonoro adequado. Em geral, cobra-se uma tarifa por hora de utilização do estúdio, que na Argentina pode variar de 20 a 100 pesos, dependendo do estúdio, ao que deverá ser somado em alguns casos, os honorários dos técnicos e engenheiros que operam as sessões de gravação (entre 15 e 30 pesos por hora). Normalmente, a gravação de um disco comum com 14 faixas9 requer umas 200 horas de estúdio, entre gravação e mixagem. Caso a gravação seja realizada de maneira analógica, é preciso também levar-se em conta os custos por insumos (como a fita) que são utilizados. Uma vez realizadas e mixadas as gravações, é feito o processo de pós-produção ou masterização. Este último processo tem por objetivo melhorar a qualidade sonora final do disco. Isso compreende o processamento de áudio (equalização, compressão, reverberação, redução de ruídos), a montagem da seqüência definitiva das faixas do disco, suas durações exatas, pausas 9 Um álbum, em geral, inclui entre10 e 18 faixas. O numero assinalado é apenas um exemplo * Nota do revisor: IVA quer dizer Imposto sobre Valor Agregado; adotado também na Europa, trata-se de um imposto que incide na venda ao consumidor, e que substitui os vários impostos existentes no ciclo de vendas (IPI e ICMS, por exemplo).. 61 entre as músicas etc. Em geral, isso ocorre em estúdios especialmente equipados, com engenheiros especializados nessa área. O custo da masterização também é variável, mas habitualmente fica em torno de 500 a 1.700 pesos por disco completo, dependendo do estúdio e do cliente solicitante (alguns estúdios de mastering têm preços especiais para selos independentes) Produtor: o produtor combina os papéis de diretor artístico e de produtor do disco. É o responsável por transformar o conteúdo criativo em forma tangível (a gravação), o que implica, por um lado, em otimizar o processo criativo (definição do som que terá o disco, seleção de músicas, arranjos e staff técnico) e, por outro lado, encarregar-se de algumas funções mais administrativas, como a reserva do estúdio, a contratação de músicos, manter-se dentro das condições autorizadas pelo selo etc.* Os honorários dos produtores também variam enormemente, sobretudo se levarmos em conta que um disco assinado por um produtor de renome é, por si só, uma ferramenta de promoção e marketing que repercute amplamente na divulgação e venda de um disco. Muitas vezes, o produtor é também o dono do selo; outras vezes, é o próprio músico que produz seu disco, e também não é raro que os produtores assinem como co-autores das músicas como forma de serem remunerados, o que dificulta o cálculo de um honorário médio/padrão para esse tipo de serviço. Músicos de estúdio, arranjadores e diretores de orquestras: o Sindicato Argentino de Músicos estabelece tarifas mínimas e outras adicionais para músicos de estúdio (instrumentais ou vocais), arranjadores e diretores envolvidos nas sessões de gravação. A tabela de tarifas correspondentes a julho de 2004 encontra-se abaixo. Cabe mencionar que essas tarifas nem sempre são aplicadas, como quando os músicos não são músicos de estúdio (são membros da banda intérprete) ou quando os arranjos são realizados por eles mesmos. Não obstante, não é raro que, no âmbito independente, os músicos realizem suas execuções gratuitamente. 62 * Nota do revisor: é importante deixar claro que o produtor aqui mencionado não deve ser confundido com o produtor fonográfico, que é aquele que detém os direitos sobre os fonogramas Quadro 17 – TARIFAS SINDICAIS PARA INTÉRPRETES ARGENTINA 2004 63 DISCOS 2 temas (2 horas) $ 240,- 2 temas, 2 instrumentos $ 305,- 1/2 hora extra $ 060,- 1/2 hora, 2 instrumentos $ 076,- 1 arranjo $ 410,- 1 direção $ 145,- TRANSPORTES A: $ 14; B: $ 28; C: $56; D: $ 69. Estas tarifas são válidas para até 50 km da Capital Federal. De 51 até 100 km De 101 até 200 km De 201 em diante + 30% + 60% a combinar Vale-Refeição $ 31,- Adicional por gravação fora da capital (art. 12, inc. c) $ 56,- Adicional por gravações externas na capital (art.12, inc. b) $ 20,- Fonte: SADEM Design e arte da capa O apelo visual do disco é um fator importante para sua comercialização. Uma boa arte de capa, da mesma forma que uma boa embalagem, faz o produto sobressair e causa impacto no consumidor. Os custos pelo design gráfico do disco normalmente ficam em torno de 300 a 2.000 pesos, que devem ser somados ao custo pelas sessões fotográficas (quando se inclui fotos dos artistas na arte). Este oscila entre 150 e 1.000 pesos, em geral. Uma vez pronto o design, soma-se o custo pelos filmes ou cromos (negativos onde são impressas as lâminas de CDs), que dependerá da quantidade de cores e do número de lâminas gráficas incluídas no disco. Para se ter uma idéia, um simples encarte de duas folhas (ou seja, uma lâmina de papel dobrada de 12 X 24cm) impresso em quatro cores, requer 12 cromos, que pelo custo aproximado de 7 pesos, soma um total de 84 pesos. Impressões em baixa escala podem ser feitas digitalmente, sem necessidade dos cromos para a impressão. Manufatura e replicação O processo de manufatura dos discos é feito em indústrias replicadoras especialmente equipadas e é composto de várias etapas: • Premastering: verifica-se o material fornecido pelo cliente, de forma a comprovar-se se está dentro das normas ISO. • Mastering: elabora-se um master de vidro com o conteúdo apresentado. • Galvanização: transforma-se o master de vidro em um molde, que será utilizado para injetar os discos. Isso é feito mediante a incorporação de uma capa de níquel ao máster de vidro através de eletrólise. A capa de níquel é separada da base de vidro, obtendo-se um “negativo” do CD. O resultado é conhecido como stamper. • Prensagem: pronto o stamper, os CDs já podem ser replicados. Injeta-se policarbonato líquido no molde e depois de alguns segundos prensado, cria-se uma cópia. • Metalização: para que o CD possa ser lido,deve ser recoberto por uma fina camada de alumínio. A superfície de alumínio atua como espelho, refletindo o laser de volta ao player, de modo que a informação possa ser lida. • Laqueação: para proteger o CD e sua informação de possíveis danos, se aplica uma fina camada de laca. O laqueação também permite a impressão de tintas serigráficas especiais (de até 6 cores), originando a etiqueta (label) do CD. • Embalagem: uma vez que o disco está pronto, o mesmo é embalado e preparado para sua comercialização. Como foi dito anteriormente, a embalagem do disco também é uma ferramenta de marketing importante e por isso uma decisão que inspira cuidados. 64 Existe uma grande quantidade de elementos na hora de se decidir por uma embalagem, desde o papel a ser utilizado, incluindo aquelas feitas à mão, passando pela tradicional jewel box até a mais recente digipak. Como já foi dito, a escolha do tipo, formato e quantidade de lâminas gráficas do encarte do CD, representa um importante papel tanto em seu apelo comercial, como nos custos de fabricação. 65 O grande leque de alternativas, na hora de escolher uma embalagem, faz com que os custos variem de acordo com a alternativa escolhida. Além disso, os custos de manufatura e embalagem dos discos apresentam custos fixos, por isso o custo unitário dependerá em grande parte da escala produzida. A título de ilustração, apresentamos abaixo um quadro com os custos aproximados para a fabricação de 2.000 CDs impressos em 5 cores, com estojo jewel Box, processos de acondicionamento e embalamento com filme plástico (shrink), com lâminas de 12 X 24cm a 4/4 cores (sem incluir custos de fotos). Quadro 18 – CUSTOS ESTIMADOS DE REPLICAÇÃO DE CDs Características Duplicação com impressão em 5 cores Custo unitário (US$) 0,39 Estojo jewel Box 0,15 Corte e Acondicionamento 0,01 Lâminas de 12 X 24 a 4/4 cores com contracapa 0,14 Shrink 0,02 TOTAL 0,71 Preço em pesos (1 US$ = 2,94 ARG$) $ 2,07 Direitos fonomecânicos Cada vez que se realizam replicações de obras intelectuais, cabe o pagamento dos direitos autorais, a quem de direito, pela reprodução de sua obra. Pela replicação de discos e a título de honorários fonomecânicos, a SADAIC exige o pagamento de um valor equivalente a 8.19% do preço de venda ao comerciante, estabelecendo preços de venda mínimos, segundo o volume de tiragem e tipo de suporte, seja K7 ou CD. O intérprete também deverá ser pago por disco vendido, se o contrato entre o selo e o artista assim o estipular. Quadro 19 – PERCENTUAIS ESTIPULADOS PELO SADAIC, A TÍTULO DE DIRETOS FONOMECÂNICOS Quantidade de CDs Preço mínimo Honor. mínimo/unidade 300 a 500 unidades $ 6,00 $ 0,4914 501 a 3.000 unidades $ 5,50 $ 0,4505 Mais de 3.000 unidades $ 5,00 $ 0,4095 Quantidade de K7s Preço mínimo Honor. mínimo/unidade 300 a 500 unidades $ 5,00 $ 0,4095 501 a 3.000 unidades $ 4,50 $ 0,3686 Mais de 3.000 unidades $ 4,00 $ 0,3276 Fonte: SADAIC Promoção Como foi explicado no início deste trabalho, a publicidade e promoção de produtos culturais como o disco são fundamentais para uma comercialização viável. Por um lado, é necessário que o consumidor saiba da existência do produto e, por outro, do valor que o mesmo pode representar. Basicamente, a promoção engloba todas as atividades destinadas a estimular a demanda do produto em questão. As estratégias que os selos planejam para a promoção de seus lançamentos depende de diversos fatores, como recursos financeiros da empresa, tipo de consumidor a que se destina e nível de vendas esperado. Todavia é possível identificar algumas das principais ferramentas de promoção mais utilizadas pelos selos para divulgar seu produto e influir na demanda dos consumidores. Entre eles podemos encontrar: 66 Kits de imprensa: É uma das ferramentas mais utilizadas. Normalmente contém: um folheto com informações sobre o lançamento do disco, uma biografia do artista, um artigo de jornal ou revista em que se fale sobre ele (se houver), uma foto e, o mais importante, uma cópia do disco. A quantidade de kits distribuídos está em função da quantidade de vendas esperada pelo projeto, com um custo aproximado de 5 pesos por kit. Para um lançamento independente de duas mil unidades, deve-se calcular cerca de 50 kits de imprensa. Se forem enviados pelo correio, é preciso calcular também o custo de papelaria (envelopes) e o envio (mais ou menos $ 1,50 a remessa regional). Gráfica: A promoção gráfica pode incluir posters, cartazes, fotos, PDV ou material ponto de venda (publicidade em pontos de venda, geralmente banners ou estruturas chamativas de tamanho bem visível), panfletos e adesivos. Os custos desse tipo de promoção variam segundo a quantidade e o tipo de gráficas utilizadas. A título de exemplo, 2.000 cartazes dupla-face têm um custo aproximado de $ 1.800. Para 10.000 panfletos, o custo é em torno de $ 700, e para imprimir 50 cartazes sêxtuplos (foto gigante), o custo é de $ 3.300. Além disso, a colocação de cartazes em vias públicas requer gastos extras com locação de outdoors. Imprensa: Muitas vezes se contrata um assessor de imprensa para agilizar seus contatos, a fim de dar publicidade ao artista e seu produto, conseguindo notas na imprensa escrita, rádio, TV, participação em eventos de alta exposição etc. Em geral, a divulgação na imprensa ocorre durante os três meses seguintes ao lançamento do disco. Normalmente, os honorários desse tipo de agente costuma variar de 600 a 2.000 pesos por mês, conforme o prestígio do agente e a extensão dos seus contatos. Por outro lado, cada segundo de publicidade nas rádios é alto: entre 4 e 7 pesos nas rádios de maior audiência. Esse valor é mais baixo nas rádios de menor audiência, mas de qualquer modo é preciso levar em conta no custo da produção os honorários do locutor (normalmente 250 pesos). Por outro lado, os comerciais devem ter uma rotatividade periódica para serem eficazes, o que eleva bastante o custo com a promoção em rádios. Não é preciso explicar que os custos de promoção e produção de spots televisivos são muito mais altos, ficando muito além das possibilidades dos selos independentes. Quanto à publicidade na imprensa escrita, um anúncio destacado no suplemento “SI!”, do Clarín, custa aproximadamente 400 pesos, enquanto que o mesmo anúncio no “NO!”, de meia página, custa 100 pesos. Contudo, alguns dos empresários dos selos explicaram que esse tipo de promoção não é a mais indicada para vender discos, particularmente os de artistas novos. Nas palavras de um entrevistado, “Discos não se vendem na imprensa escrita, se vendem no rádio”. Como já dissemos, por seus atributos experimentais, a música gravada tem de ser avaliada pelo consumidor antes de ser comprada (a menos que se trate de artistas reconhecidos ou que o disco conte com boas 67 críticas dos especialistas). Nesse sentido, parece que esse tipo de publicidade seria mais efetiva na difusão de apresentações de artistas de algum renome ou de algum gênero em particular. Mala Direta: As listas de correio também são ferramentas usuais do projeto de promoção. Uma lista com contatos na indústria e no meio pode ser montada a um custo mínimo (requer apenas tempo e esforço). Por outro lado, listas também podem ser compradas, e seus preços variam de acordo com a quantidade de nomes e o nível de atualização da lista. Publicidade nos meios de comunicação (rádio, TV, imprensa escrita): é o instrumento mais custoso e provavelmente um dos mais eficientes. Os orçamentos mais apertados, em geral, não dispõem desse tipo de instrumento, pois além de ter que pagar a inserção publicitária, é preciso cobrir os gastos com a produção dos materiais. Por outro lado, na esfera do rádio é comum que se intercalem vinhetas publicitárias com lançamentos musicais. As grandes gravadoras, em geral, têm vários lançamentos simultâneos de grande projeção, a todo momento, e por isso são anunciantes muito interessantes para as rádios, o que lhes dá um poder de negociação muito superior ao dos pequenos selos. Sendo o rádio um meio de fundamental importância para a promoção de produtos fonográficos, isto representa, na realidade, um grande problema para os selos independentes, já que a grande maioria deles não dispõe de recursos para bancar esse custo nem do poder de negociação das multinacionais. De fato, ainda que obtenham os recursos necessários para isso, os selos independentes muitas vezes esbarram na impossibilidade de fazê-lo, pois os espaços musicais das rádios já estão totalmente comprometidos com as grandes gravadoras. Como resultado, as indies ficam sem espaço para a difusão efetiva de seus produtos nas rádios de maior impacto. 68 Videoclips: Hoje em dia, a exibição de videoclips é um importante instrumento de promoção, sobretudo de produtos dirigidos ao público mais jovem. Mais uma vez, os custos desse tipo de ferramenta pode variar bastante, dependendo do diretor, tipo de suporte (filme ou digital), a pós-produção utilizada etc. De qualquer forma, pode-se obter um videoclip de qualidade razoável com alguns poucos milhares de pesos (a partir de $ 2.000). Com relação à possibilidade de exibição efetiva em canais de música (MTV, Much Music, CM), alguns dos entrevistados asseguram que se o videoclip apresentado tiver “qualidade suficiente”, há possibilidades reais de ser exibido na rede (provavelmente em horários menos disputados). Distribuição Um outro elo importante na cadeia da indústria fonográfica – e também um dos mais problemáticos - é a distribuição. Os distribuidores atacadistas (daqui por diante, simplesmente “as distribuidoras”) são os responsáveis por fazer os discos chegarem das indústrias de manufatura até as distribuidoras varejistas (o varejo). Nem todos os selos fazem uso do serviço das distribuidoras. Em geral, os selos menores realizam eles mesmos sua própria distribuição e logística. Por sua vez, os selos multinacionais e os selos independentes maiores habitualmente terceirizam os serviços de logística de empresas como DBN, OSME, LEF e AF. Terceirizar a distribuição com essas empresas pode trazer benefícios, especialmente para os selos independentes. As distribuidoras geralmente tem relações históricas com as cadeias comerciais e com o varejo. Além disso, estão familiarizadas com os produtos que têm potencial de venda e os que não têm. A aceitação por parte destas de distribuir um produto fonográfico é, muitas vezes, prova suficiente para convencer os varejistas de que o produto merece lugar em suas prateleiras. Por outro lado, o varejo interage com a menor quantidade possível de fornecedores. Um selo com poucos títulos, a seu ver, dificilmente será aprovado como fornecedor, por isso é quase impossível para os selos menores venderem seus produtos diretamente aos varejistas, e essa é a melhor razão para ser representado por uma distribuidora. Além disso, ela facilita a colocação de publicidade gráfica (cartazes, PDV) nos pontos de venda. Basicamente, o serviço oferecido pela distribuidora é o de armazenar os discos, levá-los ao varejo e cobrar para o selo, quando o produto é vendido. Em geral, o custo da distribuição para os selos é de aproximadamente 25 a 30% do preço de venda ao comerciante (que normalmente é de 8 a 11 pesos para os discos full-price, ou de primeira linha). Os varejistas, por sua vez, geralmente aplicam um mark up de 100% sobre o preço pelo qual compram o disco. Esta alta porcentagem é resultado da grande concentração representada pelo elo varejista na cadeia dos negócios fonográficos, com Musimundo e o Grupo ILHSA (Yenni, El Ateneo, Dromo) como donos absolutos do varejo (estima-se que as duas empresas dominem mais de 80% do mercado). 69 Agora já estamos em condições de elaborar uma tabela com os diferentes agentes da cadeia produtiva da música e a porcentagem aproximada do preço ao consumidor que cabe a cada um. Quadro 20 – DESMEMBRAMENTO DA CADEIA PRODUTIVA SEGUNDO O AGENTE Agente Porcentagem do preço ao consumidor Compositor 4,10% Intérprete 4,00% Gráfica 2,00% Fábrica 8,00% Distribuidor 15,00% Selo 16,90% Varejista 50,00% TOTAL 100,00% Vale lembrar que estas porcentagens são apenas referências e que em muitos casos, de acordo com o poder de negociação das partes envolvidas, essas porcentagens podem variar a favor de uma ou de outra (por exemplo, algumas vezes os novos artistas não conseguem negociar um valor por unidade vendida, ou os selos negociam uma comissão menor para o distribuidor). Por outro lado, é bom frisar que os custos de replicação e embalagem são custos dolarizados, o que pode ocasionar mudanças em algumas dessas porcentagens, conforme a situação cambial do país, ao mesmo tempo em que acrescenta um risco extra na atividade do selo. 70 O selo fonográfico, por sua vez, terá que descontar de sua porcentagem os custos de produção do disco e os custos de promoção e marketing do lançamento, assim como os demais gastos administrativos envolvidos. Como se pode observar, o retorno do selo fonográfico dentro da cadeia parece desproporcional face ao grande risco que a atividade assume, sobretudo se considerarmos que as lojas de discos atualmente recebem a mercadoria em consignação (transferindo o risco ao selo). No entanto, é necessário considerar que o fabricante, a gráfica, o distribuidor e também as cadeias de lojas possuem grandes investimentos em bens de capital (infraestrutura e equipamento) que justificam de alguma maneira uma retribuição, além do poder de mercado que podem ter. 71 O negócio em cifras Neste ponto, analisaremos de maneira integrada as cifras citadas ao longo desta seção, a fim de oferecer um panorama mais amplo sobre a atividade fonográfica independente. Para mostrar a difícil situação em que se encontra hoje uma empresa fonográfica independente, a segui detalhamos os gastos mínimos de produção e fabricação de um disco com embalagem padrão, com uma tiragem de 2.000 exemplares. Quadro 21 – GASTOS ILUSTRATIVOS DE PRODUÇÃO E FABRICAÇÃO DE UM ÁLBUM (tiragem de 2.000 exemplares) Produção Horas de estúdio Masterização Subtotal Unidades Preço Unitário Total 200 1 $ 40,00 $ 600,00 $ 8.000,00 $ 600,00 $ 8.600,00 $ $ 1.801,80 $ 1.801,80 Pagamento de direitos SADAIC (8,19% sobre $ 11 do PVC) Subtotal 2000 0,90 Arte de capa Arte e design Foto Cromos Subtotal 1 1 12 $ 300,00 $ 150,00 $ 7,00 $ $ $ $ 300,00 150,00 84,00 534,00 $ $ $ $ $ $ $ 2.280,00 $ 880,00 $ 800,00 $ 60,00 $ 120,00 $ 4.140,00 Manufatura Replicação a 5 cores Estojo Jewel Box transparente Lâminas 12X24 em 4/4 cores Corte e Acondicionamento Shrink Subtotal 2000 2000 2000 2000 2000 TOTAL DE GASTOS COM PRODUÇÃO E FABRICAÇÃO 1,14 0,44 0,40 0,03 0,06 2,07 $ 15.075,80 São considerados gastos mínimos, posto que não estão incluídos gastos com técnicos de gravação, nem produtor (supondo, portanto, que a banda produza a gravação), e que a gravação seja realizada em estúdio de qualidade mediana, sem arranjadores e com masterização a preço módico. Os custos de arte de capa, design e fotografia são também mínimos e tampouco são levados em conta gastos de promoção, nem pagamento de royalties a intérpretes, por disco vendido. Como já foi dito nesta seção, o preço de venda ao consumidor oscila entre 8 e 11 pesos. Sendo otimistas e supondo que os selos vendessem os discos por 11 pesos aos varejistas, o distribuidor levaria 15%, ou seja, $ 3,30 por cópia, deixando para o selo cerca de $ 7,70 de receita por disco vendido. Se levarmos em conta os custos totais de produção e fabricação por um lado, e a receita que o selo obtém pelas vendas do disco por outro, fica evidente que o negócio carece de rentabilidade, mesmo com um olhar otimista. Ainda que o selo vendesse toda a tiragem de 2.000 exemplares (um número nada desprezível), o selo terminaria ganhando muito pouco. O ponto de equilíbrio (quando as vendas alcançam exatamente o necessário para cobrir os custos, ou “break-even”, no jargão) se atingiria nas 1.958 unidades. O lucro com a venda da tiragem completa seria de $ 324 sem os impostos, e o retorno do investimento por parte do selo seria de 2,15%. Quadro 22 – TAXA DE RETORNO DO INVESTIMENTO Venda / 2.000 unidades (com uma tiragem de 2.000 exemplares) Receita com a venda de 2.000 unidades ($ 7,7 x 2.000) $ 15.400 Custos de Produção e Fabricação $ 15.076 Lucro $ 324 Break-even (unidades) 1.958 Taxa de retorno do investimento 2.15% Claro que é pouco realista pensar que se possa chegar a vender 2.000 unidades sem nenhum gasto na promoção do produto. Acrescentar a esse quadro gastos de promoção seria simplesmente por o projeto a perder. 72 À primeira vista, as cifras para tiragens de 3.000 discos parecem mais alentadoras. Os custos secundários variáveis são menores (como a fabricação e os custos de prensagem) e o retorno previsto com as 1.000 cópias vendidas a mais ajudam a melhorar o resultado. Contudo, esse nível de vendas não é comum entre produtos de pequenos selos e implicaria num grande esforço promocional. Quadro 23 – GASTOS ILUSTRATIVOS DE PRODUÇÃO E FABRICAÇÃO DE UM ÁLBUM (tiragem de 3.000 exemplares) 73 Produção Horas de estúdio Masterização Subtotal Unidades Preço Unitário Total 200 1 $ 40,00 $ 600,00 $ 8.000,00 $ 600,00 $ 8.600,00 $ $ 2.702,70 Pagamento de direitos SADAIC (8,19% sobre $ 11 do PVC) Subtotal 3000 0,90 $ 2.702,70 Arte de capa Arte e design Foto Cromos Subtotal 1 1 12 $ 300,00 $ 150,00 $ 7,00 $ $ $ $ 300,00 150,00 84,00 534,00 $ $ $ $ $ $ $ 3.150,00 $ 1.320,00 $ 954,00 $ 90,00 $ 180,00 $ 5.694,00 Manufatura Replicação a 5 cores Estojo Jewel Box transparente Lâminas 12X24 em 4/4 cores Corte e Acondicionamento Shrink Subtotal 3000 3000 3000 3000 3000 TOTAL DE GASTOS COM PRODUÇÃO E FABRICAÇÃO 1,05 0,44 0,32 0,03 0,06 1,90 $ 17.530,70 A contratação de um assessor de imprensa durante os três meses subseqüentes ao lançamento, a impressão de 500 unidades de material gráfico para colocar em pontos de venda, a elaboração de 50 kits de imprensa (mais o custo para enviar alguns deles pelo correio) e a produção de um videoclip de baixo custo (no mínimo, 2000 pesos), terminariam minando completamente o projeto, aumentando as perdas. Como se vê, este é um orçamento de promoção limitado e teria que ser muito eficiente para alcançar um nível de vendas de 3.000 unidades. Quadro 24 – CUSTO ESTIMADO DE UMA CAMPANHA NA IMPRENSA Promoção Quantidade Kits de imprensa Envio de kits pelo correio PDV (material ponto de venda) Videoclip Assessor de imprensa (em meses) Total 50 30 500 1 3 Preço Unitário Investimento $ 5,00 $ 1,50 $ 3,20 $ 2.000,00 $ 600,00 $ 250,00 $ 45,00 $ 1.600,00 $ 2.000,00 $ 1.800,00 $ 5.695,00 O lucro, depois de descontados da receita os gastos com produção, fabricação e promoção, é de - $ 126, dando uma taxa de retorno em torno de – 0,54%. Quadro 25 – TAXA DE RETORNO DO INVESTIMENTO (venda estimada de 3.000 unidades) Receita com a venda de 3.000 unidades ($ 7,7 x 3.000) $ 23.100 Custos de Produção e Fabricação $ 17.531 Custos de Promoção $ 5.695 Lucro $ Break-even Taxa de retorno do investimento -126 3.016 - 0,54% Também é preciso levar em conta que, dado o baixo volume de vendas dos selos menores, muitos deles são inscritos como monotributados no fisco. Isso não lhes permite lançar o IVA de seus custos como crédito fiscal, obrigando-os a computá-lo como um custo a mais e agravando ainda mais a situação. Como sobrevivem os selos 74 A pergunta que surge agora é: Como sobrevivem os pequenos e médios selos independentes, se mesmo com perspectivas otimistas, os ganhos derivados de gravação e lançamento de discos são praticamente nulos? Em primeiro lugar, muitos selos não conseguiram sobreviver e foram forçados a fechar suas portas. Por outro lado, alguns dos selos sobreviventes deixaram de financiar as gravações dos artistas que editam, licenciando de outros selos (muitas vezes do exterior) ou editando material de domínio público. Outros selos possuem seus próprios estúdios de gravação, o que lhes permite atenuar em alguma medida seus custos fixos. Além disso, alguns contam com fábricas de discos, o que também contribui para baratear seus custos (mas são uma rara exceção). Desde a desvalorização do peso, muitos selos começaram a voltar seu foco para o exterior. O câmbio depreciado estimulou muitos selos a vislumbrarem possibilidades de colocar seus produtos no exterior em dólares, especialmente produtos de cunho nacional, como o folclore, o tango e em especial, o tango eletrônico. Com esse intuito, alguns selos participaram de feiras internacionais de discos, como MIDEM e WOMEX (no ano passado, a Subsecretaria de Gestão e Indústrias Culturais, da Secretaria de Cultura do Governo da Cidade, montou ali um stand onde se ofereciam produtos nacionais independentes). As estratégias de sobrevivência mais difundidas, porém, são outras. Em primeiro lugar, muitos selos evitam os gastos de gravação de discos esperando que os artistas já cheguem com o disco gravado. O avanço da tecnologia de gravação digital permite que vários artistas possam gravar seu material a baixo custo, sem um selo que o respalde e financie as sessões de gravação, com era comum até pouco tempo atrás. Além disso, não é raro encontrar bandas ou artistas que possuam seus próprios estúdios de gravação digital. Com apenas um computador razoavelmente rápido e uma interface de som, é possível se obter excelentes resultados (em especial de gêneros como a música eletrônica, que quase não requer a gravação de sons externos). Por outro lado, os avanços, tanto da técnica como na tecnologia do processo de masterização, permitiram aos selos melhorarem consideravelmente a qualidade das gravações que chegam às suas mãos com pouco dinheiro. A combinação desses fatores permitiu que muitos selos desvinculassem o processo de produção do conteúdo criativo, recebendo do artista um master praticamente terminado, focando-se na promoção e na venda dos discos. Uma outra estratégia utilizada pelos selos consiste em negociar com artistas uma porcentagem sobre a venda de ingressos de shows ao vivo, no momento da assinatura do contrato fonográfico, sob a forma de cláusulas de gerencia- 75 mento de carreira. Parece que, assim como no passado as turnês e shows ao vivo dos artistas eram considerados uma ferramenta para estimular a venda de discos, hoje em dia o show ao vivo se tornou o centro do negócio, e o disco assumiu o papel de um instrumento quase auxiliar, sobretudo no setor independente. Nas palavras dos empresários independentes entrevistados: “Hoje em dia, ninguém vive apenas da venda de discos. É preciso faturar com os shows para levar avante o negócio. Até as multinacionais estão colocando cláusulas de gerenciamento nos contratos”. Além disso, os shows e apresentações são excelentes oportunidades de se vender discos, pois além de reunir em um mesmo lugar prováveis compradores, evita que o disco tenha que passar pelo distribuidor e lojas de discos para chegar ao consumidor, aumentando o lucro do selo por disco vendido. Neste ponto aparece um outro problema. Desde o ocorrido em dezembro último com a “República Cromagnon”* e a conseqüente redução de locais habilitados para organizar apresentações na cidade de Buenos Aires (e do alto custo de aluguéis de locais apropriados), muitos dos selos vêem comprometidas uma de suas mais importantes fontes de renda. A oferta de novos espaços para realização de shows parece ser prioritária para a atividade fonográfica independente e para o lançamento de novos produtos e alternativas musicais. Nesse sentido, a Subsecretaria de Gestão e Indústrias Culturais da Secretaria de Cultura do Governo da Cidade de Buenos Aires, já começou a canalizar esforços nessa direção, ampliando o número de espaços oficiais disponíveis para esse tipo de eventos. A fim de oferecer locais seguros onde as bandas independentes possam tocar, foram remodelados três centros culturais, segundo as novas diretrizes de segurança em Boedo, Flores e Lugano. Além disso, as bandas que tocarem nesses lugares não precisarão pagar o aluguel da sala nem contratar o som. Conclusão 76 Como se pode apreciar ao longo desta seção, a função de produção das gravadoras independentes possui elevados custos fixos (como os gastos com produção e promoção), o que torna bastante difícil a atividade fonográfica para pequenas e médias gravadoras, dada a pequena escala de suas produções. O lançamento independente de novos produtos e artistas converteu-se num empreendimento quixotesco, além do problema da pirataria, a falta de créditos mais acessíveis, a escassez de locais adequados para a realização de shows e as condições econômicas em geral. * Nota do tradutor: discoteca em Buenos Aires que sofreu um incêndio de grandes proporções durante um show, deixando dezenas de mortos e feridos. Com respeito a este último ponto, a falta de espaço de difusão nos meios de comunicação (especialmente nas rádios), a enorme concentração da cadeia varejista (cujo poder de mercado lhe garante uma fatia inédita em outras economias), e a presença de custos em dólar são sérios obstáculos que dificultam e põem em risco a sobrevivência da atividade. Assim como os grandes selos multinacionais se expandiram horizontalmente para outras áreas do entretenimento, a grande maioria dos selos independentes que sobreviveu viu-se forçada a expandir-se tanto no mesmo sentido (no empresário e organizador de espetáculos ao vivo), como verticalmente (mediante a incorporação de estúdios de gravação). No entanto, nem todos os selos puderam expandir suas operações em outros campos, pois esse tipo de atividade requer, por sua vez, um tipo de know-how específico. Como conseqüência, vários selos pequenos e médios suspenderam a buscae o lançamento de novos conteúdos para dedicar-se ao lançamento de produtos licenciados e obras de domínio público. Outros não tiveram outra opção se não desaparecer juntamente com seus catálogos, às vezes deixando perder valiosos testemunhos da nossa cultura. Principais desafios e obstáculos para o desenvolvimento do setor das pequenas e médias gravadoras 1. Financiamento Os selos fonográficos costumam ter grandes dificuldades em obter financiamentos. Além do generalizada falta de crédito na Argentina, os selos muitas vezes enfrentam a discriminação por parte das instituições financeiras, não só pelo alto risco do negócio, mas por não serem tangíveis suas garantias dadas em caução. Ao mesmo tempo, parece haver dificuldades entre a comunidade financeira e o empresariado fonográfico para comunicar-se em uma linguagem que ambos entendam. Vários fatores explicam a desconfiança da comunidade financeira diante das oportunidades de investimento na indústria da música. Em primeiro lugar, as instituições financeiras geralmente buscam eficiência operacional, fontes de lucro estáveis, ativos tangíveis e planos de negócios sólidos, quando decidem investir em alguma empresa. Com essa perspectiva, as pequenas e médias gravadoras não são o cliente ideal. Outro problema é que os empréstimos solicitados por esse tipo de empresa não são suficientemente altos para atrair o interesse do financista. 77 Para que o setor possa crescer, deve-se procurar novas formas e inovadoras fontes de financiamento. As ferramentas financeiras disponíveis na Argentina são particularmente insatisfatórias, sobretudo para as etapas iniciais e de desenvolvimento dos selos. Os principais fatores que costumam obstruir a provisão de financiamento a selos fonográficos independentes por parte das instituições financeiras são: • • • • • • • • • • Altos níveis de risco Pequeno tamanho da empresa Informação assimétrica sobre as práticas de negócio e das condições de mercado Garantias ou avais intangíveis Baixo valor de empréstimo em relação aos custos administrativos envolvidos, o que desinteressa aos bancos Baixo histórico de faturamento, especialmente em selos novos. Informalidade nas práticas do selo Falta de profissionalismo e de conhecimentos financeiros e comerciais por parte dos empresários do selo Pouca familiaridade das instituições financeiras com os empresários do setor Nível de entendimento inadequado entre os empresários do setor e os investidores financeiros Altas taxas de juros na concessão de créditos. 2. Acesso aos meios de comunicação O acesso a potenciais audiências é um elemento primordial para a atividade fonográfica. O apoio dos meios de comunicação (especialmente o rádio e a televisão) é uma ferramenta importantíssima para projetar o material do selo ou o artista. Por outro lado, o não acesso a esses meios pode ter um efeito negativo de iguais dimensões, especialmente sobre o material de artistas novos ou desconhecidos. 78 Hoje em dia, o acesso aos meios de comunicação de massa é praticamente impossível para os selos fonográficos independentes. Vários fatores contribuem para isso. Em primeiro lugar, o tempo de exibição de músicas na Argentina é menor que nas rádios de outros países, dado o predomínio da informação falada sobre a execução de músicas. Por outro lado, o espaço disponível para músicas é praticamente monopolizado pelas multinacionais, graças à sua disponibilidade de recursos e poder no mercado. Além disso, o negócio das rádios baseia-se na venda de anúncios publicitários, que se distribuem segundo o nível de audiência. Em geral, os executivos das rádios não se mostram muito dispostos a apostar em novos conteúdos de artistas desconhecidos que possam vir a reduzir o número de ouvintes, preferindo dar espaço aos lançamentos das multinacionais, que normalmente realizam grandes campanhas em diversos meios (TV, vias públicas, imprensa etc.), diminuindo dessa maneira o grau de incerteza. 79 Como se não bastasse, a audiência do rádio concentra-se em algumas poucas estações, como se vê no gráfico seguinte. Nas FMs, mais da metade da audiência está concentrada em cinco estações, proporção que fica ainda pior na freqüência das AMs, onde as três rádios mais importantes reúnem 67% dos ouvintes. Os custos para inserir espaços comerciais nas rádios são excessivos para os selos independentes, dado a baixo número de lançamentos e os poucos recursos financeiros disponíveis. Como explicado anteriormente, esse tipo de promoção é absolutamente proibitivo para os selos independentes, cujas tiragens não costumam ultrapassar os 3.000 discos. O custo de um segundo nessas rádios oscila entre 4 e 7 pesos; a exibição de um anúncio de 25 segundos, duas vezes por dia ao longo de um mês (algo bem modesto) custaria aproximadamente entre $ 3.000 e $ 5.200. Por isso, o pequeno volume desembolsado (em comparação com os enormes montantes pagos pelas multinacionais), não permite a divulgação de material pelo rádio. Gráfico 12 - AUDIÊNCIA DAS RÁDIOS AM E FM - OUT/DEZ. 2004 GRANDE BUENOS AIRES Fonte: IBOPE, audiência de outubro a dezembro/2004 Todos esses fatores limitam seriamente o acesso de conteúdos novos ou alternativos aos diferentes canais de audiência, um requisito indispensável para uma atividade cultural rica e saudável. 3. Falta de profissionalismo Nas diversas entrevistas realizadas, encontramos um alto grau de informalidade nas atividades dos selos independentes, assim como uma importante carência de conhecimentos técnicos administrativos, contábeis, legais e comerciais, especialmente entre os executivos dos selos menores. Em alguns casos mais extremos, as empresas sequer estão constituídas legalmente e não pagam qualquer tipo de imposto, limitando sua capacidade de estabelecer relações contratuais formais com outros agentes, e restringindo desse modo o alcance de sua atividade. A familiaridade com o funcionamento da indústria e seus agentes, com as normas impositivas, assim como o domínio de ferramentas básicas de marketing e promoção, são habilidades primordiais para desenvolver-se no setor fonográfico. Ao mesmo tempo, o conhecimento da legislação nacional e internacional, especialmente a relacionada aos direitos de propriedade intelectual, constitui requisito indispensável para conhecer e manejar as regras do jogo. Isso fica mais evidente nas tentativas de exportação dos produtos. Como foi exposto anteriormente, muitos selos vislumbram possibilidades de exportar seu material, beneficiados pela desvalorização do câmbio. No entanto, muitos deles não têm idéia de como emitir licenças, nem conhecem as regras internacionais a que estão circunscritos, ignoram as normas aduaneiras argentinas, assim como os meandros do comércio exterior em geral, minando qualquer tipo de atividade internacional. 80 Por outro lado, a falta de profissionalismo de selos e músicos/intérpretes afeta sensivelmente as relações contratuais celebradas entre ambas as partes. Alguns nem sequer formalizam sua relação além do nível verbal, apesar dos perigos que isso pode representar para ambos. Por um lado, o selo poderia negar todo tipo de remuneração ou benefícios ao artista. Ao mesmo tempo, se o produto for interessante, outro selo poderia “roubar” o artista de seu catálogo, aproveitando o investimento realizado no desenvolvimento do mesmo. Além disso, a falta de profissionalismo, em combinação com as condições adversas que o setor atravessa, faz com que alguns selos submetam os artistas a contratos leoninos que acabam prejudicando enormemente os músicos/intérpretes que, ávidos por alcançar o sucesso, acabam cedendo precipitadamente seus direitos autorais. Também é preciso considerar que a falta de conhecimentos financeiros e gerenciais de seus diretores, torna esses selos menos propensos a resistir a ciclos econômicos desfavoráveis, ameaçando sua sobrevivência a médio e longo prazo. 4. Pirataria Mesmo que o habitual baixo impacto dos lançamentos fonográficos independentes os torne menos propensos a sofrer os prejuízos causados pela pirataria, sua grande escala na Argentina (mais de 50%) representa um forte obstáculo para seu crescimento no mercado fonográfico. Além do fato de haver, em média, uma cópia pirata para cada cópia legal comercializada, a pirataria normalmente concentra-se em produtos de maior aceitação popular, pois o coeficiente de lucro é muito maior para os lançamentos de sucesso. Nesse sentido, o crescimento que um sucesso significaria para uma empresa independente, fica gravemente comprometido pelo elevado grau de pirataria no mercado, que prejudica seriamente a rentabilidade e os lucros que o selo pode obter. Assim, podemos entender a pirataria como um grande obstáculo que impede o desenvolvimento dos selos independentes, contribuindo para manter o status quo da indústria fonográfica. Os números de música baixada pela Internet na Argentina também são alarmantes. Estima-se que cerca de 20 milhões de discos foram baixados no ano passado pela Internet, dos quais aproximadamente 13 milhões foram queimados em CDs. Ainda que o download de música na rede tecnicamente não seja pirataria, por não estar implícito o fim lucrativo da mesma, a música baixada apresenta outras qualidades em relação aos discos originais, impactando negativamente nas vendas de discos. Essas características são potencializadas pela possibilidade de queimar os arquivos baixados em CDs graváveis, possibilitando sua leitura em microsistems, discmans, sons de carro etc. A grande incidência de conexões domésticas de banda larga e o hábito crescente de baixar músicas - especialmente entre os mais jovens - têm sérias conseqüências na cultura da compra de discos. A falta de hábito de ir até a loja de discos e a separação do fonograma de seu suporte físico (o disco), geram nos jovens condutas relacionadas ao consumo de música difíceis de serem modificadas com o tempo, ameaçando o volume de vendas do negócio a médio e longo prazo. Nesse sentido, contudo, não há esforços a nível local dirigidos à solução do problema, seja conscientizando a 81 população sobre o impacto negativo de baixar músicas pela Internet (por seu efeito substitutivo dos produtos originais), ou pela tentativa de travar acordos com os provedores locais de acesso. 5. Custos e infra-estrutura dolarizados A existência de custos dolarizados no processo de fabricação e embalagem dos discos também representa um grande problema para os selos independentes desde a desvalorização do peso. Variações imprevistas no tipo de câmbio desestabilizam a atividade fonográfica, encarecendo o investimento necessário para um lançamento e os preços de venda, desestimulando assim tanto a produção, como a demanda de fonogramas. Tendo em vista a flutuação do câmbio e conseqüente incerteza, os provedores de insumos (fabricantes e gráficas) reduziram drasticamente o financiamento aos selos, limitando em grande parte as vendas a prazo e adotando como norma o pagamento contra entrega. Isso requer uma maior liquidez por parte dos selos, constituindo um obstáculo a mais em sua atividade. A desvalorização do peso também afetou gravemente as fábricas, gráficas e estúdios de gravação. Ao utilizar bens de capital e equipamentos tecnológicos importados, a manutenção e a modernização de sua infra-estrutura complicou-se bastante. Isto significou um grande retrocesso, pois durante a década de 90 muitas dessas empresas realizaram importantes investimentos em equipamentos, alcançando padrões tecnológicos internacionais. O desgaste do equipamento e o atraso técnico resultante (devido ao acelerado ritmo de mudanças tecnológicas nesse setor) podem gerar um sério descompasso entre a Argentina e o resto do mundo, minando a competitividade tecnológica alcançada na década passada. 82 Ao mesmo tempo, a importação de bens de capital de outros países é particularmente complexa do ponto de vista burocrático. Complicados e custosos trâmites geram grandes inconvenientes para a manutenção e a atualização dos equipamentos, comprometendo a modernização do parque tecnológico local e contribuindo ainda mais para ampliar o desnível Além disso, a incorporação de alguns bens de produção considerados luxuosos, implica em taxas extremamente altas para eles, desestimulando a modernização tecnológica ou incentivando práticas ilegais de aquisição do produto (Plano de ação 20052007, 2004: 229). 6. Monopólio da cadeia varejista O grande monopólio representado pela cadeia varejista é outro entrave para o desenvolvimento dos selos independentes. No final de 2003, representava 85% do mercado (Fonte: www.selosdigital.ar), entre o grupo ILHSA (Yanny, El Ateneo, Dromo), Musimundo e Tower Records (este último em vias de sair do mercado). Esse domínio do mercado permite às grandes cadeias estabelecer as regras do jogo, às quais os selos devem submeter-se se pretenderem comercializar algum de seus produtos através delas. O caso mais paradigmático é o da adoção da consignação como modalidade de venda, transferindo aos selos grande parte do risco. A situação não apenas lhes permite alcançar uma larga margem de lucro às custas dos selos e distribuidoras, como representa um grande risco para a indústria em seu conjunto, o que se fez notar com a quebra da Musimundo há poucos anos atrás. Se apenas um comprador representa uma parte importante das vendas de um selo, sua queda pode arrastar consigo muitas empresas do setor, sobretudo em se tratando dos pequenas e médias gravadoras A posição dominante na cadeia varejista também lhes permite absorver possíveis reduções nos preços estipulados pelos selos (deixando o preço constante e aumentando sua margem de lucro) e/ ou anular o efeito de uma isenção fiscal para o setor (como a eventual isenção do IVA para o disco). 7. Coordenação intersetorial insatisfatória Até o momento, foram registradas poucas tentativas de ações coordenadas para abordar diretamente os problemas mais comuns do setor fonográfico independente. Apesar de alguns esforços nessa direção, como a criação da União dos Selos Independentes (integrada por nove selos) e da União de Músicos Independentes, até hoje não foram alcançadas metas importantes, além de alguma redução de custos negociada com algumas fábricas e gráficas. Nesse sentido, são necessárias associações que representem de fato os interesses das companhias fonográficas e que promovam sua competitividade no mercado. Esse tipo de organização deveria zelar por garantir um melhor acesso ao mercado por parte das indies, criar ou implementar normas antimonopólio para combater a concentração da atividade, promover o papel das indies como propulsoras da diversidade cultural e da inovação 83 musical, estabelecer mecanismos financeiros específicos para a indústria independente, promover a obtenção de benefícios ou isenções fiscais, e funcionar como eixo coercitivo de reivindicações perante as autoridades competentes. Provavelmente, a heterogeneidade existente entre as empresas do mundo independente, a resistência em compartilhar informações e know-how, assim como o desconhecimento de caminhos para capacitar ações coordenadas, sejam os principais fatores que impedem a criação de uma associação eficiente para solucionar alguns dos problemas mais emergentes que atravessa o setor fonográfico independente. 8a. O star-system e a ausência de novas propostas Já há algum tempo, os poucos investimentos dos grandes selos a nível local estão concentrados em artistas consagrados. Ao contrário dos países mais desenvolvidos, onde os novos artistas lideram o ranking de vendas, o segmento local do mercado argentino apoia-se em lançamentos de artistas de longa carreira. De fato, é quase impossível encontrar artistas novos nos rankings argentinos, à exceção daqueles surgidos em programas televisivos como os reality shows (Operação Triunfo, Popstars, entre outros) ou telenovelas (Los Roldán, Floricienta, Rebelde Way etc.) 84 Quadro 26 - RANKING ANUAL DE VENDAS NA ARGENTINA Classif. Título Artista Gravadora 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Diego Torres MTV Unplugged La Argentinidad al Palo - Vol.1 Floricienta y su Banda Noche Amiga Mía La Argentinidad al Palo - Vol.2 Lo Que Te Conté Mientras Dormías Robbie Williams Greatest Hits México en la Piel Los Rayos Lágrimas Negras Fallen Feels Like Home De La Cabeza Con Bersuit Vergarabat Songs About Jane Amor Gitano Infame Luciano Los Roldán Buen Viaje Floricienta Karaoke Diego Torres Bersuit Vergarabat Floricienta Los Nocheros Bersuit Vergarabat La oreja de Van Gogh Robbie Williams Luis Miguel Vicentico Bebo y Cigala Evanescence Norah Jones Bersuit Vergarabat Maroon 5 Sandro Babasónicos Luciano Pereyra Banda de Sonido Alejandro Lerner Floricienta BMG UNIVERSAL SONY EMI UNIVERSAL SONY EMI WARNER BMG BMG SONY EMI UNIVERSAL BMG WARNER EMI - PELO MUSIC EMI UNIVERSAL UNIVERSAL SONY 85 Fonte: Elaboração própria, com base em dados da CAPIF. As pouco arriscadas estratégias dos grande selos (materializadas na concentração de recursos publicitários em torno de um limitado catálogo de artistas) acabaram promovendo um rígido star-system nacional, que prejudica seriamente as possibilidades de novos artistas. Como resultado, a massa de consumidores argentinos parece exibir fortes características conservadoras, retroalimentando o star-system fomentado pelas grandes gravadoras. A tendência conservadora das preferências populares se torna evidente pelo rol de artistas que participaram do Quilmes Rock 2004 (o mais importante festival da Argentina nos últimos tempos, com artistas locais), no qual, dos 29 participantes principais, apenas cinco grupos tinham menos de dez anos de carreira10 . 10 Os principais artistas que participaram do Quilmes Rock 2004 foram Luis Alberto Spinetta, Fito Paez, Memphis La Blusera, La Portuária, The Wailers, Mimi Maura, Los Cafres, Dancing Mood, León Gieco,, Las Pelotas, Molotov, Intoxicados, Babásonicos, Catupecu Machu, Bersuit Vergarabat, Ratones Paranóicos, Autênticos Decadentes, Divididos, Café Tacuba, Los Pericos, The Offspring, Rata Blanca, El Outro Yo, Charly Garcia, Paralamas, Vox-Dei, Turf, Los Piojos, Pappo e La Misisipi. Destes, apenas Mimi Maura, Catupecu Machu, Dancing Mood, Intoxicados e Turf têm menos de dez anos de carreira. Essa situação pode estar prejudicando (e continuar a prejudicar no futuro) o mercado fonográfico argentino, em especial o segmento de origem nacional. A inovação musical, entendida como o surgimento de novos conteúdos, é fundamental para a dinâmica do negócio, já que revitaliza e estimula a demanda de música por parte dos consumidores. A saturação que há hoje em dia em relação à oferta de artistas e grupos, pode afetar negativamente as vendas de produtos nacionais e ser um outro dos fatores vinculados à diminuição do repertório local no volume do mercado. 8b. Diminuição do repertório local no mercado Como dito no início do trabalho, o curto ciclo de vida dos produtos musicais requer certa periodicidade no lançamento de novos conteúdos, de maneira a manter o volume de vendas do negócio. Em um mercado globalizado e concentrado como o atual, a falta de lançamentos de origem nacional é compensada por repertórios estrangeiros (especialmente em espanhol, substitutos imediatos dos locais), com conseqüências desfavoráveis sobre a atividade dos artistas e demais participantes nacionais do setor. Além disso, uma mudança de hábitos e preferências na demanda local em favor de conteúdos estrangeiros, e em prejuízo de repertórios nacionais, implica em nefastas conseqüências a nível cultural. Já se assinalou que um dos fatores que contribui para diminuir a participação do repertório local no mercado argentino é a desconfiança das multinacionais em relação à capacidade do mercado argentino para absorver os investimentos em novos lançamentos de origem local (sobretudo considerando o alto nível de pirataria). A eliminação de departamento de A&R (encarregado de descobrir e aprimorar novos talentos) na maior parte das multinacionais, é altamente preocupante nesse sentido, inclusive se levarmos em conta que a delicada situação dos selos independentes não lhes permite substituir as grandes gravadoras como promotores do repertório local, em grande escala. 86 Neste ponto, cabe uma importante observação. A pirataria de discos não paga impostos, nem gera os mesmos benefícios aos diferentes escalões da indústria que a atividade legal. Não obstante, têm implicações similares (e inclusive maiores) quanto à sua incidência cultural na sociedade, dado que mais da metade do mercado fonográfico corresponde a cópias piratas. Como exposto anteriormente, o mercado legal está focalizado principalmente em produtos de maior sucesso que, em geral, são os que contam com maior promoção e acesso aos meios de comunicação (em outras palavras, os produtos das multinacionais). Dessa maneira, se as grandes gravadoras dirigirem seus esfor- ços para a comercialização de produtos estrangeiros, não seria estranho supor que o mercado pirata refletisse essa situação, intensificando a concentração de repertórios estrangeiros consumidos pelos indivíduos. Assim, a pirataria teria um efeito multiplicador quanto ao tipo de repertório eleito pelas grandes gravadoras. No entanto, não existe estimativas precisas que permitam conhecer a participação dos diferentes repertórios no mercado ilegal, razão pela qual alguma afirmação conclusiva nesse sentido seria precipitada. Recomendações de políticas voltadas ao apoio da atividade fonográfica independente A existência de uma grande variedade de políticas (e grande variação de resultados) demonstra não existir receitas universais e infalíveis para a solução dos problemas que atravessam as empresas fonográficas independentes. No entanto, é possível resgatar algumas recomendações de práticas - algumas das quais aplicadas com relativo sucesso em outros países - a fim de orientar as políticas das autoridades locais relativas a esse setor. Ao longo desta seção serão feitas algumas recomendações e sugestões de políticas relativas aos obstáculos que dificultam o desenvolvimento das pequenas e médias gravadoras, mencionados na seção anterior. Políticas de financiamento O argumento para a intervenção do Estado em apoio à atividade econômica fonográfica apoia-se na falta de mercado resultante da qualidade de bem público que reveste os produtos culturais. Além disso, nos mercados financeiros também ocorre outro tipo de falhas de mercado, concretamente a dificuldade do crédito pela existência de assimetrias na informação. Essa falha ocasiona o ineficiente desempenho dos mercados financeiros na área cultural, e é gerada em grande parte pelo pouco entendimento entre as comunidades financeira e musical, o desconhecimento das práticas da indústria por parte dos bancos e pela desconfiança recíproca. Como resultado, os atuais instrumentos financeiros falham na provisão de capital a esse tipo de empresa, obstruindo o progresso e desenvolvimento dos selos independentes. Nesse ponto, é fundamental para o desenvolvimento da atividade fonográfica independente uma aproximação e melhor entendimento entre os elementos criativos e os não criativos do setor. 87 Problemas de comunicação O primeiro passo para alcançar essa aproximação seria melhorar a comunicação entre a comunidade financeira e as empresas do setor fonográfico. A indústria da música não fala o mesmo idioma dos financistas que por sua vez, não entendem a linguagem da indústria. Ao mesmo tempo, existe uma desconfiança recíproca entre os dois setores. Os bancos consideram que falta aos selos habilidades comercial e financeira, e vêem a atividade fonográfica como uma área de investimento instável e de alto risco. De fato, os selos pequenos geralmente carecem de recursos humanos e técnicos para manejar aspectos gerenciais, financeiros e comerciais, além de suas atividades tradicionais (busca de novos artistas e produção de fonogramas). Nesse aspecto, seria necessário oferecer capacitação específica aos empresários do setor musical, visando melhorar suas habilidades de gerenciamento e sua compreensão do mundo financeiro. A organização de cursos e seminários, assim como um serviço de assessoria financeira especializada à disposição dos selos, diminuiriam a distância entre as comunidades. Financiamento público As autoridades oficiais podem intervir de muitas maneiras, de forma a oferecer acesso a financiamentos às pequena e médias empresas das indústrias culturais. Estes se dariam na forma de créditos mais acessíveis, subvenções e subsídios, renováveis ou não. Além disso, o Estado pode prover garantias que facilitem o financiamento por parte das instituições financeiras. Ao compartilhar riscos e responsabilidades com os selos, o Estado reduz a incerteza das operações e aceita os mecanismos de financiamento. 88 Os altos custos de produção e a baixa escala dos lançamentos fonográficos independentes fazem com que seja quase impossível obter benefícios do negócio, obrigando-o, muitas vezes, a desviar de sua atividade principal para poder sobreviver. Nesse sentido, a outorga de subsídios por parte do Estado é uma ferramenta muito importante para assegurar a sobrevivência dos selos menores, permitindo focalizar-se nas atividades que conhecem. Dessa forma, o acesso a créditos (seja mediante instituições financeiras públicas ou esquemas de garantias de crédito) pode estimular a expansão de suas atividades e a obtenção de uma massa crítica que permita aumentar a escala de suas tiragens, atingindo um patamar de rentabilidade e reduzindo o risco da empresa. Além disso, a isenção de impostos (como a eliminação do IVA nos produtos fonográficos) ou créditos fiscais é outra das ferramentas que o Estado pode implementar para aliviar a situação das empresas fonográficas independentes (e especialmente a dos selos menores, como se explicou anteriormente). Não obstante, os recursos e o orçamento do governo para esse tipo de subvenções são geralmente escassos e muitas vezes insuficientes para alcançar os objetivos desejados. Por isso são necessárias novas fontes alternativas de financiamento para apoiar a atividade das companhias fonográficas independentes. Novas fontes de financiamento Como já mencionamos, a criação de novas fontes de financiamento que possam coexistir com as tradicionais são uma necessidade urgente na indústria. Sejam públicas, mistas ou privadas, é necessário que o Estado fomente a criação de instituições que canalizem recursos financeiros para as pequenas e médias empresas do setor. Além das ações governamentais unilaterais, como os subsídios e as linhas de créditos mais acessíveis a longo prazo, hoje em dia são muito comuns as parcerias público-privadas. Essas organizações oferecem ferramentas financeiras como microcréditos, diversas formas de créditos (direta ou indiretamente subsidiados), subvenções e outros esquemas de assistência financeira, especialmente desenhados para nossa conjuntura. Por outro lado, outra fonte eficaz de financiamento seria a criação de uma espécie de Banco de Indústrias Culturais, possivelmente com o apoio do Banco Mundial ou do Banco Interamericano de Desenvolvimento, ou então em associação com outros agentes do setor privado. Esse fundo seria utilizado como recursos financeiros iniciais para alavancar as empresas, a fim de ajudar o selo a alcançar algum reconhecimento, adquirindo experiência e knowhow durante o processo. Uma vez que a empresa tenha crescido e começado a funcionar normalmente, seu risco financeiro é muito menor, o que torna mais fácil a obtenção de financiamento através das fontes tradicionais. Nesse sentido, também é de suma importância um modelo específico de instrumentos financeiros para as necessidades da atividade fonográfica. Essa 89 medida pode ser posta em prática em associação com entidades financeiras públicas ou privadas, e mediante a colaboração de especialistas das comunidades financeiras e fonográficas. Outro instrumento freqüentemente utilizado na Europa é o venture capital, ou capital de risco. Esta forma de financiamento apresenta um risco menor que as ferramentas tradicionais e é usualmente dirigida a empresas jovens e emergentes, com potencial de crescimento. No entanto, as empresas mostram, às vezes, uma certa rejeição ao capital de risco, já que o investimento implica na perda de uma parte das ações da empresa e os empresários temem perder o controle sobre seu negócio. Contabilização de ativos intangíveis Quanto às práticas contábeis, os ativos intangíveis não têm reconhecimento nos balanços dos selos fonográficos, restringindo suas possibilidades de financiamento pelas vias tradicionais. Até hoje os contadores não chegaram a um acordo na maneira de avaliar a propriedade intelectual artística, contratos de gravação com artistas e outros ativos intangíveis gerados internamente. A propriedade intelectual é um ativo de grande valor, mas com pouco reconhecimento nas práticas contábeis. Ainda que haja poucas iniciativas nesse campo, algumas sugerem a incorporação de anexos aos balanços contábeis, nos quais se registre a capitalização dos ativos gerados internamente, além de um processo de avaliação aceitável e uniforme. Políticas para garantir o acesso aos meios de comunicação Já foi explicado que a falta de acesso aos meios de comunicação por parte das companhias fonográficas é um dos obstáculos que mais dificultam sua atividade. Todavia, também não existe uma solução universal para esse problema. 90 Uma possível e objetiva solução seria instaurar cotas mínimas de difusão para rádio e televisão, como foi feito no Canadá e na França. No entanto, como ocorre com outras normas e regulamentos, podem causar efeitos negativos inesperados, que poderão ser contornados pelo pensamento criativo (algo que em nosso país não é escasso). Na França, por exemplo, a exigência de uma cota de execução fixa de música local nas rádios, resultou em uns poucos artistas sendo tocados uma ou outra vez. Isto dificilmente teria sido o objetivo dessa política. Por outro lado, a experiência da cota na Austrália deu resultados satisfatórios. A Austrália introduziu regras de conteúdos, baseadas em um sistema de acordos voluntários (sob a ameaça latente de intervenção governamental). Esse sistema garante que uma certa porcentagem dos novos lançamentos australianos sejam tocados nas rádios. A introdução da regulamentação resultou em um aumento na participação no mercado do repertório local de 2 para 11%. Os governos podem impor cotas mínimas, mas sua eficácia e permanência dependem de muitos fatores, como o apoio dos meios de comunicação e dos agentes da indústria. Sempre existe o risco de que as iniciativas entrem em conflito com outros interesses, inclusive com obrigações internacionais que proíbem a subvenção de produtos domésticos (como os TRIPS, ou acordos sobre os aspectos comerciais dos direitos de propriedade intelectual). No entanto, é de suma importância que os governos fomentem, nos meios de comunicação, o dever de permitir aos criadores locais um acesso razoável a eles. Da mesma forma, é essencial que se organizem fóruns ou debates nos quais tenha lugar o diálogo com os agentes envolvidos, e onde os defensores de interesses opostos possam compartilhar idéias e tentar chegar a uma solução. Outras políticas governamentais, menos agressivas no que diz respeito a um espaço nos meios de comunicação para repertórios independentes, poderiam incluir as seguintes medidas: - Ao outorgar licenças de rádio e teledifusão, favorecer as estações que se comprometam a incluir uma ampla gama de repertório local independente em suas progamações. - Exame cuidadoso dos riscos resultantes do concentração empresarial, no caso de fusões e aquisições que incluam detentores e exportadores de direitos (gravadoras, editoras e rádio/teledifusoras de um mesmo conglomerado). Aplicar normas antimonopólio quando necessário. - Promover a exposição de material independente nos meios de comunicação públicos. Cabe aqui um esclarecimento sobre a utilização de canais públicos para o estímulo dos conteúdos independentes. A abertura de canais exclusivos para produções cinematográficas nacionais terminou estigmatizando e marginalizando as salas de cinema argentino, esmorecendo assim o objetivo primário de difusão do cinema nacional. Para que não se repita essa experiência, deve- 91 se considerar que a exposição de material fonográfico independente, nos meios de comunicação públicos, não deve ser exagerada, mas equilibrar-se harmonicamente com outros tipos de repertório. É muito provável que o maior acesso de repertórios nacionais e independentes aos meios de comunicação de massa fomente um incremento de sua participação no mercado fonográfico, alcançando assim um duplo objetivo: apoiar a indústria independente e reverter a tendência declinante do repertório local nas vendas fonográficas, incentivando dessa maneira a descoberta e aprimoramento de talentos locais por parte das grandes gravadoras. A luta contra a pirataria Obviamente, a luta contra a comercialização e a fabricação de cópias ilegais deve ser uma prioridade para as autoridades governamentais. Já se demonstrou várias vezes que a pirataria tem fortes e negativas conseqüências na indústria e no desenvolvimento de selos independentes. Segundo analistas da IFPI, as medidas tomadas pelo governo argentino não são suficientes, seja em matéria das penalidades aplicáveis, seja na implementação da legislação vigente. A execução estrita das normas existentes e uma eventual modificação destas para implementar penalidades para aqueles que fabricarem e distribuírem cópias ilegais com fins lucrativos, poderia resultar em um controle mais eficiente desse tipo de atividades. Em relação à copia caseira de fonogramas (sem fins lucrativos) e à distribuição de arquivos musicais pela Internet, seria razoável a criação de mecanismos de compensação (conhecidos como regimes de cópia privada) que indenizem a indústria fonográfica, em razão dos benefícios que a indústria transfere a importadores e fabricantes de suportes virgens, assim como provedores de serviços de Internet. Como foi mencionado na seção anterior, uma parte importante da atividade desses agentes é subsidiada de alguma maneira por investimentos da indústria fonográfica. O diálogo, com os agentes da indústria e com aqueles que tenham interesses envolvidos nesses aspectos, é uma etapa fundamental para a criação e aplicação de qualquer tipo de iniciativa neste sentido. 92 Cabe esclarecer que o disco pirata não é um substituto perfeito do disco original. Seria um erro pensar que a redução da pirataria conduziria automaticamente a um aumento de iguais proporções nas vendas legítimas (levando em consideração o baixo poder aquisitivo dos salários argentinos). Outra ferramenta útil na luta contra a pirataria seria regulamentar a incorporação de números de série individuais em cada cópia realizada, a fim de poder controlar a quantidade de discos fabricados. Essa medida visaria combater a manipulação de cifras por parte das gravadoras, que para pagar menos direitos aos criadores, chegariam a reduzir os números reais. Desenvolvimento de recursos humanos Um empresariado capacitado e competente é a base de uma indústria forte e dinâmica. A carência de habilidades gerenciais, de conhecimentos financeiros, de ferramentas de marketing, de noções de comércio exterior e das regras do jogo em geral, representa um grande empecilho ao desenvolvimento dos selos independentes. Em primeiro lugar, o Estado deve assegurar a ampla difusão de regulamentos e normas que afetam o setor. O conhecimento da legislação autoral, dos regulamentos das entidades coletoras, dos tratados internacionais, dos convênios e de todo tipo de normas que regulam a atividade, é um requisito essencial para atuar no campo fonográfico. Ainda assim, é fundamental desenvolver um sistema estatístico para medir o valor agregado e índice de empregos gerados no setor. A capacitação dos empresários do setor é também um pré-requisito essencial para a colocação de produtos em mercados estrangeiros. Se os executivos dos selos não desenvolverem habilidades necessárias para poder comercializar seus produtos no mercado local, é pouco provável que possam fazê-lo no exterior de maneira efetiva. Por outro lado, o apoio e a capacitação mediante o desenvolvimento dos recursos humanos e do empresariado através de esquemas formais e informais (programas de intercâmbio, treinamento etc.) é parte essencial de uma política cultural eficiente. Na Europa, por exemplo, alguns dos mais bem sucedidos casos de serviços de assessoria incluem iniciativas como serviços de consultoria gratuitos ou subsidiados, assessoria em financiamento e arrecadação de fundos, instruções sobre ferramentas de promoção, acesso a consultores da indústria, consultoria em comércio exterior e assistência para intermediários culturais (produtores, empresários artísticos e da cultura, entidades arrecadadoras). Além disso, outras iniciativas giram em torno do estabelecimento de organizações de desenvolvimento cultural que atuam estrategicamente como coordenadoras de ações coletivas, líderes ou assessoras do processo fono- 93 gráfico completo (por exemplo, CIDA no Reino Unido). O contato entre os diferentes agentes do setor resultaria também em ações coordenadas privadas, que permitiriam uma luta mais efetiva por seus interesses. A organização de seminários e workshops, que contribuam para disseminar conhecimentos, experiência e práticas efetivas no setor, pode constituir um elemento de grande efetividade na capacitação dos empresários do setor. O convite a profissionais e empresários do exterior, sobretudo aqueles que tenham experiência no desenvolvimento de selos independentes, poderia agregar mais um elemento de grande valor. Esse tipo de iniciativa se materializaria mediante a colaboração conjunta entre o governo e agentes do setor privado (as parcerias público-privadas), como instituições financeiras, associações ou câmaras do setor, redes de empresários e provedores de serviços de consultoria de negócios. Apesar de todas essas medidas visarem a capacitação de recursos humanos pelo lado da oferta, alguns analistas ressaltam a importância de desenvolver capital intelectual pelo lado da demanda. Para desfrutar da música (em especial de gêneros mais elitistas), é necessário ter acumulado algum capital intelectual/cultural, que se desenvolve, precisamente, mediante a exposição e a familiaridade com diferentes tipos de manifestações musicais. E nas palavras de Luis Bonet “...o consumo cultural e a criação do hábito dependem da experiência anterior, e o conseqüente acúmulo de capital cultural...” (Bonet, 2001). Nesse sentido, programas escolares de educação musical que envolvam o estudo de pelo menos um instrumento musical e o fomento de outras formas de incrementar a familiaridade dos indivíduos com a música e com diferentes repertórios, são muito importantes no estímulo à demanda e também contribuem para alcançar os objetivos propostos. Modernização do parque tecnológico 94 A infra-estrutura tecnológica de estúdios de gravação e pós-produção, fábricas de CDs e gráficas são ativos fundamentais para o funcionamento do negócio. Manter o grau de competitividade alcançado nessa área durante a década passada é fundamental para o desenvolvimento de produtos locais dignos, ao mesmo tempo em que aumenta as possibilidades de negociação com agentes do exterior. No Plano de Ação 2005-2007 para Indústrias de Base Cultural elaborado pelo Fórum Nacional de Competitividade Industrial da Cadeia Produtiva, essa necessidade é adequadamente discutida, e entre as políticas recomendadas, figuram as seguintes: 1. Corrigir a atual inclusão de alguns bens de produção do setor na categoria aduaneira de bens de luxo, que determina taxas extremamente altas. 2. Reduzir as exigências burocráticas para a importação de equipamentos não fabricados no país. 3. Liberar a importação de bens de capital para o setor. 4. Permitir às empresas do setor a utilização de crédito fiscal na compra de bens, como máquinas e equipamentos. 5. Subsidiar, em alguns pontos percentuais, a taxa de juros de créditos dirigidos à modernização tecnológica no setor. 6. Estudar para que o setor público subsidie parte da diferença entre o valor dos novos equipamentos e o daqueles a serem substituídos. 7. Coordenar, com o apoio das câmaras empresariais do setor, a elaboração pela Aduana de uma listagem de maquinários, equipamentos e peças de importação mais freqüente pelo setor, a serem usados nos processos industriais ou em estúdios de gravação, inclusive marca, modelo e procedência. Isto agilizaria os trâmites aduaneiros e evitaria o inconveniente de as firmas terem que provar seu uso produtivo. Concentração empresarial da cadeia varejista O monopólio presente no escalão varejista da cadeia fonográfica constitui um obstáculo e um risco importante para a saúde do setor. Na seção anterior, explicamos como o oligopólio de dois grupos de empresas (Musimundo e o Grupo ILHSA) permite que imponham as regras do jogo, fixando margens de lucro desmesuradas em relação a outros mercados, transferindo o risco a outros escalões da cadeia, determinando preços a seu critério mediante acordos colusórios* e absorvendo possíveis reduções do preço estabelecido pelos selos, assim como isenções fiscais do setor. * Nota do tradutor: Acordos mediante os quais dois ou mais agentes econômicos se comprometem a uma conduta que tem por finalidade restringir, impedir ou prejudicar a concorrência 95 A lei 25.156, sobre a Defesa da Concorrência, proíbe muitas dessas práticas no território argentino. Para poder provar fidedignamente essas condutas, as denúncias deverão ser efetuada na Comissão Nacional de Defesa da Concorrência, onde se procederá a investigação do caso e um eventual juízo, inclusive a aplicação de multas (de 10.000 a 150.000.000 de pesos) e outras medidas que visem neutralizar os aspectos distorsivos da concorrência. Conclusões Em linhas gerais, o papel do Estado deveria ser o de melhorar a competitividade das empresas independentes, dada sua importante contribuição a uma maior diversidade cultural, em um mercado afetado pela concentração empresarial e a homogeneidade dos conteúdos oferecidos. É necessário esclarecer que as políticas e estratégias mencionadas até agora são de caráter coletivo e que a efetividade individual de cada medida está em função da aplicação das demais. A título de exemplo, melhorar as chances de financiamento para os selos não terá sentido sem um acesso razoável aos meios de comunicação. Resumidamente, podemos citar algumas das medidas mais importantes assinaladas nesta seção: Prover as empresas do setor, quando possível, de recursos financeiros a médio e longo prazo. Estabelecer esquemas de financiamento e garantias em moeda local. Associar-se a agentes do setor privado na criação de fundos mistos de assistência às pequenas e médias empresas culturais. Compartilhar riscos e responsabilidades com as empresas do setor. Oferecer isenções de impostos. Promover o diálogo entre o governo, bancos comerciais nacionais e outros sócios, a fim de criar um ambiente de apoio financeiro para o setor. 96 Fomentar o apoio de agentes privados de outros setores mediante benefícios fiscais. Assessorar as empresas prestando serviços de desenvolvimento dos negócios (como incubadoras). Capacitar recursos humanos, tanto do lado da oferta, como da demanda. Criar instrumentos financeiros específicos para a indústria fonográfica. Difundir informação sobre as inovações em recursos financeiros. Assessorar bancos comerciais no desenvolvimento de ferramentas financeiras específicas para as PMEs do setor fonográfico. Difundir práticas e experiências (best practices) que tiveram bons resultados entre empresas do setor. Reforçar operações contra a comercialização e fabricação de produtos ilegítimos (pirataria). Garantir o acesso do material independente aos meios de comunicação de massa mediante a aplicação de cotas e a discriminação positiva. Apoiar a aquisição de tecnologia e o desenvolvimento de habilidades por parte das empresas da cadeia fonográfica, fomentando o profissionalismo e a competitividade. Elaborar e implementar medidas que impeçam o monopólio empresarial na cadeia fonográfica. Aplicar legislação antimonopólio quando oportuno. Manter um diálogo permanente com a comunidade fonográfica e discutir possíveis iniciativas de ajuda ao setor. Buscar vias de transferência de conhecimentos, experiências positivas, práticas efetivas, know-how, assim como assistência operacional de outros países do mundo que tenham conseguido desenvolver um setor cultural forte e independente (através de seminários, workgroups, conferências etc.). 97 ANEXOS Legislação vinculada à atividade musical e à indústria fonográfica na Argentina e na Cidade de Buenos Aires Selos fonográficos 98 Legislação Nacional INTERESSE NACIONAL NA DIFUSÃO DA MÚSICA ARGENTINA Lei 19.787 BUENOS AIRES, 16 de agosto de 1972. BOLETIM OFICIAL, 24 de agosto de 1972. Vigentes TEMA MÚSICA - MÚSICA ARGENTINA Em uso das atribuições constantes no artigo 5, do Estatuto da Revolução Argentina, O PRESIDENTE DA NAÇÃO ARGENTINA SANCIONA E PROMULGA COM FORÇA DE LEI: ARTIGO 1º - Declara-se de interesse nacional a difusão da “música argentina”. Para efeitos desta lei se entenderá por “música argentina”: a) os ritmos folclóricos provenientes das diversas regiões da República Argentina; b) a “música popular” de âmbito rioplatense: tangos, milongas, valsas criolas etc.: c) as obras operísticas, sinfônicas e de câmara de autores e compositores argentinos; d) a musicalização total ou parcial por compositores argentinos de obras literárias do acervo nacional. ARTIGO 2º - Declaram-se isentos de impostos, contribuições, direitos ou outro tributo, qualquer que seja sua característica ou denominação, nacionais ou municipais, na Capital Federal ou no Território Nacional da Terra do Fogo, Antártida ou Ilhas do Atlântico Sul: a) o produto bruto de shows, espetáculos ou reuniões onde se execute exclusivamente música argentina e assim se anuncie de forma expressa em sua propaganda; b) a venda para exportação de discos fonográficos, K7s, ou fitas similares, que contenham exclusivamente música argentina e sejam gravados e produzidos no país; c) a venda para exportação de programas de radiotelefonia e audiovisuais, gravados no país, onde se reproduza exclusivamente música argentina ou festas regionais; d) os contratos de edição de obra musical argentina, unicamente no que tange ao imposto de selos. As isenções deste artigo não abrangem o Imposto de Renda e os direitos do autor e do intérprete”. Modificado por: Lei 19.997 (B.O 11/12/72). ARTIGO 3º - Para obter os benefícios acordados no artigo anterior, será necessário apresentar, segundo a Sociedade Argentina de Autores e Compositores de Música (SADAIC): a) autorização do autor para uso da obra; b) recibo de pagamento dos direitos autorais econômicos correspondentes a SEDAIC; c) comprovante de entrega, no prazo estipulado, das planilhas ou catálogos das obras utilizadas; d) nos casos de exportação, o certificado de reconhecimento do direito autoral no exterior. 99 ARTIGO 4º - (Nota de redação) (Alteração da lei 11.682 T.O. 72) Altera a: Lei 11.682. ARTIGO 5º - O Ministério da Cultura e Educação intensificará sua ação em prol da defesa e promoção da música argentina e adotará, e, se for o o caso, proporá ao Poder Executivo as medidas necessárias especialmente para: a) prover os conservatórios de instrumentos musicais; b) fomentar programas de rádio e televisão, shows, espetáculos, festivais etc., de música argentina; c) editar obras sinfônicas e de câmara de música argentina; d) criar o “Conjunto Folclórico Nacional” e apoiar orquestras e conjuntos musicais que asseguram a difusão da música argentina e a formação de seus intérpretes. ARTIGO 6º - Convida-se as províncias e municipalidades de todo o território nacional a adotar as disposições que lhes competem, similares às contidas na presente lei. ARTIGO 7º - Comunique-se, publique-se e dê-se à Direção Nacional de Registro Oficial e arquive-se. SIGNATÁRIOS LANUSSE - Licciardo - Malek - Mor Roig PROPRIEDADE INTELECTUAL E FONOGRAMAS LEI 23.921 APROVAÇÃO DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL EM FONOGRAMAS BUENOS AIRES, 21 de março de 1991. BOLETIM OFICIAL, 24 de abril de 1991. Vigentes O Senado e a Câmara dos Deputados da Nação Argentina reunidos no Congresso etc., sancionam com força de Lei: ARTIGO 1º - Aprova-se a CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A PROTEÇÃO DOS ARTISTAS, INTÉRPRETES OU EXECUTANTES, OS PRODUTOS DE FONOGRAMAS E OS ÓRGÃOS DE RADIODIFUSÃO, adotada em Roma (REPÚBLICA ITALIANA), em 26 de outubro de 1961, que consta de TRINTA E QUATRO (34) artigos, cuja fotocópia autenticada em idioma espanhol é parte da presente lei. ARTIGO 2º - Comunique-se ao Poder Executivo Nacional. 100 SIGNATÁRIOS PIERRI - DUHALDE - Pereyra Arandia de Pérez Pardo - Flombaum ANEXO A: CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A PROTEÇÃO DOS ARTISTAS, INTÉRPRETES OU EXECUTANTES, OS PRODUTORES DE FONOGRAMAS E OS ÓRGÃOS DE RADIODIFUSÃO. RELAÇÃO DE ARTIGOS QUE COMPÕEM A NORMA 0034 Artigo 1º A proteção prevista na presente Convenção deixará intacta e não afetará de modo algum a proteção do direito autoral sobre obras literárias e artísticas. Portanto, nenhuma das disposições da presente Convenção poderá ser interpretada a despeito desta proteção. Artigo 2º 1. Para efeitos da presente Convenção se entenderá por “mesmo tratamento dado aos seus nativos” o que concede o Estado Contratante em que se pede a proteção, em virtude de seu direito interno: a) aos artistas intérpretes ou executantes que sejam naturais do dito Estado, em relação às interpretações ou execuções realizadas, gravadas pela primeira vez ou executadas por radiodifusão em seu território. b) aos produtores de fonogramas que sejam nativos do dito Estado, com relação aos fonogramas publicados ou gravados pela primeira vez em seu território. c) aos órgãos de radiodifusão que tenham seu domicílio legal no território do dito Estado, em relação às emissões difundidas por emissoras situadas em seu território. 2. O “mesmo tratamento dado aos seus nativos” estará sujeito à proteção expressamente concedida e às limitações concretamente previstas na presente Convenção. Artigo 3º Para efeitos da presente Convenção, se entenderá por: a) “Artista, intérprete ou executante”, todo ator, cantor, músico, bailarino ou outra pessoa que represente um papel, cante, recite, declame, interprete ou execute de alguma forma uma obra literária ou artística; b) “Fonograma”, a toda gravação exclusivamente sonora dos sons de uma execução ou de outros sons; c) “Produtor de fonogramas”, a pessoa física ou jurídica que grava pela primeira vez os sons de uma execução ou outros sons; d) “Publicação”, o fato de por à disposição do público, em quantidade suficiente, exemplares de um fonograma; e) “Reprodução”, a realização de um ou mais exemplares de uma gravação; f) “Emissão”, a difusão sem fios de sons ou de imagens e sons para sua recepção pelo público; g) “Retransmissão”, a emissão simultânea por um órgão de radiodifusão de uma emissão de outro órgão de radiodifusão. Artigo 4º Cada um dos Estados Contratantes outorgará aos artistas intérpretes ou executantes, o mesmo tratamento dado aos seus nativos sempre que se produza uma das seguintes condições: 101 a) que a execução se realize em outro Estado Contratante; b) que se tenha gravado a execução ou interpretação em um fonograma protegido, em virtude do artigo 5º; c) que a execução ou interpretação não gravada em fonograma seja feita por radiodifusão em uma emissão protegida, em virtude do artigo 6º. Artigo 5º 1. Cada um dos Estados Contratantes concederá o mesmo tratamento dado aos seus nativos aos produtores de fonogramas sempre que se produza quaisquer das seguintes condições: a) que o produtor do fonograma seja nativo de outro Estado Contratante (critério de nacionalidade); b) que a primeira gravação sonora tenha sido efetuada em outro Estado Contratante (critério de gravação); c) que o fonograma tenha sido publicado pela primeira vez em outro Estado Contratante (critério de publicação). 2. Quando um fonograma tiver sido publicado pela primeira vez em um Estado não contratante, mas o tenha sido também dentro dos 30 dias subseqüentes em um Estado Contratante (publicação simultânea), se considerará como publicado pela primeira vez em um Estado Contratante. 3. Qualquer Estado Contratante poderá declarar, mediante notificação depositada em poder do Secretário Geral das Nações Unidas, que não aplicará o critério de publicação ou da gravação. A notificação poderá ser depositada no momento da ratificação, da aceitação ou da adesão, ou em qualquer outro momento; neste último caso, só surtirá efeito a partir de seis meses da data do depósito. Artigo 6º 1. Cada um dos Estados Contratantes concederá aos órgãos de radiodifusão igual tratamento dado aos seus nativos, sempre que se produza alguma das seguintes condições: a) que o domicílio legal do órgão de radiodifusão esteja situado em outro Estado Contratante; b) que a emissão tenha sido transmitida a partir de uma emissora situada no território de outro Estado Contratante. 2. Todo Estado Contratante poderá, mediante notificação depositada em poder do Secretário Geral das Nações Unidas, declarar que só protegerá as emissões no caso de o domicílio legal do órgão de radiodifusão estar situado no território de outro Estado Contratante e de que a emissão tenha sido transmitida a partir de uma emissora situada no território do mesmo Estado Contratante. A notificação poderá ser depositada no momento da ratificação, da aceitação ou da adesão, ou em qualquer outro momento; neste último caso, só surtirá efeito a partir de seis meses da data do depósito. 102 Artigo 7º 1. A proteção prevista pela presente Convenção em prol dos artistas intérpretes ou executantes terá a faculdade de impedir: a) a radiodifusão e a comunicação ao público de suas interpretações ou execuções a quem não tenha sido dado seu consentimento, exceto quando a interpretação ou execução utilizada na radiodifusão ou comunicação ao público constitua por si mesma uma execução de radiodifusão ou seja feita a partir de uma gravação. b) a gravação sobre um suporte físico, sem seu consentimento, de sua execução não gravada; c) a reprodução, sem seu consentimento, da gravação ou execução: I) se a gravação original tiver sido feita sem seu consentimento; II) se se tratar de uma reprodução para fins distintos dos autorizados; III) se se tratar de uma gravação original que, de acordo com o disposto no artigo 15, se tenha reproduzido para fins distintos dos previstos neste artigo. 2.1) Caberá à legislação nacional do Estado Contratante no qual se solicita a proteção, regular a proteção sonora, a retransmissão, a gravação para difusão e a reprodução dessa gravação para difusão, quando o artista intérprete ou executante tenha autorizado a difusão. 2) As modalidades de utilização pelos órgãos radiodifusores das gravações feitas para as emissões de radiodifusão, se determinarão de acordo com a legislação nacional do Estado Contratante em que se solicita a proteção. 3) No entanto, as legislações nacionais a que se faz referência nos itens 1) e 2) deste parágrafo não poderão privar os artistas intérpretes ou executantes de sua faculdade de regular, mediante contrato, suas relações com os órgãos de radiodifusão. Artigo 8º Cada um dos Estados Contratantes poderá determinar, de acordo com sua legislação, as modalidades segundo as quais os artistas intérpretes ou executantes estarão representados para o exercício de seus direitos, quando vários deles participem de uma mesma execução. Artigo 9º Cada um dos estados Contratantes poderá, segundo sua legislação nacional, estender a proteção a artistas que não executem obras literárias ou artísticas. Artigo 10º Os produtores de fonogramas gozarão do direito de autorizar ou proibir a reprodução direta ou indireta de seus fonogramas. Artigo 11º Quando um Estado Contratante exigir, de acordo com sua legislação nacional, como condição para proteger os direitos dos produtores de fonogramas, dos artistas intérpretes ou executantes, ou de uns e de outros, o cumprimento de formalidades relativas aos fonogramas, estas serão consideradas satisfeitas se todos os exemplares do fonograma publicado e distribuído no comércio ou suas embalagens, levarem uma indicação evidente do símbolo (P), acompanhado do ano da primeira publicação, colocados de maneira e em lugares tais que mostrem claramente existir o direito a reclamar da proteção. Quando os exemplares ou suas embalagens não permitirem identificar o 103 produtor do fonograma ou da pessoa autorizada por este (isto é, seu nome, marca comercial ou outra designação apropriada), deverá mencionar-se também o nome do titular dos direitos do produtor do fonograma. Além disso, quando os exemplares ou suas embalagens não permitirem identificar os principais intérpretes ou executantes, deverá indicar-se o nome do titular dos direitos dos referidos artistas no país em que se fez a gravação. Artigo 12º Quando um fonograma publicado com fins comerciais ou uma reprodução desse fonograma for utilizada diretamente para a radiodifusão ou para qualquer outra forma de comunicação ao público, o utilizador pagará uma remuneração equivalente e única aos artistas intérpretes ou executantes, ou aos produtores de fonogramas, ou a uns e outros. A legislação nacional poderá, na falta de acordo entre eles, determinar as condições em que se efetuará a distribuição dessa remuneração. Artigo 13º Os órgãos de radiodifusão gozarão do direito de autorizar ou proibir: a) a retransmissão de suas emissões; b) a gravação sobre um suporte físico de suas emissões; c) a reprodução: I) das gravações de suas emissões feitas sem seu consentimento; II) das gravações de suas emissões, realizadas de acordo com o estabelecido no artigo 15, se a reprodução se faz com fins distintos aos previstos no dito artigo; d) a comunicação pública de emissões de televisão quando estas se efetuarem em locais acessíveis ao público, mediante o pagamento de um ingresso. Caberá à legislação nacional do país onde se solicite a proteção deste direito determinar as condições do exercício do mesmo. Artigo 14º A duração da proteção concedida em virtude da presente Convenção não poderá ser inferior a vinte anos, contados a partir: a) do final do ano da gravação, no que se refere a fonogramas e interpretações ou execuções neles gravadas; b) do final do ano em que tenha se realizado a atuação, no que se refere às interpretações ou execuções que não estejam gravadas em fonogramas; c) do final do ano em que se tenha realizado a emissão, no que se refere às emissões de radiodifusão. 104 Artigo 15º 1. Cada um dos Estados Contratantes poderá estabelecer em sua legislação exceções à proteção concedida pela presente Convenção nos seguintes casos: a) quando se tratar de uma utilização para uso privado; b) quando se tenham utilizado breves fragmentos a título de informação sobre sucessos da atualidade; c) quando se tratar de uma gravação efêmera realizada por um órgão de radiodifusão com seus próprios meios e para sua própria emissão; 2. d) quando se tratar de utilização com fins exclusivamente docentes ou de investigação científica. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1º deste artigo, todo Estado Contratante poderá estabelecer em sua legislação nacional e em relação à proteção dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores de fonogramas e dos órgãos de radiodifusão, limitações da mesma natureza que as estabelecidas na legislação nacional relativas à proteção do direito autoral sobre as obras literárias e artísticas. No entanto, não se poderá estabelecer licenças ou autorizações obrigatórias se não forem compatíveis com as disposições da presente Convenção. Artigo 16º 1. Uma vez que um Estado se torne Parte da presente Convenção, aceitará todas as obrigações e desfrutará de todas as vantagens previstas na mesma. No entanto, um Estado poderá indicar a qualquer momento, depositando em poder do Secretário Geral das Nações Unidas, uma notificação onde conste: a) em relação ao Artigo 12, I) que não aplicará nenhuma disposição do referido artigo; II) que não aplicará as disposições do referido artigo com relação a determinadas utilizações; III) que não aplicará as disposições do referido artigo com relação a fonogramas cujo produtor não seja natural de um Estado Contratante; IV) que, com relação a fonogramas cujo produtor seja natural de outro Estado Contratante, limitará a amplitude e a duração da proteção prevista no referido artigo na medida em que o faça esse Estado Contratante com relação aos fonogramas gravados pela primeira vez por um nativo do Estado declarante; no entanto, quando o Estado Contratante de onde o produtor é natural não concede a proteção ao mesmo ou aos mesmos beneficiários que o Estado Contratante que fez a declaração, não se considerará essa circunstância como uma diferença na amplitude em que se concede a proteção; b) em relação ao Artigo 13, que não aplicará a disposição do item d) do referido artigo. Se um Estado Contratante faz essa declaração, os demais Estados Contratantes não estarão obrigados a conceder o direito previsto no item d) do Artigo 13 aos órgãos de radiodifusão, cuja sede se encontre naquele Estado. 2. Se a notificação a que se refere o parágrafo 1º deste artigo for depositada em data posterior a do depósito do instrumento de ratificação, de aceitação ou de adesão, só surtirá efeito a partir de seis meses da data do depósito. Artigo 17º Todo Estado cuja legislação nacional em vigor em 26 de outubro de 1961 conceda proteção aos produtores de fonogramas baseando-se unicamente no critério de gravação, poderá declarar, depositando uma notificação em poder do Secretário Geral das Nações Unidas juntamente com o instrumento de ratificação, de aceitação ou de adesão, que só aplicará, em relação ao artigo 5º, o critério de gravação, e em relação ao parágrafo 1º, item a), incisos III) e IV) do artigo 16, esse mesmo critério, em lugar do critério de nacionalidade do produtor. 105 Artigo 18º Todo Estado que tenha feito uma das declarações previstas nos artigos 5º (parágrafo 3), 6º (parágrafo 1) ou 17, poderá, mediante uma nova notificação dirigida ao Secretário Geral das Nações Unidas, limitar seu alcance ou retirada. Artigo 19º Não obstante quaisquer outras disposições da presente Convenção, uma vez que um artista intérprete ou executante tenha consentido em incorporar sua atuação numa gravação visual ou audiovisual, deixará de ser aplicado o artigo 7º. Artigo 20º 1. A presente Convenção não desconsidera os direitos adquiridos de qualquer Estado Contratante anteriormente à data de entrada em vigor da Convenção desse Estado. 2. Um Estado Contratante não será obrigado a aplicar as disposições da presente Convenção a interpretações, execuções ou emissões de radiodifusão realizadas, nem a fonogramas gravados anteriormente à entrada em vigor da Convenção nesse Estado. Artigo 21º A proteção outorgada por esta Convenção não poderá desconsiderar qualquer outra forma de proteção de que desfrutem os artistas intérpretes ou executantes, os produtores de fonogramas e os órgãos de radiodifusão. Artigo 22º Os Estados Contratantes reservam-se o direito de estabelecer entre si acordos especiais, sempre que tais acordos confiram aos artistas intérpretes ou executantes, aos produtores de fonogramas e aos órgãos de radiodifusão direitos mais amplos que os reconhecidos pela presente Convenção ou compreendam outras estipulações que não sejam contrárias à mesma. Artigo 23º A presente Convenção será depositada em poder do Secretário Geral das Nações Unidas. Estará aberta até 30 de junho de 1962 para a assinatura dos Estados convidados para a Conferência Diplomática sobre a Proteção Internacional dos Artistas Intérpretes ou Executantes, Produtores de Fonogramas e Órgãos de Radiodifusão, que sejam Partes na Convenção Universal sobre Direitos do Autor ou membros da União Internacional para a Proteção de Obras Literárias e Artísticas. 106 Artigo 24º 1. A presente Convenção será submetida à ratificação ou à aceitação dos Estados assinantes. 2. A presente Convenção estará aberta à adesão dos Estados convidados para a Conferência assinalada no artigo 23, assim como a de qualquer outro Estado membro das Nações Unidas, desde que esse Estado seja Parte na Convenção Universal sobre Direitos do Autor ou membro da União Internacional para a Proteção de Obras Literárias e Artísticas. 3. A ratificação, a aceitação ou a adesão se fará mediante um instrumento a ser entregue para seu depósito ao Secretário Geral das Nações Unidas. Artigo 25º 1. A presente Convenção entrará em vigor três meses após a data do depósito do sexto instrumento de ratificação, de aceitação ou de adesão. 2. Posteriormente, a Convenção entrará em vigor, para cada Estado, três meses após a data do depósito de seu instrumento de ratificação, de aceitação ou de adesão. Artigo 26º 1. Todo Estado Contratante se compromete, de acordo com suas disposições constitucionais, a tomar as medidas necessárias para garantir a aplicação da presente Convenção. 2. No momento de depositar seu instrumento de ratificação, de aceitação ou de adesão, todo Estado deverá estar em condições de aplicar, de acordo com sua legislação nacional, as disposições da presente Convenção. Artigo 27º 1. Todo Estado poderá, no momento da ratificação, da aceitação ou da adesão, ou em qualquer momento posterior, declarar, mediante notificação dirigida ao Secretário Geral das Nações Unidas, que a presente Convenção se estenderá ao conjunto ou a qualquer um dos territórios de cujas relações internacionais seja responsável, na condição de que a Convenção Universal sobre Direitos do Autor ou a Convenção Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas sejam aplicáveis aos territórios de que se trate. Essa notificação terá efeito três meses após da data em que for recebida. 2. As declarações e notificações a que se referem os artigos 5º (parágrafo 3), 6º (parágrafo 2º), 16 (parágrafo 1º), 17 ou 18, poderão ser estendidos ao conjunto ou a qualquer um dos territórios a que se refere o parágrafo anterior. Artigo 28º 1. Todo Estado Contratante terá a faculdade de denunciar a presente Convenção, seja em seu próprio nome, seja em nome de outro Estado qualquer ou do conjunto dos territórios assinalados no artigo 27. 2. A denúncia se efetuará mediante comunicação ao Secretário Geral das Nações Unidas e surtirá efeito doze meses após a data em que se receba a notificação. 3. A faculdade de denúncia prevista no presente artigo não poderá ser exercida por um Estado Contratante antes da expiração de um período de cinco anos a partir da data em que a Convenção tenha entrado em vigor no referido Estado. 4. Todo Estado Contratante deixará de ser parte da presente Convenção a partir do momento em que não seja parte da Convenção Universal sobre Direito do Autor, nem membro da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas. 5. A presente Convenção deixará de ser aplicável nos territórios assinalados no artigo 27 a partir do momento em que também deixem de aplicáveis nos referidos territórios a Convenção Universal sobre Direito do Autor, e a Convenção Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas. 107 Artigo 29º 1. Uma vez que a presente Convenção tenha estado em vigor durante um período de cinco anos, todo Estado Constituinte poderá, mediante notificação dirigida ao Secretário Geral das Nações Unidas, pedir a convocação de uma conferência a fim de revisar a Convenção. O Secretário Geral notificará essa petição a todos os Estados Contratantes. Se no prazo de seis meses após o Secretário Geral das Nações Unidas haver enviado a notificação, pelo menos a metade dos Estados Contratantes derem a conhecer seu consentimento sobre a referida petição, o Secretário Geral da Divisão Internacional do Trabalho, o Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação da Ciência e da Cultura e o Diretor de Divisão da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas, convocarão uma conferência de revisão, com colaboração com o Comitê Intergovernamental previsto no artigo 32. 2. Para aprovar um texto revisado da presente Convenção, será necessária maioria de dois terços dos Estados que assistam a conferência convocada para revisar a Convenção; nesta maioria deverão figurar os dois terços dos Estados que, ao celebrar-se a referida conferência, sejam Partes na Convenção. 3. Caso se aprove uma nova Convenção que implique uma revisão total ou parcial da presente, e a menos que a nova Convenção contenha disposições em contrário: a) a presente Convenção deixará de estar aberta à ratificação, à aceitação ou à adesão a partir da data em que a Convenção revisada houver entrado em vigor; b) a presente Convenção continuará em vigor em relação aos Estados Contratados que não sejam Partes na Convenção revisada. Artigo 30º Toda controvérsia entre dois ou mais Estados Contratantes sobre a interpretação ou aplicação da presente Convenção que não for resolvida por via de negociação, será submetida, a pedido de uma das partes na controvérsia, à Corte Internacional de Justiça, a fim de que esta se resolva, a menos que os Estados em questão concordem como outro modo de solução. Artigo 31º Salvo o disposto no artigo 5º (parágrafo 3º), 6º (parágrafo 2º), 16 (parágrafo 1º) e 17, não se admitirá nenhuma reserva sobre a presente Convenção. 108 Artigo 32º 1. Estabelecer-se-á um Comitê Intergovernamental encarregado de: a) examinar as questões relativas à aplicação e ao funcionamento da presente Convenção e b) reunir as propostas e preparar a documentação para possíveis revisões na Convenção. 2. O Comitê será composto de representantes dos Estados Contratantes, eleitos segundo uma distribuição geográfica eqüitativa. Constará de seis membros se o número de Estados Contratantes for inferior ou igual a doze, de nove se esse número for maior que doze e menor que dezenove, e de doze se houver mais de dezoito Estados Contratantes. 3. 4. 5. 6. 7. O Comitê se constituirá depois de doze meses da entrada em vigor da Convenção, com prévia eleição entre os Estados Contratantes, em que cada um destes terá um voto e que será organizada pelo Diretor Geral da Divisão Internacional do Trabalho, o Diretor Geral das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e o Diretor da Divisão da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas, de acordo com as normas aprovadas previamente pela maioria absoluta dos Estados Constituintes. O Comitê elegerá seu Presidente e sua Mesa. Estabelecerá seu próprio regulamento, que conterá, em especial, disposições sobre seu funcionamento futuro e a sua forma de renovação. Esse regulamento deverá assegurar o respeito ao princípio da rotatividade entre os diversos Estados Contratantes. Constituirão a Secretaria do Comitê os funcionários da Divisão Internacional do Trabalho, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e a Divisão da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas designados, respectivamente, pelos Diretores Gerais e pelo Diretor das três organizações interessadas. As reuniões do Comitê, em que se convocará sempre que se julgue necessário a maioria dos seus membros, celebrar-se-ão sucessivamente nas sedes da Divisão Internacional do Trabalho, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e da Divisão da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas. Os gastos dos membros do Comitê correrão por conta de seus respectivos Governos. Artigo 33º 1. As versões espanhola, francesa e inglesa do texto da presente Convenção serão igualmente autênticas 2. Estabelecer-se-ão ainda textos oficiais da presente Convenção em alemão, italiano e português. Artigo 34º 1. O Secretário Geral das Nações Unidas informará aos Estados convidados para a Conferência mencionada no artigo 23 e a todos os Estados Membros das Nações Unidas, assim como o Diretor Geral da Divisão Internacional do Trabalho, o Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e o Diretor da Divisão da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas: a) do depósito de todo instrumento de ratificação, de aceitação ou de adesão; b) da data de entrada em vigor da presente Convenção; c) de todas as notificações, declarações ou comunicações previstas na presente Convenção, e d) de todos os casos em que se produza alguma das situações previstas nos parágrafos 4º e 5º do artigo 28. 2. O Secretário Geral das Nações Unidas informará ainda ao Diretor Geral da Divisão Internacional do Trabalho, o Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e o Diretor da Divisão da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas das petições notificadas de acordo com o artigo 29, bem como de toda comunicação que receba dos Estados Contratantes a respeito da revisão da presente Convenção. 109 SIGNATÁRIOS DÃO FÉ os que subscrevem, E devidamente autorizados, firmam a presente Convenção. FEITO em Roma em 26 de outubro de 1961, em um só exemplar em espanhol, em francês e em inglês. O Secretário Geral das Nações Unidas remeterá cópias certificadas a todos os Estados convidados para a Conferência indicada no artigo 23 e a todos os Estados Membros das Nações Unidas, assim como o Diretor Geral da Divisão Internacional do Trabalho, o Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e o Diretor da Divisão da União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas Propriedade Intelectual, Direito dos Intérpretes. Decreto 746-73 (B.O. 28/12/73) 1. 2. 3. Para efeito do artigo 56 da lei nº 11.723, consideram-se intérpretes: a) O diretor de orquestra, o cantor e os músicos executantes, individualmente; b) O diretor e os atores de obras cinematográficas e gravações com imagens e som em fita magnética para televisão; c) O cantor, bailarino e todo aquele que represente um papel, cante, recite, interprete ou execute de alguma forma uma obra literária, cinematográfica ou musical. São meios idôneos para efeito de transmissão do trabalho dos intérpretes: o disco, os diferentes tipos de gravação em fitas magnéticas para televisão, filmes e qualquer outro elemento técnico que sirva para a difusão por rádio e televisão, sala de cinema, salões ou clubes de baile e todo outro local público de exploração comercial direta ou indireta. De forma. Direitos do Autor. Sociedade Argentina de Autores e Compositores de Música. Lei 17.648 (B.O. 7/3/68) 110 1. Reconhece-se a Sociedade Argentina de Autores e Compositores de Música (SADAIC) como associação civil e cultural de caráter privado representativa dos criadores de música nacional, popular ou erudita, com ou sem letra, dos herdeiros ou detentores dos direitos dos mesmos e das sociedades autorais estrangeiras com as quais se encontre vinculada mediante convênios de assistência e representação recíproca. 2. Em resguardo ao patrimônio artístico musical e pela efetiva vigência do direito autoral. o Estado exercerá fiscalização permanente sobre a Sociedade Argentina de Autores e Compositores de Música, por meio de auditores designados pelas Secretarias de Estado da Justiça e da Promoção e Assistência à Comunidade. 3. Os auditores serão encarregados de verificar o pagamento, administração, defesa e exercício dos direitos autorais a cargo da associação, devendo denunciar às autoridades competentes toda violação às leis, estatutos sociais e regulamentos internos e qualquer outra irregularidade na codificação, distribuição e liquidação do produto econômico da obra musical. 4. A presente lei se aplicará em todo o território nacional, sem prejuízo das atribuições da polícia que em suas respectivas jurisdições correspondam aos governos provinciais e municipais, estando revogada qualquer disposição em contrário. 5. Dentro de quarenta e cinco dias da publicação da presente lei, deverá editar-se o decreto regulamentar correspondente, a cujas normas deverão ajustar-se os estatutos e regulamentos sociais e o processo eletivo posterior. A regulamentação determinará ainda o regime de recebimento e liquidação dos direitos autorais, com prévia consulta aos setores interessados. 6. De forma. Propriedade Intelectual. Recebimento de proventos. AADI. Decreto 1.671/74 (B.O. 12/12/74) 1. A representação dentro do território nacional dos intérpretes argentinos e estrangeiros e seus detentores de direitos para receber e administrar os proventos previstos no artigo 56 da lei nº 11.723 pela execução pública, transmissão ou retransmissão por rádio ou televisão de suas interpretações gravadas em fonogramas e reproduzidas em discos ou outros suportes, será exercida pela Associação Argentina de Intérpretes (AADI), ficando desta forma autorizada como única entidade a ajustar com terceiros a arrecadação, adjudicação e distribuição dos proventos que receba, através da entidade mencionada no artigo 7º. 2. A representação dos produtores de fonogramas argentinos e estrangeiros cuja produção seja objeto de publicação, utilização ou reprodução dentro do território nacional, será exercida pela Câmara Argentina de Produtores e Fabricantes de Fonogramas (CAPIF), que se encontra autorizada como única entidade a receber e administrar direta ou indiretamente os proventos que lhes cabe pela execução pública de seus fonogramas reproduzidos em discos ou outros suportes através da entidade a que se refere o artigo 7º da presente, amparados pela lei nº 11.723 e seus decretos regulamentares. 3. As associações civis Associação Argentina de Intérpretes (AADI) e a Câmara Argentina de Produtores e Fabricantes de Fonogramas (CAPIF), se necessário, deverão ajustar seus estatutos e regulamentos sociais ao presente decreto. 4. A Secretaria de Imprensa e Difusão da Presidência da Nação, com intervenção da Associação Argentina de Intérpretes (AADI) e da Câmara Argentina de Produtores e Fabricantes de Fonogramas (CAPIF), fixará e modificará os impostos que deverão pagar os usuários por fazer uso em execuções públicas ou difusão por qualquer meio, de discos ou outras reproduções de fonogramas. 5. O valor pago pelos usuários a título dos direitos a que se refere este decreto, será recolhido e distribuído da seguinte forma: 111 a) 67% a ser distribuído pela Associação Argentina de Intérpretes (AADI) corresponderá aos intérpretes de todos os níveis que tenham participado da execução gravada no fonograma, de acordo com o regime estabelecido em seu estatuto. Essa porcentagem será assim distribuída: intérprete principal, 67%; intérprete(s) secundário(s), 33% (43% e 22% do total pago pelo usuário, respectivamente); b) 33% a ser liquidado pela Câmara Argentina de Produtores e Fabricantes de Fonogramas (CAFIP) corresponderá ao produtor de fonogramas titular do direito arrecadado ou aos seus detentores de direitos. 112 6. O valor pago pelos usuários pela utilização em execuções públicas de fonogramas estrangeiros não editados no país, quando não houver convênio para sua distribuição entre os beneficiários, os titulares e detentores de direitos, caberá ao Fundo Nacional das Artes, que poderá celebrar acordos com as entidades previstas no presente decreto para seu recebimento. 7. A arrecadação direta ou indireta dos valores pagos pelo usuários, em virtude do estabelecido no presente decreto, será efetuada por uma entidade constituída pela Associação Argentina de Intérpretes (AADI) e pela Câmara Argentina de Produtores e Fabricantes de Fonogramas (CAPIF), que será uma associação civil com personalidade própria e cujo regime estatutário será determinado convencionalmente entre ambas entidades. 8. De forma. Legislação da Cidade de Buenos Aires DECRETO Nº 1.020 APROVA-SE O “PROGRAMA DE FOMENTO METROPOLITANO DE CULTURA, ARTES E CIÊNCIAS DA CIDADE DE BUENOS AIRES”. DELEGA-SE AO SECRETÁRIO DE CULTURA A CONCESSÃO DE SUBSÍDIOS, ESTABELECEM-SE REQUISITOS. Buenos Aires, 10 de junho de 2004. Visto o Expediente nº 22.772/04, e CONSIDERANDO: Que a Secretaria de Cultura do Governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires elaborou um programa destinado a promover, consolidar, incentivar e resguardar o patrimônio e as indústrias culturais da Cidade Autônoma de Buenos Aires, assim como todas as atividades de caráter artístico e científico que impliquem em desenvolvimento cultural; Que através do referido programa, mediante a outorga de subsídios a pessoas físicas e jurídicas com domicílio real ou legal na Cidade Autônoma de Buenos Aires, se contribua econômica e financeiramente para a criação e promoção de projetos, programas ou atividades vinculadas ao desenvolvimento e difusão da cultura, das artes e das ciências em suas diversas manifestações; Que conforme o disposto no Decreto nº 2.696/GCABA/03 (B.O.C.B.A. nº 1.836), constitui objetivo específico da Secretaria de Cultura do Governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires, estabelecer e implementar políticas, normas, projetos e obras que tenham por objeto o desenvolvimento e a preservação do patrimônio cultural da Cidade Autônoma de Buenos Aires, assim como sua infra-estrutura cultural; Que o fomento e a preservação das indústrias culturais não só constituem uma obrigação derivada da Lei Suprema local, mas que também resultem benéficas do ponto de vista econômico e social, a partir do momento em que impliquem em aumento de empregos e na preservação da diversidade cultural da cidade; Que a variedade e qualidade das diferentes manifestações culturais que tradicionalmente caracterizam o perfil cultural e turístico da cidade, contribuem com o objetivo proposto de promovê-la a capital cultural da América Latina; Que é um dado comprovado da realidade empírica o fato de o tecido social em que se assenta a grande maioria dos protagonistas do ramo cultural da cidade, em suas diversas manifestações, deteriorou-se significativamente com a crise econômica e social que em maior ou menor grau, há muito tempo atinge o país; Que há indústrias culturais economicamente sustentáveis e outras nem tanto, mas todas compõem o patrimônio cultural, por cuja preservação e pluralidade deve velarse, de acordo com o estabelecido no artigo 32 da Constituição local; Que a fim de harmonizar a aspiração orçamentária de que o gasto público se reverta, da maior maneira possível, em investimento público, é necessário prever diferentes modalidades de fomento para as manifestações culturais, desde fornecer subsídios em sentido estrito, até o estabelecimento de vínculos jurídicos associativos com os beneficiários da ajuda pública, levando em conta diversos fatores, como sustentabilidade econômica da atividade a ser promovida, sua importância histórica, cultural ou turística; Que para cumprir seus propósitos, a ajuda ou colaboração do Estado deve ser prestada com a maior rapidez possível, de modo a estar disponível quando requisitada, prin- 113 cipalmente quando a subsistência ou preservação da atividade ou manifestação cultural de que se trate, dependa de subsídios de baixo valor; Que o controle do gasto público implique na racionalização dos fundos disponíveis, o que significa que a ajuda econômica deve ser prestada com rapidez mas, ao mesmo tempo, precedida das avaliações técnicas que assim a aconselhem; Que pelo exposto e por razões operacionais, é necessário delegar ao Secretário de Cultura do Governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires, a concessão de subsídios imputáveis à parcela orçamentária relativa ao corrente ano; Que a Procuradoria Geral da Cidade de Buenos Aires emita o respectivo ditame, manifestando que o Senhor Chefe de Governo, se considerá-lo oportuno e conveniente, subscreverá o presente ato administrativo; Por isso e em uso das atribuições que lhes são conferidas pelos artigos 102 e 104 da Constituição da Cidade Autônoma de Buenos Aires, O CHEFE DE GOVERNO DA CIDADE AUTÔNOMA DE BUENOS AIRES DECRETA: Artigo 1º - Aprove-se o Programa de Fomento Metropolitano de Cultura, Artes e Ciências da Cidade de Buenos Aires, cujos objetivos se estabelecem como no Anexo 1, que a todos seus efeitos fazem parte do presente. Artigo 2º - Delegue-se ao Senhor Secretário de Cultura a atribuição de conceder subsídios de acordo com as previsões orçamentárias do ano em curso, tanto a pessoas físicas como jurídicas com domicílio real ou legal na Cidade Autônoma de Buenos Aires, sendo-lhe facultado ditar normas regulamentares e complementares ao presente que se façam necessárias para a correta execução do programa aprovado no artigo 1º. Artigo 3º - Estabeleça-se como requisito prévio à concessão de benefícios a que se refere o artigo 2º e sem prejuízo da faculdade regulamentária ali contida, a existência de ditame procedente da área substantiva correspondente e da Direção Geral Técnica Administrativa e Legal da Secretaria de Cultura, onde ficará assentado, dentro das respectivas competências, o cumprimento de arrecadações que a regulamentação do presente fixará dentro dos delineamentos assinalados nas considerações do presente Decreto. Artigo 4º - O gasto que demande o cumprimento do presente se imputará à parcela orçamentária correspondente para o Exercício de 2004. Artigo 5º - O presente Decreto é referendado pelo Senhor Secretário de Cultura, a Senhora Secretária da Fazenda e das Finanças, e o Senhor Chefe de Gabinete. 114 Artigo 6º - Registre-se, publique-se no Boletim Oficial da Cidade de Buenos Aires, para seu conhecimento e demais efeitos, remeta-se à Secretaria de Cultura e às Direções Gerais de Contabilidade, Tesouraria e Divisão de Gestão Pública e Orçamento. IBARRA - López - Albamonte - Fernandéz ANEXO I 1) Nome do Programa: Programa de Fomento Metropolitano de Cultura, Artes e Ciências da Cidade de Buenos Aires. 2) Órgão realizador: Direção Geral Técnica, Administrativa e Legal da Secretaria de Cultura. Av. de Mayo, 575, 2º andar, sala 205. 3) Objetivo Geral: Contribuir econômica e financeiramente, concedendo subsídios a pessoas físicas e jurídicas com domicílio na Cidade Autônoma de Buenos Aires, para a concretização e execução de projetos, programas ou atividades vinculadas ao desenvolvimento e difusão da cultura e das ciências em suas diversas manifestações. 4) Objetivos específicos: Os subsídios a serem concedidos atenderão as seguintes finalidades: a) financiamento de projetos de criação, produção e difusão artística em música, artes visuais, audiovisuais e outras disciplinas artísticas e científicas; b) financiamento de projetos de difusão e formação artística e científica, de resgate e difusão de manifestações culturais tradicionais e específicas da jurisdição local, de eventos e programas culturais e científicos: c) financiamento de projetos de conservação, recuperação e difusão de bens patrimoniais culturais intangíveis e tangíveis, móveis e imóveis, como também projetos de pesquisa, resgate, preservação e difusão das distintas manifestações culturais; d) financiamento de projetos de construção, reparação, adequação e equipamento de infra-estrutura cultural e científica; e) financiamento de projetos de criação, manutenção e desenvolvimento de indústrias culturais; f) inanciamento de projetos de pessoas físicas com formação cultural e/ou científica, visando sua capacitação, aperfeiçoamento ou especialização em instituições nacionais ou estrangeiras, públicas ou privadas, de reconhecido prestígio acadêmico. 115 SELOS FONOGRÁFICOS INDEPENDENTES Razão Social Endereço Fone e-mail Abretesésamo Valentin Gomez 2711 4866-0469 [email protected] Acqua Records Av. Corrientes 3989 4867-3543 [email protected] Aerodiscos Guatemala 5824 4772-1389 [email protected] Actitud Mental Positiva Records (AMP Records) J. Agustín García 2815 Alerta! Discos 11 de Septiembre 1221 [email protected] 4787-6608 [email protected] Alter-nativo Americano S.A. Av. Callao 449 Rally Barrionuevo 4371-1843 [email protected] Arlyd Av. San Martín 1870 4864-6862 [email protected] Azione Artigianale Varela 736 4611-6450 [email protected] Bau Records Sold.de la Indep. 1458 4780-2803 [email protected] Babylon S.A. - Pop Latino Güemes 4418 [email protected] Besotico Records Pasco 25 [email protected] Ciclo3 Estados Unidos 629 4307-1581 [email protected] Codia Av. Córdoba 1646 4815-3849 [email protected] Discos CNR de Argentina SRL San José 1277 4309-5100 [email protected] Contemporáneo Art Music Zabala 2996 4781-1887 [email protected] DBN Zabala 3941 4555-6100 [email protected] Del Imaginario Discos [email protected] Discos Sordos Distribuidora Fogón 4983-4544 [email protected] San José 1277 4309-5153 [email protected] México 2835 6778-7777 [email protected] Musical SRL EPSA Music Firme y Alerta 116 [email protected] Site www.samiabadi.com.ar www.aerodiscos.com.ar Gêneros Musicais Artistas Títulos Catálogo Ano de Criação Experimental / Ambient Sami Abadi 3 2002 Tango / Folklore / Jazz Raúl Carnota / Cecilia Todd 100 1997 Electrónica/Canción Electrónica 11 títulos Sonotipo/Alfredo García/Tripnik 2001 1996 www.alertadiscos.com Electrónica/Rock/Pop/Oisin Charlie 3 8 2002 www.alter-nativo.com.ar Folklore / Cantautores Javier Lencina / Rally Barrionuevo 13 2000 www.snajer.com Música Popular Arg. Contemp. Ernesto Snajer / Snajer & grupo 4 2001 www.azioneartigianale.com.ar Rock y derivados 8 2000 www.BAUrecords.com.ar Jazz Moderno / Experimental Fernando Tarrés Ernesto Jodos 23 2001 www.babylonbox.com Pop Pez / Flopa Manza Minimal TNN/Fabián Schutz/ Pino Fumaio El Otro Yo e outras bandas www.litovitale.com.ar Música popular argentina Lito Vitale / Liliana Vitale 37 1976 www.codia.com.ar Católica (Pop/Folclórica/ Regional) Querubines / Fernando Moser 30 1999 Tango / Folclore María Volonté / Juan Carlos Cáceres 1998 www.contemporaneomusic.com Vários www.discossordos.com.ar www.epsamusic.com.ar www.firmeyalerta.cjb.net Pop / Electronica / Rock Farmacia / Dj Spencer / Folk 7 Tango / Rock / Folclore Nativo / Los De Mailín / Hugo Torres 82 Tango / Folklore / Clásico Orquesta del Tango de Bs. As. + - 300 2000 1996 1996 117 Razão Social Endereço Fone e-mail Fonocal de Edmundo Hugo Calcagno San José 1277 4309-5100 [email protected] GLD (Grupo Laser Disc) Corvalán 1845 4682-6003 [email protected] Gobi Music Fraga 355 4553-3674 [email protected] Grial Rincón 852 4942-0158 [email protected] 4307-7668 [email protected] Indice Virgen [email protected] Icarus 118 Irco Video SRL Av. Elcano 3835/37 4553-8646 [email protected] Isopo Discos Pareja 4314 4501-6546 [email protected] [email protected] Jorge Meyer Tucumán 1625 4799-4257 Leader Music San José 1277 4309-5100 [email protected] Los años luz discos El Salvador 4834 4832-4070 [email protected] Lucio Alfiz Producciones SRL Valentín Gomez 3750 4867-6111/6112 [email protected] Magenta (BMG Industrias del Disco) Montevideo 418 4373-4228 [email protected] Mastersongs Discos Gallo 911 4867-2727 [email protected] MDR Records Av. Callao 964 4815-8473 [email protected] Melopea Discos Mariano Acha 3037 4541-6156 [email protected] Music Brokers Vuelta De Obligado 1947 4783-2999 [email protected] Música y Marketing S.A. Corvalán 1845 4682-6003 [email protected] Musipak Arenales 1917 4811-6276 /1883 [email protected] Mutis Fitz Roy 1981 4775-3299 [email protected] My Melodies Ayacucho 563 4372-8752 [email protected] Noseso Records Mariano Acosta 146 4636-1145 [email protected] Ono Music (Otra nueva opción music) Constitución 4170 4923-3339 [email protected] Pacha Records Cespedes 2935 PAI (Producciones Galicia 1290 Argentinas e Internacionales) 4551-5746 [email protected] 4582- 4427 [email protected] Site Gêneros Musicais ar.geocities.com/fonocal Tango/Folclore/Boleros www.glddistribuidora.com.ar Folkore / Tango / Rock / www.gobimusic.com.ar Artistas Títulos Catálogo Ano de Criação 61 1996 Tropical Rubén Juarez / Ricardo Vilca 800 2001 Música Infantil / Jazz / Tango Haiku / Hamlet Lima Quintana 12 1998 Clásico / Música de Cámara Silvia Kersenbaum / Pedro Firpo 20 1993 www.cosentino.com.ar Clásico / Coral / Infantil / Folclore Alfredo Abalos / Eric Alberti + - 150 1977 www.isopodiscos.com Rock / Pop / Electrónica Adicta / Proyecto Verona 8 1999 Tango / Folclore / Clásico Los De Salta / Chango Nieto 18 1974 www.leadermusic.com Tropical / Folclore / Tango Banda XXI / Leo Mattioli + -1200 1989 www.laldiscos.com Rock / Pop / Fusión / Folclore Axel Krygier / Kevin Johansen 21 1999 Musica Popular Latinoamericana 30 1998 + - 1500 1966 119 www.icarusmusic.com.ar www.magentadiscos.com Tango / Folclore / Cumbia Villera www.mastersongs.org Pop / Rock / New Age Silvio Rodriguez / Daniel Viglietti Industria Nacional / Pablo Ariel 8 2002 Jazz clássico e contemporâneo Beto Caletti Trío / Livia Barbosa 8 www.melopediscos.com.ar Tango / Folclore / Jazz Litto Nebbia / Adriana Varela + - 350 1989 www.mbbsite.com Electrónico Lalann / Orleya / Dual Sessions 250 1998 www.glddistribuidora.com.ar Folcore/Tango/Rock/Tropical + - 400 1990 www.musipak.com.ar Tango 6 2000 www.mutisdiscos.com Teatro / Tango / Cubana Enrique Pinti / Cuatro Vientos 34 1994 www.mymelodies.com.ar Minimal pop / Minimal house Tammy/Gurtz/Gustavo Lamas 1 2003 4 Experimental / Rock L ucio Capece / Sergio Merce www.onomusic.com.ar Tango / Folclore Dúo Bocaccio-Gallino www.indiouniverso.com.ar Música étnica e folclórica Indio Universo / La Retrunka www.pairecords.com.ar Jazz / Folclore / Tango Patricia Barone/Willy Gonzalez 55 2003 1986 4 1999 1970 Razão Social Endereço Fone e-mail Pelo Music SA Ortíz de Ocampo3050 4806-1776/8879 [email protected] Pretal Discográfica SRL Av. Rivadavia 6242 4631-3450 [email protected] Random Records SRL San José 1277 4309-5137 [email protected] Rigor Records Méndez de Andes 2355 4611-3358 [email protected] SOCSA Compañía Discográfica Juramento 1155 4785-3029 [email protected] Sura Music SRL Viamonte 1876 4816-8423 [email protected] Tocka Discos Concepción Arenal 2978 4775-9573 [email protected] Pop Art Discos/ Rock & Roll Discos Tonica Gascon 646 4864-0384 [email protected] Tradition Paraguay 416 4311-8523 [email protected] Trova Juan F. Seguí 3745 4808-0966 [email protected] Ultrapop Dublin 4215 15 4577 0681 [email protected] Vaca Records Besares 1931 4702-1343 [email protected] Zensible Juncal 824 4393-1152 [email protected] FILIAIS ARGENTINAS DE SELOS FONOGRÁFICOS MULTINACIONAIS 120 Razão Social Endereço Fone BMG Argentina Humberto Iº 555 5218-2200 EMI Music Argentina Av. San Martín3590 4730-6500 Universal Music Argentina Valentín Gómez 3530 4867- 7070 Sony Music Argentina Nicaragua 5410 4779-7900 Warner Music Córdoba 1351 4813-3333 e-mail [email protected] Site Gêneros Musicais Artistas Rock Divididos/Javier Calamaro www.pretal.com.ar Tango/Folclore/Clássico www.radomrecords.com.ar Tango / Rock - Pop Nacional www.elzoologico.com Rock/World / Fusión www.suramusic.com.ar Tango / World Music / Jazz www.popartmusic.com Rock / Pop Folclore / Jazz Ano de Criação 2003 1996 Ambar / Leny Andrade + - 100 1989 10 Tango www.cdtradition.com.ar Títulos Catálogo Arbolito / La Vuelta Liliana Herrero / Facón Música folk e ligera argentina Banda de Gaitas c. s de Buenos Aire www.cablemodem.fibertel.com.ar/trova Tango/Folclore/Jazz/ 32 2002 20 2003 76 2000 6 1998 7 2002 54 1964 Humor/Brasileira [email protected] Pop / World Music / Rock / Eletrônica Daniel Melero / Panza 55 1999 www.vacarecords.com.ar Étnico eletrônico Laborarorio Wav 21 can. 2003 www.zensible.com.ar Post Rock / Folctrônica / Downtempo Dilo / Ivan Johnson Iszen / Uamenk 2 2003 Site Gêneros Musicais Artistas Títulos Catálogo Ano de Criação Rock / pop / infantil Alfredo Casero / Carlitos Bala www.emimusica.com.ar www.sonymusic.com.ar Rock, Pop, Melódico, Folclore Sandro/Airbag/Andrés Calamaro + - 500 1978 121 BIBLIOGRAFIA BONET, Lluis (2001), Economía y Cultura: Una reflexión en clave latinoamericana, Oficina de Europa para el BID. 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