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Planeta urbano ERMINIA MARICATO As cidades podem ser vistas através de diversas lentes: como produto cultural e histórico, como palco de relações sociais, como resultado de planos e regras urbanísticas ou como um conjunto de signos, entre outras abordagens. cidades cities 12 Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities Ei, vizinho! Hey Neighbour! Mas, sem dúvida, a mais importante e determinante perspectiva da vida urbana é a lente que a concebe como mercadoria. Embora sua existência tenha precedido o capitalismo, sua produção é um dos grandes negócios desse modo de produção. O acentuado processo de urbanização, na década atual e na anterior, pressiona os países que ainda mantêm grande parte de sua população no campo e desafia qualquer proposta de sustentabilidade ambien13 ERMINIA MARICATO Cities can be interpreted from a number of perspectives: as a cultural and historical product, as the stage of social relations, as the results of urban plans and rules, a set of signs, etc... However, no doubt, the most important and determining perspective of urban life is that which conceives it as merchandise. Although cities have existed before capitalism, the production of cities is one of the greatest businesses of this mode of production. The quick level of urbanization produced in the current and past decades pressures the countries that still have a large part of their populations outside cities and challenges any environmental sustainability plan, because of the intense construction of the buildings and urban and economic infrastructure required (required?) for the urbanization of increasingly consumerist societies. This gigantic movement in construction isn’t taking place only in countries that only recently have become more urban (like China and India), but also in countries already with a high rate of urbanization, central capitalist countries, like the United States and Spain. The housing market booms that changed the face of many cities around the world in the turn of the 21st century is a vast theme for urban, economic, social, cultural and certainly environmental analyses. Three 14 tal, devido ao intenso processo de construção de imóveis e infraestrutura urbana e econômica necessários (necessários?) à urbanização de sociedades crescentemente consumistas. Mas esse gigantesco movimento de construção não se refere apenas a países mais recentemente urbanizados (China e Índia, por exemplo), mas também a países que contam com alta taxa de urbanização, do capitalismo central (Estados Unidos e Espanha). As explosões do mercado imobiliário, ao mudarem as faces de várias cidades do mundo após a virada do século XXI, são tema vasto não só para análises urbanísticas como também econômicas, sociais, culturais, e, sem dúvida, ambientais. Três dos sete filmes da Mostra que tratam do URBANO têm o mercado imobiliário como ponto central a partir do qual as consequências se multiplicam. São eles: Nação Especulação (EUA/Espanha, 2014), Ei Vizinho! (Turquia, 2014), A Última Dança na Avenida (Canadá, 2014). Poderíamos colocar nessa lista também o documentário O Prefeito Chinês (China, 2014), com a ressalva de que o movimento insustentável de destruição, construção, gentrificação, expulsão, valorização imobiliária e semantização aqui tratados têm, na China, um papel diferente do exercido em um país capitalista. Mas será isso mesmo? Abusando da forma resumida e esquemática nestas rápidas páginas, vamos classificar as explosões imobiliárias ocorridas como “bolha” ou como “boom”. A bolha, aqui, significa que o crescimento terminou com estouro, atingindo toda a economia. Muito desse movimento deve-se aos abusos das jogadas financeiras em que criam-se capitais fictícios descolados do lastro de ativos que são os edifícios. A chamada crise financeira deixou ¼ da população espanhola desempregada. O estouro da bolha imobiliária resultou em mais de 400.000 execuções hipotecárias em quatro anos, interferindo, portanto, na vida de bem mais de 1 milhão de pessoas. O documentário Nação Especulação mostra, em várias regiões do país, megaempreendimentos com mais de 30.000 unidades habitacionais (uma “cidade fora da cidade”), aeroportos e obras de infraestrutura abandonados como se fossem lugares fantasmas. Por outro lado, milhares de famílias enfrentam os despejos devido à incapacidade de pagar as hipotecas bancárias de suas moradias. O filme não se limita a mostrar esse cenário aparentemente irracional (como se não soubéssemos qual é a lógica que conduz o capitalismo neoliberal), mas felizmente concentra-se nas formas de organização popular que buscam responder ao caos social e econômico criado pela flexibilização nas regras de ocupação do solo e das operações financeiras. O documentário assume, portanto, um partido otimista: a resposta social é política, criativa e diversificada (lembrando de perto o ocorrido na Grécia de 2014 e 2015). Os movimentos sociais representados pelos of the seven films in the festival that talk about cities mention the real estate market as a central point from which consequences multiply: Speculation Nation (USA/Spain, 2014), Hey Neighbour! (Turkey, 2014) and Last Dance on the Main (Canada, 2014). We could add The Chinese Mayor (China, 2014), except that the unsustainable movement of destruction, construction, gentrification, expulsion, housing boom and semantization in China plays a different role when compared to a capitalist country. But is it the case? With the risk of being excessively short or schematic, let us classify the housing market expansions as “bubbles” or “booms.” “Bubble” implies that the expansion ended with a rupture, which impacts the whole economy. A lot of that can be blamed on the financial maneuvers through which fictitious, non-asset-backed capital are created. The financial crisis left one-fourth of the Spanish population unemployed. The burst of the housing bubble resulted in more than 400,000 mortgage foreclosures in four years, affecting the lives of way more than one million people. Speculation Nation is a documentary that shows, in many places in Spain, megaprojects with more than 30,000 units (a “city outside the city”), airports and public works that were abandoned, becoming ghost towns. On the other hand, thousands of families have to face foreclosures because they were unable to pay for their homes. Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities Urban planet 15 16 Indignados, ou 15M, apresentam novas formas de organização que têm surpreendido os teóricos de esquerda e fomentado novas teses sobre as revoltas populares na era da internet. Estrutura horizontal, sem lideranças centrais, assembleias abertas, cultura colaborativa, espaço público tomado como espaço comum autogovernado. Os movimentos de moradia, como é o caso do PAH - Plataforma de Afetados Pela Hipoteca – ocupam condomínios falidos, enfrentam os bancos e fazem fortes demandas ao Estado. Estamos no campo do que apontou Boaventura Souza Santos: nem só autonomia e nem só institucionalização, mas um pouco de ambos. É por isso que tais movimentos estão revelando uma geração de jovens que assumem, por meio de eleições, o governo de cidades. Mas o que pensar quando o movimento de construção que despeja massivamente moradores de suas casas é dirigido por um comunista? O documentário O Prefeito Chinês mostra um dirigente do Partido Comunista Chinês escolhido, em 2008, para administrar a cidade de Datong, capital da China Imperial há 1.600 anos. Datong é considerada a cidade mais poluída do país; foi centro de exploração de minas de carvão. Para recuperar a glória e o prestígio histórico da cidade e atrair turistas, o prefeito planeja e inicia rapidamente as obras de reconstrução de quatro muralhas e recuperação do centro antigo. O problema é que seu plano exige deslocar 30% da população urbana. As megaobras e a destruição avançam sobre 140.000 moradias (casebres ou apartamentos populares), atingindo mais de 500.000 pessoas. As relações entre o prefeito Geng Yanbo, o Partido Comunista Chinês, os empresários de construção e a população removida (que buscava cercar o prefeito com suas demandas, obtendo promessas como resposta, numa relação tipicamente populista) surpreendem pelos detalhes e malabarismos revelados ou subentendidos. Muitos dos moradores eram convencidos a se retirarem sob o argumento da ilegalidade da posse em um país onde o Estado é o maior e quase absoluto proprietário (haja dialética)! O Prefeito foi transferido repentinamente para Taiyuan quando as obras estavam em andamento. Sua saída provocou manifestações populares de apoio e não faltaram nem mesmo suas próprias lágrimas de frustração por precisar abandonar a missão no meio do caminho. Geng deixou uma dívida de R$ 3 bilhões e 125 obras em andamento. Mas o documentário lembra rapidamente que, mais tarde, em Tayuan, sua carreira de grande tocador de obras foi potencializada. O que essas experiências têm de semelhante, já que uma se dá em uma economia liberal de mercado e a outra em um governo dito comunista, constituído a partir, portanto, de um Estado centralizador? Responder a essa questão exige mais espaço e certamente mãos mais hábeis. Com certeza, o motor da experiência mostrada no docu- was chosen in 2008 to administer the city of Datong, the capital of Imperial China 1,600 years ago. Datong is considered the most polluted city in the country. It had been a center for coal exploration. To recover the glory and the historical prestige of the city and attract tourists, the mayor quickly plans and initiates the reconstruction of four walls and the recovery of the old center of the city. The problem is that his plan demands evicting 30% of the urban population. The megaprojects and the destruction advance over 140,000 homes (shacks or popular apartments), affecting more than 500,000 people. The relations between mayor Geng Yanbo, the Chinese Communist Party, the construction companies and the removed population (which surrounded the mayor with demands, obtaining typical populist promises) are very surprising in its overt or implicit juggling. Many dwellers were convinced to leave under the argument of the illegality of their ownership in a country where the State is the largest (almost absolute) landowner (talk about dialectics!). The mayor was suddenly transferred to Taiyuan after the work had begun. His departure produced popular demonstrations of support, and he even cried in frustration for having to abandon the mission midway through. Geng left a debt of U$750 million and 125 ongoing projects. The documentary remembers that, later, in Tayuan, his career as a great Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities The film doesn’t simply display this apparently irrational landscape — after all, we know the rationale behind neoliberal capitalism —, but, fortunately, focuses on the forms of popular organization that seek to respond to the social and economic chaos generated by the flexibilization of the rules for land use and financial operations. The documentary is, therefore, optimistic: the social response is political, creative and diversified (which reminded what happened in Greece in 2014 and 2015). The social movements represented by the Indignados Movement (or 15-M) introduce new forms of organization that have been surprising the left and produced new theses on popular revolts in the age of the internet. A horizontal structure with no central leaders, open assemblies, a collaborative culture, the public space as a shared, self-governed space. The housing movements — such as PAH (the Platform for People Affected by Mortgages) — occupy bankrupt condominiums, face the banks and make strong demands to the State. We are at the point highlighted by Boaventura Souza Santos: neither autonomy nor institutionalization, a little of both. That is why such movements are revealing a generation of young men and women who are being elected for the governments of cities. What can we say about a construction movement that massively evicts people from their homes and is directed by a communist? The Chinese Mayor shows a leader of the Chinese Communist Party that 17 18 mentário chinês não está apenas na utopia e carisma do prefeito. Nos últimos 10 anos, a China provou que as megaconstruções estão entre as vias preferidas no processo de crescimento e na acumulação de capital pelo Estado (como disse meu amigo André Singer: um verdadeiro “Estado neoliberal”). O “boom” imobiliário que impactou Istambul, a principal cidade da Turquia, é tratado no filme documentário Ei Vizinho!. Edifícios-torres e condomínios coexistem com casas simples, térreas ou sobrados que, antes do “boom”, marcavam todo o bairro. O filme entrevista os novos (e socialmente emergentes) moradores dos condomínios, os moradores remanescentes do bairro e até mesmo um antigo morador que negociou a troca de casas pelo apartamento em que vive atualmente. Apesar da reiterada menção às amizades entre vizinhos (que, aparentemente, não existem no condomínio), às trocas solidárias, às brincadeiras das crianças nas ruas, aos quintais e jardins que tendem a desaparecer com a nova tipologia de apartamentos e condomínios, o que se destaca dessa transição do espaço urbano é a luta de classes desvelada nas fissuras dos depoimentos. Para quem consegue ler, fica implícito também o vantajoso negócio realizado pelo capital imobiliário ao apropriar-se da renda imobiliária gerada a partir dos baixos preços do solo pagos pelas casas simples do bairro popular. O filme deixa de mencionar a violência criada pelas torres de apartamentos que passaram a desafiar, na paisagem de Istambul, as mesquitas ou monumentos centenários dessa cidade milenar, o que gerou controvérsia internacional1. A mudança de cenário promovida por novos empreendimentos que apagam da memória da cidade edifícios históricos é o tema da animação de pouco mais de 3 minutos, A Última Dança na Avenida. Atores, músicos, dançarinos, prostitutas e transformistas uniram-se para impedir a derrubada de um conjunto de casarões do século XIX por um empreendimento imobiliário no multicultural Boulevard Saint Laurent, em Montreal. E já que a cidade é vista como negativa, ou ao menos constitui para alguns a oposição principal à natureza, então vamos abandoná-la, ao menos por 9 meses. Essa é a aventura que decide viver uma família: pai, mãe, ambos médicos, três filhas com idades de 10, 8 e 4 anos, 2 gatos e um cachorro. Eles mudam-se para uma cabana em Yukon, sem estradas de acesso, sem energia, telefone, internet, água encanada, relógios e, além de tudo, cercada por gelo ou neve (ou ursos) durante o longo inverno. A mãe, Suzane Crocker, planejou fazer o documentário dessa experiência radicalmente inesquecível para qualquer um deles: Todo o Tempo do Mundo (Canadá, 2014). Numa das muitas entrevistas que deu a propósito dos prêmios que ganhou com o documentário, Suzane destaca ter percebido agora como suas vidas são cercadas class struggle that emerges from the testimonials. For the most attentive, the very profitable real estate capital business of appropriating the profits generated by the low prices paid for the land of the popular neighborhood. The film, however, doesn’t mention the violence created by the towers of apartments that began challenging, in the Istanbul skyline, the mosques and centennial monuments of this millennial city, which produced a lot of international controversy” 1. The change in the landscape promoted by new projects that erase historical buildings from the memory of the city is the theme of an animation of a little more than three minutes, Last Dance on the Main. Actors, musicians, dancers, prostitutes and transvestites gathered to obstruct the demolition of a set of 19th-century houses by a real estate project at the multicultural Boulevard Saint Laurent, in Montreal. Since the city is seen negatively — at least is understood as the main opposite of nature —, what about leaving it, at least for nine months? This is the adventure that a family decided to embark on: father, mother (both doctors), three kids (10, 8 and 4 years of age), two cats and a dog. They moved into a cabin in Yukon, with no access roads, no energy, no phone, no internet, no running water, no clocks and, on top of that, surrounded by ice or snow (or bears) during the long winter. The mother, Suzane Crocker, planned on making a documentary of this radically unforgettable experience for every one Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities propeller of construction work was potentialized. What do these experiences have in common, since one takes place in a liberal market economy and the other under a supposedly communist government, that is, implemented by a centralizing State? Responding to that requires more space and certainly more skilled hands. However, certainly, the driver of the experience depicted in the Chinese documentary isn’t only the utopia and charisma of the mayor. In the last 10 years, China proved that mega constructions are one of the most favored strategies for the State to grow and accumulate capital (as my friend André Singer puts it, “a true neoliberal State”). The housing “boom” that hit Istanbul, the main city of Turkey, was addressed by the documentary Hey, Neighbour!. Tower buildings and condominiums coexist with simple, one or two-story buildings which, before the “boom,” were the face of the neighborhood. The film interviews the new (and socially-emerging) dwellers of the condominiums, the remaining old dwellers and even a man who traded the exchange of houses for the apartment he currently lives in. Despite the reiterated mention to the friendship between neighbors (which, apparently does not exist in the condominium), the solidarity, the children playing in the streets, the front and backyards — which tend to disappear with the new model of apartments and condominiums —, what stands out in this transition of the urban space is the 19 20 de objetos e eventos para nos distrair e ocupar o tempo. Na cabana, o tempo se alonga, permitindo, assim, a experiência de desconectar-se da vida urbana e conectar-se com cada membro da família e consigo mesmo.2 O oposto da ideia que orientou Todo o Tempo do Mundo – o mergulho na natureza selvagem - orientou a animação de 21 minutos Auto-Fitness (Alemanha, 2015), elaborada com técnica stop motion. Tempo é dinheiro e, nesse caso, conceitos como competição, racionalização, repetição, rentabilidade e pressa são fundamentais. Os seres humanos coisificam-se e movem-se como produtos industriais em uma esteira fordista. Aqui não há tempo para nada e as tarefas da agenda fazem o mundo externo parecer inexistente. Finalmente, para completar a série, um filme de ficção maravilhoso e atordoante. A transição entre uma sociedade baseada na produção agrícola, organização tribal ou familiar e uma sociedade urbana de mercado é o pano de fundo para a ficção A Mudança (Quirguistão, 2014). Dos filmes que compõem o segmento de “Cidades” nesta mostra Ecofalante de 2016, ele é o mais marcante. É perturbador perceber o quanto um processo social, que é econômico e global, portanto de grande escala, define os destinos de cada um em sua aldeia, destruindo a harmonia existente entre as pessoas e a natureza. O país é o Quirguistão, pertencente à antiga União Soviética, com menos de 5 milhões de ha- bitantes, e com pouco poder para, como nação, enfrentar as forças envolvidas na sua integração no sistema global. É o único país do mundo que tem, ao mesmo tempo, uma base militar russa e outra americana. Em quase três horas de filme, o diretor Marat Sarulu nos conduz de um ponto de partida poético, marcado por um intenso equilíbrio entre pessoas e entre elas e o meio ambiente, para uma completa falta de saída. Os diálogos são parcos, apenas o necessário é falado. As cenas iniciais despertam a ancestralidade existente em cada um de nós: um avô (ou o amigo do avô) com sua neta num barquinho diminuto em um cenário grandioso de água e montanhas. Vivem em condições extremamente simples, na beira do rio, sem água corrente ou energia elétrica. Mas há uma evidente harmonia entre eles e entre os amigos que compõem uma comunidade local. Os movimentos da água, do vento e do capim são completados por uma trilha sonora que evoca a natureza e memórias de situações vividas ou não. Tudo começa a ruir quando a filha vem buscá-los para levá-los à cidade. Uma crise hídrica ronda todo o filme, mas nada é mais forte que a crise que atinge a natureza humana, configurada na vida de um avô, sua filha e sua neta. A fragilidade do idoso, da criança e da mulher que queria resgatá-los para uma vida pretensamente mais segura pode ser vista como um processo histórico, social e familiar, mas também adquire aspectos espe- every one at the village, destroying the existing harmony between people and nature. The country is Kyrgyzstan — a former part of the Soviet Union —, with less than 5 million people and little power to, as a nation, fight the forces involved in its integration to the global system. It is the only country in the world to simultaneously have Russian and American military bases. In almost three hours of film, director Marat Sarulu takes us from a poetic starting point — marked by an intense balance between people and between people and the environment — to a point of no escape. Dialogues are sparse, only the truly necessary is spoken. The initial scenes cause the ancestrality that exists in each one of us to emerge: a grandparent (or the friend of the grandparent) with his granddaughter on a minuscule boat in an absolutely grandiose landscape of water and mountains. They live in extremely simple conditions, at a riverbank, with no running water or electricity. But there is an evident harmony between them and their friends, which make up the local community. The movement of the water, the wind and the grass is complemented by a soundtrack that evokes nature and memories of real or imagined experiences. Everything starts to crumble when the daughter comes to pick them up and take them to the city. A water crisis is present throughout the film, but nothing is stronger than the crisis of human nature, as Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities of them: All the Time in the World (Canada, 2014). In one of the interviews she gave because of the awards she earned for the documentary, Suzane highlights that she now understands that our lives are surrounded by objects and events that distract us all the time. At the cabin, time is stretched, which allowed a disconnection from urban life and a greater connection with each member of the family and with oneself. 2 The opposite idea of All the Time in the World — a dive into wild nature — guided the stop-motion, 21-minute animation Automatic Fitness (Germany, 2015). Time is money and, in this case, ideas such as competition, rationalization, repetition, rentability and hurry are fundamental. Human beings become things and move like industrial products on a conveyor belt. There is no time for anything, and the tasks on the agenda seem to cover the exterior world with a sense of unreality. Finally, to complete the series, there’s a wonderful and striking fiction film. The transition between an agricultural society, a tribal or family-based organization and a market-based, urban society is the backdrop for The Move (Kyrgyzstan, 2014). Out of the films in the “Cities” segment of the 2016 Ecofalante Film Festival, The Move is the most striking. Seeing how a social process — which is also economic and global and, therefore, of a large scale — determines the destinies of each and 21 1 This reminds us that, in Brazil, in the city of Camboriú, in the state of Santa Catarina, the extremely high, recently-built apartment towers keep the sunlight from reaching the beach during a part of the day. The greed of the real-estate market and the flexibilization of the law killed the goose that laid golden eggs. In Recife, the construction of two towers at the historical center of the city kept the area from being considered a UNESCO World Heritage Site. A strong social movement, Ocupa Estelita, fights against a project that will build another 13 towers at the same site. 22 cíficos. Não somente as famílias estão se desmanchando, mas a ausência individual de perspectivas de futuro também. A cidade, no entanto, é uma referência que aparece sempre longe. Os personagens não são nem urbanos, nem rurais. Eles não conseguem entrar na cidade, permanecendo sempre em espaços de passagem, em estradas rodoviárias ou ferroviárias. Eles não conseguem se inserir na sociedade de mercado, mas já foram expulsos da ordem antiga. Não há lugar para eles. 1 Esse caso nos faz lembrar que, no Brasil, na cidade de Camboriú- SC, as altíssimas torres de apartamentos recém construídas impedem que o sol chegue à praia durante uma parte do dia. A ganância do mercado imobiliário e a flexibilização das leis mataram a galinha dos ovos de ouro. Na cidade do Recife, a construção de duas torres no centro histórico da cidade impediu que a área fosse considerada Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO. Um forte movimento social, o Ocupa Estelita, luta contra um projeto que acrescentará 13 torres ao mesmo local. 2 Maybe it should be mentioned that their food came from the city and was preserved and kept out of the reach of animals, that is, the isolation had clear boundaries. 2 Talvez seja fundamental lembrar que a alimentação básica vinha da cidade e era preservada fora do alcance dos animais, ou seja, o isolamento teve limites claros. ERMINIA MARICATO, urbanist, senior retired professor at FAU - USP, visiting Professor of IE UNICAMP. ERMINIA MARICATO, urbanista, professora titular aposentada da FAU USP, professora visitante do IE UNICAMP. Auto-Fitness Automatic Fitness ALEMANHA, 2015, 21’ Ser ou não… ter tempo de ser? O filme é uma poesia labiríntica sobre o automatismo humano. Uma reflexão sobre nossa relação diária com o dinheiro e com o tempo, uma animação tragicômica que brinca com o conceito da constante e penetrante aceleração. Um filme sobre a opressiva loucura cotidiana e o automatismo em que somos forçados a viver, trabalhar, respirar, pensar e: existir. Uma paródia da já antiga “vida moderna”. To be or...haven’t time to be? The film is a labyrinthic poetry on the human automatism. A reflection about our daily relationship with money and time. It’s an animated tragicomedy which plays with the concept of an all permeating acceleration. It is about the stranglehold of everyday madness and the automatisms, in which we are forced to live, work, breathe, think and: exist. It’s a parodie of this already aged so- called “modern way of life“. DIREÇÃO DIRECTOR Alejandra Tomei e Alberto Couceiro EDIÇÃO EDITOR Dietmar Kraus CONTATO CONTACT contact@ animas-film.de Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities seen in the lives of a grandfather, his daughter and granddaughter. The fragility of the old man, of the child and the woman who wanted to rescue them for a supposedly safer life may be understood as a historical, social and family-related process, but it also includes other specific aspects. There are both the fact that families are breaking up and the fact that there are not many perspectives for the future. The city, however, is a reference that always appears at a distance. Characters are neither urban nor rural. They cannot go into the city and, so, they linger in passageways, roads or railways. They are unable to belong to the market society, but they are also not a part of the old order. There is no place for them. 23 A Última Dança na Avenida The Move Last Dance on the Main QUIRGUISTÃO, 2014, 178’ CANADÁ, 2014, 3’ Um velho e sua neta vivem em harmonia em uma pequena vila à beira de um rio. É uma vida simples e tranquila em uma paisagem estonteante. Até que sua recém-chegada filha o convence a vender a casa e se mudar para a cidade, para que vivam juntos. Uma dramática mudança para o velho homem e sua neta e um sonho inalcançável para a filha, em uma excepcional obra cinematográfica. 24 An old man and his little granddaughter peacefully live in a small village by the river. It is a simple life in an imposing landscape, till one day his daughter arrives and convinces him to sell the house and move to the city, to live with her. A dramatic change for them and an intangible dream for her in an outstanding piece of cinema. DIREÇÃO DIRECTOR Marat Sarulu PRODUÇÃO PRODUCER Gulmira Kerimova ROTEIRO WRITER Marat Sarulu FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Boris Troshev Documentário de animação sobre a demolição de uma série de edifícios históricos no Boulevard St. Laurent, em Montreal, - também conhecido como “A Avenida” - levada a cabo por políticos e especuladores, e sobre a resistência levantada por artistas burlescos e pela comunidade local. An animated documentary on the demolition of a row of historic buildings on Montreal’s St Laurent boulevard – also known as “The Main” – by politicians and building developers, and the resistance put up by the burlesque artists and the local community. Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities A Mudança DIREÇÃO DIRECTOR Aristofanis Soulikias EDIÇÃO EDITOR EDIÇÃO EDITOR Gani Kudaibergen Aristofanis Soulikias CONTATO CONTACT CONTATO CONTACT ratma.luusar@ gmail.com aristofanis@ hotmail.com 25 Speculation Nation EUA / ESPANHA, 2014, 75’ Quando a crise financeira atingiu a Espanha como um tsunami, deixou marcas permanentes na paisagem e na vida dos cidadãos. Deixou para trás cidades fantasmas da especulação imobiliária, tirou o emprego de mais de um quarto da população e os lares de centenas de milhares de pessoas. O filme acompanha aqueles que perderam a fé em um sistema que os decepcionou e que agora passaram a se mobilizar. Porém, ocupar prédios vazios não é tão simples quando as regras e leis ainda seguem a lógica de especuladores, bancos e empresários. O filme apresenta um olhar sensível aos avanços, dificuldades e controvérsias desta luta. Ei, Vizinho! Hey Neighbour! TURQUIA, 2014, 54’ Recentemente, um monstro chamado redesenvolvimento urbano atacou a Turquia, destruindo tudo o que restava dos bairros tradicionais. Torres de vidro foram erigidas onde antes havia casas e as últimas árvores restantes foram engolidas. Em sua investida, o monstro fez com que novo e velho, rico e pobre se tornassem vizinhos. Testemunhamos a turbulenta relação entre estes cenários em fusão e seus habitantes, ouvindo seus sonhos e sentimentos uns sobre os outros e sobre a transformação da cidade. 26 A monster called urban redevelopment has recently risen in Turkey, destroying whatever was left from the traditional dwellings, erecting glass towers where houses once stood and swallowing up the few trees left. While this monster is at work, he makes the old and the new, and the rich and the the poor become neighbors. We witness the uneasy relationship between those merging scenarios and their residents, listening to their dreams and feelings about each other and about the city’s transformation. When the financial crisis hit Spain like a tsunami, it left an indelible mark in the landscape and in its citizens’ lives: it left behind housing speculators’ unfinished ghost towns, took the jobs of over a quarter of the population and the homes of hundreds of thousands of people. The film follows the ones that have lost faith in the system which has failed them and are now mobilizing. But moving into empty buildings is not a straightforward affair when the law and rules still follow the logic of housing speculators, banks and money men. The film features a sensitive look to the advancements, difficulties and controversies of this fight. DIREÇÃO DIRECTOR Sabine Gruffat e Bill Brown PRODUÇÃO PRODUCER Sabine Gruffat e Bill Brown FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Sabine Gruffat e Bill Brown CONTATO CONTACT sgruffat@ hotmail.com Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities Nação Especulação DIREÇÃO DIRECTOR Bingöl Elmas ROTEIRO WRITER Bingöl Elmas FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER M. Eren Bozbaş e Koray Kesik EDIÇÃO EDITOR Uǧur Hamidoǧulları CONTATO CONTACT hakanpasali@ gmail.com 27 Todo o Tempo do Mundo The Chinese Mayor All the Time in the World CHINA, 2015, 87’ CANADÁ, 2014, 87’ Há 1600 anos, Datong era a capital da China. Durante o período de abertura e reforma chinesas, ela continuou a prosperar com o boom de carvão local. Mas décadas de mineração desenfreada sufocaram a cidade em fuligem, e o esgotamento de recursos estagnou a economia, rendendo à cidade a reputação de um dos lugares mais feios do mundo. Hoje, o prefeito Geng acredita que o futuro de Datong depende de sua cultura. Seu plano radical de reforma é restaurar a antiga muralha, trazendo de volta a grandeza da cidade antiga. Mas, para isso, uma demolição em massa será necessária, junto com o despejo de 40.000 pessoas. 28 Datong was an ancient capital of China 1,600 years ago. During China’s reform and opening up period, it became a coal mining boomtown. But decades of rampant mining have choked the city in soot, depleted resources and left the economy stagnated, earning Datong a reputation as one of the world’s ugliest cities. Mayor Geng believes that the Datong’s future lies in culture. His radical reform plan is to recreate Datong’s four great ancient walls side by side to restore the ancient city. But for him to succeed, mass-scale demolition is needed, along with the relocation of 40.000 people. Mostra Contemporânea Internacional > cidades | International Contemporary Program > cities O Prefeito Chinês DIREÇÃO DIRECTOR Zhou Hao PRODUÇÃO PRODUCER Zhao Qi ROTEIRO WRITER Zhou Hao e Zhao Qi FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Zhou Hao e Zhang Tianhui EDIÇÃO EDITOR Yu Xiaochuan e Tom Lin CONTATO CONTACT zhaoqifilms@ gmail.com O filme explora uma experiência de desconexão com a vida moderna, frequentemente agitada e saturada de tecnologia, para se reconectar com o outro, nós mesmos e a natureza. Em busca de novas perspectivas, uma família de cinco membros decide deixar o conforto do lar para viver por nove meses em um bangalô isolado na natureza, sem vias de acesso, eletricidade, água encanada, internet ou sequer relógios. Em tempos oportunos, este inspirador documentário mostra o desenvolvimento natural da vida quando uma família tenta se livrar do controle necessário nesse mundo marcado pelo tempo do relógio. The film explores the theme of disconnecting from our hectic and technology laden lives in order to reconnect with each other, ourselves and our natural environment. In search of a new perspective, a family of five makes the decision to leave the comfort of their home to live remotely in the wilderness, spending nine months in a small cabin with no road access, no electricity, running water, internet or a single watch. The film is a timely and inspiring documentary which chronicles life’s natural unfolding when a family tries to let go of the required control in our timebased world. DIREÇÃO DIRECTOR Suzanne Crocker PRODUÇÃO PRODUCER Suzanne Crocker FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Suzanne Crocker EDIÇÃO EDITOR Michael Parfit CONTATO CONTACT suzanne@ dirftproductions.ca 29
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