tecnologia atômica - Editora Expressão Popular
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TECNOL OGIA ATÔMICA TECNOLOGIA A nova frente das multinacionais TECNOLOGIA ATÔMICA A nova frente das multinacionais EDITORA EXPRESSÃO POPULAR Copyright © 2004, by Editora Expressão Popular Título original: The Big Down: From Genomes to Atoms. Tradução: Elisa Schreiner Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho Projeto gráfico, capa e diagramação: ZAP Design Ilustração da capa: Detalhe de "Radiografia Paranóica", de Juan Battle Planas, Argentina, 1936. Impressão e acabamento: Cromosete Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil) E83t ETC Group Tecnologia atômica : a nova frente das multinacionais / ETC Group. – São Paulo : Expressão Popular, 2004. 192 p. Livro indexado em GeoDados http://www.geodados.uem.br ISBN 85-87394-50-9 1. Tecnologia atômica. 2. Novas tecnologias. 3. Multinacionais. II. Título. CDD 21.ed. 306.46 303.483 ELIANE MARIA DA SILVA JOVANOVICH CRB 9/1250 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização da editora. 1ª edição: março de 2004 EDITORA EXPRESSÃO POPULAR Rua Bernardo da Veiga, 14 CEP 01252-020 - São Paulo-SP Fone/Fax: (11) 3112-0941 Correio eletrônico: [email protected] www.expressaopopular.com.br SUMÁRIO APRESENTAÇÃO (Laymert Garcia dos Santos) .............. 7 A TECNOLOGIA ATÔMICA EM UMA PÁGINA ............... 19 CONTEXTO TECNOLOGIAS CONVERGENTES ......................... 23 PARTE I O QUE É TECNOLOGIA ATÔMICA? ....................... 39 PARTE II TECNOLOGIAS ATÔMICAS Quatro (perigosos) passos em direção ao mínimo para o meio ambiente, a economia e a vida em si ............... 55 PARTE III AS TECNOLOGIAS ATÔMICAS FUNCIONARÃO? Quatro testes para uma nova tecnologia .................. 99 PARTE IV PARA QUEM E ONDE TERÁ IMPACTO? Nos pobres e na economia, é claro ...................... 111 PARTE V QUEM SE IMPORTA? Os personagens que impulsionam as novas tecnologias ....... 133 PARTE VI CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES POLÍTICAS .............. 159 FONTES E RECURSOS Apêndice a – nano-net ................................ 169 Apêndice b – nanogramática ........................... 177 O grupo ETC ....................................... 185 APRESENTAÇÃO LAYMERT GARCIA DOS SANTOS* Vamos direto ao assunto: a pergunta que o leitor se faz quando abre este livro é: Por que uma editora ligada aos movimentos sociais traduz e publica um texto sobre tecnologia atômica? O que teriam eles a ver com essa tecnologia sofisticada e de ponta, que promete ser a nova fronteira do capital? No meu entender, a resposta é: tudo a ver. A decisão de abordar a questão da tecnologia atômica indica que os movimentos sociais estão aprendendo, com os transgênicos, que os trabalhadores precisam conhecer as opções tecnológicas feitas por empresários e governos, porque serão eles * Laymert Garcia dos Santos é professor titular da Unicamp, onde leciona as disciplinas de Sociologia Ambiental e Sociologia da Tecnologia. Formado pela Universidade de Paris 7 em Ciências da Informação, tem dedicado seus últimos quinze anos às relações entre tecnologia, ambiente e cultura. Autor de Tempo de Ensaio (Cia. das Letras) e Politizar as Novas Tecnologias (Ed. 34), é membro do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) da Universidade de São Paulo e Conselho Diretor do Instituto Socioambiental, de São Paulo. 8 Te c n o l o g i a a t ô m i c a [os trabalhadores] que fatalmente terão de pagar a conta; e precisam conhecê-las [as opções tecnológicas] antes que o jogo esteja definido e as cartas já marcadas, para que não tenham de engolir goela abaixo, como “as únicas possíveis”, as soluções encontradas; para que não venham dizer-lhes, com aquela cara de resignação, que... “não há alternativa!” A decisão expressa ainda que os movimentos descobriram, também na luta contra os transgênicos, que a tecnologia não é neutra, nem “para o bem de todos e a felicidade geral da nação”, que o progresso da ciência e da técnica não distribui benefícios igualmente para todos, mas avança incluindo uns e excluindo outros, produzindo riquezas e também danos e riscos. Enfim, a decisão mostra que os movimentos começam a pensar que os cientistas e especialistas não são os únicos a terem o direito de se preocupar e de se ocupar com as novas tecnologias; muito ao contrário, à medida que estas transformam e afetam a natureza, a vida e todos os campos da atividade humana, toda a sociedade precisa participar da discussão sobre o que deve ou não, pode ou não ser desenvolvido e implementado. Já se percebeu que as opções tecnológicas forjam o futuro de todos e de cada um e, por isso mesmo, constituem uma questão política, por mais distantes que de nosso cotidiano possam parecer. Não se trata de desconfiar a priori desta ou daquela tecnologia, nem de se posicionar dogmaticamente contra o progresso e, principalmente, o progresso da ciência; mas de afirmar que o meio ambiente e os trabalhadores, homens e mulheres, precisam ser levados em consideração, e que os interesses científicos, tecnológicos e econômicos não pairam acima da sociedade. Isso pode parecer óbvio, mas não é, se lembrarmos que tanto a ciência quanto o capital não aceitam nenhum limite às suas práticas. Ora, se ambos já se comportavam assim antes de se unirem ETC Group 9 sistêmicamente, o que dizer agora, que a tecnociência se tornou o motor do capitalismo global? A sociedade civil não pode esperar que o Estado nacional defenda seus interesses: se não for constantemente monitorado e pressionado, este, cada vez mais enfraquecido, tende, quase que naturalmente, a “esquecer” o interesse público e a se transformar numa linha auxiliar do poder global. Os trabalhadores sem terra sabem muito bem que nada acontece a seu favor sem mobilização... A luta contra os transgênicos tem mostrado, em todo o mundo, que só a pressão de uma sociedade civil informada e organizada pode colocar limites à ambição sem limites da aliança tecnociência-capital global, e interferir em sua programação do futuro. Ora, um dos aspectos mais perturbadores do projeto de tecnologização acelerada é que, nele, o papel da agricultura é muito diverso daquele que conhecemos. Em meados dos anos de 1990, ao participar de uma conferência internacional da FAO sobre recursos fitogenéticos em Leipzig, Alemanha, conheci M.D. Nanjundaswamy, um velho líder indiano, que havia sido buscado em sua casa por mais de quinhentos mil lavradores para se colocar à frente da grande marcha de Karnataka, em outubro de 1993, contra o patenteamento de sementes e a política agrícola do GATT (posteriormente encampada pela Organização Mundial de Comércio). Numa longa e fascinante conversa, ele explicou a alguns representantes de ONGs porque, apesar da sua idade avançada, decidira lutar contra o projeto de globalização das transnacionais e da OMC. É que, em seu entender, agora estávamos diante de uma política de industrialização da agricultura que desemboca não só na erosão da biodiversidade e na apropriação crescente dos recursos e do conhecimento tradicional pelas corporações, mas também, e principalmente, no próprio desaparecimento dos 10 Te c n o l o g i a a t ô m i c a camponeses, à medida que desvincula a produção de alimentos do solo, rompendo a relação de milênios do homem com a terra. Sentindo-se parte de uma tradição cultural de três mil anos, agora ameaçada de morte, era nessa perspectiva que ele ancorava o sentido de sua luta, de sua defesa das futuras gerações, e até mesmo de sua presença na conferência. A conversa com o líder indiano me fez lembrar de um texto de Píer-Paolo Pasolini, no qual o cineasta italiano conta como descobriu que a Itália deixara de ser um país de camponeses – foi quando constatou o completo desaparecimento dos vaga-lumes. Naquela época, o processo não estava tão avançado, desenrolava-se de modo quase invisível, e só mesmo um poeta podia perceber a ligação entre as coisas. Hoje, porém, há muitos dados e sinais indicando o rumo que está sendo tomado. Vejamos, por exemplo, o que escreve Achim Seiler, num texto interessantíssimo, intitulado “Biotecnologia e Terceiro Mundo: interesses econômicos, opções técnicas e impacto socioeconômico”. Comentando a direção do desenvolvimento da biotecnologia agrária, que está voltada não para o combate à fome e à desnutrição, mas, sim, quase que exclusivamente para os interesses do lucro das empresas transnacionais do Norte, Seiler observa: “O mais gritante exemplo desta principal tendência da pesquisa, ignorando aliás amplamente as necessidades básicas dos países do Terceiro Mundo, é o esforço obstinado de todas as companhias químicas envolvidas na biotecnologia agrária, em não melhorar a resistência de plantas cultivadas contra pestes e doenças, mas sim em aperfeiçoar a tolerância destas sementes contra pesticidas produzidos pela mesma companhia. Esta “estratégia de pacote” assegurará retornos adicionais significativos para as empresas do Norte, mas, provavelmente, conduzirá a uma maior poluição dos solos e da água potável com produtos químicos. Além disso, a pobreza rural e o ETC Group 11 desemprego aumentarão, se se tornarem obsoletos os empregos na agricultura que utilizam trabalho intensivo (como é o caso, por exemplo, dos roçados), em conseqüência da aplicação de produtos químicos combinada com sementes de alta qualidade “desenhadas” especialmente para se adaptarem a eles. A atividade de roçar contribui com aproximadamente 30% do volume de trabalho na agricultura do Terceiro Mundo e garante uma renda básica confiável principalmente para as mulheres.”1 Ora, como bem mostra Seiler, essa “estratégia de pacote” é apenas o começo de um processo biotecnológico que também visa a substituição de quase todos os produtos agrícolas de exportação importantes dos países do Sul e uma transferência da produção para o Norte, através de métodos da cultura de células e da tecnologia industrial de enzimas em biorreatores, ou através da engenharia genética. É que tanto uma via quanto a outra permitem que a biotecnologia decomponha os produtos agrícolas em seus componentes e busque substâncias equivalentes, naturais ou sintéticas, que possam substituí-los satisfatoriamente, libertando as corporações de seus habituais fornecedores de matérias-primas e perturbando assim dramaticamente o tradicional mercado de commodities agrícolas: “Além da possibilidade de produzirem biossinteticamente (nos biorreatores dos países do Norte) compostos vegetais de grande valor, como a baunilha, as novas técnicas oferecem a opção de produzir commodities agrícolas tanto para o setor alimentício quanto para o não alimentício, com base em toda uma gama de substâncias que estão se tornan- 1 Seiler, Achim. "Biotecnologia e Terceiro Mundo: interesses econômicos, opções técnicas e impacto socioeconômico", in Araújo, Hermetes Reis de (org.), Tecnociência e cultura: ensaio sobre o tempo presente. São Paulo, Ed. Estação Liberdade, 1998, pp. 53-54. Tradução de Laymert Garcia dos Santos. 12 Te c n o l o g i a a t ô m i c a do cada vez mais intercambiáveis. Por exemplo: usando técnicas de enzima, excelentes substitutos da manteiga de cacau podem ser produzidos com base em toda uma gama de óleos e gorduras derivados de plantas e animais (óleo de palmeira, óleo de soja, óleo de baleia etc.), que até agora estavam desconectados da produção de cacau. Há já alguns anos esta mesma técnica (tecnologia de enzimas) vem sendo usada para produzir um amido adoçante à base de milho (HFCS), que está substituindo o açúcar na indústria de refrigerantes americana e isso conduziu a um forte declínio dos rendimentos de exportação de alguns países exportadores de cana-de-açúcar.”2 A possibilidade de produzir “manteiga de cacau” sem cacau ilustra bem de que modo a aliança entre a pesquisa biotecnológica e o capital global pretende “desmontar” a agricultura, para colocar a produção sob o controle da indústria e manipular as exportações agrícolas de países do Terceiro Mundo. Como nota Flitner: “O agricultor produtor de cacau em pequena escala de Gana já não está mais competindo no mercado mundial de cacau com as fazendas de cacau da Indonésia e do Brasil, mas num mercado mundial de gorduras com os cultivadores de coco da Tailândia e os palmeirais da Malásia,com o cultivo da azeitona na área do Mediterrâneo, as lavouras de colza no Norte da Alemanha e, provavelmente, com a frota pesqueira japonesa.”3 O exemplo aqui evocado dá uma idéia do grau de transformação pelo qual passa a agricultura na era da aliança entre a tecnociência e o capital global. Não é à toa que vários pesquisado- 2 3 Idem, pp. 54-55. Flitner, M. "Biotecnologie und landwirtschaftliche Produktion in Entwicklungsländern", in Geographische Rundschau, nº 27, 1991, citado por Seiler, op. cit., pp. 55-56. ETC Group 13 res qualificam a revolução tecnológica em curso como algo tão importante quanto foi a revolução agrícola que, na pré-história, separou a vida dos caçadores e coletores daquela dos agricultores. Ora, a tecnologia atômica de que trata este livro significa um aprofundamento ainda muito mais intenso do processo inaugurado pela biotecnologia. Isso porque a tecnologia atômica é pensada como a integração e a sinergia da biotecnologia, da tecnologia da informação, da nanotecnologia e das ciências cognitivas, com o objetivo de acelerar o acesso e o controle do homem sobre a produção da matéria, de qualquer matéria, seja ela inanimada ou viva. O que é comum a essas tecnologias é o fato de todas elas trabalharem na escala micro, isto é, no plano da máxima miniaturização, de partirem de átomos e moléculas como se fossem os tijolos para a construção material de tudo o que o humano vier a precisar em sua vida diária. Trata-se, portanto, de somar os esforços e os conhecimentos científicos mais recentes relativos à vida, à matéria, ao trabalho e à mente visando à máxima eficiência e produtividade. Como concluiu um dos participantes do seminário “Tecnologias Convergentes para o Aperfeiçoamento do Desempenho Humano”, realizado em dezembro de 2001 pela Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos e pelo Departamento do Comércio estadunidense: “Se os cientistas das Ciências Cognitivas podem pensar, o pessoal da Nano pode construir, o pessoal da Bio pode implementar e o pessoal da Tecnologia da Informação pode monitorar e controlar.”4 É claro que essa ambição de poder desmedida encontra e vai encontrar obstáculos e resistências de toda ordem. É claro, tam4 Ver Ho, Mae-Wan. "Nanotecnology, the wave of the future?" e mais o dossiê "The New Technologies and the Third World" in Resurgence, nº 159-160, Penang: The Third World Network, novembro-dezembro de 2003, p. 47. 14 Te c n o l o g i a a t ô m i c a bém, que muitos dos prognósticos são excessivamente otimistas e ignoram ou minimizam as dificuldades teóricas existentes sobre o assunto, os imensos recursos necessários para o pleno desenvolvimento da tecnologia atômica etc. Mas é preciso entender que a estratégia já está estabelecida e que os campos da alimentação e da saúde estão entre as prioridades nessa aposta. Por isso convém levar a coisa a sério – ainda mais que é no âmbito do meio ambiente e da saúde em que emergem as preocupações quanto aos riscos e aos efeitos colaterais dessa manipulação extrema da matéria, ainda pouco conhecidos, porque pouco estudados. Por outro lado, é preciso notar que a aliança da tecnociência com o capital global gostaria que todos nós depositássemos nosso futuro em suas mãos e aceitássemos sem questionamentos o papel de consumidores e de usuários das novas tecnologias, que eles reservaram àqueles que poderão desejá-las e comprá-las. Se o fizermos, porém, estaremos concordando que o futuro assim traçado caia sobre nós como um destino. Mais ainda: estaremos deixando de nos perguntar sobre o modo como a implementação das novas tecnologias interfere na produção de exclusão, em escala planetária. Porque é evidente que os índios, os trabalhadores sem terra, os pobres, as populações do Terceiro Mundo, os “descartáveis”, para usar a expressão do subcomandante Marcos, não só não terão acesso a elas, como, provavelmente, vão ver ainda mais agravadas as suas condições de vida e sobrevivência. Para eles, não devem ir os benefícios, mas os riscos. De certo modo, com a publicação do livro do ETC sobre tecnologia atômica, os movimentos se antecipam e trazem para o Brasil uma discussão que está começando na esfera internacional, mas que pode “esquentar” em poucos anos, assim como o debate sobre os transgênicos, que, se no início dos anos de 1990 interessava aos especialistas e a uns poucos grupos de organizações não ETC Group 15 governamentais, explodiu como problema socioambiental de alcance mundial. Ora, a abertura do debate é ainda mais oportuna se lembrarmos que a comunidade científica brasileira, as autoridades e os políticos não costumam incluir a sociedade em suas preocupações, quando se trata da tecnologia e de seus efeitos. O interesse está sempre voltado para as possibilidades de industrialização das inovações tecnológicas e para as oportunidades de mercado, para o patenteamento, para a comercialização etc. Basta ver como parte importante da comunidade científica brasileira alinha-se com os ruralistas, e colocando-se contra os ambientalistas, na tentativa de transformar um projeto de lei, que é de biossegurança, em lei de incentivo da biotecnologia. Isto é: transformar uma necessidade de regulação da atividade biotecnológica para a proteção da sociedade contra os riscos que lhe são inerentes, em legislação que conceda carta branca aos especialistas e à indústria da biotecnologia... No Brasil, se a sociedade civil organizada não se mobiliza e se faz ouvir, a dimensão socioambiental não entra sequer nas cogitações. A tecnologia atômica, pelo menos tal como é tratada pelo ETC – enquanto convergência das quatro tecnologias acima mencionadas – não vem sendo abordada por aqui. O máximo que se tem é uma preocupação com o desenvolvimento da nanociência e da nanotecnologia, expressa por pesquisadores e professores universitários de alguns centros de excelência e fundações de amparo à pesquisa que se esforçam para manter o país minimamente em dia com a produção de conhecimento dos países do Primeiro Mundo e que sabem de seu potencial na corrida tecnológica. Tal preocupação é manifesta, por exemplo, no documento “Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia”, uma proposta elaborada por um grupo de trabalho do Ministério da Ciência e da Tecnologia, no final de 2003, e apre- 16 Te c n o l o g i a a t ô m i c a sentada como subsídio ao Programa de Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia do PPA 2004-2007, sob a direção do Dr. Fernando Galembeck. 5 Com efeito, ali se pode ler: “A necessidade de se criar um programa amplo de pesquisa e desenvolvimento em nanotecnologia que maximize o aproveitamento dos recursos existentes, crie e fortaleça laboratórios afins, capacite e treine recursos humanos, integre as competências na área e alavanque a competitividade de diversos segmentos da indústria, é absoluta. A existência desse programa viabilizará o aproveitamento das oportunidades abertas pela nanotecnologia, a priorização de atividades, a otimização no uso dos recursos disponíveis e a inovação nas áreas escolhidas, seja por razões estratégicas ou competitivas. Portanto, o programa é um instrumento de competitividade econômica, um fator de aumento da participação do Brasil no produto econômico mundial e de soberania.” A proposta do grupo de trabalho mapeia os recursos humanos e materiais existentes no Brasil para dar início à produção de nanociência e de nanotecnologia de modo mais sistemático, analisa o contexto, discrimina os temas que deveriam ser contemplados no programa (nanofabricação, nanometrologia, materiais nanoestruturados, nanotecnologia funcional, energia, nanotecnologia molecular, nanoagregados, funcionalização de materiais e software) e define o objetivo deste: criar e desenvolver novos produtos e processos em nanotecnologia, implementando-os para aumentar a competitividade da indústria nacional e capacitando pessoal para o aproveitamento das oportunidades econômicas, tecnológicas e científicas dessa tecnologia. No entender do GT, 5 Programa de Desenvolvimento da Nanociência e Nanotecnologia, do PPA 20042007. MCT, de 4/11/03 a 7/12/03 no url http://www.mct.gov.br/temas/nano ETC Group 17 seu impacto deverá impulsionar vários setores da economia – eletroeletrônica, veículos e equipamentos de transportes, tecnologia da informação, construção civil, química e petroquímica, energia, agronegócio, biomedicina e terapêutica, ótica, metrologia, metalurgia, produção mineral, proteção e remediação ambiental – além do impacto sobre áreas estratégicas como as de segurança nacional, pessoal, patrimonial e alimentar. É sintomático que o GT mencione o impacto sobre setores da economia e sobre áreas estratégicas, esquecendo-se do impacto sobre o ambiente e sobre os trabalhadores da cidade e do campo. O pesquisador Paulo Martins6, que vem se dedicando à questão, observa que, à lista do programa, caberia acrescentar, entre outros: os impactos sociais, éticos, legais e culturais, a identificação de que segmentos sociais serão os incluídos e os excluídos do processo de adoção da nanotecnologia, a análise dos riscos... Em suma, aquilo que também precisa ser considerado para que a tecnologia, qualquer tecnologia, melhore efetivamente as condições de vida de uma sociedade. 6 Martins, Paulo Roberto. Contribuição a Consulta Pública do Programa de Desenvolvimento da Nanociência e Nanotecnologia, do PPA 2004-2007. MCT, de 4/11/ 03 a 7/12/03 no url http://www.mct.gov.br/temas/nano A TECNOLOGIA ATÔMICA EM UMA PÁGINA As tecnologias-chave da última metade do século – transistores, semicondutores e engenharia genética – todas elas tinham a ver com redução de tamanho, materiais e custos, e com aumento de capacidade. Estamos a caminho de dar um passo muito maior em direção ao mínimo. Nossa capacidade de manipular a matéria move-se de genes para átomos. Enquanto a sociedade civil e os governos estão concentrados na modificação genética, um aparato impressionante de empresas industriais está mirando uma revolução científica que poderia modificar a matéria e transformar todos os aspectos do trabalho e da vida. Este relatório apresenta um conjunto de ferramentas e de técnicas que chamamos de tecnologias atômicas, as quais incluem nanopartículas, nanobiotecnologia, nanofabricação e fabricação molecular. Ele também descreve a futura convergência da biotecnologia, da tecnologia de informações e das ciências cognitivas com a manipulação em nanoproporção da matéria, como força unificadora. A Parte I (O que é tecnologia atômica?) apresenta as tecnologias e a Parte III (As tecnologias atômicas funcionarão?) fornece quatro critérios para avaliação das expectativas comerciais. 20 Te c n o l o g i a a t ô m i c a IMP ACT O IMPA CTO Toda forma de trabalho e de empreendimento será afetada. A Parte II (Quatro [perigosos] passos em direção ao mínimo) descreve o campo de ação atual e futuro da tecnologia. O mercado mundial atual para as nanotecnologias está avaliado em aproximadamente US$ 45 bilhões.1 Elas já representam um papel facilitador na biotecnologia, fármacos, armazenagem de energia e informação, e na indústria de materiais que está em amplo crescimento. Circuitos nanofabricados provavelmente irão capturar o mercado de semicondutores feitos com silicone ainda nesta década (a receita mundial apenas nesse setor alcançará US$ 300 bilhões até 2006). As tecnologias entrarão na fabricação convencional, incluindo tudo, de utensílios domésticos a roupas e alimentos. Em 2015, o mercado mundial para todas as etapas da tecnologia atômica excederá US$ 1 trilhão, e o mundo se defrontará com organismos biônicos (Parte II, O átomo e Eva).2 Apesar de que seu impacto será sentido primeiro no Norte, a tecnologia atômica, assim como antes a biotecnologia – terá conseqüências econômicas e ambientais em breve para os países em desenvolvimento. RISCOS Alguns cientistas (e poucos governos) reconhecem que a tecnologia atômica proclama oportunidades tremendas e riscos sociais e ambientais horrendos. Com a tecnologia atômica, a indústria poderá monopolizar as plataformas de fabricação em nível atômico, que são a base de toda a matéria animada e inanimada. A atual produção em massa de materiais, e de novas formas de carbono com características desconhecidas e não testadas, são a principal preocupação. No futuro, a produção em massa de nanomateriais raros e de nanomaquinário auto-replicante, contém riscos incalculáveis. A tecnologia atômica também poderia significar a criação e a combi- ETC Group 21 nação de novos elementos e a ampliação de armas de destruição em massa. A Parte IV (Para quem e onde terá impacto?) continua com comentários sobre os riscos e adiciona exemplos. PR OTAGONIST AS PRO GONISTAS O financiamento público nos EUA, Japão e Europa está por volta de US$ 2 bilhões por ano, e crescendo cada vez mais. As principais corporações de todos os setores industriais estão comprometidas, da Bayer à Boeing, da Motorola à Mitsubishi, da IBM à Exxon. Seu investimento interno provavelmente é igual ao de empresas recém-iniciando. O gasto total mundial em pesquisa e desenvolvimento em 2001 foi de aproximadamente US$ 4 bilhões. A Parte V (Quem se importa?) examina a variedade de pequenas e grandes empresas, universidades e governos que estão trabalhando nas novas tecnologias. POLÍTICAS A maior parte da pesquisa atual em tecnologia atômica não manipula diretamente material vivo – e sim os elementos químicos vitais para a vida – e tem evitado grandemente o escrutínio da regulamentação. Mesmo a produção e o uso dos materiais em nanoescala atuais teriam implicações sociais de tirar o fôlego, e os impactos ambientais são desconhecidos, devidos aos dados e estudos insuficientes. No futuro, a indústria molecular posa com enormes riscos ambientais e sociais – na ausência de uma ampla compreensão social e de tributação (a Parte VI oferece recomendações políticas). FÓR UM FÓRUM Nenhum. O impacto das tecnologias convergentes na nanoescala é desconhecido ou subestimado pelo fórum 22 Te c n o l o g i a a t ô m i c a intergovernamental. Já que as nanotecnologias serão usadas em todos os setores, nenhuma agência está tomando a frente. Os governos e as organizações da sociedade civil (CSOs) deveriam estabelecer uma Convenção Internacional para a Avaliação das Novas Tecnologias (ICENT), incluindo mecanismos para monitorar o desenvolvimento da tecnologia. NO TA NOT 1 2 CMP Científica, “Nanotechnology Opportunity Report”, março/2002. Esse relatório está focado apenas na nova tecnologia que envolve material menor do que 100nm; ele prevê vendas anuais relacionadas com a nanotecnologia no valor de US$ 30 milhões, apesar de Scott Mize, o autor do relatório, ter afirmado que essa estimativa exclui receitas vindas das ferramentas e que talvez esse valor seja US$ 70 milhões maior (Foresight Basic Tutorial, 10 de outubro de 2002). Devido ao custo proibitivo do relatório, (US$ 1.995), as referências do ETC vem de um resumo: Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep Numbers Real,” Small Times, 11 de março de 2002; disponível pela Internet: www.smalltimes.com. A NanoBusiness Alliance, um novo grupo de comércio dos EUA, estima a receita mundial anual da nanotecnologia em US$ 45,5 bilhões. A enorme discrepância se deve à inclusão da Alliance de alguns produtos que não são verdadeiramente na nano escala – uma definição rígida mas muito aceita de nanotecnologia limita o tamanho daquilo que está sendo manipulado a menos de 100 nanômetros. A estimativa da Alliance inclui os MEMs – sistemas mecânicos microelétricos, que estão na escala dos micrômetros. A estimativa da CMP Científica exclui alguns produtos que são verdadeiramente da nanoescala, mas não das novas tecnologias (por exemplo, negro de carvão, partículas de carbono na nanoescala – quimicamente iguais à fuligem – têm sido usadas na fabricação de pneus por mais ou menos um século). M Roco e W.S. Bainbridge, eds., “Societal Implications of Nanoscience and Nanotechnology,” National Science Foundation, março/2001, pp. 3-4. ETC Group 23 CONTEXTO TECNOLOGIAS CONVERGENTES Este relatório descreve e analisa a convergência das nanotecnologias e seus impactos sociais em potencial. Nossa meta é traduzir a complexa informação científica e catalisar amplo debate público. (Termos novos ou especializados relacionados com as nanotecnologias aparecem em negrito neste documento e estão definidas no glossário – ver nanogramática no índice B). A indústria e os governos prometem que a manipulação da matéria na escala do nanômetro (um bilionésimo de metro) trará benefícios extraordinários. Toda a matéria – viva ou não – se origina na nanoescala. Os impactos das tecnologias que controlam esta esfera não podem ser superestimados: o controle da matéria em nanoescala é o controle dos elementos da natureza (os átomos e moléculas que são os blocos construtores de tudo). A biotecnologia (a manipulação dos genes), a informática (a administração eletrônica de informações), as ciências cognitivas (a exploração e a manipulação da mente) e a nanotecnologia (a manipulação de elementos) irão convergir para a transformação da matéria viva e não viva. Quando OGMs (organismos geneti- 24 Te c n o l o g i a a t ô m i c a camente modificados) se encontrarem com a matéria atomicamente modificada, a vida e os seres vivos nunca mais serão os mesmos. Atualmente a pesquisa pública e privada na nanoescala está evoluindo por baixo das telas do radar da sociedade civil e dos reguladores do governo. Enquanto a sociedade está focada em debates amargos – mas vitais – sobre as promessas e os perigos da modificação genética, empreendimentos industriais estão atrelando uma revolução na tecnologia atômica que poderia modificar toda a matéria e transformar todos os aspectos do trabalho e da vida. É urgentemente necessário existir uma compreensão e uma fiscalização por parte da sociedade civil e dos governos, ou os produtos da nanotecnologia serão jogados no mercado sem processos de revisão, taxação e regulação transparentes e democráticos. Tradicionalmente pensávamos e manufaturávamos na macroescala (metros). Nos últimos 50 anos, também aprendemos a pensar e a manufaturar na microescala (micrômetros ou menos). Estamos apenas começando a dirigir nossa atenção para a nanoescala, em que a matéria-prima, tanto da ciência quanto do comércio, é o átomo. Tecnologia atômica refere-se a uma gama de novas tecnologias que operam na nanoescala ou mais abaixo – isto é, a manipulação de moléculas, átomos e partículas subatômicas, para criação de novos produtos. Ao adotar o termo nanotecnologia, a indústria quer dizer que a manipulação da matéria irá parar no nível dos átomos e moléculas – medidos em nanômetros. Entretanto, seria ingênuo assumir que a nanoescala será a última fronteira. “Tecnologia atômica” melhor descreve tecnologias que visam manipular os principais blocos de construção da matéria. Em geral, nanotecnologia significa engenharia mecânica numa escala molecular, mas é um termo ambíguo e traiçoeiro. Às ve- ETC Group 25 zes, refere-se à nanotecnologia empregada atualmente, como o uso de nanopartículas em cosméticos ou em tintas industriais. Às vezes, refere-se ao objetivo mais em longo prazo, de fabricação molecular – proezas da engenharia atômica que ainda não são possíveis. Essas são faces totalmente diferentes de uma tecnologia, as quais têm implicações dramaticamente diferentes para a sociedade. É importante ter em mente que, enquanto algumas aplicações da tecnologia atômica são realidades de mercado, outras estão nos estágios iniciais de desenvolvimento, e outras ainda são rejeitadas como sendo visões anormais de “futuristas marginalizados”. Baseado na história recente, o Grupo ETC acredita que é nitidamente “má ciência” rejeitar qualquer pesquisa tecnológica tão bem fundada e que envolve tantos atores industriais variados. A tecnologia atômica é transdisciplinária. Ela usa a física, a engenharia, a biologia molecular e a química. Seu verdadeiro poder está na habilidade de atingir todos os setores da economia mundial e seu potencial em redefinir a vida. Por exemplo, a engenharia genética, como a conhecemos hoje, será fundamentalmente mudada e capacitada pela tecnologia atômica. Mas a tecnologia atômica irá eclipsar a engenharia genética porque ela envolve toda a matéria – tanto viva quanto não viva. A questão da propriedade e do controle dessa tecnologia penetrante é de suprema importância. Quem controlará os produtos e os processos da tecnologia atômica? Como na revolução industrial que a precedeu, veremos uma diminuição do bemestar das pessoas pobres e maior disparidade entre ricos e pobres? Manipulação em nanoescala, em todas as suas formas, oferece potencial sem precedentes de controle do monopólio dos elementos e dos processos fundamentais para o funcionamento biológico e dos recursos materiais. 26 Te c n o l o g i a a t ô m i c a A promoção exagerada das tecnologias de nanoescala, hoje em dia, lembra sinistramente as antigas promessas da biotecnologia. Desta vez nos dizem que a nano irá erradicar a pobreza proporcionando bens materiais (livres da poluição!) para todos os povos do mundo, irá curar doenças, reverter o aquecimento global, aumentar o tempo de vida resolver a crise de energia. As aplicações presentes e futuras da tecnologia atômica são potencialmente benéficas e socialmente atraentes. Mas mesmo os maiores incentivadores da tecnologia atômica recomendam que pequenas maravilhas podem significar infortúnios colossais. Aquilo que é desconhecimento da tecnologia atômica – que varia dos riscos para a saúde e para o meio ambiente de contaminação pelas nanopartículas, para Gray Goo e cyborgs, e para a ampliação das armas de destruição em massa – envolve riscos incalculáveis. Enquanto o potencial de desenvolver produtos e processos ambientalmente simpáticos e baratos é enorme, não sabemos o suficiente sobre as implicações socioeconômicas, de saúde e de meio ambiente da tecnologia atômica – presentes ou futuras. O objetivo do Grupo ETC sempre esteve nas sociedades rurais – especialmente as do Sul. A convergência de tecnologias na nanoescala poderá parecer distante das comunidades rurais da África, da Ásia ou da América Latina. Não é. Há mais de 20 anos, avisamos que a biotecnologia logo afetaria a saúde e a agricultura nos países em desenvolvimento. Novas tecnologias no Norte também afetam mercados, importações e exportações, políticas de emprego e estratégias de produção. Se as tecnologias não forem bem sucedidas, elas poderão ser “despejadas” no Terceiro Mundo. Se forem comercialmente bem sucedidas, poderão se espalhar nos países em desenvolvimento e/ou transformar radicalmente economias locais. Com a biotecnologia, por exemplo, a descoberta de que as variedades tradicionais de milho dos ETC Group 27 agricultores no México foram contaminadas com DNA geneticamente modificado ilustra o potencial dos impactos na saúde, no meio ambiente e comerciais. A controvérsia sobre carregamento de grãos geneticamente modificados, plantados nos EUA, como ajuda humanitária em alimentos, proporciona outro exemplo. Enquanto o interesse imediato do mercado em nanotecnologias parece mais forte na informática e nos materiais, muito trabalho está sendo feito em nanobiotecnologia. Assim como a biotecnologia chegou para dominar as ciências da vida nas duas últimas décadas, o Grupo ETC acredita que a convergência para nanoescala se tornará a estratégia operativa para controle corporativo dos alimentos, do comércio, da agricultura e da saúde no século 21. Classificação das palavras nas tecnologias conv ergentes convergentes Biotecnologia – Abrangendo uma variedade de técnicas que envolvem o uso e a manipulação de organismos vivos, a biotecnologia tornou-se sinônimo de engenharia genética (tecnologia de recombinação do DNA), o processo pelo qual genes são alterados e transferidos artificialmente de um organismo para outro. Biotecnologia tem seu foco no núcleo da célula. Nanotecnologia – A nanotecnologia refere-se à manipulação de matéria viva e não viva no nível do nanômetro (nm), um bilionésimo de metro. É nessa escala que a Física quântica assume o lugar da Física clássica e as propriedades dos elementos mudam de característica de maneira inusitada e inesperada. Ciência cognitiv cognitivaa – A ciência cognitiva está interessada em como os seres humanos e outros animais (bem como as máquinas) adquirem, representam e manipulam o conhecimento. Uma maior compreensão da cognição permite o desenvolvimento de inteligência artificial, em que as máquinas tentam imitar os processos mentais. Esta disciplina também inclui as neurociências cognitivas, permitindo a exploração e a mani- 28 Te c n o l o g i a a t ô m i c a pulação da mente, especialmente para a “intensificação” da performance humana. Informática – Tecnologias da informação, incluindo a computação e a comunicação, que permitem aos cientistas capturar, organizar e analisar dados. Robótica – Uma tecnologia que focaliza a construção de máquinas comandadas por computadores com capacidade de realizarem diferentes tarefas. Tecnologias atômicas – Toda a matéria (viva e não viva) é composta por materiais em nanoescala, inclusive átomos e moléculas. Tecnologias atômicas referem-se a uma variedade de técnicas que envolvem a manipulação de moléculas, átomos e partículas subatômicas para produção de materiais. Tecnologia atômica também envolve a fusão e a manipulação de matéria viva e não viva para criação de elementos e organismos novos e/ ou híbridos. O poder da tecnologia atômica será totalmente compreendido com a integração das tecnologias que operam em nanoescala, incluindo biotecnologia, informática, robótica e ciência cognitiva. Existem várias maneiras de descrever como essas tecnologias convergirão. O governo dos EUA prefere NBIC – nanotecnologia, biotecnologia, informática e ciência cognitiva. Bill Joy, o cientista-chefe da Sun Microsystems, escreveu provocativamente sobre as implicações do GNR – genética, nanotecnologia e robótica. Outros apontam para a GRAIN – genética, robótica, inteligência artificial e nanotecnologia. Seja qual for o acrônimo, o ponto fundamental nas tecnologias convergentes é que todas acabam se encontrando na essência. OBSER VAÇÃO OBSERV Em 2002, mensalmente são anunciadas descobertas nas nanociências, e cientistas estão atingindo feitos considerados impossíveis há apenas um ano. Dado o compasso emocionante dos novos desenvolvimentos na nanociência, alguma informa- ETC Group 29 ção nesse kit poderá estar desatualizada antes mesmo de ser publicada. A Sessão IV tem uma lista de recursos, onde os leitores poderão encontrar informação adicional e atualizada sobre tecnologia atômica. C AVALIAÇÃO DO GR UPO ET GRUPO ETC Não é que as tecnologias sejam ruins (apesar de certas tecnologias serem inerentemente destrutivas, centralizadoras ou enfraquecedoras). Em vez disso, a avaliação de novas e poderosas tecnologias exige ampla discussão social e preparação. A sociedade precisa ser informada, assim como precisa ter poder para participar da tomada de decisões sobre as tecnologias emergentes. INFORMAÇÃO HISTÓRICA Tecnologia: desenvolvimento que empobrece? Ele abanou sua mão com desgosto. É verdade, é verdade. Apesar de poder ser dito que a maré enchente levanta todos os barcos, um esquife furado encostará no chão, independente da maré. Gary Krist, Extravagance. Romance Em sua comparação fictícia do mercado de ações de Londres de 1690 e de Wall Street em 1990, o autor Gary Krist mostra que as duas eras foram movidas por transformações tecnológicas rápidas, catapultadas pela ganância e pela colisão entre governo e capitães da indústria. Enquanto os ricos levavam vidas de extravagância inacreditável, os pobres de Londres, e mesmo a classe média de Nova York, tornaram-se cada vez mais marginalizados.3 Apesar de terem se passado trezentos anos, as lições da história permanecem desaprendidas. Marés enchentes ainda enchem muitos barcos de água. RENASCENÇA INDUSTRIAL? Os historiadores geralmente colocam a Renascença européia como tendo ocorrido entre 1450 e 1625 (ou uma era que inclui 30 Te c n o l o g i a a t ô m i c a aproximadamente a vida de Leonardo da Vinci e Galileu). Alguns historiadores, como John Gribbin, são mais precisos. Um período de ciência e descobrimento iniciou, ele afirma, em 1453, quanto Gutemberg começou a imprimir a bíblia. Copérnico forçou a Europa a olhar “para cima” ao publicar seu tratado sobre a Revolução das Esferas Celestiais; e Vesaluis obrigou a Europa a olhar “para baixo” com a publicação do seu tomo revolucionário sobre a Fabricação do Corpo Humano.4 Num processo sem paralelo com a Internet, as prensas tipográficas espalharam-se pela Europa em 25 anos, de Palermo a Oxford, carregando os novos pensamentos e as idéias para todos os cantos e frestas do continente. Copérnico mudou nosso senso de nós mesmos no universo, mas também pressionou os estudiosos a investigarem a natureza da matéria. Versaluis lançou a biologia como ciência – info, nano, bio! Que a Renascença foi, na verdade, uma revolução industrial tem sido normalmente ignorado. “A principal razão para os ganhos em produtividade [durante a Renascença] foi o progresso tecnológico...”, insiste o historiador Carlo Cipolla, voltando-se para a explosão de riqueza durante aquele período.5 A produtividade dos tecelões italianos duplicou, e depois triplicou – mesmo sem o maquinário têxtil que se tornou a marca registrada da Revolução Industrial inglesa, séculos mais tarde. As primeiras impressoras de Gutemberg produziram trezentas páginas por dia. No final da Renascença, uma impressora podia produzir quatro vezes essa quantidade. Entre 1350 e 1550, a produção de ferro inglesa aumentou sete ou oito vezes. A maioria dos avanços da Renascença veio nas áreas da navegação e do comércio. Antes de Colombo, a taxa tripulante-carga era de um marinheiro para cada cinco ou seis toneladas. Os holandeses atingiram uma taxa de um homem para dez toneladas no final da Renascença.6 Quinhentos e cinqüenta anos mais tarde: info, nano, bio. ETC Group 31 De acordo com o historiador Kevin Phillips, “A Renascença e o surgimento do capitalismo, aproximadamente entre 1450 e 1625, fervilharam com as inovações tecnológicas e comerciais”.7 Veneza tornou-se o eixo central do comércio europeu. O Norte da Itália melhorou a tecnologia de construção naval – desbravando linhas de montagem e partes de intercâmbio – de tal modo que os navios transoceânicos podiam ser construídos em um dia. A tecnologia incitou a primeira era moderna da globalização. Entre 1450 e 1625, o comércio na Europa cresceu de 600 a 800%. Desde os dias de apogeu do Império Romano não havia sido acumulada tanta riqueza na Europa. Mas, como Phillips destaca, enquanto os ricos viviam vidas de extravagância como resultado das novas tecnologias, o custo de vida aumentou de modo desesperador para as classes trabalhadoras.8 “Trabalhadores rurais e meeiros cambaleavam sob os aumentos nos aluguéis, que terminavam com a receita das suas colheitas. As dietas em todos os lugares tinham menos carne e grãos, e os trabalhadores rurais falavam com inveja dos avós que tinham comido fartamente, plantando sempre o mesmo lote de terra.9 Aumentavam as desigualdades entre ricos e pobres (especialmente no que diz respeito à comida e à habitação).” TRATADO HOLANDÊS (TECNOLÓGICO) Tecnologia, comércio e capitalismo uniram-se nos Países Baixos (os ingleses chamavam com inveja de “financiamento holandês”)10 para dar à Europa sua segunda Revolução Industrial. Como os italianos haviam feito antes deles, os inventores holandeses olharam para cima (ou para fora) e para baixo – inventando o telescópio e o microscópio de uso comercial. As tecnologias holandesas envolvendo construção naval, pesca, indústria têxtil, entre outros, dominavam os anos de 1600.11 Os Países Baixos 32 Te c n o l o g i a a t ô m i c a tinham 6.000 navios em 1669 – uma armada comercial igual à de todo o resto da Europa. EMPOBRECIMENT OS IMP ERIAIS EMPOBRECIMENTOS IMPERIAIS No início de 1700, entretanto, a tocha da tecnologia foi passada para um novo gigante industrial. O Reino Unido dominava o mundo, pelo menos da metade do século 18 até o fim do século 19. Entre 1808 e 1830, o comércio mundial aumentou em 30%. Entre 1840 e 1870, o comércio mundial deu um pulo de cinco vezes, com a Inglaterra controlando a metade de todo o comércio industrial.12 De maneira única, a Revolução Industrial britânica uniu forças com o transporte. Energia a vapor (através de máquinas a vapor em fábricas e locomotivas a vapor) possibilitou que as manufaturas existissem onde fossem mais convenientes. Os industriais podiam construir perto dos mercados de trabalho ou “contra o vento de High Street”.13 Mais uma vez, a enorme riqueza gerada pela Revolução Industrial britânica estava longe de ser universal. Entre 1760 e 1845, a tendência geral dos salários dos trabalhadores era de baixa. Até mesmo o The Economist afirma que no século 19 “o impacto inicial de enriquecimento na revolução industrial forneceu material para as misérias dickensianas da vida urbana.”14 RE VOL UÇÕES REPUBLICANAS REV OLUÇÕES No fim do século 19, o poder industrial atravessou o Atlântico indo para os Estados Unidos. O surgimento da estrada de ferro e do telégrafo em meados do século 19, incentivou enormes mudanças na indústria dos EUA. Com a chegada do automóvel – seguido do avião, do rádio e de uma grande quantidade de inovações tecnológicas relacionadas – o domínio industrial dos Estados Unidos era definitivo. As extravagâncias dos alegres anos ETC Group 33 de 1900 e dos exuberantes anos de 1920 são lendárias. Menos lembrado é o fato de que, entre 1920 e 1927, aproximadamente 650.000 trabalhadores foram acrescentados à lista de desempregados. E 200.000 pessoas por ano eram despedidas como resultado das novas tecnologias nos anos imediatamente anteriores à quebra da bolsa de 1929.15 Outra revolução industrial – liderada pela informática e pela biotecnologia – se iniciou nas décadas finais do século 20. Entre 1980 e 2000, a divisão total do capital de mercado controlada pelas bolsas da alta tecnologia dos EUA cresceu de 5 a 30% (antes do colapso). Mas enquanto a América corporativa se vangloria de empreendedorismo e inovação, o desenvolvimento de semicondutores, computadores, robótica, tecnologias aeroespaciais e a Internet têm sido, ou incentivados, ou pesadamente subsidiados e protegidos pelo governo. Isso nos deu não apenas telefones celulares ou colheitas geneticamente modificadas, mas também crescente desigualdade, desemprego e empobrecimento nos Estados Unidos e fora desse país. MARÉ CRESCENTE DA TECNOL OGIA TECNOLOGIA Durante pelo menos 550 anos, as transformações tecnológicas moldaram os assuntos mundiais. A importância da ciência e da tecnologia no último século – e nos anos à frente – não pode ser exagerada. Os economistas vêem o avanço tecnológico como sendo a maré crescente que permite que os benefícios e a abundância “pinguem em gotas” daqueles que enriqueceram antes dos outros. A história sugere diferente. Da Renascença européia à revolução da informática estadunidense, a humanidade tem marchado por uma sucessão de revoluções industriais que – nas suas primeiras gerações – tem deixado os grupos marginalizados sem poder e incapacitados. 34 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Seja a transformação tecnológica da Itália nos séculos 15 e 16, ou da Inglaterra no século 18 – ou dos EUA no século 20 – cada uma dessas revoluções distorceu profundamente a igualdade social e a política. Em cada caso, os inovadores foram subsidiados pela classe dominante/governo do dia. Cada transformação industrial criou riqueza extravagante (seja para a família Médici ou para os Gates) e enorme pobreza. Os trabalhadores rurais que estavam “fora do círculo” na Renascença da Itália foram derrotados pela revolução dos preços que acompanhou as novas tecnologias. Da mesma forma, os mineradores e os trabalhadores da industria têxtil da Inglaterra foram encurralados pelos preços, o que aumentou a quantidade de famintos. A nutrição estava tão a perigo que o peso médio de um jovem recruta militar no Reino Unido, Suécia, Hungria e nos Estados Unidos (lugares que dispõem de relatórios) diminuiu durante as respectivas revoluções industriais e não retornou aos níveis anteriores à revolução por mais de um século.16 Enquanto os italianos subsidiavam Leonardo da Vinci, os holandeses e os britânicos da mesma forma subsidiavam seus inventores e industriais. Os estadunidenses fizeram dessa conspiração uma forma de arte. Em cada caso, as tecnologias andaram apoiadas nos governos para conseguir aceitação dos consumidores e monopólio de mercado. Em cada caso, pelo menos inicialmente, foram os pobres e marginalizados os que sofreram. ETC Group 35 NO TAS NOT 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Gary Krist, Extravagance, A Novel. Broadway Books, 2002, p. 21. Ver John Gribbin, Science: A History 1543-2001, Penguin/Allen, 2002, como revisto em “A History of Science – Time’s Arrow”, The Economist, 28 de setembro de 2002. Carlo M. Cipolla, Before The Industrial Revolution – European Society and Economy, 1000-1700, (3ª edição), W.W. Norton & Company, 1994, p. 105. Ib., pp. 105-107. Kevin Phillips, Wealth and Democracy, Broadway Books, 2002, p. 258. Ib., p. 258. Ib., p. 259. Krist, Extravagance, p. 11. Phillips, Wealth and Democracy, pp. 175-176. Ib., pp. 175-177. Ib., p. 260. Anônimo, “Bigger is Better”, The Economist, 26 de fevereiro de 1998. Phillips, Wealth and Democracy, p. 262. Anônimo, “Bigger is Better”, The Economist, 26 de fevereiro de 1998. PARTE 1 O PAPEL DO INFINITAMENTE PEQUENO É INFINITAMENTE GRANDE. LOUIS PASTEUR O QUE É TECNOLOGIA ATÔMICA? DE DA VID A GOLIAS DAVID Antes que um terremoto o destruísse, em 227 a.C., o Colosso de Rhodes, uma estátua de bronze representando o deus Hélio, estava colocada no porto da cidade, e se elevava a 32 metros acima das ondas. Ela foi considerada uma das sete maravilhas feitas pelo homem no mundo. Mais tarde, nossa apreciação pelo maravilhoso diminuiu – do muito, muito grande, para o muito, muito pequeno – do colossus (grande em grego) para o nano (anão). SENSO DE TAMANHO “Tecnologia atômica” refere-se a uma gama de novas tecnologias que buscam manipular átomos, moléculas e partículas subatômicas, para criação de novos produtos. A indústria prefere o termo nanotecnologia.17 “Nano” é uma medida e não um objeto. Ao passo que a palavra “biotecnologia” dá uma idéia de qual material está sendo manipulado através da arte humana – “bio” (isto é, vida) – a nanotecnologia revela apenas o tamanho do material que está 40 Te c n o l o g i a a t ô m i c a sendo manipulado (um nanômetro é a bilionésima parte de um metro). Qualquer coisa na nanoescala é invisível ao olho nu e para todos os instrumentos, menos os mais especializados. Ter-se uma idéia do que é a nanoescala (até 100 nanômetros) é importante para se compreender sua importância. “A história bíblica de David e Golias, em que o pequeno David derrota o enorme Golias com um estilingue, nos ensina que o pequeno pode ser mais poderoso do que o grande. Hoje em dia, o poderoso Golias (corporações industriais) aprendeu sua lição, e está explorando o poder do mínimo para se tornar ainda mais poderoso, enquanto o pequeno David (sociedade) não está conseguindo nem enxergar seu oponente.” O BIG DO WN acr ano: DOWN WN,, do M Macr acroo ao N Nano: • Homem – 1.850.000.000nm (1,85m de altura) • Dedo – 18.000.000nm (18mm de largura) • Cabelo humano – 80.000nm • Vírus – 50nm • Átomo – 0,15nm RECEIT A DE UMA P ESSO AP EQ UENA RECEITA PESSO ESSOA PEQ EQUENA Elemento Fração total de massa corporal Oxigênio 61% Carbono 23% Hidrogênio 10% Nitrogênio 2,6% Cálcio 1,4% Fósforo 1,1% Súlfur 0,2% Potássio 0,2% Sódio 0,14% Cloro 0,12% Magnésio 0,27% ETC Group 41 Silício 260ppm* Ferro 60ppm Flúor 37ppm Zinco 33ppm Cobre 1ppm Manganês 0,2ppm Zinco 0,2ppm Iodo 0,2ppm Selênio 0,2ppm Níquel 0,2ppm Molibdênio 0,1ppm Vanádio 0,1ppm Cromo 0,03ppm Cobalto 0,02ppm * ppm – partes por milhão Para ajudá-lo a ter um senso de tamanho: • Dez átomos de hidrogênio alinhados lado a lado são um nanômetro. • Se um átomo de hidrogênio fosse aumentado até o tamanho deste ponto (“.”) e se a letra próxima dele (“a”) fosse aumentada na mesma proporção, o “a” teria o comprimento de 80km. • Uma molécula de DNA tem a largura de 2,5nm (25 vezes maior do que um átomo de hidrogênio). DNA – a substância que carrega a informação que os engenheiros genéticos misturam e combinam – é um agrupamento de átomos de hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono. • Uma célula vermelha do sangue tem o diâmetro de aproximadamente 5.000nm, mais ou menos um vigésimo da largura de um fio de cabelo. • Os componentes individuais dos transistores de silicone usados em microeletrônica medem apenas 130 nanômetros, 42 Te c n o l o g i a a t ô m i c a o que significa que a Intel consegue colocar 42 milhões deles no seu chip do Pentium 4.18 • O comprimento de um nanômetro é de 10-9. O número 10 -12 nos coloca na dimensão do núcleo do átomo; 1012 é a escala do sistema solar inteiro. Filósofos medievais apenas faziam idéia dessa dimensão invisível, imaginando quantos anjos conseguiriam dançar na cabeça de um alfinete. Sem interferir com quaisquer cálculos escatológicos, os cientistas agora sabem que 900 milhões de nanopartículas cabem na cabeça de um alfinete.19 AL QUIMIA A TÔMICA ALQ ATÔMICA De M endel a M endeleiev Mendel Mendeleiev O monge austríaco Felix Mendel publicou seu tratado sobre herança genética em 1865. Quatro anos mais tarde, Dmitri Mendeleiev, químico russo, publicou seu livro contendo a primeira cartela da tabela periódica dos Elementos. Mendel descreveu a regeneração da vida; Mendeleiev catalogou os elementos da vida. Esses dois pioneiros da “bio” e da “nano” nunca se encontraram – mas suas tecnologias sim! Em nível de átomos e moléculas, a matéria-prima da tecnologia atômica são os elementos químicos da tabela periódica, que são os ingredientes de todas as outras coisas, incluindo os blocos genéticos de construção da vida. A tabela periódica é uma lista de todos os elementos químicos conhecidos, aproximadamente 115 no momento.20 Os símbolos de cada elemento químico (geralmente as primeiras letras do seu nome) estão arranjados em colunas e séries, agrupados de acordo com suas propriedades químicas. Toda a matéria, viva e não viva, é feita de elementos químicos. Já que tudo no universo conhecido é construído a partir de ETC Group 43 mais ou menos cem blocos de construção, a variedade infinita na nossa volta é o resultado de “receitas” químicas únicas usando um número limitado de possíveis “ingredientes”. Para funcionar corretamente, o corpo humano precisa de 25 elementos, mas nossos corpos contêm traços de todos os elementos que existem na terra.21 O hidrogênio, por exemplo, é responsável por 88% dos átomos no universo – ele está no Sol, na água, na crosta terrestre e no corpo humano. O carbono é um componente de toda a matéria que está viva ou foi viva alguma vez. Dependendo da variação das condições da atmosfera e da temperatura, o carbono na sua forma natural pode ser grafite, diamante ou carvão. E muitos de nós consumimos aproximadamente 300g de carbono todos os dias, na forma de carboidratos, gorduras e fibras. Os tecnólogos atômicos buscam controlar a tabela periódica da mesma maneira que um pintor controla uma paleta de cores. A meta é criar novos materiais e modificar aqueles que já existem. LEIS DAS CARA CTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS O tamanho pode mudar tudo. Na nanoescala, os elementos podem ter um desempenho muito diferente do que quando estão em escala maior. A descida das microtecnologias, como a microeletrônica e os microprocessadores, para a nanoescala já é uma revolução em si. Um micrometro é 1.000 vezes maior do que um nanômetro. Mas a diferença é muito maior do que o tamanho. Abaixo dos 50nm, surge aquilo que os cientistas chamam de “efeito do tamanho quântico”: a mecânica quântica toma o lugar da mecânica clássica (a mecânica clássica domina as propriedades físicas vistas tanto no mundo macro quanto no micro). Com apenas uma redução no tamanho e sem mudança na substância, as características fundamentais de fabricação, tais como a TABEL AP ERIÓDICA DOS ELEMENT OS ABELA PERIÓDICA ELEMENTOS 44 Te c n o l o g i a a t ô m i c a ETC Group 45 condutividade elétrica, cor, força, ponto de fusão – as propriedades que geralmente consideramos constantes para um certo material – podem mudar: • A substância que é vermelha quando tem um metro de largura poderá ser verde quando sua largura for de apenas alguns nanômetros (o dourado de um anel de casamento parece amarelo; nanoouro é vermelho). • Algo que é macio e maleável na macroescala poderá ser mais forte do que o aço na nanoescala. • Um único grama de um material catalisador (usado para acelerar reações químicas) feito de partículas de 10 nanômetros de diâmetro é aproximadamente 100 vezes mais reativo do que a mesma quantidade do mesmo material feito com partículas de um micrômetro de diâmetro.22 • Uma forma de carbono puro na nanoescala poderá ser um condutor e um semicondutor de eletricidade, enquanto uma forma de carbono puro na escala larga não é nenhum dos dois (ex: diamante). As mudanças na cor, força, condutividade e reatividade, que podem ser observadas na nanoescala, são atribuídas à redução no tamanho das partículas. Talhando-se a estrutura dos materiais na nanoescala, é possível construir materiais originais com propriedades totalmente novas, nunca antes identificadas na natureza. FERRAMENT AS P ARA UMA TECNOL OGIA MINÚSCUL A FERRAMENTAS PARA TECNOLOGIA MINÚSCULA Mudança no caráter quântico Aula IIlustrada lustrada & Pér olas de SSabedoria abedoria Pérolas A nanoescala provoca mudanças espantosas nas propriedades dos materiais comuns: 46 Te c n o l o g i a a t ô m i c a O molusco haliote (a origem da “pérola mãe”), por exemplo, constrói uma concha incrivelmente duradoura organizando o carbonato de cálcio (a mesma substância que forma o giz da sala de aula) em tijolos de nanoestrutura. Como argamassa, o haliote cria uma gosma elástica de proteína e carboidratos. Se uma rachadura surge na parte de fora da concha, ela terá pouca chance de atravessar a espessura da concha, porque a estrutura força a rachadura a abrir caminho entre seus pequenos tijolos, difundindo sua energia. Ajudando a controlar o estrago, a argamassa elástica forma nanofilamentos resistentes que tentam forçar os tijolos que estão se separando de volta aos seus lugares. O efeito de tamanho quântico muda características sem mudança na composição química dos materiais. O carbonato de cálcio que se esfarela no quadro negro transforma-se na concha impenetrável do haliote.23 Antes que você possa fazer ou manipular algo que tire vantagem da mecânica quântica, você precisa ter as ferramentas para ver o que está acontecendo na nanoescala. Em 1959, o físico Ricardo Feynman enviou um ofício para a Sociedade Estadunidense de Física no Instituto de Tecnologia da Califórnia com o título “Existe muito lugar lá embaixo”. Nesse depoimento, o Prêmio Nobel (1965) colocou o fundamento teórico da ciência da nanoescala (sua audiência ficou indiferente). Feynman explicou que a maior barreira para a manipulação do mundo da nanoescala era que ele não podia ser visto: o melhor microscópio de elétrons em 1959 ainda era grosseiro demais. Feynman concluiu que “os problemas da química e da biologia podem ser ajudados em muito se nossa habilidade para ver o que estamos fazendo, e de fazer as coisas em nível atômico se desenvolver bastante – um desenvolvimento que acredito que não poderá ser evitado.24 E ele colocou um desafio: “Existe uma maneira de tornar o microscópio de elétrons mais poderoso?” ETC Group 47 Demorou mais de 20 anos para que esse desafio fosse completamente superado, mas em 10 de agosto de 1982, a patente estadunidense 4.343.993 foi emitida para a IBM pela invenção do microscópio de tunelamento (Scanning Tunneling Miscroscope – STM), irradiando luz nova no mundo atômico. Normalmente pensamos em microscópios usando lentes para aumentar um objeto até que ele seja suficientemente grande para ser visto pelo olho humano, mas o STM permite que vejamos indiretamente, não por aumento. Uma pequena ponta, como de uma agulha, e condutora de eletricidade, é passada um pouco acima da superfície de uma amostra condutora de eletricidade. A distância entre a ponta e a amostra é de apenas alguns poucos angstroms (um nanômetro é 10 vezes maior do que um angstrom) e essa distância é controlada para que permaneça constante. Ao se aplicar uma pequena voltagem, as regras da mecânica quântica permitem que os elétrons pulem, ou afunilem através do espaço entre a ponta e a amostra.25 Apesar de muito pequeno, esse fluxo de elétrons consegue ser detectado facilmente. Enquanto que a ponta se movimenta pela superfície da amostra, sua posição é constantemente ajustada para assegurar que a distância (e conseqüentemente a corrente elétrica) permaneça constante. Esses ajustes reconstituem os traços da amostra. Quando esses traços são graficamente mostrados na tela do computador, podemos “ver” os átomos e moléculas individuais que formam essa amostra. Por depender do fluxo elétrico entre a ponta e a amostra, o STM só pode ser usado para examinar materiais que irão conduzir ao menos uma pequena corrente elétrica. Pela invenção do STM, Gerd Binning e Heinrich Rohrer receberam o Prêmio Nobel de Física em 1986. O STM não apenas nos dá um lugar na primeira fila da arena atômica, como também pode nos colocar no campo de jogo. 48 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Aumentando-se a voltagem no momento em que a ponta estiver exatamente em cima de um átomo, o átomo poderá colar-se na ponta; esse átomo então poderá ser reposicionado e, quando a voltagem for baixada novamente, o átomo se soltará da ponta na sua nova posição.26 Em 1989, pesquisadores da IBM no Almaden Research Center em San Jose, Califórnia (EUA) pegaram 35 átomos de xenônio (o xenônio é um elemento gasoso quimicamente inerte) com a ponta de um STM, um por vez, e os colocaram na superfície de um cristal de níquel. Não surpreendentemente, os cientistas escolheram soletrar as letras I-B-M com seus átomos de xenônio – associando para sempre o Big Blue com o mínimo. O nanologotipo histórico mediu menos do que três nanômetros.27 Pegar e recolocar átomos não é fácil nem barato e pode não ser a maneira mais lucrativa de engenharia atômica de produtos, mas é uma demonstração da nossa crescente habilidade de manipulação na nanoescala. Desde o início dos anos de 1980, os STM evoluíram para o microscópio de força atômica (Atomic Force Microscopes – AFM), que são capazes de “enxergar” uma grande variedade de amostras da nanoescala. O processo permanece perto daquele desenvolvido por Binning e Rohrer, em que uma ponta do tipo agulha perscruta uma superfície cuja topografia é “lida” e então traduzida para uma imagem gráfica.28 Entretanto, usando o AFM em vez do STM conseguimos ver amostras que não são altamente condutoras, como as amostras biológicas. Em vez de manter uma distância constante entre ponta, eletricamente condutora, e amostra, a ponta do AFM é presa na ponta de um braço suspenso, altamente sensível, e realmente encosta na superfície da amostra. A força de contato é muito pequena. Como no STM, a ponta perscruta a superfície da amostra para gerar uma imagem, mas o AFM grava e mede os pequenos movimentos para baixo e para ETC Group 49 cima do braço, necessários para manter a força constante sobre a amostra. A ponta “sente” a superfície da mesma maneira que um dedo acaricia a face. Já que o toque precisa ser delicado para que não destrua a amostra, vários métodos diferentes foram desenvolvidos, inclusive um que delicadamente bate na amostra em intervalos inimaginavelmente pequenos, enquanto se movimenta sobre a superfície. Hoje em dia, os AFM são as ferramentas pré-requisito que os pesquisadores usam para observar e manipular a matéria na nanoescala; eles custam de US$ 50 mil a US$ 1,5 milhão.29 Feynman teria se alegrado com o desenvolvimento da visualização atômica nos primeiros 20 anos após seu discurso em Caltech, mas com certeza ficaria espantado com o progresso dos outros 20 anos (ele morreu em 1988). As ferramentas que permitem aos nanocientistas verem e manipularem átomos estão melhorando rapidamente. Em agosto de 2002, a IBM anunciou que desenvolveu um novo microscópio de elétrons com poder de resolução com raio menor do que um único átomo de hidrogênio. A descoberta permitirá aos cientistas examinar e corrigir defeitos em nível atômico em material semicondutor – um primeiro passo importante para fazer chips para computadores, menores e mais rápidos.30 NA ESCRA VIDÃO DO MÍNIMO ESCRAVIDÃO Tornar pequeno não significa encolher máquinas apenas para criar espaço nas nossas escrivaninhas, apesar de que isso irá acontecer quando, por exemplo, mais e mais transistores couberem em chips de computador cada vez menores. E também não se trata apenas do fascínio sobre um domínio além da experiência diária humana, parecida com a fascinação dos nossos antepassados pelo colossal, apesar de poder até ser isso. A verdadeira atra- 50 Te c n o l o g i a a t ô m i c a ção em dominar a nanodimensão é que ela expandirá nosso poder de controlar outras dimensões. A escravidão do mínimo está no fato de os blocos construtores da matéria fundamental para as ciências e para a indústria originarem-se na nanoescala. A tecnologia atômica opera na mesma escala que os processos biomoleculares, por exemplo. Se conseguirmos fazer máquinas nessa escala, poderemos usá-las para alterar sistemas biológicos, e também seremos capazes de colocar processos biomoleculares para trabalharem como máquinas mecânicas. O poder da tecnologia atômica nos dará capacidade de controlar e manipular novas dimensões, através de várias disciplinas tecnológicas. A compreensão da nanoescala é o primeiro passo. Também é importante lembrar que os blocos construtores da matéria – os elementos da tabela periódica – não são estáticos. Há mais de 60 anos os cientistas na Europa e da América do Norte estão fazendo suas próprias contribuições para a tabela periódica. Até agora, pelo menos 17 elementos foram criados. (Alguns elementos estão em disputa e recentemente foi comprovado que a documentação de um elemento era falsa). No momento em que os cientistas constroem novos elementos, eles também estão aprendendo mais sobre partículas subatômicas e a inimaginável complexidade da estrutura do átomo. O Big Down não pára nos átomos. Nos próximos anos, os cientistas farão novos elementos e talvez reestruturem e combinem elementos de uma forma inimaginável hoje em dia. As possíveis conseqüências socioeconômicas e ambientais de novas formas de matéria – materiais nunca antes vistos na terra – são impossíveis de calcular. Na próxima parte, o Grupo ETC apresenta quatro estágios da tecnologia atômica, incluindo tanto aplicações atuais quanto futuras e seu potenciais impactos. ETC Group 51 NO TAS NOT 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 O termo foi inicialmente usado em 1974 por Norio Taniguchi da Tokyo Science University, de acordo com Douglas Mulhall, Our Molecular Future, 2002, Prometheus Books, p. 32. David Rotmann, “The Nanotube Computer,” Technology Review, março/2002, p. 38. De acordo com Joseph Cross, presidente e executivo-chefe da Nanophase Technologies. Disponível na Internet: www.nanophase.com/ceo_interview01_02.pdf John Emsley, Nature’s Building Bloks: na A-Z Guide to the Elements,Oxford University Press, 2001, p. 2. Ib., p. 6. Claudia Hume, “The Outer Limits of Miniaturization,” Chemical Specialties, september/2000. Esse exemplo foi pego emprestado na “Nanotechnology: Shaping the World Atom by Atom”, p. 3. Pode ser encontrado na Internet: itri.Loyola.Edu/nano/ IWGN.Public.Brochure/ Richard Feynman, “There’s Plenty of Room at the Bottom”, 1959; disponível na Internet: www.zyvex.com/nanotech/feynman.html Richard P. Terra, “Manipulating Atoms and Molecules With the Scanning Tunneling Microscope and Atomic Force Microscope,” 1998; pode ser encontrado na Internet: www.nanozine.com/NANOTOOL.HTM; veja também Mitch Jacoby, “New Tools for Tiny Jobs”, Chemical and Engineering News, 16 de outubro de 2000, p. 33. K. Eric Derxler, Unbouding the Future: The Nanotechnology Revolution, Quill William Morrow, 1991, pp. 92-94. A imagem do nanologotipo pode ser vista na Internet: www.almaden.ibm.com/vis/ stm/images/ibm.tif Binning, da IBM, também teve um papel importante no desenvolvimento do AFM, ganhando a patente dos EUA 4.724.318 em 1986 (reeditada como patente número USRE33387 em 16 de outubro de 1990). Comunicação pessoal com Vecco Metrology, Santa Bárbara, CA, EUA, setembro/ 2002. John Markoff, “New Electron Microscope is Developed at I.B.M. Lab,” New York Times, 8 de agosto de 2002. PARTE II O DESCOBRIDOR DE UMA ARTE NÃO É O MELHOR JUIZ DO BEM OU DO MAL QUE ADVIRÁ ÀQUELES QUE A PRATICAREM. PLATO, PHAEDRUS TECNOLOGIAS ATÔMICAS QUATRO (PERIGOSOS) PASSOS EM DIREÇÃO AO MÍNIMO PARA O MEIO AMBIENTE, A ECONOMIA E A VIDA EM SI Nesta parte o Grupo ETC examina as aplicações presentes e futuras da tecnologia atômica em quatro etapas. Essas etapas não são universalmente aceitas ou definidas – mas representam nossos melhores esforços para classificar e explicar a extensão das tecnologias atômicas atuais e futuras. Os quatro “passos em direção ao mínimo” não são necessariamente seqüenciais, e não excluem uns aos outros, nem o surgimento de um passo anuncia a retirada do passo anterior. Os passos 2, 3 e 4 contribuem todos para a convergência das tecnologias de nanoescala com a biotecnologia, informática e neurociências. Os passos definidos abaixo são discutidos mais detalhadamente nas páginas seguintes. DESCENDO: PASSO 1 – NANO A GRANEL Referente à tecnologia atômica utilizada atualmente. Inclui a produção em grande quantidade de partículas na nanoescala (elementos puros e componentes simples) para o atual mercado de “commodities atômicas”. Sprays, pós e tintas são usados na fabri- 56 Te c n o l o g i a a t ô m i c a cação de produtos tais como: pinturas resistentes a rachaduras, air bags para automóveis, protetores solares, tecidos resistentes a manchas, janelas autolimpantes e painéis solares. As nanopartículas podem contribuir para superfícies e sistemas mais fortes, mais leves, mais limpas e “mais inteligentes”. O Passo 1 também inclui a fabricação de moléculas de carbono puro conhecidas como nanotubos e buckyballs. DESCENDO: PASSO 2 – NANOFABRICAÇÃO A meta aqui é manipular e juntar partículas na nanoescala em construções supramoleculares e estruturas também maiores que tenham utilização prática. Os produtos da nanofabricação ainda estão na esfera mínima e invisível dos nanodispositivos – menos do que 100 nanômetros de tamanho. DESCENDO: PASSO 3 – FABRICAÇÃO MOLECULAR Esta aplicação da tecnologia atômica, considerada por alguns como o objetivo maior, e um sonho para outros, tira o passo 2 da esfera do invisível. A meta é usar algum sistema de produção em massa, possivelmente robôs auto-replicantes da nanoescala, para fabricação de algum material bom para qualquer escala. DESCENDO: PASSO 4 – ÁTOMO E EVA (NANOBIÔNICO) Refere-se ao uso de nanomateriais para influenciar processos bioquímicos e celulares. A nanobiônica poderia ser simples como usar materiais nanofabricados para articulações artificiais, ou complexa como o desenvolvimento de bionanohíbridos – usando nanomáquinas no corpo humano para fazer as funções celulares ou colocando matéria viva para trabalhar como partes de nanomáquinas, ou combinando material biológico e não bioló- ETC Group 57 gico para criação de novos materiais com propriedades úteis, incluindo a capacidade de automontagem e autoconserto. Será que alguns desses subconjuntos da nova tecnologia são seguros e outros não? Serão alguns mais ficção do que ciência? Como essas tecnologias atômicas irão romper com o ambiente? Como afetarão a economia? DESCENDO 1: NANO A GRANEL – PR ODUÇÃO DE PRODUÇÃO NANOP AR TÍCUL AS NANOPAR ARTÍCUL TÍCULAS Tivemos a Idade da Pedra, a Idade do Bronze e a Idade do Plástico... O futuro é a idade do material projetado. Shuguang Zhang Diretor associado do Centro de Engenharia Biomédica do MIT.31 O Passo 1 é responsável pela maioria dos produtos associados com a tecnologia atômica hoje em dia. Envolve a produção de partículas em nanoescala (elementos puros, componentes simples e compostos para uso na produção a granel de sprays, pós e tintas). O Passo 1 também inclui as ferramentas necessárias para produção e manipulação de nanomateriais. A Veeco, uma empresa localizada em Nova York, é particularmente notável no campo das ferramentas e equipamentos. Após adquirir três fábricas de microscópio de força atômica e suas principais propriedades intelectuais, a Vecco domina o mercado global de microscópios de força atômica.32 É relatado que controla 89% do mercado global.33 Projeta-se um crescimento para o mercado de microscópios de força atômica de US$ 181 milhões para US$ 800 milhões até 2007.34 Estima-se que 140 companhias no mundo estejam produzindo nanopartículas hoje.35 O mercado mundial para nanopartículas está projetado para crescer 13% ao ano, excedendo US$ 58 Te c n o l o g i a a t ô m i c a 900 milhões em 2005.36 Hoje, as nanopartículas estão sendo usadas na fabricação de lentes para óculos a prova de riscos, tintas resistentes a rachaduras, tintas para paredes antigrafite, protetores solares transparentes, tecidos repelentes a manchas, janelas autolimpantes e revestimentos cerâmicos para células solares mais fortes. As nanopartículas podem contribuir com superfícies e sistemas mais fortes, mais leves, mais limpos e “mais inteligentes”. Na nanoescala, as propriedades das partículas podem mudar de maneira inusitada e imprevisível. Nanopartículas de óxido de zinco usadas em protetores solares, por exemplo, têm a mesma composição química e fórmula (ZnO) das partículas de óxido de zinco maiores – o creme branco que os salva-vidas têm usado nos seus narizes há décadas – mas o nano ZnO é transparente. Óxido de antimônio-estanho é outro exemplo. Quando nanopartículas de óxido de antimônio-estanho são misturadas num revestimento, elas se tornam resistentes a riscos e oferecem proteção transparente a radiação UV. De acordo com Richard Siegel do Rennselaer Polytechnic Institute, um dos líderes e criadores do Clinton White House’s National Nanotechnology Initiative, só a fabricação de nanopartículas já ocasionará uma transformação industrial que irá eclipsar a Revolução Industrial da Europa do final do século 18 e início do século 19. A visão exuberante de Siegel é ainda mais impressionante já que ele vê essa nova economia surgindo apenas da produção de nanomateriais, considerando a possibilidade de maquinário auto-replicante como ficção científica (ver Passo 3). MOLÉCUL AS MIL AGR OSAS: NANO TUBOS E MOLÉCULAS MILA GROSAS: NANOTUBOS BUCKYBALLS O Passo 1 também inclui a fabricação de moléculas de carbono puro, conhecidas como nanotubos e buckyballs. Os nanotubos ETC Group 59 e buckyballs pertencem à mesma família química chamada fulerenos. Mas quando as pessoas se referem aos fulerenos, elas normalmente querem dizer buckyballs. A descoberta de nanotubos e buckyballs é importante porque essas moléculas têm propriedades únicas, com grande utilização comercial. Nanotubos são 100 vezes mais fortes do que o aço e seis vezes mais leves; eles conduzem eletricidade melhor do que o cobre e podem também agir como semicondutores. Alguns prevêem que os transistores de carbono na nanoescala substituirão os transistores de silicone nos próximos dez anos. Antes que isso possa acontecer, a indústria terá de ter técnicas de produção de nanotubos em grande quantidade para que possa produzi-los em série e mais baratos. Em 1999, o custo dos buckyballs era por volta de US$ 600/grama. Apenas três anos mais tarde, o custo havia caído para aproximadamente US$ 30/grama. Os analistas da indústria prevêem que, com os rápidos avanços nos processos de produção, o preço dos buckyballs cairá para US$ 10/grama até o fim de 2002.37 Inovadores japoneses afirmam que derrubarão o preço dos nanotubos em 90% em um ano.38 O fabricante francês de raquetes de tênis Babolat já incorpora nanotubos nas suas raquetes ‘Nanotubos VS’, mas eles também poderiam ser usados para fortalecer e tornar mais leves todos os tipos de materiais, incluindo implantes sintéticos de ossos e articulações artificiais. Já que nanotubos são bons condutores de eletricidade, eles estão aumentando a esperança de diagnósticos mais rápidos e mais precisos no campo biomédico, e métodos mais eficientes de distribuição de medicamentos.39 Um químico da Universidade de Stanford, por exemplo, está trabalhando para desenvolver um sensor de glicose usando um único nanotubo de carbono, que poderia ser implantado em pacientes com diabetes.40 Ao se referir aos usos em potencial do carbono 60 Te c n o l o g i a a t ô m i c a em nanoescala na medicina, o Prêmio Nobel e professor da Universidade de Rice (Texas, EUA), Richard Smalley torna-se espirituoso: “Daqui a mil anos eu ficaria impressionado ao acordar de um sono criogênico e descobrir que não existia outra resposta a isso além dos [nano]tubos”.41 Devido as suas propriedades semicondutoras, os nanotubos poderão ser os blocos construtores de computadores menores e mais rápidos, e transistores de nanotubos têm superado os transistores de silicone.42 O que são nanotubos e Buckyballs? Buckyballs (fulereno) e nanotubos são moléculas constituídas apenas por átomos de carbono. Buckyballs são uma das três formas cristalinas do carbono: grafite e diamante são as outras duas formas. Buckyballs (abreviatura de Buckminsterfullerenes) são esferas perfeitas, feitas com 60 átomos de carbono arranjados como os pentágonos e hexágonos que constituem a superfície de uma bola de futebol. Receberam seu nome em homenagem a R. Buckminster Fuller, o inventor que promoveu o domo geodésico como a estrutura arquitetônica ideal. Quando as pessoas se referem a fulerenos, elas normalmente querem dizer buckyballs. Os nanotubos são membros da família química dos fulerenos, mas não são esféricos, é claro. Como seu nome sugere, os nanotubos são longos e finos, com formato de tubos. Podem ser ocos como canudos (conhecidos como de parede única) ou enrolados um dentro do outro como pôsteres enrolados num tubo postal (conhecidos como de várias paredes). Por que são impor tantes? importantes? Os nanotubos são saudados como o “material milagroso” da tecnologia atômica porque exibem características que os tornam ideais para uma variedade impressionante de utilizações, da cons- ETC Group 61 trução espacial e fabricação de automóveis a eletrônicos – incluindo transistores e células de combustível – a biosensores e distribuição de medicamentos. Nanotubos são 100 vezes mais fortes do que o aço e seis vezes mais leves; podem ter o tamanho de 1nm de diâmetro e comprimento de 100.000nm. Dependendo de como são configurados, os nanotubos são bons condutores de eletricidade e também podem funcionar como semicondutores para eletrônica molecular. Os nanotubos de carbono e Buckyballs ocorr em naturalmente? ocorrem Depende do que se quer dizer com “natural”. O carbono é um elemento abundante na terra, na comida que comemos e nos nossos corpos; também é abundante no espaço e é solto pelas estrelas que morrem. A estrela mais brilhante no céu noturno, conhecida como CW Leonis, é particularmente interessante para os pesquisadores do carbono porque está envolta na névoa de moléculas de carbono, algumas com um grande número de átomos de carbono. Em 1985, cientistas da Inglaterra e dos EUA, colaborando entre si, conseguiram reproduzir esse ambiente interestrelar em seus laboratórios. Eles descobriram buckyballs entre as moléculas de carbono que se formaram.43 Diferentemente dos buckyballs, não se conhece a existência natural de nanotubos, nem no ambiente terrestre nem no espaço. Os nanotubos foram descobertos em 1991 por Sumio Iijima, do Japão, enquanto ele fazia experimentos com um método de produção de buckyballs. Os cientistas agora podem fazer nanotubos e buckyballs à vontade e em grande quantidade. Como são fabricados os nanotubos e Buckyballs? Os dois tipos de moléculas de carbono se autoconstroem, ou seja, quando as condições são perfeitas, elas próprias formam 62 Te c n o l o g i a a t ô m i c a suas configurações. Existem vários métodos diferentes para fabricação de nanotubos e buckyballs. Quase todos os métodos começam com uma forma comum de carbono (geralmente grafite) e uma pequena quantidade de metal (usado como catalisador). Quando a grafite e o metal são aquecidos a temperaturas extremas (por volta de 1.200 graus Celsius, num método), o carbono se quebra em átomos individuais. Quando os átomos de carbono condensam, eles se configuram em tubos ou esferas. TRA TANDO DE NEGÓCIOS TRAT Num campo onde existem mais do que 12.000 citações por ano, ficamos espantados ao descobrir qualquer pesquisa anterior sobre os riscos no desenvolvimento de nanomateriais, modelos de tributação e estudos toxicológicos dedicados a nanomateriais sintéticos. Vicki Colvin Diretora do Centro de Nanotecnologia Biológica e Ambiental Nanotubos e buckyballs estão sendo fabricados em laboratórios no mundo todo. Legalmente não é possível patentear os nanotubos ou os buckyballs porque eles foram descobertos – não são invenções. Porém, “inovadores” estão correndo para afirmar seus direitos na corrida do nanoouro, criando patentes por métodos inusitados de produção de nanotubos e de buckyballs. Mais de 200 patentes envolvendo nanotubos de carbono foram pedidas ou emitidas em 2001; quase a metade dessas patentes cobre sua síntese e processamento.44 O mercado de 2004 para nanotubos está avaliado em US$ 430 milhões.45 Analistas da indústria prevêem que o mercado de nanotubos explodirá em bilhões de dólares assim que os métodos comerciais permitirem uma produção mais rápida e barata. Estima-se que 55 empresas estejam fazendo nanotubos de carbono, e no mínimo 20 empresas estão se ETC Group 63 preparando para a produção em escala comercial (centenas de toneladas anuais) de buckyballs.46 Rosseter Holdings Ltd. está produzindo nanotubos em Cyprus desde 1998.47 Duas companhias japonesas foram recém-lançadas para fabricá-los em grandes quantidades: Frontier Carbon Corporation (uma joint venture entre Mitsubishi Corp. e Mitsubishi Chemical Corp.) planeja produzir 40 toneladas de nanotubos no ano que vem; e Carbon Nanotech Research Institute busca uma produção anual de 120 toneladas.48 Em 2002, Nano Devices, Inc. sediada na Califórnia, começou a vender um forno “faça-você-mesmo” de nanocarbono – o “Easy Tube Nano Furnace” – por US$ 89.000.49 QUAIS SÃO OS RISCOS? Até recentemente, as nanopartículas eram amplamente aceitas como benéficas e totalmente benignas. Entretanto, em março de 2002, pesquisadores fizeram a impressionante revelação de que as nanopartículas estão aparecendo no fígado de animais de pesquisa, que podem entrar em células vivas, e talvez pegar carona em bactérias para entrar na corrente alimentar. Essas descobertas inesperadas têm sido mal relatadas e bastante ignoradas na grande mídia. Preocupações sobre a tecnologia atômica do Passo 1 foram inicialmente expressas por cientistas do Center for Biological and Environmental Nanotechnology (CBEN – Centro de Nanotecnologia Ambiental e Biológica) na Universidade de Rice, numa reunião da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, em Washington, DC.50 De acordo com Mark Wiesner, da Rice, os testes medindo os acúmulos de material nos fígados dos animais de laboratório demonstram que nanopartículas, mesmo as inorgânicas, se acumularão nos organismos: “Sabemos que nanomateriais foram recebidos pelas células. Isso dispara alarmes... Se bactérias podem carregá-los, então teremos uma 64 Te c n o l o g i a a t ô m i c a porta de entrada para nanomateriais na corrente alimentar”.51 Com mesmo alarme, Wiesner apontou a necessidade de examinar se as nanopartículas absorvidas pelas bactérias aumentam a habilidade de outros materiais, incluindo materiais tóxicos, de pegarem carona nas bactérias e de causarem danos. Wiesner perguntou: “Supondo que não consigamos controlar as nanopartículas da mesma maneira que controlamos os pós?”52 Será que a qualidade que torna as nanopartículas tão atraentes para o desenvolvimento de sistemas eficientes de distribuição de medicamentos – isto é, sua habilidade de facilmente entrar na corrente sanguínea e até mesmo de alvejar células individuais devido ao seu pequeno tamanho – será também a qualidade que as tornará perigosas para os humanos? Os pesquisadores da Universidade de Rice estão particularmente preocupados com o uso comercial dos nanotubos. Wiesner, que é professor de Engenharia Civil e Ambiental, pergunta: “Para onde essa coisa vai? Qual será sua interação com o ambiente? Serão uma coisa boa como o pão fatiado, ou igual ao asbesto?”53 Wiesner aponta que as companhias estão agora querendo usar nanotubos de carbono em pneus radiais. Pneus velhos e usados estão em toda parte, de quintais a aterros, no fundo dos lagos, na água subterrânea. Os nanotubos também? A comparação do Dr. Wiesner dos nanotubos de carbono com o asbesto não é apenas retórica. Os nanotubos de carbono parecem fibras de asbesto no seu formato: eles são longos com formato de agulha. De acordo com o Dr. Wiesner, os nanotubos de carbono não conseguem ser uma grande ameaça atualmente porque, no nosso ambiente, eles tendem a se agrupar, em vez de existirem como fibras isoladas (que tem o potencial de causar problemas respiratórios graves, assim como as fibras de asbesto). Entretanto, uma importante área de pesquisa é descobrir uma ETC Group 65 maneira de dissolver os nanotubos – na verdade, de desagrupálos – para que possam ser mais facilmente usados como fibras isoladas e soltas.54 Foram dadas duas patentes para métodos de dissolução de nanotubos em soluções orgânicas, no ano passado, para a Universidade de Kentucky (EUA).55 Poucos estudos foram feitos para se saber o que poderá acontecer se as fibras de nanotubos forem aspiradas ou se forem usadas na distribuição de medicamentos, diagnóstico de doenças ou como biosensores. Alguns defensores da indústria descartam as preocupações com a ameaça dos nanotubos de carbono para a saúde, como com os asbestos, apontando um estudo de 2001 conduzido na universidade de Varsóvia, Polônia. Os pesquisadores injetaram nanotubos nas traquéias das cobaias. Quatro semanas mais tarde, os pulmões das cobaias não mostravam inflamação mensurável, ou mudança na função. Os autores do estudo polonês chegaram a majestosa conclusão: “Assim, o trabalho com fuligem contendo nanotubos de carbono dificilmente está associado a qualquer risco para a saúde.”56 (Colocando-se o tabaco nos mesmos padrões, provavelmente seria declarado como uma atividade perfeitamente segura!). A imunologista Silvana Fiorito, trabalhando em Montpellier, na França, descobriu numa pesquisa preliminar que, quando uma partícula de 1 micrômetro de largura de carbono puro (na forma de grafite) é introduzida numa célula, a célula responde produzindo óxido nítrico, o que indica que o sistema imunológico está trabalhando e que o corpo está atacando a substância invasora.57 Quando uma nanopartícula da mesma substância – carbono puro – é acrescentada às células (na forma de nanotubos ou de buckyballs), elas falham em produzir resposta imunológica – recebem o carbono alienígena como se fosse um parente desaparecido há tempos. A habilidade de escorregar pelo sistema 66 Te c n o l o g i a a t ô m i c a imunológico pode ser desejável para a distribuição de medicamentos, mas o que acontecerá quando nanopartículas não convidadas continuarem aparecendo? Em outras palavras, uma vez que os nanotecnólogos descubram como distrair o porteiro, como você poderá ter certeza de que estará mantendo o povo do lado de fora? Apesar das recentes descobertas dos riscos potenciais relacionados à tecnologia atômica Passo 1, e apesar do fato de os governos ao redor do mundo estarem gastando bilhões de dólares para estimular nanonegócios em escala comercial, não existe um corpo regulador (nem planos para um) dedicado a fiscalizar essa nova tecnologia potente e poderosamente invasiva. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA, por exemplo, distribui não mais do que 10% dos seus fundos de pesquisa para “os benefícios ambientais e efeitos potencialmente danosos da nanotecnologia na sociedade.” Dado às enormes implicações para a saúde humana e ambiental, as conseqüências sociais de uma nova economia industrial precisam ser compreendidas – agora. AVALIAÇÃO DO GR UPO ET C GRUPO ETC Por trabalhar com blocos elementares de construção da vida – em vez da vida diretamente – a atual tecnologia atômica escapou do escrutínio social, político e ambiental. Agências reguladoras não tem até agora estabelecido políticas e protocolos considerando a segurança da tecnologia atômica Passo 1, que inclui nanopartículas em produtos que já estão no mercado, e novas formas do carbono na nanoescala. A esse ponto, sabemos quase nada sobre o impacto cumulativo em potencial das partículas da nanoescala feitas pelos homens, na saúde humana e no meio ambiente. Dadas as preocupações surgidas pela contaminação de seres vivos com nanopartículas, os governos deveriam declarar uma moratória imediata na produção comercial de novos materiais ETC Group 67 atômicos e lançar um processo global transparente para a avaliação das implicações socioeconômicas, de saúde e meio ambiente dessa tecnologia. DESCENDO 2: NANOF ABRICAÇÃO – CONSTR UINDO NANOFABRICAÇÃO CONSTRUINDO AP AR TIR DO ÁT OMO PAR ARTIR ÁTOMO Como vimos no Passo 1, os nanotécnicos já conseguiram fabricar nanopartículas, e aproveitar-se do fenômeno da automontagem para fazer nanotubos. Para passar da fabricação de partículas individuais com propriedades úteis (Passo 1) para estruturas úteis e complexas feitas de múltiplas moléculas (Passo 2) a chave é a automontagem. Automontagem é o processo de usar catalisadores e energia para, cuidadosamente controlar as reações químicas para alcançar espontaneamente os resultados desejados. Os cientistas têm observado a automontagem química há décadas, com resultados na microescala (e na escala béquer há mais tempo ainda); agora eles estão trabalhando em direção aos resultados na nanoescala. A meta do Passo 2 é manipular e agrupar partículas da nanoescala em construções supra-moleculares e em estruturas até maiores, com utilidades práticas. Isso é conhecido como nanofabricação. Envolve projetar blocos de construção moleculares que se juntam automaticamente, de maneiras previamente especificadas. É importante frisar que nanofabricação não é a construção de cadeiras, casas ou computadores através do auto-agrupamento molecular. O produto final do Passo 2, a nanofabricação, ainda está na esfera invisível – menor do que 100 nanômetros. Decifrar como construir estruturas que funcionem, a partir do átomo e da molécula, ainda está nos estágios iniciais. Os produtos da nanofabricação estão sendo desenvolvidos para uso em 68 Te c n o l o g i a a t ô m i c a circuitos eletrônicos, biosensores e novos polímeros que manipulam a luz em sistemas de comunicação óptica. O desejo de construir dispositivos eletrônicos menores, mais rápidos e mais baratos está levando a pesquisa a se mover do micro para o nano. Nas palavras dos químicos de Harvard, George Whitesides e J. Christopher Love: “O molde da microeletrônica está quebrado agora”.58 A corrida para descobrir como construir nanoestruturas de maneira mais rápida e mais barata já começou. Os pesquisadores estão explorando todos os métodos plausíveis, incluindo as técnicas top-down (de cima para baixo) e bottom-up (de baixo para cima). Várias formas de litografia (o método tradicional de fabricação de circuitos em microchips) estão sendo modificadas para produzir estruturas na escala do nanômetro – mas encolher o processo top-down é incômodo, vagaroso e caro. Como alternativa, os cientistas estão usando métodos bottom-up, que iniciam nos átomos e nas moléculas, e constroem nanoestruturas que funcionam. Os nanotubos poderiam se tornar os materiais ideais para construção de nanodispositivos – quando os pesquisadores descobrirem como controlar e manipular suas propriedades especiais. Daqui a alguns anos, espera-se que o uso de moléculas como elementos de circuitos seja uma realidade comercial, e bastante lucrativa. Empresas eletrônicas como a Motorola e a Samsung já estão testando protótipos de televisões de nanotubos (tela chata, alta definição). Se os transistores moleculares funcionarem, os nanotubos de carbono poderiam substituir o silicone como bloco construtor para computadores ultra-rápidos, desempenhando “magnitudes” que vão além do silicone.59 (Usando a microeletrônica atual, 42 milhões de transistores estão dentro do chip do “Pentium 4” da Intel. Em contrapartida, os nanocomputadores ETC Group 69 do futuro terão chips contendo bilhões de transistores moleculares.).60 AVALIAÇÃO DO GR UPO ET C GRUPO ETC Todos os riscos do Passo 1 servem para o Passo 2. Mas além disso, os produtos nanofabricados poderão ter usos biomédicos que colocarão os dispositivos da nanoescala em contato íntimo com o corpo humano. Os perigos são desconhecidos. DESCENDO 3 – MANUF ATURA MOLECUL AR – GOLIAS MANUFA MOLECULAR INVISÍVEL Mas não tenho medo de considerar a questão final de, se – no grande futuro – conseguiremos colocar os átomos da maneira que quisermos; os mesmos átomos, até o mínimo! Richard Feynman “There’s Plenty of Room at the Bottom”, 1959 61 Algumas pessoas acreditam que os cientistas, um dia, serão capazes de controlar o posicionamento atômico tão completa e precisamente, que qualquer objeto cuja composição atômica for conhecida (de balcões a edifícios) poderá ser agrupado a partir das suas partes primárias. A arte da construção átomo a átomo na macroescala é chamado manufatura molecular ou nanotecnologia molecular. A dificuldade está no direcionamento dos átomos para eles se agruparem na configuração desejada – e de fazêlo rápido o suficiente para ter o peru na mesa para alimentar os tataranetos. Um debate animado gira em torno de qual extensão a manufatura molecular será possível. Apesar dos Passos 1 e 2 serem realidade, o Passo 3 ainda está na fase conceitual. Enquanto muitos cientistas importantes asseguram que o Passo 3 nunca será atingido, existem outros que acreditam veementemente que será possível programar a matéria 70 Te c n o l o g i a a t ô m i c a com precisão molecular na macroescala, algum dia “no nosso tempo de vida e no tempo de vida dos nossos filhos”.62 Além de apenas incorporar nanopartículas em materiais convencionais para melhorar seu desempenho (Passo 1), alguns cientistas almejam construir sob encomenda, objetos de macrotamanho completamente originados de componentes da nanoescala, construindo de baixo para cima. Tais objetos poderão ter propriedades totalmente novas, nunca antes identificadas na natureza. Se um tijolo de cerâmica ou uma peça de metal, por exemplo, fossem feitos totalmente com nanopartículas, sua área de superfície aumentaria dramaticamente porque, quanto menor o objeto, maior proporção dos seus átomos estarão na superfície, ou perto dela.63 Apesar da composição química continuar a mesma, e apenas o tamanho das partes ter mudado, a área de superfície aumentada determina que o tijolo, ou a peça de metal nanoconstruídos podem ser mais duros, com menos facilidade de rachar, ou mais resistentes ao stresse (pressão, temperatura, luz etc). VISÕES DE CONSTR UÇÃO EM MASSA CONSTRUÇÃO Mas a visão real do Passo 3 – primeiramente elaborada por K. Eric Drexler, em Engines of Creation: The Coming Era of Nanotechnology (1990) – permite a fabricação de carros inteiros ou casas usando a construção átomo a átomo, um passo colossal que vai além da incorporação de componentes nanoestruturados em um carro ou casa construídos convencionalmente. Na visão de Drexler, um transistor de nanotubos para computador não seria o único elemento nanofabricado embutido num computador construído de outra maneira (Passo 2); em vez disso, a coisa inteira – tela, circuitos, teclado, disco rígido e caixa de papelão – seriam fabricados como uma unidade, átomo a átomo. Drexler ETC Group 71 chama o Passo 3 da tecnologia atômica de nanotecnologia molecular, e às vezes refere-se a ela como manufatura molecular ou nanotecnologia da fase da máquina. Mesmo sendo difícil de imaginar, qualquer objeto – computadores, foguetes, cadeiras, e assim por diante, de acordo com Drexler – poderia ser criado programando as moléculas certas para agruparem-se nas configurações corretas. Um cenário do Passo 3 teria um engenheiro da tecnologia atômica na frente de uma tela de computador ligada a um microscópio de força atômica “envenenado” (mais potente), programando módulos de nanorrobôs para se reconfigurarem para construir móveis para salas de estar, iniciando pelo átomo. Outro cenário do Passo 3 poderá ter um adolescente faminto entrando na Internet para comprar e fazer o download do projeto de um hamburger. Ele enfia uma folha de elementos parecida com plástico na nanocaixa da família e retira de lá um hamburger, pronto para ser comido. Será que esses cenários poderiam se tornar realidade? Como? AUT OMONT ADORES UTOMONT OMONTADORES Drexler prevê que o trabalho da construção átomo a átomo será desempenhado por robôs na nanoescala dirigidos por computador, chamados montadores – pequenos Henry Ford trabalhando em fábricas do tamanho de células. As fábricas conterão nanomaquinário montado em armações moleculares, com bandas transportadoras que levam as partes de máquina a máquina. Essas fábricas do tamanho de uma célula terão um jogo de braços montadores programáveis no lado de fora, que conseguem se reproduzir e se autoconsertar. Drexler acredita que estarão disponíveis nanomódulos relativamente uniformes e intercambiáveis, que podem ser transformados dependendo do que se 72 Te c n o l o g i a a t ô m i c a quer construir. Já que o mundo inteiro é construído a partir de no máximo cem diferentes blocos de construção (a tabela periódica) – e a maioria, tal como nossos corpos, necessita de apenas um punhado deles – o estilo de construção “IKEA” poderá chegar a um computador perto de você. (IKEA é uma rede sueca de lojas de móveis “monte-você-mesmo” que se espalhou pelo mundo). Apesar dos produtos finais poderem ser “macro”, o processo de construção seria “nano” e virtualmente invisível. POLEGARES COM OP INIÃO OPINIÃO Passos gigantes já estão sendo dados na direção dos robôs na nanoescala. Pesquisadores do Laboratório de Bioinstrumentação do MIT (Massachusetts Institute of Technology) desenvolveram centenas de robôs de três pernas, cada um do tamanho de um polegar. Os robôs são equipados com computadores a bordo, biosensores e STMs, e conseguem medir e montar estruturas na escala molecular. Os microrrobôs, com apenas 32mm de altura, (apelidados de nano walkers [nanoandadores] porque conseguem fazer mais de 4.000 nanomanobras por segundo) são feitos para responder a sinais infravermelhos que permitem que cada robô atue independentemente ou coletivamente em inumeráveis tarefas. As pequenas máquinas são capazes de executar 48 milhões de instruções por segundo. O MIT prevê que em breve haverá 100 microrrobôs trabalhando em tarefas separadas, porém relacionadas, numa câmara coberta de cromo, do tamanho de uma mesa de jogar cartas. A superfície de cromo fornece energia para os robôs, que receberão suas ordens de marcha de um computador principal no teto da caixa.64 Os cientistas do MIT antecipam que, num futuro próximo, o microexército terá poder para manipulação de moléculas individuais, e até mesmo de reagrupamento de átomos. Com capaci- ETC Group 73 dade de fazer 200.000 medições por segundo, as máquinas poderão ser inicialmente utilizadas para análise química e para ajudar no desenvolvimento de novos fármacos. Entretanto, não existe um limite óbvio para suas funções, que incluem a construção e o conserto de microrrobôs e a eventual construção de nanorrobôs ainda menores. SEX OA TÔMICO SEXO ATÔMICO Apesar de serem surpreendentes como são, os Nano Walkers não conseguem realizar aquela função que permitirá que o Passo 3 se torne a realidade que Drexler vislumbra: eles não conseguem procriar. Auto-replicação é a habilidade dos montadores de Drexler de fazerem cópias deles mesmos, bem como de configurarem átomos e moléculas em massa. A idéia de montadores auto-replicantes é o “ponto crucial” para a maioria dos químicos e físicos, porque acreditam que isso não poderá ser possível. Mas de que outra maneira a manufatura molecular poderia se tornar realidade? Os átomos são tão pequenos que grudá-los uns nos outros, um átomo por vez – ou mesmo uma molécula por vez, na velocidade de um agrupamento por segundo, por exemplo – levaria mais tempo do que a história do mundo para construir algo do tamanho da cabeça de um alfinete.65 Um único grama de carbono contém 50 sextilhões de átomos – agrupar apenas o número suficiente deles para encher um lápis de grafite, seria o trabalho de uma vida para o “Pai Tempo”.66 Mas se os montadores fossem criados com a capacidade de produzir cópias de si mesmos (chamados replicantes)) e se os montadores e replicantes pudessem cooperar e trabalhar em uníssono, num tipo de combinação entre linha de produção e mutirão na nanoescala, eles conseguiriam criar produtos na macroescala.67 Exércitos de nanorrobôs auto-replicantes conseguiriam construir tudo, de um 74 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Big Mac a um Mac Apple, ao Big Apple. Um batalhão de um trilhão de nanorrobôs ainda seria muito pequeno para ser visto pelo olho humano.68 ENTRANDO EM MINÚCIAS? A maioria dos cientistas considera a nanofabricação na macroescala como coisa de Hollywood, ou de filmes de ficção científica. Um debate sobre a possibilidade de que nanomáquinas auto-replicantes venham a existir um dia apareceu na edição de setembro de 2001 da Scientific American’s. Drexler reiterou sua visão de construção de objetos em larga escala com precisão molecular, usando montadores capazes de auto-replicação. Richard Smalley (ver Passo 1) categoricamente afastou essa possibilidade: “Robôs mecânicos e auto-replicantes simplesmente não são possíveis no nosso mundo. Para colocar cada átomo no seu lugar – a visão de alguns nanotécnicos – exigiria dedos mágicos. “Um nanorrobô assim nunca será mais do que o sonho de um futurista.”69 George Whitesides, que construiu nanoestruturas que funcionam, usando auto-montagem (ver Passo 2) também desconsidera a nanotecnologia molecular de Drexler. Ele escreveu: “Não sabemos como fazer máquinas auto-replicantes de qualquer tamanho ou tipo hoje em dia... nenhum senso de como projetar um sistema de máquinas auto-sustentável e autoreplicante.”70 (Drexler e seus colegas do Institute for Molecular Manufacturing [Instituto de Manufatura Molecular] compuseram refutações detalhadas às objeções de Whiteside e Smalley, a disposição na Internet).71 Apesar de Drexler achar que as nanomáquinas podem ser criadas usando o maquinário conhecido no nosso mundo mecânico, ele continuamente volta ao mundo biomolecular para buscar inspiração. Ele explica: “No crescimento, cura e renovação ETC Group 75 de tecidos, nosso corpo é um campo de construção. As células pegam material de construção do sistema sanguíneo. Maquinário molecular programado pelos genes celulares usa esses materiais para construir estruturas biológicas: para fazer ossos e colágeno, para construir novas células, para renovar a pele e para curar feridas... tudo no corpo humano é construído por máquinas moleculares. Essas máquinas moleculares [isto é, montadores] constroem moléculas e, inclusive, mais máquinas moleculares [i.e., replicantes].”72 Whitesides também reconhece o sucesso do nanomaquinário da natureza, mas mantém que “seria uma conquista assombrosa imitar a célula viva mais simples.”73 Seria a auto-replicação e a manufatura molecular em grande quantidade apenas sonhos irreais de engenheiros superconfiantes? Podemos ter certeza de que manipulações de matéria em larga escala estão no nosso futuro próximo, mesmo que não aconteçam da maneira exata que Drexler teoriza. Podem haver outras opções para conseguir produção em massa sem depender de linhas de montagem de trabalhadores mal pagos, ou de nanorrobôs auto-replicantes. A opção mais promissora poderá ser aproveitar e redirecionar as nanomáquinas que já existem na natureza (ver Passo 4) ou começar a pensar de dentro da caixa. NÃO EXIGE MONT AGEM? MONTA Um grupo de pesquisadores-estudantes do Instituto de Tecnologia da Geórgia fez experimentos com manufatura baseada no espaço, em que as partículas são colocadas dentro de caixas com gravidade zero e então sujeitas a certas freqüências de som.74 O som sozinho tem a habilidade de fazer levitar as partículas e movê-las em volta. Variando o tamanho da caixa e a freqüência do som, os pesquisadores conseguiram empurrar as partículas para que, sozinhas, formassem estruturas desejadas. O grupo de pes- 76 Te c n o l o g i a a t ô m i c a quisa chamou a técnica de modelagem acústica e chegaram ao ponto de conseguir formar superfícies curvas e cilindros. Até agora, o custo é proibitivo e a escala é de “laboratório” em vez de “industrial”, mas, de acordo com os pesquisadores, a manufatura baseada no som oferece um potencial enorme: manufatura em grande escala de partículas compostas e sem montadores! QUAIS SÃO OS RISCOS? Gray G oo Goo E se os nanorrobôs começarem a construir cadeiras sem parar? Os processos de auto-replicagem e montagem poderiam se descontrolar até o mundo ser aniquilado por nanorrobôs ou pelos seus produtos. Gray Goo é a destruição da vida, que poderia resultar da disseminação acidental e incontrolável de montadores auto-replicantes. Drexler dá um exemplo claro de quão rapidamente o estrago poderia crescer, iniciando com um replicador brincalhão. “Se o primeiro replicador pudesse montar uma cópia de si mesmo em mil segundos, os dois replicadores construiriam mais dois nos próximos mil segundos, os quatro construiriam mais quatro, e os oito, mais oito. No final de dez horas, não existiriam 36 novos replicadores, mas mais de 68 bilhões. Em menos de um dia eles pesariam uma tonelada; em menos de dois dias eles pesariam mais do que a terra, em mais quatro horas eles excederiam a massa do sol e de todos os planetas juntos.”75 Para evitar um apocalipse de Gray Goo, Drexler e seu Foresight Institute, uma organização não lucrativa cujo objetivo é preparar a sociedade para a era da nanotecnologia molecular (MNT), estabeleceram regras para o desenvolvimento de dispositivos MNT “seguros”. Foresight recomenda que os nanodispositivos sejam construídos de uma maneira que sejam dependentes de “uma única fonte de combustível artificial, ou de ‘vitaminas’ artificiais ETC Group 77 que não existam em qualquer ambiente natural.” Foresight também sugere que os cientistas programem datas “Terminators” (finais) nas suas criações atômicas76 e que atualizem regularmente seu software de proteção contra vírus. E espiões também Nanorrobôs “inteligentes”, invisíveis, auto-replicantes, com capacidade de receber ordens remotas e programas mutantes, ditam a morte dos dissidentes. Num mundo não dedicado à diversidade e à democracia, aqueles que estão no poder poderão acabar com toda a oposição. Estranho mundo no novvo Se os cientistas descobrirem como usar a Tabela Periódica dos Elementos da mesma maneira que um pintor usa a paleta de cores, a indústria vai conseguir manipular materiais de maneira impossível de controlar nas escalas macro ou micro.. Modelagem quântica, que permite aos pesquisadores usar computadores para prever como os materiais da nanoescala se comportarão de acordo com as regras da mecânica quântica, também ajudará no projeto de materiais que nunca antes foram feitos.77 Com um computador suficientemente poderoso, os cientistas conseguirão projetar um material átomo a átomo, instalando as qualidades desejadas com um toque no teclado. Mesmo a nanoconstrução sendo apresentada como “natural” comparada com a manufatura convencional, os processos de construção poderão deixar o mundo com produtos tão estranhos para a natureza como qualquer coisa que tenha sido arquitetada pelos engenheiros genéticos. Todos os riscos do Passo 1 e do Passo 2 continuam valendo para o Passo 3, com enormes riscos adicionais no caso de as nanomaquinas auto-replicantes se tornarem realidade. 78 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Curativ os atômicos urativos Além da produção de materiais na nanoescala como blocos de construção, também poderá ser possível usar a extração de elementos específicos ou de componentes para alterar o meio ambiente (Drexler imagina “desmontadores” que iriam trabalhar na direção oposta dos montadores, quebrando as substâncias átomo a átomo, para análise ou para extração de matéria-prima). Alguns sugerem que a tecnologia atômica é nossa única esperança para prevenção de catástrofes naturais resultantes de terremotos, mudanças climáticas ou colisões de asteróides. Para sobreviver a uma nuvem gigante de poeira vulcânica na atmosfera, por exemplo, soltaríamos “insetos” que consumiriam as partículas de poeira e que se replicariam aos trilhões.78 Outros especulam que se poderia semear os oceanos para melhor absorver a poluição – ou semear a estratosfera para tapar os buracos da camada de ozônio. As implicações de tais experimentos são desconhecidas, mas profundamente preocupantes. Em vez de enfrentar os problemas adjacentes ao consumo exagerado e ao desperdício, a indústria poderia enxergar na tecnologia atômica uma maneira de “remediar” uma solução para a Terra. Temos necessidade de uma solução band aid (que poderia, na verdade trazer mais preocupações), ou vamos enfrentar as realidades do mundo que construímos? Cópias de carbono A construção átomo a átomo torna teoricamente possível aos técnicos da tecnologia atômica construir vida. Afinal, as pessoas são 99% hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono (o adulto médio carrega consigo mais ou menos 16k de carbono). O restante 1% é feito de 15 outros elementos, variando do fósforo ao cobalto, ao potássio-40 radioativo. Uma única célula humana con- ETC Group 79 tém aproximadamente 450.000 átomos de cobalto e 135 milhões de átomos de zinco, por exemplo.79 “Vida” pode ser um pouco mais do que conseguir a receita certa. A tecnologia que consegue criar a vida também consegue – salvo por acidentes no projeto – acabar com a morte. Estamos longe de estar preparados para enfrentar as questões levantadas pelas tecnologias atômicas. Nanorr obôs com energia nuclear anorrobôs A questão da fonte de energia para as pequenas máquinas está se tornando terrivelmente importante. Enquanto alguns cientistas pesquisam a possibilidade de usar a luz do laser como fonte de combustível, outros estão propondo que as máquinas que funcionam em micronível deveriam ser movidas por baterias nucleares.80 Pesquisadores na Universidade de Wisconsin – Madison (EUA) receberam um financiamento de três anos de US$ 970.000 do Departamento de Defesa Estadunidense (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa – DARPA) para desenvolver a tecnologia.81 Trata-se do uso pacífico do átomo, com sentimentos? DESCENDO 4: ÁT OMO E E VA – NANO TECNOL OGIA ÁTOMO EV NANOTECNOL TECNOLOGIA BIÔNICA A pergunta agora não é se é possível produzir dispositivos híbridos vivos ou não vivos, mas qual é a melhor maneira de acelerar seu desenvolvimento. Carlos Montemagno 82 É aqui que os técnicos atômicos fundem os materiais biológicos com os não-biológicos, em produtos e processos biônicos. Essa incorporação poderia misturar as pessoas com robôs. Desde os anos de 1960, a ciência e a cultura popular chamam essas 80 Te c n o l o g i a a t ô m i c a criações de cyborg (abreviação de organismos cibernéticos). O físico teórico Stephen Hawking faz a triste observação de que as fusões com as máquinas poderão ser a única maneira de tornar a raça humana suficientemente inteligente para evitar que seja totalmente dominada por elas.83 Uma pessoa amputada usando uma perna protética, assim como pacientes cardíacos com marca-passos que funcionam com baterias implantados em seus peitos, poderiam ser chamados de cyborg de primeira geração, mas a tecnologia atômica permitirá misturas homem-máquina de uma maneira nunca vista antes. O Passo 4 resultará de manipulações na nanoescala que permitirão que nanomateriais não vivos e matéria viva tornem-se compatíveis e, em alguns casos, intercambiáveis. Na nanoescala, a diferença entre material biológico e não biológico é embaçada.84 As nanoesferas vivas e não vivas irão se misturar numa rua de duas vias. O material vivo será extraído e manipulado para desempenhar funções mecânicas e para permitir o desenvolvimento de materiais híbridos, que combinam material biológico e não biológico (Bionano I). Material biológico é abundante, barato, com propriedades úteis – tais como a auto-montagem – que os materiais não biológicos não têm. Usando diferentes tecnologias, material não vivo será usado dentro dos organismos vivos para desempenhar funções biológicas (Bionano II). PR OTEÍNAS F AZENDO HORA EXTRA ((B Bionano I) PRO FAZENDO • Os pesquisadores estão colocando nanomateriais derivados de células vivas para trabalhar a serviço (e no lugar de) das máquinas. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Rice tem feito experimentos com F-actin, uma proteína que parece uma fibra longa e fina e que fornece o apoio estrutural para a célula e controla seu formato e ETC Group 81 movimento.85 Proteínas como a F-actin, descritivamente chamadas de proteínas filamentosas, permitem o transporte de eletricidade através do seu comprimento. Os pesquisadores esperam que essas proteínas, um dia, possam ser usadas como biosensores – agindo como nanocabos condutores de eletricidade. Nanocabos de proteínas poderiam substituir os nanocabos de silicone, que têm sido usados como biosensores mas são mais caros e teriam um impacto ambiental maior do que os nanocabos de proteínas. • Um pesquisador do Instituto Politécnico de Rennselaer está colocando proteínas dentro de nanotubos de carbono, que serão então incorporados em materiais, com objetivo de tornar as proteínas autocuradoras. 86 Por exemplo, nanotubos cheios de proteínas poderão ser incorporados no plástico que faz a asa de um avião. Se a asa estraga e os nanotubos quebram, as proteínas que se soltarem poderão agir como um adesivo e consertar o estrago. • Uma máquina de funcionamento complexo, com mecanismo biológico, já foi construída por Carlo Montemagno na Universidade de Cornell (Montemagno está agora na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Departamento de Engenharia Mecânica e Aeroespacial). Montemagno e seu grupo de pesquisadores extraíram uma proteína de motor rotativo de uma célula de bactéria e a conectaram a um nanopropulsor – um cilindro metálico de 750nm de comprimento e 150nm de largura. O motor biomolecular era movido pela adenosina trifosfato (conhecida por ATP – a fonte de energia química das células) da bactéria e conseguia rodar o nanopropulsor numa velocidade média de oito voltas por segundo.87 O grupo de Montemagno anunciou no final de outubro de 2002 que, ao adicionar um 82 Te c n o l o g i a a t ô m i c a grupo químico ao motor da proteína, eles conseguiram ligar e desligar a nanomáquina.88 • Um químico da Universidade de Nova York está verificando se consegue tirar vantagem da habilidade de auto-montagem do DNA para criação de circuitos. A bioeletrônica poderá dar o caminho para computadores ultrapequenos e ultra-rápidos.89 • O lema da NanoFrames, uma empresa que se intitula de biotecnologia, sediada em Boston, é “utilizar a natureza para transformar a matéria”. Esse lema também faz uma descrição resumida de como funciona a Bionano I. NanoFrames, usa subunidades de proteína para agirem como blocos construtores básicos (derivadas das fibras da cauda de um vírus chamado bacteriophage T4). Essas subunidades são unidas umas às outras ou a outros materiais através da automontagem, para produção de estruturas maiores. Como explica a página na Internet da empresa (www.nanoframes.com), o design das subunidades determina a estrutura final, e não exige nenhuma manipulação adicional de moléculas individuais. A NanoFrame chama seu método de manufatura de carpintaria bioimitadora, rótulo esse bem figurativo porém insuficiente. Usar proteínas como blocos construtores, e tirar vantagem da sua habilidade de auto-montagem, é mais do que imitar a esfera biológica – é mais do que recorrer à biologia para buscar inspiração – é transformar a biologia numa força de trabalho industrial. CASAMENT OS BASEADOS NA COMP ATIBILIDADE – CASAMENTOS COMPA (Bionano II) Misturando as esferas vivas e não vivas na outra direção – isto é, incorporando matéria não viva em organismos vivos para desempe- ETC Group 83 nhar funções biológicas – é mais familiar para nós (marca-passos, articulações artificiais), mas apresenta certos desafios na nanoescala. Um dos principais desenvolvimentos na convergência das novas tecnologias é a integração da nanotecnologia e da biotecnologia, chamada agora de bionanotecnologia. Pesquisadores da Universidade de Rice chamaram essa desafiadora nanodimensão de interface seca/molhada – em que molhado refere-se ao sistema biológico e seco refere-se aos nanomateriais.90 Apenas um quinto (21%) do negócio da nanotecnologia dos EUA está focado na interface seca/ molhada, quando desenvolve produtos farmacêuticos na nanoescala, sistemas de distribuição de medicamentos e outros produtos relacionados ao cuidado com a saúde.91 Pelo fato de os nanomateriais serem na maioria das vezes estranhos à biologia, eles precisam ser manipulados para se tornarem compatíveis, para que se comportem corretamente no seu novo ambiente. NANOOLÍMP ICO ((B Bionano II) NANOOLÍMPICO O Pesquisador Robert Freitas está desenvolvendo uma célula vermelha do sangue artificial que é capaz de transportar 236 vezes mais oxigênio aos tecidos do que as células vermelhas naturais.92 A célula artificial, chamada respirocyte, mede um mícron de diâmetro e tem um nanocomputador a bordo, que pode ser programado de longe, via sinais acústicos externos. Freitas prevê que seu dispositivo será usado para tratar anemia e disfunções dos pulmões, mas também irá melhorar a performance humana em áreas de exigência física, do esporte e da guerra. Freitas afirma que a eficiência das células artificiais irá depender grandemente da sua “confiabilidade mecânica frente a desafios anormais do ambiente” e da sua biocompatibilidade. Entre os riscos, considerados raros mas reais, Freitas enumera superaquecimento, explosão e perda da integridade física. 84 Te c n o l o g i a a t ô m i c a DNA POR CONTR OLE REMO TO (B ionano II) CONTROLE REMOT (Bionano Pesquisadores do MIT, liderados pelo físico Joseph Jacobson e pelo engenheiro biomédico Shuguang Zhang desenvolveram uma maneira de controlar o comportamento de moléculas individuais no meio de uma multidão de moléculas.93 Eles anexaram nanopartículas de ouro (1,4nm de diâmetro) a certos filamentos de DNA. Quando o DNA coberto de ouro é exposto a um campo magnético, os filamentos se quebram; quando o campo magnético é removido, os filamentos se regeneram imediatamente: os pesquisadores desenvolveram efetivamente um interruptor, que permitirá a eles ligar e desligar os genes. A meta é acelerar o desenvolvimento de medicamentos, permitindo que pesquisadores farmacêuticos simulem os efeitos de alguma droga que também possa ligar e desligar os genes. O laboratório do MIT licenciou recentemente a tecnologia engeneOS, que pretende “evoluir da detecção e medição in vitro ao monitoramento e manipulação na escala molecular, em células e in vivo.”94 Em outras palavras, eles pretendem mover esses biodispositivos dos tubos de teste para dentro dos corpos vivos. TECNOL OGIAS SUP ER COLIDENTES TECNOLOGIAS SUPER ERCOLIDENTES Quando as tecnologias da nanoescala convergirem, a mudança na nossa vida será dramática e pessoal. Em dezembro de 2001, duas agências de governo dos EUA patrocinaram um workshop intitulado “Convergindo tecnologias para melhorar a performance humana”. A união entre a agência principal de ciências e a “voz dos negócios no governo” – a National Science Foundation (NSF – Fundação Nacional de Ciências) e o Departamento de Comércio (DOC) – resultou, sem surpresa, num plano de marketing para novas tecnologias. Os participantes do workshop – governo, meio acadêmico e setor privado – focaram ETC Group 85 nas maneiras que as tecnologias convergentes – especificamente nanotecnologia, biotecnologia, informática e ciências cognitivas (essa convergência é chamada de NBIC) – podem aumentar as capacidades físicas e cognitivas dos humanos, individualmente e coletivamente. Em outras palavras, a pergunta do dia, nas palavras de um participante, foi de que maneira as tecnologias convergentes podem “nos tornar mais saudáveis, mais ricos e mais inteligentes?”95 A resposta a essa pergunta tem o peso de 400 páginas. Com pouca análise crítica, e não muitas precauções, os benefícios da intensificação da performance são repetidos sempre de novo. NBIC (nano-bio-info-cogno) nos tornará mais inteligentes (ao nos permitir acessar e armazenar mais informação nos nossos cérebros, ou através do desenvolvimento de inteligência artificial), mais novos (parando ou revertendo o processo de envelhecimento), mais saudáveis e, é claro, mais magros (controlando o metabolismo). O relatório NSF/DOC recomenda uma “prioridade nacional na pesquisa e desenvolvimento das tecnologias convergentes, visando intensificação da performance humana”, incluindo o “Projeto Cognoma Humano”, um esforço multidisciplinar para compreender estrutura, funções e potencial de intensificação da mente humana. Alguns participantes do workshop insistiram para que as ciências sociais fossem incluídas na convergência nano-bio-infocogno-socio, mas foi compreendido que as ciências sociais operariam a serviço da NBIC.96 Gerold Yonas e Jessica Glicken Turnley, por exemplo, propõem a sociotecnologia, que eles prevêem como uma ciência profética de comportamento social.97 Através da “acumulação, manipulação e integração de dados das ciências comportamentais, sociais e da vida”, a sociotecnologia poderia identificar “as causas de uma variedade de eventos destruidores e nos permitir o uso de estratégias atenuadoras ou pre- 86 Te c n o l o g i a a t ô m i c a ventivas antes do acontecimento.”98 Os autores enxergam a sociotecnologia como uma arma poderosa na guerra contra o terrorismo. Em outro exemplo, James Canton, executivo-chefe de uma empresa de consultoria de alta tecnologia da Califórnia, reconhece que “culturas diferentes definirão a performance humana, com base nos seus valores sociais e políticos.” Com essa afirmação, ele declara então: “Nossa nação deve definir esses valores e mapear o futuro da performance humana.”99 Gregor Wolbring, bioquímico da Universidade de Calgary, e fundador do Centro Internacional de Bioética, Cultura e Deficiências (International Center for Bioethics, Culture and Disability), dá uma das raras perspectivas críticas contidas no relatório de 400 páginas. 100 Ele diz explicitamente que a performance humana não deveria ser vista apenas num contexto médico ou tecnológico. Ele chama para uma perspectiva mais ampla, com o objetivo de compreender que os conceitos de intensificação, progresso, deficiência e doença são construções sociais e, assim sendo, progresso tecnológico deveria ser examinado criticamente pela sua relevância e pertinência.101 A recomendação do relatório, para que seja desenvolvida iniciativa nacional de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias convergentes de intensificação da performance humana, promete benefícios numa escala verdadeiramente bíblica – “cegos enxergarão... coxos caminharão... casais inférteis terão filhos.”102 Talvez seu aspecto mais perturbador seja a promessa de um futuro no qual toda a diferença será apagada – diferenças de linguagem, inteligência, imaginação, idade, características físicas, quaisquer características que possam ser vistas como destruidoras. As implicações da erosão dos direitos humanos, incluindo os direitos daqueles que são não desenvolvidos – ou por escolha, ou por falta de escolha – e pela erosão da dissidência democrática, são ETC Group 87 aterradoras. Será que a perfeição física através das novas tecnologias se tornará uma imposição social? Será que o desempenho pessoal se tornará lei?103 O relatório do projeto do governo dos EUA é um panorama desconcertante do alcance, poder e capacidade de persuasão das tecnologias convergentes. O relatório é especialmente desalentador quanto ao incentivo descarado à tecnologia atômica pelo governo dos EUA, cientistas e representantes do setor privado, que enxergam na aceitação dos consumidores a chave para maior financiamento para o seu trabalho. Eles fazem referências repetidas sobre os produtos que irão mudar e melhorar a vida dos consumidores – variando do frívolo ao fantástico. Nos é dito que as tecnologias convergentes poderão oferecer “vida ativa e digna, até o segundo século de vida da pessoa”, e também computadores portáteis disfarçados como jóias brilhantes, cosméticos que mudam conforme o humor da pessoa, e roupas inteligentes, que se adaptam ao ambiente onde a pessoa está.104 Parece que os entusiastas da tecnologia atômica estão tentando desesperadamente não repetir a maior mancada da indústria da tecnologia atômica da década passada. Ao falhar em produzir produtos geneticamente modificados que tenham algum benefício para os consumidores, a indústria biotecnológica da agricultura sofre hoje com a falta de aceitação e confiança dos consumidores. No seu zelo em formar opinião pública e vencer a aceitação dos consumidores, o relatório do NSF/ DOC é uma prova do exercício perigoso nas relações públicas e no marketing, no avanço das tecnologias convergentes. QUAIS SÃO OS RISCOS? Novas matérias Quando o Passo 3 (manufatura molecular) – na forma que finalmente tomar – combinar com o Passo 4 (nanobiônica), a 88 Te c n o l o g i a a t ô m i c a tecnologia atômica irá criar híbridos vivos e não-vivos desconhecidos anteriormente na terra. As implicações ambientais dessas novas criações – algumas que podem ter a meia-vida do universo – são incompreensíveis. Viv o ivaa o ex-viv ex-vivo Nanomáquinas feitas pelos humanos movidas por materiais tirados de células vivas são realidade hoje. Não levará muito tempo e mais partes funcionais das células serão colocadas a serviço das nanomáquinas. Enquanto a mistura entre nanovivo e nano não vivo se torna mais comum, a idéia de nanomáquinas auto-replicantes torna-se cada vez menos um “sonho futurista”. Ao desconsiderar a possibilidade da manufatura molecular (ver Passo 3), George Whitesides afirmou que “seria uma conquista impressionante imitar a célula viva mais simples”. Mas não precisamos reinventar a roda antes que criaturas auto-replicantes feitas por humanos sejam possíveis; podemos apenas pegar emprestado. Whitesides acredita que a ameaça mais perigosa ao ambiente não é o Gray Goo, mas reações auto-catalizadoras, isto é, reações químicas que se aceleram e ocorrem sozinhas, sem o auxílio de um químico num laboratório.105 É aqui – onde nanomáquinas naturais fundem-se com nanomáquinas mecânicas – onde o aviso de Whitesides ressoa mais forte. Seis graus de humanidade Podem as sociedades que ainda não conseguiram entender porque existem soldados humanos prosseguir com a construção de cyborgs parcialmente humanos, semi-humanos ou super-humanos? Assassinos por natur natureeza Conforme o desenvolvimento da fusão entre células vivas e nanomáquinas feitas por humanos, também se desenvolverá a ETC Group 89 sofisticação dos armamentos químicos e biológicos. Esses híbridos biomecânicos serão mais invasivos, mais difíceis de detectar e impossíveis de serem combatidos. Quem vvai ai colorir seu mundo? Teoria do Grey Goo – Aprendiz de Sorcerer Robôs mecânicos invisíveis auto-replicantes multiplicam-se incontrolavelmente até sua fome por matéria-prima (elementos naturais) e energia consumir o mundo. Teoria do Blue/Grey Goo – admirável mundo novo Supermáquinas evoluem e administram sistemas humanos e ambientais complexos e (no final) tomam conta do mundo, ou caem nas mãos da elite corporativa que manda onipotentemente. Teoria do Green Goo – Os brinquedos somos nós Os cientistas combinam organismos biológicos e máquinas mecânicas para usos industriais. Os organismos continuam a fazer o que a natureza pretende – eles procriam – mas tornaram-se mais poderosos pelo impulso dado pela tecnologia humana: o bacteriófago estimulado torna-se polífago. INFORMAÇÃO HISTÓRICA A vida sem vigor 106 – proezas do barro Elementos, meu caro Watson: De acordo com algumas lendas, Deus soprou o barro moldado e Adão respirou. Moisés desceu a montanha carregando dois tabletes de barro, nos quais estava o código daquilo que alguns chamam de o Livro da Vida. Hoje em dia essas histórias parecem estar mais perto da realidade do que alguns esperavam. O barro poderá trazer inscrita a fórmula de fazer a vida... se não como viver a vida. Em 1953, Watson e Crick identificaram a dupla hélice do DNA, e Stanley Miller lançou a ciência numa exploração das origens da vida. Trabalhando na Universidade de Chicago, Miller tentou criar vida da matéria inanimada, cozinhando uma sopa primordial imitando os oceanos e o ambiente da Terra. Ele imitou tempestades de raios atirando volts elétricos na sopa. Em poucos dias 90 Te c n o l o g i a a t ô m i c a a sopa de Miller produziu mais de uma dúzia de aminoácidos, incluindo seis dos vinte blocos construtores principais das proteínas. O trabalho de Miller beneficiou-se de uma hipótese desenvolvida por Alexander Cairns-Smith, na qual o químico escocês concluiu que a vida surgiu de irregularidades, na nanoescala, no arranjo dos átomos de cristal dos minerais do barro. Isso criou a primeira informação genética, e a oportunidade para mutação, quando folhas de cristais com irregularidades parecidas foram colocadas sobre o barro original. Essa teoria da origem da vida ainda é corrente. Recentemente, pesquisadores do Instituto Weizmann de Israel usaram minerais do barro para desenvolver aminoácidos e uma substância que, no final, continha a estrutura química de uma proteína. Uma variação modesta no assunto barro foi arquitetada por um advogado de patentes alemão, Günter Wächtershäuser (seguindo uma tradição atômica iniciada por outro examinador de patentes, Albert Einstein). Nanopartículas de pirita de ferro – formadas por componentes de ferro e enxofre – transmitiram a energia necessária para criar macromoléculas para organismos vivos. Graças ao trabalho de Cairns-Smith, Miller e Wächtershäuser, muitos cientistas agora acreditam que será possível construir vida, via construção átomo a átomo de matéria inorgânica. Mais ainda, vida poderá surgir não somente do carbono, mas também de uma variedade de elementos ou compostos, que incluem pirita de ferro (o ouro dos tolos). No início da sua tese sobre os minerais do barro, Cairns-Smith cita Sherlock Holmes matutando sobre as origens da vida... “Estranho, Watson [e Crick?] – muito estranho.”107 AVALIÇÃO DO GR UPO ET C GRUPO ETC Para aqueles que não aceitam o risco do Gray Goo de Drexler, ainda existe a questão desanimadora de um novo mundo cinza, colocado por máquinas superinteligentes, vigilância sem limites, e uma elite governante que se torna “O Grande Irmão Cyborg” de todos nós. O poder da nano+info+cogno é exponencial e é a principal ameaça à democracia e à dissidência. Mas ainda existe outra preocupação. Talvez não é o Grey Goo ETC Group 91 que tenhamos de temer, mas o Green Goo. Em vez de tentar manufaturar maquinário auto-replicante que imita a autoreplicação de materiais vivos, é mais provável assumir o controle de materiais vivos e usá-los para imitar as máquinas. Isso já está acontecendo no nível dos microorganismos, mas também poderá incluir formas maiores de vida. Por exemplo, os militares estão descobrindo que a modificação de insetos com objetivos militares ou industriais poderia ser uma tarefa muito mais simples do que criar máquinas mecânicas voadoras de tamanho parecido. No final das contas, será que a revolução do Green Goo – controlar a vida com objetivos industriais – será o maior risco? NO TAS NOT 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 Gareth Cook, “No Assembly Required for These Tiny Machines”, Boston Globe, 16 de outubro de 2001. Valerie Thompson, “Vecco came, saw, acquired majority of AFM market”, Small Times, 8 de outubro de 2002. disponível na Internet: www.smalltimes.com De acordo com Scott Mize, “Near-Term Commercial Opportunities in Nanotechnology”, comentários feitos durante uma apresentacao na Foresight Conference, 10 de outubro de 2002. Ib. Ib. Business Wire Inc., “Altair Nanotechnologies Awarded Patent for its Nano-sized Titanium Dioxide”, 4 de setembro de 2002. A estimativa é baseada numa pesquisa de mercado da Business Communications Co.,Inc. Forbes/Wolfe Nanotech 101 Report, 2002, p. 3. Publicado em conjunto pela Forbes Inc.& Angstrom LLC, www.forbesnanotech.com De acordo com Scott Mize, “Near-term Commercial Opportunities in Nanotechnology”. Comentários feitos durante palestra na Foresight Conference, 10 de outubro de 2002. Alexandra Stickeman, “Nanobiotech Makes the Diagnosis”, Technology Review, maio/ 2002, pp. 60-66. Ib., p. 63. Candace Stuart, “Nanotube Industry Means Business”, Small Times”, julho/agosto de 2002, vol. 2, nº 4, p. 32. David Rothman, “The Nanotube Computer”, Technology Review”,março/2002, pp. 36-45. Jonh EmsleyNature’s Building Blocks: An A-Z Guide to the Elements, Oxford University Press, 2001, p. 93. 92 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Ray H. Baughman, Anvar A. Zakhidov, Walt A. de Heer, “Carbon Nanotubes: The Route Toward Applications,”Science”2 de agosto de 2002, vol. 297, pp. 787-792 (disponível por assinatura: www.sciencemag.org). Candace Stuart, “Nanotube Industry Means Business”, p. 36. CMP Científica, “Nanotechnology Opportunity Report”, março/2002; Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep Numbers Real, “Small Times”, 11 de março de 2002; disponível na Internet: www.smalltimes.com/ document_display.cfm?document_id=323 Candace Stuart, “Nanotube Industry Means Business”, p. 36. Miwako Waga, “Japonese Companies Getting Ready to Churn Our Nanotubes by the Ton”, Small Times, 13 de março de 2002; pode ser encontrado na Internet: www.smalltimes.com/document_display.cfm?document_id3258 Candace Stuart, “Nanotube Industry Means Business”, p. 36. Cientistas da Rice University fizeram sua própria conferência sobre o assunto em dezembro de 2001, com o título “Nanotechnology and the Environment: An Examination of the Potential Benefits and Perils of an Emerging Technology” (Nanotecnologia e Meio Ambiente: um exame dos benefícios e perigos em potencial da tecnologia emergente). Dough Brown, “Nano Litterbugs? Experts See Potential Pollution Problem”, Small Times, 15 de março de 2002; pode ser encontrado na Internet: www.smalltimes.com Bárbara Karn, citada em artigo de Dough Brown, “US Regulators want to know whether nanotech can pollute.” Small Times, 8 de março de 2002; disponível na Internet: www.smalltimes.com Dr. Mark Wiesner, citado em Doug Brown, “Nano Litterbugs? Experts vêem problemas de poluição em potencial”. Comunicação pessoal com Dr. Mark Wiesner, 18 de junho de 2002. Patentes estadunidenses de nº 6.368.569, emitida em 9 de abril 2002, e de nº 6.331.262, emitida em 18 de dezembro de 2001. Andrzej Huczko et al., Fullerene Nanotubes and Carbon Nanostructures (anteriormente Fullerene Science and Technology, vol. 9 (2), 2001, pp. 251-254. Jéssica Gorman, “Taming High Tech Particles: Cautios steps in the nanotech future,” Science News Online, 30 de março de 2002; disponível na Internet: www.sciencenews.org/20020330/bob8.asp George Whitesides e J. Christopher Love, “The Art of Building Small,” Scientific American, de setembro de 2001, p. 47. Charles Lieber, citado pod David Rotman, “The Nanotube Computer”, Technology Review, março de 2002, p. 38. David Rotman, “The Nanotube Computer”, p. 38. Pode ser encontrado na Internet: www.zyvex.com/nanotech/feynman.html K. Eric Drexler et al., “Many Future Nanomachines: A Rebuttal to Whiteside’s Assertion that Mechanical Molecular Assemblers Are Not Workable and Not a Concern”, Institute for Molecular Manifacturing, 2001; disponível na Internet: www.imm.org/SciAmDebate2/whitesides.html ETC Group 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 93 Anônimo, “Namnotechnology: Shaping the World Atom by Atom”, pp. 5-6. Disponível na Internet: itri.Loyola.edu/nano/IWGN.Public.Brochure/ David Cameron, “Walking Small”, Technology Review, 1º de março de 2002; disponível na Internet: www.technologyreview.com . Ver tambem Sylvain Martel et al., “Development of a Miniature Three Legged Bio-Instrumented Autonomous Robot”; disponivel na Internet: bioinstrumentation.mit.edu/fpga/NanoWalkerHangzhou2000.pdf K. Eric Drexler, Unbounding the Future: The Nanotechnology Revolution,Quill William Morrow, 1991, p. 98. MichaelGross, Travels to the Nanoworld: Miniature Machinery in Nature and Technology, New York and London: Plenum Trade, 1999, p. 207. Na visão de Drexler, a diferença entre um sistema de montagem e um replicante dependerá totalmente da programação do montador. Kevin Bonsor, “How Nanotechnology will work,” www.howstuffworks.com/ Nanotechnology1.htm Richard E. Smalley, “Of Chemistry, Love and Nanobots,”Scientific American, setembro/2001, p. 77. George Whitesides, “The Once and Future Nanomachine,”Scientific American, setembro/2001, p. 81. Esse texto está na Internet: www.imm.org/SciAmDebate2/smalley.html e www.imm.org/SciAmDebate2/whitesides.html K.Eric Drexler, Unbounding the Future , p. 200. G. Whitesides, “The Once and Future Nanomachine”, p. 83. Bennet Daviss, “Out of Thin Air”, New Scientist, vol. 171, nº 2.306, 1º de setembro de 2001, p. 32. Ver também Georgia Tech Sound as a New Tool for Space Construction”, 4 de maio de 2001, na Internet: www.gatech.edu/news-room/archive/ news_releases/acoustic.html K. Eric Drexler, Engines of Creation: The Coming Era of Nanotechnology, publicado originalmente por Anchor Books, 1986; disponível na Internet: www.foresight.org As regras do Instituto Foresight para o Desenvolvimento da Nanotecnologia estão na Internet: www.foresight.org/guidelines/current.html Peter Fairley, “Nanotech by the Numbers”, Technology Review, setembro/2002, pp. 47-52. Douglas Mulhal, Our Molecular Future,Prometheus Books, 2002, p. 225. Adrian Barry, ed, “The Explosions Within Us”, The Book of Scientific Anecdotes, Prometheus Books, 1993, pp. 208-209. Mike Martin, “Lasers Power Nanomotors in Harvard-Weizmann Study”, 28 de maio de 2002. Disponível na Internet: www.smalltimes.com/ document_display.cfm?document_id==3849 University of Wisconsin-Madison, Episode, Department of Engineering Physics Newsletter, outono/inverno de 2201-02, www.engr.wisc.edu/ep/newsletter/ 200102fallwinter/batteries.html Carlos Montemagno, “Nanomachines: A Roadmap for realizing the vision”, Journal of Nanoparticle Research 3, 2001, p. 3. 94 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Ver por exemplo a conferência pública de Hawking, “Life in the Universe”; disponível na Internet: www.hawking.org.uk/lectures/life.html Ver Alexandra Strikeman, “Nano Biomaterials: New Combinations Provide the Best of Both Worlds,”p. 35. www.ruf.rice.edu/cben/Protein Nanowires.shtml Alexandra Strikeman, “Nano Biomaterials: New Combinations Provide the Best of Both Worlds”, p. 35. George M. Whitesides e J. Christopher Love, “The Art of Building Small”, p. 47. O artigo da Scientific American afirmou incorretamente que o propulsor girava oito voltas por minuto. Ver Montemagno et alii, “Powering an Inorganic Nanodevice with a Biomolecular Motor”, Science, vol. 290, 24 de novembro de 2000, p. 155557; pode ser encontrado na Internet: www.sciencemag.org Phillip Ball, “Switch Turns microscopic motor on and off ”, Nature, on-line, 30 de outubro de 2002; disponivel na Internet: www.nature.com Alexandra Strikeman, “Nano Biomaterials: New Combinations Provide the Best of Both Worlds”, p. 35. Ver site na Internet do CBEN da Rice: www.ruf.rice.edu/~cben/WetNano.shtml The Nanobusiness Alliance, “2001 Business of Nanotechnology Survey”, p. 12. Robert A. Freitas, “A Mechanical Artificial Red Cell: Exploratory Design in Medical Nanotechnology”; disponível na Internet: www. Foresight.org/Nanomedicine/ Respirocytes.html Alexandra Strikeman, “Nanobiotech makes the diagnosis”, p. 66. Endereço na Internet da engeneOS, www.engeneos.com/comfocus/index.asp Gerold Yonas, citado em Jim Sporer, “NBICS (Nano-Bio-Info-Cogno-Socio) Convergence to Improve Human Performance: Opportunities and Challenges”, p. 90. o relatório está disponível numa versão resumida na Internet: www.itri.loyola.edu/ ConvergingTechnologies Ver, por exemplo, a contribuição de Sherry Turkle ao relatório NSF-DOC, “Sociable Technologies: Enhancing Human Performance when the computer is not a tool but a companion”, pp. 131-141. Turkle argumenta que é essencial a compreensão da psicologia humana para o desenvolvimento de máquinas que serão aceitas num nível social. Ela argumenta que, além disso, “tecnologias sociais” nos darão relacionamentos mais satisfatórios com as nossas máquinas e também poderão vitalizar nossos relacionamentos uns com os outros, porque, “para construirmos objetos sociáveis melhores, teremos aprendido mais sobre o que nos torna sociais uns com os outros (p. 139).” Gerold Yonas trabalha no Sandia National Laboratories, operado pelo contratante da indústria de defesa, Lockheed Martin, com contrato do Departamento de Energia dos EUA. O Sandia desenvolve tecnologias emergentes para promoção da segurança nacional. Jessica Glicken Turnley é antropóloga e líder do Galisteo Glicken Group Inc. Jessica Glicken Turnley e Gerold Yonas, “Socio-Tech... The Predictive Science of Societal Behavior,” Converging Technologies for Improving Human Performance, junho/2002, p. 140. ETC Group 99 100 101 102 103 104 105 106 107 95 James Canton, Institute for Global Futures, “The impact of Convergent Technologies and the Future of Business and the Economy”, Converging Technologies for Improving Human Performance, p. 68. Canton é executivo-chefe do Institute for Global Futures. Wolbring é membro da diretoria do Grupo ETC. Gregor Wolbring, “Science and Technology and the Triple D (disease, disability and defect)”, Converging Technologies for Improving HumanPerformance, pp. 206-216. James Canton, “The Impact of Convergent Technologies and the Future of Business and the Economy,” Converging Technologies for Improving Human Performance, p. 68. De acordo com Gregor Wolbring, a definição de deficiência já está mudando. Leis recentes na Suprema Corte dos EUA, por exemplo, afirmam que o Ato pelos Estadunidenses com Deficiências (ADA) não cobre pessoas portadoras de deficiências corrigíveis. Isso quer dizer que quando existirem “adaptações”, as deficiências precisam ser corrigidas e a proteção dos direitos humanos através das leis como a ADA não serão mais necessárias. Ver como exemplo: Sutton v. United Airlines (130 F.3d 893, 119 S. Ct. 2139), Albertsons Inc. v. Kirkingburg (143 F.3d 1228, 119 S.Ct. 2162), e Murphy v. United Parcel (141 F.3d 1185, 119 S. Ct. 1331). Mike Roço e W.S. Bainbridge, “Overview: Converging Technologies for Improving Human Performance: Nanotechnology, Biotechnology, Information Technology and Cognitive Science (NBIC),” Converging Technologies for Improving Human Performance, p. 18. George Whitesides, “The Once and Future Nanomachine”, p. 83. Informação para este livro foi tirada de Michael Gross, Life on the Edge – Amazing Creatures Thriving in Extreme Environments, Perseus Publishing, Cambridge, 1998, pp. 124-8, e de Adrian Barry, ed., The Book of Scientific Anedoctes, Prometheus, Amherst, New York, 1993, pp. 208-9. Michael Gross, Life on the Edge, pp. 124-128. PARTE III VOCÊ SABE, AS COISAS SERÃO REALMENTE DIFERENTES!... NÃO, NÃO, EU QUERO DIZER REALMENTE DIFERENTES! MARK MILLER PARA K. ERIK DREXLER MEADOS DOS ANOS DE 1980108 AS TECNOLOGIAS ATÔMICAS FUNCIONARÃO? QUATRO TESTES PARA UMA NOVA TECNOLOGIA Não foi apenas a menção da nanotecnologia em filmes recentes de Hollywood (Homem Aranha e Minority Report) que nos fizeram sentar e prestar atenção. O Grupo ETC percebeu que era hora de levar as tecnologias da nanoescala a sério quando comparou a onda de empolgação que estava acontecendo com as seguintes variáveis: 1. o número de citações registradas na literatura científica; 2. o número de patentes nanorrelacionadas que estão sendo registradas; 3. a quantidade de dinheiro investida em pesquisa básica e 4. o âmbito e a reputação das instituições públicas e privadas que estão assumindo a pesquisa. É necessário um grande volume para que uma ciência se torne uma tecnologia viável no mercado. Aqui estão os detalhes... OLHE Q UEM ESTÁ F AL ANDO 1: NANONERDS – AS QUEM FAL ALANDO CIT AÇÕES CIENTÍFICAS CITAÇÕES Um banco de dados de citações fornecido pela ISI Citation Index relaciona todas as referências de palavras específicas em publicações científicas em inglês. Em 1987, a literatura científica 100 Te c n o l o g i a a t ô m i c a incluiu aproximadamente 200 nanorreferências. No final de 2001, existiam mais ou menos 7.700 nanocitações no ano. Nos primeiros seis meses de 2002, existiam mais de 6.000 nanocitações.109 Com igual importância, as referências à nanotecnologia foram além da imprensa científica convencional para a mídia popular de ciências e negócios. Em setembro de 2001, por exemplo, a Scientific American’s dedicou toda a sua edição à nanotecnologia. Em dezembro de 2001, Chemical and Engineering News também colocou a nanotecnologia como reportagem de capa. USA Today, a revista People dos jornais diários, tem agora um repórter da nanotecnologia. Cada edição da Technology Review dá destaque a uma descoberta da nanociência. Com regularidade crescente, a mídia de negócios está falando sobre a nano, e é comum existirem reportagens destacadas com referências à nanotecnologia. Existe claramente uma massa crítica de pensamento e pesquisa científicos a caminho. Nos últimos anos, vários Prêmios Nobel foram para cientistas cujo trabalho está diretamente relacionado às tecnologias atômicas. VEJA Q UEM ESTÁ P ATENTEANDO 2: QUEM PA NANOMILIONÁRIOS E NANO APR OVEIT ADORES – NANOAPR APRO VEITADORES corporações multinacionais e empr esas nanoiniciadas empresas A nanotecnologia é a fronteira final dos construtores. Richard Smalley, 1996 Prêmio Nobel de Química 110 Nos anos de 1980, existiam 60 patentes com referência a nano nas suas solicitações. No final de 2001, aproximadamente 445 pedidos haviam sido aceitos durante o ano, e espera-se que ETC Group 101 o número de patentes nanorrelacionadas exceda esse número até o final de 2002.111 Considerando que a indústria biotecnológica precisou superar várias proibições legislativas (por exemplo, que material vivo não podia ser patenteado) para assegurar a propriedade intelectual sobre organismos e seus componentes, os técnicos atômicos enfrentam bem menos restrições, dando aos magnatas da matéria uma vantagem substancial sobre os engenheiros genéticos. Não é apenas o número de patentes, mas quem está fazendo as solicitações. Fazem parte da lista empresas que aparecem no “Quem é Quem” dos 500 da revista Fortune. Os campus universitários mais prestigiados do mundo também estão envolvidos. As empresas iniciando com a nano não estão sozinhas no mercado; os grandes gigantes industriais já estão desenvolvendo as perícias da tecnologia atômica internamente – não se detendo como fizeram quando a biotecnologia apareceu inicialmente no horizonte. De forma interessante, mas não surpreendente, o exército e a marinha dos EUA estão entre os solicitantes mais agressivos. OLHE Q UEM ESTÁ P AGANDO 3: NANOCORPOS E QUEM PA NANO AMIGOS – P AGADORES DE IMPOST OS E IMPOSTOS NANOAMIGOS PA PESQ UISADORES DAS CIÊNCIAS PÚBLICAS ESQUISADORES Nanotecnologia é a maneira de controlar engenhosamente a construção de estruturas grandes e pequenas, com propriedades complicadas; é a maneira do futuro, é a maneira da construção precisa e controlada, com eventuais benefícios ambientais incluídos no design. Roald Hoffman, 1981 Prêmio Nobel de Química112 Os pioneiros nas novas tecnologias consideram-se universalmente ignorados e não valorizados. As pequenas empresas 102 Te c n o l o g i a a t ô m i c a especializadas na biotecnologia nos anos de 1970 reclamavam amargamente do desinteresse do mercado de capital de risco. Da mesma forma, os iniciantes na tecnologia atômica. Mesmo assim, o investimento em dinheiro na pesquisa básica e em novos produtos é impressionante. Em 2001, o gasto mundial nos fundamentos dessa indústria (corporativa e governamental) foi de aproximadamente US$ 4 bilhões.113 Uma explosão nos gastos com pesquisa básica durante a recessão é uma prova do potencial da tecnologia. Acompanhando o modelo da biotecnologia, a tecnologia atômica também se apóia nos pagadores de impostos (nanocorpos) e na ciência pública (nanoamigos). E, como sempre, os lucros vão para a elite dos empreendedores acadêmicos e para os gigantes industriais, que, no final, absorvem os iniciantes mais promissores. O gasto em pesquisa básica na nanociência pelos governos está desafiando as leis econômicas da gravidade. Mesmo enquanto a economia mundial está entrando em recessão, o Japão e os EUA estão correndo ombro a ombro para gastarem, um mais do que o outro, na pesquisa patrocinada pela publicidade. A União Européia está atrás, mas determinada a emparelhar. Os nanocientistas nos EUA são descritos como volúveis em relação ao comprometimento federal com as nanotecnologias.114 O gasto total do governo dos EUA totalizou US$ 463 milhões em 2001; irá alcançar US$ 600 milhões em 2002; e US$ 710 milhões em 2003.115 Em 2002, o gasto do governo japonês com nanotecnologia passou os EUA; e a União Européia segue de perto, em terceiro lugar. Os gastos mundiais governamentais em 2001 excederam US$ 1 bilhão e mais do que duplicaram para US$ 2,5 bilhões em 2002.116 Além dos governos, um indicador-chave do potencial comercial está no interesse mostrado pelos capitalistas do investimento de risco. O investimento no capital de risco dos EUA cresceu de ETC Group 103 modestos US$ 100 milhões por ano, em 1999, para US$ 780 milhões em 2001, com uma “alta” para US$ 1,2 bilhões em 2003.117 Essa é uma estimativa da indústria pós 11 de setembro. Além dos governos e fundos de capital de risco, a terceira fonte de dinheiro para pesquisa vem das atividades “internas” de empresas multinacionais. Empresas tais como a Xerox, Toyota, DuPont, Siemens AG, General Eletric, BASF e Hewlett-Packard parecem estar investindo pesadamente na nanotecnologia, mas são relutantes em revelar os valores dos gastos. Segundo alguns cálculos, parece que os Fortune 500 estão superando os gastos combinados do governo e do capital de risco. Será que US$ 4 bilhões gastos mundialmente com pesquisa e desenvolvimento são suficientes para gerar uma nova revolução industrial? O exército dos EUA, em comparação, gasta aproximadamente US$ 1,2 bilhões por ano para desenvolver veículos aéreos não tripulados (UAVs). Mas UAVs estão bem além da fase inicial de pesquisa, e já participaram de ação intensa no Afeganistão. A tecnologia atômica está hoje onde a biotecnologia estava no final dos anos de 1970, e onde os semicondutores estavam no final dos anos de 1960. Mesmo contando com a inflação ocorrida nessas décadas, US$ 4 bilhões por ano em pesquisa básica é impressionante. OLHE O Q UE JÁ ESTÁ A CONTECENDO 4: QUE ACONTECENDO NANODÓL ARES – DA P ESQ UISA À RECEIT A NANODÓLARES PESQ ESQUISA RECEITA O quarto indicador de que a tecnologia atômica é real é que ela está obviamente fazendo progresso e já está fazendo produtos. Em total contraste com os dias iniciais da biotecnologia (e até mesmo hoje), a tecnologia atômica já tem produtos no mercado e praticamente metade dos nanoempreendedores estão vendendo seus produtos. De acordo com a CMP Científica, exis- 104 Te c n o l o g i a a t ô m i c a tem aproximadamente 500 empresas de nanotecnologia distribuídas de maneira regular pela América do Norte, Ásia e Europa. Pouco acima de 10% dessas empresas estão produzindo nanotubos e fibras; e mais ou menos 1/3 delas estão vendendo as ferramentas (ex.: microscópios de força atômica) que tornarão possível o desenvolvimento da tecnologia.118 Fontes da indústria calculam que as tecnologias pequenas (incluindo sistemas mecânicos microelétricos [MEMs]) nos EUA já estejam vendendo aproximadamente US$ 45,5 bilhões em bens e serviços e que, em 2005, essa receita deva atingir US$ 225,5 bilhões.119 Para mais ou menos 2010, a US National Science Foundation prevê vendas anuais de US$ 340 bilhões em materiais e processos nanoestruturados; US$ 600 bilhões anuais em receitas com eletrônicos e informática; e vendas de aproximadamente US$ 180 bilhões em aplicações farmacêuticas em 2015120, com a metade da produção de farmacêuticos dependente da nanotecnologia. Espera-se que as vendas anuais relacionadas à nanotecnologia excedam a US$ 1 trilhão em 2015. Nesse ponto, as tecnologias atômicas serão fator dominante nos setores de eletrônica (de computadores a telecomunicações), fármacos, energia e fabricação de materiais. Em 1995 a revista Wired perguntou aos principais cientistas dos EUA sua opinião sobre o progresso da tecnologia atômica nos próximos anos.121 Apesar das interpretações serem variadas, parece que a tecnologia está, até agora, excedendo as expectativas. Em 2000, mais de duas dúzias de patentes estadunidenses foram emitidas, relacionadas a montadores moleculares por exemplo; e muitos pesquisadores agora acreditam que a reparação de células através da tecnologia atômica está próxima. Mas, em uma categoria, os desenvolvimentos da nanociência estão ficando para trás: a maioria dos experts consultados acreditou que, em 2000, ETC Group 105 existiriam leis regulando a nanotecnologia nos EUA – eles estavam errados. Empresas principiantes encontraram custos baixos e poucas barreiras para a introdução comercial dos nanopós e materiais. Igualmente, o potencial para ferramentas da nanoescala e peças eletrônicas é tão grande, que nenhum setor industrial pode ignorar esse campo. A Toyota já usa materiais nanocompostos para fortalecer os plásticos usados em peças para carros. Nanopós estão sendo usados na fabricação de lentes com proteção anti UV, vidros e coberturas. AVALIAÇÃO DO GR UPO ET C GRUPO ETC Em 2005, a tecnologia atômica atrairá mais interesse (e controvérsia) do que a biotecnologia. Em 2010, as tecnologias atômicas serão o fator determinante da lucratividade de praticamente qualquer setor da economia industrial. Em 2015, os controladores da tecnologia atômica serão a força dominante da economia mundial. Em 1987, o Grupo ETC (na época RAFI) e a Fundação Däg Hammarskjöld sediaram o primeiro seminário mundial da sociedade civil sobre os impactos sociais e econômicos da biotecnologia. A reunião internacional ocorreu em Bogéve, na França, e reuniu ativistas de todos os continentes. Para praticamente todos os participantes, era a primeira visão séria da biotecnologia. Para a maioria, foi um encontro chocante, e muitos levaram tempo para perceber que a conversa sobre espécies transgênicas não era apenas uma euforia. Em 2001, a Fundação Däg Hammarskjöld e o Grupo ETC uniram forças novamente para promover o primeiro seminário da sociedade civil sobre tecnologias atômicas. Realizado nos escritórios suecos da Fundação Uppsala, o seminário novamente aproximou os principais ativistas políticos e ambientais de todo o mundo. Bogéve II, como 106 Te c n o l o g i a a t ô m i c a foi apelidado informalmente, chocou a maioria dos participantes mais do que Bogéve I fez quatorze anos antes. Mas muitos dos presentes já tinham experiência com o debate da biotecnologia e compreenderam rapidamente. TECNOL OGIA A TÔMICA E BIO TECNOL OGIA – NÃO TECNOLOGIA ATÔMICA BIOTECNOL TECNOLOGIA ACONTECERÁ A QUI... DE NO VO? AQ NOV BIOTECNOLOGIA: Bogève I (1987) TECNOLOGIA ATÔMICA: Bogéve II (2001) FICÇÃOCIENTÍFICA:nãofuncionaráforadolaboratório.Essaengenhariadesafiaasleisnaturais. Em1980,oscientistasconvencionaisdaagriculturae Algunscientistasacreditamqueamanipulaçãodatabela medicinaadvertiramfreqüentementequeaengenharia periódicaterádificuldadescomasteoriasdaenergiaeleis genéticateriadificuldadescomainfinitacomplexidadeda naturaisaindadesconhecidas.Masosátomossãoa natureza;queostrabalhosdolaboratórioiriamfalharna próximadeclinaçãológicadosgenes.Atecnologiaatômica vidareal.Talvezelesestivessemcertos...mashojeemdia podenãosersegura,podenãofuncionardireito,masserá 55milhõesdehectaressãoplantadoscomOGMs,e comercializada.Nãoénecessáriofazercertoparacolocar biodrogas(fármacosgeneticamentemodificados)estão nomercado.Comoasprimeirasgeraçõesdeprodutos proliferando. geneticamentemodificadosdeixamclaro,errosnaciência aindapodemsignificarsucessonosnegócios. PROGRESSO TRABALHOSO: está a gerações de distância. Estamos apenas começando. Projetarmáquinasoualimentosátomoaátomoparece Nosanosde1980,amaioriadoscientistasachouqueos produtosdabiotecnologiaestavammuitolonge.Elesse distantehoje,masmontagemmolecularestáacaminho,e enganaramcompletamenteemrelaçãoaoprogressoda avançoscontínuosnainformáticaeoutrastecnologias computaçãoedeoutrastecnologias,quediminuíramos colocarãonovosprodutosdatecnologiaatômicano custoseaceleraramgrandementeapesquisaeo mercadomaisrápidodoqueoprevisto. desenvolvimento. A EUFORIA: é propaganda de Wall Street. Companhias desesperadas estão tentando convencer possíveis investidores que novos produtos existem e que irão resolver os problemas do mundo. Nosanosde1980,pequenasempresasdabiotecnologia lutavamparasobreviverefaziamgrandespromessas. Muitasquebrarameasrestantesestãosendocompradas pelosgigantesdosgenes.Apósuminíciolento,osnovos produtos(bonsouruins)estãorapidamenteentrandono mercado.Omundo,porém,nãoparecemaispróximodo nirvana. Osnichosdemercadoparaempresasdananotecnologia estãosurgindoagoracomosurgiramantes.Existeemtorno delasamesmaexaltação.Mas,aocontrárioda biotecnologia,asgrandescorporaçõesestãocomeçando desdeoinício. ETC Group BIOTECNOLOGIA: Bogève I (1987) 107 TECNOLOGIA ATÔMICA: Bogéve II (2001) NICHOS DE MERCADO: poderá funcionar em casos especiais, mas não terá um grande impacto na maneira de produzir coisas Umgigantegenéticoargumentouem1980quea Algunsargumentamqueatecnologiaatômicaéuma tolerânciaaosherbicidassóseriaviávelparacombater inovação;quesomenteseráusadaparamotivosespeciais JohnsonGrass(NT:grasssignificagramaeminglês)no porcausadoscustosedasuacomplexidade.Naverdade,o Texas.Atualmente,3/4daáreamundialdetransgênicosé alcancedatecnologiaatômicaémaior–atéagora–do devariedadestolerantesaherbicidas.Companhiasde quedabiotecnologia.Comoavariedadedecompanhias genomahumanoestãomapeandoosgenomasdasplantas. envolvidasdeixaclaro,atecnologiaatômicadominará Umadascaracterísticasmaisextremasdabiotecnologiaéo todososaspectosdaeconomiaglobal. usoamplonaagricultura,fármacos,produtosdecuidado pessoalemanufaturaindustrial. NANODÓLARES: eles são pequenos e frágeis. Elesnãotêmainfluêncianecessáriaparaaciênciaouomercado. Nosanosde1980,aspequenasempresasdabiotecnologia Osnanoempreendedoresdehojetambémsãopequenos, erampequenas,rarasesobreviviamàduraspenas.Os fracosebatalhadores.Adiferençaéqueascorporaçõesda gigantesagroquímicosefarmacêuticosapareceram Fortune500–osnanomilionários–estãoperseguindoa desinteressadamente,emuitopreviramqueospequenos novatecnologia. empreendedoresiriamàfalênciaequeatecnologia fracassaria. PATENTES E REGISTROS: os governos não fornecem as patentes requeridas ou flexibilidade na regulação Elesconseguiram.Nofinaldosanosde1980,o Elesvãoconseguir.Atecnologiaatômicatemmenos DepartamentodePatentesdosEUAanunciouque barreirascontraaspatentes.Abiotecnologiajácolocou permitiriapatentesdeplantaseanimais,bemcomode precedenteslegaisparaasreivindicações.Restriçõesna regulamentaçãodopoderatômicoserãomanipuladasaté microorganismos.AsleisdoUSDA,NIHeFDAestavam sendomanipuladasparaseadequaràsnecessidadesda setornaremineficazes. indústria. 108 Te c n o l o g i a a t ô m i c a NO TAS NOT 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 Como citado em Ed Regis, Nano, the emerging science of Nanotechnology: remaking the world – molecule by molecule, 1995, p. 133. A pesquisa de citações é feita no índice de citações do Institute for Scientific Information (ISI), usando “nano” como termo de busca nos títulos. A estimativa para 2002 já foi extrapolada apenas com as citações contadas até setembro de 2002. Citado em “Nanotechnology: shaping the world atom by atom”, p. 1. Disponível na Internet: www.nano.gov O número de patentes relacionadas a nano está baseado numa pesquisa feita no Delphion, usando nano como termo de busca. A estimativa para 2002 foi extrapolada pelo número de patentes emitidas até a metade desse ano. Citado em “Nanotechnology: Shaping the world atom by atom”, p. 4; disponível na Internet: www.nano.gov Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep Numbers Real,” Small Times, 11 de março de 2002; disponível na Internet: www.smalltimes.com/print_doc.cfm?doc_id=3237 Doug Brown, “Nano for the Nation: Mihail Roço”, Small Times, vol. 2, nº 4, julho/ agosto de 2002, p. 16. Mike Roço, “Research and Development FY 2003: National Nanotechnology Investment: the FY 2003 Budget Request by the President”, disponível na Internet: www.nano.gov/2003budget.html Ann Thayer, “Nanotech meets market realities”, Chemical and Engineering News, 22 de julho de 2002, p. 18. Nanobusiness Alliance, “2001 Business of Nanotechnology Survey,” p. 4; disponível na Internet: www.nanobusiness.org De acordo com a CMP Científica: “Nanotechnology Opportunity Report”, como relatado por Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep Numbers Real,” Small Times,11 de março de 2002; disponível na Internet: www.smalltimes.com/print_doc.cfm?doc_id=3237 Nanobusiness Alliance, “2001 Business of Nanotechnology Survey”, p. 4. Mike Roço e W.S. Bainbridge, eds., “Societal Implications of Nanoscience and Nanotechnology”, National Science Foundation, março/2001, pp. 3-4. David Pescovitz, “Reality Check – The Future of Nanotechnology”, Wired, agosto/ 1995. ETC Group 109 PARTE IV A NANOTECNOLOGIA TEM A RESPOSTA, NO PONTO ONDE EXISTEM RESPOSTAS, POIS A MAIORIA DAS NOSSAS NECESSIDADES MAIS URGENTES É ENERGIA, SAÚDE, COMUNICAÇÃO, TRANSPORTE, COMIDA, ÁGUA ETC. RICHARD SMALLEY PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE RICE E PRÊMIO NOBEL122 PARA QUEM E ONDE TERÁ IMPACTO? NOS POBRES E NA ECONOMIA, É CLARO Tentar avaliar o impacto do Big Down (o grande mínimo) não é fácil, porque a coleção de novos nomes e de abordagens técnicas é muito vasto. Baseado num estudo da NanoBusiness Alliance (NBA – um grupo novo dos EUA), o mercado atual para as tecnologias do mínimo está por volta de US$ 45,5 bilhões. Esse mercado pulará para US$ 700 bilhões por volta de 2008 e excederá US$ 1 trilhão provavelmente bem antes de 2015.123 Mas numa edição de final de ano do The Economist sobre o futuro econômico das novas tecnologias, os editores relataram uma pesquisa feita entre leitores bem informados sobre o mundo dos negócios. De acordo com esses leitores, a próxima grande descoberta na tecnologia ainda é mais provável que venha do setor da informação (22%). Outros 20% apostaram na biotecnologia. Nanotecnologia, ciências dos materiais e tecnologias de transporte receberam 5% cada, mas a terceira maior porcentagem foi daqueles que sentiram que a próxima revolução industrial acontecerá através da convergência das novas tecnologias.124 112 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Existem três, apesar de eu ter a impressão de que, sob alguma teoria unificadora futura, será apenas uma. A primeira é obviamente a tecnologia da informação... A segunda é a biotecnologia... e, a terceira, a nanotecnologia.125 Robert Shapiro Presidente da Monsanto na época, quando lhe foi perguntado quais seriam as tecnologias futuras que ele achava mais promissoras. Assim sendo, pode-se ter uma idéia dos prováveis impactos das novas tecnologias considerando os principais setores econômicos. Não é preciso dizer que os trabalhadores em cada setor (e não estamos nos referindo a cientistas ganhadores do Prêmio Nobel), incluindo aqueles cujos conhecimentos não serão mais necessários, sentirão o impacto primeiro.126 NANOMONOPÓLIOS É verdade que não se pode patentear um elemento encontrado na sua forma natural; entretanto, se você cria uma forma purificada daquilo, com usos industriais – digamos o nano – você pode certamente garantir uma patente. Lila Feisee Diretora de Relações Governamentais e Propriedade Intelectual da Organização da Indústria Biotecnológica, 11 de abril de 2001. Há vinte anos, ninguém teria acreditado se tivéssemos avisado (e avisamos!) que as companhias da biotecnologia algum dia tornariam ilegal que os agricultores guardassem suas sementes; que elas poderiam processar os agricultores por causa das sementes patenteadas que voassem para dentro dos seus campos; que não apenas variedades de plantas, mas genes individuais e SNPs (polimorfismos de nucleotídeos únicos) poderiam ser patenteados; que espécies inteiras e mesmo linhagens de células humanas poderiam ser monopolizadas; que o conhecimento tradicional ETC Group 113 dos povos poderia se tornar propriedade privada de algum gigante farmacêutico. Será possível, futuramente, patentear algum elemento, da mesma maneira que as corporações patenteiam genes hoje? Eles terão apenas que isolar e purificar um elemento para possuí-lo? O Prêmio Nobel Glenn Seaborg patenteou amerício e cúrio – dois dos onze elementos que ele descobriu há meio século atrás. Seaborg também “criou” o elemento 110, que ainda receberá um nome formal. Em 1999, físicos nucleares do Lawrence Berkeley National Laboratory (EUA) colidiram partículas de crípton com chumbo e anunciaram a descoberta de dois novos elementos, os números 118 e 116 (descobriu-se mais tarde que o elemento 118 foi baseado em dados falsificados).127 Mas cientistas acreditam que outros elementos serão encontrados na natureza. Esses elementos serão patenteáveis? Que tal patentear os processos necessários para usar um elemento? Vai ser possível modificar um elemento e então patentear o processo e o produto? Existirão patentes de processos para evitar a manufatura tradicional, já que os processos convencionais desacreditam o novo monopólio? Será que algumas das novas invenções patenteáveis serão cyborgs? Em 2001, por exemplo, pesquisadores no Brookhaven National Laboratory, EUA, desmontaram seu colisor de íons e tiraram uma partícula subatômica antiga, conhecida como plasma quark-glúon. O colisor estadunidense, juntamente com seus similares de outros países, é considerado um processo de criação de novas matérias? Essas invenções podem ser patenteadas? Ou, como foi feito com a energia nuclear, os controladores da tecnologia atômica insistirão que suas ferramentas são tão poderosas e tão fundamentais que eles precisam operar com monopólio garantido pelo Estado por razões de segurança nacional? 114 Te c n o l o g i a a t ô m i c a A TECNOL OGIA A TÔMICA NÃO VAI P ARAR NA TECNOLOGIA ATÔMICA PARAR NANOESCAL A NANOESCALA Até onde eles descerão? A palavra átomo vem do grego e significa não cortado, e até fins do século 19 acreditava-se que os átomos eram indivisíveis – a menor parte da matéria. Agora os pesquisadores sabem que um átomo é feito de centenas de partículas menores, incluindo os suspeitos tradicionais dos quais lembramos das aulas de Química da escola – prótons, nêutrons e elétrons. A estrutura de um átomo parece um enxame de elétrons no centro do qual existe uma configuração densa de prótons e nêutrons (o núcleo). O número de prótons no núcleo determina qual elemento químico o átomo será. As partículas atômicas mais conhecidas são acompanhadas por partículas não tão conhecidas, chamadas de quarks e léptons (um elétron é um tipo de lépton), e um monte de outras partículas chamadas partículas carregadoras de força (com nomes estranhos tais como glúon, gráviton, Z Bóson).128 Quarks, que carregam uma carga elétrica fracionada (lembre-se das aulas de química: os prótons carregam uma carga +1, elétrons carregam uma carga –1, e nêutrons não têm carga?), são dez mil vezes menores do que o núcleo do átomo. Não sabemos exatamente o tamanho dos quarks, mas temos certeza de que são menores do que 10-18 metros (um nanômetro é 10-9 metros). Pesquisadores pensam que os quarks são literalmente atômicos – querendo dizer que eles são indivisíveis, partículas não cortáveis – mas talvez venhamos a descobrir que os quarks são feitos de partículas ainda menores. O mapeamento da esfera subatômica na sua totalidade será tão útil para os cientistas como foi o mapeamento do mundo atômico (a tabela periódica) para os químicos. Como no caso das tecnologias de nível atômico, o primeiro passo para a manipulação do cosmos subatômico é poder vê-lo claramente. ETC Group 115 Quão rápido eles conseguirão ir? A microscopia atômica, que nos permite “enxergar” em nível dos nanômetros, não é suficientemente poderosa para revelar o que acontece no núcleo do átomo. Para dar uma espiada nessa dimensão, um físico nuclear precisa de uma investigação mais detalhada. A única que serve é uma outra partícula subatômica. Em câmaras tecnologicamente sofisticadas, chamadas descritivamente de aceleradores (que são, em alguns casos, do tamanho de cidades grandes), os cientistas conseguem empurrar partículas subatômicas com velocidades próximas à velocidade da luz, usando campos eletromagnéticos. Quando a partícula alcança velocidade, ela é esmagada contra a partículaalvo, que funciona como sonda. A colisão é chamada de evento e seus detalhes podem ser gravados por “detectores”. Computadores coletam e organizam a grande quantidade de dados dos detectores e apresentam os resultados ao físico. Alem de usar aceleradores para dar velocidade a partículas de prova para examinar partículas-alvo, os cientistas podem acelerar partículas e esmagá-las umas contra as outras (essas câmaras aceleradoras são chamadas colisoras). A energia que é criada nas colisões é convertida na formação de novas partículas compactas, cujas propriedades podem ser estudadas. Usando aceleradores, os cientistas identificaram dúzias de elementos (alguns dos quais são virtualmente não existentes fora dos reatores nucleares ou laboratórios de pesquisa). Por que eles vão? Uma definição dada pelo Departamento de Energia dos EUA nos diz que a pesquisa da Física nuclear busca compreender as forças fundamentais e as partículas da natureza manifestadas na matéria nuclear.129 Mas a compreensão da composição subatômica 116 Te c n o l o g i a a t ô m i c a do universo não é uma investigação puramente acadêmica ou cosmológica. Energia nuclear, armas nucleares e medicina nuclear (incluindo o uso de agentes radioativos de imagem) dependem todos da nossa habilidade de controlar cuidadosamente (ênfase no cuidadosamente), a extensões maiores ou menores, o funcionamento do núcleo atômico. As novas tecnologias subatômicas serão desenvolvidas em seqüência, com uma compreensão mais precisa do universo subatômico, criando possibilidades de produtos que poderão afetar dramaticamente nossa saúde e ambiente, para melhor ou pior. MANUF ATURA E MA TERIAIS MANUFA MATERIAIS Produtos da nanoescala produzidos em grande quantidade já estão dando dinheiro. Nanopartículas estão sendo usadas para deixar tintas e outros revestimentos mais fortes e duráveis, para deixar os protetores solares com mais proteção e para tornar catalisadores mais eficientes. Estudos mostram que um único grama de partículas catalisadoras com um diâmetro de 10nm é aproximadamente 100 vezes mais reativo do que a mesma quantidade de partículas catalisadoras com diâmetro de um mícron. A mudança é atribuída apenas à maior área de superfície da nanomatéria.130 Em grande parte através da catálise os processos da nanoescala estão transformando a indústria mundial de plásticos, avaliada em US$ 60 bilhões por ano apenas nos EUA. Empresas gigantes, como a Dow Chemical e a Exxon Móbil, licenciam suas variedades de metalocenos – uma via de acesso da nanoescala para criação de catalisadores para a manufatura de plásticos. Os produtos finais são mais leves, mais resistentes e incrivelmente mais versáteis. A Exxon Mobil detém mais de 200 patentes do metaloceno.131 A Dow também trabalhou na escala atômica para inventar interpolímeros (o desenvolvimento desse ETC Group 117 processo resultou em mais de 50 patentes nos EUA e na Europa – combinações nunca vistas antes de matéria com propriedades comerciais únicas).132 No futuro próximo, a tecnologia atômica poderá fornecer alguns dos seguintes produtos: • Tecidos “inteligentes”, que variam na sua capacidade de refletir ou de absorver o calor. • Revestimentos superfortes para veículos para redução da quebra ou de amassamentos nas colisões. • Couraça leve a prova de balas para roupas civis, militares e da polícia. • Exteriores de construções que não necessitam de manutenção e vidros e plásticos inquebráveis. • Superfícies de construções que conseguem “respirar” para permitir a passagem de ar. • Superfícies de roupas ou construções que podem mudar de cor em resposta a mudanças no tempo. • Com o surgimento da fabricação de “folhas” de nanomatéria em grande escala veremos barcos, cascos de navios, aviões e aeronaves com “peles” especiais. ELETRÔNICA, ENER GIA E INFORMÁTICA ENERGIA Existe a expectativa de que as estruturas da nanoescala irão representar um papel fundamental na armazenagem de informação e de energia – dois elementos fundamentais em praticamente qualquer produto ou processo baseado na eletricidade. A tecnologia da nanoescala já é responsável pelo componente principal na fabricação de discos rígidos. Além disso, os nanotubos mostraram que podem funcionar como transistores minúsculos.133 No final de agosto de 2001, pesquisadores da IBM criaram um circuito capaz de executar cálculos lógicos simples atra- 118 Te c n o l o g i a a t ô m i c a vés de nanotubos de carbono automontáveis. Isso foi saudado como sendo o primeiro passo na direção dos nanocomputadores.134 Em maio de 2002, a IBM declarou ter criado transistores de nanotubos de carbono que superam até os modelos mais avançados dos dispositivos de silicone, e também superam nanotubos projetados anteriormente com sua maior capacidade de transmissão de corrente elétrica.135 Protótipos de chips para futuros computadores de nanotubos provavelmente surgirão nos laboratórios da IBM nos próximos dois anos.136 Em suma, o potencial inclui: • A capacidade de armazenamento de dados e a velocidade de processamento vão aumentar drasticamente, serão mais baratos e energeticamente mais eficientes. Em junho de 2002, os nanotecnologistas da IBM demonstraram uma densidade de armazenamento de dados de 1 trilhão de bits por polegada quadrada, o equivalente a 100 gigabits de disco rígido – ou 20 vezes a capacidade de dados do armazenamento magnético usado nos computadores atuais – o suficiente para armazenar 25 milhões de páginas de texto impressas numa superfície do tamanho de um selo postal. De acordo com o Prêmio Nobel e pesquisador apoiado pela IBM, Gerd Binning: “Essa proposta da nanotecnologia é potencialmente válida para um aumento de mil vezes na densidade de armazenamento de dados.”137 • Biosensores e chips que poderão estar em todos os lugares o tempo todo – monitorando todos os aspectos da economia e da sociedade. Por exemplo, a Nanomix Inc está projetando sensores baseados em nanotubos para detecção de vazamentos de gases perigosos, em indústrias químicas e refinarias.138 A companhia alega que cada sensor custará ETC Group 119 10 vezes menos do que detectores de gás convencionais, e que poderão operar um ano com baterias de relógio. • Uma dependência menor nos combustíveis fósseis e na energia hidrelétrica e suas infra-estruturas. Nanomateriais inusitados estão sendo desenvolvidos para a armazenagem de combustível de hidrogênio, uma inovação que poderia aumentar drasticamente a eficiência e diminuir o custo dos carros com células de combustível.139 PR ODUT OS F ARMA CÊUTICOS E CUIDADOS COM A PRODUT ODUTOS FARMA ARMACÊUTICOS SAÚDE De acordo com alguns entusiastas, o céu é o limite.140 (Vamos curar o câncer... de verdade!) O impacto será sentido nos dispositivos médicos e cirúrgicos (dois terços da pesquisa atual) e remédios (um terço). Dentro de uma década, a metade da receita da indústria (aproximadamente US$ 180 bilhões por ano) virá da tecnologia atômica. Os usos incluem: • Seqüenciamento mais rápido do genoma, com biochips na nanoescala. • Descrição exata da estrutura genética do indivíduo. • Novos métodos de distribuição de medicamentos nos órgãos e tecidos específicos. • Novos vetores para terapia de genes. • Acesso cirúrgico a partes do corpo anteriormente inacessíveis. • Órgãos e tecidos artificiais mais duráveis e resistentes à rejeição. • Biomateriais mais leves e mais “inteligentes” para os membros. • Sistemas biosensores que permitirão a detecção de doenças emergentes muito mais cedo. 120 Te c n o l o g i a a t ô m i c a APLICAÇÕES MILIT ARES MILITARES Imagine o impacto psicológico sobre o inimigo ao encontrar esquadrões de guerreiros aparentemente invencíveis, protegidos por armaduras e dotados de capacidades de super-homens, tais como a habilidade de pular sobre muros de 20 pés. Ned Thomas Diretor do US Army’s Institute of Soldier Nanotechnologies141 A pesquisa dos usos militares da tecnologia atômica é um negócio próspero. O Departamento de Defesa dos EUA é o segundo maior beneficiário do financiamento do governo dos EUA para pesquisa da nanociência (depois da National Science Foundation). Face aos ataques terroristas e maior ênfase nos armamentos impelidos pela tecnologia, o comprometimento à pesquisa na tecnologia atômica para usos militares está crescendo. Para o ano de 2003, o orçamento estadunidense prevê US$ 201 milhões para o Departamento de Defesa gastar em nanociência – mais do que os US$ 180 milhões de 2002. A próxima parte descreve alguns exemplos de pesquisa não confidencial sobre armamentos que funcionam com tecnologia atômica. Em março de 2002, o exército dos EUA criou o Instituto para Nanotecnologias dos Soldados (ISN – Institute for Soldier Nanotechnologies) no Massachusetts Institute of Technology (MIT), de 5 anos e US$ 50 milhões.142 Trabalhando com parceiros na indústria de defesa, Raytheon entre outras, o instituto está realizando pesquisa no uso da tecnologia atômica para melhorar a proteção e a sobrevivência dos soldados.143 Um dos objetivos principais é aumentar a performance dos soldados. Guerreiros nanoequipados do futuro terão a habilidade de pular por cima de muros de 20 pés (equipados com sapatos com pacotes de força embutidos), de lutar com membros artificiais que são mais fortes do que músculos humanos, usar uniformes que os ETC Group 121 tornarão invisíveis, invencíveis e que providenciarão primeiros socorros na hora. Usando a nanociência, o instituto tem o objetivo imediato de redução do peso de carga total dos soldados das 145 libras [65,8 kg] de hoje, para apenas 45 libras [20,4 kg]. Inspirados nos cavaleiros medievais, o instituto está desenvolvendo uma “malha de cadeia molecular”, que não pesa mais do que o papel. Usos militares adicionais incluem:144 • Nanorevestimento de plástico a prova de arranhões para visores de capacete e janelas de aeronaves. 145 • O desenvolvimento de uma armadura chamada “exoesqueleto”, que não só é a prova de balas, como também se transforma num gesso rígido para tratar fratura de um braço ou de uma perna, ou serve como uma “luva de caratê”, que pode ser usada como arma ofensiva. • Nanocamo: uniformes tipo camaleão, feitos com nanomateriais para deixar os soldados virtualmente invisíveis no campo de batalha. • Materiais nanoprojetados para aumentar a performance das máscaras contra gás. • “Venezianas” na escala molecular, feitas para proteger os olhos dos soldados da cegueira por laser. • Sensores miniaturizados para detecção de armas biológicas, químicas ou explosivas no campo de batalha. • O uso de nanotubos de carbono ultrafortes e muito leves para fabricação de mísseis e outros explosivos. • Uso de nanodispositivos para fornecimento ilimitado de energia/força nos campos de batalha. • Meta, em longo prazo, de desenvolvimento de sistemas de controle remoto com mobilidade, controle e alerta próprios obtidos de sistemas vivos, biológicos. • Pesquisadores da Universidade de Michigan estão explo- 122 Te c n o l o g i a a t ô m i c a rando medidas para conter armas biológicas evitando a entrada de agentes patogênicos no corpo humano. A pesquisa busca desenvolver um nanomaterial composto que servirá como barreira a patogênicos e como agente terapêutico pós-exposição para ser aplicado de forma tópica na pele e mucosa.146 Nota: esses exemplos mal e mal tocam na superfície dos usos militares da tecnologia atômica. O uso potencial e a proliferação de biosensores e tecnologias que realçam a performance humana terão conseqüências profundas para os direitos humanos e os dissidentes democráticos. AGRICUL TURA GRICULTURA Detectores nanofabricados oferecem potencial para fazer milhares de experimentos em plantas para descrição e seleção simultânea de genes, com pequenas quantidades de material. 147 Foram desenvolvidos “nanochips” com milhares de nanopontos, cada um contendo uma pequena quantidade de genes diferentes de uma certa planta, e com capacidade de determinar a quantidade desse gene que está sendo expresso pela planta. Quando a expressão genética de centenas de milhares de genes é testada e comparada, os cientistas conseguem determinar quais genes estão sendo ativados ou inibidos durante o processo de crescimento ou de doença. Com a perspectiva de se ter em mãos o seqüenciamento completo do genoma ligado aos nanochips, essa informação revelará quais genes determinam maior produção, ou quais genes são afetados quando uma planta é exposta ao sal ou ao estresse da seca. Os nanochips permitirão que os genes sejam totalmente caracterizados, molécula a molécula, em apenas algumas horas. ETC Group 123 Há menos de dez anos, essa mesma análise necessitaria de dúzias de cientistas para ser feita. Em longo prazo (2020-2050) a engenharia atômica poderá: • Eliminar a “geografia” (foto-sensibilidade, temperatura, altitude) e trabalhar como fator de produção na produção de alimentos. • Eliminar o “tempo” como fator na preparação de alimentos (tornando a energia e o controle da matéria mais eficientes). • Eliminar a “agricultura” com produção de alimentos não biológicos (tornando viável a fabricação de alimentos em nanocaixas de elementos reciclados). PR OCESSAMENT O DE ALIMENT OS PROCESSAMENT OCESSAMENTO ALIMENTOS Na nossa opinião, essa é uma tecnologia [nanotecnologia] que terá profundas implicações para a indústria de alimentos, mesmo elas não estando muito claras para muitas pessoas. Jozef Kokini Diretor e chefe de departamento do Rutger’s Center for Advanced Food Technology 148 A indústria de alimentos e bebidas esta adotando avidamente a pesquisa da tecnologia atômica. O departamento de alimentos da Universidade de Rutgers (NJ, EUA) recentemente contratou quem acreditam ser o primeiro professor de nanotecnologia de alimentos.149 Na Rutgers, o Professor Qingrong Huang irá se concentrar no desenvolvimento de dois usos para as tecnologias de nanoescala para a indústria de alimentos: alimentos “nutracêuticos”, que irão usar proteínas para levar medicamentos para áreas-alvo do corpo, e embalagens de alimentos que mudam de cor e avisam o consumidor quando o alimento começa a estragar. 124 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Em 1999, a Kraft Foods, o gigante dos alimentos e da bebida de US$ 34 bilhões (subsidiária da Philip-Morris) instalou o primeiro laboratório de alimentos da nanotecnologia da indústria. Em 2000, a Kraft lançou o consórcio NanoteK – envolvendo uma soma não revelada de financiamento para 15 universidades e laboratórios de pesquisa nacionais, para condução de pesquisa básica para inovações minitecnológicas para tecnologia de alimentos. Nanocápsulas O consórcio NanoteK da Kraft está focado no desenvolvimento de produtos alimentícios pessoais, que reconhecem o perfil nutricional e de saúde do indivíduo – alergias ou deficiências nutricionais – ou mesmo embalagens inteligentes que detectam e alteram as deficiências vitamínicas do consumidor.150 Os pesquisadores da NanoteK também estão desenvolvendo produtos inusitados que são feitos sob medida para o gosto do consumidor. Por exemplo, nanopartículas que encapsulam sabores, cores ou elementos nutricionais, podendo ser ativadas, conforme a necessidade, jogando-se uma solução líquida com uma freqüência de microondas prescrita.151 Um consumidor, com sede, compra uma bebida sem cor nem gosto no supermercado e, mais tarde, seleciona o sabor/nutrientes/cor da sua escolha ao programar um transmissor de microondas na freqüência correta. As nanocápsulas escolhidas seriam ativadas, enquanto as outras ficariam dormentes, soltando apenas o sabor, cor ou nutrientes desejados. Alimentos inteligentes Outra inovação da indústria de alimentos é a adição de genes que mudam de cor nos alimentos (ou nas embalagens) para alertar o consumidor sobre alimentos não seguros.152 Usando tecnologia ETC Group 125 de “língua eletrônica”, sensores que conseguem detectar químicos em partes de trilhão, a indústria espera desenvolver embalagens de carne que mudam de cor na presença de bactérias nocivas. NÃO SE, MAS QUANDO A tecnologia atômica não é uma tecnologia do talvez. Aqueles familiarizados com a história da biotecnologia reconhecerão os sinais: nos anos de 1970 e de 1980, os cientistas convencionais gastaram muito tempo para contar ao mundo a quantidade de obstáculos instransponíveis, virtualmente impossíveis, que a engenharia genética teria de superar antes de ser comercializada. Ao argumentarem dessa maneira, eles ignoraram duas realidades: • O desenvolvimento da biotecnologia cresceu exponencialmente e engatada nas novas tecnologias de computadores (informática) que tornaram a engenharia genética mais rápida e mais barata a cada dia. Processos simbióticos e paralelos impulsionarão as tecnologias atômicas numa taxa cada vez mais rápida. • Não é necessário acertar para entrar no mercado. Como deixam claro as primeiras gerações de OGMs, erros na ciência ainda podem significar sucesso nos negócios. A sociedade (e a Terra) carregarão o fardo dos erros científicos e da falta de ação dos governos. Prontos ou não, alguns subprodutos da tecnologia atômica já são comercialmente viáveis. SEIS MIT OS RECICLÁVEIS MITOS Alimentará os pobr es pobres Até agora a biotecnologia alimentou as corporações. A maioria dos cientistas acredita que os usos na agricultura da tecnologia atômica estão a décadas de distância. Se e quando acontecer, os 126 Te c n o l o g i a a t ô m i c a pobres serão os últimos a terem acesso e os primeiros a perderem seus empregos e mercados. Irá melhorar a saúde dos pobr es pobres Até agora não. Só se os pobres estão comendo demais, sofrem de depressão ou estão ficando carecas. A tecnologia atômica não será mais relevante para as necessidades dos pobres – ou acessível para eles – do que a biotecnologia comercial tem sido, e pelo menos no início será mais cara. Irá pr oteger o meio ambiente proteger Esta era a teoria: que os produtos da Geração 1 da biotecnologia reduziriam o uso de insumos químicos. Na verdade, ela gerou uma nova geração de dependência química na agricultura. É uma tecnologia ““vver de erde de”” Não que tenhamos percebido. A tecnologia atômica, no seu melhor papel como um bem privado, irá simplesmente substituir uma quantidade de riscos ambientais, com novos e adicionais problemas associados com a manipulação de matéria e da vida, o controle e a regulação de nanopartículas, poder nuclear e a administração de processos possivelmente incontroláveis. Irá poupar trabalho Existe pouca evidência disso com a biotecnologia. A tecnologia atômica poderia bem economizar trabalho, mas será o trabalho dos pobres (mineiros, operários, agricultores), que ficarão desempregados e sem condições de adquirir os produtos da tecnologia atômica. ETC Group 127 Na pior das situações, não afetará os pobr es pobres Apesar da biotecnologia ter sido, na sua maior parte, uma questão da OECD (Organização de Cooperação para Desenvolvimento Econômico), seus efeitos ambientais e reguladores, e suas implicações sociais apareceram rapidamente no Sul. A biotecnologia influenciou as políticas de patentes e comércio na OMC, com enormes desvantagens para o Sul. A biotecnologia infiltrou-se nos campos e nos alimentos do Sul mesmo onde ela é proibida e mal recebida. A biotecnologia Geração 3 tem o potencial de desalojar e causar danos aos trabalhadores do Terceiro Mundo e seus mercados, mesmo ela sendo usada apenas no Norte.153 O mesmo problema em cascata ocorrerá com a tecnologia atômica. É ingenuidade e miopia dos defensores da tecnologia atômica afirmar que uma tecnologia que os pobres não podem controlar será de alguma maneira usada em seu benefício. AVALIA CA O DO GR UPO ET C ALIACA CAO GRUPO ETC Organizações da sociedade civil com história na biotecnologia sentirão um déjà vu intenso e imediato quando ouvirem os argumentos de que a tecnologia atômica será um grande benefício para os pobres. Assim como na biotecnologia, é teoricamente possível que, num mundo justo e bondoso, a tecnologia atômica teria um papel a desempenhar. Na ausência de um mundo assim, como sempre, o controle dessa tecnologia resultará em benefício daqueles que têm o poder, e a comercialização da tecnologia vai inevitavelmente lhes dar maior controle de monopólio. Vale lembrar os argumentos da biotecnologia e fazer as conexões com a tecnologia atômica... 128 Te c n o l o g i a a t ô m i c a NO TAS NOT 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 Citado em Ann Thayer, “Nanotech Meets Market Realities”, Chemical and Engineering News, p. 17. Ver nota 1. Anônimo, “The same – Only More So?”, The Economist, 8/15 de dezembro de 2001, p. 12. Anônimo, “The Biology of Invention: A conversation with Stuart Kaufman and Robert Shapiro,”Cap Gemini Erns & Young Center for Business Innovation, nº 4, outono/2000, na Internet: www.cbi.cgey.com/journal/issue4/features/biology. Várias aplicações descritas na próxima parte vieram do “National Nanotechnology Initiative: The Initiative and its Implementation Plan,”National Science and Technology Council, Comittee on Technology, Subcomittee on Nano-scale science, engineering and technology, julho/2000. George Johnson, “At Lawrence Berkley, Physicists Say a Collegue took them for a Ride”, New York Times,15 de outubro de 2002. Para um passeio no cosmos subatômico vá para www.particleadventure.org, um endereço desenvolvido pelo Lawrence Berkley National Laboratory. Parte das informações dessa tabela foram retiradas desse endereço. www.sc.doe.gov/production/henp/np/overview/overview.html Claudia Hume, “The Outer Limits of Miniaturization”, Chemical Specialities, setembro/2000. www.exxon.mobil.com/scitech/leaders/capabilities/mn_chemical_catalyst_meta.html Anônimo, “Designer Plastics”, The Economist, 8/15 de dezembro de 2001, pp. 2628. Ver também: www.dow.com/index/what/what/1a.htm Charles Lieber, “The Incredible Shrinking Circuit”, Scientific American, setembro/ 2001/2, p. 61. Kenneth Chang, “I.B.M. Creates a Tiny Circuit Out of Carbon,” New York Times, 27 de agosto de 2001. Pode ser encontrado na Internet: www.research.ibm.com/ nanoscience Barnaby J. Feder, “At IBM a Tinier Transistor Outperforms Its Silicon Cousins,”New York Times, 20 de maio de 2002. Ib. IBM News Release, “Millipede project demonstrates trillion-bit data storage density”, 11 de junho de 2002. Disponível na Internet: www.ibm.com/news/us/2002/06/ 11,html Peter Fairley,”Nanotech by the Numbers”, Technology Review, setembro/2002, p. 49. Ib. Algumas das seguintes aplicações da tecnologia atômica para a saúde foram tiradas do Interagency Working Group on Nano Science, USA (IWGN), M. Roço, Chair, “Nanotechnology – A Revolution in the Making – Vision for R & D in the next decade,” 1999. MIT News, “Army Selects MIT for $50 million institute to use nanomaterials to clothe, equip soldiers”, 14 de março de 2002. Disponível na Internet: web.mit.edu/ newsoffice/nr/2002/isnqa.html ETC Group 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 129 Ib. Raytheon News Release, “Raytheon is founding partner in Institute for Soldier Nanotechnologies at MIT”, 8 de maio de 2002. Esses exemplos foram tirados de duas fontes: Defense Advanced Research Projects (DARPA), o departamento de desenvolvimento e pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA, DARPA Fact File, um compêndio dos programas do DARPA, abril de 2002. Na Internet: www.darpa.mil/body/NewsItems/darpa_fact.html e MIT News Release, “Questions and Answers: Army selects MIT for $50 million institute to use nanomaterials to clothe, equip soldiers”, 13 de março de 2002. Jayne Fried, “What can small tech do for its country? Just ask, say top soldier”, Small Times, 9 de agosto de 2002. Disponível na Internet: www.smalltimes.com Dr. James Baker Jr., Diretor, Center for Biologic Nanotechnology, Universidade de Michigan. Disponível na Internet: nano.med.umich.edu/Personnel.html#Baker Eugene Wong, Diretor Assistente do National Science Foundation (EUA) “Nanoscale Science and Technology: Opportunities for the Twenty First Century”, 1999. Elizabeth Gardner, “Brainy Food: academia, industry sink their teeth into edible nano”, Small Times, 21 de junho de 2002. Disponível na Internet: www.smalltimes.com Ib. Ib. Charles Choi, Unidet Press International, “Liquid Coated fluids for smart drugs”, 28 de fevereiro de 2002. Solicitação de patente estadunidense no 200200334475, com título “Ingestibles Possessing Intrinsic Color Change”. Para uma análise mais detalhada, ver: ETC Group Communiqué, “Biotech’s Generation Three”, novembro/dezembro de 2000. Disponível na Internet: www.etcgroup.org/article.asp?newsid=158 PARTE V MESMO COM TODOS OS SEUS DESCONHECIDOS, MESMO COM TODOS OS SEUS PERIGOS E RISCOS, QUEM DIRIA NÃO A NANO? ED REGIS NANO, A CIÊNCIA EMERGENTE DA NANOTECNOLOGIA QUEM SE IMPORTA? OS PERSONAGENS QUE IMPULSIONAM AS NOVAS TECNOLOGIAS Mais de que qualquer coisa, é a variedade de atores institucionais envolvidos com as tecnologias atômicas que faz a pressão política e econômica apressando as ciências da nanoescala para o mercado. QUEM SE IMPOR TA? NANONERDS: INSTITUIÇÕES IMPORT CIENTÍFICAS Como na biotecnologia, o novo conjunto de tecnologias foi concebido e alimentado inicialmente no meio acadêmico. Hoje, todas as principais universidades que expressam interesse nas ciências da Física, também mostrarão suas inovações nas tecnologias atômicas. A variedade de universidades é interessante: MIT, Max Planck Institute, Cornell, Rice University, University of California, Harvard e Cambridge, seguidas por centros de ciências menores da University of Texas, Penn State, Uppsala University (Suécia), Kansas State, New York State, University of Washington (Seattle) e University of Queensland (Austrália) – escolhendo algumas da longa lista. Durante os anos de 1990, 134 Te c n o l o g i a a t ô m i c a muitos dos Prêmios Nobel de Física e Química receberam seus prêmios por pesquisas sobre a escala atômica. QUEM SE IMPOR TA? NANO APR OVEIT ADORES: IMPORT NANOAPR APRO VEITADORES: NANOINICIANTES Os empreendedores se movem rapidamente hoje em dia dos seus laboratórios na universidade para os negócios iniciais da nano. Eles geralmente levam suas melhores idéias e seus melhores alunos (e às vezes as idéias dos seus alunos) com eles. Porque – pelo menos no início – por ser difícil concorrer com o acesso livre ao equipamento do laboratório do campus, e a mão-de-obra dos alunos, muitos acadêmicos mantém seus laços com as universidades enquanto aguardam para lançar sua oferta pública inicial (IPO) – para levar uma empresa privada à bolsa de valores. Até lá os acadêmicos trabalham com fundos de capital de risco para reunir o capital inicial do qual precisam. Pelo menos três fundos estadunidenses estão agora focando exclusivamente no que eles classificam como nanotecnologia. As pequenas empresas da biotecnologia dos anos de 1970 e 1980 estão agora sendo copiadas pelos nanoaproveitadores da década do Dot Aught (em referência às direções eletrônicas). Uma amostra de atores está descrita abaixo (dois dos quais estão no Red Herring 100 de 2002 – o ranking de empresas mais prováveis a transformarem o mundo do Red Herring). UMA AMOSTRA DAS COMP ANHIAS COMPANHIAS NANO APR OVEIT ADORAS NANOAPR APRO VEITADORAS Argonide N anometals – Sanford, FL, EUA – Nanometals www.argonide.com Fabrica materiais de fibra de cerâmica na nanoescala para aumentar a força, suporte e isolação de metais, plásticos, matrizes de polímeros e biomateriais. A empresa também produz nanopós de alumínio, usados como aceleradores, ignições e reguladores ETC Group de tensão em foguetes de alta pressão. No final de 1999, a Argonide recebeu US$ 1,4 milhão de patrocínio para pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Energia, parte disso pagando o salário de vários cientistas da antiga União Soviética envolvidos anteriormente no desenvolvimento de armas de destruição em massa. A companhia está usando nanomateriais recentes para filtrar bactérias e vírus da água potável. California M olecular E lectr onics Corporation – San Jose, CA, Molecular Electr lectronics EUA – www.calmec.com A CALMEC pretende ser líder na indústria eletrônica molecular. Fundada em março de 1997, a companhia busca desenvolver comercialmente o uso de moléculas individuais para formar componentes de dispositivos eletrônicos. Carbolex – Lexington, KY, EUA – www.carbolex.com A Carbolex vende nanotubos de parede única (pela Internet, a granel) para pesquisadores da indústria e do meio acadêmico. A Carbolex é membro do Advanced Science and Technology Commercialization Center (Centro de Comercialização Tecnológica e de Ciências Avançadas) da Universidade de Kentucky em Lexington, composto pelo quadro acadêmico e por cientistas das corporações da alta tecnologia. Carbon N anotechnologies, IInc. nc. – Houston, TX, EUA – Nanotechnologies, www.carbonnanotech.com A Carbon Nanotechnologies foi fundada por Bob Gower e Richard Smalley (Prêmio Nobel em 1996 e diretor do Center for Nano-scale Sciencie and Engineering [Centro para Nanociência e Engenharia] da Universidade de Rice). A companhia produz, pesquisa e vende nanotubos de carbono, usando tecnologias licenciadas pela Rice. Chemat – Northridge, CA, EUA – www.chemat.com Fundada em 1990, a Chemat dedica-se à criação e 135 136 Te c n o l o g i a a t ô m i c a comercialização de materiais avançados e tecnologias, usando as tecnologias de propriedade da companhia. eS pin Technologies, IInc nc nc. – Chattanooga, TN, EUA – eSpin www.nanospin.com A eSpin é o primeiro produtor comercial de nanofibras de 30400nm de diâmetro com usos na filtração, tecidos de barreira, roupas de proteção, compostos, engenharia de tecidos e células de combustível. Nanoframes llc – Boston, MA, EUA – www.nanoframes.com A meta da Nanoframes é desenvolver uma tecnologia para a fabricação de blocos de construção funcionais na nanoescala, usando proteínas automontadoras. O lema da companhia é “mudar a natureza para transformar a matéria”. Nanomix – Emeryville, CA, EUA – www.nano.com A Nanomix é pioneira no uso da modelagem quântica – o uso de computadores para virtualmente projetar nanomateriais átomo a átomo. A meta da companhia é comercializar os primeiros nanocomponentes que funcionem. Nanolay ers – Jerusalém, Israel – www.nanolayers.com anolayers Fundada em 2001, a empresa espera comercializar materiais semicondutores orgânicos usando uma tecnologia desenvolvida pelo Dr. Shlomo Yitzchaik do Departamento de Química Inorgânica da Universidade Hebraica de Jerusalém. Nanophase Technologies Corp Corp.. – Romeoville, IL, EUA – www.nanophase.com Com receita de US$ 4,3 milhões em 2000, a Nanophase é uma das poucas empresas públicas da nanotecnologia. A companhia usa um processo patenteado para projetar as propriedades físicas, óticas, elétricas e mecânicas dos nanomateriais que podem ser somadas a outros materiais para aumentar sua força, abrasão, resistência e condutividade elétrica. A Nanophase ETC Group produziu 200 toneladas métricas de nanomateriais em 2000, e solicitou 29 patentes abrangendo tecnologias-chave. Nanopr obes – Yaphank, NY, EUA – www.nanoprobes.com anoprobes A Nanoprobes produz e vende nanopartículas coloidais de ouro, usadas em biodiagnósticos, incluindo a detecção de doenças e testes de gravidez. nc. – Alachua, FL, EUA – www.nanosphere.com Nanospher anosphere, e, IInc. A Nanosphere, fundada por pesquisadores da Universidade da Flórida, está focada em tecnologias de comercialização que usam nanopartículas em terapias de inalação. Nano-X GmbH – Saarbrücken-Gündigen, Alemanha – www.nano-x.de A NANO-X GmbH usa nanotecnologia química para desenvolvimento e produção de novos materiais com características multifuncionais, tais como superfícies autolimpantes, paredes antigrafite e plástico resistente a arranhões. Q uantum D ot Corporation – Hayward, CA, EUA – Dot www.qdots.com A Quantum Dot usa nanocristais semicondutores (pontos quânticos) para usos biológicos, bioquímicos e biomédicos. Os pontos quânticos, ligados a biomoléculas, agem como faróis óticos que acendem em diferentes cores, dependendo do seu tamanho. A QD levantou mais de US$ 37,5 milhões em financiamento e solicitou mais de 50 patentes. Semzime – Santa Barbara, CA, EUA – www.semzyme.com A empresa fundada por Angela Belcher e Evelyn Hu pretende comercializar ferramentas de proteínas que podem ser usadas como fiação na nanoescala para componentes eletrônicos. Sustech GmbH – Darmstadt, Alemanha – www.sustech.de Fundado por um grupo de seis professores, o laboratório da 137 138 Te c n o l o g i a a t ô m i c a companhia está sediado no departamento de Química da Universidade de Tecnologia de Darmstadt. A meta da Sustech é desenvolver produtos ambientalmente saudáveis usando sistemas na nanoescala. Zyv ex Corporation – Richardson, TX, EUA – www.zyvex.com yvex A primeira e única companhia dedicada unicamente à tecnologia de desenvolvimento de manufatura molecular. A Zyvex está desenvolvendo a arquitetura de fabricação de braços robóticos em miniatura, que trabalham juntos para montagem de peças. QUEM SE IMPOR TA? GIGANTES DA TECNOL OGIA IMPORT TECNOLOGIA ATÔMICA: MA GNA TAS DAS MUL TINA CIONAIS DA MAGNA GNAT MULTINA TINACIONAIS MA TÉRIA MATÉRIA Todas as nações do mundo estão olhando para a nanotecnologia como uma tecnologia futura, que levará sua posição competitiva para a economia mundial. Neal Lane Professor de Física da Rice University154 Divergindo dos padrões da história da biotecnologia, as tecnologias atômicas atraíram o interesse das grandes multinacionais desde o início. Ao passo que as pequenas empresas de bio gritavam no meio do nada, enquanto os gigantes corporativos predatórios ocultavam-se ameaçadoramente no horizonte, algumas das maiores companhias do mundo já compreenderam que o Big Down não vai esperar por ninguém. A IBM já comprometeu US$ 100 milhões em pesquisa e desenvolvimento na nanoeletrônica.155 Já que as novas tecnologias envolvem todos os segmentos do mercado mundial, a gama de corporações envolvidas não é menos diversa. Exxon Mobil, IBM e Dow Chemical unem-se a Xerox, 3M e Alcan Aluminum. Os estadunidenses também têm a Johnson & ETC Group 139 Johnson, Hewlett-Packard, Lucent, Motorola, Eli Lilly e Du Pont. Os japoneses têm grandes competidores na Sony, Toyota, Hitachi Mitsubishi, NEC e Toshiba. Os europeus têm a Philips, Lóreal, Aventis, BASF e Bayer, bem como um quadro de empresas menores escandinavas, francesas e holandesas. Supõe-se que essas companhias sejam as donas do mercado. Um caso importante foi o agito em função da catálise do plástico na nanoescala, na qual mais do que 3.000 patentes foram dadas a várias companhias. Depois que a poeira baixou, a Exxon Mobil e a Dow acabaram tendo o controle tecnológico. A combinação vencedora foi litígio e amor. Quem eles não conseguiram intimidar com ações judiciais, eles simplesmente absorveram. 156 QUEM SE IMPOR TA? NANOCRA TAS: FINANCIADORES IMPORT NANOCRAT DO GO VERNO GOVERNO Todas as nações do mundo vêem a nanotecnologia como uma atividade do futuro, que marcará sua posição na economia mundial. Neal Lane Professor de Física na Rice University O maior financiamento visível para as novas tecnologias vem, é claro, dos governos. Desde meados de 2002, pelo menos 30 países iniciaram atividades nacionais nas nanociências. O National Nanotechnology Initiative, anunciado pelo presidente dos EUA, Bill Clinton, em 2002, alardeou o início de uma corrida ombro a ombro pelo poder entre os EUA e o Japão, com a União Européia tentando alcançá-los. Onde eles estão agora... Japão Enquanto os EUA podem ser vistos como o nascedouro da tecnologia atômica teórica (marcada pelo discurso agora famoso de Richard Feynman na American Physical Society, em Caltech 140 Te c n o l o g i a a t ô m i c a em 1959), podemos dizer que o Japão deu à luz a tecnologia atômica aplicada, quando o pesquisador Iijima Sumio descobriu os nanotubos de carbono em 1991. Agora o Japão está interessado na sua recuperação econômica, e o governo está convencido de que a ciência e a tecnologia são a chave da recuperação. De acordo com isso, o orçamento para ciência e tecnologia de pesquisa e desenvolvimento está sendo aumentado, mesmo enquanto os orçamentos da maioria dos outros departamentos governamentais estão sendo diminuídos. O maior financiamento do governo para pesquisa da ciência na nanoescala começou em 1995, com a aprovação da Lei Básica de Ciência e Tecnologia Japonesa nº 130, resultando num aumento geral de apoio público à pesquisa básica.157 A lei distribuiu aproximadamente US$ 14,8 bilhões em pesquisa básica para universidades, indústrias e laboratórios nacionais, de 1996 a 2000. Em março de 2001, o governo anunciou que o investimento para os próximos 5 anos (2001-2005) seria aumentado para US$ 20,8 bilhões.158 Apenas para o ano de 2001, o governo distribuiu US$ 431 milhões para as ciências relacionadas a nano.159 Organizações governamentais e grandes corporações são a maior fonte de financiamento para a pesquisa e desenvolvimento da tecnologia atômica no Japão. Todas as grandes corporações do Japão destinam uma parcela significativa (geralmente ~ 10% na indústria eletrônica) da sua receita para pesquisa e desenvolvimento. A pesquisa corporativa japonesa tende a ser dirigida pelo produto, mas também existe nas corporações e na comunidade científica uma cultura bem estabelecida de planejamento para a próxima geração de inovações tecnológicas. As principais organizações governamentais patrocinando a nanotecnologia no Japão são o Ministério de Comércio Internacional e Indústria (MITI), a Agência de Ciência e Tecnologia ETC Group 141 (STA) e Monbusho (o Ministério de Educação, Ciência, Esportes e Cultura). Freqüentemente em associação com o governo, as grandes corporações estão financiando a nanotecnologia no Japão, particularmente a Hitachi, NEC, NIT, Fujitsu, Sony e Mitsubishi. Em 2001, a Mitsubishi Corporation lançou o primeiro fundo de ações da nanotecnologia do mundo, chamado Nanotech Partners. O fundo de US$ 100 milhões agora sustenta a Frontier Carbon Corporation, um produtor em massa de fulerenos.160 Consórcios privados também estão desempenhando um papel importante no Japão. Em adição, a interação entre universidade e indústria é estimulada pelos projetos do MITI concedidos a universidades que estimulam contratação temporária de pessoal de pesquisa vindo da indústria. Muitos dos laboratórios acadêmicos tem visitantes das indústrias como funcionários. O mesmo laboratório poderá ter trabalhadores de indústrias competidoras, trabalhando lado a lado em projetos específicos para empresas. EU A EUA As tentativas iniciais do Japão na tecnologia atômica deram motivação para os EUA lançarem sua Iniciativa Nacional da Nanotecnologia (National Nanotechnology Initiative – NNI). Agências federais dos EUA gastaram US$ 116 milhões em pesquisa da nanotecnologia em 1997, com a National Science Foundation na frente, gastando US$ 65 milhões. Um relatório de julho de 2000, feito pelo National Science and Technology Council’s Subcommittee on Nano-scale Science, Engineering and Technology (Subcomitê de Nanociência, Engenharia e Tecnologia do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia), propôs a Iniciativa Nacional da Nanotecnologia, aumentando 142 Te c n o l o g i a a t ô m i c a o total de investimentos em mais de uma vez e meia do valor do ano anterior. Bill Clinton solicitou US$ 495 milhões para pesquisa na nanotecnologia para o ano fiscal de 2001 e recebeu US$ 422 milhões do Congresso, para distribuição entre seis agências governamentais: National Science Foundation (Fundação Nacional de Ciência – recebendo a maior parte), Departamento de Defesa, Departamento de Energia, Instituto Nacional da Saúde, Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço e o Departament of Commerce’s National Institute of Standards and Technology (Departamento Nacional de Normas e Tecnologia do Comércio). George Bush pediu US$ 518,9 milhões para a pesquisa da tecnologia atômica para o ano fiscal de 2002, e mais seis agências governamentais foram escolhidas para receberem os fundos do NNI pela primeira vez. Os novos recebedores foram os Departamentos de Agricultura, Justiça, Transporte, Tesouro, Estado e a Agência de Proteção Ambiental. Para o ano fiscal de 2003, Bush quer aumentar o financiamento da Iniciativa Nacional da Nanotecnologia para US$ 710 milhões, e alguns membros influentes do Congresso dos EUA introduziram um projeto de lei chamado “Ato de Investimento no Futuro da América”, que aumentará os gastos com a tecnologia atômica na National Science Foundation (Fundação Nacional de Ciência), em 2003, de US$ 221 milhões para US$ 238 milhões.161 Em setembro de 2002 um projeto de lei foi introduzido no Congresso estadunidense para criação de uma nova agência federal permanente para promoção da ciência da nanoescala, pesquisa, desenvolvimento e educação. Essa lei estabeleceria o Programa de Pesquisa Nacional em Nanotecnologia, um departamento federal com orçamento e funcionários próprios, supostamente deixando a pesquisa da nanoescala mais indepen- ETC Group 143 dente dos humores da Casa Branca. O debate no Congresso sobre o projeto de lei proposto foi descrito pelo jornal do comércio Small Times como “paixão pela nanotecnologia”.162 O projeto de lei prevê US$ 5 milhões por ano para um novo centro para assuntos éticos, sociais, educacionais, legais e de força de trabalho, relacionadas à nanotecnologia. O governo dos EUA supõe que as grandes companhias transnacionais estejam investindo na tecnologia atômica em níveis comparáveis ao seu próprio comprometimento financeiro. Pequenas empresas iniciantes estão fornecendo nanomateriais aos pesquisadores. Consórcios de processamento de semicondutores, tais como a Sematech (um consórcio de 13 corporações fabricantes de semicondutores de 7 países, com sede em Austin, Texas) e a Semiconductor Research Corporation (um consórcio de membros da universidade e da indústria com sede no Research Triangle Park, NC e San Jose, CA) estão contribuindo com a pesquisa. Centros interdisciplinares com atividades na tecnologia atômica estabeleceram-se nos últimos anos em várias universidades dos EUA e, em 2000, a Universidade de Washington lançou o primeiro programa de doutorado em nanotecnologia. União E ur opéia Eur uropéia O investimento da União Européia em nanotecnologia é particularmente difícil de medir porque, além dos programas nacionais, grandes corporações, universidades e consórcios, existem redes de colaboradores que incluem alguns ou vários países: Os exemplos incluem: • O programa PHANTOMS (Physical and Technology of Mesoscale Systems – Física e Tecnologia dos Sistemas na Mesoescala) é uma rede criada em 1992 com aproximadamente 40 membros sediados em Leuven, na Bélgica. 144 Te c n o l o g i a a t ô m i c a • A rede European Science Foundation (Fundação Européia de Ciência) formada em 1995 para a Vapor-phase Synthesis and Processing of Nanoparticle Materials (Síntese da fasevapor e processamento de materiais de nanopartículas – NANO). Esse consórcio faz a ligação entre as comunidades das ciências dos materiais e aerossóis trabalhando com nanopartículas, e inclui 18 centros de pesquisas. • O European Consortium of Nanomaterials (ECNM – Consórcio Europeu de Nanomateriais) foi formado em 1996 e está sediado em Lausanne, na Suíça. • NEOME (Network for Excellence on Organic Materials for Eletronics – Rede de Excelência em Materiais Orgânicos para Eletrônica), que tem tido alguns programas relacionados com a nano desde 1992. • A European Society for Precision Engineering and Nanotechnology (EUSPEN – Sociedade Européia para Engenharia de Precisão e Nanotecnologia) foi projetada em 1997 com participação da indústria e das universidades de seis países da União Européia. • O Joint Research Center Nanostructured Materials Network (Rede de Pesquisa de Materiais Nanoestruturados) foi estabelecido em 1996 e está sediado em Ispra, na Itália. Eur o financiamento: O Sixth Framework Programme, o priuro meiro instrumento de financiamento da pesquisa para ciência e tecnologia da União Européia, foi adotado em meados de 2002. O programa dá ênfase para as ciências da nanoescala, como sendo uma das sete áreas principais de financiamento, destinando US$ 1,3 bilhões do seu orçamento para 2002-2006 à nanotecnologia, duas vezes a quantidade comprometida com a nanotecnologia no orçamento anterior.163 CORDIS, o European ETC Group 145 Commission’s Research and Development Information Service (Serviço de Informação de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Européia) mantém um site na Internet com detalhes sobre o Sixth Framework Programme (2002-2006). Nano nacional na E ur opa: Alemanha, França, Suíça e InEur uropa: glaterra têm programas nacionais bem estabelecidos de pesquisa sobre tecnologia atômica. A Suíça está gastando US$ 72 milhões na nanotecnologia – o investimento per capita mais alto do mundo em iniciativas da nanoescala.164 Na Alemanha, o Ministério Federal da Educação, Ciência, Pesquisa e Tecnologia (Bundesministerium für Bildung und Forshung – BMBF) estabeleceu seis Centros de Competência em Nanotecnologia no país. Esses centros de competência estão focados no uso industrial da tecnologia atômica; suas funções são “principalmente relações públicas, educação e ensino, criação de um ambiente economicamente atrativo e o aconselhamento de prospectos industriais no campo correspondente da nanotecnologia”. Em meados de 2002, o Ministério Alemão para Pesquisa e Educação lançou um novo programa de apoio à nanobiotecnologia de US$ 50 milhões para 6 anos. Os institutos Fraunhofer e Max Planck (particularmente o Max Planck Institute for Solid State Research, em Stuttgart, e o Max Planck Institut für Biochemie, em Martinsried) também formaram centros de excelência no campo da pesquisa na tecnologia atômica. A Inglaterra planeja destinar US$ 43 milhões para nova pesquisa interdisciplinar na nanotecnologia para os próximos seis anos e US$ 70 milhões para o Business and Science Park (Parque de Negócios e Ciência) da nanotecnologia na Universidade de Oxford.165 146 Te c n o l o g i a a t ô m i c a O France’s Center National de la Recherche Scientifique (CNRS) desenvolveu programas de pesquisa sobre nanopartículas e materiais nanoestruturados em aproximadamente 40 laboratórios de Física e 20 laboratórios de Química no país. Apesar de a França ser um jogador relativamente pequeno, o governo espera expandir a pesquisa da nanociência. A França tem cinco centros de pesquisa da nanotecnologia com instalações de “sala limpa” e existem aproximadamente 1.000 pesquisadores da nanociência e 1000 doutorandos e pós-doutorandos trabalhando nesse campo.166 Austrália A capacidade australiana nas ciências da nanoescala está centralizada principalmente nas instituições de pesquisa do setor público, especialmente o Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO), o Cooperative Research Centers e as universidades.167 Em janeiro de 2002, o governo anunciou que o Australian Research Council (Conselho Australiano de Pesquisa) destinaria 1/3 do seu orçamento de 2003 (aproximadamente US$ 86,4 milhões em cinco anos) para quatro áreas de prioridade, que incluem nanotecnologia, estudo do genoma, sistemas complexos e inteligentes e estudo dos fótons. O financiamento da nanotecnologia inclui patrocínio para a expansão das instalações da nanofabricação de semicondutores na Universidade de New South Wales, num centro especial de pesquisa para tecnologia de computadores quânticos. Em dezembro de 2001, a Universidade e o Governo de Queensland anunciaram que iriam instalar o Australian Institute of Bio-Engineering and Nanotechnology (Instituto Australiano de Bioengenharia e Nanotecnologia) no campus da universidade de Queensland em Brisbane.168 Quatro universidades – New South Wales, Queensland, Western Austrália e Sydney – anunciaram, em novembro de 2002, que iriam colaborar na ETC Group 147 compra, para uso em conjunto, de quatro poderosos microscópios de elétrons.169 A colaboração é patrocinada pela Nanostructural Analysis Network Organization Major National Research Facility, sediada em Sydney. QUEM SE IMPOR TA? NANO NO SUL IMPORT A pesquisa das tecnologias na nanoescala também está acontecendo em todo o Sul. Além dos líderes óbvios da alta tecnologia na Ásia e no Pacífico, vários países estão criando iniciativas nas ciências da nanoescala, e estão determinados a não deixar que seus países sejam excluídos. A maior parte do trabalho na América Latina e na África parece estar baseada nas universidades, ou nos institutos científicos, com apenas um apoio mínimo dos governos. A não ser em alguns países de cada região, a tecnologia atômica permanece numa fase bastante inicial na maioria das áreas no Sul, e com pouca atividade na África até agora. Abaixo, os primeiros e mais proeminentes participantes da tecnologia atômica no Sul: Taiwan Em setembro de 2002, o governo de Taiwan lançou um investimento de seis anos, de US$ 667 milhões para promoção das aplicações da nanotecnologia.170 Também em setembro de 2002, o National Science Council (NSC) inaugurou um laboratório de nanotecnologia e centro de design de sistemas de chips no Parque Industrial Científico de Taiwan. O NSC reservou US$ 1,1 milhão para a implementação do projeto.171 Taiwan é sede de várias companhias produtoras de nanopartículas, incluindo China Synthetic Rubber Corp., United Silica Industrial Ltd., DuPont Taiwan Ltd., Eternal Chemical Ltd. e Pai Kong Ceramic Materials Co. Ltd.172 Projeta-se que a indústria da tecnologia atômica de 148 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Taiwan valerá US$ 8,69 bilhões em 2008, com pelo menos 800 fabricantes envolvidos em investimentos relacionados, pesquisa e produção.173 Em junho de 2002, o ministro de assuntos econômicos de Taiwan, Lin Yi-fu, liderou uma delegação de 30 pessoas à Alemanha, Inglaterra e Espanha, para convocar investimentos para todas as indústrias da alta tecnologia de Taiwan.174 Coréia do SSul ul A Coréia do Sul está ganhando proeminência no campo das ciências da nanoescala. Em março de 2002, o governo da Coréia do Sul anunciou planos de investir US$ 145 milhões na nanotecnologia – um aumento de 93% em relação a 2001. O Ministério da Ciência e Tecnologia da Coréia do Sul vai construir um centro de nanofabricação no Korea Advanced Institute of Science & Technology (Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coréia). O governo também planeja oferecer incentivos fiscais para companhias estrangeiras para pesquisa na tecnologia atômica.175 República da China De acordo com Bai Chunli, o vice-presidente da Academy of Science, o governo da China investiu apenas valores modestos na pesquisa da nanotecnologia.176 Mas para o espanto de Taiwan e do Japão, a China atrai companhias da alta tecnologia de países vizinhos que estão buscando custos de produção mais baixos. Mesmo sem um maior comprometimento financeiro do governo, a China fez avanços impressionantes na pesquisa relacionada aos nanotubos. O desenvolvimento da nanotecnologia na China está centrado em volta de Shangai, onde existe um grupo de vinte instituições relacionadas com a nanociência.177 O Programa Chinês de Pesquisa e Desenvolvimento da Alta Tecnologia procura realçar a competitividade internacional da China e ETC Group 149 aumentar a capacidade de desenvolvimento e pesquisa na alta tecnologia no país.178 O programa financiou projetos, tais como o programa de nanotubos de carbono para armazenamento de hidrogênio, da Chinese Academy of Sciences (Academia Chinesa de Ciências). O Center for Nanoscience and Nanotechnology (Centro de Nanociência e Nanotecnologia) na Chinese Academy of Sciences em Beijing foi aberto em 2000. Esse centro reúne pelo menos uma dúzia de institutos e universidades do interior da China para colaboração na pesquisa.179 Em setembro de 2002, a Vecco Instruments Inc. instalou o China Nanotechnology Center (CNC – Centro de Nanotecnologia da China) em Beijing. Esse centro terá cientistas e engenheiros locais como funcionários, e será equipado com um microscópio de força atômica e com um microscópio de tunelamento atômico. A instalação será operada em conjunto com o Instituto de Química da Chinese Academy of Sciences (Academia Chinesa de Ciências), uma organização nacional de pesquisa.180 Cingapura O governo de Cingapura colocou no orçamento de 1997 a 2002, US$ 36,7 milhões em iniciativas na nanotecnologia, e está entusiasticamente promovendo os negócios da tecnologia atômica.181 Em janeiro de 2002, a Nanoscience & Nanotechnology Initiative (NUSNNI – Iniciativa da Nanociência e Nanotecnologia) foi estabelecida na Universidade Nacional de Cingapura. A NUSNNI é um grupo interdisciplinar composto de profissionais dos departamentos de engenharia eletrônica, engenharia mecânica, engenharia de materiais, engenharia ambiental, química, física, biologia, matemática e outros. Em março de 2002 Cingapura também criou o Institute of Bioengineering, que conduz pesquisa, em conjunto com SurroMed Inc., em nanobiologia. 150 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Índia A pesquisa sobre nanomateriais na Índia ainda está na fase nascente.182 O governo indiano ainda não liberou muito financiamento para as iniciativas na nanociência. A pesquisa mais proeminente da tecnologia atômica está concentrada em menos de uma dúzia de instituições com financiamento público. Entre os mais proeminentes estão: o Indian Institute of Science (Instituto Indiano de Ciência), em Bangalore, o Tata Institute of Fundamental Research (Instituo Tata de Pesquisa Fundamental), o IITS e o Radiophysics Institute (Instituto de Radiofisica) da Universidade de Calcutá.183 Surpreendentemente, existe até agora pouca atividade industrial, apesar de várias companhias farmacêuticas, líderes de mercado, estarem investindo em projetos de nanopartículas para distribuição de medicamentos. México Os cientistas no México estão ansiosos para obterem patrocínio governamental para pesquisa na tecnologia atômica, que até agora tem estado restrita ao grupo dos maiores institutos científicos. São eles, o Instituto Nacional de Investigaciones Nucleares (ININ), o Centro de Investigacion Cientifica y de Estudios Superiores de Ensenada (CICESE) e o Instituto Potosino de Investigación Científica y Tecnologia (IPICYT). Os pesquisadores do IPICYT, Humberto Terrones Maldonado e Mauricio Terrones Maldonado estão entre os cientistas mais proeminentes do mundo conduzindo pesquisa sobre o uso de soldas e feixes de elétrons para conexão de nanotubos de carbono.184 Seu laboratório, em San Luís Potosí, é equipado com um microscópio de elétrons altamente sofisticado, o único desse tipo encontrado na América Latina.185 ETC Group 151 Brasil Em 2002 o governo brasileiro investiu aproximadamente US$ 1 milhão em pesquisa para promoção das iniciativas na nanotecnologia.186 Estão sendo instalados centros nos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco, e existem programas de colaboração com França, Alemanha, Países Baixos e EUA. A pesquisa sobre tecnologia atômica no Brasil está estruturada em quatro redes, envolvendo mais de 200 doutores em todo o país. Essas redes incluem as seguintes áreas de pesquisa: 1) nanoeletrônica e áreas relacionadas; 2) materiais nanoestruturados; 3) nanotecnologia molecular; 4) nanobiologia.187 África do SSul ul A South African Nanotechnology Initiative (SANI) foi lançada em março de 2002, apesar do financiamento total do governo ainda não estar disponível.188 O objetivo da SANI é promover pesquisa sobre nanotecnologia e seu usos, em todos níveis de governo e indústria na África do Sul. O principal objetivo é o uso de nanomateriais e nanopartículas relacionadas à indústria mineradora. Como sendo o maior produtor de platina e ouro do mundo, existe interesse específico no uso da nanotecnologia para melhorar os usos específicos desses minerais. De acordo com uma pesquisa recente, existem cinco microscópios de força atômica na África do Sul. UMA MEDIDA DA CAP ACIDADE DA NANOCIÊNCIA CAPA NO SUL A Vecco Metrology é responsável por quase 90% do mercado mundial de fabricação e venda de microscópios de força atômica (AFM) de alta resolução. Essas ferramentas sofisticadas tornaram-se padrão de pesquisa para imagens atômicas e medições moleculares. O preço de um microscópio de força atômica básico é de aproximadamente US$ 175.000. 152 Te c n o l o g i a a t ô m i c a QUEM SE IMPOR TA? NANOCÃES DE GU ARDA: IMPORT GUARDA: GR UPOS DA SOCIEDADE CIVIL MONIT ORANDO GRUPOS MONITORANDO AS NO VAS TECNOL OGIAS NOV TECNOLOGIAS A lista das organizações da sociedade civil e de outras organizações não governamentais que estão monitorando as tecnologias atômicas não é muito longa. Isso não quer dizer que não existam muitos grupos com arquivos abertos sobre as tecnologias, mas poucos publicaram informações, e menos ainda têm estratégias de ação social. Isso vai mudar. Alguns dos atores atuais estão relacionados a seguir: Grupo ET C ETC O Grupo ETC (anteriormente conhecido por RAFI) é uma organização da sociedade civil sediada em Winnipeg, no Canadá. O Grupo ETC (pronuncia-se “etecetera”) dedica-se a conservação e ao avanço sustentável da diversidade cultural e ecológica e dos direitos humanos. Com esse fim, o Grupo ETC apóia o desenvolvimento de tecnologias socialmente responsáveis, úteis para os pobres e marginalizados, e se dirige às questões governamentais que afetam a comunidade internacional. O ETC também monitora a propriedade e o controle das tecnologias, assim como a consolidação do poder corporativo. As publicações do Grupo ETC estão disponíveis no endereço na Internet: www.etcgroup.org For esight IInstitute nstitute oresight O Foresight Institute, iniciado pelo guru da nanotecnologia K. Eric Drexler e dirigido por Christine Peterson, está sediado em Palo Alto, Califórnia, EUA. O instituto é a mais antiga fonte abrangente de comentário científico e social sobre os impactos em potencial das tecnologias atômicas. Sendo definitivamente ETC Group 153 pró-nano, o Foresight Institute não informa sobre a propriedade intelectual e as questões ambientais que envolvem as novas tecnologias. Endereço na Internet: www.foresight.org The IInternational nternational Center for B ioethics, Bioethics, Cultur isability ulturee and D Disability O endereço na Internet desse centro dá uma quantidade rica de informações sobre bioética e deficiência, inclusive com vários links e documentos referentes à tecnologia atômica. O dr. Gregor Wolbring, bioquímico da Universidade de Calgary e fundador do centro, é autor de vários trabalhos e oferece uma importante análise dos usos da tecnologia atômica e das tecnologias convergentes para aumento da performance humana. Wolbring avisa que a ênfase na melhora da performance humana surge da busca para usar a tecnologia para tratar ou erradicar o que são considerados defeitos humanos, em vez de se lidar com a necessidade de soluções sociais – aceitação, respeito e direitos humanos. Os artigos do dr. Wolbring estão entre as contribuições mais importantes do controverso relatório do governo dos EUA sobre melhora da performance humana. O centro tem como objetivo: • Examinar os aspectos culturais das questões bioéticas e de ciência e tecnologia. • Examinar os impactos das questões bioéticas, de ciência e tecnologia naqueles que foram marginalizados. • Garantir que os marginalizados tenham voz ativa em todos os debates que afetem suas vidas. • Ajudar aqueles que foram marginalizados a participar dos debates numa posição de força e conhecimento. • Aumentar a capacidade daqueles que não são marginalizados para receberem e compreenderem os pontos de vista daqueles que o foram. 154 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Endereço na Internet: www.bioethicsanddisability.org The IInstitute nstitute for Science in SSociety ociety Fundado em 1999, o Institute of Science in Society (ISIS) é uma organização sem fins lucrativos, sediada em Londres, que trabalha pela responsabilidade social e propostas sustentáveis na ciência. O ISIS promove compreensão crítica da ciência pelo público e busca o engajamento dos cientistas e do público numa discussão ampla. O diretor executivo do ISIS, dr. Mae Wan Ho, escreveu vários artigos fazendo uma análise crítica da tecnologia atômica. Todas as publicações da ISIS estão disponíveis no seu endereço na Internet: www.isis.org.uk The Science and E nvir onmental H ealth N etwor k (SEHN) Envir nvironmental Health Networ etwork Fundada em 1994 por um consórcio de organizações ambientais da América do Norte, a SEHN está preocupada com o uso prudente da ciência e com a proteção do meio ambiente e da saúde pública. A SEHN é a principal proponente nos Estados Unidos e no Canadá do princípio de precaução como a base da política do meio ambiente e da saúde pública. Endereço na Internet: www.sehn.org ETC Group 155 NO TAS NOT 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 Ann Thayer, “Nanotech meets market realities”, Chemical and Engineering News, p. 17. De acordo com Ed Nichaus, Consultor, Foresight Conference, 10 de outubro de 2002. Anônimo, “Designer Plastics”, The Economist, 8/15 de dezembro de 2001, p. 28. O resumo a seguir sobre a nanotecnologia no Japão baseia-se em grande parte em M. C. Roco, “Research Programs on Nanotechnology in the World”, Nanostructure Science and Technology: A Worldwide Study, 1999. Todos os números referentes ao investimento do Japão com a nanotecnologia vem desse relatório, a não ser aqueles com notas. Kyodo News Service, 29 de março de 2001. Anônimo, “Nanotech boom hosts potential of Japan surging into lead”, The Nikkei Weekly, 26 de fevereiro de 2001. Jiji Press Ltd., 20 de fevereiro de 2001. Doug Brown, “Congressman say more nano money is an investment in America’s future”, Small Times, 14 de maio de 2002. Pode ser encontrado na Internet: www.smalltimes.com Anônimo, “Senator introduces Bill to create permanent federal nano agency”, 18 de setembro de 2002. www.smalltimes.com Jeff Karoub, “Funding forecast looks good for US nanotechnology”, Small Times, setembro/outubro de 2002, p. 15. O Serviço de Informação da Comissão Européia de Pesquisa e Desenvolvimento mantém um endereço na Internet com detalhes sobre os desenvolvimentos do Sixth Framework Programme (2002-2006), incluindo chamadas para propostas e programas de trabalho. Na Internet: Europa.eu.int/comm/ research/fp6/index-em.html CMP Científica, “Nanotechnology Opportunity Report”, março de 2002, resumido por Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep Numbers Real”, Small Times, 11 de março de 2002 (ver nota 1). Jeff Karoub, “Funding forecast looks good for US nanotechnology,” Small Times, setembro/outubro de 2002, p. 15. De um relatório, “Na International Prospective Meeting of French Senate”, feito em 20 de junho de 2002 – www.nano.org.uk/senate.pdf Ver NanoAustrália: www.nanotechnology.com.au/australiatoday.htm Pode ser encontrado na Internet: nanodot.org/article.pl?sid=01/12/27/2219252 Patrik Lawnham, “Unis go for big-picture microscopes”, 4 de novembro 2002. Na Internet: australianit.com.au Anônimo, “Taiwan to invest US$667 million in nanotechnology applications”, Asia Pulse, on-line, 19 de setembro de 2002. Anônimo, “NSC Nanotech Lab in Southern Taiwan to be inaugurated”, Asia Pulse, on-line, 17 de setembro de 2002. Anônimo, “Taiwan has strong nanotechnology potential: ITRI”, Taiwan Economic News, 28 de março de 2002. 156 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 Te c n o l o g i a a t ô m i c a Anônimo, “Taiwan nanotechnology industry expected to be prosperou”, Asia Pulse, on-line, 10 de maio de 2002. Anônimo, “Trade delegation in Germany to promote investiment in Taiwan”, Asia Pulse on-line, 19 de junho de 2002. De vários itens da Small Times on-line, 12 de março de 2002, 19 de julho de 2002, 8 de julho de 2002 – www.smalltimes.com Anônimo, “Biotech, nanotech hold huge promise”, The Nikkei Weekly, 27 de maio de 2002. Anônimo, “China designates Shangai Center of nanotech industry”, Xinhua News Agency, 7 de agosto de 2001. Jen Lin-Liu, “China, emboldened by breakthroughs, sets out to become nanotech power”, Small Times, 17 de dezembro de 2001. Disponível na Internet: www.smalltimes.com Ib. James Bernstein, “Vecco to open China facility; Beijing site to focus on nanotechnology”, Newsday, New York, 4 de setembro de 2002. NEAsia Online, “Singapore backs nanotechnology business”, 1º de julho de 2002. Disponivel na Internet: www.nikkeibp.asiabiztech.com/wcs/leaf?CID= onair/asabt/ cover/193861 Informação compilada do Programa Asiático de Informação Tecnológica, ATIP Report Summary, ATI02.021ª; disponível na Internet: www.atip.org Samar Halarnkar, “Nanotechnology: the god of small things”, Finantial Express, 2 de setembro de 2002. M. Terrones et alii, “Molecular junctions by joining single walled carbon nanotubes”, Physical Review Letters, vol. 89, nº 12, agosto/2002. Comunicação pessoal com Dr.Humberto Terrones Maldonado, chefe do Avanced Materials Science, IPICYT. Comunicação pessoal com Dr. Henrique E. Toma, Instituto de Química, Universidade de São Paulo, 17 de setembro de 2002. Para maiores informações sobre pesquisa da nanotecnologia no Brasil, vá para www.renami.com.br, em português. Comunicação pessoal com Manfred Scriba, Council for Scientific and Industrial Research (CSIR), África do Sul, via e-mail, 18 de outubro de 2002. ETC Group PARTE VI A NANOTECNOLOGIA NOS DEU AS FERRAMENTAS... PARA BRINCAR COM A ÚLTIMA CAIXA DE BRINQUEDOS DA NATUREZA – ÁTOMOS E MOLÉCULAS. TUDO É FEITO DELES... AS POSSIBILIDADES DE SE CRIAR COISAS NOVAS PARECE NÃO TER LIMITES. HORST STÖRMER PRÊMIO NOBEL DE FÍSICA 157 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES POLÍTICAS NOSSO FUTUR O CONVER GENTE FUTURO CONVERGENTE Para a maioria de nós é difícil imaginar a dimensão da nanociência, mas a aurora da tecnologia atômica não é coisa pequena. A chegada da tecnologia atômica é muito significativa porque nos dá potencial sem precedentes para controle e manipulação de toda matéria – viva e não viva. A tecnologia atômica é a grande facilitadora – oferece acesso a uma nova dimensão, é um campo de brinquedos molecular, em que os blocos de construção de tecnologias poderosas convergem. Quando tivermos as ferramentas para controlar e manipular a matéria com precisão, estaremos na posição de utilizar e integrar as tecnologias, incluindo a biotecnologia, a informática, as ciências cognitivas e outras. A análise do Grupo ETC revela que, mesmo no atual clima financeiro instável, quando as bolsas de valores das altas tecnologias são tratadas com desprezo pelos investidores, a tecnologia atômica está recebendo uma massa considerável de 160 Te c n o l o g i a a t ô m i c a investimento, inovação e entusiasmo, que está impulsionando a nanociência para ser uma tecnologia real e viável no mercado. Achamos que: • As ferramentas que nos permitem explorar a tecnologia atômica – para ver e manipular os materiais na nanoescala – estão avançando rapidamente. • Mundialmente, bilhões de dólares estão sendo investidos na pesquisa básica. Mais de 30 governos nacionais lançaram iniciativas na nanociência, e outros seguirão. • Uma quantidade impressionante de empresas que aparecem na Fortune 500 estão fomentando a pesquisa e o desenvolvimento internos relacionados à tecnologia atômica. • Empreendedores da tecnologia atômica estão lançando empresas e capitalistas de capital de risco estão mostrando interesse. • Está crescendo o número de artigos científicos e patentes nanorelacionados. Os promotores da tecnologia atômica nos dizem que estamos no ápice de uma nova revolução industrial – uma nova economia de fabricação que tem o potencial de mudar o modo como vivemos, comemos, trabalhamos, fazemos guerra e definimos a vida. De acordo com alguns defensores da indústria, a tecnologia atômica vai desencadear uma nova renascença econômica, que combina o sonho da abundância material, desenvolvimento sustentável e lucro. Mas a história nos sugere um cenário diferente. Nas décadas recentes temos testemunhado a privatização da ciência e uma concentração impressionante de poder nas mãos de empresas ETC Group 161 multinacionais gigantes. No passado um pouco mais distante, as revoluções industriais, pelo menos no início, aumentaram a pobreza. Dada essa realidade, é importante perguntar: quem controlará a tecnologia atômica? Quem determinará o planejamento da pesquisa e quem se beneficiará das tecnologias convergentes? Como a sociedade civil e os governos poderão começar a se dirigir aos impactos potenciais socioeconômicos, ambientais e de saúde da tecnologia atômica sem desencorajar a exploração segura dos seus benefícios? Já que a história nos dá poucas pistas e nenhum exemplo de trabalho, a sociedade civil terá que tomar a frente. CONVER GÊNCIA DAS OR GANIZ AÇÕES DA CONVERGÊNCIA ORGANIZ GANIZAÇÕES SOCIEDADE CIVIL A manipulação na nanoescala é a força que une as tecnologias convergentes. Será que ela poderá também ser a plataforma unificadora, de onde a sociedade civil poderá compreender e lidar com as tecnologias convergentes? A economia atomicamente modificada do futuro oferece base em comum para defensores e ativistas nos campos da biotecnologia, tóxicos, saúde pública, direitos dos trabalhadores, segurança alimentar, agricultura sustentável, direitos dos deficientes, energia alternativa, antinucleares e oposição às armas nucleares, químicas e biológicas, entre outros. Os esforços de compreensão e aplicação da tecnologia atômica exigirão a participação (e cooperação) das várias organizações e comunidades. INDO EM FRENTE O “princípio de precaução” oferece uma abordagem da tecnologia atômica simples e sensata. O princípio de precaução diz que os governos têm a responsabilidade de tomar medidas 162 Te c n o l o g i a a t ô m i c a preventivas para evitar danos à saúde humana ou ao meio ambiente, mesmo antes que exista a certeza científica da existência desse dano. Sob esse princípio, é o proponente da nova tecnologia que carrega o ônus da prova, e não o público. O princípio de precaução recebeu aceitação considerável especialmente na Europa, mas não é universalmente definido ou aceito. Para implementação de uma abordagem de precaução, os governos e a sociedade civil precisam começar a formular a estrutura legislativa, reguladora e social que é necessária para guiar a tributação – e, onde for apropriado, a introdução – das novas tecnologias. Esse processo precisa ser transparente, democrático, e envolver todos aqueles que são potencialmente afetados de forma negativa pelas novas tecnologias. Infelizmente essas condições não existem hoje. Assim sendo, o Grupo ETC faz as seguintes recomendações políticas: • Organismos reguladores nos países OECD ainda não estabeleceram políticas ou protocolos para avaliação da segurança da tecnologia atômica Passo 1, que está incluindo nanopartículas em produtos que já estão no mercado e novas formas de carbono na nanoescala. Nessa etapa ainda não sabemos praticamente nada sobre o impacto cumulativo em potencial das partículas na nanoescala feitas pelo homem, na saúde humana e no meio ambiente. Dadas as preocupações levantadas sobre a contaminação por nanopartículas nos organismos vivos, o Grupo ETC propõe que o governo declare uma moratória imediata na produção comercial dos novos nanomateriais e que lance um processo mundial transparente para avaliação das implicações socioeconômicas, de saúde e meio ambiente dessa tecnologia. ETC Group 163 • No futuro, o espectro da manufatura molecular tem enormes riscos ambientais e sociais e não deve continuar – mesmo nos laboratórios – na ausência da compreensão ampla pela sociedade e de tributação. • Tecnologias emergentes exigem avaliações científicas, socioeconômicas e sociais para que os governos possam ter informações para tomar decisões sobre seus riscos/benefícios e o seu valor final. Com esse fim, o Grupo ETC sugere o desenvolvimento de uma Convenção Internacional para Avaliação das Novas Tecnologias (ICENT). Também existe a necessidade de desenvolvimento de mecanismos para avaliação das tecnologias emergentes em nível nacional e local para que os cidadãos tenham força para participação em debates abertos. • No início dos anos de 1990, as Nações Unidas perderam sua capacidade de monitoração eficiente das corporações multinacionais e de tributação competente das novas tecnologias. O Center on Transnational Corporations, das Nações Unidas (Centro de Corporações Transnacionais) foi desativado e o Center for Science and Technology for Development, da ONU (Centro de Ciências e Tecnologia para o Desenvolvimento) foi destruído. A perda dessas duas agências, vitais porém não valorizadas, foi equivalente a uma lobotomia frontal para a comunidade intergovernamental e para o Sul em particular. Durante os anos de 1990, a fusão corporativa dobrou sete vezes (passando de US$ 0,5 trilhão por ano para US$ 3,4 trilhões) e as ações da alta tecnologia aumentaram seis vezes (crescendo de 5% a 30% dos valores das ações) durante o maior boom tecnológico desde a primeira oferta de ações no Jardim do Éden. O Grupo ETC recomenda que a Assembléia Geral da ONU estabeleça um 164 Te c n o l o g i a a t ô m i c a novo centro de comércio e tecnologia, com um mandato maior e os recursos necessários para monitorar, relatar e aconselhar o poder corporativo, no contexto tanto das tecnologias quanto dos mercados, com referência principalmente nos impactos sociais. AVALIACAO DO ETC Leis da introdução tecnológica 1. Levará uma geração inteira para compreendermos as ramificações de uma nova tecnologia. Assim sendo, as decisões sobre usar ou não uma nova tecnologia serão obrigatoriamente ambíguas. A sociedade precisa ser guiada pelo princípio precautório. 2. Na avaliação de uma nova tecnologia, as primeiras perguntas devem ser: A quem ela pertence? Quem a controla? Por quem foi projetada e para benefício de quem? Quem tem o papel de decidir se ela será introduzida (ou não)? Existem alternativas? É a melhor maneira para chegar a um objetivo específico? No caso de haver dano, em quem estará o fardo da confiabilidade e como a tecnologia poderá ser responsabilizada? 3. O tamanho do beneficio de uma nova tecnologia para a sociedade é proporcional à participação dessa sociedade na avaliação da tecnologia – incluindo especialmente aquelas pessoas que estiverem mais vulneráveis. 4. Uma nova tecnologia não pode ser taxada definitivamente de positiva, negativa ou neutra, apesar de que certas tecnologias – num ambiente justo – poderão ser intrinsecamente descentralizadoras, democráticas e úteis. 5. Para cada tentativa de estabelecer controle social quando uma nova tecnologia é introduzida, existe uma elite poderosa usando controle social para impor as novas tecnologias à sociedade. 6. A introdução de uma nova tecnologia não é inevitável. 7. Qualquer tecnologia introduzida numa sociedade que não seja uma sociedade justa poderá aumentar a diferença entre os ETC Group ricos e os pobres – e poderá até causar dano diretamente aos pobres. 8. Uma nova tecnologia não pode ser a “bala de prata” para resolução de antigas injustiças. Fome, pobreza, desigualdade social e degradação ambiental são a conseqüência de sistemas injustos – não de tecnologias inadequadas. 9. Os líderes de uma sociedade que permite injustiça são os menos prováveis de introduzirem uma nova tecnologia que irá corrigir a injustiça. 165 FONTES E RECURSOS APÊNDICE A – NANO-NET www.apnf.org A Asia Pacific Nanotechnology Forum (APNF – Fórum de Nanotecnologia da Ásia no Pacífico) é uma organização de rede focada no desenvolvimento da tecnologia atômica nos países da área do Pacífico. Seu objetivo é facilitar o fluxo de informação entre aqueles que estão desenvolvendo a nanotecnologia e os investidores, e de facilitar a coordenação de programas e colaborações entre as regiões, entre os governos e os fazedores de política, indústria e principais instituições de pesquisa e desenvolvimento. A ANPF sedia o fórum anual e organiza encontros trimestrais para relatos sobre nanotecnologia entre os membros do fórum. Cada encontro ocorre numa cidade diferente na região asiática do Pacífico. A APNF também produz um jornal trimestral. A APNF é patrocinada pelos governos e pelas indústrias. A APNF é uma organização de sócios (as taxas para sócios variam de US$ 120,00 para pessoas físicas a US$ 500,00 para corporações), mas participar da comunidade da APNF significa estar perto 170 Te c n o l o g i a a t ô m i c a dos líderes mais influentes na nanotecnologia do mundo, de acordo com o endereço do fórum na Internet. Existem correspondências úteis sobre novidades da tecnologia atômica na Ásia e no Pacífico acessíveis a não-membros. www.acronym.org.uk/dd A Disarmament Diplomacy, publicado desde janeiro de 1996, é a revista sucessora da Nuclear Proliferation News, e está a disposição na Internet. A revista, que agora é publicada pelo Simons Center for Peace and Disarmament Studies (Centro Simons de Paz e Desarmamento) do Lui Institute (Vancouver, Canadá), propaga a pesquisa e analisa os perigos do uso das tecnologias atômicas para melhora das armas de destruição em massa já existentes (WMD) ou para desenvolvimento de uma nova categoria de armas de destruição em massa. A edição de julho/agosto de 2002 do Disarmament Diplomacy publicou um artigo chamado “Nanotecnologia e destruição em massa: a necessidade de um tratado interno”, que incitou a comunidade internacional a adotar um tratado para proteção do planeta da devastação causada pelas estruturas artificiais e moleculares. A edição de outubro/ novembro de 2002 editou um artigo sobre a pesquisa dos Estados Unidos nas tecnologias atômicas para desenvolvimento de armas nucleares de quarta geração. www.foresight.org A Foresight é uma organização sem fins lucrativos, fundada por K. Erik Drexler e Christine Peterson, com a missão de ajudar a preparar a sociedade para as futuras nanotecnologias. Desde 1989, o Foresight Institute tem patrocinado conferências sobre a nanotecnologia, com foco principalmente na manufatura molecular. Existe um arquivo on-line disponível sobre as ETC Group 171 Conferências Foresight 2000-2001. A Foresight publica uma revista trimestral, o Foresight Update, que relata os desenvolvimentos técnicos e não técnicos da tecnologia atômica. O Update é disponível on-line e é feito para uma audiência variada. A Foresight também mantém um endereço na Internet para notícias e discussões, o www.nanodot.org, e dirige o Institute for Molecular Manufacturing (IMM – Instituto de Manufatura Molecular), www.imm.org, uma fundação sem fins lucrativos criada em 1991 para desenvolver pesquisa para promoção das tecnologias de manufatura molecular. O IMM também promove regras para práticas de pesquisa e desenvolvimento, com intenção de minimizar o risco de mau uso acidental ou do abuso da nanotecnologia molecular. As Foresight Guidelines on Molecular Nanotechnology (Regras para a Nanotecnologia Molecular) que podem ser encontradas no www.foresight.org/ guidelines/current.html#Principles, são uma boa leitura de sugestões e indicações específicas dos possíveis perigos que podem envolver a pesquisa relacionada ao nanomaquinário autoreplicante. www.nano.org.uk O Institute of Nanotechnology (ION – Instituto de Nanotecnologia) é uma instituição de caridade registrada no Reino Unido. Foi estabelecida em 1997 para “fornecer objetivos para o interesse crescente na nanotecnologia, encorajar novas pesquisas e manter o público consciente dos desenvolvimentos nesse campo.” A maioria das atividades do instituto ocorre através do seu endereço na Internet, onde ficam disponíveis informações relacionadas aos desenvolvimentos tecnológicos, conferências, seminários e outros eventos internacionais. Os membros recebem regularmente um boletim 172 Te c n o l o g i a a t ô m i c a eletrônico sobre tecnologia atômica. As informações mais interessantes do endereço (por exemplo, estudos de caso de empresas, relatórios de país para país) são restritas aos membros “profissionais” e “corporativos”, mas a associação no nível “associado” é de graça. www.nano.gov O endereço na Internet da National Nanotechnology Initiative (Iniciativa Nacional na Nanotecnolgia) do governo dos Estados Unidos mostra informações importantes sobre o investimento do governo na tecnologia atômica, inclusive orçamentos para departamentos individuais do governo. Sob o título “Information on R&D” (informações sobre pesquisa e desenvolvimento) existe um link para dados sobre a nanotecnologia, itri.Loyola.Edu/nanotechnology_database, que é operado pelo Loyola College, em Maryland. Essa nanobase talvez seja o recurso da Internet mais abrangente sobre tecnologia atômica nos EUA, fornecendo links para os principais centros de pesquisa, agências financiadoras, principais relatórios e livros. Também fornece um link para um folheto de introdução de autoria do governo para audiência leiga, em formato pdf: www.wtec.org/ loyola/nano/IWGN.Public.Brochure www.nanoapex.com A NanoApex apóia o desenvolvimento de duas tecnologias emergentes, MEMs e nanotecnologia e inteligência artificial. A NanoApex é uma companhia de mídia e de pesquisa que fornece notícias atuais, informação sobre pesquisa, e outros recursos relacionados à tecnologia atômica no seu endereço na Internet. A NanoApex comprou a Atomasoft Corporation (com o lema assustador, mas previdente “a matéria se tornará software”) em agosto ETC Group 173 de 2002. O endereço na Internet da NanoApex tem links para uma galeria de imagens, para um glossário e para informações sobre livros relacionados à tecnologia atômica, sobre eventos e companhias. A NanoApex também é proprietária do Nanoinvestor News, nanoinvestornews.com, um endereço que envia notícias dirigidas a investidores na nanotecnologia e mantém um banco de dados sobre companhias envolvidas com a tecnologia atômica. O Nanoinvestor News dá destaque a um “módulo dos países”, fornecendo informação sobre atividades na tecnologia atômica organizadas por cada país. Para ter acesso a alguns recursos, é exigido registro, mas não existe taxa de inscrição (setembro de 2002). Notícias gerais e específicas relacionadas com tecnologias atômicas podem ser encontradas no seguinte endereço da NanoApex: news.nanoapex.com; os leitores também podem participar com comentários. Existe bastante sobreposição entre os três endereços na Internet da NanoApex, mas a reposição de notícias é freqüente (várias vezes por dia, em geral) e as notícias são abrangentes. www.nanobusiness.org A NanoBusiness Alliance é um grupo de comércio sediado nos Estados Unidos, da novata indústria da tecnologia atômica. Criado em meados de 2001, está buscando associados e batalhando por reconhecimento como lobista da indústria e administrador de mídia. A NanoBusiness Alliance coloca como sua missão: “criação de uma voz coletiva para o avanço da indústria da pequena tecnologia e da nanotecnologia, desenvolvendo uma variedade de iniciativas para apoiar a comunidade dos negócios da pequena tecnologia”. Os relatórios da Alliance resultantes de pesquisas de mercado (incluindo pesquisas sobre patentes) estão variando seus custos em milhares de dólares (EUA). 174 Te c n o l o g i a a t ô m i c a www.phantomsnet.com O Phantoms Network foi fundado pela Comissão Européia e seu foco é o desenvolvimento da nanoeletrônica. Em setembro de 2002, o Network era formado por 176 grupos de pesquisa interdisciplinares (governo, universidade e indústria) de 22 países europeus, juntamente com um pequeno número de grupos dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Índia. O endereço na Internet do Phantoms exibe noticias internacionais relacionadas com a nanoeletrônica (siga o link nanonews abaixo do general info); ele fornece um resumo dos projetos de pesquisa europeus (siga o link “European projects” em resources) e links para companhias da União Européia, laboratórios, instituições de pesquisa e redes (siga o link “useful links” em resources). Para mais informações gerais sobre pesquisa científica na Europa, vá para o endereço na Internet do Community Research & Development Information Service (Serviço de Pesquisa Comunitária & Desenvolvimento de Informações ): www.cordis.lu. Da página inicial desse endereço, clique no link “Databases and Web Services”, para encontrar mais de uma dúzia de bancos de dados relacionados a projetos, relatórios, documentos oficiais da União Européia e até mesmo um dicionário de acrônimos. www.smalltimes.com A Small Times é a “primeira companhia de mídia dedicada inteiramente a crescente indústria que inclui os MEMs (sistemas mecânicos microelétricos), microsistemas e nanotecnologias”. Fornece cobertura de noticias diárias e arquivos de busca, inclusive buscas de patentes através de palavras-chave. A Small Times promove o desenvolvimento de tecnologias atômicas. É um recurso útil por causa das suas notícias abrangentes. A Small Times também publica um jornal bimestral de capa dura. ETC Group 175 www.technologyreview.com O Technolog y Review é uma revista publicada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), que tem como objetivo promover “a compreensão da tecnologia emergente e seu impacto no mundo”. A revista está focada no “processo pelo qual a nova tecnologia sai dos laboratórios e entra no mercado”. Os artigos exigem um conhecimento básico de tecnologia atômica e podem ser cientificamente profundos, mas são normalmente acessíveis ao leitor leigo. O endereço na Internet tem artigos úteis sobre pesquisa e desenvolvimento da nanotecnologia, mas também reserva uma grande parte do seu conteúdo (incluindo boletins de registro de patentes para universidades e corporações) para assinantes pagos. APÊNDICE B – NANOGRAMÁTICA Montador ontador: é um dispositivo químico que, com certos materiais iniciais atômicos ou moleculares, poderá produzir uma estrutura molecular específica. K. Eric Drexler acredita que o trabalho da montagem molecular será executado pelos montadores. Átomo Átomo: a partícula da matéria que, de forma única, define um elemento químico. Consiste de um núcleo cercado de um ou mais elétrons. Cada elétron tem carga negativa; o núcleo tem carga positiva e contém partículas conhecidas como prótons e nêutrons. Micr oscópio de força atômica (AFM): é um exemplo de um icroscópio microscópio de prova atômica. O AFM permite a interação com a matéria numa escala muito pequena, no nível das moléculas. A ponta do AFM é presa no final de um braço móvel altamente sensível, e toca a superfície da amostra que será examinada. A força de contato é muito pequena. O AFM grava e mede os pequenos movimentos para baixo e para cima que são necessários 178 Te c n o l o g i a a t ô m i c a para manutenção de uma força constante na amostra. A ponta “sente” a superfície da mesma maneira que um dedo encosta na face. Sendo que o toque precisa ser delicado para não destruir a amostra, vários métodos diferentes foram desenvolvidos, incluindo um que gentilmente bate na amostra com pequenos intervalos inimagináveis, enquanto se move sobre a superfície. O AFM veio depois do microscópio de tunelamento (STM), e difere deste porque faz contato com o material em vez de usar uma corrente elétrica entre os materiais, tornando possível enxergar materiais não condutores na nanoescala. B uckyball uckyball: seu nome completo é buckminsterfullerenos (comumente chamados de fulerenos), e receberam esse nome por causa do arquiteto que inventou o domo geodésico. Descobertos em 1985 por Robert Curl, Harold Kroto e Richard Smalley, os buckyballs são compostos por sessenta átomos de carbono dispostos em forma de hexágonos e pentágonos, como numa bola de futebol (e parecidos com o domo geodésico). Curl, Kroto e Smalley ganharam o Prêmio Nobel de Química em 1996 pela sua descoberta. O buckyball é o precursor do nanotubo, descoberto em 1991 por Sumio Iijima. Catalisador: substância capaz de fazer catálise, que é a aceleração de uma reação química através da diminuição da barreira energética. A definição rígida de catálise exige que o catalisador não seja afetado pela reação como um todo. Sala limpa: o espaço onde a quantidade de partículas do ar (desde as partículas visíveis até aquelas na nanoescala) é drasticamente reduzida em relação aos níveis diários e rigidamente monitorada. A temperatura e umidade no ambiente da sala lim- ETC Group 179 pa também são controlados, para que seja possível a construção e a análise das estruturas e dispositivos na nanoescala, sem interferência da contaminação. Compostos: em geral, referem-se a tudo que é feito de partes ou elementos dispersos. Nanocompostos são uma nova classe de materiais derivados da incorporação de nanopartículas em polímeros. Química de dendrímer os dendrímeros os: cientistas estão desenvolvendo uma grande variedade de estratégias para a síntese, caracterização e aplicações das macromoléculas sintéticas tridimensionais chamadas dendrímeros (assim chamadas porque sua estrutura lembra uma árvore com galhos [dendritos]). Durante a última década, a química de dendrímeros cresceu drasticamente. O desenvolvimento ocorreu por causa das aplicações práticas dos dendrímeros em cartuchos de tinta, em diagnósticos in vitro e em agentes de contraste MRI. As aplicações previstas são muito mais abrangentes, incluindo o uso na manufatura da microeletrônica avançada, e dispositivos de armazenamento magnético. A capacidade comprovada de armazenamento dos dendrímeros, nas suas cavidades internas ou na sua superfície, de moléculas menores que poderão ser soltas mais tarde num lento equilíbrio, torna os dendrímeros agentes promissores para distribuição de medicamentos e também agentes de distribuição lenta de perfumes e herbicidas. Gray G oo Goo oo: o termo foi introduzido por K. Eric Drexler em 1986, no seu livro Engines of Creation: The Coming Era of Nanotechnology (Máquinas de criação: a era vindoura da nanotecnologia). O Gray Goo seria a eliminação da vida, que 180 Te c n o l o g i a a t ô m i c a resultaria da disseminação acidental e incontrolável de montadores auto-replicantes. Bill Joy e outros avisaram que os robôs em miniatura auto-replicantes , apesar de invisíveis ao olho humano, poderiam resultar numa espécie de Gray Goo (gosma cinza) se sua multiplicação algum dia saísse do controle. Exércitos de Blue Goo (gosma azul), ou nanomáquinas destruidoras, já foram sugeridos como uma medida de reforço à lei. Informática: ferramentas de software que permitem aos cientistas capturar, organizar e analisar os dados. Sistemas mecânicos micr oeletrônicos (MEMs): elementos microeletrônicos mecânicos integrados num substrato de silicone comum. MEM é uma tecnologia relativamente nova, que explora a infra-estrutura microeletrônica existente para criação de máquinas complexas com características de tamanho micro (um mícron é 1.000nm). Essas máquinas têm muitos usos, inclusive como sensores ou na comunicação. Mícr on Mícron on: uma medida equivalente a mil nanômetros. Manufatura molecular/nanotecnologia molecular: método de criação de produtos através de maquinário molecular, permitindo controle molécula a molécula dos produtos e subprodutos através da síntese química localizada. Molécula: uma coleção de átomos unidos por laços fortes. Geralmente refere-se a uma partícula com uma quantidade de átomos pequena o suficiente para ser contada (de algumas até alguns milhares). ETC Group 181 Nano: do grego nanos significando anão; destinado a se tornar um dos prefixos mais comuns (e usados até demais) do século 21. Nano subentende a escala do nanômetro, um bilionésimo de metro. Nanômetr o (nm): uma medida equivalente a um bilionésimo anômetro de metro. Nanopar tícula anopartícula tícula: um pequeno pedaço de matéria, composto por um elemento individual ou por um composto simples de elementos, normalmente com menos do que 100 nanômetros de diâmetro. O termo pode se referir a uma grande quantidade de materiais, inclusive a matéria expelida na exaustão dos carros. Nesse documento, referimo-nos a uma indústria que tem se desenvolvido na última década para a manufatura de uma quantidade de partículas, todas na nanoescala, que exibem propriedades desejadas. Um composto criado através da química tradicional terá um sortimento de propriedades. Se o mesmo composto for projetado para formar nanopartículas, ele poderá exibir capacidades aumentadas ou até mesmo propriedades totalmente novas. As nanopartículas podem ser manufaturadas, no caso dos compostos, vaporizando um sólido, adicionando um gás reagente e esfriando as moléculas vaporizadas, que se condensam em nanopartículas. Nanopartículas de metal puro também poderão ser feitas através de técnicas de evaporação-condensação, mas técnicas muito mais criativas estão sendo desenvolvidas, como a extração de ouro na nanoescala absorvido pelas plantas de alfafa. Nanotubo: moléculas em formato de cilindro parecidas com arame enrolado. Os nanotubos podem ser feitos de várias substâncias diferentes, mas grande parte da pesquisa sobre os 182 Te c n o l o g i a a t ô m i c a nanotubos está se concentrando nos tubos de átomos de carbono puro. Os nanotubos de carbono são 100 vezes mais fortes do que o aço, impenetráveis a temperaturas que chegam a 6.500 graus Fahrenheit, e com apenas um ou alguns nanômetros de diâmetro. Os nanotubos de carbono podem ser bons condutores de eletricidade e calor. Se um nanotubo de carbono é enrolado de maneira uniforme, como um pedaço de papel com as pontas do topo e da base alinhadas, ele poderá agir como um condutor metálico, carregando eletricidade eficientemente. Se um nanotubo de carbono é enrolado de maneira retorcida, como uma camisa mal abotoada, então suas propriedades elétricas mudam e ficam como a dos semicondutores de silicone, em que a corrente pode ser ligada e desligada. Um transistor precisa de nanotubos semicondutores. (Kenneth Chang, New York Times, 27/03/01). Polímer o: uma substância, natural ou artificial, formada por olímero: cadeias longas de moléculas, extraídas através da adição de várias moléculas menores, ou pela condensação de várias moléculas menores eliminando-se a água, álcool ou similares. O plástico é o polímero artificial mais conhecido. Ponto quântico: é uma partícula da nanoescala (de algumas centenas a alguns milhares de átomos) com propriedades óticas extraordinárias, que podem ser feitos sob encomenda, mudando-se o tamanho ou a composição da partícula. Os pontos quânticos absorvem a luz e, depois, rapidamente a reemitem, mas numa cor diferente, que pode ser tonalizada em qualquer comprimento de onda, apenas trocando-se o tamanho dos pontos. São úteis para a classificação no diagnóstico e no desenvolvimento de remédios. ETC Group 183 Mecânica quântica quântica: um sistema de mecânica baseado na teoria quântica, que explica os fenômenos observados no nível atômico (< 50nm), fenômenos que são diferentes daqueles observados em escalas maiores. Modelagem quântica quântica: simulações computadorizadas que permitem aos pesquisadores prever de que maneira os materiais se comportarão na nanoescala, reguladas pelas leis da mecânica quântica. Tabela P eriódica Periódica eriódica: uma lista completa de todos os elementos químicos conhecidos (atualmente são aproximadamente 115), dispostos em colunas e filas, de acordo com suas propriedades químicas. O químico russo Dmitri Mendeleyev produziu a primeira lista em 1869. A lista de Mendeleyev sugeria mais ou menos 60 elementos. Replicador: um sistema capaz de construir cópias de si mesmo quando existe matéria-prima e energia. Micr oscopia de pr ova atômica icroscopia pro atômica: um termo geral que significa passar a ponta de uma agulha sobre a superfície de uma amostra para criação de uma imagem gráfica dos contornos dessa amostra. oscópio de tunelamento atômico (STM): um STM leva Micr icroscópio uma ponta afiada, parecida com uma agulha e condutora de eletricidade, a uma superfície também condutora de eletricidade até praticamente encostar nela. A ponta e a superfície estão eletricamente conectadas, e a corrente irá passar se elas se tocarem. Uma corrente perceptível flui quando dois átomos têm um contato tênue, um na superfície, o outro na ponta da agulha. Ao mano- 184 Te c n o l o g i a a t ô m i c a brar a ponta da agulha delicadamente sobre a superfície, mantendo a corrente fluindo numa taxa pequena porém constante, o STM consegue mapear os contornos da superfície com grande precisão. O STM foi desenvolvido num laboratório de pesquisa da IBM em Zurique, Suíça, nos anos de 1970 e 1980, e pode ser usado para “levantar” e recolocar átomos. Se a voltagem é aumentada quando a agulha está exatamente sobre um átomo, esse átomo então grudará na ponta da agulha; o átomo poderá ser movimentado e posicionado enquanto estiver preso na agulha, a voltagem então será diminuída e o átomo se soltará da ponta e será colocado no seu novo lugar (K. Erik Drexler, Unbounding the Fututre, p. 92-94). Automontagem: método de integração no qual os componentes se reúnem espontaneamente, normalmente pulando dentro de uma solução ou em fase de gás, até que seja alcançada uma estrutura estável de energia mínima. Os componentes das estruturas automontadas encontram sua posição correta baseando-se somente nas suas propriedades estruturais (ou propriedades químicas no caso da automontagem atômica ou molecular), com a diferença de energia entre o ponto inicial e o ponto final sendo a força motora. Supramolécula upramolécula: um sistema de duas ou mais entidades moleculares unidas e organizadas através de interações em ligações intermoleculares. ETC Group 185 O GRUPO ETC O GRUPO DE AÇÃO NA EROSÃO, TECNOLOGIA E CONCENTRAÇÃO www .etcgr oup.org www.etcgr .etcgroup.org O Grupo ETC, anteriormente conhecido como RAFI, é uma organização internacional da sociedade civil com sede em Winnipeg, Canadá. O Grupo ETC (pronuncia-se “etecétera”) está dedicado à conservação e ao avanço sustentável da diversidade cultural e ecológica e aos direitos humanos. Até agora, o Grupo ETC tem apoiado o desenvolvimento socialmente responsável de tecnologias úteis para os pobres e marginalizados, e tem abordado questões governamentais que afetam a comunidade internacional. Ele também monitora a propriedade e o controle de tecnologias, e a consolidação do poder corporativo. Desde os anos de 1970, o Grupo ETC (como RAFI até 2001) conduziu pesquisa básica, educação e campanhas de ação social em questões envolvendo a biodiversidade na agricultura, propriedade intelectual e sistemas de informações comunitárias. Temos sido críticos ativos da propriedade intelectual (patentes), especialmente no que diz respeito a materiais vivos. Nos anos de 1980 e 1990, nosso trabalho se expandiu para englobar as preocupações 186 Te c n o l o g i a a t ô m i c a relacionadas com a biotecnologia, biopirataria, genoma humano e uma variedade de novas tecnologias conhecidas como nanotecnologias. Os temas combinados de erosão (cultural e ambiental); tecnologia (e como ela transforma a sociedade); e a concentração (do poder corporativo) formam o quadro operacional da pesquisa e programa de trabalho do Grupo ETC. Reconhecimentos O Grupo ETC deseja agradecer o apoio financeiro da Rockfeller Foundation que tornou possível a pesquisa e a publicação deste texto. Também gostaríamos de agradecer a Rockfeller Foundation, a Foundation for Deep Ecology e a Däg Hammarskjöld Foundation, pelo seu apoio em consentir que o ETC Group convocasse três workshops, nos quais o projeto desse relatório e a pesquisa relacionada a ele fossem discutidos. Os parceiros do ETC Group na convocação dos workshops, além da Däg Hammarskjöld Foundation, foram a Searice (Southeast Ásia Regional Institute for Community Education) no workshop da Ásia, que ocorreu em Nakhon Nayok, na Tailândia, em setembro de 2001; o CETSUR (Center for Education and Technology – South) no workshop realizado em Temuco, Chile, para a América do Sul, em novembro de 2001; e a Biowatch AS no workshop africano, realizado em Cape Town, África do Sul, em dezembro de 2002. O Grupo ETC conduziu os workshops e preparou esse relatório como parte da sua contribuição para o trabalho político do CBDC (Community Biodiversity Development and Conservation Programme) – Programa de Conservação e Desenvolvimento da Biodiversidade das Comunidades. ETC Group 187 PUBLICAÇÕES DA EXPRESSÃO POPULAR VIDA E OBRA: 1 Lenin e a Revolução Russa (Oziel Gomes) ............................................ Esgotado 2 Rosa Luxemburgo – Vida e obra (Isabel Maria Loureiro) ..................... R$ 6,00 3 O pensamento de Che Guevara (Michael Lowy) .................................. R$ 8,00 4 Josué de Castro – Vida e obra (Bernardo Mançano e Carlos Walter) ... Esgotado 5 Paulo Freire – Vida e obra (Grupo de Estudos / UFPR) ....................... R$ 13,00 6 Antonio Gramsci – Vida e obra de um comunista revolucionário (Mário Maestri e Luigi Candreva) ................................. R$ 10,00 7 Clara Zetkin – Vida e obra (Gilbert Badia) ............................................ R$ 10,00 8 Anton Makarenko – Vida e obra – a pedagogia 9 Lenin – coração e mente (Tarso Genro e Adelmo Genro Filho) ........... R$ 8,00 na revolução (Cecília S Luedemann) ...................................................... R$ 15,00 ECONOMIA, POLÍTICA, PEDAGOGIA, FILOSOFIA 10 Sobre a prática e sobre a contradição (Mao Tsé-tung) ........................... R$ 6,00 11 Reforma ou revolução? (Rosa Luxemburgo) ......................................... R$ 6,00 12 Fundamentos da escola do trabalho (M M Pistrak) ............................... R$ 10,00 13 Fidel A estratégia política da vitória (Marta Harnecker) ........................ Esgotado 14 O papel do indivíduo na História (G V Plekhanov) .............................. R$ 8,00 15 Clássicos sobre a revolução brasileira (Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes) ................................................... R$ 8,00 16 A nova mulher e a moral sexual (Alexandra Kolontay) ......................... R$ 8,00 17 Che Guevara: contribuição ao pensamento revolucionário (Manolo Monereo Pérez) .............................................. Esgotado 18 A hora obscura – testemunhos da repressão política 19 Marx e o socialismo (César Benjamin – org ) ........................................ R$ 8,00 (Julius Ficik – Henri Alleg – Victor Serge .............................................. R$ 13,00 REALIDADE BRASILEIRA 20 Sociologia política da guerra camponesa de Canudos (Clóvis Moura) Esgotado 21 Brasil: crise e destino – entrevistas com pensadores contemporâneos (org César Benjamin e Luiz Antonio Elias) ........................................... Esgotado 22 A história da luta pela terra e o MST (Mitsue Morissawa) ................... R$ 15,00 23 História e natureza das Ligas Camponesas (João Pedro Stedile – org.) R$ 10,00 24 A linguagem escravizada (Florence Carboni e Mário Maestri) ............. R$ 6,00 25 A ação política e o MST (Bruno Konder Comparato) .......................... R$ 8,00 26 Soberania sim, ALCA não! – análises e documentos (Campanha Nacional contra a ALCA – org.) ......................................... R$ 5,00 27 História das idéias socialistas no Brasil (Leandro Konder) .................... R$ 12,00 28 ALCA: integração soberana ou subordinada? (Emir Sader – org.) ....... Esgotado. LITERATURA 29 A Mãe (Máximo Gorki) ........................................................................... R$ 15,00 30 Contos (Jack London) ............................................................................. R$ 8,00 31 Assim foi temperado o aço (Nicolai Ostrovski) ..................................... R$ 15,00 32 Os mortos permanecem jovens (Anna Seghers) .................................... R$ 18,00 33 Week-end na Guatemala (Miguel Angel Astúrias) ................................. R$ 13,00 34 Aqui as areias são mais limpas (Luis A Betancourt) ............................... R$ 13,00 AMÉRICA LATINA 35 Dissidentes ou mercenários? – Objetivo: liquidar a revolução cubana (Hernando C Ospina e K Declerq) ............................................ R$ 8,00 PERSPECTIVAS 36 O Século 21 – Erosão, Transformação Tecnológica e Concentração do Poder Empresarial (Pat Roy Mooney) ............................................... R$ 10,00 37 Desafios da luta pelo socialismo (Plinio Arruda Sampaio – org ) ......... R$ 5,00 38 Sementes – Patrimônio do povo a serviço da humanidade 39 Tecnologia atômica – A nova frente das multinacionais (ETC Group) R$ 8,00 (Horacio Martins de Carvalho – org.) .................................................... R$ 13,00 TRABALHO E EMANCIPAÇÃO 40 41 A dialética do trabalho (Ricardo Antunes – org ) ................................... R$ 10,00 O ano vermelho – A Revolução Russa e seus reflexos no Brasil (Luiz Alberto Moniz Bandeira) ............................................................... R$ 15,00 42 O avesso do trabalho (Ricardo Antunes e Maria Aparecida Moraes Silva – orgs ) ................................................... R$ 13,00 O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE 43 Guerra e globalização – Antes e depois de 11 de setembro de 2001 (Michel Chossudovsky) ........................................................................... R$ 8,00 CADERNOS DE EXPRESSÃO POPULAR 44 Desafios da esquerda latino-americana (Marta Harnecker) .................. Esgotado 45 As tarefas revolucionárias da juventude (Lenin, Fidel e Frei Betto) ..... R$ 4,00 46 As três fontes (Lenin) ............................................................................... R$ 4,00 47 A História me absolverá (Fidel Castro) .................................................. R$ 4,00 OUTROS TÍTULOS: 48 Marx – Vida e Obra (Leandro Konder) .................................................. R$ 5,00 49 O massacre da fazenda Santa Elmira (Frei Sérgio A Görgen) ............... R$ 5,00 50 A Revolução de Outubro sob o olhar da História 51 Crise e trabalho no Brasil – Modernidade ou volta ao passado? (Osvaldo Coggiola – org ) ....................................................................... R$ 5,00 (Carlos A B de Oliveira e Jorge E L Mattoso – orgs ) ............................ R$ 10,00 52 De JK a FHC – A reinvenção dos carros 53 Tiradentes, um presídio da ditadura (Glauco Arbix e Mauro Zilbovicius – orgs ) .......................................... R$ 5,00 (Alípio Freire, Izaias Almada e J A de Granville Ponce – orgs.) ............ R$ 10,00 Os preços podem ser alterados sem aviso prévio. Recomendamos consultar nossa página na www.expressaopopular.com.br (ou pelo telefone (11) 3105-9500) antes de seu pedido.
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