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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Funcionamento Familiar e Aspectos de Saúde Associados à Codependência em Familiares de Usuários de Drogas Autora: Cassandra Borges Bortolon Orientadora: Profa. Dra. Helena Maria Tannhauser Barros Co-orientadora: Profa. Dra. Maristela Ferigolo UFCSPA 2010 Farmacologia e Terapêutica Clínica Dissertação de Mestrado 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE Reitora: Profª. Drª Miriam da Costa Oliveira Vice-reitor: Prof° Dr Cláudio Augusto Marroni DEPARTAMENTO DE FARMACOLOGIA Coordenadores: Prof° Dr Sérgio Luís Amantéa Profª Drª Cláudia Ramos Rhoden Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B739f Bortolon, Cassandra Borges Funcionamento familiar e aspectos de saúde associados à codependência em familiares de usuários de drogas / Cassandra Borges Bortolon; orient. Helena Maria Tannhauser Barros; co-orient. Maristela Ferigolo. - Porto Alegre: UFCSPA, 2010. 115 fls.; 3 tab. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de concentração: Farmacologia e terapêutica clínica. 1. Codependência. 2. Familiares de usuários de drogas. 3. Questões de saúde. I. Barros, Helena Maria Tannhauser II. Ferigolo, Maristela. III. Título. CDD 6l6.86 Ruth Borges Fortes Oliveira /Bibliotecária CRB10/501 Departamento de Farmacologia Rua Sarmento Leite, 245 Porto Alegre – RS CEP: 90050-170 Telefone: (51) 3303-9000 E-mail: [email protected] 3 Funcionamento Familiar e Aspectos de Saúde Associados à Codependência em Familiares de Usuários de Drogas Orientadora Profª.Drª. Helena Maria Tannhauser Barros Co-orientadora Drª. Maristela Ferigolo Aluna Cassandra Borges Bortolon Dissertação apresentada a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde – Farmacologia e Terapêutica Clínica 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela oportunidade desta existência. Agradeço a minha família de origem, avô Nilton (in memorian); mãe Claudete; pai Luiz; irmã Augusta; irmão Rafael; sobrinhas Bruna e Ana Carolina e sobrinha neta Maria Clara, que sempre estiveram ao meu lado. Agradeço a minha família de coração, Maria Zélia (in memorian), Sevenir e Severino pelo carinho e atenção. Agradeço a minha família por escolha, Fernando Frederic pelo companheirismo, romantismo e estímulo. Acredito que sou uma pessoa privilegiada devido “as famílias” que tenho. Pois todos expressam sentimentos sublimes quando estão comigo. Certamente, tudo que eu sou advêm da convivência e aprendizagem que tenho com estas pessoas tão especiais. Agradeço Félix Henrique Kessler por que foi quem me incentivou e o propulsor para o meu interesse no mestrado. Agradeço a Luciane Kopittke por me ensinar farmacologia, o que propiciou a minha aprovação no mestrado. Agradeço a todos os consultores do VIVAVOZ pelo trabalho que desenvolvem no call center. Agradeço em especial aos consultores e ex-consultores que me auxiliaram de perto na realização deste trabalho: Ana Carla Cerezer, Cássio Machado, Hérica Matos, Caroline Delani, Carla Torres, Hilda Moleda, Adriane Ferreira, Lidiane de Oliveira, Felipe Petry, Juliane Pariz, Jéssica Cruz, Josimari Cabreira e Marcelle Robaina. 5 Agradeço as minhas amigas supervisoras pelo apoio nas mais inusitadas situações vividas: Luciana Rizzieri, Mariana, Nádia, Simone, Bárbara, Hilda, Taís e Luana. Agradeço em especial a Luciana Signor que a partir do nosso convívio e amizade me ajudou a ultrapassar diversas dificuldades. Também, Andréa Engel que foi minha aliada no princípio da minha jornada no VIVAVOZ. Agradeço a co-orientadora Dra. Maristela Ferigolo que com seu incentivo e cooperação auxiliou ativamente para a realização deste estudo. Agradeço a orientadora Dra. Helena Barros por proporcionar desafios que me tornaram ainda mais forte e confiante sobre a minha competência. Agradeço aos participantes desta pesquisa que a partir da expressão de suas vidas contribuirão para o desenvolvimento de medidas de saúde apropriadas para o tratamento da codependência. Agradeço a SENAD pelo incentivo financeiro. 6 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................8 LISTADE TABELAS ......................................................................................................8 LISTA DE ABREVIATURAS.........................................................................................8 RESUMO .........................................................................................................................9 ABSTRACT ...................................................................................................................11 1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................13 1.1 Família ......................................................................................................................13 1.2 O Impacto do Uso de Drogas na Família .................................................................17 1.3 Codependência .........................................................................................................19 2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO ................................................................................30 3 OBJETIVOS ...............................................................................................................32 3.1 Objetivo Geral ..........................................................................................................32 3.2 Objetivos Específicos ...............................................................................................32 4 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................34 5 ARTIGOS ....................................................................................................................40 5.1 Artigo 1. (versão em português) ...............................................................................40 Funcionamento Familiar e Aspectos de Saúde associados à Codependência em Familiares de Usuários de Drogas 5.2 Artigo 1. (versão em inglês) Family Functioning and Health Aspects Associates with Codependency in Families of Drug Users …………………………………………………….…………..…………..65 5.3 Artigo 2. Aceito para publicação na Revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul - AMRIGS 7 Avaliação das Crenças Codependentes e dos Estágios de Mudança em Familiares de Usuários de Drogas em um Serviço de Teleatendimento ...............................................87 6 ANEXOS ..................................................................................................................102 6.1 Métodos ..................................................................................................................102 6.1.1 População do Estudo ...........................................................................................102 6.1.2 Delineamento do Estudo ................................................................................. ....102 6.1.3 Critérios de Elegibilidade dos Participantes ................................................... ....102 6.1.4 Amostragem e Tamanho da Amostra ................................................................ .103 6.1.5 Instrumentos de Coleta ...................................................................................... .103 6.1.6 Logística ..............................................................................................................105 6.1.7 Análise dos Dados ...............................................................................................105 6.1.8 Proteção dos Direitos Humanos ..........................................................................108 6.2 Autorização para o Uso da Escala HCI ..................................................................109 6.3 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .......................................................110 6.4 Instrumentos de Pesquisa .......................................................................................112 6.4.1 Protocolo Geral de Atendimento ao Familiar .....................................................112 6.4.2 Protocolo de Atendimento a Familiar .................................................................111 6.4.3 Escala de Avaliação da Codependência ..............................................................114 6.5 Treinamento em Entrevista Motivacional ..............................................................115 8 LISTA DE FIGURAS Introdução Quadro 1: Conjunto de Sinais e Sintomas da Codependência LISTA DE TABELAS Artigo 1 – versão em português Tabela 1: Associação entre codependência e variáveis sociodemográficas, características do funcionamento familiar e aspectos de saúde Artigo 1 - versão em inglês Tabela 1: Association between codependency and sociodemographic variables, family functioning and health aspects characteristics Artigo 2 – Tabela 1. Comparação entre as variáveis sociodemográficas; uso de drogas e as crenças codependentes dos familiares de usuários de drogas (n=154) que ligaram para o VIVAVOZ LISTA DE ABREVIATURAS FES - Family Environment Scale FTQ - Family Tree Questionnaire FAM - Family Assessment Measure Al-Anon - Grupo de Auto-ajuda para Familiares de Alcoólicos Anônimos Nar-Anon - Grupo de Auto-ajuda para Familiares de Narcóticos Anônimos Al-Ateen - Grupo de Auto-ajuda para Adolescentes Familiares de Alcoólicos Anônimos ACOA - Grupo de Auto-Ajuda para Filhos Adultos Familiares de Alcoolistas ADF-5- Acquaintance Description Form ICOD - Codependency Instrument CODAT - Codependency Assessment Toll HCI - Holyoake Codependency Index TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido CODA - Grupo de Auto-Ajuda para Codependentes Anônimos AA - Alcoólicos Anônimos OR – Odds Ratio 9 RESUMO O objetivo do primeiro estudo foi verificar a associação entre as características sociodemográficas e do funcionamento da família com a codependência em familiares de usuários de drogas. Realizou-se um estudo transversal e qualitativo no Serviço Nacional de Orientações e Informações sobre a Prevenção do Uso Indevido de Drogas – VIVAVOZ, central telefônica para atendimento anônimo e gratuito de toda população brasileira. Familiares de usuários de drogas que ligaram para o VIVAVOZ, em um período de um ano, foram convidados a participar do estudo (N=414). Os instrumentos utilizados incluíram o protocolo geral de atendimento, a fim de obterem-se dados gerais da caracterização do familiar; a escala de avaliação da codependência e categorias para avaliar o funcionamento familiar. Os dados evidenciaram que as chamadas originadas por mães e cônjuges, mulheres, familiares com idade superior a 45 anos, renda inferior a 5 salários mínimos e menos de 8 anos de estudo apresentaram maior razão de chance para alta codependência. Notou-se que níveis elevados de codependência associaram-se principalmente a mulheres que utilizavam serviços de saúde, fármacos em geral e sofriam implicações significativas em sua vida pessoal tais como: reatividade, autosacrifício, auto-negligência, sobrecarga de tarefas e emocional. Verificou-se que a codependência atingiu significativamente a qualidade de vida dos familiares. O segundo estudo objetivou avaliar as crenças codependentes e o estágio de mudança frente à problemática do uso de drogas em familiares de usuários de drogas que procuraram um serviço de teleatendimento. Realizou-se um estudo transversal no VIVAVOZ no período de junho a julho de 2007. A amostra incluiu 154 familiares de usuários de drogas. Os instrumentos utilizados foram a escala Ladder a qual avalia o estágio de mudança de comportamento frente ao familiar usuário e a escala de 10 codependência. Verificou-se que 71% dos familiares apresentaram crenças codependentes. Dentre esses, 89% identificaram-se no estágio de contemplação, ou seja, percebiam a necessidade de mudança no seu comportamento em relação aos usuários. Notou-se a importância de intervenções focadas na família que abordem as crenças maladaptativas codependentes e os estágios motivacionais no processo de mudança relacionado à dependência química. Palavras-chaves: Codependência; Familiares de Usuários de Drogas, Questões de Saúde e Teleatendimento. 11 ABSTRACT The first objective of the study was to investigate the association between the sociodemographic and family run with codependency in family members of drug users. We conducted a cross-sectional survey and qualitative in the National Guidelines and Information on the Prevention of Drug Abuse - VIVAVOZ, telephone exchange service for anonymous and free of any population. Families of drug users that have linked to the VIVAVOZ were invited to participate in the study (N = 414). Instruments used included the general protocol of care in order to obtain general information about the characterization of the family, the rating scale of codependency and categories to assess family functioning. The collected data demonstrate the calls made by mothers and spouses, women, family members aged over 45 years, incomes of less than 5 minimum wages and less than 8 years had higher odds ratio for high codependency. It was noted that high levels of codependency associated mainly to women who used health services, drugs in general, and suffered significant implications in your personal life such as reactivity, self-sacrifice, self-neglect, heavy workloads and emotional. It was found that the codependency has reached a significant quality of life of families. The second study evaluated the codependent beliefs and stage of change in the problem of drug abuse in the families of drug users who sought a telephone service. We conducted a cross-sectional study VIVAVOZ from June to July 2007. The sample included 154 families of drug users. The instruments used were the Ladder scale which evaluates the stage of change behavior towards the family and the scale of codependency. It was found that 71% of families had beliefs codependent. Among these, 89% identified themselves in the contemplation stage, this is, the perceived need for change in their behavior to the users. It was noted the importance of family-focused interventions that address the maladaptive beliefs codependent and motivational stages 12 in the process of change related to addiction. Keywords: Codependency; Families of Drug Users, Health Issues and Call center. 13 1 INTRODUÇÃO 1.1 Família A rede familiar e cultural transmite conjuntos de crenças e expectativas a respeito dos papéis sociais, gêneros, hábitos, das relações interpessoais, assim como em relação às substâncias psicoativas (HORTA et al., 2006). Com isso, o abuso de drogas é um fenômeno complexo que pode ser entendido, em parte, pela análise do contexto sociocultural e familiar (SCHENKER, 2008). O conceito de família é entendido como uma instituição privada, passível de arranjos, pois a contemporaneidade produziu novas configurações familiares e consequentemente transformação na execução dos papéis (HORTA et al., 2006). A família desempenha a função de socialização primária das crianças e dos adolescentes, é à base do desenvolvimento, matriz de modelos e referências e formadora de vínculos afetivos (MINAYO et al., 2003; 2004). As condutas utilizadas pelos pais com o objetivo de promover a socialização dos filhos constituem as práticas educativas, disciplinares ou de cuidado. A partir dessas práticas, os cuidadores procuram induzir as crianças a comportarem-se de acordo com padrões apropriados de conduta. Estudos indicam a necessidade de combinar-se responsividade e controle parental na educação dos filhos (HUTZ, 2002; SALVO et al., 2005). Em se tratando de dependência química, determinadas características são comuns às famílias. O efeito que a família sofre com o uso de drogas por um de seus integrantes corresponde às reações que ocorrem com o dependente. A família passa progressivamente por quatro estágios (FIGLIE et., 2004): mecanismo de defesa negação, neste, há tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem. Em um segundo momento, a família demonstra muita 14 preocupação com essa questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas consequências físicas, emocionais, ocupacionais e sociais. Todavia, neste momento a regra é não falar no assunto, mantendo a fantasia que o uso de substância não está causando problemas para a família. Assim, a comunicação é regida pela ambivalência. Na seqüência ocorre, a desorganização da família. Seus membros assumem papéis rígidos, previsíveis, podendo haver inversão no exercício dos papéis e funções familiares e também a ocorrência de comportamentos facilitadores (ROTUNDA et al., 2004). As famílias, em determinados momentos, assumem responsabilidades por atos que não são seus e, assim o usuário perde a oportunidade de perceber as consequências de seu abuso, aprender e crescer com esta situação (DENNING, 2010). Na última etapa, toda a família pode adoecer tanto em nível emocional quanto de comportamento e saúde (FIGLIE et al., 2004; SHOHAN et al., 2006). Sentimentos como raiva, ressentimento, desesperança em relação às promessas de parar de usar a substância, dor, impotência, visão negativa do futuro, desintegração, revolta, culpa e vergonha estão presentes na família dos usuários de drogas. Também são características: ausência de barreiras entre as gerações, mitos familiares acentuados, desentendimento conjugal, lealdade secreta diante da conduta inadequada, dificuldade de comunicação e problemas financeiros (FIGLIE et al., 2004). A inclusão da família é uma indicação clínica para o tratamento da dependência química (SHOHAM et al., 2006) no entanto, não há convergência sobre a abordagem a ser utilizada. Assim, três modelos teóricos de intervenção são destacados: o modelo da doença familiar, sistêmico e comportamental (FIGLIE et al., 2004; ZANELATTO, 2003). O modelo da doença familiar considera o uso nocivo de drogas como uma doença que atinge não apenas o dependente mas, também, a sua família. Este entendimento 15 originou-se nos grupos dos Alcoólicos Anônimos (AA) no início dos anos quarenta, pois as esposas de alcoolistas apresentavam sintomas específicos, assim surgindo o conceito de codependência (DEAR, et al, 2005). Deste modo, os grupos foram estendidos para os familiares: Al-Anon (Grupo de Auto-ajuda para Familiares de Alcoólicos Anônimos), Nar-Anon (Grupo de Auto-ajuda para Familiares de Narcóticos Anônimos), Amor Exigente (Grupo de Auto-ajuda para Familiares de Usuários de Drogas), Al-Ateen (Grupo de Auto-ajuda para Adolescentes Familiares de Alcoólicos Anônimos) e ACOA (Grupo de Auto-Ajuda para Filhos Adultos Familiares de Alcoolistas) e CODA (Grupo de Auto-Ajuda para Codependentes Anônimos). O objetivo dos grupos é proporcionar aos familiares o entendimento dos efeitos do consumo de substâncias bem como resgatar perdas e modificações que a convivência com esse problema ocasionou na família. Este modelo é amplamente utilizado em programas de tratamento (MINAYO et al., 2003, 2004; DENNING, 2010). O modelo sistêmico da dependência química extrapola a leitura somente do sintoma, uso de drogas, no contexto familiar. Amplia-se assim, a análise para questões sociais, econômicas e culturais. O uso de drogas por um dos integrantes da família não é compreendido apenas de forma individual, mas sim a partir da rede dos relacionamentos, afetos, visões de mundo e entendimento acerca do problema (OSÓRIO et al, 2009). Esse modelo considera a família como um sistema que pode manter a homeostase entre o uso nocivo de drogas e o funcionamento familiar. Nesta perspectiva, o dependente químico exerce uma função dentro do ambiente familiar. A modificação desta função acarreta uma desorganização na relação e no desempenho de papéis entre os membros da família (SANDERS, 2000). Para o tratamento da família é necessário a compreensão da disfuncionalidade por parte dos integrantes e intervenções que 16 capacitem as habilidades à modificação das relações e comportamentos alvos de problema. Já o modelo comportamental orienta-se a partir da teoria da aprendizagem, atribuindo ênfase ao condicionamento operante, ou seja, comportamentos voluntários que podem ser modificados por meio da alteração da contingência do reforço (CARROLL, 2005). Interações familiares podem reforçar o consumo de drogas. Neste sentido, faz-se necessário orientar uma mudança de comportamento do familiar, por meio de técnicas de contrato, manejo da contingência - reforço positivo e negativo - e terapia de redução de danos (CABALLO, 2002; DENNING, 2010). Atendimento familiar de cunho comportamental realizado para fumantes com a saúde comprometida apontou que a família deve ser motivada a aprender e implementar com o usuário estratégias para a solução de problemas, coping e treinamento de habilidades. O envolvimento da família foi um elemento chave para a manutenção da abstinência dos usuários destes estudos (ZYWIAK et. al e SHOHAN et. al, 2006). A American Society of Addiction Medicine propõe três fases para o tratamento de familiares de dependentes químicos, sendo que a intervenção difere de acordo com a meta de tratamento estabelecida, bem como das necessidades da família. Na primeira fase de intervenção, é proposto trabalhar a negação e a interrupção do consumo de substâncias; na segunda, prevenir recaídas e estabilizar a família, melhorando seu funcionamento. Já na terceira fase, aumentar a intimidade do casal no plano emocional e sexual (DEAR et al., 2005). Familiares que estavam acompanhando usuários em tratamento em comunidade terapêutica apresentaram redução nos escores de codependência durante o curso do tratamento familiar (TEICHMAN, 1996). Outro estudo demonstrou a prevalência acentuada de comportamentos permissivos em 17 cônjuges de usuários de álcool que foram percebidos tanto pelos usuários quanto por seus companheiros (ROTUNDA et al., 2004). 1.2 O Impacto do Uso de Drogas na Família O consumo de álcool ou drogas ilícitas atinge toda a família, desencadeando diversos problemas em nível marital e parental, dentre eles a ocorrência de violência doméstica, criminalidade e problemas relacionados à qualidade de vida e saúde (MURRAY et al., 2008; GUIMARÃES et al., 2008, HARKNESS et al., 2003). O risco aumentado para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos em pessoas com abuso e dependência de drogas ocasiona consequências deletérias tanto em nível individual e laboral quanto familiar (KAROW et al., 2008; BIEDERMAN et al., 2009). A consequência à família do uso indevido de álcool é de sofrimento em função da baixa percepção do usuário a respeito do prejuízo provocado pelo seu uso e também pela prevalência acentuada de comorbidades, dentre elas depressão (GAMBLE et al., 2010). O consumo de cocaína torna o usuário irritado, agressivo, impaciente e desconfiado (DACKIS et al., 2001; GOLSTEIN, et al, 2009) além de apresentar maior risco de suicídio (ROY, 2009). Já a utilização de maconha, pode acarretar a síndrome amotivacional expressa por faltas à escola, trabalho e apatia do usuário frente o cotidiano da família (DSM IV-TR, 2002; FERREIRA et al, 2007). Também, a abstinência do uso de maconha ocasiona irritabilidade, inquietação, diminuição do apetite e comportamento agressivo (VANDREY et al., 2005). Para a investigação do funcionamento familiar de farmacodependentes são utilizadas as seguintes escalas: FES (Family Environment Scale) – Escala do Ambiente Familiar - a qual avalia a percepção de cada um dos familiares sobre o clima social e interpessoal da família, além de planejar e monitorar mudanças familiares (VIANNA et al., 2007). O instrumento é constituído por 10 subescalas denominadas: coesão; 18 expressividade, conflito, independência, assertividade, interesses intelectuais, lazer, religião, organização e controle que exploram 3 dimensões: relacionamento, pessoal e manutenção do sistema (NEGY et al., 2006) A FTQ (Family Tree Questionnaire) – Questionário da Árvore Familiar - que verifica a história familiar de problemas com álcool na primeira e segunda geração e a escala FAM (Family Assesment Measure) – Medida de Avaliação Familiar - instrumento de avaliação do funcionamento geral, individual e de relacionamento dos familiares (GORENSTEIN et al., 2001). Estudos de cunho qualitativo procuraram entender e explorar fortemente às redes familiares da dependência química. Foi identificada a expressão de sofrimento significativo em esposas de alcoolistas (N=6) caracterizado por atitudes resignadas quanto ao problema do consumo de álcool e a tendência ao auto-sacrifício. Além de sentimentos de solidão, tristeza e frustração em função da insuficiência do companheiro em desempenhar os papéis de pai e marido (TOBO et al., 2005). Além disso, verificouse os estilos de enfrentamento das esposas frente o alcoolismo dos maridos. Participaram do estudo 13 esposas que realizavam ou não tratamento em grupo para familiares cujos maridos estavam abstinentes ou não e 6 alcoolistas abstinentes. Assim, os fatores motivacionais das esposas para a busca de tratamento foram: episódios de violência, prejuízos financeiros, profissionais e legais e necessidade de ajudar o marido. As cônjuges que buscaram ajuda de forma construtiva caracterizada por atitudes pró ativas de procurar tratamento, grupos de auto-ajuda para si e para o marido influenciaram na adesão ao tratamento de ambos e na melhora do relacionamento conjugal (ZANELATTO, 2003). Ainda, avaliou-se o impacto nas famílias (N=6) da morte de um familiar por overdose em decorrência do uso de drogas. Para a análise, as famílias foram agrupadas em duas categorias: familiares que sabiam do uso de drogas e que não sabiam. No primeiro grupo predominaram sentimentos ambivalentes quanto à 19 perda caracterizados por dor imensurável e, ao mesmo tempo, sensação de alívio, além de sentimento de fracasso por não ter conseguido ajudar. No segundo grupo prevaleceram os sentimentos de raiva, culpa, desamparo e vergonha (SILVA et al., 2007). Por fim outro estudo objetivou avaliar o padrão de codependência e investigar correlações entre esse padrão relacional na família e reincidência de sintomas psicossomáticos. Para tanto, foram entrevistados aleatoriamente 50 pessoas na sala de espera de um centro de saúde. Foi considerado grupo experimental os familiares de usuários de álcool e grupo controle indivíduos que não tinham familiar com histórico de alcoolismo. Nesta amostra, encontrou-se diferença estatisticamente significativa na comparação entre os grupos para os familiares de alcoolistas em todas as variáveis pesquisadas: sentimentos, comportamentos, lembranças da infância e expectativas, além dos dados coletados nos prontuários médicos a respeito dos sintomas e a frequencia de consultas médicas (ZAMPIERI, 2005). 1.3 Codependência Devido à complexidade dos problemas enfrentados entre usuários de drogas e familiares, a família também pode adoecer (HUGHES-HAMMER et al., 1998; ANCEL et al., 2009). Uma condição descrita na literatura é a codependência considerada uma síndrome de crenças e estratégias mal - adaptativas que pode manifestar-se em qualquer familiar de usuário de drogas (DEAR et al., 2002). Sabe-se que a codependência tem sido objeto de estudo tanto das abordagens médicas quanto psicológicas, psicossociológicas e sistêmicas (CROTHERS et al., 1996; HARKNESS et al., 1997). Assim, encontra-se na literatura diversas definições para a codependência. Em determinados momentos a família age de forma a reforçar a manutenção do uso de drogas pelo familiar usuário, o que propicia o agravamento do problema (ROTUNDA et 20 al., 2004). Desta forma, os comportamentos facilitadores da família merecem atenção e cuidado profissional. O interesse sobre a codependência por profissionais da saúde especializados em dependência química surgiu a partir da grande prevalência de características específicas que as mulheres de dependentes de álcool apresentavam nas décadas de 1940 e 50 (ANDERSON, 1998; DEAR et al., 2000, GOMES et al., 2003). Nos grupos de autoajuda, as esposas relatavam comportamentos permissivos diante do uso de álcool do marido, além de empobrecimento nas relações interpessoais e maior interesse pelos problemas do cônjuge do que às suas próprias necessidades (CERMAK, 1986; YOUNG, 1987). Assim, o foco de atenção foi ampliado também para a família, pois essas características eram iatrogênicas ao tratamento (WEGSCHEIDER-CRUSE et al., 1984; CERMAK, 1986; WHITFIELD, 1987; BEATTIE, 1987; KITCHENS, 1991). Devido a este contexto, inicialmente a codependência foi entendida como uma característica exclusiva das mulheres de dependentes de álcool. Entretanto, a partir de argumentos feministas que divergem do arcabouço teórico da codependência, esses estudos excluíram as questões referentes a padrões culturais aos quais as mulheres eram fortemente submetidas (ANDERSON, 1998). Mais tarde, estudos demonstraram que filhos de dependentes de álcool também apresentavam características similares as esposas de dependentes de álcool e outras comorbidades tais como: auto-depreciação, auto-estima baixa, abuso de álcool e depressão (HINKIN et al., 1995; HARKNESS, 2003). Todavia, atualmente, a codependência é considerada como uma condição que pode ocorrer com qualquer integrante da família exposto ao problema do uso de álcool, outras drogas e jogo patológico (DEAR et al., 2000; 2005; GOMES et al., 2003, MAZZOLENI et al., 2009). 21 O familiar codependente vive em função da pessoa problema, fazendo desse comportamento a motivação para sua vida, sentindo-se útil e com objetivos somente quando estão diante do dependente e de seus problemas. Comumente, são pessoas que apresentam baixa auto-estima, intenso sentimento de culpa e não conseguem se distanciar do usuário (CERMAK, 1986; GOMES et al., 2003; BEATTIE, 2009). A codependência caracteriza-se por ser um conjunto de sinais e sintomas, conforme o quadro 1. A conduta codependente é uma resposta disfuncional ao comportamento do usuário de drogas. Esta característica converte-se em um fator chave na evolução e manutenção da dependência. No entanto, os familiares codependentes não percebem que facilitam o agravamento do problema, o que sugere a necessidade de intervenção não somente para o usuário de substância, mas também para os familiares (GOMES et al., 2003; DENNING, 2010). A codependência apresenta referenciais teóricos distintos (HUGHES-HAMMER et., 1998; HARKNESS et al., 2001, NORIEGA et al., 2008): 1- doença, a origem da doença inicia na infância, a criança aprende a relacionar-se aditivamente com as pessoas (SCHAEF, 1986). Há criticas significativa a respeito dessa definição no que tange uma tentativa de medicalizar a codependência (VAN WORMER, 1989). 2- transtorno de personalidade com elevada resistência à mudança (CERMAK, 1984, HINKIN et al., 1995; ZAMPIERI et al., 2004); 3 - problema nas relações resultante de padrões que tendem a ser adotados nos relacionamentos (NORIEGA et al., 2002, 2008; WRIGHT, et al, 1999). WRIGHT (1999) caracterizou duas formas de codependência: a endógena definida pela cronicidade derivada de uma predisposição devido a histórico familiar de alcoolismo e a exógena identificada como reativa, relacional, pois se refere à maneira de enfrentar a problemática de conviver com um familiar dependente. 22 Diversos instrumentos foram desenvolvidos para avaliar a codependência (DEAR, et al. 2005). Cermak (1986) definiu a codependência como extrema externalização, falta de clareza na expressão dos sentimentos e tentativa de obter carinho e atenção a partir de comportamento altruísta. A partir dessa conceitualização, Spann e Fisher (1990) constituíram o Codependency Assesment Questionnaire – Questionário de Avaliação da Codependência - composto por 16 itens auto-aplicáveis com duas possibilidades de escolha numa escala Likert (TEICHMAN, et al, 1996). Wright (1999) desenvolveu a Acquaintance Description Form (ADF-C5) – Questionário para Descrição da Familiaridade - contendo declarações que envolvem a relação do indivíduo com seu familiar numa escala Likert de 0-6 pontos. Além disso, Noriega (2002) alicerçada nos pressupostos de Wright desenvolveu a escala Codependency Instrument ICOD – Instrumento de Codependência - que avalia a codependência em 4 fatores: mecanismo de negação, desenvolvimento da identidade incompleto, repressão emocional e incapacidade para resolver problemas. Ainda, Codependency Assesment Toll (CODAT) – Ferramenta de Avaliação da Codependência - primeiramente estudado por Wegscheider-Cruse e Cruse (1990) e revisado por Hughes-Hammer, Martsolf e Zeller (1998). A escala contém 25 itens, composto de 5 fatores avaliados de 1 a 5 pontos: família de origem, foco no outro, preocupação baixa consigo mesmo, mascarar a identidade e problemas médicos (MARTSOLF, et al 1998). Recentemente, a escala CODAT, foi avaliada para estudantes e os resultados apresentaram consistência interna e validade para versão na Turquia (ANCEL, 2009). Além destas, há a escala Holyoake Codependency Index HCI – Escala de Avaliação da Codependência - construída por Dear e Roberts (2000), composta por 13 itens que avalia, por uma escala Likert, a extensão que a pessoa concorda ou rejeita sentimentos codependentes. O escore total varia de 3 a 15 pontos, sendo calculados pela soma de 23 três elementos denominados: foco no outro, auto-sacrifício e reatividade. A característica da codependência foco no outro é a tendência do indivíduo necessitar das outras pessoas para obter aprovação e sentido de identidade a partir do foco de atenção em comportamentos, opiniões, expectativas de outras pessoas. Assim fixa seu próprio comportamento em relação àquelas expectativas e opiniões para obtenção de aprovação e estima. Já auto-sacrifício é caracterizado pelo indivíduo considerar a necessidade dos outros, especialmente do familiar usuário de drogas, como mais importante que as suas, ocorrendo, consequentemente, a auto-negligência. Por fim, reatividade, refere-se à crença relacionada à capacidade de controlar as atitudes do usuário e, ao mesmo tempo, ao grau que os seus próprios sentimentos e comportamentos são controlados pela conduta problemática do seu familiar usuário. Esta característica é vivenciada pelo familiar codependente por uma limitada consciência do efeito de seus próprios comportamentos e atitudes em relação ao outro (DEAR et al., 2000; 2002; 2005). Para a presente pesquisa com a escala HCI, inicialmente, foi realizado um estudo piloto conduzido em 2007 com familiares de usuários de drogas com fins de estimar a codependência. O ponto de corte para codependência foi considerado o valor de >9,7 em função de priorizar a identificação de familiares com crenças codependentes (FLETCHER et al., 2006). Os estudos subsequentes utilizaram essa padronização. Foram consideradas como vantagens para a utilização da escala: facilidade da aplicação por telefone, existência das três subescalas (foco no outro, auto-sacrifício e reatividade) e a permissão do autor para utilização do instrumento (anexo 6.2). Diversos estudos identificaram o uso de drogas na família como um fator de risco para codependência com a população clínica e em geral (DEAR et al, 2000; GOMES, et al, 2003). E adultos, filhos de alcoolistas, apresentaram maiores taxas para problemas agudos de saúde tais como: ferimentos e envenenamento (HARKNESS, 24 2003). Além disso, já tem sido objeto de interesse científico a correlação entre codependência e depressão. Estudo que avaliou a depressão a partir da escala Beck de depressão (BDI) e os elementos da codependência: foco no outro, auto-sacrifício e reatividade pela escala HCI verificou correlação positiva entre depressão e foco no outro, caracterizado pela necessidade de obter atenção e aprovação dos outros para a sensação de identidade (DEAR et al., 2005). Outro estudo demonstrou diferença significativa entre homens e mulheres para as variáveis codependência e depressão. As mulheres apresentaram médias significativamente maiores (GÓMEZ et al., 2003). Igualmente, nas mulheres em tratamento por depressão foi identificada à correlação positiva com codependência (r=0.92), em que 36% das mulheres deprimidas também eram codependentes (HAMMER-HUGHES et al., 1998). Além disso, em mulheres idosas a codependência e depressão estavam significativamente correlacionadas (MARTSOLF et al., 2000). Assim é importante destacar que a codependência pode ser influenciada por diversos fatores além da existência de usuário de drogas na família, tais como: violência familiar, perda precoce dos pais, ocorrência de separação ou abandono, doença crônica na família, sexo feminino, parentesco com o familiar e profissional da saúde (NORIEGA et al., 2008; DEAR et al., 2005; YATES et al., 1994). De acordo com Hughes-Hammer et al. (1998) 40 milhões de americanos, principalmente as mulheres, tem sido considerados codependentes. Em 105 mulheres americanas, com média de idade de 42 anos, 36% foram consideradas codependentes. Todavia, a codependência não é somente uma condição que ocorre com as mulheres. Martsolf et al. (1999) verificaram numa amostra de profissionais da saúde tanto homens quanto mulheres médias maiores de codependência em homens (P<0,05). Estudo realizado com enfermeiras verificou que 30% da amostra apresentou nível moderado e 25 alto de codependência (YATES et al., 1994). A codependência foi considerada como um problema social por Harkness et al (2001), pois está associada com a ocorrência de alcoolismo e uso de outras drogas. A associação entre a codependência e essas doenças custou $273,3 bilhões para o governo americano. Ainda, o estresse no ambiente familiar seria denominado por uso de álcool, doença física e ou mental por parte dos pais foi considerado um preditor para nível alto de codependência em estudantes universitários (n=257). A comparação entre a ocorrência de estresse ambiental e não exposição ao estresse apresentou médias maiores de codependência no grupo sujeito a exposição (P<0,05) (FULLER et al., 2000). Já Dear e Robert (2000) avaliaram a codependência em familiares de usuários de drogas e na população geral. Apresentou médias maiores de codependência à população clínica. Por fim, pesquisa conduzida com cônjuges de alcoolistas apontou que 100% da amostra já havia se engajado em algum comportamento permissivo diante do uso de álcool e outras drogas de seu familiar no último ano (ROTUNDA et al., 2004). Os comportamentos mais prevalentes nessa amostra foram: mudar ou cancelar encontros familiares ou atividades sociais porque o familiar estava usando álcool e ou outras drogas ou recobrando-se dos efeitos (45%), mentir ou dar desculpas à família ou amigos para esconder o consumo de drogas do familiar (38%), assumir tarefas do seu familiar porque ele estava usando droga e ameaçar o seu familiar de separação devido ao uso de drogas, mas depois não se separar (36%), convencer o seu familiar a ir trabalhar de manhã quando ele estava recuperandose dos efeitos (31%). Entretanto, ainda são insuficientes os estudos científicos em âmbito nacional e internacional que examinem em familiares de usuários de drogas os fatores de associação relacionados à codependência, tais como: variáveis sociodemográficas e de 26 funcionamento familiar. Além disso, não existem pesquisas sobre a codependência realizada em serviço de saúde por telefone. 27 Quadro 1 - Conjunto de Sinais e Sintomas da Codependência SINAIS E SINTOMAS MANIFESTAÇÕES AUTORES Extrema externalização= tentativa de - As condutas são Beattie, 1987 e 2009; obter carinho e atenção a partir de determinadas por forças Cermak, 1986; Dear e comportamento altruísta= foco no externas e não por decisões Roberts, 2000; Noriega e outro= desenvolvimento da identidade voluntárias. Ramos, 2008; Hughes- incompleto= preocupação baixa consigo - Tendência de necessitar de Hammer, Martsolf e mesmo. outras pessoas para obter Zeller, 1998. aprovação e sentido de identidade. Inadequado manejo dos sentimentos= - Sentimento de merecimento Beattie, 1987 e 2009; falta de clareza na expressão dos do sofrimento, pois se Cermak, 1986; Hughes- sentimentos= auto-sacrifício. percebem culpados e Hammer, Martsolf e merecedores das agressões Zeller, 1998; Dear e do usuário. Roberts, 2000. - Compreensão de que amor é sofrimento e sacrifício. - Priorizar as necessidades do usuário em detrimento das suas. Baixa auto-estima= foco no outro= - Tendência de abandonar as Beattie, 1987 e 2009; mascaramento da identidade. próprias concepções em Hughes-Hammer, detrimento da aprovação do Martsolf e Zeller, 1998; usuário ou de outras pessoas. Dear e Roberts, 2000. Reatividade= comportamentos - Sentimentos e atitudes Dear e Roberts, 2000; compulsivos. controladas pelo Hughes-Hammer, comportamento problemático Martsolf e Zeller, 1998. do usuário. - Necessidade de controlar o comportamento das outras pessoas e o que está ao seu redor. 28 Dificuldade de impor limites nas - Sentimento de culpa e Beattie, 1987 e 2009; relações= reatividade= comportamento ansiedade pelos Hughes-Hammer, permissivo= repressão emocional= comportamentos Martsolf e Zeller, 1998; dificuldade na resolução de problemas. inadequados do usuário. Dear e Roberts, 2000, - Percebe como traição ao Rotunda, West, ‘O usuário a imposição de Farrel, 2004; Noriega e limites acerca de suas Ramos, 2008. condutas. - Comportamentos de tolerância frente ao uso de drogas que agem como reforçadores à manutenção do consumo. Doenças Psicossomáticas e Depressão. - Doenças associadas à Hughes-Hammer, codependência. Martsolf e Zeller, 1998; - Doenças orgânicas não Dear e Roberts, 2000; justificadas em exames Harkness, 2003; Gómes e clínicos. Delgado, 2003; Zampieri, 2005. Acquaintance Description Form MANIFESTAÇÕES AUTORES ADF-C5: SUBESCALAS (relacionadas a níveis alto de codependência) Compromisso/Envolvimento - Envolvimento e Wright e Wright, 1999. comprometimento extremo com o usuário. - Necessidade do outro acentuada. - Manutenção da relação mesmo com problemas significativos. Individualismo e qualidade emocional - Interesse e preocupação centrada no usuário. Wright e Wright, 1999. 29 - A expressão emocional é essencial. Benefício Direto – Recompensa - A maior parte do tempo a interpessoal família está envolvida em Wright e Wright, 1999. ajudar o usuário. - O usuário contribui para a sensação do familiar de competência. Tensão - Mantenedores da dificuldade - O relacionamento causa Wright e Wright, 1999. preocupação devido à personalidade do usuário. Abandono de sua identidade=foco no - Auto-avaliação a partir dos Wright e Wright, 1999; outro reforços positivos emitidos Dear e Robert, 2000. ao usuário. - Medo do abandono. Controle e responsabilidade - Consideração de que os Wright e Wright, 1999. seus comportamentos são determinantes chave para o desfecho da vida do usuário. Negação= mecanismo de negação - É atribuído ao usuário a sua Wright e Wright, 1999; falha por atenuar as Noriega e Ramos, 2008. circunstâncias. - Mecanismo de defesa psicológico que dificulta a percepção real do problema. 30 2. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO Sabe-se que a dependência de drogas não atinge somente o usuário, mas também todos os indivíduos envolvidos em seu contexto social, incluindo-se o sistema familiar (GASPARD, 2007). Devido à complexidade desta relação, a família pode desenvolver a codependência (DEAR et al., 2005). Estudos nacionais sobre o assunto são escassos e alguns ainda não foram publicados. A maioria das pesquisas revelou prejuízos significativos na vida dos familiares de usuários de drogas tais como: maior frequência de consultas médicas, problemas de saúde, transtornos psiquiátricos, comportamentos de negligência consigo mesmo, auto-percepção da vida como de auto-sacrifício (ZAMPIERI et al., 2005; HARKNESS, 2003; FIGLIE et al.,2004; DEAR et al., 2000, 2005; MARTSOLF et al.,1999). Para o tratamento da dependência química inclui-se também o tratamento da família (ROTUNDA et al., 2004). Pois, comumente, o usuário de drogas não apresenta motivação para iniciá-lo. Nestes casos, os familiares devem buscar orientações com fins de instrumentalizar-se para o manejo do problema (DENNING, 2010). Todavia há um déficit significativo na saúde pública e privada para o atendimento especializado dessas famílias. Assim, estudos científicos, que objetivem a compreensão das características específicas da família relacionadas às variáveis sociodemográficas, de funcionamento familiar e aspectos relacionados à saúde permitirão aos profissionais e programas de saúde focar a atenção e o cuidado para a população que apresente maior probabilidade para ocorrência da codependência. Pois, esses familiares necessitam apreender soluções adequadas para a resolução do problema já que essa habilidade está comprometida em função das crenças e estratégias mal-adaptativas que podem agravar e manter o sintoma de uso de drogas na família (DEAR et al., 2005; ROTUNDA et al., 2004). A 31 participação efetiva da família no processo de tratamento da dependência química propicia resultados positivos no tratamento do seu familiar usuário de drogas (ZANELATTO, 2003; ZYWIAK et al.; SHOHAN et. al, 2006). As linhas telefônicas tem sido amplamente utilizadas como uma alternativa de oferta de intervenções para o monitoramento das condições de saúde da população, inclusive nas questões referentes a drogas (MCKAY et al, 2005). Dependentes químicos permanecem várias semanas consecutivas em abstinência e apresentam melhores resultados em relação a outras formas de tratamentos quando recebem intervenção por meio de serviços de teleatendimento (HIGGINS et al, 2000, ROUNSAVILLE et al, 2003). Serviços telefônicos para familiares de usuários de drogas ainda são limitados o que é diferente para familiares de crianças com anormalidades congênitas e demência (GISCHLER et al., 2008; ALWIN et al., 2009). Todavia, estudos preliminares ainda não publicados evidenciam que o apoio telefônico é uma ferramenta importante para auxíliar a família na identificação das crenças mal - adaptativas codependentes, bem como para estimular a mudança do comportamento (BORTOLON et al., 2010). Pesquisas sobre avaliação da codependência e o seu impacto na saúde física, psicolólogica e financeira em familiares de usuários de drogas ainda não foram conduzidos por telefone, assim essa pesquisa é inédita para o cenário científico. Neste estudo, a avaliação do funcionamento da família permite corroborar os dados do diagnóstico clínico, bem como auxiliar profissionais da saúde no planejamento e no manejo do tratamento do usuário de drogas e dos familiares. Além disso, devido ao caráter qualitativo da pesquisa evidenciou-se o impacto do uso de drogas na família, o que ratifica que para o tratamento da dependência química é fundamental a inserção dos familiares. Ainda, no âmbito das políticas públicas, há uma carência para o cuidado desta população em risco para codependência, pois os programas estão frequentemente 32 direcionados aos usuários de drogas (revisado MTP, 2004). Desta forma, faz-se necessário a implementação de programas de saúde voltados às famílias. Consequentemente, a escolha da intervenção mais adequada para cada família e a avaliação do seu papel no processo de mudança do comportamento de uso de drogas torna-se facilitado. 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Verificar a associação entre codependência, variáveis sociodemográficas, características do funcionamento familiar e aspectos de saúde física e mental, incluindo motivação para mudança em familiares de usuários de drogas. 3.2 Objetivos Específicos - Estimar a prevalência de alta codependência entre familiares de usuários de drogas que ligaram para o serviço de teleatendimento. - Descrever o perfil sociodemográfico dos familiares de usuários de substâncias psicoativas que ligaram para o serviço Vivavoz. - Investigar o funcionamento familiar frente ao usuário relacionado à: 1dificuldade financeira; 2- dificuldade de comunicação; 3- sobrecarga de tarefas e atividade ou emocional; 4- auto-negligência; 5- violência; 6- questões relacionadas à saúde e 7- estágio de mudança. - Verificar a associação entre as variáveis sociodemográficas, funcionamento familiar e a codependência. 33 - Avaliar a intensidade da codependência e os elementos: foco no outro, autosacrifício e reatividade. 34 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALWIN, J; OBERG, B; KREVERS, B. 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Autor Correspondente: Cassandra Borges Bortolon Endereço: Rua Sarmento Leite, 245 - CEP - 90050-170 - Porto Alegre, RS Brasil Telefone: 55 -51-3303 8764 e-mail:[email protected] 41 RESUMO Este estudo verificou a associação entre codependência e o funcionamento familiar em familiares de usuários de drogas que ligaram para um serviço de teleatendimento de informações sobre a prevenção do uso de drogas e orientações de manejo desta situação no ambiente familiar. Participaram do estudo 414 familiares. Os dados demonstraram que mães e cônjuges, mulheres, familiares com idade superior a 45 anos, renda inferior a 5 salários mínimos e menos de 8 anos de estudo apresentaram maior razão de chance para alta codependência. Notou-se que níveis elevados de codependência associaram-se principalmente a mulheres que utilizavam serviços de saúde, fármacos em geral e sofriam implicações significativas em sua vida pessoal tais como: reatividade, auto-sacrifício, auto-negligência, sobrecarga de tarefas e emocional. Verificou-se que a codependência atingiu significativamente a qualidade de vida dos familiares. Palavras-chaves: Codependência; Familiares de Usuário de drogas; Questões de saúde e Teleatendimento. 42 ABSTRACT Family Functioning and Health Aspects Associated with Codependency in Families of Drug Users This study examined the association between codependency and family functioning in families of drug users that have called to a telephone service for information on the prevention of drug use and guidelines for managing this situation in the family. The study included 414 families. The collected data demonstrate the calls made by mothers and spouses, women, family members aged over 45 years, incomes of less than 5 minimum wages and less than 8 years had higher odds ratio for high codependency. It was noted that high levels of codependency associated mainly to women who used health services, drugs in general, and suffered significant implications in your personal life such as reactivity, self-sacrifice, self-neglect, heavy workloads and emotional. It was found that the codependency has reached a significant quality of life of families. Keywords: Codependency; Families of Drug Users, Health Issues and Call center. 43 1. Introdução O modelo de codependência é um referencial amplamente utilizado em serviços de saúde destinados ao tratamento de familiares de usuários de álcool e outras drogas, apesar do número reduzido de estudos científicos (Dear & Roberts, 2000). A codependência é definida como um conjunto de sinais e sintomas relacionados a crenças e estratégias mal-adaptativas que pode manifestar-se em qualquer familiar de usuário de drogas (Dear & Roberts, 2000). É caracterizada por iniciativas direcionadas ao outro para obter aprovação, atenção, sentido de identidade; inadequado manejo e expressão dos sentimentos; baixa auto-estima; dificuldade de imposição de limites; comportamentos permissivos e de auto-sacrifício, negligência de suas necessidades em detrimento do usuário de drogas, consciência prejudicada dos efeitos do seu comportamento e dificuldade para resolução de problemas (Cermak, 1986, Beattie, 2009, Hughes-Hammer, Martsolf & Zeller, 1998, Dear & Roberts, 2000, Noriega & Ramos, 2008). Sabe-se que a dependência de drogas não atinge somente o usuário, mas também todos os indivíduos envolvidos em seu contexto social, incluindo-se o sistema familiar (Denning, 2010). Pesquisa conduzida com cônjuges de alcoolistas apontou que 100% da amostra já havia se engajado em algum comportamento permissivo diante do uso de álcool e outras drogas de seu familiar no último ano (Rotunda, West & O’Farrel, 2004). Os comportamentos mais prevalentes da amostra foram: mudar ou cancelar encontros familiares ou atividades sociais porque o familiar estava usando álcool e ou outras drogas ou recobrando-se dos efeitos (45%), mentir ou dar desculpas à família ou amigos para esconder o consumo de drogas do familiar (38%), assumir tarefas do seu familiar porque ele estava usando droga e ameaçar o seu familiar de separação devido 44 ao uso de drogas, mas depois não se separar (36%) e convencer o seu familiar a ir trabalhar de manhã quando ele estava “de ressaca” (31%). Estudos qualitativos com esposas de dependentes de álcool demonstraram as suas auto-percepções a respeito da convivência conjugal. O discurso destas mulheres revelou sobrecarga física e emocional no que se refere à responsabilidade com os filhos, a casa, desempenho de múltiplos papéis na família e preocupações financeiras (Peled & Sacks, 2008, Tobo & Zago, 2005, Zanelatto, 2003). Familiares codependentes apresentam maior necessidade de ajudar quando comparados a familiares não codependentes (Gómes & Delgado, 2003). Aspectos relacionados à saúde foram verificados num estudo realizado com pais, filhos e cônjuges de usuários de drogas, do total da amostra 21% estavam de licença saúde (Dear & Roberts, 2005). Outro estudo demonstrou 59% de probabilidade de distúrbios relacionados à saúde mental em cônjuges de dependentes químicos (Figlie, Fontes, Moraes & Payá, 2004). Também filhos de dependentes químicos tem risco maior para desenvolver dependência química quando comparados a filhos de não usuários de drogas, bem como o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos (Furtado, Laucht & Schimidt, 2002). Além disso, identificou-se correlação positiva entre depressão e a codependência e médias maiores de depressão em familiares codependentes (Martsolf, Hughes-Hammer & Zeller, 1999, Gómes & Delgado, 2003). Ainda são escassas as pesquisas a respeito da codependência associada a problemas de saúde tais como: uso de medicação para doença física e mental, realização de tratamento médico e ou psicológico. Estudos que objetivem a compreensão das características específicas da família relacionadas às variáveis sociodemográficas, de funcionamento familiar e aspectos de saúde permitirão aos profissionais e programas de saúde focar a atenção e o cuidado 45 para a população que apresente maior probabilidade para a ocorrência da codependência. Uma vez que, esses familiares necessitam apreender soluções adequadas para a resolução do problema já que essa habilidade está comprometida em função das crenças e estratégias mal-adaptativas que podem agravar e manter o sintoma de uso de drogas na família (Dear & Roberts, 2000, Rotunda et al., 2004). Assim, avaliar o funcionamento da família permite corroborar com os dados do diagnóstico clínico, bem como auxiliar no planejamento e no manejo do tratamento do usuário de drogas e dos familiares. Desse modo, a escolha da intervenção mais adequada para cada família e a avaliação do seu papel no processo de mudança do comportamento de uso de drogas torna-se facilitado. Ainda são insuficientes os estudos científicos em âmbito nacional e internacional que examinem em familiares de usuários de drogas os fatores de associação da codependência. Objetivou-se verificar a associação entre codependência, variáveis sociodemográficas e características do funcionamento da família em familiares de usuários de drogas que buscaram auxílio em um serviço de saúde por telefone. 2. Materiais e Métodos Foi realizado um estudo transversal e qualitativo. A amostra incluiu 414 familiares de usuários de drogas que ligaram para o serviço de teleatendimento de informação e prevenção ao uso indevido de drogas e orientações de como manejar com o problema do uso de substâncias na família. Foram analisadas 1852 chamadas provenientes do período de agosto de 2008 a agosto de 2009. Considerou-se familiar os pais, avós e seus descendentes (tio, primo, sobrinho, filho e irmão) e a união estável 46 entre os casais. Foram incluídos no estudo todos os familiares que preencheram os seguintes critérios: aceitaram voluntariamente participar da pesquisa, responderam as questões do protocolo de atendimento, da escala que avaliou a codependência e ofereceram informações suficientes para avaliação do funcionamento da família. O Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre avaliou e aprovou o projeto (n° 339/07). A primeira etapa da coleta de dados foi realizada por consultores, acadêmicos de nível superior na área da saúde, capacitados e supervisionados (Barros, Santos, Mazoni, Dantas & Ferigolo, 2008). Constituiu-se da avaliação da codependência, coleta de dados sociodemográficos e digitação pelos consultores das informações advindas do familiar a partir do questionamento: “me fale sobre sua relação com o seu familiar”. A segunda etapa foi elaborada por duas psicólogas especializadas em dependência química que avaliaram o funcionamento familiar pelos textos digitados por meio do método de análise de conteúdo. Este consiste num conjunto de técnicas de análise das comunicações por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do teor das mensagens (Bardin, 1977). Os instrumentos utilizados foram: a) protocolo de atendimento ao familiar que continha dados sociodemográficos; b) escala de codependência que avalia a codependência em 13 itens, indicando um continuun de concordância em uma escala Likert. O escore total desta escala varia de 3 a 15 pontos, sendo calculados pela soma dos elementos: foco no outro, auto-sacrifício e reatividade (Dear & Roberts, 2000). O ponto de corte para alta codependência foi considerado o escore >9,7 baseado em sinais e sintomas significativos de codependência, tais como: abandono de si próprio em detrimento do usuário e quando a vida do familiar foi claramente controlada pelo comportamento associado ao consumo de drogas. O elemento foco no outro é 47 caracterizado por focar a atenção no comportamento, opinião e expectativas de outras pessoas para obter aprovação ou afeto; auto-sacrifício está relacionado à tendência de privilegiar a necessidade dos outros em detrimento da sua e reatividade consiste em assumir o controle por regular o comportamento e responsabilizar-se por consequências relacionadas a comportamentos inadequados advindos do uso de drogas do familiar (Dear & Roberts, 2000); c) funcionamento da família identificado a partir das seguintes categorias advindas dos relatos dos familiares: 1- dificuldade financeira em função do uso de drogas, por exemplo, diminuição da renda decorrente de pagamento de dívidas do usuário a traficantes de drogas, endividamento, ocorrência de roubo ou furto de bens materiais, assumir o orçamento da casa em função do comportamento do usuário; 2dificuldade de comunicação com o usuário por problema de relacionamento e omissão do conhecimento do uso de drogas e mentiras; 3- sobrecarga de tarefas e atividades ou emocional identificadas por assumir funções que eram de responsabilidade do usuário, pagar dívidas financeiras, exposição a roubo ou furto e uso de drogas dentro de casa, comportamentos permissivos, nível alto de estresse expressado por cansaço intenso, preocupação, dificuldade de dormir, sensação de não aguentar mais e incapacidade para manejar com o problema; 4- auto-negligência expressada por priorizar as necessidades do usuário em detrimento das suas, assim abandonando as responsabilidades pessoais e ou profissionais, omissão dos comportamentos inadequados do usuário dos demais familiares, exposição do uso de drogas dentro de casa, expressar a necessidade de mudança ao usuário e não conseguir efetuar; 5- violência caracterizada por exposição a roubo ou furto, agressão e ameaças e 6- questões relacionadas a saúde que se referiam a realização de tratamento médico, psicológico, psiquiátrico, participação em grupo de auto-ajuda e uso de medicação. Estas categorias foram definidas a partir de 48 características da codependência descritas na literatura (Hughes-Hammer et al., 1998, Martsolf, Sedlack, & Doheny, 2000, Noriega & Ramos, 2008). A análise dos dados foi conduzida com o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 12.0. Inicialmente foram realizadas análises univariadas e após comparações entre as variáveis categóricas foram executadas por meio do teste Qui-quadrado, Odds Ratio (OR) e o intervalo de confiança (IC95%). A análise multivariada foi realizada por meio de Regressão Logística, onde foram incluídas na análise as variáveis com P<0,05. Foram considerados os valores estatisticamente significativos P<0,05. 3. Resultados No período de um ano foram originadas 1852 ligações de familiares de usuários para o serviço de teleatendimento, todavia preencheram os critérios de inclusão somente 414 familiares. Em relação ao grau de parentesco as ligações foram originadas principalmente por mães (53,8%). Os demais familiares corresponderam a: cônjuge (21,5%), irmãos (13,8%), pais (2,9%), outros - tio(a), vô(ó), primo(a) (7,3%) e filhos(as) (0,7%). Quanto ao sexo da amostra à maioria das ligações de familiares foi realizada por mulheres (93%) para solicitar ajuda para usuários de drogas do sexo masculino (93,2%). Quanto à avaliação da codependência o total da amostra apresentou 62,3% de alta codependência. Não foi encontrada associação entre codependência e utilização de drogas pelo familiar ou tipo de droga utilizada pelo usuário. Do total de familiares, 28,1% usavam tabaco, 13,8% álcool, seguidos 1,2% maconha e 0,2% cocaína. 49 Enquanto que os usuários usavam cocaína (79,9%), tabaco (71,4%), álcool (66,3%) e maconha (55,9%). As associações entre as variáveis estudadas e a codependência são apresentadas na tabela 1. Quanto aos dados sociodemográficos, as chamadas originadas por mães e cônjuges, mulheres, familiares com idade igual 45 anos, renda familiar inferior a 5 salários mínimos e menos de 8 anos de estudo apresentaram maior razão de chance para alta codependência, com um valor de P < 0,05. Em relação aos fatores em estudo quanto ao funcionamento familiar, os dados obtidos por meio da escala utilizada para avaliar características codependentes demonstraram que os elementos mais prevalentes dos familiares foram reatividade (57%) e auto-sacrifício (53%). A relação entre esses elementos e nível de codependência mostrou diferença significativa para reatividade e auto-sacrifício. Os familiares com características de reatividade tiveram duas vezes maior probabilidade de apresentar alta codependência em relação aos que não apresentam características desse elemento. Por outro lado, familiares que apresentam auto-sacrifício, tiveram menor chance de manifestar alta codependência na relação com seu familiar usuário. Já dificuldade financeira e de comunicação com o usuário não apresentaram associação com o nível de codependência. Familiares que apresentaram sobrecarga de tarefas e emocional, bem como auto-negligência demonstraram maior probabilidade de desenvolver nível alto de condependência (p=0,008 e p=<0,001 respectivamente). Ainda, os resultados demonstraram que não ocorreu associação entre codependência e violência física e psicológica. Quanto aos aspectos relacionados à saúde, familiares realizando tratamento médico e ou fazendo uso de medicação, antidepressivo, hipertensivo e de outros tipos de medicamento apresentaram maior razão de chance para alta codependência, com um 50 valor de P<0,05. Também, o uso de ansiolítico foi maior para os familiares com alta codependência, todavia a associação não apresentou diferença estatisticamente significativa. As análises de razão de chance foram maiores para o uso de qualquer medicação para problemas de saúde de ordem física e psicológica para familiares com alta codependência, com um valor de P<0,05. Após a análise multivariada somente a variável sociodemográfica de escolaridade mostrou diferença significativa na associação com nível de codependência (p=0,02). Entretanto, renda familiar (p=0,06), reatividade (p=0,06), auto-negligência (p=0,056) e uso de antidepressivo (p=0,08) apresentaram uma tendência para diferença estatisticamente significativa. 4. Discussão A associação entre codependência, mães e cônjuges mostrou maior razão de chance para nível alto de codependência. Evidenciou-se que o uso de drogas por um filho ou marido atinge mais fortemente essa população, o que corrobora com um estudo qualitativo realizado no Japão com mães e cônjuges de alcoolistas. Esta pesquisa identificou sofrimento, conflitos emocionais e tensões concernentes ao desempenho de papel de mãe e esposa relacionado ao uso intenso do álcool e o comportamento do usuário em função desse consumo (Hunt, 2008). Quanto ao sexo, diversos estudos demonstraram risco aumentado no sexo feminino para a codependência (Gómes & Delgado, 2003, Noriega & Ramos, 2008). Os familiares com escolaridade inferior a 8 anos de estudo apresentaram duas vezes mais chance para nível alto de codependência, associação que permaneceu consistente após a análise estatística de regressão logística. Esse resultado corrobora com um estudo realizado com 845 mulheres mexicanas, selecionadas num centro de 51 saúde, com ensino médio incompleto que tiveram quatro vezes mais probabilidade de codependência (Noriega & Ramos, 2008). São poucos os dados encontrados na literatura referentes à codependência em familiares de usuários de drogas e os elementos foco no outro, auto-sacrifício e reatividade descritos por Dear e Roberts (2000). O familiar codependente manifesta comportamentos voltados à necessidade de cuidar e controlar, no que resulta o abandono e negligência de suas próprias necessidades (Hughes-Hammer et al., 1998). Na amostra estudada, os familiares com características de reatividade apresentaram maior índice de alta codependência. Ou seja, os membros com sentimentos e comportamentos controlados pelas condutas problemáticas do seu familiar usuário apresentaram maior probabilidade de ter níveis altos de codependência. Estes familiares apresentam limitada consciência do efeito de suas atitudes em relação ao outro (Dear & Roberts, 2002), manifestando comportamentos facilitadores que podem contribuir para a manutenção das atitudes do familiar usuário de substâncias (Rotunda et al., 2004). A presença de reatividade no processo das relações familiares pode levar os membros a assumirem responsabilidades por atos que não são seus, e assim o usuário perde a oportunidade de perceber as consequências de seu abuso (Denning, 2010). Isto ocorre devido ao controle que os comportamentos dos usuários exercem nas vidas de outros membros da família. Assim, muitas vezes, pode ocorrer adoecimento familiar em nível emocional, comportamental e de saúde física (Ancel & Kabalki, 2009). “Eu acho que colaborei para ele iniciar nesta vida, pois dava dinheiro para ele, mas não sabia que era para droga. Eu não consigo me administrar bem com meu filho assim”. (Mãe, 49 anos - filho usuário de álcool, tabaco e crack, 23 anos) 52 A característica de auto-sacrifício referida pelos familiares deste estudo mostrou na análise que os familiares com comportamentos voltados a considerar as necessidades dos outros como mais importantes do que as suas próprias necessidades apresentaram menor chance de nível alto de codependência, sendo este elemento considerado fator de proteção. Todavia esse resultado não se mostrou consistente após a realização da análise de regressão logística, o que concorda com estudos anteriores (Dear & Roberts, 2000). “Meu marido pede para eu buscar o crack, acho melhor porque quando ele sai volta tarde. Me sinto triste por fazer isto. Às vezes ele me vê chorando e diz que prefere que eu vá embora porque ele não é merecedor do meu amor.” (Esposa, 24 anos - marido usuário de álcool, tabaco e crack, 30 anos) A qualidade de vida baseia-se, entre diversos aspectos, na maneira como o indivíduo flexibiliza suas atitudes frente a situações estressantes (Silva & Muller, 2007). Sabe-se que o uso de drogas na família é um estressor ambiental (Fuller & Warner, 2000, Gaspard, 2007) e a codependência é definida como uma síndrome de crenças e estratégias mal-adaptativas que pode ocorrer em familiares de usuário de drogas (Dear & Roberts, 2002). Assim, pode-se inferir que os familiares da amostra com nível alto de codependência apresentam prejuízo significativo na qualidade de vida. O padrão do comportamento codependente tende a manter a homeostase das relações familiares direcionadas ao usuário de drogas (Osório & Do Valle, 2009). Quanto à avaliação do funcionamento familiar a categoria denominada dificuldade financeira mostrou que o uso de drogas foi um colaborador para prejuízos financeiros, pois 71% do total da amostra referiram diminuição da renda decorrente de pagamento de dívidas do usuário a traficante de drogas, endividamento, ocorrência de 53 roubo ou furto de bens materiais e assumir o orçamento da casa em função do comportamento do usuário. “Brigo muitas vezes com minha filha, pois ela não aceita o irmão porque ele rouba tudo dentro de casa.” (Mãe, 48 anos - filho usuário de álcool, tabaco e crack, 21anos) Em relação à dificuldade de comunicação 90% dos familiares perceberam a existência de problemas no relacionamento, mentiras e inibição para conversar sobre o uso de drogas com o usuário. É bem conhecido na literatura que o uso de drogas atinge de forma prejudicial à família como um todo (Denning, 2010), pois os comportamentos manifestados por um familiar dependente químico variam desde as reações ocasionadas pelo efeito agudo da droga, bem como pela necessidade de buscar (fissura) e da síndrome de abstinência (Conner, Hellemann, Ritchie & Noble, 2010). O déficit na qualidade da comunicação entre familiar e usuário foi mais prevalente em familiares com nível alto de codependência (54%), pois a dificuldade para a resolução de problemas e inadequado manejo dos sentimentos são manifestações dos sinais e sintomas da codependência (Noriega & Ramos, 2008, Beattie, 2009) Indicadores do funcionamento familiar quanto à sobrecarga de tarefas e emocional demonstraram que 55% dos familiares com níveis altos de codependência envolveram-se em comportamentos permissivos que são considerados reforçadores para a manutenção do uso de drogas pelo familiar usuário, o que propicia o agravamento do problema (Rotunda et al., 2004). Os comportamentos permissivos de familiares de usuários de drogas já foram amplamente observados tanto em grupos de auto-ajuda como em centros de tratamento para dependência química (Irvine, 2000, Gómes & Delgado, 2003). O atributo central desta categoria é assumir funções que seriam de responsabilidade do usuário que está relacionado com a característica da 54 codependência foco no outro caracterizada pela necessidade do familiar de obter aprovação e afeto mediante o exagero. Em familiares com alta codependência foi notório relatos de excesso de dedicação e superproteção direcionados aos usuários. “Eu faço tudo pelo meu filho!” (Mãe, 50 anos - filho usuário de crack, 23 anos) Estes familiares muitas vezes encontraram-se com a auto-percepção prejudicada em função de outra característica da codependência: a reatividade expressada como uma limitada consciência a respeito do efeito dos seus comportamentos e atitudes em relação ao outro (Dear & Roberts, 2005). Uma mãe de usuário de crack, participante do estudo, revelou que não sabia se impor em determinadas situações e por isso dava dinheiro para o filho comprar drogas. Seu filho não trabalhava, mas conseguia manter o uso de drogas a partir de dinheiro que era dado por seus familiares. A sobrecarga emocional foi percebida a partir de relatos que demonstraram um nível alto de estresse expressado por queixas de cansaço intenso, preocupação constante, dificuldade para dormir, sensação de não aguentar mais e incapacidade para manejar com o problema. “Eu preferia morrer! Meu filho foge de casa e fica na rua alguns dias e eu fico procurando por ele.” (Mãe, 48 anos - filho usuário de cocaína, 24 anos) A auto-negligência foi uma característica com alta prevalência em familiares com alto nível de codependência (49%) domínio revelado por deixar que a vida seja controlada pelos problemas comportamentais do usuário, permitir a influência maciça tanto na vida pessoal quanto ocupacional do impacto do uso de drogas (mudança ou cancelamento de planos ou atividade sociais devido a seu familiar estar utilizando álcool e ou drogas ou recobrando-se dos efeitos), além de encobrir os comportamentos 55 inadequados do usuário dos demais familiares (mentir ou pedir desculpas a familiares ou amigos pelo comportamento inadequado do usuário sob efeito de álcool e ou outras drogas), exposição do uso de drogas dentro de casa, expressão da necessidade de mudança ao usuário e não conseguir efetuar (ameaças de separação conjugal). É bem conhecido na literatura a associação entre violência e uso de substâncias, estresse e qualidade de vida (Murray, Chemack, Walton, Winters, Booth & Blow, 2008, Guimarães, Santos, Freitas & Araújo 2008, Gilbert, El-Bassel, Rajah, Foleno & Fire, 2001). Todavia, a associação entre violência e níveis de codependência em familiares de usuários de drogas do estudo não demonstrou diferença estatisticamente significativa. No campo da violência intra familiar, não se considerou apenas a violência física, mas também o conceito de violência como o uso intencional da força física ou poder, em ameaça ou de fato, contra uma pessoa que resulta ou apresenta alto potencial de ocasionar ferimento, morte, dano psicológico e problemas de desenvolvimento (WHO, 2002). Assim, vale ressaltar a ocorrência de violência física em 47% do total dos familiares e de violência psicológica de 83%, resultado que corrobora com estudos anteriores (Moreno, Jansen, Ellsberg, Heise & Watts, 2006, Mota, Vasconcelos & De Assis, 2007). Uma das participantes do estudo (mãe, 50 anos) referiu que discutiu com seu filho (usuário de crack, 17 anos) e ele saiu de casa quebrando uma porta de vidro. Ela estava nervosa, pois temia que quando seu marido encontrasse seu filho novamente eles agrediriam-se. A partir desta ótica, o espectro de tensão originário de um cenário estressor e violento exerce influência não somente no bem-estar de um indivíduo, mas também em sua qualidade de vida, esses fatores podem estar associados a transtornos emocionais, biológicos e sociais (Fuller & Warner, 2000, Minayo & Schenker, 2004). 56 Do total dos familiares somente 20% frequentavam grupos de auto-ajuda o que é contraditório devido aos prejuízos mencionados no estudo a respeito do convívio com o seu familiar usuário de drogas. Os grupos de auto-ajuda para familiares são direcionados para a eliminação dos comportamentos permissivos (Denning, 2010). Para a amostra deste estudo, intervir nesses comportamentos influenciaria de forma positiva para o manejo do uso de drogas na família. Quanto à realização de tratamento psicológico e ou psiquiátrico a prevalência foi de 24% por parte dos familiares, o que pode ser compreendido em função de 76% da amostra apresentar renda inferior a 5 salários mínimos. Em se tratando dos aspectos relacionados à saúde, essa dinâmica de funcionamento familiar também pode contribuir para complicações no bem estar do familiar (Harkness, 2003, Irvine, 2000), o que resulta em necessidade aumentada para tratamento médico, uso de medicação para problemas orgânicos e ou psicológicos. A limitação do estudo foi a perda expressiva de protocolos advindas de informações insuficientes sobre o funcionamento da família tanto por digitação dos consultores como pela demanda de urgência do familiar a respeito de centros de tratamento. Este estudo evidenciou que os familiares com alto nível de codependência utilizam mais serviços de saúde, fármacos em geral, especialmente antidepressivos e ansiolíticos. Além disso, implicações significativas na vida pessoal dos familiares tais como: auto-sacrifício, auto-negligência e sobrecarga de tarefas e emocional. Portanto, ocorre um impacto significativo da codependência na qualidade de vida dos familiares. 57 Agradecimentos SENAD/AAPEFATO ofereceram o apoio financeiro para o funcionamento e para as pesquisas desenvolvidas no VIVAVOZ. Agradecimento aos consultores do VIVAVOZ. 58 Referências Ancel, G., & Kabalkci, E. (2009). Psychometric properties of the Turkish form of codependency assessment tool. Archives of Psychiatric Nursing, 23, 441-463. Bardin, L. (1977). Análise do Conteúdo. Lisboa: Edições 70. Barros, H. M. T., Santos, V., Mazoni, C., Dantas, D. C. M., & Ferigolo, M. (2008). Neuroscience educantion for health profession undergraduates in a call-center for drug abuse prevention. Drug and Alcohol Dependence, 98, 270-274. Beattie, M. (2009). The new codependency: help and guidance for today’s generation. New York: Simon & Schuster. Cermak, T. (1986). Diagnostic criteria for codependency. Journal of Psychoactive Drugs, 18, 15-20. Conner, B., Hellemann G., Ritchie, T., & Noble, E. (2010). 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São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo. 61 Tabela 1: Associação entre codependência e variáveis sociodemográficas, características do funcionamento familiar e aspectos de saúde CODEPENDÊNCIA ALTA n (%) CODEPENDÊNCIA BAIXA n (%) OR (IC95%) Bruto OR (IC95%) Ajustado Dados Sociodemográficos Parentesco (n= 413) Mãe e cônjuge Outros 207 (50) 40 (10) 106 (26) 60 (14) 2,92 (1,84 a 4,65)* 1,0 1,38 (0,71 a 2,65) 1,0 Sexo Familiar (n=411) Feminino Masculino 236 (58) 9(2) 148 (36) 18 (4) 3,10 (1,40 a 7,29)* 1,0 1,10 (0,35 a 3,42) 1,0 Sexo Usuário (n=411) Masculino Feminino 228 (56) 17 (4) 157 (38) 9 (2) 0,77 (0,33 a 1,77) 1,0 Idade Familiar (n=387) ≥ 45 anos <45 anos 109 (28) 118 (30) 61 (16) 99 (26) 1,50 (0,99 a 2,26)* 1,0 Idade Usuário (n=403) ≥ 45 anos < 45 anos 10 (2) 229 (57) 7 (2) 157 (39) 0,98 (0,37 a 2,62) 1,0 Estado civil (n= 384) Casado Solteiro 133 (35) 96 (25) 90 (23) 65 (17) 1,00 (0,66 a 1,51) 1,0 Profissão (n= 379) Sem atividade remunerada Com atividade remunerada 89 (23) 137 (37) 49 (13) 104 (27) 1,38 (0,90 a 2,12) 1,0 1,28 (0,74 a 2,19) 1,0 62 Renda Familiar (n=372) ≤ 5 salários mínimos > 5 salários 179 (48) 40 (11) 105 (28) 48 (13) 2,04 (1,26 a 3,32)* 1,0 1,75 (0,96 a 3,20) 1,0 Escolaridade (n=377) ≤ 8 anos > 8 anos 95 (25) 128 (34) 43 (11) 111 (30) 1,91 (1,23 a 2,98)* 1,0 1,91 (1,10 a 3,32)* 1,0 Familiar utiliza drogas (n= 404) Sim Não 88 (22) 154 (38) 58 (14) 104 (26) 1,02 (0,68 a 1,55) 1,0 Foco no outro (n= 412) Sim Não 6 (1) 240 (58) 1 (1) 165 (40) 4,12 (0,50 a 34,60) 1,0 Auto-sacrifício (n=412) Sim Não 120 (29) 126 (31) 100 (24) 66 (16) 0,63 (0,42 a 0,93)* 1,0 1,23 (0,56 a 2,73) 1,0 Reatividade (n= 412) Sim Não 159 (39) 87 (21) 73 (18) 93 (22) 2,33 (1,55 a 3,50)* 1,0 2,10 (0,95 a 4,64) 1,0 Dificuldade Financeira (n=366) Sim Não 162 (44) 57 (16) 99 (27) 48 (13) 1,38 (0,88 a 2,18) 1,0 Dificuldade de Comunicação (n=354) Sim Não 190 (54) 19 (5) 129 (36) 16 (5) 1,24 (0,61 a 2,50) 1,0 Funcionamento Familiar Sobrecarga de Tarefas e Emocional (n=405) 63 Sim Não 223 (55) 20 (5) 135 (33) 27 (7) 2,23 (1,20 a 4,13)* 1,0 1,43 (0,63 a 3,25) 1,0 Auto-Negligência (n=387) Sim Não 190 (49) 42 (11) 98 (25) 57 (15) 2,63 (1,65 a 4,20)* 1,0 1,82 (0,98 a 3,37) 1,0 Violência Física (n=193) Sim Não 55 (28) 62 (32) 36 (19) 40 (21) 0,98 (0,55 a 1,75) 1,0 Violência Psicológica (n= 295) Sim Não 156 (53) 30 (10) 88 (30) 21 (7) 1,24 (0,67 a 2,30) 1,0 Tratamento Médico (n=387) Sim Não 95 (24) 131 (34) 46 (12) 115 (30) 1,81 (1,17 a 2,80)* 1,0 0,85 (0,32 a 2,26) 1,0 Uso de Medicação (n=389) Sim Não 108 (28) 120 (31) 50 (13) 111(28) 2,00 (1,30 a 3,05)* 1,0 1,21 (0,32 a 4,51) 1,0 Antidepressivo (n=386) Sim Não 40 (10) 186 (48) 15 (4) 145 (38) 2,07 (1,10 a 3,91)* 1,0 2,46 (0,90 a 6,75) 1,0 Ansiolítico (n=386) Sim Não 26 (7) 200 (52) 15 (4) 145 (37) 1,26 (0,64 a 2,46) 1,0 Antihipertensivo (n=386) Sim Não 30 (8) 196 (50) 11 (3) 149 (39) 2,07 (1,01 a 4,27)* 1,0 Aspectos de Saúde 0,98 (0,30 a 3,16) 1,0 64 Outras Medicações (n=386) Sim Não 59 (15) 175 (45) 21 (6) 151 (34) 2,09 (1,21 a 3,61)* 1,0 1,03 (0,36 a 2,96) 1,0 Medicação Física (n=386) Sim Não 69 (18) 156 (40) 28 (7) 133 (35) 2,10 (1,28 a 3,45)* 1,0 1,42 (0,40 a 4,95) 1,0 Medicação Mental (n=387) Sim Não 61 (16) 165 (43) 28 (7) 133 (34) 1,75 (1,06 a 2,90)* 1,0 0,74 (0,26 a 2,08) 1,0 Auto-Ajuda (n=391) Sim Não 48 (12) 182 (47) 33(8) 128 (33) 1,02 (0,62 a 1,68) 1,0 59 (15) 167 (43) 33 (9) 126 (33) 1,35 (0,83 a 2,20) 1,0 Psicológico/psiquiátrico (n=385) Sim Não * p <0, 05 Análise multivariada: ajuste para parentesco, sexo e idade do familiar, renda familiar, escolaridade, auto-sacrifício, reatividade, sobrecarga de tarefas e emocional, autonegligência, tratamento médico, uso de medicação, uso de antidepressivo, uso de antihipertensivos, uso de outras medicações, uso de medicação para doença física (orgânica) e uso de medicação para doença psiquiátrica. 65 5-ARTIGOS 5.2 - Artigo 1 – Versão em inglês Family Functioning and Health Aspects Associated with Codependency in Families of Drug Users Cassandra Borges Bortolon, Luciana Signor, Luciana Rizzieri Figueiró, Mariana Canellas Benchaya, Cássio Andrade Machado, Jéssica Wait da Cruz, Taís Moreira, Maristela Ferigolo, Helena MT Barros. Health Basic Sciences Department – Pharmacology. Federal University of Health Sciences of Porto Alegre, RS, Brasil. Autor Correspondente: Cassandra Borges Bortolon Endereço: Rua Sarmento Leite, 245 - CEP - 90050-170 - Porto Alegre, RS Brasil Telefone: 55 -51-3303 8764 e-mail:[email protected] 66 ABSTRACT This study verified the association between codependency and family functioning on drug user’s relatives which have called to a telephone service facility for information about the prevention of drug use and orientation on how to handle the situation in the family environment. 414 relatives contributed to the study. The data showed that the calls made from mothers and spouses, women, relatives older than 45 years old, family income lower than 5 minimal wages, with less than 8 years of education demonstrated a high chance of codependency. It was noticed that the high levels of codependency were associated mainly to women that made usage of health programs, drugs in general under significant implications on their personal lives, as: reactivity, self-sacrifice, self-neglect, emotional and chores overload. It was concluded that the codependency has reached the relatives’ quality of life. Key Words: Codependency; Families of Drug Users, Health Issues and Call center. 67 1. Introduction The codependency is defined as a gathering of signs and symptoms related to beliefs and strategies maladaptive that may appear in any drug user’s family member (Dear & Roberts, 2000). It is characterized by initiatives intended for the other to obtain approval, attention, sense of identity, inadequate management and expressions of feelings, low self esteem, difficulty to imposed limits, enabling behaviors and self-sacrifice, negligence of needs due the drug user, impaired conscience of behavior’s effects and difficulty to solve problems (Cermak, 1986, Beattie, 2009, Hughes-Hammer, Martsolf & Zeller, 1998, Dear & Roberts, 2000, Noriega & Ramos, 2008). The model of codependency is a reference highly used on health services for treatment of relatives of alcohol users and other drugs, besides the reduced number of scientific studies (Dear & Roberts, 2000). The drug dependence does not reaches the user, but also all the people involved in the social context, including the family system (Denning, 2010). All the spouses of alcoholics (100%) reported that they already joint on any enabling behaviors towards the use of alcohol and other drugs of their relative in the last year (Rotunda, West & O’Farrel, 2004). The behaviors more prevalent of this spouses were: to change or to cancel family meetings or social activities due to the family member that was using alcohol or any other drug, or recovering the effects; to lie or to excuse to the family or friends; to hide the relative’s drug consumption; take control of the family member’s chores due to the fact that he was using drugs and to threat him divorce attributable to the use of drugs, but reconsider the idea; to convince the family member to go to work in the morning when he was in a “hangover”. Qualitative studies demonstrated the self perception concerning the marital coexistence. The spouses’ discourse of alcohol dependents revealed physical and 68 emotional overload on responsibility to children care, house care, performance of multiple holes in the family and financial worries (Peled & Sacks, 2008, Tobo & Zago, 2005, Zanelatto, 2003). For that reason, codependent relatives showed major need to help when compared to not codependent family members (Gómes & Delgado, 2003). A fifth of the parents, children and spouses of drug users were on health license on a cross-section search (Dear & Roberts, 2005). Other study demonstrated 59% probability of disturbs related to mental health on drug users’ spouses (Figlie, Fontes, Moraes & Payá, 2004). Besides that, there is a positive correlation between depression and codependency and major scores of depression on codependent relatives (Martsolf, Hughes-Hammer & Zeller, 1999, Gómes & Delgado, 2003). Also, drug users’ children present major risk to develop quimic dependence when compared to non drug users’ children, as well as the development of psychiatric disorder, which can be an indirect pattern of the codependency (Furtado, Laucht & Schimidt, 2002). On the other hand, there are few researches on codependency associated to health problems as: medication use to mental or physical disease, psychological or medical treatment. Studies that aimed the comprehension of specific family characteristics related to sociodemographic variables, on family function and health aspects will allow professionals and health programs to focus on attention and care of the population that shows main probability for the codependency occurrence. Care of these family members should take on consideration that they need to learn the suitable solutions for the resolution of the problem, since this ability is compromised due the beliefs and strategies maladaptive that can sustain the relative’s use of drugs (Dear & Roberts, 2000, Rotunda et al., 2004). Therefore, to evaluate the family functioning allow us to corroborate with the data of the clinical diagnostic, as well as to assist the planning and in the 69 management on the treatment of the drug user or family. Thus, since the scientific studies are insufficient in national and international background concerning the subject, aimed to verify the association between codependency sociodemografic and health variables, functioning family characteristics on drug users’ relatives that seek for help in a telephone health program. 2. Materials and Methods A cross section and qualitative study was realized with 414 drug users’ family members that called to a call center service of information and prevention to the misuse drug to orientate how to handle the problem of the use of substances in the family. 1852 calls were analyzed, from August 2008 to August 2009. Parents, grandparents and descendents (uncle, cousin, nephew, son and brother) and union stable between couples were considered relatives. All the family members that fulfill the following aspects were included in the study: voluntary accepted to participate on the research, answered the attendance protocol’s questions, the scale that evaluated the codependency and offered the proper information for the evaluation of the functioning family. The research ethics committee of the Federal University of Healthy Sciences of Porto Alegre evaluated and approved the Project (n° 339/07). The first stage of the data assortment was made by counselors, academic level on the health area, trained and under supervision (Barros, Santos, Mazoni, Dantas & Ferigolo, 2008). The information from questioning “tell me about your relationship with your family member” constitutes the evaluation of codependency, collection of dada and typing of the information. 70 The second stage was executed by two psychologists, specialized on quimic dependence, which evaluated the functioning family by typed texts by the subject analysis of the method. This is in a gathering of techniques of analysis of communication by systematic procedures and objectives of description of the messages’ subjects (Bardin, 1977). The instruments used were: Family member’s attendance protocol created for this study which presented sociodemografic data, and codependency scale which evaluates the codependency in 13 items, indicating a continuum of concordance in a scale Likert (Dear & Roberts, 2000). The total score of this scale varies between 3 to 15 points, the points were calculated by the match of the elements: focus on the other, self sacrifice and reactivity. The cutoff for high codependency was considered the superior score to 9.7 based on signs and significant symptoms of codependency, as: self abandon due the user and when the familiar life was clearly controlled by the behavior associated with the drug consumption. This cutoff was determined for the Brazilian population from preliminary pilot study. The element focus on the other is characterized by focusing attention on the behavior, opinion and expectation of other people to obtain approval or affection, self sacrifice is related as the tendency to focus on the needs of the others but not yours, and reactivity as controlling or manage the users’ behavior and blame yourself for the consequences of inadequate behavior from the use of drugs by the relative (Dear & Roberts, 2000). To analyzed the subject concerning the family discourses, a matrix category list of events was used (Bandin, 1977) to identify the functioning of family: 1- financial problems due to the use of drugs, for example, decrease of the wage due the payment of the users’ debts to drug dealers, indebtedness, theft of material goods, take control of the 71 family budget due the users’ behavior; 2- communication problems with the user concerning the omission or lies about the use of drugs, 3- emotional or chores and activities overload, identified by controlling the duties and the users’ responsibilities, to pay financial debts, exposition to theft and use of drugs in the household, enabling behaviors, high level of stress expressed by intense tiredness, concern, difficulty to sleep, sense of incapacity to handle the problem; 4- self neglect expressed by focus on the users’ needs but not yours, then abandoning personal responsibilities and or professional, omission of the users’ inadequate behavior from the family, drug use exposition at home, express the need of change and does not achieve; 5- violence characterized by the exposition theft, aggression and threats and 6- aspects related to health referring to care of medical treatment, psychological, psychiatric, and self-help group participation. These categories were defined by codependency characteristics described on literature (Hughes-Hammer et al., 1998, Martsolf, Sedlack, & Doheny, 2000, Noriega & Ramos, 2008). The data analysis was conducted according to the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) program, 12.0 version. Initially, univariate analysis were made, and after comparisons between categorical variables were executed by the chi-square test, odds Ratio (OR) and the confidence interval (IC95%). The multivariate analysis was realized by the logistic regression, where included to the analysis the variables with P<0,05. Statically, the values considered significant were P<0,05. 72 3. Results In a year, 1852 users’ family members calls were originated to the telephone service, but 414 relatives fulfilled the criteria. When it comes to the relationship degree, the calls were mainly made by mothers (53,8%). Other relatives correspond to: spouses (21,5%), brothers (13,8%), fathers (2,9%), others – uncle/aunt, grandmother/grandfather, cousin (7,3%) and children (0,7%). The major sex genre of the sample was women (93%) to search for help to male drug users (93,2%). The codependency evaluation showed 62,3% for high codependency (higher score than 9,7). It was not find association between codependency and drug use by the family member or any kind of drug use by the user. The family members used 28,1% tobacco, 13,8% alcohol, 1,2% marijuana and 0,2% cocaine. While the users used cocaine (79,9%), tobacco (71,4%), alcohol (66,3%) and marijuana (55,9%). The association between the studied variables and codependency are presented in table 1. To the sociodemografic data, the calls originated by mothers and spouses, women, 45 years old relatives, family income lower than 5 minimal wages, with less than 8 years of education showed bigger changes for high codependency, with P < 0,05. In relation to the factors in focus related to family functioning, the data resulted by the used scale to evaluate the codependency characteristics showed that the main elements presented reactivity(57%) and self sacrifice (53%). The relation between these elements and the codependency levels showed significant difference to reactivity and self sacrifice. The family members with reactivity characteristics had a twice higher probability to present high codependency compared to the ones that did not present this element. On the other hand, the family members that presented self sacrifice, had smaller chances of high codependency in the relationship with the user. Financial or 73 communication problems did not showed association to the codependency level. Family members with chores or emotional overload, as well as self neglect demonstrated bigger probability to develop a high level of codependency (p=0,008 and p=<0,001 respectively). Nevertheless, the results demonstrated that the association did occur between codependency and psychological or physical violence. When it comes to health related aspects, family members on medical treatment or doing medication, antidepressant, antihypertensive or others, presented major chances of high codependency, with P<0,05. Also, the anxiolytic use was higher for family members with high codependency, although the association did not presented statically significant differences. The analysis of chances were higher to the use or any medication to physical or mental health with high codependency, with P<0,05. After the multivariate analysis, the sociodemografic variable of education showed significant difference on the association with the level of codependency (p=0,02). Yet, the family income (p=0,06), reactivity (p=0,06), self neglect (p=0,056) and antidepressant use (p=0,08) showed a tendency to a statically significant difference. 4. Discussion The association between codependency mothers and spouses showed major chances to high level of codependency. It was noticed that the drug use by a son or husband reach strongly this population, which corroborates to a qualitative study realized in Japan with alcoholics mothers and spouses. This research identified suffering, emotion conflicts and tension concerning the wife/mother hole related to the intense use of alcohol and the users’ behavior towards the consumption (Hunt, 2008). When it 74 comes to sex genre, several studies revealed an increasing risk for the feminine sex towards codependency (Gómes & Delgado, 2003, Noriega & Ramos, 2008). The family members with less than 8 years of education presented a double chance for high codependency level; this association remains the same after the statically analysis of logistic regression. This study corroborate with a study realized with 845 Mexican women, selected in a health center, with incomplete high school, that presented four times a greater codependency probability (Noriega & Ramos, 2008). The data referring to codependency of drug users’ relatives, self sacrifice and reactivity described by Dear e Roberts (2000) on literature are few. The codependent family member shows behaviors turned to the need of care and control, which leads to the abandon and negligence you’re their own needs (Hughes-Hammer et al., 1998). On the studied sample, relatives with reactivity characteristics presented higher scores of high codependency. Which means that the family members with feeling and behavior controlled by the problematic conduct of the user presented major probability of develop high levels of codependency. This relatives presented limited conscience about the effect of their attitudes concerning the other (Dear & Roberts, 2002), hence enabling behaviors can contribute to the management of the user’s attitudes (Rotunda et al., 2004). The presence of reactivity on the family relationships may lead to admit responsibilities by acts that are not theirs, therefore the user loses the opportunity to realized the consequences of the abuse (Denning, 2010). This happens due the control that the users’ behaviors affect the other family members. Therefore, this may affect negatively the family in emotional, behavioral or physical levels (Ancel & Kabalki, 2009). “I think I contributed for him to initiate this life, I used to give him Money, and I did not know it was for drugs. I cannot deal with myself with my son doing this”. (Mother, 49 years old – son is an alcohol, tobacco and crack, 23 years old) 75 The analysis showed that the self sacrifice characteristic referred by the family in this study, that the relatives which presented a behavior turned to consider the others need more important than theirs demonstrated smaller chances of high level of codependency, this element was considered the protection factor, although this result did not remain the same after the analysis of regression logistic, which matches previously studies (Dear & Roberts, 2000). “My husband asks me to buy crack, I think this way is better because when he’s out. He comes late. I feel sad for doing this. Sometimes He sees me crying and says He wants me to leave because he’s not worth my love.” (Wife, 24 years old – husband is an alcohol, tobacco and crack user, 30 years old) The quality of life is based, among several aspects, on the way the individual eases his attitudes towards stressing situations (Silva & Muller, 2007). It is known that the drug use in the family, is a environmental stressor (Fuller & Warner, 2000, Gaspard, 2007) and that codependency is define as a belief syndrome and maladaptive strategies that can occur on drug users’ family members (Dear & Roberts, 2002).Therefore, we can infer that the relatives from the sample with high level of codependency present significant damage on their quality of life. The pattern of behavior for a codependent tends to keep the homeostasis in family relationships directed to the drug user (Osório & Do Valle, 2009). When it comes to the evaluation of the family functioning the category called financial problems showed that the use of drugs was a factor to financial damages, since 71% of the sample total refer decrease of the wage due to the payment of the users’ debts to drug dealers, indebtedness, occurrence of theft de materials goods and to take control of the family budget due the users’ behavior, 76 “Sometimes I fight a lot with my daughter, because she does not accept her brother because he steals everything from inside the house” (Mother, 48 years old – son is a alcohol, tobacco and crack user, 21 years old) In relation to the difficulty to communicate 90% of the family members noticed relationship problems, lies and inhibition to talk about drug user to the user. It is well known on literature that the use of drugs reaches on a harmful way the family as a whole (Denning, 2010), due the behaviors manifested by a drug users relative vary since reactions by the acute effect of the drug, as well as the need to use and abstinence syndrome (Conner, Hellemann, Ritchie & Noble, 2010). The deficit on the quality of communication between relatives and users was bigger on family members with high level of codependency (54%), because the difficulty to solve problems and inadequate handling of feelings are manifestations of signs and symptoms of codependency (Noriega & Ramos, 2008, Beattie, 2009). Indicators of the family functioning related to emotional or chores overload showed that 55% of the family members with a high codependency level engaged in enabling behaviors that are considered reinforcement to the chandelling of the drug use by the user, which propitiates the aggravation of the problem (Rotunda et al., 2004). The enabling behaviors of the drug users’ family members were observed in self-help groups as well as in treatment centers to quimic dependence (Irvine, 2000, Gómes & Delgado, 2003). The central feature of this category is to assume functions that would be under the users responsibility that is related to the codependency characteristic of focuses on the other, characterized by the family need of obtain approval and affection toward exaggeration. In family members with high codependency level was noticed reports of dedication and over protection to the users. 77 “I do everything to my son!” (Mother, 50 years old – son is a crack user, 23 years old) The relative, several times, find himself with the self perception damaged, due another codependency characteristic: the expressed reactivity as a limited conscience concerning the effect of their behaviors and attitudes in relation to the other (Dear & Roberts, 2005). A crack user’s mother, on the study, revealed that she did not know how to deal in certain situations, that is why she gave him money to buy the drugs. Her son did not have a job, but was capable of keeping the drug use using the family money. The emotional overload was noticed through from the reports that showed a high level of stress expressed by complaining intense, tiredness, constant worry, difficulty to sleep and the feeling of incapacity to handle the problem. “I’d rather die! My son runs way home and stays in the streets a few days, and I keep looking for him.” (Mother, 48 years old – son is a cocaine user, 24 years old) The self neglect had a high prevalence in relatives with a high level of codependency (49%) which shows that they allow to be controlled by the users behavioral problems, and let a major influence on their personal lives (changing or cancelling plans or social events due a family member that is using alcohol or other drugs or recovering from the effects), besides hide the users’ inadequate behaviors from the rest of the family (to lie or excuse to family or friends by the users’ behavior when under the influence of alcohol or any other drug), drug use explosion, express need of change for the user but does not manage to achieve (threats on divorce). It is well known by literature the association between violence and the use of substances, stress and quality of life (Murray, Chemack, Walton, Winters, Booth & Blow, 2008, Guimarães, Santos, Freitas & Araújo 2008, Gilbert, El-Bassel, Rajah, 78 Foleno & Fire, 2001). Although, the association between violence and codependency levels on drug users relatives on the study did not showed statically significant difference. In the intra household violence field, not only the physical violence was considered, but also the concept of violence as the intentional use of physical strength or power, against someone that presents higher potential to cause harm, death, psychological harm (WHO, 2002). Therefore, it is important to highlight that the physical violence occurred in 47% of the relatives total, while 83% of psychological violence, which matches to the previously studies (Moreno, Jansen, Ellsberg, Heise & Watts, 2006, Mota, Vasconcelos & De Assis, 2007). One of the participants of the study (mother, 50 years old) referred that discussed with her son (crack user, 17 years old) and he left home breaking a glass door. She was nervous because was afraid her husband would find her son and once again they would enter a fight. Under this view, the tensional spectrum of a stressing and violent situation influences not only the well being of someone, but also his quality of life, this factors can be associated with emotional, biological and social disorders (Fuller & Warner, 2000, Minayo & Schenker, 2004). In the family total, 20% of the relatives attending self-help groups, which is contrary due the mentioned damage on the study concerning the coexistence with the drug user. The self-help groups for family members are directed to eliminate enabling behaviors (Denning, 2010). To this study’s sample, intervene on these behaviors would influence on a positive way for the management of drug use in the family. When it comes to make of psychological or psychiatric treatment, the prevalence was 24% by the relatives, since 76% presented a lower income than 5 minimal wages. Concerning the health related aspects, this dynamic of functioning familiar also can contribute to complications on the relative’s well being (Harkness, 2003, Irvine, 79 2000), which results in a increased need for medical treatment, using medication to psychological or organic problems. The limitation for the study was the loss of protocols due insufficient information about the family functioning whether by mistyping by the counselors as well by the urge to receive answers on treatment centers by the family members. This study showed that the relatives with high level of codependency use more health services, drugs in general, specially antidepressant and anxiolytic. Besides, significant implications on this personal lives as; self sacrifice, self neglect and emotional or chores overload. Therefore, a significant impact occurs due the codependency on the quality of life of the family. Acknowledgements The authors would like to thank the Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (National Secretary at for Policies on Drugs) for research funding and inform that HMTB receives a 1C Research Productivity Grants from CNPQ. And thanks to the VIVAVOZ counselors. 80 References Ancel, G., & Kabalkci, E. (2009). Psychometric properties of the Turkish form of codependency assessment tool. Archives of Psychiatric Nursing, 23, 441-463. Bardin, L. (1977). Análise do Conteúdo. Lisboa: Edições 70. Barros, H. M. T., Santos, V., Mazoni, C., Dantas, D. C. M., & Ferigolo, M. (2008). Neuroscience education for health profession undergraduates in a call-center for drug abuse prevention. Drug and Alcohol Dependence, 98, 270-274. Beattie, M. (2009). The new codependency: help and guidance for today’s generation. New York: Simon & Schuster. Cermak, T. (1986). 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Especialista em Psicologia Clínica. Mestranda. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). 2 Farmacêutica. Doutora em Fisiologia, UFRGS. Coordenadora, Serviço Nacional de Informações e Orientações sobre a Prevenção do Uso Indevido de Drogas – VIVAVOZ. 3 Psicóloga. Mestre em Educação - Pontifícia Universidade Católica – RS. 4 Psiquiatra. Doutorando em Psiquiatria – UFRGS. 5 Médica. Pós-doutorado em Neuropsicofarmacologia, Tufts University, Boston, USA. Professora titular, Farmacologia, UFCSPA. Este estudo foi realizado na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre, RS, e no Serviço Nacional de Informações e Orientações sobre a Prevenção do Uso Indevido de Drogas – VIVAVOZ. 88 RESUMO Introdução: a dependência de drogas é um fenômeno que atinge não somente o usuário, mas também o sistema familiar como um todo. Devido à complexidade dessa relação, a família pode desenvolver características conhecidas como codependência, entre elas: auto-estima baixa, valorização das opiniões dos outros em detrimento das suas, dificuldade de identificar os sentimentos ou comportamentos que facilitam o uso de drogas. Objetivo: avaliar as crenças codependentes e o estágio de mudança em familiares de usuários de drogas que procuraram um serviço de teleatendimento. Metodologia: realizou-se um estudo transversal no VIVAVOZ – Serviço Nacional de Orientação e Informação sobre a Prevenção do Uso Indevido de Drogas - no período de junho a julho de 2007. A amostra incluiu 154 familiares de usuários de drogas. Os instrumentos utilizados foram as escalas Ladder a qual avalia o estágio de mudança de comportamento frente ao familiar usuário e Holyoake Codependecy Index. Esta avalia a codependência em 13 itens, sendo calculados pela soma de 3 elementos denominados: foco no outro, autosacrifício e reatividade. Resultados: 71% dos familiares apresentaram crenças codependentes. Dentre estes, 89% identificaram-se no estágio de contemplação, ou seja, percebiam a necessidade de mudança no seu comportamento em relação aos usuários. Conclusão: notou-se a importância de intervenções focadas na família que abordem as crenças mal-adaptativas codependentes e os estágios motivacionais no processo de mudança relacionado à dependência química. Unitermos: transtorno relacionado ao uso de substância, relações familiares, dependência mimética (codependência) e motivação. 89 ABSTRACT Introduction: drug addition is a phenomenon that affects not only the substance abuser but also their entire family system. Due to this complex relationship between addictive and their families, the latter usually develops characteristics known as codependency as low self-esteem, high value of other people’s opinion, difficulty in identification of feelings or behavior that facilitates drug usage. Objective: This study aims to evaluate codependency and stages of change in families of drug users that seek for help through call center. Methodology: It was conduced a cross-sectional study in the VIVAVOZ – orientation and information service about prevention of improper use drugs from June to July 2007. The sample included 154 family members of drug user. The instruments used were the Ladder scale that evaluates the stages of change of the family behavior and the Holyoake Codependency Index. The latter evaluates codependency in 13 items that is calculated by the sum of 3 elements: external focus, self-sacrificing and reactivity. Results: The results showed that 71% the families were beliefs codependents. From those, 89% identified theirselves on the stage of contemplation. Thus, most families reported the need of change of their behavior related to the drug user. Conclusion: this study reinforces the importance for implementation of family approaches that could motivate their members in order diminishes their codependent behavior. Key-words: substance- related disorders, family relations and motivation. 90 Introdução O consumo de álcool ou drogas ilícitas atinge toda a família, desencadeando diversos problemas em nível marital e parental, dentre eles a ocorrência de violência doméstica e criminalidade 1,2 . O risco aumentado para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos em pessoas com abuso e dependência de drogas ocasiona consequências deletérias tanto em nível individual e laboral quanto familiar 3. A consequência à família do uso indevido de álcool é de sofrimento em função da baixa percepção do usuário a respeito do prejuízo provocado pelo seu uso e também pela prevalência acentuada de quadros depressivos 4. O consumo de cocaína torna o usuário irritado, agressivo, impaciente e desconfiado, 5,6 além de apresentar maior risco de suicídio 7. Já a utilização de maconha, pode acarretar a síndrome amotivacional expressa por faltas à escola, trabalho e apatia do usuário frente o cotidiano da família 8,9. Também, a abstinência do uso de maconha ocasiona irritabilidade, inquietação, diminuição do apetite e comportamento agressivo 10. Devido à complexidade dos problemas enfrentados entre usuários de drogas e familiares, a família também pode adoecer 11,12 . Uma condição descrita na literatura é a codependência considerada uma síndrome de crenças e estratégias mal - adaptativas que pode manifestar-se em qualquer familiar de usuário de drogas 13 . Em determinados momentos a família age de forma a reforçar a manutenção do uso de drogas pelo familiar usuário, o que propicia o agravamento do problema 14 . Desta forma, os comportamentos facilitadores da família merecem atenção e cuidado profissional. As linhas telefônicas tem sido amplamente utilizadas como uma alternativa de oferta de intervenções para o monitoramento das condições de saúde da população, inclusive nas questões referentes a drogas 15 . Estudos demonstram que dependentes químicos permanecem várias semanas consecutivas em abstinência e apresentam melhores 91 resultados em relação a outras formas de tratamentos quando recebem intervenção por meio de serviços de teleatendimento 16, 17. Serviços telefônicos para familiares de usuários de drogas ainda são limitados o que é diferente para familiares de crianças com anormalidades congênitas e demência 18,19. Todavia, infere-se que o apoio telefônico pode ser uma importante ferramenta para auxiliar a família na identificação das crenças mal adaptativas codependentes, bem como para estimular a mudança do comportamento. Atendimento familiar realizado para fumantes com a saúde comprometida apontou que a família deve ser motivada a aprender e implementar com o usuário estratégias para a solução de problemas, coping e treinamento de habilidades. O envolvimento da família foi um elemento chave para a manutenção da abstinência nos fumantes destas pesquisas 20,21 . Estudos sobre avaliação da codependência e os estágios de mudança em familiares de usuários de drogas ainda não foram conduzidos por telefone. O presente estudo teve como finalidade estimar as crenças codependentes, os elementos da codependência e os estágios de mudança em familiares de usuários de drogas que procuraram um serviço de saúde por teleatendimento Metodologia O estudo foi realizado no Serviço Nacional de Orientação e Informação sobre a Prevenção do Uso Indevido de Drogas – VIVAVOZ. Participaram da pesquisa familiares de usuários de drogas, das cinco regiões do Brasil, com idade ≥ a 11 anos que solicitaram ajuda em relação ao familiar usuário de tabaco, álcool e drogas ilícitas que aceitaram participar do estudo, após o consentimento informado (N=154). A coleta de dados foi realizada no período de junho a julho de 2007 por consultores, acadêmicos de nível superior na área da saúde, treinados e supervisionados 22. 92 O Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre avaliou e aprovou o projeto (n° 339/07). Delineou-se um estudo transversal analítico para avaliar as crenças codependentes e os estágios de mudança em familiares de usuários de drogas. Os instrumentos utilizados foram a) protocolo de atendimento ao familiar que continha dados sociodemográficos b) avaliação do estágio de mudança do comportamento do familiar frente o usuário 23 c) escala de codependência que avalia a codependência em 13 itens. O escore total dessa escala varia de 3 a 15 pontos, sendo calculados pela soma dos elementos: foco no outro, auto-sacrifício e reatividade 24 . O elemento foco no outro, é caracterizado por focar a atenção no comportamento, opinião e expectativas de outras pessoas para obter aprovação ou afeto, auto-sacrifício tendência de privilegiar a necessidade dos outros em detrimento da sua e reatividade que consiste em assumir a responsabilidade por regular o comportamento e responsabilizar-se por consequências relacionadas a comportamentos inadequados advindos do uso de drogas do familiar 24 . O ponto de corte para codependência foi considerado o valor > 9,7 em função de priorizar a identificação de familiares com crenças codependentes 25. O teste qui-quadrado foi realizado para avaliar significância estatística nas comparações de codependentes e não codependentes entre as variáveis sociodemográficas, crenças codependentes e estágio de mudança. Os valores de p<0,05 foram considerados como estatisticamente significativos. O programa SPSS, versão 11.5 foi utilizado para estes cálculos. 93 Resultados A amostra foi constituída de 154 familiares de usuários de drogas, sendo mulheres (86%) e homens (14%). As ligações foram realizadas em sua maioria por mães (42%), seguidas por cônjuges (19%), irmãos (18%), tios e primos (6%), pais e filhos (4%) e sobrinhos (0.7%). A faixa etária dos familiares variou de ≥ 35 anos (56%), 18 a 24 anos (19%) e 25 a 34 anos de idade (16%). Quanto à escolaridade a maioria estava no ensino médio completo (34%), ensino fundamental incompleto (26%), ensino médio incompleto (16%), ensino fundamental completo (9%), superior completo (6%), superior incompleto (4%) e técnico (3%). Dos familiares, (43%) eram profissionais de outras áreas, 24% eram do lar, estudantes (15%), aposentados (6%), desempregados e autônomos (5%) e profissionais da área da saúde (3%). A maioria relatou ser casado (56%), 26% eram solteiros, 14% separado e 4 % viúvo. A renda familiar dos familiares variou de 1 a 5 salários mínimos (82%), 5 a 10 salários (15%) e mais de 10 (3.5%). As ligações foram originadas principalmente do Rio Grande do Sul (21%), Minas Gerais (12%), São Paulo (11%) e Rio de Janeiro (9%). A comparação entre familiares que apresentaram crenças codependentes e não codependentes quanto às variáveis parentesco, idade, renda familiar, estado civil, uso de drogas lícita e ilícita pelo familiar apresentaram significância estatística (p<0,05). Todavia as variáveis sexo e uso de drogas lícitas, ilícitas pelo usuário não apresentaram significância estatística (Tabela 1). Em relação à avaliação das crenças codependentes (71%) dos familiares apresentaram essas crenças mal-adaptativas frente o usuário. Os resultados encontrados quanto aos elementos para crenças codependentes e não codependentes foram 94 respectivamente: auto-sacrifício (52% e 48%), reatividade (71% e 29%), foco no outro (0% e 0,7%), com valores equivalentes: auto-sacrifício e reatividade (67% e 33%). No que se refere ao estágio de mudança os familiares encontravam-se em précontemplação (54% e 45%), contemplação (88% e 12%), determinação (60% e 40%), ação e manutenção (59% e 41%). Esta comparação apresentou significância estatística (p=0.02). A demanda dos familiares foi em sua maioria por informações sobre drogas (60%), seguidas a respeito de centros de tratamento (28%) e informações sobre o serviço (8%). Dos entrevistados, (35%) afirmaram utilizar substância psicotrópica. Somente (1,9%) dos familiares relataram o consumo de droga ilícita e (32%) lícita. O tabaco ocupou o primeiro lugar (57%), seguido pelo álcool (24%). No entanto, os familiares referiram o uso de drogas tanto lícitas como ilícitas por parte do usuário. O uso de cocaína/crack (91%) prevaleceu sobre a maconha (54%), o álcool (23%) e o tabaco (15%). Discussão A associação entre codependência e sexo é assunto controverso na literatura. Dados demonstram que mulheres apresentam maior prevalência de crenças codependentes quando comparado aos homens 13,26 . Todavia esse resultado deve ser contextualizado ao papel esperado do gênero feminino 27. No presente estudo as ligações foram realizadas em sua maioria por mulheres, o que já é bastante evidenciado essa predominância na busca de serviços de saúde 28, 29 . Este resultado também pode estar associado a questões culturais que o gênero feminino está exposto de forma precoce e contínua 30, 31 . Pois, desde a infância, as mulheres são estimuladas a cuidar, atender e ser responsável pela família como um todo. Além disso, as mães dos usuários de drogas realizaram a maior parte das 95 chamadas ao Serviço. Os atributos quanto à maternidade estão imbricados de responsabilidade, dedicação à família, amor incondicional e compreensão. A atuação desse papel também pode influenciar a ocorrência de ansiedade, principalmente a ansiedade de desempenho e depressão quando a mãe ou a esposa sentem-se culpadas pela doença do filho ou do marido 11 . Entretanto, é importante considerar que a codependência não é sinônimo de cuidado e dedicação adequados, mas sim foco no outro em exagero, autonegligência e auto-sacrifício. Neste estudo, identificou-se que os familiares de usuários de drogas que ligaram para o VIVAVOZ apresentaram uma porcentagem similar de características de crenças codependentes (71%) ao que foi encontrado em pesquisas anteriores realizadas com população semelhante13,26. As crenças mal-adaptativas codependentes, tais como: 1- autosacrifício pode estar relacionado a familiares com perfil de dependência afetiva e traços de personalidade dependente; 2- reatividade entendida como capacidade de modificar e resolver os problemas do usuário que pode indicar características de personalidade narcisista e funcionamento psicológico primitivo com a manifestação de pensamento mágico para a solução de um problema bio-psico-sócio-cultural. Além disso, limitada consciência dos efeitos de seus comportamentos e emoções em relação ao usuário como uma forma de defesa por meio do mecanismo de negação. Assim, partindo desta lógica, o familiar não consegue “ver” o dinamismo e as inter-relações desse conflito 24. Além destas características, na prática clínica observa-se que determinadas famílias superprotegem o usuário no sentido de resolverem ou não permitirem o contato com as consequências advindas do seu envolvimento com a droga. Esta forma de manejo interfere significativamente no processo de parada do usuário, pois esses comportamentos permissivos podem reforçar a manutenção do uso de drogas 14,32. 96 Em relação ao estágio de mudança do comportamento do familiar frente ao usuário, a diferença maior ocorreu no estágio de contemplação: familiares com crenças mal-adaptativas codependentes (88%), ou seja, os familiares que apresentaram crenças codependentes consideraram como um problema com a necessidade de mudança o seu próprio comportamento diante do usuário. Todavia, ainda não conseguem modificar, devido a comportamentos e sentimentos ambivalentes 33. Muitas vezes com o agravamento da doença do usuário, a família aceita também, que está doente e precisa de tratamento tanto quanto o usuário. Em contrapartida, os familiares que não apresentam crenças codependentes não consideraram o seu comportamento em relação o usuário como um problema, possivelmente porque apresentam um maior arsenal de ferramentas para manejar com o problema 14 . No entanto, os resultados dos estágios determinação, ação e manutenção demonstraram que os familiares que apresentaram crenças codependentes encontram-se mais empenhados em modificar e executar planos para a mudança do seu comportamento. Identificou-se associação entre a codependência e as variáveis parentesco, idade, renda familiar, estado civil, uso de drogas pelo familiar e estágios de mudança (p<0,05), o que deve ser explorado em estudos subsequentes (Tabela 1). As limitações deste estudo foram que a maior parte da amostra foi constituída por mulheres e mães de usuários de drogas o que pode ter influenciado na estimativa das crenças mal-adaptativas codependentes. Além disso, o resultado inexpressivo do elemento da codependência foco no outro (0,7%) entre os familiares pode ser explicada pela forma que a escala investiga este item e por isso o familiar não percebe estas características como um problema. Assim, a auto-percepção desse elemento pode apresentar dificuldade de autocrítica. Salienta-se também o fato do auto-relato que pode não ter sido totalmente fidedigno 97 Conclusão Os dados demonstraram que o uso de drogas atinge a família de forma sistêmica, pois a maioria dos familiares apresentou crenças codependentes, isto é, utilizam estratégias mal-adaptativas para manejar com o usuário de drogas. Estes familiares consideraram como um problema o seu comportamento e perceberam a necessidade de mudança. Intervenções que avaliem as crenças codependentes e abordem os estágios de mudança em familiares de usuários de drogas devem ser aplicadas para abordagem da dependência química. Agradecimentos SENAD/AAPEFATO oferecem o apoio financeiro para o funcionamento e para as pesquisas desenvolvidas no VIVAVOZ. Agradecimento aos consultores do VIVAVOZ. 98 Tabela 1- Comparação entre as variáveis sociodemográficas; uso de drogas e as crenças codependentes dos familiares de usuários de drogas (n=154) que ligaram para o VIVAVOZ Variáveis N (154) Codependente (%) Não Codependente (%) P Parentesco Mãe 35 80 20 0,02 Pai 6 83,3 16,7 Cônjuge 29 75,9 24,1 Irmão 28 53,6 46,4 Filho 6 66,7 33,3 Tio 9 77,8 22,2 Sobrinho 9 0 100 Primo 1 33,3 66,7 Sexo Masculino 22 45,5 54,5 NS Feminino 132 61,5 38,5 0,04 Idade 11 - 17 14 28,6 71,4 29 18 - 24 25 - 34 24 ≥ 35 87 Renda Familiar 1a5 18 5 a 10 21 Mais de 10 5 Estado Civil Casado 2 Separado 21 Solteiro 38 Viúvo 6 Uso de drogas Lícita 50 familiar Ilícita 3 Uso de drogas Lícita 9 usuário Ilícita 132 Legenda: NS – não significativo 51,7 45,8 71,3 62,1 57,1 20 64,6 47,6 44,7 100 70 0 55,6 60,6 48,3 54,2 28,7 37,9 42,9 8 35,4 52,4 55,3 0 30 100 44,4 39,4 0,04 0,02 0,03 NS 99 Referências: 1. Murray RL; Chermack ST; Walton MA; Winters J; Booth BM; Blow FC. 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ANEXOS 6.1 Método 6.1.1 População do Estudo A população do estudo incluiu familiares de usuários de drogas das 5 regiões do Brasil que ligaram para o Serviço Nacional de Informação e Orientação sobre a Prevenção do Uso Indevido de Drogas – VIVAVOZ, com a intenção de obter informações a respeito de centros de tratamento, substâncias psicoativas e orientações de como manejar com o familiar usuário de drogas. 6.1.2 Delineamento do Estudo Foi realizado um estudo transversal e qualitativo no período de agosto de 2008 a agosto de 2009. 6.1.3 Critérios de Elegibilidade dos Participantes Foram incluídos todos os familiares que ligaram para o serviço com o objetivo de solicitar ajuda para o seu familiar usuário de álcool, maconha e ou cocaína e que aceitaram participar do estudo, após o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) (anexo 6.3). Foram excluídos protocolos incompletos e os familiares que demonstraram dificuldades cognitivas para o entendimento e ou responder os questionamentos. Considerou-se familiar os pais e avós e seus descendentes (tio, primo, sobrinho, filho, irmão) e a união estável entre os casais. 103 6.1.4 Amostragem e Tamanho da Amostra Todos os indivíduos que preencheram critérios de inclusão e completaram o protocolo da primeira ligação participaram do estudo. O cálculo da amostra foi efetuado a partir da realização de um estudo piloto (Artigo 2) que verificou uma taxa de prevalência de codependência de 71% em familiares de usuários de drogas que ligaram para um serviço de teleatendimento. Para o cálculo, considerou-se a diferença entre a prevalência real e a estimada de 5%, o que originou uma precisão absoluta de n= 316 (Laboratório de Epidemiologia e Estatística). 6.1.5 Instrumento de Coleta Foi realizada uma entrevista semi-estruturada por telefone, com duração média de 30 minutos (MILLER et al., 2002) incluindo-se questionários cujas características são descritas: a) Protocolo geral de atendimento ao familiar Com este questionário foram coletados os dados gerais da caracterização do familiar como sexo, idade, estado marital, profissão, renda familiar, escolaridade, cidade da qual foi realizada a ligação, hora e duração da chamada; dados sobre a classificação da pergunta, incluindo indicação referente a centros de tratamento, informações sobre drogas ou material informativo e informações relacionadas à saúde (anexo 6.4.1). b) Protocolo de atendimento ao familiar A partir deste instrumento foram questionadas informações detalhadas acerca do familiar e usuário tais como: parentesco especificado, idade e sexo do usuário, se o familiar já buscou ajuda e qual a alternativa que utilizou, verificação do uso de tabaco, 104 álcool e outras drogas e realização do convite para a participação do estudo a partir do TCLE (anexo 6.4.2). c) Escala de codependência Holyoake Codependency Index (HCI) que avaliou a codependência em 13 itens, indicando um continuum de concordância em uma escala Likert. O escore total dessa escala varia de 3 a 15 pontos, sendo calculados pela soma total dos elementos: foco no outro, auto-sacrifício e reatividade (DEAR et al., 2000). O ponto de corte para codependência foi considerado o valor de >9,7 baseado em estudo piloto em função de priorizar a identificação de familiares com crenças codependentes (FLETCHER et al., 2006). O elemento foco no outro é caracterizado por focar a atenção no comportamento, opinião e expectativas de outras pessoas para obter aprovação ou afeto; auto-sacrifício tendência de privilegiar a necessidade dos outros em detrimento da sua e reatividade consiste em assumir a responsabilidade por regular o comportamento e responsabilizar-se por consequências relacionadas a comportamentos inadequados advindos do uso de drogas do familiar (DEAR et al., 2000). A HCI foi traduzida para o idioma português por um pesquisador brasileiro e a backtranslation foi realizada por um nativo inglês. A escala foi utilizada sob a autorização do autor (anexo 6.4.3) d) Categorias para avaliar o funcionamento familiar As categorias foram construídas a partir do método de análise de conteúdo. Este consiste num conjunto de técnicas de análise das comunicações por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do teor das mensagens (BARDIN, 1977). O funcionamento familiar foi identificado a partir das seguintes categorias advindas de relatos dos familiares: 1- dificuldade financeira caracterizada por situações que o uso de drogas atingiu financeiramente a família, por exemplo, diminuição da renda decorrente de pagamento de dívidas do usuário a traficantes de drogas, endividamento, ocorrência de 105 roubo ou furto de bens materiais, assumir o orçamento da casa em função do comportamento do usuário 2- dificuldade de comunicação com o usuário denominado por problema de relacionamento e omissão do conhecimento do uso de drogas e mentiras; 3sobrecarga de tarefas e atividades ou emocional identificadas por assumir funções que eram de responsabilidade do usuário, pagar dívidas financeiras, exposição a roubo ou furto, uso de drogas pelo usuário dentro de casa, comportamentos permissivos, nível alto de estresse expressado por cansaço intenso, preocupação, dificuldade de dormir, sensação de não aguentar mais e incapacidade para manejar com o problema; 4- auto-negligência expressado por priorizar as necessidades do usuário em detrimento das suas, assim abandonando as responsabilidade pessoais ou profissionais, omitir os comportamentos inadequados do usuário dos demais familiares, exposição do uso de drogas pelo usuário dentro de casa, expressar a necessidade de mudança ao usuário e não conseguir efetuar; 5violência caracterizada por exposição a roubo ou furto, agressão e ameaças e 6- questões relacionadas a saúde que se referiam a realização de tratamento médico, psicológico, psiquiátrico, participação em grupo de auto-ajuda e uso de medicação. Estas categorias foram definidas a partir de características da codependência descritas na literatura (HUGHES-HAMMER, 1998; MARTSOLF, 2000; NORIEGA, 2008). 6.1.6 Logística Para o desenvolvimento do presente estudo foram necessários os seguintes procedimentos: 106 a) Criação de um software específico Foi criado um software para protocolar as solicitações dos familiares do serviço, bem como as respostas fornecidas, registrar estatísticas dos atendimentos e resgatar as informações gravadas. Além disso, o software permite pesquisa em sites na internet (Medline, Scielo, Capes, Pubmed) como também na sua própria base de dados, a qual contem publicações científicas. b) Seleção e treinamento de consultores para atendimento no Call Center O processo de seleção e treinamento de consultores, acadêmicos da área da saúde, para atendimento de familiares de usuários de drogas no Call Center foi constituído por 3 etapas. O modelo de treinamento utilizado foi adaptado do Medical Education Model for the Prevention and Treatment of Alcohol Use Disorders (MURRAY et al., 1996). A primeira etapa incluiu aulas teóricas em formato de um Curso de Extensão de 40h, enfocando os seguintes temas: as bases neuropsicofarmacológicas da adição, tratamento do uso de drogas, epidemiologia, fatores de risco e proteção relacionados ao uso de drogas, crianças e adolescentes em situação de risco, peculiaridades do uso de drogas na adolescência, legislação atual sobre drogas de abuso, avaliação e diagnóstico do uso de drogas, linha telefônica como método de atendimento e prevenção do uso de drogas, prevenção e efeitos do uso de álcool, tabaco, maconha, solventes, cocaína, êxtase, funcionamento familiar, o impacto do uso de drogas na família, codependência, entrevista motivacional e modelo transteórico na abordagem das dependências. As aulas foram ministradas por profissionais da saúde especialistas na área. O objetivo foi oferecer aos candidatos conhecimento atualizado sobre drogas de abuso e proporcionar recursos para que pudessem oferecer orientações e informações adequadas aos clientes do VIVAVOZ. Os candidatos foram submetidos a uma avaliação teórica com exigência mínima de grau 5,0 para aprovação (BARROS et al., 2008). 107 Na segunda etapa foi realizada uma Entrevista Coletiva com o objetivo de esclarecer o funcionamento do VIVAVOZ e as atividades a serem desempenhadas. Nesta etapa, avaliou-se a postura vocal, a atenção e concentração do candidato por meio do Teste D2 (BRICKENKANP, 2000). Participaram como avaliadores uma psicóloga, uma consultora regional do VIVAVOZ e uma fonoaudióloga. Na terceira etapa foi realizado o Treinamento no Call Center. Os consultores receberam orientações de como trabalhar com o sistema de informática e telecomunicações por meio de atividades teórico-práticas com o software. Além disso, receberam treinamento específico em entrevista motivacional, a fim de desenvolver habilidades na aplicação da ferramenta (anexo 6.5). Na seqüência os consultores foram avaliados, sendo exigido grau 7,0 para a permanência no serviço. c) Treinamento continuado dos consultores Elaborado para manter a qualidade das informações prestadas, o programa de treinamento continuado teve duração de 90h e as atividades foram desenvolvidas no formato de aulas expositivas, seminários e discussão de casos atendidos no VIVAVOZ. Conteúdos como entrevista diagnóstica, terapia cognitivo-comportamental, terapia familiar, características dos familiares de usuários de drogas, codependência, prevenção da recaída, entrevista motivacional, dependência química nas etapas do ciclo vital, entre outras foram aprofundados. Os consultores foram avaliados a cada mês e sua permanência no serviço dependia da obtenção mínima de grau 8,0 (BARROS et al., 2008). d) Supervisão dos atendimentos no Call Center A coleta de dados teve acompanhamento integral de 8 profissionais da área de saúde em nível de mestrado e duas de doutorado capacitadas para aplicação da intervenção. 108 e) Aplicação dos instrumentos Todos os consultores foram treinados para aplicar de forma padronizada os instrumentos. 6.1.7 Análise dos Dados A análise dos dados foi conduzida com o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 12.0. Inicialmente foram realizadas análises univariadas e após comparações entre as variáveis categóricas foram executadas por meio do teste Quiquadrado, Odds Ratio (OR) e o intervalo de confiança (IC95%). A análise multivariada foi realizada por meio de Regressão Logística, onde foram incluídas na análise as variáveis com P<0,05. Foram considerados os valores estatisticamente significativos P<0,05. 6.1.8 Proteção dos Direitos Humanos O projeto foi avaliado pela comissão de ética e pesquisa da UFCSPA e aprovado conforme parecer consubstanciado nº 339/07. Os participantes foram devidamente informados sobre a pesquisa por meio do consentimento livre e esclarecido (anexo 6.3). Para todos os entrevistados foi garantido o anonimato, sigilo com relação a sua ligação e direito de interromper a participação no estudo em qualquer momento sem que existisse prejuízo para si. Além disso, foi explicado o destino do conteúdo das entrevistas e seu uso exclusivo para fins de pesquisa. 109 6.2 Autorização para o Uso da Escala HCI Mensagem enviada por e-mail: Doctor Dear. I would to Validation of Holyoake Codependency Index in Brazil. I need your authorization. I need your answer soon. Cassandra Bortolon Mensagem recebida por e-mail: Cassandra, you have my permission to use the HCI in your research. I think that I sent you some materials some months back, but I have attached the scoring instructions for the HCI to this e-mail in case you don't have them. Please note that the HCI cannot be used for diagnostic purposes. There is no cut-off for clinical significance or other diagnostic purposes. The HCI is primarily a research tool, but it can be used to evaluate change (either at an individual level or for programme evaluation purposes). I am always interested to hear what research is being done using the HCI, so I am happy to receive updates on your research. Regards, Greg Dr Greg Dear School of Psychology and Social Sciences Edith Cowan University (CRICOS code: 00279B) 270 Joondalup Drive, Joondalup. 6027 AUSTRALIA ph - +61 4348 985289 (mobile within Aust is 0438 985289) fax - +61 8 6304 5834 110 6.3 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Nome do consultor:___________ Data ____/____/____ Número do protocolo: _________ Quando a chamada do familiar é atendida pelo serviço telefônico “VIVAVOZ”, foi disponibilizada a mensagem padrão: “As informações fornecidas ao serviço poderão ser utilizadas como dados de pesquisa, sendo disseminadas no meio médico e de saúde, sem a divulgação de dados individuais”. Quando é caracterizado o familiar que solicita ajuda inicia-se o protocolo para este estudo. Em seguida o consultor lê a mensagem: “estamos fazendo um estudo com familiares de usuários de drogas que envolverão algumas perguntas sobre a forma como a família lida com os problemas e interage com o usuário de drogas. O senhor (a) não será identificado em hipótese alguma. Além disso, terá total liberdade para responder ou não ao questionário, podendo se retirar do estudo a qualquer momento”. Atenciosamente, _______________ _______________ ______________________ Maristela Ferigolo Helena MT Barros Cassandra Borges Bortolon Comitê de Ética/UFCSPA (051) 3303 8804 e VIVAVOZ (051) 3303 8704 111 6.4 Instrumentos de Pesquisa 6.4.1 Protocolo Geral de Atendimento ao Familiar 1. Protocolo N.º: ______ / 2009 4. Hora Fim:______________ 2. Data: ____/____ / 2009 5. Consultor:________________ 3. Hora Início: _________________ Apelido/Nome______________________________________ Classificação da Pergunta Tipo de Pergunta 1. Centro de Tratamento 3. Material Informativo 5. Perda 2. Informações sobre Drogas 4. Outras 6. Retorno Pergunta:___________________________________________ Drogas 1. Álcool 3. Anabolizantes esteróides 5. Ansiolíticos 7. Êxtase 9. Maconha 11. Tabaco 2. Alucinógenos 4. Anfetamina 6. Cocaína/Crack/Merla 8. GHB 10. Opióides/Heroína 12. Outras Resposta: ______________________________________________ Referências Bibliográficas: Caracterização do Cliente Para Usuários ou Familiares: o Sr. (a) ou familiar alguma vez procurou ajuda? 1. Sim 2. Não Quem busca a informação 1. Parente 3. Mãe 5. Usuário de drogas 7. Profissional da Saúde 2. Pai 4. Amigo 6. Centro de Tratamento 8. Outros Profissionais Profissão 1. Aposentado 3. Desempregado 5. Estudante 2. Autônomo 4. Do Lar 6. Profissional da Saúde 112 7. Outros Profissionais Estado Civil 1. Casado/Vive com companheiro 3. Solteiro 2. Separado/divorciado 4. Viúvo Renda Familiar (em salários mínimos) 1. 1-5 (R$ 300,00 a 1499,00) 2. 5-10 (R$ 1500,00 a 3000,00) 3. Mais de 10 (mais de R$ 3000,00) Escolaridade 1. Analfabeto 3. Ensino Fundamental Completo 5. Ensino Médio Completo 7. Superior Incompleto 2. Ensino Fundamental Incompleto 4. Ensino Médio Incompleto 6. Curso Técnico 8. Superior Completo Local da Chamada Estado Cidade Idade Sexo 1. Masculino 2. Feminino Endereço para o Envio do Material Informativo: 1 – Rua 3 – Bairro 5 – Estado 2 – Número 4 – Cidade 6 – CEP Outras questões também utilizadas: Frequentou grupo de auto-ajuda? Qual? Faz tratamento médico/psicológico/psiquiátrico? Usa medicação? Qual? 6.4.2 Protocolo de Atendimento a Familiar Data da Ligação: Protocolo: Nome ou Apelido: Sexo do usuário: Idade do usuário: 113 Parentesco: 1.Mãe / Madrasta 3.Esposo (a) 5.Filho / Enteado 7.Tio (a) 9.Primo 2.Pai / Padrasto 4.Irmão (a) 6.Avó (a) 8.Sobrinho Drogas Usuário: 1.Álcool 2.Tabaco 3.Outras Qual: Drogas Familiar: Você utiliza alguma substância? 1.Álcool 2.Tabaco 3.Outras Qual: Já buscou ajuda para este problema? 1. Sim Qual: 1.Centro de Tratamento (CT) 3.CT e Orientação espiritual 5.CT e Profissional da saúde 7.CT e G. Auto-ajuda 9.Orientação espiritual e G. Auto-ajuda 11.CT, Orientação espiritual e Profissional da saúde 13.CT, Profissional da saúde e G. Autoajuda 15.CT, Orientação espiritual, Profissional da saúde e G. Auto-ajuda 17.Outros Qual: 2. Não 2.Orientação espiritual 4.Profissional da saúde 6.Grupo de Auto-ajuda 8.Orientação espiritual e Profissional da saúde 10.Profissional da saúde e G. Auto-ajuda 12.CT, Orientação espiritual e G.Autoajuda 14.Orientação espiritual, Profissional da saúde e G. Auto-ajuda 16.CT, Orientação espiritual, Profissional da saúde e G. Auto-ajuda 114 6.4.3 Escala de Avaliação da Codependência (HCI - Holyoake Codependency Index) Pensando no seu comportamento em relação ao uso de drogas do seu familiar, você... (1) Discorda Totalmente (2) Discorda (3) Indeciso (4) Concorda (5) Concorda Totalmente 1- Frequentemente eu não tento me tornar amigo das pessoas, pois penso que elas podem não gostar de mim. 2- Não importa o que aconteça, a família vem em primeiro lugar. 3- Minha vida é controlada pelo comportamento e problemas do meu familiar. 4- Eu sempre coloco as necessidades da minha família na frente das minhas. 5- Eu vivo muito segundo os padrões das outras pessoas. 6- Eu costumo me exibir ou fingir para impressionar as pessoas. Eu não sou a pessoa que finjo ser. 7- Os efeitos do comportamento do meu familiar são uma constante ameaça para mim. 8- É minha responsabilidade gastar as minhas energias ajudando e resolvendo os problemas das pessoas que gosto. 9- No intuito de me relacionar bem com as pessoas e de ser gostado, eu preciso ser o que as pessoas querem que eu seja. 10. Eu poderia administrar bem as coisas se o comportamento do meu familiar melhorasse. 11- O que eu sinto não é importante desde que as pessoas que gosto estejam bem. 12- Eu não posso colocar minhas próprias necessidades acima das dos outros, pois pode ser egoísmo. 13- Eu preciso dar desculpas e pedir perdão à maior parte do tempo. 115 6. 5 Treinamento em Entrevista Motivacional A pesquisadora deste estudo treinou os consultores em Entrevista Motivacional conforme o formato indicado por Miller e Rollnick (2002). A base do conteúdo foi extraída do livro Motivational Interviewing: preparing people for change (MILLER et al., 2002). 1) Base Teórica: conceitualização da intervenção breve e entrevista motivacional (EM), os princípios da EM, o estilo do terapeuta/consultor, interação interpessoal, evitar confronto e argumentação, acompanhar a resistência, aumentar a motivação, compreensão acerca da ambivalência e dos estágios de mudança. 2) Base Prática: A) Exercícios para realização de perguntas abertas, escuta reflexiva, barreiras à escuta, eliciar afirmações automotivacionais e integração das habilidades fundamentais. B) Exercícios intermediários: respostas à resistência. C) Exercícios de fechamento: reforçando o comprometimento.