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REVISTA UNIVAP Universidade do Vale do Paraíba Universidade do Vale do Paraíba Ficha Catalográfica Revista UniVap - Ciência - Tecnologia - Humanismo. V.1, n.1 (1993)São José dos Campos: UniVap, 1993v. : il. ; 30cm . Semestral com suplemento. ISSN 1517-3275 1 - Universidade do Vale do Paraíba A REVISTA UniVap tem por objetivo divulgar conhecimentos, idéias e resultados, frutos de trabalhos desenvolvidos na UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, ou que tiveram participação de seus professores, pesquisadores e técnicos e da comunidade científica. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. A publicação total ou parcial dos artigos desta revista é permitida, desde que seja feita referência completa à fonte. CORRESPONDÊNCIA UNIVAP-Av. Shishima Hifumi, 2.911 - Urbanova CEP 12244-000 – São José dos Campos - SP - Brasil Tel. (0 12) 3947-1036 / Fax (0 12) 3949-1334 E-mail: [email protected] Universidade do Vale do Paraíba Av. Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova CEP: 12244-000 - São José dos Campos - SP Fone: (12) 3947-1000 - www.univap.br Campus Centro: ! Praça Cândido Dias Castejón, 116 - Centro São José dos Campos - SP - CEP: 12245-720 - Tel.: (12) 3922-2355 ! Rua Paraibuna, 75 - Centro São José dos Campos - SP - CEP: 12245-020 - Tel.: (12) 3922-2355 Campus Urbanova: ! Avenida Unidade Villa Branca: ! Estrada Unidade Aquarius: ! Rua Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova São José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000 Municipal do Limoeiro, 250 - Jd. Dora - Villa Branca Jacareí - SP - CEP: 12300-000 - Tel.: (12) 3958-4000 Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 - Jardim Aquarius São José dos Campos - SP - CEP: 12246-080 - Tel.: (12) 3923-9090 Supervisão Gráfica: Prof.ª Maria da Fátima Ramia Manfredini - Pró-Reitoria de Cultura e Divulgação - Univap - Revisão: Prof.ª Glória Cardozo Bertti - (12) 3922-1168 - Editoração Eletrônica: Glaucia Fernanda Barbosa Gomes - Univap (12) 3911-4807 - Impressão: Jac Gráfica e Editora - (12) 3928-1555 - Publicação: Univap/2002 Baptista Gargione Filho Reitor SUMÁRIO Antonio de Souza Teixeira Júnior Vice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade Sociedade João Luiz Teixeira Pinto Pró-Reitor de Credenciamento e Recredenciamento de Cursos e de Recredenciamento da Universidade v.9 n.17 dez.02 ISSN 1517-3275 Ailton Teixeira Pró-Reitor de Administração e Finanças PALAVRA DO REITOR. .................................................................................... 5 Luiz Antonio Gargione Pró-Reitor de Planejamento EDITORIAL. .......................................................................................................... 7 Elizabeth Moraes Liberato Pró-Reitora de Avaliação Élcio Nogueira Pró-Reitor de Graduação Fabiola Imaculada de Oliveira Pró-Reitora de Pós-Graduação Lato Sensu A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) ............................... 9 A APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO DO NASCIMENTO AOS 6 ANOS - FASES DE DESENVOLVIMENTO Ana Maria C. B. Barsotti Pró-Reitora de Assuntos Estudantis da Univap Luis Fernando Zulietti, Ive Luciana Ramos Souza ........................................... 1 2 Maria da Fátima Ramia Manfredini Pró-Reitora de Cultura e Divulgação ENSINO DE ENGENHARIA Maria Cristina Goulart Pupio Silva Pró-Reitora de Assuntos Jurídicos Francisco José de Castro Pimentel Diretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba Francisco Pinto Barbosa Diretor da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo Luiz Carlos Scavarda do Carmo, Antonio de Souza Teixeira Júnior .............. 1 8 SENSORIAMENTO REMOTO NOS DIFERENTES NÍVEIS EDUCACIONAIS: UM ESTUDO DE CASO Angelica Carvalho Di Maio, Sandra Maria Fonseca da Costa, Gilson dos Anjos Ribeiro ...................................................................................................... 2 7 Frederico Lencioni Neto Diretor da Faculdade de Educação PLANEJAR COM A PAISAGEM: UMA CONTRIBUIÇÃO DO PAISAGISMO AO PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL Luiz Alberto Vieira Dias Diretor da Faculdade de Ciência da Computação Emmanuel Antonio dos Santos ......................................................................... 3 4 Renato Amaro Zângaro Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde AS LEIS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SUA RELAÇÃO COM O ÍNDICE DE ÁREA VERDE POR HABITANTE Samuel Roberto Ximenes Costa Diretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Vera Maria Almeida Rodrigues Costa Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Maria Valdelis Nunes Pereira Diretora do Instituto Superior de Educação COORDENAÇÃO GERAL Antonio de Souza Teixeira Júnior REVISÃO DE TEXTO Glória Cardozo Bertti DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃO Glaucia Fernanda Barbosa Gomes CONSELHO EDITORIAL Amilton Maciel Monteiro Antonio de Souza Teixeira Júnior Antônio dos Santos Lopes Cláudio Roland Sonnenburg Élcio Nogueira Elizabeth Moraes Liberato Francisco José de Castro Pimentel Francisco Pinto Barbosa Frederico Lencioni Neto Jair Cândido de Melo Marcos Tadeu Tavares Pacheco Maria da Fátima Ramia Manfredini Maria do Carmo Silva Soares Maria Tereza Dejuste de Paula Rosângela Taranger Samuel Roberto Ximenes Costa Vera Maria Almeida Rodrigues Costa Walter Brant Zaroni de Paiva, Mario Valério Filho ....................................... 4 4 PLANEJAMENTO E GESTÃO MUNICIPAL INTEGRADA: UMA QUESTÃO PARA DEBATE Maria Lígia Moreira do Carmo, Flávio José Nery Conde Malta ................... 4 8 URBANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE DO LITORAL NORTE PAULISTA: CONSTRUÇÃO E DESTRUIÇÃO Luciana Ayuko Yui ............................................................................................. 5 6 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DO PODER EXECUTIVO NA REMOÇÃO E/OU REURBANIZAÇÃO DE FAVELAS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Artur Rosa Filho, José Oswaldo Soares Oliveira ............................................. 6 1 TECNÓPOLIS, PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS Antonio de Souza Teixeira Júnior ..................................................................... 6 6 O VETOR ACADEMIA-EMPRESA PARA O INCREMENTO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA José Miguel Alvarez Chaddad, Tales Andreassi ............................................... 7 8 QUEBRA DE SIMETRIA EM MAPAS EQUIVARIANTES: EVOLUÇÃO DO CÓDIGO GENÉTICO Marcio Magini .................................................................................................... 8 5 PALAVRA DO REITOR Este 17º número da Revista Univap ocorre em um momento de mudança de alta administração da República, com a posse de um Presidente que se formou na escola da vida sindical, grande parte do tempo lutando pelo atendimento de reivindicações populares por melhores condições de vida, como saúde, educação e habitação. Esperamos que consiga tudo que almeja, pois o Brasil necessita ser uma Nação caracterizada por uma distribuição de renda mais justa e cabe à Universidade lutar por essa condição, como já vem fazendo, mediante a participação em numerosos projetos sociais, não limitados só ao entorno, mas muito mais a dezenas de municípios carentes do Norte e Nordeste do País. Os artigos ora publicados mostram a preocupação de nossos docentes com a solução de problemas importantes da nossa sociedade, como Planejamento Municipal, Urbanização, Favelas, Tecnópolis, Ocupação do Solo, além de inserções, ligadas ao ensino e à aprendizagem. - Qual o desenvolvimento que nos interessa? A resposta mais abrangente seria: o desenvolvimento sustentável, entendido este com todo o seu compromisso social, do que se quer em termos de revisão da importância da comunidade na organização social, unir os objetivos políticos aos sócio-econômicos, com predomínio da ética e do interesse público. Sobretudo, a universidade deve ser um exemplo de democracia, em oposição não só à burocracia estagnante e obtusa, mas ainda à burguesia deslumbrada pelos falsos valores que a mídia glorifica, ao mesmo tempo que ignora os promotores maiores do desenvolvimento sustentável. Baptista Gargione Filho, Prof. Dr. Reitor da UNIVAP EDITORIAL Temos conversado com nossos professores, sobre as perspectivas de ampliar a sua participação em publicações. Precisamos dispor de um bom número de artigos, abordando com profundidade assuntos ligados, por exemplo, aos núcleos de maior competência da UNIVAP – Planejamento Urbano e Regional e Pesquisa Biomédica. É bem possível que a partir de artigos com base em teses e dissertações, seja possível chegar a trabalhos de boa qualidade. Outro assunto, é o estímulo à publicação de livros, a partir, por exemplo, de práticas de aulas. Já temos obtido bons resultados, mas seria importante obter maiores contribuições, para chegar a uma Editora da UNIVAP. É claro que sempre se dirá que não há tempo, que os compromissos de ensino, pesquisa, extensão e administração absorvem todos os momentos Mas foram as pessoas sem tempo que arranjaram momentos para os grandes saltos do conhecimento. Como Beethoven, mesmo surdo, arranjou tempo para produzir suas sinfonias e concertos? E como Einstein, a partir de um cargo burocrático, conseguiu escrever as equações que procuram uma explicação para o universo? Na história de cada grande realização há sempre momentos de desprendimento e de superação das dificuldades aparentemente intransponíveis. A Universidade, finalmente, não é um gueto erudito e distante, mas um núcleo de excelência voltado para o desenvolvimento e para a conquista de um Brasil solidário e igualitário. Antonio de Souza Teixeira Júnior, Prof. Dr. Pró-Reitor de Integração Universidade - Sociedade A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE), com sede à Praça Cândido Dias Castejón, 116, Centro, na cidade de São José dos Campos, Estado de São Paulo, inscrita no Ministério da Fazenda sob o nº 60.191.244/0001-20, Inscrição Estadual 645.070.494-112, é uma instituição filantrópica e comunitária, que não possui sócios de qualquer natureza, com seus recursos destinados integralmente à educação, instituída por escritura pública de 24 de agosto de 1963, lavrada nas Notas do Cartório do 1º Ofício da Comarca de São José dos Campos, às folhas 93 vº/96 vº, do livro 275. A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mantida pela FVE, tem como área de atuação prioritária o Distrito Geoeducacional, DGE-31. Sua missão é a promoção da educação para o desenvolvimento da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte (DGE-31). Até o presente, a UNIVAP possui os seguintes Campi: a) b) c) d) Campus Centro, em São José dos Campos, situado à Praça Cândido Dias Castejón, 116, e à Rua Paraibuna, 75. Campus Urbanova, situado à Av. Shishima Hifumi, 2911, que abrange os territórios dos municípios de São José dos Campos e Jacareí. Unidade Aquarius, em São José dos Campos, situado à Rua Dr. Tertuliano Delphim Júnior, 181 Unidade Villa Branca, localizado em Jacareí, na Estrada Municipal do Limoeiro, 250. A Educação Superior, objetivo da UNIVAP, abrange os cursos e programas a seguir descritos: 1) Graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e que tenham sido classificados em processo seletivo. 2) Pós-graduação, compreendendo programas de Mestrado, Especialização e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam aos requisitos da UNIVAP. 3) Extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pela UNIVAP. 4) Educação a distância, com uso de novas tecnologias de comunicação. 5) Formação tecnológica, com formação de tecnólogos em nível de 3º grau. 6) Cursos seqüenciais, por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pela UNIVAP. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 A FVE é também mantenedora, tendo em vista a educação integral dos futuros alunos da UNIVAP, de cursos de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e ainda de Formação Profissional e Técnica. A UNIVAP, em seu Projeto Institucional, centra-se: 1) 2) 3) 4) numa função política, capaz de colocar a educação como fator de inovação e mudanças na Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte - o DGE-31; numa função ética, de forma que, ao desenvolver a sua missão, observe e dissemine os valores positivos que dignificam o homem e a sua vida em sociedade; numa proposta de transformação social, voltada para a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte; no comprometimento da comunidade acadêmica com o desenvolvimento sustentável do País e, em especial, com a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, sua principal área de atuação. A UNIVAP está em permanente interação com agentes sociais e culturais que com ela se identificam. Como decorrência da demanda de seus cursos ou dos serviços que presta, estabelece convênios com instituições públicas e privadas, no Brasil e no Exterior. Estes convênios resultam na cooperação técnica e científica, na qualificação de seus recursos humanos e tecnológicos, na viabilização de estágios acadêmicos e na prestação de serviços. A história da UNIVAP, enraizada na trajetória da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, traz consigo a marca da participação comunitária, a partir do compromisso que tem com a sociedade regional, alicerçado na tradição, na busca da excelência acadêmica, na qualidade de seu ensino, no diálogo com a comunidade e no exercício da tríplice função constitucional de assegurar a indissociabilidade da pesquisa institucional, ensino e extensão. Como atividades de extensão, destacam-se, na UNIVAP, aquelas relativas à Comunidade Solidária, que têm por objetivo mobilizar ações que contribuam para a alfabetização e melhoria da qualidade de vida de populações carentes. Dentro deste Programa, foram realizadas atividades nas áreas de Saúde, Higiene, Cidadania, Educação e Lazer, em Santa Bárbara (BA), Beruri (AM), Teotônio Vilela (AL), Nova Olinda (CE), Coreaú (CE), Carnaubal (CE), São Benedito (CE), Groaíras (CE), Atalaia do Norte (AM), Pão de Açúcar (AL) e, no Vale do Paraíba, nas cidades de Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, Paraibuna, São Francisco Xavier e São José dos Campos. 9 Todas as pesquisas institucionais da Universidade estão centradas em seu Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), o qual executa programas e projetos e congrega pesquisadores de todas as áreas da UNIVAP, envolvidos em atividades de pesquisa, desenvolvimento e extensão. Em seus oito núcleos de pesquisa, nas áreas sócio-econômica, genômica, instrumentação biomédica, espectroscopia biomolecular, estudos e desenvolvimentos educacionais, ciências ambientais e tecnologias espaciais, computação avançada, biomédicas, atrai e dá condições de trabalho a pesquisadores de grande experiência, do País e do exterior. Os alunos têm condições de participar, com os professores, de pesquisas, executando tarefas criativas, motivadoras, que propiciam a formulação de modelos e de simulações, trabalhando com equipamentos de primeira linha, e isto faz a diferença entre a memorização e a compreensão. Bolsas de estudo vêm sendo oferecidas a alunos e pesquisadores, quer pela UNIVAP, quer por instituições como CAPES, CNPq, FINEP e FAPESP. CURSOS DE GRADUAÇÃO CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO - Administração de Empresas e Negócios Arquitetura e Urbanismo Ciência da Computação Ciências Ciências Biológicas Ciências Contábeis Ciências Econômicas Ciências Sociais: História, Geografia Comunicação Social: Jornalismo Comunicação Social: Publicidade e Propaganda Direito Educação Física Enfermagem Engenharia Aeroespacial Engenharia Ambiental Engenharia Biomédica Engenharia Civil Engenharia da Computação Engenharia de Materiais Engenharia Elétrica Fisioterapia Letras (Português/Inglês e Português/Espanhol) Matemática Normal Superior Odontologia Secretariado Executivo Serviço Social Terapia Ocupacional Turismo. O esforço da UNIVAP em construir, no Campus Urbanova, uma Universidade com instalações especiais para cada área de atuação, com atenção especial aos laboratórios, tem por objetivo um ensino de qualidade, compatível com as exigências da sociedade atual. A UNIVAP, para o ano letivo de 2003, fiel ao lema de que “o saber amplia a visão do homem e torna o seu caminhar mais seguro”, oferece à comunidade da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte o seguinte Programa, de seus diversos cursos, que vão desde a Educação Infantil à Pós-Graduação, passando inclusive pelo Colégio Técnico Industrial e pela Faculdade da Terceira Idade. - Doutorado - Mestrado - Bioengenharia Ciências Biológicas Engenharia Biomédica Planejamento Urbano e Regional Engenharia de Produção (ensino a distância). Sistemas Computacionais Adaptativos - Especialização - Lato-Sensu - Engenharia Aeroespacial Farmacologia e Toxicologia de Produtos Naturais Fisiologia do Exercício Gestão Empresarial Laser na Biomedicina Laser na Odontologia Metodologias de Treinamento Produtos Naturais, Farmacologia e Toxicologia - Sequencial - 10 Engenharia Biomédica Sistemas de Telecomunicações Tecnologia Aeroespacial (ênfase em Manutenção Aeronáutica) Tecnologia Aeroespacial Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 - (ênfase em Sistemas de Aviões) Tecnologia e Estruturas de Concreto São José dos Campos Com cerca de 500.000 habitantes, São José dos Campos é o município com maior população na sua região, sendo que seu grande desenvolvimento começou realmente com a construção da Rodovia Presidente Dutra e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Além disso, a localização estratégica e privilegiada entre São Paulo e Rio de Janeiro e a topografia apropriada para a construção de grandes indústrias possibilitaram que a cidade crescesse vertiginosamente na década de 70, passando a ser uma das áreas mais dinâmicas do Estado e a terceira maior taxa de crescimento da década de 80. De 1993 para cá, a cidade passou por grandes transformações, alcançando avanços na área da saúde, desenvolvimento econômico, educação, criança e adolescente, saneamento básico e obras. O comércio de São José dos Campos é bastante desenvolvido e vive um período de extensão, com vários centros de compras e grandes supermercados e Shopping Centers. Com mais de 1.000 indústrias, 4.000 estabelecimentos comerciais e superando 7.000 prestadores de serviço, o perfil industrial de São José dos Campos tem dois lados distintos: o centralizado nas áreas aeroespacial e aeronáutica, como a Embraer, e outro diversificado, com indústrias, como a General Motors, Johnson & Johnson, Petrobras, Rhodia, Monsanto, Kodak, Panasonic, Hitachi, Bundy, Ericsson, Eaton e outras. É o quarto município do Estado de São Paulo em arrecadação e ICMS, atrás Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 apenas da capital, Santo André e Campinas. São José dos Campos possui, como resultado da atuação de suas indústrias, dos estabelecimentos comerciais e dos organismos que desenvolvem tecnologias de ponta, mão-de-obra de altíssimo nível. Entre esses órgãos destacam-se o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com seus Institutos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, IAE - Instituto de Atividades Espaciais, IFI - Instituto de Fomento e Coordenação Industrial e o IEAv - Instituto de Estudos Avançados. Com uma vida cultural bastante intensa, o município conta com uma Fundação Cultural e vários espaços culturais, como o Museu Municipal, galerias de arte, centros de exposição, casas de cultura, Teatro municipal, Cine-Teatro Benedito Alves da Silva, Cine-Teatro Santana e o Teatro Univap Prof. Moacyr Benedicto de Souza, cinemas, emissoras de rádio FM e AM, Central Regional da TV Globo, jornais diários com circulação regional, além dos da capital, e várias Bibliotecas Escolares, Universitárias e de Pesquisa, como a da UNIVAP, a do INPE e a do ITA. A UNIVAP constitui, além do CTA e do INPE, o maior centro de ensino e pesquisa do município. Da Pré-Escola à Universidade, além de Cursos de Pós-Graduação e da Terceira Idade, a UNIVAP mantém o IP&D - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, que garante a incorporação da pesquisa na comunidade acadêmica da UNIVAP, permitindo a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa. A UNIVAP tem estado aberta à interação com empresas e instituições do município, notadamente as de ensino e pesquisa, entre elas o INPE e o CTA-ITA, de onde são provenientes o reitor, pró-reitores e vários professores. 11 A Aprendizagem da Natação do Nascimento aos 6 Anos – Fases de Desenvolvimento Luis Fernando Zulietti * Ive Luciana Ramos Sousa ** Resumo. Este trabalho tem a intenção de mostrar as capacidades de cada criança em sua respectiva idade na natação do nascimento até 6 anos. Desde o nascimento o bebê tem seus reflexos e comportamentos no meio líquido por relembrar sua existência durante a gestação; a partir do 6º ao 8º mês, começa a deixar de ter comportamentos involuntários para ter comportamentos voluntários. A partir dessa fase, a criança se desenvolve na natação conforme sua maturidade e capacidade, e aos 6 anos a criança alcança 80% de seu desenvolvimento. Através de pesquisas, este trabalho procura mostrar que a natação desde bebê é válida por vários motivos e que se o ensino respeitar a capacidade de cada criança, poderão surgir grandes atletas no nosso futuro. Palavras-chave: Maturação, fases do desenvolvimento, criança. Abstract. The purpose of this paper is to show each child’s swimming capacity, according to their age, from birth to 6 years of age. At birth, a baby has a certain reflex and behavior in the liquid environment because she remembers her existence before birth and at 6-8 months of age, begin to lose those involuntary reactions to start voluntary movements. As from this phase on, the child develops her swimming capacity according to her maturity and skills, and a age 6, the child reaches 80% of her development. Through research, I have formulated this work in order to show that swimming for babies is valid for several reasons and that if the teaching approaches respects each child’s skills many great athletes are about to emerge in the future. Key words: Maturity, development phases, child. 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é mostrar as fases de desenvolvimento de bebês e crianças até 6 anos. Através de pesquisas em livros, apostilas, sites da internet e vivências em aulas que o primeiro autor ministra, percebeu-se que o desenvolvimento do bebê na água inicia-se durante a gestação, pois relembra sua vivência dentro da barriga da mamãe, o que demonstra que a água é prazerosa. O desenvolvimento na água acontece conforme sua maturação, com o aprimoramento de seus reflexos e da coordenação. Para cada fase de desenvolvimento da criança, existem as respectivas capacidades neuro-motoras para * Professor da UNIVAP. ** Professora da A. E. S. J. (Associação Esportiva São José). 12 a realização de movimentos na água. Desde o nascimento o bebê já possui seus reflexos e respostas motoras no meio líquido. Este processo é dividido em dois períodos: o Sensório-motor, que compreende do nascimento aos 24 meses e o Período pré-operacional que vai dos 3 anos até os 6 anos, período que se caracteriza pela realização de movimentos característicos dos estilos da Natação. Para que possamos promover uma boa adequação do bebê às atividades aquáticas, devemos nos fixar no ritmo próprio de cada criança e obedecer o seu desenvolvimento global, que é diferenciado de outra, em nível mental-cognitivo e sócio-emocional. 2. O SIGNIFICADO DA MATURAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA NATAÇÃO Segundo Lima (1999), durante muito tempo a Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 natação foi realizada de modo mecanista e detalhista, visando mais o plano técnico do que o pedagógico, onde as crianças eram supervisionadas por técnicos os quais tinham como meta ensinar os estilos para formação de novos atletas em pouco tempo. A natação permanecia reduzida a um conceito puramente mecanista, buscando exclusivamente e de forma incessante desempenhos imediatos e deixando de lado as relações de reciprocidade, sociabilidade e psicomotricidade. Com isso, os alunos se desinteressavam pela natação por não assimilarem as rápidas informações e pela especificidade dos movimentos que lhes eram passados. A natação ou qualquer outra área na Educação Física deve proporcionar o inter-relacionamento entre o prazer e a técnica, através de procedimentos pedagógicos criativos, podendo ser sob formas de jogos, brincadeiras, desde que visando sempre o desenvolvimento da criança. Conforme Lima (1999), os primeiros conhecimentos e estudos do ensino da natação versam sobre o nível ou estado maturacional do aluno; muitos professores utilizam exercícios não apropriados para a idade, por isso não eram realizados com eficiência. “Maturação é o estado de prontidão neurofisiológica do organismo em realizar determinadas tarefas, independentes ou não dos fatores ambientais” (Lima,1999). Se ensinarmos exercícios que são precoces para a idade, poderemos trazer frustrações e desistências por parte do aluno, pois ele não conseguirá realizar os movimentos demonstrados pelos técnicos, pela especificidade do exercício. A criança bem encaminhada desde os primeiros passos nos facilitará o trabalho e constituirá o elemento mais elevado de aptidão psicomotora, necessários para as grandes performances. A natação age como um pré-estímulo motor, pois, antes mesmo de a criança tentar deslocar-se fora da água, já o consegue dentro da água, porque ela fica muito leve, conseguindo, assim, executar movimentos que muitas vezes não consegue fora da água. A criança realiza os movimentos de acordo com sua idade e seu nível de desenvolvimento. 3. ESTIMULAÇÃO AQUÁTICA PARA BEBÊS A chamada “Natação de lactentes ou para bebês”, que abrange os primeiros 18 meses de vida, pouco tem a ver com a natação propriamente dita. O bebê na água relembra sua vivência dentro da barriga da mamãe durante a gestação, podendo-se deduzir, então, que a água é prazerosa, principalmente o banho deve ser uma descontração. Os primeiros passos de uma estimulação aquática seria o banho, que tem por objetivo trazer prazer ao bebê. Deixar respingar água no rosto e depois deixar escorrer a água da cabeça para o rosto e brincar muito durante o banho. Os preparativos para a natação do lactente, iniciam-se já imediatamente após a alta do pediatra, devendo-se: · Reduzir a temperatura da água do banho aos poucos até atingir 32º; · Familiarizar a criança com a água; A aprendizagem conduz o indivíduo a estar diante de um fator novo, com a inter-relação entre os fatores internos (representados pelo nível maturacional e vivências anteriores dos indivíduos) e externos (representados pelo meio ambiente e estratégias do professor), resultando na redução da tensão ao aprender determinado exercício. O primeiro fator, e talvez o mais importante, é que o indivíduo sinta prazer em estar na água e descubra as boas sensações que ela lhes proporciona. Segundo Bresges (1980), bebê não aprende a nadar; dando-lhe oportunidade, aprende, isto sim, a fazer uso de suas vantagens inatas – grande flutuabilidade, reserva de oxigênio, inconsciência do perigo etc. – para, eventualmente, FICAR LIVRE DO PERIGO N’ÁGUA. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 · Habituar os pais a um manuseio seguro da criança. Conforme Fonseca (1983), um elemento fundamental para as experiências com bebês no meio aquático é a presença da mãe/pai/alguém que lhe é familiar, junto dele na água, durante todo o processo de estimulação aquática, isto é, a “aula”, onde os pais vão proporcionar-lhes segurança afetiva e segurança física, atuarão como agentes no auxílio no desempenho e nós, professores, seremos os mediadores. Não é recomendado substituir os pais, nem mesmo pelo professor altamente especializado. Deve-se considerar os aspectos psicológicos de cada criança: o bebê ainda tem um círculo muito restrito de seu meio ambiente; os adultos que o cercam, são os de sua 13 convivência familiar e doméstica, portanto, qualquer pessoa estranha que entre no seu pequeno mundo será motivo de abalo em seu equilíbrio emocional, então com os pais, as crianças já não se assustam tanto. Como é citado no livro de Bresges (1980), a boa adaptação ao meio líquido dependerá principalmente da relação da criança com a água, sendo resultado da maneira pela qual a aproximam do meio líquido e do tempo que lhe concederam para brincar. Antes de tudo existem quatro aspectos essenciais nesta fase: o respeito pela fase de desenvolvimento maturacional que o aluno se encontra, o contato físico, o contato social que o aluno terá com o professor e a segurança, pois não basta que o aluno esteja seguro e sim que ele se sinta seguro. Segundo Barbosa (1999), existem alguns estímulos psicomotores no meio líquido. São eles: · Desenvolver com harmonia suas habilidades motoras através de movimentos e formas lúdicas; · Estimular sua coordenação fina e grossa, através dos movimentos e materiais específicos; · Estimular a percepção dos cinco sentidos: tato, audição, visão, olfato e paladar; · Despertar e sentir diversas sensações através dos movimentos; · Exercitar seu equilíbrio, vivenciando diversas posturas aquáticas; · Proporcionar a motivação na água, para deslocamentos; · Desenvolver a noção espacial e lateralidade através dos mergulhos, giros, saltos etc. · Exercitar seus movimentos espontâneos; · Vivenciar diferentes sinais gestuais e verbais; · Promover o desenvolvimento sensório-motor e da inteligência (Piaget). Contudo Corrêa & Massaud (1999) afirmam que as expectativas de realizar as atividades aquáticas para os bebês são: 1) Evitar acidentes em piscina: no caso de a criança cair na piscina acidentalmente. 2) Evitar futuros problemas motores: a natação age com pré-estímulo motor, pois, antes mesmo de a criança tentar deslocar-se fora da água, já o consegue dentro dela, porque ela fica muito leve, conseguindo, assim, executar movimentos 14 que muitas vezes não consegue fora da água. 3) Melhorar a saúde dos bebês: muitos pais acham que a natação vai fazer o “milagre” de curar seus bebês de problemas respiratórios. Não existe qualquer afirmação científica a esse respeito, afirma o Dr. Flávio José Magalhães. “Apesar de muito auxiliar na respiração, a natação comum, da forma como é ministrada em escolas e clubes, não é capaz de auxiliar a criança a controlar uma crise respiratória.” 4. FASES DO DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO NA NATAÇÃO DESDE O NASCIMENTO ATÉ OS 6 ANOS Piaget (1982) propõe dois estágios de desenvolvimento até os 6 (seis) anos: 1. Período Sensório-motor: do nascimento aos 2 anos. 2. Período Pré-operacional: dos 3 aos 6 anos. 4.1. Período sensório-motor Este período é compreendido do nascimento até a criança completar 24 meses. A criança durante esta fase adquire habilidades e adaptações do tipo comportamental, e ainda não desenvolveu habilidades como raciocínio, coordenação motora mais fina. Os exercícios são realizados através de adaptações de estímulos, respostas e estímulos condicionados. Comportamentos adaptativos, inteligentes a utilização de brinquedos, imitação de animais aquáticos e as fantasias são as principais estratégias do período sensório-motor. Do 1º ao 4º Mês: Segundo Lima (1999), a criança utiliza mais os reflexos no relacionamento com o meio ambiente, isto é, qualquer barulho ou uma luz mais forte chamará a atenção da criança. Os primeiros banhos são imporkkktantes para a adaptação ao meio líquido; a maneira com que os pais molham o rosto ou transferem o seu calor para a criança ajudará no aprendizado da natação. Durante este período de vida a criança fortalece seu relacionamento com o mundo exterior, começa a sentir prazer pela água e as diferenças de temperatura. Praticamente o elo de ligação entre a criança e o meio ambiente é o choro. Com a água no rosto, apresenta bloqueios Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 respiratórios, observa o ambiente movimentando braços, pernas e o olhar. Os movimentos apresentados são rústicos. Realiza movimentos na água com auxílio do professor. Exercitar na posição de frente para a água (decúbito ventral) é importante para obter segurança. E, depois, em decúbito dorsal, pois estimula a sua visão, o tato e a audição. Do 4º ao 8º Mês: adaptações intencionais Durante este período a criança começa a manipular o meio externo. Chora quando sente ou deseja algo. É o período mais interessante para colocá-la na natação, pois sua imunidade já está mais desenvolvida, sendo a época ideal, não para aprender os estilos, mas sim para se adaptar ao meio líquido. Quando a água molha as vias respiratórias externas (boca e nariz) a respiração do lactente sadio é bloqueada por reflexos. Conforme Bresges (1980), estes bloqueios respiratórios que os bebês apresentam, a partir do 6º ao 8º mês, são comportamentos voluntários. O bebê começa a reter a respiração, o comportamento involuntário transforma-se em comportamento voluntário. Por isso, é de maior importância acostumar a criança a mergulhar. Ela observa o ambiente, movimenta os braços e pernas de forma semelhante ao engatinhar. Salta da borda e movimenta-se na água com auxílio do professor; começa a recusar a posição de costas e é capaz de permanecer flutuando livremente até 9 minutos. As músicas são elo de ligação professor-criança. Do 8º ao 12º Mês: comportamento instrumental e busca do objeto desaparecido Segundo Lima (1999), é um período ótimo de desenvolvimento da natação, pois pode-se relacionar os exercícios aos brinquedos. Antes o brinquedo era para atrair a atenção da criança e agora o objetivo é de integrálo aos exercícios. Com 12 meses, a criança reconhece o professor (sociabilização), salta da borda e desloca-se na água sem auxílio e é capaz de ficar em apnéia durante 10 a 20 segundos. Entende o pedido “soltar bolinhas dentro da água”. Abre os olhos dentro da água (usa-se muito os brinquedos para buscar no fundo da piscina). As músicas são utilizadas para a integração entre o professorexercício-aluno. A criança tem uma flutuação em decúbito dorsal autônoma de até 15 minutos, troca posições (dorsal, lateral, ventral) e faz giros. Até essa idade, a respiração é o reflexo da glote. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Do 12º ao 18º mês: reações circulares terciárias Conforme Lima (1999), a partir desse período a criança inclui no seu universo a figura das pessoas que estão com ela esporadicamente, como professores de natação, tias, avós etc, aumentando seu relacionamento. Na natação realiza movimentos de pernas semelhantes ao engatinhar e começa a perceber e a entender melhor o meio ambiente. Nesta fase aumenta o tempo de apnéia para 10 a 30 segundos; explora mais o meio e abre os olhos, melhorando a curiosidade durante a imersão. O relacionamento com os brinquedos é realizado através de fantasias e histórias os quais fazem parte da aula. As fantasias e as músicas são as estratégias mais importantes, coincidindo com a prontidão neurofisiológica da criança, e os primeiros sinais de defesa aparecem nessa fase (medo de não colocar os pés no fundo da piscina). Do 18º ao 24º Mês: representação do mundo externo, fantasias O relacionamento com o meio ambiente é concretizado nesse período, aparecendo os primeiros sinais de medo. Não se deve manifestar o medo na criança da parte mais funda da piscina, dizendo, por exemplo: “Cuidado, você pode se afogar aí no fundo”; devemos sempre contornar a situação, podendo trabalhar com a fantasia como estratégia para essa faixa etária. Os primeiros movimentos caracterizando os estilos são conduzidos das pernas, semelhantes aos dos estilos crawl e costas, progressivas contribuições (estímulos) de coordenação de braços e pernas para deslocamentos em decúbito dorsal, movimentos rudimentares dos braços, somente utilizados como apoio para respirar (elevar a cabeça, não respiração específica dos estilos). Com a melhor sociabilização, atenua-se o receio pela parte mais funda da piscina, com as primeiras noções de segurança, como entrar e sair da piscina: fundo-raso-evitar corridas. A criança realiza mergulhos, percorrendo uma certa distância sob a água e buscando a superfície, retornando à borda de origem ou ao professor, e a respiração é sob forma de imitação. 4.2. Período pré-operacional Período compreendido entre 3 (três) e 6 (seis) anos. Conforme Lima (1999), é o fim do período comportamental e início da compreensão, do entendimento, agrupamento de conceitos, aquisição e desenvolvimento da coordenação mais fina e 15 desenvolvimento das habilidades do aprendizado dos estilos da natação. O comportamento é mais sensato e lógico nas situações de brinquedo livre. As crianças tem a capacidade de compreender novos conceitos, aprende a nadar os estilos, iniciando por movimentos mais rústicos até a realização de movimentos mais complexos. movimento ideal. Nesse momento as pernas começam a auxiliar a sustentação do corpo. Quanto aos movimentos de braços, ainda são realizados com dificuldade, principalmente o movimento aéreo (recuperação), pela dificuldade em tirá-los da água. Aos 5 anos Segundo Corrêa & Massaud (1999), na criança, um dos principais objetivos para que se consiga um desenvolvimento, em busca de saúde e equilíbrio, é desenvolver o gosto pela atividade, através de ações lúdicas, prazerosas, com objetivos claros, dentro de sua capacidade psicomotora. Enfatizamos que, nesta faixa etária, as aulas não devem atingir somente os objetivos específicos da natação, como a adaptação ao meio líquido e a aprendizagem dos nados. Devem, também, atingir todas as potencialidades da criança, compreendendo os domínios afetivo, cognitivo e psicomotor. Nesta faixa etária, normalmente as crianças atingem com relativa rapidez os conteúdos programáticos propostos pela natação. Isto muitas vezes causa uma preocupação por parte de alguns professores, se perguntando. “O que eu faço agora?” , “O que a mãe vai achar de todos os dias fazermos as mesmas aulas?” A freqüência deste fato fez com que a natação nesta faixa etária se tornasse algo mais do que somente aprender a nadar. A utilização de materiais facilitam a realizar movimentos variados, ajudando no aprendizado. É importante que mostremos aos responsáveis que aquela criança está em freqüente evolução. Conforme Lima (1999), é comum encontrar, nessa fase mais intensa da coordenação, crianças com desenvolvimento mais tardio em relação a outras e crianças que ficam durante alguns meses sem apresentar evolução nos movimentos. Apresentamos aos alunos a coordenação das pernas e braços e a respiração específica do crawl – respiração lateral. Os movimentos da braçada são realizados com mais facilidade, principalmente a parte aérea. É importante incrementar os movimentos das mãos nas diferentes direções com o objetivo de desenvolver a sensibilidade quanto à sustentação e propulsão (deslocamento). Iniciamos a coordenação dos movimentos das pernas, braços, respiração específica, até alcançarmos o nado completo, complexidade de movimentos que a criança deverá realizar. Aos 6 anos Os movimentos coordenados dos estilos crawl e costas são mais elaborados, iniciando a fase do aperfeiçoamento. É incrementado o mergulho elementar, movimentos mais elaborados do que os saltos apresentados nas idades anteriores. As crianças realizam alguns movimentos de pernada de peito. Maturacionalmente é a idade em que as crianças mais assimilam os movimentos dos estilos crawl, costas e mergulho elementar, encerrando praticamente a primeira fase da pedagogia da natação. Aos 3 anos 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo Lima (1999), é nesta fase que surgem os primeiros movimentos oriundos da coordenação mais fina, com pernas de crawl e costas mais caracterizados. movimentos de braços não somente como apoio, mas também como deslocamento. Como braçada de crawl, somente a fase submersa – mais fácil. Caracterização das fantasias nos exercícios, como: Foguete – braços estendidos, uma mão sobre a outra, deslizar pela água. Comportamento de explorar a piscina realizando através de brincadeiras como “caça ao tesouro”. Atividades recreativas durante e ao final das aulas; saltos da borda com apoio de aros são bem aceitos. Aos 4 anos Acentua-se a coordenação mais fina, conseqüentemente os movimentos das pernas de crawl e costas ficam mais elaborados, aproximando-se do 16 O presente trabalho busca demonstrar a importância da sociabilização e da estimulação do bebê no meio líquido, nas fases de seu desenvolvimento motor que vai do nascimento aos 6 anos. A cada uma das fases corresponde uma grande variedade de movimentos. A natação propriamente dita inicia-se a partir dos 5 anos, podendo haver casos mais precoces, em que as crianças começam a realizar movimentos característicos dos estilos. Até então, podemos dizer que o “nadar” são ESTÍMULOS AQUÁTICOS PARA BEBÊS. O oferecimento de atividades aquáticas adequadas à criança constitui-se em um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da suas capacidades Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 motoras. Na criança, um dos principais objetivos para que consigamos um desenvolvimento, em busca de saúde e equilíbrio, é desenvolver o gosto pela atividade, através de objetivos claros, dentro de sua capacidade psicomotora. A aprendizagem da natação para crianças, em geral, é realizada respeitando-se idades e habilidades conforme o seu desenvolvimento, e, assim, não tornando o ensino precoce, pois pode prejudicar o seu desenvolvimento. Respeitando-se o desenvolvimento da criança pode-se fazer com que ela tenha uma longa vida útil na natação, ou seja, atinja a idade adulta nadando, e que se torne um multiplicador dos futuros nadadores, das novas gerações. DAMASCENO, L. G. Natação para bebês: dos Conceitos Fundamentais à Prática Sistematizada. 2.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1997. DELGADO, C. A. Escolas de Natação e Hidro. Rio de Janeiro: Sprint, 2000. FONSECA, V. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1983. FONTANELLI, M. S.; FONTANELLI, J. A. Natação para bebês (entre o prazer e a técnica). 2.ed. São Paulo, Ground, 1986. IDORN, J. Natação para crianças. Porto: Presença.1974. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIMA, W. U. Ensinando Natação. São Paulo: Phorte, 1999. BARBOSA, J. Natação em Academia. In: CONVENÇÃO INTERNACIONAL DE ESPORTE E FITNESS, 16, 1999, São Paulo. Anais… [S.l.: S.n.], [1999?]. MATTA, M. A. O que é estimulação precoce. In: Mensagem da Apae. Brasília, v.25, n. 51, out./dez., 1988. BETTI, I. R. Manual de Ginástica Respiratória e Natação. Rio de Janeiro: Sprint. 1999. PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. BRESGES, L. Natação para o meu neném. tradução de Maria Lenk. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1980. UNIVAP. A aprendizagem da natação. In: ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 4, 2000, São José dos Campos. Anais... São José dos Campos: Univap, 2000. CORRÊA, C. R. F.; MASSAUD, M. G. Escola de Natação: Montagem e Administração, Organização Pedagógica, do bebê à competição. Rio de Janeiro: Sprint, 1999. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 VELASCO, C. G. Natação Segundo a Psicomotricidade. 2.ed. Rio de Janeiro: .Sprint, 1997. 17 Ensino de Engenharia Luiz Carlos Scavarda do Carmo * Antonio de Souza Teixeira Júnior ** Resumo. A “engenharia”, como atividade humana, remonta aos primórdios da civilização. Se o homem, para os antropólogos, é o macaco que desceu da árvore, a engenharia, para os investigadores da pré-história, teria início com a saída do homem das cavernas e necessidade de posterior adaptação às novas condições de vida. O ensino de Engenharia, contudo, só passou a ser considerado atividade escolar a partir de 1747, com a Escola fundada em Paris. A necessidade de uma contínua atualização, para uma profissão que apresenta tantas especializações, torna o ensino de Engenharia objeto de cuidados constantes, o que explica os vários Congressos dedicados ao assunto. Estamos também organizando o “Ibero-American Summit on Engineering Education”, com sede em São José dos Campos – SP, no câmpus Urbanova da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, de 24 a 26 de março de 2003. São parceiros da UNIVAP, no Comitê de Organização, a Pontifícia Universidade Católica – PUC, com sede no Rio de Janeiro – RJ – Brasil, a Universidade da Flórida – EUA, com sede em Gainesville, e a Universidade de Porto Rico – Mayaguez, com sede em Porto Rico. O Congresso tratará de assuntos atuais, como o problema da mobilidade de docentes e discentes; o reconhecimento continental dos diplomas e conseqüentemente facilidade da acreditação transnacional; as novas metodologias e a valorização dos novos conhecimentos; o papel das incubadoras, Parques Tecnológicos e Parques industriais junto às universidades; estes e muitos outros assuntos justificam a realização pretendida. Palavras-chave: Engenharia, Ensino de Engenharia, Conferência Ibero-Americana de Ensino de Engenharia. Abstract. Engineering, as a human activity, had its start at primordial times of civilization. If man, according to the anthropologists, is the monkey that climbed down the tree, engineering, for the experts on pre-history, had its beginning at the human’s exit from the caves and the need of a posterior adjustment to the new conditions of life. Engineering Education, however, was considered an academic activity only after 1747, with the foundation of an Engineering School in Paris. The necessity of being continuously renewed as a profession that presents an enormous number of specialization areas, Engineering Education is compelled to be update, and this is the reason of the large number of Congresses like this Summit. We are organizing the “Ibero-American Summit on Engineering Education”, in São José dos CamposSP-Brazil, at UNIVAP’s Urbanova campus, from March 24 through 26, 2003. The Summit Committee Directorate has the participation of UNIVAP, the Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Florida University, in Gainesville and Universidad de Puerto Rico – Mayaguez. The Summit includes issues like mobility of professors and students, accreditation of diplomas and certificates, new methodologies, Incubators, Technological and Industrial Parks etc., all important issues that justify this Summit. Key words: Engineering, Engineering Education, Ibero-American Summit Engineering Education. * Coordenador Central de Projetos de Desenvolvimento Vice-Reitoria de Desenvolvimento da PUC-Rio. ** Vice-reitor da UNIVAP. 18 Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 1. INTRODUÇÃO A origem da engenharia é por muitos atribuída à saída do homem das cavernas, aliada à necessidade de construir habitações, pontes, barragens e dominar a natureza para adquirir maior comodidade. Se, por um lado, a engenharia, como atividade, remonta aos primórdios da civilização, foi só a partir do século XVIII que ela passou a ser considerada como merecedora de uma formação superior. São conhecidas obras de engenharia como a pirâmide de Kheops, construída no século XXVIII A.C., canais para facilitar o tráfego de embarcações, datados no século XIV A.C., o Templo de Amon, em Karnak, no século X A.C., todas no Egito, ruínas de canais, represas e aquedutos na Babilônia, construídos no século VI A.C. Os romanos contribuíram, também, com importantes obras de engenharia, como a via Apia, em 312 A.C., o aqueduto Claudius, entre 50 e 36 A.C. etc. A primeira Escola de Engenharia foi instalada em Paris, em 1747, com o nome de “École Nationale de Ponts et Chaussées”. E só em 1818 é fundado, em Londres, o Instituto de Engenheiros Civis, para defender, prestigiar e definir a Engenharia Civil. É a partir da Engenharia Civil que se forma a multiplicidade de especialidades, como a Engenharia Mecânica, Elétrica, de Minas, Naval, Ferroviária, Aeroespacial, Química etc. No Brasil, o ensino de Engenharia teve início em 1810, mediante a criação da Academia Militar, no Rio de Janeiro, em Carta Régia d. João VI, embora já em 1792, no Rio de Janeiro, houvesse sido criada a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, com o ensino de disciplinas básicas para a formação do engenheiro, que serviu de exemplo para a sua transformação na Academia Militar. Formavam-se engenheiros militares somente, até que, em 1823, um ano após a Independência, foi permitido o ingresso de civis. A denominação é alterada para Escola Militar da Corte, em 1839, com cursos dedicados ainda à Engenharia Militar. A Engenharia Civil, propriamente, só é instituída a partir de 1858, mediante a criação da Escola Central, destinada ao ensino da Matemática, às Ciências em geral e à Engenharia Civil. Em 1874, o ensino militar é separado do civil, com a instalação da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, sediada no Largo de São Francisco, até sua transferência para a Ilha do Fundão. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Em 1889 é criada a Escola Politécnica de São Paulo, fundada por Antonio Francisco de Paula Souza. Da mesma forma que a Escola Politécnica sediada no Rio de Janeiro, esta instituição teve enorme significado no desenvolvimento econômico do Estado de São Paulo, em particular, de todo Brasil. Hoje, o ambiente do ensino superior do Brasil é representado predominantemente pelas entidades privadas, e o ensino de Engenharia cresceu também quantitativamente, com aparente queda da qualidade, conforme os resultados do Exame Nacional dos Cursos Superiores vêm mostrando. 2. CONFERÊNCIA REGIONAL DE ENSINO DE ENGENHARIA Há, como em todos os setores do conhecimento humano, necessidade de estabelecer comparações, de modo a aproveitar o que de melhor é feito, em diferentes países, no sentido de provocar avanços nos diferentes campos do conhecimento. A Educação não foge a esta regra e a chamada Educação Comparada é disciplina dos currículos dos cursos de Pedagogia. O Ensino de Engenharia também precisa ter seus resultados comparados e as Conferências Mundiais e Regionais pretendem buscar padrões de qualidade para ganhar, mais rapidamente, resultados mais significativos. Estamos organizando uma Conferência de Ensino de Engenharia Regional, no Continente Americano, Norte, Central e Sul, o “Ibero-American Summit on Engineering Education”, com sede em São José dos Campos – SP, no câmpus Urbanova, da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, de 24 a 26 de março de 2003. A motivação maior para organizar o Summit é o crescente aumento do interesse em questões regionais. Os organizadores preparam uma conferência para cerca de 200 participantes, originários basicamente da América Latina, Estados Unidos, Canadá e Península Ibérica, e voltada a contribuir para o fortalecimento da integração do Continente Americano a partir da formação de uma estirpe de engenheiros com visão moderna, espírito internacional e mobilidade regional que possam contribuir para maior produtividade do setor produtivo. Os laços culturais com a Península Ibérica motivaram a sua inclusão no Summit. A percepção da necessidade de maior competitividade industrial visando à formação de regiões socialmente estáveis justifica o forte enfoque na presença do setor produtivo desde a organização da conferência até a sua realização e definição de planos de ações futuras. 19 A experiência da União Européia - UE, estimulou os organizadores a prever presença de europeus. Alguns participantes de outras Nações, interessadas também em suas regiões e no estabelecimento de laços locais, já manifestaram interesse em comparecer. Assim, o objetivo geral do Summit é o de estabelecer um ambiente de colaboração entre o sistema produtivo com interesse no Continente Americano e as Escolas de Engenharia da Região (1), além de uma aproximação entre essas Escolas. Os mecanismos que se pretende discutir para aumentar esta interação contemplam: Rio, a University of Florida in Gainesville e a Universidad de Puerto Rico em Mayagüez. Entre as ações já desenvolvidas por estas instituições contam-se a obtenção do apoio do International Network for Engineering Education and Research - iNEER, entidade que apoia as ICEEs, da Associação Brasileira para o Ensino de Engenharia – ABENGE, da American Society for Engineering Education – ASEE, e a busca de apoio de empresas como EMBRAER, PETROBRAS, HP e Microsoft, todas eventuais patrocinadoras, além do apoio tradicional da FINEP, CNPq, CAPES e FAPESP. 2.1. Breve histórico da motivação para a proposta · o estudo do caso europeu para compreender problemas, vantagens e dificuldades associados ao estabelecimento de cursos superiores que respeitam um formato único (ou quase único!) regional, e que visam a facilitar a mobilidade de estudantes e profissionais, como hoje ocorre na Europa por uma decisão da União Européia em seu processo de integração; · a compreensão das vantagens e dificuldades para o estabelecimento de um sistema comum de avaliação internacional e o conseqüente mútuo reconhecimento para as Escolas de Engenharia da região do Continente Americano e Península Ibérica; · a busca de novas formas educacionais que compreendam o novo conceito de relevância associada à Inovação em uma Sociedade que hoje se chama “do Conhecimento”; · o desenho de programas de interação regional ou binacional, apoiados por governos ou pelo setor produtivo, que estimulem o melhoramento da qualidade educacional das escolas de Engenharia, tanto individualmente quanto no formato de coalizões, e desenvolvam um ambiente de pesquisa em rede com a participação do Setor Produtivo; · o estudo de formatos com êxito reconhecido e de ações coerentes envolvendo todos os interessados para o estabelecimento de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos que visam ao desenvolvimento local; · a divulgação das ICEEs (Conferência de Ensino de Engenharia) visando ao aumento da participação de representantes da América Latina em eventos internacionais, nos quais questões atuais relacionadas com o Ensino de Engenharia e sua missão na sociedade são discutidas. As instituições universitárias diretamente envolvidas nesta Conferência são a UNIVAP, a PUC20 A revisão da perspectiva, objetivos e métodos do Ensino de Engenharia no Brasil contou, ao longo da década dos anos 90, com maciço apoio do Governo Federal Brasileiro (Programa REENGE apoiado pela CAPES, MEC/SESU, MCT/CNPq e MCT-FINEP) e de diversas Fundações de Apoio à Pesquisa Estaduais (FAPs). Nesse período, além de equipar laboratórios e modernizar métodos de apresentação, o programa REENGE colaborou para o estabelecimento de uma nova ação pedagógica e estimulou profundas modificações no ambiente das Escolas de Engenharia brasileiras, particularmente no que tange à percepção de uma nova visão de ensino voltado para a formação de engenheiros empreendedores e para a universalização do ensino das Escolas de Engenharia. As mudanças na visão que se pode observar nos novos cursos de Engenharia e nos processos didáticos aplicados são uma resposta ao aumento da importância da Inovação no ambiente produtivo e também ao aumento da necessidade de contribuir para a formação de um novo profissional que possa ser um ativo elemento do necessário aumento da competitividade internacional da indústria nacional. A forma do programa REENGE sofreu decisiva influência de programas americanos que na época eram apoiados pela National Science Foundation – NSF. Dessa forma, o programa nacional gerou um grande envolvimento internacional das diversas Escolas de Engenharia. Em 1998, realizou-se no Rio de Janeiro a International Conference on Engineering Education – ICEE-98, na qual os resultados do programa REENGE puderam ser apresentados para um fórum internacional, e durante a qual diversos aspectos da internacionalização das Escolas de Engenharia foram apresentados. Além disso, as escolas de engenharia brasileiras puderam estabelecer contato com suas co-irmãs de outros países, começando, assim, um efetivo esforço de internacionalização de seus cursos. A formação de grupos regionais parece ser uma Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 tendência atual, como ocorreu com a Comunidade Européia, que criou muitos mecanismos de integração, desafiando tradições até seculares, como a moeda única. Um outro mecanismo de integração, também difícil e ainda em processo de estabelecimento, é o de aproximação da perspectiva, conteúdo e forma dos cursos superiores, visando a estimular a circulação de estudantes europeus na Europa e permitir também a livre circulação de profissionais. Ao longo das diversas ICEEs, desde 1998, um grande esforço tem sido envidado pelos membros do Steering Committee (Comitê Organizador) dessas conferências para atrair participantes latino-americanos além dos brasileiros. O sucesso tem sido pequeno em termos da região, e as delegações brasileiras, geralmente de maior presença e participação, têm aumentado a sua interação com diversas escolas de todas as partes do mundo, menos com a América Latina. Essa dificuldade tem sido observada pelos diversos membros do Steering Committee das ICEEs, principalmente europeus e norteamericanos, e tem sido considerada como uma limitação da atuação das ICEEs. Surgiu, assim, a idéia de uma conferência específica para o Continente Americano, liderada por brasileiros (PUC-Rio e UNIVAP) e Norteamericanos (University of Florida e Universidad de Puerto Rico em Mayagüez). As quatro instituições envolvidas na organização do Congresso em tela têm tido intensa participação nas diversas ICEEs. Especificamente, a PUC-Rio foi sponsor da ICEE-98 e liderou o estabelecimento do programa REENGE no Brasil; a Universidade da Florida tem grande experiência em receber estudantes da América Latina, possui um Centro de Estudos Latino-Americanos e tem organizado diversos workshops sobre “Internacionalização do Ensino de Engenharia”; a Universidade de Puerto Rico em Mayagüez fundou e é sede, há muitos anos, do CoHemis, um organismo de ligação entre os dois hemisférios do Continente Americano, e a UNIVAP, além de participar de diversos ICEEs, está se preparando especificamente para ser a sede do Summit proposto. 2.2. Motivação para o tema Ensino de Engenharia O mundo se caracteriza pela aceleração constante dos avanços tecnológicos e por forte demanda por empresas que atuem no ambiente internacional de forma competitiva. As rápidas mudanças das realidades de mercado e da disponibilidade de novas tecnologias e métodos de produção de alcance planetário exigem uma nova visão para o profissional das grandes empresas. O crescimento da sociedade de serviços, fundamentada em um novo conceito de produção e distribuição de riqueza, com base no avanço do conhecimento, fizeram crescer a Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 relevância das pequenas, mini e micro-empresas de base tecnológica, mudando o perfil do novo Engenheiro, como profissional que deve possuir, além de base técnica e científica sólida, também visão de mercado nacional e internacional e sobretudo mentalidade empreendedora. A realização de um novo profissional com estas características não pode mais ser feita por uma escola de Engenharia não conectada com o setor produtivo e com outras Escolas de Engenharia. 2.3. Educação: Instrumento para o desenvolvimento dos métodos produtivos A educação é um dos mecanismos mais efetivos de inclusão social. Nos dias em que a maior importância da inovação está caracterizada no seio da “Sociedade do Conhecimento”, a Educação passa a ser um importante elo para o desenvolvimento do Setor Produtivo. A interação entre a universidade e o setor produtivo é recente e está ligada à efetiva resposta com que esta interação pode atender às crescentes demandas de criação e disseminação de conhecimento como mecanismo de produção e distribuição da riqueza. A Universidade, em particular as Escolas de Engenharia nos dias atuais, ainda que mantendo a sua independência acadêmica, precisa responder a necessidades do setor produtivo e reagir de forma explícita a estímulos nascidos fora de seus muros acadêmicos. Assim, a Universidade apenas recentemente começou a abrir-se para valores definidos por parâmetros extramuros. A América Latina precisa concluir um esforço de modernização de seu parque industrial, de capacitação de seus recursos humanos e de universalização do ensino básico para suprir as deficiências legadas por anos de ineficiências acumuladas. A formação de um bloco regional de toda a América somente será do interesse de todos se o bloco Latino-americano conseguir dar um salto de qualidade e competitividade em seus métodos produtivos. O estabelecimento da primeira e segunda revoluções industriais não foi completado nessa região (2), e o crescimento da competitividade exige recursos humanos de muito alto nível. Assim, a América Latina precisa desenvolver, seja seu ensino fundamental, seja seu ensino superior, com especial ênfase nos aspectos da produtividade industrial, o que coloca as Escolas de Engenharia na posição de fulcro de um movimento de modernização universitária, de interação com empresas e de aproximação com o ensino pré-universitário. É importante observar que os três aspectos de conectividade das Escolas de Engenharia – entre elas mesmas, com o setor produtivo e com o Ensino préuniversitário, foram a base do programa REENGE e o 21 programa americano de reforma do Ensino de Engenharia financiado pela NSF. 2.4. Objetivos gerais O objetivo geral desta Conferência é o de estudar efetivas condições que permitam apoiar a interação entre o setor produtivo com interesse na região do Continente Americano e as Escolas de Engenharia, visando à formação de profissionais modernos, com mobilidade regional e visão empreendedora. Dentro deste escopo, serão sugeridos mecanismos educacionais que facilitem tanto a interação presencial de estudantes e professores quanto a interação virtual entre eles, a proposição de temas de pesquisa que possam ser realizadas em rede, envolvendo, sempre que possível, o setor produtivo e a aproximação com a Escola Média, sempre nos temas técnicos e científicos. Em outras palavras, serão buscadas formas de integração entre as Escolas de Engenharia, e a sua aproximação com o setor produtivo com interesse no continente e com o Ensino Médio. 2.5. Objetivos específicos Especificamente, pretende-se aumentar a participação de representantes da América Latina, além da dos brasileiros, nos eventos internacionais onde questões atuais relacionadas com o Ensino de Engenharia e sua missão na sociedade são discutidas, em particular as ICEEs. Pretende-se ainda desenhar possíveis programas de interação regional ou binacional que possam apoiar o desenvolvimento e integração das escolas de Engenharia, e a sua maior interação com o setor produtivo e com o ensino de temas técnicos e científicos da Escola préuniversitária. Entende-se que, como mecanismo de integração regional, é necessário estudar novos ambientes educacionais que contribuam para o aumento da visão regional e mobilidade dos estudantes, professores e futuros profissionais de Engenharia. Especificamente, como forma de integração, pretende-se discutir possíveis mecanismos de avaliação internacional dos cursos que possam contribuir para o mútuo reconhecimento dos profissionais de engenharia formados na região. Para tanto, pretende-se apresentar em particular o caso europeu para melhor compreender os esforços de gerar cursos superiores de dimensão regional. 22 2.6. Estratégia para o Summit e ações já realizadas É preciso considerar, em primeiro lugar, que as ICEEs são conferências anuais, de cunho internacional, para as quais diversos locais para os futuros eventos já foram estabelecidos. A presente conferência precisava inserir-se nesta série de Conferências, como um mecanismo de apoio à realização das ICEEs e não de competição com elas. Como o escopo desta Conferência é Regional, ficou claro para os membros do Steering Committee das ICEEs que este esforço contribuirá para as diversas ICEEs, em particular a de agosto de 2003 que se realizará em Valência – Espanha, na qual se pretende relatar para o público internacional os resultados do Summit que se está propondo. A primeira ação dos organizadores foi buscar o apoio necessário internacional do Steering Committee das ICEEs. Um breve histórico das ICEEs é apresentado no Anexo 2. Propostas inicias para essa Conferência foram apresentadas em atividades internacionais, como a ICEE2001 (em Oslo – Noruega), e a reunião anual da American Society for Engineering Education – ASEE, que neste ano, sublinhando a tendência pelo maior interesse no desenvolvimento Regional, ocorreu em Quebec, Canadá. Em terceiro lugar, estamos formando, com o auxílio do CoHemis, órgão da Universidad de Puerto Rico, uma rede de instituições da Região que possam auxiliar no estabelecimento das propostas já referidas e a sua efetiva implementação, por universidades, sociedades profissionais, federações de empresas e organismos de fomento. Dessa maneira, o formato desta reunião, cujo programa provisório segue no Anexo 2, sublinha a apresentação de key note speakers (apresentadores de temas) e a realização de workshops (sessões) que definam efetivas ações futuras. Em quarto lugar, buscamos apoio do setor produtivo por meio de empresas internacionais de base tecnológica, originadas no país, como a EMBRAER e a PETROBRAS, e de empresas internacionais, também de base tecnológica, porém com grande presença na América Latina, como a HP e a Microsoft. Estas empresas representam setores relevantes da indústria, para os quais um ensino de engenharia moderno é de grande importância, além das entidades de apoio já mencionadas. Para mais informações sobre a Conferência de Março-2003, acesse o site http://www.univap.br/iasee ou mande e-mail para: [email protected] Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 3. NOTAS (1) Região, no contexto deste documento, compreende um conjunto de nações com interesses comuns, que se unem em tratados como a UE, o Mercosul ou a ALCA. PARDAL, P. Brasil, 1792: Início do Ensino da Engenharia Civil e da Escola de Engenharia da UFRJ – Editado pela Construtora Norberto Odebrecht S. A. e pela Companhia brasileira de projetos e Obras – CBPO – MCMLXXXV. PARDAL, P. Memórias da Escola Politécnica – Editado pela Biblioteca Reprográfica XEROX – 1984. (2) Veja Anexo 1. 4. BIBLIOGRAFIA SANTOS, S. M. G. Comissão Pró-Memória da Engenharia Nacional – Estudos e Conferências. Rio de Janeiro: UFRJ, s.d. AZEVEDO, F. As Ciências no Brasil, vol. 1, p. 34. BARATA, M. Escola Politécnica do Largo de São Francisco – Editado pelo Clube de Engenharia e pela Associação dos Antigos Alunos da Politécnica – A3P – 1973. FILHO NETO, A. Engenharia Mecânica. Mecânica on line 8.ed. ago. 2000. Disponível em: <http://www.mecanicaonline.com.br/2000/agosto/ engenharia/historiaengenharia.htm>. Acesso em: 4 nov. 2002. TELLES, P. C. S. História da Engenharia no Brasil – Séculos XVI a XIX. 2.ed. – Editado pelo Clube de Engenharia – 1994 . TELLES, P. C. S. História da Engenharia no Brasil – Século XX – Editado pelo Clube de Engenharia – 1993 . VARGAS, M. História da técnica e da tecnologia no Brasil. São Paulo: UNESP/CEETEPS, 1995. PARDAL, P. 140 anos de doutorado e 75 de livre-docência no Ensino de Engenharia no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/Escola de Engenharia, 1985. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 23 ANEXO 1: UMA DIGRESSÃO SOBRE A EDUCAÇÃO NA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL O sistema produtivo passou por fases distintas desde a revolução industrial iniciada na Inglaterra no final do século XVIII. Os historiadores caracterizam três ondas da revolução industrial, nas quais observa-se nítida distinção no significado do conhecimento. A primeira onda de revolução industrial gerou a fábrica, local onde artesãos conduziam a produção utilizando mecanismos que eles mesmos haviam estabelecido anteriormente em seus ambientes domésticos. A nascente classe trabalhadora, recentemente imigrada do campo, não necessitava mais do que os conhecimentos básicos aprendidos em casa para engajar-se no sistema produtivo. A escola era um agente de socialização, necessário para a vivência civilizada em cidades que cresceram desmesuradamente em dimensão. O conhecimento efetivamente utilizado na fábrica era absolutamente empírico. A segunda onda da revolução, no final do século XIX e início do século XX, trouxe o conhecimento científico para a fábrica, tanto para o desenvolvimento tecnológico, quanto para o desenvolvimento dos métodos de gerência. Produção em série, Ford e Taylor marcaram este período, que também viu nascer indústrias sofisticadas como as ligadas à química e a produtos farmacêuticos e elétricos. Este período, que se estende até meados dos anos 70 do século passado, efetivou a importância da tecnologia de ponta e da descoberta do conhecimento científico básico como precursor do tecnológico aplicado. Produção e criação de conhecimentos passaram a unirse no complexo processo de gerar riqueza. A Universidade abriu-se para o desenvolvimento tecnológico e precisou rever a estrutura de formação de recursos humanos para atender novas necessidades de profissionais. Ao longo desta onda ocorreu um profundo processo de descentralização do uso da energia. A produção de automóveis distribuiu o transporte mecanizado de mercadorias e de pessoas, antes centralizados pelos trens e navios. A construção de redes elétricas domésticas e para o setor produtivo e sistemas de telecomunicação capilares (telefone) e de larga escala (rádio e televisão) exemplificam a descentralização. A universidade, durante a segunda onda da revolução industrial, tornou-se o berço da formação superior voltada para o processo produtivo da geração da ciência que permite a existência de tecnologia de ponta, sem, contudo, perder as qualidades acadêmicas já alcançadas anteriormente de geração de conhecimento para a cultura. A produção de conhecimento aplicado, em seguida às descobertas científicas, preserva para a universidade a origem intramuros de sua motivação acadêmica. No final do século XIX, as universidades americanas, que receberam um land grant, se especializaram em agricultura e mecânica. Eram as universidades Agricultura e Mecânica - A&M que desenvolveram o conhecimento que permitiu a mecanização da agricultura. A produtividade do campo, acrescida ao longo do século XX com os resultados das revoluções da química, informática e biologia, é um claro exemplo de produção de riqueza que sucedeu a produção do conhecimento. Os avanços tecnológicos derivados das telecomunicações e microeletrônica são outro exemplo. Os países mais avançados reviram o ensino superior várias vezes, em particular nos campos científicos e tecnológicos das engenharias, como forma de adequação a processos produtivos mais sofisticados (1). Particularmente, nos EUA, o ensino de Engenharia foi revisado várias vezes, sempre que o cenário internacional mudava. A terceira onda da revolução industrial, iniciada nos anos 70 e 80 do século que acabou de concluir-se, é a revolução da informática, da automação e das telecomunicações. É a revolução social das comunicações bidirecionais fáceis distribuídas de forma capilar, da Internet e da revolução tecnológica das decisões tomadas também de forma capilar, desta vez por máquinas montadoras que geram, sempre com possibilidades de altíssima qualidade e com custos reduzidos, produtos cuja qualidade não depende da interferência humana direta durante a sua fabricação. Muitas decisões simples passaram para as máquinas, deixando os homens livres para exercer sua 24 Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 criatividade. O conhecimento passou a permear o processo produtivo, que, ao mesmo tempo que desconhece distâncias e se torna global, distribui-se e se revela em pequenas, mini e mesmo microempresas. Neste momento, mais uma vez a universidade estende sua missão, interagindo com o setor produtivo por meio da geração de conhecimentos de forma a desafiar a visão ortodoxa e seqüencial da geração da ciência aplicada a partir da descoberta científica que caracterizou a precedente onda da revolução industrial e ainda caracteriza a ciência básica e a tecnologia de ponta. Essa forma seqüencial, entretanto, não representa a busca de conhecimento das micro e pequenas empresas, para as quais as necessidades extramuros universitários, seja do mercado, seja da demanda social, são a motivação para o desenvolvimento do conhecimento. O conceito de empreendedorismo trazido para o seio universitário é uma das conseqüências dessa onda de revolução industrial. A capilaridade dos processos produtivos e a demanda por maior competitividade industrial, nos dias de hoje, estão estimulando a formação de Blocos Regionais. A Universidade e a Escola de Engenharia em particular precisam responder a esta tendência, formando um profissional que tenha visão internacional e mobilidade, no mínimo, regional. A visão estratégica das escolas de Engenharia precisa apoiar o Desenvolvimento Local e Regional. (1) Veja, por exemplo, “Shaping the Future: New Expectation for Undergraduate Education in Science, Mathematics, Engineering and Technology”; advisory Committee of the National Science Foundation”; Washington D.C.; 1996. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 25 ANEXO 2: BREVE HISTÓRICO DAS ICEEs As International Conference on Engineering Education – ICEEs, foram concebidas dentro de uma interação entre os EEUU e Taiwan. As duas primeiras conferências ocorreram em Taipei em 1994 e 1995. Em 1996, a ICEE ocorreu como parte da reunião da American Society for Engineering Education – ASEE, e, mais uma vez, o seu caráter internacional não conseguiu desabrochar, sendo, entretanto, uma intenção de seus organizadores. Em 1997, ocorreu a primeira efetiva reunião internacional, em Chicago, e que contou já com uma grande delegação nacional: 26 professores, dois representantes de agências de fomento (CNPq e FINEP) e um representante da Petrobras. Nessa época, o programa REENGE havia sido iniciado no Brasil e diversos professores e membros de agências de fomento queriam um termo de comparação com ações em outro país. Durante a realização da ICEE-97, um dos organizadores do Summit em São José (Luiz Carlos Scavarda do Carmo) propôs que o Rio de Janeiro sediasse a ICEE-98, no que contou com o apoio do Steering Committee da ICEE. A conferência do Rio de Janeiro foi a maior dentre as diversas ICEEs, contando com cerca de 600 participantes. A série de ICEEs que se sucederam ou estão programadas são: ECEE – 99 ICEE – 2000 ICEE – 2001 ICEE – 2002 ICEE – 2003 ICEE – 2004 26 Praga – República Tcheca Taiwan – República da China Oslo – Noruega Manchester – Reino Unido Valência – Espanha Flórida - EEUU Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Sensoriamento Remoto nos Diferentes Níveis Educacionais: Um Estudo de Caso Angelica Carvalho Di Maio * Sandra Maria Fonseca da Costa ** Gilson dos Anjos Ribeiro *** Resumo. Vários autores têm discutido a importância do conhecimento de sensoriamento remoto nos diferentes níveis de ensino, apontando a necessidade de adaptação desse conhecimento, ou seja, a conversão do nível de conhecimento universitário, por exemplo, para os níveis elementar e médio. Neste sentido, os professores envolvidos com o curso de Geografia da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) têm se preocupado com essa questão. Os alunos estudam Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento ao longo de dois anos em três diferentes disciplinas e são envolvidos com o conteúdo considerado importante para a compreensão destas áreas. Este Curso de Geografia forma professores do ensino fundamental e médio e ainda bacharéis e o conteúdo dessas disciplinas visa à formação sólida desses profissionais, considerando que eles tornar-se-ão técnicos e educadores. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é tratar essa discussão e descrever a experiência, bastante produtiva, dos profissionais ligados a educação em sensoriamento remoto no Curso de Geografia da UNIVAP. Palavras-chave: Sensoriamento Remoto, Geografia, transferência de conhecimento, ensino fundamental e médio. Abstract. Several authors have been discussing the importance of remote sensing on different education levels, pointing out the need of adaptation of the acquired knowledge, or better, the conversion of undergraduate level knowledge, for instance, to elementary and high school levels. In this sense, the lecturers involving the Geography undergraduate course in the University of Vale do Paraíba (UNIVAP) have been having this preoccupation. Pupils study Remote Sensing and Geoprocessing, throughout two years in three disciplines; they are involved with the content considered important for the understanding of this area of knowledge. That Geography course forms elementary and high school teachers and academic undergraduates and the content of these disciplines targets the solid formation of those professionals, considering that they will become technicians and educators. In this way, the purpose of this paper is to deal with this discussion and to describe the quite productive experience,, that the professionals involved with Remote Sensing education in the Geography course of UNIVAP have been having. Key words: Remote Sensing, Geography, knowledge transfer, elementary and high-school education. 1. INTRODUÇÃO Há algum tempo, os métodos e as teorias da Geografia Tradicional tornaram-se insuficientes para apreender a realidade e sua complexidade e, principalmente, explicá-la. O levantamento feito por meio * ** *** Professor(a) da UNIVAP. * [email protected] ** [email protected] *** [email protected] Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 de estudos empíricos tornou-se insuficiente. É preciso realizar estudos voltados para a análise das relações mundiais. Por outro lado, o meio técnico e científico exerce forte influência nas pesquisas realizadas no campo da Geografia. Para estudar o espaço geográfico globalizado, começou-se a recorrer a tecnologias, como o Sensoriamento Remoto e a Informática, esta como articuladora de massa de dados, que evoluiu para os sistemas de informações geográficas – SIG (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1999). Nesta linha de raciocínio, no Documento de 27 Camboriú (Sausen et al., 1997), gerado durante a I Jornada de Educação em Sensoriamento Remoto no Âmbito do Mercosul, no período de 20 a 23 de maio de 1997, foi sugerida “a obrigatoriedade do Sensoriamento Remoto nos cursos de graduação em Geografia”. Esta sugestão deve-se ao fato de que os egressos destes cursos serão os professores de Geografia nos níveis fundamental e médio, sendo eles, portanto, os que deverão ensinar as noções básicas de espaço e meio ambiente, temas nos quais o Sensoriamento Remoto é extremamente útil. Além disso, a formação do geógrafo como técnico é marcadamente de um profissional que trabalha em equipes multidisciplinares, nas quais o conhecimento desta ciência e tecnologia é de vital importância (Sausen et al., 1998). Neste sentido, os professores envolvidos com o curso de Geografia da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) têm tido esta preocupação. A partir do ensino de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, ao longo de dois anos em três disciplinas, trabalha-se com os alunos o conteúdo considerado fundamental para a compreensão deste campo do conhecimento. Este curso de Geografia forma licenciados e bacharéis, e o conteúdo destas disciplinas visa a formação sólida deste profissionais, considerando que estes se tornarão os técnicos e educadores. Transformar o conhecimento do saber universitário, sem desfigurá-lo e sem desvalorizálo, em objeto de ensino supõe uma transposição didática que nem vulgarize e nem empobreça o saber universitário, mas que se apresente como uma construção diferenciada, realizada com a intenção de atender o público escolar (Simielli, 1999). A partir desta premissa, há, neste curso, uma preocupação com a transferência do conhecimento, tendo-se em vista que “um curso fundamental ou médio não é um resumo do saber universitário” (Hugonie, apud Simielli, 1999). Ou seja, as finalidades, os objetivos e os meios da prática de Sensoriamento Remoto na Geografia não são os mesmos na universidade, no ensino fundamental e médio. Desta forma, este trabalho tem como objetivo enfocar esta discussão e relatar a experiência, bastante produtiva, que os profissionais envolvidos com o ensino de Sensoriamento Remoto na Geografia da UNIVAP vêm tendo. 2. O CURSO DE GEOGRAFIA DA UNIVAP O curso de Geografia da UNIVAP foi criado no ano de 1990, com um currículo voltado exclusivamente para a licenciatura plena, com duração de quatro anos. O professor de Geografia era um profissional raro no Vale 28 do Paraíba e este curso veio suprir esta deficiência de formação de recursos humanos nesta área. Porém, ainda não se trabalhava com a utilização do Sensoriamento Remoto como recurso didático-pedagógico. No ano de 1993, houve uma reformulação no currículo, quando este passou também a habilitar alunos para o bacharelado, tendo sido, a partir de então, introduzida a disciplina de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento. A idéia de introduzir esta disciplina veio da necessidade de disponibilizar para o aluno uma técnica eficaz e importante para monitoramento do meio ambiente, tema de interesse dos geógrafos. É importante ressaltar que a proximidade da Universidade em relação ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais possibilitou a criação de um laboratório de Sensoriamento Remoto bem equipado, além de formação, em nível de Mestrado, de docentes. Desde, então, o curso de Geografia da UNIVAP tem trabalhado ativamente com seus alunos dentro desta linha de pesquisa, tanto no nível de Iniciação Científica quanto na utilização em sala de aula como recurso didático em várias disciplinas. A experiência dos alunos, da licenciatura, em relação à utilização desta técnica como recurso didático tem gerado trabalhos inéditos, que estão contribuindo no processo de ensino-aprendizagem em Geografia. Ao longo deste trabalho serão relatadas algumas destas experiências, tanto no campo da licenciatura, quanto no campo de análise ambiental. 2.1. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento no Curso de Geografia da UNIVAP Na UNIVAP existem três cursos que oferecem a disciplina de Sensoriamento Remoto em sua grade curricular: “Geografia”, “Arquitetura e Urbanismo” e “História e Geografia”. Porém, o curso de Geografia, atualmente, é o único na Universidade a possuir em sua estrutura três disciplinas voltadas para o ensino das Geotecnologias: Introdução ao Sensoriamento Remoto, Introdução ao Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto Aplicado. Estas disciplinas são oferecidas nas 3a e 4a séries do curso e possuem uma carga horária total de 200 horas/aula, com o objetivo de oferecer ao futuro bacharel e professor deGeografia subsídios técnicos para facilitar a caracterização e monitoramento ambiental, urbano e regional. Desta forma, o domínio das técnicas de interpretação de produtos de Sensoriamento Remoto amplia as possibilidades de atuação do profissional no mercado de trabalho (Di Maio Mantovani e Costa, 1997). A estrutura destas disciplinas pode ser visualizada na Tabela 1. O acesso a este conhecimento tem propiciado aos alunos a utilização desta técnica em seus trabalhos Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 de graduação, além do aproveitamento em empresas da região, para a realização de estágios ou para a contratação Introdução ao Sensoriamento Remoto 80 h/a 3a Série 1. Introdução, definições e evolução; 2. Princípios físicos; 3. Sistemas sensores; 4. Comportamento espectral de alvos; 5. Métodos de extração da informação; 6. Algumas aplicações. Tabela 1 - Conteúdo Programático Introdução ao Geoprocessamento 80 h/a 3a Série 1. O que é um SIG; 2. Natureza de um SIG e modelo conceitual; 3. Subsistemas de um SIG; 4. Formatos de representação de dados; 5. Análise espacial; 6. Modelagem cartográfica; 7. Aplicações. 3. A INTERFACE DAS DISCIPLINAS VOLTADAS ÀS GEOTECNOLOGIAS COM A FORMAÇÃO DOS ALUNOS 3.1. A Influência nos Trabalhos de Graduação A existência da disciplina de Sensoriamento Remoto ao longo do curso de Geografia despertou o interesse em desenvolver trabalhos de iniciação científica/ conclusão de curso utilizando os conhecimentos desta ferramenta. No ano de 2001, o trabalho desenvolvido por Oliveira (2000) foi selecionado pela comissão científica do X Simpósio de Sensoriamento Remoto como um dos cinco melhores na categoria iniciação científica, submetido ao evento. A seguir, serão apresentados alguns dos trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos 3 anos: 1) Santos e Silva (1999) obtiveram no resultado da pesquisa a geração de um mapa de uso do solo que permitiu identificar as áreas correspondentes às classes de uso do solo no município de Bananal, no Estado de São Paulo, utilizando a imagem de Satélite Landsat /TM, composição colorida 4R3GB5, escala 1/50000, adquirida em outubro de 1998. 2) Scheide (2000) utilizou fotografias aéreas obtidas em 1962, 1973, 1985 e 1997 para mapear o uso do solo urbano na cidade de São José dos Campos, SP, com o propósito de compreender as mudanças funcionais na cidade. 3) Oliveira (2000) utilizou imagem MSS, obtida em 1977, imagem TM, obtida em 1985 e imagem SPOT-PAN, obtida em 1997, para mapear o crescimento da mancha Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 como profissionais, e como recursos didático em sala de aula. 1. 2. 3. 4. Sensoriamento Remoto Aplicado 40 h/a 4a Série Potencialidades dos produtos de Sensoriamento Remoto; Métodos de extração de informação; Uso da terra: metodologias de interpretação; Geração de mapas temáticos urbana da cidade de São José dos Campos, SP, comparando a potencialidade do sensor com a verdade terrestre (fotografias aéreas). Através deste estudo foi possível verificar a confiabilidade dos dados orbitais como substitutos de produtos de melhor resolução espacial no mapeamento da mancha urbana. 4) Lopes (2001) mapeou as áreas verdes da cidade de São José dos Campos, em um período de 40 anos, diferenciado-as em duas classes: mata nativa e reflorestamento. Este mapeamento foi realizado utilizando fotografias aéreas obtidas em 1962, 1973, 1985 e 1997, as quais possibilitaram a visualização do processo de perda de área verde no perímetro urbano ao longo do período estudado, além do cálculo do índice de verde por habitante. 5) Bruno (2001) teve como resultado do seu trabalho o monitoramento da ocupação humana urbana em áreas de riscos de Caraguatatuba, utilizando técnicas de processamento de dados de Sensoriamento Remoto e Sistema de Informações Geográficas (SIG). Nesta pesquisa foram utilizados dados do satélite TM LANDSAT-5 de 1989 e ETM – LANDSAT 7, de 2001. 5) Freitas (2001) realizou um estudo da dinâmica espacial no setor Sul da cidade de São José dos Campos, São Paulo, utilizando fotografias aéreas de vôos realizados em 1962 (1:25.000), 1977 (1:8.000) 1988 (1:10.000) e 1997 (1:10.000). Este estudo teve como objetivo identificar as mudanças espaciais no que diz respeito à ocupação residencial da área. 7) Bastos (2001) testou uma metodologia de ensino de feições do relevo no ensino fundamental, a 29 partir de produtos orbitais de Sensoriamento Remoto. De acordo com a autora, houve um aprendizado melhor por parte dos alunos, na identificação das feições. 3.2. Transposição Didática do Conhecimento Universitário O Programa da disciplina de Sensoriamento Remoto permite a apreensão de fundamentos e técnicas desta ciência, e quando associada à disciplina de Metodologia e Prática do Ensino de Geografia integra os conhecimentos teóricos à prática na sala de aula a partir de propostas de procedimentos e atividades didáticas. Os alunos de graduação do curso de Geografia, de posse do material de Sensoriamento Remoto e com o embasamento teórico adquirido, têm como objetivo adaptar esses conhecimentos para os alunos do ensino fundamental e médio. O primeiro passo é a elaboração do material nas aulas da disciplina de Prática de Ensino, atendendo a alguns critérios como: - adequar a linguagem escrita e visual para os alunos de ensino fundamental e médio; - relacionar os materiais de sensoriamento remoto aos objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais; - planejar atividades práticas contextualizadas; - produzir o material didático correspondente à atividade; - obter as imagens necessárias a execução da atividade (da cidade, do Estado, conforme a escala de trabalho etc.). Após essa etapa os alunos da graduação aplicam/ testam o material com estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública e particular. Os procedimentos dessa segunda etapa seguem os critérios como adequação da atividade ao planejamento do Professor responsável pela turma, no caso do ensino fundamental, ou pela disciplina de Geografia, para o ensino médio. É essencial não perder de vista que o objetivo é ensinar Geografia com o auxílio do Sensoriamento Remoto, e não ensinar somente o Sensoriamento Remoto, ou seja, o Sensoriamento Remoto funciona como uma importante ferramenta para a interpretação dos objetivos próprios da Geografia. 3.2.1. Experiências em Sala de Aula Os alunos da graduação, inicialmente, explicam a evolução histórica das técnicas de Sensoriamento Remoto, passando pelo período da Guerra Fria, assunto contemplado no programa do ensino fundamental da 30 oitava série, até os dias atuais, mostrando a evolução das imagens e suas diferentes aplicações. No decorrer da aulas, os alunos participam através de questionamentos e relatos de conhecimentos anteriores sobre o assunto abordado, como a imagem que viram na televisão sobre o tempo, entre outras. Em algumas atividades os alunos, divididos em grupos, manipularam pares de fotografias aéreas, visualizaram o terreno em três dimensões. Para isso, foram utilizados estereoscópios de bolso, através do qual os alunos puderam reconhecer feições e descrever a área observada. Ao final da atividade construíram cartazes com informações a respeito do terreno verificado e montaram uma exposição onde cada grupo relatava sobre sua área de estudo e sua experiência com o material didático. Em outras atividades são utilizadas imagens orbitais em diferentes escalas, cartas topográficas e plantas, do Município de São José dos Campos, onde são explorados os aspectos explicados a seguir e as respectivas etapas de trabalho desenvolvidas em sala. ! Localização. - identificação de feições planimétricas de referência para localização na planta, por exemplo: aeroporto, rios, shoppings etc; - estabelecimento da relação do local identificado na planta com a imagem orbital utilizada em aula; - a partir desta relação, uma série de hipóteses são levantadas pelos alunos no que se refere às demais feições que observam na imagem, principalmente em virtude das formas e cores/tonalidade que indicam a interpretação, que ocorre naturalmente. ! Onde fica minha Escola? - Utilizando-se produtos de Sensoriamento Remoto de diferentes resoluções espaciais (fotografias aéreas, imagens SPOT e TM), a partir da localização, em escala detalhada, da escola, na fotografia aérea, avaliando a sua vizinhança, proporciona-se ao aluno a possibilidade de reconhecer aspectos espaciais que são de seu conhecimento (Figura 1). - A partir deste reconhecimento, o estudante de Geografia utiliza outros produtos de escalas menores, para mostrar aos alunos como a sua escola se insere no seu bairro, seu bairro na sua cidade, sua cidade no seu município. - Esta atividade é direcionada aos alunos de 5a série. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Norte Leste Central Oeste Sudeste Sul Fig. 1 - Exemplo dos materiais utilizados para a atividade “onde fica minha escola”: (a) imagem fotografia aérea do “centro” da Vista Verde; (b) imagem LANDSAT/TM da cidade de São José dos Campos; (c) imagem LANDSAT/TM do município; (d) perímetro urbano de São José dos Campos, com as divisões em Zonas. ! Trabalhando as noções de escala. ! Aspectos físicos da paisagem de São José dos Campos. - Da mesma forma que a atividade anterior, são utilizadas imagens orbitais, em diferentes escalas, desde produtos SPOT/LANDSAT até NOAA, para mostrar ao aluno de 5 a série que, dependendo da escala, há a possibilidade de se visualizar mais ou menos detalhes do espaço geográfico. - O estudante aproveita esta oportunidade para discutir com os alunos alguns elementos espaciais de caráter local, regional e nacional. - A várzea: utilizando-se imagens TM (Figura 2), o estudante mostra ao aluno de 6a série como esta várzea está ocupada no município e no Vale do Paraíba (agricultura, urbanização etc), tentando explorar os aspectos relacionados ao processo de ocupação. - As Serras do Mar e da Mantiqueira: através das imagens TM o professor/estagiário explora o aspecto textural da imagem para apresentar ao aluno as duas serras que cortam o Vale do Paraíba, sua dimensão e altitude. Fig. 2 - Exemplo de relacionamento de uma paisagem de São José dos Campos e sua característica na imagem: (a) imagem LANDSAT/TM; (b) fotografia do Banhado. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 31 ! Dinâmica espacial: desmatamento e urbanização. 5. REFERÊNCIAS - Desmatamento: utilizando-se duas imagens MSS e TM, obtidas em datas diferentes (1977 e 1993), o professor/estagiário explora em sala o processo de desmatamento na Amazônia, discutindo o tamanho das parcelas agrícolas, formas de ocupação e intensidade do processo. - Urbanização: utilizando-se imagens MSS e TM da cidade de São Paulo, de diferentes datas e escalas, explora-se, em sala, a dinâmica urbana e a qualidade de vida. BASTOS, R. C. Proposta metodológica para o ensino dos aspectos físicos geográficos, voltados para o ensino fundamental por meio de dados de sensoriamento remoto. São José dos Campos: UNIVAP, 2001. Trabalho de graduação (Curso de Geografia). Todos os produtos utilizados pelos alunos são elaborados na disciplina de Introdução ao Sensoriamento Remoto associada à disciplina de Metodologia do Ensino de Geografia. MANTOVANI, A. C. D. M.; COSTA, S. M. F. O Ensino de Sensoriamento Remoto na Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP, São José dos Campos, SP. In: JORNADA DE EDUCAÇÃO EM SENSORIAMENTO REMOTO NO ÂMBITO DO MERCOSUL, 1. Camboriú, SC, 1997. pp. 16- 20. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda não há uma avaliação, sob o ponto de vista formal, do reflexo da utilização destes produtos em sala de aula pelos estudantes de graduação em Geografia em seus estágios supervisionados, mas o retorno que eles têm dos alunos em relação às suas aulas é de uma aceitação muito grande e de um interesse imediato pelo tema abordado Resultados preliminares mostram que o Sensoriamento Remoto pode ser utilizado como um instrumento eficaz no auxílio ao ensino, embora sejam necessárias mais avaliações formais do ponto de vista pedagógico. Observou-se que este instrumento fornece benefícios no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que torna este processo mais interessante para os alunos. Esta ferramenta tem proporcionado aos professores, em diferentes níveis de ensino, um meio para ensinar Geografia, porém utilizar uma nova tecnologia em sala de aula não é uma tarefa fácil tendo em vista os problemas a serem superados como a inexistência ou escassez de material didático adequado, a falta de experiência por parte dos professores no uso efetivo dos produtos e técnicas de Sensoriamento Remoto e até a barreira do próprio professor, que se mostra, em alguns casos, relutante no uso de novas tecnologias associadas ao ensino. No entanto, espera-se que os professores sejam encorajados a utilizar as vantagens da tecnologia de Sensoriamento Remoto visando a melhoria da qualidade do ensino e do interesse dos alunos pela Geografia. 32 BRUNO, R. L. S. Monitoramento da ocupação urbana em áreas de riscos de Caraguatatuba, nos últimos dez anos. São José dos Campos: UNIVAP, 2001. Trabalho de graduação (Curso de Geografia). FREITAS, R. N. Dinâmica Espacial no setor sul da cidade de São José dos Campos, SP, no período de 1960 a 2000 – um enfoque nas áreas residenciais. São José dos Campos: UNIVAP, 2001. Trabalho de graduação (Curso de Geografia). LOPES, P. L. Monitoramento das aéreas verdes da cidade de São José dos Campos, SP, utilizando dados e técnicas de sensoriamento remoto – um estudo multitemporal. São José dos Campos: UNIVAP, 2001. Trabalho de graduação (Curso de Geografia). MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília, 1999. 188p. OLIVEIRA, I. M. Detecção e avaliação de mudanças na mancha urbana da cidade de São José dos Campos, SP, Utilizando Dados e Técnicas de Sensoriamento Remoto – Uma Análise Multitemporal. São José dos Campos: UNIVAP, 2000. Trabalho de graduação (Curso de Geografia). SANTOS, V. D. dos; SILVA, A. C. Estudo do uso e ocupação atual do solo no município de Bananal, SP, com produto de sensoriamento remoto. São José dos Campos: UNIVAP, 1999. Trabalho de graduação (Curso de Geografia). Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 SAUSEN, T. M.; CARVALHO, V. C.; SERAFINI, M. C.; FACCIO, J. M. H.; PIRES, I. O.; COSTA, S. M. F. Documento de Camboriú. In: JORNADA DE EDUCAÇÃO EM SENSORIAMENTO REMOTO NO ÂMBITO DO MERCOSUL, 1. Camboriú, SC, 1997. 11p. [Não publicado] SAUSEN, T. M.; COSTA, S. M. F, MANTOVANI, A. C. D. M. Projeto GeoSere – Levantamento e Caracterização da Disciplina de Sensoriamento Remoto nos Cursos de Graduação em Geografia no Brasil. In: JORNADA DE EDUCACION EN PERCEPCION REMOTA EN EL AMBITO DEL MERCOSUR, 2. Buenos Aires, Argentina, 1998. p 82. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 SCHEIDE, A. D. Detecção e Avaliação das Mudanças no Uso do Solo Urbano na Cidade de São José dos Campos, SP – Uma Análise Multitemporal. São José dos Campos: UNIVAP, 2000.. Trabalho de graduação (Curso de Geografia). SIMIELLI, M. E. R. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 1999. 33 Planejar com a Paisagem: uma Contribuição do Paisagismo ao Planejamento Urbano e Regional Emmanuel Antonio dos Santos * Resumo. A eficaz e concreta incorporação dos elementos do meio natural ou com relativo grau de naturança no processo de pensar o planejamento urbano e de promover a urbanização pode efetivamente contribuir para a obtenção de um meio urbano mais equilibrado, mais justo, mais diversificado no uso dos recursos da natureza dos/nos espaços, com paisagens mais integradas e integradoras e de maior qualidade de desenho dos espaços, especialmente aqueles de uso público. As populações de menor poder aquisitivo são aquelas que ficam mais prejudicadas em face dos problemas decorrentes da falta de integração entre os processos naturais e os processos urbanos; é sobre elas que também recai o ônus maior da carência e desqualificação dos espaços livres públicos. À luz de uma experiência concreta na elaboração de plano diretor, expõe-se uma reflexão sobre os processos de elaboração de planos e de proposições de planejamento. Entende-se que processos de mudança no planejamento e intervenção se dão a partir da realidade presente na sociedade; esta, atualmente, já inclui a questão ambiental; sua problemática é parte das alternativas do projeto de mudança. O enfoque, e conseqüentemente a abordagem, visa contribuir na busca das alternativas, ao incorporar de fato, a paisagem na prática do planejamento. Palavras-chave: Paisagem, ambiente, plano diretor, planejamento, incorporação. Abstract. The effective and concrete incorporation of elements of the natural medium or elements with a relative “natural” degree in the way of “thinking” the urban planning and how to promote urbanization, may contribute for a urban medium that is more balanced, fairer and more diversified in terms of the use of natural resources of/in the spaces, with more integrated and integrating landscapes and more quality in the design of the spaces, specially public ones. Low income populations are suffer the most in face of the problems of a lack of integration among natural and urban processes. They are subject also to the heaviest burden of the lack of free public spaces. Having in mind the concrete experience of elaborating a directive plan, the paper presents a reflection upon the plan elaboration process and planning propositions. We understand that change process for planning and intervention begin in the social reality. That reality, presently, includes the environmental issues. The problematic of the environmental issues are already part of the alternatives for the changing processes. The focus and the approach, as a consequence, target the search for alternatives when incorporating the landscape in the planning practice. Key words: Landscape, environment, master plan, planning, incorporation. 1. INTRODUÇÃO Considera-se o plano de Aarão Reis para a capital mineira Belo Horizonte em 1875 a primeira atividade de planejamento urbano de modo formal ou stricto sensu no Brasil. Plano de complexidade, dimensões e sofisticação pioneiros (1) inauguram, segundo alguns autores, o pensamento urbanístico brasileiro. Não resta dúvida de que o plano de Belo Horizonte seja pelo pioneirismo da iniciativa, seja pela qualidade e amplitude que alcançou atestados pela permanência no tecido da cidade da estrutura básica constante em sua proposta, tenha sido a primeira manifestação formal, concreta e realizada do planejamento no Brasil que desenha uma cidade e lhe confere a configuração resultante do pensamento urbanístico fruto da vontade de fazer a cidade que prioriza a higiene, a estética e a fluidez: a cidade moderna. * Professor da UNIVAP. 34 Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Torna-se evidente também que ao inaugurar o pensamento urbanístico moderno dito brasileiro, - eu acrescento a expressão moderno, desde que já se identificou um projeto ou plano urbanístico no caprichoso desenho que resultou das formas de ocupação em diversas porções do nosso território especialmente nas cidades portos ou cidades fortificações implantados no Brasil no período colonial, (2) - este desperta, ainda que indiretamente, uma crescente produção de planos e projetos urbanísticos, desde as intervenções consideradas por alguns como modernizadoras do final do século XIX e início do século XX até os projetos urbanos e planos diretores mais atuais. Desse primeiro despertar até nossos dias, desenvolveram-se diversas modalidades de intervenção urbanística, cada qual procurando à sua maneira tanto promover o crescimento e/ou desenvolvimento urbano por meio do controle do uso e da ocupação dos solos, como imprimir uma aparência ou qualidade do e no urbano através das propostas dos desenhos para a urbanização, para partes do tecido urbano estrategicamente selecionadas, ou até mesmo nos projetos de higienização e embelezamento paisagístico pontuais. É certo que ações de intervenção urbanística consolidadas e configuradas em um plano têm sua origem em períodos mais remotos do que aqueles aqui apontados. Basta lembrar as orientações para bem construir uma cidade contidas nos dez livros de Marco Vitrúvio Polião - Da Arquitetura -, onde se pode verificar em especial as preocupações com a escolha do sítio segundo as suas peculiaridades, as orientações para o melhor aproveitamento das condições naturais e todo um conjunto de indicações para o agenciamento urbano segundo localizações e características das edificações. Outros exemplos notáveis podem ser verificados na Renascença como: o tratado de Alberti - De re aedificatoria -, ...“tentativa de estabelecer, baseando-se em Vitrúvio, um fundamento teórico à almejada restauratio urbis Romae”... (Argan, 1999, p.68), as obras de Michelângelo em Roma, e o grande plano de reformulação de Roma no pontificado de Sisto V que confere uma estrutura mais arrojada ao sistema de circulação, saneando as áreas pantanosas e insalubres. Contudo, é sobretudo com a revolução industrial que as condições das organizações sócio-espaciais se agravam. Mudam-se o sistema de produção e a organização das atividades em todos os âmbitos aprofundando a precariedade das condições de higiene, saúde e marginalidade. Movimentos pela melhoria das condições de habitação e higiene proliferam, instituemse regras para a construção das habitações e propõemse localizações mais “adequadas” para os operários. (3) Procuram-se respostas espaciais para a organização de Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 uma sociedade cada vez mais estruturada na produção industrial onde a segregação é cada vez mais uma estratégia do que um efeito. Propostas as mais variadas, segundo os mais diversos espectros ideológicos surgem, na sua grande maioria adotando o planejamento como forma de organizar a distribuição e localização das atividades e das gentes para um bem viver. Planos e projetos são desenvolvidos e implementados na parte ou no todo. Uns mais identificados com o embelezamento e o saneamento, outros, com a reorganização da sociedade em bases mais igualitárias, ou mais identificados com proposições de convivência integrada com a natureza, e até mesmo buscando a maior rentabilidade provenientes das melhores vantagens relativas. É de se notar que quaisquer que sejam as suas vertentes teóricas e conceituais, a busca por uma sociedade mais integrada com o meio natural, mais bela e justa esteja sempre presente, mesmo que no âmbito das proposições isso se perca. Da gama variada de formas de intervenção urbana que se desenvolveram no Brasil, o Plano Diretor, para o bem e para o mal, acabou constituindo-se na maneira preferencial adotada como modo de se “fazer” planejamento urbano pelo poder público. Instala-se em torno destes a crença de instrumento dotado da solução absoluta e redentora, em muitos casos a sua aplicação transcende as escalas originais para as quais teria sido pensado, reforçando a idéia de um planejamento centralizado a ser executado a partir dos planos de âmbito regional e nacional. No entanto, seja pelas dificuldades de sua implementação devido inclusive à sua característica de documento técnico burocrático distanciado da realidade, seja pela facilidade com que foi sendo apropriado pelo poder público como peça de sustentação do discurso ideológico, seja pela pretensão em abarcar a tudo e a todos, foi cada vez mais tendo o seu papel ou efeito esvaziado, sendo substituído por outros instrumentos que se propõem o controle do uso e da ocupação dos solos, os quais se apropriaram do papel de fazer planejamento, vindo a se constituir no seu instrumento preferencial (4). Assim toma-se a parte, ou seja um dos instrumentos de ordenação do território, pelo todo, organiza-se - ainda que saibamos que é uma ordem falaciosa - o território com um projeto de ordenação, sem adequação ao ambiente, sem uma estrutura de paisagem. Procura-se em verdade estabelecer os valores do solo urbano, e garantir as melhores vantagens relativas mesmo que para isso perdas sejam necessárias, desde que os ganhos imobiliários diretos ou indiretos compensem. Os planos, os projetos e as intervenções, todos eles de uma maneira ou de outra incorporam questões de 35 paisagem e ambiente. Ora como fator de proteção de recursos caros para a subsistência como nas primeiras ações para a proteção dos mananciais ainda no período imperial, quando se procurava proteger os mananciais de água potável no Rio de Janeiro, utilizando-se para tanto a recomposição da floresta da Tijuca. Ora bem mais tarde como fator de embelezamento e higiene, conforme os projetos para as novas capitais, os planos e projetos de saneamento, especialmente os conduzidos por Saturnino de Brito, e mesmo os planos preponderantemente viários como os de Prestes Maia para a cidade de São Paulo e de Pereira Passos para a cidade do Rio de Janeiro, onde se pode verificar a preocupação com a proteção das águas e das áreas vegetadas, procurando os melhores solos para ocupação e uso e também onde se identifica a proposta de um desenho da cidade com forte presença de espaços livres e fartamente vegetados. A natureza muito ou pouco processada sempre presente nos planos, para embelezar a cidade, criar áreas de “respiro”, de contemplação e de atividades de lazer, como no exemplo notável do parque do Flamengo na cidade do Rio de Janeiro, orla criada, espaço roubado ao mar através do desmonte do morro de Santo Antonio, natureza inventada pelo homem e para todos os homens. Podemos também destacar como experiências não somente inovadoras, mas significativamente importantes, as proposições de Lúcio Costa, especialmente o Parque Guinle e o Plano Piloto de Brasília, (5) nos dois casos a libertação da edificação do chão e a generosa apropriação de áreas livres bem vegetadas e necessariamente de uso e domínio público demonstram o desejo de modificar mais do que a forma - contorno externo dos objetos -, a maneira de proceder a urbanização, produzindo novas paisagens e outros ambientes. É certo que nesses casos em particular é de uma paisagem construída e processada que se trata, mas é sem dúvida paisagem e ambiente o que se constrói. De todo modo parece-nos que as questões ecológicas ainda não faziam eco entre nós (6). Isso só mais tarde, por volta do final dos anos de 1960, veio a ocorrer, quando surgem as primeiras manifestações populares em defesa da natureza. As manifestações antipoluição por volta dos primeiros anos de 1970 coincidem com a disseminação dos planos diretores que se inicia ao final dos anos de 1960, mais em função do processo de crescimento urbano, da política nacional de desenvolvimento, com a crescente concentração de capitais nas áreas em urbanização acelerada, e da participação dos agentes representantes do setores da economia interessados na aplicação dos recursos do que pelas imposições do SERFHAU (7). Proliferando os planos, quando no contexto 36 mundial avançava o despertar ecológico, estes bem ou mal com maior ou menor abrangência, mas ainda de maneira muito preliminar vão citando sobretudo nos diagnósticos a questão ambiental. Os planos todos passam a contar com um capítulo específico que, a despeito das mais diversas denominações, tratavam da descrição dos aspectos fisiográficos do território, a título de apontar os recursos naturais e a necessidade de sua preservação em muitos casos ou a indicação para a sua utilização em poucos. O ambiente e a paisagem ainda são como que entidades distintas e distantes, algo que está lá num outro lugar, mas que sendo “necessário” para o “bem-estar” é preciso “resguardar”. O urbano ou urbanização, sem desenho, diga-se a bem da verdade, continua pensado como o lugar da atividade em contraposição ao lugar do natural e do passivo. Desenvolve-se um sem número de planos com levantamentos fisiográficos ricos muito bem elaborados apresentados em mapas e gráficos detalhados, e que no mais das vezes servem apenas como ilustração ou retórica. Essa situação permanece e se agrava ao longo de 20 anos, quando o plano perde cada vez mais o papel de ordenação territorial e assume cada vez mais o papel de instrumento da ideologia. Somente ao final dos anos de 1980 com a nova constituição o Plano Diretor retorna à ribalta do debate urbano no Brasil. A aparente possibilidade que se abre para proceder a reforma urbana, com o artigo da política urbana da nova constituição, a experiência pioneira quando da elaboração do Plano Diretor para a cidade de São Paulo na Administração Luiza Erundina de Souza, quando se assume o Plano Diretor como instrumento preferencial da ação política pela reforma urbana, aliado às experiências de participação da população nos orçamentos municipais como oportunidades de inovação na gestão urbana que se seguem em tantas outras, faz com que os governos municipais, e destes principalmente os das administrações progressistas, entendam que através do Plano Diretor poder-se-ia promover o amplo acesso à terra e à moradia entendidos como os principais quesitos da função social da propriedade urbana. Nesse cenário de luta, pela reforma urbana e pela redistribuição e democratização das melhores vantagens comparativas no e do urbano, novamente o ambiente e a paisagem são relegados a uma esfera menor. As questões de paisagem nesse contexto circunscrevem-se: ao projeto dos parques urbanos, à recuperação de umas poucas áreas de mananciais, e em alguns dos projetos “re” nas áreas centrais. Os procedimentos conservadores se confirmam e explicita-se a incompreensão do papel que os aspectos de paisagem e ambiente podem ter no processo de Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 planejamento. 2. OBJETIVO Procuramos, na contramão desse processo, apresentar como a paisagem pode contribuir com o planejamento por considerá-la um vetor da inclusão nos mais diversos níveis; um instrumento de compreensão dos processos de apropriação e transformação urbanos; e um fator de contribuição para a estruturação do espaço à medida que deixe de ser capítulo ou atividade de descrição ou técnica de embelezamento. 3. METODOLOGIA Mais do que leitura do espaço ou “melhoria” urbana, a paisagem revela tempos, usos, ocupações, querências, e mais do que tudo os objetos e ações, auxiliando na percepção do modo nem sempre justo, nem sempre mais adequado, nem sempre sustentável com que fazemos as nossas inserções. Ou seja, entende-se por ora a paisagem como a escala perceptível entre os processos humanos e naturais, nesse sentido a paisagem inclui todos os artefatos humanos e todos os elementos do natural - ou natureza. Desse modo, a combinação dentre os aspectos naturais - elementos da natureza - e os aspectos culturais - artefatos humanos - em um movimento contínuo, portanto dialético, cria as paisagens. A maneira pela qual esses são combinados e utilizados reflete a cultura da espécie humana e cria especificidades de aparências informando diferentes tipos de paisagens conforme se privilegie este ou aquele aspecto no processo de combinação e utilização daqueles elementos - artefatos humanos e natureza. A paisagem portanto é perceptível nas feições que as nossas organizações sócio-espaciais adquirem em função das configurações das combinações resultantes dos processos humanos sobre a natureza. A pesquisa desenvolveu-se a partir das reflexões do autor na sua experiência na elaboração do Plano Diretor para o município de São José dos Campos no Estado de São Paulo. Constitui-se em revisão crítica em que se reavaliam os processos e os produtos perante o arcabouço teórico. Para uma reflexão mais abrangente procedeu-se a uma revisão bibliográfica ampla, selecionando-se as referências obrigatórias procurando cobrir os aspectos fundamentais, os específicos e os complementares. Foi levantada, organizada e comentada a legislação específica para o planejamento no estudo de caso de 1860 a 1990, com o sentido de montar um amplo panorama dos instrumentos de controle urbanístico à medida que se discute a abrangência do planejamento com a inclusão das questões de desenho da paisagem, Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 como parte de uma compreensão atual das questões sócio-ambientais. Retoma-se também trabalho desenvolvido anteriormente no mestrado onde se demonstra o papel dos diferentes tipos de produção econômica e os conseqüentes modos de apropriação do território na constituição da paisagem, com o sentido de melhor explicitar as peculiaridades do estudo de caso no contexto nacional. 4. OBJETO São apresentados os aspectos introdutórios da abrangente discussão resultante da pesquisa, onde são identificados alguns dos diversos modos como a paisagem pode ser percebida, valorizada e incorporada no processo de planejamento. Mormente dos aspectos que apontam para uma necessidade de mudança de enfoque e conseqüentemente de abordagem, segundo a qual entende-se que a efetiva e concreta incorporação dos elementos do meio natural ou com relativo grau de naturança no processo de pensar e promover a urbanização, pode efetivamente contribuir para a obtenção de qualidade de desenho dos espaços, de paisagens mais integradas e integradoras e de um meio urbano ou de urbanização mais equilibrado, mais justo e mais diversificado no uso dos recursos da natureza dos/nos espaços. Argumenta-se no sentido de reforçar a necessidade de buscar desenhos de urbano e de urbanização onde, ao incorporar os elementos de paisagem, estes contribuam para imprimir uma dimensão qualitativa em nossas organizações sócio-espaciais e da necessidade de se pesquisar novos arranjos não só espaciais mas sócio-culturais. 4.1. Planejando com a paisagem Um plano que toma a paisagem como idéia - força central do planejamento por considerá-la um vetor da inclusão nos mais diversos níveis; um instrumento de compreensão dos processos de apropriação e transformação urbanos; e um fator de contribuição para a estruturação do espaço, não poderia seguir outros procedimentos que não o de realizar as análises e fazer proposições, por meio dos aspectos relacionados com a paisagem e o ambiente. Procura-se explicitar essa abordagem tornando mais claro os processos e as maneiras de ler o espaço com a paisagem. Em seguida discute-se como os aspectos de paisagem foram se tornando fundamentais para a compreensão da urbanização e quais as contribuições que se procurou trazer para o processo de planejamento a partir dessas formulações tanto no âmbito das necessárias ações institucionais, como do processo para indicar os desenhos desejáveis da urbanização. Demonstra-se 37 também a necessidade de transitar em diversas escalas dado que proposições e diretrizes gerais são próprias de escalas maiores e diretrizes de projeto e de desenho não prescindem de escalas menores, onde os pormenores podem ser mais bem indicados, elencados, ou mesmo detalhados. Cabe destacar também que a elaboração e discussão de planos diretores revestem-se de relativa importância desde que em muitos dos casos apresentamse como oportunidades reais de transformação do espaço urbano, seja quanto às desigualdades sócio-espaciais históricas, seja quanto à qualidade dos desenhos. Questões que se referiam a: com quais instrumentos dever-se-ia contar, o que seria desejável contemplar no tocante a organização do território, e mais do que tudo com que pressupostos teórico-conceituais dever-se-ia trabalhar para atingir os objetivos iniciais colocados de adotar a paisagem como fator que pode contribuir de maneira muito significativa com a estruturação do espaço e conseqüentemente também como idéia - força central do planejamento porque busca incluir a paisagem na compreensão dos processos de apropriação e transformação urbanos e como vetor da inclusão nos mais diversos níveis, indicavam a necessidade de adotar procedimentos diferenciados daqueles até então utilizados. 4.2. Adotando a paisagem como elemento de planejamento A idéia de elaborar um plano que viesse a atender aos pressupostos de justiça e equilíbrio sócio-ambiental garantindo a participação popular, como ao final ficou expresso no texto de abertura do PDDI 95 – Plano Diretor de Desenvolvimento integrado de São José dos Campos, levantava a necessidade de adotar um novo procedimento, o qual mesmo não se pretendendo um novo paradigma, ao menos sinalizava a exigência de repensar os outros procedimentos até então adotados na execução de todas as etapas preliminares já encaminhadas e também a revisão dos aspectos práticos e teóricos conceituais norteadores para a continuidade dos trabalhos. Contava-se à época com farto material constituído de dados estatísticos, sócio-econômicos e físicoterritoriais consolidados em um relatório intitulado Plano Preliminar, cujos levantamentos e análises haviam contado com a colaboração da UNESP / Rio Claro, através de contrato de assessoria. Somados a esse relatório, havia ainda o conjunto das sugestões colhidas durante uma primeira audiência pública realizada em Outubro de 1991, registradas oficialmente em livro ata. Portanto, não seria o caso de iniciar-se do zero com o costumeiro trabalho de levantamento de dados e as dificuldades para proceder as análises preliminares, posto que estas tarefas já haviam sido concluídas. A qualidade do relatório do qual constava uma exaustiva e detalhada interpretação dos dados coletados, a sua subdivisão em setores e áreas de interesse, mas sem contudo contar com uma conclusão que encerrasse mais do que análises uma idéia de plano, - evidentemente essa ausência é compreensível, dado que não compete necessariamente às assessorias e nem é mesmo muito desejável que a elas seja delegado “fechar” o conteúdo do plano -, permitia retomar a discussão sobre quais seriam os procedimentos mais adequados para elaborar, a partir daí, o plano. 38 Mais do que ser necessariamente inovador ou original procurava-se evitar apriorismos sem conduzir os procedimentos necessariamente deste ou daquele modo, não assumindo como as mais ou menos adequadas quaisquer das maneiras mais usuais de elaborar planos. Dessa maneira procurava-se evitar pré-condições muito rígidas, as quais poderiam inclusive logo de princípio induzir a descartar procedimentos os quais, mesmo que aparentemente conservadores, se bem conduzidos e empregados podem ser úteis. No que concerne à multidisciplinaridade, procedimento muito usual nessas oportunidades, destaca-se que os levantamentos e análises de outras áreas e setores ao chegarem filtrados e consolidados na forma de demandas a serem atendidas, conforme um entendimento específico e desarticulado, se tornam única e exclusivamente indicadores para um desenho de atendimento dessas demandas. Isso pode configurar um cenário de menor abrangência, desde que somente atende demanda gerando demanda sem corrigi-las e sem desenhar um cenário que propicie a sua mudança. O que se aponta é que a correção ou mudança exige que a multidisciplinariedade se manifeste no espaço, desde o momento da identificação dos processos que formam as demandas, os quais são possíveis de ler na paisagem, através da qual é possível identificar onde ocorrem, como ocorrem porque ocorrem e com que configuração ocorrem, até o momento das proposições para a sua readequação ou transformação qualitativa, manifestando-se, não só em novos equipamentos ou serviços, mas sobretudo em paisagens que conformam e informam a mudança na organização sócio-espacial. Assim sendo, não se querendo adotar soluções paradigmáticas, sejam elas sofisticadas, ou simplistas, se fazia necessário descobrir a quais elementos iniciais de análises se deveria atribuir prioridade. Não se tratava Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 de buscar outras categorias somente pela busca empírica de um modo diferenciado como já se disse. O que se buscava era identificar fundamentalmente quais as soluções estruturais, qual a categoria chave capaz de se colocar como idéia –força central, posto que ...“Soluções funcionais são subordinadas em sua eficácia duradoura a soluções estruturais”...(Santos, M., 1990), e que todavia se acreditava essas últimas poderiam ser identificadas numa abordagem em que o viés seria o da paisagem e ambiente. Nesse sentido, nada mais apropriado do que promover as discussões a partir dos aspectos mais relacionados com a paisagem e o ambiente. Contudo, é de se notar a partir das experiências com planos diretores, que apesar de em quase todos os modelos de planos até então conhecidos, descrições do meio natural, dos impactos das ações humanas sobre estes, das fontes causadoras e dos problemas decorrentes da poluição em seus mais diversos aspectos, estarem presentes em maior ou menor grau, o são normalmente, associadas, sem explicar muito bem como, nem com que sentido de ações integradas e integradoras das populações como o meio, ao que se convencionou chamar de “qualidade ambiental”. Ora se tem a impressão que nos capítulos de meio ambiente são utilizados os dados de levantamentos fisiográficos como ilustração, que de todo modo serviriam para justificar certas tomadas de decisão geralmente muito discutíveis, ora a impressão é de que se referem a preocupações com o intemperismo e suas relações com as recorrentes catástrofes e as correspondentes ações mitigadoras, ora são excelente objeto de apoio para imprimir uma sofisticação elegante e pseudocientífica no discurso dos políticos. Ou seja, quase sempre aparecem com uma clareza quase científica pela qualidade dos dados e das fontes utilizadas, mas sobretudo, sendo utilizados para apontar mais um aspecto que precisa funcionar direito para que tudo corra bem. Tomada a decisão de assumir a paisagem como idéia – força central (Souza, M. L., 2002), com o cuidado em se evitar a sua utilização nos mesmos moldes usuais conforme criticamos, como base preliminar selecionaramse os aspectos de fisiografia, a partir dos quais se entendia seria possível estabelecer inicialmente certa familiaridade com os temas mais usuais, como relevo, hidrografia, cobertura vegetal, antropização enquanto componentes estruturais da conformação de um território, mais do que simples estudo corográfico. Menos ainda como nos vários momentos da história da urbanização quando se consideram as especiais caraterísticas do sítio como óbices a serem evitados ou atrativos naturais a serem exclusivamente apropriados, seja em função da faixa de renda, seja pela acessibilidade, e que refletem desse modo Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 mais do que má vontade deliberada, a incapacidade em incorporar de fato a paisagem no processo de pensar e propor a urbanização tanto no que se refere ao planejamento da urbanização quanto ao seu desenho. Exemplificam essa incapacidade as citações como segue: ...“Mesmo desempenhando eventualmente papel demográfica e territorialmente secundário, os atrativos do sítio natural têm constituído importante fator de atração da expansão urbana. A importância desse fator decorre especialmente do fato de ele – ao contrário das vias regionais – atraírem população de alta renda”..., ...“Há, entretanto, outros casos nos quais o sítio natural não só apresenta grande beleza, como também parece interminável. Por essas características transformaram-se em traço típico da metrópole brasileira: são os casos das orlas de alto-mar”... (Villaça, 1998, p.107) ...“Como a estrutura existente, que representa enorme capital social a ser aproveitado ao máximo, foi enormemente influenciada pelas condições topográficas, o critério de economicidade levará também, se bem trabalhado, a um resultado paisagístico altamente conveniente, com acentuação de vales, colinas, e espinhaços, regulação dos ventos e das linhas visuais”... (Campos Fº, 1992, p.101) ...“Diante do alastramento das epidemias, a medicina elaborou a teoria do contágio, desenvolvendo a idéia de que a propagação das doenças se dava em função da presença de um meio inadequado. Inicialmente se estudou o meio físico – tipos de solo, topografia, direção dos ventos, presença de praias, rios, pântanos -, promovendo uma classificação de locais mais ou menos propícios para a produção de doenças”... (Rolnik, 1997, p. 39,40) Procura-se, inversamente, incorporar as questões de paisagem tratando-se os elementos das bases naturais enquanto uma daquelas forças a ocupar papel significativo na conformação da distribuição espacial da urbanização, nos desenhos dos espaços e na aparência dos lugares, contribuindo dessa maneira de fato com o processo de pensar o planejamento que venha a concorrer para a obtenção da tão desejada qualidade ambiental. ...“A análise dialética exige que a estruturação territorial seja encarada como um processo e, como tal, sua abordagem é efetuada em termos de movimento, e o movimento das estruturas urbanas é sempre fruto da atuação de várias forças que atuam em sentidos diferentes com intensidades diferentes. O que cabe analisar são as forças presentes, suas origens e intensidades”... ...Esse movimento só será captado se juntarmos a 39 geografia e a história”... (Villaça, 1998, p. 133) Assim, ao pensar em força, é das interferências da história sócio-econômica que incidem sobre uma base físico-territorial e que se realiza no tempo, que se fala. ...“a história econômica e social e, de maneira geral, o tempo (em síntese, após a última glaciação, isto é, depois que o homem consegue marcar com sua presença a evolução da ecosfera) contribuem de forma essencial para o desenrolar dos processos que configuram o pano de fundo dos problemas ambientais”... (Jollivet; Pavé, 1997, p.102) A reaproximação com os elementos do suporte fez-se possível através da retomada do relatório preliminar no qual constava um capítulo bastante detalhado de fisiografia. No entanto, este apresentava um claro quanto às possibilidades de utilização desses dados e dessas análises por parte do arquiteto e mais especificamente do planejador, ainda que os dados coletados, as análises e as descrições explicativas da base físico-territorial com a terminologia específica da geografia e da geologia fossem de qualidade indiscutível. Não que essas descrições não sejam necessárias e por vezes até desejáveis. Via de regra estão presentes em todos os tipos de planos e talvez até em função das dificuldades de interpretação para seu uso de modo mais objetivo e pragmático por parte do arquiteto e do urbanista. Em muitos casos, findam por serem utilizadas a título de simples ilustrações, ou mesmo descrições para sustentar justificativas de decisões que sem elas pareceriam carecer de consistência, ou até mesmo como conjunto de elementos, que de alguma maneira deveriam ser considerados na hora da adoção dos padrões usuais para urbanização, tais como a proteção das margens dos córregos e a adoção dos índices de áreas verdes por habitante e tantos outros. A necessidade de compreender as características próprias dos elementos das bases naturais e a identificação de uma maneira pela qual estas pudessem, nos seus diversos níveis, ser incorporadas no processo de urbanização, passou a ser então a diretriz básica do modo de pensar o processo de urbanização e do planejamento. Para tanto se tornou necessário rever posturas mais simplificadas e disposição para entender que é possível a adequação (8) simultânea do suporte e das intervenções antrópicas, não só quando da inevitabilidade de ocupação e usos, mas, outrossim, que ao considerar esses aspectos em uma dimensão de totalidade, tanto da perspectiva do suporte – meio ecológico – quanto das ações humanas – antropização –, a discussão que se 40 coloca passa a ser menos centrada em opções de caráter maniqueísta e mecanicista com as eternas dúvidas e intermináveis digressões entre o certo e o errado, o permitido e o proibido. 4.3. A incorporação dos aspectos paisagísticos no planejamento Contrariamente ao tratamento mais convencional que se costumou dar aos aspectos paisagísticos no processo de planejamento, como se aponta nos itens precedentes, propõe-se a priori que o ato de usar é permitido sempre. Busca-se desse modo possibilitar a conversão de limitações em potencialidades através da identificação das possíveis intensidade, diversidade e complementaridade para os usos, da sua localização e distribuição preferencial e da indicação dos desenhos correspondentes para ocupações. Essa postura pressupõe também rever o que se entende por ocupação e uso. Geralmente ao se utilizar dessas expressões está-se referindo aos aspectos de utilização exclusivamente produtivo - econômico e comercial - do território, determinados segundo um conjunto conhecido de opções com desenhos muito restritos, decorrendo como conseqüência feições “padronizadas”. Propõe-se amplificar a sua aplicação ao entenderse a ocupação e uso referindo-se a uma gama mais variada e menos utilitarista de opções e desenhos, incluindo aí desde o conceito mais usual que atribui à ocupação e ao uso indistintamente a idéia de local de posse e de trabalho socialmente produzido nos quais as atividades se realizam, até a idéia mais elástica de apropriação e usança, as quais permitem falar em apropriação e uso social do território, sem com isso querer dizer necessariamente uma ocupação e um uso no sentido físico Procura-se com isso incorporar os diversos níveis de permanência de situações em estados menos processados normalmente associados à idéia de beleza, de notabilidade, de inusitado, e com aparência natural, por que conferem “qualidade aos lugares”. Essa postura permite análises e reflexões com resultados que não só incorporam de fato, como por vezes privilegiam os elementos das bases naturais para a indicação das intensidades desejáveis. Indicando também possibilidades de propor morfologias menos padronizadas, já que as oportunidades de ocupações e usos seriam mais do que correlato às limitações e potencialidades próprias do território, invenções de formas e modos para antigos e novos usos, procurando com isso, não uma morfologia específica preconcebida, mas morfologias para o ambiente e paisagem. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 A obtenção dessas morfologias tornou-se possível a partir do resultado da inter-relação de uma necessária gama de usos em correspondência a uma inevitável gama das características do suporte em que se contempla desde as situações encontradas no território com aparência muito próxima do natural, portanto muito pouco ou quase nada processadas; situações com aparência medianamente próxima do natural, portanto com grau médio de processamento, e as situações com aparência muito distante do natural, portanto com alto grau de processamento e artificialidade. Dessa forma os desenhos – morfologias - resultantes guardam estreita correspondência com o grau / nível de processamento, possibilitando assim a ocupação e uso de todo o território, mas de modo a garantir por intermédio da diversidade de intensidade algumas das “qualidades” de ambiente e paisagem mais usualmente desejadas, quais sejam, a garantia da manutenção dos recursos hídricos, da cobertura vegetal, do relevo, da beleza do sítio e da forma da distribuição espacial da urbanização. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS É recorrente a dificuldade em compreender os aspectos de paisagem e das possibilidades que se abrem com a sua incorporação nas análises e propostas nos processos de elaboração de planos para além dos desenhos de aformoseamento. Os vários graus de processamento, que se relacionam com os vários graus das aparências, das diversas formas de controle ou falta deste, da ocupação e uso, e dos desenhos resultantes, não são de per se maus ou bons, mais adequado procurar entender que são decorrentes do modo em como são pensados e produzidos os nosso espaços, como aparece de maneira bastante clara na citação que se segue: ...“E será preciso atentar que não são a urbanização e a industrialização, em si, como se tem apontado freqüentemente, os réus da questão. É no modo em que em nossas organizações sociais se insere a urbanização e a industrialização”... (Magnoli, 1987) É também no modo como se percebe, se entende, e se inserem os elementos das bases naturais enquanto ambiente e paisagem nas nossas urbanizações que se deve buscar a compreensão, incorporação e proposição de desenhos da urbanização mais adequados em termos paisagísticos e ambientais. 6. NOTAS (1) Levantamento exaustivo sobre os planos elaborados no Brasil, onde consta artigo explicando o cenário e a constituição daquele que é considerado o Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 primeiro Plano Diretor Stricto Sensu entre nós, bem como uma série histórica e cronologicamente bem apresentada que facilita a compreensão da produção dos planos e projetos urbanos no Brasil, pode ser consultado no trabalho coordenado por LEME, Maria Cristina S., Urbanismo no Brasil 1895-1965, Nobel/FUPAM, 1999, 600p. (2) O urbanismo ou projeto urbano do período colonial brasileiro, fartamente documentado com primorosos desenhos, mapas e um texto que cobre desde as intenções de dominação do território pela metrópole até as diretrizes para a constituição dos núcleos urbanos, e da sofisticação cultural que alguns alcançaram, encontrase na obra de Nestor Goulart Reis Filho, Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial, EDUSP, Cia. das Letras, 2000, 411p. (3) Para uma rápida visualização sobre a história do planejamento, suas diversas teorias e modelos ver dentre outros: CHOAY, Françoise, O Urbanismo, Ed. Perspectiva, 1979, 350 p., onde por meio de uma antologia são apresentados os principais movimentos da urbanística moderna. BENEVOLO, Leonardo, As origens da urbanística moderna, Coleção Dimensões, 1981, 166 p., mostrando a ação reparadora que a urbanística moderna se coloca frente aos processos de transformação do modo capitalista de produção. HALL, Peter, Cidades do Amanhã, Ed. Perspectiva, 1999, 550 p., onde as teorias e práticas urbanísticas são apresentadas à luz de seus objetivos e efeitos concretos enfatizando os seus propósitos de promover as condições mais adequadas para o consumo do urbano. HOWARD, Ebenezer, Cidades-Jardim de amanhã, HUCITEC, 1996, 211 p., apresenta o ideário de uma cidade desenhada para se integrar com o meio natural, abrigando uma sociedade igualitária. PERROUX, F. L’ Économie du XX siècle, Paris, Presses Universitaires de France, 1961, para uma idéia da teoria dos pólos, muito estudada nos anos de 1960 e 1970. Sem pretender organizar bibliografia específica cabe lembrar: a partir de 1950/1960 é maior o interesse pelos estudos urbanísticos no Brasil: destaca-se na área de Arquitetura e Urbanismo a Tese de Livre Docência de Nestor Goulart Reis Filho, Evolução Urbana no Brasil (1510-1720)defendida em 1964 e somente publicada em 1968; inicia o resgate das políticas urbanas estabelecidas desde o colonização. Nesses períodos iniciais de embasamento dos estudos brasileiros deve-se lembrar a influência dos estudos de Weber, Chabot, Lavedan, Geddes, Park, Burgess e McKenzie, L. Munford, K. Marx, K. Mannheim e, entre os geógrafos e cientistas sociais que abordavam a sociedade brasileira, Florestan Fernandes, Caio Prado Junior, Sergio B. de Holanda, Arodldo de Azevedo, Inácio Rangel, Raymundo Faoro, Celso Furtado. Nos anos subseqüentes passaram a ser incluídos, com diferentes campos de abordagem e 41 temáticas, principalmente W. Alonso, R. Bastide, David Harvey, H. Lefebvre, M. Castells, J. Lodjkine, Langenbuch, Pierre Monbeig, Richard Morse, Ab’Saber, Messias da Costa, Robert Moraes, E. Soja, Milton Santos, Candido Malta Campos Filho, Flávio Villaça e mais recentemente SOUZA, Marcelo L. de, Mudar a cidade. Uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos, Bertrand Brasil, 2001, 556 p. que faz um longo percurso pelas mais significativas teorias urbanísticas e de planejamento, analisando as modalidades de Planos Diretores e as experiências mais recentes de gestão urbana no Brasil. (4) A história do planejamento no Brasil, especialmente com relação aos Planos Diretores, e a crítica aos vários “modelos” de planos adotados entre nós, esclarecendo inclusive o papel que muitos desses assumem como mera peça de retórica ou discurso ideológico, bem como instrumento de obtenção de legitimidade devido a sua aura ou apelo junto ao público foi exaustivamente estudado e discutido em VILLAÇA, Flávio, Uma Contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil in O Processo de urbanização no Brasil orgs. DÉAK, Csaba e SHIFFER,Sueli R.,EDUSP/FUPAM, 1999, 346 p., além, é claro, das discussões sobre os atores e seus cenários preferencias na construção do espaço intra-urbano no Brasil do mesmo VIILLAÇA, Flávio, O espaço intra-urbano no Brasil, 1998, 373 p. (5) As críticas ao Plano de Lúcio Costa para Brasília, aos resultados de sua implementação e às condições de segregação e de reforço das desigualdades como características que lhe são intrínsecas, constituem já farto material. Dentre outros, pode-se verificar uma discussão mais específica sobre a sua apropriação e consumo em HOLSTON, James , A cidade modernista. Uma crítica de Brasília e sua utopia, São Paulo, Cia das Letras, 1993, já quanto aos aspectos contraditórios em relação ao que expressa a Memória Descritiva do Plano Piloto e as sucessivas limpezas efetuadas nos acampamentos e favelas, deslocando as populações pobres para as periferias das cidades satélites, ver LEITE, Maria Angela F. P., Uma história de movimentos, p. 433, in O Brasil. Território e sociedade no início do século XXI, org. SANTOS, Milton & SILVEIRA, María L., Rio de Janeiro, Record, 2001. (6) A constituição do pensamento e do movimento ecológico no Brasil é muito recente e surge pelo viés da preservação e da proteção contra a extinção de recursos naturais como o ar, a água, a vegetação e as espécies animais, por volta dos anos de 1970. Só mais tarde é que a discussão desloca-se um pouco da visão extremamente 42 parcial e catastrófica para se aproximar de apelos propositivos em que não se coloca o homem somente como réu. E mesmo mais recentemente ainda são poucas as situações relacionadas com movimentos e proposições preservacionistas em que a espécie humana é assumida como co-partícipe do processo de conservação da natureza. O surgimento dos movimentos pela conservação e preservação da natureza pode ser mais bem compreendido através de VIOLA, Eduardo, O movimento ecológico no Brasil (1974 – 1986) Do ambientalismo à ecopolítica, Revista brasileira de ciências sociais 1 (3) :5-26, no caso específico brasileiro, e de DIEGUES, Antonio C., O mito moderno da natureza intocada, HUCITEC,1996, 169 p., no âmbito mundial. Interessante também com relação as relações homemnatureza percorrer o desenvolvimento do pensamento filosófico, especialmente na compreensão da natureza, para isso recomenda-se LENOBLE, Robert, História da idéia de Natureza, Edições 70, 1969, 3637p. No que diz respeito ao processo de transformação do meio natural pela ação do homem e as mudanças de paradigma com relação aos modos de apropriação dos recursos naturais, entre outros ver THOMAS, Keith, O homem e o mundo natural, 1983. (7) A desmistificação do SERFHAU como indutor da proliferação dos planos diretores a partir do final dos anos de 1960, pode ser atestada em SOUZA, Maria Adélia A., O II PND e a política urbana brasileira: Uma contradição evidente in O Processo de urbanização no Brasil orgs. DÉAK, Csaba e SHIFFER, Sueli R., EDUSP/ FUPAM, 1999, 346p. (8) O Conceito de adequação utilizado aqui é tomado o de HENDERSON, Lawrence J. The Fitness of the Environment, The Mac Millan Company, New York, 1913, p.22. Apud Mc HARG, por entender-se que é o que melhor responde aos nossos interesses: “O conceito darwiniano de adequação pressupõe uma relação mútua entre o organismo e o meio. Para esta relação, a adequação do meio é um componente tão importante como a adequação que surge do processo de evolução orgânica; e, no caso de certas características fundamentais, o meio, tal como chegou a constituir-se é o melhor suporte para a vida. Utiliza-se também o conceito de co-desenvolvimento e cooperação desenvolvido em JACOBS, Jane, A natureza das Economias, BECCA, São Paulo, 2002, onde se discute que a vida é possibilitada por dádivas da natureza tais como o sol a água e os outros componentes do meio natural, por meio dos mais diversos processos pelos quais os homens deles se apropriam devido à sua capacidade de engendrar. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 7. BIBLIOGRAFIA ARGAN, G. C. Clássio anticlássico. O Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. São Paulo: Cia. Das Letras, 1999. 483 p. CAMPOS Fº, C. M. Cidades brasileiras: Seu controle ou o caos. São Paulo: Nobel, 1992. 143 p. SANTOS, E. A. Indústria e paisagem. A evolução urbano industrial e a transformação da paisagem: O caso de São José dos Campos. 1993. Dissertação (Mestrado) FAU-USP, São Paulo. SANTOS, E. A. As paisagens do plano e os planos da paisagem: da paisagem no planejamento ao planejamento com a paisagem. 2002. Tese (Doutorado) - FAU-USP, São Paulo. CODIVAP. Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba. Caracterização do conhecimento do Vale do Paraíba. São José dos Campos,1971. 328p. SANTOS, M. Metrópole corporativa fragmentada. O caso de São Paulo. São Paulo: Nobel, 1990. 117 p. JACOBS, J. A Natureza das Economias. Tradução Paulo Anthero S. Barbosa. São Paulo: Becca Produções Culturais, 2001. 190 p. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil. Território e sociedade no início do século XXI. São Paulo: Record, 2001. 471 p. JOLLIVET, M.; PAVÉ, A. O meio ambiente: questões e perspectivas para pesquisa. In: VIEIRA, Paulo F.; MAGNOLI, M. M. E. M. Universidade, a pesquisa em ambiente e paisagem e o ensino nas escolas de arquitetura. São Paulo: FAU-USP, 1987. SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Prefeitura Municipal. Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado. Um Plano da Cidade para a Cidadania. Coord. Prof. Dr. Emmanuel Antonio dos Santos. São José dos Campos, 1995. MAGNOLI, M. M. E. M. 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Neste contexto, são apresentados exemplos de parcelamento do solo em várias formas, conforme o método tradicional, e outro recomendando um novo modelo, compatível com os padrões do índice da Organização Mundial da Saúde. Palavras-chave: Parcelamento do solo urbano, área verde, índices urbanísticos. Abstract. The main subject of this article is to demonstrate the performance of the Brazilian urban land use legislation and its relationship with the concept of Green Area Index, recommended by World Health Organization. In this context some examples of land parceling, in different ways, according to the traditional methods, are presented, and a new model of urban land parceling is recommended. Key words: Urban land parceling, green area, urbanism indexes. 1. INTRODUÇÃO As leis de uso do solo urbano atingem a todos, independentemente da condição social, pois o cenário por elas gerado é desfrutado pelos habitantes das áreas urbanizadas. Seu desempenho pode ser avaliado pela qualidade de vida proporcionada à população. Atualmente fala-se muito em desenvolvimento sustentável, um conceito de importância relevante nas questões que regem o parcelamento do solo, e que consiste na utilização equilibrada do ambiente, respeitando as condições naturais e, mais que isso, contribuindo para o seu desenvolvimento. 2.PROCESSO DE OCUPAÇÃO URBANA Desde quando surgiram os primeiros aglomerados humanos houve a necessidade de uma regulamentação para que o convívio, em um mesmo espaço, fosse possível. As primeiras leis ou normas que surgiram tentavam simplesmente controlar a saúde do ambiente em geral. Eram leis básicas de comportamento e não leis que determinassem os tipos de lotes, zoneamentos ou * Mestrando em Planejamento Urbano e Regional UNIVAP 2002. ** Professor da UNIVAP. 44 moradias. Com o passar do tempo essas leis começaram a ser criadas, melhorando a convivência e o bem-estar comum. No Brasil, essas leis começaram a se tornar mais evidentes a partir do final do século XIX e início do século XX, quando, depois da abolição da escravatura e início do desenvolvimento industrial, começaram a ocorrer mudanças do modo de vida das famílias (rural para o urbano). Esse fluxo de pessoas em direção aos centros urbanos exigia uma solução rápida para o alojamento delas, o que resultou no surgimento dos cortiços e seus problemas, e assim, como na Europa, segundo Engels (1975), “no final do século XVIII, tanto na Inglaterra quanto no País de Gales, vários problemas surgiram nos núcleos urbanos decorrentes dos processos de industrialização e urbanização. A população que deixava o campo, atraída pela oferta de emprego no sistema fabril, criava, nas cidades, novas camadas de proletariado urbano, ampliando a taxa populacional desses aglomerados com relação ao total de habitantes do país.” As precárias condições do interior dessas habitações começaram a preocupar o poder público, como pode ser observado através do edital promulgado pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 1º de agosto de 1855 com a exigência de que “a construção de qualquer Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 novo cortiço deve se submeter à aprovação da Câmara”. Mais tarde, 1º de setembro de 1876, chega-se ao extremo de “proibir a construção de novos cortiços”. Nessa seqüência de evolução, surgem as vilas operárias e, logo depois, nos anos 20, os primeiros edifícios de apartamentos. Até essa data não se questionava a forma e o método de parcelamento do solo, pois a vida urbana ainda era desconhecida para a maioria da população. Somente havia preocupação com a edificação, sua forma e função. Com a promulgação do Decreto-Lei 58 em 1937, iniciou-se o questionamento da importância do parcelamento do solo. A intenção principal do decreto era regular a compra e venda das propriedades, pois como agora havia um “produto” sendo comercializado, faziase necessário descrever suas dimensões, localização e qualquer outro item que se julgasse importante. No caso dos loteamentos, era questionada a qualidade do lote, no tocante a sua capacidade de utilização e acessibilidade, mas nada relativo à qualidade de vida do ambiente que seria produzido ou no cenário do futuro bairro. Naquela época havia bom senso quanto ao tamanho dos lotes, os quais tinham dimensões generosas. Isso por que não havia escassez de terras, nem especulação imobiliária, e a dimensão da área verde era imensa em relação à área urbanizada. O Decreto-Lei 58/37 vigorou, quase que solitário, durante 42 anos, atendendo com satisfação às necessidades da época em relação ao parcelamento do solo, que praticamente marcava como sendo a transição do modo de vida rural para o urbano. Mas, na metade do século XX, o modo de vida urbano estava instalado e havia no mínimo uma geração urbana. As grandes cidades, tradicionais na Europa, se tornaram uma realidade também no Brasil, e os problemas urbanos estão sendo observados pela população e o Governo. Foi então que em 1979 é promulgada a Lei Federal 6.766 sobre o uso e ocupação do solo, determinando parâmetros que organizam e melhoram a qualidade dos loteamentos e os lotes que o compõem. Com sensível melhora em relação ao Decreto 58/ 37, a nova lei define as porcentagens de áreas destinadas ao uso comum nos loteamentos (geralmente: 5% para uso institucional, 10%, para áreas verdes e 20% destinados às vias de circulação), sendo 35% do total da Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 gleba; o lote mínimo com 125,00 m² e a proibição da ocupação em terrenos com declividade superior a 30%. Ocorre que o legislador contava com o bom senso do loteador, na definição dos loteamentos, mas o que na prática acontecia e acontece é que sempre se utilizam os índices nos seus limites e o cenário gerado, embora dentro da lei, pode deixar a desejar a qualidade de vida aos ocupantes locais. Um item a ser avaliado é a porcentagem fixa destinada à área verde, determinada em 10% do total da gleba. Esse índice foi determinado para atender às necessidades da época, uma vez que até os grandes centros urbanos não eram tão adensados e havia grande quantidade de áreas com vegetação nativa. Percebe-se que sua definição está centrada como sendo uma fração da área total a ser parcelada e não se questiona o zoneamento local (se será ocupado por residências, comércio ou indústrias) e nem o número de habitantes que irão ocupar a área. A preocupação com o meio ambiente já existia, mas os conceitos de desenvolvimento sustentável ainda não eram evidentes. A percepção das necessidades do homem, bem como o relacionamento com a natureza, evoluiu. E como se comportaram as leis? Elas evoluíram também? Será que os índices urbanísticos estipulados em uma determinada época ainda estão compatíveis com a realidade atual? Será que atendem às necessidades humanas satisfatoriamente? Em 1999 foi promulgada a Lei 9.785 que substituiu a Lei 6.766 e tomou outras providências. Poucas foram as alterações, e o quesito qualidade de vida não foi questionado. Manteve-se o mesmo método de parcelamento e seus índices urbanísticos, onde valores de porcentagem fixos determinam o destino de uso de áreas da gleba. O exemplo a seguir mostrará o método de parcelamento hoje utilizado e será feita uma comparação dos resultados da quantidade de áreas verdes com o índice determinado da OMS (Organização Mundial de Saúde). “Ainda em relação aos índices é importante comentar que está difundida e arraigada no Brasil a assertiva de que a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial de Saúde (OMS), ou a Food Agricultural Organization (FAO), considerariam ideal que cada cidade proporcionasse 12 m2 de área verde/ habitante, (Cavalheiro & Del Picchia, 1992, in Martins Junior 1996)”. 45 3.EXEMPLO DE APLICAÇÃO Isso resulta em 17,31 m² de área verde por habitante no modelo “B”. Tem-se uma gleba de 500.000,00 m², a ser loteada, em um local plano, para habitações unifamiliares. O passo inicial é determinar as áreas destinadas ao uso comum, que somadas totalizam 35% da gleba. São elas: 5% para uso institucional 10% para área verde 20% para vias de circulação (25.000,00 m²); (50.000,00 m²); (100.000,00 m²). Ao uso comum são destinados então 175.000,00 m², e para o uso residencial tem-se uma área de 325.000,00 m². Vamos executar dois tipos de loteamentos. O primeiro, denominado modelo “A”, composto de lotes mínimos (5,00 m x 25,00 m = 125,00 m²) e outro, denominado modelo “B”, com lotes de um padrão maior (15,00 m x 30,00 m = 450,00 m²), e fazer um quadro comparativo entre a relação da quantidade de área verde por habitante, que pode ser considerada um item de qualidade de vida. Tomando-se a área destinada ao uso residencial (325.000,00 m²) e dividindo-a pela área do lote mínimo padrão (125,00 m²), teremos o número de 2.600 lotes unifamiliares. Considerando-se o número de 4 pessoas como a média de pessoas por família no Brasil, teremos uma população local de 10.400 pessoas. Já que segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o índice ideal é de 12,00 m² de área verde por habitante, percebe-se que no modelo “A” o valor fica bem distante do ideal, enquanto no modelo “B” o valor atingido ultrapassa o índice. Esse é o método pelo qual os parcelamentos são executados atualmente, seguindo as determinações estipuladas na Lei 6.766 do ano de 1979. Se o método de parcelamento fosse baseado no índice de área verde por habitante da OMS, onde fosse garantida essa condição “ideal”, a realidade dos loteamentos seria bem diferente. Tomando-se os 12,00 m² de área verde por habitante, e multiplicando-o por uma família ( 4 pessoas), teremos 48,00 m² de área verde por lote, independente do seu tamanho. Mantendo-se os mesmos valores para as áreas destinadas ao uso institucional e de circulação, tem-se a seguinte situação: Tendo-se a gleba 500.000,00 m² e subtraindo-se os 5% (25.000,00 m²) de área institucional e os 20% (100.000,00 m² de arruamento) resta uma área com 375.000,00 m². Dividindo-se a parte destinada a ser área verde pelo número estimado de habitantes, faz com que haja um resultado de 4,81 m² de área verde por habitante no modelo “A”. Dividindo-se esse valor pela área do lote mínimo (125,00 m²), acrescida da quantidade de área verde que a ele lhe cabe (48,00 m²), obtém-se o resultado de 2167 lotes (modelo “A”), conforme a Tabela 1. A seguir, se dividirmos a área da gleba pelo lote de padrão maior (450,00 m²), teremos o número aproximado de 722 lotes, que multiplicado pelo número de pessoas por família, teremos uma população local de 2.888 pessoas. Aplicando-se esse novo método para o modelo “B” tem-se que dividir a área pelo lote padrão adotado (450,00 m²) acrescido dos 48,00 m² de área verde, o que resultaria em 753 lotes, conforme Tabela 1. Tabela 1 - Quadro demonstrativo das dimensões de áreas verdes para os modelos A e B segundo a Lei 9.785 e a OMS. Método Área da Gleba Área Institucional Área Verde Área de Circulação Área Residencial Lei 9.785 Mod. “A” Lei 9.785 Mod. “B” Índice OMS / Mod. “A” Índice OMS / Mod. “B” 500.000 m2 25.000 m² 50.000 m² 100.000 m² 325.000 m² 2.600 10.400 4,81 m2 500.000 m2 25.000 m² 50.000 m² 100.000 m² 325.000 m² 722 2.888 17,31 m2 500.000 m2 25.000 m² 104.016 m² 100.000 m² 270.984 m² 2.167 8.668 12,00 m2 500.000 m2 25.000 m² 338.856 m² 753 3.012 12,00 m2 46 36.144 m² 100.000 m² Quantidade de Lotes Número de Área verde / Habitantes Habitante Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Pode-se verificar que dependendo do tipo de loteamento e da sua densidade populacional há a necessidade de mais, ou menos, área verde. 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENGELS, F. A situação dos trabalhadores na Inglaterra. São Paulo: Editorial Presença, Martins Fontes, 1975. 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa disparidade é resultado do modelo de parcelamento adotado em uma época passada com interesses e necessidades diferentes. Presentemente, muitos estudos tentam mostrar a importância do desenvolvimento sustentável, e com base nas suas premissas o presente exemplo corrobora para com a necessidade da revisão da lei de parcelamento do solo urbano. Ficou demonstrado que o método baseado no índice da OMS mostra-se muito mais adequado, assim sendo caberia aos órgãos responsáveis a criação de métodos de controle, para que as áreas que futuramente serão ocupadas o sejam de forma mais eficiente do que os atualmente utilizados, adequando-os à realidade. O exemplo abordou loteamentos residenciais unifamiliares, mas deve-se desenvolver parâmetros específicos para áreas industriais, comerciais e residenciais de alta densidade, sem esquecer de reavaliar as outras áreas destinadas ao uso comum. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho científico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987. 198p. MARTINS JUNIOR, O. P. Uma cidade ecologicamente correta. Goiânia: AB, 1996. 224p. REIS, N. G. Habitação popular no Brasil: 1880 – 1920. Cadernos de Estudos e Pesquisas do LAP. FAU-USP, 1994. 43p. VERÍSSIMO, F. S.; BITTAR,W. S. M. 500 anos da casa no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Ediouro , 1999. 142p. 47 Planejamento e Gestão Municipal Integrada: uma Questão para Debate Maria Lígia Moreira do Carmo * Flávio José Nery Conde Malta ** Resumo. Este trabalho refere-se à questão do Planejamento Regional no Estado de São Paulo e propõe uma reflexão sobre o planejamento em nível microrregional, representado pela gestão municipal integrada. É apresentado o estudo que está sendo desenvolvido no Curso de Planejamento Urbano e Regional, da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP, sobre o planejamento microrregional nos municípios de Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí, Santo Antonio do Pinhal e Monteiro Lobato, localizados na Serra da Mantiqueira, no Estado de São Paulo. Palavras-chave: Planejamento Regional, Gestão Municipal Integrada. Abstract. This paper refers to the Regional Planning in the State of São Paulo, Brazil, and aims at discussing the planning on micro-regional level, expressed by an integrated municipal management. The study is being developed as part of the Course of Urban and Regional Planning, at Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP, concerning the micro-regional planning in the cities Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí, Santo Antonio do Pinhal and Monteiro Lobato, located in the mountains of Serra da Mantiqueira – state of São Paulo. Key words: Regional Planning, Integrated Municipal Management. 1. INTRODUÇÃO O Plano Plurianual do Estado de São Paulo – 20002003, enfatiza que o Estado entra no século XXI com a responsabilidade de, simultaneamente, ampliar a capacidade competitiva de sua economia e promover o desenvolvimento humano e social. Nesta perspectiva, abre-se espaço para a discussão do papel do planejamento urbano e regional como forma de sistematização e articulação de ações das várias instâncias que atuam no espaço urbano, em um processo que permita o desenvolvimento econômico integrado, o maior benefício social dos investimentos e que estimule a ação local como contribuição efetiva ao desenvolvimento. Como apontado por Kurkdjian e Blanco (1992), a melhoria da qualidade de vida das populações depende, dentre outros fatores, de eficientes sistemas de planejamento. A busca da melhoria da qualidade de vida das populações é o que, socialmente, justifica a existência do planejamento. * Mestranda em Planejamento Urbano e Regional UNIVAP 2002. ** Professor da UNIVAP. 48 O planejamento pode ser conceituado de diversas maneiras. Segundo Bruna et al (1983), em síntese, podese dizer que o planejamento consiste em uma atividade cujo objetivo é a organização sistemática de meios a serem utilizados para se atingir determinada meta ou fim. Planejar significa não somente prever, como também executar e avaliar constantemente os resultados. Para ter êxito, o planejamento urbano e regional deve contar com a ação conjunta de planejadores, técnicos e sociedade, e ter sua eficácia avaliada frente à realidade concretamente existente. Diante dessas considerações, apresentamos um quadro breve da estruturação regional do espaço territorial no Estado de São Paulo e a questão do planejamento microrregional como forma de equacionar as dificuldades econômicas e sociais pelas quais muitos municípios paulistas estão passando. 2. A QUESTÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO A partir da década de 1950 houve um avanço significativo na pesquisa e no planejamento urbano e regional no Estado de São Paulo. No ano de 1954, com a vinda do Padre Lebret ao Brasil, para integrar a Comissão Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Interestadual da Bacia do Paraguai-Uruguai, foi realizado um diagnóstico da bacia, inclusive do Estado de São Paulo. Pode-se dizer que esse estudo deu início ao processo de subdivisão regional do Estado. Após a subdivisão proposta pelo relatório “Regionalização do Estado de São Paulo: Diretrizes para uma Reforma Administrativa”, em 1966, foram criados os níveis intermediários de administração no Estado: a região e a sub-região; tendo sido adotado o critério de “região polarizada” para fins de definição. Não se pode, contudo, afirmar que houve nessa proposta o objetivo claro de melhoria de condições de vida da população do Estado. Propostas posteriores alteraram a subdivisão em regiões e sub-regiões, mantendo a estrutura vertical de administração. Embora novas propostas tenham expressado o objetivo de integração horizontal e intersetorial no relacionamento entre o Estado e os interesses locais, a dificuldade de efetivar tal organização continua existindo até hoje. Segundo Zahn (1987), para garantir a efetivação de uma política de regionalização preconizada pelo modelo de integração dos órgãos governamentais, bem como de efetivar a descentralização decisória no nível regional, questões essenciais como a necessidade de reordenação da estrutura administrativa dos órgãos setoriais e a necessidade de reorientar a política de investimento público no Estado devem ser equacionadas. Para tanto, é necessária a valorização das Regiões mediante a abertura de graus de autonomia decisória. Enquanto não houver tal autonomia, a realidade local não será plenamente tratada e questões de desenvolvimento social continuarão sendo decididas exclusivamente com base nos recursos financeiros disponíveis ou na força política que os projetos detêm. Conforme o texto da Constituição Federal de 1988, ao Estado de São Paulo, assim como a todos os Estados brasileiros, é facultado ao governo estadual criar regiões para fins administrativos. O Art. 25 desta Constituição assegura a autonomia dos Estados para organizarem-se e regerem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observando-se os princípios da Constituição Federal. Na Constituição do Estado de São Paulo, de 1989, há um capítulo contemplando a questão da organização regional do Estado, cujo objetivo é, segundo essa Constituição, de impulsionar o desenvolvimento sócioeconômico e a melhoria da qualidade de vida, a cooperação dos diferentes níveis de governo, mediante a descentralização, articulação e integração de seus órgãos e entidades da administração direta e indireta com Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 atuação na região, a redução das desigualdades sociais e regionais, entre outros objetivos. Ao tratar do questão do desenvolvimento social e da qualidade de vida da população no Capítulo “Organização Regional do Estado”, a Constituição Estadual aponta na direção de que a organização regional deve considerar os problemas sociais como questões prioritárias na pauta da administração e do planejamento. Contudo, para a efetivação de ações neste sentido, há de se percorrer um longo caminho que inclui a sistematização e a articulação intersetorial das ações do governo e da sociedade. De modo a escalonar o grau de intervenção governamental em função das prioridades regionais, a Constituição Estadual classificou as categorias de entidades regionais, quais sejam: regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões. A atual divisão administrativa do Estado soma 12 Regiões Administrativas, 3 Regiões Metropolinas, e 42 Regiões de Governo, coordenadas pela Secretaria de Economia e Planejamento do Estado. As Regiões de Governo são subordinadas às Regiões Administrativas e contam com colegiados municipais (CAM) e colegiados administrativos (CAM), cujas atribuições, entre outras, são a articulação da ação do Governo do Estado no âmbito da região de governo, e a promoção da integração dos diversos setores da administração pública. A Tabela 1 apresenta as 12 Regiões Administrativas e as 3 Regiões Metropolitanas atualmente existentes no Estado de São Paulo. Apesar de ter uma história de mais de 50 anos, o planejamento do Estado de São Paulo ainda se baseia em uma forma de organização que aponta para uma gestão “de cima para baixo”. Nas Regiões de Governo, os membros dos colegiados respondem a pautas definidas pela coordenação da Secretaria Estadual de Planejamento. Na prática, esses colegiados atuam como órgãos consultivos junto aos Escritórios de Articulação e Planejamento (ERPLANs), na Região Administrativa. Nas Regiões Administrativas não há um sistema de pesquisa e planejamento propriamente dito. A pesquisa no Estado, com relação às questões econômicas, sociais e de planejamento, está a cargo de Instituições como o Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM), a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), o Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC), e outros órgãos setoriais das diversas secretarias do Estado. As Regiões Metropolitanas são assessoradas pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A (EMPLASA). 49 Tabela 1 - Regiões Administrativas e Metropolitanas do Estado de São Paulo, em 2002. Região Administrativa/Metropolitana Araçatuba São José do Rio Preto Barretos Franca Presidente Prudente Marília Bauru Ribeirão Preto Central Sorocaba Registro São José dos Campos Região Metropolitana de Campinas Região Metropolitana de São Paulo Região Metropolitana da Baixada Santista Fonte: Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, 2002. 3. MICRORREGIÕES E PLANEJAMENTO A microrregião, segundo a Lei Estadual Complementar no. 760, de 01/08/1994, é o agrupamento de municípios limítrofes, a exigir planejamento integrado para seu desenvolvimento e integração regional, e que apresente, cumulativamente, características de integração funcional de natureza físico-territorial, econômico-social e administrativa. A forma que mais se aproxima do conceito de microrregião na atual divisão estabelecida pelo Estado de São Paulo é a Região de Governo. e da União, de modo a combinar esforços a fim de obter os melhores resultados em face dos problemas e potencialidades locais. Para tanto, há necessidade de que, no âmbito microrregional, os municípios se interrelacionem e debatam as questões que lhes atinjam diretamente; não dentro de uma visão estritamente setorial, como a que tem sido adotada pelo Estado, mas preocupando-se com a intersetorialidade, onde cada questão mantém vínculos indissolúveis com outras questões e com outros setores da estrutura urbana e regional. A diferença entre as Regiões de Governo e as microrregiões está basicamente no conceito de regionalismo adotado pelo Governo do Estado ao definir as Regiões de Governo, uma vez que, ao organizá-las, o Estado considerou a proximidade geográfica dos municípios, a fim de facilitar a administração. A microrregião, definida a partir da iniciativa dos próprios municípios, apresenta o caráter de regionalização, que é a organização a partir de características homogêneas nos mais diversos aspectos, sejam eles geográficos, econômicos, sociais etc., entre os municípios que a compõem; extrapolando, desta forma, a simples organização para fins administrativos. A complexidade da gestão econômica e social no Estado é muito grande e envolve diferentes escalões governamentais: federal, estadual e municipal. Ao lado dos instrumentos de planejamento, organizados pelos governos, outras medidas são imprescindíveis, como a criação de mecanismos capazes de interferir na realidade, atenuando as disparidades regionais e maximizando o crescimento através de um tratamento adequado à realidade local. Neste contexto, as Instituições como o CEPAM e a Fundação SEADE, que atuam como órgãos técnico-científicos e de pesquisa para o desenvolvimento das Regiões do Estado, no âmbito local, teriam seus trabalhos requisitados e utilizados de forma mais intensa pelos governos locais e pelas organizações microrregionais. A estruturação de microrregiões, como meio para planejamento integrado de municípios, embora seja contemplada na Constituição do Estado, ainda tem sido pouco discutida. A contribuição efetiva que pode ser dada por este modelo é a de que municípios, organizados em microrregiões, possam articular iniciativas, programas e projetos locais, buscando integrá-los às ações do Estado Segundo Birkholz (1992), a estrutura de regiões adotada pelo Estado de São Paulo em 1984, e que está em vigor até hoje, prevê uma política de ação regional cujo modelo visa, simultaneamente, a integração da ação do Estado em cada Região de Governo e a sua articulação com as respectivas administrações municipais. Mas é necessário que os municípios tomem a iniciativa de 50 Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 organizarem-se a fim de discutir questões que lhes são peculiares e encontrar a melhor definição para a gestão municipal integrada. A dificuldade de encontrar os melhores meios para articular a organização microrregional são muitas, correndo-se o risco, inclusive, de o planejamento limitarse a responder questões imediatistas e parciais ou atuar em função dos interesses de determinados grupos. Daí constata-se a necessidade de constante planejamento e avaliação das ações concretizadas, inclusive por parte da população. Ao compararmos o desenvolvimento de agrupamentos de municípios do Estado de São Paulo, vemos diferenças marcantes no nível de desenvolvimento econômico e social. A Figura 1 mostra alguns dados comparativos do nível da renda familiar em 7 agrupamentos do Estado: Central, Leste, Região Metropolitana de Santos, Norte, Oeste e Vale do Paraíba. Segundo os dados da Fundação SEADE, em 1998 o rendimento familiar na Região Metropolitana de Santos e no Leste do Estado era significativamente mais elevado do que a renda nos demais agrupamentos. Renda média total por agrupamentos urbanos - interior do Estado de São Paulo - 1998 Em reais de set/98 R$ 1600 1.398 1.468 1400 1.321 1.300 1.237 1.150 1200 1000 800 600 400 200 0 Central Leste RM Santos Norte Oeste Vale do Paraíba Fig. 1 - Gráfico da renda familiar total segundo agrupamentos urbanos no Estado de São Paulo, em 1998. Fonte: Fundação SEADE, 2002. Em 1998, no interior paulista, a renda familiar per capita era de R$ 454, com diferenças expressivas segundo os agrupamentos urbanos: enquanto o Leste possuía renda familiar per capita de R$ 488, o Oeste apresentava apenas R$399 per capita. contribui para a tese de que os governos municipais, juntamente com a sociedade local, são os melhores agentes para indicar cenários possíveis e propor ao Estado ações corretivas, quando estas forem necessárias, contribuindo com a administração “de baixo para cima”. Os dados da Fundação SEADE nos mostram diferenças marcantes nas condições de vida entre os agrupamentos de municípios; mas essas diferenças são ainda maiores quando comparamos o nível de desenvolvimento econômico e social entre alguns municípios do Estado. Essas diferenças têm sido objeto de preocupação do governo estadual, demonstrada através de ações e projetos de efeitos assistemáticos e que muitas vezes não “cabem” na realidade local, o que A gestão integrada em nível microrregional, partilhada por governo e sociedade, pode indicar o melhor caminho para a eqüidade e a justiça social, a partir do desenvolvimento econômico equilibrado, com base na realidade local. Por outro lado, um sistema de planejamento que pretenda abranger os problemas locais de forma intersetorial e integradora não deve assumir uma postura puramente pragmática, mas associada à pesquisa e à análise de técnicos e planejadores. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 51 Segundo Haddad (1980), uma alternativa para a elaboração de material consistente, capaz de descrever os múltiplos aspectos de determinada estrutura urbana e regional, é identificar os principais problemas e potenciais da área, ainda que de forma não qualificada, e, a partir desse marco conceitual, elaborar programas e projetos para a região, ao mesmo tempo em que se estruturam os detalhes técnicos do diagnóstico e das alternativas e estratégias de desenvolvimento. No âmbito microrregional, uma vez que a gestão municipal integrada subordina-se ao planejamento do estado financeira e administrativamente, caberia aos governos municipais consolidar material diagnóstico e propositivo a fim de submetê-lo à esfera estadual. Quanto mais substanciado for o material propositivo, maior contribuição este poderá trazer para a gestão municipal integrada. Com relação à elaboração de diagnósticos, Haddad (1980), em seus estudos sobre o planejamento regional no Estado de Minas Gerais, verificou que há uma tendência em realizar diagnósticos longos, muitas vezes limitados a descrever aspectos físico-geográficos, econômicos e sociais de determinada região, elaborados por técnicos pouco ou nada dedicados à definição de estratégias ou alternativas de desenvolvimento ou à elaboração de programas e projetos. Tal tendência também pode ser verificada no Estado de São Paulo, através de alguns estudos e planos que foram elaborados. A fim de que tais deficiências sejam corrigidas, em nível local, através da gestão integrada, os municípios têm maiores condições de apresentar propostas ao planejamento do Estado, uma vez que lhes é facilitado aliar o conhecimento técnico à realidade e potencialidades dos municípios, procurando obter, desta forma, proposições realistas e contributivas para as questões diagnosticadas. 52 4. PLANEJAMENTO E GESTÃO INTEGRADA ENTRE OS MUNICÍPIOS DE CAMPOS DO JORDÃO, SÃO BENTO DO SAPUCAÍ, SANTO ANTÔNIO DO PINHAL E MONTEIRO LOBATO Os municípios de Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal e Monteiro Lobato, localizados no Estado de São Paulo, estão sendo objeto de estudo na Universidade do Vale do Paraíba, dentro no Curso de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional. O objetivo deste estudo é, com base nos conceitos de planejamento e gestão integrada, entender como esses municípios se estruturam política e administrativamente num contexto microrregional, diante da organização regional proposta pelo governo do Estado. O estudo propõe uma reflexão sobre as contribuições que podem ser dadas pelo planejamento microrregional, especificamente nas áreas econômica e social, a partir da articulação de políticas e ações aliadas a técnicas de profissionais e a participação da sociedade civil organizada. Esses municípios têm uma localização geográfica privilegiada, na Região da Serra da Mantiqueira. Em menor ou maior grau, as economias dos municípios baseiam-se no turismo. Ao lado dos governos estadual e municipal, atuam nesta área algumas Organizações não Governamentais (ONGs), que desenvolvem suas atividades voltadas principalmente às questões ambientais. Porém, as questões nem sempre são tratadas no contexto sistematizado e intersetorial. Ao lado da falta de planejamento integrado entre esses municípios, caminha o crescimento do grau de pobreza da população, que tem gerado diferenciações gritantes no espaço intra e interurbano. Assim como pode ser verificado em todo o Estado, há um alto grau de diferenciação nas condições de vida da população nos municípios em estudo. A Tabela 2 apresenta o rendimento médio dos municípios em estudo e dos municípios-sedes das Regiões de Governo onde estes estão localizados. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Tabela 2 - Rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios em 2000. Município Campos do Jordão São Bento do Sapucaí Santo Antônio do Pinhal Taubaté Monteiro Lobato São José dos Campos Média do Estado Região de Governo Taubaté Taubaté Taubaté Taubaté São José dos Campos São José dos Campos Rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios no ano de 2000 (em R$) 835,50 531,57 597,48 1.069,62 614,17 1.252,05 1.076,21 Fonte: Dados do Seade, 2002. Observa-se que o rendimento médio das pessoas responsáveis pelos domicílios nos municípios em estudo é abaixo da média das sedes de Região de Governo em que eles se situam, assim como da média do Estado. No município de São Bento do Sapucaí, por exemplo, observa-se que o rendimento médio dos responsáveis pelo domicílio aproxima-se a 50% do rendimento médio na Região de Governo e no Estado. Atualmente a população do município de Campos de Jordão é 99% urbana, enquanto que os outros municípios, apesar do grande êxodo rural ocorrido nas três últimas décadas, ainda têm população rural em número equivalente à urbana. Entre os anos de 1980 e 2002, a população de Campos do Jordão teve crescimento de 70%; Monteiro Lobato 88%; São Bento do Sapucaí 11% e Santo Antônio do Pinhal 12%. O grande incremento urbano traz consigo questões importantes referentes à qualidade de vida da população, infra-estrutura etc, que devem ser planejadas e acompanhadas sistematicamente. No espaço intra-urbano, verifica-se que em Campos do Jordão há um abismo de poder aquisitivo entre a população de baixa renda e a de alta renda. O município tem sido palco de investimentos pesados no turismo, o que, aliado à exuberância do seu sítio, tem atraído turistas e veranistas de alto poder aquisitivo. Ao lado disso, a população de baixa renda, em geral sem qualificação profissional, se vê desapropriada de seu lugar, de sua cultura, e sem possibilidades de atuar nas atividades turísticas de alto padrão. Os aspectos da localização, do clima e da paisagem, aliados à infra- estrutura viária implantada, têm contribuído para o crescimento do interesse capitalista pelo município de Campos do Jordão, de forma que os outros municípios da rede tem perseguido essas mesmas condições como meio de crescimento econômico. Porém, verifica-se que não há um sistema de planejamento em desenvolvimento entre esses municípios de forma a conduzir o crescimento das potencialidades econômicas de toda a microrregião. Ainda no âmbito intra-urbano, também não se observa o planejamento intersetorial de forma sistematizada e que contribua para o desenvolvimento social da população dos municípios. A Tabela 3 apresenta os Índices de Desenvolvimento Humano (IDHM) desses municípios, comparados aos de municípios-sedes das Regiões de Governo pertencentes à Região Administrativa de São José dos Campos. Tabela 3 - IDHM dos municípios em estudo e dos municípios-sedes de Regiões de Governo, em 1991. Município Campos do Jordão Monteiro Lobato Santo Antônio do Pinhal São Bento do Sapucaí São José dos Campos* Taubaté* Caraguatatuba* Cruzeiro* Guaratinguetá* IDHM em 1991 0,760 0,679 0,680 0,740 0,815 0,815 0,761 0,771 0,792 Obs.: * Municípios-sedes de Região de Governo. Fonte: Seade, 2002. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 53 O IDHM é calculado a partir das dimensões de longevidade, educação e renda. Os números referentes aos municípios em estudo mostram que eles estão abaixo da média dos municípios-sedes das Regiões de Governo da Região Administrativa de São José dos Campos. Campos do Jordão é o município que apresenta melhor desempenho no IDHM entre os municípios em estudo. Contudo, a média está abaixo do município de Caraguatatuba, que também tem sua economia baseada principalmente no setor terciário. Na sociedade moderna, espaços dedicados ao turismo organizam-se como reafirmação da ideologia capitalista que busca a solução do retorno à natureza através da apropriação do espaço numa visão romântica do lugar-consumo. Faz parte deste processo a procura por belos sítios que, lapidados segundo os interesses do capital e do consumo de alto padrão, impulsionam o crescimento de empreendimentos imobiliários de luxo, a instalação de sofisticados estabelecimento comerciais. Este quadro pode ser observado principalmente em Campos do Jordão, que desenvolve o turismo dirigido principalmente para a classe de alto poder aquisitivo. A cultura do consumismo, impulsionada pela propaganda, contribui para o desenho do lugar-consumo de alto padrão, onde os visitantes encontrarão “belas paisagens e gente bonita”. Os demais municípios em estudo, que não se sentem participando plenamente desse movimento ideológico do turismo, estão procurando meios para tornarem-se participantes. No município de Monteiro Lobato, por exemplo, são muitos os novos empreendimentos para o turismo, onde propriedades rurais estão sendo adaptadas e transformadas em pousadas e hotéis. No ano de 2000, segundo dados da Fundação SEADE, havia em Campos do Jordão 968 estabelecimentos de serviços e comércio; em São Bento do Sapucaí eram 67; em Santo Antônio do Pinhal eram 57 e em Monteiro Lobato eram 44. Entre o ano de 1990 e 2000, o crescimento desses números foi de 20% em Campos do Jordão, 36% em São Bento do Sapucaí, 72% em Santo Antônio do Pinhal e 144% em Monteiro Lobato. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ampliação da capacidade competitiva da economia municipal e a promoção do desenvolvimento humano e social deve ser preocupação de governo e da sociedade em geral. Neste contexto, o planejamento e a gestão municipal integrada possibilitam a tomada de decisões que promovam de forma equilibrada o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das populações. 54 As atividades turísticas que estão sendo desenvolvidas nos municípios de Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal e Monteiro Lobato requerem constante planejamento. É inquestionável que este setor é importante para o País. Todavia, o turismo, como qualquer atividade desenvolvida sem planejamento, traz prejuízos sociais e ambientais. Quanto à gestão municipal integrada, é importante enfatizar que, para que tenha êxito, deve ser conduzida por membros que acreditem de fato que a máxima é verdadeira: “nenhum de nós é tão bom quanto nós todos juntos”. A partir desse pacto, os governos municipais poderão, com a atuação de técnicos e planejadores, mais a sociedade, criar novas possibilidades para ampliar a capacidade local, atenuando suas dificuldades e acentuando seu potencial. Finalmente, diante do exposto é possível afirmar que entre os municípios de Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal e Monteiro Lobato, o planejamento e a gestão municipal integrada é uma questão para debate. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIRKHOLZ, L. B.; RONCA, J. L. C.; ZAHAN, C. E. A Evolução da Gestão do Planejamento Regional no Estado de São Paulo. São Paulo: FAU/USP, 1992, p. 15-25. BREITBACH, A. C. M. Estudo sobre o Conceito de Região. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, 1988. 96 p. BRUNA, G. C. (Org.). Questões de Organização Regional. São Paulo: Nobel/USP, 1983. p.253-273. COELHO, L. T. K. F. 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São Paulo: FAU/USP, 1985, 18 p. 55 Urbanização e Meio Ambiente do Litoral Norte Paulista: Construção e Destruição Luciana Ayuko Yui * Resumo. Este trabalho teve o objetivo de discutir o processo de expansão urbana e a degradação ambiental decorrente deste uso na região do litoral norte paulista. O texto procura mostrar alguns fatores responsáveis por esse crescimento urbano dos municípios integrantes, bem como as conseqüências sobre o meio ambiente, enfatizando o comportamento da região frente às atividades turísticas. Palavras-chave: Litoral norte paulista, expansão urbana, meio ambiente, planejamento urbano e regional, turismo. Abstract. The main objective of this paper was to discuss the urbanization process and the environmental degradation due to the urban expansion in the area of the north coast of São Paulo. The paper tries to show some factors for the urban growth of the municipal districts involved, as well as the consequences for the environment, emphasizing the behavior of the area in face of tourist activities. Key words: North coast of São Paulo, urban expansion, environment, urban and regional planning, tourism. 1. INTRODUÇÃO população flutuante, surgindo os loteamentos urbanos à beira-mar. O processo de urbanização nas cidades do litoral brasileiro intensificou-se a partir do século XX, quando o hábito dos banhos de mar tornou-se uma prática social consolidada em todo o País. Desenvolveu-se de uma forma especial quando foi configurada nos subúrbios das grandes cidades costeiras uma nova estrutura urbana, a qual denomina-se de bairro ou subúrbio de veraneio. Esta expansão urbana teve como uma de suas conseqüência ocupações irregulares em áreas com grandes restrições ao uso urbano. O uso inadequado do solo desconsiderou as características ambientais, promovendo a destruição de importantes ecossistemas costeiros como a restinga, o mangue e a mata atlântica. Entretanto, este processo desencadeou sérios problemas nas cidades costeiras, desenvolvendo-se assentamentos urbanos em áreas com restrições ambientais, colocando em risco a potencialidade do ambiente litorâneo. A situação do terreno agrava-se pelo fato de a questão ambiental não ter sido levada em consideração por parte do Estado, independente de sua esfera pública. As degradações ambientais ocasionadas no espaço cênico litorâneo exigem uma revisão na política de desenvolvimento e conservação frente ao comportamento humano e seu meio ambiente. Na região do Litoral Norte Paulista, este processo ocorreu após a consolidação do acesso rodoviário em 1959, ligando definitivamente esta região ao Vale do Paraíba. Na década de 60, com o advento do turismo, os municípios de Caraguatatuba, São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela sofreram sérias alterações espaciais devido aos numerosos empreendimentos imobiliários destinados à * Mestranda em Planejamento Urbano e Regional UNIVAP 2002. 56 Neste sentido, este artigo teve como propósito discutir o crescimento urbano na região, enfatizando a atual situação diante das restrições do meio ambiente costeiro. 2. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Nesta presente discussão, assume-se como máxima importância a preservação da qualidade, não só dos elementos da natureza que constituem o ambiente Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 litorâneo, mas da vida urbana num contexto mais amplo. Dentre os elementos naturais mais importantes destaca-se o mar, recurso natural que mais influenciou na transformação do espaço costeiro, pois foi a partir da sua valorização que o processo de urbanização foi consolidado nas cidades marítimas. Neste caso, Lefebvre (apud Gottdiener, 1994) afirma que o arranjo espacial pode aumentar as forças produtivas transformando-o numa mercadoria: “O próprio meio ambiente é consumido através da recreação ou pela relocalização dos negócios devido às atratividades naturais. Assim, o próprio design espacial pode ser convertido em mercadoria” (p.129). períodos de temporada, principalmente aqueles relacionados ao saneamento básico, pois demandam tempo e custos sociais elevados. É evidente a importância da questão ambiental quando relacionados aos ambientes costeiros e as perdas dos recursos naturais provenientes do processo de expansão urbana. Ao se tratar de uma região com atratividades turísticas, o planejamento torna-se fundamental e indispensável para o desenvolvimento harmonioso. Conforme Ruschmann (1997), o desenvolvimento de uma região turística deve estar em harmonia com os recursos físicos, culturais e sociais, evitando que o turismo destrua as bases que o fazem existir, pois são abundantes as degradações sócio-ambientais decorrentes das atividades turísticas. Até o século XIX, o mar significava apenas um espaço de contato com o mundo externo, passando a ser no século seguinte o elemento mais importante, valorizando-se as praias como local de residência, após a criação dos balneários. Neste sentido, os loteamentos urbanos à beira-mar mostraram ser um excelente meio de geração de recursos para as indústrias turísticas e imobiliárias, principalmente aqueles destinados às segundas residências. A preocupação com as questões ambientais levou à criação do planejamento ambiental, uma vertente do planejamento regional. O propósito do planejamento ambiental é suprir necessidades para que se superem os problemas existentes, bem como criar metas ou subsídios para a conservação dos recursos, acompanhado de uma nova ética social, com cidadãos participativos, atuando para a contribuição da sustentabilidade futura. De acordo com Tulik (1997), segundas residências significam “alojamentos turísticos particulares, utilizados temporariamente nos momentos de lazer, por pessoas que têm o seu domicílio permanente em outro lugar” (p.196). Este tipo de alojamento gera sérias repercussões negativas nos espaços receptores, como segregação físico-espacial, e o desencontro de objetivos entre turistas e a comunidade local. Embora os espaços litorâneos tenham sido alvos de preocupação pública, a implantação de um gerenciamento costeiro está ainda muito distante de constituir a preservação da vida urbana e da natureza litorânea. É necessária, portanto, uma revisão do processo de urbanização tal como vem ocorrendo e uma política mais presente de preservação e gerenciamento destes espaços. Além disso, segundo Marcelino (1996), os empreendimentos turísticos desenvolvem ocupações que promovem inicialmente a expulsão das populações nativas de seu local de assentamento original, passando estas à ocupação de espaços menos nobres e valorizados. 3. EXPANSÃO URBANA X MEIO AMBIENTE NO LITORAL NORTE PAULISTA Deve-se ressaltar também que as degradações ambientais estão associadas às atividades turísticas, principalmente nas cidades especializadas em segundas residências. Macedo (1996) exemplifica tal afirmação num dos seus trabalhos sobre o ambiente costeiro, como o caso de Bertioga-SP, no bairro de Riviera de São Lourenço. A mata de restinga, muito rica na região, foi destruída pelos assentamentos humanos, mais precisamente através da construção de condomínios verticais destinados à população flutuante. O caso de Guarapari, no Estado do Espírito Santo, é outro exemplo citado pelo autor onde os costões litorâneos foram invadidos também pela produção do espaço vertical. Os problemas tornam-se mais críticos nos Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Vários são os estudos publicados sobre crescimento urbano e sua relação com o meio ambiente, porém há distinções quanto aos fatores estruturais que contribuíram para este crescimento e as implicações sobre o meio ambiente. Por ser uma região que expressa uma coerência funcional determinada por aspectos econômicos, os municípios integrantes do Litoral Norte muitas vezes apresentam condições e sintomas equivalentes. As divergências podem ocorrer quando relacionadas à inserção do município em sua rede urbana. De acordo com Malta (1994), a base econômica, e o fato de estar localizado no ponto de passagem obrigatória de todo o contingente turístico que se utiliza da rodovia dos Tamoios – SP99, tem garantido ao município de Caraguatatuba o papel de Pólo regional do Litoral Norte, 57 polarizado diretamente por São José dos Campos e mantendo relações de dependência com Ubatuba e São Sebastião, que, por sua vez, tem sob sua influência o município de Ilhabela. As causas de mesma natureza que explicam o intenso crescimento urbano dos quatro municípios são os movimentos migratórios do Planalto ao litoral iniciados na década de 70. Segundo o IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Litoral Norte passou de 87.877 residentes na década de 80 para 196.973 habitantes em 1999, com um aumento de 124%. Desde a década de 80, todos os municípios presenciaram um crescimento demográfico acelerado, exceto Ilhabela que teve sua população reduzida de 1990 para 1999, como pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1 - Evolução populacional do Litoral Norte: 1980/1990/1999 Município Caraguatatuba São Sebastião Ubatuba Ilhabela 1980 1990 33.799 52.878 9.747 33.890 27.161 47.398 7.810 13.538 Fonte: IBGE. Este movimento migratório foi motivado pelas atratividades desenvolvidas no ramo da construção civil na região do Litoral Norte, sendo a mão-de-obra utilizada, especialmente, na implantação de loteamentos urbanos à beira-mar, destinados à população flutuante. 1999 74.702 48.596 60.997 12.678 Dotada de atrativos turísticos, a indústria do lazer e o setor imobiliário transformaram esta região litorânea em verdadeiro reduto de segundas residências. Neste caso destacam-se os municípios de Caraguatatuba e Ubatuba, onde este tipo de domicílio correspondeu, em 1991, aproximadamente à metade da parcela total de residências, como pode ser observado na Tabela 2. Tabela 2 - Total de residências e segundas residências do Litoral Norte: 1970/1980/1991 Município Caraguatatuba Ubatuba São Sebastião Ilhabela Total Ano de 1970 Número total de Segundas residências residências 5.757 2.407 5.417 1.766 3.502 995 1.807 418 16.483 5.586 Ano de 1980 Número total Segundas de residências residências 15.788 6.697 13.135 5.464 7.666 2.568 3.002 878 39.591 15.607 Ano de 1991 Número total Segundas de residências residências 34.443 17.421 30.614 15.141 19.631 8.972 6.440 2.362 91.128 43.896 Fonte: Afonso, 1999. Dentre as quatro cidades da região, Caraguatatuba e Ubatuba são as que possuem planícies mais extensas, e por isso, possuem condições menos desfavoráveis à urbanização. Já as condições do meio físico de São Sebastião e Ilhabela são mais críticas, sendo que, nesta última, dos seus 348,30 km2, 80% da área está destinada à preservação ambiental. No entanto, em todos os municípios da região a urbanização extrapolou as planícies costeiras, sendo as encostas também tidas como áreas para os assentamentos humanos. 58 As invasões em áreas de preservação ambiental iniciaram-se, em especial, a partir da década de 80 no Litoral Norte, sob a influência de um conjunto de fatores criados na segunda metade da década de 70, entre outros, a construção da rodovia BR 101, a Rio-Santos, e contraditoriamente a criação do Parque Estadual da Serra do Mar- PESM, através do decreto 10.251 de 08/1977. Ambas as realizações foram distanciadas, e muito, de seus objetivos iniciais, devido à falta de ações subseqüentes no que concerne ao planejamento e fiscalização do poder público. Certamente, a descontrolada urbanização em áreas periféricas e restritivas foi influenciada pela grande Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 atuação do setor imobiliário através da exploração do espaço litorâneo para obter retornos cada vez mais lucrativos. A oferta limitada dos terrenos à beira-mar somada às restrições ambientais, provocou uma intensa especulação imobiliária, fazendo com que todas as cidades da região apresentassem um alto índice de lotes ociosos, em função dos sucessivos “erros” de parcelamento do solo, como pode ser observado na Tabela 3. Tabela 3 - Ocupação do solo no Litoral Norte em 1990 Municípios Loteamentos Número de lotes Lotes vagos Caraguatatuba 111 62.981 72% Ubatuba 180 21.140 54% São Sebastião 149 31.040 68% Ilhabela 31 7.875 60% Fonte: Secretaria do Estado do Meio Ambiente, 1996. Assim, não só as porções de terra com maiores atratividades paisagísticas como também aquelas distantes do olhar paisagístico, tiveram seu valor elevado, não deixando outra alternativa para as populações de baixa renda senão as ocupações irregulares ou clandestinas em áreas de risco e de preservação ambiental, como nas áreas do PESM. Em Caraguatatuba, aproximadamente 450 famílias ocupam áreas de risco em bairros periféricos, sujeitas aos processos de inundação ou escorregamento, e que ocorrem de forma acentuada em períodos de alta pluviosidade. O conflito torna-se mais sério devido à ausência de ações públicas conseqüentes no que concerne à política habitacional e à canalização de recursos de investimentos em infra-estrutura. Neste sentido, o Estado alega que a precariedade ou mesmo a falta de infraestrutura nestas áreas é devida à topografia peculiar litorânea, o que dificultaria a implantação de um sistema adequado, chegando a custar doze vezes mais caro que nas regiões interioranas. Atualmente, estão em evidência outras formas de apropriação do espaço litorâneo, não mais relacionadas apenas à abertura de extensos loteamentos, mas através da reprodução do espaço vertical, especialmente em áreas próximas ao mar. Neste caso, dois municípios se destacam no processo de verticalização. Sendo Caraguatatuba o entreposto comercial da região, a produção do espaço vertical deste município sempre foi justificada pelo poder público local como um meio de evitar gastos com a infra-estrutura - rede de água, esgoto, energia elétrica e asfalto - e de prevenir a expansão da malha urbana em áreas de preservação ambiental. Desde que o setor imobiliário pronunciou certo interesse na construção de condomínios verticais, o governo municipal fez questão de facilitar tais ações através da criação de leis de zoneamento, permitindo a construção de edifícios com mais de dez pavimentos à beira-mar. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Em Ubatuba, os bairros litorâneos verticalizados também foram permitidos, reproduzindo na cidade costeira os mesmos padrões de vida das grandes cidades. Já no município de São Sebastião, em setembro de 1999, esta questão provocou sérias discussões entre a comunidade local, políticos e pesquisadores sobre o desenvolvimento da cidade previsto em seu plano diretor. De um lado, o setor de propriedade – indivíduos do setor imobiliário, políticos etc - defendeu a possibilidade de atrair novos investimentos e empreendimentos imobiliários no intuito de incluir esta cidade no roteiro turístico internacional, e de outro, os movimentos ambientalistas que temem a desvalorização turística frente aos impactos ambientais no cenário litorâneo, já que São Sebastião, como Ilhabela, não possui condomínios verticais. O fato de a verticalização não ser incluída em seu plano diretor, não significou, porém, que o processo de degradação ambiental tenha sido paralisado. Em São Sebastião está ocorrendo uma acelerada expansão urbana em áreas, até então, intocadas pela urbanização. Desafiando a lei, luxuosos condomínios fechados destinados à população veranista são construídos, destruindo as restingas e os manguezais, ecossistemas protegidos desde 1965 pelo Código Florestal. Do mesmo modo, em particular, observa-se que, em Caraguatatuba, a produção do espaço vertical também não significou, como justificada pelo governo municipal, a prevenção de uma expansão desnecessária do território. Muito pelo contrário, as invasões em áreas de preservação ambiental foram realizadas de forma mais significativa em virtude da intensa especulação e valorização fundiária possibilitada pela verticalização aprovada através do zoneamento, o que impossibilitou a aquisição de terrenos em condições fundiárias legais pelas populações mais carentes. 59 Neste caso, permite-se dizer que não se trata apenas de ser a favor ou não da verticalização, mas de preparar a cidade, independente da decisão tomada. Não bastam criar unidades de conservação ambiental de forma autoritária como realizada na criação do PESM, se o Estado não for capaz de fiscalizar efetivamente as normas estabelecidas. Do mesmo modo, torna-se também insuficiente criar restrições urbanas em algumas áreas se outras, às vezes, até com maiores restrições ambientais, estão sujeitas a se transformarem em novos alvos da exploração imobiliária. As perdas e os custos sócio-ambientais provocados pela urbanização tendem a aumentar tornando-se urgente uma revisão nos padrões de urbanização dos espaços costeiros, e de uma política ambiental, realizada de forma efetiva, para a conservação dos recursos cênicos litorâneos, uma vez que estes constituem a principal matéria-prima da atividade turística e a base da vida da população local. participação de movimentos ambientalistas e de reforma urbana. Enfim, exige-se participação de toda sociedade para enfrentar a questão da qualidade do meio urbano costeiro. 5. BIBLIOGRAFIA AFONSO, C. M. Uso e ocupação do solo na zona costeira do estado de São Paulo. São Paulo: Annablume: FAPESP, 1999. SILVA, A. C. O Litoral Norte do estado de São Pauloformação de uma região periférica. 1975. Tese (Doutorado) Instituto de Geografia, Universidade de São Paulo-USP. EMBRATUR. Projeto Turis: Desenvolvimento Turístico do Litoral Rio-Santos. Ministério da Indústria e Comércio, 1975. FERRAZ, H. Filosofia Urbana. São Paulo: Scortucci, 1999. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de urbanização acelerado ocorrido na Baixada Santista levou a sua saturação através da verticalização das orlas marítimas ao fenômeno de conurbação, à descaracterização da paisagem costeira e ao afastamento da população turística para outras regiões litorâneas, como, por exemplo, para a região de estudo. Este quadro fez com que fossem atraídos empreendedores imobiliários para o Litoral Norte, visando construções voltadas às segundas residências. O trabalho identifica que nesta região caminha-se para a concretização do mesmo processo ocorrido nesta outra região litorânea paulista. Neste sentido, a oportunidade de um planejamento regional delineia-se como a primeira necessidade do Litoral Norte. Planejamento este que elabore e organize estratégias para o desenvolvimento turístico, respeitando os recursos naturais, considerando e abrangendo todas as instâncias imbricadas à instância físico-territorial, ou seja, as instâncias econômica/social, política/institucional e ideológica/cultural. No entanto, não se deve depender apenas da capacidade do poder público de colocar em prática os planos ambientais litorâneos, como os Planos de Gerenciamento Costeiro- nacional, estadual e municipal, bem como depender da atuação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente-IBAMA. Faz-se necessária maior união de todos os atores sociais envolvidos, sejam públicos ou privados, incluindo 60 GOTTDIENER, M. A produção social do espaço urbano. São Paulo: Edusp, 1994. KURKDJIAN, M. L. N. O. et al. Macrozoneamento do Vale do Paraíba e Litoral Norte do Estado de São Paulo. São José dos Campos: INPE, 1992. MACEDO, S. S. Assentamentos Urbanos de Segunda Residência: Destruição e Construção. In: Questões Ambientais Litorâneas: um seminário interuniversitário: Anais. São Paulo: EDUSP, 1996. MALTA, F. N. C. Diretrizes para o planejamento e sua gestão no Litoral Norte Paulista. 1984. Tese (Doutorado) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-FAUUniversidade de São Paulo- USP. MARCELINO, A. M. T. O turismo e sua influência na ocupação do espaço litorâneo. In: RODRIGUES, A. A. B. (org). “Turismo e Geografia: Reflexões Teóricas e Enfoques Regionais”. São Paulo: Hucitec, 1996. RUSCHMANN, D. Turismo e Planejamento Sustentável. São Paulo: Papirus, 1997. SÃO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente. Macrozoneamento do Litoral Norte. São Paulo, 1996. TULIK, O. Residências Secundárias no Estado de São Paulo: Identificação de centros emissores de demanda. In: LAGE; MILONE (orgs) “Turismo: Teoria e Prática”. São Paulo: Hucitec, 1997. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 As Políticas Públicas do Poder Executivo na Remoção e/ou Reurbanização de Favelas no Município de São José dos Campos - SP Artur Rosa Filho * José Oswaldo Soares Oliveira ** Resumo. Este artigo tem como objetivo analisar o impacto das políticas públicas do poder executivo municipal no tocante à remoção dos moradores de favelas das áreas centrais, deslocando-os para a periferia. Os estudos destacam o padrão de vida e as baixas condições de moradia dos trabalhadores do bairro Campo dos Alemães no contexto da dinâmica da urbanização industrial em São José dos Campos-SP de 1970 até 2000. Elegeu-se a questão da moradia para analisar o padrão de vida dos trabalhadores, pois entende ser este um dos elementos relevantes para examinar as condições de sobrevivência e reprodução da população brasileira. Devido às precárias condições econômicas e o baixo padrão de remuneração, os trabalhadores foram sendo empurrados para áreas mais periféricas da cidade num processo reiterado pelo poder público municipal. Uma dessas áreas para a qual os trabalhadores pobres foram removidos foi o bairro Campo dos Alemães, localizado no extremo sul da cidade de São José dos Campos. Ao serem removidos para este bairro, houve uma intensificação da perda do padrão de vida, pois o acesso ao conjunto de equipamentos urbanos e sociais ficou mais difícil, sobretudo porque estes ainda hoje se concentram nas áreas centrais.Trata-se de uma opção política, pois difere de alternativas empregadas por diferentes administrações municipais. Palavras-chave: Trabalhadores, sub-moradia, padrão de vida, políticas públicas habitacionais e segregação sócio-espacial, reurbanização e remoção de favelas. Abstract. The present work analyses the impact of public policies of this city’s executive authorities concerning the removal of slum population from central areas to the suburbs. The research showed the standard of living and the poor housing conditions of the workers in a comparative analysis between the district of Campo dos Alemães and the dynamics of the industrial urbanization in São José dos Campos – SP, from 1970 to 2000. The housing issue was chosen to analyze the workers living because it was considered to be one of the most relevant elements for examining the survival and procreation conditions of the Brazilian population. São José dos Campos’ industries profile favors big companies, while the small ones, without tax incentives are forced to shut down. Workers, most of them lacking qualification, have been facing losses in their quality of life. This loss has directly reflected on the lives of these workers, especially on the ones living downtown under very bad conditions. Due to the precarious economic conditions of those workers and their low-income standard they have been pushed to distant areas by city authorities. One of the areas where these poor-housing workers were removed to is the district of Campo dos Alemães located in the south of São José dos Campos. When moved to that suburb, there was a decrease in their standard, due to the more difficult access to urban and social resources. In São José dos Campos, the poor housing conditions and standard of living are a result of the low income of the lower classes and the precarious urban location of the neighborhood they live in. Key words: Workers, housing condition, precarious economic conditions, social public policies and slum’s removal. * Mestrando em Planejamento Urbano e Regional UNIVAP 2002. ** Professor da UNIVAP. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 61 1. INTRODUÇÃO As primeiras atividades industriais surgiram em São José dos Campos no final da década de 20, mais precisamente, em 1927 com a instalação da Tecelagem Parayba. Já os primeiros núcleos de favelas surgiram na cidade no início da década de 30. Desde esta década, a cidade já passava a receber migrantes vindos de outros Estados do Brasil. Os primeiros foram migrantes do Sul de Minas Gerais, oriundos da desestruturação agrária do Estado. Em 1931 surge a Favela do Banhado, hoje Jardim Nova Esperança. Em 1932, surge a Favela da Linha Velha, hoje Vila Santa Cruz. Ambas localizadas no centro da cidade. Neste período, a cidade era dirigida por uma junta provisória formada por três doutores, Dr. Rui Dória, Dr. Arnaldo Cerdeira e Dr. Austin W. Tibiriçá. Em São José dos Campos, nesta década, ainda não havia registros demográficos, o que veio a acontecer somente na década seguinte. Na década de 40 surgiram os primeiros registros demográficos em São José dos Campos. A cidade registrou uma população de 36.279 habitantes. Destes, apenas 40% viviam na zona urbana. A partir da década de 40, São José dos Campos recebeu uma outra importante indústria para a cidade, a Rhodia S/A, na região Norte, que, segundo Oliveira (1999), influenciou todo um quadro sócio-econômico da cidade, favorecendo inclusive a formação de uma elite dirigente municipal. O que se intensificou com a implantação do CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e outras instituições aeronáuticas. Nos anos 50, já com uma população de 44.804 habitantes, verificou-se a instalação de outras importantes indústrias na cidade, como, por exemplo, a Alpargatas (calçados), a Johnson & Johnson (química) e a Ericsson (eletrônica), colocando São José dos Campos como uma das principais cidades do Vale do Paraíba. Nesta década, a cidade era dirigida pelo prefeito o Professor Elmano Ferreira Veloso. A cidade ainda contava com somente duas favelas, nas áreas centrais. O final da década de 60 foi marcado pela primeira ação do poder público em um núcleo de favela. Em 1967, o prefeito da cidade, o professor Elmano Ferreira Veloso, indenizou cerca de 64 famílias que moravam na favela da Linha Velha para a construção da Avenida Fundo do Vale que passaria dentro desta favela. 62 Na década de 70, São José dos Campos apresentava uma população de 148.332 habitantes. Em cerca de 20 anos a população triplicou, a cidade já contabilizava 4 núcleos de favelas com 430 barracos e 1926 habitantes. Agora, além das Favelas do Banhado e da Linha Velha no centro, surgiram a Favela da Vila Guarani, também no centro da cidade, e a Favela da Vila Cristina, na zona Norte. Nos anos 70 São José dos Campos possuía 284 indústrias e cerca de 1,3% da população já era moradora de favelas. De 1970 a 1975, a cidade era dirigida pelo o Sr. Sérgio Sobral de Oliveira. No dia 27/4/1975, o Prefeito Sobral decreta o fim da Linha Velha. Remove cerca de 150 famílias para o Conjunto Habitacional Torrão de Ouro, localizado na região sudoeste da cidade e longe do centro. Ainda não foi uma remoção total. As famílias que não foram removidas permaneceram no local, mas foram escondidas através da construção de um muro, o “muro da vergonha”, deixando claro a política usada pelo poder público para esconder, camuflar os moradores desta favela. No final da década de 70, em 1977, a cidade registrou 287.513 habitantes, 11 núcleos de favelas com 870 barracos e 3721 moradores. O número de indústrias também aumentou, passou para 390 espalhadas por toda a cidade. O Prefeito da cidade era o engenheiro Ednardo José de Paula Santos. Entre as décadas de 80 e 90, São José dos Campos conviveu de modo intenso com os reflexos do agravamento da crise econômica que o País estava passando, levando a uma queda no padrão de vida da população. A partir de então, houve uma demanda muito grande por lotes populares, demanda esta não atendida pelo imobiliário. O município apresentava uma escassez de lotes urbanizados e moradias para a população de baixa renda, por outro lado, havia um estoque de lotes urbanos de propriedade privada cujo custo não era acessível para esta parcela da população. Sem condição de adquirir seu imóvel regularizado, esta parcela da população passou a contribuir para o aumento do processo de favelização e de moradias em loteamentos clandestinos na cidade. A cidade na metade da década de 80, com quase 300.000 mil habitantes, contabilizava 13 núcleos de favelas com 884 barracos e 3.110 moradores. A política adotada pelo poder público municipal, na metade da década de 80, era a de não proliferação de favelas. Fiscais da Prefeitura faziam rondas noturnas pelo município para coibir as famílias que por ventura viessem a construir algum barraco pela cidade. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Em 1986, o prefeito eleito, o advogado Robson Marinho, renunciou ao cargo para concorrer a outro. Em seu lugar assumiu o vice, o Professor Hélio Augusto de Souza. O vice-prefeito Souza faleceu poucos meses depois de assumir a prefeitura, e então assumiu o Presidente da Câmara Municipal da cidade o Sr. Antônio José Mendes de Faria dando continuidade à gestão de Robson Marinho. No início dos anos 90, São José dos Campos sob a administração da médica Ângela Guadagnin do Partido dos Trabalhadores, experimentou outra política voltada para moradores de favelas. A reurbanização foi a bandeira da sua administração. Mesmo com esta nova política, o que se observou foi um aumento do número de núcleos de favelas. A população saltou para 442.370 habitantes e os núcleos chegaram a um total de 25, representando cerca de 1,8% da população do município. No final dos anos 90, em 1997, sob a administração do Prefeito Emanuel Fernandes do PSDB, com alguns núcleos erradicados, a cidade chegou a um total de 22 núcleos com 2077 moradias e 9230 moradores. A população total do município chegou a 538.909 habitantes, sendo que quase 2% desse total são moradores de favelas. A política dessa administração voltada para moradores de favelas foi o da remoção. Os moradores são removidos para áreas distantes do centro da cidade, dificultando o seu acesso a equipamentos urbanos e sociais e agravando a segregação sócio-espacial desses moradores. 2. POLÍTICAS PÚBLICAS: CAMPO DOS ALEMÃES: UM ESTUDO DE CASO. REMOÇÃO DE FAVELAS PARA A PERIFERIA Localizado no extremo Sul da cidade de São José dos Campos, o bairro Campo dos Alemães, por si só, já é um bairro segregado, devido justamente à sua localização, distante da malha urbana mais consolidada. O loteamento no bairro teve início em 1980 com a declaração de utilidade pública para fins de moradia popular. Após a construção de um outro Conjunto Habitacional, Elmano Ferreira Veloso, nos arredores, o loteamento foi interrompido por 5 anos. Em 1986, sob a gestão do advogado Robson Marinho, foram retomados os trabalhos na área da habitação popular, o loteamento também foi retomado. Como a cidade apresentava uma escassez de lotes urbanos para a população de baixa renda, foram abertas inscrições para esta parcela da população. Para se inscrever, a família tinha que comprovar que ganhava no máximo 3 salários mínimos. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Para os moradores de favelas foi realizado um cadastramento. Este visava identificar o déficit de moradias para a população de baixa renda. Nem todos as famílias foram atendidas pelo Programa. Dentre estas favelas, duas foram destacadas para estudo, pois se localizam no centro da cidade e são as mais antigas de São José dos Campos. São elas: a Favela do Banhado, iniciada em 1931 e, atualmente, com o nome de Jardim Nova Esperança, e a Favela da Linha Velha, iniciada em 1932, atualmente, com o nome de Jardim Santa Cruz I, II e III. Em 1988, iniciou-se o sorteio dos lotes para aqueles que haviam se cadastrado e estavam no Programa. Foram removidas para o Campo dos Alemães cerca de 250 famílias moradoras de diversas favelas da cidade. Dentre essas favelas estão as favelas do Banhado, da Linha Velha na região central, e do Caramujo e do Jardim Nova Detroit mais distantes do centro. A política de remoção de moradores das áreas centrais para a periferia foi agravada pelo baixo poder de consumo dos trabalhadores que pela distância do trabalho para a casa e pela dificuldade de acesso aos equipamentos urbanos e sociais acabaram sendo segregados da sociedade urbana industrial. A acessibilidade a esses equipamentos urbanos e sociais no centro da cidade é mais fácil que na periferia, distante do centro. Sob a óptica dos moradores removidos das favelas do Banhado e da Linha Velha para o Campo dos Alemães, constatou-se que para alguns teria ocorrido uma melhora no padrão de vida, contudo, esta estava associada mais no simples fato de se ter uma casa própria. Esta visão ainda foi reforçada pelas poucas melhorias realizadas pelo poder público municipal. Constatou-se que, de fato, houve uma tendência da Prefeitura Municipal em reiterar a segregação social e espacial desses moradores que estão à margem da sociedade de consumo e do mercado de propriedade privada do solo. A pesquisa instrumental de campo realizada com questões abertas no bairro do Campo dos Alemães apresentou dados sobre a insatisfação dos moradores em relação às ações do poder público municipal no bairro. De fato, há uma queda do padrão de vida desses moradores em função da localização do bairro e da distância do trabalho, reiterando a tese de Kowarick (1993), ao estudar a classe trabalhadora paulistana nos anos 40 do século XX, quando estes foram praticamente expulsos do centro para a periferia, perdendo muito em qualidade de vida. Portanto, uma elite industrial domina grande parcela da população, que gera suas riquezas e, que se empobrece cada vez mais, perdendo seu poder de compra 63 e sendo empurrada para bairros mais periféricos, intensificando a espoliação urbana estudada por Kowarick (1993) e a espoliação econômica exposta por Engels, ainda anos quarenta, do século XIX. Conclui-se, portanto, que em São José dos Campos, as subcondições de moradia e o padrão de vida, decorrem, tanto do baixo poder de consumo das classes populares, quanto pela precária localização urbana do bairro em que moram. Este patamar precário de habitabilidade é decorrente, sobretudo, da economia industrial do município, reiterada pela lógica das políticas públicas sociais, com a prática de remoção de favelas das áreas centrais espalhando-as para áreas distantes da cidade, intensificando a segregação e a precariedade de moradia na sociedade urbana contemporânea. 3. NOTA FOLHA DE SÃO PAULO, Jornal. Qual será o futuro das cidades? São Paulo, 02/05/2000. FOLHA DE SÃO PAULO, Jornal. Vale do Paraíba. Habitação - 24/07/2001 - Pág. C-7. GOHN, M. G. M. A Força da Periferia: a luta das mulheres por creches em São Paulo. São Paulo: Vozes, 1985. GIACOMINI, M. R. Trabalho Social em Favela: o método da condi-visão. São Paulo: Cortez, 1987. HOBSBAWN, E. J. O padrão de vida inglês de 17901850. São Paulo: Paz e Terra, 1981. JACOBS, J. Morte e Vida nas Grandes Cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Os dados no tocante à demografia e indústrias foram cedidos pela Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São José dos Campos. Os dados sobre o surgimento de favelas foram dados em entrevista feita ao Professor Geraldo Vilhena, ex-Secretário Municipal de Desenvolvimento Social da Prefeitura de São José dos Campos nos anos de 19681970, 1978-1982 e 1989-1992, pelo autor deste artigo. KANO, M. (Vereador) Boletim Informativo. v.3. , n. 8, Set. 2001. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARICATO, E. Habitação e Cidade. São Paulo: Atual, 1997. BLAY, E. A. A Luta pelo Espaço. Petrópolis-RJ: Vozes, 1978. BOLOGNA, S. M. F. A Experiência dos Planos Diretores de São José dos Campos: Instrumentos Eficazes do Planejamento Urbano ou Obras de Consulta Acadêmica. 1999. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale do Paraíba. BONDUKI, N. G. Origens da Habitação Social no Brasil. São Paulo, 1998. 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Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 65 Tecnópolis, Parques Tecnológicos e Incubadoras Antonio de Souza Teixeira Júnior * Resumo. O desenvolvimento sustentável decorre em grande parte da capacidade de transformar os resultados da ciência em novas tecnologias inovadoras. Esta capacidade parece ser privilégio da combinação da competência acadêmica com a empresarial, e um mecanismo que vem sendo usado são as incubadoras de empresas de base tecnológica. Descrevemos, neste trabalho, como a Universidade do Vale do Paraíba, mantida por Fundação não estatal, em parceria com o SEBRAE, a Agência local do CIESP e a Prefeitura Municipal de São José dos Campos vem implementando a atuação das empresas incubadas, de modo a apresentar projetos inovadores, que vêm tendo apoio das agências de fomento estaduais e federais. Casos de êxito são igualmente descritos e analisados, seguidos de uma síntese das possíveis razões justificadoras do sucesso obtido. Da mesma forma, procuramos enfatizar a importância do Plano de Negócios a ser apresentado e seguido pelas empresas candidatas à incubação e descrevemos seu possível conteúdo. Este é um tópico sobre o qual nos alongamos, porque consideramos fundamental para o bom êxito das incubadas. Apresentamos, a seguir, o projeto do Parque Tecnológico, cuja pedra fundamental foi lançada em 24 de agosto de 2002 e com o qual esperamos ajudar esta Tecnópolis, que é São José dos Campos, a acentuar ainda mais o empreendedorismo como sua característica. O Parque Tecnológico da FVE/UNIVAP visa realizar a famosa transferência de tecnologia universidade/empresa, mediante parcerias que consubstanciem, em síntese, objetivos, metas, prazos e custos para que os produtos sonhados pelas empresas sejam realidades industriais e comerciais e cheguem ao usuário com a qualidade desejável. Palavras-chave: Incubadoras, Parques Tecnológicos, Tecnópolis, Transferência de Tecnologia, Parcerias. Abstract. Cases of incubator’s success are explained and analyzed, and a synthesis of possible reasons being described. In addition the paper emphasizes how important the application of a business plan is for the candidates to be incubated. A model of this Plan, considered essential for the new company success, is presented. The future Univap Technological Park is described as an important part of São José dos Campos development whose success must not be taken for granted by its population so that the city can effectively be a Technopolis. The Park, which began to be constructed on August 24, 2002, intends to accomplish technological transfers between the university and the companies, through partnerships that setup objectives, goals, terms and prices to steadily strengthen their capabilities and efficiency in keeping their overall and explicit participation in the national development. Key words: Incubator’s, Technological Park, Technopolis, Technology Transfer, Partnerships. 1. INTRODUÇÃO A ciência é universal, mas a tecnologia resultante é propriedade das nações ricas e desenvolvidas. E aquelas que dominam a tecnologia dominam as demais. * Vice-reitor da UNIVAP. 66 Patentes e outros mecanismos bloqueiam a transferência indiscriminada de tecnologia. Os países que aplicam seu esforço na realização de pesquisas acabam por transferir conhecimentos inovadores que geram tecnologias que asseguram o seu desenvolvimento econômico e conseguem ainda obter predomínio, a partir da participação em órgãos colegiados, com poder de veto Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 em relação às pretensões de desenvolvimento dos subdesenvolvidos. A ciência é universal, repetimos, mas seus resultados acabam sendo apropriados por uma minoria de países desenvolvidos. Este é um processo acumulativo, de tal modo que desenvolvimento agrega mais desenvolvimento, aumentando o desnível com os não desenvolvidos. As armas de guerra são cada vez mais dependentes das transferências de tecnologia, num processo descontínuo, com pólos de rápido e intenso desenvolvimento, detidos pelos cada vez mais preparados. É necessário semear, no País, as bases dos pólos de desenvolvimento tecnológico, mediante universidades e centros de pesquisa em permanente interação com as empresas. E é neste aspecto que as incubadoras de empresas e os parques tecnológicos vêm se constituindo em focos geradores de tecnologia e de empresas, operando, além do mais, com custos reduzidos. 2. INCUBADORAS A incubadora de empresas, que é o mecanismo de procurar o desenvolvimento, com base na colocação das empresas em um recinto comum, de modo a terem razoável apoio de equipamentos – telefone, fax, internet, e-mail etc – vem ganhando corpo nos diversos países do mundo. A localização de incubadoras nos câmpus universitários nos parece uma solução rápida para o problema da transferência de tecnologia universidade/empresa para quem possa utilizá-la e como resultado obter lucros e gerar empregos. O Brasil já conta com cerca de 150 incubadoras instaladas, e muitas vêm tendo razoável êxito: empresas incubadas se desenvolvem e a seguir se transformam em entidades fortes e geradoras de empregos. A UNIVAP é gestora de duas incubadoras, em São José dos Campos, uma das quais localizada em seu câmpus, sobre a qual centraremos nosso estudo de caso. A presença da incubadora no próprio câmpus universitário vem sendo um fator de estímulo para as atividades das empresas da incubadora, como demonstraremos. A existência de um Conselho TécnicoCientífico, constituído por representantes da Prefeitura Municipal de São José dos Campos, da representação local do CIESP, do SEBRAE e da UNIVAP é outra razão para o sucesso que vem sendo possível obter. Adotamos também o pressuposto de que a criação de um processo econômico sustentável, com base no Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 desenvolvimento científico, é efetuada, não por burocracias centralizadas, mas sim por uma rica mistura de acadêmicos e empreendedores privados. 3. ENTENDIMENTOS UNIVERSIDADE-INDÚSTRIA: PRÓS E CONTRAS A tríplice função da universidade, constituída pela indissociação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, pode ser a chave para levar à interação das universidades com a indústria e, para isto, a extensão precisa retirar da pesquisa e do ensino os ingredientes que podem interessar à empresa. A vida da universidade está ligada à pesquisa e ao ensino, sem maiores problemas. Já a extensão, entendida como relacionamento direto com setores da comunidade, para a prestação de serviços ou para a transferência de tecnologia, é pouco praticada, embora haja incentivos diversos para acelerar esta interação. Um exemplo disto foi o PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que procurou tornar realidade a Transferência de Tecnologia da universidade para a indústria, mediante a apresentação de projetos, pela universidade, privilegiando a parceria com as empresas. O Programa de Instrumentação buscou estabelecer esta interação, e acabou tendo sucesso com o grupo de Física de São Carlos, o qual, sob a coordenação do Prof. Oscar Panepucci, chegou à produção de dois tomógrafos de Ressonância Magnética (R. M.) que realizam atendimento a pacientes, na cidade. A transferência, porém, para uma indústria que produzisse os tomógrafos e os comercializasse, não se verificou. Este foi, contudo, no subprograma de Instrumentação do PADCT, o exemplo de maior êxito, pois originou um grupo de físicos altamente qualificados em R. M. Isto mostra que para implantar no País uma indústria, que se dedique à produção de equipamento razoavelmente complexo, não basta dispor de gente muito competente. Cabe aí, como em outros países vem ocorrendo, a ação inicial do governo, criando uma competência comercial suficiente para garantir, aos técnicos envolvidos, a possibilidade de elaborar um plano de negócios e constituir a empresa, com possibilidade de chegar à exportação inclusive. A EMBRAER chegou a efetuar o levantamento dos custos do tomógrafo do grupo de São Carlos, mas parece não ter encontrado ressonância em nenhum apoio para iniciar o negócio. Note-se que isto ocorreu antes de a EMBRAER ter tido o atual êxito financeiro. 67 4. INCUBADORA DA UNIVAP, INSTALADA NO CÂMPUS URBANOVA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. d4. d5. A Incubadora sediada na UNIVAP teve sua origem em convênio de outubro de 1996, sendo que em março de 1997 foi contratada a primeira empresa. A gestão coube à Fundação POLOVALE, que pretendia produzir ações de P&D em São José dos Campos, mas que acabou tomando rumos não desejados pelos partícipes, notadamente a UNIVAP, que se retirou, e denúncias supervenientes tornaram necessária a intervenção da Curadoria de Fundações. A POLOVALE foi desativada e as incubadoras que lhe estavam afetas passaram a ser geridas pela Fundação Valeparaibana de Ensino – FVE, mantenedora da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP. De uma certa maneira, mesmo durante a gestão da POLOVALE, a UNIVAP já vinha orientando a atuação da incubadora, situada em seu câmpus, preservando a sua conduta dos desvios ocorridos na POLOVALE, de modo que foi possível a continuidade sem maiores conseqüências. Isto mostra como a proximidade entre incubadora e universidade é fundamental para o seu bom desempenho. As propostas para incubação são apresentadas pelas empresas, que expõem seus objetivos e metas de produção, distribuição e vendas, que constituem o seu Plano de Negócios. Este deve ser apresentado por escrito e é seguido de uma exposição oral, pelo interessado. Ocorre uma entrevista, para saber até onde está o pretendente motivado. Está disposto a vender seu carro, se for preciso, e colocar o dinheiro obtido no negócio? Tem possibilidade de sustentar o negócio por quanto tempo? Estas são perguntas provocativas para estudar a reação do candidato. A proposta de negócio compreende: d6. d7. d8. d9. d10. d11. d12. d13. d14. a. Identificação do Proponente. b. Identificação dos sócios. c. Identificação da empresa. d. O Empreendimento. d1. Definição do negócio. d2. Razões que o induziram a montar a empresa. d3. Cenário que beneficia a implantação do negócio: conhecimento e experiência dos empreendedores. O produto é inovador? Não há concorrentes no País? E no exterior? 68 d15. Fatores possíveis de sucesso: · Identificação. Análise estratégica: · Oportunidades de mercado. Ameaças: concorrência; mudanças de política de governo. · Ambiente interno: financeiros, marketing e processos a serem implantados. Missão da empresa: alcance social dos produtos. Metas e cronograma. Produtos e/ou serviços: · Descrição dos produtos ou serviços e se já houve pesquisa de campo a respeito de sua necessidade. Fluxo do processo. Recursos humanos: · Descrição das necessidades e graus de escolaridade pretendidos. Recursos Físicos: · Equipamentos e materiais permanentes. · Material de consumo. Fornecedores: · Relação de fornecedores. Parcerias e alianças estratégicas: · Indicação dos possíveis parceiros futuros. · Indicação dos possíveis intercâmbios com entidades nacionais e estrangeiras, que possam ajudar no desenvolvimento do negócio. Análise de Mercado: · Aplicações do produto. · Público alvo. · Clientes. · Segmentação: público/privado. · Dimensões do mercado. · Concorrentes. · Tendências. · Participação pretendida no mercado. Marketing: · Política e composição de preços. · Canais de distribuição. · Diferencial em relação aos concorrentes. · Promoções: estratégia. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 d16. · Pós-venda: assistência técnica; reposição de peças; expansão de novos produtos. Aspectos Financeiros: · Especificação e quantificação das necessidades de capital físico, com cronograma de alocação dos recursos. · Previsão de vendas: cronograma dos dois primeiros anos, a partir da instalação. · Custos fixos – cronograma dos dois primeiros anos. · Custos variáveis – idem. d17. d18. · Fluxo de caixa – idem. Equipe Técnica – Nomes e resumo de qualificações. Apoio esperado à Incubadora, por parte da UNIVAP. Estes são itens que poderão ser adequados a diferentes planos de negócio. A criatividade dos autores deverá ser a marca principal na exposição das características inovadoras a imprimir ao plano de negócio. 4.1. Apoio recebido de entidades de incentivo, pelas empresas da Incubadora – UNIVAP. Tabela 1 - Empresas com projetos aprovados na FAPESP EMPRESA EQE – Tecnologia Metal Plasma S/C Ltda. Metal Plasma S/C Ltda. NAVCON – Navegação e Controle Ltda. NAVCON – Navegação e Controle Ltda. QUIMLAB – Química e Metrologia S/C Ltda. VALOR (R$) PROJETO Sistema de comunicação por voz através de rede elétrica – 1ª fase. Desenvolvimento de processo a plasma aplicado à metalurgia – 1ª fase. Tratamento a plasma em bobinas de aço carbono - 1ª fase. Plataforma integrada de sensores inerciais/GPS - 1ª e 2ª fases. Receptor GPS em aplicações espaciais – 1ª fase Montagem de um laboratório de metrologia química e produção de padrões químicos – 1ª e 2ª fases 35.120,00 49.000,00 26.700,00 296.000,00 61.000,00 600.000,00 TOTAL 1.067.820,00 Tabela 2 - Empresas contempladas com bolsas do Programa RHAE EMPRESA PROJETO EQE – Tecnologia Sistema de comunicação por voz através de rede elétrica – 1ª fase Metal Plasma S/C Desenvolvimento de Ltda. processo para otimização de reator a plasma. NAVCON – Receptor GPS em Navegação e aplicações espaciais – 1ª fase Controle Ltda QUIMLAB – Análise dimensional de Química e peças através de visão Metrologia S/C Ltda. computacional. TOTAL * Bolsas com duração de 24 meses Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Tipo da Bolsa *DTI – 7A *DTI – 7F *DTI – 7D *DTI – 7D BSP *DTI – 7A *DTI – 7B *DTI – 7G **DTI – 7H **DTI – 7G **DTI – 7C 1 1 Valor (R$) 75.065,00 30.420,00 1 1 1 1 1 1 1 1 1 44.117,00 44.117,00 4.500,00 76.065,00 63.134,00 25.101,00 10.417,00 12.550,00 26.242,00 Qtde. 407.228,00 ** Bolsas com duração de 12 meses 69 Tabela 3 - Projetos em aprovação EMPRESA PROJETO FOMENTO NAVCON GPS aplicado à agricultura de precisão (1ª fase) FAPESP QUIMLAB Desenvolvimento de padrões para cromatografia de ions e líquidos (2ª fase) FAPESP QUIMLAB Avaliação de águas subterrâneas no pólo cerâmico de Sta. Gertrudes CTHIDRO QUIMLAB Avaliação hidrológica de lençóis freáticos de Jacareí FEHIDRO TOTAL 4.2. Um caso de sucesso, descrito pelo diretor da empresa incubada na UNIVAP, Nilton Ferreira Alves. Parceria viabiliza a implantação de Laboratório de Análises Ambientais Uma parceria entre a Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, e a empresa Quimlab – Química e Metrologia, possibilitou a criação de um novo laboratório instalado junto ao Centro de Estudos da Natureza, no Câmpus Urbanova. Esta nova unidade, chamada Laboratório de Análises Ambientais, destinase ao atendimento de análises químicas, microbiológicas e de ecotoxicidade de águas e efluentes industriais. Este laboratório complementará os serviços de análises físico-químicas, hoje oferecidos aos clientes da QUIMLAB. VALOR 60.000,00 298.000,00 150.000,00 162.000,00 670.000,00 A QUIMLAB é uma empresa residente na Incubadora Tecnológica UNIVAP, onde iniciou seus primeiros trabalhos para a instalação de um laboratório de metrologia química. Em meados de 1998, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, aprovou projeto da empresa para implantação deste laboratório. Ao longo de 2,5 anos, a FAPESP repassou recursos à empresa no valor de R$ 600 mil que foram investidos na compra de equipamentos de última geração e pagamento de bolsistas, entre eles um especialista com doutorado em química orgânica. Este apoio possibilitou atingir a meta de ter o primeiro laboratório brasileiro de produção de padrões químicos com reconhecimento internacional, empregados para aferir grandezas como: pH, condutividade e concentrações de metais da ordem de ppb (partes por bilhão). Os investimentos foram da ordem de R$ 100 mil utilizados na compra de equipamentos e montagem da infra-estrutura. Será um dos laboratórios mais completos do Estado de São Paulo para realização de estudos referentes à qualidade da água. Será capaz de avaliar a taxa de mortalidade de peixes, microcrustáceos e plantas aquáticas em presença de qualquer tipo de água ou efluente industrial com algum tipo de contaminação, e, com isso, atribuir sua ecotoxicidade. Instalado estrategicamente dentro do Câmpus da Univap a aproximadamente 500 metros do rio Paraíba do Sul, contará com uma equipe profissional bem treinada composta de biólogos e químicos. A QUIMLAB atende, atualmente, grandes empresas da região: KODAK, PETROBRAS, CRYLOR, KAISER, NITROQUÍMICA, EMBRAER, MONSANTO e cerca de mais 30 empresas da região do Vale do Paraíba e Grande São Paulo. Por tudo isso, a QUIMLAB se credencia a oferecer às indústrias, prefeituras e órgãos de vigilância sanitária da região serviços especializados na caracterização microbiológica em qualquer tipo de água ou efluentes industriais, bem como desenvolver projetos de pesquisas nas fontes de água destinadas ao consumo público. Obs.: A QUIMLAB candidatou-se ao Edital dedicado à Tecnologia Industrial Básica, com prazo de entrega até 21/6/02, mas não teve êxito. 70 A possibilidade de iniciar suas atividades dentro da UNIVAP, através da Incubadora, foi um dos fatores determinantes de crescimento, pois a infra-estrutura e o ambiente acadêmico favorecem muito as empresas que desenvolvem serviços e produtos tecnológicos. Segundo o proprietário, os novos serviços possibilitarão atingir a meta de R$ 1 milhão de faturamento em 2002 contra cerca de R$ 700 mil em 2001. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 médica. · Transferência eletrônica de resultados de exames complementares aos pacientes e aos respectivos médicos solicitantes. · Acesso aos dados de emergência, fistórico de exames complementares e histórico familiar dos pacientes. · Acesso às informações de profissionais e empresas de saúde cadastradas, bem como suas home pages. · Fórum de debates entre os profissionais de saúde via chat. · Pesquisas para atualização técnica e profissional com links para diversas instituições de ensino e pesquisa nacionais e internacionais. · Comércio eletrônico de equipamentos médico-hospitalares. 4.3. Outro caso de sucesso foi a InfoMed. Em janeiro de 1999, apresentou-se a empresa InfoMed, como candidata à Incubadora. A função da InfoMed é agilizar o intercâmbio de informações entre os participantes do setor de saúde (por exemplo, empresas de Assistência Médica, Hospitais, Laboratórios, Centros de Diagnósticos e Médicos) utilizando a Internet como ambiente. 4.3.1. Software inicial, para Centros Médicos e Associações, de assistência médica. · Concessão de autorizações eletrônicas para o atendimento de serviços de saúde, em substituição às atuais guias de autorização. · Transferência eletrônica de faturamento dos prestadores de serviços de saúde para as empresas de assistência médica (Convênios). · Transferência eletrônica de comunicados entre os profissionais de saúde e as empresas de assistência 4.3.2. O começo da InfoMed foi muito modesto, conforme a Tabela 4 demonstra: Tabela 4 - Valor total do investimento necessário Equipamentos Softwares (ferramentas) Móveis e Utensílios Outros Subtotal Fluxo de Caixa (PE)* Total Geral VALOR R$ 15.000,00 10.000,00 2.000,00 3.000,00 30.000,00 35.000,00 65.000,00 * PE = Ponto de Equilíbrio Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 71 Tabela 5 - Projeções financeiras RECEITAS Brutas Líquidas (-10% iss, pis, cofins...) DESPESAS FIXAS Depreciação Combustível Telefone Internet Pró-labore Aluguel Imóvel Aluguel Telefones Total DESPESAS VARIÁVEIS Marketing Pessoal Insumos Manutenção de equipamentos Encargos sociais e outros Impostos Outros Total Lucro bruto Lucro líquido (-25% IR) 4.3.3. Seqüência de desenvolvimentos da InfoMed. A InfoMed teve seu início na Incubadora em fevereiro de 1999. Em novembro de 1999 participa de Plano de Negócios em Saúde, em São Paulo e, em decorrência, em maio de 2000 recebe aporte de recursos de um milhão de reais, retirando-se da Incubadora e passando a operar em São Paulo. É então incorporada à E. Health Latin American, em um “pool” da ordem de faturamento de 90 milhões de dólares. 5. UM EXEMPLO DE SETOR DE ELEVADO POTENCIAL INDUSTRIAL: A BIOTECNOLOGIA No Brasil, a Biotecnologia é atividade predominantemente acadêmica, cuja origem se prende à elucidação do DNA e do código genético. O estudo do genoma, no Brasil, ganhou corpo principalmente mediante 72 TOTAL 1999 R$ TOTAL 2000 R$ 275.500,00 247.950,00 1.100.000,00 990.000,00 15.000,00 3.600,00 2.400,00 450,00 36.000,00 3.000,00 2.400,00 64.850,00 15.000,00 6.000,00 3.500,00 900,00 135.000,00 3.000,00 4.800,00 168.200,00 36.000,00 46.000,00 9.000,00 2.500,00 120.000,00 196.500,00 15.000,00 12.000,00 40.000,00 175.000,00 4.000,00 137.500,00 12.000,00 530.500,00 45.600,00 34.200,00 291.300,00 218.475,00 o apoio da FAPESP a diversos núcleos de cerca de 30 universidades do Estado de São Paulo, que participaram das pesquisas da praga do cancrocítrico, a “Xylela fastidiosa”, cujo quadro genético foi finalmente montado. A UNIVAP foi partícipe deste esforço, sendo uma das entidades agraciadas com o Prêmio Governador do Estado, no ano 2000. Atualmente, o laboratório Genoma da UNIVAP trabalha nos seqüenciamentos genéticos da cana-de-açúcar e do câncer humano. Tentamos algumas alternativas de ligar este tipo de trabalho a alguma atividade industrial, mas não encontramos ainda parceiros. O cientista brasileiro Antonio S. Oliveira dos Santos, que trabalha no Canadá, em instituto ligado a pesquisas do câncer, é de opinião que a Biotecnologia tem potencial para mudar o padrão de vida da população, mas as dificuldades a vencer são inúmeras, pelas peculiaridades que o setor apresenta: Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 a.produtos de altíssimo valor agregado; b. altos custos com pessoal ultra-especializado (empresas com 20% de doutores são comuns); c. internalização de pesquisa e desenvolvimento (P&D); d. baixa taxa de sucesso de produtos potenciais (menos de 10% conseguem sucesso no mercado); e.intensa regulação estatal; f. longo período de desenvolvimento (dez anos para terapias); g. dependência de propriedade intelectual; h. dependência de capital de risco. As dificuldades são muito grandes, como é demonstrado pelo perfil de alta mortalidade das empresas emergentes. Segundo o cientista citado, “o Brasil dispõe de legislação de proteção à propriedade intelectual, essencial à indústria de Biotecnologia. Sem tal proteção, é pueril sonhar com investimentos não-estatais”. O setor de Biotecnologia depende, portanto, de capital de risco, nacional ou estrangeiro. Este tipo de atividade poderia ter um início em incubadoras, com ajuda da FAPESP (no Estado de São Paulo), seguido rapidamente de alojamento em Parque Tecnológico, com forte ajuda ainda para o crescimento. 6. PARQUES TECNOLÓGICOS Com esta denominação são designados os conjuntos destinados a sediar empresas de cunho tecnológico, tendo em geral as características a seguir: a.são ou deveriam ser ligadas, em geral, a centros de pesquisa de universidades; b. têm origem na necessidade de parceria com universidades, e entidades de classe, empresas, governo, ONGs e agências de apoio a fomento, tendo em vista projetos de desenvolvimento; c.podem situar-se ou não nos câmpus universitários, porém, em qualquer caso, devem manter intercâmbio com universidades do seu entorno. A Fundação Valeparaibana de Ensino – FVE, mantenedora da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, deu início, a partir do lançamento da pedra fundamental, em solenidade no dia 24 de agosto de 2002, às 11h30min., às obras do seu Parque Tecnológico FVE/ UNIVAP. Situado em seu câmpus, o Parque é constituído inicialmente por um edifício inteligente com 19.100 metros quadrados de área construída, no qual devem ser alojadas cerca de 40 empresas de tecnologia moderna. O sistema compreende salas de reunião, biblioteca com periódicos dedicados a desenvolvimento de empresas; e setor de estratégias de gestão e captação de recursos. O esquema a seguir ilustra as interações prováveis. Fig. 1 - Esquema de Interação do Parque Tecnológico. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 73 Fig. 2 - Parque Tecnológico FVE/UNIVAP - Visão do conjunto. Fig. 3 - Parque Tecnológico FVE/UNIVAP - Visão do conjunto, com destaque para a ala das oficinas. 74 Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 O Parque Tecnológico da FVE/UNIVAP, é um projeto que buscou apoio na FINEP, sem obter sucesso, mediante exigências inúmeras, até de aval pessoal de diretores da Fundação. A seguir, foi ao Fundo VerdeAmarelo, sem igualmente ter acesso a financiamento e a ele voltou a solicitar apoio, com base em Edital, sem resultado novamente. A própria FVE resolveu realizar a construção e equipamento do Parque, com apoio BNDES. Contamos já com o interesse de várias empresas, que necessitam de um total de áreas da ordem de 5.000 metros quadrados. Isto, sem maior trabalho de indução pela FVE. O capital necessário será da ordem de 8 milhões de reais, que poderão ser em parte cobertos pelo BNDES, se este não apresentar exigências obliterantes, como ocorreu com a FINEP. Será possível, então, contar com este Parque para a implementação de empresas de base tecnológica moderna, cremos, a partir do segundo semestre de 2003. Esta é uma realização importante, que esperamos viabilizar mesmo sem o apoio de quem deveria ter tal incumbência. É ainda muito incipiente o apoio para possibilitar que empresas dependentes de P&D tenham vez no Brasil. O que se vê é dinheiro público convergindo para entidades públicas, o que é sempre um risco menor a ser assumido pelos poderes públicos, só que a transferência de tecnologia para o setor privado, fundamental para o desenvolvimento do País, acaba não se dando. 7. ENTREVISTA COM O REITOR a. Por que o Parque Tecnológico FVE/UNIVAP? A universidade tem obrigação de praticar atividades de Extensão, em estreita interação com o Ensino e a Pesquisa. O Parque representa um importante apoio à criação de uma cultura de interação da UNIVAP com o seu entorno, notadamente com as empresas das chamadas “tecnologias portadoras de futuro.” b. E para a FVE/UNIVAP, qual a importância da criação do Parque, já que para a cidade de São José dos Campos esta importância é evidente? a. Será possível maior integração entre a pesquisa e o desenvolvimento econômico do entorno. A Pesquisa é em geral medida pelo número de artigos que os pesquisadores escrevem e vêem publicados em revistas indexadas. Mas há outra maneira, mais sensível à população, que é mediante os resultados econômicos provocados, isto é, pela receita gerada pelos produtos resultantes da aplicação das pesquisas. O número de patentes geradas é um indicador válido disto, também. Um exemplo do resultado concreto da pesquisa são os tomógrafos obtidos a partir dos trabalhos de pesquisa do Prof. Dr. Oscar Panepucci, na USP – Depto. de Física de São Carlos-SP. b. A FVE/UNIVAP mantém, juntamente com CIESP, PMSJC e SEBRAE, uma incubadora em seu câmpus e outra no parque fabril da Revap – PETROBRAS, em São José dos Campos, juntamente com a própria PETROBRAS e os parceiros anteriores. As empresas incubadas necessitam sair da incubadora, mas é necessário garantir-lhes apoio pósincubação e este é o papel do Parque, impedindo que as empresas tenham intervalo de vida breve e frustrem iniciativas relevantes. Atuando no câmpus da FVE/UNIVAP, as empresas interagem com os setores de ensino e pesquisa e isto é benéfico para todos, pois ocorre uma realimentação extremamente valiosa, pela atualidade deste aprendizado. c. A transferência de tecnologia que decorre desta sinergia, aliada à presença de alunos e ex-alunos no processo, é muito estimulante, não só pelos empregos advindos, mas principalmente pela qualidade do capital humano gerado: são pesquisadores e técnicos jovens que se apresentam e emprestam sua experiência a inovações de grande interesse para o desenvolvimento local, principalmente. d. Outro resultado importante é a oportunidade de a universidade poder induzir a prática do desenvolvimento sustentável, orientando as empresas para o empreendedorismo inovador e construtivo. Enfim, o Parque Tecnológico FVE/UNIVAP é um negócio do qual podem participar, de algum modo, todos os cidadãos da Comunidade da Força de Trabalho de São José dos Campos, com ganhos para todos. 8. TECNÓPOLIS Podemos assinalar diversas vantagens: O mundo apresenta modelos de Tecnópolis, Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 75 cidades que se desenvolveram ou foram, em alguns casos, fundadas, tendo em vista parcerias entre empresas e universidades, com o objetivo de integrar conhecimentos para seu aproveitamento relativo à implantação de novas tecnologias, tendentes à produção de bens e serviços. São José dos Campos pode ser caracterizada como uma Tecnópolis, pois seu desenvolvimento ocorreu a partir da implantação do Centro Técnico Aeroespacial CTA, e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA; do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, e a seguir da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP, e, posteriormente, das empresas que aproveitaram o ambiente formado, como a EMBRAER e a seguir a AVIBRAS, a TECSAT e outras, para se dedicar a tecnologias modernas, tendo em vista, além das aplicações aeroespaciais, outras mais endereçadas à informática, telecomunicações, à química etc. Houve, como é sabido, a atuação decidida do Governo Federal, que induziu a fazer, de São José dos Campos, uma Tecnópolis. O modelo é particularmente utilizado na FRANÇA, em 40 tecnópolis (Toulouse, Lyon, Montpellier etc.), tendo havido, até, a criação de uma cidade com área de 2.000 hectares – Sophie Antinópolis, nas proximidades de NICE – para a promoção da ciência e tecnologia e sua transformação em bens e serviços. Ocorreu, desta forma, um grande número de iniciativas, com a idéia de gerar conhecimento e transferilos para a produção de bens e serviços. São bem conhecidas, entre outras, as Tecnópolis do Vale do Silício, nos EUA, e Tsukuba e Kansai, no Japão. O modelo foi extensivamente adotado por todos os países desenvolvidos e, também, em grande parte, dos assim chamados, em desenvolvimento. Acreditamos que o conjunto formado pela FVE/ UNIVAP e seu câmpus abrigando o Parque Tecnológico e as duas incubadoras possa vir a ser a complementação necessária para que a grande Tecnópolis São José dos Campos dê origem e implementação a modernas empresas portadoras de tecnologias de futuro. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. BROCKMAN, J. As maiores invenções dos últimos 2.000 anos. Tradução Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. 170p. ISBN 85-7302-280-9. DYSON, F. O Sol, o Genoma e a Internet: ferramentas das revoluções científicas. Tradução Otacílio Nunes Júnior. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 140p. ISBN 85-359-0203-1. 76 LOPES, J. L. Ciência e Libertação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969. 174p. (Série Ciência e informação, v.1). MATSUSHITA, M. The Mind of Management: fifty years with Konosuke Matsushita. Osaka: Matsushita Electric Industrial Co., 1996. 171p. ISBN 4-569-54949-7. RAYMOND, S. V. (Ed.). Science-based economic development: case studies around the world. New York: The New York Academy of Sciences, 1996. 345p. (Annals of the New York Academy of Sciences, v. 798). ISBN 157331-052-2. 10. COMENTÁRIOS SOBRE AS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. Science-based Economic Development: case studies around the world. O texto descreve, a partir da consideração de que o Capital Social é o elemento chave para a escolha, entre os diversos caminhos para o desenvolvimento, daquele que conduz as instituições científicas a exercerem importante papel. Os diferentes capítulos enfatizam a tecnologia como elemento gerador do crescimento econômico; idem da ciência e tecnologia em conjunto e estudos de caso, em diferentes Estados são muito bem apresentados: Texas (Austin); Florida; Georgia; Kansas; Louisiana; Maine, State; Maine, Foundation of Science and Technology; Oregon; Ohio; Montana. Seguem-se 11 capítulos sobre “Global Cases and Issues Studies e o Sumário dos diferentes grupos de trabalho. Este é um texto muito importante para a análise da Ciência e Tecnologia e seu papel no Desenvolvimento Econômico. Ciência e Libertação. Este é um livro publicado há muitos anos, mas ainda de grande atualidade. O autor parte do conceito de que a Ciência é universal, mas os seus resultados, que geram as tecnologias utilizáveis, são propriedade das Nações Desenvolvidas, que as protegem por meio de patentes. Os seis capítulos defendem a existência de uma indústria nacionalizada: Ciência e Desenvolvimento; Responsabilidade dos Homens de Ciência; Ciência e Humanidade; Que universidade?; Organização da Produção Científica; Fases da Física no Brasil. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 The Mind of Management. O livro retrata o pensamento do empreendedor japonês Konosuke Matsushita, fundador da Matsushita Electric Industrial Co., Ltd. Konosuke considera que o dirigente industrial, da mesma forma que o pesquisador, deve ter mentalidade inquisidora e buscar respostas às questões surgidas em momentos de atividade ou de repouso. É necessário, nos negócios, responder sempre a novas condições e antecipar-se de modo correto aos demais, na tomada de decisões estratégicas. Este livro é importante para entender o que se passa com os empresários e relevar certas dificuldades que os acadêmicos atribuem somente à impassibilidade dos detentores do capital, face aos produtos inovadores oferecidos para serem produzidos em série e vendidos. O Sol, o Genoma e a Internet: ferramentas das revoluções científicas. O autor é conhecido pela sua originalidade e inquietude. O livro todo é um convite à irreverência que conduz à inovação e permite antecipações tecnológicas. São somente três capítulos: Revoluções Científicas; Tecnologia e Justiça Social; A Estrada Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Principal. Fecha com o epílogo, no qual relata a derrota do campeão de xadrez Gary Kasparov frente ao computador executando o programa Deep Blue, em maio de 1997. É um livro muito inspirador para quem pensa nas aplicações utilizáveis para produção industrial, resultante da P&D praticadas nas universidades. As Maiores Invenções dos Últimos 2.000 Anos. O autor reúne indicações, muito variadas, procurando responder à pergunta que constitui o título do livro. As respostas variaram muito: a imprensa; o sistema decimal; o cavalo; o feno; os óculos; o relógio; a pílula anticoncepcional oral; o computador e a bomba atômica; o método empírico; fazer perguntas etc. Este livro é muito importante para que paremos um instante para refletir sobre o que é importante. E mais ainda: importante para quem? Somos seis bilhões de pessoas neste Planeta Terra e tudo depende do acesso que cada um tem ao mundo dos produtos reais e virtuais. Grande parte da humanidade nunca viajará de avião e uma ínfima parte terá acesso a análises por ressonância nuclear, por exemplo. Mas é importante que a minoria disfrutadora dessas facilidades utilize seu tempo e conforto para obter o desenvolvimento social sustentável e desejado. 77 O Vetor Academia-Empresa para o Incremento da Inovação Tecnológica José Miguel Alvarez Chaddad * Tales Andreassi ** Resumo. O presente artigo tem como principal objetivo analisar, de maneira exploratória, os principais empecilhos e facilitadores da relação universidade-empresa, propondo algumas recomendações para que tal relação seja, senão bem sucedida, ao menos frutífera para os dois lados envolvidos. Para tanto, o artigo apresenta uma breve revisão teórica relacionada à interação universidade-empresa, passando para a discussão de alguns exemplos empíricos primeiramente no tocante ao ambiente universitário e depois às empresas. Como conclusão, são apresentadas algumas recomendações no sentido de se procurar aumentar a eficácia da relação universidade-empresa. Palavras-chave: Relação universidade-empresa, parcerias, inovação tecnológica. Abstract. This paper intends to analyze the main obstacles and helping factors related to the relationship between universities and companies. First, some theoretical aspects are presented in the literature review. Then, some examples are reported, from the university point of view. The next step is the description of some examples related to the company context. The final step is the conclusion of this study, which gives some recommendations in order to improve the relationship between universities and firms. Key words: Company-University Relationship, partnership, technological innovation. 1. INTRODUÇÃO No atual quadro econômico na qual as empresas se inserem, marcado pela alta competitividade, qualidade dos produtos e concorrência acirrada, cada vez mais o êxito empresarial depende da capacidade de a empresa inovar tecnologicamente, colocando novos produtos no mercado, a um custo-benefício menor, com uma qualidade melhor e a uma velocidade maior do que seus concorrentes. Assim, se no âmbito interno a inovação está se tornando cada vez mais uma condição necessária para a sobrevivência da empresa, no âmbito externo a decisão de inovar é uma condição essencial para que a empresa consiga ganhar mercados internacionais e atender os rígidos padrões desses mercados. * Diretor Executivo da Anpei – Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras. [email protected] ** Professor da EAESP/Fundação Getúlio Vargas e Consultor da Anpei e do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas. [email protected] 78 Se a inovação tecnológica pode ditar o ritmo do crescimento de um país, conforme afirma Marcovitch (1981), nada mais natural o incentivo ao fomento de políticas que efetivamente incrementem a inovação de um país. Dentre as várias políticas de incremento – incentivo fiscal, crédito à inovação, incubadoras, programas de formação de mão-de-obra, entre tantas outras – o incentivo à interação universidade-empresa seguramente encontra-se entre as políticas que vem merecendo um grande destaque. Entretanto, muito desse destaque é infelizmente negativo, relatando-se experiências infelizes entre a interação academia-empresa. Deve-se ressaltar, ainda, que tal experiência negativa ocorre apesar dos inúmeros esforços governamentais de incentivo à interação universidadeempresa, a começar pela Lei 8661/93 – PDTI/PDTA, que incentiva a pesquisa cooperativa, passando pela Lei da Informática, e mais recentemente a criação dos Fundos Setoriais e a elaboração da Lei de Inovação. O mais interessante é que os exemplos de fracasso parecem concentrar-se principalmente nas áreas tecnológicas, uma vez que na área de gestão isso não ocorre - haja vista o bom resultado que as escolas de Administração, Economia e Contabilidade obtêm na venda de seus “serviços” de consultoria e treinamento às empresas. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Nesse sentido, chega-se ao objetivo do presente artigo, que é o de analisar, de maneira exploratória, os principais empecilhos e facilitadores da relação universidade-empresa, propondo algumas recomendações para que tal relação seja, senão exitosa, ao menos frutífera para os dois lados envolvidos. Para tanto, o artigo apresenta uma breve síntese da situação das exportações brasileiras e a importância de se investir em inovação para reverter esse quadro. A seguir, serão discutidas algumas questões teóricas relacionadas à interação universidade-empresa, passando para a discussão de alguns exemplos empíricos primeiramente no tocante às empresas e depois ao ambiente universitário. Finalmente, são apresentadas algumas conclusões e recomendações. 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS Considerando que o Brasil está entre as dez maiores economias do globo, a contribuição das exportações brasileiras no nível de exportação mundial é realmente baixa, atingindo menos de 1% do total. Mais alarmante ainda é a constatação de que nossa contribuição caiu significativamente, de 2,4% nos anos 50 para menos de 1% em 2000, conforme pode ser visualizado no Gráfico 1. Ressalta-se que, em valores absolutos, aumentamos as exportações, conforme verificado no Gráfico 2. Mas como nossa contribuição diminuiu, é de se supor que os outros países deram uma atenção especial a tal questão, o que de fato não aconteceu com o Brasil. Gráfico 1 - Participação (%) do Brasil nas Exportações e Importações Mundiais - 1950 - 2000 2,6 2,4 2,2 2,0 Participação % 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 Exportação Im portação Infelizmente, as ações governamentais com o propósito de reverter o quadro exportador só começaram a ser tomadas no final deste Governo, conforme afirma o ex-ministro Antonio Delfim Neto, citado por Moraes Silva (2002): setor exportador, congelando o câmbio, elevando os juros. Trataram o exportador como um ser ineficiente. O problema urgente do balanço de pagamento foi criado pelo governo. Foram anos de perseguição aos exportadores. O milagre foi eles terem sobrevivido”. “...só agora o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou à conclusão de que o Brasil precisa exportar mais, se quiser corrigir os desequilíbrios crônicos no balanço em contacorrente e a tendência crescente para o endividamento externo. Nos últimos seis anos e meio de governo, fizeram tudo para destruir o Certamente esse descaso com as exportações acabou refletindo no saldo da balança comercial brasileira, que acabou caindo bruscamente a partir de 1992, conforme verificado no Gráfico 2. Tal data coincide com a abertura dos mercados realizada pelo governo Collor, abertura esta não acompanhada pelo incremento à exportação. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 79 Gráfico 2 - Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2000 - US$ bilhões FOB 60 55 50 45 US$ bilhões FOB 40 35 30 25 20 15 10 5 0 -5 -10 Exportação Importação Além do saldo da balança comercial, outra preocupação é o alto índice de concentração da exportação brasileira. Segundo Moraes Silva (2002), 25 produtos representam 60% do total das exportações brasileiras, sete países compram mais de 56% desse total, 40 empresas são responsáveis por 39% desse total e as regiões sul e sudeste respondem por 83% do montante exportado. A partir dos dados comentados acima, fica nítida a necessidade de reversão do quadro exportador brasileiro. Não há dúvidas que políticas econômicas de controle cambial e taxas de juros são importantes para incentivar as exportações. Contudo, não se exportam bens manufaturados ou bens de capital se o produto não for bom. E para isso precisamos ter produtos tecnologicamente competitivos, inovadores, modernos, arrojados e isso só se consegue com um investimento contínuo em inovação, com a implementação de uma cultura inovadora dentro das empresas, cultura esta que vai se solidificando com o passar dos anos. E é aí que entra a interação entre universidade e empresa, um dos vetores capazes de alavancar a inovação tecnológica empresarial. 3. A RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA 1998 1995 1992 1989 1986 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1956 1953 1950 -15 Saldo Com ercial entender de Plonski (1992) apud Segatto e Sbragia (1996), “como um modelo de arranjo interinstitucional entre organizações de natureza fundamentalmente distinta, que podem ter finalidades diferentes e adotar formatos bastante diversos. Inclui-se nesse conceito desde interações tênues e pouco comprometedoras, como o oferecimento de estágios profissionalizantes, até vinculações intensas e extensas, como os grandes programas de pesquisa cooperativa, em que chega a ocorrer repartição de créditos resultantes da comercialização dos seus resultados”. Embora no âmbito internacional a interação entre universidade e empresa não seja algo novo, foi só a partir de 1970 que esta tem ser tornado mais formal, freqüente e planejada, conforme aponta Vedovello (1996). A autora ressalta também que tal tema vem despertando um crescente interesse, seja em países desenvolvidos como em desenvolvimento, “que ainda a consideram como um recurso científico-tecnológico sub-utilizado”, o que demonstra ainda a alta capacidade de exploração do tema em questão. É interessante notar que tal subutilização também é verificada em países desenvolvidos, uma vez que a OCDE tem enfatizado a ausência e/ou inadequabilidade de análises qualitativas e quantitativas sobre a interação entre universidades e indústria (OECD, 1990 apud Vedovello, 1996). A cooperação universidade pode ser definida, no 80 Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Uma das possíveis explicações para essa subutilização é que a relação universidade-empresa já se apresenta controversa no momento em que se analisam as motivações que a criaram. Segundo Segatto e Sbragia (1998), enquanto que a academia procura as empresas para a obtenção de conhecimentos práticos sobre os problemas existentes, incorporação de novas informações aos processos de ensino e pesquisa, obtenção de recursos financeiros e materiais adicionais e para a divulgação da imagem da universidade, os principais motivadores que levam as empresas a procurar a academia são o acesso aos recursos humanos altamente qualificados, resolução de problemas técnicos que geram a necessidade de pesquisa, redução de custos e riscos envolvidos em processos de P&D, acesso a novos conhecimentos desenvolvidos no meio acadêmico e identificação de alunos para o recrutamento futuro. Embora tais motivações não sejam totalmente incompatíveis, elas são certamente diferentes, e sem um gerenciamento eficaz do processo tais diferenças acabam por se tornar obstáculos intransponíveis. Nesse sentido, Segatto e Sbragia (1998) apontam alguns empecilhos na relação universidade-empresa: · a busca do conhecimento fundamental pela universidade, enfocando a ciência básica e não o desenvolvimento ou comercialização; · a extensão do tempo do processo; · a visão de que o Estado deve ser o único financiador de atividades de pesquisas universitárias a fim de garantir a plena autonomia universitária e a liberdade de publicação; Já Fonseca (1998) estudou a parceria universidadeempresa sob a ótica da geração de inovação, e afirma que para a configuração de relações duradouras entre a universidade e o meio produtivo mostrou-se necessária a combinação de medidas de interação das três categorias: os instrumentos político-normativos, criando medidas de amparo às atividades inovadoras em parceria; os mecanismos administrativos, criando condições culturais, motivacionais, comportamentais e técnicas favoráveis à parceria e ao desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica; e as estruturas organizacionais, criando uma base formal, capaz de viabilizar a execução conjunta de projetos e a concretização das inovações. Vale ressaltar, porém, que na América Latina a relação universidade-empresa apresenta algumas características diferenciadas, como apontam Meneghel, Mello e Brisolla (1998). Segundo as autoras, na América Latina a interação caracteriza-se pela participação das grandes empresas públicas, pois representam setores tecnologicamente mais avançados e com melhor dotação de recursos humanos. Já a cooperação com empresas multinacionais ocorre em menor escala, uma vez que estas concentram a pesquisa básica nos laboratórios de suas matrizes. Além disso, a tentativa de construção, apenas nos anos 1960 de um sistema nacional de C&T, a falta de estabilidade e coerência entre as políticas implícitas e explícitas dos governos, o modelo de industrialização baseado na importação de tecnologias e a falta de tradição das empresas nacionais em buscar desenvolver e até mesmo conhecer novas tecnologias acabaram atrasando as experiências de relacionamento universidade-empresa. · ausência de instrumentos legais que 4. O PONTO DE VISTA DA UNIVERSIDADE regulamentam as atividades de pesquisa; · · · · · as filosofias administrativas das instituições; o grau de incerteza dos projetos; a carência de comunicação entre as partes; a instabilidade das universidades públicas; o excesso de burocracia das universidades. Apesar de todas as dificuldades listadas acima, os ganhos oriundos de uma parceira eficaz entre universidade e empresa são certamente recompensadores. Conforme afirmam Lima, Reis e Castro (1998), as vantagens que as relações universidade-empresa trazem para as organizações envolvidas são a legitimação da atividade institucional, otimização dos recursos, redução dos riscos, melhoria na qualidade das ações, possibilidade de intercâmbio de informações, melhor identificação de demandas dos clientes, maior interação entre técnicos e maior permeabilidade institucional ou maior alcance geográfico das ações. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Os principais aspectos empíricos da interação universidade-empresa foram analisados, sob o ponto de vista dos pesquisadores, por Meneghel, Mello e Brisolla (1998). Segundo as autoras, uma série de barreiras acabam aflorando nessa relação. Uma delas é burocracia e a rigidez encontradas na estrutura universitária, como afirma um docente da Unicamp citado pelas autoras: “Várias universidades criam escritórios para falar com as empresas; cada um com uma denominação diferente. Algumas vezes são megaestruturas: presidente, diretor, chefe do conselho não sei do quê, representação não sei de onde, aquela coisa toda. Eu critico isso, acho um absurdo a gente ainda estar pensando nesse tipo de coisa (...) Às vezes me perguntam: como é que você faz contatos? Pelo telefone, eu digo. Porque sempre estão pensando em mecanismos, documentos, protocolo, carimbo”. 81 Na verdade, a rigidez e a burocracia universitária escondem o despreparo do pesquisador advindo das áreas eminentemente técnicas de lidar com o ambiente empresarial, de falar a mesma linguagem das empresas, como mostra o exemplo de um professor da Unicamp obrigado a “esconder” sua profissão a fim de facilitar a relação, descrito por Meneghel, Mello e Brisolla (1998): “Por que se você colocar para negociar um professor, doutor, pós-graduado, com vários títulos (não tenho nada contra), a chance de dar certo é muito baixa (...). O grande problema das universidades é justamente esse, é uma coisa muito acadêmica. As pessoas que estão fazendo isso não tem a menor experiência nessa área, pelo menos com as empresas. Eles são muito bons pesquisadores, ótimos docentes, mas nunca foram empresários, com algumas exceções. Eles não sabem nem a linguagem, e então não há conversa (...). Inclusive, eu sempre digo que não sou professor, que sou engenheiro. Isso tem funcionado, facilita um pouco”. Além dos fatores acima citados, rigidez, burocracia e despreparo, há ainda o ranço, o “preconceito” do ambiente universitário contra o ambiente empresarial, como mostram alguns depoimentos colhidos por Meneghel, Mello e Brisolla (1998): “Eu ouvi, outro dia, um professor declarar, num colóquio, que não faz sentido nenhum a Universidade desenvolver uma técnica para a indústria faturar e lucrar com isso”. “Vários docentes e instituições, por desenvolverem projetos de cooperação, passaram a enfrentar resistências no meio acadêmico”. “eles (colegas que se concentram na pesquisa básica) tendem a achar que a gente é um mercador, que está se vendendo. Nos colegiados eles mostram um certo desdém pelas nossas atividades”. Obviamente que tais depoimentos não podem ser considerados representativos de toda a comunidade científica, mas de certa forma refletem um ranço existente por parte da universidade em relação ao ambiente empresarial, da mesma forma que existe o ranço das empresas diante da estrutura universitária. Certamente, para o ganho de ambas as partes, tal ranço tem que ser superado. Contudo, Meneghel, Mello e Brisolla (1998) descrevem também algumas experiências positivas, como um relato feito por um professor da Unicamp, no qual seu 82 grupo de pesquisa desenvolveu uma tese de mestrado que modelava um processo de produção. A partir desta tese, o grupo verificou a possibilidade de aplicação do modelo elaborado e propôs o scale-up do projeto a uma empresa. Tendo sido implementado e atestado o seu sucesso, o processo desenvolvido foi implantado na empresa, gerando demandas de assistência técnica. O sucesso dessa experiência fortaleceu o grupo e gerou a possibilidade de serem estabelecidas outras parcerias no setor. Ou seja, a aproximação com o setor empresarial decorreu de ações planejadas para esse fim. 5. O PONTO DE VISTA DA EMPRESA Para a elaboração deste item do trabalho, foram entrevistados cinco altos executivos de empresas com forte atuação em P&D e que se utilizam de projetos conjuntos com universidades para o desenvolvimento ou aperfeiçoamento de produtos ou processos. Tais empresas, localizadas em diferentes estados do país, são: Bematech (PR), Máquinas Agrícolas Jacto (SP), Embraco (SC), OPP Química (RS) e Ericsson (SP). No entender de um dos diretores entrevistados: “...o interesse dos acadêmicos é mais por assuntos relacionados à alta tecnologia, preferencialmente em campos ainda não explorados. Isso porque tais assuntos acabam originando artigos passíveis de serem apresentados em congressos científicos, o que de certa forma se justifica pelo fato de as publicações serem importantes nos critérios de avaliação e carreira dos docentes e pesquisadores”. Para a empresa, os objetivos da interação estão mais relacionados com tipos de P&D mais próximos da pesquisa aplicada e do desenvolvimento experimental. Tais tipos de P&D, em primeiro lugar, não têm uma probabilidade muito grande de gerar artigos científicos e, em segundo, quando existe tal possibilidade muitas vezes ela não é interessante para a empresa em função da confidencialidade dos assuntos envolvidos. Há casos, porém, de se compatibilizar os interesses comuns, sendo possível a publicação de artigos, negociando-se seu conteúdo. Outro problema muito citado são os entraves burocráticos que acabam afetando o prazo de finalização das pesquisas. Nas palavras de um dos entrevistados: “Quando precisamos desenvolver algum projeto, quando é possível procuramos diretamente o pesquisador ou o professor, sem passar pelos trâmites burocráticos da universidade. Mesmo assim, quando o projeto é em conjunto com a Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 universidade, já colocamos um horizonte de prazo maior para sua finalização porque o ritmo da universidade é mais lento que o nosso”. “....temos também que aceitar, nos projetos de parceria, a participação de mestrandos, doutorandos e estagiários, que apesar da qualidade técnica estão mais interessados em obter titulação ou formação”. Mas há também outras experiências bastante positivas, principalmente quando se encontra o parceiro certo. Segundo um dos depoimentos, “A empresa abre as portas para a academia desde 1983 para buscar independência tecnológica e conquistar novos mercados. No início do processo houve muitas frustrações, até se encontrar a ‘noiva’ certa. Contudo, não se pode esperar resultados imediatos, há de se ter paciência e apostar no médio e longo prazos. Hoje o intercâmbio entre profissionais é muito grande, sendo que a empresa mantém interação com diversas universidades no Brasil e no exterior”. “hoje já temos mais de 20 anos de experiência nesse campo. Assim, quando vamos buscar novos parceiros, já sabemos das dificuldades e usamos nossa experiência para evitar problemas de comunicação e atrasos no início do desenvolvimento”. Apesar das experiências positivas, o mesmo entrevistado admite a dificuldade de a universidade trabalhar com indicadores, os quais de certa forma refletem objetivos bem definidos e delineados. Além disso, reconhece que o potencial humano dentro das universidades é muito bom, mas os problemas estruturais por que passam a maioria das universidades brasileiras acabam gerando um pesquisador muitas vezes desmotivado. Um dos entrevistados, em função da larga experiência de interação com instituições de pesquisa e universidades, identificou e aplica três estratégias a fim de aumentar ao máximo a sinergia entre as a empresa e a instituição parceira: “...a primeira é identificar áreas de interesse comum quando da definição dos projetos de pesquisa, ou seja, somente estabelecer parcerias quando a universidade já tiver desenvolvido expertise na área e tiver interesse em continuar trabalhando com o tema. Isso de certa forma não é difícil identificar, pois as universidades são Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 obrigadas a informar suas linhas de pesquisa para instituições do tipo Capes ou CNPq. A segunda estratégia é respeitar o ambiente característico existente nas universidades, que certamente é diferente do ambiente empresarial. Finalmente, a terceira estratégia é acordar mecanismos de acompanhamento de projetos, definindo prazos, custos e resultados esperados de forma clara e objetiva. Isso propicia o acompanhamento das várias etapas do projeto, evitando surpresas desagradáveis”. Outro entrevistado acredita que o advento dos Fundos Setoriais vai dar um grande incremento para a parceria. Apesar da burocracia e da lentidão por parte da academia, a parceria funciona na empresa, tendo já interagido com diversas universidades brasileiras: “A parte mais complicada tem sido o início da parceria até as coisas engrenarem, passando daí a funcionar. Evidentemente que acompanhamos de perto o desenvolvimento para não haver atrasos, em especial no início da parceria”. Ao se fazer uma análise dos cinco depoimentos, aqui não explicitados extensivamente por razões metodológicas, podemos observar que: · em nenhum dos depoimentos se fez menção à má qualidade dos resultados ou restrição à competência da universidade; · burocracia e lentidão foram citados por 4 dos 5 entrevistados; · o modelo da oferta de projetos prontos ou em andamento ainda é freqüente. Por outro lado, um ponto positivo que se verifica nestes depoimentos é que empresas com mais tradição em parcerias com a academia adquiriram experiência na gestão da interface e quando iniciam trabalhos com novos parceiros superam mais rapidamente os obstáculos inerentes à cultura acadêmica. Empresas com experiências mais recentes têm mais dificuldades em iniciar novas parcerias. 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A conclusão mais explícita que se pode tirar deste trabalho empírico é a de que as parcerias academiaempresas podem se tornar um eficiente vetor de geração de inovação e incorporação de tecnologia aos produtos e serviços, possibilitando ganhos de competitividade e gerando possibilidades de acesso a novos mercados, em particular ao mercado exterior. Pode-se ousar dizer, inclusive, que para as empresas pequenas e médias as 83 parcerias com a academia são o mais importante meio de acesso à tecnologia, mesmo que incremental. Reside aqui grande oportunidade para ambos os setores em conjugarem objetivos e obterem resultados concretos, desde que os obstáculos sejam eliminados. 7. REFERÊNCIAS FONSECA, S. A. A Parceria Empresa-Universidade Gera Inovações na Empresa? In: SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, 20. Anais. São Paulo, 1998, p. 515-26. Alguns pontos ficam como recomendação: a) em duas entidades distintas, com culturas diferentes, a aceitação das diferenças é muito importante e a habilidade de gerir esta interface é fundamental no sucesso da parceria; b) a flexibilização da academia é o ponto principal no aumento e dinamização das parcerias. Mesmo as fundações e institutos criados para isso ainda carecem de uma flexibilização maior; c) a adaptação do perfil do pesquisador às condições orgânicas das empresas é outro ponto que deve merecer atenção. O lucro é a razão de ser das empresas e a sustentação de sua sobrevivência, não podendo merecer qualquer prurido de aversão por parte da academia. Neste caso, a formação de híbridos pesquisador-empresas pode ser vista como elemento catalizador; d) a gestão da interface deve merecer por parte das empresas o máximo de habilidade e cuidado. A ótica dos resultados imediatos por parte dos empresários deve ser restringida, e a visão de médio prazo deve ser uma componente inerente à parceria. A comunicação entre os parceiros tem que ser ágil, franca e objetiva para o sucesso da parceria; e) o modelo da demanda, ainda que induzida, deve prevalecer ao da oferta. A academia tem sua maior força na qualidade de seus recursos humanos que devem se adaptar às necessidades das empresas e não na oferta de soluções prontas. Sem dúvida, ainda temos muito que caminhar e evoluir na relação universidade-empresa, tanto na ótica das empresas quanto na das universidades. Mas se o Brasil realmente quiser garantir sua inserção no mercado mundial, deve inevitavelmente investir em inovação. E a interação universidade-empresa certamente é o mais importante dos vetores que irão alavancar tal inserção. 84 LIMA, S. M. V.; REIS, A. E. G.; CASTRO, A. M. G. Gestão Estratégica de Parcerias em Instituição de P&D. In: SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, 20. Anais. São Paulo, 1998, p. 1356-68. MARCOVITCH, J. O centro de tecnologia na empresa: seu papel no processo de inovação. Revista de Adminstração, v. 16, abr.-jun. 1981. MENEGUEL, S.M.; MELLO, D. L.; BRISOLLA, S.N. Tendências da relação Universidade x Empresa: Estrutura Acadêmica e Perfil do Pesquisador. In: SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, 20. Anais. São Paulo, 1998, p. 619-33. SILVA, B. B. M. A exportação de couro no Brasil. São Paulo: FGV, 2002. [Monografia de conclusão de curso apresentada à EAESP/FGV]. OECD. University-Enterprise Relations in OECD Member Countries. Committee for Scientific and Technological Policy, unpublished report, 1990. In VEDOVELLO, C. Parques Tecnológicos e a Interação UniversidadeIndústria. SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLOGICA 19. Anais. São Paulo,1996, p. 384-8. PLONSKI, G. A (ed.) “Prefácio a La Cooperación Empresa-Universidad en Iberoámerica”, Cooperación Empresa-Universidad en Iberoámerica, Programa CYTED, pp. VII-XIV, São Paulo, 1992. In Segatto, A. e Sbragia, R. Cooperação Universidade-Empresa: Um Estudo Exploratório. In: SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLOGICA, 19. Anais. São Paulo, 1996, p. 337-56. VEDOVELLO, C. Parques Tecnológicos e a Interação Universidade-Indústria. In: SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLOGICA, 19. Anais. São Paulo, 1996, p. 384-98. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Quebra de Simetria em Mapas Equivariantes: Evolução do Código Genético Marcio Magini * Resumo. Sistemas dinâmicos com simetria vêm se mostrando uma ferramenta matemática poderosa para explicar alguns fenômenos físicos. Atualmente, além de seu uso em Física, os contextos de quebra de simetria e de simetria dinâmicos se inserem em problemas de cunho macroscópico, como, por exemplo, em Biologia e em Engenharia. Neste presente trabalho apresentamos um sistema dinâmico, equivariante sob a ação do grupo de simetria Oh assim como os atratores resultantes da iteração desse difeomorfismo. Não obstante também tecemos uma breve mas importante explanação sobre a aplicação desse sistema dinâmico no modelo algébrico para a evolução do código genético. Palavras-chave: Sistemas dinâmicos, mapas, simetria, atrator, grupo de simetria e evolução. Abstract. Dynamic systems with symmetry are proving to be a powerful mathematical tool to explain some physical phenomena. Presently, despite their use in Physics, symmetry breaking context and dynamic symmetry breaking are applied to macroscopic problems like in Biology and Engineering. This work presentes a dynamic system equivariant under the action of symmetry group Oh and the attractors resulting of the map iteration. The result leads us to a brief but important explanation about the application of this dynamic model in the algebraic model for the evolution of the genetic code. Key words: Dynamic systems, maps, symmetry, attractors, symmetry group and evolution. 1. INTRODUÇÃO A idéia de que a natureza segue padrões matemáticos é usada desde os primórdios da humanidade, seja pelos atomistas gregos ou mesmo pelos matemáticos egípcios que usavam a Matemática como ferramenta de Engenharia (Chassot, 1994, Martins, 1994). Nestes casos a busca do entendimento da natureza se inseria em um contexto filosófico, como uma idéia de contemplação da beleza criada pelo “Divino”. Nos séculos 15 e 16 muito se amplificou a respeito da natureza e das possibilidades de sua quantificação. Um dos mais importantes precursores desse fenômeno foi Isaac Newton que de forma brilhante trouxe para sua forma matemática as observações da natureza e deu à ciência, já contextualmente bem estabelecida, importantes contribuições, que foram desde a Mecânica Clássica, passando pelo Cálculo Diferencial até a Óptica (Isaac, 1642.) Posteriormente a busca pelas leis matemáticas intrínsecas na natureza se intensificou e elas se tornaram parte integrante na vida de muitos pesquisadores e curiosos na humanidade. A idéia de átomo foi melhorada, * Professor da UNIVAP. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 as experiências em Física Atômica se tornaram mais precisas e sofisticadas e uma nova linha de pensamento surgiu, a Mecânica Quântica. Tal área teve contribuições importantes de diversos físicos, entre eles, Niels Bhor, Rutheford e mesmo Albert Einstein (Eisberg, 1994). Após sua criação, os conceitos usados na formulação da Mecânica Quântica e a sua matemática são largamente discutidos em congressos e reuniões científicas. Vários artigos são publicados com explanações sobre átomos, núcleos e física de altas energias, muitos deles tiveram grande impacto nas nossas vidas. Todas as trajetórias do desenvolvimento da ciência e da quantização da natureza têm como base uma idéia, a simetria como objeto presente em qualquer observação. A simetria sempre desempenhou um papel fundamental na vida do homem sob vários aspectos. O aspecto estético esteve presente nos primórdios da humanidade como símbolo da perfeição de “Deus”. Posteriormente foi observado que a simetria era um conceito não puramente estético mas de grande valia para a ciência (Weyl, 1997). Verificou-se que por trás das leis de conservação na natureza havia, de uma forma conceitual e não puramente geométrica, definições de simetria. Tais definições são usadas hoje em larga escala para explicar desde as energias de átomos (Levine, 1991) 85 até o modo de caminhar de animais (Golubitsky, 1998, Golubitsky, 1999). As técnicas de simetria para a solução de problemas se resumem a algumas aproximações simples: a. Encontrar equações que possuam propriedades de simetria semelhantes às propriedades observadas no sistema em questão. b. Analisar as relações entre os parâmetros provenientes da solução desse sistema de equações com a simetria do problema. c. Estudar a evolução do sistema de forma a preservar as propriedades de simetria já observadas. d. Extrair dessas soluções alguma informação sobre o modelo estudado. Existe ainda uma forma de estudar um sistema sem que seja necessário o trabalho com equações diferenciais. Este estudo é direcionado aos mapas ou difeomorfismos. Esses mapas são funções que possuem as propriedades de simetria do sistema e são construídos com base nestas. A análise matemática desses mapas resulta na obtenção de informações importantes sobre o sistema a ser estudado. A forma de construção desses mapas já é bem conhecida e muitos resultados já foram obtidos a esse respeito (Golubitsky, 1985, Golubitsky, 1988, Atson, 1998, Chossat, 1988). Aqui construímos um sistema que possui a característica de ser equivariante sob ação do grupo de simetria Oh,em outras palavras, se tomarmos γ ∈ Γ, onde Γ = Oh e g é um elemento de simetria do grupo, a ação do elemento do grupo sobre a coordenada e sobre o mapa resultam na mesma operação matemática, ou seja, f (γ r ) = γf ( r ) que se quer estudar. Visando manter a conexão com a realidade mostramos aqui de forma resumida uma aplicação das idéias de simetria em um sistema biológico, o código genético. Não obstante mostraremos como esse mapa se relaciona com o modelo algébrico para o código genético (Hornos, 1993, Hornos, 1999) e algumas de suas conseqüências para este modelo. 2. CONSTRUÇÃO DO SISTEMA DINÂMICO Aqui queremos apresentar o nosso sistema dinâmico detalhando a sua construção e mostrando alguns dos resultados mais importantes provenientes da iteração de mapa. O passo inicial é escrever o grupo de simetria Oh na sua forma matricial. Como este admite uma representação de dimensão 3 (Hammermesh, 1989, Barut, 1986) podemos associar a esta representação matrizes 3 ´ 3 em um total de 48 matrizes. O número de matrizes é equivalente ao número de elementos do grupo de simetria. As possíveis operações de simetria do grupo Oh podem ser vistas se estudarmos a Figura 1. Esta figura representa a simetria octaedral, ou seja, simetria do grupo Oh. (1) onde f(r) é nosso mapa e γ é um elemento de simetria do grupo. No caso do grupo Oh podemos ter γ como uma rotação de 90º em torno de um dos eixos x, y ou z no espaço. O sistema de coordenadas utilizadas aqui é o sistema euclidiano simples em três dimensões (Boldrini, 1984). O estudo desse sistema resultou em um processo dinâmico de quebra de simetria, ou seja, uma simetria é diminuída de forma espontânea através da propagação desse sistema no tempo. A análise do processo de quebra de simetria é feita através da observação dos atratores produzidos pela iteração desse sistema (Barany, 1993). Esses atratores, figuras geométricas, reproduzem de forma geral os aspectos de simetria encontrados no sistema 86 Fig. 1 - Grupo de simetria octaedral. Os índices podem ser rearranjados de maneira que a Figura 1 pareça não se mover, essas operações são as operações de invariância do grupo e o caracterizam. Como um exemplo façamos o seguinte, em uma seqüência de trocas tomemos como ponto inicial o índice 1 e levamos esse ao índice 2, essa operação é representada de duas maneiras 1→ 2 (2) Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 ou ainda como uma permutação, (12) (3) mas tal operação implica que o índice 3 → 4 e é caracterizada como uma rotação de 90º em torno do eixo que liga os pontos 5 e 6. Essa operação de simetria pode ser representada por uma matriz 0 1 0 M1 = 1 0 0 . 0 0 1 (4) −1 0 0 M 2 = 0 −1 0 , 0 0 − 1 (5) 0 0 1 . M 3 = 1 0 0 0 1 0 (6) (10) As funções invariantes são polinômios de coeficientes pares em x, y e z. Nosso mapa pode ser escrito como uma função desses polinômios e podemos através de um algebrismo complexo determinar os coeficientes que influenciarão na forma da dinâmica. Como resultado obtemos o seguinte mapeamento x[δP + σQ + λ + ϕ ( g ( P, Q, R)] f (r ) = y[δP + σQ + λ + ϕ ( g ( P, Q, R)] (11) z[δP + σQ + λ + ϕ ( g ( P, Q, R)] onde P, Q e R são os polinômios invariantes dados por P = x2 + y 2 + z2 ; Q = x2 y 2 + z 2 y 2 + x2 z 2 ; Essas três matrizes multiplicadas entre si formam um conjunto de 48 matrizes, incluindo-as, conjunto esse chamado de grupo, mais ainda, grupo de simetria pois deixa invariante a Figura 1 quando essas agem sobre os índices dessa mesma figura. Temos os dois pontos de partida para construirmos nosso sistema dinâmico (mapa). Supondo que um mapa ou função pode ser escrito, de forma mais geral, como f (r ) = ∑ Aαβη xα y β z η (9) continuando a ação das outras matrizes obtemos uma forma geral para o mapa equivariante sob a ação do grupo. Para obtenção do mapa mais geral devemos definir as funções invariantes sob a ação do grupo. Dado um elemento γ ∈ Γ, onde Γ = Oh e f(r): ℜ 3→ℜ 3. Dizemos que f(r) é invariante sob a ação dos elementos de Γ se f (γ r ) = γf (r ) = f ( r ). Essa matriz representa uma rotação em torno do eixo z de 90º. O grupo de simetria Oh pode ser produzido utilizando apenas 3 matrizes na forma M1, essas matrizes são chamadas de geradores do grupo. No nosso caso temos a matriz M1 como um dos geradores e os outros dois geradores serão as matrizes e xα y β z η f (r ) = ∑ Aαβη xα y β z η , xα y β z η R = x2 y 2 z 2; e δ, σ, ϕ são parâmetros fixos e λ é o parâmetro que determina a simetria do mapa quando iterado. 3. ATRATORES COM SIMETRIA (7) αβη é uma constante a se determinar através das onde Aα relações entre os coeficientes α, β e η. Usando o princípio de equivariância e tomando a primeira ação a matriz identidade, que faz parte do grupo de simetria Oh, teremos o primeiro resultado importante A xα y β z η ∑ αβη α β η f (r ) = ∑ Aαβη x y z , A xα y β z η ∑ αβη ou ainda Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 (8) Fig. 2 - Resultado da iteração do mapa para λ = -1.440, simetria octaedral preservada. 87 Fixando-se os valores δ = 1, σ = -0.7, ϕ = -0.8 temos uma dinâmica bem comportada, ou seja, uma dinâmica que quando iterada se mantém estável e o valor das coordenadas sempre assumem valores reais. O ponto de partida é dado com λ = -1.440. Neste valor o atrator produzido, descrito pela Figura 2 preserva a simetria do grupo Oh, mais ainda, a dinâmica mostra que essa simetria pode assumir uma forma diferente da forma de um octaedro, mas possui os mesmos elementos de simetria que o grupo octaedral. Isso pode ser verificado atuando os elementos no grupo nos pontos resultantes da iteração do difeormorfismo. Com a variação contínua de λ, temos o aparecimento de subsimetrias, ou seja, simetrias com uma menor quantidade de elementos. As subsimetrias ou subgrupos de simetria aparecem para λ = -1.400, λ = 1.354, λ = -1.332 e são ilustradas na Figura 3. É possível observar nessa figura três simetrias: a simetria D4, a simetria do grupo de Klein e a simetria Z2. Essas simetrias contêm cada uma 8, 4 e 2 elementos de simetria cada um, respectivamente. Fig. 3 - Representação dos subgrupos de simetria via atratores. Da esquerda para a direita simetria D4, K e Z2. Esses atratores, além de representarem uma quebra dinâmica de simetria, nos dão uma idéia de como um sistema que contém uma simetria octaedral como simetria residual é reduzido em subsimetrias via um processo dinâmico de quebra de simetria. Esse processo resulta em uma cadeia de quebra de simetria dada por: Oh ⊃ D4 ⊃ K ⊃ Z 2 (12) Essa cadeia reproduz várias propostas de modelos matemáticos que contém de forma intrínseca em sua natureza alguma simetria residual. O modelo algébrico para a evolução do código genético (Hornos, 1993) é um exemplo de um modelo natural que possui uma simetria como simetria residual. O resultado da análise dessas simetrias mostrou que ela é determinante para um melhor entendimento do ponto de vista matemático de como poderia ter se dado o processo de evolução dos códons responsáveis pela formação do código genético(Magini, 2002). Outro ponto importante foi a constatação de que a simetria de Klein desempenha um papel fundamental na determinação da estabilidade de um código genético. Foi verificado que quando o código era dito estável a 88 simetria de Klein os quais já eram considerados pela literatura especializada como candidatos a códigos estáveis (Osawa, 1995). 4. O MODELO EVOLUTIVO CÓDIGO GENÉTICO Uma importante aplicação dos resultados obtidos é no modelo algébrico para a evolução do código genético (Hornos, 1993, Hornos, 1999). Neste modelo parte-se do pressuposto de que a evolução dos códons se deu em saltos. Baseado em trabalhos anteriores (Osawa, 1995, Jukes, 1973) foi possível estabelecer uma conexão entre quebra de simetria e evolução. A hipótese principal deste modelo é que os códons, ou seja, uma seqüência de três bases Adenina, Guanina, Citosina e Uracil que são responsáveis pelas informações sobre a produção de proteínas nas células, evoluíram a partir de um único aminoácido e que em saltos foram sendo produzidos os aminoácidos posteriores até os 20 aminoácidos e o sinal de terminação que conhecemos hoje. Mas a possibilidade de combinações dessas bases gera um total de 64 códons. Esse fato dá ao código genético uma alta degenerescência, mais de um códon é responsável pela informação da síntese de um Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 único aminoácido. Além do mais, a distribuição dos códons não é uniforme, não temos um igual número de códons para os 20 aminoácidos e o sinal de terminação, na verdade esta distribuição segue um possesso de quebra de simetria. A quebra de simetria a princípio é reproduzida por conjuntos contínuos ou grupos contínuos. Essa quebra reproduz uma seqüência temporal de aparecimento dos códons. Essa seqüência é 1 ⇒ 6 ⇒ 14 ⇒ 16 ⇒ 21 na primeira etapa consideramos um único códon, que posteriormente sofre complexificação e produzindo em saltos 6, 14, 16 e 21 sendo esta última etapa representando os dias atuais. Em cada uma dessas etapas é definida uma simetria como correspondente no processo evolutivo, são elas 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATSON, P. J. A chaotic Hopf bifurcation in coupled maps, Physica D, vol. 118, p.199, 1998. (13) ⊃ K, onde (Z2)x representa uma reflexão no eixo x. Notem que as formas de quebra de simetria dadas pelas equações (12) e (13) possuem como grupos análogos em sua evolução. As possibilidades de subgrupos observados a partir do grupo Oh e suas possíveis quebras são em um número razoável. Mas a quebra de simetria proposta no modelo algébrico é única já que o modelo se baseia em hipóteses provenientes da Biologia e bem estabelecidas no mundo científico. Já a quebra de simetria observada na evolução do mapa tem um caráter, aparentemente, meramente matemático e único, em outras palavras, a dinâmica que tem como simetria inicial à simetria do grupo octaedral evolui em um processo de quebra de simetria de forma única dada pela equação (12). Aparentemente as ações estão desconexas, mas se observarmos o comportamento, ou o que chamamos de “pattern” do sistema, vemos uma clara conexão entre esses. Esse resultado veio a ratificar o modelo algébrico para o código genético, além de explicar alguns fenômenos dentro desse tornando-se complementar em alguns aspectos e de caráter retificador em outros. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sistemas dinâmicos vêm sendo usados para explicar vários sistemas na natureza. A força deste tipo de aproximação se mostra cada vez mais rica, no que diz respeito a captar dentro de um sistema complexo a Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Mapas com simetria são uma pequena parte das possíveis contribuições desse estudo. As possibilidades de aplicação são amplas com uma enorme possibilidade de exploração. Aqui apresentamos sucintamente um sistema dinâmico em três dimensões e suas propriedades de simetria e mostramos uma aplicação direta desse sistema que resultou, em grande parte, na ratificação de um modelo algébrico proposto para explicar a evolução do código genético. BARANY, E.; DELLNITZ, M.; GOLUBITSKY, M. Detecting the symmetry of attractors. Physica D, vol. 67, p. 66, 1993. Oh ⊃ D 4 × Z 2 ⊃ ( Z 2 ) x × ( Z 2 ) y × (Z 2 ) z ⊃ (Z 2 ) x × (Z 2 ) y × (Z 2 ) z simplicidade dos números. Os números por sua vez possuem padrões que vão da simetria geométrica a estados estatísticos. BARUT, A. O.; RACZKA, R. Theory group representations and applications. New York: World Scientific Publishing, 1986. BOLDRINI, J. L.; COSTA, S. I. R.; FIGUEIREDO, V. L.; WETZLER, H. G. Álgebra Linear. São Paulo: Editora Harper & How, 1984. CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. (Coleção Polêmica) CHOSSAT, P.; GOLUBITSKY, M. Iterates maps with Symmetry, SIAM J. Math. Anal., vol. 19, n. 6, p.1259 1988. EISBERG, R.; RESNICK, R. Física Quântica: Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas. Rio de Janeiro: Campus, 1994. GOLUBITSKY, M.; STEWART, I.; BUONO, P-L.; COLLINS, J. J. A modular network for legged locomotion. Physica D, vol. 115, p.56, 1998. GOLUBITSKY, M.; STEWART, I.; BUONO, P-L.; COLLINS, J. J. The role of symmetry inanimal locomotion. NATURE, vol. 401, p.693, 1999. GOLUBITSKY, M.; STEWART, I. N. Hopf bifurcation in the presence of symmetry. Arch. Rat. Mech. Anal., vol. 87, p. 107, 1985. GOLUBITSKY, M.; SCHAEFFER, D.; STEWART, I. Singularities and Group in Bifurcation Theory. New York: Springer, 1988. Vol. 2. 89 HAMMERMESH, M. Group Theory and its application to Physical Problems. New York: Dover Books, 1989. LEVINE, I. R. Quantum Chemistry. New Jersey: Prentice – Hall Inc., Fourth Edition, 1991. HORNOS, J. E. M.; HORNOS, Y. M. M. Algebraic model for the evolution of the genetic code. Phys. Rev. Lett., vol. 71, n. 26, 1993. MAGINI, M. O estudo de mapas equivariantes sob a ação do grupo octaédrico: Um sistema dinâmico para a evolução do código genético. 2002. Tese (Doutorado), IFSC/USP. HORNOS, J. E. M.; HORNOS, Y. M. M.; FORGER M. Symmetry and Symmetry Breaking: An algebraic approach to the genetic code. Int. J. of Mod. Phys. B, vol. 13, n. 23, 2795 1999. ISAAC, N. ÓPTICA. São Paulo: EdUsp, 1996. JUKES, T. H. Possibilities for the evolution of the genetic code from a preceding form. NATURE, 246, p.22, 1973. 90 MARTINS, R. O universo: Teorias sobre sua origem e evolução. São Paulo: Moderna, 1994. (Coleção Polêmica) OSAWA, S. Evolution of the Genetic Code. New York: Oxford University Press, 1995. WEYL, H. Simetria. São Paulo: EdUsp, 1997. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 NORMAS GERAIS PARA A PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS NA REVISTA UNIVAP A Revista UniVap é uma publicação de divulgação científica da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), que procura cumprir com a sua tríplice missão de ensino, pesquisa e extensão. Assim, a pesquisa na UNIVAP tem, dentre suas funções, a de formar elites intelectuais, sem as quais não há progresso. Esta publicação incentiva as pesquisas e procura o envolvimento de seus professores e alunos em pesquisas e cogitações de interesse social, educacional, científico ou tecnológico. Aceita artigos originais, não publicados anteriormente, de seus docentes, discentes, bem como de autores da comunidade científica nacional e internacional. Publica artigos, notas científicas, relatos de pesquisa, estudos teóricos, relatos de experiência profissional, revisões de literatura, resenhas, nas diversas áreas do conhecimento científico, sempre a critério de sua Comissão Editorial e de acordo com o formato dos artigos aqui publicados. Solicita-se observar as instruções a seguir para o preparo dos trabalhos. 1. Os originais devem ser apresentados em papel branco de boa qualidade, no formato A-4 (21,0cm x 29,7cm) e encaminhados completos, definitivamente revistos, com no máximo 15 páginas, digitadas em espaço 1,5 entre as linhas. Recomenda-se o uso de caracteres Times New Roman, tamanho 12, em 2 vias, acompanhadas de disquete (de 3,5"), de computador padrão IBM PC, com gravação do texto no Programa Word for Windows e, se possível, enviar o Artigo pelo e-mail [email protected]. Somente em casos muito especiais serão aceitos trabalhos com mais de 15 páginas. Os títulos das seções devem ser em maiúsculas, numerados seqüencialmente, destacados com negrito. Não se recomendam subdivisões excessivas dos títulos das Seções. 2. Língua. Os artigos deverão ser escritos preferencialmente em Português, aceitando-se também textos em Inglês e Espanhol. No caso do uso das línguas Portuguesa e Espanhola, deverá ser anexado um resumo em Português (ou Espanhol) e em Inglês (Abstract). 3. Os trabalhos devem obedecer à seguinte ordem: - Título (e subtítulo, se houver). Deve estar de acordo com o conteúdo do trabalho, conforme os artigos aqui apresentados. - Autor(es). Logo abaixo do título, apresentar nome(s) do(s) autor(es) por extenso, sem abreviaturas, com asterisco, colocado logo após o nome completo do autor ou autores, remetendo a uma nota de rodapé relativa à(s) informação(ões) referentes às instituições a que pertence(m) e às qualificações, títulos, cargos ou outros Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 atributos. - Resumo. Com no máximo 500 palavras, o resumo deve apresentar o que foi feito e estudado, seu objetivo, como foi feito (metodologia), apresentando os resultados, conclusões ou reflexões sobre o tema, de modo que o leitor possa avaliar o conteúdo do texto. - Abstract. Versão do resumo para a língua Inglesa. Caso o trabalho seja escrito em Inglês, o Abstract deverá ser traduzido para o Português (Resumo). - Palavras-chave (Key words). Apresentar de duas a cinco palavras-chave sobre o tema. - Texto. Deve ser distribuído de acordo com as características próprias de cada trabalho. Um trabalho pode, por exemplo, ter uma Introdução, um Desenvolvimento, Considerações Finais e Referências Bibliográficas. De um modo geral, contém: a) Introdução, b) Material e Métodos, c) Apresentação e Análise dos Dados d) Resultados, e) Discussão f) Conclusões, Recomendações ou Considerações Finais, g) Agradecimentos (quando necessário), h) Referências Bibliográficas. - Citações dentro do texto. As citações textuais longas (mais de três linhas) devem constituir um parágrafo independente. As menções a autores no decorrer do texto devem subordinar-se ao esquema sobrenome do autor, data (Novo, 1989, p.20). Se as idéias dos autores forem apresentadas de modo interpretado e resumido, portanto não sendo “textuais”, devem trazer apenas o sobrenome do autor e a data. Ex.: Segundo Demo (1991), nenhum texto diz tudo. As linhas não dizem tudo. As entrelinhas muitas vezes dizem mais. Caso o nome do autor já estiver no texto, indica-se apenas a data entre parênteses. Ex.: Segundo dados do SEBRAE (1993), o grupo de áreas destinadas às lavouras temporárias ficava em torno de 7% do total das terras. Se a citação for textual, deve-se adicionar o número da página. Ex.: Segundo Jaime Lerner (1992, p.20), “A cidade ambientalmente correta evita a industrialização forçada, rejeita as indústrias poluentes...”. - Refências Bibliográficas. Elas devem ser apresentadas no final do trabalho, em ordem alfabética de sobrenome do(s) autor(es), como nos seguintes exemplos: a) Livro: SOBRENOME, Nome. Título da obra. Local de publicação: Editora, data. Exemplo: PÉCORA, A. Problemas de redação. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. b) Capítulo de livro: SOBRENOME, Nome. Título do capítulo. In: SOBRENOME, Nome (org.). Título do livro. Local de publicação: Editora, data. Página inicial-final. Exemplo: LACOSTE, Y. Liquidar a geografia... liquidar a idéia nacional? In: VESENTIN, José William (org.). Geografia e ensino: textos críticos. Campinas: Papirus, 1989. p.31-82. 91 c) Artigo de periódico: SOBRENOME, Nome. Título do artigo. Título do periódico, local de publicação, volume do periódico, número do fascículo, página inicial-página final, mês(es). Ano. Exemplo: ALMEIDA JÚNIOR, M. A economia brasileira. Revista Brasileira de Economia, São Paulo, v. 11, n.1, p. 26-28, jan./fev. 1995. d) Dissertações e Teses: SOBRENOME, Nome. Título da dissertação (ou tese). Local. Número de páginas (Categoria, grau e área de concentração). Instituição em que foi defendida. data. Exemplo: CECCATO, V. Proposta metodológica para avaliação da qualidade de vida urbana a partir de dados convencionais de sensoriamento remoto, Sistema de Informações Geográficas e banco de dados georrelacional. São José dos Campos, 140 p. (INPE5457-TDI/499). Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1992. e) Outros casos: Consultar as Normas da ABNT para Referências Bibliográficas. 4. As figuras (desenhos, gráficos, ilustrações, fotos) e tabelas devem apresentar boa qualidade e serem acompanhados de legendas breves e claras. Indicar, no verso das ilustrações, escritos a lápis, o sentido da figura, o nome do autor e o título abreviado do trabalho. As figuras devem ser numeradas seqüencialmente com números arábicos e iniciadas pelo termo Fig., devendo ficar na parte inferior da figura. Exemplo: Fig. 4 - Gráfico de controle de custo. No caso das tabelas, elas também devem ser numeradas seqüencialmente, com números arábicos, e colocadas na parte superior da tabela. Exemplo: Tabela 5 - Cronograma da Pesquisa. As figuras e tabelas devem ser impressas juntamente com o original e quando geradas no computador deverão estar gravadas no mesmo arquivo do texto original. No caso de fotografias, desenho artístico, mapas etc., estes devem ser de boa qualidade e em preto e branco. 6. O Corpo Editorial avaliará sobre a conveniência ou não da publicação do trabalho enviado, bem como poderá indicar correções ou sugerir modificações. A cada edição, o Corpo Editorial selecionará, dentre os trabalhos considerados favoráveis para publicação, aqueles que serão publicados imediatamente. Os não selecionados serão novamente apreciados na ocasião das edições seguintes. 7. Os conteúdos e os pontos de vista expressos nos textos são de responsabilidade de seus autores e não apresentam necessariamente as posições do Corpo Editorial da Revista UniVap. 8. Originais. A Revista não devolverá os originais dos trabalhos e remeterá, gratuitamente, a seus autores, cinco exemplares do número em que forem publicados. 9. O Corpo Editorial se reserva o direito de introduzir alterações nos originais, com o objetivo de manter a homogeneidade e a qualidade da publicação, respeitando, porém, o estilo e a opinião dos autores. 10. Endereços. Deverá ser enviado o endereço completo de um dos autores para correspondência. Os trabalhos deverão ser enviados para: UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA - UNIVAP PRÓ-REITORIA DE INTEGRAÇÃO UNIVERSIDADE/SOCIEDADE Conselho Editorial da Revista UniVap Av. Shishima Hifumi, 2.911 - Bairro Urbanova CEP 12244-000 - São José dos Campos - SP Telefone: (0 12) 3947-1036 Fax: (0 12) 3947-1211 E-mail: [email protected] 5. O encaminhamento do original para publicação deve ser feito acompanhado do disquete e com a indicação do software e versão usada. 92 Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 Gráfico 1 - Participação (%) do Brasil nas Exportações e Importações Mundiais - 1950 - 2000 2,6 2,4 2,2 2,0 Participação % 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 Exportação Im portação Gráfico 2 - Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2000 - US$ bilhões FOB 60 55 50 45 35 30 25 20 15 10 5 0 -5 -10 Exportação Importação Saldo Com ercial 1998 1995 1992 1989 1986 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1956 1953 -15 1950 US$ bilhões FOB 40 Fig. 1 - Esquema de Interação do Parque Tecnológico. Fig. 2 - Resultado da iteração do mapa para λ = -1.440, simetria octaedral preservada. Fig. 1 - Grupo de simetria octaedral. Fig. 3 - Representação dos subgrupos de simetria via atratores. Da esquerda para a direita simetria D4, K e Z2. Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 95
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