planejamento estratégico em pequenas empresas do setor
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planejamento estratégico em pequenas empresas do setor
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Edson Rodrigues PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM PEQUENAS EMPRESAS DO SETOR AEROESPACIAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Taubaté – SP 2008 UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Edson Rodrigues PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM PEQUENAS EMPRESAS DO SETOR AEROESPACIAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional do Departamento de Economia, Contabilidade e Administração da Universidade de Taubaté. Área de concentração: Planejamento e Desenvolvimento Regional. Orientador: Prof. Dr. Francisco Cristóvão Lourenço de Melo. Taubaté – SP 2008 EDSON RODRIGUES PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM PEQUENAS EMPRESAS DO SETOR AEROESPACIAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional do Departamento de Economia, Contabilidade e Administração da Universidade de Taubaté. Área de concentração: Planejamento e Desenvolvimento Regional. Orientador: Prof. Dr. Francisco Cristóvão Lourenço de Melo. Data: __________________ Resultado: ______________ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Francisco Cristóvão L. de Melo Universidade de Taubaté Assinatura __________________________________ Prof. Dr. Francisco Piorino Neto Instituto de Aeronáutica e Espaço Assinatura __________________________________ Profa. Dra. Isabel Cristina dos Santos Universidade de Taubaté Assinatura __________________________________ Dedicado a Celina, amiga, companheira e esposa, pelos filhos que me deu e pelo seu incentivo perseverante na busca de uma vida alegre e feliz a dois. AGRADECIMENTOS A todos os professores que durante suas aulas indicaram os melhores caminhos para possibilitar a ampliação do conhecimento adquirido. Ao Professor Doutor Francisco Cristóvão Lourenço de Melo pelo conhecimento oferecido, permitindo que a pesquisa tivesse o direcionamento adequado. Obrigado pelo seu precioso tempo. Para a Professora Doutora Isabel Cristina dos Santos por seu incentivo pessoal e especial contribuição à qualidade deste trabalho. Ao Doutor Francisco Piorini Neto pela disposição em contribuir ao conteúdo deste trabalho. A todos os executivos que participaram da pesquisa e contribuiram com informações relevantes para a elaboração deste trabalho. Para a minha esposa e para os meus filhos pela compreensão durante a minha ausência na realização deste estudo. Aos meus colegas de turma pelo gratificante relacionamento que mantivemos e pela troca de conhecimentos tão valiosos. Mantenha sempre suas forças concentradas e na melhor forma possível. Essa é a idéia principal. Antecipe-se a todos o quanto mais puder. Karl von Clauzewitz RESUMO A utilização de ferramentas de gestão em um mercado altamente mutável é um fator decisivo para a sobrevivência das empresas, especialmente das de pequeno porte. O ambiente econômico dinâmico conduz as empresas a adotarem as estratégias adequadas para preservarem as vantagens competitivas existentes e criarem novos diferenciais para os seus negócios. As estratégicas que visam ampliar os resultados da empresa são aquelas que exploram as competências internas para conquistar as melhores oportunidades que o mercado apresenta. O planejamento estratégico sistematiza a formulação de ações apropriadas, almejando mitigar os riscos e obter melhores resultados. Este trabalho procura verificar se as empresas de pequeno porte do setor aeroespacial de São José dos Campos – SP administraram seus negócios, no ano de 2006, fundamentados em um planejamento estratégico sistematizado. A pesquisa descreve o perfil das empresas, seus produtos ou serviços e identifica as formas de preparação para o atendimento ao mercado. O estudo apura as principais práticas de gestão adotadas, os indicadores utilizados para mensurar o desempenho das empresas e descreve os resultados obtidos com as práticas adotadas. Verifica se as empresas têm orientação para o suprir as grandes empresas do setor e estão focadas nas questões operacionais ou estão voltadas para o atendimento do mercado como um todo. Este estudo propõe, ainda, identificar se as empresas possuem capacidades relevantes com possibilidades de criação de novos produtos para outros setores industriais. Palavras-chave: Planejamento estratégico. Plano de negócios. Pequena empresa. Setor aeroespacial. ABSTRACT The use of administration tools in a highly changeable market is a decisive factor for the companies’ survival, especially of the small size companies. The dynamic economical atmosphere leads the companies to adopt the appropriate strategies for preserve their competitive advantages and create new business differential. The strategic that seek to enlarge the company results are those which explore the internal competences to conquer the best opportunities that the market presents. The strategic planning systematizes the appropriate actions formulation, longing for to mitigate the risks and to obtain better results. This work tries to verify if the small size companies of Sao Jose dos Campos - SP aerospace area managed their businesses based in a systematized strategic planning in the year of 2006. The research describes the companies profile, their products or services and identifies the preparation forms to the market attendance. This study find out the main practices administration adopted, the key performance indicators used for measure the companies acting and describes the results obtained with the adopted practices. This work verifies if the companies have orientation for supplying the great companies of the area and if they are focused in the operational subjects, or the companies are managed their activities to the marketing attendance. This study proposes, yet, to identify if the companies capacities with potentials of new products creation for other industrial areas. Key words: Strategic planning. Business plan. Small companies. Aerospace industry. LISTA DE TABELAS Tabela 1 Área de atuação ..................................................................................................... 82 Tabela 2 Produtos e serviços oferecidos............................................................................... 86 Tabela 3 Atividades para atender a demanda....................................................................... 88 Tabela 4 Planejamento nas empresas .................................................................................. 90 Tabela 5 Razões para não fazerem planejamento estratégico ............................................. 99 Tabela 6 Indicadores de desempenho ................................................................................ 101 Tabela 7 Alterações na infra-estrutura (2006 / 2005) .......................................................... 102 Tabela 8 Principais resultados financeiros .......................................................................... 104 Tabela 9 Principais resultados de mercado......................................................................... 105 Tabela 10 Principais resultados em processos ................................................................... 105 Tabela 11 Principais resultados em recursos humanos ...................................................... 106 Tabela 12 Interesses no método de planejamento estratégico ........................................... 108 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Processo do planejamento estratégico e de implementação e controle ................. 32 Figura 2 Matriz de ameaças .................................................................................................. 39 Figura 3 Matriz de oportunidades .......................................................................................... 40 Figura 4 Matriz SWOT ........................................................................................................... 55 Figura 5 Relação entre as variáveis ...................................................................................... 56 Figura 6 Forças que dirigem a concorrência na indústria...................................................... 57 Figura 7 Matriz BCG .............................................................................................................. 60 Figura 8 Matriz de atratividade de mercado e posição competitiva....................................... 63 Figura 9 Matriz de atratividade do mercado / Posição do negócio........................................ 65 Figura 10 Matriz de estratégicas genéricas........................................................................... 67 Figura 11 Desdobramento das estratégias............................................................................ 72 Figura 12 Quantidade de profissionais nas empresas .......................................................... 84 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................12 1.1 O PROBLEMA...............................................................................................14 1.2 OBJETIVOS ..................................................................................................15 1.2.1 Objetivo geral ...........................................................................................15 1.2.2 Objetivos específicos...............................................................................16 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO........................................................................16 1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .........................................................................17 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................................................18 2 REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................20 2.1 ORIGENS DA INDÚSTRIA AEROESPACIAL ...............................................20 2.1.1 Formação da base aeronáutica...............................................................23 2.2 MORTALIDADE DAS EMPRESAS NO ESTADO DE SÃO PAULO..............26 2.3 ORIGENS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .......................................27 2.4 A PREPARAÇÃO PARA UM PLANO ESTRATÉGICO .................................30 2.5 O PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ................................32 2.6 ANÁLISES DO AMBIENTE EXTERNO .........................................................34 2.7 ANÁLISES INTERNAS..................................................................................41 2.7.1 Função mercadológica ............................................................................43 2.7.2 Função financeira e administrativa.........................................................45 2.7.3 Função produtiva .....................................................................................46 2.7.4 Função dos recursos humanos ..............................................................47 2.7.5 Ponderação dos pontos fortes e fracos .................................................47 2.8 DIRECIONADORES ESTRATÉGICOS.........................................................49 2.9 FORMULAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS...........................................................52 2.9.1 Análise SWOT...........................................................................................54 2.9.2 Forças competitivas.................................................................................56 2.9.3 Análise da carteira de negócios..............................................................58 2.9.4 Modelo de avaliação da atratividade de mercado .................................62 2.9.5 Estratégias competitivas genéricas........................................................66 2.9.6 Viabilidade da estratégia estabelecida ...................................................69 2.9.7 Desdobramento das estratégias .............................................................72 2.9.8 Controle e revisão ....................................................................................73 3 MÉTODO..........................................................................................................75 3.1 NATUREZA DA PESQUISA..........................................................................75 3.2 SUJEITOS DA PESQUISA............................................................................75 3.3 INSTRUMENTO DE COLETA.......................................................................76 3.4 ESTUDOS DESCRITIVOS............................................................................76 3.5 ESTUDOS DE CASO ....................................................................................77 3.6 UNIVERSO PESQUISADO ...........................................................................78 3.7 SELEÇÃO DAS EMPRESAS ........................................................................78 3.8 COLETA DE DADOS ....................................................................................80 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.....................................................................81 4.1 PERFIL DAS EMPRESAS.............................................................................81 4.1.1 Tempo de existência ................................................................................81 4.1.2 Área de atuação........................................................................................82 4.1.3 Tipo de empresa .......................................................................................84 4.1.4 Quantidade de profissionais ...................................................................84 4.1.5 Porte da empresa .....................................................................................85 4.2 PRODUTOS E SERVIÇOS OFERECIDOS...................................................85 4.3 PREPARAÇÃO PARA ATENDER AO MERCADO .......................................88 4.4 PLANEJAMENTO NAS EMPRESAS ............................................................90 4.5 EMPRESAS COM PLANEJAMENTO ESTRUTURADO ...............................91 4.5.1 Empresa 1 .................................................................................................92 4.5.2 Empresa 2 .................................................................................................95 4.6 EMPRESAS SEM PLANEJAMENTO ESTRUTURADO................................98 4.6.1 Por que não fazem o planejamento estratégico ....................................98 4.6.2 Avaliação dos resultados do negócio ..................................................100 4.6.3 Alterações na infra-estrutura ................................................................102 4.6.4 Principais resultados alcançados.........................................................103 4.6.5 Interesses no método de planejamento estratégico ...........................107 5 CONCLUSÃO ................................................................................................109 5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ..........................................111 REFERÊNCIAS.................................................................................................113 APÊNDICE A – FORMULÁRIO ........................................................................116 1 INTRODUÇÃO A dinâmica do mercado atual sugere que as empresas tenham um planejamento estratégico visando reagir às condições que o ambiente apresenta. É de conhecimento comum que as grandes empresas normalmente têm aplicado um modelo de gestão que lhes permita ajustar as suas competências às variantes de mercado. Porém, as pequenas empresas nem sempre utilizam ferramentas avançadas de gestão empresarial, seja pela falta de pessoal especializado, seja pela orientação do negócio a poucos clientes ou outros fatores, como desconhecimento das ferramentas disponíveis. O planejamento estratégico orientado para o mercado é o processo de gestão para desenvolver e manter o alinhamento entre os objetivos, conhecimento e os recursos da empresa, visando aproveitar as oportunidades em um mercado altamente mutável. Tem como objetivo ajustar e reajustar os negócios, produtos e serviços da empresa, visando o crescimento e resultados almejados. As empresas, atualmente, competem em seus setores de atuação com estratégias explícitas ou com atividades implícitas. Suas estratégias podem tanto explicitar um processo estruturado e sistemático de planejamento, como ter uma evolução implícita a partir das ações dos diversos departamentos funcionais da empresa. Cada departamento funcional, por meio dos seus próprios recursos, buscará métodos ditados pela orientação do profissional que o comanda e pelos incentivos recebidos. No entanto, a somatória desses métodos dificilmente direcionará para as melhores estratégias (PORTER, 2004), caso não sejam encaminhadas a um objetivo comum, mensuradas e acompanhadas. 13 Com um planejamento estruturado ou ações empíricas, pode-se dizer que a gestão das empresas pratica estratégias para obter vantagens sobre seus competidores e identificar as oportunidades que o ambiente econômico apresenta, para explorar suas competências-chave. Os dirigentes têm diante de si a necessidade de adaptar suas empresas às novas alterações de cenário impostas pelo mercado, revendo e reformulando suas estratégias para adquirir flexibilidade, ampliar suas chances de respostas e obter sucesso. Não havendo um alinhamento às estratégias que norteiam a empresa como um todo, poderão aparecer desdobramentos que encaminharão a empresa para rumos diversos. Se cada departamento funcional desenvolver uma estratégia que não leve ao objetivo imperativo da empresa, o resultado geral obtido não será eficaz para a perpetuidade do negócio. O planejamento das grandes indústrias prevê a contratação de fornecedores de produtos e serviços para atender suas necessidades de produção e, entre eles, existem inúmeras pequenas empresas. São José dos Campos – SP é um município com vocação para a área aeroespacial. Neste município se encontram grandes organizações dessa área, com penetração internacional, e necessitam da contratação das pequenas empresas para cumprir seus programas produtivos. A baixa capacidade de produção em escala e pouca visão de mercado condicionam as pequenas empresas a sobreviverem principalmente em função dos planos governamentais ou das grandes empresas. Tornam-se especialistas nos produtos daqueles clientes. Não havendo um planejamento que vise atender um mercado diversificado com suas competências técnicas, as pequenas empresas 14 correm o risco de desaparecerem com a perda de contratos das grandes organizações às quais são fiéis. 1.1 O PROBLEMA Considerando-se que a prática sistemática do planejamento estratégico empresarial pode ser uma ferramenta que contribui para a melhoria do desempenho das empresas e que algumas delas têm sucesso mesmo sem a sua utilização, o problema básico que se apresenta é: As empresas de pequeno porte do município de José dos Campos - SP, com produtos e serviços destinados ao setor aeroespacial, executaram suas atividades empresariais em 2006 fundamentadas em um planejamento estratégico estruturado? A utilização do método de planejamento estratégico estruturado favorece ao aproveitamento das competências técnicas da empresa para a exploração de oportunidades que o mercado apresenta. Desta forma, as empresas poderão obter ampliação de suas atividades reduzindo a dependência de um único setor da indústria. As análises do ambiente externo, proporcionadas pela ferramenta de gestão, identificam os principais riscos que a empresa enfrentará no seu ambiente competitivo, facilitando a formulação de ações que possam mitigar os potenciais problemas para o seu desempenho. O emprego metódico de avaliações das habilidades e competências internas da empresa direciona ações para as necessidades de treinamento e capacitação dos profissionais da empresa, objetivando a conquista das oportunidades encontradas no mercado. 15 Uma vez identificadas as oportunidades e ameaças no cenário de atuação da empresa e verificadas as forças e fraquezas internas da empresa, as formulações de estratégicas adequadas para a atuação empresarial tornam-se mais explícitas, beneficiando a competitividade e conseqüente perpetuação dos negócios. As empresas competitivas são dirigidas por uma orientação ao mercado e por um planejamento estratégico. Esta ferramenta de gestão é o ponto de partida para o desdobramento das declarações da missão e da visão, aos principais objetivos que a empresa pretende alcançar nos próximos dois, dez anos ou mais. O plano estratégico dá direcionamento aos planos operacionais, que indicam como a empresa espera atingir os seus objetivos de negócios futuros. 1.2 OBJETIVOS Os objetivos estão divididos em geral e específicos. Para alcançar o objetivo geral foram formulados cinco objetivos específicos que nortearam a pesquisa, procurando responder ao problema identificado. 1.2.1 Objetivo geral Esta pesquisa tem por objetivo verificar se as empresas de pequeno porte de São José dos Campos - SP, com produtos e serviços dirigidos ao setor aeroespacial, executaram suas operações empresariais, em 2006, fundamentadas em um planejamento estratégico estruturado e descrever os principais resultados que o modelo de gestão adotado tem ocasionado nas empresas pesquisadas. 16 1.2.2 Objetivos específicos • Delinear o perfil das empresas e qual a prática de planejamento empresarial. • Identificar se as empresas do setor aeroespacial são orientadas para o mercado ou para atendimento das grandes empresas estabelecidas na região. • Caracterizar os indicadores de desempenho quanto ao seu direcionamento estratégico ou operacional. • Descrever os principais resultados alcançados com o modelo de gestão adotado e as intenções de aprimoramento da ferramenta de planejamento estratégico. • Verificar a capacidade de atuação em outros setores industriais. 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO Devido a vocação regional ao setor aeroespacial, trabalhou-se somente com empresas de pequeno porte, que tenham produtos e serviços que atendam a este setor da cidade de São José dos Campos - SP. O estudo aborda empresas com faturamento bruto anual inferior a R$ 10.500.000,00 em 2006. O critério do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) determina o porte das empresas como: • Microempresas: receita operacional bruta anual ou anualizada até R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais); 17 • Pequenas Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e inferior ou igual a R$ 10.500.000,00 (dez milhões e quinhentos mil reais); • Médias Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 10.500.000,00 (dez milhões e quinhentos mil reais) e inferior ou igual a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais); • Grandes Empresas: receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais). São consideradas participantes da pesquisa apenas as empresas fundadas há mais de três anos, por já terem ultrapassado o período introdutório no mercado, o qual, segundo a pesquisa do Sebrae-SP (2005), apresentam menores taxas de mortalidade. 1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO As pequenas empresas possuem um papel mais relevante do que apenas complementar às lacunas deixadas pelas funções não exercidas pelas grandes empresas. A existência das pequenas empresas também auxilia na desconcentração espacial das atividades econômicas que conseqüentemente auxiliam no desenvolvimento de áreas periféricas, fixando rendas nestas áreas e amenizando desequilíbrios socioeconômicos regionais. As grandes empresas, mesmo aquelas que não têm um planejamento estratégico formal e estruturado, já têm desenvolvido as atividades ligadas ao 18 modelo de gestão estratégica, como análises de mercado, indicadores internos, relatórios gerenciais de metas e resultados. As pequenas empresas buscam atender mais intensamente um nicho específico de mercado, com sua maior adaptabilidade, do que as grandes empresas. São influenciadas por suas capacidades internas e pelo desenvolvimento da rede de relacionamentos externo, que determinam o seu sucesso ou fracasso (BERTÉ, 2006). O setor aeroespacial é estrategicamente importante para o Brasil. A partir dele, puderam ser disseminadas as principais inovações tecnológicas para diversos outros setores da produção, como de bens de consumo duráveis, desenvolvimento de programas de computador e bens intermediários. O desenvolvimento regionalizado da indústria aeroespacial promove a expansão periférica regional atraindo empresas fornecedoras do setor. Provoca o aumento da infra-estrutura municipal pela urbanização e serviços aos cidadãos. Desta forma, o desenvolvimento extrapola a escala “mesolocal” e “macrolocal”, atingindo a escala global (SOUZA, 2001). 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO O estudo foi dividido em quatro capítulos para melhor entendimento do leitor. O primeiro capítulo apresenta a introdução, considerando-se a definição do problema da pesquisa, seus principais objetivos, a relevância e a delimitação do estudo. O segundo capítulo é um compilado bibliográfico, iniciando com uma narrativa sobre as origens da indústria aeroespacial em São José dos Campos – SP, 19 aspectos sobre a mortalidade das novas empresas e, em seguida, aborda as propostas para formulação de um planejamento estratégico, procurando descrever os principais passos a serem seguidos para a elaboração de plano estratégico, sob a ótica de diversos autores. No terceiro capítulo é demonstrado o método de pesquisa utilizado no trabalho. Trata, também, sobre a natureza da pesquisa, o universo pesquisado e os critérios para seleção das empresas envolvidas, sujeitos e instrumentos para a coleta dos dados e a forma de tabulação. No quarto capítulo os dados são analisados e é feita a discussão sobre os resultados obtidos. Por fim, são apresentadas a conclusão deste estudo e as recomendações para novos estudos sobre o tema da pesquisa. 20 2 REVISÃO DA LITERATURA Neste capítulo serão descritas informações originadas de diversos autores. Inicia com o ambiente econômico em que surgiu a indústria aeroespacial no Brasil, em especial em São José dos Campos - SP. Em seguida, é descrita a taxa de mortalidade das novas empresas, segundo estudos do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo – Sebrae-SP. Complementarmente, para dar embasamento teórico ao estudo, são abordados aspectos sobre as origens do planejamento estratégico, a sua preparação, o seu processo, passando pelas análises externas e internas da empresa e, finalizando, algumas referências sobre as formulações das estratégias. 2.1 ORIGENS DA INDÚSTRIA AEROESPACIAL A industrialização brasileira teve origens em uma base agrícola-exportadora, em resposta às dificuldades de importação, devido aos impactos da Primeira Guerra Mundial, da Grande Depressão de 1930, seguidas da Segunda Guerra Mundial. O embaraço para a importação de produtos que abastecessem o mercado brasileiro promoveu a necessidade da busca de alternativas para a industrialização. Suzigan (2000) aponta as dificuldades encontradas na importação de insumos após a Primeira Grande Guerra Mundial, seguida da Grande Depressão e, posteriormente, reforçadas com o evento da Segunda Grande Guerra Mundial como aspectos positivos àqueles que influenciaram o desenvolvimento industrial brasileiro. Com a crise no mercado mundial a partir da década de 1930, os investimentos, que antes eram voltados especialmente para a expansão agrícola 21 cafeeira, orientam-se para uma produção manufatureira, procurando atender a demanda interna, até então suprida pelas importações (FURTADO, 1964). Esse redirecionamento do capital teve importância estratégica para o crescimento das atividades econômicas industriais. O ambiente econômico relacionado com o aspecto político e físico, propiciou condições para a crescente concentração de capital a partir de 1930, que antes não era possível em função da fragmentação regionalizada do mercado. As atividades cada vez maiores das empresas, devido suas vantagens financeiras, comerciais e produtivas, com operações em escala e a concentração de atividades em setores específicos, promoveram a redução de custos de serviços industriais, como água, energia e transportes. Fatos que facilitaram ainda mais a concentração de capital e o agrupamento espacial (SINGER, 1998). Houve quatro anos de crise depressiva no Brasil após 1929. Antes de 1930, a economia brasileira não se apresentava de forma integrada, marcando uma trajetória econômica específica de cada região com sua própria história. No período pós-1933 houve rápida diversificação do agro-negócio paulista, juntamente com a sua expansão industrial e fortalecida pela urbanização causada por ela (CANO, 1998). Considerando que o Estado passa a assumir o papel de regulador da acumulação e reprodução de capital a partir da década de 1930, estabeleceram-se as diretrizes gerais do desenvolvimento econômico brasileiro. O modelo de desenvolvimento industrial e urbano passa a ser o indutor da reorganização sócioespacial (RODRIGUES; SANTOS; OLIVEIRA, 1994). O capital, de início, se concentrou espacialmente em São Paulo - SP devido o grande parque industrial já existente na capital, fruto do regionalismo do mercado agrícola da cafeicultura. Mesmo após sua migração para o norte do Paraná, na 22 década de 1940, a hegemonia desse mercado paulista não se alterou, pois não podia mais ser disputada por outros estados (SINGER, 1998). A intervenção do Estado na economia brasileira passa a beneficiar a industrialização a partir dos anos 1940, promovendo a instalação de grandes empresas estatais, especialmente no setor da indústria pesada, como siderurgia, indústria química, mecânica pesada, metalurgia e geração de energia entre outras. Essas indústrias apresentavam um retorno financeiro em longo prazo e necessidade de fortes aportes de investimentos, pouco atrativas para o capital privado (BORDO, 2005). Para Singer (1998), a partir da década de 1950, o processo de substituição de importações passa a movimentar a indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos) e a indústria de bens intermediários (siderurgia, produtos químicos, borracha, papel). Com investimentos vindos em grande parte do capital estrangeiro, trazendo técnicos de produção em escala ao país, a concentração se deu fortemente na cidade de São Paulo e nas suas imediações, como Baixada Santista, Campinas e Vale do Paraíba. A ação governamental, preconizada nas Políticas Públicas, investe em mineração, indústrias básicas como o petróleo e o aço (RODRIGUES; SANTOS; OLIVEIRA, 1994). A fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1941, localizada em Volta Redonda – RJ, Vale do Paraíba, foi um marco no processo industrial brasileiro e regional. Essa companhia inicia suas operações em 1946 e cumpria a determinação do Estado em fornecer aço plano para atender as futuras necessidades industriais pretendidas, com a de embalagens, de construções civis, automotivas e aeronáuticas, entre outras. 23 2.1.1 Formação da base aeronáutica O Estado criou o Ministério da Aeronáutica mediante o Decreto Lei nº. 2961 de 20 de janeiro 1941. As necessidades de desenvolvimento industrial nesse setor, a formação de engenheiros brasileiros para desenvolver o conhecimento técnico das atividades voltadas para o setor da aviação nacional e a segurança do país, foram os principais motivadores para essa determinação. O Ministério da Aeronáutica formou a Comissão de Organização do Centro Técnico de Aeronáutica (COCTA) em 29 de Janeiro de 1946, por meio da Portaria nº. 36, oficializada apenas em 25 de março de 1949, por intermédio do Decreto nº. 26.508. Essa comissão teve a meta de promover as instalações de um Centro Técnico Aeroespacial (CTA), órgão científico e técnico, com o objetivo de exercer atividades em prol da Força Aérea Brasileira para fomentar a Aviação Civil e da futura Indústria Aeronáutica. A cidade de São José dos Campos - SP foi escolhida como local apropriado para a instalação do CTA. Os principais fatores que contribuíram para sua escolha foram: localização às margens da antiga rodovia Rio - São Paulo (atual Via Presidente Eurico Gaspar Dutra – Via Dutra), características topográficas e climatológicas favoráveis à aviação, facilidade de obter energia, distância adequada dos centros urbanos, proximidade do Porto de São Sebastião – SP e acesso às indústrias de médio e grande porte instaladas no entorno da capital de São Paulo. Conforme a previsão do plano original, o primeiro instituto a ser criado no CTA seria uma escola formadora de engenheiros aeronáuticos. Na Escola Técnica do Exército, localizada no Rio de Janeiro – RJ havia o curso de engenharia aeronáutica. Os cursos de preparação de engenheiros aeronáuticos foram transferidos daquela 24 escola para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) por meio do Decreto nº. 27.695 de 16 de janeiro de 1950, sendo que a primeira turma do ITA iniciou os estudos em 1947 em São José dos Campos – SP. A indústria aeronáutica brasileira teve início em outubro de 1954, com a fundação da Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva, instalada no Aeroporto de Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ. Em 1960, a empresa abriu um escritório na cidade de São José dos Campos – SP, nas proximidades do CTA, objetivando incrementar as pesquisas e desenvolvimento de aeronaves. Mediante afirmativa de Santos e Amato Neto (2005), apesar do esforço para a formação das bases aeronáuticas ter sido iniciada na década de 1940, a sua intensificação se deu na década de 1960, com o conhecimento do setor gerado pelos laboratórios do CTA e adicionado aos demais estudos de engenharia de outras instituições. Fato que permitiu a adequação de produtos com padrão de classe mundial no setor. O presidente Arthur da Costa e Silva, mediante o Decreto nº. 770 de 19 de agosto de 1969, sob a liderança do Ministro da Aeronáutica, cria a Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A., empresa de capital misto, destinada a fabricação em série de aviões. A indústria aeronáutica teve seu desenvolvimento, especialmente da Embraer, devido aos incentivos dados pelo governo por ocasião da sua criação (SILVA, 2005). Ainda de acordo com Silva (2005), o incentivo foi uma concessão dos militares, desde a doação de um terreno em local privilegiado, assim como a infra-estrutura básica necessária que foi transferida do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do governo diretamente para a Embraer. Diversos outros fatos contribuíram para o avanço do processo de industrialização de São José dos Campos - SP, tais como: a renovação da antiga 25 rodovia Rio - São Paulo inaugurada em 1951 - a Via Presidente Eurico Gaspar Dutra – Via Dutra, encurtando 111 quilômetros entre as duas maiores capitais do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro – RJ e a cidade de São Paulo - SP, a implantação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), atual Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial e as operações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no eixo da rodovia. A indústria aeroespacial no Brasil deverá atingir o volume de negócio na ordem de US$ 7,8 bilhões com a ocupação de 27 mil postos de trabalho em 2010. Para atingir essas estimativas, é necessário investir no fortalecimento das pequenas e médias empresas do setor aeroespacial (BARTELS, 2003 apud SANTOS; AMATO NETO, 2005, p. 39). O município de São José dos Campos – SP tornou-se um pólo aeroespacial devido as suas condições topográficas, de clima e localização. O município recebeu investimentos federais e esforçou-se para a implementação desse setor. O parque industrial de São José dos Campos – SP tem forte concentração do setor aeroespacial. Mediante levantamentos realizados pelo autor em associações comerciais e industriais, cadastro de empresas e informações dos empresários locais em 2006, o município agrega 74 empresas voltadas para atender ao setor aeroespacial, abrangendo os segmentos aeronáutico, espacial e de segurança. Em 2006, o setor da indústria totalizou cerca de 22 mil empregos e a Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer é a uma das maiores exportadoras do Brasil. A remuneração dos profissionais especializados neste setor tem contribuído para o aumento no padrão social da população e para o crescimento econômico do município, proporcionando melhorias dos serviços básicos que atendem a região. 26 2.2 MORTALIDADE DAS EMPRESAS NO ESTADO DE SÃO PAULO Muitas empresas não chegam a sua maturidade por falta de previsibilidade de ocorrências fatais para sua sobrevivência. A mortalidade das empresas, em especial as paulistas, é maior nos três primeiros anos de funcionamento, segundo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo - Sebrae-SP (Sebrae-SP, 2005). Informa, ainda, que a mortalidade das empresas entre quatro e cinco anos não apresenta diferenças significativas das taxas observadas nas empresas com três anos, demonstrando uma tendência de estabilização a partir do terceiro ano de existência. As taxas de mortalidade das empresas estudadas foram de: 29% com um ano; 42% com dois anos; 53% com três anos; 56% com quatro anos; 56% com cinco anos. As principais causas da mortalidade identificadas pela pesquisa apontam para problemas de gestão. Alguns destaques como a ‘falta de capital (25%) e a falta de clientes / inadimplência (19%)’ tendem a se apresentarem mais como um efeito do que uma causa do fechamento. As pequenas empresas apresentaram uma melhora na sobrevida, quando comparados os resultados obtidos na pesquisa realizada em 2000. Naquele ano a mortalidade das empresas era de 71% e, na pesquisa realizada pelo Sebrae em 2005, a taxa caiu para 56%. Umas das justificativas é o apoio ao segmento com estímulo ao empreendedorismo por meio de instrumentos de capacitação aos 4,5 milhões de empreendedores paulistas, indicando que ferramentas de gestão contribuem para o aumento da capacidade competitiva e que propiciam melhoria nos resultados das empresas. 27 A pesquisa do Sebrae-SP comparou os dados das empresas registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP) com os dados das empresas clientes do Sebrae-SP, que participaram de pelo menos um produto ou serviço oferecido pelo órgão. Verificou que as taxas de mortalidade são inferiores no grupo que utilizou algum apoio empresarial do Sebrae. Entre os dois grupos, a mortalidade caiu de 29% para 24% em empresas até um ano de atividade; de 42% para 21% com dois anos; de 53% para 25% com três anos; de 56% para 26% com quatro anos e de 56% para 30% com cinco anos de atividade. Portanto, a mortalidade das empresas que aprimoraram o seu perfil empreendedor, com serviços do Sebrae-SP foi sempre menor. Os serviços prestados pelo Sebrae-SP incluem o treinamento nas diversas ferramentas de gestão e apoio ao empreendedorismo. Entre elas, pode-se encontrar a capacitação em planejamento estratégico empresaria para pequenas e médias empresas, ferramenta descrita no próximo item do capítulo. 2.3 ORIGENS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Estratégia é um termo derivado da palavra grega stratego, que possuía conotação militar na Grécia antiga, significando “comandante-chefe”. Por vários séculos, o uso deste termo permaneceu restrito ao âmbito militar e neste contexto foi estudado e desenvolvido. Sun Tzu assim o fez por volta de 400 a.C. (MIGLIATO, 2000 apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 23). Em 1832, o General de divisão aposentado, Barão Karl von Clausewitz, publicou sua obra intitulada “Tratado sobre Estratégias de Guerra”, estudado pelas academias militares dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Itália. Na obra, o 28 Barão estabeleceu as técnicas abstratas do planejamento de contingência de uma batalha, com estratégias que eram compostas de diferentes táticas, procurando reagir rapidamente em caso de inviabilidade dos planos de batalha ou sob acontecimentos imprevistos. (RASMUSSEN, 1990). Essa intenção de responder prontamente às contingências continua sendo o cerne do planejamento estratégico. Demonstrando a evolução recente das técnicas de planejamento empresarial, um breve histórico do planejamento estratégico empresarial é apresentado: • Até 1950 as Teorias Administrativas e os Processos Gerenciais eram voltados apenas para o Processo Produtivo; • De 1950 até o início dos anos 60 o Planejamento de Longo Prazo estava voltado para atender a crescente demanda de consumo; • A partir da década de 60 o ambiente externo passou a ser considerado no planejamento empresarial. Diversas técnicas de planejamento para tornar as empresas mais competitivas no mercado as direcionaram para aspectos operacionais e não de natureza estratégica. Técnicas como Gerenciamento para a Qualidade Total (TQM), Kaizen, Kan-Ban, Reengenharia, Informatização, Benchmarking e similares são projetadas para que as empresas sejam mais eficientes no modo de como executar suas atividades. No entanto, estas técnicas não preparam as empresas para determinar o que elas pretendem ser no futuro (ROBERT, 1998). Os conceitos fundamentais do planejamento estratégico empresarial emergiram nos anos 70 como resultado de diversas e sucessivas anomalias macroeconômicas verificadas na indústria norte-americana; como a crise energética, inflação com dois dígitos, baixo desempenho da economia, vitoriosa concorrência japonesa e desmoronamento das reservas de mercado nas indústrias principais. 29 Antes disso, as empresas podiam confiar nas projeções de crescimento simples para planejar sua produção, vendas e lucros. Na atualidade, as empresas precisam de um plano que as ajude a reagir e a se organizarem de forma efetiva, saudável e rápida, para quaisquer eventos inesperados que venham descontrolar os seus negócios (KOTLER, 1998). O mercado se tornou pouco previsível após a primeira onda da crise do petróleo da década de 1970. Com isso, diversos estudiosos dos centros acadêmicos começaram a formular técnicas que substituíssem o tradicional planejamento empresarial baseado na extrapolação do histórico para os próximos exercícios, pelo planejamento estratégico, com métodos que pudessem ser mais flexíveis e que incentivassem uma disciplina gerencial, o strategic management, ou seja, a gestão estratégica (RASMUSSEN, 1990). Segundo Porter (2004), a ênfase assumida nas empresas a respeito do planejamento estratégico está relacionada aos destacados benefícios a serem obtidos com o processo declarado de formulação estratégica. As políticas da empresa procuram garantir que os departamentos funcionais das empresas sejam coordenados e dirigidos para um objetivo comum e não com metas orientadas pela vocação profissional e pelos incentivos dos encarregados daqueles departamentos. Berté (2006) afirma que as definições tradicionais do termo estratégia caracterizam uma decisão consciente dos empreendedores para onde a empresa quer chegar e como chegará, de forma planejada e estruturada, necessitando análises dos seus objetivos, dos recursos que a empresa dispõe e do ambiente externo que atua. Atualmente, o pensamento estratégico está sendo aplicado nas diversas áreas de atuação da empresa, não se limitando apenas ao desempenho do negócio 30 em si, mas abrangendo os setores de recursos humanos, financeiro e produtivo, além do comercial. O pensamento estratégico permeia a empresa competitiva, visando o alinhamento às principais diretrizes direcionadoras para o resultado esperado pela empresa. Sem um plano que conduza ao objetivo, que permita uma rápida mudança de curso, as empresas estarão vulneráveis às condições macroeconômicas imprevistas em um ambiente globalizado. 2.4 A PREPARAÇÃO PARA UM PLANO ESTRATÉGICO Algumas empresas podem preferir contratar agentes externos para a elaboração do seu planejamento estratégico, enquanto outras poderão optar por um grande envolvimento dos representantes de diversas equipes e formular seus direcionamentos. Seja qual for a escolha, necessariamente as empresas deverão ter em mãos diversas informações. Entre tantas, são apresentadas as mais comumente utilizadas na preparação de um plano estratégico. Informações sobre suas habilidades e competências internas, como: • dados financeiros e de custeio; • capacidade produtiva; • avaliação dos talentos internos; • possibilidades de associações com parceiros tecnológicos e comerciais; • estrutura de produtos e serviços; • pontos fortes e aspectos da empresa a serem melhorados. Informações sobre o ambiente externo em que opera: • tamanho e crescimento do mercado; • tendências de direcionamento aos produtos substitutos; 31 • perfil e hábitos dos consumidores e clientes; • análise dos fornecedores e parceiros; • análise pormenorizada dos concorrentes diretos e indiretos, procurando obter dados de suas estratégias de produtos, preços, distribuição e comunicação; • legislação e barreiras de certificações; • aspectos políticos, como mudança de governo; • aspectos macroeconômicos e flutuações de moedas; • ameaças e oportunidades latentes. De posse do máximo das informações disponíveis, a empresa deverá eleger um líder para conduzir os trabalhos, implementar o plano e estabelecer a metodologia de acompanhamento e validação do cumprimento das metas estabelecidas. Há momentos em que não é recomendável a preparação de um plano estratégico, segundo Carvalho (2004). São situações em que a empresa passa por dificuldades financeiras ou em que não haja profissionais com o perfil ou o comprometimento necessário para a elaboração e execução do plano. O autor comenta que, em grande parte, as razões declaradas para não praticar o planejamento estratégico são argumentos dos administradores para justificar o mau desempenho observado na empresa. 32 2.5 O PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A Figura 1 demonstra o ciclo completo, concebido por Kotler (1998), para o processo de planejamento estratégico de uma empresa. A primeira parte do ciclo tem início com o planejamento corporativo, desdobrado para a divisão de negócios da empresa, seguido pelas unidades de negócios (UEN) e pelo planejamento dos produtos. A segunda parte se refere a implementação do planejamento, voltada para a aplicação das ações previstas. A terceira parte está voltada para o controle das ações executadas, medindo-se os resultados alcançados, comparando-os com as previsões feitas e a adoção de ações corretivas para re-direcionamento dos rumos traçados. Figura 1 Processo do planejamento estratégico e de implementação e controle Fonte: Kotler, 1998, p. 73 Costa (2003) sugere uma seqüência de etapas no processo de planejamento estratégico. Inicialmente, é apresentado o conceito de “propósito” de uma empresa como sendo aquilo que a empresa pretende para seu futuro representado pelas 33 definições de visão, missão, abrangência, posicionamento estratégico, princípios e valores da empresa. Posteriormente, aborda as análises dos ambientes externos e internos. Três vértices podem ser analisados para a formulação das estratégias. O primeiro é o do propósito, ou seja, “o que nós queremos ser?”. Se houver algum conflito entre a estratégia com esse vértice, haverá dificuldades na sua implementação. O segundo trata do ambiente externo à empresa, “o que nos é permitido fazer?”. Diversos aspectos devem ser analisados, pois determinarão as demandas existentes sob diversos aspectos que influenciarão no desempenho das estratégias adotadas. O terceiro vértice é o da capacitação que determina “o que nós sabemos fazer?”. Quais são os recursos que a empresa detém para a execução das atividades pertinentes ao negócio que permitirão atingir os objetivos propostos (COSTA, 2003). Certo e Peter (2005) diferem de Costa (2003) ao apresentarem o processo com uma série de cinco etapas. A primeira etapa é a análise do ambiente organizacional, considerando-se o interno e o externo. Seguido pelo estabelecimento da diretriz organizacional, que define missão e visão. A terceira parte do processo é a formulação da estratégia, ou seja, um curso para que a empresa alcance seus objetivos. A quarta etapa é a implementação da estratégia, contemplada com as ações que evoluíram das etapas anteriores. A quinta e última etapa do processo é o controle estratégico, que, como o próprio nome sugere, monitora e avalia todo o processo, visando sua melhoria. Seja qual for a seqüência adotada por uma empresa, é de fundamental importância a análise sistêmica de todas essas etapas para a execução das estratégias empresariais. O ambiente interno dará informações da capacidade da 34 empresa atingir seus objetivos e o ambiente externo dará informações que validarão as ações propostas para as conquistas que a empresa pretende executar. As declarações da empresa, como missão, visão, abrangência, posicionamento estratégico, valores ou princípios determinarão as diretrizes e delimitações organizacionais necessárias para uma conduta eficiente e eficaz. 2.6 ANÁLISES DO AMBIENTE EXTERNO As empresas bem-sucedidas percebem as infindáveis oportunidades e ameaças que o ambiente externo apresenta. A principal responsabilidade das empresas está em rastrear e reconhecer os sinais que o ambiente oferece e reagir prontamente de forma lucrativa. Muitas oportunidades são encontradas ao se identificar as tendências – direção ou seqüências de eventos que ocorrem em algum momento e apresentam alguma duração – e as megatendências – grandes mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas de formação lenta e influência duradoura (KOTLER, 1998). O ambiente externo é a arena onde os negócios são praticados. Nele se encontram diversos fatores que influenciam os resultados das operações das empresas. Pode-se defini-los, entre tantos, em diretos e indiretos. Alguns dos participantes do cenário são: • Diretos: concorrentes, fornecedores, acionistas, órgãos trabalhistas e públicos e instituições financeiras; • Indiretos: grupos ecológicos e de meio-ambiente, organizações não governamentais, política, consumidores, ativistas, legislação. 35 Por outro lado, pode-se analisar o ambiente externo com vista nas variáveis macroambientais: econômicas, sociais, políticas, culturais, demográficas, tecnológicas, ecológicas e legais. Rasmussen (1990) se refere à análise das variantes macroambientais como o trabalho mais difícil em todo o processo de implantação do planejamento estratégico. O autor considera que este trabalho deveria ser feito por um consultor externo com uma ampla experiência nesta análise macroambiental. Pondera ainda que, normalmente dentro das empresas podem não existir talentos para executar esse tipo de trabalho, requerendo conhecimento específico baseado em cultura macroeconômica. Uma vez levantados todos os dados das variáveis dos comportamentos macroambientais, a continuidade e atualização dos dados tornam-se relativamente fácil para ser executada pela equipe interna da empresa num planejamento futuro. As principais variáveis externas, comumente encontradas, segundo Rasmussem (1990), são: • Macroambientais: crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), balanço de pagamentos, reservas cambiais, balança comercial, taxa de inflação, volume da dívida externa, custo do serviço da dívida externa, taxa de juros internos, estabilidade monetária, mercado de capitais, filosofia fiscal, distribuição da renda nacional; • Sociais: estrutura socioeconômica, segmentos socioeconômicos, divergência entre os segmentos, estrutura de consumo das classes, sistema de valores das classes, estrutura sindical, estrutura política e ideológica das classes, características ideológicas características institucionais, grau de participação das classes; vigentes, 36 • Culturais: índice de alfabetização, níveis de escolaridade, orientação educacional, tendências educacionais, veículos de comunicação; • Variáveis demográficas: densidade populacional, mobilidade populacional, índice de natalidade, índice de mortalidade geral e infantil, taxa de crescimento demográfico-vegetativo, estrutura familiar; • Políticas e estrutura de poder: partidos políticos, participação política dos sindicatos, instituições religiosas, Forças Armadas, associações de classes, existência de empresas multinacionais e empresas estatais, estrutura dos ministérios, do poder legislativo, judiciário e executivo; • Tecnológicas: legislação para transferência de tecnologia e proteção de patentes, capacidade de desenvolvimento tecnológico, ritmo e mudanças tecnológicas, dinâmicas do processo de obsolescência, investimentos em pesquisa & desenvolvimento, qualidade do ensino superior, existência de pesquisa universitária; • Legais: legislações tributárias, trabalhistas, comerciais e corporativas, filosofia legal, sistema de jurisprudência, velocidade processual; • Ecológicas: índices de poluição sonora, atmosférica, poluição hidráulica e nuclear, conservação das áreas verdes e matas, atividades de partidos políticos verdes, conflitos com ecologistas, índice de consciência ecológica da população. Kotler (1998) subdivide as variáveis em “Ambiente de Marketing”: demográfico, econômico, natural, tecnológico, político e legal e sócio-cultural. E em “Mercados Consumidores e Comportamento do Comprador”: os fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos. 37 As oportunidades podem ser classificadas de acordo com a atratividade e a probabilidade de sucesso. A probabilidade de sucesso da empresa não depende apenas da força de seu negócio, das exigências básicas para ser bem-sucedida em um mercado-alvo, mas também de suas competências para superar seus concorrentes. A empresa de melhor desempenho será aquela que pode gerar o maior valor para o consumidor e sustentá-lo ao longo do tempo (KOTLER, 1998, p.87). As ameaças devem ser classificadas de acordo com seu grau de relevância e probabilidade de ocorrência. Para lidar com essas ameaças, a empresa deve preparar um plano de contingência para enfrentá-las em momento oportuno e com a intensidade que o risco se apresenta (KOTLER, 1998). Como ferramentas para análise do ambiente externo, é possível examinar as “tendências e descontinuidades”, os “catalisadores, ofensores, oportunidades e ameaças”, a “análise dos concorrentes e da concorrência”, os “grupos de interesse” e os “cenários” (COSTA, 2003). Detalhando essas ferramentas de análise têm-se: • Tendências e descontinuidades: essa ferramenta procura identificar as rotas a serem seguidas pela empresa, uma vez que o ambiente externo pode apresentar mudanças que afetariam significativamente o desempenho da empresa. Quais são as variações de mercado que estão ocorrendo, para que direções elas estão apontando e em que velocidades ocorrem. Podem apresentar tendências de curto e longo prazo, além de rupturas bruscas no ambiente externo à empresa; • Catalisadores, ofensores, oportunidades e ameaças: os catalisadores são fatores externos que afetam positivamente as atividades da empresa, como a opinião pública, barreiras de entrada ou restrições legais que impeçam a ação de novos concorrentes que poderão ser aproveitadas pela empresa em benefício das suas estratégias. Os ofensores são fatores que afetam negativamente as atividades da 38 empresa, como uma nova legislação que restrinja as suas atividades, entradas de novos produtos ou concorrentes, mudanças de hábitos dos principais clientes; • Oportunidades: são fatores externos que poderão ocorrer no futuro e são previsíveis, afetando positivamente as atividades da empresa, como o barateamento de alguns insumos, ocasião para automatização de processos e redução de custos; • Ameaças: são aspectos do ambiente externo que podem afetar negativamente as atividades da empresa, tais como um projeto de lei que restrinja as atividades da empresa; • Análise dos concorrentes e da concorrência: ampliando as análises externas, é de suma importância a verificação das ações da concorrência. Identificar as principais estratégias dos competidores no setor de ação da empresa, sob o prisma do conceito das estratégias de produtos, política de preços praticados, abrangência regional e plano de comunicação. Tendo em mãos essa visão, e uma possível previsibilidade da reação da concorrência sobre as estratégias da empresa, além de um quadro analítico das forças e fraquezas da concorrência, será facilitada a elaboração dos imperativos estratégicos para médio e longo prazo; • Grupos de interesse: são definidos como “qualquer instituição, pessoa, grupo de pessoas, formal ou informal” que possam afetar ou serem afetados de alguma forma pelas atividades da empresa; • Cenários: é um conjunto de hipóteses baseadas em premissas que possam vir a ocorrer no futuro. Envolve análises sobre clientes, 39 concorrentes, demandas, hábitos ou quaisquer outras que possam permitir uma construção hipotética possível de ocorrer no futuro. A análise do ambiente identifica as variáveis que poderão influenciar os resultados da empresa, deixando poucas possibilidades de alterá-las. Promove uma visualização futura das origens de forças que estão fora do controle da empresa (CARVALHO, 2004). As matrizes de ameaças (Figura 2) e oportunidades (Figura 3) ajudam a definir que tipo de estratégia deverá ser gerado. As estratégias deverão ser realizadas dependendo do quadrante em que a oportunidade ou a ameaça se encontrarem (KOTLER, 1998). Figura 2 Matriz de ameaças Fonte: Kotler, 1998, p. 88 40 Figura 3 Matriz de oportunidades Fonte: Kotler, 1998, p. 88 Kotler (1998) define quatro resultados possíveis de caracterizar a atratividade dos negócios da empresa, uma vez que a administração tenha identificado as principais oportunidades e ameaças a serem enfrentadas, quais sejam: • Um negócio ideal é alto em termos de oportunidades e baixo em ameaças; • Um negócio especulativo é alto tanto em termos de oportunidades como de ameaças; • Um negócio maduro é baixo em termos de oportunidades e baixo em ameaças; • Um negócio arriscado é baixo em termos de oportunidades e alto em ameaças. Certo e Peter (2005) apresentam o ambiente externo em dois níveis: o ambiente geral e o ambiente operacional. O ambiente geral é composto por componentes que normalmente a empresa não tem nenhum controle e de amplo 41 escopo. Figuram nesse nível os aspectos econômicos, sociais, políticos, legais e tecnológicos, podendo, ainda, ser inclusos os aspectos ecológicos. Enquanto que o ambiente operacional abrange o ambiente externo da empresa, em que há implicações mais diretas e imediatas. Nesse nível aparecem os clientes, a concorrência, a mão-de-obra, o fornecedor e os aspectos internacionais. Ao final dessas análises é possível construir um quadro que permite estabelecer em qual cenário a empresa atua. Quais são as principais ameaças que o ambiente externo tem apresentado e quais são as principais oportunidades de negócio que a empresa poderá aproveitar. Essas análises facilitarão a preparação das principais estratégias da empresa, uma vez que a avaliação das capacidades internas da empresa permita um alinhamento com suas declarações de missão e visão. 2.7 ANÁLISES INTERNAS Distinguir as oportunidades atraentes do mercado não significa ter a devida competência para aproveitá-las. Uma análise criteriosa e periódica das forças e fraquezas da empresa permitirá identificar se há capacidade e competência para agir em direção à oportunidade ou se há necessidade de se corrigir eventuais elementos (fraquezas) que impedem uma boa atuação no mercado. Para Costa (2003), ao se elaborar uma análise do ambiente interno da empresa, a primeira tarefa é criar uma lista geral e irrestrita de pontos fortes, pontos fracos e pontos a melhorar. Aqueles que poderiam atuar favorecendo ou prejudicando a empresa. Define esses pontos como: 42 • Pontos fortes: aspectos positivos de destaque que contribuem para que a empresa cumpra seus propósitos. O reconhecimento e o respeito alcançados pela marca, rede de distribuição de cobertura geográfica, a diversificação da linha de produtos, recursos financeiros e humanos, capacidade de pesquisa e desenvolvimento são citados pelo autor; • Pontos fracos: fatores negativos na empresa que prejudicam no cumprimento de seus objetivos. São citados aspectos como atendimento ao cliente pós-venda, falta de integração nas unidades da empresa, infra-estrutura computacional, falta de um sistema de custeio adequado; • Pontos a melhorar: as características positivas encontradas na empresa, porém em grau pouco suficiente para favorecerem efetivamente para o cumprimento dos propósitos ambicionados pela empresa. São citados fatores como um sistema de comunicação rápida e eficaz com os clientes, qualidade do material ou matéria-prima adquiridos de fornecedores, controles de estoques que evitariam perda de atendimento a clientes e relacionamentos com fornecedores. Uma das ferramentas de análise do ambiente interno utilizada é a dos 10 M’s (COSTA, 2003). Nela são listadas dez áreas internas da empresa, todas iniciadas pela letra M. Entre elas, três palavras de origem inglesa, para manter o formato da ferramenta de análise, permaneceram no seu formato original: marketing, management e money. A lista completa, por ordem alfabética, sem vinculo a qualquer hierarquia, é a seguinte: management, mão-de-obra, máquinas, marketing, materiais, meio-ambiente, meio físico, mensagens, métodos e money. Não considera que esta lista esgota todas as alternativas, porém que tem a função ilustrativa dos 43 principais tópicos a serem lembrados no momento das análises internas. A ferramenta de análise dos 10 M’s apresenta uma idéia geral da empresa e pode alterar de tempos em tempos. A aplicação dessa ferramenta se procede com a valoração de cada um dos elementos em uma escala, de cinco ou dez pontos, em que os valores mais baixos representam as maiores fraquezas, os valores intermediários representam pontos medianos entre forças e fraquezas e os valores mais altos representam as principais forças da empresa (COSTA, 2003). Nem todas as fraquezas de uma empresa precisam ser corrigidas e, também, não é necessário destacar todas as suas forças. A questão é se o negócio deve ficar limitado a oportunidades que se apresentaram ou se é imperativo adquirir novas forças para aproveitar as melhores oportunidades. Para Rasmussen (1990), o microambiente da empresa possui recursos tecnológicos, humanos, financeiros e produtivos, que são administrados por disciplinas microeconômicas. Ou seja, atuação nas funções: • mercadológica da empresa; • financeira e administrativa; • produtiva; • dos seus recursos humanos. 2.7.1 Função mercadológica Quanto ao aspecto mercadológico, conforme Almeida (2001), o administrador poderá considerar: 44 • Sistema de distribuição: forma de atuação dos vendedores; os seus distribuidores e representantes; a quantidade e correspondente capacidade de escoamento dos canais; o processo de estabelecimento de preços e suas conseqüências; as políticas com as vantagens, desvantagens e peculiaridades. • Produtos: nome; descrição básica; embalagens e despachos; especificações; transporte e responsabilidades inerentes; participação de mercado geral e por produto, por período, por área, dados por unidades, valores monetários e participações percentuais. • Pesquisa de mercado: dados gerais do mercado; influências nas vendas e nos lucros, opinião dos clientes e dos canais de distribuição sobre a empresa, seus produtos, pessoal, políticas e concorrência; análises de tendências de mercado considerando-se o mercado global, os produtos de sucesso, as diferenças na qualidade e preço dos produtos; fontes de sugestões sobre o produto e o mercado; aspectos de sazonalidade e tendências da moda; potenciais de mercado por áreas, comparados com as estimativas e vendas reais. • Força de vendas: quantidade e localização; tarefas; recrutamento e seleção; quotas de vendas; controles e desenvolvimento do plano de vendas; formas de auxílio e ajudas de custo; fluxo de informações do mercado; critérios de avaliações. • Novos produtos: como são idealizados, selecionados, lançados e avaliados. 45 • Promoção e propaganda: orçamento por produto, linha de produtos, canais veiculação e alternativas de mídia; escolha de agências; coordenação do processo. • Políticas de preços: forma de estabelecimento dos preços; descontos; devolução de mercadorias; escolha de revendedores; comissionamento. • Análise do Departamento de Marketing: tipo de departamentalização, distribuição de tarefas e responsabilidades; capacitação da equipe; interação com outras áreas. Os gestores e empregados das pequenas empresas normalmente têm o contato pessoal com seus clientes. Uma relativa vantagem das pequenas empresas sobre as grandes empresas sobre esse fato é a diminuição do tempo no fluxo de informações para gerenciamento do relacionamento com clientes. Se, por um lado, na grande empresa o contato não é direto com o responsável pelo produto ou serviço e as informações podem ser distorcidas, por outro, na pequena empresa, não havendo um sistema de registro do relacionamento, as informações poderão ficar apenas na mente do empresário, dificultando o seu uso por outros profissionais (DAVID; ELBERT; BROWN, 2004) 2.7.2 Função financeira e administrativa Dois aspectos principais de finanças são analisados (ALMEIDA, 2001): • Índices financeiros: analisados de acordo com os tipos de medidas que se propõem; de lucratividade, de liquidez, de dívida, de alavancagem e de rotação. 46 • Sistema de Planejamento, Controle Financeiro e Registro Contábil: toda a área financeira em controles e registros, projeções de lucros, investimentos e fluxo de caixa. Sob o aspecto administrativo, podem ser relacionadas: as relações de formação de associações, sociedade gestora de participações sociais - do inglês holding, empreendimento conjunto - do inglês joint venture e serviços de suporte às operações da empresa. Outros aspectos, nesse setor, estão relacionados ao controle do sistema, estilo de administração e infra-estrutura para execução das tarefas de apoio. 2.7.3 Função produtiva Almeida (2001) comenta que diversos aspectos da área produtiva da empresa devem ser analisados, quais sejam: • Instalação industrial: localização, tamanho, segurança contra incêndios, greves e sabotagens, ambiente e conservação predial e maquinário. • Equipamentos: nível de ocupação, utilização, atualização, manutenção, gastos e medidas de segurança do trabalho. • Processos produtivos: índices de produtividade, utilização da capacidade instalada, arranjo físico, incentivo à produção. • Programação e controle da produção: eficácia do PCP, cumprimento de prazos, interação com as demais áreas. • Qualidade: nível de qualidade apresentado, devoluções e atendimento aos clientes nas reclamações. 47 • Custeio industrial: critérios de apropriações, análises e comunicação de resultados, tendências. • Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): valorização da área, valor alocado e critérios para P&D. • Suprimentos: custos de materiais comprados versus produzidos, seleção de fornecedores, controle de inventários, rotação de estoques, controles gerais e centralizações das compras. • Empresa industrial: estrutura organizacional, normas e procedimentos, tempos e métodos. 2.7.4 Função dos recursos humanos Sob o prisma de recursos humanos, alguns aspectos para serem analisados são: a importância dada pela alta administração para RH, eficácia dos processos de recrutamento e seleção, rotatividade de empregados, absenteísmo, moral e produtividade, reivindicações, planos de cargos, salário e carreira, planos de benefícios, formação de substitutos para cargos-chave e clima organizacional (ALMEIDA, 2001). 2.7.5 Ponderação dos pontos fortes e fracos A elaboração de uma lista para avaliar o desempenho das forças e fraquezas permite obter um diagnóstico das competências internas da empresa. Kotler (1998) sugere listar as principais forças e fraquezas divididas entre as suas principais áreas (marketing, finanças, produção, recursos humanos e organização administrativa) e 48 classificá-las em uma escala de valores para se verificar sua intensidade e real importância ou nível de perfeição. Feito isso, atribui-se um peso a cada uma das forças e fraquezas e estabelece-se uma ponderação – multiplicando-se o valor da importância pelo peso relativo - resultando em um ranking dos fatores abordados. De posse dessas informações, um plano de ação deve ser estabelecido para minimizar as principais fraquezas e explorar as principais forças encontradas dentro da empresa. Uma lista para análise de desempenho das forças e fraquezas é sugerida por Kotler (1998, p 89): MARKETING i. Reputação da empresa ii. Participação de mercado iii. Qualidade do produto iv. Eficácia do preço v. Eficácia da distribuição vi. Eficácia de promoção de vendas vii. Eficácia da equipe de vendas viii. Eficácia da inovação ix. Cobertura geográfica FINANÇAS x. Custo / disponibilidade de capital xi. Fluxo de caixa xii. Estabilidade financeira PRODUÇÃO xiii. Instalações xiv. Economia de escala xv. Habilidade da força de trabalho xvi. Pontualidade da produção xvii. Habilidade técnica de produção ORGANIZAÇÃO xviii. Visão de liderança xix. Dedicação dos colaboradores xx. Orientação empreendedora xxi. Flexibilidade / responsabilidade 49 Analisadas as principais competências da empresa, pode-se verificar as necessidades de melhorias e aumento da capacidade em executar as estratégias que poderão ser formuladas. Concluídas essas etapas, está formado o panorama que sustentará as declarações da empresa, como missão e visão, que direcionarão a empresa na busca dos resultados almejados. 2.8 DIRECIONADORES ESTRATÉGICOS Os principais direcionadores estratégicos são compostos por: MISSÃO, VISÃO, PRINCÍPIOS e VALORES. O estabelecimento desses direcionadores pode definir o sucesso ou o fracasso de um plano e até de uma empresa. Uma vez que ele deriva da competência-chave da empresa – seus principais atributos internos – e das variáveis macros ambientais que o mercado apresenta – ameaças e oportunidades relevantes. Os fundamentos estratégicos de uma empresa podem ser definidos como os elementos básicos que a empresa tem para direcionar as atitudes, auto-imagem e suas crenças. É a estrutura motivadora que impulsiona e direciona para os rumos que se pretende escolher (COSTA, 2003). 2.8.1 Missão Missão organizacional, em geral, apresenta as informações dos tipos de produtos ou serviços que a empresa oferece e em que mercado atua. A missão é uma declaração ampla da diretriz organizacional, normalmente desenvolvida com 50 base nas análises e considerações do ambiente em que opera. É sugerido por Certo e Peter (2005) que seja resumida e documentada. A missão de uma empresa em geral define os seguintes atributos da empresa: • sua competência central ou negócio em que atua; • mercado em que atua (clientes, geografia); • relacionamento com investidores, funcionários, clientes e comunidade; • como ela pretende desempenhar suas atividades. Costa (2003) considera que a missão de uma empresa procura responder às seguintes perguntas: para que existe a empresa? Que necessidades básicas ela atende? Por que ela surgiu? Para a definição da missão, Carvalho (2004) sugere que sejam identificados os principais envolvidos na empresa, pois a satisfação das suas expectativas é um fator de sucesso. Afirma, ainda, que os envolvidos demonstrem como suas atividades influenciam nos resultados e descrevam os critérios necessários para a avaliação do desempenho da empresa. Definidos esses aspectos e redigido o texto que exprime essas intenções, o resultado deverá ser o principal objetivo da sua existência e o norteador principal para todas as demais orientações. É importante explicitar a competência chave de seu negócio, pois dela deriva todo o portfolio de produtos. 51 2.8.2 Visão A visão da empresa define para qual destino a gerência da empresa pretende levar a empresa em médio ou longo prazo. A visão da empresa é uma declaração complementar à missão da organização (COSTA, 2003). Ela responde à seguinte pergunta: onde queremos estar em três ou cinco anos? Em geral ela aborda temas relacionados à: • posição no mercado; • penetração no mercado (nacional ou mundial); • reconhecimento pelo mercado. A visão, então, apresentará a meta primordial a ser alcançada para o período que se propõe. Também norteará as principais metas a serem buscadas. 2.8.3 Valores e princípios Os valores e os princípios de uma empresa demonstrarão como a gerência deseja que seus colaboradores devam se comportar diante do mercado. Como será a conduta que exaltará o comportamento esperado. Os princípios de uma empresa são os aspectos que a empresa não está disposta a mudá-los, independentemente do que venha a ocorrer. É uma declaração do que a empresa acredita que seja correto ou incorreto e todos devem persegui-los, sem que sejam violados. São citados aspectos como a ética, a lisura nos negócios e o cumprimento de acordos firmados (COSTA, 2003). Costa (2003) comenta que os valores de uma empresa são suas principais virtudes e qualidades que podem ser avaliadas em uma graduação entre valores 52 extremos. São os atributos importantes da empresa para serem “meretizados e incentivados”. Aspectos como a Ética, a Responsabilidade Social, o comprometimento com o meio ambiente e demais políticas de conduta estabelecidas são elementos das declarações de uma empresa que direcionam os seus colaboradores para: • melhorar a gestão e ter maior clareza da missão da empresa; • melhor ambiente de trabalho, com maior comprometimento de seus colaboradores; • relação mais consistente com seus fornecedores e clientes; • contribuição para a diminuição do risco de mortalidade da organização. Segundo o Instituto Ethos (2005), na cartilha editada conjuntamente com o Sebrae, são sete as diretrizes da Responsabilidade Social: I. II. III. IV. V. VI. VII. Adote valores e trabalhe com transparência; Valorizem empregados e colaboradores; Faça sempre mais pelo meio ambiente; Envolvam parceiros e fornecedores; Proteja clientes e consumidores; Respeite e invista em sua comunidade; Tenha um relacionamento ético e participativo com o poder público. 2.9 FORMULAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS No campo das empresas, diversas estratégias podem ser formuladas. Estratégias voltadas ao mercado para produto ou serviço, políticas de preços, modelos de distribuição e planos de comunicação. Internamente as empresas podem formular estratégias de produção, motivação, associadas à remuneração 53 baseada em objetivos alcançados, e outros métodos que visem, ao final, a meta primordial: a sobrevivência e lucratividade. Boyd Junior e Massy (1978) defendem que a técnica usada na geração de uma estratégia viável consiste em estabelecer quais são as variáveis controláveis e que exerçam um efeito positivo poderoso sobre o objetivo que se quer atingir. Dessa forma, as estratégias nelas impingidas devem produzir efeitos positivos nas variáveis incontroláveis. Todas as estratégias que possam gerar efeitos negativos nas variáveis incontroláveis devem ser evitadas. O planejamento envolve um número considerável de variáveis controláveis. A combinação dos efeitos primários e secundários das estratégias em conjuntos lógicos pode ser considerada estratégia. O ambiente em que a empresa atua foi associado por Ries e Trout (1986) como uma arena de batalha, um campo de guerra. Os autores elaboraram o livro ‘Marketing de Guerra’ totalmente baseado na obra de Karl von Clausewitz, intitulado On War, de 1832 que delineia os princípios estratégicos que amparam todas as guerras que lograram êxito. Mesmo que as armas tenham mudado durante os tempos, as estratégias de ataque e defesa e a própria guerra não mudou; baseia-se em duas características imutáveis: estratégia e tática. Para Costa (2003), a formulação das estratégias deve levar em conta a atratividade e a competitividade da empresa em relação aos seus concorrentes atuais ou potenciais, nas áreas de negócios que atua ou que pretende atuar. O desenvolvimento das estratégias refere-se a uma fórmula ampla para o modo como a empresa competirá, assim como a definição de suas metas e as suas políticas necessárias para atingir as metas. Algumas empresas utilizam o termo ‘missão’ ou ‘objetivos’ em vez de ‘metas’ e ainda ‘táticas’ em lugar de ‘políticas 54 funcionais’ ou ‘operacionais’. No entanto, a noção essencial de estratégia está na distinção entre meios e fins (PORTER, 2004). A empresa deve formular suas estratégias para projetar-se no mercado e alcançar seus objetivos globais. Esse procedimento inclui a formulação de estratégias gerais, selecionadas e desenvolvidas. Depois, essas estratégias devem ser desdobradas para as outras áreas de empresa, definindo quais os recursos serão alocados, dependendo da carteira de negócios que cada área da empresa detém (CERTO; PETER, 2005). A análise do ambiente interno e do ambiente externo, associado às declarações da empresas, proporcionará os elementos primordiais para a formulação das estratégias mais viáveis para a empresa. Aproveitar as oportunidades e criar barreiras contra as ameaças com suas melhores forças. Preparar-se para defender das ameaças e procurar mitigar os impactos negativos sobre as fraquezas. Os modelos que seguem ajudaram as empresas a formular seus imperativos estratégicos. Trata-se da formulação das estratégias globais da empresa, as quais serão desdobradas para unidades operacionais, divisões de negócios até o nível do composto produto ou serviço oferecido ao mercado. 2.9.1 Análise SWOT O termo Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats (SWOT) do inglês é a sigla de quatro palavras: forças, fraquezas, oportunidades e riscos. Essa análise agrupa o resumo dos principais resultados das análises do ambiente interno e ambiente externo 55 A análise SWOT tem por objetivo focalizar a combinação das forças e fraquezas de uma empresa com as oportunidades e ameaças provenientes do mercado. Com base nas informações dos executivos da empresa, monta-se uma matriz SWOT (Figura 4), obtendo-se os pontos fortes, oportunidades, fragilidades e ameaças. O objetivo da matriz SWOT é definir estratégias para manter pontos fortes, reduzir a intensidade de pontos fracos, aproveitar oportunidades e proteger-se de ameaças. Diante da predominância de pontos fortes ou pontos fracos e de oportunidades e ameaças, adotar-se-á estratégias que busquem a sobrevivência, manutenção, crescimento ou desenvolvimento da empresa (KOTLER, 1998). Figura 4 Matriz SWOT 56 Com o cruzamento das informações obtidas das análises internas e externas pode-se obter um direcionamento relacionado com os pontos fortes e fracos da empresa, frente às ameaças e oportunidades. Estabelecendo, assim, as diretrizes estratégicas para um plano tático e operacional, conforme demonstra a Figura 5 Figura 5 Relação entre as variáveis 2.9.2 Forças competitivas Como descreve Porter (2004) a essência da estratégia competitiva deve ser formulada relacionando-se a empresa com seu meio ambiente. Considerando-se a amplitude do ambiente, englobando tanto as forças sociais como as econômicas, o principal aspecto do meio ambiente da empresa é em que indústria ela compete. As forças externas são significativas e, em geral, afetam todas as empresas que competem nessa indústria. O ponto principal está nas diferentes habilidades que a empresa tem para lidar com as forças que interagem no meio ambiente. 57 O grau da concorrência em uma indústria depende de cinco forças (PORTER, 2004). Essas forças determinam o potencial de lucro final na indústria, que é mensurado em termos de retorno sobre o capital investido em longo prazo. As forças variam de intensas, onde nenhuma empresa obtém retornos espetaculares, até relativamente moderadas, em que altos retornos são bastante comuns. A Figura 6 demonstra as cinco forças competitivas defendidas por Porter (2004), considerando-se o conceito de indústria como o setor de atividade de cada empresa. Figura 6 Forças que dirigem a concorrência na indústria Fonte: Porter, 2004, p. 4 58 2.9.3 Análise da carteira de negócios Uma ferramenta bastante referenciada por diversos autores é a Matriz BCG, ou matriz de crescimento e participação de mercado, desenvolvida e popularizada pela Boston Consulting Group, uma empresa norte-americana de consultoria fundada em 1963. A matriz BCG é uma ferramenta de análise de portfolio de produtos ou de unidades de negócios. Considera que a empresa deve ter uma carteira equilibrada de negócios, ou de produtos, em que alguns geram mais caixa do que outros para suportar os investimentos necessários aos que estão em desenvolvimento para se tornarem rentáveis. Está baseada em dois fatores primordiais: a taxa decrescimento do mercado e de sua participação nesse mercado (CERTO; PETER, 2005). Os produtos ou negócios devem ser posicionados na matriz e assim classificados de acordo com cada quadrante. • Em questionamento ("ponto de interrogação" ou "criança-problema"): posicionamento em um mercado de altas taxas de crescimento com baixa participação de mercado. Nesse quadrante o produto ou negócio receberia fortes investimentos e dá à empresa a alternativa de descontinuidade, caso não apresente resultados esperados; • Estrela: são negócios ou produtos que exigem grandes investimentos e são líderes no mercado, ficando freqüentemente no equilíbrio quanto ao fluxo de caixa. Entretanto, a participação de mercado deveria ser mantida, pois pode virar uma "vaca leiteira" se não houver perda de mercado; 59 • Vaca leiteira: considerando que o crescimento dos produtos ou negócios posicionados nesse quadrante é baixo, poucos investimentos deveriam ser feitos. Apresentariam lucros e geração de caixa normalmente alto. Poderiam representar a base de uma empresa; • Abacaxi ("cachorro", "vira-lata" ou "animal de estimação"): são produtos ou negócios que devem ser evitados e minimizados na empresa. Se possível, os investimentos deveriam ser para recuperação, ou sugere a retirada de mercado. Para Certo e Peter (2005), a matriz BCG proporciona a avaliação para uma carteira saudável e equilibrada de negócios. Um portfolio equilibrado de produtos e negócios possui mais estrelas e vacas leiteiras do que produtos e negócios em questionamento e abacaxis. A importância desse equilíbrio se deve porque a empresa precisa gerar caixa também para novos negócios que possam surgir. Produtos e negócios com alto crescimento absorvem investimentos para crescer. Já os de baixo crescimento deveriam gerar excesso de caixa. Portanto, a existência de ambos é necessária. A Figura 7 apresenta o modelo da matriz BCG descrita anteriormente. O eixo vertical indica a taxa percentual de crescimento do mercado. É considerada de baixo crescimento a taxa inferior a 10 por cento e de alta taxa de crescimento acima desse ponto. O eixo horizontal indica a taxa de participação relativa de mercado. A separação entre alta e baixa participação relativa é dada no ponto igual a 1. Essa taxa é calculada dividindo-se a participação da empresa no mercado pela participação do seu maior concorrente. Por exemplo, uma participação relativa de 60 0,2 significa que o volume de vendas do negócio ou produto é de 20% do volume do principal concorrente; uma participação de três significa que o volume de vendas é três vezes maior que o principal concorrente. Em cada círculo referido na Figura 7 representaria as receitas relativas de um único negócio ou produto; um círculo maior representaria mais vendas do que um círculo menor. Alto Alto Participação relativa de mercado Baixo 20 Taxa de Crescimento do Mercado (%) 17,5 ? 15 10 Baixo 5 0 7x 4x 2x 1x 0,5x 0,1 0,05 Figura 7 Matriz BCG Fonte: Adaptado de CERTO; PETER, 2005 p. 76 Conforme Certo e Peter (2005), dependendo da situação de cada produto ou negócio, são sugeridas a formulação de quatro estratégias básicas. 61 • Construir a participação no mercado: identificada para os ‘pontos de interrogação’ que devem melhorar suas participações e tornarem-se estrelas, podendo, inclusive, renunciar a lucros imediatos, objetivando lucros de médio ou longo prazos; • Manter a participação no mercado: indicado para ‘vacas leiteiras’ com forte participação de mercado. O resultado de caixa gerado por esses tipos de negócios ou produtos é fundamental para suportar outros negócios ou produtos e apoiar investimentos e novos negócios e produtos; • Colheita: negócios e produtos que não apresentarem um forte potencial de crescimento futuro são candidatos à estratégia da colheita, mesmo que, para isso, seja necessária a diminuição de sua participação, posicionados em vacas leiterias; • Desinvestir: indicado para os abacaxis e pontos de interrogação em que não justifica investir. Significa vender ou eliminar um negócio ou produto porque os investimentos poderão ser mais rentáveis se aplicado em outro negócio ou produto da empresa. Algumas dificuldades de análises podem ocorrer com esse tipo de abordagem (CERTO; PETER, 2005): • A matriz se preocupa em equilibrar o fluxo de caixa, enquanto as empresas podem se interessar mais pelo retorno sobre seus investimentos; • A participação relativa no mercado nem sempre pode ser determinada; • A matriz se baseia no forte relacionamento entre a participação de mercado e o retorno sobre o investimento. Esse relacionamento em 62 determinados segmentos pode se apresentar mais fraco do que se supõe; • Outros aspectos devem ser levados em consideração na formulação das estratégias, como o tamanho e perfil de crescimento de mercado, capacidades específicas da empresa e de seus concorrentes; • Pode ser difícil decidir entre dois pontos de interrogação, em qual deles a empresa deveria desinvestir; • A análise simplesmente recomenda estratégias gerais, sem, no entanto, definir quais devem ser implementadas. 2.9.4 Modelo de avaliação da atratividade de mercado Kotler (1998) analisa a matriz de atratividade do mercado dando indicações de ações estratégicas específicas para as unidades de negócio. Instrui, também, que a empresa deve prever para os próximos três ou cinco anos uma posição esperada de cada unidade de negócio, mantendo-se a estratégia atual. Ou seja, aonde cada unidade chegará no futuro, desde que mantenha a estratégia vigente. Defende, ainda, que essa determinação envolve analisar onde se situa cada produto em seu ciclo de vida, bem como as estratégias competitivas esperadas, as novas tecnologias e eventos econômicos. No entanto, os modelos de portfólio devem ser usados com cautela, critica Kotler (1998). As empresas podem dar maior ênfase em negócios de alto crescimento ou a negligenciar seus negócios atuais. São sensíveis a classificações e pesos, além de poderem ser manipulados para produzirem uma localização desejada na matriz. 63 Os modelos podem falhar em delinear as sinergias de dois ou mais negócios, significando um risco tomar decisões em negócios isolados. Há risco em se perder uma unidade de negócio que possa fornecer uma competência-núcleo essencial para atender a outras unidades. Porém, os modelos têm melhorado a capacidade estratégica e analítica, permitindo a tomada de melhores decisões. O modelo de atratividade de mercado está representado na Figura 8, defendido por Kotler (1998), com nove células. Figura 8 Matriz de atratividade de mercado e posição competitiva Fonte: Kotler,1998, p. 81 64 • As três células do canto superior esquerdo apresentam forças do negócio e boa atratividade, sugerindo que a empresa deveria investir, buscando o crescimento ou desafiando a liderança do mercado. • As três células diagonais são classificadas como médias em termos de atratividade global e força do negócio, indicam cautela nas ações. • As três células do canto inferior direito indicam fraquezas em termos de atratividade global e força do negócio, sugerindo que a empresa deveria pensar seriamente em desacelerar ou abandonar investimentos. Antes de analisar a matriz de atratividade, a primeira atividade é a “segmentação em áreas estratégicas”. A partir dos resultados obtidos nas verificações do ambiente externo em que a empresa atua ou pretende atuar, considerando-se suas declarações, é possível identificar os blocos similares para a formulação das estratégias. Uma lista de possíveis fatores que poderiam influenciar nas decisões, é sugerida por Costa (2003, p. 127): Produtos e serviços; tipos de clientes, de consumidores ou de usuários; tipos de usos; motivações para a aquisições; estágio na curva de maturidade; regiões geográficas, estados, países; ambientes competitivos; tecnologias; fatores-chave de escolha; especificações técnicas; fatores de risco ou de oportunidades; processos produtivos; práticas comerciais ou operacionais; canais de distribuição. Nem todos os “fatores diferenciadores” de segmentação devem ser levados em conta, pois poderia tornar a análise complexa, dificultando a simplificação das estratégias a serem adotadas. A lista é apenas uma relação a ser verificada. É recomendado que sejam escolhidos de dois a cinco fatores (COSTA, 2003). A atratividade do negócio não está sob o controle da empresa, por não depender de fatores internos e sim de aspectos externos. Três níveis de atratividade podem ser identificados: alta, média e baixa, segundo Costa (2003). Esta escala não é absoluta, uma vez que a análise do conjunto e a comparação entre as áreas 65 estratégicas segmentadas podem definir, entre elas, uma classificação mais adequada para cada cenário avaliado pela empresa. Porter (2004) reporta a matriz de três-por-três distintamente atribuída a General Electric, a McKinsey and Company e a Shell, para comentar sobre a atratividade do negócio. Conforme é possível visualizar na Figura 9, os dois eixos neste método também são de atratividade. O local em que uma empresa particular se encontra ao longo desses eixos é determinado por uma análise desta empresa e de sua indústria à luz de critérios. Dependendo da localização da empresa na matriz, sua ordem estratégia é investir capital para construir posição, manter-se em equilíbrio entre a geração de caixa e o seu uso seletivo, colher, ou desativar-se. Figura 9 Matriz de atratividade do mercado / Posição do negócio Fonte: Porter, 2004, p. 380 66 As mudanças esperadas na atratividade da indústria, ou na posição da companhia, resultam da necessidade de reavaliar a estratégia. A empresa também pode tentar equilibrar relativamente ao seu mix de negócios desenvolvidos e em desenvolvimento e à consistência interna da geração e do uso de caixa. O uso dessa ferramenta permite que a empresa tenha um direcionador para formulação de suas estratégias de crescimento, estabilização ou desaceleração do negócio. 2.9.5 Estratégias competitivas genéricas Segundo Porter (2004), há três perspectivas estratégicas genéricas com potencialidade de serem bem-sucedidas para superar as empresas competidoras em uma indústria. A liderança no custo total, a diferenciação e o enfoque. A liderança no custo exige uma busca constante na redução de custos em todas as áreas. A administração tem intensa verificação nos custos realizados para atingir as metas definidas. O custo baixo em relação aos concorrentes torna-se um o tema central, quase uma obsessão. Porém, não se pode deixar de lado a qualidade dos produtos e serviços oferecidos pela empresa. A atenção deve ser redobrada para não corroer demasiadamente os resultados de lucros. A genérica estratégia de diferenciação preocupa-se em buscar a unicidade do produto ou serviço oferecido pela empresa. Criar algo que seja considerado único no âmbito de toda a concorrência. Os métodos de diferenciação podem assumir muitas formas: projeto ou imagem de marca, tecnologia, formas de distribuição, peculiaridades específicas, ou outras dimensões. Idealmente a empresa deve procurar se diferenciar em diversas dimensões para conquistar maior amplitude de 67 unicidade. Esta estratégia poderá oferecer margens maiores, o que exclui a necessidade da estratégia de redução de custos. Poderá, ainda, reduzir a participação de mercado, uma vez que os preços praticados normalmente são maiores que a concorrência sem diferencial. A última estratégia genérica de enfoque visa concentrar esforços em um determinado grupo de compradores, um segmento da linha de produtos, ou um mercado geográfico. As estratégias de liderança no custo total e da diferenciação buscam atender toda a indústria. Já a estratégia de enfoque visa atender muito bem um alvo específico e cada plano deve levar em conta essa abordagem. A estratégia está baseada em atender seu alvo de forma mais efetiva que seus concorrentes. Visa obter satisfação dos compradores por atender melhor sua necessidade por meio de diferenciação ou pela liderança de custo. O enfoque desenvolvido significa que a empresa tem uma posição de baixo custo ou de diferenciação ou, ainda, ambas em seu alvo estratégico específico. As diferenças entre as três estratégias genéricas comentadas estão ilustradas na Figura 10. Figura 10 Matriz de estratégicas genéricas Fonte: Porter, 2004. p. 41 68 Certo e Peter (2005) defendem que uma empresa pode definir uma grande variedade de estratégias genéricas e apontam três em sua obra: • de concentração: que consiste na empresa concentrar esforços em uma única área de negócios, para obter um diferencial competitivo com amplo conhecimento do segmento, além de diminuir os problemas da administração de vários empreendimentos ao mesmo tempo. Apresenta a desvantagem de não ter outro negócio para balancear suas receitas em caso de algum competidor usar de ações extremamente agressivas e vir a dominar o mercado. • de estabilidade: quando a empresa se concentra em suas atividades procurando mantê-las. Há casos de uma empresa procurar manter seus negócios devido ao fato de monopolizar uma indústria e evitar as penalidades governamentais. Outro caso se refere às empresas que considerem o crescimento muito dispendioso, não sendo compensador o investimento. E, por fim, em uma indústria de baixo crescimento, a empresa pode optar por manter o negócio sem mudanças no quadro do mercado. • de crescimento: consideram essa estratégia genérica como a mais comum entre as empresas. Empresas que procuram crescimento em vendas, aumento da lucratividade ou maior participação de mercado. Alguns recursos podem ser utilizados neste tipo de estratégia, como as “integrações vertical e horizontal, diversificação e fusões, além de joint ventures”. 69 a. Integração vertical – essa estratégia objetiva a aquisição de outras empresas no canal de distribuição, para obter maior controle sobre um negócio e aumentar a lucratividade por meio da maior eficiência ou maior capacidade de vendas. b. Integração horizontal – é promovida pela aquisição de empresas concorrentes na mesma linha de negócios. Procura aumentar o tamanho da empresa, as vendas ou fatia de mercado. c. Diversificação – essa estratégia visa o crescimento por meio da aquisição de outras empresas em linhas de negócios similares que poderão dar maior eficiência na principal capacidade da empresa. Empresas com bom canal de distribuição podem adquirir outras que tenham produtos possíveis de serem distribuídos pelos mesmos canais, maximizando o esforço e reduzindo custos. d. Fusões – o aproveitamento dessa estratégia de crescimento procura unir forças de duas empresas para um objetivo comum, ou pela necessidade de aquisição de tecnologia necessária ao melhor desempenho. 2.9.6 Viabilidade da estratégia estabelecida Para Almeida (2003) no processo de se estabelecer a viabilidade estratégica há dois grandes passos a serem seguidos: o estabelecimento de objetivos e a elaboração dos demonstrativos financeiros O modelo seqüencial sugerido por Almeida (2003) estabelece em primeiro lugar qual a estratégia principal e a partir dela são feitos os devidos desdobramentos 70 dos objetivos e metas a serem perseguidas. A razão por essa escolha deriva das análises do ambiente externo e ambiente interno, ressaltando que os conceitos de estratégia e objetivos estão intimamente ligados, pois enquanto a estratégia dá o caminho, o objetivo mostra aonde se quer chegar. Dessa forma se a estratégia for ampliar a participação de mercado, o objetivo seria conquistar, por exemplo, 45% de participação. O estabelecimento das estratégias é predominantemente qualitativo, estruturando as idéias para definir os caminhos a serem seguidos. Os caminhos nem sempre são viáveis, necessitando análises financeiras para sua verificação. Os dados financeiros não precisam ser necessariamente exatos, podendo utilizar valores aproximados, ou apenas em milhares. O objetivo é medir a viabilidade e não fazer a verificação contábil (ALMEIDA, 2003). Nas análises internas define-se o diagnóstico da situação financeira e econômica da empresa. Como conseqüência, o estabelecimento das estratégias e seu desdobramento em objetivos e metas, os valores orçamentários devem ser criados para implementação das ações. Esses valores devem ser analisados mediante de demonstrativos que representem os resultados financeiros esperados, alinhados com o diagnóstico encontrado. A utilização de fluxos de caixa, considerando-se receitas e despesas, é um exemplo de demonstrativo simples para verificação da viabilidade da estratégia. Aprofundando-se as análises pode-se chegar a outros indicadores, como o balanço patrimonial final do projeto e obterem-se diversos indicadores financeiros, entre tantos, alguns são citados: • Margem bruta: valor das vendas subtraídos os custos das mercadorias vendidas, dividido pelo valor das vendas. Indica a porcentagem de cada 71 valor monetário de vendas que restou após a empresa pagar suas mercadorias. • Margem operacional: valor do lucro operacional dividido pelo valor das vendas • Margem líquida: valor do lucro líquido dividido pelo valor das vendas • Retorno sobre investimentos (ROI): valor do lucro líquido dividido pelo valor dos ativos totais Outros indicadores poderão ser verificados de acordo com o necessário em cada particularidade da empresa no seu meio. É importante que os indicadores possam ser utilizados para medir o desempenho e não apenas ser uma tarefa de obrigatoriedade. Para Certo e Peter (2005), há restrições na formulação das estratégias organizacionais, empresariais ou funcionais. A necessidade de recursos financeiros para financiar as estratégias pode causar um dano ao fluxo de caixa; a aceitação de um risco mínimo para implementação da estratégia pode levar a uma limitação de ações; as competências da empresa podem estar aquém das possibilidades de executar as estratégicas; as relações entre canais poderão limitar a execução do plano, por não existirem empresas disponíveis para realizar a distribuição ou a empresa não consegue estabelecer sua própria distribuição; a ação de retaliação da concorrência pode agredir fortemente os resultados, causando desastres em uma guerra de preços, ou ainda, aumentar sobremaneira a demanda que não poderia ser atendida satisfatoriamente. 72 2.9.7 Desdobramento das estratégias Conforme exposto por Almeida (2003), o planejamento nas empresas pode ser dividido em três níveis: • Nível estratégico, em que são planejadas as principais decisões que direcionarão a empresa como um todo e a afetam em longo prazo. • Nível administrativo, também conhecido como tático, intermediando as decisões estratégicas com as operacionais. • Nível operacional, em que as ações realmente acontecem. A Figura 10 demonstra os níveis da empresa que o desdobramento das estratégias alcança. Figura 11 Desdobramento das estratégias Fonte: Almeida, 2003, p. 39 73 2.9.8 Controle e revisão A etapa final da elaboração do planejamento estratégico é definir os indicadores de desempenho para avaliar se o que foi proposto está sendo executado. Segundo Kotler (1998), na medida em que implementa sua estratégia, a empresa precisa rastrear os resultados e monitorar os novos desenvolvimentos nos ambientes interno e externo. Os ambientes têm comportamentos diferentes, alguns mudam rapidamente e é necessário tomar as devidas ações para correção do rumo, outros se mantêm ou desenvolvem-se mais lentamente. De qualquer forma, os administradores podem esperar mudanças. Com isso, será necessário rever sua implementação, promover novos programas, estratégias ou até objetivos. As escolhas dos indicadores de desempenho dependerão das particularidades de cada empresa, conforme o foco dos seus negócios. As empresas que melhor têm conseguido analisar seus resultados são aquelas que se utilizam tanto dos indicadores não-financeiros como dos financeiros. Essas empresas se mostraram mais eficazes em suas ações em relação àquelas que analisam apenas os resultados financeiros (DAVID; ELBERT; BROWN, 2004) A análise dos estratégico direciona resultados alcançados pela implantação do planejamento para um aprendizado útil e de melhoria contínua, considerando-se que haja realimentação das informações. Almeida (2006) sugere a utilização de indicadores de desempenho para se “estudar, compreender, planejar e executar as ações estratégicas”, definindo um conjunto desses indicadores para acompanhar a evolução do que foi planejado. Os indicadores de desempenho são 74 medidas para quantificar melhorias do desempenho no negócio, mensurando o progresso das metas e objetivos. Convém ressaltar a necessidade da utilização dos indicadores como ferramentas de trabalho úteis para a melhoria contínua do que está sendo medido. Excesso de indicadores pode prejudicar as análises, permitindo que pontos importantes passem desapercebidos. Indicadores sem metas não cumprem a necessidade de medição. Indicadores sem planos de ação corretiva são meros registros de dados e não ferramenta de gestão. 75 3 MÉTODO Tendo em vista a necessidade de atender aos objetivos propostos, cabe destacar os meios pelos quais as informações foram coletadas nas empresas-objeto do estudo. A natureza da pesquisa, seus sujeitos, o instrumento de coleta, a abordagem do problema e objetivos descritivos são explanados a seguir. 3.1 NATUREZA DA PESQUISA Este estudo desenvolve uma pesquisa de natureza aplicada, buscando aumentar o conhecimento (TRIVIÑOS, 1987) sobre as formas de planejamento empresarial, visando apontar potenciais desdobramentos para melhoria do desempenho das pequenas empresas, foco da dissertação. Adota uma abordagem quantitativa para a análise dos dados, procurando identificar as características das empresas quanto a sua orientação de planejamento. 3.2 SUJEITOS DA PESQUISA As pessoas que forneceram os dados necessários para a pesquisa (VERGARA, 1998) foram os principais executivos das pequenas empresas, ou aqueles, com responsabilidades delegadas, cujos conhecimentos foram suficientes acerca do planejamento empresarial da empresa, procurando garantir a fidelidade das informações (RUDIO, 1990). 76 3.3 INSTRUMENTO DE COLETA Para obtenção dos dados nas empresas consultadas, utilizou-se de um formulário estruturado com 23 questões. As questões de 1 até 6 trataram de identificar o perfil das empresas. As questões de 7 e 8 descrevem os principais produtos e como as empresas se preparam para atender ao mercado. A questão 9 teve a função de filtro entre as empresas que fazem e as que não fazem planejamento estratégico. As empresas que executaram suas atividades, em 2006, baseadas em um plano estratégico foram abordadas com as questões de 10 até 18. As questões de 19 até 23 foram aplicadas para as empresas que exerceram suas ações, em 2006, sem ter um plano estratégico. O formulário poderá ser consultado no Anexo A. 3.4 ESTUDOS DESCRITIVOS Boyd Junior e Westfall (1979) abordam os estudos descritivos como o uso mais freqüente para identificar as características típicas de um mercado. É utilizada para se obter uma descrição completa e precisa da situação. Depois de analisados os dados levantados, o pesquisador poderá identificar a concentração de determinadas ações em relação ao objeto pesquisado. Alerta, entretanto, que a pesquisa descritiva não indica uma relação de causa e efeito. Os bons resultados de desempenho de uma empresa e a aplicação de um modelo de planejamento podem seguir juntos, mas isso não significa que a causa do sucesso seja necessariamente devido a aplicação de um modelo de plano 77 estratégico estruturado ou não. Para que isso seja afirmado são necessários estudos experimentais. Para se descobrir o conhecimento, preferências, usos, crenças entre as pessoas e empresas, o uso da pesquisa de levantamentos pode mensurar as proporções ou magnitudes desses atributos (KOTLER, 1998). O modelo descritivo faz uma tentativa de modelar, em parte, algum processo comportamental. Tem seu valor quando proporciona discernimento ao pesquisador sobre os hábitos levantados junto ao público estudado (BOYD JUNIOR; MASSY, 1978). Os estudos descritivos têm a função de identificar o perfil de uma população quanto aos seus hábitos de usos, assim como apontar características que podem determinar a adoção de um comportamento específico. 3.5 ESTUDOS DE CASO Pelo fato de ser uma investigação a respeito de um fenômeno que ocorre no ambiente das pequenas empresas do setor aeroespacial, a técnica de estudo de caso é apropriada para ser um método complementar das análises desta pesquisa. Nos estudos de caso, a seleção das empresas deve seguir um critério para a representatividade do universo em estudo (YIN, 2005). Berté (2006) comenta que “essa técnica lida com questões explicativas, possibilitando lidar com o motivo pelo qual o fenômeno ocorreu”. 78 3.6 UNIVERSO PESQUISADO O levantamento dos dados foi realizado na cidade de São José dos Campos SP, junto de empresas de pequeno porte do setor aeroespacial, mediante um formulário estrutura com questões abertas e fechadas, descrito no item 3.3. Durante o período de 2 a 20 de Julho de 2007, foi feito um levantamento inicial das empresas arroladas em associações comerciais, industriais e cadastro de empresas do setor. As fontes consultadas foram: • AIAB – Associação das indústrias aeroespaciais do Brasil; • ASSECRE – Associação das empresas das Chácaras Reunidas; • CECOMPI – Centro para a competição e inovação do Cone Leste Paulista; • CESAER – Cadastro de empresas do setor aeroespacial; • CIESP – Confederação das indústrias do Estado de São Paulo – São José dos Campos. Além das fontes consultadas, algumas empresas foram indicadas por profissionais da área. No levantamento, foram identificadas 43 pequenas empresas, com características que pudessem participar do estudo, seguindo os critérios estabelecidos de porte, foco de negócio e tempo de existência. 3.7 SELEÇÃO DAS EMPRESAS Do total de 43 empresas, foram aproveitadas 13 consultas em empresas de pequeno porte, segundo critério do BNDES, com mais de três anos de existência, 79 que fornecem produtos e serviços ao setor aeroespacial, em São José dos Campos – SP, representando 30,2% do universo identificado. O método de seleção das empresas deste estudo é caracterizado por um critério não-probabilístico. Há uma grande diversificação e variedade de técnicas para a escolha da amostra não-probabilística. Desde a amostra escolhida simplesmente pela sua conveniência, até as técnicas mais elaboradas por cotas de representantes com base em características previamente definidas. Poderão ser incluídos na amostra elementos que se acreditem ser fiéis representantes do universo pesquisado (BOYD JUNIOR; MASSY, 1978). Segundo Cundiff, Still e Govoni (1979), o que diferencia as classes de amostras probabilísticas das não-probabilísticas é a maneira como são selecionados os itens de inclusão nas amostras. Enquanto nas amostras probabilísticas adotam um modelo aleatório para a escolha, nas amostras não-probabilísticas a seleção é feita por um processo opinativo. Os três autores definem que a amostragem não-probabilística tem uma característica intencional de encontrar os elementos que melhor definem o grupo representante do universo. Yin (2005) afirma que em projetos de estudo de casos a seleção é um aspecto importante e deve seguir por uma escolha criteriosa e intencional, sem seguir um processo de amostragem. Desta forma, o levantamento dirigido a um pequeno grupo é adequado a esta pesquisa e descarta-se a necessidade do uso de métodos de probabilidade de inclusão aleatória dos elementos que compuseram os casos representativos. 80 3.8 COLETA DE DADOS No mês de agosto de 2007, foram realizadas consultas em cinco empresas para efeito de pré-teste do formulário. Verificou-se que: • a duração média das consultas foi de 27 minutos, excluindo-se o tempo de apresentação e explicações; • o entendimento das questões e a aplicabilidade do formulário foram satisfatórios. Durante as consultas para pré-teste do formulário, alguns comentários são pertinentes para melhoria do levantamento. Notou-se que: • faltou inserir no formulário a data de fundação da empresa; e • quando abordados sobre os principais resultados alcançados pela empresa em 2006 comparados com o ano de 2005, pergunta 21, algumas respostas se apresentaram sob forma qualitativa, demonstrando pouca segurança quanto aos números ou indicadores de desempenho bem estabelecidos. Depois de verificadas as necessidades de correções e atenção à estrutura do formulário, as consultas complementares foram realizadas em um levantamento que ocorreu durante os meses de agosto e setembro de 2007. Ao todo foram realizadas 15 consultas. Destas, duas foram retiradas do grupo por estarem com a classificação de porte acima do estipulado pelo critério de seleção da pesquisa. 81 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Por se tratar do método descritivo, os resultados procuram traçar o perfil das empresas pesquisadas. As informações tabuladas descrevem o desempenho das empresas, identifica o principal direcionamento estratégico das empresas; para o mercado como um todo ou apenas dirigido para as grandes empresas estabelecidas na região. Os resultados são apresentados em números absolutos extraídos de uma amostra pequena, pelo que todos os comentários tratados neste trabalho devem ser tomados como referências e com o devido espírito crítico. 4.1 PERFIL DAS EMPRESAS A pesquisa aborda questões sobre as principais características das empresas consultadas, em que demonstram atender os critérios estabelecidos como filtro para participarem da pesquisa. Informações sobre o tempo de existência, área de atuação, ou seja, pertencerem ao setor aeroespacial e porte da empresa. Os resultados obtidos entre as 13 empresas visitadas são apresentados a seguir. 4.1.1 Tempo de existência Todas as empresas consultadas têm mais de três anos de funcionamento. Do total, cinco empresas têm até dez anos de existência e oito empresas têm mais de dez anos. A empresa mais antiga foi fundada em 1976 e a mais nova iniciou suas atividades em 2001. Desta forma, as 13 empresas que participaram do estudo 82 superaram o período considerado introdutório, segundo conclusões da pesquisa do Sebrae (2005), quanto ao ciclo de vida do empreendimento, que verificou a sobrevivência e mortalidade de um negócio. 4.1.2 Área de atuação Todas as empresas pesquisadas fazem parte do setor aeroespacial, conforme o critério estabelecido. A maioria das empresas opera em mais de um setor da indústria. Petroquímico e Automotivo são as principais áreas complementares de atuação das empresas, em função de outras vocações do município de São José dos Campos - SP. Na Tabela 1 são apresentados os setores de atividades que as empresas pesquisadas atuam, demonstrando a diversidade do perfil do grupo estudado. Tabela 1 Área de atuação Itens Freqüência Aeroespacial 13 Petroquímica 4 Automotiva 3 Energia 1 Construção Civil 1 Meteorologia 1 Transportes 1 Hidrologia 1 Base: 13 empresas 83 Apesar de se apresentarem em mais de um setor, grande parte delas está focada em uma única indústria como principal negócio, havendo casos de 90% de concentração dos negócios em apenas um cliente. A alta dependência de um único cliente gera riscos de desestabilização na hipótese da perda desse contrato. A análise externa da empresa pode ser vista pelo ambiente operacional (CERTO; PETER, 2005), em que as implicações mais diretas e imediatas à empresa devem ser criteriosamente verificadas, antevendo possíveis impactos negativos ou positivos dos resultados esperados. Considerando-se a possibilidade da indústria em que uma empresa atua entrar em declínio momentâneo, torna-se estratégico participar em mais de um setor, procurando diversificar as atividades, mitigando riscos iminentes da potencial queda no volume de negócios concentrados. As empresas orientadas para tecnologia aproveitam essa orientação como uma vantagem competitiva a seu favor. O desenvolvimento de uma tecnologia, além de seus competidores, proporcionará o surgimento de novos produtos e novos mercados. Essa característica, de empresas orientadas pela tecnologia, permite a criação constante de novas oportunidades e leva esses tipos de empresas a se deixarem levar pela tecnologia que dominam a novos mercados (ROBERT, 1998). A “ameaça de entrada em uma indústria” dependerá da “barreiras de entrada” nela existentes, em associação com as reações dos participantes dessa indústria a um novo concorrente. O novo entrante poderá esperar uma forte reação da concorrência quando as barreiras são altas (PORTER, 2004). As empresas com capacidade tecnológica para atender ao segmento aeroespacial têm potencial para entrar em outro setor industrial, desde que analise o grau de competição nele existente e consigam criar um diferencial competitivo com alguma dificuldade de ser rapidamente imitado. 84 4.1.3 Tipo de empresa Das 13 empresas consultadas, duas têm seu foco na prestação de serviços (apesar de uma delas atuar também como contratante industrial), desenvolvendo atividades de suporte às empresas do setor, e as onze demais declararam atuar como indústria. A distribuição quanto ao tipo de atividade das empresas se deu em: • 6 – Indústria, Comércio e Serviços; • 4 – Indústria e Serviços; • 1 – Indústria e Comércio; • 1 – Indústria; • 1 – Serviços. 4.1.4 Quantidade de profissionais A maioria das empresas pesquisadas tem em seus quadros menos de 50 profissionais, reforçando a característica de pequena empresa, como demonstrado na Figura 12. QUANTIDADE DE PROFISSIONAIS até 49 Profissionias; 9 de 50 - 99 Profissionais; 2 de 100 - 199 Profissionais; 2 Figura 12 Quantidade de profissionais nas empresas 85 4.1.5 Porte da empresa Cumpriu-se o filtro de porte, com base no critério do BNDES que estipula o faturamento anual inferior a R$ 10.500.000,00. Do total de empresas consultadas, quatro têm faturamento anual até R$ 1.200.000,00 e nove têm faturamento anual entre R$ 1.200.000,00 até R$ 10.500.000,00. 4.2 PRODUTOS E SERVIÇOS OFERECIDOS Após as questões de perfil, as empresas foram abordadas a respeito das atividades que desenvolvem para atender aos setores industriais em que atuam. As respostas foram diversificadas, apresentando um quadro amplo de atividades desenvolvidas para atender, não só à indústria aeroespacial, como para outros setores em que as empresas atuam. De maneira geral, o item projetos, produtos sob encomenda ou customizados foi o que aparece com maior freqüência (nove citações) entre as empresas consultadas. Seguido de ‘integração de sistemas’ (quatro citações) e por ‘desenvolvimento de software’ (três citações), ‘usinagem de peças’ (três citações) e comércio exterior (três citações). A Tabela 2 apresenta todos os itens declarados como principais atividades desenvolvidas para atender ao setor em que atuam. 86 Tabela 2 Produtos e serviços oferecidos Itens Freqüência Projetos / produtos sob encomenda / customização 9 Integração de sistemas 4 Desenvolvimento de software 3 Usinagem de peças 3 Comércio Exterior / importação / exportação 3 Instalações 2 Desenvolvimento de Hardware 2 Equipamentos para satélites 2 Subsistemas para satélites 1 Desenvolvimento de processos 1 Desenvolvimento de Sistemas 1 Desenhos aeroespaciais 1 Engenharia reversa 1 Projetos de pesquisa para captação de recursos financeiros 1 Planejamento estratégico para pequenas empresas 1 Instrumentação e medição 1 Prendedores aeronáuticos para montagem primária 1 Serviços de Manutenção 1 Gerenciamento de contratos 1 Estações Meteorológicas 1 Componentes eletrônicos 1 Propulsores de mísseis 1 Base: 13 empresas A principal característica encontrada é de empresas de desenvolvimento de projetos ou com atividades que demonstram atender aos clientes com fornecimentos 87 sob encomenda. Poucas empresas têm produtos finalizados, já formatados, ou prontos para serem entregues. Os produtos de algumas empresas foram desenvolvidos para atender um cliente com exclusividade. Demonstram uma tendência baixa em faturamentos recorrentes, em previsibilidade de oportunidades em altas expectativas dependentes dos projetos específicos dos clientes. As empresas com base tecnológica são aquelas que têm um conhecimento específico e, normalmente, têm competências para aprimorar ou adquirir outras tecnologias complementares ao conhecimento que possuem. A partir desse contexto, identificam necessidades em que não existem produtos disponíveis. Essas empresas buscarão a utilização dessas novas tecnologias, transformando-as em produtos que atendam às necessidades de mercado identificadas (ROBERT, 1998). As empresas consultadas detêm um conhecimento específico com padrão de qualidade aceito no setor aeroespacial e que, normalmente, é exigente. Esse conhecimento é uma alavanca para a identificação de oportunidades para novas aplicações e usos das tecnologias que dominam. Há potencial de aproveitamento das atuais atividades que desenvolvem no setor aeroespacial para aplicações em outros setores da indústria de base tecnológica, o que poderia reduzir a dependência de poucos clientes. Durante as consultas pode-se observar uma clara segmentação de foco do negócio no setor aeroespacial, ou seja, há um grupo de empresas que têm suas atividades direcionadas para atender a construção de aeronaves (aeronáutico) e outro grupo direcionado para atender as atividades de segurança nacional e insumos para satélites (espacial). Considerando-se o objetivo da pesquisa, os resultados obtidos serão tratados como o setor aeroespacial como um todo. 88 4.3 PREPARAÇÃO PARA ATENDER AO MERCADO As empresas foram consultadas procurando-se informações sobre como se preparam para atender às demandas do setor em que atuam com seus produtos e serviços. Atividades de relacionamento com o mercado ou consulta a clientes e aos programas governamentais são as principais orientações para que as empresas se organizem para o atendimento ao mercado. Tanto manter contato com o cliente como se relacionando com as pessoas envolvidas representaram sete das citações. Em seguida, aparecem ‘visitando o cliente / foco no cliente’, ‘conhecendo as linhas de crédito governamentais’ e ‘conhecendo os programas governamentais’ com seis citações cada categoria de resposta. Tabela 3 Atividades para atender a demanda Categorias de respostas Freqüência Manter contato com o mercado 7 Relacionando-se com as pessoas envolvidas 7 Visitando os clientes / foco no cliente 6 Conhecendo as linhas de crédito governamentais 6 Conhecendo os programas governamentais 6 Conhecendo a demanda / o plano do cliente 4 Feiras internacionais / eventos do setor 2 Identificando nichos de baixo custo e menor concorrência 1 Procuro ficar no aeroespacial para não fugir do foco 1 Capacitação em equipamentos 1 Capacitação de RH 1 Base: 13 empresas 89 Os fatos de conhecerem a demanda ou o plano do cliente (quatro citações) também contribuem à preparação das empresas para atender ao setor aeroespacial, reforçando a tendência de atendimento dirigido aos projetos dos compradores. Kotler (1998) comenta que, em função da pouca quantidade e o poder de barganha dos compradores, existe um estreito relacionamento entre “fornecedor-comprador”. Os fornecedores, normalmente, ajustam-se às necessidades dos compradores por meio de cooperação técnica e nos prazos de entrega. Os compradores promovem encontros especiais para interar os fornecedores nas exigências de qualidade e de requisitos de fornecimento. As empresas consultadas apresentam o comportamento de estarem sempre atualizadas com as necessidades de seus clientes, mediante relacionamento contínuo e estreito, como demonstrado na Tabela 3. O principal insumo de uma empresa de base tecnológica é o conhecimento e a transformação deles em novos conhecimentos e, conseqüentemente, em tecnologias, que são seus produtos finais. Pessoas agindo individualmente e interagindo em grupos de relacionamento cooperam entre si para atingir os objetivos da indústria. São processos essenciais para a transformação de insumos em produtos (CASTRO; LIMA; BORGES-ANDRADE, 2005). As atividades para atender a demanda identificada nas empresas consultadas estão baseadas, principalmente, na forma de relacionamento entre as pessoas envolvidas nos objetivos comuns. Poucas empresas, duas citações, participam de feiras ou eventos do setor para ampliar suas possibilidades de negócios, mantendo-se no foco aeroespacial, limitando a expansão dos negócios das empresas consultadas. Reforçando essa idéia, um executivo afirmou “procuro ficar no aeroespacial para não fugir do foco”. 90 Os investimentos em marketing promovem o deslocamento positivo da curva de demanda provocado pela preferência do seu público ou inclusão de novos clientes, e os esforços dos concorrentes exercem forças contrárias a esse deslocamento (SAITO, 2006). Desta forma, o não investimento em ações mercadológicas deixará a empresa menos conhecida no mercado, facilitando a ampliação de negócios dos concorrentes de mesmo porte que aportam recursos em comunicação. 4.4 PLANEJAMENTO NAS EMPRESAS Entre as empresas consultadas, duas informaram elaborar planejamento estratégico sistemático e estruturado. Outras dez fazem o planejamento em função dos contratos ou pedidos que foram negociados. Apenas uma empresa, em função das suas atividades de apoio às empresas do setor, faz somente o planejamento operacional de curto prazo. Desse modo, onze empresas não praticam o planejamento estratégico estruturado. Com base nessas informações, dois grupos foram separados para o fornecimento de dados sobre o planejamento das empresas, conforme demonstra a Tabela 4. Tabela 4 Planejamento nas empresas Categorias de respostas Freqüência Empresas com planejamento estratégico 2 Empresas sem planejamento estratégico 11 Base: 13 empresas 91 Como se pode notar, a grande maioria (onze citações) não faz planejamento estratégico estruturado para aproveitar as oportunidades e preparar-se para mitigar os riscos apresentados pelo mercado. Vale lembrar que são empresas que já possuem uma certa maturidade no ciclo de vida empresarial e que podem ainda mudar de atitude quanto ao seu posicionamento de mercado. Após relatar casos de empresas que mudaram as regras, Robert (1998) conclui que o raciocínio estratégico faz a diferença significativa entre as empresas vitoriosas e as que fracassam. Não é fácil mudar a estrutura de uma empresa que já opera com algum sucesso, isso leva tempo, às vezes, pode levar anos. 4.5 EMPRESAS COM PLANEJAMENTO ESTRUTURADO Entre as empresas que administraram seus negócios com base em um planejamento estratégico estruturado e sistemático, foram abordados assuntos pertinentes às características básicas da conduta da atividade, coletadas mediante nove questões do formulário aplicado (da questão 10 até a questão 18). Foram colhidas informações sobre os envolvidos no plano e o período de realização e acompanhamento, suas etapas, maturidade da atividade, seus indicadores de desempenho, a qualidade e eficácia do processo de planejamento estratégico desenvolvido. Como somente duas empresas participaram dessa parte do formulário, as suas características serão apresentadas na forma de estudo de caso, identificandoas como empresa 1 e empresa 2. 92 4.5.1 Empresa 1 A empresa 1 atua no setor aeroespacial, com foco espacial, tem o perfil de empresa de base tecnológica no desenvolvimento e integração de sistemas de missão crítica, ou seja, sistemas que requerem redundância e não podem parar de funcionar. Além do setor aeroespacial, suas atividades estão ligadas ao setor automotivo e ao setor de mobilidade - sistemas de rastreamento e controle de desempenho de frotas comerciais e sistemas para rodovias inteligentes. Foi fundada em 1989, conta com uma equipe de 108 profissionais e faturou entre R$ 1.200.000,00 e R$ 10.500.000,00 em 2006. Participam do planejamento estratégico três diretores e um gestor estratégico, em sua primeira fase. Em um segundo momento, há o envolvimento dos principais gestores para o desdobramento das metas e planos de ação. O plano é realizado entre os meses de novembro e janeiro com formulações de diretrizes gerais para os próximos três anos. A empresa 1 já vem praticando o planejamento estratégico há seis anos. Considerando-se as etapas adaptadas para o planejamento estratégico, a empresa 1 adota uma seqüência de atividades bem próxima das descritas no capítulo de revisão de literatura deste estudo, porém, em escala menos detalhada devido ao porte da empresa. Suas atividades são: • iniciar com uma análise de cenários, revisando as ameaças e oportunidades conhecidas; • revisão das competências internas e necessidades de futuros investimentos na empresa; 93 • aplicação da matriz swot; definição das principais estratégias e diretrizes a serem perseguidas; • os devidos desdobramentos em metas para as divisões de negócios, com planos de ação associados. Diversos indicadores de desempenho são acompanhados mensalmente em reuniões mensais entre os gestores das divisões de negócios e os diretores. Sendo que o indicador financeiro é o principal “gatilho” para o investimento em metas não financeiras. Os principais indicadores adotados para acompanhar o planejamento são: • Financeiros: faturamento, margem de contribuição, despesas fixas e lucro antes do imposto de renda, amortização e depreciação; • Mercado: participação de mercado, satisfação e reclamações de clientes; • Processos: índice de retrabalho e execução orçamentária de projetos; • Pessoal: índice do clima organizacional, adequação dos profissionais em suas funções, índice de ocupação da capacidade produtiva; • Expansão do negócio: Avaliação qualitativa da evolução de novos nichos de mercado por divisões de negócios. A empresa 1 adota uma adaptação da estrutura para planejamento estratégico alinhado às definições de Kaplan e Norton (1997), em que há quatro perspectivas do negócio, para alinhamento estratégico. A adaptação da empresa 1 inclui outro vetor direcionado à expansão do negócio. • Perspectivas financeiras: em que os objetivos da empresa podem diferir dependendo do posicionamento estabelecido, ou sejam, de crescimento que comprometem recursos consideráveis para obter o crescimento; 94 sustentação quando a empresa é preocupada com a manutenção da participação de mercado com pequenos crescimentos ano a ano; e colheita em ocasiões que não se justificam mais investimentos significativos, apenas o suficiente para manutenção da capacidade de produção e não para ampliar ou gerar novas capacidades; • Perspectivas do cliente: esse aspecto permite o alinhamento das estratégias em um segmento que fornecerá os resultados financeiros, objetivando participação de mercado, captação de clientes, retenção de clientes, satisfação de clientes e lucratividade por clientes; • Perspectiva dos processos internos: com base nas perspectivas financeiras e dos clientes é possível definir as melhorias nos processos internos da empresa, como os processos de inovação, operações, e serviços pós-vendas; • Perspectivas do aprendizado e crescimento: possibilitam a consecução de objetivos ambiciosos das outras três perspectivas. São os vetores para a excelência na execução das outras três e oferecem a infraestrutura necessária para elas. As informações sobre a qualidade do processo de planejamento estratégico praticado na empresa 1 apontam para uma busca incessante de eficácia na gestão e efetividade de resultados, constante necessidade de treinamento para a prática de gestão entre os envolvidos, maior comprometimento dos profissionais envolvidos. Costa (2003) descreveu diversas dificuldades na implementação do planejamento estratégico. Dentre elas, as mudanças na vida das pessoas, criando fortes impactos nos profissionais envolvidos. Alerta, ainda, que os profissionais 95 devem ser “extensivamente informados de que a mudança é inevitável”, porém trará benefícios à empresa a médio e longo prazo. Quanto aos resultados que o processo de planejamento estratégico estruturado tem trazido para a empresa 1, foram comentadas as melhorias conquistadas da visão de negócio, e não apenas a visão técnica. Assim, o momento de planejar provoca com que as pessoas parem para pensar sobre o que irão executar e fomenta as características empreendedoras, além das de desenvolvimento técnico. 4.5.2 Empresa 2 A empresa 2 atua principalmente no setor aeroespacial, com foco na prestação de serviços de apoio às empresas para captação de recursos governamentais, em projetos de pesquisa e desenvolvimento de interesse estratégico nacional. Pratica atividades de assessoria empresarial desde 2001 e, atualmente, conta com um quadro de cinco profissionais, podendo contratar outros colaboradores mediante o volume de trabalho durante o curso dos contratos ou na iminência da abertura de novos editais de apoio à pesquisa. No ano de 2006 obteve um faturamento inferior a R$ 1.200.000,00. Os diretores e os gerentes de contratos participam do planejamento estratégico da empresa. Os planos são realizados durante o mês de janeiro com objetivos para cinco anos. Encontra-se na fase introdutória do processo de planejamento estratégico, sendo que o primeiro plano foi realizado há menos de dois anos. 96 As etapas realizadas pela empresa 2 para o processo de planejamento estratégico têm um procedimento específico e adaptado às necessidades do segmento em que atua, o que não difere demasiadamente de atividades descritas na revisão de literatura desta pesquisa. Para realizar seu planejamento, a empresa 2 pratica as atividades de: • identificar as tendências do mercado mundial para pesquisa e desenvolvimento tecnológico; • listar as maiores empresas do Vale do Paraíba do setor aeroespacial; • consulta em sites governamentais sobre os recursos previstos para pesquisa e desenvolvimento; • avaliação das competências em recursos humanos e infra-estrutura para o atendimento do cliente-alvo; • definir estratégias de vendas com base no potencial identificado; • buscar alianças estratégicas em áreas de conhecimento técnico; • estabelecer um plano de comunicação; • ações de acompanhamento do mercado para aproveitar as novas oportunidades. Os resultados são acompanhados trimestralmente em reunião com os envolvidos no plano, verificando se as metas foram atingidas. Em situações em que o proposto não tenha sido atendido, identificam as causam e promovem um plano corretivo. A empresa 2 adota os seguintes indicadores de desempenho: • Índice de projetos propostos; • Índice de contratos conquistados; • Índice de projetos aprovados pelos órgãos governamentais; 97 • Satisfação do cliente; • Faturamento. Em função do pouco tempo de prático de planejamento estratégico pela empresa 2, a direção alega que ainda não foi possível se ter uma avaliação segura e metódica quanto a qualidade do processo. As informações dos resultados que o modelo adotado de planejamento estratégico tem trazido até o momento para a empresa 2 apontam para uma melhoria na gestão, melhor escolha de recursos humanos, organização da administração e melhor direcionamento das atividades. Certo e Peter (2005) sugerem que o propósito da administração estratégica é a integração da empresa em seu ambiente de negócios. Diversos benefícios podem ser conquistados pela empresa, entre eles a melhoria administrativa ou levar os profissionais da empresa a se comprometerem na realização de metas de longo prazo. As duas empresas declaram bons resultados nos seus negócios, com receitas estáveis sem grandes oscilações, conforme relatado nos casos. A empresa 1 apresenta maior maturidade no processo de planejamento estratégico, enquanto a empresa 2 se encontra na fase inicial do uso da ferramenta de gestão. Dessa forma, não se obteve a quantidade de informantes necessários para se afirmar que o uso de um plano estruturado e sistemático apresente melhorias significativas no desempenho das pequenas empresas do setor aeroespacial de São José dos Campos - SP. 98 4.6 EMPRESAS SEM PLANEJAMENTO ESTRUTURADO As onze empresas que não praticaram suas atividades empresariais, em 2006, fundamentadas em um planejamento estratégico estruturado, responderam as questões de 19 a 23 do formulário aplicado, referente a conduta de atendimento ao mercado em que atuam. Entre essas empresas, foram levantadas informações quanto as razões da não realização da ferramenta de gestão, as formas de avaliação dos resultados do negócio, as principais alterações da infra-estrutura em 2006, comparada com 2005, os principais resultados atingidos pela empresa em 2006, comparado com 2005 e os interesses em deter o método de planejamento estratégico. 4.6.1 Por que não fazem o planejamento estratégico A principal razão obtida para a não utilização de um planejamento estratégico estruturado pelas empresas consultadas foi o desconhecimento da ferramenta (oito citações), seguida de ‘planejamos em função do cliente que atendemos’ e ‘o governo não cumpre seu programa / o mercado oscila’, com quatro citações em cada categoria de resposta. Algumas empresas já tentaram estabelecer um método para implantação do planejamento estratégico. No entanto, não avançaram com essa intenção, devido ao volume de atividades diárias. A Tabela 5 apresenta as principais razões identificadas para a questão 19: ‘Por que sua empresa não faz um planejamento estratégico?’ 99 A implantação estratégica em qualquer tipo de empresa apresenta um processo evolutivo. Sabedoria, persistência e paciência são fatores fundamentais para sua implantação. As transformações dos métodos de trabalho demandam tempo, habilidades e capacitação dos profissionais envolvidos, mudança cultural e sistemas gerenciais diferenciados. Essas transformações devem ocorrer sem prejudicar as atividades corriqueiras da empresa, de modo que continue operando (COSTA, 2003). Colaborando com essas afirmativas, Saito (2006) comenta que a experiência, o estudo e a maturidade de um processo produtivo ou gerencial afetam positivamente as habilidades empreendedoras dos gestores. Tabela 5 Razões para não fazerem planejamento estratégico Categorias de respostas Freqüência Falta de conhecimento em planejamento / gestão 8 Planejamos em função do plano da empresa que atendemos 4 O governo não cumpre seu programa / o mercado oscila 4 Falta de recurso humano 3 Falta de tempo para planejar 3 Falta de recurso financeiro 2 Sempre fomos intuitivos / levados pelas oportunidades 2 Temos dificuldade de administrar 1 Fazemos em função de verbas a fundo perdido do governo 1 Estamos nos estruturando para depois irmos ao mercado 1 O cliente não permite o fornecimento para outros 1 Há muito foco técnico e pouco foco de mercado 1 Faltou entrar na rotina 1 Base: 11 empresas 100 Nota-se a oportunidade de intensificar as ações de melhoria no apoio às pequenas empresas do setor aeroespacial de São José dos Campos – SP, mediante treinamento e reciclagem aos seus dirigentes e profissionais em sistemas de gestão empresarial, oferecido pelas associações empresariais, CECOVI ou Sebrae. 4.6.2 Avaliação dos resultados do negócio A questão 20 procurou identificar como as empresas avaliam os resultados dos seus negócios. Entre as onze empresas deste grupo, seis delas apontam que o ‘faturamento / as vendas realizadas’ é o principal indicador de desempenho. Em segundo lugar aparecem a ‘quantidade de contratos realizados’, o ‘cumprimento das metas contratuais’ e o ‘volume de investimentos realizados no ano’, com quatro das citações em cada uma das categorias de resposta. Agrupando-se de outra forma, a avaliação do negócio por meio de resultados financeiros e não-financeiros nota-se que ambos têm equivalência na quantidade de citações, porém, a avaliação financeira apresenta a tendência de haver maior concentração de respostas. Há uma significativa variedade de indicadores de desempenho apontados pelas empresas consultadas. A grande maioria está focada em resultados operacionais, não sendo verificados indicadores que apresentem aspectos de tendência de mercado com visão de futuro no médio ou longo prazos para os resultados dos negócios. A lista completa das categorias de respostas obtidas está descrita na Tabela 6. 101 Segundo Robert (1998), as empresas podem apresentar alguma dificuldade para diferenciar as ações estratégicas das ações operacionais. A maioria delas se preocupa, em demasia, com os aspectos operacionais e acaba deixando de lado as reais tendências e chances de poderiam gerar novas e importantes oportunidades. Defende, ainda o autor, que as empresas poderiam direcionar os seus conhecimentos para um raciocínio estratégico, além do operacional. Porém, no caso das empresas pesquisadas, observou-se a tendência ao foco operacional. Tabela 6 Indicadores de desempenho Categorias de respostas Freqüência RESULTADOS FINANCEIROS No faturamento / Vendas efetivadas 6 No volume nos investimentos realizados 4 Com base dos resultados financeiros dos projetos 4 Com base no saldo de caixa 4 No crescimento do patrimônio 2 Com base na avaliação de custos operacionais 1 RESULTADOS NÃO FINANCEIROS Com base na quantidade de contratos 4 No cumprimento dos eventos contratuais 4 Na capacitação para projetos futuros 3 Na avaliação feita pelos financiadores dos projetos (governo) 1 Na satisfação do cliente 1 Pelo quadro de profissionais 1 Na capacidade de produção 1 Na satisfação dos profissionais / colaboradores 1 Redução da dependência de um único cliente 1 Crescimento da imagem de marca 1 Aumento da participação de mercado 1 Base: 11 empresas 102 4.6.3 Alterações na infra-estrutura Este item procura identificar as variações de infra-estrutura física e de recursos humanos ocorridas nas empresas deste grupo em 2006, comparadas ao ano de 2005. Quatro empresas do grupo pesquisado contam o mesmo espaço físico entre o ano de 2006 e de 2005. Uma que aumentou a área em cerca de 25%; três empresas dobraram a área utilizada em metros quadrados; duas triplicaram o espaço físico ocupado e uma que decuplicou o espaço produtivo. No que se refere ao quadro de profissionais em 2006, comparados ao ano de 2005, uma empresa teve perda de colaboradores, uma manteve a mesma quantia e nove outras tiveram seus quadros aumentados. A abordagem sobre a variação da infra-estrutura também aponta aspectos do ‘aumento da capacidade produtiva’ (seis citações), a ‘aquisição de novas ferramentas’ (cinco citações), ‘nova máquinas / equipamentos’ (quatro citações) e novos programas de computador (três citações), apresentados na Tabela 7. Tabela 7 Alterações na infra-estrutura (2006 / 2005) Categorias de respostas Freqüência Aumento da capacidade produtiva 6 Aquisição de ferramentas de trabalho 5 Novas máquinas / equipamentos 4 Aquisição de software de desenvolvimento 3 Melhor posicionamento de mercado 1 Ampliação de capital com entrada de um novo sócio 1 Melhoria de métodos de negociação 1 Queda no número de negócios 1 Base: 11 empresas 103 De maneira geral, a maioria das empresas apresentou bons resultados, considerando as alterações de infra-estrutura declaradas em 2006 em relação a 2005. São indicações de desempenhos satisfatórios mantendo a sobrevivência das empresas pesquisadas, mesmo sem realizar suas atividades empresariais com base em uma prática de planejamento estratégico estruturado. As atividades direcionadas para atender às necessidades do mercado em que atuam têm contribuído para o aumento da capacidade produtiva e da expansão da contratação da mão-de-obra. Por outro lado, este direcionamento ao mercado está focado em apenas um cliente comprador. Seja pela grande indústria que amplia sua necessidade de produção por conta de seus contratos internacionais, seja pelos investimentos do governo no desenvolvimento de projetos que necessitam de maior espaço. O risco que se apresenta nestes casos está relacionado com a continuidade das necessidades daqueles clientes compradores. Encerradas as demandas de aumento de produção ou finalizados os projetos governamentais, e não havendo novos contratos que suportem a necessidade de infra-estrutura e pessoal, as empresas terão que se desfazerem dos recursos incorporados. 4.6.4 Principais resultados alcançados A questão 22 tratou de identificar os principais resultados alcançados em 2006 comparados com o ano de 2005, pelas empresas deste grupo. Os aspectos financeiros apontados como os principais resultados medidos pelas empresas. Os aspectos de mercado aparecem em segundo lugar pela quantidade de citações, seguidos pelos aspectos de processos internos das 104 empresas e por último os aspectos de recursos humanos aparecem como formas das empresas medirem seus desempenhos. Das onze empresas, oito tiveram resultados financeiros positivos, contra apenas duas que apresentaram resultados negativos e uma com o mesmo resultado no período comparado. Na Tabela 8 são apresentados os resultados declarados sob a perspectiva financeira. A totalidade de respostas ultrapassa o número total de empresas que responderam esta questão por permitir colher respostas múltiplas. Tabela 8 Principais resultados financeiros Aspectos financeiros (2006 / 2005) Freqüência Aumento do número de projetos / no volume de vendas 6 Aumento do faturamento em 600% 1 Aumento do faturamento em 300% 1 Aumento do faturamento em 40% 1 Aumento do faturamento em 50% 1 Aumento do faturamento em 25% 1 Faturamento caiu 5% 1 Faturamento caiu 40% 1 Faturamento igual 1 Melhoria no custo de produção 1 Base: 11 empresas Em menor escala que os resultados financeiros, a maioria das respostas apresenta melhoria nos dados relacionados aos aspectos de mercado, demonstrando a ampliação do negócio, ações de ‘fidelização do cliente’ e ampliação de produtos em linha, sempre para o mesmo cliente, conforme apresenta a Tabela 9. 105 Tabela 9 Principais resultados de mercado Aspectos de mercado (2006 / 2005) Freqüência Passamos a atender um novo nicho de mercado 2 Fidelização do cliente 2 Novos produtos em linha para atender o cliente 2 Aprovação de um grande projeto de tecnologia pela FINEP 1 Conquista de um contrato no exterior 1 Abandono de cliente importante em prol de outro infiel 1 Perda de um grande contrato 1 Base: 11 empresas Os resultados de processos também foram identificados como indicadores de desempenho pelas empresas participantes da pesquisa. A ‘melhoria nos processos produtivos’, a ‘finalização de produtos de interesse estratégico nacional’ e a ‘melhoria na qualidade de produção’, foram os destaques apresentados, como demonstra a Tabela 10 Tabela 10 Principais resultados em processos Aspectos de processos (2006 / 2005) Freqüência Melhoria de processos 3 Finalizar um projeto de interesse estratégico para o país 2 Melhoria na qualidade de produção / produtos / serviços 2 Base: 11 empresas A Tabela 11 apresenta resultados relacionados aos recursos humanos citados por três empresas participantes do estudo. Sendo este item o de menor freqüência. 106 Tabela 11 Principais resultados em recursos humanos Aspectos de pessoal (2006 / 2005) Freqüência Melhoria na capacitação técnica 3 Base: 11 empresas A maioria das informações obtidas está direcionada para as análises internas da empresa, detectando os pontos fortes e pontos a serem melhorados. Os resultados de expansão dos negócios tiveram menor importância na mensuração dos resultados alcançados em 2006, em relação a 2005. Os resultados financeiros demonstram, na maioria das empresas pesquisadas, que a lucratividade do setor foi satisfatória, indicando a boa fase que a indústria aeroespacial passou em 2006 em comparação ao ano de 2005. Apenas uma empresa teve a preocupação em medir seus custos de produção e identificar se houve melhoria. Quanto os aspectos voltados ao mercado, duas empresas demonstraram preocupação estratégica na ampliação de suas atividades, expandindo sua participação em outros nichos de mercado. A ‘fidelização do cliente’ e ‘novos produtos para atender o cliente’ são categorias de respostas que indicam a concentração de atividades direcionadas ao principal comprador. Apontando, novamente, que os resultados favoráveis estão relacionados especialmente a um único cliente comprador. Os aspectos de processos demonstram a preocupação de melhorias internas, desenvolvendo seus pontos fortes para atendimento ao mercado. Alguns executivos das pequenas empresas mostraram-se temerosos quanto ao investimento na capacitação de profissionais. Comentaram que, em momentos de 107 grande demanda, as grandes empresas compradoras atraem a mão-de-obra especializada do setor para seus quadros efetivos, oferecendo planos de carreira, salários e benefícios superiores aos que as pequenas empresas podem oferecer. Risco do negócio que deveriam ser considerados por ocasião de um planejamento estratégico em análises internas da empresa. 4.6.5 Interesses no método de planejamento estratégico Entre as onze empresas que ainda não se interessaram da prática do planejamento estratégico estruturado, apenas uma não declarou ter interesse em deter o conhecimento do método de planejamento estratégico, alegando que as atividades sempre foram feitas intuitivamente e que requer a contratação de um profissional especializado e caro. As empresas que se interessaram (dez citações) apresentaram razões que possam beneficiar a gestão empresarial como um todo. Aparecem no topo da lista, com quatro citações cada uma, as razões relacionadas a ‘ampliar a participação de mercado’ e ‘preparar-se para atender novos mercados’. Em segundo lugar aparecem as razões para ‘ter melhor administração / gestão do negócio’ (quatro citações) e ‘ter um método para planejar o negócio’ aparece em terceiro lugar (três citações). As várias razões apresentadas com suas freqüências são apresentadas na Tabela 12. 108 Tabela 12 Interesses no método de planejamento estratégico Categorias de resposta Freqüência Para ampliar a participação no mercado 4 Preparar-se para atender novos mercados 4 Ter melhor administração / gestão do negócio 4 Ter mais método para planejar o negócio 3 Para adequar a infra-estrutura da empresa 2 Precisaremos aprovações do conselho administrativo 1 Para cumprir os potenciais contratos vindouros 1 Aprender a trabalhar com lucro mais baixo 1 Ter um plano de marketing com qualidade 1 Reduzir a dependência de um único cliente 1 Preparar-se par atender melhor o mercado 1 Estabelecimento de metas 1 Diminuir o risco 1 Perceber algum novo indicador de desempenho 1 Base: 10 empresas Há uma clara preocupação em melhorar o desempenho administrativo e estratégico da empresa. O impulso empreendedor é evidente e reforça a possibilidade de haver boa aceitação em se deter a técnica de planejar para crescer no mercado em que atuam. 109 5 CONCLUSÃO O presente estudo relata se as pequenas empresas do setor aeroespacial de São José dos Campos - SP praticam suas atividades empresariais fundamentadas em uma sistemática de planejamento estratégico em 2006, para atender ao mercado em que atuam. Os dados coletados geraram informações sobre o perfil das empresas, seus produtos e serviços, como se prepararam para atender a indústria aeroespacial e as formas de planejar e avaliar os resultados do negócio, assim como seus principais indicadores de desempenho. Considerando-se todas as empresas consultadas destaca-se que: • A maioria das empresas teve faturamento entre R$ 1.200.000,00 e R$ 10.500.000,00; • Estão concentradas em atendimento de projetos e produtos sob encomenda, com tendência em produtos de base tecnológica; • A preparação para o mercado se dá no relacionamento com os clientes, ou seja, com as grandes empresas e organizações governamentais do setor; • A quase totalidade das empresas não praticou suas operações de negócios baseadas em um planejamento estratégico em 2006. Entre as empresas que praticaram suas atividades empresariais com base em uma sistemática de planejamento estratégico em 2006, uma executa regularmente e procura o aperfeiçoamento com a prática, e outra se encontra na fase inicial, tendo elaborado apenas um plano. Ambas adotam as técnicas de planejamento estratégico e declaram obter resultados favoráveis em relação ao desempenho na gestão dos negócios, demonstrando estabilidade e equilíbrio financeiro, além da 110 disseminação da visão empreendedora entre seus profissionais, proporcionando maior empenho na busca de metas e resultados. Quanto ao grupo das empresas que não executaram suas atividades de negócios com base em uma sistemática de planejamento estratégico em 2006, notase que: • As principais razões para não praticarem o planejamento estratégico são justificadas pela falta de conhecimento em planejamento / gestão, ou planejam em função do plano das grandes empresas e pela instabilidade dos programas governamentais; • Os indicadores de desempenho estão centrados nas atividades operacionais, dando menor ênfase para as questões estratégicas de ampliação do negócio com visão de tendência de cenários; • Os resultados de negócio apresentaram-se satisfatórios, em sua maioria com crescimentos significativos, tanto financeiros como de infraestrutura, aproveitando-se da boa fase do setor; • Há uma ligação direta entre a ampliação dos negócios, pessoal e infraestrutura com a necessidade do principal cliente comprador, seja a grande indústria ou órgão governamental. • O interesse em deter o conhecimento é alto e as principais razões alegadas referem-se com a possibilidade de ampliação de mercado e ter melhor gestão do negócio. Pode-se dizer que as pequenas empresas do setor aeroespacial de São José dos Campos – SP têm sua orientação dirigida para atendimento das grandes empresas do setor, como foco estratégico principal, deixando para segundo plano a orientação para o mercado como um todo. 111 Os principais indicadores de desempenho observados estão fortemente ligados às questões operacionais, internas e de atendimento das exigências de seus clientes. A maioria das empresas tem capacidades técnicas e competências relevantes. São atuantes fiéis da indústria aeroespacial, com possibilidades de criação de novos produtos para outros setores industriais, proporcionando maior renda e desenvolvimento regional. 5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Apesar de não ser o foco da pesquisa, nota-se entre as 13 empresas visitadas, uma clara divisão em dois grupos nessa indústria: o aeronáutico e o espacial. O grupo aeronáutico é formado por empresas que atendem a indústria de aviação, fornecendo peças e serviços. Apresentam uma forte ligação com a empresa líder do setor, com tendência de planejamento das suas atividades serem dirigidas quase que na sua totalidade para o planejamento do seu principal cliente de grande porte. O grupo espacial é formado por empresas de base tecnológica avançada, voltadas para a pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços que atendem aos programas governamentais espacial. Atuam em um mercado que oscila permanentemente e com planejamento alinhado às encomendas, principalmente as governamentais, desse segmento. Desta forma, outro estudo que aproveitasse o desdobramento dessa indústria auxiliaria o aprofundamento do conhecimento sobre as melhores práticas que poderiam nortear o melhor desempenho em cada grupo identificado. 112 O uso dos recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) ou pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que dirigem os recursos para os objetivos estratégicos de desenvolvimento do País, contribuem para as pequenas empresas aumentarem a sua competitividade mundial. Uma avaliação econômica da efetividade da aplicação no mercado dos resultados dos projetos financiados ou subvencionados demonstraria as áreas com maior valor agregado resultante do investimento realizado. Esta avaliação permitiria o melhor direcionamento de novos incentivos do MCT para o aumento da competitividade industrial brasileira no mercado mundial. Esta pesquisa identificou as características das empresas com mais de três anos de existência e faturamento menor que R$ 10.500.000,00 em 2006. Porém, não pesquisou as empresas que encerraram suas atividades. Desta forma, um outro estudo, com empresas do mesmo setor que encerraram suas atividades, poderia desvendar os riscos do negócio não verificadas nesse trabalho. Tais informações poderiam contribuir para o fortalecimento das empresas em funcionamento, evitando que novos postos de trabalho sejam fechados e propiciando a manutenção do crescimento do setor aeroespacial brasileiro. Contribuiria substancialmente para o desenvolvimento regional, um programa subsidiado que viesse apoiar as pequenas empresas do setor aeroespacial no que tange ao treinamento empresarial com raciocínio estratégico. O foco nas características de cada empresa auxiliaria os empresários a direcionarem esforços na ampliação dos seus negócios, profissionalização administrativa, diversificação de produtos e, conseqüentemente, melhores resultados econômicos. 113 REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. M. P. R. Modelos de gestão estratégica de cadeia de organização: um estudo exploratório. São Paulo: Tese (Doutorado), Departamento de Administração, Faculdade de Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. 2006. 481 f. ALMEIDA, M. I. R. Manual de planejamento estratégico. São Paulo: Atlas, 2001. ALMEIDA, M. I. R. Manual de planejamento estratégico: desenvolvimento de um plano estratégico com a utilização de planilhas Excel. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2003. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES). Porte de empresa. Disponível em: < http://209.85.129.104/search?q=cache:ZZf6NnqMmgJ:www.bndes.gov.br/clientes/porte/porte.asp+Porte+das+Empresas&hl=ptBR&ct=clnk&cd=1&gl=br>, acesso em: 01 abr 2007. 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Porto Alegre: Bookman, 2005. 116 APÊNDICE A – FORMULÁRIO MESTRADO EM GESTÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM PEQUENAS ORGANIZAÇÕES CARGO / FUNÇÃO 1 NOME DO ENTREVISTADO 2 ORGANIZAÇÃO / FUNDAÇÃO 3 ÁREA DE ATUAÇÃO a Aeroespacial b Automotiva 4 TIPO DE EMPRESA a Indústria b Comércio c Serviços ANO DATA ENDEREÇO 5 Nº. DE COLABORADORES (CLT e subcontratados) a de 10 até 49 b de 50 até 99 c de 100 até 199 g NR d de 200 até 299 e de 300 até 399 f acima de 399 6 FATURAMENTO BRUTO ANUAL (valores em R$ de 2006) a até 1,2 milhões b acima de 1,2 milhões até 10,5 milhões c acima de 10,5 milhões d Não respondeu 7 Quais são as atividades que sua empresa desenvolve para a indústria (conforme resposta da P.3)? (Explorar quais produtos e serviços são realizados 8 Como sua empresa se prepara para atender essas atividades em médio ou longo prazo? (Explorar a forma de planejamento para o mercado) 9 A sua empresa faz: a um planejamento estratégico sistemático e estruturado de médio e longo prazo; b um planejamento em função das tendências de oportunidades que a indústria (conf. P.3) oferece; c um planejamento em função dos contratos ou pedidos que foram negociados; ou d faz um planejamento apenas operacional de curto prazo? (se respondeu a ou b aplicar as perguntas de 10 até 18) (se respondeu b ou c aplicar as perguntas de 19 até 20) página 1 de 3 117 10 Quem participa do planejamento (conf. P.9)? a Direção b Média gerência c Supervisores d outros (especificar) 11 Em que meses o planejamento é feito? 12 Para quanto tempo o planejamento é feito? 13 Quais são as etapas do processo de planejamento que são realizadas? (explorar as fases do planejamento) 14 Com que freqüência o planejamento é revisado? (explorar a periodicidade de revisão dos planos e método de demonstrações) 15 Há quanto tempo é praticado esse método de planejamento? 16 Há algum indicador de desempenho de resultados? Quais são os principais indicadores? 17 Como você avalia a qualidade do processo de planejamento que sua empresa tem praticado? (explorar forças, fraquezas e a efetividade do método / real participação dos envolvidos) 18 Como você avalia os resultados que o processo de planejamento tem apresentado? (explorar se houve melhoria na gestão / nos resultados operacionais / principais resultados) página 2 de 3 118 19 Por que sua empresa não faz um planejamento estratégico? 20 Como a empresa avalia os resultados do negócio? 21 Quais foram as alterações de infra-estrutura física ou de pessoas que ocorreram em 2.006 vs 2005? 22 Quais foram os principais resultados alcançados pela empresa em 2006 vs 2005? 23 Há interesse na sua empresa em deter o método de planejamento estratégico? Por que? página 3 de 3