Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba

Transcrição

Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
1
ROGÉRIO DE SOUSA ANDRADE
DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE
ÁGUA E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA
COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES DA
BACIA DO RIO TAPEROÁ
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
Programa Regional de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente
PRODEMA
João Pessoa
2008
2
UFPB
UEPB
UESC
ESC
UFAL
UFS
UFRN
UFS
UFPI
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO
PÓS GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
ROGÉRIO
RIO DE SOUSA ANDRADE
DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE ÁGUA E A PERCEPÇÃO
AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES DA
BACIA DO RIO TAPEROÁ
João Pessoa-PB
2008
3
ROGÉRIO DE SOUSA ANDRADE
DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE ÁGUA E A PERCEPÇÃO
AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES
DA BACIA DO RIO TAPEROÁ
Dissertação apresentada ao Programa
Regional
de
Pós-Graduação
em
Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba,
Universidade Estadual da
Paraíba em cumprimento às exigências
para obtenção de grau de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. José Etham de Lucena Barbosa
João Pessoa
2008
4
ROGÉRIO DE SOUSA ANDRADE
DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE ÁGUA E A PERCEPÇÃO
AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES
DA BACIA DO RIO TAPEROÁ
Dissertação apresentada ao Programa
Regional
de
Pós-Graduação
em
Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba
em cumprimento às
exigências para
obtenção de grau de
Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovado em: ____/____/________
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Prof. Dr. José Etham de Lucena Barbosa
Orientador
___________________________________________________
Prof. Dra. Célia Regina Diniz
Examinadora
___________________________________________________
Prof. Dr. Francisco José Pegado Abílio
Examinador
João Pessoa
2008
5
RESUMO
Embora apareçam novas formas de uso da água doce, estas atividades ainda
possuem características fragmentadas, que dão margem à existência de conflitos
entre diversos usuários e, conseqüentemente, a uma pressão crescente sobre o
potencial hídrico. A adoção da qualidade ecológica das águas e a classificação e os
critérios de enquadramento dos corpos hídricos surgiram gradualmente como um
sinal de mudança na abordagem dos instrumentos reguladores de gerenciamento
das águas continentais. Dentre tais parâmetros, o entendimento da composição e da
ecologia do fitoplâncton tem grande relevância, porque podem ser indicadores
eficientes das alterações naturais ou antrópicas nos ecossistemas aquáticos. O
objetivo principal deste trabalho foi o de determinar o nível de qualidade ecológica
de três açudes da bacia do rio Taperoá – Soledade, Taperoá II e Namorados – que
se expressou no diagnóstico físico-químico das águas e no levantamento qualitativo
e quantitativo da flora ficológica. Além disso, seguiu-se um trabalho de identificação
e análise da percepção ambiental da comunidade de pescadores artesanais do
açude Taperoá II, através de entrevistas que procuraram revelar as experiências e
os significados que o açude tenha despertado no referido grupo. As coletas foram
realizadas com freqüência bimensal durante o ano de 2006, seguindo-se o ciclo
pluviométrico da região, com a finalidade de caracterizar precisamente os períodos
de seca e de chuva. Para cada açude estudado foram coletadas amostras da zona
litorânea e de quatro compartimentos da zona pelágica, em função da extinção da
luminosidade (superfície, 50% de luz, 1% de luz e zona afótica). No tocante à
análise físico-química e na dinâmica do fitoplâncton, verificou-se que todos os
açudes estudados demonstraram uma considerável influência de flutuações
temporais em detrimento das alterações espaciais, em virtude da ocorrência de
períodos de estiagem e de precipitação nos três açudes estudados. Apesar de
realizarem outras atividades econômicas, o pescador do açude Taperoá II tem na
atividade pesqueira um meio mais seguro de garantir a sobrevivência de sua
família, devido ao acesso relativamente simples do recurso pesqueiro.
Palavras-chave: qualidade ecológica, fitoplâncton, percepção ambiental
6
ABSTRACT
Althought there are new ways of freshwater usage, these activities are still having
shared characteristics, that make happen struggles among several users and,
consequently, an increasing demanding on hydrologic resources. The adoption of
environmental quality on the water and the classification and the framing criteria in
the water bodies have raised gradually as a sign of a changing in the regulatory
procedures of freshwater management. Among such parameters, the understanding
of composition and the ecology of phytoplankton has great importance, because it
can be efficient indicators of natural or antropic variations in aquatic ecosystems. The
main purpose of this study was to obtain the environmental quality of three dams
located on Taperoá river basis – Soledade, Taperoá and Namorados – based on
physical and chemical analysis and qualitative and quantitative phytoplanktonic
survey. Beyond that, there were a investigation and analysis of environmental
perception of fishery community from Taperoá II dam, through inverviews that
intended to reveal raised experiences and meanings. The samplings were carried out
with bimonthly frequency during 2006 year, following the pluviometric features, so
that to characterize rainy and dry seasons. For each studied dam was collected
samples on littoral point and four divisions on pelagic zone, based on light extinction
(surface, 50% light, 1% light and aphotic zone). About physical and chemical analyzis
and phytoplankton dynamics, all studied dams showed a remarkable influence of
seasonal variation, despite of spatial changings, due to dry and rainy seasons on the
three aquatic ecosystems. The fisher character from Taperoá II dam considers
fishery a safety way to gather to his family and to himself a survivor, due to easier
access to fishery resource, but he can come true other economic jobs.
Key - words: Environmental ecology, phytoplankton, environmental perception
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL......................................................................14
OBJETIVOS.......................................................................................17
ÁREA DE ESTUDO............................................................................18
REFERÊNCIAS..................................................................................21
CAPÍTULO 1: DIAGNÓSTICO LIMNOLÓGICO DE ECOSSISTEMAS
AQUÁTICOS DA BACIA DO RIO TAPEROÁ...................................22
1. Resumo...........................................................................................23
2. Introdução.......................................................................................24
3.Material e Métodos...........................................................................27
4. Resultados e Discussão.................................................................30
5. Conclusões......................................................................................73
6. Referências.....................................................................................75
CAPÍTULO 2: DIVERSIDADE FICOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS
AQUÁTICOS DA BACIA DO RIO TAPEROÁ....................................78
1. Resumo...........................................................................................79
2. Introdução.......................................................................................80
3.Material e Métodos..........................................................................82
4. Resultados e Discussão.................................................................86
5.Conclusões....................................................................................118
6. Referências...................................................................................120
CAPÍTULO 3: PERCEPÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA COMUNIDADE
DE PESCADORES DO AÇUDE TAPEROÁ II.................................124
1. Resumo.........................................................................................125
2. Introdução.....................................................................................126
3.Material e Métodos.........................................................................128
4. Resultados e Discussão................................................................130
5.Conclusões.....................................................................................142
6. Referências....................................................................................143
APÊNDICES......................................................................................145
Apêndice1..........................................................................................146
Apêndice2..........................................................................................147
Apêndice3..........................................................................................148
Apêndice4..........................................................................................149
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Taperoá e sua inserção na geografia
geografia regional..........................................................................................11
Figura 2. Precipitação pluviométrica e do volume do açude Soledade (A),
açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006 e
série histórica de chuvas ocorridas entre 1996 e 2006.................................23
Figura 3. Variação da transparência da coluna d’ água do açude Soledade,
açude Taperoá II e açude Namorados durante o ano de 2006....................25
Figura 4. Variação da temperatura subaquática medida no açude
Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante
o ano de 2006................................................................................................28
Figura 5. Variação do pH medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B)
e açude Namorados (C) durante o ano de 2006...........................................30
Figura 6. Variação da condutividade elétrica medida no açude Soledade (A),
açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante
o ano de 2006................................................................................................33
Figura 7. Variação da alcalinidade medida no açude Soledade (A), açude
Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006..................35
Figura 8. Variação do oxigênio dissolvido medido no açude Soledade (A),
açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006.......38
Figura 9. Variação do nitrogênio inorgânico total medido no açude
Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C)
durante o ano de 2006...................................................................................40
Figura 10. Variação do íon amônio medido no açude Soledade (A),
açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006........42
Figura 11. Variação do íon nitrito medido no açude Soledade (A), açude
Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006....................44
Figura 12. Variação do íon nitrato medido no açude Soledade (A),
açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006........46
Figura 13. Variação do ortofosfato solúvel medido no açude Soledade (A),
açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006........48
Figura 14. Variação do IET medido no açude Soledade (A), açude
Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006....................54
9
Figura 15. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta
amostradas para o Açude Soledade em relação às variáveis
abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.......................................58
Figura 16. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta
amostradas para o Açude Taperoá II em relação às variáveis
abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.......................................60
Figura 17. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta
amostradas para o Açude Namorados em relação às variáveis
abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.......................................62
Figura 18. Descrição do número (A) e do percentual (B) de táxons
pertencentes a cada classe para os açudes Soledade, Taperoá II
e Namorados entre o período de jan/06 e dez/06.......................................81
Figura 19. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes
de algas identificadas no açude Soledade entre o período de
jan/06 e dez/06.............................................................................................83
Figura 20. Variação vertical/temporal da densidade total da
comunidade fitoplanctônica do açude Soledade entre o período
de jan/06 e dez/06.......................................................................................84
Figura 21. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1)
e as densidades das Cyanophyceae (A) e Chlorophyceae (B)
do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06..............................85
Figura 22. Porcentagem das espécies abundates do açude Soledade
entre o período de jan/06 e dez/06..............................................................85
Figura 23. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes
de algas identificadas no açude Taperoá II entre o período de
jan/06 e dez/06.............................................................................................87
Figura 24. Variação vertical/temporal da densidade total
da comunidade fitoplanctônica do açude Taperoá II entre o período
de jan/06 e dez/06........................................................................................88
Figura 25. Porcentagem das espécies abundantes do açude Taperoá II
entre o período de jan/06 e dez/06...............................................................89
Figura 26. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes
de algas identificadas no açude Namorados entre o período
de jan/06 e dez/06.......................................................................................91
10
Figura 27. Variação vertical/temporal da densidade total
da comunidade fitoplanctônica do açude Namorados entre
o período de jan/06 e dez/06........................................................................92
Figura 28. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1)
e as densidades das Cyanophyceae (A) e Euglenophyceae (B)
do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06...........................92
Figura 29. Porcentagem das espécies abundates do açude Namorados
entre o período de jan/06 e dez/06.................................................................94
Figura 30. Análises de regressão linear simples entre diversidade
específica com equidade, riqueza de táxons, dominância e
densidade total referentes aos açudes Soledade, Taperoá II
e Namorados entre o período de jan/06 e dez/06..........................................97
Figura 31. Variação temporal da diversidade da comunidade fitoplanctônica
de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá
entre o período de jan/06 e dez/06: (A) açude Soledade, (B) açude
Taperoá II e (C) açude Namorados...............................................................98
Figura 32. Correlação entre equidade e dominância de três ecossistemas
aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de
jan/06 e dez/06: (A) açude Soledade, (B) açude Taperoá II
e (C) açude Namorados................................................................................99
Figura 33. Análises de regressão linear simples entre diversidade e
precipitação do açude Soledade entre o período de jan/06 e
dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de jun/06..............100
Figura 34. Análises de regressão linear simples entre diversidade e
precipitação do açude Taperoá II entre o período de jan/06 e
dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de mar/06.............101
Figura 35. Análises de regressão linear simples entre diversidade e
precipitação do açude Namorados entre o período de jan/06
e dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de mar/06..........102
Figura 36. Variação vertical/temporal das concentrações de
clorofila-a (µg/l) dos açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e
Namorados (C) entre o período de jan/06 e dez/06....................................104
Figura 37. Variação vertical/temporal das concentrações de
feofitina (µg/l) dos açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e
Namorados (C) entre o período de jan/06 e dez/06.....................................104
Figura 38. Produtividade primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude Namorados
entre o período de jan/06 e dez/06..............................................................106
11
Figura 39. Descrição da faixa etária dos pescadores entrevistados
na cidade de Taperoá..................................................................................127
Figura 40. Descrição do tempo de exercício na pesca com os
pescadores entrevistados na cidade de Taperoá........................................128
Figura 41. Descrição do nível de escolaridade dos pescadores
entrevistados na cidade de Taperoá............................................................128
Figura 42. Estado civil dos pescadores entrevistados na cidade
de Taperoá....................................................................................................129
Figura 43. Número de filhos dos pescadores entrevistados na cidade
de Taperoá...................................................................................................129
Figura 44. Atividades econômicas alternativas dos pescadores
entrevistados na cidade de Taperoá............................................................131
Figura 45. Ganhos financeiros com a venda de peixe............................................131
Figura 46. Descrição dos auxílios financeiros do Poder Público
para os pescadores entrevistados na cidade de Taperoá...........................132
Figura 47. Enumeração dos significados sociais atribuídos
ao açude Taperoá II.....................................................................................134
Figura 48. Descrição dos múltiplos usos conferidos ao Açude Taperoá II
pelos pescadores artesanais.......................................................................134
Figura 49. Exibição das alterações ambientais mais conspícuas segundo
a visão dos pescadores artesanais..............................................................135
Figura 50. Exposição dos efeitos da mata do entorno do açude Taperoá II
para os pescadores artesanais...................................................................136
Figura 51. Avaliação da qualidade da água por parte dos pescadores
do açude Taperoá II....................................................................................137
Figura 52. Descrição das propriedades organolépticas por parte dos
pescadores do açude Taperoá II.................................................................137
Figura 53. Enumeração das doenças ou sintomas de origem hídrica
por parte dos pescadores do açude Taperoá II............................................138
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Tabela de amostragem da coleta vertical.................................................18
Tabela 2. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência,
coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica
do açude Soledade (em metros)..................................................................26
Tabela 3. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência,
coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica
do açude Taperoá II (em metros).................................................................26
Tabela 4. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência,
coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica
do açude Namorados (em metros)...............................................................26
Tabela 5. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a
significância das variações espaço-temporal das variáveis físicas
e químicas analisadas nas águas do Açude Soledade – PB,
durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006.....................49
Tabela 6. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância
das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas
analisadas nas águas do Açude Taperoá II – PB, durante os meses
de janeiro de 2006 até dezembro de 2006..........................................................50
Tabela 7. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância
das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas
analisadasmnas águas do Açude Namorados – PB, durante os
meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006.........................................51
Tabela 8. Correlações das variáveis do açude Soledade com os
componentes principais I e II.........................................................................57
Tabela 9. Correlações das variáveis do Açude Taperoá com os
componentes principais I, II e III....................................................................59
Tabela 10. Correlações das variáveis do açude Namorados, com os
componentes principais I e II.....................................................................61
Tabela 11. Inventário taxonômico das classes de algas fitoplanctônicas
identificadas em três ecossistemas da bacia hidrográfica do
rio Taperoá entre o período de janeiro e dezembro de 2006.......................76
Tabela 12. Resultados da ANOVA realizada com os dados de
densidade total (ind/ml) para estabelecer a significância
das variações temporais, espaço/horizontais e espaço/verticais
de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do
rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06.......................................94
13
Tabela 13. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a
significância das variações espaço-temporal dos Índices de
Diversidade de Shannon-Weaver de três ecossistemas aquáticos
da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período
de jan/06 e dez/06.......................................................................................96
Tabela 14. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a
significância das variações espaço-temporal das concentrações
de clorofila-a (µg/l) de três ecossistemas aquáticos da bacia
hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06...............103
Tabela 15. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a
significância das variações espaço-temporal das concentrações
de feofitina (µg/l) de três ecossistemas aquáticos da bacia
hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06................103
Tabela 16. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a
significância das variações espaço-temporal da produtividade
primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude Namorados entre
o período de jan/06 e dez/06......................................................................106
Tabela 17. Produção primária líquida (PPL) do açude
Namorados (mgC/m3 / h-1) entre os período de jan/06 e dez/06.................107
14
1 INTRODUÇÃO GERAL
Na proporção em que transcorre a evolução da sociedade, aparecem novas
formas de uso da água doce. Hoje em dia, além do abastecimento doméstico e
produção agropastoril, os recursos hídricos são largamente utilizados para a
geração de energia elétrica, abastecimento industrial e atividades recreativas. Com
isso, a quase totalidade das atividades humanas torna-se cada vez mais dependente
da disponibilidade das águas continentais (ESTEVES, 1998). Tais atividades
resultam em uma multiplicidade de impactos, exigindo diferentes tipos de avaliações
qualitativas e quantitativas e monitoramento adequado e de longo prazo (TUNDISI,
2003).
Contudo, o manejo dos corpos hídricos está atrelado a uma visão
antropocêntrica da relação do homem com o meio natural. Para satisfazer suas
necessidades básicas, a sociedade relegou a um papel secundário a importância da
biota aquática, isto é, a retirada da água para o consumo humano, durante décadas,
não considerou as alterações que atingem as comunidades de plantas, animais, e
de microrganismos que habitam o meio aquático.
Um fato de grande relevância é o nível de eutrofização dos corpos d´água.
Um ambiente aquático é eutrófico quando apresenta uma quantidade excessiva de
nutrientes, em especial compostos nitrogenados e fosfatados, que contribuem na
degradação do equilíbrio ecológico e na qualidade da água. O processo de
eutrofização pode ocorrer naturalmente, sem a influência humana, ou por ação
antrópica, causada pela deposição de material poluente (BRANCO,1986; ESTEVES,
1998).
Percebe-se, então, que nossa sociedade ainda não está preparada
suficientemente para um uso sustentável dos recursos hídricos, cujas formas de
utilização tradicionalmente apresentam características fragmentadas, que dão
margem à existência de conflitos entre diversos usuários e, conseqüentemente, a
uma pressão crescente sobre o potencial hídrico. Segundo Lacerda (2003), para
evitar ou minimizar a ocorrência de conflitos de uso ou efeitos danosos, o
gerenciamento integrado dos recursos hídricos tem elevada importância.
Recentemente, existem sinais de uma mudança gradual na abordagem dos
instrumentos reguladores de gerenciamento das águas continentais A qualidade
ecológica das águas continentais é um conceito que tem conquistado espaço
15
paulatinamente. Segundo a Diretiva 2000/60 da Comunidade Européia, conhecida
como Diretiva da Qualidade de Água, a qualidade ecológica de um corpo d´água
descreve o seu estado ecológico, mediante parâmetros hidromorfológicos, físicoquímicos e biológicos. No Brasil, a Resolução 357/2005 do CONAMA, que trata da
classificação e dos critérios de enquadramento dos corpos hídricos, guarda algumas
similaridades com a diretiva européia, mas ainda existem poucos estudos que
relacionem o conceito de qualidade ecológica com os atuais parâmetros de
potabilidade, bem como a valorização do conhecimento sobre os corpos aquáticos
usado pelas comunidades que habitam o entorno dos sistemas hídricos.
Em se tratando dos ecossistemas aquáticos localizados no semi-árido
brasileiro, a baixa pluviosidade, taxas intensivas de evapotranspiração e a elevada
degradação da vegetação e do solo e a presença de núcleos de miséria influenciam
na dinâmica do metabolismo e na qualidade de suas águas. Dias (2003) cita que a
grande maioria dos 259 pequenos açudes da sub-bacia do Rio Taperoá, são
temporários, tanto pela irregularidade das chuvas e acentuada evaporação, como
pela retirada de água para consumo humano e dessendentação de animais, o que
acarreta ao esgotamento destes ambientes durante os períodos de estiagem.
Acredita-se
que
estudos
relacionados
com
a
qualidade
ecológica
provavelmente darão subsídios para um diagnóstico mais acurado sobre a qualidade
da água e a oferta de usos múltiplos de um manancial, o que fortalece as ações de
conservação e de manejo. Dentre os parâmetros adotados para a o diagnóstico da
qualidade da água, o entendimento da composição e da ecologia do fitoplâncton têm
grande relevância (BRANCO,1986; TUNDISI, 2003; BRAGA et al.,2002), pois o
conhecimento da coexistência de grande número de espécies de algas e dos fatores
desencadeadores dos mecanismos que interferem na distribuição espacial e
temporal destes organismos revestem-se de significativa importância para que se
tenha uma compreensão adequada da estrutura dessa comunidade, bem como de
sua dinâmica. As flutuações temporais e espaciais na composição e biomassa algal
podem ser indicadores eficientes das alterações naturais ou antrópicas nos
ecossistemas aquáticos (BARBOSA, 2002).
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo principal relacionar o
comportamento ecológico do fitoplâncton com a qualidade da água de três corpos
hídricos que integram a Bacia do rio Taperoá – açude Taperoá II, açude Namorados
e açude Soledade. Para isto, foram descritos os codeterminantes físicos e físico-
16
químicos das águas estudadas e os atributos quantitativos e qualitativos da
comunidade fitoplanctônica dos três ecossistemas. Além disso, houve a busca e a
análise do saber compartilhado pela comunidade de pescadores a respeito da
qualidade da água e da diversidade de usos empregados no Açude Taperoá II.
Esta dissertação está dividida em três capítulos: a primeira parte discorre a
respeito das características físicas e físico-químicas dos três reservatórios
estudados, em termos de variações temporais e espaciais ao longo da coluna da
água. O segundo capítulo trata da identificação e dos processos ecológicos da flora
ficológica, tendo em vista suas oscilações espaciais e temporais e relacionando-as à
variabilidade das condições ambientais. Por último, o capitulo terceiro, que expõem
o conhecimento e a multiplicidade de usos do açude Taperoá II pela comunidade de
pescadores que habitam o seu entorno.
17
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Determinar o nível de qualidade ecológica dos mananciais aquáticos da bacia
do rio Taperoá e sua relação com a qualidade de água desses ecossistemas.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Descrever as características físicas e físico-químicas das águas dos açudes,
com ênfase nas estações de seca e de chuva;
•
Realizar um levantamemento dos fatores qualitativos e quantitativos da flora
ficológica do três açude estudados;
•
Identificar a percepção dos pescadores artesanais no que se refere à
qualidade de água do Açude Taperoá II, seguida da descrição de indicadores
sócio-econômicos.
18
3 ÁREA DE ESTUDO
A bacia hidrográfica do rio Taperoá situa-se na parte central do
Estado da Paraíba, na região fisiográfica da Borborema Central, na
microrregião
homogênea
dos
Cariris
Velhos,
com
vegetação
predominante do tipo Caatinga. Está entre as coordenadas geográficas
6o51’S e 7o32’S de latitude Sul e 36o15’W e 37 o15’W de longitude
Oeste. Os seus limites ocorrem com as bacias do Espinharas e do
Seridó a Oeste, com a do Alto Paraíba ao sul, com as bacias do Jacu e
Curimataú ao norte, e com a bacia do Médio Paraíba a leste. Seu
principal rio é o Taperoá, de regime intermitente, que nasce na Serra de
Teixeira e desemboca no rio Paraíba, no açude de Boqueirão –
Presidente Epitácio Pessoa. A bacia drena uma área aproximada de
7.316 Km2 e recebe contribuições de cursos d’água como os rios São
José dos Cordeiros, Floriano, Soledade e Boa Vista e dos riachos
Carneiro, Mucuim e da Serra (PARAÍBA, 1997).
A bacia do rio Taperoá (Figura 1) abrange os municípios de:
Taperoá, Olivedos, Soledade, Gurjão, São José dos Cordeiros,
Desterro, Salgadinho e Livramento, além de partes dos seguintes
municípios: Juazeirinho, Passagem, Junco do Seridó, Cabaceiras, São
João do Cariri, Serra Branca, Teixeira, Sumé e Campina Grande.
O solo da bacia é predominantemente do tipo Bruno não cálcico, pouco
profundo e litólico e a pluviosidade da região é uma das menores do estado, com
uma média da ordem de 300 mm/ano. O clima da região é do tipo sub-desértico
quente de tendência tropical e caracteriza-se por apresentar temperaturas médias
em torno de 25º C, com estação seca muito prolongada, superior a 8 meses.
19
A. Taperoá II
A. Soledade
A. Namorados
Figura 1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Taperoá e sua inserção na geografia regional.
As coletas foram realizadas nos seguintes açudes:
Açude Soledade - situado no município de mesmo nome, sobre o planalto da
Borborema, a 530 m acima do nível do mar. Sua posição geográfica é 7º 2' S e
36º 22' W. Represa o riacho Macaco, com alguns pequenos tributários. A
construção da barragem foi finalizada em 1933, com
com uma capacidade de
27.804.000 m3 e uma área de 541 ha., sendo utilizado para a irrigação e
abastecimento d'água do município de Soledade (MELO & CHACON,
CHACO 1976).
Açude Taperoá II – (latitude 07° 11’44’’ S a 07° 13’ 44’’ S e longitude 36° 52’
03’’ W a 36° 50’ 09’’ W) fica situado próximo à sede municipal de Taperoá a
578 m de altitude, é destinado principalmente ao abastecimento desta
população e se enquadra entre os cinco maiores açudes da Bacia do Rio
Taperoá, possui capacidade de acumulação de 15.148.900 m3, profundidade
máxima de 5,7 metros e média de 1,4 metros e uma área de 466 ha
(PARAÍBA, 1997)
Açude Namorados - localiza-se na porção central do Estado da Paraíba ( 07º
23’ 02.6” S e 36º 31’ 51.1” W)) nas proximidades da cidade de São João do
20
Cariri. Seu surgimento deve-se ao represamento do riacho Namorados, em 21
de março de 1935. A capacidade total de acumulação do ambiente é de
2.118.980 m³ (CAGEPA, 2005), com profundidade máxima de 6 m e média de
2,3 m.
21
3 REFERÊNCIAS
BARBOSA, J.E.L. Dinâmica do fitoplâncton e condicionantes limnológicos na
escala de tempo (nictimeral/sazonal) e de espaço (horizontal/vertical) no
açude Taperoá II: trópico semi-árido nordestino. Tese de doutorado, UFSCar,
São Carlos – SP, 201p., 2002.
BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall,
2002.
BRANCO, S.M. Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária. 3ª ed. São Paulo:
CETESB/ASCETESB, 1986.
DIAS, J.B. Codeterminantes biológicos da comunidade fitoplanctônica e fatores
limnológicos no açude Taperoá II, semi-árido paraibano: 2003, 65p. Monografia,
(Bacharel e licenciatura em Ciências Biológicas) - Departamento de Biologia,
Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande.
ESTEVES, F.A. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro, Interciência/FINEP,
575, 1998.
MELO, H.A.R. & CHACON, J. O. Exame biologic-pesqueiro do açude público
“Soledade’ (Soledade, PB) Brasil. Boletim Técnico do DNOCS, Fortaleza, v. 34, n.
1, p. 3-26, 1976.
PARAÍBA, Secretaria de Planejamento. Avaliação da infra-estrutura hídrica e do
suporte para o sistema de gerenciamento de recursos hídricos do Estado da
Paraíba. João Pessoa, SEPLAN, 1997, 144 p.
TUNDISI, J.G. Água no Século XXI: Enfrentando a escassez. São Carlos:
RiMa,IIE, 2003,248p.
22
CAPÍTULO 1
DIAGNÓSTICO LIMNOLÓGICO DE
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA BACIA
DO RIO TAPEROÁ
___________________________________
1
ANDRADE, R. S. & BARBOSA, J. E.
1
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e
Meio-Ambiente/PRODEMA,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba,
Brasil.
E-mail: [email protected]
2
Professor Títular do Departamento de Biologia,
Universidade Estadual da Paraíba/UEPB.
E-mail: [email protected]
2
23
1 RESUMO
Conhecer as principais funções de força climatológicas e operacionais dos
reservatórios é um passo importante para ações de recuperação e de gestão
adequada dos mesmos. Em especial, os açudes nordestinos, dos quais a presença
de agregados humanos depende exclusivamente, apresentam o agravante de
estarem localizados em uma região caracterizada por chuvas irregulares e elevada
evapotranspiração. O objetivo deste trabalho foi diagnosticar as características
limnológicas de três açudes localizados na bacia do rio Taperoá – açude Soledade,
açude Taperoá II, açude Namorados – através da flutuação temporal e espacial para
os referidos açudes. As coletas foram realizadas com freqüência bimensal, iniciando
em janeiro de 2006 e que terminou em dezembro de 2006, seguindo-se o ciclo
pluviométrico da região, com a finalidade de caracterizar precisamente os períodos
de seca e de chuva. Para cada açude estudado foram coletadas amostras da zona
litorânea e de quatro compartimentos da zona pelágica, em função da extinção da
luminosidade (superfície, 50% de luz, 1% de luz e zona afótica). Os dados obtidos
foram: precipitação pluviométrica, temperatura e transparência da água, pH ,
condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, nutrientes inorgânicos (nitrogênio
inorgânico total, amônia, nitrito, nitrato e ortofosfato solúvel), e índice de estado
trófico (IET). Além do uso dos métodos estatísticos descritivos e a análise de
variância (ANOVA), foi requisitado a análise de componentes principais (ACP).
Embora os ecossistemas em estudo estejam contidos em uma bacia hidrográfica de
extensão relativamente pequena, a distribuição inconstante das chuvas no espaço e
no tempo exerceu forte influência na particularização das características físicoquimicas de cada ambiente. Todas as variáveis limnológicas não apresentaram
significância espacial considerável, mas demonstraram variações bem expressivas
no decorrer dos meses de coleta. O açude Soledade foi o que apresentou o nível de
trofia mais elevado, devido às concentrações mais intensas de clorofila-a, que
diminuíram a emissão de radiação subaquática. O pequeno porte do açude
Namorados tornou baixa a sua capacidade de diluição, mas a reduzida
transparência tornou o ambiente improdutivo e oligotrófico. Taperoá II tem maior
porte, mas os altos valores da transparência diminuem a zona afótica do açude,
reduzindo também seu nível trófico. O uso da ACP para os três ecossistemas
corroborou os resultados obtidos pela ANOVA, isto é, houve pouca variabilidade
espacial no sistema e variações sazonais significativas, que se manifestaram na
ocorrência de períodos de estiagem com períodos de chuva.
Palavras-chave: eutrofização, caracterização limnológica, semi-árido.
24
1 INTRODUÇÃO
A ação humana inconsequente sobre os corpos aquáticos continentais tem
favorecido alterações causadoras de interferências no que diz respeito ao uso da
água. Fontes de enriquecimento tais como descargas domésticas e industriais e
águas residuárias urbanas e agrícolas têm restringido drasticamente o tempo de vida
útil destes ecossistemas. O desequilíbrio inevitável provocado por essa interferência
nas bacias de drenagem dos ecossistemas aquáticos repercute sobre o fenômeno
de envelhecimento natural destes corpos, substituindo-o por modificações
relativamente instantâneas e de difícil reversão, caracterizando assim, a eutrofização
antrópica.
Este fenômeno compromete a qualidade do ambiente para com as
formas de vida que de alguma maneira estão ligadas a ele.
Umas das principais conseqüências da eutrofização é um desequilíbrio da
homeostase. Em ecossistemas aquáticos, homeostase é caracterizada pelo
equilíbrio entre a produção de matéria orgânica, consumo e decomposição.
Semelhante desequilíbrio ecológico está unido com mudanças metabólicas no
ecossistema como um todo e modifica a comunidade lacustre, ou seja, modificações
na dominância e abundância de espécies (MARIANE et al., 2006).
Diversos eventos que vão desde o aumento populacional, utilização excessiva
de recursos, desenvolvimento tecnológico e a globalização cada vez mais intensa,
tem causado mudanças globais marcantes (STRASKABA & TUNDISI, 1999), as
quais refletem na qualidade dos recursos hídricos para seus mais diferentes usos.
As atividades humanas levam a usos múltiplos dos recursos hídricos, os quais
embora variem com a ocupação da bacia de drenagem e com a organização
econômica e social da região, geram impactos e deterioram a qualidade da água
interferindo também em sua quantidade disponível (LINS, 2006).
A recuperação e os usos adequados dos ecossistemas dependem,
evidentemente, do conhecimento básico das principais funções de força que
determinam sua estrutura e funcionamento (BICUDO,1999). A gestão de
reservatórios pode ser considerada como a gestão de sistemas complexos com
estados transientes e respostas diversificadas às funções de forças climatológicas e
operacionais, acrescidas dos impactos e usos múltiplos nas bacias hidrográficas e
das demandas de água (TUNDISI, 2005).
25
De acordo com Straskraba et al. (2005), um fundamento importante na
gestão de represas é considerar que os reservatórios, individualmente ou em
cascata, não apresentam respostas lineares a funções de forças climatológicas e
operacionais, bem como impactos múltiplos nas bacias hidrográficas.Barbosa (2005)
propõe que a gestão sustentável de recursos hídricos deve ser vista como dimensão
capaz de solucionar o problema da escassez, através de procedimentos integrados
de administração e planejamento, sem a degradação do meio ambiente, e levando
em consideração outras dimensões sistêmicas.
No Nordeste brasileiro, a grande maioria dos mais de 70.000 açudes
existentes é usada para abastecimento, para culturas de vazante, para irrigação e
para pesca. Durante a seca, principalmente no semi-árido nordestino, muitas
comunidades dispõem unicamente da água dos açudes compartilhados com animais
e parasitas. A zona semi-árida da Paraíba, onde está o maior número absoluto de
habitantes no estado, possui uma população marcada por condições de
insustentabilidade, tanto econômica como social (LACERDA et al., 2006). Esta
região caracteriza-se por uma má distribuição de recursos e falta de conhecimentos
de suas potencialidades.
A bacia hidrográfica do rio Taperoá, que compõe praticamente 40% em área
da bacia do rio Paraíba, possui grande maioria dos açudes com potencial hídrico em
condição temporária, tanto pela irregularidade das chuvas e acentuada evaporação,
como também pela retirada de água para consumo humano e dessedentação de
animais, fatores que levam geralmente estes ambientes a seu esgotamento durante
os períodos de estiagem. Esta bacia conta hoje com cerca de 259 açudes (DIAS,
2003), apresentando no total uma capacidade de acumulação da ordem de 71
milhões de m3 .Entretanto, mais de 60% deste potencial concentra-se em apenas
quatro açudes, entre eles o açude Taperoá II e o açude Soledade.
A região, além de contar com um dos maiores bolsões de pobreza do
Nordeste, com níveis de escolaridade e saneamento básico abaixo dos
recomendados pela Organização Mundial de Saúde (IBGE, 2000), constitui-se de
grande complexidade climática, contando com a menor média pluviométrica do País,
em torno dos 350 mm de chuvas ao ano e uma evapotranspiração anual em torno
de 2000 mm, o que lhe confere um índice de aridez menor que 0,20 colocando-a na
classificação de clima árido.
26
Deste modo, os açudes desta região semi-árida se destacam como
ecossistemas de relevância fundamental na manutenção de comunidades vegetais e
animais, especialmente agregados humanos, tanto por serem considerados elos
fundamentais no ciclo da água, como por ser um reflexo evidente das condições
ambientais da região, tais como tipo de solo, bacia de drenagem, influência
antrópica e variações climáticas.
Assim a proposta descrita neste capítulo foi a de diagnosticar as
características limnológicas de três açudes localizados na sub-bacia do rio Taperoá
– açude Soledade, açude Taperoá II, açude Namorados – através da flutuação
temporal e espacial para os referidos açudes, para que se tenha uma noção mais
precisa sobre a influência dos períodos de estiagem e de chuva nos atributos físicos
e químicos nos três açudes acima elencados.
27
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Épocas e Locais de Coleta
As coletas foram realizadas com freqüência bimensal, seguindo-se o ciclo
pluviométrico da região, de modo que, após um ano, se caracterize com distinção os
períodos de seca e de chuva. As amostragens foram realizadas em cada ambiente
de modo a se caracterizar os compartimentos do ecossistema da zona limnética, ou
seja, águas de superfície, de profundidade (Tabela 1), e da zona afótica pelágica.
Tabela 1. Pontos de amostragem da coleta vertical
PONTOS
PROFUNDIDADES
Ponto 1.1
SUPERFÍCIE
Ponto 1.2
50% DE LUMINOSIDADE
Ponto 1.3
1% DE LUMINOSIDADE (zona de compensação)
Ponto 1.4
PROFUNDIDADE MÁXIMA DO AMBIENTE
2.2 Precipitação Pluviométrica
Os dados de precipitação pluviométrica para os açudes em estudo foram
fornecidos pela Agência Estadual de Saneamento Ambiental – AESA.
2.3 Parâmetros Limnológicos
2.3.1 Temperatura da água: A temperatura da água foi determinada com
oximetro da marca Schott Glasnert, modelo 65719.
2.3.2
Transparência
da
água:
Foi
obtida
através
da
leitura
do
desaparecimento e aparecimento do disco de Secchi, de cor branca e preta, e 30 cm
de diâmetro, suspenso por uma corda previamente marcada de 10 em 10 cm.
28
As profundidades e o coeficiente de atenuação foram obtidos a partir da
fórmula:
Z= (-loge.f)(k-1)
onde:
Z= profundidade (m)
Loge= Logaritimonatural
f= (Iz)(I0)= fator entre 0 e 1
k= coeficiente de atenuação = 1,7/Secchi
2.3.3 Potencial hidrogeniônico (pH): determinou-se através de um medidor
de pH digital portátil, marca COLE-PARMER
2.3.4 Condutividade elétrica: usou-se um condutivímetro digital portátil,
marca COLE-PARMER.
2.3.5 Oxigênio dissolvido: foi determinado utilizando-se o método de Winkler
descrito em Golterman et al. (1978).
2.3.6 Nutrientes inorgânicos:
As amostras para as análises de nutrientes inorgânicos, após a coleta, foram
filtradas, colocadas em frascos de polietileno e congeladas, para posterior análise.
As concentrações de amônio foram determinadas pelo método colorimétrico,
do fenol utilizando-se um espectofotômetro Micronal, modelo B-572, seguindo as
técnicas descritas no Standard Methods (APHA, 1992). As concentrações de nitrito
forma determinadas pelo método colorimétrico, segundo Standard Methods (APHA,
1992).
As concentrações de nitrato dissolvidos na água foram determinadas pelo
método de redução do nitrato a nitrito por meio de uma coluna de cádmio, conforme
descrito no Standard Methods (APHA, 1992).
O fosfato inorgânico dissolvido foi determinado pelo método do fósforo reativo
solúvel, descrito em Mackereth et al.(1978) com as medidas de absorbância
29
realizadas num espectrofotômetro Micronal B-382, à 880 nm de comprimento de
onda.
2.4 Parâmetros Biológicos
2.4.2 Índice de Estado Trófico (IET)
Diversos pesquisadores afirmam que as variáveis físicas e químicas refletem
as condições da água no momento da coleta, enquanto que as variáveis biológicas
representam as pressões ambientais presentes e passadas. O aumento do conteúdo
orgânico determina a substituição da biota primitiva por outra que indica a nova
situação; dessa forma o conhecimento das comunidades aquáticas permite
identificar alterações da qualidade da água, inclusive depois do desaparecimento do
agente poluente.
A proposta deste índice está sendo de, através das diversas categorias de
discriminadores ambientais que utilizam variáveis físicas, químicas e biológicas na
avaliação da qualidade da água, definir um conjunto de parâmetros indicadores que
possibilite a elucidação da tipologia da água do reservatório proporcionando uma
adequada e fiel avaliação das condições ambientais do ecossistema. Para este
estudo utilizou-se o Índice de Estado Trófico proposto por Toledo et al. (1983).
2.5 Tratamento estatístico dos dados e análise multivariada
Foi feita a análise da estatística descritiva dos dados, com cálculos da média
aritmética com medida de tendência central. O grau de dispersão absoluta dos
dados foi medido através do desvio padrão (DP) e como medida de dispersão
relativa foi aplicada o coeficiente de variação de Pearson (CV).
A fim de medir o
grau de relacionamento linear das variáveis limnológicas entre si, foram aplicadas
matrizes de correlação para obter o coeficiente de correlação r (Pearson). A análise
de variância de uma via (ANOVA) foi utilizada para cada variável limnológica, com a
finalidade de estabelecer comparações entre as diferentes estações de coleta,
profundidades e épocas de amostragem. Foram realizadas análises multivariadas a
partir da análise de componentes principais, originalmente desenvolvida por K.
Pearson em 1901 para proporcionar a possibilidade de comparações entre épocas e
30
ecossistemas, na tentativa de resumir a dimensionalidade das inúmeras variáveis
aqui tratadas (TUNDISI, 1981; MATSUMURA-TUNDISI et al., MAGALEF, 1975),
para então poder-se avaliar os padrões de similaridade por um número menor de
variáveis (BICUDO, 2004). O programa utilizado foi o STATISTICA 7.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 DESCRIÇÃO DO CICLO HIDROLÓGICO
A bacia do Rio Taperoá, a exemplo das demais bacias hidrográficas
localizadas em regiões semi-áridas, tem a estação chuvosa e a estação de estiagem
como fenômenos climáticos bem distintos (BARBOSA, 2002). O período de
ocorrência das chuvas para os três reservatórios iniciou em fev/06 e terminou em
jun/06. Entretanto, foram constatadas variações na intensidade e no perfil da
distribuição pluviométrica entre os três reservatórios (Figura 2).
O açude Soledade caracterizou-se por um crescimento gradativo em sua
pluviosidade e uma abrupta redução, preconizando o início da estação chuvosa. Os
meses chuvosos acumularam 364,3 mm, e abril/06 foi o mês mais representativo.
Durante o ano estudado, não foram detectadas chuvas muito intensas ( x =
72,86mm; CV = 44,52%), que também se mostraram irregulares quanto à
distribuição temporal. Foi registrada uma forte diminuição na quantidade de água
armazenada, com uma média de 27,65% de sua capacidade máxima de
armazenamento. Contudo, não foram observadas variações expressivas em seu
volume (CV = 15,53%).
Em se tratando do açude Taperoá II, o comportamento pluviométrico destoou
em relação aos demais reservatórios: os meses chuvosos receberam um aporte
pluvial considerável, e que foram determinantes para a elevação da precipitação ( x
= 193,8mm; CV=56,23%), que acumulou 969mm, com maior expressividade em
março/06. A partir deste mês, o volume acumulado alcançou a sua máxima
capacidade, e que perdurou até o primeiro mês da estação seca. Com a chegada
desta estação, o volume do reservatório sofreu uma redução mais suave, mas que
obteve uma queda mais acelerada entre set/06 e dez/06.
31
Quanto ao açude Namorados, o padrão pluviométrico manifestou-se mais
brando e instável nos primeiros meses, que não ultrapassou 100mm. Entretanto, o
mês de jun/06, por agregar uma carga pluviometria mais significativa, influenciou o
comportamento geral das chuvas ( x = 79,40mm; CV=78,96%) e a precipitação
acumulada da estação chuvosa (397mm). O volume das águas do açude
Namorados também foi sensível a este fato, chegando ao patamar de até 41,3% de
sua capacidade total, mas que também sofreu diminuições progressivas durante os
meses da estação seca.
A partir daí, podem ser feitas as seguintes considerações: apesar dos corpos
hídricos estudados possuírem estações de seca e de chuva bem definidas, e de
guardarem distância relativamente próxima entre si, os padrões de pluviosidade e o
volume armazenado engendraram diferenças nas características físico-química da
água, e que podem influenciar nas dinâmicas ecológicas particulares para cada
ambiente.
A comparação dos dados de precipitação dos ecossistemas em estudo com a
série histórica 1996-2006 reforçou a irregularidade na distribuição espacial e
temporal das chuvas. Embora os ecossistemas em estudo estejam contidos em uma
sub-bacia de extensão relativamente pequena, a distribuição inconstante das chuvas
no espaço e no tempo exerce forte influência na particularização das características
físico-quimicas de cada ambiente. Este fenômeno pode influenciar nas diferenças da
composição e da quantidade da biota aquática, em especial a comunidade
fitoplanctônica.
O açude Soledade refletiu um comportamento similar a muitos açudes do
semiárido nordestino, onde as taxas de evaporação superam as de precipitação e
acarretam em perdas no volume de água armazenada. O açude Taperoá II, contudo,
apresentou padrões distintos na estação seca e na estação chuvosa, que culminou
com o volume máximo produzido no período. O açude Namorados também expôs
diferenças marcantes entre as duas estações, mas a época de estiagem foi
dominante e restringiu o período chuvoso a um único mês. No tocante a
profundidade máxima dos três corpos hídricos, ocorreu variação em torno de 5 a 6,5
metros, que os caracterizam como reservatórios rasos.
32
A
400
27
24
Precipitação 2006
300
Precipitação 1996-2006
250
Volume 2006
21
3
18
12
150
6
15
200
X 10 m
mm
350
9
100
6
50
3
0
0
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Meses
350
14
300
12
250
Precipitação 2006
10
3
16
200
Precipitação 1996-2006
8
6
400
Volume 2006
150
6
100
4
50
2
0
X 10 m
mm
B
0
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Meses
C
20
18
Precipitação 1996-2006
16
Volume 2006
14
350
300
12
5
mm
250
x 10 m
Precipitação 2006
3
400
200
10
8
150
6
100
4
50
2
0
0
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
Meses
ago
set
out
nov
dez
Figura 2. Precipitação pluviométrica e do volume do açude Soledade (A), açude Taperoá II (B)
e açude Namorados (C) durante o ano de 2006 e série histórica de chuvas ocorridas entre 1996
e 2006.
33
3.2 DETERMINANTES FÍSICOS E QUÍMICOS DOS AÇUDES
3.2.1 PROPRIEDADES ÓPTICAS DA ÁGUA
A transparência medida pelo disco de Secchi é função, essencialmente, da
reflexão da luz na superfície do corpo d’água e é, por isso, influenciada pelas
características da absorção da água e da matéria orgânica nela dissolvida ou em
suspensão (WETZEL, 1993). O grau de penetrabilidade da luz em uma massa d’
água constitui fator de primordial importância ecológica. A realização da fotossíntese
está na dependência direta da quantidade bem como da qualidade da luz que atinge
os organismos fotossintetizantes (BRANCO,1986).
As águas de Soledade exprimiram reduções graduais na transparência da
água no decorrer dos meses coletados ( x = 0,26cm; CV =48,25%). O mês de
janeiro manifestou maior transparência e o menor valor foi registrado no mês de
dezembro (Figura 3). A correlação negativa com os teores de pH (r = -0,79; p<0,01)
e a alcalinidade (r = - 0,74; p<0,01) são fatores que reforçaram a elevada turbidez da
coluna d’água. Acredita-se que o volume reduzido e relativamente estável no
decorrer do tempo possa ter determinado uma intensa concentração de material em
suspensão, embasados pela correlação negativa do volume com a condutividade
elétrica (r = - 0,55; p<0,01), e os teores de amônia (r = -0,55; p<0,01) e fosfato
solúvel (r = -0,57; p<0,01). Quanto à biomassa algal, não foi percebida nenhuma
relação significativa com a variação da transparência da água, uma vez que a
concentração de clorofila-a mostrou-se elevada e constante durante todo o tempo de
estudo (Capítulo 2), embora já se saiba da influência que as concentrações de algas
acarretam na transparência.
O açude Taperoá II ( x = 0,83cm; CV = 46,89%) manifestou redução
considerável na transparência da água nos meses de jan/06 e de mar/06. Contudo,
os meses de jun/06 e jul/06 alcançaram valores bem elevados (1,3 e 1,35 metro,
respectivamente), seguida de uma notável redução nos demais meses. Percebeuse correlações negativas envolvendo a precipitação e o volume acumulado, mas de
reduzida significância. Correlações de baixa relevância foram observadas nos
demais atributos físico-químicos, exceto pelo elo existente da transparência com a
quantidade
de
Euglenophycea.
organismos
pertencentes
às
classes
Bacillariophycea
e
34
Figura 3. Variação da transparência da coluna d’ água do açude Soledade, açude Taperoá II
e açude Namorados durante o ano de 2006.
O açude Namorados ( x = 0,49; CV = 84,29%) mostrou valores abaixo de 0,6
metro nos meses de grande estiagem, com exceção do mês de julho, cuja
transparência alcançou 1,3 metro. Este fenômeno está interligado com as intensas
chuvas ocorridas no mês anterior. Após o seu término, as águas tornaram-se mais
calmas.
Em ambos os açudes, a combinação existente entre precipitações elevadas e
aumento proporcional do volume ditou o poder de diluição e de concentração de
material dissolvido e particulado nos mesmos. Especialmente em Taperoá II, houve
intensa recarga hídrica, principalmente entre os meses de março a junho,
responsável pelo volume máximo alcançado no período. Desta forma, houve diluição
de material orgânico dissolvido e da biomassa algal, tornando o corpo d’ água mais
susceptível a radiações solares com diversos comprimentos de onda.
35
Tabela 2. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente
de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Soledade (em
metros)
jan/06 mar/06 jun/06
jul/06 set/06 dez/06 Média DP
CV
Zmax
5
5.52
5.2
4.7
5.35
4.32
5.02
0.44
8.85
Secchi
0.50
0.25
0.24
0.22
0.20
0.14
0.26
0.12
48.25
K
3.40
6.80
7.08
7.73
8.50
12.14
7.61
2.83
37.18
Zeu
1.35
0.68
0.65
0.59
0.54
0.38
0.70
0.34
48.25
Zaf
3.65
4.84
4.55
4.11
4.81
3.94
4.32
0.49
11.38
Zeu:Zaf
0.37
0.14
0.14
0.14
0.11
0.10
0.17
0.10
60.38
Zeu:Zmáx
0.27
0.12
0.12
0.13
0.10
0.09
0.14
0.07
47.75
Tabela 3. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de
atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Taperoá II (em
metros)
jan/06 mar/06 jun/06
jul/06 set/06 dez/06 Média DP
CV
Zmax
2.20
4.95
6.10
6.20
6.10
4.46
5.00
1.55
30.97
Secchi
0.70
0.45
1.30
1.35
0.55
0.65
0.83
0.39
46.89
K
2.43
3.78
1.31
1.26
3.09
2.62
2.41
0.99
41.09
Zeu
1.89
1.22
3.51
3.65
1.49
1.76
2.25
1.05
46.89
Zaf
0.31
3.74
2.59
2.56
4.62
2.71
2.75
1.45
52.58
Zeu:Zaf
6.10
0.33
1.36
1.43
0.32
0.65
1.70
2.21
130.32
Zeu:Zmáx
0.86
0.25
0.58
0.59
0.24
0.39
0.48
0.24
49.12
Tabela 4. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de
atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Namorados (em
metros)
jan/06
mar/06 jun/06
jul/06 set/06 dez/06 Média DP
CV
Zmax
2.27
2.80
6.40
6.50
5.70
3.60
4.55
1.88
41.41
Secchi
0.30
0.30
0.20
1.30
0.50
0.32
0.49
0.41
84.29
K
5.67
5.67
8.50
1.31
3.40
5.31
4.98
2.43
48.76
Zeu
0.81
0.81
0.54
3.51
1.35
0.86
1.31
1.11
84.29
Zaf
1.46
1.99
5.86
2.99
4.35
2.74
3.23
1.62
50.18
Zeu:Zaf
0.55
0.41
0.09
1.17
0.31
0.32
0.48
0.37
78.58
Zeu:Zmáx
0.36
0.29
0.08
0.54
0.24
0.24
0.29
0.15
51.98
36
3.2.2 TEMPERATURA SUBAQUÁTICA
O comportamento térmico de um sistema hídrico possui função indispensável
na caracterização e na velocidade de seus processos metabólicos, uma vez que
funciona como uma matriz segundo a qual os demais parâmetros se ajustam
(BARBOSA, 1981). Diferenças na temperatura geram camadas com diferentes
densidades, que influenciam na solubilidade dos gases e na decomposição da
matéria orgânica (BRANCO,1986; LINS, 2002).
O açude Soledade ( x = 26,08°C; CV = 5,09%) não apresentou oscilações
térmicas significativas tanto entre a zona pelágica e a zona litorânea, quanto entre a
coluna d’água (Tabela 5), exceto pela variação observada ao longo dos meses
coletados. Tal característica também foi observada em Taperoá II ( x = 26,07°C; CV
= 5,2%) e em Namorados ( x = 25,49°C; CV = 3,5%).
A temperatura máxima de Soledade foi 31,2°C no mês de mar/06, e a mínima,
23,9°C, no mês de set/06. A coluna d’água de Soleda de sofreu expressivo
aquecimento e formação de microestratificações térmicas nos dois primeiros meses,
seguida de arrefecimento e diferença reduzida da temperatura entre a superfície e o
fundo do açude nos dois meses posteriores (Fig.4A). Este comportamento esteve
atrelado às estações de estiagem e de chuvas neste local, que exerceram controle
no perfil térmico deste ecossistema.
No açude Taperoá II, cuja temperatura máxima foi 31,25°C em março e 24°C
de temperatura mínima no mês de set/06, variações térmicas semelhantes ao de
Soledade foram registradas (Figura 4B). Contudo, a precipitação mais elevada nos
meses chuvosos (ma/06 e jun/06), em consórcio com a força dos ventos, contribuiu
decisivamente para a ruptura da estratificação térmica. Este fenômeno foi bem
caracterizado nos meses de jun/06 e jul/06, que possuíram amplitudes térmicas de
0,3°C e 0,2°C, respectivamente.
Em relação ao açude Namorados, a temperatura máxima foi de 26,8°C em
março, e temperatura mínima de 23,5°C no mês de jun ho, com amplitude térmica de
3,3°C, a menor registrada em comparação com os dema is ecossistemas (Figura
4C).
Apesar das oscilações térmicas mensais serem determinadas por variações
na pluviosidade, a coluna d’água de Taperoá II mostrou-se mais homogênea em
períodos chuvosos do que em Soledade e em Namorados. Este fato pode estar
37
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jul/06
Jun/06
Set/06
Dez/06
°C
28.20
27.80
27.40
27.00
50%
%Luz
26.60
26.20
25.80
25.40
25.00
1%
24.60
24.20
23.80
23.40
Zmax
23.00
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
100%
°C
28.20
27.80
27.40
27.00
50%
%Luz
26.60
26.20
25.80
25.40
25.00
1%
24.60
24.20
23.80
23.40
Zmax
23.00
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
°C
28.20
27.80
27.40
27.00
50%
%Luz
26.60
26.20
25.80
25.40
25.00
1%
24.60
24.20
23.80
23.40
Zmax
23.00
C
Figura 4. Variação da temperatura subaquática medida no açude Soledade (A), açude
Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006.
38
associado com a elevada pluviosidade registrada e com a força dos ventos, que
movimentaram as massas de água o suficiente para homogeneizar termicamente a
água.
3.2.3 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (pH)
Na maioria das águas naturais, o pH é influenciado pela concentração de íons
+
H originados da dissociação do ácido carbônico (H2CO3), que gera valores baixos
de pH e das reações de íons carbonato (CO32-) e bicarbonato (HCO3-) com a
molécula de água, que elevam os valores de pH para a faixa alcalina. A formação do
ácido carbônico se dá através da difusão do gás carbônico (CO2) em água. As
principais fontes de CO2 à água são a atmosfera, chuva, águas subterrâneas,
decomposição e respiração de organismos (TALAMONI et al, 2006).
A variação do pH esteve associada às chuvas e a variação de volume para os
três ambientes. O reservatório Soledade foi o ambiente de maiores valores de pH
seguido do açude Taperoá e pelo Namorados.
O açude Soledade, com média geral de 9,3 (DP=0,1; CV=8%), caracterizouse por ser dentre os três reservatórios o de menor amplitude tanto espacial quanto
temporal não passando de 0,5 (Figura 5A). Este fato deve-se, apesar de ser este
reservatório o de maior porte, estar com a menor acumulo relativo de água,
influenciando na concentração de carbonatos e bicarbonatos (SUASSUNA, 1999).
As precipitações funcionaram mais como um efeito carreador de material alóctone
que de diluição como se pode perceber na pouca variação de seu volume (Figura
2A). A correlação positiva do pH com a alcalinidade (r =0,53; p<0,01), influenciada
pela presença de carbonatos, pode comprovar a ocorrência deste fenômeno. A
composição do solo da região, e seu baixo potencial em armazenar água (SOUZA et
al, 2004) implicam em um solo rico em concentrações de carbonatos que aumentam
o pH. Bem como, além de constantes, os altos valores de pH também são um
reflexo da atividade fotossintética, considerando os altos valores de biomassa
fitoplanctônica encontrados no açude, aumentando o consumo de gás carbônico no
ambiente tornando um ambiente extremamente alcalino como observou Leite et al
(2002) na variação do pH em uma lagoa do Rio Grande do Sul.
39
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
pH
100%
9.30
9.10
8.90
8.70
50%
% Luz
8.50
8.30
8.10
7.90
7.70
1%
7.50
7.30
7.10
6.90
6.70
Zmax
6.50
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
pH
100%
9.30
9.10
8.90
8.70
50%
8.50
% Luz
8.30
8.10
7.90
7.70
1%
7.50
7.30
7.10
6.90
6.70
Zmax
6.50
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
pH
9.30
9.10
8.90
% Luz
50%
8.70
8.50
8.30
8.10
7.90
1%
7.70
7.50
7.30
7.10
6.90
6.70
Zmax
6.50
C
Figura 5. Variação do pH medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude
Namorados (C) durante o ano de 2006.
40
A média geral no açude Taperoá foi de 8,1 (DP=0,15; CV=1,8%). Para este
açude, a variação temporal foi bem expressiva (F=11, p=0,01) em detrimento da
espacial, e os
maiores
valores
foram
encontrados
nos primeiros meses,
antecedendo as chuvas (max = 8,7 no mês de março), corroborando com a
explicação do fator de diluição que por sua vez associa-se ao aumento de clorofila-a
devido à concentração também de íons e moléculas de nutrientes (BARBOSA,
2002).
Com comportamento semelhante ao açude Taperoá, mas com valores mais
reduzidos ( x =7,3; DP=0,2; CV=2,7), o açude Namorados apresentou pH ácido no
mês de junho devido diminuição da biomassa e aumento do volume (Figura 2C).
A entrada de material alóctone segundo Talamoni et al (2006) diminui o pH
também pelo aumento da decomposição daquele. Os ambientes no geral foram
alcalinos, por ocasião de secas prolongadas os açudes nordestinos podem
apresentar valores superiores acima de 9 e íons de carbonato e bicarbonato são os
responsáveis por altos valores, os quais aumentam a alcalinidade. O ambiente
natural, via de regra, não apresenta pH neutro, sendo fortemente influenciado por
sais, ácidos e bases presentes no meio (ESTEVES, 1998).
3.2.4 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA
A condutividade elétrica é a habilidade ou capacidade da água em conduzir a
corrente elétrica, devido à concentração dos íons presentes. Esta composição é
influenciada pela geologia da bacia de drenagem, bacia de acumulação do
ecossistema lacustre, bem como a água da chuva (PINTO-SILVA, 2002).
A condutividade elétrica foi medida com os maiores valores no açude
Soledade, seguido pelo açude Taperoá e Namorados.
O açude Soledade com média de 1846,2 µSi.cm-1 (DP=483,6; CV=26,2%),
esteve com pouca variação espacial (na coluna de água), ao passo que pode-se
observar uma variação temporal expressiva na figura 6A. Este reservatório conta
com as maiores taxas de evaporação por ter uma área maior exporta as altas taxas
de radiação da região. Soma-se a este fato a característica dos solos da região que
são problemáticos tanto do ponto de vista físico quanto do geoquímico (solos
parcialmente salinos, solos carbonáticos) e ausência de rios perenes, sobretudo no
que se refere às drenagens autóctones. A despeito do caráter intermitente dos rios
41
regionais, a drenagem extensivamente aberta para o mar impediu a formação, em
larga escala, de solos verdadeiramente salinos, sobretudo nas vertentes e nos
interflúvios. Os sais dissolvidos das rochas cristalinas (predominantes no substrato
geológico local) são quase totalmente evacuados pelo fluxo das águas na estação
chuvosa, havendo saída dos materiais solúveis para todos os quadrantes costeiros
da região. A construção de açudes contribui para a salga das águas retidas
(AB'SABER, 2007). Os valores máximos para a condutividade elétrica neste
reservatório foram obtidos no mês de dezembro (máx. = 2690,0 µSi.cm-1) com a
diminuição do volume do açude que provocou a concentração dos íons dissolvidos
na água.
O açude Taperoá não seguiu o mesmo padrão temporal que o açude
Soledade, tendo seus valores máximos no mês de janeiro (máx. = 960 µSi.cm-1)
antes da ocorrência das chuvas. Com uma média de 499,2 µSi.cm-1, pode-se
observar na figura 6B os menores valores deste reservatório em relação ao anterior
citado. Este açude recebeu maior aporte de água de acordo com as taxas de
precipitação (Figura 2B) e seu volume esteve em ascendência em boa parte do
estudo perdendo nos meses secos menos volume do que o acumulado.
Com a menor amplitude temporal (amplitude= 211 µSi.cm-1) dos três açudes o
reservatório de Namorados foi caracterizado também com a menor média do estudo
( x = 169,6 µSi.cm-1; DP = 63,7; CV=37,6%). Embora tenha estado com os menores
valores de transparência e de clorofila a, indicando material em suspensão, este
material não contribuiu para a condutividade, indicando ser este material em sua
maioria proveniente da argila do solo. A argila diminui a condutividade elétrica, pois
é um material isolante ao meio.
Segundo AB'Saber (2007) na realidade, os terrenos que constituem a região
semi-árida nordestina, em áreas de vertentes e interflúvios das colinas sertanejas,
possuem uma complexa associação regional de solos, totalmente diversa de todos
os outros conjuntos existentes no país. Sua especificidade decorre da presença de
solos igualmente distanciados, tanto dos solos salinos típicos quanto dos
excessivamente carbonáticos. No entanto, não fora o caráter aberto das redes
hidrográficas intermitentes do Nordeste seco, as conseqüências para a formação de
solos inadequados seriam muito maiores, com a possibilidade de formação de
terrenos extensivamente salinos ou carbonáticos. O açude Namorados faz parte de
um sistema de cascatas em que ele é o barramento final de
açudes
anteriores,
42
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
uS/cm
100%
2480.00
2280.00
2080.00
50%
1880.00
% Luz
1680.00
1480.00
1280.00
1080.00
1%
880.00
680.00
480.00
280.00
Zmax
80.00
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
uS/cm
100%
2480.00
2280.00
2080.00
50%
1880.00
% Luz
1680.00
1480.00
1280.00
1080.00
1%
880.00
680.00
480.00
280.00
Zmax
80.00
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
uS/cm
2480.00
2360.00
2240.00
2120.00
2000.00
1880.00
1760.00
1640.00
1520.00
1400.00
1280.00
1160.00
1040.00
920.00
800.00
680.00
560.00
440.00
320.00
200.00
80.00
% Luz
50%
1%
Zmax
C
Figura 6. Variação da condutividade elétrica medida no açude Soledade (A), açude
Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006.
43
sendo então um reflexo de toda a cascata esta inativa na maior parte de sua
existência devido irregularidade das chuvas da região, impedindo o contado com os
outros reservatórios menores e o transporte de sais entre estes.
3.2.5 ALCALINIDADE
O dióxido de carbono é relativamente abundante na água, na forma gasosa
ou dissolvida, e de que carbonatos são comumente encontrados no solo em todo o
mundo, a maioria das águas interiores contém alcalinidade devida ao bicarbonato
(WETZEL, 1993). A alcalinidade da água é função, principalmente, de três principais
classes de compostos: os hidróxidos, os carbonatos e os bicarbonatos; em ordem
crescente de sua associação com os altos valores de pH. Os sais de ácidos fracos e
bases fortes responsáveis pela alcalinidade da água agem como tampões, resistindo
à queda de pH resultante da adição de ácidos (SAYWER et al, apud TALAMONI et
al, 2006).
O açude Soledade foi o reservatório de maiores valores para a alcalinidade (
x =53,3 mgCaCO3/L; DP=9,5; CV=25,1%) estando este mais altos no período
posterior às maiores taxas de precipitação e nos meses considerados mais secos
para a região (máx.= 80 mgCaCO3/L em dezembro), como mostra a figura 6. Logo
se pode constatar uma oscilação temporal de seus valores na coluna de água. O
primeiro acréscimo para o parâmetro aqui discutido, durante as chuvas e após as
chuvas, mostra que o açude Soledade não teve efeito diluidor, houve carreamento
de material alóctone como já foi discutido nas considerações sobres o pH,
funcionando então como um fator de acréscimo para a concentração de íons, mais
que diluidor. Este fato pode ser confirmado com a observação da transparência da
água (Figura 3). O segundo acréscimo ocorrido em dezembro tem-se como base a
diminuição do seu volume, já que se trata do período mais quente e seco para a
região favorecendo o aumento das taxas de evaporação.
O contrario ocorreu com os reservatórios de Taperoá e Namorados. O açude
Taperoá, com média geral de 25,1 mgCaCO3/L (DP= 9,8; CV= 39,3%) foi
caracterizado por dois
períodos de diminuição
e
dois
de
aumento
da
alcalinidade intercalados, sendo o ambiente de menores valores para a alcalinidade.
44
Meses
Jan/06
Mar/06
Jul/06
Jun/06
Set/06
Dez/06
mgCaCO3/L
100%
75.00
70.00
65.00
60.00
50%
55.00
% Luz
50.00
45.00
40.00
35.00
30.00
1%
25.00
20.00
15.00
10.00
5.00
Zmax
0.00
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
mgCaCO3/L
100%
75.00
70.00
65.00
60.00
50%
55.00
% Luz
50.00
45.00
40.00
35.00
30.00
1%
25.00
20.00
15.00
10.00
5.00
0.00
Zmax
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
mgCaCO3/L
75.00
70.00
65.00
60.00
50%
55.00
% Luz
50.00
45.00
40.00
35.00
30.00
25.00
20.00
15.00
10.00
5.00
Zmax
0.00
C
Figura 7. Variação da alcalinidade medida no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e
açude Namorados (C), durante o ano de 2006.
45
No entanto observa-se, de acordo com a análise das Figuras 2B e 7B que o
volume de água recebido pelas precipitações foi um fator de diluição, devido à
diminuição dos valores de alcalinidade após o período chuvoso.
O açude Namorados foi o, com média de 26,1 mgCaCO3/L (DP = 1,3; CV =
5%). Este reservatório, segundo a figura 6 C foi o de menor variação espacial, não
apresentando microestratificações. Pôde-se observar também o efeito diluidor no
mês de junho causado pelo volume de água acumulado no mês anterior e o
conseqüente aumento de volume.
Todos os açudes sofreram redução de volume nos últimos meses do ano
amostrado. Segundo a ANOVA (TABELA 5, 6 e 7) os valores de alcalinidade foram
significantes somente em sua variação temporal. Segundo Suassuna (1999) estudos
têm demonstrado que 40% das águas de um pequeno açude ou barreiro se perdem
para a atmosfera pelo fenômeno da evaporação que, na região, chega a atingir
patamares da ordem de 2000 mm anuais, sendo em maiores proporções para o
açude Soledade devido a sua extensão em área, volume e espelho d’água, pois
representa quase 50% da capacidade hídrica de sua bacia (PARAÍBA, 2004). Logo,
observa-se esta dinâmica. Logo se tem na evaporação a causa do aumento da
alcalinidade dos açudes no mês de dezembro. Já no início de do estudo se tem
valores também relativamente baixos que além do fator de concentração devido a
ausência
de
chuvas,
observaram-se
também
neste
período
as
maiores
concentrações de clorofila a. Nesta situação o consumo de gás carbônico pelo
fitoplâncton promove a converção dos carbonatos para manter o equilíbrio entre o
gás e os sais (WETZEL, 1993), diminuindo assim a alcalinidade do ambiente.
3.2.6 OXIGÊNIO DISSOLVIDO
Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio (O2), é um dos mais
importantes na dinâmica a na caracterização de ecossistemas aquáticos. A
atmosfera e a fotossíntese são as principais fontes de oxigênio para a água. Por
outro lado, as perdas são pela decomposição de matéria orgânica (oxidação),
perdas para a atmosfera, respiração de organismos aquáticos e oxidação de íons
metálicos (ESTEVES, 1998).
O açude Soledade esteve com os valores de oxigênio dissolvido (Figura 8A)
mais elevados nos meses antecedentes as chuvas sendo o valor mais alto obtido no
46
mês de março na superfície do reservatório (max.= 12,5 mg/L) seguindo o padrão da
clorofila-a (Capítulo 2) e considerada a média da coluna de água. Com uma média
geral de 6,4 mg/L (DP=1,58; CV=24,5%), o oxigênio dissolvido variou com
amplitudes na coluna de água menores que 3 mg/L, estando o reservatório bem
oxigenado o ano todo. Esta é uma característica encontrada nos três açudes, por
terem profundidades relativamente baixas.
Os maiores valores para as concentrações de oxigênio dissolvido ocorreram
no geral antes do início do período chuvoso, pois com as chuvas é provável a
diminuição da transparência, interferindo nas taxas fotossintéticas e, portanto nas
concentrações de oxigênio (ESTEVES, 1998). Observou-se perfis clinogrados antes
e durante as chuvas e de forma geral correlações foram pouco expressivas com a
temperatura no açude Soledade. Esta característica é própria de ecossistemas
aquáticos tropicais, onde a alta luminosidade influencia mais que a temperatura, por
esta se encontrar bem homogênea na coluna de água (TOWNSEND, 2006).
No entanto, a relação da radiação subaquática com o oxigênio foi vista como
inversamente proporcional como se pode observar no açude Taperoá (Figura 3 e
8B) onde os valores mais elevados para o oxigênio dissolvido ( x =6,12; DP=0,9;
CV.=15,42) ocorreram no período de baixa transparência da água. Logo se pode
dizer que concentração de nutrientes, em função da redução do volume do
reservatório no inicio do estudo, e os conseqüentes elevados valores de clorofila a,
são a causa dos altos valores do oxigênio dissolvido devido ao aumento da
produtividade (BARBOSA, 2003).
Para o açude de Namorados (Figura 8C) observou-se padrão semelhante ao
açude Taperoá. Os máximos valores também foram encontrados nos primeiros
meses do estudo (máx. = 9 mg/L) e os valores mais baixos (mín.= 3,82 mg/L) foram
medidos nos meses de maior taxa de precipitação (Figura 2C). A diferença entre os
dois açudes é que em Namorados as maiores concentrações de oxigênio dissolvido
se deram a 1% de luminosidade. Este açude é um reservatório de baixa
transparência (Figura 3) devido a seu menor porte e sua baixa capacidade de
diluição, sendo dentre os três ecossistemas o de menor média geral ( x =5,6 mg/L;
PD=1,27; CV=22,78%). A afirmação de Townsend (2006) de que os lagos são
ambientes altamente dinâmicos, onde as condições de equilíbrio são raras, propõem
a causa para as concentrações
elevadas
de
oxigênio
dissolvido
maiores profundidades do açude devido as estratificações e desestratificações
nas
47
Meses
Jan/06
Mar/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
mg/L
100%
12.00
11.00
10.00
9.00
50%
% Luz
8.00
7.00
6.00
5.00
1%
4.00
3.00
2.00
1.00
Zmax
0.00
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
100%
mg/L
12.00
11.00
10.00
9.00
% Luz
50%
8.00
7.00
6.00
5.00
1%
4.00
3.00
2.00
1.00
Zmax
0.00
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
mg/L
12.00
11.00
10.00
50%
9.00
% Luz
8.00
7.00
6.00
5.00
1%
4.00
3.00
2.00
1.00
Zmax
0.00
C
Figura 8. Variação do oxigênio dissolvido medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II
(B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006.
48
diárias característica de ecossistemas límnicos de climas semi-áridos somadas a
uma baixa penetração de luz no ecossistema em questão. O horário de coleta pode
ter influenciado neste resultado, uma vez que a amostragens neste ambiente foram
feitas sempre às 5:00 h estando sob influencia ainda de um das condições noturnas
do ambiente. Diniz (2006) constatou maior mistura da coluna de água em
reservatório tropical pela parte da noite.
3.2.7 NITROGÊNIO INORGÂNICO TOTAL
As concentrações de nutrientes na coluna de água de um reservatório
refletem , de modo geral, além dos processos físicos, também o balanço entre as
variações temporais das taxas de absorção e mineralização. Assim, os
conhecimentos dos padrões de variação temporal das concentrações ambientais de
nutrientes constituem ferramentas importantes para a compreensão da dinâmica
ecológica de um sistema aquático e, mais especificamente de suas interações
bióticas (CALIJURI, 1999)
Barbosa et al, (1998) ressalta que é inconcebível estabelecer estratégias de
manejo viando a conservação e a recuperação de ecossistemas aquáticos sem
conhecer o balanço de massas de Nitrogênio e fósforo, uma vez que o acúmulo
desses nutrientes é a principal causa da eutrofização.
O nitrogênio exerce um dos papeis mais importantes na manutenção do
metabolismo de sistemas aquáticos, visto que é um macro nutriente constituinte das
células de todos os seres vivos, utilizado na síntese de DNA , RNA e proteínas, além
de limitante a produção primária (ENRICH-PRAST, 2005). Sendo encontrada de
diversas formas no ambiente, das quais o nitrato assume junto com amônio grande
importância nos ecossistemas aquáticos, pois representam as principais fontes de
nitrogênio para os produtores..
O Açude Soledade apresentou os maiores concentrações de nitrogênio ( x
=74,18; EP=15,84; DP= 77,52) em detrimento aos Açudes Taperoá II ( x = 18,14;
EP= 3,43; DP=16,81) e Namorados ( x =9,84; EP= 1,36; DP= 6,65).
A variação espaço-temporal na distribuição das formas nitrogenadas ocorreu
de forma semelhante nos três ecossistemas em estudo, onde observou-se aumento
na concentração do nitrogênio ao longo do período amostrado, em especial após o
49
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
100%
ug/L
340.00
320.00
300.00
280.00
260.00
240.00
220.00
200.00
180.00
160.00
140.00
120.00
100.00
80.00
60.00
40.00
20.00
0.00
% Luz
50%
1%
Zmax
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
100%
ug/L
300.00
285.00
270.00
255.00
240.00
225.00
210.00
195.00
180.00
165.00
150.00
135.00
120.00
105.00
90.00
75.00
60.00
45.00
30.00
15.00
0.00
% Luz
50%
1%
Zmax
B
Meses
Jan/06
100%
% Luz
50%
1%
Zmax
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
294.00
280.00
266.00
252.00
238.00
224.00
210.00
196.00
182.00
168.00
154.00
140.00
126.00
112.00
98.00
84.00
70.00
56.00
42.00
28.00
14.00
0.00
C
Figura 9. Variação do nitrogênio inorgânico total medido nos açudes Soledade (A), açude
Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006.
50
fim do período chuvoso. Na coluna de água, ocorreu uma homogeneização na
distribuição das variáveis destas, ainda que ocorram maiores concentrações na zona
afótica
dos
reservatórios,
provavelmente
em
decorrência
das
menores
concentrações de oxigênio nesta região do reservatório. Segundo Lopes (1999) o
fator regulador do metabolismo de nitrogênio é o oxigênio que, aliado à
temperatura, acelera ou diminui a velocidade dos processos químicos e determina a
presença de formas oxidadas e reduzidas do gás. Assim os teores de oxigênio e o
balanço térmico tem papel fundamental nos processos do ciclo do nitrogênio.
Apesar da semelhança na distribuição espaço-temporal a dinâmica do
nitrogênio nos ecossistemas ocorreu de forma diferenciada. Os açudes Soledade e
Namorados apresentam amônia como a forma nitrogenada predominante, seguido
de nitrito e nitrato, enquanto no Açude taperoá tem-se maiores concentrações de
nitrato, seguidas de amônia e nitrito.
3.2.8 AMÔNIA (íon amônio)
No Açude Soledade as concentrações de amônia apresentaram média de
34,23 µgL-1 (EP= 6,73; DP=32,99), variando de
método, a
102,25 µgL
-1
valores não detectados pelo
. Para o Açude Taperoá II foram determinadas
concentrações médias de x = 5,78 µgL-1; (EP=1,53; DP= 7,48) variando até
concentrações de 23,83 µgL-1. Para Açude Namorados, observou-se uma
concentração média de amônia de 4,38 µgL-1 (EP=1,14; DP= 5,56) variando de
valores não detectados pelo método a 19,08 µgL-1 . A variação espaço- temporal
desta variável ocorreu de forma semelhante em todos os ambietnes em estudo,
conforme exposto na figura 8, observa-se baixas concentrações do íon amônio no
epilímio e altos no hipolímio, sugerindo consumo do íon no epilímio pelo fitoplâncton
e altas taxas de amonificação de nitrato no hipolímnio, ainda que estas variações
não sejam estatisticamente significativas pela ANOVA realizadas (TABELA 5). O
aumento das concentrações ao longo do período amostral nos ecossistemas
considerado extremamente significativo.
A quantidade de energia necessária para assimilar o nitrogênio é mais baixa
para o amônio e mais alta para o nitrato. É por isso que as concentrações de amônio
são usualmente baixas em reservatórios oligotróficas pouco produtivas. Nos açudes
51
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
100%
ug/L
100.00
95.00
90.00
85.00
80.00
75.00
70.00
65.00
60.00
55.00
50.00
45.00
40.00
35.00
30.00
25.00
20.00
15.00
10.00
5.00
0.00
% Luz
50%
1%
Zmax
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
100%
Dez/06
ug/L
100.00
95.00
90.00
85.00
80.00
75.00
70.00
65.00
60.00
55.00
50.00
45.00
40.00
35.00
30.00
25.00
20.00
15.00
10.00
5.00
0.00
% Luz
50%
1%
Zmax
B
Meses
Jan/06
100%
% Luz
50%
1%
Zmax
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100.00
95.00
90.00
85.00
80.00
75.00
70.00
65.00
60.00
55.00
50.00
45.00
40.00
35.00
30.00
25.00
20.00
15.00
10.00
5.00
0.00
C
Figura 10. Variação do íon amônio medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e
açude Namorados (C), durante o ano de 2006.
52
Taperoá II e Namorados as baixas concentrações de amônio corroboram as
afirmações de Wetzel (1993) e reforçam a condição oligotrófica dos mesmos.
4.2.9 NITRITO
No açude Soledade as concentrações de nitrito apresentaram concentrações
médias de X= 36,53 µgL-1; (EP= 12,31; DP= 60,29) variando de 2,68 a 308,26 µgL-1.
A exemplo da amônia a variabilidade temporal apresentou-se extremamente
significativas (p<0,001; F= 2,72). No açude Namorados apesar de baixas
concentrações de nitrito ( x = 3,52 µgL-1;EP= 0,68; DP=3,34), este apresenta-se em
maior quantidades que o nitrato . Na coluna de água observou-se (figura 11A)
distribuição homogênea da variável ainda que durante os meses de estratificações
térmicas ocorram maiores concentrações desta variável na zona afótica em ambos
os reservatórios. As elevadas concentrações de nitrito observadas no açude
Soledade vão de encontro aos padrões de distribuição destes em ecossistemas
tropicais, este fato pode estar relacionado as baixas concentrações de oxigênio na
coluna de água destes reservatórios, uma vez que, por se tratar de um componente
intermediário resultante da redução do nitrato ou da oxidação do amônio, em meios
bem oxigenados, as concentrações de nitrito apresentam-se extremamente baixas
0,1 µgL-1 (LOPES, 1999).
No açude Taperoá II, com médias de 3,79 µgL-1 (EP= 0,81; DP=3,99),
respectivamente.
53
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
280.00
260.00
240.00
220.00
50%
200.00
% Luz
180.00
160.00
140.00
120.00
1%
100.00
80.00
60.00
40.00
20.00
Zmax
0.00
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
48.00
44.00
40.00
36.00
50%
% Luz
32.00
28.00
24.00
20.00
1%
16.00
12.00
8.00
4.00
Zmax
0.00
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
48.00
44.00
40.00
50%
36.00
% Luz
32.00
28.00
24.00
20.00
1%
16.00
12.00
8.00
4.00
Zmax
0.00
C
Figura 11. Variação do íon nitrito medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e
açude Namorados (C), durante o ano de 2006.
54
4.2.10 NITRATO
As
concentrações
de
nitrato
nos
Açudes
Soledade
e
Namorados
apresentaram concentrações médias de x = 3,22 µgL-1 (EP= 0,81; DP= 3,94) e x
=1,95 µgL-1
(EP= 0,45; DP=2,20), respectivamente, variando de valores não
detectados pelo método a 12,98. e 9,15 µgL-1. A variação sazonal desta variável
apresentou diferenças extremamente significativas (tabela). A partir da figura 12A
observa-se ausência de variabilidade na distribuição desta variável entre as
profundidades amostradas. Nos períodos onde ocorreram estratificações térmicas
ocorreram diminuição nas concentrações de nitrato, isto ocorre uma vez que epilímio
o nitrato é facilmente assimilado pelo fitoplâncton e no hipolímnio, devido a hipoxia,
ocorre o processo de amonificação. Estas condições também favorecem a
desnitrificação, com conseqüente aumento das concentrações de nitrito na coluna
de água.
No Açude Taperoá II as concentrações de nitrato apresentaram média de
8,57 µgL-1 (EP=2,27; DP=11,11) com valores máximos de 33,15 µgL-1.
55
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
32.00
30.00
28.00
26.00
50%
24.00
% Luz
22.00
20.00
18.00
16.00
14.00
1%
12.00
10.00
8.00
6.00
4.00
2.00
Zmax
0.00
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
32.00
30.00
28.00
26.00
24.00
50%
22.00
% Luz
20.00
18.00
16.00
14.00
12.00
1%
10.00
8.00
6.00
4.00
2.00
Zmax
0.00
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
32.00
30.00
28.00
26.00
50%
24.00
% Luz
22.00
20.00
18.00
16.00
14.00
1%
12.00
10.00
8.00
6.00
4.00
2.00
Zmax
0.00
C
Figura 12. Variação do íon nitrato medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e
açude Namorados (C), durante o ano de 2006.
56
4.2.11 ORTOFOSFATO SOLÚVEL
Segundo Esteves (1998), toda forma de fósforo presente em águas naturais
encontram-se sob a forma de fosfatos. Do ponto de vista limnológico, todas as
frações de fosfato são importante, contudo, o ortofosfato (PO4-3) consiste na fração
de maior relevância, visto que é a principal forma de fosfato assimilada pelos
vegetais aquáticos.
Nos ecossistemas em estudo as concentrações de ortofosfato apresentaram
médias de 3,70 µgL-1 (DP=4,50; EP=0,92), 0,58 µgL-1 (DP=0,62; EP=0,13) e 2,61
µgL-1 (DP=5,72; EP=1,17), para os Açudes Soledade, Taperoá II e Namorados
respectivamente. A exemplo das formas nitrogenadas, as concentrações de
ortofosfato elevaram-se ao longo dos períodos amostrados, em todos os
ecossistemas, sendo as diferenças observadas consideradas extremamente
significativas para os açudes de Soledade e Namorados (Tabelas 5 e 7). Na coluna
de água, conforme exposto na figura 13, observa-se estratificações das
concentrações desta variável, as quais acompanham as estratificações térmicas.
Segundo Esteves (1998) entre os principais fatores que influenciam a distribuição de
fosfato em ecossistemas límnicos tropicais estão o perfil de oxigênio e o período de
estratificação térmica, uma vez que elevadas temperaturas aceleram sua absorção
por organismos planctônicos em decorrência do aumento de processos metabólicos.
Por tratar-se da forma fosfatada de primordial importância ao metabolismo
dos vegetais aquáticos as concentrações de ortofosfato na água podem ditar as
condições de estrutura das comunidades planctônicas. No açude Soledade
observou-se relações negativas entre ortofosfato e: riqueza de espécies (r=-0,87;
p<0,01) e diversidade (r=-0,54; p<0,01). No açude Namorados foram observadas
relação direta do ortofosfato com a dominância (r=0,90; p<0,01) de espécies e
correlações inversas com
a diversidade (r=0,86; p<0,01);e equidade (r=-0,83;
p<0,01).
No açude Taperoá II não foram observadas relações entre os aspetos
estruturais da comunidade fitoplanctônica e o ortofosfato, ainda que as menores
concentrações medidas neste, em detrimento aos demais reservatórios estudados
sugerem um maior consumo pelo plâncton, bem como apontam este reservatório
como o mais produtivo dentre os demais.
57
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
11.00
10.00
9.00
50%
% Luz
8.00
7.00
6.00
5.00
1%
4.00
3.00
2.00
1.00
Zmax
0.00
A
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
2.00
1.80
1.60
50%
% Luz
1.40
1.20
1.00
0.80
1%
0.60
0.40
0.20
Zmax
0.00
B
Meses
Jan/06
100%
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
22.00
20.00
18.00
50%
16.00
% Luz
14.00
12.00
10.00
1%
8.00
6.00
4.00
2.00
Zmax
0.00
C
Figura 13. Variação do ortofosfato solúvel medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá
II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006.
58
Tabela 5. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das
variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do
Açude Soledade – PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006.
Parâmetros
Temperatura
pH
Condutividade
Alcalinidade
OD
Amônia
Nitrito
Nitrato
N – total
P-orto
Estatística
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
Meses
11.1227
p<0.01
11.2056
p<0.01
119.8464
p<0.01
9.9507
p<0.01
22.8463
p<0.01
110.5055
p<0.01
2.7289
p<0.05
4.4851
p<0.01
6.427368
p<0.01
35.6963
p<0.01
Profundidades
0.1430
0.932956
0.9122
0.452757
0.0118
0.998190
0.2213
0.880438
0.2241
0.878526
0.0929
0.963108
0.7923
0.512423
0.0685
0.976027
0.756803
0.523091
0.0402
0.988936
Pontos
2.798659
0.283157
3.432122
0.202091
1.033126
0.972344
1.260314
0.805780
1.971485
0.474157
1.365384
0.740879
1.217547
0.834256
2.317396
0.377709
1.393932
0.724411
1.313529
0.772041
59
Tabela 6. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações
espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do Açude Taperoá II
– PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006.
Parâmetros
Temperatura
pH
Condutividade
Alcalinidade
OD
Amônia
Nitrito
Nitrato
N - total
P-orto
Estatística
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
F
p
Meses
18.0315
p<0.01
37.6983
p<0.01
31.8805
p<0.01
4.6686
p<0.01
12.8446
p<0.01
15.4548
p<0.01
12.6859
p<0.01
37.6918
p<0.01
25.90382
p<0.01
1.8483
0.141359
Profundidades
0.33628
0.799258
0.41408
0.744726
0.16266
0.920228
0.36254
0.780718
0.31042
0.817597
0.15412
0.925805
0.32087
0.32087
0.10153
0.958195
0.719126
0.544752
0.02404
0.994789
Pontos
3.82802
0.167010
1.94064
0.484314
1.11761
0.905861
1.21335
0.837118
11.63116
0.017561
2.63046
0.312079
2.89899
0.267637
2.94934
0.260288
3.443796
0.200917
16.71236
0.007737
60
Tabela 7. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações
espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do Açude Namorados –
PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006.
Parâmetros
Temperatura
pH
Condutividade
Alcalinidade
OD
Amônia
Nitrito
Nitrato
N - total
P-orto
Estatística
F
P
F
P
F
P
F
P
F
P
F
P
F
P
F
P
F
P
F
P
Meses
45.694
p<0.01
22.709
p<0.01
239.993
p<0.01
1458.370
p<0.01
74.466
p<0.01
4.698
p<0.01
0.801
0.559802
1.104
0.384365
4.561354
p<0.01
40.409
p<0.01
Profundidades
0.29723
0.826957
0.26764
0.847927
0.01160
0.998231
0.00321
0.999741
0.02496
0.994493
0.81509
0.500580
0.26912
0.846879
1.37046
0.280514
0.956132
0.419885
0.14381
0.932437
Pontos
1.60789
0.614943
1.33670
0.757914
1.34642
0.752085
1.04086
0.966019
2.28614
0.385265
6.48781
0.060953
2.06969
0.443674
40.32087
0.000964
3.670868
0.179840
2.29568
0.382937
61
3.2.12 ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO
A diminuição da diversidade de espécies e modificação da biota dominante,
aumento da biomassa de plantas e animais, aumento da turbidez, aumento da taxa
de sedimentação, diminuição da vida útil dos reservatórios e possibilidade de
desenvolvimento de condições anóxicas, são de forma geral são um possível
conjunto de alterações nos ambientes aquáticos com o aumento do estado trófico
Até então se aplica a ambientes tropicais o Índice de Estado Trófico (IET)
proposto por Toledo et al. (1983), sendo o índice de Carlson acrescido das
concentrações de fósforo inorgânico dissolvido. Segundo índice de estado trófico
para o ortofosfato solúvel ( x = 4,0 ug/L) o açude Soledade esteve no período
amostrado de ultraoligotrófico a oligotrófico. Nos meses de maiores taxas de
precipitação (Figura 14 A), de janeiro a junho, os valores para o fósforo inorgânico
estiveram em seu nível mais baixo aumentando após o período chuvoso, sem
provocar, no entanto, aumentos expressivos no nível de eutrofia do açude para esta
variável. Já para as concentrações de clorofila-a em particular ( x = 46,1 µg/L)
esteve de hipereutrófico a mesotrófico tendo correlação inversa com o IET do orto-P,
apresentando maiores níveis de eutrofia no meses iniciais do estudo. Para a
radiação subaquática o açude esteve de eutrófico a hiper-eutrófico, sendo
encontrando este ultimo estado nos meses de menores precipitações. A
transparência da água neste ambiente foi influenciada principalmente pela
biomassa, que esteve acima do limite de potencial produtivo sugerido por Bicudo
(2004). Segundo a média ponderada, da qual foi retirada o fósforo total, o açude
Soledade sofreu aumento gradativo do inicio do estudo de oligotrófico a eutrófico e
foi o ambiente de estado trófico mais elevado. Este açude nos meses de chuva
chegou a estar mesotrófico devido aos baixos níveis de ortofosfato solúvel.
Os menores níveis de eutrofia foram encontrados no açude Namorados
(Figura 14 C). As propriedades ópticas para este reservatório mostraram-se mais
semelhantes as do açude Soledade, logo para este parâmetro o ambiente esteve
eutrófico na maioria dos meses. No entanto segundo as concentrações de clorofila-a
( x =32,9 ug/L), o açude esteve oligotrófico em todo o período estudado, o que
sugere que a transparência da água possui pouca relação com a biomassa. Já para
o fósforo dissolvido ( x =2,6) teve valores não detectáveis pelo método. Logo a
limitação por nutrientes e luz são a causa dos menores valores de clorofila a
62
encontrados, sendo o ambiente oligotrófico de acordo com a média dos índices de
estado trófico para os parâmetros apresentados. Neste caso o resultado mostra ser
a baixa transparência da água, a conseqüência de sedimentos em suspensão em
quantidades consideráveis em detrimento da biomassa fitoplanctônica.
O açude Taperoá (Figura 14 B) quanto às concentrações de clorofila a (X=6,5
ug/L) esteve eutrófico no primeiro mês de estudo passando posteriormente a
oligotrófico no período seco e no período chuvoso. Quanto aos valores de
transparência, os altos valores de transparência indicaram o açude como oligotrófico
em todos os meses ( x = 80 cm), o mesmo ocorrendo para o fósforo. O açude
Taperoá II foi o ambiente que apresentou as menores taxas para o fósforo
inorgânico dissolvido. No entanto, a menor limitação por luz em relação ao açude
Namorados, torna este ambiente com maiores taxas produtivas, apresentando
concentrações de clorofila a mais expressivas mostrando que o efeito limitante da
penetração de luz é mais severo que a limitação por nutrientes (HENRY, 1985). Esta
proposição pode ser vista na prática fazendo-se a comparação entre o açude
Namorados e o Taperoá. O que temos para estes dois ecossistemas é que o
pequeno porte do açude Namorados torna baixa sua capacidade de diluição e a
baixa transparência torna o ambiente improdutivo e oligotrófico. Baixos níveis de
eutrofia também podem ser causa de altos valores de transparência, como é o caso
do açude Taperoá II. Devido ao seu maior porte em relação ao primeiro, as
condições exigidas para baixas taxas de eutrofia são contrárias as do açude
Namorados e os altos valores de transparência diminuem a zona afótica, que neste
caso é fator de maior importância no variação do estado trófico. Em síntese temos
as boas condições de luminosidade do açude Taperoá contribuem para seus
menores índices de eutrofia bem como as baixas transparência do açude
Namorados também são a causa dos baixos valores de IET, por se tratarem de
situações diferentes.
Nota-se a partir da análise do estado trófico dos ambientes estudados que a
associação de parâmetros é imprescindível na caracterização dos níveis de eutrofia
mais condizentes com a realidade de cada ecossistema. Segundo Nogueira (1998)
os valores numéricos através do uso de Índices de Estado Trófico não definem a
condição de eutrofia, somente podem ser considerados como indicadores dela, já
que o indicador do estado trófico pode variar entre lagos e ainda sazonalmente.
Logo Carlson (1977) ao propor o índice de estado trófico, propôs também a
63
A
90.00
80.00
70.00
IET
60.00
50.00
40.00
Eutrofia
Mesotrofia
Oligotrofia
IET (secchi)
30.00
IET (P-Orto)
20.00
IET (clor-a)
10.00
IET m é dio
0.00
jan/06
mar/06
jun/06
jul/06
set/06
dez/06
set/06
dez/06
set/06
dez/06
Meses
B
90.00
IET (secchi)
80.00
70.00
IET (P-Orto)
IET (clor-a)
Eutrofia
IET m édio
IET
60.00
50.00
40.00
Mesotrofia
Oligotrofia
30.00
20.00
10.00
0.00
jan/06
mar/06
jun/06
jul/06
Meses
C
90.00
IET (secchi)
80.00
IET (P-orto)
70.00
IET (clor-a)
IET
IET m édio
60.00
Eutrofia
50.00
Mesotrofia
40.00
Oligotrofia
30.00
20.00
10.00
0.00
jan/06
mar/06
jun/06
jul/06
Meses
Figura 14. Variação do IET medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude
Namorados (C) durante o ano de 2006.
64
existência de pressupostos para decidir qual o sistema mais apropriado par a um
sistema ecológico particular.
Rast Thornton (1993) e Huszar et al (2006) versam desta temática ao
discorrerem sobre os parâmetros considerados na determinação do estado trófico
em se tratando de climas áridos e temperados, bem como dos limites e medidas dos
parâmetros considerados para cada caso. Uma determinada variável ambiental pode
contribuir para a indicação do estado trófico das diversas regiões podendo apenas
variar seus limites de permissividade para o ecossistema em cada clima. Estes
autores afirmam também que a transparência para climas semi-áridos não é um
indicador adequado para o estado trófico, o que se pôde notar na comparação entre
o açude Taperoá e Namorados, bem distintos quanto a esta variável e, no entanto
com níveis de eutrofia semelhantes. Entretanto, o conhecimento da realidade de
cada ecossistema aqui estudado e o relacionamento do comportamento ecológico
dos determinantes biológicos (Capítulo 2) e suas características físicas e químicas
proporcionam subsídios para classificar cada ecossistema. O açude Soledade é um
ambiente com elevados níveis de eutrofia e os açudes Taperoá e Namorados se
comportaram como meso a oligotróficos. Os açudes, apesar de se localizarem na
mesma bacia de drenagem apresentam-se bem distintos devido a fatores que vão
desde a área e a capacidade de cada ambiente até as possibilidades de
escoamento e renovação da água. Deve-se considerar também que estado trófico
dos ambientes varia entre os períodos seco e chuvoso por estes provocarem
verdadeiros impactos cíclicos nos ambientes, sendo o açude Soledade de maior
intervalo limite como há se comentado nas observações anteriores.
3.2.13 Análise de Componentes Principais – ACP
Os esforços para o desenvolvimento de teorias sobre como os ecossistemas
ou as comunidades estão organizadas giram em torno da tentativa de descobrir
padrões que possam ser quantificados no sistema e comparados entre sistemas
(LEVIN, 1992). Assim, o entendimento de padrões e dos processos que os
produzem também é de fundamental importância para o funcionamento destes
sistemas aquáticos representativos do trópico semi-árido e base para os futuros de
cunho teóricos aplicados.
65
A análise de componentes principais, segundo Barbosa (2002) fornece
indícios dos padrões de variabilidade temporal e espacial das variáveis limnológicas
dos açudes e suas interações com fatores do clima e da bacia hifrógrafica, fatores
fundamentais para o entendimento e funcionamento destes sistemas aquáticos
representativos do trópico semi-árido e base para os futuros trabalhos de cunho
teóricos e aplicados.
Para o açude Soledade a análise dos componentes principais aplicada
resumiu em 58,47% a explicabilidade dos dados nos dois primeiros fatores, sendo
34,36% para o fator I e 24,11% para o fator II
O eixo I associou-se positivamente com a condutividade elétrica, amônia e
ortofosfato; e negativamente com a transparência, volume do reservatório, clorofilaa, feofitina e riqueza de espécies, sendo o volume do reservatório, amônia e
ortofosfato as variáveis de maior correlação com o eixo (Tabela 8). A associação das
unidades amostrais com as variáveis está relacionada com os maiores valores
detectados para referidas variáveis dentro de cada grupo. Assim, a partir da figura
15 observa-se que o fator I segregou a distribuição sazonal dos casos. É possível
observar tendência a formação de três grupos, dois no semi-eixo negativo sendo, o
primeiro correspondente aos dados do mês de janeiro, que se associam aos maiores
valores de transparência ao disco de Secchi, e outro correspondente aos meses do
período chuvoso (mar/06, jun/06, jul/06), os quais se relacionam aos maiores valores
de riquezas de espécies (Capítulo 2). No semi-eixo positivo observou-se
condensação do período pós- chuvas, os quais se relacionam com os maiores
valores de condutividade elétrica e de nutrientes nitrogenados (NH3) e fosfatados.
O eixo II associou-se positivamente com densidade e dominância de
espécies, sendo pH, precipitação, diversidade e equidade as variáveis que
associaram-se negativamente com o eixo . A distribuição dos casos neste eixo
aconteceu de modo a concentrar os meses secos no semi-eixo positivo e os meses
chuvosos no semi-eixo negativo, ainda que a variável de maior força na segregação
dos dados sejam dominância no semi-eixo positivo, e equidade para o semi-eixo
negativo.
66
Tabela 8. Correlações das variáveis do açude Soledade com os componentes
principais I e II
Variáveis
Componentes Principais
Fator I
Fator II
Transparência
-0,74
0,60
Profundidade
-0,05
-0,14
Temperatura
-0,29
-0,30
pH
0,40
-0,60
Condutividade elétrica
0,84
0,00
Alcalinidade
0,58
-0,38
Oxig. Dissolv.
-0,34
-0,19
Clorofila a
-0,76
0,13
Feofitina
-0,74
0,07
Amônia
0,91
0,10
Nitrito
0,32
-0,18
Nitrato
-0,17
0,33
P-orto
0,90
0,15
Precipitação
-0,48
-0,54
Volume
-0,97
0,03
Riqueza
-0,84
-0,09
Densidade
0,09
0,88
Diversidade
-0,36
-0,88
Equidade
-0,03
-0,94
Dominância
0,06
0,94
34,36%
24,11%
Explicabilidade
67
Figura 15. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o
Açude Soledade em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.
No Açude Taperoá II a análise dos componentes principais resumiu em
61,77% a explicabilidade dos dados nos três primeiros eixos de ordenação (Tabela
9). Para o fator I alcalinidade e volume foram as variáveis de correlação com o semieixo positivo, estando pH, condutividade elétrica, clorofila-a, feofitina e densidade
fitoplanctônica associadas ao semi-eixo negativo deste fator. O fator dois apresentou
associação positiva com dominância de espécies e negativa com a transparência da
água, oxigênio dissolvido, riqueza, diversidade e equidade. O fator III foi o que
menos contribuiu para a explicabilidade dos dados (14,32%) em detrimento aos
anteriores, apresentando associações com transparência da água, dominância
(semi-eixo positivo) e diversidade de espécies (semi-eixo negativo). A segregação
dos casos apresentou-se com base em diferenças sazonais, de modo a compor a
formação de três grupos.
Elevadas concentrações de clorofila – a e feofitina,
contribuiu para a segregação dos casos referentes ao meses de janeiro a marco que
correspondem ao período de estiagem da região. O período de intensidade
chuvosas, jun/07 segregou seus casos na formação de um grupo com associas-
68
Tabela 9. Correlações das variáveis do Açude Taperoá com os componentes
principais I, II e III
Variáveis
Componentes Principais
Fator I
Fator II
Fator III
Transparência
0,28
-0,62
0,62
Profundidade
0,22
0,01
0,26
Temperatura
-0,49
0,30
-0,35
pH
-0,68
0,48
-0,36
Condutividade elétrica
-0,78
0,35
-0,11
Alcalinidade
0,64
0,33
-0,23
Oxig. Dissolv.
0,04
-0,73
-0,17
Clorofila a
-0,78
-0,02
0,35
Feofitina
-0,84
-0,09
0,16
Amônia
0,32
0,18
-0,03
Nitrito
0,49
0,27
-0,61
Nitrato
0,45
0,12
-0,48
P-orto
0,40
0,20
0,13
Precipitação
-0,26
0,15
-0,34
Volume
0,85
-0,41
0,22
Riqueza
-0,06
-0,80
0,01
Densidade
-0,56
-0,20
0,65
Diversidade
-0,20
-0,85
-0,44
Equidade
-0,22
-0,65
-0,60
Dominância
0,33
0,73
0,52
Explicabilidade
25,89%
20,96%
14,93%
69
Figura 16. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o
Açude Taperoá II em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.
sões ao aumento do volume do reservatório, o qual atingiu qual capacidade máxima
neste período. Por fim, o período pós chuvas, de julho a dezembro estão associados
na formação de um grupo, em função da elevação da riqueza de espécies,
diversidade e equidade inferindo a ocorrência do paradoxo do plâncton (Capitulo 2),
uma vez que um distúrbio no reservatório, a elevação do volume em decorrência das
chuvas, promoveu aumento da diversidade, riqueza e equidade da comunidade
fitoplanctônica.
Para o Açude Namorados a análise dos componentes principais resumiu em
55,77% a explicabilidade dos dados nos dois primeiros fatores. O semi-eixo positivo I
apresentou associações positivas com as variáveis temperatura, alcalinidade,
densidade e dominância de espécies. A amônia, oxigênio dissolvido, precipitação,
diversidade e equidade foram as variáveis com associações negativas com o eixo I.
Destes a equidade e precipitação foram as varáveis de maior força na segregação
dos casos. Para o segundo fator as variáveis ortofosfato, volume do açude e domi-
70
Tabela 10. Correlações das variáveis do açude Namorados, com os componentes
principais I e II.
Variáveis
Componentes Principais
Fator I
Fator II
Transparência
0,06
0,14
Profundidade
-0,28
0,18
Temperatura
0,73
-0,29
pH
0,48
-0,63
Condutividade elétrica
0,48
-0,68
Alcalinidade
0,67
0,44
Oxig. Dissolv.
-0,71
0,24
Clorofila a
0,47
-0,69
Feofitina
0,11
-0,64
Amônia
-0,74
0,19
Nitrito
0,02
-0,08
Nitrato
-0,06
-0,12
P-orto
0,68
0,52
Precipitação
-0,79
0,23
Volume
-0,46
0,77
Riqueza
-0,24
-0,83
Densidade
0,66
-0,11
Diversidade
-0,63
-0,73
Equidade
-0,82
-0,48
Dominância
0,74
0,64
Explicabilidade
30,98%
24,87%
71
Figura 17. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o
Açude Namorados em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e
II.
nância das espécies apresentaram associações positivas com eixo, enquanto pH,
condutividade elétrica, clorofila-a, feofitina, riqueza e diversidade correlacionaram-se
negativamente. A exemplo dos demais açudes não se observou variações espaciais
significantivas na segregação dos casos. Apenas sazonais, ocorrendo a formação
de quatro grupos: um compreende os casos referentes ao período de janeiro a
março (período de estiagem), os quais apresentaram altos valores de condutividade
elétrica e elevada riqueza de espécies em função da concentração de nutrientes na
água decorrentes da estiagem; os casos referentes ao mês de jun/07 diferenciaramse em relação aos demais visto a alta intensidade pluviométrica ocorrida neste
período; o período de julho a setembro (pós-chuvas) associaram-se ao aumento do
volume do açude e conseqüente aumento nas concentrações de nutrientes
fosfatados possivelmente carreados pelas chuvas no período anterior. Por fim os
casos referentes a dezembro/07 correlacionam-se a aumentos na densidade
fitoplanctônica e dominância de espécies.
72
Para os três ecossistemas em estudo notou-se que as medidas de
profundidades dos pontos de coleta não se associaram a nenhum dos grupos de
unidades amostrais, o que indica a pouca variabilidade espacial do sistema,
corroborado pela baixa correlação desta variável com os eixos de ordenação fato
que reafirma o caráter significativo das variações sazonais apontados pela ANOVA
realizadas na análise das variáveis estudadas no ecossistema.
73
4 CONCLUSÕES
Embora os ecossistemas em estudo estejam contidos em uma sub-bacia de
extensão relativamente pequena, a distribuição inconstante das chuvas no
espaço e no tempo exerce forte influência na particularização das
características físico-quimicas de cada ambiente.
Todas as variáveis limnológicas não apresentaram significância espacial
considerável, mas demonstraram variações bem expressivas no decorrer dos
meses de coleta
As águas de Soledade exprimiram reduções graduais na transparência da
água no decorrer dos meses coletados, devido ao volume reduzido e
relativamente estável no decorrer do tempo, determinando uma intensa
concentração de material em suspensão e de biomassa. Quanto aos demais
açudes, a combinação entre precipitações elevadas e aumento proporcional
do volume ditou o poder de diluição e de concentração de material dissolvido
e particulado.
A coluna d’água de Taperoá II mostrou maior homogeneização da
temperatura em períodos chuvosos do que em Soledade e em Namorados,
em função da elevada pluviosidade e da força dos ventos, que movimentaram
as massas de água o suficiente para misturar completamente a água.
A variação do pH e da condutividade elétrica esteve associada às chuvas e a
variação de volume para os três ambientes. O açude Soledade, por estar com
o menor acúmulo relativo de água e altos valores de biomassa fitoplanctônica,
foi o ambiente que apresentou maiores valores de pH, seguido do açude
Taperoá II e Namorados, com este último apresentando pH ácido no mês
chuvoso em virtude da diminuição da biomassa algal e aumento do volume.
O comportamento da condutividade elétrica nos açudes Soledade e Taperoá
II também foi determinado pela variação das chuvas e do volume, além de
estarem situados em solos parcialmente salinos. O açude Namorados destoa
um pouco dos demais, em função da concentração de argila, que não
contribui para a condutividade.
O açude Soledade foi o que apresentou o nível de trofia mais elevado, devido
às concentrações mais intensas de clorofila-a, que diminuíram a emissão de
radiação subaquática. O pequeno porte do açude Namorados tornou baixa a
sua capacidade de diluição, mas a baixa transparência tornou o ambiente
improdutivo e oligotrófico. Taperoá II tem maior porte, mas os altos valores da
transparência diminuem a zona afótica do açude, reduzindo também seu nível
trófico.
74
O uso da ACP para os três ecossistemas corroborou os resultados obtidos
pela ANOVA, isto é, houve pouca variabilidade espacial no sistema e
variações sazonais significativas, que se manifestaram na ocorrência de
períodos de estiagem com períodos de chuva.
75
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78
CAPÍTULO 2
__________________________________
ATRIBUTOS DA COMUNIDADE
FITOPLANCTÔNICA DE ECOSSISTEMAS
AQUÁTICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO TAPEROÁ, SEMI-ÁRIDO
PARAIBANO
__________________________________
1
ANDRADE, R. S. & BARBOSA, J. E.
1
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e
Meio-Ambiente/PRODEMA,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba,
Brasil.
E-mail: [email protected]
2
Professor Títular do Departamento de Biologia,
Universidade Estadual da Paraíba/UEPB.
E-mail: [email protected]
2
79
RESUMO
O objetivo do referente capítulo foi analisar a composição, estrutura e dinâmica da
comunidade fitoplanctônica de três ecossistemas aquáticos da bacia Hidrográfica do
rio Taperoá, enfocando, especialmente, suas flutuações espaciais e temporais e
relacionando-as à variabilidade das condições ambientais. Neste sentido,
realizaram-se coletas bimensais, entre o período de jan/06 e dez/06, nas regiões
litorânea e limnética dos açudes Soledade, Taperoá II e Namorados. Os resultados
foram avaliados a partir de parâmetros biológicos qualitativos (composição e riqueza
numérica de espécies) e quantitativos (densidade, abundância, grupos funcionais,
clorofila-a, feofitina e produtividade primária) referentes a ecologia do fitoplâncton. O
levantamento da riqueza específica levou a identificação de 165 táxons genéricos e
infra-genéricos distribuídos em 7 classes, sendo o grupo das clorofíceas o de maior
composição florística, devido sua alta variabilidade morfométrica. O açude Soledade
apresentou elevada densidade e dominância de cianofíceas, principalmente
Aphanocapsa elachista, em razão do elevado pH de suas águas. No açude Taperoá
II verificou-se prevalência da classe Bacillaryophyceae, com grande abundância de
diatomáceas cêntricas. E em Namorados houve dominâncias de cianofíceas nos
meses secos e de euglenofíceas nos meses chuvosos, devido o carreamento de
material alóctone para o açude. A variabilidade das escalas espaço-temporais, foram
marcadas por insignificância das flutuações espaciais e flutuações extremamente
significativas ao longo dos meses, fato que também occoreu para os teores de
clorofila-a e feofitina. A distribuição destas variáveis se processa em toda a coluna
d’água de forma bastante homogênea, salvo alguns picos de feofitina que podem
ser verificados nas camadas mais profundas, em razão da sedimentação de células
planctônicas senescentes. A produção primária líquida, do açude Namorados foi
verticalmente influenciada pela radiação solar e sazonalmente influenciada pelos
períodos de seca e chuva. De modo geral, a chuva atuou como distúrbio
intermediário que influenciou significativamente muitas das variáveis biológicas aqui
analisadas.
Palavras-chave: fitoplâncton, grupos funcionais, produção primária
80
1 INTRODUÇÃO
A compreensão da ecologia de ecossistemas aquáticos continentais, naturais
ou artificiais, não existe sem o amplo entendimento da estrutura e funcionamento de
suas principais comunidades (PINTO-COELHO, 2004). Por ser o primeiro elo com o
meio abiótico, a comunidade fitoplanctônica configura-se na principal porta de
entrada de matéria e energia, constituindo-se no mais relevante produtor primário de
ecossistemas de águas abertas, e atuando como uma importante ferramenta para
definição da fisiologia de sistemas aquáticos (BARBOSA, 2002).
O conhecimento da dinâmica da comunidade fitoplanctônica, especificamente,
é relevante não apenas por sua importância para a produção primária do ambiente
pelágico, como também por serem as flutuações temporais e espaciais em sua
composição e biomassa, indicadoras eficientes das alterações naturais ou
antrópicas nos ecossistemas aquáticos. Além disto, o curto tempo de geração das
algas
(horas-dias)
permite
que
importantes
processos
sejam
mais
bem
compreendidos, tornando a comunidade fitoplanctônica útil como modelo para um
melhor entendimento de outras comunidades e dos ecossistemas em geral (Bozelli
& Huszar, 2003).
As alterações globais pelo aumento populacional e conseqüente uso intensivo
de recursos naturais e o desenvolvimento tecnológico, vêm causando impactos
profundos nos ecossistemas, com destaque para os aquáticos, que são receptores
dos rejeitos da civilização (STRASKRABA; TUNDISI, 2000). Tal fato acarreta em
processos de eutrofização, os quais causam um crescimento excessivo de algas em
ecossistemas aquáticos brasileiros o que vêm prejudicando os usos múltiplos das
águas. Algumas cepas de algas, em especial as do grupo cianofíceas ou
cianobactérias, podem produzir toxinas altamente potentes (hepatoxinas e
neurotoxinas) e podem também produzir metabólitos que causam gosto e odor,
alterando as características organolépticas das águas. A presença de toxinas de
cianobactérias, em águas para consumo humano implica em sérios riscos à saúde
pública e por isso é importante o monitoramento ambiental da densidade algácea e
dos níveis de cianotoxinas nas águas (Revista Gerenciamento Ambiental, Dezembro
de 2001).
81
Devido a grande importância ecológica do fitoplâncton no interior de
ecossistemas aquáticos, numerosos são os trabalhos referentes a esta comunidade
em vários países do mundo. Contudo, segundo Ramírez (1996), o mesmo não pode
ser afirmado quando considerados os comportamentos espaciais e temporais da
comunidade algal, e menos, ainda, quando se trata de ambientes tropicais e
subtropicais.
Para
suprir
estas
demandas
no
Nordeste
brasileiro
novos
investimentos em pesquisa básica e aplicada no fitoplâncton têm surgido,
decorrentes principalmente da crescente ocorrência de florações de cianobactérias
em seus ecossistemas aquáticos. Este evento está muito ligado ao fato de que os
reservatórios desta região possuem condições favoráveis ao desenvolvimento
destas espécies, tais como corpos d’ água rasos, estabilidade na coluna d’ água,
irradiações e temperaturas elevadas, além de valores de pH acima de 8,0.
Estes subsídios constituem – se de extrema importância pois a relativa
estabilidade do clima tropical, o fotoperíodo relativamente uniforme ao longo do ano,
o comportamento quase que, invariavelmente, acima dos níveis limitantes tanto de
luz quanto de temperatura e a grande influência das chuvas e dos ventos (GANF &
HORNE, 1975; PAYNE, 1986; RAMIREZ, 1996) são os principais diferenciais em
relação aos ambientes temperados, onde se concentram a maioria dos estudos
ecológicos do fitoplâncton.
Nas regiões semi-áridas do globo, além das características acima, destacamse a escassez de chuvas e grandes oscilações entre os períodos de seca e
estiagem, como principais ditadores da dinâmica da comunidade algal. Nestas
regiões, particularmente, os ecossistemas aquáticos atuam como verdadeiros elos
de sustentabilidade de comunidades vegetais e animais, incluindo agregados
humanos. E a flora ficológica torna-se consideravelmente importante, visto sua
aplicabilidade na bioindicação e monitoramento destes pequenos e rasos corpos
d’água (BARBOSA, 2001).
Segundo Lacerda et al (2005) o semi-árido paraibano é o que mais sofre
degradação
ambiental
quando
comparado
às
outras
regiões
semi-áridas
nordestinas. A zona semi-árida do estado retém um número relativamente grande de
bacias hidrográficas, e maior ainda é o número absoluto de habitantes. Isso reflete
as enormes dificuldades que sua população sofre devido à escassez relativa de
82
recursos naturais característica da região. Submetendo seus habitantes a condições
de insustentabilidade econômica e social.
Entre tais bacias hidrográficas destaca-se a bacia do Rio Taperoá que
comporta, aproximadamente, 259 açudes, os quais totalizam uma capacidade de
acumulação da ordem de 71 milhões m3. Entretanto, a bacia conta com a menor
média pluviométrica do país (cerca de 350mm de chuva ao ano), agravando ainda
mais a questão da escassez de água (SOUZA,1999), de tal modo que seus açudes,
raramente, atingem a capacidade máxima de acumulação, e muitos deles chegam,
inclusive, a secar durante os longos meses de estiagem.
Mediante o exposto, a meta deste trabalho foi analisar os atributos da
comunidade fitoplanctônica através da densidade, diversidade, biomassa e da
comunidade fitoplanctônica de ambientes aquáticos da bacia hidrográfica do rio
Taperoá de modo a contemplar as flutuações temporais e espaciais de sistemas
aquáticos do trópico semi-árido nordestino.
3. MATERIAL E MÉTODOS
As amostragens foram realizadas bimensalmente entre o período de jan/06 e
dez/06. Foram selecionados cinco pontos de coleta distribuídos em duas estações,
uma na região litorânea e a outra na região limnética mais profunda. Na região
litorânea as coletas procederam apenas na sub-superfície e na região limnética a
100%, 50%, 1% de extinção de luz e na profundidade máxima (Zmax). Tais
percentuais foram estimados a partir da extinção da zona eufótica medidos através
de disco de Secchi.
Os dados climatológicos para os ecossistemas aquáticos em estudo, foram
obtidos do Laboratório de Meteorologia, Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto
da Paraíba - LMRS, PB - Campina Grande.
Para estudo qualitativo, as amostras foram coletadas com rede de plâncton
com abertura de malha de 20µm, através de arrasto horizontal na superfície da
água.
As amostras depois de coletadas foram acondicionadas em frascos de
polietileno de 300ml e preservadas com formol a 4% neutralizado com bórax. A
identificação dos organismos foi feita utilizando-se um microscópio binocular
Olympus CBA, com até 400 vezes de aumento, equipado com câmara clara e
83
aparelho fotográfico. O procedimento para preparação de lâminas foi feito com uma
gota de material sedimentado colocada entre lâmina e lamínula, onde foram
observadas e identificadas todas as algas encontradas. Os táxons foram
identificados a partir de amostras populacionais, sempre que possível a níveis
específicos e infra-específicos. O sistema de classificação para as classes e gêneros
seguiu as indicações de Bicudo e Menezes (2006).
Para o estudo quantitativo as amostras foram coletadas com garrafas do tipo
Van Dorn nas profundidades pré-estabelecidas. A contagem do fitoplâncton foi feita
em microscópio invertido com aumento de até 400X pelo método da sedimentação
de Utermöhl (1958). A contagem de cada amostra foi feita através de transectos
horizontais e verticais, tantos quantos foram necessários para que fossem contados,
no mínimo, 100 indivíduos da espécie mais freqüente, de modo que o erro fosse
inferior a 20% e o coeficiente de confiança acima de 95%. O número de indivíduos
por unidade de volume foi calculado segundo a equação abaixo:
Ind. ml-1= [n/ (s.c)]. [1/h].F
Onde: n= número de indivíduos contados
s= superfície do campo (mm2)
c= número de campos contados
h= altura da câmara de sedimentação
F= fator de correção para mililitro(103 mm3. ml-1)
Para a determinação das concentrações de clorofila-a e de feofitina, as
amostras foram coletadas em frascos de polietileno e concentradas sob pressão
negativa, em filtros de fibra de vidro Whatman GF/C de 47 mm de diâmetro. O
volume filtrado foi de 300 ml e a extração dos pigmentos seguiu as modificações
propostas por Wetzel e Likens (1991) que utiliza como solvente, a acetona 90%. Os
filtros foram macerados e o extrato colocado em tubos de ensaio de 15ml e
conservados em geladeira por 24 horas no escuro. Após esse período o material foi
centrifugado por 15 min à 3000rpm. A leitura da absorbância dos extratos em
espectrofotômetro ocorreu logo após a centrifugação nos comprimentos de onda
84
665nm e 750nm. Para a transformação da clorofila-a em feofitina foram adicionada
duas gotas de ácido clorídrico à 1N na própria cubeta de leitura. Após 5 minutos de
espera para homogenização da amostra foi realizada a leitura nos comprimentos de
onda já mencionados. As concentrações de clorofila-a e feofitina foram obtidas
através da fórmula abaixo:
Chol a (mg.m-3)= [ AK (665O- 665a) . v]
Vf l
-3
Pheo (mg.m )= [AK (R665a) – 665O) . v]
Vf l
onde: Ab= Ab665-Ab750 = Absorbância antes da acidificação
Aa = Aa665-Aa750 = Absorbância após acidificação
v = volume do extrato (mL)
V = volume filtrado (L)
1= comprimento da cubeta (cm)
A produção fitoplanctônica foi estimada mediante uso do método do oxigênio
dissolvido com o uso de garrafas claras e escuras, com a finalidalidade de obter a
produtividade primária bruta (PPB), a produtividade primária líquida (PPL) e as
perdas energéticas pela respiração (ODUM, 1988; ESTEVES 1998 e PAYNE, 1986).
As garrafas são incubadas em profundidades pré-estabelecidas, em frascos de
250ml, por três horas, no período de 09:00 às 12:00 hs, sendo que para
determinação dos teores de oxigênio dissolvido empregou-se o método de Winkler
descrito em Golterman et al. (1978).
Para definir as espécies abundantes e/ou dominantes, adotou-se os critérios
de Lobo e Leighton (1986), quais sejam, espécies cujas densidades relativas
superam 50% da densidade total da amostra são dominantes e aquelas cujas
densidades relativas superam a densidade média da amostra são abundantes.
Espécies raras foram as registradas em uma única amostra, quando considerado
cada período do ciclo hidrológico estudado.
A partir da densidade obtida na análise quantitativa das amostras, foram
calculados os seguintes índices estatísticos referentes à estrutura da comunidade:
85
Índice de Diversidade (SHANNON & WEAVER, 1963) (bits.ind-1):
H’= _∑ (ni/N)
log2(ni/N)
Onde: ni = número de indivíduos de cada espécie
N = número total de indivíduos da amostra
Índice de Equidade (PIELOU, 1975):
J’= __H’____
log2(ni/N)
Onde: H’ = índice de diversidade
S = número de espécies
Índice de Dominância (SIMPSON, 1949):
D’= ∑ [ni(ni – 1)]
[N(N-1)]
Onde: ni= número de indivíduos de cada espécie
N = número total de indivíduos da amostra
O sistema de classificação em grupos funcionais de Reynolds et al (2002) foi
adotado para explicação dos dados referentes à abundância e densidade da
comunidade fitoplanctônica. Este sistema agrupa as espécies baseando-se na sua
fitosociologia e é representado por 31 associações de algas com afinidades e
sensibilidades ambientais semelhantes.
O tratamento estatístico dos dados foi feito a partir de análise descritiva dos
cálculos da média aritmética como medida de tendência central. O grau de
dispersão absoluta dos dados foi medido através do desvio padrão (DP) e como
medida de dispersão relativa foi aplicada o coeficiente de variação de Pearson (CV).
Com a finalidade de estabelecer o nível de significância dos valores obtidos para as
diferentes estações de coleta, profundidades e épocas de amostragem, foram
utilizadas técnicas de análises de variância de uma via (ANOVA) usando o programa
estatístico Statistica para Windows, versão 7.0.
Análises de regressão linear simples também foram providenciadas a fim de
verificar a influência da equidade, riqueza de táxons, dominância, densidade total e
precipitação sobre a diversidade. Para cada ambiente e cada uma das variáveis
acima foi feito um gráfico de dispersão (XY), no qual foi adicionada a linha de
tendência central e exibidos a equação e o valor de R-quadrado no gráfico. O
programa utilizado foi o Microsoft Office Excel, versão 2003. Estatisticamente, maior
86
valor de R significa alta covariância direta ou inversa entre as suas variáveis
estudadas, enquanto que o grau de inclinação da curva mostra a sensibilidade da
diversidade frente às referidas variáveis (RAMIREZ, 1996).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 ESTRUTURA E DINÂMICA DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA
4.1.1 Aspectos qualitativos
O inventário taxonômico dos representantes da comunidade fitoplanctônica
levou a identificação de 165 táxons genéricos e infra - genéricos, distribuídos em 73
gêneros, 24 famílias, 11 ordens e 7 classes taxonômicas, da seguinte forma:
Chlorophyceae 51 (31%), Euglenophyceae 34 (21%), Cyanophyceae 32 (19%),
Bacillariophyceae 26 (16%), Zignemaphyceae 17 (10%), ,Chlamydophyceae 4 (2%)
e Xanthophyceae 1(1%) . Destes táxons, 37 foram comuns aos três açudes, 6 foram
exclusivos do açude Soledade, 30 do açude Taperoá II e 33 do açude Namorados
(Tabela 1).
Tabela 11. Inventário taxonômico das classes de algas fitoplanctônicas identificadas
em três ecossistemas da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de
janeiro e dezembro de 2006.
Composição Taxonômica
Soledade Taperoá II Namorados
CYANOPHYCEAE
Chroococcales
Chroococcaceae
Chroococcus distans
x
x
Chroococcus turgidus
x
x
Merismopediaceae
Aphanocapsa elachista
x
x
x
Coelomorom sp
x
x
x
Coelosphaerium sp
x
x
Merismopedia convoluta
x
Merismopedia minima
x
x
x
Merismopedia sp
x
Merismopedia tenuissisma
x
x
x
Microcrocis sp
x
87
Synechocystis sp
Microcystaceae
Gloeocapsa sp
Microcystis aeruginosa
Microcystis panniformis
Microcystis sp
Nostocales
Nostocaceae
Anabaena circinalis
Anabaena sp
Anabaenopsis circularis
Anabaenopsis elenkinni
Cylindrospermopsis raciborskii
Raphidiopsis mediterranea
Oscillatoriales
Oscillatoriaceae
Lyngbya sp
Oscillatoria sp
Oscillatoria sp2
Oscillatoria tenuis
Phormidiaceae
Planktothrix agardhii
Planktothrix sp.
Spirulina laxissima
Pseudoanabaenaceae
Pseudoanabaena sp
Romeria sp
Synechococcaceae
Aphanothece sp
Gloeothece sp
CHLOROPHYCEAE
Chlorococcales
Chlorococcaceae
Schoederia indica
Tetraëdron caudatum
Tetraëdron hemisphaericum
Tetraëdron minimum
Tetraëdron multicum
Tetraëdron regulari
Tetraedron sp
Tetraedron trigonum
Tetraëdron victoreae
Dictyosphaeriaceae
Botryococcus braunni
Dictyosphaerium ehrenbergianum
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
88
Dictyosphaerium pulchellum
Dimorphococcus lunatus
Westella botryoides
Gloeocystaceae
Asterococcus limnetius
Hydroctyaceae
Pediastrum duplex
Pediastrum simplex
Pediastrum tetras
Micractiniaceae
Golenkinia radiata
Micractinium pusillum
Ooscystaceae
Chlorella vulgaris
Choricystis sp
Kirchneriella contorta
Kirchneriella obesa
Monoraphidium sp
Oocystis borgey
Oocystis lacustris
Oocystis sp
Palmellaceae
Sphaerocystis sp
Scenedesmaceae
Coelastrum cambricum
Coelastrum cambrium var. intermedium
Coelastrum microporum
Coelastrum reticulatum
Coelastrum scabrum
Crucigenia crucifera
Crucigenia tetrapedia
Scenedesmus acuminatus
Scenedesmus acuminatus f. maximus
Scenedesmus bicaudatus
Scenedesmus bijugatus
Scenedesmus denticulatus
Scenedesmus ecornis
Scenedesmus opoliensis
Scenedesmus protuberans
Scenedesmus quadricauda
Scenedesmus sp
Scenedesmus sp2
Scenedesmus spinosus
Tetrastrum elegans
Tetrastrum heterocanthum
Diacanthus belenophorus
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
89
BACILLARIOPHYCEAE
Pennales
Bacillariophyceae
Achnanthes sp
Amphipleura lindheimerii
Amphiprora alata
Amphora sp
Cocconeis placentula
Cymbella sp
Eunotia sp
Gyrosigma sp
Navicula sp
Nitzchia closterium
Nitzchia sp
Pinullaria sp
Rhopalodia gibba
Sellaphora sp
Stauroneis sp
Surirella sp
Fragilariophyceae
Fragillaria capucina
Fragillaria sp
Pseudostaurosira brevistriata
Synedra ulna
Centrales
Coscinodicophyceae
Aulacoseira granulata
Aulacoseira italica
Cyclotella meneghiniana
Melosira sp
Melosira sulcata
Thalassiosira weissflogii
EUGLENOPHYCEAE
Euglenales
Euglenaceae
Euglena acus
Euglena caudata
Euglena haematodes
Euglena megalithus
Euglena oxyuris
Euglena proxima
Euglena sp
Euglena sp2
Euglena sp3
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
90
Lepocinclis ovum
Lepocinclis salina
Lepocinclis sp
Lepocinclis texta
Phacus agilis
Phacus curvicauda
Phacus onyx
Phacus orbicularis
Phacus sp
Phacus sp1
Phacus sp2
Strombomonas fluviatilis
Strombomonas sp
Strombomonas sp2
Strombomonas sp3
Trachelomonas acanthophora
Trachelomonas armata
Trachelomonas oblonga
Trachelomonas raciborskii
Trachelomonas rotunda
Trachelomonas sp
Trachelomonas sp2
Trachelomonas sydneyensis
Trachelomonas volvocina
Trachelomonas volvocinopsis
ZIGNEMAPHYCEAE
Zignematales
Zignemaceae
Mougeotia sp
Spirogyra sp
Desmidiaceae
Closterium sp
Closterium Kützinguii
Cosmarium costractum
Cosmarium margaritatum
Cosmarium pseudoretusum
Cosmarium sp
Desmidium baileyi
Euastrum evolutum
Euastrum sp
Euastrum sp2
Micrasteria sp
Micrasteria furcata
Staurastrum breviaculeatum
Staurastrum sp
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
91
Staurastrum tetracerum
x
x
CHLAMYDOPHYCEAE
Volvocales
Volvocaceae
Eudorina sp
Eudorina elegans
Pandorina morum
Pleodorina ilinoisensis
x
x
x
XANTHOPHYCEAE
Mischococcales
Ophiocytiaceae
Ophiocytium cochleare
x
x
x
x
x
O Açude Soledade obteve a menor composição taxonômica, com 66 táxons
identificados, o que difere dos valores encontrados no açude Taperoá II e no açude
Namorados, cujos valores são respectivamente 115 e 112 táxons. Desta forma, os
números de táxons do açude Taperoá II e do açude Namorados estão inseridos na
variação entre 94 a 143 táxons de espécies fitoplanctônicas encontradas em
ambientes tropicais (KALFF & WATSON, 1986). Contudo, o açude Soledade
apresentou quantidade considerada abaixo da faixa de valores acima citada, o que
sinaliza para a presença de espécies com elevada dominância. Barbosa (2002) ao
analisar a composição taxonômica do açude Taperoá II no período de setembro de
1998 a setembro de 2000 também evidenciou uma elevada riqueza específica.
B 100%
Percen tual d e taxo ns
n° de taxons
A 120
90
60
30
0
Soledade
Taperoá II Namorados
Xanthophyceae
Chlamydophyceae
75%
Zignemaphyceae
50%
Euglenophyceae
Bacillariophyceae
25%
Chlorophyceae
Cyanophyceae
0%
Soledade
Taperoá II Namorados
Figura 18. Descrição do número (A) e do percentual (B) de táxons pertencentes a cada
classe para os açudes Soledade, Taperoá II e Namorados entre o período de jan/06 e
dez/06
92
A classe Chlorophyceae foi a mais representativa em nível de riqueza
específica com 28 táxons identificados em Soledade, 32 táxons em Taperoá II e 35
táxons em Namorados (Figura 18). Destes táxons, 37 foram comuns aos três
ambientes, 5 foram exclusivos do açude Soledade, 30 do açude Taperoá II e 33 do
açude Namorados. Estes resultados confirmam a afirmação de que as espécies
pertencentes à divisão Chlorophyta são qualitativamente mais representativas tanto
em lagos tropicais como os temperados (LEWIS, 1978; HUSZAR, 1994; RAMIREZ,
1996;
CALIJURI,
1999;
BARBOSA,
2002).
Entretanto,
algumas
outras
peculiaridades foram observadas nos três açudes: Soledade e Taperoá II
apresentaram porcentagens expressivas de espécies pertencentes à classe
Cyanophyceae (32% e 28%, respectivamente – Figura 18), enquanto que
Namorados obteve uma presença considerável de táxons de Euglenophyceae (23%
dos táxons). Apesar dos três corpos d’ água estarem relativamente próximos entre
si, os mesmos apresentaram variações em seus determinantes físico-químicos
(Capítulo 1), que se refletem na composição taxonômica.
Vários pesquisadores já haviam também registrado a maior riqueza de
Chlorophyceae em diferentes ecossistemas lacustres brasileiros (Beyruth, 1996;
Henry & Nogueira, 1999; Huzsar, 1994; Marinho, 1994; Menezes, 1999, Tucci,
2002). Estas são comumente registradas como as mais importantes em número de
espécies em ambientes dulcícolas (Train & Rodrigues, 1997, 2004; Bicudo et al,
1999; Silva et al, 2004) sendo favorecidas por apresentarem alta variabilidade
morfométrica, podendo se desenvolver em diversos hábitats (Reynolds, 1984;
Happey – Wood, 1988).
4.1.2 Aspectos Quantitativos
4.1.2.1 Densidade e Abundância
a) Açude Soledade
No que diz respeito aos aspectos quantitativos o açude Soledade apresentou
elevadas concentrações de indivíduos fitoplanctônicos. A expressiva densidade ( x =
82.511,48 ind.ml-1; CV = 35.75%) mostrou que de acordo com a resolução nº
93
357/2005 do CONAMA os ambientes foram caracterizados como detentor de
florações algais (Figura 19).
B 120000
75
90000
in d /m l
100
Xanthophyceae
Zignemaphyceae
60000
Chlamydophyceae
Euglenophyceae
25
30000
Bacillariophyceae
Chlorophyceae
0
0
6
ju
l/0
6
se
t/0
6
no
v/
06
/0
ai
m
ar
/0
/0
6
6
Cyanophyceae
m
ja
n
se
t/0
6
no
v/
06
ju
l/0
6
m
ai
/0
6
50
ja
n/
06
m
ar
/0
6
(%)
A
Figura 19. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no
açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06
A análise espaço-temporal apresentou variações significativas na quantidade
de indivíduos no decorrer dos meses e variações não significativas nos perfis
horizontais e verticais do açude (Tabela 12). A mistura constante da coluna d’água,
ocasionada pela baixa profundidade do açude e a forte ação dos ventos, foi
determinante para a reduzida variabilidade espacial. Porém na análise da figura 4 é
possível observar que nos períodos de menor precipitação pluviométrica os maiores
valores de densidade algal foram registrados a 1% de penetração de luz e os
maiores valores, registrados nos períodos chuvosos, foram observados nas
camadas mais iluminadas. Tal fato possivelmente esteja associado ao aumento de
radiação solar subaquática registrados em períodos de estiagem o que interfere
diretamente na busca de estratégias de sobrevivências por parte desses
organismos. De acordo com Esteves (1998) a forte luminosidade nas camadas mais
superficiais pode interferir negativamente no processo fotossintético, levando as
algas a procurarem camadas menos iluminadas, sobretudo nos meses mais
quentes.
Diferentemente das variações espaciais, as temporais foram extremamente
significativas, sendo marcadas por maiores densidades nos meses mais secos ( x
=91.614,9 ind.ml-1; CV= 34,13%) e menores densidades nos meses chuvosos ( x =
64.184,5 ind.ml-1;CV= 31,43%). Neste caso, a precipitação pluviométrica pode ter
sido um agente estressante no ecossistema reduzindo em até 30% a concentração
algal. A partir de julho de 2006 houve um posterior restabelecimento da densidade
fitoplanctônica com o retorno da estiagem (Fig.3B e Fig.4). Os altos valores de
94
temperatura, o ambiente aquático reduzido, os elevados índices evaporativos e a
concentração de nutrientes são características delineadoras de um ambiente
favorável a teores elevados de densidade e de biomassa algal (BARBOSA, 2002).
Meses
Mar/06
Jan/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
100%
Ind. ml -1
150000
140000
130000
120000
50%
110000
% Luz
100000
90000
80000
70000
60000
1%
50000
40000
30000
20000
10000
Zmax
0
Figura 20. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do
açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06
Diferentemente da riqueza específica a classe de maior contribuição na
densidade total do fitoplâncton foi a classe Cyanophyceae (Fig. 5A), fato
corroborado pelos valores de r2 = 0,9844 e p < 0,0001, encontrados na análise de
regressão simples (Fig. 5) e abundância relativa que esteve acima de 80% em todos
os meses. De acordo com a figura 6 a espécie Aphanocapsa elachista dominou a
comunidade fitoplanctônica no mês de junho e setembro de 2006 (57,42% e 61,57%,
do total de indivíduos, respectivamente), além de ser abundante nos demais meses,
exceto em jan/06, onde no ambiente houve predomínio de Coelosphaerum sp
(67,96%)
(Fig.6).
A
predominância
desta
espécie,
durante
este
período
possivelmente tenha ocorrido em função do aumento das cotas hídricas do referido
ecossistema, acarretado pelas chuvas precipitadas em meses anteriores, fato este
que influenciou nas reduções dos valores pH e alcalinidade e aumento nos valores
de
nitrato
(Capitulo
1).
Tanto
a
espécie
Aphanocapsa
elachista
como
Coelosphaerum sp influenciaram negativamente nos índices de diversidade e
equidade e contribuíram positivamente para os altos valores de densidade e
dominância, como mostra a tabela 3.
Sobre este ecossistema, vale mencionar ainda a constante abundância de
Cylindrospermopsis raciborskii desde jan/06 até set/06, espécie que apresenta alta
competitividade em ambientes eutrofizados, é capaz de originar florações e produzir
toxinas, dentre as quais, a cilindrospermopsina, com potencial para inibir a síntese
95
protéica de células hepáticas, renais cardíacas e pulmonares (KUIPER-GOODMAN
et al, 1999; SANT’ANNA et al, 2006) e a potente toxina paralisante do tipo PSP
(Paralytic Shellfish Poisons), que age no sistema neuromuscular (LAGOS et al,
1999; TUCCI & SANT’ANNA, 2003).
Populações de Cylindrospermopsis raciborskii, assim como as demais
espécies
de
cianobactérias,
compartilham
características
fisiológicas
que
influenciam incisivamente no seu sucesso ecológico (PADISÁK, 1997), como a
capacidade de migração na coluna d’água, tolerância à baixa luminosidade,
afinidade com fósforo e amônia, capacidade de fixar nitrogênio atmosférico e
resistência à herbivoria do zooplâncton (NOGUEIRA, 1996).
A
y = 1,054x + 2773
R2 = 0,9844
120.000
140.000
D e n s id a d e ( in d .m L - 1 )
D e n s id a d e ( in d .m L - 1 )
140.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
y = 3,0705x + 64968
R2 = 0,1653
120.000
B
100.000
0
80.000
60.000
40.000
20.000
0
0
20.000
40.000
60.000
80.000 100.000 120.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
Chlorophyceae (ind.mL-1)
Cyanophyceae (ind.mL-1)
Figura 21. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1) e as densidades das
Cyanophyceae (A) e Chlorophyceae (B) do açude Soledade entre o período de jan/06 e
dez/06
100
S. laxissima
(%)
75
M. aeruginosa
C. raciborsk ii
50
Coelosphaerium sp
25
A. elachista
0
jan/06
mar/06
mai/06
jul/06
set/06
nov/06
A. circularis
Figura 22. Porcentagem das espécies abundates do açude Soledade entre o período de
jan/06 e dez/06
A partir da classificação fitossociológica de Reynolds (2002), a cianobactéria
dominante Aphanpcapsa elachista está contida no grupo funcional K composto por
96
algas com afinidade ambiental por ecossistemas rasos e ricos em nutrientes,
explicando sua dominância em Soledade, onde as concentrações de compostos
nitrogenados e fosfatados foram altas (Capítulo 1). As espécies abundantes
Cylindrospermopsis raciborskii, Spirulina laxissima, e Microcystis aeruginosa estão
inseridas, respectivamente, nos códons, Sn, S2 e M. Os referidos grupos funcionais
estão vinculados a ambientes de águas quentes, misturadas e ricas em nutrientes,
corroborando também com as descrições físicas e químicas do açude Soledade.
Além do mais, a associação K sobrevive particularmente bem em águas com pH
elevado (REYNOLDS, 2002), condição ambiental que certamente influenciou nos
altos valores de densidade desta microalga em praticamente todas as amostras
avaliadas (fig. 6).
A presença de cianobactérias em Soledade, durante todo o período de
monitoramento é algo preocupante, pois como a grande maioria dos reservatórios
localizados em regiões semi – áridas são destinados a usos múltiplos a presença
destes organismos em além de formarem florações e causarem desequilíbrios
ecológicos, podem conferir gosto e odor desagradável à água, ou mesmo
produzirem toxinas. Segundo Sant’Anna et al (2006), cianobactérias, a priori, são
consideradas como potencialmente tóxicas e suas florações são definidas em
função da concentração de células que representam risco a saúde pública pela
síntese de substâncias de natureza toxicológica.
b) Açude Taperoá II
Diferentemente do açude Soledade, o açude Taperoá II apresentou
densidades fitoplanctônicas relativamente baixas ( x = 1.123 ind.ml-1; CV = 75,8%),
um reflexo do seu reduzido nível trófico quando comparado ao ambiente
anteriormente citado (Capitulo 1). A classe mais expressiva foi a Bacillariophyceae,
com uma representação média de 53% do total de indivíduos da amostra (CV =
67,3%) e uma densidade média de 507,3 ind.ml-1 (CV = 125,7%) (Figura 7A e B).
As flutuações da escala espaço-temporal obedeceram ao mesmo padrão
verificado para Soledade, com variações espaciais não significativas e variações
temporais extremamente significativas em decorrência da intensa variabilidade
climática (Tabela 2). Apesar do perfil vertical e horizontal do açude não ter
97
apresentado modificações significativas, é possível observar aglomerações pontuais
em alguns meses, como em janeiro e julho de 2006. De modo geral, as maiores
B
A 100
2500
2000
ind/m l
50
1000
500
25
06
no
v/
t/0
6
se
/0
6
j ul
a i/
m
ar
/0
6
/0
6
jan
no
v/
06
se
t/0
6
ju
l/0
6
m
ai
/0
6
06
0
0
ja
n/
06
m
ar
/0
6
Xanthophyceae
Zignemaphyceae
Chlamydophyceae
Euglenophyceae
Bacillariophyceae
Chlorophyceae
Cyanophyceae
1500
m
(%)
75
Figura 23. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no
açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06
densidades foram registradas a 50 e 1% de penetração de luz, fato que
possivelmente esteja associado ao excesso de radiação solar subaquática comum
na região onde está situado o referido açude.
Temporalmente, se observou, ainda, um decréscimo da densidade algal nos
meses de março e junho de 2006, período chuvoso na região, seguido de um
aumento de valores em julho/2006, devido o fim das chuvas, e uma nova redução
nos últimos meses analisados. (Fig. 5B). Esta situação possivelmente esteja
relacionada às variações nos índices de precipitação pluviométrica, os quais agem
no ambiente como diluidor de nutrientes e mesmo de organismos fitoplanctônicos,
contribuindo assim para a redução quantitativa do fitoplâncton e atuando como uma
fonte de perturbação relevante na distribuição temporal destes organismos, uma vez
que
reservatórios
rasos
são
mais
susceptíveis
às
mudanças
temporais
(RODRIGUES et al, 2005). O segundo decréscimo nos valores de densidade total
também pode estar associado à processos de herbivoria por organismos
zooplanctônicos.
Contudo as variações temporais ligadas aos períodos de seca e estiagem
além de afetarem a densidade total da comunidade, promoveram sucessões de
espécies de diferentes classes fitoplanctônicas, diferentemente do que ocorreu no
açude Soledade que comportou dominância de cianofíceas em todo o período
amostral.
98
Vale salientar que os dois meses de maiores densidades de indivíduos
(janeiro e julho de 2006), eram representativos de condições climáticas antagônicas.
Meses
Jan/06
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
100%
Dez/06
Ind. ml -1
15000
14000
13000
12000
50%
11000
% Luz
10000
9000
8000
7000
6000
1%
5000
4000
3000
2000
1000
Zmax
0
Figura 24. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do
açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06
O mês de janeiro ( x = 2.080,67 ind. ml-1; CV= 44,19%) apresentou o menor volume
de água e temperaturas mais elevadas, com microestratificações na coluna d’água.
Tais características, somadas com a concentração de sais e de nutrientes,
beneficiaram as cianobactérias, as quais são bem adaptadas neste cenário
ambiental (Fig 7). No entanto, à partir de jun/06, foram observados os reflexos
ambientais das intensivas taxas pluviométricas ocorridas nos meses anteriores:
máximo volume de água armazenada, intensificação dos processos de mistura das
massas d’água, ausência de estratos térmicos significativos (Fig. 8), diluição de sais
minerais e nutrientes, diminuição do pH da água e elevada transparência. A
integração destes fatores propiciou a dominância da classe Bacillariophyceae, que
respalda a existência da mudança de uma condição eutrófica anterior para um
estado de oligotrofia (Capítulo I). Esta tendência se propaga nos meses restantes,
sendo o mês de jul/06 (x = 2.134,01 ind.ml-1; CV = 16,28%) o detentor da maior
densidade algal. Este mês apresenta também um aumento na disponibilidade de
nutrientes, principalmente ortofosfato solúvel, composto fosfatado mais facilmente
assimilado pelo fitoplâncton, como pode ser visto no capítulo I.
Os meses de set/06 ( x = 252,44 ind.ml-1; CV = 17,18%) e dez/06( x = 166,73
ind.ml-1; CV=40,83%) foram caracterizados pelos menores valores de densidade,
causado provavelmente pela elevada herbivoria da comunidade zooplanctônica.
Este comportamento na coluna d’água pode estar associado com “fenômeno das
99
100
C. meneghiniana
75
M. sulcata
(%)
A. italica
A. granulata
50
S. laxissima
Pseudoanabaena sp
25
C. raciborsk ii
Anabaena sp
0
jan/06
mar/06
mai/06
jul/06
set/06
nov/06
Figura 25. Porcentagem das espécies abundantes do açude Taperoá II entre o período de
jan/06 e dez/06
águas claras” (clear-water phase), caracterizada pelo aumento da transparência da
água e reduções brutais na biomassa algal e na produção primária (TÕNNO et al,
2003).
A classe Cyanophycea foi a dominante em janeiro e março de 2006, com 77%
e 92,45%, respectivamente, do total de indivíduos contados. Foram registradas
abundâncias
das
cianofíceas
filamentosas
Cylindrospemopsis
raciborskii
e
Pseudoanabaena sp nos dois meses citados. Nos demais meses, ocorreu
hegemonia de organismos cêntricos da classe Bacillariophyceae. A espécie
Aulacoseira itálica foi dominante em jul/06 (61,5% da densidade total) e abundante
em jun/06, enquanto que Melosira sulcata foi dominante em dez/06 (65,16%) e
abundante em junho e setembro de 2006. Referência também deve ser feita à
espécie Aulacoseira granulata que foi abundante em todo o período amostral, com
exceção apenas dos meses de março e dezembro de 2006 (Fig. 9).
Barbosa (2002) estudando o Açude Taperoá II já havia constatado uma alta
densidade de cianofíceas entre os meses secos de setembro/98 e janeiro/99,
relacionando as fortes taxas de evaporação e insolação e a alta disponibilidade de
nutrientes. Além de elevadas concentrações da classe Bacillariophyceae, a partir
das fortes chuvas precipitadas em março/99, incluindo a dominância de A. granulata
em outubro/99 e de A. italica em novembro do mesmo ano, e associando às
excelentes concentrações de sílica, a alta turbulência da água e a reduzida
profundidade do açude.
Dominâncias de A. granulata também foram registradas no rio Iguaçu
(RODRIGUES et al, 2005) e no reservatório de Salto do Vau (TRAIN et al, 2005),
100
ambos situados no estado do Paraná. Tendo os autores dos trabalhos igualmente
associados o caso ao padrão de mistura da coluna d’água dos respectivos
ecossistemas. O gênero Aulacoseira é R-estrategista, mostrando-se bem adaptado
a condições instáveis, como a mistura turbulenta da água.
Levando em consideração os grupos funcionais de Reynolds et al (2002), as
espécies Cylindrospemopsis raciborskii e Pseudoanabaena sp integram os códons
Sn e S1, corroborando com as configurações ambientais da água em épocas de seca.
Quanto às espécies Aulacoseira itálica e Melosira sulcata não foram encontrados no
trabalho de Reynolds grupos que as abranjam especificamente, porém, segundo
Moura et al (2007), as espécies do gênero Melosira sp. estão inseridas no códon D.
A espécie Aulacoseira granulata, também bastante representativa neste estudo
pertence ao códon P. O grupo D é exclusivo de diatomáceas, enquanto o P abrange
certas diatomáceas e algumas desmidiáceas, em comum, ambos são tipicamente
encontrados em ecossistemas aquáticos rasos, ricos em nutrientes, com águas bem
ventiladas e turvas, assim como ocorre no açude Taperoá II.
c) Açude Namorados
O açude Namorados também revelou intensa variação sazonal, cujos meses
de maior concentração algal foram: jan/06 ( x = 5342,71 ind.ml-1; CV = 20,68%),
jul/06 ( x = 5019,77 ind.ml-1; CV = 3,64%) e dez/06 ( x = 5723,24 ind.ml-1; CV =
63,02%), e as menores concentrações foram em jun/06 ( x = 1515,02 ind.ml-1; CV =
66,81%). Quanto a variações espaciais e temporais não foram observadas
alterações significativas (Tabela 12). Entretanto, como mostra a figura 11, os
maiores valores de densidade fitoplanctônica foram observados em profundidades a
50% e 1% de penetração de luz, em decorrência do excesso de radiação solar na
camada superficial e da redução os valores de luminosidade na região mais
profunda, repetindo a tendência verificada nos açudes anteriores (Fig 11).
Entre os meses de janeiro e março de 2006, as classes Cyanophyceae e
Euglenophyceae foram predominantes, possivelmente devido aos baixos índices
pluviométricos registrados nestes meses (r = - 0,5548; p <0,01 – Tabela 10),
acarretando em redução na quantidade de água residente na sua bacia hídrica, fato
este que influencia nas concentrações de matéria orgânica e de nutrientes. A classe
101
Euglenophyceae apresenta espécies heterotróficas facultativas, tendo afinidade por
águas ricas em matéria orgânica (XAVIER, 1988; ESTEVES, 1998).
A
B
100
6000
75
in d /m l
(%)
4000
50
Xanthophyceae
Zignemaphyceae
Chlamydophyceae
Euglenophyceae
Bacillariophyceae
Chlorophyceae
Cyanophyceae
2000
25
6
ju
l/0
6
se
t/ 0
6
no
v/
06
ai
m
ar
/0
/0
6
6
/0
m
ja
n
no
v/
06
se
t/0
6
ju
l/0
6
m
ai
/0
6
0
ja
n/
06
m
ar
/0
6
0
Figura 26. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no
açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06
No mês de jun/06, caracterizado por elevada taxa pluviométrica, o
carreamento de material alóctone em suas margens e o aumento da circulação das
massas de água pelo vento foram relevantes para o impedimento da diluição do
material suspenso na água. Deste modo, o ambiente tornou-se favorável para
desenvolvimento das euglenófitas, que chegaram a atingir 69,73% da densidade
total neste mês (Fig 10). Porém, segundo os dados de regressão linear simples
(Figura 12), a classe Cyanophyceae foi realmente a que mais interferiu nos valores
de densidade total.
Em jul/06, com o aumento das chuvas, o decréscimo da concentração média
de amônia e o aumento nos valores de ortofosfato solúvel na água, as euglenofíceas
cederam espaço às algas da classe Chlorophyceae, que dominaram o ambiente
com 56,37% de abundância relativa. Nos meses seguintes houve o restabelecimento
da predominância das cianobactérias, cuja abundância relativa ultrapassou 80% do
total de indivíduos computados em setembro e dezembro de 2006 (Fig. 10 e 12). A
retomada das características citadas em jan/06 foi o estímulo ambiental que
desencadeou esta alteração.
Entre os meses de janeiro e março de 2006, as classes Cyanophyceae e
Euglenophyceae foram predominantes, possivelmente devido aos baixos índices
pluviométricos registrados nestes meses (r = - 0,5548; p <0,01 – Tabela 10),
acarretando em redução na quantidade de água residente na sua bacia hídrica, fato
102
este que influencia nas concentrações de matéria orgânica e de nutrientes. A classe
Euglenophyceae apresenta espécies heterotróficas facultativas, tendo afinidade por
águas ricas em matéria orgânica (XAVIER, 1988; ESTEVES, 1998).
Meses
Mar/06
Jan/06
Jul/06
Jun/06
Set/06
Dez/06
100%
Ind. ml -1
15000
14000
13000
12000
50%
11000
% Luz
10000
9000
8000
7000
6000
1%
5000
4000
3000
2000
1000
Zmax
0
Figura 27. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do
açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06
y = 0,636x + 2535,
R² = 0,541
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
B
7.000
A
Fitoplâncton Total (ind.mL-1 x 106)
Fitoplâncton Total (ind.mL-1)
7.000
y = -1,659x + 5243,
R² = 0,237
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
6.000
Cyanophyceae (ind.mL-1)
0
0
200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
Euglenophyceae (ind.mL-1)
Figura 28. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1) e as densidades das
Cyanophyceae (A) e Euglenophyceae (B) do açude Namorados entre o período de jan/06 e
dez/06
As alterações sazonais relatadas acima também influenciaram a ocorrência
de espécies abundantes e dominantes no Açude Namorados. Porém, a maioria das
amostras coletadas não apresentaram espécies dominantes, exceto em set/06, com
a dominância da Aphanocapsa elachista, e dez/06, que mostrou expressiva
dominância de Chroococcus distans (Fig. 13).
Em jan/06, as espécies Aphanocapsa elachista, Merismopedia tenuissima e
Cyclotella meneghiniana foram abundantes, sendo que a primeira obteve presença
constante entre mar/06 e jul/06. A ocorrência da Euglena proxima e Strombomonas
103
fluiviatilis em mar/06, da espécie Trachelomonas volvocina entre os meses de
mar/06 e jul/06, e da Trachelomonas oblonga em jun/06 reforça a conexão do
aparecimento gradativo das euglenofíceas com a mudança da estação seca para a
estação chuvosa. Apenas em jul/06, a espécie Dictyosphaerium pulchellum,
representante das clorofíceas, foi praticamente dominante numérica.
Desta forma, as espécies abundantes apresentaram um relativo equilíbrio em
suas percentagens, configurando em uma elevada equidade nos meses em que não
foram detectadas espécies dominantes.
Segundo Reynolds et al (2002), as espécies Aphanocapsa elachista e
Merismopedia tenuissima estão associadas, respectivamente, com os grupos
funcionais K e Lo. O códon Lo é tipicamente encontrado no epilímnio de
ecossistemas
aquáticos
mesotróficos
no
período
de
verão,
corroborando
plenamente com as condições ambientais de Namorados, visto sua ocorrência no
período seco. Contudo, de acordo com Reynolds et al (2002) não há precisão da
significância da abundância de populações do grupo K, salvo pelo fato delas
sobreviverem bem em alto pH e poderem representar associações em transição
entre os grupos Lo e M. Tal afirmação se confirmou neste estudo dada a grande
abundância de Aphanocapsa elachista em Soledade, permanentemente com
elevado pH, e em Namorados, nos meses de maiores valores de pH. De toda forma,
o grupo é indicador de águas ricas em nutrientes e pode ter atuado como uma
associação M em Soledade, devida sua avançada eutrofização, e como Lo em
Namorados, que efetivamente se encontra mesotrófico.
As espécies Trachelomonas volvocina, e Trachelomonas oblonga pertencem
ao grupo W2, e Euglena próxima e Strombomonas fluviatilis ao grupo W1, que
descriminam ambientes ricos em matéria orgânica, mesotróficos e rasos. Enquanto a
espécie Cyclotella meneghiniana está contida no grupo B, outra associação
indicadora de ambientes mesotróficos, contudo apresentou pouca representatividade
ao longo do estudo. A espécie Dictyosphaerium pulchellum, muito expressiva em
julho, compõe associações F de clorofíceas coloniais com afinidade ambiental por
águas claras. Explicando sua elevada densidade no mês de julho, quando a
transparência da água se elevou de 0,20m para 1,30m.
104
100
T. volvocina
T. oblonga
75
(%)
S. fluviatilis
E. proxima
50
C. meneghiniana
D. pulchellum
25
M. tenuissima
C. distans
0
jan/06
A. elachista
mar/06
mai/06
jul/06
set/06
nov/06
Figura 29. Porcentagem das espécies abundates do açude Namorados entre o período de
jan/06 e dez/06
Tabela 12. Resultados da ANOVA realizada com os dados de densidade total
(ind/ml) para estabelecer a significância das variações temporais, espaço/horizontais
e espaço/verticais de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio
Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06.
Meses
Profundidade
Estatística
f
P
f
p
A. Soledade 4,4007 <0.0001 1,6013 0,2205
A.Taperoá II 15,1880 <0.0001 0,1547 0,9254
A. Namorados 3,595 0,01439 1,822
0,1756
Estações
f
p
1,3029 0,7785
1,2951 0,7835
1,2245 0,8296
4.1.3 Índices de Diversidade
A estrutura e dinâmica da comunidade fitoplanctônica pode ser caracterizada
pelos seus índices de diversidade, os quais são determinados pelo número de
espécies presentes, suas propriedades fisiológicas e potencial genético, além de
fatores ambientais físicos e químicos, ação de pastoreio e parasitismo (LOPES,
1999).
O Índice de diversidade de Shannon-Weaver vêm sendo um dos mais
utilizados. Expressando a diversidade como resultado recíproco da riqueza de
espécies e da equidade entre elas e ressaltando a importância de se diferenciar
estas duas variáveis e seus efeitos ecológicos (ODUM, 1972; RAMIREZ, 1996;
LINS, 2006).
105
Para se calcular a equitatividade de variados tipos de comunidades, foram
propostos diversos índices de equidade, os quais, de acordo com Bicudo et al.
(1999) refletem o grau de organização da comunidade, a variação porcentual de
seus componentes e o distanciamento desta comunidade de outra com espécies
equitativamente representadas. Neste trabalho foi adotado o Índice de Equidade de
Pielou (1975) por apresentar baixas interações entre equidade e riqueza específica
e, especialmente, pelo fato das amostras em estudo apresentarem reduzido número
de espécies raras.
A dominância apresenta clara correlação inversa com a equidade e decresce
na medida em que se aumenta a similaridade das porcentagens das diferentes
espécies presentes em uma amostra. O Índice de dominância utilizado foi o de
Simpson (1949). De acordo com Costa et al (1998) a diversidade na comunidade de
microalgas é um mecanismo gerador de estabilidade, ao passo que a dominância
gera produção em termos de biomassa e/ou produtividade.
Os índices de Shannon-Weaver para os três ecossistemas aquáticos
avaliados normalmente comportaram o mesmo padrão de variabilidade verificado
para as diversas variáveis analisadas, com flutuações consideradas de significativas
a extremamente significativas entre as diversas épocas do ano e consideradas não
significativas entre os pontos das estações do eixo horizontal e as profundidades do
perfil vertical (Tabela 3).
Através da análise da figura 14, percebe-se claramente que a diversidade foi
influenciada positivamente pela equidade e em menor intensidade pela riqueza de
táxons e negativamente pela dominância. Tais resultados são esperados do ponto
de vista ecológico dado que a diversidade é expressa de forma recíproca pelo
número de espécies e por sua equidade (PADISÁK, 1993) e a dominância tem
relação inversa com a diversidade (COSTA et al., 1998).
Em relação a densidade total e a diversidade, foi possível observar, ainda
através da figura 14, que em Soledade houve uma correlação inversa significativa
entre estas duas variáveis, fato que não ocorreu em Taperoá II e em Namorados.
Esta situação possivelmente esteja relacionada às características tróficas dos
três ambientes, pois no açude Soledade os níveis de trofia foram maiores que nos
demais açudes (Capítulo I), o que acarretou em uma freqüente dominância de
algumas espécies mais adaptadas a realidade do ambiente. Em Soledade, as
106
espécies que influenciaram nos altos valores de densidade foram Aphanocapsa
elachista e Coelosphaerium sp.
Tabela 13: Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das
variações espaço-temporal dos Índices de Diversidade de Shannon-Weaver de três
ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de
jan/06 e dez/06.
Meses
Estatística
Aç. Soledade
Aç. Taperoá II
Aç. Namorados
Pontos
Vertical
Horizontal
Vertical
Horizontal
f
p
f
p
f
P
f
p
4.854 0.0055
5.09 0.0362 0.8409 0.4875 2.017 0.8554
7.708 0.0005 0.1898 0.9557 0.7404 0.5404 1.006 0.7742
17.821 <0.0001 5.547 0.0298 0.2116 0.8872 2.548 0.3553
107
Aç. Soledade
y = 4.1787x - 0.1302
R2 = 0.8498
Diversidade
2
1
0
0.3
0.6
0.9
3
2
1
1.2
0
0.3
1
R = 0.4909
3
2
1
30
10
20
Nº de táxons
1
1
Diversidade
1
0
0.3
0.6
Densidade total
2
1
0.9
0
0.3
200000
0.6
0.9
Dominância
y = 4E-06x + 2.4785
R2 = 4E-05
y = -0.0001x + 2.8087
R2 = 0.1045
4
3
2
1
3
2
1
0
0
100000
3
0
4
2
0
R 2 = 0.9389
Dom inância
3
30
y = -3.9942x + 3.6893
2
0
y = -1E-05x + 3.6289
R2 = 0.7547
4
10
20
Nº de táxons
4
3
0.9
0
Diversidade
0.3
0.6
Dom inância
y = 0.1487x + 0.3074
R2 = 0.6826
1
30
0
0
1.2
2
Diversidade
Diversidade
2
0.6
0.9
Equidade
3
y = -4.1337x + 3.6983
R2 = 0.8618
4
3
0.3
0
0
y = -3.9947x + 3.7318
R2 = 0.8793
0
0
4
0
10
20
Nº de táxons
4
1
1.2
Diversidade
2
0
Diversidade
0.6
0.9
Equidade
2
4
3
0
2
y = 0.1042x + 1.0521
Diversidade
Diversidade
4
3
0
Equidade
y = 0.0683x + 1.4308
R2 = 0.2018
R2 = 0.7734
4
0
0
Diversidade
y = 3.9744x - 0.1627
y = 4.4561x - 0.4675
R2 = 0.8208
4
3
Aç. Namorados
Diversidade
4
Diversidade
Ac. Taperoá II
0
2000
Densidade total
4000
0
6000
12000
Densidade total
Figura 30. Análises de regressão linear simples entre diversidade específica com
equidade, riqueza de táxons, dominância e densidade total referentes aos açudes
Soledade, Taperoá II e Namorados entre o período de jan/06 e dez/06.
108
B
3
2
1
0
Mínimo
Máximo
Média
4
3
2
1
jul
set dez
3
2
1
0
0
jan mar jun
Mínimo
Máximo
Média
C4
Diversidade
Mínimo
Máximo
Média
4
Diversidade
Diversidade
A
jan mar jun
jan mar jun
jul set dez
jul
set dez
Figura 31. Variação temporal da diversidade da comunidade fitoplanctônica de três
ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de
jan/06 e dez/06: (A) açude Soledade, (B) açude Taperoá II e (C) açude Namorados
Apesar dos altos valores de densidade registrados em Soledade, foi possível
observar que curiosamente a maior média de diversidade (2,586 bits. ind-1) foi
registrado neste ambiente. Entretanto, este dado não corrobora fielmente com a
literatura, que a exemplo de Costa et al (1998) afirma que a eutrofização costuma
exercer efeitos sobre os organismos do meio, provocando algumas vezes declínio
da diversidade. Certamente, neste ambiente a alta riqueza de espécies das
amostras quantitativas (média de 16,3 táxons) contribuiu muito para elevar os
valores do Índice de Shannon-Weaver, visto que a equidade da comunidade
fitoplanctônica
foi
muito
baixa
(0,645)
em
função
das
dominâncias
de
Coelosphaerium sp em janeiro e de Aphanocapsa elachista em junho e em
setembro, meses onde é possível observar através das figuras 15A e 16A quedas
dos valores de diversidade e equidade e elevação do Índice de dominância.
B
1
0.75
Equidade
1
0.75
0.5
0.6
0.4
0.25
0.5
0.6
0.4
0.25
0.2
0.2
0
0
jan mar jun jul setdez
1
0.75
0.8
0.8
0.8
Equidade
Dominância
C
0.5
0.6
0.4
0.25
Dom inância
A
0.2
0
0
jan mar jun jul set dez
0
0
jan mar jun jul set dez
Figura 32. Correlação entre equidade e dominância de três ecossistemas aquáticos
da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06: (A) açude
Soledade, (B) açude Taperoá II e (C) açude Namorados.
109
A variabilidade temporal dos índices de diversidade obteve correlação positiva
com a precipitação pluviométrica (r = 0.6146). O que pode ser explicado através da
Hipótese do Distúrbio Intermediário, segundo a qual, a diversidade tem relação
direta com as respostas da comunidade às perturbações ambientais, de modo que,
comunidades não perturbadas ou altamente perturbadas desenvolvem baixa
diversidade, enquanto perturbações de freqüência e intensidade intermediárias são
necessárias para manter a diversidade (CONNEL, 1978). Baseando-se nesta
hipótese, é possível que os aumentos verificados nos meses chuvosos tenham sido
possibilitados pela moderada instabilidade que a chuva causa no ecossistema,
desfavorecendo a dominância de algumas espécies e elevando assim a equidade da
comunidade fitoplanctônica.
Porém, a diversidade foi reduzida em junho, mês de maior incidência
pluviométrica entre os meses amostrados (Figura 13A). Entretanto, ainda se
utilizando da Hipótese do Distúrbio Intermediário, tal redução se torna justificável se
considerarmos que a chuva, neste mês, tenha atuado como um distúrbio de grande
magnitude. Por este motivo foram providenciadas análises de regressão linear
simples entre diversidade e precipitação considerando-se os seis períodos
amostrados (Figura 17A) e, logo à frente, desconsiderando-se o mês de maior
incidência pluviométrica (Figura 17B). No último caso o valor de R se elevou de
0.6146 para 0.7929, corroborando, ainda mais, com a hipótese de Connel (1978). É
importante salientar também que o mesmo fenômeno se repetiu nos demais
ambientes, conforme será mostrado a seguir.
y = 0.0086x + 2.3836
R= 0.6146
4
B
3
Diversidade
Diversidade
A
2
1
0
y = 0.0159x + 2.3524
R = 0.7929
4
3
2
1
0
0
90
180
270
Precipitação
360
0
90
180
270
Precipitação
360
Figura 33. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do
açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B)
exclusão do mês de jun/06.
110
O açude Taperoá II foi marcado na pesquisa por apresentar o maior índice de
similaridade entre as porcentagens das diferentes espécies fitoplanctônicas (média
da equidade = 0.6614). Contudo, a relativamente baixa riqueza de táxons (média de
13.73 táxons por amostra) impediu que sua diversidade (média de 2.4841 bits. ind-1)
fosse superior a de Soledade, mesmo se tratando de um ambiente oligo-mesotrófico.
Os menores valores de diversidade foram registrados em março, mês que sozinho
contribuiu com mais da metade do volume anual precipitado, julho, devido à
dominância de Aulacoseira italica, e dezembro, em função da dominância de
Melosira sulcata (Fig 15B e 16B)
A figura 18 mostra as análises de regressão linear simples estabelecidas
entre diversidade e precipitação para o açude Taperoá II, reforçando a Hipótese do
distúrbio intermediário, dado o grande aumento do valor de R quando
desconsiderado o mês de março da referida análise.
y = 0.0006x + 2.4373
R =0.1568
4
B4
3
Diversidade
Diversidade
A
2
1
0
y = 0.0096x + 2.2678
R = 0.7786
3
2
1
0
0
90
180
Precipitação
270
360
0
90
180
270
Precipitação
360
Figura 34. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do
açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B)
exclusão do mês de mar/06.
O açude Namorados apresentou as menores médias dos Índices de
Diversidade (2.3558 bits. ind-1), Equidade (0.6293) e Riqueza de táxons (13.37
táxons), em razão da elevada dominância de Aphanocapsa elachista em setembro
e, principalmente, de Chroococcus distans em dezembro, quando a diversidade
atinge uma média de apenas 0,7995 bits. ind-1 (Fig 15C e 16C).
Mais uma vez a diversidade apresentou correlação positiva com as chuvas,
com exceção de Junho, mês de maior precipitação, quando a diversidade da
comunidade se reduz em conseqüência da diminuição da riqueza de táxons (Fig 17).
111
y = 0.0049x + 2.1477
R = 0.4136
4
B
3
Diversidade
Diversidade
A
2
1
y = 0.028x + 1.8873
R = 0.6145
4
3
2
1
0
0
0
90
180
270
Precipitação
360
0
90
180
270
Precipitação
360
Figura 35. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do
açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B)
exclusão do mês de mar/06
4.1.4 Clorofila-a e Feofitina
A biomassa algal, representada pelos teores de clorofila-a apresentou a
sazonalidade como o fator de mais forte variabilidade nos açudes em detrimentos
das escalas espaciais horizontal vertical (Tabela 4). As mesmas correspondências
foram confirmadas para a feofitina, apenas no açude de Taperoá II (Tabela 5).
De modo geral os açudes apresentaram elevadas taxas de ambos os
pigmentos, as quais decresceram na seguinte ordem: açude Soledade (médias de
clorofila-a e de feofitina, respectivamente, iguais a 85,7 e 91,9 µg/l), açude
Namorados (14,4 e 20,2 µg/l) e açude Taperoá II (6,6 e 8,1 µg/l) (Figuras 18 e 19).
A distribuição de clorofila-a e de feofitina processou-se em toda a coluna
d’água de forma bastante homogênea (Fig. 19), configurando a não significância da
variabilidade do perfil vertical, salvo alguns picos de feofitina verificados nas
camadas mais profundas, principalmente no açude Soledade a 1% de penetração
luminosa (dez/06) e em Namorados na profundidade máxima (mar/06). Esta
ausência de estratificação possivelmente esteja relacionada a morfometria destes
pequenos e rasos reservatórios, que submetidos à forte ação dos ventos sofrem
misturas constantes, seja ao longo da coluna d’água ou entre a região marginal e
pelágica. Segundo Huszar (2004), em ecossistemas mesclados pelos ventos podem
ocorrer
distribuições
das
comunidades
fitoplanctônicas
ao
acaso
ou
aproximadamente ao acaso.
Quanto aos picos de feofitina registrados a 1% de penetração luminosa e na
zona
afótica,
possivelmente
decorreram
da
sedimentação
de
organismos
112
fitoplanctônicos mortos. Moura (1996) e Lopes (1999) já haviam registrado picos de
feofitina no fundo de ecossistemas aquáticos tropicais, relacionando em parte tal
fenômeno a sedimentação de células senescentes.
Analisando – se o
Apêndice 1 é possível verificar que a clorofila-a
apresentou, em Soledade, correlação positiva com o íon amônio (r = 0,62; p < 0,01),
com o nitrogênio total (r = 0,42; p < 0,01) e com os teores de ortofostato solúvel (r =
0,46; p < 0,01) e negativamente com a precipitação pluviométrica (r = - 0,57; p <
0,01), com o volume do reservatório (r = - 0,56; p < 0,01) e com os teores de
oxigênio dissolvido (r = - 0,53; p < 0,01). Para o açude Taperoá II (Apêndice 2) a
correlação positiva ocorreu entre a clorofila-a e a densidade (r = 0,60; p < 0,01), a
condutividade elétrica (r = 0,74; p < 0,01) e a feofitina (r = 0,87; p < 0,01) e
negativamente com o nitrito (r = - 0,44; p < 0,01), o volume do açude (r = - 0,60; p <
0,01) e os teores de alcalinidade (r = - 0,64; p < 0,01). Em Namorados (Apêndice 3)
a correlação positiva ocorreu com a temperatura (r = 0,70; p < 0,01), o pH (r = 0,46;
p < 0,01), a condutividade elétrica (r = 0,65; p < 0,01) e a feofitina (r = 0,61; p < 0,01)
e as correlações negativas ocorreram entre o volume do açude (r = - 0,83; p < 0,01),
o íon amônio (r = - 0,42; p < 0,01) e em menor intensidade com os índices de
precipitação pluviométrica (r = - 0,38; p < 0,01) e oxigênio dissolvido (r = - 0,37; p <
0,01). As elevadas correlações negativas ligadas às precipitações pluviométricas
salientam a forte influência que as chuvas têm na composição das espécies
fitoplanctônicas e na biomassa total. Esta variável, que influencia diretamente no
volume hídrico do reservatório atua como um fator diluidor e ao mesmo tempo como
um fator de perturbação das comunidades aquáticas. Já as correlações positivas
com os
diversos
nutrientes está
relacionado
ao fator nutricional destes
microrganismos. É interessante ressaltar ainda que em Taperoá II as cianofíceas
apresentaram uma extrema correlação positiva com a clorofila- a (r = 0,71; p < 0,01).
Boury et al (1999), estudando 39 açudes do semi – árido nordestino durante os
meses de setembro e novembro de 1998, constatou uma média de 51,4µg.l-1de
clorofila-a nestes ambientes, sendo que 25% destes continham acima de 100 µg.l-1 e
64% dominados por cianofíceas. A principal causa apontada foram as reduções nos
níveis dos açudes em decorrências das alterações climáticas do El Ninõ sobre a
região, ocasionando alta concentrações de sais nos ambientes.
113
A feofitina apresentou, no açude Soledade, apenas correlação com a clorofilaa (r =0,50; p < 0,01) (Apêndice 1). Em Taperoá II (Apêndice 2) a correlação positiva
ocorreu com a condutividade elétrica (r = 0,75; p < 0,01) e em menor intensidade
com os índices de densidade algal (r = 0,37; p < 0,01) e negativamente com o
volume do açude (r = - 0,59; p < 0,01) e a alcalinidade (r = - 0,47; p < 0,01). Já em
Namorados (Apêndice 3) a correlação positiva ocorreu com a riqueza específica (r =
0,42; p < 0,01) e negativamente com volume do açude (r = - 0,61; p < 0,01). As
correlações
negativas
ligadas
ao
volume
hídrico
dos
ecossistemas
aqui
apresentados podem estar relacionados ao efeito diluidor das águas que tendem a
provocar as maiores taxas de perda de biomassa fotossintética biologicamente ativa
da comunidade.
Tabela 14. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das
variações espaço-temporal das concentrações de clorofila-a (µg/l) de três
ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de
jan/06 e dez/06
Estatística
Meses
Profundidades
Estações
f
p
f
p
f
p
<0.0001 0,1329 0,9393 1,0627 0,9484
Aç. Soledade
26,988
Aç. Taperoá II
122,109 <0.0001 0,0691 0,9758 1,4300 0,7042
<0.0001 0,2036 0,8927 1,7935 0,5369
Aç. Namorados
20,573
Tabela 15. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das
variações espaço-temporal das concentrações de feofitina (µg/l) de três
ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de
jan/06 e dez/06
Estatística
Meses
f
p
Profundidades
f
p
Aç. Soledade
1.9260 0.1271 0.9213
Aç. Taperoá II 70.0590 < 0.0001 0.0530
Aç. Namorados 6.2710 0.0007 0.4497
0.4485
0.9835
0.7203
Estações
f
p
1.2420
1.7600
1.2310
0.3626
0.7369
0.8886
114
Meses
Mar/06
Jul/06
Jun/06
Set/06
ug/L
100%
Meses
B
Dez/06
% Luz
1%
Zmax
Jun/06
Mar/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
200.00
190.00
180.00
170.00
160.00
150.00
140.00
130.00
120.00
110.00
100.00
90.00
80.00
70.00
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00
0.00
50%
Jan/06
120.00
114.00
108.00
102.00
96.00
90.00
84.00
78.00
72.00
66.00
60.00
54.00
48.00
42.00
36.00
30.00
24.00
18.00
12.00
6.00
0.00
50%
% Luz
A Jan/06
1%
Zmax
Meses
C
Mar/06
Jan/06
Jul/06
Jun/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
120.00
114.00
108.00
102.00
96.00
90.00
84.00
78.00
72.00
66.00
60.00
54.00
48.00
42.00
36.00
30.00
24.00
18.00
12.00
6.00
0.00
% Luz
50%
1%
Zmax
Figura 36. Variação vertical/temporal das concentrações de clorofila-a (µg/l) dos
açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e Namorados (C) entre o período de jan/06 e
dez/06
Meses
Meses
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
B
Dez/06
880.00
840.00
800.00
760.00
720.00
680.00
640.00
600.00
560.00
520.00
480.00
440.00
400.00
360.00
320.00
280.00
240.00
200.00
160.00
120.00
80.00
40.00
0.00
% Luz
50%
1%
Zmax
Mar/06
Jul/06
Jun/06
Set/06
Dez/06
ug/L
100%
ug/L
100%
Jan/06
168.00
160.00
152.00
144.00
136.00
128.00
120.00
112.00
104.00
96.00
88.00
80.00
72.00
64.00
56.00
48.00
40.00
32.00
24.00
16.00
8.00
0.00
50%
% Luz
A Jan/06
1%
Zmax
Meses
C
Jan/06
100%
% Luz
50%
1%
Zmax
Mar/06
Jun/06
Jul/06
Set/06
Dez/06
ug/L
170.00
160.00
150.00
140.00
130.00
120.00
110.00
100.00
90.00
80.00
70.00
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00
0.00
Figura 37. Variação vertical/temporal das concentrações de feofitina (µg/l) dos
açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e Namorados (C) entre o período de jan/06 e
dez/06
115
Alguns autores consideram floração a ocorrência de uma concentração de
clorofila-a >10µg/l (SANT’ANNA et al, 2006). E de acordo com este parâmetro todos
os reservatórios apresentaram floração em pelo menos um dos meses avaliados.
Vale salientar que o açude Soledade apresentou florações o ano inteiro,
comportando uma média de clorofila-a mais que 8 vezes superior à concentração
necessária a caracterização do fenômeno.
Segundo Tundisi (1983) teores de clorofila-a superiores 10 µg/l caracterizam
alta atividade fotossintética. Deste modo, percebeu-se a elevada produção de
biomassa em Soledade, durante todos os meses avaliados, e em Namorados e
Taperoá II, anteriormente ao período chuvoso. No semi-árido Nordestino,
normalmente a concentração de pigmentos se relaciona intimamente ao ciclo
hidrológico em razão do índice pluviométrico. Sendo comum o registro de valores
mais elevados de clorofila-a e de feofitina nos meses mais quentes, em função do
déficit hídrico provocado pela elevada evaporação, que acarreta no aumento da
concentração de nutrientes e, consequentemente, de organismos fitoplanctônicos.
4.1.5 Produtividade Primária
A produção primária de um ecossistema aquático corresponde ao aumento de
biomassa ocorrido num intervalo de tempo determinado, ou seja, é a quantidade de
matéria orgânica acrescida ao ambiente através da fotossíntese ou quimiossíntese
durante o referido período (ESTEVES,1998).
Por questões operacionais, os dados de produtividade primária só foram
levantados no açude Namorados. Em relação a este parâmetro foi possível observar
que as flutuações espaço-temporais não conservaram o mesmo padrão verificado
para a densidade, diversidade e pigmentos da comunidade fitoplanctônica, qual seja,
grande significância ao longo dos meses avaliados e pouca variabilidade da
produção algal entre as distintas profundidades amostradas (Tabela 6). Na figura 21
é possível observar que a quantidade de biomassa produzida teve relação direta
com a penetração luminosa na coluna d’água, verificada pelas maiores
concentrações de carbono sintetizadas na região fótica, principalmente a 100% e
50% de luminosidade e reduções significativas de valores em zonas pouco
iluminadas. Isso mostra que a radiação solar normalmente é o fator mais significativo
116
envolvido na produtividade primária de ecossistemas aquáticos tropicais, contudo,
outros fatores bióticos, como taxa reprodutiva do fitoplâncton, a herbivoria, e os
fatores abióticos, como temperatura e nutrientes, também estão envolvidos no
processo, levando a formação de distintos perfis verticais de produtividade primária
fitoplanctônica
Tabela 16. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das
variações espaço-temporal da produtividade primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude
Namorados entre o período de jan/06 e dez/06
PPL
F
p
Meses
1,449
0,2545
Profundidades
8,9816
< 0,0001
Meses
Jan/06
Mar/06
100%
Jul/06
Set/06
Dez/06
mgC.m3. h-1
300.00
280.00
260.00
240.00
50%
220.00
% Luz
200.00
180.00
160.00
140.00
1%
120.00
100.00
80.00
60.00
40.00
20.00
Zmax
0.00
Figura 38. Produtividade primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude Namorados entre o
período de jan/06 e dez/06
Temporalmente, verificaram-se taxas de produtividade mais elevadas nos
meses de estiagens, em função de compreender as maiores quantidades de
biomassa fitoplanctônica, confirmada tanto pela densidade total como pelas
concentrações de clorofila-a.
Cabe salientar, ainda, que as profundidades onde ocorreram taxas nulas
estão incluídas na zona de compensação, onde as taxas de produtividade bruta são
equivalentes à respiração dos organismos aeróbicos, ou então abaixo dela, onde o
117
consumo supera a produção de matéria orgânica. Ocorrendo geralmente a 1% de
penetração luminosa e na profundidade máxima, e indicando que estas regiões
necessitam de um excedente de matéria orgânica produzida nas camadas mais
superficiais.
Desta forma, resumidamente, pode-se afirmar que no açude Namorados os
principais ditadores da produção orgânica fitoplanctônica foram à radiação solar em
relação à variabilidade do perfil vertical e sazonalmente as distinções ambientais
provocadas pelos períodos de seca e chuva. Vale ressaltar também que este
parâmetro apresentou correlação apenas com os valores de pH (r = 0,474; p < 0,01)
(Tabela 10), tal fato possivelmente esteja associado a processos químicos da
fotossíntese, pois valores elevados de CO2 conferem ao ambiente um caráter ácido,
diminuindo assim os valores de pH.
Tabela 17: Produção primária líquida
entre os período de jan/06 e dez/06.
Mês
Média
Min
61.911
0.000
Janeiro
50.646
0.000
Março
0.000
0.000
Julho
117.360
0.000
Setembro
11.410
0.000
Dezembro
(PPL) do açude Namorados (mgC/m3 / h-1)
Máx
165.218
165.218
0.000
320.300
57.05
Amplitude
165.2
165.2
0.0
320.3
57.1
DP
85.096
74.528
0.0000
154.462
25.514
CV
137.45
147.16
0.0000
131.61
223.61
De maneira geral os atributos do fitoplâncton quali e quantitativos aqui
apresentados indiscutivelmente, interferiram de maneira significativa sobre a
qualidade da águas desses ecossistemas com prejuízos diretos a vida útil desses
açudes. Isto mostra que os trabalhos de monitoramento em açudes localizados em
regiões semi - áridas são de fundamental importância uma vez estes açudes são
destinados a usos múltiplos, dentre eles o abastecimento humano.
118
5 CONCLUSÕES
Os mananciais do semi-árido não apresentam reduzida riqueza numérica de
espécies;
A classe Chlorophyceae contribui com a maior riqueza de espécies
fitoplanctônicas em função de sua grande variabilidade morfométrica;
As maiores densidades de organismos fitoplanctônicos geralmente se
concentram a 50 e 1% de penetração luminosa, devido o excesso de radiação
solar subaquática na superfície e a ausência total de luz na profundidade
máxima, os quais interferem negativamente na distribuição das algas na
coluna d’água;
O açude Soledade apresenta florações de cianobactérias durante todo o ciclo
anual, com concentrações superiores as recomendadas pela resolução
CONAMA n º 375/05;
Nos açudes Taperoá II e Namorados as densidades totais da comunidade
fitoplanctônica foram baixas, apresentando ambos prevalência de cianofíceas
nos meses secos. No período chuvoso o açude Taperoá II apresenta
prevalência de diatomáceas em função da redução da quantidade de
nutrientes, enquanto o açude namorados comporta grande abundância de
euglenofíceas devido o carreamento de matéria orgânica alóctone;
O sistema de classificação em grupos funcionais de Reynolds et al (2002) é
eficaz para o biomonitoramento de ecossistemas aquáticos do semi-árido,
apesar de ter sido elaborado, em sua maioria, a partir de dados obtidos em
corpos d’água temperados;
A equidade apresentou uma maior influência sobre a diversidade que a
riqueza de táxons;
Nos ecossistemas aquáticos mais eutrofizados ocorre baixa equidade e
influência negativa da densidade total sobre a diversidade, como foi o caso do
açude de Soledade;
A distribuição de clorofila-a e de feofitina se processa em toda a coluna
d’água de forma bastante homogênea, salvo alguns picos de feofitina que
podem ser verificados nas camadas mais profundas, em razão da
sedimentação de células planctônicas senescentes;
Os pequenos e rasos reservatórios nordestinos tendem a apresentar
flutuações temporais da comunidade fitoplanctônica extremamente
significativas, e flutuações espaciais não significativas, exceção feita a
Produção Primária Liquida;
119
Os principais ditadores da produção orgânica fitoplanctônica são à radiação
solar em relação à variabilidade do perfil vertical e sazonalmente as
distinções ambientais provocadas pelos períodos de seca e chuva;
De modo geral, a chuva atuou como distúrbio intermediário, elevando a
diversidade, e como diluidora, reduzindo a densidade total, as concentrações
de clorofila-a e de feofitina e as taxas de produtividade primária;
120
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124
CAPÍTULO 3
___________________________________
PERCEPÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA
COMUNIDADE DE PESCADORES DO
AÇUDE TAPEROÁ II
___________________________________
1
ANDRADE, R. S. & BARBOSA, J. E.
1
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e
Meio-Ambiente/PRODEMA,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba,
Brasil.
E-mail: [email protected]
2
Professor Títular do Departamento de Biologia,
Universidade Estadual da Paraíba/UEPB.
E-mail: [email protected]
2
125
1 RESUMO
No contexto do semi-árido nordestino, além dos dilemas acerca do gerenciamento
eficiente dos mananciais, a oscilação climática determina a oferta e a qualidade de
água para os grupos humanos oriundos desta região. Uma vez que as estações
secas são mais duradouras que os períodos chuvosos, a oferta de água como fator
limitante adquire proporções mais contundentes. Em se tratando da região semiárida, visto que partilham de um elo mais íntimo com os corpos aquáticos, os
pescadores podem transmitir conhecimentos relevantes sobre a qualidade de um
ecossistema aquático. O objetivo deste capítulo é o de identificar a percepção dos
pescadores artesanais no que se refere à qualidade da água do açude Taperoá II,
além da descrição de indicadores sócio-econômicos. Foi conduzida a aplicação de
um roteiro semi - estruturado de perguntas, para a obtenção de dados quantitativos
e dados qualitativos, e a gravação de relatos orais. Foi adotado o método
fenomenológico proposto por Sanders, que enfatiza o trabalho em profundidade com
um número pequeno de participantes em uma pesquisa, sob a forma de entrevistas
gravadas em áudio, e transcritas posteriormente. Os resultados quantitativos
revelaram que todos eram do sexo masculino, cuja faixa etária variou entre 29 e 67
anos, com média de 48,2 anos. O tempo de pesca mais evidente foi compreendido
no intervalo de 1 a 10 anos. A maioria declarou-se anafalbeta ou semi- anafalbeta,
são casados e possuem mais de quatro filhos. Quanto ao registro dos discursos dos
pescadores, foi constatada que a pesca é encarada como um meio mais seguro de
garantir a sobrevivência de sua família; o pescador não vive exclusivamente deste
ofício, mas executa mais de uma atividade econômica; a experiência adquirida na
pesca capacitou o pescador a perceber mudanças significativas no ambiente ao seu
redor e na qualidade da água do açude.
Palavras-chave: semi-árido, etnoecologia, fenomenologia
126
2 INTRODUÇÃO
A interação da civilização humana com a Natureza foi caracterizada, desde os
seus primórdios, como uma relação de posse e de consumo dos elementos naturais,
consoante ao pensamento antropocêntrico da sociedade. Esta forma de enxergar o
meio natural é fruto de uma existência competitiva, crença no progresso material
ilimitado por meio do crescimento econômico e tecnológico (CAPRA, 1996).
Este fato é bem perceptível no que tange aos impasses relacionados ao
manejo dos recursos hídricos. Com o crescimento populacional e o aumento de
demanda por mais água, o acréscimo no fornecimento contribui para a expansão do
consumo, o que acarreta na elevação da poluição dos corpos aquáticos devido ao
depósito indiscriminado de efluentes e resíduos sólidos (WETZEL, 1993).
No contexto do semi-árido nordestino, além dos dilemas acerca do
gerenciamento eficiente dos mananciais, a oscilação climática determina a oferta e a
qualidade de água para os grupos humanos oriundos desta região. Assim como a
flora e da fauna regional, a sociedade tem o seu dinamismo condicionado à duração,
freqüência e a intensidade dos fenômenos climáticos de seca e de chuva
(BARBOSA, 1998; FEITOSA, 2000). Uma vez que as estações secas são mais
duradouras que os períodos chuvosos, a oferta de água como fator limitante adquire
proporções mais contundentes. Isso estimula o sertanejo a ter um saber popular
com as forças telúricas, isto é, com os sinais longínquos das trovoadas, que
anunciam as chuvas, a chegada da estação das águas, chamada “inverno” e o
retorno das águas correntes dos rios, ao ensejo das primeiras chuvas (AB’ SABER,
1999). O segredo da convivência com o semi-árido passa pela produção e
estocagem dos bens em tempos chuvosos para se viver adequadamente em tempos
sem chuva. O principal bem a ser estocado é a própria água (MALVEZZI, 2007).
Atualmente, a publicação de trabalhos que explicitam a relação dos atributos
ambientais do semi-árido com grupos humanos associados tem aumentado
consideravelmente, em especial no semi-árido paraibano. Dentre estes, merecem
destaque os trabalhos de Barbosa (1998), Feitosa (2000), Barreto (2001) e Lacerda
(2001), que lançaram uma visão diferenciada sobre a relação do sertanejo com o
ambiente que o circunda e propuseram alternativas eficazes na conservação e no
manejo dos recursos naturais. Houve também incrementos substanciais em
publicações que ressaltam a avaliação da qualidade de água através de atributos
127
ecológicos e corroborados pela dinâmica social (MOREDJO, 1998; LEITE, 2001;
PEDROSA, 2004).
Contudo, uma classe social que requer uma distinta atenção é a formada
pelos pescadores artesanais. De acordo com Diegues (2005), o pescador artesanal
pratica a pequena pesca, cuja produção em parte é consumida pela família, e em
parte é comercializada. O modo de vida é baseado principalmente na pesca, mas
pode exercer atividades econômicas complementares, como o extrativismo vegetal,
o artesanato e a pequena agricultura. Os pescadores, juntamente com os
sertanejos, enfrentam restrições de oferta e de uso dos ecossistemas aquáticos, o
que pode desencadear em conflitos com outros grupos sociais e entre eles próprios,
além de possuírem baixos indicadores sociais.
Em se tratando da região semi-árida, visto que partilham de um elo mais
íntimo com os corpos aquáticos, os pescadores podem transmitir conhecimentos
relevantes sobre a qualidade de um ecossistema aquático. Alves et al (2002),
relatam que as pesquisas etnoecológicas em águas continentais do semi-árido são
promissoras, haja vista a grande importância social e ecológica dos açudes e rios na
região.
Entre os enfoques que mais têm contribuído para o estudo do conhecimento
das populações locais estão as etnociências, que partem da lingüística para estudar
os saberes das populações humanas sobre os processos naturais, tentando
descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as
taxonomias e classificações totalizadoras (DIEGUES & ARRUDA, 2001, apud
PEDROSO JÚNIOR, 2003). Dentre as diversas maneiras de se adquirir o
etnoconhecimento, tem forte apreciação a aplicação de estudos fenomenológicos.
Segundo Moreira (2004), a fenomenologia dá destaque à experiência vivida
do indivíduo, onde ocorre a percepção de objetos e intuições, julgamentos,
imaginações, desejos e temores. O pescador, assim como qualquer ser humano, é
um ser pensante, guiado tanto pela razão quanto pela emoção. Através do método
fenomenológico, espera-se obter o conhecimento adquirido sobre as experiências
vividas pelos pescadores acerca do ambiente em que está inserido, e, dessa
maneira, ter acesso a “visão de mundo” dos mesmos.
Desta forma, o objetivo deste capítulo é o de identificar a percepção dos
pescadores artesanais no que se refere à qualidade da água do Açude Taperoá II,
além da descrição de indicadores sócio-econômicos. Com isso, pretende-se
128
ressaltar a influência destes atores sociais no fornecimento de informações mais
precisas sobre os dilemas ecológicos e sociais existentes na área de influência do
açude.
3 MATERIAL E MÉTODOS
Estudos ecológicos em geral empreendem análises mais acuradas sobre os
condicionantes físico-químicos e suas interações com os atributos biológicos de um
ecossistema. Porém, não explicam completamente os processos de origem humana
e sua atuação no ambiente, tornando-se necessário a inclusão da rede
informacional/cultural gerada e/ou utilizada pela espécie biológica Homo sapiens
(MARQUES, 1999, apud MONTENEGRO et al 2001). Desta maneira, o uso de
métodos que integram o conhecimento tradicional dos pescadores com àqueles
gerados pelo conhecimento científico permite uma análise contextualizada e
conectada à realidade dos mesmos (MONTENEGRO et al, 2001)
Para a concretização da pesquisa, foram realizadas duas viagens
exploratórias. A primeira viagem consistiu na observação direta de impressões
iniciais a respeito da cidade de Taperoá e do entorno do açude Taperoá II, com o
intuito de identificar e localizar os pescadores artesanais. Para isto, foram
estabelecidos contatos com líderes comunitários que demonstraram algum
conhecimento acerca da localização dos pescadores.
Em seguida, foram selecionados dois pescadores, localizados em suas
residências para uma entrevista preliminar, com questões abertas. A finalidade desta
medida foi a de buscar uma maior intimidade com o grupo em estudo, além de
formular um roteiro de trabalho mais consistente. De acordo com Macedo (2000), no
desenrolar de uma entrevista, pode haver mudanças no objeto da pesquisa e
pessoais. É provável que o conhecimento de acontecimentos e de atividades que
não são diretamente observáveis possa influir diretamente no cumprimento de metas
previamente definidas.
Para a realização da segunda atividade de campo, foi decido adotar dois
procedimentos: a aplicação de um roteiro semi - estruturado de perguntas, que
visaram apreender tanto dados quantitativos como os dados qualitativos, e a
gravação de relatos orais. As questões de natureza quantitativa eram fechadas e de
múltipla escolha, e abrangeram os indicadores sociais como sexo, faixa etária,
129
estado civil, número de filhos, escolaridade, tempo de pesca e renda familiar.
Quanto às questões de caráter qualitativo, optou-se pelo emprego de perguntas
abertas, nas quais o pescador pôde responder sem restrições sobre temas
relacionados como a relevância e a multiplicidade de usos conferidos ao açude, a
qualidade da água, a descrição dos fatores bióticos (organismos aquáticos e mata
do entorno) e suas influências sobre a atividade pesqueira e a qualidade da água.
Todas as respostas aos questionamentos foram registradas em pequenos
gravadores, com o intuito de preservar os relatos originais dos pescadores. Em
função da elevada dispersão dos mesmos ao longo da sede do município, foram
entrevistados 15 pescadores. Contudo, o viés qualitativo deste trabalho foi
predominante. Para MINAYO (1996), o critério de uma pesquisa qualitativa não é
numérico, e uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas
múltiplas dimensões.
O
conjunto
de
procedimentos
executados
obedeceu
ao
método
fenomenológico proposto por Sanders (MOREIRA, 2004), que enfatiza o trabalho em
profundidade com um número pequeno de participantes em uma pesquisa, sob a
forma de entrevistas gravadas em áudio, e transcritas posteriormente. As diretrizes
para a análise dos dados obtidos foram: descrição do fenômeno tal como revelado
nas transcrições das entrevistas; identificação de temas ou invariantes que emergem
das descrições; união de temas ou conjunto de essências que caracterizam a
estrutura do fenômeno.
.
130
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por intermédio dos relatos orais dos pescadores entrevistados, foi possível
enquadrar algumas características intrínsecas: todos os indivíduos interpelados
eram do sexo masculino, cuja faixa etária variou entre 29 e 67 anos, com média de
48,2 anos (Figura 39), com 60% dos entrevistados pertencentes à faixa dos 40 a 59
anos. O tempo de pesca mais evidente foi aquele compreendido no intervalo de 1 a
10 anos (Figura 40); a maioria dos entrevistados declarou-se analfabeta ou semianalfabeta (Figura 41), são casados (Figura 42) e possuem mais de quatro filhos
(Figura 43). Uma análise dessas características expõe claramente a condição social
destes atores sociais, que viu na atividade pesqueira o meio mais elementar de
garantir o sustento familiar. Para Bené (2003), este cenário pertence a um tradicional
paradigma, que associa a atividade pesqueira de pequena escala com a pobreza,
determinada pelo acesso relativamente livre às áreas de pesca, exploração
demasiada dos recursos pesqueiros, e reduzidas oportunidades de empregos
Número de Pescadores
alternativos.
6
5
4
3
2
1
0
< 30 anos
30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 70 anos
Idade
Figura 39. Descrição da faixa etária dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá
131
Número de pescadores
7
6
5
4
3
2
1
0
1 a 10 anos
11 a 20
anos
21 a 30
anos
31 a 40
anos
41 a 50
anos
Mais de 50
anos
Tempo de pesca
Figura 40. Descrição do tempo de exercício na pesca com os pescadores entrevistados na
cidade de Taperoá.
7%
20%
33%
Analfabeto
Semi-analfabeto
analfabeto
40%
Fundamental incompleto
Fundamental completo
Figura 41. Descrição do nível de escolaridade dos pescadores entrevistados na cidade de
Taperoá
132
7%
13%
Solteiro
13%
Casado
27%
União consensual
40%
Separação legal
Divorciado
Figura 42. Estado
ado civil dos pescadores entrevistados
entrevistados na cidade de Taperoá
7%
Sem filhos
13%
Um filho
13%
54%
Dois filhos
Três filhos
Quatro filhos
0%
13%
Mais de quatro filhos
Figura 43. Número de filhos dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá
133
As entrevistas abertas revelaram peculiaridades a respeito do método de
pesca. Alguns pescadores não concentram suas atividades apenas no açude
Taperoá II, e costumam ir para outros reservatórios que apresentam em
determinada época estoque pesqueiro superior, como evidenciado no relato do
pescador:
“O caba que pesca, sabe? Quando a área fica fraca, o caba se muda para outro canto.
Quando afraca este canto, o caba se muda pra outro canto”. (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto,
residente em Taperoá)
“Às vezes vou pra Mucutú, vou pra Lagoa do Meio, pra Mãe d’ Água”. (Pescador, 47 anos,
semi-analfabeto, residente em Taperoá)
“Não é só aqui que o peixe ta escasso. Mucutú também é a mesma coisa. O pessoal ta tudo
sofrendo”. (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá).
Em relação ao instrumento de pesca, foi registrada a dominância da rede de
pesca em detrimento ao uso do anzol e da tarrafa, com este último tendo sérias
restrições de uso.
“Pesco com rede. Tarrafa faz muito tempo que foi proibido. Uns 3 anos. Mexe muito a água”.
(Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá)
“Tarrafa a gente não usa não. É proibido. É proibido por Lei em qualquer açude do Estado”.
(Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá)
Quanto aos fatores econômicos, foi observado que grande parte dos
entrevistados exerce mais de uma atividade, para complementação da renda.
Atividades agrícolas e funções de pedreiro ganharam destaque (Figura 44). 74% dos
pescadores faturam entre R$101,00 a R$ 200,00 com a venda de peixe (Figura 45).
134
Nenhuma
Agricultor
Pedreiro
7%
6%
Venda de redes de
pesca
33%
27%
Funcionário público
27%
Figura 44. Atividades econômicas alternativas
alternativ dos pescadores entrevistados
revistados na
cidade de Taperoá
7%
7%
Não vendem peixe
13%
13%
13%
Até R$100,00
R$ 101,00 a R$ 200,00
R$ 201,00 a R$ 300,00
R$ 301,00 a R$ 400,00
47%
R$ 401,00 a R$ 500,00
Figura 45. Ganhos financeiros com a venda de peixe.
Os pescadores também relataram sobre as dificuldades na comercialização
dos peixes, e a necessidade de realizar outro serviço, embora se considerem
profissionalmente como pescadores. Os motivos citados são a diminuição do
estoque pesqueiro ao longo do tempo e a baixa renda capitada.
“Vendo! Tem que vender tudo pra comprar o arroz e o feijão dos moleques”. (Pescador, 47
anos, semi-analfabeto,
to, residente em Taperoá)
135
“O peixe tá muito escasso. A gente tem que procurar outro meio de vida pra sobreviver, pois o
peixe que dá não tá dando nem pra comer, imagina pra vender. Quando aparece um bico, eu pego
pra ajudar na minha renda. Mas minha carteira é de pescador. (...). Exatamente. Quando dá pra
vender, a gente vende. Quando não dá é só pra alimentação mesmo”. (Pescador,
(Pescador, 54 anos, semianalfabeto, residente em Taperoá)
Além disso, uma porção substancial dos entrevistados afirmou que receberam
recebe
algum auxílio do Poder Público, como o programa “Bolsa Família” e Seguro de
Pesca (Figura 46). Esta última assistência financeira citada foi o tema central dos
discursos de alguns pescadores, que alegaram repasses irregulares para os
indivíduos que não eram associados à Colônia de Pescadores:
“Aí, quando eu cheguei aqui eu tô batendo até hoje pra tirar essa carteira ai e não tirei, tá? Aqui tem
gente que nunca botou nem um anzol na água e recebe seguro. E eu sem receber carteira, sem
receber seguro”. (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto,
semi
, residente em Taperoá).
Aposentadoria
7%
Bolsa família
27%
40%
13%
13%
Seguro da pesca
Bolsa família e seguro
da pesca
Nenhum auxílio
Figura 46. Descrição dos auxílios financeiros do Poder Público para os pescadores
entrevistados na cidade de Taperoá.
Segundo os pescadores entrevistados, não existe uma Colônia de
Pescadores sediada em Taperoá. Os pescadores que recebem seguro-pesca
seguro
na
época do defeso estão vinculados à Colônia de Pescadores Z-21,
Z
localizada em
Juazeirinho. Este fato é gerador de conflito
conflito entre os pescadores, que informam a
existência de manobras políticas que desestimulam a possibilidade de união entre
136
os pescadores atuantes. Ao ser indagado sobre o porquê de não existir uma Colônia
de Pescadores na cidade de Taperoá, um dos pescadores foi categórico em sua
explanação:
“Falta de interesse, meu filho. O negócio é politicagem sebosa. (...) Pouca vergonha dos
políticos. (...) Todos nós aqui (os pescadores) somos conhecidos. Só não tem união entre os
pescadores daqui” (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá)
O açude Taperoá mostrou-se pleno em significados e usos para os
pescadores artesanais. Este sentimento tornou-se evidente mediante o resultado
das questões abertas.
“É importante porque dá o que comer. Só por isso mesmo. Esse negócio de vazante que
plantaram alguma coisa ai, não plantam não porque o povo só planta capim mesmo.” (Pescador, 47
anos, semi-analfabeto, residente de Taperoá)
“Pra mim é importante pra tudo. Primeiro, porque dá a minha alimentação. Segundo, se não
fosse o açude, aqui nós taria tudo morrendo de sede”. (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente
de Taperoá)
“Sim, a água é tudo pra nós. Antes a gente carregava água de longe”. (Pescador, 44 anos,
nível fundamental, residente de Taperoá)
A oferta de água, o sustento econômico e a própria pesca teve expressiva
relevância (Figura 47), acompanhando a tendência de uso da água na Figura 48.
Este resultado descreve a grande importância do Açude Taperoá II para a
comunidade de pescadores, assim como para os demais atores sociais da região
(LACERDA, 2001).
137
Número de pescadores
8
7
6
5
4
3
2
1
Aumento
do número
de peixes
Criação de
animais
Plantio
Pesca
Sustento
econômico
Oferta de
água
0
Número de pescadores
Figura 47. Enumeração dos significados sociais atribuídos ao açude Taperoá II.
7
6
5
4
3
2
1
0
Beber água
Tomar
banho
Uso
doméstico
Cozinha
Higiene
Todos os
fins
Figura 48. Descrição dos múltiplos usos conferidos ao Açude Taperoá II pelos pescadores
artesanais.
Quanto às alterações ambientais sofridas pelo açude no decorrer do tempo,
as respostas sinalizaram para a considerável relação com as alterações climáticas
entre as estações chuvosas e as estações secas, que ocorrem anualmente. As
opiniões eram mais incisivas em relação aos efeitos proporcionados por uma
138
estação seca do que a de uma estação chuvosa, como a queda da profundidade,
menor oferta de peixe e maior quantidade de capim (Figura 49).
Mais peixe
Diminuiu a salobridade
13%
7%
Mais sujo
7%
13%
13%
Mais raso
Mais capim
13%
7%
27%
Menos peixe
Mudança em períodos
de seca e chuva
Sem alterações
Figura 49.. Exibição das alterações ambientais mais
mais conspícuas segundo a visão dos
pescadores artesanais.
Para corroborar com os dados colhidos sobre as modificações periódicas
situadas no açude, o conhecimento sobre os organismos presentes no corpo d’água
e no entorno são relevantes. Alguns pescadores ressaltaram os efeitos positivos da
presença de vegetais aquáticos para a preservação da ictiofauna, mas também
relatam fatores prejudiciais para a pesca. Outra função delegada a este grupo
vegetal é a de ilustrar a ocorrência de aumentos e decréscimos no volume do açude.
“É lodo e pasta demais. Essa época agora é que dá demais. Vai secando e o lodo vai subindo. Ai fica
a sujeira.. (...) O açude tem muito coentro. Aí o peixe não sai. Ajuda o peixe a se esconder”.
esconder
(Pescador, 29 anos, analfabeto)
“(O lodo) atrapalha, se prende na rede e o peixe percebe ou torna a rede muito pesada, chegando a
torá-la”.
la”. (Pescador, 52 anos, fundamental incompleto, residente em Taperoá)
“Dá lodo e coentro demais. Dá mais na seca. Mas nas enchentes, a água limpa tudo ai e pronto”.
pront
(Pescador, 47 anos, semi-analfabeto,
analfabeto, residente em Taperoá)
Em se tratando da mata do entorno, grande parte dos entrevistados opinaram
que não tinha importância para o cotidiano deles (Figura 50). Contudo, o uso das
plantas marginais como madeira e os problemas derivados pela presença da
algaroba (Prosopis juliflora) também são destacáveis. Esta planta exótica é
139
conhecida pelos impactos negativos gerados no solo (LACERDA, 2001), mas, de
acordo com a informação de um pescador, ela interfere na atividade pesqueira.
“O caba num pode botar o material da gente porque é a rede né? Entendeu, nas algaroba, porque
tem muita algaroba dentro. Não dá pra botar de dentro dos paus, que rasga a rede. Tem que sair
desviando entendeu? E ainda rasga muito. Tem que recosturar”. (Pescador, 29 anos, analfabeto,
residente em Taperoá)
Número de pescadores
6
5
4
3
2
1
0
Figura 50. Exposição dos efeitos da mata do entorno do açude Taperoá II para os
pescadores artesanais.
Em relação à qualidade da água, ela foi considerada boa pela maioria dos
pescadores, proporcionando a multiplicidade de usos citados anteriormente (Figura
51). A respeito das propriedades organolépticas da água, existiu uma divisão
aproximadamente
antagônica
de
percepções.
Uma
parte
dos
pescadores
entrevistados afirmou que a água não tinha gosto, cor e cheiro, enquanto outro
grupo informou que a água tem gosto (Figura 52). A salinidade das águas na região
semi-árida é uma característica marcante, conferindo gosto salobro à água em
virtude de solos cristalinos, que carreiam sais minerais para os corpos hídricos em
época chuvosa, e devido à redução do volume da água em época seca, que
concentra os sais minerais já existentes na massa d’ água.
Número de pescadores
140
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Boa
Razoável
Salobra
Ruim de
beber
Salgada
Número de pescadores
Figura 51. Avaliação da qualidade da água por parte dos pescadores do açude Taperoá II
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Tem gosto
Tem cor e gosto
Tem cor
Sem gosto, cor,
e cheiro
Figura 52. Descrição das propriedades organolépticas por parte dos pescadores do açude
Taperoá II
Quanto à ocorrência de doenças na água, 73% dos pescadores entrevistados
afirmaram desconhecer de algum tipo de doença de veiculação hídrica (Figura 53).
Porém, este resultado foi distorcido pelos próprios pescadores, o que é comprovado
pela declaração de um pescador:
“Provavelmente tenha alguém já doente. Só que o pessoal é muito calado. Não sabe dizer o que ta
sentindo ou não”. (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá)
Desta forma, fica comprovada a dificuldade em se obter resultados mais
precisos desta comunidade pesqueira, marcada pela forte dispersão entre os seus
141
integrantes, requisitando do pesquisador um tempo mais duradouro para adquirir a
confiança, se não de todos, mas da maior parte de um conjunto de indivíduos tão
pouco analisados, mas que exercem um importante papel na compreensão eficaz de
ecossistemas hídricos do semi-árido,
semi árido, integrada com a aplicação de ações de manejo
sustentável.
13%
7%
7%
73%
Coceiras
Problemas de pele
Cólera
Não houve doenças
Figura 53. Enumeração das doenças ou sintomas de origem hídrica por parte dos
pescadores do açude Taperoá II
142
5 CONCLUSÕES
A pesca é encarada pelo pescador artesanal como um meio mais seguro de
garantir a sobrevivência de sua família, em função do acesso relativamente
simples ao recurso pesqueiro;
O pescador artesanal do Açude Taperoá II realiza mais de uma atividade
econômica para garantir o sustento de sua família e atua de modo disperso
dos demais pescadores, não havendo no local uma Colônia de Pescadores;
O Açude Taperoá II é uma fonte imprescindível de recusos múltiplos para o
pescador artesanal, de onde tira seu principal sustento.
A experiência na pesca capacitou o pescador artesanal a perceber mudanças
significativas no ambiente ao seu redor e na qualidade da água do açude, o
que faz deste ator social uma das peças-chave para a compreensão da
dinâmica ambiental do Açude Taperoá II.
143
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145
_______________________________________________________________
APÊNDICES
_______________________________________________________________
146
Apêndice 1. Matriz de correlação das variáveis físicas, químicas e biológicas das águas do açude de Soledade, entre os períodos de jan/06 e
dez/06. (p< 0,01)
Vol
Prec
TºC
pH
CE
Tran
PO4
OD
NH3
NO2
NO3
Alc
Cla
Feo
Táx
Den
Div.
Eq.
Dom
Cya.
Chl.
Bac.
Vol.
1,00
Prec
0,47
1,00
TºC
0,20
0,31
1,00
pH
-0,36
0,29
0,03
CE
-0,91
-0,44
0,01
0,24
1,00
Tran.
0,72
-0,09
0,08
-0,79
-0,55
1,00
PO4
-0,90
-0,53
-0,24
0,22
0,79
-0,57
1,00
OD
0,36
0,72
-0,15
0,14
-0,45
0,02
-0,37
1,00
NH3
-0,92
-0,62
-0,28
0,18
0,84
-0,55
0,81
-0,43
NO2
-0,25
-0,32
-0,27
0,08
0,11
-0,31
0,19
-0,29
0,36
1,00
NO3
-0,13
-0,29
-0,37
-0,37
-0,01
0,47
-0,21
-0,16
0,07
-0,02
1,00
Alc.
-0,53
-0,22
-0,04
0,53
041
-0,74
0,36
0,13
0,46
0,13
-0,06
1,00
Cla
-0,56
-0,57
-0,10
0,10
0,64
-0,18
0,46
-0,52
0,62
0,17
0,24
-0,05
1,00
Feof
-0,24
-0,07
0,09
0,01
0,31
-0,09
0,22
-0,07
0,34
-0,05
0,30
0,16
0,50
1,00
Táx.
0,75
0,37
0,32
-0,37
-0,59
0,59
-0,72
0,15
-0,74
-0,23
0,05
-0,56
-0,38
-0,18
1,00
Den.
-0,04
-0,34
-0,16
-0,35
0,06
0,38
0,20
-0,02
0,01
-0,19
0,09
-0,17
0,05
-0,05
-0,17
1,00
Div.
0,29
0,48
0,39
0,26
-0,24
-0,20
-0,44
0,10
-0,35
0,15
-0,17
-0,01
-0,15
-0,07
0,45
-0,87
Eq.
-0,01
0,34
0,31
0,44
0,01
-0,46
-0,18
0,03
-0,05
0,25
-0,13
0,24
0,04
0,04
0,08
-0,91
0,92
1,00
Dom.
0,01
0,35
-0,34
-0,04
-0,04
0,44
0,17
-0,02
0,07
-0,19
0,20
-0,18
-0,05
-0,05
-0,19
0,90
-0,94
-0,97
1,00
Cya.
-0,12
-0,35
-0,17
-0,30
0,12
0,30
0,27
-0,03
0,16
-0,18
0,06
-0,10
0,08
-0,02
-0,23
0,99
-0,89
-0,90
0,89
Chlo.
0,75
0,01
0,09
-0,63
-0,62
0,87
-0,65
0,09
-0,56
-0,14
0,38
-0,64
-0,25
-0,14
0,55
0,41
-0,13
-0,40
0,41
0,32
1,00
Bac.
-0,34
-0,27
-0,39
0,03
0,18
-0,25
0,46
-0,14
0,26
0,27
-0,32
0,13
-0,03
-0,22
-0,37
0,27
-0,41
-0,33
0,37
0,29
-0,30
1,00
Eug.
0,13
0,12
0,29
-0,23
-0,10
0,15
-0,13
0,12
-0,18
-0,14
-0,01
-0,31
-0,09
-0,03
0,32
-0,09
0,21
0,10
-0,12
-0,12
0,23
-0,10
1,00
1,00
LEGENDA:
Vol = Volume
Prec = Precipitação
TºC = Temperatura
pH = Potencial Hidrogeniônico
CE = Condutividade Elétrica
Tran = Transparência
Eq = Equidade
Eug.
PO4 = Ortofosfato Solúvel
NH3 = Amônia
NO2 = Nitrito
NO3 = Nitrato
Alc = Alcalinidade
Cl a = Clorofila a
Feof = Feofitina
Táx = Táxons
Den = Densidade total
Cyal = Cyanobacteria
Chl = Chlorophyceae
Bac = Bacillariophyceae
Eug = Euglenophyceae
Div = Diversidade
1,00
1,00
1,00
147
Apêndice 2. Matriz de correlação das variáveis físicas, químicas e biológicas das águas do açude Taperoá II, entre os períodos de jan/06 e
dez/06. (p< 0,01)
Vol
Prec
TºC
pH
CE
Tran
PO4
OD
NH3
NO2
NO3
Alc
Cla
Feo
Táx
Den
Div.
Eq.
Dom
Cya.
Chl.
Bac.
Vol.
1,00
Prec
-0,37
1,00
TºC
-0,58
0,82
1,00
pH
-0,86
0,46
0,74
CE
-0,85
-0,003
0,26
0,64
1,00
Tran.
0,63
-0,28
-0,37
-0,62
-0,56
1,00
PO4
0,30
-0,23
-0,27
-0,23
-0,18
0,005
1,00
OD
0,22
0,11
-0,06
-0,31
-0,24
0,41
-0,24
NH3
0,10
-0,38
-0,18
0,01
-0,08
0,12
-0,08
0,02
NO2
0,13
-0,19
-0,11
0,03
-011
-0,35
0,21
-0,06
0,55
1,00
NO3
0,28
-0,36
-0,40
-0,24
-0,07
-0,46
0,33
-0,21
-0,0006
0,55
Alc.
0,33
0,15
-0,04
-0,12
-0,40
-0,12
0,26
-0,004
0,18
0,48
0,24
1,00
Cla
-0,59
-0,33
-0,07
0,32
0,74
-0,06
-0,11
-0,14
-0,15
-0,44
-0,27
-0,64
1,00
Feof
-0,60
-0,26
-010
0,24
0,75
-0,26
-0,15
-0,01
-0,28
-0,33
-0,05
-0,47
0,88
1,00
Táx.
0,25
0,07
-0,05
-0,21
-0,33
0,49
-0,07
0,61
-0,11
-0,31
-0,27
-0,29
-0,02
-0,70
1,00
Den.
-0,23
-0,02
0,09
0,13
0,21
0,41
-0,14
-0,07
-0,34
-0,70
-0,61
-0,49
0,60
0,37
0,21
Div.
0,09
-0,01
-0,14
-0,10
-0,07
0,18
-0,26
0,61
-0,16
-0,02
0,07
-0,33
0,06
0,19
0,70
0,06
Eq.
-0,03
-0,06
-0,09
0,01
0,10
-0,05
-0,28
0,44
-0,15
0,19
0,26
-0,23
0,09
0,29
0,34
-0,11
0,91
1,00
Dom.
0,07
-0,14
-0,09
-0,01
-0,07
-0,02
0,28
-0,50
0,33
0,06
-0,09
0,31
-0,11
-0,29
-0,53
-0,04
-0,93
-0,92
1,00
Cya.
-0,75
0,24
0,39
0,60
0,65
-0,28
-0,30
-0,12
-0,44
-0,47
-0,36
-0,43
0,71
0,68
-0,07
0,67
0,08
0,15
-0,23
Chlo.
-0,16
-0,03
-0,04
0,01
0,16
0,39
-0,24
0,31
-0,27
-0,52
-0,49
-0,44
0,50
0,44
0,49
0,70
0,41
0,27
-0,36
0,56
Bac.
0,53
-0,27
-030
-0,47
-0,45
0,81
0,18
-0,03
0,05
-0,38
-0,37
-0,14
-0,02
-0,31
0,28
0,55
-0,16
-0,37
0,27
-0,25
0,25
1,00
Eug.
0,43
-0,08
-020
-0,50
-040
0,67
-0,12
0,53
0,05
-0,21
-0,30
-0,16
-0,13
-0,12
0,70
0,17
0,50
0,26
-0,37
-0,28
0,57
0,43
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
LEGENDA:
Vol = Volume
Prec = Precipitação
TºC = Temperatura
pH = Potencial Hidrogeniônico
CE = Condutividade Elétrica
Tran = Transparência
Eq = Equidade
Eug.
PO4 = Ortofosfato Solúvel
NH3 = Amônia
NO2 = Nitrito
NO3 = Nitrato
Alc = Alcalinidade
Cl a = Clorofila a
Feof = Feofitina
Táx = Táxons
Den = Densidade total
Cyal = Cyanobacteria
Chl = Chlorophyceae
Bac = Bacillariophyceae
Eug = Euglenophyceae
Div = Diversidade
1,00
1,00
1,00
1,00
148
Apêndice 3. Matriz de correlação das variáveis físicas, químicas e biológicas das águas do açude Namorados, entre os períodos de jan/06 e
dez/06. (p< 0,01)
Vol
Vol.
Prec
TºC
pH
CE
Tran
PO4
OD
NH3
NO2
NO3
Alc
Cla
Feo
Táx
Den
Div.
Eq.
Dom
Cya.
Chl.
Bac.
Eug.
PPL
1,00
Prec
0,42
1,00
TºC
-0,59
-0,41
1,00
pH
-0,57
-0,75
0,32
1,00
CE
-0,91
-0,57
0,37
0,63
1,00
Tran.
0,44
-0,37
-0,05
0,16
-0,32
1,00
PO4
-0,06
-0,27
0,45
-0,17
0,05
-0,16
1,00
OD
0,33
0,94
-0,46
-0,65
-0,44
-0,51
-0,19
1,00
NH3
-0,61
0,54
-0,69
-0,60
-0,31
-0,05
-0,31
0,48
1,00
NO2
0,007
-0,18
-0,10
0,27
0,06
0,09
-0,15
-0,13
-0,14
1,00
NO3
-0,015
-0,06
-0,21
0,22
0,10
-0,05
-0,23
0,04
-0,03
-0,11
1,00
Alc.
-0,15
-0,20
0,54
-0,15
0,06
-0,37
0,90
-0,11
-0,38
-0,16
-0,23
Cla
-0,83
-0,38
0,70
0,46
0,65
-0,21
-0,004
-0,37
-0,42
-0,05
-0,01
0,13
1,00
Feof
-0,61
-0,04
0,41
0,27
0,36
-0,30
-0,12
-0,05
-0,22
-0,05
-0,05
0,01
0,61
Táx.
-0,39
-0,03
0,10
0,43
0,34
0,08
-0,59
-0,10
0,01
-0,04
0,13
-0,58
0,36
0,42
1,00
Den.
-0,32
-0,55
0,39
0,33
0,42
0,21
0,46
-0,51
-0,29
-0,07
0,04
0,23
0,38
0,11
0,03
1,00
Div.
-0,26
0,37
-0,16
0,11
0,17
-0,14
-0,74
0,28
0,33
-0,03
0,04
-0,69
0,19
0,38
0,83
-0,32
Eq.
-0,08
0,60
-0,39
-0,14
-0,03
-0,23
-0,72
0,53
0,52
0,03
-0,09
-0,67
-0,01
0,25
0,50
-0,53
0,88
1,00
Dom.
0,16
-0,43
0,30
-0,02
-0,08
0,10
0,79
-0,33
-0,44
-0,05
-0,02
0,77
-0,07
-0,28
-0,71
0,41
-0,97
-0,95
1,00
Cya.
-0,34
-0,50
0,39
0,27
0,40
-0,17
0,70
-0,36
-0,40
-0,03
0,07
0,58
-0,31
0,07
-0,26
0,84
-0,55
-0,66
0,63
1,00
Chlo.
0,20
-0,25
-0,03
0,19
-0,07
0,84
-0,29
-0,37
-0,04
0,03
-0,03
-0,50
-0,06
-0,13
0,25
0,27
0,07
-0,04
-0,10
-0,20
1,00
Bac.
-0,49
-0,40
-0,09
0,49
0,65
0,02
-0,15
-0,30
0,005
-0,08
0,23
-0,29
0,20
0,27
0,43
0,32
0,25
0,10
-0,22
0,15
0,22
1,00
Eug.
-0,09
0,37
0,03
-0,25
-0,07
-0,07
-0,36
0,19
0,47
-0,15
-0,12
-0,33
0,20
0,22
0,47
-0,07
0,59
0,52
-0,57
-0,33
-0,06
-0,03
1,00
PPL
-0,05
-0,41
-0,20
0,47
0,10
-0,21
-0,23
0,23
-0,19
-0,16
-0,10
-0,11
-0,05
0,08
0,27
-0,24
0,17
0,11
-0,11
-0,07
-0,22
0,10
-0,14
1,00
1,00
1,00
LEGENDA:
Vol = Volume
Prec = Precipitação
TºC = Temperatura
pH = Potencial Hidrogeniônico
CE = Condutividade Elétrica
Tran = Transparência
Eq = Equidade
PO4 = Ortofosfato Solúvel
NH3 = Amônia
NO2 = Nitrito
NO3 = Nitrato
Alc = Alcalinidade
Cl a = Clorofila a
Feof = Feofitina
Táx = Táxons
Den = Densidade total
Cyal = Cyanobacteria
Chl = Chlorophyceae
Bac = Bacillariophyceae
Eug = Euglenophyceae
Div = Diversidade
PPL = Produção Primária Líquida
1,00
149
APÊNDICE 4 – Modelo de questionário semi-estruturado
Questionário nº _____
Data: 09/11/2007
Características sócio-ambientais dos pescadores do Açude Taperoá II:
1.Nome:_____________________________________Apelido:________________________
2. Sexo : M( ) F( )
3. Idade:_______________
3. Naturalidade:______________________________________________________________
4. Escolaridade: ( )analfabeto ( )apenas escreve o nome ( )apenas lê ( )lê e escreve
( )1º grau incompleto ( )1º grau completo ( )2º grau incompleto ( )2º grau completo ( )Superior
Incompleto ( )Superior Completo
5. Estado civil: ( )Solteiro
( ) Casado
( )Viúvo
( )Separação legal
( )Outros:___________________________________________________________________________
6. Tem filhos? Quantos? _______________________________________________________
7.O Sr.sempre trabalhou na pesca? ( )Sim
( )Não
7.1. Se a resposta é negativa, qual(is) atividade(s) exercia?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
8. Tempo na pesca: ( )1-10anos
( )Mais de 50 anos
( )11-20anos
( )21-30anos
( )31-40anos
( )41-50anos
9. Com quem o Sr. aprendeu a pesca? ( )Com parentes ( ) Com pescadores mais experientes
( )Outros:___________________________________________________________________________
10. Quantos dias por semana o Sr. sai para pescar?( )1-2dias
( )5-6dias
( )Todos os dias
11. O Sr.(a) vende o peixe pescado? Sim (
) Não (
( )3-4dias
)
12. Quanto o Sr(a) ganha por mês com a pesca? ( )Até R$200,00
( ) R$ 201,00-R$ 300,00
( )R$ 301,00-R$400,00
( ) R$ 401,00-R$500,00
( )Mais de R$ 500,00:______________________
13. O(a) senhor(a) recebe algum auxílio do governo?( )aposentadoria
( )bolsa família
( )nenhum auxílio
( )outros___________________________________________________________
13.1. Se a resposta é positiva, quanto é pago ao Sr.(a)?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
14. O(a) senhor(a) faz parte de alguma associação? Sim ( ) Não(
)
___________________________________________________________________________________
15. Quais são os tipos de pescado?Curimatã ( ) Tillápia ( ) Carpa ( ) Traíra ( ) Piau
( )Outros____________________________________________________________________________
16. Como o(a) senhor(a) pesca o peixe?
150
Rede de pesca ( ) Tarrafa (
) Outros (
) ______________________________________________
17. O(A) senhor(a) pesca outro animal? Sim ( ) Não ( )
Qual(is)?____________________________________________________________________
18. Os pescadores ficam mais perto ou longe da barragem? Sim (
) Não (
)
19. Qual é o tipo de isca?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
20. Além da pesca, o(a) senhor(a) faz outra atividade?
Sim( ) Não( ) ____________________________________________________________
21. O açude é importante para o(a) senhor(a)? Por quê?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
22. O(A) senhor(a) pesca no rio Taperoá? Sim( ) Não( ) Por quê?__________________
________________________________________________________________________
23. O açude está diferente ao que era no passado?Por quê?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
24. O(a) senhor(a) usa a água do açude para alguma atividade?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
25. A água do açude é boa?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
26. A água tem gosto, cheiro, cor?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
27. A água do açude causa alguma doença?Qual?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
28. Dá lôdo ou pasta no açude? Sim( ) Não(
)
29. O lôdo atrapalha ou ajuda na pesca?Por quê?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
30. A mata em volta do açude tem alguma importância para o(a) senhor(a)?Por quê?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________