Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
Transcrição
Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
1 ROGÉRIO DE SOUSA ANDRADE DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE ÁGUA E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES DA BACIA DO RIO TAPEROÁ UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA João Pessoa 2008 2 UFPB UEPB UESC ESC UFAL UFS UFRN UFS UFPI UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO PÓS GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ROGÉRIO RIO DE SOUSA ANDRADE DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE ÁGUA E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES DA BACIA DO RIO TAPEROÁ João Pessoa-PB 2008 3 ROGÉRIO DE SOUSA ANDRADE DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE ÁGUA E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES DA BACIA DO RIO TAPEROÁ Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção de grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. José Etham de Lucena Barbosa João Pessoa 2008 4 ROGÉRIO DE SOUSA ANDRADE DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON, QUALIDADE DE ÁGUA E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES EM AÇUDES DA BACIA DO RIO TAPEROÁ Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção de grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Aprovado em: ____/____/________ BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Prof. Dr. José Etham de Lucena Barbosa Orientador ___________________________________________________ Prof. Dra. Célia Regina Diniz Examinadora ___________________________________________________ Prof. Dr. Francisco José Pegado Abílio Examinador João Pessoa 2008 5 RESUMO Embora apareçam novas formas de uso da água doce, estas atividades ainda possuem características fragmentadas, que dão margem à existência de conflitos entre diversos usuários e, conseqüentemente, a uma pressão crescente sobre o potencial hídrico. A adoção da qualidade ecológica das águas e a classificação e os critérios de enquadramento dos corpos hídricos surgiram gradualmente como um sinal de mudança na abordagem dos instrumentos reguladores de gerenciamento das águas continentais. Dentre tais parâmetros, o entendimento da composição e da ecologia do fitoplâncton tem grande relevância, porque podem ser indicadores eficientes das alterações naturais ou antrópicas nos ecossistemas aquáticos. O objetivo principal deste trabalho foi o de determinar o nível de qualidade ecológica de três açudes da bacia do rio Taperoá – Soledade, Taperoá II e Namorados – que se expressou no diagnóstico físico-químico das águas e no levantamento qualitativo e quantitativo da flora ficológica. Além disso, seguiu-se um trabalho de identificação e análise da percepção ambiental da comunidade de pescadores artesanais do açude Taperoá II, através de entrevistas que procuraram revelar as experiências e os significados que o açude tenha despertado no referido grupo. As coletas foram realizadas com freqüência bimensal durante o ano de 2006, seguindo-se o ciclo pluviométrico da região, com a finalidade de caracterizar precisamente os períodos de seca e de chuva. Para cada açude estudado foram coletadas amostras da zona litorânea e de quatro compartimentos da zona pelágica, em função da extinção da luminosidade (superfície, 50% de luz, 1% de luz e zona afótica). No tocante à análise físico-química e na dinâmica do fitoplâncton, verificou-se que todos os açudes estudados demonstraram uma considerável influência de flutuações temporais em detrimento das alterações espaciais, em virtude da ocorrência de períodos de estiagem e de precipitação nos três açudes estudados. Apesar de realizarem outras atividades econômicas, o pescador do açude Taperoá II tem na atividade pesqueira um meio mais seguro de garantir a sobrevivência de sua família, devido ao acesso relativamente simples do recurso pesqueiro. Palavras-chave: qualidade ecológica, fitoplâncton, percepção ambiental 6 ABSTRACT Althought there are new ways of freshwater usage, these activities are still having shared characteristics, that make happen struggles among several users and, consequently, an increasing demanding on hydrologic resources. The adoption of environmental quality on the water and the classification and the framing criteria in the water bodies have raised gradually as a sign of a changing in the regulatory procedures of freshwater management. Among such parameters, the understanding of composition and the ecology of phytoplankton has great importance, because it can be efficient indicators of natural or antropic variations in aquatic ecosystems. The main purpose of this study was to obtain the environmental quality of three dams located on Taperoá river basis – Soledade, Taperoá and Namorados – based on physical and chemical analysis and qualitative and quantitative phytoplanktonic survey. Beyond that, there were a investigation and analysis of environmental perception of fishery community from Taperoá II dam, through inverviews that intended to reveal raised experiences and meanings. The samplings were carried out with bimonthly frequency during 2006 year, following the pluviometric features, so that to characterize rainy and dry seasons. For each studied dam was collected samples on littoral point and four divisions on pelagic zone, based on light extinction (surface, 50% light, 1% light and aphotic zone). About physical and chemical analyzis and phytoplankton dynamics, all studied dams showed a remarkable influence of seasonal variation, despite of spatial changings, due to dry and rainy seasons on the three aquatic ecosystems. The fisher character from Taperoá II dam considers fishery a safety way to gather to his family and to himself a survivor, due to easier access to fishery resource, but he can come true other economic jobs. Key - words: Environmental ecology, phytoplankton, environmental perception 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL......................................................................14 OBJETIVOS.......................................................................................17 ÁREA DE ESTUDO............................................................................18 REFERÊNCIAS..................................................................................21 CAPÍTULO 1: DIAGNÓSTICO LIMNOLÓGICO DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA BACIA DO RIO TAPEROÁ...................................22 1. Resumo...........................................................................................23 2. Introdução.......................................................................................24 3.Material e Métodos...........................................................................27 4. Resultados e Discussão.................................................................30 5. Conclusões......................................................................................73 6. Referências.....................................................................................75 CAPÍTULO 2: DIVERSIDADE FICOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA BACIA DO RIO TAPEROÁ....................................78 1. Resumo...........................................................................................79 2. Introdução.......................................................................................80 3.Material e Métodos..........................................................................82 4. Resultados e Discussão.................................................................86 5.Conclusões....................................................................................118 6. Referências...................................................................................120 CAPÍTULO 3: PERCEPÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES DO AÇUDE TAPEROÁ II.................................124 1. Resumo.........................................................................................125 2. Introdução.....................................................................................126 3.Material e Métodos.........................................................................128 4. Resultados e Discussão................................................................130 5.Conclusões.....................................................................................142 6. Referências....................................................................................143 APÊNDICES......................................................................................145 Apêndice1..........................................................................................146 Apêndice2..........................................................................................147 Apêndice3..........................................................................................148 Apêndice4..........................................................................................149 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Taperoá e sua inserção na geografia geografia regional..........................................................................................11 Figura 2. Precipitação pluviométrica e do volume do açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006 e série histórica de chuvas ocorridas entre 1996 e 2006.................................23 Figura 3. Variação da transparência da coluna d’ água do açude Soledade, açude Taperoá II e açude Namorados durante o ano de 2006....................25 Figura 4. Variação da temperatura subaquática medida no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006................................................................................................28 Figura 5. Variação do pH medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006...........................................30 Figura 6. Variação da condutividade elétrica medida no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006................................................................................................33 Figura 7. Variação da alcalinidade medida no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006..................35 Figura 8. Variação do oxigênio dissolvido medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006.......38 Figura 9. Variação do nitrogênio inorgânico total medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006...................................................................................40 Figura 10. Variação do íon amônio medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006........42 Figura 11. Variação do íon nitrito medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006....................44 Figura 12. Variação do íon nitrato medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006........46 Figura 13. Variação do ortofosfato solúvel medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006........48 Figura 14. Variação do IET medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006....................54 9 Figura 15. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o Açude Soledade em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.......................................58 Figura 16. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o Açude Taperoá II em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.......................................60 Figura 17. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o Açude Namorados em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II.......................................62 Figura 18. Descrição do número (A) e do percentual (B) de táxons pertencentes a cada classe para os açudes Soledade, Taperoá II e Namorados entre o período de jan/06 e dez/06.......................................81 Figura 19. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06.............................................................................................83 Figura 20. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06.......................................................................................84 Figura 21. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1) e as densidades das Cyanophyceae (A) e Chlorophyceae (B) do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06..............................85 Figura 22. Porcentagem das espécies abundates do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06..............................................................85 Figura 23. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06.............................................................................................87 Figura 24. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06........................................................................................88 Figura 25. Porcentagem das espécies abundantes do açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06...............................................................89 Figura 26. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06.......................................................................................91 10 Figura 27. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06........................................................................92 Figura 28. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1) e as densidades das Cyanophyceae (A) e Euglenophyceae (B) do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06...........................92 Figura 29. Porcentagem das espécies abundates do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06.................................................................94 Figura 30. Análises de regressão linear simples entre diversidade específica com equidade, riqueza de táxons, dominância e densidade total referentes aos açudes Soledade, Taperoá II e Namorados entre o período de jan/06 e dez/06..........................................97 Figura 31. Variação temporal da diversidade da comunidade fitoplanctônica de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06: (A) açude Soledade, (B) açude Taperoá II e (C) açude Namorados...............................................................98 Figura 32. Correlação entre equidade e dominância de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06: (A) açude Soledade, (B) açude Taperoá II e (C) açude Namorados................................................................................99 Figura 33. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de jun/06..............100 Figura 34. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de mar/06.............101 Figura 35. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de mar/06..........102 Figura 36. Variação vertical/temporal das concentrações de clorofila-a (µg/l) dos açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e Namorados (C) entre o período de jan/06 e dez/06....................................104 Figura 37. Variação vertical/temporal das concentrações de feofitina (µg/l) dos açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e Namorados (C) entre o período de jan/06 e dez/06.....................................104 Figura 38. Produtividade primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06..............................................................106 11 Figura 39. Descrição da faixa etária dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá..................................................................................127 Figura 40. Descrição do tempo de exercício na pesca com os pescadores entrevistados na cidade de Taperoá........................................128 Figura 41. Descrição do nível de escolaridade dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá............................................................128 Figura 42. Estado civil dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá....................................................................................................129 Figura 43. Número de filhos dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá...................................................................................................129 Figura 44. Atividades econômicas alternativas dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá............................................................131 Figura 45. Ganhos financeiros com a venda de peixe............................................131 Figura 46. Descrição dos auxílios financeiros do Poder Público para os pescadores entrevistados na cidade de Taperoá...........................132 Figura 47. Enumeração dos significados sociais atribuídos ao açude Taperoá II.....................................................................................134 Figura 48. Descrição dos múltiplos usos conferidos ao Açude Taperoá II pelos pescadores artesanais.......................................................................134 Figura 49. Exibição das alterações ambientais mais conspícuas segundo a visão dos pescadores artesanais..............................................................135 Figura 50. Exposição dos efeitos da mata do entorno do açude Taperoá II para os pescadores artesanais...................................................................136 Figura 51. Avaliação da qualidade da água por parte dos pescadores do açude Taperoá II....................................................................................137 Figura 52. Descrição das propriedades organolépticas por parte dos pescadores do açude Taperoá II.................................................................137 Figura 53. Enumeração das doenças ou sintomas de origem hídrica por parte dos pescadores do açude Taperoá II............................................138 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Tabela de amostragem da coleta vertical.................................................18 Tabela 2. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Soledade (em metros)..................................................................26 Tabela 3. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Taperoá II (em metros).................................................................26 Tabela 4. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Namorados (em metros)...............................................................26 Tabela 5. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do Açude Soledade – PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006.....................49 Tabela 6. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do Açude Taperoá II – PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006..........................................................50 Tabela 7. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadasmnas águas do Açude Namorados – PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006.........................................51 Tabela 8. Correlações das variáveis do açude Soledade com os componentes principais I e II.........................................................................57 Tabela 9. Correlações das variáveis do Açude Taperoá com os componentes principais I, II e III....................................................................59 Tabela 10. Correlações das variáveis do açude Namorados, com os componentes principais I e II.....................................................................61 Tabela 11. Inventário taxonômico das classes de algas fitoplanctônicas identificadas em três ecossistemas da bacia hidrográfica do rio Taperoá entre o período de janeiro e dezembro de 2006.......................76 Tabela 12. Resultados da ANOVA realizada com os dados de densidade total (ind/ml) para estabelecer a significância das variações temporais, espaço/horizontais e espaço/verticais de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06.......................................94 13 Tabela 13. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal dos Índices de Diversidade de Shannon-Weaver de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06.......................................................................................96 Tabela 14. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das concentrações de clorofila-a (µg/l) de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06...............103 Tabela 15. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das concentrações de feofitina (µg/l) de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06................103 Tabela 16. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal da produtividade primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06......................................................................106 Tabela 17. Produção primária líquida (PPL) do açude Namorados (mgC/m3 / h-1) entre os período de jan/06 e dez/06.................107 14 1 INTRODUÇÃO GERAL Na proporção em que transcorre a evolução da sociedade, aparecem novas formas de uso da água doce. Hoje em dia, além do abastecimento doméstico e produção agropastoril, os recursos hídricos são largamente utilizados para a geração de energia elétrica, abastecimento industrial e atividades recreativas. Com isso, a quase totalidade das atividades humanas torna-se cada vez mais dependente da disponibilidade das águas continentais (ESTEVES, 1998). Tais atividades resultam em uma multiplicidade de impactos, exigindo diferentes tipos de avaliações qualitativas e quantitativas e monitoramento adequado e de longo prazo (TUNDISI, 2003). Contudo, o manejo dos corpos hídricos está atrelado a uma visão antropocêntrica da relação do homem com o meio natural. Para satisfazer suas necessidades básicas, a sociedade relegou a um papel secundário a importância da biota aquática, isto é, a retirada da água para o consumo humano, durante décadas, não considerou as alterações que atingem as comunidades de plantas, animais, e de microrganismos que habitam o meio aquático. Um fato de grande relevância é o nível de eutrofização dos corpos d´água. Um ambiente aquático é eutrófico quando apresenta uma quantidade excessiva de nutrientes, em especial compostos nitrogenados e fosfatados, que contribuem na degradação do equilíbrio ecológico e na qualidade da água. O processo de eutrofização pode ocorrer naturalmente, sem a influência humana, ou por ação antrópica, causada pela deposição de material poluente (BRANCO,1986; ESTEVES, 1998). Percebe-se, então, que nossa sociedade ainda não está preparada suficientemente para um uso sustentável dos recursos hídricos, cujas formas de utilização tradicionalmente apresentam características fragmentadas, que dão margem à existência de conflitos entre diversos usuários e, conseqüentemente, a uma pressão crescente sobre o potencial hídrico. Segundo Lacerda (2003), para evitar ou minimizar a ocorrência de conflitos de uso ou efeitos danosos, o gerenciamento integrado dos recursos hídricos tem elevada importância. Recentemente, existem sinais de uma mudança gradual na abordagem dos instrumentos reguladores de gerenciamento das águas continentais A qualidade ecológica das águas continentais é um conceito que tem conquistado espaço 15 paulatinamente. Segundo a Diretiva 2000/60 da Comunidade Européia, conhecida como Diretiva da Qualidade de Água, a qualidade ecológica de um corpo d´água descreve o seu estado ecológico, mediante parâmetros hidromorfológicos, físicoquímicos e biológicos. No Brasil, a Resolução 357/2005 do CONAMA, que trata da classificação e dos critérios de enquadramento dos corpos hídricos, guarda algumas similaridades com a diretiva européia, mas ainda existem poucos estudos que relacionem o conceito de qualidade ecológica com os atuais parâmetros de potabilidade, bem como a valorização do conhecimento sobre os corpos aquáticos usado pelas comunidades que habitam o entorno dos sistemas hídricos. Em se tratando dos ecossistemas aquáticos localizados no semi-árido brasileiro, a baixa pluviosidade, taxas intensivas de evapotranspiração e a elevada degradação da vegetação e do solo e a presença de núcleos de miséria influenciam na dinâmica do metabolismo e na qualidade de suas águas. Dias (2003) cita que a grande maioria dos 259 pequenos açudes da sub-bacia do Rio Taperoá, são temporários, tanto pela irregularidade das chuvas e acentuada evaporação, como pela retirada de água para consumo humano e dessendentação de animais, o que acarreta ao esgotamento destes ambientes durante os períodos de estiagem. Acredita-se que estudos relacionados com a qualidade ecológica provavelmente darão subsídios para um diagnóstico mais acurado sobre a qualidade da água e a oferta de usos múltiplos de um manancial, o que fortalece as ações de conservação e de manejo. Dentre os parâmetros adotados para a o diagnóstico da qualidade da água, o entendimento da composição e da ecologia do fitoplâncton têm grande relevância (BRANCO,1986; TUNDISI, 2003; BRAGA et al.,2002), pois o conhecimento da coexistência de grande número de espécies de algas e dos fatores desencadeadores dos mecanismos que interferem na distribuição espacial e temporal destes organismos revestem-se de significativa importância para que se tenha uma compreensão adequada da estrutura dessa comunidade, bem como de sua dinâmica. As flutuações temporais e espaciais na composição e biomassa algal podem ser indicadores eficientes das alterações naturais ou antrópicas nos ecossistemas aquáticos (BARBOSA, 2002). Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo principal relacionar o comportamento ecológico do fitoplâncton com a qualidade da água de três corpos hídricos que integram a Bacia do rio Taperoá – açude Taperoá II, açude Namorados e açude Soledade. Para isto, foram descritos os codeterminantes físicos e físico- 16 químicos das águas estudadas e os atributos quantitativos e qualitativos da comunidade fitoplanctônica dos três ecossistemas. Além disso, houve a busca e a análise do saber compartilhado pela comunidade de pescadores a respeito da qualidade da água e da diversidade de usos empregados no Açude Taperoá II. Esta dissertação está dividida em três capítulos: a primeira parte discorre a respeito das características físicas e físico-químicas dos três reservatórios estudados, em termos de variações temporais e espaciais ao longo da coluna da água. O segundo capítulo trata da identificação e dos processos ecológicos da flora ficológica, tendo em vista suas oscilações espaciais e temporais e relacionando-as à variabilidade das condições ambientais. Por último, o capitulo terceiro, que expõem o conhecimento e a multiplicidade de usos do açude Taperoá II pela comunidade de pescadores que habitam o seu entorno. 17 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Determinar o nível de qualidade ecológica dos mananciais aquáticos da bacia do rio Taperoá e sua relação com a qualidade de água desses ecossistemas. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Descrever as características físicas e físico-químicas das águas dos açudes, com ênfase nas estações de seca e de chuva; • Realizar um levantamemento dos fatores qualitativos e quantitativos da flora ficológica do três açude estudados; • Identificar a percepção dos pescadores artesanais no que se refere à qualidade de água do Açude Taperoá II, seguida da descrição de indicadores sócio-econômicos. 18 3 ÁREA DE ESTUDO A bacia hidrográfica do rio Taperoá situa-se na parte central do Estado da Paraíba, na região fisiográfica da Borborema Central, na microrregião homogênea dos Cariris Velhos, com vegetação predominante do tipo Caatinga. Está entre as coordenadas geográficas 6o51’S e 7o32’S de latitude Sul e 36o15’W e 37 o15’W de longitude Oeste. Os seus limites ocorrem com as bacias do Espinharas e do Seridó a Oeste, com a do Alto Paraíba ao sul, com as bacias do Jacu e Curimataú ao norte, e com a bacia do Médio Paraíba a leste. Seu principal rio é o Taperoá, de regime intermitente, que nasce na Serra de Teixeira e desemboca no rio Paraíba, no açude de Boqueirão – Presidente Epitácio Pessoa. A bacia drena uma área aproximada de 7.316 Km2 e recebe contribuições de cursos d’água como os rios São José dos Cordeiros, Floriano, Soledade e Boa Vista e dos riachos Carneiro, Mucuim e da Serra (PARAÍBA, 1997). A bacia do rio Taperoá (Figura 1) abrange os municípios de: Taperoá, Olivedos, Soledade, Gurjão, São José dos Cordeiros, Desterro, Salgadinho e Livramento, além de partes dos seguintes municípios: Juazeirinho, Passagem, Junco do Seridó, Cabaceiras, São João do Cariri, Serra Branca, Teixeira, Sumé e Campina Grande. O solo da bacia é predominantemente do tipo Bruno não cálcico, pouco profundo e litólico e a pluviosidade da região é uma das menores do estado, com uma média da ordem de 300 mm/ano. O clima da região é do tipo sub-desértico quente de tendência tropical e caracteriza-se por apresentar temperaturas médias em torno de 25º C, com estação seca muito prolongada, superior a 8 meses. 19 A. Taperoá II A. Soledade A. Namorados Figura 1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Taperoá e sua inserção na geografia regional. As coletas foram realizadas nos seguintes açudes: Açude Soledade - situado no município de mesmo nome, sobre o planalto da Borborema, a 530 m acima do nível do mar. Sua posição geográfica é 7º 2' S e 36º 22' W. Represa o riacho Macaco, com alguns pequenos tributários. A construção da barragem foi finalizada em 1933, com com uma capacidade de 27.804.000 m3 e uma área de 541 ha., sendo utilizado para a irrigação e abastecimento d'água do município de Soledade (MELO & CHACON, CHACO 1976). Açude Taperoá II – (latitude 07° 11’44’’ S a 07° 13’ 44’’ S e longitude 36° 52’ 03’’ W a 36° 50’ 09’’ W) fica situado próximo à sede municipal de Taperoá a 578 m de altitude, é destinado principalmente ao abastecimento desta população e se enquadra entre os cinco maiores açudes da Bacia do Rio Taperoá, possui capacidade de acumulação de 15.148.900 m3, profundidade máxima de 5,7 metros e média de 1,4 metros e uma área de 466 ha (PARAÍBA, 1997) Açude Namorados - localiza-se na porção central do Estado da Paraíba ( 07º 23’ 02.6” S e 36º 31’ 51.1” W)) nas proximidades da cidade de São João do 20 Cariri. Seu surgimento deve-se ao represamento do riacho Namorados, em 21 de março de 1935. A capacidade total de acumulação do ambiente é de 2.118.980 m³ (CAGEPA, 2005), com profundidade máxima de 6 m e média de 2,3 m. 21 3 REFERÊNCIAS BARBOSA, J.E.L. Dinâmica do fitoplâncton e condicionantes limnológicos na escala de tempo (nictimeral/sazonal) e de espaço (horizontal/vertical) no açude Taperoá II: trópico semi-árido nordestino. Tese de doutorado, UFSCar, São Carlos – SP, 201p., 2002. BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. BRANCO, S.M. Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária. 3ª ed. São Paulo: CETESB/ASCETESB, 1986. DIAS, J.B. Codeterminantes biológicos da comunidade fitoplanctônica e fatores limnológicos no açude Taperoá II, semi-árido paraibano: 2003, 65p. Monografia, (Bacharel e licenciatura em Ciências Biológicas) - Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande. ESTEVES, F.A. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro, Interciência/FINEP, 575, 1998. MELO, H.A.R. & CHACON, J. O. Exame biologic-pesqueiro do açude público “Soledade’ (Soledade, PB) Brasil. Boletim Técnico do DNOCS, Fortaleza, v. 34, n. 1, p. 3-26, 1976. PARAÍBA, Secretaria de Planejamento. Avaliação da infra-estrutura hídrica e do suporte para o sistema de gerenciamento de recursos hídricos do Estado da Paraíba. João Pessoa, SEPLAN, 1997, 144 p. TUNDISI, J.G. Água no Século XXI: Enfrentando a escassez. São Carlos: RiMa,IIE, 2003,248p. 22 CAPÍTULO 1 DIAGNÓSTICO LIMNOLÓGICO DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA BACIA DO RIO TAPEROÁ ___________________________________ 1 ANDRADE, R. S. & BARBOSA, J. E. 1 Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio-Ambiente/PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Professor Títular do Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. E-mail: [email protected] 2 23 1 RESUMO Conhecer as principais funções de força climatológicas e operacionais dos reservatórios é um passo importante para ações de recuperação e de gestão adequada dos mesmos. Em especial, os açudes nordestinos, dos quais a presença de agregados humanos depende exclusivamente, apresentam o agravante de estarem localizados em uma região caracterizada por chuvas irregulares e elevada evapotranspiração. O objetivo deste trabalho foi diagnosticar as características limnológicas de três açudes localizados na bacia do rio Taperoá – açude Soledade, açude Taperoá II, açude Namorados – através da flutuação temporal e espacial para os referidos açudes. As coletas foram realizadas com freqüência bimensal, iniciando em janeiro de 2006 e que terminou em dezembro de 2006, seguindo-se o ciclo pluviométrico da região, com a finalidade de caracterizar precisamente os períodos de seca e de chuva. Para cada açude estudado foram coletadas amostras da zona litorânea e de quatro compartimentos da zona pelágica, em função da extinção da luminosidade (superfície, 50% de luz, 1% de luz e zona afótica). Os dados obtidos foram: precipitação pluviométrica, temperatura e transparência da água, pH , condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, nutrientes inorgânicos (nitrogênio inorgânico total, amônia, nitrito, nitrato e ortofosfato solúvel), e índice de estado trófico (IET). Além do uso dos métodos estatísticos descritivos e a análise de variância (ANOVA), foi requisitado a análise de componentes principais (ACP). Embora os ecossistemas em estudo estejam contidos em uma bacia hidrográfica de extensão relativamente pequena, a distribuição inconstante das chuvas no espaço e no tempo exerceu forte influência na particularização das características físicoquimicas de cada ambiente. Todas as variáveis limnológicas não apresentaram significância espacial considerável, mas demonstraram variações bem expressivas no decorrer dos meses de coleta. O açude Soledade foi o que apresentou o nível de trofia mais elevado, devido às concentrações mais intensas de clorofila-a, que diminuíram a emissão de radiação subaquática. O pequeno porte do açude Namorados tornou baixa a sua capacidade de diluição, mas a reduzida transparência tornou o ambiente improdutivo e oligotrófico. Taperoá II tem maior porte, mas os altos valores da transparência diminuem a zona afótica do açude, reduzindo também seu nível trófico. O uso da ACP para os três ecossistemas corroborou os resultados obtidos pela ANOVA, isto é, houve pouca variabilidade espacial no sistema e variações sazonais significativas, que se manifestaram na ocorrência de períodos de estiagem com períodos de chuva. Palavras-chave: eutrofização, caracterização limnológica, semi-árido. 24 1 INTRODUÇÃO A ação humana inconsequente sobre os corpos aquáticos continentais tem favorecido alterações causadoras de interferências no que diz respeito ao uso da água. Fontes de enriquecimento tais como descargas domésticas e industriais e águas residuárias urbanas e agrícolas têm restringido drasticamente o tempo de vida útil destes ecossistemas. O desequilíbrio inevitável provocado por essa interferência nas bacias de drenagem dos ecossistemas aquáticos repercute sobre o fenômeno de envelhecimento natural destes corpos, substituindo-o por modificações relativamente instantâneas e de difícil reversão, caracterizando assim, a eutrofização antrópica. Este fenômeno compromete a qualidade do ambiente para com as formas de vida que de alguma maneira estão ligadas a ele. Umas das principais conseqüências da eutrofização é um desequilíbrio da homeostase. Em ecossistemas aquáticos, homeostase é caracterizada pelo equilíbrio entre a produção de matéria orgânica, consumo e decomposição. Semelhante desequilíbrio ecológico está unido com mudanças metabólicas no ecossistema como um todo e modifica a comunidade lacustre, ou seja, modificações na dominância e abundância de espécies (MARIANE et al., 2006). Diversos eventos que vão desde o aumento populacional, utilização excessiva de recursos, desenvolvimento tecnológico e a globalização cada vez mais intensa, tem causado mudanças globais marcantes (STRASKABA & TUNDISI, 1999), as quais refletem na qualidade dos recursos hídricos para seus mais diferentes usos. As atividades humanas levam a usos múltiplos dos recursos hídricos, os quais embora variem com a ocupação da bacia de drenagem e com a organização econômica e social da região, geram impactos e deterioram a qualidade da água interferindo também em sua quantidade disponível (LINS, 2006). A recuperação e os usos adequados dos ecossistemas dependem, evidentemente, do conhecimento básico das principais funções de força que determinam sua estrutura e funcionamento (BICUDO,1999). A gestão de reservatórios pode ser considerada como a gestão de sistemas complexos com estados transientes e respostas diversificadas às funções de forças climatológicas e operacionais, acrescidas dos impactos e usos múltiplos nas bacias hidrográficas e das demandas de água (TUNDISI, 2005). 25 De acordo com Straskraba et al. (2005), um fundamento importante na gestão de represas é considerar que os reservatórios, individualmente ou em cascata, não apresentam respostas lineares a funções de forças climatológicas e operacionais, bem como impactos múltiplos nas bacias hidrográficas.Barbosa (2005) propõe que a gestão sustentável de recursos hídricos deve ser vista como dimensão capaz de solucionar o problema da escassez, através de procedimentos integrados de administração e planejamento, sem a degradação do meio ambiente, e levando em consideração outras dimensões sistêmicas. No Nordeste brasileiro, a grande maioria dos mais de 70.000 açudes existentes é usada para abastecimento, para culturas de vazante, para irrigação e para pesca. Durante a seca, principalmente no semi-árido nordestino, muitas comunidades dispõem unicamente da água dos açudes compartilhados com animais e parasitas. A zona semi-árida da Paraíba, onde está o maior número absoluto de habitantes no estado, possui uma população marcada por condições de insustentabilidade, tanto econômica como social (LACERDA et al., 2006). Esta região caracteriza-se por uma má distribuição de recursos e falta de conhecimentos de suas potencialidades. A bacia hidrográfica do rio Taperoá, que compõe praticamente 40% em área da bacia do rio Paraíba, possui grande maioria dos açudes com potencial hídrico em condição temporária, tanto pela irregularidade das chuvas e acentuada evaporação, como também pela retirada de água para consumo humano e dessedentação de animais, fatores que levam geralmente estes ambientes a seu esgotamento durante os períodos de estiagem. Esta bacia conta hoje com cerca de 259 açudes (DIAS, 2003), apresentando no total uma capacidade de acumulação da ordem de 71 milhões de m3 .Entretanto, mais de 60% deste potencial concentra-se em apenas quatro açudes, entre eles o açude Taperoá II e o açude Soledade. A região, além de contar com um dos maiores bolsões de pobreza do Nordeste, com níveis de escolaridade e saneamento básico abaixo dos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (IBGE, 2000), constitui-se de grande complexidade climática, contando com a menor média pluviométrica do País, em torno dos 350 mm de chuvas ao ano e uma evapotranspiração anual em torno de 2000 mm, o que lhe confere um índice de aridez menor que 0,20 colocando-a na classificação de clima árido. 26 Deste modo, os açudes desta região semi-árida se destacam como ecossistemas de relevância fundamental na manutenção de comunidades vegetais e animais, especialmente agregados humanos, tanto por serem considerados elos fundamentais no ciclo da água, como por ser um reflexo evidente das condições ambientais da região, tais como tipo de solo, bacia de drenagem, influência antrópica e variações climáticas. Assim a proposta descrita neste capítulo foi a de diagnosticar as características limnológicas de três açudes localizados na sub-bacia do rio Taperoá – açude Soledade, açude Taperoá II, açude Namorados – através da flutuação temporal e espacial para os referidos açudes, para que se tenha uma noção mais precisa sobre a influência dos períodos de estiagem e de chuva nos atributos físicos e químicos nos três açudes acima elencados. 27 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Épocas e Locais de Coleta As coletas foram realizadas com freqüência bimensal, seguindo-se o ciclo pluviométrico da região, de modo que, após um ano, se caracterize com distinção os períodos de seca e de chuva. As amostragens foram realizadas em cada ambiente de modo a se caracterizar os compartimentos do ecossistema da zona limnética, ou seja, águas de superfície, de profundidade (Tabela 1), e da zona afótica pelágica. Tabela 1. Pontos de amostragem da coleta vertical PONTOS PROFUNDIDADES Ponto 1.1 SUPERFÍCIE Ponto 1.2 50% DE LUMINOSIDADE Ponto 1.3 1% DE LUMINOSIDADE (zona de compensação) Ponto 1.4 PROFUNDIDADE MÁXIMA DO AMBIENTE 2.2 Precipitação Pluviométrica Os dados de precipitação pluviométrica para os açudes em estudo foram fornecidos pela Agência Estadual de Saneamento Ambiental – AESA. 2.3 Parâmetros Limnológicos 2.3.1 Temperatura da água: A temperatura da água foi determinada com oximetro da marca Schott Glasnert, modelo 65719. 2.3.2 Transparência da água: Foi obtida através da leitura do desaparecimento e aparecimento do disco de Secchi, de cor branca e preta, e 30 cm de diâmetro, suspenso por uma corda previamente marcada de 10 em 10 cm. 28 As profundidades e o coeficiente de atenuação foram obtidos a partir da fórmula: Z= (-loge.f)(k-1) onde: Z= profundidade (m) Loge= Logaritimonatural f= (Iz)(I0)= fator entre 0 e 1 k= coeficiente de atenuação = 1,7/Secchi 2.3.3 Potencial hidrogeniônico (pH): determinou-se através de um medidor de pH digital portátil, marca COLE-PARMER 2.3.4 Condutividade elétrica: usou-se um condutivímetro digital portátil, marca COLE-PARMER. 2.3.5 Oxigênio dissolvido: foi determinado utilizando-se o método de Winkler descrito em Golterman et al. (1978). 2.3.6 Nutrientes inorgânicos: As amostras para as análises de nutrientes inorgânicos, após a coleta, foram filtradas, colocadas em frascos de polietileno e congeladas, para posterior análise. As concentrações de amônio foram determinadas pelo método colorimétrico, do fenol utilizando-se um espectofotômetro Micronal, modelo B-572, seguindo as técnicas descritas no Standard Methods (APHA, 1992). As concentrações de nitrito forma determinadas pelo método colorimétrico, segundo Standard Methods (APHA, 1992). As concentrações de nitrato dissolvidos na água foram determinadas pelo método de redução do nitrato a nitrito por meio de uma coluna de cádmio, conforme descrito no Standard Methods (APHA, 1992). O fosfato inorgânico dissolvido foi determinado pelo método do fósforo reativo solúvel, descrito em Mackereth et al.(1978) com as medidas de absorbância 29 realizadas num espectrofotômetro Micronal B-382, à 880 nm de comprimento de onda. 2.4 Parâmetros Biológicos 2.4.2 Índice de Estado Trófico (IET) Diversos pesquisadores afirmam que as variáveis físicas e químicas refletem as condições da água no momento da coleta, enquanto que as variáveis biológicas representam as pressões ambientais presentes e passadas. O aumento do conteúdo orgânico determina a substituição da biota primitiva por outra que indica a nova situação; dessa forma o conhecimento das comunidades aquáticas permite identificar alterações da qualidade da água, inclusive depois do desaparecimento do agente poluente. A proposta deste índice está sendo de, através das diversas categorias de discriminadores ambientais que utilizam variáveis físicas, químicas e biológicas na avaliação da qualidade da água, definir um conjunto de parâmetros indicadores que possibilite a elucidação da tipologia da água do reservatório proporcionando uma adequada e fiel avaliação das condições ambientais do ecossistema. Para este estudo utilizou-se o Índice de Estado Trófico proposto por Toledo et al. (1983). 2.5 Tratamento estatístico dos dados e análise multivariada Foi feita a análise da estatística descritiva dos dados, com cálculos da média aritmética com medida de tendência central. O grau de dispersão absoluta dos dados foi medido através do desvio padrão (DP) e como medida de dispersão relativa foi aplicada o coeficiente de variação de Pearson (CV). A fim de medir o grau de relacionamento linear das variáveis limnológicas entre si, foram aplicadas matrizes de correlação para obter o coeficiente de correlação r (Pearson). A análise de variância de uma via (ANOVA) foi utilizada para cada variável limnológica, com a finalidade de estabelecer comparações entre as diferentes estações de coleta, profundidades e épocas de amostragem. Foram realizadas análises multivariadas a partir da análise de componentes principais, originalmente desenvolvida por K. Pearson em 1901 para proporcionar a possibilidade de comparações entre épocas e 30 ecossistemas, na tentativa de resumir a dimensionalidade das inúmeras variáveis aqui tratadas (TUNDISI, 1981; MATSUMURA-TUNDISI et al., MAGALEF, 1975), para então poder-se avaliar os padrões de similaridade por um número menor de variáveis (BICUDO, 2004). O programa utilizado foi o STATISTICA 7. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 DESCRIÇÃO DO CICLO HIDROLÓGICO A bacia do Rio Taperoá, a exemplo das demais bacias hidrográficas localizadas em regiões semi-áridas, tem a estação chuvosa e a estação de estiagem como fenômenos climáticos bem distintos (BARBOSA, 2002). O período de ocorrência das chuvas para os três reservatórios iniciou em fev/06 e terminou em jun/06. Entretanto, foram constatadas variações na intensidade e no perfil da distribuição pluviométrica entre os três reservatórios (Figura 2). O açude Soledade caracterizou-se por um crescimento gradativo em sua pluviosidade e uma abrupta redução, preconizando o início da estação chuvosa. Os meses chuvosos acumularam 364,3 mm, e abril/06 foi o mês mais representativo. Durante o ano estudado, não foram detectadas chuvas muito intensas ( x = 72,86mm; CV = 44,52%), que também se mostraram irregulares quanto à distribuição temporal. Foi registrada uma forte diminuição na quantidade de água armazenada, com uma média de 27,65% de sua capacidade máxima de armazenamento. Contudo, não foram observadas variações expressivas em seu volume (CV = 15,53%). Em se tratando do açude Taperoá II, o comportamento pluviométrico destoou em relação aos demais reservatórios: os meses chuvosos receberam um aporte pluvial considerável, e que foram determinantes para a elevação da precipitação ( x = 193,8mm; CV=56,23%), que acumulou 969mm, com maior expressividade em março/06. A partir deste mês, o volume acumulado alcançou a sua máxima capacidade, e que perdurou até o primeiro mês da estação seca. Com a chegada desta estação, o volume do reservatório sofreu uma redução mais suave, mas que obteve uma queda mais acelerada entre set/06 e dez/06. 31 Quanto ao açude Namorados, o padrão pluviométrico manifestou-se mais brando e instável nos primeiros meses, que não ultrapassou 100mm. Entretanto, o mês de jun/06, por agregar uma carga pluviometria mais significativa, influenciou o comportamento geral das chuvas ( x = 79,40mm; CV=78,96%) e a precipitação acumulada da estação chuvosa (397mm). O volume das águas do açude Namorados também foi sensível a este fato, chegando ao patamar de até 41,3% de sua capacidade total, mas que também sofreu diminuições progressivas durante os meses da estação seca. A partir daí, podem ser feitas as seguintes considerações: apesar dos corpos hídricos estudados possuírem estações de seca e de chuva bem definidas, e de guardarem distância relativamente próxima entre si, os padrões de pluviosidade e o volume armazenado engendraram diferenças nas características físico-química da água, e que podem influenciar nas dinâmicas ecológicas particulares para cada ambiente. A comparação dos dados de precipitação dos ecossistemas em estudo com a série histórica 1996-2006 reforçou a irregularidade na distribuição espacial e temporal das chuvas. Embora os ecossistemas em estudo estejam contidos em uma sub-bacia de extensão relativamente pequena, a distribuição inconstante das chuvas no espaço e no tempo exerce forte influência na particularização das características físico-quimicas de cada ambiente. Este fenômeno pode influenciar nas diferenças da composição e da quantidade da biota aquática, em especial a comunidade fitoplanctônica. O açude Soledade refletiu um comportamento similar a muitos açudes do semiárido nordestino, onde as taxas de evaporação superam as de precipitação e acarretam em perdas no volume de água armazenada. O açude Taperoá II, contudo, apresentou padrões distintos na estação seca e na estação chuvosa, que culminou com o volume máximo produzido no período. O açude Namorados também expôs diferenças marcantes entre as duas estações, mas a época de estiagem foi dominante e restringiu o período chuvoso a um único mês. No tocante a profundidade máxima dos três corpos hídricos, ocorreu variação em torno de 5 a 6,5 metros, que os caracterizam como reservatórios rasos. 32 A 400 27 24 Precipitação 2006 300 Precipitação 1996-2006 250 Volume 2006 21 3 18 12 150 6 15 200 X 10 m mm 350 9 100 6 50 3 0 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Meses 350 14 300 12 250 Precipitação 2006 10 3 16 200 Precipitação 1996-2006 8 6 400 Volume 2006 150 6 100 4 50 2 0 X 10 m mm B 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Meses C 20 18 Precipitação 1996-2006 16 Volume 2006 14 350 300 12 5 mm 250 x 10 m Precipitação 2006 3 400 200 10 8 150 6 100 4 50 2 0 0 jan fev mar abr mai jun jul Meses ago set out nov dez Figura 2. Precipitação pluviométrica e do volume do açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006 e série histórica de chuvas ocorridas entre 1996 e 2006. 33 3.2 DETERMINANTES FÍSICOS E QUÍMICOS DOS AÇUDES 3.2.1 PROPRIEDADES ÓPTICAS DA ÁGUA A transparência medida pelo disco de Secchi é função, essencialmente, da reflexão da luz na superfície do corpo d’água e é, por isso, influenciada pelas características da absorção da água e da matéria orgânica nela dissolvida ou em suspensão (WETZEL, 1993). O grau de penetrabilidade da luz em uma massa d’ água constitui fator de primordial importância ecológica. A realização da fotossíntese está na dependência direta da quantidade bem como da qualidade da luz que atinge os organismos fotossintetizantes (BRANCO,1986). As águas de Soledade exprimiram reduções graduais na transparência da água no decorrer dos meses coletados ( x = 0,26cm; CV =48,25%). O mês de janeiro manifestou maior transparência e o menor valor foi registrado no mês de dezembro (Figura 3). A correlação negativa com os teores de pH (r = -0,79; p<0,01) e a alcalinidade (r = - 0,74; p<0,01) são fatores que reforçaram a elevada turbidez da coluna d’água. Acredita-se que o volume reduzido e relativamente estável no decorrer do tempo possa ter determinado uma intensa concentração de material em suspensão, embasados pela correlação negativa do volume com a condutividade elétrica (r = - 0,55; p<0,01), e os teores de amônia (r = -0,55; p<0,01) e fosfato solúvel (r = -0,57; p<0,01). Quanto à biomassa algal, não foi percebida nenhuma relação significativa com a variação da transparência da água, uma vez que a concentração de clorofila-a mostrou-se elevada e constante durante todo o tempo de estudo (Capítulo 2), embora já se saiba da influência que as concentrações de algas acarretam na transparência. O açude Taperoá II ( x = 0,83cm; CV = 46,89%) manifestou redução considerável na transparência da água nos meses de jan/06 e de mar/06. Contudo, os meses de jun/06 e jul/06 alcançaram valores bem elevados (1,3 e 1,35 metro, respectivamente), seguida de uma notável redução nos demais meses. Percebeuse correlações negativas envolvendo a precipitação e o volume acumulado, mas de reduzida significância. Correlações de baixa relevância foram observadas nos demais atributos físico-químicos, exceto pelo elo existente da transparência com a quantidade de Euglenophycea. organismos pertencentes às classes Bacillariophycea e 34 Figura 3. Variação da transparência da coluna d’ água do açude Soledade, açude Taperoá II e açude Namorados durante o ano de 2006. O açude Namorados ( x = 0,49; CV = 84,29%) mostrou valores abaixo de 0,6 metro nos meses de grande estiagem, com exceção do mês de julho, cuja transparência alcançou 1,3 metro. Este fenômeno está interligado com as intensas chuvas ocorridas no mês anterior. Após o seu término, as águas tornaram-se mais calmas. Em ambos os açudes, a combinação existente entre precipitações elevadas e aumento proporcional do volume ditou o poder de diluição e de concentração de material dissolvido e particulado nos mesmos. Especialmente em Taperoá II, houve intensa recarga hídrica, principalmente entre os meses de março a junho, responsável pelo volume máximo alcançado no período. Desta forma, houve diluição de material orgânico dissolvido e da biomassa algal, tornando o corpo d’ água mais susceptível a radiações solares com diversos comprimentos de onda. 35 Tabela 2. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Soledade (em metros) jan/06 mar/06 jun/06 jul/06 set/06 dez/06 Média DP CV Zmax 5 5.52 5.2 4.7 5.35 4.32 5.02 0.44 8.85 Secchi 0.50 0.25 0.24 0.22 0.20 0.14 0.26 0.12 48.25 K 3.40 6.80 7.08 7.73 8.50 12.14 7.61 2.83 37.18 Zeu 1.35 0.68 0.65 0.59 0.54 0.38 0.70 0.34 48.25 Zaf 3.65 4.84 4.55 4.11 4.81 3.94 4.32 0.49 11.38 Zeu:Zaf 0.37 0.14 0.14 0.14 0.11 0.10 0.17 0.10 60.38 Zeu:Zmáx 0.27 0.12 0.12 0.13 0.10 0.09 0.14 0.07 47.75 Tabela 3. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Taperoá II (em metros) jan/06 mar/06 jun/06 jul/06 set/06 dez/06 Média DP CV Zmax 2.20 4.95 6.10 6.20 6.10 4.46 5.00 1.55 30.97 Secchi 0.70 0.45 1.30 1.35 0.55 0.65 0.83 0.39 46.89 K 2.43 3.78 1.31 1.26 3.09 2.62 2.41 0.99 41.09 Zeu 1.89 1.22 3.51 3.65 1.49 1.76 2.25 1.05 46.89 Zaf 0.31 3.74 2.59 2.56 4.62 2.71 2.75 1.45 52.58 Zeu:Zaf 6.10 0.33 1.36 1.43 0.32 0.65 1.70 2.21 130.32 Zeu:Zmáx 0.86 0.25 0.58 0.59 0.24 0.39 0.48 0.24 49.12 Tabela 4. Descrição temporal da profundidade máxima, transparência, coeficiente de atenuação, e da extensão da zona eufótica e afótica do açude Namorados (em metros) jan/06 mar/06 jun/06 jul/06 set/06 dez/06 Média DP CV Zmax 2.27 2.80 6.40 6.50 5.70 3.60 4.55 1.88 41.41 Secchi 0.30 0.30 0.20 1.30 0.50 0.32 0.49 0.41 84.29 K 5.67 5.67 8.50 1.31 3.40 5.31 4.98 2.43 48.76 Zeu 0.81 0.81 0.54 3.51 1.35 0.86 1.31 1.11 84.29 Zaf 1.46 1.99 5.86 2.99 4.35 2.74 3.23 1.62 50.18 Zeu:Zaf 0.55 0.41 0.09 1.17 0.31 0.32 0.48 0.37 78.58 Zeu:Zmáx 0.36 0.29 0.08 0.54 0.24 0.24 0.29 0.15 51.98 36 3.2.2 TEMPERATURA SUBAQUÁTICA O comportamento térmico de um sistema hídrico possui função indispensável na caracterização e na velocidade de seus processos metabólicos, uma vez que funciona como uma matriz segundo a qual os demais parâmetros se ajustam (BARBOSA, 1981). Diferenças na temperatura geram camadas com diferentes densidades, que influenciam na solubilidade dos gases e na decomposição da matéria orgânica (BRANCO,1986; LINS, 2002). O açude Soledade ( x = 26,08°C; CV = 5,09%) não apresentou oscilações térmicas significativas tanto entre a zona pelágica e a zona litorânea, quanto entre a coluna d’água (Tabela 5), exceto pela variação observada ao longo dos meses coletados. Tal característica também foi observada em Taperoá II ( x = 26,07°C; CV = 5,2%) e em Namorados ( x = 25,49°C; CV = 3,5%). A temperatura máxima de Soledade foi 31,2°C no mês de mar/06, e a mínima, 23,9°C, no mês de set/06. A coluna d’água de Soleda de sofreu expressivo aquecimento e formação de microestratificações térmicas nos dois primeiros meses, seguida de arrefecimento e diferença reduzida da temperatura entre a superfície e o fundo do açude nos dois meses posteriores (Fig.4A). Este comportamento esteve atrelado às estações de estiagem e de chuvas neste local, que exerceram controle no perfil térmico deste ecossistema. No açude Taperoá II, cuja temperatura máxima foi 31,25°C em março e 24°C de temperatura mínima no mês de set/06, variações térmicas semelhantes ao de Soledade foram registradas (Figura 4B). Contudo, a precipitação mais elevada nos meses chuvosos (ma/06 e jun/06), em consórcio com a força dos ventos, contribuiu decisivamente para a ruptura da estratificação térmica. Este fenômeno foi bem caracterizado nos meses de jun/06 e jul/06, que possuíram amplitudes térmicas de 0,3°C e 0,2°C, respectivamente. Em relação ao açude Namorados, a temperatura máxima foi de 26,8°C em março, e temperatura mínima de 23,5°C no mês de jun ho, com amplitude térmica de 3,3°C, a menor registrada em comparação com os dema is ecossistemas (Figura 4C). Apesar das oscilações térmicas mensais serem determinadas por variações na pluviosidade, a coluna d’água de Taperoá II mostrou-se mais homogênea em períodos chuvosos do que em Soledade e em Namorados. Este fato pode estar 37 Meses Jan/06 100% Mar/06 Jul/06 Jun/06 Set/06 Dez/06 °C 28.20 27.80 27.40 27.00 50% %Luz 26.60 26.20 25.80 25.40 25.00 1% 24.60 24.20 23.80 23.40 Zmax 23.00 A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 100% °C 28.20 27.80 27.40 27.00 50% %Luz 26.60 26.20 25.80 25.40 25.00 1% 24.60 24.20 23.80 23.40 Zmax 23.00 B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 °C 28.20 27.80 27.40 27.00 50% %Luz 26.60 26.20 25.80 25.40 25.00 1% 24.60 24.20 23.80 23.40 Zmax 23.00 C Figura 4. Variação da temperatura subaquática medida no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006. 38 associado com a elevada pluviosidade registrada e com a força dos ventos, que movimentaram as massas de água o suficiente para homogeneizar termicamente a água. 3.2.3 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (pH) Na maioria das águas naturais, o pH é influenciado pela concentração de íons + H originados da dissociação do ácido carbônico (H2CO3), que gera valores baixos de pH e das reações de íons carbonato (CO32-) e bicarbonato (HCO3-) com a molécula de água, que elevam os valores de pH para a faixa alcalina. A formação do ácido carbônico se dá através da difusão do gás carbônico (CO2) em água. As principais fontes de CO2 à água são a atmosfera, chuva, águas subterrâneas, decomposição e respiração de organismos (TALAMONI et al, 2006). A variação do pH esteve associada às chuvas e a variação de volume para os três ambientes. O reservatório Soledade foi o ambiente de maiores valores de pH seguido do açude Taperoá e pelo Namorados. O açude Soledade, com média geral de 9,3 (DP=0,1; CV=8%), caracterizouse por ser dentre os três reservatórios o de menor amplitude tanto espacial quanto temporal não passando de 0,5 (Figura 5A). Este fato deve-se, apesar de ser este reservatório o de maior porte, estar com a menor acumulo relativo de água, influenciando na concentração de carbonatos e bicarbonatos (SUASSUNA, 1999). As precipitações funcionaram mais como um efeito carreador de material alóctone que de diluição como se pode perceber na pouca variação de seu volume (Figura 2A). A correlação positiva do pH com a alcalinidade (r =0,53; p<0,01), influenciada pela presença de carbonatos, pode comprovar a ocorrência deste fenômeno. A composição do solo da região, e seu baixo potencial em armazenar água (SOUZA et al, 2004) implicam em um solo rico em concentrações de carbonatos que aumentam o pH. Bem como, além de constantes, os altos valores de pH também são um reflexo da atividade fotossintética, considerando os altos valores de biomassa fitoplanctônica encontrados no açude, aumentando o consumo de gás carbônico no ambiente tornando um ambiente extremamente alcalino como observou Leite et al (2002) na variação do pH em uma lagoa do Rio Grande do Sul. 39 Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 pH 100% 9.30 9.10 8.90 8.70 50% % Luz 8.50 8.30 8.10 7.90 7.70 1% 7.50 7.30 7.10 6.90 6.70 Zmax 6.50 A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 pH 100% 9.30 9.10 8.90 8.70 50% 8.50 % Luz 8.30 8.10 7.90 7.70 1% 7.50 7.30 7.10 6.90 6.70 Zmax 6.50 B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 pH 9.30 9.10 8.90 % Luz 50% 8.70 8.50 8.30 8.10 7.90 1% 7.70 7.50 7.30 7.10 6.90 6.70 Zmax 6.50 C Figura 5. Variação do pH medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006. 40 A média geral no açude Taperoá foi de 8,1 (DP=0,15; CV=1,8%). Para este açude, a variação temporal foi bem expressiva (F=11, p=0,01) em detrimento da espacial, e os maiores valores foram encontrados nos primeiros meses, antecedendo as chuvas (max = 8,7 no mês de março), corroborando com a explicação do fator de diluição que por sua vez associa-se ao aumento de clorofila-a devido à concentração também de íons e moléculas de nutrientes (BARBOSA, 2002). Com comportamento semelhante ao açude Taperoá, mas com valores mais reduzidos ( x =7,3; DP=0,2; CV=2,7), o açude Namorados apresentou pH ácido no mês de junho devido diminuição da biomassa e aumento do volume (Figura 2C). A entrada de material alóctone segundo Talamoni et al (2006) diminui o pH também pelo aumento da decomposição daquele. Os ambientes no geral foram alcalinos, por ocasião de secas prolongadas os açudes nordestinos podem apresentar valores superiores acima de 9 e íons de carbonato e bicarbonato são os responsáveis por altos valores, os quais aumentam a alcalinidade. O ambiente natural, via de regra, não apresenta pH neutro, sendo fortemente influenciado por sais, ácidos e bases presentes no meio (ESTEVES, 1998). 3.2.4 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA A condutividade elétrica é a habilidade ou capacidade da água em conduzir a corrente elétrica, devido à concentração dos íons presentes. Esta composição é influenciada pela geologia da bacia de drenagem, bacia de acumulação do ecossistema lacustre, bem como a água da chuva (PINTO-SILVA, 2002). A condutividade elétrica foi medida com os maiores valores no açude Soledade, seguido pelo açude Taperoá e Namorados. O açude Soledade com média de 1846,2 µSi.cm-1 (DP=483,6; CV=26,2%), esteve com pouca variação espacial (na coluna de água), ao passo que pode-se observar uma variação temporal expressiva na figura 6A. Este reservatório conta com as maiores taxas de evaporação por ter uma área maior exporta as altas taxas de radiação da região. Soma-se a este fato a característica dos solos da região que são problemáticos tanto do ponto de vista físico quanto do geoquímico (solos parcialmente salinos, solos carbonáticos) e ausência de rios perenes, sobretudo no que se refere às drenagens autóctones. A despeito do caráter intermitente dos rios 41 regionais, a drenagem extensivamente aberta para o mar impediu a formação, em larga escala, de solos verdadeiramente salinos, sobretudo nas vertentes e nos interflúvios. Os sais dissolvidos das rochas cristalinas (predominantes no substrato geológico local) são quase totalmente evacuados pelo fluxo das águas na estação chuvosa, havendo saída dos materiais solúveis para todos os quadrantes costeiros da região. A construção de açudes contribui para a salga das águas retidas (AB'SABER, 2007). Os valores máximos para a condutividade elétrica neste reservatório foram obtidos no mês de dezembro (máx. = 2690,0 µSi.cm-1) com a diminuição do volume do açude que provocou a concentração dos íons dissolvidos na água. O açude Taperoá não seguiu o mesmo padrão temporal que o açude Soledade, tendo seus valores máximos no mês de janeiro (máx. = 960 µSi.cm-1) antes da ocorrência das chuvas. Com uma média de 499,2 µSi.cm-1, pode-se observar na figura 6B os menores valores deste reservatório em relação ao anterior citado. Este açude recebeu maior aporte de água de acordo com as taxas de precipitação (Figura 2B) e seu volume esteve em ascendência em boa parte do estudo perdendo nos meses secos menos volume do que o acumulado. Com a menor amplitude temporal (amplitude= 211 µSi.cm-1) dos três açudes o reservatório de Namorados foi caracterizado também com a menor média do estudo ( x = 169,6 µSi.cm-1; DP = 63,7; CV=37,6%). Embora tenha estado com os menores valores de transparência e de clorofila a, indicando material em suspensão, este material não contribuiu para a condutividade, indicando ser este material em sua maioria proveniente da argila do solo. A argila diminui a condutividade elétrica, pois é um material isolante ao meio. Segundo AB'Saber (2007) na realidade, os terrenos que constituem a região semi-árida nordestina, em áreas de vertentes e interflúvios das colinas sertanejas, possuem uma complexa associação regional de solos, totalmente diversa de todos os outros conjuntos existentes no país. Sua especificidade decorre da presença de solos igualmente distanciados, tanto dos solos salinos típicos quanto dos excessivamente carbonáticos. No entanto, não fora o caráter aberto das redes hidrográficas intermitentes do Nordeste seco, as conseqüências para a formação de solos inadequados seriam muito maiores, com a possibilidade de formação de terrenos extensivamente salinos ou carbonáticos. O açude Namorados faz parte de um sistema de cascatas em que ele é o barramento final de açudes anteriores, 42 Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 uS/cm 100% 2480.00 2280.00 2080.00 50% 1880.00 % Luz 1680.00 1480.00 1280.00 1080.00 1% 880.00 680.00 480.00 280.00 Zmax 80.00 A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 uS/cm 100% 2480.00 2280.00 2080.00 50% 1880.00 % Luz 1680.00 1480.00 1280.00 1080.00 1% 880.00 680.00 480.00 280.00 Zmax 80.00 B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 uS/cm 2480.00 2360.00 2240.00 2120.00 2000.00 1880.00 1760.00 1640.00 1520.00 1400.00 1280.00 1160.00 1040.00 920.00 800.00 680.00 560.00 440.00 320.00 200.00 80.00 % Luz 50% 1% Zmax C Figura 6. Variação da condutividade elétrica medida no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006. 43 sendo então um reflexo de toda a cascata esta inativa na maior parte de sua existência devido irregularidade das chuvas da região, impedindo o contado com os outros reservatórios menores e o transporte de sais entre estes. 3.2.5 ALCALINIDADE O dióxido de carbono é relativamente abundante na água, na forma gasosa ou dissolvida, e de que carbonatos são comumente encontrados no solo em todo o mundo, a maioria das águas interiores contém alcalinidade devida ao bicarbonato (WETZEL, 1993). A alcalinidade da água é função, principalmente, de três principais classes de compostos: os hidróxidos, os carbonatos e os bicarbonatos; em ordem crescente de sua associação com os altos valores de pH. Os sais de ácidos fracos e bases fortes responsáveis pela alcalinidade da água agem como tampões, resistindo à queda de pH resultante da adição de ácidos (SAYWER et al, apud TALAMONI et al, 2006). O açude Soledade foi o reservatório de maiores valores para a alcalinidade ( x =53,3 mgCaCO3/L; DP=9,5; CV=25,1%) estando este mais altos no período posterior às maiores taxas de precipitação e nos meses considerados mais secos para a região (máx.= 80 mgCaCO3/L em dezembro), como mostra a figura 6. Logo se pode constatar uma oscilação temporal de seus valores na coluna de água. O primeiro acréscimo para o parâmetro aqui discutido, durante as chuvas e após as chuvas, mostra que o açude Soledade não teve efeito diluidor, houve carreamento de material alóctone como já foi discutido nas considerações sobres o pH, funcionando então como um fator de acréscimo para a concentração de íons, mais que diluidor. Este fato pode ser confirmado com a observação da transparência da água (Figura 3). O segundo acréscimo ocorrido em dezembro tem-se como base a diminuição do seu volume, já que se trata do período mais quente e seco para a região favorecendo o aumento das taxas de evaporação. O contrario ocorreu com os reservatórios de Taperoá e Namorados. O açude Taperoá, com média geral de 25,1 mgCaCO3/L (DP= 9,8; CV= 39,3%) foi caracterizado por dois períodos de diminuição e dois de aumento da alcalinidade intercalados, sendo o ambiente de menores valores para a alcalinidade. 44 Meses Jan/06 Mar/06 Jul/06 Jun/06 Set/06 Dez/06 mgCaCO3/L 100% 75.00 70.00 65.00 60.00 50% 55.00 % Luz 50.00 45.00 40.00 35.00 30.00 1% 25.00 20.00 15.00 10.00 5.00 Zmax 0.00 A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 mgCaCO3/L 100% 75.00 70.00 65.00 60.00 50% 55.00 % Luz 50.00 45.00 40.00 35.00 30.00 1% 25.00 20.00 15.00 10.00 5.00 0.00 Zmax B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 mgCaCO3/L 75.00 70.00 65.00 60.00 50% 55.00 % Luz 50.00 45.00 40.00 35.00 30.00 25.00 20.00 15.00 10.00 5.00 Zmax 0.00 C Figura 7. Variação da alcalinidade medida no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006. 45 No entanto observa-se, de acordo com a análise das Figuras 2B e 7B que o volume de água recebido pelas precipitações foi um fator de diluição, devido à diminuição dos valores de alcalinidade após o período chuvoso. O açude Namorados foi o, com média de 26,1 mgCaCO3/L (DP = 1,3; CV = 5%). Este reservatório, segundo a figura 6 C foi o de menor variação espacial, não apresentando microestratificações. Pôde-se observar também o efeito diluidor no mês de junho causado pelo volume de água acumulado no mês anterior e o conseqüente aumento de volume. Todos os açudes sofreram redução de volume nos últimos meses do ano amostrado. Segundo a ANOVA (TABELA 5, 6 e 7) os valores de alcalinidade foram significantes somente em sua variação temporal. Segundo Suassuna (1999) estudos têm demonstrado que 40% das águas de um pequeno açude ou barreiro se perdem para a atmosfera pelo fenômeno da evaporação que, na região, chega a atingir patamares da ordem de 2000 mm anuais, sendo em maiores proporções para o açude Soledade devido a sua extensão em área, volume e espelho d’água, pois representa quase 50% da capacidade hídrica de sua bacia (PARAÍBA, 2004). Logo, observa-se esta dinâmica. Logo se tem na evaporação a causa do aumento da alcalinidade dos açudes no mês de dezembro. Já no início de do estudo se tem valores também relativamente baixos que além do fator de concentração devido a ausência de chuvas, observaram-se também neste período as maiores concentrações de clorofila a. Nesta situação o consumo de gás carbônico pelo fitoplâncton promove a converção dos carbonatos para manter o equilíbrio entre o gás e os sais (WETZEL, 1993), diminuindo assim a alcalinidade do ambiente. 3.2.6 OXIGÊNIO DISSOLVIDO Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio (O2), é um dos mais importantes na dinâmica a na caracterização de ecossistemas aquáticos. A atmosfera e a fotossíntese são as principais fontes de oxigênio para a água. Por outro lado, as perdas são pela decomposição de matéria orgânica (oxidação), perdas para a atmosfera, respiração de organismos aquáticos e oxidação de íons metálicos (ESTEVES, 1998). O açude Soledade esteve com os valores de oxigênio dissolvido (Figura 8A) mais elevados nos meses antecedentes as chuvas sendo o valor mais alto obtido no 46 mês de março na superfície do reservatório (max.= 12,5 mg/L) seguindo o padrão da clorofila-a (Capítulo 2) e considerada a média da coluna de água. Com uma média geral de 6,4 mg/L (DP=1,58; CV=24,5%), o oxigênio dissolvido variou com amplitudes na coluna de água menores que 3 mg/L, estando o reservatório bem oxigenado o ano todo. Esta é uma característica encontrada nos três açudes, por terem profundidades relativamente baixas. Os maiores valores para as concentrações de oxigênio dissolvido ocorreram no geral antes do início do período chuvoso, pois com as chuvas é provável a diminuição da transparência, interferindo nas taxas fotossintéticas e, portanto nas concentrações de oxigênio (ESTEVES, 1998). Observou-se perfis clinogrados antes e durante as chuvas e de forma geral correlações foram pouco expressivas com a temperatura no açude Soledade. Esta característica é própria de ecossistemas aquáticos tropicais, onde a alta luminosidade influencia mais que a temperatura, por esta se encontrar bem homogênea na coluna de água (TOWNSEND, 2006). No entanto, a relação da radiação subaquática com o oxigênio foi vista como inversamente proporcional como se pode observar no açude Taperoá (Figura 3 e 8B) onde os valores mais elevados para o oxigênio dissolvido ( x =6,12; DP=0,9; CV.=15,42) ocorreram no período de baixa transparência da água. Logo se pode dizer que concentração de nutrientes, em função da redução do volume do reservatório no inicio do estudo, e os conseqüentes elevados valores de clorofila a, são a causa dos altos valores do oxigênio dissolvido devido ao aumento da produtividade (BARBOSA, 2003). Para o açude de Namorados (Figura 8C) observou-se padrão semelhante ao açude Taperoá. Os máximos valores também foram encontrados nos primeiros meses do estudo (máx. = 9 mg/L) e os valores mais baixos (mín.= 3,82 mg/L) foram medidos nos meses de maior taxa de precipitação (Figura 2C). A diferença entre os dois açudes é que em Namorados as maiores concentrações de oxigênio dissolvido se deram a 1% de luminosidade. Este açude é um reservatório de baixa transparência (Figura 3) devido a seu menor porte e sua baixa capacidade de diluição, sendo dentre os três ecossistemas o de menor média geral ( x =5,6 mg/L; PD=1,27; CV=22,78%). A afirmação de Townsend (2006) de que os lagos são ambientes altamente dinâmicos, onde as condições de equilíbrio são raras, propõem a causa para as concentrações elevadas de oxigênio dissolvido maiores profundidades do açude devido as estratificações e desestratificações nas 47 Meses Jan/06 Mar/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 mg/L 100% 12.00 11.00 10.00 9.00 50% % Luz 8.00 7.00 6.00 5.00 1% 4.00 3.00 2.00 1.00 Zmax 0.00 A Meses Jan/06 Mar/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 100% mg/L 12.00 11.00 10.00 9.00 % Luz 50% 8.00 7.00 6.00 5.00 1% 4.00 3.00 2.00 1.00 Zmax 0.00 B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 mg/L 12.00 11.00 10.00 50% 9.00 % Luz 8.00 7.00 6.00 5.00 1% 4.00 3.00 2.00 1.00 Zmax 0.00 C Figura 8. Variação do oxigênio dissolvido medido no açude Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006. 48 diárias característica de ecossistemas límnicos de climas semi-áridos somadas a uma baixa penetração de luz no ecossistema em questão. O horário de coleta pode ter influenciado neste resultado, uma vez que a amostragens neste ambiente foram feitas sempre às 5:00 h estando sob influencia ainda de um das condições noturnas do ambiente. Diniz (2006) constatou maior mistura da coluna de água em reservatório tropical pela parte da noite. 3.2.7 NITROGÊNIO INORGÂNICO TOTAL As concentrações de nutrientes na coluna de água de um reservatório refletem , de modo geral, além dos processos físicos, também o balanço entre as variações temporais das taxas de absorção e mineralização. Assim, os conhecimentos dos padrões de variação temporal das concentrações ambientais de nutrientes constituem ferramentas importantes para a compreensão da dinâmica ecológica de um sistema aquático e, mais especificamente de suas interações bióticas (CALIJURI, 1999) Barbosa et al, (1998) ressalta que é inconcebível estabelecer estratégias de manejo viando a conservação e a recuperação de ecossistemas aquáticos sem conhecer o balanço de massas de Nitrogênio e fósforo, uma vez que o acúmulo desses nutrientes é a principal causa da eutrofização. O nitrogênio exerce um dos papeis mais importantes na manutenção do metabolismo de sistemas aquáticos, visto que é um macro nutriente constituinte das células de todos os seres vivos, utilizado na síntese de DNA , RNA e proteínas, além de limitante a produção primária (ENRICH-PRAST, 2005). Sendo encontrada de diversas formas no ambiente, das quais o nitrato assume junto com amônio grande importância nos ecossistemas aquáticos, pois representam as principais fontes de nitrogênio para os produtores.. O Açude Soledade apresentou os maiores concentrações de nitrogênio ( x =74,18; EP=15,84; DP= 77,52) em detrimento aos Açudes Taperoá II ( x = 18,14; EP= 3,43; DP=16,81) e Namorados ( x =9,84; EP= 1,36; DP= 6,65). A variação espaço-temporal na distribuição das formas nitrogenadas ocorreu de forma semelhante nos três ecossistemas em estudo, onde observou-se aumento na concentração do nitrogênio ao longo do período amostrado, em especial após o 49 Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 100% ug/L 340.00 320.00 300.00 280.00 260.00 240.00 220.00 200.00 180.00 160.00 140.00 120.00 100.00 80.00 60.00 40.00 20.00 0.00 % Luz 50% 1% Zmax A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 100% ug/L 300.00 285.00 270.00 255.00 240.00 225.00 210.00 195.00 180.00 165.00 150.00 135.00 120.00 105.00 90.00 75.00 60.00 45.00 30.00 15.00 0.00 % Luz 50% 1% Zmax B Meses Jan/06 100% % Luz 50% 1% Zmax Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 294.00 280.00 266.00 252.00 238.00 224.00 210.00 196.00 182.00 168.00 154.00 140.00 126.00 112.00 98.00 84.00 70.00 56.00 42.00 28.00 14.00 0.00 C Figura 9. Variação do nitrogênio inorgânico total medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006. 50 fim do período chuvoso. Na coluna de água, ocorreu uma homogeneização na distribuição das variáveis destas, ainda que ocorram maiores concentrações na zona afótica dos reservatórios, provavelmente em decorrência das menores concentrações de oxigênio nesta região do reservatório. Segundo Lopes (1999) o fator regulador do metabolismo de nitrogênio é o oxigênio que, aliado à temperatura, acelera ou diminui a velocidade dos processos químicos e determina a presença de formas oxidadas e reduzidas do gás. Assim os teores de oxigênio e o balanço térmico tem papel fundamental nos processos do ciclo do nitrogênio. Apesar da semelhança na distribuição espaço-temporal a dinâmica do nitrogênio nos ecossistemas ocorreu de forma diferenciada. Os açudes Soledade e Namorados apresentam amônia como a forma nitrogenada predominante, seguido de nitrito e nitrato, enquanto no Açude taperoá tem-se maiores concentrações de nitrato, seguidas de amônia e nitrito. 3.2.8 AMÔNIA (íon amônio) No Açude Soledade as concentrações de amônia apresentaram média de 34,23 µgL-1 (EP= 6,73; DP=32,99), variando de método, a 102,25 µgL -1 valores não detectados pelo . Para o Açude Taperoá II foram determinadas concentrações médias de x = 5,78 µgL-1; (EP=1,53; DP= 7,48) variando até concentrações de 23,83 µgL-1. Para Açude Namorados, observou-se uma concentração média de amônia de 4,38 µgL-1 (EP=1,14; DP= 5,56) variando de valores não detectados pelo método a 19,08 µgL-1 . A variação espaço- temporal desta variável ocorreu de forma semelhante em todos os ambietnes em estudo, conforme exposto na figura 8, observa-se baixas concentrações do íon amônio no epilímio e altos no hipolímio, sugerindo consumo do íon no epilímio pelo fitoplâncton e altas taxas de amonificação de nitrato no hipolímnio, ainda que estas variações não sejam estatisticamente significativas pela ANOVA realizadas (TABELA 5). O aumento das concentrações ao longo do período amostral nos ecossistemas considerado extremamente significativo. A quantidade de energia necessária para assimilar o nitrogênio é mais baixa para o amônio e mais alta para o nitrato. É por isso que as concentrações de amônio são usualmente baixas em reservatórios oligotróficas pouco produtivas. Nos açudes 51 Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 100% ug/L 100.00 95.00 90.00 85.00 80.00 75.00 70.00 65.00 60.00 55.00 50.00 45.00 40.00 35.00 30.00 25.00 20.00 15.00 10.00 5.00 0.00 % Luz 50% 1% Zmax A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 100% Dez/06 ug/L 100.00 95.00 90.00 85.00 80.00 75.00 70.00 65.00 60.00 55.00 50.00 45.00 40.00 35.00 30.00 25.00 20.00 15.00 10.00 5.00 0.00 % Luz 50% 1% Zmax B Meses Jan/06 100% % Luz 50% 1% Zmax Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100.00 95.00 90.00 85.00 80.00 75.00 70.00 65.00 60.00 55.00 50.00 45.00 40.00 35.00 30.00 25.00 20.00 15.00 10.00 5.00 0.00 C Figura 10. Variação do íon amônio medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006. 52 Taperoá II e Namorados as baixas concentrações de amônio corroboram as afirmações de Wetzel (1993) e reforçam a condição oligotrófica dos mesmos. 4.2.9 NITRITO No açude Soledade as concentrações de nitrito apresentaram concentrações médias de X= 36,53 µgL-1; (EP= 12,31; DP= 60,29) variando de 2,68 a 308,26 µgL-1. A exemplo da amônia a variabilidade temporal apresentou-se extremamente significativas (p<0,001; F= 2,72). No açude Namorados apesar de baixas concentrações de nitrito ( x = 3,52 µgL-1;EP= 0,68; DP=3,34), este apresenta-se em maior quantidades que o nitrato . Na coluna de água observou-se (figura 11A) distribuição homogênea da variável ainda que durante os meses de estratificações térmicas ocorram maiores concentrações desta variável na zona afótica em ambos os reservatórios. As elevadas concentrações de nitrito observadas no açude Soledade vão de encontro aos padrões de distribuição destes em ecossistemas tropicais, este fato pode estar relacionado as baixas concentrações de oxigênio na coluna de água destes reservatórios, uma vez que, por se tratar de um componente intermediário resultante da redução do nitrato ou da oxidação do amônio, em meios bem oxigenados, as concentrações de nitrito apresentam-se extremamente baixas 0,1 µgL-1 (LOPES, 1999). No açude Taperoá II, com médias de 3,79 µgL-1 (EP= 0,81; DP=3,99), respectivamente. 53 Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 280.00 260.00 240.00 220.00 50% 200.00 % Luz 180.00 160.00 140.00 120.00 1% 100.00 80.00 60.00 40.00 20.00 Zmax 0.00 A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 48.00 44.00 40.00 36.00 50% % Luz 32.00 28.00 24.00 20.00 1% 16.00 12.00 8.00 4.00 Zmax 0.00 B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 48.00 44.00 40.00 50% 36.00 % Luz 32.00 28.00 24.00 20.00 1% 16.00 12.00 8.00 4.00 Zmax 0.00 C Figura 11. Variação do íon nitrito medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006. 54 4.2.10 NITRATO As concentrações de nitrato nos Açudes Soledade e Namorados apresentaram concentrações médias de x = 3,22 µgL-1 (EP= 0,81; DP= 3,94) e x =1,95 µgL-1 (EP= 0,45; DP=2,20), respectivamente, variando de valores não detectados pelo método a 12,98. e 9,15 µgL-1. A variação sazonal desta variável apresentou diferenças extremamente significativas (tabela). A partir da figura 12A observa-se ausência de variabilidade na distribuição desta variável entre as profundidades amostradas. Nos períodos onde ocorreram estratificações térmicas ocorreram diminuição nas concentrações de nitrato, isto ocorre uma vez que epilímio o nitrato é facilmente assimilado pelo fitoplâncton e no hipolímnio, devido a hipoxia, ocorre o processo de amonificação. Estas condições também favorecem a desnitrificação, com conseqüente aumento das concentrações de nitrito na coluna de água. No Açude Taperoá II as concentrações de nitrato apresentaram média de 8,57 µgL-1 (EP=2,27; DP=11,11) com valores máximos de 33,15 µgL-1. 55 Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 32.00 30.00 28.00 26.00 50% 24.00 % Luz 22.00 20.00 18.00 16.00 14.00 1% 12.00 10.00 8.00 6.00 4.00 2.00 Zmax 0.00 A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 32.00 30.00 28.00 26.00 24.00 50% 22.00 % Luz 20.00 18.00 16.00 14.00 12.00 1% 10.00 8.00 6.00 4.00 2.00 Zmax 0.00 B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 32.00 30.00 28.00 26.00 50% 24.00 % Luz 22.00 20.00 18.00 16.00 14.00 1% 12.00 10.00 8.00 6.00 4.00 2.00 Zmax 0.00 C Figura 12. Variação do íon nitrato medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006. 56 4.2.11 ORTOFOSFATO SOLÚVEL Segundo Esteves (1998), toda forma de fósforo presente em águas naturais encontram-se sob a forma de fosfatos. Do ponto de vista limnológico, todas as frações de fosfato são importante, contudo, o ortofosfato (PO4-3) consiste na fração de maior relevância, visto que é a principal forma de fosfato assimilada pelos vegetais aquáticos. Nos ecossistemas em estudo as concentrações de ortofosfato apresentaram médias de 3,70 µgL-1 (DP=4,50; EP=0,92), 0,58 µgL-1 (DP=0,62; EP=0,13) e 2,61 µgL-1 (DP=5,72; EP=1,17), para os Açudes Soledade, Taperoá II e Namorados respectivamente. A exemplo das formas nitrogenadas, as concentrações de ortofosfato elevaram-se ao longo dos períodos amostrados, em todos os ecossistemas, sendo as diferenças observadas consideradas extremamente significativas para os açudes de Soledade e Namorados (Tabelas 5 e 7). Na coluna de água, conforme exposto na figura 13, observa-se estratificações das concentrações desta variável, as quais acompanham as estratificações térmicas. Segundo Esteves (1998) entre os principais fatores que influenciam a distribuição de fosfato em ecossistemas límnicos tropicais estão o perfil de oxigênio e o período de estratificação térmica, uma vez que elevadas temperaturas aceleram sua absorção por organismos planctônicos em decorrência do aumento de processos metabólicos. Por tratar-se da forma fosfatada de primordial importância ao metabolismo dos vegetais aquáticos as concentrações de ortofosfato na água podem ditar as condições de estrutura das comunidades planctônicas. No açude Soledade observou-se relações negativas entre ortofosfato e: riqueza de espécies (r=-0,87; p<0,01) e diversidade (r=-0,54; p<0,01). No açude Namorados foram observadas relação direta do ortofosfato com a dominância (r=0,90; p<0,01) de espécies e correlações inversas com a diversidade (r=0,86; p<0,01);e equidade (r=-0,83; p<0,01). No açude Taperoá II não foram observadas relações entre os aspetos estruturais da comunidade fitoplanctônica e o ortofosfato, ainda que as menores concentrações medidas neste, em detrimento aos demais reservatórios estudados sugerem um maior consumo pelo plâncton, bem como apontam este reservatório como o mais produtivo dentre os demais. 57 Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 11.00 10.00 9.00 50% % Luz 8.00 7.00 6.00 5.00 1% 4.00 3.00 2.00 1.00 Zmax 0.00 A Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 2.00 1.80 1.60 50% % Luz 1.40 1.20 1.00 0.80 1% 0.60 0.40 0.20 Zmax 0.00 B Meses Jan/06 100% Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 22.00 20.00 18.00 50% 16.00 % Luz 14.00 12.00 10.00 1% 8.00 6.00 4.00 2.00 Zmax 0.00 C Figura 13. Variação do ortofosfato solúvel medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C), durante o ano de 2006. 58 Tabela 5. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do Açude Soledade – PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006. Parâmetros Temperatura pH Condutividade Alcalinidade OD Amônia Nitrito Nitrato N – total P-orto Estatística F p F p F p F p F p F p F p F p F p F p Meses 11.1227 p<0.01 11.2056 p<0.01 119.8464 p<0.01 9.9507 p<0.01 22.8463 p<0.01 110.5055 p<0.01 2.7289 p<0.05 4.4851 p<0.01 6.427368 p<0.01 35.6963 p<0.01 Profundidades 0.1430 0.932956 0.9122 0.452757 0.0118 0.998190 0.2213 0.880438 0.2241 0.878526 0.0929 0.963108 0.7923 0.512423 0.0685 0.976027 0.756803 0.523091 0.0402 0.988936 Pontos 2.798659 0.283157 3.432122 0.202091 1.033126 0.972344 1.260314 0.805780 1.971485 0.474157 1.365384 0.740879 1.217547 0.834256 2.317396 0.377709 1.393932 0.724411 1.313529 0.772041 59 Tabela 6. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do Açude Taperoá II – PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006. Parâmetros Temperatura pH Condutividade Alcalinidade OD Amônia Nitrito Nitrato N - total P-orto Estatística F p F p F p F p F p F p F p F p F p F p Meses 18.0315 p<0.01 37.6983 p<0.01 31.8805 p<0.01 4.6686 p<0.01 12.8446 p<0.01 15.4548 p<0.01 12.6859 p<0.01 37.6918 p<0.01 25.90382 p<0.01 1.8483 0.141359 Profundidades 0.33628 0.799258 0.41408 0.744726 0.16266 0.920228 0.36254 0.780718 0.31042 0.817597 0.15412 0.925805 0.32087 0.32087 0.10153 0.958195 0.719126 0.544752 0.02404 0.994789 Pontos 3.82802 0.167010 1.94064 0.484314 1.11761 0.905861 1.21335 0.837118 11.63116 0.017561 2.63046 0.312079 2.89899 0.267637 2.94934 0.260288 3.443796 0.200917 16.71236 0.007737 60 Tabela 7. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das variáveis físicas e químicas analisadas nas águas do Açude Namorados – PB, durante os meses de janeiro de 2006 até dezembro de 2006. Parâmetros Temperatura pH Condutividade Alcalinidade OD Amônia Nitrito Nitrato N - total P-orto Estatística F P F P F P F P F P F P F P F P F P F P Meses 45.694 p<0.01 22.709 p<0.01 239.993 p<0.01 1458.370 p<0.01 74.466 p<0.01 4.698 p<0.01 0.801 0.559802 1.104 0.384365 4.561354 p<0.01 40.409 p<0.01 Profundidades 0.29723 0.826957 0.26764 0.847927 0.01160 0.998231 0.00321 0.999741 0.02496 0.994493 0.81509 0.500580 0.26912 0.846879 1.37046 0.280514 0.956132 0.419885 0.14381 0.932437 Pontos 1.60789 0.614943 1.33670 0.757914 1.34642 0.752085 1.04086 0.966019 2.28614 0.385265 6.48781 0.060953 2.06969 0.443674 40.32087 0.000964 3.670868 0.179840 2.29568 0.382937 61 3.2.12 ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO A diminuição da diversidade de espécies e modificação da biota dominante, aumento da biomassa de plantas e animais, aumento da turbidez, aumento da taxa de sedimentação, diminuição da vida útil dos reservatórios e possibilidade de desenvolvimento de condições anóxicas, são de forma geral são um possível conjunto de alterações nos ambientes aquáticos com o aumento do estado trófico Até então se aplica a ambientes tropicais o Índice de Estado Trófico (IET) proposto por Toledo et al. (1983), sendo o índice de Carlson acrescido das concentrações de fósforo inorgânico dissolvido. Segundo índice de estado trófico para o ortofosfato solúvel ( x = 4,0 ug/L) o açude Soledade esteve no período amostrado de ultraoligotrófico a oligotrófico. Nos meses de maiores taxas de precipitação (Figura 14 A), de janeiro a junho, os valores para o fósforo inorgânico estiveram em seu nível mais baixo aumentando após o período chuvoso, sem provocar, no entanto, aumentos expressivos no nível de eutrofia do açude para esta variável. Já para as concentrações de clorofila-a em particular ( x = 46,1 µg/L) esteve de hipereutrófico a mesotrófico tendo correlação inversa com o IET do orto-P, apresentando maiores níveis de eutrofia no meses iniciais do estudo. Para a radiação subaquática o açude esteve de eutrófico a hiper-eutrófico, sendo encontrando este ultimo estado nos meses de menores precipitações. A transparência da água neste ambiente foi influenciada principalmente pela biomassa, que esteve acima do limite de potencial produtivo sugerido por Bicudo (2004). Segundo a média ponderada, da qual foi retirada o fósforo total, o açude Soledade sofreu aumento gradativo do inicio do estudo de oligotrófico a eutrófico e foi o ambiente de estado trófico mais elevado. Este açude nos meses de chuva chegou a estar mesotrófico devido aos baixos níveis de ortofosfato solúvel. Os menores níveis de eutrofia foram encontrados no açude Namorados (Figura 14 C). As propriedades ópticas para este reservatório mostraram-se mais semelhantes as do açude Soledade, logo para este parâmetro o ambiente esteve eutrófico na maioria dos meses. No entanto segundo as concentrações de clorofila-a ( x =32,9 ug/L), o açude esteve oligotrófico em todo o período estudado, o que sugere que a transparência da água possui pouca relação com a biomassa. Já para o fósforo dissolvido ( x =2,6) teve valores não detectáveis pelo método. Logo a limitação por nutrientes e luz são a causa dos menores valores de clorofila a 62 encontrados, sendo o ambiente oligotrófico de acordo com a média dos índices de estado trófico para os parâmetros apresentados. Neste caso o resultado mostra ser a baixa transparência da água, a conseqüência de sedimentos em suspensão em quantidades consideráveis em detrimento da biomassa fitoplanctônica. O açude Taperoá (Figura 14 B) quanto às concentrações de clorofila a (X=6,5 ug/L) esteve eutrófico no primeiro mês de estudo passando posteriormente a oligotrófico no período seco e no período chuvoso. Quanto aos valores de transparência, os altos valores de transparência indicaram o açude como oligotrófico em todos os meses ( x = 80 cm), o mesmo ocorrendo para o fósforo. O açude Taperoá II foi o ambiente que apresentou as menores taxas para o fósforo inorgânico dissolvido. No entanto, a menor limitação por luz em relação ao açude Namorados, torna este ambiente com maiores taxas produtivas, apresentando concentrações de clorofila a mais expressivas mostrando que o efeito limitante da penetração de luz é mais severo que a limitação por nutrientes (HENRY, 1985). Esta proposição pode ser vista na prática fazendo-se a comparação entre o açude Namorados e o Taperoá. O que temos para estes dois ecossistemas é que o pequeno porte do açude Namorados torna baixa sua capacidade de diluição e a baixa transparência torna o ambiente improdutivo e oligotrófico. Baixos níveis de eutrofia também podem ser causa de altos valores de transparência, como é o caso do açude Taperoá II. Devido ao seu maior porte em relação ao primeiro, as condições exigidas para baixas taxas de eutrofia são contrárias as do açude Namorados e os altos valores de transparência diminuem a zona afótica, que neste caso é fator de maior importância no variação do estado trófico. Em síntese temos as boas condições de luminosidade do açude Taperoá contribuem para seus menores índices de eutrofia bem como as baixas transparência do açude Namorados também são a causa dos baixos valores de IET, por se tratarem de situações diferentes. Nota-se a partir da análise do estado trófico dos ambientes estudados que a associação de parâmetros é imprescindível na caracterização dos níveis de eutrofia mais condizentes com a realidade de cada ecossistema. Segundo Nogueira (1998) os valores numéricos através do uso de Índices de Estado Trófico não definem a condição de eutrofia, somente podem ser considerados como indicadores dela, já que o indicador do estado trófico pode variar entre lagos e ainda sazonalmente. Logo Carlson (1977) ao propor o índice de estado trófico, propôs também a 63 A 90.00 80.00 70.00 IET 60.00 50.00 40.00 Eutrofia Mesotrofia Oligotrofia IET (secchi) 30.00 IET (P-Orto) 20.00 IET (clor-a) 10.00 IET m é dio 0.00 jan/06 mar/06 jun/06 jul/06 set/06 dez/06 set/06 dez/06 set/06 dez/06 Meses B 90.00 IET (secchi) 80.00 70.00 IET (P-Orto) IET (clor-a) Eutrofia IET m édio IET 60.00 50.00 40.00 Mesotrofia Oligotrofia 30.00 20.00 10.00 0.00 jan/06 mar/06 jun/06 jul/06 Meses C 90.00 IET (secchi) 80.00 IET (P-orto) 70.00 IET (clor-a) IET IET m édio 60.00 Eutrofia 50.00 Mesotrofia 40.00 Oligotrofia 30.00 20.00 10.00 0.00 jan/06 mar/06 jun/06 jul/06 Meses Figura 14. Variação do IET medido nos açudes Soledade (A), açude Taperoá II (B) e açude Namorados (C) durante o ano de 2006. 64 existência de pressupostos para decidir qual o sistema mais apropriado par a um sistema ecológico particular. Rast Thornton (1993) e Huszar et al (2006) versam desta temática ao discorrerem sobre os parâmetros considerados na determinação do estado trófico em se tratando de climas áridos e temperados, bem como dos limites e medidas dos parâmetros considerados para cada caso. Uma determinada variável ambiental pode contribuir para a indicação do estado trófico das diversas regiões podendo apenas variar seus limites de permissividade para o ecossistema em cada clima. Estes autores afirmam também que a transparência para climas semi-áridos não é um indicador adequado para o estado trófico, o que se pôde notar na comparação entre o açude Taperoá e Namorados, bem distintos quanto a esta variável e, no entanto com níveis de eutrofia semelhantes. Entretanto, o conhecimento da realidade de cada ecossistema aqui estudado e o relacionamento do comportamento ecológico dos determinantes biológicos (Capítulo 2) e suas características físicas e químicas proporcionam subsídios para classificar cada ecossistema. O açude Soledade é um ambiente com elevados níveis de eutrofia e os açudes Taperoá e Namorados se comportaram como meso a oligotróficos. Os açudes, apesar de se localizarem na mesma bacia de drenagem apresentam-se bem distintos devido a fatores que vão desde a área e a capacidade de cada ambiente até as possibilidades de escoamento e renovação da água. Deve-se considerar também que estado trófico dos ambientes varia entre os períodos seco e chuvoso por estes provocarem verdadeiros impactos cíclicos nos ambientes, sendo o açude Soledade de maior intervalo limite como há se comentado nas observações anteriores. 3.2.13 Análise de Componentes Principais – ACP Os esforços para o desenvolvimento de teorias sobre como os ecossistemas ou as comunidades estão organizadas giram em torno da tentativa de descobrir padrões que possam ser quantificados no sistema e comparados entre sistemas (LEVIN, 1992). Assim, o entendimento de padrões e dos processos que os produzem também é de fundamental importância para o funcionamento destes sistemas aquáticos representativos do trópico semi-árido e base para os futuros de cunho teóricos aplicados. 65 A análise de componentes principais, segundo Barbosa (2002) fornece indícios dos padrões de variabilidade temporal e espacial das variáveis limnológicas dos açudes e suas interações com fatores do clima e da bacia hifrógrafica, fatores fundamentais para o entendimento e funcionamento destes sistemas aquáticos representativos do trópico semi-árido e base para os futuros trabalhos de cunho teóricos e aplicados. Para o açude Soledade a análise dos componentes principais aplicada resumiu em 58,47% a explicabilidade dos dados nos dois primeiros fatores, sendo 34,36% para o fator I e 24,11% para o fator II O eixo I associou-se positivamente com a condutividade elétrica, amônia e ortofosfato; e negativamente com a transparência, volume do reservatório, clorofilaa, feofitina e riqueza de espécies, sendo o volume do reservatório, amônia e ortofosfato as variáveis de maior correlação com o eixo (Tabela 8). A associação das unidades amostrais com as variáveis está relacionada com os maiores valores detectados para referidas variáveis dentro de cada grupo. Assim, a partir da figura 15 observa-se que o fator I segregou a distribuição sazonal dos casos. É possível observar tendência a formação de três grupos, dois no semi-eixo negativo sendo, o primeiro correspondente aos dados do mês de janeiro, que se associam aos maiores valores de transparência ao disco de Secchi, e outro correspondente aos meses do período chuvoso (mar/06, jun/06, jul/06), os quais se relacionam aos maiores valores de riquezas de espécies (Capítulo 2). No semi-eixo positivo observou-se condensação do período pós- chuvas, os quais se relacionam com os maiores valores de condutividade elétrica e de nutrientes nitrogenados (NH3) e fosfatados. O eixo II associou-se positivamente com densidade e dominância de espécies, sendo pH, precipitação, diversidade e equidade as variáveis que associaram-se negativamente com o eixo . A distribuição dos casos neste eixo aconteceu de modo a concentrar os meses secos no semi-eixo positivo e os meses chuvosos no semi-eixo negativo, ainda que a variável de maior força na segregação dos dados sejam dominância no semi-eixo positivo, e equidade para o semi-eixo negativo. 66 Tabela 8. Correlações das variáveis do açude Soledade com os componentes principais I e II Variáveis Componentes Principais Fator I Fator II Transparência -0,74 0,60 Profundidade -0,05 -0,14 Temperatura -0,29 -0,30 pH 0,40 -0,60 Condutividade elétrica 0,84 0,00 Alcalinidade 0,58 -0,38 Oxig. Dissolv. -0,34 -0,19 Clorofila a -0,76 0,13 Feofitina -0,74 0,07 Amônia 0,91 0,10 Nitrito 0,32 -0,18 Nitrato -0,17 0,33 P-orto 0,90 0,15 Precipitação -0,48 -0,54 Volume -0,97 0,03 Riqueza -0,84 -0,09 Densidade 0,09 0,88 Diversidade -0,36 -0,88 Equidade -0,03 -0,94 Dominância 0,06 0,94 34,36% 24,11% Explicabilidade 67 Figura 15. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o Açude Soledade em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II. No Açude Taperoá II a análise dos componentes principais resumiu em 61,77% a explicabilidade dos dados nos três primeiros eixos de ordenação (Tabela 9). Para o fator I alcalinidade e volume foram as variáveis de correlação com o semieixo positivo, estando pH, condutividade elétrica, clorofila-a, feofitina e densidade fitoplanctônica associadas ao semi-eixo negativo deste fator. O fator dois apresentou associação positiva com dominância de espécies e negativa com a transparência da água, oxigênio dissolvido, riqueza, diversidade e equidade. O fator III foi o que menos contribuiu para a explicabilidade dos dados (14,32%) em detrimento aos anteriores, apresentando associações com transparência da água, dominância (semi-eixo positivo) e diversidade de espécies (semi-eixo negativo). A segregação dos casos apresentou-se com base em diferenças sazonais, de modo a compor a formação de três grupos. Elevadas concentrações de clorofila – a e feofitina, contribuiu para a segregação dos casos referentes ao meses de janeiro a marco que correspondem ao período de estiagem da região. O período de intensidade chuvosas, jun/07 segregou seus casos na formação de um grupo com associas- 68 Tabela 9. Correlações das variáveis do Açude Taperoá com os componentes principais I, II e III Variáveis Componentes Principais Fator I Fator II Fator III Transparência 0,28 -0,62 0,62 Profundidade 0,22 0,01 0,26 Temperatura -0,49 0,30 -0,35 pH -0,68 0,48 -0,36 Condutividade elétrica -0,78 0,35 -0,11 Alcalinidade 0,64 0,33 -0,23 Oxig. Dissolv. 0,04 -0,73 -0,17 Clorofila a -0,78 -0,02 0,35 Feofitina -0,84 -0,09 0,16 Amônia 0,32 0,18 -0,03 Nitrito 0,49 0,27 -0,61 Nitrato 0,45 0,12 -0,48 P-orto 0,40 0,20 0,13 Precipitação -0,26 0,15 -0,34 Volume 0,85 -0,41 0,22 Riqueza -0,06 -0,80 0,01 Densidade -0,56 -0,20 0,65 Diversidade -0,20 -0,85 -0,44 Equidade -0,22 -0,65 -0,60 Dominância 0,33 0,73 0,52 Explicabilidade 25,89% 20,96% 14,93% 69 Figura 16. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o Açude Taperoá II em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II. sões ao aumento do volume do reservatório, o qual atingiu qual capacidade máxima neste período. Por fim, o período pós chuvas, de julho a dezembro estão associados na formação de um grupo, em função da elevação da riqueza de espécies, diversidade e equidade inferindo a ocorrência do paradoxo do plâncton (Capitulo 2), uma vez que um distúrbio no reservatório, a elevação do volume em decorrência das chuvas, promoveu aumento da diversidade, riqueza e equidade da comunidade fitoplanctônica. Para o Açude Namorados a análise dos componentes principais resumiu em 55,77% a explicabilidade dos dados nos dois primeiros fatores. O semi-eixo positivo I apresentou associações positivas com as variáveis temperatura, alcalinidade, densidade e dominância de espécies. A amônia, oxigênio dissolvido, precipitação, diversidade e equidade foram as variáveis com associações negativas com o eixo I. Destes a equidade e precipitação foram as varáveis de maior força na segregação dos casos. Para o segundo fator as variáveis ortofosfato, volume do açude e domi- 70 Tabela 10. Correlações das variáveis do açude Namorados, com os componentes principais I e II. Variáveis Componentes Principais Fator I Fator II Transparência 0,06 0,14 Profundidade -0,28 0,18 Temperatura 0,73 -0,29 pH 0,48 -0,63 Condutividade elétrica 0,48 -0,68 Alcalinidade 0,67 0,44 Oxig. Dissolv. -0,71 0,24 Clorofila a 0,47 -0,69 Feofitina 0,11 -0,64 Amônia -0,74 0,19 Nitrito 0,02 -0,08 Nitrato -0,06 -0,12 P-orto 0,68 0,52 Precipitação -0,79 0,23 Volume -0,46 0,77 Riqueza -0,24 -0,83 Densidade 0,66 -0,11 Diversidade -0,63 -0,73 Equidade -0,82 -0,48 Dominância 0,74 0,64 Explicabilidade 30,98% 24,87% 71 Figura 17. Diagrama de ordenação dos meses e estações de coleta amostradas para o Açude Namorados em relação às variáveis abióticas associadas, baseadas nos fatores I e II. nância das espécies apresentaram associações positivas com eixo, enquanto pH, condutividade elétrica, clorofila-a, feofitina, riqueza e diversidade correlacionaram-se negativamente. A exemplo dos demais açudes não se observou variações espaciais significantivas na segregação dos casos. Apenas sazonais, ocorrendo a formação de quatro grupos: um compreende os casos referentes ao período de janeiro a março (período de estiagem), os quais apresentaram altos valores de condutividade elétrica e elevada riqueza de espécies em função da concentração de nutrientes na água decorrentes da estiagem; os casos referentes ao mês de jun/07 diferenciaramse em relação aos demais visto a alta intensidade pluviométrica ocorrida neste período; o período de julho a setembro (pós-chuvas) associaram-se ao aumento do volume do açude e conseqüente aumento nas concentrações de nutrientes fosfatados possivelmente carreados pelas chuvas no período anterior. Por fim os casos referentes a dezembro/07 correlacionam-se a aumentos na densidade fitoplanctônica e dominância de espécies. 72 Para os três ecossistemas em estudo notou-se que as medidas de profundidades dos pontos de coleta não se associaram a nenhum dos grupos de unidades amostrais, o que indica a pouca variabilidade espacial do sistema, corroborado pela baixa correlação desta variável com os eixos de ordenação fato que reafirma o caráter significativo das variações sazonais apontados pela ANOVA realizadas na análise das variáveis estudadas no ecossistema. 73 4 CONCLUSÕES Embora os ecossistemas em estudo estejam contidos em uma sub-bacia de extensão relativamente pequena, a distribuição inconstante das chuvas no espaço e no tempo exerce forte influência na particularização das características físico-quimicas de cada ambiente. Todas as variáveis limnológicas não apresentaram significância espacial considerável, mas demonstraram variações bem expressivas no decorrer dos meses de coleta As águas de Soledade exprimiram reduções graduais na transparência da água no decorrer dos meses coletados, devido ao volume reduzido e relativamente estável no decorrer do tempo, determinando uma intensa concentração de material em suspensão e de biomassa. Quanto aos demais açudes, a combinação entre precipitações elevadas e aumento proporcional do volume ditou o poder de diluição e de concentração de material dissolvido e particulado. A coluna d’água de Taperoá II mostrou maior homogeneização da temperatura em períodos chuvosos do que em Soledade e em Namorados, em função da elevada pluviosidade e da força dos ventos, que movimentaram as massas de água o suficiente para misturar completamente a água. A variação do pH e da condutividade elétrica esteve associada às chuvas e a variação de volume para os três ambientes. O açude Soledade, por estar com o menor acúmulo relativo de água e altos valores de biomassa fitoplanctônica, foi o ambiente que apresentou maiores valores de pH, seguido do açude Taperoá II e Namorados, com este último apresentando pH ácido no mês chuvoso em virtude da diminuição da biomassa algal e aumento do volume. O comportamento da condutividade elétrica nos açudes Soledade e Taperoá II também foi determinado pela variação das chuvas e do volume, além de estarem situados em solos parcialmente salinos. O açude Namorados destoa um pouco dos demais, em função da concentração de argila, que não contribui para a condutividade. O açude Soledade foi o que apresentou o nível de trofia mais elevado, devido às concentrações mais intensas de clorofila-a, que diminuíram a emissão de radiação subaquática. O pequeno porte do açude Namorados tornou baixa a sua capacidade de diluição, mas a baixa transparência tornou o ambiente improdutivo e oligotrófico. Taperoá II tem maior porte, mas os altos valores da transparência diminuem a zona afótica do açude, reduzindo também seu nível trófico. 74 O uso da ACP para os três ecossistemas corroborou os resultados obtidos pela ANOVA, isto é, houve pouca variabilidade espacial no sistema e variações sazonais significativas, que se manifestaram na ocorrência de períodos de estiagem com períodos de chuva. 75 5 REFERÊNCIAS AB'SABER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Estudos avançados. São Paulo, v. 13, n. 36, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010340141999000200002& lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 28 Nov 2007. APHA, AWWA & WPCF. 1992. Standard methods for the examination of waster and waster-water. 18 ed. New York, APHA/AWWA/WPCF, 1193p. BARBOSA, J. E. L. Dinâmica do Fitoplâncton e condicionantes limnológicos nas escalas de tempo (nictmeral/sazonal) e de espaço (horizontal e vertical) no açude Taperoá II : trópico semi-árido nardestino. 2002. 201f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos naturais)- Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. BARBOSA, E. M. Direito ambiental: Em busca da Sustentabilidade. São Paulo: Scortecci. 2005 CALIJURI, M.C. Respostas fisioecológicas da comunidade fitoplanctônica e fatores ecológicos em ecossistemas com diferentes estágios de eutrofização – Tese (doutorado) apresentada a Universidade São Paulo, São Carlos: USPEESC, 1988.230p. CARVALHO, O. 1988. "A Economia Política do Nordeste (seca,irrigação e desenvolvimento)". Ed.Campus, Rio de Janeiro-RJ. 505 p CEBALLOS, B.S.O. Utilização de indicadores microbiológicos na tipologia de ecossistemas aquáticos do trópico semi-árido. São Paulo-Sp, 1995, 192p., Tese de Doutorado, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), Resolução nº. 357 de 15 de março de 2005. Brasília, DF, 2005 Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), Resolução nº. 357 de 15 de março de 2005. Brasília, DF, 2005 DIAS, J.B. Codeterminantes biológicos da comunidade fitoplanctônica e fatores limnológicos no açude Taperoá II, semi-árido paraibano: 2003, 65p. Monografia, (Bacharel e licenciatura em Ciências Biológicas) - Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande. DINIZ, C.R.; BARBOSA, J. E. L.; CEBALLOS, B. S. O. Variabilidade Temporal (Nictemeral Vertical e Sazonal) das condições Limnológicas de Açudes do Trópico Semi-árido Paraibano. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 1, p. 119, 2006. 76 DINIZ, C. R. Ritmos Nictimerais E Distribuição Espaço Temporal De Variáveis Limnológicas E Sanitárias Em Dois Açudes Do Trópico Semi-Árido(Pb). Campina Grande: Tese De Doutorado Apresentado Ao Programa Interinstitucional De Pós- Graduação Em Recursos Naturais, Centro De Ciências Tecnológicas, UFCG, 2005 ESTEVES, F.A. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro, Interciência/FINEP, 1998. 575 p GOLTERMAN, H. L.; CLYMO, R. S. & OHNSTAD, M. A. M. Methods for physical and chemical analysis of freshwater. 2a ed. Osford, Blackwell Scientific Publication, 214p. (IBP handbook, 8). 1978 GUIMARÃES, Carlos Antônio Fragoso. O novo Paradigma Ecológico Holístico. Disponível em geocites.yahoo.com.br acesso em 04/02/2006 HENRY, R. Estrutura espacial e temporal do ambiente físico e químico e análise de alguns processos ecológicos na represa do Jurumirim (rio PAnapanema, SP) e na sua bacia hidrográfica. Tese de livre docência. Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 1990. 242p HENRY, R.; HINO, K. ; GENTIL, J. G.; TUNDISI, J. G.. Primary Production And Effects Of Enrichment With Nitrate And Phospha-Te On Phytoplankton In The Barra Bonita Reservoir (State Of Sao Paulo,Brazil).. INT REVUE GES. HYDROBIOL., v. 70, n. 4, p. 561-573, 1985. HUSZAR, Vera; CARACO, Nina F.; ROLANDO, Fábio; COLE, Jonathan: Nutrientchorophyl relacioships in tropical-subtropical lakes: do temperate models fits? LAMPARELLI, M. C. Grau de Trofia em Corpos deágua do estado de São Paulo: Avaliação dos Métodos de Monitoramento. Tese (doutorado) apresentada ao Instituto de Biociências da USP, São Paulo, 2004. LEITE, F. P. N. & FONSECA, O. J. M. 2002. Variação Espacial e Temporal de Parâmetros. Ambientais da Lagoa Caconde, Osório, RS. Acta Limnol. Bras., v. 14, n. 2, 12 p. LINS, R P. Dinâmica sazonal de variáveis limnológicas nas escalas espaciais horizontal e vertical na Barragem Acauã, Semi-Árido Paraibano. Dissertação (mestrado) em fase de conclusão, PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2006. MARCKERETH, F. Y. H.; HERON, J. G.; TALLING, J. J. Water analysis: some revised methods for limnologists Freshwater. Biological Assoc. 36. 120p. 1978. MENDES, Jacqueline da Silva. Caracterização liminológica das águas da barragem de Acauã como base para avaliação de suas potencialidades hídricas. Monografia, UEPB, Campina Grande – PB, 2003. 51p. 77 NOGUEIRA, G. M. et al. Reservatórios em cascata e os efeitos na limnologia e a organização das comunidades bióticas (fitoplancton, zooplancton e zoobentos)- Um estudo de caso do rio Paranapanema (SP/PR). In: Ecologia de reservatórios. São Carlos: Rima, 2005 (83-127) NOGUEIRA, N. M. C.. Variação mensal da condição trófica do Lago das Garças (São Paulo-SP, Brasil). Acta Limnologica Brasiliensis, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 21-34, 1998. NUSH, E. A. Comparison of different methods for clorophyl and phaepigment determination. Ergbn. Limnol, 14:14-36. 1980. PINTO-SILVA, Vangil. Manual de análises limnológicas: métodos e técnicas. Mato Grosso: Cuiabá (MT), 2002. 95p. SOARES, A. Qualidade da água e fluxos de nutrientes na interface sedimentoágua nas represas do rio Tietê. Dissertação (mestrado) apresentado a Universidade Federal de São de São Carlos, 2003. SUASSUNA, João. - Contribuição ao Estudo Hidrológico do Semi-Árido Nordestino – FUNDAJ, Recife, maio de 1999. STRASKRABA, M; TUNDISI, J. G. Reservior Water Management. Guideline of lake management handbook . Vol 9, Japão: ILE/UNEP, 1999. WETZEL, R. G. Limnologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. 919p. TALAMONI, J. L. B.; CALIJURI, M. C.; SANTAELLA, S. T.. Aspectos limnológicos e sanitários de uma lagoa costeira no litoral leste do Ceará-Lagoa do Batoque. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil Hidráulica e Saneamento) Escola de Engenharia de São Carlos. TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, John L. Fundamentos em ecologia. 2 ed. Porto Alegre: Artmed. 2006. 592p TUNDISI, J. G. Reservatórios como Sistemas complexos: teroria, aplicações e pespectivas para usos múlltiplos. In: Ecologia de reservatórios: estrutura, função e aspectos sociais. Botucatu: FUNDIBIO; FAPESP,1999 p(1-23) WETZEL, R.G. (1993). “Limnologia”. Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian, 919p. 78 CAPÍTULO 2 __________________________________ ATRIBUTOS DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO TAPEROÁ, SEMI-ÁRIDO PARAIBANO __________________________________ 1 ANDRADE, R. S. & BARBOSA, J. E. 1 Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio-Ambiente/PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Professor Títular do Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. E-mail: [email protected] 2 79 RESUMO O objetivo do referente capítulo foi analisar a composição, estrutura e dinâmica da comunidade fitoplanctônica de três ecossistemas aquáticos da bacia Hidrográfica do rio Taperoá, enfocando, especialmente, suas flutuações espaciais e temporais e relacionando-as à variabilidade das condições ambientais. Neste sentido, realizaram-se coletas bimensais, entre o período de jan/06 e dez/06, nas regiões litorânea e limnética dos açudes Soledade, Taperoá II e Namorados. Os resultados foram avaliados a partir de parâmetros biológicos qualitativos (composição e riqueza numérica de espécies) e quantitativos (densidade, abundância, grupos funcionais, clorofila-a, feofitina e produtividade primária) referentes a ecologia do fitoplâncton. O levantamento da riqueza específica levou a identificação de 165 táxons genéricos e infra-genéricos distribuídos em 7 classes, sendo o grupo das clorofíceas o de maior composição florística, devido sua alta variabilidade morfométrica. O açude Soledade apresentou elevada densidade e dominância de cianofíceas, principalmente Aphanocapsa elachista, em razão do elevado pH de suas águas. No açude Taperoá II verificou-se prevalência da classe Bacillaryophyceae, com grande abundância de diatomáceas cêntricas. E em Namorados houve dominâncias de cianofíceas nos meses secos e de euglenofíceas nos meses chuvosos, devido o carreamento de material alóctone para o açude. A variabilidade das escalas espaço-temporais, foram marcadas por insignificância das flutuações espaciais e flutuações extremamente significativas ao longo dos meses, fato que também occoreu para os teores de clorofila-a e feofitina. A distribuição destas variáveis se processa em toda a coluna d’água de forma bastante homogênea, salvo alguns picos de feofitina que podem ser verificados nas camadas mais profundas, em razão da sedimentação de células planctônicas senescentes. A produção primária líquida, do açude Namorados foi verticalmente influenciada pela radiação solar e sazonalmente influenciada pelos períodos de seca e chuva. De modo geral, a chuva atuou como distúrbio intermediário que influenciou significativamente muitas das variáveis biológicas aqui analisadas. Palavras-chave: fitoplâncton, grupos funcionais, produção primária 80 1 INTRODUÇÃO A compreensão da ecologia de ecossistemas aquáticos continentais, naturais ou artificiais, não existe sem o amplo entendimento da estrutura e funcionamento de suas principais comunidades (PINTO-COELHO, 2004). Por ser o primeiro elo com o meio abiótico, a comunidade fitoplanctônica configura-se na principal porta de entrada de matéria e energia, constituindo-se no mais relevante produtor primário de ecossistemas de águas abertas, e atuando como uma importante ferramenta para definição da fisiologia de sistemas aquáticos (BARBOSA, 2002). O conhecimento da dinâmica da comunidade fitoplanctônica, especificamente, é relevante não apenas por sua importância para a produção primária do ambiente pelágico, como também por serem as flutuações temporais e espaciais em sua composição e biomassa, indicadoras eficientes das alterações naturais ou antrópicas nos ecossistemas aquáticos. Além disto, o curto tempo de geração das algas (horas-dias) permite que importantes processos sejam mais bem compreendidos, tornando a comunidade fitoplanctônica útil como modelo para um melhor entendimento de outras comunidades e dos ecossistemas em geral (Bozelli & Huszar, 2003). As alterações globais pelo aumento populacional e conseqüente uso intensivo de recursos naturais e o desenvolvimento tecnológico, vêm causando impactos profundos nos ecossistemas, com destaque para os aquáticos, que são receptores dos rejeitos da civilização (STRASKRABA; TUNDISI, 2000). Tal fato acarreta em processos de eutrofização, os quais causam um crescimento excessivo de algas em ecossistemas aquáticos brasileiros o que vêm prejudicando os usos múltiplos das águas. Algumas cepas de algas, em especial as do grupo cianofíceas ou cianobactérias, podem produzir toxinas altamente potentes (hepatoxinas e neurotoxinas) e podem também produzir metabólitos que causam gosto e odor, alterando as características organolépticas das águas. A presença de toxinas de cianobactérias, em águas para consumo humano implica em sérios riscos à saúde pública e por isso é importante o monitoramento ambiental da densidade algácea e dos níveis de cianotoxinas nas águas (Revista Gerenciamento Ambiental, Dezembro de 2001). 81 Devido a grande importância ecológica do fitoplâncton no interior de ecossistemas aquáticos, numerosos são os trabalhos referentes a esta comunidade em vários países do mundo. Contudo, segundo Ramírez (1996), o mesmo não pode ser afirmado quando considerados os comportamentos espaciais e temporais da comunidade algal, e menos, ainda, quando se trata de ambientes tropicais e subtropicais. Para suprir estas demandas no Nordeste brasileiro novos investimentos em pesquisa básica e aplicada no fitoplâncton têm surgido, decorrentes principalmente da crescente ocorrência de florações de cianobactérias em seus ecossistemas aquáticos. Este evento está muito ligado ao fato de que os reservatórios desta região possuem condições favoráveis ao desenvolvimento destas espécies, tais como corpos d’ água rasos, estabilidade na coluna d’ água, irradiações e temperaturas elevadas, além de valores de pH acima de 8,0. Estes subsídios constituem – se de extrema importância pois a relativa estabilidade do clima tropical, o fotoperíodo relativamente uniforme ao longo do ano, o comportamento quase que, invariavelmente, acima dos níveis limitantes tanto de luz quanto de temperatura e a grande influência das chuvas e dos ventos (GANF & HORNE, 1975; PAYNE, 1986; RAMIREZ, 1996) são os principais diferenciais em relação aos ambientes temperados, onde se concentram a maioria dos estudos ecológicos do fitoplâncton. Nas regiões semi-áridas do globo, além das características acima, destacamse a escassez de chuvas e grandes oscilações entre os períodos de seca e estiagem, como principais ditadores da dinâmica da comunidade algal. Nestas regiões, particularmente, os ecossistemas aquáticos atuam como verdadeiros elos de sustentabilidade de comunidades vegetais e animais, incluindo agregados humanos. E a flora ficológica torna-se consideravelmente importante, visto sua aplicabilidade na bioindicação e monitoramento destes pequenos e rasos corpos d’água (BARBOSA, 2001). Segundo Lacerda et al (2005) o semi-árido paraibano é o que mais sofre degradação ambiental quando comparado às outras regiões semi-áridas nordestinas. A zona semi-árida do estado retém um número relativamente grande de bacias hidrográficas, e maior ainda é o número absoluto de habitantes. Isso reflete as enormes dificuldades que sua população sofre devido à escassez relativa de 82 recursos naturais característica da região. Submetendo seus habitantes a condições de insustentabilidade econômica e social. Entre tais bacias hidrográficas destaca-se a bacia do Rio Taperoá que comporta, aproximadamente, 259 açudes, os quais totalizam uma capacidade de acumulação da ordem de 71 milhões m3. Entretanto, a bacia conta com a menor média pluviométrica do país (cerca de 350mm de chuva ao ano), agravando ainda mais a questão da escassez de água (SOUZA,1999), de tal modo que seus açudes, raramente, atingem a capacidade máxima de acumulação, e muitos deles chegam, inclusive, a secar durante os longos meses de estiagem. Mediante o exposto, a meta deste trabalho foi analisar os atributos da comunidade fitoplanctônica através da densidade, diversidade, biomassa e da comunidade fitoplanctônica de ambientes aquáticos da bacia hidrográfica do rio Taperoá de modo a contemplar as flutuações temporais e espaciais de sistemas aquáticos do trópico semi-árido nordestino. 3. MATERIAL E MÉTODOS As amostragens foram realizadas bimensalmente entre o período de jan/06 e dez/06. Foram selecionados cinco pontos de coleta distribuídos em duas estações, uma na região litorânea e a outra na região limnética mais profunda. Na região litorânea as coletas procederam apenas na sub-superfície e na região limnética a 100%, 50%, 1% de extinção de luz e na profundidade máxima (Zmax). Tais percentuais foram estimados a partir da extinção da zona eufótica medidos através de disco de Secchi. Os dados climatológicos para os ecossistemas aquáticos em estudo, foram obtidos do Laboratório de Meteorologia, Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto da Paraíba - LMRS, PB - Campina Grande. Para estudo qualitativo, as amostras foram coletadas com rede de plâncton com abertura de malha de 20µm, através de arrasto horizontal na superfície da água. As amostras depois de coletadas foram acondicionadas em frascos de polietileno de 300ml e preservadas com formol a 4% neutralizado com bórax. A identificação dos organismos foi feita utilizando-se um microscópio binocular Olympus CBA, com até 400 vezes de aumento, equipado com câmara clara e 83 aparelho fotográfico. O procedimento para preparação de lâminas foi feito com uma gota de material sedimentado colocada entre lâmina e lamínula, onde foram observadas e identificadas todas as algas encontradas. Os táxons foram identificados a partir de amostras populacionais, sempre que possível a níveis específicos e infra-específicos. O sistema de classificação para as classes e gêneros seguiu as indicações de Bicudo e Menezes (2006). Para o estudo quantitativo as amostras foram coletadas com garrafas do tipo Van Dorn nas profundidades pré-estabelecidas. A contagem do fitoplâncton foi feita em microscópio invertido com aumento de até 400X pelo método da sedimentação de Utermöhl (1958). A contagem de cada amostra foi feita através de transectos horizontais e verticais, tantos quantos foram necessários para que fossem contados, no mínimo, 100 indivíduos da espécie mais freqüente, de modo que o erro fosse inferior a 20% e o coeficiente de confiança acima de 95%. O número de indivíduos por unidade de volume foi calculado segundo a equação abaixo: Ind. ml-1= [n/ (s.c)]. [1/h].F Onde: n= número de indivíduos contados s= superfície do campo (mm2) c= número de campos contados h= altura da câmara de sedimentação F= fator de correção para mililitro(103 mm3. ml-1) Para a determinação das concentrações de clorofila-a e de feofitina, as amostras foram coletadas em frascos de polietileno e concentradas sob pressão negativa, em filtros de fibra de vidro Whatman GF/C de 47 mm de diâmetro. O volume filtrado foi de 300 ml e a extração dos pigmentos seguiu as modificações propostas por Wetzel e Likens (1991) que utiliza como solvente, a acetona 90%. Os filtros foram macerados e o extrato colocado em tubos de ensaio de 15ml e conservados em geladeira por 24 horas no escuro. Após esse período o material foi centrifugado por 15 min à 3000rpm. A leitura da absorbância dos extratos em espectrofotômetro ocorreu logo após a centrifugação nos comprimentos de onda 84 665nm e 750nm. Para a transformação da clorofila-a em feofitina foram adicionada duas gotas de ácido clorídrico à 1N na própria cubeta de leitura. Após 5 minutos de espera para homogenização da amostra foi realizada a leitura nos comprimentos de onda já mencionados. As concentrações de clorofila-a e feofitina foram obtidas através da fórmula abaixo: Chol a (mg.m-3)= [ AK (665O- 665a) . v] Vf l -3 Pheo (mg.m )= [AK (R665a) – 665O) . v] Vf l onde: Ab= Ab665-Ab750 = Absorbância antes da acidificação Aa = Aa665-Aa750 = Absorbância após acidificação v = volume do extrato (mL) V = volume filtrado (L) 1= comprimento da cubeta (cm) A produção fitoplanctônica foi estimada mediante uso do método do oxigênio dissolvido com o uso de garrafas claras e escuras, com a finalidalidade de obter a produtividade primária bruta (PPB), a produtividade primária líquida (PPL) e as perdas energéticas pela respiração (ODUM, 1988; ESTEVES 1998 e PAYNE, 1986). As garrafas são incubadas em profundidades pré-estabelecidas, em frascos de 250ml, por três horas, no período de 09:00 às 12:00 hs, sendo que para determinação dos teores de oxigênio dissolvido empregou-se o método de Winkler descrito em Golterman et al. (1978). Para definir as espécies abundantes e/ou dominantes, adotou-se os critérios de Lobo e Leighton (1986), quais sejam, espécies cujas densidades relativas superam 50% da densidade total da amostra são dominantes e aquelas cujas densidades relativas superam a densidade média da amostra são abundantes. Espécies raras foram as registradas em uma única amostra, quando considerado cada período do ciclo hidrológico estudado. A partir da densidade obtida na análise quantitativa das amostras, foram calculados os seguintes índices estatísticos referentes à estrutura da comunidade: 85 Índice de Diversidade (SHANNON & WEAVER, 1963) (bits.ind-1): H’= _∑ (ni/N) log2(ni/N) Onde: ni = número de indivíduos de cada espécie N = número total de indivíduos da amostra Índice de Equidade (PIELOU, 1975): J’= __H’____ log2(ni/N) Onde: H’ = índice de diversidade S = número de espécies Índice de Dominância (SIMPSON, 1949): D’= ∑ [ni(ni – 1)] [N(N-1)] Onde: ni= número de indivíduos de cada espécie N = número total de indivíduos da amostra O sistema de classificação em grupos funcionais de Reynolds et al (2002) foi adotado para explicação dos dados referentes à abundância e densidade da comunidade fitoplanctônica. Este sistema agrupa as espécies baseando-se na sua fitosociologia e é representado por 31 associações de algas com afinidades e sensibilidades ambientais semelhantes. O tratamento estatístico dos dados foi feito a partir de análise descritiva dos cálculos da média aritmética como medida de tendência central. O grau de dispersão absoluta dos dados foi medido através do desvio padrão (DP) e como medida de dispersão relativa foi aplicada o coeficiente de variação de Pearson (CV). Com a finalidade de estabelecer o nível de significância dos valores obtidos para as diferentes estações de coleta, profundidades e épocas de amostragem, foram utilizadas técnicas de análises de variância de uma via (ANOVA) usando o programa estatístico Statistica para Windows, versão 7.0. Análises de regressão linear simples também foram providenciadas a fim de verificar a influência da equidade, riqueza de táxons, dominância, densidade total e precipitação sobre a diversidade. Para cada ambiente e cada uma das variáveis acima foi feito um gráfico de dispersão (XY), no qual foi adicionada a linha de tendência central e exibidos a equação e o valor de R-quadrado no gráfico. O programa utilizado foi o Microsoft Office Excel, versão 2003. Estatisticamente, maior 86 valor de R significa alta covariância direta ou inversa entre as suas variáveis estudadas, enquanto que o grau de inclinação da curva mostra a sensibilidade da diversidade frente às referidas variáveis (RAMIREZ, 1996). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 ESTRUTURA E DINÂMICA DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA 4.1.1 Aspectos qualitativos O inventário taxonômico dos representantes da comunidade fitoplanctônica levou a identificação de 165 táxons genéricos e infra - genéricos, distribuídos em 73 gêneros, 24 famílias, 11 ordens e 7 classes taxonômicas, da seguinte forma: Chlorophyceae 51 (31%), Euglenophyceae 34 (21%), Cyanophyceae 32 (19%), Bacillariophyceae 26 (16%), Zignemaphyceae 17 (10%), ,Chlamydophyceae 4 (2%) e Xanthophyceae 1(1%) . Destes táxons, 37 foram comuns aos três açudes, 6 foram exclusivos do açude Soledade, 30 do açude Taperoá II e 33 do açude Namorados (Tabela 1). Tabela 11. Inventário taxonômico das classes de algas fitoplanctônicas identificadas em três ecossistemas da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de janeiro e dezembro de 2006. Composição Taxonômica Soledade Taperoá II Namorados CYANOPHYCEAE Chroococcales Chroococcaceae Chroococcus distans x x Chroococcus turgidus x x Merismopediaceae Aphanocapsa elachista x x x Coelomorom sp x x x Coelosphaerium sp x x Merismopedia convoluta x Merismopedia minima x x x Merismopedia sp x Merismopedia tenuissisma x x x Microcrocis sp x 87 Synechocystis sp Microcystaceae Gloeocapsa sp Microcystis aeruginosa Microcystis panniformis Microcystis sp Nostocales Nostocaceae Anabaena circinalis Anabaena sp Anabaenopsis circularis Anabaenopsis elenkinni Cylindrospermopsis raciborskii Raphidiopsis mediterranea Oscillatoriales Oscillatoriaceae Lyngbya sp Oscillatoria sp Oscillatoria sp2 Oscillatoria tenuis Phormidiaceae Planktothrix agardhii Planktothrix sp. Spirulina laxissima Pseudoanabaenaceae Pseudoanabaena sp Romeria sp Synechococcaceae Aphanothece sp Gloeothece sp CHLOROPHYCEAE Chlorococcales Chlorococcaceae Schoederia indica Tetraëdron caudatum Tetraëdron hemisphaericum Tetraëdron minimum Tetraëdron multicum Tetraëdron regulari Tetraedron sp Tetraedron trigonum Tetraëdron victoreae Dictyosphaeriaceae Botryococcus braunni Dictyosphaerium ehrenbergianum x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 88 Dictyosphaerium pulchellum Dimorphococcus lunatus Westella botryoides Gloeocystaceae Asterococcus limnetius Hydroctyaceae Pediastrum duplex Pediastrum simplex Pediastrum tetras Micractiniaceae Golenkinia radiata Micractinium pusillum Ooscystaceae Chlorella vulgaris Choricystis sp Kirchneriella contorta Kirchneriella obesa Monoraphidium sp Oocystis borgey Oocystis lacustris Oocystis sp Palmellaceae Sphaerocystis sp Scenedesmaceae Coelastrum cambricum Coelastrum cambrium var. intermedium Coelastrum microporum Coelastrum reticulatum Coelastrum scabrum Crucigenia crucifera Crucigenia tetrapedia Scenedesmus acuminatus Scenedesmus acuminatus f. maximus Scenedesmus bicaudatus Scenedesmus bijugatus Scenedesmus denticulatus Scenedesmus ecornis Scenedesmus opoliensis Scenedesmus protuberans Scenedesmus quadricauda Scenedesmus sp Scenedesmus sp2 Scenedesmus spinosus Tetrastrum elegans Tetrastrum heterocanthum Diacanthus belenophorus x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 89 BACILLARIOPHYCEAE Pennales Bacillariophyceae Achnanthes sp Amphipleura lindheimerii Amphiprora alata Amphora sp Cocconeis placentula Cymbella sp Eunotia sp Gyrosigma sp Navicula sp Nitzchia closterium Nitzchia sp Pinullaria sp Rhopalodia gibba Sellaphora sp Stauroneis sp Surirella sp Fragilariophyceae Fragillaria capucina Fragillaria sp Pseudostaurosira brevistriata Synedra ulna Centrales Coscinodicophyceae Aulacoseira granulata Aulacoseira italica Cyclotella meneghiniana Melosira sp Melosira sulcata Thalassiosira weissflogii EUGLENOPHYCEAE Euglenales Euglenaceae Euglena acus Euglena caudata Euglena haematodes Euglena megalithus Euglena oxyuris Euglena proxima Euglena sp Euglena sp2 Euglena sp3 x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 90 Lepocinclis ovum Lepocinclis salina Lepocinclis sp Lepocinclis texta Phacus agilis Phacus curvicauda Phacus onyx Phacus orbicularis Phacus sp Phacus sp1 Phacus sp2 Strombomonas fluviatilis Strombomonas sp Strombomonas sp2 Strombomonas sp3 Trachelomonas acanthophora Trachelomonas armata Trachelomonas oblonga Trachelomonas raciborskii Trachelomonas rotunda Trachelomonas sp Trachelomonas sp2 Trachelomonas sydneyensis Trachelomonas volvocina Trachelomonas volvocinopsis ZIGNEMAPHYCEAE Zignematales Zignemaceae Mougeotia sp Spirogyra sp Desmidiaceae Closterium sp Closterium Kützinguii Cosmarium costractum Cosmarium margaritatum Cosmarium pseudoretusum Cosmarium sp Desmidium baileyi Euastrum evolutum Euastrum sp Euastrum sp2 Micrasteria sp Micrasteria furcata Staurastrum breviaculeatum Staurastrum sp x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 91 Staurastrum tetracerum x x CHLAMYDOPHYCEAE Volvocales Volvocaceae Eudorina sp Eudorina elegans Pandorina morum Pleodorina ilinoisensis x x x XANTHOPHYCEAE Mischococcales Ophiocytiaceae Ophiocytium cochleare x x x x x O Açude Soledade obteve a menor composição taxonômica, com 66 táxons identificados, o que difere dos valores encontrados no açude Taperoá II e no açude Namorados, cujos valores são respectivamente 115 e 112 táxons. Desta forma, os números de táxons do açude Taperoá II e do açude Namorados estão inseridos na variação entre 94 a 143 táxons de espécies fitoplanctônicas encontradas em ambientes tropicais (KALFF & WATSON, 1986). Contudo, o açude Soledade apresentou quantidade considerada abaixo da faixa de valores acima citada, o que sinaliza para a presença de espécies com elevada dominância. Barbosa (2002) ao analisar a composição taxonômica do açude Taperoá II no período de setembro de 1998 a setembro de 2000 também evidenciou uma elevada riqueza específica. B 100% Percen tual d e taxo ns n° de taxons A 120 90 60 30 0 Soledade Taperoá II Namorados Xanthophyceae Chlamydophyceae 75% Zignemaphyceae 50% Euglenophyceae Bacillariophyceae 25% Chlorophyceae Cyanophyceae 0% Soledade Taperoá II Namorados Figura 18. Descrição do número (A) e do percentual (B) de táxons pertencentes a cada classe para os açudes Soledade, Taperoá II e Namorados entre o período de jan/06 e dez/06 92 A classe Chlorophyceae foi a mais representativa em nível de riqueza específica com 28 táxons identificados em Soledade, 32 táxons em Taperoá II e 35 táxons em Namorados (Figura 18). Destes táxons, 37 foram comuns aos três ambientes, 5 foram exclusivos do açude Soledade, 30 do açude Taperoá II e 33 do açude Namorados. Estes resultados confirmam a afirmação de que as espécies pertencentes à divisão Chlorophyta são qualitativamente mais representativas tanto em lagos tropicais como os temperados (LEWIS, 1978; HUSZAR, 1994; RAMIREZ, 1996; CALIJURI, 1999; BARBOSA, 2002). Entretanto, algumas outras peculiaridades foram observadas nos três açudes: Soledade e Taperoá II apresentaram porcentagens expressivas de espécies pertencentes à classe Cyanophyceae (32% e 28%, respectivamente – Figura 18), enquanto que Namorados obteve uma presença considerável de táxons de Euglenophyceae (23% dos táxons). Apesar dos três corpos d’ água estarem relativamente próximos entre si, os mesmos apresentaram variações em seus determinantes físico-químicos (Capítulo 1), que se refletem na composição taxonômica. Vários pesquisadores já haviam também registrado a maior riqueza de Chlorophyceae em diferentes ecossistemas lacustres brasileiros (Beyruth, 1996; Henry & Nogueira, 1999; Huzsar, 1994; Marinho, 1994; Menezes, 1999, Tucci, 2002). Estas são comumente registradas como as mais importantes em número de espécies em ambientes dulcícolas (Train & Rodrigues, 1997, 2004; Bicudo et al, 1999; Silva et al, 2004) sendo favorecidas por apresentarem alta variabilidade morfométrica, podendo se desenvolver em diversos hábitats (Reynolds, 1984; Happey – Wood, 1988). 4.1.2 Aspectos Quantitativos 4.1.2.1 Densidade e Abundância a) Açude Soledade No que diz respeito aos aspectos quantitativos o açude Soledade apresentou elevadas concentrações de indivíduos fitoplanctônicos. A expressiva densidade ( x = 82.511,48 ind.ml-1; CV = 35.75%) mostrou que de acordo com a resolução nº 93 357/2005 do CONAMA os ambientes foram caracterizados como detentor de florações algais (Figura 19). B 120000 75 90000 in d /m l 100 Xanthophyceae Zignemaphyceae 60000 Chlamydophyceae Euglenophyceae 25 30000 Bacillariophyceae Chlorophyceae 0 0 6 ju l/0 6 se t/0 6 no v/ 06 /0 ai m ar /0 /0 6 6 Cyanophyceae m ja n se t/0 6 no v/ 06 ju l/0 6 m ai /0 6 50 ja n/ 06 m ar /0 6 (%) A Figura 19. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06 A análise espaço-temporal apresentou variações significativas na quantidade de indivíduos no decorrer dos meses e variações não significativas nos perfis horizontais e verticais do açude (Tabela 12). A mistura constante da coluna d’água, ocasionada pela baixa profundidade do açude e a forte ação dos ventos, foi determinante para a reduzida variabilidade espacial. Porém na análise da figura 4 é possível observar que nos períodos de menor precipitação pluviométrica os maiores valores de densidade algal foram registrados a 1% de penetração de luz e os maiores valores, registrados nos períodos chuvosos, foram observados nas camadas mais iluminadas. Tal fato possivelmente esteja associado ao aumento de radiação solar subaquática registrados em períodos de estiagem o que interfere diretamente na busca de estratégias de sobrevivências por parte desses organismos. De acordo com Esteves (1998) a forte luminosidade nas camadas mais superficiais pode interferir negativamente no processo fotossintético, levando as algas a procurarem camadas menos iluminadas, sobretudo nos meses mais quentes. Diferentemente das variações espaciais, as temporais foram extremamente significativas, sendo marcadas por maiores densidades nos meses mais secos ( x =91.614,9 ind.ml-1; CV= 34,13%) e menores densidades nos meses chuvosos ( x = 64.184,5 ind.ml-1;CV= 31,43%). Neste caso, a precipitação pluviométrica pode ter sido um agente estressante no ecossistema reduzindo em até 30% a concentração algal. A partir de julho de 2006 houve um posterior restabelecimento da densidade fitoplanctônica com o retorno da estiagem (Fig.3B e Fig.4). Os altos valores de 94 temperatura, o ambiente aquático reduzido, os elevados índices evaporativos e a concentração de nutrientes são características delineadoras de um ambiente favorável a teores elevados de densidade e de biomassa algal (BARBOSA, 2002). Meses Mar/06 Jan/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 100% Ind. ml -1 150000 140000 130000 120000 50% 110000 % Luz 100000 90000 80000 70000 60000 1% 50000 40000 30000 20000 10000 Zmax 0 Figura 20. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06 Diferentemente da riqueza específica a classe de maior contribuição na densidade total do fitoplâncton foi a classe Cyanophyceae (Fig. 5A), fato corroborado pelos valores de r2 = 0,9844 e p < 0,0001, encontrados na análise de regressão simples (Fig. 5) e abundância relativa que esteve acima de 80% em todos os meses. De acordo com a figura 6 a espécie Aphanocapsa elachista dominou a comunidade fitoplanctônica no mês de junho e setembro de 2006 (57,42% e 61,57%, do total de indivíduos, respectivamente), além de ser abundante nos demais meses, exceto em jan/06, onde no ambiente houve predomínio de Coelosphaerum sp (67,96%) (Fig.6). A predominância desta espécie, durante este período possivelmente tenha ocorrido em função do aumento das cotas hídricas do referido ecossistema, acarretado pelas chuvas precipitadas em meses anteriores, fato este que influenciou nas reduções dos valores pH e alcalinidade e aumento nos valores de nitrato (Capitulo 1). Tanto a espécie Aphanocapsa elachista como Coelosphaerum sp influenciaram negativamente nos índices de diversidade e equidade e contribuíram positivamente para os altos valores de densidade e dominância, como mostra a tabela 3. Sobre este ecossistema, vale mencionar ainda a constante abundância de Cylindrospermopsis raciborskii desde jan/06 até set/06, espécie que apresenta alta competitividade em ambientes eutrofizados, é capaz de originar florações e produzir toxinas, dentre as quais, a cilindrospermopsina, com potencial para inibir a síntese 95 protéica de células hepáticas, renais cardíacas e pulmonares (KUIPER-GOODMAN et al, 1999; SANT’ANNA et al, 2006) e a potente toxina paralisante do tipo PSP (Paralytic Shellfish Poisons), que age no sistema neuromuscular (LAGOS et al, 1999; TUCCI & SANT’ANNA, 2003). Populações de Cylindrospermopsis raciborskii, assim como as demais espécies de cianobactérias, compartilham características fisiológicas que influenciam incisivamente no seu sucesso ecológico (PADISÁK, 1997), como a capacidade de migração na coluna d’água, tolerância à baixa luminosidade, afinidade com fósforo e amônia, capacidade de fixar nitrogênio atmosférico e resistência à herbivoria do zooplâncton (NOGUEIRA, 1996). A y = 1,054x + 2773 R2 = 0,9844 120.000 140.000 D e n s id a d e ( in d .m L - 1 ) D e n s id a d e ( in d .m L - 1 ) 140.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 y = 3,0705x + 64968 R2 = 0,1653 120.000 B 100.000 0 80.000 60.000 40.000 20.000 0 0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 Chlorophyceae (ind.mL-1) Cyanophyceae (ind.mL-1) Figura 21. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1) e as densidades das Cyanophyceae (A) e Chlorophyceae (B) do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06 100 S. laxissima (%) 75 M. aeruginosa C. raciborsk ii 50 Coelosphaerium sp 25 A. elachista 0 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06 nov/06 A. circularis Figura 22. Porcentagem das espécies abundates do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06 A partir da classificação fitossociológica de Reynolds (2002), a cianobactéria dominante Aphanpcapsa elachista está contida no grupo funcional K composto por 96 algas com afinidade ambiental por ecossistemas rasos e ricos em nutrientes, explicando sua dominância em Soledade, onde as concentrações de compostos nitrogenados e fosfatados foram altas (Capítulo 1). As espécies abundantes Cylindrospermopsis raciborskii, Spirulina laxissima, e Microcystis aeruginosa estão inseridas, respectivamente, nos códons, Sn, S2 e M. Os referidos grupos funcionais estão vinculados a ambientes de águas quentes, misturadas e ricas em nutrientes, corroborando também com as descrições físicas e químicas do açude Soledade. Além do mais, a associação K sobrevive particularmente bem em águas com pH elevado (REYNOLDS, 2002), condição ambiental que certamente influenciou nos altos valores de densidade desta microalga em praticamente todas as amostras avaliadas (fig. 6). A presença de cianobactérias em Soledade, durante todo o período de monitoramento é algo preocupante, pois como a grande maioria dos reservatórios localizados em regiões semi – áridas são destinados a usos múltiplos a presença destes organismos em além de formarem florações e causarem desequilíbrios ecológicos, podem conferir gosto e odor desagradável à água, ou mesmo produzirem toxinas. Segundo Sant’Anna et al (2006), cianobactérias, a priori, são consideradas como potencialmente tóxicas e suas florações são definidas em função da concentração de células que representam risco a saúde pública pela síntese de substâncias de natureza toxicológica. b) Açude Taperoá II Diferentemente do açude Soledade, o açude Taperoá II apresentou densidades fitoplanctônicas relativamente baixas ( x = 1.123 ind.ml-1; CV = 75,8%), um reflexo do seu reduzido nível trófico quando comparado ao ambiente anteriormente citado (Capitulo 1). A classe mais expressiva foi a Bacillariophyceae, com uma representação média de 53% do total de indivíduos da amostra (CV = 67,3%) e uma densidade média de 507,3 ind.ml-1 (CV = 125,7%) (Figura 7A e B). As flutuações da escala espaço-temporal obedeceram ao mesmo padrão verificado para Soledade, com variações espaciais não significativas e variações temporais extremamente significativas em decorrência da intensa variabilidade climática (Tabela 2). Apesar do perfil vertical e horizontal do açude não ter 97 apresentado modificações significativas, é possível observar aglomerações pontuais em alguns meses, como em janeiro e julho de 2006. De modo geral, as maiores B A 100 2500 2000 ind/m l 50 1000 500 25 06 no v/ t/0 6 se /0 6 j ul a i/ m ar /0 6 /0 6 jan no v/ 06 se t/0 6 ju l/0 6 m ai /0 6 06 0 0 ja n/ 06 m ar /0 6 Xanthophyceae Zignemaphyceae Chlamydophyceae Euglenophyceae Bacillariophyceae Chlorophyceae Cyanophyceae 1500 m (%) 75 Figura 23. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06 densidades foram registradas a 50 e 1% de penetração de luz, fato que possivelmente esteja associado ao excesso de radiação solar subaquática comum na região onde está situado o referido açude. Temporalmente, se observou, ainda, um decréscimo da densidade algal nos meses de março e junho de 2006, período chuvoso na região, seguido de um aumento de valores em julho/2006, devido o fim das chuvas, e uma nova redução nos últimos meses analisados. (Fig. 5B). Esta situação possivelmente esteja relacionada às variações nos índices de precipitação pluviométrica, os quais agem no ambiente como diluidor de nutrientes e mesmo de organismos fitoplanctônicos, contribuindo assim para a redução quantitativa do fitoplâncton e atuando como uma fonte de perturbação relevante na distribuição temporal destes organismos, uma vez que reservatórios rasos são mais susceptíveis às mudanças temporais (RODRIGUES et al, 2005). O segundo decréscimo nos valores de densidade total também pode estar associado à processos de herbivoria por organismos zooplanctônicos. Contudo as variações temporais ligadas aos períodos de seca e estiagem além de afetarem a densidade total da comunidade, promoveram sucessões de espécies de diferentes classes fitoplanctônicas, diferentemente do que ocorreu no açude Soledade que comportou dominância de cianofíceas em todo o período amostral. 98 Vale salientar que os dois meses de maiores densidades de indivíduos (janeiro e julho de 2006), eram representativos de condições climáticas antagônicas. Meses Jan/06 Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 100% Dez/06 Ind. ml -1 15000 14000 13000 12000 50% 11000 % Luz 10000 9000 8000 7000 6000 1% 5000 4000 3000 2000 1000 Zmax 0 Figura 24. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06 O mês de janeiro ( x = 2.080,67 ind. ml-1; CV= 44,19%) apresentou o menor volume de água e temperaturas mais elevadas, com microestratificações na coluna d’água. Tais características, somadas com a concentração de sais e de nutrientes, beneficiaram as cianobactérias, as quais são bem adaptadas neste cenário ambiental (Fig 7). No entanto, à partir de jun/06, foram observados os reflexos ambientais das intensivas taxas pluviométricas ocorridas nos meses anteriores: máximo volume de água armazenada, intensificação dos processos de mistura das massas d’água, ausência de estratos térmicos significativos (Fig. 8), diluição de sais minerais e nutrientes, diminuição do pH da água e elevada transparência. A integração destes fatores propiciou a dominância da classe Bacillariophyceae, que respalda a existência da mudança de uma condição eutrófica anterior para um estado de oligotrofia (Capítulo I). Esta tendência se propaga nos meses restantes, sendo o mês de jul/06 (x = 2.134,01 ind.ml-1; CV = 16,28%) o detentor da maior densidade algal. Este mês apresenta também um aumento na disponibilidade de nutrientes, principalmente ortofosfato solúvel, composto fosfatado mais facilmente assimilado pelo fitoplâncton, como pode ser visto no capítulo I. Os meses de set/06 ( x = 252,44 ind.ml-1; CV = 17,18%) e dez/06( x = 166,73 ind.ml-1; CV=40,83%) foram caracterizados pelos menores valores de densidade, causado provavelmente pela elevada herbivoria da comunidade zooplanctônica. Este comportamento na coluna d’água pode estar associado com “fenômeno das 99 100 C. meneghiniana 75 M. sulcata (%) A. italica A. granulata 50 S. laxissima Pseudoanabaena sp 25 C. raciborsk ii Anabaena sp 0 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06 nov/06 Figura 25. Porcentagem das espécies abundantes do açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06 águas claras” (clear-water phase), caracterizada pelo aumento da transparência da água e reduções brutais na biomassa algal e na produção primária (TÕNNO et al, 2003). A classe Cyanophycea foi a dominante em janeiro e março de 2006, com 77% e 92,45%, respectivamente, do total de indivíduos contados. Foram registradas abundâncias das cianofíceas filamentosas Cylindrospemopsis raciborskii e Pseudoanabaena sp nos dois meses citados. Nos demais meses, ocorreu hegemonia de organismos cêntricos da classe Bacillariophyceae. A espécie Aulacoseira itálica foi dominante em jul/06 (61,5% da densidade total) e abundante em jun/06, enquanto que Melosira sulcata foi dominante em dez/06 (65,16%) e abundante em junho e setembro de 2006. Referência também deve ser feita à espécie Aulacoseira granulata que foi abundante em todo o período amostral, com exceção apenas dos meses de março e dezembro de 2006 (Fig. 9). Barbosa (2002) estudando o Açude Taperoá II já havia constatado uma alta densidade de cianofíceas entre os meses secos de setembro/98 e janeiro/99, relacionando as fortes taxas de evaporação e insolação e a alta disponibilidade de nutrientes. Além de elevadas concentrações da classe Bacillariophyceae, a partir das fortes chuvas precipitadas em março/99, incluindo a dominância de A. granulata em outubro/99 e de A. italica em novembro do mesmo ano, e associando às excelentes concentrações de sílica, a alta turbulência da água e a reduzida profundidade do açude. Dominâncias de A. granulata também foram registradas no rio Iguaçu (RODRIGUES et al, 2005) e no reservatório de Salto do Vau (TRAIN et al, 2005), 100 ambos situados no estado do Paraná. Tendo os autores dos trabalhos igualmente associados o caso ao padrão de mistura da coluna d’água dos respectivos ecossistemas. O gênero Aulacoseira é R-estrategista, mostrando-se bem adaptado a condições instáveis, como a mistura turbulenta da água. Levando em consideração os grupos funcionais de Reynolds et al (2002), as espécies Cylindrospemopsis raciborskii e Pseudoanabaena sp integram os códons Sn e S1, corroborando com as configurações ambientais da água em épocas de seca. Quanto às espécies Aulacoseira itálica e Melosira sulcata não foram encontrados no trabalho de Reynolds grupos que as abranjam especificamente, porém, segundo Moura et al (2007), as espécies do gênero Melosira sp. estão inseridas no códon D. A espécie Aulacoseira granulata, também bastante representativa neste estudo pertence ao códon P. O grupo D é exclusivo de diatomáceas, enquanto o P abrange certas diatomáceas e algumas desmidiáceas, em comum, ambos são tipicamente encontrados em ecossistemas aquáticos rasos, ricos em nutrientes, com águas bem ventiladas e turvas, assim como ocorre no açude Taperoá II. c) Açude Namorados O açude Namorados também revelou intensa variação sazonal, cujos meses de maior concentração algal foram: jan/06 ( x = 5342,71 ind.ml-1; CV = 20,68%), jul/06 ( x = 5019,77 ind.ml-1; CV = 3,64%) e dez/06 ( x = 5723,24 ind.ml-1; CV = 63,02%), e as menores concentrações foram em jun/06 ( x = 1515,02 ind.ml-1; CV = 66,81%). Quanto a variações espaciais e temporais não foram observadas alterações significativas (Tabela 12). Entretanto, como mostra a figura 11, os maiores valores de densidade fitoplanctônica foram observados em profundidades a 50% e 1% de penetração de luz, em decorrência do excesso de radiação solar na camada superficial e da redução os valores de luminosidade na região mais profunda, repetindo a tendência verificada nos açudes anteriores (Fig 11). Entre os meses de janeiro e março de 2006, as classes Cyanophyceae e Euglenophyceae foram predominantes, possivelmente devido aos baixos índices pluviométricos registrados nestes meses (r = - 0,5548; p <0,01 – Tabela 10), acarretando em redução na quantidade de água residente na sua bacia hídrica, fato este que influencia nas concentrações de matéria orgânica e de nutrientes. A classe 101 Euglenophyceae apresenta espécies heterotróficas facultativas, tendo afinidade por águas ricas em matéria orgânica (XAVIER, 1988; ESTEVES, 1998). A B 100 6000 75 in d /m l (%) 4000 50 Xanthophyceae Zignemaphyceae Chlamydophyceae Euglenophyceae Bacillariophyceae Chlorophyceae Cyanophyceae 2000 25 6 ju l/0 6 se t/ 0 6 no v/ 06 ai m ar /0 /0 6 6 /0 m ja n no v/ 06 se t/0 6 ju l/0 6 m ai /0 6 0 ja n/ 06 m ar /0 6 0 Figura 26. Abundância relativa (A) e densidade (B) das classes de algas identificadas no açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06 No mês de jun/06, caracterizado por elevada taxa pluviométrica, o carreamento de material alóctone em suas margens e o aumento da circulação das massas de água pelo vento foram relevantes para o impedimento da diluição do material suspenso na água. Deste modo, o ambiente tornou-se favorável para desenvolvimento das euglenófitas, que chegaram a atingir 69,73% da densidade total neste mês (Fig 10). Porém, segundo os dados de regressão linear simples (Figura 12), a classe Cyanophyceae foi realmente a que mais interferiu nos valores de densidade total. Em jul/06, com o aumento das chuvas, o decréscimo da concentração média de amônia e o aumento nos valores de ortofosfato solúvel na água, as euglenofíceas cederam espaço às algas da classe Chlorophyceae, que dominaram o ambiente com 56,37% de abundância relativa. Nos meses seguintes houve o restabelecimento da predominância das cianobactérias, cuja abundância relativa ultrapassou 80% do total de indivíduos computados em setembro e dezembro de 2006 (Fig. 10 e 12). A retomada das características citadas em jan/06 foi o estímulo ambiental que desencadeou esta alteração. Entre os meses de janeiro e março de 2006, as classes Cyanophyceae e Euglenophyceae foram predominantes, possivelmente devido aos baixos índices pluviométricos registrados nestes meses (r = - 0,5548; p <0,01 – Tabela 10), acarretando em redução na quantidade de água residente na sua bacia hídrica, fato 102 este que influencia nas concentrações de matéria orgânica e de nutrientes. A classe Euglenophyceae apresenta espécies heterotróficas facultativas, tendo afinidade por águas ricas em matéria orgânica (XAVIER, 1988; ESTEVES, 1998). Meses Mar/06 Jan/06 Jul/06 Jun/06 Set/06 Dez/06 100% Ind. ml -1 15000 14000 13000 12000 50% 11000 % Luz 10000 9000 8000 7000 6000 1% 5000 4000 3000 2000 1000 Zmax 0 Figura 27. Variação vertical/temporal da densidade total da comunidade fitoplanctônica do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06 y = 0,636x + 2535, R² = 0,541 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 B 7.000 A Fitoplâncton Total (ind.mL-1 x 106) Fitoplâncton Total (ind.mL-1) 7.000 y = -1,659x + 5243, R² = 0,237 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 6.000 Cyanophyceae (ind.mL-1) 0 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 Euglenophyceae (ind.mL-1) Figura 28. Regressão linear simples entre a densidade total (ind. mL-1) e as densidades das Cyanophyceae (A) e Euglenophyceae (B) do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06 As alterações sazonais relatadas acima também influenciaram a ocorrência de espécies abundantes e dominantes no Açude Namorados. Porém, a maioria das amostras coletadas não apresentaram espécies dominantes, exceto em set/06, com a dominância da Aphanocapsa elachista, e dez/06, que mostrou expressiva dominância de Chroococcus distans (Fig. 13). Em jan/06, as espécies Aphanocapsa elachista, Merismopedia tenuissima e Cyclotella meneghiniana foram abundantes, sendo que a primeira obteve presença constante entre mar/06 e jul/06. A ocorrência da Euglena proxima e Strombomonas 103 fluiviatilis em mar/06, da espécie Trachelomonas volvocina entre os meses de mar/06 e jul/06, e da Trachelomonas oblonga em jun/06 reforça a conexão do aparecimento gradativo das euglenofíceas com a mudança da estação seca para a estação chuvosa. Apenas em jul/06, a espécie Dictyosphaerium pulchellum, representante das clorofíceas, foi praticamente dominante numérica. Desta forma, as espécies abundantes apresentaram um relativo equilíbrio em suas percentagens, configurando em uma elevada equidade nos meses em que não foram detectadas espécies dominantes. Segundo Reynolds et al (2002), as espécies Aphanocapsa elachista e Merismopedia tenuissima estão associadas, respectivamente, com os grupos funcionais K e Lo. O códon Lo é tipicamente encontrado no epilímnio de ecossistemas aquáticos mesotróficos no período de verão, corroborando plenamente com as condições ambientais de Namorados, visto sua ocorrência no período seco. Contudo, de acordo com Reynolds et al (2002) não há precisão da significância da abundância de populações do grupo K, salvo pelo fato delas sobreviverem bem em alto pH e poderem representar associações em transição entre os grupos Lo e M. Tal afirmação se confirmou neste estudo dada a grande abundância de Aphanocapsa elachista em Soledade, permanentemente com elevado pH, e em Namorados, nos meses de maiores valores de pH. De toda forma, o grupo é indicador de águas ricas em nutrientes e pode ter atuado como uma associação M em Soledade, devida sua avançada eutrofização, e como Lo em Namorados, que efetivamente se encontra mesotrófico. As espécies Trachelomonas volvocina, e Trachelomonas oblonga pertencem ao grupo W2, e Euglena próxima e Strombomonas fluviatilis ao grupo W1, que descriminam ambientes ricos em matéria orgânica, mesotróficos e rasos. Enquanto a espécie Cyclotella meneghiniana está contida no grupo B, outra associação indicadora de ambientes mesotróficos, contudo apresentou pouca representatividade ao longo do estudo. A espécie Dictyosphaerium pulchellum, muito expressiva em julho, compõe associações F de clorofíceas coloniais com afinidade ambiental por águas claras. Explicando sua elevada densidade no mês de julho, quando a transparência da água se elevou de 0,20m para 1,30m. 104 100 T. volvocina T. oblonga 75 (%) S. fluviatilis E. proxima 50 C. meneghiniana D. pulchellum 25 M. tenuissima C. distans 0 jan/06 A. elachista mar/06 mai/06 jul/06 set/06 nov/06 Figura 29. Porcentagem das espécies abundates do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06 Tabela 12. Resultados da ANOVA realizada com os dados de densidade total (ind/ml) para estabelecer a significância das variações temporais, espaço/horizontais e espaço/verticais de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06. Meses Profundidade Estatística f P f p A. Soledade 4,4007 <0.0001 1,6013 0,2205 A.Taperoá II 15,1880 <0.0001 0,1547 0,9254 A. Namorados 3,595 0,01439 1,822 0,1756 Estações f p 1,3029 0,7785 1,2951 0,7835 1,2245 0,8296 4.1.3 Índices de Diversidade A estrutura e dinâmica da comunidade fitoplanctônica pode ser caracterizada pelos seus índices de diversidade, os quais são determinados pelo número de espécies presentes, suas propriedades fisiológicas e potencial genético, além de fatores ambientais físicos e químicos, ação de pastoreio e parasitismo (LOPES, 1999). O Índice de diversidade de Shannon-Weaver vêm sendo um dos mais utilizados. Expressando a diversidade como resultado recíproco da riqueza de espécies e da equidade entre elas e ressaltando a importância de se diferenciar estas duas variáveis e seus efeitos ecológicos (ODUM, 1972; RAMIREZ, 1996; LINS, 2006). 105 Para se calcular a equitatividade de variados tipos de comunidades, foram propostos diversos índices de equidade, os quais, de acordo com Bicudo et al. (1999) refletem o grau de organização da comunidade, a variação porcentual de seus componentes e o distanciamento desta comunidade de outra com espécies equitativamente representadas. Neste trabalho foi adotado o Índice de Equidade de Pielou (1975) por apresentar baixas interações entre equidade e riqueza específica e, especialmente, pelo fato das amostras em estudo apresentarem reduzido número de espécies raras. A dominância apresenta clara correlação inversa com a equidade e decresce na medida em que se aumenta a similaridade das porcentagens das diferentes espécies presentes em uma amostra. O Índice de dominância utilizado foi o de Simpson (1949). De acordo com Costa et al (1998) a diversidade na comunidade de microalgas é um mecanismo gerador de estabilidade, ao passo que a dominância gera produção em termos de biomassa e/ou produtividade. Os índices de Shannon-Weaver para os três ecossistemas aquáticos avaliados normalmente comportaram o mesmo padrão de variabilidade verificado para as diversas variáveis analisadas, com flutuações consideradas de significativas a extremamente significativas entre as diversas épocas do ano e consideradas não significativas entre os pontos das estações do eixo horizontal e as profundidades do perfil vertical (Tabela 3). Através da análise da figura 14, percebe-se claramente que a diversidade foi influenciada positivamente pela equidade e em menor intensidade pela riqueza de táxons e negativamente pela dominância. Tais resultados são esperados do ponto de vista ecológico dado que a diversidade é expressa de forma recíproca pelo número de espécies e por sua equidade (PADISÁK, 1993) e a dominância tem relação inversa com a diversidade (COSTA et al., 1998). Em relação a densidade total e a diversidade, foi possível observar, ainda através da figura 14, que em Soledade houve uma correlação inversa significativa entre estas duas variáveis, fato que não ocorreu em Taperoá II e em Namorados. Esta situação possivelmente esteja relacionada às características tróficas dos três ambientes, pois no açude Soledade os níveis de trofia foram maiores que nos demais açudes (Capítulo I), o que acarretou em uma freqüente dominância de algumas espécies mais adaptadas a realidade do ambiente. Em Soledade, as 106 espécies que influenciaram nos altos valores de densidade foram Aphanocapsa elachista e Coelosphaerium sp. Tabela 13: Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal dos Índices de Diversidade de Shannon-Weaver de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06. Meses Estatística Aç. Soledade Aç. Taperoá II Aç. Namorados Pontos Vertical Horizontal Vertical Horizontal f p f p f P f p 4.854 0.0055 5.09 0.0362 0.8409 0.4875 2.017 0.8554 7.708 0.0005 0.1898 0.9557 0.7404 0.5404 1.006 0.7742 17.821 <0.0001 5.547 0.0298 0.2116 0.8872 2.548 0.3553 107 Aç. Soledade y = 4.1787x - 0.1302 R2 = 0.8498 Diversidade 2 1 0 0.3 0.6 0.9 3 2 1 1.2 0 0.3 1 R = 0.4909 3 2 1 30 10 20 Nº de táxons 1 1 Diversidade 1 0 0.3 0.6 Densidade total 2 1 0.9 0 0.3 200000 0.6 0.9 Dominância y = 4E-06x + 2.4785 R2 = 4E-05 y = -0.0001x + 2.8087 R2 = 0.1045 4 3 2 1 3 2 1 0 0 100000 3 0 4 2 0 R 2 = 0.9389 Dom inância 3 30 y = -3.9942x + 3.6893 2 0 y = -1E-05x + 3.6289 R2 = 0.7547 4 10 20 Nº de táxons 4 3 0.9 0 Diversidade 0.3 0.6 Dom inância y = 0.1487x + 0.3074 R2 = 0.6826 1 30 0 0 1.2 2 Diversidade Diversidade 2 0.6 0.9 Equidade 3 y = -4.1337x + 3.6983 R2 = 0.8618 4 3 0.3 0 0 y = -3.9947x + 3.7318 R2 = 0.8793 0 0 4 0 10 20 Nº de táxons 4 1 1.2 Diversidade 2 0 Diversidade 0.6 0.9 Equidade 2 4 3 0 2 y = 0.1042x + 1.0521 Diversidade Diversidade 4 3 0 Equidade y = 0.0683x + 1.4308 R2 = 0.2018 R2 = 0.7734 4 0 0 Diversidade y = 3.9744x - 0.1627 y = 4.4561x - 0.4675 R2 = 0.8208 4 3 Aç. Namorados Diversidade 4 Diversidade Ac. Taperoá II 0 2000 Densidade total 4000 0 6000 12000 Densidade total Figura 30. Análises de regressão linear simples entre diversidade específica com equidade, riqueza de táxons, dominância e densidade total referentes aos açudes Soledade, Taperoá II e Namorados entre o período de jan/06 e dez/06. 108 B 3 2 1 0 Mínimo Máximo Média 4 3 2 1 jul set dez 3 2 1 0 0 jan mar jun Mínimo Máximo Média C4 Diversidade Mínimo Máximo Média 4 Diversidade Diversidade A jan mar jun jan mar jun jul set dez jul set dez Figura 31. Variação temporal da diversidade da comunidade fitoplanctônica de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06: (A) açude Soledade, (B) açude Taperoá II e (C) açude Namorados Apesar dos altos valores de densidade registrados em Soledade, foi possível observar que curiosamente a maior média de diversidade (2,586 bits. ind-1) foi registrado neste ambiente. Entretanto, este dado não corrobora fielmente com a literatura, que a exemplo de Costa et al (1998) afirma que a eutrofização costuma exercer efeitos sobre os organismos do meio, provocando algumas vezes declínio da diversidade. Certamente, neste ambiente a alta riqueza de espécies das amostras quantitativas (média de 16,3 táxons) contribuiu muito para elevar os valores do Índice de Shannon-Weaver, visto que a equidade da comunidade fitoplanctônica foi muito baixa (0,645) em função das dominâncias de Coelosphaerium sp em janeiro e de Aphanocapsa elachista em junho e em setembro, meses onde é possível observar através das figuras 15A e 16A quedas dos valores de diversidade e equidade e elevação do Índice de dominância. B 1 0.75 Equidade 1 0.75 0.5 0.6 0.4 0.25 0.5 0.6 0.4 0.25 0.2 0.2 0 0 jan mar jun jul setdez 1 0.75 0.8 0.8 0.8 Equidade Dominância C 0.5 0.6 0.4 0.25 Dom inância A 0.2 0 0 jan mar jun jul set dez 0 0 jan mar jun jul set dez Figura 32. Correlação entre equidade e dominância de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06: (A) açude Soledade, (B) açude Taperoá II e (C) açude Namorados. 109 A variabilidade temporal dos índices de diversidade obteve correlação positiva com a precipitação pluviométrica (r = 0.6146). O que pode ser explicado através da Hipótese do Distúrbio Intermediário, segundo a qual, a diversidade tem relação direta com as respostas da comunidade às perturbações ambientais, de modo que, comunidades não perturbadas ou altamente perturbadas desenvolvem baixa diversidade, enquanto perturbações de freqüência e intensidade intermediárias são necessárias para manter a diversidade (CONNEL, 1978). Baseando-se nesta hipótese, é possível que os aumentos verificados nos meses chuvosos tenham sido possibilitados pela moderada instabilidade que a chuva causa no ecossistema, desfavorecendo a dominância de algumas espécies e elevando assim a equidade da comunidade fitoplanctônica. Porém, a diversidade foi reduzida em junho, mês de maior incidência pluviométrica entre os meses amostrados (Figura 13A). Entretanto, ainda se utilizando da Hipótese do Distúrbio Intermediário, tal redução se torna justificável se considerarmos que a chuva, neste mês, tenha atuado como um distúrbio de grande magnitude. Por este motivo foram providenciadas análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação considerando-se os seis períodos amostrados (Figura 17A) e, logo à frente, desconsiderando-se o mês de maior incidência pluviométrica (Figura 17B). No último caso o valor de R se elevou de 0.6146 para 0.7929, corroborando, ainda mais, com a hipótese de Connel (1978). É importante salientar também que o mesmo fenômeno se repetiu nos demais ambientes, conforme será mostrado a seguir. y = 0.0086x + 2.3836 R= 0.6146 4 B 3 Diversidade Diversidade A 2 1 0 y = 0.0159x + 2.3524 R = 0.7929 4 3 2 1 0 0 90 180 270 Precipitação 360 0 90 180 270 Precipitação 360 Figura 33. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do açude Soledade entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de jun/06. 110 O açude Taperoá II foi marcado na pesquisa por apresentar o maior índice de similaridade entre as porcentagens das diferentes espécies fitoplanctônicas (média da equidade = 0.6614). Contudo, a relativamente baixa riqueza de táxons (média de 13.73 táxons por amostra) impediu que sua diversidade (média de 2.4841 bits. ind-1) fosse superior a de Soledade, mesmo se tratando de um ambiente oligo-mesotrófico. Os menores valores de diversidade foram registrados em março, mês que sozinho contribuiu com mais da metade do volume anual precipitado, julho, devido à dominância de Aulacoseira italica, e dezembro, em função da dominância de Melosira sulcata (Fig 15B e 16B) A figura 18 mostra as análises de regressão linear simples estabelecidas entre diversidade e precipitação para o açude Taperoá II, reforçando a Hipótese do distúrbio intermediário, dado o grande aumento do valor de R quando desconsiderado o mês de março da referida análise. y = 0.0006x + 2.4373 R =0.1568 4 B4 3 Diversidade Diversidade A 2 1 0 y = 0.0096x + 2.2678 R = 0.7786 3 2 1 0 0 90 180 Precipitação 270 360 0 90 180 270 Precipitação 360 Figura 34. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do açude Taperoá II entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de mar/06. O açude Namorados apresentou as menores médias dos Índices de Diversidade (2.3558 bits. ind-1), Equidade (0.6293) e Riqueza de táxons (13.37 táxons), em razão da elevada dominância de Aphanocapsa elachista em setembro e, principalmente, de Chroococcus distans em dezembro, quando a diversidade atinge uma média de apenas 0,7995 bits. ind-1 (Fig 15C e 16C). Mais uma vez a diversidade apresentou correlação positiva com as chuvas, com exceção de Junho, mês de maior precipitação, quando a diversidade da comunidade se reduz em conseqüência da diminuição da riqueza de táxons (Fig 17). 111 y = 0.0049x + 2.1477 R = 0.4136 4 B 3 Diversidade Diversidade A 2 1 y = 0.028x + 1.8873 R = 0.6145 4 3 2 1 0 0 0 90 180 270 Precipitação 360 0 90 180 270 Precipitação 360 Figura 35. Análises de regressão linear simples entre diversidade e precipitação do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06: (A) todo período amostral (B) exclusão do mês de mar/06 4.1.4 Clorofila-a e Feofitina A biomassa algal, representada pelos teores de clorofila-a apresentou a sazonalidade como o fator de mais forte variabilidade nos açudes em detrimentos das escalas espaciais horizontal vertical (Tabela 4). As mesmas correspondências foram confirmadas para a feofitina, apenas no açude de Taperoá II (Tabela 5). De modo geral os açudes apresentaram elevadas taxas de ambos os pigmentos, as quais decresceram na seguinte ordem: açude Soledade (médias de clorofila-a e de feofitina, respectivamente, iguais a 85,7 e 91,9 µg/l), açude Namorados (14,4 e 20,2 µg/l) e açude Taperoá II (6,6 e 8,1 µg/l) (Figuras 18 e 19). A distribuição de clorofila-a e de feofitina processou-se em toda a coluna d’água de forma bastante homogênea (Fig. 19), configurando a não significância da variabilidade do perfil vertical, salvo alguns picos de feofitina verificados nas camadas mais profundas, principalmente no açude Soledade a 1% de penetração luminosa (dez/06) e em Namorados na profundidade máxima (mar/06). Esta ausência de estratificação possivelmente esteja relacionada a morfometria destes pequenos e rasos reservatórios, que submetidos à forte ação dos ventos sofrem misturas constantes, seja ao longo da coluna d’água ou entre a região marginal e pelágica. Segundo Huszar (2004), em ecossistemas mesclados pelos ventos podem ocorrer distribuições das comunidades fitoplanctônicas ao acaso ou aproximadamente ao acaso. Quanto aos picos de feofitina registrados a 1% de penetração luminosa e na zona afótica, possivelmente decorreram da sedimentação de organismos 112 fitoplanctônicos mortos. Moura (1996) e Lopes (1999) já haviam registrado picos de feofitina no fundo de ecossistemas aquáticos tropicais, relacionando em parte tal fenômeno a sedimentação de células senescentes. Analisando – se o Apêndice 1 é possível verificar que a clorofila-a apresentou, em Soledade, correlação positiva com o íon amônio (r = 0,62; p < 0,01), com o nitrogênio total (r = 0,42; p < 0,01) e com os teores de ortofostato solúvel (r = 0,46; p < 0,01) e negativamente com a precipitação pluviométrica (r = - 0,57; p < 0,01), com o volume do reservatório (r = - 0,56; p < 0,01) e com os teores de oxigênio dissolvido (r = - 0,53; p < 0,01). Para o açude Taperoá II (Apêndice 2) a correlação positiva ocorreu entre a clorofila-a e a densidade (r = 0,60; p < 0,01), a condutividade elétrica (r = 0,74; p < 0,01) e a feofitina (r = 0,87; p < 0,01) e negativamente com o nitrito (r = - 0,44; p < 0,01), o volume do açude (r = - 0,60; p < 0,01) e os teores de alcalinidade (r = - 0,64; p < 0,01). Em Namorados (Apêndice 3) a correlação positiva ocorreu com a temperatura (r = 0,70; p < 0,01), o pH (r = 0,46; p < 0,01), a condutividade elétrica (r = 0,65; p < 0,01) e a feofitina (r = 0,61; p < 0,01) e as correlações negativas ocorreram entre o volume do açude (r = - 0,83; p < 0,01), o íon amônio (r = - 0,42; p < 0,01) e em menor intensidade com os índices de precipitação pluviométrica (r = - 0,38; p < 0,01) e oxigênio dissolvido (r = - 0,37; p < 0,01). As elevadas correlações negativas ligadas às precipitações pluviométricas salientam a forte influência que as chuvas têm na composição das espécies fitoplanctônicas e na biomassa total. Esta variável, que influencia diretamente no volume hídrico do reservatório atua como um fator diluidor e ao mesmo tempo como um fator de perturbação das comunidades aquáticas. Já as correlações positivas com os diversos nutrientes está relacionado ao fator nutricional destes microrganismos. É interessante ressaltar ainda que em Taperoá II as cianofíceas apresentaram uma extrema correlação positiva com a clorofila- a (r = 0,71; p < 0,01). Boury et al (1999), estudando 39 açudes do semi – árido nordestino durante os meses de setembro e novembro de 1998, constatou uma média de 51,4µg.l-1de clorofila-a nestes ambientes, sendo que 25% destes continham acima de 100 µg.l-1 e 64% dominados por cianofíceas. A principal causa apontada foram as reduções nos níveis dos açudes em decorrências das alterações climáticas do El Ninõ sobre a região, ocasionando alta concentrações de sais nos ambientes. 113 A feofitina apresentou, no açude Soledade, apenas correlação com a clorofilaa (r =0,50; p < 0,01) (Apêndice 1). Em Taperoá II (Apêndice 2) a correlação positiva ocorreu com a condutividade elétrica (r = 0,75; p < 0,01) e em menor intensidade com os índices de densidade algal (r = 0,37; p < 0,01) e negativamente com o volume do açude (r = - 0,59; p < 0,01) e a alcalinidade (r = - 0,47; p < 0,01). Já em Namorados (Apêndice 3) a correlação positiva ocorreu com a riqueza específica (r = 0,42; p < 0,01) e negativamente com volume do açude (r = - 0,61; p < 0,01). As correlações negativas ligadas ao volume hídrico dos ecossistemas aqui apresentados podem estar relacionados ao efeito diluidor das águas que tendem a provocar as maiores taxas de perda de biomassa fotossintética biologicamente ativa da comunidade. Tabela 14. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das concentrações de clorofila-a (µg/l) de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06 Estatística Meses Profundidades Estações f p f p f p <0.0001 0,1329 0,9393 1,0627 0,9484 Aç. Soledade 26,988 Aç. Taperoá II 122,109 <0.0001 0,0691 0,9758 1,4300 0,7042 <0.0001 0,2036 0,8927 1,7935 0,5369 Aç. Namorados 20,573 Tabela 15. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal das concentrações de feofitina (µg/l) de três ecossistemas aquáticos da bacia hidrográfica do Rio Taperoá entre o período de jan/06 e dez/06 Estatística Meses f p Profundidades f p Aç. Soledade 1.9260 0.1271 0.9213 Aç. Taperoá II 70.0590 < 0.0001 0.0530 Aç. Namorados 6.2710 0.0007 0.4497 0.4485 0.9835 0.7203 Estações f p 1.2420 1.7600 1.2310 0.3626 0.7369 0.8886 114 Meses Mar/06 Jul/06 Jun/06 Set/06 ug/L 100% Meses B Dez/06 % Luz 1% Zmax Jun/06 Mar/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 200.00 190.00 180.00 170.00 160.00 150.00 140.00 130.00 120.00 110.00 100.00 90.00 80.00 70.00 60.00 50.00 40.00 30.00 20.00 10.00 0.00 50% Jan/06 120.00 114.00 108.00 102.00 96.00 90.00 84.00 78.00 72.00 66.00 60.00 54.00 48.00 42.00 36.00 30.00 24.00 18.00 12.00 6.00 0.00 50% % Luz A Jan/06 1% Zmax Meses C Mar/06 Jan/06 Jul/06 Jun/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% 120.00 114.00 108.00 102.00 96.00 90.00 84.00 78.00 72.00 66.00 60.00 54.00 48.00 42.00 36.00 30.00 24.00 18.00 12.00 6.00 0.00 % Luz 50% 1% Zmax Figura 36. Variação vertical/temporal das concentrações de clorofila-a (µg/l) dos açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e Namorados (C) entre o período de jan/06 e dez/06 Meses Meses Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 B Dez/06 880.00 840.00 800.00 760.00 720.00 680.00 640.00 600.00 560.00 520.00 480.00 440.00 400.00 360.00 320.00 280.00 240.00 200.00 160.00 120.00 80.00 40.00 0.00 % Luz 50% 1% Zmax Mar/06 Jul/06 Jun/06 Set/06 Dez/06 ug/L 100% ug/L 100% Jan/06 168.00 160.00 152.00 144.00 136.00 128.00 120.00 112.00 104.00 96.00 88.00 80.00 72.00 64.00 56.00 48.00 40.00 32.00 24.00 16.00 8.00 0.00 50% % Luz A Jan/06 1% Zmax Meses C Jan/06 100% % Luz 50% 1% Zmax Mar/06 Jun/06 Jul/06 Set/06 Dez/06 ug/L 170.00 160.00 150.00 140.00 130.00 120.00 110.00 100.00 90.00 80.00 70.00 60.00 50.00 40.00 30.00 20.00 10.00 0.00 Figura 37. Variação vertical/temporal das concentrações de feofitina (µg/l) dos açudes Soledade (A), Taperoá II (B) e Namorados (C) entre o período de jan/06 e dez/06 115 Alguns autores consideram floração a ocorrência de uma concentração de clorofila-a >10µg/l (SANT’ANNA et al, 2006). E de acordo com este parâmetro todos os reservatórios apresentaram floração em pelo menos um dos meses avaliados. Vale salientar que o açude Soledade apresentou florações o ano inteiro, comportando uma média de clorofila-a mais que 8 vezes superior à concentração necessária a caracterização do fenômeno. Segundo Tundisi (1983) teores de clorofila-a superiores 10 µg/l caracterizam alta atividade fotossintética. Deste modo, percebeu-se a elevada produção de biomassa em Soledade, durante todos os meses avaliados, e em Namorados e Taperoá II, anteriormente ao período chuvoso. No semi-árido Nordestino, normalmente a concentração de pigmentos se relaciona intimamente ao ciclo hidrológico em razão do índice pluviométrico. Sendo comum o registro de valores mais elevados de clorofila-a e de feofitina nos meses mais quentes, em função do déficit hídrico provocado pela elevada evaporação, que acarreta no aumento da concentração de nutrientes e, consequentemente, de organismos fitoplanctônicos. 4.1.5 Produtividade Primária A produção primária de um ecossistema aquático corresponde ao aumento de biomassa ocorrido num intervalo de tempo determinado, ou seja, é a quantidade de matéria orgânica acrescida ao ambiente através da fotossíntese ou quimiossíntese durante o referido período (ESTEVES,1998). Por questões operacionais, os dados de produtividade primária só foram levantados no açude Namorados. Em relação a este parâmetro foi possível observar que as flutuações espaço-temporais não conservaram o mesmo padrão verificado para a densidade, diversidade e pigmentos da comunidade fitoplanctônica, qual seja, grande significância ao longo dos meses avaliados e pouca variabilidade da produção algal entre as distintas profundidades amostradas (Tabela 6). Na figura 21 é possível observar que a quantidade de biomassa produzida teve relação direta com a penetração luminosa na coluna d’água, verificada pelas maiores concentrações de carbono sintetizadas na região fótica, principalmente a 100% e 50% de luminosidade e reduções significativas de valores em zonas pouco iluminadas. Isso mostra que a radiação solar normalmente é o fator mais significativo 116 envolvido na produtividade primária de ecossistemas aquáticos tropicais, contudo, outros fatores bióticos, como taxa reprodutiva do fitoplâncton, a herbivoria, e os fatores abióticos, como temperatura e nutrientes, também estão envolvidos no processo, levando a formação de distintos perfis verticais de produtividade primária fitoplanctônica Tabela 16. Resultados da ANOVA realizada para estabelecer a significância das variações espaço-temporal da produtividade primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06 PPL F p Meses 1,449 0,2545 Profundidades 8,9816 < 0,0001 Meses Jan/06 Mar/06 100% Jul/06 Set/06 Dez/06 mgC.m3. h-1 300.00 280.00 260.00 240.00 50% 220.00 % Luz 200.00 180.00 160.00 140.00 1% 120.00 100.00 80.00 60.00 40.00 20.00 Zmax 0.00 Figura 38. Produtividade primária líquida (mgC/ m3/ h-1) do açude Namorados entre o período de jan/06 e dez/06 Temporalmente, verificaram-se taxas de produtividade mais elevadas nos meses de estiagens, em função de compreender as maiores quantidades de biomassa fitoplanctônica, confirmada tanto pela densidade total como pelas concentrações de clorofila-a. Cabe salientar, ainda, que as profundidades onde ocorreram taxas nulas estão incluídas na zona de compensação, onde as taxas de produtividade bruta são equivalentes à respiração dos organismos aeróbicos, ou então abaixo dela, onde o 117 consumo supera a produção de matéria orgânica. Ocorrendo geralmente a 1% de penetração luminosa e na profundidade máxima, e indicando que estas regiões necessitam de um excedente de matéria orgânica produzida nas camadas mais superficiais. Desta forma, resumidamente, pode-se afirmar que no açude Namorados os principais ditadores da produção orgânica fitoplanctônica foram à radiação solar em relação à variabilidade do perfil vertical e sazonalmente as distinções ambientais provocadas pelos períodos de seca e chuva. Vale ressaltar também que este parâmetro apresentou correlação apenas com os valores de pH (r = 0,474; p < 0,01) (Tabela 10), tal fato possivelmente esteja associado a processos químicos da fotossíntese, pois valores elevados de CO2 conferem ao ambiente um caráter ácido, diminuindo assim os valores de pH. Tabela 17: Produção primária líquida entre os período de jan/06 e dez/06. Mês Média Min 61.911 0.000 Janeiro 50.646 0.000 Março 0.000 0.000 Julho 117.360 0.000 Setembro 11.410 0.000 Dezembro (PPL) do açude Namorados (mgC/m3 / h-1) Máx 165.218 165.218 0.000 320.300 57.05 Amplitude 165.2 165.2 0.0 320.3 57.1 DP 85.096 74.528 0.0000 154.462 25.514 CV 137.45 147.16 0.0000 131.61 223.61 De maneira geral os atributos do fitoplâncton quali e quantitativos aqui apresentados indiscutivelmente, interferiram de maneira significativa sobre a qualidade da águas desses ecossistemas com prejuízos diretos a vida útil desses açudes. Isto mostra que os trabalhos de monitoramento em açudes localizados em regiões semi - áridas são de fundamental importância uma vez estes açudes são destinados a usos múltiplos, dentre eles o abastecimento humano. 118 5 CONCLUSÕES Os mananciais do semi-árido não apresentam reduzida riqueza numérica de espécies; A classe Chlorophyceae contribui com a maior riqueza de espécies fitoplanctônicas em função de sua grande variabilidade morfométrica; As maiores densidades de organismos fitoplanctônicos geralmente se concentram a 50 e 1% de penetração luminosa, devido o excesso de radiação solar subaquática na superfície e a ausência total de luz na profundidade máxima, os quais interferem negativamente na distribuição das algas na coluna d’água; O açude Soledade apresenta florações de cianobactérias durante todo o ciclo anual, com concentrações superiores as recomendadas pela resolução CONAMA n º 375/05; Nos açudes Taperoá II e Namorados as densidades totais da comunidade fitoplanctônica foram baixas, apresentando ambos prevalência de cianofíceas nos meses secos. No período chuvoso o açude Taperoá II apresenta prevalência de diatomáceas em função da redução da quantidade de nutrientes, enquanto o açude namorados comporta grande abundância de euglenofíceas devido o carreamento de matéria orgânica alóctone; O sistema de classificação em grupos funcionais de Reynolds et al (2002) é eficaz para o biomonitoramento de ecossistemas aquáticos do semi-árido, apesar de ter sido elaborado, em sua maioria, a partir de dados obtidos em corpos d’água temperados; A equidade apresentou uma maior influência sobre a diversidade que a riqueza de táxons; Nos ecossistemas aquáticos mais eutrofizados ocorre baixa equidade e influência negativa da densidade total sobre a diversidade, como foi o caso do açude de Soledade; A distribuição de clorofila-a e de feofitina se processa em toda a coluna d’água de forma bastante homogênea, salvo alguns picos de feofitina que podem ser verificados nas camadas mais profundas, em razão da sedimentação de células planctônicas senescentes; Os pequenos e rasos reservatórios nordestinos tendem a apresentar flutuações temporais da comunidade fitoplanctônica extremamente significativas, e flutuações espaciais não significativas, exceção feita a Produção Primária Liquida; 119 Os principais ditadores da produção orgânica fitoplanctônica são à radiação solar em relação à variabilidade do perfil vertical e sazonalmente as distinções ambientais provocadas pelos períodos de seca e chuva; De modo geral, a chuva atuou como distúrbio intermediário, elevando a diversidade, e como diluidora, reduzindo a densidade total, as concentrações de clorofila-a e de feofitina e as taxas de produtividade primária; 120 6 REFERÊNCIAS BARBOSA, J. E. L. Dinâmica do Fitoplâncton e condicionantes limnológicos nas escalas de tempo (nictmeral/sazonal) e de espaço (horizontal e vertical) no açude Taperoá II : trópico semi-árido nardestino. São Carlos, 2002. 201f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos naturais)- Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Universidade Federal de São Carlos. BICUDO, C. E. De M; MENEZES, M. Gêneros de Algas de águas continentais do Brasil. São Carlos: RiMa, 2006. BICUDO, C.E.M., RAMIREZ R., J.J., TUCCI, A., BICUDO, D. C. Dinâmica de Populações fitoplanctônicas em ambiente eutrofizado: O Lago das Garças, São Paulo. In: HENRY, R. (Ed.). Ecologia de Reservatórios: Estrutura, Função e Aspectos Sociais. Botucatu: FUNDIBIO; São Paulo: FAPESP, cap.15. p. 451 – 507. CALIJURI, M. do C. A comunidade fitoplanctônica em um reservatório tropical (Barra Bonita, SP). São Carlos, 1999. 211f. Tese de Livre Docência -Universidade de São Paulo. CONNEL, J. Diversity in tropical rain Forest and coral reefs. Science, V.199, p.1304-1310,1978. COSTA, I.A.S.; ARAÚJO, F.F.; CHELLAPPA, N.T. Estudo do fitoplâncton da barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, Assu/RN. Acta Limnol Brás. v.10. p.67-80.1998. ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro, Interciência/FINEP, 1998, 575 p. HAPPEY – WOOD, C. M. Ecology of freshwater planktonic green algae. In: SANDGREN, C. D. (Ed). Growth and reproductive strategies of freshwater phytoplankton. Cambridge: Cambridge University Press, 1988. ch. 5, p. 175 – 226. HUSZAR, V. L. de M.; GIANI, A. Amostragem da comunidade fitoplanctônica em Águas Continentais: Reconhecimento de padrões espaciais e temporais. In: BICUDO, E. de M. & BICUDO, D. de C. (Eds). Amostragem em limnologia. São Carlos: RiMa, 2004. cap. 8, p. 133-145. 121 HUSZAR, V.L. de M.; WERNECK, A.M. & ESTEVES, F.A. Dinâmica nictemeral (48h) da comunidade fitoplanctônica em relação aos principais fatores abióticos na Lagoa Juparanã, Linhares, Espírito Santo, Brasil:Fevereiro de 1987. Rev. Brasil. Biol., v.54, n.1, p.111-134, 1994. KALFF, J. & WATSON, S. Phytoplankton and its dynamics in two tropical lakes: a tropical and temperate zone comparison. Hydrobiologia, vol. 138. p.161-176.1986. KUIPER-GOODMAN,T.;FALCONER,I.; FITZGERALD, J. Human health aspects. In: CHORUS,I. & BARTRAM,J. (eds.). Toxic cyanobacteria in water.A guide totheir public health. Consequences, monitoring and management. E & FN Spon, Londres, p.114-153, 1999. LEWIS Jr., W.M. Analysis of sucession in a tropical plankton community and a new measure of succession rate. Am. Nat., v. 112, p. 401-414, 1978. LINS, R. P. Limnologia da barragem de Acauã e codeterminantes sócioeconômicos de seu entorno: uma nova interação do limnólogo com sua unidade de estudo. João Pessoa, 2006. 134f. (Dissertação de mestrado)- CCEN. Universidade Federal da Paraíba. LOBO, E. LEIGHTON, G. Estruturas de las fitocenoses planctónicas de los sistemas de desembocaduras de rios e esteros de la zona central de Chile. Rev. Biol. Marinha, vol. 22. p. 143-170. 1986. LOPES, M.R.M. Eventos perturbatórios que afetam a biomassa, a composição e a diversidade de espécies do fitoplâncton em um lago tropical oligotrófico raso (Lago do Instituto Astronômico e Geofísico), São Paulo, SP. São Paulo, 1999. 213f. Tese de Doutorado - Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. MELO, H.A.R. & CHACON, J. O. Exame biologic-pesqueiro do açude público “Soledade’ (Soledade, PB) Brasil. Boletim Técnico do DNOCS, Fortaleza, v. 34, n. 1, p. 3-26, 1976. MOURA, A. T. N. Estrutura e dinâmica da comunidade fitoplanctônica numa lagoa eutrófica, São Paulo, SP, Brasil, a curtos intervalos de tempo: comparação entre épocas de chuva e seca. Rio Claro, 1996. 172f. (dissertação de Mestrado), Universidade Estadual Paulista ODUM, E.P. Ecologia. 3ed. México: Interamericana. 1972. 122 PADISÁK, J. The influence of different disturbance frequencies on the species richness, diversity and equitability of phytoplankton in shallow lakes. Hydrobiologia, v. 249, p. 135-156. 1993. PARAÍBA, Secretaria de Planejamento. Avaliação da infra-estrutura hídrica e do suporte para o sistema de gerenciamento de recursos hídricos do Estado da Paraíba. João Pessoa, SEPLAN, 1997, 144 p. PIELOU, E. C. Ecologycal diversity. New York, John Wiley & Sons, 1975, 165p. PINTO-SILVA, V. Manual de Análise Limnológica: Métodos e Técnicas. Cuiabá (MT): Gráfica UFMT, 2002. 95p. RAMÍREZ R., J.J. Variações espacial vertical e nictemeral da estrutura da comunidade fitoplanctônica e variáveis ambientais em quatro dias de amostragem de diferentes épocas do ano no lago das Garças, São Paulo. São paulo, 1996. 238f. Tese de Doutorado - Universidade de São Paulo. REYNOLDS, C. S. et al. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research 24: 417-428. 2002. REYNOLDS, C. S. The ecology of freshwater phytoplankton. Cambridge: Cambridge University Press, 1984. 384 p. RODRIGUES, L. C. et al. Assembléias fitoplanctônicas de trinta reservatórios do estado do Paraná. In: RODRIGUES, L. et al. Biocenose em reservatórios: Padrões espaciais e temporais. São Paulo: RiMa, 2005. cap. 5. p. 57-72. SANT’ANNA. C. L. et al. Manual ilustrado para identificação e contagem de cianobactérias planctônicas de águas continentais brasileiras. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2006. SILVA, C. A.; TRAIN, S.; RODRIGUES, L. C. Phytoplankton assemblages in a Brazilian subtropical cascading reservoir system. Hidrobiologia, Dordrecht, v. 357, 2004. SHANNON, C. E. & WEAVER, W. The mathematical theory of communication. Urbana: Illinois University Press, 1963. 177p. SIMPSON, E.H. Measurement of diversity. Nature, v.163, p. 688. 1949. 123 TRAIN, S. et al. Distribuição Espacial e Temporal do Fitoplâncton em três reservatórios da Bacia do Rio Paraná. In: RODRIGUES, L. et al. Biocenose em reservatórios: Padrões espaciais e temporais. São Paulo: RiMa, 2005. cap. 6. p. 74-83. TRAIN, S.; RODRIGUES, L. C. Phytoplanktonic assemblages. In : THOMAZ, S. M. ; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. (Eds). The upper Paraná river and its floodplain: physical aspects, ecology and conservation. Leiden, The Netherlands: Backhuys Publishers, 2004. pt. 2, ch. 5, p. 103 – 124. (Biology of inland water). TUNDISI, J.G. A rewire of basic ecological processes interacting with production and standing-stock of phytoplankton in lakes and reservoirs in Brasil. Hydrobiologia. 100: 223-243. 1983 UTERMOHL, H. Zur vervollkommer der quantitativen phytoplankton methodik. Mitt it Verein. Theor. Angew. Limnol, 9: 1-38. 1958. XAVIER, M. B. Euglenaceae pigmentadas (EUGLENOPHYCEAE) do Rio Grande Represa Billings, São Paulo, Brasil: Estudos Limnológicos. Acta Limnol. Bras. , São Paulo, v.2.p.302-321. 1988. WETZEL, R. G. & LINKENS, G. E. Limnological analysis. 2ed. New York: Springer Verlag. 1991. 391p. 124 CAPÍTULO 3 ___________________________________ PERCEPÇÃO SOCIO-AMBIENTAL DA COMUNIDADE DE PESCADORES DO AÇUDE TAPEROÁ II ___________________________________ 1 ANDRADE, R. S. & BARBOSA, J. E. 1 Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio-Ambiente/PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Professor Títular do Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. E-mail: [email protected] 2 125 1 RESUMO No contexto do semi-árido nordestino, além dos dilemas acerca do gerenciamento eficiente dos mananciais, a oscilação climática determina a oferta e a qualidade de água para os grupos humanos oriundos desta região. Uma vez que as estações secas são mais duradouras que os períodos chuvosos, a oferta de água como fator limitante adquire proporções mais contundentes. Em se tratando da região semiárida, visto que partilham de um elo mais íntimo com os corpos aquáticos, os pescadores podem transmitir conhecimentos relevantes sobre a qualidade de um ecossistema aquático. O objetivo deste capítulo é o de identificar a percepção dos pescadores artesanais no que se refere à qualidade da água do açude Taperoá II, além da descrição de indicadores sócio-econômicos. Foi conduzida a aplicação de um roteiro semi - estruturado de perguntas, para a obtenção de dados quantitativos e dados qualitativos, e a gravação de relatos orais. Foi adotado o método fenomenológico proposto por Sanders, que enfatiza o trabalho em profundidade com um número pequeno de participantes em uma pesquisa, sob a forma de entrevistas gravadas em áudio, e transcritas posteriormente. Os resultados quantitativos revelaram que todos eram do sexo masculino, cuja faixa etária variou entre 29 e 67 anos, com média de 48,2 anos. O tempo de pesca mais evidente foi compreendido no intervalo de 1 a 10 anos. A maioria declarou-se anafalbeta ou semi- anafalbeta, são casados e possuem mais de quatro filhos. Quanto ao registro dos discursos dos pescadores, foi constatada que a pesca é encarada como um meio mais seguro de garantir a sobrevivência de sua família; o pescador não vive exclusivamente deste ofício, mas executa mais de uma atividade econômica; a experiência adquirida na pesca capacitou o pescador a perceber mudanças significativas no ambiente ao seu redor e na qualidade da água do açude. Palavras-chave: semi-árido, etnoecologia, fenomenologia 126 2 INTRODUÇÃO A interação da civilização humana com a Natureza foi caracterizada, desde os seus primórdios, como uma relação de posse e de consumo dos elementos naturais, consoante ao pensamento antropocêntrico da sociedade. Esta forma de enxergar o meio natural é fruto de uma existência competitiva, crença no progresso material ilimitado por meio do crescimento econômico e tecnológico (CAPRA, 1996). Este fato é bem perceptível no que tange aos impasses relacionados ao manejo dos recursos hídricos. Com o crescimento populacional e o aumento de demanda por mais água, o acréscimo no fornecimento contribui para a expansão do consumo, o que acarreta na elevação da poluição dos corpos aquáticos devido ao depósito indiscriminado de efluentes e resíduos sólidos (WETZEL, 1993). No contexto do semi-árido nordestino, além dos dilemas acerca do gerenciamento eficiente dos mananciais, a oscilação climática determina a oferta e a qualidade de água para os grupos humanos oriundos desta região. Assim como a flora e da fauna regional, a sociedade tem o seu dinamismo condicionado à duração, freqüência e a intensidade dos fenômenos climáticos de seca e de chuva (BARBOSA, 1998; FEITOSA, 2000). Uma vez que as estações secas são mais duradouras que os períodos chuvosos, a oferta de água como fator limitante adquire proporções mais contundentes. Isso estimula o sertanejo a ter um saber popular com as forças telúricas, isto é, com os sinais longínquos das trovoadas, que anunciam as chuvas, a chegada da estação das águas, chamada “inverno” e o retorno das águas correntes dos rios, ao ensejo das primeiras chuvas (AB’ SABER, 1999). O segredo da convivência com o semi-árido passa pela produção e estocagem dos bens em tempos chuvosos para se viver adequadamente em tempos sem chuva. O principal bem a ser estocado é a própria água (MALVEZZI, 2007). Atualmente, a publicação de trabalhos que explicitam a relação dos atributos ambientais do semi-árido com grupos humanos associados tem aumentado consideravelmente, em especial no semi-árido paraibano. Dentre estes, merecem destaque os trabalhos de Barbosa (1998), Feitosa (2000), Barreto (2001) e Lacerda (2001), que lançaram uma visão diferenciada sobre a relação do sertanejo com o ambiente que o circunda e propuseram alternativas eficazes na conservação e no manejo dos recursos naturais. Houve também incrementos substanciais em publicações que ressaltam a avaliação da qualidade de água através de atributos 127 ecológicos e corroborados pela dinâmica social (MOREDJO, 1998; LEITE, 2001; PEDROSA, 2004). Contudo, uma classe social que requer uma distinta atenção é a formada pelos pescadores artesanais. De acordo com Diegues (2005), o pescador artesanal pratica a pequena pesca, cuja produção em parte é consumida pela família, e em parte é comercializada. O modo de vida é baseado principalmente na pesca, mas pode exercer atividades econômicas complementares, como o extrativismo vegetal, o artesanato e a pequena agricultura. Os pescadores, juntamente com os sertanejos, enfrentam restrições de oferta e de uso dos ecossistemas aquáticos, o que pode desencadear em conflitos com outros grupos sociais e entre eles próprios, além de possuírem baixos indicadores sociais. Em se tratando da região semi-árida, visto que partilham de um elo mais íntimo com os corpos aquáticos, os pescadores podem transmitir conhecimentos relevantes sobre a qualidade de um ecossistema aquático. Alves et al (2002), relatam que as pesquisas etnoecológicas em águas continentais do semi-árido são promissoras, haja vista a grande importância social e ecológica dos açudes e rios na região. Entre os enfoques que mais têm contribuído para o estudo do conhecimento das populações locais estão as etnociências, que partem da lingüística para estudar os saberes das populações humanas sobre os processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totalizadoras (DIEGUES & ARRUDA, 2001, apud PEDROSO JÚNIOR, 2003). Dentre as diversas maneiras de se adquirir o etnoconhecimento, tem forte apreciação a aplicação de estudos fenomenológicos. Segundo Moreira (2004), a fenomenologia dá destaque à experiência vivida do indivíduo, onde ocorre a percepção de objetos e intuições, julgamentos, imaginações, desejos e temores. O pescador, assim como qualquer ser humano, é um ser pensante, guiado tanto pela razão quanto pela emoção. Através do método fenomenológico, espera-se obter o conhecimento adquirido sobre as experiências vividas pelos pescadores acerca do ambiente em que está inserido, e, dessa maneira, ter acesso a “visão de mundo” dos mesmos. Desta forma, o objetivo deste capítulo é o de identificar a percepção dos pescadores artesanais no que se refere à qualidade da água do Açude Taperoá II, além da descrição de indicadores sócio-econômicos. Com isso, pretende-se 128 ressaltar a influência destes atores sociais no fornecimento de informações mais precisas sobre os dilemas ecológicos e sociais existentes na área de influência do açude. 3 MATERIAL E MÉTODOS Estudos ecológicos em geral empreendem análises mais acuradas sobre os condicionantes físico-químicos e suas interações com os atributos biológicos de um ecossistema. Porém, não explicam completamente os processos de origem humana e sua atuação no ambiente, tornando-se necessário a inclusão da rede informacional/cultural gerada e/ou utilizada pela espécie biológica Homo sapiens (MARQUES, 1999, apud MONTENEGRO et al 2001). Desta maneira, o uso de métodos que integram o conhecimento tradicional dos pescadores com àqueles gerados pelo conhecimento científico permite uma análise contextualizada e conectada à realidade dos mesmos (MONTENEGRO et al, 2001) Para a concretização da pesquisa, foram realizadas duas viagens exploratórias. A primeira viagem consistiu na observação direta de impressões iniciais a respeito da cidade de Taperoá e do entorno do açude Taperoá II, com o intuito de identificar e localizar os pescadores artesanais. Para isto, foram estabelecidos contatos com líderes comunitários que demonstraram algum conhecimento acerca da localização dos pescadores. Em seguida, foram selecionados dois pescadores, localizados em suas residências para uma entrevista preliminar, com questões abertas. A finalidade desta medida foi a de buscar uma maior intimidade com o grupo em estudo, além de formular um roteiro de trabalho mais consistente. De acordo com Macedo (2000), no desenrolar de uma entrevista, pode haver mudanças no objeto da pesquisa e pessoais. É provável que o conhecimento de acontecimentos e de atividades que não são diretamente observáveis possa influir diretamente no cumprimento de metas previamente definidas. Para a realização da segunda atividade de campo, foi decido adotar dois procedimentos: a aplicação de um roteiro semi - estruturado de perguntas, que visaram apreender tanto dados quantitativos como os dados qualitativos, e a gravação de relatos orais. As questões de natureza quantitativa eram fechadas e de múltipla escolha, e abrangeram os indicadores sociais como sexo, faixa etária, 129 estado civil, número de filhos, escolaridade, tempo de pesca e renda familiar. Quanto às questões de caráter qualitativo, optou-se pelo emprego de perguntas abertas, nas quais o pescador pôde responder sem restrições sobre temas relacionados como a relevância e a multiplicidade de usos conferidos ao açude, a qualidade da água, a descrição dos fatores bióticos (organismos aquáticos e mata do entorno) e suas influências sobre a atividade pesqueira e a qualidade da água. Todas as respostas aos questionamentos foram registradas em pequenos gravadores, com o intuito de preservar os relatos originais dos pescadores. Em função da elevada dispersão dos mesmos ao longo da sede do município, foram entrevistados 15 pescadores. Contudo, o viés qualitativo deste trabalho foi predominante. Para MINAYO (1996), o critério de uma pesquisa qualitativa não é numérico, e uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas múltiplas dimensões. O conjunto de procedimentos executados obedeceu ao método fenomenológico proposto por Sanders (MOREIRA, 2004), que enfatiza o trabalho em profundidade com um número pequeno de participantes em uma pesquisa, sob a forma de entrevistas gravadas em áudio, e transcritas posteriormente. As diretrizes para a análise dos dados obtidos foram: descrição do fenômeno tal como revelado nas transcrições das entrevistas; identificação de temas ou invariantes que emergem das descrições; união de temas ou conjunto de essências que caracterizam a estrutura do fenômeno. . 130 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Por intermédio dos relatos orais dos pescadores entrevistados, foi possível enquadrar algumas características intrínsecas: todos os indivíduos interpelados eram do sexo masculino, cuja faixa etária variou entre 29 e 67 anos, com média de 48,2 anos (Figura 39), com 60% dos entrevistados pertencentes à faixa dos 40 a 59 anos. O tempo de pesca mais evidente foi aquele compreendido no intervalo de 1 a 10 anos (Figura 40); a maioria dos entrevistados declarou-se analfabeta ou semianalfabeta (Figura 41), são casados (Figura 42) e possuem mais de quatro filhos (Figura 43). Uma análise dessas características expõe claramente a condição social destes atores sociais, que viu na atividade pesqueira o meio mais elementar de garantir o sustento familiar. Para Bené (2003), este cenário pertence a um tradicional paradigma, que associa a atividade pesqueira de pequena escala com a pobreza, determinada pelo acesso relativamente livre às áreas de pesca, exploração demasiada dos recursos pesqueiros, e reduzidas oportunidades de empregos Número de Pescadores alternativos. 6 5 4 3 2 1 0 < 30 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 70 anos Idade Figura 39. Descrição da faixa etária dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá 131 Número de pescadores 7 6 5 4 3 2 1 0 1 a 10 anos 11 a 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos Mais de 50 anos Tempo de pesca Figura 40. Descrição do tempo de exercício na pesca com os pescadores entrevistados na cidade de Taperoá. 7% 20% 33% Analfabeto Semi-analfabeto analfabeto 40% Fundamental incompleto Fundamental completo Figura 41. Descrição do nível de escolaridade dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá 132 7% 13% Solteiro 13% Casado 27% União consensual 40% Separação legal Divorciado Figura 42. Estado ado civil dos pescadores entrevistados entrevistados na cidade de Taperoá 7% Sem filhos 13% Um filho 13% 54% Dois filhos Três filhos Quatro filhos 0% 13% Mais de quatro filhos Figura 43. Número de filhos dos pescadores entrevistados na cidade de Taperoá 133 As entrevistas abertas revelaram peculiaridades a respeito do método de pesca. Alguns pescadores não concentram suas atividades apenas no açude Taperoá II, e costumam ir para outros reservatórios que apresentam em determinada época estoque pesqueiro superior, como evidenciado no relato do pescador: “O caba que pesca, sabe? Quando a área fica fraca, o caba se muda para outro canto. Quando afraca este canto, o caba se muda pra outro canto”. (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá) “Às vezes vou pra Mucutú, vou pra Lagoa do Meio, pra Mãe d’ Água”. (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá) “Não é só aqui que o peixe ta escasso. Mucutú também é a mesma coisa. O pessoal ta tudo sofrendo”. (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá). Em relação ao instrumento de pesca, foi registrada a dominância da rede de pesca em detrimento ao uso do anzol e da tarrafa, com este último tendo sérias restrições de uso. “Pesco com rede. Tarrafa faz muito tempo que foi proibido. Uns 3 anos. Mexe muito a água”. (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá) “Tarrafa a gente não usa não. É proibido. É proibido por Lei em qualquer açude do Estado”. (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá) Quanto aos fatores econômicos, foi observado que grande parte dos entrevistados exerce mais de uma atividade, para complementação da renda. Atividades agrícolas e funções de pedreiro ganharam destaque (Figura 44). 74% dos pescadores faturam entre R$101,00 a R$ 200,00 com a venda de peixe (Figura 45). 134 Nenhuma Agricultor Pedreiro 7% 6% Venda de redes de pesca 33% 27% Funcionário público 27% Figura 44. Atividades econômicas alternativas alternativ dos pescadores entrevistados revistados na cidade de Taperoá 7% 7% Não vendem peixe 13% 13% 13% Até R$100,00 R$ 101,00 a R$ 200,00 R$ 201,00 a R$ 300,00 R$ 301,00 a R$ 400,00 47% R$ 401,00 a R$ 500,00 Figura 45. Ganhos financeiros com a venda de peixe. Os pescadores também relataram sobre as dificuldades na comercialização dos peixes, e a necessidade de realizar outro serviço, embora se considerem profissionalmente como pescadores. Os motivos citados são a diminuição do estoque pesqueiro ao longo do tempo e a baixa renda capitada. “Vendo! Tem que vender tudo pra comprar o arroz e o feijão dos moleques”. (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, to, residente em Taperoá) 135 “O peixe tá muito escasso. A gente tem que procurar outro meio de vida pra sobreviver, pois o peixe que dá não tá dando nem pra comer, imagina pra vender. Quando aparece um bico, eu pego pra ajudar na minha renda. Mas minha carteira é de pescador. (...). Exatamente. Quando dá pra vender, a gente vende. Quando não dá é só pra alimentação mesmo”. (Pescador, (Pescador, 54 anos, semianalfabeto, residente em Taperoá) Além disso, uma porção substancial dos entrevistados afirmou que receberam recebe algum auxílio do Poder Público, como o programa “Bolsa Família” e Seguro de Pesca (Figura 46). Esta última assistência financeira citada foi o tema central dos discursos de alguns pescadores, que alegaram repasses irregulares para os indivíduos que não eram associados à Colônia de Pescadores: “Aí, quando eu cheguei aqui eu tô batendo até hoje pra tirar essa carteira ai e não tirei, tá? Aqui tem gente que nunca botou nem um anzol na água e recebe seguro. E eu sem receber carteira, sem receber seguro”. (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, semi , residente em Taperoá). Aposentadoria 7% Bolsa família 27% 40% 13% 13% Seguro da pesca Bolsa família e seguro da pesca Nenhum auxílio Figura 46. Descrição dos auxílios financeiros do Poder Público para os pescadores entrevistados na cidade de Taperoá. Segundo os pescadores entrevistados, não existe uma Colônia de Pescadores sediada em Taperoá. Os pescadores que recebem seguro-pesca seguro na época do defeso estão vinculados à Colônia de Pescadores Z-21, Z localizada em Juazeirinho. Este fato é gerador de conflito conflito entre os pescadores, que informam a existência de manobras políticas que desestimulam a possibilidade de união entre 136 os pescadores atuantes. Ao ser indagado sobre o porquê de não existir uma Colônia de Pescadores na cidade de Taperoá, um dos pescadores foi categórico em sua explanação: “Falta de interesse, meu filho. O negócio é politicagem sebosa. (...) Pouca vergonha dos políticos. (...) Todos nós aqui (os pescadores) somos conhecidos. Só não tem união entre os pescadores daqui” (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá) O açude Taperoá mostrou-se pleno em significados e usos para os pescadores artesanais. Este sentimento tornou-se evidente mediante o resultado das questões abertas. “É importante porque dá o que comer. Só por isso mesmo. Esse negócio de vazante que plantaram alguma coisa ai, não plantam não porque o povo só planta capim mesmo.” (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, residente de Taperoá) “Pra mim é importante pra tudo. Primeiro, porque dá a minha alimentação. Segundo, se não fosse o açude, aqui nós taria tudo morrendo de sede”. (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente de Taperoá) “Sim, a água é tudo pra nós. Antes a gente carregava água de longe”. (Pescador, 44 anos, nível fundamental, residente de Taperoá) A oferta de água, o sustento econômico e a própria pesca teve expressiva relevância (Figura 47), acompanhando a tendência de uso da água na Figura 48. Este resultado descreve a grande importância do Açude Taperoá II para a comunidade de pescadores, assim como para os demais atores sociais da região (LACERDA, 2001). 137 Número de pescadores 8 7 6 5 4 3 2 1 Aumento do número de peixes Criação de animais Plantio Pesca Sustento econômico Oferta de água 0 Número de pescadores Figura 47. Enumeração dos significados sociais atribuídos ao açude Taperoá II. 7 6 5 4 3 2 1 0 Beber água Tomar banho Uso doméstico Cozinha Higiene Todos os fins Figura 48. Descrição dos múltiplos usos conferidos ao Açude Taperoá II pelos pescadores artesanais. Quanto às alterações ambientais sofridas pelo açude no decorrer do tempo, as respostas sinalizaram para a considerável relação com as alterações climáticas entre as estações chuvosas e as estações secas, que ocorrem anualmente. As opiniões eram mais incisivas em relação aos efeitos proporcionados por uma 138 estação seca do que a de uma estação chuvosa, como a queda da profundidade, menor oferta de peixe e maior quantidade de capim (Figura 49). Mais peixe Diminuiu a salobridade 13% 7% Mais sujo 7% 13% 13% Mais raso Mais capim 13% 7% 27% Menos peixe Mudança em períodos de seca e chuva Sem alterações Figura 49.. Exibição das alterações ambientais mais mais conspícuas segundo a visão dos pescadores artesanais. Para corroborar com os dados colhidos sobre as modificações periódicas situadas no açude, o conhecimento sobre os organismos presentes no corpo d’água e no entorno são relevantes. Alguns pescadores ressaltaram os efeitos positivos da presença de vegetais aquáticos para a preservação da ictiofauna, mas também relatam fatores prejudiciais para a pesca. Outra função delegada a este grupo vegetal é a de ilustrar a ocorrência de aumentos e decréscimos no volume do açude. “É lodo e pasta demais. Essa época agora é que dá demais. Vai secando e o lodo vai subindo. Ai fica a sujeira.. (...) O açude tem muito coentro. Aí o peixe não sai. Ajuda o peixe a se esconder”. esconder (Pescador, 29 anos, analfabeto) “(O lodo) atrapalha, se prende na rede e o peixe percebe ou torna a rede muito pesada, chegando a torá-la”. la”. (Pescador, 52 anos, fundamental incompleto, residente em Taperoá) “Dá lodo e coentro demais. Dá mais na seca. Mas nas enchentes, a água limpa tudo ai e pronto”. pront (Pescador, 47 anos, semi-analfabeto, analfabeto, residente em Taperoá) Em se tratando da mata do entorno, grande parte dos entrevistados opinaram que não tinha importância para o cotidiano deles (Figura 50). Contudo, o uso das plantas marginais como madeira e os problemas derivados pela presença da algaroba (Prosopis juliflora) também são destacáveis. Esta planta exótica é 139 conhecida pelos impactos negativos gerados no solo (LACERDA, 2001), mas, de acordo com a informação de um pescador, ela interfere na atividade pesqueira. “O caba num pode botar o material da gente porque é a rede né? Entendeu, nas algaroba, porque tem muita algaroba dentro. Não dá pra botar de dentro dos paus, que rasga a rede. Tem que sair desviando entendeu? E ainda rasga muito. Tem que recosturar”. (Pescador, 29 anos, analfabeto, residente em Taperoá) Número de pescadores 6 5 4 3 2 1 0 Figura 50. Exposição dos efeitos da mata do entorno do açude Taperoá II para os pescadores artesanais. Em relação à qualidade da água, ela foi considerada boa pela maioria dos pescadores, proporcionando a multiplicidade de usos citados anteriormente (Figura 51). A respeito das propriedades organolépticas da água, existiu uma divisão aproximadamente antagônica de percepções. Uma parte dos pescadores entrevistados afirmou que a água não tinha gosto, cor e cheiro, enquanto outro grupo informou que a água tem gosto (Figura 52). A salinidade das águas na região semi-árida é uma característica marcante, conferindo gosto salobro à água em virtude de solos cristalinos, que carreiam sais minerais para os corpos hídricos em época chuvosa, e devido à redução do volume da água em época seca, que concentra os sais minerais já existentes na massa d’ água. Número de pescadores 140 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Boa Razoável Salobra Ruim de beber Salgada Número de pescadores Figura 51. Avaliação da qualidade da água por parte dos pescadores do açude Taperoá II 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Tem gosto Tem cor e gosto Tem cor Sem gosto, cor, e cheiro Figura 52. Descrição das propriedades organolépticas por parte dos pescadores do açude Taperoá II Quanto à ocorrência de doenças na água, 73% dos pescadores entrevistados afirmaram desconhecer de algum tipo de doença de veiculação hídrica (Figura 53). Porém, este resultado foi distorcido pelos próprios pescadores, o que é comprovado pela declaração de um pescador: “Provavelmente tenha alguém já doente. Só que o pessoal é muito calado. Não sabe dizer o que ta sentindo ou não”. (Pescador, 54 anos, semi-analfabeto, residente em Taperoá) Desta forma, fica comprovada a dificuldade em se obter resultados mais precisos desta comunidade pesqueira, marcada pela forte dispersão entre os seus 141 integrantes, requisitando do pesquisador um tempo mais duradouro para adquirir a confiança, se não de todos, mas da maior parte de um conjunto de indivíduos tão pouco analisados, mas que exercem um importante papel na compreensão eficaz de ecossistemas hídricos do semi-árido, semi árido, integrada com a aplicação de ações de manejo sustentável. 13% 7% 7% 73% Coceiras Problemas de pele Cólera Não houve doenças Figura 53. Enumeração das doenças ou sintomas de origem hídrica por parte dos pescadores do açude Taperoá II 142 5 CONCLUSÕES A pesca é encarada pelo pescador artesanal como um meio mais seguro de garantir a sobrevivência de sua família, em função do acesso relativamente simples ao recurso pesqueiro; O pescador artesanal do Açude Taperoá II realiza mais de uma atividade econômica para garantir o sustento de sua família e atua de modo disperso dos demais pescadores, não havendo no local uma Colônia de Pescadores; O Açude Taperoá II é uma fonte imprescindível de recusos múltiplos para o pescador artesanal, de onde tira seu principal sustento. A experiência na pesca capacitou o pescador artesanal a perceber mudanças significativas no ambiente ao seu redor e na qualidade da água do açude, o que faz deste ator social uma das peças-chave para a compreensão da dinâmica ambiental do Açude Taperoá II. 143 6 REFERÊNCIAS AB’ SÁBER, A.N. Dossiê Nordeste Seco – Sertões e Sertanejos: uma geografia humana sofrida. Estudos Avançados , v.13.(36),1999. ALVES, A.G.C.; SOUTO, F.J.B.; LEITE, A.M. Etnoecologia dos Cágados d’água Phrynops spp. (Testudinomorpha: Chelidae) entre pescadores artesanais no Açude Bodocongó,Campina Grande , Paraíba, Nordeste do Brasil. Sitientibus v. 2. n. ½. pp. 62-68.2002. BARBOSA, C.B. Estabilidade de comunidades ribeirinhas no semi-árido brasileiro.1998.124f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – PRODEMA,Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. BARRETO, A. L P. Lagos intermitentes do semi-árido paraibano: inventário e classificação. 2001. 82f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) - PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. BENÉ.C. When Fishery Rhymes with Poverty: A First Step Beyond the Old Paradigm on Poverty in Small-Scale Fisheries. World Development. v. 31.Nº 6. pp. 949-975, 2003. CAPRA, F. A teia da vida – uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 7 ed. São Paulo: Cultrix. 1996. DIEGUES, A. C. Aspectos Sócio-Culturais e Políticos do uso da Água. Texto publicado no Plano Nacional de Recursos Hídricos – MMA, 2005. FEITOSA, A.A. F.M.A., Estudo da percepção dos diferentes grupos ligados ao parque ecológico de Engenheiro Ávidos, no Município de Cajazeiras – PB. 2000. 91f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. LACERDA, A. V. Gestão Participativa e Integrada: uma perspectiva à sustentabilidade dos recursos naturais na bacia hidrográfica do Açude Taperoá II, no semi-árido paraibano. 2001.153f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. LEITE, R. L. Influência de macrófitas aquáticas sobre a qualidade da água de açude do semi-árido da Paraíba. 2001. 129p. Dissertação ( Mestrado em Desenvolvimento e Meio – Ambiente) – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. 144 MACEDO, R. S. A etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciencias humanas e na educação. Salvador: EDUFBA. 2000. 297p. MALVEZZI, R. Semi árido – uma visão holística. Brasilia: Confea, 2007.140p. MINAYO, M. C. S. O desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 4 ed. São Paulo: HUCITEC, 1996. 269p. MONTENEGRO, S. C. S.; NORDI, N.; MARQUES, J.G. Contexto cultural, ecológico e econômico da produção e ocupação dos espaços de pesca pelos pescadores de pitu (Macrobrachium carcinus) em um trecho do baixo Rio São Francisco, Alagoas, Brasil. Interciencia v.26. n 11. p. 535 – 540. 2001. MOREIRA, D. A. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. 152 p. PARAÍBA, Secretaria de Planejamento. Avaliação da infra-estrutura hídrica e do suporte para o sistema de gerenciamento de recursos hídricos do Estado da Paraíba. João Pessoa, SEPLAN, 1997, 144 p. PEDROSA, A. S. Atividades antropogênicas na bacia de drenagem e qualidade das águas do açude Epitácio Pessoa. 2004. 206p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio – Ambiente) – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. PEDROSO JUNIOR, N. Etnoecologia e conservação em áreas naturais protegidas: incorporando o saber local na manutenção do Parque Nacional do Superagui. 2002. 80p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de São Carlos, São Paulo. 145 _______________________________________________________________ APÊNDICES _______________________________________________________________ 146 Apêndice 1. Matriz de correlação das variáveis físicas, químicas e biológicas das águas do açude de Soledade, entre os períodos de jan/06 e dez/06. (p< 0,01) Vol Prec TºC pH CE Tran PO4 OD NH3 NO2 NO3 Alc Cla Feo Táx Den Div. Eq. Dom Cya. Chl. Bac. Vol. 1,00 Prec 0,47 1,00 TºC 0,20 0,31 1,00 pH -0,36 0,29 0,03 CE -0,91 -0,44 0,01 0,24 1,00 Tran. 0,72 -0,09 0,08 -0,79 -0,55 1,00 PO4 -0,90 -0,53 -0,24 0,22 0,79 -0,57 1,00 OD 0,36 0,72 -0,15 0,14 -0,45 0,02 -0,37 1,00 NH3 -0,92 -0,62 -0,28 0,18 0,84 -0,55 0,81 -0,43 NO2 -0,25 -0,32 -0,27 0,08 0,11 -0,31 0,19 -0,29 0,36 1,00 NO3 -0,13 -0,29 -0,37 -0,37 -0,01 0,47 -0,21 -0,16 0,07 -0,02 1,00 Alc. -0,53 -0,22 -0,04 0,53 041 -0,74 0,36 0,13 0,46 0,13 -0,06 1,00 Cla -0,56 -0,57 -0,10 0,10 0,64 -0,18 0,46 -0,52 0,62 0,17 0,24 -0,05 1,00 Feof -0,24 -0,07 0,09 0,01 0,31 -0,09 0,22 -0,07 0,34 -0,05 0,30 0,16 0,50 1,00 Táx. 0,75 0,37 0,32 -0,37 -0,59 0,59 -0,72 0,15 -0,74 -0,23 0,05 -0,56 -0,38 -0,18 1,00 Den. -0,04 -0,34 -0,16 -0,35 0,06 0,38 0,20 -0,02 0,01 -0,19 0,09 -0,17 0,05 -0,05 -0,17 1,00 Div. 0,29 0,48 0,39 0,26 -0,24 -0,20 -0,44 0,10 -0,35 0,15 -0,17 -0,01 -0,15 -0,07 0,45 -0,87 Eq. -0,01 0,34 0,31 0,44 0,01 -0,46 -0,18 0,03 -0,05 0,25 -0,13 0,24 0,04 0,04 0,08 -0,91 0,92 1,00 Dom. 0,01 0,35 -0,34 -0,04 -0,04 0,44 0,17 -0,02 0,07 -0,19 0,20 -0,18 -0,05 -0,05 -0,19 0,90 -0,94 -0,97 1,00 Cya. -0,12 -0,35 -0,17 -0,30 0,12 0,30 0,27 -0,03 0,16 -0,18 0,06 -0,10 0,08 -0,02 -0,23 0,99 -0,89 -0,90 0,89 Chlo. 0,75 0,01 0,09 -0,63 -0,62 0,87 -0,65 0,09 -0,56 -0,14 0,38 -0,64 -0,25 -0,14 0,55 0,41 -0,13 -0,40 0,41 0,32 1,00 Bac. -0,34 -0,27 -0,39 0,03 0,18 -0,25 0,46 -0,14 0,26 0,27 -0,32 0,13 -0,03 -0,22 -0,37 0,27 -0,41 -0,33 0,37 0,29 -0,30 1,00 Eug. 0,13 0,12 0,29 -0,23 -0,10 0,15 -0,13 0,12 -0,18 -0,14 -0,01 -0,31 -0,09 -0,03 0,32 -0,09 0,21 0,10 -0,12 -0,12 0,23 -0,10 1,00 1,00 LEGENDA: Vol = Volume Prec = Precipitação TºC = Temperatura pH = Potencial Hidrogeniônico CE = Condutividade Elétrica Tran = Transparência Eq = Equidade Eug. PO4 = Ortofosfato Solúvel NH3 = Amônia NO2 = Nitrito NO3 = Nitrato Alc = Alcalinidade Cl a = Clorofila a Feof = Feofitina Táx = Táxons Den = Densidade total Cyal = Cyanobacteria Chl = Chlorophyceae Bac = Bacillariophyceae Eug = Euglenophyceae Div = Diversidade 1,00 1,00 1,00 147 Apêndice 2. Matriz de correlação das variáveis físicas, químicas e biológicas das águas do açude Taperoá II, entre os períodos de jan/06 e dez/06. (p< 0,01) Vol Prec TºC pH CE Tran PO4 OD NH3 NO2 NO3 Alc Cla Feo Táx Den Div. Eq. Dom Cya. Chl. Bac. Vol. 1,00 Prec -0,37 1,00 TºC -0,58 0,82 1,00 pH -0,86 0,46 0,74 CE -0,85 -0,003 0,26 0,64 1,00 Tran. 0,63 -0,28 -0,37 -0,62 -0,56 1,00 PO4 0,30 -0,23 -0,27 -0,23 -0,18 0,005 1,00 OD 0,22 0,11 -0,06 -0,31 -0,24 0,41 -0,24 NH3 0,10 -0,38 -0,18 0,01 -0,08 0,12 -0,08 0,02 NO2 0,13 -0,19 -0,11 0,03 -011 -0,35 0,21 -0,06 0,55 1,00 NO3 0,28 -0,36 -0,40 -0,24 -0,07 -0,46 0,33 -0,21 -0,0006 0,55 Alc. 0,33 0,15 -0,04 -0,12 -0,40 -0,12 0,26 -0,004 0,18 0,48 0,24 1,00 Cla -0,59 -0,33 -0,07 0,32 0,74 -0,06 -0,11 -0,14 -0,15 -0,44 -0,27 -0,64 1,00 Feof -0,60 -0,26 -010 0,24 0,75 -0,26 -0,15 -0,01 -0,28 -0,33 -0,05 -0,47 0,88 1,00 Táx. 0,25 0,07 -0,05 -0,21 -0,33 0,49 -0,07 0,61 -0,11 -0,31 -0,27 -0,29 -0,02 -0,70 1,00 Den. -0,23 -0,02 0,09 0,13 0,21 0,41 -0,14 -0,07 -0,34 -0,70 -0,61 -0,49 0,60 0,37 0,21 Div. 0,09 -0,01 -0,14 -0,10 -0,07 0,18 -0,26 0,61 -0,16 -0,02 0,07 -0,33 0,06 0,19 0,70 0,06 Eq. -0,03 -0,06 -0,09 0,01 0,10 -0,05 -0,28 0,44 -0,15 0,19 0,26 -0,23 0,09 0,29 0,34 -0,11 0,91 1,00 Dom. 0,07 -0,14 -0,09 -0,01 -0,07 -0,02 0,28 -0,50 0,33 0,06 -0,09 0,31 -0,11 -0,29 -0,53 -0,04 -0,93 -0,92 1,00 Cya. -0,75 0,24 0,39 0,60 0,65 -0,28 -0,30 -0,12 -0,44 -0,47 -0,36 -0,43 0,71 0,68 -0,07 0,67 0,08 0,15 -0,23 Chlo. -0,16 -0,03 -0,04 0,01 0,16 0,39 -0,24 0,31 -0,27 -0,52 -0,49 -0,44 0,50 0,44 0,49 0,70 0,41 0,27 -0,36 0,56 Bac. 0,53 -0,27 -030 -0,47 -0,45 0,81 0,18 -0,03 0,05 -0,38 -0,37 -0,14 -0,02 -0,31 0,28 0,55 -0,16 -0,37 0,27 -0,25 0,25 1,00 Eug. 0,43 -0,08 -020 -0,50 -040 0,67 -0,12 0,53 0,05 -0,21 -0,30 -0,16 -0,13 -0,12 0,70 0,17 0,50 0,26 -0,37 -0,28 0,57 0,43 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 LEGENDA: Vol = Volume Prec = Precipitação TºC = Temperatura pH = Potencial Hidrogeniônico CE = Condutividade Elétrica Tran = Transparência Eq = Equidade Eug. PO4 = Ortofosfato Solúvel NH3 = Amônia NO2 = Nitrito NO3 = Nitrato Alc = Alcalinidade Cl a = Clorofila a Feof = Feofitina Táx = Táxons Den = Densidade total Cyal = Cyanobacteria Chl = Chlorophyceae Bac = Bacillariophyceae Eug = Euglenophyceae Div = Diversidade 1,00 1,00 1,00 1,00 148 Apêndice 3. Matriz de correlação das variáveis físicas, químicas e biológicas das águas do açude Namorados, entre os períodos de jan/06 e dez/06. (p< 0,01) Vol Vol. Prec TºC pH CE Tran PO4 OD NH3 NO2 NO3 Alc Cla Feo Táx Den Div. Eq. Dom Cya. Chl. Bac. Eug. PPL 1,00 Prec 0,42 1,00 TºC -0,59 -0,41 1,00 pH -0,57 -0,75 0,32 1,00 CE -0,91 -0,57 0,37 0,63 1,00 Tran. 0,44 -0,37 -0,05 0,16 -0,32 1,00 PO4 -0,06 -0,27 0,45 -0,17 0,05 -0,16 1,00 OD 0,33 0,94 -0,46 -0,65 -0,44 -0,51 -0,19 1,00 NH3 -0,61 0,54 -0,69 -0,60 -0,31 -0,05 -0,31 0,48 1,00 NO2 0,007 -0,18 -0,10 0,27 0,06 0,09 -0,15 -0,13 -0,14 1,00 NO3 -0,015 -0,06 -0,21 0,22 0,10 -0,05 -0,23 0,04 -0,03 -0,11 1,00 Alc. -0,15 -0,20 0,54 -0,15 0,06 -0,37 0,90 -0,11 -0,38 -0,16 -0,23 Cla -0,83 -0,38 0,70 0,46 0,65 -0,21 -0,004 -0,37 -0,42 -0,05 -0,01 0,13 1,00 Feof -0,61 -0,04 0,41 0,27 0,36 -0,30 -0,12 -0,05 -0,22 -0,05 -0,05 0,01 0,61 Táx. -0,39 -0,03 0,10 0,43 0,34 0,08 -0,59 -0,10 0,01 -0,04 0,13 -0,58 0,36 0,42 1,00 Den. -0,32 -0,55 0,39 0,33 0,42 0,21 0,46 -0,51 -0,29 -0,07 0,04 0,23 0,38 0,11 0,03 1,00 Div. -0,26 0,37 -0,16 0,11 0,17 -0,14 -0,74 0,28 0,33 -0,03 0,04 -0,69 0,19 0,38 0,83 -0,32 Eq. -0,08 0,60 -0,39 -0,14 -0,03 -0,23 -0,72 0,53 0,52 0,03 -0,09 -0,67 -0,01 0,25 0,50 -0,53 0,88 1,00 Dom. 0,16 -0,43 0,30 -0,02 -0,08 0,10 0,79 -0,33 -0,44 -0,05 -0,02 0,77 -0,07 -0,28 -0,71 0,41 -0,97 -0,95 1,00 Cya. -0,34 -0,50 0,39 0,27 0,40 -0,17 0,70 -0,36 -0,40 -0,03 0,07 0,58 -0,31 0,07 -0,26 0,84 -0,55 -0,66 0,63 1,00 Chlo. 0,20 -0,25 -0,03 0,19 -0,07 0,84 -0,29 -0,37 -0,04 0,03 -0,03 -0,50 -0,06 -0,13 0,25 0,27 0,07 -0,04 -0,10 -0,20 1,00 Bac. -0,49 -0,40 -0,09 0,49 0,65 0,02 -0,15 -0,30 0,005 -0,08 0,23 -0,29 0,20 0,27 0,43 0,32 0,25 0,10 -0,22 0,15 0,22 1,00 Eug. -0,09 0,37 0,03 -0,25 -0,07 -0,07 -0,36 0,19 0,47 -0,15 -0,12 -0,33 0,20 0,22 0,47 -0,07 0,59 0,52 -0,57 -0,33 -0,06 -0,03 1,00 PPL -0,05 -0,41 -0,20 0,47 0,10 -0,21 -0,23 0,23 -0,19 -0,16 -0,10 -0,11 -0,05 0,08 0,27 -0,24 0,17 0,11 -0,11 -0,07 -0,22 0,10 -0,14 1,00 1,00 1,00 LEGENDA: Vol = Volume Prec = Precipitação TºC = Temperatura pH = Potencial Hidrogeniônico CE = Condutividade Elétrica Tran = Transparência Eq = Equidade PO4 = Ortofosfato Solúvel NH3 = Amônia NO2 = Nitrito NO3 = Nitrato Alc = Alcalinidade Cl a = Clorofila a Feof = Feofitina Táx = Táxons Den = Densidade total Cyal = Cyanobacteria Chl = Chlorophyceae Bac = Bacillariophyceae Eug = Euglenophyceae Div = Diversidade PPL = Produção Primária Líquida 1,00 149 APÊNDICE 4 – Modelo de questionário semi-estruturado Questionário nº _____ Data: 09/11/2007 Características sócio-ambientais dos pescadores do Açude Taperoá II: 1.Nome:_____________________________________Apelido:________________________ 2. Sexo : M( ) F( ) 3. Idade:_______________ 3. Naturalidade:______________________________________________________________ 4. Escolaridade: ( )analfabeto ( )apenas escreve o nome ( )apenas lê ( )lê e escreve ( )1º grau incompleto ( )1º grau completo ( )2º grau incompleto ( )2º grau completo ( )Superior Incompleto ( )Superior Completo 5. Estado civil: ( )Solteiro ( ) Casado ( )Viúvo ( )Separação legal ( )Outros:___________________________________________________________________________ 6. Tem filhos? Quantos? _______________________________________________________ 7.O Sr.sempre trabalhou na pesca? ( )Sim ( )Não 7.1. Se a resposta é negativa, qual(is) atividade(s) exercia? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 8. Tempo na pesca: ( )1-10anos ( )Mais de 50 anos ( )11-20anos ( )21-30anos ( )31-40anos ( )41-50anos 9. Com quem o Sr. aprendeu a pesca? ( )Com parentes ( ) Com pescadores mais experientes ( )Outros:___________________________________________________________________________ 10. Quantos dias por semana o Sr. sai para pescar?( )1-2dias ( )5-6dias ( )Todos os dias 11. O Sr.(a) vende o peixe pescado? Sim ( ) Não ( ( )3-4dias ) 12. Quanto o Sr(a) ganha por mês com a pesca? ( )Até R$200,00 ( ) R$ 201,00-R$ 300,00 ( )R$ 301,00-R$400,00 ( ) R$ 401,00-R$500,00 ( )Mais de R$ 500,00:______________________ 13. O(a) senhor(a) recebe algum auxílio do governo?( )aposentadoria ( )bolsa família ( )nenhum auxílio ( )outros___________________________________________________________ 13.1. Se a resposta é positiva, quanto é pago ao Sr.(a)? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 14. O(a) senhor(a) faz parte de alguma associação? Sim ( ) Não( ) ___________________________________________________________________________________ 15. Quais são os tipos de pescado?Curimatã ( ) Tillápia ( ) Carpa ( ) Traíra ( ) Piau ( )Outros____________________________________________________________________________ 16. Como o(a) senhor(a) pesca o peixe? 150 Rede de pesca ( ) Tarrafa ( ) Outros ( ) ______________________________________________ 17. O(A) senhor(a) pesca outro animal? Sim ( ) Não ( ) Qual(is)?____________________________________________________________________ 18. Os pescadores ficam mais perto ou longe da barragem? Sim ( ) Não ( ) 19. Qual é o tipo de isca? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 20. Além da pesca, o(a) senhor(a) faz outra atividade? Sim( ) Não( ) ____________________________________________________________ 21. O açude é importante para o(a) senhor(a)? Por quê? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 22. O(A) senhor(a) pesca no rio Taperoá? Sim( ) Não( ) Por quê?__________________ ________________________________________________________________________ 23. O açude está diferente ao que era no passado?Por quê? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 24. O(a) senhor(a) usa a água do açude para alguma atividade? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 25. A água do açude é boa? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 26. A água tem gosto, cheiro, cor? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 27. A água do açude causa alguma doença?Qual? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 28. Dá lôdo ou pasta no açude? Sim( ) Não( ) 29. O lôdo atrapalha ou ajuda na pesca?Por quê? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 30. A mata em volta do açude tem alguma importância para o(a) senhor(a)?Por quê? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________