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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA
RENATO ALVES CORREA
Análise textual, temática e interpretativa do livro
"As Origens do Pensamento Grego"de Jean-Pierre Vernant
Orientação: Professor Washington Luis Souza
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2012
Índice
BIOGRAFIA .........................................................................................................7
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
ANÁLISE TEXTUAL.....................................................................................................................9
A. Vocabulário, conceitos e termos. .....................................................................................9
B. Esquematização. ............................................................................................................13
ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................15
B. Organograma da Introdução ..........................................................................................16
ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................17
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 19
ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................19
A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................19
B. Esquematização. ............................................................................................................22
ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................24
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 1 ......................................................................................25
ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................26
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 27
ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................27
A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................27
B. Esquematização. ............................................................................................................30
ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................33
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 2 ......................................................................................35
ANÁLISE INTERPRETATIVA......................................................................................................36
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 37
ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................37
A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................37
B. Esquematização. ............................................................................................................43
ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................46
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 3 ......................................................................................47
ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................48
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 49
ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................49
A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................49
B. Esquematização. ............................................................................................................58
ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................62
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 4 ......................................................................................64
ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................66
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................. 69
ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................69
A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................69
B. Esquematização. ............................................................................................................73
ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................75
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 5 ......................................................................................77
ANÁLISE INTERPRETATIVA......................................................................................................78
CAPÍTULO 6 ............................................................................................................. 81
ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................81
A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................81
B. Esquematização. ............................................................................................................88
ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................91
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 6 ......................................................................................93
ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................95
CAPÍTULO 7 ............................................................................................................. 97
ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................97
A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................97
B. Esquematização. ............................................................................................................99
ANÁLISE TEMÁTICA ..............................................................................................................103
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 7 ....................................................................................106
ANÁLISE INTERPRETATIVA ....................................................................................................108
CAPÍTULO 8 ........................................................................................................... 111
ANÁLISE TEXTUAL.................................................................................................................111
A. Vocabulário, conceitos e termos. .................................................................................111
B. Esquematização. ..........................................................................................................114
ANÁLISE TEMÁTICA ..............................................................................................................115
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 8 ....................................................................................117
ANÁLISE INTERPRETATIVA ....................................................................................................119
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 121
ANÁLISE TEXTUAL.................................................................................................................121
A. Vocabulário, conceitos e termos. .................................................................................121
B. Esquematização. ..........................................................................................................121
ANÁLISE TEMÁTICA ..............................................................................................................122
ORGANOGRAMA DA CONCLUSÃO ...................................................................................123
ANÁLISE INTERPRETATIVA ....................................................................................................124
Jean Pierre Vernant
Biografia
Jean Pierre Vernant, nascido em Provins, 4 de janeiro de 1914 e falecido em Sèvres, 9 de
janeiro de 2007, foi um historiador e antropólogo francês cuja especialidade era a Grécia
Antiga e a mitologia grega. Destacado historiador da Antiguidade, Vernant carrega a justa fama
de ter colocado os estudos helênicos em outro nível. Ao lado de uma geração de estudiosos
importantes, seu trabalho fundamentava-se na psicologia, na sociologia e na antropologia e
alterou a forma de pensar a história antiga de uma forma geral, analisando o conjunto, ou seja,
o político se relacionava com o religioso, e assim por diante. Aproximou-se muito do
estruturalismo, da própria história cultural, a antropologia e a semiótica. Saberes que juntos
fizeram da sua escrita um espaço para ações de interpretação e leituras dos mitos gregos.
Entrou para a política muito cedo e fez parte de uma organização revolucionária ateia com
sede em Moscou. Entrou para o Partido Comunista Francês (PCF) em 1932 e lá permaneceu
até 1970. Crítico feroz do Partido, apesar disso sempre manteve uma atitude de apoio. As
perturbadas relações do PCF com o stalinismo criaram recorrentes atritos de Vernant com a
direção do Partido. Com a Guerra da Argélia, essa relação se tornará ainda mais tensa,
resultando na ruptura de Vernant com o PCF. Os jovens intelectuais de 1968 vivenciaram a
radicalização crescente dos movimentos políticos que promoveram profundas divisões na
sociedade francesa. O PCF não apoiou o movimento de independência das colônias francesas
na África e esse fato esse que fez com que Vernant se desligasse do Partido.
Sua primeira obra importante, As Origens do Pensamento Grego, publicada em 1962, foi lida
por muitos como uma recusa das teses dos defensores do "milagre grego", mas também
poderia ser lida como um duro ataque à política do Partido Comunista Francês e uma erudita
defesa de uma política da verdade. Nessa obra Vernant procurou apresentar as raízes políticas
da racionalidade grega. A laicização do pensamento político, realizado na passagem do século
VIII antes de cristo ao século VII a.c. asseguraria, para Vernant, o advento da própria filosofia e
o aparecimento da polis foi o acontecimento decisivo para tal. Na polis grega a política e o
logos passaram a vincular-se estreitamente. A palavra assumiu uma posição de preeminência
sobre todos os demais instrumentos de poder, enquanto a razão se expressou primeiramente
na política. Com Aristóteles uma lógica do verdadeiro, própria da teoria, foi contraposta a uma
lógica do verossímil. É o caráter público dessa política e desse logos, que permite a todos
controlar seus objetivos e resultados. A polis fez uma distinção entre um domínio público de
um domínio privado, e estabeleceu práticas abertas ao público do que antes era exclusividade
de uns poucos privilegiados. E era justamente a estes poucos integrantes do PCF que Vernant
dirigia suas críticas. A submissão do PCF ás regras do jogo da democracia liberal e à política
externa da União Soviética tornava sua prática política incapaz de encarar as possibilidades de
mudanças sobre as quais os intelectuais dissidentes procuravam chamar a atenção.
7
Durante a segunda guerra mundial Vernant foi membro da resistência francesa e após o
término do conflito voltou a lecionar aulas de filosofia no sistema escolar. Em 1948, passou a
integrar o Centro Nacional de Pesquisas Científicas. Em 1958, foi nomeado diretor da VI seção
da Escola Prática de Altos Estudos. Em 1964, fundou seu próprio centro de pesquisas: o Centro
de Pesquisas Comparadas Sobre as Sociedades Antigas.
Intelectual, professor e pesquisador, inovou e revolucionou as pesquisas na área dos estudos
clássico. Sua obra recebeu influências das maiores correntes de pensamento que marcaram o
pensamento europeu do século XX e que foram o marxismo, a sociologia durkheiminiana e o
estruturalismo francês. A escola estruturalista influenciou vários campos desde a linguística,
literatura e antropologia. Este estudo se destacava por se basear em estruturas - cada
elemento da sociedade se encontrava interligado a estruturas. O Estruturalismo se propõe a
analisar os fatos de uma forma a descrevê-los, dando ênfase no sistema, percebendo as
ligações entre as unidades no seu aspecto de relação signo e referente.
Influenciado pelas pesquisas de psicologia histórica, ao inserir aspectos psicológicos na
formação do pensamento grego, Vernant expandiu o leque de possibilidades analíticas de
um modo nunca visto. A compreensão da humanidade grega, suas singularidades e traços
distintivos, longe de aprisionar Vernant no passado e nos limites do caso particular, lança a
análise na direção de uma indagação mais ampla sobre o humano, sobre a racionalidade e
sobre o simbólico o que, de novo, impõe ao intérprete as perspectivas psicológica e
antropológica.
Vernant se utiliza de tudo isso, perspectiva integradora das realidades humanas,
multidisciplinaridade, integração de diversos campos do saber, questionamentos múltiplos e
variados, para dar uma visão profunda e modificadora da vida humana e que serve para que
nós possamos vislumbrar um futuro próprio com mais consciência do tipo de destino que
aspiramos.
8
Leitura Analítica do livro "As Origens do Pensamento Grego"
De
Jean-Pierre Vernant
INTRODUÇÃO
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Linear B micênico (pág.9)
As mais antigas inscrições em grego que conhecemos estão nas tabuinhas de argila
desenterradas pelos arqueólogos nos palácios micênicos de Pilos, Micenas, Tirinto e Tebas, na
península balcânica, e em Cnossos e Cânia, na ilha de Creta. As tabuinhas foram cozidas,
aparentemente, pelo fogo dos incêndios que destruíram os palácios. Inscrições do mesmo tipo
foram também encontradas em diversos tipos de vasos, descobertos em diversos sítios ocupados
pelos micênios. http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0068
Escrita cuneiforme (pág.9)
A escrita cuneiforme foi desenvolvida pelos sumérios, sendo a designação geral dada a certos
tipos de escrita feitas com auxílio de objetos em formato de cunha. É juntamente com os
hieróglifos egípcios, o mais antigo tipo conhecido de escrita, tendo sido criado pelos sumérios
por volta de 3500 a.C. Inicialmente a escrita representava formas do mundo (pictogramas), mas
por praticidade as formas foram se tornando mais simples e abstratas.
http://tipografos.net/escrita/sumerio.html
Homero (pág.9)
Homero (em grego: Ὅμηρος, transl. Hómēros) foi um poeta épico da Grécia Antiga, ao qual
tradicionalmente se atribui a autoria dos poemas épicos Ilíada e Odisseia.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homero
Aedos (pág.9)
Um aedo (em grego clássico ἀοιδός / aoidos, do verbo ᾄδω / aidô, "cantar") era, na Grécia
antiga, um artista que cantava as epopeias acompanhando-se de um instrumento de música, o
forminx. Distingue-se do rapsodo, mais tardio, por compor as próprias obras. Por esse facto,
será o equivalente a um bardo celta.O mais célebre dos aedos é Homero.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aedo
9
Ilíada (pág.9)
A Ilíada é um poema épico cuja autoria é atribuída a Homero, poeta grego, do século VIII a.C.
Nesta obra, o autor descreve a Guerra de Tróia (entre gregos e troianos) em vinte cantos.
O nome do homem deriva do grego Ilion que significa Tróia. Após seqüestrarem a princesa
grega Helena, os troianos são atacados pelos gregos. Após anos de batalha, os gregos
conseguem vencer, após presentearem os troianos com um gigante cavalo de madeira (Cavalo
de Tróia). Dentro do cavalo havia centenas de soldados gregos que, de madrugada, saíram da
barriga do cavalo e atacaram a cidade inimiga.Esta obra é uma das mais importantes da
antiguidade. Não retrata fielmente a guerra, pois foi escrita quatro séculos após o fato, mas é um
ótimo relato histórico sobre a cultura, o comportamento e a vida cotidiana dos gregos antigos.
Aquiles, Heitor, Ulisses e Agamenon são os principais personagens deste poema.
Homero utilizou a cultura oral (histórias que o povo contava) para escrever esta obra.
http://www.suapesquisa.com/pesquisa/iliada.htm
Tribos Dóricas (pág.10)
Os dóricos (ou dórios; em grego: Δωριεῖς, transl. Dōrieis, singular Δωριεύς, transl. Dōrieus)
foram uma das três principais tribos em que os antigos gregos dividiam a si próprios, ao lado
dos jônicos e eólicos. Os dóricos quase sempre são referenciados na literatura grega antiga
apenas como "os dóricos"; a primeira menção feita a eles data da Odisseia onde eles são
encontrados como habitantes da ilha de Creta. Heródoto, ao comentar o assunto, usa o termo
ethnos, que embora esteja na raiz de palavras do português como etnia e grupo étnico,
aproximava-se ao conceito de 'tribo', 'raça' ou 'grupo de pessoas', no grego antigo. Os dórios
faziam claramente parte dos povos tidos como helenos, dos quais diferiam no entanto, em
termos de modo de vida e organização social - ela própria tão variada que abrangia desde o
centro comercial populoso da cidade de Corinto, conhecida pelo estilo ornamentado de sua arte
e arquitetura, ao Estado isolacionista e militarista da Lacedemônia (ou Esparta). Nações dóricas
que se encontrassem em guerra geralmente (embora não sempre) podiam contar com a
assistência de outras cidades e Estados dórias. http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%B3ricos
Rei Divino (pág.10)
"Quando no século XII antes de nossa era o poder micênico desaba sobre o ímpeto das tribos
dóricas que irrompem na Grécia continental, não é uma simples dinastia a sucumbir no incêndio
que assola Pilos e Micenas, é um tipo de realeza que se encontra para sempre destruída, toda
uma forma de vida social, centralizada em torno do palácio, que é definitivamente abolida, um
personagem, o Rei divino, que desaparece do horizonte grego. (O.P.G pág.10, Vernant)
Helenismo (pág.11)
Designa-se por período helenístico (do grego, hellenizein – "falar grego", "viver como os
gregos") o período da história da Grécia e de parte do Oriente Médio compreendido entre a
morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. e a anexação da península grega e ilhas por Roma em
146 a.C.. Caracterizou-se pela difusão da civilização grega numa vasta área que se estendia do
mar Mediterrâneo oriental à Ásia Central. De modo geral, o helenismo foi a concretização de
um ideal de Alexandre: o de levar e difundir a cultura grega aos territórios que conquistava. Foi
naquele período que as ciências particulares tiveram seu primeiro e grande desenvolvimento.
Foi o tempo de Euclides e Arquimedes. O helenismo marcou um período de transição para o
domínio e apogeu de Roma. Durante o período helenista foram fundadas várias cidades de
cultura grega, entre elas Alexandria e Antioquia, capitais do Egipto ptolemaico e do Império
Selêucida,respectivamente. http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_helen%C3%ADstico
10
Ágora (pág.11)
Ágora era a praça principal na constituição da pólis, a cidade grega da Antiguidade clássica.
Normalmente era um espaço livre de edificações, onde as pessoas costumavam ir, configuradas
pela presença de mercados e feiras livres em seus limites, assim como por edifícios de caráter
público. Enquanto elemento de constituição do espaço urbano, a ágora manifesta-se como a
expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por
excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro para comprar coisas nas feiras,
onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da
cidadania. Por este motivo, a ágora (assim como o pnyx, o espaço de realização das eclesias) era
considerada um símbolo da democracia direta, e, em especial, da democracia ateniense, na qual
todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto. A de Atenas, por este motivo, também é a
mais
conhecida
de
todas
as
ágoras
nas
pólis
da
antiguidade.
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gora
Cosmogonia (pág.11)
Cosmogonia (do grego κοσμογονία; κόσμος "universo" e -γονία "nascimento") é o termo que
abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as religiões,
mitologias e ciências através da história. Tanto o vocábulo cosmologia como o vocábulo
cosmogonia partilham do mesmo radical grego cosmo, que significa mundo. Enquanto o sufixo
logos da cosmologia designa saber ou ciência, o sufixo gon da cosmogonia lhe dá o significado
de "Imaginar, produzir, gerar", discernindo daí que enquanto a cosmologia é a ciência que
estuda o universo, a cosmogonia é uma das diversas teorias ou explicações que determinada
religião ou cultura deu à origem do universo e seus principais fenômenos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmogonia
Razão Grega (pág.11)
A filosofia propriamente dita e a ciência, dois representativos legados do racionalismo ocidental
à civilização humana, nasceram na Grécia antiga, no século VI antes de Cristo. De antemão,
porém, cumpre lembrar que não havia, à época em que surgiram, distinção entre filosofia e
ciência. Em sua origem, ambas se identificam. Só depois da Idade Média é que se demarcarão
os contornos distintivos entre essas duas áreas do conhecimento. Em seus inícios, o que se
entendia por filosofia ou ciência era a maneira racional de ver e interpretar o mundo, diversa do
modo mítico-religioso que antecedeu a idade da razão na Grécia, inaugurada por seus primeiros
filósofos, os chamados pré-socráticos. Não é possível, no entanto, segundo os especialistas,
entender a filosofia helênica sem prévia noção a respeito da literatura, religião e condições
sociopolíticas e econômicas da Grécia no período anterior ao advento desses primeiros
filósofos. http://www.arazao.net/preludios-da-filosofia-grega.html
Mito (pág.11)
Um mito (do grego antigo μυθος, translit. "mithós") é uma narrativa de caráter simbólico,
relacionada a uma dada cultura. O mito procura explicar a realidade, os fenômenos naturais, as
origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito
11
Laicização (pág.11)
1.laicização do saber : separação entre o saber e a religião 2.Toda sociedade Laica é aquela que
não possui religião e afasta de si os preceitos religiosos. A laicização é o processo pelo qual a
sociedade torna-se laica sem incentivos religiosos ou o pragamatismo natural das religiões
.http://www.dicionarioinformal.com.br/laiciza%C3%A7%C3%A3o/
12
B. Esquematização.
1. Aprofundamento da perspectiva cronológica com a decifração do linear
B micênico.
2. Aprofundamento da perspectiva cronológica.
3. Descoberta da semelhança do mundo grego com a mesma organização
social dos antigos povos do Oriente Próximo.
4. Este passado foi resgatado pela Ilíada de Homero o que demonstra que
houve uma ruptura que ligava o povo grego ás suas origens (civilização
micênica).
5. Vernant propõe aqui a análise deste corte (ruptura temporal) na
história do homem grego.
6. A destruição do poder micênico no século XII a.c. e o desaparecimento
do Rei divino teve grande repercussão e importância no próprio homem
grego.
7. O desaparecimento da realeza micênica preparou o caminho para duas
inovações:
A. Instituição da Cidade;
B. Aparecimento do pensamento racional.
8. O restabelecimento dos contatos comerciais e culturais com o Oriente,
interrompidos por séculos, fez com que o povo grego tivesse uma melhor
consciência de si próprio quando este obtém um tipo de reflexão a cerca
da sua superioridade sobre o mundo bárbaro no que se refere á
substituição de um Rei pela instituição da Polis.
9.Houve progressivamente a substituição das antigas cosmogonias
relacionadas aos rituais reais e mitos de soberania por relações de
simetria, equilíbrio, igualdade entre os diversos elementos que para eles
compunham o cosmos.
10. Mutação de mentalidade do povo grego:
A. Libertação da mentalidade religiosa;
B. Ultrapassagem do mito.
13
11. Em plena assimilação do estilo orientalizante o povo grego entre os
séculos VIII e VII a.c. , lança os fundamentos para:
A. O regime da Polis;
B. O advento da Filosofia.
14
ANÁLISE TEMÁTICA
Nesta Introdução, Vernant procura informar ao leitor que a decifração de textos
antigos datados do século XII a.c. (pág.9) comprovaram um parentesco muito
grande dos antigos gregos com os reinos do Oriente Próximo onde o
personagem central era a figura do Rei divino (pág.10). Com as invasões dóricas,
estas dinastias foram destruídas, ocasionando o desaparecimento de todo um
sistema centralizado no palácio do Rei e levando o povo grego a uma imersão
no que é chamado de Idade Média Grega. As invasões dóricas e a consequente
destruição das cidades micênicas cujas realidades sociais eram centradas na
figura do Rei, ocasionaram assim uma profunda modificação no universo
espiritual e psicológico do povo grego (pág.10) .
Estes acontecimentos arraigaram-se em forma de mito e religião que mais tarde
seriam transformados em substrato cultural. A compreensão deste "corte na
história do povo grego" (pág.9), esta "ruptura" (pág.10) e todas as
consequências do isolamento a que o povo grego foi subitamente lançado pôde
preparar o futuro aparecimento da Cidade (Polis) (pág.11).
15
B. Organograma da Introdução
Decifração do linear B
↓
Mundo político social dos gregos era muito semelhante ao
dos povos do oriente próximo.
↓
Invasões dóricas e desaparecimento da figura do Rei divino.
↓
Idade Média Grega e formação dos mitos e da religião.
↓
Restabelecimento das relações com o Oriente (900 - 750 a.c.)
↓
Afirmação do Helenismo e recusa da imitação e da
assimilação do orientalismo.
↓
Advento da polis, laicização do pensamento político e
advento da Filosofia.
16
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Nesta introdução do livro,Vernant anuncia novas descobertas feitas através da
decifração do linear B micênico, que são as tabuas de argila que foram
prezervadas pelos incêndios que ocorreram nos palácios destruídos pelas tribo
dóricas que invadiram a Grécia Continental no século XII antes de nossa era e
que contém inscrições silábicas cujas informações modificaram todo o nosso
conhecimento anterior a respeito das origens do pensamento helênico. Essas
informações levarão Vernant a formular sua tese de o aparecimento abrupto de
uma vida social e política organizada em torno da figura de um Rei divino
habitando um palácio fortificado irá repercutir profundamente nos homens
daquele período tanto no que se refere aos aspectos espirituais bem como nos
seus aspectos psicológicos. Vernant coloca a necessidade de situar e
compreender o impacto que teve na mentalidade grega antiga a perda da figura
do Rei divino e a vida em torno do palácio real e como isso pôde se transformar
séculos mais tarde em um sistema de vida político e social totalmente diverso
baseado no espaço público (Ágora) e no pensamento racional.
As origens do pensamento grego devem ser buscadas na compreensão de como
era o sistema político e social da era micênica e como este teve ressonâncias
profundas no mito e na religião até se chegar ao advento da Polis e da razão
grega. A dificuldade é entender como a realidade micênica, de onde partiram os
mitos e as religiões ancestrais do povo grego, serviu de caminho e plano de
fundo para o futuro advento das cidades, do espaço público e da filosofia e
também como se deu este processo de mutação. Há uma indicação implícita de
que fatores históricos e sociais importantes acontecidos na era micênica
ocasionaram uma mutação psicológica profunda no povo grego e deixa claro
que analisará todo este período da história antiga do povo grego ocorrido entre
17
os séculos XI e VII que servirá de caminho para nos mostrar claramente como se
deram as mudanças de ordem política, social e psicológica. Estudará as
mudanças que levaram ao aparecimento de um pensamento grego observando
os acontecimentos num determinado período histórico.
O autor nos diz ainda que devemos analisar um determinado momento
histórico e situá-lo corretamente para que possamos entender as consequências
ocorridas na psicologia do homem grego. E sublinha a importância de uma
análise histórica recuada alguns séculos atrás do surgimento da filosofia para se
entender como se deu o processo de mutação do pensamento grego do mito
para a razão.
18
CAPÍTULO 1
O QUADRO HISTÓRICO
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Cerâmica miniana (pág. 14)
Alguns dos vasos minianos mais característicos do Heládico Médio tinham duas alças bem
amplas. A técnica conhecida por miniana utilizava vários tipos de argila, a rápida roda de oleiro
e um processo especial de cozimento, que resultava na característica sensação "saponácea" ao
toque. Havia as variedades cinza (Grécia Central e Peloponeso), negra (Peloponeso), vermelha
(Ática, Egina) e amarela; o formato era bastante variado. Não é verdade que se tentava imitar os
vasos contemporâneos de metal. Aparentemente, essa cerâmica é uma evolução direta da
cerâmica produzida pela cultura de Tirinto no final do Heládico Antigo (-2200/-2150), atribuída
a populações que chegaram ao Peloponeso vindos da Grécia
Central.
http://greciantiga.org/img/index.asp?num=0510
Heládico Antigo (pág.14)
No continente grego, o Heládico Antigo desenvolveu-se a partir de -30000, aproximadamente.
As principais etapas culturais estão representadas em Eutresis (-3000/-2650), Korakou e Lerna
(-2650/-2200), Tebas (-2400/-2100) e Tirinto (-2200/-2000). As mais antigas comunidades
evoluíram provavelmente a partir das culturas do Neolítico final e, a despeito da crescente
influência das Cíclades, de Creta e de Tróia, conservaram sua homogeneidade durante muito
tempo. Prósperas aldeias de casas retangulares e telhado plano eram vistas praticamente em toda
parte. Os artefatos de metal eram raros e seguramente o estilo de vida se mantinha quase
inteiramente neolítico.http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0356&post=0
Mínios (pág. 14)
Os primeiros gregos são chamados convencionalmente de "mínios", em homenagem a
Schliemann, o arqueólogo que descobriu seus vestígios em 1881/1882. Muitos arqueólogs
utilizam também essa nomenclatura para se referir ao Heládico Médio. Não há evidências de
descontinuidade entre a cultura material dos povos do Heládico Médio e a cultura micênica (1550/-1100). Como os micênios utilizavam a linear B para escrever textos em língua grega , a
maioria dos arqueólogos considera os mínios, a meu ver com toda razão, os mais remotos
ancestrais dos povos helênicos. http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0397
Hélade (pág. 14)
Grego é o nome pelo qual os romanos designavam os helenos, habitantes da Hélade que ficou
conhecida como Grécia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia
19
Hititas indo-europeus (pág. 14)
Os hititas eram um povo indo-europeu que, no II milénio a.C., fundou um poderoso império na
Anatólia central (atual Turquia), cuja queda data dos séculos XIII-XII a.C.. Em sua extensão
máxima, o Império Hitita compreendia a Anatólia, o norte e o oeste da Mesopotâmia até a
Palestina. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hititas
Tróade (pág. 14)
A Trôade ou Tróade era uma antiga região na parte noroeste da Anatólia, circundada pelo
Helesponto ao noroeste, pelo mar Egeu ao oeste e separada do resto da Anatólia pelo maciço
que forma o Monte Ida. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%B4ade
Aqueus (pág. 14)
Os aqueus eram um povo indo-europeu que colonizaram a Grécia por volta do ano 2000 a.C.
Semi-nômades, os aqueus migraram e estabeleceram um reino na Península do Peloponeso.
Junto com os dórios, jônios e eólios, os aqueus são os responsáveis pela colonização e formação
da civilização da Grécia Antiga.
Segundo historiadores, os aqueus penetraram e se
estabeleceram no território grego em busca de terras férteis. Encontraram nestas terras os
pelágios, que foram conquistados em função da superioridade militar dos aqueus.
Os aqueus fundaram, na Península do Peloponeso, importantes centros urbanos como, por
exemplo, Micenas, Argos e Tirinto. http://www.suapesquisa.com/grecia/aqueus.htm
Hippos ou Hippios (pág. 14)
Hippos é um sítio arqueológico em Israel, localizado em uma colina com vista para o Mar da
Galiléia. Entre o século 3 aC eo século 7 dC, Hippos era o local de uma cidade greco-romana.
Além da cidade fortificada em si, Hippos era controlado por duas instalações portuárias no lago
e uma área sobre a paisagem circundante. http://en.wikipedia.org/wiki/Hippos
Posidão (pág. 14)
Na mitologia grega, Posídon (em grego antigo Ποσειδῶν, transl. Poseidōn), também conhecido
como Poseidon, Possêidon ou Posidão, assumiu o estatuto de deus supremo do mar, conhecido
pelos romanos como Netuno possivelmente tendo origem etrusca como Nethuns. Também era
conhecido como o deus dos terremotos. Os símbolos associados a Posídon com mais frequência
eram o tridente e o golfinho. A origem de Posídon é cretense, como atesta seu papel no mito
do Minotauro. Na civilização minóica era o deus supremo, senhor do raio, atributo de
Zeus no panteão grego, daí o acordo da divisão de poderes entre eles, cabendo o mar ao
antigo rei dos deuses minóicos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pos%C3%ADdon
Creta (pág.14)
Creta (em grego: Κρήτη, transl. Kríti) é a maior ilha e uma das treze periferias da Grécia. Está
no sul do mar Egeu e é a segunda maior ilha do mar Mediterrâneo oriental e a quinta maior de
todo aquele mar. Segundo um mito, era naquela ilha que vivia o minotauro. Creta esteve
habitada desde a Pré-História, com vestígios de populações sedentárias desde o Neolítico. No
começo da Idade do Bronze, os cretenses criaram no 3° milénio a.C. uma grande civilização
20
insular (cultura minóica). Aquela civilização construiu palácios em Cnossos, em Festos, em
Maliá e em Santa Trindade – palácios cujas ruínas ainda são vistas. Alguns séculos mais tarde,
esta civilização irradiou para outras regiões do Mar Egeu, incluindo a Grécia continental.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Creta Creta
Anatólio (pág. 14)
As línguas anatólias (também conhecidas como anatólicas ou anatolianas) são línguas indoeuropeias outrora faladas na península da Anatólia, parte da atual Turquia. Atualmente, todas as
línguas anatólias estão extintas, dentre elas, a língua melhor atestada é a língua
hitita.http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_anat%C3%B3lias
21
B. Esquematização.
1. Recuando até 2000 anos antes de Cristo, encontramos um
Mediterrâneo onde não se vê distinção entre Oriente e Ocidente.
2. Mundo Egeu e Península Grega sem descontinuidade, semelhanças
culturais.
3. Primeira civilização palaciana (2000-1700).
4. Observa-se a mesma escola de arquitetos, pintores e afresquistas o que
comprova a semelhança entre Oriente e Ocidente.
5. O Heládico Antigo termina com uma mudança ocorrida entre 2000 e
1900 a.c.: uma população nova ocupa ostensivamente a Hélade, as ilhas e
o litoral da Ásia Menor.
6. Primeiros invasores: os mínios que colonizarão a Hélade e que são
povos indo-europeus que falam um dialeto grego arcaico.
7. Invasão paralela aos mínios: os hititas indo-europeus e sua expansão
pelo planalto Anatólio.
8. Continuidade cultural vai da Tróia I à Tróia V ( entre 3000 e 2600 ).
9. Na Tróia VI (1900), aparece uma cidade principesca rica e poderosa,
parente dos mínios da Grécia.
10. O cavalo surge na Tróade com os homens da Tróia VI.
11. A pré-história do deus Posidão é associada a um deus equino, Hippos
ou Hippios onde o tema do cavalo é associado a todo um complexo mítico.
12. A importância do cavalo no mundo antigo se dá na sua utilização para
fins militares onde encontramos estelas funerárias com inscrições de
cenas de batalha, onde o guerreiro conduz seu carro puxado por cavalos a
galope.
13. Nesta época os mínios estão misturados à população de origem
asiática e estabeleceram residências próximas às fortalezas.
14. Em 1450 se estabelecerá uma civilização palaciana na ilha de Creta.
15. A criação de cavalos com fins militares envolveu problemas de seleção
e adestramento.
22
16. A técnica e o aprendizado difícil da domesticação e adestramento dos
cavalos na atividade guerreira constitui-se um traço característico da
organização social e guerreira dos povos indo-europeus.
17. Um Estado centralizado com uma autoridade única surge como fator
de organização das atividades em torno do uso do cavalo.
18. Depois de muitas movimentações militares entre os antigos povos
encontraremos uma civilização cipro-micênica com elementos minóicos,
micênicos e asiáticos e que dispõem de uma escrita silábica, o Linear A.
19. Os micênios, por fim, aparecem estreitamente associados às grandes
civilizações do Mediterrâneo oriental.
23
ANÁLISE TEMÁTICA
Vernant, apresenta várias provas da semelhança cultural entre os antigos
povos que habitavam a região do mediterrâneo (pág.13). Descreve as
características dos primeiros povos que ocuparam a Grécia continental
(pág14). O uso do cavalo associado à técnica do carro de guerra (pág.15),
reforçou a especialização da atividade guerreira e se constituiu no traço
característico da organização social e da mentalidade dos povos indoeuropeus (pág.18). A necessidade de organização desta reserva numerosa
de carros de guerra, o adestramento e a organização necessária para seu
uso no campo de batalha, pressupôs a criação de um Estado centralizado
extenso e poderoso (pág.16). O privilégios dos guerreiros, quaisquer que
fossem eles, se submeteriam agora a uma autoridade única. Os micênios e
sua organização palaciana tinham estreitas ligações comerciais e culturais
com o Oriente. No capítulo seguinte, Vernant analisará todos os aspectos
desta realeza micênica.
24
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 1
Mundo Egeu + Península Grega = Semelhanças sociais e culturais.
↓
Ocupação da tribo dos Mínios na Grécia continental.
↓
Uso do cavalo associado ao carro de guerra = característica principal.
↓
Os problemas de seleção e adestramento do cavalo geraram a
necessidade de organização socio-cultural.
↓
A aprendizagem difícil da técnica do carro reforçou a atividade guerreira o
que constituiu o traço característico da organização social e da
mentalidade dos povos indo-europeus.
↓
Aparecimento de um Estado centralizado submetido à figura de uma
autoridade única.
↓
Micênios plenamente integrados ao mundo do Próximo Oriente por meio
das suas relações comerciais e culturais.
25
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Neste primeiro capítulo, Vernant nos apresenta um quadro histórico da
região onde da Grécia situada no período dois milênios antes de nossa era
cristã. As evidências arqueológicas demonstraram que havia uma mesma
escola de arquitetos, de pintores e de afresquistas que produziam uma
comunidade comum com todos os povos vizinhos. Oriente e Ocidente
eram uma só realidade cultural. Invasões paralelas dos hititas edifica, no
litoral da Tróade, uma comunidade cultural e étnica que é parente dos
mínios, que foram a primeira tribo a ocupar a Grécia continental. Tróia VI,
uma cidade principesca e rica (1900), aparece tendo como característica
principal o uso de cavalos que puxavam carros de guerra. Estes carros
tinham importância militar fundamental e reforçavam, através de um
longo processo de aprendizagem e adestramento, a especialização das
atividades guerreiras o que marcou profundamente a organização social e
a mentalidade destes povos em torno de uma autoridade única e
consequente aparecimento de um Estado central.
26
CAPÍTULO 2
A REALEZA MICÊNICA
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Escribas (pág.24)
Na Grécia clássica era uma profissão que, ao contrário do que aconteceu no Egito e
Mesopotâmia, não conferia status social ou privilégio. Era considerado uma habilidade a mais
de um indivíduo que oferecia um serviço. Mas seu trabalho era importante para as relações
comerciais
num
ambiente
onde
poucos
tinham
instrução.
http://biblogreka.blogspot.com.br/2009/06/los-escribas_02.html
PanKus
(pág.26)
Assembléia que representava a comunidade Hitita, isto é, que agrupava o conjunto dos
guerreiros, excluindo-se o resto da população, segundo o esquema que opõe, nas sociedades
indo-européias, o guerreiro ao homem da aldeia, pastor e agricultor. (O.P.G. pág.26 Vernant)
Mégaron (pág.28)
O mégaron é a "grande sala" da civilização micênica. A sala retangular, caracterizada por uma
abertura, um alpendre de duas colunas, e uma lareira mais ou menos centralizada cujo uso é
tradicional na Grécia desde os tempos da cultura micênica, é o antepassado do templo na
Grécia. Era provavelmente usado para declamação de poesia, festas, rituais religiosos,
sacrifícios e conselhos de guerra. Originalmente era muito colorida. Feitos com a ordem
arquitetônica minoica, os interiores de tijolo queimado e enormes vigas de madeira moldavam o
edifício. O telhado era de telhas de cerâmica e ladrilhos de terracota. Um mégaron famoso está
localizado no grande salão de recepção do rei no palácio de Tiryns, a sala principal que tinha um
trono colocado contra a parede da direita e uma lareira central acompanha por quatro colunas de
madeira em estilo minoico que serviam como apoio para o telhado.O mégaraon, enquanto
elemento
característico
de
arquitectura,
encontra-se
descrito
na
Odisseia.
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9garon
Wa-na-ka, ánax
(pág.29)
Anax (ἄναξ, desde cedo ϝ άναξ, wánax / wánaks) é uma antiga palavra grega para "(tribal), rei,
senhor, (militar) líder". É um dos dois títulos gregos, tradicionalmente traduzido como "rei",
sendo o outro basileus. Anax é o termo mais arcaico dos dois, herdada do período micênico, e é
nomeadamente utilizado em grego Homero, por exemplo, de Agamenon. A forma feminina é
ἄνασσα, Anassa, "rainha" (de wánakt-ja). http://en.wikipedia.org/wiki/Anax
27
La-wa-ges-tas (pág.30)
Representava o chefe do láos, o grupo de guerreiros. ( O.P.G. pág 30 Vernant)
Láos (pág.30)
População armada (O.P.G. pág 30, Vernant )
e-qe-ta, hetairoi homérico
(pág.31)
São os dignitários do palácio, formando o séquito do rei. (O.P.G. pág 31, Vernant)
okha
(pág.31)
Unidade militar, oficiais que asseguravam a ligação da corte com os comandos locais. (O.P.G.
pág 32, Vernant)
te-re-ta, telestai
(pág.31)
Homens dos serviço feudal, barões dos feudos. (O.P.G. pág31, Vernant)
témenos
(pág.31)
Uma terra, arável ou de vinhas, oferecidas aos que cuidam das terras do rei, ou dos deuses ,
como premiação por atitudes excepcionais e guerreiras. (O.P.G. pág31, Vernant)
Ko-to-na (pág.32)
Lote, porção de terra (O.P.G. pág 32, Vernant)
Ki-ti-me-na ko-to-na (pág.32 )
Terra privadas com porprietários (O.P.G. pág.32, Vernant)
Ke-ke-me-na ko-to-na (pág.32)
Terras de uso comum dos damos da aldeia, propriedade coletiva de uso rural. (O.P.G. pág 32,
Vernant )
Vaiçya
(pág.33)
Agricultor, homem da aldeia (O.P.G. pág.33, Vernant)
Ksartrya (pág.33)
O guerreiro, o homem que tem a posse individual da terra. (O.P.G. pág 33, Vernant)
28
Pa-si-reu, basileu homérico
(pág.33)
É neste quadro provincial que aparece, contra todas as expectativas, o personagem que tem o
título que teríamos normalmente traduzido por rei, o pa-si-reu, o basileu homérico.
Precisamente ele não é o Rei em seu palácio, mas um simples senhor, dono de um domínio
rural e vassalo do ánax ( ...), responsabilidade administrativa. (O.P.G. pág. 33 , Vernant )
Ke-ro-si-ja (gerousia)
(pág.34)
Ao lado dos basileus, o Conselho dos Velhos, que juntos conferiam uma relativa autonomia à
comunidade aldeã. (O.P.G. pág 34, Vernant)
Ko-re-te = la-wa-ge-tas (pág.34)
Regedor da aldeia, exercia uma função militar. (O.P.G. pág34, Vernant)
Phylobalisieis (pág.34)
Funcionário do reino com prerrogativas religiosas. (O.P.G. pág34, Vernant)
Klumenos (pág.35)
Comandante de uma unidade militar (O.P.G. pág.35, Vernant)
Mo-ro-pa (pág.35)
Outra denominação do comandante de uma unidade militar mas agora associada a posse de
um lote de terra (moira) (O.P.G. pág.35, Vernant)
Invasão dórica
(pág.37)
A invasão dórica teria devastado a civilização micênica, provocando a migração dos micênicos
através do Mar Egeu. Embora conhecessem a metalurgia do ferro, os dórios não possuíam
nenhum sistema de escrita, razão pela qual, do século XII a.C. até o século VIII a.C., a Grécia
teria vivido um período de obscuridade. Alguns autores chamam a esse tempo da história grega
de "Idade das trevas". http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%A3o_d%C3%B3rica
29
B. Esquematização.
1. Os documentos que dispomos em linar B eram inventários anuais
redigidos em tijolos crus que foram conservados pelos incêndios nos
palácios.
2. As dificuldades encontradas para se estabelecer um quadro da
organização social micênica podem ser demonstradas pelo fato de que
algumas palavras chegaram a ter quatro interpretações diferentes. Mas
outros autores encontram um acordo em alguns pontos a destacar:
A. Vida social centralizada em torno do palácio cujo papel é ao mesmo
tempo religioso, político, militar, administrativo e econômico;
B. Sistema de economia palaciana onde o rei concentra e unifica em
sua pessoa todos os elementos do poder, todos os aspectos da
soberania;
C. Escribas, dignitários do palácio, inspetores reais e escravos.
3. Não havia comércio privado na economia palaciana. A administração
real regulamentava a distribuição e o intercâmbio, assim como a produção
dos bens. Realeza burocrática (anacronismo).
4. A Economia rural da Grécia antiga estava dispersa no âmbito da aldeia,
onde havia algum tipo de coordenação dos trabalhos entre aldeias
vizinhas.
5. O Pankus eram agrupamentos de guerreiros que se ajuntavam em
assembleias e que eram distintos do resto da população, o homem da
aldeia, o pastor e o agricultor.
6. É no Pankus que se recrutavam os homens dos carros de guerra, a força
principal do exército hitita e se constituíam numa nobreza guerreira.
7. Este fato tirou do rei a exclusividade de escolha dos cargos de finalidade
guerreira o que levou ao aparecimento de um modelo semelhante á das
monarquias absolutas orientais.
8. A nova classe de nobres cujos serviços militares criam as prerrogativas
políticas, se distinguem da hierarquia de administradores que dependem
diretamente do rei.
30
9. Existe um anacronismo entre este exemplo hitita e uma interpretação
“burocrática” da realeza micênica atrelada a traços “feudais”.
10. Na verdade a submissão ao rei liga todos os dignitários do palácio (O.P.
G.pág.27)
11. Oposição entre realeza burocrática X monarquia feudal =
especificidade do caso micênico.
12. Contraste entre mundo micênico X civilização palaciana de Creta.
13. O rei, wa-na-ka ou ánax, estava no cume da organização social.
14. O ánax era responsável pela vida militar e religiosa. (pág. 29)
15. Uma hipótese: o surgimento de uma classe sacerdotal numerosa e
influente. (pág. 30)
16. Segundo personagem do reino: wa-sa-ka = chefe do láos, o grupo dos
guerreiros, o séquito do rei, dignitários do palácio.
17. A Okha era a unidade militar que asseguravam a ligação da corte com
os comandos locais.
18. Os te-re-ta ou telestai eram os barões dos feudos e determinavam os
témenos, privilégio dos wa-na-ka e do la-wa-ge-tas, e os témenos eram
terra aráveis .
19. É difícil distinguir as várias funções da tenência da terra: terra inculta,
terra arroteada, terra de pastagem transformada em terra arável, terra de
maior ou menor dimensão ou se marca um estatuto social.
20. São duas formas de tenência da terra:
a. Ki-ti-me-na Ko-to-na = terras privadas com proprietários.
b. Ke-ke-me-na ko-to-na = ligada ao damos, terras comuns dos
demos da aldeia, propriedade coletiva do grupo rural, cultivadas segundo
o sistema rural de open-field, objeto de redistribuição periódica.
21.Polaridade da sociedade micênica marcada pelas duas formas de
tenência da terra: a vida palaciana X mundo rural organizado em aldeias
com vida própria.
22. O pa-ri-seu ou basileus homérico não é um rei em seu palácio mas um
senhor dono de um domínio rural e vassalo do ánax.
31
23. Ao lado do basileus havia um conselho de velhos, a ke-ro-si-ja
(gerousia) que confirma a relativa autonomia da comunidade aldeã.
24. O ko-re-te era um personagem associado ao basileus que aparece
como uma espécie de regedor da aldeia.
25. Ánax e basileus = função religiosa.
26. Ko-ro-te e la-wa-ge-tas = função militar.
27. Klumenos = comandante de unidade militar.
28. Mo-ro-pa = possuidor de uma moira, um lote de terra.
29. TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA REALEZA MICÊNICA:
a. Aspecto belicoso da aristocracia guerreira, os homens dos carros
sujeitos à autoridade do ánax que formam um grupo privilegiado;
b. Comunidades rurais sem uma dependência absoluta em relação ao
palácio;
c. Sistema palaciano repousa no emprego da escrita e na constituição
de arquivos (caráter de plágio).
30. O sistema palaciano representava um notável instrumento de poder.
31. Por fim, um fato extremamente importante que muda este cenário:
todo este sistema foi destruído pelas invasões dóricas.
32. As relações com o oriente foram rompidas e o continente grego
retorna a uma forma de economia puramente agrícola (Idade Média
Grega).
33. O termo ánax desaparece e é substituído pelo emprego da palavra
basileus com valor estritamente local (pág. 37).
34. Com o desaparecimento do reino do ánax, desaparece o controle
organizado pelo rei, um aparelho administrativo, uma classe de escribas.
35. A própria escrita desaparece e foram redescobertas no fim do século
IX e as mudanças sociais e psicológicas também mudaram: não é mais
objeto de uso do rei em arquivos nos recessos do palácio; mudança para
um caráter de publicidade que vai divulgar e colocar aos olhos de todos os
diversos aspectos a vida social e política.
32
ANÁLISE TEMÁTICA
Este capítulo tem por intuito nos apresentar como era a vida social
centralizada em torno do palácio real, que reunia todos os aspectos
religiosos, políticos, militares, administrativos e econômicos (pág.24).
Neste sistema de economia palaciana, o rei concentrava e unificava em
torno de sua pessoa todos os elementos do poder, todos os aspectos da
soberania (pág.24). O papel do palácio era o eixo da vida social (pág.26).
Ao lado do rei havia uma organização de guerreiros, o Pankus, que se
distinguia do resto da população tal como depois haveria nas sociedades
indo-europeias o esquema guerreiro/homem da aldeia, pastor/agricultor
(pág. 26). Esta organização dispunha de privilégios e poder. Alguns autores
falaram de traços "feudais" e realeza micênia "burocrática, tese que
Vernant contrapõe ao que ele denomina "o caso micênico": o sistema
palaciano era a simples divisão de tarefas por homens que não eram
funcionários a serviço do Estado e sim servidores do rei encarregados de
manifestar este poder que o rei encarnava (pág. 27). Especialização de
funções, flutuação nas atribuições administrativas que se superpõe umas
às outras criando vários tipos de autoridade e organizando a vida social
(pág.27). O testemunho das plaquetas micênicas mostra que no cume da
organização social estava aquele que tinha o título de wa-na-ka, o ánax,
responsável tanto pela vida militar quanto religiosa, fato fundamental que
fará com que esta função religiosa da realeza se perpetue até a época da
Cidade e que sobreviverá no mito, na figura do Rei divino. A posse da terra
era dividida entre dois tipos de homens: uma terra privada com
proprietários e uma terra comum para os aldeões. Os proprietários de sua
própria terra, desse domínio rural, recebeu o nome de basileus, dono de
um domínio rural e era um vassalo do ánax. O basileus tinha funções
administrativas de vassalagem. Este sistema palaciano conferia poder
político e econômico admiráveis para o rei e consequente organização dos
recursos e forças militares (pág. 36) e tinha relação estreita com modelos
encontrados no oriente (pág.37). Todo este sistema palaciano virá a ser
destruído pelas invasões dóricas e romperá definitivamente os vínculos
da Grécia com o Oriente. A divisão do trabalho que havia no mundo
micênico desaparecerá juntamente com a figura do ánax que passará ao
domínio do mito. O termo ánax cederá lugar ao termo basileus, agora de
alcance localizado, como um empregador rural mas que concentrará na
sua figura todas as formas de poder(pág.37). A própria escrita irá
33
desaparecer e será redescoberta no séc. IX tomando-a dos fenícios. Esta
escrita não será mais um objeto para uso de um rei em seu palácio e sim
terá uma correlação com a função de publicidade (pág.38) e servirá para
colocar à vista de todos, os vários aspectos da vida social e política (pág.
38).
34
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 2
Vida social centralizada em torno do palácio.
↓
O rei, ánax, estava no cume da organização social.
↓
Organização do palácio:
Escribas
dignitários do palácio
inspetores reais
escravos
↓
Outros personagens importantes abaixo do rei:
wa-sa-ka
tereta
basileus
Ke-ro-ji-sa
ko-re-te
↓
Destruição deste sistema pelas invasões dóricas
↓
"Idade média grega"
↓
Retorno a uma forma de economia puramente rural
↓
Desaparecimento da escrita
↓
Redescoberta da escrita no séc. XI através dos fenícios
↓
Uso da escrita agora para uso público
35
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Com a decifração das plaquetas do linear B, Vernant nos apresenta
neste capítulo 2 o modo de vida dos habitantes da Grécia, 1.200 anos
antes de cristo. O sistema em que este povo vivia recebeu o nome de
sistema de economia palaciana. O rei concentrava em torno de si todos
os aspectos da soberania e se servia dos escribas para controlar a vida
religiosa, econômica, social e militar. O ánax estava no cume da
organização social e era ajudado por outros chefes que tinham funções
militares e administrativas. Estes por sua vez recebiam lotes de terra
que conferiam-lhes poder e distinção no meio dos outros homens.
Todo um sistema de classes bem definidos e imutáveis faziam parte
deste sistema mas sempre em função do atendimento às necessidades
do rei em seu palácio, fato que Vernant analisa como sendo
fundamentalmente distinto dos futuros sistemas feudais dos povos
indo-europeus. Na verdade, para Vernant, os laços com o oriente eram
ainda muito grandes.
A figura do Rei divino impregnará
profundamente a mentalidade do povo grego que, mesmo depois do
seu desaparecimento provocado pelas invasões dóricas, será
transformado em mito e resgatado até o período das Cidades. O
período que se seguiu às invasões dóricas jogou a Grécia naquela que é
comumente chamada Idade Média Grega e que Homero resgatará nos
seus textos ( que mais tarde chamará de mitos de soberania): toda uma
parte da história que ficou obscurecida por longos anos e cujo resgate
conferirá a povo grego uma identidade e uma consciência inteiramente
novas.
36
CAPÍTULO 3
A CRISE DA SOBERANIA
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Dórios no Peloponeso (pág.41)
Os dóricos (ou dórios; em grego: Δωριεῖς, transl. Dōrieis, singular Δωριεύς, transl. Dōrieus)
foram uma das três principais tribos em que os antigos gregos dividiam a si próprios, ao lado
dos jônicos e eólicos. Os dóricos quase sempre são referenciados na literatura grega antiga
apenas como "os dóricos"; a primeira menção feita a eles data da Odisseia onde eles são
encontrados como habitantes da ilha de Creta. Heródoto, ao comentar o assunto, usa o termo
ethnos, que embora esteja na raiz de palavras do português como etnia e grupo étnico,
aproximava-se ao conceito de 'tribo', 'raça' ou 'grupo de pessoas', no grego antigo. Os dórios
faziam claramente parte dos povos tidos como helenos, dos quais diferiam no entanto, em
termos de modo de vida e organização social - ela própria tão variada que abrangia desde o
centro comercial populoso da cidade de Corinto, conhecida pelo estilo ornamentado de sua arte
e arquitetura, ao Estado isolacionista e militarista da Lacedemônia (ou Esparta). Nações dóricas
que se encontrassem em guerra geralmente (embora não sempre) podiam contar com a
assistência de outras cidades e Estados dórias. http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%B3ricos
Poesia épica
(pág.42)
A epopeia eterniza lendas a um texto em prosa que dá seu recado a respeito de séculos e
tradições ancestrais, preservando-as ao longo dos tempos pela tradição oral ou escrita. Os
primeiros grandes modelos ocidentais de epopeia são os poemas homéricos a Ilíada e a
Odisseia, os quais têm a sua origem nas lendas sobre a guerra de Troia. A epopeia pertence ao
gênero épico, embora tenha fundamentos históricos, não representa os acontecimentos com
fidelidade, geralmente reveste os acontecimentos relatados com conceitos morais e atos
exemplares que funcionam como modelos de comportamento. Epopeia é uma narrativa que
apresenta com maior qualidade os fatos originalmente contados em versos. Os elementos dessa
narrativa apresentam estas características: personagens, tempo, espaço, ação. Também pode
conter factos heroicos muitas vezes transcorridos durante guerras. Epopeia é um poema épico ou
lírico. Um poema heroico narrativo extenso, uma coleção de feitos, de fatos históricos, de um ou
de vários indivíduos, reais, lendários ou mitológicos. A epopeia eterniza lendas seculares e
tradições ancestrais, preservada ao longo dos tempos pela tradição oral ou escrita. Os primeiros
grandes modelos ocidentais de epopeia são os poemas homéricos a Ilíada e a Odisseia, os quais
têm a sua origem nas lendas sobre a guerra de Troia. A epopeia pertence ao gênero épico, mas
embora tenha fundamentos históricos, não representa os acontecimentos com fidelidade,
geralmente reveste os acontecimentos relatados com conceitos morais e atos exemplares que
funcionam
como
modelos
de
comportamento.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_%C3%A9pica
37
Sophia (pág.43)
Entre estas forças opostas, liberadas pelo desmoronamento do sistema palaciano, que se vão
chocar às vezes com violência, a busca de um equilíbrio, de um acordo, fará nascer, num
período de desordem, uma reflexão moral e especulações políticas que vão definir uma
primeira forma de "sabedoria" humana. (O.P.G. pág 43, Vernant)
Physis
(pág.43)
Physis, segundo os filósofos pré-socráticos, é a matéria que é fundamento eterno de todas as
coisas e confere unidade e permanência ao Universo, o qual, na sua aparência é múltiplo,
mutável e transitório. A palavra grega Physis pode ser traduzida por natureza, mas seu
significado é mais amplo. Refere-se também à realidade, não aquela pronta e acabada, mas a
que se encontra em movimento e transformação, a que nasce e se desenvolve, o fundo eterno,
perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna. Nesse sentido, a
palavra significa gênese, origem, manifestação. Saber o que é Physis, assim, levanta a questão
da origem de todas as coisas, a sua essência, que constituem a realidade, que se manifesta no
Movimento. Nas palavras do professor Miguel Spinelli: "tudo o que nasce está destinado a ser o
que deve ser e não outra coisa. Esse nascer destinado, pelo qual o que nasce se submete a um
processo de realização, é a phýsis, e, como tal, a archê. (...) tanto a phýsis quanto a archê não
são expressões do anárquico (...), tampouco do ocasional... O que esses termos conjuntamente
designam é o que ocorre sempre ou de ordinário (...), mas com uma eficácia tal que "dispara"
sempre (como se fosse um gatilho biológico) o que é melhor dentre todo o possível"
(SPINELLI, Miguel. Questões Fundamentais da Filosofia Grega. São Paulo: Loyola, 2006,
pp.36-37). A phýsis expressa um princípio de movimento relativo ao fazer-se das coisas nas
quais mudam as aparências, enquanto que cada (ser ou) coisa permanece sempre sendo ela
mesma. Esse movimento seria a contínua transformação dos seres, mudando de qualidade (por
exemplo, o novo envelhece; o quente esfria; o frio esquenta; o seco fica úmido; o úmido seca; o
dia se torna noite; a noite se torna dia; a primavera cede lugar ao verão, que cede lugar ao
outono, que cede lugar ao inverno; a árvore vem da semente e produz sementes, etc.) e mudando
de quantidade (o pequeno cresce e fica grande; o grande diminui e fica pequeno; um rio
aumenta de volume na cheia e diminui na seca, etc). Portanto o mundo (Physis) está em
mudança contínua, sem por isso perder sua forma, sua ordem e sua estabilidade. Os filósofos
pré-socráticos tinham como principal preocupação a explicação dos aspectos referentes a
cosmologia. Tiveram um papel importante, na medida em que marcam toda uma fase de
pensamento voltada para a explicação racional dos fenômenos que constituíam as inquietações
dos homens daquela época. http://pt.wikipedia.org/wiki/Physis
Éfeso (pág.44)
Éfeso (em grego clássico: Ἔφεσος; em latim: Ephesus; em turco: Efes) foi uma cidade grecoromana da Antiguidade situada na costa ocidental da Ásia Menor, próxima à atual Selçuk,
província de Esmirna, na Turquia. Foi uma das doze cidades da Liga Jônia durante o período
clássico grego. Durante o período romano, foi por muitos anos a segunda maior cidade do
Império Romano, apenas atrás de Roma, a capital do império. Tinha uma população de 250 000
habitantes no século I a.C., o que também fazia dela a segunda maior cidade do mundo na
época. A cidade era célebre pelo Templo de Ártemis, construído por volta de 550 a.C., uma das
Sete Maravilhas do Mundo. O templo foi destruído, juntamente com muitos outros edifícios, em
401
d.C.
por
uma
multidão
liderada
por
São
João
Crisóstomo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89feso
38
Agamenão (pág.44)
Agamemnon, Agamenon, Agamenão[ ou Agamémnon (em grego antigo, Aγαμέμνων, "muito
resoluto") foi um dos mais distintos heróis gregos, filho (ou neto) do rei Atreu de Micenas e da
rainha Aerope,] e irmão de Menelau. Não há registos que provem que tenha de facto existido,
mas é provável que tenha sido o rei de Micenas a comandar o épico cerco dos Aqueus à cidade
de Tróia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Agamemnon
Atidógrafos (pág.44)
Por Atidografía podemos conhecer a história da Ática, onde Atenas está localizada, na antiga
Grécia, particularmente no século IV. C. e no início III. C. O criador do gênero foi Hellanicus
de Lesbos, no final de V a. C. que tem como características definidas: a exaltação de Atenas,
com um estilo tradicionalista patriótico, o uso de fontes orais ea falta de crítica a essas fontes
que
leva
a
falácias
e
anacronismo
historiográfico.
http://es.wikipedia.org/wiki/Atidograf%C3%ADa
Polemarca (pág.44)
Chefe dos exércitos (O.P.G. pág.44, Vernant)
Codridas (pág.44)
Aqueus que desembarcaram na Jônia refugiados de Pilos e do Peloponeso da Ática (O.P.G. pág.
44, Vernant).
Arché ( pág.44)
Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar
presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento
e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9
Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de
uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant)
Arcontes (pág.45)
Arconte (em grego: αρχων, transl. arkhon, o responsável por um arkhê, "cargo") era o título dos
membros de uma assembléia de nobres da Atenas antiga, que se reuniam no arcontado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arconte
Libação (pág.46)
Libação é o ato de derramar água, vinho, sangue ou outros líquidos com finalidade religiosa ou
ritual, em honra a um deus ou divindadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Liba%C3%A7%C3%A3o
39
Acha de armas (pág.46)
Acha é um vocábulo da língua portuguesa, que traduz o nome de uma antiga arma de forma
semelhante à de um machado que pelos séculos ficou associado como Timbre da Nobreza de
origem militar. http://pt.wikipedia.org/wiki/Acha
Charrua (pág.46)
Material usado por agricultores (O.P.G. pág. 46,Vernant)
Hierosyne (pág.46)
O sacerdócio (O.P.G. pág. 46, Vernant)
Hefesto e Atena (pág.47)
Hefesto ou Hefaísto (em grego: Ήφαιστος, transl. Hēphaistos) é um deus da mitologia grega,
cujo equivalente na mitologia romana era Vulcano. Filho de Zeus e Hera, rei e rainha dos deuses
ou, de acordo com alguns relatos, apenas de Hera, era o deus da tecnologia, dos ferreiros,
artesãos, escultores, metais, metalurgia, fogo e dos vulcões. Como outros ferreiros mitológicos,
porém ao contrário dos outros deuses, Hefesto era manco, o que lhe dava uma aparência
grotesca aos olhos dos antigos gregos. Servia como ferreiro dos deuses, e era cultuado nos
centros manufatureiros e industriais da Grécia, especialmente em Atenas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hefesto
Atena (no grego ático: Αθηνά, transl. Athēnā ou Aθηναία, Athēnaia; ver seção Nome), também
conhecida como Palas Atena (Παλλάς Αθηνά) é, na mitologia grega, a deusa da guerra, da
civilização, da sabedoria, da estratégia, das artes, da justiça e da habilidade. Uma das principais
divindades do panteão grego e um dos doze deuses olímpicos, Atena recebeu culto em toda a
Grécia Antiga e em toda a sua área de influência, desde as colônias gregas da Ásia Menor até as
da Península Ibérica e norte da África. Sua presença é atestada até nas proximidades da Índia.
Por isso seu culto assumiu muitas formas, além de sua figura ter sido sincretizada com várias
outras divindades das regiões em torno do Mediterrâneo, ampliando a variedade das formas de
culto. http://pt.wikipedia.org/wiki/Atena
Metis (pág.47)
Esposa de Zeus, princípio de poder mágico. (O.P.G. pág 47, Vernant)
Órficos
(pág.48)
Orfismo era uma religião de mistérios no antigo mundo grego, difundido a partir dos séculos
VII e VI a.C. Seu fundador teria sido o poeta Orfeu, que desceu ao Hades e retornou. Os órficos
também reverenciam Perséfone (que descia ao Hades a cada inverno e voltava a cada
primavera) e Dioniso ou Baco (que também desceu e voltou do Hades). Como os mistérios de
Elêusis, os mistérios órficos prometiam vantagens no além-vida. Esses cultos de mistérios, que
prometiam uma vida melhor após a morte, parecem ter influenciado o início do cristianismo.
O orfismo diferia da religião grega popular das seguintes maneiras:

caracterizava as almas humanas como divinas e imortais, mas condenadas a viver (por
um período) em um círculo penoso de sucessivas encarnações através da metempsicose
ou transmigração de almas;
40


prescrevia uma forma ascética de vida, ou vida órfica, a qual, junto com ritos iniciáticos
secretos, deveria garantir não apenas o desprendimento do tal círculo penoso mas
também uma comunhão com deus(es);
advertia sobre uma punição pós-morte por certas transgressões cometidas durante a vida;
era fundamentada sobre escritos sagrados com relação à origem dos deuses e seres
humanos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Orfismo_(culto)
Eris-Philia (pág49)
Poder de Conflito - poder de união. Estas duas divindades, opostas e complementares, marcam
como que os dois pólos da vida social no mundo aristocrático que sucede as antigas realezas.
(O.P.G. pág 49, Vernant)
Ágon (pág.49)
Um combate codificado sujeito a regras, em que se defrontavam grupos (...) (O.P.G. pág 49 ,
Vernant)
Termo que significa luta, competição, disputa, conflito, discussão, combate, jogo
(...)http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=501&Itemid
=2
Hippeis, Hippobotes (pág.49)
Elite militar ao mesmo tempo que uma aristocracia da terra (O.P.G. pág 49, Vernant)
Genos (pág.49)
O genos (plural gene) era um tipo de organização social da Grécia Antiga, durante o período
homérico. Eram uma espécie de clãs ou grandes familias. Cada genos era chefiado pelo homem
mais velho (patriarcas) e o poder era passado do pai para o filho primogênito. Tal organização
surgiu na região da Grécia Antiga, logo após o evento denominado 1ª Diáspora Grega. A
propriedade nos gene era comunal, ou seja, coletiva: plantavam e colhiam em conjunto. No
entanto, passados três séculos, os genos entraram em colapso, pois a população cresceu e não
havia terras cultiváveis para todos. Assim, com a explosão demográfica, pensou-se em explorar
mais regiões (2ª Diáspora Grega), sem sucesso. Como solução, determinou-se que as terras
passariam a ter posse privada (pelos descendentes diretos dos chefes dos antigos genos). A
coletividade consequentemente acabou e os níveis de desigualdade social apareceram. Como
forma mais eficiente para organizar a sociedade grega, surgiram as cidades-Estados, ou pólis,
cujos principais exemplos são Atenas e Esparta. http://pt.wikipedia.org/wiki/Genos
Eris (pág.50)
Éris (Ἔρις, em grego antigo) é a deusa que personifica a discórdia na mitologia grega.
Corresponde à deusa romana Discórdia. Seu oposto é a Harmonia, correspondente à Concórdia
romana. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89ris
41
Hestia Koiné (pág.51)
Espaço público que ficava no Ágora, em que eram debatidos os problemas de interesse geral
(O.P.G. pág 51, Vernant)
Lar público (O.P.G.pág.136, Vernant)
Acrópole (pág.51)
Acrópole (do grego ἀκρόπολις, composto de ἄκρος, "extremo, alto", e πόλις, "cidade") é a parte
da cidade construída nas partes mais altas do relevo da região. A posição tem tanto valor
simbólico, elevar e enobrecer os valores humanos, como estratégico, pois dali podia ser melhor
defendida. Era na acrópole das diversas cidades que se construíam as estruturas mais nobres,
tais os templos e os palácios dos governantes. A acrópole grega original de Atenas ficou famosa
pela construção do Partenon, suntuoso templo em honra à deusa Atena, ricamente construído em
mármores raros e ornado com esculturas de Fídias por ordem de Péricles e com recursos
originalmente
destinados
a
patrocinar
a
guerra
contra
os
Persas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acr%C3%B3pole
Polis (pág.51)
A pólis (πολις) - plural: poleis (πολεις) - era o modelo das antigas cidades gregas, desde o
período arcaico até o período clássico, vindo a perder importância durante o domínio romano.
Devido às suas características, o termo pode ser usado como sinonimo de cidade. As poleis,
definindo um modo de vida urbano que seria a base da civilização ocidental, mostraram-se um
elemento fundamental na constituição da cultura grega, a ponto de se dizer que o homem é um
"animal político". Resumindo a Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada,
formada pelos cidadãos ( no grego “politikos” ), isto é, pelos homens nascidos no solo da
Cidade, livres e "iguais" (vale lembrar que nenhum individuo da pólis é exatamente "igual" ao
outro, por que eles tem diferentes aspirações tanto para si quanto para a cidade, o que muitas
vezes levaram a conflitos separatistas ou mesmo emigração pra fundação de novas cidadesestados fora dos limites das anteriores). http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3lis
42
B. Esquematização.
1. Uma nova idade da civilização grega é inaugurada pela queda do poder
micênico e expansão dos dórios no Peloponeso.
2. Houve mudanças nos rituais funerários, na arte da cerâmica e também
várias mudanças sociais que repercutiram em esquemas novos de
pensamento.
3. As primeiras mudanças foram as transformações da língua e as
mudanças em relação aos termos tais como basileus e témenos, que não
conservaram mais exatamente o mesmo significado.
4. O pequeno reino de Ítaca preservou certos aspectos da realidade
micênica, o que garantiu certa continuidade até o mundo homérico.
5. As forças opostas liberadas pelo desmoronamento do sistema
palaciano, que irão se chocar às vezes com violência, irão procurar um
equilíbrio, um acordo, que fará nascer, num período de desordem, uma
reflexão moral e especulações políticas que vão definir uma primeira
forma de “sabedoria” humana.
6. Esta sophia aparece nos primórdios do séc. VII: não tem como objeto o
universo da physis mas o mundo dos homens: como harmonizá-las,
unificá-las, para que de seus conflitos surja a ordem humana da cidade.
7. Essa sabedoria difere desde o início da concepção micênica do
Soberano.
8. Atenas é o único ponto da Grécia em que a continuidade com a época
micênica não foi brutalmente rompida. O soberano não se encarrega mais
da função militar que agora será delegada ao polemarca, ou chefe dos
exércitos. Instituição do arcontado, onde os arcontes são renovados a
cada ano. O sistema de eleição conservam certos traços de um processo
religioso mas inaugura uma concepção nova de poder – a arché é todos os
anos delegada por uma decisão humana, por uma escolha que supõe
confronto e discussão.
9. A noção de arché se separa da noção de basileia que vê-se delegada a
um setor especificamente religioso.
10. A figura do basileus, que antes era um personagem quase divino dá
lugar agora ao exercício exclusivo de certas funções sacerdotais.
43
11. O rei é substituído por funções sociais especializadas e diferentes
umas das outras e se torna difícil atingir um equilíbrio.
12. Três categorias sociais: os sacerdotes, os guerreiros e os agricultores
que entrarão em conflito com os temas que envolvem a crise sucessória e
divisão de soberania.
13. A crise dinástica revela quatro princípios concorrentes, atuando na
soberania (O.P.G. pág. 47, Vernant):
1º Um princípio de soberania;
2º Um princípio de força guerreira;
3º Um princípio ligado ao solo e às suas virtudes;
4º Um princípio de poder mágico.
Estes quatro princípios caracterizavam o corpo social como um composto
feito de elementos heterogêneos, de partes separadas, de classes de
funções que excluem uma às outras, mas cuja missão e fusão devem,
entretanto, realizar-se. Desaparecido o ánax que, pela virtude de um
poder mais que humano,unificava e ordenava os diversos elementos do
reino, novos problemas surgiram.
14. Novos problemas relativos ao desaparecimento da figura do ánax:
A. Como a ordem pode nascer do conflito de grupos rivais, do choque
das prerrogativas e das funções opostas?
B. Como uma vida comum pode apoiar-se em elementos discordantes?
C. Como, no plano social, o uno pode sair do múltiplo e o múltiplo do
uno? (fórmula órfica).
D. Poder de conflito X Poder de união = Eris-Philia; duas entidades
divinas, opostas e complementares.
E. Exaltação dos valores de luta, de concorrência, de rivalidade
associada ao sentimento de dependência para com um só e mesma
comunidade, para com a exigência de unidade e unificação sociais.
15. O desaparecimento da técnica do carro implicou tudo o que tinha
relação com a centralização política e administrativa, mas a posse de
cavalos ainda assegurava a qualificação guerreira.
44
16. A política toma a forma de ágon: uma disputa oratória, um combate
de argumentos cujo teatro é a ágora, praça pública, lugar de reunião antes
de ser um mercado. A igualdade é garantida pelo direito do uso da
palavra. A rivalidade, a eris, supõe concorrência existindo entre iguais.
17. Espírito igualitário é o que marca a aristocracia guerreira da Grécia e
que dá à noção de poder um conteúdo novo.
18. Consciência de um agrupamento humano que passa a existir como
unidade política (pág. 50)
19. As construções não são mais em torno de um palácio real cercado de
fortificações. A cidade está agora centralizada na Ágora, espaço comum,
sede da Hestia Koiné, espaço público onde são debatidos assuntos de
interesse geral. A própria cidade passa a ser fortificada e são edificados
templos abertos ao público.
20. Tudo isso define um novo espaço mental; novo horizonte espiritual. A
cidade agora é uma Polis.
45
ANÁLISE TEMÁTICA
Neste capítulo são apresentadas as consequências sociais e psicológicas
em função do desaparecimento do poder micênico, da figura do rei, e o
alcance das transformações sociais que mais diretamente repercutiram
nos esquemas de pensamento (pág.42). Este súbito acontecimento
histórico jogou o continente grego numa forma anterior de economia
agrícola à exceção do pequeno reino de Ítaca, que preservou certos
aspectos da realidade micênica através do seu sistema de assembléias e
basileus. Atenas foi a única cidade que preservou uma certa continuidade
com o passado micênico. As forças opostas que antes eram harmonizadas
pelo ánax, as comunidades aldeãs e aristocracia, com o desmoronamento
do sistema palaciano estas começaram a entrar em violentos conflitos de
poder. Isso fará nascer uma sophia no século VII que não estará ligada à
physis mas sim aos problemas humanos, ao mundo dos homens, como
uma tentativa de harmonização da vida coletiva na cidade. As três
categorias sociais que sobreviveram ao desaparecimento da figura do rei
entraram em conflitos sucessórios e de divisão de soberania. Esta crise
dinástica possuía quatro elementos estanques que precisavam ser
harmonizados: 1º Um princípio de soberania; 2º Um princípio de força
guerreira; 3º Um princípio ligado ao solo e às suas virtudes; 4º Um
princípio de poder mágico. Este corpo social heterogêneo precisava
encontrar valores que criassem as condições para a vida citadina, uma
unidade política igualitária que de agora em diante seria baseada na
disputa oratória na Ágora. A Polis criou um novo espaço mental e
espiritual.
46
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 3
Análise do alcance das transformações sociais que repercutiram nos
esquemas de pensamento após a queda do mundo micênico.
↓
Desaparecimento do ánax, que harmonizava as duas forças sociais
antagônicas.
↓
Comunidade aldeã X Aristocracia
↓
Busca de um equilíbrio e de um acordo
↓
Nascimento de uma nova reflexão moral e especulações políticas
↓
Aparecimento de uma sophia que não tinha mais por objeto o mundo da
physis mas sim o mundo dos homens
↓
Atenas foi o único ponto do continente grego que manteve uma certa
continuidade com o mundo micênico
↓
Na polis, os ideais de igualdade e de debate através da oratória são as
principais características: consciência de uma unidade política
↓
Nascimento da polis
47
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Neste capítulo 3, Vernant analisa a crise de soberania que ocorreu com o
desaparecimento do mundo micênico causada pelas invasões dóricas. As
transformações sociais e psicológicas advindas do desaparecimento do
sistema de economia palaciana, cujo centro era o rei, repercutiram na
necessidade de se encontrar novos esquemas de pensamento que
harmonizassem as duas forças sociais: a comunidade aldeã e a
aristocracia. Esta última tinha o privilégio dos genos, certos monopólis
religiosos. Os conflitos, algumas vezes violentos, fizeram com que uma
nova reflexão moral e um novo posicionamento na esfera política fosse
implantado. Nasceu, portanto, dessa necessidade de harmonização e
equilíbrio entre as classes sociais, os primórdios de uma filosofia voltada
não mais apenas para o estudo da natureza mas sim para a compreensão
dos motivos que levam os homens a viver em comunidade. Os valores
agora tinham que estar fundamentados num novo caminho, diferente da
concepção micênica do Soberano. O pequeno reino de Ítaca, conservando
certos aspectos do mundo micênico, serviu para dar a Atenas o modelo
que esta conservou e deu continuidade. Em Atenas, a idéia de funções
sociais especializadas substituiu a figura do rei. E as disputas entre famílias
agora foram substituídas pela disputa oratória na ágora. O Estado não
mais teria um caráter privado, particular, mas agora as questões seriam
públicas, fundamento espiritual e mental propício ao aparecimento do
sentido pleno da polis.
48
CAPÍTULO 4
O UNIVERSO ESPIRITUAL DA POLIS
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Peithó
(pág.54)
Força de persuasão (O.P.G. pág 54, Vernant)
Faculdade ou talento para persuadir, eloquência persuasiva, discurso persuasivo, doce e suave
persuasão. O verbo peithó significa: persuadir, convencer para que alguém faça de bom grado
alguma coisa; seduzir por palavras, súplicas e preces; apaziguar e suavizar por palavras e
súplicas; excitar e estimular alguém a aceitar uma opinião ou a fazer alguma coisa; confiar,
entregar-se, fiar-se, deixar-se persuadir e convencer, ceder à palavra de alguém, crer na palavra
de alguém. Peithó não pretende enganar com seduções falsas e por isso se opõe a apáte, sedução
mentirosa. http://logicalinguagem.blogspot.com.br/2009/12/alguns-termos-basicos-c.html
Themis (pág.54)
Ditos do rei com valor religioso (O.P.G. pág. 54, Vernant)
Têmis era a deusa grega guardiã dos juramentos dos homens e da lei, sendo que era costumeiro
invocá-la nos julgamentos perante os magistrados. Por isso, foi por vezes tida como deusa da
justiça, título atribuído na realidade a Diké cuja equivalente romana é a Deusa Justitia. Têmis
empunha a balança, com que equilibra a razão com o julgamento, e/ou uma cornucópia; mas
não é representada segurando uma espada. Seu nome significa "aquela que é posta, colocada".
http://en.wikipedia.org/wiki/Themis so?
Logos (pág.54)
O Logos (em grego λόγος, palavra), no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou
falada—o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heraclito passou a ter um significado
mais amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a
capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Logos
Arché (pág.54)
Campos de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar(O.P.G. pág. 54, Vernant)
Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar
presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento
e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9
Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de
uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant)
49
Aristóteles (pág.54)
Aristóteles (em grego antigo: Ἀριστοτέλης, transl. Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322
a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos
abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a
música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com Platão
e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia
ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedónia, na época com 13 anos de
idade, que será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume
o trono e Aristóteles volta para Atenas, onde funda o Liceu (lyceum) em 335 a.C..
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles
Paideia (pág.56)
Paideia (FO 1943: Paidéia), segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma
verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paideia
Dike (pág.57)
Divindade grega que representa a Justiça, também conhecida como Dice, ou ainda, Astreia.
Filha de Zeus e Têmis ela não usa vendas para julgar. De acordo com Ferraz Júnior (2003, p.
32-33) os gregos colocavam a balança, com os dois pratos, na mão esquerda da deusa Diké, mas
sem o fiel no meio, e em sua mão direita estava uma espada e estando de pé com os olhos bem
abertos declarava existir o justo quando os pratos estavam em equilíbrio, ísion, origem da
palavra isonomia, que para a língua vulgar dos gregos, o justo (o direito) significa o que era
visto como igual.
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/bibliotecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica/anexo/di
ke.pdf
Anaximandro (pág.57)
Anaximandro (em grego: Ἀναξίμανδρος; 610 — 547 a.C.) foi um geógrafo, matemático,
astrônomo, político e filósofo pré-Socrático; discípulo de Tales, seguiu a escola jônica. Os
relatos doxográficos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado "Sobre a Natureza";
contudo, essa obra se perdeu. Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo
habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias
entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Anaximandro
acreditava que o princípio de tudo são coisas chamadas apéiron e arché, que apéiron é algo que
não tenha vida, e arché que tenha vida, tanto no sentido quantitativo (externa e espacialmente),
quanto no sentido qualitativo (internamente). Esse a-peiron é algo insurgido (não surgiu nunca,
embora exista) e imortal. Além de definir o princípio, Anaximandro se preocupa com os "comos
e porquês" das coisas todas que saem do princípio. Ele diz que o mundo é constituído de
contrários, que se auto-excluem o tempo todo. O tempo é o "juiz" que permite que ora exista
um, ora outro. Por isso, o mundo surge de duas grandes injustiças: primeiro, da cisão dos
opostos que "fere" a unidade do princípio; segundo, da luta entre os princípios onde sempre um
deles quer tomar o lugar do outro para poder existir. http://pt.wikipedia.org/wiki/Anaximandro
50
Ferecides (pág.57)
Uma antiga tradição informa que Ferécides de Siros (gr. Φερεκύδης Σύριος) estabeleceu uma
ponte entre o pensamento mítico e a filosofia (ver Arist. Metaph. 1091b). Plutarco (Sull. 36) e
outros escritores tardios, no entanto, referem-se a ele apenas como "teólogo" (gr. τεολόγος).
http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0708
Templo de Ártemis (pág.57)
O templo de Ártemis (ou templo de Diana) foi uma das sete maravilhas do Mundo Antigo,
localizado em Éfeso. Foi o maior templo do mundo antigo, e durante muito tempo o mais
significativo feito da civilização grega e do helenismo, construído para a deusa grega Ártemis,
da caça e dos animais selvagens. Foi construído no século VI a.C. no porto mais rico da Ásia
Menor pelo arquiteto cretense Quersifrão e por seu filho, Metagenes. Era composto por 127
colunas de mármore, com 20 metros de altura cada uma. Duzentos anos mais tarde foi
destruído por um grande incêndio, e reerguido por Alexandre III da Macedónia. Atualmente,
apenas uma solitária coluna do templo se mantém, após sucessivos terremotos e saques.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_%C3%81rtemis
Parápegma (pág.57)
Inscrição monumental em pedra (O.P.G. pág 57, Vernant)
Xóana (pág.58)
Um Xoanon (griego antiguo: ξόανον ; plural: ξόανα, xoana) é uma escultura de madeira com
caráter religioso que eram produzidos na época arcaica da Antigua Grecia e estava vinculada
aos templos. http://es.wikipedia.org/wiki/Xoanon
Tyche (pág.60)
Τύχη, significa sorte na Grécia, em Roma o equivalente é Fortuna. Era a divindade que
governava a fortuna e a prosperidade das cidades, seu destino. Ela é filha de Hermes e Afrodite.
http://en.wikipedia.org/wiki/Tyche
Hierós (pág.60)
Este termo remete às coisas que permitem a aplicação das condições necessárias para a
realização do rito. Trata-se de formas casuais ou circunstanciales, e não essenciais, do sagrado.
Assim, um lugar pode se voltar sagrado ao tempo de uma cerimónia (o lugar de um sacrifício),
inclusive um objecto da vida quotidiana (a faca para degolar à vítima sacrificial) ou inclusive
um homem (o oficiante). Efectivamente, o sacerdote (ou ἱερεύς / hiereús) não é um homem fora
da sociedade civil: o clero não há que falar dele como uma casta social senão como uma função
administrativa da sociedade grega. Com freqüência, o sacerdote, efectivamente, não é mais que
um servidor público sacado a sortes ou eleito para um ano, o sacerdocio aparece como um cargo
do Estado, essencialmente efémero (o do sacerdote de Eleusis era o mais célebre). Durante seu
mandato, o sacerdote não é investido de suas funções mais que durante os actos litúrgicos, e não
fora destes momentos. Não existe, ademais, clero grego jerarquizado e organizado como
instituição autónoma, o sacerdocio aparece como uma função essencialmente pública.
51
Este aspecto essencialmente ocasional do ἱερός / hierós ajuda ao entendimento do sustantivo
plural τὰ ἱερά / ta hierá que pode remeter também segundo o contexto aos «actos do culto», aos
«lugares de culto» ou inclusive aos «objectos do culto», ou globalmente «às coisas consagradas
ao culto». http://betoquintas.blogspot.com.br/2010/06/hieros-hagios-hosios.html
Hósios (pág.60)
Este último termo conota a ideia de permissão. É ὅσιος / hósios o que está prescrito ou
permitido pela lei divina. Um ser voltado impuro por causa de uma mancha, é excluído dos ritos
e tem proibido entrar em um téménos, volta a ser hósios após ser lavado desta mancha. Em
plural e substantivada, a expressão τὰ ὅσια tà hósia («ler coisas hósios») designa «as leis
divinas»,
por
oposição
a
τὰ
δίκαια
tà
díkaia,
«as
leis
humanas».
http://betoquintas.blogspot.com.br/2010/06/hieros-hagios-hosios.html
Couró i(pág.61)
Jovens Guerreiros (O.P.G. pág, 61, Vernant)
Epoptas (pág.61)
Entre os gregos, o iniciado nos mistérios de Elêusis (Ceres). Inspetor dos mistérios de Elêusis.
http://www.dicio.com.br/epopta/
Os eleitos (O.P.G. pág. 614, Vernant)
Kérykes (pág.62)
Famílias sacerdotais da Grécia Antiga (O.P.G. pág. 62, Vernant)
Theios anér (pág 63)
Semi-deus (O.P.G. pág. 63, Vernant)
Sofistas (pág.64)
Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando
aparições públicas (discursos, etc) para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecerlhes educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com
foco em estratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiam "melhorar" seus
discípulos, ou, em outras palavras, que a "virtude" seria passível de ser ensinada.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_sof%C3%ADstica
Philia (pág.65)
"Philia" (em grego: "φιλíα" transliteração para o latim:"philia") retirado do tratado de Ética a
Nicômaco de Aristóteles, o termo é traduzido geralmente como "amizade", e às vezes também
como "amor". http://pt.wikipedia.org/wiki/Philia (pág.68)
Espírito de comunidade (O.P.G. pág. 65, Vernant)
52
Hómoioi (pág.65)
Todos aqueles que participam dos assuntos do Estado, os semelhantes ( O.P.G. pág. 65,
Vernant)
Isoi (pág.65)
Abstrato, os iguais (O.P.G. pág 65, Vernant)
Isonomia (pág.65)
O princípio da igualdade ou da isonomia provavelmente tenha sido utilizado em Atenas, na
Grécia antiga, cerca de 508 A.C. por Clístenes, o pai da democracia Ateniense. Trata-se de um
princípio jurídico disposto nas constituições de vários países que afirma que "todos são iguais
perante
a
lei",
independentemente
da
riqueza
ou
prestígio
destes.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_igualdade
Clístenes (pág.65)
Clístenes (em grego: Κλεισθένης, translit. Kleisthénês; Atenas, 565 a.C. — Atenas, 492 a.C.) foi
um político grego antigo, que levou adiante a obra de Sólon e, como este último, é considerado
um dos pais da democracia. Embora fosse um membro da aristocracia ateniense, além de liderar
uma revolta popular, reformou a constituição da antiga Atenas em 508 a.C.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%ADstenes
Isocratia (pág.65)
Isocracia é o ideal da igualdade de acesso aos cargos políticos. Foi usado na Grécia Antiga,
assim todos os cidadãos atenienses tinham o direito e o dever de participar na vida política da
pólis. As decisões normalmente tomadas em conjunto respeitavam a vontade da maioria, pois
todos tinham igual direito de voto. http://pt.wikipedia.org/wiki/Isocracia
Monarchia (pág.65)
A palavra monarca (Latim: monarcha) vem do grego μονάρχης (monarkhía, de μόνος,
"um/singular," e ἀρχων, "líder/chefe"), posteriormente no latim, monarcha, monarchìa,
referindo-se a um soberano único. Monarquia é um tipo de forma de governo em que o chefe de
Estado mantem-se no cargo até a morte ou a abdicação, sendo normalmente um regime
hereditário. http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia
Tyrannís (pág.65)
Tirania (do grego τύραννος, líder ilegítimo) é uma forma de governo usada em situações
excepcionais na Grécia em alternativa à democracia. Nela o chefe governava com poder
ilimitado, embora sem perder de vista que devia representar a vontade do povo. Hoje, entre
sociedades democráticas ocidentais, o termo tirania tem conotação negativa. Algumas raízes
históricas disto, entretanto, podem estar no fato de os filhos do grande tirano grego Pisístrato
(que era adorado pelo povo pois fez a reforma agrária e dava subsídio) terem usufruído do
espaço público como se fosse privado, sendo assim, banidos e mortos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tirania
53
Regime oligárquico (pág.65)
Oligarquia (do grego ολιγαρχία, literalmente, "governo de poucos") é a forma de governo em
que o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas. . Essas pessoas podem
distinguir-se pela nobreza, a riqueza, os laços familiares, empresas ou poder militar. Estados em
que tal acontece são muitas vezes controlados por poucas famílias proeminentes que passam a
sua influência ao longo de gerações. Ao longo da história algumas oligarquias foram tirânicas,
sustentadas na servidão pública, embora outras tenham sido relativamente benignas. Os
escritores políticos da Grécia antiga empregaram o termo para designar a forma degenerada e
negativa de aristocracia (literalmente, "governo dos melhores").Aristóteles foi o primeiro a usar
esta palavra como sinónimo do governo pelos ricos, embora o termo exato neste caso seja
plutocracia. Na oligarquia nem sempre é a riqueza que governa: os oligarcas podem ser
qualquer grupo privilegiado, que não precisa estar conectado por laços de sangue como numa
monarquia.
Algumas
cidades-estado
da
Grécia
antiga
foram
oligarquias.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oligarquia
Hoplita (pág.66)
Hoplita (do grego ὁπλίτης, transl. hoplítes, pelo latim hoplites) era, na Era Clássica da Grécia
antiga, um soldado de infantaria pesada. Seu nome provém do grande escudo levado para as
batalhas: o hóplon. O hoplita era o principal soldado grego da antigüidade. Sua armadura era
composta de elmo, couraça (peito de armas), escudo e cnêmides. Carregavam uma longa lança
ou pique de 2,5m geralmente, e uma espada curta para combates de curta distância.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hoplita
Zeugtas
(Pág. 67)
Os Zeugitas eram membros do terceiro censo criado com as reformas constitucionais
introduzidas Sólon, em Atenas. Não se sabe se eles foram chamados assim porque eles
poderiam manter uma junta de bois zeugotrophoûntes - Antonio Tovar traduz o termo por "um
par de agricultores" (Aristóteles, Constituição de Atenas, 7, 3) - ou quão perto eles estavam a
lutar, como se estivessem "unidos por um jugo" (Zygon) na falange. Eles devem pagar a sua
armadura para si e para manter um escudeiro para deixar campanha.
Na época das reformas de Sólon, os zeugitas dado o direito de realizar uma série de pequenas
posições políticas. Eles tinham direito a voto na Assembléia e no Tribunal de heliasts. O seu
estatuto social foi aumentado ao longo dos anos, e 458/7 a. C. dado o direito de ocupar o de
arcontazgo. No final do século V. C. oligarcas moderados defendeu a criação de uma oligarquia
em que todos os homens estavam envolvidos com hoplite gama ou superior. Além disso, este
regime foi atingido logo após a realização do golpe de Estado de 411 para Atenas. C.
Depois do quarto século. C. o nome de "zeugitas" é substituído pelo de hopla parechómenoi.
http://es.wikipedia.org/wiki/Zeugitas
Prómachoi (pág. 67)
O valor militar do guerreiro (O.P.G. pág. 67, Vernant)
Aristeia (pág.67)
Superioridade pessoal do guerreiro (O.P.G. pág. 67, Vernant)
54
Lyssa (pág.67)
Exaltação, furor belicoso do guerreiro grego ( O.P.G pág. 67, Vernant )
Na mitologia grega, Lyssa ( chamada Lytta pelos atenienses ) era o espírito de raiva e frenesi
entre os animais. Ele estava intimamente relacionado como o Maniae, a deusa da loucura e da
insanidade. Seu equivalente romano era Ira e furor. http://en.wikipedia.org/wiki/Lyssa
Menos (pág.67)
O ardor da batalha inspirado por um deus (O.P.G. pág. 67, Vernant)
Thymós (pág.67)
Esse termo vago encerra a afetividade em suas diversas formas: sentimento, humor, paixão,
fervor,arrebatamento.
Segundo a transliteração usual, o radical grego thym torna-se em latim thym-. O próprio termo
torna-se, em francês, thymus (timo), que em anatomia designa uma glândula de crescimento
situada contra o coração; portanto, nesse caso, a etimologia foi explorada de um ponto de vista
totalmente orgânico. Em psicologia, o sufixo -timia designa o humor: um esquizotímico é um
introvertido, e um ciclotímico é um indivíduo de humor mutável. http://www.filoinfo.bemvindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=305
Sophrosyne (pág. 67)
Sofrósina (do grego σωφροσύνη, translit. sóphrosúné ou sophrosyne: estado de espírito são;
prudência; bom senso') é um conceito grego que significa sanidade moral, autocontrole e
moderação, guiados pelo verdadeiro autoconhecimento. Mais tarde o conceito foi ampliado para
incluir a noção de prudência, e era associado à doutrina apolínea do "nada em excesso" e do
"conhece-te a ti mesmo". http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofr%C3%B3sina
(..) um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina
comum, o sangue frio necessário para refrear os impulsos instintivos que correriam o risco de
perturbar a ordem geral da formação (guerreira). (O.P.G. pág. 67, Vernant )
Aristeia (pág.67)
O valor individual (O.P.G. pág.67, Vernant)
Eris (pág.68)
O desejo de triunfar do adversário, de afirmar sua superioridade sobre outrem (O.P.G. pág.
68, Vernant)
Philia (pág.68)
Espírito de comunidade (O.P.G. pág. 68, Vernant)
55
Hybris (pág. 68)
O descomedimento (O.P.G. pág. 68, Vernant)
A húbris ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido
como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança
excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra
os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia, aludia a um desprezo
temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controlo sobre os próprios impulsos,
sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo
seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho). Opõese à sofrósina, a virtude da prudência, do bom senso e do comedimento.
http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris
Esparta (pág.69)
Esparta (em grego Σπάρτη, transl. em grego moderno Spárti, em grego antigo, Spártē) é um
município da Grécia, situada nas margens do rio Eurotas, no sudeste da região do Peloponeso.
Foi uma das mais notórias cidades-estado da Grécia Antiga; conquistou a vizinha Messénia
cerca do ano 700 a.C. e, duzentos anos mais tarde, coligou-se a seus outros vizinhos, formando
a Liga do Peloponeso. Na Guerra do Peloponeso, no século V a.C., Esparta derrotou Atenas e
passou virtualmente a governar toda a Grécia, mas em 371 a.C. os outros estados revoltaram-se
e Esparta foi derrubada, apesar de manter-se poderosa ainda durante mais duzentos anos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esparta
Kleros (pág.70)
Lote de terra (O.P.G. pág. 70, Vernant)
Sissitias (pág.70)
Refeições comuns que cada um leva todos os meses de cevada, vinho, queijo e figos (O.P.G.
pág. 70, Vernant)
Apella (pág.70)
A Apella (em grego: Ἀπέλλα) era a assembléia popular deliberativa na Grécia Antiga cidadeestado de Esparta, correspondente à ecclesia, na maioria dos outros estados gregos. Cada
cidadão do sexo masculino Spartan total que havia terminado seu trigésimo ano tinha direito a
assistir às reuniões que, de acordo com a portaria de Licurgo, devem ser realizadas no momento
de cada lua cheia dentro dos limites de Esparta. http://en.wikipedia.org/wiki/Apella
Éphoroi (pág.70)
A função principal dos éforos era, na verdade, a de controlar a instrução dos jovens e vigiar a
vida social e política de Esparta, com a finalidade de evitar qualquer ramal em relação ao
regime tradicional. Tinham grandes atribuições judiciárias, podendo julgar mesmo os reis. Seu
enorme poder era restringido pelo caráter anual e colegiado do missão.
http://209.85.215.104/search?q=cache:vrleP30WbLEJ:www.scribd.com/doc/3626131/HistoriaPreVestibular-Impacto-Grecia-Esparta-II+os+%C3%A9foros+fun%C3%A7%C3%A3o&hl=ptBR&ct=clnk&cd=10&gl=br
56
Gerousia (pág.70)
Gerúsia (senado, Conselho de Anciãos) era um dos órgãos de governo da antiga Esparta. Sua
criação é atribuída a Licurgo, nas reformas que introduziu no final do século VIII a.C.. De
caráter oligárquico, a Gerúsia era um conselho formado por vinte e oito anciãos com mais de
sessenta anos, mais os reis (Esparta era governada por uma diarquia). O título era vitalício. Suas
funções eram legislativas e se encarregava de preparar os projetos que deviam ser submetidos à
aprovação da Apela (assembléia popular). A Gerúsia tinha o controle da constituição de
Esparta.Os reis que fossem acusados pelos éforos seriam julgados na Gerúsia. O poder da
Gerúsia foi reduzido durante a tirania de Cleômenes III ], mas, durante o período romano, o
senado
espartano
ainda
tinha
funções
de
julgar
os
cidadãos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ger%C3%BAsia
Plutarco (pág.71)
Plutarco (em grego, Πλούταρχος, transl. Ploútarkhos) de Queroneia (46 a 126 d.C.), filósofo e
prosador grego do período greco-romano, estudou na Academia de Atenas (fundada por Platão).
Ele foi um discípulo de Ammonius de Lamprae, um filósofo peripatético com profundo
conhecimento de religião. Viajou pela Ásia e pelo Egipto, viveu algum tempo em Roma e foi
sacerdote de Apolo em Delfos em 95d.C. O seu enorme prestígio valeu-lhe deter direitos de
cidadão em Delfos, Atenas e mesmo em Roma (Mestrius Plutarchus). A sua ética baseia-se na
convicção de que para alcançar a felicidade e a paz, é preciso controlar os impulsos das paixões.
Escreveu sobre Platão, sobre os estóicos e os epicuristas, e estudou a inteligência dos animais
comparando-a à dos humanos. É dele um pequeno e denso ensaio, onde expõe a habilidade no
uso da astúcia com ética, Como tirar proveito do inimigo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Plutarco
Homónoia (pág.72)
Equilíbrio (O.P.G. pág. 72, Vernant)
A realização propriamente política, a do acordo dos espíritos, a homonóia, é obtida pelo logos.
http://books.google.com.br/books?id=djs9I8xoAT8C&pg=PA67&dq=Hom%C3%B3noia&hl=p
t-BR&sa=X&ei=__nAT9eWHor8ATFooSoCw&ved=0CDQQ6AEwAA#v=onepage&q=Hom%C3%B3noia&f=false
Phobos (pág.72)
Temor dos cidadãos à obediência (O.P.G. pág. 72, Vernant)
Fobos (em grego: φόβος, medo, derivado: fobia) era fruto da união entre os deuses gregos Ares
e Afrodite. Irmão Gêmeo de Deimos, Simbolizava o temor e acompanhava Ares nos campos de
batalha, injetando nos corações dos inimigos a covardia e o medo que fazia-os fugir.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fobos_(mitologia)
Rhetrai (pág.72)
Leis quase oraculares (O.P.G. pág. 72, Vernant)
57
B. Esquematização.
1. O aparecimento da polis foi um acontecimento decisivo na história do
povo grego. Situada entre os séculos VIII e VII e marcou uma verdadeira
invenção (pág.53).
2. Duas implicações fundamentais:
1ª característica da polis:
A extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros
instrumentos de poder. Instrumento político por excelência, chave de
toda autoridade no Estado, meio de comando e de domínio sobre outrem.
Peithó, força de persuasão que chega a se assemelhar à Themis, os ditos
soberanos do rei. Mas é coisa bem diferente.
A nova função da palavra na pólis:
A. Não é mais o termo ritual, a palavra justa mas sim, o debate
contraditório, a discussão a argumentação;
B. Supõe um público ao qual ela se dirige como a um juiz que decide em
última instância, entre dois partidos que lhes são apresentados:
- A escolha é exclusivamente humana;
- Arte oratória, debate, formulação de discursos, amoldadas às
demonstrações antitéticas e às argumentações opostas;
- Vínculo recíproco, relação estreita entre política e o logos (pág.54);
- Tomada de consciência da função política do logos;
- Uso da retórica e da sofística abre caminho por Aristóteles para definir
as regras de demonstração lógicas e do saber teórico em contraposição da
lógica do verossímil ou do provável.
2º característica da polis:
A. O cunho de plena publicidade dada às manifestações mais importantes
da vida social que levará a uma profunda transformação onde os
conhecimentos, valores, técnicas mentais são levados à praça pública,
sujeitos à crítica e à controvérsia. (pág.55)
B. Novas regras do jogo intelectual: discussão, argumentação e a
polêmica.
58
C. Lei da Polis
X
Poder absoluto do monarca.
3. A escrita irá fornecer o plano de uma cultura comum e permitir uma
completa divulgação de conhecimentos previamente reservados ou
interditos.
4. Essa escrita foi tomada dos fenícios e modificada por uma transcrição
mais precisa dos sons gregos.
5. A escrita constituirá o elemento de base da paideia grega.
6. Redação das leis diminuindo o poder dos basileis cuja função era "dizer"
o direito.
7. Os dois planos de atuação da Dike, a lei, no mundo de Hesíodo (anterior
ao regime da cidade ):
- Dependente da arbitrariedade dos reis "comedores de presentes";
- Divindade soberana no céu, longínqua e inacessível.
8. Anaximandro, Ferecides e Heráclito teriam sido os primeiros a tornar
público o seu saber por meio da escrita.
9. Transformação de saberes secretos de tipo esotérico em um corpo de
verdades divulgadas para o público. Todos os sacra, símbolos religiosos,
vão emigrar para o templo, morada aberta, morada pública. (pág.59)
10. Perda do caráter secreto dos ídolos e propagação de "imagens" sem
outra função espiritual senão a de serem vistos.
11. Mesmo com a vida social sendo paulatinamente entregue a uma
publicidade crescente, práticas de governo mantêm, em pleno período
clássico, uma forma de poder que opera por vias misteriosas e fins
sobrenaturais, tais como os que aconteceram em Esparta. O
"racionalismo" político se opõe aos antigos processos religiosos do
governo, mas sem por isso excluí-los de maneira radical. (pág.61)
12. Aparecem associações fundadas secretamente tais como seitas,
confrarias e mistérios onde são selecionados os eleitos que se
beneficiarão com privilégios inacessíveis aos comuns, mas ficam
confinados a um terreno puramente religioso. (pág.61)
13. Apesar dessa democratização de um privilégio religioso, o mistério em
nenhum momento se coloca numa perspectiva de publicidade.
59
14. Segredo X Publicidade. (pág.62)
15. Ritos de iniciação tradicionais X sophia e philosophia.(pág.63)
16. A filosofia nasce numa posição ambígua: em seus métodos, em sua
inspiração, assemelha-se às iniciações dos mistérios e às controvérsias da
ágora. Flutuará entre:
17.Espírito de segredo X Publicidade
18. Dessa ambiguidade
inteiramente.(pág.64)
talvez
a
filosofia
jamais
se
libertará
19. Os Três aspectos da Polis:
A. Prestígio da palavra;
B. Desenvolvimento das práticas públicas;
C. A percepção dos cidadão como semelhantes, Hómoioi e
Isoi (iguais) (pág.65).
20. Isonomia e Isocratia X Monarchi e Tyrannís
21. A tradição igualitária dos antigos guerreiros, hippeis, favoreceu esse
caminho para o uso público da palavra (pág.66).
22. Os hoplitas substituem as prerrogativas militares dos hippeis.
23. A virtude guerreia, thymós, agora será substituída pela sophrosyne,
um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a
uma disciplina comum.
24. A aristeia, o valor individual, subordina-se aos valores da falange
militar.
25. A hybris, o descomedimento das antigas atitudes tradicionais da
aristocracia guerreira são condenados.
26. O ideal de vida austero de reserva e moderação é preconizado como
superior.
60
27. A ordem social não estará mais sob a dependência de um soberano e
sim à ordem, que regula o poder de todos os indivíduos e impõe um limite
à sua vontade de expansão:
Ordem
Poder (pág.72)
Arché = Lei (pág.72)
28. Em Esparta os fins militares é que determinam a supremacia da lei e
da ordem.
29. Não será Esparta que a palavra se tornará instrumento político por
excelência por causa de sua preocupação exclusiva com a supremacia da
lei e da ordem com fins militares. No lugar desta Peithó, outros celebrarão
como instrumento de poder o Phobos, o temor que curva todo cidadão à
obediência.
61
ANÁLISE TEMÁTICA
A importância do aparecimento da polis na história do pensamento grego,
situada entre os séc. VIII e VII, marca o momento em que a vida social e as
relações entre os homens tomam uma nova forma e uma originalidade
que será plenamente sentida pelos gregos. A palavra é o principal
instrumento político e a chave do poder do Estado. A arte política é um
exercício de linguagem. Peithó será a divindade que expressará a força de
persuasão e se aproximará da Themis do rei. Agora em diante há o vínculo
estreito entre a política e o logos (pág.54). A lógica do verdadeiro, própria
do saber retórico substitui a lógica do verossímil ou do provável (pág.55).
A cultura grega agora é um demos todo, os conhecimentos, os valores e as
técnicas mentais são levados à praça pública, sujeitos à crítica e à
controvérsia. Não é mais exclusividade das famílias tradicionais. O jogo
intelectual e o jogo político serão todos sujeitos à argumentação e à
polêmica. O prestígio pessoal e a força não conseguirão impor a lei da
polis. (pág. 56) A escrita se encarregará da divulgação dos conhecimentos
preservados e será o elemento de base da paideia. A redação das leis
surge desde o nascimento das cidades. Os basileis não têm mais o
monopólio de "dizer" o direito. A Dike não depende mais da
arbitrariedade dos reis. Os símbolos sagrados agora são apenas "imagens"
sem outra função ritual que agora servem aos cidadãos, em benefício da
comunidade. A escrita conterá a verdade do sábio que será de acesso a
todos. Todo esse processo de transformação da vida social em direção a
um ambiente de publicidade completa aconteceu por etapas (pág.59) e
seu progresso teve muitos obstáculos. Poderes secretos ainda subsistem
como forma de poder como foi o caso do regime de Esparta. As relíquias
sagradas e talismãs tais como ossadas de heróis e outros símbolos tinham
um enorme valor político (pág.60). Vernant nos avisa que esta intervenção
de um poder sobrenatural, que escapavam ao cálculo das ações humanas
deve ser bem considerada na economia dos fatores políticos (pág.60).
Seitas secretas, confrarias e mistérios desenvolveram-se à margem da
cidade e do culto público e selecionava uma minoria de eleitos que eram
assim privilegiados dentre a população. Estra transformação “espiritual”
tinha consequências políticas. Paralelamente a estes ritos, a sophia e a
philosophia propõe outros caminhos: uma regra de vida, um caminho de
ascese, uma via de pesquisa que, ao lado das técnicas de discussão, de
argumentação, ou de novos instrumentos mentais como as matemáticas
62
mas que conservam no seu íntimo antiga práticas divinatórias que dará
um caráter ambíguo às origens da filosofia. Vernant nos diz que desta
ambiguidade a filosofia jamais se libertaria totalmente (pág.64) Ora
substituirá a função do rei divino, na direção do Estado, ora se retirará do
mundo para recolher-se numa sabedoria puramente privada (pág.64)
Enfim, a estes dois aspectos da polis, o prestígio da palavra e o
desenvolvimento das práticas públicas, se acrescentará outro ao seu
universo espiritual: a unidade que é conquistada por um sentido de
semelhança, a philia, entre os homens o que levará ao princípio de
isonomia: igual participação de todos os cidadãos no exercício do
poder(pág.65) Isto é fruto de uma tradição igualitária muito antiga
(pág.66). Um outro momento importante que marca a nova e
surpreendente atitude psicológica é quando a cidade rejeita as atitudes de
descomedimento, a hybris , da aristocracia pois promovem desigualdades
sociais e o sentimento de distância entre os indivíduos(pág.69). O ideal
agora preconizado é o de moderação cujo exemplo maior é Esparta. No
Estado Espartano, diferentemente do reino micênico, o rei não ocupa mais
o topo da pirâmide e a ordem social não depende mais de um
soberano(pág.71) É a ordem, pelo contrário, que regula o poder de todos
os indivíduos. A ordem é primeira em relação ao poder (pág.72). Qualquer
indivíduo que pretenda assegurar o monopólio da arché ameaçará o
equilíbrio das outras forças sociais pondo-a em risco a existência da
própria cidade.
63
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 4
1ª característica da polis: a importância da palavra dita e escrita
↓
2ª característica da polis: desenvolvimento das práticas públicas
↓
Novas funções da palavra na polis
↓
Uso da palavra argumentativa e para uso no debate contraditório
↓
Uso público
↓
Função política
↓
Lei da Polis X Poder absoluto do monarca
↓
Transformação de saberes secretos de tipo esotérico em um corpo de
verdades divulgadas para o público
↓
Perda do caráter secreto dos ídolos e propagação de "imagens" sem outra
função espiritual senão a de serem vistos.
↓
Existência de seitas que se propõe a criar uma classe de iniciados que
serão os novos detentores do poder político
↓
64
Segredo X Publicidade
↓
Ritos de iniciação tradicionais X Sophia e filosofia
↓
Espírito de segredo X Publicidade
↓
Consolidação de uma ambiguidade que na filosofia que se tornará
permanente e influenciará a política
↓
Característica da polis:
Prestígio da palavra
Desenvolvimento das práticas públicas
Percepção dos cidadão como semelhantes
↓
Isonomia e Isocratia X Monarchi e Tyrannís
↓
Ordem
Poder
↓
Arché = Lei
↓
Peithó
Phobos
65
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Para Vernant, o aparecimento da polis deu ao pensamento grego um novo
impulso à vida dos homens. Ele nos diz que este aparecimento pode ser
lido como uma verdadeira invenção humana. Se no passado o poder era
conquistado pelas tradições ou pelo uso da força, agora o instrumento a
ser usado na Polis seria a palavra. Seu uso e seu poder foram considerados
tão grandes que até mesmo uma divindade foi criada para representá-la:
Peithó, a força da persuasão. Ela serviria não mais para expressar um
domínio de um soberano sobre outrem, mas agora seria usada para medir
a força entre dois discursos com a mediação de um juiz. E tudo isso num
espaço novo: o espaço público. O poder da argumentação serviria de
agora em diante aos interesses gerais coletivos. A verdade estaria baseada
num discurso onde a lógica do verdadeiro se sobreporia sobre a lógica do
verossímil, ou seja, aquilo que fosse o mais provável. De agora em diante a
palavra seria levada à praça pública. Era o instrumento principal da vida
política bem como a escrita, que dava à divulgação dos conhecimentos um
sentido de uma cultura comum. As redações das Leis da cidade, agora
escritas, progressivamente retirariam o poder que os antigos basileis
detinham oralmente, sendo que eram apenas eles que possuiam o poder
de ditar o “direito”. Isso evitaria as arbitrariedades cometidas no passado.
As leis passaram a ser um bem comum e o segredo religioso que alguns
eleitos detinham perdia cada vez mais sua força. As verdades dos sábios,
quando escritas, passavam a pertencer a todos. E isto fará com que todos
os símbolos sagrados percam sua força fora do ambiente privilegiado do
templo, onde, aí sim, eles conservariam sua força. Este poder dos
símbolos religiosos ainda exerceria por muito tempo a função de iniciar
alguns eleitos na arte de governar e continuariam a criar uma elite dos
chefes políticos. Seitas secretas formavam-se naturalmente para
contrabalançar o “racionalismo político.” Eram seitas e confrarias cuja
função seria selecionar uma minoria de eleitos e isso teve uma enorme
repercussão política. Estes grupos criaram uma filosofia que oscilava entre
o pensamento místico e o racional. Vernant nos diz que desta
ambiguidade inicial a filosofia talvez nunca tenha se libertado totalmente.
Além destes aspectos relacionados ao uso da palavra e do
desenvolvimento das práticas públicas, Vernant aponta a valorização do
espírito igualitário que a polis engendrava. Esse fator foi muito importante
para o desenvolvimento do conceito de isonomia. Além disso, todo
66
cidadão passou a ser um soldado com a função de defender esse espírito
igualitário e o descomedimento da antiga aristocracia guerreira, essa
hybris, seria condenado, pois gerava um sentimento de distância entre os
indivíduos e o aparecimento de desigualdades sociais. O domínio de si e a
disciplina necessária para atuar em comunidade e refrear os impulsos
instintivos era conhecida como sophorsyne. Esparta será o exemplo de
sociedade onde o ideal austero de reserva e moderação apareceu
efetivamente e de forma muito clara onde exigência de um mundo dos
homens equilibrado ressoa em todos seus aspectos políticos na sociedade
espartana: a ordem vem do espírito de philia e não da submissão a um
soberano. A ordem vem antes do poder. Mas essa orientação espartana
era exclusivamente voltada para a guerra. Os lacedônios cultivaram,
diferentemente de Atenas, o conceito de phobos, o temor que curva a
todos os cidadãos à obediência, ao invés de peithó, a força da persuasão,
que será o instrumento político principal da futura cidade grega que
procura expressar um cosmos equilibrado e harmonioso.
67
68
CAPÍTULO 5
A CRISE DA CIDADE. OS PRIMEIROS SÁBIOS.
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Deucalião (pág.74)
Deucalião foi um filho de Prometeu e Climene (ou de Prometeu e Pronoea). Era casado com
Pirra. Quando a fúria de Zeus foi lançada contra o holismo dos pelásgios, Zeus decidiu pôr um
fim à idade do bronze com o dilúvio. Avisado por Prometeu, o casal construiu um barco de
madeira
que
equipou
com
provisões,
para
se
salvar
do
dilúvio.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Deucali%C3%A3o
Nomótetas (pág.74)
Legislador, membro da grande comissão legislativa que, formada de ex-juízes, era encarregada,
entre os atenienses, da revisão das leis existentes.http://www.dicio.com.br/nomoteta/
Gene (pág.77)
O genos (plural gene) era um tipo de organização social da Grécia Antiga, durante o período
homérico. Eram uma espécie de clãs ou grandes familias. Cada genos era chefiado pelo homem
mais velho (patriarcas) e o poder era passado do pai para o filho primogênito. Tal organização
surgiu na região da Grécia Antiga, logo após o evento denominado 1ª Diáspora Grega. A
propriedade nos gene era comunal, ou seja, coletiva: plantavam e colhiam em conjunto. No
entanto, passados três séculos, os genos entraram em colapso, pois a população cresceu e não
havia terras cultiváveis para todos. Assim, com a explosão demográfica, pensou-se em explorar
mais regiões (2ª Diáspora Grega), sem sucesso. Como solução, determinou-se que as terras
passariam a ter posse privada (pelos descendentes diretos dos chefes dos antigos genos). A
coletividade consequentemente acabou e os níveis de desigualdade social apareceram. Como
forma mais eficiente para organizar a sociedade grega, surgiram as cidades-Estados, ou pólis,
cujos principais exemplos são Atenas e Esparta. http://pt.wikipedia.org/wiki/Genos
Eris (pág.77)
Éris (Ἔρις, em grego antigo) é a deusa que personifica a discórdia na mitologia grega.
Corresponde à deusa romana Discórdia. Seu oposto é a Harmonia, correspondente à Concórdia
romana. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89ris
69
Kalós kagathós (pág.77)
O homem bem-nascido, o Kalós-Kagathós, no seio da nobreza (O.P.G. pág.77, Vernant)
Kalos kagathos (em grego antigo καλὸς κἀγαθός [kalos ka ː ɡat ʰ ǒs]), de que kalokagathia
(καλοκαγαθία) é o substantivo derivado, é uma frase usada por escritores clássicos gregos para
descrever um ideal de conduta pessoal, especialmente em um contexto militar. Seu uso é
atestado desde Heródoto e do período clássico. A expressão é adjetiva, composto por dois
adjetivos, καλός ("bela") e ἀγαθός ("bom" ou "virtuoso"), a segunda das quais é combinado por
crase com καί "e" para formar κἀγαθός. Werner Jaeger resume como "o ideal cavalheiresco da
personalidade humana completa, harmoniosa em mente e corpo, quadrangular no campo de
batalha e música, fala e ação".
http://en.wikipedia.org/wiki/Kalos_kagathos
en asty (pág.78)
Na cidade (O.P.G. pág. 78, Vernant)
Demoi (pág.78)
Aldeias periféricas (O.P.G. pág. 78, Vernant)
Anomia (pág.78)
A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas
transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do Capitalismo, e
da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento com valores
tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Anomia
Aidós (pág.79)
Aidós (com “o” longo, ômega), significa pudor, vergonha, respeito ou temor à opinião alheia.
Com esse dom de aidós, os homens se sentiram compelidos a não cometer delitos, devido ao
temor
pela
opinião
alheia.
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090221034619AAwuqIj
Hybris (pág.79)
O descomedimento (O.P.G. pág. 68, Vernant)
A húbris ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido
como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança
excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra
os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia, aludia a um desprezo
temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controlo sobre os próprios impulsos,
sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo
seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho). Opõese à sofrósina, a virtude da prudência, do bom senso e do comedimento.
http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris
70
Eunomia (pág.79)
Divisão equitativa dos cargos, das honras, do poder entre os indivíduos e as facções que
compõem o corpo social (O.P.G. pág.79, Vernant)
Miasma (pág.80)
Horror inspirado por toda espécie de assassínio (...) a exigência de uma expiação que é ao
mesmo tempo uma purificação do mal.( O.P.G. pág. 80, Vernant)
Órficos (pág.80)
Orfismo era uma religião de mistérios no antigo mundo grego, difundido a partir dos séculos
VII e VI a.C. Seu fundador teria sido o poeta Orfeu, que desceu ao Hades e retornou. Os órficos
também reverenciam Perséfone (que descia ao Hades a cada inverno e voltava a cada
primavera) e Dioniso ou Baco (que também desceu e voltou do Hades). Como os mistérios de
Elêusis, os mistérios órficos prometiam vantagens no além-vida. Esses cultos de mistérios, que
prometiam uma vida melhor após a morte, parecem ter influenciado o início do cristianismo.
O orfismo diferia da religião grega popular das seguintes maneiras:



caracterizava as almas humanas como divinas e imortais, mas condenadas a viver (por
um período) em um círculo penoso de sucessivas encarnações através da metempsicose
ou transmigração de almas;
prescrevia uma forma ascética de vida, ou vida órfica, a qual, junto com ritos iniciáticos
secretos, deveria garantir não apenas o desprendimento do tal círculo penoso mas
também uma comunhão com deus(es);
advertia sobre uma punição pós-morte por certas transgressões cometidas durante a vida;
era fundamentada sobre escritos sagrados com relação à origem dos deuses e seres
humanos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Orfismo_(culto)
Hades (pág.80)
Hades (em grego antigo: Άδης, transl. Hádēs), na mitologia grega, é o deus do mundo inferior e
dos mortos. Equivalente ao deus romano Plutão, que significa o rico e que era também um dos
seus epítetos gregos, seu nome era usado frequentemente para designar tanto o deus quanto o
reino que governa, nos subterrâneos da Terra. Consta também ser chamado Serápis (deus de
obscura origem egípcia) http://pt.wikipedia.org/wiki/Hades
Homónoia (pág.81)
Equilíbrio (O.P.G. pág. 72, Vernant)
A realização propriamente política, a do acordo dos espíritos, a homonóia, é obtida pelo logos.
http://books.google.com.br/books?id=djs9I8xoAT8C&pg=PA67&dq=Hom%C3%B3noia&hl=p
t-BR&sa=X&ei=__nAT9eWHor8ATFooSoCw&ved=0CDQQ6AEwAA#v=onepage&q=Hom%C3%B3noia&f=false
71
Oikos (pág.81)
A família doméstica ( O.P.G. pág. 81, Vernant)
Um oikos (grego antigo: οἶκος plural,: οἶκοι,) é o equivalente grego antigo de uma família, casa,
ou família.
http://en.wikipedia.org/wiki/Oikos
Koinonia (pág. 82)
Comunidade natural (O.P.G. pág. 82, Vernant)
Daimon (pág.82)
Daimon ou daemon (grego δαίμων, transliteração dáimon, tradução "divindade", "espírito"), é
um tipo de ser que em muito se assemelha aos gênios da mitologia árabe. A palavra daimon se
originou com os gregos na Antiguidade; no entanto, ao longo da História, surgiram diversas
descrições para esses seres. O nome em latim é dæmon, que veio a dar o vocábulo em português
demônio. São intermediários entre os deuses e os homens. Xenócrates associava os deuses ao
triângulo equilátero, os homens ao escaleno, e os daimons ao isósceles. Seu temperamento ligase ao elemento natural ou vontade divina que o origina. Não se fala em "bem" ou "mal". Um
mesmo daimon pode apresentar-se "bom" ou "mau" conforme as circunstâncias do
relacionamento que estabelece com aquele ou aquilo que está sujeito à sua influência. No plano
teleológico, os gregos falavam de eudaimons (eu significando "bom", "favorável") e
kakodaimons (kakos significando "mau"). Por isso, a palavra grega que designa o fenômeno da
felicidade é Eudaimonia. Ser feliz para os gregos é viver sob a influência de um bom daimon.
Assim
é
a
forma
como
Sócrates
se
refere
a
seu
daimon.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Daemon_(mitologia)
Cátharsis (pág.82)
Catarse (do grego Κάθαρσις "kátharsis") é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a
tragédia, a medicina ou a psicanálise, que significa "purificação", "evacuação" ou "purgação".
Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga
emocional provocada por um drama. http://pt.wikipedia.org/wiki/Catarse
Adikia (pág.84)
Na mitologia grega, Adikia era uma daemon ou espírito da injustiça, filha de Nix (a noite), por si
mesma ou unida a Érebo (as trevas), ou ainda filha de Éris (a discórdia), por si mesma sem um
pai. Deusa da injustiça era companheira inseparável de Disnomia (a desordem) e de outros
males
da
humanidade,
seu
oposto
era
Diké
a
deusa
da
justiça.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adikia
Loimós (pág.84)
Os loimós palavra grega descreve alguém que é considerado como sendo
extremamente incômodo, uma ameaça ou um inimigo público
72
B. Esquematização.
1. A palavra sabedoria tinha um vínculo com as virtudes próprias do
cidadão da polis.
2. Houve uma crise entre os séculos VII e VI, chamada Era dos Sábios.
3. Características:
A. Período de confusões e de conflitos internos advindas de
condições econômicas específicas;
B. Sistema de valores questionado;
C. Questionamentos sobre a própria ordem do mundo;
D. Percepção de um estado de erro e de impureza.
4. Consequências da crise de valores:
A. Promoção de reformas associadas à Epimênides, Sólon, Pítaco e
Periandro.
B. Esforço para elaborar uma nova ética grega.
5. O ponto de partida da crise foi de ordem econômica (pág.75), mas
revestida de uma efervescência religiosa que no plano social da vida nas
cidades acaba levando ao nascimento de uma reflexão moral e política.
6. O fenômeno decisivo causador dessas mudanças o plano econômico e
também no plano espiritual foi a retomada e o desenvolvimento dos
contatos com o oriente.
7. O desenvolvimento geográfico impunha soluções para o problema dos
cereais e a agricultura helênica passou a exportar produtos.
8. A expansão grega se deveu a um tríplice objetivo econômico:
A. Procura de terra;
B. Procura de alimento;
C. Procura de metal.
9. As mudanças de estrutura social desta época estão descritas na poesia
lírica onde vemos uma aristocracia inspirada e atraída pelo luxo e
73
opulência do Oriente. Isso foi um motivo de dissociação, de divisão entre
o povo grego. O Kalós Kagathós, o homem bem-nascido, é o proprietário
de terras e o problema agrário é o problema capital do período arcaico.
10. Essas mudanças também ocorreram no mundo fenício. Mas a
diferença entre eles e os gregos se deu no sentido em que estes sentiram
a necessidade de restringir o poder desses poucos que detinham o poder.
11. A dike deve estabelecer o equilíbrio e garantir a eunomia, a divisão
equitativa dos cargos, das honras, do poder entre os indivíduos e facções.
O contrário disso é a anomia.
12. Este espírito tinha relação com certas matérias do Direito. O tema do
assassinato, por exemplo, comprometia a estabilidade de toda a
comunidade. Os interesses familiares deviam ser subordinados ao
interesse comunitário e evitar o ciclo sem fim de violência que provocava
o desequilíbrio na polis (miasma).
13. O progresso do dionisismo levou ao aparecimento de seitas de tipo
órfico. O reformador religioso apareceu então como conselheiro político
pois era uma atividade orientada para ordenar a vida social, reconciliar e
unificar a cidade.
14. O religioso, o jurídico e o social achavam-se associados num mesmo
esforço de renovação. Para Aristóteles, a polis era uma família ampliada.
Neste período houve um esforço no sentido de dar ao cidadão grego um
sentimento de irmandade ritual. O assassinato era tido como coisa
impura, pois se tratava de uma atitude sacrílega contra um parente de
mesmo sangue. Quando se passou da vingança privada à repressão
jurídica do crime, isto demonstrava que o dano causado a um indivíduo
particular era na realidade um atentado contra todos.
15. O direito na Grécia antiga não era compreendido fora de um certo
clima religioso.
16. As reformas se deram como consequência das aspirações comunitárias
e unitárias que vão lentamente inserir-se na realidade social.
74
ANÁLISE TEMÁTICA
Com o interesse voltado para a organização da Polis, todo um novo tipo de
sabedoria foi criado para inventar as virtudes próprias do cidadão(pág.73).
Um momento de crise ocorrido entre os séc.VII e VI, crise social com
confusões e conflitos internos, levou a criação de sentenças políticas e
chavões morais perpetrados pelos Sete Sábios, que por sua vez conduziu
os gregos a uma discussão de todo o seu sistema de valores tanto no
plano religioso como moral (pág.74). As consequências dessa crise foram
as reformas propostas por Epimênides, Sólon, Pítaco e Periandro(PÁG.74).
O ponto de partida foi a crise econômica ocasionada pelo
desenvolvimento geográfico e as consequentes pressões exercidas no
desenvolvimento da agricultura, a posse de terras, a procura por alimento
e do metal. Estes três últimos fatores forma os causadores da expansão
grega pelo Mediterrâneo (pág.76). As mudanças de estrutura sociais mais
evidentes se deram por conta de todo um setor da economia grega
voltada para o comércio marítimo. A aristocracia grega foi seduzida pelo
requinte e ostentação do Oriente o que conferiu o prestígio dos gene e
que se uniu aos valores guerreiros e às qualificações religiosas para
marcar sua supremacia (pág.77). Essa eris aristocrática agiu como
elemento de dissociação, de divisão (pág.77). Nascia a figura do Kalós
Kagathós, ou o homem bem nascido, que agora é um rico e entregava-se
ao tráfico marítimo (pág.77). A concentração da riqueza fez da questão
agrária o principal problema desse período arcaico (pág.78). Oposição
entre “urbanos” e “rurais” (pág. 78). Estas mudanças técnicas e
econômicas também ocorreram no mundo fenício. Mas o que é próprio da
Grécia foi a reação que elas suscitaram no grupo humano (pág.78): sua
reação foi sentida como um estado de anomia. Houve um esforço de
renovação atuando ao mesmo tempo nos planos religioso, jurídico,
político, e econômico visando restringir a dynamis dos gene, fixando um
limite à sua ambição, ao seu desejo de poder, que devia se submete a fins
igualitários (pág.79). Essa norma superior é a Dike que garantirá aos
cidadãos a eunomia: a divisão equitativa dos cargos, das honras, do poder
entre os indivíduos e as facções que compõem o corpo social (pág.79). A
Dike favorecia o espírito de comunidade (pág.79) e influenciará certas
teses do Direito principalmente em relação ao homicídio que era visto
como um miasma no corpo social. Os sentidos religioso, jurídico e social
estavam a serviço de uma renovação da polis (pág.81). O Direito se
75
formou num clima religioso: o movimento místico corresponde a uma
consciência comunitária mais exigente das novas realidades sociais
(pág.85) com a exacerbação das aspirações comunitárias e unitárias que
irão sofrer um processo de laicização. Louis Genet apontou bem esta
mutação intelectual que o advento do direito propriamente dito realiza
(pág.85). Agora, a figura de um juiz servirá para representar o corpo cívico
e consolidará uma concepção totalmente nova da prova e do testemunho,
que usará técnicas de demonstração, de reconstrução do plausível e do
provável, de dedução de indícios ou de sinais - e a verdade agora fará
parte de uma nova noção objetiva.
76
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 5
Crise de valores entre os séc. VIII e VI, era do Sete Sábios
↓
Crise de origem geográfico-econômica
↓
Sistema de valores questionado
↓
Questionamento da própria ordem do mundo
↓
Percepção de um estado de imperfeição e impureza que a nova
aristocracia provocava com sua ambição desmedida
↓
Promoção de reformas sociais
↓
Procura de uma nova ética grega
↓
A retomada do comercio com o Oriente foi o fenômeno causador e o
ponto de partida para a necessidade de mudanças
↓
Tríplice fator da expansão grega pelo Mediterrâneo:
Procura de terra
Procura de alimento
Procura de metal
↓
Aparecimento do Direito
77
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Vernant inicia seu capítulo dedicado a analise dos problemas suscitados
com o desenvolvimento das cidades dizendo que, para Aristóteles, um dos
três elementos que os homens tiveram que procurar para se reerguer dos
períodos de cataclismos que periodicamente ocorriam era a organização
da Polis e suas leis. Isso, ao lado da busca pelos meios elementares de
subsistência e o cultivo das artes que embelezam a vida, constituiria o que
foi nomeado de Sabedoria. Este era o conteúdo principal dos Sete Sábios
da Grécia antiga e vemos a importância que as questões acerca da Polis
tinha para os gregos. O momento de crise ocorrido no final do século VII e
que se desenvolve no século VI se refere a uma crise de valores tanto no
plano religioso como no plano moral, advindo de conflitos internos com
motivações políticas e econômicas. Reformas foram propostas e o
principal personagem deste momento foi Solon, que elaborou as noções
fundamentais da nova ética grega. Tendo como ponto de partida uma
crise econômica que se manifestou com a retomada dos contatos com o
oriente e que na sua origem se confundia com uma efervescência religiosa
e social, apareceram nas cidades um novo tipo de reflexão moral e política
que se referiria agora aos assuntos exclusivamente humanos. Crise
demográfica e de alimentos que levaram os gregos e incrementar os
comércio e favorecer a agricultura da vinha e da oliveira. O impacto do
comércio marítimo na estrutura social foi gigantesco. O luxo do oriente
começou a ser cobiçado e uma nova elite apareceu, o que levou à
concentração de renda em pouquíssimas mãos, criando divisões entre
“urbanos” e “rurais”. Muitos esforços foram feitos nos planos religioso,
jurídico, político e econômico para impor um limite à cobiça, à ambição e
o desejo de poder, que eram vistos pela sociedade grega como erro e
exacerbação da Hybris, a falta de limite e de medida nas ações humanas.
Isso inspirou as primeiras matérias do Direito e os crimes de sangue eram
os mais severamente reprimidos e punidos. Esse movimento tinha, ao
lado de conceitos religiosos extremamente arraigados na mentalidade
grega, um sentido que visava também à ordem social que reconciliava e
unificava a cidade. Para o grego, a cidade era uma família unificada e
todos sentiam a necessidade de se considerarem irmãos. Por isso mesmo
qualquer assassinato era um miasma, um fato desagregador terrível, pois
significava um crime que afetava a todos como uma só família. A
remodelação da vida pública se deu em função das legislações que uma
78
aspiração comunitária exigiu e que causou uma verdadeira mutação
intelectual com o advento do Direito, onde o juiz representava o corpo
cívico. Este ser impessoal deu à comunidade novas perspectivas em
função dos julgamentos que antes eram feitos arbitrariamente. Neste
quadro pré-jurídico as novas técnicas de argumentação e comprovação
deram novo impulso às concepções a respeito do que seria doravante
considerado um julgamento justo.
79
80
CAPÍTULO 6
A ORGANIZAÇÃO DO COSMOS HUMANO
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Areté
(pág.87)
Aretê (do grego ἀρετή aretê, ês, "adaptação perfeita, excelência, virtude") é uma palavra de
origem grega que expressa o conceito grego de excelência, ligado à noção de cumprimento do
propósito ou da função a que o indivíduo se destina. No sentido grego, a virtude coincide com a
realização da própria essência e, portanto, a noção se estende a todos os seres vivos. Segundo
Sócrates, a virtude é fazer aquilo que a que cada um se destina. Aquilo que no plano objetivo é a
realização da própria essência, no plano subjetivo coincide com a própria felicidade. Na Grécia
Antiga, aretê significava também a coragem e a força de enfrentar todas as adversidades, e era
uma virtude a que todos aspiravam. A raiz da palavra é a mesma de aristos, que originou
aristocracia, que significa habilidade ou superioridade, e era constantemente usada para denotar
nobreza. O termo era aplicado para qualquer coisa, desde a descrição da boa fatura de um objeto
utilitário até para indicar o cidadão exemplar e o herói, mas em todos os casos a aretê de cada
um envolvia valores diferentes. Em torno do século IV a.C., aretê passou a incorporar outros
atributos, como dikaiosyne (justiça), e sophrosyne (moderação e autocontrole). Platão
incorporou esses novos significados tentando estabelecer uma nova definição para aretê,
Aristóteles ampliou seu trabalho e o conceito teve importantes repercussões no pensamento
cristão. Aretê foi também importante elemento na paideia grega, o conceito de educação
integral para a formação de um cidadão virtuoso e capaz de desempenhar qualquer função na
sociedade. O treinamento na aretê envolvia educação física, oratória, retórica, ciência, música e
filosofia, além de educação espiritual. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aret%C3%AA
Habrosyne (pág.88)
A vida ideal. Vida de luxo, requinte, a criação da poesia, a busca de lazer.
http://www.funnelbrain.com/c-44492-habrosyne.html
Áskesis (pág.88)
Palavra grega para exercício. http://askesis.sites.uol.com.br/index.htm
Meleté (pág.88)
Disciplina dura e severa (O.P.G. pág 88, Vernant)
Epiméléia (pág.88)
Um controle vigilante sobre si (O.P.G. pág. 88, Vernant)
81
Hedoné (pág.88)
(...) uma atenção sem descanso para escapar ás tentações do prazer (O.P.G. pág. 88, Vernant)
O hedonismo (do grego hedonê, "prazer", "vontade") é uma teoria ou doutrina filosófico-moral
que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, e importantes
representantes foram Aristipo de Cirene e Epicuro. O hedonismo filosófico moderno procura
fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior
número de pessoas. O significado do termo em linguagem comum, bastante diverso do
significado original, surgiu no iluminismo e designa uma atitude de vida voltada para a busca
egoísta de prazeres materiais. Com esse sentido, "hedonismo" é usado de maneira pejorativa,
visto normalmente como sinal de decadência. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hedonismo
Malachia e Tryphé (pág.88)
Atrativo da moleza e da sensualidade (O.P.G. pág.88, Vernant)
Tryphé (τρυφἠ); extravagância http://en.wikipedia.org/wiki/Tryph%C3%A9
Ascese (pág.88)
A ascese (do grego ἄσκησις, derivado di ἀσκέω, “exercitar”) consiste na prática da renúncia do
prazer ou mesmo a não satisfação de algumas necessidades primárias, com o fim de atingir
determinados fins espirituais. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ascese
Stasis (pág.88)
O termo stasis (do Grego στάσις) se refere a um estado de estabilidade, em que todas as forças
são iguais e opostas, portanto, eles anulam mutuamente.http://en.wikipedia.org/wiki/Stasis
Aphrosyne
(pág.89)
A riqueza, ta chrémata, torna-se no homem loucura, aphrosyne. (O.P.G. pág, 89, Vernant)
Pleonexia (pág.89)
Pleonexia (do grego: πλεονεξια) é um conceito filosófico utilizado quer no Novo Testamento
quer nos escritos de Platão e Aristóteles. Corresponde, de maneira geral, à avareza, podendo ser
definida como "desejo insaciável de ter posse do que por direito pertence aos outros".
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pleonexia
Ploutos (pág. 89)
PLOUTOS (ou Plutão) era o deus da riqueza. Em agrária Grécia ele foi a primeira associada
exclusivamente com abundância de ricas colheitas. Mais tarde, ele passou a representar a
riqueza em termos mais gerais. http://www.theoi.com/Georgikos/Ploutos.html
Ethos (pág.87) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ethos
(...) é a necessidade imanente a um caráter, a um ethos, a lógica de um tipo de comportamento.
(O.P.G. pág. 89, Vernant)
82
Koros (pág.89)
Um Kouros ( plural Kouroi, Grego Antigo κοῦρος) é o termo atualmente dado áquelas
representações de homens jovens que apareceram primeiramente no período arcaico da Grécia.
http://en.wikipedia.org/wiki/Kouros
Hybris (pág.89)
O descomedimento (O.P.G. pág. 68, Vernant)
A húbris ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido
como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança
excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra
os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia, aludia a um desprezo
temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controlo sobre os próprios impulsos,
sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo
seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho). Opõese à sofrósina, a virtude da prudência, do bom senso e do comedimento.
http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris
Eris (pág.89) http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89ris
(...) arrogância aristocrática, este espírito de Eris que (...) (O.P.G. pág. 89, Vernant
Dysnomia (pág.89)
(Desordem) - perda de memória http://en.wikipedia.org/wiki/Dysnomia
Sophrosyne (pág. 67)
Sofrósina (do grego σωφροσύνη, translit. sóphrosúné ou sophrosyne: estado de espírito são;
prudência; bom senso') é um conceito grego que significa sanidade moral, autocontrole e
moderação, guiados pelo verdadeiro autoconhecimento. Mais tarde o conceito foi ampliado
para incluir a noção de prudência, e era associado à doutrina apolínea do "nada em excesso" e
do "conhece-te a ti mesmo". http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofr%C3%B3sina
(..) um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina
comum, o sangue frio necessário para refrear os impulsos instintivos que correriam o risco de
perturbar a ordem geral da formação (guerreira). (O.P.G. pág. 67, Vernant )
Mesoi (pág.90)
"Aqueles que são chamados mesoi não são apenas os membros de uma categoria social
particular, a igual distância da indigência e da opulência: representam um tipo de homem,
encarnam os valores cívicos novos, como os ricos, a loucura da hybris. Em posição mediana no
grupo, os mesoi têm por papel estabelecer uma proporção, um traço de união entre os partidos
que dilaceram a cidade, porque cada um reivindica para si a totalidade da arché." (O.P.G. pág.
90, Vernant)
83
Arché (pág.90)
Campos de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar(O.P.G. pág. 54, Vernant)
Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar
presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento
e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9
Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de
uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant)
Eunomia (pág.90)
"Mas essa distribuição equilibrada, essa eunomia, impõe um limite à ambição daqueles que o
espírito de descomedimento anima; (...) (O.P.G. pág. 90, Vernant)
Na mitologia grega Eunômia era a deusa da lei e da legislação, sendo uma das Horas (horae).
Constituíam um grupo de deusas que presidiam às estações dos anos. É filha de Zeus e Têmis,
sendo irmã de Irene (paz), Dice (justiça), além de ser irmã de mais nove horas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eun%C3%B4mia
Kakós (pág.91 )
Bem, nobre, honrado, razoável. http://concordances.org/greek/2573.htm
Agathós (pág.91)
Agathós, palavra extremamante importante para a história da educação grega, pode designar o
nobre, o aristocrata, mas, também, o homem de valor, o que tem coragem. Traduzir agathós por
bom pode levar à confusão: o sentido básico não é moral. Na poesia heróica, é adequado dizerse de um homem que ele é agathós se ele tem valor. Valor, aqui, especificado a cada passo, ou
referido
à
coragem
guerreira,
ou
a
uma
certa
habilidade.
http://www.hottopos.com/videtur16/gilda.htm
Kratos e bia (pág.91)
Kratos, O poder de domínio sobre outra pessoa (O.P.G. pág. 132, Vernant)
In Greek mythology, Kratos or Cratus (Ancient Greek: Κράτος, English translation: "strength")
was the son of Pallas and Styx, and the personification of strength and power. Kratos and his
siblings—Nike ("victory"), Bia ("force") and Zelus ("zeal")—were the winged enforcers of
Olympian God Zeus. The figure makes an appearance in Aeschylus' Prometheus Bound, in
which he is one of the trio that binds the titular Titan, the other two being Hephaestus and Bia.
http://en.wikipedia.org/wiki/Kratos_(mythology)
Nomos (pág.91)
In Greek mythology, Nomos is the daemon of laws, statutes, and ordinances. By one account,
Nomos' wife is Eusebia (Piety), and their daughter is Dike (Justice).The Nomos is also the
making of the human law in the Ancient Greek. The Sophists were persuaded that the Nomos
wasn't especially the best in Greek but had as first the idea that it was equal but different of
other cultures. http://en.wikipedia.org/wiki/Nomos_(mythology)
84
Demos (pág.92)
Plural de demoi, as pessoas comuns, a população. http://www.thefreedictionary.com/Demoi
Ekphron (pág.93)
(...) demente, (...) (O.P.G. pág. 93, Vernant)
Sophron (pág.93)
(...) são de espírito. (O.P.G. pág. 93, Vernant)
Katharmói (pág.93)
(...) delírio (...) (O.P.G. pág. 93, Vernant)
Styx (pág.93)
(...), rio de impureza, (..) (O.P.G. pág. 93, Vernant)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estige
Alyssos (pág.94)
(...), a fonte Alyssos cujas águas benfazejas curam os raivosos e todos os que o delírio da Lyssa
possui. (O.P.G. pág.94, Vernant)
Lyssa (pág.94)
Exaltação, furor belicoso do guerreiro grego ( O.P.G pág. 67, Vernant )
Na mitologia grega, Lyssa ( chamada Lytta pelos atenienses ) era o espírito de raiva e frenesi
entre os animais. Ele estava intimamente relacionado como o Maniae, a deusa da loucura e da
insanidade. Seu equivalente romano era Ira e furor. http://en.wikipedia.org/wiki/Lyssa
Eros (pág.94)
Eros (em grego Ἔρως; no panteão romano Cupido) era o deus grego do amor. Hesíodo, em sua
Teogonia, considera-o filho de Caos, portanto um deus primordial. Além de o descrever como
sendo muito belo e irresistível, levando a ignorar o bom senso, atribui-lhe também um papel
unificador e coordenador dos elementos, contribuindo para a passagem do caos ao cosmos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eros
Thymós (pág.94)
Thumos (also commonly spelled "thymos") (Greek: θυμός) is a Greek word expressing the
concept of "spiritedness" (as in "spirited stallion" or "spirited debate"). The word indicates a
physical association with breath or blood. The word is also used to express the human desire for
recognition.
Today
in
Greece
thymos
means
simply
"anger".
http://en.wikipedia.org/wiki/Thumos
85
Paideia (pág.94)
Paideia (FO 1943: Paidéia), segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma
verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paideia
Pistis (pág.95)
"Tráta-se de uma noção social e política, tal como a homónoia, de que constitui o aspecto
subjetivo: a confiança que os cidadãos sentem entre si é a expressão interna, a contrapartida
psicológica da concórdia social. Na alma como na cidade, é pela força da Pistis que os
elementos inferiores se deixam persuadir e obedecer àqueles que têm o encargo de comandar e
aceitam submeter-se a uma ordem que os mantém em sua função subalterna." (O.P.G. pág 96,
Vernant)
Homónoia (pág.72)
Equilíbrio (O.P.G. pág. 72, Vernant)
A realização propriamente política, a do acordo dos espíritos, a homonóia, é obtida pelo logos.
(O.P.G.pág.95, Vernant)
Agogé (pág.96)
No seu próprio significado, a palavra que os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo:
agogê ( agoge) , isto é, “adestramento”, “treinamento”. Viam-na como um recurso para a
domesticação dos seus jovens. O objectivo maior dela era formar soldados educados no rigor
para defender a colectividade. http://pt.wikipedia.org/wiki/Agog%C3%AA
Isotes (pág.97)
Igualdade (O.P.G. pág.97, Vernant) , equidade (O.P.G. pág.101,Vernant)
Homónoia (pág.98)
A concórdia (pág.98) (Vernant)
Hippeis (pág.99)
Hippeis (Ancient Greek: ἱππεῖς) was the Greek term for cavalry. The Hippeus (ἱππεύς) was the
second highest of the four Athenian social classes, made of men who could afford to maintain a
war horse in the service of the state.(See Solonian Constitution) The rank may be compared to
Roman Equestrians and medieval knights. http://en.wikipedia.org/wiki/Hippeis
Zeugitas (pág.99)
Os Zeugitas eram membros do terceiro censo criado com as reformas constitucionais
introduzidas Sólon, em Atenas. Não se sabe se eles foram chamados assim porque eles
poderiam manter uma junta de bois zeugotrophoûntes - Antonio Tovar traduz o termo
por "um par de agricultores" (Aristóteles, Constituição de Atenas, 7, 3) - ou quão perto
86
eles estavam a lutar, como se estivessem "unidos por um jugo" (Zygon) na falange. Eles
devem pagar a sua armadura para si e para manter um escudeiro para deixar campanha.
Na época das reformas de Sólon, os zeugitas dado o direito de realizar uma série de
pequenas posições políticas. Eles tinham direito a voto na Assembléia e no Tribunal de
heliasts. O seu estatuto social foi aumentado ao longo dos anos, e 458/7 a. C. dado o
direito de ocupar o de arcontazgo. No final do século V. C. oligarcas moderados
defendeu a criação de uma oligarquia em que todos os homens estavam envolvidos com
hoplite gama ou superior. Além disso, este regime foi atingido logo após a realização do
golpe de Estado de 411 para Atenas. C.
Depois do quarto século. C. o nome de "zeugitas" é substituído pelo de hopla
parechómenoi. http://es.wikipedia.org/wiki/Zeugitas
Adikia (pág.99)
Na mitologia grega, Adikia era uma daemon ou espírito da injustiça, filha de Nix (a noite), por
si mesma ou unida a Érebo (as trevas), ou ainda filha de Éris (a discórdia), por si mesma sem
um pai. Deusa da injustiça era companheira inseparável de Disnomia (a desordem) e de outros
males
da
humanidade,
seu
oposto
era
Diké
a
deusa
da
justiça.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adikia
Nómisma (pág.101)
(...) padrão social de valor, artifício racional que permite estabelecer entre relaidades diferentes
uma medida comum e igualar assim o intercâmbio como relação social. (O.P.G. pág. 101,
Vernant)
Logimós (pág.102)
Cálculo raciocinado (O.P.G.pág.102, Vernant)
Stasis (pág.102)
Discórdia; é diferente de homónoia (concórdia) (O.P.G.pág.102, Vernant)
Pleonectein (pág.103)
O desejo de ter mais. (O.P.G. pág. 103, Vernant)
Isonomia (pág.103)
O princípio da igualdade ou da isonomia provavelmente tenha sido utilizado em Atenas, na
Grécia antiga, cerca de 508 A.C. por Clístenes, o pai da democracia Ateniense. Trata-se de um
princípio jurídico disposto nas constituições de vários países que afirma que "todos são iguais
perante
a
lei",
independentemente
da
riqueza
ou
prestígio
destes.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_igualdade
87
B. Esquematização.
1. Além da efervescência religiosa na Grécia antiga ter contribuído para o
nascimento do Direito ela também preparou um momento de reflexão
moral orientado por especulações políticas.
2. Muitos agrupamentos religiosos reagiram à brutal insolência dos ricos
(pág.87), perseguindo um ideal de austeridade contribuindo assim para
um novo ideal de areté.
3. Nestes novos agrupamentos religiosos a sua areté se despojou do ideal
guerreiro de Habrosyne. (virtude advinda da disciplina severa).
4. Este rigor aristocrático e guerreiro também fazia parte dos meios
sectários. Mas sua reação é caracterizada por uma denúncia contra o
fausto e a primazia da violência, que era entendida como desmedida que
não tinha limites (Hybris). Este é o tema moral mais importante do século
VI a.c.
5. Em contraste com a Hybris dos ricos, o ideal de sophrosyne
(temperança, proporção, justa medida, justo meio):
Hybris X Sophrosyne = Tema mais importante do séc. VI a.c.
6. "Nada em excesso" era a fórmula da nova Sabedoria (pág.88).
7. Estes valores deram um aspecto mais ou menos "burguês" à sociedade
grega: o aparecimento de uma classe média que tinha um papel
moderador, um equilíbrio entre as classes sociais da época: a minoria dos
ricos e a maioria dos pobres (pág.90).
8. A sophrosyne era colocada como imagem da nova ordem política onde
havia a recusa da tirania e tentativas racionais de pôr fim aos conflitos.
9. Este "racionalismo político" da era de Sólon indicava que "é a maldade
dos homens, seu espírito de Hybris, sua sede insaciável de riqueza que
produzem naturalmente a desordem, segundo um processo de que se
pode marcar de antemão cada fase: a injustiça engendra a escravidão do
povo e esta provoca em troca a sedição". (pág.92)
Sólon X arrogância dos ricos (pág.92)
Sólon = Dike + Sophrosyne na Ágora : laicização do pensamento moral.
88
10. A sophrosyne implicava uma tensão (luta de classes) e, portanto fora
das seitas é que ela adquiria uma significação moral e política precisa
(pág.96).
11. Em Esparta, a sophrosyne é agogé (comedimento ),onde a dignidade
do comportamento tinha uma significação institucional, e criava o
"homem político" (pág.97).
12. O papel dos Sábios foi o ter colocado verbalmente os valores que
estavam implícitos nas condutas e na vida social do cidadão.
Sophrosyne = métrion, pistis, homonóia, eunonia
13. Isotes é o espaço para a igualdade e sem ela não há philia, a amizade
entre os cidadãos, pois para Sólon o igual não pode engendrar a guerra
(pág.98).
14. A "igualdade" grega é hierárquica, o que quer dizer, geométrica e não
aritmética. O essencial é atingir o senso de "proporção".
15. Igualdade Grega: todos agora fazem parte dos tribunais e da
assembleia. É a dike que fixa a ordem e não a timaí (leis que sempre
favoreciam os fortes) e de agora em diante é a Homonóia, a concórdia,
que produz "harmonia" obtida pela proporção exata com a divisão dos
cidadão em quatro classe sociais: quinhentas medidas de produtos
agrícolas para as classes mais altas, trezentas medidas para os hippeis,
duzentas para os zeugitas.
Relações de tipo racional X Relações de Força
É a nova linha de desenvolvimento do pensamento moral e da reflexão
política.
16. A imagem da teia de aranha é atribuída a Sólon que diz que as leis, tal
com a teia de aranha, “só serve para os fracos...os poderosos as
despedaçam.”
17. Sólon queria promulgar para a cidade regras que codificam as relações
entre os indivíduos, segundo os mesmos princípios positivos de vantagem
recíproca que presidem ao estabelecimento de um contrato (pág.100).
18. A moeda surge neste quadro de esforço geral de codificação e medida
e seu significado tem seus alicerces na legislação.
89
19. No plano intelectual, o surgimento da moeda, a função do dinheiro é a
de substituir a antiga imagem da riqueza (igualar, de certa maneira, as
fortunas por distribuição de numerário); substituir a força afetiva e
carregada de implicações religiosas das fortunas.
20. Duas grandes correntes que se opõem no mundo grego:
Aristocracia X Democracia
21. O Pitagorismo reforçava a ideia de proporção e da sophrosyne: o que
devia ser levado em conta era a orientação que predominava e a
preponderância do melhor sobre o pior.
22. As relações sociais são agora assimiladas por vínculos contratuais em
detrimento ao estatuto do domínio e da submissão expressando-se em
termos de reciprocidade e reversabilidade.
Vínculo contratual X Estatuto de submissão e domínio
Isonomia = relação de 1/1
23. A preocupação maior passou a ser: que lei devia ordenar a cidade para
que ela fosse uma na multiplicidade de seus cidadãos, para que eles
fossem iguais em sua necessária diversidade?
24. Antigamente três facções lutavam pelo poder na Grécia antiga:
A. Pediakos: homens da planície, da cidade, em terras ricas;
B. Parálios: habitavam o litoral;
C. Diácros: homens da montanha.
25. Clítenes propôs uma reforma cuja organização política do conjunto
obtivesse coerência e clareza e a organização tribal é abolida (pág.105).
Clístenes = fusão social, unificação do corpo social, organização
administrativa, isonomia.
26. Sob a lei da isonomia o mundo social tomou a forma de um cosmos
circular e centrado em que cada cidadão, por ser semelhante a todos os
outros, teve que percorrer a totalidade do circuito, ocupando e cedendo
sucessivamente, segundo a ordem do tempo, todas as posições simétricas
que compõem o espaço cívico (pág.107).
90
ANÁLISE TEMÁTICA
Orientado por especulações políticas, novos esforços de reflexão moral
deram origem ao Direito, impregnado na sua origem pela efervescência
religiosa. A aspiração mística a uma vida pura livre do crime de sangue. À
brutal insolência dos ricos houve movimento de um grupo que reagiu
contra a expansão do comercio e a ostentação do luxo. (pág.87).Estes
agrupamentos de fundo religioso contribuíram para o nascimento de uma
nova areté que se despojou de seu aspecto guerreiro e que agora seria
substituída pelo ideal de habrosyne, a virtude (pág.88). A percepção de
que a riqueza não comportava nenhum limite demonstrava que este
descomedimento devia ser combatido: uma luta contra a hybris. Esta foi a
questão mais discutida em todo o séc. VI (pág.89). Em contraste com a
hybris do rico, começava a aparecer o ideal de sophrosyne, a temperança,
o senso de proporção, de justa medida, de justo meio (pág.89). “Nada em
excesso” é a fórmula da nova sabedoria (pág.89). Uma nova classe com
estilo “mais ou menos burguês” será a nova classe média, os mesoi, que
desempenhará o papel moderador entre os dois extremos da realidade
social: a minoria dos ricos que querem tudo conservar e a multidão das
pessoas pobres que querem tudo obter (pág.90). A sophrosyne será o
acordo que dará equilíbrio e estabelecerá um acordo entre os elementos
rivais (pág.90). O racionalismo político será implantado em nome da
comunidade fixando para cada indivíduo uma justiça direita (pág.91). A
imagem hesiódica do Bom Rei é uma realidade agora distante (pág.91). “É
a maldade dos homens, seu espírito de hybris, sua sede insaciável de
riqueza que produzem naturalmente a desordem”... (pág.91). Houve uma
acentuada laicização do pensamento moral (pág.92). A reinterpretação
operada por Solon sobre o conceito de sophrosyne, que na época de
Homero era associada a um valor geral, o bom senso, agora será associada
a um contexto polítco, embora isso também levasse a uma colocação de
tipo ascética (pág.94). Esta busca pelo equilíbrio gerou técnicas iniciáticas
que disciplinavam a alma tornando-a dócil ao comando, não disposta á
rebelião que a entregaria á desordem (pág.94). Os males da coletividade
se devem à incontinência dos ricos que são agora vistos como aqueles que
carregam o espírito de subversão dos “maus” (pág.95). Mas de uma
maneira geral foi fora das seitas que a sophrosyne adquire conteúdos
políticos (pág.96). “Na instituição da agogé espartana a sophrosyne
aparece com um caráter essencialmente social” (pág.96). Imposição,
91
regulamentação, dignidade de comportamento: tudo isso com significação
institucional com a intenção de criar um “homem político” (pág.97). Para
se compreender o ideal de sophrosyne é preciso conhecer as reformas
institucionais de Solon (pág.97). Criação de espaço para a igualdade, a
isotes, fundamento da nova concepção de ordem. “Sem isotes, não há
cidade porque não há philia” (pág.98). “O igual não pode engendrar a
guerra” dizia Solon (pág.98). A igualdade é conquistada quando a lei é
fixada para todos os cidadãos e onde todos têm direito à participação na
assembleia (pág.98). Desenvolvimento do pensamento moral e da
reflexão política: as relações de força serão substituídas pelas relações de
tipo “racional” (pág.99). Promulgação de regras para a cidade que
codificam as relações entre os indivíduos (pág.99) e neste esforço geral de
codificação é que aparece a moeda (pág.99) que será um fator de
profunda transformação orientando o povo grego no sentido do
mercantilismo (pág.99). A moeda substituirá as imagens carregadas de
significado religioso, de uma riqueza feita de hybris (pág.101). A noção
abstrata de nómisma, padrão social de valor, a procurou um artifício
racional que estabelecesse uma medida comum que igualaria o
intercâmbio como relação social (pág.101). As duas grandes correntes
que se opunham no mundo grego, uma de inspiração aristocrática e outra
de espírito democrático, notavelmente reclamaram a isotes, a igualdade
(pág.101). O ideal de isonomia é a relação de igualdade mais simples: 1/1,
a única “justa medida” capaz de harmonizar as relações entre os cidadãos
(pág.101). A história ateniense foi dominada por três “facções” revoltadas
umas contra as outras na sua luta pelo poder: os pediakoí, os parálios e os
diácrios (pág.104). Foi Clístenes quem fundou a Polis sobre uma base nova
(pág.105). Organiza o território grego em dez tribos e a delimitação da
região urbana e seu território circundante (pág. 106). Conquista uma
unificação do corpo social e uma organização administrativa que atende a
uma vontade deliberada de fusão. O conceito de isonomia de Clístenes
liga-se diretamente à realidade política: “inspira uma mudança completa
nas instituições” (pág.107). Agora o mundo das relações sociais se tornou
um sistema coerente, um universo homogêneo sem hierarquia, sem
diferenciação, sem personagem único no cume da organização social
(pág.101). Como diz Vernant: “ Sob a lei de isonomia, o mundo social
toma a forma de um cosmos circular e centrado em que cada cidadão, por
ser semelhante a todos os outros, terá que percorrer a totalidade do
circuito, ocupando e cedendo sucessivamente , segundo a ordem do
tempo, todas as posições simétricas que compõem o espaço cívico”
(pág.107).
92
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 6
Efervescência religiosa
↓
Nascimento do Direito
↓
Nova reflexão moral orientada por especulações políticas
↓
Novo ideal de areté
↓
Hybris X Sophrosyne = tema mais importante do séc. VI a.c.
↓
Nova fórmula de sabedoria : “nada em excesso”
↓
Sophrosyne é a nova ordem política
↓
Sólon X arrogância dos ricos
↓
Sólon = Dike + Sophrosyne na Ágora : laicização do pensamento moral
↓
Sophrosyne = luta de classes
↓
Esparta: Sophrosyne = comedimento, disciplina austera (agogé)
↓
Sophrosyne = métrion, pistis, homonóia, eunonia
↓
93
Sem isotes não há philia
↓
Relações de tipo racional X relações de Força
↓
Aristocracia X Democracia
↓
Vínculo contratual X Estatuto de submissão e domínio
↓
Isonomia = relação de 1/1
↓
Três “facções” lutavam pelo poder na Grécia antiga
↓
Pediakos: homens da planície, da cidade, em terras ricas
↓
Parálios: habitavam o litoral
↓
Diácros: homens da montanha
↓
Clístenes = fusão social, unificação do corpo social, organização
administrativa, isonomia.
94
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Se o direito foi fruto da efervescência religiosa ocorrida entre os séculos
VII e VI podemos igualmente afirmar que outro fator resultante disso foi
uma nova reflexão no plano moral, orientada por especulações políticas.
Na Grécia antiga as aspirações a uma vida livre de toda impureza levaram
certos agrupamentos religiosos a criar um clima de austeridade como
reação ao desenvolvimento do comércio e toda ostentação e luxo que a
acompanhavam. Assim surgiu uma nova areté que estaria agora
despojada de seu aspecto guerreiro e aristocrático. O ideal era a
Habrosyne, que mais tarde seria denominado com o nome de virtude. Na
percepção deles a falta de limites que acompanhava a obtenção de
riquezas era tomada como hybris, ou seja, descomedimento, e cuja
consequência era a injustiça. O ideal que contrabalançava a hybris do rico
tem o nome de sophrosyne, a temperança, proporção e justa medida.
“Nada em excesso”, era a fórmula da nova sabedoria e Vernant aponta
que este caráter de moderação deu à areté grega um caráter mais ou
menos “burguês”, o que correspondeu á uma classe média que irá
desempenhar um papel moderador nas cidades. Era preciso alcançar um
equilíbrio entre os extremos da realidade social: “a minoria dos ricos que
querem tudo conservar e a multidão das pessoas pobres que querem tudo
obter”. As leis então geraram um certo “racionalismo político” que foi um
esforço positivo para equilibrar as forças sociais antagônicas – bem
diferente do período anterior que nos afasta daquela imagem do Bom Rei
que, só ele, detinha o poder para julgar os homens. Nesta época a
desordem era considerada fruto da hybris dos homens que, com sua sede
insaciável de riqueza engendrava a escravidão do povo. Esta laicização dos
conceitos religioso e moral teve consequências políticas e com isso o
sentimento de concórdia e confiança dos cidadãos se consolidava na nova
ordem, reforçando a alma da cidade. Ás relações de força sobrepunha-se
agora as relações de tipo racional visando dar aos cidadãos um novo
sentido de igualdade e amizade (philia). Foi neste contexto que surgiu a
moeda e as consequências também forma notáveis e que acabaram por
conferir poder aos legisladores. Estes por sua vez acabaram se tornando
uma nova classe dominante. Estas duas grandes correntes que se opõem
no mundo grego, uma de inspiração aristocrática e outra de espírito
democrático passaram a reclamar a isotes, ou seja, a igualdade. Os
estatutos que seriam criados para se atingir o equilíbrio acabaram por um
95
tipo de relação social baseada em vínculos contratuais e não mais em
termos de domínio e submissão. Para os partidários da eunonia, a
conversão moral e psicológica da elite era fruto de se perceber a
mensagem da urgente necessidade de equidade nas relações sociais. Uma
nova paideia deu a eles a consciência de que a igualdade seria realizada
proporcionalmente ao mérito e não pela busca das riquezas. Mas o
avanço da democracia na Grécia foi mais longe e consolidou o conceito de
isonomia onde os elementos dissonantes seriam todos harmonizados
independentemente das diferenças sociais. Estas reformas foram
alcançadas por Clístenes. Embora houvesse lutas entre “facções” na
Grécia, Clístenes fundou a Polis numa base nova que unificou o corpo
social através da organização administrativa que formou um sistema
coerente, regulado por relações de correspondências numéricas que
permitiam aos cidadãos se sentirem idênticos uns aos outros. Não haveria
mais hierarquia na polis e a organização tribal foi abolida. As instituições
acabaram assim por se transformar completamente na era de Clístenes
com este ideal igualitário que exprimia o conceito de isonomia. A Polis
agora finalmente compunha um cosmos humano.
96
CAPÍTULO 7
COSMOGONIAS E MITOS DE SOBERANIA
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Teogonias
(pág.109)
Genealogia e filiação dos deuses. Conjunto de divindades de um povo politeísta.
http://www.dicio.com.br/teogonia/
Cosmogonias (pág.109)
Cosmogonia (do grego κοσμογονία; κόσμος "universo" e -γονία "nascimento") é o termo que
abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as religiões,
mitologias e ciências através da história.Tanto o vocábulo cosmologia como o vocábulo
cosmogonia partilham do mesmo radical grego cosmo, que significa mundo. Enquanto o sufixo
logos da cosmologia designa saber ou ciência, o sufixo gon da cosmogonia lhe dá o significado
de "Imaginar, produzir, gerar", discernindo daí que enquanto a cosmologia é a ciência que
estuda o universo, a cosmogonia é uma das diversas teorias ou explicações que determinada
religião ou cultura deu à origem do universo e seus principais fenômenos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmogonia
Cosmologias (pág.109)
Cosmologia
(do
grego
κοσμολογία,
κόσμος="cosmos"/"ordem"/"mundo"
λογία
="discurso"/"estudo") é o ramo da astronomia que estuda a origem, estrutura e evolução do
Universo a partir da aplicação de métodos científicos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmologia
Arché (pág.109)
Princípio elementar (O.P.G.pág.121, Vernant)
Phyein (pág.112)
Engendrar (O.P.G. pág. 112, Vernant)
Génesis (pág.112)
Origem (O.P.G. pág. 112, Vernant)
Ápeiron (pág.113)
O ilimitado (O.P.G. pág. 113, Vernant)
Gónimon (pág.113)
Semente ou germe (O.P.G. pág. 113, Vernant)
97
Gaia, Ouranós, Pontos, Okéanos, Tártaros (pág.116)
Potências primordiais. (O.P.G. pág. 116, Vernant)
Chaos (pág.117)
Caos (do grego Χάος,tranl. khaos) é, segundo Hesíodo, a primeira divindade a surgir no
universo, portanto o mais velho dos deuses. A natureza divina de Caos é de difícil
entendimento, devido às mudanças que a ideia de "caos" sofreu com o passar das épocas.
Inicialmente descrito como o ar que preenchia o espaço entre o Éter e a Terra, mais tarde passou
a ser visto como a mistura primordial dos elementos. Seu nome deriva do verbo grego χαίνω,
que significa "separar, ser amplo", significando o espaço vazio primordial.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caos_(mitologia)
Timai (pág.117)
Honras (O.P.G. pág. 117, Vernant)
Arché (pág.121)
(...)não pertence ao vocabulário político do mito (...) e foi Anaximandro quem pela primeira
vez conferiu o sentido filosófico de princípio elementar. (O.P.G. pág. 121, Vernant)
98
B. Esquematização.
1. O Advento da Filosofia na Grécia marcou o declínio do pensamento
mítico e a instituição de um saber racional. Os filósofos que fazem parte
deste momento são Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes. Estes
inauguraram um novo modo de reflexão. Para eles, nada existiria que não
fosse natureza, physis e, como não há senão uma só natureza, não haveria
senão uma só temporalidade.
2. Afirmaram que nada existia além da Physis e procuraram dar
explicações livres de toda a imaginária dramática das teogonias e
cosmogonias antigas.
3. O pensamento mítico esclarecia e carregava de sentido as experiências
cotidianas. Situava os problemas na sua "origem" sobrenatural (pág.110).
4. Os Jônios inverteram esta perspectiva assumindo que a realidade
atual, o mundo da cotidianidade, é que dava inteligibilidade ao mito, ao
pensamento original ( grifo meu ).
5. Isto foi uma revolução intelectual tão extraordinária e profunda que foi
considerada por J. Burnet uma verdadeiro "milagre grego".
J. Burnet = O mito foi substituído pelo Logos (milagre grego)
6. Já outro autor, F.M. Cornford se opôs a este argumento ponto por
ponto e acreditava que a construção mítica continuou sua atuação nas
primeiras filosofias e não criou nenhuma "ciência" pois esta ignorava tudo
sobre a experimentação. Também argumentou que a filosofia não era
produto de uma reflexão ingênua e espontânea da razão sobre a natureza.
Cornford: (A primeira filosofia) "Transpõe, sob uma forma laica e num
vocabulário mais abstrato, a concepção do mundo elaborada pela religião
" (pág.111).
Cornford = Mitos Cosmogônicos continuam nas Cosmologias e na primeira
filosofia (continuidade do pensamento mítico ).
7. Já para Vernant, que tem opinião diversa, acredita que não houve
milagre grego e não há propriamente uma continuidade entre o mito e a
filosofia (pág.114).
99
8. O homem grego, devido a uma série de causalidades históricas
(pág.110) passou a utilizar um vocabulário profano e a cultivar uma nova
atitude espiritual e intelectual onde a origem e a ordem do mundo
passaram a ser vistas como um problema explicitamente colocado,
objetivo e racional. As respostas às questões não deveriam mais ser dadas
ao nível do mistério. Seriam dadas ao nível da inteligência, onde o
conhecimento passaria agora a estar livre de toda preocupação de ordem
ritual (pág.114).
Vernant =
A. Nova atitude espiritual e intelectual;
B. Os problemas merecem respostas sem a aura de mistério
que eram carregadas no passado e colocados agora ao nível da
inteligência;
C. Conhecimento livre de toda preocupação de ordem ritual;
D. Dessacralização do saber.
E. Advento de um tipo de pensamento exterior à religião.
F. A instituição da Polis influenciou a filosofia e a tornaram
dependente dela integrando-a num quadro espacial e ordenado, um
modelo mais geométrico (pág.115).
G. Novas cosmologias, com pensamento moral e político
mais elaborado, concebendo o mundo como tendo uma ordem e uma lei
que, projetadas nos problemas dos cidadãos da Polis, produziram todo um
cosmo humano.
9. A necessidade de se conceber um mundo ordenado fizeram que as
teogonias e as cosmogonias, tanto quanto as cosmologias que a
sucederam se atrelavam a um mito básico: os mitos de soberania.
Teogonias + Cosmogonias + Cosmologias = Mitos de Soberania
Mitos de soberania = O poder divino que reina sobre todo o universo e os
relatos de suas lutas e seus triunfos sobre as forças rivais (pág.115).
10. A prova e a vitória dos reis tinham uma dupla significação: ao mesmo
tempo que confirmavam o poder da soberania do monarca, adquiriam o
valor de uma nova criação da ordem cósmica, social e das estações.
(pág.119)
100
11. Teogonia de Hesíodo e Cosmogonia de Ferecides ordenavam-se
segundo a mesma perspectiva: misturavam a filosofia ao mito (pág.120).
12. O mito atende às questões:
A. Quem é o deus soberano?
B. Quem conseguiu reinar sobre o universo?
O mito não se preocupava como um mundo ordenado surgiu do caos.
(pág.121)
Função do mito: Estabelecer uma distinção e como uma distância entre o
que é primeiro do ponto de vista temporal e o que é primeiro do ponto de
vista do poder; entre o princípio que está cronologicamente na origem do
mundo e o princípio que preside à sua ordenação atual.
13. O termo arché não pertence ao vocabulário político do mito e
Anaximandro usará pela primeira vez este termo no sentido filosófico que
fala da ordem cronológica da formação e origem das coisas que se
formam mas separada de qualquer conceito "monárquico" próprio do
mito. A ordem do mundo doravante não tem nenhum personagem que o
institui - a grande lei do universo já estava presente no momento original
(pág.122).
14. As Três definições das Teogonias gregas:
A. Universo é uma hierarquia de poderes análoga em sua
estrutura humana e constituída por relações de força, de escalas de
precedência, de autoridade, de dignidade, de vínculos de domínio e de
submissão;
B. A presença de um agente garantiu a ordem do universo
garantindo a sequencia dinâmica dos elementos envolvidos;
C. O poder excepcional desse agente único e privilegiado acima
até mesmo de outros deuses: a projeção de um soberano sob o cume do
edifício cósmico ( monarchia ) que mantém o equilíbrio entre as Potências
que constituem o universo, hierarquicamente.
Estes três traços dão à mitologia sua coerência, sua lógica própria e ligam
definitivamente a concepção grega de soberania às concepções orientais
de soberania.
101
15. O desmoronamento da realeza micênica apagou a lembrança da figura
do rei e suas façanhas míticas, organizadoras do mundo natural (pág.124).
16. As narrativas míticas passaram a estar destacadas do rito o que
permitiu estarem livres para adquirirem um caráter mais autônomo
prefigurando assim a obra dos filósofos (pág.124).
102
ANÁLISE TEMÁTICA
O saber do tipo racional surgiu na Grécia no séc. VI com o declínio do
pensamento mítico (pág.109). Tales de Mileto, Anaximandro e
Anaxímenes criaram um novo modo de pensamento em relação à
natureza, que agora tinha se tornado objeto de uma investigação
sistemática e desinteressada (pág. 109). A filosofia começava a ficar livre
de “toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas
“(pág.109). Nada existia mais fora da physis, da natureza. A
homogeneidade entre os homens, a divindade e o mundo, todos no
mesmo plano: aspectos de uma mesma physis (pág.109). Não houve
“começo” pois não há mudança: como há uma só natureza,
consequentemente é excluída toda a noção de sobrenatural, e uma só
temporalidade. A natureza estava agora despojada de seu mistério. Os
atos exemplares dos deuses explicavam a experiência cotidiana na sua
“origem” mas esta compreensão da realidade foi invertida em seus
termos pelos jônios (pág.110). “Já não é o original que ilumina e
transfigura o cotidiano; é o cotidiano que torna o original inteligível,
fornecendo modelos para compreender como o mundo se formou e
ordenou”, diz Vernant (pág.110). Revolução intelectual tão profunda que
levou J. Burnet a concebê-la como um milagre grego que escreveu: “ Seria
inteiramente falso procurar as origens da ciência jônica numa concepção
mítica qualquer. “(pág. 111). Contra esta tese, Vernant apresenta outro
autor, F.M. Cornford, para quem a origem da filosofia era na verdade
“mais uma construção mítica do que uma teoria científica” (pág.111). Por
não ter enveredado pelo caminho da experimentação, a ciência jônica
estava na verdade dando continuidade ao mito (pág.111).Transpôs , numa
forma laica, e em outro vocabulário mais abstrato, “ a concepção de
mundo elaborada pela religião.” (pág.111). “Entretanto, por mais
importante que seja esta diferença entre o físico e o teólogo, a
organização geral de se pensamento permanece a mesma.” (pág.112).
Depois da exposição minuciosa do pensamento de Cornford, Vernant
insere seu pensamento para levar a questão a um outro nível:
“Entretanto, apesar dessas analogias e dessas reminiscências, não há
realmente continuidade entre o mito e a filosofia. ” (pág. 114). Para
Vernant, houve uma mudança de registro, o uso de outro vocabulário,
mais profano, que corresponderam a uma nova atitude e a um clima
intelectual diferente (pág.114). Vernante é explícito em sua teoria: “Com
103
os milésios, pela primeira vez, a origem e a ordem do mundo tomam a
forma de um problema explicitamente colocado a que se deve dar uma
resposta sem mistério, ao nível da inteligência humana, susceptível de
ser exposta e debatida publicamente, diante do conjunto dos cidadãos,
como as outras questões da vida corrente. (pág.114). Vernant aponta
que não há incompreensibilidade nas questões relativas à uma
dessacralização do saber e o advento de uma pensamento exterior à razão
(pág.115). Vernant afirma que: “Em sua forma, a filosofia relaciona-se de
maneira direta com o universo espiritual que nos pareceu definir a
ordem da cidade e se caracteriza precisamente por uma laicização, uma
racionalização da vida social” (pág.115). Os milésimos passaram, através
da vida na cidade, a ordenar agora o universo segundo um modelo mais
geométrico (pág.115). Sofreram a influência e passaram a construir
cosmologias novas utilizando-se das noções que “o pensamento político e
moral tinham realizado”(pág.115) projetando as concepções de ordem e
lei que nas cidades tinham feito “do mundo humano um cosmo”
(pág.115). As teogonias e cosmogoniam eram sobretudo “mitos de
soberania” e exaltavam o poder de um deus que reinava sobre todo o
universo. Isto ocorreu também nos mitos babilônicos que influenciaram os
mitos gregos (pág. 118). A filosofia oriental forneceu modelos para a
elaboração das teogonias gregas (pág.118). Temas recorrentes sobre a
gênese e as gerações sucessivas dos deuses, estabelecimento de uma
soberania e o estabelecimento da ordem (pág.118). Como nos diz
Vernant: “ A prova e a vitória reais tinham uma dupla significação: ao
mesmo tempo que confirmavam o poder da soberania do monarca,
adquiriam o valor de uma nova criação da ordem cósmica, social e das
estações.” (pág.119) E ainda explicita a influência dos mitos de soberania
na nascente filosofia: “ O problema da gênese, no sentido estrito, fica,
pois, nas teogonias, se não inteiramente implícito, pelo menos em
segundo plano. O mito não se interroga sobre como um mundo
ordenado surgiu do caos; responde à questão: Quem é o deus soberano?
Quem conseguiu reinar sobre o universo? Neste sentido, a função do
mito é estabelecer uma distinção e como uma distância entre o que é
primeiro do ponto de vista temporal e o que é primeiro do ponto de
vista do poder; entre o princípio que está cronologicamente na origem
do mundo e o princípio que preside à sua ordenação atual.” (pág.121).
Em seguida Vernant define um quadro geral onde as teogonias gregas
esboçaram uma imagem do mundo e mostra como a Grécia teve uma
ligação com o Oriente na sua explicação dos mitos como sendo “mitos de
soberania” (pág. 121 e 122) e a própria concepção de soberania que esta
104
carregava. Com a destruição do mundo micênico, do sistema palaciano e o
desaparecimento do ánax, “apagou-se a lembrança do rei que
periodicamente voltava a criar a ordem do mundo; ” (pág.124). Com o
fim do culto ao rei, “ a narrativa pôde adquirir um caráter mais
desinteressado mais autônomo. Pôde, em certos aspectos, preparar e
prefigurara a obra do filósofo “ (pág.124).
105
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 7
Advento da filosofia =declínio do mito e pensamento racional
↓
Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes
↓
Nada existe além da physis
↓
J. Burnet = O mito foi substituído pelo Logos (milagre grego)
↓
F.M. Cornford opõe-se a este argumento ponto por ponto
↓
Cornford= Mitos Cosmogônicos continuam nas Cosmologias e na primeira
filosofia (continuidade do pensamento mítico).
↓
Cornford= laicização e continuidade do mito na filosofia
↓
Vernant =
A. Nova atitude espiritual e intelectual;
B. Os problemas merecem respostas sem a aura de mistério
que eram carregadas no passado e colocadas agora ao nível da
inteligência;
C. Conhecimento livre de toda preocupação de ordem ritual;
D. Dessacralização do saber.
E. Advento de um tipo de pensamento exterior à religião.
106
F. A instituição da Polis influenciou a filosofia e a tornou
dependente dela, integrando-a num quadro espacial e ordenado, um
modelo mais geométrico.
G. Novas cosmologias, com um pensamento moral e
político mais elaborado, concebendo o mundo como tendo uma ordem e
uma lei que, projetadas nos problemas dos cidadãos da Polis, produziram
todo um cosmo humano.
↓
Teogonias + Cosmogonias + Cosmologias = Mitos de Soberania
↓
Superação dos mitos de soberania através de uma filosofia que nasceu das
relações sociais e políticas na polis.
107
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Será neste capítulo que Vernant colocará as teses contrárias a respeito da
origem da filosofia. Para mostrar como o advento da filosofia na Grécia
marcou o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber do tipo
racional, ele começará por fixar o lugar e a data de nascimento como
sendo na Mileto Jônica, no princípio do século VI, com Tales, Anaximandro
e Anaxímenes. As explicações e teorias estavam livres das teogonias e
cosmologias antigas. Só existia de agora em diante a physis, a natureza.
Homens e deuses passaram a ser concebidos como aspectos de uma
mesma physis, uma mesma potência de vida. Essa noção de physis, de
uma só natureza, excluía a própria noção de sobrenatural. A experiência
cotidiana é que explicaria a origem das coisas e não o inverso: para o
pensamento mítico, a experiência cotidiana era explicada pela ação dos
deuses na "origem". Essa inversão é chamada por Vernant de revolução
intelectual e a profundidade dessa mudança tão súbita foi considerada por
outro autor, J. Burnet, como sendo um milagre grego. Para este autor, a
razão grega não tem nenhuma relação com o mito. Antes de Vernant
atacar este pensamento ele introduz outro autor, que tem uma tese
oposta a do milagre grego. Para F.M. Cornford, o início do pensamento
filosófico era mais uma continuação do pensamento mítico do que
propriamente um pensamento científico principalmente pelo fato desta
primeira filosofia não ter se dirigido à experimentação. Ela transpunha sob
uma forma laica um pensamento que na verdade era devedor de uma
concepção religiosa da realidade. Os mitos cosmogônicos foram
simplesmente apresentados de uma forma mais abstrata. A organização
geral dessa primeira filosofia não distingue o físico do teólogo. Vernant
expõe todo o pensamento de Cornford ao ponto de quase acharmos
impossível que ele não concorde com esta tese. Mas, após expor a tese de
Cornford, Vernant inicia outro parágrafo onde ele mesmo explicitará sua
própria idéia sobre as origens do pensamento grego: "Entretanto, apesar
dessas analogias e dessas reminiscências, não há realmente
continuidade entre o mito e a filosofia". Para Vernant, o uso de um
vocabulário profano, uma nova atitude de espírito, um novo clima
espiritual, as respostas dadas sem mistério aos problemas explicitamente
colocados, sempre ao nível da inteligência e diante de todos, são a nova
atitude que os cidadãos da polis assumem, totalmente livres das
preocupações de ordem ritual. Vernant nos ensina que a dessacralização
108
do saber e o advento de um pensamento não religioso não são assuntos
incompreensíveis. "Em sua forma, a filosofia relaciona-se de maneira
direta com o universo espiritual que nos pareceu definir a ordem da
cidade e se caracteriza precisamente por uma laicização, uma
racionalização da vida social". Assim, Vernant expõe sua hipótese de que
a filosofia nasceu em função da vida das pessoas num ambiente muito
especial, a cidade grega. A cidade grega procurou transportar os conceitos
religiosos para uma forma mais laica, de uso prático, em regras e leis de
conduta para dirigir a vida dos cidadãos. Os conceitos das primeiras
filosofias, que se referiam a uma cosmologia de modelo geométrico, ou
seja, de equilíbrio e ordenação das forças da natureza, geraram novas
concepções da ordem e da lei que, nas cidades, criaram um verdadeiro
cosmo humano. Vernant logo em seguida trata de expor as suas críticas à
tese do milagre grego, tese de Burnet, analisando o significado do mito.
Para ele os mitos eram "relatos de gêneses que expõem a emergência
progressiva de um mundo ordenado" ou seja, "mitos de soberania". Para
Vernant, os mitos sempre falaram das lutas dos deuses para conquistar
suas vitórias sobre as forças do caos e a criação do mundo. O mundo da
indistinção e da desordem havia sido combatido pelos deuses e criado o
universo conhecido. Isso se assemelha em muito aos antigos mitos
babilônicos e Vernant aceita de Cornford esta hipótese de "empréstimo"
dos mitos de criação vindos do oriente: houve mesmo a comprovação
arqueológica das semelhanças entre as teogonias gregas e as teogonias
babilônicas. "O problema das influências orientais sobre os mitos gregos
de gênese, o de sua extensão e seus limites, o das vias e da data de sua
penetração encontram-se assim colocados de maneira precisa e sólida".
Essa concepção das relações de soberania e da ordem através da figura de
um rei exprime-se no rito e no mito babilônicos. Para Vernant a função do
mito é estabelecer a diferença do que é fundamental do ponto de vista
sobre-humano do que é fundamental do ponto de vista do poder. O mito
descreve a "origem do mundo" e os princípios que regem o mundo atual.
Esses princípios são as lutas que os deuses empreenderam no passado e
cuja consequência os humanos vivenciam no tempo presente. Esse
aspecto de luta tem ressonâncias de uma soberania conquistada através
de feitos heroicos ancestrais o que conferiu ao mito um vocabulário
"monárquico". Os físicos não concebem a natureza como instituída, num
momento dado mas sim, como sendo eterna e imutável, sempre igual ao
elemento original de que o mundo surgiu pouco a pouco. Essa concepção
de soberania coloca o mundo na dependência dos deuses o que levou os
homens a endeusar a figura do rei. Ora, justamente esse personagem,
109
desapareceu após o desmoronamento da realeza micênica, quando o
sistema palaciano e o personagem do ánax desapareceram. O fracasso da
soberania e a limitação do poder real ressoou nas narrativas posteriores
que passaram a adquirir um caráter mais desinteressado e autônomo.
"Pôde, em certos aspectos, preparar e prefigurar a obra do filósofo".
Então, para Vernant, os mitos na Grécia antiga, apesar de sua poderosa
influência na mentalidade religiosa do povo grego, foram perdendo a
força quando nasceram as cidades, onde não havia um soberano e sim
uma assembleia democrática de cidadãos iguais. Como os problemas da
polis exigiam novas leis, o quadro mítico, carregado de conceitos de
soberania passou a não ser usado para a confecção das leis pré-jurídicas
de que se serviriam os cidadãos da polis no ambiente democrático.
110
CAPÍTULO 8
A NOVA IMAGEM DO MUNDO
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Milésios (pág.129)
A definição mais conhecida dada aos Milésios foi criada por um dos filósofos mais influentes da
Grécia Antiga, Aristóteles. No início de sua obra, “Metafísica”, o pensador estagirita cita-os
como “os filósofos primeiros”, pois não recorriam aos mitos para explicar os fenômenos, mas
enfrentavam tais questões utilizando a razão. Assim, Aristóteles indicou que a filosofia inicia-se
quando se troca explicações míticas por explicações racionais, recusando a utilização do
fantástico e do provável. Entre os filósofos Milésios, podemos citar Tales, Anaxímenes e
Anaximandro todos contribuíram de forma efetiva para a formação de uma nova maneira de
pensar a filosofia. A escola filosófica de Mileto (atualmente um cidade da Turquia), formou-se
devido a acontecimentos na Ásia Menor. Tais episódios ocorreram entre os séculos VI e IV a.
C. pois Mileto ficava bem localizada e se desenvolvia nos campos da tecnologia e economia.
Apesar disso, a região acabou sendo ocupada pelos persas e foi destruída, findando a escola de
Mileto. http://www.infoescola.com/filosofia/milesios/
Doxografia (pág.129)
Doxografia deriva da palavra grega "δόξα" (doxa), que significa aparecer; opinião + "γραφία"
(grafia); escrita; descrição. Doxografia é o relato das ideias de um autor quando interpretadas
por outro autor, ao contrário do fragmento, que é a citação literal das palavras de um autor por
outro. O termo foi cunhado pelo helenista alemão Hermann Diels, em sua obra Doxographi
Graeci (Berlim em 1879). http://pt.wikipedia.org/wiki/Doxografia
Arché (pág.129)
Campos de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar(O.P.G. pág. 54, Vernant)
Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar
presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento
e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9
Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de
uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant)
Pínax (pág.130)
O desenho da Terra num plano inteiro (O.P.G. pág. 130, Vernant)
Kratos (pág.132)
O poder de domínio sobre outra pessoa (O.P.G. pág. 132, Vernant)
111
Ápeiron (pág.133)
Ápeiron (ἄπειρον) é uma palavra grego que significa ilimitado, infinito ou indefinido que advém
de ἀ- a-, "sem" e πεῖραρ peirar, "fim, limite", forma do Grego jónico de πέρας peras, "fim,
limite, fronteira". O ápeiron é central na teoria cosmológica criada por Anaximandro, no século
VI a.C. A obra de Anaximandro foi praticamente toda perdida. Dos fragmentos existentes,
aprendemos que ele acreditava que a realidade última, a arché, é eterna e infinita, ou sem
fronteiras (ápeiron), não sujeito a idade ou desintegração, e de onde provém sempre novo
material do qual tudo o que percebemos é derivado. O ápeiron gerou os opostos, quente-frio,
seco-molhado, etc, que actuaram na criação do mundo. Tudo é gerado a partir do ápeiron e
então é aí destruído conforme a necessidade. Anaximandro também acreditava que infinitos
mundos são criados do ápeiron e aí destruídos posteriormente. As duas ideias foram
influenciadas pela tradição da mitologia grega e pelo seu antecessor Tales de Mileto.
Anaximandro, tentando descobrir algum princípio universal assumiu, como a religião
tradicional, que haveria uma ordem cósmica e tentou explicar isso de maneira racional, usando
linguagem mitológica antiga que admitia controlo divino das várias esferas da realidade. Essa
linguagem era mais apropriada para uma sociedade que se habituara a ver deuses em tudo à sua
volta, assim as primeiras leis da natureza eram elas próprias derivadas das leis divinas. A
palavra nomos (lei) teria inicialmente significado lei natural e posteriormente para referir leis
feitas pelos seres humanos, e assim os gregos acreditavam que os princípios universais também
poderiam ser aplicados às sociedades humanas. A filosofia grega entrou num nível mais alto de
abstracção, adoptando o ápeiron como origem de todas as coisas, por seria algo indefinido. Isto
é uma transição adicional a partir do modo de pensamento anterior, fundamentalmente
mitológico, para um novo modo de pensamento racional, principal característica do período
grego arcaico, entre os séculos VIII e VI a.C. Este modo de pensamento foi resultado de novas
condições políticas das cidades-estado gregas durante o século VI a.C.
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81peiron
Dynámeis (pág.134)
O poder dos deuses
, δυνxμεi, 'dynámeis'
http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=18134789
Isotes (pág.134)
Igualdade (O.P.G. pág.97, Vernant), equidade (O.P.G. pág.101,Vernant)
Tisis (pág.134)
Reparação (O.P.G. pág.134, Vernant)
Dike (pág.134)
A justiça (O.P.G. pág.134, Vernant)
Divindade grega que representa a Justiça, também conhecida como Dice, ou ainda, Astreia.
Filha de Zeus e Têmis ela não usa vendas para julgar. De acordo com Ferraz Júnior (2003, p.
32-33) os gregos colocavam a balança, com os dois pratos, na mão esquerda da deusa Diké, mas
sem o fiel no meio, e em sua mão direita estava uma espada e estando de pé com os olhos bem
abertos declarava existir o justo quando os pratos estavam em equilíbrio, ísion, origem da
palavra isonomia, que para a língua vulgar dos gregos, o justo (o direito) significa o que era
visto como igual.
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/bibliotecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica/anexo/di
ke.pdf
112
Adikia (pág.134)
Na mitologia grega, Adikia era uma daemon ou espírito da injustiça, filha de Nix (a noite), por
si mesma ou unida a Érebo (as trevas), ou ainda filha de Éris (a discórdia), por si mesma sem
um pai. Deusa da injustiça era companheira inseparável de Disnomia (a desordem) e de outros
males
da
humanidade,
seu
oposto
era
Diké
a
deusa
da
justiça.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adikia
Hestia koiné (pág.136)
Espaço público que ficava no Ágora, em que eram debatidos os problemas de interesse geral
(O.P.G. pág 51, Vernant)
Lar público (O.P.G.pág.136, Vernant)
Hósia
(pág.136)
Assuntos profanos da cidade (O.P.G.pág.136, Vernant)
Hierá (pág.136)
Interesses sagrados que concernem aos deuses. (O.P.G. pág.136, Vernant)
Homoiotes (pág.136)
Similitude (O.P.G.pág.136, Vernant)
Isorropia
(pág.136)
Equilíbrio (O.P.G.pág.136, Vernant)
Dikaiosyne (pág.139)
Dikaiosyné = justiça http://www.sophia.bem-vindo.net/tiki-index.php?page=dikaiosyne
Sophrosyne (pág.139)
Sofrósina (do grego σωφροσύνη, translit. sóphrosúné ou sophrosyne: estado de espírito são;
prudência; bom senso') é um conceito grego que significa sanidade moral, autocontrole e
moderação, guiados pelo verdadeiro autoconhecimento. Mais tarde o conceito foi ampliado
para incluir a noção de prudência, e era associado à doutrina apolínea do "nada em excesso" e
do "conhece-te a ti mesmo". http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofr%C3%B3sina
(..) um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina
comum, o sangue frio necessário para refrear os impulsos instintivos que correriam o risco de
perturbar a ordem geral da formação (guerreira). (O.P.G. pág. 67, Vernant )
113
B. Esquematização.
1. Anaximandro foi o filósofo que promoveu uma verdadeira revolução
intelectual.
2. O restabelecimento dos contatos com o Oriente foi de importância
decisiva para o desenvolvimento de uma ciência grega.
3. A nova ordem da natureza se baseava na igualdade e simetria do
diversos poderes constituintes da natureza.
4. Em Anaximandro, esta ordem não é mais hierárquica e sim, constituída
na manutenção de um equilíbrio entre potências doravante iguais, sem o
domínio de nenhuma força ou domínio de uma sobre as outras.
5. Este novo modelo cosmológico não forneceu somente o modelo de
uma lei e de uma ordem igualitárias que substituiria o poder de um
monarca. A instituição da cidade, o espaço público agora seriam
ordenados seguindo uma direção de racionalizar o mundo humano.
6. Os indivíduos e grupos agora dispunham da primazia do espaço central
da cidade, a Ágora, o que promoveu o tratamento de todos como iguais.
7. A concepção do espaço físico, simetricamente organizado em torno de
um centro, reproduziu certas representações de uma ordem social
(pág.137).
8. Esta idéia de espaço central, esta organização espacial que elimina as
diferenças entre os indivíduos da polis foram uma ressonância da
produção dos valores políticos, geométricos e físicos do centro. As
estruturas do cosmos natural corresponderam a uma organização do
cosmos social.
114
ANÁLISE TEMÁTICA
A obra de Anaximandro permite que vejamos a amplitude de revolução
intelectual realizada pelos milésios (pág.129). O termo arché foi
introduzido por ele e expressou o novo esquema cosmológico que
começou a fazer parte da concepção grega do universo. Apesar de
permanecer um esquema genético, a formação de uma ordem no
universo se encontrava agora projetada num quadro espacial (pág.129).
Isso expressa também a dívida dos milésios para com a astronomia
babilônica, que ocorreu após o restabelecimento dos contatos com o
oriente. Assim a astronomia grega, mais livre de uma “religião astral”
(pág.130), colocou-se diferentemente da ciência babilônica. Os jônios
seguiram esquemas geométricos e construíram modelos mecânicos do
universo. “Essa geometrização do universo físico acarreta uma
transformação geral das perspectivas cosmológicas; consagra o advento
de uma forma de pensamento e de um sistema de explicação sem
analogia no mito.” (pág.130). No esquema geométrico o cosmo possui um
tipo de organização oposta àquela do mito: já não há pontos privilegiados
ou em posição dominante uns em relação aos outros (pág.131). “Se a
Terra está situada no entro de um universo, perfeitamente circular, pode
permanecer imóvel em razão de sua igualdade de distância, sem estar
submetida à dominação de qualquer coisa que seja...”(pág.132). Vernant
cita um estudo recente de Charles H. Kahn onde este autor vê a simetria
dos diversos poderes constituintes do cosmo que caracterizam a nova
concepção de ordem da natureza: leis de equilíbrio e constante
reciprocidade (pág.132). Assim, na perspectiva de Anaximandro, ...” a
ordem não é mais hierárquica; consiste na manutenção de um equilíbrio
entre potências doravante iguais, sem que nenhuma delas deva obter
sobre as outras um domínio definitivo que ocasionaria a ruína do
cosmos” (pág.133). Este equilíbrio não é estático mas é feito de conflitos e
encobre oposições (pág.133). Esta dynámeis oposta e incessantemente
em conflito leva à necessidade de submissão do mundo a uma regra de
justiça compensatória (pág.134), a dike, que cria uma nova imagem do
mundo que se tornará lugar comum entre os filósofos pré-socráticos
(pág.134). O regime da cidade forneceu ao pensamento cosmológico o
modelo de uma lei e de uma ordem igualitárias e também uma concepção
nova do espaço ao se encarnarem nas instituições da Polis (pág.135). “O
novo espaço social está centrado.” (pág.135). É a valorização do centro
115
que predomina e todos os cidadãos agora ocupam posições simétricas em
relação a este espaço, igualdade, a isoi. “Que este novo quadro espacial
tenha favorecido a orientação geométrica que caracteriza a astronomia
grega; que haja uma profunda analogia de estrutura, entre o espaço
institucional no qual se exprime o cosmos humano e o espaço físico no
qual os milésimos projetam o cosmos natural, é o que sugere a
comparação de certos textos.” (pág.136). Em vez da dominação, a
centralidade, a similaridade (pág.137) que refletirá nas representações de
ordem social. Todas essas correspondências entre a estrutura do cosmos
natural e a organização do cosmos social mostram-se ainda conscientes no
trabalho de Platão no séc. IV: mostra a correspondência entre o
pensamento geométrico (racional) e o pensamento político (pág.139).
116
ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 8
Revolução intelectual.
↓
Nova concepção grega do universo.
↓
Dívida dos gregos para com a astronomia babilônica.
↓
Diferenças de concepção da astronomia grega e babilônica no que tange
seu caráter profano, livre da religião astral.
↓
Provoca o advento de uma forma de pensamento e de um sistema de
explicação sem analogia no mito.
↓
A Terra situada no centro de um universo permanece imóvel em razão de
sua igualdade de distância, sem estar submetida a qualquer coisa que
seja.
↓
Transposição desse conceito para a vida social e política.
↓
Equilíbrio dinâmico que cria o conceito de justiça (dike).
↓
Justiça compensatória (dike).
↓
117
Experiência social forneceu ao pensamento cosmológico seu modelo.
↓
Regime da cidade forneceu uma concepção nova de espaço.
↓
Novo espaço social centrado favoreceu a isonomia política.
↓
Correspondência entre a estrutura do cosmos natural e a organização do
cosmos social (Platão).
118
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Neste capítulo será apresentada toda a amplitude da revolução intelectual
realizada pelos primeiros filósofos. Vernant aponta para a importância da
obra de Anaximandro que, além de ter introduzido o importante termo
arché, é neste autor que se encontra o novo esquema cosmológico que
traduz a "profunda e durável" concepção grega do universo. A ordem do
universo agora estava projetada num quadro espacial. Vernant chama a
atenção para sublinhar a importância que a astronomia babilônica teve
para contribuir com a filosofia grega. O restabelecimento dos contatos
com o oriente foi o que decisivamente desenvolveu a ciência grega que
num primeiro momento destaca-se da astronomia babilônica ao assumir
um caráter mais profano, livre dos conceitos religiosos que a
acompanhava. É no espaço que os jônios viam a ordem do cosmos onde o
equilíbrio, as distâncias passaram a ter um caráter geométrico. Este
esquema gerou "uma forma de pensamento e um sistema de explicação
sem analogia do mito". O equilíbrio dos planetas e seus movimentos, a
percepção de que o cosmos se constituía num espaço matemático tirou
do mito a sua importância de caráter explicativo. Esta organização espacial
foi desde cedo considerada oposta à explicação da realidade física pelo
mito. Descobriu-se que não havia "nenhum elemento ou porção do
mundo privilegiado em detrimento de outros", nenhuma posição
dominante. Estes conceitos já apontavam para uma mudança psicológica
em relação aos mitos de soberania e explicam o seu declínio futuro pois
"mostra a persistência de um vocabulário e de conceitos políticos no
pensamento cosmológico dos jônios". A supremacia passou a ser vista
não como um direito divino mas sim pertencente "exclusivamente a uma
lei de equilíbrio e constante reciprocidade. À monarchia um regime de
isonomia se substitui, na natureza como na cidade. " A ordem não é mais
considerada hierárquica. Sem ser de maneira nenhuma estática, é feita de
conflitos. A experiência social influenciou muito a nova imagem do
mundo. O regime das cidades forneceu uma concepção nova do espaço e,
na Polis, se tornou espaço político. "O novo espaço social está centrado
(...) É este centro que é agora valorizado (...) A ágora (...) forma o centro
de uma espaço público e comum". Esta ausência de ideias de dominação
é que favoreceu o nascimento de uma filosofia totalmente desvinculada
do mito. Vernant trabalha com estas correspondências entre a estrutura
do cosmos natural e a organização do cosmos social para comprovar sua
tese da mutação intelectual do povo grego em função da organização
social nas cidades gregas.
119
120
CONCLUSÃO
ANÁLISE TEXTUAL
A. Vocabulário, conceitos e termos.
Phrónesis (pág.142)
A reflexão intelectual (O.P.G. pág. 142, Vernant)
B. Esquematização.
1. O advento da Polis está associado ao nascimento da filosofia e este
nascimento não se constituiu em nenhum tipo de "milagre grego" e nem a
uma continuidade entre mito e filosofia. Nas suas origens, a filosofia
esteve associada às estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega,
da Polis grega.
2. A razão grega era direcionada aos homens, ao ser humano e não à
razão experimental como é a da ciência contemporânea.
3. A razão é uma construção essencialmente política e é nesse plano que
ela surgiu na Grécia.
4. O declínio do mito data do dia em que os primeiros sábios puseram em
discussão a ordem humana, nas relações dos homens entre si.
5. A razão grega nasceu para modificar os homens e não a natureza. Ela é
filha da cidade.
121
ANÁLISE TEMÁTICA
Os dois fenômenos, o advento da Polis e o nascimento da filosofia têm
um vínculo demasiadamente estreito e pertencem a um pensamento
racional ligado ás estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega
(pág.141). Através da pesquisa histórica se pôde recolocar a filosofia sem
as atribuições de caráter de revelação absoluta ou de milagre grego. A
razão foi construída pela escola de Mileto e se constituiu numa primeira
forma de racionalidade (pág.141). Não se parece em nada com a razão
experimental contemporânea. Aristóteles definiu o homem como animal
político e isso define o que separa a Razão grega da de hoje (pág.141). A
essência da razão é política. Foi no plano político que a Razão
primeiramente surgiu e formou-se (pág.142). O debate público gerou
uma reflexão positiva na experiência social entre os gregos (pág.142). O
pensamento político trata da ordem humana e é externo aos motivos de
ordem religiosa que marcou profundamente a mentalidade do homem
antigo onde se definiu a vida pública como “o coroamento da atividade
humana” (pág.142). Para os gregos todos os homens da polis eram
cidadãos e isso orientou os processos de seu espirito em outros domínios
(pág.142). Filosofia está enraizada no pensamento político mas logo
seguiu seu próprio caminho que propriamente lhe pertence. Ao invés de
se perguntar sobre o que era a ordem, passou a se perguntar qual era a
natureza do Ser e do Saber e quais eram suas relações. “Os gregos
acrescentaram assim uma nova dimensão à história do pensamento
humano” (pág.143). Criou uma linguagem, elaborou conceitos, edificou
uma lógica e construiu sua própria racionalidade (pág.143). A noção de
experimentação foi estranha aos gregos antigos. Utilizou uma matemática
que não servia para a exploração da natureza. Para o pensamento grego
antigo o mundo social estava sujeito ao número e à medida. “A razão
grega não se formou tanto no comércio humano com as coisas quanto
nas relações dos homens entre si.” (pág.143). A razão grega permitiu agir
sobre os homens e não transformar a natureza. A Filosofia é filha da
cidade.
122
ORGANOGRAMA DA CONCLUSÃO
Advento da Polis = nascimento da filosofia.
↓
Razão grega não tem caráter de revelação absoluta.
↓
Filosofia não pode ser chamada de “milagre grego”.
↓
Razão grega não surgiu repentinamente: ela foi construída historicamente
juntamente com as cidades.
↓
Razão é essencialmente política.
↓
Foi no plano político que a razão primeiramente se exprimiu na Grécia.
↓
Discussão da ordem humana nas cidades = declínio do mito.
↓
Pensamento político ≠ religião.
↓
Razão grega surgiu das relações dos homens entre si na Polis.
↓
Razão grega foi "construída" nas cidades.
123
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Chegamos à conclusão do livro do Vernant e ficamos convencidos das
duas ordens de fenômenos, o advento da polis e o nascimento da filosofia,
cujo vínculo agora ficou bem claro. Ainda cabe mais uma crítica à tese de
milagre grego onde Vernant nos fala "...a filosofia despoja-se desse
caráter de revelação absoluta que às vezes lhe foi atribuído..." A
construção da razão grega não tem o mesmo sentido da razão
experimental da ciência contemporânea pois esta é orientada para o
mundo físico. A razão grega estava orientada para os homens, o "animal
político" e Vernant afirmou que " a própria Razão, em sua essência, é
política". Aprendemos a importância de se entender o plano de fundo
político daquela época para poder entender a formação do pensamento
grego. A discussão empreendida pelos primeiros Sábios a respeito da
ordem humana criou o pensamento propriamente político, que não devia
mais seus fundamentos ao mito e consequentemente à religião. "Este
pensamento marcou profundamente a mentalidade do homem antigo;
caracteriza uma civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva,
de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana".
Na Grécia antiga os conceitos de cidadania caracterizavam a verdadeira
compreensão de homem livre. O enraizamento da filosofia neste
pensamento político percorreu um longo caminho e se afirmou bem
depressa com independência e marcou a história do pensamento
humano. Ela foi fruto da observação das relações humanas e deveu à polis
o seu nascimento.
124