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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA RENATO ALVES CORREA Análise textual, temática e interpretativa do livro "As Origens do Pensamento Grego"de Jean-Pierre Vernant Orientação: Professor Washington Luis Souza SÃO BERNARDO DO CAMPO 2012 Índice BIOGRAFIA .........................................................................................................7 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 ANÁLISE TEXTUAL.....................................................................................................................9 A. Vocabulário, conceitos e termos. .....................................................................................9 B. Esquematização. ............................................................................................................13 ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................15 B. Organograma da Introdução ..........................................................................................16 ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................17 CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 19 ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................19 A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................19 B. Esquematização. ............................................................................................................22 ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................24 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 1 ......................................................................................25 ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................26 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 27 ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................27 A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................27 B. Esquematização. ............................................................................................................30 ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................33 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 2 ......................................................................................35 ANÁLISE INTERPRETATIVA......................................................................................................36 CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 37 ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................37 A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................37 B. Esquematização. ............................................................................................................43 ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................46 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 3 ......................................................................................47 ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................48 CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 49 ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................49 A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................49 B. Esquematização. ............................................................................................................58 ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................62 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 4 ......................................................................................64 ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................66 CAPÍTULO 5 ............................................................................................................. 69 ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................69 A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................69 B. Esquematização. ............................................................................................................73 ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................75 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 5 ......................................................................................77 ANÁLISE INTERPRETATIVA......................................................................................................78 CAPÍTULO 6 ............................................................................................................. 81 ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................81 A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................81 B. Esquematização. ............................................................................................................88 ANÁLISE TEMÁTICA ................................................................................................................91 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 6 ......................................................................................93 ANÁLISE INTERPRETATIVA ......................................................................................................95 CAPÍTULO 7 ............................................................................................................. 97 ANÁLISE TEXTUAL...................................................................................................................97 A. Vocabulário, conceitos e termos. ...................................................................................97 B. Esquematização. ............................................................................................................99 ANÁLISE TEMÁTICA ..............................................................................................................103 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 7 ....................................................................................106 ANÁLISE INTERPRETATIVA ....................................................................................................108 CAPÍTULO 8 ........................................................................................................... 111 ANÁLISE TEXTUAL.................................................................................................................111 A. Vocabulário, conceitos e termos. .................................................................................111 B. Esquematização. ..........................................................................................................114 ANÁLISE TEMÁTICA ..............................................................................................................115 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 8 ....................................................................................117 ANÁLISE INTERPRETATIVA ....................................................................................................119 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 121 ANÁLISE TEXTUAL.................................................................................................................121 A. Vocabulário, conceitos e termos. .................................................................................121 B. Esquematização. ..........................................................................................................121 ANÁLISE TEMÁTICA ..............................................................................................................122 ORGANOGRAMA DA CONCLUSÃO ...................................................................................123 ANÁLISE INTERPRETATIVA ....................................................................................................124 Jean Pierre Vernant Biografia Jean Pierre Vernant, nascido em Provins, 4 de janeiro de 1914 e falecido em Sèvres, 9 de janeiro de 2007, foi um historiador e antropólogo francês cuja especialidade era a Grécia Antiga e a mitologia grega. Destacado historiador da Antiguidade, Vernant carrega a justa fama de ter colocado os estudos helênicos em outro nível. Ao lado de uma geração de estudiosos importantes, seu trabalho fundamentava-se na psicologia, na sociologia e na antropologia e alterou a forma de pensar a história antiga de uma forma geral, analisando o conjunto, ou seja, o político se relacionava com o religioso, e assim por diante. Aproximou-se muito do estruturalismo, da própria história cultural, a antropologia e a semiótica. Saberes que juntos fizeram da sua escrita um espaço para ações de interpretação e leituras dos mitos gregos. Entrou para a política muito cedo e fez parte de uma organização revolucionária ateia com sede em Moscou. Entrou para o Partido Comunista Francês (PCF) em 1932 e lá permaneceu até 1970. Crítico feroz do Partido, apesar disso sempre manteve uma atitude de apoio. As perturbadas relações do PCF com o stalinismo criaram recorrentes atritos de Vernant com a direção do Partido. Com a Guerra da Argélia, essa relação se tornará ainda mais tensa, resultando na ruptura de Vernant com o PCF. Os jovens intelectuais de 1968 vivenciaram a radicalização crescente dos movimentos políticos que promoveram profundas divisões na sociedade francesa. O PCF não apoiou o movimento de independência das colônias francesas na África e esse fato esse que fez com que Vernant se desligasse do Partido. Sua primeira obra importante, As Origens do Pensamento Grego, publicada em 1962, foi lida por muitos como uma recusa das teses dos defensores do "milagre grego", mas também poderia ser lida como um duro ataque à política do Partido Comunista Francês e uma erudita defesa de uma política da verdade. Nessa obra Vernant procurou apresentar as raízes políticas da racionalidade grega. A laicização do pensamento político, realizado na passagem do século VIII antes de cristo ao século VII a.c. asseguraria, para Vernant, o advento da própria filosofia e o aparecimento da polis foi o acontecimento decisivo para tal. Na polis grega a política e o logos passaram a vincular-se estreitamente. A palavra assumiu uma posição de preeminência sobre todos os demais instrumentos de poder, enquanto a razão se expressou primeiramente na política. Com Aristóteles uma lógica do verdadeiro, própria da teoria, foi contraposta a uma lógica do verossímil. É o caráter público dessa política e desse logos, que permite a todos controlar seus objetivos e resultados. A polis fez uma distinção entre um domínio público de um domínio privado, e estabeleceu práticas abertas ao público do que antes era exclusividade de uns poucos privilegiados. E era justamente a estes poucos integrantes do PCF que Vernant dirigia suas críticas. A submissão do PCF ás regras do jogo da democracia liberal e à política externa da União Soviética tornava sua prática política incapaz de encarar as possibilidades de mudanças sobre as quais os intelectuais dissidentes procuravam chamar a atenção. 7 Durante a segunda guerra mundial Vernant foi membro da resistência francesa e após o término do conflito voltou a lecionar aulas de filosofia no sistema escolar. Em 1948, passou a integrar o Centro Nacional de Pesquisas Científicas. Em 1958, foi nomeado diretor da VI seção da Escola Prática de Altos Estudos. Em 1964, fundou seu próprio centro de pesquisas: o Centro de Pesquisas Comparadas Sobre as Sociedades Antigas. Intelectual, professor e pesquisador, inovou e revolucionou as pesquisas na área dos estudos clássico. Sua obra recebeu influências das maiores correntes de pensamento que marcaram o pensamento europeu do século XX e que foram o marxismo, a sociologia durkheiminiana e o estruturalismo francês. A escola estruturalista influenciou vários campos desde a linguística, literatura e antropologia. Este estudo se destacava por se basear em estruturas - cada elemento da sociedade se encontrava interligado a estruturas. O Estruturalismo se propõe a analisar os fatos de uma forma a descrevê-los, dando ênfase no sistema, percebendo as ligações entre as unidades no seu aspecto de relação signo e referente. Influenciado pelas pesquisas de psicologia histórica, ao inserir aspectos psicológicos na formação do pensamento grego, Vernant expandiu o leque de possibilidades analíticas de um modo nunca visto. A compreensão da humanidade grega, suas singularidades e traços distintivos, longe de aprisionar Vernant no passado e nos limites do caso particular, lança a análise na direção de uma indagação mais ampla sobre o humano, sobre a racionalidade e sobre o simbólico o que, de novo, impõe ao intérprete as perspectivas psicológica e antropológica. Vernant se utiliza de tudo isso, perspectiva integradora das realidades humanas, multidisciplinaridade, integração de diversos campos do saber, questionamentos múltiplos e variados, para dar uma visão profunda e modificadora da vida humana e que serve para que nós possamos vislumbrar um futuro próprio com mais consciência do tipo de destino que aspiramos. 8 Leitura Analítica do livro "As Origens do Pensamento Grego" De Jean-Pierre Vernant INTRODUÇÃO ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Linear B micênico (pág.9) As mais antigas inscrições em grego que conhecemos estão nas tabuinhas de argila desenterradas pelos arqueólogos nos palácios micênicos de Pilos, Micenas, Tirinto e Tebas, na península balcânica, e em Cnossos e Cânia, na ilha de Creta. As tabuinhas foram cozidas, aparentemente, pelo fogo dos incêndios que destruíram os palácios. Inscrições do mesmo tipo foram também encontradas em diversos tipos de vasos, descobertos em diversos sítios ocupados pelos micênios. http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0068 Escrita cuneiforme (pág.9) A escrita cuneiforme foi desenvolvida pelos sumérios, sendo a designação geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de objetos em formato de cunha. É juntamente com os hieróglifos egípcios, o mais antigo tipo conhecido de escrita, tendo sido criado pelos sumérios por volta de 3500 a.C. Inicialmente a escrita representava formas do mundo (pictogramas), mas por praticidade as formas foram se tornando mais simples e abstratas. http://tipografos.net/escrita/sumerio.html Homero (pág.9) Homero (em grego: Ὅμηρος, transl. Hómēros) foi um poeta épico da Grécia Antiga, ao qual tradicionalmente se atribui a autoria dos poemas épicos Ilíada e Odisseia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Homero Aedos (pág.9) Um aedo (em grego clássico ἀοιδός / aoidos, do verbo ᾄδω / aidô, "cantar") era, na Grécia antiga, um artista que cantava as epopeias acompanhando-se de um instrumento de música, o forminx. Distingue-se do rapsodo, mais tardio, por compor as próprias obras. Por esse facto, será o equivalente a um bardo celta.O mais célebre dos aedos é Homero. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aedo 9 Ilíada (pág.9) A Ilíada é um poema épico cuja autoria é atribuída a Homero, poeta grego, do século VIII a.C. Nesta obra, o autor descreve a Guerra de Tróia (entre gregos e troianos) em vinte cantos. O nome do homem deriva do grego Ilion que significa Tróia. Após seqüestrarem a princesa grega Helena, os troianos são atacados pelos gregos. Após anos de batalha, os gregos conseguem vencer, após presentearem os troianos com um gigante cavalo de madeira (Cavalo de Tróia). Dentro do cavalo havia centenas de soldados gregos que, de madrugada, saíram da barriga do cavalo e atacaram a cidade inimiga.Esta obra é uma das mais importantes da antiguidade. Não retrata fielmente a guerra, pois foi escrita quatro séculos após o fato, mas é um ótimo relato histórico sobre a cultura, o comportamento e a vida cotidiana dos gregos antigos. Aquiles, Heitor, Ulisses e Agamenon são os principais personagens deste poema. Homero utilizou a cultura oral (histórias que o povo contava) para escrever esta obra. http://www.suapesquisa.com/pesquisa/iliada.htm Tribos Dóricas (pág.10) Os dóricos (ou dórios; em grego: Δωριεῖς, transl. Dōrieis, singular Δωριεύς, transl. Dōrieus) foram uma das três principais tribos em que os antigos gregos dividiam a si próprios, ao lado dos jônicos e eólicos. Os dóricos quase sempre são referenciados na literatura grega antiga apenas como "os dóricos"; a primeira menção feita a eles data da Odisseia onde eles são encontrados como habitantes da ilha de Creta. Heródoto, ao comentar o assunto, usa o termo ethnos, que embora esteja na raiz de palavras do português como etnia e grupo étnico, aproximava-se ao conceito de 'tribo', 'raça' ou 'grupo de pessoas', no grego antigo. Os dórios faziam claramente parte dos povos tidos como helenos, dos quais diferiam no entanto, em termos de modo de vida e organização social - ela própria tão variada que abrangia desde o centro comercial populoso da cidade de Corinto, conhecida pelo estilo ornamentado de sua arte e arquitetura, ao Estado isolacionista e militarista da Lacedemônia (ou Esparta). Nações dóricas que se encontrassem em guerra geralmente (embora não sempre) podiam contar com a assistência de outras cidades e Estados dórias. http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%B3ricos Rei Divino (pág.10) "Quando no século XII antes de nossa era o poder micênico desaba sobre o ímpeto das tribos dóricas que irrompem na Grécia continental, não é uma simples dinastia a sucumbir no incêndio que assola Pilos e Micenas, é um tipo de realeza que se encontra para sempre destruída, toda uma forma de vida social, centralizada em torno do palácio, que é definitivamente abolida, um personagem, o Rei divino, que desaparece do horizonte grego. (O.P.G pág.10, Vernant) Helenismo (pág.11) Designa-se por período helenístico (do grego, hellenizein – "falar grego", "viver como os gregos") o período da história da Grécia e de parte do Oriente Médio compreendido entre a morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. e a anexação da península grega e ilhas por Roma em 146 a.C.. Caracterizou-se pela difusão da civilização grega numa vasta área que se estendia do mar Mediterrâneo oriental à Ásia Central. De modo geral, o helenismo foi a concretização de um ideal de Alexandre: o de levar e difundir a cultura grega aos territórios que conquistava. Foi naquele período que as ciências particulares tiveram seu primeiro e grande desenvolvimento. Foi o tempo de Euclides e Arquimedes. O helenismo marcou um período de transição para o domínio e apogeu de Roma. Durante o período helenista foram fundadas várias cidades de cultura grega, entre elas Alexandria e Antioquia, capitais do Egipto ptolemaico e do Império Selêucida,respectivamente. http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_helen%C3%ADstico 10 Ágora (pág.11) Ágora era a praça principal na constituição da pólis, a cidade grega da Antiguidade clássica. Normalmente era um espaço livre de edificações, onde as pessoas costumavam ir, configuradas pela presença de mercados e feiras livres em seus limites, assim como por edifícios de caráter público. Enquanto elemento de constituição do espaço urbano, a ágora manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro para comprar coisas nas feiras, onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania. Por este motivo, a ágora (assim como o pnyx, o espaço de realização das eclesias) era considerada um símbolo da democracia direta, e, em especial, da democracia ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto. A de Atenas, por este motivo, também é a mais conhecida de todas as ágoras nas pólis da antiguidade. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gora Cosmogonia (pág.11) Cosmogonia (do grego κοσμογονία; κόσμος "universo" e -γονία "nascimento") é o termo que abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as religiões, mitologias e ciências através da história. Tanto o vocábulo cosmologia como o vocábulo cosmogonia partilham do mesmo radical grego cosmo, que significa mundo. Enquanto o sufixo logos da cosmologia designa saber ou ciência, o sufixo gon da cosmogonia lhe dá o significado de "Imaginar, produzir, gerar", discernindo daí que enquanto a cosmologia é a ciência que estuda o universo, a cosmogonia é uma das diversas teorias ou explicações que determinada religião ou cultura deu à origem do universo e seus principais fenômenos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmogonia Razão Grega (pág.11) A filosofia propriamente dita e a ciência, dois representativos legados do racionalismo ocidental à civilização humana, nasceram na Grécia antiga, no século VI antes de Cristo. De antemão, porém, cumpre lembrar que não havia, à época em que surgiram, distinção entre filosofia e ciência. Em sua origem, ambas se identificam. Só depois da Idade Média é que se demarcarão os contornos distintivos entre essas duas áreas do conhecimento. Em seus inícios, o que se entendia por filosofia ou ciência era a maneira racional de ver e interpretar o mundo, diversa do modo mítico-religioso que antecedeu a idade da razão na Grécia, inaugurada por seus primeiros filósofos, os chamados pré-socráticos. Não é possível, no entanto, segundo os especialistas, entender a filosofia helênica sem prévia noção a respeito da literatura, religião e condições sociopolíticas e econômicas da Grécia no período anterior ao advento desses primeiros filósofos. http://www.arazao.net/preludios-da-filosofia-grega.html Mito (pág.11) Um mito (do grego antigo μυθος, translit. "mithós") é uma narrativa de caráter simbólico, relacionada a uma dada cultura. O mito procura explicar a realidade, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito 11 Laicização (pág.11) 1.laicização do saber : separação entre o saber e a religião 2.Toda sociedade Laica é aquela que não possui religião e afasta de si os preceitos religiosos. A laicização é o processo pelo qual a sociedade torna-se laica sem incentivos religiosos ou o pragamatismo natural das religiões .http://www.dicionarioinformal.com.br/laiciza%C3%A7%C3%A3o/ 12 B. Esquematização. 1. Aprofundamento da perspectiva cronológica com a decifração do linear B micênico. 2. Aprofundamento da perspectiva cronológica. 3. Descoberta da semelhança do mundo grego com a mesma organização social dos antigos povos do Oriente Próximo. 4. Este passado foi resgatado pela Ilíada de Homero o que demonstra que houve uma ruptura que ligava o povo grego ás suas origens (civilização micênica). 5. Vernant propõe aqui a análise deste corte (ruptura temporal) na história do homem grego. 6. A destruição do poder micênico no século XII a.c. e o desaparecimento do Rei divino teve grande repercussão e importância no próprio homem grego. 7. O desaparecimento da realeza micênica preparou o caminho para duas inovações: A. Instituição da Cidade; B. Aparecimento do pensamento racional. 8. O restabelecimento dos contatos comerciais e culturais com o Oriente, interrompidos por séculos, fez com que o povo grego tivesse uma melhor consciência de si próprio quando este obtém um tipo de reflexão a cerca da sua superioridade sobre o mundo bárbaro no que se refere á substituição de um Rei pela instituição da Polis. 9.Houve progressivamente a substituição das antigas cosmogonias relacionadas aos rituais reais e mitos de soberania por relações de simetria, equilíbrio, igualdade entre os diversos elementos que para eles compunham o cosmos. 10. Mutação de mentalidade do povo grego: A. Libertação da mentalidade religiosa; B. Ultrapassagem do mito. 13 11. Em plena assimilação do estilo orientalizante o povo grego entre os séculos VIII e VII a.c. , lança os fundamentos para: A. O regime da Polis; B. O advento da Filosofia. 14 ANÁLISE TEMÁTICA Nesta Introdução, Vernant procura informar ao leitor que a decifração de textos antigos datados do século XII a.c. (pág.9) comprovaram um parentesco muito grande dos antigos gregos com os reinos do Oriente Próximo onde o personagem central era a figura do Rei divino (pág.10). Com as invasões dóricas, estas dinastias foram destruídas, ocasionando o desaparecimento de todo um sistema centralizado no palácio do Rei e levando o povo grego a uma imersão no que é chamado de Idade Média Grega. As invasões dóricas e a consequente destruição das cidades micênicas cujas realidades sociais eram centradas na figura do Rei, ocasionaram assim uma profunda modificação no universo espiritual e psicológico do povo grego (pág.10) . Estes acontecimentos arraigaram-se em forma de mito e religião que mais tarde seriam transformados em substrato cultural. A compreensão deste "corte na história do povo grego" (pág.9), esta "ruptura" (pág.10) e todas as consequências do isolamento a que o povo grego foi subitamente lançado pôde preparar o futuro aparecimento da Cidade (Polis) (pág.11). 15 B. Organograma da Introdução Decifração do linear B ↓ Mundo político social dos gregos era muito semelhante ao dos povos do oriente próximo. ↓ Invasões dóricas e desaparecimento da figura do Rei divino. ↓ Idade Média Grega e formação dos mitos e da religião. ↓ Restabelecimento das relações com o Oriente (900 - 750 a.c.) ↓ Afirmação do Helenismo e recusa da imitação e da assimilação do orientalismo. ↓ Advento da polis, laicização do pensamento político e advento da Filosofia. 16 ANÁLISE INTERPRETATIVA Nesta introdução do livro,Vernant anuncia novas descobertas feitas através da decifração do linear B micênico, que são as tabuas de argila que foram prezervadas pelos incêndios que ocorreram nos palácios destruídos pelas tribo dóricas que invadiram a Grécia Continental no século XII antes de nossa era e que contém inscrições silábicas cujas informações modificaram todo o nosso conhecimento anterior a respeito das origens do pensamento helênico. Essas informações levarão Vernant a formular sua tese de o aparecimento abrupto de uma vida social e política organizada em torno da figura de um Rei divino habitando um palácio fortificado irá repercutir profundamente nos homens daquele período tanto no que se refere aos aspectos espirituais bem como nos seus aspectos psicológicos. Vernant coloca a necessidade de situar e compreender o impacto que teve na mentalidade grega antiga a perda da figura do Rei divino e a vida em torno do palácio real e como isso pôde se transformar séculos mais tarde em um sistema de vida político e social totalmente diverso baseado no espaço público (Ágora) e no pensamento racional. As origens do pensamento grego devem ser buscadas na compreensão de como era o sistema político e social da era micênica e como este teve ressonâncias profundas no mito e na religião até se chegar ao advento da Polis e da razão grega. A dificuldade é entender como a realidade micênica, de onde partiram os mitos e as religiões ancestrais do povo grego, serviu de caminho e plano de fundo para o futuro advento das cidades, do espaço público e da filosofia e também como se deu este processo de mutação. Há uma indicação implícita de que fatores históricos e sociais importantes acontecidos na era micênica ocasionaram uma mutação psicológica profunda no povo grego e deixa claro que analisará todo este período da história antiga do povo grego ocorrido entre 17 os séculos XI e VII que servirá de caminho para nos mostrar claramente como se deram as mudanças de ordem política, social e psicológica. Estudará as mudanças que levaram ao aparecimento de um pensamento grego observando os acontecimentos num determinado período histórico. O autor nos diz ainda que devemos analisar um determinado momento histórico e situá-lo corretamente para que possamos entender as consequências ocorridas na psicologia do homem grego. E sublinha a importância de uma análise histórica recuada alguns séculos atrás do surgimento da filosofia para se entender como se deu o processo de mutação do pensamento grego do mito para a razão. 18 CAPÍTULO 1 O QUADRO HISTÓRICO ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Cerâmica miniana (pág. 14) Alguns dos vasos minianos mais característicos do Heládico Médio tinham duas alças bem amplas. A técnica conhecida por miniana utilizava vários tipos de argila, a rápida roda de oleiro e um processo especial de cozimento, que resultava na característica sensação "saponácea" ao toque. Havia as variedades cinza (Grécia Central e Peloponeso), negra (Peloponeso), vermelha (Ática, Egina) e amarela; o formato era bastante variado. Não é verdade que se tentava imitar os vasos contemporâneos de metal. Aparentemente, essa cerâmica é uma evolução direta da cerâmica produzida pela cultura de Tirinto no final do Heládico Antigo (-2200/-2150), atribuída a populações que chegaram ao Peloponeso vindos da Grécia Central. http://greciantiga.org/img/index.asp?num=0510 Heládico Antigo (pág.14) No continente grego, o Heládico Antigo desenvolveu-se a partir de -30000, aproximadamente. As principais etapas culturais estão representadas em Eutresis (-3000/-2650), Korakou e Lerna (-2650/-2200), Tebas (-2400/-2100) e Tirinto (-2200/-2000). As mais antigas comunidades evoluíram provavelmente a partir das culturas do Neolítico final e, a despeito da crescente influência das Cíclades, de Creta e de Tróia, conservaram sua homogeneidade durante muito tempo. Prósperas aldeias de casas retangulares e telhado plano eram vistas praticamente em toda parte. Os artefatos de metal eram raros e seguramente o estilo de vida se mantinha quase inteiramente neolítico.http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0356&post=0 Mínios (pág. 14) Os primeiros gregos são chamados convencionalmente de "mínios", em homenagem a Schliemann, o arqueólogo que descobriu seus vestígios em 1881/1882. Muitos arqueólogs utilizam também essa nomenclatura para se referir ao Heládico Médio. Não há evidências de descontinuidade entre a cultura material dos povos do Heládico Médio e a cultura micênica (1550/-1100). Como os micênios utilizavam a linear B para escrever textos em língua grega , a maioria dos arqueólogos considera os mínios, a meu ver com toda razão, os mais remotos ancestrais dos povos helênicos. http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0397 Hélade (pág. 14) Grego é o nome pelo qual os romanos designavam os helenos, habitantes da Hélade que ficou conhecida como Grécia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia 19 Hititas indo-europeus (pág. 14) Os hititas eram um povo indo-europeu que, no II milénio a.C., fundou um poderoso império na Anatólia central (atual Turquia), cuja queda data dos séculos XIII-XII a.C.. Em sua extensão máxima, o Império Hitita compreendia a Anatólia, o norte e o oeste da Mesopotâmia até a Palestina. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hititas Tróade (pág. 14) A Trôade ou Tróade era uma antiga região na parte noroeste da Anatólia, circundada pelo Helesponto ao noroeste, pelo mar Egeu ao oeste e separada do resto da Anatólia pelo maciço que forma o Monte Ida. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%B4ade Aqueus (pág. 14) Os aqueus eram um povo indo-europeu que colonizaram a Grécia por volta do ano 2000 a.C. Semi-nômades, os aqueus migraram e estabeleceram um reino na Península do Peloponeso. Junto com os dórios, jônios e eólios, os aqueus são os responsáveis pela colonização e formação da civilização da Grécia Antiga. Segundo historiadores, os aqueus penetraram e se estabeleceram no território grego em busca de terras férteis. Encontraram nestas terras os pelágios, que foram conquistados em função da superioridade militar dos aqueus. Os aqueus fundaram, na Península do Peloponeso, importantes centros urbanos como, por exemplo, Micenas, Argos e Tirinto. http://www.suapesquisa.com/grecia/aqueus.htm Hippos ou Hippios (pág. 14) Hippos é um sítio arqueológico em Israel, localizado em uma colina com vista para o Mar da Galiléia. Entre o século 3 aC eo século 7 dC, Hippos era o local de uma cidade greco-romana. Além da cidade fortificada em si, Hippos era controlado por duas instalações portuárias no lago e uma área sobre a paisagem circundante. http://en.wikipedia.org/wiki/Hippos Posidão (pág. 14) Na mitologia grega, Posídon (em grego antigo Ποσειδῶν, transl. Poseidōn), também conhecido como Poseidon, Possêidon ou Posidão, assumiu o estatuto de deus supremo do mar, conhecido pelos romanos como Netuno possivelmente tendo origem etrusca como Nethuns. Também era conhecido como o deus dos terremotos. Os símbolos associados a Posídon com mais frequência eram o tridente e o golfinho. A origem de Posídon é cretense, como atesta seu papel no mito do Minotauro. Na civilização minóica era o deus supremo, senhor do raio, atributo de Zeus no panteão grego, daí o acordo da divisão de poderes entre eles, cabendo o mar ao antigo rei dos deuses minóicos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pos%C3%ADdon Creta (pág.14) Creta (em grego: Κρήτη, transl. Kríti) é a maior ilha e uma das treze periferias da Grécia. Está no sul do mar Egeu e é a segunda maior ilha do mar Mediterrâneo oriental e a quinta maior de todo aquele mar. Segundo um mito, era naquela ilha que vivia o minotauro. Creta esteve habitada desde a Pré-História, com vestígios de populações sedentárias desde o Neolítico. No começo da Idade do Bronze, os cretenses criaram no 3° milénio a.C. uma grande civilização 20 insular (cultura minóica). Aquela civilização construiu palácios em Cnossos, em Festos, em Maliá e em Santa Trindade – palácios cujas ruínas ainda são vistas. Alguns séculos mais tarde, esta civilização irradiou para outras regiões do Mar Egeu, incluindo a Grécia continental. http://pt.wikipedia.org/wiki/Creta Creta Anatólio (pág. 14) As línguas anatólias (também conhecidas como anatólicas ou anatolianas) são línguas indoeuropeias outrora faladas na península da Anatólia, parte da atual Turquia. Atualmente, todas as línguas anatólias estão extintas, dentre elas, a língua melhor atestada é a língua hitita.http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_anat%C3%B3lias 21 B. Esquematização. 1. Recuando até 2000 anos antes de Cristo, encontramos um Mediterrâneo onde não se vê distinção entre Oriente e Ocidente. 2. Mundo Egeu e Península Grega sem descontinuidade, semelhanças culturais. 3. Primeira civilização palaciana (2000-1700). 4. Observa-se a mesma escola de arquitetos, pintores e afresquistas o que comprova a semelhança entre Oriente e Ocidente. 5. O Heládico Antigo termina com uma mudança ocorrida entre 2000 e 1900 a.c.: uma população nova ocupa ostensivamente a Hélade, as ilhas e o litoral da Ásia Menor. 6. Primeiros invasores: os mínios que colonizarão a Hélade e que são povos indo-europeus que falam um dialeto grego arcaico. 7. Invasão paralela aos mínios: os hititas indo-europeus e sua expansão pelo planalto Anatólio. 8. Continuidade cultural vai da Tróia I à Tróia V ( entre 3000 e 2600 ). 9. Na Tróia VI (1900), aparece uma cidade principesca rica e poderosa, parente dos mínios da Grécia. 10. O cavalo surge na Tróade com os homens da Tróia VI. 11. A pré-história do deus Posidão é associada a um deus equino, Hippos ou Hippios onde o tema do cavalo é associado a todo um complexo mítico. 12. A importância do cavalo no mundo antigo se dá na sua utilização para fins militares onde encontramos estelas funerárias com inscrições de cenas de batalha, onde o guerreiro conduz seu carro puxado por cavalos a galope. 13. Nesta época os mínios estão misturados à população de origem asiática e estabeleceram residências próximas às fortalezas. 14. Em 1450 se estabelecerá uma civilização palaciana na ilha de Creta. 15. A criação de cavalos com fins militares envolveu problemas de seleção e adestramento. 22 16. A técnica e o aprendizado difícil da domesticação e adestramento dos cavalos na atividade guerreira constitui-se um traço característico da organização social e guerreira dos povos indo-europeus. 17. Um Estado centralizado com uma autoridade única surge como fator de organização das atividades em torno do uso do cavalo. 18. Depois de muitas movimentações militares entre os antigos povos encontraremos uma civilização cipro-micênica com elementos minóicos, micênicos e asiáticos e que dispõem de uma escrita silábica, o Linear A. 19. Os micênios, por fim, aparecem estreitamente associados às grandes civilizações do Mediterrâneo oriental. 23 ANÁLISE TEMÁTICA Vernant, apresenta várias provas da semelhança cultural entre os antigos povos que habitavam a região do mediterrâneo (pág.13). Descreve as características dos primeiros povos que ocuparam a Grécia continental (pág14). O uso do cavalo associado à técnica do carro de guerra (pág.15), reforçou a especialização da atividade guerreira e se constituiu no traço característico da organização social e da mentalidade dos povos indoeuropeus (pág.18). A necessidade de organização desta reserva numerosa de carros de guerra, o adestramento e a organização necessária para seu uso no campo de batalha, pressupôs a criação de um Estado centralizado extenso e poderoso (pág.16). O privilégios dos guerreiros, quaisquer que fossem eles, se submeteriam agora a uma autoridade única. Os micênios e sua organização palaciana tinham estreitas ligações comerciais e culturais com o Oriente. No capítulo seguinte, Vernant analisará todos os aspectos desta realeza micênica. 24 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 1 Mundo Egeu + Península Grega = Semelhanças sociais e culturais. ↓ Ocupação da tribo dos Mínios na Grécia continental. ↓ Uso do cavalo associado ao carro de guerra = característica principal. ↓ Os problemas de seleção e adestramento do cavalo geraram a necessidade de organização socio-cultural. ↓ A aprendizagem difícil da técnica do carro reforçou a atividade guerreira o que constituiu o traço característico da organização social e da mentalidade dos povos indo-europeus. ↓ Aparecimento de um Estado centralizado submetido à figura de uma autoridade única. ↓ Micênios plenamente integrados ao mundo do Próximo Oriente por meio das suas relações comerciais e culturais. 25 ANÁLISE INTERPRETATIVA Neste primeiro capítulo, Vernant nos apresenta um quadro histórico da região onde da Grécia situada no período dois milênios antes de nossa era cristã. As evidências arqueológicas demonstraram que havia uma mesma escola de arquitetos, de pintores e de afresquistas que produziam uma comunidade comum com todos os povos vizinhos. Oriente e Ocidente eram uma só realidade cultural. Invasões paralelas dos hititas edifica, no litoral da Tróade, uma comunidade cultural e étnica que é parente dos mínios, que foram a primeira tribo a ocupar a Grécia continental. Tróia VI, uma cidade principesca e rica (1900), aparece tendo como característica principal o uso de cavalos que puxavam carros de guerra. Estes carros tinham importância militar fundamental e reforçavam, através de um longo processo de aprendizagem e adestramento, a especialização das atividades guerreiras o que marcou profundamente a organização social e a mentalidade destes povos em torno de uma autoridade única e consequente aparecimento de um Estado central. 26 CAPÍTULO 2 A REALEZA MICÊNICA ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Escribas (pág.24) Na Grécia clássica era uma profissão que, ao contrário do que aconteceu no Egito e Mesopotâmia, não conferia status social ou privilégio. Era considerado uma habilidade a mais de um indivíduo que oferecia um serviço. Mas seu trabalho era importante para as relações comerciais num ambiente onde poucos tinham instrução. http://biblogreka.blogspot.com.br/2009/06/los-escribas_02.html PanKus (pág.26) Assembléia que representava a comunidade Hitita, isto é, que agrupava o conjunto dos guerreiros, excluindo-se o resto da população, segundo o esquema que opõe, nas sociedades indo-européias, o guerreiro ao homem da aldeia, pastor e agricultor. (O.P.G. pág.26 Vernant) Mégaron (pág.28) O mégaron é a "grande sala" da civilização micênica. A sala retangular, caracterizada por uma abertura, um alpendre de duas colunas, e uma lareira mais ou menos centralizada cujo uso é tradicional na Grécia desde os tempos da cultura micênica, é o antepassado do templo na Grécia. Era provavelmente usado para declamação de poesia, festas, rituais religiosos, sacrifícios e conselhos de guerra. Originalmente era muito colorida. Feitos com a ordem arquitetônica minoica, os interiores de tijolo queimado e enormes vigas de madeira moldavam o edifício. O telhado era de telhas de cerâmica e ladrilhos de terracota. Um mégaron famoso está localizado no grande salão de recepção do rei no palácio de Tiryns, a sala principal que tinha um trono colocado contra a parede da direita e uma lareira central acompanha por quatro colunas de madeira em estilo minoico que serviam como apoio para o telhado.O mégaraon, enquanto elemento característico de arquitectura, encontra-se descrito na Odisseia. http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9garon Wa-na-ka, ánax (pág.29) Anax (ἄναξ, desde cedo ϝ άναξ, wánax / wánaks) é uma antiga palavra grega para "(tribal), rei, senhor, (militar) líder". É um dos dois títulos gregos, tradicionalmente traduzido como "rei", sendo o outro basileus. Anax é o termo mais arcaico dos dois, herdada do período micênico, e é nomeadamente utilizado em grego Homero, por exemplo, de Agamenon. A forma feminina é ἄνασσα, Anassa, "rainha" (de wánakt-ja). http://en.wikipedia.org/wiki/Anax 27 La-wa-ges-tas (pág.30) Representava o chefe do láos, o grupo de guerreiros. ( O.P.G. pág 30 Vernant) Láos (pág.30) População armada (O.P.G. pág 30, Vernant ) e-qe-ta, hetairoi homérico (pág.31) São os dignitários do palácio, formando o séquito do rei. (O.P.G. pág 31, Vernant) okha (pág.31) Unidade militar, oficiais que asseguravam a ligação da corte com os comandos locais. (O.P.G. pág 32, Vernant) te-re-ta, telestai (pág.31) Homens dos serviço feudal, barões dos feudos. (O.P.G. pág31, Vernant) témenos (pág.31) Uma terra, arável ou de vinhas, oferecidas aos que cuidam das terras do rei, ou dos deuses , como premiação por atitudes excepcionais e guerreiras. (O.P.G. pág31, Vernant) Ko-to-na (pág.32) Lote, porção de terra (O.P.G. pág 32, Vernant) Ki-ti-me-na ko-to-na (pág.32 ) Terra privadas com porprietários (O.P.G. pág.32, Vernant) Ke-ke-me-na ko-to-na (pág.32) Terras de uso comum dos damos da aldeia, propriedade coletiva de uso rural. (O.P.G. pág 32, Vernant ) Vaiçya (pág.33) Agricultor, homem da aldeia (O.P.G. pág.33, Vernant) Ksartrya (pág.33) O guerreiro, o homem que tem a posse individual da terra. (O.P.G. pág 33, Vernant) 28 Pa-si-reu, basileu homérico (pág.33) É neste quadro provincial que aparece, contra todas as expectativas, o personagem que tem o título que teríamos normalmente traduzido por rei, o pa-si-reu, o basileu homérico. Precisamente ele não é o Rei em seu palácio, mas um simples senhor, dono de um domínio rural e vassalo do ánax ( ...), responsabilidade administrativa. (O.P.G. pág. 33 , Vernant ) Ke-ro-si-ja (gerousia) (pág.34) Ao lado dos basileus, o Conselho dos Velhos, que juntos conferiam uma relativa autonomia à comunidade aldeã. (O.P.G. pág 34, Vernant) Ko-re-te = la-wa-ge-tas (pág.34) Regedor da aldeia, exercia uma função militar. (O.P.G. pág34, Vernant) Phylobalisieis (pág.34) Funcionário do reino com prerrogativas religiosas. (O.P.G. pág34, Vernant) Klumenos (pág.35) Comandante de uma unidade militar (O.P.G. pág.35, Vernant) Mo-ro-pa (pág.35) Outra denominação do comandante de uma unidade militar mas agora associada a posse de um lote de terra (moira) (O.P.G. pág.35, Vernant) Invasão dórica (pág.37) A invasão dórica teria devastado a civilização micênica, provocando a migração dos micênicos através do Mar Egeu. Embora conhecessem a metalurgia do ferro, os dórios não possuíam nenhum sistema de escrita, razão pela qual, do século XII a.C. até o século VIII a.C., a Grécia teria vivido um período de obscuridade. Alguns autores chamam a esse tempo da história grega de "Idade das trevas". http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%A3o_d%C3%B3rica 29 B. Esquematização. 1. Os documentos que dispomos em linar B eram inventários anuais redigidos em tijolos crus que foram conservados pelos incêndios nos palácios. 2. As dificuldades encontradas para se estabelecer um quadro da organização social micênica podem ser demonstradas pelo fato de que algumas palavras chegaram a ter quatro interpretações diferentes. Mas outros autores encontram um acordo em alguns pontos a destacar: A. Vida social centralizada em torno do palácio cujo papel é ao mesmo tempo religioso, político, militar, administrativo e econômico; B. Sistema de economia palaciana onde o rei concentra e unifica em sua pessoa todos os elementos do poder, todos os aspectos da soberania; C. Escribas, dignitários do palácio, inspetores reais e escravos. 3. Não havia comércio privado na economia palaciana. A administração real regulamentava a distribuição e o intercâmbio, assim como a produção dos bens. Realeza burocrática (anacronismo). 4. A Economia rural da Grécia antiga estava dispersa no âmbito da aldeia, onde havia algum tipo de coordenação dos trabalhos entre aldeias vizinhas. 5. O Pankus eram agrupamentos de guerreiros que se ajuntavam em assembleias e que eram distintos do resto da população, o homem da aldeia, o pastor e o agricultor. 6. É no Pankus que se recrutavam os homens dos carros de guerra, a força principal do exército hitita e se constituíam numa nobreza guerreira. 7. Este fato tirou do rei a exclusividade de escolha dos cargos de finalidade guerreira o que levou ao aparecimento de um modelo semelhante á das monarquias absolutas orientais. 8. A nova classe de nobres cujos serviços militares criam as prerrogativas políticas, se distinguem da hierarquia de administradores que dependem diretamente do rei. 30 9. Existe um anacronismo entre este exemplo hitita e uma interpretação “burocrática” da realeza micênica atrelada a traços “feudais”. 10. Na verdade a submissão ao rei liga todos os dignitários do palácio (O.P. G.pág.27) 11. Oposição entre realeza burocrática X monarquia feudal = especificidade do caso micênico. 12. Contraste entre mundo micênico X civilização palaciana de Creta. 13. O rei, wa-na-ka ou ánax, estava no cume da organização social. 14. O ánax era responsável pela vida militar e religiosa. (pág. 29) 15. Uma hipótese: o surgimento de uma classe sacerdotal numerosa e influente. (pág. 30) 16. Segundo personagem do reino: wa-sa-ka = chefe do láos, o grupo dos guerreiros, o séquito do rei, dignitários do palácio. 17. A Okha era a unidade militar que asseguravam a ligação da corte com os comandos locais. 18. Os te-re-ta ou telestai eram os barões dos feudos e determinavam os témenos, privilégio dos wa-na-ka e do la-wa-ge-tas, e os témenos eram terra aráveis . 19. É difícil distinguir as várias funções da tenência da terra: terra inculta, terra arroteada, terra de pastagem transformada em terra arável, terra de maior ou menor dimensão ou se marca um estatuto social. 20. São duas formas de tenência da terra: a. Ki-ti-me-na Ko-to-na = terras privadas com proprietários. b. Ke-ke-me-na ko-to-na = ligada ao damos, terras comuns dos demos da aldeia, propriedade coletiva do grupo rural, cultivadas segundo o sistema rural de open-field, objeto de redistribuição periódica. 21.Polaridade da sociedade micênica marcada pelas duas formas de tenência da terra: a vida palaciana X mundo rural organizado em aldeias com vida própria. 22. O pa-ri-seu ou basileus homérico não é um rei em seu palácio mas um senhor dono de um domínio rural e vassalo do ánax. 31 23. Ao lado do basileus havia um conselho de velhos, a ke-ro-si-ja (gerousia) que confirma a relativa autonomia da comunidade aldeã. 24. O ko-re-te era um personagem associado ao basileus que aparece como uma espécie de regedor da aldeia. 25. Ánax e basileus = função religiosa. 26. Ko-ro-te e la-wa-ge-tas = função militar. 27. Klumenos = comandante de unidade militar. 28. Mo-ro-pa = possuidor de uma moira, um lote de terra. 29. TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA REALEZA MICÊNICA: a. Aspecto belicoso da aristocracia guerreira, os homens dos carros sujeitos à autoridade do ánax que formam um grupo privilegiado; b. Comunidades rurais sem uma dependência absoluta em relação ao palácio; c. Sistema palaciano repousa no emprego da escrita e na constituição de arquivos (caráter de plágio). 30. O sistema palaciano representava um notável instrumento de poder. 31. Por fim, um fato extremamente importante que muda este cenário: todo este sistema foi destruído pelas invasões dóricas. 32. As relações com o oriente foram rompidas e o continente grego retorna a uma forma de economia puramente agrícola (Idade Média Grega). 33. O termo ánax desaparece e é substituído pelo emprego da palavra basileus com valor estritamente local (pág. 37). 34. Com o desaparecimento do reino do ánax, desaparece o controle organizado pelo rei, um aparelho administrativo, uma classe de escribas. 35. A própria escrita desaparece e foram redescobertas no fim do século IX e as mudanças sociais e psicológicas também mudaram: não é mais objeto de uso do rei em arquivos nos recessos do palácio; mudança para um caráter de publicidade que vai divulgar e colocar aos olhos de todos os diversos aspectos a vida social e política. 32 ANÁLISE TEMÁTICA Este capítulo tem por intuito nos apresentar como era a vida social centralizada em torno do palácio real, que reunia todos os aspectos religiosos, políticos, militares, administrativos e econômicos (pág.24). Neste sistema de economia palaciana, o rei concentrava e unificava em torno de sua pessoa todos os elementos do poder, todos os aspectos da soberania (pág.24). O papel do palácio era o eixo da vida social (pág.26). Ao lado do rei havia uma organização de guerreiros, o Pankus, que se distinguia do resto da população tal como depois haveria nas sociedades indo-europeias o esquema guerreiro/homem da aldeia, pastor/agricultor (pág. 26). Esta organização dispunha de privilégios e poder. Alguns autores falaram de traços "feudais" e realeza micênia "burocrática, tese que Vernant contrapõe ao que ele denomina "o caso micênico": o sistema palaciano era a simples divisão de tarefas por homens que não eram funcionários a serviço do Estado e sim servidores do rei encarregados de manifestar este poder que o rei encarnava (pág. 27). Especialização de funções, flutuação nas atribuições administrativas que se superpõe umas às outras criando vários tipos de autoridade e organizando a vida social (pág.27). O testemunho das plaquetas micênicas mostra que no cume da organização social estava aquele que tinha o título de wa-na-ka, o ánax, responsável tanto pela vida militar quanto religiosa, fato fundamental que fará com que esta função religiosa da realeza se perpetue até a época da Cidade e que sobreviverá no mito, na figura do Rei divino. A posse da terra era dividida entre dois tipos de homens: uma terra privada com proprietários e uma terra comum para os aldeões. Os proprietários de sua própria terra, desse domínio rural, recebeu o nome de basileus, dono de um domínio rural e era um vassalo do ánax. O basileus tinha funções administrativas de vassalagem. Este sistema palaciano conferia poder político e econômico admiráveis para o rei e consequente organização dos recursos e forças militares (pág. 36) e tinha relação estreita com modelos encontrados no oriente (pág.37). Todo este sistema palaciano virá a ser destruído pelas invasões dóricas e romperá definitivamente os vínculos da Grécia com o Oriente. A divisão do trabalho que havia no mundo micênico desaparecerá juntamente com a figura do ánax que passará ao domínio do mito. O termo ánax cederá lugar ao termo basileus, agora de alcance localizado, como um empregador rural mas que concentrará na sua figura todas as formas de poder(pág.37). A própria escrita irá 33 desaparecer e será redescoberta no séc. IX tomando-a dos fenícios. Esta escrita não será mais um objeto para uso de um rei em seu palácio e sim terá uma correlação com a função de publicidade (pág.38) e servirá para colocar à vista de todos, os vários aspectos da vida social e política (pág. 38). 34 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 2 Vida social centralizada em torno do palácio. ↓ O rei, ánax, estava no cume da organização social. ↓ Organização do palácio: Escribas dignitários do palácio inspetores reais escravos ↓ Outros personagens importantes abaixo do rei: wa-sa-ka tereta basileus Ke-ro-ji-sa ko-re-te ↓ Destruição deste sistema pelas invasões dóricas ↓ "Idade média grega" ↓ Retorno a uma forma de economia puramente rural ↓ Desaparecimento da escrita ↓ Redescoberta da escrita no séc. XI através dos fenícios ↓ Uso da escrita agora para uso público 35 ANÁLISE INTERPRETATIVA Com a decifração das plaquetas do linear B, Vernant nos apresenta neste capítulo 2 o modo de vida dos habitantes da Grécia, 1.200 anos antes de cristo. O sistema em que este povo vivia recebeu o nome de sistema de economia palaciana. O rei concentrava em torno de si todos os aspectos da soberania e se servia dos escribas para controlar a vida religiosa, econômica, social e militar. O ánax estava no cume da organização social e era ajudado por outros chefes que tinham funções militares e administrativas. Estes por sua vez recebiam lotes de terra que conferiam-lhes poder e distinção no meio dos outros homens. Todo um sistema de classes bem definidos e imutáveis faziam parte deste sistema mas sempre em função do atendimento às necessidades do rei em seu palácio, fato que Vernant analisa como sendo fundamentalmente distinto dos futuros sistemas feudais dos povos indo-europeus. Na verdade, para Vernant, os laços com o oriente eram ainda muito grandes. A figura do Rei divino impregnará profundamente a mentalidade do povo grego que, mesmo depois do seu desaparecimento provocado pelas invasões dóricas, será transformado em mito e resgatado até o período das Cidades. O período que se seguiu às invasões dóricas jogou a Grécia naquela que é comumente chamada Idade Média Grega e que Homero resgatará nos seus textos ( que mais tarde chamará de mitos de soberania): toda uma parte da história que ficou obscurecida por longos anos e cujo resgate conferirá a povo grego uma identidade e uma consciência inteiramente novas. 36 CAPÍTULO 3 A CRISE DA SOBERANIA ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Dórios no Peloponeso (pág.41) Os dóricos (ou dórios; em grego: Δωριεῖς, transl. Dōrieis, singular Δωριεύς, transl. Dōrieus) foram uma das três principais tribos em que os antigos gregos dividiam a si próprios, ao lado dos jônicos e eólicos. Os dóricos quase sempre são referenciados na literatura grega antiga apenas como "os dóricos"; a primeira menção feita a eles data da Odisseia onde eles são encontrados como habitantes da ilha de Creta. Heródoto, ao comentar o assunto, usa o termo ethnos, que embora esteja na raiz de palavras do português como etnia e grupo étnico, aproximava-se ao conceito de 'tribo', 'raça' ou 'grupo de pessoas', no grego antigo. Os dórios faziam claramente parte dos povos tidos como helenos, dos quais diferiam no entanto, em termos de modo de vida e organização social - ela própria tão variada que abrangia desde o centro comercial populoso da cidade de Corinto, conhecida pelo estilo ornamentado de sua arte e arquitetura, ao Estado isolacionista e militarista da Lacedemônia (ou Esparta). Nações dóricas que se encontrassem em guerra geralmente (embora não sempre) podiam contar com a assistência de outras cidades e Estados dórias. http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%B3ricos Poesia épica (pág.42) A epopeia eterniza lendas a um texto em prosa que dá seu recado a respeito de séculos e tradições ancestrais, preservando-as ao longo dos tempos pela tradição oral ou escrita. Os primeiros grandes modelos ocidentais de epopeia são os poemas homéricos a Ilíada e a Odisseia, os quais têm a sua origem nas lendas sobre a guerra de Troia. A epopeia pertence ao gênero épico, embora tenha fundamentos históricos, não representa os acontecimentos com fidelidade, geralmente reveste os acontecimentos relatados com conceitos morais e atos exemplares que funcionam como modelos de comportamento. Epopeia é uma narrativa que apresenta com maior qualidade os fatos originalmente contados em versos. Os elementos dessa narrativa apresentam estas características: personagens, tempo, espaço, ação. Também pode conter factos heroicos muitas vezes transcorridos durante guerras. Epopeia é um poema épico ou lírico. Um poema heroico narrativo extenso, uma coleção de feitos, de fatos históricos, de um ou de vários indivíduos, reais, lendários ou mitológicos. A epopeia eterniza lendas seculares e tradições ancestrais, preservada ao longo dos tempos pela tradição oral ou escrita. Os primeiros grandes modelos ocidentais de epopeia são os poemas homéricos a Ilíada e a Odisseia, os quais têm a sua origem nas lendas sobre a guerra de Troia. A epopeia pertence ao gênero épico, mas embora tenha fundamentos históricos, não representa os acontecimentos com fidelidade, geralmente reveste os acontecimentos relatados com conceitos morais e atos exemplares que funcionam como modelos de comportamento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_%C3%A9pica 37 Sophia (pág.43) Entre estas forças opostas, liberadas pelo desmoronamento do sistema palaciano, que se vão chocar às vezes com violência, a busca de um equilíbrio, de um acordo, fará nascer, num período de desordem, uma reflexão moral e especulações políticas que vão definir uma primeira forma de "sabedoria" humana. (O.P.G. pág 43, Vernant) Physis (pág.43) Physis, segundo os filósofos pré-socráticos, é a matéria que é fundamento eterno de todas as coisas e confere unidade e permanência ao Universo, o qual, na sua aparência é múltiplo, mutável e transitório. A palavra grega Physis pode ser traduzida por natureza, mas seu significado é mais amplo. Refere-se também à realidade, não aquela pronta e acabada, mas a que se encontra em movimento e transformação, a que nasce e se desenvolve, o fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna. Nesse sentido, a palavra significa gênese, origem, manifestação. Saber o que é Physis, assim, levanta a questão da origem de todas as coisas, a sua essência, que constituem a realidade, que se manifesta no Movimento. Nas palavras do professor Miguel Spinelli: "tudo o que nasce está destinado a ser o que deve ser e não outra coisa. Esse nascer destinado, pelo qual o que nasce se submete a um processo de realização, é a phýsis, e, como tal, a archê. (...) tanto a phýsis quanto a archê não são expressões do anárquico (...), tampouco do ocasional... O que esses termos conjuntamente designam é o que ocorre sempre ou de ordinário (...), mas com uma eficácia tal que "dispara" sempre (como se fosse um gatilho biológico) o que é melhor dentre todo o possível" (SPINELLI, Miguel. Questões Fundamentais da Filosofia Grega. São Paulo: Loyola, 2006, pp.36-37). A phýsis expressa um princípio de movimento relativo ao fazer-se das coisas nas quais mudam as aparências, enquanto que cada (ser ou) coisa permanece sempre sendo ela mesma. Esse movimento seria a contínua transformação dos seres, mudando de qualidade (por exemplo, o novo envelhece; o quente esfria; o frio esquenta; o seco fica úmido; o úmido seca; o dia se torna noite; a noite se torna dia; a primavera cede lugar ao verão, que cede lugar ao outono, que cede lugar ao inverno; a árvore vem da semente e produz sementes, etc.) e mudando de quantidade (o pequeno cresce e fica grande; o grande diminui e fica pequeno; um rio aumenta de volume na cheia e diminui na seca, etc). Portanto o mundo (Physis) está em mudança contínua, sem por isso perder sua forma, sua ordem e sua estabilidade. Os filósofos pré-socráticos tinham como principal preocupação a explicação dos aspectos referentes a cosmologia. Tiveram um papel importante, na medida em que marcam toda uma fase de pensamento voltada para a explicação racional dos fenômenos que constituíam as inquietações dos homens daquela época. http://pt.wikipedia.org/wiki/Physis Éfeso (pág.44) Éfeso (em grego clássico: Ἔφεσος; em latim: Ephesus; em turco: Efes) foi uma cidade grecoromana da Antiguidade situada na costa ocidental da Ásia Menor, próxima à atual Selçuk, província de Esmirna, na Turquia. Foi uma das doze cidades da Liga Jônia durante o período clássico grego. Durante o período romano, foi por muitos anos a segunda maior cidade do Império Romano, apenas atrás de Roma, a capital do império. Tinha uma população de 250 000 habitantes no século I a.C., o que também fazia dela a segunda maior cidade do mundo na época. A cidade era célebre pelo Templo de Ártemis, construído por volta de 550 a.C., uma das Sete Maravilhas do Mundo. O templo foi destruído, juntamente com muitos outros edifícios, em 401 d.C. por uma multidão liderada por São João Crisóstomo. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89feso 38 Agamenão (pág.44) Agamemnon, Agamenon, Agamenão[ ou Agamémnon (em grego antigo, Aγαμέμνων, "muito resoluto") foi um dos mais distintos heróis gregos, filho (ou neto) do rei Atreu de Micenas e da rainha Aerope,] e irmão de Menelau. Não há registos que provem que tenha de facto existido, mas é provável que tenha sido o rei de Micenas a comandar o épico cerco dos Aqueus à cidade de Tróia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Agamemnon Atidógrafos (pág.44) Por Atidografía podemos conhecer a história da Ática, onde Atenas está localizada, na antiga Grécia, particularmente no século IV. C. e no início III. C. O criador do gênero foi Hellanicus de Lesbos, no final de V a. C. que tem como características definidas: a exaltação de Atenas, com um estilo tradicionalista patriótico, o uso de fontes orais ea falta de crítica a essas fontes que leva a falácias e anacronismo historiográfico. http://es.wikipedia.org/wiki/Atidograf%C3%ADa Polemarca (pág.44) Chefe dos exércitos (O.P.G. pág.44, Vernant) Codridas (pág.44) Aqueus que desembarcaram na Jônia refugiados de Pilos e do Peloponeso da Ática (O.P.G. pág. 44, Vernant). Arché ( pág.44) Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9 Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant) Arcontes (pág.45) Arconte (em grego: αρχων, transl. arkhon, o responsável por um arkhê, "cargo") era o título dos membros de uma assembléia de nobres da Atenas antiga, que se reuniam no arcontado http://pt.wikipedia.org/wiki/Arconte Libação (pág.46) Libação é o ato de derramar água, vinho, sangue ou outros líquidos com finalidade religiosa ou ritual, em honra a um deus ou divindadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Liba%C3%A7%C3%A3o 39 Acha de armas (pág.46) Acha é um vocábulo da língua portuguesa, que traduz o nome de uma antiga arma de forma semelhante à de um machado que pelos séculos ficou associado como Timbre da Nobreza de origem militar. http://pt.wikipedia.org/wiki/Acha Charrua (pág.46) Material usado por agricultores (O.P.G. pág. 46,Vernant) Hierosyne (pág.46) O sacerdócio (O.P.G. pág. 46, Vernant) Hefesto e Atena (pág.47) Hefesto ou Hefaísto (em grego: Ήφαιστος, transl. Hēphaistos) é um deus da mitologia grega, cujo equivalente na mitologia romana era Vulcano. Filho de Zeus e Hera, rei e rainha dos deuses ou, de acordo com alguns relatos, apenas de Hera, era o deus da tecnologia, dos ferreiros, artesãos, escultores, metais, metalurgia, fogo e dos vulcões. Como outros ferreiros mitológicos, porém ao contrário dos outros deuses, Hefesto era manco, o que lhe dava uma aparência grotesca aos olhos dos antigos gregos. Servia como ferreiro dos deuses, e era cultuado nos centros manufatureiros e industriais da Grécia, especialmente em Atenas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hefesto Atena (no grego ático: Αθηνά, transl. Athēnā ou Aθηναία, Athēnaia; ver seção Nome), também conhecida como Palas Atena (Παλλάς Αθηνά) é, na mitologia grega, a deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da estratégia, das artes, da justiça e da habilidade. Uma das principais divindades do panteão grego e um dos doze deuses olímpicos, Atena recebeu culto em toda a Grécia Antiga e em toda a sua área de influência, desde as colônias gregas da Ásia Menor até as da Península Ibérica e norte da África. Sua presença é atestada até nas proximidades da Índia. Por isso seu culto assumiu muitas formas, além de sua figura ter sido sincretizada com várias outras divindades das regiões em torno do Mediterrâneo, ampliando a variedade das formas de culto. http://pt.wikipedia.org/wiki/Atena Metis (pág.47) Esposa de Zeus, princípio de poder mágico. (O.P.G. pág 47, Vernant) Órficos (pág.48) Orfismo era uma religião de mistérios no antigo mundo grego, difundido a partir dos séculos VII e VI a.C. Seu fundador teria sido o poeta Orfeu, que desceu ao Hades e retornou. Os órficos também reverenciam Perséfone (que descia ao Hades a cada inverno e voltava a cada primavera) e Dioniso ou Baco (que também desceu e voltou do Hades). Como os mistérios de Elêusis, os mistérios órficos prometiam vantagens no além-vida. Esses cultos de mistérios, que prometiam uma vida melhor após a morte, parecem ter influenciado o início do cristianismo. O orfismo diferia da religião grega popular das seguintes maneiras: caracterizava as almas humanas como divinas e imortais, mas condenadas a viver (por um período) em um círculo penoso de sucessivas encarnações através da metempsicose ou transmigração de almas; 40 prescrevia uma forma ascética de vida, ou vida órfica, a qual, junto com ritos iniciáticos secretos, deveria garantir não apenas o desprendimento do tal círculo penoso mas também uma comunhão com deus(es); advertia sobre uma punição pós-morte por certas transgressões cometidas durante a vida; era fundamentada sobre escritos sagrados com relação à origem dos deuses e seres humanos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Orfismo_(culto) Eris-Philia (pág49) Poder de Conflito - poder de união. Estas duas divindades, opostas e complementares, marcam como que os dois pólos da vida social no mundo aristocrático que sucede as antigas realezas. (O.P.G. pág 49, Vernant) Ágon (pág.49) Um combate codificado sujeito a regras, em que se defrontavam grupos (...) (O.P.G. pág 49 , Vernant) Termo que significa luta, competição, disputa, conflito, discussão, combate, jogo (...)http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=501&Itemid =2 Hippeis, Hippobotes (pág.49) Elite militar ao mesmo tempo que uma aristocracia da terra (O.P.G. pág 49, Vernant) Genos (pág.49) O genos (plural gene) era um tipo de organização social da Grécia Antiga, durante o período homérico. Eram uma espécie de clãs ou grandes familias. Cada genos era chefiado pelo homem mais velho (patriarcas) e o poder era passado do pai para o filho primogênito. Tal organização surgiu na região da Grécia Antiga, logo após o evento denominado 1ª Diáspora Grega. A propriedade nos gene era comunal, ou seja, coletiva: plantavam e colhiam em conjunto. No entanto, passados três séculos, os genos entraram em colapso, pois a população cresceu e não havia terras cultiváveis para todos. Assim, com a explosão demográfica, pensou-se em explorar mais regiões (2ª Diáspora Grega), sem sucesso. Como solução, determinou-se que as terras passariam a ter posse privada (pelos descendentes diretos dos chefes dos antigos genos). A coletividade consequentemente acabou e os níveis de desigualdade social apareceram. Como forma mais eficiente para organizar a sociedade grega, surgiram as cidades-Estados, ou pólis, cujos principais exemplos são Atenas e Esparta. http://pt.wikipedia.org/wiki/Genos Eris (pág.50) Éris (Ἔρις, em grego antigo) é a deusa que personifica a discórdia na mitologia grega. Corresponde à deusa romana Discórdia. Seu oposto é a Harmonia, correspondente à Concórdia romana. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89ris 41 Hestia Koiné (pág.51) Espaço público que ficava no Ágora, em que eram debatidos os problemas de interesse geral (O.P.G. pág 51, Vernant) Lar público (O.P.G.pág.136, Vernant) Acrópole (pág.51) Acrópole (do grego ἀκρόπολις, composto de ἄκρος, "extremo, alto", e πόλις, "cidade") é a parte da cidade construída nas partes mais altas do relevo da região. A posição tem tanto valor simbólico, elevar e enobrecer os valores humanos, como estratégico, pois dali podia ser melhor defendida. Era na acrópole das diversas cidades que se construíam as estruturas mais nobres, tais os templos e os palácios dos governantes. A acrópole grega original de Atenas ficou famosa pela construção do Partenon, suntuoso templo em honra à deusa Atena, ricamente construído em mármores raros e ornado com esculturas de Fídias por ordem de Péricles e com recursos originalmente destinados a patrocinar a guerra contra os Persas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Acr%C3%B3pole Polis (pág.51) A pólis (πολις) - plural: poleis (πολεις) - era o modelo das antigas cidades gregas, desde o período arcaico até o período clássico, vindo a perder importância durante o domínio romano. Devido às suas características, o termo pode ser usado como sinonimo de cidade. As poleis, definindo um modo de vida urbano que seria a base da civilização ocidental, mostraram-se um elemento fundamental na constituição da cultura grega, a ponto de se dizer que o homem é um "animal político". Resumindo a Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos ( no grego “politikos” ), isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e "iguais" (vale lembrar que nenhum individuo da pólis é exatamente "igual" ao outro, por que eles tem diferentes aspirações tanto para si quanto para a cidade, o que muitas vezes levaram a conflitos separatistas ou mesmo emigração pra fundação de novas cidadesestados fora dos limites das anteriores). http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3lis 42 B. Esquematização. 1. Uma nova idade da civilização grega é inaugurada pela queda do poder micênico e expansão dos dórios no Peloponeso. 2. Houve mudanças nos rituais funerários, na arte da cerâmica e também várias mudanças sociais que repercutiram em esquemas novos de pensamento. 3. As primeiras mudanças foram as transformações da língua e as mudanças em relação aos termos tais como basileus e témenos, que não conservaram mais exatamente o mesmo significado. 4. O pequeno reino de Ítaca preservou certos aspectos da realidade micênica, o que garantiu certa continuidade até o mundo homérico. 5. As forças opostas liberadas pelo desmoronamento do sistema palaciano, que irão se chocar às vezes com violência, irão procurar um equilíbrio, um acordo, que fará nascer, num período de desordem, uma reflexão moral e especulações políticas que vão definir uma primeira forma de “sabedoria” humana. 6. Esta sophia aparece nos primórdios do séc. VII: não tem como objeto o universo da physis mas o mundo dos homens: como harmonizá-las, unificá-las, para que de seus conflitos surja a ordem humana da cidade. 7. Essa sabedoria difere desde o início da concepção micênica do Soberano. 8. Atenas é o único ponto da Grécia em que a continuidade com a época micênica não foi brutalmente rompida. O soberano não se encarrega mais da função militar que agora será delegada ao polemarca, ou chefe dos exércitos. Instituição do arcontado, onde os arcontes são renovados a cada ano. O sistema de eleição conservam certos traços de um processo religioso mas inaugura uma concepção nova de poder – a arché é todos os anos delegada por uma decisão humana, por uma escolha que supõe confronto e discussão. 9. A noção de arché se separa da noção de basileia que vê-se delegada a um setor especificamente religioso. 10. A figura do basileus, que antes era um personagem quase divino dá lugar agora ao exercício exclusivo de certas funções sacerdotais. 43 11. O rei é substituído por funções sociais especializadas e diferentes umas das outras e se torna difícil atingir um equilíbrio. 12. Três categorias sociais: os sacerdotes, os guerreiros e os agricultores que entrarão em conflito com os temas que envolvem a crise sucessória e divisão de soberania. 13. A crise dinástica revela quatro princípios concorrentes, atuando na soberania (O.P.G. pág. 47, Vernant): 1º Um princípio de soberania; 2º Um princípio de força guerreira; 3º Um princípio ligado ao solo e às suas virtudes; 4º Um princípio de poder mágico. Estes quatro princípios caracterizavam o corpo social como um composto feito de elementos heterogêneos, de partes separadas, de classes de funções que excluem uma às outras, mas cuja missão e fusão devem, entretanto, realizar-se. Desaparecido o ánax que, pela virtude de um poder mais que humano,unificava e ordenava os diversos elementos do reino, novos problemas surgiram. 14. Novos problemas relativos ao desaparecimento da figura do ánax: A. Como a ordem pode nascer do conflito de grupos rivais, do choque das prerrogativas e das funções opostas? B. Como uma vida comum pode apoiar-se em elementos discordantes? C. Como, no plano social, o uno pode sair do múltiplo e o múltiplo do uno? (fórmula órfica). D. Poder de conflito X Poder de união = Eris-Philia; duas entidades divinas, opostas e complementares. E. Exaltação dos valores de luta, de concorrência, de rivalidade associada ao sentimento de dependência para com um só e mesma comunidade, para com a exigência de unidade e unificação sociais. 15. O desaparecimento da técnica do carro implicou tudo o que tinha relação com a centralização política e administrativa, mas a posse de cavalos ainda assegurava a qualificação guerreira. 44 16. A política toma a forma de ágon: uma disputa oratória, um combate de argumentos cujo teatro é a ágora, praça pública, lugar de reunião antes de ser um mercado. A igualdade é garantida pelo direito do uso da palavra. A rivalidade, a eris, supõe concorrência existindo entre iguais. 17. Espírito igualitário é o que marca a aristocracia guerreira da Grécia e que dá à noção de poder um conteúdo novo. 18. Consciência de um agrupamento humano que passa a existir como unidade política (pág. 50) 19. As construções não são mais em torno de um palácio real cercado de fortificações. A cidade está agora centralizada na Ágora, espaço comum, sede da Hestia Koiné, espaço público onde são debatidos assuntos de interesse geral. A própria cidade passa a ser fortificada e são edificados templos abertos ao público. 20. Tudo isso define um novo espaço mental; novo horizonte espiritual. A cidade agora é uma Polis. 45 ANÁLISE TEMÁTICA Neste capítulo são apresentadas as consequências sociais e psicológicas em função do desaparecimento do poder micênico, da figura do rei, e o alcance das transformações sociais que mais diretamente repercutiram nos esquemas de pensamento (pág.42). Este súbito acontecimento histórico jogou o continente grego numa forma anterior de economia agrícola à exceção do pequeno reino de Ítaca, que preservou certos aspectos da realidade micênica através do seu sistema de assembléias e basileus. Atenas foi a única cidade que preservou uma certa continuidade com o passado micênico. As forças opostas que antes eram harmonizadas pelo ánax, as comunidades aldeãs e aristocracia, com o desmoronamento do sistema palaciano estas começaram a entrar em violentos conflitos de poder. Isso fará nascer uma sophia no século VII que não estará ligada à physis mas sim aos problemas humanos, ao mundo dos homens, como uma tentativa de harmonização da vida coletiva na cidade. As três categorias sociais que sobreviveram ao desaparecimento da figura do rei entraram em conflitos sucessórios e de divisão de soberania. Esta crise dinástica possuía quatro elementos estanques que precisavam ser harmonizados: 1º Um princípio de soberania; 2º Um princípio de força guerreira; 3º Um princípio ligado ao solo e às suas virtudes; 4º Um princípio de poder mágico. Este corpo social heterogêneo precisava encontrar valores que criassem as condições para a vida citadina, uma unidade política igualitária que de agora em diante seria baseada na disputa oratória na Ágora. A Polis criou um novo espaço mental e espiritual. 46 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 3 Análise do alcance das transformações sociais que repercutiram nos esquemas de pensamento após a queda do mundo micênico. ↓ Desaparecimento do ánax, que harmonizava as duas forças sociais antagônicas. ↓ Comunidade aldeã X Aristocracia ↓ Busca de um equilíbrio e de um acordo ↓ Nascimento de uma nova reflexão moral e especulações políticas ↓ Aparecimento de uma sophia que não tinha mais por objeto o mundo da physis mas sim o mundo dos homens ↓ Atenas foi o único ponto do continente grego que manteve uma certa continuidade com o mundo micênico ↓ Na polis, os ideais de igualdade e de debate através da oratória são as principais características: consciência de uma unidade política ↓ Nascimento da polis 47 ANÁLISE INTERPRETATIVA Neste capítulo 3, Vernant analisa a crise de soberania que ocorreu com o desaparecimento do mundo micênico causada pelas invasões dóricas. As transformações sociais e psicológicas advindas do desaparecimento do sistema de economia palaciana, cujo centro era o rei, repercutiram na necessidade de se encontrar novos esquemas de pensamento que harmonizassem as duas forças sociais: a comunidade aldeã e a aristocracia. Esta última tinha o privilégio dos genos, certos monopólis religiosos. Os conflitos, algumas vezes violentos, fizeram com que uma nova reflexão moral e um novo posicionamento na esfera política fosse implantado. Nasceu, portanto, dessa necessidade de harmonização e equilíbrio entre as classes sociais, os primórdios de uma filosofia voltada não mais apenas para o estudo da natureza mas sim para a compreensão dos motivos que levam os homens a viver em comunidade. Os valores agora tinham que estar fundamentados num novo caminho, diferente da concepção micênica do Soberano. O pequeno reino de Ítaca, conservando certos aspectos do mundo micênico, serviu para dar a Atenas o modelo que esta conservou e deu continuidade. Em Atenas, a idéia de funções sociais especializadas substituiu a figura do rei. E as disputas entre famílias agora foram substituídas pela disputa oratória na ágora. O Estado não mais teria um caráter privado, particular, mas agora as questões seriam públicas, fundamento espiritual e mental propício ao aparecimento do sentido pleno da polis. 48 CAPÍTULO 4 O UNIVERSO ESPIRITUAL DA POLIS ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Peithó (pág.54) Força de persuasão (O.P.G. pág 54, Vernant) Faculdade ou talento para persuadir, eloquência persuasiva, discurso persuasivo, doce e suave persuasão. O verbo peithó significa: persuadir, convencer para que alguém faça de bom grado alguma coisa; seduzir por palavras, súplicas e preces; apaziguar e suavizar por palavras e súplicas; excitar e estimular alguém a aceitar uma opinião ou a fazer alguma coisa; confiar, entregar-se, fiar-se, deixar-se persuadir e convencer, ceder à palavra de alguém, crer na palavra de alguém. Peithó não pretende enganar com seduções falsas e por isso se opõe a apáte, sedução mentirosa. http://logicalinguagem.blogspot.com.br/2009/12/alguns-termos-basicos-c.html Themis (pág.54) Ditos do rei com valor religioso (O.P.G. pág. 54, Vernant) Têmis era a deusa grega guardiã dos juramentos dos homens e da lei, sendo que era costumeiro invocá-la nos julgamentos perante os magistrados. Por isso, foi por vezes tida como deusa da justiça, título atribuído na realidade a Diké cuja equivalente romana é a Deusa Justitia. Têmis empunha a balança, com que equilibra a razão com o julgamento, e/ou uma cornucópia; mas não é representada segurando uma espada. Seu nome significa "aquela que é posta, colocada". http://en.wikipedia.org/wiki/Themis so? Logos (pág.54) O Logos (em grego λόγος, palavra), no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou falada—o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heraclito passou a ter um significado mais amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza. http://pt.wikipedia.org/wiki/Logos Arché (pág.54) Campos de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar(O.P.G. pág. 54, Vernant) Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9 Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant) 49 Aristóteles (pág.54) Aristóteles (em grego antigo: Ἀριστοτέλης, transl. Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedónia, na época com 13 anos de idade, que será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e Aristóteles volta para Atenas, onde funda o Liceu (lyceum) em 335 a.C.. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles Paideia (pág.56) Paideia (FO 1943: Paidéia), segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga. http://pt.wikipedia.org/wiki/Paideia Dike (pág.57) Divindade grega que representa a Justiça, também conhecida como Dice, ou ainda, Astreia. Filha de Zeus e Têmis ela não usa vendas para julgar. De acordo com Ferraz Júnior (2003, p. 32-33) os gregos colocavam a balança, com os dois pratos, na mão esquerda da deusa Diké, mas sem o fiel no meio, e em sua mão direita estava uma espada e estando de pé com os olhos bem abertos declarava existir o justo quando os pratos estavam em equilíbrio, ísion, origem da palavra isonomia, que para a língua vulgar dos gregos, o justo (o direito) significa o que era visto como igual. http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/bibliotecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica/anexo/di ke.pdf Anaximandro (pág.57) Anaximandro (em grego: Ἀναξίμανδρος; 610 — 547 a.C.) foi um geógrafo, matemático, astrônomo, político e filósofo pré-Socrático; discípulo de Tales, seguiu a escola jônica. Os relatos doxográficos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado "Sobre a Natureza"; contudo, essa obra se perdeu. Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Anaximandro acreditava que o princípio de tudo são coisas chamadas apéiron e arché, que apéiron é algo que não tenha vida, e arché que tenha vida, tanto no sentido quantitativo (externa e espacialmente), quanto no sentido qualitativo (internamente). Esse a-peiron é algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e imortal. Além de definir o princípio, Anaximandro se preocupa com os "comos e porquês" das coisas todas que saem do princípio. Ele diz que o mundo é constituído de contrários, que se auto-excluem o tempo todo. O tempo é o "juiz" que permite que ora exista um, ora outro. Por isso, o mundo surge de duas grandes injustiças: primeiro, da cisão dos opostos que "fere" a unidade do princípio; segundo, da luta entre os princípios onde sempre um deles quer tomar o lugar do outro para poder existir. http://pt.wikipedia.org/wiki/Anaximandro 50 Ferecides (pág.57) Uma antiga tradição informa que Ferécides de Siros (gr. Φερεκύδης Σύριος) estabeleceu uma ponte entre o pensamento mítico e a filosofia (ver Arist. Metaph. 1091b). Plutarco (Sull. 36) e outros escritores tardios, no entanto, referem-se a ele apenas como "teólogo" (gr. τεολόγος). http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0708 Templo de Ártemis (pág.57) O templo de Ártemis (ou templo de Diana) foi uma das sete maravilhas do Mundo Antigo, localizado em Éfeso. Foi o maior templo do mundo antigo, e durante muito tempo o mais significativo feito da civilização grega e do helenismo, construído para a deusa grega Ártemis, da caça e dos animais selvagens. Foi construído no século VI a.C. no porto mais rico da Ásia Menor pelo arquiteto cretense Quersifrão e por seu filho, Metagenes. Era composto por 127 colunas de mármore, com 20 metros de altura cada uma. Duzentos anos mais tarde foi destruído por um grande incêndio, e reerguido por Alexandre III da Macedónia. Atualmente, apenas uma solitária coluna do templo se mantém, após sucessivos terremotos e saques. http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_%C3%81rtemis Parápegma (pág.57) Inscrição monumental em pedra (O.P.G. pág 57, Vernant) Xóana (pág.58) Um Xoanon (griego antiguo: ξόανον ; plural: ξόανα, xoana) é uma escultura de madeira com caráter religioso que eram produzidos na época arcaica da Antigua Grecia e estava vinculada aos templos. http://es.wikipedia.org/wiki/Xoanon Tyche (pág.60) Τύχη, significa sorte na Grécia, em Roma o equivalente é Fortuna. Era a divindade que governava a fortuna e a prosperidade das cidades, seu destino. Ela é filha de Hermes e Afrodite. http://en.wikipedia.org/wiki/Tyche Hierós (pág.60) Este termo remete às coisas que permitem a aplicação das condições necessárias para a realização do rito. Trata-se de formas casuais ou circunstanciales, e não essenciais, do sagrado. Assim, um lugar pode se voltar sagrado ao tempo de uma cerimónia (o lugar de um sacrifício), inclusive um objecto da vida quotidiana (a faca para degolar à vítima sacrificial) ou inclusive um homem (o oficiante). Efectivamente, o sacerdote (ou ἱερεύς / hiereús) não é um homem fora da sociedade civil: o clero não há que falar dele como uma casta social senão como uma função administrativa da sociedade grega. Com freqüência, o sacerdote, efectivamente, não é mais que um servidor público sacado a sortes ou eleito para um ano, o sacerdocio aparece como um cargo do Estado, essencialmente efémero (o do sacerdote de Eleusis era o mais célebre). Durante seu mandato, o sacerdote não é investido de suas funções mais que durante os actos litúrgicos, e não fora destes momentos. Não existe, ademais, clero grego jerarquizado e organizado como instituição autónoma, o sacerdocio aparece como uma função essencialmente pública. 51 Este aspecto essencialmente ocasional do ἱερός / hierós ajuda ao entendimento do sustantivo plural τὰ ἱερά / ta hierá que pode remeter também segundo o contexto aos «actos do culto», aos «lugares de culto» ou inclusive aos «objectos do culto», ou globalmente «às coisas consagradas ao culto». http://betoquintas.blogspot.com.br/2010/06/hieros-hagios-hosios.html Hósios (pág.60) Este último termo conota a ideia de permissão. É ὅσιος / hósios o que está prescrito ou permitido pela lei divina. Um ser voltado impuro por causa de uma mancha, é excluído dos ritos e tem proibido entrar em um téménos, volta a ser hósios após ser lavado desta mancha. Em plural e substantivada, a expressão τὰ ὅσια tà hósia («ler coisas hósios») designa «as leis divinas», por oposição a τὰ δίκαια tà díkaia, «as leis humanas». http://betoquintas.blogspot.com.br/2010/06/hieros-hagios-hosios.html Couró i(pág.61) Jovens Guerreiros (O.P.G. pág, 61, Vernant) Epoptas (pág.61) Entre os gregos, o iniciado nos mistérios de Elêusis (Ceres). Inspetor dos mistérios de Elêusis. http://www.dicio.com.br/epopta/ Os eleitos (O.P.G. pág. 614, Vernant) Kérykes (pág.62) Famílias sacerdotais da Grécia Antiga (O.P.G. pág. 62, Vernant) Theios anér (pág 63) Semi-deus (O.P.G. pág. 63, Vernant) Sofistas (pág.64) Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando aparições públicas (discursos, etc) para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecerlhes educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco em estratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiam "melhorar" seus discípulos, ou, em outras palavras, que a "virtude" seria passível de ser ensinada. http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_sof%C3%ADstica Philia (pág.65) "Philia" (em grego: "φιλíα" transliteração para o latim:"philia") retirado do tratado de Ética a Nicômaco de Aristóteles, o termo é traduzido geralmente como "amizade", e às vezes também como "amor". http://pt.wikipedia.org/wiki/Philia (pág.68) Espírito de comunidade (O.P.G. pág. 65, Vernant) 52 Hómoioi (pág.65) Todos aqueles que participam dos assuntos do Estado, os semelhantes ( O.P.G. pág. 65, Vernant) Isoi (pág.65) Abstrato, os iguais (O.P.G. pág 65, Vernant) Isonomia (pág.65) O princípio da igualdade ou da isonomia provavelmente tenha sido utilizado em Atenas, na Grécia antiga, cerca de 508 A.C. por Clístenes, o pai da democracia Ateniense. Trata-se de um princípio jurídico disposto nas constituições de vários países que afirma que "todos são iguais perante a lei", independentemente da riqueza ou prestígio destes. http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_igualdade Clístenes (pág.65) Clístenes (em grego: Κλεισθένης, translit. Kleisthénês; Atenas, 565 a.C. — Atenas, 492 a.C.) foi um político grego antigo, que levou adiante a obra de Sólon e, como este último, é considerado um dos pais da democracia. Embora fosse um membro da aristocracia ateniense, além de liderar uma revolta popular, reformou a constituição da antiga Atenas em 508 a.C. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%ADstenes Isocratia (pág.65) Isocracia é o ideal da igualdade de acesso aos cargos políticos. Foi usado na Grécia Antiga, assim todos os cidadãos atenienses tinham o direito e o dever de participar na vida política da pólis. As decisões normalmente tomadas em conjunto respeitavam a vontade da maioria, pois todos tinham igual direito de voto. http://pt.wikipedia.org/wiki/Isocracia Monarchia (pág.65) A palavra monarca (Latim: monarcha) vem do grego μονάρχης (monarkhía, de μόνος, "um/singular," e ἀρχων, "líder/chefe"), posteriormente no latim, monarcha, monarchìa, referindo-se a um soberano único. Monarquia é um tipo de forma de governo em que o chefe de Estado mantem-se no cargo até a morte ou a abdicação, sendo normalmente um regime hereditário. http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia Tyrannís (pág.65) Tirania (do grego τύραννος, líder ilegítimo) é uma forma de governo usada em situações excepcionais na Grécia em alternativa à democracia. Nela o chefe governava com poder ilimitado, embora sem perder de vista que devia representar a vontade do povo. Hoje, entre sociedades democráticas ocidentais, o termo tirania tem conotação negativa. Algumas raízes históricas disto, entretanto, podem estar no fato de os filhos do grande tirano grego Pisístrato (que era adorado pelo povo pois fez a reforma agrária e dava subsídio) terem usufruído do espaço público como se fosse privado, sendo assim, banidos e mortos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tirania 53 Regime oligárquico (pág.65) Oligarquia (do grego ολιγαρχία, literalmente, "governo de poucos") é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas. . Essas pessoas podem distinguir-se pela nobreza, a riqueza, os laços familiares, empresas ou poder militar. Estados em que tal acontece são muitas vezes controlados por poucas famílias proeminentes que passam a sua influência ao longo de gerações. Ao longo da história algumas oligarquias foram tirânicas, sustentadas na servidão pública, embora outras tenham sido relativamente benignas. Os escritores políticos da Grécia antiga empregaram o termo para designar a forma degenerada e negativa de aristocracia (literalmente, "governo dos melhores").Aristóteles foi o primeiro a usar esta palavra como sinónimo do governo pelos ricos, embora o termo exato neste caso seja plutocracia. Na oligarquia nem sempre é a riqueza que governa: os oligarcas podem ser qualquer grupo privilegiado, que não precisa estar conectado por laços de sangue como numa monarquia. Algumas cidades-estado da Grécia antiga foram oligarquias. http://pt.wikipedia.org/wiki/Oligarquia Hoplita (pág.66) Hoplita (do grego ὁπλίτης, transl. hoplítes, pelo latim hoplites) era, na Era Clássica da Grécia antiga, um soldado de infantaria pesada. Seu nome provém do grande escudo levado para as batalhas: o hóplon. O hoplita era o principal soldado grego da antigüidade. Sua armadura era composta de elmo, couraça (peito de armas), escudo e cnêmides. Carregavam uma longa lança ou pique de 2,5m geralmente, e uma espada curta para combates de curta distância. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hoplita Zeugtas (Pág. 67) Os Zeugitas eram membros do terceiro censo criado com as reformas constitucionais introduzidas Sólon, em Atenas. Não se sabe se eles foram chamados assim porque eles poderiam manter uma junta de bois zeugotrophoûntes - Antonio Tovar traduz o termo por "um par de agricultores" (Aristóteles, Constituição de Atenas, 7, 3) - ou quão perto eles estavam a lutar, como se estivessem "unidos por um jugo" (Zygon) na falange. Eles devem pagar a sua armadura para si e para manter um escudeiro para deixar campanha. Na época das reformas de Sólon, os zeugitas dado o direito de realizar uma série de pequenas posições políticas. Eles tinham direito a voto na Assembléia e no Tribunal de heliasts. O seu estatuto social foi aumentado ao longo dos anos, e 458/7 a. C. dado o direito de ocupar o de arcontazgo. No final do século V. C. oligarcas moderados defendeu a criação de uma oligarquia em que todos os homens estavam envolvidos com hoplite gama ou superior. Além disso, este regime foi atingido logo após a realização do golpe de Estado de 411 para Atenas. C. Depois do quarto século. C. o nome de "zeugitas" é substituído pelo de hopla parechómenoi. http://es.wikipedia.org/wiki/Zeugitas Prómachoi (pág. 67) O valor militar do guerreiro (O.P.G. pág. 67, Vernant) Aristeia (pág.67) Superioridade pessoal do guerreiro (O.P.G. pág. 67, Vernant) 54 Lyssa (pág.67) Exaltação, furor belicoso do guerreiro grego ( O.P.G pág. 67, Vernant ) Na mitologia grega, Lyssa ( chamada Lytta pelos atenienses ) era o espírito de raiva e frenesi entre os animais. Ele estava intimamente relacionado como o Maniae, a deusa da loucura e da insanidade. Seu equivalente romano era Ira e furor. http://en.wikipedia.org/wiki/Lyssa Menos (pág.67) O ardor da batalha inspirado por um deus (O.P.G. pág. 67, Vernant) Thymós (pág.67) Esse termo vago encerra a afetividade em suas diversas formas: sentimento, humor, paixão, fervor,arrebatamento. Segundo a transliteração usual, o radical grego thym torna-se em latim thym-. O próprio termo torna-se, em francês, thymus (timo), que em anatomia designa uma glândula de crescimento situada contra o coração; portanto, nesse caso, a etimologia foi explorada de um ponto de vista totalmente orgânico. Em psicologia, o sufixo -timia designa o humor: um esquizotímico é um introvertido, e um ciclotímico é um indivíduo de humor mutável. http://www.filoinfo.bemvindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=305 Sophrosyne (pág. 67) Sofrósina (do grego σωφροσύνη, translit. sóphrosúné ou sophrosyne: estado de espírito são; prudência; bom senso') é um conceito grego que significa sanidade moral, autocontrole e moderação, guiados pelo verdadeiro autoconhecimento. Mais tarde o conceito foi ampliado para incluir a noção de prudência, e era associado à doutrina apolínea do "nada em excesso" e do "conhece-te a ti mesmo". http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofr%C3%B3sina (..) um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina comum, o sangue frio necessário para refrear os impulsos instintivos que correriam o risco de perturbar a ordem geral da formação (guerreira). (O.P.G. pág. 67, Vernant ) Aristeia (pág.67) O valor individual (O.P.G. pág.67, Vernant) Eris (pág.68) O desejo de triunfar do adversário, de afirmar sua superioridade sobre outrem (O.P.G. pág. 68, Vernant) Philia (pág.68) Espírito de comunidade (O.P.G. pág. 68, Vernant) 55 Hybris (pág. 68) O descomedimento (O.P.G. pág. 68, Vernant) A húbris ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia, aludia a um desprezo temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controlo sobre os próprios impulsos, sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho). Opõese à sofrósina, a virtude da prudência, do bom senso e do comedimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris Esparta (pág.69) Esparta (em grego Σπάρτη, transl. em grego moderno Spárti, em grego antigo, Spártē) é um município da Grécia, situada nas margens do rio Eurotas, no sudeste da região do Peloponeso. Foi uma das mais notórias cidades-estado da Grécia Antiga; conquistou a vizinha Messénia cerca do ano 700 a.C. e, duzentos anos mais tarde, coligou-se a seus outros vizinhos, formando a Liga do Peloponeso. Na Guerra do Peloponeso, no século V a.C., Esparta derrotou Atenas e passou virtualmente a governar toda a Grécia, mas em 371 a.C. os outros estados revoltaram-se e Esparta foi derrubada, apesar de manter-se poderosa ainda durante mais duzentos anos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Esparta Kleros (pág.70) Lote de terra (O.P.G. pág. 70, Vernant) Sissitias (pág.70) Refeições comuns que cada um leva todos os meses de cevada, vinho, queijo e figos (O.P.G. pág. 70, Vernant) Apella (pág.70) A Apella (em grego: Ἀπέλλα) era a assembléia popular deliberativa na Grécia Antiga cidadeestado de Esparta, correspondente à ecclesia, na maioria dos outros estados gregos. Cada cidadão do sexo masculino Spartan total que havia terminado seu trigésimo ano tinha direito a assistir às reuniões que, de acordo com a portaria de Licurgo, devem ser realizadas no momento de cada lua cheia dentro dos limites de Esparta. http://en.wikipedia.org/wiki/Apella Éphoroi (pág.70) A função principal dos éforos era, na verdade, a de controlar a instrução dos jovens e vigiar a vida social e política de Esparta, com a finalidade de evitar qualquer ramal em relação ao regime tradicional. Tinham grandes atribuições judiciárias, podendo julgar mesmo os reis. Seu enorme poder era restringido pelo caráter anual e colegiado do missão. http://209.85.215.104/search?q=cache:vrleP30WbLEJ:www.scribd.com/doc/3626131/HistoriaPreVestibular-Impacto-Grecia-Esparta-II+os+%C3%A9foros+fun%C3%A7%C3%A3o&hl=ptBR&ct=clnk&cd=10&gl=br 56 Gerousia (pág.70) Gerúsia (senado, Conselho de Anciãos) era um dos órgãos de governo da antiga Esparta. Sua criação é atribuída a Licurgo, nas reformas que introduziu no final do século VIII a.C.. De caráter oligárquico, a Gerúsia era um conselho formado por vinte e oito anciãos com mais de sessenta anos, mais os reis (Esparta era governada por uma diarquia). O título era vitalício. Suas funções eram legislativas e se encarregava de preparar os projetos que deviam ser submetidos à aprovação da Apela (assembléia popular). A Gerúsia tinha o controle da constituição de Esparta.Os reis que fossem acusados pelos éforos seriam julgados na Gerúsia. O poder da Gerúsia foi reduzido durante a tirania de Cleômenes III ], mas, durante o período romano, o senado espartano ainda tinha funções de julgar os cidadãos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ger%C3%BAsia Plutarco (pág.71) Plutarco (em grego, Πλούταρχος, transl. Ploútarkhos) de Queroneia (46 a 126 d.C.), filósofo e prosador grego do período greco-romano, estudou na Academia de Atenas (fundada por Platão). Ele foi um discípulo de Ammonius de Lamprae, um filósofo peripatético com profundo conhecimento de religião. Viajou pela Ásia e pelo Egipto, viveu algum tempo em Roma e foi sacerdote de Apolo em Delfos em 95d.C. O seu enorme prestígio valeu-lhe deter direitos de cidadão em Delfos, Atenas e mesmo em Roma (Mestrius Plutarchus). A sua ética baseia-se na convicção de que para alcançar a felicidade e a paz, é preciso controlar os impulsos das paixões. Escreveu sobre Platão, sobre os estóicos e os epicuristas, e estudou a inteligência dos animais comparando-a à dos humanos. É dele um pequeno e denso ensaio, onde expõe a habilidade no uso da astúcia com ética, Como tirar proveito do inimigo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Plutarco Homónoia (pág.72) Equilíbrio (O.P.G. pág. 72, Vernant) A realização propriamente política, a do acordo dos espíritos, a homonóia, é obtida pelo logos. http://books.google.com.br/books?id=djs9I8xoAT8C&pg=PA67&dq=Hom%C3%B3noia&hl=p t-BR&sa=X&ei=__nAT9eWHor8ATFooSoCw&ved=0CDQQ6AEwAA#v=onepage&q=Hom%C3%B3noia&f=false Phobos (pág.72) Temor dos cidadãos à obediência (O.P.G. pág. 72, Vernant) Fobos (em grego: φόβος, medo, derivado: fobia) era fruto da união entre os deuses gregos Ares e Afrodite. Irmão Gêmeo de Deimos, Simbolizava o temor e acompanhava Ares nos campos de batalha, injetando nos corações dos inimigos a covardia e o medo que fazia-os fugir. http://pt.wikipedia.org/wiki/Fobos_(mitologia) Rhetrai (pág.72) Leis quase oraculares (O.P.G. pág. 72, Vernant) 57 B. Esquematização. 1. O aparecimento da polis foi um acontecimento decisivo na história do povo grego. Situada entre os séculos VIII e VII e marcou uma verdadeira invenção (pág.53). 2. Duas implicações fundamentais: 1ª característica da polis: A extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder. Instrumento político por excelência, chave de toda autoridade no Estado, meio de comando e de domínio sobre outrem. Peithó, força de persuasão que chega a se assemelhar à Themis, os ditos soberanos do rei. Mas é coisa bem diferente. A nova função da palavra na pólis: A. Não é mais o termo ritual, a palavra justa mas sim, o debate contraditório, a discussão a argumentação; B. Supõe um público ao qual ela se dirige como a um juiz que decide em última instância, entre dois partidos que lhes são apresentados: - A escolha é exclusivamente humana; - Arte oratória, debate, formulação de discursos, amoldadas às demonstrações antitéticas e às argumentações opostas; - Vínculo recíproco, relação estreita entre política e o logos (pág.54); - Tomada de consciência da função política do logos; - Uso da retórica e da sofística abre caminho por Aristóteles para definir as regras de demonstração lógicas e do saber teórico em contraposição da lógica do verossímil ou do provável. 2º característica da polis: A. O cunho de plena publicidade dada às manifestações mais importantes da vida social que levará a uma profunda transformação onde os conhecimentos, valores, técnicas mentais são levados à praça pública, sujeitos à crítica e à controvérsia. (pág.55) B. Novas regras do jogo intelectual: discussão, argumentação e a polêmica. 58 C. Lei da Polis X Poder absoluto do monarca. 3. A escrita irá fornecer o plano de uma cultura comum e permitir uma completa divulgação de conhecimentos previamente reservados ou interditos. 4. Essa escrita foi tomada dos fenícios e modificada por uma transcrição mais precisa dos sons gregos. 5. A escrita constituirá o elemento de base da paideia grega. 6. Redação das leis diminuindo o poder dos basileis cuja função era "dizer" o direito. 7. Os dois planos de atuação da Dike, a lei, no mundo de Hesíodo (anterior ao regime da cidade ): - Dependente da arbitrariedade dos reis "comedores de presentes"; - Divindade soberana no céu, longínqua e inacessível. 8. Anaximandro, Ferecides e Heráclito teriam sido os primeiros a tornar público o seu saber por meio da escrita. 9. Transformação de saberes secretos de tipo esotérico em um corpo de verdades divulgadas para o público. Todos os sacra, símbolos religiosos, vão emigrar para o templo, morada aberta, morada pública. (pág.59) 10. Perda do caráter secreto dos ídolos e propagação de "imagens" sem outra função espiritual senão a de serem vistos. 11. Mesmo com a vida social sendo paulatinamente entregue a uma publicidade crescente, práticas de governo mantêm, em pleno período clássico, uma forma de poder que opera por vias misteriosas e fins sobrenaturais, tais como os que aconteceram em Esparta. O "racionalismo" político se opõe aos antigos processos religiosos do governo, mas sem por isso excluí-los de maneira radical. (pág.61) 12. Aparecem associações fundadas secretamente tais como seitas, confrarias e mistérios onde são selecionados os eleitos que se beneficiarão com privilégios inacessíveis aos comuns, mas ficam confinados a um terreno puramente religioso. (pág.61) 13. Apesar dessa democratização de um privilégio religioso, o mistério em nenhum momento se coloca numa perspectiva de publicidade. 59 14. Segredo X Publicidade. (pág.62) 15. Ritos de iniciação tradicionais X sophia e philosophia.(pág.63) 16. A filosofia nasce numa posição ambígua: em seus métodos, em sua inspiração, assemelha-se às iniciações dos mistérios e às controvérsias da ágora. Flutuará entre: 17.Espírito de segredo X Publicidade 18. Dessa ambiguidade inteiramente.(pág.64) talvez a filosofia jamais se libertará 19. Os Três aspectos da Polis: A. Prestígio da palavra; B. Desenvolvimento das práticas públicas; C. A percepção dos cidadão como semelhantes, Hómoioi e Isoi (iguais) (pág.65). 20. Isonomia e Isocratia X Monarchi e Tyrannís 21. A tradição igualitária dos antigos guerreiros, hippeis, favoreceu esse caminho para o uso público da palavra (pág.66). 22. Os hoplitas substituem as prerrogativas militares dos hippeis. 23. A virtude guerreia, thymós, agora será substituída pela sophrosyne, um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina comum. 24. A aristeia, o valor individual, subordina-se aos valores da falange militar. 25. A hybris, o descomedimento das antigas atitudes tradicionais da aristocracia guerreira são condenados. 26. O ideal de vida austero de reserva e moderação é preconizado como superior. 60 27. A ordem social não estará mais sob a dependência de um soberano e sim à ordem, que regula o poder de todos os indivíduos e impõe um limite à sua vontade de expansão: Ordem Poder (pág.72) Arché = Lei (pág.72) 28. Em Esparta os fins militares é que determinam a supremacia da lei e da ordem. 29. Não será Esparta que a palavra se tornará instrumento político por excelência por causa de sua preocupação exclusiva com a supremacia da lei e da ordem com fins militares. No lugar desta Peithó, outros celebrarão como instrumento de poder o Phobos, o temor que curva todo cidadão à obediência. 61 ANÁLISE TEMÁTICA A importância do aparecimento da polis na história do pensamento grego, situada entre os séc. VIII e VII, marca o momento em que a vida social e as relações entre os homens tomam uma nova forma e uma originalidade que será plenamente sentida pelos gregos. A palavra é o principal instrumento político e a chave do poder do Estado. A arte política é um exercício de linguagem. Peithó será a divindade que expressará a força de persuasão e se aproximará da Themis do rei. Agora em diante há o vínculo estreito entre a política e o logos (pág.54). A lógica do verdadeiro, própria do saber retórico substitui a lógica do verossímil ou do provável (pág.55). A cultura grega agora é um demos todo, os conhecimentos, os valores e as técnicas mentais são levados à praça pública, sujeitos à crítica e à controvérsia. Não é mais exclusividade das famílias tradicionais. O jogo intelectual e o jogo político serão todos sujeitos à argumentação e à polêmica. O prestígio pessoal e a força não conseguirão impor a lei da polis. (pág. 56) A escrita se encarregará da divulgação dos conhecimentos preservados e será o elemento de base da paideia. A redação das leis surge desde o nascimento das cidades. Os basileis não têm mais o monopólio de "dizer" o direito. A Dike não depende mais da arbitrariedade dos reis. Os símbolos sagrados agora são apenas "imagens" sem outra função ritual que agora servem aos cidadãos, em benefício da comunidade. A escrita conterá a verdade do sábio que será de acesso a todos. Todo esse processo de transformação da vida social em direção a um ambiente de publicidade completa aconteceu por etapas (pág.59) e seu progresso teve muitos obstáculos. Poderes secretos ainda subsistem como forma de poder como foi o caso do regime de Esparta. As relíquias sagradas e talismãs tais como ossadas de heróis e outros símbolos tinham um enorme valor político (pág.60). Vernant nos avisa que esta intervenção de um poder sobrenatural, que escapavam ao cálculo das ações humanas deve ser bem considerada na economia dos fatores políticos (pág.60). Seitas secretas, confrarias e mistérios desenvolveram-se à margem da cidade e do culto público e selecionava uma minoria de eleitos que eram assim privilegiados dentre a população. Estra transformação “espiritual” tinha consequências políticas. Paralelamente a estes ritos, a sophia e a philosophia propõe outros caminhos: uma regra de vida, um caminho de ascese, uma via de pesquisa que, ao lado das técnicas de discussão, de argumentação, ou de novos instrumentos mentais como as matemáticas 62 mas que conservam no seu íntimo antiga práticas divinatórias que dará um caráter ambíguo às origens da filosofia. Vernant nos diz que desta ambiguidade a filosofia jamais se libertaria totalmente (pág.64) Ora substituirá a função do rei divino, na direção do Estado, ora se retirará do mundo para recolher-se numa sabedoria puramente privada (pág.64) Enfim, a estes dois aspectos da polis, o prestígio da palavra e o desenvolvimento das práticas públicas, se acrescentará outro ao seu universo espiritual: a unidade que é conquistada por um sentido de semelhança, a philia, entre os homens o que levará ao princípio de isonomia: igual participação de todos os cidadãos no exercício do poder(pág.65) Isto é fruto de uma tradição igualitária muito antiga (pág.66). Um outro momento importante que marca a nova e surpreendente atitude psicológica é quando a cidade rejeita as atitudes de descomedimento, a hybris , da aristocracia pois promovem desigualdades sociais e o sentimento de distância entre os indivíduos(pág.69). O ideal agora preconizado é o de moderação cujo exemplo maior é Esparta. No Estado Espartano, diferentemente do reino micênico, o rei não ocupa mais o topo da pirâmide e a ordem social não depende mais de um soberano(pág.71) É a ordem, pelo contrário, que regula o poder de todos os indivíduos. A ordem é primeira em relação ao poder (pág.72). Qualquer indivíduo que pretenda assegurar o monopólio da arché ameaçará o equilíbrio das outras forças sociais pondo-a em risco a existência da própria cidade. 63 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 4 1ª característica da polis: a importância da palavra dita e escrita ↓ 2ª característica da polis: desenvolvimento das práticas públicas ↓ Novas funções da palavra na polis ↓ Uso da palavra argumentativa e para uso no debate contraditório ↓ Uso público ↓ Função política ↓ Lei da Polis X Poder absoluto do monarca ↓ Transformação de saberes secretos de tipo esotérico em um corpo de verdades divulgadas para o público ↓ Perda do caráter secreto dos ídolos e propagação de "imagens" sem outra função espiritual senão a de serem vistos. ↓ Existência de seitas que se propõe a criar uma classe de iniciados que serão os novos detentores do poder político ↓ 64 Segredo X Publicidade ↓ Ritos de iniciação tradicionais X Sophia e filosofia ↓ Espírito de segredo X Publicidade ↓ Consolidação de uma ambiguidade que na filosofia que se tornará permanente e influenciará a política ↓ Característica da polis: Prestígio da palavra Desenvolvimento das práticas públicas Percepção dos cidadão como semelhantes ↓ Isonomia e Isocratia X Monarchi e Tyrannís ↓ Ordem Poder ↓ Arché = Lei ↓ Peithó Phobos 65 ANÁLISE INTERPRETATIVA Para Vernant, o aparecimento da polis deu ao pensamento grego um novo impulso à vida dos homens. Ele nos diz que este aparecimento pode ser lido como uma verdadeira invenção humana. Se no passado o poder era conquistado pelas tradições ou pelo uso da força, agora o instrumento a ser usado na Polis seria a palavra. Seu uso e seu poder foram considerados tão grandes que até mesmo uma divindade foi criada para representá-la: Peithó, a força da persuasão. Ela serviria não mais para expressar um domínio de um soberano sobre outrem, mas agora seria usada para medir a força entre dois discursos com a mediação de um juiz. E tudo isso num espaço novo: o espaço público. O poder da argumentação serviria de agora em diante aos interesses gerais coletivos. A verdade estaria baseada num discurso onde a lógica do verdadeiro se sobreporia sobre a lógica do verossímil, ou seja, aquilo que fosse o mais provável. De agora em diante a palavra seria levada à praça pública. Era o instrumento principal da vida política bem como a escrita, que dava à divulgação dos conhecimentos um sentido de uma cultura comum. As redações das Leis da cidade, agora escritas, progressivamente retirariam o poder que os antigos basileis detinham oralmente, sendo que eram apenas eles que possuiam o poder de ditar o “direito”. Isso evitaria as arbitrariedades cometidas no passado. As leis passaram a ser um bem comum e o segredo religioso que alguns eleitos detinham perdia cada vez mais sua força. As verdades dos sábios, quando escritas, passavam a pertencer a todos. E isto fará com que todos os símbolos sagrados percam sua força fora do ambiente privilegiado do templo, onde, aí sim, eles conservariam sua força. Este poder dos símbolos religiosos ainda exerceria por muito tempo a função de iniciar alguns eleitos na arte de governar e continuariam a criar uma elite dos chefes políticos. Seitas secretas formavam-se naturalmente para contrabalançar o “racionalismo político.” Eram seitas e confrarias cuja função seria selecionar uma minoria de eleitos e isso teve uma enorme repercussão política. Estes grupos criaram uma filosofia que oscilava entre o pensamento místico e o racional. Vernant nos diz que desta ambiguidade inicial a filosofia talvez nunca tenha se libertado totalmente. Além destes aspectos relacionados ao uso da palavra e do desenvolvimento das práticas públicas, Vernant aponta a valorização do espírito igualitário que a polis engendrava. Esse fator foi muito importante para o desenvolvimento do conceito de isonomia. Além disso, todo 66 cidadão passou a ser um soldado com a função de defender esse espírito igualitário e o descomedimento da antiga aristocracia guerreira, essa hybris, seria condenado, pois gerava um sentimento de distância entre os indivíduos e o aparecimento de desigualdades sociais. O domínio de si e a disciplina necessária para atuar em comunidade e refrear os impulsos instintivos era conhecida como sophorsyne. Esparta será o exemplo de sociedade onde o ideal austero de reserva e moderação apareceu efetivamente e de forma muito clara onde exigência de um mundo dos homens equilibrado ressoa em todos seus aspectos políticos na sociedade espartana: a ordem vem do espírito de philia e não da submissão a um soberano. A ordem vem antes do poder. Mas essa orientação espartana era exclusivamente voltada para a guerra. Os lacedônios cultivaram, diferentemente de Atenas, o conceito de phobos, o temor que curva a todos os cidadãos à obediência, ao invés de peithó, a força da persuasão, que será o instrumento político principal da futura cidade grega que procura expressar um cosmos equilibrado e harmonioso. 67 68 CAPÍTULO 5 A CRISE DA CIDADE. OS PRIMEIROS SÁBIOS. ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Deucalião (pág.74) Deucalião foi um filho de Prometeu e Climene (ou de Prometeu e Pronoea). Era casado com Pirra. Quando a fúria de Zeus foi lançada contra o holismo dos pelásgios, Zeus decidiu pôr um fim à idade do bronze com o dilúvio. Avisado por Prometeu, o casal construiu um barco de madeira que equipou com provisões, para se salvar do dilúvio. http://pt.wikipedia.org/wiki/Deucali%C3%A3o Nomótetas (pág.74) Legislador, membro da grande comissão legislativa que, formada de ex-juízes, era encarregada, entre os atenienses, da revisão das leis existentes.http://www.dicio.com.br/nomoteta/ Gene (pág.77) O genos (plural gene) era um tipo de organização social da Grécia Antiga, durante o período homérico. Eram uma espécie de clãs ou grandes familias. Cada genos era chefiado pelo homem mais velho (patriarcas) e o poder era passado do pai para o filho primogênito. Tal organização surgiu na região da Grécia Antiga, logo após o evento denominado 1ª Diáspora Grega. A propriedade nos gene era comunal, ou seja, coletiva: plantavam e colhiam em conjunto. No entanto, passados três séculos, os genos entraram em colapso, pois a população cresceu e não havia terras cultiváveis para todos. Assim, com a explosão demográfica, pensou-se em explorar mais regiões (2ª Diáspora Grega), sem sucesso. Como solução, determinou-se que as terras passariam a ter posse privada (pelos descendentes diretos dos chefes dos antigos genos). A coletividade consequentemente acabou e os níveis de desigualdade social apareceram. Como forma mais eficiente para organizar a sociedade grega, surgiram as cidades-Estados, ou pólis, cujos principais exemplos são Atenas e Esparta. http://pt.wikipedia.org/wiki/Genos Eris (pág.77) Éris (Ἔρις, em grego antigo) é a deusa que personifica a discórdia na mitologia grega. Corresponde à deusa romana Discórdia. Seu oposto é a Harmonia, correspondente à Concórdia romana. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89ris 69 Kalós kagathós (pág.77) O homem bem-nascido, o Kalós-Kagathós, no seio da nobreza (O.P.G. pág.77, Vernant) Kalos kagathos (em grego antigo καλὸς κἀγαθός [kalos ka ː ɡat ʰ ǒs]), de que kalokagathia (καλοκαγαθία) é o substantivo derivado, é uma frase usada por escritores clássicos gregos para descrever um ideal de conduta pessoal, especialmente em um contexto militar. Seu uso é atestado desde Heródoto e do período clássico. A expressão é adjetiva, composto por dois adjetivos, καλός ("bela") e ἀγαθός ("bom" ou "virtuoso"), a segunda das quais é combinado por crase com καί "e" para formar κἀγαθός. Werner Jaeger resume como "o ideal cavalheiresco da personalidade humana completa, harmoniosa em mente e corpo, quadrangular no campo de batalha e música, fala e ação". http://en.wikipedia.org/wiki/Kalos_kagathos en asty (pág.78) Na cidade (O.P.G. pág. 78, Vernant) Demoi (pág.78) Aldeias periféricas (O.P.G. pág. 78, Vernant) Anomia (pág.78) A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do Capitalismo, e da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento com valores tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Anomia Aidós (pág.79) Aidós (com “o” longo, ômega), significa pudor, vergonha, respeito ou temor à opinião alheia. Com esse dom de aidós, os homens se sentiram compelidos a não cometer delitos, devido ao temor pela opinião alheia. http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090221034619AAwuqIj Hybris (pág.79) O descomedimento (O.P.G. pág. 68, Vernant) A húbris ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia, aludia a um desprezo temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controlo sobre os próprios impulsos, sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho). Opõese à sofrósina, a virtude da prudência, do bom senso e do comedimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris 70 Eunomia (pág.79) Divisão equitativa dos cargos, das honras, do poder entre os indivíduos e as facções que compõem o corpo social (O.P.G. pág.79, Vernant) Miasma (pág.80) Horror inspirado por toda espécie de assassínio (...) a exigência de uma expiação que é ao mesmo tempo uma purificação do mal.( O.P.G. pág. 80, Vernant) Órficos (pág.80) Orfismo era uma religião de mistérios no antigo mundo grego, difundido a partir dos séculos VII e VI a.C. Seu fundador teria sido o poeta Orfeu, que desceu ao Hades e retornou. Os órficos também reverenciam Perséfone (que descia ao Hades a cada inverno e voltava a cada primavera) e Dioniso ou Baco (que também desceu e voltou do Hades). Como os mistérios de Elêusis, os mistérios órficos prometiam vantagens no além-vida. Esses cultos de mistérios, que prometiam uma vida melhor após a morte, parecem ter influenciado o início do cristianismo. O orfismo diferia da religião grega popular das seguintes maneiras: caracterizava as almas humanas como divinas e imortais, mas condenadas a viver (por um período) em um círculo penoso de sucessivas encarnações através da metempsicose ou transmigração de almas; prescrevia uma forma ascética de vida, ou vida órfica, a qual, junto com ritos iniciáticos secretos, deveria garantir não apenas o desprendimento do tal círculo penoso mas também uma comunhão com deus(es); advertia sobre uma punição pós-morte por certas transgressões cometidas durante a vida; era fundamentada sobre escritos sagrados com relação à origem dos deuses e seres humanos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Orfismo_(culto) Hades (pág.80) Hades (em grego antigo: Άδης, transl. Hádēs), na mitologia grega, é o deus do mundo inferior e dos mortos. Equivalente ao deus romano Plutão, que significa o rico e que era também um dos seus epítetos gregos, seu nome era usado frequentemente para designar tanto o deus quanto o reino que governa, nos subterrâneos da Terra. Consta também ser chamado Serápis (deus de obscura origem egípcia) http://pt.wikipedia.org/wiki/Hades Homónoia (pág.81) Equilíbrio (O.P.G. pág. 72, Vernant) A realização propriamente política, a do acordo dos espíritos, a homonóia, é obtida pelo logos. http://books.google.com.br/books?id=djs9I8xoAT8C&pg=PA67&dq=Hom%C3%B3noia&hl=p t-BR&sa=X&ei=__nAT9eWHor8ATFooSoCw&ved=0CDQQ6AEwAA#v=onepage&q=Hom%C3%B3noia&f=false 71 Oikos (pág.81) A família doméstica ( O.P.G. pág. 81, Vernant) Um oikos (grego antigo: οἶκος plural,: οἶκοι,) é o equivalente grego antigo de uma família, casa, ou família. http://en.wikipedia.org/wiki/Oikos Koinonia (pág. 82) Comunidade natural (O.P.G. pág. 82, Vernant) Daimon (pág.82) Daimon ou daemon (grego δαίμων, transliteração dáimon, tradução "divindade", "espírito"), é um tipo de ser que em muito se assemelha aos gênios da mitologia árabe. A palavra daimon se originou com os gregos na Antiguidade; no entanto, ao longo da História, surgiram diversas descrições para esses seres. O nome em latim é dæmon, que veio a dar o vocábulo em português demônio. São intermediários entre os deuses e os homens. Xenócrates associava os deuses ao triângulo equilátero, os homens ao escaleno, e os daimons ao isósceles. Seu temperamento ligase ao elemento natural ou vontade divina que o origina. Não se fala em "bem" ou "mal". Um mesmo daimon pode apresentar-se "bom" ou "mau" conforme as circunstâncias do relacionamento que estabelece com aquele ou aquilo que está sujeito à sua influência. No plano teleológico, os gregos falavam de eudaimons (eu significando "bom", "favorável") e kakodaimons (kakos significando "mau"). Por isso, a palavra grega que designa o fenômeno da felicidade é Eudaimonia. Ser feliz para os gregos é viver sob a influência de um bom daimon. Assim é a forma como Sócrates se refere a seu daimon. http://pt.wikipedia.org/wiki/Daemon_(mitologia) Cátharsis (pág.82) Catarse (do grego Κάθαρσις "kátharsis") é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou a psicanálise, que significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama. http://pt.wikipedia.org/wiki/Catarse Adikia (pág.84) Na mitologia grega, Adikia era uma daemon ou espírito da injustiça, filha de Nix (a noite), por si mesma ou unida a Érebo (as trevas), ou ainda filha de Éris (a discórdia), por si mesma sem um pai. Deusa da injustiça era companheira inseparável de Disnomia (a desordem) e de outros males da humanidade, seu oposto era Diké a deusa da justiça. http://pt.wikipedia.org/wiki/Adikia Loimós (pág.84) Os loimós palavra grega descreve alguém que é considerado como sendo extremamente incômodo, uma ameaça ou um inimigo público 72 B. Esquematização. 1. A palavra sabedoria tinha um vínculo com as virtudes próprias do cidadão da polis. 2. Houve uma crise entre os séculos VII e VI, chamada Era dos Sábios. 3. Características: A. Período de confusões e de conflitos internos advindas de condições econômicas específicas; B. Sistema de valores questionado; C. Questionamentos sobre a própria ordem do mundo; D. Percepção de um estado de erro e de impureza. 4. Consequências da crise de valores: A. Promoção de reformas associadas à Epimênides, Sólon, Pítaco e Periandro. B. Esforço para elaborar uma nova ética grega. 5. O ponto de partida da crise foi de ordem econômica (pág.75), mas revestida de uma efervescência religiosa que no plano social da vida nas cidades acaba levando ao nascimento de uma reflexão moral e política. 6. O fenômeno decisivo causador dessas mudanças o plano econômico e também no plano espiritual foi a retomada e o desenvolvimento dos contatos com o oriente. 7. O desenvolvimento geográfico impunha soluções para o problema dos cereais e a agricultura helênica passou a exportar produtos. 8. A expansão grega se deveu a um tríplice objetivo econômico: A. Procura de terra; B. Procura de alimento; C. Procura de metal. 9. As mudanças de estrutura social desta época estão descritas na poesia lírica onde vemos uma aristocracia inspirada e atraída pelo luxo e 73 opulência do Oriente. Isso foi um motivo de dissociação, de divisão entre o povo grego. O Kalós Kagathós, o homem bem-nascido, é o proprietário de terras e o problema agrário é o problema capital do período arcaico. 10. Essas mudanças também ocorreram no mundo fenício. Mas a diferença entre eles e os gregos se deu no sentido em que estes sentiram a necessidade de restringir o poder desses poucos que detinham o poder. 11. A dike deve estabelecer o equilíbrio e garantir a eunomia, a divisão equitativa dos cargos, das honras, do poder entre os indivíduos e facções. O contrário disso é a anomia. 12. Este espírito tinha relação com certas matérias do Direito. O tema do assassinato, por exemplo, comprometia a estabilidade de toda a comunidade. Os interesses familiares deviam ser subordinados ao interesse comunitário e evitar o ciclo sem fim de violência que provocava o desequilíbrio na polis (miasma). 13. O progresso do dionisismo levou ao aparecimento de seitas de tipo órfico. O reformador religioso apareceu então como conselheiro político pois era uma atividade orientada para ordenar a vida social, reconciliar e unificar a cidade. 14. O religioso, o jurídico e o social achavam-se associados num mesmo esforço de renovação. Para Aristóteles, a polis era uma família ampliada. Neste período houve um esforço no sentido de dar ao cidadão grego um sentimento de irmandade ritual. O assassinato era tido como coisa impura, pois se tratava de uma atitude sacrílega contra um parente de mesmo sangue. Quando se passou da vingança privada à repressão jurídica do crime, isto demonstrava que o dano causado a um indivíduo particular era na realidade um atentado contra todos. 15. O direito na Grécia antiga não era compreendido fora de um certo clima religioso. 16. As reformas se deram como consequência das aspirações comunitárias e unitárias que vão lentamente inserir-se na realidade social. 74 ANÁLISE TEMÁTICA Com o interesse voltado para a organização da Polis, todo um novo tipo de sabedoria foi criado para inventar as virtudes próprias do cidadão(pág.73). Um momento de crise ocorrido entre os séc.VII e VI, crise social com confusões e conflitos internos, levou a criação de sentenças políticas e chavões morais perpetrados pelos Sete Sábios, que por sua vez conduziu os gregos a uma discussão de todo o seu sistema de valores tanto no plano religioso como moral (pág.74). As consequências dessa crise foram as reformas propostas por Epimênides, Sólon, Pítaco e Periandro(PÁG.74). O ponto de partida foi a crise econômica ocasionada pelo desenvolvimento geográfico e as consequentes pressões exercidas no desenvolvimento da agricultura, a posse de terras, a procura por alimento e do metal. Estes três últimos fatores forma os causadores da expansão grega pelo Mediterrâneo (pág.76). As mudanças de estrutura sociais mais evidentes se deram por conta de todo um setor da economia grega voltada para o comércio marítimo. A aristocracia grega foi seduzida pelo requinte e ostentação do Oriente o que conferiu o prestígio dos gene e que se uniu aos valores guerreiros e às qualificações religiosas para marcar sua supremacia (pág.77). Essa eris aristocrática agiu como elemento de dissociação, de divisão (pág.77). Nascia a figura do Kalós Kagathós, ou o homem bem nascido, que agora é um rico e entregava-se ao tráfico marítimo (pág.77). A concentração da riqueza fez da questão agrária o principal problema desse período arcaico (pág.78). Oposição entre “urbanos” e “rurais” (pág. 78). Estas mudanças técnicas e econômicas também ocorreram no mundo fenício. Mas o que é próprio da Grécia foi a reação que elas suscitaram no grupo humano (pág.78): sua reação foi sentida como um estado de anomia. Houve um esforço de renovação atuando ao mesmo tempo nos planos religioso, jurídico, político, e econômico visando restringir a dynamis dos gene, fixando um limite à sua ambição, ao seu desejo de poder, que devia se submete a fins igualitários (pág.79). Essa norma superior é a Dike que garantirá aos cidadãos a eunomia: a divisão equitativa dos cargos, das honras, do poder entre os indivíduos e as facções que compõem o corpo social (pág.79). A Dike favorecia o espírito de comunidade (pág.79) e influenciará certas teses do Direito principalmente em relação ao homicídio que era visto como um miasma no corpo social. Os sentidos religioso, jurídico e social estavam a serviço de uma renovação da polis (pág.81). O Direito se 75 formou num clima religioso: o movimento místico corresponde a uma consciência comunitária mais exigente das novas realidades sociais (pág.85) com a exacerbação das aspirações comunitárias e unitárias que irão sofrer um processo de laicização. Louis Genet apontou bem esta mutação intelectual que o advento do direito propriamente dito realiza (pág.85). Agora, a figura de um juiz servirá para representar o corpo cívico e consolidará uma concepção totalmente nova da prova e do testemunho, que usará técnicas de demonstração, de reconstrução do plausível e do provável, de dedução de indícios ou de sinais - e a verdade agora fará parte de uma nova noção objetiva. 76 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 5 Crise de valores entre os séc. VIII e VI, era do Sete Sábios ↓ Crise de origem geográfico-econômica ↓ Sistema de valores questionado ↓ Questionamento da própria ordem do mundo ↓ Percepção de um estado de imperfeição e impureza que a nova aristocracia provocava com sua ambição desmedida ↓ Promoção de reformas sociais ↓ Procura de uma nova ética grega ↓ A retomada do comercio com o Oriente foi o fenômeno causador e o ponto de partida para a necessidade de mudanças ↓ Tríplice fator da expansão grega pelo Mediterrâneo: Procura de terra Procura de alimento Procura de metal ↓ Aparecimento do Direito 77 ANÁLISE INTERPRETATIVA Vernant inicia seu capítulo dedicado a analise dos problemas suscitados com o desenvolvimento das cidades dizendo que, para Aristóteles, um dos três elementos que os homens tiveram que procurar para se reerguer dos períodos de cataclismos que periodicamente ocorriam era a organização da Polis e suas leis. Isso, ao lado da busca pelos meios elementares de subsistência e o cultivo das artes que embelezam a vida, constituiria o que foi nomeado de Sabedoria. Este era o conteúdo principal dos Sete Sábios da Grécia antiga e vemos a importância que as questões acerca da Polis tinha para os gregos. O momento de crise ocorrido no final do século VII e que se desenvolve no século VI se refere a uma crise de valores tanto no plano religioso como no plano moral, advindo de conflitos internos com motivações políticas e econômicas. Reformas foram propostas e o principal personagem deste momento foi Solon, que elaborou as noções fundamentais da nova ética grega. Tendo como ponto de partida uma crise econômica que se manifestou com a retomada dos contatos com o oriente e que na sua origem se confundia com uma efervescência religiosa e social, apareceram nas cidades um novo tipo de reflexão moral e política que se referiria agora aos assuntos exclusivamente humanos. Crise demográfica e de alimentos que levaram os gregos e incrementar os comércio e favorecer a agricultura da vinha e da oliveira. O impacto do comércio marítimo na estrutura social foi gigantesco. O luxo do oriente começou a ser cobiçado e uma nova elite apareceu, o que levou à concentração de renda em pouquíssimas mãos, criando divisões entre “urbanos” e “rurais”. Muitos esforços foram feitos nos planos religioso, jurídico, político e econômico para impor um limite à cobiça, à ambição e o desejo de poder, que eram vistos pela sociedade grega como erro e exacerbação da Hybris, a falta de limite e de medida nas ações humanas. Isso inspirou as primeiras matérias do Direito e os crimes de sangue eram os mais severamente reprimidos e punidos. Esse movimento tinha, ao lado de conceitos religiosos extremamente arraigados na mentalidade grega, um sentido que visava também à ordem social que reconciliava e unificava a cidade. Para o grego, a cidade era uma família unificada e todos sentiam a necessidade de se considerarem irmãos. Por isso mesmo qualquer assassinato era um miasma, um fato desagregador terrível, pois significava um crime que afetava a todos como uma só família. A remodelação da vida pública se deu em função das legislações que uma 78 aspiração comunitária exigiu e que causou uma verdadeira mutação intelectual com o advento do Direito, onde o juiz representava o corpo cívico. Este ser impessoal deu à comunidade novas perspectivas em função dos julgamentos que antes eram feitos arbitrariamente. Neste quadro pré-jurídico as novas técnicas de argumentação e comprovação deram novo impulso às concepções a respeito do que seria doravante considerado um julgamento justo. 79 80 CAPÍTULO 6 A ORGANIZAÇÃO DO COSMOS HUMANO ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Areté (pág.87) Aretê (do grego ἀρετή aretê, ês, "adaptação perfeita, excelência, virtude") é uma palavra de origem grega que expressa o conceito grego de excelência, ligado à noção de cumprimento do propósito ou da função a que o indivíduo se destina. No sentido grego, a virtude coincide com a realização da própria essência e, portanto, a noção se estende a todos os seres vivos. Segundo Sócrates, a virtude é fazer aquilo que a que cada um se destina. Aquilo que no plano objetivo é a realização da própria essência, no plano subjetivo coincide com a própria felicidade. Na Grécia Antiga, aretê significava também a coragem e a força de enfrentar todas as adversidades, e era uma virtude a que todos aspiravam. A raiz da palavra é a mesma de aristos, que originou aristocracia, que significa habilidade ou superioridade, e era constantemente usada para denotar nobreza. O termo era aplicado para qualquer coisa, desde a descrição da boa fatura de um objeto utilitário até para indicar o cidadão exemplar e o herói, mas em todos os casos a aretê de cada um envolvia valores diferentes. Em torno do século IV a.C., aretê passou a incorporar outros atributos, como dikaiosyne (justiça), e sophrosyne (moderação e autocontrole). Platão incorporou esses novos significados tentando estabelecer uma nova definição para aretê, Aristóteles ampliou seu trabalho e o conceito teve importantes repercussões no pensamento cristão. Aretê foi também importante elemento na paideia grega, o conceito de educação integral para a formação de um cidadão virtuoso e capaz de desempenhar qualquer função na sociedade. O treinamento na aretê envolvia educação física, oratória, retórica, ciência, música e filosofia, além de educação espiritual. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aret%C3%AA Habrosyne (pág.88) A vida ideal. Vida de luxo, requinte, a criação da poesia, a busca de lazer. http://www.funnelbrain.com/c-44492-habrosyne.html Áskesis (pág.88) Palavra grega para exercício. http://askesis.sites.uol.com.br/index.htm Meleté (pág.88) Disciplina dura e severa (O.P.G. pág 88, Vernant) Epiméléia (pág.88) Um controle vigilante sobre si (O.P.G. pág. 88, Vernant) 81 Hedoné (pág.88) (...) uma atenção sem descanso para escapar ás tentações do prazer (O.P.G. pág. 88, Vernant) O hedonismo (do grego hedonê, "prazer", "vontade") é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, e importantes representantes foram Aristipo de Cirene e Epicuro. O hedonismo filosófico moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número de pessoas. O significado do termo em linguagem comum, bastante diverso do significado original, surgiu no iluminismo e designa uma atitude de vida voltada para a busca egoísta de prazeres materiais. Com esse sentido, "hedonismo" é usado de maneira pejorativa, visto normalmente como sinal de decadência. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hedonismo Malachia e Tryphé (pág.88) Atrativo da moleza e da sensualidade (O.P.G. pág.88, Vernant) Tryphé (τρυφἠ); extravagância http://en.wikipedia.org/wiki/Tryph%C3%A9 Ascese (pág.88) A ascese (do grego ἄσκησις, derivado di ἀσκέω, “exercitar”) consiste na prática da renúncia do prazer ou mesmo a não satisfação de algumas necessidades primárias, com o fim de atingir determinados fins espirituais. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ascese Stasis (pág.88) O termo stasis (do Grego στάσις) se refere a um estado de estabilidade, em que todas as forças são iguais e opostas, portanto, eles anulam mutuamente.http://en.wikipedia.org/wiki/Stasis Aphrosyne (pág.89) A riqueza, ta chrémata, torna-se no homem loucura, aphrosyne. (O.P.G. pág, 89, Vernant) Pleonexia (pág.89) Pleonexia (do grego: πλεονεξια) é um conceito filosófico utilizado quer no Novo Testamento quer nos escritos de Platão e Aristóteles. Corresponde, de maneira geral, à avareza, podendo ser definida como "desejo insaciável de ter posse do que por direito pertence aos outros". http://pt.wikipedia.org/wiki/Pleonexia Ploutos (pág. 89) PLOUTOS (ou Plutão) era o deus da riqueza. Em agrária Grécia ele foi a primeira associada exclusivamente com abundância de ricas colheitas. Mais tarde, ele passou a representar a riqueza em termos mais gerais. http://www.theoi.com/Georgikos/Ploutos.html Ethos (pág.87) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ethos (...) é a necessidade imanente a um caráter, a um ethos, a lógica de um tipo de comportamento. (O.P.G. pág. 89, Vernant) 82 Koros (pág.89) Um Kouros ( plural Kouroi, Grego Antigo κοῦρος) é o termo atualmente dado áquelas representações de homens jovens que apareceram primeiramente no período arcaico da Grécia. http://en.wikipedia.org/wiki/Kouros Hybris (pág.89) O descomedimento (O.P.G. pág. 68, Vernant) A húbris ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia, aludia a um desprezo temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controlo sobre os próprios impulsos, sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho). Opõese à sofrósina, a virtude da prudência, do bom senso e do comedimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris Eris (pág.89) http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89ris (...) arrogância aristocrática, este espírito de Eris que (...) (O.P.G. pág. 89, Vernant Dysnomia (pág.89) (Desordem) - perda de memória http://en.wikipedia.org/wiki/Dysnomia Sophrosyne (pág. 67) Sofrósina (do grego σωφροσύνη, translit. sóphrosúné ou sophrosyne: estado de espírito são; prudência; bom senso') é um conceito grego que significa sanidade moral, autocontrole e moderação, guiados pelo verdadeiro autoconhecimento. Mais tarde o conceito foi ampliado para incluir a noção de prudência, e era associado à doutrina apolínea do "nada em excesso" e do "conhece-te a ti mesmo". http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofr%C3%B3sina (..) um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina comum, o sangue frio necessário para refrear os impulsos instintivos que correriam o risco de perturbar a ordem geral da formação (guerreira). (O.P.G. pág. 67, Vernant ) Mesoi (pág.90) "Aqueles que são chamados mesoi não são apenas os membros de uma categoria social particular, a igual distância da indigência e da opulência: representam um tipo de homem, encarnam os valores cívicos novos, como os ricos, a loucura da hybris. Em posição mediana no grupo, os mesoi têm por papel estabelecer uma proporção, um traço de união entre os partidos que dilaceram a cidade, porque cada um reivindica para si a totalidade da arché." (O.P.G. pág. 90, Vernant) 83 Arché (pág.90) Campos de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar(O.P.G. pág. 54, Vernant) Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9 Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant) Eunomia (pág.90) "Mas essa distribuição equilibrada, essa eunomia, impõe um limite à ambição daqueles que o espírito de descomedimento anima; (...) (O.P.G. pág. 90, Vernant) Na mitologia grega Eunômia era a deusa da lei e da legislação, sendo uma das Horas (horae). Constituíam um grupo de deusas que presidiam às estações dos anos. É filha de Zeus e Têmis, sendo irmã de Irene (paz), Dice (justiça), além de ser irmã de mais nove horas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Eun%C3%B4mia Kakós (pág.91 ) Bem, nobre, honrado, razoável. http://concordances.org/greek/2573.htm Agathós (pág.91) Agathós, palavra extremamante importante para a história da educação grega, pode designar o nobre, o aristocrata, mas, também, o homem de valor, o que tem coragem. Traduzir agathós por bom pode levar à confusão: o sentido básico não é moral. Na poesia heróica, é adequado dizerse de um homem que ele é agathós se ele tem valor. Valor, aqui, especificado a cada passo, ou referido à coragem guerreira, ou a uma certa habilidade. http://www.hottopos.com/videtur16/gilda.htm Kratos e bia (pág.91) Kratos, O poder de domínio sobre outra pessoa (O.P.G. pág. 132, Vernant) In Greek mythology, Kratos or Cratus (Ancient Greek: Κράτος, English translation: "strength") was the son of Pallas and Styx, and the personification of strength and power. Kratos and his siblings—Nike ("victory"), Bia ("force") and Zelus ("zeal")—were the winged enforcers of Olympian God Zeus. The figure makes an appearance in Aeschylus' Prometheus Bound, in which he is one of the trio that binds the titular Titan, the other two being Hephaestus and Bia. http://en.wikipedia.org/wiki/Kratos_(mythology) Nomos (pág.91) In Greek mythology, Nomos is the daemon of laws, statutes, and ordinances. By one account, Nomos' wife is Eusebia (Piety), and their daughter is Dike (Justice).The Nomos is also the making of the human law in the Ancient Greek. The Sophists were persuaded that the Nomos wasn't especially the best in Greek but had as first the idea that it was equal but different of other cultures. http://en.wikipedia.org/wiki/Nomos_(mythology) 84 Demos (pág.92) Plural de demoi, as pessoas comuns, a população. http://www.thefreedictionary.com/Demoi Ekphron (pág.93) (...) demente, (...) (O.P.G. pág. 93, Vernant) Sophron (pág.93) (...) são de espírito. (O.P.G. pág. 93, Vernant) Katharmói (pág.93) (...) delírio (...) (O.P.G. pág. 93, Vernant) Styx (pág.93) (...), rio de impureza, (..) (O.P.G. pág. 93, Vernant) http://pt.wikipedia.org/wiki/Estige Alyssos (pág.94) (...), a fonte Alyssos cujas águas benfazejas curam os raivosos e todos os que o delírio da Lyssa possui. (O.P.G. pág.94, Vernant) Lyssa (pág.94) Exaltação, furor belicoso do guerreiro grego ( O.P.G pág. 67, Vernant ) Na mitologia grega, Lyssa ( chamada Lytta pelos atenienses ) era o espírito de raiva e frenesi entre os animais. Ele estava intimamente relacionado como o Maniae, a deusa da loucura e da insanidade. Seu equivalente romano era Ira e furor. http://en.wikipedia.org/wiki/Lyssa Eros (pág.94) Eros (em grego Ἔρως; no panteão romano Cupido) era o deus grego do amor. Hesíodo, em sua Teogonia, considera-o filho de Caos, portanto um deus primordial. Além de o descrever como sendo muito belo e irresistível, levando a ignorar o bom senso, atribui-lhe também um papel unificador e coordenador dos elementos, contribuindo para a passagem do caos ao cosmos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Eros Thymós (pág.94) Thumos (also commonly spelled "thymos") (Greek: θυμός) is a Greek word expressing the concept of "spiritedness" (as in "spirited stallion" or "spirited debate"). The word indicates a physical association with breath or blood. The word is also used to express the human desire for recognition. Today in Greece thymos means simply "anger". http://en.wikipedia.org/wiki/Thumos 85 Paideia (pág.94) Paideia (FO 1943: Paidéia), segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga. http://pt.wikipedia.org/wiki/Paideia Pistis (pág.95) "Tráta-se de uma noção social e política, tal como a homónoia, de que constitui o aspecto subjetivo: a confiança que os cidadãos sentem entre si é a expressão interna, a contrapartida psicológica da concórdia social. Na alma como na cidade, é pela força da Pistis que os elementos inferiores se deixam persuadir e obedecer àqueles que têm o encargo de comandar e aceitam submeter-se a uma ordem que os mantém em sua função subalterna." (O.P.G. pág 96, Vernant) Homónoia (pág.72) Equilíbrio (O.P.G. pág. 72, Vernant) A realização propriamente política, a do acordo dos espíritos, a homonóia, é obtida pelo logos. (O.P.G.pág.95, Vernant) Agogé (pág.96) No seu próprio significado, a palavra que os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo: agogê ( agoge) , isto é, “adestramento”, “treinamento”. Viam-na como um recurso para a domesticação dos seus jovens. O objectivo maior dela era formar soldados educados no rigor para defender a colectividade. http://pt.wikipedia.org/wiki/Agog%C3%AA Isotes (pág.97) Igualdade (O.P.G. pág.97, Vernant) , equidade (O.P.G. pág.101,Vernant) Homónoia (pág.98) A concórdia (pág.98) (Vernant) Hippeis (pág.99) Hippeis (Ancient Greek: ἱππεῖς) was the Greek term for cavalry. The Hippeus (ἱππεύς) was the second highest of the four Athenian social classes, made of men who could afford to maintain a war horse in the service of the state.(See Solonian Constitution) The rank may be compared to Roman Equestrians and medieval knights. http://en.wikipedia.org/wiki/Hippeis Zeugitas (pág.99) Os Zeugitas eram membros do terceiro censo criado com as reformas constitucionais introduzidas Sólon, em Atenas. Não se sabe se eles foram chamados assim porque eles poderiam manter uma junta de bois zeugotrophoûntes - Antonio Tovar traduz o termo por "um par de agricultores" (Aristóteles, Constituição de Atenas, 7, 3) - ou quão perto 86 eles estavam a lutar, como se estivessem "unidos por um jugo" (Zygon) na falange. Eles devem pagar a sua armadura para si e para manter um escudeiro para deixar campanha. Na época das reformas de Sólon, os zeugitas dado o direito de realizar uma série de pequenas posições políticas. Eles tinham direito a voto na Assembléia e no Tribunal de heliasts. O seu estatuto social foi aumentado ao longo dos anos, e 458/7 a. C. dado o direito de ocupar o de arcontazgo. No final do século V. C. oligarcas moderados defendeu a criação de uma oligarquia em que todos os homens estavam envolvidos com hoplite gama ou superior. Além disso, este regime foi atingido logo após a realização do golpe de Estado de 411 para Atenas. C. Depois do quarto século. C. o nome de "zeugitas" é substituído pelo de hopla parechómenoi. http://es.wikipedia.org/wiki/Zeugitas Adikia (pág.99) Na mitologia grega, Adikia era uma daemon ou espírito da injustiça, filha de Nix (a noite), por si mesma ou unida a Érebo (as trevas), ou ainda filha de Éris (a discórdia), por si mesma sem um pai. Deusa da injustiça era companheira inseparável de Disnomia (a desordem) e de outros males da humanidade, seu oposto era Diké a deusa da justiça. http://pt.wikipedia.org/wiki/Adikia Nómisma (pág.101) (...) padrão social de valor, artifício racional que permite estabelecer entre relaidades diferentes uma medida comum e igualar assim o intercâmbio como relação social. (O.P.G. pág. 101, Vernant) Logimós (pág.102) Cálculo raciocinado (O.P.G.pág.102, Vernant) Stasis (pág.102) Discórdia; é diferente de homónoia (concórdia) (O.P.G.pág.102, Vernant) Pleonectein (pág.103) O desejo de ter mais. (O.P.G. pág. 103, Vernant) Isonomia (pág.103) O princípio da igualdade ou da isonomia provavelmente tenha sido utilizado em Atenas, na Grécia antiga, cerca de 508 A.C. por Clístenes, o pai da democracia Ateniense. Trata-se de um princípio jurídico disposto nas constituições de vários países que afirma que "todos são iguais perante a lei", independentemente da riqueza ou prestígio destes. http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_igualdade 87 B. Esquematização. 1. Além da efervescência religiosa na Grécia antiga ter contribuído para o nascimento do Direito ela também preparou um momento de reflexão moral orientado por especulações políticas. 2. Muitos agrupamentos religiosos reagiram à brutal insolência dos ricos (pág.87), perseguindo um ideal de austeridade contribuindo assim para um novo ideal de areté. 3. Nestes novos agrupamentos religiosos a sua areté se despojou do ideal guerreiro de Habrosyne. (virtude advinda da disciplina severa). 4. Este rigor aristocrático e guerreiro também fazia parte dos meios sectários. Mas sua reação é caracterizada por uma denúncia contra o fausto e a primazia da violência, que era entendida como desmedida que não tinha limites (Hybris). Este é o tema moral mais importante do século VI a.c. 5. Em contraste com a Hybris dos ricos, o ideal de sophrosyne (temperança, proporção, justa medida, justo meio): Hybris X Sophrosyne = Tema mais importante do séc. VI a.c. 6. "Nada em excesso" era a fórmula da nova Sabedoria (pág.88). 7. Estes valores deram um aspecto mais ou menos "burguês" à sociedade grega: o aparecimento de uma classe média que tinha um papel moderador, um equilíbrio entre as classes sociais da época: a minoria dos ricos e a maioria dos pobres (pág.90). 8. A sophrosyne era colocada como imagem da nova ordem política onde havia a recusa da tirania e tentativas racionais de pôr fim aos conflitos. 9. Este "racionalismo político" da era de Sólon indicava que "é a maldade dos homens, seu espírito de Hybris, sua sede insaciável de riqueza que produzem naturalmente a desordem, segundo um processo de que se pode marcar de antemão cada fase: a injustiça engendra a escravidão do povo e esta provoca em troca a sedição". (pág.92) Sólon X arrogância dos ricos (pág.92) Sólon = Dike + Sophrosyne na Ágora : laicização do pensamento moral. 88 10. A sophrosyne implicava uma tensão (luta de classes) e, portanto fora das seitas é que ela adquiria uma significação moral e política precisa (pág.96). 11. Em Esparta, a sophrosyne é agogé (comedimento ),onde a dignidade do comportamento tinha uma significação institucional, e criava o "homem político" (pág.97). 12. O papel dos Sábios foi o ter colocado verbalmente os valores que estavam implícitos nas condutas e na vida social do cidadão. Sophrosyne = métrion, pistis, homonóia, eunonia 13. Isotes é o espaço para a igualdade e sem ela não há philia, a amizade entre os cidadãos, pois para Sólon o igual não pode engendrar a guerra (pág.98). 14. A "igualdade" grega é hierárquica, o que quer dizer, geométrica e não aritmética. O essencial é atingir o senso de "proporção". 15. Igualdade Grega: todos agora fazem parte dos tribunais e da assembleia. É a dike que fixa a ordem e não a timaí (leis que sempre favoreciam os fortes) e de agora em diante é a Homonóia, a concórdia, que produz "harmonia" obtida pela proporção exata com a divisão dos cidadão em quatro classe sociais: quinhentas medidas de produtos agrícolas para as classes mais altas, trezentas medidas para os hippeis, duzentas para os zeugitas. Relações de tipo racional X Relações de Força É a nova linha de desenvolvimento do pensamento moral e da reflexão política. 16. A imagem da teia de aranha é atribuída a Sólon que diz que as leis, tal com a teia de aranha, “só serve para os fracos...os poderosos as despedaçam.” 17. Sólon queria promulgar para a cidade regras que codificam as relações entre os indivíduos, segundo os mesmos princípios positivos de vantagem recíproca que presidem ao estabelecimento de um contrato (pág.100). 18. A moeda surge neste quadro de esforço geral de codificação e medida e seu significado tem seus alicerces na legislação. 89 19. No plano intelectual, o surgimento da moeda, a função do dinheiro é a de substituir a antiga imagem da riqueza (igualar, de certa maneira, as fortunas por distribuição de numerário); substituir a força afetiva e carregada de implicações religiosas das fortunas. 20. Duas grandes correntes que se opõem no mundo grego: Aristocracia X Democracia 21. O Pitagorismo reforçava a ideia de proporção e da sophrosyne: o que devia ser levado em conta era a orientação que predominava e a preponderância do melhor sobre o pior. 22. As relações sociais são agora assimiladas por vínculos contratuais em detrimento ao estatuto do domínio e da submissão expressando-se em termos de reciprocidade e reversabilidade. Vínculo contratual X Estatuto de submissão e domínio Isonomia = relação de 1/1 23. A preocupação maior passou a ser: que lei devia ordenar a cidade para que ela fosse uma na multiplicidade de seus cidadãos, para que eles fossem iguais em sua necessária diversidade? 24. Antigamente três facções lutavam pelo poder na Grécia antiga: A. Pediakos: homens da planície, da cidade, em terras ricas; B. Parálios: habitavam o litoral; C. Diácros: homens da montanha. 25. Clítenes propôs uma reforma cuja organização política do conjunto obtivesse coerência e clareza e a organização tribal é abolida (pág.105). Clístenes = fusão social, unificação do corpo social, organização administrativa, isonomia. 26. Sob a lei da isonomia o mundo social tomou a forma de um cosmos circular e centrado em que cada cidadão, por ser semelhante a todos os outros, teve que percorrer a totalidade do circuito, ocupando e cedendo sucessivamente, segundo a ordem do tempo, todas as posições simétricas que compõem o espaço cívico (pág.107). 90 ANÁLISE TEMÁTICA Orientado por especulações políticas, novos esforços de reflexão moral deram origem ao Direito, impregnado na sua origem pela efervescência religiosa. A aspiração mística a uma vida pura livre do crime de sangue. À brutal insolência dos ricos houve movimento de um grupo que reagiu contra a expansão do comercio e a ostentação do luxo. (pág.87).Estes agrupamentos de fundo religioso contribuíram para o nascimento de uma nova areté que se despojou de seu aspecto guerreiro e que agora seria substituída pelo ideal de habrosyne, a virtude (pág.88). A percepção de que a riqueza não comportava nenhum limite demonstrava que este descomedimento devia ser combatido: uma luta contra a hybris. Esta foi a questão mais discutida em todo o séc. VI (pág.89). Em contraste com a hybris do rico, começava a aparecer o ideal de sophrosyne, a temperança, o senso de proporção, de justa medida, de justo meio (pág.89). “Nada em excesso” é a fórmula da nova sabedoria (pág.89). Uma nova classe com estilo “mais ou menos burguês” será a nova classe média, os mesoi, que desempenhará o papel moderador entre os dois extremos da realidade social: a minoria dos ricos que querem tudo conservar e a multidão das pessoas pobres que querem tudo obter (pág.90). A sophrosyne será o acordo que dará equilíbrio e estabelecerá um acordo entre os elementos rivais (pág.90). O racionalismo político será implantado em nome da comunidade fixando para cada indivíduo uma justiça direita (pág.91). A imagem hesiódica do Bom Rei é uma realidade agora distante (pág.91). “É a maldade dos homens, seu espírito de hybris, sua sede insaciável de riqueza que produzem naturalmente a desordem”... (pág.91). Houve uma acentuada laicização do pensamento moral (pág.92). A reinterpretação operada por Solon sobre o conceito de sophrosyne, que na época de Homero era associada a um valor geral, o bom senso, agora será associada a um contexto polítco, embora isso também levasse a uma colocação de tipo ascética (pág.94). Esta busca pelo equilíbrio gerou técnicas iniciáticas que disciplinavam a alma tornando-a dócil ao comando, não disposta á rebelião que a entregaria á desordem (pág.94). Os males da coletividade se devem à incontinência dos ricos que são agora vistos como aqueles que carregam o espírito de subversão dos “maus” (pág.95). Mas de uma maneira geral foi fora das seitas que a sophrosyne adquire conteúdos políticos (pág.96). “Na instituição da agogé espartana a sophrosyne aparece com um caráter essencialmente social” (pág.96). Imposição, 91 regulamentação, dignidade de comportamento: tudo isso com significação institucional com a intenção de criar um “homem político” (pág.97). Para se compreender o ideal de sophrosyne é preciso conhecer as reformas institucionais de Solon (pág.97). Criação de espaço para a igualdade, a isotes, fundamento da nova concepção de ordem. “Sem isotes, não há cidade porque não há philia” (pág.98). “O igual não pode engendrar a guerra” dizia Solon (pág.98). A igualdade é conquistada quando a lei é fixada para todos os cidadãos e onde todos têm direito à participação na assembleia (pág.98). Desenvolvimento do pensamento moral e da reflexão política: as relações de força serão substituídas pelas relações de tipo “racional” (pág.99). Promulgação de regras para a cidade que codificam as relações entre os indivíduos (pág.99) e neste esforço geral de codificação é que aparece a moeda (pág.99) que será um fator de profunda transformação orientando o povo grego no sentido do mercantilismo (pág.99). A moeda substituirá as imagens carregadas de significado religioso, de uma riqueza feita de hybris (pág.101). A noção abstrata de nómisma, padrão social de valor, a procurou um artifício racional que estabelecesse uma medida comum que igualaria o intercâmbio como relação social (pág.101). As duas grandes correntes que se opunham no mundo grego, uma de inspiração aristocrática e outra de espírito democrático, notavelmente reclamaram a isotes, a igualdade (pág.101). O ideal de isonomia é a relação de igualdade mais simples: 1/1, a única “justa medida” capaz de harmonizar as relações entre os cidadãos (pág.101). A história ateniense foi dominada por três “facções” revoltadas umas contra as outras na sua luta pelo poder: os pediakoí, os parálios e os diácrios (pág.104). Foi Clístenes quem fundou a Polis sobre uma base nova (pág.105). Organiza o território grego em dez tribos e a delimitação da região urbana e seu território circundante (pág. 106). Conquista uma unificação do corpo social e uma organização administrativa que atende a uma vontade deliberada de fusão. O conceito de isonomia de Clístenes liga-se diretamente à realidade política: “inspira uma mudança completa nas instituições” (pág.107). Agora o mundo das relações sociais se tornou um sistema coerente, um universo homogêneo sem hierarquia, sem diferenciação, sem personagem único no cume da organização social (pág.101). Como diz Vernant: “ Sob a lei de isonomia, o mundo social toma a forma de um cosmos circular e centrado em que cada cidadão, por ser semelhante a todos os outros, terá que percorrer a totalidade do circuito, ocupando e cedendo sucessivamente , segundo a ordem do tempo, todas as posições simétricas que compõem o espaço cívico” (pág.107). 92 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 6 Efervescência religiosa ↓ Nascimento do Direito ↓ Nova reflexão moral orientada por especulações políticas ↓ Novo ideal de areté ↓ Hybris X Sophrosyne = tema mais importante do séc. VI a.c. ↓ Nova fórmula de sabedoria : “nada em excesso” ↓ Sophrosyne é a nova ordem política ↓ Sólon X arrogância dos ricos ↓ Sólon = Dike + Sophrosyne na Ágora : laicização do pensamento moral ↓ Sophrosyne = luta de classes ↓ Esparta: Sophrosyne = comedimento, disciplina austera (agogé) ↓ Sophrosyne = métrion, pistis, homonóia, eunonia ↓ 93 Sem isotes não há philia ↓ Relações de tipo racional X relações de Força ↓ Aristocracia X Democracia ↓ Vínculo contratual X Estatuto de submissão e domínio ↓ Isonomia = relação de 1/1 ↓ Três “facções” lutavam pelo poder na Grécia antiga ↓ Pediakos: homens da planície, da cidade, em terras ricas ↓ Parálios: habitavam o litoral ↓ Diácros: homens da montanha ↓ Clístenes = fusão social, unificação do corpo social, organização administrativa, isonomia. 94 ANÁLISE INTERPRETATIVA Se o direito foi fruto da efervescência religiosa ocorrida entre os séculos VII e VI podemos igualmente afirmar que outro fator resultante disso foi uma nova reflexão no plano moral, orientada por especulações políticas. Na Grécia antiga as aspirações a uma vida livre de toda impureza levaram certos agrupamentos religiosos a criar um clima de austeridade como reação ao desenvolvimento do comércio e toda ostentação e luxo que a acompanhavam. Assim surgiu uma nova areté que estaria agora despojada de seu aspecto guerreiro e aristocrático. O ideal era a Habrosyne, que mais tarde seria denominado com o nome de virtude. Na percepção deles a falta de limites que acompanhava a obtenção de riquezas era tomada como hybris, ou seja, descomedimento, e cuja consequência era a injustiça. O ideal que contrabalançava a hybris do rico tem o nome de sophrosyne, a temperança, proporção e justa medida. “Nada em excesso”, era a fórmula da nova sabedoria e Vernant aponta que este caráter de moderação deu à areté grega um caráter mais ou menos “burguês”, o que correspondeu á uma classe média que irá desempenhar um papel moderador nas cidades. Era preciso alcançar um equilíbrio entre os extremos da realidade social: “a minoria dos ricos que querem tudo conservar e a multidão das pessoas pobres que querem tudo obter”. As leis então geraram um certo “racionalismo político” que foi um esforço positivo para equilibrar as forças sociais antagônicas – bem diferente do período anterior que nos afasta daquela imagem do Bom Rei que, só ele, detinha o poder para julgar os homens. Nesta época a desordem era considerada fruto da hybris dos homens que, com sua sede insaciável de riqueza engendrava a escravidão do povo. Esta laicização dos conceitos religioso e moral teve consequências políticas e com isso o sentimento de concórdia e confiança dos cidadãos se consolidava na nova ordem, reforçando a alma da cidade. Ás relações de força sobrepunha-se agora as relações de tipo racional visando dar aos cidadãos um novo sentido de igualdade e amizade (philia). Foi neste contexto que surgiu a moeda e as consequências também forma notáveis e que acabaram por conferir poder aos legisladores. Estes por sua vez acabaram se tornando uma nova classe dominante. Estas duas grandes correntes que se opõem no mundo grego, uma de inspiração aristocrática e outra de espírito democrático passaram a reclamar a isotes, ou seja, a igualdade. Os estatutos que seriam criados para se atingir o equilíbrio acabaram por um 95 tipo de relação social baseada em vínculos contratuais e não mais em termos de domínio e submissão. Para os partidários da eunonia, a conversão moral e psicológica da elite era fruto de se perceber a mensagem da urgente necessidade de equidade nas relações sociais. Uma nova paideia deu a eles a consciência de que a igualdade seria realizada proporcionalmente ao mérito e não pela busca das riquezas. Mas o avanço da democracia na Grécia foi mais longe e consolidou o conceito de isonomia onde os elementos dissonantes seriam todos harmonizados independentemente das diferenças sociais. Estas reformas foram alcançadas por Clístenes. Embora houvesse lutas entre “facções” na Grécia, Clístenes fundou a Polis numa base nova que unificou o corpo social através da organização administrativa que formou um sistema coerente, regulado por relações de correspondências numéricas que permitiam aos cidadãos se sentirem idênticos uns aos outros. Não haveria mais hierarquia na polis e a organização tribal foi abolida. As instituições acabaram assim por se transformar completamente na era de Clístenes com este ideal igualitário que exprimia o conceito de isonomia. A Polis agora finalmente compunha um cosmos humano. 96 CAPÍTULO 7 COSMOGONIAS E MITOS DE SOBERANIA ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Teogonias (pág.109) Genealogia e filiação dos deuses. Conjunto de divindades de um povo politeísta. http://www.dicio.com.br/teogonia/ Cosmogonias (pág.109) Cosmogonia (do grego κοσμογονία; κόσμος "universo" e -γονία "nascimento") é o termo que abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as religiões, mitologias e ciências através da história.Tanto o vocábulo cosmologia como o vocábulo cosmogonia partilham do mesmo radical grego cosmo, que significa mundo. Enquanto o sufixo logos da cosmologia designa saber ou ciência, o sufixo gon da cosmogonia lhe dá o significado de "Imaginar, produzir, gerar", discernindo daí que enquanto a cosmologia é a ciência que estuda o universo, a cosmogonia é uma das diversas teorias ou explicações que determinada religião ou cultura deu à origem do universo e seus principais fenômenos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmogonia Cosmologias (pág.109) Cosmologia (do grego κοσμολογία, κόσμος="cosmos"/"ordem"/"mundo" λογία ="discurso"/"estudo") é o ramo da astronomia que estuda a origem, estrutura e evolução do Universo a partir da aplicação de métodos científicos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmologia Arché (pág.109) Princípio elementar (O.P.G.pág.121, Vernant) Phyein (pág.112) Engendrar (O.P.G. pág. 112, Vernant) Génesis (pág.112) Origem (O.P.G. pág. 112, Vernant) Ápeiron (pág.113) O ilimitado (O.P.G. pág. 113, Vernant) Gónimon (pág.113) Semente ou germe (O.P.G. pág. 113, Vernant) 97 Gaia, Ouranós, Pontos, Okéanos, Tártaros (pág.116) Potências primordiais. (O.P.G. pág. 116, Vernant) Chaos (pág.117) Caos (do grego Χάος,tranl. khaos) é, segundo Hesíodo, a primeira divindade a surgir no universo, portanto o mais velho dos deuses. A natureza divina de Caos é de difícil entendimento, devido às mudanças que a ideia de "caos" sofreu com o passar das épocas. Inicialmente descrito como o ar que preenchia o espaço entre o Éter e a Terra, mais tarde passou a ser visto como a mistura primordial dos elementos. Seu nome deriva do verbo grego χαίνω, que significa "separar, ser amplo", significando o espaço vazio primordial. http://pt.wikipedia.org/wiki/Caos_(mitologia) Timai (pág.117) Honras (O.P.G. pág. 117, Vernant) Arché (pág.121) (...)não pertence ao vocabulário político do mito (...) e foi Anaximandro quem pela primeira vez conferiu o sentido filosófico de princípio elementar. (O.P.G. pág. 121, Vernant) 98 B. Esquematização. 1. O Advento da Filosofia na Grécia marcou o declínio do pensamento mítico e a instituição de um saber racional. Os filósofos que fazem parte deste momento são Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes. Estes inauguraram um novo modo de reflexão. Para eles, nada existiria que não fosse natureza, physis e, como não há senão uma só natureza, não haveria senão uma só temporalidade. 2. Afirmaram que nada existia além da Physis e procuraram dar explicações livres de toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas. 3. O pensamento mítico esclarecia e carregava de sentido as experiências cotidianas. Situava os problemas na sua "origem" sobrenatural (pág.110). 4. Os Jônios inverteram esta perspectiva assumindo que a realidade atual, o mundo da cotidianidade, é que dava inteligibilidade ao mito, ao pensamento original ( grifo meu ). 5. Isto foi uma revolução intelectual tão extraordinária e profunda que foi considerada por J. Burnet uma verdadeiro "milagre grego". J. Burnet = O mito foi substituído pelo Logos (milagre grego) 6. Já outro autor, F.M. Cornford se opôs a este argumento ponto por ponto e acreditava que a construção mítica continuou sua atuação nas primeiras filosofias e não criou nenhuma "ciência" pois esta ignorava tudo sobre a experimentação. Também argumentou que a filosofia não era produto de uma reflexão ingênua e espontânea da razão sobre a natureza. Cornford: (A primeira filosofia) "Transpõe, sob uma forma laica e num vocabulário mais abstrato, a concepção do mundo elaborada pela religião " (pág.111). Cornford = Mitos Cosmogônicos continuam nas Cosmologias e na primeira filosofia (continuidade do pensamento mítico ). 7. Já para Vernant, que tem opinião diversa, acredita que não houve milagre grego e não há propriamente uma continuidade entre o mito e a filosofia (pág.114). 99 8. O homem grego, devido a uma série de causalidades históricas (pág.110) passou a utilizar um vocabulário profano e a cultivar uma nova atitude espiritual e intelectual onde a origem e a ordem do mundo passaram a ser vistas como um problema explicitamente colocado, objetivo e racional. As respostas às questões não deveriam mais ser dadas ao nível do mistério. Seriam dadas ao nível da inteligência, onde o conhecimento passaria agora a estar livre de toda preocupação de ordem ritual (pág.114). Vernant = A. Nova atitude espiritual e intelectual; B. Os problemas merecem respostas sem a aura de mistério que eram carregadas no passado e colocados agora ao nível da inteligência; C. Conhecimento livre de toda preocupação de ordem ritual; D. Dessacralização do saber. E. Advento de um tipo de pensamento exterior à religião. F. A instituição da Polis influenciou a filosofia e a tornaram dependente dela integrando-a num quadro espacial e ordenado, um modelo mais geométrico (pág.115). G. Novas cosmologias, com pensamento moral e político mais elaborado, concebendo o mundo como tendo uma ordem e uma lei que, projetadas nos problemas dos cidadãos da Polis, produziram todo um cosmo humano. 9. A necessidade de se conceber um mundo ordenado fizeram que as teogonias e as cosmogonias, tanto quanto as cosmologias que a sucederam se atrelavam a um mito básico: os mitos de soberania. Teogonias + Cosmogonias + Cosmologias = Mitos de Soberania Mitos de soberania = O poder divino que reina sobre todo o universo e os relatos de suas lutas e seus triunfos sobre as forças rivais (pág.115). 10. A prova e a vitória dos reis tinham uma dupla significação: ao mesmo tempo que confirmavam o poder da soberania do monarca, adquiriam o valor de uma nova criação da ordem cósmica, social e das estações. (pág.119) 100 11. Teogonia de Hesíodo e Cosmogonia de Ferecides ordenavam-se segundo a mesma perspectiva: misturavam a filosofia ao mito (pág.120). 12. O mito atende às questões: A. Quem é o deus soberano? B. Quem conseguiu reinar sobre o universo? O mito não se preocupava como um mundo ordenado surgiu do caos. (pág.121) Função do mito: Estabelecer uma distinção e como uma distância entre o que é primeiro do ponto de vista temporal e o que é primeiro do ponto de vista do poder; entre o princípio que está cronologicamente na origem do mundo e o princípio que preside à sua ordenação atual. 13. O termo arché não pertence ao vocabulário político do mito e Anaximandro usará pela primeira vez este termo no sentido filosófico que fala da ordem cronológica da formação e origem das coisas que se formam mas separada de qualquer conceito "monárquico" próprio do mito. A ordem do mundo doravante não tem nenhum personagem que o institui - a grande lei do universo já estava presente no momento original (pág.122). 14. As Três definições das Teogonias gregas: A. Universo é uma hierarquia de poderes análoga em sua estrutura humana e constituída por relações de força, de escalas de precedência, de autoridade, de dignidade, de vínculos de domínio e de submissão; B. A presença de um agente garantiu a ordem do universo garantindo a sequencia dinâmica dos elementos envolvidos; C. O poder excepcional desse agente único e privilegiado acima até mesmo de outros deuses: a projeção de um soberano sob o cume do edifício cósmico ( monarchia ) que mantém o equilíbrio entre as Potências que constituem o universo, hierarquicamente. Estes três traços dão à mitologia sua coerência, sua lógica própria e ligam definitivamente a concepção grega de soberania às concepções orientais de soberania. 101 15. O desmoronamento da realeza micênica apagou a lembrança da figura do rei e suas façanhas míticas, organizadoras do mundo natural (pág.124). 16. As narrativas míticas passaram a estar destacadas do rito o que permitiu estarem livres para adquirirem um caráter mais autônomo prefigurando assim a obra dos filósofos (pág.124). 102 ANÁLISE TEMÁTICA O saber do tipo racional surgiu na Grécia no séc. VI com o declínio do pensamento mítico (pág.109). Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes criaram um novo modo de pensamento em relação à natureza, que agora tinha se tornado objeto de uma investigação sistemática e desinteressada (pág. 109). A filosofia começava a ficar livre de “toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas “(pág.109). Nada existia mais fora da physis, da natureza. A homogeneidade entre os homens, a divindade e o mundo, todos no mesmo plano: aspectos de uma mesma physis (pág.109). Não houve “começo” pois não há mudança: como há uma só natureza, consequentemente é excluída toda a noção de sobrenatural, e uma só temporalidade. A natureza estava agora despojada de seu mistério. Os atos exemplares dos deuses explicavam a experiência cotidiana na sua “origem” mas esta compreensão da realidade foi invertida em seus termos pelos jônios (pág.110). “Já não é o original que ilumina e transfigura o cotidiano; é o cotidiano que torna o original inteligível, fornecendo modelos para compreender como o mundo se formou e ordenou”, diz Vernant (pág.110). Revolução intelectual tão profunda que levou J. Burnet a concebê-la como um milagre grego que escreveu: “ Seria inteiramente falso procurar as origens da ciência jônica numa concepção mítica qualquer. “(pág. 111). Contra esta tese, Vernant apresenta outro autor, F.M. Cornford, para quem a origem da filosofia era na verdade “mais uma construção mítica do que uma teoria científica” (pág.111). Por não ter enveredado pelo caminho da experimentação, a ciência jônica estava na verdade dando continuidade ao mito (pág.111).Transpôs , numa forma laica, e em outro vocabulário mais abstrato, “ a concepção de mundo elaborada pela religião.” (pág.111). “Entretanto, por mais importante que seja esta diferença entre o físico e o teólogo, a organização geral de se pensamento permanece a mesma.” (pág.112). Depois da exposição minuciosa do pensamento de Cornford, Vernant insere seu pensamento para levar a questão a um outro nível: “Entretanto, apesar dessas analogias e dessas reminiscências, não há realmente continuidade entre o mito e a filosofia. ” (pág. 114). Para Vernant, houve uma mudança de registro, o uso de outro vocabulário, mais profano, que corresponderam a uma nova atitude e a um clima intelectual diferente (pág.114). Vernante é explícito em sua teoria: “Com 103 os milésios, pela primeira vez, a origem e a ordem do mundo tomam a forma de um problema explicitamente colocado a que se deve dar uma resposta sem mistério, ao nível da inteligência humana, susceptível de ser exposta e debatida publicamente, diante do conjunto dos cidadãos, como as outras questões da vida corrente. (pág.114). Vernant aponta que não há incompreensibilidade nas questões relativas à uma dessacralização do saber e o advento de uma pensamento exterior à razão (pág.115). Vernant afirma que: “Em sua forma, a filosofia relaciona-se de maneira direta com o universo espiritual que nos pareceu definir a ordem da cidade e se caracteriza precisamente por uma laicização, uma racionalização da vida social” (pág.115). Os milésimos passaram, através da vida na cidade, a ordenar agora o universo segundo um modelo mais geométrico (pág.115). Sofreram a influência e passaram a construir cosmologias novas utilizando-se das noções que “o pensamento político e moral tinham realizado”(pág.115) projetando as concepções de ordem e lei que nas cidades tinham feito “do mundo humano um cosmo” (pág.115). As teogonias e cosmogoniam eram sobretudo “mitos de soberania” e exaltavam o poder de um deus que reinava sobre todo o universo. Isto ocorreu também nos mitos babilônicos que influenciaram os mitos gregos (pág. 118). A filosofia oriental forneceu modelos para a elaboração das teogonias gregas (pág.118). Temas recorrentes sobre a gênese e as gerações sucessivas dos deuses, estabelecimento de uma soberania e o estabelecimento da ordem (pág.118). Como nos diz Vernant: “ A prova e a vitória reais tinham uma dupla significação: ao mesmo tempo que confirmavam o poder da soberania do monarca, adquiriam o valor de uma nova criação da ordem cósmica, social e das estações.” (pág.119) E ainda explicita a influência dos mitos de soberania na nascente filosofia: “ O problema da gênese, no sentido estrito, fica, pois, nas teogonias, se não inteiramente implícito, pelo menos em segundo plano. O mito não se interroga sobre como um mundo ordenado surgiu do caos; responde à questão: Quem é o deus soberano? Quem conseguiu reinar sobre o universo? Neste sentido, a função do mito é estabelecer uma distinção e como uma distância entre o que é primeiro do ponto de vista temporal e o que é primeiro do ponto de vista do poder; entre o princípio que está cronologicamente na origem do mundo e o princípio que preside à sua ordenação atual.” (pág.121). Em seguida Vernant define um quadro geral onde as teogonias gregas esboçaram uma imagem do mundo e mostra como a Grécia teve uma ligação com o Oriente na sua explicação dos mitos como sendo “mitos de soberania” (pág. 121 e 122) e a própria concepção de soberania que esta 104 carregava. Com a destruição do mundo micênico, do sistema palaciano e o desaparecimento do ánax, “apagou-se a lembrança do rei que periodicamente voltava a criar a ordem do mundo; ” (pág.124). Com o fim do culto ao rei, “ a narrativa pôde adquirir um caráter mais desinteressado mais autônomo. Pôde, em certos aspectos, preparar e prefigurara a obra do filósofo “ (pág.124). 105 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 7 Advento da filosofia =declínio do mito e pensamento racional ↓ Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes ↓ Nada existe além da physis ↓ J. Burnet = O mito foi substituído pelo Logos (milagre grego) ↓ F.M. Cornford opõe-se a este argumento ponto por ponto ↓ Cornford= Mitos Cosmogônicos continuam nas Cosmologias e na primeira filosofia (continuidade do pensamento mítico). ↓ Cornford= laicização e continuidade do mito na filosofia ↓ Vernant = A. Nova atitude espiritual e intelectual; B. Os problemas merecem respostas sem a aura de mistério que eram carregadas no passado e colocadas agora ao nível da inteligência; C. Conhecimento livre de toda preocupação de ordem ritual; D. Dessacralização do saber. E. Advento de um tipo de pensamento exterior à religião. 106 F. A instituição da Polis influenciou a filosofia e a tornou dependente dela, integrando-a num quadro espacial e ordenado, um modelo mais geométrico. G. Novas cosmologias, com um pensamento moral e político mais elaborado, concebendo o mundo como tendo uma ordem e uma lei que, projetadas nos problemas dos cidadãos da Polis, produziram todo um cosmo humano. ↓ Teogonias + Cosmogonias + Cosmologias = Mitos de Soberania ↓ Superação dos mitos de soberania através de uma filosofia que nasceu das relações sociais e políticas na polis. 107 ANÁLISE INTERPRETATIVA Será neste capítulo que Vernant colocará as teses contrárias a respeito da origem da filosofia. Para mostrar como o advento da filosofia na Grécia marcou o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber do tipo racional, ele começará por fixar o lugar e a data de nascimento como sendo na Mileto Jônica, no princípio do século VI, com Tales, Anaximandro e Anaxímenes. As explicações e teorias estavam livres das teogonias e cosmologias antigas. Só existia de agora em diante a physis, a natureza. Homens e deuses passaram a ser concebidos como aspectos de uma mesma physis, uma mesma potência de vida. Essa noção de physis, de uma só natureza, excluía a própria noção de sobrenatural. A experiência cotidiana é que explicaria a origem das coisas e não o inverso: para o pensamento mítico, a experiência cotidiana era explicada pela ação dos deuses na "origem". Essa inversão é chamada por Vernant de revolução intelectual e a profundidade dessa mudança tão súbita foi considerada por outro autor, J. Burnet, como sendo um milagre grego. Para este autor, a razão grega não tem nenhuma relação com o mito. Antes de Vernant atacar este pensamento ele introduz outro autor, que tem uma tese oposta a do milagre grego. Para F.M. Cornford, o início do pensamento filosófico era mais uma continuação do pensamento mítico do que propriamente um pensamento científico principalmente pelo fato desta primeira filosofia não ter se dirigido à experimentação. Ela transpunha sob uma forma laica um pensamento que na verdade era devedor de uma concepção religiosa da realidade. Os mitos cosmogônicos foram simplesmente apresentados de uma forma mais abstrata. A organização geral dessa primeira filosofia não distingue o físico do teólogo. Vernant expõe todo o pensamento de Cornford ao ponto de quase acharmos impossível que ele não concorde com esta tese. Mas, após expor a tese de Cornford, Vernant inicia outro parágrafo onde ele mesmo explicitará sua própria idéia sobre as origens do pensamento grego: "Entretanto, apesar dessas analogias e dessas reminiscências, não há realmente continuidade entre o mito e a filosofia". Para Vernant, o uso de um vocabulário profano, uma nova atitude de espírito, um novo clima espiritual, as respostas dadas sem mistério aos problemas explicitamente colocados, sempre ao nível da inteligência e diante de todos, são a nova atitude que os cidadãos da polis assumem, totalmente livres das preocupações de ordem ritual. Vernant nos ensina que a dessacralização 108 do saber e o advento de um pensamento não religioso não são assuntos incompreensíveis. "Em sua forma, a filosofia relaciona-se de maneira direta com o universo espiritual que nos pareceu definir a ordem da cidade e se caracteriza precisamente por uma laicização, uma racionalização da vida social". Assim, Vernant expõe sua hipótese de que a filosofia nasceu em função da vida das pessoas num ambiente muito especial, a cidade grega. A cidade grega procurou transportar os conceitos religiosos para uma forma mais laica, de uso prático, em regras e leis de conduta para dirigir a vida dos cidadãos. Os conceitos das primeiras filosofias, que se referiam a uma cosmologia de modelo geométrico, ou seja, de equilíbrio e ordenação das forças da natureza, geraram novas concepções da ordem e da lei que, nas cidades, criaram um verdadeiro cosmo humano. Vernant logo em seguida trata de expor as suas críticas à tese do milagre grego, tese de Burnet, analisando o significado do mito. Para ele os mitos eram "relatos de gêneses que expõem a emergência progressiva de um mundo ordenado" ou seja, "mitos de soberania". Para Vernant, os mitos sempre falaram das lutas dos deuses para conquistar suas vitórias sobre as forças do caos e a criação do mundo. O mundo da indistinção e da desordem havia sido combatido pelos deuses e criado o universo conhecido. Isso se assemelha em muito aos antigos mitos babilônicos e Vernant aceita de Cornford esta hipótese de "empréstimo" dos mitos de criação vindos do oriente: houve mesmo a comprovação arqueológica das semelhanças entre as teogonias gregas e as teogonias babilônicas. "O problema das influências orientais sobre os mitos gregos de gênese, o de sua extensão e seus limites, o das vias e da data de sua penetração encontram-se assim colocados de maneira precisa e sólida". Essa concepção das relações de soberania e da ordem através da figura de um rei exprime-se no rito e no mito babilônicos. Para Vernant a função do mito é estabelecer a diferença do que é fundamental do ponto de vista sobre-humano do que é fundamental do ponto de vista do poder. O mito descreve a "origem do mundo" e os princípios que regem o mundo atual. Esses princípios são as lutas que os deuses empreenderam no passado e cuja consequência os humanos vivenciam no tempo presente. Esse aspecto de luta tem ressonâncias de uma soberania conquistada através de feitos heroicos ancestrais o que conferiu ao mito um vocabulário "monárquico". Os físicos não concebem a natureza como instituída, num momento dado mas sim, como sendo eterna e imutável, sempre igual ao elemento original de que o mundo surgiu pouco a pouco. Essa concepção de soberania coloca o mundo na dependência dos deuses o que levou os homens a endeusar a figura do rei. Ora, justamente esse personagem, 109 desapareceu após o desmoronamento da realeza micênica, quando o sistema palaciano e o personagem do ánax desapareceram. O fracasso da soberania e a limitação do poder real ressoou nas narrativas posteriores que passaram a adquirir um caráter mais desinteressado e autônomo. "Pôde, em certos aspectos, preparar e prefigurar a obra do filósofo". Então, para Vernant, os mitos na Grécia antiga, apesar de sua poderosa influência na mentalidade religiosa do povo grego, foram perdendo a força quando nasceram as cidades, onde não havia um soberano e sim uma assembleia democrática de cidadãos iguais. Como os problemas da polis exigiam novas leis, o quadro mítico, carregado de conceitos de soberania passou a não ser usado para a confecção das leis pré-jurídicas de que se serviriam os cidadãos da polis no ambiente democrático. 110 CAPÍTULO 8 A NOVA IMAGEM DO MUNDO ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Milésios (pág.129) A definição mais conhecida dada aos Milésios foi criada por um dos filósofos mais influentes da Grécia Antiga, Aristóteles. No início de sua obra, “Metafísica”, o pensador estagirita cita-os como “os filósofos primeiros”, pois não recorriam aos mitos para explicar os fenômenos, mas enfrentavam tais questões utilizando a razão. Assim, Aristóteles indicou que a filosofia inicia-se quando se troca explicações míticas por explicações racionais, recusando a utilização do fantástico e do provável. Entre os filósofos Milésios, podemos citar Tales, Anaxímenes e Anaximandro todos contribuíram de forma efetiva para a formação de uma nova maneira de pensar a filosofia. A escola filosófica de Mileto (atualmente um cidade da Turquia), formou-se devido a acontecimentos na Ásia Menor. Tais episódios ocorreram entre os séculos VI e IV a. C. pois Mileto ficava bem localizada e se desenvolvia nos campos da tecnologia e economia. Apesar disso, a região acabou sendo ocupada pelos persas e foi destruída, findando a escola de Mileto. http://www.infoescola.com/filosofia/milesios/ Doxografia (pág.129) Doxografia deriva da palavra grega "δόξα" (doxa), que significa aparecer; opinião + "γραφία" (grafia); escrita; descrição. Doxografia é o relato das ideias de um autor quando interpretadas por outro autor, ao contrário do fragmento, que é a citação literal das palavras de um autor por outro. O termo foi cunhado pelo helenista alemão Hermann Diels, em sua obra Doxographi Graeci (Berlim em 1879). http://pt.wikipedia.org/wiki/Doxografia Arché (pág.129) Campos de interesse geral que o Soberano tinha por função regularizar(O.P.G. pág. 54, Vernant) Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9 Em Vernant, a noção de arché é usada como termo de que define o "domínio de uma realidade própriamente política' (O.P.G. pág 44, Vernant) Pínax (pág.130) O desenho da Terra num plano inteiro (O.P.G. pág. 130, Vernant) Kratos (pág.132) O poder de domínio sobre outra pessoa (O.P.G. pág. 132, Vernant) 111 Ápeiron (pág.133) Ápeiron (ἄπειρον) é uma palavra grego que significa ilimitado, infinito ou indefinido que advém de ἀ- a-, "sem" e πεῖραρ peirar, "fim, limite", forma do Grego jónico de πέρας peras, "fim, limite, fronteira". O ápeiron é central na teoria cosmológica criada por Anaximandro, no século VI a.C. A obra de Anaximandro foi praticamente toda perdida. Dos fragmentos existentes, aprendemos que ele acreditava que a realidade última, a arché, é eterna e infinita, ou sem fronteiras (ápeiron), não sujeito a idade ou desintegração, e de onde provém sempre novo material do qual tudo o que percebemos é derivado. O ápeiron gerou os opostos, quente-frio, seco-molhado, etc, que actuaram na criação do mundo. Tudo é gerado a partir do ápeiron e então é aí destruído conforme a necessidade. Anaximandro também acreditava que infinitos mundos são criados do ápeiron e aí destruídos posteriormente. As duas ideias foram influenciadas pela tradição da mitologia grega e pelo seu antecessor Tales de Mileto. Anaximandro, tentando descobrir algum princípio universal assumiu, como a religião tradicional, que haveria uma ordem cósmica e tentou explicar isso de maneira racional, usando linguagem mitológica antiga que admitia controlo divino das várias esferas da realidade. Essa linguagem era mais apropriada para uma sociedade que se habituara a ver deuses em tudo à sua volta, assim as primeiras leis da natureza eram elas próprias derivadas das leis divinas. A palavra nomos (lei) teria inicialmente significado lei natural e posteriormente para referir leis feitas pelos seres humanos, e assim os gregos acreditavam que os princípios universais também poderiam ser aplicados às sociedades humanas. A filosofia grega entrou num nível mais alto de abstracção, adoptando o ápeiron como origem de todas as coisas, por seria algo indefinido. Isto é uma transição adicional a partir do modo de pensamento anterior, fundamentalmente mitológico, para um novo modo de pensamento racional, principal característica do período grego arcaico, entre os séculos VIII e VI a.C. Este modo de pensamento foi resultado de novas condições políticas das cidades-estado gregas durante o século VI a.C. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81peiron Dynámeis (pág.134) O poder dos deuses , δυνxμεi, 'dynámeis' http://cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=18134789 Isotes (pág.134) Igualdade (O.P.G. pág.97, Vernant), equidade (O.P.G. pág.101,Vernant) Tisis (pág.134) Reparação (O.P.G. pág.134, Vernant) Dike (pág.134) A justiça (O.P.G. pág.134, Vernant) Divindade grega que representa a Justiça, também conhecida como Dice, ou ainda, Astreia. Filha de Zeus e Têmis ela não usa vendas para julgar. De acordo com Ferraz Júnior (2003, p. 32-33) os gregos colocavam a balança, com os dois pratos, na mão esquerda da deusa Diké, mas sem o fiel no meio, e em sua mão direita estava uma espada e estando de pé com os olhos bem abertos declarava existir o justo quando os pratos estavam em equilíbrio, ísion, origem da palavra isonomia, que para a língua vulgar dos gregos, o justo (o direito) significa o que era visto como igual. http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/bibliotecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica/anexo/di ke.pdf 112 Adikia (pág.134) Na mitologia grega, Adikia era uma daemon ou espírito da injustiça, filha de Nix (a noite), por si mesma ou unida a Érebo (as trevas), ou ainda filha de Éris (a discórdia), por si mesma sem um pai. Deusa da injustiça era companheira inseparável de Disnomia (a desordem) e de outros males da humanidade, seu oposto era Diké a deusa da justiça. http://pt.wikipedia.org/wiki/Adikia Hestia koiné (pág.136) Espaço público que ficava no Ágora, em que eram debatidos os problemas de interesse geral (O.P.G. pág 51, Vernant) Lar público (O.P.G.pág.136, Vernant) Hósia (pág.136) Assuntos profanos da cidade (O.P.G.pág.136, Vernant) Hierá (pág.136) Interesses sagrados que concernem aos deuses. (O.P.G. pág.136, Vernant) Homoiotes (pág.136) Similitude (O.P.G.pág.136, Vernant) Isorropia (pág.136) Equilíbrio (O.P.G.pág.136, Vernant) Dikaiosyne (pág.139) Dikaiosyné = justiça http://www.sophia.bem-vindo.net/tiki-index.php?page=dikaiosyne Sophrosyne (pág.139) Sofrósina (do grego σωφροσύνη, translit. sóphrosúné ou sophrosyne: estado de espírito são; prudência; bom senso') é um conceito grego que significa sanidade moral, autocontrole e moderação, guiados pelo verdadeiro autoconhecimento. Mais tarde o conceito foi ampliado para incluir a noção de prudência, e era associado à doutrina apolínea do "nada em excesso" e do "conhece-te a ti mesmo". http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofr%C3%B3sina (..) um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina comum, o sangue frio necessário para refrear os impulsos instintivos que correriam o risco de perturbar a ordem geral da formação (guerreira). (O.P.G. pág. 67, Vernant ) 113 B. Esquematização. 1. Anaximandro foi o filósofo que promoveu uma verdadeira revolução intelectual. 2. O restabelecimento dos contatos com o Oriente foi de importância decisiva para o desenvolvimento de uma ciência grega. 3. A nova ordem da natureza se baseava na igualdade e simetria do diversos poderes constituintes da natureza. 4. Em Anaximandro, esta ordem não é mais hierárquica e sim, constituída na manutenção de um equilíbrio entre potências doravante iguais, sem o domínio de nenhuma força ou domínio de uma sobre as outras. 5. Este novo modelo cosmológico não forneceu somente o modelo de uma lei e de uma ordem igualitárias que substituiria o poder de um monarca. A instituição da cidade, o espaço público agora seriam ordenados seguindo uma direção de racionalizar o mundo humano. 6. Os indivíduos e grupos agora dispunham da primazia do espaço central da cidade, a Ágora, o que promoveu o tratamento de todos como iguais. 7. A concepção do espaço físico, simetricamente organizado em torno de um centro, reproduziu certas representações de uma ordem social (pág.137). 8. Esta idéia de espaço central, esta organização espacial que elimina as diferenças entre os indivíduos da polis foram uma ressonância da produção dos valores políticos, geométricos e físicos do centro. As estruturas do cosmos natural corresponderam a uma organização do cosmos social. 114 ANÁLISE TEMÁTICA A obra de Anaximandro permite que vejamos a amplitude de revolução intelectual realizada pelos milésios (pág.129). O termo arché foi introduzido por ele e expressou o novo esquema cosmológico que começou a fazer parte da concepção grega do universo. Apesar de permanecer um esquema genético, a formação de uma ordem no universo se encontrava agora projetada num quadro espacial (pág.129). Isso expressa também a dívida dos milésios para com a astronomia babilônica, que ocorreu após o restabelecimento dos contatos com o oriente. Assim a astronomia grega, mais livre de uma “religião astral” (pág.130), colocou-se diferentemente da ciência babilônica. Os jônios seguiram esquemas geométricos e construíram modelos mecânicos do universo. “Essa geometrização do universo físico acarreta uma transformação geral das perspectivas cosmológicas; consagra o advento de uma forma de pensamento e de um sistema de explicação sem analogia no mito.” (pág.130). No esquema geométrico o cosmo possui um tipo de organização oposta àquela do mito: já não há pontos privilegiados ou em posição dominante uns em relação aos outros (pág.131). “Se a Terra está situada no entro de um universo, perfeitamente circular, pode permanecer imóvel em razão de sua igualdade de distância, sem estar submetida à dominação de qualquer coisa que seja...”(pág.132). Vernant cita um estudo recente de Charles H. Kahn onde este autor vê a simetria dos diversos poderes constituintes do cosmo que caracterizam a nova concepção de ordem da natureza: leis de equilíbrio e constante reciprocidade (pág.132). Assim, na perspectiva de Anaximandro, ...” a ordem não é mais hierárquica; consiste na manutenção de um equilíbrio entre potências doravante iguais, sem que nenhuma delas deva obter sobre as outras um domínio definitivo que ocasionaria a ruína do cosmos” (pág.133). Este equilíbrio não é estático mas é feito de conflitos e encobre oposições (pág.133). Esta dynámeis oposta e incessantemente em conflito leva à necessidade de submissão do mundo a uma regra de justiça compensatória (pág.134), a dike, que cria uma nova imagem do mundo que se tornará lugar comum entre os filósofos pré-socráticos (pág.134). O regime da cidade forneceu ao pensamento cosmológico o modelo de uma lei e de uma ordem igualitárias e também uma concepção nova do espaço ao se encarnarem nas instituições da Polis (pág.135). “O novo espaço social está centrado.” (pág.135). É a valorização do centro 115 que predomina e todos os cidadãos agora ocupam posições simétricas em relação a este espaço, igualdade, a isoi. “Que este novo quadro espacial tenha favorecido a orientação geométrica que caracteriza a astronomia grega; que haja uma profunda analogia de estrutura, entre o espaço institucional no qual se exprime o cosmos humano e o espaço físico no qual os milésimos projetam o cosmos natural, é o que sugere a comparação de certos textos.” (pág.136). Em vez da dominação, a centralidade, a similaridade (pág.137) que refletirá nas representações de ordem social. Todas essas correspondências entre a estrutura do cosmos natural e a organização do cosmos social mostram-se ainda conscientes no trabalho de Platão no séc. IV: mostra a correspondência entre o pensamento geométrico (racional) e o pensamento político (pág.139). 116 ORGANOGRAMA DO CAPÍTULO 8 Revolução intelectual. ↓ Nova concepção grega do universo. ↓ Dívida dos gregos para com a astronomia babilônica. ↓ Diferenças de concepção da astronomia grega e babilônica no que tange seu caráter profano, livre da religião astral. ↓ Provoca o advento de uma forma de pensamento e de um sistema de explicação sem analogia no mito. ↓ A Terra situada no centro de um universo permanece imóvel em razão de sua igualdade de distância, sem estar submetida a qualquer coisa que seja. ↓ Transposição desse conceito para a vida social e política. ↓ Equilíbrio dinâmico que cria o conceito de justiça (dike). ↓ Justiça compensatória (dike). ↓ 117 Experiência social forneceu ao pensamento cosmológico seu modelo. ↓ Regime da cidade forneceu uma concepção nova de espaço. ↓ Novo espaço social centrado favoreceu a isonomia política. ↓ Correspondência entre a estrutura do cosmos natural e a organização do cosmos social (Platão). 118 ANÁLISE INTERPRETATIVA Neste capítulo será apresentada toda a amplitude da revolução intelectual realizada pelos primeiros filósofos. Vernant aponta para a importância da obra de Anaximandro que, além de ter introduzido o importante termo arché, é neste autor que se encontra o novo esquema cosmológico que traduz a "profunda e durável" concepção grega do universo. A ordem do universo agora estava projetada num quadro espacial. Vernant chama a atenção para sublinhar a importância que a astronomia babilônica teve para contribuir com a filosofia grega. O restabelecimento dos contatos com o oriente foi o que decisivamente desenvolveu a ciência grega que num primeiro momento destaca-se da astronomia babilônica ao assumir um caráter mais profano, livre dos conceitos religiosos que a acompanhava. É no espaço que os jônios viam a ordem do cosmos onde o equilíbrio, as distâncias passaram a ter um caráter geométrico. Este esquema gerou "uma forma de pensamento e um sistema de explicação sem analogia do mito". O equilíbrio dos planetas e seus movimentos, a percepção de que o cosmos se constituía num espaço matemático tirou do mito a sua importância de caráter explicativo. Esta organização espacial foi desde cedo considerada oposta à explicação da realidade física pelo mito. Descobriu-se que não havia "nenhum elemento ou porção do mundo privilegiado em detrimento de outros", nenhuma posição dominante. Estes conceitos já apontavam para uma mudança psicológica em relação aos mitos de soberania e explicam o seu declínio futuro pois "mostra a persistência de um vocabulário e de conceitos políticos no pensamento cosmológico dos jônios". A supremacia passou a ser vista não como um direito divino mas sim pertencente "exclusivamente a uma lei de equilíbrio e constante reciprocidade. À monarchia um regime de isonomia se substitui, na natureza como na cidade. " A ordem não é mais considerada hierárquica. Sem ser de maneira nenhuma estática, é feita de conflitos. A experiência social influenciou muito a nova imagem do mundo. O regime das cidades forneceu uma concepção nova do espaço e, na Polis, se tornou espaço político. "O novo espaço social está centrado (...) É este centro que é agora valorizado (...) A ágora (...) forma o centro de uma espaço público e comum". Esta ausência de ideias de dominação é que favoreceu o nascimento de uma filosofia totalmente desvinculada do mito. Vernant trabalha com estas correspondências entre a estrutura do cosmos natural e a organização do cosmos social para comprovar sua tese da mutação intelectual do povo grego em função da organização social nas cidades gregas. 119 120 CONCLUSÃO ANÁLISE TEXTUAL A. Vocabulário, conceitos e termos. Phrónesis (pág.142) A reflexão intelectual (O.P.G. pág. 142, Vernant) B. Esquematização. 1. O advento da Polis está associado ao nascimento da filosofia e este nascimento não se constituiu em nenhum tipo de "milagre grego" e nem a uma continuidade entre mito e filosofia. Nas suas origens, a filosofia esteve associada às estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega, da Polis grega. 2. A razão grega era direcionada aos homens, ao ser humano e não à razão experimental como é a da ciência contemporânea. 3. A razão é uma construção essencialmente política e é nesse plano que ela surgiu na Grécia. 4. O declínio do mito data do dia em que os primeiros sábios puseram em discussão a ordem humana, nas relações dos homens entre si. 5. A razão grega nasceu para modificar os homens e não a natureza. Ela é filha da cidade. 121 ANÁLISE TEMÁTICA Os dois fenômenos, o advento da Polis e o nascimento da filosofia têm um vínculo demasiadamente estreito e pertencem a um pensamento racional ligado ás estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega (pág.141). Através da pesquisa histórica se pôde recolocar a filosofia sem as atribuições de caráter de revelação absoluta ou de milagre grego. A razão foi construída pela escola de Mileto e se constituiu numa primeira forma de racionalidade (pág.141). Não se parece em nada com a razão experimental contemporânea. Aristóteles definiu o homem como animal político e isso define o que separa a Razão grega da de hoje (pág.141). A essência da razão é política. Foi no plano político que a Razão primeiramente surgiu e formou-se (pág.142). O debate público gerou uma reflexão positiva na experiência social entre os gregos (pág.142). O pensamento político trata da ordem humana e é externo aos motivos de ordem religiosa que marcou profundamente a mentalidade do homem antigo onde se definiu a vida pública como “o coroamento da atividade humana” (pág.142). Para os gregos todos os homens da polis eram cidadãos e isso orientou os processos de seu espirito em outros domínios (pág.142). Filosofia está enraizada no pensamento político mas logo seguiu seu próprio caminho que propriamente lhe pertence. Ao invés de se perguntar sobre o que era a ordem, passou a se perguntar qual era a natureza do Ser e do Saber e quais eram suas relações. “Os gregos acrescentaram assim uma nova dimensão à história do pensamento humano” (pág.143). Criou uma linguagem, elaborou conceitos, edificou uma lógica e construiu sua própria racionalidade (pág.143). A noção de experimentação foi estranha aos gregos antigos. Utilizou uma matemática que não servia para a exploração da natureza. Para o pensamento grego antigo o mundo social estava sujeito ao número e à medida. “A razão grega não se formou tanto no comércio humano com as coisas quanto nas relações dos homens entre si.” (pág.143). A razão grega permitiu agir sobre os homens e não transformar a natureza. A Filosofia é filha da cidade. 122 ORGANOGRAMA DA CONCLUSÃO Advento da Polis = nascimento da filosofia. ↓ Razão grega não tem caráter de revelação absoluta. ↓ Filosofia não pode ser chamada de “milagre grego”. ↓ Razão grega não surgiu repentinamente: ela foi construída historicamente juntamente com as cidades. ↓ Razão é essencialmente política. ↓ Foi no plano político que a razão primeiramente se exprimiu na Grécia. ↓ Discussão da ordem humana nas cidades = declínio do mito. ↓ Pensamento político ≠ religião. ↓ Razão grega surgiu das relações dos homens entre si na Polis. ↓ Razão grega foi "construída" nas cidades. 123 ANÁLISE INTERPRETATIVA Chegamos à conclusão do livro do Vernant e ficamos convencidos das duas ordens de fenômenos, o advento da polis e o nascimento da filosofia, cujo vínculo agora ficou bem claro. Ainda cabe mais uma crítica à tese de milagre grego onde Vernant nos fala "...a filosofia despoja-se desse caráter de revelação absoluta que às vezes lhe foi atribuído..." A construção da razão grega não tem o mesmo sentido da razão experimental da ciência contemporânea pois esta é orientada para o mundo físico. A razão grega estava orientada para os homens, o "animal político" e Vernant afirmou que " a própria Razão, em sua essência, é política". Aprendemos a importância de se entender o plano de fundo político daquela época para poder entender a formação do pensamento grego. A discussão empreendida pelos primeiros Sábios a respeito da ordem humana criou o pensamento propriamente político, que não devia mais seus fundamentos ao mito e consequentemente à religião. "Este pensamento marcou profundamente a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva, de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana". Na Grécia antiga os conceitos de cidadania caracterizavam a verdadeira compreensão de homem livre. O enraizamento da filosofia neste pensamento político percorreu um longo caminho e se afirmou bem depressa com independência e marcou a história do pensamento humano. Ela foi fruto da observação das relações humanas e deveu à polis o seu nascimento. 124