Mauricio Tardivo
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Mauricio Tardivo
Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 1.1. PESTICIDAS A capacidade atual dos países desenvolvidos em produzir e colher grandes quantidades de alimentos em áreas relativamente pequenas, com participação reduzida de trabalho humano tem sido possível graças ao uso de pesticidas. Os pesticidas são substâncias que podem matar diretamente um organismo indesejável ou controlá-lo de alguma maneira. Todos os pesticidas químicos apresentam em comum propriedade de bloquear processos metabólicos vitais nos organismos para os quais são tóxicos [1,2]. Atualmente, o maior emprego dos pesticidas dá-se nas plantações de algodão, milho e soja; e em grande parte das residências, encontra-se pelo menos um pesticida sintético [1]. As categorias de pesticidas são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1. Tipos de pesticidas mais usados e respectivos organismos-alvo [1]. Tipo de pesticida Organismo-alvo Acaricida Ácaros Algicida Algas Avicida Pássaros Bactericida Bactérias Desinfetante Microorganismos Fungicida Fungos Herbicida Plantas Inseticida Insetos Larvicida Larvas de insetos Molusquicida Caracóis, lesmas Nematicida Nematóide Piscicida Peixes Raticida Roedores As três categorias mais produzidas (fungicidas, herbicidas e inseticidas), representam em conjunto uma quantidade que se estima em torno de bilhões de quilogramas usados na América do Norte. Nos Estados Unidos, metade do consumo envolve a agricultura [1,2]. 2 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.1.1. História dos pesticidas As primeiras substâncias a serem usadas como pesticidas na agricultura já eram conhecidas há muito tempo, como cianetos, arseniacais, enxofre e compostos de cobre. No Brasil, estes produtos também eram usados e após 1929 (quando se iniciou o predomínio de algodão na região centro-sul, além do milho e da cana), os produtos mais usados eram os sais de cobre e arsênio, enxofre e cal. Após a 2a Guerra Mundial, substâncias como o DDT e o “BHC” passaram a ser importantes nas lavouras. No Brasil, as razões da introdução dos inseticidas sintéticos foram o cultivo do café e algodão nos anos 40 e 50. Nas décadas seguintes, a competição industrial e o aumento da resistência foram responsáveis pelo progresso na síntese e produção de novos compostos [2] . A Tabela 2 mostra a participação do Brasil na produção e consumo de pesticidas na segunda metade da década de 90. Tabela 2. Produção nacional, importação, exportação e consumo aparente de pesticidas pelo Brasil entre os anos de 1986 e 1990 [2]. Ano Produção nacional (t) Importação (t) Exportação (t) Consumo aparente (t) 1986 63101 19528 15638 66991 1987 66230 15657 10117 62770 1988 65303 13427 18751 59979 1989 60878 15437 13338 62977 1990 63713 13264 15374 61603 Dentre as classes de compostos químicos, os organoclorados foram inicialmente usados em maior escala, sendo substituídos pelo organofosforados, carbamatos e piretróides, além de derivados da triazina, da uréia e do ácido fenoxiacético [2]. 1.1.2. Problemas no uso dos pesticidas Mesmo que empregados de modo correto, os pesticidas podem causar problemas de saúde pública ou ambiental. Uma possibilidade é a de causar desequilíbrio nos sistemas ecológicos, favorecendo o ataque de pragas desconhecidas, além do efeito indesejado em insetos polinizadores. Podem causar grande mortalidade de peixes e aves, que não são os alvos originalmente visados. Isto ocorre, pois os rios, lagos e mares são contaminados pelos pesticidas, que são levados pela lixiviação e pelo vento, a locais distantes do ponto de aplicação. 3 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado A resistência a pragas é outro problema que exige aplicações de pesticidas em maior quantidade, ou a troca de um pesticida por outro. Este fenômeno ocorre por seleção natural, de maneira que um genótipo resistente de uma determinada espécie tenha maior freqüência na população. Um problema sério é a ocorrência de resíduos tóxicos nos alimentos, além da persistência no ambiente, principalmente nos recursos naturais, que podem ser transferidos destes para a biota [2]. 1.1.3. Pesticidas clorados Os pesticidas clorados são contaminantes onipresentes no ambiente, e devido a lipofilicidade e persistência, acumulam-se na cadeia alimentar. A toxicidade dessa classe de compostos vem do fato de serem estruturalmente diferentes das substâncias normalmente encontradas na natureza e, portanto, alguns organismos contaminados não têm capacidade de metabolizá-las, causando a acumulação [1]. Na exposição acidental de organoclorados em humanos, os sintomas observados foram: irritabilidade, dor de cabeça e mal-estar, seguidos por tonturas, náuseas, vômitos, colapsos, convulsões e coma [3,4]. Neste trabalho, os pesticidas clorados estudados foram o hexaclorobenzeno (HCB) e os isômeros e do hexaclorocicloexano (HCH). 1.1.3.1. Hexaclorobenzeno (HCB) O hexaclorobenzeno (HCB), C6Cl6, é um composto estável, relativamente fácil de preparar a partir de cloro e benzeno. Foi utilizado durante várias décadas após a Segunda Guerra Mundial como fungicida seletivo de uso agrícola nas colheitas de cereais. Sendo extremamente persistente, emitido como subproduto pela indústria química e por processos de combustão, permanece como um agente causador de contaminação ambiental amplamente difundido. É um agente problemático, pois pode causar câncer de fígado em roedores de laboratório e, provavelmente, em seres humanos [5-7]. 4 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Apesar de o HCB ser muito solúvel em solventes orgânicos, como hidrocarbonetos líquidos, ele é quase insolúvel em água, dissolvendo-se apenas 0,006 mg em 1,0 L de água [5,6] . As demais propriedades físico-químicas desse composto são apresentadas no Anexo. A agência de proteção ambiental norte-americana (U.S. EPA) inclui o HCB na lista de compostos pelos quais são estabelecidos os padrões de potabilidade da água; o nível máximo permitido de contaminação é de 0,001 mg L-1, mesmo índice permitido no Brasil [5,6] . A exposição humana habitual ao HCB não é tão grande para representar um risco significativo à saúde, muito embora tenha sido estimado que 99% dos cidadãos norteamericanos apresentem níveis detectáveis do composto em sua gordura corporal [1,5-7] .A Figura 1 apresenta a estrutura química do HCB. Cl Cl Cl Cl Cl Cl Figura 1. Estrutura química do hexaclorobenzeno (HCB). 1.1.3.2. Hexaclorocicloexanos (HCHs) O HCH comercializado é uma mistura dos isômeros do 1,2,3,4,5,6- hexaclorocicloexano (nome IUPAC), com os nomes Lindano, Hexaklor (Suécia), Hexachloran (ex-URSS), além de outros (apresentados no Anexo). Por se tratar de uma mistura, não possui propriedades físicas precisas. Alguns isômeros podem ser isolados por processo de cristalização seletiva [5,6,8] . Os HCHs são inseticidas com ação sobre a derme (contato), estômago e respiração, tendo um amplo espectro de uso sobre fitófagos, pestes de epidemias e ectoparasitos. Pode ser também empregado em lavouras para o controle de pestes como afídeos, larvas de coleópteros, dípteros e lepidópteros, além do tratamento de sementes (em combinação com fungicidas). Compatível com muitos outros inseticidas e fungicidas, não apresenta fitotoxicidade quando usado de maneira correta. Apresenta hepato-, neuro-, e nefrotoxicidade em mamíferos, além de ter revelado potencial carcinogênico e mutagênico em estudos in vivo e in vitro [8,9]. 5 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Os isômeros são produzidos pela cloração de benzeno na presença de luz ultravioleta e apresentam grande estabilidade frente à luz, ar, altas temperaturas e ao meio ácido. Em meio alcalino os HCHs sofrem desidrocloração [5,6] . Outras propriedades físico- químicas do HCH são apresentadas no Anexo. A Figura 2 apresenta as estruturas químicas dos isômeros de hexaclorocicloexano estudados neste trabalho. Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl (A) Cl (B) Figura 2. Estrutura química dos isômeros de hexaclorocicloexano (HCH) estudados. A: isômero . B: isômero . 6 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.2. BIFENILAS POLICLORADAS (PCBs) 1.2.1. Histórico Bifenila policlorada é o termo dado à classe de compostos organoclorados resultante da reação do grupo bifenila com cloro anidro [1,10] . Foram sintetizados por volta de 1800, e sua produção em escala industrial iniciada em 1922 [1,10] . As moléculas destes compostos podem apresentar diversas substituições em relação à posição dos átomos de cloro e de sua quantidade. A quantidade varia de 1-10 átomos, podendo ser obtidos até 209 congêneres diferentes (Tabela 3). A nomenclatura para os congêneres considera a posição relativa dos átomos de cloro na bifenila (Figura 3). Tabela 3. Congêneres possíveis de PCBs, número de isômeros, massa molar e porcentagem de cloro para os isômeros de PCBs [10]. Bifenila Número de isômeros Massa molar (g mol-1) Cloro (%) Monocloro 3 188,7 18,8 Dicloro 12 223,1 21,8 Tricloro 24 257,5 41,3 Tetracloro 42 292,0 48,6 Pentacloro 46 326,4 54,3 Hexacloro 42 360,9 58,9 Heptacloro 24 395,3 62,8 Octacloro 12 429,8 66,0 Nonacloro 3 464,2 68,7 Decacloro 1 498,7 71,2 209 Dos congêneres possíveis, somente 130 podem estar presentes nas misturas comercializadas, de acordo com a literatura [10]. No maior produtor mundial, EUA, os PCBs eram fabricados pela Monsanto com o nome comercial de Aroclor. No Brasil, foram comercializados com o nome de Ascarel [10]. 7 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 3. Estrutura química básica da bifenila. Em 1966 foram reconhecidos como contaminantes do ambiente, devido à sua detecção quando se realizou determinação de resíduos de pesticidas organoclorados [10] .A maior produção ocorreu no ano de 1970 (50 mil toneladas), sendo consumida em maior parte pela indústria eletrônica [10] . Em 1978, surgiram as primeiras leis restringindo o uso para trocadores de calor. Em 1983, foi publicada uma lei proibindo o uso no território americano a partir de 1988. Devido ao grande número de congêneres, as formulações que foram comercializadas constituem-se na mistura de compostos com número variado de átomos de cloro. Nos Aroclor, a identificação é feita por quatro algarismos. Os primeiros representam a estrutura central (bifenila, 12 átomos de carbono) e o restante representa a porcentagem aproximada de cloro em massa [10]. A grande utilização dos PCBs deve-se às suas propriedades físico-químicas como alta constante dielétrica e alta estabilidade química e térmica [10,11] , que são características ideais para o emprego em diversos setores industriais. Estima-se que 40% de toda a produção mundial acumulada desde 1920 tenham entrado para o ambiente [10] . No Brasil não há registros de produção de PCBs, tendo-se apenas registros referentes à importação via Alemanha e EUA. Em 1981, as restrições para o seu uso foram implementadas por Portaria Interministerial que proíbe a fabricação, comércio, uso e descarte em cursos 8 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP d’água. Além disso, há instruções normativas da SEMA e ABNT, que disciplinam o manuseio, armazenagem e transporte [10]. 1.2.2. Produção dos PCBs O aquecimento do benzeno a altas temperaturas pode romper as ligações carbono hidrogênio. À temperatura de 750ºC, na presença de chumbo como catalisador, duas moléculas de benzeno ligam-se para formar uma bifenila. Se a bifenila reagir com cloro na presença de cloreto férrico, alguns de seus átomos de hidrogênio são substituídos por átomos de cloro. Quanto maior a quantidade de cloro presente e quanto mais tempo for dado à reação, maior será a extensão da reação de cloração, em média. A reação produz uma mistura sólida ou líquida de muitos dos 209 congêneres da classe dos PCBs. Os congêneres puros não são isolados com finalidade comercial, mas sim vendidas como misturas parcialmente separadas, sendo que o teor médio de cloro varia de 21 a 68% [1]. 1.2.3. Propriedades e usos dos PCBs Os PCBs são solúveis em meios hidrofóbicos, tais como substâncias gordurosas e são praticamente insolúveis em água. Tornaram-se atrativos comercialmente devido à inércia química do líquido e à dificuldade de queimá-los, além da baixa pressão de vapor, baixa constante dielétrica e produção relativamente barata. Tais propriedades fizeram com que fossem empregados como fluidos refrigeradores em transformadores e condensadores elétricos. Posteriormente foram usados como plastificantes, como solvente para reciclagem de papel e como fluidos de transferência de calor em máquinas [1]. A Tabela 4 apresenta os usos dos PCBs nas indústrias, por tipo de Aroclor®. 1.2.4. Ocorrência dos PCBs no ambiente Devido ao seu amplo uso e à estabilidade, além da má disposição, os PCBs tornaram-se contaminantes ambientais persistentes. Embora a produção na América do Norte tenha sido finalizada em 1977, estas substâncias ainda permanecem em 9 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado transformadores elétricos em serviço. Antigamente, os transformadores que continham PCBs eram esvaziados em aterros e seu conteúdo era escoado no solo. Pode-se dizer que os PCBs foram emitidos para o ambiente durante a produção, uso, armazenagem e descarte [1]. As rotas de contaminação do ambiente por PCBs são [10]: ♦ vaporização de componentes contendo PCBs. ♦ acidente ou perda no manuseio. ♦ vazamentos. ♦ efluentes industriais. ♦ fumaça resultante da incineração de produtos contendo PCBs. O destino final destes compostos é influenciado pelas propriedades físico-químicas: lipofilicidade, pressão de vapor e solubilidade em água. Os congêneres menos clorados apresentam maior solubilidade em água e pressão de vapor, em relação aos congêneres com maior número de cloro, que possuem maior lipofilicidade. Estas diferenças nas propriedades têm grande efeito no comportamento individual dos congêneres nos diferentes compartimentos ambientais [10]. Tabela 4. Usos dos PCBs em relação ao tipo de Aroclor® [10]. Uso Aroclor® Adesivos 1221,1232,1242,1248,1254 Aditivo antichama 1254,1260 Bombas de vácuo 1248,1254 Capacitores 1221,1254 Fluidos hidráulicos 1232,1242,1248,1254,1260 Óleos de corte e lubrificantes 1254 Papel carbono 1242 Pesticidas (utilizado como conservante) 1254 Plastificante para borracha 1221,1232,1242,1248,1254,l268 Resinas plastificantes 1248,1254,1262,1268 Sistema de transferência de calor 1242 Transformadores 1242,1254,1260 Turbinas de transmissão a gás 1221,1242 10 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.2.4.1. PCBs nos seres vivos A entrada de PCBs na cadeia trófica ocorre devido às suas propriedades físicoquímicas. Os PCBs podem passar por um processo de acumulação, que depende da estrutura do contaminante, da lipofilicidade e da dinâmica da teia alimentar. O homem sofre maior risco de exposição, por se situar no topo da cadeia trófica. Quando presentes nos alimentos, os PCBs encontram-se em concentrações maiores que 100 vezes em relação à água. Este acúmulo ocorre através de ingestão e contato direto com a água, alimento ou sedimento contaminado. A razão de assimilação varia conforme o número de átomos de cloro e sua distribuição na molécula. Os congêneres com menor número de átomos de cloro são excretados mais rapidamente [10,11]. 1.2.5. Efeitos tóxicos dos PCBs Quando os PCBs foram considerados como poluentes, os efeitos tóxicos das misturas foram analisados em peixes e no homem. Tais estudos demonstraram que a contaminação pode alterar as funções reprodutivas, causar distúrbios na maturação sexual e efeitos teratogênicos. Nos seres humanos as conseqüências de contaminação foram estudadas em casos de acidentes e exposição. Foram observados os seguintes sintomas da exposição: hiperpigmentação, cloracne, problemas oculares, incidência de mortes por câncer de fígado e vesícula biliar [10]. 1.2.6. Congêneres de PCBs estudados Neste trabalho estudaram-se quatro congêneres de PCBs: ♦ 2,4,5-triclorobifenila (congênere PCB-29). ♦ 2,2’,4,6-tetraclorobifenila (congênere PCB-50). ♦ 2,2’,3,3’,4,5’,6’-heptaclorobifenila (congênere PCB-188). ♦ 2,2’,3,3’,4,5’,6,6’-octaclorobifenila (congênere PCB-200). A Figura 4 apresenta as estruturas químicas dos congêneres de PCB 29, 50, 188 e 200. 11 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl PCB-29 Cl Cl Cl PCB-50 Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl Cl PCB-188 PCB-200 Figura 4. Congêneres de PCBs estudados neste trabalho. 12 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.3. DETERMINAÇÃO DE PESTICIDAS E PCBS NO AMBIENTE A estabilidade química de vários compostos sintéticos usados como pesticidas tornou-se, em longo prazo, uma desvantagem. A concentração destes micropoluentes no ambiente aumentou em uma razão maior que a taxa de degradação. Vários foram os estudos [12-37] que detectaram a presença em diversas matrizes (Tabela 5), não só dos compostos sintéticos usados como pesticidas, mas também dos metabólitos, resultado da acumulação em seres vivos e que são igualmente ou mais tóxicos. Tabela 5. Matrizes ambientais estudadas e referência bibliográfica [12-37]. Matriz Referência bibliográfica Água 14,18 Alimentos (diversos) 34 Alimentos (frutos do mar) 36 Batata 26 Leite materno 21 Lixo orgânico 33 Lobos 35 Macroinvertebrados 23 Organismos bivalves 20 Peixes 13,17-19,24,25,28,37 Peles e couros comerciais 22 Plantas medicinais 27 Solo / sedimento 20,29-31 Soro humano 32 Tecido humano adiposo 12 Tomate 15 Vinho 16 Dentre as classes químicas de poluentes, os organoclorados propagaram-se pelo globo [38-64] , por meio do ar e das correntes dos corpos de água, atingindo até as regiões polares [1], o que pode ser observado na Figura 5. 13 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 5. Mapa do globo terrestre indicando os locais em que se relatou a presença de compostos organoclorados e de outras classes em matrizes ambientais diversas [1,38-64]. O transporte dos organoclorados ocorre porque alguns compostos desta classe volatilizam-se e agregam-se ao material particulado atmosférico, sendo assim carreados pelo vento. Nas regiões onde altas temperaturas e chuvas fortes são comuns, a distribuição destes compostos é relativamente facilitada. A Figura 6 apresenta as rotas de fluxo de compostos organoclorados do material atmosférico para os ambientes aquáticos e seres vivos que habitam estes locais [36]. As principais fontes de emissão dos compostos organoclorados em águas e solos são por meio da lixiviação, de efluentes industriais e esgotos. Fatores como estrutura química, solubilidade, pH e temperatura do meio determinam a permanência de cada poluente no compartimento ambientala. a OTTAWAY H.J. Bioquímica da poluição, São Paulo, EDUSP, 1982. V.29 apud SANTOS S. Determinação de PCBs em ambiente lacustre. São Carlos, 2000. Dissertação (Mestrado), Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo. 90p. 14 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Figura 6. Fluxo de compostos organoclorados do ar para ambientes aquáticos e seres vivos [36]. Os trabalhos publicados atualmente acerca de micropoluentes como pesticidas e PCBs estão divididos em três linhas de estudo como: ♦ trabalhos cujo objetivo é determinar e quantificar o impacto em áreas de interesse, a partir de um método de análise pré-estabelecido (exemplos: referências 14, 20, 21, 35). ♦ trabalhos com objetivo de testar e validar novos métodos de análise dos micropoluentes a partir de diversas matrizes ambientais, tais como água, solo, sedimento e peixes (exemplos: referências 15, 16, 22, 26 e 27). ♦ trabalhos a respeito do comportamento de pesticidas ou compostos derivados (tais como metabólitos) em relação à luz ou em ambientes como diferentes tipos de solo ou ainda em tecidos vivos, além de verificar as conseqüências de ordem endócrina ou oncológica nos mesmos tecidos (exemplos: referências 22, 25, 30 e 37). Os trabalhos da primeira linha de estudo mencionada utilizam, para análises ambientais, metodologias analíticas que envolvem geralmente cinco etapas: ♦ amostragem: coleta e estocagem das matrizes. ♦ extração. ♦ “clean-up”. ♦ separação cromatográfica. ♦ quantificação dos analitos. 15 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 1.4. AMOSTRAGEM – MATRIZES AMBIENTAIS A coleta de amostras é a primeira etapa no procedimento analítico. O objetivo é coletar uma quantidade de amostra que seja representativa de uma população, contendo todas as características aplicáveis a todo restante da mesma espécie ou do mesmo habitat. É de suma importância manter a integridade da amostra desde a coleta até o local onde serão efetuadas as análises. Para o caso específico de insetos aquáticos e peixes, uma amostragem completa deve conter os dados ambientais do local de coleta que são aplicáveis às matrizes em questão [65], tais como: ♦ data, hora e local exato da coleta. ♦ eventos meteorológicos, como a ocorrência de chuvas, tempestades nas últimas 24 horas. ♦ condutividade. ♦ oxigênio dissolvido (OD). ♦ potencial hidrogeniônico (pH). ♦ temperatura. ♦ turbidez. 1.4.1. Parâmetros ambientais da água 1.4.1.1. Condutividade A condutividade é a capacidade que a água tem de conduzir corrente elétrica. Este parâmetro informa sobre a quantidade de íons dissolvidos presentes na água. Não determina especificamente qual íon está presente, porém pode contribuir para o reconhecimento de impactos ambientais decorrentes de despejos industriais, mineração ou esgoto, além da capacidade de corrosão da água. A condutividade da água não só depende de suas concentrações iônicas, mas também da temperatura [66]. 16 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.4.1.2. Oxigênio dissolvido (OD) O oxigênio é o mais importante dos parâmetros ambientais aquáticos, além da própria água, pois é essencial ao metabolismo de todos os organismos que possuem respiração aeróbia. Desta maneira, tanto as propriedades de solubilidade como dinâmica da distribuição de OD nos ambientes aquáticos são essenciais para o entendimento da freqüência, sobrevivência, comportamento, reprodução e crescimento da biota. Nos ambientes aquáticos, a principal causa de redução de OD, além da respiração contínua de plantas e animais, é a introdução de matéria orgânica em decomposição. A oxidação deste material pelos microrganismos depende do OD. Um decréscimo na concentração de OD pode prejudicar a reprodução, crescimento e sobrevivência das populações de insetos aquáticos, peixes e outras espécies. A temperatura pode contribuir para a redução de OD disponível. Um aumento na temperatura, ao mesmo tempo em que reduz a solubilidade em oxigênio em água, causa também aumento na taxa metabólica aumentando, assim, a demanda de oxigênio. Os ambientes de água doce tropicais apresentam uma notável variação na concentração de OD, havendo desde águas bem oxigenadas de rios com corredeiras até águas anóxicas de lagos estagnados, que apesar disso, são habitat de um número considerável de espécies de peixes com adaptações morfológicas e fisiológicas [66, 67]. 1.4.1.3. pH O pH é um importante parâmetro a ser considerado já que os organismos aquáticos como os peixes estão adaptados a viver em condições neutras e variações bruscas neste parâmetro podem resultar em mortalidade dos organismos. Valores extremos podem alterar o sabor das águas e causar corrosão nos sistemas de distribuição [66]. 1.4.1.4. Temperatura As variações de temperatura fazem parte de um regime climático e as águas naturais apresentam variações sazonais e diárias, além do fator profundidade. Uma elevação anormal na temperatura da água pode ser decorrência de despejos industriais. 17 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado A temperatura desempenha um papel importante no meio aquático, influenciando vários parâmetros como viscosidade, tensão superficial, compressibilidade, calor específico, constante de ionização, condutividade térmica e pressão de vapor. Os organismos aquáticos possuem limites inferiores e superiores de temperatura, valores ótimos para o crescimento, imigração e desova [66]. 1.4.1.5. Turbidez Turbidez é a redução da transparência da água devido à presença de matéria em suspensão. As partículas em suspensão nas águas têm origem na degradação mecânica ou na transformação química ou biológica dos materiais (argila, iodo, limo e plâncton) e possuem conformação e tamanhos diferentes entre si, com tamanho oscilando entre 0,01-100 mícrons. Em equilíbrio com esses materiais particulados encontram-se substâncias dissolvidas, causadoras da cor. Em geral, o aumento de sólidos em suspensão diminui a transparência das águas. As partículas em suspensão na água encontram-se em constante mobilidade devido a: turbulência, correntes de convecção no líquido e repulsão de cargas elétricas presentes na superfície das partículas. Esta mobilidade mantém as partículas em equilíbrio dinâmico, com as partículas menores tendendo a permanecer em suspensão e as maiores a sedimentar lentamente. A turbidez é avaliada a partir da medida da quantidade de luz refletida, dando a ordem de grandeza dos sólidos em suspensão na amostra, mas não pode ser associada de imediato a quantidade de sólidos. A turbidez das águas foi por muito tempo considerada apenas como parâmetro estético causador de rejeição do consumidor. Contudo, estatísticas foram realizadas em diversas cidades e os dados quantificados entre concentração de cloro residual livre, número de coliformes fecais, casos de hepatite e poliomielite, em função da turbidez da água, mostraram correlação entre o parâmetro e a eficácia da desinfecção da água [66]. 18 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.4.2. Matriz estudada I – insetos aquáticos Os insetos constituem a maior classe dos artrópodes (animais com apêndices articulados). O número de espécies de insetos é maior do que o número de todas as outras espécies de animais juntas. São conhecidas por volta de 800 mil espécies [68]. As razões do sucesso dos insetos são: (I) natureza da quitina, presente nos tecidos, que impermeabiliza, protege e torna possível a evolução de apêndices articulados. (II) Alta especificidade da dieta e de outras necessidades conforme as espécies. Como conseqüência, muitas espécies podem viver na mesma área sem competir. Da mesma maneira, as formas larvais e adultas tampouco competem. (III) Sistema nervoso, que possui um fino controle sobre os diferentes apêndices e os muitos órgãos extremamente sensíveis. Morfologicamente, os insetos são divididos em três partes (Figura 7): cabeça, tórax e abdome. Possuem três pares de patas, um par de antenas (díceros) e um conjunto de peças bucais semelhantes ao da lagosta. Em insetos mais primitivos, as peças bucais são usadas para prender e mastigar o alimento. Em animais mais especializados, as peças bucais são usadas como órgãos de sucção, corte, limpeza e perfuração. Figura 7. Partes morfológicas principais do corpo de um inseto. A maioria dos insetos adultos possui dois pares de asas, constituídas de folhas finas e resistentes de quitina. Nas pulgas, por exemplo, as asas foram parcialmente ou totalmente perdidas. 19 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado O sistema respiratório consiste numa rede de túbulos dos quais circula ar para os vários tecidos do corpo, que recebem fornecimento direto de O2. Os movimentos musculares no corpo melhoram ainda mais a circulação de ar. Os insetos possuem tubo digestório revestido de quitina (um polissacarídeo), e o estômago, situado geralmente no abdome, é o principal órgão de absorção. Os órgãos digestórios possuem enzimas tão especializadas quanto as peças bucais e dependem da natureza do alimento, que pode ser sangue, cereais, sementes, outros insetos, ovos, madeira, lã e papel. A excreção é feita por túbulos presentes no abdome. Em muitos insetos, os resíduos nitrogenados são eliminados na forma de cristais quase secos, o que promove economia de água. A maioria dos insetos tem etapas definidas de desenvolvimento. Durante o crescimento, passam por uma série de mudas, até alcançarem o tamanho adulto. Quase 90% dos insetos sofrem metamorfose tão completa que o animal adulto é totalmente diferente da forma imatura. Essas formas são chamadas de larvas, embora sejam conhecidas como lagartas ou taturanas, conforme as espécies. Depois do período de larva, o inseto sofre a metamorfose completa do período chamado pupa. O inseto adulto surge dessa etapa [68,69]. 1.4.2.1. Importância dos insetos aquáticos em análises ambientais Os insetos aquáticos compõem um grupo ecologicamente importante. Fazem, na cadeia trófica, ligação entre os produtores primários com os níveis superiores da cadeia, tais como os peixesa. Muitas agências de fiscalização ambiental dos EUA utilizam os insetos aquáticos em estudos de maneira rotineira, pois apresentam várias vantagens como bioindicadores (organismos ou comunidades que reagem a alterações ambientais a BARBOUR M.T. et al. Rapid bioassesment protocols for use in streams and wade able rivers: periphyton, benthic macro invertebrates and fish. (2.ed) EPA 841-BB-99-002. Office of Water, Washington, D.C. USA apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. 20 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP modificando suas funções vitais e / ou sua composição química e com isso fornecem informações sobre a situação ambientala) tais como: ♦ pequena capacidade de migração podendo assim sofrer os impactos ambientais. ♦ grande diversidade de espécies e são abundantes, tornando a amostragem relativamente mais fácil e barata. ♦ o fato de que muitas famílias desse grupo são intolerantes a mudanças ambientais. ♦ o grupo é formado por várias espécies que ocupam níveis tróficos diferentes, o que pode fornecer informações acerca de efeitos acumulativos. ♦ muitas espécies de macroinvertebrados possuem um complexo ciclo de vida com estágios que respondem imediatamente aos impactos ambientais. 1.4.3. Matriz estudada II – peixes Os peixes são animais vertebrados de sangue frio extremamente adaptados ao ambiente aquático (Figura 8). A maioria possui respiração branquial e corpo coberto de escamas. Esta classe de animais representa o grupo mais antigo e diversificado dentre os vertebrados (Figura 9). As espécies de peixes variam em formas e tamanhos, dependendo do modo de vida de cada uma, de acordo com fatores como profundidade do habitat e tipo de alimento [68]. Figura 8. Partes morfológicas principais de um peixe. a CUMMINGS K.W. Invertebrates. In: River Biota: Diversity and Dynamics. PETTS G., CALOW P. Blackwell Science Oxford, p.75-91 apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. 21 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado A maioria das espécies vive em cardumes com dezenas ou até milhares de indivíduos, sendo que outros desenvolveram hábitos solitários, defendendo um território. Os peixes mais primitivos possuem pulmões. Nas espécies mais evoluídas estes órgãos deram lugar à bexiga natatória, um importante órgão que regula a flutuação do peixe. Neste longo tempo de evolução desde que surgiram na Terra, os peixes tornaram-se aptos a viver em muitos ecossistemas aquáticos, desde riachos até em profundos oceanos. São também encontrados em cavernas, fontes termais e ambientes de pH elevado, tais como lagos alcalinos (pH > 8). Os peixes de água doce surgiram a partir dos peixes marinhos, têm como habitat as águas doces e a maioria vive nas regiões tropicais, representando cerca de 40% das espécies 25000 8500 10000 5000 0 peixes aves 4500 15000 9500 nº de espécies 20000 21000 recentes. répteis e mamíferos anfíbios vertebrados Figura 9. Número de espécies de peixes comparado ao de outros vertebrados [68]. 1.4.3.1. Importância dos peixes como bioindicadores: entrada e acumulação de contaminantes A ausência de peixes em qualquer ambiente aquático é, por muitas vezes, um indicativo de que a água da localidade não está em condições satisfatórias, dependendo do uso. A aplicação de pesticidas clorados na agricultura, que chegam aos ambientes aquáticos através da lixiviação e acumulam-se nos animais, tem como conseqüência vários efeitos 22 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP sub-letais. A contaminação pode ocorrer diretamente, através da pele, das guelras e da ingestão de água, ou indiretamente, pela cadeia alimentar. Os efeitos resultantes nos peixes a esta exposição podem ser vários [70], tais como: ♦ degenerescência das células reprodutivas. ♦ disrupção endócrina. ♦ interferência na migração normal. ♦ interrupção no ciclo da vida devido à susceptibilidade das formas larvais. O contaminante, uma vez absorvido pelo peixe, é transportado pelo sangue até um tecido de acumulação, como os ossos, ou para o fígado, onde também ocorre acumulação ou transformação (Figura 10). Se ocorrer transformação pelo fígado, pode ser excretado pela bile, ou pode passar de volta para o sangue para possível excreção nos rins ou brânquias ou, por fim, armazenado em tecidos extraepáticos como o adiposoa. A concentração de contaminante em diferentes órgãos do peixe após a exposição ao ambiente por um tempo depende, simultaneamente, de vários processos dinâmicos. A concentração pode variar em ordens de magnitude de órgão para órgão. a Instituto de pesca / TECA / FUNDEPAG / SMA / BIRD, Relatório Final Projeto: Incentivo a atividades econômicas não impactantes: Pesca e aqüicultura, 1998 apud PENTEADO J.C.P., VAZ J.M., O legado das bifenilas policloradas, Química Nova, v. 24 n.3, 390-398, 2001. 23 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 10. Diagrama das possíveis rotas de contaminação pela corrente sangüínea de um peixe [10]. A quantidade total de algum contaminante acumulada no órgão de um peixe é determinada pelo balanço entre a taxa de entrada e a taxa de excreção. Quando a taxa de entrada é maior que a taxa de excreção ocorre a bioacumulação (quando a procedência é a água ou o meio) ou biomagnificação (quando há acúmulo do contaminante a partir da ingestão de um ser vivo de nível trófico inferior). A bioacumulação ou a biomagnificação de um composto em um organismo vivo é quantificada a partir do fator biológico de concentração (BCF), que é dado pela Equação 1. BCF = C organismo C água (1) Na qual Corganismo é a concentração do composto no organismo vivo e Cágua é a concentração do composto na água. 24 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Para o exemplo específico dos PCBs, o fator biológico de concentração aumenta em relação ao grau de cloração do congênere, o que pode ser observado na Tabela 6. Tabela 6. BCF para alguns PCBs em peixes (dados a partir de diversas espécies) [70]. PCB BCF Triclorobifenila 54 Tetraclorobifenila 460 Pentaclorobifenila 1510 Casos de bioconcentração e biomagnificação de pesticidas clorados e PCBs foram verificados em cadeias alimentares em vários locais de estudo pelo mundo. A Figura 11 apresenta um exemplo de bioconcentração e biomagnificação de PCBs em espécies da cadeia alimentar dos Grandes Lagos (América do Norte) [1]. 1.4.3.2. Biotransformação dos contaminantes nos órgãos do peixe A maioria da biotransformação de contaminantes orgânicos pelo peixe ocorre no fígado. Trabalhos comparativos indicam que há uma grande variedade no modo de metabolizar contaminantes em relação a cada espéciea. Dados sugeriram que, dentro de cada espécie, idade e tamanho têm pouco efeito no fator de bioacumulação. Porém, um aumento na temperatura aumenta o BCF em duas vezes. Para um acréscimo de 10ºC e em ambientes com temperatura oscilante, a taxa de entrada de xenobióticos é consideravelmente maior que em ambiente com temperatura constante [70]. a VEITH G.D., DEFOE D.L., BERGSTEDT B.V. Measuring and estimating the bioconcentration factor of chemicals in fish, J. Fish Res. Bd. Can., 36, 1040, 1979 apud HEATH A.G. Water Pollution and Fish Physiology, Boca Raton, CRC Press, 1987, 100p. 25 4,83 zo op 0,0025 lâ es n cto pe rla n no ar 0,123 co -ir ís tr u ta 1,04 do la go 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 fit o pl ân cto n concentração (ppm) Tardivo M. – Dissertação de Mestrado organismos Figura 11. Bioacumulação e biomagnificação de PCBs na cadeia alimentar aquática dos Grandes Lagos [1]. Os órgãos do peixe são constituídos de diferentes tipos de tecidos, que podem acumular diferentes níveis de contaminantes orgânicos. Por meio de estudosa,b verificou-se que pentacloroenol e pentacloroanisol acumulam-se em maior quantidade no fígado e no tecido adiposo, respectivamente, apesar de serem da mesma classe química dos organoclorados. A maioria das reações metabólicas tende a formar, a partir de um composto lipofílico, compostos hidrofílicos ou mais polares [70] . Isto acentua a tendência de a substância ser excretada e, ao mesmo tempo, reduz a afinidade dos contaminantes ao plasma e a tecidos adiposo e protéico. Compostos hidrofílicos são, também, menos permeáveis às membranas celulares. a GLICKMAN A.H., STOTHAM C.N., LEACH J.J. Studies and uptake metabolism and disposition of PCP and PCA in rainbow trout, Toxicol. Appl. Pharmacol., 41, 649, 1977 apud HEATH A.G. Water Pollution and Fish Physiology, Boca Raton, CRC Press, 1987. 100p. b DELFINO J.J. Toxic substances in Great Lakes, Environ. Sci. Tech., 513, 1462, 1979 apud HEATH A.G. Water Pollution and Fish Physiology, Boca Raton, CRC Press, 1987. 100p. 26 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.5. EXTRAÇÃO DOS ANALITOS DAS MATRIZES A objetivo da extração é “retirar” os analitos da matriz ambiental, utilizando adequadamente solventes, gases ou fluido supercrítico, removendo os compostos de interesse e co-extraindo o mínimo de possíveis interferentes. Para a análise de micropoluentes como pesticidas e PCBs, a técnica de extração ideal apresentam as seguintes características [71] tais como: ♦ alta seletividade. ♦ altos índices de recuperação. ♦ aplicabilidade na extração de várias classes de compostos e em diversos tipos de matrizes. ♦ mínimo emprego de solventes caros. ♦ compatibilidade com qualquer instrumento de análise. Não há, atualmente, técnicas de extração com todas essas características reunidas. Algumas técnicas desenvolvidas nas décadas de 80 e 90 que utilizam como meio de extração fases sólidas, gases, fluidos supercríticos e energia de microondas aplicáveis à água e ao solo apresentam algumas das características citadas [71]. Na determinação de compostos organoclorados em matrizes biológicas como insetos aquáticos e peixes utiliza-se geralmente a extração por Soxhlet, que é um sistema de sifonamento que remove o extrato para o solvente que volta a ser refluxado. É um processo contínuo, que pode levar algumas horas e que deve ser aplicado a analitos estáveis à temperatura do solvente em uso. Esta técnica é clássica, possui altos índices de recuperação [72] e a instrumentação não é cara, havendo, no entanto, o problema de gasto de solvente. A Figura 12 apresenta o esquema de um extrator Soxhlet mostrando o refluxo de solvente. 27 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 12. Esquema de um extrator Soxhlet mostrando o refluxo de solvente. 28 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1.6. “CLEAN-UP” O objetivo da etapa de “clean-up” é eliminar os possíveis interferentes co-extraídos que possam dificultar a separação cromatográfica, além de prejudicar a coluna do instrumento. Na extração de material biológico, como insetos aquáticos e peixes, vários compostos além de pesticidas clorados e PCBs são geralmente co-extraídos, tais como lipídeos e compostos organossulfurados. A remoção de lipídeos pode ser realizada com a adição de ácido sulfúrico concentrado ao extrato, que decanta a fração lipídica. Para a remoção de outros compostos, o tratamento do extrato pode ser feito com adsorção em coluna, com a utilização de material adsorvente como sílica, alumina e Florisil® (mistura de dióxido de silício com óxido de magnésio [73,74] ). A Figura 13 apresenta um esquema de “clean-up” de extrato realizado com adsorção em coluna de vidro. Figura 13. Esquema de “clean-up” de extrato realizado com adsorção em coluna. Estudos [75] mostraram que o uso do produto comercial Florisil® na determinação de pesticidas clorados e PCBs em material biológico teve melhor desempenho na remoção de interferentes co-extraídos em relação a outros materiais adsorventes. 29 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 1.7. DETERMINAÇÃO CROMATOGRÁFICA 1.7.1. Conceito A separação do analito de potenciais interferências é uma etapa importante do procedimento analítico. Até a metade do século XX, as separações eram feitas por métodos clássicos, tais como a destilação. A cromatografia é um poderoso método de separação com aplicação em todos os ramos da ciência, compreendendo um grupo diversificado de métodos que permitem separar componentes semelhantes de uma amostra [76]. 1.7.2.Processo de separação Em todas as separações cromatográficas, a amostra é transportada por uma fase móvel (que pode ser um gás, um líquido ou fluido supercrítico). A fase móvel é forçada através de uma fase estacionária colocada em uma coluna ou em uma superfície sólida. Os componentes da amostra distribuem-se entre as fases móvel e estacionária. Os componentes mais fortemente retidos na fase estacionária eluem de modo mais lento no fluxo da fase móvel. O contrário ocorre com os componentes que se ligam de modo mais fraco na fase estacionária. Como conseqüência das diferenças de mobilidade, os componentes da amostra separam-se em bandas que podem ser analisadas qualitativa e quantitativamente Figura 14 apresenta um esquema geral de separação cromatográfica. 30 [76,77] .A Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Figura 14. Mecanismo de separação cromatográfica de uma amostra com três componentes [1]. 1.7.3. Cromatografia em fase gasosa Para a determinação de resíduos de compostos organoclorados em matrizes ambientais, o modo cromatográfico mais utilizado é a cromatografia em fase gasosa (GC). Na cromatografia em fase gasosa, o extrato da amostra é injetado e vaporizado no topo da coluna. A eluição é feita por fluxo de um gás inerte que atua como fase móvel. Sua única função é carregar os componentes do extrato da amostra através da coluna, pois o processo de separação está baseado na diferença de volatilidade dos componentes da amostra [76,77]. A Figura 15 apresenta as partes principais de um cromatógrafo a gás. 31 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 15. Partes Principais do cromatógrafo em fase gasosa. 1.7.4. Detecção por captura de elétrons Em todo processo cromatográfico, no final da coluna onde ocorre a separação há um detector específico para a determinação de um grupo de compostos. Para a determinação de compostos organoclorados o detector de captura de elétrons é o mais utilizado pois possui maior sensibilidade. O princípio de funcionamento do detector de captura de elétrons (ECD) envolve uma interrupção no fluxo de corrente no detector pela chegada de um composto que contém átomos eletrofílicos na estrutura, como por exemplo, o cloro; a interrupção é a base do sinal. A maioria dos detectores desse tipo possui uma peça radioativa de 63Ni colocada na parede da câmara de detecção. O partículas 63 Ni é um isótopo instável que emite continuamente a uma taxa constante. Essas partículas colidem com algumas moléculas do gás de arraste e formam uma nuvem de elétrons de movimento relativamente lento na câmara de detecção. A corrente resultante é amplificada e gera um sinal uniforme que é enviado do detector ao computador. O fluxo de corrente altera-se quando chega ao detector um analito eletrofílico; o fluxo de corrente diminui, pois alguns dos elétrons são capturados pelos átomos eletrofílicos do analito. Quanto maior a quantidade de analito que chega ao detector, maior é a diminuição de corrente. O computador quantifica a diminuição e relaciona o sinal do detector com a concentração de analito. A quantidade de cada analito 32 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP pode ser determinada com sensibilidade, repetibilidade e reprodutibilidade pelo ECD. A Figura 16 exemplifica o funcionamento do ECD [1,78]. Figura 16. Esquema de funcionamento de um detector de captura de elétrons (ECD). 33 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 1.8. ÁREA DE ESTUDO – BACIA DO RIO BETARI, VALE DO RIBEIRA-SP 1.8.1. Alto Vale do Ribeira O Alto Vale do Ribeira (Figura 17) é uma das últimas áreas do estado de São Paulo não atingidas pelo grande desenvolvimento econômico verificado em outras regiões. Por este motivo, esta área mantém atualmente parte de suas características originais, apresentando uma grande concentração de cavernas, além de sítios arqueológicos e paleontológicos de considerável interesse científico e turístico [79]. Figura 17. Localização do Alto Vale do Ribeira no sudoeste do estado de São Paulo e malha rodoviária da região. 34 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Uma parte remanescente da Mata Atlântica do estado de São Paulo situa-se nessa área, abrigando espécies em risco de extinção, além de espécies frágeis, tais como as da fauna cavernícola, extremamente adaptadas para esse meio [79]. O tipo de terreno predominante é o cárstico, adequado à mineração, abastecimento de água e fornecimento de energia. Porém, é um terreno sensível podendo haver desmoronamentos quando da utilização desses recursos disponíveis [79,80]. 1.8.2.Rio Betari: características físicas O Rio Betari é tributário do rio Ribeira de Iguape e localiza-se em sua parte alta, na margem esquerda. É formado na união dos rios Betarizinho e Passa Vinte e sua nascente encontra-se na serra de Paranapiacaba, próximo ao município de Apiaí. Com fortes corredeiras e encachoeirado, percorre um longo “cânion” de aproximadamente 12 km (Figuras 18, 19 e 20). Em seu baixo curso, formam-se um vale aberto e áreas de sedimentação, próprios à agricultura e à ocupação humanaa. Em seus 25 km de comprimento, atravessa o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – PETAR, passa pelo Bairro da Serra (município de Iporanga), atravessa grandes áreas com culturas e, por fim, deságua no rio Ribeira de Iguape próximo ao centro do município de Iporanga, após receber vários efluentes provenientes de distantes localidades. A bacia do rio Betari localiza-se na província Costeira, na serra do Ribeira, apresentando um relevo de serras alongadas e de topos íngremes (alta declividade) [79] . Há mais de 200 cavernas catalogadas que apresentam enorme riqueza de formações, além do grande porte. Há, ainda, abismos e cavernas verticais. O relevo local exibe vales encaixados e paredões verticais de até 300 m de altura [79]. a GT-PETAR – Centro Interdisciplinar de pesquisas, 1980. Alto vale do Ribeira. A necessidade de preservação. Sociedade Brasileira de Espeleologia. 8p. apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. 35 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 1.8.3. Aspectos climáticos e fitogeográficos da região No verão o clima é quente e úmido, sem ventos e abafado devido à grande amplitude de altitude entre o fundo do vale e as serras. O inverno é rigoroso no alto da serraa. Pela classificação de Koeppen, o clima é úmido temperado sem estação seca definida, com temperaturas médias anuais por volta de 18-19ºC. O mês mais quente é janeiro (>22ºC). Nas regiões mais elevadas (> 700 m), o clima é considerado mesotérmico úmido sem seca, com fevereiro sendo o mês mais quente [79]. Figura 18. Foto do Vale do Betari no sentido noroeste - sudeste. a SETZER J. 1966. Atlas climático e ecológico do estado de São Paulo. Comissão interestadual da bacia do Paraná-Uruguai. São Paulo. 61p. apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. 36 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP O período entre outubro a março é considerado como chuvoso e de abril a setembro como seco. A distribuição das chuvas e a variação da temperatura sofrem a influência das massas de ar Tropical Atlântica e Polar Atlânticaa. A região está situada entre os domínios de vegetação Tropical Atlântico e Planalto das Araucárias. A mata é do tipo subtropical úmida perenifólia. Na parte superior da bacia a mata é do tipo floresta ombrófita higrófita densa, apresentando considerável diversidade além de madeiras de leib. Toda a diversidade apresentada na parte média do vale é abrangida pelas diversas unidades de conservação: APA Serra do Mar, Estação Ecológica Xitué, Parque Estadual Carlos Botelho, Parque Estadual Intervales, Parque Estadual Jacupiranga, Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira [79]. A fauna é rica, com algumas espécies em risco de extinção e outras endêmicas. Destaca-se, nessa região, a fauna proveniente do meio cavernícola, com espécies altamente adaptadas morfológica e fisiologicamente para ocupar esse tipo de ambientec. a SALOUTTI ALLEGRINI C.Q. 1999. Gestão de programa de uso público do PETAR: um estudo de caso de implantação sistema de cobrança de ingressos e serviços. Dissertação (mestrado) USP. 179p. apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. b GT-PETAR – Centro Interdisciplinar de pesquisas, 1980. Alto vale do Ribeira. A necessidade de preservação. Sociedade Brasileira de Espeleologia. 8p. apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. c Secretaria do Meio Ambiente. Estado de São Paulo, 1998. Atlas das unidades de conservação do estado de São Paulo. CPLA / SMA. apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. 37 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 19. Foto do satélite LANDSAT do relevo da bacia do rio Betari apresentada no trabalho de DOMINGOS [79]. 38 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Figura 20. Esquema da Bacia do rio Betari com os principais rios, córregos e pontos de coleta de material biológico. 1.8.4.Histórico da ocupação humana no Alto Vale do Ribeira No século XVII os europeus chegaram à baixada do Ribeira iniciando a ocupação do vale. A primeira atividade econômica foi a mineração de ouro e o fluxo desta economia realizava-se na cidade de Registro. No século seguinte, o fluxo de garimpeiros formou os 39 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado núcleos Apiaí, Iguape e Iporanga. Com a decadência da mineração, iniciou-se a atividade da agricultura de subsistênciaa. A mineração foi retomada a partir de 1939, com a extração de chumbo, ouro, zinco e prata. Na mesma época, iniciou-se o turismo em cavernas. Em 1958, foi criado o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – PETAR, interrompendo a mineração e causando a expropriação de trabalhadores rurais. Na década de 80, proibiram-se os desmatamentos criando-se conflitos sociais devido à falta de alternativas de trabalho. Por fim, intensificouse a especulação imobiliária. Devido à tradição mineraria, o vale sofreu impacto com a contaminação das águasb, pois os resíduos das mineradoras atingiram os rios pela drenagem das águas da bacia. Há áreas de cultivo em torno das margens (Figura 21) e a atividade pecuária não é significativa. Atualmente o crescimento do turismo sem planejamento é o que está trazendo riscos para a região, sendo freqüente o despejo de esgoto a céu aberto ou nos córregos. A maior concentração humana na região situa-se no Bairro da Serra e é neste local que os turistas hospedam-se. A atividade de turismo auxilia na renda familiar da população e alguns habitantes tornaram-se donos do próprio negócio, alugando quartos para os turistas. Em 1998, mais de 24 mil turistas visitaram o núcleo Santana. Porém, o crescimento desta atividade está causando problemas como erosão, desmatamento e contaminação da água [79]. a MARINHO M.C. 1992. Contribuição à geomorfológica cárstica do vale do Betari, Iporanga, Apiaí São Paulo. Trabalho de graduação, USP, 73p. apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. b GT-PETAR – Centro Interdisciplinar de pesquisas, 1980. Alto vale do Ribeira. A necessidade de preservação. Sociedade Brasileira de Espeleologia. 8p. apud DOMINGOS M.D. Limnologia do rio Betari (Iporanga-SP) e a relação com o estado de conservação de sua bacia hidrográfica – subsídios para o desenvolvimento sustentável. São Carlos, 2002. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 272p. 40 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Figura 21. Mapa da Bacia do rio Betari (2000) contendo a vegetação natural, zonas agrícolas e concentração populacional, extraído do trabalho de DOMINGOS [79]. 41 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 1.8.5. Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) Em 1958 o PETAR foi criado com o intuito de proteger a biodiversidade e o patrimônio espeleológico. Abrange uma área de 35712 ha em um perímetro de 180 km. Tendo 30 cavernas abertas à visitação pública. Em 1983, o parque foi devidamente implantado, com a mobilização de ambientalistas, imprensa e pesquisadores. A Figura 22 mostra os limites do PETAR dentro do estado de São Paulo. No período de 1985 a 1988 foram instalados os núcleos de visitação e fiscalização. Em 1989 o núcleo Santana foi inaugurado e a cobrança de ingressos iniciou-se em 1992 [81]. Atualmente, o parque possui três núcleos de visitação com infra-estrutura, recebendo por volta de 35 mil turistas por ano. Dentre os problemas enfrentados pelo parque estão a extração de palmito, caça, desmatamentos e grilagem – problemas constatados pela fiscalização do parque, além de pressão de mineradoras [79,81]. Figura 22. Mapa dos limites do PETAR contendo os principais rios em relação ao estado de São Paulo. 1.8.6. Situação sócio-econômica atual da população (Bairro da Serra) [79] Há hoje uma população residente no Bairro da Serra (concentração populacional na Bacia do rio Betari) estimada em 400 pessoas, 65% homens e 35% mulheres e a maioria 42 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP (80%) nasceu no Bairro. Apresenta uma população jovem (Figura 23) sendo que aproximadamente 30% não apresentam nenhum grau de escolaridade. % (população) 4 acima de 66 18 41-65 24 22-40 25 13-21 29 0-12 Figura 23. Gráfico da faixa etária da população do Bairro da Serra, município de Iporanga. O abastecimento de água é feito na maioria das casas (80%) pela SABESP e o restante usa água captada de cavernas ou de nascentes. Aproximadamente 80% das casas lançam o esgoto em fossas. Por volta de 79% de todo o lixo das residências e estabelecimentos vão para as coletas públicas. Na questão de empregos, 50% da população trabalha sendo que 45% daquela fração trabalha diretamente com turismo de várias formas (Figura 24). diarista prefeitura guia/monitor roça pousada % (população) 5,5 5,9 Atividades diretamente ligadas ao turismo. 12,4 15,3 17,3 44 outros Figura 24. Ocupação da população economicamente ativa do Bairro da Serra, município de Iporanga. Para os moradores, a maioria considera que emprego, saneamento e saúde, nesta ordem, são os fatores mais necessários para a melhoria da qualidade de vida no Bairro. 43 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Na pesquisa em relação ao turismo, a maioria da população local considera o turismo uma atividade que traz benefícios, e o mesmo ocorre com a criação do PETAR. A maior parte da população acredita que a atividade do turismo não modificou o ambiente embora parte considerável (20%) acredite que o turismo mudou o ambiente de modo negativo. Nas estalagens e pousadas não há controle no número de hóspedes, sendo que a maioria destes estabelecimentos recebe grupos de estudantes em excursão. Os principais locais de lazer da população são aqueles em que ocorre o encontro com os turistas, tais como o PETAR, as cavernas e os rios (informações obtidas por meio de comunicação direta com os habitantes). 44 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP ♦ Verificar a presença de contaminantes organoclorados em espécies de insetos aquáticos e peixes dos rios da bacia do rio Betari, município de Iporanga – SP. ♦ Relacionar os dados biométricos das espécies estudadas com o grau de contaminação. ♦ Verificar os graus de contaminação entre diferentes pontos de coleta de amostras. ♦ Discutir as prováveis fontes de contaminação na área de estudo. 45 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 3.1. AMOSTRAGEM 3.1.1 Pontos de coleta As amostras de insetos aquáticos e peixes foram coletadas em janeiro de 2003, com auxílio de técnico especializado do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Sr. Airton Santo Soares. Todas as amostras de peixes foram congeladas na hospedagem após as coletas e depois colocadas em refrigerador no Laboratório de Química Ambiental (LQA) do Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP), para posterior análise. As amostras de insetos aquáticos foram colocadas em recipientes de plástico conservadas em solução aquosa de formol 10%. A coleta e a seleção de todo material biológico obedeceram ao critério de disponibilidade nos pontos citados. A Tabela 7 apresenta a descrição dos pontos de coleta. Tabela 7. Pontos de coleta, respectiva localização e profundidade aproximada do corpo d’água. Ponto de Descrição Profundidade aproximada do coleta corpo d’água (m) A Rio Betari, abaixo dos limites do Bairro da 1,0 Serra. B Rio Alambari, próximo ao vale das 0,4 Orquídeas e ao encontro do rio Betari. C Córrego do Fria, próximo ao encontro do rio 0,5 Betari. As Figuras 25 a 28 apresentam fotos tiradas dos pontos de coleta. 46 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Figura 25. Foto do ponto A, em cima da ponte. Figura 26. Foto do ponto A, na margem direita. 47 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 27. Foto do ponto B, sobre a ponte. Figura 28. Foto do ponto C, córrego do Fria, sob a estrada, antes da ponte. 48 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 3.1.2.Determinação dos parâmetros ambientais da água (in situ) As determinações dos parâmetros ambientais: condutividade, OD, pH, temperatura e turbidez da água superficial foram realizadas nos locais da coleta com a utilização de um aparelho Horiba Water Checker U-10, (Figura 29). Figura 29. Aparelho Horiba Water Checker U-10 (foto ilustrativa). 49 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 3.2.MATERIAL BIOLÓGICO ANALISADO Durante a coleta em janeiro de 2003 foram capturados vários exemplares de diferentes espécies de insetos aquáticos e de peixes. Dentre tais espécies, três de insetos aquáticos e quatro de peixes foram selecionadas para a análise. O critério de escolha foi a quantidade disponível de cada espécie coletada. Uma breve descrição de cada grupo é feita a seguir. 3.2.1.Hypostomus (cascudo) [67] Hypostomus (Figura 30) é encontrado durante todo o ano. É um gênero que se adapta muito bem às condições de cativeiro, sendo bastante resistente nesse ambiente em relação à infecção de fungos e bactérias. Os representantes desse gênero são encontrados na região tropical e subtropical da América do Sul, habitando freqüentemente riachos, rios, alagados e até poços pobres em oxigênio dissolvido. Vivem em águas lóticas próximas de cachoeiras e corredeiras, em locais com fundo pedregoso, adaptando-se a ambientes de água represada. No Brasil há por volta de 54 espécies. Figura 30. Perfis dorsal e lateral do Hypostomus plecostomus (cascudo). 50 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Popularmente conhecido como “cascudo”, o Hypostomus plecostomus (Linnaeus, 1758), é um peixe de couro, amplamente distribuído na América do Sul, pertencente à ordem Siluriforme e à família Loricariidae. Caracteriza-se por ter o corpo coberto por placas ósseas e a boca ventral provida de um disco de sucção. Esses peixes possuem respiração aérea acessória e utilizam o estômago e o intestino como órgãos respiratórios auxiliares em meio pobre em oxigênio dissolvido. Quando expostos ao ar, observa-se hematopoiese ativa, com a presença de muitas células imaturas e ausência de alteração de compartimentos hídricos sugerindo adaptação para sobreviver fora d’água caso ocorra desidratação. Hypostomus possuem grande importância no sistema ecológico de seu habitat, pois atuam no início da mineralização da matéria orgânica presente no lodo, tornando a decomposição mais fácil pelos microrganismos e tornando mais rápida a reutilização dos nutrientes. Desta maneira, contribuem para a depuração de compartimentos impactados com poluição orgânica. Em relação à pesca, são peixes de grande valor econômico e muito explorado nos rios do estado de São Paulo. Hypostomus são iliófagos e detritívoros. O gênero apresenta estômago relativamente grande que sempre contém ar que pode ser usado na respiração. Somente uma pequena área de sua cavidade digestiva possui glândulas para essa função. O alimento, composto por partículas muito finas, é transportado em pequenas quantidades do estômago ao intestino, que é relativamente longo. 3.2.2.Astyanax (lambari) [82-84] O gênero Astyanax (Figura 31) corresponde a maior unidade taxonômica de seu grupo (Tetragonopterinae). Possui um número muito grande de espécies, formando um grupo complexo com formas relativamente próximas, de acordo com suas características morfológicas. Somente em águas do Brasil foram consideradas cerca de 60 espécies e subespécies. Possui forma elíptica com perfil superior arqueado e perfil ventral curvilíneo do focinho até o ânus. Apresenta cor prateada e escamas ciclóides por todo o corpo. Na cabeça, dorso e lábios apresenta cor verde-acizentada. As nadadeiras pares e a anal são hialinas; a dorsal e caudal são amareladas. 51 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Peixes deste gênero podem ser encontrados desde a fronteira México – Estados Unidos até a Argentina. São conhecidos popularmente como lambaris no sul do Brasil, piabas no sudeste e nordeste e matupiris na Amazônia. Tem pequeno valor comercial, constitui um peixe fácil de ser limpo servindo bem para a culinária, preparado geralmente frito. Figura 31. Perfil lateral do Astyanax (lambari). Muitos peixes deste gênero realizam anualmente a migração crescente (piracema), fazendo a desova na dinâmica fluvial, em observações no rio Mogi-Guaçu – SP. Observouse em outros trabalhos desova total em um único ponto do rio. Pode também se reproduzir em ambientes lênticos e devido a este fator (além de atingir tamanho adulto em pouco tempo) apresenta “possibilidade de industrialização”, tal como as sardinhas. Tem como hábito alimentar comer algas cianofíceas e insetos aquáticos, tais como coleópteros e dípteros. Na cadeia trófica, é alimento importante para as espécies ictiófagas. 3.2.3.Pimelodus (mandi) [85] Pimelodus (Figura 32) são peixes conhecidos pelo nome popular mandi. Têm como habitat rios de água doce como os da bacia do Prata e do Amazonas, além de Peru, Bolívia, Colômbia, Guianas e Venezuela. No Brasil, também ocorrem em São Paulo, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Sul. Apresenta um corpo nu, pares de barbilhões, aberturas branquiais bem desenvolvidas e com nadadeiras dorsal e peitoral precedidas de um acúleo. Algumas espécies de Pimelodus podem atingir 50 cm de comprimento e 2,0 kg. As maiores possuem a carne apreciada, na maioria das vezes preparada como um ensopado. Comercialmente, 52 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Pimelodus é um dos principais peixes de pesca profissional e esportiva da bacia do rio São Francisco. Pimelodus apresenta amplo espectro alimentar. O registro do conteúdo gastrintestinal revelou um gênero freqüentador de fundo, onívora e iliófaga ocasionalmente. Sugeriu-se, ainda, que é um peixe transportador / preparador, considerando-o como um prémineralizador no ciclo da matéria no ambiente aquático. Figura 32. Perfil lateral do Pimelodus (mandi). Pimelodus é um gênero com pouca capacidade de ocupação de corpos d’água diferentes daqueles usados para alimentação e reprodução. Mantém-se pouco ativa durante quase todo ano, deslocando lentamente rio abaixo, sendo capaz de empreender marchas súbitas rio acima e percorrer mais de 500 km. Observou-se em alguns trabalhos que o período reprodutivo de Pimelodus é entre dezembro a fevereiro, no período de maiores chuvas e com os rios acima do nível normal. Observou-se, também, que a desova ocorre parcelada, isto é, desovas sucessivas em um mesmo período reprodutivo. 3.2.4. Corydoras (sarro ou sarrinho)a Corydoras (Figura 33) é um gênero pouco estudado em relação aos gêneros já mencionados. Atingem comprimento máximo de 9,8 cm e pode ser encontrado na América do Sul, especificamente na costa do Rio de Janeiro até Santa Catarina. A espécie coletada na bacia do Betari foi identificada como Corydoras barbatus (Quoy & Gainard, 1824). Não se encontrou na literatura informações sobre os hábitos alimentares e reprodução, porém, sua característica física indica que é um peixe mais ativo, em relação ao Hypostomus e Pimelodus. a GARAVELLO J.C. – Comunicação pessoal. (2003) 53 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Figura 33. Perfil lateral do Corydoras. 3.2.5.Insetos aquáticos Coletaram-se três espécies de insetos aquáticos que costumam fazer parte do espectro alimentar das espécies de peixes, principalmente de Astyanax [82]. As três espécies foram identificadas (no nível taxonômico de família) pela Profa. Dra. Alaíde Aparecida Fonseca Gessner, do Departamento de Hidrobiologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os insetos coletados pertencem às seguintes ordens e famílias, respectivamente: Hemíptera Gerridae (duas espécies) e Coleóptera Gerinidae (uma espécie). A Figura 34 mostra as três espécies de insetos aquáticos coletadas. 54 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Figura 34. Foto das três espécies de insetos aquáticos coletadas. (A) e (C) Hemiptera Gerinidae, (B) Coleoptera Gerridae. 55 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 3.3.MATERIAL E REAGENTES 3.3.1.Reagentes Todos os reagentes e padrões utilizados neste trabalho foram testados para verificar a existência de contaminantes. A Tabela 8 apresenta os reagentes e padrões usados e respectiva procedência. Tabela 8. Reagentes e padrões utilizados neste trabalho e respectiva procedência. Material ou Especificações Procedência reagente Sulfato de sódio Anidro, reagente analítico Mallinckrodt granular. Paris, Kentucky, USA. ® Florisil 60-100 mesh. Mallinckrodt Ácido sulfúrico 98,1% Mallinckrodt Hexano (85% n-hexano) Mallinckrodt Padrão HCB 99,0% de pureza. Chem Service West Chester, Pennsylvania, USA. Padrão PCBs 99,0% de pureza. Chem Service Padrão -HCH 99,0% de pureza. Aldrich Chem CO. Milwaukee, Wisconsin, USA. 97,0% de pureza. Aldrich Chem CO. Padrão -HCH Extran® MA 01 alcalino Merck Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3.3.2. Limpeza do material A vidraria usada foi previamente limpa com imersão em solução de detergente Extran® por 24 horas e enxaguada três vezes em água corrente, três vezes com água destilada e 1 vez com acetona. A secagem foi realizada em estufa (100ºC) por três horas (com exceção do material volumétrico). Antes da utilização, realizou-se uma lavagem com hexano. 56 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 3.3.3. Soluções padrão As soluções padrão dos compostos organoclorados foram feitas a partir da pesagem de 0,01 g de padrão sólido (levando-se em conta o teor de pureza especificado do padrão) e dissolvida em hexano. A partir de uma solução de 10 mg L-1, obtiveram-se soluções de menor concentração por diluição. 57 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 3.4. MÉTODO DE EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO 3.4.1. Linearidade dos compostos A linearidade refere-se ao intervalo de concentração em que o composto mantém a relação concentração / área do pico de detecção no cromatograma constante. A partir de soluções padrão de diferentes concentrações, construíram-se as curvas analíticas de cada composto organoclorado. 3.4.2. Sensibilidade: limite de detecção (LOD) e limite de quantificação (LOQ) O limite de detecção (LOD) é a menor concentração de resíduo de pesticida em uma matriz definida na qual a confirmação da detecção do analito pode ser alcançada utilizandose uma metodologia específica [86]. Limite de quantificação (LOQ) é a menor concentração de resíduo de pesticida em uma matriz definida na qual a confirmação da detecção do analito e a medida quantitativa podem ser alcançadas utilizando-se uma metodologia específica [86]. A partir das curvas analíticas de cada composto, LOD e LOQ foram calculados a partir das equações 2 e 3. LOD = 3,3 sd (2) S LOQ = 10 sd S (3) Termos das equações: ♦ sd = desvio padrão da menor concentração obtida. ♦ S = coeficiente angular da reta. 58 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 3.4.3. Avaliação do método 3.4.3.1. Coeficiente de recuperação do método para a extração dos analitos em insetos aquáticos Para a avaliação (recuperação) do método de extração dos analitos em insetos aquáticos utilizaram-se 10,0 g de sulfato de sódio anidro como matriz e adicionou-se 1,0 mL de solução padrão de organoclorados (mistura dos compostos estudados) nas concentrações 25, 50 e 100 g L-1. A matriz foi submetida ao procedimento analítico de extração e quantificação em triplicata, e desta maneira determinou-se a porcentagem de recuperação do método, desvio padrão e desvio padrão relativo. 3.4.3.2. Coeficiente de recuperação do método para a extração dos analitos em peixes Para a avaliação (recuperação) do método de extração dos analitos em peixes utilizaram-se 10,0 g de peixes fornecidos pelo Centro de Aqüicultura da Universidade Estadual Paulista (UNESP), do campus de Jaboticabal – SP. Os peixes cedidos são do grupo Astyanax (lambari), como pode ser observado na Figura 35. Esses peixes são submetidos à alimentação controlada e são criados em cativeiro, com água livre de contaminantes (a presença de contaminantes foi testada realizando-se uma análise dos peixes cedidos). Figura 35. Peixes do gênero Astyanax (lambari) fornecidos pelo de Centro de Aqüicultura de Jaboticabal - UNESP. 59 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado À matriz biológica adicionou-se 1,0 mL de solução padrão de organoclorados (mistura) nas concentrações 25, 50 e 100 g L-1. A matriz foi submetida ao procedimento analítico de extração como descrito no item anterior. 3.4.4. Extração dos analitos das matrizes Para a extração dos compostos organoclorados em insetos aquáticos e peixes (filé e vísceras), utilizou-se o método descrito por SANTOS [72] e DEL GRANDE [87] , para extração de organoclorados em sedimentos. Os exemplares de peixes congelados permaneceram em temperatura ambiente até completo degelo. Para a análise das matrizes utilizou-se a musculatura (filé) e as vísceras, sendo desprezadas cabeça, cauda e nadadeiras ventrais e dorsais. Separou-se entre 10,0 g de massa bruta da amostra e macerou-se até a homogeneização. A massa homogênea foi colocada em cartucho (recipiente de amostra) em sistema Soxhlet. À matriz foram adicionados 150 mL de solvente hexano (solvente extrator). O procedimento de extração durou oito horas. Em seguida o extrato foi evaporado a 15,0 mL em evaporador rotatório e guardado em frascos de vidro para a posterior determinação de teor de lipídeos e tratamento ácido. 3.4.5. Determinação do teor de lipídeos nas amostras de peixes Para a determinação do teor de lipídeos nas amostras de peixes utilizou-se uma alíquota de 1,0 mL do extrato em recipiente que foi previamente pesado. O extrato foi evaporado a 80ºC. Em seguida pesou-se o recipiente e determinou-se por diferença o teor de lipídeos a partir do valor inicial da amostra [87]. 3.4.6. Tratamento ácido e “Clean-up” O extrato das amostras foi submetido a um tratamento ácido com a adição de 1,0 mL de ácido sulfúrico concentrado sob agitação para remoção dos lipídeos. Os lipídeos decantam (Figura 36) e o sobrenadante é retirado com pipeta Pasteur. 60 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Figura 36. Resíduo de tratamento ácido proveniente das amostras de peixes extraídas. O procedimento de “clean-up” foi realizado com a aplicação de 1,0 mL de extrato em uma coluna de vidro (1,0 cm de diâmetro) contendo 2,0 g de Florisil® e 1,0 g de sulfato de sódio anidro. O extrato foi posteriormente eluído com 15 mL de hexano. 3.4.7. Determinações cromatográficas Alíquotas de 1,0 mL dos extratos das amostras foram injetadas no cromatógrafo a gás Hewlett-Packard 5890, série II, equipado com detector de captura de elétrons e injetor split (Figura 37). Figura 37. Cromatógrafo a gás Hewlett-Packard 5890, série II. 61 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado As condições de análise cromatográfica foram: ♦ temperatura do detector: 320ºC. ♦ temperatura do injetor: 270ºC. ♦ fluxo de gás de arraste (H2): 1,0 mL min-1. ♦ fluxo de gás auxiliar (N2): 1,0 mL min-1. ♦ injetor split 1:13. ♦ temperatura da coluna: início com 170ºC; 2ºC min-1 até 5 minutos; 10ºC min-1 até 15 minutos para PCBs. Início com 170ºC e 5ºC min-1 até 5 minutos para HCB. Início com 120ºC e 5ºC min-1 até 10 minutos para HCHs. Com esse procedimento, não houve coeluição dos compostos estudados. ♦ coluna cromatográfica: coluna capilar HP-5 (5% fenilmetilsiloxano); comprimento 30 m, diâmetro 0,32 mm, espessura do filme 0,25 m. No início de cada análise cromatográfica esperaram-se quatro horas até completa estabilização do sinal do instrumento. Após a injeção de uma amostra (em triplicata) elevou-se a temperatura do forno a 280ºC para a limpeza da coluna cromatográfica, antes da injeção de amostra subseqüente. A identificação e atribuição dos picos dos cromatogramas foram feitas a partir da comparação dos tempos de retenção dos padrões e, também, por adição de padrão (0,5 L) à alíquota de 0,5 L do extrato da amostra. 3.4.8.Análise estatística dos dados obtidos Para cada amostra realizou-se entre uma a três extrações, dependendo da quantidade disponível de material biológico obtido nas coletas. A média amostral, o desvio padrão amostral, desvio padrão relativo foram calculados por meio das Equações 4 e 5. i=N x= i =1 N (4) 62 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP i= N s= i =1 ( xi − x ) 2 (5) N −1 Para a apresentação dos resultados finais das determinações nas amostras aplicou-se o teste t (Student) para verificar a faixa de valores em que a média populacional situava- se (Equação 6). µ =x± t×s N (6) 3.4.9.Descarte dos resíduos Os resíduos tóxicos gerados em todos os experimentos foram acondicionados em frascos de vidro, fechados e colocados em local apropriado, para posterior tratamento no Laboratório de Resíduos Químicos (LRQ)† no campus da USP em São Carlos. † ALBERGUINI L.B.A.; REZENDE M.O.O.; SILVA L.C. Laboratório de resíduos químicos do campus USP – São Carlos – resultados da experiência pioneira em gestão e gerencimento de resíduos químicos em um campus universitário. Química Nova. v.26, n.2, p.291-295, 2003. Para maiores informações ver em www.residuos.kit.net (novembro de 2003). 63 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 4.1.AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO 4.1.1.Curvas analíticas dos compostos organoclorados estudados Para verificar a resposta do detector de captura de elétrons, fez-se as curvas analíticas para todos os compostos organoclorados analisados, na faixa entre 5 e até 100 g L-1, observando linearidade para todos. As Figuras 38 a 44 apresentam as curvas analíticas para os compostos organoclorados estudados. 18000 16000 14000 área (unidades) 12000 10000 8000 6000 4000 equação da reta área = 578,75 + 328,24[HCB] R = 0,994 2000 0 -2000 0 10 20 30 40 -1 concentração (µg L ) Figura 38. Curva analítica para o HCB. 64 50 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 8000 7000 6000 área (unidades) 5000 4000 3000 2000 1000 equação da reta área = -145,24 + 147,85[α-HCH] R = 0,999 0 -1000 0 10 20 30 40 50 -1 concentração (µg L ) Figura 39. Curva analítica para o -HCH. 4000 3500 área (unidades) 3000 2500 2000 1500 1000 equação da reta área = 142,04 + 36,672[γ-HCH] R = 0,996 500 0 -500 0 20 40 60 80 -1 concentração (µg L ) Figura 40. Curva analítica para o -HCH. 65 100 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 8000 área (unidades) 6000 4000 2000 equação da reta área = -27,977 + 155,37[PCB-29] R = 0,999 0 0 10 20 30 40 50 -1 concentração (µg L ) Figura 41. Curva analítica para o PCB-29. 35000 30000 área (unidades) 25000 20000 15000 10000 5000 equação da reta área = 1163,4 + 337,24[PCB-50] R = 0,991 0 -5000 0 20 40 60 80 -1 concentração (µg L ) Figura 42. Curva analítica para o PCB-50. 66 100 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 7000 6000 área (unidades) 5000 4000 3000 2000 equação da reta área = 401,45 + 58,204[PCB-188] R = 0,995 1000 0 0 20 40 60 80 100 -1 concentração (µg L ) Figura 43. Curva analítica para o PCB-188. 3000 2500 área (unidades) 2000 1500 1000 500 equação da reta área = 6,9251 + 27,951[PCB-200] R = 0,999 0 0 20 40 60 80 -1 concentração (µg L ) Figura 44. Curva analítica para o PCB-200. 67 100 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 4.1.2.Sensibilidade A sensibilidade do detector cromatográfico é a relação entre a concentração do composto analisado e o sinal gerado por ele. A avaliação da sensibilidade foi feita a partir do cálculo de LOD e LOQ (equações 2 e 3). Os valores de LOD e LOQ para os compostos organoclorados estudados são dados na Tabela 9. Tabela 9. Valores de LOD e LOQ obtidos para os compostos estudados. OC LOD (ng g-1) LOQ (ng g-1) HCB 0,39 1,17 -HCH 4,56 13,82 -HCH 1,06 3,20 PCB-29 4,67 14,17 PCB-50 1,49 4,51 PCB-188 2,14 6,47 PCB-200 1,98 6,02 Os valores de LOD e LOQ obtidos para os compostos estudados foram considerados bons em relação aos encontrados na literatura [65] pesticidas clorados. Os valores citados seriam considerados altos , especialmente para os [87] caso a análise fosse realizada com água como matriz, devido à baixa solubilidade dos compostos em meio aquoso (Anexo). Para a quantificação em matrizes biológicas, tais como peixes, os limites alcançados foram considerados satisfatórios. 4.1.3.Eficiência do método (recuperação) Na literatura não se encontrou nenhum trabalho que sugerisse algum material que pudesse servir como matriz para um método de extração de pesticidas em insetos aquáticos. SANTOS [72] utilizou sulfato de sódio anidro para avaliação do método de extração de PCBs em sedimentos e moluscos. O desvio padrão e o desvio padrão relativo foram calculados a partir das concentrações obtidas. Realizaram-se três medidas para cada concentração (25, 50 e 100 g L-1) totalizando, portanto, nove extrações. A Tabela 10 apresenta os valores de recuperação obtidos para o método de extração de compostos organoclorados em insetos aquáticos. 68 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Tabela 10. Porcentagem de recuperação dos analitos em diferentes concentrações e respectivos desvios padrão, desvio padrão relativo e média, para o método de extração em insetos aquáticos. OC (%) 25 s srel 50 s srel 100 s srel Média -1 -1 -1 ng g ng g ng g 85,07 3,23 3,79 92,46 2,74 2,96 81,55 5,87 7,20 86,36 HCB 81,38 2,70 3,32 81,68 2,56 3,13 94,84 8,68 9,15 85,97 -HCH 70,96 3,09 4,35 70,39 0,35 0,50 93,56 9,56 10,22 78,30 -HCH 75,08 2,60 3,46 108,54 4,60 4,24 118,85 18,55 15,61 100,82 PCB-29 79,93 22,89 28,64 101,88 2,31 2,27 80,94 5,36 6,62 87,58 PCB-50 78,48 21,90 27,91 119,39 15,22 12,45 101,77 12,44 12,22 99,88 PCB-188 117,47 22,50 19,15 118,12 14,26 12,07 87,81 9,12 10,38 107,80 PCB-200 Os valores de recuperação do método foram considerados satisfatórios já que estão na faixa de valores recomendada [75] pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US-EPA), que aceita recuperações na faixa de 70-120%, com desvio padrão relativo máximo de 30%. No entanto, em alguns valores da literatura [87] os valores de srel são considerados altos. Valores de recuperação acima de 100% são esperados devido ao efeito matriz, que ocorre em colunas de GC e de fase líquida, quando repetidas as injeções da amostra, que formam uma camada dos componentes da amostra no início da coluna e introduzem uma nova “fase” na coluna, o que afeta o caráter de eluição e retenção dos analitos em contato com esta fase, gerando alargamento dos picosa. A avaliação do método de extração de compostos organoclorados em peixes foi realizada com amostras de peixes fornecidas pelo Centro de Aqüicultura de Jaboticabal – UNESP. O procedimento para a recuperação foi exatamente o mesmo empregado para o método de extração em insetos aquáticos, fazendo-se o teste em três concentrações (25, 50 e 100 g L-1) e em triplicata. A Tabela 11 apresenta os valores de recuperação obtidos para o método de extração de compostos organoclorados em peixes. Verificou-se se havia nas amostras fornecidas a presença de contaminantes, realizando-se uma análise das mesmas não sendo encontrado nenhum composto que pudesse interferir nos testes de recuperação (cromatograma em Anexo). a BARKER S.A. Sorbent Technologies. In: Residues Analysis in food: principles and applications apud DÓREA H.S., LANÇAS F.M. MSPD – técnica moderna para extração de resíduos de pesticidas. Caderno UFS – Química e meio ambiente. 7-19. 2000 (?). 69 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Tabela 11. Porcentagem de recuperação dos analitos em diferentes concentrações e respectivos desvios padrão, desvio padrão relativo e média, para o método de extração em peixes. OC (%) 25 s srel 50 s srel 100 s srel Média -1 -1 -1 ng g (%) ng g (%) ng g (%) 73,86 7,17 9,71 74,36 6,13 8,24 77,29 4,61 5,96 75,17 HCB 71,24 3,60 5,05 88,14 15,61 17,71 70,09 5,15 7,35 76,49 -HCH 72,46 13,67 18,87 70,31 1,38 1,96 73,13 5,94 8,12 71,97 -HCH 106,55 14,83 13,92 70,97 2,06 2,90 70,04 4,96 7,08 82,52 PCB-29 100,49 9,09 9,05 91,14 6,22 6,82 71,59 6,28 8,77 87,74 PCB-50 118,4 9,41 7,95 118,25 14,71 12,44 105,33 3,57 3,39 113,99 PCB-188 119,83 9,21 7,69 117,47 22,96 19,55 114,34 2,89 2,53 117,21 PCB-200 Na recuperação dos analitos para o método de extração em peixes os valores em porcentagem foram considerados satisfatórios (dentro da faixa de 70-120%, como mencionado anteriormente). Porém, o valor médio de recuperação para este método (89,30%) foi menor que o valor médio apresentado na Tabela 10 (92,39%). Este resultado era esperado devido à etapa adicional de remoção de lipídeos, na qual pode haver perdas dos analitos. Os valores de desvio padrão relativo também estão dentro da faixa de valores recomendada (<30%), porém são considerados altos se comparados com dados observados na literatura [87] . Os altos valores de desvio padrão nas medidas estão associados a problemas de sensibilidade do detector de captura de elétrons do instrumento cromatográfico, que passou por várias sessões de manutenção durante o período de pesquisa. Dentre os analitos, o que apresentou menor valor de recuperação foi o -HCH (78,30 e 71,97%, respectivamente), devido a uma maior instabilidade química em relação aos outros compostos organoclorados estudados (fato observado no manuseio das soluções padrão do composto). Observaram-se nestes testes alguns valores acima de 100%, que são ocasionados pelo efeito matriz já mencionado. Apesar dos testes de recuperação dos analitos em amostras de material biológico terem apresentado menores valores em relação aos testes realizados com sulfato de sódio anidro, a metodologia de extração e quantificação foi considerada viável devido à faixa de resultados situar-se entre 70 e 120%. 70 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 4.2.COLETA DAS AMOSTRAS E BIOMETRIA 4.2.1.Descrição geral Os dias que antecederam a esta amostragem foram tomados por chuva intensa, causando problemas na locomoção na estrada que liga Apiaí a Iporanga. Os desmatamentos na região e a chuva forte provocaram deslizamentos na encosta impedindo a passagem de veículos e pedestres. A primeira coleta ocorreu dia 27 de janeiro de 2003 às 23:30h, no rio Betari, interior do Bairro da Serra (ponto A). O local é limite do PETAR, e o rio apresentava forte correnteza devido às fortes chuvas da frente fria. Os peixes foram coletados com tarrafa na margem direita do rio. Esta coleta foi realizada no período noturno para facilitar a coleta de exemplares de hábito noturno, como o Pimelodus. A segunda coleta realizou-se no dia 28 de janeiro de 2003 às 14:00h na desembocadura do córrego do Fria, no rio Betari, próximo ao encontro com o rio Ribeira de Iguape (ponto C). Naquele ponto o rio Betari apresentou forte correnteza devido às chuvas. Havia grande quantidade de insetos aquáticos e outros representantes da fauna local. A coleta de peixes foi realizada com tarrafa e a coleta dos insetos aquáticos com pequena rede com cabo (buçá). A terceira coleta realizou-se em riacho tributário do rio Betari, próximo à saída da caverna Alambari de Baixo (ponto B). A coleta dos peixes foi realizada com tarrafa e rede de arraste. Em relação às coletas foram feitas as seguintes observações: ♦ em todos os pontos a água dos rios estava visualmente suja devido à intensa lixiviação ocorrida nos dias anteriores. ♦ os três pontos de coleta foram os únicos disponíveis para a realização das coletas de peixes devido à forte correnteza e ao alto nível das águas, impossibilitando o uso de redes de espera para a coleta de espécies de peixes de porte maior. O principal rio da região, Ribeira de Iguape, estava com 5,0 m acima do seu nível normal, apresentando água com aspecto barrento devido à lixiviação e forte correnteza. 71 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Este alto nível das águas foi verificado, também, no rio Betari, impossibilitando a coleta de exemplares de peixes em pontos tradicionais de pesca do local. 4.2.2.Medida dos parâmetros ambientais da água (condutividade. OD, pH, temperatura e turbidez) nos pontos de coleta Em todos os pontos de coleta a água não apresentou sinais visuais de poluição, tais como materiais flutuantes (como por exemplo, espumas não naturais), óleos ou graxas, ou ainda, substâncias que caracterizem cor ou odor ou substâncias que formem depósitos objetáveis. As águas dos pontos de coleta analisados são regularmente utilizadas para diversos fins, dos quais a recreação e esportes praticados por turistas. De acordo com a Resolução CONAMA nº 20 as águas dos pontos de coleta analisados podem ser classificadas, em relação ao seu uso, como água doce de Classes I e II, que são águas destinadas [88]: ♦ Ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional; ♦ À proteção de comunidades aquáticas; ♦ À recreação de contato primário (natação e mergulho); ♦ À irrigação de hortaliças e plantas frutíferas; ♦ À criação natural ou intensiva (aqüicultura) de espécies destinadas à alimentação humana. As águas do rio Betari e afluentes são utilizadas para tais fins (com exceção do último) e, portanto, devem apresentar resultados para se enquadrar nesta classificação. Para as classes mencionadas os valores aceitáveis apresentados pela Resolução são dados na Tabela 12 (na Resolução não são comentados dados a respeito de faixa de valores de temperatura e condutividade). Tabela 12. Valores aceitáveis na resolução nº 20 do CONAMA para OD, pH e turbidez [88]. Classificação OD (mg L-1) pH Turbidez (UNT) Classe I >6,000 6,00-9,00 <40 Classe II >5,000 6,00-9,00 <100 72 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP As medidas dos parâmetros ambientais (condutividade, OD, pH, temperatura e turbidez) dos pontos de coleta são apresentadas na Tabela 13. Tabela 13. Valores dos parâmetros ambientais da água medidos nos pontos de coleta. Ponto de coleta Condutividade OD pH Temperatura Turbidez (mS cm-1) (mg L-1) (ºC) (UNT) Rio Betari, limite final do 0,106 8,930 9,06 22,7 5-10 parque (ponto A). Rio Alambari (ponto B). 0,154 8,032 8,18 19,8 5-10 0,028 9,003 7,18 22,7 5-10 Córrego do Fria (ponto C). Média 0,096 8,655 8,14 21,7 5-10 Em relação aos dados obtidos, verifica-se, em acordo com a Resolução CONAMA nº 20, que as águas dos pontos de coleta estão em condições de pertencer às categorias de águas doces de Classe I ou II, porém observados apenas os fatores medidos: características visuais e de odor, OD, pH e turbidez. Apenas o valor de pH do rio Betari (9,06) foi considerado acima do exigido para a classificação citada. O fato era esperado, devido à alta concentração de carbonatos provenientes do material calcário das rochas que compõem a estrutura geomorfológica da região [79], e como a extensão do rio Betari é maior em relação aos outros rios, este recebe a maior carga proveniente da lixiviação. Dentre os valores de temperatura apenas o obtido no ponto C (19,8ºC) foi considerado baixo (diferença de 2,9ºC) em relação aos outros pontos. Os valores obtidos de condutividade indicam que há pouca concentração de íons dissolvidos em relação às áreas mais desenvolvidas [87] . A concentração de OD foi considerada alta, sendo que em locais onde há despejo industrial contendo matéria orgânica a concentração de OD é da ordem de 1,0 mg L-1 [87]. Os valores médios obtidos para os parâmetros (condutividade, OD, pH, temperatura e turbidez), são considerados propícios para a manutenção da vida aquática; de insetos aquáticos, peixes e outras espécies constituintes da rica fauna da região. Porém, é necessário um monitoramento mais aprofundado, com medidas nas diferentes estações do ano para um estudo mais conclusivo a respeito desses parâmetros. 73 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 4.2.3.Biometria do material biológico coletado Várias espécies de insetos aquáticos foram encontradas no ponto C (córrego do Fria), porém apenas três espécies foram encontradas em número conveniente para estudo. A Tabela 14 apresenta os nomes sistemáticos (ordem e família), número de exemplares e comprimento médio dos insetos aquáticos coletados. Tabela 14. Nomes sistemáticos dos insetos aquáticos coletados no ponto C, número de exemplares coletados e comprimento médio. Ordem Família Nº de indivíduos coletados Comprimento (cm) Coleóptera Gerridae 10 1,0 Hemíptera Gerinidae (espécie maior) 7 2,2 Hemíptera Gerinidae (espécie menor) 28 0,8 Todas as espécies de insetos aquáticos coletados estavam concentradas na margem do córrego do Fria, nadando sobre a superfície da água. A espécie que se conseguiu maior número de exemplares foi a menor da ordem Hemíptera, com 28 indivíduos coletados. Além de insetos aquáticos, o ponto C apresentou maior diversidade animal dentre todos os pontos estudados, sendo coletadas várias espécies de peixes de pequeno porte e crustáceos. Nos três pontos de coleta conseguiram-se ao todo quatro espécies de peixes selecionados para estudo. O número de exemplares conseguidos em cada ponto de coleta e a biometria de cada espécie (comprimento médio e massa média) são dados na Tabela 15. Tabela 15. Número de exemplares de peixes coletados e dados biométricos. Peixe Número de Comprimento médio Massa média exemplares (cm) (g) Ponto A Hypostomus 18 10,1 6,99 Astyanax 28 8,6 9,00 Pimelodus 8 10,0 8,10 Ponto B Hypostomus 4 8,7 6,05 Astyanax 3 8,7 10,00 Pimelodus 5 8,5 4,43 Corydoras 12 5,5 2,54 Ponto C Hypostomus 2 10,8 11,00 Astyanax 5 7,7 6,08 74 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Os dados biométricos dos exemplares de peixes coletados nos três pontos não apresentaram significativas diferenças biométricas. São considerados peixes de pequeno porte que dificilmente são usados para pesca ou alimentação (com exceção do gênero Astyanax). O ponto que apresentou maior abundância em quantidade de peixes foi o ponto A, devido à maior extensão do rio Betari em relação aos outros pontos, sendo coletados ao todo 54 exemplares de peixes. O ponto C, apesar de apresentar animais de outras classes e filos, tais como os insetos aquáticos e crustáceos, apresentou a menor quantidade de peixes, com apenas dois gêneros coletados em quantidades convenientes para estudo (Hypostomus e Astyanax). O ponto B apresentou maior diversidade de espécies de peixes estudados (quatro espécies). Somente dois gêneros (Hypostomus e Astyanax) foram coletados em todos os pontos de estudo. Astyanax foi o mais coletado (36 exemplares). Hypostomus foi o gênero que apresentou maior tamanho médio (9,87 cm), enquanto Astyanax apresentou maior massa média (8,36 g). Um importante dado biométrico a ser considerado quando se estuda a presença de contaminantes organoclorados é o teor de lipídeos nos tecidos do material biológico. Compostos organoclorados têm características lipofílicas e, devido a este fato, ocorre a bioacumulação daqueles compostos nos tecidos que contêm lipídeos. O teor de lipídeos foi medido nos gêneros coletados, em suas diferentes partes: musculatura (filé) e vísceras. A 3,47 2,94 3,55 1,76 4,00 2,97 teor de lipídeos (%) 8,00 7,73 Figura 45 apresenta o teor de lipídeos encontrados nas amostras de peixes do ponto A. vísceras du s Pi m elo As ty an a x 0,00 Hy po sto m us filé Figura 45. Teor de lipídeos nas amostras de peixes do ponto A. 75 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Nas amostras de peixes coletados no ponto A, verificou-se que Hypostomus apresentou maior teor de lipídeos tanto na musculatura quanto em sua parte visceral. Isto ocorre pelo fato de que este gênero, dentre os três coletados, é o de menor mobilidade no corpo d’água e, portanto, de metabolismo mais baixo com a tendência de acumular reservas lipídicas [67] . Um resultado esperado é que em todos os gêneros o teor de lipídeos na parte visceral é maior em relação à musculatura. Astyanax [82] apresentou o menor teor em sua parte muscular por ser o gênero de maior mobilidade no corpo d’água; não é um peixe de fundo, assim como o Hypostomus e Pimelodus. As amostras de peixes coletados no ponto 2,70 3,58 4,13 4,86 3,56 2,01 2,50 3,37 4,22 5,00 filé vísceras 0,00 Hy po st o m us As ty an ax Pi m elo du s Co ry do ra s teor de lipídeos (%) B apresentaram resultados semelhantes aos exemplares coletados no ponto A (Figura 46). Figura 46. Teor de lipídeos nas amostras de peixes do ponto B. Para as amostras de peixes coletados no ponto B Pimelodus apresentou maior média de teor de lipídeos (4,49%), superando Hypostomus (3,79%), demonstrando que aquele gênero de peixes possa ter maior mobilidade na bacia do Betari. Novamente, Astyanax apresentou a menor média de teor de lipídeos (2,78%), mostrando novamente que é um peixe mais ativo (de metabolismo mais rápido) em relação aos outros gêneros estudados. Os valores de teor de lipídeos das amostras de peixes coletados no ponto C (Hypostomus e Astyanax), são apresentados na Figura 47. 76 3,00 4,34 5,59 2,83 teor de lipídeos (%) 6,00 4,95 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP filé vísceras As ty an a Hy po st o m us x 0,00 Figura 47. Teor de lipídeos nas amostras de peixes coletados no ponto C. As amostras de peixes coletados no ponto C apresentaram a maior média de teor de lipídeos dentre todos os pontos estudados. A este fato está relacionada a pouca vazão do curso d’água no ponto exato de coleta (ambiente lêntico) e, também, pode estar relacionado à maior disponibilidade de alimento (presença de insetos aquáticos), para o caso do Astyanax, peixe que se alimenta geralmente de coleópteros e hemípteros [82] . Um resultado singular apresentado na Figura 47 é um valor maior obtido de teor de lipídeos na parte muscular do Hypostomus, em relação à sua parte visceral, indicando uma tendência própria deste gênero de acumular reservas lipídicas para períodos de pouca disponibilidade de alimento [67] . Comparando-se a média de teor de lipídeos obtida em cada ponto de estudo, 4,43 verifica-se outro resultado esperado, apresentado na Figura 48. 3 A 3,55 3,75 3,74 % de lipídeos 4,5 B C ponto de estudo Figura 48. Valores médios de teor de lipídeos das amostras de peixes coletados nos três pontos de estudo. 77 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado O maior valor da média de teor de lipídeos obtido foi justamente no ponto C, onde a correnteza do curso d’água é menor em relação aos outros pontos (rio Betari e rio Alambari). Os pontos A e B apresentaram valores semelhantes entre si, apesar de o rio Betari (ponto A) ter uma vazão maior que o rio Alambari (ponto B), ambos os locais estavam com a mesma velocidade de curso d’água, o que sugere os valores apresentados na Figura 48. Fazendo-se a média das medidas por gênero usando-se todos os exemplares dos 3,58 3,14 2,70 2,20 3 3,82 3,01 5,63 4,81 3,98 % de lipídeos 6 3,54 4,17 3,86 três pontos, chega-se aos resultados apresentados na Figura 49. filé vísceras média H A yp os to m us sty an ax Pi m elo du s Co ry do ra s 0 Figura 49. Média do teor de lipídeos na parte muscular e vísceras das amostras de peixes dos três pontos de estudo. Verifica-se que Hypostomus e Pimelodus possuem as maiores médias de teor de lipídeos (4,81 e 3,86%, respectivamente) devido à característica já mencionada de metabolismo mais baixo dos gêneros citados. DEL GRANDE [87], em seu trabalho na bacia do rio Piracicaba, obteve valores entre 6-9% de teor total de lipídeos em quatro espécies estudadas (dentre elas está Hypostomus, com aproximadamente 9% de teor de lipídeos), porém, os peixes estudados neste trabalho tinham maior porte, o que explica os valores menores obtidos no presente trabalho. CHAN et al [52] obteve teores de lipídeos de 14 espécies de peixes marinhos na faixa de 0,71-3,70% (região de Hong Kong). THOMPSON et al [20] estudaram resíduos de organoclorados (PCBs e DDT) em animais bivalves na França encontrando altos teores de lipídeos, na faixa de 6,0-8,6%. ZHOU & WONG [13] estudaram a bioacumulação de PCBs (provenientes de sedimentos) em tilápias obtendo-se 78 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 2,7-5,7% de teor de lipídeos. Nos trabalhos citados não se mencionou diretamente a relação da concentração de compostos organoclorados detectados com o teor de lipídeos em cada material biológico analisado, sugerindo que a bioacumulação de compostos organoclorados seja conseqüência de fatores mais importantes, como o metabolismo da espécie, a natureza do composto e as fontes contaminantes. O teor de lipídeos no material biológico é, nesses casos, um fator secundário. 79 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 4.3.RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS NAS AMOSTRAS Nos estudos recentes acerca da presença de contaminantes organoclorados em material biológico a classe de animais mais estudada é a dos peixes, pela sua importância ecológica e devido ao consumo humano. Neste estudo verificou-se a presença dos contaminantes organoclorados em todos os gêneros de peixes encontrados nos três pontos de estudo. Os cromatogramas das amostras de peixes apresentaram pouca quantidade de picos interferentes, mostrando que as etapas de remoção de lipídeos com tratamento ácido e “clean-up” com o produto comercial Florisil® e sulfato de sódio anidro foram bem sucedidas. Para a detecção dos contaminantes nas amostras estudou-se cada ponto de estudo em separado. Cada extração contou com a utilização de partes teciduais de até cinco exemplares (musculatura ou vísceras) de cada gênero. 4.3.1.Resíduos de compostos organoclorados nas amostras do ponto A (rio Betari) O rio Betari apresentou a maior quantidade de peixes coletados e três gêneros (Hypostomus, Astyanax e Pimelodus). As concentrações obtidas de contaminantes organoclorados nas amostras dos peixes do ponto A estão na Tabela 16. Tabela 16. Concentração de contaminantes organoclorados nas amostras dos peixes do ponto A. t = 95%. OC (ng g-1) Hypostomus Astyanax Pimelodus Filé Vísceras Filé Vísceras Filé Vísceras 6,43±1,27 6,82±1,35 <LOQ 2,72±0,54 <LOQ 6,72±1,33 HCB 25,41±6,33 <LOQ ND <LOQ ND <LOQ -HCH 121,09±27,01 91,57±21,94 13,50±3,23 85,11±20,39 61,90±13,83 66,93±13,03 -HCH ND ND ND <LOQ ND ND PCB-29 ND ND ND ND ND <LOQ PCB-50 ND ND <LOQ 47,47±8,35 <LOQ ND PCB-188 <LOQ 25,07±7,56 19,41±5,86 159,50±48,12 78,60±23,71 42,06±12,69 PCB-200 25,07±7,56 19,41±5,86 206,97±56,47 78,60±23,71 42,06±12,69 PCB 80 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP A partir dos dados da Tabela 16 verifica-se que HCB, -HCH e PCB-200 foram encontrados em todas as matrizes estudadas no ponto A. Os congêneres de PCB 29 e 50 foram detectados em apenas uma das seis matrizes. A maior concentração detectada foi do composto PCB-200 (159,50 ng g-1) nas vísceras do Astyanax. Nesta matriz também foi detectado o congênere 188 em concentração considerável (47,47 ng g-1). Outro dado é que os peixes deste ponto de estudo acumularam contaminantes organoclorados em maior parte nas vísceras, parte em foi determinado maior teor de lipídeos (Figura 45, página 76). STEFANELLI et al [89] estudaram a presença de PCBs em peixes do mar Adriático, sendo observado que PCBs com maior grau de cloração foram detectados em maior concentração na maioria das determinações. Tais resultados são esperados devido ao maior fator de bioconcentração dos congêneres de PCBs com maior grau de cloração (Tabela 6, página 25) e este fato foi confirmado observando-se as concentrações obtidas dos congêneres 188 e 200 nas vísceras do Astyanax. CALHEIROS [90] detectou, para uma espécie de peixe em ® Barra Bonita – SP, congêneres do Aroclor 1260 na ordem de 900 ng g-1. DEL GRANDE [87] detectou, para uma amostra da bacia do rio Piracicaba – SP, 222,33 ng g-1do congênere 154. Os valores de concentração encontrados de PCBs no presente trabalho não eram esperados, já que a área de estudo não possui fontes poluidoras prováveis de PCBs, como regiões mais populosas e industrializadas. A detecção de pesticidas clorados era um resultado esperado devido à prática agrícola presente nas proximidades do rio Betari [79]. No trabalho de DEL GRANDE [87] , detectou-se HCB na ordem de 0,81 a 4,66 ng g-1 em diferentes espécies de peixes e tais valores estão relativamente próximos dos valores apresentados na Tabela 16. 4.3.2.Resíduos de compostos organoclorados nas amostras do ponto B (rio Alambari) O rio Alambari apresentou a maior variedade de espécies de peixes, sendo selecionados quatro gêneros para estudo (Hypostomus, Astyanax, Pimelodus e Corydoras). As concentrações obtidas de contaminantes organoclorados nas amostras dos peixes deste ponto são apresentadas na Tabela 17. 81 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Tabela 17. Resíduos de compostos organoclorados quantificados nas amostras de peixes do ponto B. t = 95%. OC Hypostomus Astyanax Pimelodus Corydoras (ng g-1) Filé Vísc. Filé Vísc. Filé Vísc. Filé Vísc. 1,75±0,34 ND <LOQ ND ND ND <LOQ ND HCB <LOQ ND ND ND ND ND ND ND -HCH 62,7±15,0 19,3±4,6 16,7±4,0 ND 10,7±2,5 20,3±4,8 21,3±5,1 ND -HCH ND ND ND ND ND ND ND ND PCB-29 <LOQ <LOQ ND ND ND ND ND ND PCB-50 ND ND ND ND ND ND ND ND PCB-188 <LOQ 22,4±6,8 <LOQ 10,0±3,0 17,7±5,4 16,9±5,1 12,8±3,9 12,2±3,7 PCB-200 Verifica-se, a partir dos dados da Tabela 17, que se detectaram compostos organoclorados em menor quantidade de matrizes e também em menores concentrações em relação aos dados obtidos no rio Betari (ponto A). Tal fato pode ser explicado pela localização do rio Alambari, por se situar em ponto mais distante do Bairro da Serra e dos locais de prática agrícola e, também, pelo fato do rio Alambari ser de menor porte em relação ao rio Betari (rio principal). A maior concentração de composto organoclorado detectado foi a do -HCH na parte muscular do Hypostomus (62,7 ng g-1), seguida de PCB200 nas vísceras do mesmo peixe (22,4 ng g-1). Verificou-se nas amostras deste ponto de estudo a tendência de acumular os contaminantes na parte muscular (com exceção de HCH no Pimelodus), o oposto observado nas amostras do rio Betari. Este fato sugere que a menor movimentação do corpo d’água neste curso faz com que os peixes acumulem maiores reservas lipídicas (Figura 46) e, por conseqüência, maior acúmulo de contaminantes na parte muscular dependendo da espécie. 4.3.3.Resíduos de compostos organoclorados nas amostras do ponto C (córrego do Fria) O córrego do Fria foi o único local de estudo em que foi possível a coleta de material biológico de diferentes filos (peixes e insetos aquáticos). As concentrações obtidas de contaminantes organoclorados nas amostras de insetos aquáticos do ponto C são apresentadas na Tabela 18. Não se detectou qualquer contaminante organoclorado na massa biológica dos insetos aquáticos coletados no córrego do Fria, sugerindo que as principais fontes de contaminação das amostras de peixes sejam a água e o sedimento dos cursos d’água, 82 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP provocando o fenômeno de bioacumulação e não biomagnificação. Porém, deve-se considerar que a massa coletada de insetos aquáticos não foi representativa, sendo necessária uma coleta mais abrangente, em termos de biodiversidade em variados locais de estudo. Tabela 18. Resíduos de compostos organoclorados quantificados nas amostras de insetos aquáticos coletados no ponto C. Insetos aquáticos OC (ng g-1) Coleóptera Gerridae ND Hemíptera Gerinidae (espécie maior) ND Hemíptera Gerinidae (espécie menor) ND Apesar da diversidade de filos e classes, foi possível estudar-se apenas dois gêneros de peixes (Hypostomus e Astyanax) no córrego do Fria. As concentrações obtidas de contaminantes organoclorados nessas amostras são apresentadas na Tabela 19. Tabela 19. Resíduos de compostos organoclorados quantificados nas amostras de peixes coletados no ponto C. t = 95%. OC (ng g-1) Hypostomus Astyanax Filé Vísc. Filé Vísc. <LOQ 2,24±0,44 <LOQ 2,34±0,45 HCB ND <LOQ ND ND -HCH 14,1±3,4 9,09±2,16 <LOQ 25,0±6,0 -HCH ND ND ND ND PCB-29 ND <LOQ ND ND PCB-50 ND ND ND ND PCB-188 ND 4,9±1,5 <LOQ 49,9±15,1 PCB-200 Assim como ocorreu no rio Alambari, o córrego do Fria apresentou menos matrizes nas quais se detectou a presença de contaminantes organoclorados. O motivo para este fato deve-se, também, à localização do curso d’água, que está ainda mais distante da área povoada e agrícola. A maior concentração obtida foi a do congênere de PCB-200 (49,9 ng g-1) nas vísceras do Astyanax (tal acontecimento ocorreu, também, para a matriz equivalente do ponto A). Verifica-se pelos resultados da Tabela 19 que os peixes desse ponto têm a tendência a acumular contaminantes na parte visceral (como ocorrido no ponto A e o oposto do ponto B), com exceção apenas do -HCH, detectado em maior concentração na musculatura do Hypostomus, sendo possível fazer uma relação com o 83 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado maior teor lipídico nesta parte em relação à sua parte visceral. Nota-se que os pesticidas clorados aparecem mais freqüentemente que os PCBs . A grande concentração encontrada de PCB-200 quando detectado, é devida ao seu alto BCF que é conseqüência do alto grau de cloração do congênere. 4.3.4.Comparação dos resultados por ponto de estudo Comparando-se os três pontos de estudo em separado fica evidente que o local mais impactado é o rio Betari. Como já foi mencionado, o rio Betari possui a maior vazão de água em seu curso e, portanto, é o principal rio da área. Além disso, passa pelo Bairro da Serra e recebe praticamente toda a carga de lixiviação de sua bacia. Com essa carga, recebe, também, agentes poluidores, tais como os compostos organoclorados. A comparação de seu 0 A 71 71 B % OC analisados concentração OC (ng/g) 15,37 50 18,83 50,61 100 100 impacto com as outras áreas de estudo neste trabalho, é apresentada na Figura 50. C pontos de estudo Figura 50. Comparação entre os pontos de estudo, porcentagem de OC analisados que foram detectados e concentração quando quantificados em cada ponto. A partir da Figura 50 observa-se que, ao se distanciar da área povoada, o grau de impacto diminui. Nos pontos B e C, a porcentagem de compostos organoclorados detectados cai para 71% (100% para o rio Betari). No ponto B, a média da concentração de organoclorados quantificados foi de 18,83 ng g-1 e o mesmo parâmetro medido no ponto C (local de estudo mais distante da área povoada) teve o valor de 15,37 ng g-1 comprovando a diminuição do grau de impacto. 84 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 4.3.5.Comparação dos resultados por gêneros de peixes coletados A comparação dos resultados entre diferentes espécies estudadas é necessária para a escolha do organismo bioindicador, isto é, aquela espécie que pode ser usada como parâmetro para verificar o grau de impacto em uma determinada área de estudo []. A partir dos dados obtidos dos gêneros de peixes coletados nos três pontos, comparou-se a média das concentrações obtidas em cada parte do gênero. Os dados obtidos são apresentados na 30,1 vísceras filé vísceras 16,54 filé 25,59 filé 0 vísceras 25 34,71 47,64 50 38,58 concentração OC (ng/g) Figura 51. Hypostomus Astyanax Pimelodus gêneros estudados Figura 51. Média das concentrações dos compostos organoclorados em cada parte do peixe. A partir da Figura 51 observa-se que Astyanax e Pimelodus possuem a tendência de concentrar compostos organoclorados na parte visceral, acompanhando o valor da porcentagem de teor de lipídeos. Hypostomus foi exceção, obtendo-se maior concentração dos contaminantes em sua fração muscular. Tal dado sugere que o metabolismo de Hypostomus faz com que os contaminantes da classe dos organoclorados sigam o caminho de armazenamento, passando do sangue para fígado e rins e acumulando-se na musculatura (ver Figura 10, página 24). Esta tendência de Hypostomus vem da sua capacidade de acumular reservas lipídicas para períodos quando há pouca disponibilidade de alimento, como foi mencionado. Para Astyanax e Pimelodus a tendência também é a de acumulação, 85 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado porém os contaminantes passam do sangue para permanecer no fígado e nos rins, ou ainda, serem excretados a partir do fígado. Astyanax é um peixe muito mais ativo, que procura alimento em áreas bem maiores que Hypostomus. Pimelodus é um peixe de comportamento intermediário, o que explica os valores apresentados na Figura 51. A comparação dos resultados obtidos na determinação do teor de lipídeos nas diferentes partes dos gêneros de peixes estudados com a média da concentração de compostos organoclorados encontrados em cada parte mostra a tendência esperada das propriedades lipofílicas destes contaminantes. Houve maior bioacumulação de OC nas vísceras (valor médio final), parte em que houve maior teor médio de lipídeos, o que pode ser observado na Figura 52. vísceras vísceras filé 3,14 4,47 teor de lipídeos (%) 28,96 35,61 OC (ng/g) filé Figura 52. Comparação entre a média do teor de lipídeos nas diferentes partes dos peixes estudados com a média da concentração de OC encontrada em cada parte. Observa-se na Figura 52 que a razão entre os valores de compostos organoclorados quantificados nas diferentes partes dos peixes estudados (1,23) é um valor relativamente próximo à razão dos valores de teor de lipídeos entre as mesmas partes (1,42). Não se encontrou na literatura comparação semelhante de valores. Isso mostrou que a tendência geral entre os diferentes gêneros estudados é que haja maior acumulação de contaminantes organoclorados na parte que contiver maior teor lipídico. Esta tendência não é aplicável para a análise de uma única espécie ou gênero, já que isto depende do metabolismo de cada, isto é, uma espécie ou gênero pode ter maior tendência de acumular contaminantes organoclorados na musculatura, como ocorreu com Hypostomus, por exemplo. 86 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Os valores verificados de alguns OC em peixes estão acima do que é permitido para a adequada proteção da vida aquática e para o consumo humano. HCB não pode ser detectado, enquanto o valor máximo total de PCBs para o organismo inteiro e úmido é 0,1 g g-1 ou 100 ng g-1[91], valor excedido no estudo das vísceras do Astyanax do ponto A (rio Betari). Para -HCH, a Resolução CONAMA nº 20 [88] , o limite máximo permitido em -1 águas é 0,02 g L . Índices semelhantes para -HCH não foram encontrados na literatura. As concentrações de contaminantes organoclorados que podem prejudicar o organismo do peixe, trazendo-lhe entraves para a reprodução ou problemas de ordem hormonal podem variar de espécie para espécie. Alguns dados da literatura [5] mostram que a dose letal (LD50) em 96 horas de HCB em peixes varia de 0,05-0,20 mg L-1 dependendo da espécie. Para -HCH, a toxicidade (LD50 em 96 horas) pode variar de 1,7-131,0 g kg-1 [5] . Para PCBs, verificou-se alteração do metabolismo de trutas marrons [92] em -1 concentrações acima de 10,0 mg kg , valor bem acima dos encontrados no presente trabalho, sugerindo que não possa haver problemas no metabolismo do material biológico estudado. Porém, pode ocorrer a biomagnificação nos tecidos dos consumidores destes peixes acarretando problemas de saúde para a população que, por ventura, possa consumilos. 4.3.6.Comparação dos resultados em relação aos compostos organoclorados estudados Encontraram-se contaminantes organoclorados em 100% dos peixes estudados 5,26 PCB-29 15,79 PCB-188 21,05 PCB-50 HCB 0,00 -HCH 50,00 -HCH 31,58 68,42 84,21 89,47 100,00 PCB-200 % das matrizes (Figura 53), revelando contaminação nos três locais de coleta de amostras. Figura 53. Porcentagem dos compostos organoclorados encontrados. 87 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado PCB-200 foi detectado em mais de 89% das amostras, enquanto -HCH e HCB foram encontrados em 84 e 68%, respectivamente. Os outros congêneres de PCB foram detectados em menor quantidade de amostras, sendo que PCB-188 foi quantificado em apenas uma única amostra (parte visceral do Astyanax do ponto A). A detecção de certos congêneres de PCBs depende exclusivamente do tipo de Aroclor® usado (e / ou descartado) nas regiões circundantes e do BCF de cada congênere. A tendência é que congêneres com alto grau de cloração (como PCB-200) sejam encontrados em maior concentração em relação aos congêneres de menor grau de cloração. Este fato ocorreu com a amostra de Astyanax do ponto A, quando se encontrou uma concentração maior de PCB-200 em relação a PCB-188. GREIZERSTEIN et al [21], avaliou níveis de PCBs e pesticidas clorados em leite materno; dos congêneres estudados, os que mais contribuíram para o valor final da contaminação foram: 153, 138, 180 e 118. DEL GRANDE [87] detectou os congêneres 5, 50, 154 e 200 nos peixes da bacia do rio Piracicaba – SP, sendo observado aumento da concentração obtida do congênere de PCB com o grau de cloração em algumas amostras. Em outros trabalhos, por exemplo, no de AHMED et al [54] , utilizam-se padrões de Aroclor® (gerando até 15 picos no cromatograma, ou seja, 15 ou mais congêneres em cada formulação), sendo apresentados resultados finais como a somatória da concentração de todos os congêneres presentes na amostra. Como cada formulação de Aroclor® pode apresentar mais que 15 congêneres, não é possível fazer uma correlação exata entre os resultados obtidos das amostras para se saber à qual formulação de Aroclor® os congêneres detectados pertencem. Porém, a detecção de octaclorobifenilas (como PCB-200) indica o uso de Aroclor® 1260, já que naquela formulação predominam bifenilas com 7 e 8 átomos de cloro na estruturaa. Neste trabalho, as concentrações quantificadas de todos os compostos organoclorados estudados nas amostras de peixes foram comparadas, sendo que -HCH e PCB-200 tiveram as maiores médias de concentrações. Compararam-se, usou-se os valores de HCB, -HCH e PCB-200, já que estes foram detectados na maioria das matrizes a EISLER R. Polychlorinated biphenyls hazards to fish, wildlife, and invertebrates: a synoptic review. Washington, US Fish and Wildlife Service, 1986. (Biological Report, 85:1.7) apud CALHEIROS D.F. Ecotoxicologia de compostos organoclorados persistentes em um ecossistema eutrófico: represa de Barra Bonita – SP. São Carlos, 1993. Dissertação (Mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo. 198p. 88 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP estudadas. Os valores médios das concentrações obtidas dos compostos HCB, -HCH e 36,3 60 42,6 30 0 4,15 concentração (ng/g) PCB-200 são apresentados na Figura 54. -HCH PCB-200 HCB Figura 54. Valores médios das concentrações dos compostos HCB, -HCH e PCB-200. -HCH foi encontrado na maioria das amostras em altas concentrações devido ao seu provável uso em zonas agrícolas presentes na bacia do rio Betari. Seu isômero, -HCH, foi detectado em algumas amostras, porém em menores concentrações. Tal fato deve-se à formulação do inseticida [5] , já que mais de 90% compreende o isômero -HCH, tendo como conseqüência maior facilidade em se detectar esse isômero em relação aos outros. Esta regra nem sempre é aplicável, pois no trabalho de PANDIT et al determinaram a presença dos isômeros , , e encontrados em maior concentração os isômeros [49] , os autores nos sedimentos da costa indiana, sendo e em relação à -HCH. A formulação do inseticida pode variar consideravelmente de país para país, já que os fabricantes podem ser outros. O herbicida HCB foi detectado em mais de 68% das matrizes analisadas, mas em concentrações bem menores se comparadas às obtidas para -HCH e PCB-200. Tais dados podem sugerir menor uso desse pesticida em relação a -HCH na região, menor BCF deste composto ou, ainda, a combinação dos dois fatores. 89 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado ♦ A metodologia utilizada para a extração e quantificação dos compostos organoclorados, HCB, HCHs e PCBs, mostrou-se satisfatória, com índices de recuperação e desvio padrão relativo dentro da faixa de valores aceita internacionalmente. ♦ O procedimento para a remoção de interferentes que possivelmente poderiam co- eluir com os analitos (tratamento ácido e “clean-up”) foram bem sucedidos, tendo como resultado poucos interferentes nos cromatogramas. ♦ A utilização de amostras de peixes Astyanax do Centro de Aqüicultura de Jaboticabal – UNESP, foi de grande valia para realizar testes de recuperação dos analitos de matrizes biológicas. ♦ A coleta de insetos aquáticos foi insuficiente para se realizar um estudo mais completo acerca dos impactos, sendo necessária uma coleta em maior quantidade e em maior número de pontos de estudo. ♦ A coleta de peixes foi razoável, já que uma determinação satisfatória de compostos organoclorados em peixes requer amostras de maior porte e também em maior quantidade, para possibilitar também a análise de todas as espécies coincidentes na totalidade dos pontos de estudo. ♦ Os resultados obtidos na determinação do teor de lipídeos das amostras de peixes eram já esperados, tanto em relação ao gênero de peixe estudado, quanto à mobilidade do curso d’água do qual a amostra era proveniente. ♦ Os resultados da determinação de compostos organoclorados nos diferentes pontos de estudo (rio Betari, rio Alambari e córrego do Fria) indicam que o local mais impactado está mais próximo à zona de atividade agrícola e da parte povoada da bacia do Betari e que o grau de impacto diminui à medida em que se aumenta a distância desses locais. Em algumas determinações, detectaram-se HCB, -HCH e PCB-200 acima do que é permitido na legislação. ♦ A comparação dos resultados por gênero de peixe estudado mostrou uma tendência geral do organismo do peixe em acumular contaminantes organoclorados na parte visceral, parte esta que teve maior média de teor de lipídeos. A exceção foi o gênero Hypostomus, que acumulou maior quantidade dos contaminantes na parte muscular (cuja média de teor de lipídeos na musculatura foi a maior). A partir dessas comparações pode-se relacionar o 90 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP teor de lipídeos com a acumulação de compostos organoclorados, dependendo primeiramente da espécie estudada e do local de onde se realizou a coleta da amostra. ♦ Dentre os gêneros de peixes coletados, o que apresenta maior potencial bioindicador é o Astyanax, pois foi encontrado em todos os pontos estudados e em quantidade suficiente para a avaliação. ♦ A avaliação geral do trabalho mostra que é necessário um estudo mais abrangente da área da bacia do rio Betari, realizando coletas de amostra nos outros rios tributários do Ribeira de Iguape e maior quantidade de amostras. Um dos pontos importantes deste trabalho é que compostos organoclorados foram detectados em uma região primariamente destinada ao ecoturismo. Porém, não se pode avaliar o impacto de toda uma bacia hidrográfica apenas com os dados obtidos de amostras pouco representativas, à frente de toda a fauna vivente da região. No entanto, fica um alerta. 91 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado PERSPECTIVAS DE TRABALHOS FUTUROS ♦ Relacionar os resultados obtidos neste trabalho com projetos paralelos acerca da contaminação de compostos organoclorados nos recursos hídricos e do solo e sedimento da região. ♦ Realizar novas coletas de material biológico em mais pontos de estudo e em outras épocas do ano, para um estudo mais abrangente do impacto. ♦ Fazer determinações acerca da presença de metais pesados na biota, devido à tradição mineraria da região. 92 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP ANEXO I: PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E NOMES COMERCIAIS DOS COMPOSTOS ESTUDADOS Tabela 20. Propriedades físico-químicas do HCB [5]. HCB Nome oficial (IUPAC) Hexaclorobenzeno Estrutura molecular Fórmula molecular C6Cl6 -1 Massa molar (g mol ) 284,81 Forma física Cristal sem cor. Ponto de fusão (°C) 226 Ponto de ebulição (°C) 323-326 Estabilidade Estável em meio ácido ou básico. Solubilidade Insolúvel em água, solúvel em benzeno, clorofórmio e éter dietílico. Toxicidade em peixes 0,05-0,20 mg L-1 (LD50 em 96 horas), dependendo da espécie. 93 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado Tabela 21. Propriedades físico-químicas do -HCH [5]. -HCH Nome oficial (IUPAC) 1,2,3,4,5,6-hexaclorocicloexano Nome do isômero 1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 -gama Estrutura molecular Fórmula molecular C6H6Cl6 -1 Massa molar (g mol ) 290,80 Forma física Cristal sem cor. Ponto de fusão (°C) 113-114 Ponto de ebulição (°C) - Estabilidade Extremamente estável à luz, ar, temperaturas acima de 180ºC, ácidos. Solubilidade Água (7,3 mg L-1 a 25ºC), hexano, acetona (43,5 mg L-1), metanol (7,4 mg L-1), etanol (6,4 mg L-1), benzeno (28,9 mg L-1), tolueno (27,6 mg L-1), xileno (24,7 mg L-1). Toxicidade em peixes 0,16-0,30 mg L-1 (LD50 em 48h para espécies de pequeno porte). 94 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP Tabela 22. Propriedades físico-químicas de algumas formulaçõesa de Aroclor®. Propriedades 1242 1254 1260 Massa molar média (g mol-1) 261 327 372 Número de átomos de cloro 2-4 4-6 5-7 Grau de cloração (% em massa) 42 54 60 Solubilidade em H2O ( g L-1) 200-700 12-70 3-25 Pressão de vapor (10-4 mmHg, 20ºC) 9,0 1,8 0,9 Tabela 23. Nomes comerciais dos compostos estudados [93]. HCB -HCH Voronit C Forlin Pentachlorophenyl chloride Inexit Bunt-cure Silvanol Phenyl perchloryl Kwell Co-op hexa Gammaphex Anticarie Lindaterra Julin’s carbon chloride Exagamma Perchlorobenzene Lovigram No bunt 40 Lindagranox Granox nm Gallogamma No bunt 80 Sanocide Snieciotox Smut-go a PCBs Aroclor Chlorextol Clophen Dykanol Fenclor Inerteen Kanechlor Monter Noflamol Pyralene Santotherm Sovol Therminol AFORDE S.A.L. Analysing PCBs. Environmental Science and Technology, 20 (12), 1194-1199, 1986 apud SANTOS S. Determinação de PCBs em ambiente lacustre. São Carlos, 2000. 90p. Dissertação (Mestrado), Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo. 95 Tardivo M. – Dissertação de Mestrado ANEXO II: CROMATOGRAMAS Figura 55. Cromatograma da solução padrão contendo os compostos organoclorados estudados. Figura 56. Cromatograma do extrato da amostra de Astyanax (CAU - Jaboticabal), usado como branco. 96 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 1. BAIRD C. Química Ambiental. 2.ed. Porto Alegre, Bookman, 2002. 622p. 2. LARA W.H.; BATISTA, G.C. Pesticidas. Química Nova, v.15 n.2, p.161-166, 1992. 3. INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS: PESTICIDAS. Disponível em <http://www.jaraguadosul.com.br/prefeitura/meioambiente/>. Acesso em 6 de setembro de 2002. 4. Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Internet, 2002. Disponível em < http://www.funasa.gov.br/pub/GVE/GVE0515B.htm>. Acesso em: 3 de setembro de 2002. 5. TOMLIN C. (ed.) The Pesticide Manual. 10.ed. Farnham UK, Crop Protection Publications, 1994. 555p. 6. HARTLEY D.; KIDD H. The Agrochemicals Handbook. 2.ed. 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PROBLEMAS NO USO DOS PESTICIDAS ..................................................................................... 3 1.1.3. PESTICIDAS CLORADOS ........................................................................................................... 4 1.1.3.1. Hexaclorobenzeno (HCB) .............................................................................................. 4 1.1.3.2. Hexaclorocicloexanos (HCHs) ...................................................................................... 5 1.2. BIFENILAS POLICLORADAS (PCBS)................................................................................... 7 1.2.1. HISTÓRICO.............................................................................................................................. 7 1.2.2. PRODUÇÃO DOS PCBS ............................................................................................................ 9 1.2.3. PROPRIEDADES E USOS DOS PCBS .......................................................................................... 9 1.2.4. OCORRÊNCIA DOS PCBS NO AMBIENTE .................................................................................. 9 1.2.4.1. PCBs nos seres vivos ................................................................................................... 11 1.2.5. EFEITOS TÓXICOS DOS PCBS ................................................................................................ 11 1.2.6. CONGÊNERES DE PCBS ESTUDADOS ..................................................................................... 11 i Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 1.3. DETERMINAÇÃO DE PESTICIDAS E PCBS NO AMBIENTE........................................ 13 1.4. AMOSTRAGEM – MATRIZES AMBIENTAIS ................................................................... 16 1.4.1. PARÂMETROS AMBIENTAIS DA ÁGUA.................................................................................... 16 1.4.1.1. Condutividade.............................................................................................................. 16 1.4.1.2. Oxigênio dissolvido (OD) ............................................................................................ 17 1.4.1.3. pH ................................................................................................................................ 17 1.4.1.4. Temperatura................................................................................................................. 17 1.4.1.5. Turbidez ....................................................................................................................... 18 1.4.2. MATRIZ ESTUDADA I – INSETOS AQUÁTICOS ........................................................................ 19 1.4.2.1. Importância dos insetos aquáticos em análises ambientais......................................... 20 1.4.3. MATRIZ ESTUDADA II – PEIXES ............................................................................................ 21 1.4.3.1. Importância dos peixes como bioindicadores: entrada e acumulação de contaminantes ................................................................................................................................................................ 22 1.4.3.2. Biotransformação dos contaminantes no organismo do peixe..................................... 25 1.5. EXTRAÇÃO DOS ANALITOS DAS MATRIZES ................................................................ 27 1.6. “CLEAN-UP” ............................................................................................................................ 29 1.7. DETERMINAÇÃO CROMATOGRÁFICA........................................................................... 30 1.7.1. CONCEITO ............................................................................................................................ 30 1.7.2. PROCESSO DE SEPARAÇÃO .................................................................................................... 30 1.7.3. CROMATOGRAFIA EM FASE GASOSA ..................................................................................... 31 1.7.4. DETECÇÃO POR CAPTURA DE ELÉTRONS ............................................................................... 32 1.8. ÁREA DE ESTUDO – BACIA DO RIO BETARI, VALE DO RIBEIRA-SP ..................... 34 1.8.1. ALTO VALE DO RIBEIRA ....................................................................................................... 34 1.8.2. RIO BETARI: CARACTERÍSTICAS FÍSICAS ............................................................................... 35 1.8.3. ASPECTOS CLIMÁTICOS E FITOGEOGRÁFICOS DA REGIÃO ..................................................... 36 1.8.4. HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO HUMANA NO ALTO VALE DO RIBEIRA ........................................ 39 1.8.5. PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO RIBEIRA (PETAR)............................................... 42 1.8.6. SITUAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA ATUAL DA POPULAÇÃO (BAIRRO DA SERRA) ........................ 42 2. OBJETIVOS 45 3. EXPERIMENTAL 46 ii Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP 3.1. AMOSTRAGEM ....................................................................................................................... 46 3.1.1 PONTOS DE COLETA ............................................................................................................... 46 3.1.2. DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS AMBIENTAIS DA ÁGUA (IN SITU) ................................... 49 3.2. MATERIAL BIOLÓGICO ANALISADO.............................................................................. 50 3.2.1. HYPOSTOMUS (CASCUDO) .................................................................................................... 50 3.2.2. ASTYANAX (LAMBARI) ......................................................................................................... 51 3.2.3. PIMELODUS (MANDI) ............................................................................................................ 52 3.2.4. CORYDORAS (SARRO OU SARRINHO)..................................................................................... 53 3.2.5. INSETOS AQUÁTICOS............................................................................................................. 54 3.3. MATERIAL E REAGENTES.................................................................................................. 56 3.3.1. REAGENTES .......................................................................................................................... 56 3.3.2. LIMPEZA DO MATERIAL ........................................................................................................ 56 3.3.3. SOLUÇÕES PADRÃO .............................................................................................................. 57 3.4. MÉTODO DE EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO ............................................................. 58 3.4.1. LINEARIDADE DOS COMPOSTOS ............................................................................................ 58 3.4.2. SENSIBILIDADE: LIMITE DE DETECÇÃO (LOD) E LIMITE DE QUANTIFICAÇÃO (LOQ)............ 58 3.4.3. AVALIAÇÃO DO MÉTODO ...................................................................................................... 59 3.4.3.1. Recuperação do método para a extração dos analitos em insetos aquáticos .............. 59 3.4.3.2. Recuperação do método para a extração dos analitos em peixes................................ 59 3.4.4. EXTRAÇÃO DOS ANALITOS DAS MATRIZES ............................................................................ 60 3.4.5. DETERMINAÇÃO DO TEOR DE LIPÍDEOS NAS AMOSTRAS DE PEIXES ....................................... 60 3.4.6. TRATAMENTO ÁCIDO E “CLEAN-UP” .................................................................................... 60 3.4.7. DETERMINAÇÕES CROMATOGRÁFICAS ................................................................................. 61 3.4.8. ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS OBTIDOS......................................................................... 62 3.4.9. DESCARTE DOS RESÍDUOS..................................................................................................... 63 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 63 4.1. AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO ............................. 64 4.1.1. CURVAS ANALÍTICAS DOS COMPOSTOS ORGANOCLORADOS ESTUDADOS .............................. 64 4.1.2. SENSIBILIDADE ..................................................................................................................... 68 4.1.3. EFICIÊNCIA DO MÉTODO (RECUPERAÇÃO) ............................................................................ 68 4.2. COLETA DAS AMOSTRAS E BIOMETRIA ....................................................................... 71 iii Tardivo M. – Dissertação de Mestrado 4.2.1. DESCRIÇÃO GERAL ............................................................................................................... 71 4.2.2. MEDIDA DOS PARÂMETROS AMBIENTAIS DA ÁGUA (CONDUTIVIDADE. OD, PH, TEMPERATURA E TURBIDEZ) NOS PONTOS DE COLETA .................................................................................. 72 4.2.3. BIOMETRIA DO MATERIAL BIOLÓGICO COLETADO ................................................................ 74 4.3. RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS NAS AMOSTRAS ..................... 80 4.3.1. RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS NAS AMOSTRAS DO PONTO A (RIO BETARI) . 80 4.3.2. RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS NAS AMOSTRAS DO PONTO B (RIO ALAMBARI) ..................................................................................................................................................................... 81 4.3.3. RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS NAS AMOSTRAS DO PONTO C (CÓRREGO DO FRIA) ............................................................................................................................................................ 82 4.3.4. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS POR PONTO DE ESTUDO ..................................................... 84 4.3.5. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS POR GÊNEROS DE PEIXES COLETADOS ............................... 85 4.3.6. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS EM RELAÇÃO AOS COMPOSTOS ORGANOCLORADOS ESTUDADOS .................................................................................................................................................. 87 5. CONCLUSÕES 89 PERSPECTIVAS DE TRABALHOS FUTUROS 91 ANEXOS 92 ANEXO I: PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E NOMES COMERCIAIS DOS COMPOSTOS ESTUDADOS ....................................................................................................................... 93 ANEXO II: CROMATOGRAMAS ................................................................................................ 96 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS iv 96 Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. ESTRUTURA QUÍMICA DO HEXACLOROBENZENO (HCB)..................................................................... 5 FIGURA 2. ESTRUTURA QUÍMICA DOS ISÔMEROS DE HEXACLOROCICLOEXANO (HCH) ESTUDADOS. A: ISÔMERO . B: ISÔMERO . ....................................................................................................................................... 6 FIGURA 3. ESTRUTURA QUÍMICA BÁSICA DA BIFENILA........................................................................................ 8 FIGURA 4. CONGÊNERES DE PCBS ESTUDADOS NESTE TRABALHO.................................................................... 12 FIGURA 5. MAPA DO GLOBO TERRESTRE INDICANDO OS LOCAIS EM QUE SE RELATOU A PRESENÇA DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS E DE OUTRAS CLASSES EM MATRIZES AMBIENTAIS DIVERSAS. .............. 14 FIGURA 6. FLUXO DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS DO AR PARA AMBIENTES AQUÁTICOS E SERES VIVOS. ... 15 FIGURA 7. PARTES MORFOLÓGICAS PRINCIPAIS DO CORPO DE UM INSETO......................................................... 19 FIGURA 8. PARTES MORFOLÓGICAS PRINCIPAIS DE UM PEIXE............................................................................ 21 FIGURA 9. NÚMERO DE ESPÉCIES DE PEIXES COMPARADO AO DE OUTROS VERTEBRADOS. ................................ 22 FIGURA 10. DIAGRAMA DAS POSSÍVEIS ROTAS DE CONTAMINAÇÃO PELA CORRENTE SANGÜÍNEA DE UM PEIXE.24 FIGURA 11. BIOACUMULAÇÃO E BIOMAGNIFICAÇÃO DE PCBS NA CADEIA ALIMENTAR AQUÁTICA DOS GRANDES LAGOS. .................................................................................................................................................... 26 FIGURA 12. ESQUEMA DE UM EXTRATOR SOXHLET MOSTRANDO O REFLUXO DE SOLVENTE............................. 28 FIGURA 13. ESQUEMA DE “CLEAN-UP” DE EXTRATO REALIZADO COM ADSORÇÃO EM COLUNA. ....................... 29 FIGURA 14. MECANISMO DE SEPARAÇÃO CROMATOGRÁFICA DE UMA AMOSTRA COM TRÊS COMPONENTES. .... 31 FIGURA 15. PARTES PRINCIPAIS DO CROMATÓGRAFO EM FASE GASOSA............................................................ 32 FIGURA 16. ESQUEMA DE FUNCIONAMENTO DE UM DETECTOR DE CAPTURA DE ELÉTRONS (ECD). .................. 33 FIGURA 17. LOCALIZAÇÃO DO ALTO VALE DO RIBEIRA NO SUDOESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO E MALHA RODOVIÁRIA DA REGIÃO. ......................................................................................................................... 34 FIGURA 18. FOTO DO VALE DO BETARI NO SENTIDO NOROESTE - SUDESTE....................................................... 36 FIGURA 19. FOTO DO SATÉLITE LANDSAT DO RELEVO DA BACIA DO RIO BETARI APRESENTADA NO TRABALHO DE DOMINGOS...................................................................................................................................... 38 FIGURA 20. ESQUEMA DA BACIA DO RIO BETARI COM OS PRINCIPAIS RIOS, CÓRREGOS E PONTOS DE COLETA DE MATERIAL BIOLÓGICO.............................................................................................................................. 39 FIGURA 21. MAPA DA BACIA DO RIO BETARI (2000) CONTENDO A VEGETAÇÃO NATURAL, ZONAS AGRÍCOLAS E CONCENTRAÇÃO POPULACIONAL, EXTRAÍDO DO TRABALHO DE DOMINGOS. ....................................... 41 v Tardivo M. – Dissertação de Mestrado FIGURA 22. MAPA DOS LIMITES DO PETAR CONTENDO OS PRINCIPAIS RIOS EM RELAÇÃO AO ESTADO DE SÃO PAULO. .................................................................................................................................................... 42 FIGURA 23. GRÁFICO DA FAIXA ETÁRIA DA POPULAÇÃO DO BAIRRO DA SERRA, MUNICÍPIO DE IPORANGA. ..... 43 FIGURA 24. OCUPAÇÃO DA POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA DO BAIRRO DA SERRA, MUNICÍPIO DE IPORANGA................................................................................................................................................ 43 FIGURA 25. FOTO DO PONTO A, EM CIMA DA PONTE. ........................................................................................ 47 FIGURA 26. FOTO DO PONTO A, NA MARGEM DIREITA. ..................................................................................... 47 FIGURA 27. FOTO DO PONTO B, SOBRE A PONTE. .............................................................................................. 48 FIGURA 28. FOTO DO PONTO C, CÓRREGO DO FRIA, SOB A ESTRADA, ANTES DA PONTE.................................... 48 FIGURA 29. APARELHO HORIBA WATER CHECKER U-10.................................................................................. 49 FIGURA 30. PERFIS DORSAL E LATERAL DO HYPOSTOMUS PLECOSTOMUS (CASCUDO)........................................ 50 FIGURA 31. PERFIL LATERAL DO ASTYANAX (LAMBARI)..................................................................................... 52 FIGURA 32. PERFIL LATERAL DO PIMELODUS (MANDI)...................................................................................... 53 FIGURA 33. PERFIL LATERAL DO CORYDORAS.................................................................................................... 54 FIGURA 34. FOTO DAS TRÊS ESPÉCIES DE INSETOS AQUÁTICOS COLETADAS. (A) E (C) HEMIPTERA GERINIDAE, (B) COLEOPTERA GERRIDAE. .................................................................................................................. 55 FIGURA 35. PEIXES DO GÊNERO ASTYANAX (LAMBARI) FORNECIDOS PELO DE CENTRO DE AQÜICULTURA DE JABOTICABAL - UNESP........................................................................................................................... 59 FIGURA 36. RESÍDUO DE TRATAMENTO ÁCIDO PROVENIENTE DAS AMOSTRAS DE PEIXES EXTRAÍDAS............... 61 FIGURA 37. CROMATÓGRAFO A GÁS HEWLETT-PACKARD 5890, SÉRIE II. ........................................................ 61 FIGURA 38. CURVA ANALÍTICA PARA O HCB.................................................................................................... 64 FIGURA 39. CURVA ANALÍTICA PARA O -HCH. ............................................................................................... 65 FIGURA 40. CURVA ANALÍTICA PARA O -HCH. ............................................................................................... 65 FIGURA 41. CURVA ANALÍTICA PARA O PCB-29. .............................................................................................. 66 FIGURA 42. CURVA ANALÍTICA PARA O PCB-50. .............................................................................................. 66 FIGURA 43. CURVA ANALÍTICA PARA O PCB-188. ............................................................................................ 67 FIGURA 44. CURVA ANALÍTICA PARA O PCB-200. ............................................................................................ 67 FIGURA 45. TEOR DE LIPÍDEOS NAS AMOSTRAS DE PEIXES DO PONTO A............................................................ 75 FIGURA 46. TEOR DE LIPÍDEOS NAS AMOSTRAS DE PEIXES DO PONTO B. ........................................................... 76 FIGURA 47. TEOR DE LIPÍDEOS NAS AMOSTRAS DE PEIXES COLETADOS NO PONTO C. ....................................... 77 FIGURA 48. VALORES MÉDIOS DE TEOR DE LIPÍDEOS DAS AMOSTRAS DE PEIXES COLETADOS NOS TRÊS PONTOS DE ESTUDO............................................................................................................................................... 77 FIGURA 49. MÉDIA DO TEOR DE LIPÍDEOS NA PARTE MUSCULAR E VÍSCERAS DAS AMOSTRAS DE PEIXES DOS TRÊS PONTOS DE ESTUDO. ........................................................................................................................ 78 FIGURA 50. COMPARAÇÃO ENTRE OS PONTOS DE ESTUDO, PORCENTAGEM DE OC ANALISADOS QUE FORAM DETECTADOS E CONCENTRAÇÃO QUANDO QUANTIFICADOS EM CADA PONTO. ......................................... 84 FIGURA 51. MÉDIA DAS CONCENTRAÇÕES DOS COMPOSTOS ORGANOCLORADOS EM CADA PARTE DO PEIXE. ... 85 vi Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP FIGURA 52. COMPARAÇÃO ENTRE A MÉDIA DO TEOR DE LIPÍDEOS NAS DIFERENTES PARTES DOS PEIXES ESTUDADOS COM A MÉDIA DA CONCENTRAÇÃO DE OC ENCONTRADA EM CADA PARTE. ......................... 86 FIGURA 53. PORCENTAGEM DOS COMPOSTOS ORGANOCLORADOS ENCONTRADOS........................................... 87 FIGURA 54. VALORES MÉDIOS DAS CONCENTRAÇÕES DOS COMPOSTOS HCB, -HCH E PCB-200. .................. 89 FIGURA 55. CROMATOGRAMA DA SOLUÇÃO PADRÃO CONTENDO OS COMPOSTOS ORGANOCLORADOS ESTUDADOS. ............................................................................................................................................ 96 FIGURA 56. CROMATOGRAMA DO EXTRATO DA AMOSTRA DE ASTYANAX (CAU - JABOTICABAL), USADO COMO BRANCO. .................................................................................................................................................. 96 vii Tardivo M. – Dissertação de Mestrado LISTA DE TABELAS TABELA 1. TIPOS DE PESTICIDAS MAIS USADOS E RESPECTIVOS ORGANISMOS-ALVO. ......................................... 2 TABELA 2. PRODUÇÃO NACIONAL, IMPORTAÇÃO, EXPORTAÇÃO E CONSUMO APARENTE DE PESTICIDAS PELO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 1986 E 1990.................................................................................................... 3 TABELA 3. CONGÊNERES POSSÍVEIS DE PCBS, NÚMERO DE ISÔMEROS, MASSA MOLAR E PORCENTAGEM DE CLORO PARA OS ISÔMEROS DE PCBS. ........................................................................................................ 7 TABELA 4. USOS DOS PCBS EM RELAÇÃO AO TIPO DE AROCLOR®. ................................................................... 10 TABELA 5. MATRIZES AMBIENTAIS ESTUDADAS E REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA. .............................................. 13 TABELA 6. BCF PARA ALGUNS PCBS EM PEIXES (DADOS A PARTIR DE DIVERSAS ESPÉCIES). ........................... 25 TABELA 7. PONTOS DE COLETA, RESPECTIVA LOCALIZAÇÃO E PROFUNDIDADE APROXIMADA DO CORPO D’ÁGUA. ................................................................................................................................................................ 46 TABELA 8. REAGENTES E PADRÕES UTILIZADOS NESTE TRABALHO E RESPECTIVA PROCEDÊNCIA..................... 56 TABELA 9. VALORES DE LOD E LOQ OBTIDOS PARA OS COMPOSTOS ESTUDADOS........................................... 68 TABELA 10. PORCENTAGEM DE RECUPERAÇÃO DOS ANALITOS EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES E RESPECTIVOS DESVIOS PADRÃO, DESVIO PADRÃO RELATIVO E MÉDIA, PARA O MÉTODO DE EXTRAÇÃO EM INSETOS AQUÁTICOS. ............................................................................................................................................. 69 TABELA 11. PORCENTAGEM DE RECUPERAÇÃO DOS ANALITOS EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES E RESPECTIVOS DESVIOS PADRÃO, DESVIO PADRÃO RELATIVO E MÉDIA, PARA O MÉTODO DE EXTRAÇÃO EM PEIXES....... 70 TABELA 12. VALORES ACEITÁVEIS NA RESOLUÇÃO Nº 20 DO CONAMA PARA OD, PH E TURBIDEZ............... 72 TABELA 13. VALORES DOS PARÂMETROS AMBIENTAIS DA MEDIDOS NOS PONTOS DE COLETA.......................... 73 TABELA 14. NOMES SISTEMÁTICOS DOS INSETOS AQUÁTICOS COLETADOS NO PONTO C, NÚMERO DE EXEMPLARES COLETADOS E COMPRIMENTO MÉDIO.................................................................................. 74 TABELA 15. NÚMERO DE EXEMPLARES DE PEIXES COLETADOS E DADOS BIOMÉTRICOS. ................................... 74 TABELA 16. CONCENTRAÇÃO DE CONTAMINANTES ORGANOCLORADOS NAS AMOSTRAS DOS PEIXES DO PONTO A. T = 95%. ............................................................................................................................................. 80 TABELA 17. RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS QUANTIFICADOS NAS AMOSTRAS DE PEIXES DO PONTO B. T = 95%. .................................................................................................................................. 82 TABELA 18. RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS QUANTIFICADOS NAS AMOSTRAS DE INSETOS AQUÁTICOS COLETADOS NO PONTO C. ..................................................................................................... 83 viii Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP TABELA 19. RESÍDUOS DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS QUANTIFICADOS NAS AMOSTRAS DE PEIXES COLETADOS NO PONTO C. T = 95%. ......................................................................................................... 83 TABELA 20. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO HCB.................................................................................... 93 TABELA 21. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO -HCH. ............................................................................... 94 TABELA 22. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DE ALGUMAS FORMULAÇÕES DE AROCLOR®............................. 95 TABELA 23. NOMES COMERCIAIS DOS COMPOSTOS ESTUDADOS. ...................................................................... 95 ix Tardivo M. – Dissertação de Mestrado LISTA DE ABREVIATURAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. BCF: fator biológico de concentração. CAU: Centro de Aqüicultura da UNESP. CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente. DDT: Diclorodifeniltricloroetano. ECD: detector de captura de elétrons. GC: cromatografia em fase gasosa. HCB: hexaclorobenzeno. HCH: hexaclorocicloexano. IUPAC: União Internacional de Química Pura e Aplicada. LOD: limite de detecção. LOQ: limite de quantificação. ND: não detectado. OC: organoclorados. OD: oxigênio dissolvido. PCBs: bifenilas policloradas. PETAR: Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. pH: potencial hidrogeniônico. Sd: desvio padrão. SEMA: Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Srel: desvio padrão relativo. U.S. EPA: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América. x Laboratório de Química Ambiental IQSC-USP RESUMO Compostos organoclorados são poluentes presentes em todas as regiões do mundo. Neste trabalho realizou-se a determinação de compostos organoclorados (pesticidas e bifenilas policloradas) em amostras de insetos aquáticos e peixes dos rios da bacia do Betari, município de Iporanga, SP. A região possui áreas da Mata Atlântica remanescente do estado de São Paulo e unidades de conservação destinadas ao ecoturismo. Porém, existe a utilização de algumas destas áreas para o cultivo agrícola e houve, ainda, o incremento populacional devido ao turismo, o que pode gerar possíveis impactos à vida aquática. O método de extração dos compostos analisados (HCB, -HCH, -HCH, PCB-29, PCB-50, PCB-188 e PCB-200) das matrizes foi feito por aparelho de Soxhlet por oito horas, utilizando-se 150 mL de hexano como solvente. A seguir, realizou-se tratamento ácido com H2SO4 para remoção de lipídeos em peixes e uma etapa de “clean-up” (Na2SO4 anidro e Florisil®) para a remoção de outros interferentes. Os extratos foram injetados em cromatógrafo a gás Hewlett-Packard 5890 Serie II com detector de captura de elétrons. A metodologia utilizada para a extração e quantificação dos compostos organoclorados, HCB, HCHs e PCBs mostrou-se satisfatória, com índices de recuperação e desvio padrão relativo dentro da faixa de valores aceita internacionalmente. Foram estudados três pontos de coleta (rio Betari, rio Alambari e córrego do Fria). Não se detectou qualquer contaminante nas amostras de insetos aquáticos. HCB, -HCH e PCB-200 foram detectados nas amostras de peixes dos três pontos em altas concentrações (4, 42, 36 ng g-1 em média, respectivamente). Verificou-se que a distância da área povoada e o teor de lipídeos têm influência na contaminação por compostos organoclorados nas amostras de peixes coletados. xi Tardivo M. – Dissertação de Mestrado ABSTRACT Organochlorine compounds are pollutants widely present around the world. In this work organochlorine compounds (pesticides and polychlorinated biphenyls) have been determined in aquatic insects and fish samples from rivers of Betari basin, city of Iporanga, state of São Paulo, Brazil. The region has areas of remaining Atlantic Forrests of the state of São Paulo and areas of conservation destined for the ecotourism. However, there is the use of some of these areas for the agriculture and a population increase related to the tourism, that can generate possible impacts on the aquatic life. The extraction method of analysed compounds (HCB, -HCH, -HCH, PCB-29, PCB-50, PCB-188 e PCB-200) from the matrixes has been performed in a Soxhlet apparatus for eight hours using 150 mL hexane as the extractor solvent. Acid addiction using H2SO4 for lipid removing from fish samples, clean-up step for other interfering material removing (using Florisil® with anhydrous Na2SO4). The sample extracts have been injected in a gas chromatograph Hewlett-Packard 5890 Series II, electron capture detection. The used method for organochlorine compounds HCB, HCHs e PCBs extraction and quantification has shown validated results with recoveries and standard deviation values accepted internationally. Three points of study have been analysed (Betari river, Alambari river, and Fria stream). No pollutant has been detected in aquatic insect samples. HCB, -HCH, and PCB-200 have been detected in the fish samples from the three points of study in higher levels (averages: 4, 42, 36 ng g-1). It has been verified that the distance of the populated area and the lipid levels have influence on the contamination by organochlorine compounds in collected fish samples. xii