como um modesto office boy acabou se tornando taquígrafo
Transcrição
1 COMO UM MODESTO OFFICE BOY ACABOU SE TORNANDO TAQUÍGRAFO PARTICULAR DO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS. CHARLES L. SWEM Taquígrafo oficial do Presidente dos Estados Unidos, o Sr. Swem taquigrafou todos os discursos do Presidente Wilson e discussões na grande Conferência de Paz. 2 INTRODUÇÃO: PROF. WALDIR CURY Taquígrafo-revisor aposentado da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro Professor de Taquigrafia e Membro da Comissão Educacional da INTERSTENO. Ao ler, em inglês, a palestra informal do eminente professor John Robert Gregg, criador do método de taquigrafia Gregg, dirigida aos alunos da Escola Gregg, em Chicago, no dia 19 de julho de 1917, fui tomado de admiração pela história de Charles Swem. A palestra teve, como título: “Some Young People Who Have Made Good And Why...” (Alguns jovens que venceram na vida e por quê…). O palestrante deu vários exemplos de pessoas que foram bem-sucedidas na vida graças ao seu esforço pessoal. Todos os casos citados são interessantes. Mas o caso de Charles L. Swem é sobremaneira interessante e com certeza merece ser colocado num painel para servir de exemplo para todos os alunos de taquigrafia. Um exemplo de estudo aplicado, um exemplo de força de vontade, de perseverança, de desejo de aprender e vencer na vida. Swem era um aluno humilde que, graças ao seu esforço pessoal, mereceu a atenção dos professores e, mais adiante, do Governador Woodrow Wilson (também taquígrafo), eleito, posteriormente, Presidente dos Estados Unidos. Tenho certeza de que a história contada pelo professor Gregg vai causar admiração em todos, como causou em mim. Vamos, então, ao trecho da palestra proferida pelo prof. Gregg, em 1917, sobre Charles L. Swem: “Minha primeira história é sobre Mr. Charles L. Swem, o jovem que detém a maior responsabilidade taquigráfica do mundo, a de taquígrafo do Presidente dos Estados Unidos. Eu não acho que nenhum de vocês irá questionar a afirmação de que essa é a posição de maior responsabilidade taquigráfica do mundo, se vocês refletirem sobre o que deve ter passado pelo bloco de taquigrafia desse jovem nos últimos cinco anos. 3 Uma responsabilidade muito grande pesou sobre esse jovem. Uma palavra falada descuidadamente teria tido conseqüências desastrosas para a nação. E agora vou contar para vocês a história da ascensão do Mr. Swem. É uma história cheia do que os jornalistas costumam chamar de “interesse humano”. Aos quinze anos de idade, Swem era um office boy num engenho em New Jersey. Ele havia trabalhado no engenho desde a idade de treze ou quatorze anos, e, portanto, a sua formação cultural era muito pobre, aquela de uma escola de uma vila de engenho. Aos quinze anos, ele estava num engenho, e, aos 20 anos, ele estava na Casa Branca como taquígrafo do Presidente dos Estados Unidos, com um salário de 2.500 dólares por ano. Uma subida admirável, e uma demonstração das possibilidades que há para os meninos e meninas no nosso país democrático. Eu gostaria de enfatizar este ponto: que em nenhum outro país do mundo um tal avanço é possível pela simples força do mérito. Swem freqüentou o curso noturno da Escola Comercial Rider-Moore & Stewart, em Trenton, N.J., e eu visitei, por acaso, aquela escola quando ele estava lá. O diretor da escola, Sr. Gill, era um velho amigo meu. Ele me disse: “Sr. Gregg, há um rapaz na escola em quem estou grandemente interessado. Ele freqüenta nosso curso noturno há cerca de seis meses e escreve 100 palavras por minutos em taquigrafia, e tem um bom desempenho na datilografia. Eu pedi a ele que viesse no horário do almoço para o ver.” O rapaz veio, e eu ditei algumas cartas para ele. Eu verifiquei que ele podia taquigrafar cartas comerciais na velocidade de 100 palavras por minuto, mas eu não fiquei muito impressionado com as notas taquigráficas dele, porque ele tinha os sinais muito malfeitos. Isso era devido ao fato de ele nunca ter sido treinado em caligrafia. Sem dúvida, o Sr. Swem não tem aptidão especial para a taquigrafia em relação à facilidade para traçar os sinais taquigráficos, apesar de que, devido ao seu desempenho, a impressão geral seja outra. Mas ele é dotado com um bom cérebro e, o que é mais importante, com uma tenacidade de propósito admirável. Embora eu não tenha ficado muito impressionado com a sua taquigrafia, chamoume a atenção a modéstia daquele rapaz, que usava uma calça folgada apertada nos joelhos, um rapaz que não era robusto nem atraente, nem talentoso; era apenas um rapaz comum, um pouco sério. Eu pensei: “Esse rapaz tem o seu valor.” E lhe disse: “Charlie, se você quiser um emprego quando acabar o curso, você pode vir trabalhar comigo no meu escritório.” 4 Ele veio ao meu escritório um ou dois meses depois. No começo, teve de aprender bastante coisa, mas ele era um empregado de boa vontade e estava sempre pronto para aceitar sugestões. Essa última qualidade – a disposição em aceitar sugestões – é uma qualidade mais rara do que se pensa. E ela marca frequentemente a diferença entre o sucesso e a derrota na vida. Ele teve, em primeiro lugar, de melhorar o seu vocabulário, que era muito limitado. Muitas vezes, quando eu ditava uma palavra não usual, eu tinha de soletrá-la para ele. Lembro de que uma vez, depois de ter ditado um artigo de uma revista, ele me disse: “Sr. Gregg, há uma palavra aqui que eu taquigrafei que eu não consigo decifrar. Parece ser “hu-man-it-arian” (humanitário) – existe essa palavra?” Eu lhe respondi, dizendo que sim, que existia a palavra “humanitarian”, e aconselhei-o a que procurasse no dicionário todas as palavras novas que aparecessem, as fossem escrevendo num caderno, em ordem alfabética, e revisasse a lista todos os dias. “Depois”, continuei, “tente usar essas palavras ao falar e ao escrever.” Eu pensei que estava dando um bom conselho, até que descobri que ele estava usando as palavras quando se dirigia a mim (risos), e que ele preferia polissílabos a monossílabos quando ambos significavam a mesma coisa. Essa era uma fase do seu desenvolvimento. Com o passar do tempo, ele adquiriu um vocabulário notável, acrescentando palavras diariamente no seu caderno, como eu havia sugerido. Uma noite, quando eu voltei ao escritório, eu o encontrei na minha sala particular, com um fonógrafo, praticando as palavras e termos que foram usados durante o dia. Pouco tempo depois, houve o 5º Campeonato de Velocidade Taquigráfica. Acho que todos você já conhecem o resultado. O Sr. Gurtler, a quem tenho o prazer de ver aqui, esta manhã, ganhou o campeonato, e o Sr. Swem obteve o segundo lugar, taquigrafando 165 palavras por minuto. E isso apenas com 18 meses depois do início do seu estudo na escola noturna. Foi um recorde digno de nota. Na verdade, creio que foi o melhor recorde até aquela data – quero dizer, em relação ao tempo de estudo e ao resultado alcançado. No campeonato da Confederação Nacional de Taquígrafos, no ano seguinte, Mr. Swem taquigrafou 237 palavras por minuto durante cinco minutos, e, em assim fazendo, derrotou vários taquígrafos do Judiciário, taquígrafos experientes. No ano seguinte, taquigrafou 268 palavras por minuto, conseguindo o terceiro maior recorde jamais obtido nesses certames, sendo superado por taquígrafos do Judiciário com longa experiência. 5 Durante o campeonato, o Presidente Wilson – ou, na época, o ainda Governador Wilson telefonou para a Escola de Comércio em Trenton, em busca de alguém que pudesse taquigrafar o discurso que ele iria fazer. O senhor Gill me telefonou em Nova Iorque, e eu enviei Swem para taquigrafar o discurso. Eu compreendi o fato de o Governador Wilson ter ficado muito surpreso quando viu o jovem enviado para taquigrafá-lo, porque, como vocês sabem, ele é naturalmente muito exigente no que diz respeito à exatidão do registro dos seus discursos públicos. Mas, na manhã seguinte, quando ele recebeu a transcrição, ficou muito surpreso ao ver que, pela primeira vez na vida, teve o registro do seu discurso feito com absoluta exatidão. Então, para abreviar a minha história, Swem acabou se tornando o taquígrafo oficial da sua campanha para a presidência e, posteriormente, foi com ele para a Casa Branca como seu taquígrafo pessoal. Agora, os pontos que gostaria de salientar, em relação ao Sr. Swem, são estes: em primeiro lugar, ele tinha um objetivo definido: ele queria se tornar o melhor taquígrafo do mundo. Em segundo lugar, ele teve a tenacidade de propósito: ele trabalhou incansavelmente para atingir o objetivo. Em terceiro lugar, ele estava preparado quando a oportunidade chegou, e, estando preparado, venceu na vida quando a oportunidade se apresentou. Tenho a convicção de que a oportunidade sempre chega para aqueles que estão preparados para ela. Eu ouvi alguém certa vez dizer: “O Sr. Swem teve sorte.” Eu gostaria de enfatizar que toda a sorte do mundo não teria ajudado ao Sr. Swem, se ele não estivesse apto a “vencer na vida”. Se ele não tivesse vencido na escola noturna, seus professores não teriam chamado a atenção do Sr. Gill para o trabalho dele. Se ele não tivesse se destacado no meu escritório, eu não o teria enviado para taquigrafar o discurso do Governador Wilson. Se ele não tivesse se distinguido ao taquigrafar o primeiro discurso para o Sr. Wilson, a ele não teria sido confiada a responsabilidade de taquigrafar os discursos de uma dura campanha presidencial. Se ele não tivesse cumprido a contento a tarefa de taquigrafar os discursos da campanha, ele não teria recebido a nomeação para a Casa Branca. Se ele não tivesse se desincumbido bem no primeiro ano, ele não estaria agora na Casa Branca. De modo que vocês podem ver que foi um caso de “zelo” em cada etapa. Há pouco tempo, li, numa revista, uma entrevista de um homem de negócios muito bem sucedido, que dizia que o lema que norteara a sua vida desde o princípio foi 6 executar cada tarefa a ele confiada, por mais sem importância que pudesse parecer, como se fosse a coisa mais importante do mundo. Ele disse que sempre acreditou que, se continuasse a fazer assim, alguém, algum dia, iria notar. A carreira do Sr. Swem é exatamente um outro exemplo de como esse princípio funciona se for seguido fielmente. Mas, como eu disse no começo, o fundamento de todo sucesso é a integridade de caráter. Apenas para esclarecer melhor, deixe-me dar uma pequena ilustração da experiência do Sr. Swem. Quando o Sr. Wilson foi nomeado para a presidência, e chegou-me a mensagem no meu escritório, de que ele desejava o Sr. Swem para ser seu taquígrafo, o Sr. Swem não queria ir. Como disse há poucos minutos, a sua ambição, naquele momento, era ser o taquígrafo campeão do mundo, e ele não queria ser desviado daquela ambição. Acompanhado por Charlie, fui ao distrito Sea Girt, à casa de verão dos governadores de New Jersey, para ver o Sr. Wilson. Como o Sr. Wilson também é taquígrafo (ele taquigrafou usando um dos velhos sistemas por quarenta anos, e é um excelente taquígrafo nesse sistema) ele compreendeu a ambição do Sr. Swem. Mas ele disse: “Sr. Gregg, eu o quero, pois ele foi o único que taquigrafou o meu discurso com exatidão, e é da máxima importância que os meus discursos nesta campanha sejam taquigrafados com exatidão. Eu perguntei-lhe: “Quando começa a campanha?” Ele respondeu-me e eu lhe disse: “Eu posso cedê-lo durante a campanha, se o senhor me devolvê-lo logo depois.” E ficou acertado nessa base. Quando a campanha terminou, o Presidente eleito disse para o Sr. Swem: “Eu o quero como meu taquígrafo na Casa Branca.” Pensem nisso, pensem nesse jovem, que há cinco anos era um office boy num engenho e agora recebia a oferta de emprego de taquígrafo do Presidente dos Estados Unidos! O que a maioria dos jovens teria feito? Eles teriam agradecido ao Presidente e aceitado o emprego, não teriam? Mas Swem disse: “Sr. Wilson, eu preciso falar com o Sr. Gregg a respeito disso.” Vocês podem imaginar o que se passou na cabeça do Presidente dos Estados Unidos, ao ser lembrado, daquela maneira, da sua promessa? Vocês não acham que ele voltou ao seu gabinete com um sorriso? Vocês não acham que ele tinha um respeito maior pelo Sr. Swem e um sentimento ainda maior de confiança nele? O Sr. Wilson disse: “Oh, eu havia me esquecido disso. Vá a Nova Iorque e converse com o Sr. Gregg, mas diga a ele que eu quero você como meu taquígrafo.” 7 E, então, o sr. Swem veio ter comigo e ofereceu-se para trabalhar para mim. Claro que eu disse a ele que ele havia ido além de mim. Mas o fato de ele ter vindo me dar uma satisfação naquelas circunstâncias, representará para mim sempre uma agradável lembrança. Eu apenas mencionei este fato aqui como uma demonstração de caráter. São essas pequenas coisas que contam, na soma total das coisas que levam ao sucesso na vida.” Swem taquigrafando o discurso do Presidente no Dia da Bandeira (14 de junho), proferido nas escadarias do Edifício do Tesouro. Por iniciativa própria, Swem saiu do local reservado para os taquígrafos e isolou-se na escadaria, ficando numa posição melhor para registrar cada palavra do Presidente. Ele está usando o seu chapéu como mesa – o que ilustra as dificuldades com as quais o trabalho taquigráfico é feito algumas vezes. Swem, ao lado do Presidente, taquigrafando os discursos proferidos durante a recepção ao Presidente, em Dover, Inglaterra. 8 Swem acompanha o Presidente Wilson em suas viagens e é frequentemente chamado para taquigrafar em condições incomuns. ***
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