Consultoria para o 3º Sector
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Consultoria para o 3º Sector
Relatório Final de Acompanhamento e Avaliação do Projecto C3 - Consultoria para o 3º Sector (Projecto 2001/EQUAL/A2/EE/208) Alberto Baptista Artur Cristovão Vila Real Dezembro 2004 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro C Relatório final de acompanhamento e avaliação do Projecto C3 − Consultoria para o 3º Sector (Projecto 2001/EQUAL/A2/EE/208) Alberto Baptista Artur Cristóvão UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Departamento de Economia e Sociologia Vila Real Dezembro de 2004 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................... 4 2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO: DEFINIÇÕES, IMPORTÂNCIA E PROBLEMAS DO 3º SECTOR.................. 10 2.1. Conceito de 3º Sector................................................................................................................................. 10 2.2. Importância do 3º Sector ao nível económico-social e do emprego .......................................................... 13 2.3. Problemas de gestão e funcionamento das organizações do 3º Sector .................................................... 16 3. O MODELO DE INTERVENÇÃO PME APLICADO AO 3º SECTOR.................................................................. 19 3.1. O Modelo de intervenção PME .................................................................................................................. 19 3.2. A metodologia seguida para selecção das organizações e implementação do Projecto C3 ..................... 23 4. ACTIVIDADES DO PROJECTO C3 E CARACTERIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES FORMANDAS ................ 26 4.1. Actividades a realizar ................................................................................................................................. 26 4.2. Breve caracterização das organizações formandas .................................................................................. 27 5. DIAGNÓSTICO E ELABORAÇÃO DA ÁRVORE DE PROBLEMAS................................................................... 30 5.1. Diagnóstico participado e árvore de problemas ......................................................................................... 30 5.2. Perspectiva dos responsáveis das organizações face à árvore de problemas.......................................... 33 6. IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS.................................................................................................................... 34 6.1. Medidas previstas realizar.......................................................................................................................... 35 6.2. Medidas executadas versus medidas por executar ................................................................................... 37 6.3. Medidas com provável implementação a curto prazo ................................................................................ 40 7. RESULTADOS ALCANÇADOS E SUA EXPLICAÇÃO....................................................................................... 41 7.1. Resultados alcançados .............................................................................................................................. 41 7.2. Medidas com maior impacte nas organizações ......................................................................................... 43 7.3. Os produtos do Projecto C3 ....................................................................................................................... 44 7.4. Como se explicam os resultados alcançados pelo Projecto C3................................................................. 46 8. FORAM OS OBJECTIVOS DO PROJECTO C3 ALCANÇADOS E OS PRINCÍPIOS DO EQUAL RESPEITADOS? ................................................................................................................................................. 51 8.1. Foram os objectivos do Projecto C3 alcançados? ..................................................................................... 52 8.2. Foram os princípios Equal respeitados? .................................................................................................... 56 9. PONTOS FORTES E FRACOS DAS INTERVENÇÕES..................................................................................... 64 9.1. Vantagens e condicionalismos do modelo de intervenção C3................................................................... 66 10. CONCLUSÕES E ALGUMAS SUGESTÕES FINAIS.......................................................................................... 67 10.1. Conclusões................................................................................................................................................. 67 10.2. Algumas sugestões .................................................................................................................................... 74 1 11. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................................................... 76 ANEXOS .................................................................................................................................................................... 77 Anexo 1 - Guião de entrevista aos responsáveis das organizações em Fevereiro 2004.................................. 78 Anexo 2 - Guião de entrevista aos responsáveis das organizações no final do projecto ................................. 79 Anexo 3 - Guião de entrevista aos consultores/formadores.............................................................................. 81 Anexos 4 - 10 pontos para uma Economia Social Sustentável.......................................................................... 84 Anexo 5 - Dois exemplos de árvore de problemas............................................................................................ 87 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Diferentes níveis a considerar num processo de avaliação .................................................................... 7 Figura 2. Fases do Modelo de Formação PME...................................................................................................... 20 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Pessoas entrevistadas por organização em Fevereiro e Julho de 2004................................................. 9 Quadro 2. Actividades desenvolvidas pelo 3º Sector............................................................................................... 12 Quadro 3. Actividades previstas e realizadas no projecto C3.................................................................................. 27 Quadro 4. Caracterização das organizações formandas......................................................................................... 29 Quadro 5. Número de pessoas entrevistadas por organização ............................................................................... 30 Quadro 6. Posição dos responsáveis sobre à árvore de problemas, no fim do projecto ......................................... 33 Quadro 7. Apresentação das medidas propostas por organização ......................................................................... 36 Quadro 8. Número de medidas a realizar por organização ..................................................................................... 37 Quadro 9. Número de horas por tipo de acção realizado por organização.............................................................. 37 Quadro 10. Medidas previstas e não aplicadas nas organizações ............................................................................ 38 Quadro 11. Medidas com provável implementação a curto prazo nas organizações (Julho 2004)........................... 40 Quadro 12. Medidas/actividades com resultados mais importantes para a organização .......................................... 41 Quadro 13. Medidas com maior impacte nas organizações ...................................................................................... 44 Quadro 14. Envolvimento dos dirigentes na implementação do C3 .......................................................................... 49 Quadro 15. Opinião dos responsáveis sobre os consultores/formadores.................................................................. 50 Quadro 16. Intensidade de aplicação dos princípios EQUAL pelo Projecto C3......................................................... 57 Quadro 17. Pontos fortes e fracos das intervenções ................................................................................................. 65 2 LISTA DE ABREVIATURAS ADIBER Associação de Desenvolvimento da Beira Serra ADL Associação de Desenvolvimento Local ADRL Associação de Desenvolvimento Rural de Lafões AEP Associação Empresarial de Portugal AIP Associação Industrial Portuense ARDOP Associação de Reabilitação Social e Desinstitucionalização de Doentes Psiquiátricos CETRAD Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento CNM Centro Norton de Matos DESG Departamento de Economia, Sociologia e Gestão DL Desenvolvimento Local FSE Fundo Social Europeu IC Iniciativa Comunitária IEBA Centro de Iniciativas Empresariais Beira Aguieira IPN Instituto Pedro Nunes PME Pequenas e Médias Empresas QCA Quadro Comunitário de Apoio SCMM Santa Casa da Misericórdia de Mortágua TIC Tecnologias da Informação e Comunicação UTAD Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vertigem Associação para a Promoção do Património 3 1. INTRODUÇÃO O relatório de acompanhamento e avaliação final do Projecto C3 - Consultoria para o 3º Sector, com a identificação 2001/EQUAL/A2/EE/208, enquadra-se no âmbito das actividades programadas, aquando da candidatura deste projecto. O trabalho de acompanhamento e avaliação foi realizado por dois membros do DESG/CETRAD da UTAD, que participaram no projecto desde a formatação da candidatura até à conclusão da Acção 3. Ao longo do relatório, para simplificarmos, usamos o termo “projecto” para nos referimos ao Projecto C3 - Consultoria para o 3º Sector. O projecto C3 foi financiado pelo programa EQUAL, Iniciativa Comunitária na área do desenvolvimento dos recursos humanos para o período de programação dos Fundos Estruturais, 2000 a 2006. O EQUAL é co-financiada pelo Fundo Social Europeu (FSE) e ocupa-se das medidas de prevenção e de combate ao desemprego; de desenvolvimento de recursos humanos; e promoção da igualdade de oportunidades para todos no acesso ao mercado de trabalho e na manutenção dos postos de trabalho. A IC EQUAL procura beneficiar prioritariamente as pessoas que são vítimas das principiais formas de discriminação (ligadas ao sexo, à raça, à origem étnica, à religião ou às convicções, a deficiência, à idade, à orientação sexual) e de desigualdade. O EQUAL actua sobre os públicos-alvo e, também, sobre o desenvolvimento dos agentes e empresas/organizações, porque não há inserção sustentada dos grupos fragilizados sem organizações sólidas, competitivas e que assumam a sua responsabilidade social. O EQUAL visa, em particular, contribuir para acções que apoiem a Estratégia Europeia de Emprego (e, em Portugal, o Plano Nacional de Emprego) através de projectos desenvolvidos no âmbito das seguintes áreas de intervenção: − Prioridade 1 – Empregabilidade; − Prioridade 2 - Espírito empresarial; − Prioridade 3 – Adaptabilidade; − Prioridade 4 - Igualdade de Oportunidades para Mulheres e Homens; − Prioridade 5 - Requerentes de asilo. 4 O Projecto C3 enquadra-se no âmbito da EQUAL, Prioridade 2 e sub-prioridade 2.1.1. Criação de empresas e desenvolvimento e 2.2.1. Qualificação das organizações e dos profissionais da economia social. De acordo com a proposta de candidatura, o Projecto C3 tem por missão promover a competitividade e a sustentabilidade das organizações do 3º Sector, preparar o pós - III QCA, num contexto de maior eficácia dos serviços prestados e de autonomia face ao Estado. Maior eficácia significa fazer melhor e com maior autonomia, reduzindo a dependência financeira destas organizações face ao Estado. Os objectivos específicos do projecto C3 são: 1. Introduzir práticas inovadoras na gestão dos recursos (humanos, financeiros, informação, etc.) e incorporar as TIC nessa gestão; 2. Promover a auto-aprendizagem, auto-avaliação e a qualificação dos recursos humanos; 3. Melhorar a competitividade, através do desenvolvimento das competências organizacionais; 4. Diversificar os serviços prestados e a capacidade de financiamento; e 5. Incentivar a capacidade de inovação e de planeamento estratégico, para enfrentar um quadro de menor apoio estatal e de maior actuação de mercado. Para se alcançar os objectivos referidos propõe-se aplicar num conjunto de seis organizações do 3º Sector, uma metodologia de intervenção já testada pela AIP desde 1997, em programas de consultoria para PME1, e que inclui soluções inovadoras na gestão da organização e dos seus recursos, o que passará pela introdução das TIC e por acções de formação dirigidas aos membros das organizações. O Projecto C3 surge no seguimento da participação do IEBA, como entidade consultora e formadora, no âmbito do “Programa de Formação PME” e visa aplicar e adaptar este modelo ao 3º Sector. A experiência adquirida, por um lado, e o conhecimento das dificuldades das organizações do 3º Sector, por outro, justificam o interesse em alargar e adaptar o modelo de formação PME ao 3º Sector. 1 Sobre o modelo de Formação PME ver Pena, 2002. 5 Os produtos esperados como resultado deste projecto eram: − Guia de boas práticas na implementação de novas formas de gestão das organizações - estudos de casos; − Manual de estratégia para a auto-sustentabilidade e diversificação de fontes de financiamento; e − Página internet para divulgação destes produtos. A avaliação e acompanhamento que nos propusemos fazer desde o início tinha quatro objectivos principais: 1) Analisar e discutir a adaptação e o interesse do modelo de intervenção do programa PME ao 3º Sector; 2) Verificar em que medida os resultados alcançados respondem aos objectivos propostos pelo projecto C3; 3) Estudar os processos de execução e as relações interinstitucionais e a sua influência nos resultados alcançados; e 4) Apontar sugestões para a melhoria da acção em implementações futuras. Para além destes objectivos há uma outra questão que procuraremos responder, a qual surgiu no processo de discussão da candidatura entre os parceiros e os técnicas da Unidade de Gestão, em que estas se interrogavam sobre quem seriam os verdadeiros beneficiários do projecto, proponentes ou organizações do 3º Sector. O facto de estarmos perante uma acção de “acompanhamento e avaliação”, incorporada desde o início no projecto, apresenta a vantagem de os responsáveis por esta componente poderem recolher informação e participar nas decisões tomadas ao longo do projecto. A avaliação surge, assim, não como uma acção suplementar, mas como uma componente do projecto integrada em todas as suas actividades. Num processo de avaliação uma das questões que se coloca é saber quais são os diferentes níveis que se pretendem avaliar. De acordo com o esquema concebido por ARADEL (s/d), são referidos seis níveis de avaliação distintos, observados na Figura 1. 6 Necessidades Meios Objectivos Pertinência Coerência Realizações Resultados Efeitos próprios: impactos Eficiência 1º nível de eficácia: atendendo aos objectivos 2º nível de eficácia: efeitos propostos Utilidade Fonte: Aradel; s/d Figura 1. Diferentes níveis a considerar num processo de avaliação A avaliação irá incidir de forma mais acentuada sobre três dos seis níveis apresentados na Figura 1: a “pertinência” das necessidades relativamente aos objectivos, isto é, se os objectivos do projecto são pertinentes relativamente às necessidades inventariadas no 3º Sector; a relação entre os resultados obtidos e os objectivos iniciais (1º nível de eficácia); e, os objectivos do projecto relativamente aos seus efeitos, impactes próprios (2º nível de eficácia). Os outros três níveis (coerência, eficiência e utilidade) serão também referidos, ainda que com menor ênfase. Comparar os resultados aos objectivos iniciais não permite dizer se estes foram obtidos graças à acção do projecto. Este problema metodológico não é de fácil resolução, contudo, para o minimizar, foi nossa preocupação recolher informação ao longo do projecto e compreender as decisões e os comportamentos dos actores. Por limitações de tempo e de recursos financeiros, houve dimensões que não foram desde o início contempladas no processo de avaliação, resultando daqui duas limitações maiores, que merecem ser destacadas. O trabalho de avaliação centra-se, sobretudo, na análise de informação recolhida por entrevista, reuniões de trabalho e documentos, ao longo da implementação do projecto junto dos parceiros (AEP e IEBA) e responsáveis das organizações. Não temos informação detalhada que nos permita compreender o comportamento individual dos membros das organizações. Para tal seria 7 necessário a realização de entrevistas individuais, confrontando os inquiridos com o processo e os resultados das intervenções. A segunda dimensão que merecia uma análise mais aprofundada tem a ver com as relações das organizações com o exterior, isto é, as relações inter-instituições e o contexto político e sócio-económico e cultural onde estas se inserem. Estamos certos que esta dimensão influi fortemente no comportamento de alguns dos actores, designadamente dirigentes, e pode interferir com os resultados alcançados. O 3º Sector apresenta uma elevada importância ao nível social, económico e do emprego. Mas estas organizações apresentam problemas de gestão para os quais é necessário encontrar soluções. O projecto C3, ao visar encontrar respostas para os referidos problemas, procura confirmar a “pertinência” dos objectivos do projecto face às necessidades das organizações do 3º Sector. Parecem justificar-se as intervenções delineadas no quadro do referido projecto, que procuram contribuir para a elevação das qualificações, melhorando as competências das entidades e dos profissionais do 3º Sector. A metodologia seguida ao longo do processo de acompanhamento e avaliação, e que permitiu a elaboração do relatório, foi a seguinte: − Pesquisa bibliográfica sobre o 3º Sector, designadamente sobre a sua importância e problemas inventariados; − Análise da documentação produzida pelos vários parceiros e consultores/ /formadores ao longo do projecto; − Participação activa no acompanhamento do projecto e, em particular, nas reuniões da parceria, com registo das principais decisões; − Duas visitas às seis organizações, uma no início da implementação das medidas (Fevereiro de 2004) e outra após a implementação das medidas (Julho 2004), e em que se entrevistaram, com base em dois guiões diferentes (Anexos 1 e 2), dirigentes e facilitadores dessas organizações, como se reflecte no Quadro 1. 8 Quadro 1. Pessoas entrevistadas por organização em Fevereiro e Julho de 2004 Organização Entrevistados (Fevereiro 2004) Entrevistados (Julho 2004) ARSDOP - Membro da direcção - Facilitadora - Membro da direcção - Facilitadora VERTIGEM - Membro da direcção - Membro da direcção ADIBER - Membro da direcção - Facilitador - Facilitador CNM - Cinco membros da direcção - Membro da Direcção SCMM - Membro da direcção - Duas Facilitadoras ADRL - Facilitadora - Membro da direcção − Entrevista a sete consultores/formadores no final do projecto (ver Anexo 3); − Entrevistas aos responsáveis pela implementação do projecto (IEBA e AEP) ao longo do processo e no final da implementação das medidas. A descrição mais pormenorizada sobre a metodologia seguida em cada um dos pontos será apresentada ao longo do relatório. O relatório encontra-se estruturado em dez secções, constituindo a introdução a primeira. A segunda secção procura fazer um enquadramento teórico sobre o 3º Sector e saber se há razões que justifiquem a intervenção prevista para estas organizações. A terceira secção apresenta o modelo de intervenção C3. Segue-se, na quarta secção, a apresentação das actividades previstas e a caracterização das organizações onde se aplicará o modelo de intervenção. A secção cinco fará uma análise da fase de diagnóstico e elaboração de árvore de problemas. A implementação das medidas para resolução dos problemas diagnosticados será tratada na secção seis. Segue-se a secção sete, onde se abordarão os resultados alcançados pela intervenção junto das organizações. Na secção oito procuraremos responder a dois tipos de questões: 1) foram os objectivos do projecto alcançados e em que medida?; 2) foram os princípios do EQUAL respeitados?. Em seguida, na secção nove, apresenta-se um balanço global do projecto, pondo em evidência os pontos fortes e fracos da aplicação do modelo. Finalmente, na secção dez, apresentamos as conclusões e sugestões para o futuro. 9 2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO: DEFINIÇÕES, IMPORTÂNCIA E PROBLEMAS DO 3º SECTOR 2.1. Conceito de 3º Sector O conceito de 3º Sector ou, para outros, terceiro sistema, é frequentemente usado para referir as organizações onde a mediação entre as pessoas e a criação de riqueza é feito pelos cidadãos organizados entre si, e não pelo Estado ou pelo Mercado (Campbell, 1999). Isto é, fala-se de 3º Sector para o distinguir, em termos organizacionais, do primeiro - o Estado, o “não lucrativo”, que implementa um conjunto de actividades e serviços que, pela sua importância ou necessidade, não podem funcionar na lógica do lucro, mas sim numa lógica proteccionista ou providencial - e do segundo, o Mercado, o “lucrativo” que desenvolve as actividades e serviços que se entende servirem melhor a sociedade, funcionando na lógica concorrencial da oferta e procura. O 3º Sector não visa o lucro, ou seja, o motivo central da actuação é, por si mesmo, a satisfação de uma necessidade através da auto-organização dos próprios interessados ou da mobilização dos cidadãos, enquanto tal, funcionando numa lógica associativa e solidária. O que distingue uma organização do 3º Sector é o facto desta prestar serviços não numa perspectiva de “ganhar dinheiro” ou de “disponibilizar benefícios”, mas, sobretudo, de satisfazer as necessidades. Daí que, dominantemente, o 3º Sector surja associado a actividades e necessidades que o Estado e o Mercado não contemplam, ou não estão na sua natureza, como a promoção da inclusão social, por exemplo. Como se refere no relatório de “Resultados do Diagnóstico de Necessidades” elaborado pelo IEBA, em Março de 20022, que segue de perto o trabalho de Campbell (1999), no contexto europeu há uma grande diversidade deste tipo de organizações e de molduras legais que as enquadram, o que torna difícil uma definição precisa e estanque. Não chega a haver largo consenso, quer académico, quer “no terreno”, sobre o tema. Parece, contudo, haver um entendimento generalizado sobre as características comuns de uma organização do 3º Sector: − procura dar resposta a necessidades não satisfeitas pelo Estado ou pelo Mercado; 2 Ver relatório interno do projecto elaborado por: IEBA, Resultados do Diagnóstico de Necessidades elaborado, Março de 2002. 10 − possue uma gestão e organização autónoma; − baseia-se e orienta-se para a comunidade local; − não tem fins lucrativos, no sentido da redistribuição de lucros; − pode existir voluntariado; − colabora com outros actores, em redes e parcerias que prossigam fins comuns; − tem uma utilidade social, ou seja, traduz-se em actividades que criam bens públicos, tais como assistência a grupos desfavorecidos, promoção da empregabilidade e do empreendedorismo, caridade, educação, formação, protecção do ambiente e do património, apoio às famílias, crianças e idosos e defesa dos direitos civis; − regula-se pela democraticidade - as organizações devem possuir uma estrutura democrática, i.e., uma estrutura directiva eleita e a existência de membros com direito de voto para eleger os órgãos sociais, alterar estatutos e regulações internas. O 3º Sector também se pode definir pelas áreas de actuação das suas organizações. O quadro seguinte avança com uma classificação do 3º Sector, dividindo-o em 12 grupos, cada um deles com uma área de actuação específica3 (Quadro 2): Quadro 2. Actividades desenvolvidas pelo 3º Sector Cultura, artes e recreação, Educação, investigação e formação Saúde Serviços e equipamentos sociais (família, crianças, idosos e comunidade) Assistência a grupos desfavorecidos Protecção ambiental e patrimonial Desenvolvimento territorial Defesa dos direitos civis Actividades internacionais Apoio a empresas e empreendedorismo Desporto Outros 3 Esta classificação, referida no relatório de diagnóstico do IEBA, “está adaptada à realidade europeia e deriva do trabalho da Comissão Europeia – DG XXII, no âmbito do Targeted Socio-Economic Research Programme, que adaptou a classificação original desenvolvida pelo JHCNSP - John Hopkins Comparative Non-profit Sector Project e denominada ICNPO - International Classification of Nonprofit Organisations”. 11 As organizações do 3º Sector desenvolvem as suas actividades dentro da área da economia social que apresenta dimensões e identidades legais e jurídicas muito díspares de país para país. Veja-se no caso de Portugal a diversidade de actividades, e de estatuto, destas organizações: cooperativas, fundações, associações, misericórdias, IPSS, etc. Se existem países onde as organizações que trabalham na economia social constituem já um parceiro bastante forte, outros há (caso de Portugal) onde, só nos últimos anos, este sector se tem desenvolvido e ganho visibilidade face ao poder politico. Segundo Thierry (2002), por economia social entende-se um conjunto de actividades económicas de tipo associativo, fundadas nos valores da solidariedade, da autonomia e da cidadania e apoiadas nos seguintes princípios: a) a missão de servir os membros ou à colectividade, sobrepondo-se ao objectivo do lucro; b) a gestão é autónoma (não depende do Estado); c) o processo de tomada de decisão são democráticos; d) o primado das pessoas e do trabalho sobre o capital na redistribuição dos excedentes; e) participação e responsabilização individual e colectiva dos seus membros. O termo economia refere-se às actividades de produção concreta de bens e serviços com criação de riqueza. O termo social refere-se à rentabilidade social dessas actividades, que pode ser avaliada pela melhoria da qualidade de vida e do bem-estar de uma dada população. Em síntese, vale a pena chamar a atenção para a enorme diversidade de organizações deste sector, seja ao nível das actividades, dos estatutos, âmbito de actuação, etc. É evidente que esta diversidade de organizações pode levantar questões ao nível de intervenções como a que se pretende implementar com o C3. 2.2. Importância do 3º Sector ao nível económico-social e do emprego A economia social, que se desenvolve dentro do 3º Sector, é uma economia em desenvolvimento a nível mundial, que cresce e se fortalece com a crise do Estado 12 Providência, com o aumento das necessidades sociais e como contra-argumento às políticas neoliberais. De acordo com a pesquisa bibliográfica realizada por Jacob (2001) sobre a importância do 3º Sector na Europa, são referidos vários autores que apresentam exemplos de sucesso da economia social: − Na Suécia existem 200.000 organizações não-lucrativas com 32 milhões de associados. O que significa que cada cidadão é associado de 4 associações; − Em Itália 25% dos serviços sociais são de empresas de economia social; − Em França, de 1982 a 1990, o número de profissionais sociais de nível 4 e 5 (Assistentes, educadores, animadores e conselheiros familiares) aumentou 27%, de 150.516 para 191.660; − Em França, em 1994, a previsão anual de crescimentos dos “Ajudantes de pessoas idosas ou dependentes” era de mais 8.000 a tempo inteiro; − Em 1999, através do Programa “Novos Serviços, Novos Empregos” foram criados em França 150.000 novos empregos, dos quais 64.000 na economia social. Face ao crescimento do desemprego na Europa, assiste-se ao crescimento da importância da economia social e ao o seu contributo para a criação de emprego e para a adopção de políticas macroeconómicas, que incluem medidas activas de mercado de trabalho e um compromisso a longo prazo de inovação de recursos humanos. A Comissão Europeia considera que as organizações de economia social podem oferecer um elevado contributo para o equilíbrio do mercado e diminuição da taxa de desemprego na Europa, prevendo a criação de 140.000 a 400.000 postos de trabalho por ano com base nas necessidades locais não cobertas. As empresas sociais são consideradas pela UE como um dos grandes reservatórios de emprego no futuro (GGIC, 2000). No seminário “Third System and employment”4 é reforçada a importância em termos de emprego destas organizações. P. Flynn (1998), membro da Comissão 4 Seminário realizado em 24 e 25 de Setembro de 1988, no Parlamento Europeu, organizado pela Comissão Europeia e Parlamento Europeu 13 Europeia, diz que, de acordo com o Eurostat (1996), se estima que a economia social na Europa empregue 5,2 % da população, cerca de 7 milhões de empregos, e que o emprego neste sector cresce a um ritmo mais rápido que no conjunto da economia. Um estudo realizado pela Johns Hopkins University em 1990, sobre o “estado da arte” em sete países europeus5 revela que durante os anos 80 o 3º Sector contribui com um aumento de 12,7% no emprego, enquanto o crescimento do emprego na economia como um todo foi de 6,8%. Um estudo de avaliação de âmbito europeu (ECOTEC, 2001: 67) sobre o 3º Sector e o emprego, reafirma o seu potencial para a criação e manutenção de empregos na Europa, e, ao mesmo tempo, para preencher falhas do mercado na provisão de bens e serviços numa grande variedade de situações de âmbito social, ambiental e cultural. O 3º Sector, enquanto criador de emprego, pode converter-se num mercado intermédio de trabalho, na medida em que representa uma forma de ajudar as pessoas a passar da assistência social ao emprego e de uma situação de inactivos a cidadãos activos. Esta capacidade de criar empregos é tanto mais importante quanto o discurso político passa do conceito de pleno emprego para o conceito de plena actividade. As áreas onde as organizações do 3º Sector se desenvolvem com maior facilidade são os serviços de proximidade de apoio à comunidade, tais como: − Serviços sociais (acolhimento de crianças, jovens e idosos, serviços ao domicilio, apoio aos desfavorecidos, tratamento de roupa); − Serviços de melhoria da vida (reparos da habitação, segurança, transportes colectivos locais, comércio de proximidade, revalorização dos espaços públicos); − Serviços culturais e de lazer (turismo, desporto, valorização do património cultural e artísticos, ensino); − Serviços de ambiente (gestão dos lixos e das águas, protecção de zonas naturais). 5 França, Alemanha, Itália. Reino Unido, Estados Unidos, Japão e Hungria. 14 Como serviços de proximidade incluem-se muitas das actividades realizadas anteriormente pela família no âmbito doméstico e que agora são executadas por terceiros, mas que necessitam de uma proximidade e de um relacionamento pessoal elevado entre utente e prestador. As organizações sem fins lucrativos, porque abrem as portas à expansão de actividades no âmbito do mercado social de emprego, assumem-se como elemento vital potenciador de coesão e inserção social, designadamente através da criação de emprego para públicos desfavorecidos. Em suma, estamos perante um sector de actividade de elevada importância socioeconómica e relevante interesse ao nível da criação de emprego. 2.3. Problemas de gestão e funcionamento das organizações do 3º Sector Acabamos de apresentar alguns elementos que mostram a importância do 3º Sector. Contudo, como veremos em seguida, estamos perante organizações com problemas de gestão e de funcionamento interno, o que reduz a sua eficiência e a prestação de serviços de qualidade. Situação que no futuro, em cenários de maior competitividade, pode colocar em causa a sobrevivência de muitas destas organizações. Algumas das vantagens comparativas das organizações do 3º Sector não podem ser assumidas como garantidas (ECOTEC: 2001: 67). Talvez o facto de muitas destas organizações funcionarem em mercados relativamente cativos, isto é, onde a concorrência é baixa, explique a menor prioridade que tem sido atribuída à melhoria do seu funcionamento e dos produtos e serviços que oferecem. No âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia (EU), em 2000, foi organizado o Seminário6 sobre “Desenvolvimento Local, Cidadania e Economia Social”. Nas reflexões que lhe serviram de base, no 10º ponto, podem ler-se alguns elementos sobre a necessidade de qualificação destas organizações: − “Fixar competências técnicas e de gestão das instituições. A capacidade de competitividade das organizações da economia social assenta num perfil de 6 Presidência Portuguesa da UE (Trabalho e Assuntos Sociais), “Reflexões de Base e Actuações Recomendáveis”, Seminário Desenvolvimento Local, Cidadania e Economia Social, Santa Maria da Feira, 06-07/04/2000. 15 factores em que avultam a capacidade relacional de resposta próxima a necessidades sociais objectivas, o aproveitamento e a valorização de património e recursos locais, os modos de gestão dos recursos, as modalidades de partilha de riqueza e a mobilização de competências e de gestão.” − “A capacitação técnica e humana destas instituições pressupõe actuações convergentes em diferentes domínios da consultoria em gestão, à educação e formação profissional: • desenvolvimento de soluções de consultoria em gestão adequadas à natureza diversa das organizações de economia social de modo a criar condições de capacitação técnica indispensáveis à eficácia e eficiência nos processos de trabalho; • apoio a formas de competição/cooperação orientadas para a valorização de competências profissionais locais, para a formação de redes de interesses produtivos e comerciais e para a inovação e eficiência nos processos de trabalho; • apoio ao desenvolvimento de programas e acções de formação para activos que desenvolvem actividades no sector ou possam vir a se integrados profissionalmente; • apoio a programas de modernização e de melhoria/profissionalização dos métodos de gestão das organizações da economia social; • sensibilização na óptica de corrigir imagens de estigmatização social penalizadoras da difusão dos serviços e actividades das organizações da economia social.” Num texto elaborado por Álvaro Cidrais7, que exprime as reflexões de membros de organizações parceiras numa IC EQUAL, existem dois pontos de vista que vamos aqui destacar, um relativo à gestão das organizações e outro sobre a acumulação e 7 Este documento foi elaborado por Álvaro Cidrais a partir da reflexão conjunta realizada no dia 26 de Setembro em Albufeira, no workshop «conteúdos de formação». Reflecte algumas das aprendizagens efectuadas no âmbito do projecto Economia Social – Solidária, Qualificada, Inovadora – referência 2001/EQUAL/A2/EE/333 – dinamizado pela Associação de Profissionais de Solidariedade Social e não teria sido possível sem o extraordinário trabalho desenvolvido pela Parceria de Desenvolvimento. O texto é da exclusiva responsabilidade autor. 16 remuneração de capital (texto completo no Anexo 4). Refere o autor que para responder a um conjunto de necessidades no 3º Sector, o “Modelo de Gestão” é um dos grandes desafios que se coloca: − “Este, assentará, acima de tudo, num processo de formação na acção que promove a qualificação da competência e o desenvolvimento de um Conhecimento Operativo essencial ao nível dos dirigentes (gestão estratégica) e dos trabalhadores (gestão operacional) e de todo o leque de Recursos Humanos que, por modos voluntários ou de prestação de serviços, se integram nos processos de cada organização” (…) − “Acumulação e remuneração de capital corresponde a uma das maiores dificuldades dos actores da Economia Social. Todavia, tem sido mal situada. O que está em causa não é a existência de lucro ou fins lucrativos. O que se coloca é a necessidade de remunerar o capital e recuperar o investimento realizado pela integração de recursos (humanos, de conhecimento, financeiros, etc.) de modo a gerar mais valias que possam reverter em bens de serviço social para as populações e manter um sistema económico sustentável no longo prazo “(…) − “Na visão pragmática, gerar retornos e recuperar meios financeiros é o modo de desenvolver e tornar sustentáveis os projectos em que estamos envolvidos num contexto de independência perante o Estado ou fontes monopolistas de financiamento. Através de um processo de sustentabilidade económica baseada em múltiplas fontes de financiamento e numa lógica racional de investimento e risco será mais provável conseguir criar condições de provimento de serviços sociais para os mais pobres ou temporariamente carenciados”. As organizações do 3º Sector serão simultaneamente obrigadas a responder a novas necessidades, de optimizar os custos, de reforçar os seus fundos próprios e adaptar a organização e a sua dimensão. A estas necessidades encontra-se muitas vezes associada uma imagem de amadorismo e de paternalismo herdado do passado, que não corresponde 17 a uma imagem de prestação de serviços com qualidade (TSEP, 2001). Às organizações do 3º Sector colocam-se, assim, desafios sérios a que estas terão de dar resposta. A necessidade de qualificar as organizações e os profissionais do 3º Sector é algo sentido e debatido há já algum tempo, no seio da EU, no nosso país e nas próprias organizações do 3º Sector. A EQUAL, no quadro da Prioridade 2: Espírito Empresarial Medida: Qualificação das Organizações e dos Profissionais da Economia Social, constitui uma das respostas a esta preocupação. Em síntese, estamos a tratar de um sector com elevada importância ao nível socioeconómico e do emprego, mas cujas organizações apresentam problemas de gestão para os quais é necessário encontrar respostas. Esta secção permitiu-nos avaliar e confirmar da “pertinência” dos objectivos do projecto face ás necessidades das organizações do 3º Sector. Justificam-se assim, plenamente, as intervenções delineadas no quadro do Projecto C3, que visam contribuir para a elevação das qualificações, e melhor as competências das entidades e dos profissionais do 3º Sector, assunto que vamos tratar nos capítulos seguintes e que constituirá o problema central da avaliação aqui realizada. 3. O MODELO DE INTERVENÇÃO PME APLICADO AO 3º SECTOR 3.1. O Modelo de intervenção PME O modelo de intervenção a aplicar nas organizações formandas do Projecto C3 baseou-se na implementação do Modelo de Formação PME, que foi aplicado, sem alterações substanciais, às organizações do 3º Sector. Importa pois, antes de mais, fazer uma breve descrição deste modelo de formação que se encontra representado na Figura 2. Para a apresentação sintética do Modelo PME vamos seguir de perto um documento publicado pela AEP em 2002, no âmbito do Programa Formação PME, intitulado “Modelo de Intervenção do Programa PME”. O programa parte da constatação de que o modelo de formação dominante adaptado da lógica escolar, está muito afastado das necessidades das PME, pelo que procura desenvolver uma metodologia de intervenção sustentada em práticas pedagógicas adaptadas às condições organizacionais das pequenas empresas. 18 O modelo apresenta três fases principais de intervenção: 1) Diagnóstico (Árvore de Problemas, Análise sectorial e Análise PIM; 2) Plano de Desenvolvimento (Quadro de Medidas; Quadro por Actividades; Matriz de Planeamento por objectivos); 3) Implementação de Medidas (Intervenção dos Consultores e Formadores). Contrato para o Desenvolvimento DIAGNÓSTICO PLANO DE DESENVOLVIMENTO ÁRVORE DE PROBLEMAS ANÁLISE SECTORIAL ANÁLISE PMI QUADRO DE MEDIDAS QUADRO DE ACTIVIDADE POR MEDIDA MATRIZ DE PLANEAMENTO DE PROJECTOS IMPLEMENTAÇÃO Intervenção de: Consultores de Ligação; Consultores Especialistas; Formadores Consultoria Pura; Consultoria Formativa; Formação de Activos; Formação de Dirigentes; Projecto Organização; Projecto Organização Aberta Relatório Final Figura 2. Fases do Modelo de Formação PME Diagnóstico Concluído o recrutamento, pré-selecção e selecção das organizações, procede-se à assinatura do “Contrato para o Desenvolvimento”, e consequentemente dá-se início à fase de Diagnóstico. Este contrato visa formalizar e responsabilizar as partes (promotores e dirigentes das organizações) na execução do programa. 19 Árvore de Problemas – componente da aplicação da Metodologia de Planeamento de Projectos por objectivos e pretende ser um diagnóstico do funcionamento da organização. 1- Diagnóstico Análise Sectorial – é um enquadramento da Organização relativamente a factores característicos da sua envolvente (clientes/utentes, fornecedores, mercado, questões legais, ambientais, etc.) Análise PMI – é feita através da categorização dos factores organizacionais: Aspectos Positivos; aspectos Menos positivos; aspectos Interessantes / Desafios. No âmbito do Diagnóstico, faz-se o levantamento de problemas da Organização e caracterização do sector através de reuniões gerais, seguidas de entrevistas individuais aos dirigentes e colaboradores. Com base nesta informação constrói-se a árvore de problemas. Para isto é necessário executar dois Procedimentos: − Levantamento de problemas; − Estabelecimento das relações de causalidade entre os problemas. Para a construção da árvore de problemas os critérios metodológicos são os seguintes: − As situações problemáticas têm que ser concretas, têm que parecer reais, isto é, não podem estar relacionadas com juízos de valor ou suposições; − As situações problemáticas têm que ser sustentadas, o ideal é que existam dados, estatísticas, taxas que confirmem a sua sustentabilidade; − As situações problemáticas deverão ser formuladas na negativa; − As situações problemáticas deverão ser formuladas de forma sintética. Plano de Desenvolvimento Depois de concluído o diagnóstico, prepara-se o Plano de Desenvolvimento, que compreende um conjunto de acções de orientação e aconselhamento da organização, em especial dos dirigentes e colabores, com vista a estruturar as soluções mais apropriadas às recomendações resultantes do processo de diagnóstico. 20 O Plano de Desenvolvimento compreende, nomeadamente, a elaboração do Quadro de Medidas, graduadas em curto, médio e longo prazo e orientadas para a resolução dos problemas terminais. As medidas de curto prazo dão origem ao Quadro de Actividades, ou seja, acções concretas no âmbito da Consultoria Formativa e Formação Profissional. O Diagnóstico mais o Plano de Desenvolvimento não devem ultrapassar 35% do tempo total de duração do plano. Implementação A Consultoria Formativa (CF) orienta-se para o apoio à resolução de problemas e para a dinamização da Organização, nomeadamente de actividades de envolvimento e participação dos dirigentes e colaboradores, numa perspectiva de desenvolvimento organizacional contínuo. A Formação Profissional tem como objectivo colmatar os défices diagnosticados, em concordância com as partes. Para que a intervenção tenha sucesso é necessário haver um interlocutor permanente entre a organização e os promotores da intervenção, o consultor de ligação. Esta pessoa é responsável pelo diagnóstico e pelo plano de intervenção ainda que recorra a especialistas. O consultor de ligação deve ter competências básicas: competência técnica, saber metodológico, relacional e comportamental. O consultor especialista tem uma intervenção mais específica em determinado assunto. A experiência PME evidencia que os consultores tendem a privilegiar as fases 1 e 2 de intervenção, enquanto os empresários privilegiam a fase 3, a da implementação de medidas. Os empresários estão sobretudo interessados nas acções, que lhes podem, de alguma forma, melhorar os resultados da intervenção. 3.2. A metodologia seguida para selecção das organizações e implementação do Projecto C3 O modelo de intervenção C3, resulta da adaptação do modelo de Formação PME aplicado às organizações do 3º Sector. O modelo Formação PME já foi descrito acima pelo que, em seguida, vamos apenas descrever de forma sintética o processo de implementação das intervenções nas organizações formandas. A metodologia de intervenção C3 encontra-se descrita de forma detalhada num dos produtos deste projecto 21 intitulado “Modelo de Intervenção C3” e a sua aplicação prática está descrita noutro produto, designado “Estudos de caso”. Relativamente às questões colocadas pela adequação do modelo ao 3º Sector, deixamos esta discussão para a secção seis, onde se procura explicar os resultados alcançados pelo projecto. O projecto C3 iniciou-se pela Acção 1, onde se fez um diagnóstico às organizações do 3º Sector na Região Centro, e do qual resultou um relatório apresentado pelo IEBA em Março de 2002 com o titulo “Resultados do diagnóstico de Necessidades”. Este relatório pode ser dividido em duas partes principais. Na primeira parte começa-se por apresentar o conceito de 3º Sector e definir os sectores de actuação, excluindo-se as organizações orientadas para as actividades internacionais. Define-se a área geográfica de actuação (Região Centro) e faz-se uma breve caracterização sócio-económica. Apresentase ainda a metodologia seguida para a selecção da amostra, num universo de cerca de 500 organizações. Na segunda parte apresentam-se os resultados de um inquérito enviado por correio para 607 organizações, ao qual responderam 106. Ao número de respostas obtido corresponde uma taxa próxima do habitual neste tipo de situação (15%). Alguns dos problemas então referidos não estiveram tanto no número de inquéritos, mas sim na representatividade das respostas obtidas e no elevado número de “não-respostas”. Os resultados sugerem que as Associações de Desenvolvimento Local (ADL) estão sobrerepresentadas (20%) no total das organizações do 3º Sector na Região Centro. Um olhar à distância sobre esta acção leva-nos a pensar que se deveria ter encurtado a sua duração e ter-se iniciado desde logo os contactos com as organizações formandas. Após a conclusão do diagnóstico e concepção e planeamento do projecto e montagem da parceria, passou-se para a Acção 2, etapa de desenvolvimento e avaliação do projecto. Isto é, a etapa de implementação do projecto nas seis organizações formandas. O processo de selecção destas organizações foi desenvolvido em 4 fases8: 1. recrutamento de organizações: divulgação do projecto e convite à participação, mediante manifestação de interesse; foi enviado uma carta convite para 178 organizações do 3º Sector da região centro; 2. pré-selecção: escolha intermédia de 18 organizações entre o conjunto das que manifestaram o seu interesse em participar no projecto; 8 A descrição da metodologia de implementação do C3 segue de muito perto o texto de um dos produtos do projecto C3 – Modelo de Intervenção C3, elaborado pela AEP, parceira do projecto. 22 3. pré-diagnóstico: reunião-visita às 18 organizações entre o conjunto das que manifestaram interesse em participar no projecto; 4. selecção; escolha das seis organizações formandas, com base nos prédiagnósticos Na fase de recrutamento das organizações foi enviado uma carta convite para 178 organizações do 3º Sector da Região Centro. Como resultado do processo de recrutamento foram recepcionadas 22 respostas com manifestação de interesse. A fase de pré-seleccão tinha por objectivo, a partir das manifestações de interesse, pré-seleccionar 18 organizações que mais se aproximassem da caracterização pretendida. As variáveis consideradas nesta fase para caracterizar as organizações foram: − Concelho de localização; − Forma jurídica da entidade; − Nº de postos de trabalho; − Utentes/clientes/beneficiários; e − Áreas de actuação. A fase seguinte consistiu na selecção de um conjunto de 6 organizações das 18 previamente escolhidas. A escolha foi feita em reunião conjunta dos parceiros e de acordo com as seguintes variáveis: localização geográfica; dimensão; antiguidade; problemas enunciados; projectos; histórico; disponibilidade/compromisso dos dirigentes na implementação do projecto; representatividade de um determinado tipo de organização; perfil dos dirigentes; capacidade financeira; áreas de actuação das organizações. As escolhas recaíram sobre duas Associações de Desenvolvimento Local (ADRL e ADIBER), uma Misericórdia com actividades de apoio a idosos e crianças (SCMM), uma IPSS com actividades de formação, emprego protegido e unidade de vida protegida (ARSDOP); uma associação ligada ao ambiente (Vertigem); e, por último, uma organização com actividades de desporto, recreio e lazer (CNM). Mais abaixo, na terceira secção, faz-se uma breve caracterização de cada uma destas organizações. 23 Após a selecção das organizações promoveu-se uma reunião com todos os seus representantes, para se apresentar o projecto aos parceiros e às organizações formandas e proceder-se à assinatura do contrato de desenvolvimento. Este contrato formaliza as responsabilidades de cada uma das partes na aplicação do modelo de intervenção. Mais tarde procedeu-se a uma visita à organização e realização de uma reunião geral, para se apresentar a todos os membros da organização a intervenção que estava prevista, esclarecer dúvidas e estabelecer compromissos entre ambas as partes. Foi solicitado a cada uma das organizações que indicasse um membro (facilitador) que passaria a ser o interlocutor da organização para a execução do projecto. Em síntese, a metodologia seguida para a escolha das organizações formandas pareceu-nos adequada, tendo em conta os objectivos do projecto e a necessidade de, no terreno, operacionalizar o trabalho de implementação da metodologia. As organizações seleccionadas para a intervenção, pela sua diversidade, como veremos mais abaixo, são representativas de um conjunto diverso de organizações e de problemáticas que encontramos no 3º Sector. 4. ACTIVIDADES DO PROJECTO C3 E CARACTERIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES FORMANDAS Acima descrevemos a metodologia e os critérios seguidos para a selecção das seis organizações onde se aplicou o modelo de intervenção C3. Neste ponto vamos apresentar as organizações, recorrendo à informação produzida pelo projecto e à informação por nós recolhida aquando das visitas às organizações. 4.1. Actividades a realizar No Quadro 3 apresentam-se as actividades previstas realizar no âmbito do Projecto C3. Como se constata, a maioria das actividades foram concluídas, pelo que se pode dizer que a taxa de execução física9 do projecto é bastante elevada. Contudo, há que reconhecer que a realização das últimas actividades só foi possível com o adiamento, do final do projecto e, mesmo assim, algumas delas não se fizeram com a profundidade que 9 A taxa de execução física é definida no inquérito de AUTO AVALIAÇÃO EQUAL como: (Nº Actividades Concluídas sobre o Nº Actividades Prevista no Projectos) vezes 100. 24 seria desejável, designadamente ao nível da elaboração de produtos, como o previsto guia de auto-aprendizagem, ou elementos para uma estratégia do 3º Sector. Quadro 3. Actividades previstas e realizadas no projecto C3 Actividades Previstas Nº de Actividades Realizadas Em Execução Concluídas Avaliação Face ao Esperado 〈=〉 1. Plano Estratégico de Actuação dos Participantes » Adaptação da Metodologia PME ao 3º Sector = » Criação da versão inicial do Modelo de Intervenção C3 = » Recrutamento das organizações formandas = » Pré-Diagnóstico de 18 organizações = » Selecção/Integração de 6 organizações = 2. Implementação das Medidas » Diagnóstico participado dos problemas organizacionais das 6 organizações = » Definição do Plano de Desenvolvimento = » Elaboração do quadro de medidas = » Execução das medidas de curto prazo = » Revisão do Plano = 3. Estratégia para o 3º Sector » Compilação/registo de práticas - 4. Elaboração/Validação dos Produtos » Modelo C3 = » Materiais para (auto)aplicação = » Estudos de caso = A implementação de actividades junto das seis organizações, como foi o caso, acarreta dificuldades e imponderáveis de vária ordem por parte das organizações o que, por vezes, entravou a actuação da equipa do projecto. A caracterização das organizações, ainda que breve, é essencial para se perceber os resultados da intervenção. 25 4.2. Breve caracterização das organizações formandas Antes de avançarmos para a implementação da metodologia C3 é tempo de fazer uma breve caracterização das organizações formandas10 (ver Quadro 4). As seis organizações onde se implementou o modelo C3 são muito diferenciadas, quer quanto aos estatutos, à dimensão do quadro de trabalhadores, capacidade financeira, tipo de estrutura organizacional, áreas de intervenção, contexto sócio-económico onde se inserem, públicos a que se dirigem, grau de dinamismo e de inovação interno, recurso a voluntariado. Neste conjunto temos duas organizações com mais de 50 anos de actividade (SCMM e CNM), tendo as restantes surgido na década de 90. Quanto aos recursos humanos, a variação é também elevada, detendo três (ARSDOP, SCMM e CNM) um maior número de funcionários e colaboradores, com destaque para a primeira com cerca de 50 funcionários. As duas ADL apresentam uma média de 10 funcionários. A Vertigem surge como um caso aparte, com apenas um funcionário efectivo e elevado recurso ao voluntariado (que inclui técnicos com elevada nível de formação) para a execução dos seus projectos. Quanto às actividades, é de evidenciar a SCMM e o CNM, que prestam serviços, com continuidade no tempo, e pelos quais são remunerados pelos utentes/clientes ou pelo Estado através de contratos de prestação de serviços. As ADL financiam-se sobretudo através de projectos vários, com descontinuidades, sendo aqui o pagamento de serviços pelos clientes de peso muito menor. Como se verificou, estamos perante seis organizações muito distintas entre si, o que reflecte bem a heterogeneidade encontrada no 3º Sector e referido na secção 2. Perante esta diversidade, será legítimo perguntar em que medida a metodologia de intervenção se adapta, ou não, a todas organizações. Mas esse é um assunto que tratamos na secção 7. 10 Nos estudos de caso apresentados como um dos produtos do Projecto C3 (ver site: www. C3.com.pt) apresenta-se de forma mais detalhada a caracterização de cada uma das organizações formandas. 26 Quadro 4. Caracterização das organizações formandas ARSDOP SCMM CNM ADIBER ADRL Vertigem Ano início da actividade 1990 1948 1951 1994 1993 1997 Recursos humanos 33 colaboradores 47 funcionários 40 colaboradores e 15 funcionários 9 funcionários 11 Funcionários 1 funcionário; 70 voluntários Àreas de actividade Centro de formação profissional; Centro de emprego protegido; unidades de vida protegida. Lar para idosos, Centro Desporto; Recreio; Cultura, dia; Serviços de apoio Social. domiciliário; Actividades de Tempos Livres. Formação; Apoio técnico a produtores; promoção da região e valorização das potencialidades. Promoção de iniciativas Protecção ambiental e DL, formação patrimonial. profissional, apoio técnico a agricultores, certificação de produtos de qualidade. Objectivos Desinstitucionalizar e reabilitar sócioprofissionalmente doentes psiquiátricos de evolução lenta. Apoio social a idosos crianças, às famílias e outros grupos desfavorecidos. Promoção de actividades de Qualificação dos recursos lazer e recreio, cultura, apoio humanos através de acções social. de formação. Valorização dos recursos endógenos. Promoção do DL através da dinamização de iniciativas nas áreas dos recursos humanos turismo património e apoio a actividades produtivas. Alguns projectos/actividades em curso Programa constelação para formação profissional: áreas de formação cozinha, jardinagem, limpeza, construção civil, hortofluricultura, informática e artes gráficas: O Centro de emprego protegido enquadra 18 trabalhadores em 4 áreas: jardinagem, limpeza, hortofloricultura e pecuária. Serviço de apoio domiciliário a idosos Lar para idosos; Centro dia; Serviços de apoio domiciliário; Centro de apoio a dependentes; centro de actividades de Tempos Livres; realização de acções de formação para pessoal interno e externo. Desporto:Karaté; Formação no âmbito dos Judo;pesca;natação;ginastica; programas oficinas; apoio escolas de futebol; Recreio: técnico a produtores; Damas; Xadrez; cartas; elaboração de processo para Cultura: Escola de dança e IGP; Integração de jovens de música, Centro de desempregados; promoção divulgação de TI; Encontros de eco-brigadas; promoção internacionais Jazz. turística; restauro de património: ludoteca itinerante. Certificação e controle da Rede de recreio minas do vitela de Lafões; Duas Braçal: Atlas das árvores de equipas de sapadores Leiria: Programas de florestais; Apoio técnico a ocupação de tempos livres; agricultores; formação intercâmbios internacionais profissional; Promoção e juvenis; passeios pedestres e animação da região; de BTT. projectos de DL; Recuperação e valorização do património rural, da paisagem, e dos núcleos populacionais. Desenvolver eventos para promoção e defesa do património arquitectónico cultural e natural; intercâmbio juvenil. 27 5. DIAGNÓSTICO E ELABORAÇÃO DA ÁRVORE DE PROBLEMAS Após a selecção das organizações, de acordo com a metodologia referida no ponto 3.2., estabeleceram-se alguns contactos prévios e iniciou-se o trabalho de diagnóstico e elaboração da árvore de problemas de cada uma delas. 5.1. Diagnóstico participado e árvore de problemas O diagnóstico é uma das fases essenciais da intervenção do modelo C3 e deve, por essa razão, merecer uma atenção especial. De acordo com a metodologia deste modelo, o diagnóstico das organizações é iniciado com contactos prévios com a direcção da organização, seguido por uma reunião geral a explicar os objectivos e o processo da intervenção. Mais tarde houve uma fase de auscultação dos membros da organização, através de entrevistas individuais realizadas por uma equipa do IEBA/AEP em que se procurou que estes identificassem os problemas da organização. Como se pode ver no Quadro 4, na fase de diagnóstico foram entrevistados grande parte dos membros das organizações (121), com um número variável entre 3 (Vertigem) e 40 (SCMM). Esta grande variação do número de entrevistados está, sobretudo, relacionada com a dimensão das organizações. Como se viu acima, a Vertigem, para além da direcção, tem apenas um funcionário a tempo pleno, sendo os restantes colaboradores voluntários. Já a SCMM apresenta um elevado número de funcionários e de utentes. O elevado número de mulheres entrevistadas (70%) espelha a situação dominante do emprego feminino neste tipo de organizações. Quadro 5. Número de pessoas entrevistadas por organização Nº Entrevistados/as ADIBER ADRL ARSDOP CNM SCMM Vertigem Total H 7 9 4 10 5 2 37 30% M 11 9 16 12 35 1 84 70% Total 18 18 20 22 40 3 121 100% A fase de diagnóstico é essencial, não só para a identificação dos problemas, mas também pela dinâmica de mudança que pode gerar ao nível da organização. A participação dos dirigentes foi variável, bem como o nível de participação dos 28 colaboradores de cada uma das organizações. O diagnóstico revelou que há, em muitas destas organizações, um défice de auscultação e de participação activa dos seus membros ou utentes da organização. Muitos destes nunca foram ouvidos, seja para a identificação de problemas, seja para a sua resolução e viram neste processo uma oportunidade única de serem ouvidos. A filosofia da intervenção, ao procurar ouvir os membros da organização, assenta na ideia que cada um dos membros da organização, independentemente da sua categoria e funções que desempenha, poderá ter alguma coisa a dizer que contribua para o melhor funcionamento da organização. As entrevistas aos vários membros permitiram identificar um conjunto vasto de problemas em cada organização, variável entre 10 (Vertigem) e 19 (CNM). A partir da listagem de problemas foi construída, pelos parceiros IEBA/AEP, a árvore de problemas de cada uma das organizações (ver exemplos no Anexo 5). Na construção da árvore de problemas procura-se estabelecer relações de causalidade entre problemas, de forma a que aqueles que estão na parte superior resultem directamente dos que estão imediatamente abaixo. Resolvendo os problemas abaixo poderemos esperar um efeito na resolução dos que estão imediatamente acima. Os problemas inventariados nas organizações são muito diversos e traduzem-se, por exemplo, na falta de manual de procedimentos e regulamento interno, deficiente articulação entre serviços, reduzida competência por parte dos seus membros em determinadas áreas. Ainda que muitos dos problemas inventariados nas organizações sejam transversais, isto é, inter-relacionados entre si, para facilitar a análise agregámo-los em sete categorias: − Liderança. Os membros da direcção desenvolvem actividades profissionais que os impedem de dedicar o tempo suficiente à organização, onde não são remunerados pelas suas actividades. Daqui resultam vários problemas: falta de autoridade/reconhecimento dos técnicos com responsabilidade de execução e coordenação; dificuldade em se tomar decisões atempadas. − Gestão de recursos humanos. Este é um dos problemas maiores das organizações e observa-se de formas variadas: conflitos interpessoais, rotação de recursos humanos, ausência de indicadores de desempenho, dualidades de 29 critérios, baixas remunerações; vários destes problemas resultam de défices de competências; − Gestão financeira. São vários os problemas aqui identificados e que resultam do défice de competências do pessoal nesta área, designadamente conciliação bancária, controle de caixa, dificuldades em implementar contabilidade analítica, falta de gestão operacional; − Financiamento das organizações. A elevada dependência dos dinheiros públicos; a baixa prestação de serviços para o exterior por parte de algumas destas organizações, com algumas a terem quebras de tesouraria; falta de autonomia financeira e estratégica; − Ausência de plano estratégico. Muitas destas organizações não têm muito bem definidos os seus objectivos e a estratégia para os alcançar, faltam atitudes pró-activas; a falta de liderança e de autonomia financeira não ajudam à definição de planos estratégicos; − Comunicação interna e externa. A comunicação interna apresenta muitas lacunas. Falta material publicitário e de divulgação das actividades no exterior, ausência de sítio na internet. Deste problema derivam outros, como imagem mal definida, baixa notoriedade; − Equipamentos e instalações. Deficiências resultantes da exiguidade de espaço, ou falta de condições, mas cuja resolução depende de medidas que ultrapassam o quadro de actuação do C3. Em síntese, o diagnóstico das organizações mostra que se confirmam muitos dos problemas que estiveram na base da intervenção do projecto C3 e das necessidades de intervenção referidas por outros autores e apresentado no ponto 2.2. Neste conjunto de problemas das organizações merecem destaque as questões da liderança, a gestão de recursos humanos e o financiamento e a gestão financeira. 30 5.2. Perspectiva dos responsáveis das organizações face à árvore de problemas No final do projecto, procurámos saber junto dos responsáveis das organizações se a árvore de problemas definida inicialmente, retratava bem, ou não, os problemas da organização. Além disso, houve também a preocupação de procurar identificar novos problemas que entretanto possam ter emergido e para os quais poderão ser necessárias novas medidas. O Quadro 5 sintetiza as posições apresentadas pelos entrevistados para cada uma das organizações. Com excepção de uma ou outra discordância, houve uma identificação e reconhecimento pleno dos problemas inventariados. Situação que era a mais expectável, já que os problemas inventariados foram identificados pelos membros da organização. Ainda que se possa admitir que nem todos os membros da organização dêem o mesmo grau de importância a determinado problema. Quadro 6. Posição dos responsáveis sobre à árvore de problemas, no fim do projecto Organização Posição dos Entrevistados ARSDOP Bem definida VERTIGEM Discordância com problemas identificados ADIBER Bem elaborada. Faltou referir fraqueza de vínculo e remuneração dos trabalhadores CNM Situação bem retratada SCMM Recusa da árvore de problemas inicial ADRL Situação bem retratada Para os representantes da ARSDOP, a árvore de problemas então definida continua a retratar bem a situação da organização. Na opinião da dirigente confirmaramse algumas preocupações sentidas e sistematizaram-se bem os problemas. Reconhece também que o facto dos problemas terem sido identificados de forma bastante participada deu à direcção uma legitimidade acrescida para a sua resolução. O Presidente da Vertigem identificou-se com a maioria dos problemas inventariados. Manifestou, contudo, alguma discordância em relação à identificação de uma atitude passiva na organização. Para este responsável a organização tem tido uma atitude activa na busca de novos projectos, atendendo ao quadro de condicionalismos em que funciona. O elemento da ADIBER concorda com os problemas inventariados e acrescenta dois que considera em falta: a fraqueza do vínculo laboral ao posto de trabalho e a falta 31 de critérios para a remuneração dos trabalhadores. Para além disto, fez um comentário crítico de natureza metodológica: ao se apresentar apenas problemas e dificuldades não se melhora a auto-estima das pessoas da organização. O membro entrevistado da direcção do CNM reconhece que os problemas inventariados eram reais, acrescentando que alguns deles foram resolvidos após a sua identificação, como a aquisição de materiais e equipamentos. Na SCMM a apresentação da árvore de problemas gerou um enorme mal-estar entre dirigente e consultores. Foram identificados alguns problemas que, na óptica do dirigente, não eram reais, ou tinham muito pouca expressão. Este assumiu os problemas referidos como um ataque pessoal à sua gestão, o que no seu caso poderia ter implicações negativas ao nível político. O dirigente da instituição chegou mesmo a questionar a seriedade do trabalho realizado pelos consultores. Após um processo de discussão foi elaborado uma segunda versão de árvore de problemas, que acabou por ser aceite pela direcção. Tal permitiu avançar para a fase seguinte de proposição de medidas, as quais incidem, neste caso, sobre necessidades formativas do pessoal da instituição. A direcção da ADRL concordou com o diagnóstico então realizado. Aquando do diagnóstico havia um conflito latente entre membros da direcção, que se resolveu com a saída de um deles. A situação, evidentemente, reflectiu-se num certo acentuar de problemas da organização. Em síntese, o diagnóstico e a árvore de problemas, elaborados para cada uma das organizações no início da intervenção, é reconhecido pela maior parte dos dirigentes e facilitadores envolvidos neste processo como retratando com rigor e clareza os problemas com que as organizações se debatem. O que significa que o processo de diagnóstico se adequa bem a este tipo de organizações. Contudo, tal não impediu que nalgumas situações tenha havido alguns ajustamentos em relação às medidas a executar. 6. IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS Esta secção tem dois pontos principais. No primeiro, fazemos uma análise das medidas inicialmente propostas para a resolução dos problemas identificados aquando do diagnóstico. No segundo, analisamos as medidas que foram efectivamente implementadas e discutimos as razões que estiveram na base deste desvio. 32 6.1. Medidas previstas realizar Após a identificação dos problemas, a equipa de consultores do Projecto C3 (AEP e IEBA) procedeu à definição de um conjunto de medidas tendentes a resolver os mesmos. As medidas propostas foram apresentadas e discutidas em reunião geral em cada uma das organizações. Com este procedimento procurou-se, no essencial, adequar o mais possível as medidas à organização, legitimá-las publicamente e facilitar a sua posterior execução através do envolvimento e participação dos membros da organização na tomada de decisões. Atendendo aos inúmeros problemas atrás identificado, seria de esperar um quadro de medidas também diverso. O quadro de medidas para cada uma das organizações é distinto, muito embora existam medidas comuns. A leitura do Quadro 6 mostra um número elevado de medias (34) para o conjunto das seis organizações. Há um conjunto de cerca de 1/3 das medidas que se aplicam, simultaneamente, em três ou mais organizações. Temos depois um número elevado de outras medidas que só se aplicam em cada uma das organizações, o que evidencia que nesta abordagem cada organização é um caso. As áreas de intervenção comuns a várias organizações são os planos de marketing e comunicação, a definição de planos estratégicos, a elaboração de manuais de procedimentos para regular o funcionamento interno, a construção de uma página Web. Algumas destas organizações reconhecem que o projecto veio acelerar a concretização de iniciativas já previstas. Outras iniciaram a resolução de problemas logo após a apresentação da árvore de problemas, em particular daqueles cuja solução estaria facilmente ao seu alcance. Foi o caso, por exemplo, do CNM, que adquiriu novo mobiliário e elementos para a identificação dos seus atletas. 33 SCM ADIBER CNM ARSDOOP ADRL Descrição das medidas Vertigem Quadro 7. Apresentação das medidas propostas por organização 1 CF. Elaborar plano de marketing e comunicação 2 CF. Gestão estratégica 3 Formação em gestão associativa 4 CF. Sistema de avaliação e desempenho 5 CF. Elaborar manual de procedimentos 6 Sistema de informação e comunicação interna 7 CF. Elaborar plano de gestão financeira 8 Formação em gestão orçamental 9 CF. Implementação de contabilidade analítica 10 CF. Política salarial 11 Formação em HSST CF. Reorganizar métodos de planeamento e gestão dos 12 campos de trabalho 13 CF. Traduzir página de internet p/Inglês 14 Formação em relações interpessoais 15 Formação em fiscalidade 16 Promoção de espaços de interlocução 17 Definir escala de acompanhamento dos utentes 18 CF. Elaborar folhas de cálculo 19 CF. Levantamento de necessidades de SI 20 CF. Elaborar plano de frotas 21 Formação utilização software 22 CF. Apoio jurídico 23 Reestruturar espaço físico CF. Levantamento de necessidades de equipamento e 24 móveis 25 Definição de plano para serviço limpeza 26 Formação em gestão de equipas 27 Formação em desenvolvimento local 28 Formação em gestão de projectos 29 CF. Levantamento de necessidades climatização 30 Elaborar mapas de validade dos produtos 31 Reestruturar instalações 32 Formação em gestão de recursos humanos 33 CF. Nutricionismo 34 Levantamento de necessidades de F. específica 34 Na fase de implementação das medidas o envolvimento e apoio explícito dos órgãos directivos foi, como veremos abaixo, essencial para o sucesso da intervenção. 6.2. Medidas executadas versus medidas por executar No Quadro 7 apresentamos uma síntese do número de medidas implementadas por organização, de acordo com o tipo de formação. O número médio de medidas executas por organização é de cerca de 9, variando entre um mínimo de 6 na Vertigem e um máximo de 15 na ARSDOP. Como se pode ver neste quadro, temos um elevado número de medidas (77%) que foi implementado através de consultoria formativa (CF), o que, de acordo com o Quadro 8, representa 93% das horas totais de formação. Quadro 8. Número de medidas a realizar por organização Nº Medidas ADIBER ADRL ARSDOP CNM SCMM Vertigem Total Consultoria Formativa 6 6 11 8 7 5 43 Formação 3 3 4 2 0 1 13 Total 9 9 15 10 7 6 56 Quadro 9. Número de horas por tipo de acção realizado por organização Nº Medidas Consultoria Formativa Formação Total ADIBER ADRL ARSDOP CNM SCMM Vertigem Total (h) 129 175 289 213 267 189 1262 (93%) 24 16 16 26 0 8 90 (7%) 153 191 305 239 267 197 1352 No Quadro 6, acima, apresentámos as medidas propostas para a resolução dos problemas de cada organização. No Quadro 9 apenas apresentamos as medidas que, pelas mais variadas razões, não foram executadas. Para a construção deste quadro confrontamos, por entrevista, cada um dos responsáveis da organização com o quadro de medidas inicialmente proposto e assinalamos os desvios. A ARSDOP foi a organização com maior número de medidas previstas (15) e igual número de medidas executadas. Foi, claramente, a que mais beneficiou da intervenção proposta. Na verdade, todas as medidas foram executadas, ainda que algumas delas com alterações e adaptações. Por exemplo, a medida sobre gestão financeira teve de ser alterada para um trabalho de base de reorganização da contabilidade (Quadro 9). 35 Quadro 10. Medidas previstas e não aplicadas nas organizações Organização Medidas não Aplicadas ARSDOP • Nenhuma VERTIGEM • Gestão estratégica • Contabilidade analítica ADIBER • Formação em gestão de equipas • Gestão estratégica • Plano de comunicação (logo) • Climatização do edifício CNM • Utilização do software contabilidade • Plano de frota • Plano de comunicação interna • Espaço físico SCMM • Gestão orçamental • Reestruturação das instalações • Página Web ADRL • Plano de marketing e comunicação • Gestão estratégica • Política salarial • Plano de gestão contabilística • Formação sobre relações interpessoais Para a Vertigem foi elaborado um quadro de seis medidas/actividades, das quais foram realizadas quatro. O plano de marketing e comunicação surgia como a medida mais importante. Uma das medidas não realizada foi o plano estratégico, por falta de interesse da parte do director. Este refere que, dadas as características da sua organização, com elevado recurso ao voluntariado, há alguma dificuldade em elaborar planos que requeiram a identificação de meios humanos e recursos financeiros. Outra das medidas prevista na área financeira acabou por não se realizar, por ter sido concretizada antes da implementação das medidas do Projecto C3. Na ADIBER estavam previstas nove medidas, das quais se realizaram cinco, duas relacionadas com acções de formação e as outras três com a elaboração de documentos para avaliação de desempenho, definição de mapas de validade dos produtos e manual de procedimentos. Quatro medidas não tiveram aplicação. Uma delas foi a formação em gestão de equipas por, alegadamente, não ter havido disponibilidade de tempo. Em relação à medida sobre gestão estratégica, as reuniões havidas entre o facilitador e consultor não foram conclusivas, não se chegando a um produto final. O facilitador reconhece que não é fácil a este tipo de organizações, que sobrevivem num contexto de 36 grande incerteza, definir um plano estratégico. A acção na área do plano de comunicação não se realizou, por se estar já a implementar actividades nesta área, designadamente a mudança de logótipo e de nome da organização. Quanto à medida para climatização do edifício, o projecto já existe, mas as dificuldades financeiras têm impedido a sua implementação. Para o CNM estava previsto a implementação de onze medidas, das quais se concretizaram sete. Neste conjunto duas tiveram uma importância particular, o plano de gestão orçamental e o apoio jurídico. As medidas que não se aplicaram no CNM foram basicamente quatro, por razões diversas. O plano de comunicação interna era uma acção que já estava em curso. A acção de formação prevista sobre o “software” Primavera deixou de ser necessário, por o contabilista contratado pelo CNM usar outro programa. O problema da limitação do espaço físico não encontra resposta a curto prazo e o levantamento de necessidades de equipamento era também uma medida que já estava em vias de solução aquando do diagnóstico. As medidas previstas para a SCMM eram oito. Deste conjunto foram implementadas cinco, muito orientadas para a resolução de problemas concretos. A medida sobre o plano de comunicação resultou na elaboração de documentos de trabalho interno. Três das medidas visaram a formação em gestão de recursos humanos, nutricionismo e higiene e segurança no trabalho. Houve duas medidas que não se implementaram (gestão orçamental e página WEB), por oposição clara da direcção. Em relação à primeira, parece ter havido um certo receio que terceiros acedessem a informação sobre as contas da organização. Quanto à página Web, não foi antevisto interesse neste tipo de inovação por parte dos dirigentes. A ADRL foi a organização onde foi mais visível a discrepância entre as medidas propostas e as executadas. Para um conjunto de dez medida previstas foram apenas executadas cinco. Destas, uma realizou-se parcialmente (plano de marketing e comunicação), duas foram de carácter formativo (gestão associativa, formação em higiene e segurança no trabalho), e nas outras duas produziram-se documentos para aplicação posterior: sistema de avaliação de desempenho e sistema de informação e comunicação interna. Em relação às medidas não executadas, as razões foram variadas, mas tiveram sobretudo a ver com falta de tempo dos membros da organização e, nalguns casos, menor interesse por parte da direcção e dos funcionários pelas medidas propostas. 37 No caso das acções ligadas com a gestão financeira, houve, claramente, desinteresse por parte do contabilista contratado. A medida de gestão estratégica não se realizou por a direcção a considerar de difícil concretização, atendendo ao contexto de incerteza (financeira, organizacional) em que organizações deste tipo funcionam. A formação prevista em relações interpessoais não se efectuou, por indisponibilidade de tempo. A medida ligada às instalações era uma das que, à partida, se sabia não ter solução no curto e médio prazo, por dificuldades financeiras. 6.3. Medidas com provável implementação a curto prazo Da implementação de medidas resultou a elaboração de vários produtos por parte dos consultores, que foram entregues às organizações. Trata-se, como se pode ver no Quadro 5, de manuais de procedimentos, regulamentos internos, páginas Web, planos de limpeza, carta de dietas, etc. A implementação destes produtos requer, nuns casos a legitimação por parte da direcção, noutros tempo para discussão interna. É o caso da implementação de um novo sistema de avaliação de desempenho, cuja aplicação irá alterar comportamentos e interesses instalados. É evidente que ainda é cedo para se poder saber concretamente se estas medidas vão ser implementadas. Contudo, a ajuizar do interesse mostrado por estes produtos, tudo indica que a maioria deles serão implementados a curto prazo. Quadro 11. Medidas com provável implementação a curto prazo nas organizações (Julho 2004) Organização Medida Observações ARSDOP Avaliação de desempenho Dossier de patrocínio Medida que irá mexer com interesses instalados Falta técnico para a sua aplicação VERTIGEM Brochura sobre a organização Encontra-se na gráfica ADIBER Manual de procedimentos Avaliação de desempenho Entregues à direcção mas ainda não implementadas CNM Plano de limpeza Há alguma resistência à sua implementação SCMM Avaliação de desempenho Requer tempo e discussão interna para ser aceite Para implementar a curto prazo Nova carta de dietas para idosos e crianças ADRL Manual de procedimentos Avaliação de desempenho Página Web A implementar brevemente 38 Em síntese, duas notas. A primeira, para realçar que a grande maioria das medidas previstas foi executada com sucesso. A segunda, para referir que no conjunto de medidas não aplicadas há uma - o plano estratégico - que não teve sucesso em nenhuma das três organizações onde se procurou implementar. O que levanta a questão de saber se não haverá aqui um problema que se estende a muitas das organizações deste sector. A execução das medidas é um indicador importante, mas, mais importante, é saber se foram alcançados os resultados esperados. Vejamos na secção seguinte o que se conseguiu. 7. RESULTADOS ALCANÇADOS E SUA EXPLICAÇÃO 7.1. Resultados alcançados O Projecto C3 visava intervir ao nível das organizações formandas do 3º Sector, procurando resolver os seus problemas, pelo que o seu sucesso mede-se sobretudo pelos resultados alcançados nestas unidades. Será que os problemas foram resolvidos? Se sim, em que medida? Quais as melhorias sentidas no funcionamento das organizações? São questões que procuraremos responder nesta secção, recorrendo para tal à opinião dos dirigentes e facilitadores sobre as medidas ou actividades implementadas e com resultados mais importantes, seja no imediato ou a curto prazo. Quadro 12. Medidas/actividades com resultados mais importantes para a organização Organização ARSDOP Resultados Mais Importantes Gestão financeira Gestão de recursos humanos - avaliação de desempenho Observações Resultados visíveis na melhoria da contabilidade VERTIGEM Documentação interna, Página Web Atribuição de responsabilidades a outros membros da direcção Formação sobre gestão de projectos Reflexão conjunta sobre a organização Maior abertura e envolvimento das pessoas Melhoria na gestão financeira. Apoio na área jurídica (minutas de contratos trabalho, notas de culpa) Uso de regulamentos Nova carta de ementas Higiene e segurança no trabalho e alteração dos horários das refeições Maior envolvimento dos funcionários e utentes. Resultados, para já, pouco visíveis Plano de acção ligado à Medida 8. Sistema de avaliação de desempenho Manual de procedimentos internos Página Web Resultados ainda por concretizar ADIBER CNM SCMM ADRL Maior parte dos resultados está ainda por observar Resultados mais concretos após a implementação dos manuais Várias medidas de efeito imediato Medidas a implementar posteriormente 39 As respostas sobre a importância das medidas são muito variáveis, podendo ser classificadas em três tipos: a) efeitos práticos imediatos (gestão financeira, página Web); b) natureza imaterial - formação, motivação, espírito de equipa; c) importantes, mas ainda por implementar (regulamentos internos e avaliação de recursos humanos). Para a ARSDOP a medida na área financeira teve um resultado imediato na organização, permitindo um acompanhamento actualizado da situação financeira. Outra das medidas em que se esperam resultados positivos, a curto prazo, é na área dos recursos humanos, com a elaboração do regulamento para avaliação do desempenho das pessoas, a ser aplicado no próximo ano. São instrumentos de grande importância para definir a progressão salarial com base em critérios de competências e produtividade. Com as acções na área da formação melhorou-se a qualificação das pessoas e esperam-se resultados positivos, designadamente na criação de espírito de equipa e sensibilização para problemas internos. Na Vertigem os resultados fizeram-se sentir sobretudo ao nível da melhoria da imagem da organização no exterior. Para isto irá contribuir a página Web, a brochura e outros documentos produzidos. Na ADIBER os resultados são sobretudo de natureza imaterial, sem grande visibilidade, e situam-se sobretudo na aquisição de competências através da formação. O CNM refere como resultados mais importantes a melhoria na área da gestão financeira e no apoio jurídico. Como consequência, qualquer acção prevista no quadro do CNM passou a ser orçamentada. A relação contratual entre a organização e as várias pessoas que prestam serviços obedecerá a determinadas regras. O plano de limpeza está ainda em implementação, mas esperam-se melhorias claras, designadamente nas instalações sanitárias. A intervenção na SCMM acabou por apresentar resultados acima daquilo que fariam supor as primeiras reuniões com a direcção. Houve melhorias concretas ao nível de pequenas coisas do dia-a-dia. Elaborou-se uma nova ementa para os idosos, alteraram- 40 se os horários das refeições de idosos, ouviu-se os utentes através de um inquérito e, a partir daí, mudaram-se várias coisas, designadamente as actividades para ocupação de idosos e o relacionamento com os pais das crianças do ATL. Deu-se formação na área do nutricionismo e higiene e segurança ao pessoal que trabalha nessa áreas. Na ADRL a acção de formação sobre o plano de acção ligado à Medida 8 do Agris é apontada como tendo algum impacte, ainda que ao nível do imaterial. Para além desta, referem ainda o elevado interesse do sistema de avaliação e desempenho e do manual de procedimentos, ambos a aplicar a curto prazo (próximo ano) na organização. Em suma, houve, ao nível de cada uma das organizações, variações quanto ao número de medidas executadas, bem como dos resultados alcançados. Contudo, verificou-se uma preocupação forte em executar as medidas previstas, o que foi conseguido, em termos gerais, com sucesso. 7.2. Medidas com maior impacte nas organizações Vejamos, no conjunto de medidas implementadas e consideradas mais importantes, aquelas que dirigentes e facilitadores consideram como tendo um maior impacte na sua organização. As respostas estão sintetizadas no Quadro 12. Na ARSDOP, a medida na área financeira foi classificada como a mais relevante, logo seguida pelas acções de formação, que foram muito “proveitosas” e apreciadas pelo pessoal da organização. Para a Vertigem, atendendo ao reduzido número de medidas implementadas, as mais importantes foram na área da imagem e marketing, onde se inclui a página Web e a construção de vários modelos de documentos (fax, ofícios). Na ADIBER, a medida mais apreciada foi a formação na área da gestão de projectos. Outras acções na área da formação não parecem ter tido a mesma importância. No CNM identificaram-se duas medidas como mais importantes, uma ligada à gestão financeira e outra aos aspectos jurídicos. São duas áreas de grande importância para a organização e onde havia fortes lacunas. A SCMM refere como mais relevantes as medidas relacionadas com a gestão dos recursos humanos, designadamente o regulamento para a avaliação de desempenho, as acções na área da higiene e segurança e nutricionismo. 41 Quadro 13. Medidas com maior impacte nas organizações Organização Medidas ARSDOP Área financeira /contabilidade Formação Gestão de recursos humanos VERTIGEM Imagem e marketing – folheto, página Web, Vários “templates” (ofícios, fax, envelopes…) ADIBER Acção sobre gestão de projectos CNM Gestão financeira Apoio jurídico (minutas de contrato trabalho, notas de culpa) SCMM Gestão de recursos humanos e avaliação de desempenho Formação de recursos humanos Nutricionismo Higiene e segurança no trabalho ADRL Execução de um plano de acção para a Medida 8 do Agris Para a ADRL, a medida apontada como mais importante foi uma acção de formação sobre gestão associativa, em que os formandos, a partir de um caso concreto, tiveram de elaborar um plano de acção para a Medida 8 do AGRIS. Em síntese, temos dois tipos de medidas com um impacte mais alargado: a consultoria formativa na área financeira e gestão dos recursos humanos; e as acções de formação em áreas diversas. 7.3. Os produtos do Projecto C3 Como corolário das actividades desenvolvidas neste conjunto de seis organizações, produziram-se três produtos, apresentados e validados em Dezembro de 2004, cuja consulta está disponível no site www.c3.com.pt, e que são os seguintes: − Modelo de Intervenção C3 (Recurso técnico-pedagógico); − Materiais para Auto-aplicação (Recurso técnico-pedagógicos); − Estudos de caso (Narrativas de Práticas Bem sucedidas). O primeiro produto refere-se a uma adaptação do modelo PME ao 3º Sector, apresentado de forma sintética acima na secção 3 e pode ser consultado no sítio do projecto, onde se encontra descrito de forma detalhada. O modelo C3 dirige-se preferencialmente a quadros superiores das organizações, consultores e formadores. O 42 modelo C3 visa o empowerment organizacional e pessoal e a promoção da competitividade das organizações. Este produto tem duas partes: uma relativa ao plano estratégico de actuação para os participantes onde consta a adaptação da metodologia PME ao 3º Sector e a criação do modelo de Intervenção C3; a outra sobre a implementação de medidas nas seis organizações. O segundo produto corresponde aos “Materiais para Auto-aplicação”. Inicialmente estava prevista a elaboração de um guia de boas práticas, mas tal produto mostrou-se não alcançável, optando-se então por disponibilizar com outra forma todos os materiais que resultaram das intervenções nas organizações. A disponibilidade destas matérias no sítio do projecto irá permitir um acesso fácil aos inúmeros documentos produzidos nas mais diversas áreas de actuação do projecto (Gestão; Comunicação; Segurança e Higiene; Área Jurídica; Desenvolvimento Local; Elaboração de projectos; Nutricionismo). Espera-se que estes instrumentos contribuam para a disseminação dos resultados do projecto e sirvam de orientação para as intervenções a efectuar em outras organizações. De qualquer forma, pela experiência adquiria, parece-nos que dificilmente os “Materiais para Auto-aplicação” poderão substituir na maioria das situações os consultores na sua aplicação. Como se verá mais abaixo, estes têm um papel importante na criação de uma cultura e dinâmica de mudança na organização. Por último, os “Estudos de caso” sintetizam toda a intervenção efectuada ao nível de uma dada organização, desde o enquadramento, ao diagnóstico, à elaboração de medidas e sua implementação. Estamos perante casos que ilustram a intervenção realizada e podem, nalgumas situações, servir de exemplo em futuras intervenções, respondendo à seguinte questão: “Como foi no concreto implementado o Modelo de Intervenção C3?”. Pensamos que a sua utilidade é elevada, pois aqui poderão encontrarse as medidas propostas e os materiais criados para responder aos problemas identificados nas organizações. 7.4. Como se explicam os resultados alcançados pelo Projecto C3 Os resultados positivos alcançados devem-se a três ordens de razões: 1) às características do modelo de intervenção C3; 2) à participação dos membros da 43 organização e ao apoio e envolvimento dos dirigentes na execução das medidas; 3) ao papel dos consultores/formadores. O modelo de intervenção C3 é, no essencial, adequado ao 3º Sector Várias das razões que explicam o sucesso da intervenção têm a ver com a metodologia de intervenção do C3, que se mostra adequada às organizações do 3º Sector. A metodologia aplicada é, no essencial, simples, muito centrada na organização, assente na identificação de problemas reais e na elaboração de medidas adequadas às necessidades de cada organização. A aplicação do modelo C3 ao 3º Sector fez-se sem alterações de fundo relativamente ao modelo de formação PME. A experiência de formação PME da AEP demonstra que as metodologias de intervenção mais complexas não são mais eficazes do que os programas de intervenção mais simples, como este. Na óptica dos consultores, os problemas das PME e das organizações do 3º Sector não são realidades completamente diferentes, há mais semelhanças do que diferenças entre as PME e as organizações do 3º Sector, ainda que estas tenham as suas especificidades próprias que não se podem negligenciar. Os princípios de boa gestão colocam-se com a mesma acuidade aos dois tipos de organizações. Os consultores entrevistados entendem que os objectivos das organizações podem ser diferentes (visar o lucro ou não) mas estas tem de ser profissionalizadas, de forma a remunerar os recursos (financeiro, humano, conhecimentos) e recuperar o investimento realizado, gerando mais-valias que se possam reverter em bens de serviço social para as populações e manter um sistema económico sustentável no longo prazo. Uma das principais razões que explica o sucesso da metodologia de intervenção prende-se com o facto desta responder a problemas concretos das organizações do 3º Sector. Os problemas inventariados através do diagnóstico e da árvore de problemas, foram legitimados sem grandes alterações pelos seus funcionários e dirigentes, pois respondiam a um conjunto vasto de problemas por estes sentidos e que necessitavam de soluções para melhorar a gestão. O interesse da metodologia empregue pelo Projecto C3, não se fica tanto a dever à novidade dos problemas inventariados, mas sim a três razões: 44 1) Visão exterior e imparcial é bastante apreciada pelos membros da organização. Nalguns casos esta visão exterior pode até legitimar a necessidade de intervenções por parte dos dirigentes e justificar a mudança; 2) Apresentação estruturada e hierarquizada dos problemas. Ajuda a sistematizar os problemas e confronta a organização, no seu todo, com os problemas e as medidas a adoptar; 3) Participação de dirigentes e trabalhadores das organizações. A filosofia participativa desta abordagem, designadamente o envolvimento de dirigentes e membros da organização, é um dos factores fortes que explica a adaptação do modelo e o sucesso desta abordagem. O facto dos problemas serem identificados de forma interactiva e participada, ouvindo-se todos os membros da organização, com uma reflexão conjunta, onde se validam as várias fases, contribuiu enormemente para o sucesso da implementação da intervenção. Ao contrário da consultoria clássica, em que o consultor analisa a empresa e apresenta soluções, que regra geral são a reprodução de soluções que funcionaram em outras empresas, a consultoria C3 constrói as soluções “à medida” de cada caso. A implementação das medidas não levantou, com algumas excepções, resistências internas visíveis. A abordagem participativa seguida em todo este processo, pelos consultores, desde o diagnóstico, discussão das medidas e sua implementação, contribuiu fortemente para a atenuação de prováveis resistências internas à mudança e criou, em simultâneo, um certa dinâmica de mudança, tão necessária à adopção e implementação das medidas. A participação dos líderes e membros da organização é essencial para o sucesso da intervenção Na fase de implementação das medidas o envolvimento e apoio explícito dos órgãos directivos é essencial para sucesso da acção. Pelo que nos foi possível apurar, o processo de implementação de medidas mereceu o apoio das direcções, que reconhecem que as organizações têm problemas e que são necessárias soluções. A participação dos dirigentes, como já fomos referindo ao longo deste trabalho, foi variável entre as organizações e ao longo do processo. O facto de quase todos eles serem voluntários e, por isso, terem outras profissões, é apresentado como a principal razão para a limitada 45 participação de alguns destes. Aliás, a experiência PME mostra que não se deve iniciar a intervenção sem o compromisso claro dos líderes (ou empresários) sobre o seu envolvimento e participação na implementação da intervenção. Na ARSDOP, a presidente da Direcção acompanhou e apoiou de perto a implementação de todo o projecto, mas delegou a sua execução na facilitadora, que teve aqui um papel crucial na implementação de medidas e no sucesso da intervenção. A Vertigem é, como vimos, uma organização muito peculiar, quer na sua estrutura descentralizada e baseada em trabalho voluntário, quer no seu funcionamento muito centrado no seu director, pessoa muito ocupada e com reduzida disponibilidade de tempo. Factores que não favoreceram a implementação de algumas medidas. A ADIBER foi a organização onde, provavelmente, a direcção se envolveu menos na implementação do projecto. Aqui o facilitador foi o responsável pela implementação das medidas na organização. Tudo indica que uma maior participação dos dirigentes poderia ter conduzido a um maior envolvimento e empenhamento dos membros da organização nas várias actividades e, designadamente, em algumas acções de formação. O CNM apresenta uma direcção composta por oito membros, mas destes só três directores estiveram mais envolvidos na implementação das medidas. O voluntariado e o facto destes terem outras actividades profissionais limitou a sua participação. A SCMM foi a organização onde a oposição inicial do dirigente aos problemas inventariados levou a equacionar do interesse em se continuar com a intervenção. A situação foi ultrapassada e para isso contribui bastante o papel das facilitadoras, que assumiram na prática a liderança na implementação de grande parte das medidas. A medida sobre gestão financeira, em que estas não intervieram, acabou por não se concretizar. 46 Quadro 14. Envolvimento dos dirigentes na implementação do C3 Organização Dirigente(s) Observações ARSDOP Acompanhou de perto e deu forte apoio à facilitadora Apoio após o fim do projecto VERTIGEM O envolvimento da direcção podia ter sido muito melhor Dirigente lamenta falta de tempo para ADIBER Quase sempre ausentes por indisponibilidade de tempo Dirigentes muito ocupados CNM Envolvimento limitado Dirigentes em regime de voluntariado SCMM Colocou obstáculos no início Resistentes à mudança Deram apoio tácito às técnicas e deixaram-nas trabalhar As técnicas lideraram o processo, sem o envolvimento activo da direcção, mas com o seu apoio tácito ADRL Baixo envolvimento, falta de disponibilidade Face ao tempo limitado, empenharam-se apenas em algumas acções A ADRL foi outra das organizações de desenvolvimento local onde o envolvimento e participação da direcção ficou muito aquém do que seria desejável, tendo em vista um maior grau de execução das actividades previstas. Atendendo à baixa disponibilidade de tempo, esta dirigente optou por se empenhar sobretudo na execução de duas medidas que lhe pareceram mais relevantes (sistema de avaliação e desempenho gestão associativa), relegando as outras para segundo plano, algumas das quais não se realizaram. A participação dos líderes é também essencial para elevar a participação dos membros da organização. São conhecidos vários exemplos de medidas/actividades que não chegaram a concretizar-se por desinteresse ou mesmo resistência dos membros das organizações. Não se pode negligenciar a participação dos membros da organização, sem os quais a implementação com sucesso das medidas dificilmente se alcançará. Em algumas das organizações as reuniões gerais promovidas no âmbito do projecto, bem como as entrevistas individuais realizadas, foram a primeira oportunidade dos seus membros serem ouvidos. Em síntese, o papel dos dirigentes revela-se essencial para o sucesso das intervenções do C3. O menor envolvimento e participação dos dirigentes, se nuns casos foi compensado pela acção dos facilitadores, noutros influenciou negativamente os 47 resultados alcançados. A participação dos membros da organização é essencial para se criar uma dinâmica de mudança. Papel e perfil dos consultores/formadores são cruciais para o sucesso das intervenções Os resultados alcançados com as intervenções do C3 devem-se a vários factores já referidos e aos actores deste processo. O papel dos consultores/formadores é essencial para o sucesso das intervenções. No Quadro 14 apresentamos as opiniões dos entrevistados sobre os consultores. Quadro 15. Opinião dos responsáveis sobre os consultores/formadores Organização Consultores ARSDOP Opinião muito positiva VERTIGEM Apreciação muito positiva ADIBER Apreciação positiva Consultor com visão muito empresarial CNM Muito bons, motivadores, convincentes SCMM Muitos ultrapassaram o tempo previsto Disponíveis e motivados Preocuparam-se em perceber o contexto de funcionamento Grande empatia ADRL Não houve problemas Antes de iniciar a implementação das medidas, o consultor deve reconfirmar o diagnóstico realizado, validar a necessidade da sua intervenção e verificar se são necessárias adaptações. Na óptica dos consultores entrevistados não houve discrepâncias assinaláveis entre as medidas propostas e as situações que estes encontraram. Houve, sim, aprofundamento de alguns dos problemas e a adaptação das medidas. Como as soluções são construídas à medida dos problemas, e isto depende do envolvimento das pessoas da organização, é necessário que o consultor crie um clima de empatia e de confiança. Relativamente aos consultores, as opiniões dos entrevistados são unânimes em considerar que fizeram um bom trabalho. Alguns dos adjectivos usados pelos entrevistados para classificar o seu trabalho são: motivadores, convincentes, disponíveis, bons, experientes, competentes, objectivos, acessíveis e rigorosos. As opiniões positivas dos membros das organizações sobre os consultores devemse, na nossa óptica, à longa experiência destes na implementação do programa PME e á 48 sua sensibilidade e preocupação em adaptar e elaborar novos instrumentos para aplicação nestas organizações. O profissionalismo e a atitude dos consultores foram essenciais para o sucesso das intervenções. Algumas das características dos consultores identificadas são: facilidade de relacionamento; flexibilidade na acção; comunicação fácil; focagem no cliente; entender e aceitar o interlocutor; linguagem adequada; e disponibilidade de horários. A boa integração dos consultores/especialistas nas organizações ajuda a criar um clima favorável à implementação de medidas. Neste processo foi essencial uma boa articulação entre facilitador e consultor de ligação. Um dos entrevistados reconhece um problema de comunicação com um dos consultores, que tinha, na sua opinião, uma visão muito empresarial na forma como pretendia elaborar o plano estratégico da associação, plano que acabou por não se realizar. Este é, provavelmente, um dos riscos que se corre quando os consultores não têm a sensibilidade necessária para perceber algumas das especificidades do sector. Em suma, a actuação dos consultores/formadores, é um factor chave no processo de mudança organizacional, e foi favoravelmente apreciada nas organizações. 8. FORAM OS OBJECTIVOS DO PROJECTO C3 ALCANÇADOS E OS PRINCÍPIOS EQUAL RESPEITADOS? Nesta secção abordamos dois assuntos. Começamos por analisar em que medida os objectivos do Projecto C3 foram alcançados e, em seguida, procuramos verificar se os princípios EQUAL foram respeitados. Em relação aos objectivos do C3, procuramos responder a dois níveis de avaliação (ver secção 1): os resultados obtidos respondem aos objectivos iniciais? (1º nível de eficácia); foram alcançados os impactes esperados do projecto? (2º nível de eficácia). Os dois pontos desta secção, ainda que aqui se apresentem separados para efeitos de análise, estão interligados, sendo suposto que os primeiros concorram para se alcançar os segundos. 49 8.1. Foram os objectivos do Projecto C3 alcançados? Os objectivos específicos enunciados no Projecto C3 são cinco: 1. Introduzir práticas inovadoras na gestão dos recursos (humanos, financeiros, informação, etc.) e incorporar as TIC nessa gestão; 2. Promover a auto-aprendizagem, auto-avaliação e a qualificação dos recursos humanos; 3. Promover a competitividade, através do desenvolvimento das competências organizacionais; 4. Diversificar os serviços prestados e a capacidade de financiamento; e 5. Promover a capacidade de inovação e de planeamento estratégico. Trata-se de um conjunto ambicioso de objectivos, atendendo à complexidade das intervenções, tempo limitado para a execução do projecto, e ao facto de alguns deles dependerem de factores que escapam ao âmbito restrito das intervenções previstas. Por outro lado, há uma forte componente de resultados ligados com a aprendizagem e aquisição de competências, que tem um carácter subjectivo elevado, razões pela qual, nestes casos, iremos recorrer sobretudo a informação de natureza qualitativa. Atendendo às diferenças entre as seis organizações em análise, chama-se a atenção para o facto do alcance destes objectivos serem variáveis entre as organizações e nalgumas delas não fazerem o mesmo sentido. Apresentados os objectivos, vejamos em que medida estes foram alcançados pela implementação do projecto C3 nas organizações. Introduzir práticas inovadoras na gestão dos recursos e incorporar as TIC nessa gestão O primeiro objectivo - Introduzir práticas inovadoras na gestão dos recursos (humanos, financeiros, informação, etc.) e incorporar as TIC nessa gestão - apresenta duas componentes, que vamos analisar separadamente. A primeira componente foi, em grande medida, alcançada. Como se observou, muitas das medidas executadas, designadamente na área da gestão financeira e dos 50 recursos humanos, foram bastante inovadoras no contexto da organização e muito apreciadas pelos seus responsáveis. O seu alcance será ainda maior se forem executadas todas as medidas que ficaram pendentes como, por exemplo, ao nível dos recursos humanos, a implementação da “avaliação do desempenho” dos membros da organização. A segunda componente visou incorporar as TIC na gestão e funcionamento das organizações. As situações de partida são diversas, mas no geral o equipamento informático das instituições, quando existe, é básico, com uma baixa utilização das TIC e um défice de competências. Regra geral, não se retira o devido rendimento destas ferramentas. Face a este quadro, não muito animador, a abordagem simples e gradual seguida pelos consultores pareceu-nos adequada: identificar os problemas concretos e procurar junto dos membros da organização encontrar soluções simples e implementá-las de forma gradual. Construíram-se os sítios Web para cada uma das organizações, procurando na sua concepção que estas páginas possam ser futuramente actualizadas pelos seus membros. Construíram-se alguns folhas-modelo (“Templates”) para facilitar várias tarefas, que ficaram disponíveis nas organizações. As intervenções programadas faziam todo o sentido, ainda que os resultados pudessem ser melhores caso houvesse uma maior disponibilidade e interesse dos funcionários na implementação das novas tecnologias. Promover a auto-aprendizagem, auto-avaliação e a qualificação dos recursos humanos Dada a dificuldade de quantificação dos resultados alcançados ao nível da autoaprendizagem e da auto-avaliação, vamos socorrer-nos sobretudo de informação de natureza qualitativa, recolhida através de entrevistas e de notas tiradas ao longo do processo de acompanhamento. Em relação a este objectivo, dada a sua natureza, somos levados a ser algo cautelosos em relação ao seu alcance, ainda que pensemos que o processo de consultoria formativa, dominante (em número horas) nesta intervenção, nos dá mais garantias de eficácia, que o processo de formação em sala. O sucesso das intervenções deve-se, em larga medida, à qualidade dos consultores/formadores que, como vimos acima, fizeram um bom trabalho. Atendendo à falta de dinamismos interno das organizações, centradas nas rotinas diárias e ao facto da auto-aprendizagem e auto-avaliação não fazerem parte da nossa 51 cultura organizacional, receamos que na ausência de estímulos externos à organização, estas aprendizagens possam não ter condições para se consolidarem e desenvolverem. Quanto à qualificação dos recursos humanos no âmbito do projecto, esta poderá ser analisado a dois níveis: o das facilitadoras; e a dos funcionários da organização. Em termos gerais, o balanço é muito positivo, mas também aqui os resultados alcançados foram diversos. Houve organizações em que os facilitadores e funcionários aproveitaram melhor, em termos de quantidade e qualidade, as intervenções realizadas. Tal deveu-se, sobretudo, ao maior interesse demonstrado pelos membros destas organizações e que se traduziu na transferência de horas de formação de umas organizações para aquelas que se mostraram mais disponíveis e interessadas. Inicialmente estava previsto a elaboração de um manual de auto-aprendizagem, mas como já referimos atrás este instrumento foi substituído por um conjunto de materiais para auto-aplicação, que se espera venha a ser útil noutras organizações que apresentem problemas idênticos. Em síntese, a auto-aprendizagem e auto-avaliação só poderá ser alcançado junto de públicos com elevada formação, para a maior parte dos destinatários será necessário o apoio e intervenção de consultores/formadores exteriores. Quanto à qualificação dos recursos humanos, a formação centrada nos problemas e na participação dos interessados é uma estratégia adequada com bons resultados, como mostra o elevado nível de satisfação dos formandos. Promover a competitividade, através do desenvolvimento das competências organizacionais O modelo de intervenção C3, como se disse, é orientado para a resolução de problemas, o que passa pelo desenvolvimento de competências através da consultoria formativa e da formação profissional dos membros da organização. Os resultados alcançados, ainda que diversos, contribuíram concretamente para a melhoria da gestão financeira, dos recursos humanos, da comunicação com o exterior, tudo factores importantes para melhorar a competitividade das organizações. Contudo, não devemos esquecer que este objectivo tem de estar em continua reapreciação dentro da organização. Para além disso, não devemos subestimar que há factores que caiem fora do alcance desta intervenção, designadamente problemas ligados à liderança e ao contexto exterior. 52 Em síntese, o modelo de intervenção contribui fortemente para se alcançar este objectivo, que deve estar em continua reapreciação, estando os resultados condicionados, em certa medida, por factores externos ao projecto e organizações. Diversificar os serviços prestados e a capacidade de financiamento Como se sabe, muitas destas organizações apresentam uma elevada dependência de financiamentos públicos, o que as fragiliza bastante num quadro de contenção orçamental. É o caso, designadamente, de duas ADL formandas. A diversificação da capacidade de financiamento foi um dos objectivos perseguidos pela intervenção do C3. Na prática, o alcance deste objectivo é fortemente condicionado, pois a sua resolução depende de alguns factores que saem foram do quadro de intervenções do C3, por exemplo, políticas do Estado para a área social. Aumentar a capacidade de financiamento passa, entre outras medidas possíveis, pela diversificação dos serviços prestados. Ora esta meta não é fácil de alcançar nem é procurada por todas as organizações formandas. Duas delas (CNM e SCMM) desenvolvem já um número elevado de serviços para o exterior, estando a sua capacidade de actuação condicionada sobretudo pelo espaço físico disponível. Nestes casos a capacidade de financiamento pelos serviços prestados é já elevada. As outras organizações, como as duas ADL, encontram alguma dificuldade em oferecerem serviços que possam, em parte, ser remunerados pelos utentes e a outra parte paga através da contratualização com o Estado. São, por isso, organizações onde os problemas de financiamento se continuam a colocar de forma premente e cujas soluções não têm sido fáceis de encontrar. Há algumas ADL no sul do país que tem vindo a alargar a sua prestação de serviços para a área das IPSS, do apoio social, conseguindo por esta via a contratualização de serviços pagos pelo Estado e utentes. Promover a capacidade de inovação e de planeamento estratégico, para enfrentar um quadro de menor apoio estatal e de maior actuação de mercado Relativamente à promoção da capacidade de inovação, pensamos que a implementação do modelo de intervenção PME às organizações do 3º Sector constitui um bom exemplo, dependendo o seu alcance das medidas implementadas e das alterações que originam. 53 Uma das medidas que se procurou implementar, em pelo menos três organizações, foi a promoção do planeamento estratégico. Ora esta medida, como já referimos acima, não teve grande sucesso junto de três organizações do 3º Sector. Em nenhuma delas se conseguiu definir um plano estratégico, e tal não se deveu à ausência de esforços por parte dos consultores, como se constatou. Na nossa perspectiva, o planeamento estratégico requer condições que, muitas vezes, não estão reunidas nas organizações. Três condições básicas são uma liderança forte, autonomia financeira e administrativa e recursos humanos competentes. As lideranças fracas dificultam a definição de planos estratégicos. Como vimos, os dirigentes são profissionais muito ocupados e com pouco tempo para dedicar à organização e, por isso, ausentes. Quanto ao grau de financiamento, quatro dependem em elevado grau dos dinheiros públicos. Os financiamentos são como se sabe, irregulares, pagos com atrasos e, por vezes, incertos. Ora, neste quadro de grande incerteza, é compreensível a dificuldade que se coloca na elaboração de planos estratégicos, privilegiando-se antes os “planos de navegação à vista”, visando responder às oportunidades que vão surgindo. De qualquer forma, estas dificuldades não retiram importância à necessidade das organizações criarem condições para que seja possível definir planos estratégicos. Em síntese, estamos perante um conjunto de objectivos demasiado ambiciosos e que dificilmente poderiam ser alcançados na sua plenitude através de intervenções tão limitadas no tempo e nas suas áreas de actuação. De qualquer forma, o balanço é muito positivo atendendo ao grau de concretização dos objectivos. É suposto que os objectivos, a execução e os resultados alcançados com o Projecto C3, estejam em concordância com os princípios visados pelo programa EQUAL, assunto que vamos tratar no ponto seguinte. 8.2. Foram os princípios EQUAL respeitados? Neste ponto procuramos avaliar em que medida o Projecto C3 responde aos princípios que a IC EQUAL visa alcançar e que estão listados no quadro abaixo. A pertinência deste ponto é reforçada se recordarmos que, antes da aprovação do projecto pela Unidade de Gestão EQUAL, uma das preocupações suscitadas em reunião havida 54 com as técnicas desta unidade incidiu sobre o cumprimento, pelo projecto, dos objectivos da IC. Quadro 16. Intensidade de aplicação dos princípios EQUAL pelo Projecto C3 Muito Forte Avaliação Face ao Esperado 〈=〉 Trabalho em Parceria X > Inovação X > X > Intensidade Princípios EQUAL Pouca Alguma Forte Disseminação Empowerment X = Transnacionalidade X = Igualdade de oportunidades X = Adaptado do “Guide de l’Évaluation EQUAL-France” Um breve balanço realizado pelos parceiros evidencia uma aplicação muito forte de três dos princípios (trabalho em parceria, inovação e disseminação). Uma intensidade forte para os outros três (empowerment; transnacionalidade; e igualdade de oportunidades). Daqui se conclui que os princípios EQUAL foram alcançados com a aplicação do projecto C3. Vejamos, em pormenor, a aplicação de cada um destes princípios. Trabalho em parceria Quanto ao trabalho em parceria desenvolvido no âmbito do projecto, a nossa apreciação é muito positiva, pelas razões que passamos a expor. A liderança da parceria, a cargo do promotor IEBA, mostrou-se bastante adequada, quer na definição e orientação dos trabalhos, quer na marcação do calendário, que na condução de todo o processo de implementação do projecto. A parceria funcionou bem, como mostra a elevada assiduidade dos parceiros em todas as reuniões e o envolvimento activo de todos eles ao longo das inúmeras sessões e etapas do trabalho. O IEBA e a AEP, como estabelecido, foram as duas organizações com maior envolvimento no delineamento e execução do modelo C3 e funcionaram como o núcleo duro do projecto. As participações dos outros parceiros foram variáveis ao longo das acções, de acordo com as tarefas que lhes foram acometidas. Quanto ao valor acrescentado da parceria, diríamos que há dois níveis. Um directamente ligado ao projecto e aos seus resultados, e que beneficiou de forma mais 55 intensa os colaboradores das organizações formandas, em especial os facilitadores, devido ao seu elevado grau de envolvimento e de participação na execução do Modelo de Intervenção C3. Para além destes, temos ainda os beneficiários finais, os clientes (utentes) das organizações, que acabaram por beneficiar de forma directa desta intervenção, pois a melhoria na gestão traduz-se em melhores serviços para os clientes. Como exemplo, refira-se a melhoria de serviços resultantes de um inquérito feito aos utentes, que permitiu redireccionar alguns dos serviços em função da satisfação das suas necessidades, designadamente alteração de horários das refeições, alteração das dietas alimentares e das actividades para idosos. Refira-se, também, algumas melhorias introduzidas pelo CNM, designadamente ao nível dos novos equipamentos e atenção acrescida à limpeza das instalações. O segundo nível está ligado com as aprendizagens individuais, resultantes das interacções entre parceiros, com diferentes competências profissionais e experiências. O valor acrescentado da parceria para o projecto traduz-se na complementaridade de competências e experiências verificadas entre os parceiros, que dominam temáticas diversas. O trabalho em equipa e a tomada de decisões conjuntas, enriqueceu enormemente o conteúdo técnico do projecto e cada um dos membros da parceria participantes. O modelo C3 pode ser uma mais valia importante se houver condições para o alargamento da sua aplicação a outras organizações do 3º Sector. Inovação A inovação, no contexto EQUAL, está associada ao carácter experimental das acções a desenvolver pelos projectos. A inovação tem implícitas as dimensões da qualidade e da adequação dos produtos e acções desenvolvidos pelas PD, relativamente aos objectivos, contextos e públicos alvo. Os produtos que serão propostos para integrar a Base de Conhecimento EQUAL serão: o Portal C3; o Modelo de Intervenção C3; os Manuais de Auto-aprendizagem; os Estudos de Caso. Atendendo aos critérios estabelecidos pela PD para verificar/validar o carácter inovador da intervenção, podemos dizer que estamos perante produtos, e em particular o 56 Modelo de intervenção, que respondem de forma positiva aos requisitos que a seguir se apresentam: − Universalidade: A dimensão da população-alvo (organizações do 3º Sector) a que os produtos se destinam é vasta, muito importante ao nível do emprego que gera e de elevada relevância social ao nível da coesão social; − Longevidade: Dada a flexibilidade e a adaptabilidade da metodologia de intervenção C3, temos expectativas que o tempo de vida útil dos conteúdos seja longo; − Acessibilidade: A experiência de implementação do C3 mostra que a estamos perante um processo participado que responde a problemas das organizações e dos seus utilizadores/clientes; − Utilidade: A utilidade ficou bem demonstrada nos resultados e efeitos alcançados pela intervenção, na melhoria de competências e da gestão e na resolução de pequenos problemas das organizações; − Portabilidade: Facilidade de exploração e de utilização dos conteúdos, mesmo em situação de mobilidade. Há, contudo, que ter presente a necessidade de adaptação a cada caso; − Transferibilidade: Estamos perante um modelo relativamente simples, com rapidez de apropriação e de incorporação dos conteúdos nas práticas profissionais das equipas e das organizações. Para que tal seja concretizado, parece-nos essencial o papel de consultores/formadores experimentados e com perfil adequado; − Escalabilidade: Modularidade dos conteúdos para favorecer uma mais rápida e fácil actualização. A actualização dos conteúdos para resolução de problemas é uma preocupação que deve ser contínua. A metodologia de intervenção C3 deve ser implementada de forma gradual, faseada no tempo e as intervenções devem ser entendidas como contínuas, pois à resolução de determinados problemas sucedem outros de nível diferente. 57 Disseminação A disseminação das actividades realizadas e dos resultados alcançados no âmbito do projecto C3 foi feita por diversas vias e de uma forma bastante ampla: apresentações públicas em seminários e colóquios; em documentos, em papel e CD; e via sítio Web. Vejamos, em pormenor, como se fez a disseminação do projecto até Dezembro de 2004: − Seminário "Estender as Redes de Cooperação LEADER" - Portugal, Sesimbra, 22-23/05/2003, Trabalhar em parceria. Qualificar o 3º Sector. O exemplo do projecto C3. − Sessão pública de apresentação do Projecto Economia Social – Solidária, Qualificada, Inovadora. Santa Casa da Misericórdia de Mortágua - Portugal, 4 de Março de 2004. Apresentação do Projecto C3. − Seminário "Desenvolvimento Social e Comunitário Sustentável: Contributos das ONG's em Portugal e no Mundo", Grupo Dinamizador de Aprendizagens Interculturais do Instituto Superior Miguel Torga. Portugal, Coimbra Instituto Português da Juventude, 28 de Abril de 2004. Uma Metodologia para a Qualificação das Organizações e dos Profissionais do 3º Sector. O exemplo do projecto C3. − Seminário "Economia Social: comunicar para mudar ". Centro para o Estudo das Artes de Belgais, Castelo Branco - Portugal, 17 de Maio de 2004. C3 Consultoria para o 3º Sector: visão sobre o projecto; o modelo de intervenção e as medidas relacionadas com a comunicação. − EQUAL ESF Conference "Strengthening the Social Economy", Crown Plaza Hotel, Antwerp - Belgium, 10-12 May 2004. A Methodology to Qualify 3rd Sector Organisations and Profesionals – The examplo of our project C3. − Seminário "Fórmulas colectivas y solidarias para la creación de empleo" Centro Cultural San Francisco, Cáceres - España, 27 de septiembre de 2004 Modelos de asistencia al 3er Sistema - Projecto C3 - Consultoria para o 3º Sector. 58 − Seminário de difusión de Acuerdo de Cooperación Transnacional ACER – La complementaridad con otros proyectos Nymphea Centro Cultural San Francisco, Cáceres - España, 28 de septiembre de 2004. Presentación de otros proyectos de Iniciativa y Acción Comunitária dentro de la red Nymphea Projecto C3 - Consultoria para o 3º Sector. − Colóquio transnacional RITMO – ROMA, 15 de Outubro. − 5º Workshop Temático, RITMO - Porto (AEP), 29 Novembro. − Fórum Temático Economia Social: acções e reflexões no contexto dos projectos apoiados pela Iniciativa Comunitária EQUAL, Mortágua, 6 e 7 de Dezembro de 2004. No futuro os produtos do projecto serão disseminados no sítio web do projecto (Portal C3). Em suma, atendendo às várias formas de divulgação do projecto já realizadas, e à divulgação futura na Internet, podemos concluir que estamos perante um projecto com elevada divulgação. Empowerment A aplicação do princípio do empowerment traduz-se em actuações e atitudes de carácter pró-activo (de destinatários, agentes e entidades), com um acréscimo de capacidade de pensar e agir com autonomia. Como já referimos ao longo deste trabalho, estamos perante um modelo de intervenção com um elevado nível de participação e envolvimento dos técnicos e membros das organizações. O diagnóstico e o quadro de medidas foram elaborados ouvindo a maioria dos membros da organização, seja individualmente, seja em reuniões gerais. Para muitos dos seus membros, esta foi mesmo a primeira oportunidade de serem ouvidos. O processo obrigou à participação da maioria dos membros e à reflexão sobre a organização onde laboram. Foi, claramente, uma oportunidade para se parar e pensar sobre o trabalho desenvolvido. Em cada organização, houve pelo menos um técnico que funcionou como facilitador e que foi o interlocutor neste processo. Os facilitadores que mais se envolverem foram, seguramente, aqueles que mais beneficiaram. Com a implementação 59 das medidas e considerando que estas são sobretudo medidas de formação profissional e de consultoria formativa, contribuiu-se para a capacitação através do desenvolvimento de competências profissionais e pessoais que, de certo, melhoraram o desempenho, quer das pessoas quer das organizações envolvidas. Muitas das mudanças são coisas simples, como, por exemplo, saber dirigir uma reunião. Numa das organizações as reuniões regulares não tinham ordem de trabalhos e não se faziam actas. Após a intervenção, por influências das facilitadoras, as reuniões passaram a ter ordem de trabalhos e actas. Por último, há que destacar que o processo de consultoria formativa obrigou a uma intensa interrelação entre consultores e membros da organização, o que favorece o empowerment. Transnacionalidade Relativamente à transnacionalidade, vamos aqui apresentar as conclusões principais do relatório11 sobre o projecto transnacional, RITMO. Como conclusão geral, destaca-se o sentimento positivo quanto à parceria, ambiente de trabalho e progressos no conhecimento das organizações participantes, assim como os avanços relativamente ao conhecimento da situação do 3º Sector e do desenvolvimento local em cada país. Os aspectos negativos sublinhados prendem-se com o calendário de trabalho apertado, com as dificuldades de comunicação entre pessoas e a diversidade de temáticas abordadas. A PD transnacional funcionou relativamente bem e num bom ambiente de trabalho, sobretudo se recordarmos a sua constituição - promotor português e italiano não se conheciam - e as dificuldades que foram surgindo ao longo do processo, designadamente: a compreensão dos projectos de cada parceiro; a construção de um projecto comum; as várias línguas de comunicação; as diferenças culturais; as realidades diversas no 3º Sector. As reuniões presenciais e o conhecimento interpessoal continuam a ser condições essenciais para o desenvolvimento de um projecto comum. As formas de trabalho à distância foram, indiscutivelmente, instrumentos importantes e eficazes, em particular quando o conhecimento interpessoal da equipa era já relativamente elevado. 11 Ver Alberto Baptista e Artur Cristóvão, “Relatório Final de Avaliação do Projecto RITMO” (sítio Web: www. C3.com.pt). 60 Em contraposição, sentiram-se dificuldades na definição de objectivos e produtos comuns. A experiência deste projecto revela que a estratégia seguida por cada PD procura concentrar os maiores esforços no projecto nacional e em rentabilizar os seus resultados, alargando-os à componente transnacional. Ora, este procedimento condiciona e dificulta a concepção e execução de projectos com objectivos comuns. As actividades previstas eram numerosas, nalguns casos até ambiciosas. A maioria das actividades foi concluída com sucesso, ainda que as expectativas que lhe estavam associadas tenham, nalguns casos, ficado aquém do esperado. Houve apenas duas actividades, no conjunto das 23 previstas, que não foram realizadas. Num caso, por dificuldade dos parceiros italianos e noutro caso por falta de tempo do promotor português. Os quatro produtos cooperação foram concluídos: Sítio Web, Newsletter; Guia de Boas Práticas e relatório de avaliação. Os produtos poderiam ter sido melhorados, quer ao nível da integração das várias temáticas, quer ao nível do seu aprofundamento, se o tempo não fosse um factor escasso na fase final do projecto. O valor acrescentado da cooperação transnacional gerou-se, sobretudo, pela “contaminação” havida entre os dois projectos nacionais, durante a sua implementação. A difusão deste produto em várias línguas e a possibilidade de ser difundido junto de um público mais vasto, acabam por ser outros efeitos directos da PD transnacional. Os benefícios da cooperação transnacional fizeram-se também sentir na aquisição de conhecimentos, em resultado das visitas e das trocas de experiências entre os parceiros. Outro resultado directo são as duas novas parcerias, que se constituíram entre alguns dos participantes italianos e portugueses. Igualdade de oportunidades A igualdade de oportunidades entre mulheres e homens é um princípio EQUAL que toca transversalmente todas as áreas de intervenção e todos os projectos. No que diz respeito a este projecto, não houve nenhuma acção específica no sentido de descriminar positivamente as mulheres. No acesso ao projecto a questão do género não se colocou como uma variável a atender, uma vez que a participação no projecto foi promovida através do recrutamento /selecção/ integração de organizações (e dos seus membros) e não de pessoas a título individual. De qualquer forma, a participação feminina, seja a que integrou a equipa do projecto (seis mulheres e três homens), seja a dos beneficiários das 61 organizações formandas (67% mulheres e 33% homens), acabou por ser muito superior à dos homens. Estes resultados não são de estranhar, se atendermos a que a área da economia social e do desenvolvimento local, pelo tipo de serviços que presta (apoio a idosos, crianças, etc.), constitui uma área de actividade com uma elevada participação feminina. Neste sentido, as várias acções do projecto favoreceram a melhoria de competências das mulheres que estão empregadas nas organizações formandas. O mesmo se passa em relação às Organizações e Iniciativas de Desenvolvimento Local (OIDL), onde se incluem sobretudo as associações de desenvolvimento local e em que, de acordo com Moreno (2003:48), 68% das pessoas ao seu serviço são mulheres. Relativamente às medidas facilitadoras para a conciliação das tarefas no âmbito do projecto (formação) e da vida familiar, foram sempre consideradas as disponibilidades de todos os formandos, no sentido de garantir uma participação plena. Os horários das acções de formação e de consultoria formativa foram acordadas com as formandas. Em suma, o Projecto C3 respeitou este importante princípio EQUAL. 9. PONTOS FORTES E FRACOS DAS INTERVENÇÕES Nesta secção começamos por apresentar a perspectiva dos responsáveis das organizações sobre os pontos fortes e fracos do modelo de intervenção C3. Na segunda parte apresentamos, em termos genéricos, as vantagens e desvantagens do modelo C3. Como se pode verificar no Quadro 16, os responsáveis reconhecem que os aspectos positivos ou pontos fortes ultrapassam largamente alguns dos aspectos negativos ou pontos fracos existentes. Alguns dos dirigentes entrevistados tiveram mesmo algumas dificuldades em identificar aspectos negativos ou pontos fracos da intervenção. O projecto C3 aumentou a motivação e o grau de participação das pessoas na organização; melhorou o funcionamento interno (por exemplo, instrumentos para gerir reuniões, gestão financeira, gestão dos recursos humanos); obrigou os membros da organização a olhar para dentro e a reflectir; permitiu novas aprendizagens através da formação muito focada em necessidades concretas. No essencial, o projecto teve como ponto forte a criação de condições favoráveis para a mudança em cada uma das 62 organizações, que, como vimos acima pelas actividades implementadas, assumiu dimensões diferenciadas. A concentração da execução das várias medidas/actividades num relativo curto prazo de tempo, quatro a cinco meses, foi um dos pontos fracos mais referido pelos entrevistados. Daqui resultou, por exemplo, uma menor disponibilidade de tempo por parte dos dirigentes e funcionários na implementação de medidas. Como referem alguns facilitadores (ADIBER, ADRL), todos os dias há inúmeras tarefas a realizar, o que deixa pouco tempo para este tipo de iniciativas, que em alguns períodos foi muito exigente. Outro dos pontos fracos apontados foi a baixa participação de alguns dirigentes. Quadro 17. Pontos fortes e fracos das intervenções Organização Pontos Fortes Pontos Fracos ARSDOP • Realização do diagnóstico por pessoas exteriores • Identificação de problemas • Soluções práticas para os problemas • Pressão muito grande, muito intensivo, prazos apertados • Pouco tempo para a intervenção na área financeira VERTIGEM • Avaliação exterior • Oportunidade para trabalhar a imagem • Reestruturação da organização • Excessivo prolongamento de tempo na medida sobre a imagem; • Falta de tempo do director ADIBER • Discussão e reflexão sobre a organização • Maior abertura das pessoas • Relacionamento com outras organizações (IEBA) • Ausência dos membros da direcção • Poucas horas de formação para acções de DL e gestão de projectos • Falta de tempo dos funcionários • Baixa motivação para a formação • Limitações financeiras CNM • Interesse prático da intervenção • Olhar diferente para dentro da organização • Período de 2 a 3 meses sem intervenções • Envolvimento da direcção poderia ser maior, mas são voluntários • Alguma descoordenação entre consultores SCMM • • • • • Tempo limitado para implementar acções • Algum desacerto do tempo necessário para implementar medidas ADRL • Envolvimento e participação das pessoas da organização Participação das pessoas Maior envolvimento dos utentes Melhorias no funcionamento interno Criação de novos serviços para os utentes • Demasiadas medidas em pouco tempo • Reduzido envolvimento dos membros da organização Por último, não se deve ignorar que a atitude das organizações perante uma intervenção deste tipo não é idêntica em todos os casos. Não é de excluir a hipótese de, o facto das intervenções serem gratuitas, ter originado um menor grau de empenhamento e envolvimento das pessoas da organização. 63 Em suma, os pontos fortes da intervenção são bastante valorizados pelos dirigentes das organizações. 9.1. Vantagens e condicionalismos do modelo de intervenção C3 A adaptação e aplicação do modelo de intervenção C3 nas organizações do 3º Sector apresenta um conjunto de vantagens e alguns condicionalismos, que vale a pena destacar em modo de balanço. Vantagens − Importância e utilidade da metodologia; − Adaptação da metodologia, flexível e centrada nos problemas; − Resolução dos problemas concretos da organização; − Identificação, através do diagnóstico, das necessidades reais das organizações; − Estruturação e hierarquização dos problemas identificados; − Participação no processo dos membros da organização e dos seus dirigentes; − Interacção intensa entre consultores e quadros da organização para a resolução de problemas; − Visão exterior sobre a organização legitima a implementação de medidas por parte da direcção; − Adequação das medidas aos problemas inventariados; − Execução das medidas atendendo às particularidades de cada organização; − Realização de um balanço das actividades e reflexão sobre o funcionamento e estratégia futura da organização. Condicionalismos − Atribuição de um grau de importância aos problemas inventariados; − Intervenção exclusivamente na área da formação; 64 − Duração limitada no tempo de execução, descontinua, associado ao facto de coincidir com períodos em que as organizações apresentam ocupações mais intensas; − Ausência dos dirigentes, que assumem nalguns casos vários papéis (dirigentes, políticos) no contexto local; − Formulação dos problemas inventariados não é por vezes adequada, podendo chocar com lideranças pessoais; − Limitação temporal da intervenção, permite resolver sobretudo problemas pontuais e de médio prazo; − Alteração dos dirigentes a meio da intervenção pode conduzir à interrupção da implementação de medidas; − Indefinição quando ao futuro de algumas organizações, cuja existência depende de decisões de entidades externas à organização; − Reduzida capacidade financeira, o que pode impedir a aquisição e adopção desta metodologia; − Demasiado centrada sobre os aspectos técnico administrativos das organizações. Neste conjunto de variáveis favoráveis e desfavoráveis há duas, a qualidade dos formadores/consultores e o envolvimento dos dirigentes das organizações, que são determinantes para maior ou menor sucesso da intervenção. 10. CONCLUSÕES E ALGUMAS SUGESTÕES FINAIS 10.1. Conclusões Nas secções anteriores começamos por fazer um enquadramento teórico sobre o 3º Sector, passando em seguida à apresentação do modelo de intervenção, e da sua implementação em seis organizações seleccionadas. Seguiu-se a análise dos resultados alcançados ao nível das organizações e avaliou-se a concretização dos objectivos 65 propostos pelo projecto C3 e as dificuldades surgidas neste processo. Neste ponto apresentamos as conclusões da avaliação realizada. A pesquisa bibliográfica apresentada na secção 2, evidencia dois aspectos essenciais: por um lado, estamos perante um sector de elevada importância económica e social, designadamente ao nível do emprego e do DL; por outro, estamos perante organizações que se debatem com graves problemas de gestão e, nalguns casos, até de sustentabilidade financeira. Só o facto destas organizações trabalharem em mercados relativamente cativos e de proximidade as tem poupado a maiores problemas de competitividade. O confronto entre as necessidades das organizações do 3º Sector e os objectivos do C3, leva-nos a concluir que estamos perante um projecto de elevada pertinência. O que justifica as intervenções delineadas no quadro do Projecto C3, que visam contribuir para a elevação das qualificações, melhorando as competências das entidades e dos profissionais do 3º Sector, assunto que será o problema central da avaliação aqui realizada. O diagnóstico elaborado no âmbito do C3, para cada uma das organizações, retratava, no essencial, os principais problemas, como foi reconhecido e validado pelos seus dirigentes e membros. Os problemas inventariados em cada organização, variam entre 10 (Vertigem) e 19 (CNM) e estão relacionados, sobretudo, com questões de liderança, gestão de recursos humanos, gestão financeira, financiamento, ausência de plano estratégico e deficiente comunicação com o exterior. O quadro de medidas para cada uma das organizações é distinto, muito embora existam medidas comuns. Para o conjunto das seis organizações foi apresentado um número relativamente elevado de medias (34). Destas, cerca de 1/3 aplicam-se, simultaneamente, em três ou mais organizações. Temos depois cerca de 2/3 das medidas que se aplicam em cada uma das organizações, o que evidencia que nesta intervenção cada uma delas é um caso, tratado de forma individual. As medidas comuns às várias organizações foram os planos de marketing e comunicação, a definição de planos estratégicos, a elaboração de manuais de procedimentos para avaliação de desempenho do pessoal e para regular o seu funcionamento interno. A grande maioria das medidas previstas foi executada com sucesso, ainda que os resultados de algumas tenham ficado aquém do esperado. No conjunto das medidas não 66 aplicadas há uma - o plano estratégico - que não teve sucesso em nenhuma das três organizações onde se procurou implementar. As organizações fazem um balanço muito positivo das intervenções realizadas e dos resultados alcançados. Atendendo aos resultados, poderíamos dividir as organizações em dois grupos: o primeiro, composto pela ARSDOP, CNM e SCMM que inclui as organizações que mais se aproximaram dos objectivos referidos; e o segundo, constituído pela ADIBER, Vertigem e ADRL, que engloba as menos próximas dos objectivos gerais. A ARSDOP foi, seguramente, a que melhor terá aproveitado a oportunidade surgida com as intervenções propostas. Para tal contribuiu o apoio da dirigente, que sentia a necessidade de uma intervenção em diversas áreas, o empenho da facilitadora e a boa participação dos restantes membros, designadamente em acções de formação. Em seguida, temos duas organizações onde se realizou um conjunto de medidas que melhorou, em diversos domínios, o seu funcionamento. São elas o CNM e a SCMM. No CNM duas medidas introduziram melhorias significativas – na área financeira e no apoio jurídico. Para além destas, houve outras medidas de menor impacte mas também importantes. Na SCMM ouve um conjunto de medidas de carácter muito prático (ementas de idosos e crianças, horário das refeições de idosos, condições de higiene) que melhorou a qualidade dos serviços prestados e a relação entre a organização e os utentes. Para esta maior satisfação contribuiu um inquérito realizado aos utentes sobre os serviços e as suas preferências. Para além disso, ficou-nos a impressão que se criou na organização um ambiente mais favorável à mudança. No quadro das medidas propostas procurou-se ouvir os clientes da organização sobre os serviços prestados, o que foi útil para gerar alteração e melhoria dos serviços, designadamente mudanças de horários das refeições e elaboração de novas ementas. No segundo grupo de organizações, composto pela ADIBER, Vertigem e ADRL, o projecto C3 surtiu dinâmicas de mudança de menor amplitude. Nestes casos as medidas tiveram efeitos, em especial, ao nível da formação e da produção de instrumentos, cujos resultados dependem da sua aplicação a curto prazo. Como conclusão genérica, podemos referir que, quer para as organizações formandas, quer a apreciação por nós realizada ao longo deste trabalho, o balanço é francamente positivo, ainda que os resultados sejam variáveis entre elas, devido ao grau 67 de empenhamento dos dirigentes e à motivação e disponibilidade dos membros das organizações na aplicação das medidas. Ficou demonstrado que, por um lado, são necessárias intervenções nestas organizações (ver secção 2) e, por outro, o modelo PME adapta-se, sem problemas de maior, ao 3 º Sector (ver secção 3). Os resultados positivos alcançados devem-se, em larga medida, a três factores principais: 1) adequação da metodologia de intervenção C3; 2) empenhamento dos dirigentes; 3) e ao papel e perfil dos consultores/formadores. Factores que passamos a desenvolver com maior detalhe: 1) O relativo sucesso desta intervenção deve-se ao facto desta metodologia ser, no essencial, simples, flexível, muito centrada na organização, assente na identificação de problemas e elaboração de medidas adequadas às necessidades de cada organização, requerendo a participação dos seus dirigentes e membros. A formação é direccionada para responder a necessidades concretas. Esta abordagem faz, quanto a nós, toda a diferença, relativamente às consultorias baseadas em soluções padronizadas e a formações escolarizadas baseadas em conteúdos pré-formatados; 2) O papel dos dirigentes e o seu envolvimento é um factor crítico para o sucesso deste tipo de intervenção. Nalguns casos (ASRDOP e SCMM), os facilitadores tinham uma forte confiança das direcções, o que permitiu que aqueles os substituíssem no processo de execução das medidas. Há ainda que reconhecer que o curto período temporal de implementação das medidas, aliado à reduzida disponibilidade de tempo das pessoas e dirigentes, não favoreceu a maior participação destes na aplicação das medidas; 3) Os consultores/formadores são actores chave no sucesso destas intervenções. A este respeito, a maioria dos entrevistados das organizações faz uma avaliação muito positiva do seu trabalho, reconhecendo, entre outras qualidades: competência, dedicação, envolvimento, relacionamento fácil. Aqui vale a pena destacar a preocupação dos responsáveis pela execução (IEBA/AEP), em seleccionar consultores/formadores com o perfil indicado e experientes. Acreditamos que a mesma metodologia aplicada por consultores/formadores sem o perfil indicado poderá ter resultados menos favoráveis, pois a sua 68 aplicação exige uma forte interacção e empatia entre consultores/formadores e formandos. O Projecto C3 apresentava um conjunto ambicioso de cinco objectivos, atendendo às diferenças entre as organizações, à complexidade das intervenções, ao tempo limitado para a execução, e à dependência de factores que escapam ao âmbito restrito das intervenções previstas. O primeiro objectivo apresenta duas componentes: a) introduzir práticas inovadoras na gestão dos recursos; e b) incorporar as TIC nessa gestão. A introdução de práticas inovadoras na gestão dos recursos (humanos, financeiros, informação, etc.) foi relativamente conseguida. Como se observou, muitas das medidas realizadas na área da gestão financeira e dos recursos humanos, foram bastante apreciadas por dirigentes e responsáveis. A incorporação das TIC foi iniciada, mas a acção ficou aquém do esperado, em especial pelo pouco interesse manifestado nas organizações. Em várias, talvez por défice de formação das pessoas e falta de cultura organizacional que promova melhorias de produtividade, as TIC não são ainda encaradas como prioritárias. Quanto ao segundo objectivo, que visava promover a auto-aprendizagem, autoavaliação e a qualificação dos recursos humanos, dado que não temos critérios de apreciação objectivos, faremos uma apreciação mais cautelosa. Promover a autoaprendizagem, auto-avaliação, não são processos de fácil implementação, exigem mudança de cultura das organizações, de atitudes e comportamentos individuais, o que não é fácil de alcançar em curtos períodos de tempo. Já quanto à qualificação dos recursos humanos, as acções de CF e de formação, foram bem sucedidas, com a vantagem de serem centradas em problemas que tinham sido por estes inventariados e terem requerido uma elevada participação dos formandos. O terceiro objectivo era promover a competitividade, através do desenvolvimento das competências organizacionais. Os resultados alcançados, ainda que diversos, contribuíram concretamente para a melhoria da gestão financeira, dos recursos humanos, da comunicação com exterior, tudo factores importantes para melhorar a competitividade das organizações. Acreditamos que é através da resolução de problemas simples que se pode criar um ambiente organizacional mais favorável a mudanças mais profundas. 69 Quanto à diversificação dos serviços prestados e à capacidade de financiamento, proposto no quarto objectivo, na prática, o seu alcance apresenta fortes limitações, até porque, como se sabe, a intervenção C3 foi muito limitada no tempo, ficando algumas medidas por aplicar após o fim do projecto. Nuns casos a diversificação de serviços seria desejável, mas encontra obstáculos, dado que os clientes destas organizações não têm capacidade financeira para pagar os serviços (pequenos agricultores, associados). Outras organizações prestam já vários serviços para o exterior (CNM e SCMM) e encontram limitações de espaço para ampliar as actividades. Por último, o objectivo de promover a capacidade de inovação e de planeamento estratégico, para enfrentar um quadro de menor apoio estatal e de maior actuação de mercado, foi, talvez, o menos conseguido. Na nossa perspectiva, o planeamento estratégico requer duas condições básicas (liderança forte e autonomia financeira) que muitas vezes não estão reunidas nas organizações. Ora, neste quadro de grande incerteza, é difícil a elaboração de planos estratégicos, dominam sobretudo os planos de “navegação à vista”, visando responder à oferta de programas que vão surgindo. Por outro lado, há que ter presente que as mudanças ao nível das organizações têm que ser perspectivadas de forma gradual e faseadas no tempo. Muitas vezes, a implementação de medidas simples pode conduzir, no médio prazo, à necessidade de mudanças mais profundas e até estruturais. Em relação aos princípios EQUAL, estes foram tidos em conta de forma muito satisfatória ao longo da aplicação do modelo C3. O trabalho em parceria funcionou bem e criaram-se relações fortes que podem vir a traduzir-se no futuro em novos projectos comuns. Outra das preocupações fortes foi a inovação através da adaptação do modelo PME para o 3º Sector. Ainda que a intervenção se tenha centrado na organização e nos seus membros, os destinatários últimos são os seus utentes. A este nível, podemos dizer que, para além da elevação do nível de participação dos membros da organização, houve melhorias directas ao nível dos serviços prestados aos utentes e, designadamente, uma maior preocupação em satisfazer os clientes. Quanto à promoção da igualdade de oportunidades entre sexos, estamos perante um sector que emprega maioritariamente mulheres, aspecto tido devidamente em conta nas intervenções. Há que reconhecer que esta intervenção visa solucionar sobretudo problemas relacionados com os processos, sendo limitadas as intervenções sobre outros níveis de 70 funcionamento (estratégia e gestão) e em domínios cuja resolução depende de variáveis não controláveis no quadro desta intervenção, tais como: − A autonomia financeira depende em larga medida das políticas públicas definidas para o sector; − Há problemas que requerem outro tipo de abordagens, por exemplo, mudança de estatutos das organizações, formação sobre liderança e gestão para líderes; − Os problemas estruturais requerem mais tempo, acções faseadas no tempo e até novos investimentos. Este modelo, na sua intervenção, apresenta limitações que podemos agrupar em três tipos: 1) recursos (humanos, financeiros) que lhe são afectos e duração da intervenção; 2) problemas internos à organização; 3) relações da organização com o exterior. Em relação à primeira, a intervenção é evidentemente limitada, sobretudo no tempo. O tempo revelou-se curto para o conjunto de medidas implementadas e para a disponibilidade dos organismos. Ao nível interno existem limitações de vária ordem, umas que resultam da resistência dos responsáveis das organizações consideradas mais “sensíveis”, designadamente a gestão financeira. A intervenção do modelo C3 concentrase na organização e em parte do seu funcionamento interno, o que já não é pouco, mas não é dada a mesma importância às relações das organizações com o exterior e ao contexto económico, social, político, e cultural onde estas estão inseridas. Relações que não deixam de influenciar o funcionamento interno das organizações. Outra das limitações da metodologia parece-nos residir no facto desta dar sobretudo resposta a problemas ligados ao “capital de processos”, não intervindo com idêntica intensidade nas outras três grandes dimensões, referidas por Lopes (2004), e que intervém na melhoria das PME: Formação/Capital da Equipa; Inovação/Capital Individual; Capital de Clientes/Qualidade. A metodologia necessita alargar a sua actuação às restantes áreas de funcionamento das organizações, de forma a criar condições mais sustentáveis de mudança. Por último, os produtos elaborados no quadro deste projecto, designadamente o Modelo de Intervenção C3 (Recurso técnico-pedagógico), Materiais para Auto-aplicação (Recursos técnico-pedagógicos) e Estudos de caso (Narrativas de práticas bem sucedidas) são documentos importantes para registar e sistematizar a experiência havida. As 71 intervenções futuras podem beneficiar bastantes da experiência e do conhecimento acumulado que importa divulgar e disseminar. Contudo, não tenhamos expectativas exageradas quanto à possibilidade destes produtos poderem substituir, com os mesmos resultados, a intervenção dos consultores/formadores na aplicação da metodologia. Como se viu, o sucesso da intervenção deveu-se, em grande parte, ao facto da intervenção ser feita por técnicos exteriores à organização, que criam normalmente uma dinâmica de mudança superior à conseguida por um processo de natureza interna. As organizações encontram-se amiúde submersas pelas tarefas do quotidiano, não havendo tempo nem espaço para reflexões e delineamento de planos estratégicos, ou para a introdução de novas técnicas de gestão, que conduzam à elevação da produtividade e da qualidade dos serviços prestados. 10.2. Algumas sugestões As recomendações aqui apresentadas são de dois níveis: a metodologia de intervenção C3; as interrelações do 3º Sector com a envolvente externa. Alargar a actuação a problemas diversos da organização, para além dos relativos ao “processo” A metodologia C3 intervém principalmente na área da melhoria do “capital de processos”, isto é, ao nível técnico-administrativo. Esta área de actuação é, sem dúvida, importante, mas se queremos introduzir mudanças com maior sustentabilidade há que procurar intervir nos outros três domínios de intervenção referidos por Lopes (2004): Formação/Capital de Equipa; Inovação/Capital Individual; Qualidade/Capital Clientes. Como refere o autor mencionado, as dez melhores PME do programa “Rede”, são aquelas onde a intervenção se alargou aos quatros domínios referidos. Reforçar o papel dos clientes na definição dos serviços prestados e na sua qualidade Algumas organizações continuam a funcionar mais centradas em si e nos problemas internos do que propriamente nos seus clientes e nos serviços e qualidade dos mesmos. Ora, é preciso alterar esta actuação colocando o cliente/utilizador como objectivo último das intervenções propostas. 72 Ter em conta que a autonomia financeira passa pela diversificação de actividades e de públicos Uma das vias propostas no projecto C3 para melhorar o grau de autonomia financeira das organizações é a diversificação das actividades. Contudo, em organizações como as ADL, tal não parece suficiente, é necessário também diversificar para públicos que possam pagar os serviços prestados, directamente, ou através de contratos com o Estado. Várias ADL no país estão a seguir esta via, diversificando os serviços e públicos para áreas de apoio a idosos e crianças. As organizações do 3º Sector, como já referimos, são muito heterogéneas, pelo que o grau de autonomia financeira de muitas organizações que prestam serviços sociais pode melhorar, mas será sempre limitado. O papel do Estado como principal financiador, em organizações como a ARSDOP, será dificilmente substituível. Um segundo nível de propostas está relacionado com as interrelações do 3º Sector com a envolvente externa. Propor programa de intervenção C3 para o 3º Sector Os custos reais deste tipo de intervenção são elevados para a baixa capacidade financeira de muitas destas organizações. À luz do que se faz para as PME12, deveria pensar-se num programa idêntico para as organizações do 3º Sector. A experiência do projecto C3 pode dar um forte contributo no delineamento de um programa específico de intervenção nas organizações do 3º Sector. Implementar medidas de formação específica para os consultores do 3º Sector O sucesso da implementação do C3 contou com um conjunto de consultores/formadores com uma elevada experiência de intervenção nas PME e, simultaneamente, com uma sensibilidade particular em termos de relações humanas. Contudo, caso haja a possibilidade de se estender a intervenção para uma escala mais alargada, tal irá requerer consultores/formadores com alguma sensibilidade e conhecimento das particularidades do 3º Sector. Isto é, será necessária uma formação específica de formadores para o 3º Sector. A experiência do Projecto C3, bem como dos 12 Programa Formação PME. 73 outros projectos EQUAL em “economia social” alargou bastante o conhecimento sobre o 3º Sector, o que poderá ajudar a melhorar a formação destes actores. 11. BIBLIOGRAFIA Association Rhone-Alpes dês Professionnels du Développement Economique Local (s/d). L’evaluation du développement économique local: 12 bonnes questions à se poser. ARADEL, Lion. (www.aradel.asso.fr). Campbell, Mike (1999). The third system employment and local development. Volume 1 – Synthesis Report. UK , Policy Research Institute. ECOTEC (2001). Research and Consulting Limited Evaluation of the Third System and employment Pilot Action – Final Report, August 2001, Brussels, ECOTEC. Europeen Comission (1998). Seminar on the Third System and Employment. Brussels 24/25 September. Flynn, Padraig (1998). “Relations between the European employment strategy, the local Job creation initiatives and the third system”, Proceedings of the Seminar on the Third System and Employment, Brussels 24/25 September. Jacob, Luís (2001). Economia Social, Dissertação de Mestrado. Lisboa, ISCTE. Lopes, A. (2004). Pequenos e médios empresários portugueses: Estratégias de formação para um desenvolvimento sustentável das suas competências de gestão e de crescimento da produtividade das unidades de negócio. Leça da Palmeira, AIP (editado em 1999 no âmbito do Programa Formação PME, nº 3 – dos Cardenos PME – Observatório Formação PME). Pena, Rui (2002). Modelo de Intervenção do Programa Formação PME. Associação Empresarial de Portugal, Leça da Palmeira. Thierry, Jeantet (2002). A economia Social Europeia. Lisboa, Edições Poseidon, pp. 55159. TSEP (2001). Third System and Emplyement Pilot Action. Executive Sumary. Brussels, Europeen Comission, DG V/A.4. 74 ANEXOS 75 ANEXO 1 Guião de entrevista aos responsáveis das organizações em Fevereiro 2004 Organização: Local: dia: hora: Nome do(s) entrevistado(s): QUESTÕES 1- Quando decidiram entrar no projecto que expectativas tinham? O que esperavam que o projecto lhes trouxesse? 2- Relativamente ao diagnóstico realizado, qual a sua opinião? 3- Em relação às medidas propostas, o que acha da sua exequibilidade? 4- O trabalho realizado até ao momento na organização por via do projecto teve algumas implicações práticas no funcionamento e gestão da organização? 5- Perspectiva que irá haver no futuro próximo mudanças, alterações em resultados da acção do projecto? 6- Relativamente ao conjunto de medidas proposto com base no diagnóstico, quais são os condicionalismos que impedem a implementação? 7- Comentários, reacções à metodologia de intervenção: quais os pontos positivos e negativos que vê nesta intervenção? 8- Que condições este tipo de organização tem (agilidade na tomada de decisões, direcção com poder, capacidade financeira, outras, etc.) para introduzir o conjunto de medidas proposto? 76 ANEXO 2 Guião de entrevista aos responsáveis das organizações no final do projecto Organização: Local: dia: hora: Nome dos Entrevistados: 1. SOBRE O DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS (VER ÁRVORE DE PROBLEMAS) - Atendendo ao diagnóstico inicialmente elaborado, considera que os problemas então identificados retratam bem a situação da organização? sim não, - Se não, há outros problemas que deviam ser considerados? - Há problemas novos que emergiram ao longo deste processo? 2. SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS E DAS ACTIVIDADES (VER QUADRO DE MEDIDAS) - As medidas apresentadas para fazer face aos problemas foram, na sua óptica, as adequadas? - Das medidas inicialmente previstas quais foram as aplicadas? - Quais as que não foram aplicadas? Porquê? - Na sua opinião qual foi a medida aplicada na sua organização que classifica de mais importante? - Quanto ao número de medidas e ao prazo de tempo previsto, pareceram-lhe adequados? 3. RESULTADOS DAS INTERVENÇÕES - Após a implementação das medidas, e em termos gerais, qual o balanço que faz dos resultados alcançados? Analisando cada uma das medidas, vejamos concretamente as que foram aplicadas. Quais os resultados alcançados em cada medida? Que mudanças trouxe para a organização? Qual das medidas aplicada na sua organização lhe pareceu mais bem sucedida? Porquê? Após a implementação das medidas, quais foram os objectivos que a organização considera que foram alcançados? 4. PONTOS FORTES (POSITIVOS) E FRACOS (NEGATIVOS) DO PROCESSO - Fazendo um balanço final de todo o processo de intervenção, diga-nos quais são os pontos fortes e fracos? Pontos fortes/positivos Pontos fracos/negativos 77 5. PAPEL DOS ACTORES PARA O (IN)SUCESSO DAS INTERVENÇÕES Consultores/formadores - Como classifica o relacionamento com os vários consultores? Quanto ao perfil dos consultores (flexível, linguagem adequada, colaborante, empenho, etc.), pareceu-lhe adequado? Disponibilidade de horários de trabalho dos consultores? Pareceu-lhes que o facto dos consultores serem pessoas que trabalham com PME dificultou o trabalho (desadequação de medidas, dificuldades de linguagem, etc.)? Dirigentes das organizações - - Um dos aspectos chave neste processo é o envolvimento de pessoas da direcção no processo. No vosso caso, como classificam (fraca, razoável ou boa) a participação dos responsáveis (ou um responsável) em todo o processo (diagnóstico, plano de desenvolvimento e implementação de medidas)? Pensa que a sua organização tirou o máximo partido desta intervenção? Porquê? 6. SOBRE O FUTURO - Pensa que há medidas que é necessário tomar a curto-médio prazo? Quais? Como resultado desta intervenção, prevê outro tipo de intervenções/mudanças a realizar na organização a curto prazo? Quais? 78 ANEXO 3 Guião de entrevista aos consultores/formadores Local dia hora Nome do entrevistado: 1. Preparação dos consultores - formadores Atendendo à vossa experiência, acham que os consultores especialistas estão preparados para responder aos problemas específicos colocados pelo 3º sector? Na abordagem das pessoas da organização, notaram diferenças face às PME para as quais não estavam alertados, sensibilizados? Os problemas identificados nos dois tipos de organizações e as soluções propostas são muito diferentes? Quais foram as barreiras identificadas na implementação de cada uma das medidas? Que tipo de conselhos dariam aos futuros consultores? 2. O papel dos dirigentes no processo de consultoria A metodologia PME é muito focada no processo de aprendizagem do dirigente da empresa. Ora nas organizações do 3º Sector há dirigentes, mas serão estes os interlocutores no processo? Se não, quais as consequências na acção? Em cada organização, qual o papel dos dirigentes em todo o processo? E consequências? 3. Construir quadro de diferenças entre PME e Organizações do 3º Sector Quadro com as diferenças e semelhanças entre uma PME e organizações do 3º sector de uma PME PME Organização do 3º sector Em que medida afecta ou não a adopção Na sua opinião existem realmente diferenças entre estes dois tipos de organizações? A ideia que a nossa empresa é muito diferente das outras tem razão de ser? Analisando as diferenças apontadas entre os dois tipos de organizações, parece-lhes que estas são condicionantes da transferibilidade da metodologia, ou não? Na vossa opinião, quais as diferenças criticas no processo de transferência da metodologia PME para o 3 sector? O problema da adopção não terá antes a ver com outro tipo de factores intrínsecos, alguns dos quais comuns às PME? 4. Sobre a metodologia Como se sabe, o objectivo destas intervenções é procurar transferir para o 3º Sector a metodologia de intervenção PME. A questão que se coloca, tendo em conta a vossa experiência de trabalho com as PME, 79 por um lado, e atendendo às especificidades do 3º Sector por outro, é saber se essa metodologia é transferível, em que medida, e em que condições? Pode-se dizer que a metodologia PME pode ser transferida tal e qual para o 3º Sector? Porquê? Que alterações/adaptações sugerem? Na vossa opinião, as organizações do 3º Sector têm particularidades que é preciso ter em conta? Quais? Como analisam a relação da liderança das organizações com os resultados alcançados? 5. Os resultados alcançados podem, entre outras razões, explicar-se pelo trabalho efectuado ao longo de cada uma das fases? Diagnóstico Acham que ao nível do diagnóstico e da identificação de problemas a metodologia é transferível? Sugerem alterações e cuidados a ter? Quais os cuidados a ter na fase de diagnóstico? Concepção Ao nível da concepção das medidas acham que a metodologia se adequa? Há aspectos que é necessário atender? Por exemplo? Implementação Ao longo da implementação das medidas pareceu-lhes que as medidas foram as mais indicadas ou, por outro lado, há críticas, comentários, sugestões a fazer? Resultados Qual é a vossa apreciação sobre aquilo o que se fez em termos gerais, atendendo concretamente a medida em que estiveram envolvidos? 6. Depois disto o que podemos concluir? Sobre a metodologia PME e a sua adaptação? Sobre as medida de formação especificas para pessoal destas organizações? Sobre os factores chave para o sucesso da aplicação da metodologia ao 3º Sector? 80 ANEXOS 4 10 pontos para uma Economia Social Sustentável 13 Dado que este texto aborda um conjunto de preocupações que se cruzam com os objectivos do Projecto C3 pareceu-nos importante apresentar este documento. 1 – Nobreza dos princípios – a nobre finalidade da Economia Social A finalidade do bem comum e do provimento de serviços sociais é o bem que nos une a todos. Este é o motor do nosso esforço e o fundamento final do nosso trabalho. A utopia da Economia Social é o que se mantém como orientador da acção e das opções realizadas pelas nossas organizações e agentes sem fins lucrativos. A nossa finalidade é investir os recursos na construção do bem social, mediante uma ética orientada para a causa pública e a cidadania activa em que os fins e os meios se definem pelos direitos humanos e a pluralidade optativa e cultural. O nosso maior bem, na maioria dos casos, é a base democrática da decisão. 2 – Mercado A actividade das mutualidades, misericórdias e demais organizações da Economia Social deve ser sustentável no longo prazo. Por isso, o mercado enquadra e orienta as nossas opções. Assim, temos de desenvolver competências de afinação entre as necessidades (a procura) e as nossas propostas (a oferta) para construir um sistema equilibrado e continuamente renovado em função das necessidades, dos desejos e das expectativas das populações, bem como das ofertas disponíveis no campo do Estado e do sector privado com fins lucrativos. 3 – Serviço Social Na actualidade, esta é a nossa natureza da acção. Nela, encontramos as respostas possíveis, as que conseguimos prover com as competências que conseguimos juntar e os recursos de conhecimento que temos. Num contexto de mudança global e integral, as respostas têm de ser inovadoras, mas eficientes ou competentes, pelo que será possível equacionar a realização de outras actividades que hoje não temos, a procura de soluções e desafios e o alargamento do campo de intervenção da Economia e do Serviço Social. Deste modo, o serviço social deve assentar numa base de intervenção pragmática e por processos simplificadores sustentados por uma aprendizagem conjunta e dinâmica. Neste campo, a Valorização dos recursos humanos, partindo das suas experiências e conhecimentos práticos para chegara à qualificação das suas competências e ao consequente aumento da eficiência da organização, é o caminho a seguir. 4 – Modelo de Gestão É na exacta medida das necessidades identificadas nos pontos anteriores que se coloca o desafio da grande questão que nos envolve: o Modelo de Gestão. Este, assentará, acima de tudo, num processo de formação na acção que promove a qualificação da competência e o desenvolvimento de um Conhecimento Operativo essencial ao nível dos dirigentes (gestão estratégica) e dos trabalhadores (gestão operacional) e de todo o leque de Recursos Humanos que por modos voluntários ou de prestação de serviços, se integram nos processos de cada organização. Este modelo corresponde a um perfil de conteúdos de aprendizagem que integra os seguintes pontos: − Tipologia do Mercado Social − Criar Relações com os Clientes − Criar Valor para o Cliente − Competir baseados no serviço 13 Este documento foi elaborado por Álvaro Cidrais a partir da reflexão conjunta realizada no dia 26 de Setembro em Albufeira, no workshop «conteúdos de formação». Reflecte algumas das aprendizagens efectuadas no âmbito do projecto Economia Social – Solidária, Qualificada, Inovadora – referência 2001/EQUAL/A2/EE/333 – dinamizado pela Associação de Profissionais de Solidariedade Social e não teria sido possível sem o extraordinário trabalho desenvolvido pela Parceria de Desenvolvimento, com especial contributo de Luísa Oliveira, Eurico Dias, Lurdes Quaresma, Teresa Gonçalves, Armando Dores e Mariana Reto além do óptimo apoio da equipa de projecto: Cármen, Carla, Catarina e Glória. A minha participação neste projecto tem decorrido em representação da ANIMAR, enquanto membro da comissão de acompanhamento. O texto é da minha exclusiva responsabilidade enquanto cidadão e não vincula nenhuma entidade das referidas anteriormente. 81 − − − − − Gerir a eficácia das organizações sociais Gerir com base em modelos colaborativos Negociar em ambiente social Gerir a mudança Gerir a comunicação democrática 5 – «Lucro» – Acumulação e remuneração de capital Corresponde a uma das maiores dificuldades dos actores da Economia Social. Todavia, tem sido mal situada. O que está em causa não é a existência de lucro ou fins lucrativos. O que se coloca é a necessidade de remunerar o capital e recuperar o investimento realizado pela integração de recursos (humanos, de conhecimento, financeiros, etc.) de modo a gerar mais valias que possam reverter em bens de serviço social para as populações e manter um sistema económico sustentável no longo prazo. Neste campo, torna-se essencial contrariar as tendências ideológicas que colocam os dirigentes e trabalhadores da Economia Social com a ideia de que gerar retornos elevados é crime ético perante a finalidade do Serviço Social. Na visão pragmática, gerar retornos e recuperar meios financeiros é o modo de desenvolver e tornar sustentáveis os projectos em que estamos envolvidos num contexto de independência perante o Estado ou fontes monopolistas de financiamento. Através de um processo de sustentabilidade económica baseada em múltiplas fontes de financiamento e numa lógica racional de investimento e risco será mais provável conseguir criar condições de provimento de serviços sociais par os mais pobres ou temporariamente carenciados. O retorno não tem de vir das actividades que provêm condições de acesso aos mais desfavorecidos. É necessário considerar outras fontes de rendimento e de capitalização para gerar uma base financeira sustentável. 6 – Comunicação com os públicos A comunicação ou falta dela é factor condicionante e problema real das organizações – incapazes de convencer o Estado a apoiar mais, legitimar o seu trabalho e construir redes de parceria. Apesar de ser um tema pouco caro aos parceiros da Economia Social, o marketing (sistema de análise de problemas centrado na percepção das necessidades, a construção de desejos e a moldagem de expectativa) e a comunicação (modo de utilizar ou manipular a informação comum) são ferramentas essenciais na intervenção humana e das organizações às quais devemos recorrer – com base em nobres princípios éticos – para aumentar a sustentabilidade e eficácia das nossas organizações e a nossa capacidade de intervenção. A comunicação é um pilar estrutural do desenvolvimento interno das organizações, da sua democraticidade, da sua competência e do desenvolvimento do sistema de aprendizagem e vinculação. Do mesmo modo, é essencial na gestão da relação cooperativa com os parceiros, na motivação dos financiadores, na informação dos nobres destinatários e na relação sempre essencial com o Estado, ou seja na vertente da comunicação externa com os públicos com que se relacionam as organizações da Economia Social. 7 – Redes e parcerias As parcerias estão no centro das atenções por tudo o que podem trazer (conjugação de recursos, troca e construção de conhecimento e inovação) na solução dos problemas e pelas dificuldades que existem nas suas concretizações produtivas. Todavia há uma carência evidente ao nível dos recursos humanos e dos processos das organizações na construção de redes qualificadas e parcerias autênticas e duradouras, que se prendem muitas vezes com a incompetência na criação e gestão de sistemas de negociação e de cooperação pragmáticos e funcionais. Nesta área, a tónica situa-se na necessidade de formar as pessoas e as organizações como os indutores e os construtores (respectivamente) de uma grande rede de aprendizagem, experimentação e concretização nas competências relacionais e na negociação. 8 – Acção, inovação e mudança Há necessidade ou não de uma mudança cultural? A questão chega a ser ponderada em termos de ruptura abrupta. Conclui-se que existe a necessidade de uma progressiva reestruturação das organizações e qualificação das competências, que preserve os aspectos de identidade e os bens tradicionais da Economia Social, mas, a seu tempo leve à ruptura com as práticas de ineficiência organizacional e financeira. Este aspecto é essencial para que a Economia Social se torne mais sustentável e credível. Fica claro que este 82 processo decorre da integração de conhecimento nas organizações e de uma postura Solidária, Qualificadora e Inovadora. O aspecto que mais se salienta em relação à componente acção é a necessidade de um pragmatismo operacional em que, perante novos problemas, encontramos novas soluções (inovadoras e sustentáveis) com uma atitude resolutiva constante e uma dinâmica de aprendizagem ao longo da vida. 9 – Formação e reconhecimento A formação é essencial numa lógica de construção de processos de aprendizagem ao longo da vida, numa abordagem colaborativa e de rede que se impõe pela dispersão territorial dos actores da Economia Social. Neste campo, destaca-se a importância dos processos de reconhecimento e certificação de competências dos recursos humanos que já operam nas organizações e o modo como esta qualificação e reconhecimento tem directamente que ver com a construção de maior capacidade de intervenção e envolvimento dos agentes 10 – Trabalho por projecto Não existe melhor modelo de trabalho para concretizar os sistemas inovadores e desenvolver a Economia Social numa base de parcerias do que o de gerir por projecto. O projecto baseia-se na concretização de uma acção concreta, definida no tempo, com objectivos bem definidos e claros, que através de um processo planificado e constantemente avaliado, conjuga recursos (logísticos, financeiros, de conhecimento e humanos) no sentido de cumprir um resultado estabelecido à partida. É uma metodologia de gestão muito pragmática, prática e eficaz que promove a simplificação e a eficiência. 83 ANEXO 5 Dois exemplos de árvore de problemas ÁRVORE DE PROBLEMAS DA A.D.I.B.E.R. DESVA LOR IZAÇ ÃO DO TR ABALH O D ESEN VOL VID O PELA ASSOCI AÇ ÃO ASS OC IAÇÃ O POUC O ( RE)C ON HECID A NA R EGIÃO (GÓI S, ARG ., TÁB. E OL IV . HO SP .) BAI XA PR OD UTIVID AD E N ÃO H Á ESPÍRITO DE EQUIPA GES TÃO GL OBAL DEFIC IENTE FALTA D E PER TENÇ A À IN STITU IÇ ÃO DIFIC U LDAD ES R EL ACION AM EN TO IN TER PESSOAL D ESC ON H ECIM ENTO REA L D O S ECTOR (C AR ACTER IZAÇ ÃO/ OU TRA S IN STITU IÇ ÕES) FALTA D E (RE)C ON HEC IM ENT O D OS C OL ABORAD ORE S NÃO H Á GESTÃO DE IM OBILIZAD O (EQU IP./M AT. /FERR AM) NÃO H Á CONTR OLO DE GEST ÃO D ESMO TIVAÇ ÃO DAS PES SOAS POUC A CLAR EZA DO PR OJ ECTO DA ASS OC IAÇÃ O ´GES TÃO / D ECISÕES AVU LS AS ORD ENS D E TRABALH O CONTRAD ITÓR IAS (BASE D A H IERAR QUIA) DEFIC IENTE PL ANE AMENT O DAS AC TIVIDAD ES IN CER TE ZA QUANT O AO FUTU RO D ÉFICE D E COMPETÊNC IAS ESPEC ÍF IC AS DIFIC U LDAD ES D E C OOP ERAÇ ÃO C / AUT AR QU IA S CONC EN TR AÇÃ O D O TR ABA LH O NO C OORD EN AD OR D EFICIEN TE POU CO SIST EMA DE EN VO LVIMEN TO INFOR M. / C OMUN IC . D OS AS SOC IAD OS D IFICU LD ADE S DE M OBILIZ AÇÃ O DOS SÓC IOS N ÃO AS SU NÇ ÃO D E R ES PON SA BI LID AD ES PELO S COL AB OR AD OR ES FRACO EN VO LVIMEN TO D OS D IR ECT OR ES NO P LAN O D E ACTIVIDAD ES COL AB OR AD OR ES SEN TEM INSTABILID ADE PROFISSION AL GRAND E ROTAÇ ÃO D OS R EC . HU M ANOS (N OS PROJ EC TOS) N ÃO H Á GESTÃ O ESTR ATÉGIC A D EFICIEN TE ESTRU TU R AÇÃ O D O TR ABA LH O ´RED UZID A DISPONIBILIDAD E D A DIR ECÇ ÃO IMAGEM PÚ BLICA DEGR AD AD A IN DEFIN IÇÃ O DAS ÁRE AS D E EFICÁC IA N ÃO H Á REGU LAM EN TO IN TER NO ESPAÇ O FÍSIC O SEM CLIM ATIZAÇÃ O NÃO H Á M AP AS D E V AL IDAD E D OS ALIM EN TOS ARMA ZEN AD OS D EFICIEN TE AR RU M AÇ ÃO D A CA SA DA N ATU RE ZA E ARMAZ ÉM 84 ÁRVORE DE PROBLEMAS DA A.R.S.D.O.P. RENDIBILIDAD E BAI XA ESCASSOS BAIXO ELEVADA RECURSOS DESEM PENH O ESTRUTUR A FINANCEIRO S DA DE INSTITUIÇÃO CUSTOS INCAPACID ADE EXCESSIVA DE RECEIT AS SUBSÍDIOS / CLIENT ES FALTA D E PERT ENÇA À INSTITUIÇÃO MERCADO SUBSÍDIOS ASSOCIAÇÃO PROJ./ TR AB. EXT ERIOR INSAT ISF AÇÃO NÃO PESSO AL CONHECID A RECONHEC E IMPREPAR ADO / PR OMOVIDA CAP. OF ERTA POUCO DIVULGAÇ ÃO INSUFIC IENT E INSTITUIÇÃO RESU LTAD OS REDUZIDO DE DECISÕES ORIEN TAÇÃO P/ POUCO / DEPEND ÊNCIA DA FALTA D E QUEBR AS DE GERAR NÃO INEXIST ÊNCIA ESPAÇOS / DE MOMENT OS SEM REACTIVA GLOBAL DE ACOMPANH/ (BOMBEIR O) TRABALH O TÉCNICO DEFICIENTE FUNCIONAM/ GENER ALIZ ADA SIST EMA DOS INFORM. / “CAPELAS” COLABORAD ORES COMUNIC. (CORPOR ATIVO) NÃO H Á POR NÃO H Á FORMAÇ ÃO DESCON FIANÇ A CONDIÇÕ ES ESPAÇOS D E DE ESPECÍF ICA GENER ALIZ ADA DEFIT ÁRIAS INTER LOCUÇ ÃO RESPONSABILIDAD ES (ENTRADA/ D ESENV.) ASSUNÇ ÃO NÃO H Á INDICAD ORES DE DESEM PENH O DIR. / TÉCN . DUALID ADE DE CRITÉRI OS NO TRATAM ENT O DE PESSO AS / PROBLEMAS GESTÃO PERSPEC TIVA DESF ASAMENTO S DE HORÁRI OS ATRASOS SIST EMA EM SERVIÇOS TRANSPOR TE “BANHO MARI A” ADMIN./ CON T.. INEFIC AZ INEXIST ÊNCIA DE G EST ÃO OPER ACI ONAL DA ASSOC. INAD EQU AÇÃO DESGASTE ELEVADA DA ROTAÇ ÃO TRABALH O DIRECÇÃO TOC’s SOBR ECAR GA SERV. ADMIN . DÉFICE DE DA FR OTA AO SER VIÇ O SERVIÇO COMPETÊNCIAS NÃO (FISC. ; CON T. ANAL.) INFORM ATIZ ADO FALTA D E ARTICU LAÇ ÃO INTER-SERVIÇOS ATRASOS CLIM A DE REMUNERAÇ ÕES FREQU ENTES TENSÃO / C ONF LIT O BAIXAS PAGAMEN TO D E SALÁRIOS DIFICU LDADES DE TESOURARIA 85