Sobre a Organização de uma Sala de Paleontologia no
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Sobre a Organização de uma Sala de Paleontologia no
Sobre a Organização de uma Sala de Paleontologia no Museu Municipal de Santiago do Cacém Palavras-chave Paleozóico, Mesozóico, Cenozóico, Formação de Mira, Formação de Mértola, Arenitos de Silves, Goniatites, equinodermes, moluscos, icnofósseis Resumo O Concelho de Santiago do Cacém apresenta formações das três Eratemas1 do Fanerozóico. A zona central do concelho é constituída pelas formações mais antigas, enquanto a zona do Vale do Sado e do litoral constituem-se como as mais recentes, datadas do Cenozóico (Miocénico e Quaternário). A maior parte dos sedimentos dessas formações apresenta uma ausência de elementos fossilíferos. No entanto, algumas zonas do Concelho apresentam associações fossilíferas. Abstract Santiago do Cacém county presents geological formations of the three Erathems of the Phanerozoic. The central zone is constituted by the oldest formations, although the zone of the Sado’s Valley and the coast are constituted by the most recent ones, dated from the Cenozoic (Miocene and Quaternary). Most of the sediments of these formations present an absence of fossils elements. 1 O termo “Eratema” refere-se a sequências estratigráficas e corresponde, na escala geocronológica ao termo ”Era” ! "# $ % "# 1 - Introdução No âmbito da renovação da exposição do Museu Municipal de Santiago do Cacém, enquadrada na Rede Portuguesa de Museus, a Câmara Municipal adjudicou à Arqueolab a organização de uma sala de Paleontologia, com base nos fósseis existentes no Museu. A análise desta colecção permitiu conclui que ela é insuficiente para caracterizar a paleontologia deste concelho. Desta forma foram realizados, durante o ano de 2004 várias saídas de campo, de forma a identificar possíveis jazidas paleontológicas e recolher amostras que as pudessem caracterizar. A metodologia aplicada teve por base a análise da carta geológica do concelho. Depois desta primeira fase foi efectuado o trabalho de campo, a inventariação e o estudo dos fósseis do Museus e do espólio recolhido e, finalmente, elaborado um plano de exposição. Depois de analisada a bibliografia geológica e, com base nela, realizada a caracterização geológica, foi levado a cabo um trabalho de campo, com vista á recolha de exemplares fósseis e de amostras geológicas ilustrativas para a futura exposição do Museu Municipal. Este trabalho consistiu em idas regulares ao terreno durante o decorrer de todo o ano de 2004. Foram realizadas várias prospecções, em áreas de intervenção previamente seleccionadas pelo seu grau de importância paleontológica, ou seja, onde havia referências à existência de jazidas com fósseis. Estas referências foram provenientes da informação recolhida na bibliografia e na carta geológica, bem como através de informações orais das populações de Santiago do Cacém. Infelizmente estas últimas informações apenas nos levaram a locais onde existiam subfósseis ou pseudofósseis (ver definição mais à frente). Foi dada prioridade à análise de cortes geológicos devido à abertura de estradas, pedreiras e zonas expostas à erosão, abrangidas pelas principais formações geológicas já referidas, tendo-se procedido ao respectivo registo e identificação, tanto das áreas como do material recolhido. & ! "# $ % "# O presente artigo pretende apresentar este trabalho com destaque para os novos dados recolhidos, dos quais se destacam os achados em Deixa-o-Resto e em Santiago do Cacém. 2 - A Paleontologia de Santiago do Cacém Os trabalhos tiveram por base os fósseis presentes nas colecções do Museu Municipal de Santiago do Cacém, são essencialmente invertebrados marinhos, recolhidos pelo fundador do Museu, Dr. Cruz e Silva. A maior parte destes exemplares não tem indicação da sua proveniência. Esta colecção apresenta ainda vários subfósseis holocénicos provenientes de várias campanhas arqueológicas e de achados entregues ao Museu. Tal como os fósseis exteriores ao concelho não servirão para caracterizar a paleontologia do concelho, mas servirão para ilustrar o que são subfósseis. Na Carta Geológica de Santiago do Cacém identifica algumas jazidas com invertebrados marinhos, na maioria das quais provieram os exemplares fósseis atrás referidos. Assim, da pesquisa da Carta Geológica e dos trabalhos de campo resultou a identificação das seguintes jazidas: • Deixa-o-Resto A localidade de Deixa-o-Resto faz parte da Bacia Mesozóica de Santiago do Cacém, constituída por afloramentos Jurássicos. A formação de Deixa-o-resto é uma formação conglomerática que aumenta de espessura de W para E e compreende conglomerados com margas intercaladas. Os conglomerados são amarelos e vermelhos. Sobre este nível conglomerático assentam camadas de calcários calciclásticos, oolíticos e microconglomeráticos, intercalados por margas, argilas e conglomerados quartzosos. (RAMALHO, 1993) Os trabalhos de campo realizados na pedreira de Deixa-o-Resto identificaram: Camadas inferiores (menos argilosas): Dente de um Osteichthyes – peixe ósseo ' ! "# $ % "# Bivalves (muito poucos) Camadas intermédias (grandes blocos resultantes dos trabalhos da pedreira): Radíolas de equinóides regulares Camadas superiores (mais argilosas) Gastrópodes (Nerenea ?) Foi identificado um bloco com tubulações. Pela espectaculariedade deste achado e com a autorização e colaboração do proprietário da pedreira, o bloco foi protegido e transportado para o Museu. Perante as características destas camadas parece indicar que estamos perante o termo 4) descrito na Carta Geológica para a formação de Deixa-o-Resto, pela análise das sondagens do Gabinete da Área de Sines. Este termo é, assim caracterizado, por uma deposição de material argiloso intensa e a componente fossilífera é, essencialmente, pelágica com raras intercalações alodápicas de origem nerítica (recifal e lagunar) (RAMALHO, 1993). Fig. 1 – Pedreira de Deixa-o-Resto (em cima) Nerineia e radiolas de equinóides (em baixo) • Santiago do Cacém Como se viu, as formações paleozóicas de Santiago do Cacém são constituídas por grauvaques finos e silticos, cinza-esverdeados em leitos milimétricos a centimétricos e xistos carbonosos, do período Carbónico (andar Viseano Superior). ( ! "# $ % "# Durante os trabalhos de campo foi descoberto numa pedreira abandonada, à saída de Santiago do Cacém para S. Domingos, fósseis de bivalves, tubulações de invertebrados marinhos e riple-marks. Tal como foi feito ao bloco com tubulações na pedreira de Deixa-o-Resto, seria importante conseguir retirar o bloco com os riple-marks, pois ele está sujeito à erosão e à actividade humana, que a coloca em perigo. Fig. 2 – Riple-Marks (Pedreira de Santiago do Cacém) Estes achados atestam uma formação destes sedimentos em ambiente marinho pouco profundo. • Abela As formações sedimentares da freguesia de Abela pertencem à mesma unidade geológica da pedreira atrás referida, a Formação de Mira. Estão referenciadas descobertas nesta zona de fósseis de Goniatites (INVERNO, 1993), o que denota um ambiente de águas mais profundas que o anterior. 3 – Conclusões ) ! "# $ % "# Após verificada a insuficiência de informações sobre a paleontologia através das colecções do Museu Municipal de Santiago do Cacém, foram realizados vários trabalhos de campo, realizados durante o ano de 2004, juntamente com a consulta da Carta Geológica e de outra bibliografia, permitiram recolher um conjunto de fósseis, que nos podem ter informações gerais sobre a evolução peleoecologica de algumas zonas do concelho, em especial de Deixa-o-Resto, pelas recolhas efectuadas na pedreira dessa localidade. Pela análise destes dados podemos concluir que o Concelho de Santiago do Cacém apresenta uma potencialidade paleontológica fraca. O património paleontológico de Santiago do Cacém é constituído essencialmente por fósseis de invertebrados marinhos Paleozóicos e Mesozóicos, que nos indicam que os sedimentos de onde provêm se formaram em ambiente pelágico ou lagunar. De todo este património, o mais representado é o resultante das formações do Mesozóico, localizado a Oeste do concelho e que é constituído, essencialmente, por fósseis de invertebrados marinhos. Silvério Figueiredo*; Vanda Sousa; Rodolfo Silva; Carla Moura** * ** Arqueolab, Instituto Politécnico de Tomar, Centro Português de Geo-História e Pré-História Arqueolab, Centro Português de Geo-História e Pré-História * ! "# $ % "# 4 - BIBLIOGRAFIA BAPTISTA, Joaquim Alberto da Paz, «Alguns aspectos petrográficos das rochas carbonatadas do Malm Inferior da região de Santiago do Cacém- Sines» Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. – Tomo LV, 1971, pp.5-22 INVERNO, Carlos M C et al Carta Geologia (folha 42 C) de Santiago do Cacém, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 1993 INVERNO, Carlos M C et al, Notícia Explicativa Carta Geologia (folha 42 C) de Santiago do Cacém, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 1993 KARDONG, Kenneth V., Vertebrates, Comparative anatomy, Function, Evolution – 3º. edição, International Edition, Washington, 2002 MANUPELLA, Giuseppe, Rochas dolomíticas de Santiago do Cacém, Porto: [s.n.], 1970. – p. 32 MANUPELLA, Giuseppe, «O Dogger de Santiago do Cacém» Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. – Tomo 69 fasc.I, 1983, pp. 47-61 MANUPELLA, Giuseppe, «Rochas dolomíticas de Santiago do Cacém», Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro. – Vol.XIX, fasc. 3-4, 1969, pp. 277-295, [8 p.] MANUPELLA, Giuseppe; MOREIRA, José Carlos Balaçó, «Calcários e dolomitos da área de Melides: Santiago do Cacém» - Estudos, notas e trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro e do Laboratório. tomo 31, 1989, pp. 79-96, [49 p.] MAYR, Helmut, Fossils, HarperCollinsPublishers, Londres, 1985 + ! "# $ % "# MELENDEZ, Bermudo, Paleontologia – Tomo 2: Vertebrados: Peces, Anfibios, Reptiles Y Aves, Paraninfo, Madrid, 1986 PIMENTEL, Nuno Lamas, «Considerações sedimentológicas acerca do Triásico de Santiago do Cacém», Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro. - Tomo 84, Fasc. 1, 1998, pp. A. 38-A. 40 RICH, Patricia Vickers et al, The Fossil Book – A Record of Prehistoric Life, Dover Publications, Nova York, 1996 ROMARIZ, C et al, «Alguns Elementos Sobre o Ceno- Antropozóico de STº André, Santiago do Cacém», Revista da Faculdade de Ciências – C: Ciências Naturais. –Vol. XVII, Fasc. 1ª, 1972, pp. 207-219 ROMARIZ, C; CARVALHO, Galopim de, «Notas sobre rochas sedimentares portuguesas: Miocénico de Santiago do Cacém», Boletim do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. – Vol. 13, fasc. 1 SILVA, Cruz e, Apontamentos e considerações sobre as pesquisas arqueológicas realizadas desde 1922 nos concelhos de S. Tiago-de-Cacém, Sines e Odemira – Arquivo de Beja, s/d, s/l Artigos publicados na Internet: FIGUEIREDO, S., SOUSA, V. ; SILVA, R. ; MOURA, C. “Sobre a Organização de uma Sala de Paleontologia no Museu Municipal de Santiago do Cacém” http://arqueolabld.planetaclix.pt, 2005 Nota legal: Qualquer citação ou referência aos textos, ou utilização de imagens aqui publicadas, deverá indicar expressamente a fonte e os autores. ! "# $ % "#
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