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AUTORES António Albuquerque de Matos • Chefe de Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular • Diretor do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular dos Hospitais da Universidade de Coimbra, desde 1999 • Ex-Presidente do Colégio de Angiologia e Cirurgia Vascular da Ordem dos Médicos • Sócio-fundador e Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular Armando Mansilha • Professor Convidado da Faculdade de Medicina do Porto • Assistente Hospitalar de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de São João - Porto • Coordenador da Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital CUF Porto • Secretário-Geral da Secção de Cirurgia Vascular da UEMS (União Europeia de Médicos Especialistas) Eduardo Serra Brandão • Angiologista e Cirurgião Vascular • Consultor de Angiologia e Cirurgia Vascular • “Fellow“ da Academic Surgical Unit do Saint Mary´s Medical School-Londres • “Fellow“ do American College of Angiology • Diretor do IRV - Instituto de Recuperacão Vascular - Lisboa SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR • Secretário-Geral da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular Isabel Cássio • Chefe de Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular • Diretora do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Ponta Delgada • Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular Joaquim Barbosa • Coordenador do Núcleo de Cirurgia Vascular do Hospital Particular de Lisboa e Cirurgião Vascular do Hospital dos SAMS - Lisboa • Ex-Cirurgião Vascular do Hospital Santa Maria - Lisboa • Membro Fundador da Secção de Cirurgia Vascular da UEMS (União Europeia de Médicos Especialistas) SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR • Ex-Presidente do Colégio da Especialidade de Angiologia e Cirurgia Vascular • Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular José França • Chefe de Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular • Diretor da Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital Dr. Nélio Mendonça - Funchal AUTORES Mário Macedo • Cirurgião Vascular do Hospital dos SAMS - Lisboa • Cirurgião Vascular da Clinica de S. Sebastião - Ponta Delgada • Ex-Cirurgião Vascular do Hospital Santa Maria - Lisboa • Coordenador do Núcleo de Flebo-Linfologia da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular • Ex-membro da Direção do Colégio da Especialidade de Angiologia e Cirurgia Vascular da Ordem dos Médicos Paulo Correia • Médico Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular • Diploma Interuniversitário Europeu de Lasers Médicos • Mestrado em Lasers Médicos pela Universidade Rovira i Virgili (Reus) • Membro da Comissão Científica da SPILM (Ordem dos Médicos) Rui Almeida • Chefe de Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular • Diretor do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do CHP HSA • Professor Convidado do ICBAS-UP • Presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR • Diretor Clínico do Instituto Vascular do Porto Recomendações no diagnóstico e tratamento da doença venosa crónica Edição, Junho 2011 Depósito Legal: 329979/11 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Produção e edição: Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular Rua de Gondarém, 956 - r/c, 4150-375 Porto - Portugal Telefone: 226 199 687 - Fax: 226 199 689 E-mail: [email protected] © Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida por qualquer forma nem por qualquer processo eletrónico, mecânico, de fotocópia, de registo ou outro tipo sem a autorização por escrito do titular do copyright. Esta publicação foi possível através do apoio, sem qualquer tipo de condições, da Servier Portugal. Obra escrita segundo o acordo ortográfico de 1990 ÍNDICE PREFÁCIO 2 EPIDEMIOLOGIA 3 Perspetiva nacional ………....………………………………………………………………………… 4 Perspetiva internacional …………………………………………………………………………… 5 ANATOMIA DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES 7 Veias superficiais …….………………………………………………………………………………… 9 Veias profundas …….………………………………………………………………………………… 9 Veias perfurantes ….…………………………………………………………………………………… 10 FISIOLOGIA DO SISTEMA VENOSO 13 FISIOPATOLOGIA 17 Ciclo vicioso: hipertensão/inflamação venosa …………………………………………… 18 Alterações na parede e válvulas venosas …………………………………………………… 20 Microcirculação ………………………………………………………………………………………… 21 Mediadores inflamatórios ………………………………………………………………………… 22 CLASSIFICAÇÃO Perspetiva do médico – Classificação CEAP Perspetiva do doente – Questionário CIVIQ 23 24 ……………………………………………… 27 ……………………………………………… 29 Conceitos clínicos ……………………………………………………………………………………… 30 Conceitos fisiológicos ………………………………………………………………………………… 31 Conceitos descritivos ………………………………………………………………………………… 32 DIAGNÓSTICO 23 Anamnese …....…………………………………………………………………………………………… 34 Deteção de refluxo e obstrução ……………………………………………………………… 34 Eco-Doppler …….………………………………………………………………………………………… 34 TRATAMENTO 23 Medidas higieno-dietéticas ……..………………………………………………………………… 38 Compressão ………….…………………………………………………………………………………… 40 Fármacos venoativos ………………………………………………………………………………… 41 Ablação térmica, química e mecânica ……..………………………………………………… 46 BIBLIOGRAFIA 48 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR DEFINIÇÕES ESPECÍFICAS 1 PREFÁCIO A doença venosa é, hoje em dia, considerada uma patologia crónica e evolutiva que afeta uma grande parte da população mundial. Portugal, pela sua localização e clima, não é exceção, estimando-se que cerca de um terço da nossa população sofra de alterações da macro e microcirculação dos membros inferiores. Consequentemente, estes doentes apresentam diversos graus de incapacidade física, psicológica e social, que nas fases mais graves da doença implicam elevados custos para o sistema de saúde português. Face a todo este cenário e à missão que esteve na base da criação da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, há cerca de 11 anos, “promover a investigação e a atualização do conhecimento e da prática clínica diária, para melhor servir os doentes, a comunidade médica e a opinião pública em geral”, acreditamos ser esta a altura certa para publicar as primeiras recomendações portuguesas na área da doença venosa crónica. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Esta obra cumpre o objetivo de ser um apoio a todos os colegas e contribuir para estabelecer um melhor diagnóstico e tratamento da doença venosa crónica, com base numa visão atualizada da patologia. Ao folhear este livro, poderá encontrar recomendações importantes e informações práticas sobre os doentes que padecem desta patologia. 2 Resta-nos saudar todos os colegas que, através do seu trabalho e dedicação, tornaram possível esta publicação. No futuro, procuraremos implementar novos projetos, estudos e outras iniciativas para, deste modo, despertar espíritos e criar hábitos de crítica científica. O grupo de trabalho SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR EPIDEMIOLOGIA 3 EPIDEMIOLOGIA Perspetiva nacional Dados epidemiológicos:1 • 2 milhões de mulheres com mais de 30 anos sofrem de doença venosa crónica (DVC); • 7 em cada 10 mulheres com mais de 30 anos sofrem de problemas de circulação venosa e metade ainda não está tratada; • 1/3 da população portuguesa, no geral, sofre de DVC. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Dados socioeconómicos, relativos à doença venosa:2 • 8% dos doentes reformam-se antecipadamente devido à patologia; • a úlcera venosa apresenta elevadas repercussões sociais, principalmente ao nível da suspensão temporária da atividade profissional (55,4%), tendendo a agravar-se com a idade. 4 Qualidade de vida:3 • 48% da população portuguesa sofre regularmente de dor nos tornozelos e/ou pernas; • 58% da população feminina, com mais de 40 anos de idade, sente a sua qualidade de vida significativamente afetada pela DVC; • 64% da população feminina, com mais de 50 anos de idade, sente a sua qualidade de vida significativamente afetada pela DVC. A B FIGURA 1. Diminuição da qualidade de vida da população portuguesa total (A) e da população portuguesa feminina e masculina (B), à medida que a idade aumenta. EPIDEMIOLOGIA Perspetiva internacional Tendo em conta os principais dados epidemiológicos estima-se que:4,5 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR • a incidência anual de varizes é de 2,6% nas mulheres e 1,9% nos homens; • 25 a 33% das mulheres e 10 a 20% dos homens adultos apresentam varizes; • 3 a 11% da população apresenta edema e/ou alterações tróficas (hiperpigmentação e eczema); • 0,3 a 1% da população adulta nos países ocidentais apresenta úlceras venosas; • a DVC tem um custo anual entre os 600 e os 900 milhões de euros, o que representa cerca de 1-2% do orçamento total para a saúde. 5 6 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR ANATOMIA DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES 7 ANATOMIA DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES As veias dos membros inferiores estão divididas em três sistemas – superficial, profundo e perfurante – localizados em dois compartimentos principais: o compartimento superficial e o compartimento profundo. O compartimento profundo é limitado superficialmente pela fáscia muscular e contém as veias profundas. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR O compartimento superficial é limitado profundamente pela fáscia muscular e superficialmente pela derme.6 8 FIGURA 2. Esquema do sistema venoso dos membros inferiores (segundo Cid dos Santos), representando as redes superficial (s) e profunda (p), separadas pela aponevrose superficial (a) e apenas em comunicação através das veias perfurantes (c). Imagem gentilmente cedida pelo Professor Teixeira Diniz, Doutor Salvador Marques e seus colaboradores, do livro “A doença venosa dos membros inferiores” ANATOMIA DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES Veias Superficiais Designação atualmente aceite Antiga designação Veia grande safena Veia safena interna, veia safena longa, veia safena maior Confluência das veias inguinais superficiais Crossa da veia safena interna Veia grande safena acessória anterior Veia safena acessória Veia grande safena acessória posterior Veia safena acessória (o seu segmento da perna foi muitas vezes chamado de veia de Leonardo ou veia do arco posterior) Veia grande safena acessória superficial Veia safena acessória Extensão cranial da veia pequena safena Veia de Giacomini (se comunicação desta extensão com a veia grande safena através da veia circunflexa posterior da coxa) Veia pequena safena Veia safena externa, veia safena curta, veia menor Veia pequena safena acessória superficial Veia circunflexa anterior da coxa Veia circunflexa posterior da coxa Veias intersafenas Sistema venoso lateral Veias do pé Veias Profundas Designação atualmente aceite Antiga designação Veia femoral comum Veia femoral comum Veia femoral Veia femoral superficial Veia femoral profunda Veia profunda da coxa Veia femoral circunflexa medial Veia femoral circunflexa medial Veia femoral circunflexa lateral Veia femoral circunflexa lateral Veias femorais comunicantes profundas Veias perfurantes Veia ciática Veia ciática Veia poplítea Veia poplítea Veias surais Veias soleares Veias surais Veias gastrocnémias Gastrocnémia medial Gastrocnémia lateral Intergemelar SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR TABELA 1. Designação das veias superficiais dos membros inferiores.7 9 Veias Profundas Designação atualmente aceite Antiga designação (continuação) Plexo venoso genicular Veias geniculares Veias tibiais anteriores Veias tibiais anteriores Veias tibiais posteriores Veias tibiais posteriores Veias peroniais Veias perionais Veias plantares mediais Veias plantares laterais Arco venoso plantar profundo Veias metatársicas profundas (plantar e dorsal) Veias digitais profundas (plantar e dorsal) Veia pediosa TABELA 2. Designação das veias profundas dos membros inferiores.7 Veias Perfurantes Designação atualmente aceite Perfurantes do pé Antiga designação Perfurante dorsal do pé Perfurante medial do pé SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Perfurante lateral do pé 10 Perfurante plantar do pé Perfurantes do tornozelo Medial do tornozelo Anterior do tornozelo Lateral do tornozelo Perfurantes da perna Mediais da perna Paratibiais Perfurante de Boyd e perfurante de Sherman Tibiais posteriores Superior Perfurantes de Cockett Média Inferior Anteriores da perna Laterais da perna Posteriores da perna Gastrocnémia medial Gastrocnémia lateral ANATOMIA DAS VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES Veias Perfurantes Designação atualmente aceite Antiga designação (continuação) Intergemelar Perfurantes do joelho Para-aquiliana Perfurante de Bassi Do canal femoral Perfurante de Dodd Medial do joelho Lateral do joelho Suprarrotuliana Infrarrotuliana Fossa poplítea Perfurantes da coxa Medial da coxa Perfurante de Hunter Inguinal Anterior da coxa Lateral da coxa Posterior da coxa Posteromedial Posterolateral Perfurante de Hach Ciática Pudenda Glútea superior Glútea inferior Glútea média TABELA 3. Designação das veias perfurantes dos membros inferiores.7 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Perfurantes Glúteas 11 12 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR FISIOLOGIA DO SISTEMA VENOSO 13 FISIOLOGIA DO SISTEMA VENOSO O principal objetivo da circulação venosa é fazer regressar o sangue ao coração para que ocorra a reoxigenação e a respetiva recirculação.8 B* SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR A 14 FIGURA 3. (A) Rede venosa dos membros inferiores; (B) Esquema do sistema venoso dos membros inferiores (segundo Cid dos Santos), em corte transversal, representando as redes superficial (s) e profunda (p), separadas pela aponevrose superficial (a) e apenas em comunicação através das veias perfurantes (c). *Imagem gentilmente cedida pelo Professor Teixeira Diniz, Doutor Salvador Marques e seus colaboradores, do livro “A doença venosa dos membros inferiores” Dependendo do nível de atividade e postura, 60-80% da totalidade do nosso sangue reside no sistema venoso, sendo que 25-50% deste volume se encontra nas pequenas vénulas pós-capilares e respetivos sistemas coletores.7 Para que o sangue retorne ao coração são necessárias várias estruturas, das quais se destacam: 8 • Bomba central (coração); • Bomba venosa periférica (músculos da região gemelar); • Plexo venoso plantar; • Válvulas venosas. FISIOLOGIA DO SISTEMA VENOSO A* B* C* D* E FIGURA 4. Esquema evidenciando os fenómenos fisiológicos sucedidos durante: a contração muscular (A) com expulsão do sangue para os coletores venosos profundos e durante a descontração (B) em que não há refluxos para a rede venosa do músculo, porque as válvulas, cerrando, a isso se opõem; (C) a contração muscular (m) com compressão das veias profundas (v) e (D) descontração muscular (m) com descompressão das mesmas veias (v). Evidencia-se a função das válvulas situadas distalmente na veia profunda (v) e na veia perfurante (c). Evidencia-se a aponevrose superficial (a) e o sistema venoso superficial (s); (E) Representação do plexo venoso plantar. *Imagem gentilmente cedida pelo Professor Teixeira Diniz, Doutor Salvador Marques e seus colaboradores, do livro “A doença venosa dos membros inferiores” O sangue venoso proveniente da pele e dos tecidos subcutâneos é recolhido através de várias vénulas e veias superficiais, as quais drenam o sangue para o sistema venoso profundo através de três vias principais: 9 (1) Veias grande e pequena safena, que drenam no sistema venoso profundo ao nível das junções safeno-femoral e safeno-poplítea; (2) Veias perfurantes originárias nas veias grande e pequena safena e suas tributárias; (3) Diretamente no sistema venoso profundo ou no sistema pélvico. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Todas estas estruturas contribuem para a criação de um gradiente de pressão que permite que o sangue chegue ao coração contrariando a força da gravidade.8 15 16 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR FISIOPATOLOGIA 17 FISIOPATOLOGIA A doença venosa é, hoje em dia, considerada uma patologia crónica e evolutiva, à qual está associado um processo fisiopatológico complexo, que tem na sua origem um ciclo vicioso entre a hipertensão e a inflamação venosa crónica.10,11 Ciclo vicioso: hipertensão/inflamação venosa SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR A hipertensão venosa e a reação inflamatória são dois processos indissociáveis da degradação das paredes e válvulas venosas.12 18 A B FIGURA 5. (A) Válvula venosa normal, perfeitamente adaptada à sua função de possibilitar o transporte do sangue no sentido ascendente, impedindo o refluxo venoso no sentido descendente. (B) A hipertensão venosa é responsável pelo início da reação inflamatória, resultando no enfraquecimento, distensão e dilatação da parede venosa. Hoje, considera-se que a hipertensão venosa é, na sua maioria, o resultado da incompetência valvular e do refluxo venoso que, uma vez iniciado, leva a uma alteração no fluxo sanguíneo venoso. Esta alteração do fluxo desencadeia a libertação de mediadores da inflamação ao nível das células endoteliais. A cascata FISIOPATOLOGIA inflamatória inicia-se com a ativação, adesão e migração dos leucócitos através do endotélio venoso, com posterior produção de citoquinas e fatores de crescimento, que levam à alteração da matriz extracelular.12,13 Os processos inflamatórios resultantes da interação leucócito-endotélio desempenham um papel importante na génese da disfunção venosa. Consequentemente, a lesão contínua das válvulas, induzida pelos leucócitos, origina a incompetência valvular e o refluxo venoso. O refluxo venoso leva, por sua vez, ao aumento da pressão venosa, completando-se assim o ciclo vicioso que está na base da doença venosa crónica (DVC). 11 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR FIGURA 6. Representação da inflamação venosa: uma etapa crucial da progressão da DVC. 19 Fatores de risco para a doença venosa crónica Fatores genéticos Sexo feminino (progesterona) Gravidez Idade Elevada estatura Obesidade Posição ortostática prolongada Hipertensão venosa Refluxo crónico Hipertensão capilar Dilatação venosa Alterações valvulares e extravasão capilar Inflamação Fluxo sanguíneo alterado Alterações nas paredes e válvulas venosas Extravasamento capilar Edema SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Inflamação 20 Úlcera venosa Alterações tróficas FIGURA 7. Esquema do processo fisiopatológico da DVC, com a representação do ciclo vicioso da hipertensão/inflamação venosa, proposto por John Bergan.11 Alterações na parede e válvulas venosas A parede e as válvulas venosas conseguem resistir ao aumento da pressão venosa durante um período limitado de tempo, a partir do qual surgem efeitos adversos. Válvulas venosas Através de angioscopias realizadas na veia grande safena durante intervenções cirúrgicas, tem sido possível observar profundas alterações ao nível das válvulas FISIOPATOLOGIA venosas, tais como desgaste, alongamento, separação ou rompimento, espessamento, retração e adesão dos folhetos valvulares, bem como a ausência de válvulas subterminais. Também foi observada uma diminuição do número de válvulas venosas na veia grande safena em doentes com varizes.12,13 Parede venosa Ao nível da parede venosa, devido à pressão macrocirculatória e às alterações hemodinâmicas, têm sido detetadas várias alterações ao nível do colagéneo, elastina e tecido muscular liso, com a consequente alteração das propriedades viscoelásticas da parede venosa.14 Em estudos histológicos, foram observadas áreas de hipertrofia, com um elevado conteúdo em colagéneo, que alternam com segmentos hipotróficos com uma baixa quantidade de tecido muscular liso e matriz extracelular.11,15 São todos estes processos que levam à alteração das propriedades elásticas das veias dos doentes com DVC. 4 FIGURA 8. Representação do processo inflamatório através da interação leucócito-endotélio ao nível das válvulas venosas. *Imagem gentilmente cedida pelo Professor Comerota. Microcirculação Quando existe uma insuficiência valvular ao nível das veias superficiais e perfurantes, a hipertensão venosa é diretamente transmitida à rede capilar ao nível da derme e dos tecidos subcutâneos, o que leva a que os capilares se tornem mais permeáveis a moléculas grandes.9 Adicionalmente, ao nível do sistema linfático, existe uma fragmentação e destruição da rede linfática cutânea com a respetiva diminuição do fluxo linfático, o que leva a uma situação em que a filtração transcapilar excede o fluxo linfático. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR * 21 São estas alterações que levam à progressão da patologia para estádios mais graves e podem, mesmo, originar lesão do tecido subcutâneo e formação de úlcera venosa.14,16 Adesão leucocitária Alteração do endotélio Hipertensão capilar Glóbulos vermelhos Leucócitos Extravasão de plasma Moléculas de adesão Radicais livres Enzimas proteolíticas FIGURA 9. Lesão capilar e inflamação. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Mediadores inflamatórios 22 Quando se instala uma situação crónica de refluxo venoso, surge uma hipertensão venosa com alteração do fluxo sanguíneo e ativação leucocitária precoce.16 Após a sua ativação, os leucócitos rolam, aderem e migram através do endotélio localizado nas paredes e válvulas venosas.17 Durante este processo, vários tipos de mediadores inflamatórios, fatores de crescimento, enzimas proteolíticas e radicais livres são libertados, degradando a matriz extracelular e conduzindo ao alongamento e tortuosidade das veias afetadas com separação, perfuração, rutura e destruição definitiva das válvulas venosas.18 Ao mesmo tempo, a síntese de colagéneo, estimulada pelos fatores de crescimento, leva a alterações nas paredes das veias.13 Todos estes fenómenos inflamatórios ao nível da parede e válvulas venosas contribuem para a progressiva insuficiência e respetiva destruição valvular, o que demonstra que a inflamação venosa é um passo crucial na degradação da parede venosa, insuficiência valvular e consequente agravamento da hipertensão venosa.10,14,18 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR CLASSIFICAÇÃO 23 CLASSIFICAÇÃO Perspetiva do médico A classificação CEAP é um método internacionalmente aceite para classificar a doença venosa, consoante a sua gravidade, estando publicada em 25 jornais e livros internacionais e em 8 línguas diferentes. Esta classificação tem como objetivo servir de guia sistemático para um melhor diagnóstico clínico e caraterização dos doentes venosos, permitindo também encontrar uma melhor racionalização de tratamento para cada perfil de doente.4,19 As iniciais CEAP significam: “C” – Clínica; “E” – Etiológica; “A” – Anatómica; “P” – Fisiopatológica. Classificação CEAP SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Clínica 24 C0: Sem patologia venosa C1: Telangiectasias ou varizes reticulares C2: Varizes tronculares C3: Edema C4: Alterações tróficas C5: Úlcera cicatrizada C6: Úlcera ativa Etiológica Ec: Congénita Ep: Primária Es: Secundária (pós-trombótica) En: Sem etiologia identificada Nota: As varizes primárias resultam da dilatação venosa e de lesões das válvulas venosas sem trombose venosa profunda (TVP) anterior. As varizes secundárias são consequência de uma TVP ou, em casos raros, de uma tromboflebite superficial. 4 Anatómica As: Sistema venoso superficial Ad: Sistema venoso profundo Ap: Sistema venoso perfurante An: Sem localização identificada CLASSIFICAÇÃO Classificação CEAP (Continuação) Fisiopatológica Pr: Refluxo. Po: Obstrução. Pr,o: Refluxo e obstrução. Pn: Sem processo fisiopatológico identificado. TABELA 4. Resumo da classificação CEAP. Para uma avaliação inicial do doente com DVC, a classificação clínica é a mais importante podendo ser feita pela simples observação, sem recurso a qualquer tipo de teste mais específico. Classificação clínica C0: Sem sinais visíveis ou palpáveis de doença venosa. C1: Telangiectasias ou varizes reticulares. C2: Varizes tronculares. C3: Edema. C4b: Lipodermatosclerose e/ou atrofia branca. C5: Úlcera venosa cicatrizada. C6: Úlcera venosa ativa. S: Sintomático, incluindo dor, sensação de aperto, irritação, sensação de peso nas pernas, cãibras musculares e outras queixas atribuídas à doença venosa. A: Assintomáticos. C0 C1 C2 C3 C4 C5 C6 FIGURA 10. Representação dos diversos estádios clínicos da classificação CEAP: Apenas sintomas, telangiectasias, varizes, edema, alterações tróficas, úlcera cicatrizada e úlcera ativa. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR C4a: Pigmentação e/ou eczema. 25 Telangiectasias ou varizes telangiectásicas – Confluência de vénulas intradérmicas dilatadas, com menos de 1 mm de diâmetro. Termos usados pelo doente: derrames, raios, aranhas ou manchas. Varizes reticulares – Veias subdérmicas azuladas e dilatadas, geralmente tortuosas com 1 a 3 mm de diâmetro. Estão excluídas as veias normais e visíveis em pessoas com pele muito branca. Varizes tronculares – Veias subcutâneas dilatadas com 3 mm ou mais de diâmetro, medidas em posição ortostática. Podem incluir as veias safenas, as veias tributárias das veias safenas ou as veias superficiais da perna não safenas. As varizes são normalmente tortuosas, no entanto, as veias safenas de forma tubular que tenham refluxo confirmado também podem ser classificadas como varizes. Termos usados pelo doente: veias varicosas. Edema – Aumento percetível no volume dos tecidos cutâneos e subcutâneos, caraterizado pela deformação após pressão. O edema venoso ocorre normalmente na região do tornozelo, mas pode estender-se à perna e ao pé. Pigmentação – Escurecimento acastanhado da pele, resultante da extravasão sanguínea. Normalmente ocorre na região maleolar, mas pode estender-se à perna ou ao pé. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Eczema – Dermatite eritematosa, que pode evoluir para vesículas pruriginosas ou para erupções da pele em forma de escamas. Normalmente localiza-se junto das varizes, mas pode ocorrer em qualquer zona do membro inferior. O eczema pode ser provocado pela doença venosa crónica ou pela sensibilidade à terapêutica local. 26 Lipodermatosclerose (LDS) – Inflamação crónica e localizada, com fibrose da pele e dos tecidos subcutâneos, por vezes associada à cicatrização ou contratura do tendão de Aquiles. A LDS é por vezes precedida de um edema inflamatório difuso do tecido cutâneo, o qual pode ser doloroso e se designa por hipodermite. Distingue-se da linfagite, erisipela ou celulite pelos seus sinais diferenciadores e pelas suas caraterísticas sistémicas, estando associada a manifestações graves de DVC. Atrofia branca – Área de tecido cutâneo atrófico, esbranquiçado, normalmente circular, rodeada por capilares dilatados e, por vezes, hiperpigmentação. Sinal severo de DVC, no entanto, não deve ser confundido com as cicatrizes de úlceras cicatrizadas. As cicatrizes de úlceras cicatrizadas podem apresentar tecido cutâneo com alterações de pigmentação, mas diferenciam-se pelo seu historial de ulceração e aspeto. Úlcera venosa – Solução de continuidade da pele e tecido celular subcutâneo que surge mais frequentemente na região maleolar, causada e agravada pela DVC.19 CLASSIFICAÇÃO Perspetiva do doente Nos últimos tempos, têm sido desenvolvidos vários instrumentos com o intuito de avaliar o estado de saúde ou doença, percecionado pelo próprio doente. O uso destes instrumentos que avaliam diretamente a perspetiva do doente, tem sido considerado um avanço crucial na área da doença venosa, uma vez que se trata de uma patologia complexa, crónica e evolutiva. Neste caso, os instrumentos que mais se utilizam são os questionários de qualidade de vida, que permitem recolher informações importantes sobre o impacto que a patologia tem no dia a dia dos doentes que, de outra forma, não seria possível contabilizar. Destes, destaca-se o Chronic Venous Insufficiency Questionnaire (CIVIQ) que é um questionário específico para a DVC, estando validado internacionalmente (relevância, aceitabilidade, fiabilidade, validade de construção e sensibilidade) em diversas línguas. Trata-se de um questionário de autoavaliação com 20 perguntas, cada uma pontuada de 1 a 5, compreendendo 4 dimensões: física (4 questões), psicológica (9 questões), social (3 questões) e dor (4 questões). O resultado final é tanto maior, quanto mais for o impacto da DVC na qualidade de vida do doente.20 Perguntas incluídas no questionário CIVIQ: 2) Durante as últimas quatro semanas, até que ponto se sentiu afetado(a) ao trabalhar ou nas suas atividades quotidianas, devido aos seus problemas nas pernas? 3) Durante as últimas quatro semanas, sentiu dificuldade em dormir, devido aos seus problemas nas pernas? Durante as últimas quatro semanas, até que ponto os problemas nas suas pernas o(a) afetaram/limitaram nas atividades abaixo referidas? 4) Permanecer um longo período de tempo de pé ou sentado(a) 5) Subir escadas 6) Dobrar-se/Ajoelhar-se 7) Caminhar depressa 8) Viajar de carro, autocarro, avião 9) Atividades domésticas como cozinhar, transportar uma criança ao colo, passar roupa a ferro, limpar chão ou mobiliário, executar trabalhos manuais SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR 1) Nas últimas quatro semanas, sentiu dores nos tornozelos ou nas pernas? 27 10) Eventos sociais (casamentos, batizados, discotecas) 11) Desportos com esforço físico importante Os problemas nas pernas podem também afetar o seu estado de espírito. Até que ponto as seguintes frases correspondem à forma como se sentiu durante as últimas 4 semanas? 12) “Sinto-me nervoso(a), tenso(a)” 13) “Canso-me facilmente” 14) “Sou um “fardo” para os outros” 15) “Tenho sempre de tomar certas precauções (esticar as pernas, evitar permanecer longos períodos de pé)” 16) ”Tenho vergonha de mostrar as pernas” 17) ”Irrito-me facilmente” 18) ”Sinto-me incapacitado(a)” 19) “Tenho dificuldade em iniciar as atividades pela manhã” 20) ”Não me apetece passear (sair de casa)” Pontuação: SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR 1 - Nunca 28 2 - Ocasionalmente 3 - Regularmente 4 - Frequentemente 5 - Sempre Dimensão física: Questões 5, 6, 7 e 9. Dimensão psicológica: Questões 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20. Dimensão social: Questões 8, 10 e 11. Dimensão dor: Questões 1, 2, 3 e 4. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR DEFINIÇÕES ESPECÍFICAS 29 DEFINIÇÕES ESPECÍFICAS Em 2009, foi publicado um documento de consenso internacional sobre terminologia, o qual foi desenvolvido por um grupo internacional de peritos interdisciplinares sob os auspícios do American Venous Forum (AVF), European Venous Forum (EVF), International Union of Phlebology (IUP), American College of Phlebology (ACP) e International Union of Angiology (IUA). Este documento forneceu importantes recomendações quanto à terminologia a utilizar, de forma a promover o uso de uma linguagem científica comum na investigação, diagnóstico, tratamento e seguimento de doentes com DVC. 21 Conceitos clínicos Doença venosa crónica – Qualquer alteração morfológica e funcional do sistema venoso, manifestada a longo prazo por sintomas e/ou sinais, indicando a necessidade de investigação e/ou tratamento. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Insuficiência venosa crónica (C3-C6) – Conceito reservado para os estádios avançados de DVC, que se aplica às alterações funcionais do sistema venoso que originam edema, alterações tróficas ou úlceras venosas. 30 Sintomas venosos – Queixas relacionadas com a doença venosa, que incluem a sensação de formigueiro, dor, ardor, cãibras e sensação de pernas pesadas, inchadas e/ou cansadas. Estes sintomas indiciam a presença de doença venosa crónica, particularmente se forem agravados pelo calor ou ao longo do dia e aliviados com a elevação e/ou descanso dos membros. Sinais venosos – Manifestações visíveis de alterações venosas, que incluem veias dilatadas (telangiectasias, varizes reticulares e/ou varizes tronculares), edema, alterações tróficas e/ou úlcera venosa, de acordo com as descrições da classificação CEAP. Varizes recorrentes – Reaparecimento de varizes numa área previamente tratada com sucesso. Varizes residuais – Varizes que permanecem após tratamento. Síndrome pós-trombótico – Sintomas e/ou sinais venosos crónicos relacionados com uma trombose venosa profunda e respetivas lesões. Síndrome de congestão pélvica: Sintomas crónicos, os quais podem incluir dor pélvica, sensação de peso perineal, micção imperiosa e dor pós-coital, causados por DEFINIÇÕES ESPECÍFICAS refluxo e/ou obstrução das veias pélvicas e/ou ováricas. Todos estes sintomas podem estar associados à existência de varizes vulvares, perineais e/ou dos membros inferiores. Varicocelo – Presença de varizes escrotais. Aneurisma venoso – Dilatação localizada, sacular ou fusiforme, de um segmento venoso com um calibre pelo menos 50% maior do que o tronco normal. Conceitos fisiológicos Incompetência valvular venosa – Disfunção das válvulas venosas, da qual resulta um fluxo venoso retrógrado de duração anormal. Refluxo venoso – Fluxo venoso retrógrado de duração anormal em qualquer segmento venoso. Primário: Provocado por disfunção valvular venosa idiopática. Secundário: Provocado por trombose ou trauma de etiologia mecânica, térmica ou química. Congénito: Provocado pela ausência ou desenvolvimento anormal das válvulas venosas. Superficial: Limitado ao sistema venoso superficial. Secundário: Limitado ao sistema venoso profundo. Combinado: Qualquer combinação dos três sistemas venosos (superficial, profundo e/ou perfurante). Refluxo segmentar – Fluxo retrógrado localizado nos segmentos venosos de qualquer um dos três sistemas venosos (superficial, profundo e/ou perfurante) e em qualquer combinação coxa e/ou barriga da perna, mas não na continuidade da virilha até à barriga da perna. Perfurante incompetente – Veias perfurantes com fluxo retrógrado de duração anormal. Neovascularização – Presença recente de várias veias, pequenas e tortuosas, na proximidade de uma intervenção venosa anterior. Oclusão venosa – Eliminação total do lúmen venoso. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Refluxo axial – Fluxo venoso retrógrado ininterrupto desde a virilha até à barriga da perna. 31 Obstrução venosa – Bloqueio parcial ou total do fluxo venoso. Recanalização – Desenvolvimento de um novo lúmen numa veia anteriormente obstruída. Conceitos descritivos Laqueação da junção safeno-femoral – Laqueação e secção da veia grande safena (VGS) na sua confluência com a veia femoral comum. Stripping – Remoção de um longo segmento da veia, normalmente da veia grande safena (VGS) ou da veia pequena safena (VPS) por meio de um dispositivo. Ablação venosa – Remoção ou destruição de uma veia por meio mecânico, térmico ou químico. Miniflebectomia – Remoção de um segmento venoso através de uma pequena incisão na pele. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Escleroterapia – Supressão de uma veia por injeção de uma substância química (líquido ou espuma). 32 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR DIAGNÓSTICO 33 DIAGNÓSTICO Anamnese Quando um doente apresenta sintomas e sinais sugestivos de doença venosa, o médico deverá investigar aspetos relacionados com a DVC, nomeadamente sensação de pernas pesadas ou cansadas, dor, edema, presença de varizes ou hiperpigmentação cutânea da perna.4 Deteção de refluxo e obstrução A avaliação é feita através de um exame físico, que, no âmbito de uma consulta de angiologia e cirurgia vascular, pode já incluir uma primeira avaliação com Doppler portátil ou Eco-Doppler colorido (angiodinografia ou triplex scan). Esta avaliação ajuda a identificar a presença e os locais de refluxo e potencial oclusão das veias proximais. Poderão existir doentes que necessitem de uma investigação adicional.4 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Eco-Doppler 34 O Eco-Doppler é considerado o método gold standard para a deteção de refluxo em qualquer segmento venoso. O Eco-Doppler permite distinguir o fluxo sanguíneo através da utilização de diferentes cores, utilizando-se sondas de alta frequência para as veias superficiais e sondas de baixa frequência para as veias profundas. Deverá ser examinada a totalidade do sistema venoso superficial e profundo, bem como as veias comunicantes e perfurantes. Através de um exame com Eco-Doppler pode ser avaliado: 4 1. Veia femoral e safena em posição ortostática e veia poplítea e da região gemelar em posição sentada; 2. Duração do refluxo; 3. Tamanho das veias perfurantes; 4. Diâmetro das veias safenas; 5. Tamanho e competência das maiores veias tributárias da veia safena. DIAGNÓSTICO Exames a realizar tendo em conta o tipo de doente Uma forma simples de organizar o diagnóstico de doentes com DVC é utilizar um dos seguintes três níveis, dependendo da gravidade da doença: 4 Nível I: Consulta médica com avaliação do historial clínico e exame físico, o qual pode incluir o uso de Doppler portátil ou Eco-Doppler. Nível II: Realização de exames vasculares não invasivos, com utilização obrigatória de um Eco-Doppler, com ou sem pletismografia. Nível III: Realização de exames invasivos ou estudos imagiológicos complexos, incluindo a flebografia ascendente e descendente, varicografia, medição da pressão venosa, TAC, Doppler venoso helicoidal, ressonância magnética ou ultrassonografia intravascular. Nota: A passagem ao nível seguinte, pressupõe sempre a realização dos exames descritos no nível anterior. Tendo em conta o parâmetro clínico da classificação CEAP, podemos propor um guia simplificado para avaliação da DVC. As indicações em cada um dos estádios podem ser modificadas de acordo com as circunstâncias clínicas e a prática clínica local. - Doentes com telangiectasias ou varizes reticulares O nível I de investigação é normalmente suficiente. No entanto, a presença de sintomas como a dor, sensação de pernas pesadas, cansaço e cãibras musculares, na ausência de varizes visíveis ou palpáveis, são um alerta para a realização de um exame com Eco-Doppler de forma a excluir uma possível situação de refluxo venoso, que geralmente precede a manifestação clínica de varizes. Classe 2 - Doente com varizes, sem edema e sem alterações tróficas O nível II de investigação (exame com Eco-Doppler) deve ser seguido para a maioria dos doentes, sendo obrigatório nos doentes referenciados para intervenção cirúrgica. Em certos casos, pode ser necessário passar para o nível III de investigação. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Classe 0s/1 - Doentes com sintomas, sem sinais visíveis ou palpáveis de doença venosa 35 Classe 3 - Doentes com edema, com ou sem varizes, mas sem alterações tróficas O nível II de investigação deve ser realizado para determinar se existe uma situação de refluxo ou obstrução ao nível do sistema venoso profundo, o qual pode ser responsável pelo edema. Se o exame com Eco-Doppler demonstrar ou revelar alguns indícios de obstrução, deverão ser considerados os exames de nível III relativamente ao sistema venoso profundo. Classes 4, 5, 6 - Doentes com alterações tróficas resultantes de doença venosa, incluindo úlcera venosa cicatrizada ou aberta, com ou sem edema e/ou varizes SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR O nível II de investigação é necessário em todos os doentes, sendo que o nível III deverá ser considerado para uma intervenção ao nível do sistema venoso profundo. 36 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR TRATAMENTO 37 TRATAMENTO Medidas higieno-dietéticas A Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV) validou e tem vindo a distribuir, anualmente, entre os médicos de medicina geral e familiar, folhetos com 10 conselhos úteis para serem entregues a todos os doentes com DVC. Neste capítulo poderá encontrar esses 10 conselhos, bem como a sua descrição, de forma a recomendá-los sempre que o seu doente necessite. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR 1) Exercitar as pernas em todas as circunstâncias As posições prolongadas de pé e sentada (em particular as pernas cruzadas) devem ser evitadas, uma vez que o peso do sangue e a falta de exercício favorecem a estagnação do sangue nas veias. Caso a atividade profissional o obrigue a estar sempre sentado ou de pé, é necessário andar um pouco durante o dia ou fazer movimentos circulares com os pés. Do mesmo modo, durante as viagens longas de carro, comboio ou avião, e sempre que possível, ande um pouco para permitir a circulação do sangue nas veias. 38 2) Escolher um desporto apropriado A prática regular e com sapatos apropriados da marcha a pé é a atividade mais benéfica para a circulação venosa. A planta dos pés, devido a estar bastante irrigada por vasos venosos, funciona como uma bomba que movimenta o sangue. A cada passo, vai comprimir as veias dos pés, o que impulsiona o sangue para cima até às pernas. Depois, a contração dos músculos da perna favorece a subida do sangue até ao coração. Por estas razões, a prática de ginástica, ciclismo, dança, natação ou golfe, facilita a circulação venosa. Pelo contrário, são desaconselhados os desportos que obrigam a movimentos bruscos, como o ténis, basquetebol, squash, entre outros. Estes desportos provocam variações na pressão do sangue nas veias, o que vai provocar a dilatação dos vasos e menor circulação de sangue até ao coração. 3) Evitar lugares quentes As variações de temperaturas modificam o comportamento das veias. Um aumento do calor nas pernas favorece a dilatação das veias, diminuindo a circulação venosa. Devem ser evitadas, ou diminuídas, todas as exposições ao calor: sol, depilação com cera quente, banhos quentes, sauna e vestuário muito quente. TRATAMENTO 4) Procurar lugares frescos A influência do frio é importante porque é favorável à contração das veias. Um duche de água fria nas pernas, ativa a funcionalidade das veias e alivia a sensação de peso e dor nas pernas. Caminhar à beira da água na praia é muito útil porque associa o exercício à temperatura baixa. 5) Prevenir a prisão de ventre e o excesso de peso A prisão de ventre e o excesso de peso são dois fatores responsáveis pelo aumento da pressão sanguínea nas veias, por isso, e para evitar estes problemas, deve fazer uma alimentação rica em fibras (ex.: vegetais), uma boa hidratação (consumo diário de 1,5 litros de água) e consumir menos gorduras saturadas (ex.: manteiga, carne de porco). 6) Usar vestuário apropriado O vestuário apertado comprime as veias e bloqueia a circulação do sangue nas pernas. Deve escolher um vestuário confortável e largo, evitando as calças muito estreitas, meias com elástico ou cintos apertados. 8) Facilitar a circulação sanguínea durante o sono Para melhorar a circulação do sangue durante o sono, deve fazer alguns movimentos de pedalar antes de dormir e levantar os pés da cama 10 a 15 cm. 9) Reconhecer as situações que podem agravar os seus problemas venosos, como a gravidez ou a contraceção oral A doença venosa é mais frequente na mulher devido à influência das hormonas (progesterona e estrogénio). Os estrogénios aumentam a permeabilidade das veias e a progesterona é responsável pela sua dilatação. Durante a gravidez, estas hormonas existem em grande quantidade, daí o elevado risco de doença venosa nestas mulheres. Estas hormonas existem também nas pílulas contracetivas. Deste modo, é indispensável uma supervisão médica regular. 10) Massajar as pernas o mais frequentemente possível A massagem das pernas, de baixo para cima, melhora a circulação do sangue para o coração. SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR 7) Usar sapatos apropriados Os sapatos de salto alto reduzem a superfície de apoio do pé, tal como os sapatos planos sem salto que aumentam demais essa superfície, o que vai diminuir a circulação do sangue dos pés para as pernas. Por isso, os sapatos devem ter idealmente 3 a 4 cm de altura. 39 Compressão A compressão elástica é uma componente fundamental no tratamento da doença venosa crónica. Meias de compressão elástica SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR As meias de compressão são feitas de material têxtil elástico e podem ser: • A-D – Meias até ao joelho; • A-G – Meias até à raiz da coxa; • A-T – Collants. Dentro de cada tipo, existem vários tamanhos standard, no entanto as meias também podem ser feitas por medida. 40 FIGURA 11. Representação dos diversos tipos de meias elásticas. Tendo em conta o grau de compressão, existem 4 tipos de meias: • Grau 1 (compressão ligeira) – 15-21 mmHg; • Grau 2 (compressão média) – 23-32 mmHg; • Grau 3 (compressão forte) – 34-46 mmHg; • Grau 4 (compressão muito forte) – >49 mmHg. Para obter melhores resultados as meias devem ser calçadas logo de manhã. TRATAMENTO Outras formas de compressão Em situações especiais, como na úlcera venosa, podem-se utilizar bandas (ligaduras ou cola de zinco). As aplicações clínicas Na seguinte tabela poderá encontrar um resumo das indicações baseadas na evidência para a terapêutica compressiva. II (23-32) C0s I (15-21) x C1 x x C2 x x Indicação C3 x C4 x C5 x III (34-36) Bandas x C6 x TABELA 5. Indicação do grau de compressão a utilizar, tendo em conta a gravidade da patologia. Vários estudos têm demonstrado a eficácia de fármacos venoativos nos diferentes estádios da doença venosa. Em diversos países europeus, estes medicamentos são já considerados uma terapêutica complementar à escleroterapia e a outros procedimentos.5 No seu conjunto existem dois grandes grupos de medicamentos venoativos: agentes de origem natural e sintéticos.5 Grupo Alfa-benzopironas Gama-benzopironas (flavonóides) Substância Origem Cumarina Melilot (Melilotus officinalis) Woodruff (Asperula odorata) Diosmina Citrus spp. (Sophora japonica) Fração Flavonóica Purificada Micronizada Rutaceae aurantiae Rutina e rutosido Sophora japonica 0-(β-hidroxietil)-rutosido (troxerrutina, HR) Eucalyptus spp. Fagopyrum esculentum SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Fármacos venoativos 41 Grupo Substância Origem (continuação) Escina Horse chestnut (Aesculus hippocastanum L) Extrato de ruscus Butcher’s broom (Ruscus aculeatus) Antocianósidos Bilberry (Vaccinium myrtillus) Proantocianidinas (oligomeros) Maritime pine (Pinus maritime) Extrato de Ginkgo, heptaminol e troxerrutina Ginkgo biloba Dobesilato de cálcio Sintético Benzarona Sintético Naftazona Sintético Saponinas Outros extratos de plantas Produtos sintéticos TABELA 6. Classificação dos principais fármacos venoativos. 22 Modo de ação O modo de ação dos diferentes fármacos venoativos pode ser avaliado com base em diferentes parâmetros, ao nível da macro e micro circulação, tais como: SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR • Tónus venoso 42 • Efeito ao nível das paredes e válvulas venosas: • Proteção das células endoteliais da hipoxia • Prevenção do refluxo venoso • Permeabilidade capilar • Sistema linfático • Efeito anti-inflamatório: • Inibição da interação leucócito-endotélio • Redução dos radicais livres • Parâmetros hemorreológicos O quadro seguinte resume o modo de ação dos diferentes fármacos venoativos, de acordo com as evidências disponíveis na base de dados MEDLINE e as orientações do European Venous Forum “Management of chronic venous disorders of the lower limbs: guidelines according to scientific evidence”: Naftazona Benzarona, ND + (103) (104) cálcio ND ND ND ND ND ND ND ND (30) (31) + Prevenção do refluxo venoso SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR TABELA 7. Modo de ação dos principais fármacos venoativos. ND ND (98) + + (92) (93) + (84) + ND ND (29) + Proteção cél. endoteliais da hipóxia Parede e válvulas venosas (88) (89) (90) (91) (77) (78) (79) (80) (81) (82) (83) + (68) (69) (70) (71) (72) + ND (27) (28) (23) (24) (25) (26) + Dobesilato de Proantocianidina Antocianósidos e Escina Extrato de ruscus Rutina e Rutosido Diosmina Micronizada Purificada Flavonóica Fração Grupo químico Tónus venoso +: Evidência disponível; ND: Evidência não disponível. Produtos sintéticos Outros extratos de plantas Saponinas Gama-benzopironas Grupo químico + ND ND ND ND ND (51) (52) (53) + Sistema linfático ND ND (105) (106) (107) (108) (109) (110) (111) + (99) (100) + (94) + (85) (86) (87) + (73) (74) (75) + ND (47) (48) (49) (50) (42) (43) (44) (45) (46) (37) (38) (39) (40) (41) (32) (33) (34) (35) (36) + Permeabilidade capilar ND ND ND ND ND ND ND ND (112) (113) (114) (115) + (101) + (95) (96) (97) + ND (76) + ND (63) (64) (58) + (59) (60) (61) (62) (54) (55) (56) (57) + ND (116) (117) + (102) + ND ND ND ND (65) (66) (67) + Parâmetros Inibição inter. Redução dos hemorreológicos leucócitoradicais livres -endotélio Efeito anti-inflamatório TRATAMENTO 43 Entre os diferentes modos de ação é de realçar a importância que, hoje em dia, é dada ao efeito anti-inflamatório, particularmente na inibição da interação leucócito-endotélio. Eficácia terapêutica Eficácia dos fármacos venoativos nos sintomas venosos A maioria dos fármacos venoativos está indicada no alívio dos sintomas relacionados com a DVC (dor, sensação de pernas pesadas e cansadas, desconforto, prurido, parestesias e cãibras noturnas).8 Em 2005, foi publicada uma revisão do grupo Cochrane sobre a eficácia dos diferentes fármacos venoativos no alívio dos sintomas, a qual abrangeu 44 estudos e onde estes demonstraram benefícios significativos, comparativamente ao placebo, ao nível da dor, sensação de pernas pesadas, sensação de pernas inchadas, cãibras e parestesias, apesar da falta de homogeneidade entre os diferentes ensaios clínicos considerados.22,118 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Mais recentemente, em 2008, o European Venous Forum (EVF) publicou as guidelines internacionais para o diagnóstico e tratamento da DVC, as quais abordaram a eficácia dos diferentes fármacos venoativos nos sintomas, edema e cicatrização da úlcera venosa. Neste capítulo, as guidelines realçaram a eficácia de vários fármacos venoativos na redução dos sintomas associados à DVC, com particular destaque para a fração flavonóica purificada micronizada (FFPM). 44 Eficácia dos fármacos venoativos no edema venoso O edema constitui uma das queixas mais frequentes e típicas dos doentes com DVC, caraterizando-se por ser esporádico, unilateral ou bilateral, frequentemente localizado na região maleolar, agravado pela posição ortostática prolongada e aliviado com a elevação dos membros inferiores.4,22 Vários estudos bem desenhados e controlados contra placebo ou contra meias de compressão elástica têm demonstrado a eficácia dos fármacos venoativos, tais como a FFPM, os rutosidos, extrato de sementes de castanheiro, dobesilato de cálcio, proantocianidinas e rutina/cumarina. Nestes estudos, a eficácia na redução do edema foi avaliada através de medidas objetivas como a medição da circunferência da perna, a pletismografia e o método de deslocamento de água.4 Adicionalmente, várias metanálises também confirmaram a eficácia dos fármacos venoativos na redução do edema venoso. Numa revisão publicada na revista TRATAMENTO Cochrane, a análise de 1245 doentes demonstrou um benefício bastante significativo dos fármacos venoativos no alívio do edema venoso.22 Eficácia dos fármacos venoativos na úlcera venosa A última edição (3.ª edição) do Handbook of Venous Disorders, publicada em 2009, inclui um capítulo sobre o tratamento farmacológico das varizes, edema e úlceras venosas. A FFPM foi o único fármaco venoativo recomendado no tratamento das úlceras venosas de longa duração e grande dimensão, devido a uma metanálise de cinco ensaios clínicos aleatorizados que mostraram que esta terapêutica melhora significativamente a aceleração da cicatrização das úlceras venosas.4,119 Existem alguns ensaios com outros fármacos venoativos como o extrato de sementes de castanheiro ou de hidroxirrutosidos; no entanto, os resultados não permitiram concluir sobre os benefícios destes fármacos nos estádios mais avançados da doença venosa crónica. Riscos do tratamento com fármacos venoativos No caso particular do dobesilato de cálcio, foram observados alguns casos transitórios de agranulocitose.22 Embora alguns fármacos venoativos não sejam recomendados durante a gravidez ou o aleitamento, existem estudos onde vem documentada a eficácia, segurança e aceitabilidade da FFPM no tratamento da mulher grávida em situações de DVC e até de hemorróidas, onde é recomendada uma posologia superior. É desaconselhada a toma simultânea de diferentes fármacos venoativos.5 SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR No geral, os fármacos venoativos têm um bom perfil de segurança e tolerabilidade. Apesar disso, alguns casos de hepatotoxicidade têm sido associados à cumarina. Por vezes, podem ocorrer alguns efeitos gastrointestinais, que podem incluir náuseas, vómitos, cólicas ou dor abdominal, insónia, sonolência e dores de cabeça. Estima-se que estes efeitos atinjam menos de 5% dos doentes.5 45 Resumo das recomendações para o tratamento da doença venosa com fármacos venoativos Terapêutica farmacológica no estádio C0s Indicações de tratamento Nos doentes com sintomas, mas ainda sem sinais visíveis de doença venosa, os fármacos venoativos estão indicados no alívio dos sintomas como a dor, sensação de pernas pesadas e inchadas, desconforto, comichão, sensação de pernas cansadas e rubor. Terapêutica farmacológica nos estádios C1s a C4s Indicações de tratamento Para doentes com sinais que incluem telangiectasias, varizes reticulares, varizes tronculares, edema e alterações tróficas, também se recomendam os fármacos venoativos sempre que estes doentes apresentem sintomas associados. De igual forma, estes fármacos estão recomendados na melhoria do edema venoso. Terapêutica farmacológica na úlcera venosa (estádio C5 e C6) SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR Indicações de tratamento 46 A fração flavonóica purificada micronizada (FFPM) e a pentoxifilina estão recomendadas na cicatrização das úlceras venosas em associação com compressão elástica. TRATAMENTO Ablação térmica, química e mecânica São hoje várias as técnicas de ablação que se usam na prática clínica: • Química: • Escleroterapia líquida • Escleroterapia com espuma • Térmica: • Vapor • Laser • Radiofrequência • Mecânica • Flebectomia minimamente invasiva • Stripping clássico • CHIVA • ASVAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR A decisão deve ser personalizada, com base no quadro clínico específico de cada doente em particular e também na experiência do cirurgião vascular. 47 BIBLIOGRAFIA 1. Euroteste, 2001. 2. Matos A, Moreira A, Serra Brandão E, Macedo M, Veloso de Brito M. Conhecer melhor a patologia venosa em Portugal - Estudo Multicêntrico. 3. 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