ONDE ESTÁ O
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NESTA EDIÇÃO: OS SEGREDOS DO MERCADO ALEMÃO WWW.CITRUS.COM ISSN 2359-1889 FEVEREIRO/2015 – ANO 1 – Nº 4 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS ONDE ESTÁ O GREENING? Novas tecnologias e diferentes manejos do pomar já possibilitam a convivência com a doença, desde que seguidas as recomendações técnicas. Nesta edição, confira as melhores práticas e os exemplos de citricultores que estão vencendo esta guerra. E, para começar: você consegue identificar os psilídeos nesta capa? nononono ELE ESTÁ AQUI A imagem ao lado é uma fotomontagem feita com uma planta fotografada em ambiente controlado no Fundecitrus. O fundo, com um pomar comercial, foi aplicado justamente para confundir o leitor e mostrar o quão difícil é encontrar o pequeno inseto. Essa é a razão pela qual muitos citricultores afirmam nunca ter visto esse sorrateiro inimigo. Nas próximas páginas, confira as histórias de quem decidiu encontrar o mosquito e atacar os problemas FOTOS: JULIO VILELA CAPA: MONTAGEM SOBRE FOTOS DE JULIO VILELA 2 | CITRUSBR Nononono 2014 CITRUSBR Nonononon 2014 | 3 Índice CAPA CAÇA AO MOSQUITO Conheça a história de quem está seguindo à risca as mais modernas práticas de combate ao greening e dessa forma tem conseguido afastar a doença de seus pomares. Pág. 14 SAFRA BOA LIMÃO DOCE PESQUISA CONCORRÊNCIA MAIS ÁGUA TECNOLOGIA Os avanços do projeto de recenseamento do parque cítricola, tocado pelo Fundecitrus. Pág. 64 Matéria do jornal Folha de S. Paulo mostra como avanço da bebida afeta o mercado de suco de laranja. Pág. 52 Depois de sofrerem com estiagem prolongada, citricultores apostam na irrigação. Pág. 54 Mudança na legislação traz novas exigências para máquinas de baixa potência. Veja as novidades desses equipamentos. Pág. 60 PES ACELERADA CHÁ EM ALTA GOTAS SALVADORAS TRATOR TURBINADO Estiagem reduz produção da fruta e faz preço disparar e atingir alta histórica. O problema é que muitos produtores não tinham o produto para vender. Pág. 36 Equipe CitrusBR Revista CitrusBR Diretor-executivo Ibiapaba Netto Diretora de Relações Internacionais Larissa Popp Coordenadora de Projetos Isabela Costa Coordenadora Administrativa Debora Dezan Assistente Administrativo Tamires Pereira Ribeiro Editor Eduardo Savanachi Subeditora Juliana Ribeiro Colaboraram nesta edição: Alécia Pontes, Taciana Bovo (texto) e Julio Vilela (fotos) Direção/Produção/Revisão Typodigital Agradecimentos Fundecitrus, Markestrat, Unesp Araraquara, Mauricio Mendes, Faro Capital, Fazenda Cambuhy, Antônio Palhares, Luis Vasconcelos, Nivaldo Davóglio e Neoclair Gilbertoni Para Assinar a revista ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS expediente Entre em contato conosco e receba a revista CitrusBR gratuitamente em sua casa. Voce também pode enviar sugestões de pautas. E-mail: [email protected], Tel.: 11 2769-1205 ESPECIAL CONSUMO FORÇA ALEMÃ Estudo traça um raio X do mercado consumidor alemão, principal comprador do suco brasileiro na Europa. Pág. 69 Carta ao leitor EVENTO MERCADO REUNIDO Acompanhamos o Juice Summit, evento que reuniu algumas das principais lideranças da indústria mundial de sucos para debater os desafios do setor. Pág. 46 BENEFÍCIOS BEBIDA PARA ATLETA Estudo desenvolvido por pesquisadores da USP e Unesp mostra que o suco de laranja ajuda na reposição de nutrientes perdidos durante a prática esportiva. Pág. 56 ENTREVISTA MARCOS MACHADO Diretor do Centro de Citricultura Sylvio Moreira fala sobre as novas pesquisas para o setor. Pág. 34 A incrível missão de informar Nesta quarta edição da revista CitrusBR, o prezado leitor vai se deparar com uma gama bastante diferenciada de assuntos e nenhum deles foi escolhido por acaso. O primeiro deles está justamente na reportagem de capa, que trata desse terrível problema, o greening, que tira o sono de todo citricultor. Com a ajuda de produtores e profissionais das indústrias, que contam suas experiências, procuramos mostrar quais as melhores práticas do mercado, e como muitos deles têm conseguido superar esse desafio. A partir deste número, incrementamos a seção Notas, que traz uma série de novidades do mercado internacional. A ideia é mostrar ao citricultor o dinamismo do mercado mundial de bebidas, no qual o suco de laranja está inserido. Também trazemos uma série de reportagens mostrando estratégias de gente que está na citricultura, mas que tem utilizado ferramentas variadas para tocar os seus negócios. Podemos encontrar o caso do agricultor e pecuarista Nivaldo Davóglio, que possui em sua fazenda laranja de sequeiro e irrigada, para mesa e indústria. Além disso, ainda cultiva limão taiti, cujo preço no mercado de mesa chegou a incríveis R$ 100 a caixinha de 27 quilos. Davóglio explicou à equipe da CitrusBR por que ele tem na diversificação de culturas sua principal forma de gerir sua fazenda. Na mesma linha, mostramos o caso do produtor Neoclair Gilbertoni, que também se especializou na produção de limão e conseguiu bons resultados em 2014. Na nossa série Consumo, desta vez, o professor Marcos Fava Neves explora os desafios do mercado alemão, o maior consumidor de suco de laranja da Europa e carro-chefe das nossas exportações no Velho Continente. Entre as descobertas é possível compreender as forças que regem aquele mercado, puxado principalmente pelas marcas próprias dos supermercados que dominam as vendas. Para quem leu o número anterior, sobre o mercado americano, é sem sombra de dúvida um choque de realidade. Também nesta edição vale a pena ler a análise do balanço da Gerber-Refresco, empresa que compra cerca de 15% de todo o suco de laranja brasileiro e que passa por um momento turbulento. Além disso, trazemos nossas já tradicionais reportagens técnicas sobre insumos, tratores, irrigação e muito mais. A você uma boa leitura e um excelente 2015. Ibiapaba Netto Diretor-executivo CitrusBR [email protected] CITRUSBR Fevereiro 2015 | 3 ACONTECE PREVISÃO MENOS LARANJA NA FLÓRIDA O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou sua primeira estimativa do ano para a safra 2014/2015 na Flórida. A previsão é de que sejam colhidos 103 milhões de caixas de 40,8 kg de laranjas. A projeção representa uma redução de 5% em relação ao volume indicado na última previsão, feita em dezembro de 2014. Desse volume, estima-se que 48 milhões de caixas 103 sejam de laranjas não Valência e as laranjas da variedade Valência devem somar 55 milhões MILHÕES DE CAIXAS DE 40,8 KG de caixas. O Departamento também manteve É A PROJEÇÃO DE suas previsões para outros tipos de citrus, COLHEITA 55 como as grapefruits cuja produção foi mantida MILHÕES em 15 milhões de caixas. A previsão para a DE CAIXAS DE 40,8 KG safra de tangerinas também segue estável em 48 DE LARANJAS 2,5 milhões de caixas, bem como a de VALÊNCIA MILHÕES tangelos, em 800 mil caixas da fruta. DE CAIXAS DE 40,8 KG DE LARANJAS NÃO VALÊNCIA EXÓTICO A FONTE DA JUVENTUDE EXPANSÃO A JUXX, fabricante de bebidas funcionais e pioneira nas vendas de suco de cranberry no Brasil, lançou um novo suco de fruta classificado pela empresa como “o mais poderoso antioxidante do país”. De acordo com a empresa, o suco de frutas vermelhas, batizado de Antiox, não tem corantes, conservantes ou aromas artificiais. A empresa também garante que a bebida contém 50 vezes mais flavonoides antocianina do que o vinho, o que ajuda na prevenção do envelhecimento. O grupo norte-americano Alico Inc. anunciou a aquisição de três áreas produtoras de citrus na Flórida, o que a torna uma das maiores empresas de citricultura dos Estados Unidos. De acordo com a companhia, o valor do negócio gira em torno de US$ 363 milhões e abrange cerca de 28 mil acres de terra. As novas propriedades devem impulsionar a produtividade da companhia em 10 milhões de caixas de laranjas por ano, o que representa algo próximo de 10% da produção anual da Flórida. Além do cultivo de citrus, a Alico cultiva cana-de-açúcar, tem criação de gado e gerencia terras na Flórida. 6 | CITRUSBR Fevereiro 2015 NASCE UMA GIGANTE DIVERSIFICAÇÃO CAMPBELL AUMENTA A FAMÍLIA Disposta a expandir sua unidade de bebidas, a Campbell Soup Co aumentou a gama de sabores de sua linha de sucos vegetais da marca V8 e ampliou seu portfólio para o mercado de bebidas proteicas. A expectativa da empresa é que as novas linhas ajudem a atrair novos consumidores e a brigar por uma fatia no valioso mercado de produtos prontos para beber, que movimenta cerca de US$ 4,6 bilhões por ano. CAIXA NOVA CUSTO ALTO, PRODUTIVIDADE EM BAIXA INNOCENT PARA LEVAR PARA CASA Depois de lançar uma nova linha de smoothies que combinam sabores de frutas e vegetais, a marca de bebidas Innocent, que pertence à CocaCola, quer ampliar a ocasião de consumo de seus produtos. A empresa passou a comercializar o produto em embalagens cartonadas de 750 ml, um formato para quem quer consumir o produto em casa. “Nós lançamos o nosso supersmoothies com o objetivo de atrair novos consumidores para a marca Innocent”, disse o gerente da marca, Sim Jerath. Paulo Biasioli, presidente da Alicitros, fala sobre os gastos com insumos na próxima safra EM BUSCA DO SUPERSUCO CALORIA ENERGÉTICO ZERO A empresa Lucozade está apostando em novo energético com menor quantidade de açúcar para conquistar o mercado do Reino Unido. Com forte investimento em mídia, a nova bebida é feita à base de limonada e contém 50% menos açúcar do que as outras bebidas da marca. “Identificamos uma oportunidade de mercado com energéticos de baixa caloria”, argumenta o diretor de marketing da Lucozade, Corrine Hopwood. A SAFRA PELO MUNDO Previsão da produção de laranja nos principais países produtores (em milhões de caixas de 40,8 kg) Safra 2014/2015 FOTOS: DIVULGAÇÃO, SHUTTERSTOCK com combustíveis e mão de obra estão tornando a atividade de alto risco. Grécia 20,83 Espanha 80,88 Turquia 37,99 Flórida 108 Marrocos 21,29 * Safra 2015/2016 Fonte: USDA/Gain Reports ASIÁTICAS VÃO ÀS COMPRAS As empresas Sapporo Holdings Ltd. e a Toyota Tsusho Corp. firmaram uma joint-venture para adquirir a fabricante de sucos norte-americana Country Pure Foods Inc. A expectativa é de que as empresas concluam a operação em fevereiro por cerca de US$ 100 milhões. A Sapporo deve ficar com 51% de participação, enquanto a Toyota obterá os 49% restantes. A Country tem entre seus principais clientes escolas públicas e hospitais, além do varejo.. MISTUREBA A combinação de suco de frutas misturado com vegetais, ervas e raízes deu origem a um supersuco. Essa pelo menos é a aposta da nova linha de bebidas lançada pela empresa americana Purity Organic. Sediada em São Francisco, a empresa afirma que a nova linha, batizada de “superjuice”, é rica em vitaminas, antioxidantes e possui propriedades antiinflamatórias. FECHADO Os custos da próxima safra em relação à anterior estão mais altos? Os custos seguem crescentes, em razão da baixa produtividade. Os fatores climáticos, Brasil* N/D Itália 41,66 É possível calcular o percentual de aumento dos custos? O custo vêm aumentando acima de 15% a cada ano. Em dez anos, os custos de colheita e frete, por exemplo, subiram mais de 250%. Como o dólar vai impactar a compra de insumos dos citricultores? Para os insumos que não estão atrelados à importação, o câmbio alto é positivo. Já os adubos deverão ter aumentos, pois levam sais importados em sua composição. Existe algum período indicado para o citricultor fazer a compra dos insumos? Os inseticidas e fungicidas são usados como preventivos e aplicados nas árvores em vários períodos diferentes. Já na adubação, as compras variam em função do tamanho da produção e ocorrem na entressafra. A seca da safra passada vai interferir nos custos da próxima safra? Sim, há enorme incerteza sobre os volumes produzidos. comprar os insumos para uma quantidade ainda incerta de caixas. Pode-se gastar os mesmos valores por área, mas, em função da quantidade colhida, os custos podem disparar. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 7 ACONTECE ANTES ERA CRISTALINA QUENTE CIDRA PARA O INVERNO BRITÂNICO A Kopparberg Spiced Apple lançou uma nova cidra que promete aquecer o paladar dos britânicos. A bebida, produzida com uma concentração de sabores diferenciados, foi desenvolvida para ser consumida durante o inverno do Reino Unido. “Os fãs da marca frequentemente perguntavam sobre uma cidra para ser consumida no inverno e, depois de um pequeno teste feito em 2013, decidimos colocar o produto à venda para o nosso público”, disse o diretor de marketing da empresa, Rob Calder, que espera que a bebida também aqueça as vendas da empresa. ROUPAGEM TUDO MISTURADO NÉCTAR VIP TEM CHÁ, MAS É REFRIGERANTE A Jandaia acaba de colocar no mercado sua primeira linha de sucos premium, nos sabores uva e laranja. Com cores fortes, comunicação direta e design moderno, as embalagens de 200 mililitros e 1 litro chamam atenção nas gôndolas. “Queremos passar ao consumidor um conceito novo, diferenciado. Levando em consideração que o produto é premium, a embalagem também deve ser”, disse o diretor comercial da empresa, Eduardo Figueiredo. A Suntory Beverage & Food Ltd. lançou na Austrália sua primeira marca de refrigerantes. Colocada no mercado por meio de sua subsidiária Frucor Bebidas (Austrália) Pty Ltda, a OVI, foi desenvolvida como uma nova bebida de valor agregado que contém chá verde. A Suntory focou o produto no mercado de bebidas para hidratação, que cresce cada vez mais no país. Refrigerantes e bebidas à base de suco de frutas contam com quase 70% do mercado de refrigerantes da Austrália. 8 | CITRUSBR Fevereiro 2015 TECNOLOGIA MELLO E O SUCO DE ALTA PRESSÃO Outra marca que está focando na saúde para avançar as vendas é a britânica Mello. A empresa lançou um novo suco de melão que garante ter características funcionais. Fabricada com tecnologia de processamento de alta pressão, a bebida não é pasteurizada e por isso, segundo a Mello, conserva as vitaminas, minerais e enzimas da fruta. NATUREBA SALADA PARA BEBER A fabricante japonesa de bebidas Kagome lançou um produto à base de mix de vegetais, fibras e frutas. Batizado de Shokumotsu Seni Tappuri Aojiru, a bebida contém uma mistura de 50% à base de espinafre, cenoura e couve e 48% de maçã, limão e uva. Cada 180 mililitros da bebida possui 3,5 gramas de fibra, 3 microgramas de ferro e 130 microgramas de vitamina C. ÁGUA COM SABOR TROPICAL A divisão de águas da Nestlé lançou uma linha de águas saborizadas com zero caloria sob o guarda-chuva de sua marca Pure Life, na América do Norte. A linha de sabores tropicais oferece quatro opções aos consumidores, manga com pera e abacaxi, morango com pitaia, tangerina e lima. Os produtos já estão disponíveis nas lojas da rede Target nos Estados Unidos. DIFERENTE O NÉCTAR QUE QUERIA SER SUCO CRIANÇADA ÁGUA DE COCO PARA ANIMAR OS PEQUENOS A FAL Healthy Beverages resolveu apostar no público infantil para multiplicar as vendas. A companhia firmou acordo com a Disney para patrocinar a animação Fire & Rescue e lançou duas linhas de águas de coco cujas embalagens eram estilizadas com os personagens do desenho. Tudo para conquistar o gosto das crianças e o bolso dos adultos. Na luta para se diferenciar no gigantesco mercado brasileiro, a Empresa Brasileira de Bebidas e Alimentos (EBBA), dona da marca Maguary, colocou no mercado uma linha de néctares premium. Batizada de Maguary Laranjeira, o produto está disponível nos sabores laranjeira valência, laranjeira siciliana e laranjeira siciliana com gominhos. A empresa também aumentou sua linha de néctares vendidos em latas. Os lançamentos refletem a estratégia da companhia de ampliar sua presença nos principais canais nacionais de distribuição e varejo MUDANÇA O VAIVÉM DO CONSUMO JARRITOS COM SOTAQUE INGLÊS MENOS PLÁSTICO VISUAL REPAGINADO A marca australiana SPC Ardmona’s Goulburn Valley repaginou o visual de suas embalagens do Goulburn Juice. As novas garrafas plásticas da marca são feitas com uma tecnologia que reduz o peso da embalagem e utiliza menos plástico. Disponível nos sabores laranja, maçã, maçã com groselha e frutas tropicais, as novas garrafas de suco são mais fáceis de manusear. A fabricante de bebidas mexicana Novamex firmou um acordo com uma distribuidora do Reino Unido para lançar seu refrigerante Jarritos naquele país e em alguns vizinhos mais próximos. O acordo, firmado com a importadora Bloombury Drinks inclui a distribuição de três sabores do refrigerante: limão, tangerina e morango. Lançada em 1950, Jarritos é uma das marcas de refrigerantes mais populares do México. CHINÊS LIGHT HEINZ VERSÃO 50% MENOS AÇÚCAR De olho no interesse dos consumidores por opções mais saudáveis, a Heinz coloca no Reino Unido sua nova versão de ketchup com 50% menos açúcar e uma redução de 25% na quantidade de sal. O novo produto substitui uma antiga versão de Heinz, a qual continha redução de 30% nos níveis de açúcar e 25% nos níveis de sódio. O novo produto vai ao encontro das metas estabelecidas pelo governo do Reino Unido de reduzir a porção de sal em produtos industrializados até 2017. CONCENTRADO A MULTIPLICAÇÃO DO REFRIGERANTE BRITÂNICO PEPSICO LANÇA ÁGUA DE COCO NO REINO UNIDO A PepsiCo acaba de lançar sua água de coco, a Naked, no Reino Unido. A marca, lançada em 2010 nos Estados Unidos, chegou ao mercado daquele país em uma embalagem Tetra-Pak de 500 mililitros com tampa rosqueável. Adrian Baty, diretor de marketing da marca no Reino Unido, afirmou que a categoria água de coco “vem crescendo significativamente no país nos últimos anos”. FOTOS: DIVULGAÇÃO do Relatório da Nielsen sobre o consumo de suco de laranja no mercado norte-americano nas últimas quatro semanas com término em 20/12/2014: A rede varejista francesa Leclerc se tornou a primeira no país a lançar uma espécie de refrigerante concentrado. O produto de marca própria da rede é comercializado em garrafas de 500 mililitros e vem com um recipiente medidor que permite ao consumidor fazer até 12 litros de bebidas diluída em água mineral, incluindo. Os sabores cola, cola light, limonada e laranjada. VITA COCO NA CHINA A fabricante All Market firmou um acordo com a Reignwood Group, baseado na China, que dará à companhia o acesso à rede nacional de distribuição da Reignwood e também aos pontos no varejo para comercializar a água de coco Vita Coco. A Reignwood opera a Red Bull China, que fabrica e distribui os energéticos da marca naquele país. Com a operação, 25% da Vita Coco passa para as mãos da Reignwood por US$ 665 milhões. SUSTENTÁVEL PLANTAR ÁRVORE PARA VENDER ÁGUA DE COCO Apelo sustentável é a estratégia da fabricante de água de coco filipina Buko. A empresa firmou uma parceria com a Cuipo, uma organização voltada para a sustentabilidade. De acordo com a empresa, a cada produto vendido uma pequena doação será feita para a Cuipo. O dinheiro será usado para replantio de florestas. Em cada caixa da bebida, os consumidores vão encontrar um código único, que representa o “seu” metro quadrado de floresta tropical. Eles podem inseri-lo no site da Buko para descobrir onde está localizado o “seu” pedaço de floresta. 5,1% foi a alta nos preços do litro do suco de laranja no período em comparação com as quatro semanas de 2013, atingindo R$ 4,60 ante R$ 4,40 5,2% foi a variação do preço do litro de suco refrigerado nas quatro últimas semanas de dezembro de 2014 em comparação com o mesmo período de 2013 1,76% é a proporção da elasticidade entre a queda no percentual de consumo e o aumento do percentual de preço do litro de suco 9% foi a queda nas vendas totais de suco nas quatro semanas avaliadas, com 153,9 milhões de litros 4,3% de redução na receita ocorreu no período analisado, ficando em R$ 712,8 milhões 8,8% foi a queda registrada nas vendas de suco de laranja refrigerado no período, encerrando as últimas semanas de 2014 com 146,6 milhões de litros CITRUSBR Fevereiro 2015 | 9 TENDÊNCIAS 1SUCO NA PRESSÃO E os sucos de frutas seguem sob ataque. Um estudo australiano avaliou hábitos de consumo de adultos e relacionou a ingestão frequente dessas bebidas com incidência de pressão alta. Os resultados ganharam manchetes sensacionalistas em vários jornais do Reino Unido, EUA e da Índia. Depois de todo o barulho, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) publicou um relatório apontando que a ligação entre o suco de frutas e a pressão arterial elevada não foi provada. A principal crítica é de que o estudo não levou em conta outras fontes de açúcar na dieta dos entrevistados. O órgão ainda classificou as manchetes como “exageradas ao se basear apenas em um pequeno estudo”. 2 3 Aposta BEBIDA GELADA, GANHOS QUENTES A multinacional suíça Nestlé resolveu apostar no potencial de mercado dos cafés gelados na Europa e lançou o Shakissimo. A bebida pronta para beber terá a missão de posicionar a empresa dentro desse segmento. Embora responda por apenas 4,2% dos lançamentos mundiais, a empresa avalia que esse tipo de produto tem grande potencial para crescer tanto no mercado europeu quanto em outras regiões, como a Ásia. Nesse segmento, a maior demanda é por bebidas em copo, com tampa e prontas para o consumo. 10 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Máquinas A GUERRA DAS CÁPSULAS De olho no mercado de preparo de bebidas em casa, a empresa Sodastream firmou um acordo com a PepsiCo para testar seus produtos na Flórida. A parceria é mais um capítulo na disputa com a Coca-Cola por esse segmento. A Sodastream já firmou acordo para fornecer cápsulas para empresas como Ocean Spray, Cott e Sunny Delight. Enquanto isso, a Coca-Cola deve lançar neste ano sua máquina de preparo de bebidas. A briga por esse segmento se intensificou nos últimos anos por conta da queda nas vendas de refrigerantes e pela necessidade de as empresas explorarem outros filões. 4 Greening 1 COCA-COLA NA BRIGA E não é só do governo americano que vem a preocupação com a doença. A empresa Coca-Cola doou US$ 1,5 milhão para apoiar os trabalhos de pesquisa de prevenção, manejo e combate ao greening. Os recursos serão destinados para a Fundação de Pesquisa da Universidade da Flórida e serão enviados em três parcelas de US$ 500 mil, uma a cada ano. “Esta concessão da CocaCola vai permitir ao Instituto um impulso maior nos trabalhos para buscar a cura do greening”, disse o vice-presidente sênior de agricultura e recursos naturais da universidade, Jack Payne. 5 Investimento PRINCESS INVESTE EM AMPLIAÇÃO DE FÁBRICA A fabricante de refrigerantes Princess, do grupo Mitsubishi, investiu aproximadamente US$ 68,5 milhões na ampliação e reforma de sua planta de envase de bebidas em Bradford, no Reino Unido. Os investimentos englobam uma nova instalação para a produção de xarope, na qual serão feitas as misturas de ingredientes para as bebidas. Os investimentos vêm de mãos dadas com o crescimento nas vendas da companhia, que aumentaram 25% fora do Reino Unido e atingiram cerca de US$ 598 milhões no ano fiscal encerrado em março de 2013. 7 6 Aquisição OS REIS DO SUCO NA ARÁBIA O grupo Olayan Financing Co (OFC), baseado na Arábia Saudita, adquiriu participação majoritária em uma das maiores processadoras de sucos de frutas do Oriente Médio, a Gulf Union Foods Co (GUFC). A negociação foi feita com um grupo de investidores, incluindo a empresa de private equity Jadwa Investment. A aquisição contempla 51%, mas os valores da negociação não foram divulgados. O grupo Jadwa segue com 30% do GUFC, companhia que também produz e comercializa a marca Maaza na Arábia Saudita. Exportações O QUERIDINHO DOS COREANOS A Coreia do Sul continua sendo um mercado que sorri constantemente para a indústria do suco de laranja da Flórida. O país passou de menor comprador da bebida para um dos mais importantes players para o suco norteamericano, após firmar um acordo com o país em 2012 para eliminar tarifas de alguns itens importantes, incluindo o fim da taxa de 54% sobre o suco de laranja. A Coreia do Sul importou 62,3 milhões de litros de suco de laranja em 2013, ante 11,3 milhões em 2011. FOTOS: DIVULGAÇÃO, SHUTTERSTOCK E ISTOCKPHOTO 9 8 Diversificação ADM VAI ÀS COMPRAS A ADM completou a aquisição da Specialty Commodities por US$ 191 milhões. A companhia é especialista no processamento de ingredientes para a indústria de alimentos, como grãos, oleaginosas e frutas secas. “Estamos continuamente expandindo nosso portfólio de ingredientes especiais para servir melhor nossos clientes e reduzir a volatilidade de nossos ganhos”, disse o presidente da divisão de novos sabores e ingredientes especiais da ADM, Greg Morris. Greening 2 MAIS VERBA CONTRA O MOSQUITO O secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, anunciou que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) disponibilizou uma nova assistência financeira para citricultores da Flórida para a remoção de árvores atingidas com greening e para o replantio de pomares novos, com estoque saudável. "O USDA está investindo em pesquisa e uma variedade de estratégias para combater o greening a longo prazo", disse Vilsack. A linha faz parte de uma pacote de US$ 25 milhões, lançado pelo USDA para combater o greening. Fale com a redação: [email protected] CITRUSBR Fevereiro 2015 | 11 BASTIDORES NEGOCIAÇÃO ANIVERSÁRIO CONSECITRUS Em 22 de fevereiro de 2015, o julgamento do Consecitrus fará o seu primeiro “aniversário”. Naquela ocasião, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica aprovou o estatuto assinado entre CitrusBR e Sociedade Rural Brasileira e determinou uma série de ações e prazos. Em razão de recursos impostos pela Faesp e pelo Unicitrus, os embargos foram julgados em agosto de 2014 e, desde então, entidades de produtores tentam encontrar consenso para levar suas demandas à CitrusBR, que representa as indústrias. Até o fechamento desta edição, a CitrusBR não havia recebido nenhum contato. POLÍTICA NOVA CÂMARA, NOVOS PROJETOS A nova Câmara da Citricultura de São Paulo realizou sua primeira reunião no fim de novembro. Seus membros elegeram o desenvolvimento de ações para fomentar o mercado interno como principal foco das discussões. Nenhum assunto, a exemplo do Consecitrus, será levado à nova casa. Entre os membros estão a Associação dos Produtores de Frutas de Mesa, CitrusBR, Ceagesp, Instituto de Economia Agrícola, Instituto Agronômico de Campinas e Associtrus, entre outros. NATURAL GOVERNO LUCROS MAIS SAUDÁVEIS NOVO SECRETÁRIO De olho na crescente demanda por alimentos mais saúdaveis, a fabricante de bebidas norteamericana Noble Juice reforçou seu portfólio com duas novas bebidas cujo o principal apelo é baixa caloria. De acordo com a companhia, seus novos sucos de chai mandarin com maçã e romã com tangerina são livres de gordura, não contêm adição de açúcar, conservantes, glúten ou qualquer outro componente artificial. Tomou posse o novo secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim. Ele é Engenheiro civil, político filiado ao PPS e substitui a engenheira agrônoma Monika Bergamaschi, que deixa o cargo após três anos. EUROPA 1 A COISA FICOU “RUSSA” O Juice Market, uma das mais conhecidas publicações do mercado internacional de sucos, afirma que países que têm sofrido embargos da Rússia por conta da crise com a Ucrânia têm recorrido a uma prática pouco ética. A publicação afirma que produtores de frutas, impedidos de exportar para aquele país, têm vendido os alimentos para destinos livres de qualquer embargo. A partir desses destinos as frutas são reembaladas e reexportadas para a pátria liderada por Vladmir Putin. 12 | CITRUSBR Fevereiro 2015 BRASÍLIA 1 MENOS IMPOSTOS PARA O SUCO A Câmara Setorial da Laranja, vinculada ao Ministério da Agricultura, também deve acelerar as discussões sobre como fomentar o mercado interno de suco de laranja industrializado. O presidente da entidade, Marco Antonio dos Santos, chegou a defender a redução de PIS/Confins em audiência pública no Senado. Com a nova ministra, ele acredita que o setor pode se beneficiar. “A ministra Kátia Abreu é sensível à citricultura e conhece o potencial do mercado interno, ganhamos uma aliada”, diz. NOVOS ARES EUROPA 2 BRASÍLIA 2 A INVASÃO DA MAÇÃ ALÉM DA PEPRO A produção recorde de 85 milhões de caixas de maçã equivalente a 40,8 quilos na Europa, considerada a maior da história, e o embargo às exportações da Polônia, maior produtor, para a Rússia continuam a prejudicar o mercado de suco de laranja. Algumas publicações internacionais já mencionam a venda de suco de laranja abaixo de US$ 1.900,00 FOB Santos, valor correspondente ao que se tem visto na Bolsa de Nova Iorque, descontados os impostos. Santos também pretende ampliar o leque de discussão do colegiado, que reúne as principais entidades citrícolas nas mais diversas áreas. “No ano passado, por força das circunstâncias, tivemos que trabalhar praticamente em função da Pepro, mas este ano temos que ampliar as discussões”, avalia. FOTOS: DIVULGAÇÃO, PICASA, JULIO VILELA, SHUTTERSTOCK E ILUSTRAÇÃO FARREL ATÉ TU, EMERSON O bicampão mundial de Fórmula 1 e também citricultor, Emerson Fittipaldi sempre foi reconhecido como um dos grandes divulgadores do suco de laranja. Tanto que já chegou a trocar o tradicional leite dado aos vencedores das 5oo Milhas de Indianápolis pelo suco. Mas, ao que parece, Fittipaldi sucumbiu à concorrência de outras bebidas. Ele é o garoto-propaganda de uma nova marca de energéticos, a Celsius. O apelo da bebida é a “caloria negativa” ou seja, o fabricante garante que o produto acelera o metabolismo e assim ajuda na queima de calorias. É mais um concorrente para o suco brasileiro. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 13 capa nononono 14 | CITRUSBR Janeiro Fevereiro 2015 2015 Mos quito O greening, doença transmitida pelo pisilídeo, um pequeno mosquito presente em todo Brasil, tem sido uma das principais inimigas da citricultura. Hoje, porém, novas técnicas possibilitam um manejo adequado dos pomares e já é possível vencer o problema indestrutível, cultura perecível N os últimos anos a citricultura brasileira tem travado uma verdadeira guerra contra o pisilídeo, um mosquito quase invisível a olho nu e que transmite o greening, considerada a mais grave doença já registrada em pomares de laranja. Principal “culpada” por devastar pomares nos Estados Unidos, a doença chegou a praticamente 100% dos talhões da Flórida, segundo dados do Florida Department of Citrus. Em São Paulo, a incidência chega a 14%, de acordo com o Fundecitrus. Os extremos do parque citrícola, localizados mais ao sul do Estado e ao FOTO: JULIO VILELA CITRUSBR CITRUSBR Fevereiro Janeiro 2015 | 15 capa norte, no sentido do Triângulo Mineiro, são as áreas menos afetadas. Já regiões mais tradicionais, como Descalvado, Bebedouro, Araraquara, entre outras, têm convivido com todas as incertezas geradas por uma doença sem cura e que ameaça o principal patrimônio do citricultor, ou seja, o seu pomar. Pouco menor que a conhecida mosca-do-mediterrâneo, aquele mosquitinho que voa sobre frutas maduras, sua adaptação ao meio ambiente é resultado de milhares de anos de evolução, o que o tornou extremamente adaptado à natureza. Não é exagero dizer que, se fosse um da vontade do homem. Segundo alguns especialistas ouvidos pela revista CitrusBR, essas mosquinhas habitam nosso planeta muito antes de nós, seres humanos, e, provavelmente, aqui estarão ainda por milhares de anos. O jeito encontrado até agora pela ciência consiste num pacote tecnológico que envolve diferentes disciplinas nos pomares de laranja. Desde a estratégia de plantio correto nas bordaduras até a frequência das pulverizações, muito há para ser feito. Em muitas fazendas, até mesmo naquela localizadas em regiões consideradas endêmicas, é possível manter o greening sob controle. Muito mais do que investimentos custosos, é preciso atenção com o know-how aplicado. Segundo Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus, “a citricultura já viveu momentos complicados com outras doenças e conseguimos superá-las”. Para ele, hoje se conhece muito mais sobre a doença do que se imaginava sobre ela cinco anos atrás e aqueles citricultores que de fato se especializaram no seu combate têm conseguido manter a sanidade de seus pomares e ainda incrementar sua produtividade. E, com o intuito de disseminar o conhecimento acumulado e as melhores práticas agronômicas, nas próximas páginas serão demonstrados os principais manejos agrícolas utilizados por aqueles citricultores que têm vencido a doença e continuam a acreditar na viabilidade da citricultura no longo prazo. O CONTROLE DO GREENING JÁ É POSSÍVEL POR MEIO DO USO DE DIFERENTES TECNOLOGIAS NO POMAR ser humano, o pisilídeo teria poderes de um super-herói ou, no caso, um super-vilão. Afinal de contas, àqueles cujos olhos não são treinados, ele é quase invisível; sua estrutura corporal, com músculos extremamente fortes, permite incrível resistência e ele pode cair de alturas inimagináveis sem nada sofrer; a autonomia de voo desse pequeno inseto é impressionante e corresponde a um ser humano viajando do Brasil à Argentina num dia, à pé. E, caro leitor, acredite: os inseticidas constituem apenas uma forma de controle de sua população, o que significa que ele sempre existirá, independentemente 16 | CITRUSBR Fevereiro 2015 O incrível berçário de plantas Cuidar das mudas é o primeiro passo para garantir um pomar saudável O viverista Luiz Augusto Vanconcellos é aquele tipo do sujeito zeloso com seus pomares. Professor universitário de formação e citricultor por vocação, ele é a quarta geração de uma tradicional família de citricultores radicada em Limeira. Ao longo de sua vida e de alguns familiares que já atuavam na lida com a citricultura, ele viu várias doenças chegarem ao Brasil. E se há um lugar em que os conhecimentos do professor e do citricultor se encontram é justamente dentro do viveiro. Lá, ele produz 240 mil mudas por ano, que têm como destino as regiões de Botucatu, Avaré, Bariri, Pirassununga, Mococa e, claro, Limeira. Uma muda doente, explica, é a forma mais fácil de disseminar uma doença. E, para mantê-las saudáveis, o professor-citricultor viajou à África do Sul em 2008. Lá, os O USO DO SISTÊMICO, APESAR DE SER MAIS CARO, MOSTRA UMA EFICIÊNCIA MAIOR, SE COMPARADO COM O MANEJO TRADICIONAL FOTO: JULIO VILELA citricultores convivem com a doença desde a década de 1940. “Vimos que os produtores daquele país conseguiam proteger as plantas e reduzir a incidência da doença com o uso do manejo sistêmico”, revela. O sistema consiste em “vacinar” as mudas para que já cheguem aos pomares protegidas contra a doença. Para tanto, o trabalho começa ainda nos viveiros, com a aplicação de inseticidas em forma de dremch no solo. Isso significa um manejo em que o defensivo é aplicado com água no solo e é absorvido pelas raízes da planta. Assim, os produtos sistêmicos, são “inteligentes” e se espalham por toda a planta, da raiz até as folhas e brotações, criando uma proteção especial para cada muda. “Além disso, combinamos o sistêmico com a pulverização nas folhas, para obter melhores resultados”, explica Vasconcellos. Combinado ao manejo das mudas, o sistema de proteção dos viveiros também é diferente do convencional na propriedade de Vasconcellos. As telas laterais têm espessura de 0,87 milímetros por 0,30 milímetros, portanto livre de insetos afídeos. A pulverização das plantas é feita quinzenalmente. As mudas são gestadas em outra propriedade da família, em uma área protegiCITRUSBR Fevereiro 2015 | 17 capa PRECAU ÇÕES NA FORMAÇ ÃO DO P OMAR Se te dicas pa a plantaçã ra manter o sadia PULVERIZAÇÃO Aplicação de inseticida sistêmico por meio de drench evita rebrota 1. Plantio d e mudas sa dias s mais ade nsados 3. Porta-e nxertos an anicantes 4. Plantios adensado s em bord da proprie as dade e do talhão 5. Plantios paralelos à divisa da propriedad e 6. Renova ção de po mares em blocos 7. Utilização de mulchin g refletivo 2. Pomare da, para evitar a contaminação. Dentro do viveiro, as mudas e os portas-enxertos ficam sobre bancadas a uma distância mínima do solo, para evitar a contaminação por outras doenças, como a gomose e o aparecimento de hospedeiras. Ao saírem dos viveiros, as plantas mantêm a proteção da vacina por um período entre 60 e 80 dias. DO VIVEIRO AO POMAR Assim que deixam os viveiros, as plantas logo se tornam sujeitas à contaminação. Por isso, o trabalho de prevenção deve ser redobrado. No caso de Vasconcellos, seguindo as recomen- dações técnicas, a prevenção continua com aplicações sistêmicas programadas nas 130 mil árvores dos pomares da família. O citricultor explica que é possível reduzir o número de aplicações por ano com esse manejo. No método tradicional, há casos relatados em que citricultores chegam a fazer 30 pulverizações anuais. “No caso do sistêmico, fazemos entre 13 e 14 pulverizações anuais, com intervalo maior”. Apesar disso, ele revela que o custo do sistêmico é 25% a 30% superior ao manejo convencional. “Por outro lado, os resultados são positivos. Em pomares de um a dez anos com sistêmico, a perda chega no máximo a 2%. Já nos pomares sem o sistêmico esse percentual chega a 20%”, calcula. De forma geral, os pomares mais jovens, tanto nas fazendas da família Vasconcellos, quanto nas propriedades para as quais o professor-citricultor presta consultoria, também mostraram melhores resultados no manejo contra o greening. Isso porque, segundo Vasconcellos, a distribuição dos inseticidas por meio da aplicação sistêmica é mais uniforme em plantas mais jovens. “Verificamos também que o uso do sistêmico ajuda a planta a manter seu equilíbrio, o que muitas vezes não ocorre quando é feita a aplicação convencional de inseticida”. Apesar das vantagens, ele revela que o sistema ainda é pouco usado por aqui, já que requer investimentos. “O que vejo é que o citricultor que realmente quer ficar no negócio investe em soluções para conviver com o greening e manter sua produtividade”. Para ele, o trabalho de manejo requer cinco elementos principais: recurso financeiro, consciência do produtor de que vai trabalhar para conviver com o greening, trabalho pesado de inspeção e erradicação de plantas contaminadas, controle permanente do psilídeo e aquisição de mudas sadias, já vacinadas. Mas esses temas ficam para as próximas páginas. CALDA NA MEDIDA CERTA Recomendações do Fundecitrus mostram que eficiência na aplicação não tem a ver com grande quantidade POMARES DE CINCO ANOS (copa com volume de 25 m3) VOLUME COBERTURA DA PULVERIZAÇÃO (%) 1.000 l INSETICIDA EFICIÊNCIA (l/ha) (ml/m3 ) (l/ha) (%) 1.000 77 1 100 500 39 0,5 100 400 31 0,4 100 300 23 0,3 100 18 | CITRUSBR Fevereiro 2015 500 l 400 l 300 l CUIDADOS COM AS MUDAS são fundamentais para que a doença não seja disseminada entre as diversas regiões produtoras Os donos da borda Após sofrer revés com a chegada do greening e perda na produção, família investe em manejo para recuperar áreas atingidas N monstram não só as pesquisas e resultados divulgados pelo Fundecitrus, mas também pela comunidade científica. A área de ação do psilídeo normalmente se concentra nos 100 metros iniciais da propriedade. Dessa forma, o controle da doença em propriedades muito pequenas se torna mais complicado. Isso porque, por exemplo, numa área de 900 hectares, a borda teria em torno de 59 hectares, portanto, 6,5% do total. Já numa fazenda com 100 hectares, com os mesmos 100 metros mais expostos, a área da borda corresponderia a 36 hectares, ou 36%. Portanto, quanto menor a propriedade, mais exposta ela estará ao psilídeo. De acordo com a recomendação técnica, o tratamento de borda indicado é de 100 metros internos no contorno com citros da QUANDO TAMANHO É DOCUMENTO Esquema abaixo mostra como pequenas propriedades são mais suscetíveis aos ataques do psilídeo 3.000 m 100 m 1.000 m 500 m Área total = 100 ha Área de borda = 36 ha (36%) 500 m 1.000 m 3.000 m a região de Pirassununga, a família Palhares vem enfrentando o amargo desafio de lidar com o greening em uma das áreas mais afetadas pela doença no Estado de São Paulo. Diferentemente das laranjas que plantam, o sabor do impacto da doenças não é nada doce. Segundo Antonio Palhares, um dos donos das 12 propriedades mantidas ao lado filho Brian, a produção total já chegou a 3,6 milhões de caixas. Mas, com a perda da produtividade e o arranquio de plantas, hoje há 411,2 mil plantas e uma produção ao redor de 1 milhão de caixas. A decisão de lutar contra a doença aconteceu há aproximadamente três anos, quando os Palhares decidiram investir pesado no manejo contra o psilídeo. Uma das principais armas deles para o combate à doença dentro das fazendas está no uso de bordas externas nos talhões e bordas internas nas quadras. Ou seja, ao contrário da maioria dos citricultores, que adotam a borda apenas ao redor de cada talhão, os Palhares implantaram uma borda "extra" ao redor de cada quadra dentro do talhão. Segundo Antonio, com isso, caso os insetos passem a barreira da primeira borda, logo caem nas primeiras árvores das bordas internas, evitando a contaminação das árvores do miolo dos pomares. Em três anos, os resultados já são visíveis. O índice de erradicação de plantas, que girava em torno de 3% quando o trabalho começou, deve fechar próximo de 1% nesta safra. “Mas ainda o consideramos alto. Estamos trabalhando para reduzir a um índice inferior a 0,5%”, calcula Antonio. O manejo das bordas é um dos pontos fundamentais, segundo de- Área total = 25 ha Área de borda = 66 ha (64%) CITRUSBR Fevereiro 2015 | 19 capa nononono Menor perda de plantas em plantios paralelos. Maior facilidade da operação de pulverização da faixa de borda MOSQUITO COME PELAS BORDAS Conhecer os hábitos do psilídeo ajuda no combate Levando em consideração a infor- servem como fronteiras. No esquema no mação do início desta reportagem em quadro ao lado é possível entender as relação à capacidade de deslocamento melhores formas de plantio das bordas. do psilídeo, é preciso atentar para as Nas fotos abaixo, que mostram o dese- áreas mais afetadas. As fotos acima nho dos talhões, é possível notar como mostram claramente o potencial destru- pode ser complicado o plantio em tiva do greening, principalmente nas decorrência da falta de uniformidade. bordas. Isso porque o hábito de alimen- Uma das soluções é a renovação dos tação do vetor acontece quando a plan- pomares em blocos. A vantagem em ta está no período vegetativo e, como já relação à remoção individual das qua- detectou a ciência, uma vez que encon- dras está no melhor controle justamente tra alimento, o mosquito não tem neces- das bordaduras, minimizando a pressão sidade de ir para as áreas mais profun- da doença vinda de pomares antigos das do talhão. Dessa forma, as bordas vizinhos e das áreas externas. Sugestão de sistema de novos plantios PLANTIO PARALELO À DIVISA DA PROPRIEDADE Combate ao psilídeo deve ser intensificado nas bordas O esquema acima, desenvolvido pelo Forma da propriedade não dever ser estreita ou recortada Fundecitrus, mostra que as bordas paralelas à rua facilitam as operações de pulverizações. Já a foto aérea no alto da página mostra que as bordas em diferentes direções dificultam o manejo. Como a presença do inseto nas áreas internas da propriedade é muito baixa, a pressão de entrada se concentra nas bordaduras da propriedade, onde o controle deve ser intenso. Desta forma, quando o relevo permitir, deve-se efetuar o plantio com linhas paralelas à divisa da propriedade. Isso garantirá maior operacionalidade aos pulverizadores, assegurando o timing Mais difícil controle 20 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Mais fácil controle necessário entre aplicações. PORTAENXERTOS ANANICANTES: uso da técnica gera maior eficiência na inspeção e controle de pragas e doenças. Além disso, reduz o custo de colheita e possibilita a utilização de inseticidas sistêmicos em plantas adultas Porta-enxerto convencional propriedade. Quando possível, é recomendado que se estenda esta faixa até 200 metros. Nessa área da propriedade, segundo especialistas, é ideal que se faça a aplicação com inseticida de contato com o intervalo de sete dias e aplicação de inseticida sistêmico três a quatro vezes ao ano, concentrado no período de maior ocorrência do inseto. Já para o tratamento de borda dos talhões internos, a aplicação com inseticida de contato deve ser feita quinzenalmente. Tudo isso é realizado na propriedade dos Palhares. Porém, embora a área total seja grande, todo o perímetro plantado com laranja está distribuído ao longo de 12 propriedades de diferentes tamanhos. Isso significa que a “maldição das bordas” também recai sobre seus pomares. Desde que iniciaram o trabalho de controle mais intensivo contra o psilídeo, três anos atrás, muitos vizinhos deixaram a citricultura justamente por sucumbir à devastação causada pela doença. Hoje as inspeções das árvores FOTOS: DIVULGAÇÃO Porta-enxerto ananicante em busca de sintomas, ou mesmo da presença do vetor, são semanais, enquanto o calendário de pulverizações, antes mensal, para o combate da pinta preta, passou a ser quinzenal para o combate do greening. “Também instalamos armadilhas em várias áreas para identificar a ocorrência de psilídeos.” Em relação aos vizinhos, o trabalho foi mais de diálogo. “Muitos não faziam o manejo adequado, então passamos a incentivá-los a fazê-lo de forma regular, para o controle da doença”, revela Antonio. Atualmente, ele faz a pulverização de apenas um pomar vizinho, no qual as aplicações são semanais nas bordaduras e quinzenais no restante do pomar. Antonio também explica que faz a rotação de inseticidas nas aplicações e reforma os pomares quando necessário. “Nos pomares mais novos, as mudas já vêm vacinadas, são cultivadas com uma nova tecnologia e consequentemente têm resultados melhores no combate à doença e na produtividade também”, explica, embora sejam as mais suscetíveis ao ataque do psilídeo e necessitem de mais cuidados. Segundo ele, mesmo com a seca que se abateu sobre a região nesta temporada, os pomares mais jovens obtiveram rendimentos superiores aos mais antigos. PARA CONTRO LAR A DOEN ÇA Dois pon tos fundame ntais 1. Inspeç ão e erradicaç ão de pla ntas sintomáti cas 2. Nutriçã o adequ ada CITRUSBR Fevereiro 2015 | 21 capa nononono TRABALHO COM PROPRIEDADES VIZINHAS ESTÁ AJUDANDO A CAMBUHY A MANTER SEUS POMARES SAUDÁVEIS E A PRODUTIVIDADE EM ALTA Na estrada contra o greening Saiba como a estratégia de implantar um modelo de manejo preventivo feito em parceria com propriedades vizinhas ajudou a Cambuhy a reduzir o percentual de plantas com greening em suas fazendas O ditado que diz que a união faz a força descreve com precisão o trabalho de combate ao greening desenvolvido pelo empresa Cambuhy Agrícola, localizada na região de Matão (SP). Há alguns anos a propriedade, que possui uma área total de 14.123 hectares, sendo 6.792 hectares ocupados por pomares de laranja, 22 | CITRUSBR Fevereiro 2015 começou a perceber que o greening se alastrava pelos pomares vizinhos, de diversos tamanhos, que não conseguiam fazer um controle eficiente. Essa situação poderia colocar em risco a produção da fazenda, que colhe 6 milhões de caixas por ano. Diante do problema, a Cambuhy decidiu iniciar em 2011 um trabalho de aproximação com os vizinhos na região. A empresa começou então um amplo mapeamento de todas as propriedades em um raio de 4 quilômetros de sua fazenda e passou a fazer visitas com o intuito de incentivar os donos delas a erradicar as plantas doentes e fazer o manejo adequado nos pomares. “O trabalho conjunto se mostrou muito eficiente e hoje conseguimos ótimos resultados com esse tipo de controle”, afirma o diretor-geral da Cambuhy, Alexandre Tachibana. De fato, os dados mostram que a estratégia tem surtido efeito. O percentual de plantas erradicadas dentro dos pomares da Cambuhy foi reduzido de 3,51% entre maio de 2010 e abril de 2011 para 1,64% entre maio e novembro de 2014. Em contrapartida, a produtividade média aumentou, passando de 539 caixas por hectare na temporada 2010/2011 para 1.013 caixas na temporada 2013/2014. “Nossa meta é POMAR SOB CONTROLE Com o manejo regional, bons resultados surgem no horizonte Produtividade média anual da Cambuhy (caixas de 40,8 kg por ha produtivo) 1.024* 1.000 1.012 1.013 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15 656 594 695 742 679 628 539 * Estimativa 3,51% Erradicação de plantas com HBL na Cambuhy desde 2004 2,36% 1,77% 1,97% 5/11 a 4/12 5/12 a 4/13 2,17% 1,64% 0,99% FOTO: JULIO VILELA 5/14 a 11/14 5/13 a 4/14 5/10 a 4/11 5/09 a 4/10 5/08 a 4/09 5/07 a 4/08 5/06 a 4/07 5/05 a 4/06 0,20% 0,29% 0,20% 0,47% 5/04 a 4/05 chegar a 1,5 mil caixas por hectare nas próximas safras”, planeja Tachibana. Atualmente, todo o trabalho de manejo e pulverização nas propriedades vizinhas é feito e custeado pela Cambuhy. Alguns produtores de porte maior também fazem a pulverização periódica, só que por conta própria. Segundo a companhia, o custo médio anual com o projeto é da ordem de R$ 200 mil, incluindo inspeção, pulverização e a remoção de plantas. Desde o início do programa até agora já foram erradicadas 40 mil plantas. “Hoje trabalhamos com 63 vizinhos, em um projeto de manejo que abrange uma área de 250 hectares”, explica Tachibana. Além da pulverização, outros tipos de manejo são disseminados entre os vizinhos. Periodicamente é feita a liberação das Tamarixias, predadoras naturais de psilídeos, que Custos com os vizinhos da Cambuhy R$/ano Inspeção Pulverização Remoção de plantas Total R$ 13.000 R$ 117.000 R$ 72.840 R$ 202.840 atuam como auxiliares no controle da população de insetos, especialmente em pomares abandonados e de difícil acesso. A avaliação da quantidade de psilídeos tanto dentro quanto fora da Cambuhy é feita por meio de armadilhas inspecionadas semanalmente. O trabalho feito em conjunto com os vizinhos, somado ao manejo da porteira para dentro da fazenda, vem dando resultados. Na Cambuhy, as mudas já chegam às áreas de plantio vacinadas e recebem tratamento sis- têmico preventivo até os 3 anos, o que ajuda a diminuir o número de plantas sintomáticas nesse período. O trabalho de pulverização é feito com maior intensidade nas bordas, justamente as regiões mais críticas de ocorrência do greening e principais pontos de contato com as propriedades vizinhas. Já o interior dos pomares e as áreas com plantios mais antigos recebem menor quantidade de inseticidas. “Isso porque a ocorrência de psilídeos acontece nas bordas e nos pomares mais novos.” CITRUSBR Fevereiro 2015 | 23 capa Dessa forma, o custo médio do manejo preventivo da doença varia de R$ 1.140,23 por hectare, para os pomares mais novos, a R$ 510,19 para os pomares mais velhos, segundo Tachibana. Além disso, anualmente cerca de 400 hectares são reformados. Juntamente com a reforma dos pomares, Tachibana revela que a Cambuhy está em fase de transferência das áreas de citrus para o interior da fazenda, em regiões de difícil acesso para os psilídeos. “Nas bordas, podemos fazer o cultivo de cana ou de seringueiras, já que temos essas culturas dentro da propriedade também”, explica o executivo. A cada reforma, os pomares são plantados de forma adensada, o que permite uma produção mais precoce, garantindo mais rapidamente o retorno do capital investido, além de obtenção de maior produtividade por área. Com a adoção dessa prática, a MOSQUIT O Sete dicas SOB CONTROLE para comb ater o vetor 1. Program a de insetic ida 2. Tratame nto sistem át ico de borda da propriedad e e talhões 3. Monitora 4. Uso de mento do 5. Manejo as regional 6. Controle 7. Liberaçã radiata psilídeo bioinseticid em áreas o de Tam externas arixia 24 | CITRUSBR Fevereiro 2015 CORTE SECO A erradicação de plantas sintomáticas é uma das práticas fundamentais do manejo contra o greening. Ao ser cortada, a planta deixa de ser atraente ao psilídeo e a contaminação não acontece perda de plantas com o Huanglongbing (HLB) ao longo do tempo é minimizada, perpetuando por mais tempo o estande de plantas. Outra vantagem do adensamento é a maior proteção contra a penetração do psilídeo para o interior do pomar, por causa do renque mais fechado das linhas de plantio. O monitoramento do psilídeo via inspetor ou armadilha adesiva visa monitorar a migração do inseto e também são armas importantes no combate à doença.As armadilhas adesivas devem ser colocadas nas bordas da propriedade e talhões e têm como principal objetivo indicar os locais preferenciais de ocorrência do inseto, que geralmente percorre o mesmo caminho. Com essa observação, as medidas de controle são tomadas com mais rigor nesses pontos. É sempre importante reforçar a importância do treinamento do inspetor para a identificação do psilídeo na armadilha atrativa. RENOVAÇÃO DE POMAR Evitar plantios isolados é uma boa estratégia de manejo Sempre que for viável, é recomendada a renovação dos pomares em blocos, evitando o plantio de talhões isolados, que sofrerão maior pressão das quadras mais velhas circunvizinhas. A renovação em bloco leva vantagem em relação à renovação individual, porque garante melhor controle fitossanitário e isso minimiza a pressão da doença no entorno. De olho na vizinhança Como a Faro Capita, de Paulo Zucchi Rodas, convenceu a vizinhança a entrar na luta contra o greening A Fazenda São Sebastião, localizada em Pedregulho (SP), é uma das principais produtoras de laranja dentro dos negócios de Paulo Zucchi Rodas. Detentor de nove fazendas, sendo cinco delas com foco na citricultura, o grupo cultiva 3.657 hectares de pomares com aproximadamente 2 milhões de árvores e produz anualmente cerca de 3,5 milhões de caixas, a maior parte vendida para a indústria. Desde 2012, o grupo investe no relacionamento com os vizinhos para desenvolver um programa de manejo regional e atuar no combate ao greening, que tem azedado a pro- FOTOS: JULIO VILELA E DIVULGAÇÃO dutividade da citricultura. “Sempre fizemos o manejo dentro da fazenda, mas percebemos que só isso não era suficiente. Vimos que o manejo do greening sem o manejo regional é algo inviável”, conta Luiz Girotto, diretor agrícola da empresa. Começava aí o trabalho de contato com os 30 vizinhos da propriedade, em um raio de 10 quilômetros. Girotto conta que, ao iniciar o mapeamento, os técnicos verificaram que a propriedade estava rodeada de áreas com pomares não comerciais, uma das primeiras dificuldades enfrentadas pela equipe ao longo do processo. “Muitas áreas eram de chácaras, nas quais as pessoas mantinham poucos pés para consumo próprio e sem manejo algum”, explica Girotto. Agora, após pouco mais de dois anos do início do trabalho, a evolução do greening na fazenda já registra desaceleração. Em março de 2013, o número de plantas erradicadas na Fazenda São Sebastião chegou a 698, número que caiu para 150 em março de 2014. Ou seja, a infestação hoje é apenas 21% do que já foi um ano atrás. Com isso, os primeiros resultados já começam a aparecer na produtividade. Enquanto a média de caixas por hectare das fazendas da Faro é de 1.134, na COM O MANEJO EM UM RAIO DE 10 QUILÔMETROS, A FARO REDUZIU EM 21% O NÚMERO DE PLANTAS ERRADICADAS CITRUSBR Fevereiro 2015 | 25 capa NOVAS ARMAS Ráfia aluminizada tem ação repelente sobre o psilídeo e não permite o crescimento de plantas daninhas embaixo do mulching São Sebastião, a média chegou a 1.310 caixas na última safra. Girotto lembra que a primeira tentativa de contato com os vizinhos em Pedregulho foi frustrada, já que o intuito era incentivá-los a erradicar as plantas. “Depois mudamos a estratégia e passamos a nos oferecer para pulverizar os pomares”, conta. No caso dos vizinhos com pomares não comerciais que aceitaram erradicar as plantas, a estratégia da Faro foi oferecer uma caixa mensal de laranja para as famílias, para compensar a erradicação das plantas. Além disso, com o apoio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), a empresa passou a fornecer também mudas de outras árvores frutíferas, como maracujás, goiabas e coco para esses vizinhos. Do total de 1.432 árvores encontradas nos terrenos dos vizinhos, a Faro erradicou 831 plantas e vem desenvolvendo um trabalho de pulverização quinzenal nas 631 plantas remanescentes. A parceria para o manejo nos vizinhos também inclui a instalação de armadilhas nos pomares e nas murtas usadas como plantas ornamentais nas propriedades. “Também temos feito a liberação de tamarixias cedidas pelo Fundecitrus, para controle da população de psilídeos”, revela Girotto. Além disso, o trabalho de inspeção é feito quinzenalmente e a partir dele são feitas as programações de pulverização. Da porteira para dentro da Fazenda São Sebastião, o manejo seguiu também com instalação e reposicio26 | CITRUSBR Fevereiro 2015 A PAPA-PSILÍDEO A soltura de tamarixias, predadora natural do psilídeo, tem se mostrado uma arma eficaz dos produtores no controle da doença Ninfa de psilídeo Tamarixia Ninfa parasitada Pupa Múmia Pupa namento de armadilhas, inspeção dos pomares e pulverização quinzenal. A partir do trabalho feito com os vizinhos, Girotto conta que foi iniciado um programa de pulverização de baixo volume dentro da fazenda. “Desenvolvemos um novo programa de pulverização em que reduzimos em 35% o volume de inseticida usado e também o número de aplicações por mês”. Com isso, o número de pulverizações caiu de 31 em setembro de 2013 para 18 em novembro de 2014. O trabalho deu resultados tão positivos em Pedregulho que a Faro estendeu o projeto de manejo regional para suas outras propriedades, incluindo a Fazenda Descalvado, em Anhembi (SP), onde 31 vizinhos já participam do programa. Na propriedade cujos pomares são mais novos, as mudas já chegam vacinadas por meio do manejo sistêmico, o que para Girotto é uma vantagem. “Os pomares mais novos são os mais suscetíveis ao greening, então, começar o manejo desde cedo é uma alternativa para gerar melhores resultados”, explica. FOTO: DIVULGAÇÃO O pomar do futuro Nunca houve tanto conhecimento para combater o greening como hoje. Novidades e pesquisas apontam para uma convivência menos traumática em um futuro não tão distante A convivência com o greening já é uma realidade. Ele está presente em 18% dos talhões do Estado de São Paulo e, em alguns casos, na porteira ao lado ou mesmo dentro da fazenda. Nos últimos anos muitas novidades têm surgido como forma de minimizar custos ou mesmo o impacto da doença. As reportagens dessa matéria especial mostram casos de produtores que têm vencido a batalha. Na Flórida, local em que a legislação fitossanitária é menos rigorosa comparada à do Brasil, os estragos foram mais severos. O fato é que enquanto a cura da doença não surge e árvores resistentes ou tolerantes estão apenas nas pesquisas, há uma série de novidades disponíveis no mercado ou que estão prestes a chegar. Um dos casos mais recentes é o uso do mulching, uma cobertura plástica, que está sendo testada pela empresa Cutrale e repele 100% dos mosquitos em plantas jovens, até com três anos. Ao que tudo indica, embora os estudos ainda não sejam conclusivos, a radiação solar emitida não permite a aproximação do mosquito vetor da doença. Sem psilídeo se alimentando nas plantas, não há transmissão do greening. Além disso, o sistema de CITRUSBR Fevereiro 2015 | 27 capa irrigação pode ser instalado por baixo dessa proteção. A falta de luz solar no solo ao redor do tronco das árvores faz com que não seja necessário realizar aplicações de herbicidas, já que as ervas daninhas não conseguem se desenvolver debaixo do sistema, Ainda é preciso que as pesquisas evoluam porque não se sabe, por exemplo, como será a eficiência desse método quando a copa das árvores fizer sombra no mulching. Aliás, o uso desse material tem aumentado em 100% a velocidade de crescimento das plantas. Tomando por base as plantas que já o utilizam, pode-se destacar o uso de porta-enxertos ananicantes, que possibilitam elevadas densidades de plantio obtendo-se maior produção por unidade de área e redução nos custos de colheita. Trata-se de plantas de baixa estatura de copa, mas que permitem grandes produtividades por causa do forte adensamento. O baixo vigor das plantas ananicantes reduz o tempo de atratividade do psilídeo NOVIDAD ES A CAMIN O que a pe HO squisa prepara pa ra o futuro 1. Feromô nio sexual 2. Plantas repelente s 3. Murta re pelente 4. Plantas tolerantes/ resistente s 28 | CITRUSBR Fevereiro 2015 JULIANO AYRES, DO FUNDECITRUS Citricultores que se especializam no combate à doença têm conseguido manter a sanidade dos pomares e incrementar a produtividade pela planta, pela redução do comprimento dos surtos vegetativos, além de aumentar a eficiência dos tratamentos fitossanitários e facilitar a inspeção. Portanto, seja pelo lado da produção, seja pelo da prevenção, essas plantas se mostram uma boa opção. Outro detalhe interessante está na nutrição das plantas. Aquelas que recebem uma “alimentação” adequada, dentro das recomendações técnicas agronômicas, mostram maior tolerância aos sintomas. Isso significa que plantas nutricialmente equilibradas, quando infectadas, apresentam um definhamento mais lento e podem ter sua vida produtiva estendida. Hoje, porém, isso ainda não é possível fora do ambiente de pesquisa, em razão da legislação que obriga a erradicação de todo pé infectado. No futuro, porém, com o avanço tecnológico, a alteração da legislação e a disseminação de todo esse conhecimento, poderá ser possível conviver com a doença. Outra novidade que ainda está na prancheta dos cientistas é o trabalho com feromônios sexuais. Com a comprovação que os psilídeos machos são atraídos pelos odores de extrato exalados pela fêmeas, a pesquisa visa utilizar esta ferramenta para o auxílio no controle do vetor da doença. Também há trabalhos em desenvolvimento com o uso de bioinseticidas. Esses produtos são à base de fungos entomopatogênicos e podem ser usados alternadamente com os inseticidas químicos presentes no mercado, visando reduzir as chances do surgimento de uma seleção de psilídeos resistentes.Há trabalhos com seleção do fungo Isaria fomosorosea com eficiência de controle a campo de aproximadamente 80%. Ele possui a vantagem de não deixar resíduo na fruta, o que permite aplicações mesmo perto do momento da colheita. Uma das possibilidades é a utilização da técnica do confundimento sexual, onde o feromônio sintetizado é distribuído em diferentes áreas dificultando o trabalho do macho de encontrar as fêmeas e, assim, se reproduzirem. Dentro dessa mesma linha, há a possibilidade de atração dos machos para armadilhas de captura, também usando feromônios sintetizados. As plantas repelentes também podem ser uma opção no futuro. A ciência já descobriu que o psilídeo repele o odor de goiaba. Diante disso, há tentativas de isolar os genes que produzem estes compostos e inseri- VIGILÂNCIA CONSTANTE Porcentagem de plantas com sintomas de HBL encontradas por mês em relação ao total encontrado 16 14.9 14 12.7 11.5 12 10 8 12.2 11.0 8.6 8.0 6.7 4.9 6 4 3.6 3.2 2.8 Out Nov Dez 2 0 -los na planta cítrica, com o objetivo de repelir o inseto vetor. Uma busca está sendo realizada, porém, o resultado prático ainda está distante e é possível que demore muitos anos ainda para aparecer. Também se espera o desenvol- Jan Fev Mar Abr Mai Jun vimento de uma planta tolerante ou resistente ao greening, de forma a permitir a convivência pacífica com a doença. Embora existam pesquisas em andamento nesse sentido, ainda está distante o dia em que haja um pomar comercial aprovado com uma Jul Ago Set variedade tolerante ou resistente. Enquanto as novidades não chegam ao mercado, só existe uma fórmula: atenção no monitoramento, uso das recomendações técnicas e inabalável disciplina. O resto ainda é ficção científica. A GOIABA REPELENTE Estudo aponta que cheiro da fruta serve como repelente natural ao psilídeo CITRUS GOIABA Isolar e inserir genes que produzem estes compostos em citrus Planta cítrica repelente FOTOS: JULIO VILELA E DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 29 capa nononono O monitoramento das gigantes Bayer CropScience, FMC, Ihara e Syngenta apoiam melhoria do Alerta Fitossanitário e da conscientização dos citricultores A s empresas de defensivos Bayer CropScience, FMC, Ihara e Syngenta firmaram apoio ao sistema de Alerta Fitossanitário – Psilídeo, do Fundecitrus. Cada uma doou R$ 50 mil que serão utilizados na reformulação do sistema online que, a partir de fevereiro deste ano, terá novas ferramentas e apresentará mais dados aos citricultores participantes. Os recursos também serão utilizados na orientação dos produtores para o controle regional do psilídeo. O Alerta Fitossanitário é um sistema criado para monitorar a população do psilídeo, inseto transmissor do greening (huanglongbing/HLB), uma das piores doenças da citricultura. Para isso, utiliza 15 mil armadilhas adesivas amarelas georreferenciadas (veja quadro), distribuídas por 125 mil hectares de citros e que, a cada 15 30 | CITRUSBR Fevereiro 2015 dias são avaliadas. Os dados das avaliações são processados e distribuídos aos citricultores para informá-los da situação da praga na sua região. O programa foi criado para incentivar o manejo regional do greening e estimular os citricultores a trabalhar em conjunto com os vizinhos para reduzir a população de psilídeo e melhorar o controle do HLB. Como reconhecimento pelo apoio das empresas, foi concedido às parceiras o selo de “Empresa Amiga do Citricultor”, uma iniciativa do Fundecitrus para valorizar as empresas que apoiam as ações coletivas e de sustentabilidade que beneficiam a cultura de citrus. “Acreditamos no manejo regional e no uso correto e seguro dos produtos. O caminho é esse.”, afirma o consultor de Desenvolvimento Técnico de Mercado da Syngenta, Thales Barreto. UNIDOS Programa foi criado para incentivar o manejo regional do greening, com citricultores trabalhando em conjunto Para o consultor de desenvolvimento de mercado da Ihara, Rodrigo Naime Salvador, o Alerta Fitossanitário é uma oportunidade do setor citrícola se unir para o controle da pior doença da citricultura. “Neste momento de busca de novas tecnologias e um novo modelo de produção, toda a cadeia produtiva deve estar unida pelos objetivos comuns: contra o HLB e pela viabilidade da citricultura”, declara. Já a Bayer tem apoiado este e outros programas e pesquisas do Fundecitrus apostando na sustentabilidade. “O Alerta Fitossanitário é uma estratégia integrada de ações que deve ser adotada para o controle de um dos principais desafios da citricultura atualmente, o HLB”, afirma o gerente de Cultura Citrus, Ricardo Baldassari. A sustentabilidade também é o foco da FMC. “O Alerta Fitossanitário coordenado pela Fundecitrus junto com os associados é uma grande iniciativa que está promovendo a sustentabilidade da cadeia citrícola no Estado de São Paulo”, diz o gerente de Marketing, Flavio Mitsuru Irokawa. FOTOS: DIVULGAÇÃO E GUSTAVO FERNANDES DE OLIVEIRA Menos mosquitos e mais laranja Seguindo à risca as principais recomendações de combate ao greening, empresa consegue controlar a doença e elevar a produtividade dos seus pomares N os últimos anos, a empresa Cutrale tem intensificado o seu trabalho de combate ao greening. Nos pomares da companhia é realizado um amplo controle sanitário, no qual todas as recomendações técnicas e manejos são seguidos à risca. Os frutos desse rígido controle se refletem na redução da infestação do greening em suas fazendas próprias. Um dos grandes exemplo disso está na reinauguração da sua fazenda Graziela, que aconteceu em dezembro de 2014. O primeiro plantio na propriedade aconteceu em 1991 em Ibaté, cidade conhecida por estar localizada numa região considerada o olho do furacão da doença. Ou seja, com altos níveis de infestação. A fazenda não ficou imune ao ataque dos psílideos e, após o pomar ter completado 22 anos de idade, sua produção começou a cair. Diante desse cenário, a Cutrale de uma só vez arrancou os 1.049 hectares, que foram replantados entre novembro de 2013 e novembro de 2014. O trabalho seguiu os conceitos de renovação em bloco, alinhamento adequado nas bordaduras e forte adensamento, conforme recomedações do Funde- citrus disponíveis nesta reportagem de capa. O resultado apareceu não apenas com a queda da infestação da doença, mas também em ganho produtivo. A propriedade que anteriormente era ocupada por 287 mil plantas cítricas em uma densidade de 274 plantas por hectare, atualmente possui 623.561 plantas no adensamento de 597 planta por hectare, ou seja, um aumento de adensamento da ordem de 117%. E, com o greening sob controle, a empresa também mantém a atenção aos demais desafios fitossanitários e a correta aplicação de suas práticas agronômicas. A companhia afirma que continua a acreditar fortemente na citricultura, renovando seus pomares de forma cada vez mais tecnificada. “Agora que atingimos nos pomares da Cutrale a produtividade média dentro das nossas expectativas, começamos a trabalhar para o controle sanitário e para atingir um novo salto produtivo”, ressalta o diretor da Área Agrícola da Cutrale, Valdir Guessi. FAZENDA GRAZIELA Em um ano foram replantados todo os 1.049 hectares da propriedade, o que reduziu a incidência de grenning e elevou a produção de laranjas CITRUSBR Fevereiro 2015 | 31 capa nononono FRANCISCO NETTO trabalho intensificado no combate à doença ajudou a dexar o índice de incidência abaixo de 1% nas fazendas Tolerância zero contra o greening Utilizando uma variedade de técnicas e manejos, a Citrosuco conseguiu reduzir o nível de infestação da doença em seus pomares para menos de 1% U ma batalha sem trégua. Assim pode ser resumido o trabalho de prevenção e controle do greening que vem sendo realizado pela empresa Citrosuco. Nos últimos anos, a incidência da doença nos pomares próprios da empresa tem ficado abaixo de 1%. Um resultado altamente positivo, alcançado por meio de uma série de técnicas e manejos seguidos com rigor e, principalmente, uma política de tolerância zero contra a doença. “Um dos pilares do nosso resultado é que assim que identificamos uma planta doente erradicamos essa árvore imediatamente”, explica o diretor agrícola da Citrosuco, Francisco Netto. De acordo com o diretor, durante todo o ano, técnicos percorrem os talhões das propriedades em busca de plantas sintomáticas. “O número de inspeções varia de acordo com o ano, mas o importante é que esse trabalho de monitoramento e erradi32 | CITRUSBR Fevereiro 2015 cação ajuda a manter o controle da doença”, ressalta. Além da retirada de árvores sintomáticas, outro ponto importante do modelo de controle da companhia são as armadilhas para captura de psilídeos, espalhadas pelas fazendas. Além de monitorar a população do inseto na parte interna da fazenda, ela também é mapeada nos locais em que as árvores doentes são arrancadas. “Cruzando esses dois dados, temos o mapa do grau de severidade da doença na fazenda, ou seja, identificamos os talhões onde temos uma ocorrência maior da doença. Nessas áreas são intensificados os números de pulverizações.” Netto aponta como outro diferencial o trabalho PEGA MOSQUITO Uso de armadilhas georreferenciadas é a estratégia para monitorar psilídeos feito no entorno das propriedades. Desde o ano passado a empresa passou a espalhar armadilhas georreferenciadas de forma mais adensada, a cada 150 metros do perímetro das bordas das fazendas. Semanalmente são feitas leituras das armadilhas, que são recolhidas e levadas para análise em laboratório. A partir daí são identificados os pontos de chegada do psilídeo nas fazendas. “Uma vez identificado pontos da fazenda com alta incidência de entrada do mosquito, nós montamos uma força-tarefa que percorre as áreas próximas às propriedades atrás de árvores abandonadas, pomares caseiros, entre outros focos da doença”, explica. “Esses pés podem ser substituídos por outras plantas frutíferas ou são erradicados quando é permitido ou até mesmo tratados dependendo do caso”, diz. A estratégia da Citrosuco é complementada com um trabalho nas bordas das propriedades. Nos pomares novos são realizados plantios mais adensados e com linhas de plantio transversais nos primeiros 150 metros da fazenda. Essa área é chamada de “zona de sacrifício”. Netto pondera que os psilídeos normalmente chegam primeiro nessa área e esse modelo de plantio permite uma pulverização mais rápida, o que impede que o mosquito infecte áreas maiores da fazenda. “Com esse conjunto de medidas conseguimos manter a doença controlada.” Disciplina para proteger os pomares MONITORAMENTO Rigor nos manejos garante baixa incidência de greening O cuidado segue nos pomares mais novos. Enquanto nas plantações mais antigas são realizadas seis inspeções por ano, conforme recomendação do Fundecitrus, nas árvores jovens o núCom forte trabalho de gestão das inspeção de plantas mero de inspeções chega a 12 por ano. sintomáticas e combate ao psilídeo, a empresa Louis “Nossa filosofia é de rigor na detecção/ Dreyfus Commodities mantém doença controlada erradicação de plantas sintomáticas e no combate ao vetor, para evitar a ais do que utilizar as práou surto de psílideos, entre ouentrada da doença nos talhões ticas recomendadas de tros. Esse modelo ajudou a mais jovens, já que uma manejo, a estratégia de empresa a manter o nível planta nova infectada não combate ao greening nos pomares da de incidência da doença se tornará um adulto empresa Louis Dreyfus Commodities em 1,1% no pomares viável”, explica. Para (LDC) está ligada a um rígido sistema mais antigos e de 0,3% garantir a qualidade de gestão dessas técnicas. Um modelo a 0,5% nos pomares das inspeções, a emque garante que a empresa controle mais novos, com idades presa desenvolveu um todas as operações realizadas e os entre 0 e 4 anos. programa próprio de treiprazos determinados. “Nós já temos Para alcançar esses namento para os inspeo conhecimento do manejo que deve dados, uma parte imtores, que todos os anos PLANTAS NOVAS ser implementado, portanto temos que portante do trabalho já são reciclados para receAuditoria nos focar nossos esforços para que o planecomeça nas mudas. A ber uma certificação que fornecedores para jamento seja bem executado”, avalia o companhia não planta garantir mudas saudáveis garante que eles estejam diretor agrícola da LDC, Jorge Costa. 100% das mudas que neaptos para identificar a A empresa implantou ferramentas de cessita e por isso desenvolveu um sistedoença nos talhões. “A capacitação de controle que são abastecidas com dama de certificação para auditar os seus nosso pessoal e o acompanhamento dos de todas as inspeções realizadas. fornecedores. “Reduzimos a quantidade dos resultados através de indicadoDessa forma, é possível saber semanalde fornecedores por conta do rigor que res-chaves são aspectos importantes do mente informações importantes como temos nessa operação, mas assim conse- nosso trabalho que, aliados às técnicas o cronograma de pulverizações, se guimos fazer uma auditoria bem severa, recomendadas, estão nos ajudando a existe alguma área com atraso, regiões o que garante o controle das mudas sau- evoluir no controle doença, mantenda fazenda que tiveram erradicações dáveis”, ressalta o diretor. do-a em níveis aceitáveis”, afirma. M FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 33 entrevista | Marcos Antônio Machado Presidente do Centro de Citricultura Sylvio Moreira “A citricultura brasileira não pode ter a pesquisa limitada” Nos últimos 11 anos, o engenheiro Marcos Antônio Machado tem dedicado seu tempo para dirigir o Centro de Citricultura Sylvio Moreira, em Cordeirópolis (SP). O local é um dos mais tradicionais institutos de pesquisas em citrus do Brasil, responsável por uma série de estudos e dono da maior coleção de germoplasmas do mundo. Além disso, o Centro é sede do principal evento do setor citrícola, a Semana da Citricultura. Com mais de 35 anos de experiência no setor, ele falou à Revista CitrusBR sobre o papel fundamental da pesquisa e de como as novas tecnologias são vitais para o desenvolvimento da citricultura. Revista CitrusBR: Quando nasceu o Centro de Citricultura? Marcos Antônio Machado: O Centro nasceu em 1928 como serviço de citricultura, vinculado ao Governo do Estado de São Paulo. A partir de 1934, ele passou a ser vinculado ao IAC (Instituto Agronômico de Campinas). Ele era uma estação experimental, tínhamos todas as variedades de citrus. Depois, em 1994, se tornou um Centro e, com isso, passou a abrigar um número maior de pesquisadores e novas linhas de pesquisa. CitrusBR: Qual é o papel do Centro atualmente? Machado: Hoje, desenvolvemos produtos baseados em melhoramento. Não estamos falando só de laranja, mas de tangerinas, limas, limões, entre outros. Além dos projetos de pesquisa para novos produtos, temos pesquisas voltadas para o genoma, a questão fitossanitária e genética. CitrusBR: Mas o principal desafio é desenvolver novas variedades? Machado: Sem dúvida. Isso é algo extremamente complicado e demorado, porque os citrus não são originais do Brasil e para fazer o melhoramento é difícil, não tem 34 | CITRUSBR Fevereiro 2015 tanta diversidade à mão. Por outro lado, o setor tem muita resistência às novas variedades, porque a cultura é perene e ninguém replanta o pomar todo ano. Então, a taxa de transferência de tecnologia não é a desejada. CitrusBR: Qual é a importância da participação dos citricultores no Centro? Machado: Para nós, é essencial aumentar a interação com o produtor. Somos um centro de produto, temos que ter esse diálogo, para que eles demandem mais pesquisas, nos ajudem na identificação dos rumos a seguir. Também é fundamental nos tornarmos mais internacionais, para compartilharmos experiências com outros países. Não tem sentido um país do porte do Brasil e com a citricultura desse tamanho ter sua pesquisa limitada. CitrusBR: Quais os caminhos para viabilizar isso? Machado: Vai depender do apoio dos setores público e privado. É fundamental que eles reconheçam a importância da pesquisa e seu papel dentro da citricultura. CitrusBR: De onde vem a maior parte das demandas, dos pesquisadores ou do mercado? TEMOS QUE AUMENTAR A INTERAÇÃO COM O PRODUTOR, PARA QUE ELES DEMANDEM PESQUISAS E NOS AJUDEM NA IDENTIFICAÇÃO DOS RUMOS A SEGUIR tos de pesquisa? Machado: Praticamente 95% do que usamos de verba para a pesquisa vem das agências de fomento, como a Fapesp e o CNPQ. A iniciativa privada ainda é muito acanhada no fomento à pesquisa. É preciso mostrar ao setor que é um investimento que traz frutos no médio e longo prazo para todos. Machado: Demandas sugeridas diretamente pelo setor respondem por aproximadamente 20%. O maior número de demandas vem quando se tem uma relação próxima com o setor, quando se trabalha com a indústria e o produtor e você conhece as necessidades deles. CitrusBR: A Semana da Citricultura também é parte importante do trabalho? Machado: A Semana da Citricultura é o mais tradicional evento da citricultura no País e chegou à 34ª edição. Dentro dela, todos os anos fazemos a feira da citricultura. O foco principal está nas palestras técnicas para os produtores, na discussão de problemas e inovações CitrusBR: Quais são as principais linhas de pesquisa dentro do Centro? Machado: Atualmente, temos cerca de 80 projetos em desenvolvimento e quatro programas principais, o de melhoramento, de biotecnologia, de fisiologia da produção e o de fitossanidade. Na área de biotecnologia temos um grande programa de genoma, que envolve vários parceiros nacionais e internacionais. CitrusBR: Por que a feira teve seu tamanho reduzido nas últimas edições? Machado: Nesses últimos anos, com a crise no setor, muitas empresas deixaram de vir e muitas das grandes empresas não voltaram porque o setor ficou pequeno para elas. É difícil incentivá-las a continuar quando a soja, por exemplo, movimenta mais. Mas elas têm tentado e temos feito novos planejamentos para estimular o retorno delas à feira. CitrusBR: Qual é a importância do banco genético mantido pelo Centro? Machado: Temos a maior coleção de germoplasmas do mundo. Temos todas as espécies e variedades de citrus. Hoje temos cerca de 3 mil variedades. Desse número, 500 são de laranjas diferentes. CitrusBR: Qual é a estratégia para voltar a atrair as empresas para a feira? Machado: A partir de 2015, vamos introduzir um sistema em que as empresas podem adquirir o estande montado e padronizado, o que reduz o custo delas com a feira. Temos feito outras ações para atrair as empresas. No ano passado, 36 empresas participaram. Para este ano, a expectativa é ter entre 45 e 53 empresas. CitrusBR: De onde vem o financiamento para os projeFOTO: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 35 mercado NEOCLAIR GILBERTONI: produtor comemora safra com preços em alta, mas lamenta queda de produtividade que limitou os ganhos da fazenda 36 | CITRUSBR Fevereiro 2015 O limão ficou mais doce Estiagem intensa reduziu a produção de limão na safra 2014 e fez preço da fruta atingir preços recordes A última safra de limão deixou um gosto doce na boca do produtor Neoclair José Gilbertoni. E não se trata de nenhuma nova variedade adocicada da fruta. Ela continua com seu azedume característico. O que mudou mesmo foi o mercado desse produto. A seca prolongada que afetou toda a produção agrícola do Estado de São Paulo prejudicou também a safra do limão e fez com que os preços atingissem patamares recordes. De acordo com o acompanhamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em novembro do ano passado, o preço médio da caixa de 27 kg ficou em R$ 70,95. O valor é 150% superior ao valor registrado no mesmo período de 2013, quando O RECORDE FOI NO DIA 4/11/14, COM A CAIXA A R$ 95,02 a média ficou em R$ 28,43 a caixa de 27 kg. No dia 4 de novembro, a fruta chegou a bater o pico histórico de R$ 95,02 a caixa de 27 kg. O que explica esse movimento é a velha lei econômica da oferta e da procura. Com uma estiagem sem precedentes no interior de São Paulo, a oferta de limão teve uma drástica restrição. Ao mesmo tempo, a demanda pela fruta se manteve aquecida no mercado interno. Com isso, o preço do fruto se valorizou. “Sem dúvida tivemos um bom ano em termos de rentabilidade”, revela Gilbertoni. Produtor na região de Taquaritinga, Gilbertoni toca, ao lado do pai, Dorival Gilbertoni, a fazenda SAFRA ADOCICADA Durante maior parte do ano preços registraram forte alta. Histórico mês a mês do preço médio do limão (caixa de 27 kg) MÊS 2013 2014 Janeiro R$ 7,96 R$ 8,96 Fevereiro R$ 4,42 R$ 10,05 Março R$ 4,87 R$ 9,57 Abril R$ 6,31 R$ 11,46 Maio R$ 16,97 R$ 14,31 Junho R$ 18,02 R$ 18,80 Julho R$ 20,99 R$ 29,22 Agosto R$ 37,06 R$ 22,65 Setembro R$ 39,46 R$ 30,24 Outubro R$ 25,84 R$ 52,86 Novembro R$ 28,43 R$ 70,95 Dezembro* R$ 21,17 R$ 35,62 *Até o dia 5 de dezembro Fonte: Cepea FOTOS: JULIO VILELA CITRUSBR Fevereiro 2015 | 37 mercado Santa Terezinha. A propriedade tem 242 hectares e ali ele mantém uma produção diversificada, com criação de gado, lavouras de cana e plantação de limão. São cerca de 27 mil pés da fruta. “Minha família sempre teve propriedade nessa região e sempre apostou em culturas diversificadas. Mas o limão sempre esteve nas nossas terras”, explica o produtor, que conta que a maior parte da produção se destina à comercialização no mercado de fruta in natura. “Comercializamos a maior parte da fruta com mercados da região e a vendemos pelo preço do dia. Para a indústria vendemos apenas uma pequena parte da produção que sobra no final da safra.” Em uma safra de preços altos, a variação na cotação da fruta tem se mostrado favorável e se revertido em lucro. “Os preços variam a cada semana, mas temos conseguido uma média de R$ 40 a caixa. É um preço bem acima dos outros anos”, ressalta. O sorriso do PRODUTIVIDADE DA FAZENDA CAIU QUASE 50% NA SAFRA 2014 E LIMITOU OS GANHOS 38 | CITRUSBR Fevereiro 2015 produtor só não é maior por conta da quebra da safra que, se por um lado elevou o preço da fruta, por outro reduziu a oferta do produto. Gilbertoni produz seu limão em área de sequeiro, sem o uso da irrigação. Ou seja, sua produção depende do volume de chuvas que caem sobre suas terras. Em uma ano de estiagem intensa, ele, assim como grande parte dos produtores, não conseguiu obter a mesma produtividade de outros anos, o que limitou os ganhos. “No ano passado, colhemos uma média de 250 caixas por dia, vendendo por R$ 20 a caixa de 27 kg. Neste ano, o preço está em R$ 40, mas estamos colhendo 100 caixas por dia." Esse foi um aspecto que pontuou a safra, conforme explica a pesquisadora do Cepea Fernanda Geraldini. "No pico da safra, quando os produtores comercializaram os maiores volumes, a oferta foi mais escalonada do que os outros anos", diz. De acordo com o produtor, quando o preço bateu a casa dos R$ 100 a caixa de 27 kg, a colheita na fazenda não passou de 80 caixas/dia. “No ano passado, sem dúvida, tivemos o pior clima que eu já vivenciei", diz Gilbertoni, que torce para que as chuvas colaborem com sua produtividade. Para a pesquisadora do Cepea, o clima do ano passado ainda deve refletir na produção deste ano. "Podemos ter atraso no pico da safra por conta da seca, que atrasou a abertura da florada. Assim o volume de fruta disponivel no primeiro trimestre será escalonado", pondera. bate-papo Emílio Fávero, sócio da Alfa Citrus, presidente da Associação Brasileira de Citrus de Mesa e da Câmara Setorial de Citrus de São Paulo “Esperamos sair desta crise mais fortes do que entramos” O produtor Emílio Fávero, presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa, foi eleito o novo presidente da Câmara Setorial de Citrus da Secretaria de Agricultura de São Paulo, na primeira reunião que marcou a retomada do órgão após 14 anos. Agora no novo cargo, ele comentou os principais pontos que estarão na pauta de discussões da Câmara CITRUSBR: De que forma a reativação da Câmara deve contribuir para auxiliar o setor citrícola paulista? FÁVERO: Passaremos a ter um fórum para discutir os vários problemas do setor, sem ter que nos prender a discutir as relações comerciais, já que o Consecitrus, penso eu, será o principal fórum para isso. Além disso, teremos o Estado presente nestes problemas, já que houve um vácuo nestes anos sem a Câmara e sem a presença efetiva do Estado nas discussões dos problemas nestes últimos anos. CITRUSBR: Que balanço faz da primeira reunião que marcou a reabertura da Câmara Setorial de Citrus? FÁVERO: Foi bastante positiva, primeiramente porque como foi a primeira reunião da Câmara e a minha primeira reunião como representante de uma associação que acabamos de formar. Não esperava pela indicação e aclamação como presidente. E estou motivado, porque percebemos que todos os elos participantes estão também motivados. Assim poderemos fazer algo por este setor tão importante econômica e socialmente para o Estado e o País. CITRUSBR: Quais os principais desafios da Câmara? FÁVERO: O primeiro desafio é organizar uma agenda, para que possamos atender às principais demandas dos participantes e conseguir desenvolver os trabalhos de forma que seja possível trazer resultados efetivos para o setor. CITRUSBR: Como isso é possível? FÁVERO: Precisamos desenvolver os trabalhos de forma FOTO: JULIO VILELA que todos continuem motivados e que os resultados sejam sempre consensuais entre os elos da cadeia. Também será necessário atender às demandas, não específicas de um ou outro setor, mas da maioria. CITRUSBR: E quais temas serão considerados prioridade dentro da Câmara? FÁVERO: Nós temos assuntos ligados à fitossanidade, pesquisa, tributação, boas práticas de produção e fabricação nos packings,, além de assuntos relacionados ao marketing e estatísticas do setor. CITRUSBR: Questões de mercado, como consumo e demanda, também serão debatidas dentro da Câmara? FÁVERO: Discutiremos políticas públicas, ações, normas e procedimentos para apresentar soluções e encaminhamentos para os problemas e demandas que forem apontadas pelos participantes. CitrusBR: Como a Câmara irá dialogar com órgãos governamentais e outras câmaras ligadas ao setor? FÁVERO: Na Câmara temos uma presença bem grande de representantes do setor. Portanto, toda demanda deverá ser trazida através destas entidades. Penso que teremos que participar da Câmara de Brasília como representante de São Paulo, visto que nosso estado é o principal produtor de citrus. Também deveremos repassar as demandas que a Câmara julgar que devam ser encaminhadas ao Consecitrus. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 39 fruta de mesa QUANTO TEM: NIVALDO: foco em modelos diferenciados de produção garante bons resultados 35 MIL PÉS DE LARANJA QUANTO PRODUZ: 40 MIL QUANTO GANHA: CAIXAS DE 40,8 KG R$ 15 A CAIXA PARA O MERCADO DE FRUTA IN NATURA Diversificar p 40 | CITRUSBR 2015CARLINHOS MÜLLER FOTOS: JULIO VILELAFevereiro - ILUSTRAÇÃO: QUANTO TEM: 16 MIL PÉS DE LIMÃO QUANTO PRODUZ: 50 MIL CAIXAS DE 27 KG QUANTO GANHA: R$ 45 Desde pequeno, o produtor Nivaldo Davoglio já acompanhava de perto o trabalho do seu pai na lida da fazenda da família, localizada na região de Taquaritinga. Naquela época, por ali se cultivava o café, o tomate, além de outras culturas. Dessa forma, quando algum produto não ia bem, outro garantia o rendimento da propriedade. O tempo passou e hoje com 75 anos de idade, a maior parte deles dedicados a tocar a fazenda, Davoglio mostra que herdou a mesma visão de negócio de seu pai. Hoje, a propriedade de 600 hectares é ocupada por pomares de laranja e de limão, além de um rebanho de gado de corte. Além disso, a família ainda mantém outras propriedades no interior de São Paulo, onde são cultivados cana-de-açúcar e grãos. Essa mescla de atividades garante bons resultados ao QUANTO produtor. “Sempre mantivemos uma GANHA: produção diversificada. Assim conseguimos aproveitar bem nossa área e A ARROBA minimizamos os riscos agrícolas QUANTO de cada atividade”, revela. DaPRODUZ: voglio é um dos exemplos de 80 produtores que, como estraCABEÇAS tégia, optaram por abrir mão POR MÊS A CAIXA DE 27 KG NO MERCADO DE FRUTA IN NATURA R$ 146 QUANTO TEM: 200 CABEÇAS DE GADO Conheça a estratégia do produtor Nivaldo Davoglio, que, investindo em culturas diferentes, consegue reduzir os riscos e aumentar os ganhos de sua propriedade de manter grandes áreas com uma mesma cultura e para ocupá-las com uma agropecuária diversificada, capaz de lhe oferecer bons rendimentos em diferentes épocas do ano. “Assim eu não fico amarrado com nenhum produto. Quando um não está bem, nós focamos no outro e conseguimos manter os ganhos da fazenda”, diz o produtor, repetindo o que aprendeu com o seu pai. No caso da laranja, Davoglio mantém cerca de 60 hectares, ocupados por 35 mil pés, que lhe rendem uma produção de 40 mil caixas de 40,8 quilos. Com a propriedade localizada numa região privilegiada, próxima às principais indústrias processadoras da fruta, o citricultor poderia optar por vender toda sua produção para uma das empresas, já que a distância lhe proporcionaria um custo de frete competitivo. Mas, mesmo assim, ele adotou uma estratégia diferente. Sua produção é dividida: 70% são comercializados para pequenas indústrias processadoras, os outros 30% são comercializados para o mercado de fruta in natura. “Investimos em mudas de qualidade, com boas variedades ara equilibrar CITRUSBR Fevereiro 2015 | 41 nononono fruta de mesa LIMOEIRO: área destinada ao plantio de limão totalmente irrigada garantiu boa produtividade, mesmo com a seca e manejo cuidadoso. Assim consigo ter uma fruta de qualidade, comercializá-la com mercados da região com maior valor agregado”, explica Davoglio, que ressalta que a estratégia ajuda a não depender totalmente de nenhuma das pontas do mercado. “Tendo uma produção dividida, eu não fico na mão do mercado de fruta para suco nem da fruta in natura. Vou destinando a produção conforme a demanda e o momento de cada um desses segmentos." Para garantir a qualidade das frutas, o produtor investiu na implantação de um sistema de fertirrigação, que lhe dá uma boa produção mesmo em tempos de estiagem intensa, como foi o caso dessa safra. “O custo de implantar a irrigação é alto, chega a R$ 8 por planta. Mas a produtividade tem feito o investimento valer a pena”. A conta fica ainda mais interessante quando passamos para os pomares de limão. Na fazenda, são cultivados 16 mil pés da fruta, todos irrigados. Num ano de seca extrema, esse modelo fez toda a diferença para o produtor. Sem chuvas, a safra de limão registrou uma queda significativa ao mesmo BOIADA BOA: produtor investe em cruzamento industrial entre gado nelore e angus 42 | CITRUSBR Fevereiro 2015 tempo que a demanda se manteve em alta (ler reportagem na página 36). Com isso, quem tinha limão para entregar pôde se beneficiar de preços recordes da fruta. Esse foi justamente o caso de Davoglio. “Com a irrigação, conseguimos manter o mesmo nível de produtividade de outros anos. Assim, pude comercializar a fruta por preços de R$ 45 a R$ 50, chegando até próximo de R$ 100 a caixa”, revela o produtor. Na outra ponta da fazenda, a parte destinada â pecuária também vive tempos de vacas gordas. Dono de um rebanho de 200 cabeças, quando veste o “chapéu” de pecuarista, Davoglio também procura se diferenciar no mercado. Ele trabalha com produção de carne com maior valor agregado e investe no cruzamento industrial entre bois da raça nelore e angus. “É um tipo muito bom de animal, com ótimo ganho de peso e que produz uma carne de alta qualidade”, diz. Por mês, a fazenda destina 80 cabeças de gado para o abate em frigorificos da região. Com o mercado da pecuária aquecido, esse é outro segmento em que o produtor tem registrado bons resultados. “Recentemente, o preço da arroba do boi se valorizou no estado de São Paulo. Estamos comercializando o gado entre R$ 146 e R$ 154 a arroba e em alguns casos temos também um prêmio de 10% por conta do tipo da carne que entregamos”, afirma o produtor, que comemora os bons resultados do seu modelo. “Trabalhar com várias culturas possibilita atuar em diferentes mercados, sem depender exclusivamente de nenhum." mercado Embarques em ritmo lento Dados da Secex mostram que exportações brasileiras de suco de laranja recuaram 5,8% nos primeiros seis meses da safra 2014/15 Os dados registrados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as exportações brasileiras de suco de laranja (FCOJ Equivalente a 66º Brix), via porto de Santos, somaram 573,7 mil toneladas entre julho e dezembro de 2014. Uma re- dução de 5,8% em relação ao mesmo período da safra 2013/2014. O recuo nas vendas do produto só não foi maior graças aos Estados Unidos, cujo embarques aumentaram em 28% no mesmo período. A força nos embarques para a América do Norte é reflexo da queda de produção no parque citrícola da Flórida. Já o principal destino do suco brasileiro, a Europa, registrou uma queda de 16,7%, ante o mesmo período em 2013. A queda nas exportações refletiu no equilíbrio dos estoques e foi um dos fatores que contribuíram para que a expectativa de chegar a um volume de suco estocado de 364 mil toneladas em 30 de junho de 2015 não se confirmasse. O processamento adicional estimado de 12 milhões de caixas de laranja e uma substancial melhora no rendimento industrial, que, por conta da estiagem, deverá chegar a 240,5 caixas necessárias para produção de uma tonelada de FCOJ Equivalente 66º brix, apontam para um estoque 447 mil tons no final da safra corrente, em junho de 2015. DADOS DOS PRIMEIROS 6 MESES (JUL/DEZ) 2004/ 2005 2005/ 2006 2006/ 2007 2007/ 2008 2008/ 2009 2009/ 2010 2010/ 2011 2011/ 2012 2012/ 2013 2013/ 2014 2014/ 2015 SAFRA 14/15 VS. 13/14 Exportações Totais 668,8 678,9 660,3 633,7 577,2 640,0 582,1 554,4 556,0 609,0 573,7 -35,3 -5,8% Exportações para a Europa 493,6 466,5 459,3 415,4 421,9 430,0 416,2 356,9 358,4 430,5 358,5 -71,9 -16,7% Exportações para a América do Norte 95,8t 107,6 108,1 150,5 74,2 109,8 74,2 126,2 127,1 114,3 146,3 32,0 28,0% Exportações para a Ásia 63,7 87,3 74,2 56,0 63,2 82,0 80,4 63,7 59,1 54,7 56,8 2,2 3,9% Exportações para outros destinos 15,6 17,5 18,7 11,9 17,9 18,1 11,3 7,6 11,4 9,6 12,0 2,5 26,0% 2004/ 2005 2005/ 2006 2006/ 2007 2007/ 2008 2008/ 2009 2009/ 2010 2010/ 2011 2011/ 2012 2012/ 2013 2013/ 2014 2014/ 2015 1323,7 1.268,7 1.356,8 1.254,3 1.147,5 1.205,6 1.100,4 1.095,2 1.091,7 1.079,3 n.d. -95,6 -14,3% Exportações para a Europa 917,5 868,8 932,3 861,1 839,2 861,3 788,0 792,5 748,4 721,6 n.d. -114,6 -24,2% Exportações para a América do Norte 215,3 198,9 242,1 259,1 157,7 181,5 122,4 155,6 210,7 230,9 n.d. 42,5 40,9% Exportações para a Ásia 159,4 172,4 147,6 109,4 119,2 132,8 163,4 129,7 111,7 108,2 n.d. -18,3 -24,3% 31,5 28,5 34,8 24,8 31,4 30,0 26,6 17,4 20,9 18,7 n.d. -5,3 -30,4% DADOS DE SAFRA COMPLETA (JUL/JUN) Exportações Totais Exportações para outros destinos 43 | CITRUSBR Nononono 2014 SAFRA 14/15 VS. 04/5, 05/6 & 06/7 CITRUSBR Nonononon 2014 | 43 divulgação de estoque Compromisso de transparência A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) dando cumprimento ao seu compromisso de transparência vem divulgar as seguintes informações: Levantamento realizado por meio de auditorias independentes realizadas junto a cada uma das empresas a ela associadas à CitrusBR, consolidado também por auditoria externa, apurou que os estoques globais de suco de laranja brasileiro, convertidos em suco de laranja congelado e concentrado equivalente a 66º brix (FCOJ equivalente a 66º Brix) na posse das suas associadas, em 31 de dezembro de 2014, eram de 1.002.038 toneladas. Esse volume in- dica uma redução de 4,2% em relação às 1.046.465 toneladas existentes no mesmo período do ano anterior, isto é em 31 de dezembro de 2013. Trabalho, também realizado por auditoria independente a pedido da CitrusBR junto às suas associadas, indicou a existência de expectativa de que em 30 de junho de 2015, elas venham a ter, em conjunto, um volume da ordem de 447.276 toneladas de FCOJ equivalente a 66º brix em seus estoques . Essa projeção, se con- firmada, representará uma queda de 16% em relação às 534.529 toneladas de FCOJ equivalente a 66º brix em poder das empresas associadas à CitrusBR em 30 de junho de 2014, conforme já informado ao mercado. Essa estimativa, se confirmada, indicará um estoque adicional correspondente a 83 mil toneladas, ou seja 22,9% acima das 364 mil toneladas previstas anteriormente. A tabela abaixo mostra o histórico do estoque físico das empresas HISTÓRICO DA EXISTÊNCIA DE ESTOQUES DE SUCO DE LARANJA BRASILEIRO EM PODER DOS ASSOCIADOS DA CITRUSBR NO MUNDO - TONS FCOJ EQUIVALENTE A 66º BRIX (FCOJ+NFC) Período de Mensuração dos Estoques Meio de Safra Corte de Safra Data dos Estoques Auditados nas Associados da CitrusBr Data de Divulgação dos Dados de Estoque Estoques Existentes no Brasil (+) Estoques Existentes no Exterior (+) Estoques Existentes Globais (=) Dia, Mês e Ano Tons FCOJ Equiv. a 66º Brix Tons FCOJ Equiv. a 66º Brix Tons FCOJ Equiv. a 66º Brix Estoques em 31.12 2011 15 de Março de 2012 815.602 116.398 932.000 Estoques em 31.12.2012 19 de Fevereiro de 2013 923.998 220.374 1.144.372 Estoques em 31.12.2013 10 de Fevereiro de 2014 779.196 267.269 1.046.465 Estoques em 31.12.2014 03 de Fevereiro de 2015 776.318 225.720 1.002.038 Estoques em 30.06.2011 18 de Julho de 2011 71.221 143.148 214.369 Estoques em 30.06.2012 28 de Agosto de 2012 461.829 200.623 662.452 Estoques em 30.06.2013 8 de Agosto de 2013 550.542 215.382 765.924 Estoques em 30.06.2014 21 de julho de 2014 337.254 197.275 534.529 Estoques Projetados para 30.06.2015 (Aproximado) 44 | CITRUSBR Fevereiro 2015 447.276 HISTÓRICO DE RENDIMENTO INDUSTRIAL DOS ASSOCIADOS DA CITRUSBR NA PRODUÇÃO DE SUCO DE LARANJA (INCLUSO PULP/CORE-WASH, EXCLUSO CÉLULAS CONGELADAS) Ano Safra Caixas de 40,8 kg Por Ton FCOJ a 66º Brix Equiv. Oscilação Em Relação a Safra Anterior Ano Safra Caixas de 40,8 kg Por Ton FCOJ a 66º Brix Equiv. Oscilação Em Relação a Safra Anterior 2000/01 246,87 n/d 2007/08 228,49 1,8% 2001/02 236,52 4,2% 2008/09 252,88 -10,7% 2002/03 224,85 4,9% 2009/10 262,52 -3,8% 2003/04 226,64 -0,8% 2010/11 240,58 8,4% 2004/05 244,19 -7,7% 2011/12 265,36 -10,3% 2005/06 226,42 7,3% 2012/13 263,54 0,7% 2006/07 232,69 -2,8% 2013/14 282,00 -7,0% 2014/15 240,50 14,7% associadas à CitrusBR nas datas de 31 de dezembro e 30 de junho de cada safra, bem como a projeção de estoque no corte da safra 2014/15. PROCESSAMENTO DE LARANJA NA SAFRA 2014/15: Com informações colhidas individual e sigilosamente junto às empresas associadas à CitrusBR, a auditoria independente contratada estimou em cerca de 250 milhões de caixas de 40,8 kg o processamento total a ser realizado pelas mesmas na safra 2014/2015 em curso. Acrescentando-se a esse volume uma estimativa de mais 20 milhões de caixas de laranja de 40,8 kg a serem processadas por empresas não associadas à CitrusBR, chega-se a uma expectativa de processamento de laranja no Estado de São Paulo para a safra 2014/15 da ordem de 270 milhões de caixas de 40,8 kg. Essa estimativa, se confirmada, representará um acréscimo de 12 milhões de caixas de 40,8 kg, correspondente 4,6% do total a ser processado, em relação aos 258 milhões de caixas que haviam sido estimados em julho de 2014 para o mesmo período. RENDIMENTO INDUSTRIAL E PRODUÇÃO DE SUCO DE LARANJA NA SAFRA 2014/15: Informações também compiladas por auditoria independente indicaram, para a safra 2014/2015, rendimento industrial médio de 240,5 caixas de laranja de 40,8 quilos para a produção de uma tonelada de FCOJ equivalente a 66º brix resultando em uma projeção de produção total da ordem de 1.122.000 toneladas de FCOJ equivalente a 66º brix para a safra 2014/15, acrescentando mais 149 mil toneladas à estimativa anterior de 973.000 toneladas feitas pela CitrusBR em julho de 2014. Esse acréscimo, se confirmado, representará um incremento de 15,3% em relação à projeção realizada em julho de 2014 e será decorrente de uma combinação dos seguintes fatores: Aumento da estimativa de processamento total pela indústria (associadas e não associadas) da ordem 12 milhões de caixas de laranja (+4,6%); Melhora no rendimento industrial: em julho de 2014, a estimativa foi de 265 caixas de 40,8 kg necessárias para a produção de uma tonelada de FCOJ Equivalente a 66º brix. Contudo, esse número foi corrigido para 240,5 caixas por tonelada de FCOJ equivalente a 66º brix, ou 10,2% a mais. Na tabela acima é possível observar o histórico de rendimento industrial obtido nos últimos anos pelas empresas associadas à CitrusBR. Importante destacar que, se por um lado os efeitos da forte estiagem que atingiu o cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro causou queda adicional de frutos das árvores, por outro, foi responsável por substancial melhoria no conteúdo de suco de laranja na fruta (rendimento industrial) da ordem de 14,7%, se comparado ao rendimento obtido na safra anterior. São Paulo, 3 de fevereiro de 2015 Ibiapaba Netto Diretor-executivo CITRUSBR Fevereiro 2015 | 45 nononono internacional | por Larissa Popp Abraão* Decifrando o mercado Juice Summit reúne algumas das principais lideranças da indústria mundial de suco em busca de soluções para frear a queda de consumo que preocupa todo o segmento Entender o mercado de bebidas – e o mercado de sucos – não é tarefa fácil. É algo para quem tem talento com quebra-cabeças e gosta de ver os vários ângulos de um mesmo assunto. É para quem sabe ler nas entrelinhas, pra quem entende de marketing, de estatística, de nutrição, de legislação, de política, de sustentabilidade e de combate a pragas. Pra quem sabe o que está acontecendo em Bruxelas, em Paris, na Flórida. E no interior de São Paulo, para quem sabe de muitas outras coisas. Ao se inscrever no Juice Summit, atualmente o principal evento de sucos 46 | CITRUSBR Fevereiro 2015 do mundo, que aconteceu na Europa em outubro, alguém pode pensar que será fácil juntar as peças do quebra-cabeça. No programa, dois dias de palestras e discussões com os principais atores desse complexo mercado: analistas, líderes das principais indústrias produtoras, envasadoras, fornecedoras de embalagens, autoridades, experts em marketing, doutores em nutrição e ph.Ds. em assuntos técnicos. Assunto é o que não falta, bem como gente qualificada para falar. Essa foi a segunda vez que a Associação Europeia de Sucos de Frutas (AIJN), a Federação Internacional de Sucos (IFU) e a SGF se uniram para organizar um evento sobre sucos – um evento organizado pelo setor, para o setor. Mais do que um evento de networking, onde todos se encontram uma vez por ano e fortalecem seus laços profissionais, o Juice Summit tem como objetivo realizar análises e discussões sobre os principais desafios do setor. O presidente da PepsiCo, Zein Abdalla, encerrou o evento resumindo os cinco pontos essenciais para o crescimento sustentável: inovação, parceria, valorização da agricultura, foco na produtividade e talento. Pontos que DURANTE DOIS DIAS, 500 PESSOAS E MAIS DE 200 EMPRESAS DISCUTIRAM OS DESAFIOS DO SETOR apareceram em diversos momentos ao longo dos dois dias em que mais de 500 pessoas de mais de 200 empresas estiveram reunidas na capital dos diamantes, a Antuérpia. Enquanto um representante da associação de comerciantes de diamantes contava para os presentes a história desse mercado, certamente a maior parte da plateia sentia-se surpresa – e com muita inveja: a cada dia, são negociados pelo menos 90 milhões de euros em diamantes somente em Antuérpia. Um mercado onde praticamente não existe crise, especialmente porque não há queda na demanda. No caso dos sucos acontece o inverso – principalmente nos mercados maduros como os Estados Unidos e a União Europeia. Para ajudar a entender o mercado como um todo, a organização do evento convidou palestrantes que pudessem falar sobre diferentes partes do mundo. Os americanos mostraram que não bastasse o enorme desafio do greening devastando os pomares, todos os milhares de dólares e FOTOS: ERIK LUNTANG esforços despendidos nos últimos anos em marketing não foram suficientes para interromper a queda livre no consumo de suco de laranja. Felizmente, o Departamento de Citrus da Flórida ainda conta com valiosos recursos para tentar reverter a situação e para isso está realizando uma série de mudanças em suas estratégias de marketing: mais investimento em relações públicas e redes sociais, menos investimento em televisão. Parceria com a Marvel para criar um super-herói da laranja (como já foi noticiado em uma edição anterior da revista CitrusBR) e parcerias com celebridades para atuarem como embaixadoras do suco. Para os europeus, no entanto, a estratégia do Capitão Citrus não faz muito sentido... a não ser que ele também seja lobista e consiga convencer as autoridades europeias que os sucos continuam sendo bebidas saudáveis e não responsáveis por todos os problemas de saúde do mundo. Falando em problemas de saúde e em soluções heroicas, muito se fala nos mercados emergentes como alternativas para a queda no consumo nos países maduros. Como mostraram as apresentações de Christopher Lazaro, da Tetra Pak, e de Monther Alharti, presidente da Associação Árabe de Bebidas, a Ásia e o Oriente Médio são mercados bastante promissores. Na Ásia, os destaques positivos são o crescimento no consumo e as oportunidades para crescimento contínuo, uma vez que o consumo per capita ainda é baixíssimo se comparado a mercados consolidados. Sabemos, no entanto, que o volume ainda é pequeno e que, à exceção do Japão, predominam os néctares e refrescos. Outro desafio é mudar a percepção dos consumidores de que o suco é mais do que uma bebida refrescante – ele também é nutritivo e proporciona uma série de benefícios à saúde. Hoje, os consumidores asiáticos – especialmente os japoneses, que cada vez tomam menos suco de laranja — entendem que somente os sucos de vegetais têm essas qualidades. Se eles soubessem que poderiam ter os mesmos benefícios com um sabor infinitamente melhor como o da laranja, certamente mudariam de ideia. O que dizer, então, dos chineses, que atribuem aos seus produtos tradicionais propriedades quase “mágicas”, consumindo quantidades enormes de suco de pera e esquecendo que a laranja vem da China? Os países árabes também são um mercado a se observar: população jovem, renda disponível, hábitos alimentares que não incluem o consumo de bebidas alcoólicas por motivos religiosos. No entanto, o consumo de bebidas ricas em açúcares é visto com reservas, CITRUSBR Fevereiro 2015 | 47 internacional DEBATE: (da esq. para a dir.) Vincent Prolongeau, da Pepsico; Thomas Hinderer, chairman da Eckes Granini; Bill Kelly, da Coca-Cola; Frank von Ooijen, da Friesland Campina; e Richard Hall, da Zenith International já que a obesidade e a incidência de doenças como o diabetes têm aumentado como consequência de uma dieta rica em açúcares. Além disso, assim como na Europa, falar “bem” dos sucos é tarefa difícil: o governo pega pesado nas regulamentações sobre o assunto. A boa notícia é que pelo menos um dos nossos concorrentes – o energético – não pode ser propagandeado nem vendido em uma série de estabelecimentos. Assim como acontece no Brasil com os cigarros, os fabricantes de energéticos precisam incluir no rótulo frases informando que é um produto transforma rapidamente em “verdade”. Como exemplo, citou a afirmação do cientista Robert Lustig, que disse que “sucos são piores que refrigerantes” e que estariam contribuindo para o aumento da obesidade. Não é o que os estudos mostram, já que na grande maioria dos casos não é possível estabelecer relação direta entre consumo de suco e ganho de peso. Além disso, os níveis de obesidade sobem ao mesmo tempo que o consumo de suco cai. Como criar uma correlação? Seria o consumo de água responsável pelo aumento de obesidade, já que o segmento de água engarrafada também não pára de crescer? Se pensarmos no copo meio cheio, olhamos para o futuro e lembramos que até 2030 o mundo vai precisar de 50% mais alimentos. A população mundial vai crescer – e muito. Como garantir que o suco de laranja seja relevante para as pessoas? Com a quantidade de novas bebidas e alimentos lançados e com as mudanças dramáticas no estilo de vida das pessoas como convenceremos os consumidores da necessidade de consumirem suco? As conclusões de quem conseguiu transmitir sua mensagem são duas: é preciso ser relevante para o consumidor e mostrar isso com uma narrativa bem construída. Não é somente o suco de laranja que sofre com a quantidade de alternativas e com os desafios no se- PROJETO DE MARKETING DESENVOLVIDO PELA CITRUSBR, EM PARCERIA COM A AIJN, FOI UM DOS DESTAQUES DO ENCONTRO prejudicial à saúde. Não há dúvidas que nossa vida seria mais fácil se o mesmo rigor aplicado à comunicação sobre os benefícios dos sucos fosse aplicado para a comunicação dos seus “malefícios”. Infelizmente não há filtro para a publicação de inverdades na imprensa e nas redes sociais. Como mostrou o professor Fred Brouns, uma inverdade publicada na imprensa mundial e compartilhada milhões de vezes nas redes sociais se 48 | CITRUSBR Fevereiro 2015 VOZES DO MERCADO: Mark Wallace, da Coca-Cola; Cristopher Lazaro, da TetraPak; e Zein Abdalla, da PepsiCo (da esq. para a dir). Palestrantes apontaram desafios para o setor tor produtivo: durante o Juice Summit vimos uma série de outros exemplos. E as alternativas não param de aparecer, não somente no caso de bebidas não alcoólicas que são concorrentes diretas do suco, mas também no caso de bebidas alcoólicas e alimentos. No edição anterior, o destaque do evento foi para a apresentação da Concreto – a empresa contratada pela CitrusBR para realizar um profundo diagnóstico de mercado e entender os motivos pelos quais o consumo de laranja cai tanto em alguns mercados menos em outros – e o que poderia ser feito para reverter a situação. Na época, ficou claro o porquê da queda de consumo e que se o setor não se movimentasse para comunicar aos consumidores o valor do suco, eles continuariam optando por alternativas que lhes parecem mais atrativas – porque estão mais bem posicionadas para competir. A dúvida, obviamente, era: como fazer? Nesse ano, a expectativa era de ouvir a resposta para essa pergunta e certamente os participantes do Juice Summit voltaram para casa um pouco mais animados do que no ano anterior — e com lição de casa para fazer. ANFITRIÃO O presidente da Associação Europeia de Sucos de Frutas (AIJN), Andrew Biles, abriu as apresentações O diretor de marketing de sucos da Coca-Cola, Mark Wallace, apresentou um resumo do trabalho realizado nos últimos meses para desenvolver uma campanha de relações públicas na Europa com coordenação da AIJN. Na edição de agosto da revista CitrusBR, o presidente da AIJN Andrew Biles concedeu uma entrevista falando sobre o projeto, que contou com a CitrusBR como patrocinadora integral em sua primeira etapa. A ideia é formatar um projeto paneuropeu, mas inicialmente com foco em alguns mercados piloto segundo critérios definidos pelo conselho diretor formado de especialistas de marketing das principais marcas europeias. A coordenação do projeto deve ficar a cargo da associação europeia, mas sua execução contará com o apoio das associações de suco locais, uma vez que a estratégia do projeto prevê a interação com a comunidade científica e com comunicadores da área de nutrição. Esse é um trabalho complexo e que envolve uma série de etapas e atividades: uma delas é a identificação de todos os atores que falam sobre sucos em cada mercado e qual o posicionamento de cada um (neutro, positivo ou negativo). Outra é elaborar um mapa de mensagens proativas e reativas sobre sucos, com evidências científicas para comprovar cada argumento. Após a apresentação do projeto, aconteceu uma discussão com as principais lideranças da indústria de sucos na Europa: Vincent Prolongeau, vice-presidente sênior de frutas e vegetais da PepsiCo; Thomas Hinderer, chairman do conselho da Eckes Granini; Bill Kelly, vice-presidente global de sucos da Coca-Cola, Frank von Ooijen; diretor de comunicação da Friesland Campina; e Richard Hall, chairman da Zenith International. Todos os comentaristas elogiaram a iniciativa da AIJN e da CitrusBR de dar o primeiro passo para o início de uma campanha, deixaram claro que esse é um trabalho essencial para o futuro do setor – e que deve contar também com o apoio de todas as marcas e atores envolvidos. O suco é um produto cheio de atributos positivos, que não são comunicados devidamente – ao mesmo tempo que é atacado com uma série de argumentos em sua maioria equivocados. Mais do que reconhecer a necessidade de agir, ficou claro que é necessário agir o quanto antes. Tudo ia muito bem até alguém na plateia fez uma provocação: “Vocês acham que podemos continuar fingindo que o suco não engorda? Temos que assumir nossas fraquezas se quisermos ter essa discussão com os consumidores”. Como disse o professor Fred Brouns, a questão é a quantidade. Qualquer coisa em grandes quantidades, faz mal. Outro participante questionou: “Que tal para o próximo ano convidarmos outros participantes da cadeia? Não estou vendo todos aqui, na plateia”... A julgar pelos aplausos, o próximo Juice Summit vai precisar de um espaço maior. Se está interessado, anote na agenda: ele será nos dias 7 e 8 de outubro de 2015, novamente em Antuérpia, Bélgica. Quem sabe em um futuro próximo o nosso setor não esteja comemorando mais um ano bom, assim como os vendedores de diamantes? *Diretora de assuntos internacionais da CitrusBR CITRUSBR Fevereiro 2015 | 49 finanças Quanto vale a Bolsa Veja a atualização dos preços médios na Bolsa de Nova York, nos últimos 21 anos e entenda a forma correta de transformar dólar por libra de sólido solúvel em dólar por tonelada de FCOJ Acompanhar o sobe e desce da Bolsa de Nova York é um elemento essencial para quem atua na cadeia citrícola. Afinal, trata-se de uma importante referência das cotações do suco de laranja. Seguindo com o objetivo de tornar esse acompanhamento mais claro, a revista CitrusBR traz a atualização do histórico, ano a ano, dos preços médios mensais do fechamento diário das cotações do suco de laranja (FCOJ), das últimas 20 safras na Bolsa de Nova York. Nesta edição, trazemos o levantamento referente à safra 2014/2015, entre julho e deMédia da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por libra de sólido solúvel em dezembro de 2014 Média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por libra de sólido solúvel em dezembro de 2014, livre de imposto de importação norteamericano Quantidade de sólido solúvel existente em 1 tonelada de FCOJ 66º Brix 50 | CITRUSBR Fevereiro 2015 zembro do ano passado. Mais uma vez é preciso chamar atenção do leitor para a necessidade de, na hora de analisar esses números, levar em conta os impostos pagos ao governo americano. Caso contrário, a ordem de grandeza dos dados pode ficar distorcida. O suco brasileiro paga US$ 415 por tonelada para acessar o mercado dos Estados Unidos. Por exemplo, a média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por tonelada US$ 1 , 57 – U S$ 77 de FCOJ 66º Brix em dezembro de 2014, livre de imposto de importação norte-americano, ficou em US$ 1.700,31. Para se chegar a esse valor, conforme explica o quadro abaixo, é necessário subtrair da média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por sólido solúvel referente a essa data o valor de US$ 0,2854, pertencente ao desconto do imposto de importação norte-americano em dólar por libra de sólido solúvel/equivalente a US$ 415 por tonelada de FCOJ 66º Brix. O resultado dessa conta será a média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por libra de sólido solúvel em dezembro de 2014, livre da imposto. Para se chegar à média de cotação por tonelada de FCOJ, basta multiplicar por 1.455, que é a quantidade de sólido solúvel existente em uma tonelada de FCOJ 66º Brix. Dessa forma, fazendo a conversão corretamente e levando em conta os impostos pagos pelo produto brasileiro no mercado americano, é possível ter uma visão real do mercado e, com base nessas informações, ter análises mais precisas sobre as exportações brasileiras de suco de laranja. 0, 285 4 9 = U S$ 1 , 2 23 x 1 .455 0, 30 8 8 . 1 $ S =U Desconto do Imposto de Importação norteamericano em dólar por libra de sólido solúvel/ equivalente a US$ 415 por tonelada de FCOJ 66º Brix Média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por tonelada de FCOJ 66º Brix em dezembro de 2014, livre de Imposto de Importação norteamericano Preço médio mensal do fechamento diário das cotações do FCOJ na Bolsa de Nova York Safra Dólares por Libra de Sólido Solúvel (Incluso Imposto de Importação Americano e Taxas Anti-Dumping) Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Média da Safra Jun. Média do Ano Calendário 1994-95 $0,900 $0,941 $0,903 $1,001 $1,090 $1,112 $1,033 $1,027 $1,010 $1,070 $1,047 $1,009 $1,012 1994 $1,008 1995-96 $0,978 $1,050 $1,116 $1,160 $1,233 $1,209 $1,179 $1,242 $1,328 $1,321 $1,232 $1,222 $1,189 1995 $1,078 1996-97 $1,164 $1,172 $1,101 $1,115 $1,016 $0,887 $0,836 $0,804 $0,830 $0,751 $0,786 $0,760 $0,935 1996 $1,165 1997-98 $0,749 $0,722 $0,700 $0,698 $0,780 $0,841 $0,910 $0,977 $1,059 $0,971 $1,100 $1,037 $0,879 1997 $0,771 1998-99 $1,040 $1,102 $1,082 $1,152 $1,177 $1,086 $0,997 $0,930 $0,835 $0,845 $0,854 $0,892 $0,999 1998 $1,058 1999-00 $0,802 $0,926 $0,930 $0,885 $0,949 $0,932 $0,844 $0,847 $0,848 $0,825 $0,818 $0,844 $0,871 1999 $0,898 2000-01 $0,797 $0,741 $0,714 $0,700 $0,740 $0,804 $0,760 $0,757 $0,748 $0,743 $0,783 $0,770 $0,755 2000 $0,793 2001-02 $0,814 $0,777 $0,808 $0,853 $0,938 $0,917 $0,894 $0,896 $0,927 $0,896 $0,912 $0,914 $0,879 2001 $0,806 2002-03 $0,954 $1,009 $1,003 $0,951 $1,005 $0,974 $0,920 $0,871 $0,847 $0,855 $0,857 $0,853 $0,925 2002 $0,945 2003-04 $0,813 $0,787 $0,772 $0,708 $0,701 $0,670 $0,630 $0,610 $0,612 $0,595 $0,561 $0,577 $0,669 2003 $0,804 2004-05 $0,667 $0,673 $0,800 $0,825 $0,750 $0,835 $0,821 $0,850 $0,948 $0,953 $0,937 $0,962 $0,835 2004 $0,678 2005-06 $0,999 $0,916 $0,957 $1,080 $1,200 $1,251 $1,231 $1,302 $1,399 $1,448 $1,551 $1,582 $1,243 2005 $0,990 2006-07 $1,630 $1,775 $1,748 $1,846 $1,977 $2,012 $2,003 $1,956 $2,000 $1,717 $1,650 $1,384 $1,808 2006 $1,625 2007-08 $1,331 $1,296 $1,251 $1,425 $1,364 $1,444 $1,369 $1,282 $1,188 $1,157 $1,123 $1,120 $1,279 2007 $1,568 2008-09 $1,216 $1,036 $0,948 $0,814 $0,798 $0,738 $0,744 $0,693 $0,737 $0,806 $0,907 $0,820 $0,855 2008 $1,066 2009-10 $0,937 $0,978 $0,936 $1,080 $1,133 $1,288 $1,375 $1,374 $1,463 $1,331 $1,403 $1,411 $1,226 2009 $0,921 2010-11 $1,435 $1,389 $1,503 $1,507 $1,565 $1,632 $1,755 $1,734 $1,681 $1,689 $1,801 $1,880 $1,631 2010 $1,449 2011-12 $1,981 $1,746 $1,636 $1,700 $1,799 $1,702 $1,977 $1,904 $1,819 $1,492 $1,144 $1,161 $1,672 2011 $1,759 2012-13 $1,183 $1,220 $1,262 $1,125 $1,158 $1,304 $1,132 $1,252 $1,340 $1,439 $1,467 $1,438 $1,277 2012 $1,396 2013-14 $1,409 $1,364 $1,317 $1,231 $1,335 $1,399 $1,424 $1,457 $1,528 $1,601 $1,579 $1,578 $1,435 2013 $1,343 2014-15 $1,480 $1,452 $1,458 $1,384 $1,361 $1,454 $1,432 2014 $1,480 Safra Dólares por Tonelada de FCOJ 66 Brix (Livre de Imposto de Importação Americano e Taxas Anti-Dumping) Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Média da Safra Média do Ano Calendário 1994-95 $820 $880 $824 $968 $1.097 $1.129 $1.014 $1.005 $980 $1.068 $1.034 $979 $983 1994 $978 1995-96 $947 $1.051 $1.147 $1.211 $1.317 $1.283 $1.239 $1.330 $1.455 $1.445 $1.316 $1.301 $1.254 1995 $1.093 1996-97 $1.230 $1.241 $1.139 $1.158 $1.014 $827 $752 $705 $743 $629 $680 $641 $897 1996 $1.231 1997-98 $638 $599 $567 $564 $684 $772 $872 $969 $1.090 $961 $1.148 $1.058 $827 1997 $671 1998-99 $1.074 $1.164 $1.135 $1.238 $1.274 $1.141 $1.011 $914 $776 $790 $804 $859 $1.015 1998 $1.100 1999-00 $740 $920 $926 $862 $954 $929 $801 $805 $808 $774 $763 $802 $840 1999 $880 2000-01 $739 $657 $619 $599 $656 $750 $686 $681 $668 $660 $719 $700 $678 2000 $734 2001-02 $763 $710 $755 $820 $944 $913 $881 $884 $928 $883 $906 $910 $858 2001 $752 2002-03 $968 $1.048 $1.039 $964 $1.042 $996 $919 $847 $812 $824 $827 $821 $926 2002 $954 2003-04 $763 $724 $702 $609 $600 $555 $496 $467 $470 $445 $396 $419 $554 2003 $750 2004-05 $551 $558 $744 $780 $671 $794 $774 $817 $960 $966 $943 $980 $795 2004 $566 2005-06 $1.033 $885 $943 $1.117 $1.285 $1.357 $1.329 $1.430 $1.567 $1.636 $1.781 $1.825 $1.349 2005 $1.005 2006-07 $1.893 $2.097 $2.059 $2.198 $2.383 $2.432 $2.420 $2.353 $2.415 $2.016 $1.921 $1.545 $2.144 2006 $1.886 2007-08 $1.471 $1.421 $1.357 $1.604 $1.518 $1.630 $1.525 $1.402 $1.269 $1.226 $1.177 $1.173 $1.398 2007 $1.806 2008-09 $1.309 $1.054 $930 $741 $719 $634 $642 $570 $633 $729 $873 $749 $799 2008 $1.097 2009-10 $914 $972 $913 $1.116 $1.191 $1.411 $1.532 $1.531 $1.657 $1.471 $1.572 $1.583 $1.322 2009 $893 2010-11 $1.618 $1.552 $1.713 $1.719 $1.801 $1.895 $2.069 $2.040 $2.026 $2.037 $2.200 $2.315 $1.915 2010 $1.637 $2.128 2011-12 $2.461 $2.121 $1.961 $2.053 $2.197 $2.056 $2.456 $2.350 $2.227 $1.750 $1.244 $1.269 $2.012 2011 2012-13 $1.305 $1.359 $1.420 $1.222 $1.269 $1.482 $1.232 $1.406 $1.534 $1.678 $1.718 $1.676 $1.442 2012 $1.615 2013-14 $1.634 $1.568 $1.500 $1.376 $1.526 $1.620 $1.656 $1.705 $1.807 $1.914 $1.881 $1.880 $1.672 2013 $1.525 2014-15 $1.738 $1.697 $1.705 $1.598 $1.565 $1.700 $1.667 2014 $1.737 CITRUSBR Fevereiro 2015 | 51 mercado | por Folha de S. Paulo HORA DO CHÁ COM ALTA DE 6% AO ANO NO CONSUMO GLOBAL, BEBIDA AVANÇA SOBRE OS ÍCONES NACIONAIS CAFÉ E SUCO DE LARANJA Dois ícones das bebidas brasileiras, o café e o suco de laranja, estão sofrendo forte concorrência de novas bebidas, tanto no mercado interno como no externo. Isotônicos, energéticos, achocolatados, água de coco, água com sabores, sucos de multifrutas e água normal estão nessa lista. Um dos destaques, no entanto, é o tradicional chá. Enquanto o consumo mundial dessa bebida cresce 6% ao ano, o de café tem evolução de apenas 2%. Já a demanda mundial por suco de laranja recua 1% ao ano. Dois motivos levam a essa perda de participação dos dois tradicionais produtos brasileiros. Primeiro, a propaganda contra componentes considerados não benéficos à saúde nesses produtos —principalmente contra as calorias do suco—, sem que houvesse um destaque no lado positivo deles. Em segundo lugar, o setor de bebidas evoluiu muito. Essa evolução trouxe inovações em diversas áreas, enquanto café e suco de laranja demoraram para reagir. 52 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Ross Colbert, do departamento de bebidas do Rabobank International, diz que há um aumento de consumo de café nos países emergentes, mas a bebida ainda está bem distante do consumo de chá nos países asiáticos. Já nos países industrializados, o chá passa a ser uma nova opção como bebida saudável. Colbert aponta que o chá ainda é pouco competitivo na América Latina. Em média, os consumidores tomam 28 xícaras por ano, bem abaixo das 373 de café. Na Ásia, no entanto, o café tem um longo caminho a percorrer para disputar com o chá. Os asiáticos consomem, em média, 187 xicaras de chá por ano e só 27 de café. Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), diz que desde 1997 a indústria de café percebeu que o chá pode ser um novo concorrente do café. “É um produto para ser olhado e não pode ser desprezado”, afirma Herszkowicz. Ele diz, no entanto, que o crescimento do chá, no caso do Brasil, se dá sobre uma base menor de consumo, enquanto a evolução da demanda do café é mais difícil porque já está em 98% dos lares brasileiros. AGILIDADE A favor do café, Cobert diz que é mais fácil os consumidores de chá mudarem para o café do que ocorrer o contrário. Mas Herszkowicz afirma que a indústria de chá foi mais ágil do que a de café quando se trata de inovações, inclusive com produtos que atraem até os jovens. NA ÁSIA, ONDE ESTÃO AS PRINCIPAIS PLANTAÇÕES DA ERVA, O CONSUMO PER CAPITA É DE 187 XÍCARAS POR ANO, CONTRA 27 DE CAFÉ O setor acrescentou sabores, novas opções de consumo —como o produto gelado— e novas embalagens. Inovação e demanda por novas bebidas colocaram também as principais multinacionais do setor de alimentos no mercado de bebidas. O setor de café está reagindo, e a oferta da bebida em monodoses (doses únicas), que cresce rapidamente, é uma resposta, diz o diretor-executivo da Abic. Ibiapaba Netto, diretorexecutivo do CitrusBR, entidade que congrega produtores e exportadores de suco de laranja, concorda com Herszkowicz e diz que um dos pontos de avanço das indústrias de bebidas é a inovação. E o chá conseguiu inovar. Além disso, o chá está dentro de um dos segmentos que mais crescem entre as bebidas, o de água. O chá é uma dose de água acrescida da matéria-prima com sabor. Como tendência, portanto, esse crescimento faz sentido. E a disponibilidade do produto tanto quente como frio é mais um atrativo para o consumidor, segundo Netto. O que os setores de suco e de café não podem permitir, no entanto, é que essas duas bebidas virem um subproduto de outras categorias. Suco e café devem se manter como bebidas tradicionalmente conhecidas, segundo ele. Uma das saídas para que isso continue a ocorrer é a colocação de produtos de qualidade no mercado. E isso as indústrias vêm fazendo, diz. Texto publicado originalmente em 6/12/14, na coluna Vaivém, do jornalista Mauro Zafalon, no jornal Folha de S. Paulo. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 53 tecnologia | por Alécia Pontes Esse cano pode salvar o seu pomar Depois de sofrer com a seca, citricultores investem em sistemas de irrigação. Modelo pode trazer bons resultados, mas sua implantação exige planejamento Depois de uma das maiores secas de todos os tempos e das perdas registradas na maior parte dos pomares de citrus do Estado de São Paulo, não são poucos os citricultores que passaram a observar o uso de irrigação como uma alternativa interessante para minimizar os riscos climáticos em suas propriedades. De acordo com um levantamento da empresa especializada nesse tipo de equipamento, a Netafim, a procura por sistemas irrigados aumentou 15% no último ano. A principal motivação está justamente no caso de produtores que já detêm a tecnologia e que conseguiram manter a produtividade média e a qualidade dos frutos, mesmo com a escassez de chuvas. “A irrigação é sem dúvida uma opção para quem quer minimizar riscos, mas sua implantação deve ser bem planejada”, ressalta o gerente comercial e de contas da Netafim, Marcos Kawasse. O uso de irrigação vem se disseminando na citricultura desde o ano de 1997 e tem no ganho de produção seu principal atrativo. “Dependendo da região e do modelo de produção, o ganho de produtividade 54 | CITRUSBR Nononono 2014 GANHO ESTIMADO 80% DE AUMENTO NA PRODUTIVIDADE PARA CHOVER NO SEU POMAR Veja o que é preciso verificar antes de se optar por um sistema de irrigação Balanço hídrico da região pode chegar a 80%”, revela Kawasse. O consultor em sistemas de irrigação do Grupo Técnico de Assistência e Consultoria em Citrus (GTACC), Danilo Luchiari, também coloca o ganho de produção como a grande contribuição do modelo. “Nos últimos anos a área de citrus reduziu drasticamente em São Paulo, mas a produtividade aumentou. Claro que o uso de irrigação não é a única razão para isso, mas sem dúvida contribuiu muito”, analisa o consultor, que pondera que a tecnologia ainda tem espaço para crescer. “Estimamos que um terço da área plantada com citrus seja irrigada.” Atualmente o sistema mais utilizado é o gotejamento, por conta do custo mais baixo e da menor necessidade de água. Mas há outros equipamentos como o de aspersão que também podem ser utilizados. “Esse sistema é usado, principalmente, por produtores de fruta destinada Adensamento de plantio QUANTO CUSTA Distância e desnível da captação de água até a área irrigada ao mercado de mesa, por conta da sua mobilidade. Ele não é fixo, então pode ser levado para áreas de diferentes variedades na época em que elas mais precisam”, explica. “Todo modelo tem sua vantagem e desvantagem. É preciso ver qual atende à necessidade especifica do citricultor”. Segundo, Marcos Kawasse, da Netafim, para implantar um sistema de irrigação é preciso planejar bem o projeto, partindo do custo e analisando se o investimento é viável para a propriedade. “O custo médio de implantação de um sistema de irrigação é de R$ 5 mil por hectare.” O primeiro passo é realizar o balanço hídrico da região. Pois apenas esse estudo pode determinar a quantidade de MARCOS KAWASE, NETAFIM "O sistema é um boa opção para quem quer minimizar os riscos" R$ 5 MIL POR HECTARE água necessária para o projeto. Outros aspectos a serem observados, segundo o gerente da Netafim, são o adensamento de plantio, distância e desnível da captação de água até a área irrigada. Além do nível de automação e fertirrigação. Já o consultor do GTACC ressalta que hoje a grande dificuldade em utilizar a irrigação não está propriamente nos custos, mas sim na parte burocrática. “Hoje é muito complicado conseguir a outorga para o uso de água para a irrigação”, diz. A outorga é a concessão do direito de uso de recursos hídricos. Luchiari explica que a lei não permite armazenar água para irrigação. É preciso usar a água que fica na superfície das reservas das fazendas. “O problema é que, com a seca intensa, essas bacias estão com seus limites baixos, o que torna o processo de outorga bem difícil. Esse é o maior impeditivo para a expansão das áreas irrigadas.” Marcos Kawase – Netafim [email protected] CITRUSBR Nonononon 2014 | 55 benefícios | por Taciana Bovo O suco que bate um BOLÃO Estudo feito em parceria pela Escola de Educação Física da USP de Ribeirão Preto e a Unesp de Araraquara mostra que o suco de laranja é um grande aliado para repor as energias e nutrientes perdidos durante a prática esportiva Suar a camisa pedalando no parque, correndo de manhã, jogando futebol ou praticando qualquer outro tipo de esporte faz bem para a mente e para o corpo. Isso ninguém discute. O que muitas pessoas não observam é a importância de repor as energias perdidas durante os exercícios. São vitaminas e minerais que são perdidos e que precisam ser repostos. É justamente aí que o suco de laranja entra em campo. Uma pesquisa desenvolvida pela Escola de Educação Física da USP de Ribeirão Preto em parceria com a Unesp de Araraquara apontou que a bebida é um excelente repositor energético para o corpo. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores fizeram um experimento com um grupo de 30 jogadores da categoria de base da Ferroviária, tradicional clube de futebol do interior de São Paulo. De acordo com a professora da Escola de Educação Física da USP, 56 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Dra. Ellen Freitas, os jogadores perdem em média 1,2 mil calorias por jogo. E junto com as calorias o corpo também acaba eliminando uma série de nutrientes. A ideia do estudo era mostrar que o suco de laranja poderia ser uma forma de repor essas substâncias. “O suco possui características que nos levaram a acreditar que ele pode cumprir essa função de reposição”, explica. Durante 60 dias, os jogadores, com idade entre 18 e 19 anos, ingeriram um litro de suco de laranja, sendo 500 mililitros antes do treino e 500 mililitros após a atividade. A cada atividade física, eles eram submetidos a vários exa- SARA TERRAZAS SOUZA: Durante estudo, pesquisadora da Unesp constatou que os atletas suplementados com suco de laranja conseguiram repor até 90% das suas necessidades energéticas mes clínicos. “Constatamos que todos os atletas estavam se alimentando muito mal e, após o início da pesquisa, eles registraram um aumento energético, uma diminuição do colesterol total e também do LDL (colesterol ruim)”, ressalta a pesquisadora, que revela ainda que os jovens registraram uma redução considerável da hemoglobina glicosilada, evitando assim o risco do diabetes. Segundo a nutricionista e mestre da Unesp de Araraquara Sara Morhy Terrazas Souza, uma das coordena- INGESTÃO DO SUCO AJUDOU OS ATLETAS A ABSORVEREM MAIS NUTRIENTES doras do estudo, a grande vantagem do suco de laranja é sua rápida absorção pelo organismo, algo importante quando se fala de reposição de energia. “Após a suplementação com o suco de laranja, constatamos que os jogadores atingiram cerca de 90% das suas necessidades energéticas. Além disso, os jogadores tiveram um aumento da vitamina A, de potássio, ácido fólico e ferro, nutrientes essenciais para o organismo”, revela a nutricionista, que também afirma que se surpreendeu com o aumento da vitamina C, que chegou a quadruplicar. Outro dado revelado pelo estudo foi o aumento significativo da ferritina, que significa o aumento da capacidade do organismo de armazenar ferro. Na opinião da doutora Ellen, esse é um benefício impor- tante, pois a falta ou baixa quantidade de ferro pode levar à anemia. “O suco de laranja seria imprescindível para a dieta feminina, pois por causa do ciclo menstrual, existe uma perda considerável de sangue. Por isso é importante beber suco de laranja e procurar manter uma dieta saudável. Assim teremos um bom equilíbrio no organismo e evita-se a anemia”, pondera. E os benefícios não se restringem a atletas profissionais ou de alto rendimento. Quem pratica esporte como recreação também pode optar pelo suco de laranja como suplemento alimentar. Nesse caso, é preciso adequar as quantidades da bebida ao nível de esforço dos exercícios e, consequentemente, ao volume de perda de energia que ele gera. “No geral, se as pessoas se habituassem a beber um copo de 300 mililitros de suco de laranja todos os dias seria perfeito”, afirma Ellen. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 57 legislação As novas regras do suco A mudança na legislação de rotulagem de bebidas e o aumento do percentual de suco nos néctares podem refletir em acréscimo de demanda por suco de laranja no mercado interno Duas mudanças na legislação brasileira de bebidas prometem mexer na dinâmica do mercado interno. A primeira, em vigor desde o dia 12 de dezembro último, determinou que todas as bebidas à base de sucos de frutas e vegetais devem apresentar em seus rótulos a quantidade de suco presente em suas misturas. A segunda, que passou a valer no final de janeiro, prevê o aumento do percentual de suco de laranja nos néctares, passando de 30% para 40%. A mudança é o resultado de um processo de discussões que começou em meados de 2013, com participação efetiva da CitrusBR e da Câmara de Citricultura do Ministério da Agricultura, e representa 58 | CITRUSBR Fevereiro 2015 um passo importante para o fortalecimento do mercado. Isso porque a iniciativa deve refletir em aumento de consumo da bebida. A expectativa é de que a medida contribua para melhorar a qualidade do produto vendido ao consumidor. A partir de 31 de janeiro de 2016, o percentual de suco dos néctares vai passar para 50%. “Todo mundo ganha com isso, já que a medida é boa, não vai aumentar tanto a demanda por laranja, mas vai estreitar a relação de confiança dos consumidores com o produto e eles saberão exatamente o que estão consumindo”, explica Marco Antônio dos Santos, presidente da Câmara de Citricultura de Brasília. Segundo o chefe da divisão de bebidas do Ministério da Agricultura, Marlos Vicenzi, a proposta de mudança na rotulagem das bebidas já vinha sendo discutida desde 2010. “O Mapa captou a necessidade dos consumidores brasileiros por mais informações no rótulo e tomou providências para atender à essa demanda”, explica. Segundo ele, participaram das discussões os atores envolvidos na cadeia do agronegócio de bebidas, por meio das consultas NEM TUDO É SUCO Com a mudança na legislação, percentual de suco de fruta em néctares passou dos 30% para 40% em janeiro e para 50% em janeiro de 2016 O R E FR E S C 80% a 95%: água, suco artificial, açúcar, corante, conservante, aromatizante 5% a 20% de suco de fruta natural NÉCTAR 70%: água, suco artificial, açúcar, corante, conservante, aromatizante 30% de suco de fruta natural SUCO IN TEGR AL 100% de suco de fruta natural proibida a adição de açúcar e conservantes A partir de janeiro de 2015 públicas e audiências públicas. “A própria CitrusBR participou de algumas rodadas de discussão." Com a vigência, os fabricantes de bebidas deverão obedecer às regras de posicionamento e tamanho das fontes para as informações contidas nos rótulos. De acordo com Vicenzi, no caso de néctares e sucos tropicais, a mudança será obrigatória a partir de março de 2015. “Com isso, queremos levar à população informações claras e precisas sobre o produto que ela está consumindo, reduzindo a assimetria de informações entre os consumidores e envasadores.” A fiscalização das normas será feita em três etapas. Em um primeiro momento todas as fábricas e produtos devem estar registrados no Mapa. Depois serão efetuados os registros de produtos, com análise de composição dos mesmos, adequação dos rótulos aos padrões de identidade e qualidade estipulados pelo Mapa. Em seguida, será feita a inspeção nas fábricas para avaliar desde condições de funcionamento, rotulagem, controle de matérias-primas até a análise laboratorial de alguns produtos. FOTO: PHIL BOORMAN NÉCTAR Aumento de 30% para 40% no percentual de suco de fruta natural Fonte: Markestrat O QUE MUDOU Para as empresas que não cumprirem as exigências das novas regras, as penalidades incluem advertência, passando por apreensão dos produtos, interdição do estabelecimento, suspensão dos registros e multa no valor de R$ 117 mil. Vicenzi explica que existem iniciativas semelhantes a essas em outros países, “mas o modelo adotado nacionalmente não seguiu nenhum exemplo em particular, pois foi construído a partir de discussões internas considerando as especificidades dos produtos envolvidos e a realidade do mercado nacional”. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 59 nononono tecnologia O seu TRATOR Fabricantes correm para se ajustar à nova legislação, que determina que tratores de baixa potência também sejam cabinados, e colocar no mercado máquinas modernas que atendam à lei e às necessidades dos pequenos produtores O trator da foto acima, amplamente utilizado no cultivo dos pomares, está com os dias contados. Isso porque uma nova geração de tratores, equipados com mais tecnologia e conforto, deve chegar aos pomares a partir de 2015. Uma mudança na Instrução Normativa 31, do Ministério do Trabalho e Emprego, determina que, a partir do próximo ano, todos os tratores, inclusive os de menor 60 | CITRUSBR Fevereiro 2015 porte utilizados na citricultura, sejam cabinados e tenham o mesmo nível de proteção das máquinas de maior porte. Diante dessa exigência, as fabricantes de máquinas e implementos agrícolas trabalham a todo vapor para desenvolver modelos que atendam às exigências – tanto da lei quanto dos citricultores. Mesmo antes da nova lei, as companhias já identificavam uma DE OLHO NO MERCADO Já no ano passado a John Deere lançou seu primeiro modelo de trator cabinado de baixa potência de cara nova crescente demanda por cabines em tratores menores, especialmente nos pomares. “Os produtores estão dispostos a pagar um pouco mais em modelos que ofereçam mais conforto, segurança, precisão e agilidade”, explica o especialista de produtos New Holland para citricultura, Rafael Stein. A marca ainda não lançou um modelo de baixa potência cabinado, mas o projeto já está no forno. “Estamos trabalhando em um RAFAEL STEIN, DA NEW HOLLAND: modelos deverão oferecer mais segurança, precisão e agilidade aos trabalhos FOTOS: DIVULGAÇÃO E ERON ZENI projeto de trator de pequeno porte cabinado, mas, como envolve muitos detalhes, ainda não temos uma data para o lançamento”, explica. Atenção aos detalhes também é o foco da John Deere. No ano passado, a companhia lançou dentro da linha 500, que abrange máquinas de baixa potência, um trator cabinado. Tratase do modelo 5078E, com potência de 78 cavalos. “Demoramos cinco anos para desenvolver o projeto e, em média, demoramos 90 dias para entregar os pedidos aos clientes”, explica o especialista em marketing e produtos John Deere, Marcos Balsan. Os cabinados vêm se tornando tendência e a procura deve crescer nas próximas safras. De olho nessa nova demanda do mercado, a Valtra também está preparando seus modelos de tratores estreitos cabinados para a fruticultura. Enquanto não há data para o lançamento, a companhia foca sua estratégia de vendas na nova família da Série A Fruteiro, que inclui produtos cuja potência varia de 66 a 95 cavalos. Ao todo, a série A disponibiliza 12 modelos de tratores estreitos, desenvolvidos especialmente para os pomares. No caso de pomares com áreas maiores entre as plantas, alguns modelos cabinados da Série A Geração II como o A 650, com 66 cavalos; A750, com 78 cavalos; A850, com 85 cavalos; e o A950, com 96 cavalos; podem ser usados pelos citricultores. Segundo o CITRUSBR Fevereiro 2015 | 61 tecnologia Cinto de segurança Tratores devem ser todos cabinados Direção e assento ajustáveis EVOLUÇÃO A partir da mudança na legislação, as empresas estão ajustando suas linhas de tratores. Veja alguns dos itens que podem equipar essas máquinas Ar-condicionado Isolamento acústico supervisor de marketing de produto tratores da Valtra, Winston Quintas, estes modelos apresentam sistema de injeção com bomba em linha, que proporciona menor consumo de combustível e baixo custo de manutenção. “Mas a principal novidade é a versão com cabine, que foi apresentada com exclusividade na Agrishow deste ano, é bastante ampla e atende a todos os requisitos dos nossos clientes”, explica. Já a Massey Fergusson aposta na família de tratores MF 4200 para atender à nova demanda do setor. Entre eles, destaque para dois modelos cabinados, o MF 4283 e MF 4290. O primeiro tem potência de 85 cavalos 62 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Cabine com piso mais plano para aumentar a estabilidade e o segundo, 95 cavalos. A escolha dos modelos para o uso nos pomares, no entanto, depende do espaçamento entre as árvores de cada propriedade. “Em algumas áreas onde esse espaço é menor, o recomendado é o uso de tratores menores e mais estreitos. Já em áreas com mais espaço, os dois modelos se adaptam facilmente”, explica o coordenador de marketing produto tratores da Massey Ferguson, Eder Pinheiro. Reversor elétrico ou hidráulico Mas caso o produtor queira apenas fazer uma adaptação nos tratores que já possui na fazenda, para se adequar às novas regras, isso também é possível. O problema é que no fim das contas, na ponta do lápis, o investimento total, somado ao preço já pago pelo trator quando adquirido, acaba saindo mais caro. “O custo é geralmente superior. A cabine em um trator de fábrica custa entre R$ 18 mil e R$ 20 mil, já a cabine avulsa pode custar acima de R$ 22 mil”, revela Balsan, da John Deere. internacional Menos suco na lancheira Governo britânico adota medidas que restringem consumo da bebida nas escolas e insere novo e polêmico sistema de rotulagem de alimentos. Veja como isso pode afetar o consumo na terra da rainha No final do ano passado, a marca de sucos Tropicana, pertencente à PepsiCo, anunciou uma nova embalagem para o seu suco de laranja vendido no Reino Unido. A principal novidade do recipiente estava em seu tamanho, apenas 150 mililitros do produto. O que parece apenas mais um lançamento para diversificar as vendas, na verdade visa atender os novos padrões de alimentação escolar para comida e bebida estipulados pelo governo britânico e que entram em vigor a partir deste ano. “Nós estamos comprometidos em oferecer os produtos nas escolas nos formatos que atendam às normas e regulamentos do setor”, declarou o diretor da PepsiCo, Ayman Nasreldin. A preocupação é que medidas como essa afetem o consumo de sucos de frutas, que já registra queda. MONTAGEM SOBRE FOTO DE SHUTERSTOCK De acordo com o último relatório publicado pela Associação Europeia de Sucos de Frutas (AIJN), o consumo dessa bebida no Reino Unido havia caído 2,22% em 2013. O padrão de alimentação escolar é uma espécie de guia nutricional que determina a porção de cada nico anunciou um novo e polêmico sistema de rotulagem de alimentos. O novo modelo, usa um sistema de “alerta” de cores semelhante a um semáforo, para identificar a quantidade de gordura, açúcar, sal e calorias presente em cada produto. Dessa forma, se o produto possui uma quantidade alta de algumas dessas substâncias ela é mostrada com a cor vermelha. Se a quantidade for média a cor é amarela e, em caso de quantidades consideradas baixas, a cor é a verde. O modelo não é obrigatório, mas grandes marcas e redes varejistas já sinalizaram que devem adotar o sistema. O problema é que alguns especialistas temem que o novo mé- Mudanças Tropicana lançou suco de laranja em embalagem menor para atender às exigências britânicas grupo de alimentos na dieta das crianças. A mudança em relação ao consumo de frutas, que inclui os sucos naturais, reduziu a porção desse alimento no cardápio dos alunos. E essa não é a única medida que pode refletir no consumo dos sucos. No ano passado, o governo britâ- todo cause confusão entre os consumidores e provoque queda nas vendas. A própria União Europeia não gostou do modelo e pediu explicações para o governo britânico sobre a nova medida. Em tempos de consumo em queda, sem dúvida é mais um desafio para o suco de laranja. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 63 mercado Na medida da Projeto acelera pelo interior para realizar o trabalho de recenseamento do parque citrícola de São Paulo e do Triânguilo Mineiro Passados pouco mais de três meses do início dos trabalhos de coleta de dados, os agentes de campo que atuam na Pesquisa de Estimativa de Safra (PES), realizada pelo Fundecitrus, seguem em ritmo acelerado, percorrendo os talhões do cinturão citrícola do Estado de São Paulo e do Triângulo Mineiro. O trabalho faz parte de uma das etapas mais importantes do projeto, que utiliza ainda imagens de satélites e checagem no campo, cujo objetivo é fazer o recenseamento de todo o parque citrícola. Nos últimos meses, esses agentes, munidos de GPS e outras ferramentas que auxiliam na coleta de dados, já percorreram 64 | CITRUSBR Fevereiro 2015 PES milhares de propriedades que são desenhadas sobre fotos de satélite. “Os primeiros meses e os resultados já alcançados demonstram o amadurecimento e a compreensão dos nossos citricultores, o que amplia nossa confiança no atingimento das metas nos prazos estabelecidos”, afirma o presidente do Fundecitrus, Lourival Mônaco. De acordo com levantamento da entidade, no momento o projeto conta com 43 agentes de pesquisa que, até o fechamento dessa edição, já haviam visitado cerca de 4.759 propriedades, em mais de 200 municípios. Ao todo já são aproximadamente 183 mil hectares mapeados. Levando-se em conta todo o trajeto de deslocamento entre cidades e dentro dos talhões das fazendas, os agentes já percorreram nada menos do que 316 mil quilômetros. “Os citricultores estão permitindo a entrada de nossos técnicos, o que tem sido muito positivo para o bom 43 AGENTES DE CAMPO 316 MIL QUILÔMETROS PERCORRIDOS 183 MIL HECTARES CHECADOS êxito do projeto”, ressalta o coordenador da PES, Vinicus Trombin. Os trabalhos começaram com 30 técnicos, e depois, mais 13 agentes foram incorporados à equipe. Com isso, foi registrado um aumento de 22% na área mapeada, em comparação com as semanas anteriores. “O processo vai se ajustando pelo crescimento do envolvimento cada vez maior dos produtores que respeitam os princípios estabelecidos de níveis pouco usuais realizados principalmente pelo setor produtivo, com potencial de contribuir para mudança do ambiente negocial da citricultura”, explica Mônaco. A expectativa é de que todo esse levantamento dos dados de campo seja finalizado até o mês de fevereiro. A partir daí, em março, começa a contagem das árvores de uma amostra representativa de todos os talhões que foram mapeados. “Esta contagem é um procedimento para avaliação da aderência do método e correção de todos os cadastros mapeados a partir do desvio que iremos aferir”, diz o coordenador. Com esse trabalho, será possível obter um retrato dos pomares atualizado em março de 2015. “No mês de abril iremos fazer a derriça de 2.500 árvores para, então, fazer a previsão da safra 2015/16." Para o presidente do Fundecitrus, com o avanço do trabalho, o projeto vem se mostrando uma ferramenta importante para o setor. “É impor- 4.759 PROPRIEDADES VISITADAS tante ressaltar a relevância na preservação de uma atividade econômica geradora de oportunidades de trabalho e valorização econômica dos municípios. Esperamos que, com o andamento positivo, haja envolvimento dos citricultores em todas as etapas e que eles sejam fiscalizadores dos conceitos básicos da PES: transparência, confiabilidade, independência e imparcialidade”, finaliza. OS CAMINHOS PERCORRIDOS PELA PESQUISA Municípios em andamento Municípios já finalizados FOTOS: DIVULGAÇÃO - ILUSTRAÇÃO: PAULO ZILBERMAN Mapas mostram a evolução do trabalho dos agentes de campo até o dia 12 de janeiro de 2015. As imagens são atualizadas semanalmente e podem ser acompanhadas no site do Fundecitrus (www.fundecitrus .com.br) CITRUSBR Fevereiro 2015 | 65 finanças O caminho do dinheiro Com oferta de crédito crescente, o que não faltam são opções para financiar a modernização da fazenda e aumentar a produtividade Todo começo de safra é assim: hora de avaliar os ganhos, verificar quais serão os investimentos necessários e buscar as melhores opções de crédito para a próxima temporada. Para fazer esse planejamento, é fundamental conhecer as opções de financiamentos disponíveis, não importa se para renovar o maquinário, investir em infraestrutura ou adquirir os defensivos para o pomar. A boa notícia é que os valores destinados ao financiamento agrícola vêm crescendo a cada nova safra, acompanhando o crescimento da produção no campo. Só o Plano Agrícola e Pecuário para a Safra 2014/2015 está disponibilizando R$ 156 bilhões, valor 14,7% superior ao da safra passada, de R$ 136 bilhões. Ao todo, são dez programas, que contemplam linhas de crédito para pequenos, médios e grandes agricultores. O economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, 66 | CITRUSBR Fevereiro 2015 CRÉDITO PARA TODOS OS BOLSOS Saiba quais são os programas de financiamento mais adequados para as necessidades da sua fazenda Infraestrutura Linha: Moderinfra Para que serve: investimentos em sistemas de irrigação ou ampliação de estrutura para armazenagem da produção e maquinário Limite: R$ 2 milhões para produtor individual e R$ 6 milhões para financiamento coletivo Taxa de juros: 4% a 6% ao ano Proteção de pomares Linha: Inovar Para que serve: investimento em inovações tecnológicas, especialmente para proteção de pomares Limite: R$ 1 milhão para produtor individual e de até R$ 3 milhões para ações coletivas Taxa de juros: 4% ao ano Armazenagem Linha: Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) Para que serve: projetos individuais e coletivos Limite: Não possui limite Taxa de juros: 4% ao ano Modernização da frota Linha: Moderfrota Para que serve: financiamento para quem deseja investir na modernização da frota com compra de tratores, colheitadeiras e outras máquinas agrícolas Limite: Sem limite de valor Taxa de juros: 4,5% a 6% ao ano FOTOS: ISTOCKPHOTO Médias propriedades Linha: Pronamp Para que serve: Visa estimular a geração de emprego e renda no campo Limite: Teto de R$ 385 mil para empreendimentos individuais e de R$ 20 milhões para ações coletivas Taxa de juros: 5,5% ao ano Cooperativas Linha: Procap Agro Para que serve: crédito para a reestruturação de cooperativas Limite: R$ 40 mil por cooperado e R$ 60 milhões para capital de giro Taxa de juros: 6,5% a 7,5% ao ano Financiamento e Investimento, Nicola Tingas, explica que os custos das linhas de crédito agrícola são menores e melhores quando comparados aos custos das linhas para pessoa jurídica. “Além disso, por ser majoritariamente exportador, as condições de financiamentos estão mais atreladas ao próprio ciclo agrícola do que à economia propriamente dita”, explica. Bom para o produtor, já que as taxas de juros variam de 4% a 6,5% ao ano, dependendo do programa contratado. Carlos Alberto Vianna, chefe do departamento de suporte a programas agropecuários da Área de Agropecuá- DIVERSIDADE DE LINHAS REQUER ATENÇÃO NA HORA DE OPTAR POR UM FINANCIAMENTO Modernização Linha: Moderagro Para que serve: investimentos em modernização, incluindo infraestrutura, recuperação de solo e compra de defensivos Limite: até R$ 800 mil para empreendedor individual e R$ 2,4 milhões para ações coletivas Taxa de juros: 6,5% ao ano FONTE: BNDES Agricultura familiar Linha: Pronaf Para que serve: crédito para investimentos variados, passando por modernização de estrutura, ampliação da produtividade e redução de custos de produção Limite: R$ 4 mil a R$ 750 mil Taxa de Juros: 0,5% a 3,5% ao ano ria e de Inclusão Social (Agris) do BNDES, destaca duas importantes linhas de crédito para o citricultor: o Inovar e o Moderagro. O primeiro deles, lançado há pouco mais de dois anos, possui uma linha específica para proteção dos pomares, ideal para ser usado no combate ao greening, cancro e outras doenças. “Se ele quiser melhorar a produtividade da atividade agrícola, ele pode fazer, se quiser proteger, ele tem o limite dobrado, o governo tem o interesse em restabelecer a produtividade do campo”, explica Vianna. Os limites para esse programa vão de R$ 1 milhão para produtor individual a R$ 3 CITRUSBR Fevereiro 2015 | 67 nononono milhões para operações coletivas e os juros anuais são de 4%, com prazo de pagamento de até dez anos. Já o Moderagro contempla projetos de recuperação de solo, compra e uso de insumos e outros produtos neces- sários para o manejo dos pomares. “A busca por esses dois programas tem sido bastante grande e vem crescendo safra após safra”, explica Vianna. Os financiamentos dos programas agrícolas do Ministério da Agricultura podem ser contratados em qualquer banco público ou privado. Desde junho do ano passado, a Caixa passou a oferecer linhas de crédito rural para seus clientes. Segundo o vice-presidente de Negócios Emergentes da Caixa, Fábio Lenza, a estimava do banco é de que para a safra 2014/15 sejam contratados cerca de R$ 6 bilhões em financiamentos agrícolas. No Bradesco, as linhas de crédito voltadas ao produtor rural têm registrado aumento da demanda nos últimos anos. Só no primeiro semestre deste ano, o banco registrou uma carteira de R$ 23,341 bilhões em negócios na área agrícola. “Esse volume é 32,8% superior ao mesmo período do ano passado”, explica Rui Pereira Rosa, superintendente-executivo da área de Empréstimos e Financiamentos do Bradesco. Ele explica ainda que, além das linhas de repasse do BNDES, o banco trabalha com as linhas Custeio, Investimentos e Comercialização, linhas da carteira comercial, cartão de crédito e diversas outras soluções para o setor do agronegócio. PARA MATAR A DÍVIDA Crédito fácil e imprevistos podem levar produtor a se endividar. Por isso, especialistas dão dicas para evitar cair em armadilhas financeiras Embora a oferta de crédito e as opções de financiamento cresçam a cada safra, em algumas ocasiões, a inadimplência controlados ou do crédito rural”, pondera a pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Terezinha França. bate à porta do produtor. Na maior parte das vezes, essa situ- De acordo com o diretor da área de Empréstimos e ação é consequência da oscilação de preços no mercado, de Financiamentos do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, para problemas na comercialização da fruta com alguma indústria evitar ficar inadimplente ou contrair mais dívidas, o ideal é que processadora ou packing house compradores de frutas, do o produtor faça um planejamento minucioso dos investimen- efeito especulativo de alguns citricultores ao preferirem o tos e dos pagamentos. “O ideal é que o produtor rural se disci- risco do mercado spot do que contratar sua fruta para a safra pline e tenha uma folga em seu fluxo de caixa para se manter inteira ou para várias safras com uma determinada indústria. até a recuperação." Além disso, a oscilação do preço do suco da fruta no merca- Mas, se o produtor já está endividado, a melhor saída é do, problemas com pragas e estiagem prolongada contribuem negociar diretamente com o banco, segundo explica o para esse cenário de endividamento. ex-secretário de Agricultura de São Paulo e conselheiro da Para resolver a situação, muitas vezes os produtores aca- Sociedade Rural Brasileira, Antônio Júlio de Queiroz. “O ideal é bam por contrair novos créditos para sanar dívidas antigas. conversar com o gerente, pensar em uma renegociação com Uma prática conhecida como “mata-mata”, que pode trazer valores que o produtor possa arcar”, afirma Queiroz, que tam- problemas para o caixa da fazenda, além de ter impedimentos bém acredita que a ampliação do seguro rural ajudaria o setor. jurídicos. “A prática pode levá-lo a uma nova situação de “É preciso criar um seguro inteligente, que não pague só o inadimplência, principalmente porque ocorre com financia- que o produtor perdeu, mas pague também a renda, que ele mentos a taxas de juros mais elevadas do que aquelas a juros passe aquele período crítico”, explica. 68 | CITRUSBR Fevereiro 2015 ESPECIAL Consumo de suco na A l e ma n h a passado, presente e futuro MAIORES CONSUMIDORES DE SUCO DE LARANJA NA EUROPA, OS ALEMÃES SÃO ALTAMENTE SENSÍVEIS A AUMENTOS DE PREÇOS E NÃO SE APEGAM A MARCAS DE BEBIDAS. ENTENDA OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES DESSE COMPLEXO GIGANTE MARCOS FAVA NEVES, VINICIUS GUSTAVO TROMBIN E RAFAEL BORDONAL KALAKI ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER Série Consumo de Suco de Laranja CONHECENDO ASPECTOS ECONÔMICOS, DEMOGRÁFICOS E COMPORTAMENTAIS DO CONSUMIDOR ALEMÃO 70 | CITRUSBR Fevereiro 2015 INTRODUÇÃO E MÉTODO PARA ANÁLISE nos EUA, para quem fornecemos apenas 18% DO MERCADO ALEMÃO do que eles consumiram, sendo o restante Após nossa viagem aos Estados Unidos na fornecido pela própria Flórida, México, Cos- edição passada, estudando este megamer- ta Rica, dentre outras origens, o continente cado consumidor de suco de laranja, com europeu recebeu quase 70% do volume total quase 730 mil toneladas em 2013, agora de- de suco de laranja exportado pelo porto de sembarcamos na Alemanha. Vamos enten- Santos na safra 2013/2014. Portanto, se nos der o segundo mais importante país consu- EUA apenas cerca de 20% do suco é brasilei- midor no mundo e o maior mercado de suco ro, na Europa é quase a totalidade. da Europa. Em 2013, os alemães consumi- O pano de fundo desta análise é explorar ram 167 mil toneladas de FCOJ Equivalente a queda do consumo de suco na Alemanha a 66° Brix. e as mensagens que isso traz ao Brasil. Para Para o Brasil, a Alemanha é muito impor- atingirmos esta compreensão, nossa sequên- tante, pois, diferentemente do que acontece cia nesta revista levará o leitor a entender primeiramente aspectos econômicos, demo- O CONSUMIDOR ALEMÃO gráficos e comportamentais do consumidor Para maior entendimento do consumidor alemão. Após esse entendimento, na segun- alemão, é interessante uma viagem ao pas- da parte faremos uma abordagem da histó- sado. A Alemanha foi criada com esse nome ria da indústria de sucos na Alemanha e rela- no final do século XIX, quando o chanceler tos interessantes de cinco casos de sucesso Otto Von Bismarck articulou a unificação das destas empresas genuinamente alemãs, que monarquias germânicas. Pouco tempo de- desde os primórdios foram e continuam a pois, e após duas guerras mundiais, o país foi ser até hoje as mais fortes e tradicionais do dividido entre o capitalismo e o comunismo, ramo. Depois, na terceira parte, mostramos assim permanecendo por todo o período de o varejo alemão, um dos mais interessantes guerra fria, com a porção ocidental do país do mundo pelo seu poder de compra, e como sob influência dos Estados Unidos e a parte este afetou a concentração dos envasadores oriental sob o domínio da extinta União Sovi- de suco de laranja comprado do Brasil. Final- ética. Esse longo período vivendo em regimes mente, na quarta parte, após entendimento políticos e econômicos tão distintos fez com pelo leitor destes fundamentos todos, mos- que diferentes identidades culturais fossem tramos os preocupantes dados de queda de ciradas. Com isso, a reunificação, ocorrida em consumo, que, após a leitura dos fatos, pode- 1989, se tornou um longo processo de reade- rão ser naturalmente entendidos pelo leitor. quação e reaprendizado que ainda está em Por fim, fechamos com mensagens à cadeia curso no país. produtiva no Brasil. ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER Em relação ao perfil do consumidor ale- CITRUSBR Fevereiro 2015 | 71 Série Consumo de Suco de Laranja mão, nem mesmo as diferenças entre os ao Brasil após a humilhante derrota de 7x1 no regimes a oeste e a leste da antiga fronteira futebol, durante a última Copa do Mundo. foram capazes de extinguir o racionalismo O reflexo de tal comportamento pode ser prático que todo alemão tem no seu DNA. visto também na relação que o alemão tem Em outras palavras, o cidadão alemão espera com os alimentos. Ao contrário dos franceses, que sua sociedade funcione de forma tão pre- que tratam os pratos que preparam como arte cisa quanto a mais perfeita e eficiente máqui- e que cultuam o momento das refeições qua- na construída pelo homem. Em função disso, se como um ritual, o alemão come porque en- não é difícil identificar o modo de pensar de tende que é necessário para o funcionamen- um engenheiro mecânico no jeito com que as to correto do seu corpo e, por consequência, pessoas buscam soluções e respostas para suas decisões de compra são sempre volta- os mais diversos assuntos. O alemão valoriza das para a solução de uma equação muito ordem, controle, regras predefinidas, obedi- simples: valor nutricional e menor custo. Cos- ência e respeito à autoridade. Tudo deve ser tumo dizer que o francês tem alimentação cuidadosamente planejado e pontualmente “food for fun” (alimentação para diversão), executado, já que a previsibilidade é condi- enquanto que o alemão é o “food for fuel” (ali- ção essencial para a vida em harmonia. Aliás, mentação como combustível). uma triste lembrança ao leitor: falamos muito Alemães querem comprar comida de destes princípios alemães como aprendizado boa qualidade e nutritiva, sempre pagando TENDÊNCIAS DE CONSUMO NA ALEMANHA E NA EUROPA 2013/2014 IMPORTÂNCIA DO PREÇO NA DECISÃO DE COMPRA Qual afirmação descreve melhor seu conhecimento sobre os preços dos produtos que você compra regularmente 100% 4 3 3 2 2 24 30 30 28 32 3 6 29 40 7 10 4 6 9 32 46 44 39 42 11 2 9 45 33 42 7 4 3 46 45 44 75% Não sei os preços e não percebo quando há alterações 50% Não sei todos os preços, mas percebo quando alguns mudam 25% Eu sei a maioria dos preços e sempre noto quando há alterações 17 17 15 14 14 14 14 13 9 8 Hungria Suécia Búlgaria Portugal Holanda 17 Súiça 45 Bélgica 42 França 34 Polônia Reino Unido 30 51 35 Noruega Espanha 35 40 35 19 18 Fonte: Nielsen Shopper Trends 2013/2014 72 | CITRUSBR Fevereiro 2015 44 27 Dinamarca 20 19 Aústria 21 49 36 Irlanda 22 Itália 24 Alemanha 0% 46 50 47 Turquia 48 45 Eu sei o preço de todos os produtos que compro o mínimo possível. Economizar e estocar regra e cada vez mais o café da manhã em são tradições da cultura alemã. Os nascidos família está se restringindo aos finais de se- no pós-guerra aprenderam com seus pais e mana, fazendo com que a frequência de con- avós que os tempos podem se tornar difíceis sumo de seus itens tradicionais, incluindo o a qualquer momento e que guardar agora suco de laranja, diminua. Combinado a isso, para não faltar no futuro pode fazer toda a a questão da obesidade também começa a diferença. Esse ensinamento ainda é repas- ter influência nos dados de consumo. sado aos mais jovens, geração após geração. Vimos no artigo sobre os Estados Uni- Além disso, há outros dois pontos impor- dos que as elevadas taxas de obesidade na tantes referentes às mudanças de hábitos população adulta são um problema sério de consumo que merecem ser menciona- que vem trazendo impacto negativo sobre o dos. O primeiro diz respeito ao café da ma- consumo de várias bebidas por lá, incluindo nhã e o segundo à preocupação das pessoas os sucos de frutas. Para analisar a questão com a obesidade e com o consumo excessi- na Europa, buscamos informações em ou- vo de açúcar. tras fontes e, não por acaso, encontramos Como em praticamente todos os mer- os mesmos resultados em dados mais atu- cados que estudamos, o consumidor tem ais, com o Reino Unido e a Alemanha figu- menos tempo disponível e mais compromis- rando entre os países com maior percentual sos na agenda. A Alemanha não é exceção à de obesos em suas populações adultas, de PAÍSES COM MAIORES ÍNDICES DE OBESIDADE E DIABETES EM 2013 Obesidade Diabetes 45 40 30 25 20 15 10 5 França Áustria Malásia Finlândia Polônia Espanha Turquia Grécia Repúplica Checa Brasil Canadá África do Sul Alemanha Argentina Rússia Reino Unido Austrália México Venezuela 0 US % população adulta 35 CITRUSBR Fevereiro 2015 | 73 Série Consumo de Suco de Laranja acordo com estudo realizado pela consultoria Euromonitor em novembro de 2014. Além disso, note que a incidência de casos de diabetes nesses países também figura entre as maiores do mundo. A mesma pequisa da Euromonitor aponta os impactos que a preocupação com a obesidade traz para os consumidores, para a indústria, para os formadores de opinião, governos e para a indústria de bebidas não alcoólicas especificamente: TENDÊNCIAS DO CONSUMIDOR: Dr. Lustig, a » A grande incidência de casos de obesi- comparação dade, diabetes e de queda de dentes re- entre açúcar e lacionados ao consumo de açúcar levam cigarro e o livro os consumidores a procurar produtos naturais, mais saudáveis, com menor valor calórico e reduzida quantidade de açúcar. relacionando obesidade, açúcar com a indústria de alimentos TENDÊNCIAS DAS INDÚSTRIAS: » Redução do conteúdo de açúcar adicionado em alimentos e bebidas; » Lançamentos de porções com embalagens menores; » Desenvolvimento de produtos à base de stevia e outros adoçantes naturais. TENDÊNCIAS DOS FORMADORES DE OPINIÃO: » O estudo destaca o surgimento de grupos 74 | CITRUSBR Fevereiro 2015 “contra açúcar” e de ativistas individuais, como o pediatra americano Robert Lustig, que o jornal inglês The Guardian chamou de “o homem que acredita que o açúcar é um veneno”. TENDÊNCIAS DOS GOVERNOS: » Maior envolvimento em campanhas antiobesidade; » Criação ou aumento de impostos e banimento das chamadas “junk-foods” de escolas; » Restrição de propagandas dirigidas às crianças; » Mais informação sobre açúcar e calorias nas embalagens dos produtos industrializados. Na Alemanha o processo deu resultado com o crescimento do consumo de refrigerantes diet, que roubaram substancialmente volume de vendas de outras categorias, incluindo os sucos de frutas; TENDÊNCIAS PARA A INDÚSTRIA DE BEBI- » Muitos consumidores deixaram de consu- DAS NÃO ALCOÓLICAS, O ESTUDO APON- mir bebidas à base de frutas e passaram a TA AS SEGUINTES CONSEQUÊNCIAS: dar preferência às águas, aos chás prontos » Refrigerantes são considerados um dos para beber e às outras categorias com me- principais culpados pelo aumento da obe- nos calorias; sidade em vários países. Em função disso, » Os sucos 100% ainda são vistos como al- Coca-Cola e PepsiCo, além de dar mais ternativas mais saudáveis, se comparados tração no marketing de versões diet ou a refrigerantes e xaropes, mas, por causa sem caloria, recentemente lançaram ver- do alto nível de açúcar natural em forma sões de “média caloria”, que combinam de frutose, também passaram a ser alvos Exemplo da stevia com quantidade menores de açúcar. da mídia e de ativistas antiaçúcar e, tal repercussão recente na mídia alemã FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 75 Série Consumo de Suco de Laranja como no outro lado do Atlântico, na Euro- ALGUNS ASPECTOS ECONÔMICOS DA pa várias notícias desencontradas sobre ALEMANHA aspectos de saúde relacionados ao consu- Em 9 de novembro de 2014, a Alemanha mo de sucos de frutas também vêm sendo celebrou o 25° aniversário da queda do muro veiculadas na mídia, causando impacto di- de Berlim e, desde sua reunificação, o país reto no consumo. Mesmo com veiculação vem se tornando a locomotiva que move a de artigos que mostrem o aspecto nutri- economia de toda a Zona do Euro. Para se ter cional dos sucos, é difícil combater estes uma idéia do poder que a Alemanha exerce artigos midiáticos contra o consumo. sobre o continente, citamos alguns exemplos elencados pela consultoria Euromonitor: A combinação desses aspectos culturais » A Alemanha abriga 24,2% da população e novas tendências com os desafios da eco- da Zona do Euro e seus habitantes respon- nomia atual propiciou a criação de condições dem por 29,7% do rendimento líquido anu- de mercado diferenciadas na Alemanha. Um al do continente. mercado muito sensível a preço, com ten- » As exportações alemãs correspondem a dência à comoditização de praticamente 32% do valor total exportado por todos os todos os itens oferecidos no varejo e o sur- » O PIB alemão corresponde a mais de 25% do em entregar ao consumidor comida mais do PIB total da Zona do Euro e, apesar da barata possível. São os chamados “hard discounters”, como o caso da rede Aldi, que será vista na sessão 3. 76 | CITRUSBR Fevereiro 2015 países da Zona do Euro. gimento de um canal de vendas especializa- previsão de menor crescimento em 2014, ainda espera-se que 53,6% do crescimento projetado para a Europa seja gerado pela economia alemã. CRESCIMENTO REAL DO CONSUMO DAS FAMÍLIAS NOS PAISES DESENVOLVIDOS DE 2000 A 2013 É verdade que o setor exportador, a baixa EUA taxa de desemprego e a saúde das contas públicas são indicadores de que a economia Reino Unido é sólida. Porém, parte dessa solidez foi cons- França truída à custa de arrocho salarial. Os dados mostram que o crescimento dos salários na Espanha Alemanha desde 2000 foi de 5% em termos Alemanha reais, menor do que o registrado nos outros Japão países da Zona do Euro no mesmo período, de 8,8%. Itália Como consequência, podemos citar dois fatos que colocam a economia alemã em -5.0 0.0 alerta: 5.0 10.0 15.0 % crescimento 20.0 25.0 » Segundo a Euromonitor, o crescimento do consumo das famílias alemãs desde 2000 foi de 6,7%, um dos menores dentre os 176 países estudados pela consultoria. » Em função do baixo crescimento do mercado doméstico, as empresas alemãs apostam muitas de suas fichas nas exportações para parceiros na Europa e outros continentes e aí temos outro problema. OS 10 PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES ALEMÃS EM 2013 França Reino Unido Holanda Estados Unidos Áustria Itália China Suíça Bélgica Polônia 0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0 140.0 160.0 Em bilhões de dólares ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER CITRUSBR Fevereiro 2015 | 77 Série Consumo de Suco de Laranja França, Estados Unidos, Reino Unido e CURVA DE ENVELHESCIMENTO DA POPULAÇÃO ALEMÃ 2013 Itália estão entre os principais destinos das exportações alemãs. E esses países, apesar de apresentarem sinais de uma 2030 retomada na economia, ainda sofrem Faixa etária com problemas relacionados à crise eco- 80 nômica de 2008. 70 Outros dois pontos cruciais impactam o 60 desenvolvimento do mercado interno alemão: 50 » O envelhecimento da população e o en- 40 colhimento da força de trabalho. O país 30 tem a mais alta média de idade dentre os países da Zona do Euro, com 45,3 anos 20 de média em 2013 e estima-se que, em 10 745 596 447 298 149 2030, 27,3% da população terá mais de 65 anos de idade. Com relação à força de 0 `000 149 298 447 596 trabalho, estima-se que faltarão 2,4 mi- 745 DADOS DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS DOS ESTADOS ALEMÃES EM 2013 ESTADOS POPULAÇÃO TOTAL Milhões de Habitantes Total Alemanha RENDIMENTO LÍQUIDO ANUAL Participação no Total Bilhões de Dólares Participação no Total RENDIMENTO LÍQUIDO PER CAPITA Dólar por Habitantes Variação para Média Nacional 81,8 100% $2.384 100,0% $29.150 - 1 Hamburg 1,7 2,1% $63 2,6% $36.043 23,6% 2 Bremen 0,7 0,8% $21 0,9% $32.221 10,5% 3 Baden-Württemberg 10,6 13,0% $337 14,1% $31.723 8,8% 4 Bayern 12,5 15,3% $391 16,4% $31.284 7,3% 5 Hessen 6 Nordrhein-Westfalen 7 6,0 7,4% $184 7,7% $30.393 4,3% 17,8 21,7% $536 22,5% $30.190 3,6% Saarland 1,0 1.2% $29 1,2% $29.702 1,9% 8 Rheinland-Pfalz 4,0 4,9% $114 4,8% $28.662 -1,7% 9 Niedersachsen 7,8 9,5% $22 9,3% $28.438 -2,4% 10 Schleswig-Holstein 2,8 3,4% $78 3,3% $27.711 -4,9% 11 Brandenburg 2,4 3,0% $61 2,6% $25.030 -14,1% 12 Sachsen 4,0 4,9% $99 4,2% $24.548 -15,8% 13 Berlin 3,4 4,2% $83 3,5% $24.221 -16,9% 14 Thüringen 2,2 2,6% $52 2,2% $24.137 -17,2% 15 Sachsen-Anhalt 2,2 2,7% $54 2,3 $23.969 -17,8% 16 Mecklenburg-Vorpommern 2,6 3,2% $59 2,5% $22.793 -21,8% Antiga Alemanha Ocidental 64,9 79,3% 1.976 82,9% 30.429 4,4% Antiga Alemanha Oriental 16,9 20,7% 409 17,1% 24.153 -17,1% 78 | CITRUSBR Fevereiro 2015 lhões de trabalhadores no país em 2020. PREVISÃO DO DESENVOLVIMENTO POPULACIONAL ATÉ 2060 Para suprir esse déficit, são apontadas três soluções possíveis: maior participação de mulheres no mercado de trabalho, Em 2060 a proporção de cidadãos com idade superior a 65 anos será mais que o dobro que a população na faixa de 20 anos (População em milhões) 79.9 77.4 73.8 69.4 64.7 100% 17.0 17.0 16.0 15.0 16.0 manutenção de trabalhadores em idade de aposentadoria e a contratação de imigrantes, a maioria proveniente da Turquia e do Leste Europeu. » O permanente esforço para reconstru- 75% ção da antiga Alemanha Oriental, que somente até 2019 vai consumir algo em torno de 80 bilhões de euros dos cofres 50% públicos. O governo enxerga tal medida 60.0 54.0 52.0 51.0 50.0 como necessária, pois a diferença des< 20 anos 25% sa região com os Estados que no passado formavam a Alemanha Ocidental é imensa, conforme visto nos indicadores 0% macroeconômicos e demográficos da 23.0 29.0 32.0 33.0 34.0 2020 2030 2040 2050 2060 20 - 65 anos > 65 anos Fonte: Federal Statistical Office of Germany, lower limit of the medium population PIB ANUAL Bilhões de Dólares PIB PER CAPITA Participação no Total Dólar por Habitantes TAXA DE DESEMPREGO Variação para Média Nacional Percentual Variação para Média Nacional $3.615 100,0% $44.169 - 5,3% - $124 3,4% $71.207 61,2% 7,4% 39,6% $38 1,0% $57.227 29,6% 11,1% 109,4% $533 14,7% $50.130 13,5% 4,1% -22,6% $638 17,7% $51.042 15,6% 3,8% -28,3% $309 8,5% $51.123 15,7% 5,8% 9,4% $793 21,9% $44,656 1,1% 8,3% 56,6% $42 1,2% $42.283 -4,3% 7,3% 37,7% $161 4,5% $40.405 -8,5% 5,5% 3,8% 30,2% $312 8,6% $40.045 -9,3% 6,9% $104 2,9% $36.771 -16,8% 6,9% 30,2% $77 2,1% $31.547 -28,6% 9,9% 86,8% $130 3,6% $32.178 -27,1% 9,4% 77,4% $139 3,9% $40.699 -7,9% 11,7% 120,8% $66 1,8% $30.772 -30,3% 8,2% 54,7% $69 1,9% $30.810 -30,2% 11,2% 111,3% $79 2,2% $30.306 -31,4% 11,7% 120,8% 3.054 84,5% 47.033 6,5% 561 15,5% 33.161 -24,9% CITRUSBR Fevereiro 2015 | 79 Série Consumo de Suco de Laranja ALEMANHA REUNIFICADA Conheça os Estado alemães, suas importantes cidades e a localização das principais fábricas de bebidas não alcóolicas Kiel SCHLESWIG-HOLSTEN Rostock Cuxhaven MECKLENBURG-VORPOMMERN Schwerin Hamburg BREMEN Dodow HAMBURG Bremen BRANDENBURG Fallingbostel Vechta NIEDEDSACHSEN R Neuenkirchen Hannover Calvörde Rinteln Bessingen Paderborn Dortmund Moers SACHSEN-ANHALT Mönchengladbach Dusseldorf Erkrath Colônia Hennef Sieg Erftstadt Bonn R Schwalmtal Neuss Dachwig RHEINLANDPFALZ Rötha Dresden Erfurt SACHSEN THÜRINGEN Wiesbaden Mainz Nieder-Olm Saarbrücken Leipzig HESSEN R SAAPLAND BERLIM Magdeburg NORDRHEIN WESTFALEN R Darmstadt Mannheim Heidelberg Waibstadt Öhringer R Grünsfeld Nuremberg BAYERN Stuttgart Berghülen Erding BADEN-WÜRTTENBERG 80 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Berlim Potsdam Munique tabela a seguir. Note que todos os números mostram condições muito menos favoráveis nos Estados que formavam a Alemanha Oriental. A taxa de desemprego na região, por exemplo, é o dobro da BERLIM ORIENTAL BERLIM OCIDENTAL registrada no lado ocidental, o que está causando um verdadeiro êxodo do leste para o oeste. Desde a reunificação, a população do território da antiga Alemanha Oriental diminuiu pela metade. Mais um MURO DE BERLIM sinal do não funcionamento das economias socialistas ou comunistas. MENSAGENS DA ECONOMIA, DEMOGRAFIA E CONSUMIDOR Alemanha Oriental Um resumo do cenário do mercado alemão: Alemanha Ocidental Capital Cidade 1. Diminuição da população e falta de mão de obra; 2. Reposições salariais abaixo da média de outros países europeus; 3. Aumento do número de imigrantes e diferentes hábitos de consumo; Döhler Group E g Eckes-Granini Group ST dental e necessidade de investimentos vultosos para equilibrá-las; 5. Economia se sustenta nas exporta- Riha Wesergold Group R 4. Diferenças entre a parte oriental e oci- Refresco Group Stute ções, que estão difíceis neste momento por causa da crise e ao momento que alguns países, principalmente França e Itália, enfrentam. 6. Mercado interno, portanto, estagnado Niederrhein-Gold Molkerei Gropper Wild Group Valensina Albi Fruchtsäfte Sonnländer e incertezas em relação ao mercado externo. Depois destas mensagens, importantes no processo de construção do raciocínio e do conteúdo para que o leitor possa entender a queda no mercado alemão, nas próxima sessão abordaremos a rica história da indústria de sucos alemã, relatando cinco casos de sucesso. Pepsico Deutschland CITRUSBR Fevereiro 2015 | 81 Série Consumo de Suco de Laranja A RICA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DE SUCOS NA ALEMANHA A indústria de envase de sucos de frutas nos principais países consumidores. Também na Alemanha tem longa e interessante histó- foram retiradas de publicações históricas e ria, da qual destacamos alguns pontos aqui. relatórios anuais das companhias e de seus Há notícias do início dessas atividades já no sites. As imagens usadas a seguir são de domí- final do século XIX e início do século XX, mas nio público ou cedidas pelas empresas. o grande impulso veio com o fim da Segunda 82 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Guerra Mundial, em razão da escassez de ali- DÖHLER mentos quando o país trabalhava pela sua re- Fundada por Lorenz Döhler em 1838 como construção. Ao longo deste desenvolvimento, um moinho de especiarias e com sede na muitos ficaram pelo caminho, e vale destacar cidade de Erfurt, a Döhler tinha à época um cinco, empresas, dentre as principais, que de- portfólio de oito misturas de especiarias ram contribuição histórica à indústria de sucos “Spezereien” com sua marca. Em 1892, a em- alemã e permanecem atuando fortemente presa foi assumida pela família Gemmer e, para seu desenvolvimento. Estas informações em 1924, passou pelo seu primeiro processo foram conseguidas a partir de entrevistas com de expansão, com a fundação de duas novas os envasadores realizadas ao longo dos últi- fábricas e a introdução das marcas “Döhler mos anos em que o Markestrat e a Concreto Pudding”, “Backfein” e “Backstolz”. Brasil vêm assessorando a CitrusBR com estu- Em 1948, a Döhler, uma importante forne- do de consumo de suco e análises de mercado cedora de alimentos para a parte leste ocu- Primeiro prédio da Döhler em Erfut na Alemanha, em foto de 1834, e a operação da fábrica em 1892 pada da Alemanha dividida, foi desapropriada. A família Gemmer então se mudou para o oeste, sendo Frankfurt e Bad Wildungen os primeiros destinos para o recomeço da pro- Marcas da Döhler introduzidas no mercado de alimentos da Alemanha em 1924 dução de aromas e produtos de panificação para padeiros e confeiteiros, além de aromas para a indústria de doces e bebidas alcoólicas. Já em 1952, uma nova linha de produção expande a gama de produtos da empresa com compostos e aromas à base de frutas para acompanhar o crescimento dinâmico ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER - FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 83 Série Consumo de Suco de Laranja da indústria de refrigerantes na Alemanha. operações internacionais, com a aquisição da Desde 1957, a matriz da empresa está Citrusco N.V. na Bélgica. Em 1997, a Fischer- localizada na cidade de Darmstadt, na Döhler foi estabelecida como uma joint ventu- Alemanha. Naquela época, com cerca de 70 re com a empresa Citrosuco para a produção colaboradores, geravam vendas em torno de de compostos e aromas destinados aos mer- 6 milhões de litros de suco processado de la- cados da América do Sul e Central, processo ranja naqueles anos. que deu origem à criação da Dohler América Para assegurar o fornecimento de maté- Latina Ltda. Em 2008, a Döhler América ria-prima para o então crescente mercado de Latina desvinculou suas operações da fábrica sucos de frutas, a empresa buscou parcerias da Citrosuco em Limeira e construiu sua uni- em diversos países. Em 1982 deu início às suas dade industrial na mesma cidade, na margem oposta da rodovia Anhanguera. Além das instalações em Limeira, a empresa possui fábricas para processamento de fru- Sede da empresa em Darmstadt, no ano de 1957 tas e vegetais na Alemanha, Espanha, Polônia, Ucrânia, Turquia, Egito e China. No total são 23 fábricas, 48 centros de aplicação de matériaprima, 48 escritórios de venda espalhados pelo mundo e quase 4 mil colaboradores, que garantem negócios globais em 130 países. Mais informações relevantes da empresa e a linha de produtos e mercado de atuação podem ser vistas em https://www.doehler. com/en/home.html Foto atual da sede da empresa em Darmstadt, na Alemanha Fábrica da Döhler na Rodovia Anhanguera, em Limeira/SP 84 | CITRUSBR Fevereiro 2015 O Sr. Peter Eckes, fundador da EckesGranini ECKES-GRANINI Em 1857, um bem-sucedido produtor de frutas, vinicultor e dono de uma frota de 40 cavalos, Peter Eckes, fundou uma destilaria que produzia licores feitos a partir de restos de frutas e uvas. Mesmo durante a Primeira e a Segunda Grande Guerra Mundial, a companhia conseguiu manter estáveis a sua produção e venda de destilados e, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, entrou no mercado de bebidas concentradas de pós à base de frutas. A empresa, na década de 20 Posteriormente, em 1958, a empresa revolucionou o mercado ao introduzir o primei- Avenida em Matão, em homenagem a Ludwig Eckes, e a fábrica da Citrosuco ro suco de laranja pronto para beber, vendido em garrafas de vidro marrom, posicionando o produto como fonte de vitamina C, modificando a indústria de bebidas. Sua marca Hohes C, desde então, se tornou a líder no mercado alemão de sucos 100%. Já em 1963, com o sucesso de vendas de sua marca Hohes C nas farmácias e mercearias e após repetidos problemas com falta de fornecimento de suco de laranja proveniente da FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 85 Série Consumo de Suco de Laranja A ECKES-GRANINI NO MAPA ilustração da presença da empresa , que se tornou a dententora do mais variado portifólio de sucos de frutas na Europa ESCANDINÁVIA (DINAMARCA, SUÉCIA, NORUEGA ) ALEMANHA BÉLGICA FRANÇA ESPANHA SUÍÇA ITÁLIA AUSTRIA 86 | CITRUSBR Fevereiro 2015 FINLÂNDIA LITUÂNIA REP. TCHECA ESLOVÁQUIA ROMÊNIA EXPORTS BULGÁRIA HUNGRIA TURQUIA CITRUSBR Fevereiro 2015 | 87 Série Consumo de Suco de Laranja A evolução das campanhas de marketing da Hohes C Flórida, em função das geadas que assolaram aquele cinturão citrícola, a já centenária companhia Eckes veio ao Brasil se associar à família Fischer e fundar a Citrosuco Paulista. A companhia se tornou uma das líderes mundiais na produção de suco de laranja, num movimento estratégico de integração vertical para trás na cadeia produtiva de suco de laranja. ainda deteve 26% das ações da nova Eckes- Em 1993, após a venda de sua partici- Granini, que foram finalmente adquiridas pela pação na Citrosuco para a família Fischer, a Eckes no final de 2006. A operação transfor- Eckes-Granini concentrou seus esforços na mou a empresa na dententora do mais variado sua expansão internacional no mercado de portfólio de sucos de frutas na Europa. bebidas. Em 1994, a fusão com marca Granini, até a linha de produtos e mercado de atuação da Eckes-Granini GmbH como uma empre- podem ser vistas em sa independente especializada em bebidas http://www.eckes-granini.com à base de frutas. À época da fusão, a Melitta 88 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Mais informações relevantes da empresa e então pertencente à Melitta, levou à criação RIHA WESERGOLD A partir do estímulo de matar sua própria sede enquanto exercia seu ofício, Richard Hartinger, que trabalhava em uma oficina de vidros como soprador, fundou o que hoje é O início das operações da empresa nas primeiras décadas do século XX uma das mais importantes empresas na indústria de sucos de frutas na Europa. A história começa com o processamento de maçãs cultivadas na região da cidade de Rinteln, em uma prensa de madeira manual por ele construída. Em 1934, Hartinger começou a produzir seus refrescos com fins comerciais e surgia então a “RiHa Wesergold”, nome criado a partir das iniciais de seu fundador. O ano de 1956 marcou o término da construção do primeiro prédio da empresa em Rinteln. Em 1970, a empresa passou a oferecer refrigerantes carbonatados aproveitando a descoberta de uma fonte constante de água mineral com propriedades medicinais. Atualmente o grupo possui e opera três fábricas na Alemanha, uma na Suíça, uma na Polônia e uma na Espanha, onde são produzidos diariamente mais de 7 milhões Fábrica da Wesergold em Rinteln, nas proximidades de Hannover, a maior do grupo de unidades de sucos de frutas, néctares, refrescos e águas minerais. Esses produtos são posteriormente distribuídos também na França e na Holanda, além dos países já mencionados. Mais informações relevantes da empresa e a linha de produtos e mercado de atuação podem ser vistas em http://www.riha.de/languages/gb/site/ unternehmen_gb.html O portfólio de produtos da Wesergold, com destaque para os sucos de frutas FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 89 Série Consumo de Suco de Laranja O patriarca Sr. Ewald Stute, grande lider condutor da indústria de sucos na Alemanha. Durante toda sua vida, Stute cultivou uma relação pessoal com o patriarca da família Albeicht, donos da Aldi, implementando o modelo de negócios existente até hoje determinado pela forte interdependência entre cada cadeia varejista e seu respectivo envasador Primeiro prédio da empresa em Neuenbeken. Onde tudo começou Vista áerea da fábrica em Paderborn, na década de 1960. O prédio localizado na Abstbrede, 129 hoje abriga a matriz da empresa STUTE Desde 1893, Wilhelm Stute comercializava produtos agrícolas em uma pequena cidade alemã chamada Neuenbeken. A casa utilizada no início da empresa foi mantida pela família Stute, que ainda a utiliza como uma loja de alimentos. Entre 1934 e 1936 a empresa se estabeleceu em Paderborn e iniciou a produção de marmeladas, geleias e sucos de frutas, que foi interrompida em 1945 por causa da destrui- 90 | CITRUSBR Fevereiro 2015 nente europeu. ção da fábrica na Segunda Guerra Mundial e Atualmente, com atividades na Europa, retomada no ano seguinte, após o término do América do Norte e Austrália e cerca de 1.000 conflito e a da reconstrução das instalações. colaboradores em suas duas fábricas em Em 1958, houve a primeira grande ex- Paderborn, a empresa se tornou uma das pansão da fábrica situada na rua Abstbrede principais fabricantes de marcas próprias do e em 1984 foi lançada a pedra fundamental varejo em duas categorias, a de doces para o da construção da megafábrica “Paderborn café da manhã, que con- Kuhlhaus”. Na época, se tratava da mais mo- templa derna da Europa e que até hoje detém o título meladas, com- de maior planta envasadora em todo o conti- potas e geléias mar- WILD COMPANY O início da empresa se deu em 1931, quando Rudolf Wild, então um jovem químico, teve a original ideia de produzir bebidas não alcoólicas utilizando apenas ingredientes naturais, sem aditivos químicos. Ele insistia que as bebidas deveriam conter apenas ingredientes naturais, ser saudáveis, de excelente qualidade e ter um sabor fantástico. Naquele tempo, todos bebiam refrigerantes feitos à base de aditivos artificiais, que eram mais baratos e mais fáceis de processar. Wild, contra todo o criticismo do mercado, manteve-se fiel à sua ideia original e criou o conceito que guia a empresa até hoje, tornando-a uma das mais importantes empresas de sucos e aromas da Europa e do mundo. O início da empresa em Heidelberg A segunda fábrica, “Paderborner Kühlhaus”, com um dos maiores sistemas de geração de energia solar da Alemanha, responsável pela produção de grande parte da energia elétrica consumida na fábrica. de fruta para marcas próprias do varejo e a de bebidas não alcoólicas com produtos como águas, energéticos, isotônicos, sucos de frutas, smoothies, néctares, refrescos e chás. Com dezenas de linhas que envasam embalagens tipo longa vida, garrafas PET e latas, a Stute é capaz de oferecer produtos em 19 combinações diferentes de embalagens, A Wild iniciou sua produção importan- tamanhos e formatos que são diariamente do laranjas e limões da Sicília, em trens entregues aos centros de distribuição de su- que diariamente chegavam à estação de permercados em toda a Europa por meio de Eppelheim. Seguindo sua vocação inova- uma frota de centenas de caminhões. dora e com o objetivo de alavancar sua estratégia de crescimento global, em 1966, Mais informações relevantes da empresa e a fez sua primeira compra de suco de laranja linha de produtos e mercado de atuação po- brasileiro produzido e exportado pela en- dem ser vistas em tão Suconasa, adquirida naquele ano pela http://www.stute-foods.com/about-us.html família Cutrale, se tornando então o pri- FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 91 Série Consumo de Suco de Laranja Carregamentos diários de frutas vindos da Sicília e recepção de limões na fábrica em Eppelheim meiro usuário de suco de laranja da Cutrale. Segundo o próprio fundador, “qualquer ideia ou negócio que tenha a ver com fruta natural é algo que devemos checar e avaliar”. Nos anos 1950, a empresa lançou o primeiro refrigerante alemão sem aditivos artificiais, o Libella. A marca foi introduzida no mercado em 1951 por meio de um sistema de envase e distribuição baseado em concessões dadas à indústria de cerveja e atualmente ainda está no mercado com 30 envasadoras licenciadas. De volta a 1966, o departamento de vendas da empresa apresentou uma embalagem lizados na produção do Capri-Sonne, produto vendido em 114 países pela própria Wild ou por meio de envasadores franqueados. prateada em forma de triângulo que conquis- Uma unidade de negócios independente tou Wild imediatamente. Era a chave para a da que opera o Capri-Sonne, a Wild Flavors criação de uma das marcas mais importantes and Specialty Ingredients, foi vendida à ADM na indústria global de suco, a Capri-Sonne. em 2014, numa transação de US$ 3 bilhões, Depois de solucionar vários problemas com fornecendo bases de sucos de frutas, aro- a produção das embalagens e com a linha de mas e compostos naturais para as indústria envase que era totalmente nova, o produto de alimentos e de bebidas de suas 15 unida- foi lançado em 1969 oferecido nos sabores des fabris ao redor do mundo. laranja, limão e maçã. Após seis anos já era a marca líder no mercado de refrescos à base Mais informações relevantes da empresa e de fruta na Alemanha. a linha de produtos e mercado de atuação Atualmente, a Wild Company também é 92 | CITRUSBR Fevereiro 2015 podem ser vistas em proprietária de uma empresa chamada Indag, http://w w w.stute-foods.com/about-us. que produz os pouches e a linha de envase uti- html Artigo sobre a negociação entre a Wild e a ADM no The Wall Street Journal Dessa forma podemos observar um suas linhas de produtos, marcas, serviços, pouco da história da indústria de sucos na embalagens adequadas e criativas, de acordo Alemanha. Por meio da história dessas cin- com as constantes alterações dos padrões de co companhias, o leitor pode entender mais consumo em seus mercados relevantes. as origens das empresas envasadoras de Devem também operacionalizar a dis- sucos e suas funções. Afinal, elas são as tribuição terrestre das plantas envasado- distribuidoras de dezenas de variedades ras até os centros de distribuição dos vare- de sucos, néctares, refrescos, aguas, iso- jistas ou diretamente ao pequeno varejo. tônicos, refrigerantes, energéticos, dentre Estabelecer uma política de precificação de outras centenas de combinações de tipos seus produtos (no caso das grandes mar- de embalagem. Na próxima sessão abor- cas que são minoria) ou suas estratégias de daremos o que acontece estruturalmente descontos para conseguirem quantidades no varejo alemão, que aliado às tendências maiores de contratos das redes varejistas macroeconômicas e de consumo, justificam (no caso dos envasadores de private label o porque de nos últimos anos ocorrer uma que são tomadores de preços do elo seguin- grande concentração na indústria de sucos. te que detém maior poder de barganha). Ou Evoluindo o nosso pensamento até as ra- seja, os envasadores devem ser orientados zões para a queda de consumo, ao final. pela demanda e serem provedores e solucio- É relevante entender que as indústrias de nadores de problemas ou das demandas de bebidas tem como funções comprar o suco seus compradores, sejam eles varejistas ou concentrado de frutas ou NFC e outros insu- consumidores finais. E pode-se afirmar com mos, diluir ou misturar estes insumos e pra- clareza que sem estes as industrias proces- ticamente fazer propaganda e marketing de sadoras e produtoras do suco de laranja no suas bebidas ao consumidor final. Montar Brasil não seriam capazes do sobreviver, pois canais de distribuição e força de vendas para o suco de laranja no formato “a granel”, por toda a sua linha de produtos, no caso das elas vendido em seus terminais marítimos na grandes marcas (não dos envasadores de Holanda e Bélgica, jamais chegaria aos con- private labels), constantemente redesenhar sumidores finais. FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 93 Série Consumo de Suco de Laranja 94 | CITRUSBR Novembro 2014 O VAREJO ALEMÃO INDUZINDO À MEGACONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA DE SUCOS Nas cadeias produtivas tradicionais, o va- pos de lojas e o principal varejista, por sinal, é rejo (supermercados, lojas de conveniência, uma grande rede de supermercados coope- hotéis e restaurantes) é o elemento final de rativados chamada Edeka. ligação com o consumidor. Afinal, é lá que os Em linha com o que discutimos na pri- produtos são expostos, comprados e pagos. meira sessão, da austeridade observada Em mais de 20 anos de estudo deste assun- no comportamento do comprador alemão, to, é inegável o aumento de poder deste elo observa-se que, no ranking por faturamen- da cadeia. Seus integrantes viraram gigantes to total, as empresas de grandes descon- mundiais, comprando em todos os lugares, tos (hard discount) Lidl (Schwarz Group) e com suas marcas, poderio financeiro e de in- Aldi figuram respectivamente em terceiro formações. Vamos agora analisar um pouco e quinto lugar. Porém, quando analisamos mais a estrutura deste setor e seus impactos o ranking de vendas de itens alimentícios, na indústria. ambas ganham uma posição, figurando respectivamente como segundo e quarto colo- ESTRUTURA DO VAREJO ALEMÃO: PRINCIPAIS GRUPOS O varejo alemão é composto de diversos ti- ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER cados no ranking. Outro interessante aspecto a ser observado no ranking é que ele é dominado por CITRUSBR Janeiro 2015 | 95 Série Consumo de Suco de Laranja RANKING DO VAREJO NA ALEMANHA EM 2013 FATURAMENTO EM 2013 VAREJISTA TOTAL Bi Dólares ALIMENTOS Bi Dólares Percentual ÁREA DE VENDA DEMAIS Bi Dólares NO LOJAS TOTAL POR LOJA M2 M2 Percentual VENDAS POR M2 1 Edeka $66,591 $54,037 81% $12,554 19% 13.762 10.586.392 769 $6.290 2 Rewe Group $49,174 $31,265 64% $17,909 36% 8.614 9.178.661 1.066 $5.357 3 Schwarz Group $45,328 $31,716 70% $13,612 30% 3.891 5.793.895 1.489 $7.823 4 Metro Group $39,239 $10,860 28% $28,379 72% 1.006 5.518.081 5.485 $7.111 5 Aldi $36,378 $28,360 78% $8,018 22% 4.246 3.462.104 815 $10.508 6 Otto Group $13,679 $13,679 100% 1.023 445.390 435 $30.713 7 Amazon $12, 537 $0,362 3% $12,176 97% n.d. n.d. n.d. n.d 8 Lekkerland $11,167 $10,301 92% $0,865 8% n.d. n.d. n.d. n.d. 9 Tengelmann $10,115 $2,151 21% $7,964 79% 4.701 4.964.095 1.056 $2.038 10 dm $7,756 $1,176 15% $6,580 85% 1.480 849.520 574 $9.130 11 AS Watson $6,627 $1,522 23% $5,105 77% 1.826 806.608 442 $8.216 12 IKEA $6,304 $0,122 2% $6,182 98% 46 1.325.500 28.815 $4.756 13 E-Square $6,273 $6,273 100% 6.496 646.770 100 $9.699 14 Globus $5,813 $2,213 38% $3,601 62% 132 1.125.300 8.525 $5.166 15 Expert $5,656 $5,656 100% 461 445.000 965 $12.710 16 McDonald`s $5,211 $5,211 100% 1.468 n.d. n.d. n.d. 17 H&M $4,781 18 Bartels-Langness $4,381 19 Euronics 20 C&A 21 Karstadt $4,183 $0,039 22 Norma $4,016 23 Bauhaus $3,652 24 Douglas $4,781 100% 418 585.500 1.401 $8.166 $2,141 49% 118 416.628 3.531 $10.524 $4,381 $4,381 100% 1.829 448.105 245 $9.777 $4,356 $4.356 100% 512 1.280.000 2.500 $3.403 1% $4,145 99% 116 1.359.672 11.721 $3.077 $3,206 80% $0,810 20% 1.289 863.630 670 $4.650 $3,652 100% 128 1.222.144 9.548 $2.989 $3,544 $0,130 4% $3,414 96% 1.105 382.686 346 $9.261 25 Muller $3,480 $0,070 2% $3,410 98% 510 586.500 1.150 $5.934 26 Hornbach $3,196 $3,196 100% 119 1.173.080 9.858 $2.725 $2,243 51% 27 BP $2,869 $1.979 69% $0,890 31% 2.043 204.300 100 $14.043 28 Bunting $2,800 $1,982 71% $0,818 29% 844 563.354 667 $4.971 29 Praktiker $2,686 $2,686 100% n.d. n.d. n.d. n.d. 30 Shell $2,662 $1,735 65% $0,927 35% 2.298 101.200 44 $26.306 31 Deichmann $2,543 $2,543 100% 1.333 666.500 500 $3.816 32 Coop (CH) $2,166 $1,288 59% $0,878 41% 44 412.739 9.380 $5.248 33 XXXLutz $2,021 $2,021 100% 54 561.000 10.389 $3.602 34 eBay $1,901 $1,901 100% n.d. n.d. n.d. n.d. 35 Esprit $1,844 $1,844 100% 518 220.668 426 $8.357 36 Dohle $1,836 $1,102 60% $0,734 40% 95 281.745 2.966 $6.516 37 Coop (DE) $1,688 $1,265 75% $0,423 25% 265 239.740 1.244 $5.121 38 Zalando $1,619 $1,619 100% n.d. n.d. n.d. n.d. 39 K-Mail Order $1,584 $1,584 100% 1 4.000 4.000 $396.015 40 Dansk Supermarked $1,581 $0,334 21% 346 259.500 750 $6.093 96 | CITRUSBR Fevereiro 2015 $1,248 79% FATURAMENTO EM 2013 VAREJISTA TOTAL Bi Dólares ALIMENTOS Bi Dólares $1,180 Percentual Bi Dólares NO LOJAS TOTAL POR LOJA M2 M2 Percentual VENDAS POR M2 41 Migros $1,383 $0,204 15% 284 310.844 1.095 $4.450 42 Fressnapf $1,342 $1,342 100% 836 501.600 600 $2.676 43 Conrad $1,254 $1,254 100% 25 39.250 1.570 $31.938 44 ExxonMobil $1,100 $0,342 31% 1.100 88.480 80 $12.432 $0,758 85% ÁREA DE VENDA DEMAIS 69% 45 Total $1,043 $0,719 69% $0,324 31% 1.000 70.700 71 $14.752 46 QVC $0,932 $0,012 1% $0,920 99% n.d. n.d. n.d. n.d. 47 Burger King $0,907 100% 692 n.d. n.d. n.d. 48 TJX $0,697 $0,697 100% 63 187.299 2.973 $3.721 49 Apple $0,600 $0,600 100% 12 8.400 700 $71.405 50 Inditex $0,592 $0,592 100% 104 92.005 885 $6.430 51 Locker $0,476 $0,476 100% 243 47.165 194 $10.088 52 Futterhaus $0,443 $0,443 100% 284 227.200 800 $1.950 53 Carphone Warehouse $0,427 $0,427 100% 195 9.360 48 $45.609 54 Toys `R` Us $0,414 $0,002 1% $0,412 100% 63 157.500 2.500 $2.626 55 Staples $0,399 $0,016 4% $0,384 96% 59 112.100 1.900 $3.561 56 Decathlon $0,387 $0,387 100% 21 115.500 5.500 $3.348 57 Game Stop $0,339 $0,339 100% 208 29.120 140 $11.653 58 Celesio $0,302 $0,011 4% $0,291 96% 175 10.500 60 $28.791 59 Subway $0,284 $0,284 100% 591 n.d. n.d. n.d. 60 Primark $0,217 $0,217 100% 7 35.000 5.000 $6.188 61 Abercrombie & Fitch $0,215 27 28.000 1.037 $7.684 62 Yum! Brands $0,171 $0,171 100% 163 n.d. n.d. n.d. 63 Office Depot $0,165 $0,006 4% $0,159 n.d. n.d. n.d. n.d. 64 Yves Rocher #0,131 $0,131 100% 98 4.900 50 $26.730 65 Lagardère Services $0,130 $0,023 17% $0,108 83% 81 20.925 258 $6.226 66 Starbucks $0,095 $0,095 100% 161 n.d. n.d. n.d. 67 Galeries Lafayette $0,085 $0,016 19% $0,069 81% 1 8.000 8.000 $10.664 68 Body Shop (The) $0,073 $0,073 100% 104 10.400 100 $7.060 69 Fast Retailing $0,070 $0,70 100% 44 7.050 160 $9.922 70 Coop Danmark (FDB) $0,068 $0,014 21% 2 3.000 1.500 $22.534 71 Blokker $0,065 $0,065 100% 86 36.180 421 $1.808 72 Lush $0,036 $0,036 100% 46 5.000 109 $7.244 73 L`Occitane $0,036 $0,036 100% 50 4.000 80 $8.909 74 HEMA $0,026 $0,017 67% 10 4.400 440 $5.896 75 Sally Beauty $0,026 $0,026 100% n.d. n.d. n.d. n.d. 76 Dixons Retail $0,020 $0,020 100% n.d. n.d. n.d. n.d. 77 Domino`s Pizza $0,017 $0,017 100% 23 n.d. n.d. n.d. 78 Ahold $0,011 $0,009 88% $0,001 12% 5 500 100 $21,243 $0,000 3% $0,053 $0,009 79% 33% 96% 79 Dunkin` Brands $0,010 $0,010 97% 46 n.d. n.d. n.d. 80 Rakuten $0,010 $0,010 100% n.d. n.d. n.d. n.d. 81 SPAR (Austria) $0,003 $0,003 100% 1 600 600 $4.426 CITRUSBR Fevereiro 2015 | 97 Série Consumo de Suco de Laranja empresas alemãs. Diferentemente de ou- ção do setor, com os cinco primeiros coloca- tros países, como o Brasil, onde entre os 10 dos sendo responsáveis por mais de 78% das principais participantes do mercado existem vendas e com os dez primeiros colocados to- diversas empresas de capital externo. Isto talizando impressionantes 89,8% de todo o mostra a força do varejo alemão e a ligação mercado de alimentos do país. Isso nos reme- do alemão com suas redes de origem. te de volta ao racional da operação varejista Analisando mais a fundo o ranking de ven- publicado no trabalho sobre a cadeia citrícola da de produtos alimentícios na Alemanha, é de 2010 e que, por permanecer mais atual do impossível não mencionar a alta concentra- que nunca, merece ser revisitado agora: PARTICIPAÇÃO DE MERCADO NA VENDA DE ALIMENTOS NO VAREJO NA ALEMANHA EM 2013 VAREJISTAS FATURAMENTO PART. Bi Dólares % VAREJISTAS FATURAMENTO Bi Dólares PART. % 26 Subway $0,284 0,14% 27 Yum! Brands $0,171 0,09% 28 Douglas $0,130 0,07% 29 IKEA $0,122 0,06% 30 Starbucks $0,095 0,05% 31 Muller $0,070 0,04% 32 Coop Danmark (FDB) $0,053 0,03% 33 Karstadt $0,039 0,02% 34 Lagardère Services $0,023 0,01% 35 Domino`s Pizza $0,017 0,01% 36 Galeries Lafayette $0,016 0,01% 37 Staples $0,016 0,01% 38 QVC $0,012 0,01% 39 Celesio $0,011 0,01% 40 Ahold $0,009 0,00% 41 HEMA $0,009 0,00% 42 Office Depot $0,006 0,00% 43 Toys `R` Us $0,002 0,00% 44 Dunkin` Brands $0,0003 0,00% MERCADO TOTAL $199,9 100,00% MERCADO TOTAL $199,871 100% 1 Edeka $54,037 27,04% 2 Schwarz Group $31,716 15,87% 3 Rewe Group $31,265 15,64% 4 Aldi $28,360 14,19% 5 Metro Group $10,860 5,43% 6 Lekkerland $10,301 5,15% 7 McDonald`s $5,211 2,61% 8 Norma $3,206 1,60% 9 Bartels-Langness $2,243 1,12% 10 Globus $2,213 1,11% 11 Tengelmann $2,151 1,08% 12 Bunting $1,982 0,99% 13 BP $1,979 0,99% 14 Shell $1,735 0,87% 15 AS Watson $1,522 0,76% 16 Coop (CH) $1,288 0,64% 17 Coop (DE) $1,265 0,63% 18 Dansk Supermarked $1,248 0,62% 19 Migros $1,180 0,59% 20 dm $1,176 0,59% Do 1º ao 5º colocado $156,2 78,17% 21 Dohle $1,102 0,55% Do 6º ao 10º colocado $23,2 11,59% $179,4 89,76% 22 Burger King $0,907 0,45% Sub-Total 10 Maiores 23 ExxonMobil $0,758 0,38% Do 11º ao 20º $15,5 7,77% 24 Total $0,719 0,36% Do 21º ao 30º $4,6 1,01% 25 Amazon $0,362 0,18% Total 30 Maiores $199,6 98,54% 98 | CITRUSBR Fevereiro 2015 RACIONAL DA OPERAÇÃO DO VAREJISTA "LOOP"DA PRODUTIVIDADE R GE A 1 - Incremento na eficiência operacional e no processo de compra GE RA 2 - Redução de custos e despesas 5 - Maior volume de vendas A G ER A G ER 1 4 - Aumento no fluxo de consumidores na loja GERA 3 - Menores preços no varejo A BUSCA POR EFICIÊNCIA E REDUÇÃO DE CUSTOS Visando maior faturamento por metro quadrado e maior eficiência operacional, os varejistas controlam a disponibilidade de espaço para cada tipo de produto nas gôndolas, dando preferência a produtos com maior giro de estoque e com maior margem de lucro. Além disso, as redes varejistas têm a redução da quantidade de itens disponíveis na gôndola como um de seus principais objetivos. A estratégia reduz os volumes de estoque, reduz a complexidade do processo de compras e propicia inúmeras vantagens logísticas, já que o varejista ganha em agilidade e diminui o custo da operação como um todo. A consequência é que as indústrias têm menos espaço de prateleira para expor suas marcas encarecendo ainda mais os chamados slotting fees, que são as taxas fixas pagas pelos fabricantes para garantir exposição de seus produtos nas gôndolas dos supermercados. Outra estratégia para redução de custos e despesas no varejo é a adoção de marcas próprias, as chamadas private labels ou marcas brancas. Este tipo de produto está sistematica- mente ganhando mercado frente às marcas tradicionais, pois, nos países desenvolvidos, oferece o mesmo padrão de qualidade por menor preço. Como consequência observam-se fabricantes de marcas tradicionais exercendo uma enorme pressão por menores preços em todos os elos da cadeia, a fim de garantir competitividade de mercado para seus produtos. Os grandes varejistas possuem altos níveis de participação das vendas de alimentos, o que resulta em um enorme poder de negociação com fornecedores. Com o mesmo objetivo, os varejistas de pequeno e médio porte têm se organizado em pool ou organizações de compra e assim conseguem um poder de barganha equivalente ao das grandes redes como Edeka (Alemanha), Tesco (Reino Unido), Carrefour (França), Lidl (Alemanha), Rewe (Alemanha), Leclerc (França), Intermarché (França), Aldi (Alemanha), Sainsbury (Reino Unido), System U (França), Asda (Reino Unido), Casino (França), Morrisons (Reino Unido), Auchan (França) e Metro (Alemanha) — as 15 maiores redes de varejo de alimentos da Europa. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 99 Série Consumo de Suco de Laranja Analisando o ciclo da figura, o leitor per- A expansão se dá em um vitorioso mode- cebe que, para o varejista alemão, é funda- lo de negócio baseado em lojas pequenas e mental comprar bem, negociar bem, e isto modestas e muito agressivas em matéria de acaba impactando negativamente em mar- preços, às vezes vendendo alimento a preços gens toda a cadeia produtiva 20% a 30% mais baratos que seus principais concorrentes. AS LOJAS DE GRANDES DESCONTOS (HARD DISCOUNT) O segredo por trás de tamanha agressividade em preços é relativamente fácil de ex- É Impossível descrever o ambiente do plicar: uma operação muito barata, com pou- varejo alemão sem abrir um capítulo à parte cos funcionários e poucos itens à venda nas para um segmento que é praticamente um gôndolas. Boa parte das gôndolas é a própria fenômeno cultural no país, os hard discoun- caixa paletizada, vinda diretamente das in- ters. A venda de alimentos por meio desse dústrias processadoras de alimentos. As lojas tipo de varejista vem de longa data. Redes também dispõem de poucas gôndolas refrige- como Aldi e Lidl, as principais nesse seg- radas (apenas 5% da distribuição de sucos de mento, foram fundadas na primeira década frutas na Alemanha é feita em cadeia refrige- do século XX e se expandiram nacional e in- rada) e quase nada em mão de obra de reposi- ternacionalmente a partir da década de 60. tores de estoques nas gôndolas. Conceito minimalista das redes de varejo Aldi e Lidl, com lojas pequenas, mercadorias expostas em pallets, tudo visando a redução de custos operacionais 100 | CITRUSBR Fevereiro 2015 FOTOS: DIVULGAÇÃO Junta-se a isso um eficiente sistema de distribuição que reduz a necessidade de manutenção de estoques e um enorme poder de barganha junto a produtores de alimentos e chega-se à fórmula do sucesso desse modelo de negócio. Veja bem, estamos falando de poder de barganha junto aos produtores de alimentos. Acontece que, para completar a eficiência do modelo, boa parte dos produtos vendidos é de das marcas próprias do varejo, as chamadas private labels. Nesse momento, vale fazermos uma pausa para analisarmos o fenômeno das marcas próprias do varejo. O FENÔMENO DAS MARCAS PRÓPRIAS (PRIVATE LABELS) NA ALEMANHA QUE SE ESPALHOU POR TODA A EUROPA OCIDENTAL As marcas próprias, assim conhecidas na literatura, são as marcas cujos proprietários são as próprias redes varejistas. O supermercado pode ter a opção de usar seu próprio nome nos produtos ou ter uma marca diferente, da qual é dono, para utilizar nos produtos. Temos então produtos com a marca Carrefour ou produtos com a marca Taeq (neste caso, não usando o nome da rede de supermercados). CITRUSBR Fevereiro 2015 | 101 Série Consumo de Suco de Laranja Na edição anterior de nossa revista vi- também por terem presenciado nos últimos mos que as grandes marcas (Minute Maid e anos uma drástica queda no consumo de Simply Orange, da Coca-Cola, e Tropicana e suco de frutas em geral, viram-se repentina- Dole, da Pepsi, entre outras) exercem gran- mente em uma situação de ociosidade fabril de influência de precificação nas gôndolas próxima a 50%, em média. Um cenário que no mercado norte-americano, igualando e acirrou ainda mais a competição predatória muitas vezes sobrepondo o poder de bar- entre os grandes envasadores em busca de ganha dos varejistas. Porém, não podemos contratos de envase de bebidas, além de su- afirmar o mesmo com relação à Alemanha cos cada vez com menores preços às redes e outros países europeus, em que redes va- varejistas e suas marcas próprias. rejistas dominam o mercado e impõem con- Para melhor ilustrar a tamanha força dições comerciais difíceis às várias cadeias opressora do varejo alemão e consequente produtivas ao redor do mundo, em função grau de dificuldade da indústria envasado- da estratégia de marcas próprias iniciada na ra, consta nos relatos históricos do setor que década de 1970. nem mesmo as detentoras das maiores e E, para piorar ainda mais as coisas para mais conhecidas marcas de suco do planeta, as envasadoras de sucos na Alemanha, por Coca-Cola e e Pepsi-Cola, conseguiram se conta de enormes investimentos feitos du- manter com margens de lucro interessantes rante o início da década passada em linhas neste mercado vendendo suco de laranja. de envase de PET asséptico, de terem mi- Após muitas tentativas, saíram dos mercados grado uma parcela substancial de sua pro- e tentam voltar com suas marcas de sucos ou dução anteriormente feita em caixinhas de outras inovações, a exemplo do recém-lança- papel cartonado tipo Tetra Pak para garra- do NFC de laranja e maçã em PET asséptico fas PET, investimentos estes demandados pela Innocent (de propriedade da Coca-Cola). pela mudança de hábito dos consumidores e No livro a Estratégia das Marcas Próprias FORÇA DAS MARCAS PRÓPRIAS NO VAREJO ALEMÃO PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE REFRIGERANTES BASE COLA NO MUNDO 50% PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE REFRIGERANTES BASE COLA NA ALEMANHA 50% 47% 40% 40% 30% 30% 20% 20% 10% 38% 36% 10% 5% 0% 0% Participação de mercado da Coca-Cola 102 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Participação de marcas próprias do varejo Participação de mercado da Coca-Cola Participação de marcas próprias do varejo (Private Lable Strategy), publicado pela Har- cios. A estratégia é simples: retirar espaço vard Business School, o professor Nirmalya de gôndola de marcas menores, preencher Kumar explica que ao longo de quase todo as prateleiras com as marcas próprias e século XX as redes varejistas eram relati- subcontratar a produção de seus produtos vamente pequenas quando comparadas junto aos antigos fabricantes das marcas aos seus principais fornecedores. Isso pos- que perderam espaço de comercialização e, sibilitou que as empresas detentoras das portanto, ficaram com suas fábricas para- grandes marcas ditassem praticamente das. Em outras palavras, não compro mais todas as regras de mercado, passando por sua marca e, em vez disso, contrato sua qualidade, inovação, marketing, condições fábrica para a produção da minha própria comerciais, etc. As marcas eram tão fortes marca por um valor unitário menor ao pre- que forçavam os varejistas a aceitar seus viamente praticado. produtos, preços e promoções preestabe- Em 2014 chega-se ao cúmulo da rede de lecidas. Aos varejistas era dada a clássica varejo Lidl excluir produtos da Coca-Cola de alternativa, “take it or leave it”. suas gôndolas em resposta a uma disputa O autor ainda diz que a relação de forças de preços em que o varejista queria reduzir entre marcas e varejo começou a mudar na o preço destes refrigerantes para o consu- década de 1970, principalmente na Euro- midor final, mas não conseguia negociar tais pa. Redes como Ahold (Holanda), Carrefour descontos frente à Coca-Cola. Na Alemanha, (França) e Metro (Alemanha) iniciaram um nem os refrigerantes à base de cola, que no processo de consolidação e internacionali- resto mundo são praticamente imunes ao zação e logo foram seguidos por seus com- poder das marcas próprias, escapam, como petidores, aumentando a concentração no pôde ser visto no quadro da página anterior. mercado varejista. Em linha novamente com o que vimos Com seu crescimento, estas grandes do comportamento do consumidor alemão empresas têm maior poder de negociação na sessão 1, vejam que interessante a con- e passam a confrontar algumas regras de cordância dos alemães á frase que preferem mercado, identificando nas marcas próprias marcas conhecidas às alternativas baratas uma estratégia para fugir da pressão altista (“I prefer branded goods to cheaper alterna- de preços exercida por diversas marcas ou tives”). Ou seja, o alemão tem simpatia por cadeias produtivas e, o mais importante, de marcas mais baratas e por varejistas de otimizar as margens de lucro de seus negó- grandes descontos. QUEM PREFERE MARCA, QUEM PREFERE PREÇO BAIXO "Eu prefiro produtos de marca a alternativas mais baratas". O que pensa o alemão: Concordo Concordo totalmente 0% 10% 20% indiferente 30% 40% 50% Discordo 60% 70% Discordo totalmente 80% 90% 100% Fonte: Euromonitor/AIJN CITRUSBR Fevereiro 2015 | 103 Série Consumo de Suco de Laranja Trazendo a conversa para a cadeia da O crescimento das vendas de marcas laranja, no mercado de sucos de frutas não próprias do varejo no mercado alemão cau- é diferente. Os gráficos a seguir mostram a sou e ainda causa grande impacto para a in- participação das marcas próprias do varejo dústria de sucos de frutas no país. O principal nas vendas de sucos de frutas, com desta- efeito é o desaparecimento/enfraquecimen- que para o amplo domínio que as redes va- to de diversas empresas pequenas e médias, rejistas impõem sobre os mercados de suco que praticamente perderam suas marcas e de laranja e de maçã. Observem que no caso que foram vendidas, fechadas ou se torna- da laranja 64% do volume vendido de suco ram ineficientes a ponto de não conseguirem 100% é com a marca própria dos supermer- competir em condições de igualdade com os cados, as private labels. grandes do mercado. PARTICIPAÇÃO DAS MARCAS DO VAREJO E DA DISTRIBUIÇÃO EM CADEIA REFRIGERADA NAS VENDAS DE SUCO 100% EM 2013 TODOS OS SABORES 5% 48% Gôndola refrigerada Marcas do varejo 95% 52% Gôndola não refrigerada Grandes marcas PARTICIPAÇÃO DAS MARCAS DO VAREJO NAS VENDAS DE SUCO 100% EM 2013 SUCO DE LARANJA 100% SUCO DE MAÇÃ 100% 36% Grandes marcas 64% Marcas do varejo 104 | CITRUSBR Fevereiro 2015 75% Marcas do varejo 25% Grandes marcas AS MARCAS DO VAREJO NO MERCADO DE BEBIDAS Redes de supermercado criam suas próprias grifes para conquistar o consumidor A lógica é simples: a concentração das ven- diluir seus custos fixos nas cada vez mais aper- das de suco de frutas em poucos varejistas, tadas margens impostas pelo varejo ou aque- com dois terços de todo o volume vendido por les que têm pequena linha de produtos e tipos apenas quatro redes (Aldi, Lidl, Edeka e Rewe), de bebidas e sucos não sobrevivem. O jogo foi, deu ao varejo enorme poder para buscar for- é e permanecerá cruel e as marcas próprias necedores com uma sólida estrutura de cadeia vieram para aumentar a dificuldade com as de suprimentos (supply chain), que garanta se- empresas menores. gurança alimentar e preços muitos baixos. Isto gerou necessidade de escala e nesse conceito, A CONSOLIDAÇÃO NAS EMPRESAS DE capacidade para envasar grandes volumes em SUCOS diferentes tipos de embalagens e capacidade Na sessão anterior analisamos casos de para entregar uma gama diferenciada de itens cinco sobreviventes da indústria de sucos ale- que deve incluir sucos, águas, refrigerantes, mã que com muito trabalho e competência energéticos e outras categorias são atributos conseguiram por décadas navegar e bata- fundamentais para o envasador que pretende lhar nestas águas agitadas e mesmo assim se manter no mercado, pois fábricas pequenas fizeram prosperar seus negócios. Mas gran- que não têm volume grande o suficiente para de parte das histórias não teve um final feliz. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 105 Série Consumo de Suco de Laranja A consolidação da indústria de sucos e bebi- ricamente, a indústria de sucos alemã foi das em geral, entretanto, não foi apenas con- desenvolvida utilizando garrafas retorná- sequência do crescimento na participação de veis de vidro, como as antigas garrafas de mercado das marcas próprias, já que outros refrigerantes no Brasil, e posteriormente em fatores contribuíram para o processo. Em en- embalagens longa vida. Fontes da indústria trevistas com agentes que atuam no mercado apontam que, ainda no final dos anos 1990, há tempos, indentificamos outros movimen- cerca de 80% do volume de suco era ven- tos que vão desde uma guerra de preços entre dido nessas embalagens em caixinha de duas gigantes nos anos 1980 até uma mudan- papel cartonadas tipo Tetra Pak. A tecnolo- ça na política pública de reutilização de em- gia de envase estava disponível para todos balagens não retornáveis no início dos anos os fabricantes do mercado, independente- 2000. Vale explicar estas duas. mente de escala ou situação econômica e os No final dos anos 1980, a Procter & Gam- próprios fornecedores do papel cartonado ble (então proprietária das marcas Punica da caixinha de suco instalavam suas linhas e Valensina) e Eckes (ainda antes da fusão e equipamentos de envase com tanques de com a Granini) travaram uma acirrada guerra processo, pasteurizadores e acessórios a de preços com o objetivo de aumentar a par- custo zero de investimento ao envasador. ticipação de mercado de seus sucos e fazer Dessa forma reduziam substancialmente o frente à concorrência das private labels que investimento inicial para colocar em marcha começavam a ganhar terreno. A consequên- uma nova planta envasadora. cia foi a queda de preços que desestruturou Por outro lado, esta política de comodato as finanças de empresas que não tinham de equipamentos a novos entrantes no mer- um fluxo de caixa sólido. Guerra de preços é cado garantia ao fornecedor do papel exclu- sempre uma estratégia mortal para empre- sividade no fornecimento do material de em- sas com elevado endividamento e dificul- balagem, pois suas máquinas em comodato dades de fluxo de caixa. Acelera a saída do eram programadas eletronicamente para setor e a consolidação. trabalhar apenas com aquele papel cartona- Outro fator que contribuiu para o desa- 106 | CITRUSBR Fevereiro 2015 do fornecido por ele mesmo. parecimento ou enfraquecimento de várias Portanto, não só a barreira de capital para empresas foi uma mudança no tipo de em- novos entrantes era mais baixa, comparado balagem solicitada pelos varejistas. Histo- aos investimentos volumosos necessários a cada linha de PET asséptico, como também centavos por embalagem, mudou seus hábi- o varejo era mais pulverizado e absorvia toda tos de consumo, principalmente para garra- a produção. Ao longo dos anos houve gran- fas PET, acelerando a troca. de alteração e em 2014 embalagens tipo PET A princípio, os próprios varejistas foram tinham 51,4% de participação no volume de contrários à medida porque as lojas passa- sucos 100% e néctares vendidos na Alema- riam a ser as responsáveis por dispor das nha, segundo a AIJN, sendo que a participa- embalagens usadas. Porém, o retorno de ção de embalagens de vidro e longa vida caiu embalagens, que poderia ser um problema, para 47,8%. virou mais um negócio para os supermerca- Para entender como esta alteração fa- dos, que passaram a vender as embalagens voreceu a concentração, é importante saber não retornáveis para outras indústrias. Vi- que no passado a indústria de bebidas já pa- rou um bom negócio de reciclagem: o varejo gava um depósito compulsório sobre o reú- está pagando 25 centavos de euro para cada so das embalagens retornáveis, o mehrweg embalagem e consegue revender todo o ma- pfand, que era obviamente adicionado ao terial com lucro, enviando grande parte das valor do produto final, mas que não podia ser garrafas e latas para a China, que as aplica reembolsado pelo consumidor. No início dos em diversas indústrias após a reciclagem. anos 2000, uma medida do governo também Vale dizer que o einweg-pfand nunca foi passou a exigir o pagamento de um depósito cobrado de sucos, néctares, leites e outras para cada embalagem não retornável vendi- categorias consideradas saudáveis, apesar da pelo varejo e o valor foi inserido no preço de tal medida estar em discussão nos bas- da mercadoria ao consumidor final, que por tidores da política alemã nesse momen- sua vez recuperaria seu depósito se devol- to. Mas então como o depósito influenciou vesse a embalagem ao varejo para recicla- também a indústria de sucos? Além do lucro gem, o chamado einweg-pfand. O sistema obtido com a venda das garrafas PET devol- funciona com cupons – 25 centavos de euro vidas pelos consumidores, o varejo também para cada embalagem devolvida — cujos va- identificou ganhos logísticos que permitiram lores são abatidos do valor final da compra a redução de custos operacionais com a no caixa do supermercado. O consumidor, substituição das garrafas de vidro e das em- vendo a possibilidade de recuperar seus 25 balagens longa vida. Máquinas que recebem embalagens não retornáveis para reciclagem. Consumidor recebe cupom de desconto a cada unidade entregue ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER - FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 107 Série Consumo de Suco de Laranja Toda a simplicidade que citamos nas lojas todo tipo de bebida, tornando mais simples de Aldi e Lidl, por exemplo, com os pallets de alterar o mix de produtos nas fábricas que produtos servindo como prateleiras ganhou fizeram a conversão de vidro e papel longa mais força com a introdução do PET e desta vida para PET. Se você é dono de uma fábri- política de retorno. Além disso, o leitor se lem- ca e investiu em uma linha de produção mais bra que a consolidação do varejo e o cresci- eficiente que comporta todo seu portfólio, mento das marcas próprias fizeram com que por que não utilizar essa linha também para os envasadores deixassem de ser especialis- os produtos não atingidos pelo pfand? tas para se tornar fábricas de todos os tipos Foi exatamente o que ocorreu com a intro- de bebidas para ganhar eficiência, volume e dução do PET também para sucos e néctares flexibilidade nas linhas de produção. nas fábricas que tinham as linhas de envase Pois bem, a partir daí, utilizando o poder que melhor atendiam às demandas do va- de mercado que possuem, os supermerca- rejo. Essas fábricas passaram então a con- dos passaram a demandar cada vez mais be- seguir contratos com volumes maiores em bidas em garrafas PET para produtos como detrimento de outras que passaram a perder refrigerantes, refrescos, águas, energéticos, negócios e a se dedicar a nichos de mercado entre outros, obrigando os envasadores que e outras categorias de bebidas específicas tinham caixa e/ou linhas de crédito dispo- para sobreviver, fazendo com que a indústria níveis a investir em novas linhas de envase de suco de laranja brasileira perdesse vários para lhes atender. Ocorre que as novas linhas clientes que costumavam comprar algo entre de envase eram mais eficientes e aceitavam 500 e 3.000 toneladas de FCOJ Equivalente ESTRATIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS ENVASADORES DE SUCOS DE FRUTAS NA ALEMANHA EM 2013 EMPRESAS MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO ALEMÃ DOS ENVASADORES DE SUCOS DE FRUTAS - VDF TRANCHAS DE FATURAMENTO ANUAL DAS EMPRESAS SELECIONADAS acima de € 102,26 milhões FATURAMENTO TOTAL POR TRANCHA (Milhões de Euros) PARTICIPAÇÃO DE CADA TRANCHA NO FATURAMENTO TOTAL DAS EMPRESAS SELECIONADAS FATURAMENTO MÉDIO POR EMPRESA E POR TRANCHA (Milhões de Euros) QUANTIDADE DE EMPRESAS EM CADA TRANCHA DE FATURAMENTO PARTICIPAÇÃO DE CADA TRANCHA NO TOTAL DE EMPRESAS SELECIONADAS € 2,573.2 75.3% € 321.7 8 4.6% de € 51,12 a € 102,26 milhões € 113.0 3.3% € 56.5 2 1.1% de € 25,56 a € 51,13 milhões € 372.0 10.9% € 33.8 11 6.3% de € 10,23 a € 25,56 milhões € 193.8 5.7% € 16.2 12 6.9% de € 5,11 a € 10,23 milhões € 66.1 1.9% € 6.6 10 5.7% de € 2,56 a € 5,11 milhões € 21.4 0.6% € 3.6 6 3.4% de € 1,02 a € 2,56 milhões € 54.5 1.6% € 1.8 31 17.8% de € 510 mil a € 1,02 milhões € 13.6 0.4% € 0.7 19 10.9% de € 260 a € 510 mil € 5.4 0.2% € 0.4 15 8.6% até € 260 mil € 5.8 0.2% € 0.1 60 34.5% € 3,418.8 100,0% €441,2 174 100,0% FATURAMENTO TOTAL 108 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Quantidade de envasadores de suco membros ou afiliados à VDF ENVASADORES DE SUCOS DE FRUTAS NA ALEMANHA 460 445 91 440 420 ENVASADORES SUMIRAM DO MAPA 409 400 391 389 378 380 379 370 360 357 354 2012 2013 340 320 300 2000 2005 2007 2008 2009 2010 2011 a 66° Brix por ano do Brasil. Ou seja, mais um Frutas da Alemanha, mostram que, dentre fato acelerador da concentração. as empresas que fazem parte da associação A título de curiosidade, um relatório do como membros, apenas 4,6% dos envasa- Rabobank de maio de 2006 mostrava que o dores, ou apenas oito deles, foram respon- investimento necessário para a implementa- sáveis por 75,3% do faturamento registrado. ção de uma linha de PET asséptico, a mais A VDF mostra também que enquanto indicada para sucos de frutas, girava em tor- em 2000 existiam 445 empresas que enva- no de 10 a 12 milhões de euros fora o mon- savam sucos de fruta (174 delas com fatu- tante necessário para a construção de toda ramento anual superior a 200 mil euros por a infraestrutura fabril, salas de processo e ano), já em 2013 este número caiu para 354, armazéns de produtos acabados. O mes- causando em 13 anos a saída de 91 envasa- mo relatório também afirmava que muitos dores do mapa de clientes de suco de laranja envasadores não teriam caixa para fazer a das indústrias brasileiras, registrando uma transição e que isso estimularia uma onda média anual de sete empresas saindo. de fusões ou de encerramento de empresas. A fim de ilustrar esse fenômeno, fomos Acertaram, pois os investimentos nas linhas buscar informações junto a fontes da in- de PET sem a descontinuidade das linhas dústria e conseguimos montar uma linha do previamente existentes, vidro e longa vida, tempo mostrando os principais eventos en- tornou ainda mais difíceis as negociações volvendo aquisições, fusões e encerramento entre a indústria de bebidas e os supermer- de empresas nos últimos 30 anos. cados, que agora também contavam com Ou seja, a indústria de sucos na Ale- capacidade de envase ociosa a seu favor na manha é um campo fértil para estudos de hora de discutir contratos. consolidação e concentração, por causa da Dados de 2013 publicados pela VDF, a Associação dos Envasadores de Sucos de mudança nas variáveis de competição e no ambiente externo às empresas. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 109 Série Consumo de Suco de Laranja NÃO ESTÃO MAIS ENTRE NÓS Na linha do tempo abaixo, é possível visualizar o encolhimento do mercado alemão com o fechamento de diversas empresas 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 Naturella Sudsaft AG vende uma fábrica em Ohringen para a Riha Wesergold 1992 1993 1994 1995 1996 Elbestern vendida para a Bari Marca Valensina vendida por. Dittmeyer à Procter & Gamble Merziger vendida à cervejaria Karlsberg 1991 1998 Fusão entre NiefoffVaihinger e Vaihinger Fruchtsaefte Nordgetraenke vendida para Emig Lindavia vendida ao grupo Hero, que já era proprietário da Klindworth 1997 Fusão entre Eckes e Granini. A Melitta manteve 26% das ações da Granini Neu’s vendida para a Beckers Bester Fruchtquell, com fábrica em Dodow, vendida à Riha Wesergold Rapp’s Keiterei vendida para o grupo Hassia Veldenz Saftkellerei vendida para a Niefoff-Vaihinger Lindavia e Klindworth Fruchtsaefte vendidas pelo grupo Hero para a Merziger, que por sua vez pertencia à cervejaria Karlsberg Para facilitar a análise do leitor, vamos aos fatores que levaram à concentração da indústria de sucos alemã: » Concentração do varejo e poder de negociação dos supermercados; » Força do modelo de hard discount (lojas de grandes descontos) no varejo alemão; » Austeridade e vontade de economizar sempre no comportamento do consumidor alemão; » Grande crescimento das marcas próprias (marcas dos supermercados); » Política pública que estimulou a reciclagem de embalagens; » Mudança das embalagens tradicionais de vidro para embalagens cartonadas e PET; » Pressão para baixar os preços, aliado a aumento de custos (concentrados e outros), levando à queda de margens. A concentração da indústria de sucos alemã, motivada pelos fatores acima, traz os seguintes impactos para a cadeia produtiva no Brasil. » Menor número de empresas compradoras na Alemanha; » Compram em volumes maiores; » Empresas apresentam pouca margem, portanto comprar bem é fundamental para a sobrevivência no negócio; » Por serem em menor número e maiores, apresentam maior poder de negociação junto à indústria brasileira, pois perder um destes grandes compradores traz importante impacto na sua necessidade de vendas; 110 | CITRUSBR Fevereiro 2015 1999 2000 2001 Krings vendida para o grupo holandês Refresco Fábrica da Lindavia vendida para a Videmann, que alterou o nome da empresa para Lindauer 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Hardthof vendida para o grupo holandês Refresco Fábrica da Dinter em Otterndorf vendida para a Döhler Emig vendida para Gerber formando o grupo Gerber-Emig Bonjuice vendida para a Döhler Marca Punica vendida para a PepsiCo Melitta vende os 26% restantes da sua participação na Granini para a Eckes Marcas Valensina e Hitchcock vendidas para Underberg, que também detinha as marcas Sportfit, Dr. Siemer e a Keiterei Wolfra Marca Punica vendida para a SunnyD e retirada da Procter & Gamble do negócio de sucos de frutas Fusão entre o grupo Hero e Niehoff-Vaihinger criou o grupo Tucano Fusão entre Uberkingen Teinach e grupo Tucano Jahncke vendida para a Döhler Elmenhorster e Rottaler vendidas para Roetha Keiterei e criação do grupo Elro Kumpf vendida para o grupo Hassia 2010 truturalmente no mercado alemão, desde nossa análise do consumidor e da econo- 2012 2013 2014 Falência da Scholer Encerramento das atividades da Döhle Encerramento das atividades da Bauer Weinstadt Falência da Glockengold SDI vendida para o grupo holandês Refresco Ackermann’s Haus vendida para o grupo Fruit Erroir, da França Neste momento o leitor já possui um bom conhecimento do que se passa es- 2011 FSP, Frische e FruitiKing vendida para a Sportifit-Valensina, de propriedade da familia Mocken Fábrica da Refresco-Gerber em Waibstadt vendida para a Riha Wesergold como condição da União Europeia para a aprovação da fusão das empresas Fusão entre o grupo holandês Refresco e o grupo anglo-alemão Gerber-Emig, criando a maior envasadora de sucos de fruta da Europa, posteriormente denominada Refresco Gerber Group Marca Neu’s vendida para o grupo Hassia e encerramento das atividades da fábrica onde os produtos com a marca eram produzidos mia (sessão 1), do varejo e da indústria de sucos (sessões 2 e 3). No próximo capítulo abordamos a já quase previsível queda no consumo de sucos na Alemanha e as mensagens ao Brasil. Falência do grupo Elro e venda de seus ativos adquiridos pela rede de supermercados Edeka, que passou a chamar a empresa de Soonlander e verticalizou seu negócio de produção de sucos de frutas CITRUSBR Fevereiro 2015 | 111 Série Consumo de Suco de Laranja A QUEDA DO CONSUMO ALEMÃO DE SUCOS E MENSAGENS AO BRASIL 112 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Neste momento, após tudo o que vimos, Na contramão da queda geral de con- é natural ao leitor entender a queda no con- sumo do FCOJ, há um efeito substituição sumo de sucos, para nossa tristeza, interes- em curso, pois continuamos a observar leve sados históricos que somos no desenvolvi- aumento no consumo de sucos não recons- mento e crescimento do negócio no Brasil tituídos, NFC, naqueles países do bloco com com geração e distribuição de renda. De maior poder aquisitivo. acordo com o último relatório sobre o mer- Apesar da austeridade alemã que vimos cado europeu publicado pela Associação na primeira sessão, o mercado não é homo- Europeia de Sucos de Frutas, AIJN, o ano de gêneo, pois, assim como no Brasil, os índi- 2013 registrou queda de consumo de 4,2%, ces demográficos, macroeconômicos e de sendo o quinto ano consecutivo com taxa de renda per capita diferem muito de Estado declínio. Porém, temos um alento. para Estado e naqueles bolsões de maior riqueza existem segmentos de consumido- multifrutas lançado pela Eckes, tema de um res dispostos a pagar pela naturalidade e dos nossos casos na sessão 2, ainda na dé- funcionalidade de um suco premium. Outro cada de 70. movimento que também se observa nes- Além de atender à demanda crescente, tes segmentos é o aumento na procura por os sucos multifrutas também dão espaço atributos, o que fez com que muitos enva- ao envasador para gerenciar os custos de sadores ampliassem a oferta de sucos fun- matéria-prima, ou seja, o objetivo aqui é cionais, os smoothies, por nós conhecidos sempre priorizar a utilização das frutas cuja como vitaminas, ou mesmo sucos sabor matéria-prima esteja mais barata nas fór- multifrutas. mulas dos produtos oferecidos ao consumi- São muitas as estratégias de inovações dor final e investir parte do ganho de mar- e lançamentos de sabores com várias frutas gem em ações de marketing para convencer juntas e, em alguns casos, misturando suco o consumidor de que várias frutas combina- de frutas com suco de vegetais que têm me- das são mais saudáveis que o velho e bom nos calorias. É importante ressaltar ao leitor suco de laranja, para tristeza nossa aqui no que, apesar de crescente, esta estratégia Brasil. Vimos como isto é importante ao en- não é nova, como pôde ser visto neste suco vasador na sessão 3. ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER Suco multifruitas. Inovação introduzida pela Eckes na década de 1970 CITRUSBR Fevereiro 2015 | 113 Série Consumo de Suco de Laranja Garçom com canecas de cerveja na tradicional Oktoberfest, em Munique E se você acha que a Alemanha é o país pessoas dos bares e pubs e acentuou o con- da cerveja, acertou parcialmente. O país ain- sumo on-the-go; e a concorrência dos vinhos. da é o maior “tomador” de cerveja da Europa, Tudo em linha com o que vimos na sessão 1. porém o consumo da bebida também vem Realmente, analisando o painel de mer- caindo constantemente, registrando queda cado Markestrat e avaliando as últimas no- de 12,6% no volume total e de 11,9% no volu- tícias sobre o mercado alemão, vemos que, me per capita na última década. O motivo? O no mercado de bebidas alcoólicas alemão, mesmo que afasta consumidores do suco de quem cresce é a bebida à base de uva. Já no laranja 100%: as calorias. mercado de bebidas não alcoólicas, há outros O porta-voz da Associação das Indústria 114 | CITRUSBR Fevereiro 2015 vencedores como veremos na sequência. de Cerveja da Alemanha, Marc-Oliver Huh- Vimos que a Alemanha é o maior merca- nholz, afirmou em entrevista recente que o do em volume de sucos na Europa, porém, lá volume de cerveja consumido no país é o me- o consumo de bebidas à base de fruta (su- nor desde os anos 1990 porque, dentre ou- cos 100%, néctares e refrescos), e dos sa- tras coisas, as pessoas estão com preocupa- bores laranja e maçã em particular, também ções crescentes com a obesidade. Além das caiu acentuadamente na última década. En- calorias, ele ainda mencionou outros fatores quanto em 2004 este mercado utilizava 228 que contribuem para a queda no consumo mil toneladas de FCOJ Equivalente com per da bebida: envelhecimento da população, já capita de 15,6 litros, em 2013 registrou um que o consumo de cerveja está associado a consumo de apenas 167 mil toneladas e um indivíduos de menor faixa etária; o aumento consumo per capita de 11,5 litros, represen- da vida dentro do escritório, que afastou as tando uma queda de 34% no volume total consumido de suco de laranja e de 26% no brix similar ao da fruta fresca. Os produtos consumo per capita. que estão nos mercados apresentam o grau A metodologia de acompanhamento de brix mínimo legalmente exigido para serem consumo é a mesma usada para o levanta- considerados bebidas à base de fruta, que mento de dados dos 40 principais mercados para o suco de laranja pronto para beber va- consumidores de suco de laranja no mundo, ria entre 10° e 12°. apresentada na segunda edição da Revista CitrusBR. É feito pela Markestrat, contrata- Categoria Sucos: é composta por três da da CitrusBR que utiliza criteriosamente subcategorias, o suco 100%, os néctares e os uma vasta fonte de dados de associadas e refrescos. Sucos 100%, como o próprio nome da própria CitrusBR, que inclui AIJN, Banco explica, são as bebidas à base de fruta que Mundial, Beverage Digest, Codex Alimen- contêm apenas suco em sua formulação, tarium, Food Beverage, Food Navigator, IRI, sem adição de água, açúcar, conservantes, Just Drink, Nielsen, Planet Retail, Tetra Pak e etc. Os néctares são bebidas à base de fru- alguns envasadores de suco. ta que contêm de 25% a 99% de suco em Esse conjunto de dados está agregado no sua formulação; e os refrescos são bebidas que chamamos de Painel de Mercado Mar- à base de fruta que contêm até 24% de suco kestrat, dividido em seis seções, sendo elas: em sua formulação. Ou seja, néctares e re- 1- Dados Demográficos & Macroeco- frescos são bebidas mais diluídas que o suco nômicos; 2- Dados de Consumo Total de Bebidas 100% e trazem, além do suco, outros ingredientes em suas composições. Industrializadas; 3- Dados de Consumo per Capita de Bebidas Industrializadas; Multifrutas: Nos últimos anos, a inovação na categoria de sucos se deu pelo lança- 4- Consumo de Sucos 100%, Néctares e mento de sabores multifrutas: sucos 100%, Refrescos Por Sabor de Fruta & Cál- néctares e refrescos com sucos de várias culo do Conteúdo embutido de FCOJ frutas misturadas. Nesse caso, os sucos de Equivalente; laranja, maçã e uva – as principais frutas uti- 5- Resumo do FCOJ Equivalente Embu- lizadas como base para os multifrutas – são tido em Cada Categoria & Consumo considerados ingredientes e o conteúdo de Total; e cada uma dessas frutas varia nos produtos 6- Resultante do Cálculo Reverso de Con- de acordo com a disponibilidade e preço re- sumo per Capita de Suco de Laranja. lativo de cada um destes sucos de fruta em relação aos demais, forçando o envasador a Para compreender como chegamos à de- adicionar um conteúdo maior daquele sabor manda de FCOJ Equivalente a 66° Brix, é muito de fruta que no momento encontra-se com importante, e aqui repetimos algo das edições preço mais em conta. anteriores, entender alguns conceitos preliminares utilizados na execução do cálculo: Voltando ao cálculo da demanda de FCOJ Equivalente a 66° Brix é preciso então iden- Grau Brix: Brix é uma escala que mede a tificar três variáveis inerentes ao país a ser quantidade de sólidos solúveis em sucos de analisado: o brix mínimo estipulado pela le- frutas e outros produtos. Em outras palavras, gislação do país, o conteúdo médio de suco mede a quantidade de açúcares nas bebidas de fruta utilizado pela indústria nos néctares prontas para beber que, em regra, devem ter e refrescos e o conteúdo de suco de laranja FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 115 Série Consumo de Suco de Laranja de litros, ou 25% dos litros consumidos, de suco de frutas, dos quais 8 milhões de litros, ou 30% do conteúdo de suco na fórmula, eram de suco de laranja. A partir daí, converte-se o volume de litros para quilos e o volume do grau brix do produto pronto para beber (11,2°, no caso da Alemanha) para o grau brix 66°, que é o padrão do FCOJ, chegando-se enfim a 1 116 | CITRUSBR Fevereiro 2015 utilizado pela indústria como ingrediente nos mil toneladas apontada em nosso estudo. sabores multifrutas. Aplicando-se o mesmo princípio a todas Para entendermos bem esta conta, va- as subcategorias em que há suco de laran- mos focar no exemplo da Alemanha. Se to- ja na fórmula, obtém-se o volume total de marmos o ano de 2013 como base, temos os FCOJ Equivalente a 66° Brix utilizado no país seguintes dados: brix mínimo legal de 11,2° e anualmente. Pode parecer complicado, mas conteúdo médio de suco de 72% nos nécta- uma vez pronta a planilha e com acesso aos res e de 24% nos refrescos. Identificadas as dados, o processo torna-se mecânico. Este variáveis, calcula-se o volume de FCOJ Equi- é o nosso papel ao sempre traduzir o que valente a 66° Brix conforme o exemplo a se- acontece ao citricultor brasileiro. guir. Na Alemanha, para produzir 103 milhões Os números são preocupantes nas diver- de litros de refresco sabor multifrutas consu- sas formas que utilizamos para analisar a in- midos em 2013 foram utilizados 25 milhões formação: Nos últimos dez anos, o consumo de sucos 100% em geral caiu 27,7%, o de néctares 30,1% e o de refrescos 16,6%. No mesmo período, se analisarmos o consumo per capita, temos números parecidos, com queda de 27,1% no consumo de sucos 100%, 29,5% no consumo de néctares e de 15,9% no consumo de refrescos. Quando explodimos os dados de sucos, néctares e refrescos e analisamos sabor a sabor, fruta a fruta, vemos que no período de 2004 a 2013 só houve crescimento, muito modesto, do sabor multifruta vendido como suco 100% e também como refresco. Todo o restante da categoria registrou queda de consumo no período. Os sucos de maçã e de laranja são os preferidos do consumidor alemão e, em função de variáveis e dinâmicas de mercado, estão conectados. Paradoxalmente, também são os que mais sofreram com a perda de consumidores. De acordo com nosso estudo, o consumo de suco de maçã 100% de 2013 foi 486 milhões de litros menor que o consumo em 2004, queda de 43%. No caso do suco de laranja 100%, a mesma análise aponta que o consumo de 2013 foi 232 milhões de litros menor que o consumo de 2004, queda de 25% no período, e que corresponde a 41 mil toneladas de FCOJ Equivalente a 66° Brix que deixaram de ser comercializadas a envasadores na Alemanha. Soma-se a isso o volume de suco de laranja que deixou de ser utilizado em função da queda no consumo de néctares e refrescos e chegamos à conclusão de que o mercado de suco de laranja alemão encolheu 60,5 mil toneladas de FCOJ Equivalente a 66° Brix desde 2004. Em um cálculo rápido, levando em consideração o rendimento industrial médio em São Paulo entre as safras 2000/01 e 2012/13, somente com a queda de consumo na Alemanha a cadeia citrícola brasileira perdeu espaço para absorver aproximadamente 14,7 milhões de caixas de laranja de 40,8 kg. O alento vem do crescimento da demanda outros países da Europa, como França e Reino por NFC de laranja. Dados da consultoria IRI, Unido, onde o produto diferenciado é o car- que computou o volume de vendas de suco ro-chefe das vendas há algum tempo. de laranja 100% à base de NFC entre julho/13 O que vemos então é a constante perda e junho/14, apontam um crescimento da or- de participação de mercado dos sucos 100%, dem de 17,8%, comparado ao mesmo período néctares e refrescos, em função da substi- dos anos anteriores. O volume em litros ainda tuição por novos produtos que, por melhor é pequeno, algo em torno de 15% do mercado comunicarem seus atributos e funcionalida- de suco de laranja 100% na Alemanha (ante des, conseguem atrair mais atenção do con- os 59% nos Estados Unidos), mas o cresci- sumidor. Por outro lado, alguma reação no mento é promissor, especialmente se compa- segmento que quer e paga por qualidade e ramos com o consumo de NFC de laranja em frescor, como se observa no NFC. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 117 Série Consumo de Suco de Laranja PAINEL DE MERCADO MARKESTRAT 1- DADOS DEMOGRÁFICOS & MACROECONÔMICOS: 2004 ÍNDICES E ANOS Quantidade e Valor População Total Milhões 2005 Variação Anual Quantidade e Valor 2006 Variação Anual Quantidade e Valor 2007 Variação Anual Quantidade e Valor 2008 Variação Quantidade Variação Anual e Valor Anual 82,5 82,5 -0,04% 82,4 -0,08% 82,3 -0,15% 82,2 -0,12% Rendimento Líquido Anual - Bilhões US$ 1,9 US$ 1,9 1,8% US$ 1,9 3,0% US$ 2,1 10,6% US$ 2,4 9,7% Rendimento Líquido Anual - Per Capita US$ 22.428 US$ 22.844 1,9% US$ 23.545 3,1% US$ 26.081 10,8% US$ 28.640 9,8% € 0,805 € 0,805 € 0,797 € 0,731 € 0,683 1,6% 2,3% 2,6% Tx. de Câmbio Média US$ a Moeda Local Inflação Anual 1,7% 1,6% PIB Total - Bilhões de Dólares US$ 2.746 US$ 2.787 1,5% US$ 2.197 -21,2% US$ 3.323 51,3% US$ 3.653 9,9% PIB Total Per Capita Dólares p/Habit. US$ 33.273 US$ 33.778 1,5% US$ 26.650 -21,1% US$ 40.374 51,5% US$ 44.425 10,0% Taxa de Desemprego 9,2% 9,2% 8,1% 8,3% 7,3% 2- CONSUMO TOTAL DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS: 2004 ÍNDICES E ANOS Litros Milhões 2005 Particip. Mercado Litros Milhões 2006 Particip. Mercado Litros Milhões 2007 Particip. Mercado Litros Milhões 2008 Particip. Mercado Litros Milhões Particip. Mercado CONSUMO TOTAL 60.721 100,0% 61.061 100,0% 62.487 100,0% 61.913 100,0% 62.990 100,0% Águas 12.069 19,9% 12.382 20,3% 13.119 21,0% 12.990 21,0% 13.445 21,3% Cafés 11.699 19,3% 11.812 19,3% 11.991 19,2% 12.006 19,4% 12.136 19,3% Refrigerantes 7.096 11,7% 7.420 12,2% 7.865 12,6% 8.049 13,0% 8.477 13,5% Cervejas 9.548 15,7% 9.394 15,4% 9.426 15,1% 9.082 14,7% 8.986 14,3% Chás 6.619 10,9% 6.546 10,7% 6.320 10,1% 6.209 10,0% 6.322 10,0% Leites 4.065 6,7% 4.061 6,7% 4.071 6,5% 4.033 6,5% 4.059 6,4% Vinhos 1.938 3,2% 1.953 3,2% 1.975 3,2% 2.006 3,2% 2.052 3,3% Sucos 2.651 4,4% 2.477 4,1% 2.532 4,1% 2.376 3,8% 2.341 3,7% Refrescos à Base de Fruta 1.235 2,0% 1.331 2,2% 1.430 2,3% 1.429 2,3% 1.394 2,2% Bebidas à Base de Chá 1.047 1,7% 1.025 1,7% 1.021 1,6% 933 1,5% 955 1,5% 1,5% Néctares 930 1,5% 827 1,4% 860 1,4% 889 1,4% 948 Destilados 473 0,8% 470 0,8% 469 0,8% 460 0,7% 440 0,7% Energéticos 65 0,1% 86 0,1% 109 0,2% 136 0,2% 174 0,3% 0,5% Leites Saborizados 352 0,6% 340 0,6% 335 0,5% 320 0,5% 301 Leites Reconstituídos 309 0,5% 300 0,5% 292 0,5% 290 0,5% 266 0,4% Isotônicos 137 0,2% 147 0,2% 150 0,2% 180 0,3% 193 0,3% Leites Infantis 171 0,3% 172 0,3% 168 0,3% 171 0,3% 169 0,3% Iogurtes 207 0,3% 206 0,3% 220 0,4% 224 0,4% 207 0,3% Leites de Soja 64 0,1% 66 0,1% 86 0,1% 81 0,1% 75 0,1% Leites Fermentados 45 0,1% 46 0,1% 48 0,1% 47 0,1% 49 0,1% 1 0,0% 1 0,0% 1 0,0% 1 0,0% 1 0,0% Bebidas à Base de Cereais 118 | CITRUSBR Fevereiro 2015 ALEMANHA 2009 Quantidade e Valor 2010 Variação Anual Quantidade e Valor 2011 2012 2013 2013 Vs 2004 Variação Quantidade Variação Quantidade Variação Quantidade Variação Quantidade Variação Anual e Valor Anual e Valor Anual e Valor Anual e Valor 10 Anos 82,0 -0,26% 81,7 -0,34% 81,4 -0,37% 81,8 0,52% 81,8 -0,00% -0,7 -0,84% US$ 2,2 -4,9% US$ 2,1 -4,3% US$ 2,4 11,6% US$ 2,2 -6,5% US$ 2,4 6,6% US$ 0,5 28,9% US$ 27.299 -4,7% US$ 26.228 -3,9% US$ 29.389 12,1% US$ 27.342 -7,0% US$ 29.150 6,6% US$ 6.722 30,0% € 0,720 € 0,755 € 0,748 € 0,778 € 0,783 0,3% 1,1% 2,3% 2,0% 1,5% US$ 3.348 -8,3% US$ 3.309 -1,1% US$ 3.575 8,0% US$ 3.397 -5,0% US$ 3.635 7,0% US$ 889 32,4% US$ 40.824 -8,1% US$ 40.494 -0,8% US$ 43.902 8,4% US$ 41.509 -5,5% US$ 44.413 7,0% US$ 11.141 33,5% 7,6% 6,8% 2009 Litros Milhões 6,0% 2010 Particip. Mercado Litros Milhões 5,5% 2011 Particip. Mercado Litros Milhões 5,3% 2012 Particip. Mercado Litros Milhões 2013 Particip. Mercado Litros Milhões 2013 Vs 2004 Particip. Mercado Litros Milhões Variação 10 Anos 63.042 100,0% 62.987 100,0% 63.558 100,0% 63.563 100,0% 62.264 100,0% 1.543 2,5% 13.666 21,7% 13.711 21,8% 14.105 22,2% 14.233 22,4% 13.705 22,0% 1.636 13,6% 12.270 19,5% 12.255 19,5% 12.322 19,4% 12.347 19,4% 12.006 19,3% 307 2,6% 8.798 14,0% 9.009 14,3% 9.259 14,6% 9.401 14,8% 9.217 14,8% 2.121 29,9% -12,6% 8.789 13,9% 8.645 13,7% 8.549 13,5% 8.440 13,3% 8.343 13,4% -1.205 6.252 9,9% 6.356 10,1% 6.381 10,0% 6.420 10,1% 6.440 10,3% -179 -2,7% 4.043 6,4% 3.936 6,2% 3.903 6,1% 3.871 6,1% 3.865 6,2% -200 -4,9% 2.012 3,2% 2.024 3,2% 2.009 3,2% 2.014 3,2% 2.078 3,3% 140 7,2% 2.181 3,5% 2.198 3,5% 2.167 3,4% 2.047 3,2% 1.916 3,1% -735 -27,7% 1.256 2,0% 1.175 1,9% 1.080 1,7% 1.105 1,7% 1.080 1,7% -155 -12,6% 935 1,5% 891 1,4% 910 1,4% 915 1,4% 788 1,3% -259 -24,7% 932 1,5% 885 1,4% 840 1,3% 694 1,1% 650 1,0% -280 -30,1% 457 0,7% 458 0,7% 458 0,7% 457 0,7% 491 0,8% 18 3,8% 208 0,3% 239 0,4% 344 0,5% 378 0,6% 441 0,7% 376 578,5% 295 0,5% 287 0,5% 289 0,5% 291 0,5% 350 0,6% -2 -0,6% 265 0,4% 245 0,4% 240 0,4% 238 0,4% 228 0,4% -81 -26,2% 186 0,3% 190 0,3% 222 0,3% 232 0,4% 221 0,4% 84 61,3% 176 0,3% 179 0,3% 182 0,3% 185 0,3% 192 0,3% 21 12,3% 200 0,3% 182 0,3% 176 0,3% 173 0,3% 136 0,2% -71 -34,3% 70 0,1% 67 0,1% 67 0,1% 67 0,1% 66 0,1% 2 3,1% 50 0,1% 54 0,1% 54 0,1% 53 0,1% 50 0,1% 5 11,1% 1 0,0% 1 0,0% 1 0,0% 1 0,0% 1 0,0% 0 0,0% CITRUSBR Fevereiro 2015 | 119 Série Consumo de Suco de Laranja 3 - CONSUMO PER CAPITA DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS: 2004 ÍNDICES E ANOS Litros Per Capita 2005 Variação Anual Litros Per Capita 2006 Variação Anual Litros Per Capita 2007 Variação Anual Litros Per Capita 2008 Variação Anual Litros Per Capita Variação Anual CONSUMO TOTAL PER CAPITA 735,7 740,1 0,6% 758,0 2,4% 752,1 -0,8% 766,1 1,9% Águas 146,2 150,1 2,6% 159,1 6,0% 157,8 -0,8% 163,5 3,6% Cafés 141,8 143,2 1,0% 145,5 1,6% 145,9 0,3% 147,6 1,2% 86,0 89,9 4,6% 95,4 6,1% 97,8 2,5% 103,1 5,4% Refrigerantes Cervejas 115,7 113,9 -1,6% 114,3 0,4% 110,3 -3,5% 109,3 -0,9% Chás 80,2 79,3 -1,1% 76,7 -3,4% 75,4 -1,6% 76,9 1,9% Leites 49,3 49,2 -0,1% 49,4 0,3% 49,0 -0,8% 49,4 0,8% Vinhos 23,5 23,7 0,8% 24,0 1,2% 24,4 1,7% 25,0 2,4% Sucos 32,1 30,0 -6,5% 30,7 2,3% 28,9 -6,0% 28,5 -1,4% Refrescos à Base de Fruta 15,0 16,1 7,8% 17,3 7,5% 17,4 0,1% 17,0 -2,4% Bebidas à Base de Chá 12,7 12,4 -2,1% 12,4 -0,4% 11,3 -8,4% 11,6 2,5% Néctares 11,3 10,0 -11,0% 10,4 4,1% 10,8 3,5% 11,5 6,8% Destilados 5,7 5,7 -0,7% 5,7 -0,1% 5,6 -1,7% 5,4 -4,3% Energéticos 0,8 1,0 32,4% 1,3 26,6% 1,7 25,2% 2,1 28,0% Leites Saborizados 4,3 4,1 -3,4% 4,1 -1,4% 3,9 -4,3% 3,7 -5,8% Leites Reconstituídos 3,7 3,6 -2,9% 3,5 -2,6% 3,5 -0,5% 3,2 -8,2% Isotônicos 1,7 1,8 n.d. 1,8 2,4% 2,2 20,1% 2,3 7,4% Leites Infantis 2,1 2,1 0,5% 2,0 -2,0% 2,1 1,8% 2,1 -1,1% Iogurtes 2,5 2,5 -0,4% 2,7 6,9% 2,7 2,0% 2,5 -7,5% Leites de Soja 0,8 0,8 3,2% 1,0 30,4% 1,0 -5,7% 0,9 -7,3% Leites Fermentados 0,5 0,6 2,3% 0,6 4,4% 0,6 -1,9% 0,6 4,4% Bebidas à Base de Cereais 0,0 0,0 0,0% 0,0 10,1% 0,0 -9,0% 0,0 0,1% 120 | CITRUSBR Fevereiro 2015 2009 Litros Per Capita 2010 Variação Anual Litros Per Capita 2011 Variação Anual Litros Per Capita 2012 Variação Anual Litros Per Capita 2013 Variação Anual Litros Per Capita 2013 Vs 2004 Variação Anual Litros Per Capita Variação 10 Anos 768,8 0,3% 770,8 0,3% 780,6 1,3% 776,7 -0,5% 760,8 -2,0% 25,1 3,4% 166,7 1,9% 167,8 0,7% 173,2 3,3% 173,9 0,4% 167,5 -3,7% 21,23 14,5% 149,6 1,4% 150,0 0,2% 151,3 0,9% 150,9 -0,3% 146,7 -2,8% 4,95 3,5% 107,3 4,1% 110,2 2,7% 113,7 3,2% 114,9 1,0% 112,6 -2,0% 26,64 31,0% 107,2 -1,9% 105,8 -1,3% 105,0 -0,8% 103,1 -1,8% 101,9 -1,1% -13,75 -11,9% 76,2 -0,9% 77,8 2,0% 78,4 0,8% 78,4 0,1% 78,7 0,3% -1,51 -1,9% 49,3 -0,1% 48,2 -2,3% 47,9 -0,5% 47,3 -1,3% 47,2 -0,2% -2,03 -4,1% 24,5 -1,7% 24,8 0,9% 24,7 -0,4% 24,6 -0,3% 25,4 3,2% 1,91 8,1% 26,6 -6,6% 26,9 1,1% 26,6 -1,0% 25,0 -6,0% 23,4 -6,4% -8,71 -27,1% 15,3 -9,7% 14,4 -6,1% 13,3 -7,7% 13,5 1,8% 13,2 -2,3% -1,77 -11,8% 11,4 -1,8% 10,9 -4,4% 11,2 2,5% 11,2 0,0% 9,6 -13,9% -3,06 -24,1% 11,4 -1,4% 10,8 -4,7% 10,3 -4,7% 8,5 -17,8% 7,9 -6,3% -3,33 -29,5% 5,6 4,1% 5,6 0,5% 5,6 0,5% 5,6 -0,7% 6,0 7,3% 0,27 4,7% 2,5 19,8% 2,9 15,4% 4,2 44,5% 4,6 9,3% 5,4 16,7% 4,60 584,2% 3,6 -1,7% 3,5 -2,4% 3,5 1,1% 3,6 0,2% 4,3 20,3% 0,01 0,3% 3,2 -0,1% 3,0 -7,2% 2,9 -1,7% 2,9 -1,3% 2,8 -4,2% -0,96 -25,6% 2,3 -3,4% 2,3 2,6% 2,7 17,2% 2,8 3,9% 2,7 -4,7% 1,04 62,7% 2,1 4,5% 2,2 2,0% 2,2 2,2% 2,3 1,2% 2,3 3,6% 0,27 13,2% 2,4 -3,1% 2,2 -8,7% 2,2 -2,9% 2,1 -2,2% 1,7 -21,4% -0,85 -33,7% 0,9 -6,4% 0,8 -4,0% 0,8 0,4% 0,8 -0,5% 0,8 -1,5% 0,03 4,0% 0,6 2,3% 0,7 8,4% 0,7 0,4% 0,6 -2,4% 0,6 -5,7% 0,07 12,0% 0,0 10,3% 0,0 0,3% 0,0 0,4% 0,0 8,5% 0,0 -16,7% 0,00 0,8% CITRUSBR Fevereiro 2015 | 121 Série Consumo de Suco de Laranja 4 - CONSUMO DE SUCOS 100%, NÉCTARES E REFRESCOS POR FRUTA E CÁLCULO DO 2004 ÍNDICES E ANOS Litros Milhões 2005 Particip. Litros Milhões 2006 Particip. 2007 Particip. 4.822 Litros Milhões 2008 Particip. 4.876 SUCOS 100% 2.651 Maçã 1.140 43% 1.078 44% 1.101 44% 1.045 44% 1.042 Laranja 915 35% 830 34% 836 33% 784 33% 773 Milhares de Tons de FCOJ Equivalente 162 Outros 358 14% 316 211 2.477 2.532 147 14% 347 4.694 Litros Milhões CONSUMO TOTAL Multifrutas 4.662 Litros Milhões 2.376 148 14% 367 4.683 2.341 139 15% 333 137 239 9% 223 9% 228 9% 214 9% Conteúdo de Suco no 100% 239 100% 223 100% 228 100% 214 100% 211 Conteúdo de Suco Sabor Laranja 59,6 25% 55,7 25% 57,0 25% 53,5 25% 52,7 Milhares de Tons de FCOJ Equivalente 10 9 10 930 Multifrutas 284 31% 248 30% 254 30% 258 29% 270 Conteúdo de Suco no Néctar 207 73% 181 73% 185 73% 186 72% 195 Conteúdo de Suco Sabor Laranja 52 25% 45 25% 46 25% 46 25% 49 Milhares de Tons de FCOJ Equivalente 9 26% 254 228 860 9 NÉCTARES Outros 827 9 8 25% 207 889 8 948 8 25% 219 26% 231 8 Maçã 219 24% 198 24% 211 25% 222 25% 239 Laranja 200 22% 174 21% 176 21% 178 20% 185 Conteúdo de Suco no Néctar 146 73% 127 73% 129 73% 128 72% 133 Conteúdo de Suco Sabor Laranja 146 100% 127 100% 129 100% 128 100% 133 Milhares de Tons de FCOJ Equivalente 26 REFRESCOS 22 1.295 23 1.358 23 1.430 24 1.429 1.394 Maçã 333 27% 346 26% 358 25% 350 25% 335 Citrus (Outros) 222 18% 253 19% 286 20% 300 21% 298 Laranja 331 23% 320 23% 315 22% 307 22% 293 Conteúdo de Suco no Refresco 81 24% 78 24% 77 24% 74 24% 70 Conteúdo de Suco Sabor Laranja 81 100% 78 100% 77 100% 74 100% 70 Milhares de Tons de FCOJ Equivalente 14 10% 132 ACE (Lar, Cen, Lim) 155 14 12% 153 14 11% 150 13 11% 143 12 Conteúdo de Suco no Refresco 38 24% 37 24% 37 24% 35 24% 32 Conteúdo de Suco Sabor Laranja 32 85% 32 85% 31 85% 30 85% 28 8% 112 8% 119 8% 121 9% 118 29 Milhares de Tons de FCOJ Equivalente Multifrutas 5 99 5 5 5 5 Conteúdo de Suco no Refresco 24 24% 27 24% 29 24% 30 24% Conteúdo de Suco Sabor Laranja 7 30% 8 30% 9 30% 9 30% Milhares de Tons de FCOJ Equivalente 1 1 2 2 9 1 Outros 84 7% 93 7% 112 8% 110 8% Mix de Vegetais 40 3% 44 3% 46 3% 44 3% 116 45 Uva 19 2% 23 2% 29 2% 33 2% 36 Grapefruit 7 1% 8 1% 10 1% 11 1% 11 Pera 5 0% 7 1% 7 1% 9 1% 10 LITROS PER CAPITA DE SUCO DE LARANJA: Calculados com base no consumo total de FCOJ Equivalente a 66° Brix utilizados em Sucos 100% + Néctares + Refrescos convertidos como Suco 100% pronto para beber BRIX MÍNIMO LEGAL EXIGIDO: Para venda de suco de laranja industrializado pronto para beber no varejo: 11.2º 122 | CITRUSBR Fevereiro 2015 CONTEÚDO DE FCOJ EQUIVALENTE A 66° BRIX: 2009 Particip. Litros Milhões 2010 Particip. 4.369 Litros Milhões 2011 Particip. 4.258 2.181 Litros Milhões 2012 Particip. 4.087 2.198 Litros Milhões 2013 Particip. 3.846 2013 Vs 2004 Particip. 3.646 -1.230 -25% -735 -28% 44% 945 43% 921 43% 901 44% 654 34% -486 -43% 33% 731 34% 747 34% 737 34% 686 34% 683 36% -232 -25% -41 -25% 131 1.916 Variação 10 Anos 960 133 2.047 Litros Milhões 45% 130 2.167 Litros Milhões 122 121 14% 294 14% 308 14% 293 14% 256 13% 327 17% -31 -9% 9% 196 9% 198 9% 217 10% 205 10% 252 13% 13 6% 100% 196 100% 198 100% 217 100% 205 100% 252 100% 13 25% 49,1 25% 49,5 25% 54,2 25% 51,2 25% 63,0 25% 3,4 8 8 932 9 885 9 -280 -30% 28% 248 28% 244 29% 201 29% 195 30% -89 -31% 72% 188 72% 178 72% 175 72% 145 72% 140 72% -67 25% 47 25% 45 25% 44 25% 36 25% 35 25% 7 650 6% 261 8 694 1 29% 8 840 11 6 6 -17 -2,8 -32% 27% 257 28% 248 28% 231 28% 191 28% 172 27% -56 -24% 25% 237 25% 221 25% 210 25% 174 25% 166 26% -53 -24% -41% 20% 177 19% 168 19% 155 19% 128 19% 117 18% -83 72% 127 72% 121 72% 112 72% 92 72% 84 72% -62 100% 127 100% 121 100% 112 100% 92 100% 84 100% -62 23 21 1.256 20 1.175 16 1.080 15 1.105 1.080 -11 -42% -215 -17% 24% 295 24% 270 23% 259 24% 267 24% 243 23% -90 -27% 21% 271 22% 247 21% 232 22% 239 22% 232 22% 10 4% 21% 260 21% 247 21% 221 21% 222 20% 238 22% -93 -28% 24% 62 24% 59 24% 54 24% 53 24% 57 24% -24 100% 62 100% 59 100% 54 100% 53 100% 57 100% -24 -4 -30% 10% 117 9% 106 9% 103 10% 106 10% 103 10% -52 -34% 24% 29 24% 25 24% 25 24% 26 24% 24 24% -14 85% 24 85% 21 85% 21 85% 22 85% 20 85% -12 11 11 4 10 4 9 -2 -36% 9% 109 9% 106 9% 103 10% 106 10% 103 10% 4 4% 24% 27 24% 26 24% 11 24% 26 24% 25 24% 1 30% 8 30% 8 30% 3 30% 8 30% 8 30% 1 8% 4 10 1 106 8% 3% 41 3% 3% 36 3% 1% 11 1% 1% 9 1% 94 4 1 8% 78 47 4% 35 3% 12 1% 12 1% 3 1 7% 80 38 4% 30 3% 12 1% 4 0% 1 7% 0 0 4% -6 -7% 7% 78 39 4% 38 4% -2 -4% 31 3% 30 3% 12 63% 12 1% 12 1% 4 60% 4 0% 4 0% -1 -13% CITRUSBR Fevereiro 2015 | 123 Série Consumo de Suco de Laranja 5 - RESUMO DO CÁLCULO DE FCOJ EQUIVALENTE A 66° BRIX UTILIZADO EM CADA 2004 ÍNDICES E ANOS Sucos 100% Sabor Laranja Sucos 100% Sabor Multifrutas Néctares Sabor Multifrutas 2005 2006 2007 2008 Mil Tons Variação Mil Tons Variação Mil Tons Variação Mil Tons Variação Mil Tons Variação FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual 162,2 147,1 -9,3% 148,2 0,7% 139,0 -6,2% 137,0 -1,5% 10,1 9,5 -6,6% 9,7 2,2% 9,1 -6,2% 8,9 -1,5% 8,8 7,7 -12,5% 7,9 2,3% 7,9 0,2% 8,3 4,8% Néctares Sabor Laranja 25,9 22,5 -13,1% 22,8 1,5% 22,7 -0,5% 23,6 4,0% Refrescos Sabor Laranja 14,4 13,9 -3,3% 13,7 -1,7% 13,1 -4,3% 12,5 -4,7% 6,7 6,8 1,4% 7,3 7,4% 6,6 -10,1% 6,2 -6,2% 228,1 207,5 -9,0% 209,5 1,0% 198,3 -5,3% 196,4 -1,0% Refrescos Sabor Mutifrutas TOTAL DIVERSAS APLICAÇÕES 6- CÁLCULO REVERSO DE CONSUMO PER CAPITA DE SUCO DE LARANJA: 2004 ÍNDICES E ANOS LITROS POR HABITANTE 124 | CITRUSBR Fevereiro 2015 2005 2006 2007 2008 Litros Variação Litros Variação Litros Variação Litros Variação Litros Variação Per Capita Anual Per Capita Anual Per Capita Anual Per Capita Anual Per Capita Anual 15,6 14,2 -8,9% 14,3 1,0% 13,6 -5,3% 13,4 -1,0% CATEGORIA E CONSUMO TOTAL: 2009 Mil Tons FCOJ Equiv. 2010 2011 2012 2013 2013 Vs 2004 Variação Anual Mil Tons FCOJ Equiv. Variação Anual Mil Tons FCOJ Equiv. Variação Anual Mil Tons FCOJ Equiv. Variação Mil Tons Variação Mil Tons Variação Anual FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. 10 Anos 129,6 -5,4% 132,5 2,3% 130,7 -1,4% 121,6 -6,9% 121,1 -0,4% -41,1 -25,3% 8,3 -6,8% 8,4 0,8% 9,2 9,5% 8,7 -5,5% 10,7 23,1% 0,6 5,6% 8,0 -3,4% 7,6 -5,0% 7,4 -1,7% 6,1 -17,4% 6,0 -3,1% -2,8 -32,2% 22,6 -4,2% 21,5 -5,0% 19,8 -7,6% 16,4 -17,4% 14,9 -8,9% -10,9 -42,3% 11,1 -11,2% 10,5 -5,1% 9,6 -8,8% 9,5 -1,3% 10,1 6,9% -4,3 -29,7% 5,5 -10,8% 4,9 -10,7% 4,2 -14,7% 5,0 20,6% 4,8 -5,7% -2,0 -29,1% 185,0 -5,8% 185,4 0,2% 180,9 -2,4% 167,3 -7,5% 167,6 0,1% -60,5 -26,5% Litros Per Capita Variação Anual Litros Per Capita Variação Anual Litros Per Capita Variação Anual Litros Per Capita Variação Anual Litros Per Capita Variação Anual Litros Per Capita Variação 10 Anos 12,7 -5,6% 12,7 0,4% 12,5 -1,6% 11,5 -8,2% 11,5 -0,1% -4,1 -26,2% 2009 2010 2011 2012 2013 Outras informações relevantes do qua- dido por categorias como cervejas, sucos dro são que de 2004 para 2013 o consumo 100%, refrescos, néctares, leites, iogurtes per capita de bebidas industrializadas em e chás no período analisado. Se temos aqui todo o país registrou um pequeno avanço da uma boa notícia ao produtor de café do Bra- ordem de 3,3%, saindo de 736,5 litros por ha- sil, ao seu irmão citricultor, ela não é boa. bitante em 2004 para 760,8 litros em 2013, o Nota-se também que, apesar de uma que implica em uma ingestão diária de 2,09 acentuada queda nos volumes de venda de litros por habitante, além do que se consome sucos 100%, saindo de 2,6 bilhões de litros de água de torneira. Nota-se também que em 2004 para 1,9 bilhão de litros em 2013, nos dois últimos anos, porém, a tendência pelo menos uma boa notícia, pois houve é de queda, com o ano de 2013 registrando um ligeiro aumento da participação do sa- recuo de 2% no volume de bebidas industria- bor laranja no universo dos sucos 100%, lizadas per capita na comparação com 2012. subindo de 35% em 2004 para 36% em Sendo assim, concluímos que catego- 2013, o que mais uma vez indica que não rias como refrigerantes, principalmente nas houve fuga de consumo de suco de laran- suas versões diet (com aumento de vendas ja 100% para sucos 100% de outras frutas, de +29,9% ou + 2,1 bilhões de litros); águas mas para essas categorias citadas, menos (+13,6% ou + 1,6 bilhão de litros); energéticos calóricas, mais inovadoras e comunica- (+578% ou + 376 milhões de litros); cafés (+ tivas. Estas categorias também dispõem 2,6% ou + 307 milhões de litros), vinhos (+ de recursos para investir na comunicação 7,2% ou 140 milhões de litros) e isotônicos de marketing, o que não é visto para o suco (+61,3% ou + 84 milhões de litros), além de de laranja por causa da disparada do cus- outras com crescimento menor, foram as to Brasil, pressão inflacionária agrícola e grandes ganhadoras de todo o volume per- industrial e recuo da cotação do dólar da 2013 Vs 2004 CITRUSBR Fevereiro 2015 | 125 Série Consumo de Suco de Laranja ANÁLISE DO MERCADO DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS POR CATEGORIA CONSUMO TOTAL DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS ALEMANHA TOTAL Refrigerantes Águas Energéticos Cafés Vinhos Isotônicos 2004 2013 Litros Milhões Litros Milhões CONSUMO PER CAPITA 2013 vs 2004 Litros Milhões ALEMANHA Variação 10 anos 60,721 62,264 1,543 2.5% 7,096 9,217 2,121 29.9% Refrigerantes 12,069 13,705 1,636 13.6% Águas Cafés CONSUMO PER CAPITA TOTAL 65 441 376 578.5% 11,699 12,006 307 2.6% Energéticos 1,938 2,078 140 7.2% Vinhos 137 221 84 61.3% Isotônicos Leites Infantis Leites Infantis 171 192 21 12.3% Destilados 473 491 18 3.8% Destilados Leites Fermentados 45 50 5 11.1% Leites Fermentados Leites de Soja 64 66 2 3.1% Leites de Soja Leites Saborizados Bebidas à Base de Cereais 1 1 0 0.0% 33,758 38,468 4,710 14.0% Bebidas à Base de Cereais Cervejas 9,548 8,343 -1,205 -12.6% SUBTOTAL Sucos 2,651 1,916 -735 -27.7% Cervejas SUBTOTAL Néctares 930 650 -280 -30.1% Sucos Bebidas à Base de Chá 1,047 788 -259 -24.7% Néctares Leites 4,065 3,865 -200 -4.9% Bebidas à Base de Chá Chás 6,619 6,440 -179 -2.7% Leites Refrescos à Base de Fruta 1,235 1,080 -155 -12.6% Refrescos à Base de Fruta Leites Reconstituídos 309 228 -81 -26.2% Chás Iogurtes 207 136 -71 -34.3% Leites Reconstituídos Leites Saborizados 352 350 -2 -0.6% 26,963 23,796 -3,167 -11.7% SUBTOTAL 126 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Iogurtes SUBTOTAL última década. Isto tirou muita margem dos produtos chegam às prateleiras dos super- envasadores, prejudicando investimentos mercados de todo o mundo. Produtos com no reposicionamento e comunicação do os mais diferentes e exóticos sabores, todos suco de laranja, hipótese levantada desde disputando a preferência dos consumido- o início dos nossos estudos. res. Acompanhar todo esse movimento é Como se vê, o mercado mundial de be- fundamental para entender a lógica desse bidas apresenta grande concorrência. Afi- mercado. É justamente nesse ponto que a nal, todos os anos uma infinidade de novos Alemanha surge como sede dos dois eventos DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS 2004 2013 PARTICIPAÇÃO DE MERCADO 2013 vs 2004 ALEMANHA 2004 2013 2013 Vs 2004 Particip. Mercado Particip. Mercado Variação 10 anos 100,0% 100,0% 0,0% Litros per capita Litros per capita 735.7 760.8 25 3.4% 86.0 112.6 26.6 31.0% Refrigerantes 11.7% 14.8% 3.12% 146.2 167.5 21.2 14.5% Águas 19.9% 22.0% 2.13% 141.8 146.7 4.9 3.5% 0.8 5.4 4.6 584.2% 23.5 25.4 1.9 8.1% 1.7 2.7 1.0 Litros per capita Variação 10 anos TOTAL Energéticos 0.1% 0.7% 0.60% Vinhos 3.2% 3.3% 0.15% Isotônicos 0.2% 0.4% 0.13% 62.7% Leites Infantis 0.3% 0.3% 0.03% Cafés 19.3% 19.3% 0.02% Destilados 0.8% 0.8% 0.01% Leites Fermentados 0.1% 0.1% 0.01% 4.0% Leites de Soja 0.1% 0.1% 0.00% 0.0 0.3% Bebidas à Base de Cereais 0.0% 0.0% 0.00% 0.0 0.8% SUBTOTAL 56% 62% 6.2% 15.7% 13.4% -2.33% Sucos 4.4% 3.1% -1.29% -27.1% Chás 10.9% 10.3% -0.56% -29.5% Néctares 1.5% 1.0% -0.49% Leites 6.7% 6.2% -0.49% Bebidas à Base de Chá 1.7% 1.3% -0.46% Refrescos à Base de Fruta 2.0% 1.7% -0.30% Leites Reconstituídos 0.5% 0.4% -0.14% 2.1 2.3 0.3 13.2% 5.7 6.0 0.3 4.7% 0.5 0.6 0.1 12.0% 0.8 0.8 0.0 4.3 4.3 0.0 0.0 413 474 61 14.8% Cervejas 115.7 101.9 -13.7 -11.9% 32.1 23.4 -8.7 11.3 7.9 -3.3 12.7 9.6 -3.1 -24.1% 49.3 47.2 -2.0 -4.1% 15.0 13.2 -1.8 -11.8% 80.2 78.7 -1.5 -1.9% 3.7 2.8 -1.0 -25.6% Iogurtes 0.3% 0.2% -0.12% 2.5 1.7 -0.8 -33.7% Leites Saborizados 0.6% 0.6% -0.02% 322 286 -36 -11.1% SUBTOTAL 44% 38% -6.2% mundiais de maior importância para a indús- possibilidades de fazer visitas, tirar fotos tria alimentícia e de bebidas, as feiras Anu- e, principalmente, fazer entrevistas com ga e Drinktech. Esses eventos que reúnem a agentes do setor, traduzindo-as em artigos indústria mundial de alimentos e bebidas se ao longo dos últimos anos. E assim será nos tornaram a vitrine das tendênciais mundiais próximos, mostrando à cadeia produtiva em ambos os setores. no Brasil, de maneira científica, tudo o que Temos tido o privilégio, a convite da CitrusBR, de acompanhar estes eventos, com acontece do lado de lá do mundo, nos nossos maiores consumidores. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 127 Série Consumo de Suco de Laranja Vista para a famosa Catedral de Colônia à beira do Rio Reno e a entrada principal da Feira de Anuga, que acontece na cidade a cada dois anos Maior e mais importante feira de alimen- mercado e fechamento de negócios. Isso por- tos e bebidas do mundo, a Anuga acontece que, além de reunir praticamente toda a clien- a cada dois anos, na cidade de Côlonia, na tela compradora de suco de laranja do mundo, Alemanha. De acordo com dados da organi- conta também com a presença e participação zação, a 32ª edição da feira, que aconteceu dos principais executivos e vendedores de em 2013, reuniu 6.777 expositores. Durante os suco das processadoras de laranja do Brasil, cinco dias de realização recebeu 155 mil visi- dos Estados Unidos, da Espanha, da Itália, da tantes de 187 países. Todos acomodados no Costa Rica e do México e acontece na metade quinto maior centro de exposições do mundo. de outubro, justamente logo após o USDA pu- Para se ter uma ideia de como o mercado blicar sua primeira estimativa de produção de de sucos de frutas foi perdendo espaço para 128 | CITRUSBR Fevereiro 2015 laranja para a safra a se iniciar na Flórida. outros tipos de bebidas, na feira de Anuga du- Portanto, nos dias que antecedem a tra- rante décadas havia um hall inteiro dedicado dicional feira de Anuga, ao se conhecer a especialmente aos sucos de frutas, néctares e quantidade de laranja e suco que o principal refrescos onde dezenas de envasadores mon- concorrente do Brasil no mundo espera pro- tavam seus stands. Atualmente, estes exposi- duzir e ofertar aos mercados, começa uma tores se resumem a quatro envasadoras com- formatação dos fundamentos de mercado pradoras de suco de laranja das processado- e os negócios a fluir entre envasadores e ras brasileiras e ficam em um canto de um hall. processadores de suco, formatação esta de Há também outras importantes feiras, mercado baseada na expectativa futura de como a SIAL, em Paris; e a Alimentaria, em demanda por suco de laranja, da produção Barcelona, mas, para o caso específico do de suco dos principais produtores mundiais setor citrícola brasileiro, a feira de Anuga é a e níveis existentes de estoque de suco de la- mais importante. Ela é voltada para a reali- ranja no mundo nas instalações das proces- zação de extenso networking, formatação de sadoras e envasadoras. A Cutrale recepciona seus clientes nas noites de segunda-feira em todas as edições da feira de Anuga em um coquetel na biblioteca do Hotel Hyatt. Acima, o stand da Citrosuco no evento As companhias Citrosuco e Louis Dreyfus Commodities mantêm stands no evento, onde recebem visita de clientes em contato direto com o público. Já a Cutrale promove Stand da Döhler na Drinktech, em Munique sempre nas noites de segunda-feira em Anuga um coquetel aos clientes, realizado na biblioteca do Hotel Hyatt. Os stands das empresas, os corredores da feira e o coquetel são momentos valiosos para capturarmos informações de interesse à cadeia produtiva no Brasil, para formatação de estratégias públicas e privadas. Outro ponto de encontro da indústria é a Drinktech. Realizada a cada três anos na cidade de Munique, também na Alemanha, a feira é um dos principais eventos do mundo para a indústria de bebidas e alimentos líquidos. Fabricantes e fornecedores de todo o mundo se reúnem com todos os tamanhos FOTOS: DIVULGAÇÃO E ARJON GROENEWEG CITRUSBR Fevereiro 2015 | 129 Série Consumo de Suco de Laranja de produtores e revendedores de bebidas, de suprimento da maçã, com campo de atua- fornecedores de matérias-primas, empre- ção que vai desde fazendas onde cultivam a sas de equipamentos, entre outros. Durante fruta, passando pelo processamento da fru- quatro dias, o evento reúne cerca de 1.400 ta, produção de suco concentrado, de NFC e expositores, oriundos de 76 países e recebe pelas linhas de envase, até a conexão com cerca de 67.000 visitantes de 183 países. Um suas amplas redes de vendas e distribuição dos focos do evento está na inovação tecno- de suco de maçã aos supermercados. lógica. Os fabricantes apresentam as mais Pelo histórico de preços de gôndola de am- recentes tecnologias para processamento, bos os sabores, que sempre teve o suco 100% envase, embalagem e comercialização de to- sabor maçã vendido a preços mais baixos que dos os tipos de bebidas e alimentos líquidos. o 100% sabor laranja, é importante acompa- Quando se fala de Alemanha, o maior nhar a relação entre eles, uma vez que os pre- mercado tomador de suco de laranja brasilei- ços inferiores do suco de maçã nas gôndolas ro na Europa e que tem histórica predominân- impõem um teto de subida para o preço do cia de sabor maçã, vale lembrar que, além da suco de laranja, fazendo com que historica- produção doméstica de maçãs, logo ao lado mente toda vez que aumenta o diferencial de encontra-se, na Polônia, uma importante ca- preço entre os sabores, se observa fuga de deia produtiva de suco concentrado e NFC da consumo da laranja para a maçã, ao passo que, fruta. Além disso, empresas como Wesergold quando esta diferença de preços diminui subs- e Stute, que vimos com mais detalhes na ses- tancialmente, nota-se uma migração reversa a são 2, também são verticalizadas na cadeia favor do suco de laranja 100%. Como já vimos HISTÓRICO DE PREÇOS MÉDIOS MENSAIS DE SUCO NA ALEMANHA - GKF/IRI Preço do suco de laranja reconstituído Preço do suco de maçã reconstituído Linear (consumo de suco de laranja por habitante) Diferença de preços entre os sucos de laranja e maçã nas gôndolas dos supermercados 1,20 16 1,10 € 0,15 € 0,13 15 € 0,29 € 0,31 € 0,09 0,90 0,80 € 0,34 € 0,20 0,70 € 0,09 € 0,26 € 0,08 € 0,18 14 13 12 0,60 11 0,50 0,40 Jan/04 Abr/04 Jul/04 Out/04 Jan/05 Abr/05 Jul/05 Out/05 Jan/06 Abr/06 Jul/06 Out/06 Jan/07 Abr/07 Jul/07 Out/07 Jan/08 Abr/08 Jul/08 Out/08 Jan/09 Abr/09 Jul/09 Out/09 Jan/10 Abr/10 Jul/10 Out/10 Jan/11 Abr/11 Jul/11 Out/11 Jan/12 Abr/12 Jul/12 Out/12 Jan/13 Abr/13 Jul/13 Out/13 Jan/14 Abr/14 10 Fonte: Elaborado por Markestrat a partir de diversas fontes. 130 | CITRUSBR Fevereiro 2015 Litros por habitante € por litro 1,00 na sessão 1, parte importante dos consumido- Em função disso, espera-se que as curvas res alemães é muito sensível a flutuações de do gráfico que acabamos de ver se distan- preços, talvez o mais sensível do mundo. Tão ciem novamente e que o consumo de suco de sensível que variações de alguns centavos de maçã volte a crescer em detrimento do nosso euro influenciam decisões de compra. suco de laranja. Em dezembro de 2014, a dife- Porém, apesar da verdadeira adoração rença de preços entre os sucos reconstituídos que alemães têm por maçãs (raízes histó- de maçã e de laranja havia subido para 30 ricas, fruta produzida localmente, etc.), a centavos de euro, retornando a níveis ante- laranja é percebida como um produto mais riormente registrados em 2007, 2010 e 2012. completo e bastou que a diferença de preço Ainda sobre a questão dos preços na Ale- entre os dois sabores diminuísse para que o manha, as redes de varejo Aldi e Lidl, em fun- consumo de suco de laranja se aproximasse ção de serem as que mais vendem sucos de e até ultrapassasse o volume de vendas de frutas e, portanto, os maiores compradores do suco de maçã, como ocorreu em 2013. produto acabado junto aos seus envasadores Contudo, temos outro fato recente e infe- contratados, são quem ditam o valor a ser pra- lizmente não muito favorável. Com o embargo russo a produtos oriundos da comunidade europeia, que já destacamos em artigo na edição anterior de nossa revista, a Polônia, maior produtor de maçãs da Europa e que tinha a Rússia como maior mercado, foi obrigada a direcionar o excesso de fruta que não conseguiu comercializar para sua indústria processadora, inundando o mercado com suco de maçã e, por consequência, derrubando os preços do nosso maior concorrente na categoria. Ou seja, se o Preço de um litro de suco 100% de maçã reconstituído no hard discounter Aldi em dezembro de 2014, após a queda na cotação do suco concentrado da fruta em função do excesso de produção e do embargo russo às frutas polonesas embargo russo representou festa aos produtores de carnes do Brasil, não foi bom para a laranja, neste novo mundo ultraconectado. Novo preço para 1 litro de suco 100% de laranja reconstituído imposto pelo Aldi a partir de agosto de 2014. Em razão da sensibilidade do consumidor a preços, o valor virou referência para todas as redes varejistas, que também reduziram seus preços ao consumidor FOTOS: DIVULGAÇÃO CITRUSBR Fevereiro 2015 | 131 Série Consumo de Suco de Laranja ticado no mercado do país, chegando, inclusi- to de 2013. Por consequência, todas as outras ve, através dos preços que praticam em suas redes passaram a praticar o mesmo preço lojas fora da Alemanha, a formatar também para seus produtos de marcas próprias para nestes outros mercados preços referenciais de se manterem competitivas. Isso iniciou uma gôndola. Assim, influenciam diretamente nas nova onda de forte pressão para redução dos negociações entre os demais retailers e seus preços do FCOJ brasileiro, o que pode trazer envasadores e entre estes e seus fornecedores mais prejuízos futuros para a cadeia citrícola. de suco em todos os outros principais merca- Ou seja, mais problemas pela frente. dos europeus, como Áustria, Bélgica, França, Após analisar a batalha nas gôndolas ale- Holanda, Irlanda, Itália, Polônia, Reino Unido, mãs, listamos oito fatores determinantes para Suíça, entre outros. Além disso, inibem a en- a queda na demanda por suco de laranja apre- trada no mercado alemão das duas principais sentada na última década e que impactam ne- empresas de sucos de frutas do mundo, Co- gativamente a cadeia produtiva no Brasil ca-Cola e PepsiCo, que dominam as gôndolas nos Estados Unidos e no Canadá, e com forte 1. O café da manhã, a principal ocasião de presença no Brasil, Espanha, França, Holan- consumo do suco de laranja, está caindo da, Reino Unido, Rússia, Ucrânia, mas que não em desuso. As pessoas não têm mais tempo operam com o mesmo sucesso na Alemanha. para sentar-se à mesa de manhã e o hábito Para exemplificar como o mercado alemão do café da manhã em família se tornou um funciona, no início de agosto de 2014, o Lidl de- evento de final de semana, diminuíndo a fre- cidiu pôr em prática seu poder de mercado e quência de consumo dos sucos. definiu que o novo preço do suco 100% de la- 132 | CITRUSBR Fevereiro 2015 ranja reconstituído na Alemanha seria de 89 2. A Alemanha é um mercado muito sensível centavos de euro – incluindo impostos de valor a flutuações de preço e o preço das bebidas agregado e reduzindo o preço de gôndola em 6 feitas à base de suco de fruta subiu ao lon- centavos de euro com relação aos 95 centavos go da última década, enquanto os preços de de euro que era o preço praticado desde agos- gôndola de outras bebidas mantiveram-se estáveis. No caso da laranja, o aumento ao açúcar está fazendo com que o suco de substancial do preço de suco de laranja bra- laranja perca o rótulo de bebida saudável. sileiro nos últimos anos, para fazer frente à explosão de custos vivida pela cadeia citrí- 6. Preferência do consumidor por bebidas cola no Brasil, levou a matéria-prima dos de baixa caloria. Essa tendência está impul- envasadores a preços elevados a ponto de sionando o consumo de águas, refrigerantes lhes causar prejuízos com a categoria, uma de baixa caloria e de um tipo de refresco mui- vez que não conseguiram repassar o aumen- to popular chamado Schorle (50% de suco to dos custos ao varejo na mesma proporção de maçã e 50% de água mineral, geralmente da subida. Com margens negativas no en- gaseificada). Mulheres estão evitando o con- vase do suco da fruta foram perdendo inte- sumo de suco 100%, em função das calorias, resse pelo desenvolvimento da categoria em e é comum misturarem água à bebida. É as- suas ações de marketing. sim que as mães estão ensinando as crianças a beber suco de frutas. 3. Agressiva guerra de preços promovida pelos “hard discounters” e suas marcas pró- 7. Adolescentes preferem prias, muitas vezes anulando e outras nega- águas saborizadas e energéticos e não têm a chá gelado, tivando as margens das grandes marcas e tradição do consumo de suco de laranja, pois impedindo investimentos em comunicação nasceram em novos tempos. e marketing para o suco de laranja. A consequência foi a transformação do suco 100% 8. Envasadores de sucos identificaram es- laranja em um produto básico, sem qualquer sas tendências e passaram a fabricar e pro- apelo funcional, nutricional e emocional, no mover outras categorias, como refrigerantes qual o consumidor não enxerga valor agre- de baixa caloria, águas, energéticos, chás e gado e cuja decisão de compra passa a se isotônicos. A tendência é que a variadade de basear apenas em preço. É a comoditização produtos ofertada continue a crescer, bem do produto na gôndola do supermercado. como os investimento em marketing para os Um grande erro, que tivemos oportunidade novos produtos lançados, criando um círculo de abordar em palestra aos envasadores du- vicioso que tende a empurrar o consumo do rante o Juice Summit de Madri, em 2012. suco de laranja, e também de outras frutas, ainda mais para baixo nos próximos anos. 4. Teto de preço imposto pelo suco de maçã ao suco de laranja, que causa fuga de con- Essa realidade ressalta algo que peço há sumidores sempre que há aumento do preço 20 anos para a cadeia produtiva brasileira: do nosso suco na gôndola dos supermerca- precisamos, mesmo com todas as dificul- dos alemães. dades oferecidas pelo ambiente produtivo brasileiro, investir em ganhos de produtivida- 5. Em função da falta de comunicação e de de para redução do custo do nosso produto investimentos em marketing, o consumidor entregue à Europa, para termos mais chances não sabe a diferença entre suco 100% e néc- de competir e gerar renda para ser distribuí- tar, o que é ruim, pois o consumidor associa da no Brasil. Pois será cada vez mais difícil a palavra néctar a açúcar. Além disso, no ganhar espaço em uma região que tem difícil ano de 2013 foi constatado que metade da ambiente de negociação do mundo. É na Eu- população alemã acima de 15 anos de idade ropa que encontramos o pior cenário de gran- está acima do peso e a associação do suco des redes varejistas que ditam os preços a se- CITRUSBR Fevereiro 2015 | 133 Série Consumo de Suco de Laranja performance para o comprador. Buscar sempre a sustentabilidade e as certificações de excelência. O Brasil tem o suco de laranja mais diferenciado do mundo! Em custos aos elementos da cadeia, destaco as importantes estratégias de CCCV ligadas a explorar com competência a atividade central da empresa (o core business); melhor uso de todos os ativos e recursos de organização; estratégia de produção em escala; qualidade, segurança e custos de insumos; eficiência em trabalho (simplicidade); contínuo redesenho das operações; estímulo de competição entre fornecedores; arquite- 134 | CITRUSBR Fevereiro 2015 rem praticados nas gôndolas, tornando-se os tura financeira criativa (fontes de recursos); envasadores de marcas próprias de suco (as busca dos melhores momentos de compras; chamadas private labels), muitas vezes tor- contratos estáveis buscando reduzir custos nando o restante da cadeia produtiva meros de transação; uso intensivo de inovações tec- tomadores de preço. nológicas redutoras de custos e gestão “celu- Para não terminarmos nossa série sobre lar” dos custos de produção. É necessário cor- a Alemanha sem um rumo, trazemos nova- tarmos onde pudermos para reduzir os custos mente aqui as estratégias que temos que de produção da cadeia citrícola brasileira. tomar. Além da agenda de políticas e ações Finalmente, em ações coletivas, destaco públicas, é fundamental a presença de um as importantes estratégias de CCCV ligadas setor privado ativo, inovador. Portanto, no a ações coletivas horizontais (empresas da âmbito empresarial, sempre relacionado mesma indústria) e verticais (da mesma ca- com o público, é necessário às empresas deia produtiva), ações com empresas não da cadeia citrícola atuarem no modelo que relacionadas; fortalecer as associações seto- chamo de CCCV (criação, captura e com- riais e entidades de representação, participar partilhamento de valor), visando o tripé de de cooperativas, criar e fortalecer consórcios ações estratégicas em diferenciação, custos e alianças estratégicas, entre outras formas e ações coletivas. de trabalho cooperativo. Melhorar a cadeia Em diferenciação destaco as importan- de suprimentos via montagem de centrais de tes estratégias de CCCV ligadas a construir compras, ações conjuntas em produtos/mar- uma abordagem de relacionamento inte- cas/embalagens e serviços, canais de distri- grado e oferta de soluções ao comprador; buição e vendas, comunicação, precificação, fortalecer sempre a pesquisa e a inovação, entre outras. É uma área onde o agro brasi- construir estratégias de fidelização, inovan- leiro tem muito a melhorar. E, para o bem do do em produtos/serviços, imagem e marca, setor citrícola, cada vez mais fortalecermos o soluções de embalagens, canais e força de Consecitrus, Fundecitrus e mais todas as im- vendas, serviços e ter como foco oferecer portantes organizações que temos. olho nos balanços Qual o caminho para Refresco-Gerber? Uma das maiores compradoras de suco do Brasil passa por um momento delicado e seus balanços mostram dificuldades a serem vencidas FOTO: SHUTTERSTOCK A Refresco-Gerber é hoje a maior compradora individual de suco brasileiro. Estima-se que a empresa, sozinha, compre algo em torno de 15% do volume total. Isso graças a uma fusão que dois anos atrás juntou as companhias GerberEmig e Refresco. À época, a ideia era construir uma das maiores empresas de suco do mundo. Porém, apesar dos ganhos de escala, quando se observa separadamente o que era Gerber e o que era Refresco, o negócio diminuiu de tamanho. De acordo com os resultados divulgados pela empresa, o seu volume de vendas caiu 2,2% nos primeiros nove meses de 2014. CITRUSBR Fevereiro 2015 | 135 olho nos balanços O mau resultado foi suficiente para que uma onda de especulações surgisse sobre o destino da companhia. Os rumores são de que ela poderia buscar novos rumos através da abertura de seu capital por meio de uma oferta pública de ações, o chamado IPO, ou até mesmo algo mais drástico: a venda da nova companhia. Isso sem falar em mudanças como a redução de preço das matérias-primas e dos insumos e o foco no envase de produtos com maior margem de lucro em detrimento dos demais. Isso significa, em outras palavras, apertar fornecedores de suco, como o Brasil, em busca de preços mais baixos. Segundo jornais europeus, o Blackstone Group, um dos gigantes do mercado de investimentos privados, estaria disposto a fazer uma oferta pela companhia. Também há rumores que outros grupos rivais, como o KKR e o CVC Partners esta- riam de olho na Refresco-Gerber. O que atrai esses grupos é uma extensa combinação de produtos e tipos de embalagens para bebidas que vão desde suco 100% até refrigerantes e águas minerais em embalagem longa vida. A primeira opção dos acionistas da Refresco-Gerber seria abrir o capital da empresa na Bolsa de Valores de Londres por meio de um IPO. Porém, depois da queda dos mercados globais em se- DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO PERÍODO DA REFRESCO-GERBER Veja os resultados econômicos da empresa no 3º trimestre de 2014 Acumulado do 3° Trimestre de 2014 Unidade 9 meses 2013 9 meses 2014 Variação % Receita total Milhões de Euros € 1,176.60 € 1,538.90 30.8% Volume Vendido Milhões de Litros 3,829.8 4,581.8 19.6% Margem de lucro bruta por litro Euros € 0.12 € 0.14 17.5% Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização Milhões de Euros € 109.40 € 159.90 46.2% Depreciação e amortização Milhões de Euros € 51.80 € 64.00 23.6% Fusão, reestruturação e outras despesas Milhões de Euros € 9.10 € 9.80 7.7% Lucro operacional Milhões de Euros € 48.50 € 86.10 77.5% Lucro operacional por litro Euros € 0.01 € 0.02 48.4% Lucro líquido Milhões de Euros € 6.80 € 33.90 398.5% Caixa e equivalentes no final do período Milhões de Euros € 113.60 € 107.50 -5.4% 136 | CITRUSBR Fevereiro 2015 VENDA OU IPO? Jornal Britânico The Telegraph publicou reportagem em que comenta o interesse de outros grupos na aquisição da empresa, além de citar que a gigante das bebidas poderia abrir seu capital na Bolsa de Londres tembro de 2014, a opção pela venda da empresa ganhou força. No entanto, de acordo com matéria publicada no jornal britânico The Telegraph, os problemas ocorridos no ano passado já teriam sido superados e o IPO ainda seria uma opção para a Refresco-Gerber. Mas há urgência para que o processo ocorra no início de 2015, antes das eleições gerais na Inglaterra, que podem trazer instabilidade aos mercados. A empresa não comenta sobre a possibilidade de ser vendida. No comunicado à imprensa publicado em 20 de novembro de 2014, em que foram divulgados os números do terceiro trimestre de 2014, o CEO da empresa, Hans Roelefs se limitou a comentar os resultados obtidos. Veja a íntegra da nota: “Estamos satisfeitos em anunciar lucros operacionais e fluxos de caixa robustos pelo terceiro trimestre FOTOS: JULIO VILELA consecutivo. A performance da operação permaneceu sólida, dirigida pela estratégia de seletivamente balancear volumes e margens, concentrando nossos esforços em bebidas com maior margem de lucro. Apesar da estratégia ocasionalmente afetar negativamente os volumes envasados, a opção se mostra vantajosa ao passo que permite um melhor desenvolvimento das nossas operações. O significante aumento em volumes e receitas da empresa foi resultado do processo de fusão com a Gerber-Emig. Porém, comparando os volumes sem considerarmos a fusão, vemos que condições econômicas desfavoráveis em alguns mercados e péssimo clima no mês de agosto impactaram severamente os volumes em agosto e setembro de 2014 como um todo. Além da influência da queda dos volumes nas receitas, houve também o impacto da redução dos preços de gôndola dos nossos produtos devido a reduções de custos obtidas nas negociações para compra de insumos e matérias-primas. Nós continuamos a aplicar nossos esforços na busca de excelência operacional e a completa integração das duas empresas Refresco e Gerber-Emig está no caminho correto para ser finalizada antes do final de 2015. As sinergias estão surgindo de forma mais rápida que o previsto, nossos custos estão completamente sob controle e acreditamos que podemos manter nossa performance no restante do ano de 2014. O sucesso do processo de fusão deu início à próxima fase de desenvolvimento da Refresco-Gerber e estamos ativamente explorando as alternativas de estruturação financeira que nos darão suporte para aproveitar as oportunidades de crescimento orgânico e de crescimento via aquisições que enxergamos na Europa e em outras partes do mundo.” NÚMEROS NA MESA Observando seus resultados, vemos que a empresa envasou 4,5 bilhões de litros e obteve receitas da ordem de 1,5 bilhão de euros no terceiro trimestre de 2014, um aumento de 19,6% em volume e de 30,8% em receitas na comparação com os números do mesmo período de 2013. Porém, o comunicado ressalta que, na comparação, sem considerar a fusão, houve uma queda de 2,2% no volume vendido nos nove primeiros meses do ano, índice um pouco menor que a queda registrada nos países da Europa Ocidental. O aumento no lucro operacional, porém, é de 48% por litro envasado nos primeiros nove meses de 2014. Eles geraram enormes ganhos financeiros inerentes à fusão das duas gigantes. Isso além das eficiências operacionais que tiveram a seu favor com a recente redução dos preços do FCOJ e do NFC, com a drástica queda do preço do suco de maçã, redução dos custos das garrafas PET devido à queda das cotações internacionais do petróleo, dentre outras economias. Fazendo uma conta simples, verificamos que o lucro operacional de 0,0188 de euro por litro envasado corresponde a 0,0235 dólar por litro a uma taxa de câmbio de BALANÇO FINANCEIRO DA REFRESCO-GERBER Comparativo de resultados alncaçados no 3º trimestre de 2014 e 2013 Acumulado do 3° Trimestre de 2014 Passivo Total Excl. Patrimonio Líquido Milhões de Euros em 30/09/2013 Milhões de Euros em 30/09/2014 Variação % € 1,064.8 € 1,304.4 22.5% Passivo Realizável a Longo Prazo € 698.7 € 749.7 7.3% Empréstimos € 654.2 € 685.8 4.8% Derivativos € 6.4 € 10.6 65.6% Imposto Diferido e Outras Provisões € 38.1 € 53.3 39.9% Passivo Circulante € 366.1 € 554.7 51.5% Empréstimos € 2.8 € 5.3 89.3% Contas a pagar € 363.3 € 549.4 51.2% Ativo Total Excl. Prédios, Instalações e Intangíveis € 576.3 € 732.7 27.1% Ativo Realizável a Longo Prazo € 16.7 € 14.2 -15.0% Imobilizações Financeiras € 5.9 € 5.6 -5.1% Imposto Diferido € 10.8 € 8.6 -20.4% Ativo Circulante € 559.6 € 718.5 28.4% Estoques € 177.7 € 200.5 12.8% Outros Ativos Circulantes € 268.3 € 410.5 53.0% Caixa e Equivalentes € 113.6 € 107.5 -5.4% Valor Patrimonial da Empresa Excl. Intangíveis € 488.5 € 571.7 17.0% CITRUSBR Fevereiro 2015 | 137 olho nos balanços US$ 1,25 para cada euro. Considerando a existência de 22 litros de suco de laranja pronto para beber em uma caixa de laranja de 40,8 kg, chegamos a um lucro equivalente na caixa de laranja de US$ 0,52 por caixa de laranja de 40,8 kg, ou R$ 1,29, considerando o dólar ao câmbio de R$ 2,50 para cada litro envasado pela Refresco-Gerber. Isso mostra o movimento de transferência de renda do suco produzido no Brasil para as empresas envasadoras e, posteriormente, para o varejista. Esse número é uma média dos resultados obtidos pela empresa com todo seu portfólio, desde os produtos e sabores mais lucrativos até os de menor rentabilidade. Todos os mercados, com exceção de Itália e Benelux, bloco formado por Holanda, Bélgica e Luxemburgo, registraram aumento de receita no terceiro trimestre. Em ambos os mercados, entretanto, a participação de mercado foi mantida. O aumento nas receitas na Alemanha, França, Reino Unido e nordeste europeu se deu exclusivamente em razão da fusão das empresas. A margem de lucro bruta por litro do terceiro trimestre de 2014 foi de 0,143 centavo de euro comparados a 0,118 centavos de euro no mesmo período do ano anterior. A melhora é também reflexo de benefícios operacionais alcançados com a fusão e da estratégia de priorizar produtos com maior margem de lucro. Além desses fatores, matérias-primas e insumos a preços menores também contribuíram para a melhora nas margens. O lucro líquido do terceiro trimestre foi de 12 milhões de euros, o que corresponde a um ganho de 138 | CITRUSBR Fevereiro 2015 REFRESCO-GERBER / VENDAS POR REGIÃO Veja o desempenho da empresa nos principais mercados em que atua Acumulado do 3° Trimestre de 2014 Milhões de Euros 9 meses 2013 Variação % 9 meses 2014 Benelux € 369.8 € 336.6 -9.0% Alemanha € 255.3 € 341.3 33.7% França € 196.3 € 245.4 25.0% € 37.7 € 274.4 627.9% Reino Unido Península Ibérica € 113.4 € 118.0 4.1% Itália € 120.1 € 110.8 -7.7% € 84.0 € 112.4 33.8% € 1,176.6 € 1,538.9 30.8% Polônia e Finlândia Receita Total 2 milhões de euros ante o mesmo período de 2013, relacionados a uma margem de lucro média maior, sinergias e redução geral de custos de operação. O lucro líquido obtido nos primeiros nove meses do ano cresceu 27,1 milhões de euros, totalizando 33,9 milhões de euros em 2014, frente a 6,8 milhões de euros em 2013. No trimestre, a empresa também registrou a venda de sua fábrica em Waibstadt na Alemanha, que pertencia à Gerber-Emig e teve de ser negociada como parte do acordo feito com o órgão que analisa questões de concorrência na Europa, para a aprovação da fusão. A baixa no ativo fixo da empresa foi da ordem de 21 milhões de euros. O esforço para integrar as estruturas da Refresco e da Gerber-Emig fez com que o nível de investimentos saltasse de 7 milhões de euros no terceiro trimestre de 2013 para 13 milhões de euros no mesmo período em 2014. HANS ROELEFS Ceo da RefrescoGerber não comenta os rumores de venda da empresa RAIO X DO BALANÇO Quais são os principais resultados da Refresco-Gerber no terceiro trimestre Uma significante melhora, impulsionada por sinergias que resultaram da fusão entre Refresco e Gerber-Emig. O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização dos nove primeiros meses de 2014 foi 159 milhões de euros. O lucro líquido dos primeiros nove meses de 2014 de 33,9 milhões de euros comparados a 6,8 milhões de euros no mesmo período do ano anterior. Fluxo de caixa acumulado nos primeiros nove meses de 2014 foi de 143,7 milhões de euros comparados a 46,8 milhões de euros no mesmo período do ano anterior. A margem de lucro bruta teve crescimento de 17,5%, para 0,141 centavo de euro nos primeiros nove meses de 2014 FOTO: DIVULGAÇÃO artigo| Por Mauricio MENDES, consultor do Gconci e diretor da Agrotools O brasileiro é sim um grande consumidor de suco de laranja! No momento em que há uma grande preocupação de toda a citricultura com a queda de consumo de suco processado de laranja, notadamente pelos países consumidores tradicionais da América do Norte e da Europa Ocidental, os olhos de produtores e indústria devem se voltar para os mercados emergentes, onde o Brasil está incluído e tem posição de destaque. No setor de bebidas, vimos investimentos significativos feitos por Coca-Cola, Pepsi e Kirin, adquirindo outras empresas e entrando pesado em novos setores, como água mineral, águas saborizadas, água de coco e bebidas de soja. Os sucos também foram contemplados com a chegada das chamadas superfrutas, como romã, lichia, cranberry, blueberries e outras. No sentido contrário, está o mercado interno de suco de laranja. Embora em termos relativos tenha havido crescimento de consumo, o maior produtor de laranjas e de suco industrializado da fruta do mundo consome pouco mais de 7%. Mais curioso ainda é verificar que o sabor laranja é o terceiro colocado entre os sucos prontos para beber, vem atrás do suco de uva e de pêssego. Por esta perspectiva, se poderia concluir que o brasileiro toma pouco suco de laranja, mas isso não é verdade. É fato que não é um grande consumidor de suco industrializado, no entanto, é um grande tomador do suco natural, extraído da própria fruta. Segundo o USDA – infelizmente, o único órgão que tem um balanço completo de oferta e demanda da citriculFOTO: DIVULGAÇÃO tura para todo o Brasil –, 130 milhões de caixas de 40,8 kg de laranjas vão para o mercado interno, já excluídas as perdas e quedas de frutas não colhidas. Sabe-se que grande parte desta fruta se transforma em suco nos bares, nos lares, nos hotéis e restaurantes. Uma parte bem menor é descascada para virar sobremesa ou complemento de feijoada. Assim, mesmo supondo-se que “apenas” 80 milhões de caixas se transformem em suco, esta quantidade é capaz de gerar algo como 300 mil toneladas de suco (66º. Brix). É uma quantidade importante, levando-se em consideração que o maior consumidor de suco do mundo, os Estados Unidos, consome tária sobre o suco industrializado que fica no mercado interno brasileiro é extremamente alta: “27,5%, apenas em ICMS, PIS e Cofins, sem contar os tributos cobrados ao longo do processo produtivo”. Como resultado, este suco chega a um valor final proibitivo e sem condições de competir com o natural. Por outro lado, existem alguns aspectos favoráveis ao suco industrializado, como a dificuldade crescente de se espremer suco “na hora” em bares, lanchonetes e restaurantes, além de dificuldade de armazenagem e descarte do bagaço (resíduo). Assim, concluindo, em primeiro lugar tem-se que considerar que estamos sim diante de um grande mercado Para conquistar esse mercado é preciso marketing e qualidade 700 mil toneladas e que o maior cliente do Brasil, a Alemanha, compra 170 mil toneladas (2013). Então por que a dificuldade de se emplacar o suco industrializado no Brasil? O brasileiro é um privilegiado, pois a laranja está disponível praticamente ao longo do ano todo e a um preço extremamente acessível. O consumidor também encontra suco “espremido na hora” em praticamente todos os pontos de alimentação do País. Além disso, estudo recente da Markestrat apontou que a carga tribu- consumidor, mas que é extremamente exigente. Então, para conquistar este mercado, é preciso oferecer em primeiro lugar qualidade, mas facilidade de manuseio e preço devem vir juntos. É preciso também, como em todos os casos em que se quer oferecer algo novo a um consumidor, haver excelente planejamento de marketing, boa estratégia de comunicação e ações direcionadas ao consumidor final. Contato: [email protected] CITRUSBR Fevereiro 2015 | 139