argumentação e e-democracia: uma analise de - xi
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ARGUMENTAÇÃO E E-DEMOCRACIA: UMA ANALISE DE FERRAMENTAS EM ESCALA MUNDIAL PARA UMA DISCUSSÃO PÚBLICA CRÍTICA RODRIGO FREITAS COSTA CANAL 1 MARIA AUGUSTA FREITAS COSTA CANAL2 Resumo Como podemos fazer para participar de forma efetiva e com qualidade, nas esferas estatais/governamentais, levando em conta os diversos e diferentes grupos sociais? Quais viabilizações de ambientes em escala espaço-temporal do meio técnico-cientifico-informacional são capazes de possibilitar e aprofundar discussões sobre os assuntos públicos? O projeto denominado de Lógica Informal e Teoria da Argumentação podem nos ajudar a encontrar tais ferramentas computacionais, teóricas e critérios como respostas a essas questões. Neste trabalho, apresentamos alguns resultados e discutimos em que sentido os mesmos podem nos ajudar a incrementar/solidificar nossa capacidade de participação nas discussões de assuntos públicos junto ao governo e em nossas relações interpessoais via internet. Palavras-chave: Critérios para boa argumentação; e-democracia; ferramentas computacionais para argumentação; web semântica; analise e avaliação de argumentos. Abstract How can we do to participate effectively and with quality, in state / government levels, taking into account the various and different social groups? What enabling environments scale spatiotemporal of the technical-scientific-informational milieu are able to facilitate and deepen discussions on public issues? The project called Informal Logic and Argumentation Theory can help us find these tools (computational, theoretical and criteria) as responses to such questions. We present some results and discuss in what way they can help us improve / solidify our ability to participate in public affairs discussions with the government and in our interpersonal relationships via internet. Palavras-chave: Criteria for good argumentation; e-democracy; computational tools for arguing; semantic web; argument’s analysis and evalutaion. 1. Introdução A literatura revisada neste trabalho oferece respostas precisas e diretas às questões que propomos responder neste trabalho, “Como devemos fazer para participar de forma efetiva e com qualidade, nas esferas estatais/governamentais, levando em conta os diversos e diferentes grupos sociais? Quais viabilizações de ambientes em escala espaço-temporal do meio técnico-cientifico-informacional são capazes de possibilitar e aprofundar discussões sobre os assuntos públicos?” No entanto, não é nosso intuito pretender fechar essas questões e nem mesmo tratar os autores dos textos como autoridades intelectuais supremas, uma vez que há outras ferramentas e abordagens a essas questões. Além do mais, as pesquisas ainda se encontram em fase de desenvolvimento, e não há consenso algum ainda entre os 1 Professor da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Pará. E-mail de contato: [email protected]. 2 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP/Presidente Prudente, e docente da Faculdade de Turismo (ICSA/UFPA). E-mail de contato: [email protected]. 7273 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO pesquisadores. Este é apenas um ensaio com o intuito de contribuir com a discussão mostrando algumas possibilidades teóricas já engendradas e alargar nossa compreensão do fenômeno da argumentação por meio da discussão de algumas de suas ferramentas e critérios básicos da argumentação, de alguns modelos computacionais para a argumentação hoje disponíveis e a relação destas com a e-democracia. Faremos assim uma breve revisão dos diferentes tipos de ferramentas, procurando destacar seus principais objetivos. 2. Logica informal, teoria da argumentação e modelos computacionais do argumento Lógica Informal e Teoria da Argumentação (daqui para frente LI e TA) designam hoje programas de pesquisas em que confluem diferentes áreas ou disciplinas cientificas e filosóficas, tais como a Inteligência Artificial, Psicologia, Linguística, Filosofia, Direito, Sociologia, etc. O problema central estudado nessas áreas é a natureza, estrutura e função (papel, importância, etc.) do fenômeno da argumentação. A LI teve seu inicio no final de 1970, vindo ao público pelo trabalho de um grupo de filósofos da América do Norte, tais como Michael Scriven, Trudy Govier, David Hitchcock, Perry Weddle, John Woods, Ralph H. Johnson e J. Anthony Blair: um empreendimento de pesquisa que se constitui como um estudo normativo do argumento (EEMEREN, et al, 2014). Isto é, uma tentativa de desenvolver uma lógica para que possamos analisar e avaliar os argumentos que ocorrem na linguagem natural: argumentos encontrados em discussões, debates e discordâncias que se manifestam na vida cotidiana - em comentários sociais e políticos; em reportagens e editoriais na mídia como jornais, revistas, televisão, a World Wide Web, twitter, etc., na publicidade e comunicações corporativas e governamentais, e em discussões interpessoais que estabelecemos com outros pessoas (GROARKE, 2011). Nesse viés, assim como a LI, a TA tem procurado compreender a natureza teórica, prática e normativa da argumentação, bem como estabelecer padrões não formais, critérios e procedimentos à análise, interpretação, avaliação e construção crítica de argumentos no discurso filosófico, cientifico e cotidiano (SANTIBÁÑEZ, 2012; Van EEMEREN, 2014). Os teóricos compreendem que a argumentação é por 7274 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO sua própria natureza um fenômeno (natural e humano) que é essencialmente familiar a todas as pessoas e um fenômeno complexo/multifacetado. O desenvolvimento de modelos computacionais do argumento está na interface entre a LI/TA e a Inteligência Artificial (IA, daqui em diante). Tais estudos têm desenvolvido modelos computacionais que possibilitam a discussão de um dado problema, tese ou ideia, de forma argumentativa, em ambientes virtuais nos quais podemos expressar, visualizar e discutir argumentos. Os modelos computacionais da argumentação têm como base um entendimento das propriedades teóricas dos diferentes tipos de logica da atividade da argumentação: que consiste em desenvolver e implementar (na pratica) modelos de sistemas de argumentação, através de uma notação convencionada e compartilhada para argumentação e argumentos (CHESÑEVAR; S ; ; ; ; e RAHWAN; REED, 2009). Os modelos computacionais são assim resultado das técnicas de aplicações teóricas e práticas no campo da IA e da ciência da computação, o que envolve um estudo da especificação semântica da lógica de programas, do processamento de linguagem natural, do raciocínio legal/jurídico, sistemas de apoio ou de suporte ao processo de decisão para a tomada de decisões humanas multipartidárias, sistemas para resolução (CHESÑEVAR; de conflitos, e ; aplicações L; em ; sistemas ; multi-agentes S WILLMOTT, 2006). Uma das ferramentas/modelos computacionais é o Argument Interchange Format (AIF) é uma proposta de formato intercambio ou de troca de argumentos e da argumentação (CHESÑEVAR; MCGINNIS; MODGIL; ; ; S construção de um modelo computacional que permita e facilite a elaboração de argumentação dentro de um sistema de multi-agentes em que o raciocínio e a interação sejam pautados em um formalismo compartilhado; assim como, permita e facilite “[...]o intercambio de dados/informação entre ferramentas para manipulação e visualização de argumentos[...]” (IDEM, p. 295, tradução nossa). Outras ferramentas/modelos os quais podemos comentar brevemente aqui são a) a Araucaria, uma ferramenta de analise; b) Rationale, uma ferramenta que 7275 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO permite a visualização de argumentos em um contexto primariamente educacional; c) Compendium, que objetiva não apenas focar em argumentos, mas sobre um amplo leque de outros tipos semânticos, tais como questões, decisões, etc.. d) Cohere procura suportar uma ampla gama de relações semânticas, sendo uma ferramenta o gerenciamento de ideias em geral, e tem um foco particular sobre aqueles que possam ser considerados argumentativos; já o sistema e) Carneades, é tanto uma estrutura para raciocínios sobre argumentos quanto um sistema que implementa essa mesma estrutura; f) AguGRID cobre um amplo espectro de atividade, e os modelos computacionais da argumentação estão como o centro dessa atividade: seu objetivo central usar argumentação para fornecer processos semanticamente férteis para negociação de serviços em toda a rede online; g) AAC, The Arguing Agents Competition, é um sistema de competição de Agentes/Usuários em argumentação, e objetiva fornecer um ambiente aberto e competitivo nos quais agentes podem competir em suas habilidades de arguir em relação a alguma ideia ou tese; o sistema h) InterLoc, se trata de um ambiente educacional virtual e online que visa estruturação de debates e teorias pedagógicas; por fim, o i) Argkit and Dungine, foi projetado para ser um sistema de código-base reutilizável, plug and play para o desenvolvimento e interligando aplicações que utilizam argumentos e, em particular, aqueles que têm um requisito para o processamento de argumentos abstratos (RAHWAN; REED, 2009, p. 398-400). 3. Algumas ferramentas teóricas para boa argumentação na perspectiva da e-democracia Tanto a LI quanto a TA podem ser vistas como um instrumento que nos orienta a saber como identificar e avaliar argumentos: nos ajuda a distinguir os argumentos válidos dos inválidos, permite-nos compreender por que razão uns são válidos e outros não, bem como ensina-nos a argumentar de forma correta e cogente. De acordo com alguns teóricos, o argumento é nada mais que um “átomo da razão”, uma via de expressão de nossa racionalidade, e é a “unidade mais básica completa do nosso raciocínio” (BAGGINI; FOSL, 2008, p. 13-14). Usamos argumentos como uma estratégia para persuasão, justificação de crenças ou pontos de vistas, usando frases de nossa língua cuja natureza é declarativa no sentido de que possuem valores de verdade (podem verdadeiras ou falsas): o campo das 7276 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO afirmações ou asserções ou, como gostam os filósofos, das proposições (EPSTEIN, 2010, p.8-11). Um argumento é uma inferência extraída de um ou de vários pontos de partida – as “premissas” – que conduzem a um ponto final – a “conclusão” (BAGGINI; FOSL: 2008, p.13-17). Um argumento é um conjunto de proposições que utilizamos para justificar (provar, corroborar, dar razão ou motivos, suportar, fundamentar, evidenciar, etc.) algo: a proposição que queremos justificar denominamos de conclusão; e as proposições com que justificamos, ou apoiamos, as conclusões damos o nome de premissas (BAGGINI; FOSL, 2008, p.13-17). Argumentar significa aqui apresentar um conjunto de razões, provas, motivos, evidencias, que fundamentam, sustentam, corroboram uma conclusão: usar argumentos é buscar fundamentar nossos pontos de vistas com razões (WESTON: 2009, p. XI). A distinção entre validade e verdade é uma importante ferramenta e um dos critérios sobre como argumentar minimamente corretamente. Enquanto a validade deve ser entendida como uma propriedade dos argumentos, a verdade deve ser compreendida como uma propriedade das proposições/afirmações/declarações. Apenas os argumentos podem ser válidos ou inválidos e somente as proposições ou declarações possuem valores de verdade, isto é, podem ser verdadeiras ou falsas. Um argumento é válido quando é impossível que tenha, ao mesmo tempo, todas as premissas verdadeiras e a conclusão falsa; quando a conclusão não se segue direta e necessariamente das premissas. Para um argumento ser válido não basta que as premissas e a conclusão sejam verdadeiras: é preciso que se torne impossível que, sendo as premissas verdadeiras, a conclusão seja falsa. A validade depende da conexão lógica entre as premissas e a conclusão dos argumentos e das relações logicas dos valores de verdades de cada uma das proposições individuais que constituem o argumento; uma questão de como esta formada a conexão lógica entre as premissas e a conclusão. Mas a validade é apenas um dos critérios e é apenas uma condição necessária da boa argumentação, e não condição suficiente, pois garante somente a correção 7277 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO do raciocínio, que se parte de um raciocínio correto3. No entanto, para argumentar bem, é necessário levar em conta outras condições e critérios. A condição seguinte rumo aos padrões da boa argumentação é o requisito da solidez: um argumento é sólido quando, além de válido, possui premissas, de fato, verdadeiras. Um argumento sólido não pode ter conclusão falsa, pois é, por definição, válido e tem premissas verdadeiras; a propriedade da validade dos argumentos exclui a possibilidade de se ter premissas verdadeiras e conclusão falsa constituindo os argumentos. A ultima condição e (requisito) para análise e construção de argumentos pode ser enunciada com a noção de cogência. A solidez garante que as razoes apresentadas são verdadeiras. Porém não fica excluída a possibilidade de que tenhamos argumentos que não são bons o suficiente para aceitarmos sua conclusão, simplesmente porque podem ter como padrão o fato de repetir na conclusão o que se havia afirmado nas premissas: numa boa argumentação não podemos repetir uma premissa numa conclusão porque isso torna o argumento não persuasivo e fraco (do ponto de vista da justificação racional), muito embora valido e solido. Desta forma, as razões que devemos apresentar a favor de uma conclusão devem ser plausíveis ou mais obvias para que nosso interlocutor possa aceitar a conclusão ou tese. Um argumento é bom (ou cogente) quando as premissas que apresentamos forem mais plausíveis ou mais verossímeis do que a conclusão. A argumentação também possui vários padrões funcionais, tais como findar uma diferença de opinião, gerar consenso, ou crenças verdadeiras e justificadas. As teorias epistemológicas da argumentação oferecem alguns tipos de critérios, o qual Lumer chamou de condições de adequação da boa argumentação, de modo que esta possa cumprir o padrão funcional, de um ponto de vista epistemológico, de nos fazer chegar a crenças verdadeiras e justificadas. Lumer pensa que há três categorias de critérios os quais podemos nos basear para argumentar bem, a saber: 3 Isso porque podemos ter argumentos válidos com conclusão falsa (se pelo menos uma das premissas o for, e num argumento valido não basta que as premissas sejam verdadeiras, mas que sejam impossível que a relação logica entres as proposições do argumento torne impossível ter premissas verdadeiras e conclusão fala). Seja em filosofia, na ciência ou na vida cotidiana, nossa ambição deve de ser sempre pretender chegar a conclusões verdadeiras, e para isso seja possível torna-se necessário o critério da solidez.0 7278 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1. AQ1: Aceitabilidade, garantir a aceitabilidade ou garantia de aceitabilidade (no original AQ1: Guarantee of acceptability). Quer dizer, um bom argumento, ou uma boa argumentação, o argumentador deve “garantir a aceitabilidade” da tese ou da conclusão, ou garantir que seu interlocutor aceite a conclusão do argumento (LUMER, 2005, p.194, tradução e adaptação livre). 2. AQ2: Raciocínio plausível ou Plausibilidade (AQ2, plausible reasoning, plausibilists criterias). De modo a oferecer orientação suficiente a uma boa argumentação, esse critério permite não tornar muito estreito a atividade já que inclui argumentos com características que não se restringem a ter premissas e conclusões já conhecidas como verdadeiras (epistemicamente) de antemão pelas pessoas (LUMER, 2005, p.194, tradução e adaptação livre). 3. AQ3: Acessibilidade. Por critério de acessibilidade deve-se entender critério de (e para o) acesso aos argumentos. Lumer pretende destacar com isso que somente verdade, aceitabilidade e implicação lógica não são suficientes para estabelecer as condições para uma boa argumentação (LUMER, 2005, p.194, tradução e adaptação livre). Essas são algumas das distinções, ferramentas e critérios básicos(as) da argumentação. Já foi possível vislumbrar indiretamente em que sentido estas ferramentas (conceituais e computacionais) poderiam ser vistas como um mecanismo que pode propiciar a constituição de processos democráticos de participação, em especial, aos vinculados a e-democracia. Mas o que nos leva a pensar assim? Através do uso das ferramentas aqui apresentadas, e por meio do contato e do conhecimento de argumentos a favor e contra a cada postura sobre uma questão de interesse publico, tal é importante a qualquer um que almeja exercer seus poderes cívicos plena e criticamente, através de portais governamentais de edemocracia. Além disso, as ferramentas computacionais procuram superar limitações que podem ocorrer quando uma pessoa deseja conhecer e raciocinar sobre uma dada questão: fornece ao usuário possibilidade de encontrar um fórum de discussão sobre o tópico em questão, bem como a possibilidade de o usuário expressar suas teses e argumentos e conhecer outros argumentos e avaliar sua plausibilidade via internet. 7279 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Tais ferramentas \ permitem que seus usuários estruturem seus argumentos através da articulação esquemática/diagramática de declarações em linguagem natural em vez de terem de usar declarações lógicas formais e formas logicas de argumentos, dado que é necessário dominar alguns elementos da logica formal para saber expressar declarações e argumentos em termos de forma logica corretamente. Como democracia e a e-democracia se relaciona com a argumentação? Podemos começar a abordar essa relação explicitando alguns princípios da democracia: um dos usos deste termo se refere a características tais como igualdade, liberdade e Estado de Direito. A democracia proporciona a todos os cidadãos o direito de participar livre e plenamente na vida cívica de sua sociedade. Hoje a ideia de e-democracia é promovida pelos governos de modo a incentivar a participação dos indivíduos no debate de questões importantes para o país, por meio da internet. A noção de e-democracia possui relação e pode ser entendida, como observaram Coleman e Norris (2005, p.6-7) de forma ampla e detalhada, com o uso da informação e das tecnologias de comunicação hoje disponíveis que tendem a promover estruturas e processos democráticos, transformando o debate e a cultura política nacional: cidadãos são capazes de participar desde de discussões sobre a pavimentação de estradas bem como a eleger políticos, pelo que poderemos perceber (se não aqui no Brasil pelo menos em outros países) a importância dos meios de comunicação eletrônicos dado o papel que podem desempenhar na remodelação do acesso ao que as pessoas podem saber, com quem se comunicam e o que podem necessitar saber para fazer certas coisas. Tal mudança na técnica humana tem permitido padrões mais ou menos democráticos de poder comunicativo e deliberativo. Ou seja, através da e-democracia os acordos políticos têm sido realizados através de comunicações eletrônicas utilizadas por aqueles com poder politico e por cidadãos que se interagem uns com os outros. Isso tem modificado a forma da interpretação padrão pela qual o poder é (e pode ser) usado, tratando-se de uma forma de capacitar os cidadãos no processo de tomada de importantes decisões nacionais. O conjunto de iniciativas pelas quais os recentes governos têm adotado para promover essa participação é através do que pode ser chamado de participação virtual/digital ou e-participação: por meio e-forums, audiências publicas 7280 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO virtuais, e-consultas, e-referendos, votação virtual, estabelecimento de e-regras. Se a democracia pode ser definida como um tipo de governos nos quais o poder supremo é ao mesmo tempo investido e exercido pelas pessoas, direta ou indiretamente, por meio de um sistema de representação, então a e-democracia pode ser entendida como uma democracia eletrônica pelo uso de ferramentas da tecnologia que capacitam e facilitam atividades democráticas (COLEMAN; NORRIS, 2005, p.6-7). Nesse viés, a e-democracia evidencia aquilo que Benakouche já nos alertava: “[...] erroneamente, supunha-se uma dicotomia na qual de um lado estaria a tecnologia – que provocaria impactos – e do outro, a sociedade – que os sofreriam [...]” (2005, p. 79). Benakouche (2005, p. 79) endossa um mesmo padrão de tese, de acordo com a qual podemos pensar a inserção de processos decisórios da administração pública e estatal por meio da internet, porque o “momentum” dessa tecnologia apresenta um contexto favorável dada a sua “[...] ampla aceitação por parte de indivíduos e instituições [...]”. Mas a inserção de instâncias participativas que incluam o maior número de pessoas diretas ou indiretamente envolvidas com um tema, não constitui, segundo Souza (2002), tarefa fácil ante o sistema democrático representativo operante nos Estados contemporâneos. Dessa forma, qualquer mecanismo que se proponha a ampliar os processos decisórios e alargar a democracia no sentido de uma gestão mais direta, terá obstáculos que, de acordo com Saquet (2007; 2011) estão inerentes às contradições contidas no exercício do planejamento e gestão territoriais. Para este autor, a qualificação do governo local é fundamental para “[...] gerir as mudanças e as permanências territoriais, as desigualdades, as diferenças, as identidades, as redes e os “jogos” de poder, por meio de políticas precisas e coerentes com a complexidade do real [...]” (SAQUET, 2011, p. 12). Ainda segundo Saquet, nas discussões e nas implementações de políticas e ações de planejamento democráticas é imprescindível a participação do “sujeito social”: “[...] É fundamental participar, portanto, das audiências públicas, das definições dos planos de investimentos e das sessões legislativas [...]” (IDEM, p. 13). A configuração de uma ferramenta lógica destinada a análise e avaliação de argumentos proferidos em situações cotidianas, poderia contribuir para desmistificar 7281 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO a informação comum como apenas técnicas de produção direta, bem como, para indicar que “[...] os mesmos interesses criam uma solidariedade ativa, manifestada em formas de expressão comum, gerando, desse modo, uma ação política [...]” (SANTOS, 1999, p. 223). O que implica em dizer que os objetos técnicos da era da informação propiciados pela globalização e seu meio técnico-científico-informacional poderia servir a outros propósitos (IDEM) como, por exemplo, na igualdade efetiva de oportunidades e de acesso a informações confiáveis aos diversos grupos sociais (Souza, 2002). Nesse sentido, compreendemos a importância da apreciação desses estudos e ferramentas técnicas para “[...]verificar, sistematicamente, o papel do fenómeno técnico na produção e nas transformações do espaço geográfico” (SANTOS, 1999, p. 27). Isso porque, segundo Santos (1999), a técnica em si deve ser compreendida como meio, um objeto técnico concreto que se torna meio e condição para ação de um conjunto social. Não foi nossa pretensão defender um modelo computacional e uma sociedade em rede como movimento de um New Urbanism nos moldes propostos, por exemplo, pela concepção de Smart city, em que o processo democrático seja vinculado a inovação tecnológica e das telecomunicações, mas pensar o Smartness em relação a e-democracia e a e-governance como um continuo aprendizado social (de acordo com CRIVELLO, 2013, p. 52), como um viés de participação social nos moldes de “[...] sistemas territoriais locais, nos quais os sujeitos sociais – indivíduos coletivos, públicos o privados – actuam como nós das redes virtuais [...]” (DEMMATTES, 2006, p. 53). O tipo de relação entre a democracia (e e-democracia) e a argumentação que temos em mente não é um assunto novo. Foi primariamente explorada e defendida pelos filósofos da cultura grega clássica, e um dos aspectos da revolução cultural que ocasionaram não foi apenas no sentido explicarem os fenômenos naturais por meio da observação, da experimentação e do raciocínio intenso a priori e a posteriori, mas também, como observou Desiderio Murcho em Filosofia, Valor e Verdade (2006), ao terem aplicado o raciocínio a debates públicos reais sobre questões de interesse da sociedade da época: “(...) os filósofos da Grécia antiga 7282 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO expunham as suas ideias e desafiavam os interlocutores a discuti-las livremente (...)” (MURCHO, p.86). Os gregos foram os primeiros a entenderem a importância da argumentação numa democracia; que precisamos argumentar para discutir ideias genuinamente; que argumentar é procurar defender ideias com razoes; que uma discussão argumentativa se constitui como uma relação entre um argumentador e um interlocutor, relação essa em que ambos apresentam razoes para cada ideia discutida; e que numa democracia as pessoas, ao fazerem isso, têm de ter liberdade intelectual para tal. 4. Considerações finais Para finalizar, vimos que a partir da perspectiva da LI e da TA (especialmente a discussão sobre as ferramentas computacionais e de analise e avaliação de argumentos) podemos pensar acerca de uma concepção de democracia e de edemocracia cujo livre exercício do “poder cívico” de qualquer cidadão deva ser feito com responsabilidade epistêmica, de modo que possamos discutir questões acerca seja do que for da forma mais coerente, crítica e inteligível. Isso porque, as ferramentas aqui exploradas podem funcionar e auxiliar na superação de limitações passíveis de ocorrer quando uma pessoa deseja conhecer e raciocinar sobre uma dada questão, em especial no que tange aos argumentos apresentados na internet. Tais ferramentas procuram fornecer e garantir meios de interoperabilidade de argumentos através da articulação esquemática/diagramática de declarações em linguagem natural em vez de terem de usar declarações lógicas formais e formas lógicas de argumentos, sem a perda de noções de como validade, verdade, solidez, cogência. Noções que nos fornecem algumas ideias (critérios ou orientações) sobre o que se deve fazer para argumentar bem e racionalmente de um ponto de vista logico e epistêmico, dando clareza e compreensão aos debates e participação social nas instâncias de e-democracias e, consecutivamente, na ampliação e consolidação de processos democráticos em geral. 5. Referências bibliográficas BAGGINI, Julian; FOSL, Peter S. As ferramentas dos filósofos: um compendio sobre conceitos e métodos filosóficos. São Paulo: Loyola, 2008. 7283 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO BENAKOUCHE, T. Tecnologia é sociedade: contra a noção de impacto tecnológico. In: DIAS, L.C.; SILVEIRA, R. L. L. da. (ORGs). Redes, sociedade e território. Santa Cruz do Sul: EDUNIC, 2005. CHESNEVAR, Carlos; MCGINNIS, Jarred; MODGIL, Sanjay; RAHWAN, Iyad; REED, Chris; SIMARI, Guillermo; SOUTH, Matthew; VREESWIJK, Gerard; WILLMOTT, Steven. Towards an Argument Interchange Format. The Knowledge Engineering Review, v.00, n.0, p. 1–25. 2007. COLEMAN, Stephen; NORRIS, Donald F. A new agenda for e-democracy. Oxford Internet Institute, Forum Discussion Paper No. 4, 2005. Disponível em: www.oii.ox.ac.uk/resources/publications/FD4.pdf. Acessado em: 29 de maio de 2015. CRIVELLO, S. Circolazione, riproduzione e adattamento dell’idea di città smart. In: SANTAGELO, M.; ARU, S.; POLLIO, A. 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