Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Alquimy Art Curso de
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Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Alquimy Art Curso de
Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Alquimy Art Curso de Especialização em Arteterapia Pós-Graduação lato sensu A TERRA E VOCÊ DANIELA FARIA DO AMARAL São Paulo, SP 2010 DANIELA FARIA DO AMARAL A TERRA E VOCÊ Monografia apresentada à FIZO - Faculdade Integração Zona Oeste, SP e ao Alquimy Art, SP, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Arteterapia. Orientador: Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini. São Paulo, SP 2010 AMARAL, Daniela Faria do A Terra e Você /Daniela Faria do Amaral – Osasco; [s.n.], 2010. 104p. Monografia (Especialização em Arteterapia) – FIZO, Faculdade Integração Zona Oeste. Alquimy Art, SP. 1. Arteterapia. 2. Ecoarteterapia. 3. Meio Ambiente. Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Alquimy Art A TERRA E VOCÊ Monografia apresentada pelo (a) aluno (a) Daniela Faria do Amaral ao curso de Especialização em Arteterapia em 24 de outubro de 2009 e recebendo a avaliação da Banca Examinadora constituída pelos professores: __________________________________________________________ Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Orientadora e Coordenadora da Especialização. __________________________________________________________ Profa. Ms. Deolinda F. Fabietti, Coordenadora Local e Supervisora. Dedico esta monografia, à consciência, ao amor e à criatividade do ser humano para que ele possa manter viva a chama da vida que lhe dá forças para cuidar de si e do seu lar, o planeta Terra, sabendo que um faz parte do outro e que esta interconexão pode ser plenamente celebrada. Agradecimentos Agradeço A TODOS, ...colegas, professores, amigos, família, participantes, autores e mentores que fizeram parte do meu caminho trazendo uma abundância de inspirações, sabedoria, apoio e confiança. Principalmente, agradeço às minhas professoras da Alquimy Art, por facilitar o processo de encontrar um assunto dentro da Arteterapia, de uma maneira tão criativa e intuitiva, que alinhou o trabalho acadêmico com os propósitos mais profundos da minha Alma. Espero que assim também tenha me aproximado mais da Alma da Natureza de quem faço parte. Também quero agradecer à orientadora Cristina Dias Allessandrini, à leitora crítica e supervisora Deolinda Fabietti, e a Margaret Pela, que foi muito além de simplesmente revisora, minha gratidão pelas insistências de que o trabalho sempre poderia melhorar. “De qual relevância será o fato de que cada um de nós faz parte da natureza? Que somos conectados ao ar, água, a terra, aos animais e as plantas? Que nós respiramos o mesmo ar, bebemos a mesma água, comemos a comida que vem deles? Que sem estas coisas morreríamos?” (FARRELLY-HANSEN, 2001, p. 141) ) RESUMO A monografia trata da importância da relação entre o ser humano e o meio ambiente para o bem-estar pessoal e planetário. O contexto da Arteterapia precisa considerar como que o desequilíbrio da relação com o meio ambiente afeta a saúde mental e emocional e vice versa. Várias disciplinas que focam na saúde do ser humano e do meio ambiente são investigadas, para alimentar a base teórica. Uma crítica é feita sobre as causas pertinentes à destruição ambiental. O trabalho terapêutico é considerado dentro de uma visão de interconexão entre o ser humano e o meio ambiente e as propostas com soluções para o desequilíbrio são expostas através de várias disciplinas. Investiga-se como a metodologia arteterapêutica tem uma base ecológica e apresentam-se as práticas arteterapêuticas que lidam especificamente com a questão da relação entre o ser humano e o meio ambiente, apresentando uma coleção de soluções e práticas transdisciplinares que buscam maior saúde sistêmica. A criatividade e sua relação com a força vital do ser humano e do meio ambiente é discutida, inclusive como um caminho de maior saúde pessoal e ambiental. Uma pesquisa prática relata três projetos arteterapêuticos em que a relação do ser humano com o meio ambiente é inserida de diversas formas. Esta relação é trabalhada num nível interno e externo, simbólico e sensório. Os projetos tentam fazer uma ponte entre a natureza interna e a externa, trabalhando a consciência da interconexão entre o ser humano e o meio ambiente. A conclusão final mostra tanto os benefícios de considerar tal relação dentro da Arteterapia, como também a importância e necessidade de a Arteterapia acompanhar as atuais comprovações sobre a delicada inter-relação em todos os níveis de saúde, entre o homem e a Terra. Palavra-chaves: Arteterapia. Ecologia. Ecoarteterapia. Meio Ambiente. ABSTRACT The monograph deals with the relationship between human beings and the environment and its importance for personal and planetary well-being. The Art therapy context must consider how the imbalances in the relationship with the environment affect mental and emotional health and vice versa. Many disciplines, which focus on the health of human beings and the environment, are investigated, to support the theoretical basis. A critical eye is cast over the pertinent causes of environmental destruction. Therapeutic practices are considered within the framework of the interconnection between human beings and the environment and proposals for solutions to the lack of balance are exposed by various disciplines. It is investigated how fundamentally Art therapy‟s methodology has an ecological basis. Art therapy practices, which deal specifically with the issue of the relationship between human beings and the environment, are also investigated leading to a collection of trans-disciplinary solutions, which seek greater systemic health. Creativity and its relation to the vital life force of human beings and the environment are discussed, proving to be a path to greater personal and environmental health. Practical research reviews three Art therapy projects, where the relationship between human beings and the environment are included in diverse ways. This relationship is worked on, at both internal and external levels as well as symbolic and sensory levels. The projects try and create a bridge between internal and external nature, working on the consciousness of the interconnection between human beings and the environment. The final conclusion shows the benefits of taking this relationship into account within Art therapy practices, as well as the importance and need for Art therapy to accompany the current evidence on the delicate, interconnected links on all levels of health, between man and planet Earth. Key-words: Art Therapy. Ecology. Eco-Art therapy. Environment. SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................... 06 ABSTRACT ........................................................................................................... 09 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12 1.1 TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL ............................................ 12 1.2 APRESENTAÇÃO....................................................................................... 17 2. SER HUMANO E MEIO AMBIENTE - VISÃO INTERDISCIPLINAR ................ 19 2.1 Psicologia .................................................................................................. 20 2.1.1 Soluções psicoterapêuticas. ................................................................ 26 2.2 Xamanismo ............................................................................................... 29 2.2.1 Soluções xamânicas ............................................................................. 32 2.3 Budismo .................................................................................................... 34 2.4 Ecologia ..................................................................................................... 37 2.5 Educação Ambiental ................................................................................. 41 2.6 Artes Plásticas............................................................................................................. 44 3. ARTETERAPIA - UMA TERAPIA ECOLÓGICA ............................................... 52 3.1 Introdução ................................................................................................. 52 3.2 Histórico .................................................................................................... 53 3.3 Arteterapia: Metodologia Ecológica ....................................................... 55 3.4 Criatividade ............................................................................................... 59 3.5 Arteterapia - Bem-estar Pessoal e Planetário ....................................... 65 3.6 Arteterapia e Comunidades Sustentáveis ............................................. 73 3.8 Transdisciplinaridade.............................................................................. 74 4. INTERCONEXÕES ENTRE SER HUMANO E MEIO AMBIENTE EM TRÊS PROJETOS DE ARTETERAPIA NO BRASIL ...................................................... 76 4.1 Introdução ................................................................................................. 76 4.2 Projeto Harmonia ..................................................................................... 76 4.2.1 Grupo 1: A Árvore …………………………………………………………. 77 4.2.2 Grupo 3B- Contato ………………………………………………………… 79 4.2.3 Grupo 3: O mundo mágico, visível e invisível ...................................... 83 4.2.4 Conclusão do Projeto Harmonia .......................................................... 87 4.3 Projeto: Água, Arteterapia e Tecnologia Ecológica .............................. 88 4.4 Projeto: Retiro de Arte, Yoga e Vivências na Natureza ........................ 92 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ARTETERAPIA, A NATUREZA E O NOVO PARADIGMA .............................. 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 100 12 1 INTRODUÇÃO 1.1 Trajetória pessoal e profissional Como surgiu, nasceu, apareceu o interesse, a necessidade e a inspiração em unir a relação do ser humano com a Terra e a Arteterapia? Nasci e cresci em Londres, na Inglaterra de pais brasileiros recém chegados do Brasil. A dupla cultura trouxe-me muitas riquezas durante minha vida, inclusive a vontade de algum dia morar no Brasil e descobrir minhas raízes. Passei muitas férias no Brasil, então as raízes foram crescendo. Sempre fui muito consciente das diferentes maneiras de o ser humano viver tanto em família, em sociedade como individualmente, em relação ao meio ambiente, talvez por ter tido a oportunidade de vivenciar culturas e costumes variados. Londres, mesmo, era casa para pessoas de muitos países, não só para ingleses. Aos dezoito anos, passei seis meses no Nepal morando com uma família num pequeno vilarejo nas montanhas e dando aula de inglês numa escola rural. A vida do dia a dia era simples, um lugar de pobre materialismo, porém rica em qualidade ambiental e humana. Esta simplicidade, o respeito e o encantamento do povo com a natureza a sua volta influenciou-me para o resto da minha vida. Em Londres formei-me em Artes Plásticas e logo depois fiz parte de um projeto, em escolas públicas, direcionado a crianças com problemas comportamentais. Passei um ano como assistente de arte em uma escola Waldorf onde a visão holística do ser humano inspirou-me bastante e, ao mesmo tempo, aprendi a massagem holística em que são unidas várias técnicas, inclusive conteúdos da Psicologia, para dar ênfase tanto ao físico quanto ao emocional e o mental, dentro da terapia corporal. Quanto mais trabalhava com a saúde emocional e física, pela arte e terapia corporal, mais crescia a minha vontade de viver fora da cidade. Passei a morar perto de Londres, ao lado de um bosque, campos e lagos para estar mais em contato com a natureza, mesmo que ainda passasse bastante tempo na cidade. Fazia-me bem, era mais saudável e trazia uma paz interior muito grande. Quando trabalhava num 13 lugar com jardim ou usava visualizações da natureza percebia um relaxamento muito mais profundo no cliente e também que problemas de ansiedade e depressão eram sintomas mais comuns nos adultos e crianças de cidades grandes. Em minha própria prática de arte busquei trazer temas terapêuticos e vi que a questão de equilíbrio ficava mais e mais presente. Em relação às cidades grandes sentia que havia realmente um desequilíbrio não só no estilo de vida, mas também, obviamente, com a natureza. Na prática de crânio sacral, uma terapia corporal que vem da osteopatia, aprendi a sentir o movimento interno do corpo e a perceber como é um movimento equilibrado quando a pessoa está saudável e em sintonia com a quietude interna e externa. Questiono-me se a Terra e os seres que a habitam estão neste momento expressando e vivendo um movimento interno equilibrado ou não. Pouco tempo depois senti que chegava a hora de fazer um “pulo” e me mudar para o Brasil, descobrir minhas raízes e estar mais perto de parte de minha família. Comecei por passar mais tempo no Brasil antes da mudança. Viajei alguns meses pela Bahia, Santa Catarina, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Pará e Amazonas. Foi uma experiência incrível que abriu os meus olhos para as maravilhas naturais do Brasil e, ao mesmo tempo, para uma realidade social difícil. Passei parte deste tempo conhecendo comunidades e centros que tentavam inserir princípios ecológicos dentro de seu cotidiano. Vi como na sociedade moderna isto é um desafio geral que vai contra a corrente do modelo de vida desejado, seja dentro ou fora das cidades. Durante os verões de 2007 e 2008 vivi e trabalhei num centro ecológico de terapias e cursos holísticos no litoral da Bahia, um lugar onde além do desenvolvimento humano se presa a harmonia ecológica com o meio-ambiente. Pesquisei bastante sobre a ecologia, o que me fez perceber quanto esforço de mudança de consciência e hábitos é exigido neste caminho, e mesmo num lugar no qual o propósito se diz ser este, o caminho é, por enquanto, uma tentativa contínua tanto com erros como sucessos. A consciência da inter-relação entre o ser humano e o meio ambiente tem se tornado um tema de importância e urgência nos últimos anos para a população global. É algo que está agora inserido na cultura política e social. Tanto dentro como fora de centros urbanos as questões como o lixo, o tratamento de água, a agricultura orgânica etc. se tornam mais e mais importantes. A urgência de mudar os nossos 14 hábitos para salvar a nossa saúde e da Terra é clara, pois os danos causados pela forma que vivemos é algo cientificamente indiscutível. Mesmo que ainda esteja me educando, pois, na minha infância esta consciência ainda não existia, a vontade e pequenas tentativas de viver mais em harmonia e de uma forma sustentável com o meio ambiente é crescente em minha vida. Ficou mais e mais claro que quando trabalhamos com a saúde descobrimos que tudo está interligado nos planos físico, emocional e mental. Isto pode ser em relação a nós mesmos, ao nosso meio social efamiliar e ao meio ambiente. Minha própria experiência com agricultura e jardinagem em algumas comunidades e em minha casa mostrou como é terapêutico trabalhar com a terra e as plantas. Parece que nos faz respeitar um ritmo natural da vida, não um ritmo artificial, mesmo que seja um trabalho bastante duro, especialmente no sol! Mas, a partir daí já tinha nascido na minha alma a vontade de unir a Arteterapia com a nossa relação com a Terra. Eu só não tinha idéia de como seria isto! Mudei-me para morar no Brasil no final de 2007 e em 2008 comecei a pósgraduação em Arteterapia. Surgia frequentemente sonhos de unir este trabalho com a Permacultura (uma atitude de vida positiva que visa à sustentabilidade agrícola, social, cultural e econômica, sempre em harmonia com a natureza), pois sinto que a harmonia interna e a externa estão interligadas, e com a Arteterapia poderia trabalhar para fazer esta ponte. A Arteterapia com a consciência da Permacultura dará atenção à importância do bem-estar emocional estar ligado à harmonia com o meio ambiente. Por um lado, o bem-estar emocional e equilíbrio interno podem levar a pessoa a cuidar melhor do seu meio ambiente, e por outro lado a conexão profunda com a natureza e o envolvimento com a qualidade ambiental ajuda a criar o bem-estar emocional. O papel do Arteterapeuta nesta questão tanto no âmbito individual como social foi o que começou a me inspirar. Ao conhecer um engenheiro ambiental e permacultor, no meio de 2008, contei-lhe minhas idéias e que sentia que não tinha o conhecimento prático necessário para fazer um trabalho profundo. Ele, por sua vez, me contava de sua vontade de trazer um aspecto pessoal, espiritual e terapêutico ao seu curso de tratamento biológico de água. Então nasceu uma linda parceria e um começo de investigação para unir as duas disciplinas, Permacultura e Arteterapia. 15 Altas conversas, experiências compartilhadas, conhecimentos técnicos e pesquisas levaram às primeiras vivências Arteterapêuticas no curso de tratamento de água. Ele sentiu que foi inspirador e eu senti que, além disso, aprendi sobre a base científica da nossa relação com a natureza, para poder incorporar isto à Arteterapia de uma forma real e não romântica. No verão de 2008/2009 pudemos levar essas experiências de novo para uma “oficina de água” na Bahia, inspirando através da Arteterapia uma ligação e preocupação profunda com a água. Depois, desenvolvi várias vivências para um retiro arteterapêutico, que durou sete dias, explorando a nossa relação com os elementos como um caminho terapêutico. O estágio supervisionado, obrigatório do curso de pós-graduação em Arteterapia, constituiu-se em uma pesquisa, Projeto Harmonia, que buscou levar em consideração a harmonia interna e externa das pessoas, incluindo a relação com a natureza. Foi realizado com crianças e professores de uma escola rural em que foram utilizados recursos da natureza dentro e fora da sala de terapia, como parte do trabalho Arteterapêutico. Neste tempo de pesquisa, parceria, curso e retiro fui descobrindo como essas questões já estão sendo abordadas há algum tempo por vários terapeutas e educadores. Ficou claro que existia uma necessidade e demanda para este tema, além de ser um campo que está se abrindo e que teria várias direções de pesquisa para embasar uma linha de trabalho com referências sérias. Uma direção é a Ecopsicologia, campo que está conquistando pouco a pouco o seu lugar no mundo da Psicologia, investigando a relação do ser humano com o meio ambiente, inclusive o que é a saúde mental dentro do contexto do meioambiente. Também há filósofos e outros acadêmicos que escrevem sobre a relação do ser humano com o seu meioambiente. Por exemplo, dentro do Budismo, a relação emocional e mental entre o ser humano e o meio ambiente é uma teoria e prática bastante extensas. Também há os próprios arteterapeutas que exploram, dentro de seus trabalhos, questões de natureza e ecologia, assim como educadores ambientais que usam recursos artísticos; e mesmo que não seja a mesma disciplina vejo algumas práticas e conhecimentos que podem enriquecer muito a Arteterapia. 16 Também comecei a pesquisar artistas que exploram temas ecológicos e terapêuticos para enxergar o tema através desta linguagem inspiradora. O Xamanismo é outra linha importante para investigar, pois a relação da saúde psicológica do homem com a terra é a base deste trabalho em várias culturas. Existe tanto o Xamanismo contemporâneo adaptado por alguns psicólogos conhecidos, quanto o Xamanismo tradicional, que dentro da Antropologia também está bem retratado. Encontrei os meus pensamentos refletidos por Lester R. Brown, no livro “Ecopsychology, Restoring the Earth and Healing the Mind”1, quando escreve: “procurar curar a alma sem se referir ao sistema ecológico do qual todos somos uma parte integral é uma forma cega de autodestruição” (BROWN, 1995, p. xvi) (tradução nossa). No livro Budista, “Fazendo as pazes com o meio ambiente” (1999) o Llama Gangchen escreve que o meio ambiente externo é simplesmente um reflexo do meio ambiente interno em mente e corpo, e que para chegar à harmonia em um precisamos conquistar a harmonia no outro também. Jeanette Armstrong, também no livro “Echosychology. Restoring the Earth and Healing the Mind” (1995), escreve sobre o povo Okanagen, onde diz que quando o ser humano esquece que ele é literalmente um pedaço de terra e precisa manter uma conexão saudável com a Terra, a família e a comunidade, ele adoece. Dizem que temos a responsabilidade de cuidar da Terra como o nosso corpo porque ela é só uma extensão de nós mesmos. Talvez não seja uma coincidência que a minha investigação da Arteterapia através da integração do ser humano com a Terra chega ao mesmo momento que eu mesma volte às minhas raízes, a terra da minha família, buscando cuidar dos vínculos com a família, comunidade e a Terra. 1 Ecopsicologia. Restaurando a terra e curando a mente. (tradução nossa).Obra editadata por ROSAK, Theodore; GOMES, Mary E.; KANNER, Allen D. Ecopsychology. Restoring the Earth, Healing the mind. São Francisco: Sierra Club Books, 1995. 17 1.2 APRESENTAÇÃO Este trabalho se propõe a investigar a relação do ser humano com o meio ambiente. Tem como ponto de partida a questão: - Ao lidar com a saúde mental e emocional do ser humano, onde e como se insere a sua relação com o meio ambiente? - Será que é importante, e como poderia o campo de Arteterapia considerar as interconexões entre o ser humano e seu meio ambiente? A partir de uma pesquisa bibliográfica são abordadas várias teorias que estudam e trabalham para o bem-estar do ser humano e o meio-ambiente, dentre elas a Arteterapia, a Psicologia, o Budismo, o Xamanismo (antigo e contemporâneo), a Ecologia, a Filosofia, a Educaçao Ambiental e as Artes Plásticas. Este trabalho compõe-se de quatro partes, a saber: Na introdução e no segundo capítulo apresentam-se considerações interdisciplinares sobre as interconexões entre o ser humano e seu meio ambiente, para compreender a sua importância para um trabalho terapêutico. Um olhar crítico para o desequilíbrio ambiental atual reflete sobre o homem e seu distanciamento do meio natural devido à modernidade, e os problemas de saúde mental e emocional advindos deste desequilíbrio. Aborda-se o resgate pela re-conexão com o meio ambiente dentro de várias disciplinas para a restauração de saúde. O terceiro capítulo traz o foco para a Arteterapia. Apresenta como que a Arteterapia oferece ferramentas que promovem o reencontro com o eu inteiro, que inclui a natureza. Estuda-se a ligação entre a criatividade e a natureza e o papel da Arte no despertar da consciência para a saúde individual e planetária. Investiga-se como alguns arteterapeutas trazem a ecologia como um tema central dentro de suas práticas. O quarto capítulo pesquisa experiências práticas, dentro de três projetos de Arteterapia onde é incluída a relação do homem com o meio ambiente de formas distintas. O primeiro projeto acontece numa escola com crianças e adolescentes, o 18 segundo num centro pedagógico de tecnologias ecológicas e o terceiro num centro de retiros holísticos para autodesenvolvimento. No quinto e último capítulo, a trajetória leva a uma consideração final sobre os benefícios e a importância de considerar a relação com o meio ambiente dentro de um trabalho arteterapêutico, sendo que este propósito, além de trazer inúmeros recursos também atende às necessidades atuais do ser humano e do planeta Terra. 19 2 SER HUMANO E MEIO AMBIENTE - VISÃO INTERDISCIPLINAR O tema da relação entre o ser humano e o meio ambiente é especialmente pertinente neste momento, porque a sociedade contemporânea chegou a um momento da sua história em que percebeu que seu estilo de vida está destruindo o seu lar, e que a saúde do ser humano simplesmente não vai existir dissociada da saúde do planeta Terra. O planeta está sendo destruído cada vez mais rápido. Não só grandes indústrias são as culpadas, mas também as pequenas tarefas do dia a dia da maioria dos habitantes com um nível de vida considerado “bom” e “confortável” pelos parâmetros da cultura ocidental contribuem para esta destruição. Estamos perdendo diversidades enormes de flora e fauna, desestabilizando o clima e ameaçando a nossa própria sobrevivência. A extinção da nossa espécie não seria a primeira, e neste sentido, poderia ser parte do rumo “natural” do planeta. Mas o que diferencia esta extinção, é que somos nós, a própria raça humana, que está orquestrando, agora conscientemente, a destruição. “Números crescentes de pessoas tem chegado á conclusão que é nos corações e mentes dos seres humanos que as causas e a cura para a ecocatástrofe podem ser descobertas.” (METZNER, 1999, p. 2) (tradução nossa). Um estudo interdisciplinar sobre a relação emocional e mental entre o ser humano e o meio ambiente pode trazer maior compreensão sobre os fatores que influenciam esta relação, oferecendo soluções para que se construa uma relação mais saudável e feliz, onde o ser humano aprenda a amar e apoiar a sua própria vida e a vida do meio ambiente. Na Psicologia, a psique humana está sendo reexaminada e situada dentro da natureza como um todo, surgindo ao mesmo tempo profissionais que incluem em seus trabalhos a relação com o meio ambiente, de uma forma teórica e prática. No Xamanismo a interconexão entre o ser humano e a natureza e a manutenção do equilíbrio entre os dois, sempre foram fundamentos principais. 20 No Budismo a ilusão de separação é o que causa o sofrimento e destruição, e a verdadeira interdependência do meio ambiente interno e externo está retratada detalhadamente, inclusive o caminho para restaurar o equilíbrio. A Ecologia faz parte de um novo paradigma científico com a visão de interconexão mostrando que, ao em vez de entidades separadas, a vida no planeta é composta por redes interdependentes. A Educação Ambiental acredita que para compreender e implementar conceitos sobre o meio ambiente são necessárias vivências que unem o racional com o intuitivo, cultivando uma nova relação com a natureza. As Artes Plásticas oferecem um campo poético onde são exploradas as relações entre o ser humano e o meio ambiente por meio de inspirações criativas, que tanto retratam esta relação como contribuem com soluções. Muitas vezes uma crise é uma provação que nos fortalece, resgatando recursos para transformações e renovações necessárias. A convergência, de várias disciplinas que abordam este mesmo tema, oferece uma oportunidade de multiplicar os recursos para os caminhos desafiadores pela frente. 2.1 Psicologia 2 Figura 1 - Betty Rosak. 2 Disponível em:< http://ecopsychology.athabascau.ca/Final/broszak2.jpg>. Acesso em: 2 fev. 2010. 21 Dentro do campo da Ecopsicologia, campo que se define unindo o bem-estar individual e planetário, James Hillman, psicanalista jungiano questiona aonde começa e aonde termina o “Eu”. Ele diz que, ...pela maior parte da história, a psicologia situou este „eu‟ dentro das pessoas humanas definidas pela pele física e seu comportamento imediato. O sujeito era simplesmente, „eu no meu corpo e nas minhas relações com outros sujeitos‟. (HILLMAN, 1995, página xvii)(tradução nossa). Isto tem sido questionado e o Hillman propõe que só sabendo os limites do eu que nós podemos saber os limites da psicologia. Isto pode se estender às disciplinas como a Arteterapia com base na Psicologia. A definição da Psicologia é o estudo ou ordem (logos) da alma (psique). Muitos médicos ou filósofos, como Heráclitus e Hippocrates, 2500 anos atrás, já disseram que a alma vai muito além do corpo do ser humano e não conseguimos medi-la. Thomas Berry (2003) diz na apresentação do livro de Bill Plotkin “Soulcraft”, que até o século 16, no mundo ocidental, a alma era considerada fundamentalmente um conceito biológico, definido como o princípio primário de organização e sustentação de qualquer ser vivo. A alma do universo e a do ser humano era considerada a mesma, que se preenchem uma na outra. Após esta época houve uma nova linha de pensamento e razão científica, que se chamou época do iluminismo. O autor diz que uma vez que a existência da alma fora dos seres humanos foi rejeitada, foi difícil sustentar a ideia da alma em geral. Dentro deste ambiente científico, foi só após os estudos da Psicologia através de Jung que começou a ser acreditado novamente no ocidente que a Psicologia só faz sentido com a alma. A dimensão da alma no mundo natural começou a ser estudada por Jung, que enxergou a necessidade de reintegrar a alma humana aos poderes vitais da Terra. A adaptação do self profundo ao inconsciente coletivo e ao id é simplesmente a adaptação ao mundo natural, orgânico e inorgânico. Portanto, a harmonia de um indivíduo com o seu „próprio eu profundo‟ requer não só uma jornada interior mas uma harmonização com o mundo do meio ambiente. (HILLMAN, 1995, p. xix) (tradução nossa). Hillman diz que talvez analisar os nossos sentimentos seja tão subjetivo quanto analisar a qualidade de ar nas nossas cidades. Os abusos ambientais podem ser tão ou mais graves do que outros tipos de abuso. Portanto no que se diz respeito 22 à saúde do ser humano não podemos considerar a saúde da Terra como uma questão que pertence só à Ecologia, mas sim está dentro de todas as áreas que lidam com a saúde da psique ou alma. Hillman cita o tratado de Hippcrates, “Ar, Água, Lugares”, em que propõe que para compreender a desordem de qualquer sujeito precisamos estudar o ambiente da desordem, o tipo de água, os ventos, umidade, temperatura, comida e plantas, hora do dia e temporadas. Portanto que o tratamento do interior requer o tratamento do exterior. Algo que podemos ver repetido no Budismo, inclusive do lado inverso, ou seja, que o interior também trata o exterior. Quanto ao trabalho da Psicologia tradicionalmente praticada num espaço controlado e fechado, Hillman diz que veio principalmente com a ciência do século IXX, o objetivo de observar melhor o paciente e tirar conclusões mais exatas, mas ainda é possível estender este espaço para o mundo maior. Com isto seria necessário ter um olhar psicológico para o ar, as águas e os lugares, tanto como para as emoções, relacionamentos e memórias. Para o autor, “nós não podemos ser estudados à parte do nosso planeta... porque nesta alma do mundo a alma humana sempre teve a sua casa.”( 1995, p. xxiii) (tradução nossa). Farrelly-Hansen, arteterapeuta e psicóloga, reconhece que seu treinamento de Psicologia da temporada entre 1970 e 1980, tinha como visão o domínio do homem sobre a Terra, e ela celebra os novos conhecimentos de teorias sistêmicas e da física quântica que mostram que “homens, mulheres e crianças participam de uma rede de relacionamentos vivos, intrinsecamente interconectados e constantemente mudando e evoluindo: animal, vegetal e mineral conectados num sistema parecido à rede de luz irradiante dos místicos.” (FARRELLY-HANSEN, 2001, p. 140) (tradução nossa). Um destes novos conhecimentos vem da perspectiva psicológica Gestáltica, em que “o indivíduo é visto como um ser relacional, em constante processo de devir e intercâmbio criativo com o meio.” (CIORNAI, 2004, p. 55). Ele é, portanto considerado sempre em relação ao seu meio-ambiente e o propósito é chegar ao ponto de estar consciente e atuando de tal forma que serve a ele e as suas redes conectadas simultaneamente. A proposta de Anita Burrows (1995) sobre desenvolvimento infantil, dentro da visão sistêmica da Ecopsicologia, propõe que a natureza, sejam animais, estações do ano ou elementos da natureza também formam uma parte intrínseca do 23 desenvolvimento da criança e que, tradicionalmente, qualquer união é visto como a união com a mãe, mas esta visão pode ser expandida. Por exemplo, a criança no desenvolvimento de sua independência se afasta do vínculo ou união com a mãe, e em vez de somente criar separação e individualidade ela expande este vínculo ou união para incluir uma parte maior do mundo natural a sua volta. Burrows propõe uma teoria de desenvolvimento infantil que leva em conta o Eu funcional da criança ao mesmo tempo em que enxerga sua essência maior, “uma força da vida, manifestada, porosa, permeável, essência sensível interligada com todas as outras essências, afetando e sendo afetada por elas com cada respiração.” (1995, p. 110) (tradução nossa). No Brasil, a área que se aproxima da Ecopsicologia seria a Psicologia Ambiental que, de acordo com as pesquisas de Vanessa Aparecida Alves de Lima: “vem sofrendo visivelmente a transformação de uma psicologia da arquitetura, uma psicologia espacial, para uma área que discute a subjetividade e a inter-relação dos seres humanos com os ambientes que os cercam.” (2005, p. 55). Na Europa, a Psicologia Ambiental está desde 1993, mais orientada à sustentabilidade, movimento que segundo Lima (2005) é fundamental para a psicologia ambiental do Brasil, levando em conta as questões ambientais do país. Nos Estados Unidos e Canadá a tendência é de entrar no campo da psicologia individual e clínica, que está formando o corpo da Ecopsicologia. Por outro lado ainda, Metzner, psicólogo americano, prefere o termo “Green Psychology” pois ele acredita que precisamos rever os princípios fundamentais da psicologia, levando em conta o contexto ecológico do ser humano. (METZNER, 1999). Desta perspectiva o autor busca estar mais perto da psicologia coletiva e também do Xamanismo ou práticas espirituais de culturas antigas que são integralmente ecológicas. Da área da Psicologia Clínica, a analista e arteterapeuta Jungiana MaryJayne Rust se refere às contradições de sua prática dizendo: Quando eu trabalho como terapeuta eu me sinto frequentemente como se eu estivesse numa sala do Titanic. Meu cliente e eu estamos fazendo um trabalho ótimo para a libertação pessoal, mas nós nem mencionamos que o 3 barco está se afundando. (2004) (tradução nossa). A autora se preocupa com as consequências desta contradição: 3 Paginação irregular. 24 Se nós não fizermos estas conexões com os dilemas do mundo maior, será que os psicoterapeutas estão em perigo de aliviar a ansiedade das pessoas, e em seguida os por devolta numa sociedade que está profundamente fora de equilíbrio? Então o grito de que „algo está muito errado‟ é visto de uma perspectiva somente individual, ao em vez de ter a ver com „a relação da comunidade humana com o resto do mundo e o meu lugar dentro disto.‟ 4 (RUST, 2004) (tradução nossa) . A Psicologia vem caminhado há algum tempo numa visão de mundo mais sistêmica, abrindo-se para o âmbito da alma e da conexão com o meio ambiente. Diante da crise atual, as necessidades que surgem têm provocado um movimento ainda maior nesta direção, e uma preocupação em contribuir para a compreensão dos desequilíbrios. Lembrando-nos das características da crise ambiental atual, que de momento a momento muitas vezes nos esquecemos, Bill Plotkin, doutor em Psicologia, relata: “Nos últimos duzentos anos a civilização industrial tem constantemente prejudicado a química, ciclos de água, atmosfera, solo, oceanos e equilíbrio termal da Terra. Em outras palavras temos desligado os maiores sistemas de vida do nosso planeta.” (2008, p. 2) (tradução nossa). Quais são os padrões que estão por trás dessa catástrofe? O analista infantil britânico, Frances Tustin, acha que a ilusão da separação explica, “nossa solidão, que nos isola e nos leva a explorar e violar uns aos outros, o mundo no qual vivemos e no fundo, nós mesmos.” (apud BURROWS, 1995, p. 109) (tradução nossa). James Hillman contempla que o próprio foco da psicologia no indivíduo, está agora tendo que lidar com queixas que vem da “inabilidade de deixar o mundo entrar no seu campo de percepção, chamado de déficit de atenção ou narcisismo; e uma exaustão depressiva que vem do esforço enorme de lidar com as expectativas de autorealização pessoais, a parte do próprio mundo.” (1995, p. xx) (tradução nossa). Acredita Plotkin (2003) que a perda da alma é o problema central do nosso planeta. Quando perdemos contato com nossa própria alma, a nossa natureza interna, também perdemos contato e respeito pela natureza externa, criando 4 Paginação irregular. 25 poluição e degradação do meio ambiente. Perdendo o sentido das nossas vidas, o nosso propósito, autovalor e lugar no mundo, entramos em crise geral. Em sua tese de doutourado, Lima cita Gambini, enquanto considera a história indígena brasileira e sua atual falta de participação na psique brasileira junto às consequências ecológicas, A negação desta alma brasileira, em nome da alma cristã européia, significou a negação, no brasileiro, de sua relação com a natureza. Foi a negação de uma „alma antiga ligada a Terra, arraigada no solo. A alma estava na luz do Sol, no escuro da noite, nos astros, nas árvores, nos rios, na semente que brotava, nos animais.‟ (GAMBINI, 2000, p. 161 apud LIMA, 2005, p. 36). Considerando estas teorias pode-se dizer que no coração desta crise existe um padrão de desconexão sistêmico que tem sido questionado mas que ainda faz parte da nossa cultura. É uma desconexão interna e externa com a alma e toda a natureza. Esta desconexão é o afastamento da alma, de um sentido de vida profundo e interconectado. Requer uma busca por uma autêntica expressão de vida, e transborda para incluir toda a vida em volta, ou seja, todos os sistemas de vida que temos desligado. É uma desconexão com a vida e a capacidade de sentir a natureza como parte de nós. Plotkin (2003) reflete que o vazio de vidas sem sentido é uma experiência de muitas pessoas nas culturas industrializadas ocidentais e que a psicoterapia pode perpetuar isto quando ela foca só em ajustamento social. Para o autor, depressão é um sintoma do chamado da alma que não foi atendido, e normalmente não é atendido porque não sabemos como, exige mudanças incômodas ou temos medo do que a sociedade, os outros poderiam pensar. O arteterapeuta Shaun McNiff, diz que, “a esquizofrenia não é só uma doença pessoal, mas uma doença afetando uma civilização desconectada de suas fontes.” (1992, p. 17) (tradução nossa). A desconexão que vivemos pode estar causando vários desequilíbrios internos e externos. Com todo o conforto material que acumulamos, estamos paralelamente sofrendo fisicamente, pelas consequências de toxinas e poluição, no ar, nos alimentos e nos crescentes níveis de radiação, além das ameaças de violência e disfunção social. Nas dimensões mentais e emocionais estamos sofrendo de mais depressão, estresse e ansiedade. E por fim, espiritualmente, no lugar de 26 uma conexão profunda com as forças divinas da natureza, muitos se sentem vazios e desconectados, sem o apoio maior do universo que nós mesmos estamos abusando. Tudo isto é ainda sustentado por nossa cultura consumista. Tanto o padrão de desconexão quanto a negação da doença e desequilíbrio é nutrido por vícios, preocupações, e distrações que ajudam a aprofundar a autodestruição ao mesmo tempo de nos anestesiar dela. Excessos de todo tipo, seja com produtos de consumo, drogas, televisão, trabalho etc. estão contribuindo para um paradigma insustentável. O psicólogo Philip Cushman (apud KENNER; GOMES, 1995) faz ligações entre o narcisismo e a cultura consumista Americana. O narcisismo é caracterizado por uma autoimagen inflacionada, ou um falso “self”, que esconde sentimentos de vazio e insegurança. A civilização ocidental está construindo um “self” cada vez mais isolado, individualista e narcisista, porque parece que tem muito sucesso na superfície, mas por dentro se sente vazio. O conforto material sem limites é visto como o direito de todos e um exemplo de superioridade cultural. Além disso, é um vício que serve para anular os sentimentos de vazio. É um ciclo vicioso e autodestrutivo, onde atuam a desconexão, o desequilíbrio, a negação e os vícios. Como quebrar este ciclo agora faz parte do domínio da área da Psicologia que está por sua vez encontrando formas de construir padrões novos e mais saudáveis. 2.1.1 Soluções Psicoterapêuticas Considerando o ciclo vicioso destrutivo, podemos ver que o oposto deste ciclo seria a re-conexão (alma e natureza), libertação dos vícios, admitindo o desequilíbrio junto a um programa de re-equilíbrio sistêmico, restaurando a saúde em todos os níveis, físico, mental, emocional, espiritual e ambiental. Várias práticas de psicoterapia procuram oferecer um caminho com esta consciência. 27 O autor Albert LaChance, no seu livro “Espiritualidade Verde” (1996), propõe que os vícios do consumismo podem ser tratados com 12 passos, como dos Alcoólatras Anônimos junto a práticas espirituais. Figura 2 5 Aqui vamos olhar dois psicólogos, Cahalan e Plotkin, que trazem a relação com a natureza como uma parte central de seus trabalhos. A terapia da Gestalt é uma terapia ecológica na sua visão do mundo, mas a visão ou teoria que somos interconectados com a Terra, não cria por si só uma prática terapêutica conectada ao mundo natural. No seu texto “Enraizamento ecológico da Gestalt terapia” William Cahalan (1995) escreve que os terapeutas Gestálticos estão, só agora, começando a olhar literalmente para a relação de seus clientes com o mundo natural. A ideia de que um vínculo forte entre o indivíduo e a natureza é importante no desenvolvimento do ser humano vem norteando o trabalho do autor. Ele explica este fato como um estado de enraizamento, em que um sentimento profundo de prazer e encantamento surge de um contato profundo com a natureza dentro de si e ao seu redor. Isto inclui a natureza selvagem e doméstica, terra, plantas, família, vizinhos, animais e o próprio indivíduo. A pessoa vai aprofundando cada vez mais a sua conexão íntima com toda esta natureza. (CAHALAN, 1995). Para aumentar o nível de contato e trabalhar bloqueios, Cahalan usa técnicas de “grounding” junto ao contato com a natureza. Com a respiração, por exemplo, inclui a percepção que esta respiração é uma troca com o reino vegetal, e que um bloqueio emocional, é um bloqueio energético da mesma energia vital que está nas árvores e qualquer outra parte da natureza. Assim, traz a importância da experiência da vida em interconexão, para dentro de seu consultório. 5 Disponível em: <http://www.hridubai.com/pix/environmental_psychology.jpg>. Acesso em: 02 fev. de 2010. 28 Cahalan (1995) acredita que o enraizamento é cultivado num movimento natural de expansão e contração. Expandido para fora, para a comunidade humana e natural, até o ponto de transcender o ego, sentindo a união com tudo e depois contraindo para dentro, sentindo através da introspecção a sua individualidade nítida. Assim, a relação com o meio ambiente é integrada como uma parte totalmente natural e importante do trabalho psicoterapêutico. Bill Plotkin, doutor em Psicologia Jungiana e guia de reservas naturais, é fundador do instituto Animus Valley Institute que organiza programas de iniciação na natureza desde 1980. Plotkin propõe que “desenvolver o Ego funcional, incorporar a alma e realizar o espírito são todos essenciais para se desenvolver integralmente” (2003, p. 35) (tradução nossa), e possibilitam uma relação ecológica saudável. Como o movimento de expansão e contração de Cahalan, a pessoa trabalha vários níveis desde sua individualidade mais profunda até sua ligação universal com toda a natureza. Plotkin dá importância especial aos recursos que a natureza traz ao encontro com a alma individual num contexto de natureza selvagem: “A Terra espelha perfeitamente os poderes da alma simplesmente porque nossas almas são elementos da alma da Terra. Sendo a Terra, em suas várias formas e forças, recuperamos nossas almas.” (2003, p. 238) (tradução nossa). Ele diz que muito além de ser um encontro egoísta ou individualista: Você tem um papel ecológico único, a maneira que você deveria servir e nutrir a teia da vida, diretamente ou através do seu papel na sociedade. No nível da alma você tem uma forma específica de pertencer à biosfera, tão única quanto qualquer árvore, animal ou montanha. (PLOTKIN, 2003, p. 41) (tradução nossa). Quando a alma se sente inspirada por uma parte da natureza ela está achando um canal para acordar e se manifestar no mundo. Plotkin (2008) acredita que a maturidade verdadeira requer a descoberta e cultivo de uma relação única e mística com a natureza onde o Ego se transforma, a velha personalidade se desfaz e novas riquezas são incorporadas a trabalhos e responsabilidades, significativos para a alma e equilibradas com a natureza. 29 O contato com a natureza é ao mesmo tempo um recurso para o encontro profundo com a alma na Psicoterapia, como um chamado de re-conexão que inspira uma vida, em vários níveis, mais ecológica e sustentável. 2.2 Xamanismo 6 Figura 3 – Xamã. “O xamanismo representa o mais largo e antigo sistema metodológico curativo para o corpo e mente conhecido pela humanidade”, diz Michael Harner, (1990, p. 40) (tradução nossa) PhD em Antropologia, professor e praticante de Xamanismo desde 1961. A consciência de interdependência entre o ser humano e a natureza é encontrada no Xamanismo antigo e contemporâneo. Plotkin, que junto à Psicologia Jungiana, usa como referência o Xamanismo, diz que nos conhecimentos adquiridos com povos indígenas e da Antiguidade, podemos ver a comunhão ritualística da alma humana com os poderes mais profundos do universo. Nessas culturas o universo era uma presença com a qual deveríamos comungar e nos instruir, e não simplesmente usar e explorar. As experiências mais profundas dos seres humanos eram através do vento, das montanhas, do mar, dos pássaros voando e das estrelas. Portanto, a nutrição física 6 Disponível em: <http://rosacruzrealfraternidade.blogspot.com/>. Acesso em: 02 fev. de 2010. 30 e espiritual do ser humano pelo universo era o que causava a maior celebração da vida, pois mesmo a realidade física era reconhecida como o domínio da alma. Para os aborígines australianos, por exemplo, o mundo visível era simplesmente uma criação do mundo mais profundo da alma universal chamado tempo dos sonhos. (PLOTKIN, 2003) Os povos indígenas adquiriam suas forças interiores através da conexão com os poderes da natureza. O impacto dessas forças no ser humano era medido através de experiências diretas. As quatro direções eram santificadas por vários povos indígenas, assim como as estações do ano, o amanhecer, o entardecer e outros momentos de transição, todos vistos como tendo poderes. Eram considerados momentos de alta energia, que intuitivamente o ser humano percebia, do mesmo modo que também percebia os poderes dos animais. Os xamãs acreditavam falar com os animais e toda a natureza: plantas, ar e pedras. Harner chama o Xamanismo de espiritualidade ecológica, justamente porque enxerga a natureza como tendo poderes espirituais: “No xamanismo isto não é simplesmente reverenciar a natureza, mas uma comunicação espiritual que ressuscita a conexão perdida que nossos ancestrais tinham com o imenso poder espiritual e beleza do nosso jardim Terra.” (1990, p. xiii) (tradução nossa). O Xamanismo nos fala de outra realidade fora das nossas percepções cotidianas, e quando acessada através de arte, música ou meditação, por exemplo, transporta a pessoa para um estado mental em que é possível perceber, pela experiência imediata, que a alma faz parte do espírito do mundo e que existe uma interconexão profunda de vida e amor entre nós e tudo a nossa volta. (HARNER, 1990). Esta própria percepção da interconexão é o começo da cura dentro do Xamanismo. Os xamãs trabalhavam “como guardiões do equilíbrio psíquico e ecológico do seu grupo e seus membros” [e considerando que os dois estão interligados] “como intermediários entre os mundos vistos e não vistos, mestres de espíritos, e curandeiros supranaturais” (HARNER, 1990, p. 41) (tradução nossa). Portanto para eles, xamãs, a psique e a Terra, são completamente interligadas. O mundo invisível da psique universal para eles é tão real quanto o mundo material, e parte de seu treinamento é conhecer e navegar dentro deste território 31 extenso. O xamã não busca compreender mecanicamente o universo, mas sim compreendê-lo através de suas experiências empíricas, através de seus próprios sentidos e guiados por uma tradição de práticas antigas. Xamãs de Bali, na Indonésia, falam que se eles curam somente o indivíduo diretamente, a doença pode não só voltar, mas até mesmo aparecer em outra pessoa na comunidade. “O compromisso primário da pessoa médica, então, não é com a comunidade humana, mas na teia das relações terrenas dentro da qual a comunidade é embutida - é disso que vem seu poder para aliviar o sofrimento” (ROSAK; GOMES; KANNER, 1995, p. 305) (tradução nossa). Este conceito soa bastante parecido às teorias sistêmicas que atestam que vivemos em redes de relações interligadas. De acordo com a tribo norte americana Lakota, a nossa família imediata não se limita ao nosso sangue humano, mas se estende para incluir todo o meio ambiente no qual vivemos. Dizem que precisamos nos comunicar intimamente e amorosamente com todos esses nossos “familiares” para termos relações saudáveis. O que dominava essas relações não era o poder do homem sobre o mundo natural, mas a coexistência. “Saber como inserir as questões humanas dentro do funcionamento maior do universo era o contexto primário da existência em todas as suas formas” (PLOTKIN, 2003, p. xiv) (tradução nossa). É uma perspectiva muito reveladora que a maior parte do mundo acredita que “a Terra pertence ao povo” [e os povos indígenas acreditam que] “o povo pertence à Terra.” (ARRIEN, 1997, p. 21) (tradução nossa). Angeles Arrien, antropóloga e educadora, diz que uma saudável ligação com a Terra pode ser inspirada pelos povos indígenas: “Sua antiga sabedoria universal pode ajudar a restaurar o equilíbrio de nossa própria natureza, e nos assistir no reequilíbrio das necessidades do meio ambiente.” (1997, p. 21) (tradução nossa). Esta perspectiva fortalece e aprofunda a visão de interdependência, com possibilidades de restaurar a nossa casa interna e externa. Oferece novos caminhos baseados em práticas ancestrais, muitas das quais estão sendo validadas cientificamente. 32 2.2.1 Soluções Xamânicas 7 Figura 4 Roda Xamânica. Representa a harmonia entre todos os seres da Terra, integrando todos os elementos internos e externos. Plotkin (2003) relata várias práticas e vivências do Xamanismo, que costumam usar recursos da arte, do corpo e da natureza. Estes são: trabalho com os sonhos, imaginação ativa, cerimônias, arte, símbolos sagrados, jejum, técnicas de respiração, ioga, saunas, percussão, dança, festivais da natureza, comunhão profunda com a natureza, jornadas pessoais na natureza, silêncio, música, poesia, trabalho com mitos, contação de histórias e canto. Arrien complementa mostrando que em várias culturas indígenas aparece a busca pelas qualidades de certos arquétipos, sendo que, ...virtualmente, todas as tradições xamânicas recorrem ao poder dos quatro arquétipos para viver em harmonia e equilíbrio com o meio ambiente e a própria natureza interior: o Guerreiro, o Curador, o Visionário e o Mestre. Quando aprendemos a viver esses arquétipos internamente, começaremos a recuperar a nós mesmos e ao nosso fragmentado universo. (1997, p. 23) (tradução nossa). Arrien escreve sobre os princípios de cada arquétipo e as várias práticas para desenvolvê-los. Também relaciona cada arquétipo com uma parte da natureza, dentro da compreensão que, 7 Disponível em: <http://www.xamanismo.com.br/Universo/SubUniverso1187815981It001Ps003>. Acesso em: 2 abr. de 2010. 33 ... a ferramenta de maior fortalecimento e cura com a qual podemos contar é nossa ligação com a natureza e com o mundo natural. Para manter nosso bem estar é necessário, para a nossa vitalidade e nosso espírito, a conexão diária com o ar, com a luz e com a terra. (1997, p. 36) (tradução nossa). Descreveremos, brevemente, os princípios, práticas e as partes da natureza associadas a cada arquétipo, sendo que isto forma a base da realização e do equilíbrio da natureza interna e externa em várias culturas indígenas. O Guerreiro (princípios): Mostrando-se e optando por estar presente. O Guerreiro (práticas): sessão de chocalhos (instrumento para chamar de volta a alma), dança, meditação em pé, animais de poder e animais aliados. Prática da postura homem-árvore, plantar árvores, praticar jardinagem, cultivar plantas em pequenos vasos. O Guerreiro (poderes da natureza): árvores, céu, quatro ventos, sol, lua, estrelas, pássaros. Inverno, direção Norte. O Curador (princípios): prestar atenção ao que tem coração e significado, acessando o amor. O Curador (práticas): contação de história, sessão de jornada e tambor (visualização), meditação em posição deitada, visualização deitada para conectar com o amor que damos e recebemos, oferecer feridas e traumas às árvores para que curem e transformem (através de meditação). O Curador (poderes da natureza): Mãe Natureza (toda a natureza), reino das plantas, reino mineral, criaturas de quatro pernas, primavera, direção Sul. O Visionário (princípios): dizer a verdade, sem culpar nem julgar. Descobrir a sua própria natureza e mistério, acordando seu propósito de vida. O Visionário (práticas): canções de poder, trabalho com sino, meditar caminhando, sonhos, contemplação (recebendo mensagens de Deus (Self), prece dirigida (falando com Deus (Self), buscas para obter visões (retiros solitários na natureza), atividades que conectam com a criança interior. O Visionário (poderes da natureza): direção Leste, sol nascente, verãoabundância e plenitude O Mestre(princípios): estar aberto aos resultados e não preso a eles. 34 O Mestre (práticas): silêncio, apelo aos espíritos ancestrais, meditação em posição sentada- observação e escuta O Mestre (poderes da natureza): Avó Oceano (flexibilidade e recuperação), Oeste, pôr-do-sol, outono, criaturas da água, colheitas abundantes e fluidez ilimitada. Essas práicas integram o desenvolvimento do ego funcional, da alma e do espírito junto a uma metodologia que utiliza os recursos da natureza, da arte e do corpo, resgatando metáforas da natureza e o contato profundo em todos os níveis com os poderes da natureza. Fica claro que o desenvolvimento do ser humano só existe no Xamanismo, apoiado pelos poderes da natureza que, por sua vez, são retribuídos com proteção e devoção. A natureza interna e externa são intimamente interconectadas tanto na visão de mundo quanto nas suas práticas de saúde. 2.3 Budismo Figura 5- Siddhartha Gautama. Enquanto meditava sob uma árvore sua mente 8 iluminou-se e ele se tornou Buddha. 8 Artista desconhecido. Disponível em:<http://sunnysidestories.wordpress.com/the-woman-who- hugged-a-tree/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 35 Após escrever sobre a degeneração do planeta, o presidente do Instituto de Meio Ambiente e Ecologia da Índia, reflete: O planeta Terra é como uma família, como uma aldeia global. Tudo o que mencionei sobre as mudanças nos sistemas ambiental e climático podem ser controlado por meio do uso eficaz do sistema tradicional de administração familiar, se pensarmos e tratarmos o planeta inteiro como uma família, sentindo que „apenas a união faz a força‟. (GANCHEN, 1999, p. 30). Lama Ganchen, no mesmo livro, fala sobre a visão budista da relação do ser humano e o meio ambiente, que também posiciona os limites do “Eu” dentro do mundo afora, inclusive vice-versa. Ele diz que, o que está fora do corpo também está dentro: Por isso é muito importante, cuidarmos dos elementos e energias do meio ambiente externo, pois temos exatamente os mesmos elementos e energias em nosso corpo. Por isso, danificar e poluir o meio ambiente é também auto destruição coletiva e individual. (LLAMA GANCHEN, 1999, p. 38). Esta visão vai além do simples fato que estamos destruindo o nosso lar externo, mas enxerga este lar como sendo um reflexo do nosso interior, mente e corpo, e também o seu reverso. Purificar os fluxos de energia sutil em nosso meio ambiente interno (corpo e mente) e no meio ambiente externo (o universo) causa a recuperação da saúde física, purifica as cinco consciências, cura o meio ambiente e o cosmos e muitas manifestações sociais negativas ocasionadas por desequilíbrio dos elementos. (LLAMA GANCHEN, 1999, p. 41). Lama Ganchen explica que as ações dos seres humanos criam resultados que se manifestam no mundo material, e que o meio ambiente externo, por sua vez, afeta nosso equilíbrio interior. Esta rede de manifestações interdependentes é chamada de “tendrel”. O Budismo chama Ego, a sensação que somos autônomos e separados do mundo a nossa volta, e que isto já causa poluição nos elementos internos e externos. A mente pura que vive dentro de uma profunda consciência de interdependência delicada, vai além do Ego, e é a principal busca dentro das práticas budistas, sendo também o que cria a Terra Pura. No Budismo, portanto, 36 uma mente saudável é essencial para uma Terra saudável e vice-versa. A visão é de completa interdependência. As Terras Puras são descritas em textos antigos tibetanos, e Llama Ganchen escreve que não é um conto de fadas, mas sim um reflexo do ser humano que se purificou e aceitou energias positivas. O Budismo prioriza a realização espiritual e falando do Ego e suas manifestações doentias, diz que as energias negativas são como cinco programas de computador negativos que causam poluição. Essas energias negativas são, de acordo com o Llama Ganchen (1999), o apego, a confusão e dispersão mental, a raiva, o medo, a inveja, a ignorância, uma mente fechada e o orgulho. Através de visualizações, sons, mantras, meditações e ações positivas e conscientes somos capazes de mudar estas energias e transcender o Ego. Um exemplo seria o mantra EH HO SHUDDE SHUDDE SOHA, um mantra em sânscrito aparentemente muito poderoso, que atua em nossa energia sutil e meio ambiente interno, e significa que “a natureza verdadeira do elemento espaço é limpa”. O mantra serve para mudar hábitos mentais e Llama Ganchen diz que “a educação da paz interna é prestar atenção só na paz da mente” (1999, p. 88) em vez da poluição da mente, assim fortalecendo esta parte. Esta visão de mundo revela que estamos neste momento vivendo um meio ambiente impuro por causa de uma mente coletiva poluída. A mente é muito poderosa e de acordo com o Budismo, todos os fenômenos são criações da mente e no fundo ilusões. No mundo materialista o medo, o apego e a agressividade são algumas das forças e projeções mentais que dominam a realidade interna e externa. O Budismo propõe que para criarmos outra realidade mais pura temos que mudar nossas mentes através do pensamento, palavra e ação. 37 2.4 Ecologia Figura 6 9 A ciência contemporânea está chegando a conclusões que confirmam várias destas crenças intuitivas, teológicas, indígenas e antigas. Hoje em dia já temos cientistas como Stephan Harding, que unem o racional com o intuitivo quando diz que “a explicação é racional; a compreensão é intuitiva.” (2008, p. 18). Doutor em Ecologia da Universidade de Oxford, Harding culpa a perspectiva e a prática da própria comunidade científica da qual ele faz parte por, nos últimos 400 anos, nos ajudar numa guerra contra a natureza. Jaques Monod, respeitado bioquímico laureado com o Nobel, achava que “a ciência que ele praticava exigia que o homem despertasse para sua completa solidão, seu isolamento fundamental, [...] como um cigano, vive na fronteira de um mundo alheio.” (apud HARDING, 2008, p. 26). Harding complementa que o, ...maior defeito desta perspectiva é a crença de que toda a natureza, incluindo a Terra e todos os seus habitantes mais que humanos, não passa de uma máquina morta a ser explorada como bem quisermos em nosso próprio benefício, sem qualquer impedimento. (2008, p. 26) Isto aponta para uma confirmação: de que a visão que somos seres separados do nosso meio ambiente faz parte da destruição da Terra. O velho paradigma científico afastou o homem do seu lar e de si mesmo, convencendo-o que para sobreviver poderia dominar e desrespeitar a natureza. 9 Disponível em:<http://transnet.ning.com/forum/topics/educacao-ambiental-e-a-onda>. Acesso em: 2 abr. de 2010. 38 Orgulhoso de seus enormes avanços tecnológicos agiu contra o seu próprio bom senso, intuição e sabedoria ancestral. Um novo paradigma surge paradoxalmente pelas descobertas em vários campos científicos, que trouxeram o pensamento sistêmico e ecológico, enxergando-os como sinônimos. Capra, filósofo e físico, cita alguns movimentos como importantes neste novo paradigma inclusive da Psicologia Sistêmica. Também houve os biólogos da década de 1920, “que enfatizavam a conexão dos organismos vivos como totalidades integradas.” (CAPRA, 2000, p. 25). Foi a partir destes estudos que foi desenvolvido a teoria de Gaia, pelo cientista e químico, James Lovelock, 40 anos atrás, e que hoje está sendo aceita. O nome “Gaia” vem da deusa Grega da Terra, a Mãe Terra. Sua teoria é “que o planeta é em essência um enorme organismo vivo com sua própria e notável capacidade emergente de autoregulação.” (HARDING, 2008, p. 69). A teoria quântica na física também da década 20 mostrou fundamentalmente que, ...as partículas subatômicas não são „coisas‟ mas interconexões entre coisas, e estas por sua vez, são interconexões entre outras coisas, e assim por diante. Na teoria quântica, nunca acabamos chegando a alguma „coisa‟ sempre lidamos com interconexões. (CAPRA, 2000, p. 41). A Ecologia “é o estudo do Lar Terra. Mais precisamente, é o estudo das relações que interligam todos os membros do Lar Terra” (CAPRA, 2000, p. 43). Vem da Ecologia Profunda, que foi uma escola filosófica fundada por Arne Naess na década de 70. Para Capra, ela, “não separa seres humanos - ou qualquer outra coisa - do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes.” (2000, p. 26). Na teoria dos sistemas vivos e a ciência cognitiva que tem suas raízes na cibernética, “a mente não é uma coisa, mas um processo [...] o processo do conhecer, e é identificada com o processo da própria vida.” (CAPRA, 2000, p. 209). 39 O mesmo autor nos lembra que embora estes conceitos sejam novos na ciência, eles são antigos na intuição humana. A mente como parte da alma era literalmente o sopro da vida, incluindo todos os processos de vida. “A teia da vida consiste em redes dentro de redes.” (CAPRA, 2000, p. 44-45). Para o autor, a concepção de rede foi a chave dos avanços científicos na segunda metade do século. Esta visão científica deslancha a cultura ocidental num rumo de grandes mudanças em todos os aspectos de vida, inclusive espirituais, trazendo valores ecocêntricos (centralizados na Terra) no lugar dos valores antropocêntricos (centralizados no ser humano): “se temos a percepção, ou a experiência ecológica profunda de sermos parte da teia da vida, então estaremos (em oposição a deveríamos estar) inclinados a cuidar de toda a natureza viva.” (CAPRA, 2000, p. 29). Harding tenta trazer esta experiência através de suas palavras: ...tentaremos vislumbrar as ricas interconexões que são a própria substância de sua vida e experimentaremos em nós mesmos, esperançosamente, um sentimento de ampla identificação com a totalidade da vida, onde compreendemos que somos verdadeiramente parte do ser vivo do nosso planeta. (2008, p. 76). Capra reconhece que a condição humana inclui uma frustração entre nos perceber como indivíduos autônomos e descobrir que um eu independente ou separado do resto de fato não existe: Para superar a nossa ansiedade cartesiana, precisamos pensar sistemicamente, mudando nosso foco conceitual de objetos para relações. Somente então poderemos compreender que a identidade, a individualidade e a autonomia não implicam separação e independência. (2000, p. 230). Para conseguir manter esta experiência num nível pessoal e global, temos que começar a “construir, nutrir e educar comunidades sustentáveis, nas quais podemos satisfazer nossas aspirações e nossas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras.” (CAPRA, 2000, p. 230). Podemos aprender como fazer isto através dos estudos de ecossistemas que já são comunidades sustentáveis de plantas, animais e micro-organismos, vivendo de acordo com esses princípios. “Os padrões sustentáveis de produção e de 40 consumo precisam ser cíclicos, imitando os processos cíclicos da natureza.” (CAPRA, 2000, p. 232). O fato de que a vida é composta por redes interconectadas cria um laço científico direto e indiscutível entre a saúde do ser humano e da Terra. O novo paradigma ecológico é uma revolução que atinge todos os aspectos da sociedade humana. Enfrentando a crise atual com a ameaça de extinção do ser humano, a humanidade está sendo forçada a se alinhar com as leis da natureza encontrando novos caminhos de preservação e sustentabilidade. O cientista James Lovelock (2006), acredita que não tem mais como reestabelecer o equilíbrio necessário para que futuras gerações possam continuar vivendo no planeta Terra, mas que ainda podemos fazer o melhor dentro desta emergência. Acho que temos poucas escolhas além de nos preparar para o pior, sabendo que já passamos do limite. Como os paramédicos, a primeira prioridade é manter o paciente, a civilização, viva durante o percurso para um mundo que pelo menos não estará mais sofrendo mudanças rápidas. (2006, p. 196). Ele diz que mesmo se continuamos vivendo numa luta destrutiva até não aguentar mais o próprio ambiente que criamos, a Ecologia Profunda poderá oferecer pequenos oásis de fé e sabedoria, como os monastérios escondidos do passado. Stephen Harding questiona a atitude cínica de algumas pessoas que por se sentirem impotentes com a autodestruição do ser humano perguntam: “Faz diferença se mais uma espécie (a nossa) se autodestrói?” (2008, p. 277). Harding escreve que “é triste pensar que não nos importamos com isto e que podemos ser tão racionais e sem emoção para aceitar desta forma”; outra questão que ele se vê tendo que responder é: “se a Terra se auto-regula ela logo se recupera depois da nossa extinção?” ( 2008, p. 280). Harding responde: Pode ser, mas esta aceitação é igual a ser racional e aceitar o homicídio... goste ou não goste, você é uma parte integral de Gaia, biologicamente, psicologicamente e espiritualmente. Nosso próprio corpo, nossos sonhos, nossa criatividade, nossa imaginação providencia com relação a isso. (2008, p. 280). 41 Ou seja, acordar para a nossa indiscutível interconexão com a Terra é o único caminho íntegro que nos resta. E, além disso, pode ser um caminho de encontro com riquezas bem maiores do que as riquezas que acumulamos ao longo do abuso da Terra. 2.5 Educação Ambiental Figura 9 10 Educando a população global sobre os problemas ambientais e possíveis soluções é a Educação Ambiental, que além da pedagogia tradicional, está utilizando métodos vivenciais para transmitir conceitos científicos e transformar a relação do ser humano com o meio-ambiente. Stephen Harding em seu livro “Terra Viva” (2008), tenta por um lado através da teoria científica, e por outro lado, através de visualizações poéticas e guiadas, oferece um caminho para desenvolver sentimentos de alta vibração emocional com a Terra, dizendo: “o amor por um lugar é o ato máximo de resistência não-violenta à grande força que está destruindo a Terra viva em que nos criamos.” (2008, p. 283). O autor sugere que as visualizações sejam gravadas, opcionalmente acrescentadas e escutadas na natureza. Na visualização “Sentindo a Terra Redonda” ele convida o leitor a sentir e imaginar: “Experimente a gravidade como o amor que a Terra sente pela própria matéria que constitui seu corpo, um amor que o mantém seguro... Respire na imensidade viva da nossa Terra animada.” (2008, p. 72). 10 Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/foto/46.jpg>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 42 Através de sua poesia o autor desperta a ciência da Terra em nossos corações, dizendo que, Precisamos lembrar que nossa própria respiração é para beber o leite de nossa mãe- o ar-, feito para nós por incontáveis irmãos e irmãs microbianos no mar e no solo, e pelos seres vegetais com quem compartilhamos as grandes superfícies de terra da esfera lustrosa de nossa mãe. (HARDING, 2008, p. 281). A ideia de que a conexão amorosa é importante numa educação ambiental percorre muitas práticas. Tanto que existe um livro teórico, lúdico, e pedagógico chamado “Jornada de Amor pela Terra”. Outro autor que traz um método vivencial, lúdico e artístico é Joseph Cornell (1998), ecologista que foca tanto em jovens como adultos, abordando vários temas. O princípio é seguir uma sequência pedagógica vivencial que desperta um sentimento profundo de conexão com o mundo natural. A primeira fase desperta o entusiasmo, a segunda concentra a atenção, a terceira traz uma experiência direta com a natureza e a quarta compartilha da inspiração. As ferramentas usadas levam a pessoa a aprofundar cada vez mais o seu contato tanto intelectual como sensorial e artístico, com a natureza e o mundo a sua volta, até que desperta uma inspiração profunda dentro dela. Para aproveitar e intensificar o potencial desta metodologia, grupos de educadores como o do Instituto Romã, fazem imersões de vários dias para melhor incorporar as experiências. Eles dizem que sua missão é: “Ajudar pessoas de todas as idades a ter uma experiência direta e singular com a Natureza, de modo a mobilizá-las na busca de soluções para os problemas socioambientais da atualidade.”11 O professor de educação ambiental Michael Cohen (2003), acredita que restaurar a saúde psicológica do ser humano através de sua conexão com a inteligência da natureza faz parte da educação para uma nova relação com a Terra. Ele trabalha a interconexão com a natureza através dos sentidos. Esta conexão chega através de múltiplos sentidos que podem ser despertados vivencialmente. 11 Disponível em: <http://www.institutoroma.com.br/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 43 Uma ferramenta de re-conexão com a natureza que é poderosa e sensória, nos possibilita restaurar a saúde para as áreas da psique anestesiadas e desconectadas da natureza, que limitam o nosso raciocínio e criam nossas desordens. (COHEN, 2003, p. 9) (tradução nossa). Suas vivências frequentemente envolvem se tornar consciente da atração sensória entre o indivíduo e a natureza, inclusive num nível emocional, como se acordar estas atrações pelos sentidos intensificasse a verdadeira e mais natural conexão com a nossa natureza interna e externa. Focando diretamente no desenvolvimento de assentamentos humanos sustentáveis, “Educação Gaia” é um curso organizado pelo consórcio internacional de educadores conhecidos como Global Educators for Sustainable Earth (GEESE). O programa é baseado na Permacultura (sistemas de sustentabilidade) e combina investigação teórica de uma forma inspiradora e vivencial, com trabalho prático, técnico e lúdico (inclusive música e dança). As dimensões consideradas no curso são: social, econômica, ecológica e visão do mundo, juntando profissionais de diferentes áreas para oferecer conhecimentos e experiências de sustentabilidade dentro dos diversos aspectos de vida do ser humano. O conteúdo multidisciplinar é uma característica ecológica, enxergando que cada área acrescenta e informa a outra, dentro da sabedoria que estamos vivendo num sistema de redes. A metodologia inclui enfrentar a crise atual de uma forma positiva e com fé no poder criativo e transformador do ser humano.12 No Brasil suas redes se estendem a centros de Permacultura como: Grupo Solaris, IPEMA, IPEC, e Terra Una, entre outros, onde a qualidade de todas as relações durante os cursos são tão importantes quanto o estudo técnico. A nova educação ambiental dá importância ao contato direto com a natureza, contato físico, emocional, mental e espiritual, e nos âmbitos social, econômico, ambiental e espiritual, inspirado por vivências lúdicas e artísticas, além de técnicas e teóricas. Isto acorda uma relação com o meio ambiente e entre os seres humanos, de modo mais vivo e intuitivo, sendo mais fácil absorver conteúdos científicos e aplicá-los em vários aspectos internos e externos do dia a dia. 12 Disponível em: <http://www.gaiabrasil.net/site/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 44 2.6 Artes Plásticas Figura 10 Espiral de pedras quebradas de 13 Andy Goldsworthy. As Artes Plásticas são meios de comunicação criativos, que relatam perspectivas e experiências de vida, expressando e atingindo a sensibilidade e imaginação poética do ser humano. Elas sempre fizeram parte de transformações e revoluções culturais, muitas vezes prevendo, expondo e acelerando estas. David Korten (2006), PhD em Administração e Psicologia, apoia a Arte como necessário agente de transformação do antigo paradigma ao novo, que é composto por comunidades sustentáveis. Ele propõe que o mundo precisa de novas histórias baseadas nos princípios de comunidades sustentáveis, e os artistas são os tradicionais contadores de histórias, seja através de textos, danças, canções, pinturas ou teatros. Esses princípios são abordados tanto por artistas que focam no meio ambiente como aqueles que focam no tema de sustentabilidade como um todo. Maja e Reuben Fowkes, historiadores de arte, sugerem que tem “uma linha tênue entre artistas que genuinamente engajam em sustentabilidade e aqueles que empregam os mesmos modelos e lidam com as mesmas questões mas com o propósito do espetáculo artístico.” (2006) (tradução nossa).14 Para ser realmente revolucionário tem que escapar aos mecanismos do modelo, que por sua vez só demandam mais e mais conteúdo e espetáculo. 13 14 Disponível em: <http://becksearlescott.wordpress.com/2009/01/12/land-art/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponível em:<http://www.translocal.org/writings/makingdo.htm>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 45 Alimentar isto seria alimentar uma indústria cultural aliada ao modelo produtivo de crescimento contínuo que não é sustentável. (FOWKES, 2006). Um exemplo de arte sustentável seria o “Geocruiser” (2001) de Nils Norman (Figuras 11 e 12). Uma escultura publica móvel, num ônibus reformado. Tem uma biblioteca pública e um centro educacional na frente do ônibus, dedicado ao desenho urbano experimental, jardinagem ecológica, energia alternativa e sistemas sociais alternativos. Tem uma máquina de fotocópias e computador grátis com energia solar. Na parte de trás tem uma estufa com plantas, vegetais e ervas e um minhocário onde minhocas fazem composto. O “Geocruiser” já deu a volta por várias partes da Europa. É uma escultura que estende a noção de escultura pública para incluir o serviço ao público (ser humano e meio ambiente) de uma forma interativa. Figura 11 Figura Geocruise de Nils Norman, 2001. 12 15 No Brasil, os conceitos de Arte sustentável estão sendo adotados pela ONG Terra Una, para o seu programa anual de residência artística: Interações Florestais. Dede o início tem um processo participativo e um meio de seleção democrático, horizontal e autocuratorial, respeitando um novo paradigma de relações. A residência em si, além do projeto pessoal de cada artista, acontece dentro de uma vivência da Ecovila (comunidade rural sustentável), interagindo com a natureza doméstica e selvagem e o grupo de pessoas. Em 2010, incluirá oficinas educativas oferecidas pelos próprios artistas no projeto comunitário local de arte e sustentabilidade, assim sendo, as redes interconectadas se expandem e se relacionam cada vez mais. 15 Disponível em:<http://artforum.com/index.php?pn=interview&id=2281>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 46 Figura 13 – “Travessia Água” de Flávia Vivacqua, 2008. 16 Uma das artistas de 2008, Flávia Vivacqua, realizou uma “Performance” (gênero artístico aonde as ações de uma pessoa num contexto/lugar constituem a obra de arte) chamado “Travessia Água”. Consistia em uma caminhada ao encontro com águas, riachos, cachoeiras e lago, aonde o próprio contato e interação com a natureza do local se torna a obra de arte, que ela mesma descreve como “ser sensório-ambiental”, refletindo uma forma de ser no mundo ecocêntrica, uma identidade e obra de arte que só existe na sua relação com o ambiente. “Artists for nature” (Artistas pela Natureza) é um grupo de artistas (inicialmente holandeses) que junta o contato profundo com a natureza e o ativismo ambiental. Mobilizam grupos de artistas para irem a lugares de natureza que estão ameaçados e criarem reservas ambientais. Usando a Arte para retratar a beleza do lugar, organizando exposições e compartilhando sua inspiração, as exposições chamam atenção para a região, despertando sentimentos de encantamento e amor à natureza, o que tem obtido sucesso prático na formação de doze reservas nacionais, internacionalmente.17 18 Figura 14 – “The Hunt” de Wolfgang Weber. 16 17 18 Disponível em: <http://www.terrauna.org.br/interacoesflorestais/IF.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponívem em:<http://www.artistsfornature.com/About_us>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponívem em:<http://www.artistsfornature.com/About_us>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 47 Vários artistas hoje em dia usam a arte para chocar e criticar a destruição ambiental e a cultura consumista: Figura 15 Fotografia mostrando a destruição ambiental 19 causado pela companhia de petróleo: Shell na Nigéria. Superflex, uma coletiva de artistas dinamarqueses, se interessa pela relação entre consumismo e o aquecimento global. No seu filme “Flooded McDonalds” (McDonalds Inundado), eles filmam uma loja de McDonalds (sem pessoas) se enchendo de água. A imagem de McDonald‟s, normalmente um ícone cultural, passa a ter características assustadoras. Figura 16 – Superflex: McDonalds Inundado. 19 20 Disponívem em:<http://onthelevelblog.wordpress.com/2007/10/04/shells-wild-lie/ Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponível em:<http://www.artsandecology.org.uk/magazine/features/superflex--flooded-mcdonalds>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 20 48 Uma escultura chamada “Sound Wave” (Onda Sonora) da artista Koreana, Jean Shin reutiliza e derrete discos antigos, na forma de uma onda, simbolizando as ondas inevitáveis de tecnologia que deixam para trás gerações inteiras de produtos velhos e inúteis. „ Figura 17 – “Sound Wave” (Onda Sonora) de 21 Jean Shin, 2008. A descentralização do artista e do ser humano para uma visão ecocêntrica surgiu nas décadas de 60 e 70 quando artistas começaram a expandir os limites da arte para incluir a participação do espectador, o espaço e a natureza. Um dos pioneiros era Joseph Beuys que em 1971 usou o gênero de “Performance” para demonstrar sua preocupação com uma área de brejo na Europa. Ele atravessou o brejo, cheio de lama, em partes tendo que nadar. Ele descreveu sua preocupação pelos brejos dizendo que, “... brejos são os elementos mais vivos da paisagem Européia... eles são guardiões da vida, mistério e mudanças químicas, preservadores da historia antiga. Eles são essenciais a todo eco-sistema para regulação de água, umidade, e clima em geral.”22 Na mesma época outros artistas formaram parte do movimento de “Land Art, Environment Art ou Earthworks”, Arte criada diretamente na terra muitas vezes com materiais naturais, resgatando o contato e interação entre o homem e a natureza, levando em conta os ciclos da natureza. A natureza tipicamente continua afetando a obra depois que o homem a deixa, às vezes passando por fases de decomposição. A obra em si e/ou a documentação dela tipicamente inspira sentimentos de conexão com a natureza. Às vezes é uma crítica da relação do homem com a natureza, e outras vezes uma celebração da natureza. 21 22 Disponível em: <http://www.neatorama.com/2008/09/29/sound-wave-sculpture-by-jean-shin/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponível em: <http://greenmuseum.org/c/ecovention/sect2.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 49 Figura 18 – “Rowen leaves around a hole” - (folhas em volta de um buraco) 23 de Andy Goldsworthy, 1987. Figura 19 – “Montanha Árvore: Uma cápsula de tempo viva” de Agnes Denes. 24 Desenhado em 1983; plantado em 1996. Agnes Denes, da “Montanha Árvore” de 1996 (Figura 19), foi uma das pioneiras de “Environment Art”, com uma forte preocupação pela responsabilidade ecológica do ser humano. O governo finlandês apoiou o projeto monumental de usar um local desmatado e abandonado de uma mina antiga, para construir uma montanha e plantar 11 000 árvores com 11 000 pessoas, cada pessoa (e seus herdeiros) sendo responsável por sua árvore durante 400 anos. Foi considerada uma grande contribuição à ecologia global. Um grupo contemporâneo de “Land Art/Environment Art” se chama “Red Earth” (Terra Vermelha), e se inspira nos poderes dos elementos da natureza e a relação deles com os elementos internos do ser humano. Suas instalações e 23 Disponível em: <http://prettisculpture.typepad.com/photos/other_artists_3/andy_goldsworthy_rowan_leaves_with_hole.html>. Acesso em: 2 abr. de 2010. 24 Disponível em: <http://greenmuseum.org/content/artist_content/ct_id-198__artist_id-63.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 50 performances de rituais na natureza resgatam a relação espiritual dos povos indígenas com a natureza. Figura 18 – “E nc l os ur e ” do 25 G ru po R e d E art h , 20 0 7 Usando a Arte em rituais espirituais os monges Tibetanos criam Mandalas como ferramentas de meditação para chegar à mente pura, não poluída, e por consequênciaà Terra Pura. Eles acreditam que o processo de criação da Mandala é como uma meditação que aumenta o nível vibratório do artista e do meio ambiente, e que o mesmo acontece ao se contemplar a mandala. Mandalas feitas de areia são especialmente simbólicas, pois elas são destruídas num ritual ao final, simbolizando o estado de impermanência da matéria. Figura 19 - Mandala de areia. 26 Drupon Thinley Ningpo e Lama Rinpoche, 2007. Trazendo-nos a visão transcendental de total interconexão dentro de toda a teia da vida é a Arte Visionária. Compartilhando suas perspectivas, estes artistas tentam fazer visível o que a maioria não consegue imaginar. Trazem os conceitos científicos mais perto da experiência direta para que possa servir como inspiração de uma relação divina e interconectada entre todo o universo. Alex Grey, literalmente pinta as linhas das redes que nos conectam. 25 Disponível em: <http://www.activateperformingarts.org.uk/who/index.php>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Museu de História Natural da Universidade da Flórida. Disponível em: <http://www.floridadharma.org/past%20events/sandmandala/Sand%20Mandala-02-14-07.htm>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 26 51 Figura 20 – “Theologue” de Alex Grey, 1984. 27 A busca de re-conexão com a natureza e a alma estava acontecendo cem anos atrás entre os artistas ocidentais que começaram a ousar revelar suas experiências internas através da arte. Vincent Van Gogh buscava expressar seu vínculo profundo com a natureza e revelava a interconexão entre a alma e a natureza de uma forma subjetiva, retratando a sua própria e emotiva vivência. Através de cores e gestos expressivos, as suas pinturas, revelam as forças da natureza e a inspiração da alma que continuam até hoje inspirando os seres humanos de todo o planeta. Figura 21 – “Mulberry Tree” de 28 Vincent van Gogh, 1889. Como podemos ver, as Artes Plásticas revelam, inspiram, acompanham, criticam e oferecem soluções, não só à crise ambiental, como à necessidade do homem de encontrar novas formas mais autênticas e humanas de se relacionar com todas as redes de relações vivas e interdependentes. 27 28 Disponível em:<http://www.alexgrey.com/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponível em:<http://www.abcgallery.com/V/vangogh/vangogh111.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 52 3 ARTETERAPIA – UMA TERAPIA ECOLÓGICA 3.1 Introdução A Arteterapia utiliza a Arte para fins terapêuticos, enfocando desde o autoconhecimento até o trabalho com doenças ou desequilíbrios mentais, sempre com o acompanhamento de um arteterapeuta. Tradicionalmente, o âmbito da Arteterapia assim como o da Psicoterapia era servir ao indivíduo. Contudo, dentro de uma visão de mundo ecológica, esta base está se estendendo tanto para dar apoio às disciplinas ecológicas quanto para ajudar o ser humano a se alinhar com a ordem da natureza ecológica revelada pelo novo paradigma científico. Epsen Stokes (2009), psicólogo e professor de “Expressive Arts therapies” ou Terapias Expressivas (ANDRADE, 2000), uma linha fenomenológica de Arteterapia, escreve sobre como as Terapias Expressivas têm uma metodologia ecológica. Ele diz que as duas áreas, uma de Filosofia Ecológica e a outra das Terapias Expressivas se complementam. Por um lado, as Terapias Expressivas têm uma metodologia ecológica podendo “ajudar e ensinar os seres humanos a se engajarem numa relação plena e sensual com o mundo mais-que-humano” (STOKES, 2009, p. 87) (tradução nossa), e, por outro lado, a filosofia ecológica tem uma base teórica que critica a visão egocêntrica do ser humano. Portanto, juntos, podem lidar diretamente com o egocentrismo cultural através da arte, para dar experiência à interconexão entre o ser humano e o meio ambiente. Esta possibilidade vai ser considerada, juntando as várias linhas teóricas da Arteterapia, estudando como que elas incorporam uma visão ecológica em suas práticas, desde seu início, e como agora há arteterapeutas que tentam atender simultaneamente a saúde humana e planetária. 53 3.2 Histórico Figura 22 -Pinturas da caverna, Lascaux, França, 29 15,000-10,000 A.C. O uso terapêutico da arte pode ser encontrado em culturas antigas, muito antes da profissionalização da Arteterapia. Selma Ciornai, arteterapeuta gestáltica, escreve, Desde a época da caverna, os seres humanos desenhavam imagens, buscando representar, organizar, significar e assenhorear-se do mundo em que viviam. Desde tempos imemoriais utilizam recursos expressivos como danças, cantos, tatuagens e pinturas em rituais de cura, de poder e de inovação as forças da natureza. (2004, p. 21). Ângela Philipini (2000), arteterapeuta jungiana conta que na antiga Grécia, (século V a.C.) em Epidauro, centro de cura dedicado a Asclépio, os enfermos assistiam a teatros e música para depois, à noite, prestarem atenção aos seus sonhos, que eram vistos como mensagens de transformação daquilo que causou suas doenças. Susan Bello, arteterapeuta e psicóloga, reflete sobre o papel da arte no xamanismo de culturas antigas: Suponho que os primeiros artistas eram considerados xamas, representantes da forca da mãe primordial. Eles pintavam nas paredes das cavernas, nos recessos profundos do útero da Mãe Terra, onde os ritos e rituais de fertilidade aconteciam. Talvez, os primitivos rituais humanos envolvessem a pintura de imagens de animais, pedindo as Forças Vitais para abençoarem suas caçadas e promover nutrição. (1996, p. 24). 29 Disponível em: <http://www.eyesclosed.org/introduction.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 54 O uso da arte na Antiguidade e cultura indígenas mostra como a arte, natureza, corpo, mente e espírito eram todos considerados interconectados. Como profissão na cultura ocidental a história da Arteterapia vem se construindo desde mais ou menos 1900, formando um corpo de teoria e pesquisa que cada vez mais ganha respeito pela comunidade científica. Arteterapia é o termo que designa a utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos [...] pressupõe que o processo do fazer artístico tem o potencial de cura quando o cliente é acompanhado pelo arteterapeuta experiente, que com ele constrói uma relação que facilita a ampliação da consciência e do auto-conhecimento, possibilitando mudanças. (CIORNAI, 2004, p. 8). É interessante perceber que esta profissão trouxe de sua história antiga, um diálogo com as “forças da natureza” e que se estabeleceu na cultura ocidental, época pós-Primeira e Segunda Guerra Mundial -, quando os fundamentos da época do Iluminismo, o pensamento científico, lógico, objetivo e racional estavam sendo questionados, e um olhar voltado à subjetividade, ao inconsciente e irracional estava sendo desenvolvido pelas artes e ciências. Prinzhorn, psiquiatra alemão e um dos pioneiros da Arteterapia, em 1910, achava que o racionalismo excessivo, distanciou a alma e a natureza. Para o psiquiatra, a arte ou a expressão criativa era um caminho espontâneo para a alma se reencontrar, pois observava que seus pacientes estavam “em contato, de uma forma totalmente irracional, com as verdades mais profundas, e já produziram, inconscientemente, retratos de transcendência da forma que eles a percebem” (apud McNIFF, 1992, p. 242) Figura 23 - Artista desconhecido. 30 31 30 Figura 24 -“O grito” de Edward Munch, 1893. Disponível em: <http://www.easybakecoven.net/2007_11_01_archive.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponível em: <http://crfranke.wordpress.com/2009/08/09/tribute-to-the-masters/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 31 55 Florence Cane, pioneira em 1920, da arte como terapia considerava que “o fazer arte passou a ser um grande veículo da auto-expressão, o ponto crucial da procura do self.” (apud ANDRADE, 2000, p. 84). A Arteterapia chegou num momento em que a importância das forças da alma e da natureza estava sendo resgatada, e o potencial da arte para se conectar com elas, reconhecida. A arte encontrou seu lugar na busca de autoconhecimento, cura e realização, muito além do racional. 3.3Arteterapia: Metodologia Ecológica A produção artística, as imagens e os materiais propiciam uma plataforma para o indivíduo se relacionar consigo mesmo e com o mundo ao seu redor simultaneamente, sendo que a realização individual acompanha a descentralização do Ego. ... nas Terapias Expressivas, nós começamos da realização que as imagens da imaginação têm a sua própria vontade, ou seu valor intrínseco. Tentamos enxergar o mundo a partir de seu ponto de vista entrando num diálogo ou trocando de lugar com eles. (STOKES, 2009, p.86) (tradução nossa). O mesmo autor se pergunta sobre os materiais artísticos: “O que é que aquele tem vontade de dizer? Neste movimento básico, descentralização das preocupações do Ego para a imaginação da terra [...] nós tipicamente convidamos o mundo a falar através dos próprios materiais que nos rodeiam” (2009, p.87) -, e também ao considerar o processo criativo: “Quem somos nós para dizer que nós criamos estas conjunções sozinhos, ex nihilo, como se não fossem instantes da colaboração continua que o material faz consigo mesmo?” (STOKES, 2009, p. 87) (tradução nossa). 56 Figura 25 – Arquétipos. Pintura. 32 Nise da Silveira, precursora da Arteterapia, no Brasil, enxergava que tinha conteúdos nos trabalhos de seus pacientes que estavam muito além do individual, num nível universal, por exemplo, os motivos mitológicos presentes em várias culturas. Na teoria de Jung, estes símbolos são arquétipos, estruturas carregadas de emoção, que existem universalmente há milênios dentro do que se chama do inconsciente coletivo as camadas mais profundas do inconsciente. (ANDRADE, 2000). Ao mesmo tempo em que este conteúdo vem do campo da Alma universal ele é interligado com a Alma individual e a Arte então se torna um retrato dessa relação. A abordagem jungiana parte da premissa que os indivíduos, no curso natural de suas vidas, em seus processos de autoconhecimento e transformação, são orientados por símbolos. Estes emanam do self, centro de saúde, equilíbrio e harmonia, representando para cada um o potencial mais pleno, a totalidade da psique [...] em arteterapia com abordagem jungiana, o caminho será fornecer suportes materiais adequados para que a energia psíquica plasme símbolos em criações diversas [...] ativando e realizando a comunicação entre inconsciente e consciente. (PHILIPPINI, 2000, p. 17). 32 Autor desconhecido. Disponível em: <http://jonhoward.typepad.com/photos/uncategorized/2007/05/21/archetypes.jpg>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 57 McNiff (2004) diz que podemos tratar os materiais e a produção artística como anjos ou seres reais, que vêm do âmbito da alma para servir a criatividade e saúde da vida. Eles emergem também do nosso inconsciente pouco civilizado, se arrastando da lama, se revelando e por vezes nos assustando. Stoknes confirma que as artes expressivas se interessam pelo lado “selvagem, não domesticado da beleza” e os clientes são convidados a usarem uma percepção primordial e animalesca. (STOKNES, 2009, p.87)(tradução nossa) Rudolph Steiner e o filósofo Goethe elaboraram a visão de que “as cores ativam o olho dos sentidos e o olho da alma.” (apud FARRELLY-HANSEN, 2001, p. 147) (tradução nossa). Assim por exemplo, ao pintar com uma tinta azul, o indivíduo está diretamente em contato e se misturando com um elemento da natureza que é também um elemento dele mesmo, atuando em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual. A inspiração artística por sua vez intensifica esta experiência e a tinta convida o pintor a literalmente mergulhar dentro de um azul tão infinito quanto o céu, o mar, e a profundeza da sua alma. (Figuras 26 e 27) Figura 27 - Auto-retrato como Yves Klein, Mike Bidlo, 2003. Imagem de video. (9b) Figura 26 – “Anthropometry”.Yves Klein, 1960. Óleo sobre papel; modelos pintaram com seus 33 próprios corpos ao em vez de pincéis. 33 Disponível em: <http://www.moma.org/collection/browse_results.php?criteria=O%3AAD%3AE%3A3137&page_number=2&template_id=1&sort _order=1>. Acesso em: 3 fev. de 2010. 9b Disponível em: < http://www.artnet.com/magazineus/reviews/robinson/robinson1-23-06_detail.asp?picnum=14 > Acesso em 3 fev. de 2010. 58 Estes olhares e práticas inserem o indivíduo numa visão de mundo inclusiva e permeável onde a rede da vida se torna uma experiência direta. O indivíduo percebe, assim como os povosantigos e indígenas, que ele não está sozinho, e que ele realmente pertence à natureza universal, que fala diretamente através da sua própria natureza. É como uma dança fluída e interconectada entre o indivíduo, o universo, as imagens, materiais, inconsciente e também, por fim, o arteterapeuta e o espaço. O arteterapeuta é como um guardião da consciência. Se o arteterapeuta consegue manter uma postura facilitadora, conectada com compaixão e inspiração, o cliente também se conecta e aprofunda. Figura 28 - “Painting” de Alex Grey, 1998. 34 Pintura a óleo. O espaço pode aumentar ou constringir a percepção de mundo permeável e cheio de alma. O espaço físico e psíquico do consultório, se tratado como “território sagrado” (PHILIPPINI, 2000), nutre e movimenta o fluxo criativo e a experiência de interconexão com o universo. 34 Disponível em:< http://www.bbc.co.uk/london/content/articles/2007/01/26/divineart_sriharan_feature.shtml >. Acesso em: 02 abr. de 2010. 59 3.4 Criatividade A arte é um caminho para manifestar a verdadeira conexão espiritual humana e planetária com a Alma do Mundo. Neste momento, a criatividade é a força que pode nos ajudar a atender à crise ambiental. Bello escreve: ...quando o artista vai além do ego, num estado alterado da consciência ele é capaz de atingir o campo da Inteligência maior ou Alma do Mundo. [...] É essa consagração de nosso self individual a empreendimentos alinhados com um futuro positivo e com o bem-estar do planeta como um todo, que acredito ser o desafio crucial à criatividade humana e à Arte trans-pessoal. [...] O artista, como um xamã espiritual de sua cultura, precisa expressar, através de sua conexão com a força vital criativa, o que sua época necessita para curar o espírito e evoluir para uma maior consciência. (1976, p. 25). A expressão artística é movida pela força vital criativa que é também a força de autorregulação que governa todos os sistemas de vida. McNiff situa a autorregulação claramente dentro de uma visão ecológica da Arteterapia quando escreve, ...a arte serve como um intermediário entre os ritmos do corpo e da natureza. O pulsar das criaturas no mundo todo, os sons do mar e do bosque à noite, os ciclos da lua - todos confirmam a existência do que eu chamo o „meta-ritmo‟ da vida, o ritmo que existe por trás de todos os outros. (2004, p. 235) (tradução nossa). A nossa vitalidade depende da nossa capacidade de estar em sintonia com esses ritmos, e as artes têm a capacidade de intensificar a experiência dos ritmos essenciais da vida. Estagnar, diz o autor, “é estar em outro lugar além do qual você está” (2004, p. 235)(tradução nossa), ou seja, desconectado destes ritmos. “Ritmo e um relacionamento equilibrado com a natureza são metáforas principais para a saúde dentro da tradição xamânica” diz McNiff (2004, p. 203) (tradução nossa). Em seu trabalho, práticas xamânicas e arteterapêuticas de ritmo, respiração, ritual, pintura, escultura, contato de história, imagens, teatro, canto, entre outros, formam parte do dia a dia. Cada um é uma forma de se integrar ao ritmo da criação e da imaginação. Este ritmo de criação é universal e é como o coração da autorregulação da alma, o pulsar de sua imaginação; a perda de ritmo pode ser comparada à perda da alma. 60 A circulação da energia vital é movida por este ritmo que aparece e é mantido pela expressão artística: “A criatividade e a cura são manifestações da mesma energia essencial. Os dois transformam problemas em afirmações da vida.” (McNIFF, 2004, p. 213) (tradução nossa). Figura 29 - Composição de imagens. 35 Fagya Ostrower, autora brasileira, critica a nossa sociedade pela desconexão com o ritmo natural: A muito o ser humano vive alienado de si mesmo. As riquezas materiais, os conhecimentos sobre o mundo e os meios técnicos de que hoje se dispõe, em pouco altera essa condição humana. Ao contrário, o homem contemporâneo, colocado diante das múltiplas tarefas que deve exercer, pressionado por múltiplas exigências, bombardeado por um fluxo ininterrupto de informações contraditórias, em aceleração crescente que quase ultrapassa o ritmo orgânico de sua vida, em vez de se integrar como ser individual e ser social, sofre um processo de desintegração. Aliena-se de si, de seu trabalho, de suas possibilidades de criar e de realizar em sua vida, conteúdos mais humanos. (1997, p. 6). Figura 30 - “Human Seed” de 36 Mathew Brass. 35 36 Autor desconhecido. Disponível em:<http://foco-manga.blogspot.com>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponível em:< http://www.earthspiritwisdom.com/?page_id=51>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 61 Todo mundo, sem exceção, é criativo, mas pode existir uma falta de conexão com a sua criatividade, sua vitalidade, que é a força da natureza. Isto reflete uma falta de contato geral com a natureza interna e externa e um bloqueio. Isto não quer dizer que todo mundo tem que ser tecnicamente um artista, mas que a expressão artística é uma das formas para estimular o contato com a vida. Na Arteterapia Gestáltica o contato com os sentidos é a chave para manter o fluxo criativo ativo, estimulando a ampliação da consciência denominado na Terapia Gestáltica de “awareness”. As funções de contato, que são os sentidos em vários níveis, são estimuladas no fazer artístico, que por sua vez estimula o estado de “awareness”. “Awareness é uma forma de experienciar. É o processo de estar em contato vigilante com os eventos mais importantes do campo indivíduo-meio, com o total suporte sensório-motor, emocional, cognitivo e energético.” (CIORNAI, 2004, p. 36). Oaklander, arteterapeuta gestáltica, especialista em desenvolvimento infantil, enfatiza como as funções de contato que incluem todos os sentidos são essenciais para o desenvolvimento sadio: A consciência está tão ligada ao experienciar que são uma coisa só. Igualmente, quando a criança em terapia tem a experiência dos seus sentidos, o seu corpo, os seus sentimentos, e o uso que pode fazer do seu intelecto, ela recupera uma postura sadia frente à vida. (OAKLANDER, 1980, p. 75). O Expressive Therapy Continuum (ETC), estudo de Kagin e Lusenbrink (1990) organiza a compreensão dos vários níveis de contato em que saltos criativos de transformação acontecem. Os níveis sensório-motor, perceptual-afetivo e cognitivo-simbólico são como pontos de entradas e saídas do nosso ser e a criatividade é a força constante que deixa existir e acontecer as conexões entre os níveis. O criativo segue sempre numa direção contínua de melhora, não em forma linear, mas em saltos. Portanto, enquanto a criatividade e o contato são estimulados há saltos contínuos e espontâneos de autorregulação. As consequências ecológicas são importantes. Wolfgang Schirmacher, professor de filosofia, mídia e comunicação, descreve porque é significante acordar os sentidos e treinar a nossa sensibilidade poética: 62 “Todo mundo é capaz de desenvolver um “self estético”. Rejeitando o bloqueio habitual da perspectiva estética do todo, e admitindo a pele fina herdada da nossa espécie, nós nos libertamos da prisão da nossa percepção, dentro da qual o medo do desconhecido nos força a viver.” (apud STOKNES, 2009, p. 87) (tradução nossa). O fluxo contínuo e energizado de “awareness” é o que possibilita ao indivíduo interagir com o seu mundo e suas próprias escolhas criativamente. Explorando cada vez mais as partes desconhecidas de si mesmo e do seu mundo ele se torna artista de sua própria vida e aliado a outros, artista do mundo ao seu redor. “Ao dar livre curso as expressões das imagens internas, o indivíduo, ao mesmo tempo em que as modela, transforma a si mesmo. Ao conhecer aspectos próprios se recria, se educa e, sobretudo pode experimentar inserir-se na realidade de uma outra maneira nova.” (ANDRADE, 2000, p. 125). Rogers, terapeuta de Terapias Expressivas escreve que artistas e terapeutas têm a chance de expressar a energia criativa como uma afirmação de que a natureza humana não é destrutiva essencialmente mas que apóia e sustenta a vida. A única coisa que nos segura é reprimir a criatividade e não manter a visão que emerge. A expressão artística é uma forma de acordar a criatividade e ajudar as pessoas a serem autênticas e poderosas: “se estivermos resolvidos, como uma comunidade mundial, a resolver nossas discussões em paz, pode acontecer.”(1993, p. 245). Philippini expressa a capacidade de ser criativo como imperativo na construção de uma nova relação do indivíduo com o mundo: A experiência de produzir rompe com a passividade, desenvolve a consciência crítica e a solidariedade. Em lugar do simples consumidor, cria o agente, o criador consciente, o cidadão. A diversidade criadora é fator decisivo para o desenvolvimento auto-sustentável. Não vamos conseguir nos adaptar e transformar sem esta qualidade. [...] com cada experiência criativa que é feita, a rede se expande, aumentando seu campo de ação, gerando outras redes, que gerarão outras e outras mais. E nessa grande teia, das artes, da esperança e da vida, cada vez que criamos, podemos renascer e celebrar, sem medo de sermos felizes... (2000, p. 75-76). 63 A criatividade é a própria força da natureza em autorregulação, o fazer artístico e a Arteterapia tem o propósito de ativar esta força dentro do indivíduo para a sua saúde e capacidade criativa. Ser criativo é necessário para processar experiências de vida, criar mudanças internas e externas e para não se conformar com a estagnação. Alimentando tanto a vida pessoal como a vida social e ambiental. Figura 31 - “Deus como arquiteto” 37 de William Blake, 1794. O ser criativo descobre, a cada momento, novos recursos e novos caminhos. A chama da esperança é mantida viva seja qual for o padrão de doença, desequilíbrio ou estagnação que se encontre. Até mesmo as piores doenças, maiores limitações e frustrações contêm a esperança de encontrarem aceitação e uma postura interna criativa que se adapta e se transforma conforme o fluxo da vida se manifesta naquele momento. Figura 32 - “Journey of the wounded healer” de 38 Alex Grey, 1984-85, pintura a óleo. 37 Disponível em: <http://www.william-blake.org/God-as-an-Architect,-illustration-from-The-Ancient-of-Days-1794.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 38 Disponível em: <http://alexgrey.com/a-gallery/jrny1.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 64 Por mais contraditório que pareça, a estagnação faz parte do caminho do fluxo criativo. McNiff (2004) escreve muito sobre a importância da integração de conteúdos da luz e da sombra para a energia vital, enxergando a dor ou doença como parte natural do caminho para o encontro da alma. O xamã e o artista, não fogem do conflito, mas entram no olho do furacão, onde o anjo da dor, reside, trazendo a cura em resposta ao encontro com esta dor. (MCNIFF, 2004). É significativo que só saindo da negação e trazendo consciência à dor, é que o anjo aparece, abrindo espaço para o fluxo natural da vida. “A restauração do fluxo é alcançada freqüentemente pela transformação de energia negativa e desorientadora em afirmações de vida” [portanto] “dor e sofrimento, junto a criatividade são participantes necessários no processo da conversão energética por baixo do fluxo da vida.” (MCNIFF, 2004, p. 218) (tradução nossa). Na Arteterapia, através das expressões artísticas, as forças do conteúdo interno, do inconsciente, encontram libertação. Ainda de acordo com Jung as manifestações através da arte ou sonhos são essenciais para liberar conteúdos inconscientes de uma forma socialmente aceita antes que eles se cristalizam em padrões doentios. (ANDRADE, 2000). Levine, terapeuta de Artes Expressivas, escreve que “o poder terapêutico da arte está não na eliminação do sofrimento mas na capacidade de nos suspender no meio deste sofrimento para que podemos agüentar este caos sem negação ou fuga.” (2006, p. 31) (tradução nossa). Sobre a visão ecológica nas Terapias Expressivas, Levine propõe uma integração dos conteúdos internos contraditórios. Ele pergunta: “Como podemos viver poeticamente? Fazer isto implica não só nos reconhecer como “parte da natureza, parte de nós,” isto é, reconhecer nosso corpo estando nesta Terra com outros; mas também implica finalmente admitir que “o exílio é o nosso destino, que sempre seremos passageiros, até quando retornamos para casa.” (2009, p. 6) (tradução nossa). Uma das preocupações de ecopsicologia é a negação da tristeza, raiva e sofrimento dentro da atual destruição ambiental. No fluxo criativo um confronto com a doença, dor e desequilíbrio é inevitável, seja o foco, pessoal, social ou ambiental, e este confronto é saudável, fazendo parte do processo de autorregulação. A 65 negação perpetua a estagnação da energia vital e a falta de consciência, mas a Arte abre as portas vitais da criatividade, liberta, re-elabora e integra conteúdos que antes eram insuportáveis. Com isto aumenta “awareness” e novas possibilidades mais cheias de vida. 3.5 Arteterapia: Bem-estar Pessoal e Planetário Figura 33 – Pintura. 39 A consciência cada vez mais profunda da interconexão entre o ser humano e o planeta Terra, está trazendo uma nova perspectiva de prática para alguns profissionais. A arteterapeuta e eco-psicóloga, Suzie Cahn define esta nova visão como, “a tecelagem simultânea do caminho para o bem-estar pessoal e planetário” (2007, p.26 ) (tradução nossa). “De qual relevância será o fato de que cada um de nós faz parte da natureza? Que somos conectados ao ar, água, a terra, aos animais e as plantas? Que nós respiramos o mesmo ar, bebemos a mesma água, comemos a comida que vem deles? Que sem estas coisas morreríamos?” (FARRELLY-HANSEN, 2001, p. 141) (tradução nossa). A mesma autora que trabalha com uma visão ecológica, ainda se pergunta, 39 Artista Desconhecido. Disponívem em: <http://centroelemental.blogspot.com/2009/10/hipotese-de-gaia.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 66 ...como que eu posso usar a minha criatividade de uma forma que responde diretamente e com compaixão a dor não só dos meus vizinhos humanos mas também da mãe que sustenta todos nós, a Terra? Já ficou claro depois de quase um século de psicoterapia, que ajudar as pessoas a estarem bem emocionalmente, até espiritualmente, não garante um planeta saudável. (2001, p. 139) (tradução nossa). Vimos que a Arteterapia tem muito a contribuir ao movimento ecológico. Mas como será que o olhar ecológico influencia a Arteterapia nos trabalhos de arteterapeutas que trazem preocupações ecológicas para dentro de sua prática? Esses arteterapeutas, que carregam a preocupação ecológica como um tema central nos seus trabalhos, buscam integrar métodos e ferramentas especificamente direcionados a esta questão. Aumentando a experiência consciente de interconexão entre o indivíduo e a natureza, ambos se enriquecem e a relação entre os dois se fortalece. Em maio de 2009 no Kutenai Art Therapy Institute, Canadá, um instituto de pós-graduação em Arteterapia, um grupo de arteterapeutas ofereceu um encontro de três dias de oficinas de Arteterapia e Ecologia, chamado, “Identidade ecológica e o caminho criativo: um simpósio de Eco-Arteterapia”. A definição principal é “o olhar e identidade ecológica no contexto de Arteterapia e o estudo da conexão emocional com o meio ambiente.” (tradução nossa). Eles consideram que a prática de EcoArteterapia inclui: 1. explorar identidade ecológica através do processo criativo e metáforas da natureza; 2. levar a Arteterapia para o meio ambiente natural; 3. o uso de metáforas de restauração no processo terapêutico; 4. o uso das forças curativas da natureza e do processo criativo para trazer autoconhecimento e aumentar auto-expressão; 5. o impacto psicológico da ameaça eminente de desastre ecológico; 6. Eco-luto – o processo de luto após a perda de espécies e habitat; 7. A aplicação dos princípios da ecologia para os princípios de vida do ser humano.40 40 Disponível em: <http://www.kati.kics.bc.ca/WhatsHappening/whatshappening.html>. Acesso em: 24 mar. de 2010. 67 Algumas oficinas usaram a experiência direta com a natureza, para dar importância às metáforas da natureza na Arteterapia e como inspiração para explorar relações individuais, sociais e ambientais através da arte. Foi especialmente aprofundado a questão de como o indivíduo se relaciona, se sente e se identifica com a natureza. Figura 34 41 “Green Man” de Alexi Francis. Houve a proposta de re-inventar o mundo através da arte, explorando os temas de re-criação, reparação e restauração, inclusive o uso terapêutico de materiais reciclados. E no final do encontro, a arte comunitária e ambiental se manifestou numa intervenção direta na natureza que foi a plantação de árvores, algo que simboliza uma colaboração criativa entre o homem, a terra e o mundo vegetal.42 Figura 35 - Cachorro reciclado. 43 Dentro das oficinas oferecidas manteve-se a idéia de explorar a identidade ecológica, considerando que o desenvolvimento humano saudável precisa de contato e criatividade vinculados à natureza. Abordar a totalidade do ser humano com este olhar e com práticas tão objetivas é uma forma ecológica de tratar a saúde do ser humano. Isto é aprofundar e tomar consciência da sua relação com a 41 Disponível em; <http://www.siren.org.uk/treetalk.htm>. Acesso em: 24 mar. de 2010. Disponível em:<http://www.kati.kics.bc.ca/WhatsHappening/Symposium_Program.htm>. Acesso em: 24 mar. de 2010. 43 Artista desconhecido. Disponível em: <http://listsoplenty.com/blog/wp-content/uploads/2010/01/recycled-dog.jpg>. Acesso em: 24 mar. de 2010 42 68 natureza, tornando esta uma relação e identidade tão importante para ser trabalhada quanto qualquer outra. Suzie Cahn une o trabalho arteterapêutico com a área de Eco-psicologia. Ela fala que o objetivo principal da metodologia da Eco-psicologia “é ajudar a acordar os sentidos adormecidos do indivíduo” para ativar o vínculo natural com a natureza interna e externa. (2007, p. 26) (tradução nossa). As ferramentas que a autora usa para trabalhar isto estão diretamente ligadas a materiais da natureza. Ela diz que começou “a fazer isto na arte, através de estar atenta à natureza e nas escolhas de materiais usando materiais não-sintéticos e aqueles colhidos na natureza.” (CAHN, 2007, p. 27) (tradução nossa). As propostas também incluem passeios para a natureza selvagem, ou trazer a natureza para dentro de seu escritório. Para Joyce Eliezer, precursora da Eco-Arteterapia no Brasil os materiais foram importantes no que se diz respeito à sua definição desta disciplina: “Nossas pesquisas no país nos remeteram ao estudo dos elementos da natureza como materiais das sessões. Incluímos árvores, tintas naturais, papel machê, papel artesanal, cera de abelha e sementes formando uma Eco- Arteterapia”.44 Figura 36 - Espantalho. 45 McNiff considera que materiais naturais ou menos processados contêm mais força ou energia psíquica por serem mais puros. As qualidades que compõem um material natural inspiram um contato maior com a natureza do que materiais manipulados através de pessoas, fábricas e transportes. 44 Disponível em: <http://www.revistapsicologia.com.br/materias/pontoDeVista/m_pontodevista_arteterapia.htm>. Acesso em: 22 mar. de 2010. 45 Foto. Artista desconhecido. Disponível em: < http://www.greaterphiladelphiagardens.org/news.asp?>. Acesso em: 22 mar. de 2010. 69 Farrely-Hansen alerta que mesmo quando os materiais de arte vêm diretamente da natureza, a consciência mais profunda deste fato, é muitas vezes ignorada: “em muitos casos, no nosso entusiasmo para ajudar os nossos clientes a focarem dentro deles e pintar suas fontes de desamparo, nós nos esquecemos de lembrar a eles a tocarem, realmente tocarem os materiais artísticos a mão.” (2001, p. 142) (tradução nossa). Figura 37 46 “Touching nature” de Mijs. Em seu consultório ela introduz uma cesta de natureza, cheia de materiais da natureza, como conchas, folhas, pétalas, sementes, galhos, ossos, pele de cobra etc., antes da atividade artística, para acordar os sentidos e ao mesmo tempo estimular o imaginário simbólico do inconsciente. Descrevendo uma cliente que escolheu um pedaço de galho da cesta de natureza, descreve as propostas que ela faz: ...observa cada aspecto do galho com olhos abertos e fechados, toca com diferentes partes do corpo. Como sente, cheira, escuta? O que te diz sobre o passado? Às vezes a natureza fala para o coração. No silêncio permaneça aberta às mensagens da madeira. (FARRELLY-HANSEN 2001, p.142) (tradução nossa). Outro exemplo do uso da cesta é com a pele de cobra para adolescentes que estão sendo re-inseridos na escola. A pele de cobra serve como um símbolo forte, abrindo discussões do que querem deixar para trás e que tipo de “pele” nova gostariam de cultivar. Também traz temas da relação com o mundo natural, a vida e a morte. O valor de juntar o sensorial e simbólico da natureza é aproveitado também pela escolha de plantas, enxergando-as como símbolos importantes no consultório, sejam aquelas que crescem rápido, devagar, com flores ou sem flores etc. Cada planta tendo sua própria vida e expressão. 46 Disponível em: <://www.flickr.com/photos/13648894@N03/2531590323>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 70 Esta relação com a natureza pode ser estendida aos animais e Farrelly-Hansen (2001) adota a prática xamânica de buscar poderes pessoais nos animais. A relação com as qualidades, poderes ou falta de poderes de animais é também usada como um espelho para o cliente. Por exemplo, descobrindo quais são os animais preferidos do cliente; ou buscando os poderes de um tigre ou um cavalo. Figura 38 47 Estudando, conhecendo, observando e desenhando este animal e seus hábitos, refletindo sobre as relações entre emoções pessoais e realidades ambientais. Um exemplo de um trabalho é de reconstruir um sentimento de poder pessoal próprio através de ajudar um animal em perigo de extinção. Com isto a autora estende os limites do fazer artístico de um ateliê ou clínica para incluir atos criativos no meio ambiente como uma performance. A re-conexão de nossas experiências com os ciclos da natureza são frequentemente explorados no consultório da autora: seja as fases da lua ou o progresso de uma semente, todas as transições da natureza são refletidas nas transições da vida humana também, aparecendo no diário visual artístico. Ela inclui várias propostas que convidam o cliente a participar integralmente nos ciclos de vida, morte e renascimento. Figura 39 – Fotografia. 48 Folhas em decomposição. A decomposição é uma fase importante destes ciclos: às vezes, ela incentiva clientes a destruírem pinturas repetitivas de que gostam e a usarem pedaços inspiradores para criar algo novo. Trabalhando com crianças de ambientes abusivos Farrelly-Hansen desenvolveu um trabalho de destruição e reconstrução. 47 Disponível em: < http://www.mun.ca/biology/delta/arcticf/images/calad.gif>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Fotografia de Kathy Green. Disponível em: <http://gardeningfornature.blogspot.com/2009/11/maintaining-composure-whiledecomposing.html>. Acesso em: 4 abr. de 2010. 48 71 A natureza oferece muitos recursos, inclusive para atender as necessidades mais básicas comoquando uma criança não recebe a experiência de uma mãe acolhedora, e tem que procurar formas de preencher este “vazio”. A natureza pode ajudá-la, pois a Terra é a grande mãe que oferece forças para nos curar. 49 Figura 40 - Escultura. A inclusão do corpo é considerada sempre importante para ativar uma relação mais profunda com a natureza. Com seus clientes que na maioria tem uma relação fraca com seus corpos, a autora usa exercícios de respiração e alongamento para preparar para expressão criativa. Este foco nos sentidos é trazido para trabalhar com a falta de satisfação sexual entre casais também, acordando a sensualidade com a ajuda do mundo natural, relembrando seus instintos animalescos, e a relação com os sentidos. Ela sugere que eles toquem pedras, grama, cheirem flores, escutem pássaros, água, abram os olhos para as belezas naturais, as cores, formas, e imagens a sua volta. Farrelly-Hansen (2001) acredita que nossa conexão com a terra reflete a nossa criatividade, então, é importante conseguir se sujar com a terra ou a argila, ou fazer pinturas que são caóticas ou feias. Nossa cultura limita o contato com a natureza desde que somos bebê, e as pessoas acabam não se sentindo mais vivas. Figura 41 - Foto. 50 A autora escreve sobre sua própria experiência de se sentir mais plena e calma depois de desenhar ao vivo na natureza, ao sentir uma gratidão pelo mundo natural, um interesse maior e uma conexão mais forte. Ela acha importante ensinar as pessoas a mudarem de uma postura de preocupação e introspecção para “uma relação com algo que cresce, é vivo, e inteiro” (FARRELLY-HANSEN, 2001, p. 147) (tradução nossa). O desenho ao vivo na natureza, por si só aumenta a consciência 49 50 Autor desconhecido. Disponível em: <http://gaiabrasil.wordpress.com/produtos/projetos/>. Acesso em: 02 abr. de 2010. Disponível em: <http://www.treehugger.com/files/2008/01/got_organic.php<. Acesso em: 02 abr. de 2010. 72 sensória, a conexão entre a natureza interna e externa, e a relação com a força vital da natureza. O desenho também traz a pessoa para o momento presente, aquieta a mente e aumenta o nível de “awareness” entre ela e o mundo, como uma meditação. Ela usa técnicas de desenho que são propícios para isto, como o zen drawing, de Fredrick Frank e “Desenhando no lado direito do cérebro” de Betty Edwards. 51 Figura 42 -Desenho de uma rosa. A falta de distração atingida pelo estado meditativo ajuda a acalmar e firmar a mente e se estamos ao mesmo tempo atentos à natureza e seus elementos, eles podem ajudar a equilibrar os nossos elementos internos, quando desequilibrados. Quando temos mais contato, também nos tornamos sensíveis à possibilidade e à beleza de manter puro, vivo e saudável o nosso meio ambiente externo. Igual à meta do ecologista Harding, Farrely-Hansen procura acordar o amor à natureza, perguntando se talvez hoje possamos usar nossas imaginações artísticas para ajudar as pessoas a se re-apaixonarem com a Terra e com elas mesmas como os guardiões. 51 Artista desconhecido.Disponível em: <http://moonshineart.blogspot.com/2007/10/rose-flower-drawing-for-sale-by-artist.html>. Acesso em: 02 abr. de 2010. 73 3.6 Arteterapia e Comunidades Sustentáveis A sustentabilidade, ou seja, uma vida compatível com os nossos recursos é o que a ecologia pede para restaurar o equilíbrio no planeta. Beverley A'Court, arteterapeuta de Findhorn, na Escócia, uma das comunidades sustentáveis e Ecovilas mais antigas dentro da cultura ocidental, tem um blog onde reflete no papel da Arte e da Arteterapia dentro de uma comunidade sustentável. A autora diz que antigamente todo vilarejo escocês tinha seu próprio poeta, profeta, músico, contador de histórias -, revelando retratos das pessoas e da terra naquele lugar, influenciando não só mitos, mas também decisões práticas da comunidade. Em Findhorn este tipo de sabedoria poética e visual é alimentada e escutada, mas a autora lamenta que na maior parte da sociedade contemporânea, o racionalismo excessivo ainda domine. Portanto, Beverley A'Court oferece uma proposta de Arteterapia comunitária através da Internet, criando redes além de sua comunidade. A cada mês ela faz propostas de arte e convida as pessoas a experimentarem e a compartilharem suas experiências. As propostas exploram quem nós somos e como podemos ser mais autênticos e verdadeiros, trazendo mais harmonia e solidariedade às nossas comunidades e também como lidar com momentos de transição, estagnação ou necessidade de transformação. As suas propostas unem o corpo, a natureza e a arte, sugerindo aprofundar a relação com a natureza deixando que a alma se inspire. Uma das propostas, no blog, é uma exploração dos pés, incluindo não só o pé em si como a inspiração para a arte, mas reflexões sobre sua pegada ecológica, pegada social e espiritual, a relação com a Terra, estando enraizada - “grounded” -, ou viajando, em movimento, explorando o diálogo do pé com você e/ou com o lugar a sua volta. O blog é aberto a pessoas que querem relatar suas experiências. 74 Figura 43 52 Desenho de um pé sobre madeira. Desta forma, A‟Court consegue trazer práticas que contribuem para a sustentabilidade não só de sua comunidade, mas de comunidades em todo o mundo, incluindo a comunidade virtual das redes criadas por seu blog. Esta proposta aproveita o aspecto ecológico de redes, das novas tecnologias, trabalhando o contato físico com a natureza e deixando que estas experiências permeiem pelas redes de relacionamentos cibernéticas.53 3.7 Transdisciplinaridade O movimento ecológico, por sua visão de redes interconectadas, incentiva práticas transdisciplinares que se enriquecem e se potencializam entre si, infinitamente. Assim sendo, uma união de disciplinas acontece para trazer mais criatividade e consciência ao mundo. 52 Autor desconhecido. Disponível em: http://www.artreview.com/photo/photo/show?id=1474022%3APhoto%3A131796. Acesso em: 24 mar. de 2010. 53 Disponível em: <http://www.findhorn.org/onlinecommunity/blogs/art_therapy_with_beverley_acou/>. Acesso em: 24 mar. de 2010. 75 Nesta convergência que busca um maior equilíbrio planetário, alguns pontos significativos emergem: 1. Re-conectar com as forças da natureza, internas e externas. 2. Ter consciência que o exterior é um espelho do interior e vice-versa. 3. Trabalhar integradamente com a arte, corpo e natureza. 4. Desenvolver o potencial criativo. 5. Despertar os sentidos, para maior sensibilidade às redes da vida. 6. Criar mais “awareness” e presença no momento presente. 7. Dar atenção à relação com a natureza, tanto domesticada quanto selvagem. 8. Desenvolver amor à natureza e a todas as redes de relações. 9. Desenvolvimento humano integrado: Ego, Alma e Espírito. 10. Sair da negação: trazer consciência aos desequilíbrios ambientais e pessoais. 11. Superar vícios disfuncionais, construir hábitos saudáveis em corpo, emoções, mente e ação. 12. Considerar a saúde do ser humano e planetária nas dimensões física, mental, emocional e espiritual. 13. Usar a arte para inspirar a construção de comunidades sustentáveis nas dimensões ambientais, sociais, econômicas e espirituais. Não é um rótulo para seguir, mas serve como pontos de inspiração, iluminados por diversas experiências, culturas e teorias científicas, provenientes desta mesma busca. Cada ponto pode ser trabalhado de inúmeras formas sendo que o potencial criativo é a única limitação. Sejam quais forem os métodos escolhidos, manter a chama viva da visão de interconexão entre o ser humano e a natureza é a consciência que pode abrir caminhos. 76 4 INTERCONEXÕES ENTRE SER HUMANO E MEIO AMBIENTE EM TRÊS PROJETOS DE ARTETERAPIA NO BRASIL 4.1 Introdução A idéia de que uma visão de interconexão com a natureza pode permear um trabalho terapêutico foi inserida em três projetos de Arteterapia. Cada projeto abarcou propostas e grupos diferentes. O primeiro foi o Projeto Harmonia, que trabalhou com crianças de 6 a 15 anos numa escola rural baiana. O segundo foi um projeto de Educação Ambiental para estudantes universitários, usando a Arteterapia para trazer outra dimensão além do técnico e teórico. O terceiro foi um retiro de Arteterapia, Yoga e vivências na natureza num centro desenvolvimento humano. 4.2 Projeto Harmonia Figura 44 Figura 45 Figura 47 Figura 48 Figura46 Figura 49 holístico para 77 O projeto Harmonia foi realizado no litoral sul da Bahia, em uma escola rural Antroposófica (Figuras 44 a 49). Embora a sociedade local esteja em num meio ambiente muito rico em biodiversidade, como todos os lugares que estão sendo inseridos na cultura ocidental consumista, o vínculo com a natureza nem sempre é valorizado. Trabalhou-se com crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, num total de 17 pessoas divididas em grupos de 1 a 4 pessoas, em sessões de 45 minutos a 1h30m, semanais, durante três meses. A proposta tinha como objetivo desenvolver oficinas arteterapêuticas com características específicas para atender as necessidades de cada grupo, escutando primeiro os relatos e preocupações das professoras de classe sobre seus alunos. O propósito geral foi estabelecer harmonia e contato com a natureza interna e externa, e se descobrir como um agente criativo dentro de si mesmo e do mundo. Foram introduzidos materiais como tintas, giz de cera e argila, e utilizados elementos da natureza como folhas, galhos, pedras, sementes e árvores, na construção dos trabalhos. Incluiu também recursos ligados simbolicamente à natureza utilizando contos, músicas e histórias com movimento corporais. Três recortes de grupos diferentes servirão como exemplos deste trabalho. 4.2.1 Grupo 1: A Árvore Questões de timidez e insegurança emocional foram abordadas e o objetivo focado em ajudar duas meninas de seis anos a criarem uma base interna forte e estruturada, estimulando o contato comas forças arquetípicas da árvore. Foi introduzido um conto tendo como personagem principal uma árvore. O conto foi relatado embaixo de uma árvore no jardim ao lado da sala de aula (Figura 50). 78 Figura 50 – Fotografia. O conto faz da árvore um personagem vivo e sábio que conversa com crianças, compartilhando suas qualidades e poderes com elas. Para abrir e fechar as sessões foi realizada uma sequência de movimentos corporais acompanhados de uma poesia, também trazendo características terapêuticas da árvore, que terminava com um abraço em torno do tronco da árvore. Na história, esta árvore vivia tanto no mundo externo quanto dentro do coração de todas as crianças e lhes trazia força e coragem. Após escutarem a história com muita atenção, as meninas tocaram a árvore para escutá-la melhor, verificando se ela realmente falava. Nas produções artísticas, utilizaram giz de cera e massinha; a árvore e o coração surgiram como figuras fortes. (Figuras 51 e 52) 79 Figura 51 - Desenho em giz de cera. Figura 52 – Modelagem em massinha. Esta foi uma proposta mobilizadora, pois se relacionar e se conectar com a árvore trazia calma e foco ao comportamento das crianças quando elas chegavam muito agitadas, ou antes de irem embora, ou ainda depois de uma atividade expansiva arteterapêutica. A relação com a árvore também foi um espelho para enxergar a abertura das duas meninas para entrar no imaginário da natureza, e a sua relação com limites, estrutura, intimidade, segurança e afeto. Essas relações se mostraram frágeis e pouco desenvolvidas para ambas as meninas no começo, mas, ao longo do processo, foram ganhando força, impacto, vida e muito mais contato. A proposta de criar uma base e uma estrutura interna maior, e um ambiente de contenção para a terapia foi mobilizado pelas atividades em torno da árvore. O contato sensório e afetivo foi especialmente estimulado, propiciando a experiência profunda da árvore, que de acordo com o dicionário de símbolos é o “firme sustentáculo do universo, elo de ligação [sic] de todas as coisas, suporte de toda terra habitada” (CHEVALIER, 1982, p. 85). 4.2.2 Grupo 3B- Contato Os encontros foram realizados com dois meninos de 8 e 9 anos que têm dificuldade em se concentrarem; pois são dispersos e muito agitados. O objetivo focou desenvolver a capacidade de “mais contato” por meio de jogos que envolvessem a natureza e estimulassem os sentidos, com uma subsequente elaboração expressiva em Oficina Criativa® (ALLESSANDRINI, 2004), em resposta à dispersão e à falta de interesse. 80 Penso que a maioria das crianças considerada necessitada de ajuda possui uma coisa em comum: alguma deficiência em suas funções de contato. Os instrumentos de contato são olhar, falar, tocar, escutar, mover-se, cheirar e sentir o gosto. Crianças com problemas são incapazes de fazer bom uso de uma ou mais de suas funções de contato ao se relacionarem com os adultos de suas vidas, com outras crianças ou com o ambiente em geral. A forma como fazemos uso de nossas funções de contato evidencia a força ou fraqueza relativa que sentimos. (OAKLANDER, 1980, p. 73). Figura 53 – Fotografia. A proposta arteterapêutica incluiu: 1) Usar vendas para tocar e cheirar folhas, identificando-as e depois encontrando-as no jardim; 2) Gravura com giz de cera usando as mesmas folhas; 3) Jogo de escuta e competição com os sons da natureza; 4) Movimentos corporais imaginando-se como sendo uma árvore – “personificação da árvore” (CORNELL, 1998); 5) Pintura, com tinta e folhas, inspirada no tema árvore. Os meninos chegavam muito agitados e dispersos, mas ao longo do trabalho conseguiam trazer mais foco às atividades, prestando atenção às instruções. O estímulo dos sentidos pela natureza e a arte, junto ao desafio dos jogos em quase todas as atividades acordou o interesse imediato dos meninos. Pode-se dizer que normalmente os meninos têm dificuldade em fazer uso de suas funções de contato. Contudo, as atividades estimularam intensamente os sentidos, utilizando tato, sons, cores, formas, texturas, movimento corporal e imaginação, e conseguiram despertar a função adormecida do contato proporcionando que fizessem um uso construtivo desta função. 81 Figura 54 – Colagem, giz de cera, “glitter” e cola. Os dois meninos gostaram de sentir e naturalmente cheirar as folhas. Quando passaram giz de cera para fazer gravuras das folhas, se encantaram em descobrir as linhas e formas que apareciam, trabalhando com as texturas que davam liberdade à experimentação e à criatividade. Depois recortaram e fizeram uma colagem acrescentando “glitter”. Nesta atividade não só o interesse foi estimulado como também a confiança na expressão artística. (Figura 54 acima). Figura 55 – Fotografia Na personificação da árvore (Figura 55 acima), foi realizada uma visualização em pé do lado de fora da sala de aula. Imaginando-se como uma árvore, deviam passar por todas as suas partes, incluindo as raízes, o tronco, galhos até as folhas. Seus braços eram os galhos e tinham que se manterem firmes ao mesmo tempo em que moviam com o vento e expandiam para crescer e criar folhas. Tiveram dificuldade inicialmente em ficar com os pés quietos no chão e, portanto em entrar em contato com as sensações do próprio corpo ao personificar a árvore. Foi um exercício de se manterem quietos, atentos à postura corporal, escutando uma 82 história, usando a imaginação e os sentidos, com mais quietude do que nos jogos anteriores, o que foi um grande desafio. Exploraram, em seguida, a tinta no papel espontaneamente, de uma forma sensória, o que acabou por revelar a força caótica da natureza dentro deles, se expressando tanto no papel quanto no comportamento. (Figura 56) Figura 56 – Pintura em tinta guache sobre papel canson. No encontro seguinte, fizeram outra vez a personificação da árvore, voltando para acabar a mesma pintura anterior, que a terapeuta descreveu como o solo preparado para a árvore. As pinturas/colagens (Figuras 57 a 60) que anteriormente demonstraram um caos visual acompanhados por um comportamento frenético, agora foram trabalhadas e aprofundadas, ressignificando conteúdos simbólicos com um novo interesse e foco nos pequenos detalhes. Figura 57 Figura 58 Pinturas e colagens de folhas e flores secas (naturais e tingidas) e tinta acrílica em papel canson. 83 Figura 59 Figura 60 O incentivo para a experimentação e livre expressão na arte parece ter fortalecido a confiança e a autoestima na exploração das funções de contato. O tema “árvore” oferecendo mais equilíbrio, eixo, estrutura e expansão (raízes, tronco, galhos e folhas), e aplicado ao nível corporal em postura e movimento foi refletido no comportamento e engajamento dos meninos para com o processo arteterapêutico. Estimular a atenção para fora, para um mundo rico em sons e texturas, tanto pela arte como pela natureza, funcionou como uma forma de se conectar e conhecer mais a natureza ao seu redor acordando aspectos de sua natureza interna, possibilitando um aumento do fluxo criativo que através da arte e do corpo encontrou um canal para se manifestar. 4.2.3 Grupo 3: o mundo mágico, visível e invisível Para o grupo 3, em resposta a carências emocionais de vários alunos, o objetivo foi propiciar um espaço invisível, sagrado, dentro da natureza (visível e invisível), resgatar as forças da natureza e conectar-se com a realização da alma. Detalhamos aqui o processo de “E” uma menina de 10 anos, bem tímida e calada. Expressava-se pouco verbalmente, mas ao mesmo tempo mostrava disposição para a expressão através da arte. Na atividade de desenhar, que tinha a proposta de mostrar algo de que ela gostasse, “E” se desenhou lavando pratos dentro de sua casa e suas irmãs brincando lá fora. Numa tentativa de fazer outro 84 desenho onde ela também estivesse brincando fora da casa, ela se representou do lado de fora, mas outra vez lavando pratos. (Figura 61). Figura 61 – Desenho em giz de cera. A partir do segundo encontro, uma música sobre o mundo mágico, e uma simples dança circular foi introduzido para abrir e fechar as sessões. “E” representou este mundo mágico num desenho com vários elementos da natureza que foram cobertos com glitter, o “elemento mágico”. Ela também achou sua própria vara no bosque e a pintou adicionando no final um risco de tinta brilhante ao longo da vara. (Figura 62) Figura 62 – Galho (vara) pintado com tinta acrílica. A intenção das varas (Figura 63) era criar um instrumento de poder pessoal que vinha da natureza para assegurar a entrada no mundo mágico onde todos os recursos internos poderiam ser encontrados, e a força da natureza acompanharia. A vara, junto à música e à dança circular, assegurava esta entrada. 85 Figura 63 – Galhos (varas) pintados com tinta acrílica. Instrumentos musicais. Num círculo onde se compartilhou o que havia no mundo mágico de cada um do grupo, “E” foi inicialmente tímida e não conseguia pensar em nada para falar. Ela copiou a sugestão de outra participante ao dizer que seu mundo seria cheio de chocolate. Ficou quieta enquanto a outra aluna reclamava que não poderia copiar. Na representação deste conteúdo com argila e pintura (Figura 64), ela fez várias peças de balas, chocolates e pirulitos, e se mostrou cada vez mais feliz e mais solta diante da terapeuta e do grupo. Figura 64 – Modelagem de argila pintado com tinta acrílica. Ao transformar a argila em chocolates e balas “E” resgatou o direito de ter e poder cumprir seus desejos. O que ela sentia falta na vida pôde ser transformado em abundância ao modelar o barro, e ela pôde perceber seus poderes de criação, 86 usando a matéria prima da Terra. Numa atividade de aquarela (Figura 65), ela fez um retrato da expansão e determinação que vinha de seu âmago. Algo que se expressou tanto na própria pintura quanto no seu comportamento corporal. Ela tomou a iniciativa de fazer a pintura no chão e diferente dos outros fez uma pintura abstrata, ainda rasgando papel de seda para acrescentar uma colagem de traços fortes. Figura 65 – Aquarela, papel de seda e cola sobre papel canson. Numa atividade de representar animais preferidos, “E” escolheu o urso, para a confecção da máscara. A sua confiança ao fazer a máscara do urso mostrou como ela tinha realmente se apropriado do contato com sua alma e seu poder pessoal, a ponto de se apresentar sem a timidez que a acompanhava no começo. Esta atividade foi uma oportunidade de se unir com mais uma força da natureza, através do corpo, sentimentos e imaginação. A cor rosa, as formas redondas e a expressão meiga revelaram um urso carinhoso, mas com traços fortes e nítidos. 87 Figura 66 – Máscara de feltro e papelão. Ao longo das sessões “E” revelou que estava passando por transformações evidentes: de se ver lavando pratos passou a se ver como uma menina que conseguia permitir-se sentir e saber quais eram os sonhos de sua alma, de sua verdadeira natureza. Além disso, ela conseguiu realizar e concretizar estes sonhos. O “mundo mágico” que incluía o espaço físico e psíquico, o grupo e os materiais, serviu como um “container” terapêutico para explorar vários temas e, ao mesmo tempo, fez a ponte entre o mundo visível e invisível, real e fantasia, até que os dois, através da arte e da natureza, se misturaram. 4.2.4 Conclusão do Projeto Harmonia O trabalho arteterapêutico usando o contato com a natureza em vários níveis foi uma ferramenta muito eficaz trabalhando questões comportamentais, autoestima, sentimentos, criatividade, estrutura e acordando ao mesmo tempo uma nova relação com o meio ambiente e a natureza simbólica e sensorial. Constataram-se, claramente, vários níveis de atuação no processo terapêutico com a natureza e a arte. Através dos sentidos foi estimulado o foco e interesse, acordando para a vida e si mesmo – trazendo a força vital de saúde e autorregulação, e aprofundando a relação direta com a natureza (materiais 88 expressivos e natureza viva). Através de símbolos da natureza (ao vivo e em histórias), foram oferecidos recursos que fortalecem e dão estrutura e suporte a questões difíceis e frágeis. A criatividade que surgiu da natureza acordada e viva de cada um facilitou transformações, liberando a expressão autêntica. 4.3 Projeto: Água, Arteterapia e Tecnologia Ecológica Figura 67 – Desenho em caneta sobre fotocópia de fotografia, em papel sulfite. Este projeto aconteceu em parceria com um grupo de Educação Ambiental que organiza cursos de Permacultura e tecnologias ecológicas. A Arteterapia entrou como um recurso que pode resgatarconexões pessoais e criativas entre o homem e o meio ambiente, para abrir novas dimensões num curso teórico e técnico de engenharia ambiental. O objetivo foi aprofundar a experiência vivencial da ecologia. A forma que isto aconteceu foi fazer uma ponte entre os processos químicos e biológicos do tratamento de água da fossa e os processos emocionais, mentais e espirituais do ser humano. Foi considerado importante vivenciar a interconexão entre o elemento água do meio ambiente externo e o elemento água – interno- dentro do próprio corpo, mente e espírito. O processo arteterapêutico foi composto por quatro partes: 1) Visualização: deitados se imaginado como fazendo parte do ciclo da água e seguindo toda a sua trajetória desde o céu até a casa e a fossa. 89 2) Dança: entrar em contato com a água interna do corpo e as vibrações emocionais e mentais que a água está carregando. Perceber as “poluições” internas, emocionais e mentais e dançar para transformá-las através da expressão corporal, deixando a fluidez da água interna abrir caminhos novos filtrar os poluentes e finalmente se purificar. 3) Desenho e escrita: representar a experiência no papel e escrever frases ou palavras. 4) Diálogo: reflexões sobre todas as atividades. 5) Mandalas de água: Ficaram à disposição, fotocópias de fotografias de moléculas de água, de Masaru Emoto, para serem coloridas em qualquer momento livre. Os alunos se entregaram com bastante entusiasmo e foco em todas as atividades mesmo comentando que nunca tinham experienciado nada semelhante e tinham pouca confiança em se expressarem artisticamente. Na dança cada um se expressou com muito vigor, concentração, individualidade e expansão, tentando representar através de movimentos, transformações internas. Foi pedido que ficassem de olhos fechados, fazendo com que os movimentos e a expressão de cada um não fossem muito influenciados pelos outros participantes e a vergonha fosse minimizada. Os desenhos revelaram tanto a experiência da visualização do ciclo da água (Figura 68), quanto a transformação através da dança (Figura 69). Figura 68 – Desenho em caneta sobre papel sulfite. 90 Figura 69- Desenho em caneta sobre papel sulfite. Um dos desenhos (Figura 70) contém palavras que misturam conteúdos pessoais e sociais, como desigualdade, egoísmo, amor incondicional e compaixão. A ilustração dessas palavras demonstra bastante movimento e ênfase. O compartilhamento revelou que isto representava a experiência da transformação de toxinas (emoções e estados mentais negativos) em qualidades positivas (qualidades pessoais e sociais saudáveis e sustentáveis. Figura 70- Desenho e texto em caneta sobre papel sulfite. 91 Todos relataram que a experiência durante a visualização lhes trouxe uma sensação de estarem intimamente interconectados com toda a vida, sendo que a mesma água que lhes permeava o corpo permeava o lençol freático e a fossa da casa. Disseram que o sentimento era de total comunhão e responsabilidade tanto pelos elementos externos, como pela interação humana, como pelos elementos internos influenciados por estados mentais e emocionais. Sentiram que dar atenção aos seus estados emocionais e perceber a interconexão entre todos os elementos, deixou-os mais sensíveis para enxergar a importância do próprio trabalho de cuidar e limpar biologicamente a água de uma fossa. Cada um, através da Arteterapia, chegou à experiência visceral e à consciência de que todos nós somos compostos pelos mesmos elementos que estão no meio-ambiente. Esta consciência trouxe um sentimento de profundo contato, amor e respeito por toda a vida. “Eu tenho a mesma água dentro de mim que existe no meu meio-ambiente, e é tão importante e bom cuidar da água dentro de mim (emoções e pensamentos), como cuidar bem da água fora” Para um curso de educação ambiental de engenheiros, que normalmente se concentram via uma aprendizagem racional e científica, este processo foi uma revelação, devido à abertura que tiveram para um trabalho arteterapêutico junto a um curso técnico. O processo como um todo mostrou que a Arteterapia contribuiu positivamente para um curso técnico de educação ambiental, potencializando a aprendizagem do conteúdo com sua metodologia vivencial. Ela acrescentou uma dimensão artística, pessoal e social, fortalecendo a consciência de interconexão entre o ser humano com seu meio ambiente. Uma ligação foi estabelecida entre o trabalho de autodesenvolvimento pessoal e o tratamento de toxinas no meio ambiente. Com isto todos se conectaram com o sentido mais profundo do trabalho técnico que estavam executando, trazendo mais força, vitalidade e motivação para o curso. 92 4.4 PROJETO: Retiro de Arte, Yoga e Vivências na Natureza Figura 71 Figura 74 Figura 72 Figura 75 Figura73 Figura 76 Um grupo de mulheres entre 18 e 35 anos, todas com pouca experiência artística, participaram de um retiro de sete dias em que a Arteterapia teve como objetivo explorar a conexão entre as emoções, a criatividade e a natureza, fazendo uma ponte entre elementos internos (emoções e recursos internos) e elementos externos, como terra, água, fogo, ar, som, visão e luz. (Figuras 71 a 76 acima) O sétimo dia teve o enfoque na relação entre o elemento de luz e a espiritualidade (sétimo chakra), com o objetivo de sintonizar a força vital interna e a força vital da natureza, expressando e intensificando isto através da arte. 93 Figura 77 – Fotografia. Um grupo de quatro mulheres participou de uma vivência de pintura. Através de uma visualização criativa, foi estimulado o contato com uma luz branca simbolizando a força vital que nos permeia e a toda a natureza. Com um pincel na mão e um grande papel kraft (1,50mx 1,50m) no meio de todos, foi proposto visualizar a luz branca descendo pelo topo da cabeça até a mão, permeando e guiando o pincel numa pintura livre, em silêncio. A cada meia hora, os quatro participantes (mulheres entre 15 e 35 anos) trocavam de lugares. Assim, alternaram-se durante quatro horas em volta da pintura. Depois de cada mudança havia uma breve visualização se re-conectando com a luz branca para recomeçar a pintura. Cada uma manteve contato e concentração durante a pintura. Do começo ao final havia uma sincronicidade de movimentos, formas e cores, que se revelavam visivelmente, mesmo que cada pessoa se expressasse de uma forma individual também, ou seja, um grupo em sintonia. Havia um círculo pequeno (10 cm) no centro dafolha, que se tornou o ponto central da pintura. As atividades arteterapêuticas desenvolvidas nos dias anteriores, que exploraram intensamente os vários elementos da natureza (terra, água, fogo e ar) se revelaram na pintura (Figura 78 e 79) sem nenhum acordo prévio entre os participantes. Durante as quatro horas de pintura não houve comunicação verbal ou através de olhares; o que surgiu foram várias imagens dos elementos da natureza, inclusive a luz branca que estava sendo visualizada a cada pausa. Todas 94 comentaram, no final, que sentiram um contato profundo com uma força que vinha além delas e se expressava através delas, sem controle consciente das imagens que surgiam na pintura. Ou seja, sentiram a força criativa universal. Figura 78 – Um círculo pequeno (10 cm) no centro dafolha, se tornou o ponto central da pintura realizada sobre papel kraft. A visualização, o silenciar da mente racional e a descentralização do ego, preparados por vários dias de contato anteriores, foi suficiente para apoiar uma atividade na qual todas estavam abertas à criatividade, do seu espírito, da natureza interna e externa, do indivíduo, grupo e universo. Uma união criativa entre o grupo e os elementos fica explícita na imagem criada e na experiência de cada um. (Figura 79). A força vital de cada indivíduo é alimentada pela sintonia com a força universal. Esta oficina trouxe esta sintonia, e a intensificação dela através da expressão artística. Mais uma vez ficou claro que é possível através de trabalhos com a arte e a natureza entrar em contato com nós mesmos e o mundo visível e invisível. 95 Figura 79 - Pintura em acrílico e guache sobre papel kraft. Os sentimentos que surgiram através de aprofundar a inter-relação com a natureza, na arte, foram paz interna, amor e inspiração e a consciência de uma troca constante de dar e receber. 96 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS - A ARTETERAPIA, A NATUREZA E O NOVO PARADIGMA Os três projetos pesquisados tiveram impacto de diferentes maneiras nos indivíduos, grupos, e suas relações com o meio-ambiente. Praticar a Arteterapia com uma visão de interconexão entre o ser humano e a natureza não só se torna essencial devido ao novo paradigma sistêmico, mas também acrescenta inúmeros recursos. Fica claro que existe uma relação recíproca e totalmente interconectada entre a Arteterapia e a natureza. A natureza, por várias formas, pode auxiliar os processos de desenvolvimento pessoal, enquanto o processo de desenvolvimento pessoal por meio da Arteterapia pode também auxiliar o ser humano a viver com mais consciência da sua relação com a natureza. Um alimenta o outro. O contato com a natureza externa alimenta o contato com a natureza interna e vice-versa. Sabendo que a alma do ser humano e da Terra são intera ligadas e estão sujeitas aos mesmos ritmos, a Arteterapia leva a um alinhamento com a força vital, com o ritmo criativo e o ritmo da natureza. Propostas que trazem um maior contato sensorial e simbólico com a natureza, aumentam as pontes que começaram a ser construídas desde o início da profissão da Arteterapia, para re-construir a relação do ser humano com a alma e a natureza, potencializando os efeitos terapêuticos da Arteterapia. Aprofundar esta relação é considerado importante tanto para a saúde do ser humano quanto do planeta. Mesmo que a Arteterapia tenha como foco a saúde do ser humano, já foi estudado como esta saúde e vários desequilíbrios estão intrinsecamente interconectados com todo o meio social e ambiental. Portanto não podemos ter dúvidas que levar em consideração o meio ambiente, faz parte do trabalho arteterapêutico. Rust, arteterapeuta e analista Jungiana, tem uma visão muito simples de que o trabalho terapêutico tem como propósito desenvolver a compaixão por nós mesmos e nosso meio, e portanto, a demonstração verdadeira de saúde mental é, 97 “nossa capacidade de considerar o que é melhor para o „todo‟, dentro de qualquer situação” (RUST, 2004) (tradução nossa).54 A consciência ecológica, de que tudo é intrinsecamente interligado, desperta no interior e se manifesta no exterior. A Arteterapia faz parte deste movimento de consciência da humanidade. A consciência inclui fortalecer vários aspectos do ser humano e de sua relação consigo mesmo e com a natureza. Várias disciplinas descrevem isto de formas diferentes, mas pode-se dizer que todas têm em comum uma cura integral, que abrange desde aspectos mais individuais até a capacidade de expansão mais universal. Incluem de certa forma o desenvolvimento do ego funcional, a realização da alma e a transcendência espiritual, levando à experiência da verdadeira interdependência planetária, onde se descobre que a Terra respira junto a cada respiração sua. Mas como isto pode ajudar a assegurar a saúde de um organismo tão grande que inclui a nós mesmos? Tecer continuamente o contato com a natureza dentro do processo de autodesenvolvimento faz com que as redes de relações com a natureza apareçam, ganhem vida, se curem, e a consciência ecológica se concretize cada vez mais. A Arteterapia desperta e manifesta essas redes através de vivências e produções artísticas. Ajuda a trazer entusiasmo e um sentido profundo para o processo de re-equilibrar a saúde sistêmica. Cuidar da nossa saúde e do nosso lar simultaneamente, pode se tornar algo imensamente inspirador e totalmente natural. A prática da ação criativa possibilita uma nova construção de vida, facilitando o processo de ser um agente transformador no mundo interno e externo. Talvez não seja por acaso que a ciência esteja alcançando uma compreensão da alma universal justamente neste momento. O ser humano pode usufruir de uma situação crítica para abraçar um novo paradigma. Estamos agora achando formas de re-estabelecer a saúde da terra, mesmo que muitos dizem que seja tarde demais. De qualquer jeito o caminho está sendo trilhado e uma nova e antiga mentalidade re-nascendo. Nesta re-conexão com a natureza muitos dizem que vamos encontrar o apoio psíquico necessário para participar de uma forma saudável da vida na Terra e no grande cosmos. 54 Paginação irregular. 98 A Arteterapia, na sua diversidade e flexibilidade de trabalho, consegue abrir caminhos novos, tanto individuais como coletivos, para que cada alma possa se reconectar, acordando a criatividade única e ao mesmo tempo universal de indivíduos, grupos e da Terra. Trabalhar a relação com a natureza, curando suas feridas e estabelecendo harmonia, se torna tão importante quanto em qualquer outra relação. Honrando, respeitando e alimentando suas redes de relações, a comunidade humana ganha mais força e saúde para si mesmo e para preservar as riquezas do planeta, tornando sustentável a sua jornada aqui na Terra. 99 Figura80 55 “Eu e a Terra” „A Mãe Terra. Acolhedora, provedora, cuidadora, dentro e fora de mim, finalmente eu a encontrei. A imaginação solta que foi atrás dela, que me deixou sentir, realmente sentir. Qual é este buraco que sinto? É meu….seu….nosso? Mas ela me resgata, me traz a força, nutrição e abundância das profundezas do seu calor. Que presentes! Maravilhas, que preenchem! A gratidão é infinita e o amor neste encontro é curador!‟ (Daniela Amaral, 2009) 55 Mãe Gaia. Disponível em: http://www.natures-energies.com/window_stickers.htm. Acesso em: 100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A'COURT, Beverley. Disponível em: <http://www.findhorn.org/onlinecommunity/blogs/art_therapy_with_beverley_acou/>. Acesso em: 24 mar. de 2010. ALLESSANDRINI, Cristina Dias. Tramas Criadoras na construção do “ser si mesmo”. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. ALLESSANDRINI, Cristina Dias. Oficina Criativa e Psicopedagogia. São Paulo: casa do psicólogo, 2004. ANDRADE, Liomar Q. Terapias Expressivas, Arte terapia, Arte educação, Terapia artistica. São Paulo: Vetor, 2000. ARMSTRONG, Jeanette. Keepers of the earth. 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