Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

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Sua Marca Vai Ser Um Sucesso
©2015 TroianoBranding
©2015 TroianoEditora
Todos os direitos reservados
TROIANO, Cecilia M. Russo; TROIANO, Jaime C.; JUNG, Mílton.
Sua marca vai ser um sucesso - 15 temas que pequenas e médias
empresas precisam conhecer - São Paulo: Editora Troiano, 2015
92 p.
ISBN 978-85-68882-00-9
Cecília M. Russo Troiano, Jaime C. Troiano e Mílton Jung
Sua Marca vai
ser um sucesso
15 temas que pequenos e médios empresários precisam conhecer
São Paulo | Troiano Consultoria de Marca LTDA | 2015
Sumário
Prefácio...............................................................................................7
Introdução.........................................................................................11
A disputa agora não é mais entre produtos, mas entre marcas......15
Marcas regionais resistem bravamente no Brasil...........................21
Brasil tem grande capacidade para exportar marcas.....................27
Nome não define o sucesso, mas pode matar a marca...................31
Funcionários têm de crer na marca.................................................37
Conciliar inovação e tradição é desafio para todas as empresas....41
Obesidade de informação e anorexia de insights............................45
Migrar marca para outras áreas de produtos pode ser um bom
negócio, mas há armadilhas no caminho. Cuidado!......................49
A mulher deve ser vista como uma consumidora por inteiro,
e não por frações.............................................................................55
É possível manter relacionamento duradouro com jovens?............61
Ser verde é caminho sem volta para as marcas..............................67
Propaganda como sonho/retrato......................................................73
Brand detox: o que é isso?................................................................77
Consumidor borboleta......................................................................83
Place branding: cada lugar pode ser uma marca............................87
Prefácio
Um exercício de
generosidade
A CBN já frequentou o divã da TroianoBranding em diversas ocasiões, para realizar pesquisas – quantitativas e qualitativas – que traçaram um retrato sem retoques da emissora e apontaram caminhos
a serem trilhados. E, se os conselhos de Jaime C. Troiano e sua equipe sempre foram tão úteis para a CBN, por que não compartilhar
esses ensinamentos também com ouvintes e internautas da rádio
que toca notícia?
Foi assim que surgiu a ideia de “Sua marca vai ser um sucesso”: dar
orientações sobre branding não apenas para grandes empresas, mas
também para uma audiência muito maior. É comum que os gestores
invistam em comunicação, mas sem se dar conta de que há muitos
outros pontos de contato da marca com o público – coisas aparentemente simples, como um veículo da empresa que trafega em alta
velocidade, ou funcionários com uniformes em mau estado – que podem trazer danos ao negócio se aquela vivência do consumidor for
desagradável. Afinal, do taxista que ganha a confiança do passageiro,
ao CEO de uma multinacional, todos estão interessados em zelar por
sua imagem e, por extensão, pela sustentabilidade da atividade.
A proposta do quadro partiu do próprio Jaime e de sua mulher,
Cecília M. Russo Troiano, especialista em comportamento do consumidor: uma conversa descontraída com Mílton Jung, âncora do
Jornal da CBN. Bastou um piloto para confirmar que o trio dava
“liga”. O entrosamento foi tal que se agendou a estreia em seguida, para o dia 5 de abril de 2014. E fiquem sabendo que, apesar de
muitas vezes as gravações serem feitas com Jaime em São Paulo e
Cecília nos Estados Unidos, a sensação para quem ouve é a de que
os três estão batendo papo na sala de estar.
Jaime e Cecília têm um encontro marcado com o público da CBN
todo sábado, às 7h55min. Com generosidade, valem-se da experiência adquirida em anos de estudo e trabalho de campo para dar mais
ferramentas a empreendedores que estão na ativa e também àqueles que se preparam para essa aventura. E com certeza já mudaram,
para melhor, a trajetória de muitos que nos ouvem.
Mariza Tavares
Diretora-executiva da CBN
Introdução
Cada ciclo na história da economia, do mercado e da comunicação
apresenta alguns temas marcantes. Nos últimos dez anos, aproximadamente, um deles tem sido a grande atenção que se dá às marcas e sua importância como uma suprema ferramenta de negócios.
Há muito tempo as marcas deixaram de ser apenas uma forma de
identificar um produto ou um serviço. E deixaram de ser também apenas os elementos gráficos que as representam, como o seu logotipo.
Sabemos hoje que as marcas são o conjunto de percepções e sentimentos que são internalizados por nós, consumidores. Como se
nós fôssemos seus “hospedeiros”. Seu papel é alimentar o envolvimento que temos pelos produtos, serviços e empresas que elas representam. E por isso podem ser, quando bem administradas, uma
ferramenta de negócios muito poderosa. Elas não só criam relações
mais estáveis com seus consumidores como também alimentam o
orgulho dos que a carregam no peito em seus crachás.
Por tudo isso, marcas não são mais uma preocupação apenas para
grandes organizações. Pequenas e médias empresas, assim como
empreendedores em geral, precisam, desde o início, gerenciar suas
marcas profissionalmente.
Foi pensando nessa necessidade que a CBN abriu para nós a possibilidade de dividir com seus milhões de ouvintes a experiência que a
TroianoBranding consolidou em seus 21 anos de existência.
Batizado pela diretora-executiva da CBN, Mariza Tavares, de “Sua
marca vai ser um sucesso”, o quadro, fruto de nossas intervenções
na programação da CBN, tem a finalidade de facilitar o caminho de
quem precisa fazer de sua marca uma alavanca para o desenvolvimento da empresa e das relações com seu mercado.
Sabemos o quanto a CBN cobre um perfil muito amplo de ouvintes.
Porém, nossa intenção com o programa tem sido a de atender, principalmente, aos profissionais e às empresas que até agora tiveram
pouco acesso aos recursos do branding mas que precisam deles
como qualquer organização que possui um plano de crescimento e
um projeto de futuro. Ou seja, acreditamos que pequenas e médias
empresas podem beneficiar muito mais do “Sua marca vai ser um
sucesso”. Foi pensando nelas que construímos o conteúdo do programa, sempre na forma de uma conversa com o Mílton Jung, que
nos ajudou muito a desenvolver o diálogo com os ouvintes.
Para nossa empresa, tem sido um grande privilégio participar do
contato com a audiência de um veículo que desfruta da reputação
que a CBN tem. E tendo o Mílton Jung como interlocutor, nossas intervenções ganharam ainda mais na qualidade da comunicação com
todos que têm nos acompanhado.
1
A disputa agora
não é mais entre
produtos, mas
entre marcas.
Hoje nós abrimos um novo espaço aqui na CBN para ajudar você, o
seu negócio e a sua empresa. Sua marca vai ser um sucesso. Reunirá todo sábado Jaime C. Troiano e Cecília M. Russo Troiano, da
TroianoBranding, pioneiro na gestão de marcas e há 21 anos atuando
nos mercados brasileiro e da América Latina. Troiano, seja muito
bem-vindo à CBN.
Mílton
Bom dia, Mílton Jung, bom dia, ouvintes. Vai ser maravilhoso estar
com vocês, sem dúvida nenhuma.
Jaime
Cecília M. Russo Troiano, seja muito bem-vinda também a este espaço, bom dia pra você.
Mílton
Bom dia, estou muito feliz de poder dividir este bate-papo com você,
Mílton, com o Jaime e com os nossos ouvintes e espero que seja um
sucesso para todos nós.
Cecília
E já que a bola está com você, qual vai ser a marca deste programa,
Cecília?
Mílton
A gente quer aproveitar esse espírito, o qual vamos chamar de “espírito empreendedor do brasileiro” - o brasileiro tem isso na veia, ele
constrói negócios, cria marcas, ele tem essa criatividade pulsante
para trazer um tema que é fundamental para o sucesso deles que é
a marca. Então o que a gente quer neste espaço é discutir aspectos
da gestão de uma marca, para que eles pensem nesse ativo que têm
nas mãos como uma grande ferramenta de negócios. Vai ser um
bate-papo descontraído, mas muito informativo. A gente vai trazer
dicas práticas para que as pessoas possam efetivamente aplicá-las
no dia a dia dos negócios.
Cecília
Jaime, nós estamos falando em marca, mas o que é isso?
Mílton
Se você pensar há trinta, quarenta, cinquenta anos, as geladeiras
eram diferentes, os automóveis eram diferentes, os bancos eram diferentes. Cada vez mais, com o passar do tempo, os negócios e os
produtos, fisicamente falando, foram se tornando mais semelhantes.
Vivemos em uma época de paridade cada vez maior. A disputa hoje
não é mais de um produto versus o outro, mas da marca que ele representa versus a marca que outro produto representa. A marca é a
fonte de decisão. Em primeiro lugar, isso; e segundo lugar, nós compramos produtos ou nós compramos marca? É lógico que a gente leva
o produto para casa, mas, como disse um conhecido empreendedor
americano, Nick Graham: “Marca é um grande parque de diversões e
Jaime
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o produto é o souvenir”. Quer dizer, o produto é o que você leva para
casa. O que diferencia a compra hoje para o consumidor é a marca e o
quanto ela simbolicamente representa aquilo que eu quero ser, como
eu quero ser percebido. Enfim, aquilo que reafirma minha identidade.
Mílton
Agora eu quero que vocês me ajudem, Cecília, no seguinte: Por que
todas as vezes que falamos em marca, as corporações falam também em branding, é a mesma coisa? São coisas diferentes? Qual é a
relação que existe?
Cecília
Acho que essa pergunta é muito boa. Várias pessoas fazem tanto
para o Jaime como para mim essa mesma pergunta. A gente que
trabalha com branding toda hora tem obrigação de explicar isso. Eu
diria o seguinte, mesmo sem dar aula de inglês para ninguém: marca em inglês chama-se brand e quando se fala de branding, a gente
só adiciona o “ing”. Com isso, a gente transforma essa palavrinha
que era um substantivo - marca - em um verbo. O que isso significa? Quando eu falo em branding, eu falo sobre o conjunto de ações
que tornam essa entidade, a marca, algo concreto para o consumidor. Portanto, branding é a atividade ou a especialidade responsável
por construir essa entidade: dar um nome a ela, uma representação
gráfica, um plano sobre como ela vai se comunicar com as pessoas, em todos os pontos de contato que ela tem com o seu mercado.
Branding é o que faz com que a marca tenha vida e possa significar
algo relevante para os seus públicos.
Mílton
Troiano, para construir essa marca, é preciso muito investimento?
Isso é coisa para as grandes corporações?
Jaime
Isso é uma ingenuidade que algumas pessoas ainda têm, infelizmente.
Vamos, em primeiro lugar, pensar o seguinte: as marcas que hoje são
grandes começaram pequenas, e as marcas pequenas talvez, mais do
que qualquer outra, precisam desde o início preocupar-se em organizar
quem elas são, o que elas vão dizer de uma maneira clara para que o
resultado delas daqui um tempo seja a expressão de fato do que elas
pretenderam ser um dia. Diz-se, no interior de São Paulo, não sei se
é só em São Paulo, que é de pequeno que se torce o pepino, não é isso
que se fala? Não sei se no Rio Grande do Sul se fala isso, Mílton, você
está muito mais preparado para saber. Pois é, eu acho que as marcas
exigem um cuidado especial desde o começo. As empresas têm de ter
a obrigação de tratar suas marcas como uma das suas grandes qualificações do mercado, desde o comecinho. Aliás, acho que essa é uma das
grandes missões destes nossos programas na CBN.
A disputa agora não é mais entre produtos, mas entre marcas | 17
Para fechar esta nossa conversa, qual é a lição deste primeiro Sua
marca vai ser um sucesso?.
Mílton
Bem, a lição é: em primeiro lugar, não percam este programa, se
você me permite dizer isso. Em segundo lugar, é pedir que os ouvintes pensem nas marcas com o mesmo cuidado com que você pensa
em todos os outros ativos da empresa, em todos os outros ingredientes, todos os outros aspectos importantes da sua organização.
Jaime
Troiano, muito obrigado, Cecília, muito obrigado. Bom fim de semana para vocês e até o próximo sábado.
Mílton
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2
Marcas regionais
resistem
bravamente
no Brasil
Bom dia, Jaime, tudo bem?
Mílton
Bom dia, Mílton, tudo ótimo!
Jaime
Tudo bem com você, Cecília? Bom dia!
Mílton
Tudo ótimo. Bom dia!
Cecília
Nosso assunto hoje: marcas regionais e marcas globais. O que você
destaca no início desta nossa conversa?
Mílton
Quem ganha essa guerra? Sabe que, durante muito tempo, havia
essa expectativa de que as marcas globais, internacionais, quando
chegassem aos mercados locais, iriam acabar com as marcas locais,
num processo colonial, imperialista, mercadológico... Como uma
verdadeira devastação mercadológica das marcas locais. Mentira,
isso não aconteceu e não vai acontecer. Hoje, no Brasil, para vocês
terem uma ideia, em torno de 35% do faturamento dos supermercados deve-se às marcas regionais, elas resistem em trincheiras quase inexpugnáveis. E há razões fortes para isso: por que as marcas
regionais são tão poderosas no Brasil?
Jaime
Só pra eu começar: já que você falou que tem razões fortes, Jaime,
acho que uma das razões fortes é essa intimidade que as marcas
regionais conseguem ter com seus respectivos públicos. Quer dizer,
se eu sou uma marca ali de Minas Gerais e conheço aquele grupo de
pessoas, com as quais cresci junto, eu tenho uma legitimidade para
falar, para desenhar produtos, para estar perto dessas pessoas, o
que o global, por mais que tente, não consegue. A não ser que passe
por um processo muito lento de aculturação.
Cecília
Você falou de Minas Gerais, vamos falar do Rio Grande do Sul, isso
também é muito forte lá. As pessoas sentem como parte da sua
identidade, consumir marcas e serviços daquela região.
Jaime
E até chamou atenção aqui, Jaime, o que você falou sobre o percentual de marcas regionais que vendem nos supermercados. E eu
sempre ouvi falar que no Rio Grande do Sul, pela força do bairrismo
que existe lá no meu estado, na república dos Pampas, por exemplo, shoppings centers são praticamente dominados por marcas
locais e as globais precisam se adaptar àquela cultura. Em alguns
estados, vocês citaram Minas e agora citamos Rio Grande do Sul,
isso é muito mais forte?
Mílton
Sua marca vai ser um sucesso | 22
Jaime
É muito mais forte porque marca, em última instância, é uma forma
de identidade que fala como eu sou, como quero ser percebido. Por
isso, é algo muito natural que eu, no Rio Grande do Sul, em Minas
Gerais e em outros estados que têm esse sentido de identidade forte, consuma as marcas do local. Porque isso fala do quanto eu sou
uma pessoa daquele local, de que tenho pessoas da minha família
que trabalham naquela empresa, de que conheço as pessoas que
trabalham lá dentro e assim por diante. Em resumo: os laços de envolvimento com a marca são múltiplos. É como se ela fosse um vizinho que mora na casa ao lado há muito tempo.
Mílton
Agora, Cecília, como é que as marcas globais entram nesse mercado
local? O que elas precisam fazer para encontrar o seu espaço também?
Cecília
Acho que se as marcas regionais trabalham com essa coisa da cumplicidade e intimidade, eu vejo que as globais trazem uma coisa muito forte aspiracional. Porque são aquelas marcas que estão no país
todo ou, inclusive, estão fora dele. Elas têm esse elemento de força.
E os consumidores também querem estar perto de empresas que
são vencedoras e poderosas em outros mercados. O mesmo consumidor pode viver essa dualidade: o impulso pelo aconchego das
marcas regionais e conviver com esse poder e esse esplendor da
marca global.
Jaime
A gente sente muito não é, Cecília? No nosso trabalho, sabemos ver o
quanto os consumidores brasileiros estão se universalizando. Basta
acompanhar os movimentos em voos internacionais, em saguões de
aeroportos. São legiões de brasileiros que estão matando a vontade
de cruzar a fronteira e ver o mundo lá fora. E talvez até de ver como é
o Brasil quando visto de longe. Não apenas os jovens. Aliás, os jovens,
particularmente, sentem que são brasileiros, mas não querem ser
apenas brasileiros, querem ter uma vida planetária. Querem saber
que podem ter acesso a marcas de outros países e querem experimentar a realidade de um mundo que não é só o Brasil. Recentemente aqui em São Paulo, a gente teve um furor de inauguração de uma
loja internacional, que causou fila, transtornos, trânsito etc. porque
as pessoas queriam “viajar para fora do país” sem sair daqui.
Cecília
Eu acho que as marcas globais vão precisar dessa proximidade que
a marca regional empresta e as marcas regionais vão precisar desse traço aspiracional que as marcas globais têm. No fundo, ambas
precisam se inspirar umas nas outras. Global e local, ou “glocal”,
como alguns dizem.
Marcas regionais resistem bravamente no Brasil | 23
E eu aprendi com o Troiano que uma abre portas e a outra abre atalhos. E, agora, eu quero saber: qual é a lição do dia, Jaime?
Mílton
A lição do dia é a seguinte: eu sempre achei que nós tínhamos de
aprender só com as marcas internacionais, mas hoje eu penso que
as marcas internacionais têm muito a aprender com a particularidade cultural de cada canto desse nosso grande país.
Jaime
Obrigado, Troiano. Obrigado, Cecília. Semana que vem nós estaremos de volta.
Mílton
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3
O Brasil tem grande
capacidade para
exportar marcas
Bom dia, Jaime.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Jaime
Bom dia, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Cecília
Nós recentemente falamos aqui neste espaço sobre a competição
entre marcas globais e locais. Hoje nós vamos olhar para fora. Como
a minha marca pode ser exportada? Quais são os desafios que eu
tenho nesse processo, Troiano?
Mílton
Você sabe que essa pergunta é muito parecida, em certo sentido,
com a anterior. Porque assim como eu tenho de ir para o Rio Grande
do Sul, para Minas Gerais, para onde quer que seja a fim de entender as particularidades locais, quando expando minha marca para
outras fronteiras, fora do país, eu também preciso entender quem
são essas pessoas, como elas vivem, o que elas pensam e o que elas
sentem. A regra é mais ou menos a mesma. E vamos tirar da cabeça
aquele velho preconceito de que, o Brasil não tem capacidade de exportar marcas, isso não é verdade. O Brasil tem grandes marcas que
são poderosas aqui e são respeitadas fora também, certo, Cecília?
Jaime
O produto brasileiro chega lá fora com um “handicap”, algo que reveste a personalidade do Brasil. O que eu quero dizer com isso? O
Brasil é caracterizado, quando se conversa com estrangeiros, por
exemplo, por essa coisa de jovialidade, de amor pela vida, de otimismo, de samba, enfim, dessa coisa calorosa do brasileiro. Então,
quando nossas marcas, vamos dizer, atravessam essa fronteira do
nosso país, já chegam com esse traço de personalidade pronto. E
partir dessa realidade perceptual que projetamos, é necessário fazer
o seguinte: como essas nossas qualidades e idiossincrasias de caráter moldam aquela realidade daquele país? Há pessoas que pensam
que devemos esconder esses nossos ingredientes de personalidade
porque eles não serviriam para alimentar o nosso poder de negócios
no exterior. Doce ilusão! O que temos é muito forte e é, como diria o
Eduardo Gianetti, um bem posicional, algo que nos diferencia.
Cecília
Vocês falaram de marcas que conseguiram ir para o exterior, que
foram internacionalizadas, marcas brasileiras. A marca Brasil já foi
internacionalizada?
Mílton
Você sabe que essa pergunta é muito parecida, em certo sentido,
com a anterior. Porque assim como eu tenho que ir para o Rio Gran-
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Sua marca vai ser um sucesso | 28
de do Sul, para Minas Gerais, para onde quer que seja para entender as particularidades locais, quando expando minha marca para
outras fronteiras, fora do país, eu também preciso entender quem
são essas pessoas, como elas vivem, o que elas pensam e o que ela
sentem. A regra é mais ou menos a mesma. E vamos tirar da cabeça aquele velho preconceito de que, o Brasil não tem capacidade de
exportar marcas, não é verdade. O Brasil tem grandes marcas que
são poderosas aqui e são respeitadas fora também, certo Cecília?
Mílton
E isso vai trazer benefícios para ela aqui dentro?
Jaime
Sim, aqui dentro. O Brasil é assim. O Brasil é um país onde o Ayrton
Senna ficou famoso, não apenas porque ele é fabuloso, mas porque
ele se credenciou lá fora, A Gisele Bündchen é fantástica porque ela
se credenciou lá fora e isso acontece para marcas internacionais que
se credenciam fora, vendem fora, mas valorizam também a mesma
marca para o brasileiro. Tenho viajado nos EUA com uma marca que
é brasileira e da qual temos muito orgulho. É a Embraer. Voar num
avião da Embraer, como eu tenho feito às vezes, é de um orgulho
fantástico. A vontade que eu tive várias vezes é de me levantar da
cadeira e informar a todos os passageiros: “Aproveitem o voo, este é
um aparelho desenvolvido em meu país, o Brasil”.
Mílton
A identidade ou o caráter da marca brasileira pode ter outro estilo ou
outra personalidade lá fora? Isso é um risco?
Jaime
Sim, um risco enorme. Como aconteceria aqui também se eu mudasse a forma de me expressar com a minha marca. Por isso, é preciso ter alguém ou uma organização que integre todas essas formas
de comunicação, adaptadas aos mercados locais, mas preservando
sua identidade total. Acho que isso nós aprendemos muito bem com
o comportamento de marcas internacionais. As características essenciais de um McDonald’s, de uma Zara, de um Citibank não mudam em sua essência de um país para outro.
Mílton
Pra fechar nossa conversa, qual é a lição do dia?
Jaime
A lição do dia é, pensem no exterior, como uma extensão do estado
do Rio Grande do Sul, ou de Minas Gerais, ou de que estado que
você queira falar. É fundamental conhecer o que pensam e sentem
as pessoas em outros mercados, com a mesma propriedade com
que você atua aqui.
Mílton
Obrigado, Troiano. Obrigado, Cecília. Semana que vem nós estaremos de volta.
O Brasil tem grande capacidade para exportar marcas | 29
4
Nome não define o
sucesso, mas pode
matar a marca
Muito bom dia para você, Jaime C. Troiano.
Mílton
Bom dia, Mílton Jung.
Jaime
Bom dia, Cecília M. Russo Troiano.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Cecília
Quero saber o seguinte de vocês, começando com o Jaime: Você
acha que um nome define e garante o sucesso de uma marca?
Mílton
Não, mas ele pode matar a marca. O nome define o sucesso apenas
em 10% da história futura de uma marca. Ou seja, 10% do sucesso de
uma empresa, ou de uma marca, deve-se ao nome. Agora, se o nome
estiver errado já de partida, aí complica drasticamente a vida da marca.
Jaime
Mas se são só 10%, a gente precisa dedicar-se tanto para escolher o
nome de uma empresa, de um produto, de um serviço?
Mílton
No caso de uma empresa que vale 200 milhões de reais, 10% são 20
milhões, Jung. Não é pouco!
Jaime
E aí pesa muito, não é, Cecília?
Mílton
É, eu acho que pesa e acredito que dar nome para marca é a quase a
mesma coisa que dar nome para um filho. As pessoas querem que,
com aquele nome, ele já esteja com tudo construído. Acho que essa
é a grande dificuldade de se dar um nome. Quando as pessoas criam
uma pequena palavra, olhando para aquela palavra em uma fonte
bem neutra, uma Arial 20, logo se imagina é que ela já tem ali todos
os significados que o nome vai adquirir para o resto da vida. Mas isso
não verdade, nem para pessoas, nem para marcas. O nome é apenas
o começo da conversa. Esse nome só vai ganhar significado quando
eu criar um logotipo, enfim, o desenho que vai representá-lo, quando
ele for alimentado pela sua comunicação. Tudo isso vai emoldurando,
dando vida àquela palavrinha, que é o nome. Ela amplia seu significado e é preenchida por um sentido mais simbólico, que transcende em
muito o significado literal que tinha originalmente.
Cecília
O nome é o começo da conversa, como você falou. Será que alguém
lembra ou sabe o que querem dizer o nome e a marca do maior
banco privado brasileiro hoje, o Itaú? “Pedra preta” em tupi, mas
pouca gente sabe disso. Itaú adquiriu significados mais amplos por
causa da sua relação com o mercado, do seu estilo de serviços e
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de sua comunicação. O que era, originalmente, uma pedra foi crescendo simbolicamente até representar hoje toda a expressão que
tem esse grande banco.
Mílton
Agora, como eu escolho um bom nome para a minha empresa ou
para o meu negócio?
Jaime
Cecília, agora ele nos pegou, isso é complicado. É complicado por
algumas razões. Primeiro lugar, hoje é muito difícil registrar no
Inpi um nome que não esteja sendo usado por ninguém, ainda que
na internet seja mais fácil de contornar. Milhares de boas palavras
para representar uma marca já foram registradas antes no Inpi. Há
poucos espaços disponíveis. A segunda coisa é a seguinte: é verdade que, mesmo sendo bom, um nome sozinho não define o sucesso
de uma marca, mas ajuda, então eu preciso escolher nomes que
inspirem o consumidor.
Cecília
Quem estuda muito esse assunto e nossa própria experiência nos
mostram alguns critérios ou caminhos para eleger bons nomes
ainda que esses critérios não sejam uma garantia de sucesso futuro. Lembrem-se de que o nome é somente o começo de uma longa
conversa. Que critérios são esses?
•Ser curto, porque tende a ser mais fácil de memorizar.
•Ter alguma adequação a sua categoria de negócios.
•Ter uma sonoridade, vamos dizer, agradável.
•Revelar algo de atraente, que faça que as pessoas olhem e sorriam ao olhar pra ele, não torçam o nariz nem enruguem a testa.
•Não ser muito “fechado”. Ou seja, não impedir que, no futuro, a marca possa projetar-se ou se estender para outras categorias de produtos ou serviços sem ficar aprisionada na
categoria original.
•E, por fim, como dissemos antes, estar disponível para registro.
Mílton
Bom, depois desses seis critérios passados pela Cecília, a gente só
pode trazer agora a lição do dia, Jaime.
Jaime
A lição do dia foi dada pela Cecília. Obedeçam a esses seis critérios,
adequação, brevidade, sonoridade, atratividade, facilidade de se conectar com o produto, e evitem nomes que, de cara, saem perdendo.
Mílton
O primeiro nome que vem à cabeça é o melhor nome?
Jaime
Nem sempre, nem sempre. O primeiro nome que vem à cabeça
Nome não define o sucesso, mas pode matar a marca | 33
pode ser uma intuição que pode trair você no futuro, mas nem
sempre é o melhor.
Então pense bem antes de colocar o nome no seu produto, afinal é
como colocar o nome no seu filho.
Mílton
Exatamente. Um filho precioso.
Jaime
Obrigado, Troiano. Obrigado, Cecília. Semana que vem nós estaremos de volta.
Mílton
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5
Funcionários têm
de crer na marca
Jaime C. Troiano, muito bom dia para você.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Jaime
Bom dia, Cecília M. Russo Troiano.
Mílton
Bom dia, Mílton, bom dia, ouvintes.
Cecília
Hoje trazemos para nossa conversa o tema: “Marcas não são tapumes”. Explique isso para mim, Jaime.
Mílton
Tapume, como em obras. As pessoas colocam tapume para esconder
o que está acontecendo dentro, correto? Há empresas que pensam
que a marca é uma forma de revelar para o mercado alguma coisa
que, às vezes, a empresa não é, que a empresa não pratica. Por essa
razão, é muitíssimo importante que a marca, em primeiro lugar, seja
vivida, internalizada, bem resolvida da porta da rua para dentro. E que
os colaboradores acreditem no que ela é, porque eles são os grandes
apóstolos que depois a divulgam da porta da rua para fora com transparência. Caso contrário, você estará vendendo uma realidade ilusória.
Jaime
Ou seja, a palavra-chave aí, Cecília, é transparência?
Mílton
Perfeito. A palavra é transparência. Fazendo uma comparação, já que
o Jaime falou de tapume, a gente imagina um vidro que separa o que
está do lado de fora e o que está do lado de dentro. Querer que a sua
marca passe para o consumidor uma mensagem que não é vivida de
verdade dentro da empresa é uma ilusão. Uma ingenuidade que caminhões de dinheiro para projetar uma imagem falsa não resolvem.
Cecília
Você deve lembrar bem, Cecília. Eu sou um pouco mais velho do que
você, mas eu lembro que, há muitos anos, o marketing era alguma
coisa que pensava nas marcas apenas da porta da rua para fora.
Quase sempre as pesquisas eram feitas apenas com consumidores. Hoje, temos uma experiência muito diferente. Cada vez fazemos
mais trabalhos da porta da rua para dentro. Porque a empresa, em
primeiro lugar, deve criar “apóstolos”, que depois sejam capazes de
divulgar a verdade, as ideias, os princípios daquela marca, caso contrário isso não para em pé, Mílton.
Jaime
Ou seja, então isso começa lá dentro da empresa: antes de ir para a
rua, a marca tem de ser trabalhada internamente.
Mílton
Internamente, as pessoas têm de acreditar naquela marca, caso
Jaime
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contrário, elas não são sustentáveis. Um bom exemplo de como isso
deve funcionar é o processo de contratação de novos funcionários.
Empresas mais sofisticadas e antenadas mostram para o novo funcionário o que é essa empresa e o que sua marca representa, quais
seus valores e sua personalidade. Se ele entender e gostar daquilo
que viu, ele trabalha lá. Não sendo assim, é o caso de procurar outro
emprego. Ele acabaria sendo infeliz lá dentro, e o investimento da
empresa teria sido em vão. Resumindo: a marca tem de ter raízes
fortes dentro da organização.
Cecília
É curioso isso: colaboradores falam das empresas, falam das marcas com as quais eles trabalham nas mais variadas situações e
ambientes. E nós subestimamos o impacto social que isso tem no
mercado. O poder, como o Jaime falou, desse “apóstolo” que é o colaborador é muito grande, pois ele é o transmissor dos princípios da
marca com a qual trabalha. Ele é um porta-voz daquela marca.
Jaime
Vou até fazer uma pergunta para os ouvintes, eles não precisam,
obviamente, respondê-la agora, mas a questão é a seguinte: ao falar sobre onde trabalha, você diz “eu trabalho na” ou “eu sou da”?
Quanto mais houver na empresa funcionários ou colaboradores que
dizem: “eu sou da empresa tal” em vez de “eu trabalho na”, mais forte é a consciência que aquela pessoa tem do poder da marca em sua
vida. Quase como se fosse um sentimento de pertinência em relação
à empresa. Como um sobrenome institucional que ele ou ela passa a
ter e com o qual, muitas vezes, se identifica socialmente.
Mílton
Quer dizer que aquela história de princípios e valores que costumam
estar no site da empresa tende a ser levado a sério?
Jaime
Olha, princípios, valores, visão são coisas importantes, mas hoje em
dia, Mílton, vou lhe dizer uma coisa. Cecília, veja se você concorda
comigo, acho que irá sim. Se você, de madrugada, trocar os quadrinhos que estão na parede da empresa A pelos quadrinhos que
estão na parede da empresa B, de manhã os funcionários não vão
perceber a diferença. As palavras são quase sempre as mesmas:
ética, responsabilidade social, valorização do acionista, respeito ao
consumidor. Você não identifica mais as empresas na sua individualidade, no que elas têm de único. Porque elas se pasteurizaram com
esses quadrinhos na parede, falta mais alguma coisa além desses
quadrinhos para que a marca tenha vida e um sentido único na identidade daquela empresa.
Mílton
E com isso o Jaime já trouxe a lição do dia. Muito obrigado, Cecília.
Obrigado, Troiano, e sábado que vem a gente se encontra mais uma vez.
Funcionários têm de crer na marca | 39
6
Conciliar inovação
e tradição é
desafio para todas
as empresas
Muito bom dia para você, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Cecília
Bom dia, Jaime.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Jaime
Hoje, nós vamos falar de inovação e tradição. Tradição tem o seu
valor, mas atualmente, as pessoas e as empresas são cobradas pela
inovação. Como conciliar, Cecília, essas duas forças?
Mílton
A gente fala de muitos desafios, aliás, nosso programa só trata de
desafios que as marcas têm de enfrentar. Esse equilíbrio entre você
preservar sua história, não jogar fora, como a gente fala, o bebê junto
com a água do banho, aquela volúpia pela mudança e ao mesmo tempo, sinalizar para o consumidor que você está mudando, está evoluindo, é uma equação complexa. Temos no mercado bons e maus
exemplos dessa garantia de consistência, continuidade, sem deixar
de demonstrar passos adiante, evolução, sem ruptura. O consumidor
quer acompanhar a evolução da marca sem romper com sua história.
Cecília
Eu queria começar com um exemplo recente. A mudança gráfica na
marca dos Correios. Eles mudaram o logotipo, e não estou dizendo
que logotipo é a única alteração possível, mas eu acho que foi uma
mudança bem-feita, porque não causou rupturas. Eles conseguiram
preservar símbolos básicos, como as cores. As cores, o que você
consegue identificar, o consumidore olhando para aquilo, ele fala:
“ainda vejo os meus Correios”, aquela marca com a qual eu cresci
junto, que evoluiu, mas não perdeu a sua história, a sua identidade.
Eu me lembro do caso de um desodorante que mudou tanto e, em
uma sala de pesquisa, alguém que era usuário dessa marca nos disse: “Olha, eu me senti traído”, Mílton, foi a palavra que ele usou, “me
senti traído, não é mais o meu desodorante”. Tamanha é a força de
conexão e de afeição que as pessoas criam com as marcas de que
elas gostam, que essas rupturas mal planejadas são um ato que interrompe a relação futura dos consumidores com as marcas. Então,
fazer mudanças é essencial, mas consistência é essencial também.
Jaime
Agora, quanto tempo leva para que as pessoas percebam, identifiquem essa mudança?
Mílton
Olha, quando a mudança é feita de uma forma inteligente, ela pode
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 42
ser percebida rapidamente. O que não pode ser ocorrer é uma ruptura radical com o passado da marca. Outra pergunta, antes que
você, Mílton, faça: de quanto em quanto tempo é importante fazer
mudanças na história de uma marca, na história da sua linguagem
gráfica, no seu logotipo? Não há uma medida exata, mas de cinco
em cinco anos é um tempo mais ou menos razoável para você fazer
essa renovação da água, como disse a Cecília, sem jogar fora o bebê.
Cecília
Eu acho que, mais uma vez, varia de categoria de negócios para categoria de negócios. Você tem negócios que pedem mudanças quase
que anuais, porque são mercados que se movimentam muito, com
os que falam com jovens, por exemplo. E há outros mercados que
são mais estáveis e te desobrigam de atualizações mais frequentes.
Essas mudanças podem ser de diversas naturezas. Quando a gente
fala dos Correios, nós estamos falando em mudanças na identidade
visual. Mas podem ser alterações em produto, na forma de se relacionar com o cliente etc. Estou me lembrando agora de um pequeno
exemplo. Já que eu falei dos Correios, que é gigante, vamos falar de
um pequenininho. Todo mundo conhece aqueles quiosques, aqueles
trailers que vendem cachorro-quente, por exemplo. Há um desses,
vou dar o nome, Dogão do Vander que fica na cidade de São Paulo,
na frente de uma grande escola. Em que ele inovou? Ele continuou
com o mesmo sanduíche, os mesmos cachorros-quentes, mas ele
inovou na forma de atendimento. Já que toda garotada tem celular,
ele criou um sistema de pedidos via WhatsApp, via SMS. Os alunos
pedem antes do recreio e, quando o intervalo começa, as senhas já
estão lançadas e o Dogão atende organizadamente.
Mílton
Manteve a tradição do produto, mas inovou na comunicação com as
pessoas. Qual é a lição do dia?
Jaime
Lição do dia é: preservar o essencial na busca do novo. Não jogue
fora o bebê junto com a água do banho. Renovar sim. Atualizar sim,
mas com muito cuidado para não abandonar a história da marca.
Mílton
Ok. Muito obrigado. Bom final de semana para vocês e até próximo
sábado.
Conciliar inovação e tradição é desafio para todas as empresas | 43
7
Obesidade de
informação e
anorexia de
insights
Muito bom dia para você, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton. Bom dia a todos os ouvintes.
Cecília
Muito bom dia, Jaime.
Mílton
Bom dia, Mílton. Bom dia, ouvintes.
Jaime
Cecília, acho que nós nunca tivemos tanta informação sobre o consumidor como atualmente. Informação basta para a gente criar um
bom relacionamento com esse consumidor?
Mílton
De jeito nenhum, a gente vive um momento, como você bem colocou, que o que não falta são dados, o que não falta são números.
As empresas sabem tudo sobre nós, sabem a que horas a gente
acorda. O GPS diz onde estamos. A gente tem chip em todos os
lugares. Os cartões de crédito sabem todas as nossas informações
comerciais, enfim, têm uma montanha de informação disponível.
Agora, o que estão fazendo, exatamente, de inteligente com essa
informação? A gente tem Big Data disponível e o grande questionamento é: qual a inteligência que as empresas estão utilizando para
domar todos essas informações?
Cecília
É, as pessoas estão fascinadas por essa montanha de informações
e acham que a informação pura e simples dá o caminho das pedras
para construir grandes marcas, mas não é assim. Então, pecados
estão sendo cometidos. Vou contar um caso pessoal, posso?
Jaime
Vamos embora!
Mílton
É o seguinte, eu sou comprador de livros na Amazon, há muito tempo. Um belo, dia minha sogra pediu emprestada minha conta da
Amazon para comprar um instrumento de jardinagem, sabe que
sogra gosta de jardinagem. Muito bem, passados alguns dias, eu
começo a receber da Amazon várias ofertas de produtos de jardinagem, ou seja, eles esqueceram todo meu histórico passado, com
todos os famosos algoritmos que eles têm, e eu passei a ser um
consumidor de jardinagem. Então, se a Amazon, que é essa empresa brilhante, admirada por todos, faz isso, imagine você o que as
outras menos preparadas estão tentando fazer com o Big Data. Eu
vejo coisas semelhantes acontecendo com cartões de crédito que
me mandam duas, três propostas, sendo que eu já tenho o mesmo
cartão. Voltando para o que a Cecília disse, montanhas de informações por si só não ajudam a construir grandes marcas.
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 46
Mílton
O que eu tenho que fazer para gerenciar tudo isso e ter um resultado efetivo?
Cecília
A primeira coisa é saber muito bem que tipo de informação você tem
e qual a sua real utilidade na gestão da sua marca. Há empresas que
têm uma compulsão por captar informação, sem olhar um pouco o
que já existe publicado. Em primeiro lugar, eu diria, selecione e olhe
o que você tem e, em segundo lugar, não se encante com o número
de informações e pense qual é a utilidade que aquele número tem
para o seu negócio.
Jaime
Nós estamos hoje, Mílton e ouvintes, obesos de informações e
anoréxicos de insights, se eu posso fazer essa metáfora. Insight é
aquilo que é fruto da nossa cabeça, olhando para o mundo, para as
informações, ao redor: não é algo que está transparente no dado,
não é algo que se lê em uma tabela, mas aquilo que sua intuição,
inteligência, é capaz de gerar. A sequência é a seguinte: você coleta
dados, que se transformam em informações quando devidamente
organizados, os quais, por sua vez, geram conhecimento. Mas apenas em última instância, como produto de mentes observadoras,
inteligentes e curiosas, é que conhecimento se transforma em insights. Em branding, nós temos de nos preocupar muito mais em
criar valor do que em gerar volume. Insights criam valor. Volume
cria apenas entulhos em nossos “porões”, que não servem para
nada se não forem transformados em ideias criativa e poderosas,
ou seja, em brand insights.
Cecília
Vale a mesma coisa se a gente pensar um pouco em educação. O
que vale para a marca, vale para a educação. Você tem hoje, para a
garotada, todo conteúdo disponível. O que diferencia um bom aluno,
aquele que vai se dar bem no mercado de trabalho? É aquele que
sabe traduzir de forma inteligente aquela enormidade de dados que
ele tem nas mãos.
Mílton
Pode ser essa, então, a lição do dia?
Cecília
A lição do dia é a seguinte: evitem a todo custo a obesidade de informações e a anorexia de insights.
Mílton
Muito obrigado. Um bom sábado, Jaime.
Jaime
Bom dia Mílton, bom dia ouvintes. Bom final de semana.
Mílton
Até o próximo sábado, Cecília.
Cecília
Até o próximo sábado.
Obesidade de informação e anorexia de insights | 47
8
Migrar a marca para
outras áreas de produtos
pode ser um bom negócio,
mas há armadilhas no
caminho. Cuidado!
Bom dia para você, Jaime.
Mílton
Muito bom dia, Mílton, bom dia a todos vocês, ouvintes.
Jaime
Bom dia, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Cecília
Hoje eu vou ao supermercado e encontro vários produtos, diferentes
produtos com a mesma marca, é xampu, desodorante, às vezes até
indo para a área alimentícia, está lá o mesmo nome. Isso é uma tendência mesmo para reforçar uma marca, Jaime?
Mílton
Isso é uma das grandes tendências em branding, em gestão de marcas, que passou a acontecer nos últimos quinze anos, aproximadamente. Aliás, começou no século passado, Mílton. O século XX foi
aquele em que se construíram as grandes marcas de produtos e serviços que nós conhecemos e utilizamos, a grande maioria delas. Com
exceção de grandes marcas do mundo digital, a maioria esmagadora
das grandes marcas veio do século passado. Aí você pensa assim, eu
sou um empresário, eu tenho uma grande marca que já é conhecida e
sólida. Por que, em vez de criar outra marca, eu não uso a marca que
eu já tenho e a estendo para outras categorias de negócios e produtos, com o prestígio e reputação de que já desfruta?
Jaime
Eu acho que vale um esclarecimento geral, a respeito de uma certa
confusão entre o que é extensão de marca e o que é extensão de
linha. Então, para deixar claro para todos os ouvintes, quando a gente fala “extensão de marca”, é uma mesma marca navegando para
outras categorias de negócios. Por exemplo, eu tenho uma marca
de macarrão e penso em lançar biscoito, ela está indo para outro
corredor do supermercado. Extensões de linha são variações dentro
do mesmo tipo de produto: uma marca de suco de maracujá, por
exemplo. Eu lanço versões de laranja, uva e abacaxi.
Cecília
As duas são possíveis de serem feitas? Mas há riscos?
Mílton
As duas são possíveis; a tentação é que você, ao ter uma marca já
sólida ou em consolidação, pode estender negócios gastando muito menos dinheiro. Um novo produto de uma mesma marca não
precisa explicar de que família ele é. Digamos assim, já seria meio
caminho andado. No entanto, para quem está começando agora,
como muitos dos ouvintes que estão em uma fase de construção
da sua marca, não cedam à tentação de, precipitadamente, usar
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 50
sua marca para novas categorias de produtos. Espere sua marca
amadurecer e ser reconhecida como um player com algum prestígio. Antes disso, você pode dispersar recursos, se não conseguir
se implantar na nova categoria de negócios. E quando você não é
muito bem aceito em uma nova categoria de produto, isso tem um
efeito negativo sobre o seu produto, sua marca original.
Cecília
Vale até, para falar de riscos ou de oportunidades, pensar em casos que são positivos, que foram bem-sucedidos, e em casos que
não alcanaram tamanho sucesso ou que tiveram em certo sentido
até, algum fracasso. Vamos pensar em um universo de produtos de
consumo; se eu penso na marca Quaker, por exemplo: todo mundo
conhece Quaker por aveia, mas ela deixou de ser só aveia e buscou
negócios que têm afinidade com isso. Ela tem hoje barra de cereal,
biscoitos, tipo cookie, granola, que são produtos que respeitam a
identidade da marca, mas ampliam o portfólio dela. Quando um
consumidor chega ao supermercado e olha a barra de cereal, ele
pensa: “nossa, tem tudo a ver com Quaker”. Mas há exemplos que
não são assim tão perfeitos. Vou falar de um que os consumidores não entenderam bem: barra de cereal União. A União tem um
enorme prestígio no Brasil, é uma marca que passou de geração a
geração. Mas você pensa em açúcar, pensa em indulgência, uma
coisa que engorda. Quando eu penso em barra de cereal, eu estou
buscando um alimento onde vou economizar calorias, um produto
leve. Ou seja, um contrassenso se for apresentado com uma marca
que é reconhecidíssima em açúcar.
Mílton
Eu fico pensando, porque ainda estamos dentro da área de alimentos. E quando você sai e parte para outro tipo de produto completamente diferente, usando aqui uma expressão dita agora pouco pela
Cecília, quando eu vou para o outro corredor do supermercado.
Jaime
Eu conheço um exemplo maravilhoso, que é de tratores. Posso falar de tratores?
Mílton
Claro que pode.
Jaime
Caterpillar tem hoje uma linha de produtos que faz muito sucesso
em lojas nos EUA. São botas. Caterpillar é uma marca que tem uma
alma de coisa viril, de coisa de macho, trator. Com essa personalidade da marca, eles passaram a vender botas com a marca Caterpillar. Ela é forte, viril e simboliza algo para trabalhos duros. Embora
você possa usá-la para se beneficiar também dessa simbologia viril,
Migrar marca para outras áreas de produtos pode ser um bom negócio, mas há armadilhas no caminho. Cuidado! | 51
mesmo sem estar envolvido em trabalhos pesados. A revista Capricho, que é uma revista que entende a alma de uma teenager, tem
diversos produtos de vestuário, lancheiras, perfumaria etc. etc. para
a mesma teenager em outras áreas, muito além do que pode ser
oferecido em uma banca de revistas.
Qual é a lição do dia, então, já que eu quero transformar minha marca em um sucesso?
Mílton
Cuidado com as extensões de marca, elas podem ser sua grande
aliada, uma oportunidade de crescimento, mas temos de fazê-la
com muita atenção, porque ela também pode corroer a sua história
de sucesso. Extensões malsucedidas consomem recursos e mostram o despreparo da marca para dar novos passos no mercado.
Cecília
Muito obrigado e até o próximo sábado, Cecília e Jaime.
Mílton
Sua marca vai ser um sucesso | 52
9
A mulher deve
ser vista como
uma consumidora
por inteiro, e não
por frações
Muito bom dia para você, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton, bom dia a todos os ouvintes.
Cecília
Bom dia, Jaime.
Mílton
Bom dia, Mílton, bom dia ouvintes.
Jaime
As mulheres, cada vez mais, estão influenciando as estratégias das
marcas. Agora eu queria entender, Cecília, como uma marca pode
ser bem-sucedida com as mulheres?
Mílton
Olhe, homens se queixam bastante de que é difícil entender as mulheres e, no mundo das marcas, isso não é diferente. Creio que,
para as marcas, hoje é ainda muito mais difícil do que foi no passado criar um diálogo autêntico, genuíno e que compreenda essa
mulher na totalidade, porque ela é múltipla hoje. Então, quando
você retrata a mulher na sua comunicação, quando você pensa em
alguma ação de mercado, quando você desenvolve um produto, algumas vezes você está trazendo uma visão parcial dessa mulher.
Representando uma fração de mulher.
Cecília
Ou seja, pode haver um preconceito, portanto, no momento de desenvolver essa estratégia, por achar que a mulher é uma soma desintegrada de partes.
Mílton
Exatamente. Você mostrá-la apenas dentro do lar, como dona de
casa, ou apenas como aquela mulher profissional e que não dá bola
nenhuma, por exemplo, para sua família. Eu costumo dizer que as
mulheres navegam hoje não mais no universo do “ou”, eu sou dona
de casa “ou” eu sou uma mulher atraente fisicamente “ou” eu sou
aquela mulher profissional. A mulher vive no mundo do “e”, da adição, e não da subtração.
Cecília
E muitas vezes a gente vê usos oportunistas de marcas que olham
para a mulher em momentos como o Dia das Mães, o Dia da Mulher,
sem ter conversado com ela mais vezes durante o ano, e que aproveita aquela oportunidade. Quase como se fosse uma emboscada: agora
eu te pego, agora eu faço que ela compre minha marca. Eu acho que
mulheres, tanto quanto homens, mas consumidores em geral, querem diálogos mais permanentes. Eu sempre me lembro da história
da Sherazade. É um exemplo inesquecível de um relacionamento de
As Mil e Uma Noites. Um relacionamento em que o sultão, ao contrário do que aconteceria em noites anteriores, quando, matava a noiva
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 56
com quem acabara de se casar, não consegue matar a Sherazade.
Por uma razão: ela contava uma história para ele que não terminava na mesma noite e prometia continuá-la na noite seguinte. Noite
após noite, ela desenrolava o novelo de sua história, deixando sempre
uma continuação em suspenso para a noite seguinte. Passaram-se
muitas noites e ela acabou sendo poupada pelo sultão. Não é exatamente isso que precisamos fazer com as marcas, contar continuamente novas histórias que façam o “consumidor-sultão” permanecer
interessado nelas? Em vez de usos ocasionais que as marcas fazem
da relação com os consumidores, como se fossem soluços. As mulheres, mais do que ninguém, são extremamente sensíveis a relações
que não sejam acompanhadas por uma contínua atenção. As marcas
precisam aprender com a lenda da Sherazade.
Cecília
Hoje, o número que se tem é que em torno de 70% das decisões de
compra passam pela palavra das mulheres. Eu creio que esse número seja até maior, porque eu não consigo imaginar alguma categoria
em que a mulher não dê nenhum palpite, não seja influenciadora
de alguma forma. Nós fizemos uma pesquisa em que perguntamos
o seguinte: “Qual marca você considera parceira?”. Para evitar um
pouco, aquilo a que o Jaime se referia, de marcas que talvez sejam
oportunistas. As marcas que encabeçaram a lista, talvez os ouvintes
possam até imaginar quais sejam. Quais são essas marcas parceiras
dessa mulher, nesse seu projeto de vida atual, em que ela está em
múltiplos lugares, envolvida em múltiplas tarefas simultaneamente.
As marcas que apareceram no topo da lista foram: Nestlé, Johnson
& Johnson, Sadia, também algumas marcas de tecnologia como,
Microsoft, Motorola. Enfim: o que a gente percebe é, as mulheres
querem marcas que têm um compromisso em ajudá-las a equilibrar
todos “pratinhos de sua vida”. O mercado feminino está repleto de
equilibristas. Quem puder ler meu livro: Vida de equilibrista – dores
e delícias da mãe que trabalha, vai compreender melhor ainda o que
eu quero dizer.
Mílton
Se as mulheres decidem tanto na hora da compra, as marcas masculinas também têm de convencer as mulheres, porque são elas que
vão decidir a roupa que eu uso, por exemplo?
Jaime
Bom, se você frequentar lojas de roupas masculinas ou grandes magazines, irá perceber quantos e quantos casais estão lá para que a
mulher acompanhe o marido a fazer a compra. E quantos e quantos
casos ainda existem em que a mulher compra a roupa do marido a
pedido dele. Então existe sempre essa presença feminina nas áreas
que não são de uso pessoal dela também. A Cecília falou de 70%,
A mulher deve ser vista como uma consumidora por inteiro, e não por frações | 57
mas eu sempre acho que é um pouco mais que isso. Mílton, você já
deve ter ouvido casos de maridos que foram sozinhos comprar roupa
e, ao chegar em casa, ouviram a esposa dizer: “você deveria voltar e
trocar, porque vestido assim eu não saio com você”.
[risada] Experiência própria?
Mílton
É quase que uma no cravo e uma na ferradura, você tem que falar
com o homem e ao mesmo tempo seduzir a mulher, porque caso
contrário, não tem negócio.
Cecília
Cecília, eu tenho uma marca e quero seduzir as mulheres. Qual é
a lição do dia?
Mílton
Olhe para a mulher consumidora por inteira e não como frações de
mulher e pense que ela é uma equilibrista.
Cecília
Muito obrigada, Cecília. Bom fim de semana e até o próximo sábado.
Mílton
Muito obrigada a nossas ouvintes e nossos ouvintes.
Cecília
Até mais, Jaime.
Mílton
Até a próxima, caros ouvintes.
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 58
10
É possível manter
relacionamento
duradouro com
jovens?
Bom dia para você, Jaime.
Mílton
Bom dia Mílton, bom dia a todos os ouvintes.
Jaime
Bom dia, Cecília.
Mílton
Bom dia.
Cecília
Hoje nós vamos falar com os adolescentes. A gente sabe que adolescente não é uma coisa fácil. É possível uma marca estabelecer um
relacionamento duradouro com os jovens, levando em consideração
todas essas características que marcam a juventude? Cecília?
Mílton
Acho que essas palavras, duradouro e jovem, não ficam bem juntas. Jovem tem poucos compromissos duradouros, quem é pai ou
mãe de jovem sabe disso, eu sou mãe de dois jovens e posso dizer,
eles ficam com a sua marca, não se casam com ela. E eles quase
nem namoram a sua marca, porque um dia eles a amam, no mês
seguinte falam: “como assim aquela marca? Eu não quero mais saber dela”. Mas você a amava no mês passado! São consumidores
muito móveis, voláteis. Aliás, ainda bem que eles são assim. Esse
é mesmo o momento da vida no qual devem construir sua própria
identidade e não criar hábitos e preferências definitivas. Não espere deles laços permanentes, se você quiser que eles cresçam e se
tornem adultos saudáveis e preparados para olhar vida com seus
próprios olhos.
Cecília
Mílton, eu tenho cinco filhos em diversas faixas de idade, ou seja, eu
tenho a minha “amostra doméstica”. Aprendi muito com eles, muito
mais do que eles possam imaginar. E continuo aprendendo muito,
mas acho que eu sempre me sinto um pouco despreparado para
orientar empresas a respeito de marcas voltadas aos jovens. Porém,
essa forma de me sentir despreparado eu vejo de modo positivo. Mas
alguns traços estou seguro de que posso identificar no segmento
jovem, mesmo correndo algum risco. Em primeiro lugar, atualmente
há certo individualismo na mentalidade jovem. Eles querem muito
abraçar causas que são seus próprios projetos. Os jovens são, de
alguma forma, muito mais hedonistas do que foram em outras gerações. Veja o quanto eles se ligam a uma empresa, a uma pessoa,
a um negócio, o quanto eles fazem isso movidos por uma intensa
busca de autossatisfação. Como se o prazer fosse um bem muito valioso, pelo qual vale a pena abrir mão de outros compromissos. Em
“Alegria, alegria” do Caetano Veloso, ele diz: “Eu tomo uma Coca-Cola, ela pensa em casamento”. Em oposição ao compromisso de
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 62
um casamento, o prazer de uma Coca-Cola. Se o “filósofo” Caetano
disse isso, quem sou para negar.
Cecília
Existe outra característica do jovem, que é essa velocidade, a coisa
do videoclipe, eles fazem tudo ao mesmo tempo, estudam, ouvem
música, assistem TV, escutam rádio, tudo ao mesmo tempo, e fazem
tudo isso bem. Outras gerações não conseguem entender nem assimilar tantas coisas.
Mílton
Ou seja, eles conseguem ter adesão, então, à marca, apesar de terem essa visão de ser tudo muito rápido?
Cecília
Eles têm adesão por tempos limitados, mas sabem dar uma aula sobre aquela marca, eles são muito rápidos para pegar, para compreender, para fazer uma devolutiva do que entenderam.
Jaime
Até porque hoje, essa é a geração nativa do mundo digital, nós somos
os imigrantes. Eles são nativos, então têm acesso privilegiado a todas
as informações disponíveis e consomem um pouco de tudo, talvez algumas coisas com maior profundidade. A outra coisa que eu queria
citar, importante, na relação da marca com o jovem, tem a ver com
a história do abandono, com a volatilidade, o que nós chamamos de
diluição da hierarquia. Você vai a uma sala de aula, ou mesmo em uma
empresa, a tendência de eles tratarem-no de igual para igual é muito
grande, isso não significa desrespeito, mas sim falta de um protocolo,
vamos dizer assim. Não há uma intenção direta de desrespeito, mas
de estabelecer relações mais horizontais. Há pessoas mais maduras
que se assustam com isso e interpretam como se fossem manifestações de agressividade, de falta de limites etc. Mas, em geral, não é
isso não. Eles trabalham muito melhor e convivem muito melhor com
ambientes menos protocolares. Minha filha foi escolhida e convidada,
juntamente a mais uns vinte alunos da faculdade em que estuda, a
Emory, em Atlanta, para um jantar com o ex-Presidente Jimmy Carter.
A dificuldade dela foi aceitar o rigor do protocolo que a situação exigia,
em relação ao estilo de roupa, horário, forma de se comportar. Como
se ela dissesse, embora não tenha chegado a dizer: “Pai, que bobagem esse protocolo todo”. No fim, tudo se ajeitou.
E veja o nosso desafio, essas pessoas serão nossos consumidores no
futuro. Como eu planto raízes hoje para que elas possam me acompanhar daqui para frente?
Cecília
Já que você falou em acompanhar, acho que um dos últimos pontos, é
o seguinte: esse é um cara que pede uma velocidade que está alinhaÉ possível manter relacionamento duradouro com jovens? | 63
da com a sua própria vida, é um cara do real time, da conectividade e
a demora de marcas para responder a ele, é fatal.
Então vamos entender o seguinte, eu tenho uma marca e preciso
conversar com os jovens. Qual é a lição de hoje?
Mílton
Acompanhá-lo é fundamental, entender a cabeça desse jovem com
muita abertura: um dia ele te ama, no outro ele te rejeita. Aproveite,
então, enquanto ele te ama. Não há garantia nenhuma de que ele
será um cliente seu para o resto da vida. Provavelmente, não será.
Eu prefiro evocar as sábias palavras do mestre Vinicius de Moraes,
no “Soneto da Felicidade”: contem com uma relação intensa com os
jovens, infinita enquanto durar.
Cecília
Está certo, muito obrigado.
Mílton
Obrigado, Mílton, até a próxima.
Jaime
Cecília, um bom dia também para você e até o próximo fim de semana.
Mílton
Bom dia para todos os ouvintes e para os jovens em especial.
Cecília
Até mais!
Mílton
Sua marca vai ser um sucesso | 64
11
Ser verde é
caminho sem
volta para as
marcas
Muito bom dia para você, Jaime.
Mílton
Bom dia, Mílton, bom dia, ouvintes.
Jaime
Bom dia, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Cecília
Nós temos visto algo que acontece quase todo dia na nossa relação
com as empresas: recebemos informações de que uma certa marca
é verde, ou seja, preocupada com o meio ambiente, com a sustentabilidade, a responsabilidade social. Parece que todo mundo descobriu que essa é a palavra-chave agora. O consumidor pede isso,
Jaime?
Mílton
O consumidor sabe que isso é importante, que o mundo caminha
nessa direção; ele sabe que, talvez, filhos e netos vão se abastecer
muito mais, no futuro, de produtos verdes. Mas ele ainda tem algumas dúvidas, porque nem sempre comprar um produto verde é visto
como mais fácil por ser geralmente mais caro. Comprar um papel
reciclado é mais caro do que comprar um papel normal, então ele
tem dúvidas sobre como proceder. Eu tenho escutado muito, aqui
na CBN, o Sérgio Abranches. Tenho aprendido muito com o que ele
fala sobre o assunto e acho que tudo indica que esse é um caminho
sem volta para as marcas, para nós, para a sociedade, para todo o
mundo. Como esses passos vão ser dados, sem precipitação, essa é
a grande pergunta, para qual eu não tenho resposta. Acho também
ninguém tem uma resposta pronta. O que é importante? Todos nós
estarmos conscientes desse inevitável caminho futuro e ajustar o
branding para que ele incorpore essa preocupação.
Jaime
Mas acho que tem uma lição de casa para as próprias empresas,
quase como um trabalho pedagógico de ensinar o que é uma marca
responsável socialmente, o que é uma marca verde. O consumidor
ainda anda meio perdido a esse respeito. Por outro lado, empresas
preferem ser mais discretas sobre o que estão fazendo nessa área,
porque isso poderia parecer uma forma oportunista de tratar do assunto. O Jaime e eu, porém, achamos que há um sentido pedagógico
importante quando elas, as empresas, falam de uma forma autêntica sobre sustentabilidade, sobre compromissos sociais. Quando isso
é feito, temos dois benefícios. Primeiro, outras empresas podem se
inspirar e fazer o mesmo. Segundo, a própria sociedade acaba sendo informada e acaba sendo mais “treinada” nesse assunto. O que
marca alguma deve fazer, e isso é óbvio, mas não custa repeti-lo, é
Cecília
Sua marca vai ser um sucesso | 68
usar compromissos sociais e ambientais como um braço das sua
engenharia de marketing.
Mílton
O consumidor está disposto a pagar por esse produto mais caro?
Jaime
Nem sempre, Mílton. Ele ainda acha que precisa dar esse passo com
muito cuidado, há marcas muito poderosas que não são verdes, com
as quais ele está acostumadíssimo ao longo da vida. Por isso, ele
adia um pouco, como um processo de procrastinação. Nesse processo de escolha, vamos deixar para um dia ser mais obrigatório do
que é hoje. Agora não podemos esquecer o seguinte, Mílton, Cecília
e ouvintes, responsabilidade não é só com o verde, responsabilidade social também é com a própria empresa, com os funcionários da
empresa, quer dizer, marca não é um tapume que esconde a empresa da porta da rua para fora. Ela tem de ser “verde”, nesse sentido
mais amplo do termo, em relação a todos os seus procedimentos.
Mílton
Aliás, falamos desse assunto aqui neste espaço, e aprendi com vocês
também, que não adianta ficar no discurso.
Cecília
É, porque quando falamos de responsabilidade, nós estamos falando
de uma coisa que é transparência, estamos falando de uma coisa
que é ser autêntico, verdadeiro, ético, tudo isso é responsabilidade
social. Sentimos no mercado que a distância entre “retórica verde” e
práticas efetiva e autenticamente verdes ainda é grande. E mais um
ponto, Mílton, que preciso registrar. Ouvintes, cuidado com resultados de pesquisas que criam uma leitura ingênua sobre o interesse
dos brasileiros sobre produtos verdes e de origem reciclada. Quando
essas pesquisas são feitas e as perguntas são do tipo: “Você prefere comprar produtos regulares, ou prefere os produtos verdes, orgânicos, de empresas comprometidas social e ecologicamente”, as
respostas são sempre traiçoeiras. Eu li um desses resultados numa
tabela, há alguns dias, e me assustei. Olhando para os números, parecia que estava na Alemanha. O grau de concordância com essas
propostas verdes e sustentáveis é muito alto. Mas apenas da boca da
para fora. Muitas vezes é apenas um consentimento politicamente
correto. Como consumidores dizem o que pensam, mas fazem o que
sentem, a realidade do processo de compra e de escolhas de marcas
é muito diferente do que sugerem essas pesquisas.
Mílton
Bom, qual é a lição que fica depois de toda essa conversa?
Jaime
A lição é a seguinte: empresas, empresários e donos de marca, mostrem, de uma forma pedagógica, para que o consumidor entenda
Ser verde é caminho sem volta para as marcas | 69
melhor a importância de olhar o verde e pratiquem isso dentro da
sua empresa como uma coisa verdadeira.
Bom fim de semana para você. Até mais, Jaime.
Mílton
Até a próxima.
Jaime
Até semana que vem, Cecília.
Mílton
Até. Um abraço para todos.
Cecília
Sua marca vai ser um sucesso | 70
12
Propaganda
como sonho/
retrato
Muito bom dia para você, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Cecília
Bom dia, Jaime.
Mílton
Bom dia, ouvintes. Bom dia, Mílton.
Jaime
Hoje vamos trazer um tema para nossa conversa, que é bastante polêmico, principalmente entre vocês, especialistas que atuam
nesse mercado, mas que atinge diretamente o consumidor, o qual
é influente nessa discussão. As propagandas e a comunicação em
geral das marcas, Cecília, devem espelhar a realidade ou promover o sonho?
Mílton
Esse é um tema quente e tem sido muito discutido, como você comentou, em nosso meio. Vamos imaginar que a gente esteja vendo televisão, abrindo uma revista, ou navegando na internet, não importa o
meio pelo qual receba uma informação. Se eu vejo uma pessoa igual
a mim ou numa condição pior que a minha, qual é a minha vontade
de me aproximar daquele produto de beleza, daquela loja, daquela
roupa ou daquele automóvel? Eu preciso ter um espaço de sonho, um
espaço de idealização. É isso que nos move. Marcas que conseguem
me aproximar desse eu idealizado, seja algo realizável ou não, têm
um poder de me motivar e de me fazer sentir envolvida por elas. Sem
isso, a marca é fria, é estéril, é incapaz de me aproximar daquilo que
eu quero ser, ou seja, ir além do que eu sou hoje. Enganam- se as
pessoas que acreditam nessa história de que a comunicação deveria
retratar melhor os consumidores. Essa é uma visão jornalística, se
você me permite, Mílton, e não mercadológica. Marcas são alavancas. São alavancas para movimentar o meu projeto de felicidade. Elas
não são um espelho do que eu sou. De mim, basta eu mesmo.
Cecília
Sem filosofar muito, viu, Mílton? Eu diria o seguinte: a roda da economia gira, porque as pessoas vão em busca daquilo que elas não
têm ainda, daquilo que elas não são ainda. Há uma “equação” que a
gente monta em nossos projetos, que é assim: eu sou assim e quero
ser “assado” ou quero ser mais assim. Entre o que eu sou e o que
quero ser existe um espaço que a gente preenche de várias maneiras na vida: viajando, trabalhando, namorando, casando, torcendo
para um determinado time de futebol, fazendo uma carreira X ou Y
etc. E também consumindo as marcas que se encaixam nessa equação, nesse espaço de idealização. Quando eu mostro para as pessoas uma propaganda de uma marca que traduz aquilo que está mais
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 74
próximo do que ela idealiza, ela se mexe, ela se mobiliza e vai lá e
investe seu dinheirinho nisso, o que faz que roda da economia gire.
Se quiser que a roda da economia pare, é só mostrar pessoas em
propagandas como as próprias pessoas já são na realidade, e elas
falam: “Não preciso mais disso, isso eu já sou”.
Mílton
Ou seja, você gera o aspiracional na pessoa?
Cecília
É algo aspiracional, sim, mas a medida disso precisa ser muito bem
calculada. Eu acho que, de fato, você tem algumas marcas que exageram nessa medida do sonho. Criam sonhos tão irrealizáveis que
o consumidor se desconecta delas, até para preservar sua autoestima. Esse componente de desejo é uma das tarefas mais espinhosas
do branding. Abaixo de um certo limite aspiracional, a marca perde
sua capacidade de movimentar o desejo e a motivação de consumidores. Por outro lado, acima de um determinado limiar, ela é ignorada porque é como se o consumidor sentisse o seguinte: “Acho que
não estão falando comigo”. Lembro-me de um estudo nos EUA sobre
recall ou lembrança de propagandas de automóveis. Certos carros
eram tão caros e sofisticados, tão inacessíveis para os consumidores
médios e mais pobres, que o índice de recall entre eles era extremamente baixo. Embora eles estivessem expostos ao comercial, por
medida de proteção da sua autoestima, esse segmento de consumidores simplesmente não registrou mentalmente o que viram. Por
tudo isso, a dosagem aspiracional é uma “química” muito complexa
e precisa ser planejada com muito cuidado.
Mílton
Qual é a lição do dia?
Jaime
A minha lição clara é a seguinte: pessoal, não façam da sua marca
um espelho do que a sociedade é hoje, mas, sim, façam que sua
marca ajude as pessoas a crescer em direção a um caminho idealizado delas mesmas, para que elas sejam mais do que sentem que
são hoje. Marcas são uma forma de construirmos nosso projeto de
felicidade.
Mílton
Bom fim de semana para você, Jaime.
Jaime
Para você também, para os ouvintes a mesma coisa.
Mílton
Até o próximo sábado, Cecília.
Cecília
Até próximo sábado. Bom final de semana para todos.
Propaganda como sonho/retrato | 75
13
Brand detox:
o que é isso?
Bom dia, Jaime.
Mílton
Bom dia, Mílton. Bom dia, ouvintes.
Jaime
Muito bom dia para você, Cecília.
Mílton
Bom dia.
Cecília
No último programa, Jaime, você disse que marcas não são tudo na
vida. Eu quero saber se é possível viver sem marcas.
Mílton
Eu acho que não, acho que não dá, mas, ao mesmo tempo, acredito
que elas não são tudo na nossa vida,. Aliás, isso me lembra muito do
que diz Martin Lindstrom, que é um autor famoso, hoje, no mundo
do branding. Ele tem um livro que está publicado em português, mas
o título continua em inglês, que é o “Brandwashed”. É um trocadilho com brainwash, que é lavagem cerebral. Ele decidiu fazer um
brand wash em sua vida. Para isso, o Martin Lindstrom planejou um
detox, um brand detox, ou seja, um detox de marcas. Ele fez uma
experiência na vida dele, durante alguns meses, “não vou consumir
mais marca alguma, vou viver só de produtos que talvez não tenham
marca, ou para cujas marcas eu nem ligue propriamente”. Depois
de uns tantos meses, Mílton e ouvintes, sabem a que conclusão ele
chegou? “Não dá. Algumas marcas que eu uso, são marcas que refletem quem eu sou, é a minha identidade, é aquilo que me fazem
sentir, o próprio Martin que eu sou. Então dessas marcas eu não vou
abrir mão, porque elas acompanham a minha vida, elas falam de
mim, o que eu sou para mim e para os outros”, e deixou de lado o
detox. Eu mesmo, Jaime, me encantei com a proposta do Lindstrom.
Tentei fazer uma coisa semelhante.
Jaime
Algumas marcas fazem parte da minha marca pessoal?
Mílton
Exatamente, se você pensar que toda marca tem uma história, essas
marcas fazem parte da sua história e, voltando até alguns programas atrás, elas permitem a essa pessoa ficar mais próxima daquele,
vamos dizer, projeto ideal que ela tem para si mesma. A partir do
momento em que decide eliminá-las, você fica meio manco, fala assim: “como eu vou viver sem a minha marca de refrigerante? Como
é que eu vou viver sem aquele programa de rádio na CBN?”, isso faz
parte da minha identidade, quando a marca é parte da sua identidade, ela é indispensável e não há detox que resolva.
Cecília
Detox virou uma marca, hoje em dia você vai em uma simples pada-
Mílton
Sua marca vai ser um sucesso | 78
ria e a pessoa que lhe atende, está vendendo para você um suquinho
detox, você não sabe nem o que tem lá dentro, mas é detox então,
“ah vou ficar de bem com a vida”.
Cecília
É curioso como algumas marcas, vamos dizer, surgem meio do
nada, elas ganham relevância e começam a fazer parte da sua vida.
Mas é pura impressão que elas brotaram do nada, como uma geração espontânea. Elas surgiram num momento em que pessoas, ou
a sociedade, de forma consciente ou não, precisavam delas. Ninguém inventa necessidades artificiais nos outros. O que fazemos em
branding é entender onde estão essas necessidades, às vezes mais
superficiais e às vezes mais profundas, em nós, seres humanos. E,
a partir daí, construir uma forma de satisfazer essas necessidades
legitimamente. Ao lado das marcas que surgiram, aparentemente
do nada, da noite para o dia, e se tornaram relevantes, quantas e
quantas outras não tiveram mesmo êxito. Diz-se que a proporção
é de 1 para 10. Para cada dez que aparecem, somente uma emplaca. Então, se a gente pensar nesse tema que esse autor americano
trouxe, você não consegue se desvencilhar dessas marcas quando
elas traduzem seus projetos, sua história, e às vezes quanta história!
Há marcas que fizeram parte de momentos muito lindos de nossas
vidas, como é que eu vou me livrar dela?
Jaime
Ele não está dizendo no livro dele, muito pelo contrário, que você
tem de ser consumista por excelência; ele falou: algumas marcas
me identificam e falam de mim como eu sou ou como quero ser percebido. Aliás, o livro dele é interessante, porque mostra que o consumo consciente, a escolha consciente de marcas, é parte de um
consumidor mais inteligente, mais moderno.
Mílton
Então, o que podemos deixar como lição do dia?
Jaime
Acho que a lição do dia é a seguinte: nós não podemos viver sem
marcas, porque elas fazem parte da nossa identidade. Se há uma
coisa que nos diferencia das outras espécies viventes, é que nós, seres humanos, podemos viver sem água e comida por algum tempo,
sem lugar para morar, sem posses, até sem saúde, às vezes. Mas há
uma coisa que nos mantém vivos, sem a qual somos inertes como
uma pedra cinza jogada na beira de um rio: nós dependemos de dar
sentido às coisas. A busca de significado em tudo que nos cerca é o
que nos mantém respirando. E, entre todas as coisas que dão sentido ao que fazemos, pensamos e sentimos, as marcas têm um cantinho reservado. Como disse uma autora, Jill Taylor, ao contrário do
que imaginamos ser, isto é, seres pensantes que sentem, nós somos
Brand detox. O que é isso? | 79
“feeling creatures” que pensam. O sentimento que nos preserva vivos é alimentado essencialmente pelo significado que as coisas têm
ou pelo sentido que damos a elas.
E como eu conheço bem os nossos ouvintes, eu vou repetir aqui ao
final da nossa conversa, o nome do livro, porque o pessoal vai querer
correr para conhecer. É “Brandwashed”, de Martin Lindstrom. Esse
é o livro que já tem, inclusive aqui no Brasil. Muito obrigado, Jaime,
bom final de semana.
Mílton
Até a próxima, obrigado.
Jaime
Até o próximo sábado, Cecília.
Mílton
Até o próximo sábado. Bom fim de semana.
Cecília
Sua marca vai ser um sucesso | 80
14
Consumidor
borboleta
Muito bom dia para você, Cecília.
Mílton
Bom dia, Mílton.
Cecília
Bom dia para você, Jaime.
Mílton
Olá, Mílton, bom dia. Bom dia a todos os ouvintes.
Jaime
Há alguns programas, o Jaime trouxe aqui, uma expressão curiosa,
para nós, que somos leigos. Vocês falam muito sobre a ideia do “consumidor borboleta” e eu queria aprofundar um pouco mais esse assunto hoje. Cecília, dizem que hoje os consumidores são mais infiéis
às marcas. Então é uma verdade o fato de que esses consumidores
borboletas somos nós?
Mílton
Somos. Passou aquela fase em que o consumidor era quase um ser
cativo, aprisionado a vida toda na escolha de uma ou algumas marcas.
Aquele animal diferente da borboleta, estático, parado, tipo um bicho-preguiça. Se a gente colocar em dois polos o consumidor preguiça e
o consumidor borboleta, nós estamos certamente indo do borboleta
para frente. Consumidor borboleta, do jeito que a gente enxerga, é
aquela pessoa que tem múltiplas escolhas para fazer, então ele vai
pousando de marca em marca e sob o seu ponto de vista, ele não está
sendo infiel, já que isso é uma linguagem da indústria. É uma linguagem do comerciante. Sob o ponto de vista do cliente, ele está exercendo seu poder de escolha, acho que essa é a definição que a gente
enxerga de consumidor borboleta. Ele está praticando sua liberdade.
Cecília
Muito bacana, muito bacana você lembrar disso, Cecília, porque a
gente vive ouvindo as empresas dizerem, “Como é que eu aumento
a fidelidade?” quando, na verdade, o que o consumidor está querendo dizer, é o seguinte: “Como eu posso exercer mais plenamente a
minha liberdade?”. Esperar que lealdade seja fonte de amor pela
marca é uma suprema ilusão. Lealdade não gera amor. É o oposto,
amor é a verdadeira fonte de lealdade. Isso vale para marcas, para
relações entre pessoas, para relações entre funcionários de uma
empresa, ou entre um torcedor e seu time do coração.
Jaime
E a fidelidade é fruto das convicções do consumidor, não de um pedido que a marca lhe faz.
Mílton
Lógico. Como se ela dissesse: por favor, me ame! Nós temos estudos na TroianoBranding, feitos continuamente há 21 anos, os quais
mostram que, hoje no Brasil, não mais do que 10% dos consumidores têm marcas das quais eles são quase um advogado, marcas
Jaime
Sua marca vai ser um sucesso | 84
que eles amam de coração. São consumidores que deveriam receber um holerite, um contracheque no final do mês, mas são só 10%,
Mílton. Eles são, talvez, muito mais importantes para a empresa do
que muitos de seus funcionários. Vejam então o desafio, o trabalho
que nós temos pela frente e o respeito que nós temos de ter pela
liberdade de escolha, como a Cecília falou. Como, dentro desse princípio quase sagrado de preservação da liberdade de escolha, eu consigo construir relações de amor das quais podem derivar relações
de lealdade. Eu sou fiel porque eu amo e não o inverso. Milhões de
casamentos já “foram para o vinagre” porque um dos dois cônjuges
supôs que o contrato de fidelidade seria o berço do amor.
Cecília
E, se você falar ainda de públicos mais jovens, a gente comentou sobre os jovens em alguns programas, eles então são borboletas por
excelência. A gente até usou a expressão que os jovens “ficam” com
a marca, eles não namoram tampouco se casam. E essa é uma fase
central na vida para criarmos nossos próprios critérios individuais de
personalidade, ou para consolidá-los. O exercício da liberdade, das
múltiplas experiências, das mudanças de humor e de desejo fazem
deles, os jovens, as supremas borboletas. Ai das marcas que ignorarem o que acontece nesse ponto do ciclo vital dos consumidores.
Mílton
Qual é a lição que fica desta nossa conversa?
Cecília
O seguinte: o consumidor é uma borboleta, você tem de correr
atrás dele e ofertar a melhor proposta que conseguir para entregar
a ele. As borboletas sabem em que flor pousar, você não precisa
ensinar a elas. O que nossas marcas precisam fazer é entender a
alma das borboletas.
Jaime
Posso acrescentar uma coisa? Como parte da lição? Não espere
que o seu consumidor de hoje, que você treinou para gostar da sua
marca, estará com você amanhã e pelo resto da vida. Nada está
garantindo nas relações, nem humanas, e nem dos consumidores
com marcas. Precisamos aprender a amar o movimento das borboletas. Só assim, vamos entendê-las.
Mílton
Muito obrigado, Jaime, bom final de semana para você.
Jaime
Igualmente.
Mílton
Até o próximo sábado, Cecília.
Cecília
Até o próximo sábado.
Consumidor borboleta | 85
15
Place branding.
Cada lugar pode
ser uma marca
Muito bom dia para você, Jaime.
Mílton
Bom dia, Mílton e ouvintes.
Jaime
Bom dia, Cecília.
Mílton
Bom dia.
Cecília
Gente, tem cidade que gera burburinhos, atrai turistas, outras que
até são interessantes, mas ficam completamente esquecidas, saem
do nosso roteiro. Jaime, cidades ou países, também são marcas?
Mílton
Cidades ou países também podem ser marcas, podem ser marcas
se forem administradas de forma que as pessoas entendam que
aquilo que ela representa para quem vive lá e para quem pode visitá-la, é uma coisa importante, além do simples fato de ser um ponto
de chegada ou de residência. Começando fora do Brasil, a expressão
“I love New York” foi criada há algum tempo e ajudou a transformar,
além das características físicas, culturais e de segurança da cidade,
a atração especial que ela exerce. Barcelona, Mílton, hoje é uma cidade que recebeu tratamento de uma marca e que se transformou
em uma das cidades mais desejadas do mundo. Mas não preciso
falar só de fora do Brasil.
Jaime
Bonito. Pensem em Bonito, aqui no Brasil. Quando você pensa em
Bonito, o que vem à nossa cabeça, tendo ido lá ou não? Essa cidade
criou uma ideia da ecologia, de namoro com a natureza, de bem-estar... As pessoas que vão a um lugar assim já sabem ou imaginam
o que vão encontrar. E namoro começa antes do contato. Porém, não
é algo criado do nada. Essas características naturais Bonito já tinha. Até porque são naturais. Mas a mensagem construída ao redor
do que já existia, o branding de Bonito, foi obra de administradores,
empresas, comunicação etc. Quantas outras cidades como Bonito
devem existir no Brasil que não conseguiram construir essa “mitologia” em torno do lugar? Pelo menos algumas dezenas. É isso que
chamamos de Place Branding. E ele não existe para atrair apenas
turistas, mas investimentos em geral. Outro bom exemplo no Brasil
é Curitiba. Quem fala de Curitiba se lembra de qualidade de vida,
qualidade da mobilidade urbana, uma série de atributos que foram
planejadamente construídos.
Cecília
No caso de Curitiba, ainda é uma referência internacional na questão da
mobilidade, não ofereça, hoje em dia, os mesmos resultados obtidos há
vinte anos ou mais, quando houve essa transformação, mas a marca é
tão forte que até hoje é usada como referência.
Mílton
Sua marca vai ser um sucesso | 88
Jaime
Pois é, e isso poderia ser multiplicado para outras experiências brasileiras, que ainda poderiam ser mais bem desenvolvidas. Há outros
casos, não é? Há casos maravilhosos como Fernando de Noronha,
que por si só já é uma coisa maravilhosa. Fernando de Noronha,
aquele lugar, eu sempre digo o seguinte: “Você gosta de praia? Vá a
todas outras praias antes de ir para Fernando de Noronha, porque,
depois de ir para lá, as outras não têm mais graça”. Mas além de ser
bonita por natureza, ela é projetada para o mundo, da porta da rua
para fora, para os estrangeiros e brasileiros, como uma coisa paradisíaca; tem um amigo meu que diz: “Se o paraíso existe, Fernando de
Noronha é a sala de espera”. De onde vem toda essa mitologia que
se cria em torno dela, como uma marca? Eu já estive em Fernando
de Noronha. Um privilégio. E é uma marca que sustenta a sua promessa, de ser um pedacinho do paraíso. Nunca mais irei a praias tão
exuberantes como a Praia do Sancho e a Praia do Leão, a não ser que
eu volte a Fernando de Noronha. E eu me pergunto: “Jaime, será que
elas são as praias mais exuberantes do mundo?”. Marcas fortes são
assim: você combina em sua cabeça o que é o produto em si, neste
caso, a praia com todas as histórias, mitologias, lendas, fantasias que
te ajudaram a construir essa imagem.
Cecília
Mas, assim como outras marcas, vamos dizer, que não são cidades
ou países, elas também estão sujeitas a chuvas e trovoadas. Vamos
pensar assim, porque, por exemplo, você pode ter um evento em uma
determinada cidade, daí ocorre uma maior incidência de violência, ou
a falta de hospitalidade daquele povo que ali mora, e então não adianta
nada ostentar suas belezas naturais. Então, de novo, quando a gente
fala de uma cidade ou de um país, é um conjunto de atividades e características que, combinadas, resultam numa marca forte. Mais uma
vez, estamos falando de um trabalho estruturado, e eu não sei se todas as prefeituras, se todos os governos têm esse olhar para sua cidade, para o espaço que ele administra, considerando-a uma marca que
pode ser gerenciada, construída, desenvolvida, para atrair recursos.
Mílton
Portanto, esta é a lição do dia.
Jaime
Perfeito. Não tem mais o que dizer, exatamente essa.
Mílton
Muito obrigado, Cecília. Muito obrigado, Jaime.
Jaime
Até mais, Mílton.
Cecília
Bom final de semana.
Place branding. Cada lugar pode ser uma marca | 89
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