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Introdução
Não é fácil fazer uma narrativa concisa do que foi a atividade da
Força Aérea Alemã - a Luftwaffe - na 2ª Guerra Mundial. Iremos, pois,
limitaremos a uma descrição dos conceitos estratégicos e táticos essenciais
e a um esboço geral do rumo dos acontecimentos.
Depois da ascensão espetacular da Luftwaffe, desde o seu primeiro e
esplêndido sucesso, que possibilitou a Blitzkrieg, até o final da campanha da
França, seguiu-se uma agonia só interrompida por êxitos ocasionais.
A batalha travada nos céus da Grã-Bretanha marcou um momento
decisivo, destruindo o mito da invulnerabilidade da Luftwaffe e cobrando
elevado tributo às suas tripulações, treinadas em tempo de paz e testadas
na batalha.
A Luftwaffe era uma força tática, e fracassou quando passou a ser
usada como força estratégica. Os Komodores, os Kommandeurs, os
comandantes do futuro morreram todos nos céus britânicos.
A reconstrução de uma força aérea
Segundo os termos do Tratado de Versalhes, que pôs fim à 1ª Guerra
Mundial e um final humilhante para os alemães, a Alemanha ficou proibida de
possuir aviação militar, bem como esteve proibida de construir aviões civis
até 1922, quando então foi permitida desde que respeitasse a certas
limitações quanto ao peso, teto, velocidade e potência. Mesmo com todas
essas limitações, o povo alemão desenvolveu uma extraordinária mentalidade
aeronáutica.
Em 1924, o General Hans von Seeckt, Chefe do Estado Maior Geral
do Exército, conseguiu assegurar uma cooperação entre a organizada da
aviação civil alemã e as forças armadas, e daí em diante o desenvolvimento
da aviação civil alemã passou a ser praticamente controlado e dirigido tendo
sempre em mente os interesses militares.
Com o passar do tempo, as restrições impostas pelo Tratado de
Versalhes foram sendo gradativamente atenuadas, e por volta de 1926, os
alemães tiveram permissão de treinar um máximo de 10 pilotos militares por
ano, ao mesmo tempo em que se suspenderam as restrições à construção de
aviões. Já existia na Alemanha uma indústria aeronáutica pequena mas
eficiente, e quase todas eram firmas que mais tarde viriam produzir aviões
em massa para a Luftwaffe. Eram elas a Dornier em Friedrichshafen, a
Focke Wulf em Bremen, a Heinkel em Wernemunde, a Junkers em Dessau e
um jovem projetista chamado Willi Messerchmitt, que trabalhava em
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Augsburg produzindo aviões competitivos para a Companhia de Aviões da
Bavária.
Fundindo-se várias companhias de transporte aéreo de situação
financeira instável, criou-se a companhia estatal Lufthansa. Inicialmente
operando apenas com vôos regulares para países da Europa Oriental, aos
poucos foi expandindo suas linhas para a Europa Ocidental. A companhia
desenvolveu e aperfeiçoou métodos de vôo noturno e com qualquer tempo,
tornando-se uma das tecnicamente mais avançadas do mundo. Pouco depois
de sua criação, foi formado um pequeno núcleo de tripulações militares
dentro da Lufthansa, que treinavam nas suas escolas de pilotos.
Para o adestramento nas atividades militares, os pilotos alemães iam
treinar na Rússia, após haver sido celebrado um acordo secreto entre os
dois países. As tripulações eram treinadas em Lipetz, um aeródromo militar
localizado a 320 km ao sul de Moscou.
Embora os alemães não dispusessem de muitos recursos para investir
no desenvolvimento de sua força aérea, oficiais do exército estavam
atentos para o que se fazia nas forças aéreas mais adiantadas e menos
tolhidas financeiramente.
Esta era a situação quando em 1933 Hitler subiu ao poder. As bases
para uma força aérea militar já existiam, mas havia muito o que fazer, e
Hitler sabia muito bem que uma aeronáutica poderosa era requisito
essencial para realizar seu objetivo declarado de ampliar o Lebensraum
(Espaço Vital) alemão.
Assim, logo após o novo governo tomar posse, o ritmo do
desenvolvimento da aviação militar acelerou. Hermann Göring, ás da 1ª
Guerra Mundial, tornou-se o Reichskomissar (Comissário da Aviação), mas
como também fazia parte da cúpula do Partido Nacional Socialista, só podia
dedicar muito pouco tempo aos problemas da aviação, e assim coube a seu
substituto eventual, Erhardt Milch, o trabalho de formação da nova arma.
A tarefa de Milch era imensa, mas ele recebeu total apoio do governo
nazista, criando escolas de treinamento, construiu novos aeródromos e
fábricas e fez grandes pedidos de aviões às empresas alemães. Foi
inicialmente solicitada a fabricação de caças Heinkel 51 e de bombardeiros
Dornier 23 e Junkers 52 (ambos aeronaves de transporte convertidos). A
década de 1930 trouxe consigo uma revolução no projeto dos aviões, quando
o biplano revestido de tecido e escorado por montantes, com trem de pouso
fixo, deu lugar ao monoplano, que era muito mais veloz, com asas
inteiramente em cantilever, trem de pouso escamoteável, hélice de passo
variável e todo revestido de metal. O grande objetivo de Milch era ter uma
força aérea pronta para receber a nova geração de aviões de combate, e
para tal, deu ênfase primeiramente ao treinamento.
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Por volta de 1935, os alemães se sentiram suficientemente fortes
para revelar sua até então secreta força aérea ao mundo. A Luftwaffe tinha
agora 1 800 aeronaves de todos os tipos e uma tropa de 20 mil homens,
entre oficiais e praças. Os "clubes de pilotagem" foram integrados à nova
força aérea, em meio a esplêndidos desfiles militares, alguns dos quais com
a presença do próprio Hitler.
Na direção da força estava Hermann Göring, então um líder político
enérgico e poderoso, amigo íntimo e confidente de Hitler. Embora fosse um
ex-piloto, estava afastado dos vôos desde 1918 e ignorava as grandes
mudanças ocorridas na aviação desde a guerra. Sendo muito egoísta, não
permitia que ninguém lhe tomasse a frente das coisas da nova força armada;
relutava em admitir que qualquer tarefa estivesse além da capacidade da
Luftwaffe e era muito relutante ainda em aceitar conselhos dos seus
oficiais subalternos, mas apesar de tudo, garantiu para a Luftwaffe
prioridade na distribuição de verbas.
Diretamente sob Göring estava o Secretário de Estado Erhardt
Milch, trabalhador incansável e eficiente, que antes de ingressar na
Luftwaffe fora diretor da Lufthansa, fato esse que lhe dera conhecimento
profundo dos problemas pertinentes ao avião, conhecimentos esses que
soube utilizar quando começou a construir a força aérea. O Chefe do
Departamento do Comando Aéreo era o General Waleter Wever, discípulo
firme do nacional-socialismo, e seu trabalho muito contribuiu para aplainar
as inevitáveis arestas que o crescimento da nova arma ia fazendo surgir.
Por volta de 1936, a segunda geração de aviões de combate alemães
havia começado seus vôos de prova. O caça interceptador-padrão,
monomotor, era o Messerschitt Bf 109; como caça de longa distância
funcionava o bimotor Messerschitt Bf 110; os bombardeiros-padrão eram o
Dornier 17 e o Heinkel 111; e para bombardeiro de mergulho e apoio aéreo à
tropas terrestres era o Junkers 87. Em maio de 1936, o General Wever
morreu num acidente aéreo, um duro golpe para a Luftwaffe, e para seu
lugar foi nomeado o Chefe do Departamento de Administração da
Luftwaffe, General Albert Kesselring, e o posto recebeu o novo nome de
Chefe do Estado-Maior-Geral. Kesselring mostrou-se um comandante forte
e popular e a expansão da Luftwaffe não sofreu descontinuidade.
Em agosto de 1936, a nova força aérea alemã entro em ação pela
primeira vez, em apoio das forças nacionalistas do General Franco que se
rebelaram contra o governo republicano e comunista espanhol.
De início, o apoio aéreo alemão era formado de apenas 20 transportes
Junkers 52 e de uma escolta de seis caças Heinkel 51. O General Franco
precisava desesperadamente transferir, do Marrocos para a Espanha
continental, tropas que lhe eram leais, e com rapidez. Fazendo até quatros
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vôos de ida e volta por dia, a força de Junkers 52 transportou 10 mil
combatentes, sendo a primeira vez que se organizava uma operação de ponte
aérea em tão grande escala, que bastou para consolidar a posição vacilante
de Franco.
Mas logo se tornou evidente que os rebeldes precisariam de muito
mais ajuda, e nos meses seguintes o contingente da Luftwaffe aumentou, e a
força agora era chamada de Legião Condor. Integrada por uns 200 aviões,
dos quais metade era bombardeiros Junkers 52 e caças Heinkel 51 e o resto
aparelhos de reconhecimento, ataque e de transporte. A força não pôde
realizar muita coisa durante os primeiros meses porque o Heinkel 51
mostrou-se inferior aos caças monoplanos russos Pilokarpov I-16 dos
republicanos. Assim, durante o verão de 1937, os alemães trouxeram seus
tipos mais recentes, o caça Bf 109 e os bombardeiros He 111 e Do 17 e, com
estes, a Legião Condor logo obteve a superioridade aérea nos céus da
Espanha.
Às unidades de caças alemães foi conferida liberdade para
desenvolver suas próprias táticas. Inicialmente voavam em formações
cerradas asa-com-asa utilizadas pelos italianos, mas logo descobriram que
essa tática, que se mantinha sem muita alteração desde a 1ª Guerra
Mundial, era impraticável em caças mais velozes. Os pilotos alemães
verificaram que tinham de estar tão atentos uns aos outros, para manter a
posição e evitar colisões, que pouco tempo lhes sobrava para dedicar ao
inimigo. Verificaram também que a formação quatro-dedos, criada pelo
Oberleutnant Werner Mölders, era a ideal para concentração de fogo e
liberdade de ação.
Em março de 1938, o conflito espanhol terminou, e os homens da
Legião Condor voltaram à Alemanha, com muita experiência. Nesse mesmo
mês, tropas alemães penetraram na Áustria e, no mês de setembro, Hitler
anexava grande parcela da Tcheco-Eslováquia. Em março do ano seguinte,
forças alemães ocuparam o resto do país e já se tornava evidente que o
próximo objetivo de Hitler seria a Polônia - cujas fronteiras eram
garantidas pela Grã-Bretanha.
Nos bastidores da política internacional desenvolveu-se frenética
atividade diplomática, quando a Alemanha, por um lado, e Grã-Bretanha,
França e Polônia, por outro, procuravam aliados ou, pelo menos, "nãoinimigos", para o conflito que parecia aproximar-se cada vez mais.
Na véspera da guerra
Em meados de 1939, Hitler decide declarar guerra à Polônia, e como
os governos da França e Grã-Bretanha haviam declarado que, em caso de
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guerra, eles dariam todo o apoio que pudessem ao governo polonês, era
muito provável que o conflito não se limitasse à Europa Oriental.
A 1º de setembro de 1939, a Luftwaffe tinha 3 650 aviões de
combates, assim distribuídos:
. Bombardeiros (principalmente He 111 e Do 17):
1 170
. Bombardeiros de Mergulho (Ju 87):
335
. Caças Monomotores (Bf 109):
1 125
. Caças Bimotores (Bf 110):
195
. Aviões de Reconhecimento:
620
. Outros:
205
Apoiando essa força de combate, havia uma organização de
treinamento com mais de 2 500 aviões, além de outros 500 usados para
treinamento operacional. Em termos de treinamento e moral, as tripulações
alemães eram iguais a quaisquer outras e superiores à maioria dos seus
inimigos. Embora o quadro fosse impressionante, haviam certas fraquezas
que teriam efeito profundo sobre a capacidade alemã de travar uma guerra
aérea prolongada.
O principal fato era que os quatro integrantes da cúpula da
Luftwaffe na véspera da guerra - Göring, Milch, Udet (Chefe do
Departamento de Compras e Suprimento
da Força Aérea Generalflugzeugmeister) e Jeschonnek (Chefe do Estado-Maior-Geral)
eram, ou desajustados ou incapazes de executar suas próprias tarefas,
sendo muito comum situações em que entravam em conflito uns com os
outros. A despeito de tudo isso, as bases lançadas por Milch e Wever eram
suficientemente firmes para resistir à pressão demolidora criada dentro da
força antes da guerra, mas, mais tarde, quando essas pressões se
combinaram com as exercidas pelo inimigo, a fragilidade da liderança
ensejaria sérias conseqüências, pois a Luftwaffe viria a ser mais
administrada do que liderada, na batalha, pelo seu Alto Comando.
Dadas essas divisões na cúpula, os grandes erros não demoraram a
aparecer e um dos mais importantes foi a decisão de Jeschonnek de que
todos os bombardeiros, com exceção dos Do 17 e He 111, tinham que ser
capazes de fazer bombardeiro de mergulho. Assim é que o Ju 88, teve sua
produção consideravelmente atrasada pela necessidade de reforçar a
estrutura para essa tarefa. A terceira geração de bombardeiros, que incluía
o Dornier 217 e o Heinkel 177, que seriam bombardeiros estratégicos, teve
seus projetos também alterados para se adaptarem aquela finalidade. O Me
210, uma combinação de caça-pesado e bombardeiro de mergulho, destinado
a substituir o Me 110 e o Ju 87, constituiu-se num fracasso quase total,
porque tinha que superar muitos problemas para poder atender a tudo aquilo
que dele era exigido.
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Todavia os problemas com os aviões de substituição não eram
evidentes em setembro de 1939, pois somente em 1941 ou 1942, se a guerra
durasse até lá, é que esses tipos estariam prontos para o serviço.
Entrementes, a Luftwaffe estava prestes a enfrentar sua primeira prova
real. Poucos eram os que duvidavam que esta novíssima força aérea, para
cuja efetivação tanto esforço fora dirigido, provaria ser uma formidável
arma de guerra. E realmente foi.
As vitórias-relâmpago
A 2ª Guerra Mundial começou na madrugada de 1º de setembro de
1939, quando tropas alemães invadiram a Polônia. O nevoeiro reinante
impediu que se realizassem operações aéreas em grande escala, mas no
começo da tarde, com sua dissipação, a Luftwaffe foi vigorosamente
empenhada. Os alemães haviam reunido quase 1 600 aviões de combate para
a campanha, a maioria concentrada nas Luftflotten I e IV. De início os
principais alvos foram os aeródromos poloneses, que sofreram ataques
aéreos contínuos dos bombardeiros e caças. Alguns pilotos poloneses
conseguiram decolar, mas seus PZL não eram páreo para os modernos caças
alemães.
Passados dois dias, era quase completa a supremacia da Luftwaffe
sobre aquele país, e os comandantes das esquadrilhas alemães passaram a
apoiar as tropas terrestres que avançavam. Todos os movimentos de tropas
polonesas sofriam ataques aéreos sistemáticos e as comunicações
rodoviárias e ferroviárias, nas áreas da retaguarda, eram violentamente
atacadas, e como resultado, os movimentos das tropas polonesas para
dentro e para fora das áreas de combate, às vezes, eram virtualmente
impossíveis. Os ataques contínuos dos bombardeiros de mergulho, Ju 87 Stuka, ás tropas polonesas em retirada ajudavam muito aos soldados
alemães, pondo pontos fortes, baterias de artilharia e concentração de
tropas fora de ação.
Por volta do dia 17 de setembro, o exército polonês já não era capaz
de operar como força de combate coordenada e os alemães já avistavam o
fim da campanha, mas, devido a um endurecimento repentino da resistência
polonesa, a captura da capital Varsóvia tornou-se muito mais difícil do que
se esperava. A Luftwaffe foi chamada a intervir, e cerca de 400
bombardeiros passaram a castigar a capital polonesa. No dia 27 de
setembro, a campanha da Polônia chegou ao fim.
Considerando o que conseguira, as perdas da Luftwaffe foram
extremamente leves nesse primeiro combate. Um total de 413 tripulantes
foi morto ou estavam desaparecidos e outros 126 haviam sido feridos.
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Perdera 285 aviões e 279 foram danificados. Sobre a Polônia, os Stukas
fizeram um sucesso extraordinário, sucesso esse plenamente explorado
pelos propagandistas nazistas. Praticamente sem oposição aérea ou
terrestre, os pilotos aproveitavam ao máximo a elevada precisão do ataque
de mergulho. A legenda do Stuka, que nascera na Guerra Civil Espanhola, foi
confirmada numa realidade aterradora.
Depois da vitoriosa campanha da Polônia, as unidades de combate da
Luftwaffe retornaram às suas bases, na Alemanha, para descansar e se
reequipar. Tanto para os alemães como para seus adversários britânicos e
franceses, este foi um momento de calma, espera e de preparo para as
batalhas que 1940 trairia, sendo esse período adequadamente chamado de
"Guerra Falsa".
Enquanto as tropas de terra se confrontavam ao longo da Frente
Ocidental estática, o planejamento germânico estava em constante
atividade. Para os alemães, o esforço principal consistiria numa ofensiva
coordenada de invasão da Holanda, Bélgica e França, mas Hitler insistia,
porém, que em primeiro lugar fossem ocupadas a Dinamarca e a Noruega,
para garantir seu flanco setentrional, de modo a antecipar-se a uma possível
ação britânica contra a Escandinávia e o Báltico.
Em 9 de abril de 1940, os alemães atacaram aqueles dois países.
Enquanto que forças blindadas avançavam quase sem oposição, pela
Dinamarca e navios da marinha alemã desembarcavam soldados nas ilhas
dinamarquesas e em Oslo, Kristiansand, Bergen, Trondheim e Narvik na
Noruega, tropas pára-quedistas alemães saltavam sobre dois aeródromos em
Aalborg (Dinamarca), perto de Copenhague. Dias depois a capital
dinamarquesa estava em mãos alemães, e antes de terminar o dia, o rei e o
governo dinamarqueses deram ordens de cessar fogo.
Os desembarques nos portos noruegueses foram coordenados com
ataques aéreos aos aeródromos próximos, aniquilando praticamente toda a
força aérea norueguesa no solo. As tropas aerotransportadas ocuparam-nos
e eles tornaram-se bases avançadas para os Stukas e caças bimotores em
missões de apoio às tropas terrestres. Durante a invasão da Noruega, os
alemães utilizaram sua frota de transporte de cerca de 500 Ju-52, e a
habilidade em transportar forças com rapidez desempenhou papel
importante no pronto estabelecimento da área de defesa alemão no sul da
Noruega.
Quando as primeiras tropas britânicas e francesas desembarcaram
na Noruega, em Navik, Namsos e Andalsnes, nos dias 15, 16 e 17 de abril, os
alemães já haviam conseguido um ponto de apoio firme ao sul, e a Luftwaffe
passou logo a atacar violentamente os pontos de desembarque aliados e os
navios mercantes que traziam suprimento e reforços. O Fliegerkorps X,
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principal unidade consignada para operar na Noruega, era constituída de 710
aviões de combate (360 bombardeiros, 50 Stukas, 50 caças monomotores,
70 caças bimotores, 60 aviões de reconhecimento e 120 aeronaves navais).
A RAF foi incapaz de intervir com eficiência, e todas as tentativas
feitas para estabelecer bases de caças foram infrutíferas, visto que as
aeronaves de reconhecimento alemães estavam sempre atentas e logo
bombardeiros eram enviados, inutilizando o campo. Em terra os alemães
avançavam para o norte e no começo de maio as tropas aliadas tiveram de
ser evacuadas de Andalsnes e Namsos, no centro do país. Em 10 de junho, as
forças restantes que estavam em Narvik, mais ao norte, também foram
obrigadas a retirar-se.
A Luftwaffe foi um fator importante no sucesso da campanha
norueguesa. A tomada dos aeródromos pelas unidades aeroterrestres
possibilitou que os bombardeiros e caças de longo alcance ali operassem,
atrasando seriamente o movimento de tropas britânicas e francesas, e o
domínio do ar revelou ser uma vantagem tremenda, e muitas vezes decisiva,
num país onde as comunicações com o interior eram ruins.
Mas nem bem se encerra a batalha pela Noruega, e já os alemães
haviam penetrado na própria França. A planejada invasão alemã à França, em
maio de 1940, representou um risco calculado, pois em lugar de pequenos
movimentos de pinças, tão eficazes durante a campanha da Polônia, o
exército alemão decidira utilizar uma poderosa cunha com blindados, de
mais de 320 km de comprimento, que assim que atingissem o Canal da
Mancha, dividiriam os dois grupos de exércitos que defendiam a França,
podendo elimina-los um de cada vez.
Agora é que a Luftwaffe realmente teria uma oportunidade de
mostrar o que poderia fazer. Contudo, antes da fase inicial do avanço para a
França, os alemães acharam necessário assegurar seu flanco setentrional,
invadindo a Bélgica e a Holanda, dois países até então neutros. As forças
aéreas holandesas e belgas foram virtualmente postas fora de combate,
enquanto que as forças aéreas britânicas e francesas no norte da França,
foram seriamente debilitadas.
Mais uma vez os alemães empregaram forças aerotransportadas,
conquistando os três aeródromos de Haia, juntamente com a vital ponte de
Moerdijk, perto de Roterdã, além do espetacular sucesso do assalto ao
forte de Eben-Emael.
No dia 13 de maio, às 16h, a primeira leva de bombardeiros alemães
– Stukas Ju-87 – chegam à margem esquerda do Rio Mosa, para começar a
debilitar as posições francesas do X Corpo. Com a artilharia francesa
esmagada, e seus infantes encolhidos, aturdidos, nas trincheiras, a 1ª
Divisão Panzer do General Heinz Guderian garantiu uma cabeça-de-ponte na
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margem oeste do rio, com pouquíssimas baixas. Ao anoitecer as colinas de
Marféy já haviam sido tomadas e no dia seguinte pontes flutuantes sobre o
rio Mosa, perto de Sedan já estavam sendo utilizadas pelas tropas
germânicas. Neste mesmo dia, a RAF e a Força Aérea Francesa, enviaram
todos os bombardeiros disponíveis, com ordens de destruir essas pontes,
mas a caça alemã estava atenta, e foram derrubados 40 dos 71
bombardeiros enviados, e as pontes permaneceram intactas.
O fracasso dos contra-ataques aéreos e terrestres aliados foi o
momento decisivo da Batalha da França. Os blindados alemães começaram a
penetrar em direção à costa e, não havia nada que os britânicos e franceses
pudessem fazer. Ao mesmo tempo, a Luftwaffe bombardeava
incessantemente os aeródromos aliados e os Stukas abriam caminho para os
Panzers. Assim que recebia informes sobre pontos de resistência que
detinham a penetração das tropas terrestres, a Luftwaffe atacava.
Fazendo até nove saídas por dia com seus Stukas, os alemães conseguiram
paralisar todas as tentativas dos britânicos e dos franceses de deter seu
avanço.
No dia 18 de maio, os alemães já estavam no rio Somme, e dois dias
depois, tendo percorrido mais de 100 km, já alcançavam a costa em
Noyelles. O audacioso plano alemão tivera êxito, os exércitos aliados
estavam divididos. Era o começo do fim da Batalha da França.
A velocidade do avanço alemão apresentou alguns problemas de
logística, principalmente para a Luftwaffe, cujas unidades estavam mudando
de base quase que diariamente. A maior parte do suprimento era
transportado por via terrestre, mas o essencial era transportado pela força
de transporte equipadas com Ju 52.
Ao alcançarem a costa, os blindados alemães se desviaram para o
norte, de modo a cercar as tropas aliadas, e em 24 de maio, já estavam em
Calais. Ao anoitecer do dia 26 de maio, as tropas inglesas e francesas,
isoladas no norte da França, começaram a ser evacuadas pelo porto de
Dunquerque. Ao mesmo tempo que avançavam, as tropas blindadas alemães
iam perdendo tanques, principalmente por problemas mecânicos, e já
estavam chegando à exaustão. Hitler temia que um ataque direto contra
Dunquerque poderia atolar seus blindados nos terrenos pantanosos que
cercavam o porto, mas Göring exigia que à sua Luftwaffe fosse permitido
acabar com as tropas aliadas. Aceitando a certeza, dada por Göring, e
receando arriscar as preciosas divisões blindadas em terreno desfavorável,
Hitler ordenou que o exército parasse o avanço a 20 km de Dunquerque. Era
a vez da Luftwaffe.
Göring utilizou uma força de uns 500 caças e 300 bombardeiros
contra as embarcações. Era uma força teoricamente impressionante, mas as
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unidades aéreas vinham de duas semanas seguidas de combates e estavam
desgastadas. Além disso, as formações alemães eram atacadas pelos caças
britânicos, que operavam no sul da Inglaterra, e a menos que houvesse
escolta cerrada de caças, os bombardeiros, especialmente os Stukas,
sofreriam pesadas baixas. Pela primeira vez, a Luftwaffe topava pela frente
com uma força aérea de moral e habilidade semelhantes a ela, e equipada
com aeronaves modernas.
Os ataques alemães causaram muitas baixas entre as tropas
terrestres aliadas e afundaram muitos navios, mas não conseguiram impedir
a evacuação. Quando o último navio se afastou da praia de Dunquerque, na
manhã do dia 4 de junho, 338 226 homens haviam sido levados para a
Inglaterra.
Uma vez terminada a evacuação de Dunquerque, a Luftwaffe retornou
ao apoio às forças terrestre que avançavam em direção a Paris. No dia 14 de
junho a capital francesa caiu e, onze dias depois o governo francês pedia a
paz. A campanha no Ocidente terminara, em apenas 46 emocionantes dias.
Só restava de pé um adversário, que não se deixaria dobrar: a Grã Bretanha.
O primeiro revés: A Batalha da Inglaterra
Quando os alemães começaram a planejar a invasão da Grã-Bretanha,
tudo estava baseado no mesmo tratamento dado ao assalto ao Rio Mosa, mas
numa escala maior. Era uma operação que implicaria na travessia de uma
barreira aquática, e como antes, os bombardeiros de mergulho tomariam o
lugar da artilharia. A Luftwaffe deveria estabelecer uma superioridade
aérea e Göring estava preparado para admitir que o aniquilamento da RAF
demoraria um pouco mais do que dois dias, como foram necessários para
bater as outras forças aéreas da Europa.
Durante o mês de julho, as Luftflotten II e III foram reforçadas
com caças e bombardeiros, e juntas contavam com 2 600 aviões, assim
distribuídos:
. BOMBARDEIROS
1 200
. STUKAS
280
. CAÇAS MONOMOTORES
760
. CAÇAS BIMOTORES
220
. OUTROS
140
Além disso havia a Luftflotte V, na Noruega, que dispunha de 190
aeronaves (130 Bombardeiros, 30 Caças Bimotores e 30 Aeronaves de
Reconhecimento).
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A tarefa básica da Luftwaffe, consistiria na eliminação da RAF como
força de combate efetiva e no estrangulamento do tráfego marítimo,
mediante ataques aos portos e aos navios mercantes.
No início, a Luftwaffe realizou leves ataques de sondagem e sortidas
para lançamento de minas. Essas operações prosseguiram até o dia 13 de
agosto, o Adler Tag (Dia da Águia), quando o combate agora conhecido como
Batalha da Grã-Bretanha começou de verdade. Naquele dia, a Luftwaffe
lançou 845 bombardeiros e 1 000 caças em ataques contra as cidades de
Portsmouth e Southhampton, e contra os aeródromos localizados nos
condados de Hampshire e Kent. Nesses combates os alemães perderam 45
aeronaves e a RAF 13. Dois dias depois, a Luftwaffe atacou com uma força
de 520 bombardeiros e 1 266 caças, e novamente a balança pendeu para o
lado dos ingleses: foram derrubados 75 aeronaves atacantes contra 34
caças da RAF.
O ritmo das operações prosseguiu durante todo o restante de agosto
e começo de setembro. Então, no final da primeira semana se setembro,
após uma série de ataques de bombardeiros da RAF a Berlim, Göring deu
ordens para que Londres se transformasse no principal alvo dos
bombardeios. O objetivo era quebrar o moral do povo britânico.
Na tarde do dia 7 de setembro, uma força de 372 bombardeiros
escoltada por 642 caças, partiu para atacar a capital britânica. Como a RF
estava esperando ataques a seus aeródromos, a maioria dos bombardeiros
pôde chegar ao alvo sem ser molestada, embora algumas esquadrilhas
alemães tivessem sido severamente atacadas durante o vôo de regresso. A
área do cais de Londres foi severamente atingida e densas nuvens de
fumaça negra subiam de tanques de armazenamento de óleo incendiados.
Naquela noite, Göring informou a Hitler, cheio de júbilo, que “Londres está
em chamas”, e que nesta “hora histórica”, sua Luftwaffe “pela primeira vez
desfechara um certeiro golpe contra o coração do inimigo”. Dois dias depois,
um novo ataque nas mesmas condições, custou aos alemães 28 aeronaves.
Já nessa época, todos os escalões da Luftwaffe, começaram a
compreender que não iriam vencer a batalha com tanta facilidade. O que
saíra errado?
Para destruir o Comando de Caças da RAF, os alemães tinham que
atrair os caças britânicos para o ar e destruí-los ali, ou então bombardear
os seus campos de pouso. Mas logo ficou evidente que os mal-armados
bombardeiros alemães eram incapazes de se defender adequadamente dos
caças britânicos, e assim só poderiam realizar missões se muito bem
escoltados, e os caças Me-110 bimotores utilizados na escolta não eram
páreo numa luta com os Spitfires e Hurricanes. Assim, coube aos Me-109
monomotor, a tarefa de enfrentar os caças britânicos, mas como seu raio de
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ação era muito pequeno, só podiam proporcionar cobertura até Londres,
quando partiam de bases situadas na área de Calais, ou até pouco além de
Portsmouth, quando partiam dos aeródromos da área de Cherburgo, e
mesmo assim, com pouquíssimo tempo para combate. De modo a economizar
combustível, as rotas de ataque eram diretas, e essa inflexibilidade de
trajeto facilitou muito o trabalho das defesas britânicas.
A questão da escolta dos bombardeiros continuou sendo um grande
problema para os alemães durante toda a batalha. Depois de reunidos em
formação, cada Gruppe de caça tinha que se juntar a seus bombardeiros
quando esses estivessem cruzando a costa francesa, mas como as
comunicações de rádio entre os caças e os bombardeiros eram muito ruim,
essa coordenação era difícil. Foi muito comum que alguns Gruppen
escoltassem bombardeiros errados, propiciando dupla cobertura a
determinada esquadrilha de bombardeiro enquanto outras ficavam sem
nenhuma.
Retirando a maioria de seus esquadrões de caça para aeródromos
fora do alcance dos Me-109, o comandante da caça britânica, Marechal-doAr Dowding, transformou o plano de ataques aéreos às suas bases num
grande problema para os alemães.
O ponto culminante dos ataques em grande escala à capital britânica
ocorreu no dia 15 de setembro, com duas incursões. A da manhã, foi
interceptada por 24 esquadrões de Spitfires e Hurricanes e a da tarde por
31 esquadrões. O resultado foi uma série de combates duros sobre toda a
região sul da Inglaterra. Naquele dia a Lutfwaffe perdeu 60 aparelhos e
marcou o último dos ataques diurnos, realmente grandes, a Londres. Daí em
diante, a atividade alemã em céus britânicos durante o dia começou a
diminuir.
Também desse dia em diante os alemães passaram a utilizar cada vez
mais os Me-109 como caça-bombardeiros, com uma bomba de 250kg sob a
fuselagem ou o Me-110 com duas bombas de 250kg e quatro de 50kg, para
atacar Londres. Cada Gruppe de caças-bombardeiros era escoltado por um
Gruppe de caça. Às vezes o Gruppe de escolta que voava bem acima dos
caça-bombardeiros tinha um Staffel seu com bombas. Logo, se a força
principal de caças-bombardeiros fosse atacada pelos caças britânicos e a
escolta mergulhasse para protegê-los, o Staffel que vinha voando com a
escolta prosseguia até o objetivo. Esse ardil funcionou em várias ocasiões.
Mas, por ser pequena a capacidade de transporte de bombas desses
caças-bombardeiros e menor ainda a precisão do ataque a grande altitude,
eles não conseguiam causar danos concentrados. Esses ataque não passavam,
por isso, de incursões de inquietação.
12
A batalha para destruir a RAF terminara, e os pilotos de caça
britânicos permaneciam tão ativos quanto antes. Durante o período de 10 de
julho a 31 de outubro, a Luftwaffe perdeu 1 733 aeronaves para destruir
915 caças britânicos. Na verdade, a partir do começo de outubro, os
Messerschmitt incursores não passavam de mera presença simbólica da
Alemanha sobre Londres, já que os principais ataques á cidade passaram a
ser feitos à noite, quando as defesas britânicas eram muito menos eficazes.
Os bombardeiros noturnos haviam começado em agosto, quando a
Luftwaffe atacou a cidade de Liverpool. Em 7 de setembro, teve início os
ataques noturnos contra Londres, e entre essa data e o dia 13 de novembro,
os alemães bombardearam a capital britânica quase que todas as noites, com
uma força diária média de 130 aparelhos.
Durante esses ataques, as tripulações alemães gozavam da
possibilidade de utilizar seus altamente desenvolvidos raios Knickebein
(Perna Torta) para achar os objetivos. Esse sistema empregava poderosos
transmissores terrestres de raios eletromagnéticos instalados na França,
Alemanha, Holanda e Noruega, situados de modo a lançar seus feixes
orientados sobre a Inglaterra. O operador de rádio do bombardeiro alemão
captaria os sinais do Knickebein: se ouvisse pontos e traços, sabia que
estava de um lado ou de outro do feixe, mas se ouvisse uma nota constante,
sabia estar no centro do feixe. Utilizando dois transmissores, um para
orientar o avião durante a aproximação e outro cruzando sobre o alvo,
ficava fácil para as tripulações alcançarem o ponto correto de lançamento
das bombas. O Knickebein era um dispositivo simples, utilizável por todos os
bombardeiros bimotores alemães.
Poderia ter guiado os bombardeiros alemães até as cidades britânicas
com precisão, não fosse o Serviço de Inteligência Inglês ter descoberto e
se inteirado da importância e do perigo representado pelo sistema. Por
ordem de Churchill, a RAF formou uma organização especial para interferir
nos sinais do Knickebein. As tripulações dos bombardeiros alemães logo
descobriram que, quando realmente precisavam do Knickebein, ele era inútil
sobre a Inglaterra.
Frustrados em seu plano inicial, os alemães tentaram uma outra
tática. Uma unidade, o Kampfgruppe 100, utilizando bombardeiros Heinkel
111, foi equipada com um sistema melhorado de feixes de ondas
eletromagnéticas, de codinome X-Gerät, muito mais complexos que o
Knickebein e que só poderia ser utilizado por tripulações muito bem
treinadas. Era, porém, muito preciso. A idéia era fazer com que o
Kampfgruppe 100 chegasse sobre o alvo antes dos outros e o iluminasse com
bombas incendiárias lançadas com precisão. Então o resto da força
atacante, já sem o Knickebein, lançaria suas bombas nos locais indicados
13
pelos incêndios (anos depois, a RAF utilizou essa mesma tática com os
Mosquitos Pathfinders e os Lancasters).
A primeira missão utilizando essa tática foi um sucesso. A cidade de
Conventry foi atacada por 449 bombardeiros durante 10 horas seguidas no
dia 14 de novembro, que lançaram 56 toneladas de bombas incendiárias, 394
toneladas de bombas explosivas e 127 minas. Como resultado, grande parte
do centro da cidade ficou em ruínas e 21 fábricas importantes, 12 delas
dedicadas à produção de aviões foram seriamente atingidas. Quinhentas e
cinqüenta pessoas morreram e 800 ficaram feridas.
Mais uma vez o Serviço de Inteligência Britânico já estava na pista
do X-Gerät e já se produzia equipamento adequado para causar
interferência em sua operação. Quando os alemães tentaram repetir em
Birmingham, a 19 de novembro, a destruição de Conventry, a RAF estava
preparada. O Kampfgruppe 100 teve muita dificuldade em achar a cidade e
terminou provocando incêndios esparsos ao sul da mesma. Quando a força
de ataque principal chegou, ficou vagando a esmo durante algum tempo
antes de despejar suas bombas numa ampla área. O ataque foi um fracasso,
assim como outro, desfechado no dia seguinte.
Nos meses seguintes, o Kampfgruppe 100 liderou muitos ataques, mas
devido a crescente interferência eletrônica provocada pela RAF, nunca mais
a Luftwaffe obteve os mesmo resultados alcançados em Conventry. No final
de 1940, os alemães introduziram mais um aparelho para ajudar seus
bombardeiros a atingir os alvos, o Y-Gerät, mas os britânicos também o
descobriram e nele interferiram. Mesmo quando atacavam objetivos que não
dispunham de proteção eletrônica adequada, os alemães ainda tinham que
lidar com incêndios de engodo (os Starfish) provocados pelos britânicos
para confundi-los.
Durante todo o tempo de ataques noturnos e diurnos à Grã-Bretanha,
uma unidade alemã, a I/KG 40 travara, praticamente sozinha, uma luta
contra os navios mercantes no Atlântico. Operando de Bordeaux e Merignac
na França e de Stavanger, Sola, Trondehein e Vaernes na Noruega, os
Fw-200 Condor, quadrimotores, realizavam vôos sobre a costa ocidental das
Ilhas Britânicas, atacando os navios que encontrassem. Essa unidade,
durante os três primeiros meses de 1941, afundou 88 navios, num total de
390 mil toneladas. Esses números são muito significativos, visto que a
unidade nunca operou com mais de oito aviões.
Isso estava bom demais para os alemães. Logo os navios mercantes
passaram a ser equipados com baterias antiaéreas, e após acordo com os
Estados Unidos, a Royal Navy recebeu 50 velhos destróiers da US Navy, em
troca do uso das bases inglesas no Caribe. O resultado é que na primavera
de 1941, os ataques dos Fw-200 aos navios mercantes tornaram-se cada vez
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mais arriscados. Os pilotos alemães passaram só a atacar quando tinham o
elemento surpresa a seu lado.
Logo as limitações do Fw-200 começaram a se manifestar, pois esse
avião, que era uma versão militar de uma aeronave civil, possuía uma
estrutura frágil e não era capaz de resistir aos danos comuns de um
combate.
No começo de 1941, primeiramente em pequenos números e depois,
em maio, numa verdadeira avalanche, o grosso da Luftwaffe, com exceção
de poucas unidades de combate (a Kampfgeschwader 40, com seus Fw-200 e
duas Jagdgeswader) que ficaram na França, partiu para o ataque à Rússia.
Essa força deveria retornar á França para reiniciar seus ataques à GrãBretanha umas seis semanas depois da ofensiva no leste – estimativa de
Hitler sobre o tempo que os russos poderiam resistir. Porém, quando
retornaram à França, eram apenas uma sombra do que foram.
Assim terminaram as três fases do ataque destinado a eliminar a
Grã-Bretanha. Primeiro houve a tentativa de destruir a RAF e deixar a GrãBretanha livre contra os ataques aéreos. Depois, os alemães tentaram minar
a resistência do povo britânico mediante ataques diurnos (2ª fase) e
noturnos (3ª fase) aos centros urbanos. Todas fracassaram.
Pela primeira vez na guerra, a até então invencível Luftwaffe
experimentou o gosto amargo do fracasso. Treinada e equipada como arma
aérea tática, era de se prever que fracassasse como arma estratégica. E,
nesse processo, sofreu muitas perdas em aviões e – o que foi muito pior –
em homens treinados. O mito da invencibilidade da Luftwaffe
comprometera-se para sempre.
Nos Bálcãs e no Mediterrâneo
A Luftwaffe começou a se deslocar para leste em janeiro de 1941, e
em março já possuía cerca de 400 aviões de combate na Romênia, prontos
para atacar a Grécia. Os alemães contavam com a colaboração iugoslava, mas
um golpe de estado, expulsou o governo pró-alemão daquele país. Hitler
então decidiu que teria que ocupar não só a Grécia como também a
Iugoslávia, para garantir seu flanco meridional, antes da ofensiva na Rússia.
Em menos de dez dias, outros 600 aparelhos se deslocaram mais de
1 600 km, mostrando o exemplo de mobilidade da Luftwaffe. Ela recebera
uma surra da Royal Air Force nos céus da Grã-Bretanha, mas ainda era
superior a qualquer das outras forças aéreas da Europa.
Em um domingo, dia 6 de abril, os alemães atacaram a Iugoslávia. O
ataque iniciou-se com um violento bombardeio contra a capital Belgrado,
realizado por 150 aeronaves, com poderosa escolta, que superou sem
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problemas as fragilíssimas defesas de caças e antiaéreas iugoslavas. O
resultado foi catastrófico: cerca de 17 mil pessoas jaziam mortas entre as
ruínas da cidade. Tendo alcançado seu objetivo, a Luftwaffe voltou-se então
a apoiar o exército, atacando concentrações de tropas, linhas de
comunicação e alvos na área de combate, e como já acontecera antes, a
combinação apoio aéreo e blindados mostrou-se irresistível. Os iugoslavos
renderam-se 12 dias depois.
O ataque simultâneo à Grécia foi igualmente bem sucedido. Na
primeira noite, Junkers 88 atacaram o maior porto grego, em Pireu, próximo
a Atenas, atingindo um navio carregado de munição, que ao explodir,
praticamente destruiu-o. Num único golpe, as forças gregas e britânicas,
foram privadas do único local bem equipado para desembarque de
suprimentos.
Com apoio cerrado da Luftwaffe, as tropas terrestres avançaram
rapidamente pela Grécia. Em 24 de abril, enquanto tropas britânicas
travavam prolongado combate para atrasar os alemães, os primeiros homens
da força expedicionária eram evacuados pelo mar. Três dias depois os
alemães chegam a Atenas, e a 28 de abril – passadas apenas três semanas
do início da campanha – as últimas forças britânicas ainda em território
grego se rendem.
Ainda antes da captura final da Grécia, os estrategistas alemães já
estavam estudando o último objetivo da limitada campanha dos Bálcãs: a ilha
de Creta. Em 25 de abril, Hitler assinou sua 28ª diretiva de guerra,
determinando a invasão da ilha. O Comando da operação é confiado ao
Comandante Chefe da Luftwaffe, que empregará as forças
aerotransportadas e as forças aéreas estacionadas na área do
Mediterrâneo. Ao contrário do que ocorria com outras nações, as tropas
aerotransportadas alemães eram parte integrante da força aérea, e não do
exército. Daí a responsabilidade da Luftwaffe pelo ataque a Creta.
Para essa invasão, foram reunidas nos aeródromos dos arredores de
Atenas, uma força de transporte com 493 Junkers 52 mais uns 100
planadores de assalto DFS 230. O apoio seria dado pela Fliegerkorps VIII
com 650 aparelhos.
Em apenas quatro dias, a Luftwaffe eliminou a oposição aérea
britânica sobre a ilha, e agora os bombardeiros começavam as operações
sistemáticas de debilitação das defesas terrestres.
O assalto aerotransportado a Creta iniciou-se na manhã do dia 20 de
maio, precedido por uma hora de ataques intensos contra as defesas em
torno das zonas de salto. Os pára-quedistas e planadores desceram sobre
Máleme, Canea, Rétimo e Heraklion, em desembarques sincronizados com os
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ataques dos bombardeiros, de modo que as tropas pudessem aproveitar as
recém-criadas crateras de bombas para proteção.
No início, as tropas alemães progrediram muito pouco e sofreram
pesadas baixas, mas com o apoio amplo das unidades aéreas, puderam aos
pouco arrancar as tropas britânicas, neozelandesas, australianas e gregas
das suas posições. O momento decisivo ocorreu na tarde do dia 21 de maio,
quando o aeródromo de Máleme foi tomado. Muito embora a pista de pouso
ainda estivesse sob fogo de artilharia, dezenas de Junkers 52 aterrisaram
com novas tropas e suprimentos muito necessários. Ao mesmo tempo, a
Fliegerkorps VIII impedia que os defensores recebessem reforços e
suprimentos. As coisas pioraram para os aliados, e a 28 de maio a Royal
Navy começou a evacuar os homens da ilha. Em apenas dois dias, mais de 16
mil homens foram evacuados. No dia 1º de julho os restantes foram
obrigados a render-se.
Desde o começo da guerra no Mediterrâneo, a pequena ilha de Malta,
pertencente à Grã-Bretanha e situada a 100 km ao sul da Sicília, foi um
tormento para as alemães e italianos. Durante os meses de fevereiro e
março de 1941, o Fliegerkorps X e algumas unidades da Força Aérea Italiana
desfecharam violentos ataques aéreos contra a ilha, visando principalmente
a baía da capital Valetta e os aeródromos. Quase toda a força de
bombardeiros esteve empenhada nessa tarefa. A intervalos regulares, eles
desfechavam ataques sincronizados tanto de bombardeio de nível como de
mergulho, além de ataques a baixo nível. Em abril, os ataques começaram a
diminuir, à medida que crescia a necessidade de aeronaves em outras
frentes de batalha.
Durante a primavera de 1941, os olhos de Hitler estavam firmemente
voltados para o objetivo principal: a Rússia. Uma vez eliminada a ameaça
bolchevista, coisas insignificantes, como a ilha de Malta, poderiam ser
atacadas tranqüilamente.
Rússia e o vitorioso avanço para o leste
Os alemães em geral, e Hitler em particular, há muito consideravam a
Rússia uma fonte de perigo e, a despeito do pacto de não-agressão
existente entre as duas nações, eles não confiavam muito uma na outra. Os
avanços russos para oeste, desde 1939, quando ocuparam a Letônia, a
Estônia, a Lituânia e também partes da Polônia, da Romênia e da Finlândia,
serviram para fortalecer a certeza de que cedo ou tarde, a Alemanha se
veria em guerra com a Rússia.
Entre 1939 e 1941, os efetivos do exército vermelho cresceram de
65 para 158 divisões, sendo que a maioria delas estava ao longo de sua
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fronteira ocidental, ao mesmo tempo em que as forças armadas russas
vinham sofrendo um amplo programa de modernização e de reequipamento.
Até hoje não se tem certeza de que os russos pretendiam invadir a
Alemanha. Sabe-se, no entanto, que Hitler pensava que eles atacariam e,
assim pensando, resolveu golpear primeiro.
No final de julho de 1940, depois de encerrada a campanha da França,
mas muito antes de iniciada a batalha da Grã-Bretanha, Hitler deu as
primeiras ordens no sentido de se iniciar o planejamento do ataque à Rússia,
e em meados de novembro daquele ano, a Luftwaffe dava início ao
detalhamento dos estudos.
Göring fez de tudo para convencer Hitler a mudar sua atitude,
entretanto seus diversos apelos foram inúteis – o Füher recusou deixar-se
convencer. Seu principal argumento era de que uns poucos, mas malequipados finlandeses não haviam quase derrotado os russos na Guerra de
Inverno de 1939? O que não fariam os poderosos alemães ?
A invasão da Rússia teve o codinome “Barbarossa”, em homenagem ao
Imperador alemão da 3ª Cruzada, Frederico Barbaraossa. O ataque deveria
iniciar-se no começo de maio de 1941, mas o degelo incomumente tardio fez
com que a operação fosse transferida para a terceira semana de junho. A
perda destas quase seis semanas teria conseqüências decisivas, mais tarde.
De modo a manter em segredo as intenções germânicas, a maioria das
unidades aéreas destacadas para a operação, permaneceu na Alemanha ou
mesmo nos territórios ocupados do Ocidente, até o começo de junho de
1941. Então, num espaço de três semanas, vários Gruppen dirigiram-se
rapidamente para as bases previamente destinadas a cada um e lá
permaneceram cuidadosamente camuflados.
Quando o ataque começo, pouco após o amanhecer do dia 22 de junho,
a Luftwaffe dispunha para a operação cerca de 2 770 aparelhos, a saber:
775 Bombardeiros, 310 Stukas, 830 Caças Monomotores, 90 Caças
Bimotores, 710 Aeronaves de Reconhecimento e Ligação e 55 Aeronaves
Navais.
O esforço alemão para despistar os russos trouxe generosos
dividendos durante a fase inicial da operação, já que aqueles foram pegos
completamente de surpresa. Como sempre, o alvo inicial da Luftwaffe era a
força aérea adversária, e por isso, os aeródromos russos ao longo de sua
fronteira ocidental foram submetidos a violentos ataques aéreos. O sucesso
dos ataques superou todas as expectativas mais otimistas dos alemães.
Aviões de combate soviéticos eram destruídos às centenas. A publicação
oficial soviética de pós-guerra “História da Grande Guerra Patriótica da
União Soviética” registra que apenas no primeiro dia de combate foram
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destruídos cerca de 1 200 aviões soviéticos, dos quais mais de 800 em
terra.
Embora a perda material tenha sido grande e a força aérea soviética
durante algum tempo, praticamente tivesse desaparecido dos céus, as
perdas humanas foram leves. Com isso, o poder de recuperação, a longo
prazo, dos russos praticamente não foi afetado. Além disso, a falta de um
adequado bombardeiro de longo alcance, por parte da Luftwaffe, significava
que as importantes fábricas russas, situadas perto ou além dos montes
Urais, estavam fora do seu alcance.
Com a força aérea soviética fora de combate, a Luftwaffe retornou à
tarefa de apoiar o exército. Como já acontecera nas outras vezes, o rápido
avanço do exército alemão exigiu a maior mobilidade por parte das unidades
de caças e bombardeiros de mergulho e, uma vez mais, a organização da
Luftwaffe provou estar à altura da tarefa.
Uma das características notáveis da primeira parte dessa campanha,
foi o uso generoso que os alemães fizeram do reconhecimento aéreo, e com
isso, os comandantes do exército alemão conseguiam informações
detalhadas de todos os movimentos do inimigo nas áreas da retaguarda, bem
como das áreas de combate. O problema principal, na zona de combate,
consistia na distinção entre amigo e inimigo, e muitas aeronaves foram
abatidas pelo fogo antiaéreo, quando reduziam a altitude para identificar as
tropas de terra. Os alemães passaram então a identificar suas tropas com
painéis coloridos estendidos no chão, mas os russos também passaram a
utilizar essa tática, e em várias ocasiões ataques a concentrações de tropas
soviéticas foram canceladas, por falta de uma identificação perfeita. Às
vezes a situação em terra era tal, que riscos tinham que ser corridos, e por
diversas vezes, a Luftwaffe atacou tropas alemães. O apoio aéreo
aproximado, implica sempre, em grandes riscos. Numa campanha em que o
movimento rápido de forças blindadas era fundamental, o reconhecimento
aéreo mostrou-se de capital importância, mesmo sendo impreciso.
Durante o verão e o outono de 1941, os alemães penetraram
profundamente na Rússia, fazendo cerca de 2,5 milhões de prisioneiros,
capturando mais de 9 mil tanques e de 16 mil peças de artilharia. As tropas
blindadas fechavam os bolsões russos, e a Luftwaffe as atacava, eliminando
a necessidade de ataques por tropas de infantaria. Mas essas vitórias saíam
caras para a Luftwaffe, visto que diferentemente dos outros soldados, o
combatente russo não se atirava ao chão quando atacado por aviões, em vez
disso, abria fogo com suas armas, causando, por incrível que pareça, muitas
baixas à Luftwaffe. Em apenas três meses da campanha russa 2 631 aviões
da Luftwaffe foram destruídos ou danificados e as substituições não
acompanhavam o ritmo das baixas. Além disso, como a maioria dos aviões
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atingidos caía em território dominado pelos soviéticos, as perdas em
tripulações treinadas eram sérias e de substituição difícil. Gradativamente,
a Luftwaffe perdia poder de combate.
Para o Generaloberst Ernst Udet, Chefe do Setor de
Desenvolvimento de Projetos e Produção de Aviões da Luftwaffe, a
magnitude das perdas na Rússia foi a última gota d’água. Durante todo o
tempo em que esteve á frente do cargo, nunca conseguiu, apesar de todos os
esforços, colocar a produção de aeronaves nos níveis necessários. Enquanto
a Luftwaffe pode manter um nível de reservas forte, isso não foi tão ruim,
mas as pesadas perdas sofridas durante a batalha da Grã-Bretanha e agora
na Rússia mudaram o panorama. Os novos projetos, que viriam substituir os
He 111, os Ju 87 e o Me 110, que estavam ficando antiquados – o
bombardeiro He 177 e o caça-bombardeiro Me 210 – enfrentavam sérias
dificuldades de desenvolvimento, estando à beira do fracasso. Os erros
cometidos nos dois anos anteriores ao início da guerra se faziam sentir
agora. A saúde de Udet começou a fraquejar, e ele sofria de hemorragias e
dores de cabeça insuportáveis. Na manhã de 17 de novembro de 1941, Udet
matou-se. Por ordem de Hitler, as verdadeiras circunstâncias de sua morte
foram mantidas em segredo, e seu funeral foi realizado com honras de
estado. Em reconhecimento das suas magníficas realizações na 1ª Guerra
Mundial, de suas 62 vitórias em combate e dos grandes serviços prestados á
criação da Luftwaffe, seu nome foi perpetuado na Jagdgeschwader 3.
O sucessor de Udet foi Erhardt Milch, que desta forma, recuperou a
posição perdida em 1938. Ele iniciou imediatamente a reforma geral de toda
indústria aeronáutica alemã, de modo a eliminar a duplicidade e o uso
ineficiente de potencial humano e de recursos. Mas essas medidas não
teriam muito efeito sobre a situação dos equipamentos a curto prazo.
Quando as chuvas de outono começaram a cair em outubro de 1941, as
tropas alemães passaram a viver uma calamidade. O terreno antes firme
transformara-se em atoleiro; as estradas ficavam cobertas de grossas
camadas de pegajosa lama; o movimento das unidades de combate
motorizadas e as de abastecimento era quase impossível. Quando o avanço
dos blindados foi detido pela lama, os alemães estavam ás portas de Moscou
e haviam praticamente cercado Leningrado. Jamais tomariam, porém, essas
cidades.
Os alemães pagariam preço muito elevado pelo atraso do degelo da
primavera naquele ano, pois o maior dos aliados russos, o “General Inverno”,
atacou logo depois das chuvas de outono e antes que tivesse o invasor
obtido a vitória rápida e total que Hitler previra com tanta confiança.
Também, em dezembro de 1941, imediatamente após o ataque japonês à
20
Pearl Harbour, a Alemanha declara guerra aos Estados Unidos, fato que
mais tarde teria efeitos muito importantes.
O rigor do inverno russo pegou a Luftwaffe completamente
despreparada para enfrentá-lo. À parte de falta de uniformes de vôo
adequados ao frio intenso, o equipamento necessário para manter no ar a
força aérea em condições de tempo tão ruins não existia. Como os aviões
tinham que ficar ao ar livre, sob temperaturas de até –30°C, os motores e o
armamento dos aviões transformavam-se num bloco de gelo, sendo
necessário improvisar toda a sorte de dispositivos de aquecimento para
removê-lo.
A maioria das unidades de combate da Luftwaffe estivera
incessantemente em ação de junho até fins de outubro, tendo mantido um
índice médio de sortidas diárias entre 75 e 60 porcento. Considerando-se
que se manteve esse esforço todos os dias durante mais de quatro meses,
esses números ganham extraordinária significação, explicando por que pôde
a Luftwaffe realizar tanto durante os primeiros estágios da campanha
russa.
Em fins de 1941, a Luftwaffe tinha apenas 1 700 aviões de todos os
tipos no front russo, espalhados por uma frente de 3 200 km, que ia do cabo
Norte ao mar Negro. Devido, porém ás dificuldades de manutenção e
abastecimento, a taxa de unidades em operação caiu em alguns setores para
menos de 30 porcento. Os alemães precisavam desesperadamente de uma
pausa para tomar fôlego, a fim de se recuperarem dos esforços dos últimos
meses, mas não a teriam, pois no começo de dezembro o Exército vermelho
desfechou sua contra-ofensiva de inverno.
Diante dos ataques de divisões russas, descansadas e especialmente
treinadas e equipadas para luta de inverno, as exaustas tropas alemães
começaram a ceder terreno. A fantástica sombra que em 1812 desabou
sobre o Grande Exército de Napoleão levantava-se, gigantesca e
ameaçadora, diante dos germânicos, transformando qualquer tentativa de
retirada geral em derrota fragorosa. Diante disso, a ordem de Hitler para
que se mantivessem firmes a qualquer preço era, sem dúvida, correta. Em
fins de fevereiro de 1942, os alemães tinham conseguido em grande parte,
diante da poderosa pressão russa, estabelecer nova linha de defesa, embora
esta fosse criticamente frágil em certos lugares. Quando a frente, por fim,
se estabilizou, dois baluartes haviam sido isolados, um em Demyansk e
outro, menor, em Kholm. A Luftwaffe foi encarregada do abastecimento
daquelas tropas pelo ar.
Em Demyansk, uma pequena cidade situada a meio caminho entre
Moscou e Leningrado, os russos haviam isolado seis divisões do 16º Exército
Alemão, compreendendo cerca de 100 mil homens. A ponte aérea teve início
21
a 20 de fevereiro, quando os primeiros Ju 52, supercarregados, foram até o
bolsão, descarregaram e retornaram cheios de feridos. Os dois aeródromos
do bolsão, e o aeródromo alemão mais próximo (Pleskau, a 240 km de
distância, dos quais 160 km estavam em território controlado pelos russos)
só permitiam operações diurnas, mas a força aérea russa, sem ter
convalescido do severo castigo recebido no verão, foi incapaz de intervir
com eficiência no tráfego da ponte aérea criada.
A Luftwaffe conseguiu reunir uma força de quase 600 aviões de
transporte, e supriu a necessidade diária de 300 toneladas de suprimento.
O que se iniciara como expediente temporário, logo se transformou numa
operação que se prolongou até que o cerco fosse levantado, a 18 de maio de
1942.
A força cercada em Kholm era muito menor do que a dos arredores
de Damyansk (apenas uns 3 500 homens), mas os problemas para a
Luftwaffe eram muito mais sérios. Em primeiro lugar, não havia nenhum
aeródromo utilizável dentro do bolsão e os suprimentos tinham de ser
lançados por pára-quedas ou levados de planador. Foram utilizados dois
tipos de planadores: o DFS 230, com capacidade de uma tonelada e o Gotha
242, com capacidade de 2,5 toneladas. Os planadores faziam apenas uma
viagem, já que não havia meios de retirá-los do bolsão, e suas tripulações
eram usadas depois como soldados de infantaria. Os homens em Kholm
resistiram por três meses e meio antes de serem salvos por forças
terrestres alemães.
Essas duas operações custaram cerca de 300 aviões alemães,
excluindo-se os planadores, mas foram bem sucedidas na missão de manter
terreno e salvar unidades que, de outro modo, teriam sido perdidas.
O degelo começou em abril de 1942 e, com a lama resultante, as
atividades aéreas e terrestres praticamente pararam. Por fim, a Luftwaffe
ganhou a oportunidade de recobrar o fôlego para devolver ás unidades seus
efetivos em homens e equipamentos, em preparativos para a campanha de
verão. O Alto Comando Alemão decidira que a penetração principal seria
concentrada no sul, com objetivo de tomar as importantes áreas de
produção de petróleo do Cáucaso.
Mas, em primeiro lugar, era necessário garantir o flanco sul e, para
isto, os alemães teriam que ocupar o restante da Criméia e, em particular, a
fortaleza de Sebastopol.
O ataque a Sebastopol começou a 2 de junho, com ferocidade sem
precedente. Os alemães haviam reunido o mais poderoso agrupamento de
sítio já montado durante a guerra, que incluía morteiros de até 60 cm de
calibre, e até mesmo um canhão de 80 cm de calibre, que disparava granadas
de quase 5 toneladas cada uma. A Fliegerkorps VIII deu apoio aéreo,
22
enquanto que a artilharia de terra martelava as defesas. As unidades da
Luftwaffe realizaram então uma das mais intensas e organizadas operações
de bombardeio. Operando em bases situadas a dez minutos de vôo de
Sebastopol, os aviões chegaram a realizar 18 missões por dia, e as
tripulações descansavam a cada quatro surtidas. A despeito da tenaz
resistência, os defensores russos, superados em número e armamentos,
foram gradativamente expulsos das posições que sustentavam, e a fortaleza
caiu a 3 de julho.
Com o flanco sul garantido, os alemães puderam dar prosseguimento á
planejada penetração em direção aos campos petrolíferos do Cáucaso. A
ofensiva teve início no final de junho, e logo os blindados alemães estavam
avançando pela linha do Rio Don. Os bombardeiros estiveram empenhados
em operações sistemáticas contra os pontos de comunicações da retaguarda
russa, em especial as pontes, barcas e ferrovias, que foram violentamente
atacadas.
A 23 de agosto, os primeiros elementos do 6º Exército Alemão
chegou ao rio Volga, ao norte de Stanligrado. Todos os ataques iniciais para
tomar a cidade foram repelidos e, diante da resistência soviética, cada vez
mais intensa, os alemães foram obrigados a lutar ferozmente de rua em rua
e de casa em casa. O combate se arrastou por dois meses, e em pouco, os
adversários tinham na região, mais de 1 milhão de homens cada, apoiados por
mais de mil aviões. Com o apoio intenso da Luftwaffe, o 6º Exército
penetrou cada vez mais profundamente por entre as ruínas da cidade. Em
meados de novembro, os alemães haviam conquistado quase toda margem
ocidental do rio Volga. Era quase impossível aos russos resistir. Então, o
Exército Vermelho iniciou sua contra-ofensiva nos arredores da cidade.
A 19 de novembro, tropas russas, partindo do norte de Stalingrado,
começaram seu ataque. No dia seguinte os ataques começaram pelo sul. Três
dias depois, na tarde de 23 de novembro, os dois grupos se encontraram, e
fecharam no bolsão 22 divisões alemães, num total de 330 mil homens.
Hitler não estava disposto a tirar seus homens do Volga, e perguntou a
Göring se a Luftwaffe podia ou não abastecer os homens do 6º Exército. Tal
como já fizera anteriormente, Göring, que confiava na sua Luftwaffe,
respondeu que era possível. A sorte estava lançada.
Com base na promessa de Göring, Hitler deu ordens ao comandante
das forças sitiadas em Stalingrado, Generaloberst Paulos, no sentido de
defender a posição. A guarnição necessitava, no mínimo, de 700 toneladas
diárias de suprimentos, ou de 500 toneladas, se todos os cavalos fossem
mortos e sua carne utilizada para suplementar a ração diária dos
combatentes. Logo ficou claro que a Luftwaffe só conseguiria suprir 300
toneladas por dia.
23
A ponte aérea começou no dia 25 de novembro, mas tudo saiu errado
desde o início. As condições atmosféricas eram piores do que as das duas
operações anteriores, e a Luftwaffe só conseguiu entregar 65 toneladas
durante os dois primeiros dias e praticamente nada no terceiro. Somente no
sexto dia é que o total transportado atingiu cem toneladas - um terço do
que a Luftwaffe prometera e apenas um quinto das necessidades mínimas
absolutas do exército sitiado.
Para aumentar a capacidade de transporte, foram requisitados todos
os aviões possíveis. No começo de dezembro, estavam sendo empregados 10
Gruppen de Ju 52, dois Gruppem de bombardeios He 111, dois de Ju 86, um
de He 177, além de um Gruppe misto de Fw 200, Ju 90 e Ju 200 - um total
de 500 aviões. Mas, a despeito desse esforço, a Luftwaffe jamais pode
transportar a quantidade diária prometida de 300 toneladas. O mau tempo
reinante na área, os aeródromos improvisados, os vôos realizados sobre
território controlado pelo inimigo e enfrentando cada vez mais a caça e a
artilharia antiaérea russa, tudo isso contribuiu para prejudicar o esforço da
Luftwaffe. Na média, foram entregues apenas, 100 toneladas por dia.
Sofrendo de escassez de alimentos, combustível e munição
necessários para prosseguir a luta com eficiência, os alemães cercados
foram obrigados a ceder terreno. A 16 de janeiro, o principal aeródromo em
poder dos alemães, Pitommik, caiu; em seguida foi o de Gumrak. Os alemães
foram então obrigados a recorrer ao lançamento de suprimentos por páraquedas, método muito menos eficiente, porque deste modo, cada aparelho só
podia transportar metade da carga. Era o começo do fim para o 6º Exército.
Enfraquecidos pela fome, os soldados alemães não podiam recuperar os
recipientes lançados de pára-quedas que caiam na neve profunda. A 4 de
janeiro, Paulus manda comunicado a Hitler, solicitando permissão para
render-se, a fim de salvar a vida das tropas restantes. A resposta de Hitler
foi imediata:"A rendição está proibida".
Com fome e frio, ninguém tinha mais sensibilidade pelas exortações
do Füher, e a 2 de fevereiro, os 91 mil sobreviventes finalmente se
entregam. A mal sucedida tentativa de manter o 6º Exército abastecido
pelo ar custou à Luftwaffe 488 aviões. A maioria dessas baixas se deveu a
acidentes em decolagens a aterrissagens nos pessimamente equipados
aeródromos e aos caças russos.
A perda material sofrida pela Luftwaffe, embora não fosse pequena,
era de possível reposição, mas o programa de treinamento das tripulações
havia sofrido paralisação, quando aviões e instrutores foram mandados para
a Rússia. Além disso, a escassez de combustível de aviação, obrigou a
diminuição e até mesmo a paralisação de operações aéreas não relacionadas
com a operação de salvamento de Stalingrado, e quem voltou a sofre foi a
24
organização de treinamento. A redução em quantidade e qualidade, de novas
tripulações, ocorrida exatamente quando as perdas haviam sido muito altas,
causaria grande dano à capacidade de ataque da Luftwaffe.
A campanha de contenção no ocidente
Quando iniciou-se a campanha russa, em junho de 1941, a Luftwaffe
concentrou a maior parte de seu poder de ataque no leste. À Luftflotte III,
estacionada na França, restou apenas 130 Ju 88, Fw 200 e Do217,
basicamente empenhados a ataques a navios mercantes e no lançamento de
minas, destinados a interromper o comércio da Grã-Bretanha, além de dois
Geschwader de Me 109, destinados a defesa aérea.
Para a Alemanha, a defesa dos objetivos industriais era de
responsabilidade das unidades antiaéreas, que faziam parte da Luftwaffe, e
os alemães subestimaram a capacidade de seus canhões antiaéreos.
Assim que a RAF começou seus bombardeiros noturnos à Alemanha,
em maio de 1940, ficou claro que somente os canhões antiaéreos não seriam
suficientes. Assim, em junho de 1940, o Oberst Joseph Kammhuber, mais
tarde Generalmajor, recebeu ordens de Göring para criar uma força de
caças noturnos para combater os incursores britânicos.
Em fins de 1940, essa força de caças noturnos, já constava com 165
aviões, a maioria Me 110. As táticas então empregadas para interceptação
noturna dependiam de holofotes para iluminar os bombardeiros, quando
então os caças atacavam visualmente. Esse sistema era conhecido como
Helle Nachtjagd (Combate Noturno Iluminado) e com ele, os caças
obtiveram algumas vitórias. A desvantagem desse procedimento era que
como os holofotes só ficavam situados perto das grandes cidades, não se
podia interceptar os bombardeiros fora dessas áreas. Havia ainda o risco de
que os caças fossem iluminados pelo holofote e assim tornavam-se o alvo dos
artilheiros de terra, que então abririam fogo por engano. A solução adotada
foi a de se criar um cinturão de holofotes, longe das cidades e dos canhões
antiaéreos, ao longo da costa, desde a Alemanha Setentrional até a Bélgica,
quando então os bombardeiros seriam interceptados, a caminho dos seus
objetivos.
O sistema funcionava bem, nas noites claras sem nuvens, mas com o
céu meio encoberto, os pilotos da caça noturna tinham muita dificuldade em
realizar suas operações. Mais uma vez, a inventiva alemã se fez presente, e
foram introduzidos dois tipos de radar, o Freya, de longo alcance, e o
Würzburg, de precisão a curta distância. Controladores de terra, em
estações espalhadas a cada 32 km, operavam os radares e direcionavam os
caças a atacarem os invasores, antes da zona dos holofotes.
25
A caça noturna alemã foi ampliada, e ao final de 1941, possuía cerca
de 300 aparelhos, que operava, desde a Dinamarca, passando pela Alemanha,
Holanda, Bélgica, França indo até a fronteira da Suíça.
Até o começo de 1942, o Comando de Bombardeiros da RAF
preocupara-se sobretudo com a expansão e reequipamento, e seus ataques
eram mais um incômodo do que uma ameaça para os alemães. Mas a partir de
março de 1942, tudo isso mudou, quando uma força de 234 bombardeiros
arrasou grande parte de Lübeck. Essa incursão provocou muito
ressentimento na Alemanha e Hitler deu ordens a Luftwaffe para revidar.
No dia 23 de abril, 45 bombardeiros Do 217 atacaram a cidade de Exeter;
no dia seguinte outros 60; na terceira e quarta noite, o alvo foi Bath.
Após os ataques a Bath, vieram outros contra Norwich, York e
novamente Exeter. Incêndios de grandes proporções logo tomaram conta de
seus prédios medievais, sobretudo feitos de madeira e destruíram grande
parte da cidade. Durante o mês de maio, a Luftwaffe se concentrou em
atacar aldeias e cidades menos defendidas, mas no último dia do mês, a
cidade de Canteburry, com sua antiqüíssima catedral, foi atacada.
As defesas britânicas eram consideravelmente mais fortes do que as
do ano anterior, e cobraram pesado tributo aos incursores. Em apenas
quatro incursões do mês de julho, foram perdidos 27 bombardeiros, sem
que se causasse dano algum nas cidades atacadas. Apenas o
Kampfgeschwader 2, unidade de Do 217, que estivera profundamente
empenhada nos ataques à Grã-Bretanha durante os nove primeiros meses de
1942, chegou a perder por três vezes, o equivalente de seus efetivos em
aviões e tripulações, e com as exigências da frente russa, essas perdas não
foram compensadas e, a unidade que iniciara o ano de 1942 com 82
tripulações, em setembro só possuía 23.
Enquanto que a Luftflotte III fora incapaz de manter o impulso de
seu ataque á Grã-Bretanha, o Comando de Bombardeiros da RAF aumentara
sues efetivos. Em 30 de maio de 1942, por exemplo, uma força de mais de
mil bombardeiros atacou Colônia, danificando-a fortemente e fazendo lavrar
violentos incêndios. Durante o outono e inverno de 1942, os ataques
britânicos intensificaram-se, à medida que mais bombardeiros
quadrimotores entravam em serviço.
Em agosto de 1942, deu-se o início da ofensiva de bombardeiros
diurnos pela USAAF. No início, os B-17 atacavam apenas os objetivos
situados na França, Bélgica e Holanda, e por isso os pilotos da caça alemães
tiveram tempo de se acostumar com os novos adversários, e tenham ficado
espantados com o poderoso armamento das Fortalezas Voadoras, relutando
inclusive de atacá-las a curta distância. Mas logo ficou claro que as
metralhadoras dos bombardeiros não eram tão eficientes assim, e logo
26
recuperaram o velho espírito agressivo. O major Egon Mayer, comandante
da Jagdgeswader 2, analisando uma B-17 derrubada, concluiu que o melhor
método para atacar as B-17 era pela frente, onde seu armamento e sua
blindagem eram mais frágeis, e utilizando esse padrão, as unidades da
Luftwaffe conseguiram inúmeras vitórias contra os bombardeiros
americanos.
No final de 1942, as defesas da Alemanha propriamente dita,
compreendiam quase 400 caças noturnos e 200 diurnos, 600 baterias
antiaéreas pesadas (canhões de 88 mm, 105 mm e de 128 mm), 300 baterias
leves (canhões de 20 mm e de 37 mm), 200 baterias de holofotes e 40
baterias de balões. Até então essas defesas eram muito respeitadas pelos
britânicos, mas com o passar do tempo, as forças atacantes estavam
tornando-se mais experientes, e o ano de 1943 veria muitos combates
aéreos renhidos nos céus da própria Alemanha.
Após a derrota em Stanlingrado, foram introduzidas marcantes
mudanças no ponto de vista do Alto Comando da Luftwaffe, que passou a
admitir a impossibilidade de uma vitória rápida na Rússia, onde a maior
parte da força estava deslocada, bem como fico claro que a Luftwaffe
estava mal preparada para uma guerra prolongada, pois desde seu
nascimento fora preparada para campanhas rápidas (arriscavam e aceitavam
elevadas perdas, para obter uma vitória rápida). O treinamento foi relegado
a segundo plano, e o resultado de tudo isso é que no começo de 1943, a
Luftwaffe passou a enfrentar séria escassez de tripulações treinadas.
Além do colapso do programa de treinamento, acentuou-se a escassez
geral de aviões de combate atualizados. Em quase todos os casos, os tipos
em uso eram máquinas que estavam em serviço desde o início da guerra - a
única exceção era o caça Fw 190, e as duas outras aeronaves de
substituição, o bombardeiro pesado Heinkel 177 e o caça-bombardeiro Me
210 haviam encontrado dificuldades ainda não totalmente solucionadas. As
versões mais recentes do Me 109 e do Ju 88 ainda eram aviões de combate
de primeira classe, mas não se podia dizer o mesmo dos Me 110, do Ju 87 e
do He 11, que haviam chegado ao fim de suas possibilidades de
desenvolvimento.
Mas não era apenas em qualidade que os alemães estavam sendo
superados pelos aliados, mas também em quantidade. Com a entrada na
guerra dos Estados Unidos, com parte de seus recursos industriais
dedicados a fabricação de aviões de combate, era evidente que, a menos que
a produção alemã de aparelhos fosse intensificada, a Luftwaffe seria
arrasada. O Generalfeldmarschall Milch tomara várias providências para
melhorar o suprimento de novos aviões. Uma dessas providências foi o
aumento da força de trabalho, quando determinou a remoção para a
27
Alemanha de trabalhadores especializados da indústria aeronáutica dos
países ocupados, onde eram oferecidos atrativos especiais como bons
salários e rações extras, mas que não foram suficientes para mantê-los nos
postos de trabalho, devido principalmente aos intensos bombardeios aéreos
britânicos.
Em 27 de janeiro de 1943, a 8ª Força Aérea dos Estados Unidos
iniciou nova fase na ofensiva aliada, quando 55 bombardeiros B-17
realizaram ataque diurno contra Wilhelmshaven. Três dias depois, para
grande vexame de Göring, bombardeiros Mosquitos da RAF, atacaram
Berlim à luz do dia.
Entre 27 de janeiro e meados de julho de 1943, a 8ª Força Aérea
realizou 40 missões, 27 das quais contra bases de submarinos e depósitos
de suprimentos. A maior parte destes ataques foi contra situados na Europa
ocupada, e a Luftwaffe via com muita clareza que os americanos ampliavam
continuamente sua arma estratégica e logo se poderia esperar ataques
violentos contra a Alemanha.
Nesse meio tempo, a eficiência dos ataques noturnos britânicos
aumentou, com a instalação de radares para "bombardeio cego" e de aviões
precursores (os "pathfinders" - aeronaves que marcavam o alvo com
precisão, utilizando bombas incendiárias).
Para enfrentar a nova situação, os alemães foram obrigados a ampliar
suas defesas aéreas. No começo de julho de 1943, a força de caças
monomotores aumentou de 600 para 800 aparelhos, e ao mesmo tempo o
conjunto de caças noturnos passou de 400 para 600.
No início, os caças monomotores Me-109G e Fw-190A encontraram
dificuldades em concentrar fogo durante tempo suficiente para causar
danos fatais às resistentes B-17 e B-24. O Me-109 teve seus armamentos
aumentados de um canhão de 20 mm e duas metralhadoras de 7,9 mm para
três canhões de 20 mm e duas metralhadoras de 13 mm e o Fw-190 de dois
canhões de 20 mm e duas metralhadoras de 7,9 mm para quatro canhões de
20 mm e duas metralhadores de 13 mm. Além disso, algumas aeronaves
passaram a utilizar dois ou quatro tubos de lançamento de foguetes Wgr 21
de 210 mm.
Simultaneamente, a artilharia antiaérea aumentou muito seu efetivo.
Cada bateria, que inicialmente contava com quatro peças, passou a ter seis e
mais tarde oito. Novos canhões de 105 mm e de 128 mm entraram em
operação para suplementar os famosos 88 mm. Assim é que as defesas
aéreas alemães se prepararam para a grande batalha aérea que viria
acontecer.
28
Derrota no sul
Enquanto a Luftwaffe se preparava para defender o solo alemão
contra as incursões dos bombardeiros aliados, as coisas mudavam
drasticamente para ela no sul.
Os alemães haviam diminuído a pressão contra a ilha de Malta em fins
de 1941, quando dos preparativos para o ataque à Rússia. Aliviada, a ilha
pode aumentar seu potencial como base de destroiers, submarinos e aviões,
que atacavam as rotas marítimas de abastecimento da África do Norte. Por
volta do outono, as perdas infligidas estavam assumindo proporções sérias:
em setembro 40% dos suprimentos alemães ou italianos enviados pelo
Mediterrâneo à África do Norte se perderam no caminho; no mês seguinte
subiram para 60%, e em novembro, quase 80% dos suprimentos não
chegaram. A maior parte dessas perdas foi causada por unidades aéreas e
navais estacionadas em Malta.
Era preciso fazer alguma coisa contra a ilha, bastião britânico no
Mediterrâneo. Os alemães então, transferiram, a despeito das necessidades
da frente russa, cerca de 200 aviões de combate para bases na Sicília. Por
volta de março de 1942, já dispunha de mais de 400 aparelhos, e a presença
desta poderosa força de ataque sobre Malta logo se fez sentir. O ponto
culminante da campanha aconteceu nos meses de abril e maio, quando foram
realizadas mais de 11 mil missões contra a ilha. A bases aéreas e navais
britânicas sofreram danos muito sérios, e os destróiers a aviões utilizados
no combate à navegação mercante tiveram de ser retirados.
Todas as tentativas de se levar abastecimentos à ilha sitiada foram
violentamente repelidas pela Luftwaffe. Em março de 1942, a Royal Navy
tentou desesperadamente enviar um comboio de quatro navios mercantes,
escoltado por um navio antiaéreo, quatro cruzadores e 18 destróiers. A
despeito da poderosa proteção, apenas um quinto das 26 mil toneladas de
suprimentos extremamente necessários foi desembarcada com segurança.
Na primavera de 1942, a Luftwaffe possuía uma força na África do
Norte, de 260 aviões, que junta com os 340 aparelhos da Regia Aeronáutica
Italiana, tinham o dobro dos efetivos da RAF na área. Além disso, os caças
Me-109F recém-chegados, eram infinitamente superiores aos Hurricanes e
aos P-40 Tomahawks da RAF. Em 26 de maio, o Afrika Korps do General
Erwin Rommel passou para a ofensiva, e com vigoroso apoio aéreo, atacou
para o sul e depois para leste, flanqueando a linha defensiva britânica em
Gazala. O ponto mais meridional da linha, em Bir Hakim, tornava-se agora o
centro de gravidade da batalha, e a Luftwaffe realizando mais de 1 400
missões contra essa posição, tenazmente defendida pelos homens da
Brigada de Franceses Livres, teve contribuição considerável. Uma vez
29
cruzada a linha Gazala, Rommel continuou avançando, e valendo-se
novamente de poderoso apoio aéreo, atacou e capturou a fortaleza britânica
de Tobruk a 20 de junho. Finalmente o Afrika Korps foi detido em El
Alamein, e a Luftwaffe não pode colaborar, pois já estava esgotada pelo
intenso período de vôo, e sem estoques de combustível.
Com as forças britânicas que defendiam Malta bastante debilitadas,
e mais longe que nunca da ajuda externa, os alemães e italianos passaram a
pensar seriamente na idéia de uma invasão aerotransportada - a Operação
Hércules. Todavia, o medo da repetição do ocorrido em Creta, quando as
unidades aerotransportadas alemães sofreram pesadas baixas, e o sucesso
da ofensiva de verão de Rommel, finalmente convenceram a Hitler de não
realizá-la.
Em fins de maio a situação parecia estar totalmente controlada pelos
alemães, e mesmo com a maior parte dos bombardeiros retornando à Rússia,
para apoiar a ofensiva de verão daquele ano, a Luftwaffe continuou
suficientemente forte na Sicília, de modo a reagir com vigor a qualquer
tentativa de reabastecer Malta. Os ingleses não desistiam de abastecer a
ilha sitiada, e em junho enviaram dois comboios, um vindo do leste, a partir
do Egito e outro do oeste, a partir de Gilbratrar. A marinha italiana obrigou
o primeiro a voltar, enquanto que o outro, composto de seis navios
mercantes escoltados por um couraçado, três cruzadores e 17 destróiers,
foi seriamente atacado pela aviação alemã e italiana, e somente dois dos
transportes chegaram a Malta.
Em agosto, mais um comboio partiu para Malta, desta vez composto
de 14 navios mercantes, escoltados por três porta-aviões, dois couraçados,
um navio antiaéreo, seis cruzadores e 24 destróiers. O comboio foi avistado
pelos alemães na tarde de 10 agosto, e no dia seguinte atacado. O porta –
aviões HMS Eagle foi torpedeado e afundado por um submarino que
penetrara na defesa dos destróiers, mas o ataque aéreo realizado por uns
30 aviões naquela noite, foi repelido antes que pudesse causar muitos danos,
bem como outro, realizado com mais de 20 aparelhos, na manhã do dia
seguinte. No meio-dia do dia 12 de agosto, alemães e italianos, aparecerem
com mais de 70 aeronaves, entre caças, torpedeiros e bombardeiros de
mergulho. O porta-aviões HMS Victorius foi atingindo, mas os danos
desprezíveis, e a única perda foi um dos mercantes que, seriamente
avariado, foi obrigado a deixar o comboio, sendo mais tarde afundado. Às
18:30 h os atacantes reapareceram em grande número, com quase 100
aparelhos, e o porta-aviões HMS Indomitable, foi atingido três vezes e seu
convés de vôo posto fora de ação. Naquela noite, outro ataque, com 20
aeronaves afundou dois mercantes e avariou um terceiro.
30
Antes do amanhecer do dia 13, torpedeiros italianos fizeram dois
ataques muito bem sucedidos, danificando um cruzador, afundando quatro
mercantes e avariando outro. Quando o dia clareou, o comboio já estava ao
alcance dos caças da RAF baseados em Malta, mas mesmo assim, sofreu
mais três ataques, que resultaram no afundamento de mais três mercantes
e na avaria de um.
Assim, dos 14 mercantes que partiram para Malta, apenas cinco
chegaram, e dois desses bastantes danificados, mas 32 mil toneladas de
carga conseguiram ser entregues mantiveram a ilha em ação até que a
situação na África do Norte melhorasse para os aliados.
Enquanto os britânicos esforçavam-se valentemente para manter
Malta abastecida, os alemães e italianos tinham seus próprios problemas de
abastecimento. Com a presença cada vez maior de bombardeiros de longa
distância americanos e ingleses no Egito, os ataques aos navios do Eixo no
Mediterrâneo tornava-se cada vez mais sério, e, além disso, os ataques
aliados aos portos de Bengazi e Tobruk causavam inúmeros danos ao
abastecimento alemão e italiano. Durante o verão de 1942, o bloqueio aliado
da África do Norte foi quase que total e, os desesperados alemães tiveram
que recorrer à ponte aérea para trazer suprimentos de combustíveis, e
assim o poder de combate da Luftwaffe na área diminuiu rapidamente, ao
mesmo tempo em que o contingente da RAF no Egito passou a receber
reforços em grande escala.
Quando os britânicos desfecharam sua ofensiva em El Alamein, no dia
23 de outubro de 1942, quem imperava era a RAF, e um rastro de aviões
destruídos, largados nos aeródromos abandonados aparecia à medida que o
Afrika Korps recuava cada vez mais para oeste. Rommel fez suas forças
recuarem de tal modo, que a grande retirada não se transformou em
derrota. No início de 1943, as forças alemães e italianas, expulsas do Egito
e da Líbia, lutavam tenazmente para manter um ponto de apoio na Tunísia.
A velocidade do avanço britânico e os desembarques angloamericanos na Argélia e Marrocos colocavam os alemães em uma posição
muito difícil, e a menos que fizessem alguma coisa rapidamente, eles e os
italianos seriam empurrados para o mar. Quando tudo parecia perdido,
Hitler decidiu enviar reforços, a muito solicitados, a despeito da
necessidade vital da frente russa, após o cerco do 6º Exército em
Stalingrado. Entre esses reforços havia duas unidades equipadas com caças
Fw 190, transferidas da costa do Canal da Mancha, que conseguiram obter
para os alemães superioridade aérea temporária sofre as forças aéreas
britânicas e americanas. A parte da vantagem de possuir caças mais
atualizados à sua disposição, a Luftwaffe operava a partir de bases bem
preparadas e com linhas de comunicação curtas, ao passo que os aliados
31
eram obrigados a operarem a partir de pistas improvisadas e enfrentar
problemas com a extensão de suas linhas de abastecimento.
Em 14 de fevereiro de 1943, Rommel desfechou sua ofensiva na
Tunísia, o Operação Frühlingswind (Brisa de Primavera), e seu objetivo
principal era o Passo de Kasserine, dominado pelos americanos. A princípio
tudo correu bem, mas uma semana depois, sua penetração foi contida. Outra
ofensiva alemã, no final do mês, desta vez contra o aguerrido 8º Exército
Britânico do General Montgomery, foi repelida com pesadas baixas.
Apesar de todos os esforços, os alemães só podiam adiar o inevitável.
Enquanto as forças terrestres Aliadas envolviam os alemães no bolsão da
Tunísia, suas forças aéreas, cujas unidades passaram a contar com versões
recentes do caça Spitfire, estavam recebendo suprimentos adequados e se
tornando cada vez mais eficientes. A Fliegerkorps Tunis, por seu lado,
piorava sua situação, à medida que as forças de bloqueio aéreo e marítimo
americanas e britânicas estrangulavam as linhas de abastecimento do Eixo.
Em meados de abril de 1943, a Luftwaffe na África do Norte, estava à
beira do colapso total. Os poucos aeródromos que lhe restavam eram
constantemente atacados pelos bombardeiros aliados e caças americanos e
britânicos não permitiam qualquer operação aérea. Diante da pressão
ininterrupta das forças terrestres aliadas, a linha defensiva alemã rompeuse totalmente, e sem terem para onde recuar, as tropas alemães e italianas
começaram a render-se em grandes números, e a 13 de maio de 1943 a
guerra na África do Norte termina. Quase 250 mil soldados do Eixo
depuseram suas armas na Tunísia, num desastre apenas superado pelo que os
alemães haviam sofrido em Stalingrado.
Em 3 de julho de 1943, os efetivos da Luftwaffe no Teatro
Mediterrâneos totalizavam 1 280 aviões. Foi então que as forças aéreas
aliadas começaram a atacar os aeródromos da Sicília, nos preparativos para
o assalto marítimo à ilha. Quando as forças aliadas desembarcaram, os
efetivos da Luftwaffe estavam reduzidos a pouco mais de uma centena de
aviões. Os poucos Fw 190 ainda disponíveis, tiveram que ser retirados
rapidamente para bases localizadas na área de Nápoles, e a aviação de caça
Aliada era tão forte que os bombardeiros que tentavam realizar alguma
missão, eram fatalmente abatidos.
A 17 de agosto de 1943, as últimas tropas alemães que ainda estavam
na Sicília se renderam, e os Aliados se prepararam para a invasão da Itália
Continental. A Luftwaffe sofrera sérias perdas, mas devido às necessidades
na frente russa e na defesa aérea da própria Alemanha, não puderam ser
repostas, e assim quando as tropas Aliadas desembarcaram no sul da Itália,
o efetivo aéreo alemão na área do Mediterrâneo, não passava de 800
aeronaves de todos os tipos. O comandante da Luftwaffe na Itália, o
32
Generalfeldmarschall von Richthofen, decidiu prudentemente conservar
suas minguantes forças para os combates mais decisivos que por certo
viriam a acontecer, e por isso a primeira reação alemã aos desembarques foi
fraca.
Em 10 de setembro, os italianos anunciaram sua capitulação, e naquela
manhã, a frota italiana deixou sua base em La Spezia com destino a Malta,
para se render, mas os alemães ao saberem do movimento da esquadra,
enviaram Do 217 do III/KG 100 baseado em Istres, no sul da França, para
ataca-la. Os nove bombardeiros que decolaram, estavam carregados com
uma única bomba sob a asa de estibordo, a bomba “Fritz X”, que era uma
arma altamente secreta, pesando 1 500 kg, sendo controlada pelo rádio. Os
Dorniers atacaram quando a esquadra ainda estava nos estreitos entre a
Córsega e a Sardenha. Os barcos italianos, começaram a fazer curvas
fechadas, num esforço para fugir da mira alemã, mas contra uma bomba
guiada, isso era inútil. Depois de lançar a bomba, o bombardeador colocado
no nariz da cada Dornier concentrava sua atenção no rastro que cada
bomba, e controlava-a cuidadosamente até coloca-la bem sobre o navio
escolhido.
O primeiro a ser atingido a nave capitânia, o couraçado Roma. A
bomba atingiu-o de estibordo, atravessou o navio e explodiu quando saída
debaixo dele. O Roma teve seu motor atingido, e sua velocidade caiu, sendo
logo em seguida atingido por outra bomba, que o fez parar em chamas.As
chamas atingiram rapidamente o paiol de munição e uma tremenda explosão
o fez romper em dois, afundando-o e levando consigo a maior parte da
tripulação. Em seguida, seu irmão gêmeo, o Itália, também foi atingido, mas
conseguiu chegar a Malta.
No mesmo dia em que a frota italiana zarpava, as tropas aliadas
desembarcaram perto de Nápoles, quando então von Richthofen lançou suas
unidades contra a cabeça-de-praia. A concentração de navios era tal, que
tornaram-se alvo ideal para as bombas radio-comandadas da III/KG 100,
que no dia seguinte afundaram um couraçado (HMS Warspite), dois
cruzadores (HMS Uganda e o USS Savanah). Essa unidade manteve-se em
ação contra os navios mercantes, bem como os Me 109 equipados com
lançadores de foguetes de 210 mm, que os usava contra alvos terrestres,
mantendo pressão contra as tropas. A Luftwaffe combateu até o dia 20 de
setembro, quando então tropas britânicas se aproximaram da base aérea de
Foggia, de onde operava, e as unidades de caças-bombardeiros tiveram que
se retirar.
Assim é que a Luftwaffe se viu avassalada no Mediterrâneo, sem
poder causar dano desconcertante algum contra a frota de invasão aliada. A
arma secreta, “Fritz X”, na qual os alemães depositavam tanta esperança,
33
dera a princípio impressão de poder esmagar a tentativa de desembarque,
mas, uma vez que os aliados passaram a ter superioridade aérea sobre a
cabeça-de-praia, os aviões alemães é que sofreram pesadas baixas.
Os aliados, estavam pois, firmemente estabelecidos na Europa
Continental, mas o terreno italiano, muito montanhoso, não permitia rápidos
avanços, e disso tirou partido Kesselring, comandante alemão na Itália, para
infringir pesados castigos às tropas invasoras. Ao mesmo tempo, uma das
maiores batalhas estava sendo travada no interior da Rússia, pois Hitler
decidira esmagar o Exército Vermelho de uma vez por todas.
Rússia: uma força dessangrada
A perda da África do Norte constituíra sério revés para o Eixo, mas
todos sabiam que a batalha realmente decisiva seria travada na Rússia, e
por isso Hitler estava decidido a recuperar a iniciativa no leste, que perdera
tão desastradamente em Stalingrado, e resolveu fazê-lo com um movimento
maciço de pinças duplas, para eliminar o incômodo posicionamento russo em
Kursk, na parte central da frente. A ofensiva teve o codinome Zitadelle
(Cidadela). As ordens de Hitler eram para que o êxito fosse rápido e
completo, de modo a ser ter total iniciativa durante a primavera e outono.
Deveriam ser utilizadas as melhores unidades, as melhores armas, os
melhores comandantes e não haveria limitação de munição. Todos os homens
deveriam estar conscientes do significado decisivo deste ataque.
Ao longo de uma frente de apenas 200 km, o exército alemão
concentrou 900 mil homens, 10 mil canhões, 2 700 tanques, e de sua parte, a
Luftwaffe reuniu 1 800 aviões de combate. O braço sul seria protegido pela
Luftflotte IV, comandada pelo General Otto Dessloch, com 1 100 aviões e o
braço norte, pela Fliegerdivision 1, comandada pelo Generalmajor Paul
Deichmann, com os 700 aparelhos restantes. Os aviões de reconhecimento
da Luftwaffe fotografavam cada centímetro quadrado das defesas russa, e
nenhuma ofensiva foi preparada com tanto cuidado quanto esta. Os alemães
estavam confiantes no sucesso, pois era verão e os russos não teriam os
Generais "Lama" e "Inverno" para recorrer. Mas o Serviço de Inteligência
russo estava vigilante à maciça concentração de tropas alemães, e o
Exército Vermelho reuniu forças ainda maiores naquela área, inclusive uma
grande e preparada reserva.
Ao ataques foram iniciados no dia 5 de julho, e desde o começo as
unidades de ataque e bombardeio da Luftwaffe operaram intensamente
sobre o campo de batalha, apoiando o avanço das forças blindadas. Os
recém incorporados Henschell 129, destruidores de tanque, comandados
pelo Hauptmann Bruno Meyer, tiveram notável sucesso contra os tanques
34
russos. Esses aviões eram equipados com um canhão de 30 mm, que lançava
granadas com núcleo de tungstênio, contra as partes laterais e traseiras
dos tanques, onde a blindagem é mais delgada. No dia 9 de julho, por
exemplo, essa unidade encontro uma brigada russa apoiada por 40 tanques,
e após cerca de uma hora de ataque, quase todos os tanques estavam
destruídos, e os russos retirando-se em desordem.
Mesmo com apoio, normalmente poderosos da Luftwaffe, os blindados
alemães penetravam nas defesas russas com muito mais dificuldade que
antes. Lutando tenazmente em posições fortificadas e bem preparadas, os
russos faziam os alemães pagarem caro por cada metro avançado, e, além
disso, a Força Aérea vermelha, presente com enormes efetivos nos céus,
conseguiam ultrapassar a proteção dos caças alemães e atacavam contra as
unidades avançadas e elementos de apoio do Exército alemão.
Quando os russos sentiram que as duas pinças de ataque alemão
estavam bem profundas, decidiram realizar uma contra-ofensiva. A 12 de
julho, força blindada russa varou as defesas em Orel, e começou a avançar
rapidamente para oeste. As tropas alemães que se dirigiam, do norte, para
Kurks foram imediatamente colocadas na defensiva, e as reservas, que
haviam sido destinadas à principal penetração alemã, tinham agora de ser
levadas às pressas para o setor ameaçado. A Luftflotte VI, cujas unidades
incluíam a Fliegerdivision 1, entrou em ação em torno de Orel, para tentar
deter o assalto russo, ou pelo menos, para diminuir a rapidez com que ele se
realizava, a fim de dar tempo às tropas alemães de estabelecerem uma linha
defensiva. No início, os russos estavam penetrando em terreno cheio de
arbusto, e como utilizavam muito bem a técnica da camuflagem, não
despertou atenção da Luftwaffe, mas quando foram obrigados a se
deslocarem por campo aberto, as aeronaves de ataque e antitanques
alemães se fizeram presente. Em pouco tempo, praticamente todos os
Gruppen aptos para combate na Rússia estavam empenhados na região de
Orel, realizando várias surtidas por dia, e com essas medidas desesperadas,
o exército alemão ganhou tempo suficiente pra restaurar sua linha
defensiva.
A intensidade das operações aéreas era muito maior do que os planos
alemães, e mais uma vez a Luftwaffe sofreu novo ataque do seu crônico
padecimento: a escassez de combustível. A Força Aérea vermelha não teve
esses empecilhos, e os alemães não conseguiram estabelecer qualquer
superioridade aérea real na área. Mantendo pressão no ar e na terra, os
russos lentamente obrigaram os alemães a sair dali, enquanto repetidos
ataques aos flancos das penetrações empurravam os alemães para suas
posições iniciais. Em 23 de julho de 1943, Hitler cancelou a ofensiva, e os
35
alemães perderam a Batalha de Kursk, na qual tanto haviam arriscado:
aquela seria a última ofensiva em grande escala dos alemães no leste.
Até o final de 1943, as escaramuças entre tropas alemães e russas
tiveram sempre a mesma característica: inferioridade numérica alemã e
superioridade russa em número de soldados e abastecimento, bem como
iniciativa estratégica.
Nas demais teatros de operação, as forças germânicas
experimentavam o mesmo processo de desgaste. O Mediterrâneo
transformou-se num sorvedouro de unidades de combate da Luftwaffe, que
se via às tontas com o problema de susbtituição das mesmas. A defesa do
solo alemão passou a exigir mais, e em setembro de 1943, seis Geschwader
de caças, foram retiradas da Itália para esse fim.
Na frente russa, a Luftwaffe concentrou a maior parte de seus
efetivos em apoio às unidades do exército que se esforçavam para defender
a linha do Rio Donets. Mas o fronte russo estava excessivamente estendido
e os alemães foram obrigados a adotar plano provisório de mudar unidades
de um extremo para outro, em resposta às diferentes pressões russas.
Rapidamente os soviéticos começaram a explorar as fraquezas alemãs, e
numa série de ataques bem coordenados, expulsaram os germânicos de
Kharkov e Taganrog, no sul. Enquanto os alemães eram precionados no sul, os
russos passaram à ofensiva no centro, onde os efetivos da Luftwaffe não
chegavam a 500 aeronaves, para cobrir um fronte de quase 650 km - muitas
das quais não eram aparelhos de combate, mas sim de reconhecimento e de
cooperação com o exército. Com isso, a penetração russa, apoiada por
superioridade aérea total, conquista as importantes cidades de Bryansk e
Smolenks, nos dias 17 e 25 de setembro.
Quando os alemães enviaram aviões de reforço para a região central,
os russos reiniciaram seu avanço no sul, e no começo de outubro, atravessam
o Rio Dnieper, última posição de defesa planejada pelos alemães. Uma nova
concentração de esforços da Luftwaffe, deslocando todos os caças e
bombardeiros disponíveis, ao sul, e realizando um esforço hercúleo durante
período de cinco dias, é que pode-se diminuir a rapidez do avanço o
suficiente para o exército alemão detê-lo perto de Krivoy Rog.
Mas, como de costume, tal concentração só era possível com
sacrifício de outros setores, e habilmente os russos voltaram a atacar no
centro. Em 6 de novembro, tomaram Kiev e avançaram para Zhitomir, e mais
uma vez a Luftwaffe concentrou esforços naquela região, a 320 km ao norte
do centro de operações anterior, sem novamente bem sucedidos,
conseguindo deter os russos.
Com a mudança de estação, quando da chegada da lama de outono,
pondo fim às operações terrestres móveis, os alemães viram-se na
36
contingência de ter de defender uma precária linha que, em certos pontos,
encontrava-se a 600 km atrás do ponto em que estivera no início do ano. No
sul, a agora isolada Península da Criméia, tinha que ser abastecida por ar e
por mar, apesar da interferência russa, e isto era mais um sorvedouro de
recursos. A Luftwaffe agora, apesar da pressão russa na parte central,
tinha que manter dois terços de seus efetivos de combate do leste (cerca
de 1 150 aeronaves), voltado para a defesa dos campos petrolíferos
romenos, de vital importância para a economia de guerra alemã.
A Luftwaffe no leste já não tinha o mesmo poder de influência
situação em terra. Superados em dois e até três a um pelas forças aéreas
russas, que melhoravam gradativamente, e cujos aparelhos, já eram em
muitos casos tão ou melhores que dos alemães. Os Gruppen alemães, na
melhor das hipóteses, podiam apenas atrasar um pouco as poderosas
penetrações russas, mas com perdas enormes em máquinas e principalmente
em homens treinados. Quase nada havia que pudesse ser enviado a Frente
Oriental, pois em breve a Luftwaffe teria de lutar pela própria
sobrevivência nos céus da própria Alemanha.
Em defesa do solo pátrio
No verão de 1943 muitas unidades de caça diurno da Luftwaffe
retornaram a Alemanha, com objetivo de impedir os esperados
bombardeios diurnos dos americanos, ao mesmo tempo em que se ampliava a
força de caças noturnos, para fazer frente aos cada vez mais poderosos,
ataques noturnos ingleses às cidades alemãs.
Os caças noturnos, controlados de terra por radar, vinham
derrubando bombardeiros num índice que preocupava os britânicos, e a
continuação desses ataques, passou a depender de algum meio de
neutralizar a devastadora eficiência do sistema de defesa alemão. Durante
o ano de 1942, cientistas britânicos e alemães haviam feito experiências
com tiras de metal, isto independentemente e no maior segredo, e nos dois
países, eles chegaram a mesma conclusão, qual seja, a nova arma contra o
radar era terrivelmente eficiente, e se utilizada adequadamente, poderia
destruir as defesas aéreas noturnas que dependiam do radar. Essas
pequenas tiras de papel de alumínio, conhecidas pelo nome de "Window",
mediam 3 por 30 cm, e serial lançadas em pacotes de 2 000, presas por um
elástico. Quando lançado de um avião, o pacote se rompia e formava uma
"nuvem" de tiras que refletiam as ondas do radar, e davam um sinal na tela
dos radares do mesmo tamanho que daria um quadrimotor. Lançando-se um
pacote a cada minuto, num fluxo concentrado, era possível saturar a área
37
com sinais falsos e assim impossibilitando as interceptações de caças
controlados pelo radar.
Na época, nenhum dos dois países se sentia com margem
suficientemente grande de poder sobre o outro para justificar o risco de
retaliação, mas por volta do verão de 1943, o poder de ataque do Comando
de Bombardeiros da RAF aumentou muito, enquanto que as exigências da
guerra na frente oriental haviam reduzido a força de bombardeiros da
Luftwaffe a relativa impotência. No dia 15 de julho de 1943, numa reunião
no Ministério da Guerra britânico, Winston Churchill deu permissão para que
se utilizasse o "Window" contra os alemães. Dez dias depois, durante uma
incursão de 791 bombardeiros contra Hamburgo, utilizou-se a nova
contramedida, e o efeito foi devastador, reduzindo as defesas alemães ao
caos absoluto. Como de costume, os caças noturnos voavam em contato com
seus sinais de rádio, aguardando instruções dos controladores de terra, mas
estas não vieram; em sue lugar ouvia-se apenas apelos e exclamações
confusas.
Quando as tripulações dos caças noturnos tentaram procurar alvos
usando seus próprios aparelhos de radar, viram-se atacando nuvens de
"Window". Quando a primeira leva de bombardeiros chegou sobre
Hamburgo, suas tripulações ficaram impressionadas com a sensação de
irrealidade do alvo: os antes efetivos holofotes, pareciam estar funcionando
de maneira errática. Os aparelhos de radar que controlavam os holofotes,
assim como os que dirigiam os canhões, eram agora inúteis; os artilheiros
foram obrigados a abandonar o plano de fogo previsto, e disparavam tiro
após tiro sem qualquer eficiência.
Naquela noite, a RAF perdeu apenas 12 aparelhos ou 1,5% da força
atacante. O sucesso do "Window" foi incontestável. O normal teria sido a
perda de 50 aparelhos. Assim, 38 bombardeiros e mais de 200 tripulantes
treinados foram salvos pelo lançamento de 40 toneladas de "Window" (cerca
de 92 milhões de tiras de papel de alumínio).
Se o primeiro ataque a Hamburgo, utilizando o "Window" fora muito
ruim para os alemães, o pior estava por vir: três noites depois, os britânicos
voltaram à cidade, desta vez com 722 bombardeiros. Como o abastecimento
de água da cidade estava destruído e a sede da defesa civil arrasada, a
torrente de bombas incendiárias lançadas provocou incêndios incontroláveis.
O resultado foi uma tempestade de fogo e, em certos lugares a
temperatura ultrapassou os 1 000°C e a poderosa convecção de correstes
produziu ventos de até 240km/h - quase o dobro da força de um furacão.
Em pouco tempo, uma área de 6km por 4km se consumiu em chamas. A
população, que estava nos abrigos antiaéreos ficou presa, e estes se
transformaram em crematórios. Nos céus, mais uma vez a Luftwaffe estava
38
impotente, e os incursores só perderam 17 aparelhos. Na manhã seguinte o
prefeito pediu a todos os civis que não tivessem tarefas essenciais que se
retirassem da cidade. Entre o amanhecer e o anoitecer, quase um milhão de
pessoas deixaram-na.
Em 30 de julho, novo ataque britânico foi realizado, com a mesma
eficiência. Numa reunião realizada em Berlim, na tarde deste mesmo dia, o
Generalfeldmarschall Milch determinou que deveria-se criar um meio de
impedir essas incursões, pois a moral do povo alemão estava muito afetada.
Enquanto o Alto Comando da Luftwaffe se empenhava na elaboração de um
plano de defesa contra os ataques noturnos, as coisas estavam piorando
também durante o dia.
Por volta de julho de 1943, a 8ª Força Aérea Americana, destacada
para a Grã-Bretanha, era formada de 15 grupos de bombardeiros pesados,
com cerca de 300 B-17 e B-24, mas os aliados não dispunham de um
equivalente diurno do "Window", para cegar os caças alemães.
Os americanos haviam intensificado seus ataques à Alemanha no
verão de 1943 e as coisas tornaram-se críticas a 17 de agosto, quando 146
B-17, com escolta de caças, atacaram a linha de montagem de
Messerschmitt, em Regesburg, no sul da Alemanha. As defesas foram
alertadas da aproximação das formações pelo radar, mas os caças alemães
esperaram pacientemente até que a reserva de combustível obrigou os
Spitfires e Thunderbolts da escolta a voltar para suas bases. Então, a
Luftwaffe atacou: os caças mergulharam sobre as formações pela frente e
por cima, atirando e retornando pela retaguarda, para uma nova passagem.
Os Gruppen de caças, em revezamento, repetiram essa tática e o combate
continuou por cerca de 560km, desde o ponto de encontro até o alvo, e do
alvo até certo ponto da viagem de retorno. Assim que aterrisaram, os caças
baseados na França, Holanda e Bélgica, receberam ordens de reabastecer e
voltar ao combate, de modo a interceptar os bombardeiros em seu vôo de
retorno à Inglaterra. Mas os planejadores americanos pregaram uma peça
nos alemães, pois as formações continuaram para o sul, sobre o
Mediterrâneo, e pousaram em aeródromos da África do Norte, e mesmo
assim foram perdidos 24 aparelhos.
Nesse mesmo dia, antes que a primeira leva tivesse atacado
Regensburg, outra força com 299 bombardeiros, se dirigiu para o
importantíssimo complexo de fábricas de rolamento de esferas em
Schweifurt. Desta vez, os caças alemães não esperaram que a escolta se
afastar, para iniciar seus ataques. Enquanto alguns Gruppen combatiam os
caças, outros atacavam os bombardeiros. Quando a escolta teve que se
retirar, outros caças monomotores e bimotores se juntaram às formações
atacantes, muitos deles utilizando foguetes de 210mm, com uma ogiva
39
explosiva de 37kg. Uma vez mais, a Luftwaffe travou combate durante ao
rota de ida e de volta dos bombardeiros, abatendo um total de 36.
O duplo ataque a Regensburg e a Schweifurt, custou a perda de 60 B17 À 8ª Força Aérea Americana - 16% da força - além de outras 100
avariadas. A Luftwaffe perdeu 25 caças, mas a maioria dos pilotos
conseguiu salvar-se de páraquedas.
Naquela mesma noite, 498 bombardeiros da RAF atacaram e
destruíram o centro de pesquisas de mísseis teleguiados alemão, em
Peenemünde, e isto acontecendo logo após os desastrosos reveses da
Luftwaffe em Stalingrado, na África do Norte, na Sicília, em Kursk e
Hamburgo, foi o final para o Chefe do Estado-Maior, o Generaloberst Hans
Jeschonnek. Ele lera os relatórios do Serviço de Inteligência sobre os
grandes planos de produção americana pra 1943 e vira as fotografias feitas
pelo reconhecimento aéreo, dos aeródromos britânicos sendo gradualmente
abastecidos de aviões, provando a veracidade dos relatórios. Um ano antes
comentara: Se não tivermos vencido a guerra até dezembro de 1942, não
teremos possibilidade de ganhá-la. Na manhã de 18 de agosto, Jeschonnek
matou-se com um tiro, e tal como acontecera com Udet, quase dois anos
antes, as circunstâncias da morte do comandante mais graduado da
Luftwaffe foram mantidas em segredo. O General Günther Korten o
substituiu no cargo de Chefe do Estado-Maior da Luftwaffe.
O revés sofrido nos ataques a Regensburg e Schweinfurt levou a uma
mudança nos planos americanos de ataques diurnos, e entre aquele dia e 7
de outubro, apenas 17 operações foram efetuadas pelos bombardeiros da 8ª
Força Aérea contra alvos na Alemanha, e nenhuma delas penetrou muito no
espaço aéreo germânico. A calmaria durou até o dia 8 de outubro, quando as
cidades de Bremen, Marienburg, Danzig e Münster foram atacadas. Nesta
série de ataques, os bombardeiros enfrentaram o poderio total da força de
caças alemães, e no total foram derrubados 83 bombardeiros.
Outro momento importante da ofensiva diurna de bombardeios
americanos ocorreu no dia 14 de outubro, quando uma força de 291 B-17
retornou a Schweinfurt para acabar de destruir a fábrica de rolamentos.
Desta vez, a reação da caça alemão foi de uma magnitude sem precedentes,
tanto no que diz respeito a seu planejamento como na severidade que foi
executada. Uma vez mais, houve combates prolongados, e qualquer
bombardeio que se afastasse da proteção da formação era imediatamente
destruído pelos caças. Os caças realizaram mais de uma missão, e cerca de
300 caças monomotores, 40 bimotores e alguns noturnos entraram em ação.
Esse segundo ataque foi um desastre para os americanos, pois 60
bombardeiros foram derrubados, 17 avariados e 121 voltaram com avarias
40
menores; os artilheiros americanos, por seu turno, abateram 38 caças
alemães.
Para os alemães, a vitória sobre os atacantes de Schweifurt serviu
para confirmar o acerto de suas medidas no combate às incursões diurnas
de bombardeiros americanos: seus caças armados com canhões de calibre
médio e pesado e com foguetes ar-ar, podiam infligir perdas incomumente
altas às formações de bombardeiros.
Desde o verão de 1942, o novo e revolucionário caça a jato
Messerchmitt 262 vinha sendo testado em vôos experimentais e, em
meados de 1943, considerou-se que a aeronave estava pronta para ser
produzida em série. Sua velocidade máxima superava os 800 km/h e o
Generalmajor Adolf Galland estava ansioso para tê-lo operando em sua
força de caças.
Mas, se a caça alemã estava satisfeita, o mesmo não acontecia com a
força de bombardeiros, que sofria após haver fracassado no ataque às
tropas aliadas que desembarcaram em Salerno, durante a invasão da Itália.
Foi contra esse pano de fundo que Hitler assistiu a uma demonstração
especial do M2 262 em Insterburg, na Prússia Oriental, a 26 de novembro
de 1943, pouco mais de um mês após a vitória de Schweifurt. Tendo Gerd
Lintner, piloto de provas da Messerchmitt nos comandos, o sexto protótipo
demonstrou um desempenho impressionante. Casualmente, Hitler perguntou
a Willi Messerchmitt, projetista do aparelho, que estava a seu lado, se o Me
262 poda transportar bombas. Também casualmente, este respondeu que
sim. Na mesma hora, Hitler disse que havia conseguido um aparelho capaz de
satisfazer as prementes necessidades da Luftwaffe, qual seja, um avião
veloz, capaz de transportar bombas e penetrar até mesmo as poderosas
defesas de caças Aliadas, esmagando qualquer tentativa Aliada de
desembarcar tropas na costa noroeste européia. A 5 de dezembro Göring
recebeu telegrama de Hitler determinando a produção de aviões à jato para
serem empregados como caça-bombardeiros, que esses aviões deveriam
estar disponíveis até primavera de 1944 e que os recursos deveriam de
maõ-de-obra e matéria prima da Luftwaffe deveriam estar direcionados
para esse objetivo.
Não há dúvida de que se os alemães tivessem disponibilidade de
muitas centenas de caça-bombardeiros a jato, eles teriam prejudicado
seriamente qualquer tentativa Aliada de desembarque marítimo. Mas a
decisão de produzir o Me 262 como caça-bombardeiro significava que o
aparelho teria de ser amplamente modificado e reforçado para lhe permitir
atuar em seu novo papel. O resultado é que a entrada em operação da nova
aeronave sofreu um atraso de cerca de seis meses, durante os quais a
Luftwaffe viria a perder a mais importante batalha aérea da guerra, e
41
perdeu por não contar com um caça de desempenho elevado como o Me 262.
Em dezembro de 1943 não havia necessidade vital de um caça de alto
desempenho para defesa interna, portanto a decisão de Hitler fora
acertada.
Durante o inverno de 1943, a atividade prioritária dos cientistas
alemães consistia em produzir equipamento capaz de combater a tática
"Window". Os primeiros caças noturnos equipados com o novo aparelho de
radar SN-2, tornavam-se então disponíveis para operações. Como o SN-2
funcionava em freqüências bem inferiores ás do aparelho anterior (o
Lichenstein), não era muito afetado pelas nuvens de "Window".
A 3 de novembro de 1943, o Marechal do Ar Arthur Harris,
Comandante do Comando de Bombardeiros da RAF, envia para o PrimeiroMinistro britânico despacho, onde afirma que se os bombardeiros da RAF
podem arrasar Berlim de ponta a ponta, e se a Força Aérea Americana
pudesse associar-se à RAF nesta tarefa, talvez os Aliados perdessem de
400 a 500 aparelhos, mas para a Alemanha será o preço da guerra. Este era
o tipo de promessa que Churchiull não podia resistir, e Harris recebeu
permissão para desfechar o que mais tarde seria conhecida como "A Batalha
de Berlim", mas a USAAF, ainda tratando suas feridas depois do desastroso
ataque a Schweinfurt, não quis associar-se, e Harris decidiu fazê-lo
sozinho.
O primeiro ataque a Berlim, nessa nova série, foi realizado na noite de
18 de novembro e apenas 9 dos 444 bombardeiros utilizados não retornou.
Houve mais três ataques à capital alemã em novembro, e quatro em
dezembro, e nestes oito ataques, como o mau tempo esteve sempre
presente, tanto a defesa alemã não pode infligir baixas aos bombardeiros
como estes não puderam lograr o grau ideal de concentração de bombas.
Então, no início de 1944, as perdas britânicas começaram a aumentar de
maneira alarmante. A primeira das grandes e dispendiosas batalhas foi a do
dia 21 de janeiro, quando 646 bombardeiros atacaram Magdeburg, com a
perda de 55.
À medida que o ano avançava, a Luftwaffe golpeava cada vez mais
forte os incursores noturnos. A 28 de janeiro, 43 dos 683 bombardeiros
que atacavam Berlim foram derrubados. A 15 de fevereiro, 42 dos 891, e em
19 de fevereiro, 78 dos 823. Em 24 de março, 72 dos 811 bombardeiros
despachados contra Leipzig foram derrubados.
O ponto culminante da ofensiva de bombardeios aconteceu na noite
de 30 de março de 1944, quando uma força composta de 781 Lancaster e
Halifax atacou Nuremberg. Era uma noite de luar, com a temperatura bem
baixa, ao mesmo tempo que fortes ventos faziam com que a onda de
bombardeiros perdesse coesão, com as aeronaves se espalhando por grande
42
área. Nesta noite, a organização alemã de controle terrestre de caças
funcionou com perfeição e 21 Gruppen (cerca de 200 aparelhos) operaram, e
o resultado foi que 94 bombardeios foram abatidos e 46 seriamente
danificados.
Schweinfurt fora um momento decisivo no plano de bombardeio dos
americanos; agora Nuremberg o momento dos britânicos. A força de
bombardeiros noturnos cessou temporariamente seus ataques de
penetração profunda às cidades alemães e em seu lugar, como fora
planejado anteriormente, iniciou a destruição do sistema de comunicações
na Europa Ocidental, preparando terreno para a próxima invasão.
No começo do ano de 1944, alguns alemães tinham a impressão de que,
com relação à defesa do solo pátrio, o pior tivesse passado, pois a ofensiva
diurna dos bombardeiros americanos havia sido detida e os incursores
noturnos britânicos estavam sofrendo baixas cada vez mais pesadas. Mas o
primeiro mês do ano novo colocou diante dos otimistas a desagradável
realidade, qual seja, que eles tinham visto apenas o fim da primeira fase, e a
resposta americana às defesas alemães foi a mesma que a Luftwaffe
tentara durante a Batalha da Grã-Bretanha em 1940: a escolta de caças.
Transportando grandes tanques ejetáveis de combustível, caças
monomotores P-47 Thunderbolt e P-51 Mustang, passaram a ter raio de
ação suficiente para acompanhar os bombardeios até o coração da
Alemanha, e ao contrário do que acontecera com os Me-110 sobre a GrãBretanha, os caças de escolta americanos eram tão bons ou melhores que
seus adversários. Embora os tanques subalares reduzissem sua velocidade
em 60km/h, quando ejetados, o P-51 por exemplo, era cerca de 80km/h mais
veloz que os Me-109 ou Fw-190, e o P-47, embora fosse menos manobrável,
era uma aeronave extremamente resistente e capaz de resistir a danos
insuperáveis.
Em janeiro, a escolta acompanhava as B-17 até Münster e Kiel; em
março, os P-51 com dois tanques subalares de 300 litros cada, puderam voar
até Berlim e voltar; mais tarde, com tanques de 450 litros, o Mustang
possuía raio de ação de 1 360km - o bastante para atacar qualquer alvo na
Europa ocupada pela Alemanha.
Os caças de escolta americanos se tornavam cada vez mais
agressivos, e seu comandante o General Willian Keoner, não obrigava seus
pilotos a permanecer nas proximidades dos bombardeiros, permitindo que os
comandantes de Grupo ou de Esquadrão decidissem por si mesmo se
deveriam ou não perseguir os caças alemães que tentavam fugir do combate,
ou mesmo realizar missões de ataque a alvos de oportunidade.
À medida que aumentava o número de caças de escolta, a Luftwaffe
se aproximava mais e mais do desastre. As unidades de caças bimotores
43
foram as primeiras a sofrer com a mudança da situação, pois por exemplo,
no dia 16 de março, 43 Me-110 do III/JG 76 atacaram uma formação de B17, perto de Augsburg, mas antes que pudessem chegar perto dos
bombardeiros, foram interceptados pelos Mustangs da escolta, perdendo 26
aeronaves. Aos poucos os caças bimotores alemães foram obrigados a
suspender totalmente suas operações diurnas contra os bombardeiros,
limitando-se à caça noturna.
Antes da introdução das escoltas americanas, os alemães trabalharam
com muita energia no aumento do poder de fogo de seus caças, para que
estes pudessem destruir com mais facilidade os poderosos bombardeiros
americanos. Mas armamento mais poderoso significava também peso extra,
fato este que os colocava em posição desvantajosa em relação aos caças da
escolta americana. O Generalmajor Adolf Galland, comandante da caça
alemã, tentou superar o problema criando Gruppen separados de caças
"pesados" e "leves": os primeiros contavam com Me-109 e Fw-190 equipados
com canhões de grosso calibre, mas de tiro mais lento, que deviam atacar os
bombardeiros; os segundos eram integrados apenas por Me-109, levemente
armados, e deveriam apenas se preocupar com as escoltas. Porém, a tática
fracassou, pois os americanos se faziam presente em tal número, que era
impossível aos caças "pesados" chegarem perto das B-17 e B-24.
Em abril de 1944, Galland foi obrigado a comunicar a seus superiores,
que nos quatro primeiros meses daquele ano, a caça alemã perdera mais de
1 000 pilotos, incluindo os melhores comandantes de Staffel, Gruppe e
Geschwader; que em cada incursão americana perdia 50 pilotos, e que a caça
alemã estava a beira do colapso. A Luftwaffe começava a perder o controle
dos seus de seu próprio país.
Assim é que os renovados ataques diurnos americanos contra a
indústria alemã arrasaram não só os alvos, mas também a força de caças
alemã. Para a Luftwaffe, a única resposta real ao problema era o caça a jato
Me-262, pois somente esse avião era veloz o suficiente para escapar dos
caças americanos e ter ainda poder de fogo suficiente para derrubar os
bombardeiros. Mas Hitler dera ordens para que os primeiros grupos
produzidos fossem utilizados como caça-bombardeiros, fazendo com que as
modificações necessárias atrasassem a produção em vários meses. O
resultado é que, no começo do verão de 1944, quando do desembarque aliado
na Normandia, havia muito poucos desses caças disponíveis para fazer algo
útil, Estava em curso o grande desastre que levou Jeschonnek a buscar a
morte para não ver esse final.
44
O renovado ataque à Grã-BretanhaOs ataques dos bombardeiros anglo-americanos à Alemanha,
provocaram em Hitler terríveis explosões de ódio, e ele exigiu que as
cidades britânicas fossem atacadas. Assim, a 3 de dezembro de 1943,
Göring comunicou ao Generalmajor Dietrich Peltz, comandante dos
bombardeiros no oeste, que a guerra aérea sobre as Ilhas Britânicas
deveria ser intensificada, por meio de ataques concentrados às cidades,
centros industriais e portos ingleses, como forma de vingar as agressões do
inimigo.
Essa operação recebeu o nome de Steinbock, e no começo de 1944, a
Luftwaffe havia reunido uma frota de quase 400 bombardeiros (Ju 88, Ju
188, Do 217, Me 410 e He 117 - sendo que este último fora colocado em
serviço, sem que tivesse sido resolvido o problema de incêndio nos motores
!!!). Além dos bombardeiros, havia ainda uma unidade ca caça-bombardeiros,
a SKG 10, equipada com Fw 190.
Os ataques à Londres foram iniciados na noite de 21 de janeiro de
1944, quando duas levas de bombardeiros, foram recebidas pelas fortes
defesas aliadas, sofrendo pesadas baixas, sem conseguir alcançar o alvo.
Outro ataque aconteceu a 29 de janeiro, e desta vez o resultado foi um
pouco melhor, com a Luftwaffe perdendo 57 aparelhos - 8% dos efetivos
empenhados na operação. Durante a Operação Steinbock, o I/KG 66,
equipado com Ju 88 e Ju 188 foi utilizado como Pathfinder (Marcador de
Alvo), lançando foguetes luminosos, aumentando sobremaneira a eficiência
dos ataques. A Luftwaffe realizou ainda, no mês de fevereiro, 7 ataques
noturnos contra Londres, para em seguida se concentrar nos portos de
Portsmouth, Plymouth, Weymouth, Bristol e Falmouth.
A Operação Steinbock terminou em fins de março de 1944, e as
unidades empenhadas puderam relaxar e contar suas baixas. Mas o tempo
de repouso foi curto, pois no começo de junho as forças aliadas
desembarcaram na costa norte da França, na Normandia, e as perdas
sofridas pela força alemã de bombardeio tinha sido muito sérias.
A segunda Batalha da França
Na primavera de 1944, os alemães viam claramente que a invasão
aliada no noroeste da Europa não podia demorar muito, e a intensa pressão
da frente russa e os compromissos com a defesa do espaço aéreo alemão
tornavam impossível levar para aquela região unidades previamente
designadas para enfrentar tal ameaça. Enquanto que no leste, uma força de
550 aviões de ataque tinham que permanecer na expectativa de qualquer
45
grande ofensiva russa, no oeste a Luftflotte III do Generalfeldmarschall
Sperrle dispunha de uma força de ataque pouco menos do que aquela que
fora empregada - sem nenhuma eficácia - para combater os desembarques
aliados em Salerno. Na véspera do desembarque aliado na Normandia, no dia
5 de junho, a Luftflotte III dispunha um total de apenas 810 aviões de
todos os tipos.
A deficiência principal era concentrada em aeronaves de
reconhecimento tático, pois haviam apenas 25 aparelhos, e a parte mais
potente da força era a unidade anti-navios com 200 aparelhos, sediada no
sul da França !!!.
No primeiro dia de invasão, as forças aéreas aliadas podiam dispor de
um efetivo de 3 mil bombardeiros e 5 mil caças e caças-bombardeirios. A
Luftflotte III foi virtualmente engolida, e quando qualquer de suas
unidades tentava penetrar na área do desembarque, era rapidamente
destruída pelos caças aliados, ficando claro que operações diurnas contra os
navios estavam fora de cogitação. Quando a unidades anti-navios tentou
atacar à noite, também sofreu pesadas baixas, causadas pela anti-aérea
naval e pelos caças noturnos. Nos dez primeiros dias subseqüentes à
invasão, apenas cinco navios foram aliados foram afundados por ataque
aéreo direto.
Assim que os aliados desembarcaram, os alemães puseram em ação
seus dispositivos de reforços previamente planejados, e trouxeram aviões
de outros teatros de operação, mas já era tarde. Por volta do dia 10 de
junho, 300 caças e 135 bombardeiros haviam chegado da Alemanha e da
Itália, e como resultado, a Luftflotte III pode formar uma força de mais
de mil aeronaves de combate, mas mesmo assim os alemães foram superados
em quantidade, na proporção de 8:1.
Durante algum tempo a Luftwaffe tentou utilizar unidades
especializadas em interceptação, vindas diretamente da Alemanha, em
ataques terrestres, mas como os pilotos não estavam treinados nessas
missões, os resultados obtidos não justificavam as pesadas perdas sofridas.
Além disso, a força de caça disponível foi mais reduzida ainda pela
necessidade de se providenciar escoltas. Assim é que os planos alemães, tão
meticulosamente preparados, do emprego de aeronaves de ataque para
destruir as forças terrestres aliadas, quando essas desembarcassem,
deram em nada, ao mesmo tempo em que os poderosos bombardeios aliados,
contra a retaguarda alemã, colocou a Luftwaffe na defensiva, obrigando-a a
enorme desgaste na proteção de suas próprias instalações, deixando as
tropas terrestres sozinhas, sem qualquer apoio aéreo. Também, o tão
esperado e revolucionário caça-bombardeiro à jato Me 262, não pode ser
empregado, devido ao atraso na conversão do mesmo para essa atividade.
46
Como a Luftwaffe rapidamente verificou que, atacar os navios aliados
de dia ou à noite era uma tarefa impossível, seus esforços se concentraram
no lançamento de minas em águas rasas, por onde os barcos aliados tinham
que passar. Até o final de julho, foram realizadas mais de 1 500 missões
desse propósito, lançando-se cerca de 4 mil minas de todos os tipos. Para os
aliados, esta campanha resultou considerável inconveniência, visto que as
novas minas alemães de pressão, recém-aperfeiçoadas, mostraram-se
extremamente difíceis de serem varridas, influindo em muito no tráfego de
navios, que para evitá-las, eram obrigados a navegar a velocidades
extremamente baixas. Em apenas um mês, os aliados perderam sete
destróiers, dois caça-minas e 17 navios mercantes. Embora o efeito
cumulativo fosse grande e causasse dificuldades e atrasos, essas operações
da Luftwaffe nunca foram decisivas, e o máximo que se podia esperar era
retardar o incremento das forças aliadas em terra.
Durante os primeiros meses após a invasão, a Luftwaffe luto e muito
contra a quase total superioridade aérea aliada no oeste, mas sem éxito. Os
aeródromos utilizados pela Luftwaffe no oeste sentiram o peso total da
força aliada de bombardeiros, e os ataques se repetiam com intensa
frequência, de modo a mantê-las fora de ação.
Com forças terrestres aliadas estabelecidas e efetivos cada vez
maiores na França, os alemães foram incapazes de contê-las na cabeça-deponte da Normandia. Em fins de julho, as forças americanas comandadas
pelo General Patton, no flanco direito dos aliados, abriram caminho pela
linha defensiva alemã e começaram a avançar pela península de Cherburgo.
Desafiando os regulamentos e ordens da campanha, Patton fez com que 7
divisões percorressem a península em 3 dias, prendendo dois grupos de
exército alemão no bolsão de Falaise.
A retirada desenfreada das forças alemães da França tomou todo o
mês de agosto, e o comandante dos caças da Luftwaffe no oeste, General
Bülowins, esforçou-se arduamente por manter sua presença no ar, mas isto
se tornava cada vez mais difícil, à medida que as várias unidades eram
obrigadas a recuar para bases na Holanda, Bélgica e Alemanha. Em meados
de setembro, os alemães haviam sido virtualmente expulsos de toda a
França e Bélgica. A segunda Batalha da França terminara, e a Luftwaffe
praticamente dela não participou.
O bombardeio com robôs
O Fieseler Fi 103 ou FZG 76, mais conhecido como V-1 (abreviatura
de Vergeltunsgwaffe 1 - Arma de Retaliação Nº 1), era um pequeno avião
sem piloto, com 5,31 m de envergadura e 7,60 m de comprimento, e sempre
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que possível para poupar alumínio, já meio escasso, era construído de aço. O
aparelho pesava pouco mais de duas toneladas, das quais 840 kg eram o altoexplosivo de sua ogiva. Era propulsionado por um motor único Argus à jato,
que desenvolvia 265 kg de empuxo e com vida operacional de cerca de 30
minutos. Depois de lançado de catapulta, o míssil acelerava até alcançar uma
velocidade de cruzeiro de uns 640 km/h, a uma altitude de 900 m - baixa
suficiente para que os pesados canhões antiaéreos operassem com plena
eficiência e alta demais para os canhões leves.
O Fi 103, fez seu primeiro vôo independente em dezembro de 1942, e
em meados de 1943, já atingia uma distância de 423 km, caindo cerca de
800 m do alvo previsto (um tiro excepcionalmente certeiro, considerando-se
a distância e os meios então empregados). O sucesso foi tal, que encorajou o
Alto Comando da Luftwaffe a ordenar sua produção plena, e o objetivo
principal seria a capital inglesa, cuja distância do Passo de Calais estava ao
alcance da arma. Paralelamente ao Fi 103, e também destinado a atacar
Londres, os alemães desenvolveram o foguete A-4 (conhecido como V-2). O
A-4 era, entretanto, um projeto do exército, e não da Luftwaffe.
A arma Flak (anti-area) da Luftwaffe ficou incumbida de operar o
Fi 103, e o Flak Regiment 155, foi criado especialmente para este fim.
Enquanto o regimento estava sendo treinado em Zempin, no Báltico, no
outono de 1943, 40 mil trabalhadores estavam empenhados na construção
de 64 rampas de lançamento principais e de 32 de reserva, e a maioria
apontada contra Londres.
A data prevista para o início dos ataques das bombas-voadoras contra
Londres era dezembro de 1943, mas o programa de produção sofrera muitos
atrasos, o que levou os alemães a retardar o início das operações. Além
disso, as grandes rampas de lançamento não escaparam á observação do
sempre alerta Serviço de Inteligência Britânico, que acompanhou o trabalho
de construção com muito interesse. Logo os bombardeiros aliados passaram
a realizar maciços ataques contra esses locais, e a maioria foi
completamente destruída ou seriamente avariada.
Depois deste desastre, os alemães inventaram novo tipo de rampa de
lançamento, muito mais simples e menos óbvias que as primeiras. Os homens
do Flak Regiment 155, prevenidos sobre o que poderiam esperar,
observaram as mais rígidas precauções no preparo dos novos locais,
disssimulando-os com elaborada camuflagem. Por volta de abril de 1944 já
havia um bom número de V-1 em disponibilidade e as novas rampas também
estavam prontas. Mas, os ataques aliados praparatórios da invasão, contra
alvos de comunicação na França e Bélgica, haviam começado, e aumentaram
em muito as dificuldades no transporte de qualquer coisa para a região.
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No começo de junho de 1944, seis meses depois da data inicialmente
marcada, a Luftwaffe estava quase pronta para iniciar as operações com as
V-1. Faltavam apenas pequenos acertos no plano de ataque quando aconteceu
o desembarque aliado na Normandia, e este trabalho então recebeu novo
impulso. Na noite de 12 de junho, disparou-se a primeira salva de V-1 contra
Londres, um total de apenas dez bombas, sendo que quatro delas chegaram
à Inglaterra e apenas uma atingiu a capital.
Passados três dias, em que os alemães se organizavam, o bombardeio
começou a sério, quando então cerca de 200 bombas eram lançadas por dia.
Esse ritmo foi mantido até a segunda metade de agosto, quando os locais de
lançamento foram capturados. Ao fim desta fase, um total de 8 617 bombas
foram lançadas contra Londres. Suplementado as bombas-voadoras, havia a
unidade III KG 3, equipada com He 111, que foram modificados para
transportar uma única bomba-voadora entre o motor e a fuselagem. Ataques
foram realizados não só contra Londres, mas também contra Southampton e
Gloucester, mas a precisão desse modo de bombardear deixava muito a
desejar. O peso e o arrasto impostos pelo míssil transportado
externamente resultavam em séria redução no desempenho dos já
ultrapassados He 111 e, para sobreviver diante das avassaladoras defesas
britânicas, os alemães eram obrigados a operar á noite e em baixa altitude.
Os bombardeiros se aproximavam em vôo baixo, sobre o mar a não mais que
60 m, abaixo da proteção do radar britânico, e faziam ligeira subida, até uns
450 m, quando a uns 60 km do alvo, para disparar o míssil, retornado a
seguir às suas bases, sempre em vôo rasante. Em setembro de 1944, com o
piorar da situação militar alemã na França e Holanda, o III/KG 3 passou a
operar da Alemanha, dos aeródromos de Aalhorn, Varelbusch, Zwischenahn
e Handorf-bei-Münster, mas não mais como lançador de míssil, e sim como
bombardeio normal. Das V-1 lançadas do ar, 50% não funcionaram a
contento, e a precisão das restantes foi medíocre.
Os alemães reiniciaram os bombardeiros à Londres de locais de
lançamento situados na Holanda, utilizando uma versão melhorada da V-1
com longo alcance. Essa última fase durou até março de 1945, e ao terminar,
cerca de 300 bombas haviam sido lançadas, mas as defesas de caças e
antiaéreas haviam atingido tal perfeição, que apenas 13 delas chegaram à
área de Londres.
Ao todo, cerca de 10 500 V-1 foram lançadas contra a Grã-Bretnha; a
grande maioria, cerca de 85%, foi lançada de rampas terrestres. Do total,
7 500 cruzaram a costa britânica, 4 000 foram derrubadas pelas defesas
antes que pudessem atingir seus alvos. Das 3 500 restantes, 2 500
atingiram Londres. As bombas causaram a morte de 6 200 civis e ferimento
em 18 mil.
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Se os alemães tivessem podido utilizar as V-1 dentro do cronograma
inicialmente estabelecido, juntamente com incursões de bombardeiros
tripulados, as defesas britânicas não teriam podido evitar que grandes de
Londres sofressem danos demasiadamente extensos. Finalmente, as tropas
aliadas avançaram e capturaram os locais de lançamento terrestres no Passo
de Calais e, para os londrinos, o pior já havia passado.
É verdade que bombas-voadoras ainda cairiam sobre Londres, a
intervalos irregulares, durante os sete meses seguintes, mas todos sabiam
que este esforço não mudaria nem um pouco o rumo da guerra.
Petróleo: o calcanhar de Aquiles
Antes de examinarmos a situação alemã em relação aos combustíveis,
no ano de 1944, voltaremos no tempo para darmos uma olhada no estado das
coisas até aquela época. Já no final de 1939, a produção de gasolina de
aviação estava muito aquém do que se considerava necessário para uma
guerra em larga escala. Assim, durante os dois últimos anos antes do início
da guerra, os alemães haviam importado grandes quantidades e acumulado
uma reserva superior a 350 mil toneladas – o bastante para operação aéreas
intensas durante três meses, mesmo que a produção interna fracassasse
completamente.
Todavia, a rapidez das campanhas na Polônia, Noruega, França, e mais
tarde a dos Bálcãs e da Grécia, e com conseqüente captura de estoques de
combustíveis, desobrigou os germânicos de recorrer às reservas
acumuladas. Apenas pouco antes do início da Campanha Russa, é que houve
ligeiro corte nos vôos de treinamento, de modo a permitir um aumento nos
estoques, mas nenhuma restrição foi feita ao consumo de combustíveis no
transcurso da primeira parte da guerra.
Durante o primeiro ano da guerra, a Luftwaffe pôde operar sem
limitações, embora às vezes houvesse escassez local, devido a dificuldades
de transporte para as ares avançadas, mas, no decorrer do segundo ano de
guerra, a intensificação das operações aéreas cresceu muito, aumentando
sobremaneira o consumo de gasolina de aviação, tanto é que em setembro de
1942, os alemães haviam chegado ao ponto crítico, em termos de
combustível, e o que havia era suficiente apenas para mais duas semanas de
operações. Porém, devido à embaraçosa situação das frentes oriental e
mediterrânea, não podia haver restrição ao consumo nessas áreas, em
outras porem o corte foi drástico. As operações no oeste reduziram-se ao
mínimo e a cota destinada ao treinamento também foi muito diminuída. O
fornecimento de combustível aos fabricantes de aviões e de motores foi
igualmente muito reduzidos, e com isso, apenas um avião em cinco fazia a
50
prova de vôo completa ao sair da linha de montagem – os restantes voavam
apenas uns vinte minutos antes de serem despachados para as unidades
operacionais.
O Reichsminister Albert Speer, que compreendia muito bem a
importância do combustível na consecução de suas metas, que visavam à
reorganização da indústria, providenciou para que ele não viesse a faltar, e
para tal, direcionou esforços no sentido de que as fábricas de combustível
sintético elevassem ao máximo a produção, e já no verão de 1943 surgiram
frutos de seu programa de trabalho, quando as reservas de combustível
subiram para 400 mil toneladas em dezembro, e para 570 mil toneladas em
abril de 1944, um recorde de estocagem.
Esta era a situação em maio de 1944, quando os bombardeiros
estratégicos americanos começaram a concentrar-se no ataque aos centros
de produção de petróleo alemães, e em junho os Lancasters e Halifaxes da
RAF juntaram-se a eles, desta vez escoltados por uma aeronave
especialmente equipada com aparelhos de interferência em radar e rádio,
que os acompanhava na penetração das defesas.
O efeito da ofensiva aérea aliada combinada contra a indústria
petrolífera alemã foi devastador. Por volta de 22 de junho, a produção caiu
90%, e naquele mês, apenas 52 mil toneladas de combustível especial para
aviação foram produzidos. À medida que os ataques prosseguiam, as coisas
iam piorando; em agosto foram produzidas 16 mil toneladas e em setembro,
umas poucas sete mil toneladas. A Luftwaffe então foi obrigada a consumir
reservas acumuladas durante o inverno e a primavera, e em agosto de 1944,
as unidades começaram a sentir em toda sua extensão os efeitos da crise no
abastecimento de gasolina.
A fome de combustível eliminou muitos dos planos alemães. Um deles
era o Geschwader de bombardeiros quadrimotores de longa distância que
acabavam de ser montado no mais completo segredo. A unidade era o
Kampgeschwader 1, equipada com 90 bombardeiros He 177, que nos meses
de maio e junho de 1944, mudara-se para bases existentes na Prússia
Oriental e começara suas operações contra os russos. As operações do KG 1,
já bem antes do rarear da gasolina, estavam condicionados à chegada do
trem que a transportava, por não existir reservas nas bases onde operava,
fato esse que restringiu muito a atuação da força. Certa feita, caçasbombardeiros aliados atacaram o trem vital, e nenhuma gota de combustível
chegou ao aeródromo, impedindo todas as operações planejadas para o dia
seguinte.
Cada He 177 necessitava de seis toneladas de combustível para uma
operação de alcance médio, e assim para um ataque com os 80 aviões, a KG 1
precisava de 480 toneladas. Mas durante o mês de agosto, essas 480
51
toneladas representavam a média diária de produção para toda a Luftwaffe
!!! Não havia como discutir com uma simples operação aritmética: não havia
combustível suficiente para manter os bombardeiros em operação. Os
homens do KG 1 receberam ordens de levar seus aparelhos de volta para os
aeródromos da Alemanha Central, onde esta e muitas outras unidades foram
dissolvidas.
As unidades de bombardeiros não foram as únicas a sofrer os efeitos
da escassez de combustível. A maioria das escolas de treinamento de pilotos
fechou, e os alunos realocados na infantaria. Os vôos de reconhecimento
foram severamente limitados e o apóio de caças-bombardeiros só era
permitido em situação decisivas. No final do verão de 1944, apenas as
operação de defesa de alvos na Alemanha tiveram permissão de continuar
sem restrições, porém, mais tarde, até mesmo estas foram reduzidas.
Somente as unidades equipadas com caças à jato escaparam do efeito da
crise, porque esses aparelhos utilizavam outro tipo de combustível, cuja
disponibilidade era abundante.
Sob o olhar atento de Hitler, Albert Speer tomou medidas enérgicas
para reparar as instalações onde se fabricava o combustível de aviação, e
para impedir sua total destruição. Sete mil homens foram liberados do
exército para ajudar neste trabalho de reconstrução. Enorme quantidade de
trabalhadores, atuando sob regime de escravidão, foi colocada a serviço do
programa. Paredes de concreto à prova de explosões foram construídas em
tornas das partes mais vulneráveis das refinarias e geradores de fumaça
foram colocados para ocultá-las durante os ataques. Grande quantidade de
canhões antiaéreos pesados foram trazidos para a defesa das fábricas,
tornando-as verdadeiras fortalezas. Nas fábricas, abrigos profundos foram
construídos, para que os trabalhadores pudessem retornar ao trabalho o
mais depressa possível, após um ataque. Finalmente, para assegurar o moral
nas fábricas, os trabalhadores foram submetidos à supervisão especial das
SS.
Com estas medidas, a indústria de petróleo sintético alemã pôde
recuperar-se um pouco, e as fábricas voltaram gradualmente a funcionar,
produzindo boas quantidades de combustível; em outubro 19 mil toneladas e
em novembro, 39 mil toneladas. Utilizada de modo racional, essa quantidade
bastou para injetar, temporariamente, nova vida na praticamente paralisada
Luftwaffe.
52
A morte de uma força aérea
No final do outono de 1944, as frentes oriental e ocidental
acalmaram, porque os aliados pararam para tomar fôlego, depois de suas
bem sucedidas ofensivas de verão, e o ano testemunhara uma série de
maciças derrotas das forças alemães, em todas as frentes e em todas as
dimensões. Era evidente que os dias do “Terceiro Reich” estavam contados,
e diante da única alternativa de rendição incondicional, coisa que a
propaganda do partido tornava mais abominável que a derrota e até mesmo a
morte, a maioria dos soldados das forças armadas resolveu lutar até o fim,
de acordo com o que rezava um ditado em voga na Alemanha, na época:
“Aproveite a guerra, porque a paz época: “Aproveite a guerra, porque a paz
á terrível”.
Hitler, pensando que um ataque capaz de aliviar, um pouco que fosse,
a enorme pressão dos aliados, sentiu que naquele momento, em que muitos
pensavam que a Alemanha estava acabada, poderia surpreender o inimigo
com um poderoso ataque. No mínimo, isto lhe daria tempo, tempo
desesperadamente necessário para introduzir tipos avançados da caças à
jato ou de poderosos e novos submarinos. Foi com isto em mente que Hitler
fez com que seus generais planejassem a Operação Wacht am Rhein
(Sentinelas do Reno): uma força de 200 mil homens, incluindo sete divisões
Panzer, abriria à força um caminho pelo fraco setor das Ardenas, na frente
americana, e avançaria em direção ao importante porto de abastecimento
holandês de Antuérpia, a mais de 120 km de distância.
Para dar cobertura à ofensiva, a Luftwaffe reuniu uma força de
2 460 aviões:
Bombardeiros
55
Bombardeiros à jato
40
Aviões de ataque
390
Caças monomotores
1770
Caças bimotores
140
Aviões de reconhecimento
65
As recéns reparadas refinarias tinham podido produzir combustível
suficiente para permitir que a Luftwaffe entrasse em ação, pelo menos por
breve período, e ele desempenharia tarefa dupla durante a ofensiva.
Primeiramente teria que destruir as forças aéreas aliadas, por meio de
ataques em larga escala e de surpresa aos seus aeródromos e, depois disso,
uma cobertura de caças isolaria a zona de batalha. Em seguida, uma vez
obtida superioridade aérea, as unidades apoiariam as tropas terrestres em
seu avanço e atacariam a retaguarda do inimigo.
53
O ataque aos aeródromos aliados teve codinome Operação
Bodenplatte (Placa de Terra), e precederia a ofensiva terrestre. Em meados
de dezembro, todo o planejamento estava completo e as várias unidades em
posição. A 14 de dezembro, os comandantes dos Gruppen foram chamados
ao QG do Jagdkorps II, próximo de Altenkirchen, e ali, surpresos foram
instruídos no que se esperava deles, pelo Generalmajor Dietrich Peltz. O
general disse-lhes do plano para atacar simultaneamente os aeródromos
aliados em Volkel, Eindhoven, Antuérpia, Lê Culot, St. Trond, Metz e os da
área de Bruxelas e de Gnat.
A grande ofensiva alemã começou na manhã do dia 16 de dezembro de
1944, mas sem o planejado ataque aos aeródromos aliados, pois denso
nevoeiro, durante todo esse dia e na maior parte dos oito dias seguintes,
impediu qualquer atividade aérea de ambos os lados, mas mesmo assim as
tropas alemães obtiveram consideráveis ganhos em terra. No dia 17 de
dezembro, a Luftwaffe conseguiu realizar umas 600 surtidas, na maioria
missões de apoio aéreo aproximado, e naquela noite, bombardeiros e caças
realizavam outras 300 surtidas contra reforços que vinham chegando da
retaguarda aliada.
Gradativamente, a resistência americana em terra foi aumentando, à
medida que tropas experientes chegavam de outras partes da França, e por
volta do dia 20 de dezembro, as pontas-de-lança do ataque alemão, que
haviam avançado quase 80 km, foram obrigadas a parar.
A 24 de dezembro o nevoeiro finalmente de dissipou, e a Luftwaffe
tornava a sentir o peso do poderio aéreo aliado, pois onze dos mais
importantes aeródromos utilizados para proteger a ofensiva nas Ardenas
foram severamente danificados, e no dia seguinte, as tropas americanas, já
reagrupadas, passaram à ofensiva e começaram a espremer os alemães num
bolsão.
As ordens originais da Operação Bodenplatte foram rapidamente
relegadas a segundo plano, visto que as necessidades agora eram de
operações defensivas, mas mesmo assim alguns Gruppen receberam ordens
de atacar na manhã do Ano Novo. À 05:00 h do primeiro dia do ano de 1945,
os pilotos alemães foram despertados, receberam suas instruções finais e
vestiram seus trajes de vôo. Às 09:00 h, os primeiros aviões já haviam
decolado e se dirigiam para o ponto de encontro. Ao todo cerca de 800
caças, quase todos Me-109 e Fw 190 levantaram vôo.
Um dos ataques mais bem sucedidos foi o desfechado contra o
aeródromo de Eindhoven, realizado pelos I, II e IV/JG 3 – a unidade que
receber o nome de Udet- as duas primeiras equipadas com Me-109 e
sediadas em Paderborn e Lippspring e a última com Fw-190 sediada em
Gütersloh. Um total de 72 aviões participaram do ataque e eles voaram
54
rasante, cerca de 220 km até seu objetivo. O Jagdeschwader 3 atacou
Eindhovem no momento em que os caças-bombardeiros Typhoon, dos
Esquadrões Canadenses Nº 438 e 439 estavam se preparando para uma
missão. Conforme as ordens recebidas, os caças alemães atacaram os aviões
pousados, circulando livremente por sobre o aeródromo. No final, quase
todos os aviões dos dois esquadrões estavam destruídos ou seriamente
danificados, além de outros de outras unidades estacionadas naquele
aeródromo.
A Luftwaffe conseguiu total surpresa em todos a parte, mas nenhum
ataque foi tão bem sucedido quanto o realizado pela JG 3. Algumas unidades
não conseguiram encontrar seus objetivos e em outras, estabelecia-se uma
confusão tão grande sobre os objetivos, que os aviões atacantes se
atrapalhavam mutuamente.
O ataque do dia do Ano Novo custou aos aliados 144 aviões destruídos
e 62 bastante danificados e para conseguir isto a Luftwaffe perdeu 200
aviões e as respectivas tripulações. Dos 127 aviões que caíram dentro de
setores aliados, 41 foram derrubados pelos caças, 82 pela antiaérea e 16
por defeitos mecânicos. As perdas aliadas, embora sérias, foram repostas
em duas semanas.
Essa operação marcou o final da participação dos caças de motor a
pistão da Luftwaffe, porque o reinício dos bombardeiros aliados contra as
refinarias alemães e a ofensiva das Ardenas desfalcaram sensivelmente as
reservas germânicas de gasolina.
Para os fabricantes de aviões alemães, a falta de combustível foi mais
desalentadora, porque seus esforços por aumentar a produção durante o
ano, a despeito dos violentos bombardeios que as fábricas sofriam, foi um
notável sucesso. Durante o ano de 1944, eles produziram 40 593 aviões,
mais do que os fabricados nos anos de 1942 e 1943 juntos, mas desses
apenas 1 041 eram à jato, e os 39 552 restantes eram aviões de motores à
pistão que não podiam levantar vôo por falta de combustível. !!!
Os únicos aviões alemães capazes de continuar operando eram os à
jato, o caça Me 262 e o bombardeio Arado 234, contudo a quantidade à
disposição das unidades operacionais era tão reduzida, que eles eram pouco
mais que um incômodo para as tropas aliadas. Os Arados 234 e os Me 262
atacavam sozinho as tropas americanas nas Ardenas, mas os caças
americanos permaneciam em total alerta, massacrando-os.
Voltando um pouco no tempo, em setembro de 1944, Hitler começara
a ceder na questão do uso dos Me 262 como caças. Durantes reuniões
realizadas entre os dias 21 e 23 daquele mês, Hitler concordara que o
Aradao 234 continuará a ser fabricado como bombardeio, e que para cada
Arado pronto para ação, um Me 262 será revertido à caça. Como resultado
55
dessa mudança, cerca de 40 Me 262 foram imediatamente reunidos numa
unidade sob o comando de um ás da caça, o Majar Water Nowotny, e a
unidade entrou em operação no começo de outubro, com o nome de
Kommando Nowotny, em homenagem a seu líder, operando a partir das bases
de Achmer e Heseppe, perto de Osnabruck. Apesar de algumas dificuldades
sérias no desenvolvimento e de problemas de manutenção do novo caça, o
novo caça saiu-se muito bem contra as formações de bombardeiros
americanas. No primeiro mês, abateram 22 bombardeiros, embora
raramente pudessem operar mais de três ou quatro caças por operação.
A 8 de dezembro, apenas um mês depois que essa unidade começara a
operar, o próprio Nowotny foi abatido e morto, por um caça aliado quando
tentava aterrisar seu Me 262 em Achmer. Em sua memória, a unidade de
caça que estava sendo formada com base no Jommando Nowotny, a
Jagdgeschwader 7, também recebeu seu nome. De início, comandada pelo
Major Johannes Steinholf, os Me 262 da JG 7 desempenharam papel muito
importante no combate aos ataques dos bombardeiros diurnos americanos.
Mas, como resultado de problemas de transporte e abastecimento e de
prioridades de outros esquadrões de caça-bombardeiros também equipados
com Me 262, os I e II/JG 7 jamais receberam todos os seus efetivos.
Então, em janeiro de 1945, formou-se mais uma unidade de caças Me
262: a unidade de elite Jagdverband 44 ou JV 44, comandada pelo ex-chefe
da caça alemã, o Generalleutnant Adolf Galland. Essa unidade contava com
os melhores e mais experientes pilotos de caça, que tinham sobrevivido a
guerra, como o Oberst Günther Lützow e o Oberstleutnant Gehard
Barkhorn, ambos possuidores da Cruz de Cavalheiro com Espadas e Folhas
de Carvalho, o Oberstleutnant Wolfgang Späte e o Major Walter Krupinski,
ambos possuidores da Cruz de Cavalheiro com Folhas de Carvalho; estes e
muitos outros, vieram para a JV 44; alguns eram até ex-comandantes de
unidades que operavam com aviões à pistão e que não podiam mais voar.
Os homens da JV 7 e da JV 44 travaram muitos combates aéreos
valorosos nos últimos meses da guerra. Exemplo claro foi o ocorrido no dia
18 de março, quando 1 250 bombardeiros pesados americanos, com poderosa
escolta de caça, partiram para atacar Berlim, e 37 Me 262 dos I e II JG/7,
decolaram para interceptar. Naquele dia, a poderosa força incursora perdeu
24 bombardeiros e cinco caças, mas só conseguiram derrubar dois dos jatos
alemães.
Embora desconcertantes para os inimigos, as novas unidades de caça
à jato da Luftwaffe nada podiam fazer pra impedir a derrota final.
Inexoravelmente, os restos da Luftwaffe foram espremidos em Schleswig
Holstein ao norte, e na Bavária, ao sul, quando os exeécitos invasores, pelo
leste e pelo oeste, se reuniram no meio e dividiram a Alemanha em duas. A 6
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de maio de 1945, o Grossadmiral Karl Dönitz, que herdara de Hitler a
liderança do desmoronado “Terceiro Reich”, ordenou que o restante de suas
forças depusessem as armas no dia seguinte. Terminara a guerra na Europa.
Conclusão
Os conquistadores da Alemanha puseram-se a desmontar a força
aérea que, no seu apogeu, fora o terror da Europa. Para os homens, os
campos de prisioneiros, enquanto que alguns dos aviões, por serem novos ou
de alguma forma interessantes, foram enviados a vários campos de prova
dos vitoriosos; a maioria, porém, virou sucata. Umas poucas instalações, que
talvez tivessem alguma utilidade para as potências ocupantes, foram
mantidas; as restantes foram destruídas.
A Luftwaffe lutou até a última gota de combustível. Quando a
Alemanha foi atirada á lona, restavam uns 3 500 aviões, a maioria dispersa
em áreas distantes e com os tanques de combustível vazios. Entre 1º de
setembro de 1939 e 28 de fevereiro de 1945, última data para a qual
existem registros fidedignos, a força perdeu 44 065 tripulantes (entre
mortos e desaparecidos, dos quais 6 631 oficiais), teve 28 200 feridos (4
245 oficiais) e 27 610 (4 408 oficiais) feitos prisioneiros. A indústria
alemã, no mesmo período produziu um total de 113 515 aviões, dos quais
84 693 eram dos principais modelos
E se a Luftwaffe tivesse podido superar o grande problema que a
atribulara durante a guerra? E se lhe tivesse sido possível atacar o grosso
da indústria russa, além dos Montes Urais, com seus bombardeios de longo
alcance? E se Hitler tivesse permitido que o Me 262 fosse produzido em
grande escala como caça, no final da primavera de 1944? E se a organização
de treinamento da Luftwaffe não tivesse entrado em colapso? E se os
suprimentos de combustível e a capacidade de refinos sintéticos se
mantivessem intactos? O que teria acontecido então? A guerra talvez
tivesse prosseguido por mais algum tempo, mas o resultado com certeza
teria sido o mesmo, pois se os alemães tivessem continuado a lutar até
agosto de 1945, é muito provável que o horror da bomba atômica tivesse
acontecido também na Europa.
Abaixo, segue a transcrição do diário de um piloto alemão, encontrado
no aeródromo de Leck, em Schleswig Holstein, e dá conta da atmosfera
reinante no seio da Luftwaffe nos dois últimos dias da guerra:
“6 de maio de 1945. Alinhamos os aviões e equipamentos de terra em
ordem de parada. Os ingleses ficaram espantados com a cena imponente no
aeródromo: a visão de mais de cem aviões, parados, com um orgulho feito de
tristeza. Os tipos mais novos, os Me 262 e os He 162, que mal tinham
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começado a operar, estavam misturados com os veteranos Me 109 e Fw 190,
vitoriosos de milhares de combates aéreos; todos esses seriam entregues
ao inimigo.
7 de maio de 1945. Retiramos as hélices, os lemes e os canhões dos
aviões. Para nós pilotos, a visão do aeródromo é indescritivelmente triste e
dolorosa. Nosso orgulho, nossa força aérea, nosso mundo, obrigado a exporse nu ao público. Pelo menos 30 ou 40 Me 262 estão alinhados juntos um dos
outros, prontos para serem entregues.”
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