o comboio da madrugada
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o comboio da madrugada
O COMBOIO DA MADRUGADA DE TENNESSEE WILLIAMS ENCENAÇÃO CARLOS AVILEZ O COMBOIO DA MADRUGADA 10 mai – 17 jun’12 SALA GARRETT 4.ª a sáb. 21h | dom. 16h FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA de Tennessee Williams tradução António Barahona dramaturgia Miguel Graça encenação Carlos Avilez cenografia e figurinos Fernando Alvarez lutas e movimento Georges Stobbaerts com Eunice Muñoz, Lia Gama, Carlos Reiriz, Henrique Carvalho, Lídia Muñoz, Pedro Caeiro, Renato Pino, Ricardo Alas, Rita Cabaço, Sérgio Silva fotografia Gonçalo Fabião direção de montagem Manuel Amorim montagem Augusto Loureiro, Rui Casares, Rui Martins assistência de ensaios Jorge Saraiva ponto Diogo Tavares mestre de guarda-roupa Teresa Louro costureiras Maria José Baptista, Natália Ferreira, Palmira Abranches Eunice Muñoz maquilhada por Joana Isfer; Eunice Muñoz e Lia Gama penteadas por Gena Ramos produção Teatro Experimental de Cascais M/12 O Comboio da Madrugada estreou a 17 fev’11, no Teatro Municipal Mirita Casimiro 2 DISTRIBUIÇÃO DE PERSONAGENS [por ordem de entrada em cena] Renato Pino - Um Carlos Reiriz - Dois Ricardo Alas - Três Eunice Muñoz - Flora Goforth Lídia Muñoz - Frances Black Pedro Caeiro - Christopher Flanders Sérgio Silva - Rudy Henrique Carvalho - Giuglio Rita Cabaço - Simonetta Lia Gama - Bruxa De Capri 3 O Espetáculo Doente, sozinha, numa fase em que nada mais importa a não ser a derradeira vontade de ser desejada, a excêntrica e cruel Flora Goforth dita as suas memórias, recordando os maridos, os amantes e o único amor da sua vida. É nessa altura que recebe a inesperada visita do jovem poeta Chris Flanders, apelidado de “Anjo da Morte”, que a tentará convencer a entregar-se ao suicídio. Sob o título original The Milk Train Doesn’t Stop Here Anymore, O Comboio da Madrugada estreou em 1963 nos Estados Unidos. Este espetáculo é protagonizado por Eunice Muñoz que comemora 70 anos de carreira. 4 Doze anos depois texto de Carlos Avilez É com grande orgulho que regresso a esta casa mítica à qual continuo ligado emocionalmente e onde me estreei em 1956 como actor, sob direcção de Amélia Rey-Colaço. Foram doze anos de ausência deste palco, e por isso um agradecimento especial ao meu colega João Mota pelo convite para apresentar aqui novamente um espectáculo, e os sinceros votos de que o seu trabalho enquanto Director Artístico do Teatro Nacional D. Maria II seja recheado de qualidade e sucessos. Esta apresentação d' O Comboio da Madrugada marca também o regresso de Eunice Muñoz a uma casa que é dela e de onde nunca devia ter saído. É uma grande Senhora do Teatro com quem tive a experiência inesquecível e maravilhosa de trabalhar ao longo de muitos anos. Obrigado, Eunice. Saúdo também o meu feliz reeencontro com outra grande actriz: Lia Gama, que esta nova apresentação permitiu. Foi com um enorme entusiasmo que voltei a trabalhar com ela. Numa altura em que o teatro português vive momentos de grande dificuldade, é a paixão das pessoas que faz com esta arte continue a existir. Todos os jovens que me acompanharam nesta aventura fascinante são uma esperança para o futuro do teatro. Desejo-lhes a eles, a toda a minha equipa e aos técnicos e colaboradores do TNDMII que comigo trabalharam no passado as maiores felicidades. Tennessee Williams é um autor que muito admiro e estimo. Escreveu peças tremendas e personagens femininas marcantes. Há muito tempo que queria fazer O Comboio da Madrugada com Eunice Muñoz porque acreditava que o papel de Flora Goforth era perfeito para ela. A sua interpretação é um acontecimento ao mais alto nível. O sucesso dos três meses e meio de apresentações no Teatro Mirita Casimiro e um mês no Teatro Rivoli, prova isso mesmo. Acredito que o sucesso se repetirá agora na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II. * Este texto não segue as regras do Novo Acordo Ortográfico 5 Quando a magia se transforma em grotesco texto de Miguel Graça O Comboio da Madrugada [The Milk Train Doesn’t Stop Here Anymore] foi quase sempre um estrondoso fracasso. Se é certo que não há razões objectivas que expliquem o insucesso de uma peça que continua a ser amiúde revisitada, também não é difícil encontrar argumentos que justificam a fragilidade do texto, que é objectivamente um tour de force megalómano, excessivamente longo e centrado numa Flora Goforth que pretende ser uma figura alegórica da humanidade mas que se revela um monstro grotesco e cruel que devora tudo e todos sem deixar espaço para que as outras personagens respirem. O próprio Tennessee Williams nunca se mostrou satisfeito com a peça. Baseada num conto de sua autoria – Homem Trazer Isto Estrada Acima, de 1953 – escreveu-a em 1961, durante um período negro da sua vida, em que o sucesso o levou à depressão e à dependência do álcool e de drogas. Reescreveu-a duas vezes em 1963, como resposta à morte de Frank Merlo, um dos grandes amores de Williams, depois de o acompanhar durante meses na derrota contra um cancro no pulmão. Mais tarde voltou a fazer uma nova versão para a adaptação cinematográfica de 1968 de Joseph Losey, que intitulou Boom!, e que apesar de contar com a dupla Taylor/ Burton e a participação de Noel Coward como Bruxa de Capri, tal como tinha sucedido com as duas estreias na Broadway, voltou a revelar-se um insucesso, quer para o público quer para a crítica. A sua insatisfação com o texto era tal que até 1972 continuou a tentar aperfeiçoá-lo. É uma peça distante das que valeram a Tennessee Williams o epíteto de maior dramaturgo americano. A acção começa de forma bizarra se tivermos em conta quem é o autor. Impressionado com o teatro Kabuki, Williams decide iniciá-la com os Assistentes de Cena, que não só nos remetem para um efeito de distanciamento, como também nos dizem de forma muito clara que vamos assistir aos últimos dois dias de vida da senhora Goforth. Ou seja, no que toca ao enredo, está tudo dito; a protagonista há-de morrer e a nós resta-nos descobrir de que forma, uma espécie de colagem entre o passado recente de Williams e a ficção dramática, uma vez 6 que a senhora Goforth é, no fundo, uma reencarnação do sofrimento final de Frank Merlo, o que faz da peça uma mistura de recusa da morte com uma apologia da eutanásia. Estranho paradoxo, poder-se-á dizer, mas a derrota anunciada de Flora pelos assistentes parece querer insinuar que a certa altura devemos desistir, e não será coincidência que Christopher Flanders, o “Anjo da Morte”, seja em quase tudo um duplo de Alex – o grande amor da senhora Goforth, o único homem com quem esta caçadora de fortunas casou por amor – a mesma roupa, a mesma beleza e a mesma personalidade poética – somente se diferenciam numa coisa, Alex suicida-se e Chris ajuda ao suicídio. Estamos, portanto, ainda num claro registo do Simbolismo que Williams tanto apreciava. Os exemplos são inúmeros e por vezes mais e outras vezes menos decifráveis, começam logo no nome de Flora Goforth (em inglês, go forth significa “ir embora”) e continuam com os mobiles de Chris, a vivenda cor-de-rosa, as referências históricas e geográficas, e, principalmente, com a dicotomia claroescuro entre a beleza e o grotesco, que ganha especial relevância no antagonismo entre o branco do leite que o jovem Chris ambiciona e o café negro que a velha senhora Goforth lhe dá. Tudo somado, temos uma obra alegórica de difícil análise onde a surpresa maior é a própria Flora Goforth, que ao contrário do que seria de esperar não é uma mulher frágil, inadaptada e sonhadora, mas sim uma milionária despótica e libertina que se diverte a maltratar um leque de personagens com quem dificilmente conseguimos criar empatia e que surgem como meros adereços que lhe prestam um serviço ou atendem aos seus desejos. Blackie, responsável por resgatar-lhe o passado ao transcrever as suas memórias, vai alternando a sua relação com ela entre a preocupação e o desinteresse, a “amiga” Bruxa de Capri fornece-lhe informações sobre o “Anjo da Morte” ao mesmo tempo que o tenta resgatar para si, e quanto aos restantes, são meros auxiliares que pouco mais fazem que manter ou guardar a montanha-torre-de-marfim onde ela se refugiou, aproveitando sempre que possível qualquer oportunidade para compensar os maus tratos a que estão sujeitos com o roubo de jóias ou outras riquezas. A excepção neste jogo de senhor/ escravo é o ainda mais ambíguo Chris Flanders, jovem poeta que tem por hábito visitar velhas senhoras à beira da morte, e de quem nunca chegamos a perceber as reais intenções, se é efectivamente de um altruísmo extremo, disposto a libertar-nos do sofrimento ao conceder-nos a morte, ou se é um simples assassino que se aproveita do medo para garantir a sua subsistência. 7 O confronto entre Christopher Flanders e a senhora Goforth acaba por isso por ser o clímax de uma peça que desde o início nos avisa que não quer funcionar em crescendo, e a luta entre os dois é resultado dessa negação, o que resulta num complicado desequilíbrio entre duas personagens excessivas e contraditórias. O apolíneo Chris não nos consegue convencer inteiramente da sua pureza ao furtar-se aos avanços sexuais da dionisíaca Flora, que é demasiado egocêntrica e cruel para ser uma figura alegórica da humanidade. Se a Blanche DuBois do Eléctrico prefere a magia à realidade, a senhora Goforth é o paradigma de tudo o que é terreno, porque, tal como ela diz, «o comboio da madrugada – que traz o leite – já não pára mais aqui», frase que acaba por ser o melhor exemplo da contradição em que a peça se transforma: Flora quer recusar o pathos associado a Chris Flanders mas momentos depois rende-se, talvez consciente que é preferível morrer nos braços de um desconhecido – mesmo que seja um charlatão – do que sozinha. É por tudo isto que mais de um ano e meio depois de termos iniciado os ensaios damos por nós a continuar a olhar para O Comboio da Madrugada com uma certa desconfiança, não em relação ao seu valor artístico, mas em relação à forma como “lemos” o texto e definimos a orientação e as relações entre as personagens. Nesse processo houve que cortar e reorganizar a peça, mutilando-a significativamente. Foi um caminho hesitante de constantes avanços e retrocessos que teve um duplo objectivo: reduzir a duração do espectáculo e clarificar os objectivos e intenções de personagens demasiado dúbias e, por vezes, perdidas num lirismo grotesco. * Este texto não segue as regras do Novo Acordo Ortográfico 8 Diário de Tennessee Williams Em junho de 1953, após a estreia de Camino Real, Tennessee Williams viajou pela Europa, onde se manteve até ao início de novembro. Parte desse tempo passou-o em Itália, na Divina Costiera que serve de cenário para O Comboio da Madrugada. O excerto do diário que a seguir se apresenta relata, para além de muito da própria personalidade de Williams, o início da escrita do conto Homem Trazer Isto Estrada Acima. Quarta-feira, 19 de Agosto de 1953 Quarta – O velho monumento novamente revelado. Mas mantive-me firme. Causas da derrota: primeiro, idade. A espontaneidade da juventude está perdida, o que me valeu contra muitos obstáculos passados. A deterioração física e a fadiga mental que me fazem ser completamente estúpido. Incapacidade de descansar, o que me poderia restaurar as energias. Não consigo, não sei porquê. Não consigo enfrentar um dia sem as curtas horas de fuga para um intenso trabalho, independentemente de se tornar fútil. Vazio. Nada no meu mundo para além do trabalho. Por exemplo, em Santa Monica (1943), estava a escrever sobre isso esta manhã1, quando o trabalho não resultava, como acontecia por vezes, podia saltar para a minha bicicleta e libertar a tensão com o exercício físico. O meu corpo agora está na bancarrota. O cérebro também. Uma grande tempestade deixou-me despido, nu, como uma daquelas palmeiras quebradas depois de um furacão as ter atravessado. Debaixo destas condições, como é que uma pessoa continua? Suponho que simplesmente continuando. Ou não. Depende do que nos acontece, e não mais do que fazemos. Do outro lado da rua, um ensaio de ópera com vozes e orquestra. Para mim, um barulho sem sentido. Mandei ontem a nova parte final de Battle of Angels para ser dactilografada e acordei hoje de manhã a pensar quão clinicamente louco irá parecer quando voltar a ler a peça. Secador frio – junto ao peito. A Maria2 acabou de me telefonar para ir ter com ela ao bar. É o que vou fazer. Rien d’autre. En avant. 1 O conto The Matress by the Tomato Patch, que foi incluido em Hard Candy: a Book of Stories (1954). Maria Britneva (1921-1994), mais tarde Maria St. Just depois de casar com Peter Grenfell, Lord St. Just. Enquanto aspirante a actriz conheceu Tennessee Williams em Londres, no final de Julho de 1948. Rapidamente se tornaram grandes amigos. 2 9 (Tenho de admitir corajosamente que depois do Eléctrico não tenho sido capaz de escrever mais nada, excepto um terrível apertar do cérebro e dos nervos.) (Agora estou exausto.) Domingo, 23 de Agosto de 1953 Domingo – Aquela disposição passou-me outra vez. Eu e a Maria acabámos de chegar a Nápoles. Conduzi o dia todo. Está uma noite de luar e temos quartos e varandas sobre a baía de Excelsior. Couraçados americanos jazem junto à costa e a cidade está repleta de marujos. Amanhã tenho de trabalhar no argumento3 para o Visconti – nem paro na Battle – que me pareceu um fiasco quando a recomecei a ler. Ainda a espero salvar. Pelo menos até ao regresso da próxima fase negra. Segunda-feira, 24 de Agosto de 1953 Segunda. Manhã. A Maria quer ir à Sicília. Não me entusiasma semelhante tarefa, principalmente no Verão. Além disso, provavelmente cortam-me a garganta. Perdi a minha letra de crédito. Estou aqui sentado à espera do café. Vou tentar qualquer coisa com a Battle e depois suponho que tenho de voltar ao trabalho naquele temível argumento. Ontem à noite uma aventura al fresco – o Felix das Termas! Terça-feira, 25 de Agosto de 1953 Terça. Noite – Um dia agradável, bastante agradável, o que não é costume. Trabalhei bem, quer no argumento quer na Battle. Nadei à tarde. Foi bom. Ao jantar, eu e a Maria rimos que nem perdidos. Depois disso encontrámos um pintor americano, um Peter qualquer coisa, e uma bonita mulher de meia-idade de Houston, e fomos montanha acima atrás de um cavalo que se peidava em cada meia dúzia de passos que dávamos. Não havia mais nada a fazer a não ser rir, e por isso rimo-nos. Mais tarde, sozinho, fui à praia e tive uma pequena aventura com um jovem lunático. Não houve satisfação, apenas contacto. Ambos fugimos quando alguém se 3 Senso de Luchino Visconti (1954). 10 aproximou. É muito tarde, devem ser duas da manhã, mas dormi uma sesta antes do jantar. En avant. Quarta-feira, 26 de Agosto de 1953 Quarta. Outro dia agradável. Acabei praticamente o argumento do filme durante a manhã, e passei a tarde a remar de um lado para o outro com a Maria numa pequena “barchetta” que era leve como uma rolha. Nadámos em vários sítios. Encontrei o Gordon Sager4, que prometeu apresentar-me os mistérios sexuais do local esta noite na praia, onde vai haver uma espécie de dança. Acometeu-se de mim uma tristeza terna, “heimwehr”5 ou qualquer coisa parecida, quando tentei dormir uma sesta antes do jantar. Doía-me o calo do dedo mindinho do pé, por isso levantei-me, fiz a barba, vesti-me e preparei-me para o jantar – cheio de fome. Mas a Maria não está pronta. E não quero enfrentar aquelas pessoas lá em baixo sozinho. Comecei a ler um livro, Calipso6, que parece ser bom, mas este sítio não vai servir para nada até os melros me oferecerem pelo menos uma serenata. Pet-eutre ce soir!? En avant Sim, os melros cantaram nessa noite! Terça-feira, 27 de Agosto de 1953 Terça. Noite – À tarde choveu e surgiu sobre o mar um enorme arco-íris, violeta, verde, amarelo, laranja e rosa. Tomámos banho debaixo da chuva, já era tarde. Agora estou a descansar antes do jantar. A Maria é uma magnífica companhia, faz-me lembrar a Rose7, ou uma daquelas minhas amigas de infância. De manhã trabalhei bem na Battle. Se calhar amanhã vamo-nos embora. Sábado, 29 de Agosto de 1953 Sexta à noite (duas da manhã de sábado) Ainda aqui estamos, mas estamos a planear partir amanhã. Hoje trabalhei bem outra vez, numa história nova e no filme do Visconti. 4 Gordon Sager (1915-1991), escritor americano. “Saudades de casa” em alemão. 6 Romance do escritor inglês Humphrey Slater publicado em 1953. 7 Rose Williams, a sua irmã. 5 11 Jantámos com duas senhoras velhotas no topo da montanha. Vi a Valli8 dançar no Sirenusa9. Foi um dia um bocado chato sem sexo no programa. Acho que estou farto deste sítio, apesar de ter sido realmente agradável e produtivo. Talvez a Sicília? Se esta fome de libido continuar, não me parece. Noite de Sábado Ainda aqui estou. Apesar de talvez não ter a plena consciência disso neste momento, este pequeno período de tempo é provavelmente um dos mais felizes e tranquilos da minha vida. Ao jantar o Gordon enviou-me um jovem mensageiro que acabou por se tornar na mensagem. Felizmente que estava a jantar tarde e sozinho, deixei a Maria numa festa e vim para casa para dormir uma sesta. Ela só voltou quando o mensageiro estava a entregar a mensagem, por isso disse-lhe, sem abrir a porta, que ia ter com ela à Buca10, mas em vez disso tomei um comprimido para dormir e estou a ler o meu livro, Calipso, que afinal não é nada de jeito. Se calhar vamos mesmo embora amanhã, mas não tenho a certeza. Hoje à noite está calor – não há vento – e a música do Sirenusa que vem da porta ao lado parece muito entediante. Tenho saudades do Horse11. Afinal, não há nada que se pareça com ele, pois não? Mas... a ausência proporciona outras coisas e por aí fora. Escrevi hoje a primeira versão de uma história sobre um sítio onde almocei, com tês vivendas coloridas como ovos de Páscoa entre aqui e Amalfi, mas o herói não é o Gordon, é uma a senhora que é uma espécie de mistura de vários vampiros que conheci. Mas não tem nada a ver com a Peggy12 nem com a Libby13. O conto ainda não está bom, aliás, parece um pouco rasca, mas talvez o consiga elevar amanhã. Domingo, 30 de Agosto de 1953 Domingo. Reescrevi a história hoje. Comecei devagar, mas apanhei-lhe o ritmo depois de dois whiskys. Ainda precisa de ser trabalhada. Tive uma tarde muito agradável na outra praia com a Lorna Lindsley14 ao almoço, e depois dei uma longa volta de barco com um jovem marquês15 italiano e com o “conde”16 da Maria. 8 Alida Valli (1921-2006), actriz italiana de grande beleza, principalmente conhecida pela sua participação em O Caso Paradine (1947) e O Terceiro Homem (1949) de Carol Reed. 9 O hotel Le Sirenuse em Positano. 10 La Buca, um restaurante. 11 Alcunha de Frank Merlo. 12 Peggy Guggenheim (1898-1979), milionária americana conhecida pela sua colecção de arte. 13 Libby Holman (1904-1971), cantora e actriz americana, muito conhecida pelos excessos da sua vida pessoal. 14 Margaret “Lorna” Lindsley (1889-1956), escritora e activista pelos direitos humanos. 15 O Marquês Paolo Sersale, presidente da Câmara de Positano, cuja família era dona do hotel Le Sirenuse. 12 Estou com demasiado sono para acompanhar a Maria ao barulhento “Sirenusa”. Corre o rumor de que o Paul Bowles17 chega esta noite ou amanhã. Estou com muita vontade de voltar para Roma e para o Frank. Mas ofereci-me para ir a Verona se o Visconti precisar de mim. Acho que vou à vila comprar cigarros – ou não? É difícil dizer. Boa noite. Segunda-feira, 31 de Agosto de 1953 Segunda – Sim, está na altura de ir embora. Outro bom dia de trabalho mas este sítio fecha-me como um túmulo e eu anseio pela minha velha vida em Roma. A Maria arranjou dois cavalheiros com título nobiliário que para ela estão bem, mas “niente per me”. Mais uma noite e uma manhã, não aguento mais do que isso. Ainda não há sinais do Paul. A senhora simpática de Houston, a Mildred, foi-se embora. Ainda assim foi bom estar aqui, produtivo, tranquilo e, no geral, bastante agradável. Esta noite há uma leve brisa triste de Outono no ar. Ouvem-se ao longe gritos de crianças, o céu escurece, partem autocarros que buzinam à medida que se afastam de Amalfi. De vez em quando, uma onda distante do mar – vozes de pássaros – a luz que se esvanece – alguém a correr apressado – uma tristeza subjectiva, mas em nada profunda. Na verdade acho que estou só um pouco cansado. Espero conseguir dormir antes do jantar para depois me apetecer sair. Mais tarde – Saí. Dormi quase duas horas mas ainda estava cansado depois do jantar. A minha fadiga deve-se provavelmente ao meu intenso trabalho matinal: desde as sete e meia ou das oito até ao meio-dia, o que é mais uma hora ou duas do que eu aguentava em Roma. Além disso o vinho dá-me sono. Mas fui sair. Tive um confronto verbal com uma bêbada que achou que me podia espetar umas alfinetadas e sair impune – tive de lhe demonstrar o contrário. Estar com a Maria tem aguçado a minha língua. Um desconhecido amistoso disse «Buena Sera» e eu fui dar um passeio à praia – acompanhado... Mais tarde, no hotel – acompanhado – os melros cantaram... não cantaram muito alto, mas cantaram docemente. Agora estou deitado sozinho na cama e a maré vai empurrando com violência o fundo da falésia. Mais uma manhã de trabalho e depois: andiamo! 16 Possivelmente Peter Grenfell, que, segundo Maria Britneva, havia ido até Itália para a propôr em casamento. 17 Paul Bowles (1910-1999): escritor, compositor e tradutor americano, principalmente conhecido pelo seu romance, em parte autobiográfico, Um Chá no Deserto. Williams e Bowles conheceram-se em 1940 e tornaram-se amigos para o resto da vida. Bowles compôs a música para Jardim Zoológico de Cristal, Verão e Fumo, Doce Pássaro da Juventude e O Comboio da Madrugada. Williams dedicou-lhe o romance The Roman Spring of Mrs. Stone. 13 O Bowles está cá, em Positano, mas ainda não desceu a colina para olhar para nós. Suspeito que ele esteja chateado comigo, com a Maria ou com ambos. Ele tem a tendência para pensar que estão sempre a abusar dele, mas eu gosto tanto do Paul... e irrita-me a atitude que a Maria tem em relação a ele. Acho que ela arranjou umas confusões entre nós que eu espero que o Paul esteja disposto a esclarecer com uma conversa. Mas ele é muito matreiro. Terça-feira, 1 de Setembro de 1953 Terça. Comportei-me de uma forma desgraçada hoje... bebi demais, parece-me. A escrita intensiva arrasou-me os nervos e o álcool em cima disso faz com que eu faça figuras parvas. Insultei duas velhotas pela humilhação de ontem e agora parece que provavelmente elas não tinham culpa nenhuma. No entanto, é evidente que por alguma razão o Paul estava relutante em ver-nos. Acho que nunca mais vou sentir o mesmo que sentia por ele, ou à volta dele, o que é muito mau, para mim, porque eu idolatrava-o como uma espécie de herói antes deste último encontro. Talvez eu esteja a ficar um pouco como o Hart Crane18 ficou nos seus últimos dias – um pouco louco. Hoje alterei a história19 – retirei o melodrama, mas provavelmente com isso retirei também demasiado da substância. Surpreender-me-ia se a lê-se daqui a pouco tempo e tivesse um daqueles choques terríveis que o meu trabalho criativo tem tantas vezes causado nos últimos tempos. Apetece-me uma bebida. O Marco20 esteve cá. Depois tive uma agonizante sensação de vergonha e embaraço. Não sei porquê. Quarta-feira, 2 de Setembro de 1953 Quarta de manhã (11:20) Mesmo que não tenha feito mais nada este Verão, e às vezes suponho que realmente não fiz mais nada, pelo menos de certeza que “insisti”. Às vezes quando volto a ler o meu trabalho parece a obra de um lunático ou de um bêbado, na melhor das hipóteses a segunda. Mas de todas as vezes recupero a minha esperança cega, ou fé, e continuo outra vez no dia seguinte. Agora vou à praia dar um mergulho, depois vou almoçar e depois fazemo-nos à estrada de volta para Roma com as bandeiras ainda a esvoaçar – En Avant! 18 Hart Crane (1899-1932): poeta americano e um dos escritores que Tennessee Williams mais admirava. 19 Homem Trazer Isto Estrada Acima. 20 Um prostituto. 14 Sábado, 5 de Setembro de 1953 Sábado. Meia-noite. De novo em Roma. A energia não durou e as duas manhãs desde que voltei não foram um sucesso. Hoje à noite mal tive forças para subir as escadas e meter-me na cama. Mas agora tenho um copo de água gelada ao meu lado e um belíssimo livro sobre um matador amaldiçoado21. Amanhã vou gastar outro dia na velha senhora Goforth. Tenho medo. Em breve partimos para Verona, talvez todos nós. Boa noite. (assustado) Tennessee Williams, 2006. Notebooks. New Haven: Yale University Press, 581-591. [trad. Miguel Graça] * Este texto não segue as regras do Novo Acordo Ortográfico 21 Provavelmente Death in the Afternoon de Ernest Hemingway. 15 Entrevista a Tennessee Williams Em 1965, durante um dos períodos mais negros da sua vida, Tennessee Williams foi entrevistado por John Gruen para a revista Close-Up. A entrevista, que aqui se apresenta na íntegra, é não só um duro relato da ascenção e queda do dramaturgo, mas também um dos melhores relatos da disposição de Williams na altura em que estava a escrever a versão definitiva d’ O Comboio da Madrugada. JOHN GRUEN – Porque é que escreve? TENNESSEE WILLIAMS – Sei que não há mais nada que eu consiga fazer a não ser escrever. Não acredito que haja aquilo a que se chama um escritor nato, mas eu... eu não conseguiria enfrentar um dia sem escrever, quando a noite chegasse sentirme-ia tão vazio que me ia apetecer dar um tiro na cabeça. JG – Quando é que se apercebeu de que tinha a vocação da escrita? O que é que o incentivou, em criança ou em jovem, a pegar na caneta e no papel? TW – Bem, eu comecei a escrever quando tinha dez anos. Espantei a minha professora do liceu ao escrever uma coisa que ela achou que era uma boa redacção. Lembra-se que era isso que lhe chamavam nessa altura: “redacções”? Bem, eu escrevi sobre a Lady of Shallott22. A professora pediu-nos para olharmos à volta da sala – havia muitos quadros emoldurados – e escolhermos uma imagem. Numa dessas imagens a Lady of Shallot descia um rio num barco, e tendo já na altura uma atitude romântica em relação às coisas, escolhi-a como tema. Desde essa altura que percebi que ia ser escritor. Pensei que ia ser um escritor – está a perceber? – sem sucesso; nunca fui, de todo um optimista em relação a isso. JG – Como era o ambiente da sua infância? TW – A minha infância foi feliz até aos sete anos, quando adoeci. Tínhamos um médico de família que ficava um pouco desconcertado com as doenças, pelo menos com a minha ficou: diagnosticou que tinha difteria. Passados uns cinco ou 22 Lady of Shallot é uma balada vitoriana de Alfred, Lord Tennyson baseada em fontes medievais referentes ao Rei Artur e aos cavaleiros da Távola Redonda. [N. do T.] 16 seis meses desenvolvi outra doença que ele mais uma vez diagnosticou erradamente como sendo doença de Bright. Por essa altura, eu estava tão fraco que tinha de me arrastar pelo chão, não conseguia andar. Naturalmente que daí em diante me tornei numa criança neurótica e introvertida. Lembro-me que tive a minha primeira neurose a sério aos dez anos. Tinha pânico de adormecer à noite, porque o sono me parecia muito semelhante à morte. Tive o meu primeiro esgotamento nervoso – isto parece uma coisa hiper-sentimentalista – quando trabalhava numa empresa de sapatos em Saint Louis. Estava preso àquilo há três anos. Trabalhava o dia todo na empresa de sapatos como escriturário e dactilógrafo e à noite ficava acordado a escrever e a beber café simples – o mais forte que conseguia – a martelar numa máquina de escrever. Eu era um bom dactilógrafo, e rápido, martelava à brava na máquina de escrever. Mas ao mesmo tempo também me martelava a mim próprio, e de repente, numa noite, aconteceu-me uma coisa esquisita no peito. O meu coração, do qual eu nunca tinha tido consciência até àquele momento da minha vida, começou a bater como uma coisa sincopada. Sabe: um, dois, pausa, três. Era simplesmente aquele café todo e a imensa infelicidade de trabalhar na empresa de sapatos. Fiz aquilo que suponho que seja o menos aconselhável de fazer mediante aquelas circunstâncias: saí de casa a correr – à toa. Caminhei durante horas com o meu coração assim e pensei – deixe ver, eu devia ter vinte e três anos na altura – pensei que ia cair morto a qualquer momento. Eu nem nunca tinha pensado que tinha um coração, percebe? – um órgão dentro do meu corpo – e de repente ali estava eu confrontado com um coração frenético dentro do meu peito. Caminhei numa passada larga durante umas três horas – isto aconteceu no início da Primavera – e lembro-me de passar debaixo de umas árvores que estavam a começar a florir. Sabe, isto parece uma coisa muito pirosa e romântica, mas olhei para as árvores e de alguma maneira elas deram-me uma sensação de conforto. Percebi que ia sobreviver. JG – Qual foi a primeira peça que viu? TW – Em Saint Louis, onde vivi enquanto andava na escola e depois durante o início da minha juventude, só havia um teatro. Chamava-se The American, na baixa da cidade, junto ao rio. Às vezes havia uns espectáculos que passavam por lá. Eu ganhava sessenta e cinco dólares por mês, por isso não tinha dinheiro para comprar um lugar na plateia, nem sequer no primeiro balcão. Tinha de ir para uma coisa que chamávamos a “galeria do amendoim”. Vi The Barretts of Wimpole Street23 com a Katharine Cornell, e gostei. Não fiquei particularmente 23 Apresentado em Portugal como Miss Ba em 1944 pelos Comediantes de Lisboa com tradução de António Lopes Ribeiro e encenação de Francisco Ribeiro. [N. do T.] 17 impressionado com o espectáculo, mas gostei. Depois vi um que já não me lembro. Mas o terceiro nunca me vou esquecer... Foi o Espectros do Ibsen, com a Nazimova. E foi fabuloso, uma coisa tão impressionante que eu nem conseguia ficar sentado! De repente levantei-me e fui até ao corredor da “galeria do amendoim”, andava de um lado para o outro enquanto tentava ouvir o que estavam a dizer no palco, mas ao mesmo tempo não conseguia mais olhar para aquilo. Foi na cena em que a senhora Alving percebe que o filho, o Oswald, tem sífilis e que ele já tem o cérebro afectado. JG – Costumava ler peças de teatro antes disso? TW – Andava a ler as peças do [Eugene] O’ Neill e de Shakespeare. Comecei a ler Shakespeare quando ainda andava na primária. O meu avô tinha as obras completas. Eu tinha uma predilecção especial pelas peças violentas. JG – Se chamarmos “influências” a qualquer uma das obras que leu, quais é que escolheria? TW – Creio que a maior influência que tive, enquanto dramaturgo, foi Tchéckov. JG – Quais são os seus hábitos de escrita? Quero dizer com isto, o seu modus operandi ou ritual. TW – Fico contente que tenha dito “ritual”, porque é um ritual. Começo a escrever assim que me levanto de manhã, encarando essa terrível pergunta o mais cedo possível: será que hoje vou ser capaz de escrever? E como é que vou escrever? Começo com duas chávenas de café, bastante forte. Depois vou para o meu quarto e dou uma injecção a mim próprio para acordar. Ao princípio, tinha um medo terrível de levar injecções – de as dar a mim mesmo. Mas tenho aprendido gradualmente a fazê-lo. E dou a mim próprio um centímetro cúbico de não sei quê, é uma mistura de coisas... não sei o que é... Só sei que depois de tomar aquilo sinto-me como um ser vivo! Depois vou até à minha secretária e começo a trabalhar. Há dias, claro, em que o trabalho não corre nada bem. Há outros dias em que corre bem. Escrevo à máquina muito depressa. E se uma página não está perfeita, tiro-a da máquina de escrever e começo outra. É um hábito terrível, porque eu devia ser capaz de riscar as coisas. Mas odeio uma página cheia de riscos. JG – Escreve preferencialmente de manhã? Durante quantas horas? TW – Quase exclusivamente de manhã. Escrevo duas horas e meia. Às vezes, se estiver num dia bom, escrevo umas boas cinco horas. 18 JG – Consegue escrever em qualquer lado? TW – Tenho de escrever onde quer que esteja. Porque, tal como já disse, se eu não começar o dia a escrever, vai ser um dia vazio para mim. Sinto como se o tivesse perdido. Obviamente que isso significa que a minha vida não é suficiente. Percebe? Que a matéria da minha vida quotidiana é insuficiente. JG – Trabalha em mais do que uma coisa ao mesmo tempo? Ou seja, é capaz de saltar de uma peça que esteja a escrever para um poema ou um romance? TW – Às vezes levanto-me de manhã e aquilo em que tenho estado a trabalhar parece-me repugnante. Não me atrai nada. Sinto que aquilo não me vai levar a lado nenhum. Por isso, nessas alturas, pego noutra coisa em que tenho andado a trabalhar. Acho absolutamente necessário ter duas coisas em que trabalhar ao mesmo tempo, para poder andar a saltar de uma para a outra. JG – O que é que acha que as suas peças contêm para incendiar a imaginação do público? TW – Eu sinto uma grande vontade de entusiasmar as pessoas! E para mim é mais fácil fazer isso numa peça do que em histórias ou em poemas. Nunca achei que fosse bom poeta. JG – A sua agente, a Audrey Wood, uma vez disse que o senhor deu todo um novo material de escrita para uma nova geração de jovens dramaturgos. Sente que isso é verdade? TW – Não me parece. Apesar de ser mais habitual ela mandar-me abaixo do que elogiar-me! Nesse caso acho que ela me estava a elogiar excessivamente. Lembro-me que nessa ocasião eu respondi: «estou muito contente por ter aberto portas para os dramaturgos, mas sabes, Audrey, não quero ser apenas um porteiro». JG – Foi dificíl para si que fizessem as suas peças? TW – Sim, houve imensos problemas por causa disso. E talvez muitos deles sejam compreensíveis. Sempre tive a tendência para ir longe demais. Acho que escrevo de uma forma demasiado violenta. Esta manhã – não, foi ao início da tarde – contei ao meu psiquiatra um sonho que tinha tido. Ele disse que sim, pois, que sabia que eu tenho muita violência dentro de mim, mas que não a podia retirar de um momento para o outro. 19 JG – Escreveu um artigo para o New York Times em que descreve o súbito sucesso que lhe apareceu depois da estreia de O Jardim Zoológico de Cristal... um relato muito tocante sobre de repente se encontrar famoso e de ter alugado uma suite extraordinária num hotel bastante caro... mantas de damasco no sofá e por aí fora. Mas de repente percebeu que não era nada disso que queria da fama. TW – Não acho que a mobília dessa pequena suite me incomodasse hoje em dia. Porque era apenas uma normal suite de um hotel. Mas eu vivia no YMCA24, sabe? E no Men’s Residence Club e sítios desses, onde se arranjam quartos a dez dólares por semana. Naturalmente que me parecia muito extravagante estar naquela suite. Estava no último andar e tinha uma vista magnífica sobre o East River. Mas a coisa mais importante foi sempre sentar-me a escrever. Nada do resto era muito importante. JG – Também encontrou várias mudanças nas atitudes dos seus amigos. TW – Sim, de repente percebi que estava na posição de me tornar um escritor profissional. Antes, havia sido sempre um escritor amador, no sentido de alguém que ama escrever. Agora era um escritor profissional, e isso perturbou-me terrivelmente. JG – Até que ponto as suas peças são autobiográficas? TW – Todo o trabalho criativo é autobiográfico. JG – Tem criado toda uma galeria de personagens femininas muito provocadoras, desde a Blanche DuBois até à Gnadiges Fraulein. Tem uma ideia fixa em relação às mulheres, e às mulheres do Sul em particular? TW – Não sei porquê, mas acho muito mais fácil, e mais interessante, escrever sobre as mulheres. A minha irmã e a minha mãe eram ambas pessoas que se expressavam muito bem. Falavam com um grande charme. Na maior parte da minha escrita tento recuperar o charme da maneira como elas falavam. JG – Muitas das suas mulheres têm um marca profunda dentro delas, ou de violência ou de uma grande vulnerabilidade – tal como a Blanche Dubois – muitas vezes têm também, debaixo da superfície, uma camada que é pura e que muitas vezes se revela como uma força de vontade destruída. TW – Nunca encontrei uma força de vontade destruída nas mulheres que admiro. A minha irmã, como toda a gente sabe por esta altura, é mentalmente inválida, sofre 24 Young Men’ s Christian Association. [N. do T.] 20 de esquizofrenia. Posso dizer isto porque sei que ela nunca o vai ouvir. Mas a força de vontade dela é muito mais forte do que a minha. Ninguém que a quisesse derrubar o conseguiria fazer. JG – As suas personagens masculinas, por outro lado, parecem marcadas com características que são ou de uma grande rudeza, como o Stan Kowalski, ou de uma grande fragilidade, como o Brick. TW – Receio que não me identifico muito facilmente com esses Stanley Kowalskis e por aí fora. Talvez o devesse fazer. São uma espécie de mistério para mim. JG – Dentro das suas peças, quais são as suas favoritas? TW – Essa é uma pergunta que surge sempre. E é uma pergunta a que eu nunca sei responder. É evidente que uma pessoa tem sempre a esperança que aquilo em que se está a trabalhar nesse momento seja o que tem maior significado. Há determinadas peças em que senti isso. Outras percebi que não eram importantes – acho que o Period of Adjustment não é uma peça importante. Não tenho a certeza se achei que A Rosa Tatuada era importante, apesar de ter trabalhado intensamente nela. Escrevi-a num período muito feliz da minha vida. As peças que eu escrevi que acho mais importantes são o Eléctrico, O Jardim Zoológico de Cristal – são as duas que as pessoas acham melhores – e Gata em Telhado de Zinco Quente. Bom, quanto à peça mais longa, quer dizer, a peça em que trabalhei mais tempo, O Comboio da Madrugada, teve várias produções. Primeiro com a Hermione Baddeley, que fazia muito bem, apesar da peça ter sido um falhanço. Depois no ano a seguir consegui que a fizessem outra vez, dessa vez com a Tallulah Bankhead, que contracenava com o Tab Hunter. O Tab Hunter não foi uma escolha minha, apesar de ele ter provado que era melhor actor do que se seria de esperar de um garoteco de Hollywood. Mas a Tallulah Bankhead, ela era perfeita para a Flora Goforth... Por que razão é que falhou? Porque falhou mesmo. JG – Li recentemente que há ainda uma terceira versão d’ O Comboio da Madrugada. TW – Fui a São Francisco trabalhar com o Actor’s Workshop. Um jovem encenador, brilhante, chama-se John Hancok, desenterrou-a como uma peça gótica. E ele fez um trabalho absolutamente extraordinário. Tenho aí algures uma série de fotografias a cores. Apesar do espectáculo não ter recebido críticas positivas, ainda está em cena, sempre com casa cheia. 21 JG – Obviamente que acredita em rever o que escreve. TW – Sim, eu estou sempre a rever porque nunca fico satisfeito. Proponho a mim próprio dizer uma série de coisas, mas nunca fico com a certeza se as disse exactamente como queria. O Camino Real era uma peça mutilada. Foi nela que coloquei a minha melhor escrita. Mas havia lá coisas que não pareciam racionais, mesmo dentro do contexto de rebeldia da peça. Havia dicotomias muito confusas. Depois da morrer, o Kilroy arranca o coração de ouro do seu próprio corpo e vai até uma loja de penhores com ele. O penhorista consegue vê-lo. O que é estranho. Uma vez que ele está morto. O penhorista consegue vê-lo, aceita o coração de ouro e dá-lhe todo o tipo de coisas que chamariam a atenção de uma filha de uma cigana. Depois ele vai a correr ter com a filha da cigana com essas coisas e grita por ela. E a filha da cigana pensa que ele é só um gato! JG – Disse recentemente numa entrevista que a sua contribuição para o drama lírico ou poético pode já não ser aquilo que o público de teatro deseja. TW – Hoje em dia o teatro reduz-se a tantos musicais, sabe... E ao teatro do absurdo, que para mim não é apelativo. Não consigo trabalhar no teatro do absurdo. Só consigo trabalhar na fantasia – na fantasia romântica – e também consigo trabalhar em peças pouco convencionais. Mas nunca conseguiria transformar a existência humana numa piada. JG – O que é que acha que aconteceu ao clima do teatro? Quero dizer, mesmo nas peças sérias. TW – A resposta óbvia é que as pessoas perderam o seu sentido de decência. JG – Há uma série de peças suas, como Camino Real, A Noite da Iguana e Bruscamente no Verão Passado, que têm lugar num ambiente exótico que produz uma atmosfera fabulosa. Quando usa esse tipo de cenários, pretende que eles complementem a textura das suas peças, ou são todos locais que têm um significado especial para si? A Noite da Iguana, por exemplo, passa-se no México. TW – Eu estava em Acapulco quando aquilo ainda era uma aldeia primitiva e maravilhosa. Eu achava que havia ali muita poesia. Agora parece Las Vegas... é pena. JG – Ao lermos as suas peças, percebe-se que em última análise os mais fortes são os mais vulneráveis, e que os mais fracos acabam por ter uma grande força e resistência. Isto é o que observa da vida em geral? 22 TW – Eu acho que os fracos – se não forem apenas pessoas que não têm coragem para reagir – são forçados a ter mais força do que aqueles que são abertamente fortes. Não conseguiriam sobreviver, a não ser que tivessem essa força interior. Podem sofrer bastante por causa disso – e suponho que sofram. Mas sempre senti que a Blanche era mais forte do que o Stanley Kowalski. JG – Qual é a sua reacção à crítica teatral? Considera-a útil ou destrutiva? TW – Fico sempre profundamente impressionado com o facto de os críticos entregarem as críticas em tão pouco tempo. Mas acho que eles tentam ser justos. Têm determinados preconceitos, tal como todos nós. Há uma ou duas peças minhas que eu considero que deveriam ter sido mais bem recebidas. Principalmente o Orpheus Descending, e talvez a minha última peça, O Comboio da Madrugada. JG – É conhecido por ser tímido e uma pessoa solitária. Como é que essas características invadem o seu trabalho? TW – Às vezes acho que sou tão tímido como um rinoceronte. JG – Mas essas características existem, são verdadeiras? TW – Porque é que acha que ando a ser tratado por psiquiatras? JG – Então e aquela escola de pensamento que diz: se é um artista, evite a psicanálise? TW – Bem, eu hoje discuti isso com o meu médico, e ele disse: «Tom» – que é o meu nome, eu não me chamo Tennessee. Ele disse: «Tom, não sabe que é você que está a fazer a maior parte do trabalho?» Disse-me assim: «eu estou a prender consigo – você é que me está a dizer coisas, eu não lhe estou a dizer nada». Eu não sei se gosto muito do Freud, da Karen Horney ou de qualquer um deles – eu só sei que gosto de psiquiatras (e gosto deste a que vou agora), há alguma coisa que acontece que me ajuda a suportar o resto do dia. JG – E as suas peças que transformaram em filmes? Que versões cinematográficas é que lhe agradaram e quais as que não lhe agradaram? TW – Tudo o que o [Elia] Kazan fez da minha escrita – fez dois filmes. Gostei d’ A Voz do Desejo25 – que era um argumento original. E é claro que me agradou imenso o que o Kazan fez com o Eléctrico. Também adorei o que fizeram no ecrã com o 25 Baby Doll no original, filme de 1956. [N. do T.] 23 Orpheus Descending26 – com a Magnani e o Brando, apesar de eles não se terem dado muito bem, sabe. JG – O que é que aconteceu? TW – O Sid Lumet realizou o filme brilhantemente. Contra grandes obstáculos. JG – Então e Gata em Telhado de Zinco Quente? TW – Não gostei. JG – Acha que a Elizabeth Taylor não foi bem escolhida? TW – Não, acho que ela foi brilhantemente escolhida. Achei é que o argumento em si – que eu não escrevi – não transmitia o que eu queria dizer com a peça. JG – Quer falar sobre as suas últimas peças? TW – As Slapstick Tragedy27... acho que não vão funcionar. São peças que estão na mesma linha de Camino Real, e o Camino Real não correu muito bem. Além disso, estou bastante mais velho do que estava... e é mais difícil à medida que se envelhece. Tem de se trabalhar muito mais e com muito mais intensidade naquilo que se está a fazer. O animal humano está sujeito ao atrito, cansa-se... e depois tem de ir a médicos maravilhosos, como o doutor Max. JG – Quais os dramaturgos mais jovens que admira? TW – É tão fácil responder a essa pergunta. Lamento que tenha dito “mais jovens”, porque eu vou dizer Beckett, que não é mais novo que eu. Gosto muito do Edward Albee. Nunca vi nenhuma peça dele em que não me achasse absolutamente envolvido na acção. Ele é decididamente um grande dramaturgo, o maior dramaturgo da América. JG – E os seus contemporâneos, como o Arthur Miller? TW – O Arthur tem uma grande qualidade dinâmica. É um belo escritor. Quando fui à Grécia, há um ano atrás, na Primavera, uns jornalistas disseram-me que ele tinha passado por lá pouco tempo antes de mim e que tinha dito que a minha escrita não vinha da minha cabeça nem do meu coração, que vinha do meu abdómen! Isso pôs-me um bocadinho de pé atrás (não sei como é que se escreve à máquina com o abdómen), mas ainda não mudei a minha opinião acerca do Arthur Miller. 26 O Homem na Pele da Serpente (1960) na tradução portuguesa do filme de Sidney Lumet. [N. do T.] Slapstick Tragedy é o título que designa duas peças curtas de Tennessee Williams: The Gnadiges Fraulein e The Mutilated, apresentadas em conjunto em Nova Iorque em 1966. [N. do T.] 27 24 Encontrei-me com o Faulkner três vezes. Ele é tão tímido quanto se pode imaginar. Estava com uma rapariga muito bonita e só conseguia falar em sussurros com ela. Nem tentei puxá-lo para uma conversa. A segunda vez que o encontrei foi em Paris e estava com ele outra rapariga muito bonita. E tudo se repetiu: ele olhava para baixo e não falava. Às vezes também tenho essa dificuldade, é-me muito difícil falar e uma das minha fobias é não ser capaz de dizer nada. Mas o Faulkner não dizia nada. Por isso, eu finalmente tomei a decisão de falar directamente com ele, percebe? E foi o que fiz. Falei directamente com o Faulkner. De repente ele levantou os olhos e vi tanto sofrimento naqueles olhos que senti que eu ia começar a chorar. JG – Como é que um dramaturgo observa a vida? TW – É um processo gradual. É muito gradual. O meu dia-a-dia tem muito a ver com isso, acho eu... Não consigo responder a essa pergunta. JG – Se me permite que entre na sua privacidade... a sua vida pessoal é muito preenchida? TW – Oh, tremendamente preenchida. Sim. JG – Com que tipo de coisas é que ocupa o seu tempo? TW – A vida e a morte. Nos últimos dois anos morreram dois amigos que me eram muito queridos – o que me chocou profundamente. E eu acho que não devia ser permitido que eles sofressem como sofreram. Não sei porquê. Um deles28 estava deitado numa cama que tinha de se inclinar para trás e para a frente como um baloiço, para que o sangue dele continuasse a circular. E o movimento do mecanismo causava-lhe dores que o agonizavam. Por isso eu não acho que a morte deva ser uma coisa que uma pessoa tenha de passar sem ser pela sua própria vontade, à sua própria maneira. Não acredito em hospitais. Espero nunca ter de ficar enterrado num. Espero que quando tiver de morrer seja capaz de tratar disso. O Hemingway tinha uma grande sensibilidade para a capacidade de escolha do Homem. Ele era um existencialista – percebeu o existencialismo muito antes do Sartre. Talvez todos nós tenhamos percebido o existencialismo muito antes do Sartre. O Hemingway tomou uma decisão corajosa, ele fez o que tinha a fazer, uma coisa digna – pelo menos é nisso que acredito. Porque... como é que teria sido o final da vida dele, percebe? Ia ficar reduzido a uma coisa destruída... No final da vida as pessoas ficam quase sempre sem vontade própria. Não devem permitir-se 28 Frank Merlo. [N. do T.] 25 chegar a esse estado. Talvez os médicos não devam permitir que elas cheguem a esse estado. JG – É difícil, para si, viver? É uma luta enquanto artista? TW – Tudo depende do trabalho ter sido bom ou mau nesse dia. Se se trabalhou, se se acha que se conseguiu alguma coisa nesse dia, então o dia é mais brilhante e consegue chegar-se à noite razoavelmente bem. JG – Sente que há um ponto em que um escritor não pode continuar, no que toca à sua criatividade? TW – Bem, é claro que sim. Toda a gente sabe disso. JG – Já li várias biografias e autobiografias de escritores. Todos eles afirmam que é cada vez mais difícil escrever depois de passada a juventude, apesar de compensarem isso com uma certa experiência acumulada. TW – Convém lembrar que estamos sempre a competir com o trabalho que já fizemos em jovens. É necessário que isso aconteça. No meu caso, toda a gente diz: «Oh, aquele Jardim Zoológico de Cristal!», até ao ponto em que começamos quase a odiar a nossa própria obra! Porque sabemos que temos trabalhado intensamente desde essa altura. E não é muito possível acreditar que nunca mais criámos nada de jeito. JG – E os actores? E os encenadores? E todo o mundo do teatro? Aprecia essas consequências de ser um dramaturgo no meio teatral? TW – Sempre fui muito tímido ao lado dos actores porque eu não acredito que eles não sintam ódio pelo dramaturgo. O dramaturgo escreveu a peça e eles estão a representá-la. Escondem isso muito bem, mas ainda assim o dramaturgo sente que eles o odeiam. JG – Há actores que não têm mais do que uma enorme admiração por si... TW – Sim, há alguns. São aqueles que percebem que eu sou tão distorcido quanto eles. JG – O que é que acha da Tallulah Bankhead fazer a Blanche Dubois? TW – Acho que ela finalmente fez um trabalho com uma grande força. Parecia um tigre – quer dizer, uma tigreza! 26 JG – Houve muitos risos abafados durante o espectáculo. Porque é que isso aconteceu? TW – Isso é porque a pobre da Tallulah atrai um tipo de público que está inclinado para se rir – não dela, mas da sua imagem pública. JG – Porque é que o Elia Kazan conseguiu com tanto sucesso dar uma determinada aura às suas peças que ele encenou? TW – A relação entre um encenador e um dramaturgo é muito delicada. Eu e o Kazan resolvemos isso muito bem. Gostámos de trabalhar juntos. O Kazan parecia gostar muito do meu trabalho, e eu adorava-o como encenador. JG – Há alguma área do teatro que ainda não tenha explorado e que gostasse de tentar? TW – Não me lembro de nenhuma área do teatro que eu não tenha tentado explorar. Escrevi peças realistas, escrevi fantasias, escrevi alegorias. Este ano trabalhei num romance. Mas aconteceu uma coisa horrível. Ontem de manhã tirei-o de um envelope e as páginas caíram todas ao chão. Dois terços das páginas não estão numeradas, por isso vai ser uma tarefa terrível voltar a pôr tudo no lugar. JG – Pode dizer-nos sobre o que é? TW – Chama-se The Knightly Quest. JG – Do que é que trata? TW – Nem em sonhos eu lhe diria. In Conversations with Tennessee Williams. Jackson: University Press of Mississippi, 1986, 112-123. [trad. Miguel Graça] * Este texto não segue as regras do Novo Acordo Ortográfico 27 Curricula Criativos António Barahona (tradução) A sua carreira poética esteve inicialmente ligada ao Surrealismo e ao Grupo do Café Gelo, mas acabou por enveredar por um caminho individual, principalmente ligado à religiosidade mística, que culminou nas traduções de Brihhad Âranyaka Upanishad e Bhagavad Gita. Para o teatro, traduziu obras de Copi, Pier Paolo Pasolini, Jean Racine, Fernando Arrabal, entre outros. Destacam-se no conjunto da sua obra poética a antologia O sentido da Vida é só Cantar (Assírio & Alvim) e a sua mais recente publicação Raspar o Fundo da Gaveta e Enfunar a Gávea (Averno). Carlos Avilez (encenação) Ingressa profissionalmente, em 1956, na Companhia Amélia Rey-Colaço – Robles Monteiro, onde se manteve até 1963. Após experiências nas áreas da representação e escrita teatral, orienta o seu trabalho para o campo da encenação, depressa ganhando o estatuto de enfant terrible, principalmente depois dos seus trabalhos no Teatro Experimental do Porto e no CITAC, estrutura que dirigiu em 1964. Em 1965, funda, em conjunto com o ator João Vasco, o Teatro Experimental de Cascais, que se mantém em atividade até hoje, onde encenou alguns dos espetáculos mais marcantes do teatro português no séc. XX, nomeadamente: D. Quixote, Fedra, Ivone, Princesa de Borgonha, Fuenteovejuna, Galileu Galilei, O Balcão, A Morte de Danton, Rei Lear, Os Biombos, La Nonna, O Dia de uma Sonhadora, Lorca, Federico, Os Negros, O Leão no Inverno, Casamento, A Cozinha e Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, trabalhou em França com Peter Brook e, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, na Polónia com Jerzy Grotowski. Encenou várias óperas no Teatro Nacional de São Carlos, encenou Hamlet no ACARTE, e exerceu variados cargos na cena cultural portuguesa, destacando-se o seu papel enquanto: diretor artístico do Dia de Portugal na Expo’70 de Osaka; Presidente do Instituto de Artes Cénicas; diretor do Teatro Nacional S. João e diretor do Teatro Nacional D. Maria II. Foi ainda fundador da Escola Profissional de Teatro de Cascais, onde mantém os cargos de diretor e professor. Ao longo de mais de cinquenta anos dedicados ao teatro, recebeu inúmeros prémios e homenagens. No TNDM II: (espetáculos que encenou) Pedro, o Cru de António Patrício; Fígados de Tigre de Francisco Gomes de Amorim; Virginia de Edna O'Brien; Guerras do Alecrim e Mangerona de António José da Silva, António Teixeira; O Leque de Lady Windermere de Oscar Wilde; Ricardo II de William Shakespeare; O Crime da Aldeia Velha de Bernardo Santareno; A Maçon de Lídia Jorge; A Real Caçada ao Sol de Peter Shaffer. 28 Miguel Graça (dramaturgia) Nasceu em Lisboa, em 1980. Na Universidade Nova de Lisboa, licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas e concluiu uma pós-graduação em Tradução. Em 2004, integrou o corpo docente da Escola Profissional de Teatro de Cascais, onde se mantém até hoje lecionando a cadeira de Dramaturgia. Foram levadas à cena as suas peças Grécia, Fedra e Répteis (que também encenou). Desde de 2007 que colabora regularmente com Carlos Avilez no Teatro Experimental de Cascais, destacando-se dos seus últimos trabalhos a tradução e dramaturgia de A Nossa Cidade de Thornton Wilder, Bruxas de Salem de Arthur Miller e Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès. No TNDM II: Os Anjos e o Sangue de Bernardo Santareno (leitura encenada). Fernando Alvarez (cenografia e figurinos) Licenciou-se na Escola Superior de Teatro e Cinema – Curso de Realização Plástica do Espectáculo, em 1991. Iniciou o seu trabalho com o Teatro Experimental de Cascais em 1986, tendo colaborado enquanto assistente com José Rodrigues, Graça Morais, Juan Soutullo e Maria Helena Reis. Em 1991, tornou-se colaborador permanente do TEC enquanto cenógrafo, figurinista e produtor na maioria das encenações de Carlos Avilez, destacando-se os seus trabalhos em Alta Vigilância, Os Biombos, O Leão no Inverno, Lorca, Federico, Os Negros, Casamento, O Percevejo, Auto do Solstício de Inverno, Inês de Portugal, A Cozinha, Muito Barulho por Nada, Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos, Deserto, Deserto e Roberto Zucco. Foi responsável pela cenografia e figurinos de Caixa de Sombras, no Teatro São Luiz, com encenação de Marco D’Almeida. No TNDM II: Ricardo II de William Shakespeare (enc. Carlos Avilez). Georges Stobbaerts (coreografia e movimento) Dedica-se há mais de 40 anos ao ensino do Aiki-Do e do Yoga. Foi convidado pela Fundação Calouste Gulbenkian para lecionar Antropologia Teatral, no antigo Conservatório Nacional de Lisboa. É também nessa altura que edita o seu primeiro livro sobre Hatha Yoga. Colabora com conceituados encenadores no âmbito da postura e da movimentação em cena do ator. Destacam-se as suas colaborações nos espetáculos Opereta, Lisístrata, Rei Lear, Harold e Maude, Alta Vigilância e Os Biombos (Teatro Experimental de Cascais), Romeu e Julieta (Novo Grupo/Teatro Aberto)), A Prisão (Teatro da Cornucópia) e O Príncipe Constante (CTA - Companhia de Teatro de Almada). Face à atual evolução das artes ditas marciais e da sociedade em direção à competição e à violência, cria uma nova arte do movimento – o Tenchi Tessen. 29 Atores Eunice Muñoz (Flora Goforth) Principiou a sua carreira de atriz em 1941, no TNDM II, ainda antes de concluir o curso de Atores do Conservatório de Lisboa. Ao longo de mais de seis décadas dedicadas à representação, marcou de forma definitiva o teatro português, trabalhando com os mais importantes encenadores e companhias. Mãe Coragem, As Criadas, Fedra, A Casa do Lago, Joana d’Arc, A Casa de Bernarda Alba, Zerlina, Madame, O Caminho Para Meca, Memórias de Sarah Bernhardt ou A Maçon são alguns dos muitos exemplos onde a excelência das suas interpretações lhe garantiram não só um vasto rol de prémios mas também o epíteto de maior atriz portuguesa. Presença assídua na televisão e rádio, é ainda de destacar o seu trabalho enquanto diseur de poesia. No TNDM II: As Troianas de Jean-Paul Sartre (enc. João Mota); As Fúrias de Agustina BessaLuís (enc. Filipe La Féria); O Avarento de Molière (enc. Erwin Meyenburg); Felizmente Há Luar! de Luís de Sttau Monteiro (enc. Luís de Sttau Monteiro); Auto da Alma de Gil Vicente (enc. Amélia Rey Colaço); Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett (enc. Amélia Rey Colaço); O Vendaval de Virgínia Vitorino (enc. Amélia Rey Colaço, Robles Monteiro), entre outras. Lia Gama (Bruxa de Capri) Estudou na Escola René Simon, em Paris. Trabalhou no Teatro Estúdio de Lisboa, sob a direção de Luzia Maria Martins, no Teatro Experimental de Cascais com Carlos Avilez, na Casa da Comédia trabalhou com João Lourenço e Morais e Castro, no Teatro da Cornucópia com Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo. Trabalhou ainda com Osório Mateus (Os Cómicos), Jorge Listopad (Teatro da Graça), Fernando Gusmão (Teatro Aberto), João Mota (Comuna), Norberto Barroca, Carlos Fernando (Teatro da Graça), Filipe La Féria, Solveig Nordlund, Lucinda Loureiro, Fernanda Lapa. No TNDM II: As Fúrias de Agustina Bessa-Luís (enc. Filipe La Féria); António, Um Rapaz de Lisboa de Jorge Silva Melo (enc. Jorge Silva Melo); O Crime da Aldeia Velha de Bernardo Santareno (enc. Carlos Avilez); Conferência de Imprensa e Outras Aldrabices de Harold Pinter e vários autores (enc. Jorge Silva Melo); Remix Deluxe, canções; A Mais Velha Profissão de Paula Vogel (enc. Fernanda Lapa); Esta Noite Improvisa-se de Luigi Pirandello (enc. Jorge Silva Melo); Agosto em Osage de Tracy Letts (enc. Fernanda Lapa); Rei Édipo a partir de Sófocles (enc. Jorge Silva Melo). Carlos Reiriz (Dois) Nasceu em 1990. Tem o curso de Interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais. No Teatro Experimental de Cascais trabalhou com Carlos Avilez em A Nossa Cidade de Thornton Wilder, Exilado a Sul de José Jorge Letria, Bruxas de Salem de Arthur Miller e Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès. 30 Henrique Carvalho (Giuglio) Nasceu em 1991. Tem o curso de Interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais. No Teatro Experimental de Cascais, trabalhou com Carlos Avilez em Muito Barulho por Nada de William Shakespeare. Participou em Leandro, Rei da Helíria de Alice Vieira com encenação de Marco Medeiros. Tem trabalhado também em televisão. Lídia Muñoz (Blackie) Nasceu em 1990. Tem o curso de Interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais, estando neste momento a frequentar a Escola Superior de Teatro e Cinema. No Teatro Experimental de Cascais, trabalhou com Carlos Avilez em Muito Barulho por Nada de William Shakespeare. Tem trabalhado também em televisão. No TNDM II: O Ano do Pensamento Mágico de Joan Didion (enc. Diogo Infante). Pedro Caeiro (Christopher Flanders) Nasceu em Oeiras, em 1985. Estreia-se em 2003 no São Luiz, com a peça Caixa de Sombras de Michael Cristofer, onde também veio a participar em Romeu e Julieta, com encenação de John Retallack. Em 2005, concluiu o curso de Interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais, onde foi aluno de Carlos Avilez, com quem trabalha em vários espetáculos no TEC. Participou em Répteis de Miguel Graça. Desde 2007 que colabora regularmente com o Teatro do Vestido. Para além de alguns trabalhos em cinema, tem sido presença regular na televisão. No TNDM II: Os Anjos e o Sangue de Bernardo Santareno (leitura encenada). Renato Pino (Um) Nasceu em 1990. Tem o curso de Interpretação da Sociedade Guilherme Cossoul, com supervisão de Raul Solnado, o curso de Expressão Dramática da Casa do Artista e o curso de Interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais. Participou em Répteis de Miguel Graça. No Teatro Experimental de Cascais, trabalhou com Carlos Avilez em João Bosco de Maria do Céu Ricardo, A Nossa Cidade de Thornton Wilder, Exilado a Sul de José Jorge Letria, Bruxas de Salem de Arthur Miller e Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès. Ricardo Alas (Três) Nasceu em 1988. Tem o curso de Interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais. No Teatro Experimental de Cascais, trabalhou com Carlos Avilez em O Inferno de Bernardo Santareno. No Projeto Novos Atores, trabalhou com Renato Godinho em Sonho de Arthur Schnitzler, Les Parents Terribles de Jean Cocteau, Grécia de Miguel Graça e Seis Graus de Separação de John Guare. Participou ainda em Off Man a partir de Samuel Beckett, com direção de Luiz Antunes. 31 Rita Cabaço (Simonetta) Nasceu em 1992. Tem o curso de Interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais, estando neste momento a frequentar a Escola Superior de Teatro e Cinema. No Teatro Experimental de Cascais, trabalhou com Carlos Avilez em A Nossa Cidade de Thornton Wilder, Exilado a Sul de José Jorge Letria, Bruxas de Salem de Arthur Miller e Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès. Sérgio Silva (Rudy) Em 1985, estreia-se como ator profissional, com a Associação Cultural Marionetas de Lisboa, na peça D. Quixote e Sancho Pança de António José da Silva, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1987, termina o Curso de Formação de Atores da Escola Superior de Teatro e Cinema. Passando pelo Centro de Arte Moderna, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Maria Matos, Teatro da Trindade, Teatro Aberto, Teatro Eunice Muñoz, Teatro Ruy de Carvalho e Teatro Experimental de Cascais, onde se encontra desde 1987, participou em peças de Molière, Brecht, Shakespeare, Genet, Gombrowicz, Aristófanes, Georg Büchner, Miguel Rovisco, Bernardo Santareno, Roberto Cossa, Luiz Francisco Rebello, Copi, Yves Jamiaque, James Goldman, Ronald Harwood, entre outros. Tem trabalhado com regularidade na televisão. No TNDM II: Mãe Coragem de Bertolt Brecht (enc. Vera San Payo de Lemos); Guerras de Alecrim e Mangerona de António José da Silva, António Teixeira (enc. Carlos Avilez); A Filha Rebelde de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz (enc. Helena Pimenta). 32