entre o organograma e a informação, a análise
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XXIV ENANGRAD GIT – Gestão de Informações e Tecnologia ENTRE O ORGANOGRAMA E A INFORMAÇÃO, A ANÁLISE DAS REDES SOCIAIS EM UMA ORGANIZAÇÃO HOSPITALAR Evandro Luiz Echeverria Augusto Carlos Patti do Amaral Florianópolis, 2013 ENTRE O ORGANOGRAMA E A INFORMAÇÃO, A ANÁLISE DAS REDES SOCIAIS EM UMA ORGANIZAÇÃO HOSPITALAR Evandro Luiz Echeverria1 Augusto Carlos Patti do Amaral2 Resumo Neste trabalho é apresentada uma análise do relacionamento entre o processo de comunicação das redes sociais em uma organização, sob o enfoque da cultura organizacional e o organograma instituído. A proposta de estudo foi lastreada na análise de redes de sociais, observando as interações dos participantes e seu posicionamento no organograma da empresa em questão. A expectativa é despertar uma reflexão sobre a importância das redes como fator de integração organizacional, e de sua importância para disseminação do conhecimento, operacionalização, desenvolvimento e suporte no processo de empresarial. Palavras-chave: Redes Sociais; Cultura; Organograma. Abstract This paper presents an analysis of the relationship between the process of communication of social networks in an organization with a focus on organizational culture and organizational structure established. The study proposal was backed in the analysis of social networks, watching the interactions of the participants and their position in the organization chart of the company in question. The expectation is to awaken a reflection on the importance of networks as a factor in organizational integration, and its importance for knowledge dissemination, operation, development and support in the process of business. Key words: Social Networks; Culture; Chart. INTRODUÇÃO Este artigo pretende apresentar uma breve análise do relacionamento entre o processo de comunicação das redes sociais em uma organização sob o enfoque da cultura organizacional e o organograma instituído. Para coleta de dados utilizou-se a pesquisa de campo, com abordagem de caráter quantitativa, cujos dados coletados foram analisados baseados na distribuição de relacionamentos, mediante o uso de algoritmos que puderam calcular o grau de centralidade e intermediação dos atores envolvidos em uma organização hospitalar na cidade de Cuiabá – MT. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 1 !Administrador,!especialista!em!Planejamento!e!Gerenciamento,!Mestre!em!Educação.!Professor!da! graduação!e!pós>graduação!da!Faculdade!de!Tecnologia!do!Ipê.! 2 !Administrador,!Mestre!em!Administração!e!Doutorando!pela!Uninove.!Professor!de!graduação!e!pós> graduação!da!Unic!–!Universidade!de!Cuiabá.! A proposta de estudo foi lastreada na análise de redes de sociais – a sociometria – e fundamentada na observação da interdependência dos sistemas interativos de relações entre pessoas ou grupos. O estudo leva em conta a abordagem dimensional com suas limitações, para, a partir da análise das redes sociais, observar as interações dos participantes e seu posicionamento no organograma da empresa em questão. Sem qualquer pretensão de esgotar o assunto, este trabalho apenas se propõe a discutir alguns aspectos considerados relevantes acerca do assunto, apontando elementos que possam auxiliar na reflexão da importância de compreensão das redes sociais e suas interconexões dentro das organizações. I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Normalmente quando se fala na estrutura organizacional, refere-se à divisão de tarefas do sistema de atividades, e a hierarquia que coordena e comanda as varias especialidades da empresa. A maneira mais simples e mais usada para expressar a estrutura organizacional é a organograma, que é essencialmente um mapa dos títulos oriundos da divisão do trabalho e das relações hierárquicas que ligam as varias posições. Desde a sua invenção há mais de um século, o organograma tem se tornado um meio indispensável para pensar e representar uma estrutura organizacional, determinar o fluxo de comunicação, indicar poder e influência, identificar as responsabilidades, e disseminar uma visão oficial da organização. Soube-se desde o inicio que a organograma não conta tudo, pois são mapas incompletos como todo mapa, e às vezes escondem informações importantes. A primeira limitação provém do fato que há muito mais relacionamentos, tanto em numero quanto em gênero, na organização do que aparecem no organograma. Os organogramas reportam principalmente relacionamentos formais de responsabilidade e autoridade. Não indicam com que freqüência os superiores e subordinados interagem, ou se os colegas no mesmo nível hierárquico interagem ou não se falam. Entretanto, tanto as pesquisas quanto a lógica sugerem que a freqüência da interação entre pessoas tem um impacto grande sobre o nosso comportamento (Homans, 1950; Organ e Bateman, 1992). Normalmente o organograma não reporta sobre participação em comitês, ou colaboração, ou responsabilidade por projetos especiais, ou quem possui influência especial por causa de sua posição no fluxo de trabalho. Mas todos esses fatores são partes importantes da estrutura de uma organização. O organograma também não diz nada sobre a organização informal que consiste em amizades, inimizades, alianças , coalizões, pessoas cuja influência esta crescente ou minguante, ou outras particularidades. Entretanto todo gerente está ciente de situações onde o organograma nada tinha a ver com a realidade organizacional. Observe, portanto, que o organograma contém um viés inerente favorável à hierarquia. Aloca uma pessoa acima de outra sem ambigüidade e estabelece uma cadeia de comando inviolável. Isto é menos problemático se a organização almeja promover uma estrutura rígida e autoritária, mas atualmente muitas organizações procuram formas mais fluídas e igualitárias que desestimulam as fronteiras e hierárquicas formais. Para tais, o uso exclusivo do organograma tradicional tem implicações simbólicas indesejáveis. As limitações do organograma têm desvantagens especiais para as organizações pequenas. A sua relativa informalidade significa que é especialmente importante para o gerente ter uma descrição acurada da textura social da firma, algo que a organograma tradicional não oferece. O numero menor de pessoas na firma pequena significa que é possível e importante para a gerência ter uma idéia de quem se comunica com quem, seja formal ou informalmente. É desejável saber também, se os relacionamentos formais de autoridade estão sendo usados e respeitados, e se facções ou panelinhas estão se formando. Na organização pequena, a divisão de trabalho é raramente tão exata que uma pessoa tem uma só função. Por isto, entender a estrutura de uma organização pequena ou média depende muito mais do conhecimento das relações informais que nas organizações grandes. Um organograma que nos diz que o fulano é Vice Presidente de Operações ou Diretor de Marketing nos diz relativamente pouco sobre como ele se encaixa dentro do sistema de atividades de uma organização pequena. Poder-se-ia citar outras limitações, mas já dá para entender que especialmente nas organizações pequenas, o gerente tem que saber mais sobre a estrutura social da firma encontra no organograma. do que se A segunda maneira tradicional de encarar a estrutura pode ser chamada de abordagem dimensional (Hall, 1976). É usado principalmente por pesquisadores e professores de administração embora a maioria dos gerentes entenda os conceitos dimensionais implicitamente ou explicitamente. A abordagem dimensional requer que identifiquemos e medimos as propriedades abstratas dos relacionamentos que compõe a estrutura. Por exemplo, refere-se ao numero de subordinados com “amplitude de controle” ao numero de níveis hierárquicos, como o grau de “diferenciação vertical” e o numero de responsabilidades diferenciadas da divisão de trabalho como “diferenciação horizontal.” Formalização refere ao numero de regras e normas escritas que regulam o trabalho. Lida também com os fluxos de comunicação, recursos, e diretrizes entre as pessoas na organização. A centralização referese ao grau em que o poder decisório converge em poucas ou muitas pessoas. Juntas, essas dimensões dão uma idéia do caráter da organização como um todo. Uma organização com pouca diferenciação vertical, pouca formalização e uma amplitude de controle larga vai se comportar de uma forma bem diferente de uma com muitos níveis, muita formalização e amplitude estreita. Essas dimensões são facilmente registradas e medidas, e diferente dos organogramas, podem ser comparadas facilmente de uma organização ou divisão para outra. Pesquisadores têm realizado estudos sobre quais condições tecnológicas e estratégicas combinam com quais configurações de dimensões, mas normalmente são genéricos demais para se aplicar as situações especificas. Um desafio perene é saber qual é o numero de níveis ideais, o numero ideal de subordinados por superior, e o numero de empregos diferenciados na divisão de trabalho. Depois de centenas de pesquisas, sabese que a estrutura depende do negócio e das tarefas da empresa, mas faltam dicas especificas que vão muito alem dos princípios enunciados nos primeiros capítulos de qualquer livro texto de Teoria Geral da Administração. Outra vez, como é o caso com os organogramas, a organização informal passa despercebida. As medidas de centralização, amplitude etc., não nos dizem com que freqüência os gerentes interagem com os subordinados, quem tem mais influencia, ou com que freqüência os subordinados pedem autorizações diretas com a cúpula em vez de respeitar a hierarquia. Algumas estruturas bastante elaboradas são quase totalmente ignoradas enquanto outras são cumpridas ao pé da letra. As estruturas formais e informais às vezes são bastante similares, outras vezes bastante distantes. A abordagem dimensional provavelmente é menos útil para as organizações pequenas e não tradicionais do que os organogramas. Quanto menor ou menos tradicional a organização, menos níveis tem, e menos significam. O mesmo se aplica as outras dimensões—menos posições formalmente definidas, menos formalização, amplitude de controle menor, etc. Como resultado, as pesquisas nessa área oferecem relativamente pouco à organização pequena ou não tradicional. Em anos recentes muitos pesquisadores tem se voltado a sociometria — um gama de técnicas para mapear as relações sociais — como uma maneira de entender as organizações mais de perto. (MARTELETO 2001) Como a sociometria (ou “análise das redes sociais”), considera diretamente as ligações ou contatos que compõe a estrutura organizacional, ela evita boa parte das desvantagens das abordagens tradicionais descritas acima. O seu grau maior de realismo e detalhe também tem vantagens especiais para as organizações menores ou menos tradicionais que precisam de menos abstração e mais detalhe ao ponderar as suas estruturas. Muitas facetas da sociometria envolvem matemática complexa, mas existem formas simples da técnica que podem ser usadas sem possuir muita sofisticação quantitativa. Neste trabalho, optou-se em utilizar as técnicas básicas, que tem aplicabilidade relativamente rápida e fácil. Apesar da análise de redes sociais nas organizações ter amadurecido muito nos últimos 20 anos, ela ainda não tem abordado de forma sistemática a morfologia das estruturas informais das organizações. Antes enfocam os atributos e conseqüências das redes das pessoas dentro da organização em vez de encarar o conjunto de redes que compõe a organização como um todo. Por isto, as pesquisas existentes sobre redes nas organizações não contam com informações sistemáticas análogas aos estudos sobre estruturas formais da abordagem dimensional clássica. Por exemplo, enquanto facilmente se descobre a diferenciação vertical ou horizontal de uma organização formal, não existem conceitos ou métodos paralelos que iluminam as dimensões da organização informal. Este artigo procura iniciar uma indagação mais sistemática sobre as dimensões da organização informal investigando, sobretudo, a natureza dos centro–periferias informais nas organizações. ( NELSON 1984) Na análise de redes sociais são observados os atores sociais, seus papéis e suas ligações. A análise de rede social é uma ciência interdisciplinar especializada no comportamento. Ela está fundamentada na observação de que os atores sociais são interdependentes e que as conexões entre eles possuem importantes conseqüências para cada indivíduo. (FREEMAN, 2004). A análise de redes sociais trata de sistemas interativos de relações entre pessoas ou grupos e, o que interessa é o posicionamento estrutural de cada ator dentro de um contexto, isto é, sua posição na rede. Quando passamos a desenvolver essa análise, percebe-se a questão da cultura organizacional presente. Podemos tentar definir cultura organizacional como o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionam bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas como um padrão de pressupostos básicos compartilhados que o grupo aprendeu a partir da resolução de problemas. Schein (2001) defende a elaboração de conceitos mais profundos e complexos, argumentando que a cultura organizacional como conceito será mais útil se contribuir para a compreensão dos aspectos mais complexos e obscuros da vida organizacional e que esse entendimento não pode ser obtido através de definições superficiais. Na concepção de Hofstede (1991), cultura é sempre fenômeno coletivo, que distingue os membros de um grupo, ou categorias de pessoas, uns dos outros, e pode ser aplicada a nações, organizações, profissões, grupos religiosos ou étnicos porque é, pelo menos, parcialmente, compartilhada com pessoas que vivem ou viveram no mesmo ambiente social onde ela foi assimilada. Segundo Nelson (2006), valores são convicções básicas que indicam a preferência por determinados estados e comportamentos, tais preferências possuem intensidades e interferem na disposição favorável ou desfavorável que temos em relação às coisas do mundo. Os valores são derivados da interação com os grupos sociais de referência do indivíduo, por tal razão, são internalizados com forte carga afetiva e passam a fazer parte do repertório da pessoa. A identificação dos valores individuais para o alinhamento aos valores organizacionais, portanto, pode prevenir eventuais conflitos decorrentes da ocorrência de discrepâncias entre os valores organizacionais (ou grupais) e valores dos indivíduos. Nelson (2006) fala que as pessoas não podem lidar com mais de um pensamento ao mesmo tempo e que nossa capacidade de memória também é limitada. Quando a informação entra na nossa cabeça escolhemos, do imenso número de estímulos que nos bombardeiam constantemente, um número relativamente pequeno de interesses e preocupações para atendermos. Desta forma a cultura ajuda a determinar quais coisas vão atrair a nossa atenção e interesse, e por um processo eliminatório, a cultura também nos diz o que ignorar, em outras palavras, a cultura nos norteia sobre o que vale a pena e o que não vale a pena se preocupar. Diferente das abordagens tradicionais, segundo NELSON( 2007) a análise de redes é bem adequada para capturar tanto a organização formal quanto a informal e para revelar as interações entre elas. A sociomatriz não só indica onde existem relacionamentos, como indica a intensidade ou frequência dos relacionamentos. O organograma não nos dirá qual dos vice-presidentes de uma firma tem laços mais próximos com o presidente, ou quais gerentes mantém o maior número e intensidade de relações de dependência. Sob esse enfoque que se processa o levantamento realizado, visando verificar se os lideres tendem a se cercar com subordinados de confiança, qual será a natureza das relações entre estes subordinados, se existe contato freqüente, ou escasso, se as relações são cordiais ou de rivalidade, ou depende do líder ou do contexto organizacional. Também observaremos se as redes sociais dentro das organizações tendem a se dividir entre centro e periferia, existe um tamanho ideal do centro, ou uma relação centro periferia ideal. Há muitos anos tem-se debatido sobre o tamanho ideal de grupos de trabalho, assim como a amplitude ideal de controle de um gerente, e os estudos da governança agonizam sobre o tamanho ideal dos conselhos. Uma rede social enquanto sistema pode ser mediada ou não por tecnologias de informação e comunicação (TICs), e algumas podem ainda serem híbridas, onde observamos que apenas alguns participantes tem acesso as tecnologias, criando então as chamadas teias invisíveis que farão a comunicação através de indivíduos-ponte. As redes sociais informais, mediadas ou não por TICs, são mais flexíveis e não-deterministas, sujeitas a diferentes graus de formalização, conforme o perfil dos participantes e dos seus objetivos estratégicos e táticos. Quanto pensamos em uma rede, ao contrário de um sistema, as redes sempre tendem a fluidez que não mantém uma dinâmica linear, mesmo aquelas redes orientada por objetivos pré-definidos institucionalmente. O que podemos observar nas redes é que não há possibilidade de previsão nem de garantia de controle de todas as interações que nela vão surgir. Por isso é difícil planejar uma organização em rede. As redes sociais tem evoluído grandemente em razão da disseminação da internet comercial, mas o que se pretende aqui é apresentar os elos invisíveis onde circulam informação e conhecimento, o que nos leva a perceber a expansão da rede para além dos meios digitalizados, das instituições legitimadas e dos detentores de poder. II. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Na análise da rede pessoal, é solicitada a pessoa mapeada que identifique outras pessoas que são importantes para a execução de uma dada função ou tarefa (por exemplo: obtenção de informação, consolidação de idéias etc.) sendo que para cada pessoa identificada deve-se responder um conjunto de questões sobre esse relacionamento. Nessa técnica pode-se ou não limitar o grupo de pessoas que podem ser apontadas pelo indivíduo mapeado. O mapeamento será restringido somente às pessoas que trabalham na mesma instituição. Após o levantamento dos relacionamentos da pessoa mapeada, é feita a análise destes tendo por base a distribuição de relacionamentos, e identificando a coesão, densidade e qualidade da rede mapeada. Os dados do estudo foram analisados mediante algoritmos e rotinas de análise de redes visando não apenas representar graficamente a rede de cooperação, mas também calcular graus o nível de centro-periferia da rede e medidas de centralidade de grau (Degree Centrality) e centralidade de intermediação (Betweenness Centrality) .Para esses cálculos e representação das redes utilizou-se o software Ucinet 6 (BORGATTI, EVERETT e FREEMAN, 2002). Para análise de cultura, utilizamos o instrumento denominado C-VAT® , que tem sua própria metodologia e sua precisão é altamente comprovada. Nelson (2012) Foi idealizado para revelar o perfil de valores básicos da pessoa, o que é extremamente importante. Sua análise permite mostrar aspectos não visíveis em outros instrumentos. O C-VAT® também é muito fácil de aplicar, em contraste com outros testes pscicométricos com muitas questões e de preenchimento tedioso. Também, os resultados do C-VAT® são mostrados em um gráfico simples e fácil de se interpretar. O questionário utilizado na análise da rede pessoal é do tipo fechado, onde o respondente deve apontar seus principais relacionamentos para um determinado contexto pré determinado (busca de informações, solução de problemas etc.). Na etapa de “coleta das informações” mapeiam-se os relacionamentos da pessoa alvo. A coleta das informações deve acontecer por meio da resposta individual ao questionário, devido à maior simplicidade do questionário. Na etapa de “análise das informações” se compara a distribuição dos relacionamentos da pessoa. Se na análise das informações coletadas de um funcionário técnico encontra-se somente relacionamento com pessoas de um nível técnico, essa seria uma possível descoberta de relacionamento para esse funcionário e poderia estar indicando influência da parte técnica sobre a parte administrativa .Por fim, na etapa de “apresentação dos resultados” aponta-se o hiato entre a distribuição da pessoa ou grupo analisado em comparação com a distribuição total. A principal característica do questionário em uma análise de rede em grupo fechado é que a priori o universo de pessoas que cada indivíduo pode indicar o seu tipo de relacionamento é enumerado explicitamente no questionário. Apesar de ser possível mapear todos os tipos de relacionamentos existentes dentro de um grupo, a chave é identificar relacionamentos que avaliam um desafio ou imperativo estratégico do grupo analisado e que sejam passíveis de modificação, uma vez que se verifiquem áreas para possíveis melhorias (CROSS & PARKER, 2004). Segundo CROSS & PARKER (2004), os principais tipos de relacionamento que são mapeados na maioria das dinâmicas de A.R.S. são: quem tem informação necessária para o indivíduo realizar o seu trabalho, de quem o indivíduo tem consciência sobre as competências e os conhecimentos, que pessoas o indivíduo desejaria se comunicar mais para desempenhar melhor o seu trabalho. O produto desta etapa é um questionário contendo a lista das pessoas que compõem o grupo e os tipos de relacionamentos que se deseja mapear. Isso serve como subsídio para a etapa seguinte de coleta das informações dos membros do grupo. Este trabalho é composto pelas seguintes etapas: mapeamento das redes sociais destes atores para observarmos a dinâmica de centro-periferia e mapeamento de valores e perfil individual através do PVP (Perfil de Valores Pessoais), das lideranças técnicas e administrativas da organização hospitalar escolhida. A amostra foi requisitada diretamente a gerente de recursos humanos do hospital, que forneceu a listagem contemplando 25 cargos de liderança, que atribuímos a nomenclatura de técnico e administrativo, conforme a formação acadêmica e atuação profissional. III. ANÁLISE DA REDE DE INTERAÇÕES Os dados apresentados na figura 01 mostram a rede de interações do “Hospital X”, contendo todas as lideranças, e as relações entre si. Para fins deste estudo definimos como contatos aqueles que cada um tem com outro numa semana normal de trabalho. Para estabelecer um contato forte, e assim ser considerado para realização do desenho do gráfico, no Netdraw, consideramos somente aqueles contatos cuja freqüência ocorreu quatro ou mais vezes por semana. Este critério foi estabelecido após verificação da média de contatos existentes, sempre abaixo de três. Nesta mesma figura atribuiu-se também uma separação por cores: azul representando as lideranças administrativas que reúnem todos os cargos cuja descrição e atuação não está diretamente ligada ao paciente, e para qual o ocupante não necessita formação acadêmica na área de saúde. São eles: Gerentes de Recursos Humanos, Planejamento e Projetos Relacionamento, Suprimentos, Financeiro, Tecnologia da Informação, Coordenadores de Higiene e Limpeza, Faturamento, Recepção, Auditoria, Qualidade, Segurança, Hotelaria, além do Superintendente e Diretor Financeiro. Na cor vermelho, para as lideranças técnicas, que guardam relação direta com o tratamento do paciente e cuja ocupação necessariamente é feita por profissionais com formação acadêmica na área de saúde: Gerentes de Enfermagem, Centro Cirúrgico, CCIH, Coordenadores de Enfermagem, Farmácia e Pronto Atendimento. Nota-se ao analisar o gráfico, uma situação que denominamos de espelho: no lado esquerdo da figura estão situados os de cor azul, portanto os de função administrativa, e no lado esquerdo os de cor vermelha, representando os cargos de função técnica. Na extremidade encontram os cargos mais emblemáticos e importantes da administração do hospital: na esquerda diretor financeiro, gerente administrativo financeiro e o superintendente, e na extrema direita os pares da parte técnica, de similar importância: gerente de enfermagem, coordenadora de enfermagem e coordenadora do centro cirúrgico. Ao comparar o gráfico de relações com o organograma do hospital, vemos que a situação espelho se repete, com uma divisão bem clara e distante entre as áreas administrativa e técnica. A área técnica está subordinada a diretoria assistencial e a área administrativa está subordinada a diretoria operacional. Curiosamente, nenhuma das duas diretorias foi relacionada na “relação de lideranças” fornecida pelo setor de recursos humanos do hospital e, portanto, não foi indicada nenhuma relação entre as diretorias, indicando talvez uma posição hierárquica “superior” ou fora do organograma, como talvez não houvesse necessidade de se submeter as normas vigentes. Durante o preenchimento dos questionários, não foi questionado em nenhum momento a ausência das diretorias. O formulário foi referendado e autorizado o seu preenchimento pela diretoria assistencial, por determinação da presidência do hospital. O único cargo que parece conviver entre estes dois mundos é o de coordenador de qualidade, que se encontra no meio do gráfico das relações, e no organograma está alocado como staff, subordinado a diretoria assistencial, sugerindo que seja um elo de ligação entre as áreas. A densidade de uma rede consiste na proporção de todos os laços possíveis na rede e que estão de fato presentes (HANNEMAN e RIDDLE, 2005; ACEDO et al., 2006; DE NOOY et al., 2005) e é medida importante para prever a velocidade de difusão de informações em uma rede e também o grau de capital social e de restrições sociais dos atores. Uma rede mais densa significa, em princípio, difusão mais rápida de informações. No quadro 1 está assinalado o coeficiente de densidade, evidenciando um nível de densidade médio-alto. Para identificar atores sociais centrais na rede geral utilizamos duas medidas: Centralidade de Grau (Degree Centrality) e Centralidade de Intermediação (Betweenness centrality), ambas seguindo a abordagem de Freeman (HANNEMAN e RIDDLE, 2005). A primeira refere-se à quantidade de laços que um ator social possui com outros, na rede, e se traduz em posição de vantagem pela influência, menor dependência, proeminência e prestígio daí derivados (HANNEMAN e RIDDLE, 2005). A segunda medida refere-se ao fato de atores sociais intermediarem relações entre outros atores, o que lhes confere menor dependência em relação a atores individuais e, em sentido inverso, maior poder pela disponibilidade de vários canais de influência (HANNEMAN e RIDDLE, 2005) Figura 01- Representação gráfica da rede de interações do Hospital X IV. O PERFIL CULTURAL ATUAL E DESEJADO Através do instrumento PVP (Perfil de Valores Pessoais), obteve-se uma amostra do momento atual de como é a cultura organizacional, e do perfil que as lideranças entendem como o perfil ideal de cultura organizacional. Apesar da amostragem não ser significativa em termos quantitativos, os 25 respondentes traçam um painel cultural de cultura fraca e com dois grupos distintos entre todas as lideranças. Marcadamente evidenciam-se os grupos técnico e administrativo, tal como indicado na análise de redes sociais, mostrada na figura 01. As diferenças entre os grupos acentuam-se ao se comparar alguns itens da cultura atual, com a cultura ideal. Por exemplo, no grupo de trabalho, a cultura atual preconiza o item conclusão de tarefas (Finish job) com 12.4 e a cultura desejada indica o valor de 14.4, na comparação centro-centro, demonstrando uma diferença significativamente alta. Curiosamente, na dimensão Controle (CONTROL), no item domínio ( Dominance), na análise centro-periferia atual os valores respectivos apontam 11.7 e 14.8, indicando que a periferia demonstra sentir o peso do controle, enquanto o centro visualiza um nível menor. Quando analisamos o perfil ideal, na comparação centrocentro, encontramos respectivamente os valores 11.3 e 11.3, confirmando a expectativa do grupo de centro de que o domínio está sendo exercido na medida adequada tanto na situação atual quanto ideal. Já na análise do grupo periferia-periferia os valores apontam 14.8 e 8.7, para a organização atual e ideal respectivamente, em uma clara evidência de que a periferia sofre com o domínio na perspectiva atual em valores superiores aos indicados pelo grupo de centro, altamente significativos com percentual bastante elevado. De outra forma, quando se fala em perfil ideal, o grupo de periferia aponta um valor significativamente menor do que o indicado no perfil ideal, e muito menor ainda do que o sugerido pelo grupo de centro, evidenciando provavelmente um clima de domínio excessivo, exercido pelo grupo de centro CONSIDERAÇÕES FINAIS Todas as informações tratadas ao longo deste artigo nos levam a refletir sobre a importância das redes como fator de integração organizacional, e de sua importância para disseminação do conhecimento, operacionalização, desenvolvimento e suporte no processo de empresarial. As tecnologias de informação e comunicação – TICs – fizeram surgir uma gama de novas possibilidades para análise de redes sociais, além disso, seu avanço e as possibilidades de efetivação da interação tem sido objeto de estudos continuados. Da mesma forma, a produção, socialização e o uso de conhecimentos e informações, e a conversão destes em inovações, constituem processos socioculturais. Podemos dizer que as redes sociais ligadas às tecnologias da informação e comunicação desempenham um papel fundamental para transferência de conhecimentos e informação necessária ao desenvolvimento. É através das redes sociais que observamos os nossos esforços no sentido da criação e da inovação. Em suma, compreender as redes sociais, e seus relacionamentos estão além do simples desenho de um organograma. Sugere-se assim, a relevância de ampliar o escopo e a abrangência deste trabalho para além dos indivíduos e organizações tomados em estudo, para considerar centralmente suas interações, focando nos condicionantes e resultados dos fluxos de conhecimentos entre os atores locais e destes com atores externos. Importante ressaltar que no caso de aglomerações produtivas, essas se tornam cenário propício à análise, pois são ambientes sociais complexos onde existe conhecimento, aprendizado e inovação. Referencias ANDERSON J G. and Stephen J. J.The Diffusion of Medical Technology: Social Network Analysis and Policy ResearchThe Sociological Quarterly Vol. 26, No. 1 (Spring, 1985), pp. 49-64 BORGATTI, S.P.; Everett, M.G.; Freeman, L.C. Ucinet for Windows: Software for Social Network Analysis. Harvard, MA: Analytic Technologies, 2002 BUCHWALD, D. Dick, R. W. Weaving the Native Web: Using Social Network Analysis to Demonstrate the Value of a Minority Career Development Program. 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ANEXO – LISTA DE ABREVIATURAS Função Gerente de Recursos Humanos Gerente de Enfermagem Gerente de Relacionamento Gerente de Suprimentos Gerente Financeiro Gerente de TI Gerente de Faturamento Gerente de Hotelaria Coordenador CCIH Coordenador UTI Coordenador Centro Cirúrgico Coordenador Enfermagem Coordenador de Higiene e Limpeza Coordenador de Recepção Abreviatura GRH GEF GRL GSP GFI GTI GFA GHO CCIH CUTI CCC CEN CHL CRC Coordenador de Auditoria Coordenador da Qualidade Coordenador da Farmácia Coordenador da Segurança Supervisor Enfermagem Supervisor Enfermagem Supervisor Enfermagem Supervisor Pronto Atendimento Superintendente Diretor Financeiro Gerente de Planejamento e Projetos CAD CQL CFM CSE SEE1 SEE2 SEE3 SPA SUP DFI GPP