Jorge Guinle - Cultura Niterói
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Jorge Guinle - Cultura Niterói
Jorge Guinle Jorge Guinle Tatiana Martins Fundação de Arte de Niterói / FAN / MAC de Niterói 2013 Martins, Tatiana. Jorge Guinle / Tatiana Martins; revisão e tradução Quesco Brasil. – 1. ed. – Niterói : Fundação de Arte de Niterói, MAC de Niterói, 2013. 56 p. : il. – (Artistas brasileiros. Monografias de bolso) Texto em português e inglês. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-63334-07-7 1. Guinle, Jorge. 2. Pintores brasileiros. 3. Arte contemporânea. 4. Século XX. I. Museu de Arte Contemporânea de Niterói. II. Título. III. Série. Catalogação na publicação: Lêda Maria Abbês Bibliotecário CRB/7 n. 1071 A Tela, 1983 Óleo sobre tela 190 x 190 cm CDD 709.81 A Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (SEC) vem trabalhando desde 2008 para difundir, estimular e fortalecer a cultura do Rio de Janeiro, criando mecanismos de fomento e políticas estruturantes para o setor, em todas as suas vertentes, buscando contemplar todos os setores e áreas, desde as manifestações mais tradicionais, e abrangendo agentes culturais de todo o estado. Como parte desse trabalho, a SEC criou o edital de Artes Visuais – dentro do pacote de 41 editais lançado em agosto de 2011 –, com a finalidade de incentivar a criação artística, bem como a integração cultural, a pesquisa de novas linguagens, a formação e o aprimoramento de pessoal de sua área de atuação. Balizado por esses parâmetros, o edital proporcionou apoio financeiro a projetos que propunham a circulação, o intercâmbio e a implementação de ações de Artes Visuais no Rio de Janeiro, visando estimular a multiplicidade e a diversidade de tendências e linguagens. Através do edital, a SEC contemplou projetos como este, de exposições de arte, intervenções urbanas e publicações de arte. Assim, reiterou o compromisso do Governo do Rio de Janeiro de oferecer uma programação plural, de qualidade, ampla e diferenciada. Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro O Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em seu compromisso de divulgar seu acervo não só por meio de mostras, mas projetos diversos, iniciou em 2000 uma série de publicações de bolso destinadas a apresentar suas preciosas coleções João Sattamini e MAC de Niterói. Desde então, isso resultou no lançamento de mais de uma dezena de títulos voltados para artistas como Antonio Dias, Rubens Gerchman, Ione Saldanha, Aluísio Carvão, Hermelindo Fiaminghi, Emmanuel Nassar, Carlos Zilio, Wanda Pimentel, dentre outros. Muito ainda há para ser estudado a partir das obras presentes no MAC de NIterói. A lista de artistas, se detalhada, causaria entusiasmo imediato ao leitor. Nesse sentido, o apoio da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro por meio do Edital de Artes Visuais 2011, permitiu que novos passos fossem dados nessa direção. Graças a ele, este novo conjunto de livros, que passam a constituir a coleção Monografias de Bolso, traz agora leituras das obras de Anna Bella Geiger, Jorge Guinle, Ivan Serpa e Raymundo Collares. Além de ampliar os olhares sobre o acervo, ela igualmente se atém à proposta de convidar novos autores, fomentando a reflexão crítica. Distribuídos em diferentes instituições no Brasil, os livros também estão disponíveis para download gratuito no site do MAC de Niterói, ampliando o seu acesso. Divulgar um patrimônio de tal magnitude corresponde, enfim, a missão do museu de colaborar na construção da cidadania e levar a arte brasileira a diferentes lugares. MAC de Niterói Jorge Guinle Líquido e tátil Tatiana Mar tins M uito jovem compreende a linguagem da pintura e, hábil intérprete, Jorge Guinle Filho escolhe fazer do ato de pintar – em todas suas implicações – sua vida. Pintor que descobre primeiramente relação íntima e privada com seu ofício para, em seguida, compreender o pintar numa dimensão pública. No final da década de 1970, já é visível a via combativa da arte brasileira em consonância com os “anos de chumbo” vividos em nossa política e sociedade. Em arte, articula-se alguma multiplicidade, mas oscilando linearmente entre os seguintes modos: experimentalismo-conceitualismos e as várias inserções das imagens – de abstratas a índices, de caráter fragmentário a mensagem. Os artistas da década de 1970 que conseguem pulverizar um circuito fechado, o fazem mediante táticas de combate. Assim, cabe combinação entre trabalho mental e espontaneidade para a recondução do objeto artístico, apto então a transitar por outros discursos e elaborar outros procedimentos. Nos anos 1980, pode-se afiançar pouca mudança em relação ao circuito artístico brasileiro: os artistas se deparam com sistemas pouco consolidados. Mas, não há como desconsiderar os indícios da consolidação do meio artístico ainda que levados por esforços individuais ou instituições precariamente idealizadas. O experimentalismo dos anos 1970 traz, por um lado, a diluição da noção tradicional de objeto de arte, por outro, evidencia certo hermetismo, característico dos traços conceituais das linguagens poéticas. A produção de Jorge Guinle assume a positividade do encontro (feliz) entre sua experiência com a pintura e as poéticas que se articulam a partir de um campo híbrido de arte. Levando-se em consideração, então, a heterogeneidade das linguagens artísticas – que simula e pratica o retorno à pintura nos anos 1980 –, pergunta-se pelo lugar da pintura de Jorge Guinle. Na contemporaneidade, que se esboça entre nós desde o neoconcretismo, a virada para a década de 1980 destaca notas mais pungentes: arte e dimensão pública. E, nesta situação, entre o forte desejo pela pintura e o trânsito por diferentes circuitos artísticos – presente desde a infância do artista vivida entre Paris e Nova York – e os nossos conceitualismo e experimentalismo, Jorge Guinle opta por ser pintor. A aura de simplicidade da escolha de Guinle não vem sem um permanente embate entre registros da modernidade em pintura e seus enlaces temporais – “Cada pincelada traz uma carga do passado. Tem todo o passado que você mistura. O passado moderno é um paradoxo porque não pretende ser passado, mas ao mesmo tempo ele é passado.” (A Pintura contra a parede, 1983). Naturalmente, pressente-se nele o prazer de viraser artista, a alegria da criação artística a desafiar o declarado “fim” da modernidade – tão familiar a Jorge Guinle. O artista não recusa o despedaçamento da modernidade, daí talvez o porquê da superfície da pintura recolher as miscelâneas contemporâneas: fragmentos de desejo e fragmentos de história da arte já cabíveis em plano simultâneo. O caráter extrovertido e sensual das pinturas de Guinle expulsa qualquer sentimento passivo diante das movimentadas e inquietas telas. Para expor o “modo pintura”, o pintor condensa e expande temporalidades e, como não há hierarquias ou cronologias nessa lógica, embarca na imen- sidão plana que se desenrola bem diante do espectador. As temporalidades coexistem sem hierarquia porque o procedimento pictórico do artista sugere a reinvenção do “modo” quadro. Daí, a materialidade da tinta ser tão variada e, aliada à cor, transforma-se num corpus maciço oferecido em ritos calculados ou não. As cores têm textura, espessura, formulam espaços. São ásperas e são acetinadas. São líquidas e táteis. Conhecedor notável do tempo progressivo moderno, quer dizer, ciente certamente do desenrolar da lógica histórica, Guinle parodia as epopeias modernas para, em ato, praticar a pintura do possível: vontade de pintar. As superfícies das suas telas esboçam alguma iconografia – parodiando a operação Pop. O movimento das “figuras” das telas de Jorge Guinle não obedece à força motriz interna, fechada numa representação ou mesmo a serviço da mensagem, mas expande-se por todas as zonas pictóricas que cobrem o plano. De acordo com o artista: “Minha iconografia é abstrata. É uma iconografia da história da arte e não uma iconografia identificada.” (Pintura contra a parede, 1983). Pode-se resumir então que suas telas consistem em pele inteiriça, porosa e rugosa, que, em constante experimentação, deixa vagamente a ver imagens de temporalidades díspares. A heterogeneidade dos movimentos artísticos que são referências para Jorge Guinle é justificada por sua obsessão em possuir literalmente o tempo. Ele se desfaz do espaço do quadro atomizado, tributo da experiência expressionista abstrata do all over, e mimetiza o procedimento irônico do dadaísmo já transfigurado pela Pop Art americana. Porém, o que transforma e vola- tiza a expressão da modernidade na pintura de Guinle seria o exercício pictórico transmutando olhar em gesto: “Mas a cada apropriação de um estilo, de um pensamento inicial é desviada do propósito inicial da escola escolhida justamente pela inclusão de uma outra escola que seria sua negação.” (Pintura contra a Parede, 1983). Sem comungar das conceituações correntes naquele momento a respeito do eventual retorno à pintura e sem comprometer sua pulsão autoral mediante critérios determinados pelo sistema de arte internacional – sobretudo as teorizações da Transvanguarda Italiana –, Jorge Guinle estabelece uma espécie de circuito no qual não ficam de fora as escolas de arte, crítica, convívio com artistas e o caráter público da arte. Os parâmetros para a chamada genericamente de pintura energética são refutados por Jorge Guinle. Tal como conduz sua trajetória, o pintor propõe, ainda que intuitivamente, um desvio – indício seminal das articulações que expulsam o artista do lugar fixo, do isolamento do fazer e o colocam entre mediações. De um modo geral, a poética do artista consiste numa vitalidade pictórica que se combina à visualidade entrópica. Cada quadro do artista é povoado de episódios, impressões, visualidades, fatos, atos e eventos, ou seja, uma superfície que contém todos os nomes do sensível. Esse procedimento que adota desata os nós processuais da história da pintura. Ao propor tais enlaces, o artista, para sua própria ”perdição”, se coloca ciente da resolução de qualquer impasse. O contrabalanço e a simultaneidade das superfícies mais agitadas e das mais planas são resultantes do olhar experimentado do pintor. A certeza de imagens reconhecíveis não passa por uma formalização racional, o gesto é capturado pelo imediato da aplicação da tinta que pode se alinhar à imagem sem antecipações conceituais. O artista transita, por assim dizer, livre e desenvolto pela pintura moderna porque aceita os impasses gerados por ela. Jorge Guinle deseja o enfrentamento: da Pop Art coleta as imagens em estado de abstração; postula do modo gestual operatório do expressionismo abstrato; equaciona o registro do espaço cubista de Pablo Picasso à inteligência cromática de Henri Matisse; afeiçoa-se a Iberê Camargo. Apenas para apontar alguns registros do artista. Pintor de muitos recursos pictóricos, Jorge Guinle atua ruidosamente no campo visual e plástico, orquestrando uma sinfonia contemporânea: tempo cultural, tempo cultual, tempo do fazer, tempo da visualidade heterogênea. Valendo-se da potência da pintura e imerso na fartura do fazer, o pintor consegue transitar entre o espaço atomizado da pintura do expressionismo, quer dizer, em especial, Jackson Pollock e Wilhem de Kooning, e os aspectos da Pop Art que reivindicam para a arte a potência da sua dimensão pública. Jorge Guinle reconhece seu diálogo com o passado, mas coloca em suspeita os momentos inaugurais da modernidade que, para muitos, são sua própria definição: o novo. Sua aceitação da história da arte não o aproxima do risco de servir a mais uma escola ou ser definido por outro estilo novo. Ela é redimensionada para abordar as questões contemporâneas, sobretudo, a partir da necessidade de uma política cultural como motor daquela arte atual. O artista possui conhecimento profundo dos códigos que norteiam o conceito de representação. A estratégia consiste na evocação de uma ”metodologia” e produção mais do que no resultado final – o objeto. Em suas palavras: “A partir dos anos 1980, a questão formal não se constitui como fato problemático para mim. Ela já foi resolvida, na sua essência (cubista, abstrata-construtiva ou lírica) pelos mestres da primeira metade do século XX.” (Sem tomar partido, 1985). A imensidão da tela que habita a poética do artista oferece certo contorno à dimensão pública por ele desejada. A assimilação e correspondências ou mesmo contradições apontam para a abertura pública do trabalho de arte. Retomar um registro do passado sem transgredi-lo – como imperativo de certo método histórico – significa pensar a maneira como o artista escolhe trabalhá-lo. Se a retomada de um movimento artístico deve ser vista necessariamente como uma defasagem ou desatualização, cabe tratar a maneira como o registro do passado pode ser mostrado – aqui a vontade da palavra visível prevalece – como a própria poética da contemporaneidade: transmutação do espaço público, visualidade dessa dimensão ampliada. Jorge Guinle assume os modos de convivência antagônicos e paradoxais da modernidade e os fabrica para a arte brasileira: “Um impulso contrário, imprevisto, dentro de uma esquematização já ‘manjada’, é a minha jogada. Impossível ater-se num ‘ ismo’ que já não é istmo para uma ilha maior. Trabalho nos detalhes, confundo um pouco o baralho, tento cavar sulcos onde a terra outrora era plana.” (Sem tomar partido, 1985). O artista vocaliza seus processos e entendimentos do circuito artístico não para contestá-lo – dado que sua existência é precária –, mas para tentar criá-lo. Em relato do artista: “(...) também escrevi vários artigos. Escrever sobre a arte dos outros artistas é uma forma de pensar o meu próprio trabalho e alguns deles me fizeram tomar decisões importantes...” (“Olympia goes funny”... ou Matisse e João Gilberto, 1984 VENÂNCIO FILHO, 2006: 91). Em seus artigos sobre arte, sobressaem referências ao fazer do pintor como tarefa mesmo de tornar carne, se constituir pele. Assim, transformada em pele, a superfície da tela trabalhada a partir do contentamento do artista: “o painel teria que reconhecer a topologia das minhas obsessões, traçando contornos que a definissem.” (Segundo meu critério...: 1986). Pintura noturna e solar: crepúsculo e aurora. O artista produz no atelier em noites aparentemente intermináveis, girando a tela, invertendo seu sentido de ”leitura”, impondo ou retraindo seu corpo. A superfície aglutinadora de matéria se dá no colorido pressentido e escoado, mas também eufórico e irônico, que simula imagens e apaga referências. No registro da tela, o artista opta heroicamente pela saturação da pintura para, a partir dela, reformular sua inteligibilidade contemporânea: reanimar as relações entre cor, forma e desenho, para acrescentar o aspecto inescapável ao contemporâneo, qual seja, o consumo da arte. Desse modo, o consumo imediato dos ícones e procedimentos modernos compõe a textura pictórica da sua produção. A pintura que devora nosso olhar quando irradia cores e matérias. A cor como volume e dinâmica de suas relações: valorização das diferenças, das semelhanças. Artista que assume positivamente a abundância irrefreável da lógica do consumo e da reorientação do status moderno. A invenção dos signos gráficos e pictóricos por Jorge Guinle retém, com frescor, certa presença moderna tal como ela pode subsistir: pela transvaloração contemporânea. Mais do que criar um campo de batalha – a apropriação imediata dos embates picturais –, Guinle procura deixar visível a conquista do método, na eloquência das sínteses: “Por exemplo, o lado decorativo, joie-de-vivre matissiano das cores, seria negado pela construção ritmicamente exacerbada do Abstrato-Expressionismo. Por outro lado, a tragédia dessa mesma pincelada abstracionista é negada pelo otimismo da cor e pela ambiguidade cômica da operação.” (A Pintura contra a parede, 1983). O artista forma para si um campo a partir do qual volatiza, condensa e aquece, em móvel constante, suas referências culturais. As questões de ordem são: o sentido da figuração; a resistência da matéria e da cor a partir do exercício exaustivo do gestual do seu corpo; a realidade como expressão da pintura; e a assimilação e o desvio das correntes modernas. Inversamente, o pintor se situa entre projeto e destino, porém reformula essa relação – menos científica (demonstrativa) e racional e mais pulsante e imaginativa. A obra não se reconhece totalmente pronta ou pertencente às correntes artísticas. Ela revive a atualização da modernidade em crise, a crise da pintura moderna perde sua densidade – se coloca à disposição para mais uma vez ser matéria pictórica. O reconhecimento do problemático encontro da Pop Art com o conceitualismo resistente no Brasil faz parte do entendimento do pintor. Sua atitude reflexiva em torno do debate sobre o fim da modernidade e seus impasses revigora, sem dúvida, sua produção artística. Para ampliar o escopo do artista, pode-se afirmar que as telas de Jorge Guinle vivem da contradição entre a distância crítica e o pathos mais imediato e total pela pintura. O artista coloca em jogo o ”despedaçamento” da história progressiva, em que sobressai a dispersão das coisas, sobretudo na arte, e a possibilidade do artista transfigurar esses fragmentos de arte. Estado de ânimo musical: jazz, cinema, movimento. Tudo que pode virar som e imagem são somados à superfície da tela através do gestual do pintor. O colorido faz o olhar dançar sincopado. Incapazes de nada causarem, as imagens coletadas por sua memória moderna, consumidas na ordem do dia – da lembrança arquetípica até o letreiro luminoso da esquina – se recolocam como pintura. A transitoriedade das figuras e a textura do campo pictórico decorrem do rápido enlace entre gesto e olhar. A Coleção N a coleção de quadros do artista Jorge Guinle, pertencentes a João Sattamini-MAC de Niterói, os elementos que dão forma ao conjunto são interceptados por dois aspectos: a vontade de criação de um sistema de arte mais consolidado e a visibilidade da produção e meio artístico. Das 14 telas pertencentes à Coleção João Sattamini no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, sete foram reunidas pela primeira vez na Bienal paulista em 1983. O restante da coleção consiste em 6 telas – produzidas entre 1981 e 1985 – e um desenho. Uma coleção não deve ser mensurada pela quantidade apenas. Sua importância pode ser avaliada pelo conjunto representativo de um tempo, da cultura, do espaço. O conjunto de telas da coleção Sattamini assume sua atualidade A Velha Senhora Indignada, 1982 Óleo sobre tela 90 x 90 cm Enquanto isso na Fazenda, 1981 Óleo sobre tela 100 x 60 cm largura. A expressiva carga de energia necessária para recobrir – de modo inteligente e sensível – essas amplas superfícies reforçam o apreço do artista por seu meio. Entre as pinceladas nervosas e a conduta precisa na composição dos quadros, residem qualidades que parecem contraditórias, que aliás, às vezes o são necessariamente. Em momentos não muito determinados se percebe a expansão do campo pictural, tanto como a síntese de uma história não mais progressista, mas desencantada. Tal visualidade sugere fina sintonia com o espaço público. Em diversas ocasiões, Jorge Guinle mencionou seu afeto pela XVII Bienal: era sua. Esse sentimento perpassa – tanto pelo registro do pintor quanto do articulador da obra – sua produção. O apego do artista pela linguagem pictórica certamente não exclui os artigos publicados, os diálogos com artistas e críticos, os questionamentos e, inquestionavelmente, uma pulsão pela experiência pintar – dizê-la e torná-la visível. Florescer, 1981 Óleo sobre tela 190 x 190 cm e potencializa seu ”valor”: a dimensão pública tão almejada pelo pintor. Elas foram pintadas e expostas num processo quase homogêneo, imediato. O espaço expositivo da XVII Bienal de São Paulo dispunha de um único vão para as telas de Jorge Guinle (do grupo de obras do pintor, 7 pertencem ao acervo, sendo que as 8 telas restantes se dividem em outras coleções). O impacto da visualidade contemporânea deriva do espaço recoberto das pinturas-campo que medem em torno de 2 metros em altura e em As telas da XVII Bienal de São Paulo de 1983 são nomeadas por cumplicidade, seja visual, sensorial ou gestual – Aquário, 10 anos de Solidão, Take Cinematográfico, O Verdugo, A Bordo, A tela, O Riacho. Seus nomes sugerem temas cotidianos que por vezes indicam uma afinidade com o universo do banal e icônico da imagem. No entanto, esses fragmentos reforçam o campo pictórico porque o jogo consiste em estabelecer a princípio, a polifonia. “A Tela” nomeia uma tela. O título pertence ao jogo intuitivamente proposto pelo artista. De formato quase quadrado, o objeto tela direciona nossa visão. No centro daquela tela, explode a cor vermelho. De imensa intensidade, o vermelho conduz as expressões oblíquas do quadro. Predominante no canto superior, o vermelho é trabalhado em suas modulações. A cor não lida sozinha com a implosão da superfície da tela. Ela não é meio, nem motivo. Ela é. Na “Tela”, a aplicação das cores não é feita de um modo apenas, Jorge Guinle usa as mãos, os mais variados pincéis, tubos de tinta e é orquestrado pelo seu devorador entendimento da pintura. Na realidade, “A Tela” tem diversas telas contidas. Não há uma divisão equânime, pelo contrário, se vislumbram múltiplas telas. No entanto, não se sabe o número exato. A passagem de zona de cor a outra não se faz de modo direto, é necessário esperar talvez que esses múltiplos apareçam. Quando se trata de múltiplos, por hábito, se tende a coordená-los. Todavia, não é possível a concentração apenas num jogo coordenado porque imediatamente ela se desfaz deixando o espectador à deriva. Os ícones não estão para serem reconhecidos e catalogados, O Estandarte, 1984 Óleo sobre tela 250 x 160 cm A Tela, 1983 Óleo sobre tela 190 x 190 cm eles duram poucos instantes e depois se desfazem: sabe-se apenas que lá estão. “A Tela”, de Jorge Guinle, parece um reenvio para o “estúdio de artista” de Henri Matisse: um quadro todo vermelho com ranhuras brancas que fazem, desfazem e refazem os quase objetos da tela. Jorge Guinle transforma sua tela, numa só tacada, em estúdio. Os elementos da vida do artista – que está envolvido no universo pictórico – movimentam-se com força dinâmica na superfície da “Tela”. A pintura de Guinle lida com o permeável e poroso e também com a maciça solidez da matéria. Tais qualidades são revestidas em ato pictórico. No quadro “O verdugo”, sobressai uma paleta parcialmente fiel ao expressionismo abstrato – não pela via do automatismo, mas num fazer que tem à frente a pulsão anímica pela pintura. All over, do Pollock compreendido e a inquietude nos gestos de Wilhem de Kooning retumbam na quase-imagem do “verdugo”. Esta figura em vias do esfacelamento, o verdugo prenuncia não uma representação, mas apenas uma iconografia incerta. A imagem não parece ter a força que se supõe que tenha. Ela se dá na massa de tinta. É por via da pasta de cor que O Verdugo, 1983 Óleo sobre tela 170,5 x 195,5 cm uma sombra da imagem aparece; sendo assim, a tela pertence ao título. “Arena” possui massa de tinta quase escultórica, um tanto mais sombria, levando em conta o conjunto preparado para XVII Bienal. Esta pintura reenvia o espectador à ação automática de Jackson Pollock – que lidava com a tela como vida no espaço da arena. O pintor não insiste em mimetizar a metodologia trágica do americano. Para ele, o efeito tela deveria sobressair. A sobriedade da apresentação do vórtice colorido que povoa esta superfície restitui a cuidadosa elaboração de uma fantástica história da pintura moderna sem abrir mão do fazer espontâneo do corpo que sabe ser pintor. O corpo pintor despossui algo da sua organicidade sistêmica para procurar outras variações. Quando parte do olhar, da visão, o corpo movente participa de outra expressão no mundo: numa arena, território que sabe ser local último de resistência. Local dos últimos respiros, Arena, 1985 Óleo sobre tela 120 x 140 cm do sopro final, da ”última pincelada”. A morte heroica da pintura moderna – dos fragmentos da barbárie – faz parte do imaginário demasiado contemporâneo de Jorge Guinle. “Take Cinematográfico” coincide com o apreço do artista pelo cinema – esfera artística decididamente pública. Os movimentos do que parecem ser distinguidos como elementos de composição iniciam como ângulos cujos vértices apontam para as margens da tela – numa intensificação dinâmica dos elementos do centro do quadro. Fragmentos de imagens que oferecem ritmo do tempo fílmico, o tempo da música com melodia livre. Já a tela “A Bordo” se organiza através de grandes gestos, quer dizer, a aplicação da cor, a carga de tinta, as Take Cinematográfico, circa 1983 Acrílica sobre tela 160 x 180 cm corredeira ocre, seria um território? Seria o continente? Não convém uma resposta exata, de tom demonstrativo. O jogo consiste na constante reformulação de perguntas. O ocre que domina parte da superfície é provocado pela outra parte do quadro. A superfície não se contenta com o planar. As camadas se deixam entrever. Carregada de tinta, mas esvaziada do seu peso físico, são cores diluídas que se misturam umas às outras e se revelam uma pelas outras. O bucólico nome “O Riacho” sugere um recanto tranquilo e, antes de tudo, indica uma paisagem. Decerto, o título não se impõe pela ironia, uma vez que riacho, pensado pelo artista, resulta das questões da pintura. A intranquilida- A Bordo, 1983 Óleo sobre tela 195 x 172 cm abstrações saltam do movimento frenético do artista. A tela parece originar do centro. Pelas bordas, os elementos – de variações desequilibradas jogam constantemente com o centro de combinação luminosa. Lá estão as cores fortes, impregnando-se, maculando-se. “10 anos de solidão”, título que também é fragmento, sugere o reenvio para a obra “100 anos de solidão”, de Gabriel Garcia Márquez. Da fábula latino-americana parece resistir uma 10 Anos de Solidão, circa 1983 Óleo sobre tela 160 x 180 cm de da obra “O riacho” talvez resida no confronto entre desenho e tinta. Entre os fragmentos de traços se anuncia a imagem em processo deflagrado de abstração. Primeiramente pela sugestão do nome e pela expressão móvel, mas contundente, do gesto. Riacho que parece se acomodar numa árvore para imediatamente desfazer tal non-sense. Sem esconder sua preferência pelo expressionismo em pensamento e ato, Jorge Guinle oferece uma superfície pictórica de marcas duras, traços angulosos, espaço com estruturação e dinâmicas bem marcadas, cores sem intermediações, que irradiam forte e incoerente luminosidade. Paisagem que contrariamente não está no registro da panorâmica. Ela se apresenta verticalmente – próximo à ambiência de Iberê Camargo nas paisagens, em geral, e, especificamente, na tela “O Riacho” de 1942 – como se não fosse possível para estes pintores deixar um vazio panorâmico, um “não espaço”. Impossibilidade atestada na ”paisagem” de Guinle que precisa ser, antes de tudo, superfície pictórica. Em “Aquário”, Jorge Guinle acentua a verticalidade do quadro. Estrutura longitudinal que fragmenta a forma geralmente concebida para um aquário. Um canto de um aquário qualquer aparenta ter sido ampliado, acentuando mais um aspecto da visão do que uma ação direta sobre o objeto, quer dizer, não parece ser apenas uma inversão do posicionamento – de horizontal para vertical. Nessa quina cúbica e incompleta estão os resíduos flutuantes da água. Tais são os fragmentos do objeto: título, imagens, superfície líquida. A fase da Bienal de 1983, com as telas vibrantes e vorazes, estende-se em parte para as telas de 1984 e 1985. Cabe uma ressalva: a separação da produção em fases pertence à fala do artista: “Sinto uma diferença visual importante entre essas fases, mas o princípio inerente que as move é igual: a deslocação e a sobreposição do meu ser pictórico diante de questões já delimitadas pela história plástica da humanidade.” (Sem tomar partido, 1985). Após o exercício dos grandes gestos, do deslocamento de registros e da transvaloração da modernidade, é possível perceber uma O Riacho, 1983 Óleo sobre tela 195 x 195 cm Sexta-feira, 1985 Óleo sobre tela 189 x 340 cm temporalidade mais passiva, voltada para o “dia a dia”. A elasticidade pictórica provocada pelo jogo poético do pintor pode ser vista a partir da análise de duas telas de 1985, “Sexta-feira” e “O Folhetim”. ”Sexta-feira” – substantivo que é tempo e lugar. A marca quase aleatória do título nos permite entrever irradiações de sentidos. O quadro apresenta-se no registro do plano cubista, mais explicitamente que em maior parte da sua produção. Tentados a conferir sentido, os observadores podem ser induzidos ao equívoco. Não há narrativa que permanece por muito tempo sem logo se desfazer em diversos episódios. O traço de resistência do pintar recorre da simples aceitação da complexidade desse saber: pintura. Disto, pode-se acolher novamente a ideia do moderno transfigurada e que resiste na força do ato pictórico. O espaço da superfície da tela por pouco não sustenta seus esquemas. Neles, vislumbramos cálculo e espontaneidade que não se revezam, assim como não se dissociam. Aparentemente paradoxal, a combinação de planos quase quadrados e cor não está encerrada no espaço. As combinações dificilmente se esgotam; há sempre a possibilidade da surgimento de várias indagações. Registros da noite-dia que atravessam a multiplicidade e a simultaneidade. Numa sexta-feira qualquer, temos o dia e a noite num estado de complementação constante. Por vezes, a tela parece solar, iluminada à luz do sol; em outros instantes, a irradiação é lunar. Os acordes iniciais do fim de semana, dias de boa música, passeios sinuosos do tempo que não é medido. São figuras cúbicas que se anunciam através das cores. O colorido é o modo-tempo Aquário, 1983 Óleo sobre tela 343 x 192 cm que, na tela, transfigura-se para marcar qualquer sexta-feira. Um dia extemporâneo em que cabem todas as potenciais sextas. Da paleta de Jorge Guinle, escorrem os tons resolutamente matissianos de Joie-de-vivre para provocar as vibrações luminosas expressas em fortes e propositalmente desconcertantes gestos. O quadro “O Folhetim”, pintado em 1985, deixa transparecer a fortuna pop do pintor. Em monumental tamanho e feroz colorido, o folhetim retém, concentra e dispersa, numa malha – gradil – diariamente variada as infinitas mutações do cotidiano. Nela, intuem-se os números de Jasper Johns – série produzida pelo artista americano nos primeiros anos de sua carreira – que na sequente experimentação povoa superfícies de tela, não no entendimento do numerário, mas por repetir exaustivamente os signos abstratos até torná-los uma presença física – reforço do material – idealmente palpável. O Mondrian das infinitas ortogonais reaparece potencializando o acontecimento-arte do folhetim. Por um momento, parecem grades que anunciam estrondosamente a presença da cidade; no instante seguinte, elas sugerem o tempo da implosão. A ideia de verter a história da arte em evento contemporâneo é bem-sucedida. Os números de Johns estão distribuídos aleatoriamente sem o rigor de uma demonstração matemática: são gráficos e, portanto, abstratos. Na assimilação de Jorge Guinle, os números se liquefazem restando, para cada um, o invólucro de cor e pasta. Correspondem a pequenos espaços cambiantes e desequilibrantes em que dão a aparência de se sustentarem uns nos outros. Num piscar de olhos, teme-se que eles desmontem. No entanto, O Folhetim, 1985 Óleo sem tela 241 x 190,5 cm a espacialidade mimetizada da tela “o folhetim” subsiste como suporte, não exatamente partindo de uma relação figura/fundo, mas emitindo irradiações modernas para ser não-conforme aos outros elementos da superfície. Neste quadro, podemos perceber em estado rudimentar as teses do pintor americano Barnett Newman. Jorge Guinle traz uma linha que deveria atravessar o quadro em sentido longitudinal. Esta linha – já quase uma zona de cor – nos remete ao “zip”. O amarelo brilhante e excessivamente iluminado se destaca de imediato, negando, por sua vez, o lento movimento da linha que modula as telas de Newman. O traço amarelo confere certa predominância em relação ao forte matiz vermelho-alaranjado que preenche toda tela. Se não fossem o azul e o verde das bordas do quadro, talvez não fosse possível o valor do corpus vermelho. Numa ponta do quadro, a alternância entre a aplicação da cor pura com a aplicação de cores misturadas prende nossa visão, criando um quase-corpo – quer dizer uma quase significação. Mesmo a mistura das cores não se realiza em plenitude. As cores são misturadas porque é preciso senti-las e percebê-las em sua inteireza. Não se trata de uma combinatória porque senão indicaria processos aritméticos. O diálogo com o trabalho do americano Jasper Johns reside na textura experimentada da tela de Jorge Guinle, mas também anuncia certo apreço do pintor pela questão da imagem. Como todo folhetim, imagens associam-se ao texto e não seria diferente com este trabalho de Jorge Guinle. Um fac-símile de uma guitarra? Um jovem na pista de skate? Uma notícia? Não há resposta para estas indagações porque juízo em arte depende da disputa/discussão, independente do acordo ou desacordo, e não de provas demonstrativas. Parece que Jorge Guinle quer dizer “assim eu quis” sem atestar qualquer tipo de alienação em relação aos eventos daquele cotidiano. E ao tomar para si tal risco, Jorge Guinle atualiza a pintura por fora da chave da arte brasileira dos anos 1980, mas sem deixar de ser fiel à pintura, apenas pintura. Para a contemporaneidade em arte que não abre mão da fartura documental dos seus produtos, é de se espantar a marca inegável da sensibilidade material profusamente exercida nas suas pinturas. A superfície da tela a ser moldada como síntese histórica e geográfica das grandes experiências do pintar. Dimensão espacial que se abre repetidamente à dimensão temporal. Dimensões que vão se recriando a exemplo do inteligente gestual do artista: fundo-textura; signos-pinceladas. Gesto é igual ao tempo do fazer. Tempo que é duração implicada na obra. Dimensões que coexistem por irradiação e na transitividade dos corpos – o outro obra, o outro mundo, o outro afinal. English Version The State Secretariat of Culture of Rio de Janeiro (SEC) has been working since 2008 to publicise, stimulate and strengthen Rio de Janeiro culture, creating mechanisms and policies to promote and structure all the different branches of the industry, with a view to covering all sectors and areas, from the most traditional manifestations and encompassing cultural agents statewide. As part of this effort, the SEC created the Visual Arts public bidding – within a package of 41 public biddings launched in August 2011 – with the aim of encouraging artistic creation, as well as cultural integration, research of new languages and staff training and education in their field of work. State Secretariat of Culture of Rio de Janeiro Grounded on these guidelines, the public bidding provided financial support to projects that promoted the circulation, exchange and implementation of Art projects in Rio de Janeiro, in order to stimulate multiple and diverse trends and languages. Through the bidding, projects like this one, as well as art exhibitions, urban interventions and art publications were considered by the SEC, thereby reinforcing the Rio de Janeiro State Government’s commitment to offering a plural, high quality, broad and distinctive programme. Jorge guinle Liquid and Tactile Tatiana Martins Committed to promoting its works not only in exhibitions, but also through various projects, in 2000 the Museu de Arte Contemporânea de Niterói began a series of pocket books intended to present its valuable João Sattamini and MAC de Niterói collections. Since then, the series has brought over ten publications about artists such as Antonio Dias, Rubens Gerchman, Ione Saldanha, Aluísio Carvão, Hermelindo Fiaminghi, Emmanuel Nassar, Carlos Zilio, Wanda Pimentel and others. There is still a great deal to be studied among the works in the MAC de Niterói. A detailed list of the artists would immediately capture the reader’s imagination. Therefore, the support of the Secretary of State for Culture, through the 2011 Visual MAC de Niterói Arts public bidding project, has enabled further steps to be made in this direction. Thanks to that support, this new set of pocket books now brings readings of the works of Anna Bella Geiger, Jorge Guinle, Ivan Serpa and Raymundo Collares. As well as widening the audience for the collection, it equally intends to invite new authors, fostering further critical reflection. Distributed to several different institutions in Brazil, the books can also be downloaded free of charge from the MAC de Niterói website, broadening access to them even more. Promoting a heritage of such magnitude is, at the end of the day, in line with the museum’s mission of helping construct citizenship and taking Brazilian art to different places. With an understanding of painting since an early age and an astute interpreter, Jorge Guinle Filho chose to make the act of painting – in all its implications – his life. A painter who first discovered an intimate and private relationship with his vocation to subsequently understand painting in its public dimension. In the late 1970s, the combative strain of Brazilian art was already visible, in keeping with the “anos de chumbo” (years of lead) through which our politics and society was passing. A degree of multiplicity was developed in art, but with linear oscillation between the following modes: experimentalism-conceptualisms and the various insertions of pictures – from abstracts to indices, carrying a fragmented message. The artists of the 1970s who managed to diffuse their works in a closed circuit, did so using combative tactics. Thus, they combined mental work and spontaneity to redirect the artistic object and were able to follow other lines of thinking and develop other procedures. In the 1980s, little change could be guaranteed in relation to the Brazilian ar t scene; the ar tist s came up against somewhat fragmented systems. But, one cannot disregard the signs of a consolidating art circuit, even if such process were driven by individual efforts or precariously idealised institutions. The e xp er im ent alism of t he 1970s brought, on the one hand, a diluted notion of the art object, and on the other, evinced a certain degree of hermetism, characteristic of the conceptual traits of the forms of artistic expression. Jorge Guinle’s artwork incorporates the positive aspect of the (fortunate) encounter between his experience with painting and the poetics developed from a hybrid field of art. Taking into consideration, therefore, the heterogeneous nature of artistic languages – which simulate and practice the return to painting in the 1980s – it is reasonable to wonder where Jorge Guinle’s painting is situated in this context. Contemporary art, which developed since neoconcretism, through the turn of the decade and into the 1980s highlights more biting aspects: art and the public dimension. Against this backdrop, and with a burning desire for painting coupled with his mingling among different artistic circuits – present since the artist’s childhood spent between Paris and New York – and our conceptualism and experimentalism, Jorge Guinle opted to be a painter. The aura of simplicity of Guinle’s choice has not been a permanent clash between examples of modernity in painting and his temporal connections – “Each brushstroke is loaded with elements of the past. There is a whole past that you mix. The modern past is a paradox because it does not intend to be past, but at the same time it is past.” (Painting Against the Wall, 1983). Naturally, one feels in him the pleasure of becoming an artist, the joy of artistic creation challenging the declared “end” of modernity – so familiar to Jorge Guinle. The artist does not refuse the disintegration of modernity, that is perhaps why his painting surface gathers contemporary miscellaneous elements: fragments of desire and fragments of art history that sit side by side. The extroverted and sensual character of Guinle’s paintings expulses any passive feelings before the lively and restless pieces. To expose the “painting mode”, the painter condenses and expands temporalities and, as there are no hierarchies or chronologies in this logic, embarks on the planar vastness that unfolds right before the spectator. The temporalities coexist without hierarchy because the artist’s pictorial process suggests the reinvention of the painting “mode”. Thus, the varied materiality of the paint, allied to the colour, is transformed into a solid corpus offered in rites, calculated or not. The colours have texture, thickness, and formulate spaces. They are rough and they are smooth and glossy. They are liquid and tactile. A remarkable connoisseur of the modern progressive times, in other words, certainly aware of the unfolding historical rationale, Guinle parodies modern epopees to actually practice the painting of the possible: the desire to paint. The surfaces of his paintings outline some iconography – parodying the Pop operation. The movement of the “figures” in Jorge Guinle’s paintings disobeys the internal driving force, closed in a representation or even at the service of the message, but expands over all the pictorial zones that cover the plane. According to the artist, “My iconography is abstract. It is an iconography of the history of art and not an identified iconography.” (Pintura Contra a Parede, 1983). His paintings, therefore, can be summed up as consisting of a seamless, porous and rough skin that, under constant experimentation, allows for vague glimpses of disparate temporalities. The heterogeneous nature of the artistic movements that are references for Jorge Guinle is justified by his obsession with literally possessing time. He does away with the space of the atomised painting, tribute to the abstract expressionist experience of the all over, and imitates the ironic procedure of Dadaism already transfigured by American Pop Art. However, what transforms and agitates the expression of modernity in Guinle’s painting is arguably the pictorial exercise transmuting looking into gesture: “But each appropriation of style, of an initial thought is diverted from the initial intent of the chosen school precisely due to the inclusion of another school that would be its negation.” (Pintura Contra a Parede, 1983). Without adhering to the ideas of the time regarding a return to painting and without compromising his creative drive through criteria determined by the international art system – above all the theorising of the Italian Transvanguard movement – Jorge Guinle established a kind of circuit which included the art schools, critics, living among artists and the public character of art. The parameters for so-called energetic painting are refuted by Jorge Guinle. Insofar as he steers his own course, the painter proposes, albeit intuitively, a diversion – a seminal indication of the articulations that expulse the artist from any fixed place, from the isolation of the activity and place him in interpositions. In general, the artist’s work consists of a pictorial vitality combined with entropic visuals. Every painting by the artist is populated by episodes, impressions , visions , f act s , act s and events, in other words, a surface that contains all facets of the sensi t ive. T his procedure t hat he adopts unties – as a result of the work – the procedural knots in the history of painting. Proposing such ties, the artist, for his own “perdition”, is fully aware of the resolution of any stalemate. The counterbalancing and simultaneity of the liveliest and the flattest surfaces result from the painter’s experienced eye. The certainty of recognisable images does not resemble a rational formalisation; the gesture is captured immediately by the application of the paint that could be aligned to the image without conceptual expectations. The artist moves, so to speak, freely and uninhibited around modern painting because he accepts the stalemates it generates. Jorge Guinle desires confrontation: from Pop Art he collects the images in a state of abstraction; he postulates from the operative gestural mode of abstract expressionism; he equates the registration of Pablo Picasso’s cubist space to the chromatic intelligence of Henri Matisse; he shapes himself to Iberê Camargo. To mention but a few of the artist’s references. A painter of abundant pictorial resources, Jorge Guinle acts nois- ily in the visual and plastic scene, orchestrating a contemporary symphony; cultural time, cult time, time of the making, time of heterogeneous visuals. Making use of the force of the painting and immersed in the abundance of the making, the painter manages to move between the atomised space of expressionist painting, in particular, Jackson Pollock and Wilhem de Kooning, and the aspects of Pop Art that reclaimed the force of art’s public dimension. Jorge Guinle recognises his dialogue with the past, but casts in suspicious light the inaugural moments of modernity that, for many, are its very definition: the new. His acceptance of art history does not draw him into the risk of serving yet another school or being defined by another new style. It is scaled to address contemporary questions, above all, on the need for a cultural policy to drive that current art. The artist is deeply knowledgeable of the codes that guide the concept of representation. The strategy consists more of the reference to a “methodology” and production than the final result – the object. In his own words: “Since the 1980s the formal question has no longer been a problematic fact for me. It has already been resolved, in essence (cubist, abstract-constructive or lyrical) by the masters of the first half of the 20th century.” (Sem tomar partido, 1985) The vastness of the canvas in the artist’s works offers a certain contour to the public dimension he desires. Assimilation and correspondences or even contradictions point to the public opening of the artwork. Resuming a reference from the past without transgressing it – like the imperative of a certain historical method – means thinking about how the artist has chosen to work it. If the resumption of an artistic movement must be seen as lagging or outdated, one should still consider the way in which the reference from the past can be shown – here the will of the visible word prevails – as the poetics of contemporaneity: transmutation of the public space, visuality of this broadened dimension. Jorge Guinle takes on the antagonistic and paradoxical modes of living of modernity and fabricates them for Brazilian art: “A contrary, unforeseen impulse, within an already ‘chewed’ schematization, that is my game. Impossible to be tied to an ‘ism’ that is no longer an isthmus to a bigger island. I work on the details, I scramble the cards a bit, I try to dig furrows where the Earth was previously flat.” (Sem tomar partido, 1985) The artist puts into words his processes and understandings of the art circuit not to contest it – given that its precarious existence – but to try to create it. In one account by the artist: “(...) I have also written several articles. Writing about the art of other artists is a way of thinking about my own work and some of them have led me to taking important decisions...” (“Olympia goes funny”... ou Matisse e João Gilberto, 1984 VENÂNCIO FILHO, 2006: 91). In his writings on art, references stand out to the painter’s activity as a task to actually incarnate, to consist of a skin. Thus, transformed into skin, the surface of the canvas is worked on from the artist’s contentment: “the panel would have to acknowledge the topology of my obsessions, outlining the contour lines that define it.” (Segundo meu critério...: 1986). Nocturnal painting and solar painting; dusk and dawn. He worked through seemingly endless nights in his studio, rotating the canvas, inverting its direction for “reading”, imposing or withdrawing his body. The binding surface of the material comes through in the intuited and flowing, yet euphoric and ironic colour, simulating images and erasing references. The ar tist heroically opt s to saturate the painting, and from it reformulates its contemporary comprehension; he reanimates the relationships between colour, form and drawing, to add the inescapable aspect to the contemporary, that is, the consumption of art. Thus, the immediate consumption of modern procedures and icons compose the pictorial texture of his work. The painting that devours our eyes, beaming out colours and materials. Colour as volume and as the dynamics of its relations: highlighting the differences, the similarities. An artist who positively assumes the irrepressible abundance of the logic of consumption and the reorientation of the modern status. The invention of the graphic and pictorial signs by Jorge Guinle refreshingly retains a certain modern presence, in such a way that it can subsist: through contemporary transvaluation. More than merely creating a battle ground – the immediate appropriation of the pictorial clashes – Guinle seeks to expose the conquest of the method, in the eloquence of the syntheses: “For example, the decorative side, the Matissean joie-de-vivre of colours, would be negated by the rhythmically exacerbated construction of Abstract-Expressionism. On the other hand, the tragedy of that same abstractionist brushstroke is negated by the optimism of the colour and comic ambiguity of the operation.” (A Pintura contra a parede, 1983). The artist forms for himself a field from which he agitates, condenses and heats up, in constant motion, his cultural references. The issues on the agenda are: the meaning of figuration; the resistance of material and colour in view of the exhaustive gestural exercise of his body; reality as an expression of the painting; and the assimilation and diversion of the modern currents. On the other hand, the painter places himself between design and destiny, yet reformulates this relationship, which is less scientific (demonstrative) and rational and more vibrant and imaginative. The work is not recognised as totally ready or belonging to artistic branches. It revives the updating of modernity in crisis, the crisis of modern painting loses its density – it becomes available to once again be pictorial material. Recognition of the problematic meeting of Pop Art with the resistant conceptualism in Brazil is part of the painter’s understanding. His reflective attitude regarding the debate on the end of modernity and its deadlocks reinvigorates, without doubt, his artwork. To broaden his scope, one could assert that Jorge Guinle’s paintings arise from the contradiction between the critical distance and more immediate and total pathos for painting. The artist puts at stake the “disintegration” of progressive history, in which the scattering of things, especially in art, stands out; the possibility of the artist transfiguring these fragments of art. A state of musical animation: jazz, cinema, movement. All that can be turned into sound and image is added to the sur face of the painting through the painter’s gestures. The colours draw our eyes into syncopated dance. Incapable of causing anything, the imaged gathered by his modern memory, consumed in the agenda – from the archetypal memory to the luminous lettering on the street corner – are repositioned as painting. The transitory nature of the figures and the texture of the pictorial field result from the quick coupling between gesture and vision. The Collection In the set of Jorge Guinle paintings belonging to the João Sattamini/MAC de Niterói collection, the elements that give shape to the ensemble are intercepted by two aspects: the will to create a more consolidated art system and the visibility of the work and the art world. Of the 14 paintings belonging to the collection, seven were gathered for the first time at the São Paulo Art Biennial of 1983. The rest of the collection consists of 6 paintings produced between 1981 and 1985, and one drawing. A collection should never be measured purely by the number of works, however. Its importance can be assessed by the representative set of a time, of the culture, of the space. The set of paintings in the Sattamini Collection displays relevance and heightens its “value”: the public dimension so intensely sought by the painter. They were painted and exhibited in an almost homogeneous, immediate process. The exhibition space of the 17th São Paulo Biennial offered a single space for Jorge Guinle›s paintings (of the painter’s set of works, seven belong to the MAC de Niterói collection, and the other eight are split among other collections). The impact of the contemporary visuals is derived from the space covered in field-paintings measuring roughly 2 metres by 2 metres. The substantial energy required to cover – in an intelligent and sensitive manner – these expansive areas reinforces the artist’s appreciation of his vocation. In his nervous brushstrokes and precise delivery of the composition reside qualities that seem contradictory, in fact, sometimes necessarily so. At not so specific moments one perceives the expanse of the pictorial field, as a synthesis of a history that is no longer progressivist, but disenchanted. Such visuality suggests fine tuning with the public space. On several occasions, Jorge Guinle mentions his affection for the 17th São Paulo Biennial: it was his. This feeling pervades the art – both through the registration of the painter and articulator of the work. The artist’s attachment to pictorial expression certainly does not exclude his published articles, dialogues with artists and critics, questionings and, unquestionably, a drive for the painting experience – to speak it and make it visible. The paintings at the 17th São Paulo Biennial of 1983 are named based on visual, sensory or gestural participation – Aquário, 10 anos de Solidão, Take Cinematográfico, O Verdugo, A Bordo, A tela, O Riacho Their names suggest everyday themes that often indicate an affinity with the universe of the banal and iconic of the image. However, these fragments reinforce the pictorial field because the game consists of establishing an initial polyphony. A Tela (The Painting) is the name of one painting. The title belongs to a game intuitively proposed by the artist. Almost square, the format of the painting leads our eyes to the centre of the painting, where there is an explosion of red. This intense red leads to the oblique expressions of the painting. Mainly in the top corner, the red is developed in its modulations. The colour does not tackle the implosion of the surface alone. It is neither the means, nor the motive. It is. In “The Painting”, the colours are not applied in a single manner; Jorge Guinle uses his hands, all sorts of brushes, paint tubes and is orchestrated by his consuming understanding of painting. In fact, “The Painting” contains several paintings. There is no equal division, on the contrary, multiple paintings can be seen. However, one cannot ascertain exactly how many. The passage from each colour zone to another is not direct, one must wait and the multiples might appear. We dealing with multiples, we tend to try and coordinate them. However, it is impossible to concentrate on just one coordinated set because it immedi- ately crumbles, leaving the spectator stranded. The icons are not there to be recognised and catalogued, they last a few instants and disappear: we just know that they are there. Jorge Guinle’s “The Painting” seems like a throwback to Henri Matisse’s “artist’s studio”: an all red painting with white grooves that make, unmake and remake the quasi objects of the painting. Jorge Guinle transforms his picture, in a single stroke, into a studio. The elements of the artist’s life – involved in the pictorial universe – are engaged with dynamic force on the surface of “The Painting”. Guinle’s piece deals with the permeable and the porous, and also the concrete solidity of the material. Such qualities are coated in the act of painting. In the painting “O verdugo” [The Executioner], we can notice a palette partially true to abstract expressionism – not by way of automatism, but rather in a creation that is headed by the soul-felt drive for painting. A comprehended interpretation of Pollock’s All Over and the restless gestures of Wilhem de Kooning echo in the quasi-image of the “Executioner”. This figure on the road to ruin, the executioner exclaims not a representation, but just an uncertain iconography. The image does not seem to have the force that it is supposed to have. It is created through the mass of paint. It is through the coloured paste that a shadow of the image appears; thus the painting belongs to the title. “Arena” has an almost sculptural mass of paint, somewhat more sombre, compared to the other works at the 17th Biennial. This painting remits the spectator to the automatic action of Jackson Pollock – who dealt with the painting like life in the arena space. The painter does not insist on imitating the American’s tragic methodology. For him, the effect of the painting should stand out. The sober presentation of the coloured vortex that inhabits this surface recreates the careful preparation of a fantastic history of modern painting without losing sight of the spontaneous action of the body that knows who to be a painter. The painter-body dispossesses something of his systemic organicism to seek other variations. When building on his vision, the moving body participates in another expression in the world: in an arena, a territory that represents the ultimate site of resistance. The site of last breaths, the last breath, the “final brushstroke”. The heroic death of modern painting – of the fragments of barbarism – is part of the over contemporary realm of Jorge Guinle. “Take Cinematográfico” [Film Take] coincides with the artist’s appreciation for cinema – a decidedly public sphere of art. The movements that seem to be distinguished as atomic elements start as angles whose vertices point to the edges of the painting – in a dynamic intensification of the elements at the centre of the painting. Fragments of images that offer cinematic rhythm, a musical beat with a free melody. The paining “A Bordo” [Aboard] is organised through large gestures, in other words, the application of colour, the paint load, the abstractions leap out from the artist’s frenetic movement. The painting seems to stem from the centre. Around the edges, the elements – varying in disequilibrium constantly speak to the centre of the luminous blend. There the strong colours impregnate, maculate. “10 anos de solidão” [10 Years of Solitude], which title is also a fragment, remit s to Gabriel Garcia Márquez’s book “100 Years of Solitude”. An ochre stream seems to resist in the Latin American fable, could it be a territory? Could it be a continent? An exact response, in a demonstrative tone, is not forthcoming. The game consists of constantly reformulating questions. The ochre colour that dominates part of the surface is provoked by the other part of the painting. The surface is not satisfied with the planar. The layers are glimpsed. Loaded with paint, but relieved of its physical weight, the colours are diluted and blend into each other, revealing each other. The bucolic name “O Riacho” [The Stream] suggests a calm little place, and first and foremost, a landscape. Doubtless, the title is not given ironically, since the stream, as conceived by the artist, results from the questions of the painting. The disquiet of the work “The Stream” perhaps resides in the confrontation between drawing and paint. Between the fragments of lines the image is announced caught in a process of abstraction. First through the suggestion of the name and the moving expression, but categorically, of the gesture. Stream that seems to lodge itself in a tree, to then immediately undo such nonsense. Without hiding his preference for expressionism in thought and act, Jorge Guinle offers a picto- rial surface of hard marks, angled lined, space with well-defined structure and dynamic, colours without intermediations, that shine brightly and incoherently. A landscape that, contrarily, is not registered panoramically. It is presented vertically – similar to the ambience of Iberê Camargo’s landscapes in general and, specifically, in the 1942 painting also called “O Riacho” – as if it were not possible for these painters to allow an empty panorama, a “non-space”. Such impossibility witnessed in Guinle’s “landscape” that must be, above all, a pictorial surface. In Aquário [Aquarium], Jorge Guinle accentuates the verticality of the painting. A longitudinal structure that fragments the form generally conceived for an aquarium. A corner of any old aquarium seems to have been amplified, highlighting more the aspect of the view than a direct action on the object, that is to say, it does not seem like simply an inverted position – from horizontal to vertical. In this cubic and incomplete corner are the floating residues in the water. Such are the fragments of the object: title, images, liquid surface. Guinle’s 1983 Biennial phase, with his vibrant, loud paintings extends partly to the paintings from 1984 and 1985. With one proviso: separation of his work into phases pertaining to the artist’s words: “I feel an important visual difference between these phases, but the inherent principle that moves them is the same: displacement and superimposition of my pictorial being in the light of questions already outlined by art history.” (Sem tomar partido, 1985) After the exercise of big gestures, displaced references and the transvaluation of modernity, one can perceive a more passive temporality, directed at the “day-to-day”. The pictorial elasticity provoked by the painter’s poetic game can be seen through an analysis of two 1985 works, Sexta-Feira [Friday] and O Folhetim [The Feuilleton]. “Sexta-feira” (literally means “sixth market”) – a noun that is both time and place. The almost random mark of the title allows us to glimpse beams of meanings. The painting is presented like a cubist plane, more explicitly so than in most his works. Tempted to bestow meaning on it, observers can be induced into error. There is no narrative that remains for long without soon crumbling into several episodes. The resistant trait of the act of painting results from the simple acceptance of the complexity of this skill: painting. Whereby one can receive once more the idea of the modern transfigured and that resists in the force of the pictorial act. The space of the painting surface barely supports its schemes. We can perceive calculation and spontaneity that do not take turns, or become dissociated. This apparently paradoxical combination of almost-square planes and colour is not enclosed in the space. The combinations refuse to run out; there is always the possibility of numerous questions arising from within. Registrations of the nightday that cross multiplicity and simultaneity. On just any Friday of the year, we have the day and night in a constant complementary state. At times the painting seems solar, sunlit; at others, it seems moon-lit. The initial chords of the weekend, days of good music, sinuous days out in unmeasured time. They are cubic figures announced through colours. The colourful is the mode-time that, in the painting, is transfigured to mark any Friday. An out-of-time day which could include all potential Fridays. From Jorge Guinle’s palette the resolutely Matissean tones from Joie-de-vivre flow out to provoke luminous vibrations expressed in strong and intentionally disconcerting gestures. The painting O Folhetim [ The Feuilleton], from 1985, allows a glimpse of the painter’s pop fortune. Monumentally large and ferociously coloured, the painting retains, concentrates and disperses in a grid that changes daily the infinite mutations of everyday life. In it one intuits Jasper Johns’ numbers – a series produced by the American artist in the early years of his career – that in the next experimentation inhabit surfaces of the painting, not in the understanding of numbers, but by exhaustively repeating the abstract signs until they take on a physical presence – reinforcing the material – ideally palpable. The Mondrian of infinite right-angled triangles reappears to beef up the happening-art of the feuilleton. For a moment, they look like grids that announce the presence of the city with a bang; the next instant, they suggest the time of the implosion. The idea of transforming the history of art into a contemporary event is successful. Johns’ numbers are distributed randomly, without the rigour of any mathematical proof; they are graphic, and therefore, abstract. In Jorge Guinle’s assimilation, the numbers are liquidated, leaving each one with just the envelope of colour and paste. They correspond to small, changing and off-balance spaces, seemingly supported on each other. In a blink of the eyes, one fears they could tumble. However, the imitated spatiality of this painting survives as a support, not exactly coming from a figure/background relationship, but emitting modern rays so as not to conform to the other elements on the surface. In this picture, we can see in a rudimentary state the thinking of the American painter Barnett Newman. Jorge Guinle brings a line that should cross the painting lengthwise. This line – almost a colour zone itself – resembles the “zip”. The brilliant, excessively bright yellow immediately stands out, negating, in turn, the slow movement of the line that modulates Newman’s paintings. The yellow line gives it certain predominance in relation to the strong reddish-orange hue that fills the canvas. If it were not for the blue and green around the edges, perhaps the value of the red corpus would be impossible. At one end of the painting, the alternation between pure colour and mixed colours arrests our line of sight, creating a quasi-body – that is a quasi-signification. Even the blend of colours is not fully achieved. The colours are mixed because one must feel them and perceive them in their entirety. This is not a combination, otherwise it would indicate arithmetic processes. The dialogue with Jasper Johns’ work resides in the experimented texture of Jorge Guinle’s painting, but also conveys a certain appreciation of the painter in terms of the image. Just like every feuilleton, images are associated to the text and this work by Jorge Guinle could be no different. A fax of an electric guitar? A youth in a skate park? A piece of news? There is no answer to these questions because judgment in art depends on dispute/discussion, regardless of agreement or disagreement, and not on demonstrative proof. Jorge Guinle seems to want to say “that’s how I wanted it” without attesting any kind of alienation in relation to those everyday events. And by taking on that risk, Jorge Guinle updates painting outside the key of Brazilian art of the 1980s, but without failing to remain faithful to painting, only painting. For contemporary art, which does not give up documental abundance related to its products, the undeniable mark of his material sensitivity profusely exerted in his paintings is amazing. The surface of the painting moulded as an historical and geographical synthesis of the great experiences of the act of painting. The spatial dimension suddenly opens out to the temporal dimension. Dimensions that are recreated in line with the artist’s intelligent gestures: background-texture; signs-brushstrokes. Gesture is equal to the time of the making. Time that is duration implied in the work. Dimensions that coexist through irradiation and in the transitory nature of the bodies – the other work, the other world, the other, in the end. Bibliografia [Bibliography] Livros e catálogos [Books and Catalogues] BACH, Christina. Jorge Guinle. São Paulo: Cosac Naify, 2001. 128 p. BIENAL DE SÃO PAULO, 17., 1983, São Paulo. 17. Bienal de São Paulo: catálogo geral. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1983. 413 p. BIENAL DE SÃO PAULO, 20., 1989, São Paulo. 20. Bienal Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1989. 2 v. BUENO, Guilherme. Arte contemporânea brasileira: coleções João Sattamini e MAC de Niterói. Niterói: Museu de Arte Contemporânea de Niterói, [2009]. 44 p. BUENO, Guilherme. Mapa do agora: arte brasileira recente na coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2002. 61 p. CANONGIA, Ligia. Anos 80: embates de uma geração. Rio de Janeiro: Francisco Alves, [2010]. 244 p. 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JORGE Guinle em exposição inédita. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 dez. 2000. Variedades. MENDONÇA, Casimiro Xavier de. Jorge Guinle Filho: o espelho e a sombra. Galeria, São Paulo: n. 5, p. 72-76, 1987 Prefeitura Municipal De Niterói prefeito Museu De Arte Contemporânea de NiteRÓI Rodrigo Neves Diretor Geral vice-prefeito Luiz Guilherme Vergara Estagiária Administrativa desenvolvimento cultural Estagiária de arquitetura Axel Grael secretário municipal de cultura Arthur Maia subsecretário municipal de cultura Cláudio Salles Subsecretário Municipal De Planejamento Cultural Kiko Albuquerque Sabrina Curi Chefe Da Divisão De Acervo Marcia Müller Conservação De Obras De Arte Ana Lúcia Capabianco, Elisabete Pereira e Juliana Assis Chefe Da Divisão De Administração Luís Rogério Baltazar Assistente Administrativa Juliana Dias Isabela Oliveira Mirtes Gonçalves Técnico De Informática Carlos de Souza Técnico Em Edificações Charles Santos Telefonista Elisabete Costa Chefe Da Divisão De Museologia Fundação De Arte De Niterói Presidente André Diniz Superintendente Cultural Victor De Wolf Superintendente Administrativo Angélica Pimenta Coordenação De Exposição Débora Reina Bilheteria Chaiana Barbosa e Tatiana Caetano Loja Maria Lívia Petersen Cláudia dos Santos, Maria Helena Melegari e Maria de Lourdes Rossi Estagiária De Arquivologia Assistentes De Limpeza Jéssica Linhares Adilza Quintanilha, Bianca Soares, José Cordeiro Sobrinho, Kátia Silva, Luiz Eduardo Vicente, Marlon Vinícius das Neves, Maria Verônica dos Santos, Roseni Viana e Sebastiana das Neves Estagiária De Museologia Fernando Cruz Chefe Da Divisão De Teoria E Pesquisa Lêda Maria Abbês Assistente Administrativo Adriana Rios Estagiárias De Biblioteconomia Fernanda Moura Chefe Da Divisão De Arte-Educação Márcia Campos Produtora Cultural Fernanda Fernandes Arte-Educadores Bruno Gomes, Eduardo Machado, Igor Valente e Leandro Crisman Assistentes Administrativos Cristiano de Oliveira e Marcus Vinícius Zeladores Alexsandro Rosa, Eduardo Peres, Eliseu Ferreira, Israel Barreto, Leandro do Nascimento, Marcelo Barbalho, Robson de Moura, Severino de Oliveira, Ubirajara Cordeiro, Wesley Escocard e Vagner Rocha Projeto Artistas Brasileiros – Monografias de Bolso Coordenador Guilherme Bueno Catálogo Jorge Guinle Autor Tatiana Martins Produção Daniel Braga Assistente Simone Reis Projeto Gráfico Dupla Design Revisão e Tradução Quesco Brasil Fotografia Paulinho Muniz Agradecimentos João Leão Sattamini, Associação de Amigos do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (AAMAC), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ), Mayra Brauer, Marcia Müller, Angélica Pimenta, Filipe Farias, Vanessa Duarte, José Thomaz Brum, Luciana D’Aulizio e Marco Rodrigues Encarregado De Manutenção Pôncio Pereira Manutenção Getúlio da Silva, Geovan Alexandre, Givaldo Falcão, José Carlos Souza, Luiz Fernando Carrazedo, Rosemir de Aguiar e Valdo Nogueira Mirante da Boa Viagem, s/n Boa Viagem, Niterói, RJ tel/fax [55 21] 2620 2400 / 2620 2481 [email protected] www.macniteroi.com.br horário de visitação de terça a domingo, das 10h ás 18h visitas mediadas para grupos Agendamento pelos telefones [55 21] 2620 2400 / 2620 2481 ramal 229 [Divisão de Arte e Educação R E A L I Z AÇ Ã O