estudo de caracterização física para a criação do parque natural
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estudo de caracterização física para a criação do parque natural
ENCARTE II: DIAGNÓSTICO PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.i INDICE ENCARTE II - DIAGNÓSTICO II - DIAGNÓSTICO ................................................................................................ 1 II. 1 - ANÁLISE GEOGRÁFICA DA ÁREA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG .......................................................................... 1 II. 1.1 - INTRODUÇÃO......................................................................................................... 1 II. 1.2 - LOCALIZAÇÃO ABSOLUTA DO PARQUE ..................................................................... 1 II. 1.3 - LOCALIZAÇÃO RELATIVA DO PARQUE ...................................................................... 2 II.2 - CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES 5 II.2.1 - INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 5 II.2.2 - OBJETIVOS ............................................................................................................. 6 II.2.3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................................ 7 II.2.4 - O CLIMA DE GOVERNADOR VALADARES ................................................................. 10 II.2.4.1 - Circulação Atmosférica ......................................................................... 10 II.2.4.2 - Componentes do Balanço Energético e as Temperaturas ..................... 14 II.2.4.3 - Componentes do Balanço Hídrico.......................................................... 16 II.2.4.4 - Clima Tropical: Síntese Climática de Governador Valadares ................. 19 II.2.5 - CLIMA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL ............................................................... 21 II.3 - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG ........................................................................ 23 II.3.1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 23 II.3.2 – GEOLOGIA............................................................................................................ 25 II.3.2.1 – Evolução Geotectônica ......................................................................... 25 II.3.2.2 – Unidades litoestratigráficas na região do Parque................................. 29 II.3.2.2.1 - Unidades Arqueanas/Paleoproterozóicas ........................................................ 29 II.3.2.2.2 - Unidades Neoproterozóicas .......................................................................... 30 II.3.2.2.3 - Unidades Fanerozóicas................................................................................. 31 II.3.3 – RELEVO ................................................................................................................ 34 II.3.3.1 - Unidades Geomorfológicas do Parque Natural de Governador Valadares. ............................................................................................................................. 39 II.3.4 - HIDROGRAFIA ....................................................................................................... 48 II.3.5 - SUSCETIBILIDADE EROSIVA ................................................................................... 53 II.3.6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 55 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.ii II.4 - ESTUDO DA FLORA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES – MG ................................................................................................ 56 II.4.1 - INTRODUÇÃO........................................................................................................ 56 II.4.2 - DIAGNÓSTICO....................................................................................................... 57 II.4.2.1 - Fisionomias Vegetais e suas Variações na Área do Parque ................... 59 II.4.2.1.1 - Mata de encosta ou submontana .................................................................. 59 II.4.2.1.2 - Mata de várzea ou aluvial............................................................................. 62 II.4.3 - METODOLOGIA ..................................................................................................... 65 II.4.4 - RESULTADOS ........................................................................................................ 65 II.4.5 - PROGNÓSTICO ...................................................................................................... 71 II.4.6 - ÁREA DE APP – ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTE E CONECTIVIDADE BIOLÓGICA CORREDORES ECOLÓGICOS .............................................................................................. 78 II.5 - ESTUDO DA FAUNA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES – MG ................................................................................................ 81 II.5.1 - INTRODUÇÃO........................................................................................................ 81 II.5.1.1 - Fragmentação e Perda de Habitats ....................................................... 81 II.5.1.2 - Corredores Ecológicos ........................................................................... 82 II.5.1.3 - Fauna .................................................................................................... 83 II.5.1.4 - Bioindicadores ...................................................................................... 83 II.5.1.5 - Mastofauna ........................................................................................... 84 II.5.1.6 - Avifauna ................................................................................................ 86 II.5.1.7 - Ictiofauna ............................................................................................. 86 II.5.1.8 - Herpetofauna ........................................................................................ 87 II.5.1.9 - Legislação Ambiental ............................................................................ 88 II.5.2 - CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................. 89 II.5.2.1 - Mata Atlântica ....................................................................................... 89 II.5.2.2 - Área de estudo ...................................................................................... 90 II.5.3 - OBJETIVO ............................................................................................................. 91 II.5.4 - METODOLOGIA ..................................................................................................... 91 II.5.4.1 - Dados Secundários ................................................................................ 91 II.5.4.2 - Entrevistas ............................................................................................ 92 II.5.4.3 - Dados Primários .................................................................................... 92 II.5.4.4 - Procura em Substrato Natural .............................................................. 92 II.5.4.5 - Busca Visual e Auditiva ......................................................................... 93 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.iii II.5.5 – RESULTADOS........................................................................................................ 98 II.5.5.1 - Mastofauna ........................................................................................... 98 II.5.5.1.1 - Descrição das espécies ameaçadas ............................................................. 101 II.5.5.1.2 - Descrição das espécies amostradas em campo ............................................. 102 II.5.5.1.3 - Espécies de mamíferos utilizadas pelo homem ............................................. 104 II.5.5.2 - Avifauna .............................................................................................. 105 II.5.5.2.1 - Descrição das espécies ameaçadas ............................................................. 112 II.5.5.2.2 - Descrição das espécies avistadas em campo ................................................ 113 II.5.5.3 - Ictiofauna ........................................................................................... 126 II.5.5.3.1 - Espécies de relevância científico-conservacionista ........................................ 128 II.5.5.4 - Herpetofauna ...................................................................................... 129 II.5.5.4.1 - Espécies Raras, Endêmicas e/ou Ameaçadas de Extinção .............................. 138 II.5.6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 141 II.5.6.1 - Impactos, Medidas E Ações ................................................................. 146 II.5.6.1.1 - Queimadas descontroladas ......................................................................... 146 II.5.6.1.2 - Atropelamento de animais silvestres ........................................................... 147 II.5.6.1.3 - Fragmentação e redução de habitats........................................................... 147 II.5.6.1.4 - Impactos sobre a biodiversidade ................................................................. 148 II.5.6.1.5 - Tráfico ilegal de animais silvestres .............................................................. 149 II.5.6.1.6 - Intensificação da pressão de caça ............................................................... 149 II.5.6.1.7 - Invasão de espécies domésticas e exóticas .................................................. 150 II.5.6.1.8 - Subsídios para a Educação Ambiental.......................................................... 150 II.5.6.1.9 - Entomofauna ............................................................................................ 152 II.5.6.1.10 - Zoonoses ................................................................................................ 153 II.5.6.1.11 - Hemíptera (barbeiros) de importância médico-sanitária............................... 153 II.5.6.1.12 - Díptera de importância médica ................................................................. 154 II.5.6.1.13 - Formigas................................................................................................. 157 II.5.6.1.14 - Abelhas .................................................................................................. 157 II.5.6.1.15 - Coleóptera .............................................................................................. 158 II.5.6.1.16 - Lepidóptera ............................................................................................. 159 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.iv II.6 - ESTUDO DE CAPACIDADE DE CARGA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG ................................................................. 161 II.6.1 - APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 161 II.6.2 - INTRODUÇÃO...................................................................................................... 162 II.6.3. CAPACIDADE DE CARGA ........................................................................................ 164 II.6.4. METODOLOGIA..................................................................................................... 167 II.6.4.1 Determinação da Capacidade de Carga ................................................. 168 II.6.4.1.1 Capacidade de carga física (CCF) .................................................................. 175 II.6.4.1.2 Capacidade de carga real (CCR) .................................................................... 176 II.6.4.1.3 - Capacidade de Manejo (CM) ....................................................................... 180 II.6.4.1.4 Capacidade de Carga Efetiva (CCE) ............................................................... 181 II.6.5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 185 II.7 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ENTORNO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES (ZONA DE AMORTECIMENTO OU ZONA TAMPÃO). ................................................................................................ 186 II.7.1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................... 186 II.7.2 - A ÁREA DE ENTORNO DO PARQUE........................................................................ 189 II.8 - ESTUDO DE FRAGMENTAÇÃO E CONECTIVIDADE PARA O ENTORNO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALARES - MG .................. 200 II.8.1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................... 200 II.8.2 - A FRAGMENTAÇÃO DE AMBIENTES E A FORMAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS 201 II.8.3 - PREMISSAS E DISPOSITIVOS LEGAIS .................................................................... 213 II.8.4 - SÍNTESE CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ................................................................... 218 II.8.4.1 - Contextualização Regional.................................................................. 220 II.8.4.2 - Mata Atlântica ..................................................................................... 221 II.8.5 - METODOLOGIA ................................................................................................... 222 II.8.5.1 - Processamento de Imagens Digitais ................................................... 222 II.8.5.2 - Estimativa de Área para Formação de Corredor Ecológico .................. 222 II.8.5.3 - Mapeamento dos Fragmentos de Vegetação no Parque ..................... 223 II.8.5.3.1 - Cálculos das métricas pelo FRAGSTATS ....................................................... 223 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.v II.8.6 - RESULTADOS ...................................................................................................... 228 II.8.6.1 - Métricas de Área ................................................................................. 233 II.8.6.2 - Métricas de Densidade e Tamanho...................................................... 233 II.8.6.3 - Métricas de Borda ............................................................................... 234 II.8.6.4 - Métricas de Forma............................................................................... 234 II.8.7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 235 II.9 - AVALIAÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE ECOLÓGICA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG ............................ 236 II.9.1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................... 236 II.9.2 - AMEAÇAS A DIVERSIDADE ECOLÓGICA ................................................................. 237 II.9.2.1 - Perda de Habitat ................................................................................. 237 II.9.2.2 - Espécies Invasoras.............................................................................. 238 II.9.3 - REPRESENTATIVIDADE BIOLÓGICA NO BRASIL ..................................................... 240 II.9.4 - DIVERSIDADE BIOLÓGICA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE ....................... 240 II.9.5 - OBJETIVO ........................................................................................................... 240 II.9.6 - METODOLOGIA ................................................................................................... 241 II.9.7 - RESULTADOS ...................................................................................................... 241 II.9.7.1 - Estudo Florístico ................................................................................. 241 II.9.7.2 - Estudo Faunístico ................................................................................ 242 II.9.7.2.1 - Mastofauna ............................................................................................... 242 II.9.7.2.2 - Avifauna ................................................................................................... 242 II.9.7.2.3 - Ictiofauna ................................................................................................. 242 II.9.7.2.4 - Herpetofauna ............................................................................................ 243 II.9.8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 244 II.10 - CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES............................................................................... 246 II.10.1 – LOCALIZAÇÃO, INSERÇÃO REGIONAL E ACESSOS................................................ 246 II.10.2 – DINÂMICA DEMOGRÁFICA ................................................................................. 249 II.10.3 – ESTRUTURA PRODUTIVA ................................................................................... 252 II.10.4 - CONDIÇÕES DE VIDA E INFRA-ESTRUTURA DISPONÍVEL...................................... 258 II.10.4.1 - Condições de vida ............................................................................. 258 II.10.4.2 - Infra-estrutura disponível................................................................. 264 II.10.5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 268 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 269 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.vi INDICE DE TABELAS Tabela II.2.1 - Dados climatológicos da Estação de Governador Valadares.............................................22 TABELA II.4.1 - Espécies arbóreas nativas encontradas na área de estudo do Parque.............................67 TABELA II.4.2 – Espécies arbóreas exóticas encontradas na área de estudo do Parque...........................68 TABELA II.4.3 – Espécies de lianas nativas encontradas na área de estudo do Parque...........................69 TABELA II.4.4 – Espécies herbáceas e arbustivas, aquáticas e terrestres exóticas encontradas na área de implantação do Parque......................................................................................................70 TABELA II.4.5 - Características de espécies arbóreas nativas do Brasil, que compõem os diferentes grupos ecológicos..............................................................................................................................73 TABELA II.4.6 - espécies nativas indicadas para a recuperação de áreas degradadas em Florestas Estacionais Semideciduais.....................................................................................................74 . TABELA II.5.7 - Pontos de amostragem para anfíbios...........................................................................95 TABELA II.5.2 - Espécies levantadas por meio de dados primários e secundários e status deconservação.........................................................................................................................98 TABELA II.5.3 - Espécies de mamíferos utilizadas pelo homem............................................................104 TABELA II.5.4 - Espécies levantadas por meio de dados primários e secundários e status de conservação......................................................................................................................105 TABELA II.5.5 - Espécies levantadas por meio de dados secundários e status de conservação..............126 TABELA II.5.6 - Lista das espécies da herpetofauna registradas na área de implantação do Parque, área de entorno e dados secundários................................................................................................134 TABELA II.6.1 - Especificação dos Trechos das Trilhas da Figura II.6.1................................................171 . TABELA II.6.2 - Distância e Tempo Gasto para Percorrer as Trilhas do Parque.....................................171 Tabela II.6.3 - Critérios para a Classificação do Grau de Erodibilidade................................................177 TABELA II.6.4 - Critérios para a Classificação do Grau de Dificuldade..................................................178 TABELA II.6.5 - Determinação das Variáveis para a Estimativa da Capacidade de Manejo Para as trilhas, Área Campestre, Administração(ADM) e Centro de Visitantes (CV)...............................181 TABELA II.6.6 - Ocupação Simultânea da Área de Lazer em Diferentes Níveis.....................................184 TABELA II.7.1 – Pontos amostrados na área do entorno e adjacências(Mapa 2)..................................197 TABELA II.8.1 – Métricas estimadas para fragmentação dos cenários 1 e 2 a partir do FRAGSTATS......231 TABELA II.10.1 – Governador Valadares: população por situação de domicílio, 1991 e 2000................250 TABELA II.10.2 - Governador Valadares: população por gênero e situação de domicílio, 2010..............250 TABELA II.10.3 – Governador Valadares: população total e por gêneros.............................................251 TABELA II.10.4 – Governador Valadares: Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes....................253 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.vii TABELA II.10.5 - Ranking dos municípios de maior PIB total – Bacia Hidrográfica do Rio Doce............255 TABELA II.10.6 - Evolução ranking – rebanho de bovinos por município (2000-2006)..........................256 TABELA II.10.7 - Ranking dos municípios com maior valor agregado industrial – valor correnteset/08.......................................................................................................................257 TABELA II.10.8 – Governador Valadares: População Ocupada por Setores Econômicos - 2000............257 TABELA II.10.9 – Governador Valadares: IDH-M: 1991-2000.............................................................260 TABELA II.10.10 – Governador Valadares: Nível Educacional da População Jovem, 1991 e 2000.........260 TABELA II.10.11 - Governador Valadares: Nível Educacional da População Adulta (25 anos ou mais), 1991 e 2000..................................................................................................................................261 TABELA II.10.12 – Governador Valadares: Indicadores de Longevidade, Mortalidade e Fecundidade, 1991 e2000..............................................................................................................263 TABELA II.10.13 – Governador Valadares: Indicadores de Renda, Pobreza e Desigualdade, 1991 e 2000..................................................................................................................................263 TABELA II.10.14 – Governador Valadares: Acesso a Serviços Básicos, 1991 e 2000............................265 INDICE DE FIGURAS FIGURA II.1.1 - Mapa de localização do Município de Governador Valadares no Estado de Minas Gerais...............................................................................................................................................2 FIGURA II.1.2 - Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce/MG..........................................2 FIGURA II.2.1 - Mapa de Localização da Cidade de Governador Valadares............................................8 FIGURA II.3.1 – Reconstituição da colagem do Gondwana mostrando a distribuição dos orógenos brasilianos pan-africanos e os principais crátons associados há ca. 560 Ma. A – Orógeno Araçuaí........................................................................................................................25 FIGURA II.3.2 - Representação esquemática do processo de formação do Orógeno Araçuaí (1Ga – 450 Ma)...............................................................................................................................26 FIGURA II.3.3 – Representação esquemática da fragmentação do Supercontinente de Pangea, no final do Triássico (200 Ma)...........................................................................................................27 FIGURA II.3.4. Domínios estruturais do Orógeno Araçuaí – Congo Ocidental. ......................................27 FIGURA II.3.5 - Mapa geológico da Zona Intensa de alto grau metamórfico e perfil geológico segmento A-A1, com corte na região do Parque.................................................................................28 FIGURA II.3.6 – Mapa geológico da área de entorno do Parque Natural Municipal de Governador Valadares......................................................................................................................31 FIGURA II.3.7 - Hipsometria e Unidades Geomorfológicas da área de entorno do Parque Natural Municipal de Governador Valadares.......................................................................................35 FIGURA II.3.8 – Unidades Geomorfológicas do Parque Natural Municipal de Governador Valadares.......40 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.viii FIGURA II.3.9 – Modelo digital de Elevação e Classes de Declividade do Parque Natural Municipal de Governador Valadares..................................................................................................42 FIGURA II.3.10 – Rede Hidrográfica do Parque Natural Municipal de Governador Valadares.................51 . FIGURA II.3.11 – Áreas Inundadas para Diferentes Períodos de retorno, Segundo CPRM (2004)..........52 FIGURA II.5.1 - Limites estaduais e região aproximada de influência, inseridas no bioma Mata Atlântica.......................................................................................................................89 FIGURA II.5.2 -1 - Área destinada à criação do Parque......................................................................93 FIGURA II.5.2-2 Área onde se concentrou a maior parte das amostragens de mamíferos.....................93 FIGURA II.5.2-3 Área onde se concentrou a maior parte das amostragens de aves..............................93 FIGURA II.5.3 – Pontos de amostragem para a fauna de anfíbios........................................................96 FIGURA II.5.4 - Mapa de prioridade para conservação da Biodiversidade em MG................................142 FIGURA II.5.5 - Mapa de prioridade para conservação de fauna em MG.............................................142 FIGURA II.5.6 - Mapa de prioridade para conservação de mamíferos em MG......................................142 FIGURA II.5.7 - Mapa de prioridade para conservação de aves em MG...............................................143 FIGURA II.5.8 - Mapa de prioridade para conservação de peixes em MG ...........................................144 FIGURA II.6.1 - Demarcação das principais Trilhas no Parque............................................................170 FIGURA II.7.1 – Delimitação da área de entorno do PARQUE, destacando-se as áreas cobertas por florestas (verde escuro) no destaque da imagem...........................................................191 FIGURA II.7.2 - Localização de bairros e condomínios na região de entorno do Parque.......................196 FIGURA II.8.1 - Exemplo de mosaico de manchas de vegetação, sendo umas favoráveis (bom) e outras desfavoráveis (ruim) para a permanência e sobrevivência das espécies......................205 FIGURA II.8.2 - Modelos de metapopulações, sendo a o modelo clássico com manchas similares de vegetação e b modelo fonte – ralo, como verificado no Parque.......................................206 FIGURA II.8.3 - Limites estaduais e região aproximada de influência, inseridas no bioma Mata Atlântica......................................................................................................................222 FIGURA II.8.3 - Localização de bairros e condomínios na região de entorno do Parque.......................229 FIGURA II.10.1 - Distritos de Governador Valadares.........................................................................248 FIGURA II.10.2 - Governador Valadares: perímetro urbano...............................................................249 FIGURA II.10.3 – Governador Valadares: média de moradores por domicílio......................................252 FIGURA II.10.4 – Governador Valadares: média de anos de estudo...................................................262 FIGURA II.10.5 - Governador Valadares: renda média mensal...........................................................264 FIGURA II.10.6 – Governador Valadares: abastecimento de água da rede geral.................................266 .. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.ix FIGURA II.10.7 – Governador Valadares: Esgotamento sanitário via rede geral ou pluvial.................267 FIGURA II.10.8 - Governador Valadares: domicílio com coleta de lixo..............................................268 ÍNDICE DE GRÁFICOS E MAPAS GRÁFICO II.2.1 - Rosa dos Ventos de Governador Valadares...................................................................12 GRÁFICO II.2.2 - Intensidade do vento médias mensais em Governador Valadares........................13 GRÁFICO II.2.3: Distribuição da frequência de velocidades médias do vento em Governador Valadares...........................................................................................................................13 GRÁFICO II.2.4: Componentes do Balanço Energético e as Temperaturas................................................15 GRÁFICO II.2.5: Componentes do Balanço Hídrico..................................................................................17 GRÁFICO II.2.6: Climograma de Governador Valadares..........................................................................17 GRÁFICO II.2.7: Balanço Hídrico de Governador Valadares............................................................18 GRÁFICO II.5.1- Número de indivíduos levantados por família................................................................100 GRÁFICO II.5.1-1 – Proporção de espécies registrados da Classe Amphibia, representados por família..........................................................................................................................................129 GRÁFICO II.5.3-2 - Proporção de espécies registrados da Classe Reptilia representados por família..........................................................................................................................................129 GRÁFICO II.5.3-3 - Proporção de anfíbios e répteis registrados durante o período de estudo realizado na região de implantação do Parque......................................................................................130 GRÁFICO II.5.4 - Abundância de anfíbios registrados nos pontos de amostragem....................................133 Mapa 1 .......................................................................................................................................232 Mapa 2 .......................................................................................................................................233 Mapa 2 .......................................................................................................................................198 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.x II - DIAGNÓSTICO II. 1 - ANÁLISE GEOGRÁFICA DA ÁREA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG II. 1.1 - INTRODUÇÃO Qualquer pesquisa de natureza geográfica sobre um objeto deve começar pela localização e relações espaciais desse objeto. É o que se pretende fazer nesta análise da área de implantação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares, no Estado de Minas Gerais. Entende-se por localização geográfica relativa ou posição geográfica, para efeito desta análise, as relações espaciais de um dado lugar com a região na qual ele está inserido e até as mais amplas (DOLFUSS, 1973, p. 18/19). Evidentemente, essas relações têm a ver com sua localização geodésica. Disso resulta, às vezes, o emprego de localização, situação, posição, como sinônimos. Muitas características físicas, biológicas assim como aquelas do campo econômico, social, político são determinadas por fatores de escala regional. Localização absoluta é determinada pelo cruzamento das coordenadas geográficas – latitude, longitude e altitude - do ponto onde se encontra o fato estudado. Se os fatores externos, cuja origem está além do objeto de interesse, devem ser considerados, os locais não são desprezíveis. Na análise geográfica, que é parte dos estudos para a implantação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares, além dos pontos geodésicos a orientação relativa ao Sol é uma informação importante que complementa aquelas da localização absoluta. II. 1.2 - LOCALIZAÇÃO ABSOLUTA DO PARQUE O futuro Parque estará localizado à margem direita do Rio Doce, entre o rio e o Pico da Ibituruna. Suas coordenadas do ponto central são: latitude -18º51’59‖, longitude – 41º56’03‖, altitude – 160 m. Trata-se, na sua quase totalidade, de uma vertente orientada para o Noroeste, por isso ensolarada durante a maior parte do dia e do ano, desde poucos momentos após o nascer do sol. Certamente, a duração do período varia com as estações do ano e depende da nebulosidade e dos dias chuvosos. A vertente escura e ampla do Pico da Ibituruna que absorve com intensidade a radiação solar emite calor para a área vizinha. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.1 II. 1.3 - LOCALIZAÇÃO RELATIVA DO PARQUE O município de Governador Valadares tem uma área de cerca de 2.348 km² (IGA) e abriga uma população estimada pelo IBGE de 263.594 habitantes (2010). Destes, cerca de 96%, concentramse na área urbana da sede municipal. A microrregião onde se encontra o município tem o nome deste. Essa unidade administrativa mineira faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, situada na porção leste do Estado de Minas Gerais (ver Figura II.1.1 e II.1.2). FIGURA II.1.1 - Mapa de localização do Município de Governador Valadares no Estado de Minas Gerais. FIGURA 2 - Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce FIGURA II.1.2 - Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce/MG. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.2 É interessante observar que o município e a cidade encontram-se no ponto em que o Rio Doce inflete-se para SW, ele que mantinha uma direção geral, no Estado de Minas Gerais, de SE para NW. A sede tem como referência a latitude de 18º 51’ 12‖; longitude de 41º 56’ 42‖ e a altitude de 168,55 m (IGA, 2011). Parte da região é um amplo vale percorrido pelo rio principal, com várzeas e terraços em ambas as margens e colinas arredondadas revestidas por espesso manto de alteração. A exceção é o Pico da Ibituruna que ultrapassa de pouco os mil metros, com aproximadamente 1.123 metros de altitude, em nítido contraste com as terras planas ribeirinhas, cujas altitudes são inferiores aos 200 m. A posição geográfica faz com que o clima regional, o tropical (Aw na tradicional classificação de Köppen) tenha características gerais próprias. A penetração das massas polares e frentes frias faz cair suas altas temperaturas em alguns dias do ano. O vapor de água vindo do Oceano, subindo o amplo vale fluvial, é responsável por médias mensais de umidade relativa elevadas no inverno seco, diferentemente de outras regiões mineiras. A latitude e altitude explicam o forte calor da maior parte do ano. A vegetação primitiva, hoje extremamente reduzida, degradada ou inexistente na maior parte da bacia, é parte da floresta tropical que da fachada atlântica, por isso mesmo denominada de Mata Atlântica, expandia-se para o interior do Estado subindo os vales dos grandes rios, como o Doce, o Jequitinhonha, o Mucuri, chegando até os contrafortes das serras do Caraça e do Espinhaço. O município valadarense, como grande parte do leste mineiro é constituído de rochas granitóides de diversos tipos e outras como quartzitos, xistos, muito antigas a antigas, respectivamente, dos períodos Arqueano e Proterozóico Médio. O Pico da Ibituruna é um grande bloco de rocha granítica alcalina do Proterozóico Superior. Trata-se de uma área em que o embasamento cristalino tem influência direta no modelado do relevo e na gênese do solo. Em ambas as margens do Rio Doce, contudo, terraços e várzeas, de topografia horizontal são formados por aluviões e colúvios do Cenozóico (COMIG, 1994). A hidrografia regional é comandada pelo Rio Doce e por seus principais afluentes: da margem esquerda, o Suaçui Grande, a leste e o Tronqueiras, a oeste da cidade; da margem direita, o Traíras. Rios que, como todos os demais elementos do meio ambiente, carecem de recuperação. Convém ressaltar que uma parte significativa da vazão do Rio Doce em Governador Valadares é alimentada pelos seus afluentes e formadores do alto curso. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.3 Em uma notável síntese feita pelo naturalista Saint Hilaire em 1831, publicada no Brasil em 1949, a então Província de Minas Gerais foi dividida em duas grandes regiões, tendo como divisor natural a Serra do Espinhaço. A leste desse extenso cordão orográfico é o domínio das montanhas, do relevo acidentado, cuja vocação natural seriam as florestas tropicais. Diversamente, a oeste, estão os amplos horizontes, resultantes do relevo ondulado ou horizontalizado revestido pelo que foi chamado na época de campos ou ainda gerais, hoje, cerrados. Governador Valadares, evidentemente encontra-se na primeira das duas. Outra síntese, bem mais recente e mais detalhada, elaborada pelo geógrafo brasileiro Ab’ Saber nos anos sessenta e reapresentada em vários outros momentos, ajuda a entender as características naturais da área de interesse desse trabalho. Esse autor identificou seis grandes unidades geográficas no País, às quais denominou de domínios morfoclimáticos. Governador Valadares insere-se no domínio morfoclimático muito adequadamente denominado de mares de morros, áreas de colinas mamelonares tropical-atlânticas florestadas. Espera-se que essas características resultantes da localização e situação geográficas do município de Governador Valadares que serão, obviamente, aprofundadas, apontem para a relevância dos estudos geográficos necessários para oportuna criação de uma unidade de proteção ambiental. Espaço no qual sejam consideradas todas as suas aptidões e peculiaridades, no momento das intervenções necessárias para sua utilização e nos projetos de recuperação. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.4 II.2 - CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES II.2.1 - INTRODUÇÃO É inegável que as condições atmosféricas exercem sobre os processos físicos, químicos, biológicos e antropogênicos que ocorrem na superfície terrestre uma influência maior ou menor, direta ou indireta, mas sempre relevante. A influência destes processos sobre as condições e os fenômenos atmosféricos, às vezes, pouco evidente, é também inegável. Mas enquanto há um estado de equilíbrio entre os processos físicos, químicos e biológicos, de um lado, e os atmosféricos, do outro, entre os relacionados às atividades humanas e à atmosfera, sobretudo nas ultimas décadas, os resultados têm apontado para o rompimento desse estado: o efeito estufa e o aquecimento global, o buraco na camada de ozônio, a desertificação estariam aí para comprovar esse fato. Ainda assim, até há pouco tempo, a natureza, a intensidade e a dinâmica dessas relações não vinham merecendo a devida atenção dos pesquisadores. Hoje, uma vasta bibliografia disponível expõe modelos teóricos consistentes sobre o tema: Henderson-Sellers and Hughes (1982); Lockwood (1987); Nicholson (1988); Thompson (1989); os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Há também aqueles que buscam no Sol as causas das mudanças climáticas Chambers, Ogle and Blackford (1999); Waple, (1999). Por último, mas não menos importante, há que se considerar as publicações polêmicas de Lovelock referentes à teoria de Gaia. Nestas, Lovelock (2006 e 2009) leva ao extremo a intensidade das relações entre os componentes inorgânicos e os orgânicos do Planeta e sua evolução interdependente. Por tudo isso pode-se dizer que ―a essência da climatologia geográfica é a análise e a descrição dos sistemas processo-resposta importantes para a humanidade e que ocorrem na camada limite planetária‖. O autor dessa afirmativa, Terjung (1976, p.199), desloca para a interface superfície terrestre/atmosfera (a baixa atmosfera) o objeto da climatologia e dirige para o homem e suas atividades os objetivos dela. É necessário, pois, estar ciente de que o clima de um ―lugar‖ – em qualquer das suas ordens escalares superiores ou inferiores - é função dos fluxos de energia e matéria que o percorrem nos sentidos vertical e horizontal. No primeiro caso deve-se considerar a radiação solar, girando o problema em torno da conjunção dos quatro grandes fatores a ela pertinentes: PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.5 1. A eficiência da energia solar, em função da intensidade da radiação; 2. O grau de transmissibilidade da atmosfera, ou seja, o desempenho dessa camada como intermediária entre energia solar e terrestre; 3. O albedo da superfície terrestre, isto é, sua capacidade de refletir e absorver a radiação solar que nela incide; 4. ―O efeito estufa ou a síntese do desempenho da atmosfera no balanço geral das trocas térmicas entre o sol e terra.‖ (MONTEIRO, 1991, p.45/46) A seguir, Monteiro passa a comentar o segundo caso, intimamente relacionado ao primeiro, a circulação horizontal atmosférica ―cuja atuação vem complementar o quadro geral dos fluxos energéticos num dado lugar‖ (MONTEIRO, 1991, p.46) Fica, portanto, evidente qual é a natureza das relações entre a superfície terrestre e a atmosfera – é a natureza dos fluxos de matéria e de energia. Qualquer alteração na primeira ou na segunda provoca alterações quantitativas ou qualitativas nos fluxos e consequentemente nos processos atmosféricos. II.2.2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste estudo é o de caracterizar o clima da área onde se localiza o Parque Natural Municipal de Governador Valadares e suas relações com os demais fatores ambientais. Os objetivos específicos são: Caracterizar o contexto climático da área do Parque Natural Municipal de Governador Valadares; Descrever os principais elementos do clima local, seu comportamento habitual e suas variações temporais e espaciais: radiação solar, temperatura, precipitação pluviométrica, evaporação, evapotranspiração, umidade relativa do ar, nebulosidade, insolação, vento e balanço hídrico. Criar subsídios para a elaboração do Plano de Manejo e do Projeto Arquitetônico do Parque Natural Municipal de Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.6 II.2.3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A metodologia empregada buscou obter uma síntese do clima da área que encerra o Parque. Primeiro, sínteses parciais dos fluxos de energia em seus componentes e indicadores, depois dos fluxos de água. A dinâmica atmosférica não poderia ser negligenciada e, por isso, foi analisada por meio dos sistemas atmosféricos geradores do tempo e da circulação do vento. Partiu-se do conceito de que o clima é sempre uma conjunção de elementos e é essa ação integrada que interage com os demais subsistemas ambientais e socioeconômicos. O tratamento metodológico é o que segue: 1. Caracterização da circulação atmosférica geral e secundária, responsável em grande medida pelos regimes climáticos regional e local. A bibliografia básica consultada para esta síntese parcial é constituída por Ferreira (1996), Monteiro (1969), Nimer (1989) e Serra e Ratisbonna (1942). Foram incluídas aqui considerações sobre direção e velocidade do vento; 2. Os fluxos da radiação solar no topo da atmosfera e na superfície, pela falta ou limitação de dados observados, foram estimados e sua análise acompanhada de variáveis correlatas: horas de insolação potencial (duração do dia) e efetiva e comportamento da temperatura por intermédio de três indicadores: médias mensais das máximas e das mínimas e médias. Procurou-se relacionar os elementos do componente energético em uma síntese parcial; 3. A transferência da água no sistema foi contemplada na análise comparativa dos elementos: precipitação, evapotranspiração potencial e real (estimadas segundo o método de thornthwaite e mather, 1955), evaporação e umidade relativa do ar. É o que foi representado no Gráfico do balanço hídrico; 4. A síntese climática, uma avaliação simultânea dos elementos mais significativos, mais influentes, é necessária para melhor compreensão da ambiência atmosférica. Para facilitar a análise, foram construídos Gráficos comparativos. Ela foi acompanhada das classificações climáticas de Thonthwaite adaptada por Nimer e Brandão (1955) e a de Gaussen (1957). 5. Por fim, chegou-se a uma síntese do clima local de Governador Valadares e em seguida a algumas considerações sobre as nuanças do clima na área específica do Parque. Os dados básicos da análise são as médias mensais e será levada em conta a sucessão das estações do ano. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.7 Foram usados dados meteorológicos (normais) do período compreendido entre 1967 a 1990, da estação climatológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), instalada em Governador Valadares (ver Figura II.2.1). Esses dados foram consistidos pelo órgão responsável e sofreram algumas alterações devidamente incorporadas a esse trabalho. Infelizmente, a série histórica foi obtida em locais diferentes durante o período. FIGURA II.2.1 - Mapa de Localização da Cidade de Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.8 Pela falta de série de dados observados foram utilizados dados estimados: é o caso da intensidade de radiação solar na superfície com o emprego da equação de Angstron; da evapotranspiração potencial e real com o método de Thornthwaite e Mather (1995). Os de radiação solar no topo da atmosfera e de duração do dia ou insolação possível estão disponíveis em tabelas (TUBELIS e NASCIMENTO, 1984). A equação de Angstron, de largo emprego para obtenção de dados de radiação na superfície, é: Q=Qo ( a+ b n/N) sendo : Q= radiação solar incidente na superfície; Qo= radiação solar incidente no topo da atmosfera; n =número de horas de brilho solar efetivo; N= número máximo de horas de insolação; a = constante de uso regional ou universa;l b = constante de uso regional ou universal. Foram empregadas as constantes de Glover e Mac Cullosch: a= 0,29 cos. latitude local e b 0.52. Por último, para efeito de comparação, foi utilizada a mesma equação de Angstron adaptada por Bennet e aceita por inúmeros pesquisadores brasileiros. Bennet acrescentou uma terceira constante relacionada à altitude do local. A fórmula passou a ser: Q= Qo (a1+b1 n/N+c1. alt.) Os valores das constantes a1; b1 e c1 estão disponíveis em Vianello e Alves, 1991. A equação de Angstron foi empregada com as constantes das duas propostas e os resultados comparados. Recentemente foi instalada na cidade pelo INMET uma estação meteorológica automática, que registra entre outros parâmetros, a radiação solar, mas os dados já disponibilizados são apenas os de 2009. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.9 II.2.4 - O CLIMA DE GOVERNADOR VALADARES II.2.4.1 - Circulação Atmosférica A sucessão de tipos de tempo na região é determinada, em grande parte, pela atuação de sistemas atmosféricos dinâmicos que agem de forma diferenciada tanto no que se refere ao desencadeamento das participações de cada um deles, quanto no que diz respeito à repercussão dos mesmos nas variáveis meteorológicas de superfície. Entretanto, apesar da imprevisibilidade inerente ao comportamento desses sistemas, é possível tecer algumas considerações acerca da sequência normal de suas atuações bem como sobre a repercussão dos mesmos na definição dos tipos tempo que ocorrem de forma mais freqüente na região. No verão austral, devido ao maior aquecimento do continente, o Anticiclone do Atlântico Sul (AAS), responsável pela Massa Tropical Atlântica (MTA), enfraquecido, permanece tangenciando o litoral brasileiro, gerando os ventos alísios que atingem a região em foco com direções de NE, E e SE. Com a penetração do Anticiclone Polar Migratório, caracterizado pela Massa Polar Atlântica (MPA) e seu consequente contato com o ar tropical, formam-se as frentes polares ou frias (FPA). Estas percorrem a região com significativa frequência, respondendo por parte das chuvas de verão. Deve ser enfatizada ainda a participação nessa estação, da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), grande faixa depressionária em que estão associadas à Convergência Intertropical e as depressões frontais. Essa faixa posiciona-se normalmente de NW a SE e possibilita a transferência de umidade da Amazônia para o Sudeste, e caracteriza-se pelas elevadas nebulosidade e pluviosidade. É importante lembrar que as precipitações também podem ocorrer associadas às linhas de instabilidade e mecanismos convectivos isolados ou associados a outros fenômenos da circulação atmosférica regional e ainda ao efeito orográfico. No verão, secundariamente, atua em superfície, relacionada às altas temperaturas, uma baixa pressão denominada de baixa do Chaco, encimada por uma alta pressão, a Alta da Bolívia. No inverno, o desaparecimento da Massa Tropical Continental (MTC), associada à depressão barométrica do Chaco permite que o então fortalecido AAS, sob a forma da Massa Tropical Atlântica (MTA), avance sobre o Sudeste brasileiro. Nessa época, a MPA também acha-se fortalecida e as frentes frias podem atingir latitudes ainda mais baixas. Entretanto, tendo em vista a perda de umidade que se observa na massa polar à medida que ela se desloca, as chuvas de inverno são escassas na região, caindo em quantidades relativamente maiores somente naquelas áreas submetidas a efeitos orográficos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.10 No outono e na primavera, a circulação atmosférica apresenta aspectos intermediários entre aqueles verificados no verão e no inverno. Até mesmo a intensidade da penetração dos sistemas frontogenéticos assume características intermediárias quando confrontadas com situação nos solstícios. Os tipos de tempo associados às atuações da MPA apresentam-se estáveis, ensolarados, com temperaturas mais baixas, com pouca nebulosidade e ausência de chuvas. Quando adquire características de tropicalização, a MPA apresenta céu ainda mais límpido, atmosfera mais seca e amplitude térmica diária mais elevada. Durante a permanência da Massa Tropical Atlântica (MTA), os ventos predominantes devem ter a direção leste, sudeste ou nordeste, na região principalmente esta última, as pressões são relativamente elevadas e constantes, as temperaturas também elevadas, a nebulosidade é baixa e a evaporação tende a elevar-se. As chuvas são raras e, normalmente, de caráter convectivo ou relacionadas às linhas de instabilidade. Quando a massa permanece estacionada, assume características da continentalização, apresentando temperaturas ainda mais elevadas, umidade relativa mais baixa e pressões em declínio. Nesse caso, a evaporação tende a potencializar-se ainda mais. É possível que não ocorram quedas significativas na umidade relativa durante a atuação da MTA já que a disposição do modelado naquele setor da Bacia Hidrográfica do Rio Doce favorece a penetração de fluxos oceânicos. As médias de umidade relativa são elevadas durante todos os meses e as amplitudes térmicas diárias são consideradas baixas comparadas com outras regiões situadas em posições mais continentais. Ainda no verão, quando em situação de estacionamento das frentes, as chuvas são intensas e contínuas durante vários dias, as amplitudes térmicas são mínimas e a umidade relativa naturalmente elevada. Quando em dissipação, as temperaturas tendem à elevação, a umidade do ar e a nebulosidade, à redução e, consequentemente, há diminuição das chuvas. A ZCAs, por sua natural instabilidade, intensa nebulosidade provoca chuvas abundantes, quando não danosas, durante vários dias. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.11 No que se refere às linhas de instabilidade sabe-se que provocam precipitações em quantidades variadas e o céu oscila entre límpido a totalmente encoberto. À medida que são desviadas da região, a MTA volta a dominar trazendo novamente o tempo estável que a caracteriza. Enfim, percebe-se que a circulação atmosférica na região está relacionada aos mecanismos da circulação planetária, congruente com as dinâmicas dominantes na America do Sul e circunvizinhanças, destacando-se as participações de MPA, MTA, FPA, ZCAS, linhas de instabilidade. Especificidades de difícil mensuração devido à natureza dos dados e das informações disponíveis ocorrem vinculadas às configurações topográficas, às altitudes e, certamente, à distância relativamente pequena da região ao Oceano Atlântico. Os ventos sopram predominantemente do quadrante E variando de NE a E. As velocidades médias mensais são baixas, estão entre 0,82 a 1,73 m/s. O aumento da intensidade, como é comum no Sudeste, verifica-se no inverno e primavera. A ocorrência de calmarias é notável. (Ver Gráficos II.2.1 e II.2.2) GRÁFICO II.2.1 - Rosa dos Ventos de Governador Valadares. Fonte: CEMIG 12 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.12 GRÁFICO II.2.2 - Intensidade do vento médias mensais em Governador Valadares. 2,00 1,80 1,60 1,40 (m/s) 1,20 Intensidade do Vento (m/s) 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Fonte: INMET Os dados da CEMIG (Gráfico II.2.3) revelam um pequeno aumento das velocidades médias quando comparadas às do INMET, seguramente porque são obtidas a 12 e não a 10 metros de altura do solo. Mesmo assim, quase 70% dos dados revelam velocidades inferiores a 3,5 m/s. Na escala de força dos ventos de Beaufort, eles não ultrapassam as categorias de aragens e brisas suaves. São muito frequentes também situações de calmarias e, eventualmente, rajadas de ventos capazes de causas danos materiais. A CEMIG (Boletim Técnico 02110-T N/T e-080) registrou em Governador Valadares velocidade máxima anual de 15,8 m/s e médias horárias anuais de calmarias, de 68%. Essa circulação é determinada pelos grandes centros de ação anteriormente identificadas: as massas tropical, polar, frentes polares, entre outras. GRÁFICO II.2.3: Distribuição da frequência de velocidades médias do vento em Governador Valadares. Fonte: CEMIG PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.13 II.2.4.2 - Componentes do Balanço Energético e as Temperaturas Os componentes do balanço energético e térmico estão representados no Gráfico II.2.4. A distribuição anual da radiação solar no topo da atmosfera é representada graficamente por uma curva acentuada. Os picos de radiação, assim como o da duração do dia ocorrem no solstício de verão e correspondem a, respectivamente, 1015 cal/cm²/dia e 13,2 h/dia. Esses valores caem para 616 cal/cm²/dia e 11,1 h/dia, no solstício de inverno. A diferença de duração do dia é pequena, característica das latitudes tropicais. A radiação solar que chega à superfície (Gráfico II.2.4) assim como número de horas/dia de insolação efetiva têm um comportamento mais complexo. Além da redução dos valores, as curvas correspondentes não são rigorosamente paralelas entre si. A maior intensidade de radiação ocorre em fevereiro. A partir de então ela decresce até junho. O aumento não se dá na mesma intensidade da queda, fato que resulta do aumento da nebulosidade desde setembro. Os valores de radiação solar incidente na superfície são bem menores que os do topo da atmosfera. Os dados estimados, obtidos com as constantes de Bennet, não ultrapassam 573,7 cal/cm²/dia no mês de fevereiro e chegam a 334,9 em junho. Isto se explica pelo reduzido número de horas de insolação efetiva e o modelo de Angstron utiliza este parâmetro como variável independente. A radiação que chega ao solo depende da inclinação dos raios solares, da nebulosidade e, em intensidade menor, do material particulado em suspensão na atmosfera. Os dados estimados com as constantes de Glover e McCulloch diferem pouco dos obtidos segundo a equação de Angstron adaptada por Bennet e, por isso, não foram utilizados nesta análise. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.14 GRÁFICO II.2.4: Componentes do Balanço Energético e as Temperaturas. Fonte: INMET; Pesquisa As maiores médias do número de horas/dia de insolação efetiva são as de fevereiro/ março, 6,8 e 6,6, respectivamente. Depois de março esses números decrescem até julho. Em agosto há um ligeiro aumento após o que caem significativamente atingindo as menores médias no período chuvoso (médias diárias entre 3,8 a 5 horas). A curva de nebulosidade expressa as relações inversas com a insolação. As curvas térmicas construídas a partir das médias mensais mostram que o mês mais quente é fevereiro, com uma média de 26,1 °C. As médias das máximas diárias são superiores a 32ºC e as das mínimas, a 20ºC. A redução ocorre fracamente de tal modo que março pouco difere dos meses anteriores. A redução perdura até julho, mês dos menores índices térmicos: média mensal, média das máximas e das mínimas, valores de 20,7; 27,3 e 14,8ºC, respectivamente. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.15 Os valores extremos absolutos chegam à casa dos 40º, a menor mínima atingiu 3,3º, em 23 de agosto de 1974. As amplitudes diárias¹ são elevadas, mais no inverno (de até 12,5º C) do que no verão (sempre acima dos 10 ºC). Trata-se, pois, de uma região quente com médias térmicas elevadas, máximas diárias também elevadas. Mas ela está sujeita a resfriamento momentâneo decorrente das invasões da MPA. II.2.4.3 - Componentes do Balanço Hídrico Os Gráficos II.2.5 e II.2.6 apresentam o comportamento dos componentes hídricos de Governador Valadares. O mês mais chuvoso pode ser novembro, dezembro ou janeiro. Essa diferença decorre da grande variabilidade temporal da distribuição das chuvas. O pico ultrapassa de pouco os 200 mm acumulados em um mês. A partir de março, a redução é pronunciada atingindo os menores valores em junho, julho e agosto, sempre inferiores a 20 mm. Também aqui é difícil, se não impossível, definir com rigor o talvegue das curvas anuais. O aumento tem início em setembro. Outro aspecto significativo é o reduzido valor dos totais anuais, praticamente contidos na faixa de 1100 mm. Do total médio acumulado anual, 83% caem no semestre outubro-março e, cerca de 43%, no verão astronômico. A distribuição do número de dias de chuva acompanha, no geral, o padrão da distribuição da precipitação. São, em média, 100 dias /ano. A umidade relativa apresenta médias mensais pouco diferenciadas e sempre superiores a 70%, mesmo no inverno. Às 15 horas, teoricamente representativas do período mais seco do dia, as médias não caem abaixo de 65%, nos meses de junho até setembro. A elevada umidade varia pouco durante o ano e a curva de distribuição anual é suave. A quantidade de água transferida do solo para a atmosfera é superior à que retorna na forma de chuva. As médias de evaporação obtidas por evaporímetro de Piché são mais moderadas do que a de outros indicadores. Mesmo assim, elas superam as da precipitação em abril e maio e em todos os meses do inverno. Considerando a evaporação de lagos profundos e rasos, a partir de dados obtidos pela CEMIG (2009), toda a região apresentaria déficits a partir de fevereiro até outubro inclusive. _______ ¹ As amplitudes diárias foram obtidas a partir da diferença entre as médias das máximas e das míninas diárias. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.16 GRÁFICO II.2.5: Componentes do Balanço Hídrico Fonte: INMET; Pesquisa GRÁFICO II.2.6: Climograma de Governador Valadares Fonte: INMET PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.17 O balanço hídrico, segundo Thornthwaite e Mather (Gráfico II.2.7) mostra longo período de retirada de água do solo e de deficiência hídrica no meses em que a precipitação é menor que a evapotranspiração potencial. Esse período começa em março e vai até setembro/outubro quando o balanço torna-se positivo e tem início a reposição das reservas hídricas do solo. O excedente aparece em dezembro e janeiro. O déficit anual é de 260 mm e o excedente cerca de 50 mm. GRÁFICO II.2.7: Balanço Hídrico de Governador Valadares. Fonte: INMET Em resumo, qualquer que seja o método de avaliação do balanço hídrico, os resultados indicam um longo período de déficit e um curto de superávit. Deve-se lembrar, contudo, da variabilidade inter-anual da pluviosidade. O coeficiente de variação para grande parte do território mineiro está entre 25 a 30%. Isso quer dizer que pode–se esperar grande frequência de totais anuais de chuva entre mais um e menos um quarto da média. Têm ocorrido anos consecutivos com valores sazonais ou anuais inferiores às medias. Ao mesmo tempo em que as chuvas tornam-se mais escassas e a nebulosidade mais reduzida, sobretudo na primavera ou verão, a radiação solar torna-se mais intensa, e as temperaturas mais elevadas provocando intenso processo de evaporação em uma situação de deficiência hídrica. Fenômeno inverso pode ocorrer: chuvas concentradas, em poucos dias com cheias e enchentes calamitosas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.18 II.2.4.4 - Clima Tropical: Síntese Climática de Governador Valadares O verão, conforme pode-se ver nos Gráficos é sempre a estação mais chuvosa, concentrando quase a metade do total anual das chuvas e com maior nebulosidade. A radiação solar na superfície sofre uma relativa redução assim como as médias de horas/dia de insolação efetiva. Por causa do aumento das mínimas diárias, que não descem abaixo dos 20ºC, os dias e as noites são quentes e as amplitudes diárias são as menores do ano. As altas taxas de evapotranspiração e as de evaporação são inferiores as de precipitação, exceto em fevereiro. É provável que a elevada umidade relativa do ar aumente a sensação de desconforto térmico. Outubro é o mês da transição, novembro já é um mês que lembra o verão tropical. A redução das precipitações em fevereiro é responsável pelo aumento da radiação incidente no solo e das temperaturas, e com isso, há um equilíbrio entre entrada e saída de água. Dias ou semanas sem nuvens e sem chuvas, dominados pela MTA, podem ter temperaturas muito elevadas, com máximas absolutas que chegam aos 40ºC. Nessas condições, a elevada umidade relativa do ar consegue, pelo menos, fazer com que a perda de água não seja tão alta como no norte do Estado. No mês de março começa a fase do balanço negativo, que continua até setembro. A partir de abril, as temperaturas diminuem assim como a perda de água pelas superfícies líquidas e pelos solos, mas as precipitações, sobretudo a partir de maio, diminuem mais rapidamente ainda. Daí, um crescente déficit hídrico. O inverno astronômico é então caracterizado por chuvas escassas, aliadas a uma grande variabilidade inter-anual, redução da umidade relativa, mas não tão acentuada como nas demais regiões tropicais e pelas menores médias da temperatura. Como as mínimas caem mais, as noites e as manhãs podem ser agradáveis. A amplitude térmica diária é sempre maior no inverno do que no verão. A insolação efetiva sofre pequena redução. As FPA e as MPA podem gerar tipos de tempo mais frios na região, quando as mínimas absolutas podem descer abaixo dos 10ºC. Os meses de setembro e outubro são marcados pelos aumentos da temperatura, da nebulosidade, da precipitação e acompanhados pela redução da insolação efetiva. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.19 A cidade de Governador Valadares, tem clima quente, mas pouco chuvoso, do tipo C1dA’1ª1’, na classificação de Thornthwaite, isto é, clima sub-úmido seco com pequeno excedente hídrico no verão, primeiro megatérmico. Na tradicional classificação do clima de Köppen, é o clima Aw, tropical típico e na de Gaussen e Bagnouls, é o termoxeroquimênico de caráter médio com seca de inverno. Finalmente, cabe dizer que algumas áreas ultrapassam os 900 ou mesmo 1000m de altitude. É o caso do Pico da Ibituruna. Nessas áreas as encostas e topos têm climas mais amenos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.20 II.2.5 - CLIMA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL Tendo considerado o clima local de Governador Valadares a partir de dados coletados na estação meteorológica instalada segundo as convenções internacionais da OMM, cabem por último algumas reflexões sobre os microclimas do Parque. Relembramos que este abrange uma estreita e alongada faixa retangular de terreno ao longo da margem direita do Rio Doce, quase ao pé do conjunto montanhoso do Pico da Ibituruna. Sua área é reduzida, com cerca de 40 hectares (402.916,66 m²). A orientação do Parque em relação ao Sol e sua distância do Pico fazem com que ele seja insolarado, a maior parte do dia, do inverno ao verão, exceto evidentemente, quando há nuvens, chuvas e nevoeiro. A topografia e a geomorfologia, bem descritas no relatório geológico e geomorfológico, não chegam a criar variações microclimáticas significativas – é o que se pode supor até que se tenha dados coletados via instrumentos. Talvez a umidade relativa nas superfícies planas da margem do rio seja um pouco maior. Os dois morros situados cada um em uma extremidade, arredondados e de pequena altitude não proporcionam variações consideráveis. Enfim, pode–se dizer que as características climáticas descritas acima aplicam-se, nas suas linhas gerais ao ambiente do Parque. A cobertura vegetal, no entanto, a arbórea decídua, ora mais ora menos densa, a arbórea perenifólia da margem do rio, os pastos, as clareiras e os solos nus, certamente criam nuanças térmicas, conforme as condições de tempo meteorológico reinantes. Com tempo nublado ou chuvoso ou com nevoeiro, as diferenças tendem a desaparecer. Em momentos de sol forte, as condições térmicas sob uma vegetação arbórea densa são mais amenas e confortáveis do que nas clareiras e sobre solos desnudos. Em uma região muito quente, de chuvas reduzidas, pronunciada deficiência de água nos solos, submetida a intenso processo erosivo, resultado do desmatamento e pisoteio, a manutenção e regeneração das formações florestais – vocação da Bacia Hidrográfica do Rio Doce – é uma exigência indiscutível. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.21 TABELA II.2.1 - Dados climatológicos da Estação de Governador Valadares JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Ano 79,2 77,6 83,0 73,3 62,4 58,9 68,0 85,5 90,8 86,6 77,2 77,1 919,6 Insolação Total (horas) 191,8 189,9 204,4 182,1 182,3 168,7 172,4 188,1 135,3 118,7 129,9 159,1 2022,7 Insolação relativa (%) 47,0 53,0 54,0 51,0 52,0 50,0 50,0 54,0 37,0 30,0 33,0 38,0 Intensidade do Vento (m.s-1) 1,34 1,23 1,09 0,97 0,82 0,87 1,13 1,31 1,72 1,73 1,63 1,55 1,28 6 6 6 6 5 5 5 5 6 7 7 7 6 Pluviosidade (mm) 167,7 129,2 90,9 57,1 35,0 18,9 14,3 14,5 31,4 124,8 214,7 160,9 1059,3 Temperatura Média das Máximas (°C) 31,8 32,5 32,4 30,2 28,3 27,4 27,3 28,3 28,6 29,4 29,9 30,4 29,7 Temperatura Máxima Absoluta (°C) 40,2 38,0 37,8 37,2 35,8 34,8 35,4 38,0 36,2 38,6 38,4 40,4 40,4 Temperatura Média das Mínimas (°C) 20,7 20,6 20,5 19,1 16,7 15,1 14,8 15,9 17,3 19,2 19,8 20,4 18,3 Temperatura Mínima Absoluta (°C) 12,5 11,7 15,0 9,8 8,6 7,4 6,9 3,3 5,9 9,1 8,4 13,4 3,3 Temperatura Média Compensada (°C) 26,1 26,4 26,3 24,4 22,3 21,1 20,7 22,0 23,2 24,3 24,9 25,4 23,9 Umidade Relativa do Ar Média Compensada (%) 76,7 74,5 73,6 76,6 76,0 76,6 74,7 69,3 70,9 73,6 78,4 78,9 75,0 Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo NE NE Calmo Evaporação Total - Evaporímetro de Piché (mm) Evaporação Potencial - Thorntwaite Nebulosidade (décimos) Direção Predominante do Vento (pontos cardeais e colaterais) Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Componente Zonal do Vento (m.s-1) -0,76 -0,63 -0,45 -0,27 -0,20 -0,21 -0,41 -0,62 -0,95 -0,91 -0,74 -0,68 -0,57 Componente Meridional do Vento (m.s-1) -0,42 -0,37 -0,28 -0,03 -0,03 -0,04 -0,12 -0,41 -0,53 -0,63 -0,62 -0,47 -0,33 40,2 38,0 37,8 37,2 35,8 34,8 35,4 38,0 36,2 38,6 38,4 40,4 40,4 12,5 11,7 15,0 9,8 8,6 7,4 6,9 3,3 5,9 9,1 8,4 13,4 3,3 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG- 2011 E-II.22 II.3 - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG II.3.1 – INTRODUÇÃO O estudo do relevo assume grande importância no processo de ocupação do espaço, incluindo as suas propriedades de suporte ou de fornecedor de recursos. As modalidades de apropriação respondem pela transformação da paisagem e suas consequências (CASSETTI, 1994). É objetivo desse estudo, caracterizar as unidades de relevo onde se localiza o Parque Natural Municipal de Governador Valadares buscando suas relações com os demais fatores ambientais. Na caracterização se faz necessário entender que o relevo terrestre não foi sempre o mesmo e continuará evoluindo. Tanto os fatores endógenos, como os exógenos, são ―forças vivas'', responsáveis em menor ou maior grau pela transformação do relevo. Portanto, a análise geomorfológica de uma determinada área implica obrigatoriamente no conhecimento da evolução que o relevo apresenta ao longo do tempo geológico. Neste sentido, pode-se dizer que as bases para o entendimento do relevo na região leste do Estado de Minas Gerais, onde de localiza o Parque, remontam ao Proterozóico, no inicio da colagem do Supercontinente de Gondwana. Partindo deste princípio, a metodologia empregada buscou, primeiramente, elaborar uma síntese evolutiva da região geotectônica conhecida como Província Estrutural da Mantiqueira (ALMEIDA & HASUI, 1984), visando obter informações que subsidiem o entendimento do modelado atual do relevo da região onde está localizado o Parque. Outro assunto importante para melhor compreensão do relevo é a sua compartimentação em unidades taxonômicas têmporo-espaciais, que têm por princípio a dimensão das formas na perspectiva tridimensional (tamanho, gênese e idade). Neste trabalho serão adotadas as unidades taxonômicas de Ross (1992). Este autor propõe seis níveis para a representação geomorfológica: O 1º táxon (escala < 1:1.000.000); corresponde as ―Unidades Morfoestruturais‖, cuja escala permite a identificação dos efeitos da estrutura no relevo. Este táxon organiza o relevo em grandes arranjos morfoestruturais. Nesta escala de análise, será abordada a evolução geotectônica do Orógeno Araçuaí. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.23 O 2º táxon (escala 1:1.000.000 a 1:100.000); refere-se às ―Unidades Morfoesculturais‖ Refere-se a compartimentos que foram gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico. Incluemse neste táxon as Unidades Morfoesculturais dos Planaltos Dissecados do Leste de Minas e a Depressão Interplanáltica do Rio Doce (IGA, 1977) O 3º táxon (escala 1:1.000.000 a 1:150.000); representa as ―Unidades Morfológicas ou Padrões de Formas Semelhantes‖, que encontram-se contidas nas Unidades Morfoesculturais. Trata-se de compartimentos diferenciados em uma mesma unidade, relacionados a processos morfoclimáticos específicos, com importante participação dos eventos tectônicos ou diferenciações litoestratigráficas. Incluem nesta categoria as Zonas de Colinas, Crista e Pontões da Unidade Planaltos Dissecados do Leste de Minas Gerais. O 4º táxon (escala 1:25.000 a 1:10.000), refere-se às formas de relevo individualizadas na unidade de padrão de formas semelhantes. Estas formas, quanto à gênese, podem ser: de acumulação, como as planícies fluviais do Rio Doce, ou de dissecação como colinas, e cristas. O 5º táxon (escala 1:10.000 a 1:5.000); refere-se às partes das vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do relevo. ―As vertentes de cada tipologia de forma são geneticamente distintas, e cada um dos setores dessas vertentes pode apresentar características geométricas, genéticas e dinâmicas diferentes‖ Neste nível de análise pode-se inserir a Vertente noroeste do Pico da Ibituruna, onde está localizado o Parque. O 6º táxon (escala > 1:5.000); ―corresponde às pequenas formas de relevo que se desenvolvem por interferência antrópica direta ou indireta ao longo das vertentes. São formas geradas pelos processos erosivos atuais como ravinas, voçorocas, assoreamentos, dentre outros. Os estudos geomorfológicos da área do Parque, abordando o 5º e o 6º táxon, foram realizados através de interpretação de imagem de satélite (Quickbird, com resolução espacial de 0,60 metros), da análise e processamento em sistema de informações geográficas doe modelo digital de terreno adotado, através do qual foram produzidos planos de informação referentes à hipsometria e declividade. O modelo foi obtido através da interpolação de curvas de nível extraídas de base cartográfica na escala 1:2.000 (PMGV, 2000). Posteriormente, dados complementares foram obtidos através de pesquisa de campo na área do Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.24 II.3.2 – GEOLOGIA II.3.2.1 – Evolução Geotectônica A região na qual se insere o Parque Natural Municipal de Governador Valadares, em termos geotectônicos, encontra-se inserida na porção Setentrional da Província Estrutural da Mantiqueira (ALMEIDA & HASUI 1984). Esta porção da província também é conhecida como Orógeno Araçuaí ou Faixa Móvel Araçuaí. (Figura II.3.1) O orógeno no contexto da Teoria da Tectônica de Placas é produto das forças compressivas (convergentes) das placas litosféricas resultando no acréscimo ou colisão. O acréscimo representa uma adição de magma ou sedimento na margem da placa, já os orógenos colisionais resultam na convergência (colisão) de continente com continente. Este processo pode promover o encurtamento e deformação compressiva da crosta, além metamorfismo e fusão parcial de rochas. As colisões podem gerar a colagem (aglutinação) de massas continentais, como é o caso recente do Himalaia, resultante da convergência entre a placa da Índia e Asiática. O longo período orogenético neoproterozóico (1 Ga – 540 Ma), denominado de Ciclo Brasiliano (BRITO-NEVES et al., 1999) foi responsável pela estruturação do embasamento da Plataforma SulAmericana e pela aglutinação do Supercontinente de Gondwana Ocidental. (Figura II.3.1) FIGURA II.3.1 – Reconstituição da colagem do Gondwana mostrando a distribuição dos orógenos brasilianos pan-africanos e os principais crátons associados há ca. 560 Ma. A – Orógeno Araçuaí. Fonte: modificado de Grunow et al. 1996, apud Vieira 2007 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.25 A evolução orogenética da Faixa Araçuaí iniciou-se no proterozóico com o desaparecimento dos oceanos Goianides e Adamastor, situados a oeste e a leste do paleocontinente São Francisco (Cráton). Processos de subducção geraram suítes de arcos magmáticos e colisões arco-continente e continente-continente. No cambriano ao Ordovinciano (510-480 Ma) deu-se o colapso tectônico do orógeno Araçuaí. (HEIBRON et al, 2004). No final do Triássico (200 Ma) ocorre a fragmentação do Supercontinente Pangea. Na área abordada, a fragmentação é marcada pela abertura do oceano Atlântico, separando os atuais continentes Sul Americano e Africano. (Figuras II.3.2 e II.3.3) Modelo evolutivo proposto por Pedrosa-Soares & Noce (1998), Pedrosa- Soares & WiedemannLeonardos (2000) e Pedrosa-Soares et al. (2001) para a evolução do Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental. A partir do estágio de rifte continental (1), o segmento sul da bacia precursora experimentaria espalhamento de litosfera oceânica (2) e, posteriormente, sofreria subducção no sentido do Cráton do Congo (3), induzindo a geração do arco magmático (G1). A etapa 4 ilustra o estágio sincolisional. GV – Governador Valadares (localização aproximada). FIGURA II.3.2 - Representação esquemática do processo de formação do Orógeno Araçuaí (1Ga – 450 Ma). Na etapa 4 pode se observar a geração dos corpos de granitos (G1 e G2) e falhamentos na atual região do município. de Governador Valadares. Fonte: Extraído e modificado de Vieira, 2007 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.26 FIGURA II.3.3 – Representação esquemática da fragmentação do Supercontinente de Pangea, no final do Triássico (200 Ma). Fonte: modificado de Vieira, 2007 Alkmim et al. (2006) apresentaram uma subdivisão em domínios estruturais para todo o Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental (Figura II.3.4 ). Será dada ênfase nas grandes unidades litoestratigráficas do domínio sete (7), pois é nele que se encontra inserido o Parque. Domínios estruturais do Orógeno Araçuaí – Congo Ocidental. As setas indicam o transporte tectônico do estágio sincolisional. 1. Faixa de dobramentos e empurrões; 2. Saliência do Rio Pardo; 3. Zona transcorrente de Itapebi; 4. Zona de colapso Chapada Acauã; 5. Corredor transpressivo de Minas Novas; 6. Bloco de embasamento Guanhães; 7. Zona interna de alto grau metamórfico; 8. Faixa Congo Ocidental. FIGURA II.3.4. Domínios estruturais do Orógeno Araçuaí – Congo Ocidental. Fonte: modificado de Alkmim et al., 2006 apud Vieira, 2007 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.27 Esta Zona apresenta um alto grau de metamorfismo, em especial nas rochas graníticas e feixe de falhas de cissalhamento com orientação preferencial SW/NE. Na região de Governador Valadares, CPRM (2001) identificou um conjunto de falhas de empurrão (ciclo brasiliano) com mergulho para leste (ver perfil Figura II.3.5), que representa uma grande zona de cisalhamento. Estas falhas de empurrão apresentam o movimento de massas indicando um cavalgamento no sentido do litoral para a área do Cráton do São Francisco (Figura II.3.3, bloco 4). O Pico da Ibituruna tem na base o Tonalito Derribadinha da Suite G1 (pré-colisional) e, no ponto culminante, um corpo granítico foliado da Suíte G2, gerando durante a fase de colisão entre os continentes de Gondwana Ocidental e Oriental (fase sincolisional). O Tonalito Derribadinha (Suíte Galiléia) está gnaissificado, com veios aplíticos centimétricos discordantes e dobrados. A foliação apresenta dobras vergentes para oeste (SILVA et al., 2009). FIGURA II.3.5 - Mapa geológico da Zona Intensa de alto grau metamórfico (ALKMIM et al., 2006) e perfil geológico segmento A-A1, com corte na região do Parque. Fonte: modificado de Silva et al., 2009 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.28 Barbosa & Kohler (1981), Saadi (1991) e Suguio & Kohler (1992) observaram indicadores de reativações tectônicas (neotectônica) no médio vale do Rio Doce, durante o Cenozóico, responsáveis pela formação de um possível vale tectônico (rifte) na região. Estas reativações provavelmente ocorreram ao longo das falhas geradas durante a formação do Orógeno Araçuaí. Dentre estes indicadores destacam-se: os alinhamentos dos lagos na região do Parque estadual do Rio Doce; formatos retilíneos de suas margens; existência de paleovales preenchidos; e presença de direções de lagos associadas a migrações fluviais abruptas. Segundo Sarges (2002) os registros encontrados nos sedimentos permitiram diferenciar duas fases de reativação tectônica. Uma fase de transcorrência dextral E-W, atuante a partir do final do Pleistoceno, relacionada às estruturações NW-SE da rede de drenagem e ao entulhamento de vales, associado ao desenvolvimento de rampas de alúvio-colúvio e terraços de acumulação. A segunda fase corresponde ao regime extensional NW-SE, implantado no Holoceno médio, que exerceu um forte condicionamento estrutural nos canais fluviais, imprimindo rearranjos na rede de drenagem. Para Suguio & Kohler (1992), a evolução dos lagos quaternários do Parque Estadual do Rio Doceteria estreita relação com as mudanças paleoclimáticas e/ou neotectônica. É neste contexto, marcado por movimentações tectônicas e alternâncias paleoclimáticas, que se estruturaram unidades litoestratigráficas do município de Governador Valadares e região. II.3.2.2 – Unidades litoestratigráficas na região do Parque A seguir, é feita uma descrição das grandes unidades litoestratigráficas do domínio ―Zona interna de Alto Grau Metamórfico‖ na região do Parque, com base em informações obtidas no Plano Integrado de Recursos Hídrico da Bacia do Rio Doce (Consórcio ECOPLAN-LUME, 2010) e nos trabalhos desenvolvidos pelo Projeto Leste (CPRM, 2000). (Figura II.3.6) II.3.2.2.1 - Unidades Arqueanas/Paleoproterozóicas Complexo Mantiqueira – Amt: Constitui-se essencialmente de Hornblenda-biotita gnaisse cinza bandado e migmatítico, localmente muito feldspático. Lentes de rocha calcissilicática e boudins de anfibolito. Intercalações de mica xisto e de quartzito grosso protomilonítico a milonítico PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.29 II.3.2.2.2 - Unidades Neoproterozóicas O Neoproterozóico é marcado por um período de sedimentação e geração da crosta continental, definido como coberturas plataformais. Está unidade é marcada por uma sequencia de xistos, quartzitos, mármores, gnaisses parcialmente migmatizados e metamorfisados na fácies anfibolito. Granitos Sin a Tardicolisionais Granito Baixa do Bugre - Nbb: (horblenda) – biotita granito cinza, fino a grosso, localmente profiroblástico, foliado a discretamente gnaissificado, com xenólito de biotitaanfibolito xisto. Suite Intrusiva Galiléia Tonalito galiléia – Ng: horblenda-biotita, tonalito com anallita, isotrópico a gnáissico, caracteristicamente com abundância de autólitos máficos. Tonalito São Vitor - Nsv: horblenda-biotita, tonalito com allanita, isotrópico a gnassóide. Abundantes enclaves de xisto aluminosos de rocha calcissilicática. Grantos Pré a Sincolisionais Tonalito Derribadinha: Os Granitóides Pré-Colisionais são descritos como granitóides foliados a gnáissicos, dominantemente metaluminosos, calcialcalinos. Englobam os processos relacionados à edificação do arco magmático calcialcalino. São constituídos, predominantemente, por tonalitos e granodioritos com diorito subordinado e freqüentes enclaves máficos. Grupo Rio Doce– NPrd: corresponde a uma mega-sequência dominantemente psamo-pelítica, sem termos conglomeráticos, e vulcânicos de idade proterozóica que se estendem da região de Governador Valadares até as imediações de Teófilo Otoni (PEDROSA-SOARES et al.; 1994). Segundo Vieira et al. (2006) suas formações descritas da base para o topo, são as seguintes: Formação Tumiritinga - Nt: evidenciado pelas estruturas migmáticas, formando agmatitos e migmatitos de injeção. Através das intercalações de micaxisto e quartzito, é possível reconhecer a estratificação original dos gnaisses Formação São Tomé - Nst: é constituída de biotita muscovita xisto (transacionando paragnaisses xistosos), formando um importante pacote. Contem grandes filões de quartzo e notáveis corpos pegmatíticos de importância econômica. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.30 II.3.2.2.3 - Unidades Fanerozóicas a) Unidades paleozóicas Granitóides Pós-Colisionais (granito Ibituruna): granito fino a médio, cinza, localmente porfirítico. b) Unidades cenozóicas Depósitos Aluvionares – QHa: são compostos por areias, cascalhos, siltes argilas e termos mistos, com ou sem contribuição orgânica, depositados em ambiente fluvial ao longo de calhas, planícies de inundação e terraços. Terraço Aluvial – QHt: composto de níveis de areia grossa até fina com níveis lenticulares de seixos arredondados. Níveis delgados de argila e silte. FIGURA II.3.6 – Mapa geológico da área de entorno do Parque Natural Municipal de Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.31 Na área do Parque, afloram rochas do Complexo Mantiqueira, compostas por gnaisse milonito e gnaisses migmatizados (fase pré-colisonal), diques de quartzo e diques máficos (Figura II.3.6 e Fotos II.3.1, II.3.2 e II.3.3). A presença de migmatização e as estruturas verticalizadas (diques de quartzo e anfibolitos) indicam que a região sofreu um alto grau de metamorfismo, conforme descrito anteriormente. FOTO II.3.1 – Afloramento de gnaisse migmatizado – Morro do Urubu (Limite NNW do Parque). As porções claras e escuras mostram a fusão parcial da rocha. São evidências de metamorfismo onde a temperatura e a pressão são altas, suficiente para fundir os minerais de temperatura de fusão mais baixa (que são os claros) e não os de temperatura de fusão mais alta (que são os escuros). Os minerais fundidos migram e se cristalizam de novo formando porções mais claras na rocha. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.32 FOTO II.3.2 – Rocha gnáissica, com dique de anfibolito (estrutura paralela ao martelo). Observe que o dique de anfibolito é cortado por um dique de quartzo (estrutura branca, perpendicular ao martelo), indicando fases diferentes de ativação tectônica. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental FOTO II.3.3 – Rocha gnáissica (cor cinza), cortada por um dique de quartzo (estrutura de cor branca, paralela ao martelo). Indícios de zona de cisalhamento. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.33 II.3.3 – RELEVO O relevo atual do médio vale do Rio Doce, região onde está inserido o Parque Natural Municipal de Governador Valadares, é produto da interação de processos de dissecação Fluvial e acumulação, condicionados pela ação do clima e/ou reativação tectônica cenozóica sobre estruturas litológicas do Orógeno Araçuaí, de idade Pré-cambriana. Ora a hidrografia se adapta à estrutura, ora se impõem à mesma. Para Strauch (1954) a erosão, ao afetar estruturas litoestatigráficas tão diferentes, deu origem a relevos bastante diversos que podem ser agrupados em grandes unidades geomorfológicas. Foram identificadas pelo menos duas fases de dissecação fluvial na bacia do Rio Doce: a primeira no Plio-pleistoceno e a segunda no Quaternário superior (Consórcio Ecoplan-Lume, 2010). Durante o Plioceno, sob condições climáticas úmidas, as drenagens do Rio Doce e de seus afluentes promoveram a dissecação dos planaltos e o aprofundamento dos vales, dando origem à depressão interplanáltica do Rio Doce (Projeto RADAR Minas Gerais, 1977). Posteriormente, durante o pleistoceno, sob condições de clima semi-árido, ocorreu entulhamento e alargamento dos vales, formando extensas superfícies de aplainamento (pediplanos). A primeira grande compartimentação do relevo foi elaborada por STRAUCH em 1954, que dividiu a Bacia em seis unidades geomorfológicas, denominadas de: planície litorânea; tabuleiros; serras litorâneas, médio e baixo rio Doce; zona dos maciços elevados dos rios Caratinga e Manhuaçu; planalto deprimido central; zona ondulada do norte; e zona da Mantiqueira e Espinhaço. O Instituto de Geociências Aplicas (IGA), através do Projeto ―RADAR Minas Gerais (1977)‖, identificou quatro unidades geomorfológicas para a área da Bacia situada dentro do Estado de Minas Gerais: Planaltos Dissecados do Leste de Minas, Depressão Interplanáltica do Rio Doce, Serra Patamares e Escarpas do Espinhaço, Quadrilátero Ferrífero. No município de Governador Valadares e em especial, na área de entorno do Parque, aparecem as duas primeiras unidades citadas acima. (Figura II.3.7) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.34 FIGURA II.3.7 - Hipsometria e Unidades Geomorfológicas da área de entorno do Parque Natural Municipal de Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.35 A unidade geomorfológica dos Planaltos Dissecados do Leste de Minas, a mais extensa da Bacia do Rio Doce, é caracterizada por zonas de colinas, cristas e pontões. As colinas que ocupam grande parte da unidade representam um conjunto de formas de relevo evoluídas por processos de dissecação fluvial, em estruturas predominantemente constituídas por rochas graníticas e gnáissicas. Apresentam topos convexos com altitude média em torno de 850 metros, com vales encaixados e vertentes ravinadas. As cristas com altitudes médias em torno de 1.100 metros ocupam a porção oeste da bacia, próximo às encostas da Serra do espinhaço e Quadrilátero Ferrífero, região onde se localizam as principais nascentes do rio Doce. São em sua maioria elaboradas em quartzitos e itabiritos. A Zona de Pontões, presente na porção leste da unidade, é caracterizada por elevações rochosas de topos arredondados e vertentes abruptas, desenvolvidas a partir de esfoliações dos granitóides sin e pós-colisionais. Nas proximidades do Parque unidade representada pelo Pico da Ibituruna, temos um relevo de crista, semelhante a uma estrutura monoclinall (inclinada numa direção), apresentado o front (face NW) abrupto e o reverso (face SE) com um desnível menos acentuado. O front é marcado, da média vertente (400 metros de altitude) até o topo (1123 metros de altitude), pela presença de uma escarpa em extrema verticalidade (free-face). O perfil vertical da parte superior da vertente free-face é substituído, da média vertente até a base – a 151 metros de altitude - por rampas de colúvios pedogenizados provenientes de montante que atenuam a declividade em aproximadamente 30 º. (ver perfil da Figura II.3.7 e Foto II.3.4) A origem do Pico da Ibituruna pode estar associada às falhas de empurrão oriundas do ciclo brasiliano, responsáveis pelo cavalgamento das estruturas no sentido leste-oeste, conforme discutido anteriormente (Figura II.3.5). A unidade da Depressão Interplanáltica do Rio Doce constitui-se numa zona rebaixada com altitudes variando entre 250 e 500 metros. A origem da depressão esta condicionada não somente a processos de dissecação fluvial, mas principalmente ao rifite do Rio Doce. A reativação tectônica cenozóica, formando um rifte com direção N-S pode ter contribuído para a formação da depressão interplanáltica do Rio Doce, com seus amplos vales entulhados de sedimentos. (BARBOSA & KOHLER,1981, SAADI, 1991 e SUGUIO & KOHLER, 1992). Percebe-se uma morfologia vinculada ao controle estrutural com o Rio Doce encaixando na direção SSW/NNE acompanhando os alinhamentos estruturais de mesma direção. (Figura II.3.5) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.36 Durante o quaternário superior, sob condições climáticas úmidas, uma nova etapa de dissecação das superfícies aplainadas pleistocênicas foi responsável pelo entalhamento dos cursos de água e recuo das cabeceiras de drenagem. O relevo é constituído de colinas com interflúvios tabulares e vales de fundo chato (colmatados), situados ao longo da calha do Rio Doce e de seus principais afluentes. As rampas de colúvio e cones aluviais são formas que ocorrem com frequência nesta unidade. (Foto II.3.5) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.37 FOTO II.3.4 – Vista do Pico da Ibituruna a partir do Morro do Urubu. 1: Reverso; 2a: Front (Free face); 2b: Front (rampa de colúvio). Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental FOTO II.3.5 – Vista da Depressão Interplanáltica do Rio Doce(3). Em primeiro plano Front do Pico da Ibituruna (1: Free-face, 2: rampa de colúvio). A área do Parque aparece em tracejado. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.38 II.3.3.1 - Unidades Geomorfológicas do Parque Natural de Governador Valadares. O modelado do relevo do Parque, desenvolvido sobre rochas graníticas e gnáissicas do Complexo Mantiqueira, localiza na baixa vertente da face NW do Pico da Ibituruna, margem direita do Rio Doce. Considerando que processos tectônicos e climáticos interagem para produzir as formas de relevo da superfície terrestre, pode-se afirmar que o relevo em estudo foi modelado pelos processos de denudação, atuantes no presente e no passado, representando uma conexão dinâmica entre o interflúvio (Pico da Ibituruna) e o fundo de vale (Rio Doce). (DYLIK, 1968 apud CHRISTOFOLETTI, 2000) A vertente, esquematicamente, pode ser entendida como uma rampa que se estende do interflúvio ao canal fluvial, onde ocorrem ganhos e perdas de energia e matéria, como em todo sistema aberto. Os vários processos que se verificam nas vertentes - intemperismo, infiltração, escoamento superficial, movimento de massa entre outros - fazem com que haja fluxo de matéria e energia através do sistema e conseqüente transferência para o sistema fluvial. Partindo deste princípio, as vertentes e os rios não podem ser abordados de maneira separada, pois estão em constante interação. Para fins de análise, o modelado do relevo do Parque foi compartimentado em três unidades geomorfológicas principais denominadas: Unidade 1(Superfície aplainada), Unidade 2 (Colinas) e Unidade 3 (Planície Fluvial). (Figura II.3.8 ) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.39 FIGURA II.3.8 – Unidades Geomorfológicas do Parque Natural Municipal de Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.40 A Unidade 1 é caracterizada por um relevo plano a suave, com dissecação muito baixa. Ocupa a porção central da unidade de conservação, representando 44% da área total. Apresenta uma altitude média de 160 a 170 metros, e declividade que não ultrapassa os 5o. (Foto II.3.6) FOTO II.3.6 – Em primeiro plano, relevo de topografia suave da Unidade 1, contrastando com o relevo escarpado do Pico da Ibituruna ao fundo. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental A sua superfície de modelado suave, entre duas elevações (unidade 2), sugere que representa a base de uma das inúmeras rampas de colúvio que descem as vertentes da face NW do Pico da Ibituruna, conforme pode ser observado no modelo digital de elevação da área (Figura II.3.9) e na Foto II.3.5. A ocorrência de calhaus e matacões arredondados em perfil localizado no limite leste do parque, na base da encosta do Ibituruna, também sugerem grande transporte de material de montante. Segundo MÉISS (1977) as rampas de colúvio e cones aluviais são formas que ocorrem com frequência na Depressão Interplanáltica do Rio Doce. As rampas de colúvio mais recentes podem estar interligadas aos terraços holocênicos, cujos depósitos se acham interdigitados com os sedimentos coluviais. Este evento pode ter ocorrido no Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.41 FIGURA II.3.9 – Modelo digital de Elevação e Classes de Declividade do Parque Natural Municipal de Governador Valadares. Fonte: Dados da pesquisa: PMGV PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.42 Os solos estudados apresentaram feições similares às dos Cambissolos, indicadas pela presença de muitos minerais primários na fração grosseira e de fragmentos de rocha semi-intemperizada ao longo do perfil, com pouca diferenciação entre os horizontes. São solos pouco desenvolvidos, bem drenados, pouco profundo a profundo, apresentando sequência de horizontes A, (B) e C, caracterizando- se pela presença de um horizonte B incipiente. (Foto II.3.7) FOTO II.3.7 – Perfil de um cambissolo. Horizontes: A, B, C. Rocha (R). Observar o horizonte B incipiente. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.43 A Unidade 2, abrangendo 27 % da área do parque, ocupa a extremidade SSE e NW do parque. É caracterizada por um relevo de colinas com topos convexos e vertentes íngremes, com inclinações que ultrapassam os 25o e altitudes em entre 155 e 188 m, dando ao relevo uma característica de forte ondulado. (Foto II.3.8) FOTO II.3.8 - Unidade 2: Colinas elaboradas em rochas gnáissicas. Destaque para a ―mata seca‖, que se desenvolvem sobre o neossolo litólico. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental Predominam Neossolos litólicos nos topos e na alta vertente. Em direção à base aparecem os cambissolos pouco profundos. Estes solos são interrompidos por afloramentos rochosos (Foto II.3.9). O Neossolo Litólico reúne solos pouco desenvolvidos, com horizonte A moderado e proeminente, assentado diretamente sobre a rocha, com profundidade, inferior a 50 cm, com seqüência de horizontes A-C-R, A-R, conforme definido pelo SiBCS (EMBRAPA, 2006). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.44 FOTO II.3.9 – Perfil de um neossolo litólico. Horizontes: A e C. Rocha (R). Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental Além da baixa capacidade de armazenamento de água, tais solos apresentam, ainda, limitações físicas ao crescimento do sistema radicular das plantas, contribuindo assim para intensificar ainda mais o efeito do estresse hídrico. Entretanto observa-se a presença de uma vegetação de porte arbóreo (Mata seca), extremamente adaptada a estas limitações hídricas e de solo. As presenças de fraturas nas rochas contribuem para o desenvolvimento radicular da Mata seca. (Foto II.3.10) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.45 FOTO II.3.10 – Detalhe de uma raiz acompanhando os planos de fratura das rochas. Estas zonas de fraqueza favorecem o enraizamento da vegetação arbórea. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental Estudos realizados por Ribeiro (2010) registram um longo período de retirada de água do solo e deficiência hídrica, de março a setembro/outubro quando se tem o início de reposição das reservas hídricas no solo. O excedente começa a aparecer em dezembro e janeiro. Os cambissolos desta unidade apresentam um horizonte B, ainda menos profundo do que os encontrados na Unidade 1. Estes solos podem ser classificados como Cambissolo distrófico típico, A moderado, textura média, fase pedregosa e rochosa, mata caducifólia, relevo forte ondulado, substrato gnaisse. A declividade acentuada teve grande influência na formação e evolução desse solo. A Unidade 3 corresponde a trechos da Planície de inundação da margem direita do Rio Doce. Abrange 29% da total do Parque. O relevo plano, com declividade média em torno de 2o, favorece o processo de acumulação fluvial. (Foto II.3.11). Aparecem os neossolos flúvicos, mal drenados. Esses solos são originados de sedimentos do Holoceno. Na área, possuem textura areno-argilosa até muito argilosa. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.46 Do nível do rio até a cota altimétrica de 154 metros, encontra-se um solo saturado em água, apresentando considerável hidromorfia. Ocorre aí uma grande sedimentação fluvial, durante as cheias sazonais do rio. A outra porção da unidade, da cota altimétrica de 154 a 157, apresenta um solo neossolo flúvico com baixa hidromorfia. As cheias nesta porção não são freqüentes, sendo significativa a deposição de sedimentos oriundos das unidades 1 e 2. FOTO II.3.11 – Unidade 3. Vista da planície de inundação do Rio Doce (CPRM, 2004). Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.47 II.3.4 - HIDROGRAFIA A hidrografia regional é comandada pelo Rio Doce e por seus principais afluentes: da margem esquerda, o Suaçui-Grande, a leste e o Tronqueiras, a oeste da cidade de Governador Valadares; da margem direita, o Traíras. O Parque Natural Municipal de Governador Valadares está localizado à margem direita do Rio Doce, entre o rio e o Pico da Ibituruna. A área do Parque é drenada também por dois cursos de água intermitentes, conforme pode ser observado na Figura II.3.10. O Rio Doce, do alto curso até o médio curso, próximo a cidade de Governador Valadares, corre encaixando na direção SSW/NNE acompanhando os alinhamentos estruturais de mesma direção. A partir de Governador Valadares, nas proximidades do Parque, ocorre uma inflexão do rio que passa a correr na direção NNW/SSE até a cidade de Aimorés. Deste ponto até desaguar no Oceano Atlântico, o rio assume uma direção preferencial W/E. Sugere-se que a origem das inflexões no Rio Doce, assim como seu leito rochoso com corredeiras e várias ilhas na altura do Parque, pode ter sua gênese ligada tanto ao controle litológico, quanto ao controle estrutural (Figura II.3.5). O Rio Doce transporta uma grande quantidade de sedimentos, formando em ambas as margens, terraços e várzeas, de topografia horizontal. Muitas das vezes, estes sedimentos são depositados em seu próprio leito formando banco de areias. Esta dinâmica faz com que á região seja alvo de inundações periódicas. As enchentes na cidade de Governador Valadares ocorrem no período chuvoso, que começa em outubro e termina em março, e são registradas mais freqüentemente de dezembro a fevereiro. (CPRM, 2004). CPRM (2004) identificou e subdividiu a planície de inundação do Rio Doce, de acordo com o tempo de retorno das cheias. Na área do Parque os terrenos situados até a cota 154 metros de altitude, apresentam inundações mais freqüentes, com período de retorno variando entre 2 e 5 anos. No trecho subseqüente, até a cota de 157 metro, as inundações são menos freqüentes, apresentado um período de retorno superior a ou igual a 10 anos. (Figura II.3.11). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.48 O Parque não apresenta nenhum curso de água permanente, excetuando o Rio Doce. Entretanto, uma atenção deve ser dada ao córrego intermitente que drena a área no sento SE/NW, na zona de contato entre as unidades geomorfológicas 1 e 2. O leito encaixado e a grande quantidade de matacões são testemunhas da velocidade adquirida pelo escoamento superficial que desce por esta porção da vertente, durante o período chuvoso. Observa-se aí um exemplo trabalho da dissecação fluvial, responsável pelo reentalhamento das superfícies aplainadas. (Foto II.3.12) A) B) FOTO II.3.12 - Canal de drenagem intermitente que corta o Parque no Sentido SE/NW. A) trecho do canal próximo a entrada do parque (SE), com presença de pequeno fluxo de água no leito de vazante. B) canal próximo a foz, totalmente seco. Observar o diâmetro dos sedimentos transportados pelo fluxo durante os períodos chuvosos. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.49 As águas constituem os agentes mais importantes do transporte de fluxos de energia e matéria das áreas mais elevadas para as mais baixas. Vertentes, topos e fundo de vales, canais perenes e intermitentes, estão interligados como componentes dos sistemas de drenagem e qualquer interferência ao longo dos canais, repercute de maneira direta ou indireta em toda bacia de drenagem. Neste contexto, alterações no uso da terra, na bacia de captação dos dois cursos intermitentes que drenam em direção ao parque, podem trazer consequências danosas a esta unidade de conservação como: aumento do fluxo de água durante o período chuvoso, assoreamento próximo a foz e contaminação da água. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.50 FIGURA II.3.10 – Rede Hidrográfica do Parque Natural Municipal de Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.51 FIGURA II.3.11 – Áreas Inundadas para Diferentes Períodos de retorno, Segundo CPRM (2004). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.52 II.3.5 - SUSCETIBILIDADE EROSIVA O termo suscetibilidade erosiva pode ser definido como a predisposição natural de um relevo a erosão. A suscetibilidade é resultante de um conjunto de fatores como características da chuva, a topografia, litologia, declividade e tipos de solos. Outros termos podem ser inseridos nesta análise. Em função ao tamanho da unidade de conservação pode-se dizer que a pluviosidade exerce a mesma influência em todas as três unidades geomorfológicas mapeadas. A geologia também não apresentou variações significativas. Sendo assim, os fatores que mais contribuem para a susceptibilidade erosiva são: declividade, topografia e tipo de solo. Para Tricart (1977), quanto maior o índice de dissecação do relevo que classifica um compartimento, maior potencial ele tem à instabilidade morfodinâmica. A unidade 2 é a área que apresenta maior fragilidade ambiental, podendo ser classificada como muito forte. A alta declividade associada a amplitude do relevo, favorecem o processo de dissecação fluvial. (Foto II.3.13). A) B) A) início de erosão em ravina, devido a concentração do escoamento na margem da estrada; B) detalhe da forma erosiva. Observe a espessura do cambissolo na parede da erosão. C) Fragilidade do cambissolo. A matéria orgânica presente no horizonte A, oferece resistência a remoção. A fraca coesão dos agregados nos horizonte B e C favorecem a remoção. C) FOTO II.3.13 – Exemplos de processos erosivos presentes na unidade 2. Fonte: Alternativa Educação e Manejo ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.53 A presença dos solos pouco desenvolvidos (Neossolo litólico e cambissolo). Por apresentarem horizontes com baixa coesão entre os agregados, estes solos são facilmente removidos, quando localizados em relevos com topografia mais íngreme, como ocorre na unidade 2. Fatores como abertura de estradas, retirada da cobertura vegetal favorecem a concentração do escoamento superficial, originado erosões em sulcos e ravinas. (Fotos II.3.11). Na Unidade 1, a baixa declividade, associada à presença de um cambissolo apresentando um horizonte B mais profundo que o da Unidade 2, favoreceu as atividades agro-pastoris. Apesar de ser a é a mais antropizada do Parque, a declividade suave, responde por uma baixa dissecação. Predomina erosão laminar. O grau de fragilidade pode ser considerado fraco para a área central da Unidade. O contato com as unidades 3 (porção W) e 2 (porção SSW) que ocorre a partir de rupturas de desnível, confere um grau de fragilidade forte a esta região. Na Unidade 3, o relevo plano e a baixa altitude, conferem um grau de fragilidade muito fraca a dissecação. Entretanto, esta unidade esta sujeita a inundações periódicas. A CPRM (2004), no âmbito do Projeto para identificação da Planície de Inundação do Rio Doce, recomenda os seguintes usos e ocupação para a planície de inundação do Rio Doce: Nas áreas mais freqüentemente inundadas (período de retorno menor do que 10 anos) a ocupação seja por áreas públicas de lazer, do tipo parques, praças, etc.; Nas áreas menos freqüentemente inundadas (período de retorno entre 10 e 100 anos) sejam ocupadas por edificações que os prejuízos quanto à inundação não sejam significativos; As áreas raramente inundadas (período de retorno maior do que 100 anos) sejam ocupadas por residências e estabelecimentos comerciais de um modo geral. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.54 II.3.6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O modelado do relevo do Parque, desenvolvido sobre rochas graníticas e gnáissicas do Complexo Mantiqueira, localizado na baixa vertente da face NW do Pico da Ibituruna, margem direita do Rio Doce, é produto da interação de processos de dissecação Fluvial e acumulação, condicionados pela ação do clima e reativação tectônica cenozóica sobre estruturas litológicas do Orógeno Araçuaí, de idade Pré-cambriana. Os estudos realizados sugerem que o Parque apresenta grande parte de seu relevo, elaborado em uma rampa de colúvio que desce a vertente NW do Pico da Ibituruna, cujos depósitos se acham interdigitados com os sedimentos aluviais na base. Esta rampa favorece o escoamento superficial difuso e/ou concentrado, do topo do Pico da Ibituruna em direção ao leito do Rio Doce. Este escoamento tende a se intensificar quando é retirada a cobertura vegetal. Os solos apresentaram feições similares às dos Cambissolos, indicadas pela presença de muitos minerais primários na fração grosseira e de fragmentos de rocha pouco intemperizada ao longo do perfil, com pouca diferenciação entre os horizontes. São solos pouco desenvolvidos, bem drenados, caracterizando- se por um horizonte B incipiente. A presença destes solos atesta uma relativa juventude do relevo. Conclui-se neste estudo que as características do modelado do relevo e a presença de solos do tipo cambissolos, oferecem uma vulnerabilidade natural ou induzida à erosão das vertentes do Parque e entorno. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.55 II.4 - ESTUDO DA FLORA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES – MG II.4.1 - INTRODUÇÃO A Floresta Estacional Semidecidual, também chamada de Floresta Estacional Semicaducifólia, é uma das fisionomias da Mata Atlântica, especialmente nas regiões a oeste da Serra do Mar, com áreas expressivas nos estados de São Paulo, Mato Grosso de Sul, Minas Gerais, Paraná e manchas menores em outros estados, sobretudo margeando os rios, chegando a países vizinhos, tais como Paraguai e Argentina. O conceito ecológico deste tipo de vegetação está condicionado pela sazonalidade climática: uma tropical, com época de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens acentuadas; e outra subtropical, sem período seco, mas com seca fisiológica provocada pelo intenso frio de inverno, com temperaturas médias inferiores a 15°C. Originalmente eram amplamente distribuídas no estado de Minas Gerais em áreas com regime de precipitação sazonal no Domínio da Mata Atlântica. No Domínio Cerrado, ocorrem ainda na forma de encraves e florestas associadas a corpos d’água permanentes e intermitentes. Segundo dados do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais - IEF e da Universidade Federal de Lavras/MG - UFLA, em estudo de 2005, 33,8% do território de Minas Gerais ainda apresentavam cobertura vegetal original. A Mata Atlântica ainda mantêm cerca de 10,33 % de sua cobertura vegetal sendo, desse percentual, aproximadamente 8,90 % correspondendo a Floresta Estacional Semidecidual. A característica mais marcante desse tipo florestal é a presença de espécies vegetais que, em sua grande maioria, perdem as folhas no período da estação seca em resposta à escassez de água. As árvores que a compõem são espécies caducifólias, ou seja, tem folhas decíduas (caducas). Tais condições climáticas, muito peculiares, sobretudo no Brasil central nos meses de inverno, resultam na entrada de luz com maior intensidade no interior da floresta, propiciando uma proliferação de lianas, que geralmente são plantas que exigem grande incidência solar para seu desenvolvimento. As Florestas Estacionais Semideciduais, numa visão ampla, são fisionomias com dossel de 4 (florestas de altitude sobre solos rasos ou litólicos) a 25 metros de altura (solos profundos), com árvores emergentes podendo chegar a 40 m e sub-bosque denso. Pouca abundância de epífitas e samambaiaçus quando comparada com as florestas ombrófilas, mas ainda assim com grande variedade dessas espécies. Densidade variável de lianas e bambusóides - taquaras e bambus. (UFLA, 2005) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.56 A área de implantação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares, está inserida dentro do perímetro urbano do município de Governador Valadares - MG. Faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e está totalmente inserida no Domínio da Floresta Atlântica, mais precisamente apresentando formação fisionômica de Floresta Estacional Semidecidual. O município em questão apresenta segundo dados do IBGE de 2005, apenas 6,47% da sua cobertura vegetal original. A área de estudo em si possui cerca de 40 hectares (402.916,66 m²) e apresenta elevado grau de degradação devido à atividade de pecuária extensiva que era a fonte de subsistências dos antigos proprietários desde a década de 1930/40. Apresenta algumas porções de mata bem preservadas com representatividade de espécies nativas em fragmentos nas margens do Rio Doce e nas regiões de encostas com menor acessibilidade, mas todos os fragmentos em estágios de sucessão secundários. Pode-se, dessa forma, explicar a baixíssima frequência de epífitas na área, uma vez que esse grupo de plantas é o ultimo a se instalar durante a sucessão ecológica (GILHUIS, 1986). II.4.2 - DIAGNÓSTICO Foram identificadas, na área de implantação do Parque, basicamente duas fisionomias vegetais ou fitofisionomias, podendo variar entre si definidas, sobretudo, pelas características edáficas e disponibilidade de água. A primeira fisionomia de encosta denominada pela classificação do IBGE como submontana, com a presença de solo raso, bem drenado e com características cársticas ou litólicas e uma segunda fisionomia de várzea definida pelo IBGE como aluvial, com solo de características físico-químicas que diferem do primeiro sendo mais rico em minerais e com disponibilidade de água consideravelmente maior. Em cada uma das classes de solo ocorrem peculiaridades, tais como; presença ou ausência de afloramentos rochosos, áreas inundáveis e áreas totalmente degradadas pela antropização. Como já afirmado anteriormente, de acordo com as definições de classificação de fisionomias vegetais do IBGE, as áreas identificadas na área de implantação do Parque podem ser classificadas como secundárias, pelo fato da exploração da mesma para fins agropecuários. Portanto, através de uma avaliação das condições ecológicas das fisionomias vegetais, das condições do solo, da diversidade biológica encontrada com base no estudo florístico e na comparação dessas informações com áreas similares, verificou-se uma degradação acentuada da área em questão. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.57 F0TO II.4.1 – Mata de encosta ou submontana, fisionomia vegetal típica de Florestas Estacionais Semideciduais. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental FOTO II.4.2 – Vista da cidade de Governador Valadares de dentro da área de implantação do Parque. Área caracterizada como de várzea ou aluvial. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.58 Um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de recuperação natural após a ocorrência de um ou vários distúrbios perdendo, portanto, sua resiliência. Dependendo da intensidade do distúrbio, fatores essenciais para a manutenção dessa característica como banco de plântulas e de sementes no solo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de sementes, podem ser perdidos, estagnando o processo de regeneração natural ou tornando-o extremamente lento. Com o passar do tempo e, dependendo da intensidade de uso, a degradação pode ser agravada através da redução da fertilidade do solo pela exportação de nutrientes pelas culturas e, ou, pela prática da queima de restos vegetais e de pastagens, da compactação e da erosão do solo pelo pisoteio do gado e pelo trânsito de maquinário agrícola. II.4.2.1 - Fisionomias Vegetais e suas Variações na Área do Parque II.4.2.1.1 - Mata de encosta ou submontana É constituída por uma mata secundária em estágio moderado de sucessão, não apresenta praticamente nenhuma epífita, sendo que não foram coletadas ou identificadas nenhuma espécie de orquídea, e apenas uma espécie de bromélia do gênero Tillandsia spp, sendo que essa foi encontrada sempre associada as Aroeiras – (Myracrodruon urundeuva). Tem uma formação de dossel, em sua maioria, de árvores de médio a grande porte com uma frequência muito grande de Aroeiras – (Myracrodruon urundeuva) e a presença menos freqüente de Angicos – (Parapiptadenia rígida) e Canafistulas – (Peltophorum dubium), sendo que a primeira espécie forma grandes povoamentos cobrindo as encostas do Parque de forma quase homogênea, característica que poderá ser melhor estudada posteriormente e levada a um manejo adequado da espécie após a implantação do mesmo. Apesar de não apresentar epífitas na área do Parque, existe um número bastante considerável de lianas. Não apresenta um sub-bosque com biodiversidade acentuada, uma vez que a presença das Aroeiras - (Myracrodruon urundeuva) em vários estágios de crescimento praticamente dominam a estratificação vertical dessa formação. Essa grande dominância da espécie citada pode ser explicada pela capacidade alelopática da mesma. Tal característica é citada em vários trabalhos científicos e provoca eliminação de toxinas pela planta, inibindo que outras espécies germinem e desenvolvam suas plântulas e assim cresçam no sub-bosque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.59 Outra característica que pode explicar essa grande invasão da Aroeira - (Myracrodruon urundeuva) é a sua capacidade em se adaptar onde antes existiam florestas primárias que foram devastadas para as atividades agropecuárias. Essa espécie é uma grande produtora de sementes e possui uma capacidade de interação com o ambiente intensa, adaptando-se facilmente a solos com deficiência de água. Sabe-se também que a espécie precisa de luz direta para se desenvolver, o que não ocorre em mata fechada. Dentro de uma floresta ela ocorre em baixa densidade, mas nos ambientes degradados forma povoamentos quase completamente homogêneos. FOTO II.4.3 - Povoamento de Aroeira - (Myracrodruon urundeuva) num exemplo mata de encosta. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental Foram identificadas várias espécies arbóreas exóticas nas áreas de encosta, sobretudo nas áreas marginais da área de implantação do Parque, são elas: paineiras – (Ceiba speciosa), Flamboyant – (Delonix regia), Bougainville – (Bougainville glabra), entre outras, descritas na Tabela II.4.2. Nas áreas de pomar onde existe a sede do sitio desapropriado, também foram identificadas varias espécies exóticas, tais como: Mangueiras - (Mangifera indica), Jabuticaba – (Myrciaria cauliflora), Amora – (Morus nigra), Leucena – (Leucaenae spp), sendo que essa ultima é muito freqüente nos pastos e no perímetro da área do Parque que margeia a estrada de acesso ao mesmo, formando povoamentos contínuos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.60 FOTO II.4.4 – Mata de encosta com presença de espécies arbóreas e uma pequena presença de subbosque com algumas espécies arbustivas e a presença de herbáceas invasoras. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental FOTO II.4.5 - Topo de morro com clareira aberta para pasto e afloramento rochoso. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.61 II.4.2.1.2 - Mata de várzea ou aluvial Também constituída por mata secundária, apresenta um estágio ainda mais moderado de sucessão, pois, em sua maioria, apresenta pastos com várias espécies invasoras, tais como as herbáceas: capim-gordura - (Melinis minutiflora), capim colonião (Panicum maximumi), capim braquiária (Brachiaria decumbens), margaridão – (Sphagneticola trilobata) e grama-boiadeira – (Leersia hexandra). Tais espécies foram introduzidas pela ação antrópica e principalmente pela degradação da floresta ciliar primária para a prática da pecuária e agricultura. Apesar de baixa diversidade, a mata de várzea apresentou uma quantidade relativamente significante de espécies típicas das Florestas Estacionais Semideciduais, sendo que as mais representativas observadas foram: Ingá – (Inga uruguensis), Sangra-dágua (Croton urucurana), Figueira (Ficus trigona), Figueira do Brejo (Ficus insipida), Genipapo (Genipa americana). Essas espécies foram identificadas ocorrendo em três classes edáficas da mata de várzea: solos moderadamente úmidos ou brejosos, solos raramente alagáveis com lençol freático relativamente superficial e em terrenos pantanosos, ou seja, espécies que se adaptaram para viver virtualmente dentro da água. (HANRI LORANZI, 2000). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.62 FOTO II.4.6 - Mata as margens do Rio Doce, com presença de povoamento de Sangra-dágua - (Croton urucurana), exemplo de espécie de solo alagável. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental FOTO II.4.7 - Margem do Rio Doce, com espécie herbácea invasora, a grama-boiadeira – (Leersia hexandra) e aguapé – (Eichhornia crassipes). As espécies arbóreas em sua maioria foram dando lugar a espécies invasoras. Exemplo de solo pantanoso ou brejoso. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.63 FOTO II.4.8 – Mata de várzea ou aluvial com espécie típica, Genipapo – (Genipa americana). Área de várzea foi totalmente devastada para atividade pecuária. Exemplo de solo não alagável ou raramente alagáveis, com lençol freático superficial. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.64 II.4.3 - METODOLOGIA As fisionomias vegetais ocorrentes e amostradas no Parque foram identificadas por meio de fotografias aéreas e análises de imagens do satélite LANDSAT. Foram descritas de acordo com as denominações do IBGE para vegetação brasileira e analisadas quanto a suas características edáficas, climáticas, geográficas e fisionômicas. Os dados coletados e utilizados no estudo foram adquiridos com a utilização do método expedido para levantamentos qualitativos conhecido como Levantamento Rápido – LR, descrita por Filgueiras et al (1994) como ―caminhamento‖ que consiste em fazer uma varredura na área de estudo, visualizando e identificando o maior numero de espécies vegetais através de caminhadas pelas trilhas existentes e observar a ocorrência e frequência das espécies. Foram realizadas 6 (seis) visitas à área. II.4.4 - RESULTADOS Com base em observações feitas à área de implantação do Parque, foram identificadas 24 (vinte e quatro) espécies arbóreas nativas das Florestas Estacionais Semideciduais; 05 (cinco) espécies de lianas ou trepadeiras nativas também dessa formação florestal e apenas uma espécie de bromélia do gênero Tillandsia spp. Não foram observados exemplares de pteridófitas - Divisão (Pteridophyta) e nem de orquídeas – Família (Orchidaceae). Apenas alguns poucos exemplares de briófitas somente da classe – (Bryopsida), também conhecidas como musgos e muito poucos representantes dos liquens – Classe (Mycophycophyta), principalmente liquens fruticosos e crostosos. Os liquens são associações simbióticas de mutualismo entre fungos e algas. Os fungos que formam liquens são, em sua grande maioria, ascomicetos (98%), sendo o restante, basidiomicetos. As algas envolvidas nesta associação são as clorofíceas e cianobactérias. Por serem extremamente sensíveis à poluição, os liquens são considerados bons bioindicadores, podendo indicar a qualidade do ar e até quantidade de metais pesados em áreas industriais. A baixa frequência observada desses indivíduos pode indicar uma qualidade de ar comprometida na microrregião de Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.65 Em comparação com outras áreas com a estrutura florestal similar, tal como a Unidade de Conservação – UC, do Parque Estadual do Rio Doce – PERD, a diversidade vegetal da área de implantação do Parque é bastante baixa, mas vale ressaltar que são áreas com tamanho e utilização completamente distintas. Enquanto a área de implantação do Parque teve, durante décadas, uma exploração predatória, o PERD foi criado na década de 1940 para fins de conservação da biodiversidade e dos recursos naturais e representa a mais extensa área de Mata Atlântica do estado de Minas Gerais ainda em estado primário. Tal comparação apenas é valida se entendermos que, em seu estado primário, a área estuda apresentava, muito certamente, as mesmas características ecológicas e estruturais do PERD e assim buscar uma recuperação dos impactos causados pela ação do homem na área de implantação do Parque com base nas informações obtidas dos estudos realizados na área do PERD e em outras áreas similares. Foram identificadas, também, 14 (quatorze) espécies arbóreas exóticas, ou seja, indivíduos que não ocorrem de forma natural nesta formação florestal e que foram introduzidas pela ação do homem. Conforme citado anteriormente, foram identificadas várias espécies de gramíneas invasoras, comuns em todo o Brasil, introduzidas para utilização na pecuária extensiva a partir da década de 1950. Tais espécies apresentam características de crescimento muito rápido e invasão biológica agressiva, causando muitas vezes a extinção das espécies locais uma vez que as espécies nativas não dispõem de mecanismos para concorrer evolutivamente com as invasoras. Segundo Primack e Rodrigues (2001) a segunda maior causa de perda de biodiversidade é a introdução de espécies exóticas perdendo apenas para a destruição e fragmentação de habitat. Nas tabelas a seguir, serão apresentadas as espécies arbóreas encontradas na região de implantação do Parque com informações sobre frequência com que foi observada e local de ocorrência. A Tabela II.4.1, descreve as espécies arbóreas nativas e na Tabela II.4.2 são apresentadas as espécies arbóreas exóticas, introduzidas pela ação antrópica. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.66 TABELA II.4.8 - Espécies arbóreas nativas encontradas na área de estudo do Parque. A tabela descreve: nome científico, nome popular, frequência que foi observado em campo, sendo 3+ muito frequente, 2+ frequente, 1+ pouco frequente e o local de ocorrência, sendo que, B = margem do Rio Doce, E = encosta, V = várzea do Rio Doce, M = apenas nas margens/bordas da área Nome Cientifico (família botânica) Cnidoscolus pubescens Cansanção Frequência observada + Croton urucurana Sangra-dágua +++ B Joannesia princeps Cutieira, boleira ++ E Peltophorum dubium Canafistula +++ VeE Pterogyne nitens Amendoin + E Enterolobium contortisiliquum Tamboril, orelha de macaco + E Parapiptadenia rigida Angico +++ EeV Piptadenia gonoacantha Pau-jacaré + E Luehea candicans + E Pseudobombax grandiflorum Açoita-cavalo, Mutamba preta Embiruçu ++ E Ficus trigona Figueira +++ VeB Ficus insipida Figueira do brejo ++ VeB Eugenia uniflora Pitanga +++ EeV Cecropia hololeuca Embaúba prateada +++ E Cecropia pachystachya Embaúba, embaúva ++ EeV Myracrodruon urundeuva Aroeira +++ E Hymenaea courbaril Jatobá + E Inga uruguensis Ingá +++ V Cebrela fissilis Cedro + Genipa Americana Genipapo ++ E, topo do morro V Copaifera lansdorffii Jacarandá Copaíba, pau de óleo + + EeB E Caesalpinia pluviosa Sibipiruna + M Aspidosperma subincanum Peroba + E Nome Popular Local de ocorrência E (EUPHORBIACEAE) (EUPHORBIACEAE) (EUPHORBIACEAE) (FABACEAE) (FABACEAE) (FABACEAE) (FABACEAE) (FABACEAE) (MALVACEAE) (MALVACEAE) (MORACEA) (MORACEA) (MYRTACEAE) (CECROPIACEA) (CECROPIACEA) (ANACARDIACEAE) (LEGUMINOSAE) (LEGUMINOSAE) (MELIACEAE) (RUBIACEAE) Dalbergia nigra (LEGUMINOSAE-PAPILIONOIDEAE) (LEGUMINOSAE-CAESALPINOIDAE) (FABACEAE) (APOCYNACEAE) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.67 TABELA II.4.9 – Espécies arbóreas exóticas encontradas na área de estudo do futuro Parque. A tabela descreve: nome científico, nome popular, frequência observada, sendo 3+ muito freqüente, 2+ freqüente e 1+ pouco freqüente e local de ocorrência, sendo M = apenas nas margens/bordas da área, Po = área de pomar, I = interior da mata Nome Cientifico (família botânica) Ipê Frequência observada ++ Local de ocorrência MeI Ceiba speciosa Paineira, barriguda ++ MeI Leucaenae spp Leucena +++ M, I, Po Flamboyant ++ I, M Manga + Po e M Cajá-manga + Po Bougainville glabra Bougainville, primavera ++ IeM Malpighia emarginata Acerola +++ M, Po e I Jabuticaba + Po Amora + Po Abacateiro ++ M e Po Psidium guajava Goiabeira ++ Po Cytrus spp Limão ++ Po Cytrus spp Laranja ++ Po Tabebuia spp Nome Popular (BIGNONIACEAE) (LEGUMINOSAE) Delonix regia (FABACEA) Mangifera indica (ANACARDIACEAE) Spondias cytherea (ANACARDIACEAE) (MALPGHIACEAE) Myrciaria cauliflora (MYRTACEAE) Morus nigra (MORACEAE) Persea americana (LAURACEAE) (RUTACEAE) Foram encontradas apenas 05 (cinco) espécies de lianas ou trepadeiras na área de estudo para implantação do Parque. Lianas são plantas que germinam no solo, mantêm-se enraizadas durante toda a vida e necessitam de suporte físico para alcançarem o dossel. Nas florestas tropicais, constituem uma forma de vida importante em virtude de sua diversidade, por fazerem parte da estrutura da floresta e, além disso, servirem de alimento para uma variedade de animais. Vale ressaltar que a presença de lianas é muito maior na mata de encosta onde a deciduidade das espécies arbóreas possibilita o crescimento desse grupo vegetal, uma vez que, conforme dito anteriormente, essa plantas têm a necessidade de luz para o seu crescimento e desenvolvimento. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.68 Na TABELA II.4.10 são apresentadas as espécies de lianas encontradas principalmente nas matas de encosta que parecem estar em estágios mais avançados de recuperação, mas em comparação com áreas similares, porém mais conservadas, a diversidade da área de estudo é bastante baixa. TABELA II.4.10 – Espécies de lianas nativas encontradas na área de estudo do futuro Parque. A tabela descreve: nome científico, nome popular, frequência que foi observado em campo, sendo 3+ muito freqüente, 2+ freqüente, 1+ pouco freqüente e o local de ocorrência, sendo que, B = margem do Rio Doce, E = encosta, V = várzea do Rio Doce Nome Cientifico Frequência observada Nome Popular Local de ocorrência Arrabidaea selloi Cipó-camarão + E Mansoa difficilis Cipó de sino + E Mucuna spp (FABACEAE) Mucuna + E, V Bauhinia spp (FABACEAE) - + E Urvillea laevis - + E A Tabela II.4.4 apresenta as espécies herbáceas, arbustivas e trepadeiras exóticas encontradas na área de implantação do Parque. Foram identificadas (03) três espécies invasoras herbáceas aquáticas, a grama-boiadeira – (Leersia hexandra), o Aguapé – (Eichhornia crassipes) e a Taboa – (Typha angustifolia) todas nas margens do Rio Doce na transição em solos bastante hidromórficos ou inteiramente dentro da água. A maior ocorrência de herbáceas e arbustivas, entretanto, é de espécies terrestres, tais como: Capim-colonião – (Melinis minutiflora), Capim braquiaria – (Brachiaria decumbens), Margaridão – (Sphagneticola trilobata) e Jurema – (Mimosa spp), sendo que todos muito freqüentes, sobretudo nos pastos mais degradados e mal manejados onde formam povoamentos inteiros, causando assim um impacto muito grande na biodiversidade das espécies nativas. Tais espécies, introduzidas pela ação do homem, devem ter um tratamento adequado após a implantação do Parque, através de um programa de manejo. Deve-se salientar, entretanto, a preocupação em apenas manejar as espécies que realmente apresentem real prejuízo ao ecossistema do Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.69 TABELA II.4.11 – Espécies herbáceas e arbustivas, aquáticas e terrestres exóticas encontradas na área de implantação do Parque. A tabela descreve: nome científico, nome popular, frequência observada; sendo 3+ muito freqüente, 2+ freqüente e 1+ pouco freqüente; hábito, sendo H = herbácea, A = arbustiva, Tr = trepadeira/liana, Aq = aquática e T = terrestre; local de ocorrência, sendo P = pasto, M = margem do Rio Doce, V = mata de várzea e E = mata de encosta Melinis minutiflora Capim gordura H, T Frequência observada +++ Panicum maximum Capim colonião H, T +++ V, E, P, M Typha angustifolia Taboa H, Aq ++ M Brachiaria decumbens Braquiaria H, T +++ V, E, P, M Vernomia ferruginea Assa-peixe H, T + V, P Sphagneticola trilobata Margaridão H, T + V, P Leersia hexandra Grama-boiadeira H, Aq ++ M Bidens subalternaus Picão H, T + V, P Mimosa spp Jurema A, T +++ V, P A, T ++ V, P Nome Científico Acacia spp Nome Popular Arranha-gato, gato unha Hábito de Local de ocorrência V, E, P, M Eichhornia crassipes Aguapé Aq +++ M Luffa aegyptiaea Bucha Tr, T + M, V PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.70 II.4.5 - PROGNÓSTICO Com fundamento nas informações coletadas nas visitas a campo, no levantamento das espécies vegetais e na proposta inicial do projeto, de recuperação da área para a implementação de um parque de proteção ambiental com fins recreativos e educacionais e que atenda a população do município de Governador Valadares, deve-se pensar em um programa de recuperação das áreas degradadas, segundo Rodrigues e Gandolfi (2000) levando-se em consideração alguns fatores importantes, tais como: O manejo das espécies invasoras; Escolha das atividades de recomposição; Seleção do sistema de revegetação (implantação de sistema, enriquecimento de sistema ou simplesmente regeneração natural de sistema); Plantio e distribuição das espécies adequadas no campo, buscando a distribuição natural das espécies conforme seu grupo ecológico (Tabela II.4.5), segundo as características ambientais de áreas similares no entorno e por fim a manutenção, acompanhamento e avaliação de indicadores de recuperação. Também com base na estratégia a ser definida e adotada com apoio técnico do insumo criado com os diagnósticos ambientais, produtos do levantamento biótico (fauna e flora) na área de implantação do Parque, deve-se pensar num programa de recuperação de áreas degradadas considerando também os grupos ecológicos e a seleção de espécies adequadas aos ecossistemas locais. Recomenda-se também adotar alguns critérios básicos na seleção de espécies para recuperação de áreas degradadas: Plantar espécies nativas com ocorrência em matas da região; Plantar o maior número possível de espécies, gerando assim uma maior biodiversidade; Utilizar combinações com espécies de todos os grupos ecológicos (Tabela II.4.5); Plantar espécies atrativas à fauna; Respeitar a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantar espécies adaptadas a cada condição de umidade do solo. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.71 As tabelas a seguir descrevem o grupo ecológico e suas características sucessionais (Tabela II.4.5) e as espécies mais indicadas para recuperação de áreas degradadas (TABELA II.4.13), sendo que a segunda foi adaptada para a realidade do projeto em questão. Foram inseridas na tabela adaptada apenas as espécies mais representativas das fisionomias vegetais identificadas no esforço de mapeamento da área de implantação do Parque, espécies essas que aparecem em destaque na maioria dos estudos fitossociológicos em matas estacionais semideciduais, e as que a experimentação científica tem comprovado sua capacidade para recuperação de tais áreas, dessa forma assegurando uma maior segurança e confiabilidade na escolha de espécies para manejar as áreas afetadas. Ainda sobre a restauração das áreas degradadas do Parque, deve-se pensar também num programa de monitoramento com indicadores de recuperação que vai servir de base para identificação do sucesso do programa de recuperação ou a necessidade de outro tipo de intervenção. Através de tais indicadores podemos identificar, por exemplo, a necessidade de uma interferência maior na área ou a auto-suficiência da floresta re-implantada podendo dessa forma até dispensar as ações antrópicas de recuperação. Segundo a literatura especializada, os insetos têm sido indicados como bons indicadores biológicos de recuperação de áreas degradadas. A respeito da qualidade do solo, nas áreas em processos de recuperação, há uma sucessão de organismos da micro, meso e macrofauna que estão presentes em cada etapa da recuperação destas áreas, sugerindo assim a ―saúde‖ dos solos em recuperação. Indicadores vegetativos também podem ser utilizados, tais como: chuva de sementes, banco de sementes e a produção de serapilheira. Estes indicadores apresentam a vantagem de serem de quantificação relativamente fácil, quando comparados com outros indicadores biológicos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.72 TABELA II.4.12 - Características de espécies arbóreas nativas do Brasil, que compõem os diferentes grupos ecológicos Fonte: (adaptada de Recuperação de matas ciliares. Sebastião Martins, 2001) Grupo Ecológico Características Pioneiras Secundárias Iniciais Secundárias Tardias Climáticas Crescimento Muito rápido Rápido Médio Lento ou muito lento Madeira Muito leve Leve Mediamente dura Dura e pesada Muito intolerante Intolerante 4 a 10 20 Tolerância à sombra Altura das árvores (m) Regeneração Banco de sementes Banco de plântulas Tolerante no estágio juvenil Tolerante 20 a 30, podendo 30 a 45, podendo atingir 50 atingir 40 (m) (m) Banco de plântulas Banco de plântulas Restrita Dispersão de sementes Ampla (zoocoria: (gravidade); ampla alta diversidade (zoocoria: poucas de animais); pelo espécies de vento, a grande animais); pelo distância vento, a grande Principalmente pelo vento Ampla (zoocoria: grandes animais); restrita (gravidade) distância Tamanhos de frutos e Pequeno Médio sementes Dormência das Induzida (foto ou sementes termorregulada) Sem Idade da 1.° reprodução Prematura (1 a 5) Prematura (5 a 10) (anos) Tempo de vida Muito curto (anos) (menos de 10) Capoeiras, bordas Ocorrência de matas, clareiras médias e grandes Curto (10 a 25) Florestas secundárias, bordas de clareiras, clareiras pequenas Pequeno à médio mas sempre leve Sem Relativamente tardia (10 a 20) Longo (25 a 100) Florestas secundárias e primárias, bordas de clareiras Grande e pesado Inata (imaturidade do embrião) Tardia (mais de 20) Muito longo (mais de 20) Florestas secundárias em estágio avançado de sucessão, florestas primárias, dossel e subbosque PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.73 TABELA II.4.13 - espécies nativas indicadas para a recuperação de áreas degradadas em Florestas Estacionais Semideciduais, com os respectivos nomes vulgares, o grupo ecológico a que pertencem e a tolerância à umidade do solo. G.E. = grupo ecológico: P = pioneira; NP = não pioneira; Si = secundária inicial; quanto a indicação: A = áreas encharcadas permanentemente; B = áreas com inundação temporária; C = áreas bem drenadas, não alagáveis Fonte: (adaptada de Recuperação de matas ciliares. Sebastião Martins, 2001) Nome Científico Nome Vulgar G.E. Indicação Acacia polyphylla DC. Angico-branco P B, C Acrocomia aculeata Lodd. Ex Mart Macaúba, macaúva P B, C Albizzia hassleri (Chod.) Burkart Farinha seca P (Si) C Albizzia glandulosa Poepp & Endl. Tapiá P B, C Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan Angico vermelho P (Si) C Apulea leiocarpa Macbr. Garapa NP C Aspidosperma polyneuron Müell. Arg. Peroba rosa NP C Astronium graveolens Jacq. Guaritá, quebra-machado P (Si) C Balfourodendron riedelianum Engl. Pau marfim P (Si) B, C Bauhinia forficata Link. Unha-de-vaca P (Si) B, C Cabrelea canjerana (Veloso) Martins Canjerana NP B, C Campomanesia xanthocarpa Berg. Gabiroba NP B, C Cariniana estrellensis (Raddi) O. Kuntze. Jequitibá branco NP C Cariniana legalis (Mart.) Kuntze. Jequitibá rosa NP C Cecropia hololeuca Miq. Embaúba branca P B, C Chorisia speciosa St. Hil. Paineira P (Si) B, C Cedrela fissilis Vell. Cedro P (Si) C Citronella gongonha (Mart.) Howard Congonha NP A, B Columbrina glandulosa Perkins Saquaragi vermelho, sobrasil P (Si) C Copaifera lansdorffii Desf. Óleo copaíba, copaíba NP B, C Cordia trichotoma Vell. Ex Steud. Louro-pardo, canela-batata P (Si) C Croton urucurana Baill. Sangra d'água, aldrago P A, B Cupania vernalis Camb. Camboatã P (Si) C Cytharexyllum myrianthum Cham. Pau-viola P A, B PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.74 Nome Científico Nome Vulgar G.E. Indicação Dendropanas cuneatum Decne. & Planch. Maria-mole, mandioca P (Si) A, B Duguetia lanceolata St. Hil. Pindaíba, biribá NP C Endlicheria paniculata (Spreng.) J. F. Macb. Canela do brejo NP A, B Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morang Tamboril, orelha-de-negro P (Si) B, C Erythrina crista-gali L. Suinã P A, B Erythrina speciosa Andrews Candelabro, faquinha P A, B Esenbeckia leiocarpa Engl. Guarantã NP C Eugenia florida DC. Guamirim NP A, B Eugenia uniflora L. Pitanga NP C Euterpe edulis Mart. Palmiteiro, jussara NP B Ficus citrifolia Willd. Figueira P (Si) B Ficus insipida Willd. Figueira branca P (Si) A, B Gallesia intergrifolia (Spreng.) Harms Pau d'alho P (Si) B, C Genipa americana L. Genipapo NP A, B Guatteria nigrescens Mart. Pindaíba-preta, araticum-seco NP C Guazuma ulmifolia Lam. Mutambo P C Hyeronima alchorneoides Fr. All. Urucurana, licurana P (Si) A, B Hymenaea coubaril L. Jatobá NP B, C Inga affinis DC Ingá, ingá-doce P (Si) A, B Inga uruguensis Hook. Et Arn. Ingá P (Si) A, B Inga vera Willd. Ingá P (Si) A, B Jacaranda macrantha Cham. Caroba-do-mato P (Si) A, B Jacaratia spinosa (Aubl.) A.DC. Jaracatiá P C Lithraea molleoides Engl. Aroeira brava P (Si) B Lonchocarpus muehlbergianus Hass. Embira de sapo P (Si) B, C Luehea divaricata Mart. Açoita-cavalo P (Si) B, C P (Si) B, C Machaerium aculeatum Raddi Bico-de-pato, espinho jacarandá-de- PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.75 Nome Científico Nome Vulgar G.E. Indicação Machaerium nictitans (Vel.) Benth. Bico-de-pato, jacarandá-ferro P (Si) B, C Maclura tinctoria (L.) Don ex Steud. Amoreira P (Si) B, C Matayba elaeagnoides Radlk. Miguel pintado, pau-crioulo P (Si) B, C Mauritia flexuosa L. Buriti P A, B NP B, C Nectandra rigida (H. B. K.) Ness Canela-amarela, canela- ferrugem Peltophorum dubium (Spreng) Taub. Angico-cangalha, canafístula P (Si) C Persea pyrifolia Ness. & Mart. Ex Ness. Maçaranduba NP C Piptocarpha macropoda Baker Pau-de-fumo, vassoura-preta P C Protium almecega March. Almacegueira P (Si) A, B Prunus myrtifolia (L.) Urb. Pessegueiro-bravo NP A, B Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Rob. Embiruçu P B, C Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez Azeitona-do-mato, capororoca P (Si) C Rollinia sylvatica (A. St. Hil.) Araticum-do-mato, cortiça P (Si) B, C Rudgea jasminioides (Cham.) Müell. Café-do-mato NP C Schefflera morototonii (Aubl.) B. Manguire Mandioqueiro, mandiocão P C Schinus terebinthifolius Raddi Aroeirinha, aroeira-pimenteira P A, B Schyzolobium parahyba (Vell.) Blake Ficheira, guapuruvu P B, C Sebastiana serrata (Baill) Müell. Arg. Branquilho NP A, B Seguieria floribunda Benth. Limão bravo P (Si) C Sorocea bonplandii Burger Folha de serra NP C Styrax pohlii A. D. C. Benjoeiro, estoraque P (Si) C Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standley Ipê-roxo P (Si) B, C Tabebuia umbelata (Sound.) Sand. Ipê-amarelo-do-brejo P (Si) A, B Talauma ovata St. Hil. Pinha-do-brejo NP A Tapirira guianensis Aubl. Peito-de-pomba, pau-pombo P (Si) A, B Terminalia triflora Griseb Pau-de-lança, amarelinho NP A, B Trema micrantha Blume Crindiúva, trema P C PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.76 Nome Científico Nome Vulgar G.E. Indicação Trichilia catingua A. Juss. Catiguá NP C Trichilia clausseni C. DC. Catiguá vermelho NP C Triplaris brasiliana Cham. Pau-formiga P (Si) B, C Veronia difusa Less. Pau-de-fumo, vassourão-preto P C Virola oleifera (Schott) A.C. Smith Bicuíba NP B, C Vitex montevidensis Cham. Tarumá NP A, B Xylopia brasiliensis (L.) Spreng. Pindaíba, asa-de-barata NP B, C Xylopia emarginata Mart. Pindaíba-d'água P (Si) A, B Zeyheria tuberculosa (Vell.) Burn. Ipê-felpudo, bolsa-de-pastor P (Si) C PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.77 II.4.6 - ÁREA DE APP – ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTE E CONECTIVIDADE BIOLÓGICA CORREDORES ECOLÓGICOS Conforme dito anteriormente, a área de implantação do Parque era parte de uma fazenda que, durante décadas, teve suas atividades basicamente voltadas para a pecuária extensiva. A ocupação de tais áreas pelos proprietários rurais, ainda hoje é feita de forma errônea e muitas vezes contra a Lei, pois, via de regra, o que ocorre é a derrubada da mata nativa, sobretudo em áreas de solo mais rico em nutrientes e com lençol freático quase superficial, ou seja, áreas de várzea, para a implantação de pastos para a criação extensiva ou para a utilização de tais áreas para a agricultura. Ocorre que de acordo com o Código Florestal Brasileiro (Lei n.° 4.777/65), toda a vegetação natural (arbórea ou não) presente ao longo das margens dos rios e ao redor de nascentes e de reservatórios deve ser preservada. Além da vegetação ciliar, no topo de morros, montes, montanhas e serras, nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive, nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive, entre outras formações. Com base nas informações acima descritas e com as observações feitas em campo, pode-se concluir que as APPs – Áreas de Proteção Permanente do Parque sofreram com décadas de manejo inadequado e supressão da vegetação natural. As áreas de várzea deram lugar a pastos que por sua vez foram mal manejados e estão em estágios naturais de recuperação, necessitando de ações mais incisivas de recuperação. As matas de encosta, em sua maioria também tiveram a vegetação suprimida para dar lugar a pastos, sobrando apenas áreas de maior dificuldade de acesso nos encraves dos pequenos vales e nos afloramentos rochosos. Os topos de morros também deram lugar aos pastos e passam pelos mesmos processos sucessionais das áreas citadas anteriormente. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.78 FOTO II.4.9 – Topo do ―Morro do Urubu‖, APP – área de preservação permanente degradada. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental FOTO II.4.10 - Área próxima ao ―Morro do Urubu‖, possível corredor ecológico ou área de conectividade biológica. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.79 Foram identificadas algumas áreas estratégicas para a conectividade da área de implantação do Parque com outras áreas naturais. Tais áreas serão fundamentais para a manutenção da diversidade biológica tanto da flora quanto da fauna local através de um fluxo gênico dos organismos. Conforme relatado anteriormente, toda a área do Parque passa por um processo de sucessão ecológica natural bastante lenta e as APP’s estão incluídas em tal processo. O que existe de áreas mais preservadas são pequenas manchas, sendo que a primeira e mais significativa para fins de conectividade com outras áreas naturais é a área de matas de encosta mais bem preservadas na região entre o ―Morro do Urubu‖ e as margens do Rio Doce e uma segunda área, na mata ripária que protege o córrego que deságua no Rio Doce e corta o Parque exatamente na porção contraria ao citado anteriormente ―Morro do Urubu‖, mas essa área de APP tem um menor potencial de conectividade, uma vez que se encontra ―ilhada‖ entre pastos e a estrada de acesso ao futuro Parque. O restante da área de implantação do Parque apresenta graus elevados de degradação ambiental, necessitando, portanto intervenção antrópica para aceleração do processo de recuperação. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.80 II.5 - ESTUDO DA FAUNA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES – MG II.5.1 - INTRODUÇÃO Projetos ambientais consistem em atividades programadas, que envolvem recursos humanos, técnicos e logísticos, que tem como finalidade realizar metas ambientais e os efeitos e manifestações naturais a elas vinculados. Estes projetos são destinados à manutenção da qualidade ambiental de ecossistemas afetados por atividades transformadoras e podem apresentar cinco naturezas distintas: projetos de monitoramento ambiental, de controle ambiental, de manejo ambiental, de uso múltiplo e especiais. Para conservação de uma espécie, algumas informações básicas devem ser levadas em consideração, e podem ser obtidas a partir de três fontes principais: através da literatura publicada, como índices bibliográficos e boletins eletrônicos; literatura não publicada, em relatórios de agências governamentais e organizações de conservação e pelo trabalho de campo. As informações a respeito da história natural de uma espécie permitem identificar os fatores que podem colocar as espécies em risco. Para que se possa planejar e implementar esforços eficazes de conservação, algumas perguntas precisam ser respondidas: quais os tipos de ambientes nos quais estas espécies são encontradas, o tamanho necessário desta área para tornar uma população viável e a distribuição desta espécie, assim como conhecer as interações bióticas, morfologia, fisiologia e comportamento das espécies. Para tanto, os temas a seguir serviram como referencial para o desenvolvimento do estudo de fauna do Parque Natural Municipal de Governador Valadares e deverão estar presentes nos estudos que deverão ser desenvolvidos após a implantação do Parque. II.5.1.1 - Fragmentação e Perda de Habitats Entende-se por fragmentação de habitat, a redução de uma determinada área originalmente coberta por vegetação nativa e seu consequente isolamento em menores fragmentos ilhados em uma matriz de áreas perturbadas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.81 A fragmentação e a perda de habitats, juntamente com introdução de espécies exóticas são as principais ameaças a biodiversidade no planeta (PRIMACK, 2001). A remoção da vegetação natural como ocorrido na área de estudo em função principalmente da extração de madeira e posteriormente da pecuária e em diversas áreas em todos os biomas brasileiros (FORMAN & GORDON, 1993) é resultante das atividades humanas, e a consequência desta remoção é a formação de fragmentos menores e isolados, considerados uma das principais ameaças a biodiversidade global (SAUNDERS et al., 1991), levando a uma segunda consequência, os chamados efeitos de borda. Os efeitos de borda são os impactos secundários da fragmentação, ou seja, as modificações ocorridas no interior dos fragmentos causadas pelas modificações no meio físico como aumento na luminosidade, temperatura e nos ventos, além da diminuição da umidade, entre outros e, no meio biótico que acabam por resultar em perdas de biodiversidade e abundância de espécies e perda de produtividade primária (PRIMACK, 2001), tendo como as principais consequências as modificações nas interações entre as espécies da fauna e da flora como predação, parasitismo, herbívora, dispersão de sementes e polinização (MURCIA, 1995). Essa nova condição pode por selecionar ou oferecer vantagem a espécies generalistas, mais adaptáveis a mudanças, reduzir a capacidade de alimentação dos animais nativos e limitar o potencial de uma espécie de dispersar e colonizar outras áreas (PRIMACK, et al., 2001). II.5.1.2 - Corredores Ecológicos Corredores ecológicos caracterizam-se por serem grandes áreas florestadas, em situação de conservação suficiente para manter o fluxo de indivíduos da fauna silvestre e, consequentemente, o fluxo gênico destas espécies entre as populações e subpopulações dos diferentes fragmentos florestais aumentando a probabilidade de sua sobrevivência em longo prazo, e assegurando a manutenção de processos ecológicos e evolutivos, na maioria dos casos estes corredores procuram ligar Unidades de Conservação agindo inclusive na recuperação dos ambientes degradados que se localizam dentro da matriz em que estas áreas se encontram (AYRES et al.; 2005). O Parque Natural Municipal de Governador Valadares, pode e deve servir como uma área de amortecimento para as espécies provindas de regiões mais preservadas como o Monumento Natural e a Área de Preservação Permanente do Pico da Ibituruna, servindo como corredor ecológico para estas espécies. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.82 II.5.1.3 - Fauna A milhões de anos as extinções de fauna são um acontecimento normal na história da Terra, porém tem se observado nos últimos anos uma taxa de desaparecimento de espécies muito maior e em muito menos tempo do que já se observou em todas as eras geológicas, este fato deve-se principalmente a pressões ambientais provocadas por atividades humanas, como caça, poluição e destruição de habitat (RICKLEFS, 2003). Algumas destas espécies possuem características únicas e dependentes de certos ambientes também ameaçados. A perda de habitat é hoje um das principais causas de extinção de espécies, esta perda também se deve a fatores ligados a atividades humanas como, queimadas, fragmentação, substituição da vegetação nativa por monoculturas, formação de pasto para pecuária, entre outras perturbações (BORCHERT & HANSEN, 1983; MALCOLM, 1997; VIEIRA, 1999), de grande ocorrência em todo Estado de Minas Gerais, como por exemplo, no município de Governador Valadares. II.5.1.4 - Bioindicadores Os bioindicadores são aspectos ambientais bióticos que possuem características que podem ser utilizadas para indicar uma determinada condição físico-química do ambiente a partir de sua presença/ausência; densidade populacional, dispersão e sucesso reprodutivo (RAMOS, JR. CARVALHO, NASI, 2005) estas características permitem a avaliação e o acompanhamento de certos impactos nos ecossistemas naturais. Para as comunidades faunísticas, estes aspectos podem ser espécies, grupos ou comunidades biológicas cuja presença, quantidade e distribuição indicam a magnitude de impactos em um sistema natural, (PEREIRA, 2008). O uso destas espécies, grupos ou comunidades biológicas em conjunto permite uma avaliação e um diagnóstico integrado dos efeitos ecológicos naturais e/ou antrópicos provenientes das mais diversas fontes poluidoras (CALLISTO et al., 2001). Dentre cada um dos grupos monitorados ocorrem espécies com características biológicas que podem ser utilizadas como indicadores de outros índices ecológicos mais difíceis de mensurar (RAMOS, JR. CARVALHO, NASI, 2005). A bioindicação não revela apenas a existência de um fator ambiental, mas principalmente a reação biológica do sistema em resposta a este fator que, normalmente, é uma influência antrópica. A resposta de aumento ou diminuição do valor de uma medida bioindicadora irá depender do seu comportamento em relação a um impacto (SILVEIRA, 2004). A escolha dos indicadores dependerá dos reais objetivos do estudo, das informações que se quer obter. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.83 Neste estudo, alguns bioindicadores foram utilizados por revelarem a complexidade dos sistemas biológicos. Os sistemas biológicos apresentam características que demonstram o equilíbrio destes sistemas. Os bioindicadores tanto podem refletir a permanência da normalidade destes sistemas quanto à saída do estado de normalidade. Verificou-se a presença de espécies da fauna, com ênfase nas endêmicas e ameaçadas de extinção, ressaltando inclusive as passíveis de alterações comportamentais nas áreas de influência direta do Parque, principalmente em locais onde se observou maior degradação e supressão dos fragmentos florestais, tais como: matas ciliares, áreas de encosta, e demais formações florestais. II.5.1.5 - Mastofauna No mundo existem aproximadamente 5.023 espécies de mamíferos (DUFF & LAWSON, 2004). O Brasil abriga aproximadamente 541 espécies de mamíferos descritas (FONSECA et al., 1996) e, mais recentemente, foram catalogadas 652 espécies de mamíferos, distribuídas em 11 ordens, o que corresponde a 13,5% das espécies de mamíferos de todo o mundo (REIS, et al., 2006). Esses apresentam formas e tamanhos variados, bem como os hábitos alimentares, que variam desde a generalização da onívora à especialização da hematofagia. A grande maioria é de pequeno porte, como roedores e morcegos, que representam a maior diversidade entre os mamíferos da região neotropical. Os mamíferos de maior porte possuem naturalmente populações e diversidade bem menores. Essas características fazem com que esse grupo não seja facilmente amostrado. Constituindo as principais ameaças à biodiversidade, a redução de habitat elimina espécies com distribuição mais restrita e a fragmentação impede que espécies de maior porte e com área de vida maior consigam manter populações estáveis em fragmentos menores, tornando os animais, entre outros, mais suscetíveis à caça (CULLEN et al., 2000). Neste caso, áreas abertas junto aos fragmentos funcionam como barreiras à movimentação destes animais. A eliminação de predadores de topo de cadeia faz aumentar a abundância das populações de herbívoros e dos predadores intermediários, que acabam por reduzir a diversidade dos pequenos mamíferos. Roedores e marsupiais muitas vezes são fiéis a determinadas características de hábitat e podem ser fortemente influenciados por fatores ambientais e alterações no hábitat, como queimadas, fragmentação, substituição da vegetação nativa por monoculturas, entre outras perturbações (FONSECA & REDFORD, 1984). Devido ao pequeno tamanho, muitas espécies são noturnas e podem apresentar hábitos semi-fossoriais, cursoriais, trepadores ou mesmo arborícolas. Essas características fazem com que esse grupo não seja facilmente amostrado. Os grupos mais ricos são os morcegos e roedores, com 81 e 51 espécies, respectivamente. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.84 A maioria das espécies de mamíferos da Mata Atlântica ocupa uma grande variedade de ambientes e possui distribuições amplas. Poucos dados são disponíveis sobre o verdadeiro status de muitas espécies, principalmente espécies de pequenos mamíferos, raras e com distribuição restrita. As espécies de maior porte, com apelo emocional maior, são mais frequentemente listadas, assim como as amplamente distribuídas geograficamente (MARINHO-FILHO et al., 2002). Devido à crescente destruição e fragmentação dos ambientes naturais e à caça, um número cada vez maior de espécies estão ameaçadas de extinção, muitas ainda com biologia desconhecida. A fauna da Mata Atlântica faz parte do grupo que mais sofreu com o impacto da colonização humana na América do Sul, onde se encontram táxons entre os mais ameaçados de extinção, especialmente em função do desmatamento e perda de habitats. Aproximadamente 60% das 305 espécies da lista vermelha da IUCN para o Brasil estão hoje restritas aos cerca de 8% de florestas remanescentes do bioma. (PAGLIA et al., 2004). Em função da diversidade de mamíferos terrestres, conclui-se que cerca de 50% das espécies brasileiras de mamíferos têm ocorrência no bioma Mata Atlântica, aproximadamente 261 espécies de mamíferos, das quais cerca de 160 são endêmicas. Na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (IBAMA, 2003) há 69 espécies de mamíferos, sendo que 39 espécies se encontram na Mata Atlântica e dessas existem 25 espécies endêmicas. Minas Gerais abriga cerca de 70% das espécies de mamíferos que ocorrem em todo o domínio da Mata Atlântica corroborando a afirmativa de que a Mata Atlântica, no leste brasileiro, é um dos hot spots mundiais de biodiversidade (MYERS et al., 2000). Além dos diversos fatores citados, os mamíferos sofrem com o tráfico ilegal, atropelamentos e a perseguição por possíveis prejuízos causados às plantações ou animais domésticos, sendo este último o principal fator atual no declínio de predadores como a onça-pintada Panthera onca, a suçuarana Puma concolor e o lobo guará (Chrysocyon brachyurus) (COSTA et al., 2005). No âmbito da conservação destes vertebrados, principalmente os de médio e grande porte, constituem-se um parâmetro importante, podendo atuar como espécies ―bandeiras‖, chamando a atenção para o problema da extinção de espécies. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.85 II.5.1.6 - Avifauna As aves são o grupo de vertebrados que vêm sendo estudado há mais tempo, o resultado disso é um grande número de estudos e um vasto conhecimento sobre o grupo. Hoje no mundo, podem ser encontradas por volta de 9.700 espécies, dentre estas cerca de 1.700 em território Brasileiro (SICK, 1997, CBRO, 2007). O estado de Minas Gerais abriga cerca 785 espécies de aves, o que representa algo em torno de 45% do total de aves registradas no país, destas espécies aproximadamente 140 são endêmicas ao bioma Mata Atlântica (CBRO, 2009), representando o maior nível de endemismos entre os biomas brasileiros (TONHASCA-JÚNIOR, 2005). O grande número de espécies e endemismos registrados no estado de Minas Gerais deve - se principalmente a grande variedade de habitats, e fitofisionomias encontradas, pertencentes aos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga (ANDRADE, 1997). No entanto, ressalta-se que o estado abriga um grande número de espécies ameaçadas, 23 espécies estão na categoria Vulnerável de ameaça de extinção, 39 espécies são classificadas como Em Perigo e 51 espécies estão ―Criticamente em Perigo‖. II.5.1.7 - Ictiofauna As Bacias Hidrográficas podem ser consideradas os ecossistemas mais dinâmicos existentes, estes ecossistemas são constituídos por rios das mais diversas magnitudes e que têm como características principais o fluxo continuo e unidirecional da água e a entrada de matéria orgânica provinda de seus afluentes e drenagens. Os organismos aquáticos são considerados bons bioindicadores, este organismos são suficientemente sensíveis a quaisquer modificações físicas ou bióticas nos ambiente, decorrentes principalmente de atividades antrópicas. Nos últimos anos, os ambientes aquáticos vêm sofrendo grandes transformações decorrentes principalmente da crescente demanda energética e da ocupação desordenada das margens dos cursos d’água. O Brasil possui atualmente 2.587 espécies de peixes de água doce, pertencentes principalmente a três grandes ordens Siluriformes (1.056 espécies), Characiformes (948 espécies) e Gymnotiformes (95 espécies). O estado de Minas Gerais ocupa uma posição estratégica para a preservação deste grupo, no estado encontram-se 15 bacias hidrográficas, dentre essas, apenas duas (Tietê e Paraíba do Sul) não possuem nascentes dentro dos limites estaduais (DRUMMOND et al., 2005). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.86 Os rios de Minas Gerais abrigam aproximadamente 354 espécies nativas, ressalta-se que são extremamente raros os estudos relacionados a lagoas marginais, o que pode elevar consideravelmente a lista de espécies no estado. Segundo Lobo (2010), a Bacia Hidrográfica do Rio Doce apresenta grande diversidade de peixes, existem atualmente cerca de 82 espécies, apesar da introdução de espécies exóticas nas últimas décadas como o Tucunaré, o Dourado, o Tilápia e o Carpa, que provocam redução das espécies nativas. II.5.1.8 - Herpetofauna Atualmente, o Brasil ocupa a primeira colocação na relação de países com maior riqueza de espécies de anfíbios (875), e a segunda colocação a respeito dos répteis (721) (SBH, 2010). Mais de 405 espécies de anuros foram registradas em ambiente de Mata Atlântica (FROST, 2007: AMPHIBIAWEB, 2007). Dentre as espécies de anuros que ocorrem nesse bioma, 81% são endêmicas (327) e 40% (161) têm modo reprodutivo especializado dependente desse ambiente florestal (HADDAD; PRADO, 2005). Em relação aos répteis, estão registradas aproximadamente 197 espécies, incluindo os quelônios marinhos (CARMONA, 2007). O declínio de populações da herpetofauna tem sido observado em diversas regiões do mundo, e as maiores ameaças a sua diversidade se concentra nos biomas da Mata Atlântica e Cerrado, resultado principalmente de perda e degradação de hábitat (PAGLIA et al., 2010). Outras causas também são apontadas, como a poluição das águas, a contaminação por pesticidas, as mudanças climáticas, as espécies invasoras, a radiação ultravioleta e o comércio ilegal de animais silvestres, agindo sozinhas ou em sinergia (YOUNG et al., 2004; CARMONA, 2007). O desenvolvimento de programas de conservação e uso sustentando de recursos biológicos, a única forma conhecida para desacelerar a perda de biodiversidade global, exige uma ampliação urgente dos conhecimentos nessa área. (KAGEYAMA & GANDARA, 2009). Já os anuros e os lagartos são considerados excelentes modelos para estudos ecológicos de variações locais e dinâmica temporal, porque são facilmente coletados e monitorados, são animais abundantes, possuem baixa taxa de dispersão, reproduzem-se em um período de tempo relativamente curto e respondem nitidamente às mudanças ambientais (HUEY et al., 1983; ZUG et al., 2001; SILVANO et al., 2003). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.87 II.5.1.9 - Legislação Ambiental Os estudos de fauna integrantes do Plano de Manejo do Parque Natural Municipal de Governador Valadares-MG, atenderam as seguintes condicionantes legais: a) Decreto Legislativo nº 58.054, de 23/3/1966 - Promulga a convenção para a proteção da fauna, flora e belezas cênicas naturais dos países da América, assinada pelo Brasil em 27 de fevereiro de 1940; b) Lei Federal nº 5.197, de 3/1/1967 - Dispõe sobre a proteção à fauna, alterada pelas Leis nos 7.584/87, 7.653/88, 7.679/88, 9.111/75 e 9.605/98; c) Decreto Federal nº 97.633, de 10/4/1989 - Dispõe sobre o Conselho Nacional de Proteção à Fauna; d) Portaria IBAMA nº 1.522, de 19/12/1989 - Reconhece a lista oficial de espécies de fauna brasileira ameaçadas de extinção (alterada pelas Portarias IBAMA nos 45-N/92, 62/97, 28/98 e Instrução Normativa MMA 03/03); e) Lei Federal nº 9.605, de 12/2/1998 - Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.88 II.5.2 - CONTEXTUALIZAÇÃO II.5.2.1 - Mata Atlântica Segundo a Conservação Internacional (2000), a Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do Brasil, juntamente com o Cerrado, fazem parte da listagem mundial de hot spots. A área original da Mata Atlântica apresentava 92% de sua distribuição em território brasileiro (TABARELLI et al., 2005) da qual resta menos de 8% da cobertura original do bioma (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA & INPE, 2000). As numerosas espécies geograficamente dispersas na região indicam que a Mata Atlântica passou por vários períodos de diferenciação biológica. Vários fatores contribuíram para a evolução das espécies com distribuição restrita na Mata Atlântica, como a formação de rios (SILVA & STRAUBE, 1996), mudanças paleoecológicas globais (HAFFER, 1987) e mudanças paleoecológicas regionais causadas por movimentos tectônicos (SILVA E STRAUBE, 1996). FIGURA II.5.1 - Limites estaduais e região aproximada de influência, inseridas no bioma Mata Atlântica. Fonte: MMA, 2006. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.89 A fauna da Mata Atlântica faz parte do grupo que mais sofreu com o impacto da colonização humana na América do Sul, onde se encontram táxons entre os mais ameaçados de extinção, especialmente em função do desmatamento e perda de habitats. Aproximadamente 60% das 305 espécies da lista vermelha da IUCN para o Brasil estão hoje restritas aos cerca de 8% de florestas remanescentes do bioma. (PAGLIA et al., 2004). II.5.2.2 - Área de estudo A área destinada ao Parque Natural Municipal de Governador Valadares está situada na porção leste da cidade de Governador Valadares, centro leste do estado de Minas Gerais na Bacia Hidrográfica do Rio Doce. A área propriamente dita ou Área de Influência Direta (AID) encontra-se cercada por um lado pela malha urbana e por outro, pelo Pico da Ibituruna, Área de Influência Indireta (AII). Classificado como uma área de proteção ambiental (APA), a área do pico possui 6,243 ha e atinge cerca de 1.123 m de altura. Coberto inicialmente por florestas nativas do bioma Mata Atlântica, o pico sofreu um forte processo de supressão vegetacional devido à exploração de madeira e posteriormente a atividade agropecuária, restando hoje apenas cerca de 60% de sua cobertura inicial (MMA,2009). Da mesma forma a área destinada a implantação do Parque, cerca de 40 ha (402.916,66 m²), sofreu as mesmas pressões do Pico da Ibituruna, o que podem ser observados hoje na área são apenas alguns pequenos remanescentes florestais em sucessão primária ou secundária, grandes áreas destinadas a atividades agropecuária e intensa presença de vegetação exótica. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.90 II.5.3 - OBJETIVO Este levantamento de fauna da região destinada ao Parque Natural Municipal de Governador Valadares, tem como objetivo fazer um levantamento geral das espécies da fauna de potencial ocorrência para a região de forma a subsidiar estratégias de planejamento e instalação do Parque. Portanto, o presente estudo não tem como objetivo a elaboração de um inventário completo sobre a biodiversidade, variedade e abundância da fauna local, e sim considerações sobre as espécies encontradas de acordo com a literatura existente e de dados primários, bem como, sugerir, os eventuais impactos que possam estar causando alterações na estrutura destas comunidades. II.5.4 - METODOLOGIA A metodologia de escolha dos pontos e amostragem das espécies presentes na área visou compreender melhor o ecossistema local e diagnosticar espécies mais representativas para a região. Objetivou-se sempre a obtenção da maior quantidade de dados possíveis em campo somado às referências metodológicas e avaliação da equipe de campo. Por meio de imagens de satélite definiram-se os locais onde se poderiam efetuar amostragens para qualificação da vegetação, estratificando-se a cobertura do solo em função de suas características naturais, de uso e ocupação, diferenciadas entre si pelas formas e texturas, esta informação serviu como subsídio para as amostragens de fauna, pois as espécies costumam se concentrar nos maiores e mais bem conservados remanescentes florestais. Após executar vistorias in loco, verificou-se que era possível estender essas informações para toda área de estudo. Na amostragem dos principais tipos fitofisionômicos encontrados na região, tomou-se o cuidado em reconhecer os diferentes tipos de microhabitats e verificar quais fatores afetam a composição das taxocenoses (fatores históricos, características geomorfológicas, gradiente altitudinal, estrutura das bacias hidrográficas, ou ainda fatores ecológicos específicos). II.5.4.1 - Dados Secundários A metodologia utilizada neste trabalho baseou-se na coleta de dados secundários, principalmente de estudos ambientais relacionados ao licenciamento de empreendimentos próximos ao Parque em questão. A alta capacidade de deslocamento de aves, peixes, grandes e médios mamíferos, e de alguns répteis, além da alta capacidade de colonização de anfíbios, pequenos mamíferos e insetos, tornam possível inferir a potencial ocorrência de determinadas espécies em áreas próximas de locais aonde foi documentada a ocorrência das mesmas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.91 Além disso, a coleta de dados secundários se deu por meio de demais publicações técnicas e científicas relacionadas à área de estudo e/ou suas proximidades, em formato impresso ou digital. II.5.4.2 - Entrevistas Foram realizadas entrevistas não estruturadas, com auxílio de guias ilustrados da fauna nativa da Mata Atlântica com a comunidade local, principalmente com moradores vizinhos do Parque, que puderam confirmar a presença de algumas das espécies levantadas por dados secundários como de potencial ocorrência para a área de estudo. Esta metodologia é utilizada apenas como mais uma maneira de confirmar a presença de algumas espécies na área, visto que o conhecimento popular normalmente se restringe aos grandes grupos genéricos, sendo muito raro, pessoas com conhecimento científico a respeito de fauna. II.5.4.3 - Dados Primários A coleta de dados primários serviu como uma confirmação dos dados coletados previamente de forma secundária; esta coleta se constituiu de cinco dias de campo, entre 03 e 08 de novembro de 2010, totalizando um esforço amostral de 40 horas/homem em períodos que atenderam aos horários de maior atividade da fauna silvestre de possível ocorrência na região do estudo. Durante os levantamentos de campo foram utilizadas as seguintes metodologias: observação direta de indivíduos encontrados ocasionalmente durante os caminhamentos na área; busca ativa de indivíduos por meio de remoção de troncos, cupinzeiros e serrapilheira; busca de vestígios como tocas, pelos, penas, fezes, pegadas, ninhos e carcaças, e registros indiretos por meio de vocalização (play back). II.5.4.4 - Procura em Substrato Natural A metodologia predominante neste trabalho foi a observação direta das espécies, considerando com os encontros ocasionais e busca ativa. Os períodos de ênfase na busca por indivíduos da avifauna foram realizados durante o crepúsculo (amanhecer e entardecer). Para os répteis foi dado ênfase nos períodos matutino e vespertino. Para os anfíbios foi dado ênfase no período noturno. A procura por rastros de mamíferos foi realizada durante todo o dia e parte da noite. Cabe ressaltar que apesar da ênfase nos períodos descritos, durante toda a amostragem atentouse para a presença das mais diversas espécies silvestres e seus respectivos vestígios. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.92 II.5.4.5 - Busca Visual e Auditiva A busca visual foi realizada durante o dia de acordo com o método descrito por Heyer et al. (1994), que consiste na procura de espécies em locais de potencial ocorrência de espécies de cada grupo. Nestes locais foram vistoriados pedras, cupinzeiros, troncos caídos e folhiço, totalizando seis horas para cada localidade. Portanto, o trabalho, de forma geral, comportou três etapas fundamentais, (Coleta de dados secundários; Visita a campo e Compilação e análise de dados) ressaltando-se que no caso visita de campo, esta seguiu procedimentos específicos para cada grupo animal, visando estabelecer a relação entre a fauna e a vegetação natural ou antropizada existentes. Para tal, foram utilizados, os equipamentos necessários para obtenção destes dados, tais como: câmeras fotográficas Nikon Coolpix P80 e Canon S5, gravadores digital Sony ICDP530F e Panasonic RR-US430, lanternas de cabeça Petzl e binóculos, além de Equipamento de Proteção Individual. FIGURA II.5.2 -1 - Área destinada à criação do Parque. Fonte: Google Earth FIGURA II.5.2-2 Área onde se concentrou a maior parte das amostragens de mamíferos. Fonte: Google Earth FIGURA II.5.2-3 Área onde se concentrou a maior parte das amostragens de aves. Fonte: Google Earth PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.93 A área onde se concentraram as amostragens de mamíferos é coberta predominantemente por vegetação nativa, e relativamente bem preservadas, onde predomina as fitofisionomias de várzea e mata ciliar. Nas áreas onde se concentraram as amostragens de aves, pode-se observar a fitofisionomia floresta estacional semidecidual, em meio a áreas destinadas a atividade pecuária. Ressalta-se que apesar da amostragem ter sido intensificada nestes locais, atentou-se a presença da fauna nativa e seus vestígios durante todos os períodos de amostragem fixa e caminhamento dentro e nas adjacências da área estudada. FOTO II.5.1 - Presença de fauna doméstica (bovinos) na área do Parque. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental Para amostragem dos répteis, foi considerada como ponto de amostragem toda a área do terreno delimitado para a implantação do Parque e seu entorno. Para isso, foram feitas buscas por indivíduos através de caminhadas, procurando-os em ambientes que permitissem observar seus comportamentos de forragear ou de ficar em repouso, em troncos, serapilheira, embaixo de pedras, cupinzeiros, árvores e, inclusive, em ambientes antropizados. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.94 Para os anfíbios, os fragmentos a serem amostrados eram visitados durante o dia, antes do início das amostragens, para a escolha dos pontos ou transectos a serem investigados. Procurava-se abranger diferentes tipologias. Locais com poças, lagoas, riachos e outros corpos d água eram prioritários, devido à preferência dos anuros a ambientes úmidos. No total, nove pontos foram amostrados para anfíbios (Figura II.5.3), conforme lista a Tabela II.5.1. Ponto 1 – Floresta Estacional Semidecidual. Lagoa artificial com presença de vegetação herbácea e adjacências alagáveis formando poças temporárias (Foto II.5.5-1). Ponto 2 – Floresta Estacional Semidecidual. Lagoa natural. (Foto II.5.5-2) Ponto 3 – Área destinada ao Parque. Floresta Estacional Semidecidual. Drenagem formada apenas nos períodos chuvosos. Áreas alagáveis nas proximidades (Foto II.5.5-3). Ponto 4 – Área destinada ao Parque. Mata de várzea. Margeia o Rio Doce. Presença abundante de aguapés (Foto II.5.5-4). Ponto 5 – Área com alto grau de antropização. Lagoa artificial (Foto II.5.5-5). Ponto 6 – Floresta Estacional Semidecidual. Lagoa e áreas alagáveis (Foto II.5.5-6). Ponto 7 – Floresta Estacional Semidecidual. Poças temporárias com presença de vegetação herbácea e arbustiva. Ponto 8 – Floresta Estacional Semidecidual. Lagoa temporária. (Foto II.5.5-7). Ponto 9 – Área com alto grau de antropização. Lagoa artificial. TABELA II.5.1 - Pontos de amostragem para anfíbios PONTO DE AMOSTRAGEM AMBIENTE Ponto 1 Lagoa artificial / poças temporárias 24K 190662 24K 7910598 Ponto 2 Lagoa natural 24K 190882 24K 7910468 Ponto 3 Drenagem estacional / áreas alagadas 24K 0190789 24K 7911269 Ponto 4 Mata de várzea 24K 190695 24K 7911411 Ponto 5 Lagoa artificial 24K 191004 24K 7912002 Ponto 6 Lagoa/ poças temporárias 24K 191872 24K 7911546 Ponto 7 Poças temporárias 24K 191709 24K 7911620 Ponto 8 Lagoa temporária 24K 0190810 24K 7910429 Ponto 9 Lagoa artificial 24K 191289 24K 7911668 COORDENADAS Longitude Latitude PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.95 FIGURA II.5.3 – Pontos de amostragem para a fauna de anfíbios. Fonte: Google Earth FOTO II.5.5-1 – Ponto 1 FOTO II.5.5-2 – Ponto 2 FOTO II.5.5-3 – Ponto 3 FOTO II.5.5-4 – Ponto 4 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.96 FOTO II.5.5-5 – Ponto 5 FOTO II.5.5-6 – Ponto 6 FOTO II.5.5-7 – Ponto 8. Fonte das fotos: Alternativa Educação e Manejo Ambiental Os locais foram percorridos sistematicamente em todos os dias de campanha, uma vez durante ao dia e outra à noite, em horários variados. Tanto as estradas de acesso a estes pontos, como as suas áreas de entorno foram observadas durante as vistorias, registrando todos os encontros com integrantes da herpetofauna. O estudo foi realizado durante o período chuvoso, propício a maior incidência de espécies de toda a herpetofauna, já que a maioria de seus representantes apresenta maior atividade nessa época, quando se encontram em período reprodutivo. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.97 II.5.5 – RESULTADOS II.5.5.1 - Mastofauna Foram identificadas por meio de levantamentos primários e secundários, três espécies de mamíferos nas Áreas de Influência Direta (AID) e Indireta (AII), divididas entre 25 famílias de potencial ocorrência para a área de estudo, este número corresponde a aproximadamente 19% do total de espécies registradas para o grupo no Bioma Mata Atlântica. Dentre estas, três espécies puderam ser observadas em campo e estão marcadas na coluna de Área de Influência Direta AID. TABELA II.5.2 - Espécies levantadas por meio de dados primários e secundários e status de conservação Família Espécie Nome Comum AID AII Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas Mamíferos não Voadores Dasypodidae Didelphis albiventris Didelphis aurita Marmosops incanus Monodelphis americana Micoureus demerarae Micoureus demerarae Philander frenatus Cabassous sp. Myrmecophagi dae Atelidae Dasypus novemcintus Dasypus septemcinctus Euphractus sexcinctus Tamandua tetradactyla Alouatta guariba Didelphidae Pitheciidae Callitrichidae Dasyproctidae Ciurídae Hydrochaerida e Leporidae Callicebus nigrifrons Callithrix penicillata Cuniculus paca Dasyprocta sp. Guerlinguetus ingrami Hydrochaeris hidrochaeris Silvilagus brasiliensis Saruê NT NL NL LC NL LC NL NL NL NT NL NL LC NL NL LC NL NL LC NA NL NA NL NA X NL NL NL Tatu-galinha X LC NL NL Tatu-peba X NL NL NL Tamanduámirim Bugio, Barbado Guigó X LC II NL LC II VU NeT II NL X LC II NL X X LR/LC NA NL III NA NL NL NA NL X NL NL NL X NL NL NL Gambá Cuíca X X X Cuica de três listras X X X X Tatu-derabomole Tatu-galinha Mico-estrela X X X X Paca Cutia Caxinguelê Capivara Tapeti X X PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.98 Família Canidae Procyonidae Mustelidae Felidae Espécie Cerdocyon thous Chrysocyon brachyurus Eira barbara Nasua nasua Procyon cancrivorus Galictis cuja Leopardus pardalis Leopardus tigrinus Herpailurus yaguaroundi Puma concolor Cervidae Taiassuidae Sciuridae Muridae Erethizontidae Cricetidae Desmodontinae Glossophagina e Phyllostominae Stenodermatin ae Mazama gouazoubira Pecari tajacu Sciurus aestuans Oryzomys subflavus Necromys lasiurus Coendou prehensilis Oligoryzomys nigripes Akodon cursor Desmodus rotundus Anoura caudifer Nome Comum AID AII Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas Cachorro-domato Lobo guará X LC II NL X NT II NL Irara Quati Mão-pelada X X X LC LC LR/ LC III III NL NL NL NL Furão Jaguatirica Gato do mato Gato yaguaroundi Onça-parda X X X X LC NL VU NL NL I I NL NL VU NL NL NL II VU Veado catingueiro Cateto Esquilo Rato-do-mato X LC NL NL X LR/LC LC LC II NL NL VU Rato-do-mato Ouriço X LC NL NL NL NL NL NL NL NL LC NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL Rato-do-mato Rato-do-mato Mamíferos voadores Morcego Morcego Glossophaga soricina Carollia perspicillata Sturnira lilium Morcego Artibeus fimbriatus Artibeus lituratus Artibeus obscurus Platyrrhinus lineatus Pygoderma bilabiatum Morcego Morcego Morcego Morcego Morcego Morcego Morcego X X X X X X X X X X X X X X X PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 NL E-II.99 As espécies de mamíferos levantadas por meio de dados primários puderam ser confirmadas apenas a título de comparação, através de entrevistas com os senhores: Jeferson Marques morador da Fazenda Jabuticaba, Almir Vargas morador do Sítio Rojão, e Ildeu de Souza Carvalho morador do Sítio Avestruz. GRÁFICO II.5.1- Número de indivíduos levantados por família 2 1 1 7 6 4 1 1 1 1 2 1 1 3 2 1 2 1 4 1 3 1 1 Didelphidae Dasypodidae Myrmecophagidae Atelidae Pitheciidae Callitrichidae Dasyproctidae Hydrochaeridae Leporidae Canidae Procyonidae Mustelidae Felidae Cervidae Sciuridae Muridae Desmodontinae Glossophaginae Phyllostominae Stenodermatinae Ciurídae Erethizontidae Cricetidae Dentre as espécies levantadas por meio de dados secundários, e que, portanto, são apenas de potencial ocorrência para a área de estudo, quatro (Alouatta guariba, Leopardus pardalis, Puma concolor e Pecari tajacu) são classificadas como ameaçadas pela lista oficial de espécies do estado de Minas Gerais ameaçadas de extinção (BIODIVERSITAS, 2006), cinco (Callicebus nigrifrons, Leopardus tigrinus, Pecari tajacu, Cuniculus paca e Procyon cancrivorus), sofrem algum tipo de ameaça de extinção em nível mundial, (IUCN, 2009). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.100 Segundo CITES (2009) duas espécies (Leopardus pardalis e Leopardus tigrinus) são raras ou estão em perigo, e seu intercâmbio não é permitido com fins somente comerciais, oito espécies (Tamandua tetradactyla, Alouatta guariba, Callicebus nigrifrons, Callithrix penicillata, Cerdocyonthous,Chrysocyon brachyurus, Puma concolor e Pecari tajacu), dentre estas apenas Callitrix penicilate pode ser observada na área, nenhuma delas é rara ou está em perigo atualmente, mas podem se tornar caso o comercio não seja regularizado e três (Cuniculus paca, Eira Barbara e Nasua nasua) não estão ameaçadas pelo tráfico ilegal de animais silvestres. II.5.5.1.1 - Descrição das espécies ameaçadas As espécies abaixo são descritas segundo Reis e Nélio et Al. (2006), e foram levantadas por meio de dados secundários, sendo ,portanto, apenas de potencial ocorrência para a área de estudo. Leopardus pardalis Espécie de porte médio. Pode ser encontrada do sudoeste do Texas ao norte da Argentina, no Brasil ocupa todos os biomas, ocorrendo nas fitofisiomias de mata, cerradão, cerrado, bordas de lagoas e salinas. Espécie de habito solitário, noturno e predominantemente terrestre com área de vida variando entre 0,76 e 50,09 km². Leopardus tigrinus O menor felídeo do Brasil, com proporções semelhantes ao gato doméstico pode ser encontrado da Costa Rica ao norte da Argentina, no Brasil ocupa todos os biomas. Animal de hábito solitário e predominantemente noturno está ameaçado particularmente pelo elevado número de atropelamentos e caça predatória. Puma concolor Felídeo de ocorrência mais abrangente das Américas podendo ser encontrado desde o oeste do Canadá ao extremo sul da América do Sul, no Brasil ocupa todos os biomas. Segunda maior espécie de felídeo do país. Possui hábitos solitários, terrestres e noturnos. Habita áreas de mata, cerradão, cerrado e campo. Pecari tajacu Conhecido como cateto, este mamífero de médio a grande porte, chega a medir cerca de 1m de comprimento e 30 kg de peso. Possui pelagem de coloração marrom ou negra com faixas brancas ou amareladas. Encontrado geralmente em pequenos grupos, este animal tem hábitos tanto diurnos quanto crepusculares ou noturnos. Alimenta-se basicamente de frutos, raízes, tubérculos, bulbos e rizomas e pode ser encontrado desde o sul dos Estados Unidos até o noroeste do Peru. No Brasil ocorre em todos os biomas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.101 Alouatta guariba Este primata pertence ao gênero com maior distribuição entre os primatas neotropicais, apesar de ser endêmica da Mata Atlântica. Esta espécie se adapta bem a ambientes perturbados e habita normalmente florestas primárias e secundárias. Animal de médio porte chegando a medir cerca de 63 cm de corpo e 69 cm de cauda, e chega a pesar cerca de até 7 kg. Possuem a pelagem marrom podendo tornar-se levemente avermelhada em machos adultos. II.5.5.1.2 - Descrição das espécies amostradas em campo As espécies abaixo são descritas segundo Reis e Nélio et Al.. (2006), e foram levantadas por meio de dados primários, tendo sido observadas na área durante os levantamentos de campo. Didelphis aurita Mamífero de pequeno a médio porte podendo alcançar cerca de 45 cm de corpo, 47 cm de cauda e chegando a pesar cerca de 1,8 kg. Possui coloração negra ou grisalha, com uma listra característica de cor escura na face, e outras sobre os olhos, orelhas grandes, negras e desprovidas de pelos. Possui ainda calda prênsil e marsúpio nas fêmeas. Animal onívoro, solitário e noturno. Bastante adaptado a ambientes degradados sendo encontrado inclusive em meio a grandes centros urbanos. Callithrix penicillata Conhecidos como saguis, estes animais possuem pequeno porte, medindo entre 25 e 28 cm e pesando até 450 g. Sua pelagem costuma variar entre cinza preto avermelhado e apresenta tufos auriculares e uma mancha branca na testa bastante característicos. Estes primatas arborícolas habitam quase todos os ambientes florestais, inclusive em vegetação secundária, perturbada e fragmentada. Sua dieta consiste basicamente de frutos, insetos e néctar. (Foto II.5.6-4) Hydrochaeris hidrochaeris Maior roedor do mundo, este animal pode alcançar cerca de 1,4 m de comprimento e pesar cerca de 65 kg. Possui cabeça grande e orelhas curtas e arredondadas, pelagem curta e grossa de coloração marrom. Animal semi aquático alimenta-se basicamente de gramíneas e vegetação aquática. Tem hábitos crepusculares e pode ser encontrado em todos os estados brasileiros. (Foto II.5.6-1 e 2) Dasypus sp. A família dos tatus possui atualmente oito gêneros com 11 espécies de ocorrência no Brasil, sua característica mais marcante é a carapaça que provê proteção a este grupo. A maioria dos tatus possui pouco ou nenhum pelo. Estes animais ocorrem principalmente em áreas abertas, mas podem ocorrem também em florestas. São animais predominantemente solitários e alimentam-se basicamente de formigas, cupins e raízes. Possuem atividade crepuscular e noturna. (Foto II.5.6-5 e 6) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.102 FOTO II.5.6-1- Pegada de capivara (Hydrochaeris hidrochaeri) FOTO II.5.6-2 - Fezes de capivara (Hydrochaeris hidrochaeris) FOTO II.5.6-3 - Trilha de mamífero de médio a grande porte FOTO II.5.6-4 - Mico ou Sagui (Callithrix penicillata) FOTO II.5.6-5 - Toca de tatu com sinais de desuso (Dasypus sp.) FOTO II.5.6-6 - Toca de tatu com sinais de uso recente (Dasypus sp.). Fonte das fotos: alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.103 II.5.5.1.3 - Espécies de mamíferos utilizadas pelo homem As espécies abaixo, com exceção de Calitrix penicilatta e Hydrochaeris hydrochaeris, foram levantadas por meio de dados secundários, sendo, portanto, apenas de potencial ocorrência para a área de estudo. TABELA II.5.3 - Espécies de mamíferos utilizadas pelo homem Grupo Primatas Parte do animal utilizada Alouatta guariba. Carne Calitrix penicilatta Carne Utilização Alimentação Alimentação, experimentação animal Rodentia Agouti paca Hydrochaeris hydrochaeris Carne Carne Alimentação e comércio Alimentação, comércio e caça esportiva Ungulados Tayassu pecari Carne, pele Alimentação, comércio de peles e caça esportiva Felinos Panthera onca Carne, pele, dentes Leopardus pardalis Carne, pele, dentes Artesanato, alimentação, comércio, caça esportiva Artesanato, alimentação, comércio, caça esportiva A caça de animais silvestres é uma atividade ilegal no Brasil, porém a sua prática pode ser observada em diversas localidades, principalmente em áreas próximas a centros urbanos, como na região em estudo. A área é cercada por regiões habitacionais de média renda, o que não justificaria o argumento da existência da caça para subsistência, o que por si só tem mostrado ter impactos bastante negativos e ser, em última análise, insustentável quando as populações humanas ultrapassam um limiar de densidade e não há áreas-fontes que forneçam animais para áreas exploradas. Algumas espécies levantadas para a área encontram-se particularmente ameaçadas pelas atividades de caça esportiva, e caso não haja trabalhos de fiscalização, educação ambiental e manutenção destas populações, algumas espécies podem se tornar ameaçadas. Além da caça para subsistência e esportiva outra ameaça a algumas espécies da mastofauna é o comércio ilegal de peles, por exemplo, onde os animais mais utilizados são veados, felinos e primatas (FONSECA et al., 1996). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.104 II.5.5.2 - Avifauna Foram identificadas por meio de levantamentos primários e secundários, 200 espécies de aves nas Áreas de Influência Direta (AID) e Indireta (AII), divididas entre 48 famílias de potencial ocorrência para a área de estudo, este número corresponde a cerca de 25% do total de espécies registradas para o grupo no estado de Minas Gerias. Dentre estas 86 espécies puderam ser observadas em campo e estão marcadas na coluna AID. TABELA II.5.4 - Espécies levantadas por meio de dados primários e secundários e status de conservação Família Espécie Nome comum Tinamidae Crypturellus obsoletus Crypturellus parvirostris Dendrocygna viduata Amazonetta brasiliensis Penelope superciliaris Penelope obscura Podilymbus podiceps Phalacrocorax brasilianus Nycticorax nycticorax Butorides striata Bubulcus ibis inhambuguaçu inhambu-chororó Anatidae Cracidae Podicipedidae Phalacrocoracidae Ardeiidae Ardea alba Syrigma sibilatrix Cathartidae Accipitridae Egretta thula Cathartes aura Coragyps atratus Leptodon cayanensis Elanus leucurus Rupornis magnirostris Buteo albicaudatus Buteo brachyurus Falconidae Rallidae Heterospizias meridionalis Herpetotheres cachinnans Milvago chimachima Caracara plancus Falco sparverius Falco femoralis Aramides cajanea Irerê Marreca-do-pévermelho Jacupemba Jacuaçu Mergulhão-caçador Biguá, mergulhão Savacu Socozinho Garça-vaqueira Garça-brancagrande Maria-façeira Garça-brancapequena Urubu-caçador Urubu-preto Gavião-de-cabeçacinza Paranoá, gaviãopeneira Gavião-carijó Gavião-fumaça Gavião-de-caudacurta Gavião-caboclo Acauã Gaviãocarrapateiro Carcará Quiriquiri Falcão-de-coleira Saracura-três- AID AII X X X X X X X X X X LC LC NL NL NL NL X X X LC LC LC LC NL NL NL NL EN VU NL NL X X X X LC LC LC LC NL NL NL NL NL X LC LC NL NL NL NL LC LC LC NL NL III NL NL NL LC III NL X X X LC LC LC NL III III NL NL NL X LC NL NL LC II NL LC II NL LC LC LC LC II II II NL NL NL NL NL X X X X X X X X X X X X Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas LC NL NL LC NL NL X X X X X X PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 NL NL NL E-II.105 Família Espécie Aramides saracura Laterallus melanophaius Pardirallus nigricans Cariamidae Charadriidae Jacanidae Scolopacidae Columbidae Gallinula chloropus Cariama cristata Vanellus chilensis Jacana jacana Tringa solitaria Columbina talpacoti Columbina squammata Claravis pretiosa Columba livia Patagioenas picazuro Patagioenas plumbea Nome comum AID potes Saracura-do-mato Sanã-parda Saracura-sanã Fango-d'águacomum Seriema Quero-quero Jaçanã Maçarico-solitário Rolinha-caldo-defeijão Fogo-apagou Pararu-azul Pomba-doméstica Asa branca Pomba-amargosa AII X X LC LC NL NL NL NL X X X LC LC NL NL NL NL X X X X X LC LC LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL X X X X X LC LC LC LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL X X LC LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL LC NL LC NL II II NL NL NL NeT NL NL LC II NL X LC II NL X X X LC LC LC LC LC LC NL LC LC LC II NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL LC LC LC LC NL II II II II NL NL NL NL NL X X X X X X X Psittacidae Patagioenas speciosa Leptotila rufaxilla Leptotila verreauxi Zenaida auriculata Scardafella squammata Columbina picui Primolius maracanã xAratinga leucophthalma Aratinga auricapillus Brotogeris chiriri Cuculidae Caprimulgidae Apodidae Trochilidae Forpus xanthopterygius Pionus maximiliani Piaya cayana Crotophaga ani Crotophaga major Guira guira Tapera naevia Athene cunicularia Nyctidromus albicollis Hydropsalis torquata Chaetura meridionalis Phaethornis petrel Phaethornis ruber Eupetomena macroura Colibri serrirostris Amazilia versicolor Pomba - trocal Gemedeira Juriti-pupu Pomba-de-bando Fogo-apagou X X Rolinha-picui Maracanã-do-buriti Aratinga-de-bando X X X Jandaia-de-testavermelha Periquito-da-asaamarela Tuim-de-asa-azul X Maitaca-verde Alma-de-gato Anú-preto Anu-coroca Anu-branco Saci Coruja-buraqueira Curiango Bacurau-tesoura Andorinhão-dotemporal Limpa casa Rabo-branco-rubro Tesourão Beija-flor-do-canto Beija-flor-debanda-branca Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.106 Família Espécie Nome comum AID Amazilia lactea Beija-flor-de-peitoazul Besourinho-debico-vemelho Beija-flor-preto Surucuá-variado X Chlorostilbon lucidus Trogonidae Alcedinidae Florisuga fusca Trogon surrucura aurantius Megaceryle torquata Chloroceryle amazona Chloroceryle amazona Galbulidae Bucconidae Ramphastidae Picidae Chloroceryle americana Galbula ruficauda Nystalus chacuru Ramphastos toco Picumnus cirratus Colaptes campestris Colaptes melanochloros Veniliornis passerinus Veniliornis maculifrons Thamnophilidae Dendrocolaptidae Furnariidae Melanerpes candidus Taraba major Thamnophilus torquatus Thamnophilus caerulescens Dysithamnus mentalis Herpsilochmus atricapillus Formicivora serrana Pyriglena leucoptera Sittasomus griseicapillus Xiphorhynchus fuscus Lepidocolaptes angustirostris Furnarius rufus Furnarius figulus Synallaxis frontalis Synallaxis spixxi Phacellodomus rufifrons * Certhiaxis X X NL NL LC NL II NL NL NL LC NL NL X LC NL NL X LC NL NL LC NL NL LC LC LC LC NL NL II NL NL NL NL NL LC NL NL LC NL NL X X LC LC NL NL NL NL X LC LC LC NL NL NL NL NL NL LC NL NL LC LC NL NL NL NL X LC NL NL X X LC LC NL NL NL NL X LC LC NL NL NL NL LC LC NL NL NL NL X X X X X X X X X X X X X X Choquinha-lisa Chorozinho-dechapéu-preto Formigueiro-daserra Papa-taoca-do-sul Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas LC II NL LC X X X Matraca, martimpescador Martim-pescadorverde Martim-pescadorverde Pescador-pequeno Bico-de-agulha João-bobo Tucanuçu Pica-pau-anãobarrado Pica-pau-docampo Pica-pau-verdebarrado Pica-pau-verde Picapauzinho-detesta-pintada Pica-pau-branco Choró-boi Choca-da-asaruiva Choca-da-mata AII X X Arapaçu-verde Arapaçu-rajado Arapaçu-docerrado João-de-barro Casaca-de-couroda-lama Petrim João tenenem João-de-pau X X X X X X X X LC LC LC NL NL NL NL NL NL Curutié X X LC NL NL X X PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.107 Família Tyrannidae Espécie cinnamomeus Automolus leucophtalmus Xenops rutilans Lochmias nematura Cnemotriccus fuscatus Todirostrum cinereum Leptopogon amaurocephalus Todirostrum poliocephalum Myiopagis viridicata Elaenia flavogaster Elaenia obscura Camptostoma obsoletum Serpophaga subcristata Tolmomyias sulphurescens Myiophobus fasciatus Hirundinea ferruginea Lathrotriccus euleri Contopus cinereus Knipolegus lophotes Knipolegus nigerrimus Satrapa icterophrys Xolmis velatus Fluvicola nengeta Fluvicola albiventris Arundinicola leucocephala Colonia colonus Machetornis rixosa Myiozetetes similis * Pitangus sulphuratus Myiodynastes maculatuss Megarynchus pitangua Empidonomus varius Tyrannus melancholicus Tyrannus savana Myiarchus ferox Nome comum Barranqueiro Bico-virado-carijó João-porca Guaracavuçu Ferreirinho-relógio Cabeçudo Teque-teque Guaracava-decrista-alaranjada Guaracava Tucão AID AII X NL NL NL X X X LC LC LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL LC NL NL LC NL NL LC LC NL NL NL NL X X X X X X Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas X X Risadinha X LC NL NL Alegrinho X LC NL NL LC NL NL LC LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL LC NL NL LC NL NL LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL NL LC NL NL LC LC LC NL NL NL NL NL NL LC LC NL NL NL NL LC LC LC NL NL NL NL NL NL LC LC NL NL NL NL Bico-chato Filipe Gibão-de-couro Enferrujado Papa-moscascinzen Maria-preta-depenacho Maria-preta-degargantavermelha Suiriri-pequeno Maria-branca Lavadeiramascarada Lavadeira-de-carabranca Cabecinha branca Viuvinha Suiriri-cavaleiro Bentevizinho-depenachovermelho Bem-te-vi Bem-te-vi-rajado Nei nei Peitica X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Suiriri Tesourinha Maria-cavaleira X X X X X X PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.108 Família Cotingidae Pipridae Tityridae Vireonidae Hirundinidae Troglodytidae Turdidae Motacillidae Mimidae Coerebidae Thraupidae Espécie Myiarchus tyrannulus Pyroderus scutatus Ilicura militaris Manacus manacus Chiroxiphia caudata Pachyramphus viridis Pachyramphus validus Cyclarhis gujanensis Vireo olivaceus Hylophilus amaurocephalus Tachycineta albiventer Stelgidopteryx ruficollis * Pygochelidon cyanoleuca Progne tapera Troglodytes musculus Thryothorus genibarbis Turdus rufiventris Turdus leucomelas Turdus amaurochalinus Anthus lutescens Mimus saturninus Coereba flaveola Saltator similis Schistochlamys ruficapillus Thlypopsis sordida Trichothraupis melanops Tachyphonus coronatus Thraupis sayaca Thraupis ornata Thraupis palmarum* Tangara cyanoventris Tangara cayana Tersina viridis Dacnys cayana Nome comum AID Maria-cavaleirade-raboenferrujado Pavó Soldadinho Rendeira Tangará Caneleiro-verde Caneleiro-dechapéu-preto Pitiguari Juruviara Vite-vite-de-olhocinza X X X X X X X X LC LC LC LC LC LC NL NL NL NL NL NL VU NL NL NL NL NL LC LC LC NL NL NL NL NL NL LC LC NL NL NL NL LC NL NL X X X Sabiá-laranjeira Sabiá-do-barranco X X X X X LC NL NL X X X NL LC NL NL NL NL X X X X X LC LC LC NL NL NL NL NL NL LC LC LC NL NL NL NL NL NL LC NL NL X LC NL NL X LC NL NL LC NL NL LC NL NL LC LC NL NL NL NL LC NL NL LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL NL X X X Saí-canário Tiê-de-topete X X X X X X Tiê-preto Sanhaço Sanhaçu-deencontro-amarelo Sanhaçu-docoqueiro Saíra-douradinha Saíra-macaco Saí-andorinha Saí-azul Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas LC NL NL X Andorinha-do-rio Andorinhaserradora Andorinhapequena-de-casa Andorinha-docampo Corruíra Garrinchão-pai-avô Sabiá-poca Caminheiro Sabiá-do-campo Sebinho, cambacica Trinca-ferroverdadeiro Bico-de-veludo AII X X X X X X X X X X X X PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.109 Família Espécie Nome comum Saíra-ferrugem Emberizidae Hemithraupis ruficapilla * Conirostrum speciosum Zonotrichia capensis Ammodramus humeralis Haplospiza unicolor Sicalis flaveola * Cardinalidae Parulidae Icteridae Fringilidae Embernagra longicauda Volatinia jacarina Sporophila lineola Sporophila nigricollis Sporophila caerulescens Coryphospingus pileatus Paroaria coronata Piranga flava Cyanoloxia brissonii Geothlypis aequinoctialis Parula pitiayumi Basileuterus ypolecus Basileuterus flaveolus Psarocolius decumanus Gnorimopsar chopi * Chrysomus ruficapillus Molothrus bonariensis Icterus jamacaii Molothrus boariensis Euphonia chlorotica Sporagra magellanica I Figuinha-de-rabocastanho Tico-tico Tico-tico-rato Cigarra-bambu Canário-da-terraverdadeiro Rabo-mole-daserra Tiziu Bigodinho Baiano AID X X X X X X X X Chlorophonia cyanea Passer domesticus Estrilda astrild Legenda: Vide Quadro de Referências Bandeirinha Pardal Bico-de-lacre LC LC NL NL NL NL LC LC NL NL NL VU X NeT NL NL X X X LC LC LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL LC NL NL LC LC II NL NL NL NL LC NL NL NL NL X X X X LC NL LC LC NL NL NL NL NL NL NL NL X X X LC LC LC LC NL LC NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL NL LC LC LC NL NL III / w NL NL NL X X X X X X X X X X X X X – DD Passeridae Estrildiae NL X Pia-cobra Mariquita Pula pula Pula-pula-amarelo Japu Graúna Garibaldi Vira-bosta Sofrê Maria-preta Vivi Pintassilgo NL X X X X X Status de Conservação IUCN CITES Biodiverssitas LC NL NL LC X X Coleirinho Tico-rei-cinza Cardeal Tiê-do-matogrosso Azulão AII As espécies de aves levantadas por meio de dados primários puderam ser confirmadas apenas a título de comparação, através de entrevistas com os senhores: Jeferson Marques morador da Fazenda Jabuticaba, Almir Vargas morador do Sítio Rojão, e Ildeu de Souza Carvalho morador do Sítio avestruz. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.110 GRÁFICO II.5.2 - Espécies levantadas por família O subgrupo mais representativo neste estudo foi a ordem Passeriforme, este resultado corrobora uma enorme gama de estudos anteriores e justifica-se pelo fato de ser a maior ordem de aves conhecidas (SICK, 1997), tendo a família Tyranidae o maior número de espécies registradas. Esta família é representada por diversas espécies de hábitos variados e grande abrangência, sendo a maior família de aves neotropicais. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.111 Dentre as espécies levantadas, duas (Penelope obscura, Sicalis flaveola) são classificadas como ameaçadas pela lista oficial de espécies do estado de Minas Gerais ameaçadas de extinção (BIODIVERSITAS, 2006), dentre estas apenas Sicalis flaveola foi avistada em campo. Duas (Aratinga auricapillus e Embernagra longicauda), sofrem algum tipo de ameaça de extinção em nível mundial, (IUCN, 2009), dentre estas apenas Aratinga auricapillus pode ser avistada em campo. Segundo Cites (2009), 19 espécies (Herpetotheres cachinnans, Milvago chimachima, Caracara plancus, Falco sparverius, Falco femoralis, Primolius maracanã, Aratinga leucophthalma, Brotogeris chiriri, Forpus xanthopterygius, Pionus maximiliani, Phaethornis ruber, Eupetomena macroura, Colibri serrirostris, Amazilia versicolor, Amazilia láctea, Florisuga fusca, Ramphastos toco e Paroaria coronata) não são raras nem estão em perigo atualmente, mas podem se tornar caso o comércio não seja regularizado, dentre estas, seis (Herpetotheres cachinnans, Milvago chimachima, Caracara plancus, Falco sparverius, Forpus xanthopterygius e Paroaria coronata) puderam ser observadas em campo, e ainda cinco (Leptodon cayanensis, Elanus leucurus, Buteo albicaudatus, Buteo brachyurus, Estrilda astrild) não estão ameaçadas pelo tráfico ilegal de animais silvestres. II.5.5.2.1 - Descrição das espécies ameaçadas As espécies abaixo são descritas de acordo com guia interativo Wikiaves, 2010, e foram levantadas por meio de dados primários e secundários, três (Penelope obscura, Sicalis flaveola e Aratinga auricapillus), puderam ser observadas em campo. As demais espécies observadas que não são classificadas como ameaçadas sob nenhum aspecto, estão descritas no item subsequente. Penelope obscura Espécie meridional de tamanho avantajado, medindo 68 a 75 centímetros e pesando 1.000 a 1.200 gramas (SIGRIST, T., 2009). Coloração verde-bronze bem escura; manto, pescoço e peito finalmente estriados de branco; pernas anegradas. Embora habitem matas, descem em campo aberto para se alimentarem. São predominantemente frugívoros, e nisto altamente especializados. Habita as matas secundárias, capoeiras, plantações e matas de galeria (matas altas). Vive no sudeste e sul do Brasil, de Minas Gerais e Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul; Uruguai, Paraguai, Argentina e Bolívia. No Rio de Janeiro ocorre nas montanhas, em São Paulo na Serra do Mar e no litoral. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.112 Pyroderus scutatus O macho mede cerca de 46 cm de comprimento e a fêmea 39 cm. É uma espécie rara. Habita o interior e as bordas de florestas altas, especialmente em regiões montanhosas. Vive solitário. Presente localmente da Bahia ao Rio Grande do Sul e, para oeste, até Goiás e Brasília. Sicalis flaveola Tamanho aproximado: 13,5 cm. Peso médio: 20 g. Cor amarelo-olivácea com estrias enegrecidas nas costas e próximo das pernas. Alimenta-se de sementes no chão. É uma espécie predominantemente granívora (come sementes). Vive em campos secos, campos de cultura e caatinga, bordas de matas, áreas de cerrado, campos naturais, pastagens abandonadas, plantações e jardins gramados, sendo mais numeroso em regiões áridas. Está presente do Maranhão ao sul até o Rio Grande do Sul e a oeste até o Mato Grosso, bem como nas ilhas do litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro. Aratinga auricapillus (Descrita no subitem: Descrição das espécies avistadas em campo) Embernagra longicauda O Rabo-mole-da-serra, também conhecido como Canário Rabudo é um Passeriforme da família Emberizidae. Habita a vegetação do cerrado ou em capoeiras. Fica a maior parte do tempo no chão ou em pequenos arbustos caçando insetos e frutos. II.5.5.2.2 - Descrição das espécies avistadas em campo Dendrocygna viduata A máscara branca na face contrastando com o pescoço negro e o bico chumbo torna esta espécie inconfundível. O peito é castanho e o resto do corpo é finamente estriado em branco e preto. Quando em vôo é possível ver as asas escuras. Assim como outros marrecos alimenta-se basicamente de plantas submergidas e gramíneas nas margens dos lagos, mas também come invertebrados aquáticos, pequenos peixes e girinos. É encontrado em quase qualquer corpo d'água ao longo de sua ampla distribuição que vai da Argentina até a América Central e curiosamente também ocorre na África Ocidental. Pode ser encontrado até mesmo em lagos poluídos. É mais ativo nos crepúsculos e a noite. Phalacrocorax brasilianus É uma ave de cor preta em plumagem adulta e marrom-escura em juvenil. Atinge até 75 cm de comprimento e peso em torno de 1,3 kg; possui pescoço longo, cabeça pequena, bico cinzento longo e fino, sendo que a ponta da maxila termina em forma de gancho Alimenta-se de peixes e crustáceos. Vive em lagos, grandes rios e estuários. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.113 Bubulcus íbis Apresenta um comprimento de 48 a 53 cm. Sua envergadura vai de 90 a 96 cm. Tendo um peso de 300 a 400 g. Alcança uma longevidade de 15 anos. Plumagem branca, em especial quando juvenil. É uma garça insetívora, caçando seu alimento longe da água e associada, principalmente, ao gado. Procura alimento, de um modo geral, em espaços secos, campos de cultivo, podendo, no entanto, ser encontrada nas margens de lagos e pântanos. Ardea alba Mede cerca de 90 cm. Seu corpo é completamente branco. É facilmente identificada pelas longas pernas e pescoço, característica dos membros da família. O bico é longo e amarelado, e as pernas e dedos pretos. Apresenta enormes egretes (penas especiais que se formam no período reprodutivo). A íris é amarela. Alimenta-se principalmente de peixes, mas já foi vista comendo quase que tudo o que possa caber em seu bico. Vive em grupos de vários animais à beira de rios, lagos e banhados. É migratória, realizando pequenos deslocamentos locais ou mesmo se deslocando para além dos Andes durante os períodos de enchentes anuais. Ocorre da América do Norte ao estreito de Magalhães, em todo Brasil, e também no Velho Mundo. Rupornis magnirostris Apresentam a ponta do bico negra com a base amarelada, a cabeça e a parte superior das asas são amarronzadas, mas tornam-se cinzas à medida que a ave amadurece. O peito é ferruginoso, a barriga e as pernas são brancas e finamente barradas com listras ferrugíneas. A base da cauda é branca, mas vai se tornando barrada em direção à extremidade. Sua ampla distribuição geográfica também se reflete nos seus hábitos alimentares generalistas, pois consome desde insetos até aves e lagartos. Costuma voar em casais, fazendo movimentos circulares enquanto os dois vocalizam em dueto. Ocorrem também do México à Argentina e em todo o Brasil. Milvago chimachima Possui cerca de 40 cm de altura e 74 cm de envergadura, cabeça e corpo branco-amarelado, dorso marrom-escuro, listra pós-ocular preta, asas longas com mancha branca perceptível quando em voo. A cauda é longa com larga listra marrom escura na ponta. Alimenta-se principalmente dos parasitas de bovinos e equinos tais como carrapatos e bernes. O carrapateiro é frequentemente encontrado nas fazendas de gado, com os quais vivem associados, retirando destes carrapatos e bernes. Ocorre da América Central ao norte do Uruguai e da Argentina e em todo o território brasileiro. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.114 Caracara plancus Medindo cerca de 56 cm da cabeça a cauda e 123 cm de envergadura, o caracará é facilmente reconhecível quando pousado, pelo fato de possuir uma espécie de solidéu preto sobre a cabeça, assim como um bico adunco e alto, que se assemelha à lâmina de um cutelo; a face é vermelha. É recoberto de preto na parte superior e possui o peito de uma combinação de marrom claro com riscas pretas. Não é um predador especializado, e sim um generalista e oportunista assim como o seu parente próximo, o carrapateiro (Milvago chimachima). Onívoro, alimenta-se de quase tudo o que acha de animais vivos ou mortos até o lixo produzido pelos humanos, tanto nas áreas rurais quanto urbanas. Vive solitário, aos pares ou em grupos, beneficiando-se da conversão da floresta em áreas de pastagem. Possui uma distribuição geográfica ampla, que vai da Argentina até o Sul dos Estados Unidos, ocupando toda uma variedade de ecossistemas, fora a cordilheira dos Andes. Sua maior população se encontra no sudeste e nordeste do Brasil. (Foto II.5.7-17) Pardirallus nigricans A saracura-sanã é uma ave gruiforme da família Rallidae. Também conhecida pelos nomes de franguinho-d'água, cambonje, cambonja e saracura-preta. Mede cerca de 30 cm. Tais aves possuem dorso marrom-oliváceo, garganta branca, partes inferiores cinzentas e bico verde. Comum em alagados, pântanos, lagos com gramíneas e campos de arroz. Presente do Pará ao Rio Grande do Sul. Encontrada também nas Guianas, Venezuela, Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e Argentina. Gallinula chloropus Toda cinza escuro, ao longe parecendo negro, com uma série de linhas brancas, largas, abaixo da asa fechada. Sob a cauda, área branca. Na cabeça, um grande escudo frontal vermelho une-se à pele nua e vermelha da base do bico, o qual é amarelo e só a ponta é visível. Caminha sobre a vegetação mais densa, caçando invertebrados, ocasionais pequenos vertebrados, embora sua alimentação principal seja de origem vegetal. É comum em lagos com vegetação aquática e margens pantanosas. Normalmente é visto nadando próximo às margens, quando balança a cabeça para frente e para trás. Presente em todo o Brasil e em quase todo o planeta, com exceção da Austrália e Nova Zelândia. (Foto II.5.7-9) Vanellus chilensis Mede 37 cm, peso 277 g. Possui um esporão pontudo, ósseo, com 1 cm de comprimento no encontro das asas, uma faixa preta desde o pescoço ao peito e ainda umas penas longas (penacho) na região posterior da cabeça, tem um desenho chamativo de preto, branco e cinzento na plumagem. O quero-quero se alimenta de invertebrados aquáticos e peixinhos que encontra na lama. Costuma viver em banhados e pastagens; é visto em estradas, campos de futebol e próximo a fazendas, frequentemente longe d'água. O quero-quero é uma ave típica da América do Sul, PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.115 sendo encontrado desde a Argentina e leste da Bolívia até a margem direita do baixo Amazonas e principalmente no Rio Grande do Sul, no Brasil. (Foto II.5.7-12) Jacana jacana Uma das aves mais comuns nos brejos e margens de rios possui os pés enormes para seu tamanho. Medem aproximadamente 23 cm de comprimento, possuindo plumagem negra com manto castanho, bico amarelo com escudo frontal vermelho, rêmiges verde-amareladas, encontro com um afiado esporão vermelho. Nas plantas, ou logo abaixo delas, encontra os insetos e outros invertebrados de sua alimentação. Come também grãos. Embora sejam relativamente sociáveis em alguns locais ou épocas do ano, defendem seus territórios contra outras jaçanãs (ou cafezinhos, nome pantaneiro). A jaçanã (Jacana jacana Linnaeus, 1766) tem vasta distribuição nas Américas, ocorrendo a partir das Guianas até a Venezuela, Colômbia, Brasil, Bolívia, Argentina, Equador, Peru e Chile (MEYER DE SCHAUENSEE, 1982). Columbina squammata A característica mais marcante desta espécie é o padrão escamoso de suas penas que ajuda na sua camuflagem. A cor de base é o bege. Quando em voo é possível ver uma faixa branca na base da asa que seguida pela faixa branca da lateral da cauda. Mede cerca de 19 cm. Alimenta-se no chão, andando com a barriga quase arrastando no solo. Quando assustado, voa bruscamente para árvores próximas. Uma árvore chamada Crindiuva (Trema micrantha), dá um dos frutos prediletos dessa espécie. A fogo-apagou é uma rolinha de hábitos geralmente discretos, que anda em casais ou pequenos grupos pelas bordas de matas, cerradões, pomares, parques e outros tipos de vegetação, excluindo-se os muito abertos ou muito fechados. Seu silêncio só é quebrado pela vocalização, que a ave só emite empoleirada em locais bem escondidos, e pelo ruído produzido pelas asas quando a ave alça voo, lembrando um gemido. Presente nas regiões Nordeste, Centrooeste e nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Encontrado também da Guiana Francesa e Venezuela ao Paraguai e Argentina. Columbina talpacoti O macho, com penas marrom-avermelhadas, cor dominante no corpo do adulto, em contraste com a cabeça, cinza azulada. A fêmea é toda parda. Nos dois sexos, sobre a asa uma série de pontos negros nas penas. Alimenta-se de grãos encontrados no chão. Havendo alimento, reproduz-se o ano inteiro. Adapta-se aos ambientes artificiais criados pela ação humana. Vive em áreas abertas; o desmatamento facilitou sua expansão, em especial nas áreas formadas para pasto ou agricultura de grãos. Ocorre em todo o Brasil, mas é ausente das áreas densamente florestadas da Amazônia(Foto II.5.7-13) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.116 Patagioenas speciosa Mede cerca de 30 cm de comprimento. O macho possui as penas do pescoço de coloração metálica, dando-lhe uma aparência escamosa e a fêmea apresenta o pescoço marginado de preto, com pouco reflexo metálico. Como a demais espécies de pombos alimenta-se de frutos e sementes. Comum na copa de florestas densas, capoeiras altas, florestas de galeria e campos com árvores esparsas. Vive geralmente solitária ou aos pares no alto de árvores, pousada principalmente nos ramos mais expostos. Presente em regiões quentes de quase todo o País, com exceção de uma extensa área do Nordeste. Encontrada também do México à Argentina. Aratinga auricapillus Verde escura, somente com a parte anterior da cabeça e abdômen lavados de vermelho. Não possuem diferenças externas aparentes entre machos e fêmeas. Comem sementes, castanhas e frutas. Vivem em bandos grandes, compostos de 30 a 40 aves ou mais e dormem coletivamente em variados lugares. Vive na beira da mata habitando da Bahia ao norte do Paraná, Minas Gerais e sul de Goiás. Forpus xanthopterygius É a menor ave da família dos papagaios e periquitos no Brasil, com o corpo todo verde, um pouco mais escuro nas costas mede 12 cm e pesa em media 26 g. O bico é pequeno e cinza claro. Gostam mais das sementes do que da polpa das frutas. Vivem em bandos de até 20 tuins e sempre que pousam, se agrupam em casais. Habitam as bordas das matas ribeirinhas, mata seca e cerradões. Ocorre no nordeste, leste e sul do Brasil até o Paraguai e Bolívia, também no alto amazonas até o Peru e a Colômbia. Crotophaga ani Corpo franzino - 36 centímetros, preto uniforme, de bico alto, forte e curto. Cauda comprida e graduada. São essencialmente carnívoros, comendo gafanhotos, percevejos, aranhas, miriápodes etc. Vive em paisagens abertas com moitas e capões entre pastos e jardins; ao longo das rodovias costuma ser quase a única que se vê, como habitante de lavouras abandonadas. Ocorre da Flórida à Argentina e todo o Brasil. (Foto II.5.7-7) Guira guira Corpo franzino, cauda comprida, graduada e com fita preta. Branco-amarelado, bico cor de laranja (cinzento no indivíduo imaturo). Bico forte e curvo. São essencialmente carnívoros, comendo gafanhotos, percevejos, aranhas, miriápodes etc. Até certo ponto são beneficiados pelo desaparecimento da mata alta, pois vivem em campos, lavouras e ambientes mais abertos. Migram para regiões onde eram desconhecidos e tornam-se as aves mais comuns ao longo das estradas. Ocorre do sudeste do Amapá e do estuário amazônico à Bolívia, Argentina e Uruguai. (Foto II.5.7-8) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.117 Athene cunicularia A cabeça é redonda e os olhos estão dispostos lado a lado, num mesmo plano. As sobrancelhas são brancas e os olhos amarelos. A coloração é cor de terra, mimética, podendo apresentar plumagem em tons de ferrugem causada por solos de terra roxa. Alimenta-se principalmente de insetos, mas pode caçar pequenos roedores, répteis, anfíbios e até pássaros pequenos. Coruja terrícola tem hábitos diurnos e noturnos, mas é ativa, principalmente durante o crepúsculo, quando faz uso de sua ótima audição. Tem o campo visual limitado, mas essa deficiência é superada pela capacidade de girar a cabeça até 270 graus, o que ajuda na focalização. Ocorre do Canadá ao Sul da América do Sul, bem como em quase todo o Brasil com exceção da bacia Amazônica (Foto II.5.7-6) Nyctidromus albicollis Mede cerca de 30 cm de comprimento. O macho apresenta uma larga faixa nas asas (observada em voo) e os lados da cauda brancos e a fêmea possui uma estreita faixa amarelada nas asas e somente a ponta da cauda branca. Sai para se alimentar à noite. Captura insetos em voo. Comum em bordas de florestas, capoeiras abertas, campos com árvores isoladas, cerrados, capões de mata podendo também ser encontrado em matas secundárias e em processo de reflorestamento. Ocorre em todo o Brasil, onde há florestas ou capoeiras, e também dos Estados Unidos e México até a Bolívia, Paraguai e Argentina. Hydropsalis torquata Mede cerca de 40 cm de comprimento (macho adulto), onde a calda toma mais de 2/3 deste total. A fêmea tem por volta de 27,5 cm. Sua longa cauda tem a forma de tesoura. É exclusivamente insetívoro. Parte do solo em voo curto para capturar o inseto e pousa imediatamente. É grande devorador de mariposas. Vive na beirada da mata, campos e cerrados. Adapta-se também às cidades. Do sul do Rio Amazonas até o Rio Grande do Sul, e também no Peru, Paraguai, Argentina e Uruguai. Furnarius rufus Conhecido por seu característico ninho de barro em forma de forno. O joão-de-barro é tido como passarinho trabalhador e inteligente. Mede 18 a 20 cm de comprimento e pesa 49 g. Possui o dorso inteiramente marrom avermelhado (por isso o epíteto específico rufus). O pássaro, revirando as folhas, busca cupins, formigas ou içás no solo ou sob troncos caídos. Alimenta-se também de outros invertebrados, como minhocas e possivelmente moluscos. Aproveita restos alimentares humanos, como pedaços de pão. É muito comum em paisagens abertas, como campos, cerrados, pastagens, ao longo de rodovias e em jardins. Um dos pássaros mais populares das regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste de nosso País. Está presente em áreas não florestadas, desde o sul até os estados de Goiás, Piauí e Alagoas. Recentemente tem ampliado seus limites para regiões onde tem PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.118 ocorrido o desmatamento de grandes áreas, como o sudeste do Pará. Encontrado também na Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. (Foto II.5.7-4) Colonia colonus O contraste entre o negro do corpo e o branco do alto da cabeça é exclusivo desta espécie. Quando voa, é possível ver a grande área branca nas costas, antes da cauda. Caça insetos em voo, a partir de poleiros favoritos, para os quais retorna após uma incursão ou ao longo dos dias. Presente na região periférica da Bacia Hidrográfica Amazônica, até Rondônia, Ilha de Marajó (Pará) e Maranhão, e no restante do Brasil até o Rio Grande do Sul. Pitangus sulphuratus Ave de médio porte, o bem-te-vi mede entre de 20,5 e 25 cm de comprimento para, aproximadamente, 60 gramas. Tem o dorso pardo e a barriga de um amarelo vivo; uma listra (sobrancelha) branca no alto da cabeça, acima dos olhos; cauda preta. Possui uma variada alimentação. É insetívoro, podendo devorar centenas de insetos diariamente. Mas também come frutas (como bananas, mamões, maçãs, laranjas, pitangas e muitas outras), ovos de outros pássaros, flores de jardins, minhocas, pequenas cobras, lagartos, crustáceos, além de peixes e girinos de rios e lagos de pouca profundidade. São agressivos, ameaçam até gaviões e urubus quando esses se aproximam de seu ―território‖. Costumam pousar em lugares salientes como postes e topos de árvore. É uma ave típica da América Latina, com uma distribuição geográfica que se estende predominantemente do sul do México à Argentina, em uma área estimada em 16.000.000 km²(Foto II.5.7-11) Tyrannus savana Apesar de não ser colorida, a leveza e graça do voo, bem como a distribuição de cores são muito chamativas. O capuz é negro e apresenta no meio do píleo uma coloração amarela, na maioria das vezes escondido, distingue-se contra a garganta e partes inferiores brancas. Hábitos como o do suiriri, com grande consumo de frutos no período de migração. Dispersa os frutos da erva-depassarinho no cerrado, com sua característica semente onde um pé adesivo ressalta-se. Apesar de migrarem em grupos, em setembro os machos já estão exibindo seu característico voo territorial, pairando em espirais com asas e cauda abertos, ao mesmo tempo em que emite o canto longo e rápido, terminado com três ou quatro notas mais espaçadas. Existem tesourinhas que vivem no sul (Argentina, Paraguai e extremo sul do Brasil), em várias outras partes do Brasil, no Caribe e no sul do México. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.119 Tachycineta albiventer As melhores características para determinação segura são o tom esverdeado dominante na plumagem das costas, mais notável sob luz intensa e a área branca sobre a asa (embora os juvenis da andorinha-de-sobre-branco, também tenham um pouco de branco no mesmo local). Mede cerca de 13,5 cm. Voa próximo à água, apanhando insetos em rápidos movimentos de ida e vinda. Vive em casais, grupos familiares ou solitária, sempre nos rios, corixos e baías. Encontrada na maior parte do Brasil, exceto no extremo sul. (Foto II.5.7-3) Stelgidopteryx ruficollis Esta espécie possui um tamanho médio de 14 cm, pesando aproximadamente 13,5 g. Sua cauda é quase retangular, a garganta cor de canela-avermelhada contrasta com a cor de fuligem dos lados da cabeça, do lado superior todo e do peito. As aves dessa espécie são rigorosamente entomófagas, sendo um dos maiores consumidores de plâncton aéreo, comem cupins, formigas, moscas e até abelhas. É comum em áreas abertas e clareiras, sendo mais numerosa próxima à água. Vive em pequenos grupos, empoleirada em galhos mortos ou fios. Ocorre da América Central à Argentina e em todo o Brasil. No sul do país é migratória. Encontrada também da Costa Rica e Panamá aos demais países da América do Sul, com exceção do Chile. Progne tapera Medindo cerca de 17,5 cm, é uma espécie grande, cor de fuligem, garganta e abdômen brancos, e a parte inferior da cauda, também é branca. As aves dessa espécie são rigorosamente entomófagas, sendo um dos maiores consumidores de plâncton aéreo, comem cupins, formigas, moscas e até abelhas. Habita o campo e a paisagem aberta de cultura. Troglodytes musculus Mede 12 cm de comprimento. Seu canto trinado, alegre e melodioso, é ouvido principalmente no começo da manhã. Come insetos pequenos (besouros, cigarrinhas, formigas, lagartas, vespinhas) e aranhinhas, e às vezes até filhotes de lagartixa. Captura as presas enfiando o bico em frestas e cavidades, tanto em construções humanas quanto sob a casca de plantas. Possui ampla distribuição, ocorrendo desde o Canadá até o sul da Argentina, Chile e em todo o Brasil. Coereba flaveola Mede aproximadamente 10,8 cm e pesa cerca de 10 g. Tem o dorso marrom, o peito e o abdome amarelos, o pescoço cinza e a cabeça listrada preta e branca, não apresentando diferenças na plumagem em relação aos machos e fêmeas. Para coletar alimento, em qualquer altura, agarra-se firmemente à coroa das flores e com o bico curvo e pontiagudo perfura o cálice, atingindo assim os nectários. Ocorre em quase todas as regiões do país, podendo estar ausente de regiões extensivamente florestadas, como no oeste e centro da Amazônia. É encontrada desde o México, e em todos os países da América do Sul, com exceção do Chile. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.120 Saltator similis Um pouco menor do que outras espécies do mesmo gênero possui o mesmo bico negro e forte que originou o nome comum dessas aves. O trinca-ferro-verdadeiro é um típico onívoro, se alimentando de frutos, insetos, sementes, folhas e flores (como as do ipê). Na infância seu regime alimentar é predominantemente animal. O macho costuma trazer alimento para sua fêmea. Vivem em capoeiras, bordas de matas e clareiras. Está sempre associado às matas, ocupando o estrato médio e superior. Distribui-se na parte central do Brasil e nordeste, na Bahia ao sul do País, no Rio Grande do Sul e toda a região Sudeste. Além de fronteiras vizinhas internacionais como Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Thraupis sayaca Com tamanho aproximado de 18 cm e 42 g de peso (macho), tem o corpo cinzento, ligeiramente azulado, com as partes inferiores um pouco mais claras. Alimenta-se de frutos, folhas, brotos, flores de eucaliptos e insetos, entre estes os alados de cupim (―aleluias‖ ou ―sirirís‖) capturados em voo. Vive normalmente na copa das árvores em busca dos frutos maduros, mas é intrépido o suficiente para apanhar também os caídos. Ocorre nas regiões tropicais e subtropicais ao sul da Amazônia e a leste dos Andes Thraupis ornata Espécie facilmente identificável pela coloração azul-acinzentada escura e coberteiras superiores das asas amarelas, diferenciando-se bem das outras espécies de sanhaços. Alimenta-se de frutas pequenas e geralmente duras de árvores, arbustos e cipós. Alimenta-se também de folhas, botões e néctar podendo caçar insetos em voo como cupins e borboletas. Habita beira de matas e de capoeiras. No inverno, juntam-se a grandes bandos mistos de espécies de outras famílias, comportamento útil na proteção contra inimigo. Tangara cyanoventris A Saíra-douradinha é um Passeriforme da família Thraupidae. Conhecida também como Douradinha. Tem em média duas ninhadas por estação com três ovos cada uma. Tangara cayana O macho possui uma plumagem de coloração amarelo-prateada e uma notável máscara negra, que se estende pela garganta e passa pelo meio de toda a barriga, a qual é diferente nas diversas subespécies, que são divididas em dois grupos: cayana e flava. Essa saíra se alimenta de frutos e insetos como cupins e vespas. Costuma frequentar comedouros e árvores com frutos maduros, como a aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolia) e Magnólias (Magnolia spp). Habita matas abertas e ciliares, áreas cultivadas, parques e jardins. Vive aos pares ou em pequenos grupos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.121 Zonotrichia capensis Pássaro de porte médio que mede 15 cm de comprimento. Possui o corpo compacto, com asas e cauda de tamanhos regulares, pernas e pés delgados e bico cônico e forte. Alimenta-se de sementes, brotos, frutas, insetos (besouros, formigas, grilos, cupins alados). É comum em paisagens abertas, plantações, jardins, pátios e coberturas ajardinadas de edifícios. Abundante em regiões de clima temperado e também em cumes altos expostos a ventos frios e fortes. Ocorre em todas as regiões do País, com exceção das áreas florestadas da Amazônia. Conirostrum speciosum As cores do macho facilitam a identificação, embora o cinza azulado dominante, mais escuro na parte superior, possa levar à confusão com a balança-rabo-de-mascara (Polioptila dumicola), se observado à distância e rapidamente. Anda em casais ou pequenos grupos, sempre à procura de insetos no meio das folhas. Vive aos pares ou em pequenos grupos, frequentemente participando de bandos mistos de copa, o que o torna difícil de ser observado. Habita florestas, capoeiras, parques e jardins. Presente em Roraima e grande parte da região ao sul do Rio Amazonas, e no restante do País. Encontrado também em todos os demais países amazônicos - Guianas, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, Paraguai e Argentina. Sicalis flaveola Tamanho aproximado: 13,5 cm. Peso médio: 20 g. Cor amarelo-olivácea com estrias enegrecidas nas costas e próximo das pernas. Asas e cauda cinza-oliva. Alimenta-se de sementes no chão. Vive em campos secos, campos de cultura e caatinga, bordas de matas, áreas de cerrado, campos naturais, pastagens abandonadas, plantações e jardins gramados, sendo mais numeroso em regiões áridas. Está presente do Maranhão ao sul até o Rio Grande do Sul e a oeste até o Mato Grosso, bem como nas ilhas do litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro. Encontrado localmente também nas Guianas, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina. (Foto II.5.7.-10) Paroaria coronata Mede 18 cm de comprimento. Pássaro de extraordinária beleza física e sonora. Por estas características pássaro muito caçado. Não há dimorfismo sexual. Imaturo pardacento, com topete ferrugíneo. Assim como a maioria dos pássaros canoros, formam bandos na época de muda. Vivem em bordas de arrozais, campos com vegetação alta e bordas de matas. Ocorre nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Foi introduzido na região Sudeste, principalmente no estado de São Paulo. (Foto II.5.10) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.122 Cyanoloxia brissonii De bico avantajado e negro. O macho é totalmente azul-escuro, com partes azuis brilhantes. Sua alimentação é bem variada, sobretudo de sementes, frutas e insetos. É encontrada na beira de pântanos, matas secundárias e plantações. Esta ave é territorialista. Não é possível vê-la em bando. Sua distribuição geográfica abrange do Nordeste do Brasil ao Rio Grande do Sul, bem como na Bolívia, Paraguai e Argentina. Icterus jamacaii Mede cerca de 23 cm de comprimento. Não apresenta dimorfismo sexual. Onívoro. O corrupião se alimenta de frutos, sementes, insetos, aranhas e outros pequenos invertebrados. É comum em áreas da caatinga e zonas secas abertas, onde pousa em cactáceas, e também em bordas de florestas e clareiras, nos locais mais úmidos. Vive aos pares. Não costuma acompanhar bandos mistos de aves. Encontrado exclusivamente no Brasil, do leste do Pará, Maranhão, Ceará e Pernambuco estendendo-se para o oeste até Goiás, e para o sul até Bahia e Minas Gerais. (Foto II.5.7-15) Estrilda astrild Mede cerca de 10,5 cm de comprimento e pesa 7,5 g. Alimenta-se basicamente de sementes de gramíneas africanas, como o capim-colonião e o capim-elefante, introduzidos em nosso território. Comum em campos e terrenos baldios nas cidades. Ocorre no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco (Recife), Pará (Belém), Amazonas (Manaus), Mato Grosso, Maranhão, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Paraná (Londrina, Curitiba), Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Megarynchus pitangua Bico extremamente largo e chato, que é, aliás, muito variável; tem o tarso muito curto. Ave que lembra muito o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), mas seu bico é muito robusto e sua vocalização difere totalmente. Seu grande bico o ajuda a apanhar os insetos e as frutinhas dos quais se alimenta. Já foi visto pescando pequenos peixes e caçando pequenos lagartos e filhotes de outras aves. Ave migratória, sendo encontrada nos meses mais quentes do ano. O casal tem o hábito de cantar em dueto, porém este é mal sincronizado. (Foto II.5.7-2) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.123 AVES FOTO II.5.7-1 - Sicalis flaveola FOTO II.5.7-2 - Megarynchus pitangua FOTO II.5.7-3 - Tachycineta albiventer FOTO II.5.7-4 - Funarius rufus FOTO II.5.7-5 - Fluvicola nengeta FOTO II.5.7-6 - Atenes cunicularia FOTO II.5.7-7 - Crotophaga ani FOTO II.5.7-8 - Guira guira PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.124 FOTO II.5.7-9 - Gallinula chloropus FOTO II.5.7-10 - Paroaria coronata FOTO II.5.7-11 - Pitangus sulphuratus FOTO II.5.7-12 - Vanellus chilensis FOTO II.5.7-13 - Columbina talpacoti FOTO II.5.7-14 - Tyrannus melanocholicus FOTO II.5.7-15 - Icterus jamacaii FOTO II.5.7-16 - Coragyps atratus PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.125 FOTO II.5.7-17 - Caracara plancus Fonte das fotos: Alternativa Educação e Manejo Ambiental II.5.5.3 - Ictiofauna Foram identificadas por meio de levantamentos secundários, 18 espécies de peixes divididas entre 7 famílias de potencial ocorrência para a área de estudo. TABELA II.5.5 - Espécies levantadas por meio de dados secundários e status de conservação Status de Conservação Família Espécie Nome Comum IUCN CITES Biodiverssitas Characidae Astyanax bimaculatus Lambari-doNL NL NL raboamarelo Astyanax scabripinnis Lambari-deNL NL NL riacho Astyanax sp. Lambari NA NA NA Heterocheirodon sp. Piabinha NA NA NA Oligosarcus Lambari-bocarra NL NL NL argenteus Erythrinidae Hoplias malabaricus Traíra NL NL NL Hoplias intermedius Trairão NL NL NL Poeciliidae Poecilia reticulata Barrigudinho NL NL NL Heptapteridae Rhamdia quelen Bagre NL NL NL Rhamdia cf. hilarii Bagre NA NA NA Loricariidae Hypostomus cf. Cascudo NA NA NA affinis Hypostomus sp. Cascudo NA NA NA Neoplecostomus Cascudinho NL NL NL microps Trichomycteridae Trichomycterus aff. Cambeva NA NA NA Brasiliensis Trichomycterus sp. Cambeva NA NA NA Cichlidae Australoheros facetus Acará NL NL NL Geophagus Acará NL NL NL brasiliensis Tilapia cf. rendalli Tilápia NA NA NA Legenda: Vide Quadro de Referências PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.126 Nenhuma das espécies levantadas como de potencial ocorrência para a região foi listada como ameaçada de extinção em nível mundial segundo a lista da IUCN, 2009, ou regional, segundo a lista da BIODIVERSITAS, 2009. E nenhuma foi listada como ameaçada pelo tráfico internacional de animais silvestres segundo a lista da CITES, 2006. As espécies de peixes levantadas por meio de dados secundários puderam ser confirmadas apenas a título de comparação, através de entrevista com o senhor Rodolfo Zulske, presidente da Associação de pescadores de Governador Valadares, MG. A família que apresentou o maior número de espécies foi a Characidae com cinco espécies, seguida pela família Loricariidae e Cichlidae, ambas com três espécies. O padrão encontrado segue em consonância com os demais estudos realizados no país nos quais esta família vem sendo registrada como a mais abundante nos ecossistemas lóticos brasileiros (REIS et al., 2003; BUCKUP et al., 2007), e demais ecossistemas continentais, não estuarinos, da região Neotropical (LOWEMCCONNELL, 1987; CASTRO, 1999). A ordem Characiformes possui um grande número de espécies, sendo a ordem predominante em águas continentais na América do Sul (BUCKUP et al., 2007), dentro deste grupo a família Characidae, com aproximadamente 950 espécies conhecidas é vista como a mais diversa. Em geral estas espécies são caracterizadas por possuírem o corpo coberto por escamas, presença de nadadeira adiposa e nadadeira pélvica localizada na porção inferior as nadadeiras peitorais. A família Loricariidae, com 90 gêneros e 680 espécies atualmente descritas é a maior família da ordem Siluriformes. Os indivíduos desta família são caracterizados por possuírem o corpo coberto por um escudo ósseo e achatamento dorso-ventral (MENEZES et al., 2007). Estas espécies adaptam-se bem ambientes com águas correntes, onde existe grande quantidade de oxigênio dissolvido, assim como pode ser observado no Rio Doce nas proximidades da cidade de Governador Valadares MG. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.127 II.5.5.3.1 - Espécies de relevância científico-conservacionista A espécie Rhamdia quelen, descrita como de potencial ocorrência para a região, é uma espécie de bagre carnívoro, ocorre predominantemente nos rios de maior porte, na época das chuvas essa espécie costuma se deslocar para regiões de cabeceiras para se reproduzir e desovar, após este período os peixes retornam para o rio principal para se alimentar, no entanto este processo pode ser observado para esta espécie ao longo do ano todo (FILHO & SCHULZ, 2003). Durante as entrevistas pode-se registrar, por diversas vezes relatos da presença de tilápias (Tilapia rendalli ou Oreochromis niloticus) na região do estudo. Estes animais, pertencentes ao grupo do Ciclídeos, são espécies exóticas, porém bem adaptados a ambientes lênticos, comumente encontrados em lagoas marginais, lagos e rios. Registram-se hoje no Brasil várias espécies exóticas provenientes de diversas regiões do próprio país e da África, estas espécies são extremamente nocivas as espécies nativas (BUCKUP, 1999), podendo acarretar em consequências inesperadas ao ambiente natural (MOYLE & LIGHT, 1996). Estas espécies vêm sendo diagnosticadas como principal causa de perda de diversidade em diversos ecossistemas aquáticos neotropicais (RODRÍGUES, 2001; VITULE et al., 2006; JUNK et al., 2006). A família Poecilidae e suas características naturais podem ser analisadas como um excelente indicador de qualidade dos cursos d’água (KENNARD et al., 2006). A espécie Poecilia reticulata da ordem Cyprinodontiformes e é uma espécie exótica invasora, se alimenta de qualquer recurso disponível (onívoras), aproveitando o enriquecimento orgânico da água (oriundo do lançamento de esgoto, por exemplo) e, ainda, possui fecundação interna permitindo, assim, maiores chances de sobrevivência aos alevinos. Sua distribuição restrita inicialmente ao norte do continente Sul Americano e América Central, hoje se expandiu para grande parte do território Brasileiro. Acredita-se que esta espécie tenha sido introduzida por aquariofilistas (BASTOS, 1980), ou ainda, que seja decorrente do uso dessas espécies para controle sanitário de mosquitos transmissores de doenças, visto que estes peixes se alimentam das larvas de insetos vetores. Indivíduos desta espécie podem permanecer nos cursos d’água muito tempo, mesmo depois que todas as demais espécies desaparecem. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.128 II.5.5.4 - Herpetofauna Foram registrados 17 espécies representantes da herpetofauna (Gráfico II.5.3-3). A Classe Reptilia apresentou menor riqueza com apenas quatro famílias: (1) Tropiduridae, (1) Geckonidae, (1) Teiidae e (1) Colubridae (Gráfico II.5.3-2). A Classe Amphibia apresentou maior representação de riqueza, com quatro famílias: (7) Hylidae, (4) Leptodactylidae, (1) Bufonidae e (1) Leiuperidae (Gráfico II.5.3-1). GRÁFICO II.5.1-1 – Proporção de espécies registrados da Classe Amphibia, representados por família GRÁFICO II.5.3-2 - Proporção de espécies registrados da Classe Reptilia representados por família PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.129 GRÁFICO II.5.3-3 - Proporção de anfíbios e répteis registrados durante o período de estudo realizado na região de implantação do Parque Entre os répteis, foram registradas apenas quatro espécies. De um modo geral, lagartos e serpentes ocorrem em baixa densidade em áreas florestais, e a maioria das espécies apresenta hábitos discretos (CARMONA, 2007). Tropidurus torquatus (Foto II.5.8-1) foi a espécie que apresentou maior abundância, no entanto, o registro dessa espécie esteve mais relacionado a ambientes antropizados, onde era possível observar indivíduos em atividade de termorregulação em cima de cercas, calhas, telhados e muros. Quando encontrada em ambientes menos perturbados, era normalmente observada forrageando em cima de rochas. É uma espécie generalista e oportunista. A segunda espécie mais abundante foi Hemidactylus mabouia (Foto II.5.8-2), que esteve associada principalmente às matas de várzea, podendo ser encontrada em troncos de árvores que margeavam o Rio Doce. Seus registros ocorreram apenas durante o período noturno, comportamento típico da sua família Gekkonidae. Esta espécie é considerada invasora, visto que ela é nativa da África. A espécie Tupinambis merianae apresentou apenas um registro durante nosso estudo. No entanto, integrantes de outras áreas deste estudo relataram ter visto a espécie, inclusive mais de uma vez. Na entrevista realizada com os moradores da região, a espécie foi relatada como comum na região. Tanto o indivíduo registrado como os relatados pelos outros integrantes da equipe encontravam-se na idade adulta. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.130 Apenas um registro de serpente ocorreu durante o estudo. Trata-se da espécie Oxyrhopus trigeminus (Foto II.5.8-3). Esta espécie foi encontrada morta por um dos funcionários do Minas Club na mata de várzea que margeia o Rio Doce . Entre os anfíbios, foram registradas 13 espécies. A família Hylidae apresentou maior riqueza, com sete espécies identificadas. O grande número de hilídeos, em relação às outras famílias, é um fato já observado por outros autores para estudos na região neotropical. Os hilídeos são adaptados para o hábito arborícola, razão pela qual conseguem ocupar com sucesso ambientes de grande heterogeneidade estrutural, como as florestas (CARDOSO et al., 1989; SILVANO & PIMENTA, 2003; HADDAD et al., 2008). Embora a maior riqueza seja considerada para a família Hylidae, as espécies que ocorreram em maior abundância foram Rhinella granulosa (Foto II.5.8-4) e Leptodactylus fuscus (Foto II.5.8-5), das famílias Bufonidae e Leptodactylidae, respectivamente (Gráfico II.5.4). Ambas as espécies foram registradas em todos os pontos de amostragem, com exceção do Ponto 4, da mata de várzea, e podiam ser observadas ao longo de toda a região percorrida a pé durante o estudo, inclusive nas vegetações que margeavam a estrada. Uma grande quantidade de indivíduos de Rhinella granulosa era facilmente avistada atravessando a estrada de terra, passando de um fragmento a outro de vegetação; eram encontrados vocalizando em abundância em áreas totalmente antropizadas, como em volta das piscinas artificiais; além de também possuírem um registro alto de atropelamentos. De um modo geral, as intervenções humanas levam a um empobrecimento da estrutura e da diversidade da vegetação. Todos os pontos de amostragem apresentavam algum nível de perturbação antrópica, o que contribui para o sucesso de espécies mais generalistas e oportunistas, como foi registrado ocorrer em abundância neste estudo (Tropidurus torquatus, Leptodactylus fuscus, Rhinella granulosa, Scinax fuscovarius (Foto II.5.8-6), Hypsiboas crepitans (Foto II.5.8-7). Estudos comprovam que é possível notar uma queda na riqueza de uma determinada área com a diminuição da área de floresta e aumento de áreas abertas (CARMONA, 2007). Ao mesmo tempo, algumas espécies de mata, que ocorrem em clareiras naturais, se adaptam às novas condições dos ambientes abertos, como o caso da Hypsiboas faber (Foto II.5.88) (SILVANO & PIMENTA, 2003). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.131 Os pontos de amostragem que apresentaram maior riqueza foram os Pontos 6 e 7, com oito e sete espécies, respectivamente. Alguns fatores podem ter influenciado nesse resultado, como a ausência de atividade pecuária, estágio de sucessão secundária da vegetação em melhor estado, menores influências de efeito de borda devido localização, resultando em menor perturbação nessas áreas. O ponto de amostragem que apresentou menor riqueza (duas espécies) foi o Ponto 3, constituído por uma formação de matas de várzea. Essa fisionomia é caracterizada por inundar em determinados períodos do ano, ocorrendo uma alta elevação do nível da água. A espécie Dendropsophus branneri (Foto II.5.8-9) esteve associada a uma grande quantidade de aguapés existentes na área, enquanto Hypsiboas albopunctatus estava mais associada à vegetação arbustiva que margeava o Rio Doce. A maioria das espécies esteve mais associada a lagoas e poças temporárias, locais mais propícios para reprodução e desova. As espécies Phyllomedusa burmeisteri (Foto II.5.8-10), Dendropsophus elegans (Foto II.5.8-11) foram encontradas apenas em um ponto de amostragem. Provavelmente essas espécies ocorram em outros pontos de amostragem e apenas não apresentaram registros neste estudo por não ter havido atividade de vocalização ou forrageio nos dias em que os pontos foram amostrados. As espécies Leptodactylus sp. 1 e Leptodactylus sp. 2 não foram possíveis de ser identificadas, pois foram registradas apenas suas vocalizações que não foram reconhecidas. Não apresentaram registro visual ou fotográfico que pudessem colaborar com a identificação. A dominância de poucas espécies, como observado neste estudo, pode ser reflexo de forte processo de fragmentação e efeito de borda da área, caracterizando a perda de micro habitats ou até mesmo a descaracterização do ambiente onde espécies de hábitos especializados e mais sensíveis acabam sendo deslocadas ou mesmo eliminadas, em detrimento de espécies generalistas de áreas abertas (SILVANO et al., 2003) (Tabela II.5.6). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.132 É importante ressaltar que o número reduzido de répteis amostrados, em relação ao dos anfíbios possivelmente se deve ao fato destes animais possuírem características comportamentais que dificultam seu encontro na natureza (SAZIMA, 1989; HADDAD, 1992). O registro de anfíbios através da procura ativa é consideravelmente mais fácil que a de répteis, principalmente nas condições climáticas em que o estudo foi realizado, pois o período chuvoso é a época reprodutiva e, para a maioria das espécies de anuros, é quando os machos utilizam vocalizações para atrair fêmeas para o acasalamento. Neste estudo, todas as espécies encontradas foram registradas em atividade de vocalização. Porém o período chuvoso também resultou em dias nubladas na maioria dos dias do estudo, o que influência no comportamento dos répteis, já que estes são ectotérmicos e necessitam de fontes externas de calor, como o substrato aquecido, irradiação solar ou outra fonte térmica. Outros fatores, como o curto período de amostragem e apenas uma metodologia utilizada para o levantamento da herpetofauna (procura ativa), influenciaram nos resultados encontrados. GRÁFICO II.5.4 - Abundância de anfíbios registrados nos pontos de amostragem PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.133 TABELA II.5.6 - Lista das espécies da herpetofauna registradas na área de implantação do Parque, área de entorno e dados secundários. TAXA NOME POPULAR PONTO DE AMOSTRAGEM TIPO DE REGISTRO CLASSIFICAÇÃO STATUS DE CONSERVAÇÃO MG CITES IUCN CLASSE REPTILIA Amphisbaena sp. Ophiodes striatus Hemidactylus mabouia Hemidactylus sp. Lagartixa Enyalius cf. pictus Enyalius bilineatus Anolis nitens Mabuya frenata Ameiva ameiva Cnemidophorus ocellifer Tupinambis merianae Teiú Tropidurus torquatus Calango Boa constrictor Epicrates cenchria Chironius carinatus Spillotes pullatus Ordem Squamata Subordem Amphisbaenidae B Subordem Sauria Família Aguidae B Família Gekkonidae Mata de várzea/ AID OB/B B Família Leiosauridae B B Família Polychrotidae B Família Scincidae B Família Teiidae B B Toda área do Parque e OB/B entorno/ AID-AII Família Tropiduridae Toda área do Parque e OD/B entorno/ AID-AII Subordem Ophidia Família Boidae B B Família Colubridae B B - - - C - - - IN - - - C - - - C - - - C - - - C C - - - C VU C - - - C C - - - C C - - - PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.134 TAXA NOME POPULAR PONTO DE AMOSTRAGEM TIPO DE REGISTRO CLASSIFICAÇÃO STATUS DE CONSERVAÇÃO MG CITES IUCN Família Dipsadidae Atractus albuquerquei Boiruna maculata Dipsas albifrons Leptodeira annulata Liophis poecylogerius Oxyrhopus guibei Oxyrhopus trigeminus Philodryas olfersii Phimophis guerini Pseudoboa nigra Sibynomorphus neuwiedi Thamnodynastes hypoconia Tropidodryas serra Xenodon merremii Coral falsa Mata de várzea/ AII B B B B B B OD/B/E B B B B C C C - - - B C - - - - - - C C C C C B B Família Viperidae Jararaca Área do Parque e entorno / AID-AII E C - - - Bothropoides jararaca Borhtopoides neuwiedi B B C C - - Caudisona durissa B C - - - C C VU QA - C - - - Ordem Testudines Família Chelidae Cágado Hydromedusa maximiliani Caiman crocodilus AID E B Ordem Crocodylia Família Aligatoridae B CLASSE AMPHIBIA Ordem Anura PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.135 TAXA NOME POPULAR Ischnocnema guenteri Ischnocnema izecksohni Ischnocnema juipoca Rhinella granulosa Sapo cururu PONTO DE AMOSTRAGEM TIPO DE REGISTRO CLASSIFICAÇÃO Família Brachycephalidae B B B Família Bufonidae Todos os Pontos/ AIDOD/RA AII Família Centrolenidae Hyalinobatrachium uranoscopum B STATUS DE CONSERVAÇÃO MG CITES IUCN ED ED ED - - - C - - - ED - - - ED - - - C - - - Odontophrynus americanus Família Graugastoridae B Famíia Cycloramphidae B Odontophrynus carvalhoi B C - - Proceratophrys boiei B C - - C ED ED ED C C - - - B C - - - OD/RA/B C - - - OD/RA/B C - - - OD/RA/B B B B OD/RA/B C C C C ED - - - Haddadus binotatus Bokermannohyla circumdata Bokermannohyla nanazue Dendropsophus branneri Dendropsophus elegans Dendropsophus meridianus Dendropsophus minutus Dendropsophus nanus Dendropsophus rubicundulus Hypsiboas albopunctatus Perereca pequena Perereca-de-moldura Perereca-cabrinha Ponto 1 e 4/ AID-AII Ponto 6/ AII Hypsiboas crepitans Perereca-rajada Hypsiboas faber Hypsiboas lundii Hypsiboas pardalis Hypsiboas polytaenius Phyllomedusa burmeisteri Sapo-martelo Ponto 4/ AID Pontos 1, 2, 3, 6, 7 e 8/ AID-AII Pontos 5, 6 e 7/ AII perereca-da-folhagem Ponto 9/ AII Hylidae B B OD/RA OD/RA/B B B B PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 - E-II.136 TAXA NOME POPULAR PONTO DE AMOSTRAGEM Pseudis fusca Scinax fuscomarginatus Scinax fuscovarius perereca-debanheiro/rapa-cuia Todos os pontos/ AIDAII Scinax hayli Scinax machadoi Sphaenorhynchus prasinus Physallaemus albonatus Physallameus cuvieri Physallaemus marmoratus rã-cachorro Pseudopaludicoal falcipes Leptodactylus fuscus Leptodactylus labirinthycus Leptodactylus ocellatus Leptodactylus sp.1 Leptodactylus sp.2 Leptodactylus troglodytes rã-assobiadeira rã-manteiga Pontos 1 e 6/ AII TIPO DE REGISTRO B B CLASSIFICAÇÃO STATUS DE CONSERVAÇÃO MG CITES IUCN C - - - OD/RA/B C - - - B B B Família Leiuperidae B OD/RA/B B C ED C - - - C C C - - B C - - - C - - - C C - - - Família Leptodactylidae Todos os pontos/ AIDOD/RA/B AII B Ponto 1 e 7/ AII OD/RA/B Ponto 3 e 7/ AID-AII RA Ponto 7/ AII RA B Mycrohylidae B B B C Chiasmocleis albopunctata C Dermatonotus muelleri C Elachistocleis ovalis C Legenda: Pontos de amostragem: AID = área de influência direta; AII = Área de influência indireta/ Tipos de registro: OD = observação direta; RA = registro auditivo; E = entrevista; B = bibliografia/ Característica: C = comum; ED = endêmico; IN = invasora / Status de conservação: VU = vulnerável; QA = quase ameaçada. Dados secundários (EA/PBA Estudo Ambiental e Plano Básico Ambiental – Duplicação da Estrada de Ferro Vitória a Minas – EFVM entre os pátios 5 a 7A) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.137 II.5.5.4.1 - Espécies Raras, Endêmicas e/ou Ameaçadas de Extinção Nenhuma das espécies registradas neste estudo encontra-se ameaçada de extinção, com exceção da espécie Tupinambis merianae que é uma espécie de lagarto de grande porte, muito visada por caçadores para consumo de sua carne. Está listada como vulnerável no Apêndice II da CITES. Apesar de não ter ocorrido nesse estudo o registro de quelônios, houve relatos nas entrevistas da existência desses na região. Os quelônios de água doce também costumam ser mais apreciados para consumo alimentício e embora esse hábito cultural seja mais comum na região norte do país, vale ressaltar o interesse humano por sua carne. Apenas três espécies de anfíbios foram consideradas endêmicas do Bioma da Mata Atlântica (Dendropsophus branneri, Dendropsophus elegans e Phyllomedusa burmeisteri). No entanto, essas espécies são frequentes onde ocorrem. Em relação aos dados secundários, muitas espécies são consideradas endêmicas da Mata Atlântica (Tabela II.5.6). Esses dados foram resgatados de estudos feitos na Bacia Hidrográfica do Rio Doce, já que Governador Valadares não possui estudos sobre a herpetofauna, e não foram encontrados estudos em áreas mais próximas. Praticamente todas as espécies registradas como endêmicas estão associadas a ambientes florestais bem preservados, ressaltando a importância dessas formações na conservação da biodiversidade de anfíbios e répteis. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.138 REPTEIS FOTO II.5.8-1- Tropidurus torquatus FOTO II.5.8-2- Hemidactylus mabouia FOTO II.5.8-3- Oxyrhopus trigeminus Fonte das fotos: Alternativa Educação e Manejo Ambiental ANFÍBIOS FOTO II.5.8-4- Rhinella granulosa PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.139 FOTO II.5.8-5- Leptodactylus fuscus FOTO II.5.8-6- Scinax fuscovarius FOTO II.5.8-7- Hypsiboas crepitans FOTO II.5.8-8- Hypsiboas faber FOTO II.5.8-9- Dendropsophus branneri FOTO II.5.8-10- Phyllomedusa burmeisteri FOTO II.5.8-11- Dendropsophus elegans FOTO II.5.8-12- Leptodactylus ocellatus Fonte das fotos: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.140 II.5.6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Como se pode observar nos mapas abaixo, a região da cidade de Governador Valadares onde se localiza a área destinada ao Parque Natural Municipal da cidade, não é prioritária para a conservação da biodiversidade (MMA, 2006), além disso, a área é classificada com de baixa prioridade para a conservação da fauna no estado de Minas Gerais. FIGURA II.5.4 - Mapa de prioridade para conservação da Biodiversidade em MG FIGURA II.5.5 - Mapa de prioridade para conservação de fauna em MG Fonte: MMA, 2006 Fonte: Zoneamento ecológico-econômico do estado de Minas Gerais – UFLA 2008 FIGURA II.5.6 - Mapa de prioridade para conservação de mamíferos em MG Fonte: Zoneamento ecológico-econômico do estado de Minas Gerais – UFLA, 2008 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.141 O mapa acima indica que a região do estudo é de prioridade baixa para a conservação de mamíferos no estado de Minas Gerais. No entanto o levantamento de dados secundários indicou como de potencial ocorrência para esta região, quatro espécies de mamíferos listados como ameaçados de extinção (BIODIVERSITAS, 2009). As espécies Alouatta guariba, Leopardus pardalis, Puma concolor e Pecari tajacu, são mamíferos com alta capacidade de deslocamento e necessitam de grandes áreas para sobreviver e estabelecer populações viáveis. Portanto a criação do Parque, não implicará em benefícios ou malefícios diretos a estas espécies, visto que as mesmas não foram avistadas em campo e provavelmente não utilizam a área devido às características supracitadas. FIGURA II.5.7 - Mapa de prioridade para conservação de aves em MG Fonte: Zoneamento ecológico-econômico do estado de Minas Gerais – UFLA, 2008 Assim como o mapa anterior o estudo aponta a área como de baixa relevância para a avifauna local, o mapa acima indica que a região do estudo é de prioridade baixa para a conservação de aves no estado de Minas Gerais. No entanto o levantamento de dados secundários indicou como de potencial ocorrência para esta região, três espécies de aves listadas como ameaçados de extinção (BIODIVERSITAS, 2009), são elas: Penelope obscura, Pyroderus scutatus e Sicalis flaveola. Estas espécies não foram avistadas durante os estudos de campo, porém são de potencial ocorrência para área. Deve–se ressaltar que devido à enorme capacidade de locomoção deste grupo, e pelo fato destas espécies não terem sido avistadas em campo, pode-se inferir que as PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.142 mesmas podem ser potenciais utilizadoras da área do Parque, mas provavelmente não se estabelecem na mesma. Mais uma vez, o que se entende é que pelas características da área estudada, a mesma não é de alta relevância para perpetuação destas espécies, devido as suas características, principalmente com relação ao tamanho do Parque, a área de vida e a capacidade de deslocamento destas espécies. FIGURA II.5.8 - Mapa de prioridade para conservação de peixes em MG Fonte: Zoneamento ecológico-econômico do estado de Minas Gerais – UFLA 2008 Os levantamentos de ictiofauna não indicaram nenhuma espécie de potencial ocorrência para a região, como ameaçada de extinção em nível mundial de acordo coma lista da IUCN (2009) ou regional de acordo com a lista da BIODIVERSITAS (2009), tão pouco ameaçadas pelo tráfico internacional de animais silvestres segundo a lista da CITES (2006). O mapa acima indica a região como de prioridade muito alta para a conservação da ictiofauna local, porém por se tratar da criação de um parque de âmbito terrestre, a preservação da área poderá contribuir apenas de forma indireta para a conservação deste grupo da fauna, atuando principalmente na recuperação das matas ciliares podendo contribuir nos processos de alimentação e reprodução de algumas espécies. Apesar do grande número de espécies levantadas por meio de dados secundários e, portanto, de potencial ocorrência para a região do estudo, o número de espécies observadas em campo foi relativamente baixo, entre os mamíferos pode-se observar a presença de apenas três espécies, dentre elas gambás e capivaras que são espécies pouco ameaçadas chegando a ser abundantes em alguns locais, e um sagui, que também não pode ser considerada como rara ou ameaçada. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.143 Estes animais possuem uma grande área de vida e provavelmente não se limitam a área prevista para o Parque. Entre as aves pode-se observar cerca de 80 espécies em campo, estes animais também possuem uma grande área de vida e uma enorme capacidade de deslocamento, não se limitando da mesma forma a área prevista para a implantação do Parque. No grupo da herpetofauna, todas as espécies encontradas na região durante este estudo apresentam maior tolerância para ambientes com certo grau de perturbação. O número de espécies generalista, dependendo do grau de perturbação antrópica, pode ser o maior responsável por uma grande riqueza, o que não significa que essa área seja importante no quadro regional ou local de conservação. Mais importante que a riqueza, portanto, é o número de espécies raras, endêmicas ou restritas a ambientes de mata que cada fragmento apresenta, pois essas serão realmente afetadas pelos processos de desmatamento e ocupação, em razão da modificação de seus habitats. Portanto, essas espécies fazem parte da diversidade biológica do ecossistema e exercem o papel de serviços ecológicos que vão além do nosso entendimento, e a perda dessas espécies poderia gerar impactos negativos irreversíveis na natureza. A utilização da herpetofauna como bioindicadores tem-se tornado cada vez mais frequente devido à facilidade como populações podem ser monitoradas e são consideradas sensíveis a mudanças ambientais respondendo nitidamente. Populações isoladas podem ser acompanhadas para avaliações de certos impactos causados no meio ambiente e atuarem como indicadores de qualidade ambiental. A indicação ecológica é fornecida por espécies que, devido as suas exigências ambientais bem definidas, podem constituir indícios ou sinal de presença daquelas condições para elas necessárias. As espécies registradas ocorrendo em abundância neste estudo, mesmo consideradas generalistas, podem ser ótimas para serem monitoradas em estudos de longo prazo. A maior riqueza de espécies esteve muito mais relacionada à área de entorno que dentro da área destinada à criação do Parque. Vale destacar a região do Monumento Natural do Pico da Ibituruna como importante área para conservação. Os pontos de amostragem para anfíbios que apresentaram maior riqueza estão inseridos na APA. Provavelmente a região abriga uma maior diversidade de representantes da PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.144 herpetofauna, principalmente de espécies que estão relacionadas às maiores altitudes. A recuperação de suas áreas degradadas se faz necessária, caso contrário, a contínua retirada da cobertura do solo pode acarretar em mais processos erosivos, comprometendo não só a fauna e a flora, mas também a vida do ser humano e principalmente, de pessoas que vivem naquela área. Portanto, os levantamentos de campo puderam mostrar que a fauna ocorrente na área é de extrema relevância para a manutenção de pequenas populações que possam fazer parte de sistemas de metapopulações em conjunto com outras populações de áreas adjacentes como o Monumento Natural e a APA do Pico da Ibituruna. Além disso, estes animais presentes na área poderão proporcionar aos futuros usuários do Parque uma relação de contato direto com a fauna nativa, através de programas e atividades que possam conduzir estas pessoas aos locais de potencial ocorrência destas espécies e que proporcionem o avistamento das mesmas de forma direta ou sua vocalização e até mesmo seus rastros. No entanto este estudo indica que, com relação à preservação e conservação da mastofauna, ornitofauna e ictiofauna silvestres da região, a área destinada à criação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares servirá mais como uma área de amortecimento para o Monumento Natural e a APA do Pico da Ibituruna, do que uma área protegida propriamente dita. A área é sim de extrema importância neste aspecto, servindo de refúgio para as espécies que transitem nas proximidades das unidades de conservação vizinhas, e que venham eventualmente se abrigar na área do Parque ou usá-la como corredor de acesso ao Rio Doce e como transição para demais áreas. Porém, o Parque não poder ser visto como uma área de tamanho suficiente e características ambientais favoráveis ao estabelecimento de populações de vertebrados ecologicamente viáveis. Apesar de se tratar de um Parque Municipal, de acordo com as atividades previstas a área possui diversas características de uso múltiplo, portanto, como dito anteriormente, no que se refere à fauna silvestre da região o Parque será de enorme valia para o conhecimento desta fauna por parte da população local, o contato entre as pessoas e o ambiente natural em seus mais diversos segmentos e principalmente a educação ambiental. Deve-se atentar para a conservação e recuperação da área, para que mesmo não resultando em extrema relevância para a fauna, o Parque possa abrigar as mais diversas espécies possíveis e proporcionar a população este contato direto com as mesmas. Devido a este contato, e as características de uso múltiplo do Parque, sugere-se que se tomem algumas medidas visando a minimização dos impactos provindos destas atividades. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.145 II.5.6.1 - Impactos, Medidas E Ações A partir dos dados levantados a respeito das áreas adjacentes ao Parque, a natureza do mesmo e as verificações de campo têm-se uma ideia dos impactos provindos da atividade a ser implantada no local e propor medidas mitigadoras e compensatórias. II.5.6.1.1 - Queimadas descontroladas As queimadas sempre ocorreram, e continuam ocorrendo de forma natural, resultantes de descargas elétricas. No entanto hoje a frequência no número de focos de incêndio florestal supera e muito os incêndios causados de forma natural fazendo do homem o principal causador de incêndios florestais (COUTINHO 1980; SALGADO-LABORIAU 1997; SALGADO-LABORIAU et al., 1998). O fogo causado pelo homem, e gerado a partir de substratos não naturais, difere no fogo que ocorre de forma natural, o comportamento do fogo (intensidade, duração, extensão, frequência e a época do ano) é determinante no tipo de impacto a ser causado aos demais elementos da biota (MIRANDA et al., 1993). O fogo exerce impacto considerável sobre o solo, a vegetação e a fauna, alterando os fluxos de energia, nutrientes e água entre o solo, os seres vivos e a atmosfera (DIAS et al., 1993; MOREIRA, 1992; SATO & MIRANDA, 1996; FROST, 1984; LEITE, 1993). Os padrões impostos pelo fogo às comunidades de plantas refletem sobre a fauna, que respondem a mudanças nos componentes físicos e bióticos decorrentes de queimadas (WOINASRKI & RECHER, 1997; ROTTENBERRY, 1985). Eventos de incêndios florestais de alta magnitude vêm se tornando cada vez mais comuns nos últimos anos. Efeitos indiretos sobre grandes vertebrados (répteis, aves e mamíferos) podem advir redução na disponibilidade de recursos alimentares, reprodutivos e refúgios contra predadores, acarretando a modificação da composição e estrutura das comunidades faunísticas (ABREU, 2000; PRADA, 2002). A ocupação da área originalmente por atividades de pecuária ou até mesmo das áreas vegetadas por um parque de usos múltiplos e o consequente aumento da circulação de pessoas no local, poderão aumentar a incidência de casos de incêndios florestais provocados propositadamente e acidentalmente. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.146 Como medida de mitigação deste impacto, sugere-se incluir estratégias de prevenção de incêndios florestais, no plano de controle ambiental junto ao poder público local, entre elas: a inserção da questão do fogo nos programas de educação ambiental e divulgação de alternativas de prevenção aos incêndios florestais, priorizar o desenvolvimento socioeconômico dos arredores do Parque através de modelos sustentáveis e fomentar e estruturar unidades locais de combate a incêndios vinculados aos órgãos públicos. A utilização de brigadas temporárias vem sendo implantada com relativa eficiência em diversos estados brasileiros pelo Programa de Prevenção a Incêndios (PREVFOGO/IBAMA, 2011). II.5.6.1.2 - Atropelamento de animais silvestres Tratando-se da implantação de um parque de usos múltiplos onde haverá trânsito de veículos, inclusive com uma área destinada a um estacionamento, o fluxo destes veículos poderá potencializar de forma expressiva os índices de atropelamentos da fauna silvestre. Várias espécies são frequentemente atropeladas em vias automotivas, em especial, cobras, tamanduás, cachorrosdo-mato, onças, aves terrestres como inhambus e codornas (família Tinamidae), inúmeros passarinhos, anús, urubus e vários gaviões, principalmente os carcarás (Polyborus plancus). Devem ser tomadas, portanto, algumas medidas que visem minimizar a ocorrência destes atropelamentos, que colocam em risco não somente a fauna silvestre, mas também a integridade física e material dos passageiros e veículos respectivamente. Controle, fiscalização, e sinalização das vias externas e principalmente internas do Parque, visando a redução da velocidade, instalação de quebra-molas em pontos críticos e projetos de educação ambiental com ênfase em conservação de animais para os frequentadores do Parque, bem como, para os demais motoristas da região. II.5.6.1.3 - Fragmentação e redução de habitats. O crescimento e expansão das fronteiras agrícolas e o desmatamento ocorrido em detrimento da ocupação urbana em todo o Brasil vem causando ao longo dos anos uma grande perda e fragmentação dos habitats. Este processo levou ao isolamento das áreas de vegetação e consequentemente da fauna nativa a áreas protegidas e unidades de conservação: estas áreas representam uma ínfima porção do território brasileiro e encontram-se bastante isoladas, o que impede a sustentabilidades de suas populações faunísticas, devido ao interrompimento do fluxo gênico entre suas populações. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.147 Atualmente, muito se discute acerca da importância da conectividade entre estes fragmentos e da manutenção de corredores ecológicos entre as unidades de conservação para a conservação da diversidade biológica da floresta. Segundo as orientações estratégicas para as áreas prioritárias para conservação, as unidades de conservação que compõem a Reserva da Biosfera devem ser conectadas por meio de corredores, incluindo os vários tipos de unidades de conservação e áreas protegidas. Os corredores, orientados pelos vales dos corpos hídricos, maximizam a possibilidade de fluxo genético entre populações de ecorregiões diferentes (MMA, 2002). O Parque Natural Municipal de Governador Valadares pode e deve servir como um corredor ecológico. II.5.6.1.4 - Impactos sobre a biodiversidade A fragmentação e a eliminação de habitats têm sido um dos principais fatores responsáveis pela perda da biodiversidade no mundo. A expansão das fronteiras agrícolas e o desmatamento resultam em perda e degradação dos habitats naturais, reduzindo a biodiversidade e potencializando as ameaças de extinção de espécies da fauna e flora (BRANDÃO 2002). Os impactos de fragmentação e perda de hábitat causados pelo desmatamento ocorrido na área do Parque e os resultados da recuperação da vegetação e consequentemente da fauna nativa da região só deverão ser percebidos após alguns eventos sazonais, pequenas variações populacionais, predação e competição por recursos alimentares que resultem em ganho de diversidade e abundância só poderão ser percebidos caso haja um programa de monitoramento de fauna antes, durante e após a implantação do Parque. Os efeitos de descontrole nos níveis de predação e competição aumentam proporcionalmente a fragmentação e perda de habitat e vice - versa, portanto as espécies mais frágeis, e de menor capacidade de deslocamento são mais suscetíveis aos impactos antrópicos. O ganho na conectividade de habitats e o consequente aumento da biodiversidade local, e seus impactos decorrentes nas demais áreas adjacentes caracteriza-se por um processo tido como certo em atividades como esta. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.148 II.5.6.1.5 - Tráfico ilegal de animais silvestres Um dos principais impactos da ocupação humana em ambientes naturais e consequentes aumento do contato entre seres humanos e animais silvestres é o aumento da coleta ilegal de espécies de valor comercial, em especial espécies carismáticas e causadoras de algum tipo de apelo emocional como, por exemplo, pequenos primatas, grandes lagartos e várias espécies de aves que são alvos de criação em cativeiro, tendo a reprodução comprometida pela retirada de ovos e filhotes dos ninhos, entre eles: os papagaios, araras, periquitos, e outros. Além da coleta de espécies animais, corre normalmente o aumento do extrativismo de espécies vegetais, principalmente as frutíferas, esta ação antrópica diminui a oferta de alimento, em especial, de espécies chaves para variados animais. Este impacto será provavelmente intensificado como aumento do fluxo de pessoas na região, porém existem algumas medidas, além do monitoramento de fauna sugerido, que podem minimizar estes impactos, como por exemplo: Fiscalização, por parte dos órgãos ambientais responsáveis e um programa de educação ambiental para os usuários do local, orientando sobre os cuidados e as medidas de combate ao tráfico ilegal de animais silvestres. II.5.6.1.6 - Intensificação da pressão de caça O aumento do número de pessoas transitando e ocupando um local originalmente ocupado pela fauna e flora nativas, provoca como impacto indireto um acréscimo na pressão de caça especialmente sobre as espécies de elevado valor comercial. Esta pressão afeta as populações de animais utilizados na culinária, o que pode levar à redução populacional e, inclusive, à extinção local das espécies mais visadas (FRAGOSO et al., 2000; PRADA 2002). Em locais onde exista ocupação humana, próximos a áreas conservadas, como no caso em estudo, pode-se comumente encontrar arapucas e armadilhas em remanescentes naturais. Porém algumas medidas podem ser tomadas visando minimizar este impacto, como por exemplo: promover o controle e a fiscalização da caça e captura de animais silvestres por parte dos órgãos ambientais, em conjunto com a Polícia Florestal e o IBAMA; e desenvolver projetos de educação ambiental com ênfase em conservação de animais para toda a população frequentadora do local e suas proximidades. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.149 II.5.6.1.7 - Invasão de espécies domésticas e exóticas A presença e ocupação de habitats e nichos ecológicos por parte da fauna doméstica promovem inúmeros impactos sobre as populações naturais, animais de criação como bovinos, equinos ou aves, mas principalmente animais de rua causam disseminação de doenças, competição por recursos alimentares, locais de abrigo e reprodução e predação. Áreas impactadas favorecem espécies exóticas generalistas, estas espécies geralmente excluem por competição as nativas remanescentes e acabam alterando ecossistemas que podem se tornar instáveis, nutridos de vetores de doenças ou incapazes de suportar, por longo prazo, os componentes ambientais históricos (evolutivos) ou sociais. A invasão de espécies exóticas é considerada atualmente, pela Convenção da Diversidade Biológica, como o segundo principal fator responsável pela redução de biodiversidade no mundo, ficando atrás apenas da perda de habitat (CBD, 2001). Portanto, é bastante importante que se atente aos estudos de reflorestamento e recuperação de áreas degradas do Parque visando minimizar ao máximo o aumento da ocorrência e passagem de espécies exóticas não somente em sua própria área, mas também nas áreas adjacentes. Para tal, propõem–se algumas medidas de modo a minimizar este impacto, como por exemplo: controle de animais domésticos por parte das autoridades competentes (Vigilância Sanitária, Saúde Pública, Polícia Florestal, IBAMA); e desenvolver projetos de educação ambiental com ênfase em conservação de animais para toda a população frequentadora do local e suas proximidades. II.5.6.1.8 - Subsídios para a Educação Ambiental Reservas pequenas, localizadas próximas às áreas habitadas, podem servir de excelentes centros de estudos da natureza e de educação para conservação, estendendo os objetivos de longo alcance da biologia de conservação e conscientizando as pessoas. Em locais menos urbanizados, em áreas de grandes fazendas, onde é possível encontrar um maior número de espécies, é comum ouvir relatos de moradores nos quais os animais representantes da herpetofauna, por exemplo, são normalmente associados a características e atitudes suspeitas, potencialmente perigosas aos seres humanos, evidenciando um acentuado preconceito cultural. Peculiaridades na forma e comportamento desses animais podem inspirar muitas lendas e crenças populares, o que desperta a curiosidade de crianças e adultos (HADDAD et al., 2008; SILVA & ARAÚJO, 2008). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.150 Também é comum a dúvida em torno da possibilidade de quais deles são peçonhentos. Um resultado prático dessa falta de informação sobre a realidade biológica é a pouca disposição em protegê-los, problema que impõe aos profissionais da área um papel adicional: de educador e divulgador do conhecimento científico. A necessidade desse trabalho de conscientização surge, entre outras coisas, da constatação de que ações efetivas de proteção não serão empreendidas se não estivermos de fato convencidos do papel e da importância da fauna. Algumas estratégias podem ser eficientes para informação e conscientização da população em relação à fauna, como: Cartilhas ou vídeos instrutivos sobre as espécies que podem ser encontradas na região, incluindo informações sobre ecologia, espécies raras, endêmicas e/ou ameaçadas de extinção e espécies peçonhentas. Placas espalhadas estrategicamente pelas trilhas, de preferência nos locais onde as espécies podem ser encontradas, com fotos e dados. Placas com instruções de não retirar nem introduzir nenhum animal da natureza, não tocálos ou matá-los (em caso de encontro de cobras peçonhentas, é importante avisar a algum funcionário do Parque). Pesquisas podem ser desenvolvidas na área, importantes para aumentar o conhecimento local e a valorização da região. Além disso, é sugerido que quando houver o início das instalações no Parque, estas ocorram de preferência no período de seca. O período chuvoso é quando ocorre a reprodução da maioria dos representantes da herpetofauna. A presença de máquinas pesadas, materiais para construção e principalmente o trânsito elevado de pessoas dentro da área podem interferir no comportamento dessas espécies, sítios de desova, comprometendo assim seu sucesso reprodutivo. A educação ambiental também deve ser aplicada durante o período de instalação do Parque. É importante conscientizar os seus funcionários, causar o mínimo de impacto possível no ambiente, não matar animais encontrados e procurar afugentar a fauna, caso necessário. A utilização do Parque, feito de acordo com o plano de manejo, respeitando as propostas e programas sugeridos para sua implantação, capacidade de suporte; sua recuperação e do entorno, não devem afetar as populações de espécies, permitindo o exercício das atividades de turismo e lazer. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.151 II.5.6.1.9 - Entomofauna Os invertebrados totalizam aproximadamente 59% dos seres vivos do planeta (WILSON, 2003) e têm fundamental importância dentro dos ecossistemas, nos quais são possuem um relevante papel em processos de decomposição, ciclagem de nutrientes, produtividade secundária, fluxo de energia, polinização, dispersão e predação de sementes, regulação de populações de plantas e outros animais e ainda nas relações que possuem com os mais diversos seres vivos microrganismos (LEPPIK, 1957; STEBBINS, 1970; PRICE, 1984; DOUROJEANNI, 1986; DIDHAM et al., 1996). Estes animais respondem demográfica e dispersivamente de uma forma que torna possível relacionar estas respostas a diferentes tipos de impactos ambientais. O grupo apresenta ainda a vantagem em relação aos vertebrados de serem amostrados em grane número, porém com identificação lenta e difícil. Apesar disto, o grupo vem sendo cada vez mais utilizado como um indicador biológico de diversidade e resposta a eventuais mudanças decorrentes de atividades antrópicas (LEWINSOHN et al., 2005). Os artrópodes possuem características bastante peculiares, dentre elas destacam-se as que permitem variação de formas corporais; o rápido desenvolvimento e a grande sensibilidade a processos evolutivos, o que os torna bons indicadores de distúrbios nos ecossistemas (KREMEN et al., 1993). Assim como os vertebrados, existe uma ligação muito forte entre a diversidade destes animais com a diversidade vegetal de determinadas áreas, principalmente no que se refere a animais fitófagos. As demais espécies sofrem mais influencia ausência de outros membros da fauna, chamados hospedeiros (CAMARGO & MATSUMURA 2000). As atividades antrópicas principalmente no que se refere à perda e fragmentação de habitats resultam em isolamento de populações e até na extinção de espécies, reduzindo a biodiversidade (BIRREGAARD et al., 1992). Portanto, a utilização de invertebrados como bioindicadores, é, de acordo com a literatura bastante aceita, (BROWN, 1991; KREMEN, 1992; ANDERSEN, 1997). Borboletas, abelhas e formigas, em especial, são úteis em projetos de biomonitoramento, devido ao fato de ser um grupo bastante diverso, facilmente amostrado e comum o ano inteiro. Existem ainda espécies especialistas, e endêmicas a micro habitats (Brown, 1991; New, 1997), o que favorece a utilização deste grupo invertebrados como bioindicadores. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.152 II.5.6.1.10 - Zoonoses O aumento na ocorrência e trânsito de espécies exóticas, principalmente os animais de rua, como descrito anteriormente, resultará em uma maior probabilidade da ocorrência de enfermidades causadas por zoonoses trazidas pela fauna contaminada. As doenças trazidas por estas espécies afetam de forma bastante impactante a fauna silvestre, que não está habituada a presença destes novos vetores. Este impacto pode ser considerado grave em função do risco para Saúde Pública na região, em vista ao aumento da susceptibilidade a duas doenças letais transmitidas por animais silvestres, que têm gerado preocupação às autoridades responsáveis pela Saúde Pública de todo o país: a Hantavirose, Febre Maculosa, raiva, Leishmaniose entre outras. Abaixo estão descritos alguns dos grupos de invertebrados de potencial ocorrência na área do Parque, e que podem estar ligados a transmissão de algumas enfermidades específicas. Deve-se, portanto, atentar-se a presença destes grupos e de eventuais sintomas de doenças transmitidas por estes na população local para que se possam tomar as medidas necessárias. II.5.6.1.11 - Hemíptera (barbeiros) de importância médico-sanitária Na Ordem dos hemípteros incluem-se insetos conhecidos como percevejos-de-cama, percevejosde-mato, barbeiros e baratas dágua. A maioria dos hemípteros nutre-se de seiva vegetal, muitos deles são predadores de outros insetos e outros poucos são hematófagos. Dentre os de importância médica estão os percevejos de cama (família Cimicidae) e os barbeiros (família Reduviidae, subfamília Triatominae). Os triatomínios constituem um grupo de hemípteros transmissores da doença de Chagas. As diferentes espécies de triatomínios são tradicionalmente identificadas utilizando-se critérios morfológicos. O Triatoma infestans (originária da Bolívia) é o principal vetor do Trypanosoma cruzi, em grande parte da América do Sul. No Brasil, é vista desde o Rio Grande do Sul, passando por Goiás, Minas Gerais e quase todos os Estados do Nordeste. Já o Panstrongylus megistus é o vetor mais importante do Brasil, dada a sua grande distribuição geográfica, no País, desde as Guianas até a Argentina, atingindo, no Brasil, os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e os Estados do Sul do Brasil, com menor frequência. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.153 II.5.6.1.12 - Díptera de importância médica Os mosquitos são insetos dípteros, pertencentes à família Culicidae, conhecidos também como pernilongos, muriçocas ou carapanãs. Os adultos são alados, possuem pernas e antenas longas e na grande maioria são hematófagos, enquanto as fases imaturas são aquáticas. Seu ciclo biológico compreende as seguintes fases: ovo, quatro estádios larvais, pupa e adulto. Estão disseminados por todas as regiões do globo, inclusive no círculo polar do Norte, porém, existem determinadas espécies que habitam preferencialmente os territórios tropicais e subtropicais. Atualmente reconhece-se a existência de cerca de 3600 espécies de mosquitos (CROSSKEY, 1988). Acham-se distribuídas por aproximadamente 40 gêneros, sendo a área Neotropical a que detém o maior nível de endemicidade, uma vez que 27% desses grupos são restritos a essa região biogeográfica (WARD, 1982). Os culicídeos recebem atenção especial devido ao seu hábito hematófago, através do qual se tornam importantes vetores de doenças. Pesquisas sobre inventários de populações silvestres de mosquitos vetores potenciais de arboviroses e malária, embora escassas, fornecem subsídios para a compreensão de relevantes aspectos epidemiológicos. Esses estudos facilitam a identificação, o acompanhamento e o controle desses mosquitos em relação às alterações ambientais aplicadas pelo homem, que poderão ou não culminar em grandes epidemias. As modificações ambientais podem alterar a dinâmica populacional dos culicídeos, colocando a população humana local ou migrante sob risco de contrair doenças veiculadas por esses mosquitos. Os mosquitos de comportamento antropofílico constituem possível condição de transmissibilidade de patógenos e exposição ao incômodo provocado pela atividade de picar, quando em grande abundância (NATAL et al., 1998). Além desses aspectos, o conhecimento das populações de mosquitos em ecossistemas silvestres fornece informações sobre sua biodiversidade e base de dados para futuros envolvimentos na incidência de doenças. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.154 Dengue A dengue consiste em uma enfermidade febril aguda que pode se apresentar nas formas de infecção inaparente ou dengue clássico (DC) e de febre hemorrágica da dengue (FHD) ou síndrome do choque da dengue (SCD). Atualmente, para Brasil (2005), é a mais importante arbovirose que afeta o ser humano e constitui sério problema de saúde pública no mundo. Ocorre e dissemina-se especialmente nos países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do principal vetor, o mosquito Aedes aegypti. Conforme Brasil (2005), a dengue vem ocorrendo no Brasil de forma continuada, intercalando-se com a ocorrência de epidemias. Entre os anos de 1990 e 2000, várias epidemias foram registradas, sobretudo nos grandes centros urbanos das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, responsáveis pela maior parte dos casos notificados. Em 2010, o município de Governador Valadares ficou em terceiro lugar no Estado no que se refere à classificação de área endêmica com cerca de 1660 casos da doença notificados. O índice é sete vezes superior ao tolerado, de acordo com o boletim divulgado pela Organização Mundial da Saúde. Leishmaniose A Leishmaniose é uma zoonose parasitária crônica de caráter endêmico causada por um protozoário flagelado do gênero Leishmania, da família dos Trypanosomatidae. É transmitida ao seres humanos e principalmente aos cães pela picada do mosquito flebotomíneos, do gênero Lutzomyia (mosquito ―palha‖) e Phlebotomus. A doença manisfesta-se de forma variada, entre elas, Leishmania chagasi, (forma viceral) Leishmania braziliensis (forma mucocutânea desfigurante), entre outras. O tempo que vai da picadura do inseto até o surgimento dos sintomas varia segundo a forma clínica da doença, pode variar de dias a meses. Na forma visceral varia de seis semanas a seis meses e na forma cutânea as lesões surgem semanas após a inoculação do parasita. Outras denominações da doença: Leishmaniose tegumentar americana, úlcera de Bauru, nariz de tapir, botão do oriente, ferida brava, Leishmaniose visceral americana, calazar, esplenomegalia tropical, febre Dundun. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.155 Segundo a Fundação Nacional de Saúde (2010), no Brasil existem atualmente seis espécies de Leishmania responsável pela doença humana. E mais de 200 espécies de flebotomíneos transmissores. Tem ocorrido, nos últimos anos, um grande aumento de pessoas infectadas, inclusive com óbito, em todo o território nacional principalmente nos centros urbanos, com perfis epidemiológicos diferentes. Filariose A filariose é uma doença parasitária crônica de caráter endêmico. Os quadros clínicos decorrentes da presença de filariose linfática (FL) no ser humano são referidos como morbidade filarial, sendo especialmente conhecida a elefantíase. O parasita responsável pela doença humana é o nematóide Wuchererbancrofti, sendo o mosquito Culex quiquefasciatus (pernilongo ou muriçoca) o vetor. O ser humano é a fonte primária de infecção, sendo o parasita transmitido de pessoa a pessoa por meio da picada do mosquito C. quinquefasciatus (pernilongo). No Brasil, o perfil epidemiológico dessa doença foi estabelecido na década de 1950. Desse período até os dias atuais, de acordo com Brasil (2005), o trabalho visando a redução da infecção apoiou-se, principalmente, na eliminação das fontes humanas de infecção. Febre amarela A febre amarela é uma infecção febril aguda transmitida por vetores que possuem dois ciclos epidemiológicos distintos (silvestre e urbano). Esta infecção é causada por um vírus do gênero Flavivirus. O mosquito da espécie Aedes aegypti é o principal transmissor da febre amarela urbana que, quando infectado, ao picar uma pessoa, transmite a doença. Nos surtos ocorridos no Brasil no período de 2000 a 2003, observou-se uma expansão da circulação viral no sentido Leste e Sul do país, detectando-se sua presença em áreas silenciosas há várias décadas, o que impôs uma redefinição das áreas de risco. Além da ampliação da área de transição, segundo Brasil (2005), foi estabelecida uma nova área, onde há maior risco para circulação do vírus, compreendendo municípios do Sul de Minas Gerais e da Bahia. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.156 II.5.6.1.13 - Formigas Recentemente houve um grande interesse na identificação de indicadores ecológicos consistentes na informação do estado de conservação dos sistemas ecológicos e programas de avaliação. Os bioindicadores têm sido utilizados para avaliar as respostas dos ecossistemas às perturbações ambientais, muitas vezes associados ao uso da terra, como áreas de monocultura, mineração e etc. Dentre todos os grupos animais, os invertebrados terrestres têm recebido especial atenção devido à sua alta biomassa e diversidade e sua importância no funcionamento do ecossistema, e as formigas têm desempenhado um papel importante nessas análises (ANDERSEN, 1995). As formigas apresentam grande plasticidade adaptativa, ampla distribuição geográfica e alta abundância e riqueza na maioria dos habitats (HOLLDOBLER & WILSON, 1990), o que permite saturar uma grande variedade de nichos (ARAÚJO, 1996). As formigas atuam como importantes herbívoros, dispersoras de sementes e predadoras de outros artrópodos. Além disto, movimentam grandes quantidades de terra para a superfície, aumentando a porosidade e a drenagem do solo (FOLGARAIT, 1998), tornando-o mais rico em matéria orgânica e nutrientes como N, P e K. Este aumento na fertilidade do solo pode ser importante para o desenvolvimento da vegetação, especialmente em solos pobres (CULVER & BEATTIE, 1983). Assim, estudos sobre a fauna de formigas (mirmecofauna) têm mostrado ser uma importante ferramenta de avaliação das condições ambientais em estudos de acompanhamento de áreas degradadas, regeneração de áreas florestais e savanas pós-fogo e dos diferentes padrões de uso solo (SILVA & BRANDÃO, 1999; BROWN JR., 1997). II.5.6.1.14 - Abelhas Os himenópteros constituem uma das ordens de insetos com maior diversidade de formas e hábitos. Esta diversidade é facilmente observada pelo fato de os Hymenoptera possuírem muitos nomes populares para designar todas as suas formas. Os membros da ordem Coleóptera são conhecidos popularmente por besouros, os Lepidóptera por mariposas ou borboletas, e os Diptera por moscas e mosquitos, mas os da ordem Hymenoptera são conhecidos por abelhas, vespas, formigas e vespas da madeira. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.157 Embora estas formas estejam entre os grupos de insetos de conhecimento popular, poucos sabem que estão tão estreitamente relacionadas. Existe atualmente cerca de 115.000 espécies descritas de himenópteros e estimativas do número de espécies existentes podem variar grandemente, porém estes são sem dúvida um dos maiores componentes da diversidade de insetos. Gaston (1991) apresenta dados onde a ordem Hymenoptera é a mais rica para algumas regiões temperadas. Stork (1991) também encontrou o mesmo para as florestas tropicais de Bornéo. Estimativas indicam que a porcentagem de himenópteros pode variar de 15 a 25% do número de espécies de insetos viventes. As abelhas são o principal grupo de polinizadores das plantas floríferas, sendo dependentes dos produtos florais (néctar, pólen, resinas, etc.) para alimentação e em muitos casos construção de ninhos (MICHENER, 2007). Desta forma, contribuem para a conservação das espécies de plantas, promovendo a sua reprodução sexuada e, consequentemente, mantendo a diversidade genética de suas populações. Além disso, contribuem para a manutenção das populações de muitas espécies de animais, como aves e mamíferos, que se alimentam dos frutos e sementes produzidos através de sua ação como polinizadoras. Além de sua importância ecológica, as abelhas constituem um interessante objeto para estudos ambientais, por constituírem um grupo muito abundante e diversificado, com mais de 3.000 espécies no Brasil (SILVEIRA et al., 2002). Essas abelhas são adaptadas a diferentes tipos de ambientes e respondem de forma distinta a diferentes tipos e graus de impacto ambiental. Além disto, as abelhas brasileiras são um dos grupos de invertebrados cuja taxonomia está mais bem conhecida, o que facilita a identificação dos exemplares trazidos do campo. Esses fatores fazem com que os inventários de faunas de abelhas forneçam dados robustos e relevantes em estudos ambientais. II.5.6.1.15 - Coleóptera Os besouros pertencem à ordem Coleoptera, a mais rica e variada da classe Insecta, com aproximadamente 350.000 espécies descritas, correspondendo a cerca de 40% do total de insetos e 30% dos animais (LAWRENCE & BRITTON, 1991, 1994). Aproximadamente 30.000 espécies são descritas para o Brasil. Apresentam par anterior de asas de consistência coriácea ou córnea, os élitros, que, em repouso, geralmente cobrem as asas posteriores, membranosas, que ficam sob eles, dobradas e escondidas (COSTA LIMA, 1952). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.158 Muitas espécies de coleópteros são de grande importância econômica por serem pragas da agricultura. São bem conhecidos os estragos causados pela broca do café, do algodoeiro, da cana de açúcar, do arroz, do milho etc. Os besouros não só atacam as plantas cultivadas, mas também destroem produtos alimentícios armazenados, principalmente sementes de cereais e outros grãos, ou ainda livros, peles, tapetes etc. Os coleópteros desempenham papel importante na reciclagem de nutrientes, principalmente na fase larval; larvas xilófagas (Scarabaeidae, Cerambycidae, Curculionidae), digerem celulose e a tornam mais simples e disponível para o ecossistema; os Scarabaeinae coprófagos (Scarabaeidae) enriquecem o solo, incorporando matéria orgânica (principalmente fezes) durante sua fase de reprodução. Podem ser também importantes indicadores da qualidade do meio ambiente, por causa da grande quantidade de habitats que ocupam. Assim, por exemplo, a ausência de espécimes da família Dryopidae pode indicar a contaminação da água por sabão ou detergente, uma vez que impedem a formação do plastrão (filme de ar sobre o corpo do besouro), impedindo a sua respiração dentro da água (LAWRENCE, & NEWTON, JR. 1995). Os besouros podem ser encontrados numa grande diversidade de habitats ecológicos: no solo, nas plantas, na água, nas margens de rios, riachos, praias marinhas, e, exceto pela hematofagia, também é extremamente diversificada sua alimentação. II.5.6.1.16 - Lepidóptera A Ordem Lepidóptera possui 146.277 espécies descritas e 255.000 estimadas no mundo (HEPPNER, 1991), sendo constituída por borboletas (13%) e mariposas (87%). As borboletas, cujos adultos são diurnos e coloridos, são bastante representativas no neotrópico, que possui em torno de 7.100 (BECCALONI E GASTON, 1995) a 7.900 espécies (HEPPNER, 1991; LAMAS, 2004) nessa região. O Brasil possui uma grande diversidade desses insetos, representando quase metade das espécies neotropicais, com 3.100 (BECCALONI E GASTON, 1995) a 3.200 espécies (BROWN JR. E FREITAS, 1999). As borboletas estão envolvidas em muitas interações ecológicas dentro das comunidades a que pertencem, destacando-se as mutualísticas (polinização) e de predação (herbivoria), dentre outras. Elas ainda servem como modelo em pesquisas de ecologia de populações e comportamento (pela facilidade de marcação nas asas); genética da seleção natural e em processos básicos como: alimentação, parasitismo, competição e predação (identificação de substancias tóxicas presentes, camuflagem e mimetismo) (BOGGS et al., 2003). No Brasil, são objetos de muitos estudos PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.159 científicos (BROWN JR., 1996), podendo ainda ser usadas como indicadoras em levantamentos de fauna e determinação de prioridades, planejamento e administração de reservas naturais (BROWN JR., 1992; BROWN JR. & FREITAS, 2002; EMERY et al., 2006). Quadro de Referências UICN (União Mundial para a Natureza) Definição Quando a melhor evidência disponível indica que se está enfrentando um risco EM (em muito alto de extinção em estado silvestre (grande redução da população, perigo) populações pequenas, pequenas áreas geográficas ocupadas, ou a análise quantitativa da probabilidade de extinção durante os próximos 20 anos é >20%) Quando a melhor evidência disponível indica que está enfrentando um alto risco VU de extinção em estado silvestre (redução substancial da população, populações (vulnerável) pequenas, área geográfica ocupada bastante pequena, ou a análise quantitativa da probabilidade de extinção durante os próximos 100 anos é >10%) NT(quase Um táxon está Quase Ameaçado quando está próximo a satisfazer os critérios de ameaçado) vulnerável ou em perigo. LC Quando após a avaliação não segue nenhum dos critérios que definem as (Preocupação categorias de Em Perigo Crítico, Em Perigo, Vulnerável ou Quase Ameaçado. menor) Incluem-se nesta categoria taxa abundante e de ampla distribuição. Quando não tem informação adequada para fazer uma avaliação, direta ou indireta, de seu risco de extinção baseado na distribuição e/ou condição da população. Um táxon nesta categoria pode estar bem estudado, e sua biologia ser DD (Dados bem conhecida, mas faltam dados apropriados sobre sua abundância e/ou insuficientes) distribuição. Dados Insuficientes não é, portanto uma categoria de ameaça. Ao incluir o táxon nesta categoria, indica que necessita mais informações, e se reconhece a possibilidade de que pesquisas futuras demonstrem que uma classificação de ameaça poderá ser apropriada. NL Não listada Não se aplica, por se tratar de identificação em nível de gênero, não sendo NA possível classificar seu status de conservação Perto de ser classificada ou provavelmente qualificável para ser incluída LR (Quase ameaçada) numa das categorias de ameaça num futuro próximo. Definição dos APENDICES da CITES Apêndice Definição As espécies são raras ou estão em perigo, e seu intercâmbio não é permitido com fins somente comerciais. Antes de iniciar um intercâmbio com outros fins, o Apêndice I importador deve ter uma permissão de exportação da Convenção, expedido pelo governo da nação que exporta, e uma permissão de importação, expedido pelo governo da nação que importa. As espécies não são raras nem estão em perigo atualmente, mas podem se tornar caso o comércio não seja regularizado. As espécies comercializadas devem estar Apêndice II cobertas pelas permissões apropriadas de exportação da convenção, expedidos pelo governo da nação exportadora antes que o ingresso a outro país seja permitido. As espécies não estão em perigo, mas são manejadas pelas nações incluídas na lista. Os requisitos para as permissões para as espécies incluídas no Apêndice III Apêndice III são os mesmos que para as incluídas no Apêndice II e só se aplicam para as nações da lista. Categoria PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.160 II.6 - ESTUDO DE CAPACIDADE DE CARGA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG II.6.1 - APRESENTAÇÃO A visitação em áreas naturais, motivada pelo desejo de estar em contato com a natureza e/ou admirar belezas cênicas naturais é uma prática bastante antiga e que atualmente tem se expandido nas sociedades contemporâneas, principalmente, em função da rotina cotidiana frenética e o tumulto nos aglomerados urbano. As atividades educativas, lúdicas, esportivas e culturais praticadas nesses ambientes, entre elas o ecoturismo, por exemplo, têm levado as pessoas a resgatarem seu equilíbrio físico e emocional, transformando esses momentos de contato com a natureza em um importante agente do processo de educação ambiental. Entretanto, o enorme êxito de visitação nesses locais, principalmente aos próximos dos centros urbanos, como é o caso do Parque Natural Municipal de Governador Valadares, pode acarretar uma alta concentração de visitantes e, com isso, propiciar a geração de impactos negativos sobre a unidade de conservação se o fluxo de pessoas não for rigorosamente controlado. Para prevenir e mitigar os impactos advindos da visitação, este estudo de capacidade de carga servirá como uma ferramenta para o planejamento do uso público e as diretrizes para o plano de manejo, no sentido de auxiliar no controle de ingressos e do fluxo de circulação de visitantes no interior da unidade. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.161 II.6.2 - INTRODUÇÃO A proposta de implantação de uma Unidade de Conservação Integral na categoria Parque próximo ao centro urbano sede do município de Governador Valadares, irá possibilitar e facilitar acesso a um rol diverso de visitantes entre moradores e turistas. É importante destacar que todas as benfeitorias e atrativos do Parque estão principalmente destinados ao uso da população de Governador Valadares, porém, pela vocação para esportes radicais do município, os turistas que gostam desses atrativos, como também do ecoturismo, poderão vir a ser um público freqüente do Parque, em função principalmente da pista de vôo livre, dos equipamentos para a prática de arvorismo, das trilhas para caminhada e do pequeno deck para canoagem programados na sua estrutura, como também, atrativos naturais que a unidade de conservação oferece. O turismo ecológico ou ecoturismo é um segmento da atividade turística que se utiliza de forma sustentável do patrimônio natural e cultural de uma região, além de sua conservação, na busca e formação de uma consciência ambientalista, através da interpretação do ambiente e da promoção do bem-estar das populações envolvidas, de acordo com as ―Diretrizes para uma Política de Ecoturismo‖ (EMBRATUR/IBAMA, 1994). As atividades de ecoturismo permitem: aumento da receita gerada nas diversas áreas conservadas, possibilitando-lhes recursos para a manutenção destas e das comunidades locais; fomento à visita ordenada e controlada; preservação dos recursos naturais florísticos, faunísticos e as paisagens cênicas locais; promoção da utilização racional do patrimônio natural. Portanto, pode-se dizer, com base nestes conceitos, que um empreendimento turístico, principalmente em áreas naturais, para ser sustentável precisa considerar o uso racional dos recursos naturais, reduzir os efeitos dos impactos gerados tanto pela infra-estrutura quanto pela visitação e propiciar às gerações futuras o acesso ao local com suas características ambientais e seu patrimônio natural. A visitação em áreas naturais protegidas é permitida em quase todas as unidades de conservação brasileiras. Elas são definidas como usufruto gozado pelo público, tanto recreativo quanto educativo, porém, infelizmente no Brasil ainda são poucos os parques com programas bem definidos para sua implantação e desenvolvimento. O estudo de capacidade de carga em unidade de conservação é um instrumento de suma importância para a criação, desenvolvimento e operacionalidade do plano de manejo local. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.162 Baseando-se no contexto de criação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares, do seu Projeto Arquitetônico e do seu Plano de Manejo, adotou-se o conceito de capacidade de carga recreativa uma vez definida como ―o nível de utilização que uma área pode suportar enquanto fornece uma qualidade sustentada de recreação‖ (TAKAHASHI, 1997). Outro termo citado na literatura é o de ―Capacidade de Suporte‖ que significa o número máximo de visitantes (dia/mês/ano) que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações no meio físico e sociocultural (BOO 1990). A capacidade de carga, quando aplicada em unidades de conservação, visando atividades recreativas e educativas, pode ser definida por Seabra (2000) como sendo a capacidade física, biológica, social e psicológica de sustentação das áreas em questão, sem alteração da qualidade ambiental ou a satisfação dos visitantes. Os impactos da atividade humana podem ser expandidos muito além da área impactada diretamente. Como por exemplo, pode perturbar as atividades naturais da fauna silvestre, atrair ou espantar animais, isolá-los das suas fontes de alimentação e hidratação e modificar habitats através de impactos na vegetação e no solo. Tendo em vista tais aspectos e considerando que o desenvolvimento desordenado da recreação em áreas naturais pode comprometer os objetivos para os quais elas foram estabelecidas, é fundamental realizar uma investigação sistemática sobre os impactos do uso recreativo para descobrir novos fatos ou princípios. A capacidade de carga varia de acordo com o local, a estação do ano, o tempo, o comportamento dos usuários da área, os equipamentos instalados, os padrões de consumo, os níveis de gestão e o caráter dinâmico do meio como um todo (CEBALLOS-LASCURAIN, 1996). Portanto, torna-se necessário a realização de avaliações periódicas referentes aos cálculos estimados pelos métodos utilizados para a determinação da capacidade de suporte da área ou recurso natural, visando ao equilíbrio físico-químico e biológico do ambiente natural. O Estudo de Capacidade de Carga no Parque Natural Municipal de Governador Valadares contribuirá como principal ferramenta para o uso público e sua harmonização com a proteção e conservação do patrimônio natural local. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.163 II.6.3. CAPACIDADE DE CARGA A idéia da capacidade de carga para manejo iniciou-se nos Estados Unidos nos anos 30, mas a primeira referência de aplicação do conceito foi no ano de 1964. Adaptada do termo usado em manejo de pastagem, ―a capacidade de carga para recreação foi definida como o número máximo de visitantes (dia / mês / ano) que uma demanda área pode suportar antes de ocorrer alterações no meio‖ (TAKAHASHI, 1997). Seguindo a mesma linha de raciocínio, e levando-se em consideração aspectos comportamentais dos usuários e questões socioeconômicas e culturais, Elizabeth Boo (1990) define capacidade de suporte o número de visitantes (dia/mês/ano) que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações no meio físico e sócio-cultural. Os princípios da capacidade de carga estão relacionados a diferentes aspectos, segundo C.F.Siart (2003): Capacidade de carga física – são os limites com relação à capacidade dos sistemas produtivos de oferecer serviços turísticos, ou relacionamento à capacidade de uma área em receber turistas. No primeiro caso, trata-se de identificar os limites físicos da oferta turística disponível, como alojamento, infra-estrutura, disponibilidade de água etc. No segundo, os limites físicos referem-se à qualidade ambiental e são associados com a deterioração do meio ambiente. Esta pode ser definida como o limite a partir do qual aparecem os problemas ambientais, e a capacidade de carga física pode ser considerada como a capacidade de carga ecológica. Capacidade de carga psicológica ou de percepção – os limites em relação à satisfação do visitante. Pode definir-se como número máximo de pessoas que podem utilizar uma área sem que ocorra uma alteração inaceitável na experiência dos visitantes. Pode ser considerado o limite a partir do qual os visitantes irão buscar destinos alternativos. Capacidade de carga social – os limites baseados na tolerância dos habitantes locais em relação aos visitantes. Nos destinos turísticos, podem ocorrer atitudes negativas em relação aos turistas que podem, por sua vez, afetar o desenvolvimento turístico; podem definir-se, segundo a OMT, como o nível de atividade turística além do qual se produz uma mudança negativa na população local. Capacidade de carga econômica – os limites baseados no equilíbrio entre os benefícios econômicos e os impactos negativos que geram na atividade turística sobre as economias locais. Trata-se de evitar, na medida do possível, as posições de monocultivo setorial e de aproveitar as próprias oportunidades oferecidas pelo turismo para renovar os setores tradicionais e estimular o desenvolvimento de outros novos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.164 No decorrer dos anos, inúmeros métodos de capacidade de carga foram criados e consolidados. Dentre os métodos utilizados destacam-se: Limits of Acceptable Change (LAC)1, Visitor Impact Managemnt (VIM)2, Visitor Experience and Resource Protection (VERP)3 , o método proposto por Miguel Cifuentes e o método desenvolvido por Mário Petrocchi. O Limits of Acceptable Change (LAC) foi elaborado por Stankey et al. (1985), que resultou de uma reformulação feita a partir do conceito de capacidade de carga para recreação. Este método vem se destacando com sucesso em Unidades de Conservação. Pouco difundido no Brasil, o LAC oferece uma excelente estrutura para identificar ações adequadas de manejo. O sistema é desenvolvido em nove etapas, as quais podem ser adaptadas dependendo dos ideais dos planejadores. Considerando os objetivos para conservação das unidades de conservação, o LAC parte de identificações dos valores, questões e interesses especiais para a área e do levantamento das classes de oportunidade. O processo finaliza com implantação das ações de manejo selecionadas e identificadas para cada classe, e a instauração de um programa de monitoramento que avalie o sucesso das ações. O LAC se preocupa com as condições desejadas da área e com o quanto de mudanças pode ser tolerada nas diferentes partes das unidades de conservação. O método Visitor Impact Managemnt (VIM) parte do pressuposto de que para existir um manejo eficiente da visitação tem que ser levados em consideração tanto o conhecimento científico, como o juízo de valor. O VIM é similar ao LAC, pois considera o cálculo da capacidade de carga inserido no marco teórico de manejo mais abrangente e não como a meta final. O VIM pode ser considerado de forma ampla, ou como uma ferramenta de manejo para locais específicos, mediante levantamento sistemático dos problemas oriundos dos impactos da visitação, as causas que os provocam e as possíveis soluções. De acordo com Graefe et al. (1990), o processo de planejamento de estudo é em oito etapas, onde os cincos primeiros se ocupam de identificar os problemas, e as etapas seis e sete são para identificar as prováveis causas dos impactos e seus respectivos métodos de manejo e a última etapa é para a implementação. 1 2 3 Limites de Aceitáveis de Câmbio (LAC) Manejo de Impacto dos Visitantes (MIV) ou (VIM) Experiência da Visitação e Proteção dos Recursos (VERP) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.165 O método Visitor Experience and Resource Protection (VERP), desenvolvido pelo National Park Service (1997), defini nove elementos para integrar à estrutura do VERP: - Instituição da estrutura Reunir especialistas de forma interdisciplinar no projeto; Desenvolver estratégia de envolvimento público; Declarar os propósitos que motivam a criação do parque, significado e os temas de interpretação primária. Identificar os pontos de constrangimento do plano. - Análise Analisar os recursos do parque e as visitas existentes; Descrever o potencial do alcance das experiências de visitação e os recursos condicionantes; Alocar zonas potenciais para procedimentos específicos no parque (estabelecer o manejo no zoneamento). Selecionar indicadores e especificar padrões para cada zona. Desenvolver um plano de monitoramento. - Monitorando e executando o manejo Monitorar os recursos e os indicadores sociais; Executar a ação de manejo. ―A metodologia VERP aborda os impactos na experiência de uso da visitação, atribuindo atenção ao comportamento do visitante. As várias modalidades e tipos de uso, bem como a duração do uso e sua localização‖ (CÂMARA et al.,2006). O método desenvolvido por Miguel Cifuentes, mais manifesto no Brasil, oferece procedimentos fáceis, rápidos e úteis para determinar a capacidade de carga das unidades de conservação. Não há pretensão em solucionar os problemas observados, mas direcionar aos objetivos de manejo. ―O método leva em consideração alguns problemas que as unidades de conservação costumam apresentar. Dentre eles estão: a falta de pessoal treinado, a dificuldade de manejo, a insuficiência de informações e a dificuldade de acesso a sistema de equipamento de tecnologia avançada em curto prazo‖ (CIFUENTES, 1992). Este método de capacidade de carga admite três níveis: Capacidade de Suporte Física (CSF), Capacidade de Suporte Real (CSR), Capacidade de Suporte Efetiva (CSE). O método de Petrocchi (2000) adota uma relação entre área disponível para recreação e lazer dos visitantes e espaço requerido pelos mesmos para usufruir dessa área, baseado na superfície útil para a permanência dos visitantes na área, além de uma estimativa do número de pessoas que poderão usar esse espaço, considerando-se o tipo de solo e um espaçamento de segurança entre as pessoas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.166 II.6.4. METODOLOGIA O presente trabalho foi realizado por meio de coleta de dados no local em estudo. Adotou-se o método de definição de áreas disponíveis por visitante, com base em Petrocchi (2000), para a estimativa de capacidade de carga da área destinada ao lazer, baseado na superfície útil para a permanência dos visitantes, considerando-se o tipo de solo, a profundidade e um espaçamento de segurança entre as pessoas. O método proposto por Miguel Cifuentes (1992) foi utilizado para estimar a capacidade de carga das trilhas. Como já apresentado, tal método busca o número máximo de visitas que uma área protegida pode receber levando-se em consideração as condições físicas, biológicas e de manejo. A coleta de dados foi realizada nos dias 8, 9, 10 e 11 de dezembro de 2010, com o auxílio dos seguintes equipamentos: 1 máquina fotográfica digital, modelo Nókia N 95 1 GPS Garmin Etrex Vista C 1 Trena de 30 metros. piquetes de madeira 5x5x50 marreta 2 kg relógio O método proposto por Cifuentes admite três níveis: Capacidade de Suporte Física (CSF), Capacidade de Suporte Real (CSR), Capacidade de Suporte Efetiva (CSE). Capacidade de carga física (CCF) é o limite máximo de visitantes em uma área definida em um determinado tempo. CCF = V/A x S x T Onde: CCF = Capacidade de Carga Física V/A = Visitante sobre área ocupada S = Superfície disponível para o público T = Tempo necessário para executar a visita. Capacidade de Suporte Real (CSR) é o limite máximo de visitantes, porém aplicando-se os Fatores de Correção que limitam a atividade, composto por diversas variáveis de ordens físicas, ecológicas, sociais entre outras. CCR = (CCF - FC1) - FCn FC = Fator de correção expresso em porcentagem, calculado pela fórmula; FC = ML/MT x 100, onde ML é magnitude limitante da variável e MT é a magnitude total da variável. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.167 Capacidade de Suporte Efetiva (CSE) leva em conta o limite de uso, considerando a capacidade administrativa do gestor da área em questão, a qual muda ao modificar-se a capacidade de manejo administrativa ou devido a mudanças (físicas, políticas) ocorridas no local. É o limite máximo de visitantes que se pode permitir, dada a capacidade para ordená-los e manejá-los. CCE = CCR x CM/100 CCE = Capacidade de Carga Efetiva ou Permissível. CM = Porcentagem da Capacidade de manejo ótima. A capacidade de manejo ótima é definida como o melhor estado de condições que a administração de uma área protegida deve ter para obedecer algumas condições na intenção de suas atividades e objetivos. Para o cálculo da capacidade de manejo, será contemplado a infra-estrutura necessária para o manejo da trilha e os impactos da sua ausência, como por exemplo, escadas e corrimãos em áreas de declividade acentuada e solo escorregadio. Após este estudo, se realiza a elaboração do Plano de Manejo do Parque de acordo com os objetivos e finalidade do empreendimento. Por meio desse método, por exemplo, foram realizados estudos de capacidade de carga no Monumento Nacional Guayabo, Costa Rica, e no Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. O primeiro, realizado por Cifuentes et al. (1999), visou estimar a capacidade de carga turística das áreas de uso público (vereda Los Montículos, vereda Natural, área de piquenique e área de acampar) do Monumento Nacional Guayabo, e buscar medidas que contribuam para o melhoramento do manejo da visitação do monumento. II.6.4.1 Determinação da Capacidade de Carga Considerando o projeto de implementação do Parque, foram delimitadas quatro trilhas com seguintes nomes provisórios: Urubu (TU), educação ambiental (TED), Cambota (TC) e Deck (TD) e um campo de lazer com 15.000 m2. As trilhas estão georreferenciadas na Figura II.6.1 (Demarcação das principais Trilhas no Parque). Na Tabela II.6.1, estão definidos todos os trechos das trilhas com as respectivas metragens. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.168 FIGURA II.6.1 - Demarcação das principais Trilhas no Parque PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.169 TABELA II.6.1 - Especificação dos Trechos das Trilhas da Figura II.6.1. Trilha do Urubu (TU) Trilha do Cambota (TC) Trilha de Educação Ambiental (TED) Trilha do Deck Trecho PMI-TU1 TU1-TU2 TU2-TU3 TU3-TU4 TU5-TU6 TU3-TU5 TU6- TC1A TC1A- TC1 TC1- TC2A TC2A- TC2 TC2- TC3 TC3- TC5 TC5- TC6 TC6- TC7 TC7- TC4 TC4- TC8 TC8- TC9 TC9- TC10 TC10- TC1A TED1- TED2 TED2- TED3 TED3- TED4 TED4- TED5 TED5- TED6 TED6- TED7 TED7- TED8 TED8- TED9 TED9- TED10 TED10- TED11 TED11- TED12 TED12- TED13 TED13- TED14 TED14- TED15 TED15- TED1 TED7-TU3 A partir do TC1 em direção à ilhota Distância (m) 112,06 153,00 140,99 102,62 62,17 229,69 76,61 65,73 29,57 8,60 36,85 53,54 65,79 104,38 78,74 72,35 39,59 61,09 48,33 80,82 34,02 21,97 73,19 68,87 51,26 42,73 70,33 40,05 25,20 25,10 86,75 51,26 45,96 126,24 93,89 Total (m) 177,65 177,65 878,88 766,40 937,64 A distância e o tempo gasto para percorrer cada trilha estão dispostos conforme Tabela II.6.2. TABELA II.6.2 - Distância e Tempo Gasto para Percorrer as Trilhas do Parque Parâmetros Distância Tempo de percurso 878,88 m Trilha Educação Ambiental (TED) 937,64 m 25 min 40 min Trilha do Urubu (TU) Trilha do Cambota (TC) Trilha do Deck (TD) 766,40 m 177,65 m 40 min 15 min PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.170 De acordo com as imagens abaixo e considerando o estudo geomorfológico, alguns trechos da trilha do Urubu (TU) apresentam áreas em processo erosivo em estágio inicial. Essa suscetibilidade erosiva é resultado da declividade, topografia e tipo de solo. A vegetação predominante é do tipo arbórea, que no período chuvoso (outubro a março), fornece sombra para a trilha. Apesar dessa trilha se localizar numa região de colina, não apresenta declividade acentuada. A Trilha do Urubu, Foto II.6.1, liga o mirante principal do Parque à administração, tangenciando todos os pontos notáveis. Sugere-se, então, que a largura mínima da trilha seja de 2 metros e, devido ao intenso fluxo de visitantes ao local, mostra-se necessário a pavimentação com bloquetes para evitar erosão e facilitar o transito de Portadores de Necessidades Especiais dinstalação de pontos de descanso ao longo da trilha. FOTO II.6.1 - Imagens dos Trechos da Trilha do Urubu. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.171 A Trilha de Educação Ambiental (TED) é caracterizada por um relevo plano a suave. Sua vegetação é do tipo arbórea, que no período chuvoso, fornece sombra à trilha, exceto por uma área utilizada como pastagem. É drenada por um curso de água intermitente, assim demonstrado na Foto II.6.2. Nestes trechos, há necessidade de pontes e nos trechos alagados, de trilha suspensa. Devido suas peculiaridades, a trilha deverá conter, no máximo, 1 metro de largura. Desta forma, evitar-se-ão consequências danosas como aumento do fluxo de água no período chuvoso, assoreamento e contaminação da água. FOTO II.6.2 - Imagens da Trilha de Educação Ambiental. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.172 Em relação à caracterização da Trilha do Cambota (TC), está localizada na unidade de colina. Contêm afloramentos rochosos e vertentes íngremes em diversos trechos da trilha, demonstrando, dessa forma, necessidade de corrimãos, degraus, e pontes nas áreas drenadas por curso d’água intermitente. Devido o grau de inclinação e fragilidade do solo, não é raro a presença de ravinas ao longo do percurso, Foto II.6.3. Devido suas peculiaridades, a trilha deverá conter, no máximo, 1 metro de largura. FOTO II.6.3 - Imagens da Trilha do Cambota Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental A Trilha do Deck (Foto II.6.4) se encontra em área de planície de inundação. A textura do solo areno-argilosa favorece o processo de acumulação fluvial, fazendo-se necessário a construção de uma trilha suspensa. Devido suas peculiaridades, a trilha deverá conter, no máximo, 1 metro de largura. Pelas características da trilha, seu fluxo deverá ter monitoramento permanente, sendo assim, ela não deverá ser auto interpretativa. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.173 FOTO II.6.4 - Imagens da Trilha do Deck Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental Para o estudo, foi estabelecido o critério de fluxo de visitantes, em que cada um utilizará um espaço mínimo de seis metros quadrados (m2), considerando a largura máxima da trilha do Urubu em dois metros lineares e das demais trilhas, em um metro linear. O horário de visitação para as trilhas foi estipulado das 8h às 17h, com tempo máximo de permanência no interior do Parque de 10 horas por dia. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.174 II.6.4.1.1 Capacidade de carga física (CCF) A capacidade de carga física será calculada da seguinte forma: CCF = S/sp * NV Onde:S = superfícies disponíveis em metros quadrados sp = superfície usada por cada visitante NV = número de vezes que a trilha pode ser visitada por mais de um visitante por dia. NV = Hv / tv Onde:Hv = Horário de funcionamento. Tv = Tempo necessário para visitar a trilha. TU: NV = 10 h / dia = 0,67 h / visitas / visitantes 14,92 visitas / dia / visitante TED: NV = 10 h / dia = 14,92 visitas / dia / visitante 10 h / dia = 0,67h / visitas / visitantes 14,92 visitas / dia / visitante 0,67 h / visitas / visitantes TC: NV = TD: NV = 10 h / dia = 0,25 h / visitas / visitantes 40,00 visitas / dia / visitante Então: TU: CCF = 1757,76/ 6 * 10 / 0,67 = 4.370,96 visitas/dia TED: CCF = 991,54 / 6 * 10 / 0,67 = 2.465,63 visitas/dia TC: CCF = 766,40/ 6 * 10 / 0,67 = 1.905,78 visitas/dia TD: CCF = 355,3 / 6 * 10 / 0,25 = 2.368,67 visitas/dia PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.175 II.6.4.1.2 Capacidade de carga real (CCR) Para a CCR há uma série de fatores de correções para cada particularidade das trilhas do Parque. Os fatores de correção considerados nesse estudo foram: Fator de erodibilidade Fator de acessibilidade Fator de precipitação Fator solar - Fator de erodibilidade (Fcero) Na Trilha do Cambota, destacam-se 38,17 metros mais sensíveis à erosão, que baseando-se na Tabela II.6.3, foram classificados com alto grau de erodibilidade. Devido ao baixo grau de inclinação do terreno onde se localizam as Trilhas do Urubu, Educação Ambiental e Deck, o cálculo do fator de erodibilidade não se aplica para a determinação da capacidade de carga real dessas trilhas. Tabela II.6.3 - Critérios para a Classificação do Grau de Erodibilidade. Inclinação < 10% 10% - 20% > 20% Grau de erodibilidade baixo médio alto As áreas que possuem alto e médio grau de erodibilidade são as únicas consideradas significativas para estabelecer restrições de uso. Como as áreas com alto grau de erodibilidade apresentam maior risco, determinou-se um fator de ponderação igual a 1,5 a estas e, igual a 1,0, para aquelas com médio grau e erodibilidade. Fcero = 1 – (ma * 1,5) + (mm * 1,0) mt Onde: ma = metros de trilha com dificuldade alta mm = metros de trilha com dificuldade média mt = metros total da trilha PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.176 Então: Fcero (TC) = 1 – (38,17 * 1,5) 766,40 = 0,925 - Fator de acessibilidade (Fcac) Estima o grau de dificuldade que os visitantes venham apresentar durante a caminhada pelas trilhas. Foram considerados os mesmos graus de inclinação utilizados em Fcero para se calcular o valor de Fcac na Trilha do Cambota. Em todo o percurso, foram estabelicidos 189,26 metros com incllinação moderada. TABELA II.6.4 - Critérios para a Classificação do Grau de Dificuldade Inclinação < 10% 10% - 20% > 20% Dificuldade baixo médio alto As áreas que possuem alto e médio grau de dificuldade são as únicas consideradas significativas para estabelecer restrições de uso. Como um alto grau representa uma dificuldade maior comparada ao médio, determinou-se um fator de ponderação igual a 1,5 àquelas e, igual a 1,0, para as com médio grau de dificuldade. Fcac = 1 Onde: ma = metros de trilha com dificuldade alta mm = metros de trilha com dificuldade média mt = metros total da trilha Então: Fcac = 1 – (189,26 * 1,0) = 0,753 766,40 TD Fcac = 1 - (50 * 1,0) 355,30 = 0,859 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.177 - Fator de precipitação (Fcpre) Entre os meses de outubro a março, a distribuição mensal da precipitação ocorre com índices superiores a 100 mm/mês, caracterizando, dessa forma, este período como úmido. Cerca de 89% da pluviosidade anual é auferida nesse período. A média da precipitação por ano é aproximadamente 1.000 mm nesta região. Arbitrou-se 5 horas dos dias de outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março como período limitante para a visitação do parque, devido ao elevado grau de pluviosidade. Fcpre = 1 – hl/ht Onde: hl = horas de chuva limitantes por ano ht = horas do ano que o parque fica aberto Então: Fcpre = 1 – 900/3650 = 0,753 - Fator solar (Fcsol) As visitas, nas áreas sem cobertura, se tornam desconfortáveis entre às 10 e 15 horas, devido à radiação solar ser muito forte neste intervalo do tempo. O período em que há maior grau de insolação é de abril a setembro. Devido a vegetação predominante das trilhas ser cauducifólia, no período chuvoso as trilhas ficam parcilamente cobertas; entretanto, na seca, elas ficam, em quase sua totalidade, descobertas. Fcsol = 1 – [(hsl / ht) * (ms/mt)] Onde: hsl = horas de sol limitante / ano ht = horas ao ano que o parque está aberto ms = metros sem cobertura mt = metros total da trilha PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.178 A partir das aplicações dos fatores de correção mencionados, calcula-se a capacidade de carga real mediante: CCR = CCF (Fcero * Fcac * Fcpre * Fcsol) Então: TC: CCR = 1.905,78 (0,925 * 0,753 * 0,753 * 0,778) = 777,65 Para o cálculo da CCR para as Trilhas do Urubu, Educação Ambiental e Deck, serão aplicados somente os fatores de precipitação e solar conforme a expressão: CCR = CCF (Fcpre * Fcsol) Então: TU: CCR = 4.370,96 (0,753 * 0,753) = 2.478,37 TED: CCR = 2.465,63 (0,753 * 0,776) = 1.440,74 Para a Trilha do Deck, serão considerados os fatores de acessibilidade e solar, uma vez que no período de precispitação, ela ficará submersa. TD: CCR = 2.368,67 (0,859 * 0,753) = 1.532,12 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.179 II.6.4.1.3 - Capacidade de Manejo (CM) A capacidade de manejo ótima é definida como o melhor estado de condições que a administração de uma área protegida deve ter para seguir algumas condições na intenção de suas atividades e objetivos. No caso do Parque, para realização aproximada da capacidade de manejo, foram utilizadas algumas variáveis: infra-estrutura, equipamento e pessoal, enfocando-se somente os fatores que se relacionam com a gestão de impactos. Contemplou-se a estimativa da infra-estrutura necessária para o manejo das trilhas e os impactos da sua ausência, como por exemplo, escadas e corrimãos em áreas de declividade acentuada e solo escorregadio. Visando a implantação do Parque, foram determinados os valores ótimos das variáveis infraestrutura, equipamento e pessoal conforme Tabela II.6.5, tendo em vista as peculiaridades de cada trilha, propriedades física dos local e bem-estar para os visitantes. Portanto, a fim de se obter a capacidade de carga efetiva, se considerou a capacidade de manejo em cem por cento (100%), mediante a implantação total da infraestrutura, equipamentos e de pessoal sugeridas nesse trabalho. Infra estrutura Trilha suspensa Local de apoio de pessoal Bancos Lixeiras Pavimentaçã o da trilha Mirante Escada Corrimãos Banheiro Ponte Guarita TABELA II.6.5 - Determinação das Variáveis para a Estimativa da Capacidade de Manejo Para as trilhas, Área de Lazer, Administração(ADM) e Centro de Visitantes (CV) TU 0 0 3 1 1 2 0 0 0 0 1 TC 1 0 2 1 0 1 1 2 0 2 0 TED 1 0 0 1 0 0 0 0 0 2 0 TD 1 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 Pista de Vôo/Arvorismo 0 0 7 2 0 0 0 0 0 0 0 ADM 0 1 2 4 1 0 0 0 6 0 0 Área de Lazer 0 0 6 6 0 0 0 0 6 0 0 CV 0 1 4 4 0 0 0 0 2 0 0 Portaria principal 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 TOTAL 3 2 24 21 2 4 1 2 8 4 2 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.180 II.6.4.1.4 - Capacidade de Carga Efetiva (CCE) A capacidade de carga efetiva representa o número ideal de visitantes que se deve permitir no PMI, proporcionando-lhes qualidade ecológica e bem-estar. O cálculo é obtido por meio da seguinte expressão: CCE = CCR * CM Onde: CCR = Capacidade de Carga Real CM = Capacidade de Manejo Então: TU: CCE = 2.478,37 * 1,000 = 2.478,37 TD: CCE = 1.532,12 * 1,000 = 1.532,12 TED: CCE = 1.440,74 * 1,000 = 1.440,74 TC: CCE = 777,65 * 1,000 = 777,65 Para uma análise do número total de visitações das Trilhas do Urubu e do Deck, deve-se dividir o valor do número de visitantes obtido por dois, considerando, dessa forma, a ida e a volta do visitante na trilha, uma vez que esta sofre o dobro de impactos por pessoa em relação às trilhas circulares. Então: TU: CCE = 2.478,37 / 2 = 1.239,19 TD: CCE = 1.532,12 / 2 = 766,06 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.181 - Visitantes diários e anuais Considerando o número de vezes que a trilhas pode ser visitadas por mais de um visitante por dia (NV), torna-se possível calcular o némero de visitantes por dia e ano. Então: TU (1.239,19 visitas / dia) / (14,92 visitas / visitante / dia) = 83 visitantes / dia 83 visitantes / dia * 365 dias = 30.295 visitantes / ano TD (766,06 visitas / dia) / 40,00 visitas / visitante / dia) = 19 visitantes / dia 19 visitantes / dia * 210 dias = 3.990 visitantes / ano TED (1.440,74 visitas / dia) / 14,92 visitas / visitante / dia) = 97 visitantes / dia 97 visitantes / dia * 365 dias = 35.405 visitantes / ano TC (777,65 visitas / dia) / 14,92 visitas / visitante / dia) = 52 visitantes / dia 52 visitantes / dia * 365 dias = 18.980 visitantes / ano PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.182 II.6.4.1.5 - Capacidade de Carga da Área Campestre Para a área destinada ao lazer (gramado), 15.000 m², adotou-se o método de definição de áreas disponíveis por visitante, com base em Petrocchi (2000), para a estimativa de capacidade de carga, baseado na superfície útil para a permanência dos visitantes, considerando-se o tipo de solo, a profundidade e um espaçamento de segurança entre as pessoas. Foram assumidos, para efeito deste cálculo, os seguintes valores: em dias mais procurados (feriados, fins de semana prolongados e férias com sol e calor) – 5m² / pessoa; em dias de movimento médio (quintas e sextas com sol e calor) – 12m²/pessoa; em dias de semana e de clima menos favorável (nublado ou frio) – 25m²/pessoa (Tabela II.6.6). TABELA II.6.6 - Ocupação Simultânea da Área de Lazer em Diferentes Níveis Nível de ocupação Área disponível Área por pessoa Ocupação simultânea Movimento alto 15000 m² 5 m² 3000 Movimento médio 15000 m² 12 m² 1250 Movimento baixo 15000 m² 25 m² 600 Considerando-se que o tempo médio de permanência dos visitantes em áreas como a supracitada é de, no máximo, 4 horas, pode-se supor que o número calculado para ocupação simultânea tenha uma renovação de duas vezes por dia, haja vista que o parque funcionará pelo período ininterrupto de 10 horas. Isto duplica o número de pessoas por dia, sendo, portanto o seguinte: para dias de alto movimento – 2 X 3000= 6000 pessoas/dia. Dias de movimento médio – 2 X 1250 pessoas = 2500 pessoas. Dias de pouco movimento – 2 x 600 pessoas = 1200 pessoas. Para se calcular a capacidade de carga anual multiplicou-se estes valores encontrados pelo número estimado de dias considerados de movimento alto, médio e baixo, considerando-se 365 dias no ano, mesmo o Parque tenha o seu início de funcionamento programado para fechar o acesso ao visitante em um dia da semana, as segundas-feiras. Utilizando o fator de precipitação, 0,75, que significam 75% do valor total calculado para os dias ou uma redução do potencial de visitação médio diário de 25% devido às restrições climáticas (chuvas). A partir deste valor tem-se o seguinte: PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.183 Para dias de movimento alto = 52 fins de semana (2X sábado e domingo) e média de 10 feriados em dias de semana (metade considerados prolongados (2X – feriado mais um dia), o valor encontrado foi de = 52 x 2 + 15 (10 feriados + 5 dias emendados) = 119 dias de movimento alto. Subtraindo-se de 119 dias, 25% de redução (dias com chuva) e multiplicando-se por 3000, têm-se um total de 267.000 pessoas. Para os dias de movimento médio, consideraram-se os dias de quinta e sexta-feira normais, estimou-se em 100 dias em média no ano. Tomando-se o valor encontrado de movimento médio e o fator de correção climática de 25%, tem-se o seguinte valor: 100-25%*1250 = 93.750 pessoas. Para os dias de pouco movimento considerou-se o valor apresentado de 600 pessoas / dia. Portanto aplicando-se o fator de correção de 25% por função climática, tem-se o valor de 156 dias (segundas, terças e quartas) = 117 dias. Multiplicando-se por 600 pessoas, tem-se o total de 70.200 pessoas por ano. O número total de visitantes estimado para a área de lazer foi de 267.000 + 93.750 + 70.200 = 430.950 pessoas por ano. Considerando-se os 365 dias do ano a média de visitantes / dia seria de 1.180 visitantes. Pode-se ainda estimar o número de visitantes considerando-se maior concentração dos visitantes nos finais de semana. Se considerar somente os dias de pico na visitação (feriados e fins de semana), obtém-se um número máximo por dia de 732 pessoas por dia. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.184 II.6.5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio desse estudo, calculou-se a estimativa do número máximo de visitantes por dia no Parque Natural Municipal de Governador Valadares, com o intuito de manter a capacidade de resiliência e equilíbrio ecossistêmico do parque. Considerando a soma dos valores da capacidade de carga efetiva das trilhas e do campo, o resultado obtido foi de 983 visitantes por dia. Baseando-se nas peculiaridades de cada trilha, constatou-se que: - na Trilha do Cambota, o trecho TC1-TC2, possui inclinação média com alto grau de erodibilidade, tornando-se necessário o uso de bloquetes, ou placas de concreto, construção de degraus e até mesmo uma trilha suspensa para adequação do trecho, incluindo a instalção de corrimãos. Os corrimãos deverão ser instalados, também, nos trechos TC7-TC4-TC8 e nos 20 metros finais do TC9-TC10. Para a atravessia dos visitantes e preservação do local, deverão ser construídas pontes nos trechos TC2-TC3 e TC8-TC9. - o percurso das Trilhas do Urubu (TU), Educação Ambiental (TED) e Deck (TD) detêm baixo grau de inclinação, não interferindo significativamente nos fatores de erodibilidade e acessibilidade. Nos terchos TED2-TED3 e TED11-TED12, deverá ser construída ponte para atravessia do escoamento fluvial intermitente. Devido as características geomorfológicas da localização da Trilha do Deck esta não será aberta à visitação no período de precipitação (outubro a março). Apesar de o Parque não funcionar às segundas-feiras, terá como margem de segurança o número máximo de visitante/dia por trilha e área campestre obtido neste estudo para 365 dias/uso, até que se avalie a implementação da infraestrutura e disponibilidade de equipamentos e de pessoal estimados na capacidade de manejo. De acordo com a legislação para unidades de conservação, o plano de manejo deverá ser reavaliado quinquenalmente, observando as variáveis supracitadas, critérios de uso e objetivos do Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.185 II.7 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ENTORNO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES (ZONA DE AMORTECIMENTO OU ZONA TAMPÃO). II.7.1 - INTRODUÇÃO A proteção de uma unidade de conservação contempla, necessariamente, o planejamento e a gestão ambiental do seu entorno, visando minimizar os efeitos negativos das atividades econômicas desenvolvidas, evitando o aumento das pressões antrópicas que possam ameaçar a integridade dos atributos naturais, os quais justificaram a sua criação. A área de entorno da unidade de conservação, também chamada de zona de amortecimento ou zona-tampão, foi prevista para todas as unidades de conservação de proteção integral (aquela que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais), tendo seu conceito estabelecido no artigo 2º da Lei Federal 9.985/2000 que determina o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC: XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. De acordo com o referido item do artigo 2º desta Lei, na zona de amortecimento as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com a finalidade de minimizar possíveis impactos e danos às unidades de conservação, implicando no controle, pelo poder público, das ações antrópicas em todas as propriedades rurais e urbanas inseridas nesta zona. De acordo com o Art. 25 da Lei do SNUC as unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos. O mesmo artigo atribuiu ao órgão responsável pela administração da unidade o estabelecimento de normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos. A definição dos limites da zona de amortecimento, de acordo com o parágrafo 2º do referido artigo limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos e as respectivas normas poderão ser definidos no ato de criação da unidade ou posteriormente. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.186 A delimitação da área de entorno de uma unidade de conservação foi estabelecida pela Resolução CONAMA nº 13/90, de 6 de dezembro de 1990, em seu artigo 2º: Nas áreas circundantes das Unidades de Conservação, num raio de 10 quilômetros, qualquer atividade que possa afetar a biota, deverá ser obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente. Parágrafo único. O licenciamento a que se refere o caput deste artigo só será concedido mediante autorização do órgão responsável pela administração da Unidade de Conservação. O CONAMA alterou a delimitação da área de entorno de unidades de conservação em 17 de dezembro de 2010, para efeito de licenciamento ambiental, com a Resolução nº 428, publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 20/12/2010, tendo revogado a Resolução CONAMA 13/90, passando a definir o seguinte: Considerando a necessidade de regulamentar os procedimentos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental que afetem as Unidades de Conservação específicas ou suas zonas de amortecimento, resolve: Art. 1º O licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental que possam afetar Unidade de Conservação (UC) específica ou sua zona de amortecimento (ZA), assim considerado pelo órgão ambiental licenciador, com fundamento em Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), só poderá ser concedido após autorização do órgão responsável pela administração da UC ou, no caso das Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN), pelo órgão responsável pela sua criação. § 1º Para efeitos desta Resolução, entende-se por órgão responsável pela administração da UC, os órgãos executores do Sistema Nacional de Unidade de Conservação-SNUC, conforme definido no inciso III, art. 6º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. § 2º Durante o prazo de 5 anos, contados a partir da publicação desta Resolução, o licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental, localizados numa faixa de 3 mil metros a partir do limite da UC, cuja ZA não esteja estabelecida, sujeitar-se-á ao procedimento previsto no caput, com exceção de RPPNs, Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e Áreas Urbanas Consolidadas. Ainda com relação ao controle ambiental de atividades e empreendimentos que possam causar impactos ambientais ao Parque, a Resolução Conama 428/2010 determina que: Art. 5º Nos processos de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA/RIMA, o órgão ambiental licenciador deverá dar ciência ao órgão responsável pela administração da UC, quando o empreendimento: I - puder causar impacto direto em UC; II - estiver localizado na sua ZA; ou III - estiver localizado no limite de até 2 mil metros da UC, cuja ZA não tenha sido estabelecida no prazo de até 5 anos a partir da data da publicação desta Resolução. § 1º Os órgãos licenciadores deverão disponibilizar na rede mundial de computadores as informações sobre os processos de licenciamento em curso. § 2º Em se tratando de Áreas Urbanas Consolidadas, das APAs e RPPNs, não se aplicará o disposto no inciso III. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.187 Neste sentido, a zona de entorno de um Parque Natural Municipal (ZA) fica sob o controle dos órgãos ambientais, de acordo com suas esferas de competência, sendo necessária a autorização prévia do órgão responsável pela administração do parque, viabilizando a implantação de seu plano de manejo e ao mesmo tempo evitando conflitos entre as instituições relacionadas ao controle ambiental do parque e de seu entorno. Devido à importância da área do entorno para salvaguardar os atributos naturais de um parque, esta deve ser protegida contra atividades antrópicas que possam significar ameaças à integridade dos recursos ambientais inseridos no parque, tais como o uso indiscriminado de agrotóxicos, criação de espécies animais e vegetais exóticas e, principalmente, da instalação de empreendimentos geradores de impactos ambientais relevantes, como rodovias, barragens, indústrias, oleodutos, linhas de transmissão, entre outros. A inexistência ou insuficiência de técnicas de manejo adequadas nas propriedades do entorno do parque pode provocar a ocorrência de erosão e tendo como consequência a redução do potencial agrícola, o assoreamento de cursos d’água, danos à fauna e flora, inundações, entre outros impactos ambientais. LANDAU e FONSECA (2000) afirmam que a conservação da biodiversidade em longo prazo requer o desenvolvimento de uma abordagem que considere o manejo de zonas-tampão e a criação de corredores ecológicos conectando áreas protegidas no âmbito dos biomas regionais, de forma a possibilitar a persistência em longo prazo das populações da fauna e flora atualmente isoladas. De acordo com AYRES et al. (2005) uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos parques e reservas do Brasil é o seu crescente isolamento de outras áreas naturais, protegidas ou não. Esta condição de isolamento dos parques e reservas resulta geralmente em fragmentação de espécies e de populações da mesma espécie numa área determinada, reduzindo as possibilidades de sobrevivência das mesmas em função das modificações naturais e antrópicas no meio ambiente, tornando-as mais susceptíveis à extinção local, regional ou mesmo à extinção completa. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.188 II.7.2 - A ÁREA DE ENTORNO DO PARQUE A área de entorno do Parque Natural Municipal de Governador Valadares (Zona de Amortecimento) foi definida neste Plano de Manejo com base na Resolução CONAMA 428/2010, podendo esta ser alterada posteriormente, na revisão do documento, previsto pela Lei do SNUC para ser realizado cinco anos após a efetivação deste, quando a área de entorno poderá ser ampliada ou reduzida, em função da dinâmica ambiental futura. Para o Parque considerou-se a inclusão da zona urbana da cidade de Governador Valadares situada tanto à margem direita quanto à margem esquerda do Rio Doce, ou seja, a zona central da cidade e os bairros contidos naquela margem do Rio, definidas como áreas urbanas consolidadas. Para a definição da área de entorno (zona de amortecimento) ficou estabelecido a mesma será uma faixa de 1 Km, a partir dos limites do Parque (Vide Figura II.7.1). A definição dos limites da área de entorno foi feita a partir de reuniões entre representantes da Prefeitura de Governador Valadares, representantes da empresa Vale e da empresa de consultoria Alternativa Educação e Manejo Ambiental, tendo-se considerado, para efeito da delimitação desta faixa a existência do Monumento Natural e da Área de Proteção Ambiental do Pico da Ibituruna, havendo, portanto a possibilidade de se administrar a área de entorno do Parque no contexto de mosaico de unidades de conservação, seguindo a tendência brasileira e mundial, como estratégia para se ampliar os mecanismos legais e gerenciais para assegurar maior proteção ambiental. O entorno do Parque possui características diversificadas quanto aos aspectos topográficos, paisagísticos, vegetacionais, climáticos e ocupacionais, especialmente considerando-se a área correspondente ao Monumento Natural e APA do Pico da Ibituruna, com relevo mais acidentado e maior propensão à formação de processos erosivos, além de apresentar cobertura vegetal com manchas expressivas de Mata Atlântica e temperaturas mais amenas, devido às condições topográficas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.189 FIGURA II.7.1 – Delimitação da área de entorno do PARQUE, destacando-se as áreas cobertas por florestas (verde escuro) no destaque da imagem. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.190 A região onde o Parque está inserido é historicamente ocupada por propriedades rurais com atividades de agropecuária, destacando-se a criação extensiva de gado de corte, plantio de subsistência e criação de cavalos em haras. Existem alguns estabelecimentos comerciais, tais como padarias, vendas de alimentos e bebidas, mercados de pequeno porte. Existem pequenas plantações de côco da Bahia e de milho, mas não são expressivas em relação á área do entorno. Na parte sudeste da área de entorno há um clube esportivo (Minas Clube de Governador Valadares), que pode representar a necessidade de uma atenção especial pela administração do Parque em função da emissão sonora (ruídos) efetiva quando o mesmo encontra-se com número elevado de usuários ou quando da realização de eventos culturais e esportivos (em especial com relação ao uso de sistemas de som e queima de fogos de artifício), podendo causar danos à fauna (afugentamento de animais) e flora (incêndios florestais). A urbanização acelerada vem se mostrando como fator de alteração das condições naturais da região, com o estabelecimento de novos bairros e condomínios particulares, com características de baixa densidade ocupacional (chácaras e sítios), como o Parque das Aroeiras, o Vilage da Serra e o Encosta do Sol. Há também bairros com características de maior adensamento populacional, como o bairro Elvamar. Uma vila denominada Derribadinha, localizada a nordeste do Parque, apesar de se encontrar em estagnação econômica e de crescimento, representa potencial para expansão urbana futura, o que aumentaria o fluxo de pessoas e veículos na via de acesso ao Parque. A urbanização na área do entorno do Parque contribui para a fragmentação da vegetação e na alteração dos ecossistemas naturais, além de propiciarem a formação de processos erosivos nos períodos de chuva, em função da retirada da vegetação e exposição do solo. As propriedades rurais usam eventualmente o fogo para eliminação de restos vegetais, queimam resíduos sólidos (lixo), aplicam agrotóxicos nas lavouras, usam maquinas agrícolas geradoras de ruído e que emitem gases poluentes, entre outras ações impactantes. Outra situação identificada na área de entorno é a da futura instalação da estação de tratamento de esgotos (ETE), que será construída ao sul do parque, inserida na área de entorno de 1 Km. A ETE deverá ter o seu planejamento e construção alinhados com as diretrizes gerais da área de entorno, e em consonância com a legislação ambiental citada anteriormente, com ênfase para o licenciamento ambiental e suas condicionantes, que visarão viabilizar a ETE e ao mesmo tempo assegurar proteção ao Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.191 Apesar dos processos de uso e ocupação do solo na área do entorno, constatados neste estudo, ainda permanece um percentual elevado de cobertura florestal, sendo este de aproximadamente 50% da área total (excluindo-se desta a área do parque) e considerando-se somente a margem direita do Rio Doce (apesar de ocorrerem faixas estreitas de vegetação às margens da Ilha dos Araújos, de pouca expressão em relação à área total de entorno, na faixa de 1 Km). Segundo Ayres (2005, p.55), as áreas protegidas são encaradas como elementos essenciais de uma estratégia mais ampla de desenvolvimento humano regional. Este procedimento considera e incorpora, dentro dos custos de proteção, as necessidades das comunidades locais, facilitando os investimentos nesta atividade, e relacionando-os aos benefícios sociais e econômicos resultantes do uso sustentável dos recursos naturais do local. Soares et al . (2002) constataram, ao estudarem o entorno das unidades de proteção integral, que um fator determinante para que haja a participação da população é quando a ação da instituição contribui para que as necessidades da população sejam supridas. A maioria dos casos estudados envolve populações desassistidas, que apresentam os mais diversos tipos de carências. Em geral, essas não contam com assistência técnica, a infraestrutura é precária e a saúde e educação são de baixíssimos níveis. Esse conjunto de situações faz com que a prioridade dessas populações esteja no nível das necessidades básicas e a conservação das áreas protegidas não seja prioridade para a maioria. É primordial zelar pelo abarcamento destes sujeitos nos esforços de conservação, e através da recreação e da educação ambiental em contato com a natureza, objetivos primários dos parques, torna-se mais fácil a aproximação e o envolvimento das pessoas. Os problemas locais são passíveis de solução na medida em que são conhecidas as variáveis e características sociais da população local. Afinal, em termos de intensidade e de desdobramento, os contextos ambientais e sociais exercem influência nas variáveis das ameaças às unidades de conservação (MORSELLO, 2001). Uma vez que as variáveis e características sociais da população local situada no entorno do Parque já foram identificadas, torna-se possível a tomada de decisões para a solução dos problemas levantados. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.192 A participação da sociedade na gestão de Parques tem variado amplamente, de acordo com a categoria de manejo, das redes sociais existentes, do grau de interesse e participação, da capacidade da instituição responsável pelo Parque em agregar os atores sociais, entre outros fatores. A inclusão das comunidades locais na gestão do Parque mostra-se como condição necessária ao alcance dos objetivos do Parque e sua gestão ambiental integrada e compartilhada entre instituições governamentais e representantes das comunidades locais e demais organizações sociais interessadas em sua gestão. A Foto II.7.1 mostra, em foto tirada desde o Pico da Ibituruna, a situação em 1 de novembro de 2010 da vegetação do Parque e de seu entorno, destacando-se a continuidade da mesma e suas conectividades. A estrada mostrada na figura representa os limites do Parque, situando este entre a estrada e o Rio Doce. FOTO II.7.1 - Foto panorâmica do Parque mostrando a situação da vegetação natural e sua conectividade com áreas circunvizinhas. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.193 De acordo com a Figura II.7.1 e Foto II.7.1 pode-se observar as manchas de vegetação natural identificadas com potencial de manutenção das espécies e conectividade entre elas podem representar possibilidades efetivas para a conservação da biodiversidade local, mas dependerá de diversos fatores, relacionados com o próprio manejo do Parque e o uso do solo e dos recursos naturais situados nas propriedades do entorno. A mancha maior, posicionada na figura à direita e abaixo, representa parte da vegetação situada na área do Monumento Natural e Área de Proteção Ambiental do Pico da Ibituruna, sendo esta a maior e mais expressiva mancha de vegetação natural de toda a região a oeste da cidade de Governador Valadares, considerando este município. A Figura II.7.2 mostra a localização dos bairros e condomínios situados no entorno do Parque e que são merecedores de atenção no desenvolvimento de ações que visem assegurar conectividade entre a vegetação natural do mesmo e as demais manchas de vegetação natural, mais próximas. A área do Parque encontra-se na figura situada entre os bairros São Tarcísio e Ilha dos Araújos, à margem esquerda do Rio Doce e os seguintes bairros localizados à margem direita do mesmo Rio: Parque das Aroeiras e Elvamar e os condomínios Vilage da Serra, Vila Parque do Ibituruna, Vila Parque São João e Encostas do Sol. Estas áreas urbanas podem ser objeto de desenvolvimento de ações que orientem o uso e ocupação do solo nas propriedades de forma a se buscar sustentabilidade nos processos produtivos, evitando danos ao Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.194 FIGURA II.7.2 - Localização de bairros e condomínios na região de entorno do Parque . Fonte: dados da Pesquisa: PMGV PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.195 TABELA II.7.1 – Pontos amostrados na área do entorno e adjacências (Mapa 2). PONTOS DEMARCADOS NO ENTORNO: LONGITUDE LATITUDE (1º) ponto 1 - Local próximo à entrada do Parque. 191242 7911602 (2º) ponto 2 - Encosta do Sol (Ponto no limite norte do parque, às margens da estrada para Derribadinha) 191677 7911942 (3º) ponto 3 - Haras JP. 192185 7912735 (4º) ponto 4 - Chácara Santa Clara, Sítio Toca do coelho, Assembléia de Deus. 193328 7913062 (5º) ponto 5 - Fazenda Bela Vista. 193830 7913351 (6º) ponto 6 - Bifurcação para 2ª estrada, acesso para o Pico da Ibituruna. 194244 7913429 (7º) ponto 7 - Plantação e pasto. 191242 7911602 (8º) ponto 8 - Início subida da estrada. 196211 7913205 (9º) ponto 9 - Curso D'água. 197062 7912742 (10º) ponto 10 – Fazenda com criação de gado. 197718 7912577 (11º) ponto 11 - Pontilhão do trem, Chácara Céu Azul, cruzamento estrada com o trem (cruz de Santo André). 197938 7912596 (12º) ponto 12 - Haras Vargedo Mangalarga Machador. 198480 7912198 (13º) ponto 13 – Derribadinha. 198944 7912017 Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.196 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.197 De acordo com a Tabela II.7.1 acima foram identificados, ao longo da estrada de acesso à Derribadinha, desde o Parque, seguindo em direção norte, algumas propriedades que devem merecer atenção especial no programa de uso do entorno, com relação à busca de adequação dos sistemas de produção às necessidades de uso sustentável, evitando degradação ao parque. São elas: Encosta do Sol, Haras JP, Chácara Santa Clara, Sítio Toca do Coelho, Fazenda Bela Vista, Haras Vargedo Mangalarga Machador, Derribadinha. As propriedades citadas que já possuem algum tipo de técnica de produção sustentável podem servir de apoio às atividades planejadas no programa de uso do entorno, auxiliando na difusão das mesmas, assim como sendo beneficiadas como propriedades prioritárias para apoio ao desenvolvimento de novas técnicas sustentáveis de produção agrícola. De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Governador Valadares, a área de Parque e seu entorno fica classificada em seu zoneamento, uma Zona de Adensamento IV que correspondem às regiões do Município que necessitam de controle de uso e ocupação do solo correspondente a sua condição de localização em relevos acidentados, infra-estrutura restrita e áreas sujeitas à influência do regime pluvial (Art. 16 da Minuta de Lei), sendo: Tamanho mínimo do lote: 2.500,00 m² Coeficiente de Aproveitamento: 0,3 Taxa de Impermeabilidade: 40% O estudo de percepção socioambiental realizado para este plano de manejo identificou, como os mais percebidos problemas ambientais no entorno do Parque, a poluição do ar (20,5% dos entrevistados), desmatamento (16,0%), falta de tratamento de esgoto (18,0%), além de poluição da água dos rios e córregos, lixo em lotes, ruas e áreas abandonadas. Outros temas ambientais percebidos pela população do entorno, relevantes para o desenvolvimento deste programa, são: derrubada de árvores, coleta de lenha, caça, garimpo, extração de areia e coleta de plantas, segundo a mesma pesquisa. As ações a serem desenvolvidas no entorno devem necessariamente buscar soluções para a mitigação de tais práticas, visando a proteção do entorno do Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.198 Para se desenvolver um modelo de gestão integrada de áreas protegidas com áreas naturais não incluídas em unidades de conservação, são necessárias mais informações básicas para desenvolver esquemas de uso sustentável de recursos. Identificação de recursos-chave, conhecimento de escalas e esquemas de produção, e de parâmetros populacionais que determinam reprodução, recrutamento e mortalidade (natural ou não) das espécies economicamente importantes, são informações vitais para o processo de planejamento e implementação das áreas protegidas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.199 II.8 - ESTUDO DE FRAGMENTAÇÃO E CONECTIVIDADE PARA O ENTORNO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALARES - MG II.8.1 - INTRODUÇÃO A degradação de áreas naturais é o principal fator de fragmentação da paisagem na atualidade. Vastas paisagens, outrora cobertas por maciços contínuos de vegetação, vêm tomando novas características e constituindo mosaicos diferenciados, onde a vegetação nativa é relegada à condição de ilhas de diferentes tamanhos e formas (DE PAULA & RODRIGUES, 2002). De acordo com Galindo-Leal e Câmara (2003) a Mata Atlântica é um dos 25 hotspots mundiais de biodiversidade, com status de ameaçada e mais de 8.000 espécies endêmicas, sendo que menos de 100.000 km2 (cerca de 8%) restam dessa floresta. Em algumas áreas de endemismo, tudo o que restou foram imensos arquipélagos de fragmentos minúsculos e muito espaçados. Para preservar é necessário conhecer e mensurar o que existe, onde existe e como existe. Portanto, quantificar o que ainda existe, definir a sua localização espacial e sua forma são condições básicas para qualquer politica que se deseje implantar (MARQUES, 2004). O conceito de corredores ecológicos baseia-se no grau de conectividade entre as áreas naturais remanescentes, sob diferentes categorias de proteção e manejo, através de estratégias de fortalecimento e expansão do número de unidades de conservação, além da recuperação de ambientes degradados. A conectividade ecológica de uma unidade de conservação de proteção integral, na categoria parque natural municipal, depende diretamente da manutenção das características mínimas dos ambientes naturais, de modo a viabilizar condições para o trânsito dos indivíduos da espécie, ou seja, presença de alimentos, abrigos, condições térmicas favoráveis, equilíbrio com predadores, inexistência das barreiras físicas, entre outras. A união de tecnologias de processamento e aquisição de dados beneficia o campo da Ecologia da Paisagem, que apoiado pelos dados de sensoriamento remoto, obtém análises quantitativas e espaciais de fragmentos de vegetação bem definidos. A utilização de programas como o FRAGSTATS proporciona a quantificação da fragmentação da paisagem, revelando, por exemplo, a extensão das áreas dos fragmentos e como esses se apresentam distribuídos espacialmente (ANDRADE, 2005). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.200 Neste contexto, o presente estudo pretende avaliar o nível de fragmentação existente nas adjacências na área de implantação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares através de técnicas de sensoriamento remoto e a partir do uso de sistemas de informação geográfica aliados a visitas de campo. Será considerada a área existente entre o Parque e o Monumento Natural e Área de Profeteção Ambiental do Pico da Ibituruna, principal unidade de conservação existente no entorno. Este estudo tem como principal finalidade apontar uma possível área para formação de um corredor ecológico proporcionando uma extensão maior de vegetação natural protegida e que estará em conectividade com as manchas de vegetação mais próximas, servindo de repositório de espécies para a recolonização de habitats que possam ter apresentado extinções locais. II.8.2 - A FRAGMENTAÇÃO DE AMBIENTES E A FORMAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS A fragmentação da paisagem ocorre quando padrões naturais de heterogeneidade e conectividade são modificados até o ponto em que os processos ecológicos normais são interrompidos e/ou novos processos são inicializados (PEARSON, 1994). A fragmentação da paisagem pode ser causada por processos naturais ou pela ação antrópica. Esta última, geralmente, de maneira desordenada causando inúmeros problemas ao meio ambiente. A fragmentação por processos naturais pode ser causada por: flutuações climáticas, que podem causar expansão ou retração de determinados tipos vegetais; heterogeneidade de solos como certos tipos de vegetação restritos a tipos de solos; topografia, que podem formar ilhas de tipos específicos de vegetação, em locais elevados; processos de sedimentação e hidrodinâmica em rios e no mar e processos hidrogeológicos que produzem áreas temporariamente ou permanentemente alagadas, onde ocorre um tipo particular de vegetação. As causas antrópicas de destruição das florestas nativas estão diretamente relacionadas com a fixação do homem e o avanço dos meios de produção. As principais causas de fragmentação da paisagem no município de Governador Valadares, tanto quanto em todo território nacional, estão ligadas ao extrativismo vegetal, ao crescimento das áreas destinadas à agropecuária, às queimadas e ao processo de urbanização, que se intensificou na segunda metade do século XX. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.201 O Parque atuará para que os fluxos ecológicos mantenham-se inalterados, protegendo, na medida do possível as manchas de vegetação natural (ou recuperadas) contíguas ao Parque, o que implica em buscar se desenvolver projetos que integrem as propriedades rurais e urbanas vizinhas aos programas de manejo do Parque, em especial o de uso do seu entorno. Neste estudo é possível observar que as manchas de vegetação natural identificadas com potencial de manutenção das espécies e conectividade entre elas podem representar as possibilidades efetivas para a conservação da biodiversidade local, mas dependerá de diversos fatores, relacionados com o próprio manejo do Parque e o uso do solo e dos recursos naturais situados nas propriedades do entorno. Os fragmentos de vegetação consideraram todos os tipos de formação florestal fotossinteticamente ativas ou com porte arbóreo relevante para manutenção dos fluxos gênicos. Sendo assim, no processo de classificação não foi possível destacar áreas totalmente integras devido principalmente a grande disseminação das Aroeiras (Myracrodruon urundeuva), que pode ser considerada uma espécie invasora que cumpre seu papel no fluxo gênico, principalmente no que diz respeito a refúgios para fauna local. Na busca de se assegurar maior proteção às unidades de conservação existentes, a política ambiental brasileira vem adotando o conceito de corredor ecológico, sendo este um instrumento de ordenamento da paisagem validado pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação SNUC, que vem sendo utilizado pelo IBAMA e ICMBio para identificar possíveis áreas prioritárias para cumprir o importante papel de manter a conexão ecológica entre as unidades de conservação. O Parque Natural Municipal de Governador Valadares, pode e deve servir como uma área de amortecimento para as espécies provindas de regiões mais preservadas como o Monumento Natural e Área de Proteção Permanente do Pico da Ibituruna, servindo como corredor ecológico para estas espécies. Os corredores ecológicos caracterizam-se por serem grandes áreas florestadas, em situação de conservação suficiente para manter o fluxo de indivíduos da fauna silvestre e consequentemente o fluxo gênico destas espécies entre as populações e subpopulações dos diferentes fragmentos florestais aumentando a probabilidade de sua sobrevivência em longo prazo, e assegurando a manutenção de processos ecológicos e evolutivos, na maioria dos casos estes corredores procuram PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.202 ligar unidades de conservação agindo inclusive na recuperação dos ambientes degradados que se localizam dentro da matriz em que estas áreas se encontram (AYRES et al.; 2005). Neste sentido, a região de Governador Valadares ainda conta com a presença do Pico da Ibituruna, ponto culminante do município, com 1.123 metros, sendo um dos maiores de todo Vale do Rio Doce. Considerada Área de Preservação Ambiental (APA) com 6.243 hectares, o pico destaca-se como importante fonte de renda para o município devido ao turismo que atrai praticantes de esportes radicais do mundo todo para a prática do vôo livre. O pico era formado por 6.000 hectares de Mata Atlântica. O uso intensivo para pecuária e as queimadas propiciaram uma redução de 60% da mata original nos últimos trinta anos (MMA, 2009). De acordo com a assessoria de Comunicação do Sistema Estadual de Meio Ambiente (SISEMA), o IEF assumiu a gestão desde a Lei Complementar 18.024/2009, que elevou o Pico de Área de Preservação Ambiental para a categoria de Proteção Integral, tendo como objetivo básico preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos recursos naturais. Em verdade, o advento da Lei Estadual 18.024/2009, que elencou as áreas de proteção especial (o Ibituruna é uma delas) entre as Unidades de Conservação do Estado de Minas Gerais, não introduziu grande modificação na proteção jurídica conferida ao Pico. Com efeito, o Pico da Ibituruna já é um monumento natural do Estado (uma modalidade de Unidade de Conservação de proteção integral), instituído pela Constituição Estadual. O Pico ainda é uma área de proteção ambiental municipal (outra modalidade de Unidade de Conservação, de uso sustentável), instituída por Lei Municipal. Para efeitos de utilização no presente estudo o mesmo será considerado como Monumento Natural, delimitado conforme mapeamento disponibilizado on line pelo Instituto Estadual de Florestas – IEF/ MG. A conservação da biodiversidade requer não somente a preservação em nível de espécies, mas também a diversidade genética contida em diferentes populações, sendo necessário se proteger múltiplas populações de uma mesma espécie (descritas na ecologia como metapopulações). Tais populações isoladas de uma mesma espécie podem sempre recolonizar áreas onde houve extinção local, mas se faz necessário a manutenção de corredores ecológicos que viabilizem conectividade entre estas populações isoladas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.203 Segundo Cerqueira et al. (2005, In: RAMBALDI E OLIVEIRA, 2005) o termo habitat refere-se ao conjunto dos fatores abióticos, isto é, os fatores físicos e químicos do ambiente, de um dado local. Habitats são, portanto, as partes do mosaico do ambiente no espaço geográfico. As espécies animais e vegetais buscam se estabelecerem nos habitats que são mais favoráveis à sua sobrevivência, como, por exemplo, onde há mais recursos alimentar, mais nutrientes, mais proteção, menos predadores, entre outros fatores. Estes fatores variam bastante de um habitat para o outro. Por isto se faz necessário para a proteção ambiental e conservação das espécies e da biodiversidade assegurar a maior diversidade possível de habitats. No caso da fauna, havendo movimentação das espécies de um habitat para outro (ou outros), cada espécie encontra-se em algum momento em habitat mais favorável ou menos favorável (Vide Figura II.8.1), e a chance de sobrevivência da espécie será uma função do tempo de permanência da mesma em cada ambiente mais favorável (CERQUEIRA et al, 2005). FIGURA II.8.4 - Exemplo de mosaico de manchas de vegetação, sendo umas favoráveis (bom) e outras desfavoráveis (ruim) para a permanência e sobrevivência das espécies. Fonte: Com base em Cerqueira et al. (2005) Todos os habitat (por exemplo, uma mancha de floresta) no Parque podem ser naturalmente favoráveis ou desfavoráveis para uma espécie. Quando é desfavorável acontece com mais frequência extinções locais, podendo ocorrer também mesmo em habitats favoráveis. Quando isto ocorre, populações da mesma espécie situadas em habitats vizinhos podem recolonizar o habitat da extinção, aumentando as chances de sobrevivência da espécie. Por isto se torna tão importante conservar, ao máximo, manchas florestais e ambientes naturais vizinhos a cada unidade de PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.204 conservação criada, buscando ampliar a área necessária para assegurar a sobrevivência das espécies encontradas no Parque. O Parque atuará como no caso b da Figura II.8.2, ao manter uma extensão maior de vegetação natural protegida e que estará em conectividade com as manchas de vegetação mais próximas, servindo de repositório de espécies para a recolonização de habitats que apresentaram extinções locais. Para que estes fluxos ecológicos aconteçam, faz-se necessário se proteger, na medida do possível as manchas de vegetação natural (ou recuperadas) contíguas ao Parque, o que implica em buscar se desenvolver projetos que integrem as propriedades rurais e urbanas vizinhas aos programas de manejo do Parque, em especial o de uso do entorno do Parque. FIGURA II.8.5 - Modelos de metapopulações, sendo a o modelo clássico com manchas similares de vegetação e b modelo fonte – ralo, como verificado no Parque Fonte: Com base em Cerqueira et al. (2005) Para se desenvolver um modelo de gestão integrada de áreas protegidas com áreas naturais não incluídas em unidades de conservação, são necessárias mais informações básicas para desenvolver esquemas de uso sustentável de recursos. Identificação de recursos-chave, conhecimento de escalas e esquemas de produção, e de parâmetros populacionais que determinam reprodução, recrutamento e mortalidade (natural ou não) das espécies economicamente importantes, são PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.205 informações vitais para o processo de planejamento e implantação das áreas protegidas. Além do mais, a definição de níveis máximos toleráveis de produção, e a avaliação de seu impacto ambiental devem ser estabelecidas como prática comum disseminada em todos os âmbitos, já que, atualmente, na prática, constituem exceção, e não regra. Em adição à perda de habitat, outras ameaças contribuem para a degradação da floresta, incluindo a retirada de lenha, exploração ilegal de madeira, caça, extrativismo vegetal e invasão por espécies exóticas, apesar de existir uma legislação para a proteção dessa floresta. Atualmente mais de 530 plantas e animais que ocorrem no bioma estão oficialmente ameaçados, alguns ao nível do bioma, alguns nacionalmente e outros globalmente. Muitas dessas espécies não são encontradas em áreas protegidas, o que indica a necessidade de se racionalizar e expandir o atual sistema de unidades de conservação (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2003). Embora as iniciativas de conservação tenham crescido em número e escala durante as últimas duas décadas, elas são ainda insuficientes para garantir a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. Para se evitar mais desmatamentos e perda massiva de espécies na Mata Atlântica brasileira, o desafio consiste na integração dos diversos instrumentos regulatórios, políticas públicas e novas oportunidades e mecanismos de incentivo para a proteção e restauração florestal, além dos vários projetos e programas independentes desenvolvidos pelos governos e organizações não governamentais, em uma única e abrangente estratégia para o estabelecimento de redes de paisagens sustentáveis ao longo da região. A floresta já perdeu mais de 93% de sua área (MYERS et al., 2000) e menos de 100.000 km² de vegetação remanesce. Algumas áreas de endemismo, como Pernambuco, agora possuem menos de 5% de sua floresta original e Minas Gerais menos de 10,33 % (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2003). Entre 1989 e 2000, 10% da cobertura florestal remanescente foram perdidas, apesar de investimentos consideráveis em vigilância e proteção. De acordo com Gascon et al., (2000) uma estratégia integrada para a implementação de uma rede de paisagens sustentáveis ao longo da Mata Atlântica brasileira deveria seguir cinco linhas gerais. Primeiro, as ações de conservação devem ser planejadas com base em fronteiras naturais (áreas prioritárias para conservação ou corredores de biodiversidade), ao invés de limites políticos (municípios ou estados). Segundo, ampla colaboração entre agências governamentais e outras parcerias é vital para o desenho e implementação de paisagens sustentáveis. Terceiro, grandes corredores de conservação deveriam estar ancorados em um amplo sistema de áreas protegidas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.206 Em quarto lugar, a restauração de florestas de galeria é fundamental para o estabelecimento de conectividade entre fragmentos florestais, como forma de garantir que recursos hídricos críticos sejam mantidos na região. Finalmente, a implementação de redes de paisagens sustentáveis deveria ser monitorada utilizando-se os melhores indicadores de desempenho disponíveis, referentes a aspectos biológicos, sociais e econômicos, para garantir que estes recursos sejam utilizados de forma efetiva. O manejo integrado dos corredores ecológicos visa facilitar o fluxo de indivíduos e genes entre populações e subpopulações, aumentando a probabilidade de sua sobrevivência em longo prazo e assegurando a manutenção de processos ecológicos e evolutivos em larga escala. Os corredores ecológicos considerados neste estudo foram conceituados como as extensões de ecossistemas florestais biologicamente prioritários na Mata Atlântica, delimitados em grande parte por conjuntos de unidades de conservação (existentes ou propostas) e pelas comunidades ecológicas que contém. De acordo com a Lei Federal nº 9965/2000 em seu item XIX: ...corredores ecológicos são porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais. Portanto o conceito de corredores ecológicos contempla a conectividade e dispersão de espécies, assim como manutenção de fluxos gênicos, fundamental para a conservação de longo prazo das espécies. O conceito de corredores ecológicos permite ainda o incremento do grau de conectividade entre as áreas naturais remanescentes, sob diferentes categorias de proteção e manejo, através de estratégias de fortalecimento e expansão do número de unidades de conservação, incluindo-se aqui as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), além da recuperação de ambientes degradados. Segundo Ayres (2005, p.55), a coexistência de assentamentos humanos na área de influência de unidades de conservação submetidas a vários regimes de proteção e de uso sustentável de recursos naturais. Sob este ponto de vista, áreas protegidas são encaradas também como elementos essenciais de uma estratégia mais ampla de desenvolvimento humano regional. Este PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.207 procedimento considera e incorpora, dentro dos custos de proteção, as necessidades das comunidades locais, facilitando os investimentos nesta atividade, e relacionando-os aos benefícios sociais e econômicos resultantes do uso sustentável dos recursos naturais do local. Numa primeira etapa para avaliação das áreas mais adequadas para assegurar a conectividade com o Parque foram utilizados os mapas disponíveis e/ou elaborados sobre a distribuição dos elementos que se pretende conservar no contexto da gestão ambiental integrada do mesmo e seu entorno. Assim, esta primeira abordagem espacial foi baseada em critérios eminentemente biológicos e ecológicos. Os corredores ecológicos a serem definidos para assegurar a conectividade entre as manchas de vegetação natural existentes no Parque e seu entorno são apresentados a seguir. Numa primeira etapa foram utilizados os mapas disponíveis sobre a distribuição dos critérios utilizados estiveram, portanto, de acordo com os conhecimentos científicos compilados e disponíveis até o momento. Tais critérios adotados, com base em Ayres et al. (2005) foram: a) Riqueza de espécies, incluindo número absoluto, bem como percentagem total desta dentro da riqueza da biota regional conservada no corredor. b) Diversidade de comunidades e ecossistemas, incluindo número de comunidades distintas e percentagem das comunidades típicas da região. c) Grau de conectividade, ou integralidade das ligações existentes entre comunidades terrestres e aquáticas ao longo do corredor em potencial. d) Integridade, ou tamanho mínimo dos blocos de paisagem natural, para definir a capacidade de suporte de populações de espécies raras e ameaçadas. As pesquisas desenvolvidas para a elaboração do Plano de Manejo do Parque se estenderam além dos limites deste, alcançando seu entorno imediato, de modo a se ter melhor conhecimento sobre a diversidade biológica da região, abundância e representatividade das espécies, endemismo, graus de ameaças, identificação das grandes extensões de terras com cobertura florestal remanescentes, e possuidoras de populações naturais suficientemente grandes para garantir sua viabilidade ecológica, entre outros critérios científicos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.208 Esta abordagem considera de uma forma integrada, critérios fundamentais que estão ausentes (ou pouco representados) nos projetos que levaram ao estabelecimento da atual rede de áreas protegidas brasileiras: a) Importância biológica, representando o montante de diversidade biológica a ser conservada no sistema de unidades de conservação. b) Uso sustentável de recursos e participação de atores, atendendo às necessidades da geração atual, sem comprometer as necessidades das gerações futuras, e criando uma mentalidade pública neste sentido. c) Representatividade, relacionado ao montante das diferentes regiões biológicas atualmente representadas no sistema brasileiro de áreas protegidas. d) Grau de conectividade, indicativo das reais possibilidades de manutenção dos processos ecológicos e evolutivos, permitindo fluxos gênicos em diferentes graus. Os princípios norteadores descritos abaixo formam a base conceitual para a ação para implantação do plano de manejo do Parque e deverão ser aplicados dentro deste e/ou em suas áreas de influência (ou entorno) de acordo com as necessidades locais: a) Participação de atores sociais, já que a maior parte dos problemas relacionados ao sistema de unidades de conservação provém do seu exterior ou arredores, este deveria ser considerado como um dos mais importantes objetivos do projeto. Este é também o item mais complexo. Inclui a participação de todos os atores sociais relacionados com o Parque, dando ênfase às comunidades locais que são os usuários diretos e imediatos dos recursos naturais. b) Provimento de fiscalização e monitoramento adequados. Considerando a carência de recursos financeiros comum nos sistemas de gestão dos Parques e reservas no Brasil, estrategicamente as instituições responsáveis por estas unidades vêm buscando o envolvimento das comunidades locais e parcerias com o setor privado e com organizações não-governamentais para a execução de ações relativas à implantação e manutenção de infra-estrutura e dos programas incluídos no plano de manejo, tais como vigilância, fiscalização, recuperação ambiental, educação ambiental, pesquisa e monitoramento, entre outros. A solução para este importante problema é aumentar a participação dos atores envolvidos no processo. Os mais importantes agentes para esse trabalho originam-se das comunidades locais que lidam diretamente com o uso dos recursos. Treinar o pessoal local tem provado em muitas áreas ser muito positivo na proteção dos recursos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.209 Em complementação a isso, infra-estrutura logística de apoio, com rádios de ondascurtas, lanchas, veículos e postos de vigilância, serão necessários para a implementação das práticas de zoneamento e manejo, e possibilitando a integração das diferentes agências gestoras das distintas unidades de conservação existentes em cada corredor agindo articuladamente no controle e fiscalização da área. (AYRES et al., 2005). C) Estímulo à pesquisa aplicada. A maioria das unidades de conservação carece de estudos básicos necessários ao seu manejo. Sempre que um projeto de conservação considera as interações com a população local que subsiste dos recursos naturais das unidades de conservação, o manejo é uma tarefa complexa. Este é o caso da maior parte das populações amazônicas que vivem diretamente da exploração dos recursos naturais. Muito pouco se sabe até hoje sobre os ciclos biológicos e reprodutivos da maioria desses recursos naturais e do próprio bioma como um todo. Por isso, é vital para o sucesso de qualquer projeto de manejo que a pesquisa aplicada seja estimulada nos corredores, comparando-se áreas de uso humano com aqueles ambientes ainda intocados. A pesquisa pura, por outro lado, deve ser permitida e estimulada nas unidades de conservação, mas não necessariamente financiadas por este projeto. d) Provimento de zoneamento e manejo adequados. O planejamento estratégico dos corredores representará uma estratégia geral para facilitar o fluxo de genes entre áreas protegidas e áreas de uso sustentável. Isto irá envolver uma análise cuidadosa das ações que já estão sendo tomadas em cada região e as que podem ser aplicadas para melhorar o sistema. Esta ação deverá obrigatoriamente atingir os municípios, OEMAs, governos dos estados, a iniciativa privada, planejadores etc. A reunião destes atores em câmaras ou instâncias consultivas e deliberativas poderá propiciar a integração necessária para a realização de gestão do uso do solo e dos recursos, inclusive em áreas fora das unidades de conservação (dentro da sua zona-tampão e da sua zona de influência). e) Investimento em capacitação de pessoal. O componente de treinamento deste projeto visa melhor capacitar não somente o pessoal de instituições públicas, mas também o das comunidades locais envolvidas no processo de manejo dos recursos naturais. Esta capacitação envolve vários níveis profissionais em várias atividades diferentes, e conta com a possibilidade de intercâmbio de experiências entre pessoas e/ou instituições atuando dentro ou fora das unidades de conservação do corredor, e mesmo experiências de outros países em implementação de corredores ou outras medidas eco-regionais de conservação da biodiversidade. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.210 f) Estímulo a acordos institucionais e parcerias apropriadas. A atração e o envolvimento de muitos atores sociais (não somente as populações tradicionais e locais) para o estabelecimento e manejo dos corredores é de vital importância para o sucesso da conservação do Parque. Existem vários níveis de acordos institucionais possíveis, de onde podem decorrer ações de cooperação e mesmo de financiamento de algumas atividades. A maior parte das atividades sugeridas mais a frente não podem ser realizadas por nenhuma organização sozinha, seja ela governamental ou nãogovernamental. Deve-se neste sentido buscar identificar o melhor arranjo institucional possível o qual assegure ações integradas que otimizem recursos materiais, financeiros e humanos, reduzindo desperdícios e superposições resultantes de operações desarticuladas e não planejadas. g) Construção de uma estrutura de gerenciamento participativo e colaborativo. Esta estrutura deve estar prevista no plano de manejo como sendo um comitê gestor (ou conselho consultivo) do Parque, com definições, atribuições e composição especificadas e oficializadas em ato administrativo da instituição pública responsável. h) Desenvolvimento de um plano de sustentabilidade em longo prazo. Muitas ações de conservação financiadas por agências governamentais e empresas privadas (ou públicas) são abruptamente paralisadas por diversos motivos e em especial resultantes de descontinuidade administrativa, nos diversos níveis de governo. Deveriam ser buscados mecanismos que pudessem proporcionar a manutenção do Parque e dos corredores para conectividade ao final da cooperação com a empresa VALE. i) Realização de marketing e disseminação. Este é um tópico extremamente importante que deve ser levado em consideração, porque irá estimular o comprometimento público para com estas áreas, como uma forma importante de garantir sua sustentabilidade a longo prazo. Programas de televisão exibidos em rede local e estadual são surpreendentemente importantes para obter apoio local para as unidades. Jornais e matérias em revistas, programas de rádio e televisão, livros e panfletos, exposições e outros eventos podem ser importantes na formação da opinião pública sobre a importância do Parque, sua biodiversidade, e sobre o programa dos corredores ecológicos de seu entorno, destacando o envolvimento das comunidades locais e as perspectivas de geração de emprego e renda a partir da gestão ambiental integrada do Parque (AYRES, 2005). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.211 j) Estímulo ao reconhecimento de Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPNs que são oficialmente admitidas como parte complementar do Sistema Nacional de Unidades de Conservação com atual vigência. Estas reservas são oficialmente reconhecidas pelo governo federal por solicitação de seu proprietário. O estabelecimento de reservas pode ser baseado em sua importância para a proteção da biodiversidade, valores paisagísticos e outros fatores ambientais, que necessitem proteção ou restauração para preservar ecossistemas frágeis ou ameaçados. O processo de criação de um Parque requer aprovação técnica do órgão ambiental competente. Este processo deve documentar as condições ambientais da área, tais como: tipo de ambiente, diversidade da fauna, geomorfologia, hidrologia, conservação de áreas sob pressão humana, existência de monumentos naturais, valores históricos ou culturais, sua localização e situação etc. Após o estabelecimento, são necessárias inspeções anuais ao local. (AYRES, 2005). As atividades econômicas permitidas nestas reservas são limitadas ao ecoturismo, atividades educacionais, culturais ou projetos recreativos que não comprometam a conservação da biodiversidade. Mesmo com essas limitações existem oportunidades para investimentos rentáveis nestas unidades. Com relação à importância da participação de atores sociais na gestão de Parques e reservas incluindo seu entorno existem diversas experiências brasileiras e internacionais que valorizam tais iniciativas. A participação da sociedade na gestão de Parques tem variado amplamente, de acordo com a categoria de manejo, das redes sociais existentes, do grau de interesse e participação, da capacidade da instituição responsável pelo Parque em agregar os atores sociais, entre outros fatores. A inclusão das comunidades locais na gestão do Parque mostra-se como condição necessária ao alcance dos objetivos do Parque e sua gestão ambiental integrada e compartilhada entre instituições governamentais e representantes das comunidades locais e demais organizações sociais interessadas em sua gestão. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.212 II.8.3 - PREMISSAS E DISPOSITIVOS LEGAIS A criação de Unidades de Conservação (UC) tem sido uma das principais formas de conservação da natureza no Brasil. São criadas pelo Poder Público com o objetivo de preservar o que de melhor existe em estado natural, de modo a compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico. Representam o espaço territorial e seus recursos ambientais, com características naturais relevantes, legalmente instituídas, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção (IBAMA, 2002). Em 2000, a definição para Unidade de Conservação foi consolidada na Lei Federal nº 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC. Essa Lei divide as UCs em dois grupos: Proteção Integral e Uso Sustentável. Cada grupo se subdivide em categorias com objetivos específicos. A criação de uma unidade conforme o SNUC deve ser precedido de estudos técnicos que justifiquem a importância à localização e a delimitação da área detalhando-se com a realização de levantamentos bióticos e abióticos e também a realização de consulta pública para manifestação e permissão quanto à criação da unidade (LIMA e GUALDANI, 2008). A Lei do SNUC, como é conhecida, define Unidade de Conservação como: Espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção. O SNUC é constituído pelo conjunto das UCs federais, estaduais e municipais e tem os seguintes objetivos: I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos noterritório nacional e nas águas jurisdicionais; II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.213 X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. O SNUC é gerido pelos seguintes órgãos: Órgão consultivo e deliberativo: o CONAMA, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema; Órgão central: o MMA, com a finalidade de coordenar o Sistema; Órgãos executores: o ICMBio e o IBAMA, em caráter supletivo, os órgãos e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as UCs federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação. O Instituto Chico Mendes (ICMBio) foi criado pela Medida Provisória nº 366, de 26 de abril de 2007, que foi convertida na Lei Federal nº 11.516, de 28 de agosto de 2007. É uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público, vinculada ao MMA, que tem por finalidade: I - executar ações da política nacional de unidades de conservação da natureza, referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União; II - executar as políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais renováveis, apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação de uso sustentável instituídas pela União; III - fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade; e IV - exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação instituídas pela União.(Artigo 1º) Toda a regulamentação e aplicação de legislação relacionada às UCs, no Brasil, estão sujeitas ao novo ICMBio. As UCs integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características específicas: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável. O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, e das de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.214 Para facilitar a criação dos corredores ecológicos contamos com o estabelecimento de zonas de amortecimento. Estas são áreas previstas na Lei federal 9.985/2000, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com a finalidade de minimizar possíveis impactos e danos às unidades de conservação. A área de entorno é protegida contra atividades antrópicas que possam significar ameaças á integridade dos recursos ambientais inseridos no Parque, tais como o uso indiscriminado de agrotóxicos, criação de espécies animais e vegetais exóticas e, principalmente, da instalação de empreendimentos altamente impactantes, como rodovias, barragens, aquedutos, oleodutos e linhas de transmissão. O artigo 25 da Lei do SNUC dispõe que todas as Unidades, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, deverão possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos. Os limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos poderão ser definidos no ato de criação da Unidade ou posteriormente. O órgão responsável pela administração da unidade de conservação também poderá estabelecer normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos. O artigo 27 da Lei Federal n° 9.985/00 estabelece que as UCs devem dispor de Plano de Manejo, que contemple a área da Unidade, a zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas. Nesse sentido, o Decreto Federal nº 99.274, de 06 de junho de 1990, que regulamenta a Lei Federal nº 6.902/81 e a Lei Federal nº 6.938/81, e que dispõem sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, determina o seguinte: Considerando a necessidade de estabelecerem-se normas referentes ao entorno das UCs e visando a proteção dos ecossistemas existentes, o CONAMA, por meio da Resolução CONAMA nº13, de 06 de dezembro de 1990, previu: Art. 2º - Nas áreas circundantes das Unidades de Conservação, num raio de dez quilômetros, qualquer atividade que possa afetar a biota, deverá ser obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente. Parágrafo Único - O licenciamento a que se refere o caput deste artigo só será concedidomediante autorização do responsável pela administração da Unidade de Conservação. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.215 Em 17 de dezembro de 2010, O CONAMA alterou a delimitação da área de entorno de UC para efeito de licenciamento ambiental, com a Resolução nº 428, publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 20/12/2010, tendo revogado a Resolução CONAMA 13/90, passando a definir o seguinte: Art. 1o O licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental que possam afetar Unidade de Conservação (UC) específica ou sua zona de amortecimento (ZA), assim considerado pelo órgão ambiental licenciador, com fundamento em Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), só poderá ser concedido após autorização do órgão responsável pela administração da UC ou, no caso das Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN), peloórgão responsável pela sua criação. § 1o Para efeitos desta Resolução, entende-se por órgão responsável pela administração da UC, os órgãos executores do Sistema Nacional de Unidade de Conservação-SNUC, conforme definido no inciso III, art. 6o da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. § 2o Durante o prazo de 5 anos, contados a partir da publicação desta Resolução, o licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental, localizados numa faixa de 3 mil metros a partir do limite da UC, cuja ZA não esteja estabelecida, sujeitar-se-á ao procedimento previsto no caput, com exceção de RPPNs, Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e Áreas Urbanas Consolidadas. Art. 8o Ficam revogadas as Resoluções Conama nos 10, de 14 de dezembro de 1988, 11, de 3 de dezembro de 1987, 12, de 14 de dezembro de 1988, 13, de 6 de dezembro de 1990; bem como o inciso II, do art. 2o e § 1o do art. 4o da Resolução Conama no 347, de 10 de setembro de 2004, e o parágrafo único do art. 3o da Resolução Conama no 378, de 19 de outubro de 2006. A Portaria do MMA n° 09, de 23 de janeiro de 2007, reconhece as Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira ou Áreas Prioritárias para a Biodiversidade para efeito da formulação e implementação de políticas públicas, programas, projetos e atividades sob a responsabilidade do Governo Federal. As ações referentes às Áreas Prioritárias para Conservação consistem em: I - conservação in situ da biodiversidade; II - utilização sustentável de componentes da biodiversidade; III - repartição de benefícios derivados do acesso a recursos genéticos e ao conhecimento tradicional associado; IV - pesquisa e inventários sobre a biodiversidade; V - recuperação de áreas degradadas e de espécies sobreexploradas ou ameaçadas deextinção; e VI - valorização econômica da biodiversidade. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.216 A lista de áreas prioritárias deve ser revista periodicamente, em prazo não superior a 05 (cinco) anos, à luz do avanço do conhecimento e das condições ambientais, pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO), mediante Portaria do Ministro de Estado do Meio Ambiente. As ações anteriormente transcritas devem ser implementadas considerando-se as seguintes classes de importância biológica e de priorização de ação: I - Classes de Importância Biológica: a) extremamente alta; b) muito alta; c) alta; e d) insuficientemente conhecida. II - Classes de Prioridade de Ação: a) extremamente alta; b) muito alta; e c) alta Conforme artigo 3º da Portaria MMA nº09/07, o MMA é responsável pela criação e gestão de banco de dados virtual e integrado sobre a biodiversidade brasileira, incorporando as bases de dados utilizadas no processo de atualização de áreas prioritárias, bem como pela alimentação contínua do mapa de importância biológica e inclusão de novas informações sobre biodiversidade. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.217 II.8.4 - SÍNTESE CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA Projetos ambientais consistem em atividades programadas, que envolvem recursos humanos, técnicos e logísticos, que têm como finalidade realizar metas ambientais e os efeitos e manifestações naturais a elas vinculados. Estes projetos são destinados à manutenção da qualidade ambiental de ecossistemas afetados por atividades transformadoras e podem apresentar cinco naturezas distintas: projetos de monitoramento ambiental, de controle ambiental, de manejo ambiental, de uso múltiplo e especiais. Para conservação de uma espécie, algumas informações básicas devem ser levadas em consideração, e podem ser obtidas a partir de três fontes principais: por meio da literatura publicada, como índices bibliográficos e boletins eletrônicos; literatura não publicada, em relatórios de agências governamentais e organizações de conservação e pelo trabalho de campo. As informações a respeito da história natural de uma espécie permitem identificar os fatores que podem colocar as espécies em risco. Para que se possa planejar e implementar esforços eficazes de conservação, algumas perguntas precisam ser respondidas: quais os tipos de ambientes nos quais estas espécies são encontradas, o tamanho necessário desta área para tornar uma população viável e a distribuição desta espécie, assim como conhecer as interações bióticas, morfologia, fisiologia e comportamento das espécies. Como já apresentado no início deste capitulo, a Mata Atlântica brasileira, principalmente na Região Sudeste do Brasil, área de maior desenvolvimento econômico do país, é formada hoje por fragmentos florestais isolados de diversos tamanhos e em diferentes estágios de sucessão secundária (PAGLIA et al., 1995). Sua área original cobria cem milhões de hectares. Hoje, em virtude da densa população e industrialização, resta somente cerca de 8% dessas florestas. Diversos pontos desse bioma são atualmente apontados como sendo hotspots de biodiversidade, locais onde se concentra uma alta diversidade de espécies associada a uma grande ocorrência de endemismos – parâmetros indicadores de prioridade para a conservação e a preservação (KAGEYAMA & GANDARA, 2009). Atualmente, o Brasil ocupa a primeira colocação na relação de países com maior riqueza de espécies de anfíbios (875), e a segunda colocação a respeito dos répteis (721) (SBH, 2010). Mais de 405 espécies de anuros foram registradas em ambiente de Mata Atlântica (FROST, 2007: AMPHIBIAWEB, 2007). Dentre as espécies de anuros que ocorrem nesse bioma, 81% são PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.218 endêmicas (327) e 40% (161) têm modo reprodutivo especializado dependente desse ambiente florestal (HADDAD; PRADO, 2005). Em relação aos répteis, estão registradas aproximadamente 197 espécies, incluindo os quelônios marinhos (CARMONA, 2007). O Estado de Minas Gerais pode ser considerado um dos mais privilegiados na composição de seus recursos naturais, pois tem áreas cobertas pelos biomas da Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Essa heterogeneidade se expressa em uma grande variedade de ambientes com diferentes formações vegetais, rochosas e sistemas hídricos. Tais características favorecem a ocorrência de uma alta diversidade de anfíbios e répteis, muitos dos quais extremamente especializados em relação aos ambientes onde ocorrem, resultando também em um grande número de espécies endêmicas (DRUMMOND et al., 2005). A área de estudo onde o Parque será implantado possui cerca 40 hectares (402. 916,66 m²) e está localizada no perímetro urbano do município de Governador Valadares, no interior de Minas Gerais. Localiza-se na região leste do Estado, pertence à mesorregião do Vale do Rio Doce, está totalmente inserida no Domínio da Mata Atlântica e era originalmente coberta pela Floresta Estacional Semidecidual. Sua exploração intensa desde meados da década de 30 resultou no que hoje pode ser observado, assim como, o Pico da Ibituruna, apenas pequenos fragmentos de mata bem preservada, com representantes de espécies nativas. No entanto, a maior parte dos fragmentos encontra-se em estágios de sucessão secundários. Como já citado no Estudo de Fauna. O município atualmente apresenta apenas cerca 6,47% da sua cobertura vegetal original (IBGE, 2005). O declínio de populações da herpetofauna tem sido observado em diversas regiões do mundo, e as maiores ameaças a sua diversidade se concentra nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, resultado principalmente de perda e degradação de hábitat (PAGLIA et al., 2010). Outras causas também são apontadas, como a poluição das águas, a contaminação por pesticidas, as mudanças climáticas, as espécies invasoras, a radiação ultravioleta e o comércio ilegal de animais silvestres, agindo sozinhas ou em sinergia (YOUNG et al., 2004; CARMONA, 2007). O desenvolvimento de programas de conservação e uso sustentando de recursos biológicos, a única forma conhecida para desacelerar a perda de biodiversidade global, exige uma ampliação urgente dos conhecimentos nessa área. (KAGEYAMA & GANDARA, 2009). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.219 Inventariar a fauna e a flora de determinada porção de um ecossistema é o primeiro passo para sua conservação e uso racional. Sem um conhecimento mínimo sobre quais organismos ocorrem nesse local, e sobre quantas espécies podem ser encontradas nele, é virtualmente impossível desenvolver qualquer projeto de conservação. Porém, devido à altíssima diversidade de plantas, animais e microorganismos que podem ser encontrados em qualquer ambiente, por pequeno e aparentemente simples que seja, é praticamente impossível determinar sua riqueza total. A única opção factível nesse caso é inventariar alguns grupos taxonômicos e algumas características físicas do ambiente, na tentativa de construir uma visão geral sobre toda a biota. O que se espera desses organismos selecionados para o inventário é que sua diversidade em um determinado local reflita a diversidade total, ou pelo menos de uma parte de seus componentes (SANTOS, 2009). II.8.4.1 - Contextualização Regional A área destinada ao Parque Natural Municipal de Governador Valadares está situada na porção leste da cidade de Governador Valadares, centro leste do estado de Minas Gerais na Bacia Hidrográfica do Rio Doce. A área propriamente dita encontra-se cercada por um lado pela malha urbana e por outro pelo Pico da Ibituruna. Classificado como uma Área de Proteção Ambiental, a área do pico possui 6.243 ha e atinge 1.123 m de altura. Coberto inicialmente por áreas florestadas nativas ao bioma Mata Atlântica, o pico sofreu um forte processo de supressão vegetacional devido a exploração de madeira e posteriormente a atividade agropecuária, restando hoje apenas cerca de 60% de sua cobertura inicial (MMA,2009). Da mesma forma a área destinada à implantação do Parque sofreu as mesmas pressões do Pico da Ibituruna, o que pode ser observado hoje na área é a existência de apenas alguns pequenos remanescentes florestais em sucessão primária ou secundária, grandes áreas destinadas a atividades agropecuária e intensa presença de vegetação exótica. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.220 II.8.4.2 - Mata Atlântica Segundo a Conservação Internacional (2000) a Mata Atlântica (Figura II.8.3) é o bioma mais ameaçado do Brasil, juntamente com o Cerrado, fazem parte da listagem mundial de hotspots. A área original da Mata Atlântica apresentava 92% de sua distribuição em território brasileiro (TABARELLI et al., 2005) da qual resta menos de 8% da cobertura original do bioma (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA & INPE, 2000). As numerosas espécies geograficamente dispersas na região indicam que a Mata Atlântica passou por vários períodos de diferenciação biológica. Vários fatores contribuíram para a evolução das espécies com distribuição restrita na Mata Atlântica, como a formação de rios (SILVA E STRAUBE, 1996), mudanças paleoecológicas globais (HAFFER, 1987) e mudanças paleoecológicas regionais causadas por movimentos tectônicos (SILVA E STRAUBE, 1996). FIGURA II.8.3 - Limites estaduais e região aproximada de influência, inseridas no bioma Mata Atlântica. Fonte: MMA, 2006 A fauna da Mata Atlântica faz parte do grupo que mais sofreu com o impacto da colonização humana na América do Sul, onde se encontram táxons entre os mais ameaçados de extinção, especialmente em função do desmatamento e perda de habitats. Aproximadamente 60% das 305 espécies da lista vermelha da IUCN para o Brasil estão hoje restritas aos cerca de 8% de florestas remanescentes do bioma. (PAGLIA et al., 2004). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.221 II.8.5 - METODOLOGIA A metodologia utilizada na elaboração deste trabalho foi dividida da seguinte forma: a) Processamento de imagens digitais; b) Estimativa de área para formação de corredor ecológico; c) Mapeamento dos Fragmentos de Vegetação; d) Cálculo das métricas pelo FRAGSTATS. II.8.5.1 - Processamento de Imagens Digitais O mapeamento dos fragmentos para área de estudo foi realizado a partir da foto-interpretação de uma imagem de satélite Quickbird, com resolução espacial de 0,60 metros, datada do ano de 2000 e cedida pela prefeitura de Governador Valadares. Além destes, foram consultados disponibilizados gratuitamente via web (Google Earth), para preencher as lacunas existentes devido a interferências atmosféricas. Fatores como sazonalidade e interferências atmosféricas na aquisição dos dados remotamente adquiridos (presença de nuvens) podem interferir nas estimativas, entretanto o quadro aqui apresentado aponta uma tendência que tem grande valor para o futuro estabelecimento de um corredor ecológico e para o manejo e a gestão tanto do Parque, quanto para as suas áreas adjacentes. II.8.5.2 - Estimativa de Área para Formação de Corredor Ecológico Para formação do corredor ecológico considerou-se uma área de aproximadamente 2.987,81 hectares, correspondente a área que vai da porção noroeste do Monumento Natural do Pico da Ibituruna até a margem do Rio Doce. Esta área foi delimitada em função da influência da localização do Parque, sendo que as métricas de fragmentação representarão o contexto das duas unidades de conservação com e sem a existência do corredor evidenciando assim a importância da constituição do mesmo. Desta forma serão formados dois cenários hipotéticos, sendo que, no primeiro cenário serão quantificados os fragmentos supondo a supressão de todos os fragmentos existentes no entorno das Unidades de Conservação e no segundo a quantificação será realizada com a presença dos fragmentos da área proposta. Assim a partir da comparação entre os resultados será possível mensurar a importância da mesma para o contexto biótico local. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.222 II.8.5.3 - Mapeamento dos Fragmentos de Vegetação no Parque O mapa dos fragmentos de vegetação para o Parque foi confeccionado a partir da vetorização das feições existente nas imagens, que ocorreu por um processo manual de interpretação. Para isso, foram utilizadas técnicas de fotointerpretação analisando aspectos como: forma, cor, tonalidade, textura e rugosidade dos alvos. Torna-se necessário ressaltar que os dados vetorizados expressam apenas números aproximados de área e não necessariamente configuram a situação real atual, devido principalmente a desatualização das imagens obtidas que podem apresentar algumas discrepâncias em relação ao cenário atual. Para minimizar tal prejuízo foi essencial uma etapa de campo para confirmação dos mesmos, onde foi possível constatar que de modo geral não houve grandes modificações na paisagem até o presente momento, atestando assim a confiabilidade das estimativas. II.8.5.3.1 - Cálculos das métricas pelo FRAGSTATS Neste trabalho para a analise dos fragmentos vegetação da área foi utilizado o Patch Analyst que é uma extensão para o ArcView GIS, sistema que facilita a análise espacial de paisagem, proporcionando a utilização do FRAGSTATS, que é um software de análise espacial que permite o estudo da paisagem a partir do cálculo de métricas de área, métricas de densidade, tamanho e variabilidade, métricas de borda, métricas de forma, métricas de área central e métricas de vizinho mais próximo. O programa é utilizado para análise quantificada da estrutura da paisagem. A paisagem sujeita a análise é definida pelo usuário e pode representar qualquer fenômeno espacial. O FRAGSTATS quantifica a extensão da área e a distribuição espacial de manchas em polígonos que representam determinada feição (MCGARIGAL e MARKS, 1995). Métricas Utilizadas: O FRAGSTATS é uma ferramenta que permite o cálculo das métricas da paisagem. O software tem capacidade de calcular métricas de área, métricas de densidade, tamanho, e variabilidade dos fragmentos, métricas de borda, métricas de forma, métricas de área central e métricas do vizinho mais próximo. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.223 O software oferece a opção do cálculo das métricas tanto para vetores quando para imagens raster. No presente trabalho foi utilizado o cálculo das métricas de paisagem utilizando o vetor gerando as métricas de área, métricas de densidade, tamanho, e variabilidade dos fragmentos, métricas de borda, métricas de forma. Métricas da paisagem são importantes para a quantificação e descrição dos padrões espaciais, elas são relacionadas a dois aspectos da paisagem: (a) composição: presença e quantidades de fragmentos existentes, sem maiores referências espaciais (como localização e forma), e (b) configuração: distribuição física (relação entre fragmentos, como métricas do vizinho mais próximo) e características espaciais dos fragmentos (métricas de forma e área central) (MCGARIGAL e MARKS, 1995). Métrica de Área As métricas de áreas são informações importantes na análise da paisagem. Essas métricas servem como base de cálculo para muitas das métricas utilizadas na análise espacial, também têm grande importância nos estudos ecológicos, visto que a riqueza de diversidades de algumas espécies está diretamente ligada ao tamanho do fragmento. Assim sendo, as informações de métricas de área, sozinha, poderiam ser utilizadas para estudos de modelo de riqueza de espécies, ocupação de fragmentos, padrões de distribuição e de espécies em uma paisagem, dada as apropriadas relações empíricas derivadas de estudos de campo (MCGARIGAL e MARKS, 1995). Área da classe (CA): Área total de todos os fragmentos pertencentes a uma determinada classe, este dado é importante para saber o grau de fragmentação da classe, os dados são obtidos em hectares (ha). Área total (TLA): Esta métrica revela a área de total paisagem em estudo, dados obtidos em hectares (ha). Não é de grande valor para as análises da paisagem, porém sua importância se dá por servir como base de cálculo para outras métricas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.224 Métricas de Densidade, Tamanho e Variabilidade As métricas de densidade de tamanho e variabilidade dos fragmentos são importantes informações sobre a configuração da paisagem. Essa métrica é importante por caracterizar os fragmentos em: número de fragmentos, tamanho médio, densidade, variação, completando a análise dos dados espaciais, das métricas da área. Estas métricas permitem que se ordene por grau de fragmentação, heterogeneidade de fragmentos, ou outros aspectos relacionados aos fragmentos na paisagem (VOLATÃO, 1998). NumP: esta métrica indica o números de fragmentos existentes na classe, informação obtida em valor unitário. Tamanho médio dos fragmentos (MPS): este índice calcula o a média do tamanho de todos os fragmentos da classe, os dados são obtidos em hectares (ha). Neste cálculo é somado o valor da área de todos os fragmentos da classe (CA) e dividido pelo número de fragmentos existentes (NumP). Desvio padrão do tamanho do fragmento (PSSD): este índice calcula o desfio padrão do tamanho dos fragmentos. O desfio padrão é uma medida de dispersão estatística, um valor que quantifica a dispersão dos eventos sob distribuição normal, ou seja, a média das diferenças entre o valor de cada evento e a média central. Os resultados são obtidos em hectares (ha). Coeficiente de variação do tamanho do fragmento (PSCOV): mede coeficiente de variação dos fragmentos, os dados são obtidos em porcentagem. No cálculo desta métrica o programa divide o valor do desvio padrão do tamanho do fragmento (FRAGSTATS PSSD) pelo valor do tamanho médio do fragmento, e multiplica por cem, para obter o valor em por cento. Mediana do tamanho da classe (MedPS): esta métrica indica a mediana do tamanho da classe, valor em hectares (ha). Métricas de borda As métricas de borda apresentam bons resultados na representação da configuração da paisagem. Essas informações são importantes para explicar vários fenômenos ecológicos, através de dados do total de bordas e densidade de borda, utilizados para a caracterização do efeito de bordas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.225 A maior parte dos efeitos negativos da fragmentação florestal sobre os organismos estão diretamente ou indiretamente relacionados aos efeitos de bordas. (MCGARIGAL e MARKS, 1995). O efeito de bordas numa floresta, por exemplo, resulta em diferentes intensidades de vento e intensidade e qualidade de iluminação solar, produzindo microclimas e taxas de distúrbio (VOLATÃO, 1998). Borda total (TE): é o valor absoluto do perímetro de todos os fragmentos da classe, as informações são dadas em metros. Densidade de borda (ED): esta informação padroniza os dados de borda para uma base por unidade de área, permitindo a comparação entre paisagens de vários tamanhos. Porém, apresenta valores redundantes na comparação de unidades de mesmo tamanho. Os dados são padronizados em m/ha. Métricas de forma As métricas de forma, são dadas com base na complexidade do formato dos fragmentos da paisagem, também são métricas de configuração da paisagem. A forma dos fragmentos da paisagem pode influenciar em importantes processos ecológicos. Foi demonstrado que a forma dos fragmentos influenciam processos inter-fragmentos, tais como migração de pequenos mamíferos, as estratégias de fuga de certos animais e a colonização de plantas de médio e grande porte, importante par ao estudo florestal (MCGARIGAL e MARKS, 1995). A forma dos fragmentos também é utilizada para estudos sobre o efeito de bordas na paisagem, como já foi falado o efeito de borda é um importante parâmetro de análises ecológicas. O FRAGSTATS calcula dois tipos de índices de forma, ambos baseados no perímetro da área relacionada. O primeiro mede a complexidade do sistema modelar, em comparação com um padrão de forma (Quadrado para vetor e circular para imagens raster). As métricas calculadas desta forma são as MSI, AWMSI e LSI, esta última não foi abordada neste estudo. Índice de forma média (MSI): esse dado revela a forma média dos fragmentos da classe, em função da razão média perímetro/área de seus fragmentos, comparada a uma forma padrão. O menor valor possível encontrado é um, que indica que o conjunto de fragmentos da classe tem a forma geométrica mais simples, raster forma de círculo e vetor forma quadrada. À medida que o valor encontrado se distancia de um, indica que as formas dos fragmentos são mais irregulares, mais próximo das formas encontradas na natureza. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.226 Índice de forma média ponderado pela área (AWMSI): no cálculo do MSI há um problema porque ao considerar a média dos fragmentos ele atribui o mesmo peso a fragmentos de tamanho diferente. Para corrigir essa distorção o AWMSI também calcula a forma média dos fragmentos, no entanto a média é ponderada de acordo com a área dos fragmentos. A outra maneira de calcular os índices de forma é a partir da dimensão fractal. O conceito de fractal foi criado pelo matemático francês Mandelbrot, para tentar descrever os padrões irregulares e complexos da natureza ele, propôs uma nova geometria, cuja alternativa era enxergar a natureza, integrando várias áreas científicas, tendo sido denominada Geometria Fractal ou Teoria dos Fractais (AZEVEDO, 2007). O grau de complexidade dos polígonos é calculado com base na dimensão fractal. As métricas calculadas desta forma são a AWMPFD, MPFD e MPAR. Média da dimensão fractal do fragmento (MPFD): esta métrica calcula a forma média dos fragmentos da classe baseado na dimensão fractal de cada polígono da classe. Média ponderada da dimensão fractal do fragmento (AWMPFD): esta métrica calcula a forma média dos fragmentos da classe de forma ponderada, atribuindo maior peso no cálculo a fragmentos de maior área, também com base na dimensão fractal de cada polígono da classe. Média das áreas do perímetro (MPAR): no cálculo desta métrica o FRAGSTATS soma o valor do perímetro de todos os fragmentos e divide pelo número de fragmentos da classe. Os valores são obtidos em m/ha. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.227 II.8.6 - RESULTADOS Nas visitas realizadas em campo foi possível confirmar a situação atual do Parque em relação à conservação de sua diversidade. A Foto II.8.1 mostra, em foto tirada desde o Pico da Ibituruna, a situação em 1/11/2010 da vegetação do Parque e de seu entorno, destacando-se a continuidade da mesma e suas conectividades. A estrada mostrada na figura representa os limites do Parque, situando este entre a estrada e o Rio Doce. Foto II.8.1 - Foto panorâmica do Parque mostrando a situação da vegetação natural e sua conectividade com áreas circunvizinha. Fonte: Alternativa Educação e Manejo Ambiental A Figura II.8.4, mostra a localização dos bairros e condomínios situados no entorno do Parque e que são merecedores de atenção no desenvolvimento de ações que visem assegurar conectividade entre a vegetação natural do mesmo e as demais manchas de vegetação natural, mais próximas. A área do Parque encontra-se na figura situada entre os bairros Parque das Aroeiras e Elvamar e os condomínios Vilage da Serra e Encostas do Sol. Estas áreas urbanas podem ser objeto de desenvolvimento de ações que orientem o uso e ocupação do solo nas propriedades de forma a se buscar sustentabilidade nos processos produtivos, evitando danos ao Parque. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.228 FIGURA II.8.6 - Localização de bairros e condomínios na região de entorno do Parque. Fonte: Prefeitura Municipal e Governador Valadares. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.229 O processamento das imagens permitiu o mapeamento dos principais fragmentos de vegetação existentes a noroeste do Monumento Natural do Pico da Ibituruna, área onde se inclui o Parque. A área pode ser indicada para formação de um corredor onde o papel do Parque Natural Municipal será essencial para a manutenção dos processos ecológicos. Os fragmentos mapeados foram utilizados para confecção das métricas de paisagem (Tabela II.8.1) no Cenário 1 (Mapa 1) e no Cenário 2 (Mapa 2). TABELA II.8.1 – Métricas estimadas para fragmentação dos cenários 1 e 2 a partir do FRAGSTATS MÉTRICA ABREV Cenário 1 Cenário 2 Área da classe (ha) CA 526,51 1134,80 Área total (ha) TLA 879,06 2987,81 Métricas de área (composição) Métricas De Densidade, Tamanho e Variabilidade (configuração) Números de fragmentos existentes na classe (número absoluto) Tamanho médio dos fragmentos NumP 60 252 MPS 8,77 4,50 PSSD 49,33 26,77 PSCoV 562,17 594,53 MedPS 0,12 0,24 Borda total (m) TE 96.396,11 287.075,74 Densidade de borda (m/ha) ED 109,65 96,08 MSI 1,68 1,72 AWMSI 6,57 5,25 MPFD 1,46 1,44 AWMPFD 1,43 1,42 MPAR 1664,8 1401,5 Desvio padrão do tamanho do fragmento Coeficiente de variação do tamanho do fragmento (%) Mediana do tamanho da classe (ha) Métricas de borda (configuração) Métricas de forma (configuração) Índice de forma média Índice de forma média ponderado pela área Média da dimensão fractal do fragmento Média ponderada da dimensão fractal do fragmento Média das áreas do perímetro PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.230 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.231 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.232 II.8.6.1 - Métricas de Área A área vegetada no cenário 1 atual é de 526,51 ha, o que representa 59,89% da área total. Já no cenário 2, a área vegetada é de 2987,81 ha, 37,98 % da área total. Em termos absolutos, caso a área destinada ao corredor não seja conservada, haverá uma perda de áreas verdes estimada em 2.108,74 ha, gerando uma perda tanto em território quanto em diversidade biogenética. II.8.6.2 - Métricas de Densidade e Tamanho Comparando os dois cenários percebe-se que o número de fragmentos caiu consideravelmente, no primeiro cenário haveria 60 fragmentos, enquanto no segundo o número de fragmentos encontrados foi de 252. A diminuição do número de fragmentos no cenário 1 influencia o tamanho médio dos fragmentos (MPS), que aumentou significativamente. Isso evidencia a necessidade de recuperação das áreas vegetadas existentes no cenário 2, uma vez que, apesar de apresentar um maior número de fragmentos não necessariamente implica num maior índice de conectividade absoluta, ou seja, um fragmento de menor tamanho pode cumprir um papel mais eficiente que vários fragmentos menores e dispersos . O desvio padrão (PSSD) e o coeficiente de variação do tamanho do fragmento (PSCOV), nos dois cenários apresentaram valores muito altos, devido à grande diferença de tamanho entre os fragmentos menores e os maiores. Comparativamente é possível notar um aumento do desvio padrão no cenário 1, devido principalmente ao fato de que existem mais fragmentos maiores, o que aumenta os índices de disparidade implicando na presença de áreas mais homogêneas. Analisando a mediana do tamanho das classes (MedPS) nos dois cenários percebe-se que o valor é muito menor do que a média do tamanho das classes, indicando uma distribuição assimétrica acentuada dos fragmentos das duas classes. A mediana do tamanho da classe no cenário 1 apresentou o valor de 0,12 ha e no cenário 2 o valor de 0,24 ha. A partir desses dados foi notado que o número de fragmentos muito pequenos do cenário 1 reduziram em comparação com os fragmentos do cenário 2. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.233 II.8.6.3 - Métricas de Borda Houve um aumento do total de bordas se comparados os dois cenários, no primeiro o valor de TE seria de 96.396,11 m. Já no segundo aumenta para 287.075,74 m, o que indica menor fragmentação do cenário B em relação ao A. Quanto maior o índice de bordas mais prejudicial à configuração para os processos bióticos. Entretanto para se uma análise mais precisa deve-se observar a densidade de borda (ED), que padroniza a borda para uma área unitária fixa. O valor encontrado para o cenário 1 foi de 109,65 m/ha, contra 96,08 m/ha do cenário 2, confirmando a diminuição do índice de fragmentação no segundo cenário. II.8.6.4 - Métricas de Forma Os dados referentes a índice de forma média (MSI) e índice de forma média ponderada (AWMSI) não são conclusivos, pois os dois cenários possuem áreas diferentes. Para a análise da forma dos fragmentos, é necessária a observação da média da dimensão fractal dos fragmentos, na forma simples (MPFD) e na forma ponderada (AWMPFD). O valor do MPFD, encontrado na cena 1 foi maior do que o encontrado na cena 2, pois no primeiro existem mais fragmentos de menor tamanho, e os fragmentos de menor área tendem a apresentarem formas mais regulares, eles geralmente são formados pela ação antrópica ao seu redor. Contudo, analisando os valores AWMPFD, percebe-se que ambas as cenas têm valores muito aproximados, e levando em consideração que no cálculo desta métrica o tamanho do fragmento é considerado, percebe-se que com relação a forma dos fragmentos os processos permaneceriam invariáveis. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.234 II.8.7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das métricas aplicadas pode-se inferir que a manutenção das Unidades de Conservação é essencial para os processos genéticos e para formação de um possível corredor ecológico, pois percebe-se a partir das métricas de área, densidade, tamanho, borda e forma que os melhores índices encontram-se nestas áreas. Sendo assim, é possível propor a formação de um corredor da área indicada, onde o Parque Natural Municipal terá uma função primordial possibilitando a conectividade entre a área Noroeste do Monumento Natural do Pico da Ibituruna e as bordas do Rio Doce. A segregação da paisagem em cenários distintos evidencia a necessidade de conservação das áreas de entorno do Parque, uma vez que, apesar de apresentar um acréscimo de área significativo a avaliação da área no estado atual demonstra valores pouco favoráveis em termos de numero de fragmentos e forma dos mesmos, aumentando os efeitos de borda e prejudicando as iterações entre os diversos organismos. Uma forma de melhorar estes indicadores seria a recuperação das áreas degradadas, principalmente através da averbação das reservas legais nas propriedades existentes de forma direcionada, além da revitalização das Áreas de Preservação Permanente de drenagem, reservatórios artificiais e topos de morro que representariam mais um modo de conexão entre os elementos atualmente dispersos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.235 II.9 - AVALIAÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE ECOLÓGICA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES - MG II.9.1 - INTRODUÇÃO O Brasil está entre os países com maior diversidade biológica do Planeta. Pela diversidade encontrada em seus biomas é considerado megadiverso pela Organização das Nações Unidas, juntamente com outros dezesseis países reúnem mais de 70% de toda a biodiversidade do planeta. Foi o primeiro signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica nos termos definidos na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992. Segundo Pontual (2010), esta convenção é um marco nas questões ambientais mundiais ao propor regras para assegurar a conservação da biodiversidade, o seu uso sustentável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso econômico dos recursos genéticos, respeitada a soberania de cada nação sobre o patrimônio existente em seu território e reconhece que a biodiversidade possui valores econômicos, sociais e ambientais e pode ser qualificada pela diversidade em ecossistemas, em espécies biológicas, em endemismo e em patrimônio genético. Portanto, biologicamente falando, diversidade biológica pode ser entendida como a extensão total de espécies vivas, a variação genética que ocorre entre os indivíduos dentro de uma espécie as comunidades biológicas nas quais as espécies vivem, e as interações no nível do ecossistema da comunidade com o ambiente físico e químico. A ecologia mostra que a maior diversidade biológica é encontrada nas regiões tropicais do mundo, com grandes concentrações nas florestas tropicais, lagos tropicais; recifes de corais e alto mar. Pesquisadores acreditam que a maioria das espécies do mundo ainda não foi descrita e identificada cientificamente, sobretudo nas regiões tropicais. Devido a sua dimensão continental e à grande variação geomorfológica e climática, o Brasil abriga 07 biomas, 49 ecorregiões já classificadas e incalculáveis ecossistemas. A biota terrestre possui a flora mais rica do mundo, com até 56.000 espécies de plantas superiores, já descritas; acima de 3.000 espécies de peixes de água doce; 517 espécies de anfíbios; 1.677 espécies de aves; e 518 espécies de mamíferos; pode ter até 10 milhões de espécies de insetos (IBAMA, 2011). PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.236 É importante lembrar que abriga ainda a maior rede hidrológica existente no mundo e uma riquíssima diversidade sociocultural. Para a realização de estudos de representatividade ecológica são levados em consideração diversos elementos tais como, riqueza biológica, vegetação, biogeografia, distribuição de áreas protegidas e antropismo. Tais estudos de representatividade têm por objetivo verificar como os diversos ecossistemas, biomas, ecorregiões e biorregiões estão sendo representados por meio de ações conservacionistas como áreas protegidas, corredores ecológicos, projetos de preservação de espécies, projetos de educação ambiental, entre outros. II.9.2 - AMEAÇAS A DIVERSIDADE ECOLÓGICA Isoladamente, o estabelecimento de unidades de conservação não pode mais ser considerado suficiente para o cumprimento dos objetivos de conservação de diversidade biológica e de processos ecossistêmicos. O manejo permanente, a restauração dos ambientes naturais e o envolvimento da sociedade, através de programas de educação ambiental, são tarefas essenciais. As leis concebidas no passado para proteger essas áreas, assim como a grande parte dos cursos e profissionais na área de gestão ambiental, não foram concebidas e formadas para considerar a presença de ameaças a biodiversidade como perda de habitat, introdução de espécies exóticas invasoras e aquecimento global. As mais preocupantes causas para a perda da biodiversidade são apresentadas a seguir em ordem de importância. II.9.2.1 - Perda de Habitat A maior ameaça à diversidade biológica é a perda de habitat. O melhor modelo para proteção da biodiversidade é a conservação dos ambientes naturais. Os habitats que se encontram mais ameaçados de degradação são: florestas tropicais, as áreas alagadiças, os manguezais e os recifes de corais. (PRIMACK e RODRIGUES, 2002). É nessa ótica que a fragmentação provoca impactos físicos e biológicos. Os padrões de migração e dispersão dos organismos são afetados, o tamanho da população e do pool gênico é reduzido, espécies exóticas passam a ter acesso à área do fragmento e a criação de bordas modifica o microclima físico (temperatura, luminosidade, umidade, ventos). Tais fatores levam a uma maior mortalidade de árvores e permite a penetração de espécies não florestais, dentro do fragmento de PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.237 floresta. Com a redução do tamanho das populações, provocada pelo processo de fragmentação dos habitas naturais, elas se tornam muito mais susceptíveis à extinção devido a problemas relacionados à diminuição demográfica, ambiental ou genética. Quando os ambientes são insustentavelmente utilizados pelo ser humano e, portanto degradados, as populações das espécies são drasticamente reduzidas ou mesmo extintas. Os ecologistas têm observado que determinadas espécies são mais vulneráveis que outras. Tais espécies devem ser monitoradas e ações de conservação devem se voltadas para elas. As espécies que são especialmente vulneráveis à extinção podem ser mais facilmente detectadas quando se enquadram em uma ou mais das seguintes categorias (PRIMACK e RODRIGUES, 2002): Espécies com área de ocorrência limitada; Espécies com apenas populações reduzidas ou apenas uma população; Espécies com populações pequenas; Espécies com populações em declínio; Espécies com baixa densidade populacional; Espécies que necessitam de habitats grandes; Espécies de grande porte; Espécies que não são dispersoras eficazes; Espécies com pouca variabilidade genética; Espécies que requerem nichos especiais; Espécies que são características de ambientes estáveis; Espécies que formam agregações permanentes ou temporárias; Espécies que são caçadas ou consumidas. II.9.2.2 - Espécies Invasoras A introdução de espécies exóticas invasoras é considerada a segunda causa mundial de perda de diversidade biológica no planeta (PRIMACK e RODRIGUES, 2002), perdendo apenas para a perda de hábitat. O agravamento do problema tem origem na facilidade de transporte de espécies ao redor do mundo, tanto propositalmente quanto de forma acidental. Ainda assim, mais de 80% das espécies invasoras hoje no Brasil foram introduzidas voluntariamente para uso econômico, sem análise dos riscos que representariam ao ambiente, à sociedade e à própria economia. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.238 Espécies exóticas invasoras são aquelas que estão fora de seu ambiente natural, seja dentro ou fora dos limites políticos de um país ou estado. As espécies exóticas têm maior facilidade de se estabelecer em novos habitats pela falta de seus predadores naturais, pestes e parasitas no novo habitat. O tucunaré, por exemplo, é nativo da Amazônia e, uma vez introduzido em rios do sul e sudeste, inclusive na Bacia do Rio Doce, tornou-se um voraz predador de espécies nativas, prejudicando o equilíbrio de ecossistemas aquáticos e de populações de peixes. Outro exemplo é do mexilhão-dourado espécie nativa da Ásia que tem causado danos econômicos incalculáveis a produtoras de energia elétrica e aos sistemas de abastecimento de água no Brasil. Constata-se que espécies exóticas adaptadas a ambientes criados por ação antrópica ampliam facilmente sua área de ocorrência (SOULÉ, 1990). No caso do Parque Natural Municipal de Governador Valadares, as arvoretas de espécies exóticas tendem a ocorrer mais freqüentemente nas bordas da floresta em relação às arvoretas de espécies nativas. A Leucaenae spp - leucena, também encontrada nas bordas do Parque, está na lista da União Mundial para a Natureza entre as cem invasoras mais agressivas do planeta. Árvores de uso comercial como pinus e acácias, embora importantes na indústria, também são invasoras e requerem manejo adequado e controle permanente de dispersão sobre áreas vizinhas a plantios, não devendo ser usadas como plantas ornamentais ou ao longo de rodovias. Reconhecido o problema, é preciso entender a dinâmica desses processos. A grande parte dos grandes impactos ecológicos, como vazamentos de petróleo, gera um forte dano inicial e é gradativamente amenizado ao longo do tempo, ainda que possa demorar mais de um século para que os efeitos desapareçam. Invasões biológicas funcionam ao contrário. Inicialmente são apenas alguns indivíduos que não costumam receber atenção até que ocorra uma explosão populacional. Quando a invasão chega a esse ponto, em geral é irreversível se não houver interferência humana, pois a erradicação de uma espécie amplamente dispersa é cara e difícil de atingir. É fundamental que não haja hesitação para a tomada de ação, no momento do manejo florestal sobre espécies exóticas, pois assim se formam as grandes invasões biológicas que representam problemas permanentes e perdas ainda maiores de recursos naturais e biodiversidade. Quanto mais tempo passar sem ação de controle e esforço para erradicação, maior a dificuldade e o custo envolvidos. Por isso, a melhor estratégia a adotar é a da prevenção dos ambientes em seus aspectos naturais. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.239 II.9.3 - REPRESENTATIVIDADE BIOLÓGICA NO BRASIL Segundo dados do IBAMA, de 2002, o estudo de representatividade ecológica nos biomas brasileiros já apontou a existência de 49 ecorregiões e concluiu que, o Brasil, além de ser um dos países com a menor porcentagem de áreas especialmente protegidas (Unidade de Conservação de Proteção Integral), apenas 2,69%, tem esta rede de áreas protegidas mal distribuída entre seus biomas. Entende-se por ecorregião um conjunto de comunidades naturais, geograficamente distintas, que compartilham a maioria das suas espécies, dinâmicas e processos ecológicos, e condições ambientais similares, que são fatores críticos para a manutenção de sua viabilidade ao longo prazo (DINNERSTEIN,1995). II.9.4 - DIVERSIDADE BIOLÓGICA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE A região da Bacia Hidrográfica do Rio Doce era, originalmente, quase totalmente recoberta com vegetação característica do bioma da mata atlântica, possuindo altíssima riqueza e diversidade biológica e abrigando um grande número de espécies restritas a esse bioma (FONSECA, 1997). Tal qual o restante do domínio da Mata Atlântica, a região do vale do Rio Doce teve sua vegetação original reduzida a fragmentos, a maioria localizados em áreas de difícil acesso, como topos de morros e encostas íngremes, e também ao longo dos rios. Estima-se que, apenas, cerca de 5 a 6% da área original persista, embora o vale do Rio Doce em Minas Gerais, inserido na região denominada Zona da Mata, tenha sido uma das últimas regiões a serem colonizadas, no Bioma Mata Atlântica (FONSECA, 1985). II.9.5 - OBJETIVO Avaliar a representatividade biológica do Parque Natural Municipal de Governador Valadares e sua significância ecológica em relação a outras unidades de conservação e a conservação de espécies nativas e habitas naturais. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.240 II.9.6 - METODOLOGIA Revisão bibliográfica do material produzido pela equipe de especialistas durante as incursões de campo para elaboração do diagnóstico do Plano de Manejo do Parque Natural Municipal de Governador Valadares. Foram utilizadas também, como forma de consulta, publicações que anualmente relacionam espécies sob ameaça de extinção, tais como: a lista de espécies da fauna silvestre brasileira ameaçada de extinção do IBAMA, a lista oficial de flora ameaçada de extinção (Portaria Nº 37-N, de 3 de abril de 1.992) também do IBAMA e a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. II.9.7 - RESULTADOS II.9.7.1 - Estudo Florístico Foram descritas 24 espécies arbóreas nativas das Florestas Estacionais Semideciduais; 05 (cinco) espécies de lianas ou trepadeiras também dessa formação florestal e apenas uma espécie de bromélia do gênero Tillandsia spp. Apenas alguns poucos exemplares de briófitas somente da classe – (Bryopsida). Apenas alguns poucos exemplares de liquens – Classe (Mycophycophyta), principalmente liquens fruticosos e crostosos. Não foram observados exemplares de pteridófitas Divisão (Pteridophyta) e nem de orquídeas – Família (Orchidaceae). A flora exótica também teve uma grande representatividade sendo que foram descritas 14 espécies arbóreas. Foram ainda descritas 12 espécies arbustivas, herbáceas ou trepadeiras exóticas ao Bioma na área do Parque, sendo que a maioria das espécies exóticas descritas é herbácea e foram introduzidas pela ação antrópica para a prática da pecuária. Outra característica muito marcante em praticamente toda a extensão do Parque é a presença da espécie Myracrodruon urundeuva - Aroeira que forma grandes concentrações principalmente associadas às formações de solos carsticos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.241 II.9.7.2 - Estudo Faunístico II.9.7.2.1 - Mastofauna Foram identificadas por meio de levantamentos primários e secundários, 49 espécies de mamíferos divididas entre 25 famílias de potencial ocorrência para a área de estudo, este número corresponde a 19% do total de espécies registradas para o grupo no Bioma. As espécies mais ameaçadas pela caça no Brasil são os mamíferos. A caça de animais silvestres é uma atividade ilegal no Brasil. Em áreas próximas a centros urbanos, entretanto, como na região da implantação do Parque, tal situação pode ser negativamente impactante. A área é cercada por regiões habitacionais de média e baixa renda. Tal situação deve ser levada em consideração para a elaboração dos programas de monitoramento, visitação e fiscalização do Parque. II.9.7.2.2 - Avifauna Foram levantadas 200 espécies de aves divididas entre 48 famílias com potencial ocorrência para a área de estudo, este número corresponde aproximadamente 19 % do total de espécies registradas para o domínio da Mata Atlântica. A fauna de pássaros é intensamente impactada pela prática de tráfico de animais silvestres, atividade criminosa que também atinge outras classes de animais e também as espécies de flora. Deve-se, portanto pensar num programa de fiscalização que reduza tal impacto dentro da Unidade de Conservação e em todo o município de Governador Valadares. II.9.7.2.3 - Ictiofauna Foram descritas 18 espécies de Ictiofauna no Parque Natural Municipal de Governador Valadares distribuídos em 07 famílias. Nenhuma das espécies levantadas de Ictiofauna com potencial ocorrência nesta região foi listada como ameaçadas de extinção em nível mundial (IUCN, 2009), ou regional (BIODIVERSITAS, 2009) e nenhuma foi listada como ameaçada pelo tráfico internacional de animais silvestres (CITES, 2006). O percentual amostrado representa apenas cerca de 5% do total de espécies para o Bioma. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.242 II.9.7.2.4 - Herpetofauna Foram descritas 17 espécies da herpetofauna que tiveram registro auditivo ou observação direta, ou seja, cerca de 3% das espécies descritas para o Bioma que apresentam 197 espécies de repteis e 340 espécies de anfíbios. Das espécies citadas no estudo, 04 são da Classe Reptilia distribuídas em 04 famílias e as outras 13 espécies da Classe Amphibia também distribuídas em 04 famílias. Nenhuma das espécies registradas neste estudo encontra-se ameaçada de extinção, com exceção da espécie Tupinambis merianae que é uma espécie de lagarto de grande porte, muito visada por caçadores para consumo de sua carne. Está listada como vulnerável no Apêndice II da CITES (2006). A ocorrência de poucas espécies amostradas pode ser reflexo de forte processo de fragmentação e efeito de borda da área, caracterizando a perda de micro habitats ou até mesmo a descaracterização do ambiente onde as espécies de hábitos especializados e mais sensíveis acabam sendo deslocadas ou mesmo eliminadas, em detrimento de espécies generalistas de áreas abertas (SILVANO et al., 2003) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.243 II.9.8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de não se tratar de uma Unidade de Conservação extensa em área, encontrar-se na área urbana e estar passando por um processo de recuperação ambiental, a área demarcada para a implantação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares apresenta representatividade biológica de espécies de Mata Atlântica, além de possuir fisionomias vegetais cuja proteção e manejo são importantes local e regionalmente. As espécies identificadas e descritas nos estudos do meio biótico para a criação do Plano de Manejo do Parque são relativamente tênues se comparadas às listas gerais de espécies para o Bioma da Mata Atlântica, mas por outro lado, são extremamente importantes para a conservação ―in situ‖ se vistos numa ótica regional. Conforme descrito anteriormente, toda a Bacia Hidrográfica do Rio Doce vem sofrendo com as ações antrópicas a várias décadas, de forma que iniciativas conservacionistas, como a criação do Parque Natural Municipal, são de grande valor para a conservação de espécies de fauna e flora, bem como para reforçar os laços sociais e culturais da população de Governador Valadares e toda a região com a natureza em função de constituir em espaço único de convívio sociocultural público e de contato com o meio natural para a população de Governador Valadares. Um dos aspectos mais relevantes da criação do Parque e da proteção da fauna e da flora em sua área diz respeito à conectividade ecológica com a região do Vale do Rio Doce, representando uma continuidade ou ampliação de área de refúgio para a fauna silvestre ameaçada, em função, sobretudo da possibilidade de acesso ao Rio Doce. Por outro lado, a localização do Parque no perímetro urbano da cidade de Governador Valadares representa um ganho à qualidade de vida da população valadarense ao assegurar espaços de descontinuidade da malha urbana definindo novos parâmetros de ocupação que certamente influenciarão nas diretrizes do planejamento urbano, destacadamente em sujeita à expansão urbana e de ocupação desordenada. Portanto, o Parque tem importância de uso múltiplo tanto no que se refere à formação do corredor ecológico entre o Monumento Natural do Pico da Ibituruna e o Rio Doce, como também, na possibilidade de ampliação do conhecimento sistêmico sobre o Bioma Mata Atlântica e a Bacia Hidrográfica do Rio Doce. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.244 Nesta perspectiva, a implantação do Parque Natural Municipal de Governador Valadares poderá propiciar a possibilidade de conservação, proteção e recuperação dos remanescentes florestais mais significativos da região, principalmente os localizados no Pico da Ibituruna e as margens do Rio Doce, garantindo assim, o fluxo genético entre as populações de animais e plantas, nela existentes e a continuidade dos processos ecológicos, através do incremento gradual do nível de conectividade entre as porções nucleares da paisagem. Ressalta-se ainda, que o Parque também servirá de modelo para a implantação de novas unidades de conservação e referência para o fortalecimento da relação sustentável entre a população urbana e rural de Governador Valadares, notadamente em função de possibilitar o contato entre as pessoas e o ambiente natural em seus mais diversos segmentos e principalmente o desenvolvimento da educação ambiental e a difusão de tecnologias limpas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.245 II.10 - CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES II.10.1 – LOCALIZAÇÃO, INSERÇÃO REGIONAL E ACESSOS O município de Governador Valadares, também conhecido como Princesa do Vale, situa-se a leste do Estado de Minas Gerais, às margens do Rio Doce e insere-se na Mesorregião Administrativa do Vale do Rio Doce e microrregião de mesmo nome. A cidade foi fundada em 1938 e ocupa uma área de 2.348 km², distante cerca de 320 quilômetros da capital mineira. A cidade está situada em um importante ponto de ligação entre a capital, o nordeste do Estado e do país, configurando-se como entroncamento de diferentes meios e vias de transporte. A Região de Governador Valadares possui uma posição favorável em relação à rede rodoviária que serve ao Estado de Minas Gerais: no sentido norte-sul é atravessada pela BR-116 (Rio-Bahia) que, já dentro dos limites do município, alcança a BR-381, procedente de Belo Horizonte. Atendem ainda à localidade, a BR-259 e a BR-451. O acesso à Valadares também pode ser realizado através da ferrovia da antiga Rede Ferroviária Federal e da Estrada de Ferro Vitória-Minas - EFVM, cujos trechos cobrem o trajeto Belo Horizonte - Nova Era - Governador Valadares. Por via aérea, há vôos diários, partindo da capital mineira. Como se pode observar na Figura II.10.1 a seguir, além do distrito Sede, Valadares figura com os distritos: Alto de Santa Helena; Baguari; Brejaubinha; Derribadinha; Goiabal; Penha do Cassiano; Santo Antônio do Pontal; São José do Itapinoã; São Vítor; Vila de Nova Floresta; Xonim (ou Chonim); Xonim de Baixo (ou Chonim de Baixo). O município é um pólo econômico do médio Vale do Rio Doce e exerce significativa influência sobre o leste e nordeste de Minas Gerais e municípios do estado do Espírito Santo. Governador Valadares apresenta outra importante inserção regional e até internacional, por sediar uma das etapas do Campeonato Brasileiro de Vôo Livre. Os competidores saltam do Pico da Ibituruna, ponto extremo do município, onde pode-se desfrutar de uma bela vista de parte do Vale do Rio Doce, cujo leito está aos pés do pico. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.246 FIGURA II.10.1 - Distritos de Governador Valadares Fonte: PMGV Além das subdivisões distritais e administrativas, o município conta com cerca de 130 bairros, como pode ser observado na Figura II.10.2 a seguir. A figura permite ainda, identificar as principais saídas em direção a municípios vizinhos, à Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro, além do traçado da Ferrovia citada anteriormente. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.247 FIGURA II.10.2 - Governador Valadares: perímetro urbano PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.248 II.10.2 – DINÂMICA DEMOGRÁFICA A população total do município, segundo dados do Censo 2010 (IBGE), foi contabilizada em 263.594 habitantes, sendo o 8° município mais populoso do estado, apresentando uma densidade populacional de 112,1 habitantes por km². Conforme podem ser observadas na Tabela II.10.1, a seguir, no período 1991-2000, a população de Governador Valadares teve uma taxa média de crescimento anual de 0,81%, passando de 230.524 em 1991 para 247.131 em 2000. A taxa de urbanização cresceu 2,39, passando de 93,31% em 1991 para 95,54% em 2000. TABELA II.10.1 – Governador Valadares: população por situação de domicílio, 1991 e 2000 1991 2000 População Total 203.524 247.131 Urbana 215.098 236.098 15.426 11.033 Rural Fonte: PNUD; IPEA; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (2000) Os recém divulgados dados do Censo IBGE (2010) demonstram o aumento da taxa de urbanização, que passou de 95,54% em 2000 para 96,07% em 2010, como pode ser observado na Tabela II.10.2 a seguir. Ademais, podemos observar a continuidade do predomínio da população feminina, com 52,56%, sobre a masculina, que conta com 47,44%. TABELA II.10.2 - Governador Valadares: população por gênero e situação de domicílio, 2010 Total da população 2010 Total de homens % Total de mulheres % 263.594 47,44% 52,56% Total da população urbana % rural % 96,07% 3,93% Fonte: IBGE (2010) A partir da Tabela II.10.3 abaixo, podemos observar a evolução da população no município entre as décadas de 1970 e 2010, tanto em relação à população total como por gêneros, que representa a distribuição entre a população masculina e feminina. Podemos perceber o notável aumento da população ao longo deste período, especialmente entre as décadas de 1970 e 1980. No entanto, houve arrefecimento em sua taxa de crescimento demográfico a partir da década de 1990, que se estende até a presente década. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.249 TABELA II.10.3 – Governador Valadares: população total e por gêneros Demografia - População Total Governador Valadares - MG Ano Total Masculino Feminino 1970 162.020 78.385 83.635 1980 196.117 95.051 101.066 1991 230.524 110.269 120.255 2000 247.131 118.267 128.864 2010 263.594 125.059 138.535 Fonte: IBGE (2010) Estes resultados podem ser explicados, em parte, devido ao fato da Região ser um reconhecido pólo de migrações transnacionais. Atualmente, estima-se que 15% de sua população estejam residindo no exterior. No caso específico de Governador Valadares, o quadro é agravado pela tradição que aí se firmou, de migração de seus habitantes para os Estados Unidos, em busca de trabalho. Apesar de não haver informações precisas sobre o tema, estima-se que existam cerca de 30.000 valadarenses residindo em território norte-americano, seja de forma temporária, seja permanente. Podemos observar pela Figura II.10.3, a seguir, os setores da cidade com as maiores densidades demográficas. Ao cruzarmos com a Figura II.10.2, é possível identificar quais bairros estão localizados nestes setores. A maior parte da cidade apresenta uma média de 3 a 4 moradores por domicílio, dentro da média nacional, o que não representa uma elevada densidade. Dentre os bairros limítrofes à área onde será implantado o Parque Natural Municipal, denominada ―região primária‖: Ilha dos Araújos, Elvamar, São Tarcísio, Vila Parque do Ibituruna, Parque das Aroeiras, Vila Parque São João, Encosta do Sol e Vilage da Serra, apenas os bairros Vila Parque Ibituruna e Vila Parque São João apresentavam densidades demográficas mais elevadas, segundo o Censo 2000. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.250 FIGURA II.10.3 – Governador Valadares: média de moradores por domicílio Fonte: IBGE PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.251 II.10.3 – ESTRUTURA PRODUTIVA A Tabela II.10.4 a seguir demonstra a evolução do PIB de Governador Valadares no período 19982002 pelos três setores da economia: agropecuário, indústria e serviço. Pode-se observar um incremento significativo nos três setores, que somados tiveram uma importante repercussão sobre o PIB Total do município em 2002. TABELA II.10.4 – Governador Valadares: Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes Unidade R$(mil) ANO AGROPECUÁRIO INDÚSTRIA SERVIÇO TOTAL 1998 16.728 271.027 588.828 876.583 1999 17.863 251.142 597.887 866.892 2000 18.665 288.726 692.819 1.000.210 2001 18.006 294.536 778.375 1.090.917 2002 22.095 441.801 834.325 1.298.221 Fontes: Fundação João Pinheiro (FJP)& Centro de Estatística e Informações (CEI) Os Gráficos II.10.1 a II.910.3 a seguir, produzidos pelo IBGE (2010), demonstram a atual distribuição do PIB por setores econômicos, pelos quais é possível não apenas comparar com os dados de Valadares no período 1998-2002 da tabela acima, mas também, entre esta cidade, Minas Gerais e Brasil. GRÁFICO II.10.1 – Governador Valadares: distribuição do PIB por setores econômicos PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.252 GRÁFICO II.10.2 – Minas Gerais: PIB por setores GRÁFICO II.10.3 – Brasil: PIB por setores Pela análise comparativa entre estes gráficos e tabela anterior, podemos constatar que houve decréscimo no PIB relativo à indústria, que passou de 2002 com o valor de R$441.801 para os atuais R$365.528. Por outro lado, o PIB do setor agropecuário continuou em elevação. Não obstante, o destaque deve ser dado ao setor de serviços que apresentou um significativo incremento, passando de R$ 834.325 para R$1.819.332. Este aumento observado, assim como sua supremacia frente aos outros dois setores é semelhante à situação observada em Minas e no País, conforme pode ser visualizado nos gráficos apresentados. Não obstante, conforme se verificou no Gráfico II.10.1, de fato é o terciário que ocupa a posição mais relevante na composição do PIB valadarense. No entanto, quando se considera a macrorregião do Rio Doce, se sobressaem às atividades industriais, especialmente pela presença do Aglomerado Urbano do Vale do Aço - AUVA. Por outro lado, podemos observar na Tabela II.10.5 a seguir, que o município de Governador Valadares apresentava em 2002 o segundo maior PIB dentre os municípios da bacia hidrográfica do Rio Doce, perdendo apenas para a vizinha Ipatinga. Apesar de ter perdido mais uma posição em 2005 para o município de Itabira, Valadares manteve-se entre os três maiores PIBs da bacia, que conta com 230 municípios, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Portanto, a posição econômica de Governador Valadares na bacia é expressiva. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.253 TABELA II.10.5 - Ranking dos municípios de maior PIB total – Bacia Hidrográfica do Rio Doce Fonte: extraído do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce (2010) As atividades agropecuárias da Região do Rio Doce possuem características heterogêneas. Ao sul, predominam as lavouras, em especial a cafeicultura, nas proximidades de Caratinga. A oeste encontra-se o reflorestamento associado à indústria siderúrgica, antigo na Região e, mais recentemente, incrementado com a instalação da CENIBRA. No eixo Governador Valadares Teófilo Otoni a atividade predominante é a pecuária de corte, enquanto nas imediações de Guanhães, a noroeste, observa-se a presença das culturas de subsistência e da pecuária leiteira, com traços de reflorestamento. Excetuando-se a área destinada à pecuária de corte e ao reflorestamento, são marcas características da Região do Rio Doce a pequena produção e o manejo tradicional do solo, mostrando-se a topografia desfavorável para a mecanização. Ademais, suas terras possuem aptidão apenas regular para pastagens plantadas. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.254 A Tabela II.10.6 a seguir demonstra que o município de Governador Valadares posicionava-se, nos anos 2000 e 2006, como o segundo maior rebanho de bovinos dentre os municípios da bacia do Rio Doce, presentes tanto em Minas Gerais como no Espírito Santo. Podemos observar ainda, que houve incremento de aproximadamente 19% de 2000 a 2006, chegando aproximadamente a155 mil cabeças de gado. A tendência é de fortalecimento deste setor em razão da consolidação do país, nos últimos anos, como grande exportador. Entre 2001 e 2005, a produção aumentou 32% e as exportações cresceram em 38%, de acordo com a Agência Safras (2008). O país hoje é detentor do maior rebanho bovino comercial do mundo. TABELA II.10.6 - Evolução ranking – rebanho de bovinos por município (2000-2006) Fonte: extraído do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce (2010) As atividades industriais são, em sua maioria, vinculadas aos gêneros de produtos alimentares e bebidas. Antes da inclusão do Vale do Aço, com exceção da CENIBRA, não havia empreendimentos industriais de porte na área sob análise. No entanto, pela Tabela II.10.7 a seguir, podemos observar que Governador Valadares ocupou em 2002 o sétimo lugar entre os municípios com maior valor agregado industrial. Apesar da queda para a nona colocação em 2005, ainda é expressiva a posição do município na Bacia Hidrográfica do Rio Doce, que se destaca na produção industrial. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.255 TABELA II.10.7 - Ranking dos municípios com maior valor agregado industrial – valor corrente set/08 Fonte: extraído do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce (2010) A Tabela II.10.8 apresentada a seguir, que traz o número de pessoas ocupadas por setores econômicos, corrobora com os gráficos anteriores, ao demonstrar a significativa relevância do setor de serviços na economia local e na geração de postos de emprego, responsável por aproximadamente metade de todas as ocupações. TABELA II.10.8 – Governador Valadares: População Ocupada por Setores Econômicos - 2000 SETORES Nº DE PESSOAS Agropecuário, extração vegetal e pesca 5.539 Industrial 21.804 Comércio de Mercadorias 21.624 Serviços 47.439 Total 96.406 Fonte: Fundação Instituto de Geografia e Estatística - IBGE PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.256 Governador Valadares é uma cidade de vocação logística, destacada pela sua privilegiada posição, na qual entrecruzam-se três importantes rodovias: BR-116, BR-381 e BR-259, o que a favorece no atendimento ao mercado nacional. Essas rodovias dão ou facilitam acesso a grandes centros tais como Belo Horizonte, Vitória e Rio de Janeiro. O comércio e serviços são bastante diversificados, o que torna a cidade uma praça comercial movimentada. Existem inúmeros estabelecimentos que atraem consumidores de cidades vizinhas, em busca de melhores preços e variedade de produtos. Conhecida como pólo regional, por sua área específica de influência, confirmada pelos indicadores econômicos, o município é o centro ativo e mantenedor de uma forte economia. Essa posição é destacada pelas atividades do comércio atacadista, varejista, prestação de serviços, agropecuária, comércio de pedras preciosas, atividades industriais, turismo e ensino. Outras potencialidades da Região do Rio Doce são o aproveitamento de sua capacidade hidrelétrica, existindo diferentes projetos em estudo, e de suas reservas minerais de feldspato, gemas, níquel (50% das reservas medidas no Estado) e ferro. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.257 II.10.4 - CONDIÇÕES DE VIDA E INFRA-ESTRUTURA DISPONÍVEL II.10.4.1 - Condições de vida Evolução 1991-2000 No período 1991-2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de Governador Valadares cresceu 7,67%, passando de 0,717 em 1991 para 0,772 em 2000. A dimensão que mais contribuiu para este crescimento foi a Educação, com 51,2%, seguida pela Renda, com 37,3% e pela Longevidade, com 11,4%. Neste período, o hiato de desenvolvimento humano (a distância entre o IDH do município e o limite máximo do IDH, ou seja, 1 - IDH) foi reduzido em 19,4%. Se mantivesse esta taxa de crescimento do IDH-M, o município levaria 20 anos para alcançar São Caetano do Sul (SP), o município com o melhor IDH-M do Brasil (0,919), e 10 anos para alcançar Poços de Caldas (MG), o município com o melhor IDH-M do Estado (0,841). Situação em 2000 Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Governador Valadares foi medido em 0,772. Segundo a classificação do PNUD, o município está entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8) Em relação aos outros municípios do Brasil, Governador Valadares apresenta uma situação boa: ocupa a 1260ª posição, sendo que 1259 municípios (22,9%) estão em situação melhor e 4247 municípios (77,1%) estão em situação pior ou igual. Em relação aos outros municípios do Estado, Governador Valadares apresenta uma situação boa: ocupa a 157ª posição, sendo que 156 municípios (18,3%) estão em situação melhor e 696 municípios (81,7%) estão em situação pior ou igual. A Tabela II.10.9 a seguir demonstra a evolução dos valores do IDH-M no período 1991-2000, assim como, os indicadores desagregados de educação, longevidade e renda, que compõem o referido índice. Podemos observar, portanto, que a cidade alcançou avanços significativos nos três indicadores, com destaque para a educação, mencionado anteriormente. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.258 TABELA II.10.9 – Governador Valadares: IDH-M: 1991-2000. 1991 2000 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 0,717 0,772 Educação 0,782 0,867 Longevidade 0,701 0,720 Renda 0,668 0,730 Fonte: PNUD; IPEA; Fundação João Pinheiro (2000) Devido ao destaque do indicador educação, apresenta-se a seguir Tabelas II.10.10 e II.10.11, complementares que trazem dados acerca da evolução do nível educacional da população jovem e adulta para o período 1991-2000. Podemos observar que houve acentuada queda na taxa de analfabetismo em todas as faixas etárias, assim como, na porcentagem de pessoas com menos de 4 e menos de 8 anos de estudo. Outro dado relevante e positivo diz respeito ao percentual de jovens freqüentando a escola, que apresentou aumento em todas as faixas etárias. De forma análoga, houve elevação da média de anos de estudo pela população adulta, que passou de 5 para 6,1 anos. TABELA II.10.10 – Governador Valadares: Nível Educacional da População Jovem, 1991 e 2000. Faixa etária (anos) 7 a 14 10 a 14 15 a 17 18 a 24 Taxa de analfabetismo 1991 2000 % com menos de 4 anos de estudo 1991 2000 % com menos de 8 anos de estudo 1991 2000 % Frequentando a escola 1991 2000 17,7 6,4 - - - - 88,1 95,8 8,3 1,9 60,0 33,4 - - 87,1 95,6 4,7 1,4 21,4 7,9 79,4 55,0 55,5 77,5 4,1 2,3 14,9 9,5 60,4 39,5 - - - não se aplica Fonte: PNUD; IPEA; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (2000) PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.259 TABELA II.10.11 - Governador Valadares: Nível Educacional da População Adulta (25 anos ou mais), 1991 e 2000. 1991 2000 Taxa de analfabetismo 20,6 12,7 % com menos de 4 anos de estudo 39,3 28,7 % com menos de 4 anos de estudo 72,3 63,5 Média de anos de estudo 5,0 6,1 Fonte: PNUD; IPEA; Fundação João Pinheiro (2000) A análise dos dados espacializados referentes à média de anos de estudo refletem resultados interessantes, conforme podem ser observados na Figura II.10.4 adiante. Podemos notar que havia significativa parcela da população que possuía apenas de 1 a 4 anos de estudo, em geral habitando nas periferias da cidade, sendo que a maioria da cidade cursou de 4 a 8 anos. Podemos perceber ainda, pela análise do Mapa, que há uma clara coincidência entre anos de estudo e renda média (Figura II.10.5 a seguir), em bairros como a Ilha dos Araújos e Centro. Os demais bairros próximos ao futuro Parque apresentavam média de 4 a 8 anos de estudo, portanto em posição intermediária em relação aos demais estratos. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.260 FIGURA II.10.4 – Governador Valadares: média de anos de estudo No período 1991-2000, a taxa de mortalidade infantil do município diminuiu 1,01%, passando de 34,77 (por mil nascidos vivos) em 1991 para 34,42 (por mil nascidos vivos) em 2000, e a esperança de vida ao nascer cresceu 1,16 anos, passando de 67,03 anos em 1991 para 68,19 anos em 2000, como pode ser visualizado na Tabela II.10.12 a seguir. Houve ainda, queda na taxa de fecundidade total, que passou de 2,4 para 2,1 filhos por mulher, abaixo, portanto, da média nacional de 2,3. Uma taxa de 2,1 é conhecida como ―nível de reposição‖, no qual mantém a população constante no longo prazo. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.261 TABELA II.10.12 – Governador Valadares: Indicadores de Longevidade, Mortalidade e Fecundidade, 1991 e 2000. 1991 2000 Mortalidade de até 1 ano de idade (por 1000 nascidos vivos) 34,8 34,4 Esperança de vida ao nascer (anos) 67,0 68,2 Taxa de fecundidade total (filhos por mulher) 2,4 2,1 Fonte: PNUD; IPEA; Fundação João Pinheiro (2000) A partir da Tabela II.10.13, podemos observar que a renda per capita média do município cresceu 45,23%, passando de R$ 212,89 em 1991 para R$ 309,18 em 2000. A pobreza (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário mínimo vigente em agosto de 2000) diminuiu 25,86%, passando de 36,1% em 1991 para 26,8% em 2000. Não obstante, a desigualdade cresceu: o Índice de Gini passou de 0,59 em 1991 para 0,62 em 2000. TABELA II.10.13 – Governador Valadares: Indicadores de Renda, Pobreza e Desigualdade, 1991 e 2000 1991 2000 Renda per capita média (R$ de 2000) 212,9 306,2 Proporção de pobres (%) 36,1 26,8 Índice de Gini 0,59 0,62 Fonte: PNUD; IPEA; Fundação João Pinheiro (2000) De modo análogo à figura anterior, a Figura II.10.5 a seguir demonstra a espacialização dos dados referentes à renda média mensal dos trabalhadores em Governador Valadares (2000). Conforme comentado, há aproximações entre o nível de escolaridade e a renda média, comumente observado na realidade brasileira. Novamente, podemos observar que significativa parcela da população encontrava-se em situação desfavorável, recebendo em média até 4 salário mínimos, que em 2000 representavam apenas R$ 604,00. As porções da cidade que apresentavam as melhores médias de renda, maior que 10 salários mínimos, situam-se na porção norte e central, em bairros como: Centro, Ilha dos Araújos, N. Sra das Graças, Morada do Acampamento, dentre outros. A maioria dos bairros situados nas proximidades do futuro Parque apresentavam renda média mensal entre 6 a 8 salários mínimos. Sendo que outros, como o Vila Parque Ibituruna e Vila Parque São João situavam-se em estratos inferiores aos demais. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.262 FIGURA II.10.5 - Governador Valadares: renda média mensal PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.263 II.10.4.2 - Infra-estrutura disponível A infra-estrutura viária da Região do Rio Doce deixa a desejar, em comparação com outras áreas do contexto estadual. Embora conte com importantes rodovias federais, como a BR-116 e a BR381 (no sentido norte-sul), as BR-451 e BR-259, além da rodovia de ligação LMG-758 (na direção leste-oeste), há vazios rodoviários expressivos, um dos quais se situa a leste de Caratinga. A carência e a baixa qualidade das estradas vicinais são significativas na área. Contudo, a presença da EFVM, hoje utilizada para transporte do minério de ferro e de coque, representa grande potencial, enquanto estímulo à produção e escoamento de outros bens, quando finalizada sua transformação em corredor de exportação. O acesso a serviços básicos pelos moradores de Valadares apresentou um significativo avanço no período 1991-2000, como pode ser observado na Tabela II.10.14 a seguir. À exceção do serviço de energia elétrica, que já apresentava um percentual elevado em 1991, os acessos à água encanada e coleta de lixo, nos domicílios urbanos, melhoraram expressivamente, como podem ser observados na Tabela II.10.14 abaixo. TABELA II.10.14 – Governador Valadares: Acesso a Serviços Básicos, 1991 e 2000 1 1991 2000 Água encanada 81,3 90,4 Energia elétrica 96,5 99,5 Coleta de lixo1 64,8 89,5 Somente domicílios urbanos Fonte: PNUD; IPEA; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (2000) Segundo dados mais recentes (2007), fornecidos pelo SAAE (autarquia municipal), que é a operadora dos serviços na cidade, cerca de 100% da população é atendida com água tratada. Enquanto que o esgoto Sanitário alcança 345 km de rede, atingindo aproximadamente 90% da população. A Figura II.10.6 a seguir, reflete, entretanto, a realidade observada no Censo 2000 e expressa na tabela anterior. A espacialização dos dados demonstra, de fato, uma boa distribuição do serviço pela cidade. Ressalta-se que as porções em vermelho são áreas de baixíssima ocupação, como podem ser observadas na Figura II.10.2 apresentada. Não obstante, podemos notar variações no atendimento por este serviço entre os setores censitários pesquisados. A área próxima de onde será criado o Parque apresentava-se de modo satisfatório em relação à prestação deste serviço, conforme pode ser observado na Figura II.10.6. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.264 FIGURA II.10.6 – Governador Valadares: abastecimento de água da rede geral A distribuição do atendimento quanto ao esgotamento sanitário por rede geral ou pluvial, como era de se esperar, apresentava maior heterogeneidade que o abastecimento de água, como pode ser observado na Figura II.10.7 a seguir. Como há uma parcela maior da população que não dispõe deste serviço, comparativamente à água, a figura reflete este resultado. Apenas pequenas porções da cidade dispunham de atendimento adequado quanto à coleta de esgoto. Bairros como São Paulo, Ilha dos Araújos, Elvamar, dentro outros, apresentavam situação melhor. Não obstante PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.265 a maior parcela da cidade encontrava-se em situação intermediária, inclusive parte da área onde será implantado o Parque, à exceção de alguns dos bairros já citados, em situação favorável. Estes dados são de extrema importância por refletirem diretamente sobre a qualidade de vida das pessoas. Ademais, é imprescindível que o Parque conviva com adequadas condições sanitárias em seu entorno, seja por questões de saúde ou odor – importantes atributos a serem considerados. FIGURA II.10.7 – Governador Valadares: Esgotamento sanitário via rede geral ou pluvial PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.266 A Figura II.10.8 a seguir demonstra a espacialização dos dados (2000) de outro serviço indispensável à população: a coleta de lixo. Podemos observar novamente certa heterogeneidade entre as diversas porções da cidade quanto ao atendimento. Diversas áreas da cidade encontravam-se bem atendidas, apesar de a maior parte caracterizar-se por um atendimento intermediário, representado pela cor amarela na figura. Figura II.10.8 - Governador Valadares: domicílio com coleta de lixo PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.267 Assim como observado para os outros serviços, há em geral, uma coincidência quanto às áreas melhor atendidas, em geral de melhores rendas. Ademais, de modo semelhante ao visualizado para os outros serviços, as áreas próximas do local onde será implantado o Parque apresentam situação satisfatória, o que a princípio não parece representar um problema. Não obstante, ressalta-se a importância de conhecer na atualidade, para todos os serviços analisados, a situação nos limiares da área do futuro Parque, tendo em vista o hiato temporal ao último censo. Os dados ora apresentados refletem a realidade com dez anos de atraso, sendo que experienciamos significativos avanços no setor sanitário, na distribuição de renda e na educação nos últimos anos. II.10.5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A caracterização do município de Governador Valadares ora apresentado, concebido a partir de fontes secundárias, presta-se como um esforço inicial de buscar um macro diagnóstico dos aspectos sócio-econômicos locais. As informações aqui presentes possibilitam compreender em linhas gerais as condições econômicas, demográficas, incluindo a qualidade de vida da população, e o papel regional desempenhado pelo município. A partir da complementação destas informações será possível traçar um cenário que vislumbre as diversas formas de apropriação que a população poderá ter em relação à unidade de conservação, em processo de criação, assim como, eventuais conflitos de uso. Ademais, apontará a relevância e os efeitos socioambientais da reserva, tanto na escala municipal quanto regional. PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG-2011 E-II.268 REFERÊNCIAS ABREU, T. L. S.. Efeito de uma grande queimada sobre a comunidade de aves de cerrado s. s. e de campo cerrado no Parque Nacional de Brasília. 215f. 2000. Dissertação (Mestrado em Biologia). Departamento de Biologia. Universidade de Brasília. 2000. AB’SÁBER, Aziz Nacib. A organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras. In: Simpósio sobre o cerrado. São Paulo/SP: Edusp/Edgar Blücher. 1971. ALMEIDA F.F.M. & HASUI Y.. O Pré-cambriano do Brasil. São Paulo/SP: Edgard Blücher, 1984. AMPHIBIAWEB. 2007. Information on amphibian biology and conservation. Berkely, California, Amphibia, Web. Disponível em: <http://www.amphibiaweb.org/>. Acesso em: 15 de nov.de 2010. ANDERSEN, A.N.. 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