Revista_ Novos_Horizontes_2009_v 1n5
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Rua Ramiro Barcelos, 892 Centro – Santa Cruz do Sul e-mail: [email protected] 5 R454 Revista Novos Horizontes / Faculdade Dom Alberto. v.1, n.5 (dez. 2009) - Santa Cruz do Sul: GrupoSet Gráfica e Editora Ltda., 2006. 297p Semestral ISSN 1981-3805 1. Administração - Periódicos. 2. Ciências Contábeis Periódicos. I. Faculdade Dom Alberto. CDU 657:658(051) Ficha Catalográfica elaborada por Lizamar da Silva Lopes Machado (CRB9/1274) 6 NOVOS HORIZONTES Revista da Faculdade Dom Alberto Direção Geral Lucas Jost Direção Acadêmica Elvis Silveira Martins Coordenação do Curso de Administração Elvis Silveira Martins Coordenação do Curso de Ciências Contábeis Vinícius Costa da Silva Zonatto Coordenação do Curso de Direito Karinne Emanuela Goettems dos Santos Conselho Editorial e organização da revista Ana Paula Teixeira Porto Luana Teixeira Porto Impressão GrupoSet Gráfica e Editora Ltda. Contato Revista Novos Horizontes – Conselho Editorial Rua Ramiro Barcelos, 892 Centro – Santa Cruz do Sul e-mail: [email protected] 7 8 APRESENTAÇÃO A edição de número cinco da Revista Novos Horizontes é resultado de um trabalho coletivo de alunos e professores dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto, que tem estimulado e valorizado a produção científica desenvolvida na instituição. Uma produção crescente, que gerou no segundo semestre de 2009 a publicação do periódico em dois volumes. No primeiro volume desta edição, há uma mescla de artigos de ambos os cursos. Os textos abordam assuntos diversos, como satisfação de clientes, fluxo de caixa, indicadores motivacionais, custos da qualidade e demonstrações contábeis, entre outros, e têm como ponto comum a discussão de alternativas de gestão de empresas e controles contábeis que favoreçam o relacionamento e a sobrevivência de organizações em contextos competitivos. Esta edição da Revista Novos Horizontes dá continuidade à política científica da instituição, abrigando múltiplas abordagens, teorias e metodologias. Essa linha tem se firmando desde a primeira edição do periódico e se consolidado como meio adequado de garantir aos pesquisadores uma formação qualificada para vencer os desafios profissionais que exigem visões amplas e heterogêneas para a solução de problemas gerenciais. A leitura dos textos, marcados pela diversidade de temas e de áreas de interesse, permite ao leitor a ampliação do conhecimento acadêmico e prático, pois os artigos, baseados em estudos de caso, discutem experiências concretas da realidade empresarial brasileira. Considerando a relevância das pesquisas, espera-se que a leitura dos artigos seja enriquecedora. 9 10 SUMÁRIO APLICABILIDADE DO FLUXO DE CAIXA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO FINANCEIRA EM UMA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL Andréia Beatriz Hübner Daniel Bartz ___________________________________________________________15 ANÁLISE DE INVESTIMENTO APLICADO NA AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS DE FROTA PARA TRANSPORTES André Luis Graff Rodrigo da Silveira Kappel ___________________________________________________________29 ELETRO CARVALHO: UMA PESQUISA IDENTIFICANDO A SATISFAÇÃO DOS CLIENTES – PESSOA JURÍDICA Cassiano Estevão Borges Ângela Kelber Simpson ___________________________________________________________43 INDICADORES MOTIVACIONAIS DE FUNCIONÁRIOS DE PRODUÇÃO: UM ESTUDO MULTICASO Diego de Almeida Teixeira Edgar Reyes Junior ___________________________________________________________57 SPT E SIG: UM DIAGNÓSTICO DA PERCEPÇÃO DOS GESTORES EM RELAÇÃO AOS BENEFÍCIOS PROPORCIONADOS NA GESTÃO DE EMPRESAS DE COMERCIALIZAÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO Diego Neutzling Kumm Tâmara Silvana Menuzzi Divério ___________________________________________________________71 ANÁLISE DOS LITÍGIOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO NA PERCEPÇÃO DO EMPREGADO E DO EMPREGADOR Eliara Machado Pires Aline Gauer ___________________________________________________________87 11 ANÁLISE COMPARATIVA DA TRIBUTAÇÃO FEDERAL COM ÊNFASE NUMA MICROEMPRESA DO RAMO INDUSTRIAL Fátima Ellert Antônio Osório Gonçalves __________________________________________________________101 PREGÃO ELETRÔNICO x CONVITE: UM ESTUDO DE CASO DO 7º BATALHÃO DE INFANTARIA BLINDADO Fauze Cruz da Rosa Bruno Cesar Faller __________________________________________________________ 117 FLUXO DE CAIXA E ÍNDICES FINANCEIROS: UM ESTUDO SOBRE A GESTÃO CONTÁBIL E FINANCEIRA DO SUPEMERCADO DELTA ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA PERIÓDICO Felipe Braga Corrêa Wilson Homero Dorneles Crespo Jr __________________________________________________________131 ANÁLISE DE DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS COMO BASE PARA A IDENTIFICAÇÃO DE ALTERNATIVAS OTIMIZADORAS DO DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO DE UMA EMPRESA COMERCIAL Fernanda Gabrielle Pereira Daniel Bartz __________________________________________________________147 ANÁLISE DE INTERFERÊNCIAS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS INTERNOS DE EXPORTAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA METALÚRGICA DE SANTA CRUZ DO SUL Jaqueline Fabiane Faust Jéferson Santos __________________________________________________________163 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO COMO FERRAMENTA ESTRATÉGICA PARA DESENVOLVIMENTO DOS LÍDERES DA EMPRESA ABC Josiane Schlosser Leticia Schramm Arend __________________________________________________________177 12 A RELAÇÃO ENTRE A SATISFAÇÃO NO TRABALHO E A SÍNDROME DE BURNOUT Lucas Charão Brito Edgar Reyes Junior Fábio Teodoro Tolfo Ribas __________________________________________________________193 GESTÃO DOS CUSTOS DA QUALIDADE: UM ESTUDO DO NÍVEL DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS EM UMA INDÚSTRIA DE ARTEFATOS DE BORRACHA Marguit Teresinha Agnes Daniel Bartz __________________________________________________________207 KLC VEÍCULOS: UM ESTUDO SOBRE AS VARIÁVEIS DETERMINANTES PARA A FIDELIZAÇÃO DE CLIENTES NO PÓS-VENDAS Mayara Kowalczuk Elvis Silveira Martins __________________________________________________________221 MUDANÇAS E RESISTÊNCIAS: A PERCEPÇÃO DE COLABORADORES NA IMPLANTAÇÃO DO PCCS DE UMA EMPRESA PÚBLICA FEDERAL Olivares Debona Alba Regina Zacharias __________________________________________________________235 AÇÃO CORRETIVA E PREVENTIVA NO SISTEMA ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO SOBRE AS METODOLOGIAS DE AÇÃO CORRETIVA NA INDÚSTRIA ALFA ENVOLVENDO O PROCESSO DE QUALIDADE Rodrigo Luis Dick Elvis Silveira Martins __________________________________________________________249 O ESTUDO DO GERENCIAMENTO CONTÁBIL ESPECÍFICO APLICADO À AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE RESULTADOS: O CASO DE UM RESTAURANTE FAMILIAR Sandro Samuel Kipper Rodrigo da Silveira Kappel __________________________________________________________263 13 VARIÁVEIS DEFICITÁRIAS E POSITIVAS NO VÍNCULO ENTRE ACADÊMICOS E A CENTRAL DE RELACIONAMENTO (CR) DA FACULDADE BETA: UM ESTUDO DE CASO, VISANDO A PROVER A SATISFAÇÃO ACADÊMICA Vilsiane Aparecida Leonardi Elvis Silveira Martins __________________________________________________________279 NORMAS DA REVISTA _______________________________________295 14 APLICABILIDADE DO FLUXO DE CAIXA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO FINANCEIRA EM UMA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL Andréia Beatriz Hübner¹ Daniel Bartz² RESUMO Este estudo tem como tema o fluxo de caixa como instrumento de gestão financeira. Seu objetivo central é avaliar a aplicabilidade de um modelo de fluxo de caixa na Associação do Comércio e Indústria de Candelária, pretendendo-se evidenciar sua importância como instrumento gerencial capaz de propiciar uma boa gestão financeira. Para tanto, realizou-se uma pesquisa exploratória, através de um estudo de caso no qual se analisaram os demonstrativos contábeis e financeiros da Associação do período 2005-2008, bem como entrevistas focais com os diretores da Associação para identificar e validar premissas pertinentes à projeção do fluxo de caixa para o período 2009-2011. Os principais resultados indicam que o processo de reflexão que precedeu a projeção do fluxo de caixa foi percebido pelos gestores como um procedimento de grande valia para a gestão da Associação. A visão preditiva propiciada pela projeção do fluxo de caixa é outro aspecto que se destacou na avaliação dos resultados. Palavras-chave: contabilidade gerencial, planejamento financeiro, fluxo de caixa ABSTRACT This study has as a subject the cash flow as an instrument of financial management. Its central objective is to evaluate the applicability of one model of the cash flow at the commercial and industrial association in the city of Candelária, seeking evidence about its importance as a management instrument that can propitiate a good financial management. For that purpose held an exploratory research through a case study has been carried out in which the accounting demonstratives and financial of the association in the period of (2005 – 2008) was analyzed and as well as the focal interviews with the directors of the association to identify and validate propositions concerning to ¹Graduanda do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ²Mestre em Ciências Contábeis, professor da Faculdade Dom Alberto. 15 the cash flow projection for the period of (2009 – 2011). The main results indicate that the automatic great reflection process that preceded the cash flow projection was noticed by the directors as a proceeding of great value for the association management. The appease forecast by the cash flow projection is another aspect that has contrasted in the evaluation of the results. Key-words: accounting managemen, financial planning, cash flow 1 Introdução Diante da atual realidade econômica e financeira, em que mudanças no ambiente de negócios ocorrem com grande freqüência, e o crescimento acelerado da competitividade torna cada vez mais difícil a consolidação e o sucesso no mercado, é necessário que as empresas disponham de instrumentos que auxiliem na tomada de decisões. Diversos pontos de vistas devem ser considerados para que os gestores possam minimizar o nível de incerteza presente no ambiente organizacional e desta forma maximizem a qualidade de sua decisão. O aspecto financeiro sempre está presente nestas análises, e a correta percepção de sua influência para a consecução dos objetivos estratégicos da empresa é condição essencial. As informações financeiras têm um papel de fundamental importância na elaboração do planejamento das empresas, pois a disponibilidade de recursos é que propicia ao gestor implementar as atividades programadas e, assim, viabilizar o alcance dos resultados pretendidos. Para que o gestor alcance os resultados desejados, é necessário que possua informações confiáveis e relevantes, que o auxiliem a aplicar adequadamente os recursos colocados à sua disposição. Sendo assim, o planejamento apresenta-se como um processo formal e sistemático, capaz de conduzir os gestores a acompanhar as constantes mudanças, interpretálas tempestivamente na extensão adequada aos interesses da empresa e, a partir dos cenários visualizados, avaliarem o grau de aderência aos objetivos estabelecidos. Tendo em vista este contexto, tem-se como propósito central deste estudo avaliar a aplicabilidade de um modelo de fluxo de caixa na Associação do Comércio e Indústria de Candelária - ACIC, de modo que auxilie no seu processo de tomada de decisões. Para tanto, de modo mais específico busca-se: evidenciar a importância do fluxo de caixa para um bom planejamento financeiro; realizar o levantamento histórico, do período 2005-2008, de todos os ingressos e desembolsos de caixa e; desenvolver uma estrutura de fluxo de caixa projetado para o triênio 2009-2011, servindo como base nas 16 tomadas de decisões da entidade. Considerando que o fluxo de caixa mostra-se como um dos principais instrumentos de análise e avaliação da empresa em termos financeiros, busca-se responder a seguinte questão de pesquisa: como o fluxo de caixa poderá contribuir para a melhoria da gestão financeira e do processo decisório da Associação do Comércio e Indústria de Candelária? Em alguns casos as dificuldades financeiras parecem decorrer da falta de planejamento e de controle mais acurado dessa área. A realização do presente estudo justifica-se pela necessidade de a ACIC dispor de um planejamento financeiro efetivo, capaz de antecipar ações gerenciais, o que vem sendo gradativamente ao longo dos anos uma intenção firme de fazer, com a finalidade de auxiliar nos processos decisórios. A seguir apresenta-se uma abordagem conceitual pertinente ao tema e posteriormente expõe-se o estudo de caso aplicado à Associação do Comércio e Indústria de Candelária, evidenciando-se a importância do fluxo de caixa para a gestão da entidade. 2 Gestão Financeira: o valor preditivo do fluxo de caixa 2.1 Contabilidade gerencial Com o passar dos anos, as mudanças ocorridas no ambiente organizacional fizeram com que o gerenciamento das empresas ficasse mais complexo. Em termos gerenciais, a necessidade de informações úteis e tempestivas passou a ser um aspecto primordial para a gestão das empresas. Nesse sentido, os empreendedores perceberam que possuem um instrumento até então utilizado mais com finalidade formal do que propriamente gerencial. Assim, a contabilidade passou a ser vista como um importante instrumento na tomada de decisões nas empresas. Abordando a importância da contabilidade para as empresas, Padoveze (2000) destaca que a contabilidade gerencial é definida como um processo de identificação, mensuração, análise, interpretação e comunicação dos dados financeiros utilizados para o planejamento, avaliação e controle dentro de uma empresa, além de assegurar o uso apropriado dos seus recursos. Consiste em preparar as informações financeiras para o processo de gestão, que é composto pelas seguintes etapas: planejamento estratégico, planejamento operacional, execução e controle. De acordo com Crepaldi (2006), a contabilidade gerencial é a subdivisão da contabilidade, visando a fornecer as ferramentas necessárias aos gestores das organizações para servir de auxílio nas suas funções gerenciais. Está voltada para uma melhor utilização dos recursos financeiros da 17 empresa, através de um apropriado controle dos insumos, efetuado por um sistema de informação gerencial. Para ludícibus (2007), a contabilidade gerencial pode ser caracterizada como um enfoque especial conferido a várias técnicas e procedimentos contábeis já conhecidos e tratados na contabilidade financeira, na contabilidade de custos, na análise financeira de balanços etc., os quais são colocados numa perspectiva diferente, em um grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada, de maneira a auxiliar os gerentes das entidades no processo decisório. Baseando-se nessas definições, nota-se que a contabilidade gerencial deriva da junção de varias técnicas e procedimentos pertinentes à área contábil, que devem ser utilizados no sentido de auxiliar na tomada de decisões. Em síntese é a utilização da ciência contábil como um processo que tem por finalidade produzir informações de caráter estratégico a respeito das atividades desenvolvidas na empresa, visando ao alcance da eficácia organizacional. As informações oriundas de um sistema de informação contábil-gerencial podem contribuir fortemente para o processo de planejamento financeiro, especialmente em análises relativas a custos, simulações orçamentárias e de fluxo de caixa. 2.2 Planejamento financeiro O planejamento financeiro apresenta-se como um desdobramento do planejamento estratégico, representando quantitativamente em moeda os planos de atividades da empresa, e servindo também como mecanismo de controle, estabelecendo um padrão de desempenho para avaliar os eventos reais da empresa. Weston e Brigham (2000) entendem que o planejamento financeiro inicia ao considerar os objetivos da empresa, e a partir deste momento a administração traça diversas previsões e orçamentos para cada área significativa da empresa. Sendo assim, é possível afirmar que o planejamento fornece ao gestor o auxílio necessário para que não haja surpresas e que preventivamente já exista uma alternativa a ser utilizada, caso tenha que ser tomada alguma decisão. Para Ross, Westerfield e Jordan (1998, p. 82) o “planejamento financeiro formaliza a maneira pela qual os objetivos financeiros podem ser alcançados. [...] um plano financeiro significa uma declaração do que a empresa deve realizar no futuro”. Mas para alcançar os objetivos estabelecidos, estes devem estar orientados por um detalhado planejamento das disponibilidades da empresa. Para que isso ocorra são necessários instrumentos confiáveis e concretos para que o gestor possa tomar as decisões certas e oportunas. 18 O planejamento financeiro estabelece diretrizes de mudanças nas empresas. Para que ele seja executado, é necessário que se definam metas e que essas sejam analisadas de acordo com a situação de cada empresa. É importante que haja um enunciado das ações necessárias para que se possam atingir as metas definidas. A empresa precisa conhecer as políticas financeiras sobre as quais deve tomar decisões, visando a seu crescimento, rentabilidade e liquidez dos ativos, uma vez que não existe mais tempo e nem espaço para improvisações. Gitman (1997) menciona que o planejamento financeiro é um dos pontos mais importantes para o funcionamento e sustentação de uma empresa, pois fornece os meios para coordenar, dirigir e controlar suas ações na realização de seus objetivos. Afirma ainda que dois dos pontos mais importantes do planejamento financeiro são os planejamentos de caixa e de lucros, a seguir abordado. 2.3 O fluxo de caixa como instrumento de gestão O fluxo de caixa é considerado um instrumento de fundamental importância para que a empresa possa ter mais agilidade ao decidir sobre questões financeiras, propiciando maior segurança no desenvolvimento das suas atividades. Logo, o fluxo de caixa deverá representar detalhadamente a situação financeira da empresa. Frezatti (1997) entende que considerar o fluxo de caixa de uma empresa uma ferramenta gerencial não quer dizer que ela vai prescindir da contabilidade e dos relatórios gerenciais. Sob este ponto de vista, com o fortalecimento dos relatórios gerenciais gerados pela contabilidade, pretende-se combinar a potencialidade do fluxo de caixa à contabilidade, para melhor decidir. Por sua vez, Gitman (1997) considera o fluxo de caixa a espinha dorsal da empresa. Sem ele será mais difícil saber se haverá recursos suficientes para sustentar as operações ou se haverá sobra de recursos para realizar investimentos. Quanto mais efetivo for o planejamento e o controle financeiro, melhor será a escolha de alternativas quanto ao destino dos recursos financeiros que a organização possui. Para Zdanowicz (1991), fluxo de caixa é o conjunto de entradas e saídas de numerários ao longo de um determinado período. O fluxo de caixa constitui-se na representação dinâmica da situação financeira da organização, considerando-se todas as aplicações em itens do ativo, fornecendo o auxílio necessário no processo decisório, principalmente em curto prazo. De acordo com Campos Filho (1999) “entende-se como fluxo de caixa o registro e controle sobre a movimentação do caixa de qualquer empresa, expressan19 do as entradas e saídas de recursos financeiros ocorridos em determinado período de tempo”. Zdanowicz (1998) destaca a importância do fluxo de caixa quando afirma que “numa conjuntura econômica, como a brasileira, nenhuma empresa pode se dar ao luxo de deixar seus recursos ociosos”. Ao certo o gestor deve estar atento ao movimento do fluxo de caixa para que decida com qualidade sobre a maximização dos resultados da empresa através da aplicação de recursos excedentes ou, se for o caso, opte alternativa menos onerosa quando tomar recursos de terceiros. Constatada a importância do fluxo de caixa no ambiente empresarial, é possivel inferir ainda, que seu estudo permite ao gestor controlar o deslocamento dos recursos dentro da empresa. Com base nisso, ele acompanha o caminho trilhado, identificando o reflexo de cada operação realizada pela empresa no saldo das disponibilidades. 3 Metodologia Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, a qual tem por finalidade proporcionar maiores informações sobre determinado assunto, para assim, definir seus objetivos. Para Santos (2000), a pesquisa exploratória busca uma familiaridade pela prospecção de fontes que informem ao pesquisador a importância do problema, o estágio em que se encontram as informações disponíveis relativas ao tema central, além de revelar novas fontes de informações. A pesquisa foi realizada a partir de um estudo de caso aplicado em uma Associação Comercial e caracterizou-se pela investigação detalhada com a finalidade de analisar o contexto e os processos envolvidos na gestão do fluxo de caixa da entidade. Lakatos e Marconi (2007) entendem que o estudo de caso tem como características fundamentais a descoberta, a interpretação do contexto, a retratação da realidade de uma maneira mais ampla. A fim de conhecer o histórico financeiro da Associação em termos de entradas e saídas de caixa foram analisados os demonstrativos contábeis, mais especificamente os balancetes mensais e também os relatórios de caixa do período 2005-2008, estruturando-se a partir dessa coleta de dados o fluxo de caixa histórico. Ressalta-se que a análise foi realizada acreditando-se que as informações apresentadas nas demonstrações contábeis retratam em sua essência e integralidade dos fatos administrativos ocorridos, sendo fidedignas, visto que não foram auditadas. Na seqüência da pesquisa, foram realizadas entrevistas despadronizadas com os diretores da Associação para identificar e validar informações 20 que serviram de base para a elaboração de premissas orientadoras da projeção do fluxo de caixa para o triênio 2009 -2011. Os dados foram analisados qualitativamente, de maneira a demonstrar a importância do planejamento financeiro para a Associação a partir da projeção do fluxo de caixa. Este tipo de pesquisa fornece um seguimento a partir do qual o problema é identificado e perguntas são formuladas, descobrindo o que realmente é importante para a organização. Também houve um tratamento quantitativo no que diz respeito a elaboração dos fluxos de caixa. 4 Estudo de caso 4.1 Caracterização da empresa Este estudo foi desenvolvido na Associação do Comércio e Indústria de Candelária - ACIC, fundada em 21 de novembro de 1941. No ano seguinte, em 17 de março a Associação filiou-se à Federasul (Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul), dando um importante passo para o seu fortalecimento e consolidação. Em 1998 a ACIC passou por uma nova etapa de mudanças e de grande fortalecimento, com o início de uma nova gestão, de uma nova diretoria e participação de pessoas que até hoje ajudam de alguma forma no dia-a-dia da entidade. Nessa época ocupava uma sala cedida pela Prefeitura Municipal, no ginásio de esportes da cidade. Naquele mesmo ano, a Associação possuía 33 empresas associadas, e aumentar esse quadro associativo era a principal meta da diretoria que naquela época assumia. No decorrer dos anos, a Associação do Comércio e Indústria de Candelária proporcionou cursos, palestras, consultorias, além das mais diversas parcerias possíveis, visando sempre a atender da melhor forma possível os interesses coletivos de seus associados e ajudando no desenvolvimento do município. Dentre os serviços oferecidos aos associados, destacam-se: cursos, palestras, planos empresariais de telefonia celular com as operadoras Vivo e Claro, serviço de SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), visitas técnicas a empresas, como Gerdau, Agrale e Kaiser. A Associação conta atualmente com 217 associados, 184 a mais que em 1998, época em que se iniciaram as grandes mudanças na sua gestão. Atualmente sua estrutura conta com três secretários que exercem funções como atendimento ao público, cadastro de associados, cobranças, controle de contas a pagar e contas a receber, entre outras. Quanto à sua organização formal, no momento a ACIC não tem definida sua missão, sua visão e seus valores, itens característicos e presentes em um planejamento estratégico. 21 4.2 Análise da movimentação financeira da Associação no período 2005/08 Tendo em vista que a ACIC não possui um modelo de fluxo de caixa estruturado e considerando o fato de que seus diretores não têm condições de visualizar possíveis sobras de caixa, bem como necessidades de recursos financeiros, é que a pesquisa foi desenvolvida. Essa situação exigiu que num primeiro momento fosse realizado um diagnóstico acerca da movimentação financeira da entidade para que posteriormente se atingisse o objetivo alvo que é a utilização do fluxo de caixa para prospecção a nível gerencial. Assim, a partir do estudo aprofundado da teoria do fluxo de caixa e considerando-se a inexistência desse instrumento financeiro na organização, inicialmente elaborou-se um fluxo de caixa histórico, apresentado no quadro 1, para avaliar a situação financeira da ACIC. Para tanto, foram analisados os demonstrativos contábeis e os relatórios de caixa do período 2005-2008. Para fins deste estudo, o fluxo de caixa apresentado a seguir mostra analiticamente as rubricas de receitas e despesas mais representativas para a ACIC. QUADRO 1 – Fluxo de caixa histórico da ACIC Descrição / Períodos 2005 2006 2007 2008 [1] Saldo anterior 146.366,86 205.352,51 166.622,50 264.827,49 [2] Entradas de caixa 735.809,68 381.687,26 502.088,36 612.790,19 Mensalidades ACIC 46.692,00 50.677,75 52.894,00 51.849,80 Mensalidades SPC 62.286,41 66.874,93 70.105,87 73.497,28 156.396,49 207.530,82 278.007,98 442.176,55 61.556,71 119.372,08 131.599,11 100.352,87 Receitas Plano VIVO Receitas Plano CLARO Receitas Plano TIM 11.157,71 35.601,43 26.746,00 17.652,50 26.590,00 22.375,00 29.215,00 Receitas Financeiras [3] Caixa disponível (1 + 2) 37.103,15 528.054,12 19.885,07 707.440,87 22.206,80 779.412,69 11.972,18 1.000.637,17 [4] Saídas de caixa 322.701,61 540.818,37 514.585,20 779.098,59 27.161,71 26.605,93 32.972,14 35.919,33 Portes e Telegramas 4.898,03 3.509,55 2.722,17 2.801,69 Comunicação 7.350,19 7.217,23 10.004,66 8.630,29 Promoções e Eventos Despesas com Pessoal - Serviço de Consulta SPC 5.237,34 5.011,89 6.360,82 5.327,78 Mensalidades Sociativas 6.882,31 7.109,54 4.904,12 7.684,86 Despesas Administrativas 32.493,39 37.300,83 41.088,40 23.365,16 8.220,73 10.096,40 4.702,86 4.062,26 Campanhas Promocionais 27.606,31 27.948,74 25.201,49 29.215,00 Exposições e Publicações 12.742,97 8.099,00 16.460,71 Despesas Comerciais Imobilizações em andamento Despesas Plano VIVO Despesas Plano CLARO - 90.000,00 - 27.621,47 185.514,58 143.720,21 191.445,73 225.688,79 340.050,28 46.388,42 114.771,84 116.334,03 80.329,37 Despesas Plano TIM [5] Saldo final (3 – 4) 205.352,51 11.701,69 166.622,50 28.145,01 264.827,49 28.576,52 221.538,58 [6] Caixa gerado no ano (2 – 4) 58.985,65 (38.730,01) 98.204,99 (43.288,91) 22 Inicialmente ressalta-se que, na composição do fluxo de caixa, tanto o saldo inicial quanto o saldo final são apresentados sob o conceito amplo de caixa, englobando os valores em caixa, contas correntes e aplicações financeiras. A receita financeira obtida através das aplicações financeiras é mostrada na rubrica específica. Conforme se pode visualizar no quadro 1, a principal fonte de receitas da ACIC é oriunda dos planos com operadoras de telefones celulares. O mais representativo é da operadora Vivo, com aproximadamente 700 linhas distribuídas entre as empresas associadas. Os dados mostram que este serviço gerou resultados consideráveis para a ACIC, especialmente com o crescimento apresentado em 2008. Outro plano empresarial de telefonia celular é oferecido através da operadora Claro Digital. A receita advinda deste plano, apesar de mostrar um crescimento no período 2005-2007, decresceu no ano de 2008 devido à má qualidade do atendimento por parte dos agentes da operadora, que reduziu em 50% o número de linhas ativas, atualmente em torno de 150. Mas, apesar dos impasses, o plano vem gerando bons resultados para a entidade. Em 2006 a entidade aderiu também a um plano empresarial da operadora Tim. Porém, devido a problemas operacionais esse plano foi extinto no início do ano de 2009. Esses planos de telefonia geram um ganho para a Associação, a qual também considera o risco de inadimplência. O nível de receitas com mensalidades ACIC manteve-se constante no período analisado, com leve crescimento de um ano para outro. Constatase que as receitas do serviço de proteção ao crédito cresceram gradativamente ao longo do período analisado, especialmente pelo aumento do índice de inadimplência nas empresas e necessidade de maior segurança na concessão de crédito. Os demais itens que influenciam o fluxo de caixa apresentaram comportamento dentro do que era esperado. Um fato a ser ressaltado é que em 2006 a ACIC adquiriu um terreno por R$ 90 mil com o fim específico de construir sua sede própria, investimento orçado em torno de R$ 550 mil. Esse investimento foi realizado com recursos próprios, bem como os valores já destinados à construção do prédio, e passaram a influenciar o fluxo de caixa. A partir da elaboração do fluxo de caixa histórico pode-se verificar que a entidade vem apresentando bons resultados em termos financeiros. Contudo, percebe-se que a ACIC carece de um instrumento de gestão financeira que propicie aos seus gestores uma visão antecipada dos acontecimentos. Diante desta necessidade realizou-se a projeção do fluxo de caixa para o período 2009-2011, buscando-se evidenciar a relevância desse instrumento como meio de programação das atividades e investimentos previstos para o período, bem como servir de mecanismo de controle. 23 4.3 O fluxo de caixa projetado no processo de tomada de decisão Tendo em vista que a Associação não utiliza o fluxo de caixa como instrumento de gestão, foi necessário diagnosticar a situação financeira da empresa por meio da elaboração do fluxo de caixa histórico, bem como, para projetá-lo, foi preciso estabelecer algumas premissas orientadoras, que refletem os objetivos e metas a serem cumpridos no período 2009-2011. Essas premissas foram identificadas e validadas por meio das entrevistas com os gestores e são a seguir apresentadas. QUADRO 2 – Premissas orientadoras da projeção do fluxo de caixa 2009-2011 Descrição/Anos Quantidade de novos associados Reajuste nos valores das mensalidades ACIC Aumento nas receitas de SPC Plano de telefonia celular VIVO Aumento da receita Plano VIVO Aumento na quantidade de linhas Plano VIVO Aumento da receita Plano CLARO Receitas do Plano TIM Multa rescisória do Plano TIM Receita mensal SPC Cheque Garantido Aumento das despesas com pessoal Aumento das receitas com promoções Aumento das despesas com pessoal Aumento das despesas com promoção Redução das despesas com comunicação Redução das despesas com portes e telegramas Aumento das despesas com consultas SPC Aumento das despesas mensalidades sociativas Aumento das despesas comerciais Aumento das despesas administrativas Despesas com publicidade e exposições Imobilizações em andamento Receitas de aluguel Despesas judiciais 2009 2010 2011 17 10 13 10% 15% 12% 12% Transferência de 200 linhas para um plano em que o custo mínimo mensal é de R$ 20,00. 8% 105 linhas 86 linhas 95 linhas Sem projeção de aumento para o período. R$ 380,00 R$ 1.467,65 R$ 100,00 R$ 150,00 R$ 190,00 13% 9% 9% 10% 10% 10% 13% 9% 9% 10% 10% 10% 7% 5% 5% 70% 30% 15% 15% 6% 6% 6% 2% 2% 2% 15% 10% 10% 8% 8% 8% R$ 300.000,00 R$ 165.000,00 R$ 80.000,00 R$ 16.200,00 R$ 18.000,00 R$ 3.000,00 Considerando que a atual diretoria já atua há mais de dez anos na Associação, pretende-se em janeiro de 2010 aumentar pela primeira vez os valores das mensalidades. Projeta-se aumentar gradativamente o número de associados, através de uma readequação dos valores, gerando um incremento real na receita. 24 Como já apresentado no fluxo de caixa histórico, pode-se perceber que as receitas com o plano empresarial Vivo são bastante rentáveis para a Associação em termos financeiros. Devido a isso pretende-se aumentar ainda mais as receitas com o serviço. Já para o plano com a operadora Claro considerou-se apenas um reajuste anual de 10%, que é uma correção anual dos valores. Segundo os dirigentes da Associação, projeta-se também a implantação de um novo serviço denominado SPC Cheque Garantido, que tem por finalidade proteger os usuários do alto índice de inadimplência com cheques. Após a identificação das premissas partiu-se para a elaboração do fluxo de caixa da Associação para o período 2009 – 2011, o qual é apresentado a seguir. Descrição / Períodos 2009 2010 2011 [1] Saldo anterior 221.538,58 77.867,80 102.819,87 [2] Entradas de caixa 1.000.213,78 840.068,47 925.900,28 Mensalidades ACIC 56.047,10 62.407,33 70.216,96 Mensalidades SPC 84.521,87 94.664,50 106.024,24 500,00 1.800,00 2.280,00 Receitas Plano VIVO SPC Cheque Garantido 542.922,00 585.582,56 628.879,84 Receitas Plano CLARO 110.391,60 115.409,40 120.427,20 Receitas Plano TIM Promoções e Eventos 380,00 32.136,50 Receitas de Aluguéis - 35.350,15 38.885,16 16.200,00 18.000,00 13.169,40 1.061.607,05 14.486,34 1.003.768,08 15.500,38 1.103.033,65 983.739,25 900.948,21 873.076,28 40.588,84 44.241,84 48.223,60 840,51 840,51 840,51 Comunicação 8.026,17 7.624,86 7.243,62 Serviço de Consulta SPC 6.926,11 7.965,03 9.159,79 Mensalidades Sociativas 8.145,95 8.634,71 9.152,79 Despesas Administrativas 41.971,86 45.969,05 53.365,95 Despesas Comerciais 32.317,40 32.963,75 33.623,03 Campanhas Promocionais 33.597,25 38.636,84 42.500,52 Exposições e Publicações 29.831,30 32.217,80 34.795,22 Imobilizações em andamento 300.000,00 165.000,00 80.000,00 Despesas Plano VIVO 391.663,80 424.475,04 457.776,00 88.362,31 92.378,78 96.395,25 102.819,87 229.957,37 Receitas Financeiras [3] Caixa disponível (1 + 2) [4] Saídas de caixa Despesas com Pessoal - - Portes e Telegramas Despesas Plano CLARO Despesas Plano TIM [5] Saldo final (3 – 4) [6] Caixa gerado no ano (2 – 4) 1.467,75 77.867,80 (143.670,78) 25 24.952,07 127.137,50 Analisando-se o fluxo de caixa da ACIC, constata-se que, nos três anos projetados, há a manutenção de níveis adequados de caixa. Cabe destacar que, nos valores de saldos inicial e final, estão compreendidos os valores em caixa, contas correntes e aplicações financeiras. O montante em contas de aplicação equivale a aproximadamente 65% do valor dos saldos. Isso indica que a Associação tem uma preocupação em destinar os excedentes de caixa para investimentos que possam vir a remunerar adequadamente os seus recursos. Essa forma de gerenciamento dos recursos utilizada pela diretoria da ACIC é condizente com o que defende Zdanowicz (1998), notadamente no sentido de não deixar os recursos ociosos, mas sim dar uma destinação que agregue valor para a empresa. Em termos de geração de receitas, observa-se pela análise do quadro 3 que a maior fonte de recursos é oriunda do Plano VIVO, a qual vem se expandindo com o passar dos anos. Outros itens de receita com grande representatividade na arrecadação da ACIC são: o Plano CLARO e as mensalidades de associados e de serviço de proteção ao crédito. Em termos de saídas de caixa, os itens mais representativos são as despesas com os planos de telefonia, o que era esperado. As demais rubricas de despesas mostraram-se condizentes com os planos previstos pela ACIC. Observa-se que, no ano de 2009, está sendo projetada uma geração negativa de caixa. Contudo, tal fato decorre do montante de recursos destinados à construção da sede da ACIC. Nos demais períodos projetados tal situação foi equacionada, haja vista uma menor destinação de recursos para a construção, devido a seu cronograma estar direcionando-se para as etapas finais. A projeção do fluxo de caixa analisada em conjunto com o fluxo histórico evidencia que o valor inicial previsto a ser desembolsado para a construção da sede da ACIC não se confirmou, havendo necessidade de recursos adicionais aos planejados. Contudo, sua situação financeira permite que tais obrigações sejam cumpridas sem comprometer o seu funcionamento operacional. Em relação aos desembolsos com a construção da sede própria da entidade, contatou-se que a obra poderá ser totalmente concluída com recursos próprios. Aliás, essa foi uma questão verbalizada pelos diretores da ACIC nas entrevistas. A política gerencial adotada prevê que os investimentos sejam realizados com capital próprio, não sendo aceita a utilização de recursos de terceiros. É importante notar que a conclusão da sede está prevista para 2010, o que possibilitou a projeção de receitas relativas a aluguel de salas comerciais e salas para a realização de cursos e palestras para os anos de 2010 e 2011. Gitman (1997) considera que decisões desse tipo, ou seja, destinar 26 recursos para investimentos capazes de gerar novas fontes de receita, só podem ser tomadas mediante um efetivo controle do fluxo de caixa por parte dos gestores financeiros. De uma maneira geral, pode-se verificar que a ACIC possui uma boa situação financeira, considerando que seus gestores estão sempre em busca de novos serviços para os associados, gerando, desta forma, receitas para a Associação. É necessário considerar ainda que as projeções apresentadas estão sujeitas à alteração caso ocorra algum imprevisto dentro do período orçado, 2009-2011. Se isso ocorrer, certamente serão necessárias readequações no fluxo de caixa projetado para que esse instrumento reflita adequadamente uma nova realidade a ser gerenciada. 5 Considerações finais Por meio da pesquisa contatou-se que a ACIC, embora possua uma administração efetiva, carece de melhorias a nível de instrumentos de apoio à gestão. O fato de verificar-se a inexistência de um sistema de fluxo de caixa para a gestão financeira de curto prazo evidencia tal questão. Os diretores sabem dos acontecimentos no momento de sua ocorrência, não existindo uma análise preditiva. Um dos benefícios obtidos a partir desse estudo foi o entendimento por parte dos gestores da ACIC de que as reflexões advindas de um processo de elaboração de fluxo de caixa são de grande valia para a gestão administrativa e financeira da entidade. A proposta pretendida pelo estudo foi bem aceita pelos gestores, uma vez que se pode ter uma visão mais clara dos ingressos e desembolsos de caixa, o que possibilitará melhorias na gestão financeira e no processo de tomada de decisão. No caso pesquisado o fluxo de caixa apresentou-se como instrumento de fundamental importância para o bom andamento da Associação, que, através de seus diretores, está disposta a melhorar o seu modelo de gestão financeira, tendo em vista o desejo de aumentar os seus rendimentos para concluir sua sede própria. É recomendável que a Associação mantenha um controle sistemático do seu fluxo de caixa, para que, assim, possa dimensionar a qualquer momento o volume de pagamentos e recebimentos, bem como fixar o nível desejado de disponibilidades para o período. Desta forma conclui-se que o objetivo central do estudo foi atingido, pois gerou algumas reflexões que poderão auxiliar na consolidação da Associação. Por fim, em relação à continuidade dos estudos relacionados à utilização do fluxo de caixa, sugere-se para futuras pesquisas a avaliação dos reflexos oriundos do consumo exclusivo de recursos próprios para investi27 mento. Acredita-se que o custo do capital de terceiros em linhas específicas de financiamento é vantajoso e possibilitaria à empresa ampliar o investimento, o que poderia contribuir para a maximização de seus resultados. 6 Referências CAMPOS FILHO, A. Demonstração dos fluxos de caixa: uma ferramenta indispensável para administrar sua empresa. São Paulo: Atlas, 1999. CREPALDI, S. 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Fluxo de Caixa: Uma Decisão de Planejamento e Controle Financeiros. 4. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1991. ______. Fluxo de Caixa: Uma Decisão de Planejamento e Controle Financeiros. 7. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998. 28 ANÁLISE DE INVESTIMENTO APLICADO NA AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS DE FROTA PARA TRANSPORTES André Luis Graff¹ Rodrigo da Silveira Kappel² RESUMO Este trabalho tem como tema a análise de investimentos, mais especificamente aplicado à aquisição de veículos para transporte rodoviário. O objetivo principal é identificar e avaliar o método atual de análise de investimento utilizado pela empresa em estudo, e por intermédio dessa pesquisa oferecer à empresa medidas que aprimorarem seu processo decisório de análise de investimento na aquisição de caminhões. Nesse sentido, foi realizado um estudo de caso baseado na aquisição de um caminhão, através do levantamento de dados, informações, visitas à empresa e entrevistas não estruturadas. Os resultados mostram que a utilização da técnica do fluxo de caixa descontado na análise deste tipo de investimento contribui na otimização dos resultados e no aumento de valor da empresa. Palavras-chave: Avaliação de Investimento, Função Financeira, Fluxo de Caixa ABSTRACT This work has as its objective the analysis of investments, specifically on the vehicles purchase for road transportation. The main objective is to identify and evaluate the current method of analysis used by the company that is being studied, and through this research offer to the company measures to enhance its decision-making process in the investment analysis for the acquisition of trucks. Accordingly, a study on a case was performed based on the purchase of a truck, through data analysis, information, visits to the company and uns- ¹Graduando do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ²Mestre em Economia-Controladoria pelo PPGE/UFRGS e professor dos Cursos de Ciências Contábeis e Administração da Faculdade Dom Alberto. 29 tructured interviews. The results show that the use of the discounted cash flow technique in the analysis of such investment contributes to the optimization of results and increase the company value. Key-words: Investment Appraisal, Financial Function, Cash Flow 1 Introdução A decisão de investir pode ser considerada um grande desafio, pois muitos fatores, inclusive de ordem pessoal, podem entrar em cena. Conforme Souza e Clemente (2006), neste sentido surge à necessidade de desenvolver um modelo teórico mínimo para explicar e prever as consequências das decisões. Com isso, conforme Machado (2004), a função do administrador financeiro consiste em aplicar uma série de princípios econômicos para maximizar a riqueza ou o valor total de um negócio ou investimento, utilizando técnicas de finanças como parâmetro em suas decisões, visando atingir a melhor rentabilidade possível, ou seja, investindo em projetos cujos retornos combinados produzam os lucros mais altos possíveis com os menores riscos. O estudo utilizará como instrumento de tomada de decisão o fluxo de caixa descontado, por auxiliar na previsão, visualização e controle das movimentações financeiras de cada período em um projeto de investimento. Esta técnica possibilita ao administrador financeiro planejar melhor suas ações e acompanhar o desempenho de seu projeto de investimento e, principalmente, avaliar a viabilidade do investimento em termos de criar e agregar valor à empresa, por ser um método reconhecido por autores como Damodaran (1997), Ferreira (2005), Ross, Westerfield e Jordan (2000), Assef (2003), Hoji (2003), entre outros. Neste contexto, este trabalho tem como principal objetivo identificar e avaliar o método atual de análise de investimento, assim como avaliar a viabilidade do investimento realizado pela empresa VBR Logística Ltda em sua frota, comparando o processo de decisão atual para aquisição de veículos de transporte, mais especificadamente caminhões, com a teoria existente de avaliação de investimentos. Nesse cenário apresentado, o estudo referente à análise de investimento aplicado na aquisição de veículos de frota para transportes tendo como objetivos específicos: [1] identificar e avaliar as principais informações que apóiam o processo atual de investimento em sua frota de veículos de transporte; [2] avaliar a viabilidade das decisões de investimentos adotados 30 pela empresa na aquisição de caminhões para sua frota; [3] sugerir a empresa medidas que venham a aprimorar o processo de análise de viabilidade de investimento com base na avaliação realizada neste estudo. O trabalho encontra-se estruturado em cinco partes, sendo a presente parte a apresentação da introdução do estudo. Na sequência o referencial teórico apresenta os principais conceitos de análise de investimento aplicados neste trabalho. Após é definida a metodologia, ilustrando de forma sucinta os métodos de observação e experimentação utilizados no decorrer desta pesquisa. A seguir destaca-se a análise dos resultados, que propõem a aplicação da metodologia na avaliação de investimentos aplicado na aquisição de um caminhão para transporte rodoviário, e finalmente são expostas as conclusões, considerações finais e sugestões para novos estudos. 2 Referencial Teórico 2.1 A Função Financeira A administração financeira, conforme Zdanowicz (1998), além de manter a empresa em permanente situação de liquidez, também tem por finalidade propiciar condições para a obtenção de lucros que compensem os riscos dos investimentos. Neste sentido, na concepção de Groppelli e Nikbakht (2006) a função do administrador financeiro é aplicar os princípios econômicos e financeiros para maximizar o valor total de um negócio. Mais especificadamente, utilizando as técnicas do valor presente líquido para medir como uma empresa maximiza a riqueza, através do investimento em projetos e adquirindo ativos cujos retornos combinados superem (VPL positivo) o custo de oportunidade do capital. Ainda deve-se destacar conforme Machado (2004), que o princípio econômico de fundamental importância do qual se vale o administrador financeiro para a tomada da maioria das decisões é o princípio da análise marginal, que consiste no estudo dos custos e benefícios adicionais, gerados por uma determinada escolha de investimento, pois um projeto de investimento somente será viável economicamente, quando a soma dos benefícios marginais gerados for maior que a soma dos custos marginais incorridos, ou seja, o VPL positivo. Assim, a principal meta do administrador financeiro é a de utilizar os princípios financeiros e econômicos sempre buscando a maximização da riqueza, agregando valor ao negócio, usando as técnicas do valor presente líquido para medir se a empresa maximizou a riqueza através de investimentos cujos retornos superem o custo de oportunidade do capital. 31 2.2 Avaliação de Investimentos Um investimento para a empresa, em continuidade com o exposto na seção anterior, segundo Souza e Clemente (2006), é um desembolso visando gerar benefícios futuros, usualmente superiores a um ano. A lógica subjacente é a de que somente se justificam sacrifícios presentes se houver perspectiva de recebimentos de benefícios futuros que superem a expectativa do investidor. Pode-se considerar que o objetivo básico de uma análise de investimento é avaliar qual alternativa é a mais atrativa para o investidor entre aquelas apresentadas. Conforme Santos (2001) a análise de investimento é de fundamental importância para a decisão de aceitar ou rejeitar uma proposta de um projeto de investimento, e que a avaliação econômica é considerada uma tarefa imprescindível no ambiente empresarial. O mesmo autor ainda destaca que o grande problema em uma avaliação de investimento não é a metodologia de cálculo utilizada, mas a obtenção de dados confiáveis que serão utilizados nas entradas e saídas de um projeto de investimento. Neste contexto, de acordo com Silva (2008), tanto os acionistas ou proprietários de uma empresa interessam-se na obtenção do retorno de um investimento compatível com o risco da empresa, e neste sentido necessitam de técnicas de análise financeira que ofereçam medidas relativamente seguras de aferição de risco e performance. Dessa forma, segundo autores como Gitman (2004), Ferreira (2005), Ross, Westerfield e Jordan (2000), o fluxo de caixa descontado pode ser considerado uma técnica útil para avaliação de um investimento, pois sintetiza a criação de valor para o acionista ou proprietário considerando o valor do dinheiro no tempo utilizando o custo de oportunidade do capital. 2.3 Fluxo de Caixa Em conformidade com a seção 2.2, para Ross, Westerfield e Jordan (2000), o fluxo de caixa é o que determina o sucesso de uma decisão econômica, pois decisões contábeis, ou seja, decisões baseadas em lucro contábil analisam o projeto ano a ano. Com uma visão voltada apenas para lucro, novos investimentos, novas pesquisas, novos produtos e novas aquisições podem não ser realizados. Conforme Ferreira (2005), o fluxo de caixa é apresentado em três grupos: Provenientes das atividades operacionais ou nelas utilizados; Pro- 32 venientes das atividades de investimentos ou nelas utilizados e provenientes das atividades de financiamento ou nelas utilizados. No entendimento de Mellagi Filho (2003), a montagem do fluxo de caixa considera todos os fluxos anuais, sintetizando em um único valor de criação ou destruição. A coordenação, nesse momento, é de suma importância para sua execução. Outro fato que deve ser levado em conta é que o fluxo de caixa deve representar apenas o projeto, ou seja, é fluxo incremental que a empresa irá obter após a realização do investimento. Entende-se nesse contexto que o fluxo de caixa é um instrumento de planejamento financeiro que tem por objetivo fornecer estimativas da situação de caixa de uma empresa como também de um projeto de investimento em determinado período de tempo, a exemplo, o Fluxo de Caixa do Acionista, definido na sequência. 2.4 Fluxo de Caixa do Acionista Segundo Schmidt e Santos (2005), o fluxo de caixa dos acionistas é o fluxo de caixa existente após o pagamento de despesas operacionais, juros e principalmente de qualquer desembolso a fim de manter a taxa de crescimento dos fluxos projetados, ilustrado pela figura 01. FIGURA 01 – Fluxo de caixa do acionista Fonte: adaptado de Schmidt e Santos (2005, p. 113) Assim, cabe destacar ainda, segundo Damodaran (1997), que o fluxo de caixa do acionista deve ser descontado por uma taxa que represente o retorno exigido pelos acionistas, ou seja, o custo do capital próprio. 33 2.5 Modelo CAPM A taxa de desconto do fluxo de caixa do acionista deve representar o retorno exigido pelos acionistas, ou seja, o custo de oportunidade do capital próprio. Sendo assim, surge a necessidade da utilização de um modelo para determinar esta taxa de risco e retorno. Conforme Damodaran (1997) um modelo útil para determinar o custo de oportunidade do capital, é o modelo de precificação de ativos de capital (CAPM), por ser considerado o modelo padrão para medir os demais modelos para risco e retorno. Schmidt e Santos (2005) apontam como vantagem do CAPM sua simplicidade e intuição, como também o fornecimento de algumas implicações passíveis de testes. Os investimentos no CAPM são medidos em duas dimensões, que, de acordo com Schmidt e Santos (2005) são elas: o retorno esperado sobre um investimento compreende a recompensa, e a variância mede a disparidade entre retornos efetivos e esperados. Sendo assim, conforme os mesmos autores, para se determinar o custo de capital próprio utilizando-se o modelo CAPM, são necessários os seguintes dados de entrada: a) A taxa livre de risco: um ativo livre de risco não pode possuir risco de inadimplência; b) O retorno esperado sobre o índice de mercado: o prêmio de risco de mercado é baseado em dados históricos em determinado período, sendo definido como a diferença entre o retorno médio sobre as ações e o retorno médio dos títulos livres de risco; c) O coeficiente beta do ativo avaliado: o beta é estimado pela regressão dos retornos sobre as ações em comparação com os retornos de mercado. Por fim, é importante destacar que é relativamente fácil avaliar empresas em países desenvolvidos em relação às empresas estabelecidas em países emergentes, principalmente em função da baixa liquidez do mercado de capitais, altos riscos associados às incertezas do ambiente macroeconômico e risco político. 3 Metodologia A metodologia utilizada neste trabalho foi o estudo de caso, que segundo Gil (2002) tem como principal característica o estudo profundo e exaustivo de um objeto, o que permite a obtenção do conhecimento amplo e detalhado deste. De acordo com os objetivos pré-estabelecidos, foi realizado um estudo de caso em um cenário de investimento na aquisição de um caminhão, adquirido no ano de 2008, que é utilizado para prestação de serviços de transporte de containeres em uma rota de serviços de transporte específica, 34 Rio Grande – Santa Cruz, pois baseado na experiência do administrador financeiro da empresa em estudo, esta rota é a mais indicada para avaliar o desempenho de um caminhão nesta empresa. Em primeiro momento, buscou-se identificar e avaliar o método atual de avaliação de investimento para compra de caminhões dessa empresa, pelo levantamento de dados e informações, por meio de visitas à empresa, e através de entrevistas não estruturadas com o gerente administrativo/financeiro e observação do participante. Segundo Collis e Hussey (2005), o método quantitativo envolve coletar e analisar dados numéricos e aplicar testes estatísticos, enquanto o método qualitativo é mais subjetivo e envolve examinar e refletir as percepções para obter um entendimento de atividades humanas e sociais. A pesquisa documental fundamentou-se em relatórios contábeis históricos de controle de receitas, custos e despesas ocorridas durante o primeiro ano de utilização do veículo, 2008, na rota definida, Rio Grande Santa Cruz. Após ter adquirido o conhecimento necessário sobre o método atual de avaliação de investimento na aquisição de caminhões, o estudo focou-se para o referencial teórico, a fim de encontrar na base bibliográfica um método de análise e avaliação de investimento consagrado por autores e estudiosos da área econômico-financeira, que apoiasse e aprimorasse como ferramenta de gestão, as decisões de investimento, na aquisição de veículos de frota para transporte da empresa estudada. Com base no referencial teórico, optou-se por aplicar como método de avaliação do investimento em questão, o fluxo de caixa descontado, com destaque para o fluxo de caixa do acionista. 4 Análise de investimento na aquisição de veículos de frota 4.1 A empresa e o processo decisório atual de investimentos em veículos de frota A pesquisa foi aplicada na VBR Logística Ltda, empresa de porte médio e de capital fechado, criada em agosto de 1997 em Santa Cruz do Sul, no estado do Rio Grande do Sul. Especializada em transportes, atua na prestação de serviços no setor logístico. A empresa visa a atender as solicitações de seus clientes e aos requisitos de seu sistema da qualidade, buscando continuamente, através do compromisso dos colaboradores, o aperfeiçoamento de seus serviços, de tal forma a se consolidar como uma das opções em transporte rodoviário e agenciamento de cargas para importação e exportação de mercadorias a nível nacional e internacional. Atualmente a empresa utiliza uma forma empírica de avaliação, pois a 35 análise da viabilidade econômica utilizada para aquisição de novos caminhões, tem como único objetivo demonstrar junto às instituições financeiras e bancos a sustentabilidade que o projeto de investimento possui e assim obter linhas de crédito para financiamentos, mais especificamente o FINAME que utiliza os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Assim, observou-se com base nas informações levantadas junto à empresa, que não existe uma ferramenta de gestão adequada que apóie o processo decisório atual, especificamente no que diz respeito a maximizar o valor do capital do acionista ou proprietário. 4.2 Aplicação da Metodologia Proposta: “Avaliação do Investimento” Na avaliação do investimento em estudo, todo esforço que se fará a seguir visa demonstrar o uso do fluxo de caixa do acionista como técnica de apoio ao processo de avaliação de investimento na aquisição de caminhões, que tornará viável o sucesso neste ramo de negócio. Deste modo, cabe lembrar que a avaliação refere-se à aquisição de um caminhão para prestação de serviços de transporte rodoviário de containeres, específico da rota Rio Grande – Santa Cruz. O veículo foi adquirido no ano de 2008 pela empresa VBR Logística Ltda, sendo necessária somente à projeção dos anos ainda não realizados. Como base, serão utilizados os resultados históricos da empresa em relação a esta rota, como também os dados já realizados pelo veículo adquirido. Assim visando à projeção do fluxo de caixa descontado, mostram-se essenciais à pesquisa as seguintes premissas: [a] Composição da receita: As receitas c/ prestação de serviços à vista representam apenas 10% do total, sendo que as vendas a prazo variam de 15 a 40 dias. Projeta-se um crescimento anual das vendas de 10% com base no histórico da empresa (em um cenário pessimista, provável e otimista), percentual já composto pelo crescimento real e inflação. [b] Impostos incidentes sobre a prestação de serviços: Incidem sobre a receita de prestação de serviços o PIS e Cofins a uma alíquota de 9,25%. Cabe lembrar que o estudo trata apenas da rota Rio Grande – Santa Cruz, dentro do estado do Rio Grande do Sul. [c] Custos dos serviços prestados: Com base no histórico obtido junto à empresa, será utilizada uma margem de lucro bruto de 53% (os custos são compostos por abastecimento, Pneus e Mão-de-obra). [d] Despesas operacionais: Com base nas despesas ocorridas no ano de 2008, foi projetado um acréscimo de 10% ao ano com despesas operacionais em um cenário pessimista (as despesas operacionais são compostas por Peças, Seguro total do veículo e despesas gerais (Pedágio, etc.)). 36 [e] Despesa com depreciação: A depreciação será calculada a taxa de 20% ao ano sobre o valor de aquisição do caminhão (R$ 212.800,00). [f] Despesas financeiras (Juros): Representa o valor pago de juros conforme quadro 01. [g] IRPJ e CSLL: O imposto de renda de pessoa jurídica e contribuição social sobre o lucro líquido serão calculados à alíquota de 24%. [h] Pagamento principal de dívidas/financiamento: Será considerado investimento os gastos relativos ao esforço da empresa na aquisição/compra de um novo caminhão, sendo que, conforme quadro 01, o veículo foi financiado via contrato bancário FINAME com juros de 9% ao ano, juros acumulados sobre saldo devedor, com prazo de pagamento de cinco anos. O FINAME adota o Sistema de Amortização Constante (SAC). [i] Valor residual: Para o valor residual foi considerada uma taxa de desvalorização de 15% ao ano, baseada no preço médio da tabela FIPE para o mesmo modelo de caminhão em estudo, marca VOLVO e modelo VM 310 4x2 2p (diesel), ano de fabricação 2008. Consulta realizada em outubro de 2009. QUADRO 01 – Financiamento do caminhão t Ano Saldo Devedor Amortização 0 2008/1 212.800,00 - - - 1 2008/2 170.240,00 42.560,00 19.152,00 61.712,00 2 2009 127.680,00 42.560,00 15.321,60 57.881,60 3 2010 85.120,00 42.560,00 11.491,20 54.051,20 4 2011 42.560,00 42.560,00 7.660,80 50.220,80 5 2012 - 42.560,00 3.830,40 46.390,40 212.800,00 57.456,00 270.256,00 Total Juros Prestação É importante também destacar, para elaboração do fluxo de caixa, que o prazo de recuperação do investimento será de cinco anos conforme estipulado pela empresa. Pelo fato do estudo avaliar a aquisição de um caminhão já adquirido em 2008, serão projetados somente os anos de 2009, 2010, 2011 e 2012, conforme apresentado no quadro 02, com base nas premissas econômico-financeiras. 37 QUADRO 02 – Projeção de Resultados Contas (+) Receita Bruta de Serviços Prestados (-) PIS e Cofins (1,65% e 7,6%) (=) Receita Líquida de Vendas 2008 2009 2010 2011 2012 167.462,06 184.208,27 202.629,09 222.892,00 245.181,20 15.490,24 17.039,26 18.743,19 20.617,51 22.679,26 151.971,82 167.169,00 183.885,90 202.274,49 222.501,94 (-) Custos dos Serviços Prestados 62.938,93 69.232,82 (=) Lucro Bruto 89.032,89 97.936,18 107.729,80 118.502,78 130.353,05 (-) Despesas Operacionais 76.156,11 83.771,72 92.148,89 7.007,79 7.708,57 8.479,43 9.327,37 10.260,11 (-) Despesa com Depreciação 42.560,00 42.560,00 42.560,00 42.560,00 42.560,00 (-) Despesas Financeiras (Juros) 19.152,00 15.321,60 11.491,20 7.660,80 3.830,40 - - - - 112.531,93 20.313,10 32.346,01 45.199,17 58.954,61 186.234,48 4.875,14 7.763,04 10.847,80 14.149,11 15.437,96 24.582,97 34.351,37 44.805,50 141.538,20 (+) Outras Receitas (Valor Residual) (=) Lucro antes do IR (-) IRPJ e CSLL (15% e 9%) (=) Resultado Líquido 44.696,27 Observa-se no quadro 02 que o resultado líquido do ano de 2008 é formado pelas receitas, custos e despesas incorridas durante o primeiro ano de utilização do caminhão na prestação de serviços de transporte rodoviário. Os demais resultados foram projetados de acordo com as premissas apresentadas anteriormente. Cabe destacar ainda, que a base de cálculo do IR e CSLL para o ano de 2012 está majorada em função do valor residual do caminhão. De acordo com o exposto na seção 2.4 (Fluxo de Caixa do Acionista), nota-se que este fluxo de caixa é obtido após o pagamento de despesas operacionais, pagamento do principal de dívidas/investimento, juros e principalmente de qualquer desembolso necessário a fim de manter a taxa de crescimento dos fluxos projetados, conforme exposto no quadro 03. QUADRO 03 – Fluxo de Caixa do Acionista Contas 2008 2009 2010 2011 2012 (=) Resultado Líquido 15.437,96 24.582,97 34.351,37 44.805,50 141.538,20 (+) Despesa com Depreciação 42.560,00 42.560,00 42.560,00 42.560,00 42.560,00 Fluxo de Caixa Operacional 57.997,96 67.142,97 76.911,37 87.365,50 184.098,20 (-) Pgto.Principal Dívidas/Investimento 61.712,00 57.881,60 54.051,20 50.220,80 46.390,40 Fluxo de Caixa Livre do Acionista (3.714,04) 9.261,37 22.860,17 37.144,70 137.707,80 38 Dessa forma, a taxa de desconto para o fluxo de caixa do acionista será calculada com base no custo do capital próprio. Não será utilizado o modelo de precificação de ativos de capital em sua íntegra (CAPM), deste modo, fazem-se necessárias as respectivas adaptações no cálculo do capital próprio, visto que se trata de uma empresa de médio porte e de capital fechado. Como taxa livre de risco, Schmidt e Santos (2005) sugerem a utilização da poupança, em vista que no mercado brasileiro depara-se com o problema de não se encontrarem títulos do governo de longo prazo, e os títulos de curto prazo denominados em moeda local, apresentam um passado de elevadas taxas de juros, o que inviabiliza a utilização desses títulos como taxa livre de risco. A apuração do cálculo do retorno esperado sobre o índice de mercado, é sugerida por Tomazoni e Menezes (2002) a utilização do chamado “Risco - Brasil”, pois os dados referentes a taxas e betas de mercados maduros são somados a adequações matemáticas ao “Risco - Brasil”. O coeficiente beta do ativo avaliado, neste caso uma empresa de capital fechado, é estimado pela regressão dos retornos históricos em comparação com os retornos de mercado, o que dificulta sua aplicabilidade neste estudo. Assim, utiliza-se como taxa de desconto 12,0836%, Portal Brasil (2009), que se refere a soma do rendimento da caderneta de poupança no ano de 2008 (7,9036% a.a.) com o prêmio de risco equivalente ao “Risco Brasil” do ano de 2008 (4,1800%). O coeficiente beta fica prejudicado para este tipo de empresa. Dessa forma, após determinado o custo de capital próprio, deve-se aplicá-lo como taxa de desconto para o cálculo do fluxo de caixa do acionista descontado, conforme o quadro 04 apresenta: QUADRO 04 - Fluxo de Caixa do Acionista Descontado Anos Fluxo de Caixa do Acionista Fator de desconto Fluxo de Caixa do Acionista Descontado 2008 (3.714,04) 1,0000000000 (3.714,04) 2009 9.261,37 0,8921911859 8.262,91 2010 22.860,17 0,7960051121 18.196,81 2011 37.144,70 0,7101887450 26.379,75 2012 137.707,80 0,6336241385 87.254,99 Total 136.380,41 Através do que foi demonstrado no quadro 04, conclui-se que dentro dos cinco anos de avaliação definidos pela empresa e com base no resultado obtido através desta técnica, observa-se que o valor presente líquido é positivo 39 (R$ 136.380,41), o que representa a criação de valor para os proprietários. Apenas como medida de comparação foi aplicada para o cálculo do mesmo fluxo de caixa, conforme o quadro 05, uma taxa de desconto de 20% que, segundo informado pela diretoria da empresa, é a taxa mínima de atratividade que se espera do investimento. Dessa forma, apesar da utilização de uma taxa maior, observa-se também um VPL positivo (R$ 107.784,67). QUADRO 05 - Fluxo de Caixa do Acionista Descontado (comparativo) Anos Fluxo de Caixa do Acionista Fator de desconto Fluxo de Caixa do Acionista Descontado 2008 (3.714,04) 1,0000000000 (3.714,04) 2009 9.261,37 0,8333333333 7.717,81 2010 22.860,17 0,6944444444 15.875,12 2011 37.144,70 0,5787037037 21.495,78 2012 137.707,80 0,4822530864 66.410,01 Total 107.784,67 Assim, os resultados apresentados nos quadros 04 e 05, evidenciam que na utilização de ambas as taxas de desconto, o valor presente líquido é positivo, ou seja, o investimento na aquisição deste caminhão para prestação de serviços de transporte rodoviário de containeres, específico da rota Rio Grande – Santa Cruz, maximiza a riqueza do proprietário, ou ainda, cria e agrega valor à empresa. 5 Considerações finais O trabalho teve como principal objetivo identificar e avaliar o método atual de análise de investimento na aquisição de caminhões utilizados na prestação de serviços de transporte rodoviário logístico da empresa VBR Logística Ltda, assim como avaliar a viabilidade de investimento realizado pela empresa em sua frota. Conforme conhecimento adquirido através desta pesquisa, entendese que o administrador financeiro da empresa em estudo deve utilizar o fluxo de caixa do acionista descontado como técnica para maximizar a riqueza ou o valor total do investimento, ou seja, usar os princípios financeiros como referência em suas decisões, visando sempre a atingir a melhor rentabilidade. Nesse sentido, constatou-se que a empresa necessita de instrumentos gerenciais de análise e avaliação de investimentos mais eficientes, pois atualmente não dispõe de uma técnica gerencial que demonstre se o projeto 40 de investimento está maximizando ou minimizando o valor da empresa. Foi proposta nessa avaliação o fluxo de caixa do acionista descontado com base no custo do capital próprio tendo em vista a sua maior aplicabilidade, pois este estudo trata de um investimento específico de uma empresa de médio porte e de capital fechado. Conclui-se também que através dos resultados dos cálculos do fluxo de caixa do acionista descontado, foi evidenciada a real criação de valor para os proprietários, referente a aquisição de um caminhão para transporte de containeres. Também foi possível constatar que esta técnica demonstra e estima o valor de um novo investimento projetando o resultado de seus custos e receitas, obrigando a empresa a planejar e controlar todos os seus investimentos a serem realizados e, apresentando novas oportunidades a serem estudadas. Por fim, sugere-se que outros acadêmicos realizem estudos na área financeira, especificamente em análise de investimento, principalmente no que se refere à definição do custo do capital próprio para empresas brasileiras de capital fechado, de pequeno e médio porte, familiares ou não, visando a otimização das ferramentas gerenciais de decisão em investimentos, auxiliando as mesmas no enfrentamento de um mercado cada vez mais globalizado e competitivo. 6 Referências ASSEF, R. Guia Prático de Administração Financeira: Pequenas e médias empresas. 2. ed. São Paulo: Campus, 2003. COLLIS, J; HUSSEY, R. Pesquisa em administração. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. DAMODARAN, A. Avaliação de Investimentos: ferramentas e técnicas para a determinação do valor de qualquer ativo. Tradução de Bazán Tecnologia e Linguística. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. FERREIRA, J. A. S. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Weley, 2004. 41 GROPPELLI, A. A.; NIKBAKHT, E. Administração Financeira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. HOJI, M. Administração Financeira: uma abordagem prática: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, análise, planejamento e controle financeiro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MACHADO, J. R. Administração de Finanças Empresariais. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. MELLAGI FILHO, A. Curso Básico de Finanças. São Paulo: Atlas, 2003. PORTAL BRASIL. A sua biblioteca virtual. Principais Indicadores Financeiros Brasileiros, Disponível em: <http://www.portalbrasil.net/economia.htm>. Acesso em: 05 set. 2009. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JORDAN, B. D. Princípios de Admisnitração Financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. SANTOS, Edno Oliveira dos. Administração financeira da pequena e média empresa. 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Nesse sentido, este trabalho apresenta um estudo sobre a satisfação dos clientes (pessoa jurídica) da empresa Eletro Carvalho, que faz rebobinagem de motores elétricos, e tem como objetivo geral identificar o nível de satisfação dos clientes, pessoas jurídicas. A metodologia da investigação está pautada em pesquisa bibliográfica e levantamento ou survey, utilizando a abordagem quantitativa para descrição de dados coletados através de questionário e qualitativa para aprofundamento da análise. Como instrumento de estudo, foi usado um questionário, composto de 10 perguntas direcionadas aos clientes-empresa da Eletro Carvalho. Os resultados apontam para um bom nível de satisfação com serviços, produtos e procedimentos apresentados pela empresa conforme dados obtidos através do survey e do uso de marketing empreendedor. Palavras-chave: marketing de serviços, satisfação do cliente, pessoa jurídica ABSTRACT For a company to remain on business, it is imperative to get a realistic understanding of its customers’ needs. This research presents a study on customer satisfaction (enterprise customers) of Eletro Carvalho which primarily rewinds electric motors. Therefore the leading objective is to pinpoint the level of satisfaction of its corporate customers. The methodology is based on bibliographic research and survey throughout quantitative data collected per questionnaire and qualitative in-depth analysis. The instrument of study was a questionnaire with 10 questions asked directly to the corporate clients of Eletro Carvalho. The findings indicate a positive level of satisfaction in services, products and ¹Aluno do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto. ²Orientadora da pesquisa e professora da área de Marketing no Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto. 43 proceedings offered by the company accord data obtained through the survey and marketing for entrepreneurs. Key-words: marketing services, customer satisfaction, corporate customers. 1 Introdução A concorrência, a variedade de produtos à espera de um consumidor, o avanço tecnológico, a globalização, as mudanças de valores, postura e hábitos no âmbito cultural, social e econômico, etc acabam influenciando a administração de empresas, cada vez mais atentas aos seus públicos e ao que estes desejam. Nesta última esfera, pode-se reconhecer um “personagem” muito importante, capaz de promover a ascensão de uma organização ou a sua queda: o cliente. Este não mantém uma postura linear, molda-se de acordo com as regras do mercado, que se mostram flutuantes e nessa perspectiva, segundo Cobra (2007, p. 15), o cliente “deixa de ser consumidor de uma única região para se tornar consumidor mundial”. Quando o foco é em serviços, a relação da empresa com seu cliente aumenta, pois este passa a desempenhar um papel ativo no processo de produção de serviços (GRÖNROOS, 1993). Com o propósito de discutir as relações empresa-cliente, este trabalho apresenta, na área de marketing de serviços, o seguinte problema de pesquisa: qual é o nível de satisfação dos clientes pessoa jurídica de uma empresa familiar? Selecionam-se apenas os clientes pessoa jurídica, já que são os que representam o maior percentual de faturamento da empresa investigada, a Eletro Carvalho, que atua no segmento de prestação de serviços de rebobinagem de motores elétricos. O objetivo geral é, portanto, identificar o grau de satisfação dos clientes, pessoas jurídicas da Eletro Carvalho. Em relação aos objetivos específicos, busca-se conhecer a percepção dos clientes jurídicos quanto aos serviços oferecidos pela empresa Eletro Carvalho, que presta serviços de reparo e rebobinagem de motores elétricos em Vera Cruz, município de pequeno porte que atende toda da região do Vale do Rio Pardo. Destaca-se que a investigação visa a compreender a importância do marketing de serviços para manter os clientes satisfeitos e, na medida do possível, surpreendê-los com um serviço extra-especial frente à acirrada concorrência. A Eletro Carvalho pode se destacar pelo valor de serviço agregado a estes clientes. Com base nessas metas, esta investigação prioriza três focos: o primeiro refere-se ao marketing, apresentando conceitos teóricos importantes sobre essa área de atuação, o papel do marketing de serviços e a satisfação 44 do cliente; o segundo explica o desenvolvimento da pesquisa em termos metodológicos; e o terceiro traz a análise quantitativa e qualitativa dos dados obtidos através de questionário aplicado aos clientes da empresa. 2 Fundamentos de Marketing Vocábulo comum no mundo empresarial, marketing está ligado à norma de conduta de uma empresa, que define as características de seus produtos e serviços de acordo com as necessidades latentes de seus consumidores, de acordo com a visão de Cobra (1997). É uma das possibilidades de compreensão do conceito, cujas definições são variadas e muitas delas pautadas nos conceitos da AMA – American Marketing Association, que caracterizou marketing “como o desempenho das atividades de negócios que dirigem o fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor ou utilizador” (COBRA, 1997, p. 23). Mas o mundo dos negócios obrigou uma revisão do conceito, que busca suprir a demanda de produtos e serviços. Complementado essas definições, Kotler (2000) assegura que o marketing explora a identificação e o atendimento das necessidades humanas e sociais, cuja síntese desse processo é “atender a necessidades de maneira lucrativa” (2000, p. 24). Todos os desejos dos consumidores devem ser captados como oportunidade de negócios lucrativos. Nessa mesma perspectiva, Grönroos (1993) enfatiza que o marketing deve orientar todas as pessoas, funções e departamentos de uma organização e, para ser bem sucedido, deve buscar uma forma apropriada de organizar a empresa sob o risco das promessas não serem atendidas. Kotler (2000) também aponta que o marketing não se comporta da mesma maneira, podendo assumir várias formas que levam em conta a tarefa de criar, promover e fornecer bens e serviços a clientes, tanto pessoas físicas quanto jurídicas. Na perspectiva do autor, o marketing pode ser distinguido em três estágios: marketing empreendedor, marketing profissionalizado e marketing burocrático. O marketing empreendedor, segundo Kotler (2000), refere-se a uma estratégia de marketing que não usufrui de orçamento para o marketing. É quando um indivíduo perspicaz percebe uma oportunidade e sai em busca de chamar a atenção para seu produto através de um marketing que se pode chamar de boca a boca. O marketing profissionalizado está relacionado à adoção de procedimentos de marketing mais profissionais, havendo investimento financeiro específico nesse foco. O marketing burocrático, por sua vez, é uma ênfase na análise de relatórios de pesquisa de mercado, visando 45 ao aperfeiçoamento das relações da empresa com seus distribuidores e suas mensagens publicitárias. Para obter sucesso nessas atividades, o pesquisador ainda afirma que os profissionais de marketing dispõem de técnicas para estimular a demanda pelos produtos de uma empresa e procuram influenciar o nível, a velocidade e a composição da demanda para alcançar os objetivos da organização. O autor acrescenta que nesse processo, o gerente de marketing precisa tomar decisões ligadas, por exemplo, a características de produtos, custo de propagandas e cor e texto de embalagens de produtos. 2.1 Papel do marketing na maximização de resultados de uma empresa Para a maximização dos resultados, o marketing de uma empresa pode assumir várias funções, voltando-se para fatores importantes. Na visão de Kotler (2000), os 4Ps (produto, preço, promoção e praça) são variáveis específicas que pautam as decisões de marketing. Segundo ele “Decisões de mix de marketing devem ser tomadas para que se exerça influência sobre os canais comerciais, bem como sobre os consumidores finais” (KOTLER, 2000, p. 37). Outras variáveis atendidas pelo marketing são os 4Cs (consumidor, custo para o consumidor, comunicação e conveniência), que estão pautados no cliente, e a ênfase deve focar no custo do produto para o consumidor, visando a atender as necessidades e desejos dos clientes, a comunicar os benefícios do produto ao consumidor alvo e proporcionar a este toda conveniência possível quanto a facilidades de compra e de entrega e à variedade de serviços (LAUTERBORN apud COBRA, 1997). Kotler e Keller (2006) apontam que um marketing bem sucedido deve estar respaldado em algumas ações fundamentais. Entre elas, o desenvolvimento de estratégias e planos de marketing para identificar oportunidades reais de longo prazo, considerando-se a experiência de mercado e as competências essenciais da empresa. A captura de oportunidades de marketing também é destacada pelos autores. Essa ação está ligada ao conhecimento do que acontece dentro e fora da empresa, coletando-se informações confiáveis através de pesquisa de marketing, uma ferramenta para estudar os desejos e o comportamento do consumidor, assim como o tamanho real e potencial do mercado. Além dessa ação, existe a conexão com os clientes. Para Kotler e Keller (2006), desenvolver relacionamentos de longo prazo fortes e lucrativos com os clientes faz parte dessa conexão e necessita do conhecimento sobre os mercados consumidores. 46 Na administração de marketing, o setor de serviços é um dos mais importantes, especialmente quando se considera que é neste setor que reside a maior participação do PIB (Produto Interno Bruto) nos países desenvolvidos (LIMA et al, 2007). Em função da competitividade, as empresas têm-se deparado com clientes cada vez mais exigentes e com a necessidade de um gestor atento a sinais do mercado e apto a usar ferramentas de marketing eficazes. Para dar conta dessa realidade, o foco são os clientes e os serviços oferecidos a ele. Segundo Lima et al (2007), o marketing de serviços focaliza três aspectos (clientes atuais e potenciais; funcionários, interação entre cliente-prestador de serviço) que, se bem articulados, podem trazer ótimos resultados a uma empresa. Nesse âmbito, os serviços oferecidos aos clientes devem satisfazer as necessidades dos consumidores, para que o relacionamento entre empresa e cliente seja duradouro. 2.2 Satisfação do cliente e o Marketing de Serviços Considerando que “o mercado consumidor está cada vez mais esclarecido, cônscio de suas necessidades, desejos e expectativas, à espera de ser satisfeito através de produtos e serviços” (COBRA, 1997, p. 23), identificar a satisfação dos clientes de uma empresa é um passo importante para elaborar estratégias de marketing que visem a garantir uma relação positiva entre produção e consumo. Como a concorrência tem aumentado cada vez mais, as empresas precisam ter desempenho melhor que as outras e para isso precisam “passar de uma orientação de vendas para uma orientação de marketing” (KOTLER, 200, p. 56). Para tanto, é necessário realizar um consistente trabalho ligado a atendimento e satisfação das necessidades do cliente. Para o sucesso da empresa, é necessário entregar um produto de valor ao cliente, um produto que tenha valor superior ao da concorrência (KOTLER, 2000). Os clientes avaliam qual oferta de produto ou serviço agrega maior valor, pois “Eles procuram sempre maximizar o valor, dentro dos limites impostos pelos custos envolvidos na procura e pelas limitações de conhecimento, mobilidade e receita” (KOTLER, 2009, p. 56). Além disso, o pesquisador aponta que a expectativa de valor e o atendimento ou não dessa expectativa relacionam-se diretamente com a probabilidade de satisfação e repetição de compra. A fim de maximizar o valor de seus produtos, as empresas, na visão de Kotler e Keller (2006), investem em fatores como confiabilidade, capacidade de resposta, segurança, empatia e itens tangíveis para buscar a supe47 ração das expectativas dos clientes, buscando satisfazê-los com os serviços oferecidos. 3 Metodologia da pesquisa A realização de um trabalho científico requer a definição de uma metodologia que esteja adequada aos propósitos do estudo e em especial ao problema de pesquisa que se quer investigar. Considerando isso, o estudo na Eletro Carvalho está baseado em pesquisa do tipo aplicada que, na visão de Ruiz (2002), tem as concepções teóricas como ponto de partida para buscar respostas e soluções a problemas de pesquisa. Também é utilizada a pesquisa bibliográfica, tendo em vista que conhecimentos teóricos sobre marketing são explorados para subsidiar as descrições dos dados coletados. Como a investigação concentra-se nos dados coletados de uma única empresa, o procedimento usado é o estudo de caso. Este método consiste em estudo aprofundado e com cunho descritivo e analítico. Para Yin (1981, apud GIL, 1999), o estudo de caso tem como característica a investigação de um fenômeno atual dentro do seu contexto de realidade, utilizando-se várias fontes de evidência. Este procedimento é adequado porque o presente estudo pretende descobrir as particularidades quanto ao nível de satisfação dos clientes da empresa e cotejar dados de forma detalhada, descrevendo-os de acordo com a situação contextual. Para a coleta de dados sobre o que os clientes pensam sobre os serviços e condições oferecidos pela Eletro Carvalho, faz-se necessária uma interrogação direta aos clientes, possível através do levantamento ou survey. Essa coleta de dados é realizada através de aplicação de um questionário direcionado a dez clientes da empresa, num universo de 200 (número estimado de clientes conforme dados apresentados pelo proprietário da Eletro Carvalho). Os 200 clientes estão distribuídos entre pessoas físicas e jurídicas, sendo que o foco desta abordagem são apenas os clientes jurídicos (empresas de médio e grande porte) que somam vinte empresas. A coleta de dados se dá com base em um questionário com dez questões fechadas, que consistem na apresentação ao respondente de “um conjunto de alternativas de resposta para que seja escolhida a que melhor representa sua situação ou ponto de vista” (GIL, 1999, p. 129-130). A aplicação do instrumento ocorreu na segunda quinzena do mês de julho de 2009. Os dados obtidos com a aplicação dos questionários são tabulados de forma quantitativa, uma vez que as informações colhidas serão apresentadas em gráficos, o que se restringe a uma descrição das opiniões dos clientes, sem realizar análises sobre os pareceres dos clientes acerca dos tópicos 48 questionados. A ferramenta utilizada para obtenção dos gráficos foi o software EXCEL. Concomitantemente à abordagem quantitativa, é enfatizada uma abordagem qualitativa. Esta é útil como uma ferramenta para determinar o que é importante para os clientes e por que é importante. Esse tipo de pesquisa fornece um processo a partir do qual questões-chave são identificadas e perguntas são formuladas, descobrindo-se o que importa para os clientes. 4 Análise de dados: satisfação do cliente da empresa Eletro Carvalho 4.1 Caracterização do objeto A empresa Eletro Carvalho atua na área de rebobinagem de motores elétricos desde 1989 quando foi fundada para atender a uma clientela local formada inicialmente por produtores rurais. Foi se expandindo com o passar dos anos tanto em termos de infra-estrutura física quanto em tecnologia e carteira de clientes (físicos e jurídicos, que somam cerca de 200) sem usufruir de uma forma acadêmica. Ela mantém-se com uma gestão familiar (proprietários e seus filhos exercem a maioria das funções), pois não há nenhum profissional de nível superior completo para exercer a função. Localizada em área de fácil acesso e sendo a única empresa no ramo cidade, a Eletro Carvalho investe em parcerias com fornecedores, tendo um plano de troca de fios de cobre usados por fios esmaltados, minimizando o seu custo de matéria prima. Outra parceria é com a empresa Weg, a maior empresa de motores elétricos do Brasil, da qual a Eletro Carvalho é assistente técnico no vale do Rio Pardo. 4.2 Análise dos dados pesquisados Além de manter parcerias, a organização busca a permanência de clientes e o oferecimento de serviços e produtos de qualidade e deseja conhecer o nível de satisfação de seus clientes, incentivando a realização desta pesquisa. Esta está baseada na aplicação de um questionário a dez clientes jurídicos, o que permite a quantificação das respostas dadas a cada pergunta feita, bem como uma análise qualitativa dos resultados. A primeira pergunta foi formalizada através da questão “Há quanto tempo você conhece nossos serviços?”. A maioria dos clientes, 60%, destacaram que conhecem a empresa de um a três anos, enquanto que 40% responderam conhecer a empresa há mais de três anos. Sob esse ponto de vista, as respostas dadas pelos clientes trazem indícios de que eles estão habituados com a empresa e disso pode-se concluir que ela goza de certa 49 tradição, pois suas atividades começaram há um relativo tempo (vinte anos), podendo ter condições de agregar valor aos serviços e produtos prestados. O tempo de relação da empresa com o cliente é importante. Segundo Kotler (2009) clientes mais antigos são mais rentáveis à empresa devido a estes fatores: compram mais ao longo do tempo se ficarem muito satisfeitos, o custo de seu atendimento diminui com o passar do tempo, os clientes muito satisfeitos geralmente recomendam o produto para outros clientes potenciais e são menos sensíveis ao aumento de preço. Na segunda pergunta, foi feito o seguinte questionamento: “Após a execução de um serviço de conserto ou reparo de um produto (como motor, por exemplo), você observa que o problema é...”. A maior parte dos clientes, 90%, responderam que seus problemas são totalmente resolvidos, enquanto que 10% responderam que são resolvidos parcialmente. Não houve respostas quanto a não resolução dos problemas, evidenciando que a empresa satisfaz seus clientes. O índice de satisfação totalmente satisfatório é representativo. Mostra que a empresa oferece serviços que agradam os clientes pela qualidade, atendendo a suas expectativas, e alude a uma gestão focada na qualidade dos serviços prestados, embora a terminologia Gestão da Qualidade não seja do campo usual do proprietário da empresa, que não goza de formação acadêmica, mas se preocupa em atender bem o seu cliente. Os dados levantados acerca dos serviços evidenciam a competência da empresa na resolução dos problemas dos clientes para atender uma demanda de serviço. O percentual elevado de satisfação alude à preocupação da Eletro em oferecer um serviço de qualidade, buscando fazer com que a demanda de trabalho seja suprida com eficiência no produto final (no caso, o conserto de um motor). Nesse sentido é importante observar que a capacidade de produção está em equilíbrio com a capacidade de consumo, o que é um fator positivo na orientação para o marketing, pois, se não houvesse esse equilíbrio, ações voltadas para o marketing deveriam ser implantadas a fim de sanar os problemas identificados (COBRA, 1997). O equilíbrio entre as necessidades dos clientes e o que a empresa lhes oferece é confirmado nas razões apontadas por aqueles que se dirigirem a ela, como pode ilustrar a pesquisa na pergunta seguinte. A terceira pergunta foi formalizada através da questão referente às principais razões que levam o cliente a Eletro Carvalho para solucionar seus problemas de rebobinagem ou de compra de produto. Uma parcela significativa de clientes, 50%, salientou a experiência positiva. O restante, 20% dos respondentes, destacou a boa relação qualidade/preço e única referência no ramo, e 10% deles salientaram que suas motivações estão ligadas às indicações de amigos. O gráfico 1 representa estas informações: 50 GRÁFICO 1 – Principais razões para escolher a Eletro Carvalho como fornecedor 20% Experiência positiva Indicações de amigos 50% 20% Boa relação qualidade/preço Única ref erencia no ramo 10% Além de indicar as principais razões que levam os clientes à Eletro Carvalho, a questão permite reconhecer que o mercado apresentado pela empresa quanto à prestação de serviços está relacionado à experiência do público com o trabalho oferecido pela empresa. Segundo Lima et al (2007), ao contrário do mercado de produtos em que o cliente tem a opção de experimentar e ver o produto antes de adquiri-lo, no mercado de serviços o risco é maior, pois o cliente não pode cheirar, tocar ou degustar o produto, ele só vai conhecê-lo com a utilização do serviço. A experiência com o serviço prestado torna-se, assim, uma referência para se avaliar os serviços oferecidos por uma empresa e a qualidade também se mostra como um indicador, pois “no mercado de serviços, portanto, a percepção da qualidade é fortemente influenciada pela experiência, um atributo que só pode ser avaliado depois do uso do serviço” (LIMA et al, 2007, p. 85). Quanto ao uso do serviço, os dados da pesquisa mostram que tanto os clientes questionados como terceiros (amigos) prezam pelos serviços oferecidos pela Eletro Carvalho, pois retornam a ela ou recomendam-na para outros. Tais indicações também assinalam um serviço informal de pós-venda, em que o boca a boca mostra-se presente. Para Lima et al (2007), a comunicação boca a boca é, nos serviços, um fator importante para conquistar a fidelidade do cliente. Na quarta pergunta de múltipla escolha, foi feito o seguinte questionamento: “Você recomendaria os serviços da Eletro Carvalho a amigos, colegas ou outras empresas?”. Nesta questão, todos os clientes afirmaram que recomendariam os serviços e produtos para amigos, colegas e outras empresas. Também se verifica, sob esse ponto de vista, que não há diferenciação entre produtos e serviços, uma vez que ambos seriam recomendados. Nas últimas seis questões, o foco estava pautado na percepção do cliente quanto a estas variáveis relacionadas aos produtos e serviços da empresa: qualidade, preço, experiência na hora da compra, pós-vendas, opções de pagamento e atendimento. Para essas variáveis foram apresentadas cinco opções de resposta (muito satisfeito, de alguma forma satisfeito, nem satisfeito nem insatisfeito, insatisfeito e muito insatisfeito), mas em todos os 51 aspectos não houve informação relativa à insatisfação, como mostra o gráfico 2, que sintetiza os dados dessas questões. GRÁFICO 2 - Percepção dos clientes 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Muito Satisfeito De alguma Forma Satifeito Atendimento Opções de pagamento Pós vendas Experiência na Hora da Compra Preço Qualidade Nem Satisfeito nem Insatisfeito A quinta pergunta englobou a qualidade dos produtos e serviços da Eletro Carvalho. A maior parte dos clientes, compreendendo 80%, responderam que o nível de satisfação é muito bom, enquanto que 20% responderam que estão de alguma forma satisfeito. Os clientes também foram questionados, na sexta pergunta, em relação ao preço dos produtos e serviços da Eletro Carvalho. A maioria deles, 40%, respondeu que está muito satisfeita em relação ao preço dos produtos e serviços, ao passo que uma parcela equivalente a 30% respondeu que está de alguma forma satisfeito e outros 30% apontaram que não estão nem satisfeitos nem insatisfeitos. A pesquisa mostrou que não há clientes de alguma forma insatisfeito ou muito insatisfeito, o que pode ser visualizado no gráfico 2. No questionamento referente ao nível de satisfação em relação a experiência na hora da compra dos produtos e serviços da empresa, a maioria dos clientes, 80%, responderam que estão muito satisfeitos em relação à experiência na hora da compra dos produtos e serviços, já 20% responderam que de alguma forma estão satisfeitos. A oitava pergunta foi formalizada através da questão “Qual o nível de satisfação em relação ao pós-venda dos produtos e serviços da Eletro Carvalho?”. A maioria dos clientes, 60%, responderam que estão muito satisfeito em relação ao pós-venda dos produtos e serviços, enquanto que 30% responderam que não estão nem satisfeitos nem insatisfeitos; já 10% responderam que de alguma forma estão satisfeito. A penúltima pergunta do instrumento focalizou o quesito pagamento e foi apresentada através da questão “Qual o nível de satisfação em relação as condições de pagamento dos produtos e serviços da Eletro Carvalho?”. Observa – se que 70%, responderam que estão muito satisfeitos em relação 52 às condições de pagamento dos produtos e serviços, enquanto que 20% responderam que de alguma forma estão satisfeitos e 10% responderam que não estão nem satisfeitos nem insatisfeitos. Na décima pergunta de múltipla escolha, foi feito o seguinte questionamento: “Qual o nível de satisfação em relação ao atendimento dos produtos e serviços da empresa Eletro Carvalho?”. A maior parte dos clientes, 80%, responderam que estão de alguma forma satisfeitos em relação ao atendimento dos produtos e serviços, já 20% responderam que não estão nem satisfeitos nem insatisfeitos. Os dados positivos da pesquisa permitem algumas reflexões que sinalizam uma perspectiva empreendedora da gestão da empresa que, mesmo não tendo formação específica, consegue articular uma estratégia de serviço que consegue agradar os clientes. O marketing empreendedor, segundo Kotler (2000), refere-se a uma estratégia de marketing que não usufrui de orçamento para o marketing. É quando um indivíduo perspicaz percebe uma oportunidade e sai em busca de chamar a atenção para seu produto através de um marketing que se pode chamar de boca a boca. Envolve o que o autor chama de criatividade e “paixão das empresas ‘guerrilheiras’” (KOTLER, 2000, p. 25). Kotler e Armstrong (1999) destacam que a satisfação está ligada ao desempenho do produto com relação ao valor percebido pelo comprador. Nessa perspectiva, o desempenho do serviço pode satisfazer (quando atinge o que os clientes esperam) ou encantar (quando supera as expectativas dos clientes). Levando em consideração esse conceito, pode-se apontar que os clientes da Eletro Carvalho estão satisfeitos com os preços, condições de pagamento, qualidade dos serviços, etc, mas não estão encantados. Encantar os clientes pode ser uma das metas da empresa a partir dos dados levantados nesta pesquisa. Embora os resultados obtidos sejam altamente positivos, a empresa pode investir em ações que surpreendam seus clientes, ou seja, fazer mais do que eles esperam que ela ofereça. E nesse ótica ela pode passar de um marketing empreendedor, segundo o conceito de Kotler (2000), para um marketing mais avançado, no caso o profissional. 5 Considerações finais O desenvolvimento desta pesquisa na área de marketing permite algumas considerações. Em relação ao objetivo geral da pesquisa, que era o de identificar o nível de satisfação dos clientes, destaca-se que foi totalmente alcançado, tendo em vista que a aplicação do questionário para coleta de dados junto a clientes jurídicos da empresa foi possível. Os objetivos específicos, voltados ao conhecimento da percepção dos clientes sobre a Eletro 53 Carvalho e à compreensão do marketing de serviços como forma de satisfazer e surpreender clientes, também foram alcançados à medida que o estudo identificou a perspectiva dos clientes sobre diversas variáveis e avaliou tais dados sob o ponto de vista de marketing, garantindo maior domínio sobre o tema da pesquisa. Deve-se salientar que houve certa dificuldade na obtenção de retorno dos entrevistados, já que na primeira tentativa, quando foram enviados os instrumentos via e-mail, poucos responderam, obrigando o pesquisador a utilizar outra técnica: a de realizar a pesquisa através de contato telefônico, ocasionando maior tempo para aplicação. Como possível sugestão para a dificuldade relatada, os pesquisadores poderiam incentivar a participação de seu público-alvo, oferecendo-lhe vantagens, como a de participar de um sorteio ou ganhar bônus na compra de um produto ou na contratação de um serviço. Isso poderia ser não apenas uma estratégia de pesquisa, mas também uma estratégia de marketing de relacionamento, pois a pesquisa estaria surpreendendo o consumidor, ou seja, fazendo algo a mais do que ele espera pelo tempo despendido. Também é importante frisar que a realização deste estudo proporcionou à empresa uma perspectiva nova de investigar questões relevantes acerca do relacionamento e dos serviços que presta a seus clientes. Sendo a primeira investigação de cunho científico desenvolvida sobre a Eletro Carvalho, os resultados evidenciaram um alto nível de satisfação dos clientes com os serviços, produtos e condições oferecidos pela empresa e mostraram que, mesmo sem uma gerência de um profissional habilitado na área de Administração e/ou marketing, a gestão mostra visão de mercado e foco em relacionamento eficaz com seu público, o que pode assinalar a ela permanência no contexto em que atua. É preciso salientar ainda que os dados obtidos referem-se a uma parcela dos clientes da empresa. Foram investigados apenas os clientes jurídicos (50% deles), que são os que geram maior capital financeiro à empresa. Mas resta um relativa parcela (clientes pessoa física, que somam cerca de 180) para serem ouvidos. Essa é uma possibilidade de estudos futuros que poderá apresentar novos dados à empresa. Além disso, outro desdobramento desta investigação é averiguar se há diferenças entre o marketing para os clientes pessoa física e para as jurídicas. Existem distinções? Como a empresa deve abordar seu plano, considerando os perfis de seus clientes? São questões para próximas investigações. Ainda se pode apontar que, para estudos futuros, seria interessante discutir uma estratégia de marketing de serviços que busque a expansão da empresa, isto é, a manutenção dos clientes atuais e captação de novos, o 54 que garantiria à Eletro Carvalho maior projeção no mercado local e regional. Isso obviamente dependeria dos interesses da gestão empresarial que no momento não demonstra desejo de investimento em outros nichos. 6 Referências COBRA, M. Administração de marketing. São Paulo: Atlas, 1997. _______. Marketing básico. São Paulo: Atlas, 2007. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GRÖNROOS, C. Marketing: gerenciamento e serviços. Rio de Janeiro: Campus, 1993. KOTLER, P. Administração de marketing: a edição do novo milênio. São Paulo: Prentice Hall, 2000. _______. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. São Paulo: Ediouro, 2009. _______; KELLER, K. L. Administração de marketing: a bíblia do marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2006. ______; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 7. ed. São Paulo: Prentice Hall, 1999. LIMA, M. et al. Gestão de marketing. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. RUIZ, J. Á. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 55 56 INDICADORES MOTIVACIONAIS DE FUNCIONÁRIOS DE PRODUÇÃO: UM ESTUDO MULTICASO Diego de Almeida Teixeira¹ Edgar Reyes Junior² RESUMO A motivação é importante para a satisfação no trabalho. Este estudo trata da análise de indicadores motivacionais, bem como seu papel na identificação de necessidades dos colaboradores no ambiente organizacional. O estudo descritivo fez a validação quantitativa de instrumento de pesquisa na dimensão Perfil e Ambiência Organizacional. Foram realizados dois estudos de caso censitários com os funcionários no setor de expedição de duas empresas alimentícias, totalizando 121 respondentes. Os resultados deste estudo orientam no sentido de dar maior importância aos indicadores motivacionais no intuito de aumentar o grau de satisfação. Constatou-se especificamente que há grande necessidade de implantações de técnicas para reverter à situação de insatisfação instalada nas organizações observadas. Palavras- chave: Motivação, Ambiência, Satisfação ABSTRACT Motivation is important for job satisfaction. This study deals with the analysis of motivational indicators, as well as its role in identifying needs of employees in the organizational environment. The descriptive study was to validate quantitative survey instrument in the size profile and Organizational ambience. There were two case studies with census officials in the dispatch of two food companies, totalizando121 respondents. The results of this study guide to give greater importance to the motivational indicators in order to increase the degree of satisfaction. It was specifically that there is great need for deployment of techniques to reverse the situation of dissatisfaction installed in organizations observed. Key-words: Motivation, Ambience, Satisfaction 1 Graduando em Administração da Faculdade Dom Alberto. 2 Orientador, doutorando em Administração da UNISINOS,professor da Faculdade Dom Alberto. 57 1 Introdução Quando se fala em motivação, logo se faz a associação com a necessidade de ter algo, adquirir algum benefício de realizar um sonho, mas será que é apenas isso? Entretanto chegar ao melhor entendimento possível a respeito é muito complexo e situacional. Existem muitas teorias que se complementam ou divergem-se entre si sobre esse assunto, mas todas possuem uma contribuição para cada caso e situação vivenciada. Sabe-se que todos os indivíduos são diferentes: no modo de pensar, de agir, de se portar diante de distintas situações e até mesmo de controlar as emoções e etc. Por conta desse aspecto, o que para alguns a necessidade de sobrevivência gera um alto nível de motivação, para outros simplesmente é algo básico de necessidade (SPECTOR, 2006). Com esta visão a proposta dessa pesquisa é mostrar fatores, causas que motivam os colaboradores através dos indicadores organizacionais dentro dos setores de produção das empresas analisadas. A partir desse contexto formulou-se o problema de estudo: Os colaboradores estão satisfeitos com os aspectos motivacionais que a empresa esta adotando dentro de seu ambiente organizacional? O objetivo geral do estudo é analisar, através do Perfil e Ambiência Organizacional, se os trabalhadores de produção estão satisfeitos e motivados, identificando estes fatores em diferentes contextos. Para tal são considerados seguintes objetivos específicos: validar instrumento de pesquisa; analisar os indicadores em diferentes empresas na abordagem da motivação; e identificar o grau motivacional que os colaboradores têm em relação aos métodos utilizados pelas organizações. Com o propósito de melhor entendimento a respeito do contexto, em seguida inicia-se a revisão de literatura com bases teóricas a respeito, posteriormente a metodologia e análises dos dados e por fim as considerações finais do estudo. 2 Revisão Literária 2.1 Motivação A Motivação varia de pessoa para pessoa, alguns se sentem motivados outros não. Isso depende muito da maneira de cada indivíduo se portar no trabalho, em casa e de modo geral no seu dia-dia. O fator motivacional vem sendo estudado há mais de séculos, sendo assim o comportamento humano realmente é algo de difícil entendimento. No entanto, como existem diferenças de indivíduo para indivíduo, existe também a mudança na mesma 58 pessoa, isso ocorre de acordo com variáveis que possam surgir ao longo do tempo (SPECTOR, 2006). Nas palavras de Chiavenato (2004, p. 64) “o comportamento é causado por estímulos internos e externos, ele é motivado, ou seja, há uma finalidade em todo comportamento humano que é orientado para objetivos”. 2.2 Teorias da Motivação A teoria de Maslow diz respeito às necessidades físicas, sociais e psicológicas, dando ênfase ao interior do indivíduo, propondo que sua motivação é algo que vem de dentro. Maslow desenvolveu uma pirâmide para explicar o comportamento humano em ordem de importância, assim os fatores de necessidades, no nível mais baixo e fatores sociais e psicológicos, no nível mais alto (SPECTOR, 2006). Ele separou as necessidades em cinco níveis: primeiro as necessidades fisiológicas como (fome, sede, sono, abrigo e desejo sexual); o segundo compreende necessidades de segurança, proteção, sobrevivência e estabilidade no trabalho o terceiro engloba necessidades sociais, relacionamento com outros indivíduos do mesmo escalão social, aceitação e participação em um determinado grupo; o quarto aponta necessidades de estima, autoconfiança, reconhecimento e prestigio e por último as necessidades de auto-realização, desenvolvimento auto suficiente de seu potencial, seu próprio controle, autonomia e independência. Este por sua vez seria o último nível motivacional o topo, o mais importante segundo Maslow (GIL, 2001). Desta forma a teoria da Hierarquia de Maslow, passa a definição que uma vez que uma necessidade é satisfeita o indivíduo vai à busca de outra, ou seja, por mais que a pessoa esteja satisfeita com o alcance de tal necessidade ela sempre vai querer mais (GIL, 2001). Por sua vez a teoria dos dois fatores de Herzberg advém com a necessidade dos fatores higiênicos e fatores de motivação. Ela tem seu foco direcionado ao meio externo no trabalho do indivíduo. Através dos fatores higiênicos e motivacionais, Herzberg direciona sua teoria para o ambiente de trabalho, em que os fatores higiênicos não teriam caráter motivacional, uma vez que condições físicas, ambientais, benefícios, regulamentos internos e salários não seriam fatores que pudessem motivar o colaborador da empresa (SPECTOR, 2006). Já os fatores motivacionais referem-se às tarefas relacionadas com o cargo, reconhecimento por resultados expressivos e oportunidade de promoção, estes sim seriam fatores que produziriam efeitos de satisfação duradouros para o teorista (CHIAVENATO, 2004). No entanto seria de raciocínio lógico que, quando uma meta fosse 59 atingida, logo traria o sentimento de satisfação e, se não atingida, traria um anseio de insatisfação. Mas na análise dos resultados da pesquisa de Herzberg isso não ocorre, pois os objetivos almejados variam de acordo com cada categoria de cargos, também varia com a importância dada aos mesmos (BERGAMINI, 2006). Por sua vez a teoria de McGregor dá ênfase ao homem, tendo como referência a teoria de Maslow, ele formulou a teoria X e Y. A teoria X, os indivíduos não se interessavam pelo trabalho, que não tinha nenhuma importância para sua vida. Se possível, jamais trabalhariam na empresa. Os indivíduos sempre estariam sendo controlados e dirigidos a fazerem as tarefas, eles não tinham iniciativa alguma, não possuíam responsabilidades alguma e nem queriam ter, não tinham ambição e se preocupavam apenas com seus interesses e bem estar (BERGAMINI, 2006). Conforme a teoria Y, o trabalho tinha caráter de ser satisfatório ou de sofrimento; a questão de controlar e dirigir já era vista com outros olhos, uma vez que o indivíduo se compromete e possui seu autocontrole para o desenvolvimento das tarefas dando ênfase a descentralização do poder; as bonificações possuem ligação com os objetivos alcançados e metas traçadas e o indivíduo tem característica de pró-ativo, com idéias e imaginação para o bem comum da empresa onde agora eles recebem e vão à busca de responsabilidades (BERGAMINI, 2006). 2.3 Indicadores de Motivação Os indicadores de motivação são atributos relacionados ao ambiente interno da organização e servem para mensuração do nível de satisfação dos colaboradores, ou seja, possuem um papel determinante dentro do contexto organizacional, assim são eles: treinamento; recompensa; liderança; remuneração; higiene e segurança; comunicação ou feedback; benefícios; espírito de equipe; e a relação com o trabalho. O treinamento tem por objetivo capacitar o colaborador para desenvolver certa atividade, não somente isto, mas também contribuir para a realização das metas gerais da empresa. Para Bohlander (2005, p. 134) “o treinamento tem a razão básica de levar os funcionários ao nível exigido de satisfação de seus conhecimentos, habilidades e atitudes para alcançar um nível satisfatório”. Nos tempos modernos, recompensa por um ótimo trabalho desenvolvido acaba se transformando algo muito expressivo em relação ao comprometimento e desempenho do colaborador. Na idéia de Bernadi (2003, p. 129) “as recompensas precisam ser algo que qualquer funcionário possa realmente obter com a melhoria de seu trabalho não apenas um sonho que poucos 60 conseguem realizar”. Outro indicador de extrema relevância dentro do contexto organizacional é o fator liderança, que tinha como símbolo um chefe extremamente rígido. Com o passar do tempo, a mentalidade foi tomando formas diferentes e hoje a liderança já não tem as mesmas características. Entretanto mesmo usando métodos para que seus colaboradores desenvolvam suas tarefas, não transportariam a idéia de que esses gerentes e chefes seriam líderes (GIL, 2001). Então liderança é a capacidade de influenciar as pessoas de maneira que ultrapassem seus objetivos por sua própria vontade. Lideres são pessoas que passam um caráter admirador pelos seus subordinados exemplos: sabem reconhecer um bom trabalho, sabem ouvir, sabem dar importância a idéias de seus funcionários, ou seja, aquela pessoa que prioriza muito a opinião (FIORELLI, 2004). Em relação ao papel da remuneração que se volta para a motivação contínua dos colaboradores, busca-se a associação dos objetivos individuais com os da organização. Assim os incentivos que antes faziam jus apenas por uma função ou tarefa executada, nos dias modernos o pensamento que se constrói em torno da remuneração possui base para que possa existir contribuição para com os objetivos da empresa, através de inúmeros tipos de remuneração, como: a remuneração fixa; variável; por habilidade e por competência (BERGAMINI, 2006). Ainda de acordo com Chiavenato (2004, p. 325) “os novos sistemas incluem planos de remuneração flexível por meio de alcance de metas e objetivos estabelecidos consensualmente por remuneração individual e por equipe”. Por sua vez a variável qualidade de vida implica na higiene e segurança no trabalho, estas duas atividades possuem um alto grau de relacionamento, a modo de garantir condições e materiais para o desenvolvimento da melhor maneira possível do trabalho proposto (SPECTOR, 2006). Ainda conforme Spector (2006) a higiene refere-se ao conjunto de normas e processos que visem à integridade física e mental do colaborador. Abordando a questão da comunicação, fator de tanta importância dentro das empresas. Chiavenato (2004) enfatiza que as organizações de hoje, não tratam essa situação de passar a informação com profissionalismo e clareza do qual o assunto exige, deste modo acarretam inúmeros problemas como: o funcionamento da empresa não fica claro, os objetivos em comum se destorcem muitas vezes, as incertezas acabam contagiando o ambiente, muitas decisões são tomadas sem que todas as partes fiquem informadas, portanto o ambiente acaba sendo influenciado por maus entendidos e boatos que tende a se disseminar dentro da organização. 61 Referente aos benefícios, Chiavenato (2002, p. 271) “enfatiza que os benefícios sociais são aquelas facilidades, conveniências, vantagens e serviços que as organizações oferecem aos seus empregados, no sentido de poupar-lhes esforços e preocupação”. Os benefícios oferecidos pelas empresas podem ser subdivididos em: benefícios compulsórios ou legais e benefícios espontâneos. Os benefícios compulsórios são aqueles que a empresa concede aos seus empregados em atendimento às exigências da lei ou de normas legais como acordos ou convenções coletivas de trabalho. E o indicador espírito de equipe tem por função fazer com que todos trabalhem unidos, em busca de qualidade e do objetivo comum. Esse objetivo comum é mais fácil de ser alcançado quando as equipes são autogerenciáveis, esse autogerenciamento proporciona independência, flexibilidade, autonomia e poder de decisão às equipes. Isso faz com que as equipes tenham mais agilidade e rapidez para a realização das tarefas, pois todos os problemas e discussões são solucionados dentro da própria equipe, sem interferência externa (CHIAVENATO, 2004). 3 Metodologia O estudo contou com o método descritivo por se tratar de uma caracterização através das dimensões de Perfil e Ambiência Organizacional, sendo estes fatores analisados através de variáveis dentro da população analisada. Para Gil (1999, p. 44) “as pesquisas descritivas tem o objetivo primordial de descrever as características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimentos de relações entre variáveis”. O estudo adotou o método de estudo de casos múltiplos devido aos diagnósticos elaborados entre as empresas pesquisadas através da validação do instrumento de Souza (2001), no intuito de identificar e analisar as organizações estudadas. A pesquisa é quantitativa, pois para Collis e Hussey (2005, p. 58) “a pesquisa de caráter quantitativa, possui o raciocínio de modo que precisão, objetividade e rigor substituam palpites, experiência e intuição como maneira de investigar problema”. Os dados foram coletados através de um levantamento (Survey), com perguntas fechadas, abrangendo as dimensões Perfil e Ambiência Organizacional. A dimensão Perfil visa a conhecer a percepção e atitudes em relação a características e trabalho executado também tem seu papel valioso para a análise do contexto, tendo algumas variáveis como: escolaridade, idade, relacionamento com os colegas, relacionamento com o chefe e tempo de serviço. Por Ambiência Organizacional compreende-se a identificação do nível de satisfação dos empregados em relação às praticas de gestão avaliando o 62 clima organizacional na empresa. A pesquisa analisou a totalidade dos funcionários de produção, dos setores de expedição das mesmas, sendo da empresa “A”, 82 funcionários e da Empresa “B”, 39 funcionários, caracterizando um estudo censitário, formando uma conjunção com os resultados obtidos por Souza (2001), que analisou 70 funcionários de uma empresa, neste estudo denominada C. A empresa “A”, com mais de 20 anos de existência, é um frigorífico com 155 funcionários diretos e 35 indiretos, atendendo basicamente o mercado local e regional. A empresa “B” com mais de 25 anos produz biscoitos doces e salgados e massas alimentícias contando um mix de mais 70 produtos atuando no mercado nacional e com exportações, contando com 200 colaboradores diretos. E a organização “C” na época, ocupava a 13ª maior companhia de petróleo do mundo com 11 refinarias no Brasil, duas na Bolívia e uma na Argentina, Desta empresa foi analisada uma refinaria com 586 empregados trabalhando em turnos ininterruptos de revezamento. 4 Análise dos dados O Perfil esta subdividido em dois grupos: o primeiro que faz relação com o sócio demográfico através da escolaridade, e o segundo que faz menção à organização por meio do relacionamento com os colegas, com os lideres e com o tempo de serviço. O gráfico 1 discorre sobre o nível de ensino dos colaboradores das empresas pesquisadas, onde se constata que a empresa A apresenta sua maior concentração no nível escolar de ensino fundamental (1ª a 8ª série) com 71%; a empresa B constitui de colaboradores com um maior grau de instrução enquadrando 54% da totalidade no nível de ensino médio (1º a 3º grau); por sua vez a empresa C, analisada por Souza (2001) divide seu nível educacional praticamente entre ensino médio e ensino superior respectivamente com índices de 46% e 40%. GRÁFICO 1 - Escolaridade 63 A questão da remuneração e reconhecimento de certa forma está ligada com a questão da escolaridade. Isso pode nos levar a pensar que quanto maior o nível de instrução maior será a decorrência de aumentar os ganhos, conseqüentemente o aumento no nível motivacional. Assim os funcionários percebem o valor atribuído ao seu grau de instrução através da remuneração e reconhecimento, onde eles comparam com outros indivíduos em classe semelhantes tanto internamente e externamente, onde se houver valores maiores para aqueles que possuem um maior grau de instrução a situação é justa, agora se acontecer ao contrário isto pode ocasionar o sentimento de frustração (BOHLANDER, 2005). O gráfico 2 menciona o relacionamento com os colegas. A empresa A apresentou uma porcentagem boa com 85%, a empresa B obteve um índice muito bom também com 92% de satisfação, por suma a empresa C apresentou um percentual de 95%. GRÁFICO 2 - Relacionamento com os colegas Este aspecto reporta a visão que, se tratando do ambiente em relação ao que compete aos subordinados, a situação é otima, mostrando que os mesmos conseguem contextualizar o interpessoal como um ponto forte dentro das organizações, fato que pode ajudar os gestores a motivar seus subordinados com mais facilidade. Gil (2001) acredita que os gestores devem apreciar todos de forma equivalente sem preferidos, fazendo com que todos obtenham as mesmas chances dentro do padrão que se encontrem fazendo com que haja um ambiente agradável e sem preferências. O gráfico 3 menciona o relacionamento com o chefe, a empresa A apresentou uma porcentagem boa com 81%, a empresa B obteve um índice bem inferior apenas com índice de 51%, e a empresa C apresentou um percentual de 85%. 64 GRÁFICO 3- Relacionamento com chefe Pode-se observar que o relacionamento com os lideres, dentro do ambiente organizacional, faz a diferença em várias situações, seja ela favorável ou desfavorável, e quanto mais essa relação alcançar a sincronia melhor e maior será o nível de satisfação. A teoria X de McGregor enfatiza que o homem não está preocupado com o trabalho e nem faz força para que isso aconteça, não tinham iniciativa alguma, já a teoria Y os colaboradores eram pró-ativos o trabalho era descentralizado (BERGAMINI, 2006). Essa é uma idéia que ajuda a entender o porquê de duas empresas estarem com índices ótimos e uma com índice regular. Na variável tempo de serviço, o gráfico 4 mostra que a empresa A e B possuem seus maiores índices de 0 á 5 anos respectivamente com 42% e 54%; por sua vez a empresa C concentra-se num período de tempo de mais de 16 anos com um percentual de 38%. GRÁFICO 4 - Tempo de serviço Observa-se que a empresa A e B apresentam seus maiores índices de 0 a 5 anos de serviço, fato que pode estar ligado com a insatisfação dos métodos utilizados pela empresa ou pelo fato de os objetivos individuais não estarem batendo com os da organização. Segundo Gil (2001), o fator que mais contribui para que o número de rotatividade aumente dentro das organizações é a insatisfação dos funcionários com os métodos motivacionais das empresas, juntamente com a questão da disparidade dos objetivos individuais com os organizacionais. 65 Em seguida faz-se a análise da dimensão Ambiência Organizacional para melhor interpretação dos dados. 4.2.2 Ambiência Pode-se verificar que a empresa A foi a que obteve menor índice de totalidade dos indicadores com um percentual de 36,71% de satisfação, por suma a empresa B apresentou um resultado mais significativo alcançado um percentual de 55,04%, aproximando do nível de satisfação que a empresa C apresenta de 56,46%. O quadro 1 mostra os percentuais de cada indicador e seu grau de importância dentro da análise geral. QUADRO 1 - Resultado da pesquisa de Ambiência Variáveis ÍNDICE DE SATISFAÇÃO DE INDICADORES EMPRESA A BENEFÍCIOS 4,26 EMPRESA B 38,50 EMPRESA C 60,84 COMUNICAÇÃO 9,75 32,50 52,64 TREINAMENTO 10,97 75,60 53,73 RECONHECIMENTO 20,32 47,00 39,82 REMUNERAÇÃO 27,44 53,00 44,23 RELAÇÃO COM O TRABALHO 45,93 29,10 72,72 ESPIRITO DE EQUIPE 57,61 62,40 65,38 LIDERANÇA 75,52 78,90 56,70 HIGIENE E SEGURANÇA ÍNDICE TOTAL 78,61 36,71% 78,40 62,84 55,04% 56,46% A empresa A obteve seus menores índices nas variáveis benefícios (4,26%), comunicação (9,75%) e treinamento (10,97%), já a empresa B aparece também benefícios (38,50%) e comunicação (32,50%) na relação de menores índices, juntamente com o fator de relação com o trabalho (29,10%), por sua vez a empresa C obteve menores índices nas variáveis, reconhecimento (39,82%), remuneração (44,23%) e comunicação (52,64%). Fator preponderante nas três empresas independente das variáveis mensuradas no perfil das empresas, ocasionando um nível de satisfação baixo é o indicador comunicação. Pressupõe-se que, embora o relacionamento com os chefes seja satisfatório como menciona a dimensão de perfil, a questão do nível escolar possa ter influência direta na empresa A em virtude da interpretação e clareza 66 da informação, ou seja, os gestores devem ter o cuidado de adaptar as informações de acordo com o nível de interpretação de seus subordinados. Na empresa B pode-se levar em consideração a questão do relacionamento com os chefes. A pesquisa sobre perfil informa que pouco mais da classe de colaboradores se faz por satisfeito, efeito que pode ocasionar distorção da informação dentro do ambiente da empresa. E a empresa C enfatiza que as distâncias dos postos de trabalham prejudicam a comunicação entre gestores e subordinados, juntamente com a questão dos ruídos (barulho), dentro da linha de produção. Bernadi (2003) trata do fator comunicação como indicador importante dentro do ambiente organizacional, entretanto com inúmeros exemplos de insucessos de empresas, pelo fato de não obterem um feedback satisfatório nos seus processos interno e externo cada vez mais se fazem presentes índices insatisfatórios dentro das organizações. Em relação aos maiores índices da pesquisa de Ambiência, a empresa A apresentou espírito de equipe (57,61%), liderança (75,52%) e higiene e segurança (78,61%); a empresa B, os fatores foram treinamento (75,60%), liderança (75,52%) e higiene e segurança (78,61); e a empresa C analisa da por Souza (2001) obteve seus maiores índices nas variáveis higiene e segurança (62,84%), espírito de equipe (65,38%) e relação com o trabalho (72,72%). O fator higiene e segurança do trabalho estão presentes nas duas empresas pesquisadas com indicadores bons de satisfação mediante a necessidades dos colaboradores, juntamente com a terceira empresa. Reportando-se à idéia de que esse índice faz valer em virtude das empresas possuírem fiscalizações rígidas e por se tratar de ambientes que envolvam risco a saúde, portanto os colaboradores não encaram este ponto como um fator motivacional, ou seja, que os leve a suprir suas necessidades motivacionais, apenas encaram este fator como sendo de obrigação da empresa proporcionar um ambiente seguro. Fator que Herzberg, com a teoria dos dois fatores, já enfatizava há décadas atrás, na qual ele defendia a idéia de que a questão do ambiente em relação à higiene não motivaria o indivíduo, pois apenas evitaria sua insatisfação (CHIAVENATO, 2004). 5 Considerações Finais Este trabalho teve a finalidade de identificar os indicadores motivacionais comuns em diferentes contextos, buscando mostrar a realidade de cada instituição independentemente da escolaridade, relacionamento com os colegas e chefes e o tempo de serviço dos colaboradores envolvidos. 67 Em relação à análise das organizações, pode-se dizer que, mesmo em culturas organizacionais diferentes, a questão do Perfil e Ambiência Organizacional mostram que as organizações não estão dando a devida importância a seus colaboradores, fator que faz a diferença num mercado tão competitivo e equivalente nos dias modernos. Logo, apresentando um nível insatisfatório dos aspectos motivacionais utilizados dentro das organizações analisadas, a empresa A apresenta seus menores índices de satisfação nas variáveis Benefícios, Comunicação, Treinamento, Reconhecimento e Remuneração. Diante deste cenário algumas medidas poderiam ser tomadas, em relação aos benefícios: disponibilizar planos de saúde, participação nos resultados, vale transporte, vale farmácia e assistência financeira (empréstimo). Referente à comunicação, a forma com que são passadas as informações dentro da empresa deve ser mais clara através de canais, como reuniões semanais. Além disso, deve-se adaptar a informação ao entendimento de todos para que estes saibam das metas e objetivos da empresa. O treinamento deve ser desenvolvido por órgãos profissionais capazes de qualificar o funcionário a exercer as atividades. O fator recompensa pode ser disponibilizado através de produção individual e coletiva, promoção de cargos e até mesmo um simples elogio pelo trabalho desenvolvido de maneira satisfatória. Isso incentiva aqueles que se dispusessem a voltar a estudar, talvez fosse uma contribuição valiosa não somente para o colaborador, mas também para organização, onde os mesmos pudessem vislumbrar chances de crescimento e desenvolvimento dentro da organização. A empresa B apresenta problemas maiores na Relação com o trabalho, Comunicação e Benefícios. Nesse sentido, a empresa deve realocar os colaboradores de acordo com suas especificidades e explicando o porquê da mudança, não simplesmente trocar o funcionário de setor sem prévia explicação do acontecimento. Já a comunicação deve ser mais aberta para que todas as classes estejam por dentro dos acontecimentos da organização, através de reuniões de setores e cartazes nos corredores. Isso é importante para que a disseminação da informação chegue até o chão de fábrica onde podem ocorrer soluções para grande parte dos problemas. Em relação aos benefícios, a empresa pode disponibilizar planos de saúde ou até mesmo disponibilizar a quantia gasta com os benefícios em dinheiro, dependendo da vontade de cada colaborador em adquirir o benefício, vale-farmácia ou até mesmo uma porcentagem nos resultados da empresa de acordo com o desempenho do colaborador no período. A empresa C, analisada por Souza (2001), apresenta seus menores 68 índices nos itens reconhecimento, comunicação e treinamento. Assim métodos que podem ser úteis, segundo Souza (2001), são: prever algum tipo de compensação por esforço próprio, prever algum tipo de compensação para empregados que estejam no final da faixa de salário, mostrar a faixa de salário que esta sendo implantado no mercado para que os colaboradores fiquem a par da situação em que se encontram outra forma que contribuiria muito para o reconhecimento, seria premiar os colaboradores de mais tempo de empresa com bonificações. Em relação ao treinamento, poderia disponibilizar programas de qualificação para todos os funcionários, disponibilizar recursos para participação dos colaboradores em curso de reciclagem e etc. E quanto à comunicação, poderia fazer com que instrumentos de comunicação estivessem de acordo com a necessidade dos colaboradores, ou seja, passar a informação em momentos estratégicos quando não houvesse muito barulho. Diante das análises e conclusões, as empresas devem modificar e implantar métodos motivacionais de acordo com as necessidades de seus colaboradores para que aconteçam modificações positivas no nível motivacional. Visto que não importa o mercado, colocação mundial e tamanho da organização, os indicadores motivacionais dentro da análise são os mesmos e cada empresa dentro da sua particularidade possui falhas. Desta forma é importante salientar que as organizações busquem implantar as soluções cabíveis para uma melhor performance motivacional, assim conseqüentemente aumentando o nível de satisfação de seus colaboradores. Finalizando a pesquisa, recomenda-se que outros estudos sejam feitos em decorrência do assunto para que posteriormente sejam feitas outras análises sobre a sobre a situação investigada. 6 Referências BERGAMINI, C. W. Psicologia à administração de empresas: psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006. BERNARDI, M. A. A Melhor Empresa: Como as empresas de sucesso atraem e mantém quem faz a diferença. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. BOHLANDER, G. W. Administração de recursos humanos. São Paulo: Thomson Learning, 2005 CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2004. 69 ______. Visão e Ação Estratégica. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. COLLIS, J; HUSSEY, R; Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. FIORELLI, J. O. Psicologia para administradores: integrando teoria a pratica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. GIL, A. C. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001. ______. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. SOUZA, E. B. Motivação para o trabalho: um estudo de caso para operadores da Petrobras Refinaria Presidente Getulio Vargas. 2001. 98 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Curso de PósGraduação em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. SPECTOR, P. E. Psicologia nas Organizações. 2. ed. São Paulo. Saraiva, 2006. 70 SPT E SIG: UM DIAGNÓSTICO DA PERCEPÇÃO DOS GESTORES EM RELAÇÃO AOS BENEFÍCIOS PROPORCIONADOS NA GESTÃO DE EMPRESAS DE COMERCIALIZAÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO Diego Neutzling Kumm¹ Tâmara Silvana Menuzzi Divério² RESUMO A atual conjuntura mercadológica aliada ao ambiente de concorrência global tem demandado cada vez mais das organizações a utilização de informações em suas tomadas de decisão e formulação de estratégias. Com isso, a adoção de um sistema de informação (SI) pode agregar um grande valor na gestão empresarial. Portanto neste estudo, buscou-se avaliar qual a percepção dos gestores em relação aos benefícios proporcionados pela utilização de Sistemas de Informação na administração de empresas de materiais de construção de Santa Cruz do Sul coligadas a instituição Alfa. Para tanto aplicou-se um questionário com perguntas fechadas em 25 empresas do ramo. Os resultados da pesquisa evidenciam que é possível encontrar SI implantados na maioria das empresas, porém, poucas dessas empregam essas ferramentas para subsidiar os gestores com informações, limitando-as apenas ao apoio das atividades rotineiras. Todavia, constatou-se um grande interesse dos administradores, na realização de capacitações e investimentos em médio prazo em relação aos SI. Palavras-chave: Sistemas de informação, estratégia, competitividade ABSTRACT The current economic market interests ally to the environment of global competitiveness has demanded each more of the organizations the use of information in their taken of decision and estrategy’s formulation. With that, the adoption of a System Information (SI) can add a big value in the business managment. So in this study, we tried to estimate what’s the perception of the managers about the benefits provided by the use of the System Information in the Administration of Construction Material’s Company in Santa Cruz do ¹Discente do Curso de Administração, Faculdade Dom Alberto. ²Economista, Docente da Faculdade Dom Alberto e orientadora da pesquisa. 71 Sul related to Alfa’s Institution. For that has been applied a questionnarie with closed questions in 25 companies of the area. The results of the search show that’s possible find SI implanted in most of the companies, however, few of these companies aply this tools to subsidize the managers with information, limiting them only to routine activities’ suport. Nevertheless, it has been found a big interest of the managers, in the realization of capabilities and investments in medium term in relation to SI. Key-words: Information systems, strategy, competitiveness 1 Introdução As boas oportunidades comerciais deslumbradas no ramo imobiliário oriundas dos incentivos dados pelo governo para aquisição da casa própria vinculados aos financiamentos de longo prazo e também a redução de impostos sobre alguns produtos, causaram reflexos positivos para os comerciantes de materiais de construção. Este fator fez com que o número de concorrentes no mercado aumentasse consideravelmente, tornando-o mais exigente e disputado. Devido às constantes oscilações na oferta, na demanda e nos preços, a necessidade de potencializar a gestão das organizações passou a ser interpretada de um ponto de vista peculiar, afirmando-se a precisão do aumento da velocidade de retorno das informações e da otimização na tomada de decisões. Todas essas tendências levam as empresas a mudarem seu pensamento estratégico para um horizonte maior, acarretando com isso uma necessidade de coleta de dados mais rápida e precisa que na visão de Oliveira (2007) serve de subsídio para seus dirigentes na identificação de oportunidades e mudanças no seu público alvo. Esse contexto mercadológico revela que as empresas que almejam ser competitivas são induzidas a adotar estratégias, o que gera a necessidade por informações a respeito do mercado e também das atividades realizadas pela organização. Porém a formulação dessas, demanda da coleta de uma grande quantidade de dados bem como sua ordenação e cruzamento. Desta forma, a utilização de um sistema de informação vem a agregar muito na gestão empresarial. Considerando-se os fatores expostos, algumas questões surgem como centro de investigação: qual a percepção dos gestores em relação aos benefícios proporcionados pela utilização de Sistemas de Informação na administração de empresas de materiais de construção de Santa Cruz do Sul coligadas a instituição Alfa? Para responder a esta questão de pesquisa, este estudo buscou atin72 gir o seguinte objetivo geral: analisar as finalidades de utilização dos sistemas de informação empregados nas organizações de comercialização de materiais de construção, bem como a percepção dos gestores em relação aos benefícios proporcionados por essa prática, visando a contribuir para o esforço competitivo das empresas associadas à instituição Alfa. Visando a alcançar os propósitos do estudo, estipularam-se os respectivos objetivos específicos: apurar a finalidade da utilização dos SI junto às empresas em estudo; verificar se as decisões adotadas pela empresa são embasadas em informações oriundas de um SI; Identificar a percepção dos administradores destas organizações em relação ao uso de SI na gestão empresarial; apurar junto aos gestores as demandas por capacitação e ferramentas de Sistemas de Informação; avaliar o motivo caso alguma empresas afirme não adotar SI. A estrutura do presente artigo foi dividida em quatro partes, sendo que na primeira desenvolveu-se a revisão de literatura, onde foram abordados os temas relativos a necessidades de informação para uma organização, sistemas de informação e a inter-relação entre ambos. Na segunda parte descreve-se a metodologia utilizada para alcançar os objetivos traçados. Passando para a terceira parte encontra-se a análise dos dados coletados, ou seja, o cruzamento dos resultados da pesquisa com o referencial teórico. Encerrando, realizou-se na quarta parte, as considerações finais relativas aos diagnósticos e conclusões elaborados. 2 Os Sistemas de Informação (SI) na Gestão Empresarial A disseminação da informação em tempo real proporcionada pelo avanço da tecnologia foi um dos principais fatores do aprofundamento da integração social, cultural, econômica e política, conhecida como globalização. Com ela, o mercado passou a exigir das organizações uma administração adequada dos recursos informacionais e de seus fluxos, tendo em vista a existência de um ambiente repleto de inter-relações e que se encontra em constante estado de mutação (BEAL, 2004). Nesse sentido serão apresentados conceitos que buscam subsidiar o desenvolvimento do estudo proposto, tais como: o papel da informação na elaboração da estratégia; os sistemas de informação: tipos e características; a utilização do SI no suporte às estratégias. 2.1 O papel da informação na elaboração da Estratégia Nos estudos de Costa e Almeida (2002, p. 21), o tema estratégia é definido “como importante elemento na busca de caminhos, objetivos e al73 ternativas futuras, incrementais e inovadoras, tão relevantes ao processo de decisão e gestão das organizações e instituições”. Dentre as diversas linhas de raciocínio pode-se destacar as estratégias competitivas também conhecidas por estratégias empresariais, que são definidas por Porter (1986, p.15) como sendo “[...] o desenvolvimento de uma fórmula ampla para o modo como uma empresa irá competir, quais deveriam ser as suas metas e quais as políticas necessárias para levar-se a cabo estas metas”. Porém, a formulação de tais estratégias demanda essencialmente de recursos informacionais, pois para Rezende (2008), sem eles, não seria possível gerir e nem implantar esse tipo de projeto. A disponibilidade de informações de valor permite aos gestores traçar estratégias concisas com a realidade de mercado. Sem acesso a informações adequadas a respeito das variáveis internas e do ambiente onde a organização se insere, os responsáveis pela elaboração da estratégia não têm como identificar os pontos fortes e fracos, as ameaças e oportunidades, os valores corporativos e toda a variedade de fatores que devem ser considerados na identificação de alternativas e na tomada de decisões estratégicas (BEAL, 2004, p. 75). Em uma organização, a informação deve ser utilizada como um meio de obtenção para os objetivos propostos, através da otimização dos recursos nela disponíveis. Porém, para que realmente proporcione benefícios à empresa, a informação deve ser de valor, ou seja, clara, relevante, quantificada e consistente (BEUREN, 2000). Beuren (2000, p. 46) também expõe que “atualmente, centenas de relações precisam ser consideradas para gerar uma informação competitiva, o que requer o gerenciamento sistemático e dinâmico da informação”, ou seja, a utilização de um Sistema de Informação. Essa linha de pensamento também é defendida por Tofller apud Rosini (2003, p. 8) ao afirmar que: As empresas, para acompanhar o ambiente turbulento e descontínuo, precisarão ser flexíveis, criativas e inovadoras, portanto, não é concebido “administrar, gerenciar, funcionar, decidir” sem o uso de sistemas de informações. A seguir abordar-se-ão alguns tipos de SI, bem como suas características no apoio à gestão empresarial. 74 2.2 Sistemas de informação: tipos e características Visando ao foco deste estudo, utilizou-se como conceito para sistemas de informação (SI), a definição de Beal (2004, p. 17), ou seja, “a solução ou conjunto de soluções sistematizadas baseadas em computador”. Tendo em vista a grande quantidade de classificações para os SI encontradas na literatura, utilizou-se o critério de enquadramento pela finalidade principal de uso, que de acordo com Audy, Andrade e Cidral (2005) é a mais aceita. Com isso, chegou-se a dois tipos: sistemas de processamento de transações (SPT); sistemas de informação gerencial (SIG). Todas as organizações possuem atividades essenciais para o andamento de seus negócios, com isso elas necessitam realizar procedimentos rotineiros como compras, vendas, pedidos, controle de estoque entre outros. Os SI responsáveis pelo trato dessas atividades são conhecidos como sistemas de processamento de transações (SPT), e na concepção de Turban (2007, p.69) são caracterizados pelo trato de atividades de curto prazo e pelo “suporte ao monitoramento, coleta, armazenamento, processamento e disseminações das transações básicas da empresa”. O uso do SPT tem como foco o funcionamento eficiente e eficaz da organização, sendo contempladas também as obrigações legais como nota fiscal, livros contábeis, arquivos fiscais e etc. Depois de armazenadas, ordenadas e processadas corretamente as informações são de grande valia para os gestores, pois o ato de gerenciar uma organização demanda de um grande nível de informações e conhecimentos internos e externos a seu respeito. De acordo com Drucker apud Graeml (2000, p.79) “o que não se pode medir não se pode gerenciar”. Ao se referir ao processo gerencial entende-se este como sendo o processo administrativo visto como um todo, ou seja, “(planejamento, organização, direção e controle) voltados para o resultado” (OLIVEIRA, 2001, p.39). Já o SIG constitui uma ferramenta que auxilia os gestores provendolhes relatórios condensados e sintéticos das operações realizadas pela empresa. Para Laudon (2007, p. 48), esse modelo de sistema empresarial deve responder principalmente à pergunta: “as coisas estão funcionando direito”? Em suma pode-se dizer que o SIG proporciona ao gestor uma visão macro dos acontecimentos da empresas, possibilitando ao mesmo traçar ações para manter ou alterar o quadro situacional. Em virtude da contínua mudança ocorrida no ambiente empresarial, os gestores necessitam tomar decisões frequentemente, porém as situações nas quais elas são necessárias dificilmente serão as mesmas, tornando-se muito difícil tomar decisões corretas sem possuir as informações certas. 75 2.3 A utilização do SI no suporte às estratégias De acordo com Audy, Andrade e Cidral (2005, p. 110) “o objetivo geral dos sistemas de informação é disponibilizar para a organização as informações necessárias para que ela atue em um determinado ambiente”. A utilização de sistemas de informação, através dos feedbacks proporcionados, auxilia os gestores no estabelecimento do planejamento estratégico, visando à competitividade da organização perante o mundo globalizado. Garcia e Monser (2003) defendem que a capacidade de reagir e o tempo necessário para isso são qualidades fundamentais para a definição de estratégias. O atual desenvolvimento empresarial vem obrigando as organizações a aumentarem seus níveis de interação com seus fornecedores e clientes, que através destas cooperações mútuas buscam se fortalecer perante o mercado. Os sistemas de informações têm possibilitado para as organizações a criação de verdadeiros vínculos administrativos com seus fornecedores e clientes sendo possível, segundo Audy, Andrade e Cidral (2005, p. 130), “[...] integrar as operações de empresas parceiras, reduzindo custos, otimizando processos e compartilhando recursos tecnológicos e dados”. Bem como enfatizado por Bio (1996), somente a utilização de um Sistema de Informação não garantirá o sucesso da empresa, sendo necessário para isso a compreensão do negócio e do mercado ao qual está sendo aplicada a ferramenta. Na sequência, explanaram-se os dados coletados na pesquisa proporcionando uma visão a respeito das empresas pesquisadas, e da percepção dos gestores em relação aos benefícios dos SI e das necessidades por capacitação. 3 Metodologia O presente estudo foi realizado junto à instituição Alfa da cidade de Santa Cruz do Sul – RS, e foi fundada há aproximadamente 10 anos. A mesma é constituída no município por 34 empresas do ramo de materiais de construção, e tem como principal objetivo defender os interesses de suas coligadas. Para que fosse possível definir os objetivos, utilizou-se o modelo de pesquisa descritiva, pois de acordo com os estudos de Gil (2002, p. 42) verificou-se que sua aplicação visa “a descrição das características de determinada população ou fenômeno”. Para que fosse possível analisar as finalidades de utilização dos sistemas de informação empregados nas organizações e a percepção dos 76 gestores em relação aos benefícios proporcionados, utilizou-se a técnica de levantamento ou survey, devido às seguintes vantagens apresentadas por Gil (2002, p. 51): “conhecimento direto da realidade, economia, rapidez e possibilidade de quantificação”. Essa se adaptou perfeitamente as necessidades da pesquisa, tendo em vista a dispersão demográfica das empresas analisadas. A coleta de dados realizou-se em duas fontes, sendo uma primária e outra secundária. Na primária, buscou se os dados diretamente junto à população analisada, ou seja, nas empresas de comércio de materiais de construção da cidade de Santa Cruz do Sul coligadas à instituição Alfa. Porém, nove gestores não quiseram participar da pesquisa, sendo que a mesma foi respondida por 25 empresas. A coleta de dados realizou-se no mês de maio de 2009, através da aplicação de um questionário com perguntas fechadas por telefone, direcionados aos gestores das empresas. A utilização deste tipo de instrumento de pesquisa deu-se pela necessidade de obterem-se informações sobre o que os gestores sabem, percebem, esperam e desejam fazer bem como a diminuição dos riscos de distorção, por não haver influência da parte do pesquisador nas respostas. As fontes de dados secundárias compreendem aquelas que não foram obtidas junto à população analisada, ou seja, as informações já publicadas em artigos, livros e periódicos de relevância nacional. Para que fosse possível determinar o porte das empresas analisadas utilizamos o modelo adotado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), que usa como base a quantidade média de colaboradores que a empresa possui. QUADRO 1 – Porte das empresas em relação ao nº de funcionários. Porte da Empresa Nº de funcionários no comércio Micro Empresa De 01 a 09 empregados Pequena Empresa De 10 a 49 empregados Média Empresa De 50 a 99 empregados Grande empresa Mais de 100 empregados A análise dos dados obtidos foi realizada de forma quantitativa, com auxílio de planilhas do Excel, visando-se mensurar a incidência de variáveis como: tempo de atuação no mercado, grau de escolaridade dos gestores, número de lojas, porte, percentual de utilização de SI, bem como a percepção dos gestores em relação aos benefícios por eles proporcionados na gestão 77 na população analisada. Por fim verificou-se também a demanda por capacitações relativas aos SI e a intenção de investimentos na área. 4 Análise de dados Buscando uma interpretação mais precisa, inicialmente foram coletados alguns dados referentes ao posicionamento das empresas no mercado. Através deste procedimento percebeu-se, como demonstrado no gráfico 1, que há uma predominância de empresas que atuam no ramo de materiais de construção há mais de dez anos, com ênfase na faixa de 11 a 20 anos que representa 52%. GRÁFICO 1 - Tempo de atuação no Mercado de Materiais de Construção De 0 a 5 anos Mais de 20 anos De 6 a 10 anos De 11 a 20 anos Outro fator identificado foi a quantidade de lojas que as organizações possuem. Nesta variável obtivemos um resultado predominante de empresas que possuem uma loja, assim como apresentado no gráfico 2. GRÁFICO 2 – Quantidade de lojas por empresa 2 ou mais Lojas 1 Loja Para proporcionar uma visão mais sólida do público alvo abordado na pesquisa, averiguou-se o porte em que as empresas se encontram, utilizan78 do para esta definição, o critério desenvolvido pelo SEBRAE, que tem como base a média de colaboradores que a organização possui. Como pode ser visualizado no gráfico 3, constatou-se que a maior parte das associadas pode ser enquadrada como micro e pequenas empresas, representando 96% do público pesquisado. Já a classificação de médio porte é enquadrada em apenas 4% das organizações. GRÁFICO 3 – Porte da empresa Pequena empresa Média empresa Microempresa Outra variável pesquisada em relação ao perfil das empresas foi o grau de escolaridade que seus gestores possuem, sendo que, segundo demonstrado no gráfico 4, a predominância é de administradores com ensino Médio, atingindo significativos 56% do público analisado. O mesmo gráfico também demonstra que a gestão das organizações por pessoas que possuem ensino Superior ocorre em 40% das associadas da ACOMAC. GRÁFICO 4 – Grau de escolaridade do administrador da empresa Ensino Fundamental Ensino Superior Ensino Médio 79 Atualmente, devido à acirrada competição mercadológica, a utilização de um sistema de informação em uma organização, conforme descreve Tofller apud Rosini (2003), pode gerar grandes benefícios. Portanto buscouse identificar o percentual de organizações que integram esta ferramenta em sua gestão, obtendo-se um resultado positivo em 76% das entrevistadas. Essa realidade é apresentada no quadro 2, no qual também é demonstrado este fator comparado ao porte destas empresas. Dessa forma, constatou-se que 100% das pequenas e médias empresas possuem SI em suas lojas, sendo possível discriminar que todas as organizações que não utilizam SI são microempresas. QUADRO 2 – Utilização do Sistema de Informação x porte das empresas Empresa utiliza SI Sim Não % em relação ao total de empresas Microempresa 72,22% 27,78% 72% Pequena Empresa 100,00% -- 24% Média Empresa 100,00% -- 4% 76% 24,00% 100% Porte % em relação ao total de empresas Na sequência da pesquisa, verificou-se, junto às organizações que utilizam SI, a finalidade para qual são empregadas essas ferramentas e se as mesmas estão contribuindo para o gerenciamento da empresa. De acordo com os dados apresentados no quadro 3 é possível identificar que 57,89% das empresas utilizam os SI apenas para auxiliar a realização de procedimentos rotineiros, sendo que na visão de Turban (2007) pode-se classificá-los como sistemas de processamento de transações, tendo como sua principal característica o trato de atividades de curto prazo. As informações geradas por esses aplicativos são operacionais, ou seja, ligadas apenas à função para qual foram destinados os sistemas, sendo que ao serem analisadas individualmente não agregam valor ao gerenciamento da organização. Por outro lado, nota-se que 42,11% das empresas utilizam as informações geradas pelo sistema para nortear a tomada de decisão e acompanhar o desempenho de sua gestão. Essas características demonstram que as empresas em questão utilizam sistemas de informação gerencial. O SIG possibilita a geração de informações que agregam valor na gestão, pois quando aplicadas estrategicamente na solução de problemas são fatores que podem diferenciar a empresa em relação aos seus concorrentes. 80 Ao cruzarmos a análise dos tipos de sistemas adotados com a percepção dos gestores em relação à agregação de valor que os SI proporcionam para suas empresas nota-se uma grande diferença no ponto de vista dos que adotam SIG para os que adotam STP. QUADRO 3 – Tipo de SI utilizado x Percepção de importância Tipo de SI utilizado Percepção de Importância dos SI na gestão empresarial % em relação ao total de empresas Pouco Importante Importante Muito Importante SPT 36,36% 63,64% -- 57,89% SIG -- 12,50% 87,50% 42,11% % em relação ao total de empresas 21,05% 42,11% 36,84% 100% A maioria dos gestores que utilizam SIG em suas empresas o considera muito importante para o gerenciamento do negócio. Esse fato comprova que realmente este modelo de sistema gera informações de valor agregado, ou seja, há uma real contribuição para a gestão da organização. Das empresas que utilizam SPT, 63,64% afirmaram considerá-lo como importante na gestão e 36,36% como pouco importante. A causa desse fato se deve à finalidade para qual o sistema é empregado, ou seja, contribuir nas operações de rotina da empresa, não gerando informações que venham a agregar diretamente na gestão do negócio. Após ser traçado este cenário mercadológico verificou-se a demanda por capacitação referente à utilização de sistemas de informação para fins de gestão empresarial, obtendo-se, conforme apresentado no quadro 4 um resultado positivo em 80% dos entrevistados. QUADRO 4 – Demanda por capacitação Demanda por capacitação Necessário Desnecessário % em relação ao total de empresas Sim 78,95% 21,05% 76% Não 83,33% 16,67% 24% % em relação ao total de empresas 80,00% 20,00% 100% Utiliza SI 81 Um fator que deve ser destacado nesta análise é a demanda observada em 83,33% das empresas que não utilizam SI, demonstrando que há um interesse por parte dessas em analisar os benefícios que as ferramentas podem proporcionar para a gestão das empresas. Esses resultados são refletidos também nas afirmações de 64% das empresas, ao relatarem que pretendem investir em sistemas de informação nos próximos dois anos, como pode ser visualizado no gráfico 5. Em contrapartida, 33% das empresas que não possuem SI responderam que não almejam investir no período questionado. GRÁFICO 5 – Intenção de investir em SI nos próximos 2 anos Não Sim Finalizando a pesquisa, buscou-se entender o motivo pelo qual 24% das organizações pesquisadas não utilizam SI. GRÁFICO 6 – Motivo pelo qual a empresa não utiliza SI 82 Como pode ser visto no gráfico 6 o principal motivo relatado foi o de que o uso dessas ferramentas não agregaria valor para a empresa. Outro motivo que também teve destaque neste gráfico, foi a necessidade apontada de altos investimentos. Analisando-se os dados expostos é possivel deslumbrar que a falta de informação e capacitação é o grande motivador para este cenário. 5 Considerações finais Este estudo buscou contribuir para o aumento da competitividade das empresas de material de construção coligadas a instituição Alfa, através da definição das finalidades para qual são utilizados os Sistemas de Informação nestas organizações, bem como a percepção dos gestores em relação aos benefícios proporcionados por essa prática. Os sistemas de informação são ferramentas que estão presentes na maioria das empresas associadas à ACOMAC, principalmente nas que possuem duas ou mais lojas, e também nas enquadradas como de pequeno ou de médio porte. Outros fatores como grau de escolaridade do gestor e o tempo de atuação da empresa no mercado demonstraram não ter relação com a opção de a organização possuir ou não um SI. Em relação aos SI, a principal finalidade a qual são destinados tende ao suporte de operações rotineiras. Esse fato, atrelado a não utilização do sistema para geração de informações de auxílio à gestão empresarial, leva um grande percentual destas organizações a tacharem os SI como pouco importantes. Já nas instituições que exploram os recursos dos SI, utilizandoos para embasar suas tomadas de decisões estratégicas, a percepção dos benefícios é clara, sendo eles qualificados como muito importantes. Atribuições como controle de estoque: onde é possível explorar a redução de níveis de materiais, otimização da logística impactando na redução do capital de giro; controle financeiro: aperfeiçoamento do fluxo de caixa, redução de capital de terceiros; gestão de vendas: percepção do comportamento do consumidor e de suas necessidades e outras mais são ações que podem ser aperfeiçoadas com o auxilio de um SI, tornando a empresa mais competitiva para o mercado. Porém para que a utilização de um SI possa repercutir na gestão destas empresas é necessário que se busque capacitação para estes gestores, focalizando principalmente nas organizações que não desfrutam atualmente de SI e também nas que não gozam plenamente dos benefícios que os mesmos podem proporcionar para suas gestões. Esse diagnóstico é fortalecido através da constatação de que a maioria dos gestores entrevistados declarou ter interesse em ampliar seus conhecimentos em relação aos benefícios da 83 utilização de um SI, bem como na realização de investimentos na área nos próximos dois anos. Em suma, sugere-se para a instituição Alfa buscar parcerias com organizações de ensino superior, SEBRAE, e até com fornecedores de SI, uma vez que há um grande número de potencias clientes neste meio, visando oferecer e incentivar capacitações em assuntos como: utilizando o SI como aliado na gestão empresarial; comparando os custos de implantação de SI x benefícios proporcionados; transformando informações em estratégias competitivas. Ao realizar essa ação, a associação proporcionaria a seus integrantes não apenas um incentivo à modernização e, sim, um passo em busca da sobrevivência através da competitividade. Sugere-se também a realização de estudos futuros, direcionados para áreas específicas, como a utilização de SI na gestão financeira, de estoque ou das vendas. 6 Referências AUDY, J. L. N; ANDRADE, G. K. de; CIDRAL, A. Fundamentos de sistemas de informação. Porto Alegre: Bookman, 2005. BEAL, A. Gestão estratégica da informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento e de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2004. BIO, S. R. Sistemas de Informação: um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas, 1985. BEUREN, I. M. Gerenciamento da informação: um recurso estratégico no processo de gestão empresarial. São Paulo: Atlas, 2000. COSTA, B. K; ALMEIDA, M. I. R. de (Coord.). Estratégia: perspectivas e aplicações. São Paulo: Atlas, 2002. GARCIA, J. G.; MONSER, N. B. A informação como vantagem competitiva na globalização. In: I CONGRESSO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO, 2003, Florianópolis. GRAEML, A. R. Sistemas de Informação: o alinhamento da estratégia de TI com a estratégia corporativa. São Paulo: Atlas, 2000. 84 GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. LAUDON, K. C. Sistemas de informações gerencias. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. OLIVEIRA, D. P. R. 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Rio de Janeiro: Campus, 2007. 85 86 ANÁLISE DOS LITÍGIOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO NA PERCEPÇÃO DO EMPREGADO E DO EMPREGADOR Eliara Machado Pires¹ Aline Gauer² RESUMO Este estudo visa a identificar e interpretar os motivos que levam os empregados a ingressarem com reclamatórias trabalhistas na Justiça do Trabalho. Utilizouse uma pesquisa qualitativa e quantitativa por ser de análise interpretativa e uma pesquisa bibliográfica, bem como a aplicação de questionário padronizado direcionado a empregados e empregadores e entrevista semiestruturada com auditores fiscais do Ministério do Trabalho. Os resultados da pesquisa indicam que o motivo real dos empregados entrarem com ações na Justiça do Trabalho é primordialmente o descumprimento do pagamento de salários da categoria e horas extras. Palavras-chave: empregado, empregador, leis trabalhistas ABSTRACT This study aims to identify and interpret the reasons that employees join with labor claims in labor courts. We used a qualitative and quantitative research to be interpretive and analytical data and a literature review and a standardized questionnaire applied to employees and employers and semistructured interviews with tax auditors from the Ministry of Labor. The survey results indicate that the real reason the employees filed suit in the Labor Court is primarily the failure of payment of wages and overtime category. Key-words: employee, employer and labor laws ¹Graduada em Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ²Especialista em Auditoria e Perícia Contábil – FEEVALE/RS; Mestranda em Administração Internacional – UDE/UY; Professora do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. 87 1 Introdução Um dos setores que mais exige atenção dos empregadores são as leis trabalhistas, pois tratam diretamente da relação de trabalho, e se sabe que empregados desmotivados e sem receber seus direitos, comprometem o bom andamento desta relação. Assim acontecem as inúmeras ações trabalhistas entre empregados e empregadores, ou vice-versa; sentindo-se lesada uma das partes propõe litígio à outra parte, buscando seus direitos reconhecidos. O trabalho classifica-se como uma pesquisa descritiva por se tratar de um trabalho onde será descrito as observações sobre a análise e interpretação de sentenças provenientes de ações ingressadas por empregados na Justiça do Trabalho, e uma pesquisa qualitativa e quantitativa por ser de análise interpretativa e de dados e uma pesquisa bibliográfica. Também foi aplicado um questionário padronizado a uma amostra aleatória de empregados e empregadores da cidade de Santa Cruz do Sul/RS e uma entrevista semi-estruturada com a auditora fiscal do Ministério do Trabalho. O estudo tem como objetivo a interpretação dos motivos que levam os empregados a ingressarem com ações na Justiça do Trabalho, bem como a visão dos empregadores e do Ministério do Trabalho. Como objetivos específicos, busca-se interpretar as reclamatórias trabalhistas propostas pelos empregados através das sentenças trabalhistas; analisar o ponto de vista dos empregados e empregadores quanto à qualidade do trabalho, no sentido de direitos e obrigações; e conhecer a manifestação do Ministério do Trabalho sob a sistêmica de órgão fiscalizador das leis trabalhistas. Com a relação entre a empresa estudo e seus clientes, surgem como questão os tipos de reclamatórias que ingressam em maior quantidade na Justiça do Trabalho e assim se pretende responder: o que leva os empregados a ingressarem com ações na Justiça do Trabalho? Portanto o artigo apresenta-se da seguinte forma: a) referencial que trata sobre a relação de emprego por meio de contrato; um relato sobre a legislação trabalhista constando o assunto sobre os direitos e deveres do empregado e obrigações do empregador; e a Justiça do Trabalho, b) metodologia; c) análise e coleta de dados; d) considerações finais. 2 Referencial 2.1 Relações de trabalho A relação de emprego é estipulada por meio de um contrato. Conforme o direito civil, todo contrato requer agente capaz, objeto lícito (legal), e forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104, Código Civil). 88 De acordo com os artigos 442 e 443 da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) o contrato de trabalho é o “ajuste através do qual uma pessoa natural se obriga perante outra a prestar-lhe serviços em troca de uma remuneração, um acordo do qual as partes ajustam direitos e obrigações mútuas”. Também definem que o “contrato individual de trabalho é o acordo tático ou expresso, correspondente à relação de emprego e que poderá ser acordado tática ou expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado”. Ainda de acordo com os artigos 2º e 3º da CLT, o empregador é pessoa física ou jurídica, que contrata uma pessoa física, dirige seus serviços e a remunera por tal prestação, enquanto que empregado é pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Dessa forma, faz-se necessário conhecer os direitos e deveres do empregado e as obrigações do empregador, pois só assim é possível analisar com clareza os pedidos realizados na Justiça do Trabalho referente a relação de trabalho. 2.2 Legislação Trabalhista aplicada às relações de trabalho: direitos e deveres do empregado e obrigações do empregador O empregado tem direito de ter a carteira de trabalho assinada desde o primeiro dia de serviço; fazer exames médicos de admissão e demissão, sendo os mesmos pagos pelo empregador; direito ao repouso semanal remunerado (uma folga por semana); ter salário pago até o 5º dia útil do mês; receber a primeira parcela do 13º salário paga até 30 de novembro e a segunda parcela paga até 20 de dezembro; gozar e receber férias de 30 dias com acréscimo de 1/3 do salário; vale-transporte com desconto máximo de 6% do salário; licença maternidade de 120 dias, com garantia de emprego; licença paternidade de 5 dias corridos; FGTS: depósito de 8% do salário em conta bancária a favor do empregado; horas-extras pagas com acréscimo de no mínimo 50% do valor da hora normal; garantia de 12 meses em casos de acidente; adicional noturno para quem trabalha das 22:00 às 05:00 horas; faltas ao trabalho nos casos de casamento (3 dias), doação de sangue (1 dia/ ano), alistamento (2 dias), morte de parente próximo (2 dias), testemunho na Justiça do Trabalho (no dia), doença comprovada por atestado médico; aviso prévio de 30 dias, em caso de demissão; seguro desemprego, de acordo com o site www.mte.gov.br. Quanto aos deveres o empregado ao ser admitido, deverá apresentar sua carteira de trabalho para devidas anotações juntamente com uma foto 3x4 e demais documentos para seu registro. O empregado deve ser assíduo 89 ao trabalho, desempenhando suas tarefas conforme instruções do empregador e ao receber o salário, assinar e datar o recibo de pagamento. Quando for desligado do emprego, por demissão ou pedido de dispensa, deverá apresentar sua carteira de trabalho a fim de que o empregador proceda às devidas anotações. Quando pedir dispensa, deverá comunicar ao empregador sua intenção, com a antecedência mínima de 30 dias; agir com probidade; ter um bom comportamento; evitar a desídia; não se apresentar no trabalho embriagado; guardar segredo profissional; não praticar atos de indisciplina, conforme o site www.mte.gov.br. O empregador tem como obrigação anotar na carteira de trabalho e previdência social (CTPS) do empregado: data de admissão; função; salário contratado e posteriores alterações; e quanto às férias deve informar o período aquisitivo; o período de inicio e término das férias; data de desligamento do emprego; espécie de estabelecimento e dados relativos à identificação do empregador. O recibo de pagamento de salário deverá ser feito em duas vias, sendo assinado e datado pelo empregado que fica com a segunda via. Sendo o pagamento do salário feito até o 5º dia útil do mês subseqüente ao vencido, no local de trabalho ou mediante depósito em conta bancária, aberta para esse fim. Quanto ao trabalho, o empregador não deve exigir serviços superiores às forças do empregado, defesos por lei, contrários aos bons costumes ou alheios ao contrato; não tratar o empregado com rigor excessivo; não colocar o empregado em situação de correr perigo manifesto de mal considerável; não deixar de cumprir as obrigações do contrato; não reduzir o trabalho por tarefa sensivelmente, de modo a afetar o salário, conforme site www.mte.gov.br. 2.3 A Justiça do Trabalho De acordo com Plácido (2008, p. 459) é da competência da Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores e outras controvérsias surgidas da relação de emprego, incluídos os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças. 3 Metodologia A pesquisa foi realizada com clientes do Cifras Escritório Contábil de Santa Cruz do Sul/RS, uma empresa que iniciou em onze de setembro de dois mil e oito, através do encerramento das atividades de outro escritório desta cidade, permanecendo com a mesma carteira de clientes e também 90 com clientes novos das mais diversas áreas. O estudo classifica-se como uma pesquisa qualitativa e quantitativa por ser de análise interpretativa e de dados, uma pesquisa descritiva por se tratar de um trabalho pautado em observações sobre a análise e interpretação de seis (6) sentenças trabalhistas julgadas na Justiça do Trabalho da 4ª Região (RS), do período de 2007 a 2009, conforme Gil (2002, p. 42), a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Também se buscaram informações através da aplicação de um questionário padronizado com 10 empregados do comércio da cidade de Santa Cruz do Sul/RS e 10 empregadores de empresas de pequeno e médio porte na cidade de Santa Cruz do Sul/RS e entrevista com a auditora fiscal do Ministério do Trabalho de Santa Cruz do Sul/RS. 4 Coleta e análise dos dados 4.1 Sentenças trabalhistas na Justiça do Trabalho do RS Em relação aos processos analisados de empregados que entraram com ações na Justiça do Trabalho contra seus empregadores, nota-se que os direitos mais reclamados foram a falta de pagamento de horas extras, falta de registro na empresa e o não pagamento de piso salarial devido. Os empregados na maioria das vezes antes de entrarem com ações na Justiça do Trabalho, procuram os auditores fiscais no Ministério do Trabalho para esclarecer suas dúvidas em relação aos seus direitos trabalhistas, e denunciam as empresas sobre o assunto em questão. Com base nos dados coletados nesta pesquisa, foi elaborado um quadro onde podemos comparar os pedidos solicitados na inicial pelo Reclamante (empregado) e as parcelas deferidas em sentença pelo juiz, ou seja, a condenação da Reclamada (empresa). TABELA 1 – Quadro comparativo dos direitos sentenciados a favor do Reclamante ANO QTDE. PROCESSOS ANALISADOS/ANO PARCELAS RECLAMADAS PARCELAS DEFERIDAS (%) 2007 2 2008 2 2009 2 Horas Extras Salários FGTS Horas Extras Insalubridade Rescisão FGTS 80% 10% 100% 20% 30% 50% 100% 91 4.2 Percepção dos empregadores A primeira questão referencia sobre o conhecimento da legislação trabalhista. Esta questão teve o intuito de verificar se o empregador conhece as leis que regem a relação de trabalho com o empregado, tanto no que se refere aos direitos bem como as obrigações de ambas as partes. As respostas podem ser visualizadas no gráfico abaixo: GRÁFICO 1 - Conhecimento das Leis Trabalhistas 40% 40% SIM NÃO EM PARTE 20% A análise desse gráfico permite identificar que 40% dos empregadores possuem um conhecimento parcial da legislação trabalhista; os que realmente não as conhecem e que deixam essa obrigatoriedade a cargo de seu contador correspondem a percentual de 20% e os outros 40% são os que conhecem. Pode-se dizer que a falta de conhecimento das leis trabalhistas por parte do empregador pode gerar conflitos quanto ao tratamento com o empregado, pois é importante que o empregador saiba como se posicionar perante uma situação trabalhista tendo sempre o respaldo da lei. A segunda questão teve a intenção de verificar o que o empregador considera como mais importante na relação com os empregados. Com as respostas, obtive-se a seguinte representação: GRÁFICO 2 - Relação entre empregado e empregador. 40% 40% SIM NÃO EM PARTE 20% O gráfico demonstra que na amostra coletada, 60% dos empregadores consideram mais importante o comportamento do empregado em sua empresa, 30% dos empregadores citam a amizade como mais importante, 10% deram importância a assiduidade, não sendo citada outras características. Confirma-se que o empregado que possui um comportamento regrado, 92 é aquele que tem condições de se manter por mais tempo na empresa. Tanto que se sabe que a legislação autoriza a demissão por justa causa de empregados que cometam falta grave no desempenho de suas funções. Na seqüência, pesquisou-se a forma como a empresa busca motivar seu empregado. Esta questão procura verificar quais são as formas que os empregadores motivam os empregados de suas empresas, a fim de incentivá-los no seu trabalho, e os resultados podem ser observados no gráfico 3: GRÁFICO 3 - Forma de motivação aos empregados nas empresas. 0% 20% CURSOS ELOGIOS 60% 20% GRATIFICAÇÃO OUTROS Nesta amostra, 60% dos empregadores motivam seus empregados com gratificações, 20% dos empregadores motivam os empregados com elogios, outros 20% dão oportunidades dos empregados fazerem cursos, não sendo citados outros tipos de motivações. Sabe-se que o empregado motivado, produz mais e isso gera resultados à empresa. Portanto, algumas empresas procuram oferecer algum tipo de benefício que promova essa motivação, como gratificações por produção, metas e até por assiduidade ao trabalho. Também se questionou ao empregador se a sua empresa havia sido alvo de reclamatórias trabalhistas. Do total de questionados (100%), 90% das empresas passaram por reclamatórias trabalhistas, e 10% das empresas questionadas não possuem registros nesse sentido. Esses resultados mostram que hoje a justiça do trabalho é o meio mais utilizado pelo empregado para se buscar seus direitos trabalhistas não cumpridos pelo empregador. Ainda se questionou ao empregador quais itens foram reclamados, que teve o intuito de complementar a questão anterior e verificar qual foi o foco das reclamatórias trabalhistas. GRÁFICO 4 – Itens das reclamatórias trabalhistas. 30% 30% ADICIONAL NOTURNO FGTS 0% 40% 93 HORA EXTRA OUTROS O gráfico permite identificar que, na amostra coletada, 40% das empresas foram alvo de reclamatórias trabalhistas pela falta de pagamento de hora extra, 30% pela falta de pagamento de adicional noturno e 30% citaram outros itens que não haviam sido relacionados, como a falta pagamento de salários, férias, rescisão e ainda alguns empregadores não quiseram citar o motivo das reclamatórias trabalhistas. Para finalizar a pesquisa com os empregadores, questionou-se s,e no dia-a-dia, o que a empresa acha que o seu empregado busca como direito trabalhista. Foram obtidos os seguintes resultados: GRÁFICO 5 - Direito trabalhista SALÁRIO COMPATÍVEL COM A FUNÇÃO 30% FÉRIAS + 1/3 0% 0% 70% CARTEIRA DE TRABALHO ASSINADA OUTROS A análise do gráfico permite verificar que, na amostra coletada 70% dos empregadores acreditam que os empregados buscam como direito trabalhista um salário compatível com sua função, 30% citam outros direitos trabalhistas como, por exemplo, o INSS e FGTS pago e depositado em dia. Isso representa que hoje o trabalhador busca exercer suas atividades mediante um salário digno e compatível com a sua função, pois existem os sindicatos que defendem essa teoria e que são responsáveis pela negociação junto ao sindicato patronal dos pisos salariais da categoria, fazendo com que os empregadores respeitem os mínimos praticados. 4.3 Percepção dos empregados A primeira questão procura saber se os empregados já haviam ingressado com alguma ação na Justiça do Trabalho. Assim, os seguintes resultados foram coletados: 94 GRÁFICO 6 - Ação na Justiça do Trabalho 20% SIM NÃO 80% Com os resultados demonstrados no gráfico 6, 80% dos empregados questionados afirmaram ter entrado com ação na Justiça do Trabalho, e o restante de 20% afirmou não ter entrado com ação na Justiça do Trabalho. Nesse contexto, se comparar os resultados do gráfico 6 com os resultados obtidos em relação à questão das reclamatórias já sofridas pelo empregador, observa-se que existe incompatibilidade de informações, pois se há tantas empresas com processos na justiça é porque existem as suas origens. Também se questionou ao empregado, se ele possuía conhecimento dos direitos que a legislação o ampara. Esta questão teve o intuito de verificar se o empregado conhece as leis trabalhistas, tanto no que se refere aos direitos bem como as obrigações de ambas as partes. O gráfico ilustra os dados obtidos: GRÁFICO 7 - Conhecimento das leis trabalhistas 40% SIM NÃO EM PARTE 60% 0% Na amostra coletada, observa-se que 60% dos empregados possuem um conhecimento parcial da legislação trabalhista e outros 40% são os que conhecem em parte a legislação. O que se notou é que alguns empregados adquiram conhecimentos, pois haviam aprendido através de curso de graduação que estavam freqüentando, outros através da própria experiência de anos de profissão. 95 A terceira questão buscou entender o que para o empregado é considerado como um trabalho justo. As respostas foram demonstradas com o seguinte gráfico: GRAFICO 8 - O que o empregado considera como trabalho justo. 10% SALÁRIO COMPATIVEL COM A FUNÇÃO 10% TRABALHO LEVE, SEM ESFORÇO OUTROS 80% O gráfico permite identificar que, na amostra coletada, 80% dos empregados consideram que o salário compatível com a função é o mais importante em questão de um trabalho justo, 10% considera um trabalho leve sendo como o mais justo, e os outros 10% citaram horários flexíveis, planos de carreira, estabilidade, chances de crescimento profissional. Ainda se questionou ao empregado se a empresa onde trabalha oferece algum tipo de benefício e chegou-se aos seguintes resultados: do total de questionados (100%), 90% dos empregados recebem benefícios das empresas onde trabalham, citando como exemplos o plano de saúde, cartão farmácia, vale alimentação, e 10% não recebem benefícios. Hoje os empregados, além de buscarem uma empresa que paga um salário compatível com a função, também apreciam a empresa que oferece benefícios. Como o objetivo do estudo é identificar os motivos das reclamatórias trabalhistas, questionou-se o que levaria o empregado a buscar seus direitos na Justiça do Trabalho, e os resultados podem ser observados no gráfico 9: GRÁFICO 9 - Ações na Justiça do Trabalho 0% 20% ADICIONAL NOTURNO HORA EXTRA SALÁRIO OUTROS 80% 96 A interpretação do gráfico 9 dá referências de que 80% dos empregados questionados buscariam seus direitos na Justiça do Trabalho por falta de recebimento de outros direitos não citados na questão, como insalubridade, periculosidade, verbas rescisórias não pagas, atrasos nos pagamentos de salários, FGTS em atraso e 20% dos empregados citaram o salário, no sentido da falta de pagamento ou pagamento incorreto. E por fim se questionou aos empregados a forma de desligamento no último emprego. Os resultados foram os seguintes: GRÁFICO 10 - Forma de desligamento do último emprego DEMISSÃO SEM JUSTA CAUSA 10% 20% PEDIDO DE DEMISSÃO 70% TÉRMINO DE CONTRATO O gráfico 10 aponta que 70% dos empregados questionados foram desligados de seu último emprego por demissão sem justa causa, 20% por pedido de demissão, e 10% por término de contrato. Isso representa que, na maioria dos casos, as empresas que tomam a iniciativa de demitir o empregado, ou em alguns casos oferecem ao empregado a opção do acordo, para não prejudicar o empregado. 4.4 A visão dos auditores do Ministério do Trabalho Da mesma forma, para buscar informações relativas aos conflitos entre o empregado e o empregador, realizou-se uma entrevista no Ministério do Trabalho de Santa Cruz do Sul/RS, com a Auditora Fiscal. A Auditora Fiscal destacou que a falta de registro dos empregados nas empresas é o principal foco de denúncias por parte dos empregados ao Ministério do Trabalho da cidade de Santa Cruz do Sul/RS. Falou sobre o trabalho informal que é o tipo de trabalho desvinculado a qualquer empresa, ou seja, é o trabalho indireto onde não há vínculo empregatício por meio de documentação legalizada. Ainda confirmou que, além das denúncias, existem critérios que vem da chefia, do Estado, de Brasília ou por seleção de CNAE – Cadastro Nacional de Empresas, para chegar às empresas para fiscalizar, 97 sendo que as principais infrações cometidas pelas empresas são as falsas contratações, falta de registros principalmente de estagiários. Respondeu que os empregadores que já conhecem o trabalho dos Auditores Fiscais reagem com respeito em relação à fiscalização e procuram atender ao que é pedido; e os que não conhecem ficam assustados de início, porém acabam compreendendo o trabalho dos Auditores Fiscais. Comentou a diferença entre o Ministério do Trabalho e a Justiça do Trabalho: o primeiro regula o que está acontecendo às empresas no momento atual, procurando orientar tanto empregados, empregadores e escritórios contábeis sobre a legislação trabalhista e a evitar o litígio; o segundo regula as reclamatórias trabalhistas em ação. Conclui-se que a entrevista feita com a Auditora Fiscal do Ministério do Trabalho de Santa Cruz do Sul/RS foi de grande valia para este trabalho, pois agregou conhecimentos sobre como procede a fiscalização feita pelos Auditores Fiscais. 4.4 Análise das causas identificadas Empregadores que conhecem a legislação trabalhista e aplicam a mesma com seus empregados não se submetem aos litígios na Justiça do Trabalho. Porém existem empresas onde os direitos trabalhistas não são acertados com deveriam ser e os empregados acabam ingressando na Justiça do Trabalho contra seus empregadores para obterem seus direitos devidos, tendo apoio dos sindicatos da categoria. Muitos empregados e empregadores, antes de ingressarem com ações na Justiça do Trabalho, recorrem aos Auditores Fiscais do Ministério do Trabalho para esclarecer dúvidas sobre a legislação trabalhista. Portanto, o empregado ou empregador que se sente lesado, entra com ação na Justiça do Trabalho para recuperar seus direitos. 5 Considerações finais Atualmente o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e um dos motivos é que as empresas constatam que a cada ano que passa, agir conforme a legislação é a regra geral para ter um bom reconhecimento de suas atividades. As empresas necessitam estar sempre regulamentadas e atentas às alterações da legislação, que costumam ocorrer diariamente. Um dos setores que mais exige atenção dos empregadores são as leis trabalhistas, pois tratam diretamente da relação de trabalho. E sabemos que empregados desmotivados e sem receber seus direitos, comprometem o bom andamento desta 98 relação. Assim acontecem as inúmeras ações trabalhistas entre empregados e empregadores, ou até mesmo vice-versa, sentindo-se lesada uma das partes propõe litígio à outra parte, buscando seus direitos reconhecidos. Este trabalho buscou descobrir os reais conflitos entre empregados e empregadores e entender os motivos de entrarem com ações na Justiça do Trabalho. Os resultados da pesquisa indicam que o motivo real dos empregados entrarem com ações na Justiça do Trabalho é primordialmente o descumprimento dos direitos trabalhistas, principalmente com o pagamento de salários da categoria, pois ocorrem que muitos empregadores não pagam o valor devido estipulado em Acordo Coletivo, o que chamamos de piso mínimo salarial. Também as horas extras, pois muitos não utilizam banco de horas e também não executam o pagamento das mesmas ou não utilizam o adicional correto. Esta pesquisa, que estudou um assunto que já é do interesse das pesquisadoras, veio agregar um maior conhecimento acerca do que pensam os empregados e empregadores sobre a questão da relação de trabalho. A empresa objeto vai se utilizar dessas informações para prevenir seus clientes de possíveis litígios trabalhistas. Como sugestão de continuidade desta pesquisa, seria importante a realização de uma auditoria trabalhista em determinada empresa para se averiguar os controles internos. 6 Referências BRASIL. Código de Processo Civil. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. CLT. Constituição Federal. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SILVA, D. P. e. Vocabulário Jurídico Conciso. Atualização de Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2008. MINISTÉRIO do Trabalho e Emprego. Disponível em: <www.mte.gov.br>. Acesso em: 12 set. 2008. 99 100 ANÁLISE COMPARATIVA DA TRIBUTAÇÃO FEDERAL COM ÊNFASE NUMA MICROEMPRESA DO RAMO INDUSTRIAL Fátima Ellert¹ Antônio Osório Gonçalves² RESUMO Este trabalho trata da análise comparativa da tributação federal da empresa Sucesso e Cia Ltda, e visa a analisar a forma de tributação mais econômica para a empresa em questão. Com a pesquisa bibliográfica e exploratória, analisaram-se os dados quantitativa e qualitativamente para chegar ao resultado que melhor responde ao objetivo deste trabalho. Os resultados da pesquisa revelaram que existe uma grande diferença entre cada modelo de tributação, e pode se chegar à conclusão que a opção mais vantajosa para a empresa pesquisada é o Simples Nacional. Palavras-chave: planejamento tributário, economia, impostos ABSTRACT This work deals with comparative analysis of federal taxation of business Success e Cia Ltda., and aims to analyze the form of taxation more economical for the company in question. With the literature review and exploratory analyzed the quantitative and qualitative data to get the results that best meets the objective of this work. The survey results revealed that there is a large difference between each type of tax, and may reach the conclusion that the best option for the company studied is the single National. Key-words: tax planning, economy, tax ¹Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ²Professor da Faculdade Dom Alberto, especialista em Auditoria e Gerência Contábil pelo Instituto Nacional de Pós-Graduação, SP, em convênio com a Fundação Universidade Federal de Rio Grande, RS. 101 1 Introdução O planejamento tributário consiste em um conjunto de medidas legais que visam à economia de tributos. Na situação atual, é de extrema relevância para uma empresa possuir um planejamento tributário eficaz, que proporcione economia nos tributos uma vez que estes representam grande parcela dos custos de uma empresa, conforme descreve Fabretti (2006). De acordo com Oliveira et al (2006), o planejamento tributário nada mais é do que o planejamento empresarial que tem como objeto os tributos e seus reflexos na organização, visando a economia de tributos dentro dos ditames legais. É a forma menos onerosa para a empresa recolher os impostos sem infringir a legislação. A realização deste trabalho objetiva responder o seguinte problema de pesquisa: qual a forma de tributação legal entre Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, que proporciona à empresa a economia de tributos refletindo positivamente em seu resultado? A empresa em questão, Sucesso e Cia Ltda, é uma microempresa optante pelo Simples Nacional, com o comparativo dos três métodos de tributação supracitados, será demonstrado o valor dos tributos em cada processo para avaliar os custos tributários em cada situação. A partir desses resultados, será possível chegar à resposta que melhor responde ao problema de pesquisa. Os tributos e contribuições representam parcela significativa dos custos de uma empresa, é necessário administrar essa carga tributária. Diante desse fato, este trabalho visa demonstrar que através do planejamento tributário é possível diminuir legalmente a carga tributária das empresas fazendo uma comparação entre Simples Nacional, Lucro Real e Lucro Presumido. 2 Referencial Teórico 2.1 Planejamento Tributário Nos dias atuais, o que mais se nota nas empresas é a enorme carga tributária à que elas estão submetidas. A redução de custos é amplamente discutida a cada dia que passa. Torna-se necessário um bom planejamento tributário para racionalizar seus custos tributários, sem afrontar as diversas legislações que regem os mais diversificados tributos. De forma geral, o planejamento tributário pode ser definido como a identificação do caminho mais viável e econômico para cumprir uma obrigação tributária. Neste sentido, 102 Entende-se por planejamento tributário uma forma lícita de reduzir a carga fiscal, o que exige alta dose de conhecimento técnico e bom-senso dos responsáveis pelas decisões estratégicas no ambiente corporativo. Trata-se do estudo prévio à concretização dos fatos administrativos, dos efeitos jurídicos, fiscais e econômicos de determinada decisão gerencial, com o objetivo de encontrar a alternativa legal menos onerosa para o contribuinte. (OLIVEIRA et al, 2006, p. 38) Dessa forma, um bom planejamento tributário é de extrema importância para o contribuinte, pois cada método de tributação possui características diferenciadas, que pode onerar bastante a carga fiscal se não houver um estudo prévio para optar por um método ou outro. Assim, pode-se apresentar como a principal finalidade do planejamento tributário a economia de tributos, sem infringir a legislação. Conforme Oliveira (2006), para alcançar esse êxito o contador precisa conhecer com profundidade: - todas as situações onde é possível o crédito tributário, como no ICMS e o IPI, que são impostos não cumulativos; - a possibilidade do diferimento (postergação), dos recolhimentos dos impostos, permitindo melhor gerenciamento do fluxo de caixa; - conhecer todas as despesas e provisões permitidas pelo fisco como dedutíveis da receita; - ser oportuno e aproveitar as lacunas deixadas pela legislação, para tanto ficando atento às mudanças nas normas e aos impactos nos resultados da empresa. Da mesma forma, Oliveira (2006) diz ainda que o planejamento tributário tem como objetivo principal a economia de tributos, e que busca atender a Legislação Tributária, mas de maneira a evitar perdas para as organizações. Entretanto, para isso, deve-se conhecer as formas legais de diminuir a carga fiscal e isso exige um amplo conhecimento acerca do assunto. 2.2 Formas de Tributação sobre a renda De acordo com o Código Tributário Nacional (CTN), em seu artigo 43, o fundamento ou hipótese da incidência do Imposto sobre a Renda é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda e de proventos de qualquer natureza. Renda, para efeitos tributários, abrange a renda propriamente dita e os proventos, que compreendem o produto do capital, do trabalho ou da 103 combinação de ambos e os acréscimos patrimoniais. Conforme Dr. Nilton Latorraca, “a obrigação tributária surge quando a pessoa jurídica adquire disponibilidade jurídica ou econômica de renda, isto é, quando se constata um acréscimo patrimonial.” (LATORRACA apud OLIVEIRA et al 2006, p. 177). 2.2.1 Lucro Real A Coad (2008, p. 1) definiu Lucro Real como o lucro líquido do período de apuração ajustado pelas adições, exclusões ou compensações previstas ou autorizadas na legislação e corresponde à base de cálculo do imposto devido pelas pessoas jurídicas. De acordo com a Coad (2008), as empresas obrigadas ao Lucro Real são as organizações: a) cuja receita total, no ano-calendário anterior, tenha sido superior a R$ 48.000.000,00 , ou R$ 4.000.000,00, multiplicado pelo número de meses do período, quando inferior a doze meses; b) cujas atividades sejam de instituições financeiras, sociedades de crédito mobiliário, sociedades corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de previdência privada aberta; c) que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior; d) que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam de benefícios fiscais relativos à isenção ou redução do Imposto de Renda; e) que, no decorrer do ano-calendário, tenham efetuado pagamento mensal do imposto com base em estimativa; f) que explorem a atividade de factoring; g) que exerçam atividades de compra e venda, loteamento, incorporação e construção de imóveis, enquanto não concluídas as operações imobiliárias para as quais haja registro de custo orçado. O Lucro Real, conforme Pegas (2007), será determinado pelas receitas tributadas e pelas despesas aceitas pelo fisco e não através de receitas e despesas registradas na contabilidade. Ainda de acordo com a exposição de Oliveira (2006), o lucro real é aquele apurado na completa escrituração contábil fiscal, com estrita e rigorosa observância dos princípios fundamentais de contabilidade e demais normas fiscais e comerciais. 104 2.2.2 Lucro Presumido A tributação com base no lucro presumido, de acordo com a Coad (2008) é uma forma simplificada de determinar a base de cálculo do Imposto de Renda (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e pode ser usada pelas pessoas jurídicas não obrigadas à apuração do Lucro Real. No regime de lucro presumido, a apuração do IRPJ e da CSLL ocorre no encerramento de cada trimestre do ano-calendário, e o recolhimento dos valores devidos é efetuado no trimestre seguinte, em quota única ou em até três quotas mensais e sucessivas. Em cada trimestre, a parcela do lucro presumido será determinada aplicando-se, sobre a receita bruta da atividade, o percentual a ela correspondente. A base de cálculo do imposto devido trimestralmente será determinada, mediante aplicação sobre a receita bruta auferida nas atividades da empresa, dos seguintes percentuais, conforme segue descrito abaixo: 1,6% (um inteiro e seis décimos por cento) sobre a receita bruta auferida na revenda, para consumo, de combustível derivado de petróleo, álcool etílico carburante e gás natural; 8% (oito por cento) sobre a receita bruta auferida nas atividades de: comércio, indústria, prestação de serviços hospitalares e transporte de carga; loteamento, incorporação, venda de imóveis construídos ou adquiridos para revenda; 16% (dezesseis por cento) sobre a receita bruta auferida na prestação dos demais serviços de transporte; 32% (trinta e dois por cento) sobre a receita bruta auferida com as atividades de: a) prestação de serviços, pelas sociedades civis, relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada; b)intermediação de negócios; c) administração, locação ou cessão de bens imóveis, móveis e direitos de qualquer natureza; d) construção por administração ou por empreitada unicamente de mão-de-obra; e)prestação de qualquer outra espécie de serviço não mencionada anteriormente. (Lefisc, 2008) Entretanto, Pegas (2007) demonstra que o lucro presumido não representa uma forma de tributação obrigatória, podendo dessa forma, o contribuinte optar por ser tributado pelo lucro real mesmo que o valor de suas receitas seja bem reduzido. 105 2.2.3 Simples Nacional O Simples Nacional é o Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, instituído pela Lei Complementar 123/2006 de 14 de dezembro de 2006. De acordo com Souza (2007), o Simples Nacional implica o recolhimento mensal, mediante documento único, dos seguintes impostos e contribuições: apenas o IRPJ (Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), COFINS (Contribuição sobre o Financiamento da Seguridade Social), contribuição para PIS/PASEP, Contribuição para seguridade social para determinadas pessoas jurídicas, ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação) e ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza). A grande diferenciação do regime simplificado para o regime normal de tributação está justamente na forma de incidência dos tributos envolvidos. O Estatuto adotou, em regra, a incidência de determinada alíquota sobre uma base de cálculo, sem haver deduções ou compensações com débitos e créditos, como normalmente ocorre com o ICMS e IPI. Conforme a Lei Complementar 123/2006, para a determinação da alíquota para pagamento do Simples Nacional, a pessoa jurídica utiliza a receita bruta dos últimos 12 (doze) meses anteriores ao período de apuração. Em caso de início de atividade, os valores da receita bruta acumulada deve ser proporcional ao número de meses de atividade no período. 3 Metodologia A metodologia utilizada para a realização deste trabalho é a pesquisa exploratória. Conforme Beuren (2004), a pesquisa exploratória significa reunir mais conhecimento e incorporar características inéditas, bem como buscar novas dimensões até então desconhecidas. Quanto aos procedimentos, a técnica empregada será a pesquisa experimental. Este tipo de pesquisa possui sempre uma indagação entre duas ou mais variáveis, que testadas levarão à evidências relevantes a respeito de suas hipóteses. As variáveis selecionadas para o experimento foram os três métodos de tributação: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Quanto à abordagem do problema, a pesquisa será qualitativa, representado pelo levantamento dos dados existentes nos documentos da empresa, como as notas fiscais, Livros-Diário e Balancetes. Adquire característica 106 qualitativa pela análise dos cálculos de tributos mensais devidos pelos três métodos de tributação que compõem o experimento. A partir dessa análise de dados, adotOU-se um processo comparativo dos resultados obtidos no período compreendido pelo exercício de 2008, que permitiu estabelecer as considerações finais e recomendações do presente trabalho. 4 Análise e Interpretação dos Resultados 4.1 Apuração dos Impostos Federais a serem pagos no Simples Nacional A empresa Sucesso e Cia Ltda., é uma empresa familiar situada na cidade de Santa Cruz do Sul e foi fundada em 05 de outubro de 1966. A atividade industrial da empresa é no ramo da marcenaria, fabricando aberturas para atender a demanda do município e cidades vizinhas. Para que se pudesse alcançar o objetivo proposto neste estudo, inicialmente buscou-se identificar quais os valores deveriam ser pagos pela empresa, pelo sistema de tributação federal Simples Nacional. O Quadro 1, evidencia os resultados encontrados. QUADRO 01 - Impostos apurados pelo Simples Nacional em 2008 MÊS FATURAMENTO FAT. ACUM. 12 MESES ALÍQUOTA VALOR A PAGAR jan-08 R$ 24.008,00 R$ 168.843,60 5,97% R$ 1.433,28 fev-08 R$ 27.324,00 R$ 198.245,00 5,97% R$ 1.631,24 mar-08 R$ 27.106,00 R$ 215.305,00 5,97% R$ 1.618,23 abr-08 R$ 41.618,00 R$ 227.237,00 5,97% R$ 2.484,59 mai-08 R$ 38.182,00 R$ 249.338,60 7,34% R$ 2.802,56 jun-08 R$ 38.358,00 R$ 272.744,60 7,34% R$ 2.815,48 jul-08 R$ 30.330,00 R$ 296.611,00 7,34% R$ 2.226,22 ago-08 R$ 38.186,00 R$ 311.021,00 7,34% R$ 2.802,85 set-08 R$ 38.334,00 R$ 333.479,00 7,34% R$ 2.813,72 out-08 R$ 33.968,00 R$ 358.203,00 7,34% R$ 2.493,25 nov-08 R$ 34.524,00 R$ 376.070,00 8,04% R$ 2.775,73 dez-08 R$ 26.861,20 R$ 393.652,00 8,04% R$ 2.159,64 Como pode se observar no Quadro 1, a empresa iniciaria seu exercício social recolhendo a alíquota de 5,97% de impostos sobre o total do seu 107 faturamento e encerraria o mesmo com um percentual majorado de 8,04%. Isto se deve a forma de apuração das bases de cálculo tributáveis, para determinação das alíquotas impostas pelo Simples Nacional. Nesta forma de tributação, os valores apresentados no Quadro 1 são apurados mediante a determinação da alíquota devida pela empresa, cujo percentual aplicado é obtido a partir do faturamento acumulado dos últimos doze meses anteriores ao mês de referência. Assim sendo, o percentual aplicado sobre o faturamento bruto da empresa é obtido mediante o que determina o Anexo II da Lei Complementar 123/2006, correspondente às empresas industriais, conforme se observa no Quadro 2. QUADRO 02 - Anexo II: Partilha do Simples Nacional – Indústria Receita Bruta em 12 meses (em R$) ALÍQUOTA Até 120.000,00 4,50% 0,00% 0,00% 0,00% De 120.000,01 a 240.000,00 5,97% De 240.000,01 a 360.000,00 De 360.000,01 a 480.000,00 IRPJ CSLL COFINS PIS/PASEP CPP ICMS IPI 0,00% 2,75% 1,25% 0,50% 0,00% 0,00% 0,86% 0,00% 2,75% 1,86% 0,50% 7,34% 0,27% 0,31% 0,95% 0,23% 2,75% 2,33% 0,50% 8,04% 0,35% 0,35% 1,04% 0,25% 2,99% 2,56% 0,50% Portanto, para a apuração do valor do imposto devido, após a análise do faturamento acumulado da empresa nos últimos 12 meses, verifica-se no Anexo II (Quadro 2), qual o percentual que a empresa deverá recolher sobre seu faturamento de impostos. A seguir, apresentam-se os cálculos referentes a forma de tributação pelo Lucro presumido. 4.2 Apuração dos Impostos Federais a serem pagos pelo Lucro Presumido Objetivando obter termos comparativos para a empresa em estudo, foram apurados também os cálculos pelo Lucro Presumido, conforme segue no quadro 03: 108 QUADRO 03 - Valores calculados com base no Lucro Presumido ICMS jan/08 R$ 4.081,36 PIS R$ 156,05 COFINS R$ 720,24 IRPJ CSLL R$ 288,10 R$ 259,29 IPI R$ TOTAL - R$ 5.505,04 fev/08 R$ 4.645,08 R$ 177,61 R$ 819,72 R$ 327,89 R$ 295,10 R$ - R$ 6.265,40 mar/08 R$ 4.417,82 R$ 176,19 R$ 813,18 R$ 325,27 R$ 292,74 R$ - R$ 6.025,20 abr/08 R$ 6.114,46 R$ 270,52 R$ 1.248,54 R$ 499,42 R$ 449,47 R$ - R$ 8.582,41 mai/08 R$ 5.932,04 R$ 248,18 R$ 1.145,46 R$ 458,18 R$ 412,37 R$ - R$ 8.196,23 jun/08 R$ 5.983,36 R$ 249,33 R$ 1.150,74 R$ 460,30 R$ 414,27 R$ - R$ 8.258,00 jul/08 R$ 4.455,02 R$ 197,15 R$ 909,90 R$ 363,96 R$ 327,56 R$ - R$ 6.253,59 ago/08 R$ 6.330,74 R$ 248,21 R$ 1.145,58 R$ 458,23 R$ 412,41 R$ - R$ 8.595,17 set/08 R$ 4.661,96 R$ 249,17 R$ 1.150,02 R$ 460,01 R$ 414,01 R$ - R$ 6.935,17 out/08 R$ 5.636,66 R$ 220,79 R$ 1.019,04 R$ 407,62 R$ 366,85 R$ - R$ 7.650,96 nov/08 R$ 5.401,28 R$ 224,41 R$ 1.035,72 R$ 414,29 R$ 372,86 R$ - R$ 7.448,56 dez/08 R$ 3.805,86 R$ 174,60 R$ 805,84 R$ 322,33 R$ 290,10 R$ - R$ 5.398,73 Os valores de IRPJ de uma empresa industrial são calculados a partir da aplicação do percentual da base de cálculo sobre o faturamento bruto da empresa, e neste caso, o percentual da base de cálculo é de 8% (atividade industrial). Conforme segue demonstrado abaixo (Quadro 04), depois de calculada a base de cálculo aplica-se a alíquota do imposto. QUADRO 04 - Apuração mês de janeiro 2008 – Lucro Presumido ALIQ. B. CALC. BASE CÁLC. ALÍQUOTA VALOR A PG IRPJ 8% R$ 1.920,64 15,00% R$ 288,10 CSLL 12% R$ 2.880,96 9,00% R$ 259,29 PIS R$ 24.008,00 0,65% R$ 156,05 COFINS R$ 24.008,00 3,00% R$ 720,24 O mesmo ocorre para a apuração da CSLL, porém o percentual da base de cálculo é de 12% e a alíquota é de 9%. Já a apuração do PIS e da COFINS no lucro presumido se dá pelo método cumulativo, dessa forma aplica-se a alíquota de 0,65% de PIS e 3% de COFINS sobre o faturamento da empresa, como segue exemplificado no quadro acima (Quadro 04). No caso do ICMS, o valor apurado foi de R$ 4.081,36. Aplicou-se 17% sobre o faturamento da empresa, e como ela não obteve compras no período, não tinha crédito para se apropriar. Especificamente em se tratando 109 da empresa Sucesso e Cia Ltda, não há IPI sobre os produtos, pois eles constam com alíquota 0 (zero) na TIPI (Tabela de Incidência do IPI). Inicialmente, traçando uma linha de análise e comparação dos valores apurados através da sistemática do Lucro presumido, com aqueles apurados pelo Simples Nacional, percebe-se um aumento expressivo, e até esse momento, é muito mais vantajoso para a empresa permanecer enquadrada no Simples Nacional. 4.3 Apuração dos Impostos Federais a serem pagos pelo Lucro Real A fim de estender a análise comparativa das diversas possibilidades de tributação, disponibilizadas pelo Sistema Tributário Nacional, apresentamos o cálculo efetuado com base no Lucro Real. Os cálculos efetuados por este método demonstraram os seguintes valores conforme descrevo o quadro 05: QUADRO 05 - Cálculo dos tributos pelo Lucro Real jan/08 ICMS R$ 4.081,36 PIS R$ 396,13 COFINS R$ 1.824,61 IRPJ R$ 1.090,73 CSLL R$ 654,44 IPI R$ - TOTAL R$ 8.047,27 R$ 10.293,27 fev/08 R$ 4.645,08 R$ 450,85 R$ 2.076,62 R$ 1.950,45 R$ 1.170,27 R$ - mar/08 R$ 4.417,82 R$ 377,66 R$ 1.739,51 R$ 1.740,75 R$ 1.044,45 R$ - R$ 9.320,19 abr/08 R$ 6.114,46 R$ 227,41 R$ 1.047,47 R$ 2.040,18 R$ 1.224,11 R$ - R$ 10.653,63 mai/08 R$ 5.932,04 R$ 547,99 R$ 2.524,48 R$ 3.244,62 R$ 1.946,77 R$ - R$ 14.195,90 jun/08 R$ 5.983,36 R$ 554,19 R$ 2.552,61 R$ 3.196,20 R$ 1.917,72 R$ - R$ 14.204,08 jul/08 R$ 4.455,02 R$ 404,99 R$ 1.865,42 R$ 2.295,05 R$ 1.377,03 R$ - R$ 10.397,51 ago/08 R$ 6.330,74 R$ 595,45 R$ 2.742,66 R$ 3.237,45 R$ 1.942,47 R$ - R$ 14.848,77 set/08 R$ 4.661,96 R$ 335,15 R$ 1.543,70 R$ 2.380,79 R$ 1.428,48 R$ - R$ 10.350,08 out/08 R$ 5.636,66 R$ 228,90 R$ 1.054,32 R$ 175,38 R$ 105,23 R$ - R$ 7.200,49 nov/08 R$ 5.401,28 R$ 521,43 R$ 2.401,72 R$ 2.195,64 R$ 1.317,38 R$ - R$ 11.837,45 dez/08 R$ 3.805,86 R$ 393,42 R$ 1.812,11 R$ 807,36 R$ 484,42 R$ - R$ 7.303,17 A apuração do PIS e da COFINS pelo Lucro Real é realizada pelo método não-cumulativo, ou seja, com apropriação de crédito relativo às compras e o débito das vendas. As alíquotas de PIS e COFINS são respectivamente 1,65% e 7,6%, conforme segue demonstrado no cálculo abaixo: QUADRO 06 - Apuração de PIS e COFINS: janeiro de 2008 APURAÇÃO MENSAL PIS/COFINS – MÊ DE JANEIRO 2008 DÉBITO CRÉDITO VALOR A PAGAR COFINS 7,6% PIS 1,65% R$ 1.824,61 R$ 396,13 R$ - R$ 1.824,61 110 R$ R$ 396,13 Da mesma forma ocorre o cálculo para apuração do ICMS, porém a alíquota é de 17%. O IPI, como já foi comentado para o Lucro Presumido, possui alíquota 0 (zero) para os produtos especificados, ou seja, portas e janelas. Para a apuração do IRPJ e da CSLL, determina-se o lucro até as provisões desses tributos na DRE – Demonstrativo do Resultado do Exercício (Quadro 07). Depois desse procedimento, esse mesmo lucro é levado para o LALUR (Livro de Apuração do Lucro Real). QUADRO 07 - DRE DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO RECEITA OPERACIONAL BRUTA + Venda de Produtos 24.008,00 Impostos incidentes sobre vendas 4.081,36 DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA = RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA - CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS 19.926,64 CPV = 9.013,02 10.913,62 LUCRO BRUTO DESPESAS OPERACIONAIS - Com Vendas - Gerais e Administrativas +- Despesas Financeiras (deduzidas das receitas de igual período) 85,42 1.306,52 121,88 = LUCRO OPERACIONAL 9.399,80 = RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DOS IMPOSTOS, CONTRIB. E PART. 9.399,80 - PROVISÃO PARA IMPOSTO DE RENDA - Imposto de Renda da Pessoa Jurídica 15% - CONTRIBUIÇÃO SOCIAL 9% = LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 1.090,73 654,44 7.654,63 O resultado do exercício antes dos impostos e contribuições é transferido para a parte A do LALUR (Quadro 08). Se houver adições e exclusões, esses valores são adicionados ou subtraídos do lucro para a determinação do resultado do período. 111 QUADRO 08 - Parte A do LALUR PARTE A - REGISTRO DOS AJUSTES DO LUCRO LIQUIDO DO EXERCICIO DATA H I S T Ó R I C O ADIÇÕES Folha 1 EXCLUSÕES NATUREZA DOS AJUSTES ADIÇÕES EXCLUSÕES: TOTAL AD I Ç Õ E S E E X C LU S Õ E S DEMONSTRATIVO DO LUCRO REAL R E S U LTAD O D O PE R Í O D O COMPENSAÇÃO PREJUÍZO FISCAL 2007 9.399,80 9.399,80 2.128,24 LUCRO REAL 7.271,56 LUCRO REAL ANTES DA COMPENSAÇÃO PREJUÍZO Já na parte B do LALUR (Quadro 09), são controlados os prejuízos fiscais de períodos anteriores que podem ser compensados do resultado do período. Essa compensação tem um limite de 30% do lucro, conforme determina a legislação. QUADRO 09 - Parte B do LALUR PARTE B - CONTROLE DE VAL. QUE CONSTITUIRÃO AJUSTE DO LUCRO LÍQUIDO DE EXER. FUTUROS CONTA : Controle de Valores Para efeitos de Cor. Monet. DATA HIS TÓRICO 31/12/2007 Prejuízo do período 31/01/2008 Compensação de prejuízo Mês de Ref. Valor a Corrigir Coef. Débito Crédito 2.128,24 2.128,24 Vlr Corrigido D/C 2.128,24 D - D Esses dados revelam que para a empresa Sucesso e Cia. Ltda. não é vantagem optar pelo Lucro Real. Os valores calculados por esse método de apuração de tributos é altamente oneroso para a empresa. Os valores apurados através do Lucro Real são muito mais altos em relação ao Lucro Presumido, que por sua vez são superiores àqueles calculados através do Simples Nacional. 4.4 Análise comparativa: Simples Nacional x Lucro Presumido x Lucro Real Conforme proposto como objetivo deste trabalho, realizou-se a análise comparativa dos três métodos de tributação: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. A tabela a seguir apresenta a diferença de tributos 112 apurada nessas três possibilidades: QUADRO 10 - Comparativo dos valores tributários SIM. NACIONAL L. PRESUMIDO jan/08 R$ 1.433,28 R$ 5.505,04 LUCRO REAL R$ 8.047,27 fev/08 R$ 1.631,24 R$ 6.265,40 R$ 10.293,27 mar/08 R$ 1.618,23 R$ 6.025,20 R$ 9.320,19 abr/08 R$ 2.484,59 R$ 8.582,41 R$ 10.653,63 mai/08 R$ 2.802,56 R$ 8.196,23 R$ 14.195,90 jun/08 R$ 2.815,48 R$ 8.258,00 R$ 14.204,08 jul/08 R$ 2.226,22 R$ 6.253,59 R$ 10.397,51 ago/08 R$ 2.802,85 R$ 8.595,17 R$ 14.848,77 set/08 R$ 2.813,72 R$ 6.935,17 R$ 10.350,08 out/08 R$ 2.493,25 R$ 7.650,96 R$ 7.200,49 nov/08 R$ 2.775,73 R$ 7.448,56 R$ 11.837,45 dez/08 R$ 2.159,64 R$ 5.398,73 R$ 7.303,17 TOTAL: R$ 28.056,79 R$ 85.114,46 R$ 128.651,81 Podemos notar que optando pelo Simples Nacional, o imposto pago durante todo o ano de 2008 chega a R$ 28.056,79 (vinte e oito mil cinqüenta e seis reais e setenta e nove centavos), o que equivale a 21,80% do imposto se calculado pelo Lucro Real, e 32,96% se apurado pelo Lucro Presumido. A diferença de valores é extremamente elevada, o que representa grande vantagem para o Simples Nacional, que é a forma de tributação diferenciada para microempresas e empresas de pequeno porte. Pode-se concluir com essa análise comparativa, que o Simples Nacional é a melhor opção para empresas deste porte, como a da empresa Sucesso e Cia Ltda. 5 Considerações finais A forma de tributação das empresas hoje em dia é um fator muito importante. Ela depende de um estudo muito aprofundado do assunto. Reduzir custos é voz corrente no segmento empresarial contemporâneo. Incentivada por essa premissa, busca-se esclarecer, de forma acadêmica, o assunto através da realização deste trabalho. Os sistemas de tributação Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, possuem grandes diferenças entre alíquotas e forma de apuração. Por esse motivo torna-se necessário um amplo conhecimento a respeito do 113 assunto para enquadrar a empresa no sistema mais econômico. Conforme os resultados obtidos através da realização dos cálculos nos três métodos de apuração de tributos, Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, considera-se vantagem para a empresa Sucesso e Cia Ltda. continuar no modelo do Simples Nacional. Os cálculos evidenciaram uma economia de tributos neste método em relação aos demais. Além de trazer economia de impostos, esse método é mais simples de calcular. Esta simples verificação, realizada através de comparação dos resultados obtidos pelas três formas de tributação estudadas, constitui uma das várias maneiras de elaboração de um Planejamento Tributário, objetivando redução do custo direto dos tributos devidos ou do custo indireto da apuração desses mesmos tributos. Dessa forma, observou-se a importância dos incentivos tributários que as microempresas e empresas de pequeno porte necessitam para sobreviver nesse mercado competitivo. Assim, conclui-se que o Simples Nacional é a melhor forma de apuração de tributos para a empresa Sucesso e Cia Ltda., esse método proporciona uma ampla economia de impostos e, além disso, é uma forma de apuração simplificada. Entretanto, o contribuinte não deve se utilizar de meios ardilosos para a redução da carga tributária. Ele deve agir de acordo com a lei, sem efetuar interpretações extensivas, ou seja, sem cometer abuso do direito. É um agir pensando que a arrecadação justa de tributo será utilizada em prol da sociedade e que ele estará contribuindo para isso. 6 Referências BEUREN, M. I. (Org.). Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: Teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. COAD. Curso Prático de IRPJ. Acessória Tributária e Contábil. Disponível em: <http://www.coad.com.br/index.php?class=interface_ frontend&method=frontend_informativo&id_secao=18>. Acesso em: 26 maio 2008. CÓDIGO TRIBUTÁRIO Nacional. Disponível em: <http://www.receita. fazenda.gov.br/legislacao/CodTributNaci/ctn.htm>. Acesso em: 02 abr. 2008. FABRETTI, L. C. Contabilidade Tributária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2006. LUCRO PRESUMIDO. Disponível em: <http://www.lefisc.com.br/ materias/2112006ir2.htm>. Acesso em: 17 set. 2008. 114 BRASIL. LEI 123/2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Disponível em: <http://www. receita.fazenda.gov.br/Legislacao/LegisAssunto/simplesNacional. htm#lLeisComplementares>. Acesso em: 17 set. 2008. PÊGAS, P. H. Manual de Contabilidade Tributária. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2007. OLIVEIRA, L. M. de et al. Manual de Contabilidade Tributária. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. SOUZA, A. Curso Básico de Direito Tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. 115 116 PREGÃO ELETRÔNICO x CONVITE: UM ESTUDO DE CASO DO 7º BATALHÃO DE INFANTARIA BLINDADO Fauze Cruz da Rosa¹ Bruno Cesar Faller² RESUMO Este artigo tem por finalidade analisar algumas das vantagens advindas da utilização do pregão eletrônico para as aquisições de gêneros alimentícios pelo 7º Batalhão de Infantaria Blindado. Para tanto, são abordados conceitos referentes ao tema, visto que o pregão eletrônico vem ganhando cada vez mais notoriedade, representando parcela significativa perante as demais modalidades licitatórias utilizáveis. A metodologia utilizada neste trabalho foi exploratória, com uso de pesquisa bibliográfica e documental, tratando-se de um estudo de caso, pois aborda o processo de compras do 7º Batalhão de Infantaria Blindado. Com a utilização do pregão eletrônico, a Unidade otimizou o emprego dos recursos públicos disponíveis. Os resultados da pesquisa evidenciaram que há uma significativa economia na aquisição de gêneros alimentícios, seja na comparação do pregão eletrônico com o convite, seja na diferença entre o preço de referência (estimado) e o preço de aquisição. Palavras-chave: administração pública, licitação, pregão eletrônico ABSTRACT This article has as objective to analyze the advantages coming from the use of electronic bidding for the purchase of food supplies by the 7o Armored Infantry Battalion. To do so, concepts related to the theme are approached, because the electronic bidding has been getting more and more notoriety, representing a significant part towards the rest of the existing bidding types. The methodology used in this work was exploratory, with use of bibliographic research, documental research and it is a case study, because it approaches ¹Graduando em Administração de Empresas da Faculdade Dom Alberto. ²Docente em Administração de Empresas e Ciências Contábeis na Faculdade Dom Alberto; Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 117 the purchase process of the 7o Armored Infantry Battalion. With the use of electronic bidding, the Unit optimized the applying of public resources available. The results of the research made it clear that there´s a significant saving on the purchase of food supplies, being compared the electronic bidding with the invitation or on the price reference price difference (estimate) and the purchase price. Key words: bidding, electronic bidding, public administration 1 Introdução O início do século XXI está sendo marcado por profundas reformas na Administração Pública. Com isto, estas organizações precisam adaptar-se à era da informática, aperfeiçoando sua gestão financeira para legitimar sua credibilidade junto à sociedade. Nesse contexto, este estudo aborda o tema licitações, mais especificamente a modalidade pregão, na sua forma eletrônica e tem como foco o seguinte problema de pesquisa: quais os benefícios apresentados pela utilização da modalidade de licitação pregão, na sua forma eletrônica, para a aquisição de gêneros alimentícios, visando à manutenção da vida vegetativa do 7° Batalhão de Infantaria Blindado? O objetivo geral deste trabalho é avaliar a economicidade advinda com a utilização do pregão eletrônico, como principal forma de aquisição de gêneros alimentícios pelo 7º Batalhão de Infantaria Blindado, visto que, conforme Torres (1991), economicidade é a obtenção da eficiência na gestão financeira, baseada na minimização dos gastos públicos e na maximização das receitas, buscando equilíbrio entre as duas vertentes das finanças públicas. Este estudo buscou, ainda, apresentar alguns dos benefícios apresentados pela utilização do pregão eletrônico em relação às demais modalidade licitatórias. 2 Licitações e o pregão eletrônico à luz da legislação brasileira Visando a uma melhor compreensão acerca do procedimento licitatório, principalmente da modalidade “pregão eletrônico”, será realizada uma explanação a respeito do conceito de licitação e de suas modalidades, com uma revisão histórica do procedimento e das legislações pertinentes, além de um exame mais acurado do tema pregão eletrônico, objeto deste estudo. 118 2.1 Licitações e suas modalidades Não há como se falar de pregão eletrônico sem que antes se efetue uma conceituação a respeito de licitação. Conforme Vaz (2007), o vocábulo “licitação” provém do latim “licitationem”, derivado de “licitatio” ou “licitationis”, cujo significado é venda por lances, arrematação. Segundo Di Pietro (2006), a licitação é um procedimento administrativo no qual o ente público abre a todos os interessados, que se sujeitam às condições fixadas no edital e seus anexos, a possibilidade de emitirem propostas, dentre as quais selecionará a mais conveniente para a celebração do contrato. A introdução da licitação no Brasil ocorreu no século XIX, como relata Maurano (2006), com a edição do Decreto nº 2.926, de 14 de maio de 1862, que regulamentava as arrematações dos serviços a cargo do então Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Segundo a autora, o sistema de licitações e contratos só foi regulamentado no século XX, com o Decreto-Lei nº 2.300, de 21 de novembro de 1986, atualizado em 1987, pelos Decretos-Lei nº 2.348 e nº 2.360, instituindo, pela primeira vez, o Estatuto Jurídico das Licitações e Contratos Administrativos, reunindo normas gerais e especiais relacionadas à matéria. Entretanto, somente com a promulgação da Constituição de 1988, as aquisições feitas pela Administração Pública foram regulamentadas, à medida que a obrigatoriedade de licitar tornou-se princípio constitucional, conforme o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, que revela: “ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública, que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes [...]”. Pode-se verificar que, em se tratando de um princípio constitucional, sua preeminência, torna sua observância um imperativo. Maurano (2006), ainda descreve que o artigo 37, inciso XXI, foi regulamentado pela Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, lei esta que rege todo o procedimento envolvendo aquisições por parte da Administração Pública. Já no ano de 2002 foi sancionada a Lei 10.520, de 17 de julho, que institui a mais nova modalidade licitatória: o pregão. No entanto, segundo expõe Justen Filho (2005, p. 32), “[...] somente poderá adotar-se o pregão quando o registro de preços envolver bens comuns, exigindo-se a presença dos requisitos apropriados”. Cabe demonstrar as principais modalidades de licitação, para que a seguir, se analise especificamente uma delas - o pregão e, com mais profundidade, o eletrônico. Segundo Justen Filho (2005), uma modalidade de licitação consiste em um procedimento ordenado segundo certos princípios e 119 finalidades, sendo divididas em cinco modalidades distintas, conforme preconizado na lei nº 8.666/93, conforme quadro abaixo. QUADRO 1 – Modalidades de licitação Modalidade Concorrência Fundamentação Legal art. 22, § 1º, Lei nº 8.666/93 Tomada de Preços art. 22, § 2º, Lei nº 8.666/93 Convite art. 22, § 3º, Lei nº 8.666/93 Concurso art. 22, § 4º, Lei nº 8.666/93 Leilão art. 22, § 5º, Lei nº 8.666/93 No ano de 2002, foi editada a lei nº 10.520, que regulamentou a Medida Provisória nº 2.026, de 04 de maio de 2000, a qual consagrou o pregão como a mais nova modalidade de licitação. 2.2 Pregão Conforme o art. 2º, caput, do Decreto Federal nº 3.555/00, pregão é a modalidade de licitação em que a disputa pelo fornecimento de bens ou serviços comuns é feita em sessão pública, por meio de propostas de preços escritas e lances verbais. Nesse mesmo sentido, Di Pietro (2006, p. 381) afirma que “pregão é a modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços comuns, qualquer que seja o valor estimado da contratação, em que a disputa pelo fornecimento é feita por meio de propostas e lances em sessão pública”. 2.2.1 Pregão Eletrônico Após a promulgação da Lei 8.666/93, considerada a “Lei-mãe” das licitações, e da edição do Decreto nº 3.555, de 28 de julho de 2000, foi instituído pelo Decreto nº 3.697, de 21 de dezembro de 2000, o pregão eletrônico, cujo artigo primeiro estabelece normas e procedimentos para a realização de licitações na modalidade de pregão, por meio da utilização de tecnologia da informação, denominado pregão eletrônico, destinado à aquisição de bens e serviços comuns, no âmbito da União. Posteriormente a instituição desse decreto, foi sancionada a lei 10.520/02, que abrange ambos os Decretos. De acordo com os termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, esta lei institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns e dá outras providências. A relevância de tal proposição justifica-se por ser esta, exatamente a 120 regulamentação do pregão eletrônico, quando o artigo segundo, em seu parágrafo primeiro diz: “poderá ser realizado o pregão por meio da utilização de recursos de tecnologia da informação, nos termos de regulamentação específica”. Pode-se verificar a partir daí, o enlace existente entre a Lei 10.520/02 e os Decretos 3.555/00 (quando diz que poderá ser realizado o pregão) e 3.697/00 (quando cita “nos termos de regulamentação específica”). Já em 31 de maio de 2005, foi editado o Decreto nº 5.450, que entrou em vigor em julho do mesmo ano, regulamentando e dando novas exigências à modalidade pregão eletrônico, o qual também, revogou o Decreto nº 3.697/00. Desde sua implantação, o pregão eletrônico vem ganhando cada vez mais espaço nas aquisições da Administração Pública, visto que, de acordo com Santanna (2009), “o pregão eletrônico funciona como um leilão reverso no qual a disputa ocorre com o envio sucessivo de lances pela internet. O vencedor é aquele que oferecer o menor preço”, destacando, ainda, a economia, segurança e celeridade que o processo evidencia. Pode-se destacar, também, a agilidade deste certame, visto que, nas outras modalidades, a Administração precisa olhar a documentação de todos os concorrentes antes do processo, enquanto no pregão, em sua forma eletrônica, só é verificada a documentação do vencedor. Se esta não estiver de acordo, é analisada a do segundo colocado, reduzindo o custo administrativo do Governo. A partir deste contexto, o entendimento do conceito de bens e serviços comuns é de extrema relevância, visto que a utilização do pregão eletrônico é focada, especificamente, para esses tipos de aquisições. Segundo Justen Filho (2005a, p. 22), “a utilização da cláusula ‘bem ou serviço comum’ produz a vinculação do administrador, que deverá apurar a configuração de tal pressuposto para avaliar o cabimento da adoção do pregão”. A lei maior do pregão, a Lei 10.520/02, em seu artigo primeiro, parágrafo único, conceitua que: “consideram-se bens e serviços comuns, para fins e efeitos deste artigo, aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais de mercado”. Da mesma forma dispõe o artigo segundo, parágrafo primeiro, do Decreto nº 5.450, de 31 de maio de 2005. Uma outra concepção apresentada por Pereira Junior (2003, p. 1005) afirma que, “[...] comuns são os bens de aquisição rotineira e habitual, cujas características encontrem no mercado padrões usuais de especificação e envolvendo critérios de julgamento rigorosamente objetivos[...]”. A partir das definições supracitadas, pode-se concluir que qualquer bem e/ou serviço que se encontre normalmente em um mercado, com especificações cotidianas e que o fornecedor tenha condições de suprir a qualquer momento, pode ser considerado como comum. Logo, essas definições 121 servem para elucidar e, concomitantemente, introduzir o objeto alvo de um pregão eletrônico (o bem e/ou serviço comum). 3 Metodologia A pesquisa deste estudo classifica-se como exploratória, pois, de acordo com Cervo e Bervian (2002), os estudos exploratórios constituem os primeiros passos de uma pesquisa e são recomendados quando há pouco referencial teórico sobre o objeto analisado. Considerando a pequena produção de pesquisa que envolve o tema pregão eletrônico em organizações militares, esta pesquisa enquadra-se com exploratória. Por isso, em relação aos procedimentos adotados para este trabalho, considera-se oportuno, conforme Lakatos e Marconi (1992) e Gil (1999), o uso da pesquisa bibliográfica, da pesquisa documental e do estudo de caso. Porém, mesmo com a escassez de literatura sobre o tema, a pesquisa bibliográfica é útil para o conhecimento e domínio do que já foi publicado em livros, revistas e periódicos, visto que, esta base teórica servirá como orientação para as investigações, conforme afirma Lakatos e Marconi (1992). Por sua vez, a pesquisa documental é apropriada, uma vez que o processo em questão é regido por leis e decretos que devem ser analisados. (LAKATOS; MARCONI, 1992). Em paralelo, Gil (1999) afirma que a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica, porém, a única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Neste trabalho foi adotado o estudo de caso, pois, para Lakatos e Marconi (1992), este procedimento visa abordar uma investigação que se assume como particularística, debruçando-se sobre uma situação específica, que é o caso em questão, para assim, levantar a economia apresentada pela utilização do pregão eletrônico no 7º Batalhão de Infantaria Blindado. A abordagem será qualitativa, pois é necessária a análise de como é realizado o procedimento, suas características e vantagens (LAKATOS; MARCONI, 1992). A fim de completar a metodologia, as observações necessárias enquadraram-se como participantes e assistemáticas, sendo direcionadas às pessoas envolvidas no certame licitatório em questão. 4 Análise de dados O ano de 2008 foi considerado recorde na utilização da modalidade pregão eletrônico, conforme afirma Santanna (2009). Os gráficos apresentados a seguir, para as compras realizadas por intermédio da modalidade convite, 122 foram atualizados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPC-A) medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), visto que todas as compras mencionadas neste trabalho foram realizadas no ano de 2006. Já os resultados apresentados para as aquisições por pregão eletrônico são oriundos de processos realizados no ano de 2008, ou seja, os valores das aquisições por convite foram atualizados a contar de sua aquisição até a data do certame eletrônico. 4.1 Caracterização da Unidade O 7º Batalhão de Infantaria Blindado é uma Unidade Militar que compõe o Poder Executivo Federal, composta por 665 (seiscentos e sessenta e cinco) integrantes, atuante na segurança e integridade nacional, principalmente pelas diferentes características de seu extenso território, tendo como área jurisdicionada 62 (sessenta e dois) municípios dos vales do Rio Pardo e Taquari. Subordina-se diretamente à 6ª Brigada de Infantaria Blindada (6ª Bda Inf Bld), situada em Santa Maria – RS, tendo por missão cooperar com a Defesa da Pátria, com a Garantia da Lei e da Ordem e nas ações de defesa civil e desenvolvimento nacional, visando ser uma Unidade Militar referência no Exército Brasileiro. 4.2 Evolução da modalidade pregão eletrônico O gráfico abaixo se refere ao resultado alcançado pelo Governo Federal. GRÁFICO 1 – Evolução percentual do número de processos de compras de bens e serviços comuns – 2002 a 2008 Processos de Compra 100% 14% 90% 21% 29% 80% 46% 70% 60% 47% 6% 66% 79,2% 4% 5% 74% 50% 14% 18% 40% 83% 65% 30% 26% 20% 21% 10% 0% 74% 39% 36% 19% 1,9% 5% 8% 2002 2003 2004 Pregão Eletrônico 2005 2006 Pregão Presencial 2007 2008² Média do Período³ Outras Modalidades Fonte: www.fomenta.org.br/palestras/Rogerio%20Santana.ppt 123 Os dados acima indicam a grande evolução no número de processos licitatórios na modalidade pregão, na sua forma eletrônica em detrimento às demais modalidades, principalmente a partir do ano de 2005, quando se tornou obrigatória sua utilização, nos órgão do governo federal, conforme o Decreto nº 5.450/05. Um dos fatores que influenciam o crescimento da utilização do pregão eletrônico é a segurança, pois, conforme afirma Santanna (2009), há uma dificuldade para a formação dos cartéis, pois ninguém sabe quem são os participantes, visto que os licitantes não são identificados até que ocorra a declaração do vencedor e o comprador público também não é conhecido. Da mesma maneira, Bittencourt (2003) afirma que, no pregão eletrônico as propostas são emitidas através do meio eletrônico, adotandose como regra de segurança, a criptografia assimétrica (também conhecida como criptografia de chaves públicas), solução tecnológica proposta para garantir solidez e segurança. TABELA 1 - Evolução percentual do valor das compras de bens e serviços comuns – 2002 a 2008 Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008² Média do Período³ Pregão Eletrônico 94.006.319,45 245.405.529,97 615.260.388,66 3.858.932.192,70 12.109.505.673,99 16.501.774.594,22 5.276.425.854,60 0,00 Pregão Presencial 3.113.865.683,62 2.112.025.349,33 4.405.430.290,07 10.505.464.009,23 4.449.547.323,26 2.345.170.858,11 533.292.649,92 0,00 Outras Modalidades 8.184.169.843,85 4.086.039.379,52 5.644.625.657,51 4.189.041.791,04 4.681.002.298,41 4.926.216.179,00 1.312.182.644,79 0 Total¹ 11.392.041.846,92 6.443.470.258,82 10.665.316.336,24 18.553.437.992,98 21.240.055.295,66 23.773.161.631,33 7.121.901.149,31 0 5.570.814.116,50 4.488.583.918,94 5.285.182.524,89 15.344.580.560,32 Fonte: www.fomenta.org.br/palestras/Rogerio%20Santana.ppt A tabela 1 retrata o aumento dos valores das contratações realizadas por intermédio do pregão eletrônico, demonstrando, em contrapartida, a diminuição dos valores das contratações por pregão presencial e demais modalidades licitatórias. Já os gráficos a seguir referem-se aos resultados alcançados pelo 7º BIB ,com a utilização do pregão eletrônico, como principal forma de aquisição de bens e serviços comuns. Tais informações foram coletadas junto ao Portal da Transparência do Governo Federal, no Almoxarifado e na Seção Licitações da Unidade, as quais evidenciam a economicidade gerada pela utilização dessa nova modalidade. 124 4.3 Análise comparativa: pregão eletrônico x convite Conforme evidenciado no 7º BIB, uma licitação tem início com a necessidade de algum setor da Unidade que, por sua vez, elabora um pedido de material ao Almoxarifado. Se o material solicitado estiver em estoque nesse setor, o mesmo é descentralizado, porém, caso não haja o material solicitado, o Almoxarifado prepara uma parte requisitória, que resulta em um processo aquisitório. Tal processo é autorizado pelo Ordenador de Despesas do Batalhão, que determina a abertura da licitação ao setor de licitações da Unidade, o qual procede às medidas cabíveis para elaboração do instrumento convocatório. GRÁFICO 2 – Gastos do 7º BIB em Material de Consumo no ano de 2008 No gráfico 2, observa-se que a Unidade realizou aquisições de material de consumo, que totalizaram R$ 526.220,84 no ano de 2008, sendo que, deste montante, aproximadamente 91,7% foram compras realizadas por intermédio da modalidade pregão, em sua forma eletrônica. GRÁFICO 3 – Convite x Pregão Eletrônico (valor para hortifrutigranjeiros) 125 No gráfico 3, é demonstrada a economia apresentada pela utilização do pregão eletrônico em comparação à modalidade convite, na qual se evidencia que houve significativa redução dos valores para a aquisição de gêneros alimentícios do tipo hortifrutigranjeiros, onde destacou-se, principalmente, a economia de 23,3% advinda da aquisição de abacaxi, 14,1% na aquisição de laranja, 20,3% na aquisição de batata inglesa e 28% na aquisição de mamão. GRÁFICO 4 - Preço de Referência x Preço de Aquisição (valor para hortifrutigranjeiros) 52% 50,9% 43% 36,7% Este gráfico ratifica a economia apresentada no gráfico anterior, na comparação entre o preço de referência (preço que a Administração está disposta a pagar) e o preço de aquisição final com a utilização do pregão eletrônico, que é consubstanciada por percentuais extremamente relevantes, chegando a uma economia de 52% na aquisição do mamão. GRÁFICO 5 – Convite x Pregão Eletrônico (valor para enlatados/conservas) Já no gráfico 5, a economia apresentada pela utilização do pregão 126 eletrônico, obteve, da mesma forma, considerável redução para a aquisição de gêneros do tipo enlatados e conservas, onde verifica-se uma economia de 12% na aquisição de leite condensado, 31,2% na aquisição de creme de leite, 18,4% na aquisição de abacaxi em calda e 22% na aquisição de achocolatado. GRÁFICO 6 - Preço de Referência x Preço de Aquisição (valor para enlatados/conservas) Preço de Aquisição x Preço de Referência Preço Adquirido Preço Ref erência 40,5% R$ 1, 10 R$ 1,86 Achocolatado R$ 2, 75 Abacaxi em calda R$ 0,99 Creme de Leite 43,9% R$ 1,76 R$ 1,39 Leite Condensado R$ - R$ 1,00 44,7% R$ 4,98 R$ 2,00 42% R$ 2,40 R$ 3,00 R$ 4,00 R$ 5,00 R$ 6,00 A economia apresentada para aquisição de gêneros alimentícios fica ainda mais evidente no gráfico 6, na qual os percentuais acima de 40% corroboram com os estudos realizados por Blum (apud Bittencourt, 2003), que estima que as compras pela internet chegam a ser 15% mais baratas que as demais, havendo, ainda, uma redução de custos associados à estrutura de vendas que pode chegar a até 80%. Por fim, fica evidente a economia apresentada pela utilização do pregão eletrônico em detrimento à modalidade convite, visto que era a modalidade utilizada pelo 7º BIB até o ano de 2006 quando, por determinação do Decreto nº 5.450/05 em seu art. 4º, passou-se a utilizar a modalidade pregão, preferencialmente, na sua forma eletrônica. 5 Considerações finais O pregão eletrônico, por utilizar recursos de tecnologia da informação, apresenta determinadas vantagens em comparação às demais modalidades licitatórias, porém, algumas delas apresentam-se de forma intrínseca no processo. Em primeiro lugar, no pregão eletrônico, por ocorrer através da internet, não há tanto uso de papel quanto nas demais modalidades licitatórias. As propostas e quase todos os atos que lhe são pertinentes são enviados e recebidos por meio da internet, o que, sem sombra de dúvidas, acaba com várias formalidades e burocracia. 127 Em segundo lugar, a principal vantagem dos recursos de tecnologia de informação é a aproximação das pessoas, o encurtamento das distâncias, o que causa inúmeras repercussões positivas num processo de licitação pública. Esta é justamente a principal vantagem do pregão eletrônico em relação ao pregão presencial e às demais modalidades, vista que a aproximação das pessoas implica numa ampliação considerável da competitividade. No pregão eletrônico, com o uso da tecnologia da informação, as empresas ou pessoas distantes do lugar da licitação têm condições de participar dela sem maiores investimentos, na medida em que as mesmas não precisam arcar com os custos do deslocamento de prepostos, ao menos para participar do certame. Os interessados participam do pregão eletrônico diretamente das suas respectivas sedes, sem terem que ir ou vir. Deste modo, no pregão eletrônico fomenta-se a competitividade. Isso faz com que mais pessoas participem do pregão eletrônico e, por conseqüência, a Administração receba mais propostas, tendo mais chances de escolher aquela que melhor satisfaça o interesse público, o que favorece a eficiência em contratos administrativos. Do ponto de vista da probidade, o pregão busca evitar ajustes prévios entre fornecedores, na medida em que estes não sabem quem são os interessados em participar do certame, não sabem quem é o pregoeiro, e este por sua vez, até o encerramento da fase de lances e apuração do menor valor ofertado, não sabe quem são os licitantes. Também tem sido reconhecido que o pregão cumpre, superiormente, o princípio da transparência, porque a sociedade pode acompanhar pela Internet as contratações eletrônicas do governo federal, por meio do endereço http://www.comprasnet.gov.br. Sua utilização como principal forma de aquisição tem trazido resultados positivos para a otimização dos gastos públicos, elevando o controle dos atos administrativos pelos participantes do certame e pela sociedade em geral, por conseguinte tendendo a reduzir a incidência de fraudes nos procedimentos licitatórios. O uso e a aplicabilidade do pregão, na forma eletrônica, como modalidade de licitação no âmbito da Administração Pública Federal, proporcionou, desde o início, impacto nas contratações governamentais, representando grandes vantagens aos entes públicos, notadamente em virtude de suas características de celeridade, desburocratização, economia, ampla divulgação e publicidade e eficiência na contratação. Isso representa uma desejável aplicação do princípio constitucional da eficiência, com a simplificação do procedimento licitatório, através de uma inversão de fases que lhe propicia maior e mais efetiva funcionalidade. O pregão eletrônico também é preponderante para o perfeito atendimento do princípio da economicidade, uma vez que viabiliza resultados sa128 tisfatórios, com uma redução significativa dos valores das ofertas, além de propiciar maior agilidade às contratações, que, em regra, ocorrem com maior celeridade por meio da utilização de seu rito, menos burocratizado. Dessa forma, resta evidenciar a importância desse procedimento licitatório para a Administração Pública, como uma forma de controlar as atividades do Administrador na gerência dos recursos públicos, sempre tendo em mente os princípios imperiosos na atividade administrativa. 6 Referências BITTENCOURT, S. Pregão eletrônico. Rio de Janeiro: Temas & Idéias, 2003. BRASIL. Constituição (1988). 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Regulamenta o Pregão, na forma eletrônica, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências. Diário Oficial {da} República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2005. ______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e suas alterações posteriores. Dispõe sobre as Licitações e Contratos Administrativos. Diário Oficial {da} República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1993. 129 ______. Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002. Institui, no âmbito da União, Estados e Municípios, a modalidade de licitação denominada Pregão. Diário Oficial {da} República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2002. CERVO, A. L; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice-Hall, 2002. DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. JUSTEN FILHO, M. Pregão: Comentários à legislação do Pregão comum e eletrônico. 4. ed. rev. atual. São Paulo: Dialética, 2005. LAKATOS, E. 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Coletados os dados nos demonstrativos financeiros e aplicados os cálculos dos índices, bem como, a elaboração dos fluxos de caixa dos anos de 2005 a 2008, constatou-se que a empresa possui bons ingressos de recursos monetários, mas necessita realizar a implantação do fluxo de caixa periódico, pois ficou evidenciado através deste estudo que existe ineficiência financeira gerada pela falta de gerenciamento de recursos, o que culmina por impactar negativamente nos índices financeiros. Palavras-chave: Índices financeiros, demonstrativos financeiros, fluxo de caixa periódico ABSTRACT The study aims to analyze the financial statements of Delta’s supermarket and has the general objective to demonstrate how application of cash flow can assist in improving its financial numbers. The company studied is in the supermarket sector. It is a family business and it has more than 35 years in the market attending the region of Rio Pardo Valley. The methodology used in this study was developed through a singular case study, based on a documentary ¹Graduando do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ²Professor do Curso de Administração e Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto, Bacharel em Ciências Econômicas e Pós-Graduado em Marketing e Recursos Humanos pela URCAMP. 131 research and literature on analytical level, with qualitative and quantitative characteristics. The data’s were collected in the financial statements and for the calculation, as well as the development of cash flows of the years 2005 to 2008. It was found that the company has good inflows of money, but needs to realize the implementation of a periodic cash flow. It was evidenced by this study that there is an inefficiency generated by the financial mismanagement of resources, which has a negative impact on the financial numbers. Key-Words: Financial numbers, financial statements, periodic cash flow 1 Introdução No cenário atual, a profissão contábil vem ganhando cada vez mais prestígio dentro das organizações. Esta situação deve-se principalmente ao fato de que a contabilidade detém todas as informações históricas que a empresa possui, fornecendo os insumos necessários para a gestão financeira. Partindo desta premissa o artigo apresentado busca demonstrar a relação entre a variação dos índices financeiros a partir da utilização do fluxo de caixa no Supermercado Delta, através da análise dos documentos contábeis (balanços patrimoniais, balancetes e demonstrativos de resultado) dos anos de 2005 a 2008. A empresa estudada é familiar, do ramo supermercadista. Está em atuação no mercado há mais de 35 anos, com duas unidades, uma situada no município de Candelária e outra no município de Cerro Branco. Atualmente com cerca de 70 colaboradores atendendo a clientes da região do Vale do Rio Pardo. O trabalho propõe-se a verificar como a utilização do fluxo de caixa pode auxiliar os gestores da empresa, fazendo a correlação entre a boa gestão do fluxo de caixa e a melhora dos índices financeiros e apresentando aos sócios da empresa, os reflexos gerados pela melhora dos índices, levando aos mesmos uma real visão do supermercado sobre a relação entre rentabilidade e liquidez no negócio. Os objetivos específicos deste estudo são: oferecer aos gestores métodos de controle através do fluxo de caixa; demonstrar a relação entre a boa gestão do fluxo de caixa e a melhora dos índices financeiros; revelar os reflexos gerados pela melhora dos índices financeiros e levar aos administradores uma visão sobre a relação entre rentabilidade e liquidez no negócio. Desta forma, o problema de pesquisa é: Como os gestores do supermercado Delta podem utilizar o fluxo de caixa periódico para a obtenção de uma melhor gestão contábil e financeira da empresa refletida nos índices financeiros? 132 Metodologicamente, a pesquisa é um estudo de caso, cujos dados foram coletados em documentos contábeis, com análise qualitativa e quantitativa em nível analítico. O trabalho justifica-se por não haver estudos sobre o fluxo de caixa na empresa, considerando que o desenvolvimento deste é ampliar a reflexão do empresário sobre a importância do gerenciamento de informações de entradas e saídas de valores da organização. 2 Fluxo de caixa, índices financeiros, liquidez e rentabilidade 2.1 Conceitos, Importância e elaboração do Fluxo de Caixa O Fluxo de caixa de uma empresa talvez seja a parte que mais necessita de controle constante. Como declara Weston (2000, p. 45), “Demonstração do Fluxo de Caixa é o relatório do impacto das atividades de operação, investimento e financiamento de uma empresa sobre o fluxo de caixa durante um exercício fiscal”. Gitman, citado por Campos (1997, p. 586), complementa “O planejamento de caixa é a espinha dorsal da empresa. Sem ele não se saberá quando haverá caixa para manter as operações ou quando necessitará de empréstimos bancários”. O que interessa nas empresas é seu valor em caixa. Muitas vezes uma empresa pode anunciar lucros elevados, mas não tem a capacidade de gerar caixa, o que pode demonstrar que dificilmente está obtendo lucro real, gerando apenas lucro contábil utilizado para atrair os investidores (SANTI, 2002). Em países desenvolvidos, a utilização do demonstrativo de fluxo de caixa já é obrigatória há mais de 20 anos. Com a aprovação no Brasil da Lei Federal n° 11.638/2007, ocorreu alteração do art. n° 176 da Lei Federal 6.404/76 na qual desobriga empresas a utilização da DOAR (demonstração das origens e aplicações de recursos), mas em contra partida adota a utilização do Fluxo de Caixa. Assim, todas as empresas que tenham sua organização societária como S.A, e perfaçam alguns requisitos estão obrigadas a apresentar o fluxo de caixa. Mas afinal, quais são as grandes vantagens de utilizar o fluxo de caixa para as empresa, além de se ter mais um acúmulo de papel na mesa do gerente? Gitmam (2008) faz alusão ao fluxo de caixa como sendo o sangue da empresa, e reforça, afirmando que o tema é de preocupação básica do administrador, tanto na gestão do dia-a-dia quanto no planejamento e na tomada de decisões estratégicas voltada para a criação de valor para o acionista. 133 Passadas a conceituação e apresentadas a forma e aplicação do fluxo de caixa, é preciso desenvolver a idéia de como elaborar e aplicar o controle através desta ferramenta. O fluxo de caixa é uma das maneiras mais eficientes de controle de giro de ativo de grande liquidez que a empresa possui, por isso é muito importante que ele seja elaborado de forma que se adéqüe a empresa onde será aplicado, fazendo com que o negócio tenha a visão de quais os recursos futuros que irão ingressar na empresa, bem como seus desembolsos, para que desta forma se faça um adequado planejamento (MATARAZZO, 2007). Na aplicação de fluxo de caixa, é preciso se estipular um determinado período de tempo para que haja a possibilidade de análise e, como citado acima este período vai variar de empresa para empresa e dependendo de seu ramo de atividade. Os principais elementos que a serem coletados com relação à entrada de caixa são as vendas à vista, vendas a prazo, vendas de ativo permanente, aumento de capital, outros ingressos. Em se tratando de desembolsos, os fornecedores, salários, despesas com vendas, compras de ativo, outros desembolsos. A seguir estão elencadas algumas das projeções que são necessárias, segundo Zdanowicz (2002), para uma aplicação do fluxo de caixa. Para o autor, uma projeção de vendas que contemple as prováveis proporções entre as vendas à vista e a prazo da empresa, estabelecer estimativas de compras às suas respectivas condições oferecidas em relação aos prazos para pagamento pagamentos. Aplicação de métodos de controle sobre as cobranças efetivas em relação aos créditos ainda a receber dos clientes. A adequação da estrutura do fluxo de caixa e sua periodicidade levando-se em consideração, o tamanho, ramo e atividade da empresa. E ainda orçar os demais ingressos e desembolsos de que possivelmente ocorrerão no período elencado. Hayes (2009) observa que na elaboração do fluxo de caixa é necessário assegurar um nível de caixa adequado ao ritmo de entradas e saídas da empresa, obter liquidez nas aplicações, utilizando sobra de caixa no mercado e fixar limite mínimo de acordo com histórico de movimentações que a empresa vem apresentando. No caso do fluxo de caixa, o desafio fica por conta de inserir no conceito dos gestores da empresa que não utilizam esta ferramenta que ela pode trazer benefícios tanto de curto como longo prazo. Há a Idéia de que o uso desta técnica pode melhorar a visão que se tem na empresa sobre o faturamento e ainda auxiliar os gestores na hora de aplicar os recursos para que não ocorra a diminuição de rentabilidade no negócio. Como este estudo trata de demonstrar como o fluxo de caixa pode 134 gerar informações gerenciais e que tem influência nos índices financeiros da empresa, a seguir temos definições acerca de índices financeiros. 2.2 Índices financeiros Como define Matarazzo (2007, p. 147), “índices financeiros são a relação entre contas ou grupos de contas das Demonstrações Financeiras, visando evidenciar determinada situação econômica ou financeira de uma empresa”. Paulus e Crespo Jr (2009), nos lembra que não existe um número determinado de fórmulas matemáticas para uma análise financeira através de índices, estas são construídas de acordo com a pretensão do analista financeiro. A seguir constam alguns índices, relevantes a este estudo, com seus respectivos significados: Índice de liquidez corrente, índice de liquidez seca, índice de liquidez geral, capital circulante ou capital de giro, índice de rotação dos estoques, índice de rotação dos valores a receber, índice de rotação dos valores a pagar, taxa de lucro bruto. Conceituado por Matarazzo (2007), Índice de liquidez corrente demonstra a capacidade de uma empresa quitar suas obrigações de curto prazo (passivo circulante), com recursos oriundos das contas do ativo circulante. Resumindo, é a razão entre o ativo circulante e passivo circulante. Já o Índice de liquidez seca indica a relação entre as obrigações de curto prazo sobre o ativo circulante, neste caso, para a obtenção deste índice, exclui-se do cálculo o valor correspondente à conta de estoques. O Índice de liquidez geral traz a relação entre o ativo circulante acrescido do ativo realizável em longo prazo sobre o passivo circulante mais o passivo exigível a longo prazo. Tratando de estrutura, Gitman (2008) revela que o capital circulante ou capital de giro leva-se em consideração não um valor percentual, mas a relação bruta sobre as contas das demonstrações, neste caso formadas através da subtração do ativo circulante do passivo circulante. No índice de rotação dos valores a receber, temos o número de vezes que os valores a receber se renovaram em um espaço de tempo. Na mesma linha de raciocínio, o Índice de rotação dos valores a pagar demonstra o número de vezes que as obrigações de pagamento foram renovadas em um período. No que tange ao Índice de rotação do estoques, são avaliados o número de vezes em que o estoque se renovou em determinado período. Faz-se, desta forma, a necessidade de relacionar os dois instrumentos apresentados acima, para que se tenha a real compreensão deste estudo. 135 2.3 Fluxo de Caixa e indicadores financeiros O Fluxo de caixa de uma empresa pode ser analisado quando são aplicados alguns índices financeiros. Como é necessário ver o patrimônio como um todo, precisamos ter em mente que, mesmo que um ativo tenha menos liquidez que outro ele de certa forma pode influenciar o fluxo de caixa. Gitman (2008) coloca que os elementos básicos de uma análise por meio de índices, parte do resultado do exercício e o do demonstrativo de resultado da empresa. Os Indicadores financeiros, quando utilizados de maneira correta, podem demonstrar quando a organização está diminuindo sua eficiência e conseqüentemente diminuindo o fluxo da empresa. Como Zdanowicz (2002) explica, o simples fato de uma empresa possuir um alto nível de liquidez pode indicar que há uma possível baixa no processo operacional, se for carente de recursos e assim prejudicar a rentabilidade da empresa. Parafraseando Gitman (2008), o estudo de apenas um índice não fornece informações suficientes para que se possa julgar o desempenho geral da empresa. Com a aplicação destes índices, podemos estabelecer uma relação entre os dados econômicos financeiros da empresa, verificando os pontos de fraqueza que podem vir a causar um desequilíbrio a curto, ou até mesmo, longo prazo. Quando se aplicam as ferramentas como o fluxo de caixa e o estudo através de índices financeiros, buscamos encontrar o que os gestores financeiros têm como sendo o maior de seus objetivos que é o equilíbrio entre o maior nível de liquidez de seus ativos, sem que exista uma perda significativa de rentabilidade. 2.4Liquidez X Rentabilidade Para que os gestores da empresa utilizem esta ferramenta como uma forma de controle e gestão, é necessário entender que há diferença entre as informações que se obtêm hoje com as demonstrações financeiras e contábeis que a empresa possui e qual a vantagem que ela irá possuir com a implantação do fluxo de caixa. Por isso a relação rentabilidade e liquidez são premissas empíricas muito fortes dentro do objetivo da implantação do fluxo de caixa. Pois não basta apenas possuir grande faturamento, mas um faturamento que possa refletir capacidade de saldar dívidas, permitir novos investimentos e manter um nível de caixa adequado para possíveis oscilações de mercado. A rentabilidade está ligada ao ganho da empresa com o investimento, 136 ou seja, qual o valor que irá receber se investir em algum bem ou negócio, já a liquidez esta relacionada com a velocidade com a qual se pode transformar um possível ganho de rentabilidade em moeda corrente com a menor redução de valor possível. De acordo com Braga (1989, p.31), “O equilíbrio entre a liquidez adequada e a rentabilidade satisfatória constitui constante desafio enfrentado pela administração financeira”. No regime de caixa, não são considerados por mais que ocorram vendas os valores que ainda não foram recebidos, da mesma forma as despesas somente serão consideradas quando realmente o desembolso for efetivado. O que nos traz para o estudo e implicação efetiva no fluxo de caixa sobre os valores monetários realmente retirados ou aplicados na empresa. No caso da venda com cartões de crédito, exemplo que pode ser bem utilizado na empresa estudada, quando se vende parcelado com cartão, é necessário fazer a análise que este valor será recebido dentro de um prazo préestabelecido e que não coincide com o prazo de pagamento da mercadoria. Este é um exemplo que acontece em muitas empresas e que vem ao encontro do conceito de rentabilidade e liquidez. Como a venda por meio de cartões de crédito aumentam as vendas e conseqüentemente o faturamento da empresa, aumentam a rentabilidade, mas a liquidez desta venda não evolui da mesma maneira, pois o recebimento desta operação estará sujeito a taxas de juros sobre a prestação de serviço de cartão. Dentro deste conceito de rentabilidade x liquidez, pode-se perceber que muitos gestores confundem os lucros da empresa com o fluxo de caixa. Hayes (2009) nos dá uma ilustração desta observação ao complementar que, por um determinado período, o lucro pode ou não contribuir positivamente para o fluxo de caixa. Exemplificando que, se houver uma grande venda realizada no fim do ano fiscal e gerar lucro à empresa, caso o pagamento desta venda não for recebido até o período contábil seguinte, ela irá para os livros da organização como uma conta a receber, reduzindo o fluxo de caixa. 3 Procedimentos metodológicos O trabalho, apresentado de acordo com a sua característica, classifica-se como pesquisa aplicada, pois tem como objetivo produzir conhecimentos necessários para resolução de problemas específicos, valendo-se para tanto da montagem do fluxo de caixa, analisando o efeito da não aplicação deste controle para os índices financeiros do supermercado Delta. Assim, tem-se um estudo de caso exclusivo, que para Collis e Hussey (2005) é um exame extensivo e profundo de um único exemplo de um fenômeno de interesse isolado, utilizando-se de uma pesquisa bibliográfica e documental como fontes da pesquisa em se tratando da forma e abordagem 137 do problema, adotou-se tanto a análise quantitativa quanto qualitativa. Na visão quantitativa há coleta de dados através dos Balanços patrimoniais, Demonstrativos de Resultado e Balancetes, compreendidos entre os anos de 2005 a 2008 e que não passaram pelo processo de auditoria. Para auxílio no tratamento dos dados, foi utilizado o software Excel para a tabulação, elaboração dos fluxos de caixa, e aplicação do cálculo dos índices financeiros. Na construção do fluxo de caixa, os dados coletados, nos demonstrativos, foram atualizados monetariamente através do cálculo do VPL, que, reforçando a idéia de Gitman (2008), é o valor presente de uma quantia atualizada a uma determinada taxa. Neste caso, a taxa de juros utilizada foi a Selic, taxa básica de juros do país. Qualitativamente, o trabalho traz a interpretação dos dados obtidos através dos cálculos, sendo estes focados e inseridos dentro da realidade do supermercado, nesse sentido, revelando e ressaltando a importância do fluxo de caixa para o auxílio da gestão financeira como meio de melhorar os índices financeiros. Vale salientar que até então os demonstrativos não dão auxílio para os gestores na tomada de decisão, cabendo a este trabalho, o tratamento analítico dos mesmos, revelando a importância de uma boa saúde financeira. 4 Análise e discussão dos dados Nesta seção, são apresentados os resultados obtidos através da análise documental e bibliográfica. Seguindo uma ordem cronológica para a apresentação das informações coletadas, os dados serão demonstrados iniciando no ano de 2005 e terminado em 2008. Os gráficos trarão em seu eixo abscissas (X) o período analisado e no eixo ordenadas (Y) os valores monetários dos fluxos bem como os valores dos índices compilados a partir da coleta de dados. A seguir, serão demonstrados, de forma conjunta, os fluxos de caixa compreendidos entre o período de 2005 a 2008. GRÁFICO 1 – Relação de Fluxo de caixa do período analisado 138 Para que exista a relação de conceitos abordados neste trabalho, no que tange à diferença entre rentabilidade e liquidez, faz-se necessária a construção de uma linha de raciocínio em termos gerenciais das informações coletadas, e por este motivo, a análise será mais bem ilustrada com a apresentação do gráfico seguinte que traz o faturamento da empresa também nos anos de 2005 a 2008: GRÁFICO 2 – Relação de faturamento anual No do ano de 2005 vemos que a empresa obteve o saldo médio de faturamento mais elevado. Em contra partida temos no gráfico 1 dos fluxos, resultados na maioria dos meses do ano negativos. Isso nos leva a idéia de que uma entrada de recursos precisa ser bem gerenciada para que não ocorra um desequilíbrio de caixa. Apesar de certa melhora no fluxo de caixa da entidade, em 2006 suas estratégias de investimentos e gerenciamento de recursos financeiros se mantiveram inalterados. Ainda no ano de 2006, a empresa melhorou seu desempenho financeiro, e, mesmo tendo sofrido uma queda de 23% no faturamento, o seu fluxo de caixa e a relação do fluxo com o faturamento melhoraram. A melhora dos níveis de caixa levou a empresa a manter essa característica no ano de 2007, elevando seus níveis de caixa em 34%, mas seu faturamento praticamente não se alterou, sofrendo um aumento de apenas 1,35% na média do ano. Mesmo com a melhora dos fluxos, a empresa sofreu oscilações monetárias no curso de 2007. Assim a melhora de caixa não foi causada por uma estratégia de gestão, e o aumento dos níveis de caixa não foram resultados de mudança no modo de tomar decisões, pois, caso esse fosse o fato determinante dos resultados, os meses do ano em que sofreram quedas de caixa não teriam se confirmado. Matarazzo (2007) ressalta que o fluxo de caixa é uma das maneiras mais efetivas de planejamento, dando um prognóstico da situação financeira real da empresa. 139 Já a característica de elevação de fluxo de caixa e melhora da eficiência financeira foi mais presente no decorrer de 2008, já que a empresa neste ano sofreu uma redução em suas vendas em cerca de 4%, mas o fluxo de caixa foi duas vezes maior do que em 2007, lembrando que apenas em 2008 o saldo dos fluxos de caixa foi positivo em todos os meses do ano, corroborando assim a idéia de Gitman (2008) de que o fluxo de caixa é sangue da empresa. Conjuntamente com a análise dos fluxos de caixa, fazendo uma relação com faturamento da empresa, o trabalho se propõe a demonstrar a relação do fluxo no desempenho dos índices financeiros da entidade e desta forma, para que este objetivo seja alcançado, o próximo passo será a análise dos índices financeiros correlacionando o resultado dos índices com as constatações elencadas acima. No próximo gráfico serão, apresentados os índices de liquidez seca, corrente e geral da empresa dos anos de 2005 a 2008. O gráfico a seguir apresenta a liquidez dos ativos no período estudado. GRÁFICO 3 – Relação de índices de liquidez No gráfico 3 temos o índice de liquidez corrente, com uma média de resultado abaixo do nível considerado aceitável, da mesma forma o índice de liquidez seca, que no decorrer dos quatro anos sofreu pouca variação, ficando apenas com uma oscilação significativa no ano de 2008, pois obteve uma melhora de cerca de 38%. Mas, como ilustra Gitman (2008), o cálculo de liquidez seca varia em termos de qualidade no resultado, de acordo com cada setor de atividade das empresas, pois, se uma empresa possui uma alta rotação de seus estoques, como ocorre no setor estudado, o índice de liquidez seca pode apresentar valores inferiores a 1(um). E esse resultado é confirmado como podemos visualizar no gráfico acima, já que em nenhum dos anos estudados o índice atingiu resultado superior a 1 (um). O terceiro índice apresentado no gráfico, índice de liquidez geral, trata de demonstrar a capacidade da empresa para quitar obrigações de curto e longo prazo com recursos de curto e longo prazo. Como a maioria dos índices de liquidez, o valor mínimo que este deve apresentar precisa ser 1 (um), con140 forme Matarazzo (2007). O gráfico 3 revela, desta forma, que o índice de liquidez geral obteve um resultado aceitável apenas nos anos de 2005 e 2008. Agora serão apresentados os índices de atividade da empresa, de forma a consolidar as informações apresentadas nos gráficos anteriores. No gráfico 4, temos os índices de rotação dos estoques, índice de rotação dos valores a receber e o índice de rotação dos valores a pagar. GRÁFICO 4 – Relação de índices de atividade De acordo com as avaliações, vê-se que um baixo índice de liquidez seca pode ser aceitável quando estiver em conformidade com um índice de rotação dos estoques elevado, sendo de fácil percepção ao analisar o gráfico 4, na qual o índice de rotação dos estoques se mantém com resultados elevados, correspondendo assim de forma adequada à estrutura da empresa. Em se tratando do índice de rotação dos valores a receber, o seu desempenho é menor do que o índice de rotação de valores a pagar em todos os anos. Isso deve-se ao ramo da empresa, que possui um prazo maior para o recebimento de suas contas, o que em conjunto com rotação dos estoques, que é elevado, gera a obrigação com fornecedores também se renovando mais rápido, gerando um desequilíbrio entre entradas e saídas de caixa. O nível de rotação das atividades da empresa impactam diretamente no fluxo de caixa, diminuindo o capital de giro, mesmo que consiga manter a boa tomada de recursos com terceiros, dificilmente manterá bons níveis de caixa. Isso pode ser visto no próximo gráfico, que revela a variação do capital de giro da empresa. GRÁFICO 5 – Evolução do capital de giro 141 O gráfico 5 demonstra a evolução da empresa em termos de geração de capital de giro. Ratificando as constatações acima, podemos ver neste gráfico que a empresa possui disparidade entre ingressos de recursos e sua capacidade de gerar excedente de caixa que regule os fluxos de caixa da entidade. Os gráficos que demonstram o desempenho das atividades da empresa podem complementar as informações sobre o capital de giro, pois revelam os motivos que levaram a entidade a obter nos anos de 2005 e 2006 capitais de giro negativos. Nos exercícios seguintes, a empresa melhorou esses resultados, tendo no ano de 2008 uma elevação significativa de fluxo monetário. Como resultado de uma má gestão dos fluxos de caixa aliado aos índices de atividade disformes em termos de adequação financeira, a taxa de lucro bruto da empresa não correspondeu de forma adequada ao porte da organização. O gráfico 6 mostra o resultado bruto da entidade e apresenta os reflexos gerados por todas as deformidades apontadas anteriormente. GRÁFICO 6 – Taxa de lucro bruto Como se pode checar no gráfico 6, todas as informações que foram ressaltadas nas análises anteriores aparecem de forma mais forte neste gráfico, já que é neste que se resumem as atividades compreendidas pela empresa em determinado período e é também neste gráfico que conforme Gitman (2008), pode ser medida a proporção de cada unidade monetária de receita que sobra em relação aos custos da entidade. Ou seja, neste gráfico percebe-se que apesar da elevação ingresso de recursos, a taxa de lucro bruto gerado com todas as operações da empresa é pequena em todos os anos. Outro importante fator é que mesmo melhorando o fluxo de caixa nos ano de 2007 e 2008, as taxas de lucro bruto mantiveramse inalterados, vindo ao encontro da afirmação de Braga (1989), que ressalta a importância do confronto da liquidez e rentabilidade dos ativos. 142 5 Considerações finais Através dos estudos com base nas demonstrações financeiras obtidas com as análises da empresa Delta, vê-se que a organização pode aumentar a eficiência financeira, aplicando o fluxo de caixa periódico discutido ao longo deste trabalho. Nota-se que a entidade, vislumbrada pelos cálculos dos índices financeiros em comparação com os saldos dos fluxos de caixa, demonstra a falta de conexão da gestão de recursos, lembrando que existe ligação íntima entre as variáveis elencadas. Entretanto, se forem gerenciados de forma adequada podem melhorar os indicadores financeiros da organização. Os índices financeiros da empresa que, apesar de possuírem algumas variações aceitáveis, não apresentam nenhum de seus números em níveis ideais para um bom funcionamento. Como o objetivo do investimento em uma organização é a geração de lucro para os sócios e para o negócio, o próprio resultado da taxa de lucro bruto nos revela que a empresa não está gerando um bom índice. E aqui entramos na parte mais difícil de demonstrar para os gestores da empresa, que é a relação entre a rentabilidade de um negócio paralelo ao aumento continuo de liquidez, que mantém a saúde financeira da organização em equilíbrio. Na empresa estudada, os dados mostram esta relação, que vem sendo desconsiderada quando são tomadas as decisões de investimento da empresa. Todos os indicadores coletados e apresentados neste trabalho reforçam a idéia de que a empresa possui um bom nicho de mercado e já tem um bom fluxo de clientes, mas precisa rever seus conceitos no que tange a administração dos recursos. Sugere-se à empresa realizar um estudo com base nas informações coletadas neste trabalho bem como a implantação e utilização periódica do fluxo de caixa para que possa visualizar de forma rápida e efetiva como se comporta o ciclo operacional e financeiro da entidade para assim melhorar seus índices financeiros. Outra sugestão a ser considerada é o de que este trabalho possa ser ampliado e utilizado como base para novos estudos na organização, aprimorando, desta forma, as ferramentas sugeridas acima. Para a comunidade acadêmica, o trabalho apresenta a validação do conhecimento adquirido ao longo da graduação, além de demonstrar a ligação íntima entre dois grandes indicadores de eficiência financeira. Serve, deste modo, como base para posteriores pesquisas, podendo ser complementado através das análises comparativas de anos subseqüentes. 143 6 Referências BRAGA, H. R. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1989. BRASIL. Lei Federal n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as normas a serem seguidas no que tange os procedimentos contábeis no Brasil. Disponível em:<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/ Leis/2007/lei11638.htm>. Acesso em:10/08/2009. BRASIL, Lei Federal n° 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Disponível em:< <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/ Leis/2007/lei11638.htm>. COLLIS, J; HUSSEY, R. Pesquisa em Administração: Um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. 2. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2005. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 10. ed. São Paulo. Paerson Education do Brasil. 2008. GITMAN, L; CAMPOS, A. F. Demonstração dos fluxos de caixa. Uma ferramenta indispensável para administrar sua empresa. 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São Paulo: Pearson Markron Books, 2000. 145 146 ANÁLISE DE DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS COMO BASE PARA A IDENTIFICAÇÃO DE ALTERNATIVAS OTIMIZADORAS DO DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO DE UMA EMPRESA COMERCIAL Fernanda Gabrielle Pereira¹ Daniel Bartz² RESUMO Este estudo tem como tema a contabilidade gerencial, abordando de forma específica a análise de demonstrações contábeis, instrumento gerencial que, a partir de informações passadas, visa a auxiliar a empresa em seu processo decisório, bem como, em suas projeções para períodos futuros. Seu objetivo central é identificar alternativas que visem à otimização do desempenho econômico e financeiro de uma empresa comercial que atua no ramo do vestuário. Para tanto, realizou-se uma pesquisa exploratória, através de um estudo de caso, no qual foram analisadas as demonstrações contábeis dos exercícios sociais de 2005, 2006 e 2007. Os principais resultados obtidos através das técnicas de análise evidenciaram que a empresa possui uma boa situação econômico-financeira, embora não utilize técnicas de análise gerencial. Palavras-chave: contabilidade gerencial, análise de balanços, desempenho ABSTRACT This study deals with the theme of management accounting or executive ability. In a specific way of acting it approaches an analysis of accounting presentations, an accounting instrument that, based on past notifications, aims to assist the enterprise both in its conclusive process, and its future projections. The core objective is the identification of alternatives in view of the optimization of the economic and financial performance of a dressing trade enterprise. Having this in mind, held an exploratory research through a case study, in which it reviewed of the accounting presentations of the 2005, 2006 and 2007 social practices. The chief outcomes throughout the analyzing techniques cleared up that the enterprise does enjoy a suitable economic ¹Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ²Mestre em Ciências Contábeis, professor da Faculdade Dom Alberto. 147 and financial state of affairs, in spite of not making use of the techniques of a managing analysis. Key-words: management accounting, balance sheet analysis, performance 1 Introdução O desempenho empresarial está diretamente relacionado com a forma como se une a ciência da contabilidade e a da administração para fins de gerenciamento. Uma gestão efetiva requer que as decisões sejam tomadas com o mínimo possível de incertezas. Nesse sentido, a contabilidade é uma fonte valiosa em termos informacionais, que se adequadamente utilizada e associada a outras informações do contexto empresarial possibilita aos administradores uma análise mais acurada. Para Padoveze (1997), uma área específica da contabilidade que pode contribuir nesse sentido é a contabilidade gerencial, caracterizada como um conjunto de tarefas com finalidade de transformar os dados contábeis em informações de fácil entendimento para os administradores das empresas em seu processo decisório. Desta forma, o presente estudo aborda a contabilidade gerencial e, no âmbito desta, discute especificamente a análise de demonstrações contábeis de uma empresa comercial do ramo do vestuário, situada na cidade de Candelária/RS, buscando responder ao seguinte problema de pesquisa: Como a empresa Arno J. Lersch & Cia Ltda poderia otimizar seu desempenho econômico e financeiro a partir das informações obtidas através da análise de demonstrações contábeis? O objetivo principal é conhecer a partir da análise dos demonstrativos contábeis obrigatórios dos exercícios sociais de 2005, 2006 e 2007, o desempenho e a evolução financeira da empresa, identificando alternativas que possam vir a auxiliar na melhoria de seus resultados. De forma específica, têm-se como objetivos: apresentar dados econômicos e financeiros da empresa em três anos consecutivos de atividade (2005-2007); avaliar seu desempenho através da análise de índices econômicos e financeiros; fornecer informações após a comparação entre os resultados obtidos na análise; e, por fim, identificar alternativas que poderiam de alguma forma melhorar seu desempenho e situação financeira. A importância deste estudo consiste na possibilidade da empresa otimizar sua situação econômica e financeira através de informações relacionadas a períodos anteriores, visto que a sua utilização tem por objetivo auxiliar no processo decisório, bem como na realização de projeções para o futuro. Também se espera contribuir para a continuidade das pesquisas relaciona148 das à compreensão de técnicas de gestão empresarial direcionadas a auxiliar na melhoria dos procedimentos administrativos. 2 Características da análise de demonstrações contábeis Para o Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul – CRCRS (2007, p. 5), “as demonstrações contábeis são uma representação monetária estruturada da posição patrimonial e financeira em determinada data e das transações realizadas por uma entidade no período findo nessa data”. Em relação à sua obrigatoriedade, a Lei das Sociedades Anônimas – Lei 6.404/76 – estabelece que as empresas apresentem ao fim de cada exercício social as seguintes demonstrações contábeis: Balanço Patrimonial, Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados, Demonstração do Resultado do Exercício, Demonstração dos Fluxos de Caixa e, caso seja companhia aberta, Demonstração do Valor Adicionado. O quadro 1 resume as principais características de cada demonstração contábil. QUADRO 1 – Principais características das demonstrações contábeis DEMONSTRAÇÃO CONTÁBIL Balanço Patrimonial Demonstração do Resultado do Exercício CARACTERÍSTICAS Apresenta o patrimônio da entidade, composto de bens, direitos e obrigações, que podem ser avaliados em moeda. É estruturado em duas colunas que englobam suas partes essenciais: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Utiliza contas de receitas e despesas para fornecer o resultado (lucro ou prejuízo) obtido pela empresa em determinado período. Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados Demonstra as movimentações que ocorreram na conta lucros acumulados, presente no grupo patrimônio líquido, proporcionando o entendimento dos fatos ocorridos durante o exercício social. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Relaciona todas as contas do patrimônio líquido identificando os fluxos ocorridos entre uma conta e outra, bem como, as variações (acréscimos e reduções) verificadas no exercício. Demonstração dos Fluxos de Caixa Demonstrativo que tem como principal objetivo a identificação de insolvência da empresa. Apresenta o resumo de onde o numerário se originou e como foi gasto durante o período. Demonstração do Valor Adicionado Visa a demonstrar ao usuário o quanto a empresa gerou de riqueza (recursos) e como ela distribuiu esses recursos aos agentes que contribuíram para tal formação. Fonte: Lei 6.404/76, CRC-RS (2007), Marion (2005) 149 O quadro 1 evidencia que cada demonstração contábil possui características específicas e apresenta diferentes informações relacionadas ao patrimônio da empresa. Em decorrência disto, todos estes relatórios são considerados essenciais para uma adequada análise da situação econômicofinanceira da empresa, especialmente por apresentarem informações que retratam o seu desempenho. Os demonstrativos contábeis são estruturados de acordo com o que dispõe a Lei 6.404/76, as Normas Brasileiras de Contabilidade e os Princípios Fundamentais de Contabilidade, o que os torna relatórios bastante técnicos. Para que se tornem eficazes instrumentos de gestão e possam vir a auxiliar o gestor em seu processo decisório, esses demonstrativos necessitam ser interpretados e traduzidos em uma linguagem mais analítica e textual, o que é possível por meio da análise de demonstrações contábeis. 2.1 Análise de demonstrações contábeis A análise de demonstrações contábeis é uma atividade de caráter gerencial que visa a auxiliar o processo administrativo das empresas, bem como, avaliar o seu desempenho econômico e financeiro. Conforme Padoveze (1997, p. 131), a análise de demonstrações contábeis consiste em um processo de “meditação sobre os demonstrativos contábeis, objetivando uma avaliação da situação da empresa, em seus aspectos operacionais, econômicos, patrimoniais e financeiros”. Essa análise não pode ser considerada como uma solução de problemas, mas sim como uma técnica gerencial capaz de detectar os pontos fortes e fracos do processo operacional da empresa. Seu principal objetivo é apresentar a situação geral da empresa sob diversos enfoques de análise, possibilitando a identificação de alternativas que visem à otimização de seu desempenho e lhe conduza à eficácia organizacional. Conforme a abordagem de Padoveze (1997), em termos práticos, a análise de demonstrações contábeis pode ser elaborada de diversas maneiras, no entanto, sugere-se focar na comparação de valores atuais e passados para que seja possível a apresentação do desempenho econômico e financeiro da empresa. Desta forma, os principais métodos de análise de demonstrações contábeis são: análise horizontal, análise vertical e análise através de índices. Com o intuito de auxiliar e complementar a análise de demonstrações contábeis é importante que outros procedimentos sejam adotados, como por exemplo, fator de insolvência de Kanitz e análise de indicadores de desempenho operacional e financeiro, sendo eles prazo médio de renovação de estoques (PMRE), prazo médio de recebimento de vendas (PMRV) e prazo 150 médio de pagamento de compras (PMPC). 2.1.1 Análise vertical e horizontal De acordo com Assaf Neto (2006, p. 123), a análise vertical consiste em um “processo comparativo, expresso em porcentagem, que se aplica ao se relacionar uma conta ou grupo de contas com um valor afim ou relacionável, identificado no mesmo demonstrativo”. A partir da análise vertical, é possível identificar quanto uma determinada conta contábil significa em relação ao demonstrativo como um todo, ou em relação a alguma parte específica. O cálculo consiste na divisão do valor correspondente a uma determinada conta contábil pelo valor total do demonstrativo, ou de determinado grupo, multiplicando-se o valor obtido por 100 para se ter o resultado expresso em percentual. Para a obtenção de informações referentes ao desenvolvimento da empresa, basta realizar a subtração entre o índice referente ao período atual e ao período passado. Considerando a importância da análise horizontal para uma avaliação mais completa, Assaf Neto (2006, p. 115) destaca que seu foco “é a comparação que se faz entre valores de uma mesma conta ou grupo de contas contábil, em diferentes exercícios sociais”. A execução deste método consiste basicamente na divisão entre o valor atual da conta contábil ou grupo, pelo de mesmo aspecto correspondente ao ano anterior (ou outro período), e após, a multiplicação do valor obtido por 100. Para a análise, considera-se como 100% o período que se tem por base (ano anterior ou outro período), realizando, assim, a subtração entre este valor e o referente ao período atual. Desta forma, é possível verificar a evolução ou regressão de elementos específicos do patrimônio da empresa, estabelecendo também, possíveis tendências. Em geral inicia-se a análise de demonstrações contábeis a partir dessas duas modalidades, as quais poderão evidenciar o comportamento anormal de algum elemento patrimonial de um período para outro, o que enseja um estudo mais aprofundado dos fatores causadores dessa variação. Concluída esta etapa da análise de demonstrações contábeis, passa-se à análise de índices, que evidencia aspectos econômicos e financeiros de grande reflexo na gestão de uma empresa, os quais são discutidos a seguir. 2.1.2 Análise através de índices Para Matarazzo (2003, p. 147), “índice é a relação entre contas ou grupo de contas das demonstrações financeiras, que visa a evidenciar determinado aspecto da situação econômica ou financeira de uma empresa”. 151 Existem vários tipos de índices, no entanto, o número a ser utilizado em uma análise depende da necessidade de informações que se deseja obter, já que cada um possui suas particularidades. Assim, o quadro 2 aborda resumidamente os principais índices utilizados na análise de demonstrações contábeis e algumas de suas características. QUADRO 2 – Resumo de índices SÍMBOLO ÍNDICE FÓRMULA INDICA INTERPRETAÇÃO ESTRUTURA DE CAPITAL CT/PL PC/CT AP/PL AP (PL+ELP) Participação de Capitais de Terceiros (CT / PL) x 100 Quanto a empresa tomou de capitais de terceiros para cada R$ 100 de capital próprio Quanto menor, melhor. Composição do Endividamento (PC / CT) x 100 Qual o percentual de obrigações a curto prazo em relação às obrigações totais Quanto menor, melhor. Imobilização do Patrimônio Líquido (AP / PL) x 100 Quantos reais a empresa aplicou no Ativo Permanente para cada R$ 100 de Patrimônio Líquido. Quanto menor, melhor. Imobilização dos Recursos não correntes AP / (PL+ELP) x 100 Que percentual dos Recursos não Correntes (Patrimônio Líquido e Exigível a Longo Prazo) foi destinado ao Ativo Permanente. Quanto menor, melhor. LIQUIDEZ LG Liquidez Geral (AC+RLP) (PC+ELP) Quanto a empresa possui de Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo para cada R$ 1 de dívida total. Quanto maior, melhor. LC Liquidez Corrente AC / PC Quanto a empresa possui de Ativo Circulante para cada R$ 1 de Passivo Circulante Quanto maior, melhor. LS Liquidez Seca (Disponível+Títulos a Receber+Outros Ativos de Rápida Conversibilidade) / PC Quanto a empresa possui de Ativo Líquido para cada R$ 1 de Passivo Circulante. Quanto maior, melhor. RENTABILIDADE (OU RESULTADOS) V/AT Giro do ativo Vendas Líquidas / Ativo Quanto a empresa vendeu para cada R$ 1 de investimento total. Quanto maior, melhor. LL/V Margem líquida (Lucro Líquido / Vendas Líquidas) x 100 Quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 100 vendidos. Quanto maior, melhor. Quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 100 de investimento total. Quanto maior, melhor. Quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 100 de capital próprio investido, em média, no exercício. Quanto maior, melhor. LL/AT Rentabilidade (Lucro Líquido / Ativo) do Ativo x 100 LL/PL Rentabilidade do Patrimônio Liquido (Lucro Líquido / Patrimônio Líquido Médio) x 100 Fonte: adaptado de Matarazzo (2003, p. 152) 152 Como demonstrado no quadro 2, os principais índices que evidenciam a situação financeira da empresa dividem-se em índices de estrutura de capital e índices de liquidez, enquanto os que evidenciam a situação econômica são chamados de índices de rentabilidade. Matarazzo (2003) esclarece que os índices de estrutura de capital apresentam as grandes linhas de decisões financeiras, em termos de obtenção e aplicação de recursos. Os índices de liquidez demonstram a situação financeira da empresa, realizando, desta forma, o confronto entre ativos e suas dívidas, para que assim, seja possível medir quão sólida é a sua base financeira. O grupo de índices de rentabilidade, por sua vez, demonstra a rentabilidade do capital investido, ou seja, quanto os investimentos renderam e, portanto, qual o grau de êxito econômico da empresa. Para uma análise mais confiável, especialmente no ramo do comércio, outras mensurações devem ser realizadas, especialmente aquelas relacionadas a questões operacionais, abordadas a seguir. 2.1.3 Análise de indicadores de desempenho operacional e financeiro De acordo com Gitman (2004), os principais indicadores que possibilitam o conhecimento do desempenho operacional e financeiro da empresa são: prazo médio de renovação de estoques (PMRE), prazo médio de recebimento de vendas (PMRV) e prazo médio de pagamento de compras (PMPC). Para o autor, esses índices medem a velocidade de conversão de várias contas em vendas ou caixa, indicando a rotatividade ocorrida com o capital, bem como com os valores destinados à produção, demonstrando quantas vezes foram empregados e recuperados. Desta forma, o prazo médio de renovação de estoques (PMRE), conforme Marion (2005, p. 124), “indica, em média, quantos dias a empresa leva para vender seu estoque”. Este prazo, conforme Matarazzo (2003, p. 317), é obtido através da seguinte equação: PMRE = E/CMV/360 ou PMRE = 360 x E/CMV, sendo E = estoques e CMV = custo das mercadorias vendidas. O prazo médio de recebimento de vendas (PMRV), conforme Di Augustini (1999, p. 42), “é o tempo médio que a empresa demora para receber suas vendas a prazo”. Tem a finalidade, na visão de Matarazzo (2003), de expressar o gap de tempo entre a venda e o efetivo recebimento. Sua equação é apresentada por Matarazzo (2003, p. 313): PMRV = DR/V/360 ou PMRV = 360 x DR/V, sendo DR = duplicatas a receber e V = vendas brutas. O prazo médio de pagamento de compras (PMPC), conforme Marion (2005, p. 124), “indica, em média, quantos dias a empresa demora para pa153 gar suas compras.” O PMPC é obtido, para Matarazzo (2003, p. 317), através da seguinte equação: PMPC = 360 x F/C, considerando que F = saldo de fornecedores do Balanço Patrimonial e que C = compras. Para um bom desempenho empresarial, recomenda-se que o prazo médio de pagamento de compras seja alto e sempre superior ao prazo médio de recebimento de vendas, pois desta forma a empresa consegue manter certo nível de liquidez sem tornar necessária a aquisição de recursos derivados de empréstimos bancários. 3 Metodologia Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza exploratória, visto que se busca a apresentação de informações iniciais a fim de realizar os objetivos propostos. Sua utilização, conforme Richardson (1999), apresenta-se devido à necessidade de conhecer as características de um fenômeno, assim como, o maior conhecimento sobre o tema em perspectiva. Em relação aos procedimentos de pesquisa adotou-se o estudo de caso que, de acordo com Gil (2007), caracteriza-se pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. Tendo este estudo o propósito de analisar particularmente as demonstrações contábeis da empresa, de modo a obter um conhecimento mais detalhado de seu desempenho, tal procedimento mostra-se adequado. Os dados foram obtidos por meio da análise dos Balanços Patrimoniais e dos Demonstrativos de Resultado do Exercício da empresa, realizando-se o estudo específico dessas demonstrações contábeis de três exercícios sociais, sendo estes 2005, 2006 e 2007. Tem-se como pressuposto que os demonstrativos contábeis fornecidos pela empresa expressam a sua realidade patrimonial, haja vista não terem sido auditados. Também houve contato direto com o diretor da empresa, que prestou esclarecimentos sobre o funcionamento da rotina empresarial. Para fins deste estudo não foi possível o acesso aos demonstrativos contábeis do ano de 2008, o que se considera como uma limitação da pesquisa. A abordagem do problema ocorreu de forma quantitativa e qualitativa, ou seja, engloba valores e informações. A partir da análise detalhada das demonstrações contábeis elaboradas pela empresa no período de 2005-2007, foram calculados índices referentes à sua situação econômica e financeira, caracterizando, portanto, a utilização do método quantitativo. Por sua vez, a abordagem qualitativa refere-se à interpretação dos índices apresentados, tornando possível a avaliação de alternativas que visem à otimização do seu desempenho. Para fins deste estudo, devido à extensão e às características técnicas presentes nos formulários, não são apresenta154 dos os cálculos realizados na análise de demonstrações contábeis, estando expostas na próxima seção somente as interpretações gerenciais oriundas da análise, o que para o fim analítico do estudo é mais significativo. 4 Estudo de caso 4.1 Caracterização da empresa A empresa pesquisada é uma sociedade limitada de pequeno porte, tributada pelo Simples Nacional, que tem por atividade fim o comércio varejista de artigos de vestuário, calçados e artigos de cama, mesa e banho. A empresa localiza-se no centro do município de Candelária/RS e é conhecida por seu nome fantasia Comercial Lersch. É formada por três sócios e onze funcionárias, as quais estão distribuídas nas seguintes funções: uma auxiliar de escritório, uma auxiliar de serviços gerais, uma atendente de crédito e oito vendedoras. A sociedade comercial iniciou suas atividades em Candelária/RS no dia 1° de fevereiro de 1979 e caracteriza-se por não possuir em seu sistema de administração conceitos relacionados a visão, missão e valores. Desta mesma forma, a empresa não estabelece metas a serem atingidas por suas vendedoras, pois considera que este fato poderia criar uma situação de rivalidade entre a equipe funcional, apesar de possibilitar o aumento dos lucros. 4.2 Avaliação do desempenho econômico e financeiro a partir da análise das demonstrações contábeis e sua contribuição para a gestão da empresa No sentido de avaliar o desempenho econômico e financeiro da empresa pesquisada, procedeu-se aos cálculos das análises horizontal e vertical do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício referente ao período compreendido entre o ano de 2005 e 2007. Também foi realizada a análise através de índices, abordando as questões referentes à estrutura de capital, liquidez e rentabilidade da empresa neste período. A seguir apresentam-se as análises realizadas, destacando-se os aspectos mais importantes para a empresa estudada. 4.2.1 Análise horizontal - Balanço Patrimonial e DRE Em relação à análise horizontal dos Balanços Patrimoniais referentes ao ano de 2005 e 2006, é possível perceber que a empresa apresentou uma redução média de 14% em relação ao valor do seu patrimônio. Contudo, 155 ao analisar-se comparativamente o período 2006-2007, verificou-se que a empresa conseguiu reverter a tendência de queda e apresentou uma evolução patrimonial de 8%, fato que se deve a algumas decisões gerenciais adotadas pela empresa. Ao comparar os dois períodos extremos, percebe-se que o ano de 2005 foi mais vantajoso para empresa, já que entre estes se apresenta uma diferença superior a 7%. No entanto, em 2007 quitou grande quantidade de obrigações, sendo estas, principalmente, em relação aos financiamentos e empréstimos bancários, bem como em relação às obrigações fiscais. Ao considerar a análise horizontal das Demonstrações do Resultado do Exercício referentes ao período de 2005 e 2006, percebe-se que em 2006 a empresa sofreu um decréscimo de receita bruta, no entanto, conseguiu elevar suas vendas à vista, bem como reduzir suas vendas a prazo, o que lhe trouxe benefícios em termos de geração de caixa. Em 2007 houve redução de receita bruta, quando comparada a 2006. Por conseqüência houve redução de impostos incidentes sobre vendas (em torno de 70%), custo das vendas (3,7%) e despesas operacionais (40%). Verificou-se também um aumento de 694% em relação às receitas não operacionais da empresa, o qual se caracteriza pela evolução do valor de R$ 3.084,50 em 2006, para R$ 24.500,00 em 2007. Isso foi proporcionado pelo maior volume financeiro aplicado, oriundo do maior volume de vendas à vista. Quando comparado ao ano de 2005, verifica-se que no ano de 2007 as reduções também se fizeram presentes, sendo elas: receita bruta (31,58%), impostos incidentes sobre vendas (71%), custo das vendas (10,88%) e despesas operacionais (50%). Com a análise horizontal dos períodos 2005, 2006 e 2007, é possível perceber que, apesar das evoluções e regressões características de cada período, o ano de 2005 foi o que mais se apresentou como satisfatório para a empresa em termos de lucro líquido, visto que há uma diferença de, em média, 27% entre os períodos inicial e final de análise. 4.2.2 Análise vertical – Balanço Patrimonial e DRE A partir da análise vertical dos Balanços Patrimoniais é possível perceber que não ocorreram grandes variações no decorrer dos três períodos analisados. Observou-se que as rubricas de clientes e estoques são os principais integrantes do ativo, o que era esperado por tratar-se de uma empresa comercial. As variações de origens de recursos também não foram de grande representatividade, sendo em média 2% a cada ano. A variação mais significativa, no entanto, foi em relação ao patrimônio líquido da empresa, visto que em 2007 foi possível verificar uma evolução de quase 7% se comparado ao período inicial de análise, o ano de 2005. Contu156 do, essa variação é explicada pela redução das obrigações da empresa, que variou na mesma proporção no período. Já em relação à análise vertical das Demonstrações do Resultado do Exercício, percebe-se que grande parte dos setores da empresa apresentou variações em torno de 2%, exceto em relação aos impostos incidentes sobre vendas que, no ano de 2007, apresentou 12% a menos de representatividade em relação ao patrimônio, fato relacionado à decisão da empresa em aderir ao SIMPLES (Sistema Integrado de Imposto e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte). 4.2.3 Análise através de índices Para tornar possível a obtenção de informações referentes à estrutura de capital, liquidez e rentabilidade da empresa, procederam-se cálculos pertinentes a cada grupo, apresentando-se a seguir os valores então obtidos. QUADRO 3 – Índices analisados 2005 VALOR OBTIDO 2006 2007 Participação de capitais de terceiros (endividamento) 33,37% 29,78% 22,40% Composição do Endividamento 80,99% 78,34% 78,84% Imobilização do Patrimônio Líquido 15,33% 16,87% 15,41% Imobilização dos Recursos não correntes 14,41% 15,85% 14,71% Liquidez Geral 3,5369 3,7918 4,7758 Liquidez Corrente 4,3240 4,7830 5,9861 Liquidez Seca 2,0844 2,3435 2,7766 Giro do Ativo 0,8287 0,9301 0,7058 16,47% 16,58% 15,23% ÍNDICE Margem Líquida Rentabilidade do Ativo 13,65% 15,43% 10,75% Rentabilidade do Patrimônio Líquido 18,21% 17,52% 13,15% A partir dos dados apresentados no quadro 3, constata-se que 2005 foi o ano em que a empresa mais utilizou recursos de terceiros para desenvolver suas atividades. No entanto, ao longo do período analisado, a empresa conseguiu diminuir esta dependência, o que é percebido pelos seus gestores como um fator positivo. Um aspecto a ser observado pela empresa é o fato de que praticamente 80% de suas obrigações são de curto prazo, comportamento que se mantém ao longo do período analisado. A empresa destinou em 2006 o maior volume de capital próprio para aplicação em ativo permanente, sendo de pequena escala as variações ocor157 ridas entre os anos de 2005 e 2007. Em relação à imobilização de recursos não correntes, percebe-se que 2006 foi o ano em que a empresa mais investiu em ativo permanente com a utilização de recursos próprios e de terceiros a longo prazo. As mudanças ao longo dos três períodos de análise foram pouco representativas, o que indica uma constância no comportamento das imobilizações. Já em relação ao aspecto financeiro, a partir dos cálculos de liquidez, é possível constatar que a empresa possui uma situação bastante confortável, apresentando alto grau de liquidez. Essa situação condiz com o que Matarazzo (2003) entende ser uma situação adequada para a empresa. Em termos de liquidez geral, percebe-se que, com a utilização de recursos disponíveis a curto e longo prazo, a empresa possui condições de quitar todas as dívidas que possui. A empresa também não apresenta problemas com a quitação de dívidas correntes, ou seja, de curto prazo, mesmo que estas exijam ser pagas com recursos auferidos até o término do exercício social seguinte. Ao desconsiderar a aplicação de recursos em estoques, percebe-se que a empresa, além de efetuar o pagamento de suas dívidas a curto prazo, possui a capacidade de destinar o restante dos recursos para outro segmento. Assim, é possível perceber que, em todos os anos do período analisado, a empresa obteve expressivos índices de liquidez, demonstrando uma situação plenamente satisfatória. Contudo, há que se considerar que a empresa possui um grande valor a receber de clientes. Assim, para que os índices de liquidez se tornem reais, é necessário que a empresa possua uma razoável garantia de que irá realizar os valores que tem a receber. De acordo com os dados extraídos das demonstrações contábeis do último ano de análise (2007) e ressalvada a questão dos valores a serem realizados, a empresa possui reduzidas chances de falência e menos ainda quando se trata de insolvência. Apresenta-se esta informação devido ao fator de insolvência de Kanitz, que considera como improvável a falência de empresas que apresentem fator de insolvência superior à zero, como foi o caso da empresa em estudo, a qual apresentou o valor de 11,3244. 4.2.4 Análise de indicadores de desempenho operacional e financeiro Em relação ao desempenho operacional da empresa, a análise do prazo médio de renovação de estoques mostra que em 2005 a empresa levou em média 296 dias para vender todo seu estoque. Já no ano de 2006, os estoques foram comercializados em um prazo menor, 263 dias, sendo então no ano de 2007 que a empresa mais demorou a vender seus estoques, levando, em média, 313 dias. 158 No ano de 2005, a empresa levou em média 139 dias para receber todo o valor oriundo da venda de seus produtos durante o ano, ao contrário de 2006, em que o prazo de recebimento das vendas a prazo realizadas em todo o ano foi menor, 120 dias. No entanto, o período em que a empresa mais demorou a receber os valores das vendas que realizou durante o ano foi 2007, sendo necessária a espera de 169 dias para receber o total devido por seus clientes. É possível verificar que 2007 foi o ano em que a empresa mais obteve prazo para pagamento de suas compras. Somente o prazo obtido no ano de 2006 pode ser considerado desfavorável, visto que apresentou grande diferença em relação ao ano de 2005 e 2007, que ficaram na mesma faixa. Conforme destaca Gitman (2004), a relação entre esse indicador e o recebimento dos clientes é de extrema importância para a manutenção do negócio. 5 Conclusões e recomendações Diante do objetivo central de conhecer o desempenho e a evolução financeira da empresa, com base nas informações obtidas através das demonstrações contábeis da Comercial Lersch no período de análise 20052007, foi possível constatar que a empresa possui uma situação econômica e financeira satisfatória. A empresa não demonstra indícios de falência, visto que possui ótima capacidade de quitação de dívidas e não apresenta grandes oscilações nos valores patrimoniais. Ficou evidente que a empresa desenvolve suas atividades basicamente com a utilização de recursos próprios. Esse aspecto retrata uma das políticas de negócio assumida pelos diretores da empresa, a qual até então vem proporcionando bons resultados. Em relação à composição do endividamento, ficou evidente que nos três anos analisados o passivo da empresa foi constituído, em sua maior parte, de dívidas a curto prazo. A empresa, por sua vez, sempre conseguiu reduzir esta exigibilidade, não apresentando problemas de falta de recursos, ou débitos pendentes com fornecedores. A redução das dívidas proporcionou à empresa destinar recursos para aplicações financeiras em duas instituições bancárias, demonstrando assim, boa administração do seu capital. Foi possível observar por meio da pesquisa que seus gestores têm um controle bastante direto sobre questões financeiras. Para que a empresa consiga manter o quadro satisfatório que apresenta, ou até mesmo para otimizar sua situação econômica e financeira, é importante que esta sempre busque atender as exigências dos clientes, oferecendo produtos de maior preferência, preços baixos e ótimo serviço de atendimento. Outro fator importante é o marketing, entendendo-se que a em159 presa deve continuar investindo na propaganda de seus produtos, bem como na divulgação de seu estabelecimento e no cuidado com a aparência das vitrines e do ambiente de forma geral. Para garantir a preferência dos clientes, é importante que a empresa apresente boas condições de crédito, visto que a cada dia diminui o número de pessoas que realizam suas compras à vista. Para que a empresa tenha capacidade de oferecer boas condições de parcelamento, é de fundamental importância que esta observe o prazo que lhe é dado pelos fornecedores, visto que, para a obtenção de bons resultados econômicos e financeiros, o prazo de pagamento de fornecedores deve ser superior àquele oferecido aos clientes. Sob o aspecto gerencial acredita-se que, se a empresa utilizar-se de instrumentos de apoio gerencial como a análise das demonstrações contábeis, poderá consolidar cada vez mais sua situação econômica e financeira e manter-se em níveis bastante satisfatórios de competitividade no mercado em que atua. Para futuras pesquisas sugere-se a avaliação da mudança de política relativa à estrutura de capital da empresa, verificando, desta forma, se uma maior participação de capital de terceiros não poderia contribuir para que a empresa ampliasse o número de filiais e assim maximizasse seus resultados. 6 Referências ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2006. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.cosif.com.br>. Acesso em: 05 ago. 2008. CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL. ROKEMBACH, Rogério (Coord.). Demonstrações contábeis: aspectos práticos e conceitos técnicos. 5. ed. Porto Alegre, 2007. DI AUGUSTINI, C. A. Capital de giro: análise das alternativas fontes de financiamento. São Paulo: Atlas,1999. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 160 GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. Tradução técnica de Antônio Zoratto Sanvicente. 10 ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2004. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2005. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997. RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 161 162 ANÁLISE DE INTERFERÊNCIAS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS INTERNOS DE EXPORTAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA METALÚRGICA DE SANTA CRUZ DO SUL Jaqueline Fabiane Faust¹ Jéferson Santos² RESUMO Este estudo discute interferências na logística, diagnosticando-as em operações logísticas internas de exportação de uma empresa metalúrgica de Santa Cruz do Sul e apontando estratégias para minimizar problemas identificados. Realizou-se um estudo de caso, utilizando-se pesquisa bibliográfica, entrevistas estruturadas, aplicação do diagrama de causa e efeito e brainstoming com membros do setor de Exportação e Logística. Os dados são abordados qualitativamente. Notou-se que as interferências em operações logísticas de exportação da empresa ligam-se à demora na emissão da documentação, substituição do local de etiquetas no produto e espaço insuficiente dos caminhões para transporte de mercadoria. Para estas situações, são sugeridas melhorias, como treinamento para separações de itens por metragem de caminhão, medição de caminhões para adequá-los ao volume de mercadorias e mudança no processo de colocação da etiqueta na linha de produção. Palavras-chave: logística interna, exportação, expedição ABSTRACT This study discuss the logistics interferences and try to diagnose the interferences that could appear in interns logistics operations in a Metallurgic Company in Santa Cruz do Sul. Appointing strategies to minimize identified problems. It is realized a study-case, using bibliography research, structured interviews, cause - effect diagrams and brainstorming techniques to the members of the Logistics and Exportation Area. All the information is ¹Graduanda do curso de Administração da Faculdade Dom Alberto. ²Mestrando em Engenharia de Produção (UFSM) e Orientador do Estudo. 163 supported in qualitative form. It is noticed that the interferences in logistics operations of Exportation area are mostly the delay in emission of documents, substitution of product`s stickers and not enough space in the trucks using for merchandise transport. For this situations, are suggested improve the training and productive procedure. About the training procedures, it is seem necessary to teach members in topics like: items separations by road metric and measurement of trucks in order to adequate exactly the merchandise volumes inside of the truck. And, about the procedure at the product line it is necessary implement changes in the labeling process. Key-words: intern logistic, export, expedition 1 Introdução A área de logística cresceu e se desenvolveu gradativamente no cenário internacional. Inicialmente, estava associada apenas à atividade militar, depois passou a abranger outros ramos através da tecnologia e a ocupar um espaço maior e mais competitivo no mercado. Como as ferramentas logísticas ajudam a obter bons resultados e satisfazer clientes, empresas investem em treinamento de colaboradores nessa área. E essa atenção especial à logística ocorre porque atividades relacionadas à administração de produtos e serviços integram-se a transporte, estoques, armazenamento, distribuição, manutenção de equipamentos e mercadorias, etc. Considerando isso, esta pesquisa discute interferências no processo de logística das organizações. Este tema é pertinente porque, a partir do processamento das atividades logísticas e identificação de suas inadequações, pode-se qualificar o serviço oferecido pelas empresas, atendendo a necessidades do cliente e da logística no comércio de exportação. Objetivou-se, então, conhecer o sistema logístico industrial de uma empresa metalúrgica de Santa Cruz do Sul, diagnosticar interferências nas operações logísticas internas de exportação da organização e apontar estratégias para minimização de problemas identificados, lançando-se como problema de pesquisa as seguintes questões: Quais os principais problemas que interferem nas operações logísticas industriais de Exportação de uma empresa do setor metalúrgico de Santa Cruz do Sul? Que sugestões podem ser indicadas para minimizar esses problemas? Para responder a estas questões, é preciso analisar meios de distribuição interna que auxiliam na exportação e interferem na operação interna de movimentação, verificar atividades de exportação e sua correta aplicação no andamento das atividades, e ainda refletir se o armazenamento, transpor164 te e distribuição da empresa estão sincronizados com a cadeia de abastecimento. Para tanto, faz-se primeiramente uma exposição teórica acerca das atividades logísticas, para, em seguida, passar à apresentação do estudo de caso da empresa investigada e, por fim, apontar estratégias para minimização dos problemas de logística identificados. 2 Revisão de Literatura 2.1 Logística e suas atividades Várias são as definições apontadas para Logística, principalmente quando se trata do crescimento empresarial e a busca de lucros e satisfação dos clientes. Conforme Ballou (2007), com o incremento das tarefas logísticas, é possível efetuar planejamento, controle, desenvolvimento, obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação das mercadorias para disponibilizá-las em tempo hábil ao cliente. Nesse sentido, a união das atividades de aquisição, movimentação, armazenagem e entrega de produtos concretiza-se no momento em que o planejamento logístico, seja de materiais ou processos, estiver ligado à manufatura e ao marketing. Quanto ao tempo e a distância, Ballou afirma que “Vencer tempo e distância na movimentação de bens ou na entrega de serviços de forma eficaz e eficiente é a tarefa do profissional de logística” (2007, p. 23). Ou seja, cabe a esse profissional colocar as mercadorias ou serviços corretos no lugar e instante corretos, obedecendo ainda à condição desejada e buscando o menor custo possível. No entendimento de Kobayashi (2000), a logística, então, é também responsável pelo (in)sucesso das organizações. Preocupadas com isso, empresas buscam especialização nessa área e demonstram como processam a horizontalização da produção, investindo em tecnologia para desenvolver matérias-primas, através da redução dos custos pelo ganho de escala e desenvolvimento tecnológico. Para Kobayashi (2000, p. 16), “as empresas que oferecem produtos e serviços devem constantemente preocupar-se com a inovação dos produtos, dos processos e da mentalidade das mesmas”. Dessa forma, focaliza-se eficiência e eficácia, procedimentos que são realizados corretamente para ter redução dos custos e inovação dos produtos, passando a serem realizados de forma sincronizada com o fluxo de informações, eliminação de perdas, otimização dos sistemas de transporte e armazenagem. Como a empresa projeta seus custos para diminuição de estoques, a manutenção destes é importante para a melhoria na informação e continuidade de inovações que manterão clientes atuais e possibilitarão conquista de novos. 165 2.2 Manutenção de estoques Para os estoques de produtos, procura-se adquirir um nível adequado de quantidade a fim de criar uma proximidade maior entre colocação de pedidos dos clientes e disponibilidade de que estas mercadorias sejam embarcadas, sem gerar um custo alto de estoque e ao mesmo tempo abranger a demanda em relação ao suprimento. Segundo Ballou, para ter boa disponibilidade de produto, “é necessário manter estoques, que agem como ‘amortecedores’ entre a oferta e a demanda” (2007, p. 24). Além disso, o autor afirma que o uso extensivo de estoques é conseqüência do fato de eles serem responsáveis por aproximadamente um a dois terços dos custos logísticos, tornando a manutenção de estoques uma atividade-chave da logística. O tempo decorrido entre o recebimento de um pedido, sua análise de preços, aprovação da data para embarque pelo Planejamento e Controle da Produção e o despacho deste para o depósito destaca a essência do nível de serviço logístico. De acordo com Ballou (2007), o lote mínimo de compra, a porcentagem de itens em falta no depósito, a porcentagem de clientes atendidos ou volume de ordens entregues dentro de um intervalo de tempo desde que o pedido tenha sido processado, tendem a ser menores que os custos de transporte e armazenagem nos estoques, aumentando sua importância quando relacionados ao tempo necessário para levar os serviços ou bens para o cliente. 2.3 Redução do Lead Time Conforme Kobayashi (2000), o importante é destacar que, se o tempo entre o recebimento de pedidos e a entrega for demorada, o cliente sairá insatisfeito e o contrário ocorrerá se esse tempo for reduzido, o que eliminará as incertezas desse mesmo cliente. Além disso, baixa-se o número de estoque, economizando com uma gestão de distribuição mais simplificada. Já Gurgel (2007) pressupõe que é possível aumentar o ritmo de um processo quando o retorno do cliente em relação ao produto for rápido e, se mesmo assim ocorrerem atrasos, estes deverão ser analisados e os problemas tratados para reduzir o lead time do processo e acelerar a produção. Ainda segundo Kobayashi (2000), existe também o lead time relacionado a outras operações logísticas em que deve ser acrescentado o lead time do meio de transporte, dos projetos, da produção e da preparação dos insumos. Essa preparação consiste em verificar em que ponto a mercadoria está sendo extraída para embalá-la corretamente através do manuseio da lista de remanejo, seu sortimento e carregamento, reduzindo dessa maneira o lead time das atividades de expedição e por sua vez a entrega final dos pro166 dutos agregando valor ao tempo. Para a preparação da mercadoria com um lead time reduzido, é de suma importância o bom funcionamento do depósito, que servirá de abastecimento para as atividades da expedição. 2.4 O funcionamento do depósito Para Ballou (2007), depósito é um espaço de fácil acesso para armazenagem de mercadorias. Pode ser um depósito próprio, alugado ou estocado em trânsito, e cada um tem seu custo e funções dependentes do tipo de produto a ser armazenado, podendo ser um pavimento para rápida rotatividade ou com foco para estoque por período longo. O autor afirma ser crucial a recepção, despacho, sortimento de cargas, produtos consolidados e estocagem em trânsito para atrair clientes potenciais interessados em serviços de qualidade e que sigam serviços portuários. Já Kobayashi (2000) salienta que o quanto mais se evita armazenagem, melhor é o estoque de produtos, diminuindo espaços e despesas para a empresa, que, mesmo não podendo zerar seus estoques, pelo menos terão como reduzir as quantidades e repensar como otimizar a estocagem. Ainda para o autor, o equilíbrio do tempo durante a linha de produção contribui quando se mantêm os insumos nos processos anteriores e trabalha-se mais com componentes em vez de produtos acabados. Conforme Ballou (2007), a importância da armazenagem consiste também nos serviços de manuseio, armazenagem alfandegada, facilidade para transmitir dados, identificação por etiquetagem especializada, proteção e firmação dos produtos a carga, relatórios de embarque e entrega de equipamentos, e atividades diversas firmadas pela Associação Americana dos Profissionais de Armazenagem. A melhor forma de colocar os produtos no local designado para o armazenamento é avaliar seu volume e tipo correspondente, desde que ele seja manuseado de forma cuidadosa e com facilidade sobre pallets auxiliados por pessoas treinadas para tal, utilizando empilhadeiras para evitar contato com o chão de fábrica (KOBAYASHI, 2000). Estando os produtos identificados de acordo com seu volume e tipo correspondente, sua codificação nos estoques permitirá fácil localização para a área de Expedição, evitando erros. 2.5 Prevenção de erros nas expedições Kobayashi (2000) afirma que há fornecimentos realizados de maneira errônea, pois, mesmo estando na maioria das vezes abaixo de 1%, causam modificações na programação dos produtos a serem colocados na linha de produção, acarretando divergências notórias para o cliente no momento 167 do recebimento. O autor enfatiza que os principais erros cometidos nas expedições estão relacionados ao envio de mercadorias diferentes dos pedidos colocados pelo cliente, divergência nas quantidades distribuídas, destino da entrega divergente, erros nas embalagens e nas estruturas confeccionadas, além do tempo elevado de espera para o embarque. Ainda segundo o autor, a condição estipulada nos pedidos implantados deverá ser cuidadosamente observada e, caso erros intervenham, deve-se informar o cliente e prevenir os operadores, observando sempre dimensões ou cores, placas de identificação no caso de gaiolas ou artigos nas prateleiras que facilitem confirmação do correto destino, podendo utilizar envelopes ou caixas diferenciadas por modelos de produtos. Para identificar interferências na expedição, faz-se necessário utilizar ferramentas que apontem as principais causas para os erros observados na expedição de mercadorias, como é o caso do Diagrama de Causa e Efeito. 2.6 Diagrama de Causa e Efeito Na visão de Bouer (2008), o diagrama de causa e efeito estuda a relação de efeito e todas as possíveis causas que colaboram para que um efeito aconteça, podendo relacionar-se, por exemplo, a procedimentos, pessoas, políticas, medição e meio ambiente. A partir dessa linha construída e listada mediante suas possíveis causas, pode-se analisar, observar fatos, eliminar a causa e contribuir no que for possível para desenvolvimento da organização e eliminação dos problemas. Bouer (2008) enfatiza ainda que, na sua composição identifica-se um cabeçalho, um efeito, um eixo central, uma categoria, as causas, sendo estas potenciais e contribuindo para o efeito, além de estarem horizontalmente inclinadas para a categoria, conforme descreve o quadro seguinte: QUADRO 1 – Análise de causas e efeito Produto não foi procurado Falta de identificação no produto Faltou pessoal disponível para localizar Produto não constava no planejamento Não há produto no estoque Atraso na linha de produção Embarque não informado Produtos não com antecedência encontrados no momento do Quebra de peça na embarque máquina 19. Falta de matéria-prima no estoque Produto não produzido Limitações de tempo 168 Responsável pelo armazenamento não localizado. Os problemas identificados, segundo o diagrama, são produto não procurado, inexistência de produto no estoque, produto não produzido e limitações de tempo. A partir desses problemas são levantados problemas menores, sendo possível identificar setores que possam estar originando-os e sua investigação profunda sobre as causas projeta reuniões de brainstorming para resolução dos mesmos (LAS CASAS, 2007). 3 Metodologia A metodologia aplicada neste estudo está focada em uma pesquisa descritiva, que, para Gil (1999), caracteriza fenômenos com base em relações entre as variáveis para verificar se há associação entre estas, estudando a natureza dessas relações. Por investigar interferências no processo de logística de uma empresa metalúrgica de Santa Cruz do Sul e apontar estratégias para minimização de seus problemas, esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso na perspectiva de Marconi e Lakatos (2007). Aplica-se também a análise qualitativa, uma vez que, segundo Marconi e Lakatos (2007), coletam-se dados fundamentais, estabelecendo princípios importantes e detalhistas dos significados que os entrevistados emitiram, servindo assim de base para uma discussão de dados mais elaborada. Os instrumentos utilizados neste trabalho abrangem a entrevista estruturada com seis perguntas, pesquisa bibliográfica e observação participante. As entrevistas foram realizadas no segundo semestre de 2009 com a diretoria de Exportação e com cada um dos supervisores das áreas indicadas pela diretoria. Os dados obtidos nas entrevistas estão transcritos na análise de dados e cruzados com as observações dos pesquisadores. Para a coleta de dados ainda mais precisos, aplicou-se a ferramenta de qualidade conhecida por Diagrama de Causa e Efeito, que, nas palavras de Vieira Filho (2007), possibilita organizar causas potenciais de um problema, relacioná-las, criando grupos que colocarão no diagrama assuntos relacionados a este tema específico e a partir da análise do “porquê?” das causas. Prosseguindo com o Diagrama de Causa e Efeito, o autor afirma que, para encontrar possíveis causas deste problema, é necessário um brainstorming, usado quando as idéias forem esgotadas para organizar um grupo lógico de causas e continuar a seqüência de perguntas até não haver mais respostas. Assim, o brainstorming foi utilizado para coletar dados. 169 4 Estudo de caso: análise e discussão de dados A empresa, na qual está focado o estudo, instalada em Santa Cruz do Sul desde os anos 60, é uma empresa privada operante no setor metalúrgico, possui um volume de vendas de US$ 150,000,000,00, destacando a participação de 80% de vendas no mercado interno e 20% em exportação. Suas linhas de produção estão voltadas ao camping e lazer e a casa. Para disponibilizar artigos que garantam a satisfação de seus clientes, a empresa mantém departamentos como os de projetos, qualidade, processos e assistência técnica. A partir da descrição da empresa e com base nas entrevistas, observações e pesquisa bibliográfica, apresentam-se na análise dos dados resultados obtidos para verificar quais áreas e seus principais problemas que interferem nas operações logísticas industriais de Exportação da empresa, buscando estratégias para minimizar seus problemas. Ao realizar indagações sobre as seis áreas específicas que estão diretamente ligadas aos processos internos logísticos da empresa, a diretoria de Exportação destacou o almoxarifado. A devida área foi citada devido à manutenção dos estoques, a preservação e movimentação de matéria-prima ou produto e a codificação dos itens, assegurando qualidade aos mesmos de forma a receber um tratamento especial quanto à armazenagem de produtos de exportação em um pavilhão com gaiolas separadas por clientes, pedidos e itens. Assim, verifica-se que o volume de produtos e o seu tipo são avaliados devido ao seu manuseio cuidadoso para assegurar a qualidade ao mesmo, utilizando as empilhadeiras para o seu movimento no chão de fábrica. Quanto à produção, a diretoria informa a realização do processamento do produto decorrente do plano mestre de exportação, em que os colaboradores recebem através de máquinas e equipamentos as peças para montagem, objetivando o cumprimento da meta diária pré-estabelecida. Sobre o faturamento, a diretoria respondeu que, para faturar produtos solicitados pelo cliente, leva em consideração documentos requeridos no país de destino para importar essas mercadorias e, a partir do momento em que se toma conhecimento das normas documentais solicitadas pelo importador, dá-se início ao faturamento dos produtos. Quando questionada sobre o volume de faturamento, a diretoria cita os meses de agosto, setembro e outubro como os principais meses com fluxo de movimentação de documentos. Conforme a diretoria entrevistada, a área que Controla a Qualidade dos produtos interfere nas operações logísticas devido às inspeções internas e pré-inspeções externas solicitadas pelo cliente para a verificação das medidas, pesos e qualidade dos produtos, durante a sua movimentação e carregamento. 170 A área de embalamento, que foi questionada em relação à forma da empresa qualificar o embalamento da mercadoria, segundo a diretoria, recebeu atenção quanto ao acondicionamento do produto no final da linha de produção e na excução de amostras para envio ao Exterior. As amostras são separadas por volumes de acordo com a solicitação do cliente e embaladas com plástico bolha, acondicionadas em caixas de papelão forradas e obedecem à entrega das solicitações em até 48 horas, podendo ser antecipadas mediante autorização da diretoria. Por fim, a diretora de exportação cita a Expedição, que interfere nos processos logísticos através do contato direto e diário com a Exportação para programação das cargas, etiquetagem, conferência física e documental do processo. De acordo com as entrevistas e observações realizadas em cada setor informado pela diretoria (Almoxarifado, Produção, Faturamento, Controle de Qualidade, Embalamento e Expedição), verificou-se que o Almoxarifado afeta as operações logísticas internas de Exportação quando embarques impressos pelos operadores nos quais se identificam o número do embarque, cliente, quantidades e volumes a serem movimentados constam com observações incompletas, ocasionando falta de produtos no momento do embarque devido a sua não localização. Da mesma forma, Itens incorretos no Box apresentam-se quando as placas das gaiolas onde as mercadorias são acondicionadas estão com numeração ou identificação de clientes trocados, por falta de treinamento. Percebe-se ainda que há um alto fluxo de movimentação de empilhadeiras da fábrica para o pavilhão de produtos de exportação. Diariamente, até às 15 horas, é recebida por e-mail, da área de Exportação, a programação de carregamento para o dia seguinte e, de acordo com o entrevistado do setor de almoxarifado, é preciso fazer a verificação das condições físicas das mercadorias e a constatação de possíveis faltas para os embarques programados com o intuito de deixá-los disponíveis no momento de carregamento nos caminhões e containers. As perdas de mercadorias não são muito grandes, e, quando acontecem, o maior número delas ocorre nas caixas danificadas ou molhadas na estocagem, sendo necessária a sua reposição. Nestes casos, a logística de Exportação é comunicada com antecedência para evitar atrasos na programação. Segundo o entrevistado na área de produção, quando questionado sobre o impacto das suas tarefas na logística interna, estes informam que ocorre uma demora no ciclo produtivo devido ao processo lento na alteração de pedidos e na atualização das planilhas registradoras de itens embarcados, confirmados e produzidos no plano mestre de produção. Na colocação das 171 peças para montagem do produto, erros de costura e falhas na posição das peças interferem no processo produtivo, ocasionando o retorno do produto ao início da linha de produção para melhoria. A atualização das previsões de vendas é realizada diariamente, através da implantação de novos pedidos, podendo-se gerar atrasos na entrega de datas de embarque solicitadas pelo cliente, caso a programação de peças esteja diferente da implantação de pedidos no sistema. Sobre o faturamento, a analista de exportação entrevistada destaca a demora na emissão de documentos necessários para a saída do veículo do pátio da empresa. A emissão da nota fiscal, realizada na chegada do veículo já medido à empresa, sofre estagnações e espera devido ao total de metragem cúbica dos caminhões recebidos ser inferior ou superior à previsão por embarques realizado. Mesmo que o total do pedido seja igual ou superior à metragem cúbica do caminhão, observou-se que não há treinamento sobre a separação de itens por carga para o analista de exportação. O entrevistado do setor ainda relatou que 20% dos atrasos ocorrem por dados insuficientes e 80% pela demora na emissão da Nota Fiscal. Tratando-se das deficiências da área de qualidade, interferentes nas operações logísticas, o responsável pelo controle da qualidade cita a análise de cubagens e medidas lançadas em planilhas distribuídas aos analistas de Exportação. A documentação utilizada para solicitação da coleta da mercadoria encaminhada para a transportadora contratada pelo cliente recebe os dados decorrentes dessa planilha. Conforme relatado pelo entrevistado, para cada 5 de 10 caminhões recebidos na empresa, a mercadoria está divergente da cubagem solicitada para a coleta devido ao mau processamento da informação acerca da cubagem. A empresa realiza inspeções internas, para as quais existe uma baixa amostragem, geradora de inspeções incompletas e falta de produtos. Em relação ao embalamento, observou-se que a falta de itens nas caixas dos produtos e as embalagens com identificação insuficiente geram embalamentos incorretos ao final da linha de produção. No acondicionamento dos itens, o conferente final da linha de produção insere a codificação correspondente ao modelo e cor de produto, passando este material para o sistema e conseqüentemente para o operador responsável pelo seu transporte até o pavilhão de produtos à exportação. Quando questionado sobre os problemas que afetam a logística interna de exportação, o assistente de expedição relata as etiquetas trocadas, descoladas, ausência ou solicitações de substituição do local de etiquetagem durante o ato de carregamento. Observou-se que as etiquetas são recebidas com 48 horas de antecedência pela conferente, responsável pela etiqueta- 172 gem das caixas nos boxes. Verificou-se ser esta uma atividade geradora de perda de tempo na expedição. Através desses dados, é possível analisar interferências existentes no processo interno logístico por meio da construção do diagrama de causas e efeito, pelo qual os membros do grupo de decisões, composto pela diretoria de exportação e cada um dos responsáveis pelas áreas entrevistadas, passaram a realizar reuniões com o intuito de detectar as principais causas, examinando as etapas do processo de exportação detalhadamente. Com base em duas reuniões quinzenais realizadas, segue a análise das interferências e seu efeito, constatadas pelas seis pessoas convocadas: QUADRO 2 – Causas e efeitos nos processos internos logísticos Almoxarifado Não observado no embarque Faturamento Produção Demora no ciclo de produção Produto não localizado Demora na emissão da Nota Fiscal Processo lento Erro na costura Itens incorretos no box Inspeção incompleta Cores não estavam prontas Mercadoria não coube no caminhão Falta atualização de dados de arquivo Cor faltante na embalagem Embalamento incorreto Interferência nos processos logísticos internos de Exportação Etiqueta trocada Substituição de etiqueta Falta treinamento de etiquetagem Etiqueta não localizada Falta item na caixa Qualidade Dados do Importador Insuficientes Retrabalho Erro na colocação de peças Cubagem incorreta Atualização não realizada Dados inconsistentes Placas de identificação Trocadas nas gaiolas Avaria de produto Falta de Treinamento na separação de itens Ausência de etiqueta no produto Embalamento Seqüência de volumes digitados incorretamente Expedição Para que a pesquisa obtivesse resultados mais próximos da realidade, após ter aplicou-se também o braintorming para identificar quais das interferências relatadas pelos entrevistados são relevantes no processo de operações logísticas da empresa metalúrgica. Na realização do brainstorming, os seis participantes se reuniram para buscar os problemas relevantes 173 a partir das áreas problemáticas, utilizando a técnica de key-word, listaramse as idéias em um quadro visível por todos, sempre mantendo o foco nas áreas originalmente entrevistadas e nos problemas apresentados. Por meio das palavras-chave descritas no quadro abaixo, chegou-se ao consenso das seguintes interferências nas operações logísticas: QUADRO 3 – Interferências nas operações logísticas TEMA INTERFERÊNCIA NAS OPERAÇÕES LOGISTICAS INTERNAS Documentação Etiquetas Cubagem A demora na emissão da documentação acontece porque existem atrasos na emissão da Nota Fiscal devido a alterações na separação de itens por embarque a fim de igualar as metragens dos caminhões a metragem do pedido do cliente, ocasionando espera na expedição. Isso pode ser repensado com base em Kobayashi (2000), que destaca que o atraso na entrega do pedido insatisfaz o cliente. Uma das estratégias para solução desse problema é treinar o analista de exportação a realizar as separações de itens por metragem de caminhão durante o seu carregamento, já que a exatidão da metragem de cada caminhão é um serviço contratado pelo cliente e não é passível de controle. A cubagem mostra-se problemática, pois nem sempre a mercadoria cabe no caminhão. Há falta de verificação da cubagem dos caminhões quando da sua chegada no pressinto da empresa, ocasionando a entrada de veículos abaixo da metragem cúbica exigida na coleta da mercadoria e falta de espaço para carregamento dos itens solicitados no pedido do cliente. Uma das estratégias para solução desse problema é medir todos os caminhões antes do seu ingresso no pátio da empresa, recusando-o caso a sua metragem seja insuficiente ao solicitado ou permitindo sua movimentação até a Expedição, estando este de acordo a solicitação de coleta à transportadora. Solicitações do cliente para mudança do local de etiquetagem das caixas dos produtos causam perda de tempo durante o processo de carregamento, evidenciando um dos erros na expedição assinalados por Kobayashi (2000), que defende a necessidade de confirmação do correto destino da mercadoria e utilização de envelopes ou caixas diferenciadas por modelos de produtos. Como sugestão para indica-se transferir o processo de colocação da etiqueta na caixa ao final da linha de produção, de forma que os produtos cheguem à Expedição com a etiquetagem realizada conforme a solicitação do cliente. Com o estudo das atividades logísticas, nota-se que, 174 devido à manutenção de estoques sob uma quantidade adequada, com um lead time reduzido, desde a implementação dos pedidos até a expedição das mercadorias e consideração do estoque, pode-se analisar causas de interferências e diagnosticá-las, sugerindo melhorias para o sucesso da organização. 5 Considerações Finais Com base nas análises realizadas, foi possível identificar interferências nos processos logísticos internos de exportação e sugerir soluções para que os problemas nas atividades logísticas sejam sanados ou evitados. O estudo das causas e efeitos, bem como a realização do brainstorming, também contribuiu para conhecer a logística interna da empresa, verificando o processamento de pedidos e emissão da Nota Fiscal, principal responsável pela demora na efetivação dos carregamentos e apontando aos gestores da organização sugestões para qualificar a área de logística. Segundo a empresa, a separação dos itens por embarque será praticada nos próximos carregamentos com a finalidade de realizar um teste em relação a sua eficácia. Verificou-se que a cubagem dos caminhões solicitados na ordem de coleta à transportadora é importante para a Exportação, devido à chegada dos mesmos com cubagem inadequada ao pedido do cliente. Através da sugestão de medição do veículo antes do seu direcionamento à expedição, será possível evitar movimentação desnecessária no depósito de exportação, onde os materiais são acondicionados e distribuídos à expedição com lead time reduzido. A empresa já está realizando a medição dos veículos, o que tem evitado seu ingresso com cubagem insuficiente e agregado valor na logística da expedição. A única limitação encontrada nesse procedimento é o fato de o caminhão ter de retornar vazio à transportadora e a exportação ter de aguardar um novo veículo. Como o cliente cobre o frete de exportação, a organização estará realizando feedback com o importador, indicando transportadoras com metragens dentro das reais cubagens da mercadoria. Sobre a identificação dos produtos, percebe-se a importância do local de etiquetagem nas caixas. A demora nos carregamentos ocorria devido a solicitações de alterações do importador e a estratégia de etiquetagem na linha de produção pode evitar espera pela resposta do cliente e manuseio redobrado dos conferentes de expedição para etiquetar as caixas no local certo. A estratégia de etiquetagem durante a produção será utilizada pela empresa a partir das próximas ordens de produção. O estudo evidencia o valor das operações de funcionamento do depósito, na manutenção de estoques e no lead time reduzido pelo fato da armazenagem ser realizada sob identificação adequada ao produto, não sendo 175 necessária a sua realocação. A redução do tempo de espera na expedição permite que a logística seja praticada conforme relatada na teoria, em que os produtos são disponibilizados no local e momento certo, sob menor custo possível (BALLOU, 2007). Além disso, a realização das entrevistas, a análise das atividades logísticas, da manutenção e prevenção de erros nos estoques e demais temas abordados neste estudo contribuem não apenas para o crescimento na área de Administração, mas também para a vivência profissional e pessoal que dia-a-dia influencia na tomada de decisões baseadas nas causas desses problemas. Com isso, acredita-se que o trabalho alcançou seus objetivos, ao identificar e analisar as interferências logísticas internas de exportação e sugerir estratégias de melhoria em cada caso apresentado, mas pode ter continuidade no futuro, utilizando métodos quantitativos para observar a ocorrência das interferências nas áreas de almoxarifado, faturamento, controle da qualidade, produção, embalamento e expedição. 6 Referências BALLOU, R. Logística empresarial: transportes, administração de matérias e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2007. BOUER, G. Ferramenta da Qualidade. Disponível em: <http://www.prd.usp.br/ disciplinas/docs/pro27122005Alberto_Gregorio/FEROPER_gb.pdf>. Acesso em: 02 out. 2008. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GURGEL, F. C.A. Administração do produto. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. KOBAYASHI, S. Renovação da logística: como definir as estratégias de distribuição física global. São Paulo: Atlas, 2000. LAS CASAS, A. 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A abordagem quantitativa expôs os gráficos estatísticos e a análise qualitativa destes oportunizou a descrição das variáveis encontradas, demonstrando as necessidades da organização na visão dos líderes, os quais responderam aos questionários. Notou-se, a partir dos dados coletados e das características da empresa, que o melhor método a ser aplicado na empresa ABC é a Avaliação 360°, que oportuniza maiores benefícios a todos envolvidos no processo, pois o feedback oferecido é mais completo, além de aprimorar o exercício da liderança. Palavras-chave: Avaliação de Desempenho, Liderança, Avaliação 360° ABSTRACT This study seeks to analyze the best method of performance evaluation for the ABC Company, a company operating in the clothing industry and focuses on the outsourcing of its services to department stores. We sought a tool to assist in the management of people in the attainment of organizational goals and contribute to the development of leadership. The quantitative approach exposed the statistical graphs and qualitative analysis of these favors the description of the variables found, demonstrating the organization’s needs in view of the leaders who responded to the questionnaires. It was noted, from ¹Graduanda em Administração de Empresas da Faculdade Dom Alberto. ² Mestranda em Desenvolvimento Regional, professora da Faculdade Dom Alberto e orientadora do trabalho. 177 the data collected and the characteristics of the company, the best method to be applied to the ABC Company is a 360 ° assessment, which offered greater benefits to all involved in the process, because the feedback provided is more complete, and to improve the exercise of leadership. Key-words: Evaluation of Performance, Leadership, Evaluation 360° 1 Introdução Observa-se nas organizações de hoje a influência da relação interpessoal e do clima organizacional nos processos produtivos, desenvolvendo resultados positivos ou negativos, que variam de acordo com oscilações nos comportamentos individuais, influenciando assim o desempenho do profissional. E, com a mudança ocorrida nas culturas organizacionais, as empresas tiveram de se adaptar ao mercado e buscar inovações para atingir a satisfação dos clientes, com produtos de qualidade e de baixo custo. Além disso, os clientes exigem cada vez mais e melhor e, para isso, adequar uma ferramenta de avaliação de desempenho que oportunizará uma análise detalhada para a tomada de decisão irá auxiliar nas projeções futuras e desenvolver uma nova forma de desempenho do trabalho, oferecendo melhorias necessárias ao novo ambiente que as empresas atuam. Considerando isso, este estudo investiga uma empresa que atua no ramo do vestuário e tem como foco a terceirização de seus serviços para lojas de departamentos concentradas em grandes cidades, lojas como Renner, C&A, Marisa, Leader, Pernambucanas, Riachuelo, entre outras, confeccionando artigos esportivos para estas e também confeccionando sua própria marca, embora priorize a terceirização. A empresa vem buscando sempre inovar através da criação de modelos, tendências, materiais em virtude de os clientes estarem cada vez mais exigentes e atrás de inovações. Dentro desta cultura de inovação, a empresa pretende implementar um método de avaliação de desempenho de funcionários eficaz, o que motiva a seguinte questão a ser investigada: qual o melhor método de avaliação de desempenho a ser aplicado na empresa ABC? Para responder à questão de pesquisa, este estudo tem como objetivo geral analisar a melhor técnica de avaliação de desempenho para a empresa investigada e, como objetivos específicos, identificar um método de avaliação de desempenho que auxilie na gestão de pessoas, no alcance das metas organizacionais e que contribua para o desenvolvimento da liderança. Busca-se analisar uma ferramenta de avaliação de desempenho para desenvolver a organização, obtendo uma visão de novos horizontes para 178 qualificar a empresa e o alcance do bem-estar no trabalho, que pode ser considerado um paradigma a ser alcançado constantemente, visando o alcance dos objetivos empresariais, que luta para atingir um nível cada vez maior de produtividade, oportunizando uma nova forma de desempenho do trabalho. As seções apresentadas no decorrer do estudo visam ao melhor entendimento do trabalho e estão divididas da seguinte forma: gestão de pessoas, que demonstra a nova visão que se tem da gestão de pessoas, liderança, a qual relata a importância da liderança nas empresas e para a avaliação de desempenho; avaliação de desempenho, descrevendo e conceituando esta, seguindo com os métodos de avaliação de desempenho mais utilizados: comparação aos pares, avaliação participativa por objetivos e avaliação 360 graus; após isso a análise e descrição dos dados, caracterização da empresa e análise e discussão dos dados; considerações finais e as referências utilizadas neste trabalho. 2 Gestão de Pessoas Diante das mudanças ocorridas nas empresas, os recursos humanos passaram por modificações e hoje se trata de gestão de pessoas. A idéia de pessoas passou a ser interpretada como parte integrante das empresas, participando do desenvolvimento e melhorias, elaborando estratégias e determinando os objetivos, criando um novo ambiente de trabalho, mais participativo e democrático. Conforme Milkovich e Boudreau (2006) as pessoas trazem o brilho da criatividade para a empresa; auxiliam no desenvolvimento e estabelecem as estratégias e objetivos para a organização. E por isso a grande importância da eficácia das pessoas, sem isso torna-se impossível atingir os objetivos. Pode-se dizer que os recursos são limitados e a criatividade não tem limites. O movimento de valorização das relações humanas no trabalho surgiu da constatação da necessidade de considerar a relevância dos fatores psicológicos e sociais na produtividade. As bases desses movimentos foram dadas pelos estudos desenvolvidos pelo psicólogo americano Elton Mayo (1890-1949). Assim, temas como comunicação, motivação, liderança e tipos de supervisão passaram a ser também considerados na administração de pessoal. Obteve-se uma harmonização entre capital e trabalho (GIL, 2001). As pessoas completam a empresa de forma a construir o capital intelectual da organização, sendo de muita importância a colaboração e o envolvimento de todos. 179 2.1 Liderança Pode-se perceber a grande evolução da liderança, e do seu exercício nas organizações. O líder tornou-se uma peça de grande valor nas organizações, obteve mais liberdade e autonomia para a tomada de decisão. Para Pontes, “a avaliação de desempenho é, sem dúvida, a função primordial dos líderes das organizações” (2005, p. 26). O papel do líder é importante para incentivar a equipe como um todo, observando as necessidades individuais, para que possa corrigir os rumos, facilitando o entrosamento da equipe. O líder é praticamente um gestor que busca alternativas para que tudo se resolva, cria novas estratégias e dissemina as informações (PONTES, 2005). Júlio e Salibi Neto descrevem que, “quatro fatores são essenciais para o líder: a capacidade de dar direção e significado ao que se faz; a capacidade de inspirar confiança em seu pessoal; o otimismo; e a busca de resultados” (2002, p. 35). Já para Malone, “as quatro novas capacidades do líder são: achar sentido no que ocorre, visualizar o futuro, relacionar-se bem e inventar” (2009, p. 103). Os líderes obtêm poder através do respeito que conquistam, não sendo uma forma impositiva de poder, mas sim uma forma de relacionamento entre as partes que integram a equipe. Por muitas vezes o líder acaba sendo escolhido pela equipe que o tem como referencial, para os integrantes da equipe é a pessoa que tem o potencial de conquistar os objetivos esperados. O aprimoramento dos líderes também é relevante para terem uma melhoria contínua e reciclarem-se. Liderança e aprendizagem andam sempre juntas. A razão é simples: os líderes não conseguem comandar seus súditos a menos que aprofundem seu próprio conhecimento por meio do aprendizado e estudo (PANDYA; SHELL, 2005). As características da liderança nos mostram que os líderes precisam estar preparados para novos desafios, pois diariamente se deparam com novas metas. Por isso que os líderes se tornam relevantes e essenciais dentro de uma empresa e na avaliação de desempenho sua relevância é ainda maior, por serem as peças principais na elaboração e aplicação desta ferramenta. 2.2 Avaliação de desempenho A avaliação de desempenho pode oportunizar grandes melhorias para as empresas, mas somente através da boa aplicação e divulgação da ferramenta. Sendo de grande destaque a adequação de uma ferramenta que possa atingir os objetivos da organização, para que o dispêndio de esforços 180 não seja desnecessário. Para Chiavenato, “As práticas de avaliação do desempenho não são novas. Desde que uma pessoa deu emprego a outra, seu trabalho passou a ser avaliado em termos de relação entre custo e benefício” (2004, p. 258). A importância da avaliação de desempenho está baseada no estabelecimento de medidas para assim buscar melhoramentos, pois a natureza humana necessita de parâmetros para validar seu comportamento. Requerendo, através dos resultados obtidos na avaliação de desempenho, melhorias nos resultados (RUMMLER e BRACHE apud SCHMIDT; SANTOS; MARTINS, 2006). Pontes (2005) afirma que o processo de avaliação de desempenho define os resultados esperados, é um meio de acompanhar diariamente o interior da organização, podendo verificar os resultados conquistados para elaborar propostas futuras através do feedback oferecido. Milkovich e Boudreau (2006, p. 98) têm como conceito que, “a avaliação de desempenho é o processo que mede o desempenho do empregado. O desempenho do empregado é o grau de realização das exigências de seu trabalho”. Para auxiliar na construção de um sistema de avaliação de desempenho, segue no quadro 1 as questões que precisam ser respondidas para que se faça uma avaliação correta. Estas questões apontam a necessidade e importância da avaliação de desempenho para a empresa, para definir os objetivos, verificar quem deve realizar a avaliação, qual o melhor momento de aplicar essa ferramenta, como comunicar, essas questões auxiliam na análise dos fatores essenciais antes da implementação da metodologia, podendo, após responder as questões, ocorrer discussões para a melhor adequação. QUADRO 1 - Seis questões-chave para a avaliação do desempenho Por que avaliar o desempenho? Que desempenho avaliar? Como fazer a avaliação? Quem deve fazer a avaliação? Quando fazer a avaliação? Como comunicar a avaliação do desempenho? Fonte: Milkovich; Boudreau (2006) Deve-se manter um sistema de avaliação de desempenho tecnicamente elaborado para não haver erros e evitar que a avaliação seja feita de forma superficial, do chefe em relação ao subordinado. Dessa maneira a avaliação possibilita a participação do avaliado, construindo um ambiente 181 favorável ao crescimento e ao feedback da avaliação (GIL, 2001). Sendo assim, “Do ponto de vista do desenvolvimento individual, a avaliação fornece o feedback essencial para discutir os pontos fortes e fracos dos funcionários, e também para aprimorar o desempenho” (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 216). Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (1999) em síntese salienta que o processo de feedback se define na comunicação de uma avaliação, se ela é positiva ou negativa, uma crítica que caracteriza a opinião do comunicador. O retorno oferecido pela avaliação de desempenho é de suma importância, pois é através do resultado que se apontada os pontos fortes e fracos podendo assim planejar mudanças, enfatizando os pontos fortes e buscando melhorar os pontos fracos, tanto da empresa quanto do funcionário. 2.2.1 Métodos de avaliação de desempenho Qualquer metodologia não serve mais para as empresas, é preciso uma ferramenta que atinja os objetivos traçados pela empresa e que possa motivar os funcionários a atingir novos objetivos, fazendo com que a empresa se desenvolva no caminho do sucesso. Perante as novas características exigidas das empresas, é necessário um método que não só eleve o nível de produtividade, qualidade e satisfação dos clientes, mas principalmente o nível de motivação das pessoas (PONTES, 2005). É preciso utilizar um método adequado de avaliação de desempenho, já que cada empresa é analisada com suas características particulares, tendo que adequar as necessidades da empresa com o método adequado, pois “A maneira como alguma coisa é medida é tão importante quanto o que é medido” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2006, p. 104). Os métodos mais utilizados atualmente na avaliação de desempenho são: a comparação aos pares, a avaliação participativa por objetivos e a avaliação 360 graus. a) Comparação aos pares. Este método é definido por Chiavenato da seguinte forma: “é o que compara dois a dois empregados, de cada vez, anotando aquele que é considerado melhor quanto ao desempenho a partir de um fator de avaliação” (CHIAVENATO, 2004, p. 276). Compara-se o desempenho de um colega com outro, para ver quem é o melhor e assim segue até ter um padrão, essa situação pode ser muito desagradável, mas esse método ainda é utilizado nas empresas, acaba sendo uma forma de avaliação muito impositiva e pode sofrer influências do avaliador. b) APPO - Avaliação participativa por objetivos: “O processo de avaliação 182 por objetivos inicia-se pelo acordo, entre o líder e o funcionário, em relação aos objetivos a serem atingidos pelo funcionário” (PONTES, 2005, p. 86). Esse método é muito utilizado atualmente nas empresas, é uma forma participativa de avaliação, pelo acordo que ocorre entre o líder e o funcionário, sendo acordados os objetivos a serem alcançados. c) Avaliação 360 graus: “Trata-se de uma avaliação que é feita de modo circular por todos os elementos que mantêm alguma forma de interação com o avaliado” (CHIAVENATO, 2004, p. 262). Através das diferentes visões de: superior(es), subordinados, pares, clientes e fornecedores + auto-avaliação; uma pessoa é avaliada no meio de um círculo de diversos examinadores. Apresentam-se geralmente por questionários anônimos; identificado com ambientes participativos e democráticos. 3 Metodologia Buscou-se neste estudo a adequação de um método de avaliação de desempenho na empresa ABC, para isso foram realizadas pesquisas bibliográficas para levantamento de dados literários, dando embasamento teórico ao estudo. Aplicaram-se questionários com todos os cinco líderes da empresa, com nove questões abertas, sendo utilizadas para este estudo somente sete questões constatada a seleção das mais relevantes, coletando dados que demonstraram a visão dos líderes em relação à empresa. Realizou-se também estudo de caso, o qual ofereceu uma maior análise da empresa, para ter-se a visão do ambiente da empresa. A abordagem foi quantitativa através dos gráficos estatísticos apresentados a seguir e a análise destes dados foi qualitativa descrevendo as variáveis encontradas, verificando a necessidade da empresa em adotar um método de avaliação de desempenho que oportunize benefícios e que se adapte de forma adequada às exigências da empresa, buscando a qualificação do processo, dos líderes, dos colaboradores e da organização. Observadas as características relevantes, segue o resultado da pesquisa realizada. 4 Análise e descrição de dados 4.1 Caracterização do objeto de pesquisa A empresa ABC conta com 75 funcionários na unidade de Santa Cruz do Sul/RS, a unidade em estudo, que atua no ramo do vestuário e terceiriza seus serviços para lojas de departamentos, lojas como Renner, C&A, Marisa, entre outras, possui marca própria, mas prioriza a terceirização de seus serviços. 183 Confecciona artigos esportivos como jaquetas, bermudas, calças, coletes, na linha infantil, juvenil e adulto, feminino e masculino. Essas peças quando prontas são inspecionadas na empresa de Venâncio Aires pelo cliente e após aprovação são entregues nos centros de distribuição das empresas clientes, que após conferência distribuem para as lojas. Trata-se de uma empresa com um processo operacional, que conta com a grande experiência e técnica dos seus funcionários, trabalha com setores, os quais três são de costura e um de expedição e acabamento. Com a adaptação de um método de avaliação de desempenho procura-se a motivação desses funcionários para que se sintam satisfeitos com o serviço prestado. 4.2 Análise e discussão de dados Para a coleta de dados foram realizadas questões abertas com os líderes para se obter informações internas da organização, diante disso podese fazer a análise dos dados coletados para poder verificar as necessidades da empresa e também ter a percepção do ambiente da empresa. GRÁFICO 1 - Fatores que intervêm na relação entre líderes e funcionários No primeiro gráfico, pode-se ter uma visão da forma como os líderes desempenham a sua função e como se relacionam com os funcionários do seu grupo. Perante isso se tem que, 34% dos líderes consideram importante para o relacionamento entre líderes e funcionários o diálogo, 22% o respeito e seguindo com 11% consecutivamente, a relação de amizade construída entre eles, o companheirismo, a interação e a confiança, o que acaba por facilitar e auxiliar os líderes nas suas tarefas. É importante essa análise para retratar o parecer dos líderes, podendo enfatizar os principais pontos por eles definidos. A relação de diálogo e respeito apresentada pelos líderes poderá au184 xiliar na avaliação de desempenho. Para Robbins (2005), a comunicação é um meio de facilitar o esclarecimento do que o funcionário deve fazer para melhorar o seu desempenho, se tornando um meio de motivá-los. O relacionamento dos líderes e funcionários deve ser enfatizado na avaliação de desempenho, dentre as características principais podemos destacar a boa comunicação e o bom relacionamento existente. GRÁFICO 2 – Definição da liderança Em sua maioria o respeito que o líder proporciona e tem perante os seus subordinados tomou proporções de maior destaque, seguido do relacionamento amigável. Os líderes classificaram sua liderança em 43% como de respeito, 29% possuem uma relação amigável e consecutivamente com 14% cada, possuem bom relacionamento e consideram sua liderança de compreensão. Para Júlio e Salibi Neto (2002) a essência da liderança hoje é garantir que a organização conheça a si mesma, diante disso, o líder deve criar um ambiente em as pessoas possam ter sucesso, e também precisa estar acessível para o melhor acesso entre a organização e os colaboradores. Os líderes demonstram que sua forma de poder não é impositiva, mas sim uma relação de compreensão e de respeito, o que oferece um ambiente aberto à criatividade, apontando que os líderes traçam seus objetivos com base nos objetivos individuais e empresariais. GRÁFICO 3 - A influência do comportamento individual no desenvolvimento do grupo 185 No gráfico 3, destaca-se a qualidade do serviço prestado pelo funcionário, realizar as atividades que lhe são solicitadas, objetivando a união, pois através dela pode-se proporcionar crescimento e quando há desentendimentos, pode-se buscar o atendimento das necessidades das partes. Isso demonstra que o item de maior destaque foi a qualidade do serviço prestado, e o restante dos itens obtiveram uma importância inferior. Para os líderes o comportamento individual de cada colaborador do grupo influencia primeiramente com 40% na qualidade do serviço prestado; 20% dos líderes apostam na união para crescer, já que o grupo depende da união de todos para juntos atingirem seus objetivos e com 20% ficam a realização das tarefas solicitadas, assim como os desentendimentos que quando ocorrem podem desfavorecer todo o grupo, pois influencia negativamente no desenvolvimento do grupo, e os outros itens influenciam positivamente. Conforme Chiavenato (1999), as pessoas fornecem conhecimentos, habilidades e capacidades para as empresas, além do mais importante aporte, a inteligência. Por esse motivo a grande importância da qualidade do serviço prestado pelo funcionário, já que a empresa tem um sistema produtivo operacional que requer mão-de-obra especializada e qualificada. GRÁFICO 4 – Importância de medir o desempenho O gráfico 4 nos mostra que, para os líderes, medir o desempenho proporcionará o maior esforço dos funcionários, buscando desenvolver suas atividades de uma forma que seu desempenho seja melhor. Rummler e Brache demonstram que, “a argumentação da avaliação de desempenho está fundamentada no fato de que a natureza humana está constantemente em busca de parâmetros para validar o seu comportamento” (RUMMLER; BRACHE apud SCHMIDT; SANTOS; MARTINS, 2006, p.14). Os líderes apontaram que a importância de medir o desempenho em 80% das opiniões está ligada diretamente à conquista do maior esforço do funcionário e 20% na maior valorização dos funcionários, através da análise que irá demonstrar o bom desempenho dos funcionários, pode-se valorizálos mais, pois a empresa terá um subsídio para a tomada de decisão, a ava186 liação de desempenho. GRÁFICO 5 – Relacionamento dos líderes junto ao seu grupo Esta questão apresenta o relacionamento que o líder tem perante seus subordinados, e para um dos líderes não há boa aceitação, pois entrou na empresa a pouco tempo e ainda não conseguiu se adaptar, para outros há desentendimentos passageiros, mas a maioria dos líderes têm bom relacionamento, o que aponta um ponto positivo para a avaliação de desempenho: Os líderes são avaliados pelos resultados negociais que obtêm, mas também pela maneira como demonstram esses valores. Bons resultados e bons valores significam bom desempenho, uma constatação. Poucos resultados e poucos valores, igualmente, uma constatação – mau desempenho. Obtenha poucos resultados, mas compartilhe os valores, e você terá uma segunda chance. Se você obtiver bons resultados, mas fizer isso por meio do uso da força ou da intimidação, perderá sua chance (LONDON; BEATTY apud MILKOVICH, 2006, p. 100). Os líderes indicam que o relacionamento deles junto aos subordinados do grupo é de boa aceitação para 67% deles, 16 % não têm boa aceitação em algumas situações e para 17% ocorrem desentendimentos passageiros, criando um ambiente favorável ao crescimento, já que os desentendimentos e a não aceitação é apresentada pela minoria. GRÁFICO 6 – O que deve ser avaliado nos colaboradores 187 O gráfico 6 demonstra que o mais importante é a avaliação da assiduidade de cada funcionário, seguido do desempenho e do relacionamento e também em proporções menores tem-se a produtividade. Chiavenato (2004) relata que o processo de avaliação aponta as qualidades de alguma pessoa, para estimular ou julgar o seu valor. É relevante analisar os itens que precisam ser avaliados, fazer um levantamento destes, para que seja verificada a verdadeira importância dos itens, para assim ter um parâmetro e agregar valores. Para os líderes os itens que devem ser avaliados nos funcionários através da avaliação de desempenho são: com 42% a assiduidade, 25% o desempenho das funções, 25% o relacionamento interpessoal, pois o ambiente de trabalho também é importante para a realização das tarefas, e 8% a produtividade. Percebe-se que os líderes enfatizam a importância do controle sobre o absenteísmo, pois vem ocorrendo em grandes proporções na empresa e acaba por atrapalhar o desenvolvimento do grupo, e a avaliação de desempenho se apresenta como uma ferramenta para diminuir estes índices, pois servirá como apoio para motivar os funcionários a exercerem suas funções com maior realização. GRÁFICO 7 – Benefícios da avaliação de desempenho na empresa O gráfico 7 os líderes apresentaram em suas opiniões os itens: melhor desempenho da atividade, valorização dos funcionários, maior produtividade e qualidade do produto. Como itens de destaque proporcional, destacam-se a valorização dos funcionários e a maior produtividade, seguidos do melhor desempenho e da qualidade do produto. Para que as empresas sobrevivam em um ambiente cada vez mais competitivo, é preciso conquistar elevados níveis de produtividade para maior vantagem competitiva. Essa produtividade depende da capacitação e motivação dos funcionários (GIL, 2001). Na visão dos líderes, os benefícios trazidos para a empresa através 188 da avaliação de desempenho seguem através dos percentuais: 37% estão na valorização dos funcionários, já que a avaliação de desempenho oportunizará a diferenciação destes, 38% dizem que aumentará a produtividade, pois se terá o controle, através de medidas; 12% acreditam que os funcionários e os líderes terão melhor desempenho nas atividades e 13% na qualidade do produto, que será importante em um mercado cada vez mais competitivo. 5 Considerações finais Através da análise e discussão dos dados, identificou-se na pesquisa que a empresa possui líderes que desempenham suas funções por meio da comunicação e do bom relacionamento. Teve-se como foco a análise dos líderes, pois são as peças principais na implementação da avaliação de desempenho, apesar da necessidade de treinamento destes, para que possam utilizar, da melhor forma, a avaliação de desempenho, alinhando os objetivos da empresa, com suas práticas e também com o conhecimento adquirido no treinamento. Buscou-se a verificação do melhor método de avaliação de desempenho na empresa ABC, coletando dados que possibilitem assim a visualização das características da empresa e com essas verificações pôde-se perceber que o método de avaliação de desempenho que melhor se adapta à empresa é a avaliação 360°, que permite um feedback mais completo, acarretando mudanças necessárias para a organização e seus colaboradores no alcance dos objetivos globais e individuais. Além de oportunizar o desenvolvimento dos líderes no feedback oferecido pelos colaboradores, que desse modo, terão a oportunidade de expressarem suas necessidades e desejos. Não sendo, somente uma análise dos líderes sobre seus subordinados, mas também dos colaboradores para com seus líderes. A avaliação 360° ocorre por meio das diversas opiniões, em ambiente participativo e, portanto oferece o conhecimento das pessoas, da empresa e de todos que se relacionam, oferecendo um retorno de opiniões e informações necessárias para o melhor desenvolvimento e solução de problemas. Este estudo também auxiliou a empresa a conhecer melhor seus processos e o seu ambiente de trabalho, fazendo com que a empresa analise suas falhas e busque melhorias, já que a empresa nunca passou por nenhum estudo deste tipo. Deve-se verificar antes da implementação da avaliação de desempenho a boa divulgação da ferramenta, para se ter uma avaliação com resultados positivos, já que a comunicação é o princípio para qualquer relacionamento. Deixa-se assim a abertura para que este trabalho sirva de sugestão ou motivação para trabalhos futuros, sendo um assunto inovador e trabalhos 189 nessa área podem propor mudanças para os próximos cenários em que as empresas atuarão. 6 Referências BOHLANDER, G; SNELL, S; SHERMAN, A. Administração de recursos humanos. Tradução de Maria Lucia G. Leite Rosa. Revisão técnica de Flávio Bressan. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. _____. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2004. GIL, A. C. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001. JÚLIO, C. A; SALIBI NETO, J. Liderança e gestão de pessoas: autores e conceitos imprescindíveis. São Paulo: Publifolha, 2002. MALONE, T. Modelo distribuído [e temporário]. Revista HSM Management, v.1, n.72, p. 100-104, jan./fev. 2009. MILKOVICH, G. T; BOUDREAU, J. W. 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São Paulo: Atlas, 2006. 191 192 A RELAÇÃO ENTRE A SATISFAÇÃO NO TRABALHO E A SÍNDROME DE BURNOUT Lucas Charão Brito¹ Edgar Reyes Junior² Fábio Teodoro Tolfo Ribas³ RESUMO A má gestão do capital humano pode acarretar em problemas psicossociais e de efetividade no processo produtivo das organizações. Neste sentido, o objetivo deste estudo é contribuir para a discussão das relações existentes entre a satisfação no trabalho e a síndrome de Burnout em profissionais urbanos. A partir de um estudo exploratório e quantitativo no qual foi aplicado Survey a 326 profissionais, validando instrumento de Burnout e satisfação, foi identificado que trabalhadores operacionais sofrem maior predisposição à insatisfação e exaustão emocional que os de nível técnico e liderança; que a sobrecarga gera burnout; que os profissionais mais velhos tendem a ter maior envolvimento no trabalho; que profissionais de instituições públicas tendem a desenvolver exaustão emocional; e que os principais elementos que impactam na satisfação são o envolvimento pessoal no trabalho e a despersonalização. Palavras-chave: Satisfação no trabalho, Síndrome de Burnout, Organizações ABSTRACT The mismanagement of human capital can lead to psychosocial problems and effectiveness in the production process of organizations. In this sense, the objective of this study is to contribute to the discussion of the relationship between job satisfaction and burnout in professional areas. From a quantitative and exploratory study in which it was applied in 326 Survey professional tool for validating burnout and satisfaction, where it was found that operational workers suffer more prone to dissatisfaction and emotional exhaustion of ¹Graduando em Administração de Empresas na Faculdade Dom Alberto. ²Docente em Administração na Faculdade Dom Alberto; Doutorando em Administração na Unisinos e orientador da pesquisa. ³Docente em Administração na Faculdade da Serra Gaúcha; Mestrando em Administração na UFSM. 193 technical leadership and the overload generates Burnout whereas the older professionals tend to have greater involvement in work, professionals from public institutions tend to develop emotional exhaustion, and that the main elements that impact on satisfaction are the personal involvement in work and depersonalization. Key-words: Job satisfaction, Syndrome burnout, Organizations 1 Introdução As mudanças sociais geradas pela globalização são profundas, aceleradas e no processo produtivo das organizações estão aliadas à grande diversidade de situações de trabalho (BELLUSCI, 2005). Devido à expansão do capitalismo, os indivíduos em sua maioria, buscam continuamente, através do trabalho, a realização dos seus desejos. Entretanto, as exigências do mercado de trabalho e a competitividade, modificam a situação pessoal de todos os indivíduos, trazendo-lhes ansiedade, insegurança e aumento dos níveis de estresse. Deste modo, fica evidente que as mudanças e inovações nas organizações não ocorreram somente no âmbito operacional do trabalho, mas também na seara mental dos trabalhadores (FROMM, 1976). Tais fatos levaram Maslach e Leiter (1999) a destacar que as transformações derivadas de processos como a globalização, competitividade, aumento da instrumentação tecnológica e a perda do sentimento de coletividade entre outros, tem mostrado o ambiente organizacional como um espaço que não favorece a satisfação pessoal. Portanto, compreende-se que persiste a mentalidade de um ambiente social de trabalho eficaz como uma máquina, em detrimento a um ambiente mais seguro e saudável para os indivíduos. Diante disto, a satisfação no trabalho tem sido tratada desde o início do século XX, visando a analisar as possíveis causas, dimensões, conceitos semelhantes, conseqüências e técnicas de mensuração de um sentimento que emerge quando o homem se relaciona com situações laborais (BASTOS; BORGES- ANDRADE; ZANELLI, 2004). Além da satisfação no trabalho, a síndrome de Burnout tem sido tratada em diversos estudos4 como um dos aspectos associados à ocorrência de agravos à saúde do trabalhador, pois seus efeitos podem acarretar em problemas psicossociais devido ao aumento da exaustão emocional, despersonalização e diminuição do envolvimento 4 MASLACH e LEITER (1999), RUDOW (1999), BENEVIDES-PEREIRA (2002), PERERRÉ, ROSSI; SAUTER (2007), HALBESLEBEN e ZELLARS (2007) 194 no trabalho afetando diretamente os processos de trabalho aumentando desmotivação, absenteísmo, rotatividade entre outros.Neste sentido, o ambiente social das organizações tornou-se, portanto, um local que influencia diretamente na saúde física e mental do trabalhador. Com base nessas considerações, este estudo tem por objetivo responder a seguinte questão de pesquisa: Qual a relação entre satisfação no trabalho e a síndrome de Burnout?--Para tal têm-se como objetivo geral identificar possíveis relações entre a satisfação do trabalhado e a Síndrome de Burnout.-Para se atingir o objetivo geral de pesquisa, busca-se: Identificar o perfil sócio-demográfico dos profissionais urbanos; relacionar as características sócio-demográficas com os aspectos relacionados com Burnout e satisfação no trabalho; analisar a relação existente entre a satisfação e Burnout .A importância da compreensão dos aspectos que permeiam a satisfação no trabalho e os que influenciam no desenvolvimento da síndrome de bunout se dá porque os dois fenômenos afetam os processos de trabalho e o desenvolvimento profissional. A má administração do capital humano pode acarretar há graves problemas operacionais, de custos e principalmente a saúde física e mental. 2 Referencial Teórico 2.1 Satisfação no Trabalho A análise de dados de uma organização precisa ser subsidiada por materiais bibliográficos que possam dar sustentação à discussão. Assim, fazse uma discussão sobre satisfação no trabalho. A satisfação no trabalho é um somatório de sentimentos positivos e/ou negativos que os empregados percebem o seu trabalho (OLIVEIRA, 2002), relacionados a vários aspectos organizacionais como o sistema de gestão, os companheiros, a natureza do trabalho, o ambiente, os supervisores e a relação do trabalho com a vida privada. Contudo, apesar de muitos indivíduos estarem satisfeitos com seu trabalho de forma geral, isto não significa que eles estejam felizes com todos os aspectos (SPECTOR, 2005). Neste sentido, o trabalhador que tem um alto nível de satisfação apresenta atitudes e comportamentos positivos em relação a ele, enquanto um funcionário insatisfeito apresenta atitudes negativas (ROBBINS, 2005). A insatisfação no trabalho pode gerar diversos efeitos sobre as atividades de uma organização tendo assim impacto direto na produtividade, rotatividade, absenteísmo dos funcionários (OLIVEIRA, 2002; ROBBINS, 2005), fazendo com que estes profissionais se tornem, às vezes, resistentes, céticos, antagônicos e avessos a colaboração (OLIVEIRA, 2002). 195 Para Spector (2005), é necessário compreender que o trabalho geralmente causa muito prazer às pessoas. A vida do ser humano é assim, as relações com pai e mãe enlouquece, a sexualidade enlouquece, ou seja, tudo aquilo que gera muito prazer enlouquece, pois o prazer quando não satisfeito é paradoxo a dor e sofrimento. Por outro lado, Zanelli, Borba-Andrade e Bastos (2004) ressaltam que muitas pessoas relatam suas prioridades como: primeiro o trabalho, depois o prazer. Essa frase, do mesmo modo em que exalta a importância do trabalho, tornando-o uma questão primordial da vida, supõe-se oposto ao prazer, como se o prazer existisse apenas fora do ambiente de trabalho. Quando não se compreende a necessidade do prazer e satisfação no trabalho pode-se desenvolver problemas com a saúde física e mental, como por exemplo a síndrome de Burnout. 2.2 Burnout O burnout no trabalho é uma síndrome que envolve uma reação prolongada aos estressores interpessoais crônicos. As principais dimensões desta reação são uma exaustão avassaladora, sensações de ceticismo e desligamento do trabalho, uma sensação de ineficácia e falta de realização. Esta definição é uma descrição mais ampla do modelo multidimensional que foi predominante no campo do Burnout (MASLACH; JACKSON, 1981; 1986; LEITER; MASLACH, 1988, MASLACH, 1993; MASLACH; LEITER, 1999). Atualmente a Síndrome de Burnout pode ser considerada como um dos maiores problemas no mundo do trabalho (WORL HEALTH ORGANIZATION, 1998). Entretanto, não pode ser definida como uma problemática das pessoas, mas sim uma reação do ambiente social das organizações, gerada de incompatibilidades entre a natureza do trabalho ao reconhecimento do lado humano do trabalho (HALBESLEBEN; ZELLARS, 2007). Neste sentido Benevides-Pereira (2002) destaca que organizações com um ambiente social de pressão, metas altas, falta de segurança ou mesmo com riscos de acidentes de trabalho são fatores desencadeantes da problemática, ocasionando conseqüências a nível individual, organizacional, familiar e social Na acepção de Schaufeli e Enzmann (1998), a insatisfação com o trabalho, absenteísmo, baixo comprometimento no trabalho, intenção de sair do emprego e rotatividade são derivações do Burnout, através de varias formas de reações negativas ao emprego. O processo da Síndrome de Burnout é individual, seu desenvolvimento pode levar anos e até décadas (RUDOW, 1999). Seu surgimento é lento, de efeito acumulativo, com acréscimo gradativo em severidade (FRANÇA, 1987; PERREWÉ; ROSSI; SAUTER, 2003), geralmente não sendo percebido pelo profissional, que na maioria dos casos não compreende que está acontecendo com ele (DOLAN, 1987; RUDOW, 1999). 196 A Síndrome de Burnout é composta por três dimensões multidimensionais, isto é, referem-se a um conjunto de variáveis que permeiam tal fenômeno, quais sejam: a exaustão emocional (EE), a despersonalização (DP) e o envolvimento pessoal no trabalho (EPT). A dimensão da exaustão emocional (EE) caracteriza-se pela perda de energia, pouca tolerância, fadiga crônica, nervosismo, além de rigidez no comportamento resultada de trabalho estressante (MENDES, 2002; BAKKER, 2005). Neste sentido, os principais emergentes desta exaustão são a sobrecarga de trabalho e o conflito pessoal e interpessoal no trabalho (PERREWÉ, ROSSI, SAUTER, 2003), gerada da falta ou insuficiência de energia paralela a um sentimento de desgaste dos recursos físicos e mentais (KIM; SHIMB; UMBREIT, 2006). A despersonalização (DP) representa o componente do contexto interpessoal no burnout, caracterizada por atitudes e comportamentos negativos, irônicos e cínicos (CHAN, 2006). Na despersonalização o profissional diminui seu envolvimento com a organização, a dedicação com sua função, o tempo de trabalho, porém continuam fazendo suas tarefas, entretanto o mínimo necessário, para receber apenas sua remuneração no início do mês, de forma que a qualidade e o desempenho acabam diminuindo (PERERRÉ; ROSSI; SAUTER. 2003). A falta de envolvimento pessoal no trabalho (EPT) denota a tendência do profissional auto avaliar-se negativamente, está avaliação negativa se dá devido à falha do indivíduo em produzir resultados satisfatórios à organização e a si próprios. A terceira dimensão (EPT) é considerada uma combinação das outras duas (EE e DP), pois um ambiente organizacional propício estas duas dimensões consecutivamente contribui surgimento de um sentimento baixa realização profissional seguido de ineficácia e incompetência (MASLACH, 1999). 3 Metodologia Este estudo caracteriza-se sendo exploratório, utilizando-se análise quantitativa, tendo como instrumento de coleta de dados uma Survey. Para o desenvolvimento do estudo, realizou-se a pesquisa em uma amostra aleatória por conveniência, portanto não probabilística com aplicação individual e coletiva do instrumento de pesquisa em trabalhadores urbanos de organizações públicas e privadas do município de Santa Cruz do Sul/RS. Os profissionais pesquisados atuam em indústrias, serviços e nos setores públicos (municipal, estadual e federal), desempenhando funções de nível operacional, técnico e de liderança. A pesquisa foi aplicada entre os meses de maio a setembro de 2009, tendo 326 respondentes, sendo 301 questionários válidos. Para sua reali197 zação foram percorridas diferentes empresas, escolas, serviços públicos de saúde e previdência social, além de terem sido encaminhados por meio eletrônico a algumas empresas selecionadas. As empresas entrevistadas foram escolhidas de forma intencional visando uma maior diversidade de profissionais em diferentes grupos e organizações. A Survey envolveu a validação de instrumento auto-aplicado de coleta de dados de Maslach, Jackson e Leiter (1996), um questionário para estudos da Síndrome de Burnout, constituído em 16 questões relativas ao modo como os profissionais se sentem em relação ao trabalho. Este instrumento é dividido em três partes, exaustão emocional (EE), despersonalização (DP) e ao envolvimento pessoal no trabalho (EPT). Portanto, o instrumento conta com uma escala Likert de 0 à 6 de pontuação de acordo com a ocorrência dos sentimentos relativos às afirmativas do questionário. A segunda parte do ITP é composta por um conjunto de temáticas relativas ao prisma da satisfação no trabalho de modo a aferir como os profissionais percebem as suas organizações, e está dividido em 6 sub-itens, nomeadamente: satisfação global, satisfação com o sistema de gestão, condições de trabalho, satisfação com fatores de higiene, equipamentos e serviços e satisfação com o tipo de Gestão (Liderança formal) no intuito de permitir uma compreensão sistêmica dos aspectos inerentes a satisfação do individuo com a organização onde atua. Alem da estatística descritiva, expressa na forma de percentuais e representada graficamente com software Excel, os dados também foram analisados utilizando-se estatística inferencial com software SPSS 15.0 onde foram analisadas múltiplas correlações bivariadas de Sperman e regressão múltipla. Para Hair (2005), múltiplas correlações bivariadas permitem identificar relações subjacentes entre as variáveis, e regressão múltipla analisa a relação de diversas variáveis independentes com uma variável dependente. A correlação de Sperman foi utilizada já que ela é própria para casos em que alguma das variáveis correlacionadas seja não métrica. Na próxima seção serão apresentados os resultados encontrados através da aplicação do instrumento de coleta e posteriores análises de dados. 4 Análise dos Dados Na análise das características sócio-demográficas foram perguntadas as questões relacionadas à idade, gênero, estado civil, escolaridade, ramo da organização, função exercida, setor e tempo de trabalho. No que se refere à variável gênero observando-se através dos 301 profissionais respondentes que a amostra estudada é predominantemente do sexo feminino com 198 um total de 63,7% entre os 192 sujeitos identificados, sendo encontrados 109 homens (36,3%). GRÁFICO 1 – Gênero 70,00% 63,70% 60,00% 50,00% 36,30% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Masculino Feminino Quanto ao nível de escolaridade, identificou-se que 7 indivíduos (2,25%) possuem ensino fundamental incompleto, 10 (3,22%) ensino fundamental completo, 38 (12,25%) ensino médio completo, 81 (26,12%) ensino médio completo, 120 (38,70%) ensino superior incompleto e 45 (14,51%) ensino superior completo. Parte-se do pressuposto que o alto nível de escolaridade pode ser derivado do aumento de mão de obra especializada, desigualdade regional, segregação social de profissionais com pouca escolaridade (FREIRE, 1994), e da dificuldade na acessibilidade (compreensão dos objetivos do estudo) de trabalhadores de baixa escolaridade. GRÁFICO 2 – Escolaridade 45,00% 38,70% 40,00% 35,00% 30,00% 26,12% 25,00% 20,00% 15,00% 14,51% 12,25% 10,00% 5,00% 2,25% 3,22% Ens. Fund. Incomp Ens. Fund. Comp 0,00% Ens. Médio Inc 199 Ens. Médio Comp Superior Inc Superior Comp Para identificar as relações existentes entre o perfil sócio-demográfico com os fenômenos estudados, foi verificado através da estatística inferencial utilizando-se de múltiplas correlações bivariadas de Sperman que indicou correlação negativa (-,119) entre os fatores idade e o gostar do trabalho levando suposição que os indivíduos mais velhos gostam mais de seu trabalho. TABELA 1 – Correlações Bivariadas de Sperman Idade Tipo de Organização Carga Horária Nível Profissional Tempo de Profissão -,325(**) -,146(*) Ramo da Organização Gostar do Trabalho -,191(**) Escolaridade ,559(**) EE ,130(*) ,180(**) DP EPT ,157(**) ,120(*) -,183(**) -,176(*) ,185(**) ** Correlação é significativa ao nível de 0.01 * Correlação é significativa ao nível 0,05 Observou-se na amostras correlação positiva (,130) entre o tipo de instituição (pública e privada) com o nível de esgotamento emocional no trabalho, indicando que os indivíduos de organizações públicas possuem um maior nível de esgotamento emocional do que os de organizações privadas. Este fato pode ser devido às condições físicas que as instituições públicas passam, ocasionadas de agravos estruturais, financeiros e das atividades profissionais dos serviços em sua maioria serem diretamente ligadas à área de saúde, educação e segurança (MASLACH, 1996). Na análise do EPT foi identificado correlação positiva (,120) com a variável idade demonstrando que a profissionais com maior idade tendem a ter maior envolvimento profissional, indo ao encontro da proposição de Maslach e Leiter (1996) que ressaltam que profissionais com maior nível de EPT tendem a acreditar mais no seu potencial, podendo solucionar efetivamente as atividades requeridas através de contribuição efetiva as organizações. Foi identificada ainda correlação direta entre a carga horária e o EE (,180) e a DP (,157), demonstrando que profissionais com maior jornada de trabalho tendem a sentirem-se emocionalmente esgotados e céticos em relação a seu trabalho, Couto (2002) refere-se a sobrecarga (física/mental/cognitiva/tensional) no trabalho como agravo desencadeador de fatores psicossociais devido indivisibilidade gerada entre o corpo e mente do trabalhador. Outra relação identificada foi entre à variável nível profissional e a satisfação no qual se verificou que profissionais de nível técnico e de liderança estão mais realizados no trabalho do que profissionais de nível operacional (-,325). As condições (físicas, higiene e ergonômicas) e a natureza do traba200 lho podem contribuir diretamente para a insatisfação do trabalhador operário (COUTO, 2002). A fim de verificar a existência de relações entre as dimensões da Síndrome de Burnout e nível profissional identificou-se a partir de correlação com EE (-,183) e DP (-,176), indicando que profissionais de nível operacional tendem maior propensão a desenvolver as dimensões de burnout. Estas análises diferenciam-se de estudos que relacionam a incidência do Burnout com atividade profissionais de saúde, educação e segurança. Entretanto, para Maslach e Leiter (2001), a incidência das dimensões de Burnout caracterizase indiferentemente do nível profissional podendo ocasionar em trabalhadores de quaisquer atividades. Foi identificado que profissionais com menor tempo de profissão gostam menos do seu trabalho (-,146), este aspecto é advindo da relação do profissional a adaptação com a cultura organizacional e ao aumento no comprometimento organizacional (SCHEIN, 2001). A variável EE tem correlação negativa com os aspectos relativos à satisfação no trabalho: satisfação com a gestão/liderança formal (-,254), satisfação geral com a organização (-,261), satisfação com fatores de higiene, equipamentos e serviços (-, 205), satisfação com o ambiente organizacional (-, 263) e satisfação com a vida privada (-,310). Demonstrando que quanto maior o nível de esgotamento emocional, maior a insatisfação do profissional com a organização e com a natureza do trabalho. TABELA 2 – Correlações Bivariadas de Sperman EE DP EPT Satisfação com a Gestão/Líder Formal -,254(**) -,411(**) ,278(**) Satisfação com Sistema de Gestão -,261(**) -,390(**) ,288(**) Satisfação com as condições de higiene, equipamentos e serviços -,205(**) -,230(**) ,189(**) Satisfação com o Ambiente Organizacional -,263(**) -,351(**) ,347(**) Satisfação com a vida Privada -,310(**) -,247(**) ,124(*) ** Correlação é significativa ao nível de 0.01 * Correlação é significativa ao nível 0,05 Também se verificou correlação negativa entre a despersonalização DP com os aspectos da satisfação no trabalho, demonstrando que profissionais menos satisfeitos com sua organização tendem a serem mais céticos, descuidados e avessos a colaboração (PERERRÉ et. al., 2003). Paralelo a isto, verificou-se correlação positiva com o nível de envolvimento profissional concluindo-se que os trabalhadores com maiores níveis de satisfação tendem a se envolverem mais com o trabalho, colaborando com a organização de forma eficiente e eficaz. 201 A partir de regressão para a satisfação no trabalho em relação ao burnout utilizando o teste de ANOVA com um nível de significância de 0,00 que a capacidade de explicação deste modelo é de 24%, gerando a seguinte equação: Satisfação = 3,087+0,27 (EPT) – 0,27 (DP) – 0,14 EE + ∑ Tomando com base os resultados da equação, pode-se pressupor que uma redução nos níveis de DP ou aumento nos níveis de EPT podem impactar de forma mais relevante nos níveis de satisfação dos colaboradores do que EE. 5 Considerações finais Atualmente, há um amplo consenso sobre a necessidade de superar dificuldades e limitações dos processos tradicionalmente adotados pelas organizações no processo de gestão do capital humano. Para isso, torna-se indispensável criar praticas de valorização e responsabilidade social interna buscando a diminuição do impacto dos processos de trabalho na saúde física e mental dos funcionários das organizações. A partir disso, o objetivo geral deste trabalho foi identificar possíveis relações entre a satisfação do trabalhador e a Síndrome de Burnout. Para tal, foram analisadas as relações entre os aspectos sócio-demográficos dos respondentes e os fenômenos analisados. Identificou-se que trabalhadores mais velhos têm maior envolvimento com o trabalho. A maturidade pode levar a um aumento do comprometimento do trabalhador com as organizações. Funcionários públicos tendem a ter maior esgotamento emocional. O mesmo pode dever-se a uma maior atuação dos mesmos em áreas críticas como saúde, segurança e educação. Além disso, foi verificado no estudo que profissionais de nível operacional tendem a sentir os impactos da insatisfação e no de desenvolvimento de Burnout, demonstrando a importância do tratamento adequado a todos os níveis hierárquicos, pois independente do cargo as organizações devem propor subsídios necessários para o desenvolvimento do trabalho de forma humana e adequada. Essa observação contradiz os postulados de diversos estudos que relacionam em estudos somente trabalhadores assistências e de cuidados. Como resultado da análise da relação entre satisfação e Burnout foi identificado que quanto maior o envolvimento pessoal no trabalho e menores níveis de despersonalização e esgotamento emocional, maiores são os níveis de satisfação com as organizações e com o trabalho. Por essas razões são sugeridos novos estudos na área, com a replicação deste estudo em uma amostra maior e probabilística, para fins de generalização dos resultados obtidos, bem como analisar mais detidamente os 202 funcionários de nível operacional, que apresentaram comportamento distinto daquele esperado pela teoria. Sugere-se ainda a validação do instrumento de Maslach et. al.(1996), no intuito de identificarem-se todas as variáveis efetivamente tem poder explicativo. Dentre as limitações de pesquisa, destacam-se a escassez de estudos, conceitos e formas de análise e interpretação dos resultados com profissionais de diversos níveis profissionais. Também foram identificadas dificuldades de acesso a funcionários de nível operacional, quando submetidos à pesquisa nas organizações onde atuam, por aparente receio de impactos posteriores negativos. Gerencialmente as conclusões desta pesquisa podem conduzir à desmistificação do senso comum que muitos executivos têm a cerca da utilização de programas de humanização nas organizações, e da visão voltada à separação do indivíduo entre o corpo e mente, pois do que adiantam programas voltados a saúde do trabalhador se o ambiente social das organizações não desenvolvem meios efetivos de monitoramento do capital humano. Também pode ser identificado gerencialmente que o foco de ações orientadas ao aumento da satisfação pode ser mais direcionado ao aumento do envolvimento pessoal no trabalho e na redução do esgotamento emocional. 6 Referências BAKER, M. J. Selecting a Research Methodology. The Marketing Review. Scotland: Westburn, 2005. BELLUSCI, S. M. Doenças profissionais ou do trabalho. 6. ed. São Paulo, SP: SENAC, 2005. BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. O estado da arte do burnout no Brasil.I SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE ESTRESSE E BURNOUT. Curitiba, 2002. COUTO, H. A. 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Porto Alegre: Artmed, 2004. 205 206 GESTÃO DOS CUSTOS DA QUALIDADE: UM ESTUDO DO NÍVEL DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS EM UMA INDÚSTRIA DE ARTEFATOS DE BORRACHA Marguit Teresinha Agnes¹ Daniel Bartz² RESUMO A demanda por produtos com qualidade e a preços acessíveis faz com que cada vez mais a gestão da qualidade torne-se uma condição imprescindível para que as empresas mantenham-se competitivas no mercado. As organizações modernas estão expostas a um mercado acirrado, o que recomenda aos gestores um maior nível de informações para apoio à decisão. Assim, o objetivo central do estudo é avaliar o nível de informação existente a respeito dos custos da qualidade em uma indústria de artefatos de borracha. Para tanto, realizou-se um estudo de caso, no qual foram realizadas análise documental e entrevistas com os gestores do nível estratégico da empresa. Os principais resultados indicam que a empresa possui pleno conhecimento da relevância do gerenciamento dos custos da qualidade. Contudo, seus instrumentos gerenciais, bem como os indicadores de desempenho correlatos, necessitam de maior aprofundamento e extensão para que possam maximizar o nível de evidenciação das informações gerenciais dos custos da qualidade. Palavras-chave: contabilidade de custos, custos da qualidade, gerenciamento ABSTRACT The ever increasing demand of high quality products at accessible prices, by and by is leading to an all the more qualified management, which has become an indispensable condition for the maintenance and the objective competitiveness of enterprises within the brisk market. Modern organizations are exposed to be left unprotected within a uncompromised market; that’s why a higher level of information about decision takings is recommended to managers. Hence, the core objective of this study has been the evaluation of ¹Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ²Mestre em Ciências Contábeis, professor da Faculdade Dom Alberto. 207 the existent level of information dealing with the costs of the quality inwardly an industry of rubber goods. Therefore, a case study was undertaken to effectuate a documental analysis, together with interviews with managers of the strategic line of the enterprise. The outstanding outcomes show that the enterprise does have full scale knowledge of the relevancy of the management of costs of quality. However, its managing instruments, as well as the correlate indicators of performance, are in need of deepening and increasing, in order to maximize the level of the obviousness of the managing output of the costs of quality. Key-words: cost accounting, quality accounting, management 1 Introdução O ambiente organizacional vem passando por grandes transformações nas últimas décadas. Essas mudanças tornaram a gestão empresarial mais complexa e adicionaram elementos que, num passado não muito distante, não exerciam tanta pressão sobre a gestão dos negócios. As empresas dispostas a participar do mercado em condições competitivas buscam formas técnicas e práticas de satisfazer os requisitos básicos para um adequado posicionamento tanto no âmbito interno quanto no atendimento das demandas externas à organização. Um aspecto que vem merecendo especial atenção diz respeito às demandas dos clientes, que cada vez mais exigem alta qualidade de produtos ou serviços, porém a preços menores. Nesse sentido, a gestão da qualidade é uma atividade primordial para que tal demanda seja atingida sem comprometer a continuidade da empresa, tanto em termos de negócios quanto relacionado à solidez financeira. Para isso, os custos da qualidade surgem como uma forma de reconhecimento da gestão da qualidade e de aumento da confiabilidade perante os gestores. Adotar medidas, conceitos e princípios é útil para o futuro de uma organização. Entender as mudanças da demanda e reagir adequadamente a elas possibilita aos administradores aproveitar-se plenamente das condições do mercado. O gerenciamento do custo de qualidade torna-se necessário nas empresas para seu próprio crescimento e desenvolvimento, trazendo benefícios em todos os aspectos, seja através de melhorias de processo, por meio da redução de desperdícios e, conseqüentemente, da melhoria dos resultados. As empresas atuam em ambientes cada vez mais competitivos e buscam formas gerenciais de realizar melhorias e diferenciais competitivos, 208 tornando-se cada vez mais dependentes de informações gerenciais que retratem todos os aspectos que possam influenciar no resultado econômico e financeiro da organização. Considerando esse aspecto, infere-se que um sistema de gestão da qualidade visa a programar a qualidade em todos os processos da empresa, podendo tornar-se o seu grande diferencial competitivo por algum tempo. Diante desse contexto, o principal propósito do trabalho é identificar qual o nível de informações gerenciais que uma indústria de artefatos de borracha utiliza quando se trata de custos de qualidade. Para tanto, de modo específico busca-se: a) diagnosticar se a empresa possui um sistema de gestão dos custos da qualidade; b) identificar que indicadores de custos de qualidade são monitorados; c) avaliar o nível de utilização das informações relativas à gestão dos custos da qualidade e sua aderência ao processo decisório. Assim, considerando-se que os sistemas de custos geralmente fornecem informações relevantes para a empresa, mas que, se utilizados sem um alinhamento aos interesses estratégicos poderá trazer conseqüências indesejadas, busca-se responder ao seguinte problema de pesquisa: qual é o nível de utilização das informações sobre custos da qualidade para fins gerenciais em uma indústria de artefatos de borracha? O entendimento por parte dos gestores da empresa de que o aprimoramento do sistema de gestão dos custos qualidade é necessário e condizente com o propósito institucional para os próximos anos justifica a realização deste estudo. Acredita-se que apurar o grau de utilização dos custos da qualidade poderá evidenciar que, embora haja uma noção clara de sua importância para o sucesso do negócio, ainda se carece de uma estruturação mais sólida e que, num breve espaço de tempo, possa consolidar tal metodologia. 2 A gestão dos custos da qualidade Com as novas demandas gerenciais surgidas principalmente a partir da década de 90, começaram a surgir críticas de que a contabilidade dita tradicional por si só estava sendo insuficiente para suprir os gestores com informações úteis e tempestivas ao seu processo decisório, o que fez surgir sistemas mais específicos voltados à gestão. Assim, uma dessas possibilidades é o controle dos custos relativos à qualidade. Analisando-se a literatura de controle da qualidade, percebe-se a existência de conceitos iniciais de custos da qualidade, visando a ancorar ações de melhoria e ser um meio de mensurar a qualidade das empresas. Joseph Juran foi um dos primeiros estudiosos a emitir um conceito sobre custo da qualidade, principalmente ao publicar em 1951 a obra Quality Control Handbook. 209 Juran (1992) afirma que os custos da qualidade são aqueles custos que não deveriam existir se o produto fosse fabricado perfeitamente logo da primeira vez, o que pressupõe a não existência de falhas produtivas, geradoras de retrabalho, desperdícios e perdas da produtividade. De acordo com o que expõe Damazio (1998), as teorias administrativas, inicialmente aperfeiçoadas por Taylor, passaram por diversos estágios de melhorias, existindo assim vários profissionais que atuam com novos conceitos de como administrar com qualidade total. A busca pela melhoria da qualidade dos produtos se resume na evolução para a qualidade, uma inspeção final na produção e ações preventivas direcionadas também à redução dos custos. Para Morse, Roth e Poston (1987) apud Sakurai (1997, p. 134), custo de qualidade pode ser definido, em poucas palavras, como o custo incorrido por causa da existência ou da possibilidade de existência de uma baixa qualidade. Custos da qualidade podem ser classificados como custos de prevenção ou custos de avaliação. Os custos da não qualidade podem ser classificados como custos de falhas internas ou custos de falhas externas. Num sentido mais amplo, Sakurai (1997) destaca que o custo da qualidade se compõe de três tipos de custos: 1) custos incorridos por causa das probabilidades de falhas; 2) custos incorridos por falhas ocorridas; 3) custos incorridos para conseguir um ambiente onde os funcionários possam produzir eficientemente. Esses tipos de custos nem sempre são identificáveis através dos sistemas contábeis tradicionais. Wernke (2004) destaca que os custos de prevenção são os gastos incorridos para evitar que falhas aconteçam. Tais custos têm como objetivo controlar a qualidade dos produtos, de forma que evite gastos provenientes de erros no sistema produtivo. Por sua vez, os custos de avaliação são os gastos com atividades desenvolvidas na identificação de unidades ou componentes defeituosos antes da remessa para os clientes internos ou externos. Para Robles Jr. (1996) o que se pode considerar é a preocupação com todos os processos de que a empresa lança mão para atender e satisfazer os consumidores. Tal preocupação com todos os processos industriais e administrativos é conhecida como Total Quality Control ou apenas TQC. O controle da qualidade total mais do que uma simples atividade empresarial deve ser visto e aplicado como um rigoroso programa de gestão que prioriza a excelência em termos de qualidade. Em relação a essa questão, Shank e Govindarajan (1997) alertam que os problemas de qualidade começam nas operações, entendendo que os trabalhadores seriam os principais responsáveis pela baixa qualidade. A melhor maneira para controlar a qualidade, portanto, seria a inspeção local. Esta abordagem exige que o departamento de controle de qualidade esteja devidamente estruturado, tendo a função de inspecionar a produção e certificar-se de que ela 210 atende as especificações do padrão de qualidade requerido pelo cliente. Contudo, um aspecto peculiar a ser avaliado pelos gestores é a busca por maior produtividade, cuja meta é elevar ao máximo possível a quantidade produzida, frente à necessidade de manutenção de altos padrões de qualidade. Aparentemente é um conflito de fácil solução haja vista os recursos tecnológicos existentes. Porém, quando entra em cena o fator humano a situação envolve a equipe de controle da qualidade e os trabalhadores da linha de produção, devendo existir um alinhamento afinado no que diz respeito aos requisitos necessários à qualidade. Juran e Gryna (1988) consideram que os custos da qualidade têm como objetivos: a) transformar o problema da qualidade em parâmetros ou valores compreensíveis aos gestores do nível estratégico; b) identificar as áreas com maiores potenciais de ganho; c) mensurar a insatisfação do cliente em relação às falhas; d) criar consciência para a importância da qualidade. No entendimento de Sakurai (1997), há três objetivos principais na implantação de um sistema de custos da qualidade. O primeiro é saber a natureza e o porte dos custos da qualidade, que podem ser mais facilmente detectados através de um sistema de controle da qualidade. O segundo diz respeito aos relatórios de qualidade, os quais necessitam estar alinhados com as avaliações do desempenho contínuo. Por fim, o terceiro objetivo é que o custeio da qualidade pode melhorar a lucratividade da empresa através de um controle orçamentário mais efetivo. Na visão de Sakurai (1997), tanto as metas quanto os métodos do custo da qualidade são diferentes nas empresas. Se considerar-se que a cultura organizacional e o modelo de gestão diferem de uma empresa para outra, tal afirmativa é um tanto previsível. No que diz respeito aos critérios de avaliação de desempenho também poderá haver critérios e metodologias diversas, mas para as empresas que prezam pela qualidade a análise de desempenho necessita considerar as informações de um sistema de gestão dos custos da qualidade. 2.1 A importância das informações oriundas da gestão dos custos da qualidade Qual o reflexo da não qualidade em termos financeiros para uma empresa? Talvez essa seja uma questão sem resposta se a empresa não dispuser de informações a respeito de custos e de qualidade. Logo, nota-se que o custo da qualidade pode ser considerado como uma técnica capaz de contribuir ativamente para a melhoria do processo decisório de uma empresa, tanto na esfera da alta administração quanto nos níveis gerenciais intermediários, englobando inclusive as questões sobre custo e qualidade. Sendo entendido com um instrumento gerencial capaz de mensurar 211 o comportamento dos custos, este, por sua vez, permitirá a geração de informações por meio de indicadores de desempenho. Para Campos (2004, p. 75), gerenciar é “o ato de buscar as causas (meios) da impossibilidade de se atingir uma meta (fim), estabelecer contramedidas, montar um plano de ação, atuar e padronizar em caso de sucesso”. Assim, mensurar o desempenho da qualidade através da gestão dos custos é uma forma de gerenciar um programa de controle da qualidade e dispor de informações úteis para a reflexão gerencial. Isso pressupõe que a empresa tenha um sistema de informações contábil-gerencial alinhado e dimensionado à sua necessidade gerencial. Conforme destaca Coral (1996), algumas empresas fizeram investimentos consideráveis na área de qualidade, porém, a falta de mensuração e acompanhamento tornou inviável a continuidade dos programas implementados. Em relação a tais mensurações, Sakurai (1997) defende que a análise de desempenho inicia-se com a totalização dos custos da qualidade, importando saber o valor que foi consumido em qualidade para cada produto. Aliás, o investimento em qualidade somente será plenamente justificável se o benefício econômico que gerar for comprovadamente condizente com o objetivo da empresa. Possuir relatórios que retratam adequadamente a gestão dos custos da qualidade é algo imprescindível. Para Warren, Reeve e Fess (2003), os relatórios de custos da qualidade comprovam que o custo total da atividade esta associada a cada classificação de custo da qualidade e à porcentagem dos custos totais da qualidade. É necessária uma análise lógica, planejada e coletiva do problema até a sua completa solução. Robles Jr. (1996) enfatiza que os relatórios de custos da qualidade necessitam de flexibilidade para que possam acompanhar a dinâmica dos negócios, principalmente em questões operacionais. O argumento do autor está no fato de que certo custo até então existente, devido ao trabalho efetivo de gerenciamento, possa deixar de existir e, portanto, os relatórios terão que ser readequados a essa nova situação. Em relação à forma como esses relatórios podem ser elaborados existem diversas possibilidades como um resumo de informações por produto, por grupo de produto, por categorias de custos, etc. Cada empresa dentro de sua realidade gerencial irá desenvolver o modelo ideal de informações gerenciais que atenda as suas demandas organizacionais. Galloro e Stephani (1995) destacam que, além de informações monetárias, os relatórios informativos podem relacionar percentualmente os custos da qualidade com outros índices de desempenho existentes na empresa. Quanto maior for o nível de informações geradas, maior a condição de decidir e maior será o nível de qualidade desta decisão. 212 3 Metodologia Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza descritiva, por enfatizar a descrição de como ocorre o evento, porém sem interferir nos acontecimentos. Para Gil (1996), esse tipo de pesquisa visa à descrição de característica de um fenômeno e até mesmo o relacionamento de variáveis. Em relação aos procedimentos de pesquisa adotou-se o estudo de caso, que para Yin (2001) é um tipo de pesquisa empírica que permite a investigação de problemas contemporâneos em um contexto real. Assim, buscouse analisar de forma aprofundada a gestão dos custos da qualidade em uma empresa de artefatos de borracha, buscando responder o problema proposto verificando como ocorre o evento. Os dados foram coletados por meio da análise de documentos e relatórios contábeis e de custos, bem como indicadores de desempenho relacionados ao objeto do estudo. Também houve contato direto com cinco gestores da empresa envolvidos no processo de controle de custos, os quais foram selecionados por serem informante-chave do objeto de estudo. Yin (2001) ressalta que a escolha desses informantes é aspecto essencial para o sucesso do estudo. Esse contato pode ser caracterizado como uma entrevista semi-estruturada com questões abertas relacionadas à gestão dos custos da qualidade, com o objetivo de complementar as informações coletadas por meio da consulta documental de modo a propiciar maior confiabilidade das informações analisadas, principalmente por se tratar de uma metodologia ainda em processo de consolidação na empresa. O problema foi abordado de forma qualitativa, para o qual Raupp e Beuren (2003, p. 92) destacam que “na pesquisa qualitativa concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado”. Assim, a seguir apresentam-se os dados e análises do tema pesquisado, que retratam a forma como a gestão dos custos da qualidade está sendo tratada pela empresa estudada. 4 Estudo de caso 4.1 Caracterização da empresa A pesquisa foi desenvolvida em uma empresa de artefatos de borracha fundada em 1924, que neste estudo será identificada pelo nome ALFA. A empresa começou sua trajetória com produtos derivados da borracha e atualmente é uma das marcas mais tradicionais do Brasil. Nascida no vale do Rio Pardo/RS, onde possui duas fábricas, é referência no segmento de material escolar e de escritório. Em 1991, uma decisão estratégica funde todas as empresas e surge a ALFA S/A. 213 A empresa emprega diretamente cerca de 550 colaboradores e detém um portfólio de mais de 1,5 mil itens que vão de borrachas de apagar, colas e corretivos, a bolsas térmicas, bolas para ginástica, muletas, tintas para artesanato, papéis para decoupage, esteiras para linha de produção industrial e pisos táteis. Atuando em todo o Brasil por meio de parceiros, a ALFA comercializa seus produtos em mais de 30 países da Ásia, Europa e Américas. O objetivo de expandir seus negócios na região e disseminar ainda mais a marca pelo mundo é um exemplo de que inovação e tradição são correlacionadas, já que, mesmo consolidada, apresenta crescimento consistente. Estes mais de 80 anos no mercado de borrachas mostram que a fórmula de apostar na inovação sem abrir mão da tradição tem dado certo. Prova disso é que a ALFA tem registrado crescimento médio de 20% ao ano. 4.2 O uso das informações de custos da qualidade para fins gerenciais Estando este estudo direcionado ao conhecimento mais detalhado da forma de utilização de um sistema de gestão dos custos da qualidade na empresa ALFA, buscou-se reunir informações que pudessem evidenciar o grau de aderência dessa metodologia nas práticas gerenciais da empresa. Inicialmente buscou-se avaliar se o entendimento do conceito de custo da qualidade estava difundido entre os gestores envolvidos no processo, o que permitiria diagnosticar também a existência ou não de um sistema de gestão pertinente. Nesse sentido, a análise das entrevistas mostra que o conceito é conhecido pelos entrevistados, ficando evidente a existência de um sistema de gestão dos custos da qualidade. Porém, os resultados sugerem que ainda de modo um tanto superficial. Verificou-se que a empresa possui certificação ISO 9000, o que indica procedimentos direcionados ao atendimento de rigorosos padrões de qualidade, sendo seus funcionários devidamente qualificados em treinamentos e palestras. Percebeu-se ainda, que o principal objetivo da empresa em gerenciar os custos da qualidade é no sentido de obter constante redução dos seus custos de produção, não desperdiçando recursos, especialmente naturais. Essa redução de custos foi também relacionada ao fato de que conjuntamente aos custos, a qualidade deve ser priorizada, a fim de não comprometer os negócios da empresa perante o mercado em que atua. A idéia de Juran (1993) de que as metas da empresa devam traduzir as necessidades de seus clientes é um propósito institucional bastante claro. Isso foi percebido na pesquisa através do posicionamento do diretor da ALFA, que difunde esses conceitos com todos os membros da empresa, independente do nível hierárquico em que atuam. Dentre os objetivos do estudo, estava a verificação da existência de 214 um sistema de controle de qualidade na empresa ALFA, bem como a identificação de possíveis indicadores utilizados para avaliação dos custos da qualidade. Para tanto, através da análise documental e das entrevistas foi possível constatar que a empresa possui um sistema de controle da qualidade administrado de forma descentralizada, conforme mostra a figura 1. Desta forma, cada área (contabilidade, custos, produção, administração, controle da qualidade) tem sua responsabilidade de controle em relação aos custos da qualidade e seus gestores reúnem-se periodicamente para avaliar os resultados de forma integrada. As evidências mostram que a empresa está aprofundando os conceitos de forma gradativa, visando consolidar o modo de aplicação. FIGURA 1 – Distribuição das atividades do sistema de controle da qualidade Como se pode observar na figura 1, o sistema de controle da qualidade não fica restrito somente à área de controle da qualidade. Cada uma das áreas citadas tem sua responsabilidade vinculada ao nível organizacional ao qual está vinculada. Assim, na base da pirâmide existe um universo mais amplo de controles acerca da qualidade, com enfoque operacional. No nível intermediário há uma mensuração mais efetiva do impacto da qualidade ou não-qualidade em termos financeiros e seus reflexos nas projeções de resultados da empresa. Por fim, no topo da pirâmide está a alta administração, que monitora o desempenho em termos de qualidade e custos, tomando decisões de grande relevância em termos estratégicos do negócio. Em relação aos indicadores já existentes para mensuração dos custos da qualidade na ALFA, identificou-se, por meio das entrevistas com os gestores, bem como através da análise das planilhas de controle de custos 215 de produção, que atualmente os indicadores utilizados são relativos à mensuração de refugo, de materiais e de produtos prontos. Outras evidências acerca de indicadores gerenciais não foram encontradas quando analisados os documentos contábeis e de custos apresentados pela empresa no decorrer da pesquisa. O cálculo do indicador de refugos é realizado mediante tabelas e gráficos específicos que o setor contábil e de controladoria elaboram, mensurando-se o desempenho mensal do indicador em relação à meta estratégica estipulada pela empresa. Constatou-se que a meta de refugos é fixada anualmente e distribuída de forma linear entre os meses, passando por uma revisão periódica que avalia sua aderência aos objetivos corporativos. O quadro 1 ilustra como é este controle. QUADRO 1 – Controle de refugos da linha de produtos Lótus Produtos Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. A 4,9% 5,3% 4,4% 6,7% 5,0% 6,0% 6,0% 4,2% 6,1% 5,0% 7,1% 7,0% B 4,6% 3,1% 1,8% 2,7% 1,3% 4,7% 1,5% 1,8% 5,0% 4,8% 6,3% 9,2% C 4,0% 4,4% 1,2% 2,8% 3,6% 4,5% 1,4% 1,4% 4,9% 8,7% 8,6% 10,0% Meta 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% O quadro 1 mostra os dados do ano de 2008 de uma das linhas de produtos da empresa. O percentual de refugos verificado para cada um dos produtos é comparado mensalmente com a meta a ser atingida, os quais são bastante variáveis de um mês para outro. Com estes dados os gestores avaliam as causas do não cumprimento da meta e, quando necessário, traçam planos de ação visando à redução de refugos. A representação gráfica destes dados é mostrada no gráfico 1. GRÁFICO 1 – Controle de refugos da linha de produtos Lótus 10,00% 8,00% A 6,00% B 4,00% C Meta 2,00% 0,00% Os mesmos dados mostrados no quadro 1 são analisados graficamente pela empresa, podendo ser identificada visualmente as variações ocorridas a cada mês. As planilhas de acompanhamento dos refugos trazem 216 sempre a informação em valores percentuais e graficamente. Considerando uma possível necessidade de outros indicadores, os gestores foram questionados sobre quais indicadores deveriam ser gerenciados para que a empresa obtivesse um melhor controle de seus custos da qualidade. Assim, os indicadores citados e suas respectivas freqüências foram: 1) perdas com retrabalhos devido a não qualidade – 60%; 2) percentual de custos da qualidade em relação ao faturamento – 40%; 3) custos com falhas internas – 80%; 4) percentual de clientes que deixaram de comprar devido a problemas de qualidade – 20%. A partir dessa constatação, mostrou-se oportuna uma segunda rodada de entrevistas com os gestores a fim de avaliar qual o elemento de custo da qualidade mais importante na opinião destes. Assim, foram submetidos à avaliação dos gestores quatro elementos para análise, quais sejam: prevenção, controle, falhas internas e falhas externas. A esses elementos deveria ser atribuída uma avaliação entre 1 (menos importante) e 10 (altamente importante). Após analisar o conteúdo das respostas e tabular os dados, constatou-se que não há um consenso sobre qual elemento é o mais importante, havendo diversas opiniões. Entretanto, verificou-se que 80% dos gestores entendem que a prevenção e o controle são os elementos mais importantes para a empresa. Em relação às falhas internas e externas, a percepção dos gestores indica serem elementos importantes, mas não prioritariamente gerenciáveis, tendo havido inclusive um gestor que opinou no sentido de não haver tolerância para a ocorrência de falhas. Embora essa questão não tenha um direcionamento único na empresa, de certo modo a opinião emitida pelos gestores vai de encontro ao que defende Juran (1992), que prevê eficiência máxima a fim de não existir custos inerentes à qualidade. O fato de não haver tolerância à folhas sugere essa intenção. Em relação à utilização das informações relativas aos custos da qualidade, percebeu-se que cada gestor dentro de sua área de atuação (contabilidade, custos, produção, administração, controle da qualidade) utiliza dados específicos direcionados à sua necessidade gerencial. Especificamente em relação ao processo de fabricação dos produtos, os dados sugerem que a empresa inicia a produção com base nas informações constantes no PCP (planejamento e controle de produção). Por essa análise infere-se que a empresa utiliza a metodologia de custo padrão, especialmente na fase inicial do processo, onde alguns materiais têm suas especificidades checadas para avaliar se estão em conformidade com o planejamento da empresa. Observou-se que, em termos de informações gerenciais, um aspecto muito valorizado na ALFA é o monitoramento das falhas. Ocorrendo qualquer anormalidade na peça imediatamente é feito um registro, denominado pela 217 empresa de qualidade de produtos não-conformes, documentado em uma ficha de controle chamada de “produto não-conforme” e na ficha de acompanhamento de ordem de produção, conhecida como RHP (registro histórico de produção). Essas informações são transmitidas para a área de produção nãoconforme, que deve tomar as medidas necessárias para sanar os problemas. Conforme exposto por um dos entrevistados “nas reuniões de análise crítica das unidades e com base nos registros de falhas o gestor da área de produção avalia se existe a necessidade de abrir um RAC (registro de ação corretiva) ou um RPA (registro de ação preventiva), referente à falha específica registrada no controle”. Observou-se que a empresa possui uma preocupação bastante grande com a conferência dos produtos que saem do processo produtivo. Tal fato ocorre para avaliar se todos os produtos estão em conformidade com os padrões de qualidade da empresa e requeridos pela clientela. Os dados da pesquisa revelam que a empresa tem critérios bastante claros quanto aos tipos de falhas no processo produtivo. Sobre esta questão, um dos entrevistados destacou como é o controle de falhas, citando “o controle de falhas internas é feito através de testes realizados em várias etapas da produção e, as falhas externas, são controladas a partir de testes de rastreamento da produção”. Dependendo do tipo de falha, todo um lote de produção é refugado e devolvido para análise e retificação se for o caso. Para cada tipo de falha existem providências pré-determinadas a serem adotadas para a imediata correção dos defeitos. Em termos de geração de informação e comunicação aos respectivos responsáveis, nota-se um funcionamento apropriado. O sistema de gestão dos custos da qualidade é realizado em planilhas e gráficos elaborados no Excel. Os dados são analisados pela área de contabilidade e controladoria, que elaboram os cálculos técnicos e avaliam o desempenho. É possível inferir que nem todos os dados inerentes ao custo da qualidade são identificáveis nos demonstrativos contábeis. A geração de informações é feita em instrumentos complementares à contabilidade, com foco estritamente gerencial. Um aspecto que vem contribuindo para a melhoria do nível informacional é que sistematicamente ocorrem reuniões entre a direção da empresa e os responsáveis pelos setores envolvidos com a produção e o controle de qualidade para avaliar e validar indicadores de desempenho e metas, a fim de monitorar alcance dos resultados corporativos. Nesse contexto a área contábil tem uma grande contribuição ao mensurar os custos incorridos com a manutenção da qualidade, bem como auxiliando a direção da empresa nas reflexões e projeções de resultados. 218 5 Conclusões e recomendações O sistema de gestão dos custos de qualidade é um importante instrumento de apoio para os gestores da empresa. O sistema de custos da qualidade fornece um nível de medição e avaliação, demonstrando que a qualidade proporciona incrementos de lucro e produtividade para a empresa e melhor aceitação dos produtos e serviços pelos clientes, uma vez que esses não se dispõem a pagar o custo da ineficiência da empresa. Este estudo serviu para demonstrar a importância da gestão do custo da qualidade para uma empresa industrial e evidenciar que esse conceito deve estar difundido entre seus membros para que gere os efeitos desejados. No caso analisado, conclui-se que há uma clara evidência de que o controle da qualidade e a correta mensuração de seus custos são um propósito organizacional muito presente nas ações dos gestores e da própria direção da empresa. Tratando-se do nível de informações gerenciais acerca de custos da qualidade, pode-se concluir que a empresa necessita ampliar seu nível de monitoramento, especialmente a partir da implantação de novos indicadores de desempenho. Esses, aliás, parecem estar tacitamente presente no desejo e entendimento dos gestores entrevistados, contudo ainda não estão sendo utilizados na empresa. Também o nível de utilização das informações pertinentes aos custos da qualidade requer maior proveito para que venha a subsidiar adequadamente o processo decisório na empresa, tanto a nível estratégico quanto operacional. Acredita-se que quanto mais dados estiverem evidenciados nos demonstrativos contábeis, mais efetivo será o controle e mais eficaz será a geração de informações a nível gerencial. Por fim, espera-se que este estudo sirva como meio de reflexão sobre o tema em análise e possa contribuir para a melhoria dos processos gerenciais da área de custos da ALFA. Para futuros estudos recomenda-se avaliar a criação de novos indicadores e seus efeitos sobre a gestão da empresa, bem como realizar uma pesquisa que mensure o impacto da gestão do custo da qualidade em empresas que atuam com base na estratégia de liderança de custos, dentro do conceito abordado por Michael Porter. 6 Referências CAMPOS, V. F. Gerenciamento da rotina de trabalho do dia-a-dia. 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Metodologicamente o trabalho é um estudo de caso quantitativo, onde foram aplicados questionários, para vinte clientes que adquiriram veículos na empresa nos primeiros seis meses de dois mil e nove, e através do método qualitativo onde foram descritos os dados. Os resultados encontrados na empresa foram satisfatórios e identificaram as variáveis positivas e deficitárias no processo de fidelização após a venda realizada. As principais variáveis encontradas como deficitárias na empresa foram a comunicação com o cliente, a demora na resolução de problemas e o atendimento. As variáveis positivas foram a localização, os profissionais e a organização da empresa. Palavras-chave: fidelização, variáveis, pós-vendas ABSTRACT This study investigates the variables that influence customer’s loyalty after buying automobiles at KLC vehicles. Likewise it develops an action plan to better the after sales service and thus to avoid further complaints from the buyers. Methodologically this work is a quantitative case study. Questionnaires were applied to twenty customers who purchased vehicles in the company during the first six months. The paperwork has also a qualitative approach once the study describes the data collected. The results gathered were satisGraduanda em Administração da Faculdade Dom Alberto. ² Mestre em Administração, Professor e coordenador do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto. 1 221 factory and it was able to identify positive as well as negative variables after sales. The main problems detected were related to the lack in communication between owner and client, the delay in solving paper issues and poor customer service. The positive variables were location, professionals and organizational skills of the company. Key-words: loyalty, variables, after sales service 1 Introdução Atualmente as empresas são tão modernas e diferenciadas que já não existe uma organização exatamente igual à outra, a competitividade entre elas está muito mais acirrada, cada empresa tem o seu diferencial competitivo e busca apresentar várias características para um mesmo produto seja uma propaganda, um brinde exclusivo ou um atendimento personalizado. O marketing é um dos mais procurados e mais utilizados diferenciais competitivos com ele as empresas, estudam estratégias mercadológicas para atrair e conquistar seus clientes. Para a manutenção do marketing, o empresário deve ter uma visão de fora para dentro de seu negócio, monitorando o ambiente e adaptando-se às oportunidades do mercado e as necessidades do consumidor. O marketing possui várias ramificações, neste estudo utilizaram-se duas de suas atribuições o marketing de relacionamento e o marketing de serviços. O marketing de serviços busca agregar valor à empresa, otimizando e diversificando os serviços oferecidos pelas empresas, ou seja, são serviços adicionais oferecidos por ela como diferencial competitivo, já o marketing de relacionamento busca agregar valor a empresa mantendo um relacionamento com o cliente. A fidelização do cliente depende muito do esforço que a empresa tem em oferecer produtos e serviços de qualidade, fornecer um bom atendimento, um bom ambiente e manter um relacionamento continuado com o seu cliente. Desta forma o presente estudo tem como tema o serviço de fidelização do cliente após a venda e o seguinte problema: Quais as variáveis que influenciam na fidelidade dos clientes da KLC veículos após a venda? O objetivo geral é identificar as variáveis influenciadoras da fidelidade dos clientes após a venda na KLC Veículos. E os objetivos específicos são coletar informações sobre o bem adquirido após o ato de compra, identificar as variáveis que ficaram registradas como positivas e deficitárias sobre a empresa após a negociação e com os dados adquiridos, formular um plano de ação. 222 Assim, este estudo justifica-se perante a necessidade encontrada na empresa em aumentar e fidelizar sua carteira de clientes, pela facilidade de acesso de dados e ainda pela ineditibilidade do assunto, pois na região o pósvendas não é muito utilizado em revendedoras de veículos. 2 Referencial Teórico Como referencial teórico, busca-se um breve entendimento sobre assuntos relacionados ao marketing, marketing de relacionamento, marketing de serviços, fidelização, satisfação do cliente e atendimento pós-vendas que orientaram e foram essenciais para este estudo. 2.1 Marketing Conforme Kotler e Keller (2006), marketing é um processo social por meio do quais pessoas e grupos obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros. Para o Kotler “marketing é o processo de execução e planejamento desde a concepção, o preço, e a distribuição de idéias bens e serviços, para criar trocas que satisfaçam os objetivos das pessoas e das organizaçoes” (KOTLER, 1998, p.59). Segundo Cobra (1997), mais importante do que entender a definição de marketing é compreender que ele deve ser encarado com uma filisofia, uma norma de conduta para a empresa, em que as necessidades latentes dos consumidores devem definir as caracteristicas dos produtos ou serviços a serem elaborados e as respectivas quantidades a serem oferecidas. 2.2 Marketing De Relacionamento Segundo Gordon (1998), o marketing de relacionamento é um processo de criação e identificação de novos valores com clientes individuais e a manutenção destes benefícios para a vida toda. Envolve a compreensão e administração da colaboração entre fornecedores e clientes. Assim o marketing de relacionamento é uma forma de as empresas aumentarem sua lucratitividade, focando suas atividades no cliente e no valor agregado a ele. Para Kotler (2001) a alta qualidade e bom serviço sempre foram os fatores chave para o sucesso de um ambiente competitivo, mas hoje são quase commodities. As empresas precisam ser capazes de desenvolver novos produtos rapidamente com objetivo de construir um melhor relacionamento com os clientes, entre outros aspectos. 223 Gordon (apud SHAACK; LENGLER, 2002) afirma que, enquanto o marketing tradicional trabalha com segmentos de mercado, o marketing de relacionamento permite um retorno maior sobre os investimentos, concentrando-se com eficácia no segmento final mercado-cliente. 2.3 Marketing de Serviços Segundo Lima (2001), afirma que o marketing de serviços são as atividades operacionais destinadas a investigar, obter e servir a demanda por assistência de profissionais. Nestas atividades, incluem-se as tarefas de desenvolvimento e promoção de serviços pessoais e comunitários. O objetivo do marketing de relacionamento é descobrir a oportunidade de mercado para planejar, organizar e oferecer assistência de serviços de qualidade, a preços razoáveis que possibilitem satisfação dos clientes e remuneração adequada aos profissionais. Assim, todos os serviços devem ocorrer ou ser criados de acordo com a demanda do mercado. Kahtalian (2003) afirma que serviço é um desempenho, essencialmente intangível, que não resulta na propriedade de algo. O serviço pode ou não estar ligado a um produto físico. Assim, serviços são desempenhos no tempo e espaço que geram valor para o cliente por meio de uma transformação, uma experiência de serviço. Quando alguém vai ao cabeleireiro, não fica proprietário do corte de cabelo; na verdade, sofre o corte de cabelo. 2.4 Fidelização do Cliente Para Vavra (1993), quanto mais tempo se mantém um cliente mais lucrativo ele poderá ser para o negócio, e por quanto mais tempo o cliente comprar de uma mesma organização mais dependente se tornará de seus produtos ou serviços, e estará menos suscetível a ofertas de preços da concorrência. Segundo Kotler (1999), conquistar novos clientes custa entre 5 a 7 vezes mais do que manter os já existentes. Então esforço na manutenção de clientes garante aos empresários um aumento nas vendas e uma considerável diminuição nas despesas com propagandas e promoções para garantir novos clientes. Todo cliente espera sair satisfeito de uma transação comercial e também espera que a empresa esteja empenhada em satisfazê-lo. 2.5 Atendimento pós-vendas Figueiredo (2002) destaca que clientes querem fazer valer o dinheiro empregado na compra, aumentando a vida útil dos produtos adquiridos, o ob224 jetivo do pós-vendas é assegurar que o cliente obtenha maior proveito e valor por sua compra, produtos mais complexos como televisores, computadores e veículos, requerem suportes especializados, mesmo quando não apresentam problemas, cresce a venda de produtos, mas não aumenta na proporção adequada o numero de pessoas habilitadas para fazer a manutenção e suporte do uso dos mesmos. Para Sheth, Mittal e Newman (2001), o pós-vendas é o processo de oferecer satisfação e reforço continuado para indivíduos. Os clientes devem ser identificados e reconhecidos, ou seja, deve-se estabelecer uma comunicação respondendo suas necessidades e inquiri-los sobre sua satisfação. O objetivo sobre o pós-vendas é estabelecer um relacionamento continuado com todos os clientes. 3 Metodologia Para Fachin (2003), a metodologia é um instrumento de conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar experiências e interpretar os resultados. A seguir tem-se a descrição da metodologia adotada neste estudo. O estudo pode ser considerado uma pesquisa qualitativa e quantitativa na qual a análise quantitativa é obtida por meio dos questionários aplicados na empresa e qualitativa pela interpretação dos dados obtidos por meio dos questionários. O procedimento utilizado foi o estudo de caso e analisa uma revendedora de veículos de pequeno porte e seu nível de fidelização de clientes assim como seu pós- vendas e a satisfação de seus clientes. Segundo Yin (2001), o estudo de caso representa uma investigação empírica e compreende um método abrangente, com a lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados. Pode incluir tanto estudo de caso único, quanto múltiplos, assim como abordagens quantitativas e qualitativas. A coleta de dados foi feita através de questionários. Segundo Roesch (1996), o questionário é o instrumento mais utilizado em pesquisa de caráter quantitativo. O questionário aplicado neste trabalho foi construído com base no referencial teórico e nas necessidades da empresa. Os questionários foram aplicados em uma amostra de cerca de 20 clientes que adquiriram veículos na empresa KLC Veículos nos primeiros seis meses de 2009. Os dados encontrados foram analisados com o suporte do programa Sphinx, que possibilitou que os dados fossem quantificados graficamente, facilitando assim a melhor observação dos resultados encontrados. 225 4 Análise de dados 4.1 Caracterização da empresa A KLC Veículos é uma pequena empresa, atua no mercado de automóveis, é especializada em compra e venda de veículos semi-novos e usados e possui uma frota de em média trinta veículos. O espaço físico da empresa possibilita bastante visibilidade por se encontrar em uma área de bastante movimento na cidade de Santa Cruz do Sul e estar localizado perto da rodoviária do município. A empresa está em funcionamento desde 2000. Como quadro de funcionários tem-se o proprietário da empresa como vendedor principal e sua esposa também como gerente secundária e vendedora e ainda um funcionário que cuida da limpeza e manutenção dos veículos. 4.2 Análise de Dados Uma das variáveis que influencia muito na manutenção de uma carteira e satisfação dos clientes é o atendimento, que consiste na cortesia com a qual o consumidor é apresentado aos serviços e produtos da empresa e é fundamental para a construção da imagem positiva da organização. Conforme o gráfico 1, que descreve o nível de satisfação com o atendimento prestado pela empresa, percebeu-se na KLC Veículos uma atenção mediana nesta área, pois os resultados encontrados na pesquisa não foram totalmente satisfatórios: 20% dos clientes da KLC consideraram seu atendimento insatisfatório; 45% mais ou menos satisfatório e 35% consideraram seu atendimento satisfatório. Os resultados obtidos neste gráfico colaboraram com a afirmação de Godri (1994) apontou que o atendimento é empatia e atenção, o cliente deve ser ouvido, acompanhado, tratado pelo nome e com muito respeito ás suas decisões e opiniões. GRÁFICO 1 - Nível de satisfação com o atendimento prestado pela KLC veículos No gráfico 2, os dados foram analisados perante alternativas prédeterminadas para demonstrar a motivação externa que o cliente possui para 226 procurar a empresa. Para Sheth, Mittal e Newman (2001), a motivação é o desejo, é a vontade de obter mais satisfação do que é necessário para suprir uma condição insatisfatória. As variáveis encontradas que levaram consumidores a procurar a KLC Veículos, são 25% por meio de propaganda, 5% por indicação de amigos, 15% é amigo do proprietário e 45% dos consumidores procuram a empresa porque ela possui o carro desejado. A motivação que o cliente tem para procurar a empresa é um fator muito importante para o aumento destes. Assim estes dados devem ser compreendidos conforme a afirmação de Cobra (1997) afirma que o importante é deixar o cliente perceber que a empresa está cada vez mais voltada a satisfazer os desejos e necessidades de seus consumidores. A KLC Veículos está à procura de novas maneiras para cativar os consumidores e intensificar a procura pela empresa, agregando valor aos seus serviços, colocando propagandas semanais em jornal local, assim como participando de feiras e eventos de revendedoras da região. GRÁFICO 2 - Motivação do cliente para procurar a KLC Veículos A variável comunicação com o cliente no ato da venda é uma grande influenciadora na satisfação dele, pois comunicar as características dos produtos e serviços oferecidos pela empresa agrega credibilidade a esta. Conforme Cobra (1997), na verdade o conceito de venda no passado visualizava o lucro através da venda e esta utilizava como meio uma integração entre venda, promoção e o foco era o produto. Desta maneira, o meio não é a venda em si, mas a venda com a finalidade de satisfazer o cliente. No gráfico 3, é analisada a comunicação da empresa com seus clientes. Cerca de 50% dos consumidores da KLC Veículos alegaram que não são informados sobre os problemas que um carro usado pode oferecer como falhas mecânicas e de documentação, e outros 50% são informados sobre estes possíveis problemas. Este resultado é deficitário, já que todos os clientes devem ser infor227 mados sobre os problemas do veículo adquirido. No ato de venda de um bem a comunicação é a melhor estratégia para manter o relacionamento com o cliente, pois ele esta procurando satisfazer uma necessidade. GRÁFICO 3 - Comunicação com o cliente, em relação ao bem adquirido O gráfico 4, demonstra a qualidade dos serviços prestados e aspectos organizacionais da KLC veículos. Segundo Kotler (2000), quando todos os departamentos da empresa trabalham em conjunto para atender aos interesses dos clientes, o resultado é o marketing integrado, mas sem o treinamento dos funcionários, sendo nem sempre o marketing integrado dá certo. Quanto aos aspectos organizacionais encontrados como positivos, destaca-se que 35% dos clientes entrevistados consideram os profissionais da empresa excelentes, em termos de organização; 40% consideram a empresa organizada (bom ambiente, estrutura, escritório, higiene) e 55% dos clientes acham que a empresa esta bem localizada. Já a limpeza dos veículos, a qualidade dos serviços prestados, a clareza de serviços, variedade de veículos e o cumprimento dos prazos são considerados medianos ou ruins, e assim não satisfazem as necessidades destes clientes. GRÁFICO 4 - Aspectos da organização, prazos e serviços 228 O gráfico 5 refere-se ao número de vezes que o cliente teve que voltar a KLC veículos para ter seu problema resolvido 36,8% voltou apenas uma vez à empresa e 63,20% voltaram mais de uma vez à empresa. Esta variável influencia na retenção e na manutenção de uma cartela de clientes, pois reflete diretamente na excelência de serviços prestados, e a volta à empresa significa um transtorno ao cliente, tornando-o insatisfeito. Para Sheth, Mittal e Newman (2001), algumas vezes o preço que uma empresa paga por um cliente insatisfeito vai muito além da perda do cliente, pois um cliente insatisfeito é igualado a um terrorista, sua missão é dizimar a empresa. GRÁFICO 5 - Retorno da empresa perante á problemas após a venda Na análise do gráfico 6, que trata dos principais problemas encontrados pelos clientes após a compra de um veículo na KLC Veículos, 20% dos clientes encontram problemas com reparos nos veículos, 10% tendem a voltar à empresa com problemas mecânicos nos veículos, e a grande maioria 70% dos clientes encontra problemas com a burocracia, problema este considerado externo, porque a demora em entregar a documentação e processos burocráticos que ocorre muitas vezes pelo atraso de despachantes e cartórios. Notou-se que a KLC Veículos está dedicada a melhorar estes índices, procurando atender da melhor forma estas reclamações e assim garantir a retenção destes clientes. Segundo Levitt (1994) o relacionamento entre vendedor e comprador não termina quando a venda é realizada; o relacionamento deve ser intensificado cada vez mais após a venda, porque auxilia a decisão de escolha do comprador em sua próxima aquisição. 229 GRÁFICO 6 - Problemas encontrados com o veiculo adquirido O gráfico 7, analisa a variável indicação e o resultado mostra que cerca de 52,6% dos clientes indicariam a KLC a amigos, outros 47,4% não indicariam. Este índice colabora com a afirmação de Cobra (1997): que afirma que é inegável a influência de cada amigo sobre um indivíduo em uma decisão de compra ou na preferência por marcas. A intensidade da influência é que varia. A compra de automóveis, cerveja, remédios, presentes, perfumes, entre outros produtos, é largamente influenciada pela ação dos amigos. GRÁFICO 7 - Indicação de amigos Finalizando a análise dos gráficos observa-se que a KLC Veículos precisa de muitas melhorias pra que consiga agregar valor aos serviços prestados pela empresa e ainda obter um maior nível de fidelização de seus clientes. 5 Planos de Ação A partir dos dados analisados, a variáveis encontradas como deficitárias foram estudadas e sua resolução fundamentada nos três planos de ações a seguir, que buscam orientar e solucionar as variáveis deficitárias que influenciam na manutenção de clientes na KLC Veículos. 230 QUADRO 1 – Planos de Ação 1 5 W2H Implantação O que? Buscar a fidelização de clientes para a revendedora KLC Veículos Quem? A atividade de fidelizar uma cartela de clientes deve ser aplicada por todos que participam desta organização Por quê? - Ter uma cartela permanente de clientes, garantirem a total satisfação dos clientes Quando? Nos próximos 5 meses Onde? Revendedora de veículos KLC Como? - Melhorar as variáveis encontradas como deficitárias - Promover a empresa em eventos e mídias sociais para “chamar” o cliente Quanto ? R$ 3.000,00 QUADRO 2 – Planos de Ação 2 5 W2H Implantação O que? Melhorar a gestão da empresa. Quem? Consultor Por quê? -Maximização dos lucros e resultados. Quando? Nos próximos 2 meses. Onde? Revendedora de veículos KLC Como? -Contratação de um consultor, pois uma pessoa que não faz parte da organização pode ver mais facilmente os problemas dela. Quanto ? R$ 3.500,00 5 W2H Implantação O que? Quem? Por quê? Quando? Onde? Implantar um programa de pós vendas Funcionários da empresa. -Para atender com mais agilidade os problemas após a venda Nos próximos 4 meses. Revendedora de veículos KLC Como? - Criar um protocolo de reclamações, -Atender prontamente o pedido do cliente, -Contatar o cliente e explicar o porquê da falha. Quanto ? R$1.000,00 QUADRO 3 – Planos de Ação 3 231 5 Considerações Finais Este estudo foi de extrema relevância para a pesquisadora, pois foi disponibilizada uma possibilidade de aprofundamento de conhecimentos adquiridos durante a faculdade, além de reforçar a escolha da área de atuação que pretende ser seguida pela aluna. Para a KLC Veículos, a pesquisa proporcionou um maior aproveitamento de oportunidades, além de proporcionar a empresa à otimização de seus serviços e um maior índice de retenção de clientes. O primeiro passo deste estudo foi à busca na literatura por autores que explanassem sobre assuntos como organizações, marketing, marketing de relacionamento, e diversos outros conteúdos teóricos que pudessem de alguma forma a ajudar a alcançar os objetivos deste estudo. O objetivo da pesquisa foi identificar as variáveis que influenciam na retenção da carteira de clientes, após a venda efetivada. Este objetivo foi alcançado através da obtenção de informações sobre o bem adquirido na empresa e a identificação dos pontos positivos e negativos da negociação, através de um questionário aplicado em cerca de vinte clientes da empresa. Com estes dados em mãos, a pesquisadora elaborou alguns planos de ações para a empresa em que se buscou melhorar e aperfeiçoar todos os pontos negativos e deficitários encontrados na gestão, organização e atendimento desta. As principais variáveis deficitárias encontradas na empresa foram conforme as análises apresentadas, a falta de comunicação continuada com o cliente após a venda do veículo, o alto índice de perda de clientes por falta ou demora de atendimento a reclamações, Identificou-se assim que a empresa poderia fornecer mais informações sobre burocracia de documentação e defeitos que o veículo pode apresentar. O material coletado nesta pesquisa para ser implantado depende tão somente da disposição da empresa, e da vontade dos sócios em continuar usando o estudo como um material estratégico, pois sendo assim tende a melhorar sua imagem perante seus clientes, bem como um aumento de seu índice de retenção de clientes e, como conseqüência a maximização de lucros e resultados através da fidelidade destes. O atendimento pós-vendas pode ser considerado como uma estratégia de marketing muito lucrativa e um diferencial competitivo de muito fácil utilização, já que não é muito difícil de ser mantido e continuado, não exige muitos esforços financeiros e depende unicamente do desejo de ser implantado. Para futuros trabalhos sugere-se a aplicação desta pesquisa em outros ramos mercadológicos, assim como uma pesquisa de viabilidade eco232 nômica para a implantação de pós-vendas em uma empresa, a análise da importância do pós-venda para o consumidor e a uma pesquisa com base no que é valor para o cliente pós vendas. 6 Referências COBRA, M. Marketing Básico. 4. ed. São Paulo: Atlas S.a, 1997. FACHIN, O. Fundamentos de Metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva 2003. FIGUEIREDO, K. A logística do pós-vendas. Disponível em: <www.cel. coppead.ufrj.br>. Acesso em: 14 nov. 2008. GODRI, D. Conquistar e manter clientes. 32. ed. Blumenau: Eko, 1994. GORDON, I. Marketing de relacionamento. São Paulo: Futura, 1998. KAHTALIAN, M. Marketing de Serviços. São Paulo, 2004. KOTLER, P. Administração de Marketing. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998. ______. Pensar globalmente, atuar localmente. In: JULIO, C. A.; SALIB NETO, J. Marketing e vendas: autores e conceitos imprescindíveis. 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Porto Alegre: Bookman, 2001. 234 MUDANÇAS E RESISTÊNCIAS: A PERCEPÇÃO DE COLABORADORES NA IMPLANTAÇÃO DO PCCS DE UMA EMPRESA PÚBLICA FEDERAL Olivares Debona¹ Alba Regina Zacharias² RESUMO Este trabalho apresenta um diagnóstico da percepção dos funcionários, em relação ao processo de mudança, através de estudo de caso realizado numa empresa pública federal. O objetivo é identificar o que pensam os funcionários quanto à implantação de um novo plano de carreiras; e, de modo específico, colher informações sobre o tema, analisa-las e propor alternativas que venham a minimizar as resistências. Esta análise toma por base referencias teóricos nas áreas comportamentais como de administração, recursos humanos e psicologia. Os dados extraídos possibilitaram identificar, do ponto de vista dos funcionários, onde ocorreram falhas na implantação da mudança e qual a expectativa dos funcionários quanto a sua carreira profissional. As conclusões apontam como pontos fracos, a comunicação, a influência sindical e a cultura organizacional. Por fim sugerem-se ações para conduzir a mudança de maneira controlada e com menos resistência possível por parte dos servidores. Palavras-chave: Resistência às mudanças, gestão, sindical, recursos humanos ABSTRACT This paper presents an analysis of the perceptions of employees in relation to the process of change through a case study carried out in a federal public company. The goal is to identify what employees think about deploying a new career plan and, specifically, to gather information on the subject, analyze and propose alternatives that will minimize the resistance. This analysis is based on theoretical references in areas such as behavioral management, human resources and psychology. Data retrieved possible to identify the point of view ¹Graduando no Curso de Administração, Faculdade Dom Alberto. ²Professora da Faculdade Dom Alberto, Graduada em Psicologia, Mestre em Desenvolvimento Regional – Políticas Públicas. 235 of employees, where there were gaps in the implementation of the change and what the expectations of employees and their career. The conclusions point to weaknesses, communication, trade and influence organizational culture. Finally we suggest actions to implement change in a controlled manner and with less resistance possible by the servers. Key-words: Resistance to change, management, unions, human resources 1 Introdução Apresenta-se estudo de caso realizado em empresa pública federal, de capital integralmente sob a responsabilidade da União, que atua na prestação de serviços de transportes e encomendas. É caracterizada por ser a maior empregadora celetista brasileira, com aproximadamente 115.000 funcionários no território nacional. Dentre as mudanças que estão ocorrendo, podemos destacar três principais: 1) Tecnológica - Em menos de seis anos a empresa abandonou as antigas máquinas datilográficas e passou a operar com sofisticados equipamentos e sistemas em rede, tendo seus funcionários que aprender em curto espaço de tempo a operar micro-computadores com os mais variados softwares. 2) Mercado - A cultura existente em relação ao mercado ultrapassada. O funcionário limitava-se a atender bem a quem entrava na agência. A empresa passou a buscar mercado, disputando de forma competitiva, e os funcionários adotando uma postura de consultores e não mais de atendentes. 3) Recursos Humanos – Também em termos de recursos humanos, a cultura herdada dos tempos de ditadura, com fortes traços da estrutura militar, passou a demandar uma forte transformação cultural. Este terceiro ponto tem sido, a mudança mais difícil de implementar na empresa. É sobre esta questão o nosso estudo, neste trabalho. No momento, a empresa está mudando o plano de carreira, cargos e salários (PCCS), sendo a principal alteração a possibilidade de realização de recrutamento interno para mudança de área e ascensão profissional. A partir desta formatação, a tendência é de que sejam realizados concursos públicos externos apenas para os cargos de nível básico, formando profissionais de dentro para as demais funções. A implantação do novo PCCS acarretou resistências, chegando a ocorrer uma greve que se estendeu por 21 dias. Eis o problema de pesquisa: Diante de uma mudança necessária para a própria sobrevivência da empresa e dos milhares de empregos que mantém o que fazer para superar as resistências e conseguir mudar a cultura de gestão? 236 Diante deste cenário, o macro objetivo é caracterizar as principais causas e focos de resistência à mudança cultural proposta, assim como propor meios eficazes de quebrar estas resistências. De modo específico, objetiva-se identificar a maneira de pensar dos funcionários em relação ao novo PCCS, colher uma auto-avaliação sobre o tema exposto, analisar a opinião dos funcionários a cerca dos métodos de propagação das diretrizes do modelo de gestão, propor ações visando a diminuir resistências e facilitar a adesão às mudanças. Para isso, o primeiro parágrafo tratará da explanação teórica do conteúdo a respeito do tema, no segundo serão apresentados os métodos de pesquisa, no parágrafo seguinte a descrição dos resultados, e por fim as considerações finais. 2 Referencial teórico 2.1 O gerenciamento da mudança De acordo com Rocha e Silva (2007), O quadro atual de mudanças nas empresas públicas tende a influenciar o processo de identificação de seus empregados com elas. Sendo assim, um funcionário que percebe o reconhecimento do público ao trabalho de sua empresa, dará maior crédito as decisões da gestão, aumentando a sua confiança e conseqüentemente diminuindo resistências. Assim sendo, todo servidor que se identifica de forma positiva com a gestão, aceita com maior facilidade quando o gestor direciona sua equipe para um processo de mudança. Para Ansoff e Mcdonnell (1993), é necessário gerir a mudança ao longo de todo o processo, pois a resistência a ela se manifesta a princípio, em atrasos, ineficiências imprevistas, sabotagem, e mesmo após a mudança estabelecida podem ocorrer defasagens de desempenho e esforços para anular os efeitos da mudança. Todos estes comportamentos que os autores classificam como fatores de resistência, ou forças contrárias a realização de mudanças, são gerados a partir das relações informais existentes em todas as organizações, ou seja, quanto mais consolidada a estrutura informal de uma organização, mais propícia a existência dos fatores de resistência a partir da influência de indivíduos culminando na manifestação coletiva. Segundo Cury (2005), pode-se afirmar que a cultura organizacional depende da filosofia e dos valores que regem a organização. Ele analisa modelos teóricos da ciência do comportamento, que se mostram mais eficazes na diagnose de problemas de cultura organizacional. Lembra que Elton Mayo, nos relatórios de Hawthorne, cita que o aumento de produtividade não depende das alterações físicas do ambiente da fábrica ou de incentivos ma237 teriais, mas, dos funcionários sentirem-se parte importante da organização, pela atenção dispensada a eles pelos gestores imediatos. Diante disso, sabe-se que os fatores abstratos, muito mais que os físicos, podem favorecer a existência de uma cultura organizacional mais favorável para que haja aceitação do processo de mudança. 2.2 Modelos explicativos da mudança Existem modelos explicativos sobre o processo de mudança organizacional, como exemplo, o modelo de Burke e Litwin (1992) sugere que mudança transformacional ocorre na organização quando alterados a cultura e a missão da organização, sendo outras mudanças, de menor espectro na organização. Outro modelo explicativo é o de Greenwood e Hinings (1996), sugere que o grau de insatisfação com os interesses individuais e o grau de comprometimento com os valores da organização, precipitam mudanças. Observase no ambiente organizacional uma arena, onde coalizões com diferentes interesses acontecem a todo o momento, na medida em que grupos sentemse insatisfeitos com os seus interesses, a pressão pela mudança ocorre de maneira mais acentuada. Os fatores da política são determinantes na introdução de mudanças nas organizações. Mitzberg (1983) propõe seis configurações de poder organizacional, sendo a autocracia, arena política, meritocracia, missionária, instrumento e sistema fechado. A mudança organizacional consiste na alteração de uma configuração, pela ação política de elementos que confrontam o sistema formal e promovem um realinhamento no poder. A arena política é antecessora das mudanças fundamentais na organização. Há tempos propícios para estabilidade no cenário organizacional e há tempos para mudar, configurando períodos alternados de menor ou maior intensidade e tempo. 2.3 A direção da mudança Para Kaufman (1971), não se considera que a mudança organizacional seja invariavelmente boa ou ruim, progressista ou conservadora, benéfica ou prejudicial. Ela pode tomar qualquer das direções em qualquer situação dada. Existem fatores adicionais que contribuem para a resistência à mudança, denominando-os “obstáculos sistêmicos” à mudança. Obstáculos sistêmicos à mudança dizem respeito aos recursos. As organizações podem não ter capacidade financeira ou de pessoal para se empenharem em esforços no sentido da mudança, mesmo que seja identificada a necessidade de mudar. Para Correia (2008), o gestor é parte fundamental no processo de 238 conduzir a mudança. Para ele, a sociedade atual, repleta de organizações com uma dimensão e complexidade crescentes, direcionou as preocupações ao nível da gestão, assumidas agora como vitais e indispensáveis, tanto para a melhoria da qualidade de vida como para a solução dos problemas mais complexos que afligem a humanidade. 2.4 A atitude da mudança Segundo Chiavenato (2007), providências são necessárias para mudança de foco. Focar as pessoas não mais como recursos organizacionais padronizados, provedores de mão-de-obra e que precisam ser monitorados com controles externos e com motivação negativa. É preciso focar as pessoas como seres humanos heterogêneos dotados de personalidade, inteligência, competências, habilidades, motivações, emoções, expectativas. Cada pessoa é um universo no mundo organizacional e que precisa ser orientada com especificidade para uma carreira, para metas e resultados, para agregar valor e riqueza à organização. Um dos maiores desperdícios que ocorre na maioria das organizações, não é o de recursos materiais, mas de talentos, inteligências, experiências, conhecimentos que as pessoas possuem e que não são utilizados adequadamente pelas organizações. Ao invés de adaptar as pessoas às práticas de RH, torna-se importante fazer o inverso. Realçar os talentos de cada pessoa, flexibilizar horários, remuneração, benefícios, atividades, metas e objetivos a alcançar, incentivo e educação corporativa. Conforme Leitão (2002), mudar um paradigma envolve mudar a base do conhecimento que o determina e também as crenças, os valores e a ideologia a ele associados. Sendo um paradigma, uma manifestação da ideologia dominante, uma mudança transformadora requer mudança no paradigma dominante. Burrel e Morgan (1982) apontam que o funcionalismo está comprometido com a manutenção da ordem e da estabilidade da sociedade e procura manter regularidades, objetivando prever e controlar os fenômenos sociais. Artuzo (2008) assinala que as abordagens sobre mudanças organizacionais devem buscar a orientação aos indivíduos, pois que existem mudanças todos sabem agir dentro do esperado é que de fato importa para o sucesso da mudança. Através do convívio com profissionais que passaram pela experiência de reestruturações frustradas, percebemos que existe a preocupação em direcionar a empresa sem nenhum planejamento de como as pessoas irão realizar estas passagens. As mudanças serão bem sucedidas se as pessoas estiverem preparadas para isso, pois elas conduzirão e realizarão os processos, e os funcionários merecem especial atenção. Não se consegue os resultados através de alguma palestra ou cartazes espalhados 239 pelos setores. O processo é longo e complexo, mas quando bem conduzido traz resultados gratificantes. Parece simples, mas não é, pois os indivíduos não estão tão abertos e receptivos ou não conseguem transformações dentro do que é esperado. 3 Metodologia Para conhecimento prévio, de fatores históricos e culturais da organização, foram realizadas visitas na empresa, através de conversas informais com pessoas que possuem muito tempo de trabalho ou altos cargos. Para a coleta de dados, com abordagem quantitativa, tomou-se como amostra uma região específica, sendo enviados 100 questionários, aplicados ao efetivo das áreas de atendimento distribuição e administrativa no período de 15 de Maio e 25 de Junho de 2008. O instrumento de pesquisa foi um questionário pelo método de Survey composto de 19 perguntas fechadas, que foi enviado para as pessoas selecionadas nos seus locais de trabalho. O critério sobre envio dos questionários, foi o a remeça para todos os funcionários das 6 unidades com maior número de colaboradores de um universo de 47 unidades, desta forma atingindo pessoas das três áreas de interesse. A amostra representa 22,8% do total de 438 funcionários existentes nesta região. Dos questionários enviados, retornaram 80 por cento que representa 18,16 % da nossa população total. No quadro 1, especifica-se para cada objetivo específico, o método de pesquisa, a estratégia de análise e as fontes de dados. QUADRO 1 – Objetivos e Estratégias de Análise Estratégia de Analise Fontes Fazer análise dos dados relacionando as respostas entre diferentes áreas. Questionários retornados. Fazer análise dos dados relacionando as respostas entre diferentes áreas. Questionários retornados. Através da aplicação de questionário, com perguntas direcionadas a uma avaliação da comunicação utilizada na divulgação do plano. Fazer análise dos dados relacionando as respostas entre diferentes áreas. Questionários retornados. Aplicando os conceitos verificados em nossa análise bibliográfica. Comparar a teoria e comparar com as práticas utilizadas. Questionários retornados e revisão literária. Objetivos Métodos e Técnicas Identificar a maneira de pensar dos funcionários sobre o plano de Cargos e Salários. Colher uma autoavaliação sobre o tema exposto. Através da aplicação de questionário, com perguntas direcionadas ao entendimento do modo de pensar de cada funcionário. Através da aplicação de questionário, com perguntas direcionadas à auto-avaliação do servidor. Analisar a opinião dos funcionários a cerca dos métodos de propagação das idéias do novo modelo. Propor ações visando diminuir resistências e facilitar a adesão a novas idéias. 240 4 Descrição, análise e discussão dos resultados Partindo destes dados, observa-se que há um distanciamento, entre as respostas da área de atendimento com relação à área de distribuição; maior ainda na área administrativa, que naturalmente pelo fator cultural, já era esperado. Esta situação deixa evidente, que o perfil das duas áreas mais populosas é distinto, e que as ações e informações que sensibilizam uma área, podem não surtir efeito na outra. Esta informação não pode ser desprezada no planejamento da mudança, sendo ideal que cada área receba informações direcionadas ao invés de padronizadas. Com relação ao tempo de serviço, a maioria 57,5 % está entre 6 e 20 anos de trabalho. Na área de atendimento a faixa diminui, indicando maior rotatividade. Com relação à idade das pessoas, 75% está abaixo dos 35 anos, perfil bastante jovem. Há de se considerar que profissionais com esta faixa etária, tendem a manter expectativas de buscar crescimento profissional. Esta informação é fundamental até mesmo para formatação do PCCS, que deve buscar maneiras de alimentar a expectativa e motivação dessas pessoas para a ascensão profissional, pois Chiavenato (2007), as pessoas precisam ser direcionadas para uma carreira. Na área de distribuição há uma predominância de pessoas do sexo masculino. Já a área de atendimento, há um equilíbrio entre os sexos, com pequena predominância masculina. A área administrativa é amplamente composta por homens. Considerando que a escolaridade mínima é ensino médio, e que há um número expressivo de pessoas com graduação, ocupando cargos de nível básico, deve-se considerar e conhecer qual a expectativa destas pessoas em relação aos seus anseios profissionais. Esta condição de ter grande número de profissionais com alto grau de escolaridade, coloca a organização num patamar de destaque quanto ao chamado “capital intelectual”. Entretanto, é preciso encontrar meios de aproveitá-lo. Quanto à visão de mercado, as posições são completamente antagônicas, como podemos observar mais claramente no gráfico 1. As áreas de atendimento e administrativa, em diferente grau, possuem uma visão mais negativa, predominando amplamente os que acham que o mercado está ameaçado, enquanto a área de distribuição interpreta de forma otimista, predominando os que acham que o mercado está em expansão que representam 42% ou estagnado 35%. Este dado reflete certo destoar da área de distribuição, na medida em que há indicadores evidentes de que há fortes ameaças ao mercado dos correios. Há de se questionar aqui se os canais de comunicação com a área de distribuição estão sendo eficazes. 241 GRÁFICO 1 – percepção de mercado Em análise às repostas obtidas quanto ao planejamento estratégico, há uma impressão totalmente negativa sobre isso, mais acentuada, na área de distribuição. O fato é que a empresa faz planejamento estratégico, portanto, há uma falha, no ponto de vista dos funcionários, a partir da implementação. O fato de muitas pessoas acharem que não há planejamento estratégico demonstra que há um problema no processo de educar os funcionários para as diretrizes estabelecidas. Isto vem de encontro ao que diz Artuzo (2008), de que os indivíduos precisam ser orientados no processo de mudança, sendo necessário que cada um entenda qual é o seu papel no novo cenário. Ao avaliar o PCCS atual, 62,5% concorda que não está bom, embora haja uma expressiva opinião da área de distribuição que o plano atual é um bom plano. Acolhendo um dado do relatório de visita, sabe-se que o atual PCCS não estava sendo cumprido pela empresa. Esta tem sido uma das reivindicações sempre presentes nas últimas pautas de reivindicações do sindicato nos acordos coletivo, e considerando que a atuação sindical é bem mais presente junto à área de distribuição, isso reflete na última questão apresentada da tabela. É conclusivo de que há forte influência da expressão sindical na opinião dos funcionários da área de distribuição. A avaliação dos funcionários em relação ao novo PCCS não é negativa. O percentual de 31% respondeu que o novo plano é melhor que o atual, o que remete a questão do porquê da resistência ao plano. Há também uma expressiva quantidade de respostas para “não conheço direito o plano” inclusive pela área administrativa, que possui o dever de ter o domínio destas informações. Para 44,5% das respostas, não é este o momento mais adequado para implantar o novo plano, o que pode representar simplesmente o medo 242 da mudança e uma forma de postergá-la, ou um sintoma de que o plano não está maduro o suficiente e precisa ser mais bem avaliado. Quanto a quem sai ganhando e quem sai perdendo com o novo plano, a área de distribuição entende-se mais onerada, avaliando-se como a mais prejudicada, e a maioria diz que ninguém sai ganhando com o novo plano, mais uma vez divergindo em relação às áreas de atendimento e administrativa, cujo entendimento, é amplamente maior de que o nível básico é o mais beneficiado. Pode-se ver no gráfico 2 que mais uma vez as setas apontam para direções opostas, com base no eixo horizontal. GRÁFICO 2 - Percepção sobre quem ganha com o novo PCCS Todas as áreas citam amplamente, que faltaram informações claras a respeito do PCCS, sendo este o fator maior de resistência a mudanças, entretanto outro dado interessante surgiu nas respostas da área de distribuição, que foi o elevado número de respostas, dizendo que a resistência se deu por outros motivos, que não exatamente relacionados ao PCCS. Aqui caberia uma análise mais detalhada a questões paralelas como a conjuntura política presente na organização, e a cultura organizacional. Em referência a Burrel e Morgan (1982), quando dizem que há um senso geral, nas relações informais do funcionalismo, objetivando o controle de fenômenos sociais com preferência pela estabilidade. Quando se questiona sobre os pontos a serem melhorados no novo PCCS, há mais opção pela melhoria dos critérios que possibilitam o crescimento profissional, 48,75% mas da área de distribuição 40% optaram pelo item salários e benefícios. Quando instigados à auto-avaliação sobre como reagem a mudanças, a maioria das respostas, 58,75% centrou-se pela aceitação da mudança desde que tragam evidentes ganhos. Isto demonstra que as pessoas pos243 suem uma noção de que só mudam se for para melhor, desprezando se a mudança se faz necessária, ou se é inevitável para a sobrevivência da organização. Em Kaufman (1971), vimos que a mudança nem sempre traz aspectos positivos ou negativos, sendo muitas vezes apenas entendida como sistêmica e necessária. Ao responder a questão sobre o que faz com que aceite a mudança mais fácil, 70% diz que aceita melhor o processo de mudança, quando tem as informações claras e sabe que toda a mudança está se dando sobre um planejamento. Esta resposta indica o caminho a ser seguido para superar as resistências a mudanças. Quanto à confiabilidade das informações passadas, a área de distribuição demonstra mais uma vez uma forte influência do meio sindical, na medida em que foi dado mais crédito a informação do sindicato que à informação oficial, (ver gráfico 3). Mas a ampla maioria responde que as informações de ambas as partes não são totalmente confiáveis, isto certamente não aconteceria se não houvesse um histórico de informações oficiais incorretas ou não claras a ponto de serem mal interpretadas. A área de atendimento segue o mesmo conceito, embora nesta área a informação da empresa tenha mais credibilidade do que a do sindicato; entretanto as pessoas da área de atendimento possuem uma proximidade maior com os gestores e acesso facilitado a informações da empresa passadas por meio eletrônico. GRÁFICO 3 – Confiabilidade das informações passadas Quando se cruzam as respostas obtidas entre idade e auto avaliação em relação ao processo de mudanças, observamos que 60% de pessoas entre 18 e 25 anos gostam de mudanças, o que possibilita concluir que, para esta faixa de idade, a mudança traz maior motivação no trabalho, enquanto para pessoas com idade a partir de 26 anos o processo de mudança começa 244 a ser desconfortável. No outro extremo, das pessoas que disseram não gostar de mudanças, todas elas com mais de 36 anos. Estes dados demonstram que na medida em que as pessoas envelhecem, tendem a não gostar de mudanças, apresentando resistências. É possível que aí esteja a explicação de muitas empresas preferirem, em tempos de rápidas transformações, buscar profissionais jovens no mercado de trabalho. GRÁFICO 4 – idade X auto-avaliação resistência à mudança. Quando cruzados dados das respostas entre escolaridade e o que valoriza no PCCS, todos os funcionários que possuem graduação e pósgraduação preferem oportunidade de crescimento profissional. Se avaliarmos o perfil dos funcionários que valorizam mais salário e benefícios, grande parte possui o nível básico. Outra característica encontrada é a visão mais pessimista dos funcionários que atuam em unidade com maior número de funcionários. Quanto maior a unidade, menor o alinhamento as diretrizes da empresa, maior o alinhamento com o sindicato. Portanto a empresa tem nas unidades maiores barreiras à realização de mudanças. 5 Considerações finais Os dados apresentaram a possibilidade de identificar as principais falhas, como falta de estratégia de comunicação com as diferentes áreas da empresa. A convocação e direcionamento dos gestores que deveriam estar disseminando e dialogando com os trabalhadores de base, mas também não estão instruídos e possuem dúvidas a cerca da necessidade da mudança. Também não possuem conhecimento suficiente sobre o plano e sendo assim, não influenciam os seus subordinados. Esta informação foi percebida a partir 245 dos relatórios de visita. Faltou amadurecer a mudança, pois ela foi sendo implantada e construída ao mesmo tempo, gerando dúvidas até mesmo nos gestores sobre a direção que seria seguida. O processo correto a ser seguido deveria ser planejamento, debate, comunicação e somente após, implementação. Há falta de credibilidade das informações oficiais, o que precisa ser resgatado, pois, do contrário, toda vez que uma informação é passada, é contestada pela representação sindical, que tem tanta voz quanto a empresa, e isto acarreta falta de controle dos efetivos. Para corrigir esta situação, é necessário repassar mais informações, e informações confiáveis, instruindo e municiando gestores de conhecimento, para que possam estabelecer o diálogo de forma segura. Podemos observar que a área de distribuição possui uma cultura muito particular, pois as respostas foram divergentes com as demais áreas. A área de distribuição é a mais crítica e insatisfeita com a organização, posicionando-se com as idéias do meio sindical, sendo esta área, a grande barreira a ser superada no processo de mudança organizacional, pois é ela que vem a frente no processo de resistência. Por este motivo o processo de diálogo não pode seguir padrões comuns a todas as áreas. Com este conhecimento, podem ser traçadas estratégias para corrigir o que está errado, servindo este modelo como base para aplicação do processo de mudança de outras organizações. Com base neste estudo de caso, conseguimos identificar em oito atitudes, um padrão a ser seguido para se obter sucesso no processo de mudança: - Comunicação confiável e permanente. - Conhecimento do perfil de cada área da empresa. - Processo de alinhamento às diretrizes da organização partindo dos gestores. - Canais para obtenção de feed back, quanto à satisfação dos colaboradores. - Posicionamento superior da organização, frente às organizações sindicais. - Gestão dos recursos humanos mediante modelo situacional. - Realização e ampla disseminação do planejamento estratégico. - Estabelecimento de ambiente de mudança permanente, evitando assim, o choque entre a novidade, e a estabilidade. Devemos ressaltar neste estudo que este é o modelo aplicado a uma empresa pública, e devem ser identificadas e consideradas, as variáveis de cada organização. Os objetivos iniciais deste trabalho foram atingidos, sendo encontra246 das respostas para o problema de pesquisa, possibilitando para um trabalho futuro o estabelecimento de um plano de ações, com base nos resultados obtidos. 6 Referências ANSOFF, H; MCDONNELL, E. J. Implantando a administração estratégica. 2. ed. Atlas, São Paulo. 1993. ARTUZO, P. E. Inteligência corporativa: uma nova forma de aprender. Disponível em: <http://www.guiarh.com.br/pp119.html>. Acesso em: 28 jun. 2008. BURKE, W; LITWIN .Um modelo causal de desempenho das organizações e mudanças. Jornal do gestor, Porto Alegre, n. 18, p. 523-545, 1992. BURREL, G; MORGAN, G. Análise organizacional e Paradigmas sociais: Elementos da sociologia na vida corporativa. Londres: Heineman, 1982. CHIAVENATO, I.; Princípios da administração: o essencial em teoria geral da administração. Disponível em: <http://www.portaladm.adm.br>. Acesso em: 22 out. 2007. CORREIA, P. J. N.; Mudança organizacional no próximo milênio. 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Revista de Administração de Empresas, v. 42, n. 2, p. 77-87, 2002. 248 AÇÃO CORRETIVA E PREVENTIVA NO SISTEMA ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO SOBRE AS METODOLOGIAS DE AÇÃO CORRETIVA NA INDÚSTRIA ALFA ENVOLVENDO O PROCESSO DE QUALIDADE Rodrigo Luis Dick¹ Elvis Silveira Martins² RESUMO Esta pesquisa, na área de Sistema de Gestão de Qualidade, foi realizada visando à análise do uso do método do Diagrama de Causa e Efeito em uma empresa localizada em Santa Cruz do Sul - RS. O objetivo principal deste estudo é analisar este diagrama como uma ferramenta eficaz de correção e prevenção das não conformidades originadas dentro da empresa Alfa. Assim, a decisão de usar o Diagrama de Causa e Efeito será muito útil para a empresa, pois visa identificar e organizar a já conhecida ou as possíveis causas de qualidade, ou a falta dela. Os dados foram obtidos com a aplicação do questionário, este que procurou identificar a fragilidade e potencialidades do instrumento com a metodologia dos porquês em relação ao método do Diagrama de causa e efeito. Observa-se que o principal resultado fora a alteração do formulário com o método de Diagrama de Causa e Efeito. Palavras-chave: Ação Corretiva, Sistema Organizacional, Diagrama de causa e efeito ABSTRACT This research on Quality Management System was held to analyze the Diagram of Cause–and-Effect in a company located in Santa Cruz do Sul - RS. The main goal was to apply and study the diagram in order to analyze existing problems so that corrective and preventive actions can be taken on possible non-compliances found within the organization Alfa. Thus, the decision to use the Cause-and-Effect Diagram will be extremely useful to the company as it aims to identify and organize the know or possible causes of quality, or the lack of it. The information was obtained from the questionnaire, which sought to identify this vulnerability and the strengths of this instrument through the Q&A method ¹Discente do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto. ²Docente da Faculdade Dom Alberto e orientador da pesquisa. 249 in regard to the method of the cause and effect diagram. It was observed that the main outcome was the need to change the framework of this Cause and Effect Diagram. Key-words: Corrective Action, Organizational System, Cause-and-Effect Diagram. 1 Introdução Nos dias de hoje, o mercado econômico mundial atravessa uma fase de complexidades, mudanças e incertezas, tornando a administração uma das mais desafiantes áreas de atividades humanas e organizacionais fazendo com que as empresas, tenham de realizar esforços gigantescos para a sua continuidade. Com o aumento da competitividade provocada pela globalização da economia, e a atuação das empresas em nível mundial, ofertando produtos diversos a preços competitivos devido a produção em escala e ao livre comércio, observam-se constantes transformações no ambiente em que estão inseridas, exigindo grandes processos de mudanças, visando a competitividade, lucratividade e qualidade dos produtos e serviços. Martins (2005) destaca que o conceito de qualidade surgiu na década de 70, impulsionado pelos sucessos do modelo japonês de produção, fazendo da qualidade um diferencial competitivo das organizações. Já na década de 80, o planejamento estratégico se consolida como condição necessária e complementar ao Sistema de Gestão da Qualidade. Como seu interesse básico, o impacto estratégico da qualidade nos consumidores e no mercado, com vistas à sobrevivência das empresas, levando-se em consideração a sociedade competitiva atual. Com a crescente demanda dos mercados e uma grande concorrência, a qualidade deve estar no gerenciamento das empresas, pois não há como sobreviver no mercado sem um processo de qualidade eficaz e efetivo. Para alcançar o significado da qualidade deve-se levar em conta, o foco no cliente, as melhorias contínuas, a participação de todos e o cunho social para, assim, gradativamente, alcançar os objetivos traçados. Na evolução do conceito de qualidade, destaca-se a adequação dos produtos às características que atendam as expectativas dos clientes. Considerando o contexto de busca pelo Sistema de Gestão da Qualidade, surge como pergunta chave deste artigo: Qual a eficácia organizacional do Relatório de Ação Corretiva/Preventiva – Versão método do Diagrama de causa e efeito com relação ao dos Porquês nos colegiados da Indústria Alfa? 250 Assim, tem-se como objetivo geral pesquisar junto aos colegiados as potencialidades e as deficiências do método dos porquês em relação a ferramenta de Ishikawa. 2 Revisão da Literatura Neste capítulo, serão abordadas as ferramentas da qualidade e diagrama de causa e efeito, embasando o marco teórico e posteriormente suportando as análises sobre as pesquisas. 2.1 Ferramentas da Qualidade Sendo importante frisar os conceitos básicos e a sua adequação das metodologias aplicadas dentro da organização, no que tange as ferramentas pela qualidade. Nesse sentido, Araujo (2007) deixa claro que as mesmas, utilizadas de forma incorreta, jamais alcançaram o resultado esperado. Conforme Montgomery (2004), as noções sobre o tema ferramentas da qualidade devem ser amplamente disseminadas nas organizações e utilizadas rotineiramente para a identificação de pontos de melhoria que, aplicadas, colaboram na eliminação de problemas e, consequentemente, nas suas perdas. Na literatura sobre qualidade, salienta-se que são adotadas sete ferramentas básicas que servem de apoio para as organizações nas tomadas de decisões, onde se procura estudar todas e aplicar somente a(s) que é (são) pertinente(s) dentro das necessidades de cada organização (DAVIS, 2001). São elas: 1) Fluxogramas ou diagramas de processos que, segundo Araujo (2007), são uma representação gráfica das sequências de atividades de um determinado processo. 2) Cartas de controle: Montgomery (2004) afirma que as cartas de controle são normalmente utilizadas para monitorar o desempenho de um processo com resultados irregulares e frequentes. 3) Listas de verificação, que Araujo (2007) define como nada mais que um quadro para o lançamento do número de ocorrências de certo evento. 4) Diagramas de dispersão que, conforme Montgomery (2004), são gráficos de dispersão que permitem a visualização das causas e efeitos e avaliam o relacionamento entre os mesmos. 5) Diagramas de Pareto: segundo Paladini (2006), a utilização de diagrama de Pareto traz grandes contribuições para a Gestão da Qualidade, pois focaliza a atenção em elementos críticos. 6) Histogramas que Araujo (2007) define como “uma representação visual da dispersão de dados variáveis. 7) Diagrama de causa e efeito. 251 2.2 Diagrama de Causa e Efeito Vieira Filho (2007) descreve o Diagrama como uma ferramenta de utilização para verificar a relação entre o resultado (efeito) e os fatores (causas) de um determinado procedimento capaz de afetar o desempenho esperado. Pode-se visualizar, através do quadro 01, suas principais vantagens. QUADRO 01 - Vantagens na Utilização do Diagrama de Causa e Efeito A montagem do diagrama é educativa; A montagem do diagrama normalmente é feita por uma equipe de pessoas envolvidas com o problema, através de um brainstorming; O foco passa a ser no problema, levando à solução integrada dentro das áreas da organização e ataca as mais diversas causas possíveis; Consequentemente o diagrama é o ponto de partida para o uso adequado de outras ferramentas básicas e, O seu uso se torna comum a todos, sendo aplicável a problemas das mais diversas naturezas. Fonte: Lins (1993) Araujo (2007) define o mesmo como uma ferramenta utilizada para tratar os problemas de maneira racional, favorecendo a empresa na minimização de esforços para solucionar determinados problemas, especialmente os operacionais. Necessita, para sua utilização, de certa expansão de níveis de conhecimento em relação ao problema a ser tratado. Araujo (2007) adota os seguintes elementos: Máquinas, Materiais, Medição, Mão de obra, Métodos e Ambiente, conforme figura 1. FIGURA 01 - Diagrama de causa e efeito Fonte: Ramos (sd) Já para problemas de natureza administrativa ou gerencial, normalmente inicia-se a análise com os grupos: Políticos, Equipamentos, Pessoal, Procedimentos e Infra-estrutura. 252 FIGURA 02 - Diagrama de causa e efeito com as subcausas Fonte: Guedes (2000) Para melhor compreensão de um problema, buscam-se as subcausas das causas já identificadas ou fazem-se outros diagramas de causa e efeito para cada uma das causas encontradas (figura 2). Assim, encontramse as causas das causas e com elas a solução. 3 Metodologia Este estudo pode ser classificado como um estudo de caso, de natureza qualitativa e quantitativa. Assim, o artigo tem a metodologia qualitativa devido ao grau de necessidade na interpretação em transformar os dados qualitativos em dados numéricos, e, sendo importante o método quantitativo para se tomar uma decisão diante as respostas obtidas com o questionário, onde fora aplicado em um pequeno grupo. Conforme Gonçalves e Meirelles (2004), as pesquisas quanto às abordagens metodológicas em seus contextos são classificadas em dois grupos distintos: o quantitativo e o qualitativo. O quantitativo obedece ao paradigma clássico, enquanto o qualitativo segue o paradigma chamado alternativo. O enfoque principal neste estudo é a aplicação das d uas abordagens, visto que apenas o levantamento quantitativo, na comparação das duas metodologias não é suficiente, sendo de extrema necessidade uma análise qualitativa, buscando entender as informações obtidas no questionário aplicado. A pesquisa foi realizada através de um questionário, aplicado aos cola253 boradores da empresa pesquisada, sendo integrantes do colegiado de Inovação, Produção e Infra-estrutura e Serviços compartilhados. Decidiu-se entregá-lo para 15 colaboradores. Destes, apenas 9 responderam, e suas respostas puderam ser efetivamente tabuladas. Este questionário representou um estudo comparativo entre o método dos Porquês e o método de Ishikawa, identificando a deficiência de cada método. Na elaboração destas perguntas, o objetivo foi a comparação do formulário de tratamento de ações corretivas e preventivas, em que era utilizada a metodologia dos Porquês, este que depois de identificada a causa raiz da não conformidade, os envolvidos realizavam em torno de cinco questionamentos pela não detecção da não conformidade, e de Ishikawa, que leva em seu corpo do formulário a própria espinha de peixe para a análise efetiva das prováveis falhas que levaram o aparecimento da não conformidade. O questionário, que visou à obtenção de dados para a presente pesquisa, teve a sua amplitude prejudicada pelo fator tempo, pois a devolução dos formulários comprometeu a tabulação dos dados e o desenvolvimento dos gráficos, pois nem todos os formulários foram devolvidos em tempo hábil. Com a utilização do software Sphinx, foi efetuado o cruzamento de dados para análise. 4. Caracterização da Empresa e Análise dos Dados 4.1 Caracterização da empresa O estudo foi realizado na empresa Alfa, situada em Santa Cruz do Sul, que atua no mercado a mais de 80 anos. Emprega diretamente cerca de 550 colaboradores e detém um portfólio de mais de 1,5 mil itens. Atualmente a empresa está passando pelo processo de reestruturação dentro do seu processo, tanto estrutural como funcional, aplicando em todos os níveis o conceito de Sustentabilidade empresarial. Sendo que suas áreas foram reestruturadas e passaram a se denominar colegiados. Aparece em primeiro plano o Conselho Administrativo, composto pelos acionistas da empresa; em seguida temos o Diretor Geral, seguindo-se o organograma, os processos de controles, consolidações e relatórios, ainda os processos de infra-estrutura e serviços compartilhados e os Facilitadores. A concepção de sustentabilidade da empresa apresenta-se em dois pilares: Operação, que consiste nos processos de Compras, Logísticas, Produção, Clientes e Inovação, e Sustentação que inclui os seguintes processos: Educação, Comunicação, Estratégia, Impactos e Incubadora. A figura 04, a seguir apresenta o organograma da empresa pesquisada. 254 FIGURA 04 - Organograma Como norteador da concepção da empresa, destaca-se o seguinte Compromisso: “Unir pessoas em busca de soluções sustentáveis”. Os princípios da empresa são: “Todas as pessoas são importantes”; “Soluções relevantes com simplicidade”; “Ética nos relacionamentos”; “Preservação para a posteridade”; “Atuar em mercados éticos que valorizem a vida”. 4.2 Análise dos dados O foco desta análise é identificar potencialidades e deficiências existentes entre o método dos porquês em relação ao método de Ishikawa. Esta pesquisa será analisada através do cruzamento de dados, com a utilização do software Sphinx, que permite a interpretação das respostas obtidas através do questionário. Desta forma, apresentam-se as análises de dados relativas à utilização do formulário com a metodologia dos porquês aponta 55,6% dos entrevistados respondendo que a metodologia atende aos objetivos quanto a sua utilização; 11,1% responderam que o formulário com os métodos dos porquês atende parcialmente aos objetivos e 33,3% dos entrevistados responderam que o mesmo não atende aos objetivos propostos, (gráfico 01). Este cenário reforça a importância da metodologia dos porquês, importância já grifada por Las Casas (2007), quando conceitua o método dos porquês como uma ferramenta que identifica as prováveis causas de não 255 conformidades. A empresa objeto deste estudo, sugere um mínimo de cinco questionamentos (porquês) das causas da ocorrência da não conformidade. GRÁFICO 01 - Atendimento aos objetivos do instrumento o formulário atende as suas necessidades para tratamento de não conformidades? atende 4 44,4% atende parcial 4 44,4% não atende 1 11,1% total 9 100,0% No gráfico 03, pode-se visualizar a opinião dos entrevistados quanto à eficiência do formulário com a metodologia dos Porquês, avaliando a eficácia do mesmo quanto a sua aplicação nas não conformidades ocorridas dentro da empresa pesquisada. Verifica-se que 33,3% dos entrevistados responderam que o formulário, na maioria das vezes em que foi aplicado, atendeu às necessidades; 55,6% afirmaram que atendeu parcialmente e 11,1% responderam que o antigo formulário não foi eficaz. No formulário com os métodos dos porquês, 55% dos entrevistados apontaram eficácia apenas parcial. Pode-se verificar, através do gráfico 03, a abrangência do formulário. GRÁFICO 03 - Eficácia do formulário em sua opinião, o formulário apresenta-se eficaz na maioria das vezes em que foi aplicado? atende 3 33,3% atende parcialmente 5 55,6% não atende 1 11,1% total 9 100,0% O gráfico 05, apresenta a análise quanto à utilização do formulário com a metodologia dos porquês. Nele, 44,4% dos entrevistados responde256 ram que o formulário aponta, na sua generalidade, métodos eficientes para evitar sua recorrência; 44,4% responderam que atende parcialmente e 22,2% afirma que não contempla a recorrência de não conformidades. GRÁFICO 05 - Utilização de método que evitam recorrência o formulário utilizado contempla na sua generalidade métodos para evitar sua recorrência? atende atende parcialmente não atende total 4 4 1 9 44,4% 44,4% 11,1% 100,0% O estudo e aplicação de uma nova metodologia para tratamento das não conformidades devem ser bem fundamentado pelos seus idealizadores e pela direção da organização. Conforme o gráfico 06, pode-se constatar que a metodologia dos porquês obteve aprovação de 88,9% dos entrevistados que a avaliaram entre 6 e 10. Este resultado mostra que essa metodologia não era tão ineficaz a ponto de se tornar obsoleta e que bastariam apenas ajustes de melhoria, evitando assim a concentração de esforços para a criação de uma nova metodologia e de um novo formulário. GRÁFICO 06 - Resultado da pesquisa Nota formulário métodos porquês menos de 6 1 11,1% de 6 a 8 3 33,3% mais de 8 5 total 55,6% 9 100,0% Pode-se identificar, através do gráfico 07, que, na análise quanto à utilização do formulário com a metodologia do Diagrama de causa e efeito, 88,9% das pessoas entrevistadas avaliaram que a metodologia atende ao objetivo e 11,1% atende parcialmente às necessidades. 257 GRÁFICO 07 - Atendimento aos objetivos do instrumento O formulário com a metodologia de Ishikawa atende ao objetivo? atende atende parcial não atende total 8 88,9% 1 11,1% 0 0,0% 9 100,0% Segundo Las Casas (2007), para a identificação de um problema, deve-se construir o gráfico do Diagrama de causa e efeito e, para que isto ocorra de forma correta, deve-se fazer uma acertada interpretação das causas do problema e não apenas de seus sintomas. Como se vê no gráfico 08, a aprovação do novo formulário foi unânime, pois100% dos entrevistados relataram que o formulário de Diagrama de causa e efeito atende as suas necessidades para tratamento de não conformidades. Porém, é válido lembrar que não basta apenas dispor de boas ferramentas para o tratamento de não conformidades. As ações corretivas devem ser contempladas em todos os seus sentidos, e o comprometimento das pessoas é essencial para um tratamento eficaz e sem riscos de recorrências. GRÁFICO 08 - Atendimento às necessidades o formulário atende as suas necessidades para tratamento de não conformidades? atende 9 100,0% atende parcial 0 0,0% não atende 0 0,0% total 9 100,0% O gráfico 09 mostra a avaliação final dos pesquisados quanto à utilização do formulário com a metodologia do Diagrama de causa e efeito: 11,1% avaliaram a metodologia com nota inferior a 6; 22,2% relataram que a metodologia pode ser avaliada com nota entre 6 e 8, e 66,7% avaliaram o formulário com nota superior a 8. 258 GRÁFICO 09 - Resultado da pesquisa Nota formulário Diagrama de Causa e efeito menos de 6 1 11,1% de 6 a 8 2 22,2% mais de 8 6 66,7% total 9 100,0% Assim, pode-se verificar, através dos resultados do questionário aplicado, que não houve 100% aceitação na utilização da metodologia com o Diagrama de causa e efeito. 5 Considerações finais Procurou-se realizar um trabalho de pesquisa abrangente, que mostrou o quanto se faz necessário conhecer e, acima de tudo compreender em profundidade um assunto antes de sugerir a sua implementação em um sistema de gestão. Seria pretensão de crer que com o presente artigo, em que se apresentaram as ferramentas de suporte para a qualidade (Diagrama de causa e efeito) e a sua metodologia dentro da organização, tudo está pronto e que não há nenhum tipo de melhoria a ser feito. No plano de ação foram sugeridas melhorias a serem implementadas que, espera-se, mereçam atenção. Desta forma, apresentam-se as ações mencionadas: Pesquisar empresas com metodologias de tratamento de não conformidades; Verificar as necessidades da empresa Alfa em melhorar a metodologia de tratamento de não conformidade; Modificar a metodologia de tratamento de não conformidades; Treinar colegiados e demais colaboradores quanto a nova metodologia. Desta forma, as alterações mencionadas no plano de ação, uma vez efetivadas, poderão contribuir para o não engessamento do processo. A ferramenta aplicada é abrangente, porém torna o processo de preenchimento do formulário muito demorado e burocrático. Com uma da nova proposta do formulário, e no contexto das mudanças que se deram dentro da organização durante o processo da pesquisa, percebe-se uma significativa queda no número de ações corretivas registradas pelas antigas Unidades de Negócio, passando, no período, de 14 para 3 não conformidades, representando uma queda de 78,5% no número de não conformidades abertas nos colegiados. O objetivo geral deste estudo foi atendido completamente, desde a 259 sua elaboração e aplicação, contendo no questionário com o método dos porquês cinco perguntas objetivas, e no intuito de uma melhor análise, sempre que o respondente optar pela resposta de não atende, o mesmo deve relatar com as suas observações, assim, para complementar o questionário, foi disponibilizado três perguntas abertas relativas ao método dos porquês. Para no método de Diagrama de causa e efeito, foram aplicadas duas perguntas objetivas e duas perguntas abertas. Foram relatados através das perguntas abertas do questionário, as potencialidades e deficiências de cada metodologia. Assim, temos as análises sobre a metodologia dos porquês: Normalmente não são respondidos todos os porquês; Faltam ferramentas para o tratamento eficaz das não-conformidades; Possui apenas um campo para comprovação da evidência da eficácia, o qual é preenchido muitas vezes sem muito fundamento e não há campos para demonstrar a análise feita na busca da(s) causa(s) raiz feitas pela metodologia dos porquês, induzindo a uma análise mais pobre e superficial (achismo). Analisando o método do Diagrama de causa e efeito, temos como sugestões: Exclusão do corpo do formulário a espinha de peixe, sendo que o mesmo não foi utilizado por nenhum dos entrevistados; Discriminar no formulário todos os campos obrigatórios a serem preenchidos e incluir campos para análises/evidências de testes realizados para descobrir a causa raiz. Sugere-se, também, uma metodologia mais simplificada, com aplicação do Diagrama de Árvores ou outros métodos, de fácil entendimento que tornem sua aplicação e o preenchimento do formulário mais simples, na busca das particularidades de cada não conformidade. Como conclusão, espera-se que o presente artigo contribua para a Organização, na aplicação das metodologias de não conformidades, e que as mesmas sejam pesquisadas e analisadas pelos colegiados antes da sua definição e aplicação. Possa ainda, o presente artigo contribuir para sua utilização acadêmica, visto tratar-se de uma metodologia aplicada ineditamente na organização Alfa. 6 Referências ARAUJO, L. C. G. de. Organização, Sistemas e Métodos e as tecnologias de gestão organizacional: arquitetura organizacional, benchmarking, gestão pela qualidade total, reengenharia. São Paulo: Atlas, 2007. DAVIS, M. M., AQUILINO, N. J, CHASE, R. B. Fundamentos da Administração da Produção. Porto Alegre: Bookman, 2001. 260 GONÇALVES, C. A.; MEIRELLES, A. de M. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2004. GUEDES, J. M. F. Gestão da Qualidade. Disponível em: <ttp://pme. aeportugal.pt/Aplicacoes/Documentos/Uploads/2005-03-08_15-24-12_ gestao%20qualidade.pd>. Acesso em: 10 ago. 2009. LAS CASAS, A. L. Qualidade Total em Serviços: conceitos, exercícios, casos práticos. São Paulo: Atlas, 2007. LINS, B. F. E. Ferramentas da Qualidade. Disponível em: < http://www. belins.eng.br/tr01/papers/ferrbas03.pdf >. Acesso em: 16 mar. 2009. MARTINS, P. G; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2005. MONTGOMERY, D. C. Introdução ao controle estatístico da qualidade. Rio de Janeiro: LTC, 2004. PALADINI, E. P. Gestão da Qualidade: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2006. RAMOS, A. W. Controle Estatístico de Processo. Disponível em: < http:// www.prd.usp.br/disciplinas/docs/pro2712-2005-Alberto_Gregorio/1Ferbasq. pdf >. Acesso em: 18 jul. 2009. VIEIRA FILHO, G. Gestão da Qualidade Total: uma abordagem prática. Campinas: Alínea, 2007. 261 262 O ESTUDO DO GERENCIAMENTO CONTÁBIL ESPECÍFICO APLICADO À AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE RESULTADOS: O CASO DE UM RESTAURANTE FAMILIAR Sandro Samuel Kipper¹ Rodrigo da Silveira Kappel² RESUMO A contabilidade gerencial deixou de ser um simples instrumento para determinação do custo e controle financeiro para se tornar uma poderosa ferramenta no processo de gestão, com o objetivo de criar valor através do uso inteligente dos recursos disponíveis. A isso se inclui o crescimento gradativo da quantidade de pessoas que optam por fazer suas refeições fora de casa, aumentando a importância de um eficaz planejamento e controle de custos em um restaurante. Este estudo visa identificar e avaliar os produtos oferecidos por um restaurante familiar analisando o impacto de cada um no resultado da empresa, através de levantamento de dados no processo produtivo e junto á administração da empresa, obtendo informações detalhadas sobre cada produto e sua contribuição no resultado da instituição. Também são apresentados os fundamentos do gerenciamento contábil específico a fim de aprimorar o sistema de gestão e adequá-lo ao processo produtivo da empresa, potencializando a sua geração econômica de resultados. Palavras-chave: contabilidade gerencial, gerenciamento contábil específico, custos ABSTRACT Managerial accounting is no longer a simple tool for determining the cost and financial control to become a powerful tool in the management process, in order to create value through the intelligent use of available resources. To this must include the gradual increase of the number of people who choose to dine outside the home, increasing the importance of effective planning and cost ¹Graduando do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto. ² Mestre em Economia e Professor da Faculdade Dom Alberto. 263 control in a restaurant. This study aims to identify and evaluate the offerings of a family restaurant analyzing the impact of each of the bottom line through data collection in production and next to the company management, getting detailed information about each product and its contribution to the result of the institution. It also presents the fundamentals of management accounting specific to improve the management system and adapt it to the production process of the company, increasing its generating economic results. Key-words: managerial accounting, specific management accounting, costs 1 Introdução A Contabilidade Gerencial, segundo Crepaldi (2007), tem por objetivo fornecer instrumentos aos administradores de empresas para auxiliar em suas funções gerenciais, através de uma melhor utilização dos recursos da empresa e um adequado controle dos insumos, assegurando que a administração tome as melhores estratégias para o longo prazo. Sobre esse aspecto, surge a etapa mais importante para a geração de informações relevantes ao processo decisório, o gerenciamento contábil específico, que é essencial para a tomada de decisão, fornecendo um detalhamento maior ao focar em cada produto através da contabilidade de custos. Devido ao aumento da competitividade na maioria dos mercados, Martins (2003), destaca que nas últimas décadas, a contabilidade de custos passou de uma simples ferramenta de controle dos estoques e lucros totais para um importante meio de controle e decisões gerenciais, tornando os custos altamente relevantes quando se trata de tomada de decisão em uma empresa. As empresas já não podem definir seus preços de venda apenas com base nos custos, mas também devem decidir com base nos preços de mercado que atuam. Nesse contexto, esse estudo propõe, através do gerenciamento contábil específico, identificar e avaliar os serviços de alimentação oferecidos pelo Restaurante Verde Vale, salientando o impacto de cada um no resultado da empresa e identificando seus custos de modo a auxiliar a gestão de preços para cada serviço. Desse modo, de forma mais específica objetiva-se apresentar os principais conceitos de contabilidade gerencial, salientando a importância do gerenciamento contábil específico, ou seja, os fundamentos da contabilidade de custos; mapear e identificar as principais informações necessárias à avaliação dos serviços de alimentação; avaliar a contribuição individual de cada um dos serviços, evidenciando à empresa medidas que venham a aprimorar 264 o processo de gestão de custos e análise de produtos, otimizando o potencial de geração econômica de resultados. O estudo contribui para um setor que carece de tal análise. Devido ao crescimento do setor e o conseqüente aumento da concorrência e exigência do consumidor, é grande e crescente o número de empresas do ramo que não consegue sobreviver às exigências do mercado, que visa um baixo custo. 2 Fundamentos de Contabilidade Gerencial 2.1 A Contabilidade Gerencial e as Áreas Abrangidas Nesse contexto, a contabilidade gerencial é o ramo da contabilidade que tem por objetivo fornecer instrumentos aos gestores de empresas que os auxiliem em suas funções gerenciais, Crepaldi (2007) destaca a sua importância na melhor utilização dos recursos da empresa, através de um adequado controle dos insumos efetuado por um sistema de informação gerencial. Em outras palavras, é a utilização dos registros e controles contábeis com o objetivo de gerir uma entidade. Consoante a essa ideologia, Iudícibus (1998) caracteriza a contabilidade gerencial como um enfoque especial conferido a várias técnicas e procedimentos contábeis já conhecidos e tratados na contabilidade financeira, na contabilidade de custos, na análise financeira e de balanços, colocados numa perspectiva diferente, num grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada, de maneira a auxiliar os gerentes das entidades em seu processo decisório. Para Padoveze (2000), a contabilidade gerencial é utilizada dentro de uma entidade como ferramenta de auxílio à administração e, tendo em vista que uma organização é estruturada em vários setores, a contabilidade gerencial deve suprir cada nível da companhia através do sistema de informação contábil gerencial. A partir desse fundamento, o autor divide o gerenciamento contábil em quatro níveis. No topo está o gerenciamento contábil global, no qual se obtêm informações que suprirão a alta administração com a finalidade de controlar e planejar a empresa dentro de uma visão de conjunto. Na seqüência, surge o gerenciamento contábil setorial, fornecendo informações que suprirão a média administração ou os segmentos da empresa. A próxima etapa e foco desse estudo é o gerenciamento contábil específico, necessário para gerenciar cada produto de forma isolada, a nível operacional. A última fase compreende os orçamentos e projeções, realizados para planejamento estratégico e orçamentário. 265 2.2 Gerenciamento Contábil Específico e a Contabilidade de Custos Nas palavras de Padoveze (2000), o gerenciamento contábil específico trata das técnicas de custeamento dos produtos, contabilização e controle dos custos e informações gerenciais para a tomada de decisão com os dados detalhados de cada produto, ou seja, fornece um detalhamento maior, focando no produto dentro das divisões. Dessa forma, ocorre uma aproximação da administração da empresa com cada produto, pois é impossível desenvolver a contabilidade de custos, ponto fundamental do gerenciamento contábil específico, sem conhecer o produto. Assim, quando se conhece os produtos, as possibilidades para o gerenciamento contábil aumentam. Portanto, esse nível de gerenciamento traduz os dados fornecidos pela contabilidade de custos de cada produto, em informações extremamente úteis à administração. Com isso, para Bornia (2002), torna-se evidente a necessidade de um eficaz controle de custos em cada produto, fundamentando a grande importância da contabilidade de custos dentro de uma organização para a geração de resultados. Neste sentido, é fundamental a escolha de um método de custeio adequado a cada situação específica, como o custeio por absorção, custeio variável e o ABC – custeio baseado em atividades. Na realidade, tratam-se de sistemas de custeio que, para Martins (2003), são métodos de apropriação de custos com a finalidade de utilizá-los como elementos de informação. O custeio variável, que também é conhecido como custeio direto consiste, conforme Crepaldi (2007), em atribuir como custo de produção do período apenas os custos variáveis. Os custos fixos, por existirem mesmo que não haja produção, não são considerados como custo de produção, mas sim como despesas, portanto são encerrados diretamente contra o resultado do período. Logo, tanto o custo dos produtos vendidos quanto o estoque de produtos acabados e em elaboração, só conterão custos variáveis. O método de custeio por absorção, indicado pela legislação societária e fiscal, pois atende aos princípios fundamentais da contabilidade (Iudícibus et al, 2003), consiste na adição aos custos de produção de todos os gastos relativos à produção, diretos ou indiretos, em relação a cada produto através de critérios de rateio. Crepaldi (2007) destaca que, além de apropriar todos os custos à produção do período, o custeio por absorção também exclui os gastos não fabris, ou seja, as despesas. Esta é a principal distinção do método, isto é, a classificação entre custos e despesas, pois a separação é importante porque as despesas são confrontadas imediatamente contra o resultado do período. Enquanto somente os custos relativos aos produtos vendidos terão o mesmo tratamento, os custos relativos aos produtos em elaboração e aos produtos 266 acabados que não tenham sido vendidos estarão ativados nos estoques. Vale destacar que, tanto no custeio por absorção como no direto, as despesas de venda e administrativas são consideradas como gasto do período (MARTINS, 2003). É importante mencionar a arbitrariedade do custeio por absorção. Conforme Lora e Simonsen (1996), ao propor que os custos sejam alocados aos produtos através de critérios de rateios limitados como quantidade produzida ou vendida, o custeio por absorção acaba gerando informações menos precisas. No entanto, como o estudo se refere a um restaurante que possui somente dois produtos e com um processo produtivo simples, o método de custeio por absorção atende as necessidades do estudo. Por outro lado, o custeio baseado em atividades – ABC surgiu como um método de mensurar os custos como forma de apoio a gestão. Cooper e Kaplan (1998) explicam que no ABC as atividades são o foco do processo de custeio. Para a investigação dos custos, relacionam-se as atividades aos produtos, identificando durante todo processo de produção a demanda por tais atividades pelos produtos. Assim, as bases de alocação usadas nesse sistema são medições das atividades executadas. É importante destacar que a alocação dos recursos às atividades e das atividades aos objetos de custos, de acordo com Martins (2003), Leone (2000), Nakagawa (2003), Crepaldi (2007), é feita por meio de cost drivers, que são geradores ou direcionadores de custos. Dessa forma, enquanto no custeio por absorção a alocação é feita por critérios de rateio limitados como quantidade produzida ou vendida, no ABC existe uma multiplicidade de critérios no qual cada um é específico à atividade (custo) que se relaciona. Portanto, os geradores de custos são os fatores que mensuram a cada atividade os respectivos recursos exigidos por cada uma delas. Na visão de Hansen e Mowen (2001), o ABC possibilita que a empresa aumente a precisão no custeio do produto devido à distribuição dos custos indiretos aos produtos de forma mais cuidadosa, proporcionando também, uma melhoria contínua no controle de custos das atividades. Além disso, o método busca aprimorar as informações de custos em quatro aspectos, ou seja, qualidade, conteúdo, relevância e oportunidade. Entretanto, como este estudo refere-se a um pequeno restaurante, onde grande parte da produção de alimentos é consumida, ou seja, vendida, e a outra parte representa uma perda e também compõe o custo do produto vendido, o custeio por absorção atende fielmente às necessidades de alocação de custos para cada produto, visto que não há custos estocados e basta atribuí-los a apenas dois serviços em um processo produtivo simplificado. Com isso, o custeio por absorção atende perfeitamente a necessidade gerencial por informações de custos. 267 Por fim, é importante destacar que o custeio por absorção não será usado em sua íntegra. O método propõe a separação dos custos e despesas, sendo que os custos são em sua totalidade atribuídos a cada produto e as despesas são confrontadas diretamente contra o resultado. No entanto, atendendo a uma carência desse método e ao objetivo desse estudo de avaliar cada serviço de forma precisa, foram alocadas a cada serviço, além dos custos diretos e indiretos, também as despesas de vendas e administrativas. 3 Metodologia Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, Pois, além de levantar questões para futuros estudos, também visa a buscar informações sobre o problema e obter familiaridade com a área de assunto, avaliando conceitos que podem ser aplicados ou se novos conceitos devem ser desenvolvidos, e esse é o objetivo da aplicação do estudo, aproximar-se do problema em questão, deixando-o mais explícito (MARCONI; LAKATOS, 1992). Para os procedimentos de pesquisa, adotou-se o estudo de caso, que conforme Gil (1997) permite uma avaliação profunda de um fato buscando verificar, estudar, interpretar e analisar como e porque os eventos ocorrem, obtendo as respostas sobre o problema de pesquisa e descobrindo o que há de mais essencial e característico. Para coletar os dados necessários, buscou-se a integração com a empresa estudada, visando conhecer o contexto no qual ela está inserida e assim compreendendo o mercado que atua, bem como os objetivos da organização. Com isso, forma obtidas informações sobre a atuação dos gestores com relação ao objeto de estudo, e sobre o processo produtivo da empresa, assim como as características dos serviços oferecidos, obtendo dados detalhados de cada um. Com base nisso, realizou-se pesquisa durante 30 dias no mês de março de 2009, com foco em três aspectos, identificar a produção de cada alimento do cardápio oferecido, os custos e despesas envolvidas no processo e o consumo de alimentos em cada serviço. Devido a isso, o estudo apresenta uma abordagem quantitativa na identificação desses dados, e após isso uma abordagem qualitativa em sua interpretação. 4 Aplicação do Gerenciamento Contábil Específico 4.1 A Empresa e o Processo Decisório Atual Tendo em vista o objetivo geral de identificar e avaliar os serviços 268 de alimentação oferecidos pelo Restaurante, salientando os impactos de cada um no resultado da empresa, nessa fase do estudo foram levantadas as principais informações relevantes ao desenvolvimento do trabalho, bem como a visualização desses dados de acordo com o referencial teórico elaborado, para analisá-los em conjunto e assim obter os resultados esperados. A empresa estudada é uma típica organização familiar, localiza-se no interior de Santa Cruz do Sul e oferece serviços de alimentação através de uma gastronomia típica alemã, já que se localiza em uma rota de turismo germânico. Além disso, ela se beneficia do fato de ser a única do setor na localidade. Seus gestores detêm profundo conhecimento sobre culinária, a atividade fim de um restaurante, sendo esse o foco da organização. Contrário a isso, percebe-se a insuficiente gestão de custos por parte dos gestores devido ao baixo conhecimento de aspectos financeiros e contábeis. Dessa forma, somente são acompanhados os gastos, sem realizar uma análise mais profunda sobre os custos de cada serviço, o que dificulta uma política de preços e análise de rentabilidade, já que o custo real de cada serviço não é conhecido. O restaurante dispõe de dois serviços distintos assim denominados: Buffet livre, onde o cliente serve a quantidade desejada sem um limite estipulado e paga um preço fixo, e Buffet por quilo, no qual o preço é definido de acordo com o peso total dos alimentos. Cabe ao cliente optar por um ou outro de acordo com sua necessidade. Contudo, os alimentos são produzidos e disponibilizados de forma conjunta a ambos os serviços e, assim, os administradores conhecem somente os custos totais, sem distinção para cada serviço. Esse fato impossibilita a gestão de preços devido à falta de informações referentes ao resultado individual de cada serviço. Assim, com base nesse problema, esse estudo propõe alocar todos os custos, sejam eles diretos ou indiretos, assim como as demais despesas, aos alimentos, para em seguida, com base no consumo desses alimentos, obter o custo de cada serviço oferecido. Para tanto, foi necessário, além de um estudo sobre todos os custos existentes no processo produtivo, um levantamento da produção média diária de alimentos, bem como o consumo em cada serviço. 4.2 Avaliação dos Serviços: Buffet por Quilo e Buffet Livre A composição do Buffet oferecido pela empresa, com o peso total de cada alimento que compõem o cardápio, foi obtida através de verificação “in loco” junto à administração da empresa e com pesquisa de campo realizada no mês de março de 2009, totalizando 30 dias. Dessa forma, com base nas 269 informações coletadas, foi possível elaborar o quadro 1, composto da média de produção diária de cada alimento oferecido aos clientes, bem como a participação de cada um no total produzido. Essas informações são de fundamental importância para a seqüência do estudo, pois esses dados evidenciam de forma mais clara a estrutura da produção da empresa, e servirá de base para a definição do consumo de cada um desses alimentos. QUADRO 1 – Produção de alimentos ITEM PRODUÇAO MENSAL (Kg) MÉDIA PRODUÇÃO DIÁRIA (Kg) PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO TOTAL FEIJÃO 91, 328 3, 044 12,80% ARROZ 93, 266 3, 109 13,07% MASSAS 38, 759 1, 292 5,43% COMPLEMENTOS QUENTES 87, 987 2, 933 12,33% 6,77% BATATA FRITA 48, 345 1, 612 POLENTA 22, 183 0, 739 3,11% CARNE COM MOLHO 110, 180 3, 673 15,44% CARNES 107, 378 3, 579 15,05% SALADAS (16 ITENS) 114, 231 3, 808 16,01% TOTAL 713, 657 23, 789 100% O quadro 1 demonstra a composição do Buffet oferecido pela empresa. As saladas foram agrupadas em um único item e representa as 16 variedades oferecidas pelo restaurante e, exatamente por isso, apresenta a maior produção, seguida das carnes. Com base nessas informações e através da utilização do custeio por absorção, é possível alocar os custos e as despesas a cada um desses alimentos. Com isso, o quadro 2 evidencia de forma clara o custo por quilo com mão de obra direta e matéria prima. QUADRO 2 – Custos diretos CUSTOS DIRETOS POR QUILO ITEM FEIJÃO MATERIA PRIMA MÃO DE OBRA DIRETA TOTAL R$ 2,55 R$ 1,82 R$ 4,37 ARROZ R$ 2,70 R$ 1,82 R$ 4,52 MASSAS R$ 3,25 R$ 1,82 R$ 5,07 COMPLEMENTOS QUENTES R$ 3,10 R$ 1,82 R$ 4,92 BATATA FRITA R$ 5,35 R$ 1,82 R$ 7,17 POLENTA R$ 1,95 R$ 1,82 R$ 3,77 CARNE COM MOLHO R$ 5,60 R$ 1,82 R$ 7,42 CARNES R$ 11,35 R$ 1,82 R$ 13,17 SALADAS (16 ITENS) R$ 4,50 R$ 1,82 R$ 6,32 270 O custo da matéria-prima foi obtido, conforme o quadro 2, considerando todas as matérias-prima utilizadas para a sua elaboração, inclusive os produtos usados em sua transformação. Por exemplo, para o arroz foi incluído, além dele próprio, os temperos, óleo de soja e todos os demais materiais diretos usados em sua elaboração. Ressalta-se que os valores apresentados, referem-se ao custo de cada quilo. Observa-se que o valor relativo à mão-de-obra foi atribuído de acordo com a produção de alimentos e uniformemente para cada quilo e a cada um deles, sendo que a diferenciação está no valor total, já que a produção de cada alimento não é a mesma. Vale destacar que, durante a produção, são realizadas tarefas simultâneas, Por exemplo, o mesmo funcionário prepara ao mesmo tempo, o feijão, o arroz e as massas, o que dificulta a medição de horas trabalhadas para cada alimento e justifica o critério da quantidade produzida. Portanto, a estrutura de custos diretos foi formada e na seqüência foram apurados os indiretos e as despesas, nos quais se inclui a mão-de-obra indireta, depreciação, energia elétrica, gastos gerais, água, gás de cozinha, contabilidade e telefone, além da sobremesa que é oferecida pelo restaurante sem custo adicional ao cliente. Com exceção da água e do gás de cozinha, os demais itens obedeceram ao mesmo critério e por isso estão demonstrados por um único valor e agrupados em uma coluna, pois foram alocados de forma uniforme para cada quilo produzido. A soma dos três itens equivale aos custos indiretos e despesas para cada quilo dos diferentes alimentos existentes. QUADRO 3 – Despesas e custos indiretos DESPESAS E CUSTOS INDIRETOS POR QUILO ITEM FEIJÃO ÁGUA GÁS DE COZINHA OUTROS TOTAL R$ 0,09 R$ 0,23 R$ 3,38 R$ 3,70 ARROZ R$ 0,09 R$ 0,23 R$ 3,38 R$ 3,69 MASSAS R$ 0,14 R$ 0,41 R$ 3,38 R$ 3,93 COMPLEMENTOS QUENTES R$ 0,06 R$ 0,12 R$ 3,38 R$ 3,56 BATATA FRITA R$ 0,03 R$ 0,11 R$ 3,38 R$ 3,51 POLENTA R$ 0,06 R$ 0,24 R$ 3,38 R$ 3,68 CARNE COM MOLHO R$ 0,07 R$ 0,14 R$ 3,38 R$ 3,60 CARNES R$ 0,05 R$ 0,05 R$ 3,38 R$ 3,48 SALADAS (16 ITENS) R$ 0,10 R$ 0,05 R$ 3,38 R$ 3,52 Para atribuir o custo da água e do gás observou-se, através de análises, a necessidade de cada alimento por esses itens, criando um índice de consumo. Por exemplo, o custo mensal de água representa R$ 55,00 e o 271 feijão consome, conforme observação no processo produtivo e relatos da administração, em média 15%, portanto é responsável por R$ 8,25. A distribuição desse valor para cada quilo produzido desse alimento no mês equivale ao valor demonstrado no quadro anterior. Assim, obtém-se um resumo dos custos dos alimentos produzidos conforme o quadro 4. QUADRO 4 – Custos totais – por quilo ITEM CUSTOS DIRETOS DESPESAS E CUSTOS INDIRETOS CUSTOS TOTAIS FEIJÃO R$ 4,37 R$ 3,70 R$ 8,07 ARROZ R$ 4,52 R$ 3,69 R$ 8,21 MASSAS R$ 5,07 R$ 3,93 R$ 9,00 COMPLEMENTOS QUENTES R$ 4,92 R$ 3,56 R$ 8,48 BATATA FRITA R$ 7,17 R$ 3,51 R$ 10,69 POLENTA R$ 3,77 R$ 3,68 R$ 7,45 CARNE COM MOLHO R$ 7,42 R$ 3,60 R$ 11,02 CARNES R$ 13,17 R$ 3,48 R$ 16,65 SALADAS (16 ITENS) R$ 6,32 R$ 3,52 R$ 9,84 O quadro demonstra o custo total por quilo de cada alimento, Percebe-se que as carnes apresentam o custo mais elevado da empresa. Cabe destacar, também, que além do levantamento dos custos, foi necessário apurar o consumo dos alimentos para a identificação dos custos em cada serviço. Dessa forma, com a pesagem de cada prato servido, chegou-se aos valores do Quadro a seguir. QUADRO 5 – Receita e consumo em cada serviço QUANTIDADE TOTAL DE CLIENTES CONSUMO TOTAL (Kg) MÉDIA DE CONSUMO DIÁRIO (Kg) MÉDIA DE CONSUMO UNITÁRIO (Kg) RECEITA TOTAL RECEITA POR CLIENTE QUILO LIVRE TOTAL 1015 413 1428 339, 685 312, 540 652, 225 11, 323 10, 418 21, 741 0, 335 0, 757 0, 546 R$ 4.925,43 R$ 4.749,50 R$ 9.674,93 R$ 4,85 R$ 11,50 R$ 6,78 Os dados do quadro 5 deixam explícito a preferência dos clientes por um sistema onde o preço é determinado de acordo com o consumo, com isso o número de clientes no Buffet por quilo é amplamente superior. Contudo, o seu consumo unitário é inferior e por isso o consumo total nos dois serviços é praticamente o mesmo. Da mesma forma, a receita unitária no Buffet por 272 quilo também é menor, mas devido ao seu maior número de clientes, a receita total nos dois serviços é praticamente a mesma, lembrando que a receita unitária na modalidade livre é fixa e no valor de R$ 11,50. Constatou-se, durante a pesquisa, que o restaurante apresenta diariamente uma perda de alimentos. Portanto, para atribuir essa perda para cada serviço, foi necessário identificar a quantidade produzida de alimentos para cada um deles, informação não existente, pois os alimentos são oferecidos para ambos os serviços de forma conjunta. No entanto, para avaliar os custos de cada serviço da forma mais fidedigna possível, a produção diária para cada serviço foi atribuída com base em seus respectivos consumos. Desse modo, o Buffet por quilo, ao ter uma participação no consumo de 52, 081%, sugere uma produção no mesmo percentual, critério adotado neste estudo. QUADRO 6 – Produção, consumo e sobra unitária QUILO LIVRE PERCENTUAL DE CONSUMO 52, 081% 47, 919% RATEIO DE PRODUÇÃO PARA CADA SERVIÇO (Kg) 371, 679 341, 978 QUANTIDADE PRODUZIDA POR CLIENTE (Kg) 0, 366 0, 828 MÉDIA DE CONSUMO POR CLIENTE (Kg) 0, 335 0, 757 SOBRA UNITÁRIA (Kg) 0, 032 0, 071 Dessa forma, no quadro 6, a partir do percentual de alimentos consumidos, foi elaborado um rateio, demonstrando quantos quilos de alimento foram produzidos no período pesquisado para atender a demanda de cada serviço e para cada cliente, resultando, através do confronto com a média de consumo, na sobra unitária. Esta representa a margem de segurança existente em caso de situações excepcionais de demanda maior do que a esperada. A partir dos dados referentes a cada cliente, o consumo e a sobra foram desmembrados para cada item do cardápio. Dessa forma, conforme percentual calculado no quadro 1, referente à participação de cada um deles dentro do total produzido, o quadro 7 demonstra a quantia consumida de cada alimento, formando um prato médio, ou seja, a quantia média de cada alimento que cada cliente consome, bem como a sobra correspondente. Com isso, para conhecer o consumo proporcional por alimento, tomou-se por base a sua respectiva produção. Por exemplo, o feijão representa 12,80% da produção total, então o seu consumo estimado também equivale ao mesmo percentual e, através da diferença entre a quantidade média consumida e a produzida, apura-se a sobra unitária de cada alimento. 273 QUADRO 7 – Prato Médio - Buffet por quilo e Buffet livre BUFFET POR QUILO CONSUMO PERCENTUAL (Kg) ALIMENTO SOBRA (Kg) TOTAL (Kg) BUFFET LIVRE CONSUMO (Kg) SOBRA (Kg) TOTAL (Kg) FEIJÃO 12,80% 0,043 0,004 0,047 0,097 0,009 0,106 ARROZ 13,07% 0,044 0,004 0,048 0,099 0,009 0,108 MASSAS 5,43% 0,018 0,002 0,020 0,041 0,004 0,045 COMPLEMENTOS QUENTES 12,33% 0,041 0,004 0,045 0,093 0,009 0,102 BATATA FRITA 6,77% 0,023 0,002 0,025 0,051 0,005 0,056 POLENTA CARNE COM MOLHO CARNES SALADAS (16 ITENS) TOTAL 3,11% 0,010 0,001 0,011 0,024 0,002 0,026 15,44% 0,052 0,005 0,057 0,117 0,011 0,128 15,05% 0,050 0,005 0,055 0,114 0,011 0,125 16,01% 0,054 0,005 0,059 0,121 0,011 0,133 100,00% 0,335 0, 032 0,366 0,757 0,071 0,828 Cabe destacar também que o quadro anterior demonstra a característica de consumo em cada serviço, especificando a quantidade consumida de cada alimento, assim como a respectiva sobra. Os custos e as despesas foram atribuídas para cada um desses alimentos e os dados obtidos possibilitam conhecer o custo de ambos os serviços. QUADRO 8 – Custo e perda unitária – Buffet por quilo PRATO MÉDIO - BUFFET POR QUILO CUSTO POR QUILO ALIMENTO CONSUMO (Kg) CUSTO DO CONSUMO SOBRA (Kg) CUSTO DA SOBRA FEIJÃO R$ 8,07 0, 043 R$ 0,35 0, 004 R$ 0,03 ARROZ R$ 8,21 0, 044 R$ 0,36 0, 004 R$ 0,03 MASSAS R$ 9,00 0, 018 R$ 0,16 0, 002 R$ 0,02 COMPLEMENTOS QUENTES R$ 8,48 0, 041 R$ 0,35 0, 004 R$ 0,03 BATATA FRITA R$ 10,69 0, 023 R$ 0,24 0, 002 R$ 0,02 POLENTA R$ 7,45 0, 010 R$ 0,08 0, 001 R$ 0,01 CARNE COM MOLHO R$ 11,02 0, 052 R$ 0,57 0, 005 R$ 0,05 CARNES R$ 16,65 0, 050 R$ 0,84 0, 005 R$ 0,08 SALADAS (16 ITENS) R$ 9,84 0, 054 R$ 0,53 0, 005 R$ 0,05 0, 335 R$ 3,47 0, 032 R$ 0,33 TOTAL 274 Os quadros 8 e 9 demonstram, respectivamente, o custo total do Buffet por quilo e do Buffet livre por cliente, destacando para cada alimento o custo de tudo o que é consumido e o que é perdido. Destaca-se que esses são dados relativos a cada unidade, ou seja, o custo do serviço oferecido para cada cliente. De acordo com os quadros torna-se evidente que o serviço livre possui um custo unitário superior, devido ao seu elevado consumo. Isso demonstra a sistemática da distribuição de custos, pois na mesma proporção em que o serviço consome os alimentos, ele também consome os custos. QUADRO 9 – Custo e perda unitária – Buffet livre PRATO MÉDIO - BUFFET LIVRE CUSTO POR QUILO ALIMENTO CONSUMO (Kg) CUSTO DO CONSUMO SOBRA (Kg) CUSTO DA SOBRA FEIJÃO R$ 8,07 0, 097 R$ 0,78 0, 009 R$ 0,07 ARROZ R$ 8,21 0, 099 R$ 0,81 0, 009 R$ 0,08 MASSAS R$ 9,00 0, 041 R$ 0,37 0, 004 R$ 0,03 COMPLEMENTOS QUENTES R$ 8,48 0, 093 R$ 0,79 0, 009 R$ 0,07 BATATA FRITA R$ 10,69 0, 051 R$ 0,55 0, 005 R$ 0,05 POLENTA R$ 7,45 0, 024 R$ 0,18 0, 002 R$ 0,02 CARNE COM MOLHO R$ 11,02 0, 117 R$ 1,29 0, 011 R$ 0,12 CARNES R$ 16,65 0, 114 R$ 1,90 0, 011 R$ 0,18 SALADAS (16 ITENS) R$ 9,84 0, 121 R$ 1,19 0, 011 R$ 0,11 0, 757 R$ 7,85 0, 071 R$ 0,74 TOTAL Com isso, o estudo possibilitou conhecer em cada serviço a receita e o custo correspondente. Através disso, é possível elaborar uma análise sobre a rentabilidade que cada serviço oferece, evidenciando a importância de cada um no faturamento da empresa através da avaliação econômica de resultados. QUADRO 10 – Análise de rentabilidade BUFFET POR QUILO (1015 CLIENTES) UNIDADE MARGEM TOTAL R$ 4.925,43 BUFFET LIVRE (413 CLIENTES) UNIDADE TOTAL MARGEM R$ 11,50 R$ 4.749,50 RECEITA TOTAL R$ 4,85 CUSTO R$ 3,47 71,57% R$ 3.524,92 R$ 7,85 68,29% R$ 3.243,24 RECEITA LÍQUIDA R$ 1,38 28,43% R$ 1.400,51 R$ 3,65 31,71% R$ 1.506,26 PERDAS R$ 0,33 6,74% R$ 332,01 R$ 0,74 6,43% R$ 305,48 LUCRO R$ 1,05 21,69% R$ 1.068,50 R$ 2,91 25,28% R$ 1.200,79 275 Por fim, através do gerenciamento contábil específico e da utilização do método de custeio por absorção de forma adaptada ao processo produtivo da empresa, o quadro 10 apresenta o resultado do estudo. Nesse sentido, observa-se que apesar da preferência dos clientes pelo Buffet por quilo, demonstrando a sua importância para o resultado da empresa, o Buffet livre oferece uma lucratividade superior em valores absolutos, pois gera para a empresa um lucro unitário de R$ 2,91 enquanto o Buffet por quilo oferece apenas R$ 1,05. Com isso o Buffet livre, mesmo com uma parcela menor de clientes, possui a maior lucratividade no período, e o Buffet por quilo precisou vender 1015 unidades para obter um lucro próximo ao que o Buffet livre obteve com 413 clientes. 5 Considerações finais Através do objetivo de avaliar os serviços de alimentação oferecidos identificando seus custos, constatou-se que, durante o período pesquisado, a receita unitária do Buffet por quilo foi amplamente inferior, o que era esperado devido à sua característica. Contudo, devido à grande preferência dos clientes por esse serviço, que está diretamente associado ao aspecto financeiro do cliente em vista a economizar, sua receita total obtida foi um pouco superior a do Buffet livre, evidenciando a importância de ambos na geração de caixa. Por outro lado, o serviço a quilo também apresentou um custo total do período superior, tornando o Buffet livre o mais rentável da empresa. Todavia, a diferença do lucro total obtido foi mínima e os dois serviços possuem praticamente a mesma importância na geração do lucro. Cabe destacar que o Buffet por quilo oferece à empresa um risco menor, pois ao mesmo tempo em que oferece ao cliente um sistema mais justo, ele garante para a empresa uma margem de lucro fixa. Trata-se de uma correlação positivamente perfeita, em que o custo e a receita variam em uma mesma proporção, de acordo com o consumo dos alimentos, enquanto no Buffet livre ocorre variação somente no custo, já que a receita unitária é fixa. No entanto, essa é uma análise para essa estrutura de clientes, pois qualquer variação na característica de consumo pode elevar o custo de um ou outro serviço, assim como elevar a perda de alimentos. Por esse fato, é fundamental o monitoramento contínuo do consumo em cada serviço para adequar, tanto a quantidade produzida como a gestão de preços. Outro aspecto a ser destacado é o custo que a perda de alimentos representa, reduzindo a capacidade de geração de resultados, sugerindo-se que a empresa analise esse fato para minimizar os efeitos negativos ao lucro. Além disso, constatou-se, com base no estudo, que o gerenciamento contábil específico é uma poderosa ferramenta para a avaliação econômica 276 de resultados, pois, através do uso do método de custeio por absorção de forma adaptada às necessidades da organização e focando em cada serviço, o estudo forneceu dados detalhados de cada um deles, produzindo informações gerenciais de fundamental importância para a tomada de decisão amenizando, com isso, um problema de gestão existente na empresa. Com base nisso, conclui-se que o estudo foi essencial para a empresa, a qual pôde verificar a enorme necessidade da administração estratégica de custos dentro de um restaurante, onde conhecer os custos e geri-los de forma eficiente é questão de sobrevivência. Para futuros estudos recomenda-se a abordagem da relação custo/ volume/lucro, através da utilização do conceito de ponto de equilíbrio para o planejamento do lucro, estudando as relações entre vendas, custos fixos e custos variáveis, bem como da margem de contribuição, para determinar o quanto cada produto contribui para amortizar os gastos e formar o lucro. 6 Referências BORNIA, A. C. Análise Gerencial de Custos. Porto Alegre: Bookman, 2002. COOPER, R; KAPLAN, R. S. The design of cost management systems. New Jearsey: Prentice Hall, 1998. CREPALDI, S. A. Contabilidade Gerencial: Teoria e Prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007. GIL, A. C. Metodologia do Ensino Superior. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997. HANSEN, D. R.; MOWEN, M. M. Gestão de Custos: Contabilidade e Controle. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. IUDÍCIBUS, S. de. Contabilidade Gerencial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998. ______. et al. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia do Trabalho Científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992. LEONE, G. S. G. Custos: Planejamento, Implantação e Controle. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 277 LORA, C; SIMONSEN, M. H. Gestão de custos para executivos. Rio de Janeiro: Simposium Consultoria e serviços, 1996. MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003. NAKAGAWA, M. Gestão Estratégica de Custos: Conceitos, Sistemas e Implementação. São Paulo: Atlas, 2003. PADOVEZE, C. L. Contabilidade Gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 278 VARIÁVEIS DEFICITÁRIAS E POSITIVAS NO VÍNCULO ENTRE ACADÊMICOS E A CENTRAL DE RELACIONAMENTO (CR) DA FACULDADE BETA: UM ESTUDO DE CASO, VISANDO A PROVER A SATISFAÇÃO ACADÊMICA Vilsiane Aparecida Leonardi¹ Elvis Silveira Martins² RESUMO Esta pesquisa, na área de marketing, analisa a satisfação de acadêmicos em relação a serviços prestados pela Central de Relacionamento da Faculdade Beta (FB), de Santa Cruz do Sul. O objetivo central deste estudo é fazer um diagnóstico dos serviços, visando a prover a satisfação acadêmica para garantir a eficácia da Central de Relacionamento e ainda identificar variáveis deficitárias do serviço, para elaborar estratégias de melhorar a qualidade do relacionamento, focando-o no vínculo com os alunos. Esta investigação tem um caráter exploratório, uma abordagem qualitativa e quantitativa e os procedimentos utilizados foram estudo de caso, pesquisa bibliográfica e para coleta de dados foi utilizado o questionário. O desenvolvimento da pesquisa mostra que o atendimento apresenta pontos fortes, mas deve ter melhorias, com a pesquisa foi possível elaborar planos de ação para propor ações proativas, e uma melhoria continuada, buscando garantir maior satisfação dos clientes, visando à lucratividade e rentabilidade para garantir a sustentabilidade da empresa. Palavras-chave: Acadêmicos, Central de Relacionamento, Faculdade Beta ABSTRACT This marketing research aims to investigate the level of undergraduate students’ satisfaction with their customer service experiences provided by the CRM Department of College Beta in Santa Cruz do Sul. The purpose of this study is to evaluate the services provided by College Beta in order to improve student satisfaction and to ensure the effectiveness of customer service. It also ¹Graduanda do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto. ²Professor, Coordenador do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto da Faculdade Dom Alberto. 279 serves to identify the deficiency of service organization as to further develop specific strategies to improve the quality on the relationship with the students. This research is exploratory with a qualitative and quantitative approach. It provides a bibliographic study of customer’s satisfaction in regard of higher education facility services and then outlines the methodology of the study. Sampling and data collection methods are discussed, followed by the analysis. The findings on students’ perspectives about higher education facility services identify positive and critical aspects that affect them as education clients. Through this research paper was possible to draw action plans to continuous improve and ensure greater customer satisfaction, profitability and lastly, to maintain a sustainable business. Key-words: Student, CRM Department, College Beta 1 Introdução A competitividade, que se originou do surgimento de novos concorrentes altamente capacitados, está relacionada ao desenvolvimento e entendimento de objetivos estratégicos e de novas tecnologias de processo de gestão que é marcado pela evolução do marketing de relacionamento. A gestão do relacionamento deve ter planos estratégicos, um prazo curto para definir recursos, ter cronograma do planejamento para agir no momento certo, seja através da inovação, mudanças e conhecimentos novos, criando assim vantagens competitivas. As organizações estão aprimorando e aperfeiçoando suas estratégias de competição, focando na diminuição de custos e melhorando a qualidade dos serviços prestados, apostando fortemente no marketing que é definido como a satisfação de metas organizacionais e individuais, articuladas através do processo de planejar e executar (KOTLER, 2000). As instituições educacionais estão se preocupando cada vez mais com os processos administrativos focando em um planejamento bem estruturado com foco específico na satisfação do aluno. Os acadêmicos primam por um serviço personalizado, por isso o marketing de relacionamento é essencial para garantir uma melhor sintonia entre instituição e aluno e consequentemente a sua permanência. Para Las Casas (2001) é o fortalecimento e a intensificação de relacionamentos com alunos que envolve um planejamento, controle e melhoria contínua. Em época de constantes mudanças e grande competitividade, todos os colaboradores devem estar focados no diferencial, ser um profissional com habilidade, competência, atitude e criatividade para ser diferente dos demais. A realidade mostra que a instituição deve oferecer o serviço de qua280 lidade desde o momento da conquista do aluno até a sua fidelização, priorizando atender e identificar a expectativa e a necessidade específica de cada um. A escolha deste tema prende-se ao fato de o mesmo estar em linha direta com a área de atuação da pesquisadora, o que irá contribuir para enriquecer o desempenho profissional e em adquirir novos conhecimentos, aumentar bagagem teórica, e contribuir para solucionar o problema da empresa. Com esse direcionamento, o estudo busca a resolução do seguinte problema de pesquisa: Quais as variáveis deficitárias e positivas no vínculo entre os acadêmicos e a Central de Relacionamento da Faculdade Beta? Nesse sentido, o estudo tem como o objetivo geral realizar o diagnóstico por meio de uma pesquisa de satisfação e para isso buscou-se: elaborar um instrumento de pesquisa para coleta de dados; aplicar pesquisa com alunos; analisar pesquisa e elaborar plano de ação específico para melhoria contínua dos serviços prestados pela Central de Relacionamento e propor um sistema de avaliação de atendimento. 2 Marketing e Marketing de Relacionamento Como referencial de estudo, busca-se um breve entendimento sobre marketing e marketing de relacionamento, que é o foco desse artigo. Tanto um quanto o outro são estrategicamente importantes para a empresa se manter competitiva e ambos deverão ter uma condução direcionada à estratégia, à inovação com melhores práticas e tecnologias para construção do sucesso da empresa. 2.1 Marketing Em 1960 uma das definições do marketing era “o desempenho das atividades de negócios que dirigem o fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor ou utilizador” (AMA, 1960, apud COBRA 1997, p. 27). Com o passar do tempo, a definição do marketing segundo a American Marketing Association apud Kotler e Keller (2006, p. 4), passou a “uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado”. O marketing da organização deve ser proativo, arrojado, criativo, sendo uma ferramenta que tem o objetivo de identificar novas oportunidades de atingir a satisfação dos clientes. Na concepção de Kotler (2000), o marketing está focado em transformar idéias em ações, baseadas em planos. Essa é a função principal do profissional empreendedor do marketing, identificar sonhos, ter percepção de 281 futuro, trabalhar com o raciocínio lógico e a comunicação. Na visão de Stoner e Freeman (1998), o marketing deve seguir algumas etapas como determinar os objetivos, identificar as necessidades, criar abordagem, identificar os segmentos em termos de qualidade, implementar e controlar os resultados. O profissional do marketing deve ter uma mente aberta, as tendências devem ser atualizadas e as aplicações das mudanças devem ser rápidas para garantir o lugar no mercado competitivo e apostar na execução e controle das ações com foco no sucesso. Dessa maneira, conhecer e suprir as necessidades do consumidor é o grande papel do marketing, e as estratégias, para realmente obter excelência, precisam de profissionais que tenham pensamento positivo e trabalhem com emoção, pois marketing não é uma simples venda e sim uma troca e uma conquista diária. Estando a pesquisa direcionada sobre marketing, busca-se um entendimento sobre marketing de relacionamento o qual se estrutura da gestão do fortalecimento de relacionamentos bem articulados, que fazem parte do marketing como a essência do conquistar, manter e reter. 2.2 Marketing de Relacionamento De acordo com Mackenna (1999), marketing de relacionamento expressa e sustenta a estrutura de relacionamentos, integrando clientes e empresa, visando a construir pró ativamente uma estratégia de negócios, garantindo relacionamentos duradouros. Para Las Casas (2001) marketing de relacionamento é o fortalecimento dos relacionamentos, pois os alunos são valiosos para a instituição. Sendo assim é preciso transmitir confiança, conseguir resolver problemas e sanar as dúvidas, satisfazendo o aluno e contribuir para a permanência dele na instituição. A satisfação é um meio para manter relacionamentos duradouros, visa à interação com o cliente e mantêm o nível de retenção em alta (VAVRA, 1993). Certamente, para elevar o índice de retenção, o relacionamento é a base que deve ser priorizada e focada. Clientes satisfeitos tornam-se defensores e parceiros, contribuindo para a indicação de outros clientes (KOTLER, 1998). O marketing é uma das receitas do sucesso para organização, por isso deve-se melhorar sempre, priorizar os colaboradores, incentivar, motivar e capacitar para que desempenhem um serviço fantástico. Segundo Godri (1994) o contato dia-a-dia é o que realmente faz a diferença. Com essa abordagem sobre marketing e marketing de relacionamento observa-se que o marketing é primordial para o sucesso da organização, 282 desde que seja bem planejado, articulado e que a empresa disponha de profissionais adequados para essa estratégica função. Portanto criativos, organizados, estratégicos, inteligentes e brilhantes para poder conquistar novos clientes, manter a clientela e a sua fidelização. A valorização do relacionamento com o aluno,faz com que ele perceba que é um parceiro importante para a instituição. 3 Metodologia O objeto de pesquisa é a central de relacionamento que é o setor de atendimento da Faculdade Beta, onde o aluno faz seu primeiro contato com a instituição, sendo atendido um número significativo de alunos diariamente. O estudo foi estabelecido com alunos do curso de Administração, Contábeis e Direito e o levantamento de dados foi através de amostragem aleatória simples. Esta investigação tem um caráter exploratório, por se tratar de um estudo inédito. Conforme Collis e Hussey (2005) quando se busca um tema pouco explorado pela empresa, também utiliza-se a pesquisa bibliográfica para extrair informações pertinentes ao estudo. A coleta de dados ocorreu a partir de um questionário, entregue a 300 alunos, sendo válidos 294 que foram devolvidos e devidamente preenchidos. A abordagem foi quantitativa através de gráficos estatísticos, que possibilitaram a quantificação de informações para a análise qualitativa da pesquisa. Tanto a forma quantitativa quanto a qualitativa são necessárias para mostrar e explicar os objetivos gerais e específicos, bem como a resolução do problema de pesquisa. Também foi utilizado o estudo de caso que possibilita a compreensão e poderá ser base para uma posterior investigação (GIL, 1994). O tipo de pesquisa aplicada visa á elaboração e, se possível. à aplicação dos resultados para solucionar as variáveis deficitárias (MARCONI; LAKATOS, 2006). Em relação à tabulação, esta foi feita pelo sistema SPHINX, e a análise de dados foi elaborada a partir de explicações sobre os itens, buscando a resolução do problema de pesquisa. 4 Caracterização da empresa e análise dos dados 4.1 Caracterização da empresa A pesquisa é realizada na empresa Centro de Ensino Superior Beta Ltda - Faculdade Beta. Esta iniciou suas atividades em Santa Cruz do Sul, em 2004, oferecendo à comunidade do Vale do Rio Pardo dois cursos de 283 graduação (Administração e Ciências Contábeis), e em 2005 obteve a autorização para o funcionamento do curso de Direito. A Faculdade firmou um compromisso de desenvolvimento educacional da região, uma grande conquista para uma instituição de ensino superior, que busca continuamente o aprimoramento de seus processos educacionais e administrativos. Seu projeto está explícito na missão da instituição: “Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 4.2 Análise e discussão dos resultados Os dados foram analisados levando em consideração a escala de Likert. Na escala de cinco níveis, nota cinco para o nível de satisfação Excelente, nota quatro para o nível de satisfação Muito Bom, nota três para o nível de satisfação Bom, nota dois para o nível de satisfação Regular e a nota um para o nível de satisfação Ruim, que é definida por Kotler (1998) como uma pesquisa que pode se identificar o grau de satisfação ou insatisfação, pois o estudo tem o objetivo de diagnosticar o nível de satisfação dos alunos em relação aos serviços prestados na Central de Relacionamento da Faculdade Beta. Nesta seção, verificam-se algumas das variáveis pesquisadas para a resolução da pergunta de pesquisa, visando a identificar as variáveis deficitárias da Central de Relacionamento, para prover a satisfação acadêmica, que está relacionada à localização, a horário de atendimento, a domínio das informações, à cortesia do atendimento, à clareza das informações, à facilidade de contato, ao tempo de atendimento, ao cumprimento dos prazos e nota de atendimento, como evidenciado no Gráfico 1. Referente à localização da Central de Relacionamento (CR), a média foi 4,25. Na concepção de Kotler (2001) a empresa deve oferecer um serviço de fácil acesso. Conforme se pode verificar, a localização da CR é muito boa, por estar localizada na entrada da Faculdade Beta, um local extremamente estratégico, que facilita o contato com os alunos. Interpretando os resultados em relação ao horário da CR, a média foi 4,3. Para Kotler (2000) existe um simples diferencial para o cliente valorizar o serviço, o horário de funcionamento, porque abre mais cedo e fecha mais tarde do que seus concorrentes. A Central de Relacionamento tem um horário que inicia as atividades 07 horas, não fecha meio dia e o término do expediente é às 22 horas e 45 minutos e também tem um horário de atendimento aos sábados 07 horas às 17 horas, com o propósito de melhor atender o aluno em diversos horários. 284 A pesquisa revela que a média em relação ao domínio das informações prestadas pela CR foi 3,39. Na visão de Kotler (1996), os prestadores de serviços devem transmitir com segurança e confiança o conhecimento aos clientes. A coordenação da central deve refletir acerca das práticas para prover a melhoria desse item. O domínio das informações é fundamental para a comunicação, os colaboradores devem ter um excelente conhecimento em relação aos cursos oferecidos e às normas da instituição como um todo. Sugere-se como plano de ação para melhorar o domínio, elaborar um manual de atendimento das Centrais, baseado nas perguntas frequentes dos alunos com as respectivas respostas para ter um padrão; também como plano de ação sugere-se um Link no site chamado Guia Acadêmico, com perguntas e respostas para melhorar a comunicação com os acadêmicos; sugere-se também a criação de um link no site, onde a Direção Geral pode inserir instruções Normativas, que no momento da inserção da informação os colaboradores recebam um email com o aviso, contribuindo para a atualização dos mesmos e também ficará atualizada no site para alunos também se manterem informados sobre a instituição. Outra sugestão é a de criar um Yahoo grupos para que o coordenador do setor encaminhe informações diárias, disseminando a informação de forma rápida entre os colaboradores e centrais. Em relação à cortesia no atendimento da Central de Relacionamento, a média foi 3,73. Na concepção de Godri (1994, p. 59) “atendimento é sinônimo de empatia e atenção”. Deve-se tratar o aluno com prioridade, ouvi-lo com atenção, tratar preferencialmente pelo nome e acima de tudo com respeito à opinião. A CR é a linha de frente e deve recepcionar o aluno com toda cortesia, esbanjar simpatia e tratar os alunos como gostariam de ser recepcionados, mas algumas mudanças devem ser implantadas para elevar esse item e fortificar o relacionamento. Recomenda-se como plano de ação, um padrão de atendimento, e para isso elaborar um folder básico sobre dicas de atendimento. O marketing requer que os colaboradores sejam excelentes em relacionamento interpessoal, que os momentos de atendimento sejam profissionais, eficientes e eficazes, tanto no atendimento presencial, quanto telefônico ou qualquer que seja a forma. Todos os alunos são iguais perante a instituição, não importando seu nível social. O atendimento deve ter pró-atividade, bom humor, boa vontade e satisfação em desempenhar essa fundamental função. Observou-se que, em relação à clareza, a média foi 3,46. Kotler (1993) defende que a satisfação envolve segurança, clareza, objetividade e respeito com que se dirige ao comprador. As informações prestadas pela CR devem ser claras quando o cliente está recebendo um atendimento. Dessa forma, todas as perguntas devem ser respondidas para não haver desencon285 tro de informações e evitar que o cliente fique com alguma dúvida, o tom de voz deve ser calmo, transmitir confiança e seriedade na informação. Como plano de ação sugere-se intensificar o capital intelectual das colaboradoras na realização de treinamentos, para melhorar as informações prestadas e para garantir um melhor atendimento. Os resultados indicam que a média relacionada ao tempo de atendimento, foi 3,53. Para garantir que o cliente não passe para a concorrência, é primordial evitar a demora tanto no atendimento pessoal ou telefônico, que muitas vezes resulta em uma má impressão, afastando o cliente da empresa (GODRI, 1994). A Central prima pela agilidade no atendimento, contando com uma equipe de seis colaboradoras, prioriza o atendimento ao telefone até o terceiro toque e evita demora no atendimento presencial. O nível é considerado bom, mas deve ter melhoria, sugere-se, portanto, como plano de ação a distribuição de senhas e uma melhor distribuição das atividades entre os colaboradores da central para otimizar o tempo de atendimento. Outro aspecto a ser destacado é o cumprimento dos prazos das solicitações, já que a média evidenciada foi 3,24. Kotler (1996) destaca que confiabilidade representa a segurança na qualidade do serviço, o cumprimento de prazos e o atendimento ao que foi oferecido. O cumprimento do prazo de entrega de solicitações de documentos originados na Central Acadêmica é de 72 horas úteis, em alguns casos as respostas também são originadas de outras centrais, mas o feedback deve melhorar. Como plano de ação sugere-se a diminuição do prazo interno para cumprir o que foi prometido ao aluno, mas para isso deve haver uma maior integração entre centrais para otimizar o trabalho e melhorar o cumprimento dos prazos, e satisfazer o aluno para que não fique com uma visão de ineficiência e ineficácia da CR. Quanto à facilidade de contato com a Central de Relacionamento por telefone, chat, e-mail e SAU (serviço de atendimento ao usuário), a média foi 3,51. Kotler (1996) relata que as empresas devem se preocupar em investir em sistemas que atendem os consumidores com agilidade, presteza e rapidez às reclamações e solicitações. Na CR para facilitar o contato com os alunos, existem e-mail e chat específico, telefone direto e atendimento presencial. Os canais de comunicação são necessários para facilitar o contato com o aluno e são essenciais, pois através deles a informação é rápida. Como plano de ação sugere-se que estes sejam melhorados continuamente, e buscar otimizar o Orkut, Twitter, Facebook, Newsletter, torpedos e também a sugestão de criar um Blog, inovando e facilitando a forma de contato da instituição com o aluno. Quando os acadêmicos foram questionados sobre a nota do atendi- 286 mento da CR, a média foi 3,55. De acordo com Kotler (2000), satisfação de clientes é ao mesmo tempo uma meta e uma ferramenta de marketing para as empresas centradas no cliente. A instituição é focada no aluno por isso com a pesquisa foi possível elaborar planos para a melhoria dos itens que refletirá na nota do atendimento, então para a melhoria de todas as variáveis que não atingiram o nível muito bom ou excelente foram elaborados planos de ação. Dessa forma para elevar esses índices todos devem estar comprometidos com essa meta e contar com as ferramentas tecnológicas e as inovações. Assim sugere-se a utilização do mobile para gravar os atendimentos telefônicos das colaboradoras; a contratação de cliente oculto para testar o atendimento; o trabalho em equipe seja cada vez mais intensificado dentro da instituição, através de reunião setorial, reunião com todas as centrais, reunião de planejamento, motivando colaboradores, melhorando o clima da empresa que deve ser de bem-estar e harmonia, bem como investir em projetos de qualidade de vida, e focar no capital relacional e intelectual. Também é preciso destacar que os colaboradores já recebem bolsa de 90% de desconto para a graduação e cursos de extensão, isso demonstra que a instituição investe em qualificação dos colaboradores. GRÁFICO 1 – Localização, Horário de Atendimento, Domínio, Cortesia, Clareza, Facilidade de contato, Tempo de Atendimento, Cumprimento dos Prazos e Nota de Atendimento Outras variáveis foram abordadas, como mostram os dados do Gráfico 2. Quando perguntou a sugestão de melhoria em relação ao atendimento prestado pela central de relacionamento, 80,8% dos entrevistados não apresentaram nenhuma sugestão. Em relação à melhoria contínua, que está ligada diretamente à capacitação, 4,8 % dos acadêmicos sugeriram mais treinamentos para colaboradoras. Para Chiavenato (1999) treinamento é o aprendizado de conhecimentos, habilidades e atitudes aplicado de maneira 287 organizada e que nunca se sabe o suficiente, por isso deve-se buscar maior qualificação para se manter nas organizações. Outro aspecto sugerido por 4,5% dos acadêmicos é maior organização e métodos relacionados à contratação de mais atendentes, bem como a distribuição de senhas e a padronização da informação. Na visão de Oliveira (2005) organização e métodos, tem como meta fazer o gerenciamento dos processos e solucionar problemas, agilizar a execução das atividades, melhorar o controle e criar ou aprimorar processos de trabalho. Quanto a agilidade nas solicitações 6,5% querem uma maior agilidade na entrega e a redução do prazo estipulado pela instituição. Kotler (2000) afirma que a agilidade é um ponto extremamente importante para a empresa ter sobrevivência, que o resultado dependerá da percepção de um serviço positivo ou negativo. Em relação à comunicação interna, 3,4% sugeriram que seja mais eficaz tanto na comunicação interna quanto externa mantendo o site mais atualizado e a comunicação interna deve ser revista para ter uma melhor sintonia integrando setores. Na visão de Torquato (2002), a comunicação busca reformar o sistema de decisão, gerar sinergia entre setores, integração dos colaboradores que devem conhecer produtos e serviços da sua empresa. As sugestões apontadas pelos alunos são variáveis deficitárias que se busca superar de uma forma suas melhorias. Representam a verdadeira participação do acadêmico no processo, pois as sugestões foram utilizadas como alicerce para a elaboração dos planos de ação comentados anteriormente. GRÁFICO 2 – Sugestão de Melhoria do Atendimento Na concepção dos alunos, como se vê no Gráfico 3, quando se questionou sobre a implantação do Sistema de Avaliação de Atendimento, 87% dos pesquisados responderam que sim, contribuiria para a melhoria do atendimento, 13% respondeu que não contribuiria. 288 Destaca Kotler (1996) que as empresas realizam constantes auditorias, tanto de seus serviços quanto os de seus concorrentes, para isso utilizam ferramentas de pesquisas junto aos consumidores que buscam mensurar o grau de satisfação de seus serviços. Conforme Freitas et al (1997) sistema de informação gerencial visa a otimizar resultados através das pessoas envolvidas, informações, documentos, e controle do planejamento. O objetivo de propor o sistema de avaliação do atendimento é que permite ao cliente, no final do atendimento, dar a nota um a cinco, que gera relatórios bem estruturados, com nome do cliente, e-mail, telefone, solicitação e qual foi a forma de atendimento, presencial, chat ou telefone, utiliza-se como controle de números de atendimentos diários, tempo de atendimento, controle das demandas diárias. O sistema é online, está em fase teste e que agrega informações para CR, sendo que o sistema de informação em marketing (SIM) — “consiste de pessoas, equipamentos e procedimentos para reunir, classificar, analisar, avaliar e distribuir as informações necessárias, oportunas e precisas para os tomadores de decisões de marketing” (KOTLER, 1996, p. 122). Através do sistema de informação mercadológico, pode-se solucionar problemas e sugerir melhorias a partir das informações originadas do sistema que serve como apoio ao marketing e colabora para tomada de decisão, também visto pela empresa como uma auditoria do marketing de relacionamento e um controle preciso das metas desempenhas pelas colaboradoras diariamente. GRÁFICO 3 - Implantação de Sistema de Avaliação de Atendimento Sugere Reichheld (2001) que a satisfação deve ser mensurada com uma só pergunta “O senhor recomendaria nossa empresa a um amigo?” no final da pesquisa, conforme pode ser visualizado no Gráfico 4, quando questionados se os alunos recomendariam a Faculdade Beta a um amigo, 95,6% recomendaria sim e 4,4% não recomendaria. Segundo Godri (1994, p. 17) “propaganda é apenas 1% do processo de Marketing, o contato do dia-a-dia é o que realmente importa”, mas com o percentual apresentado na pesquisa, indica que os clientes estão satisfeitos e que fazem o marketing boca-a-boca, indicando a Faculdade para outros futuros alunos. A Faculdade também tem um programa chamado aluno traz aluno, 289 que possibilita que os discentes indiquem outros alunos novos, e o valor da matrícula é revertido em desconto na mensalidade. Esse programa serve como recompensa e marketing para a instituição. GRÁFICO 4 - Recomendaria a Faculdade Beta a um amigo Diante dos dados apresentados, identifica-se que a CR da Faculdade Beta deve melhorar alguns itens relacionados ao atendimento para fortalecer ainda mais o relacionamento com os acadêmicos. Depois de analisados os dados, as estratégias devem ser sugeridas e dentro do possível analisadas e colocadas em prática para que a pesquisa realmente seja proveitosa para a empresa. Segundo Gonçalves, Jamil e Tavares (2002) através de planos estratégicos, operacionais e táticos a estratégia deve ser elaborada, reforçando que a integração entre setores é fundamental para obter resultado. Por isso todos da instituição devem estar comprometidos em prol de uma meta identificada e proposta pela instituição para que o resultado seja excelente. 5 Considerações Finais Através desse estudo inédito na empresa, pode-se identificar pontos fortes e pontos fracos, elaborar e sugerir planos de ação para que haja uma melhoria no atendimento e eleve o nível de satisfação. Os pontos fracos são obstáculos que devem ser superados e transformados em oportunidades de adquirir experiência em prol do sucesso e melhoria da empresa, sendo que o marketing de relacionamento é indispensável, porque visa a integração dos alunos com instituição. Conclui-se que a aplicação do questionário possibilitou a elaboração de planos de ação para melhoria dos serviços e que o sistema de avaliação de atendimento proposto na pesquisa, obteve uma satisfatória aceitação, dessa forma atendendo aos objetivos específicos propostos no estudo. Verificou-se que as variáveis deficitárias e positivas no vínculo acadêmico e Central de Relacionamento foram identificadas, respondendo o problema de pesquisa. O objetivo geral, de gerar um diagnóstico por meio da pesquisa, foi atingido com sucesso. Como variável positiva, a localização e o horário de atendimento obtiveram índice muito bons, enquanto que o domínio da informação, a clareza, a cortesia, o tempo de atendimento, a agilidade de atendimento, o 290 cumprimento dos prazos e nota são considerados bons. Outro dado é que os acadêmicos acenam positivamente a recomendação da Faculdade Beta para um amigo, aludindo que acreditam na instituição. No entanto notam-se variáveis deficitárias, em muitas o nível é bom, e, já que a empresa busca sempre a excelência do atendimento, deve-se elevar esse nível. Para as deficitárias foram elaborados planos de ação estratégicos, que foram comentados na análise dos dados, indicando alternativas de melhorar os resultados da Central e instituição. Para a empresa, através desse estudo, pode-se realmente verificar a realidade do atendimento. Grafa-se com esse estudo que a pesquisa de satisfação é primordial para a instituição manter-se competitiva, o que contribuiu para o conhecimento e atualização dos processos de atendimento da organização, bem como melhorar a disseminação de informações para possibilitar que a comunicação interna e externa não seja falha, inovando ferramentas e processos continuamente. As exigências dos alunos são imensas, mas como pode-se observar no Gráfico 2, no momento que poderiam sugerir melhorias 80,8% não se manifestou. A Central de Relacionamento, por fazer o primeiro contato com o cliente deve utilizar o marketing para ser pró-ativa e rápida no desenvolvimento de melhorias que, bem planejadas, estruturadas, executadas e controladas, poderão realmente ser válidas e proveitosas para a empresa, visando a garantir maior conquista, manutenção e fidelização dos alunos. Isso contribui para o sucesso profissional de quem está envolvido na Central e garante para a organização competitividade, lucratividade, rentabilidade e fortalecimento do relacionamento. Recomenda-se para trabalhos futuros aprofundar algum dos itens citados, reaplicar a pesquisa com os discentes novos ou com os de outras modalidade de ensino como pós-graduação, EAD, Técnico de Enfermagem. Também se pode fazer um comparativo do antes e depois da aplicação de melhorias, avaliando a eficiência de tais planos, outra opção de estudo seria aprofundar o conteúdo abordado na pós-graduação. 6 Referências COBRA, M. 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No corpo do e-mail, o autor deve informar seu endereço completo, telefone (fax), filiação institucional e endereço eletrônico. 4. Os artigos deverão ser apresentados em português, deverão ter, no mínimo, dez páginas e, no máximo, 15, incluídos os elementos não-textuais (tabelas, figuras e gráficos). Devem ser formatados segundo as normas da revista. Textos que não obedecerem às normas não serão aceitos. 5. Os textos devem ser digitados em Word, fonte Arial 12, com alinhamento justificado, com entrada de parágrafo de 1,25cm, espaçamento entre linhas 1,5 cm. Nas citações diretas longas (mais de três linhas), no resumo e nas Referências, o espaço entrelinhas deve ser simples. As medidas para as margens de uma folha A4 são: esquerda e superior de 3cm; direita e inferior de 2cm. 6. O título do artigo deve ser centralizado, em caixa alta, fonte 12 e em negrito. Duas linhas abaixo do título, à direita, deve(m) constar o(s) nome(s) do(s) autor(es), com letras maiúsculas somente para as iniciais. Para cada nome de autor deve ser inserida uma nota de rodapé com numeração em arábico, apresentando a formação e a instituição onde atua. 295 7. Duas linhas abaixo do(s) nome(s) do(s) auto(res), deve aparecer a palavra resumo, alinhada à esquerda, em caixa alta e em negrito. Duas linhas abaixo, deve-se apresentar um resumo, de até dez linhas, em espaço simples, o qual deve destacar o tema do estudo, os objetivos, a metodologia e os resultados da pesquisa. 8. Duas linhas abaixo do resumo, deve aparecer a expressão Palavras-chave, seguida de dois-pontos, em negrito e alinhada à esquerda. Devem ser destacadas três palavras-chave. 9. Duas linhas abaixo das palavras-chave, deve ser apresentada a palavra abstract, alinhada à esquerda, em caixa alta e em negrito. Duas abaixo, deve apresentar um resumo em língua inglesa, de até dez linhas, em espaço simples, o qual deve destacar os o tema, os objetivos, a metodologia e os resultados da pesquisa. 10. Duas linhas abaixo do abstract, deve aparecer a expressão Key-words, seguida de dois-pontos, em negrito e alinhada à esquerda. Devem ser destacadas três key-words. 11. Os subtítulos do artigo devem ser em negrito e alinhados à esquerda. 12. Citações de até três linhas devem estar no corpo do texto, entre aspas. Caso as citações ultrapassem três linhas, deverão ser formatadas sem aspas, em fonte Arial, corpo 10, espaço simples e em bloco com recuo de 4cm. 13. Após cada citação, deverá vir a sua referência bibliográfica, no formato: (SOBRENOME DO AUTOR, data de publicação, número das páginas). Por exemplo: (CANDIDO, 1995, p. 114). Ao final do texto, todas fontes citadas deverão ser apresentadas nas referências. 14. Nas Referências, deve-se seguir as normas da ABNT (NBR-6023). Exemplos: a) Para livros SCHÜTZ, Edgar. Reengenharia mental: reeducação de hábitos e programação de metas. Florianópolis: Insular, 1997. 296 b) Para organizadores BOSI, Alfredo (Org.). O conto brasileiro contemporâneo. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1978. c) Dissertações e teses LOPES, Heitor Silveira. Analogia e aprendizado evolucionário: aplicação em diagnóstico clínico. 1996. 179 f. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica) - Curso de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996. d) Artigo de revista ESPOSITO, Italo et al. Repercussões da fadiga psíquica no trabalho e na empresa. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 8, n. 32, p. 37-45, out./dez. 1979. e) Artigo de jornal OLIVEIRA, Walter. de. Judô: Educação física e moral. O Estado de Minas, Belo Horizonte, 17 mar. 1981. Caderno de esporte, p. 7. f) Artigos de periódicos on-line MALOFF, Joel. A internet e o valor da “internetização”. Ciência da Informação, Brasília, v. 26, n. 3, 1997. Disponível em: <http://www.ibict.br/cionline/>. Acesso em: 18 mar. 1998. 15. Notas explicativas ou de rodapé deverão ser evitadas. 16. As idéias contidas nos trabalhos são de inteira responsabilidade dos autores. 17. O envio de artigo significa que o seu autor estará cedendo gratuitamente seus direitos autorais à revista Novos Horizontes para publicação. 297