A TEOLOGIA DO DISCÍPULO DA CRUZ
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A TEOLOGIA DO DISCÍPULO DA CRUZ
ESTUDO 28 A TEOLOGIA DO DISCÍPULO DA CRUZ Lucas 23.33-43 INTRODUÇÃO Jesus disse que Deus ocultou conhecimentos aos sábios e entendidos e os revelou aos pequeninos (Mt 11.25). Jesus foi crucificado entre dois ladrões e um deles se tornou seu último seguidor, discípulo que Jesus fez antes de sua morte. Quem eram esses ladrões? A tradição os denomina de Gestas e Dimas.4 Em Dimas vemos profunda demonstração de arrependimento e conhecimento teológico nunca esperados de um ladrão prestes a morrer. Vamos chamá-lo neste estudo de “O Discípulo da Cruz”. Esse conhecimento e sua atitude naqueles últimos momentos abriram-lhe a porta do paraíso. Ele revelou o verdadeiro coração de um discípulo de Jesus. Sua coragem, confissão e transformação podem ser identificadas como “A Teologia do Discípulo da Cruz”. TEMOR A DEUS (Lc 23.39-40; Pv 14.27) O temor a Deus é uma das chaves para a vida eterna (Sl 111.10). Muitos 96 || RR EF EF LL EXÕ EXÕ EE SS BB ÍB ÍB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 23.33-43 Sl 111.10 Lc 19.40 Lc 23.40 2Co 5.19 Rm 10.9-10 1Co 2.9-13 hoje, entretanto, vivem insolentemente, blasfemam de Deus (Lc 23.39), brincam ou escarnecem dele. O resultado é a colheita do que se planta (Gl 6.7). Apesar de sua vida de crimes, nos últimos momentos de sua vida Dimas caiu em si, como o fez o “filho pródigo” (Lc 15.17). Dimas viu que chegara o momento de temer a Deus e se tornou “O Discípulo da Cruz”. Suas primeiras palavras a Gestas, o outro ladrão crucificado, foi: “tu ainda não temes a Deus (v. 40)? ”. Apesar de crucificado, Dimas não se calou, pelo contrário, ante a insolência de Gestas, ele tomou a posição de confrontá-lo e confessar seu temor a Deus. Aplicação a sua vida: Nos dias de hoje, temos enfrentado situações parecidas com a de Dimas e Gestas, momentos quando temos de crucificar sonhos e desejos. Como temos respondido a Deus diante dos sacrifícios? A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z | CONFRONTO AO ERRO (Lc 23.40) O discípulo de Jesus não pode ser conivente com o erro, com o pecado. Paulo recomenda a Timóteo a não ser participante dos pecados alheios (1Tm 5.22). Há uma hora em que a pessoa errada precisa ser confrontada. O discípulo de Jesus contesta o conselho dos ímpios (Sl 1.1). Se nos calarmos, até as pedras clamarão (Lc 19.40). Dimas, o Discípulo da Cruz, poderia racionalizar, dizendo: “Não tenho nada a ver com isto; estou morrendo e ninguém me ajuda... e, talvez Gestas tenha razão... por que Jesus não salva a si mesmo e a nós também? ”. A teologia do Discípulo da Cruz nos ensina que não precisamos permanecer no erro; que todos têm oportunidade de arrependimento e conversão. Aquela era sua última oportunidade e ele não a desperdiçou. Além de confrontar o seu companheiro de infortúnio, Dimas fez a seguinte confissão: CONFISSÃO DE QUE JESUS É DEUS (Lc 23.40) Repreendendo Gestas, Dimas perguntou: “Tu não temes a Deus?”. Quem lhe ensinou que Jesus era Deus? Ele disse que a vida eterna é conhecer a Deus e ao próprio Jesus (Jo 17.3). Comparar com Jo 10.30; 14.8-9. Durante o período da crucificação, Dimas ouvira diversos títulos de Jesus, dentre eles, “o Cristo” (isto é, o Messias); “o rei dos judeus”, mas houve um que era a maior revelação da pessoa de Jesus: Ele era “o Filho de Deus” (Lc 22.70). Dimas era criminoso, estava condenado, mas seu coração se abriu para conhecer a Jesus como o Filho de Deus. Para ele, Gestas foi insolente para com Deus. É interessante que Dimas reconheceu que Jesus é “o Deus condenado”. Ele perguntou a Gestas: “Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?”. Isto nos reporta a Paulo, ao afirmar que Jesus se tornou maldito em nosso lugar, e que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (Gl 3.13; 2 Co 5.19). Moltmann1 diz que Jesus é “O Deus Crucificado”. Dimas teve pouco tempo com Jesus, mas percebeu sua divindade e demonstrou profundo reconhecimento dos próprios pecados, bem como das consequências dos mesmos. Aplicação a sua vida: De qual modo podemos confessar a Cristo diante do mundo hoje? Compartilhe quais são suas maiores dificuldades, ou como tem feito. O PECADOR E SUA CONDENAÇÃO (Lc 23.40-41) O discípulo de Jesus não justifica os seus pecados; não transfere responsabilidade para os outros. Não condena o sistema político ou a sociedade pelos seus erros. Dimas confessou que sua condenação era justa, porque a merecia. Quando uma pessoa confessa o seu pecado e apela para a misericórdia divina, essa pessoa é atendida. A Bíblia diz que Deus não rejeita o coração quebrantado e contrito (Sl 51.17). O coração do verdadeiro discípulo de Cristo é reconhecedor de que é salvo pela graça, por meio da fé (Ef 2.8). Uma das funções do Espírito é, justamente, convencer o ser humano do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Dimas se tornou o Discípulo da Cruz, exatamente por ter sido conduzido a Cristo pelo Espírito Santo, daí ter experimentado tão profunda transformação. Deus não espera que justifiquemos os nossos pecados, mas se os confessarmos, Ele nos purifica de todo pecado e nos justifica pela fé em Jesus (1 Jo 1.9 e Rm 5.1). Faça como “o Discípulo da Cruz”. Abra o seu coração, confesse seus pecados e desfrute de perdão e justificação do Senhor. RE F LE XÕE S B ÍB LIC AS II | 97 | A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z Prosseguindo em sua confissão de fé, Dimas fez mais uma declaração surpreendente a respeito de Jesus. Dimas, além de confessar que era pecador, teve a coragem de afirmar que Jesus era imputável de erro. Aplicação a sua vida: Temos a certeza que, diferentemente de Jesus, somos pecadores. Como você tem trabalhado com essa realidade? JESUS NÃO PECOU (Lc 23.41) Como ele podia ter certeza de que Jesus não praticou qualquer coisa errada? Os judeus o acusaram de variadas transgressões: Quebrar o sábado, dizerse Filho de Deus, ser pecador, enganar o povo, e ser um falso Messias (Jo 5.18; 9.24; 7.12 e 27). Jesus foi rejeitado pelos seus (o povo, a nação), pelos sacerdotes (a religião oficial), e pelos governantes (o poder político), foi traído por Judas e negado por Pedro. O último de seus discípulos, aquele “gerado” na cruz, é quem o inocenta. E aquele era de fato um momento propício, porque acontecia a execução de condenados. Na teologia do “Discípulo da Cruz”, ele e Gestas eram culpados, e Jesus inocente. Naquela execução, o justo levava a culpa que devia ser dos pecadores. Jesus não pecou, mas conhece todas as tentações pelas quais passamos e pode nos socorrer em nossas tentações (Hb 2.18; 7.25; 4.15-16). A inocência de Jesus foi declarada por um pecador condenado. Isto é extraordinário! Porém, “o Discípulo da Cruz” surpreendeu mais uma vez, pois, até este momento, seu discurso fez parte da reprimenda a 98 | R EF L EXÕ E S B ÍB L I C A S II Gestas. Entretanto, ao dirigir-se a Jesus, ele fez mais uma declaração teológica. Aplicação a sua vida: Diante do fato de que Jesus não pecou, mas foi tentado em todas as áreas nas quais também somos tentados, qual é a sua sugestão para, como discípulo d’Ele, buscar esse ideal de vida? JESUS É O REI ETERNO (Lc 23.42) Quem ensinou para aquele homem moribundo que Jesus tinha um reino? Com estas palavras, “o Discípulo da Cruz” demonstrou crer na imortalidade da alma e na vida eterna. Ora, se ele estava morrendo, como poderia esperar ou crer num “reino”? Ele superou a teologia dos saduceus, que não criam na ressurreição (Mc 12.18). Quando nos tornamos discípulos de Jesus, o Espírito Santo nos conduz “a toda a verdade” (Jo 16.13). Para Dimas, não somente havia vida após a morte, como Jesus entraria no seu reino. Note que o reino era de Jesus. “O Discípulo da Cruz” não tinha mais dúvida de que estava ao lado do Rei Eterno. Esta é a visão que todos precisamos ter de Jesus: Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos Senhores (1 Tm 6.15; Ap 17.14). Ele está no comando. Se morrermos com Ele, haveremos de ressuscitar com Ele (2 Tm 2.11-12). É importante lembrar que é a fé na morte e ressurreição de Jesus que nos assegura a salvação (Rm 10.9-10). Jesus não respondeu a Gestas, mas atendeu a Dimas. O Senhor se manteve em silêncio enquanto era tripudiado por Gestas, mas falou quando “o Discípulo da Cruz” lhe dirigiu uma oração. A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z | A resposta de Jesus: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”, nos assegura que o Paraíso perdido por Adão e Eva é restituído na cruz. A morte, que triunfou no Éden, é vencida no Calvário. É através de Cristo que todo pecador arrependido tem sua condenação eterna anulada (Rm 8.1). Observe que o Paraíso era para “hoje” (Lc 23.43). Neste caso, a oportunidade para a salvação de cada um de nós é também para “hoje” (2 Co 6.2). Paulo diz que Deus releva os tempos da ignorância e convida todos ao arrependimento (At 17.30). Adúlteros, ladrões ricos e pobres, não importa a condição, todos podem ser perdoados, crescer na graça e no conhecimento de Jesus, e penetrar nas mais profundas verdades espirituais reservadas aos discípulos de Cristo (2 Pe 3.18 e 1 Co 2.9-13). Seja você também a pessoa que, pela fé, entrará hoje no paraíso. E então, que discípulo é você? Jesus disse que qualquer pessoa que desejar ser seu discípulo, precisa tomar sua cruz e segui-lo. Não foi a cruz que salvou Dimas, mas sim o Messias crucificado que ele confessou ser Justo, ser o Rei que podia lembrar-se dele. Enfim, foi o arrependimento dos pecados e a fé na pessoa de Jesus que o fez um discípulo, um seguidor, não somente naquele momento de crucificação, mas acompanhou Jesus ao Paraíso. Aplicação a sua vida: Que você também confesse a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida, independente das circunstâncias. Faça isto e Jesus o confessará diante do Pai que está no céu (Mt 10.32-33). ___________ 4 http://www.escribacafe.com/dimas-e-gestas-ladroes-crucificados. Acesso em 19/06/2015. 5 MOLTMANN, Jürgen – O Deus crucificado. Santo André, SP. Academia Cristã. 2011. RE F LE XÕE S B ÍB LIC AS II | 99