PDF - Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil
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SUMÁRIO página página partidos políticos nos estados unidos JOHN F. BIBBY indicações de candidatos à presidência e democracia americana STEPHEN J. WAYNE página procedimentos das eleições nos EUA MICHAEL W. TRAUGOTT página cronograma das eleições 2004 página entrevista: a campanha de 2004, com Thomas Mann Capa: Por mais de cem anos nas PAUL MALAMUD lapelas dos eleitores americanos, os bottons de campanha provam página JOHN H. ALDRICH não só a vitalidade mas a absoluta emoção do espetáculo das eleições eleições para o congresso página as pesquisas, os analistas e as eleições de 2004 JOHN ZOGBY presidenciais. Página Oposta: A Casa Branca, Washington, D.C. página A SITUAÇÃO DO FINANCIAMENTO DE CAMPANHA JOSEPH E. CANTOR página GLOSSÁRIO página BibliograFIA E sites Editor EXECUTIVO: versão em português GEORGE CLACK EDITOR: PAUL MALAMUD DIRETOR de arte/ DESIGNER: THADDEUS A. MIKSINSKI, JR. EDITOR de fotografia: JOANN STERN especialistas em referência: tradução: UNITRAD revisão: MARÍLIA ARAÚJO produção gráfica: ELIZABETH T. L. DE SOUZA LORNA DODT ANITA GREEN CRÉDITOS DA ILUSTRAÇÕES: CRÉDITOS DA ESQUERDA PARA A DIREITA SÃO SEPARADOS POR PONTO E VÍRGULA; DE CIMA PARA BAIXO, POR HÍFENS. TODAS AS GRAVURAS CORTESIA BUREAU OF PRINTING AND ENGRAVING. CAPA E SEGUNDA-CAPA: CORTESIA NEW YORK HISTORICAL SOCIETY. 2: C HULTONARCHIVE POR GETTY IMAGES. 3: C HULTONARCHIVE POR GETTY IMAGES. 4: C HULTONARCHIVE POR GETTY IMAGES (4). 5: C HULTONARCHIVE POR GETTY IMAGES (3). 7: C GETTY IMAGES. 8: KRAUSE PUBLICATIONS (2); C BETTMANN/CORBIS. 9: C REUTERS. 10: (GEORGE BUSH): C STEPHEN CROWLEY/THE NEW YORK TIMES. 11: C CORBIS; KRAUSE PUBLICATIONS (2). 12: REPRODUZIDO COM PERMISSÃO DE THE GLOBE NEWSPAPER COMPANY, INC. – C VINCENT LAFORET/THE NEW YORK TIMES. 13: C REUTERS; C SHANE YOUNG/THE NEW YORK TIMES -- C SUZANNE DECHILLO/THE NEW YORK TIMES -- C ANDREW ITKOFF/THE NEW YORK TIMES -- C ROB CRANDALL/THE IMAGE WORKS. 14: C JENNI GIRTMAN/ATLANTA JOURNAL CONSTITUTION -- C JIM WEST/THE IMAGE WORKS. 15: C AFP/CORBIS. 16-17: RICHARD ANDERSON. 23: AP/WIDE WORLD PHOTOS -- C DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES. 25: C DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES; AP/WIDE WORLD PHOTOS (3). 26: AP/WIDE WORLD PHOTOS -- C AFP/CORBIS. 27: C CORBIS -- C BETTMANN/CORBIS -- C PHILIP JONES GRIFFITHS/MAGNUM PHOTOS. 28 C GETTY IMAGES. 29: C BOB DAEMMRICH/THE IMAGE WORKS (2) 30: C BROOKS KRAFT/CORBIS -- CORTESIA MEET THE PRESS (2). 31: C PAUL HOSEFROS/THE NEW YORK TIMES -- C REUTERS. 33: AP/WIDE WORLD PHOTOS -- C REUTERS -- C MARK PETERSON/CORBIS SABA. 34: AP/WIDE WORLD PHOTOS. 37: (GEORGE BUSH PORTRAIT): C NAJLAH FEANNY/CORBIS SABA. QUARTA-CAPA: CORTESIA NEW YORK HISTORICAL SOCIETY. Estados Unidos Este trabalho oferece uma visão geral introdutória do processo eleitoral dos Estados Unidos às pessoas não familiarizadas com as práticas e tradições eleitorais do país. Para organizar a publicação “Eleições Americanas de 2004”, pedimos que sete especialistas – em sua maioria, cientistas políticos – explicassem ao público internacional, que provavelmente elege seus governantes de outras formas, importantes aspectos das próximas eleições. John F. Bibby inicia a discussão com uma análise do papel dos partidos políticos no sistema americano. Os partidos não constam da Constituição dos EUA (1789), mas evoluíram desde suas origens, no início da primeira década de 1800, transformando-se em elementos fundamentais da democracia do país. Na opinião de alguns, boa parte da estabilidade do governo americano resulta da predominância de dois partidos há mais de um século. Em seguida, Stephen J. Wayne explica a longa campanha presidencial, especialmente o processo de indicação de candidato à Presidência. Várias características vitais do sistema americano – convenções partidárias para indicação de candidato e eleições primárias – também não são previstas na Constituição. Resultaram de uma evolução histórica calcada nos primeiros anos da república norte-americana. E Michael W. Traugott descreve detalhadamente o modo como as instituições eleitorais garantem a imparcialidade, discutindo os procedimentos para registro de eleitores, contagem de votos e elaboração de cédulas. Nossa entrevista com o eminente analista político Thomas Mann, do Instituto Brookings, trata mais explicitamente da próxima eleição. Nessa conversa ocorrida vários meses antes da primeira prévia (caucus) para a indicação do candidato à Presidência (em janeiro de 2004), Mann enfoca o que se pode esperar do cenário político até a próxima eleição. John H. Aldrich nos lembra de que em 2004 não haverá apenas a eleição presiden- cial. Também serão disputadas todas as 435 cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço das 100 cadeiras do Senado. E haverá eleições para governadores, prefeitos e membros dos legislativos estaduais em todo o país. O fato de o sistema americano permitir que um partido chegue à Casa Branca e outro obtenha o controle de uma ou ambas as casas do Congresso desperta mais interesse nas eleições. Diferentemente dos sistemas parlamentaristas, a escolha do Executivo e do Legislativo ocorre de forma independente nos Estados Unidos. Por fim, analisamos dois aspectos do processo que se tornaram importantíssimos nas eleições modernas: a pesquisa de opinião pública e as leis de financiamento de campanhas. O pesquisador de opinião John Zogby argumenta que tais pesquisas podem ser úteis aos candidatos na definição das questões importantes para os eleitores, mas podem ser mal utilizadas ou interpretadas erroneamente na tentativa de se preverem resultados. Joseph E. Cantor dá uma explicação concisa sobre as leis complexas que regulamentam as contribuições e as despesas das eleições nos EUA – foram gastos US$ 607 milhões somente na eleição presidencial de 2002. A regulamentação das campanhas políticas envolve conflito entre dois valores básicos para os americanos: liberdade de expressão, nos termos previstos na Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, e garantia de ambiente de disputa justo e aberto para todos os candidatos. Conforme sugerido por vários de nossos autores, a marca do sistema eleitoral americano ao longo de vários séculos tem sido sua estabilidade fundamental – estabilidade que também contribui para a necessidade de modernização e mudança. Esperamos que, à medida que o processo eleitoral de 2004 for ocorrendo nos próximos meses, os leitores de todo o mundo comprovem a utilidade deste livreto como guia para a compreensão do contexto histórico e das características exclusivas da campanha atual. ] 1 partidos políticos nos estados unidos JOHN F . BIBBY George Washington, federalista (presidente, 1789-1797) Abaixo: Emblema do Grand National Republican, 1880, com os retratos do (bem-sucedido) candidato à Presidência, General James A. Garfield, e seu proposto vice-presidente, Chester A. Arthur. 2 q uando os fundadores da república americana redigiram a Constituição dos Estados Unidos, em 1787, não previram um papel para partidos políticos no governo. De fato, propuseram diversos arranjos constitucionais, como a separação de poderes, o equilíbrio de poderes, o federalismo e a eleição indireta do presidente por um colégio eleitoral, justamente para preservar a nova república dos partidos e das facções políticas. Apesar dessas intenções dos fundadores, os Estados Unidos foram a primeira nação a organizar partidos em escala nacional e transferir, a partir de 1800, o poder executivo de uma facção para outra em eleições. O SURGIMENTO E A PENETRAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS O desenvolvimento dos partidos políticos seguiu de perto a extensão do sufrágio, pois, no início do século 19, foi retirada a exigência de que o eleitor fosse proprietário de terras. Com uma base eleitoral muito ampliada, era preciso encontrar uma forma de mobilizar a massa de eleitores. Os partidos políticos foram institucionalizados de modo a poder desempenhar essa tarefa essencial. Nos EUA, portanto, [ os partidos políticos surgiram como parte desta revolução democrática e, na década de 1830, já estavam firmemente enraizados no cenário político. Hoje, os partidos Republicano e Democrata permeiam todo o processo político. Aproximadamente 60% dos americanos consideram-se democratas ou republicanos, e mesmo aqueles que se dizem independentes costumam apresentar preferência partidária e alto grau de lealdade a um dos dois partidos. Por exemplo, nas cinco eleições presidenciais disputadas entre 1980 e 1996, uma média de 75% dos independentes com “inclinação” pelos republicanos ou democratas votaram a favor do candidato presidencial de seu partido preferido. Em 2000, 79% dos independentes com “inclinação” republicana votaram no republicano George W. Bush enquanto 72% dos independentes com “inclinação” democrata votaram no candidato democrata Al Gore. A influência do sentimento partidário também é forte dentro do próprio partido que está no governo. Os dois principais partidos dominam a Presidência, o Congresso e os governos e legislativos estaduais. De 1852 até hoje, todo presidente empossado tem sido republicano ou democrata e, no período pós-Segunda Guerra Mundial, a participação dos principais partidos no voto popular, na disputa presidencial, atingiu em média 95%. Após as eleições parlamentares e locais de 2002, um único representante independente foi escolhido entre os 100 membros do Senado dos EUA e apenas 2 dentre os 435 deputados da Câmara eram independentes. Nos Estados, todos os 50 governadores eram democratas ou republicanos e somente 21 dentre os 7.300 (0,003 %) legisladores estaduais eleitos eram independentes. Os dois principais partidos são responsáveis pela organização do governo tanto em nível federal quanto estadual. Embora tenham a tendência de ser menos coesos ideologicamente e também menos programáticos que os partidos em muitas outras democracias, os partidos americanos desempenham papel importantíssimo na formulação das políticas públicas. Na verdade, a partir das eleições de 1994, pode-se observar uma forte divergência de posicionamento entre republicanos e democratas no Congresso e um grau especialmente alto de unidade intrapartidária em comparação com a norma histórica. Existem divergências políticas entre os dois partidos em um contexto de eleições parlamentares e para o Senado a cada dois anos com potencial real de resultar em mudança do controle partidário da Câmara dos Deputados e do Senado. A combinação de divisão política e intensa competição pelo controle da Câmara nos últimos anos criou uma atmosfera aquecida de conflito partidário tanto no Senado quanto na Câmara. E, na largada das eleições de 2004, os líderes parlamentares dos dois partidos e os candidatos à indicação de concorrente à Presidência pelo Partido Democrata, bem como o governo Bush, se engajaram em uma série de manobras para obter vantagens eleitorais. por que um sistema bipartidário? A disputa eleitoral entre dois partidos constitui uma das características mais conhecidas e duradouras do sistema político americano. Republicanos e democratas têm dominado a política eleitoral desde a década de 1860. O fato de esses dois partidos monopolizarem até hoje a política eleitoral da nação, um recorde sem igual em todo o mundo, reflete alguns aspectos estruturais do sistema político, assim como algumas características especiais dos partidos americanos. As eleições para o legislativo nacional e estadual nos Estados Unidos baseiam-se no sistema distrital de “representante único”. Ou seja, vence aquele que receber a “pluralidade” dos votos (o maior número de votos em qualquer distrito eleitoral). Diferentemente do que ocorre no sistema proporcional, no sistema distrital de representante único apenas um partido pode vencer num dado distrito, o que favorece a formação de dois partidos com ampla base de sustentação, capazes de ganhar “pluralidades” nos distritos. Terceiros partidos e outras agremiações menores são condenados a derrotas quase perpétuas e terão poucas chances de longevidade, a menos que consigam unir forças com um dos partidos dominantes. Porém, unir forças com outros partidos não é uma opção para a maioria dos partidos “nanicos” porque todos, com exceção de alguns Estados, barram essas uniões nas quais um candidato concorre como o indicado de mais de um partido. Outro estímulo institucional ao bipartidarismo provém do colégio eleitoral para a escolha do presidente. No sistema de colégio eleitoral, os americanos em tese não votam diretamente em uma chapa de candidatos à Presidência. Em vez disso, em cada Estado, vota-se em uma chapa de “eleitores” que estão comprometidos com um ou outro candidato e que integrarão o colégio eleitoral. Para vencer, o candidato precisa obter a maioria absoluta dos 538 votos eleitorais que representam os 50 Estados. Essa exigência praticamente inviabiliza a conquista da Presidência por um terceiro partido porque os votos eleitorais de cada Estado são repassados ao candidato mais votado num esquema em que o “vencedor leva tudo”. Isto é, para ganhar os votos eleitorais de um Estado, basta conseguir a pluralidade do voto popular naquele Estado, mesmo que seja por margem apertada. O colégio eleitoral vem reforçar a desvantagem que o sistema distrital de representante único já impõe a um terceiro partido. Um partido menor tem poucas chances de ganhar os votos eleitorais de um Estado, quanto mais de um número suficiente de Estados para conquistar a Presidência. Com republicanos e democratas controlando toda a máquina do gover- no, não é de se estranhar que tenham criado outras regras eleitorais que também favorecem os partidos maiores. A simples inclusão do nome de um novo partido na cédula de votação nos Estados por si só pode ser uma tarefa bastante árdua e dispendiosa. Na Carolina do Norte, por exemplo, a legislação que define a inclusão de nomes na cédula determina que um novo partido precisa apresentar um requerimento com assinaturas de 58.842 eleitores para conseguir que o nome do candidato conste da cédula para a eleição de 2004. Além disso, a Lei sobre Campanhas Eleitorais Federais confere benefícios especiais aos partidos maiores, como custeio público de campanhas presidenciais em um nível substancialmente mais alto do que os disponíveis aos partidos menores, mesmo para aqueles que alcançaram 5% do voto popular nas últimas eleições. O processo americano de indicação de candidato constitui ainda outra barreira estrutural a ser vencida por um terceiro partido. Dentre as democracias do mundo, os Estados Unidos são os únicos a recorrer a eleições primárias para a indicação de candidatos ao legislativo nacional e estadual e às primárias presidenciais, realizadas nos Estados, para a escolha de candidatos à Presidência. Nesse tipo de sistema de indicação, os eleitores comuns votam na eleição primária para escolher o indicado de seu partido para a eleição geral. Na maior parte dos países, os candidatos dos partidos são escolhidos pela máquina do partido. Nos Estados Unidos, contudo, cabe ao eleitor determinar quem serão os indicados dos partidos Democrata e Republicano.Apesar de esse sistema ajudar a criar organizações partidárias internas mais fracas do que na maioria das democracias, esse processo participatório de indicação de candidatos também vem contribuindo para o domínio que democratas e republicanos exercem na política eleitoral há mais de 150 anos. Eventuais insurgentes podem escolher o caminho das eleições primárias e assim conquistar a indicação de um grande partido e o acesso às eleições gerais. Com isso, melhoram suas chances de vitória na eleição e não precisam organizar um terceiro partido. O processo de indicação via primárias tende a canalizar a dissidência para um dos dois grandes partidos, tornando desnecessária a difícil tarefa de organização de um terceiro partido. Naturalmente, esse sistema de eleições primárias torna os dois maiores partidos altamente permeáveis e sujeitos à penetração de vários movimentos sociais “marginais” e candidatos de fora do sistema. John Adams, federalista (1797-1801) Abaixo: Emblema do Grand National Democratic 1880, com retratos dos candidatos do partido à Presidência. base ampla de sustentação e posicionamentos de centro Os partidos americanos têm ampla base de sustentação eleitoral e contam com adeptos em todas as classes. Com exceção dos eleitores afro-americanos – cerca de 90% destes apoiaram o candidato democrata em 2000 – tanto os republicanos quanto os democratas recebem níveis significativos de apoio de praticamente todos os grupos socioeconômicos importantes da sociedade. Para exemplificar, embora os familiares de sindicalistas sejam normalmente considerados democratas, na maioria das eleições os republicanos podem esperar receber pelo menos um terço do voto sindicalista, e em 1984 esse percentual chegou a 46%. Em 2000, 37% desses votos foram para os repu- ] Thomas Jefferson, democrata-republicano (1801-1809) 3 De cima para baixo: Cartaz de apoio à candidatura do republicano John Fremont e seu companheiro de chapa William Drayton em 1856. Capa da partitura musical do hino republicano Two-Step (Dois Passos), composto em honra ao candidato à Presidência William McKinley. Pôster de campanha do Partido Republicano apresentando Ulysses S. Grant e seu colega de chapa, Schuyler Colfax, nas eleições de 1868. Pôster republicano para as eleições de 1860 exibindo Abraham Lincoln e seu colega de chapa, Hannibal Hamlin. blicanos. Da mesma forma, embora o apoio ao Partido Democrata costume diminuir com o aumento da renda, os candidatos presidenciais democratas podem receber forte apoio de eleitores da alta classe média. Em 2000, por exemplo, o candidato democrata Al Gore recebeu 43% dos votos dos eleitores cuja renda familiar anual era superior a US$ 100.000. Os partidos políticos nos Estados Unidos também apresentam níveis relativamente baixos de unidade interna; carecem de um apego mais forte a uma ideologia ou a um conjunto de metas políticas. Tradicionalmente, preocupam-se acima de tudo em vencer as eleições e controlar a contratação de pessoal para o governo. Tendo em vista a ampla base socioeconômica de apoio dos partidos e sua necessidade de atuar numa sociedade predominantemente de orientação centrista, os partidos americanos vêm adotando posicionamentos políticos que costumam ser de centro. Vêm demonstrando também alto grau de flexibilidade política. Tal enfoque não doutrinário tem permitido aos republicanos e democratas tolerar considerável diversidade entre seus partidários e absorver terceiros partidos e movimentos de protesto quando esses ocorrem. James Madison, democrata-republicano(18091817) 4 [ partidos descentralizados lar a seleção de indicados. Candidatos É difícil exagerar o grau de descentra- são estimulados a montar as próprias lização de poder nos partidos america- campanhas e construir a própria base nos. Em relação ao partido que está no de apoio: assim melhoram suas chanpoder, nem o presidente pode pressu- ces de ganhar as primárias e depois, a por que os congressistas de seu partido eleição geral. Mesmo a arrecadação de sempre o apoiarão em seus programas, fundos de campanha é sobretudo uma nem os líderes no Congresso podem responsabilidade pessoal do candidato contar com a votação fiel de sua ban- uma vez que as organizações partidácada. Em termos de organização dos rias sofrem fortes restrições no tocante partidos, os comitês republicano e de- às suas contribuições, principalmente mocrata de campanha para a Câmara e para campanhas eleitorais federais. o Senado (integrados por legisladores) atuam de forma autônoma em relação apreensões dos americanos em relação aos partidos aos comitês nacionais dos partidos − dirigidos por seus presidentes − os Apesar das evidências que comprovam Comitês Nacionais do Partido Demo- a força do sentimento partidário na crata e do Partido Republicano. Com política americana, existe, enraizada exceção de algumas imposições rela- na cultura civil, certa desconfiança tivas aos procedimentos para seleção em relação aos partidos. A adoção, no de delegados à convenção nacional, a início do século 20, da eleição primáorganização partidária nacional rara- ria direta como forma de escolher os mente interfere em assuntos da esfera candidatos para o Congresso e para os cargos estaduais e a proliferação mais estadual. Esse grau de fragmentação organi- recente de primárias presidenciais zacional decorre, em parte, do sistema – que se tornaram fator determinanconstitucional de separação de poderes te nas indicações para a Presidência – a divisão de poderes entre Executivo, – confirmam a existência desse sentiLegislativo e Judiciário, cada qual se- mento de desconfiança em relação aos lecionado por processos diferentes, partidos. Os americanos não se sentem possivelmente com períodos de man- à vontade com um sistema em que dato diferentes e independentes uns os líderes de partido exercem grande dos outros. Esse sistema de divisão poder sobre o governo. Pesquisas de governamental de poderes cria apenas incentivos limitados para unidade partidária entre os legisladores e o principal dirigente de seu partido. Isso se aplica tanto no caso dos membros do Congresso com relação ao presidente de seu partido quanto num relacionamento semelhante entre os legisladores estaduais e um governador. O princípio federalista, também consagrado pela Constituição, serve para descentralizar ainda mais o poder nos partidos. Cria milhares de distritos eleitorais separados – nos níveis federal, estadual e local – cada um com seu titular. Como já foi salientado anteriormente, o sistema de eleições primárias para indicação de candidatos também enfraquece a organização partidária, pois lhe nega a prerrogativa de contro- opinião pública revelam que grandes grupos do eleitorado acreditam que os partidos servem mais para confundir que esclarecer determinadas questões – e que seria melhor se não constasse da cédula eleitoral a filiação partidária do candidato. Os partidos americanos atuam num meio cultural que é geralmente inóspito; além disso, têm de enfrentar o desafio de ver um número cada vez maior de eleitores atribuir importância cada vez menor à identificação partidária. Um dos indicadores do declínio da lealdade partidária é a alta incidência da chamada “chapa dividida” – quando o eleitor escolhe candidatos de partidos diferentes numa mesma eleição. Assim, na eleição de 2000, 20% dos eleitores votaram a favor de candidatos de partidos diferentes nas disputas para a Câmara e a Presidência. O resultado foi que 40% dos distritos da Câmara que George W. Bush levou na eleição presidencial foram ganhos por candidatos democratas. Em decorrência dessa diminuição na influência dos partidos sobre as decisões dos eleitores, no dia da votação, e da tendência de muitos de “dividir a chapa”, a política americana mostra-se mais centrada em candidatos do que em partidos. Com isso, a divisão no controle do Executivo e do Legislativo está se tornando uma característica comum do governo nacional e também dos 50 Estados. De 1980 em diante, a Presidência e pelo menos uma das casas do Congresso só não estiveram sob controle de partidos diferentes durante quatro anos. E, após as eleições de 2002, 29 Estados (58 por cento) passaram a ter o controle do governo dividido entre os dois partidos. terceiros partidos e candidatos independentes Como indica o quadro na próxima página, terceiros partidos e candidatos independentes têm aparecido em cena de vez em quando. Freqüentemente levantam questões que preocupam a sociedade e que os grandes partidos estão deixando de tratar nos seus discursos políticos – e incluir na agenda do governo. Mas a maioria dos terceiros partidos tende a florescer por uma única eleição e depois desaparece ou é absorvida por um dos partidos principais. Desde 1850, apenas um partido novo, o Republicano, surgiu para alcançar o status de partido grande. Nesse caso, havia uma questão moral premente – a escravidão – que dividia a nação e servia de justificativa para o recrutamento de candidatos e a mobilização de eleitores. Embora o quadro não ofereça muita evidência a favor da viabilidade a longo prazo de terceiros partidos, há indicações de que esses partidos podem ter um impacto muito grande no resultado das eleições. Em 1912, por exemplo, a candidatura de Theodore Roosevelt por um terceiro partido dividiu o voto que normalmente seria republicano e permitiu que o democrata Woodrow Wilson fosse eleito sem a maioria do voto popular. Em 1992, a candidatura de H. Ross Perot atraiu eleitores que, de maneira geral, vinham votando nos republicanos durante os anos 80. Essa foi uma das causas da derrota do presidente republicano candidato à reeleição, George H.W. Bush. Na apertada eleição de 2000 entre o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore, é possível que, se o candidato do Partido Verde, Ralph Nader, não tivesse concorrido na Flórida,Al Gore tivesse vencido nesse Estado e assim obtido a maioria dos votos eleitorais necessários para se eleger presidente. Pesquisas de opinião pública desde 1990 revelam apoio forte e constante em favor de um terceiro partido. Durante a campanha eleitoral de 2000, uma pesquisa da Gallup mostrou que 67% do eleitorado era a favor da criação de um terceiro partido forte com candidatos à Presidência, ao Congresso e a governos estaduais em oposição a democratas e republicanos. Foram sentimentos como esses, aliados a um orçamento pródigo, que permitiram ao bilionário do Texas Ross Perot obter 19% do voto popular na disputa presidencial de 1992. Esse foi o mais alto percentual obtido por um candidato fora dos dois partidos principais desde 1912, quando Theodore Roosevelt (Partido Progressista) conseguiu 27%. Apesar das manifestações de apoio potencial a um terceiro partido, existem barreiras enormes a ser transpostas por um terceiro partido que almejar a Presidência ou mesmo um número razoável de deputados ou senadores. Além das já mencionadas, talvez a mais significativa seja o temor de muitos eleitores de que se votarem num candidato de terceiro partido es- ] James Monroe, democrata-republicano (1817-1825) De cima para baixo: Cartaz de 1868 em apoio aos candidatos democratas a presidente e vicepresidente, Horatio Seymour e Frank Blair. Um pôster eleitoral para os candidatos democratas, General George McClellan e seu colega de chapa, George Pendleton, cerca de 1864. Pôster de apoio aos candidatos a presidente e vice-presidente, Samuel Tilden e Thomas Hendricks, 1876. 5 o COLÉGIO eLEITORAL Quando os eleitores americanos vão às urnas para votar para presidente, muitos acreditam estar participando de uma eleição direta. Tecnicamente não é o caso, devido à existência do colégio eleitoral, uma relíquia constitucional do século 18. Colégio eleitoral é o nome dado a um grupo de “eleitores” indicado pelos militantes políticos e membros dos partidos nos Estados. No dia da eleição, esses eleitores, comprometidos com um ou outro candidato, são eleitos pelo voto popular. Em dezembro, depois da eleição presidencial, os eleitores do colégio eleitoral reúnem-se nas capitais dos respectivos Estados e votam para presidente e vice. Para ser eleito presidente, o candidato precisa de 270 votos do colégio eleitoral. É possível que, em uma disputa apertada ou entre muitos partidos, o colégio eleitoral não consiga obter 270 votos a favor de qualquer candidato – nesse caso, a Câmara dos Deputados escolheria o novo presidente. O sistema de colégio eleitoral foi estabelecido no Artigo II, Seção I, da Constituição dos EUA. Embora tenha sido objeto de certa controvérsia ultimamente, também é considerado uma força estabilizadora do sistema eleitoral. como funciona hoje o COLÉGIO eLEITORAL j Eleitores registrados nos 50 Estados e no Distrito de Colúmbia votam para presidente e vice-presidente na primeira terça-feira que se segue à primeira segunda-feira de novembro de um ano de eleição presidencial. j Os candidatos que vencem o voto popular no Estado geralmente recebem todos os votos eleitorais desse Estado. (Tecnicamente, todos os eleitores do colégio eleitoral com eles comprometidos são eleitos). j O número de eleitores do colégio de um Estado é igual ao número de senadores e deputados desse Estado. O Distrito de Colúmbia, que não tem representação no Congresso, tem três votos eleitorais. j Os eleitores se reúnem e votam oficialmente para presidente e vice presidente na primeira segundafeira que se segue à segunda quarta-feira de dezembro de um ano de eleição presidencial. É necessária maioria de votos para que um candidato seja eleito. Como há 538 eleitores no colégio eleitoral, é preciso um mínimo de 270 votos para vencer a eleição. j Se nenhum candidato a presidência conseguir a maioria dos votos eleitorais, a Câmara dos Deputados irá escolher o vencedor entre os três mais votados no colégio eleitoral. Assim, os membros da Câmara votam por Estado e cada delegação estadual tem direito a um voto. j Se nenhum candidato a vicepresidente obtiver a maioria dos votos eleitorais, o Senado deve escolher o vencedor entre os dois mais votados no colégio eleitoral. O presidente e o vice-presidente prestam juramento e são empossados no dia 20 de janeiro seguinte à eleição. 6 3º Partido % de Votos Ano Voto Popular Eleitorais Destino na Eleição Seguinte Antimaçônico 1832 7.8 7 apoiou o candidato do P. Whig Solo-Livre 1848 10.1 0 Recebeu 5% dos votos; serviu de base aos simpatizantes republicanos Whig Americano 1856 21.5 8 O partido dissolveu-se Democrata Sulista 1860 18.1 72 O partido dissolveu-se União Constitucional 1860 12.6 39 O partido dissolveu-se Popular (Populista) 1892 8.5 22 Apoiou o candidato democrata Progressista (T. Roosevelt) 1912 27.5 88 Voltou ao Partido Republicano Socialista 1912 6.0 0 Progressista (R.La Follette) 1924 16.6 13 Voltou ao Partido Republicano Democrata pelos 1948 Direitos dos Estados 2.4 39 O partido dissolveu-se Progressista (H. Wallace) 1948 2.4 0 Recebeu 1.4% dos votos Independente 1968 Amer. (G. Wallace) 13.5 46 Recebeu 1.4% dos votos John B. Anderson 1980 John F. Bibby é professor emérito de Ciência Política na Universidade de Wisconsin, Milwaukee, e ex-presidente da divisão de partidos políticos da Associação Americana de Ciência Política. Profundo conhecedor da política e do governo dos Estados Unidos, Bibby é autor de Politics, Parties and Elections in America. Recebeu 3,2% dos votos 7.1 0 Não concorreu em 1984 H. Ross Perot 1992 18.9 0 Fundou o Partido da Reforma e concorreu de novo em 1996 Reforma (Perot) 1996 8.4 0 Com Pat Buchanan como candidato, teve 0.5% dos votos Verde (R. Nader) 2000 2.7 0 tarão na realidade “desperdiçando” seu voto. Há indícios de que os eleitores votam de forma “estratégica”, ou seja, votam no seu candidato de segunda escolha quando sentem que o candidato de terceiro partido não tem chance de ganhar. Assim, na eleição de 2000, 15% dos eleitores em uma pesquisa pré-eleição deram notas superiores a Ralph Nader do que a George W. Bush ou a Al Gore, mas Nader recebeu apenas 2,7% Terceiros partidos e candidatos independentes, se conquistarem a Presidência, terão também de enfrentar um enorme desafio depois da eleição. Trata-se de saber como governarão – como contratarão pessoas para preencher todos os cargos da administração e como trabalharão com um Congresso dominado por republicanos e democratas, que não têm muito por que cooperar com um presidente que não pertence a um dos dois partidos principais. n do voto popular. De forma semelhante, em 1992, entre os eleitores que davam preferência a Ross Perot, efetivamente apenas 21% votaram no seu nome. Existe também o fenômeno do voto de “protesto” em favor de candidatos de terceiros partidos. Pesquisas da Gallup em 1992 revelaram que 5% dos eleitores de Perot disseram que não votariam nele se achassem que ele tinha chances de ganhar. FORÇA DE VOTAÇÃO DO COLÉGIO ELEITORAL POR ESTADO Alabama -- 9 Alasca -- 3 Arizona -- 10 Arkansas -- 6 Califórnia -- 55 Carolina do Norte -- 15 Carolina do Sul -- 8 Colorado -- 9 Connecticut -- 7 Dakota do Norte -- 3 Dakota do Sul -- 3 Delaware -- 3 Distrito de Colúmbia -- 3 Flórida -- 27 Georgia -- 15 Havaí -- 4 Idaho -- 4 Illinois -- 21 [ Indiana -- 11 Iowa -- 7 Kansas -- 6 Kentucky -- 8 Louisiana -- 9 Maine -- 4 Maryland -- 10 Massachusetts -- 12 Michigan -- 17 Minnesota -- 10 Mississippi -- 6 Missouri -- 11 Montana -- 3 Nebraska -- 5 Nevada -- 5 New Hampshire -- 4 New Jersey -- 15 Novo México -- 5 Nova York -- 31 Ohio -- 20 Oklahoma -- 7 Oregon -- 7 Pensilvânia -- 21 Rhode Island -- 4 Tennessee -- 11 Texas -- 34 Utah -- 5 Vermont -- 3 Virgínia -- 13 Virgínia Ocidental -- 5 Washington -- 11 Wisconsin -- 10 Wyoming -- 3 Total -- 538 A indicação de candidatos à presidência e a democracia americana O STEPHEN J . WAYNE sistema de indicação dos candidatos presidenciais parece complexo e até mesmo caótico. E de fato o é. Desde a década de 1970, quando os partidos Democrata e Republicano começaram a reformar suas regras para indicação de candidatos à Presidência e vice-Presidência, o sistema vem sofrendo mudanças contínuas, e os candidatos mais bem sucedidos são aqueles que conhecem as complexidades do sistema e sabem manipulá-lo. Afinal, é isso que os políticos criativos fazem — aprendem as regras do jogo da política e jogam com firmeza e habilidade. Os Caucus do Rei foram substituídos por convenções nacionais. Em 1831, um partido menor, o Antimaçônico, reuniu-se em um bar na cidade de Baltimore, Maryland, para escolher seus candidatos e a plataforma (declaração dos princípios e políticas adotados por um partido político ou candidato) que iria apoiar. No ano seguinte, os democratas se reuniram no mesmo bar para selecionar seus candidatos. Desde então, os partidos majoritários e a maioria dos partidos menores realizam convenções nacionais, das quais participam os delegados estaduais, para escolher seus candidatos à Presidência e vice-Presidência e definir suas posições políticas. Durante o século 19 e parte do sé- “primárias” — eleições programadas antes da eleição geral. Em 1916, mais de metade dos Estados já realizava algum tipo de eleição primária. Esse movimento para incentivar as pessoas a participarem do processo de seleção de seu partido teve, contudo, vida curta. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os dirigentes partidários, que viam as primárias como ameaça a seu poder, persuadiram os legislativos estaduais a aboli-las, justificando que eram eleições caras e que relativamente poucas pessoas participavam delas. Alguns prováveis candidatos também se recusaram a concorrer nas primárias porque já tinham o apoio dos dirigentes partidários estaduais e não queriam John Quincy Adams, democrata-republicano (1825-1829) Esquerda: Democratas agitam bandeiras na Convenção Nacional Democrata de 2000, em Los Angeles, Califórnia. partidos e indicações: uma história Ao contrário do sistema de colégio eleitoral que elege o presidente, os procedimentos para a indicação de candidatos à Presidência não são explicados na Constituição dos EUA. Não havia partidos políticos quando a Constituição foi redigida e ratificada, no fim da década de 1700. Os partidos surgiram depois que o governo começou a funcionar, em conseqüência das políticas praticadas pelo primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington. A partir de 1796, os parlamentares que se identificavam com um dos partidos políticos da época passaram a se reunir informalmente para escolher os candidatos do partido à Presidência e vice-Presidência. Esse sistema de prévias, conhecido como “Caucus do Rei”, continuou por quase 30 anos. Cessou em 1824, vítima da descentralização do poder dentro dos partidos políticos que acompanhavam a expansão dos Estados Unidos rumo ao oeste. culo 20, as convenções para indicação de candidatos foram controladas pelos dirigentes partidários estaduais, que usavam sua influência para selecionar a dedo os delegados de seu Estado e garantir que eles votassem “corretamente” na convenção. A dominação desses dirigentes partidários acabou criando problemas dentro dos partidos. Aqueles que não gostavam de ter “chefes” ditando nomes de candidatos passaram a apoiar reformas para permitir que os partidários dos Estados selecionassem os delegados à convenção em eleições correr o risco de perder esse apoio em uma votação popular. Além disso, em alguns Estados, o voto de preferência para presidente era apenas consultivo; os delegados eram selecionados de outra maneira. Em 1936, somente uma dezena de Estados continuava realizando suas primárias presidenciais. As pressões democratizantes ressurgiram após a Segunda Guerra Mundial, auxiliadas pelo desenvolvimento tecnológico das comunicações. O advento da televisão permitiu que as pessoas pudessem ver e ouvir as campanhas políticas em suas próprias casas. Os candidatos podiam usar a exposição na televisão para demonstrar sua popularidade e viabilidade eleitoral. Dwight ] Andrew Jackson, democrata (1829-1837) 7 as prévias de iowa: como funcionam 1. As prévias são realizadas em mais de 2.000 zonas eleitorais no Estado de Iowa para selecionar mais de 1.500 delegados a 99 convenções de município. 2. As convenções realizadas nos municípios selecionam 3.000 delegados às cinco convenções de distritos congressionais. 3. As convenções realizadas nos distritos congressionais elegem os delegados distritais às convenções partidárias nacionais. Os mesmos delegados também participam da convenção estadual. 4. As convenções estaduais elegem os delegados gerais à convenção nacional. Os democratas também selecionam seus delegados estaduais e delegados titulares de cargos eletivos. Acima: distintivo de delegado, convenção Nacional Democrata, 1908. Abaixo: faixa para a eleição de 1876 com um retrato do candidato presidencial (derrotado) Samuel Tilden e seu companheiro de chapa. Centro da página: gravura da convenção republicana, 1880. 8 Eisenhower, John Kennedy e Richard Nixon concorreram nas primárias de diversos Estados, a um custo considerável e grande esforço, para provar a seu partido que um general, um católico e um candidato presidencial derrotado podiam vencer uma eleição geral. Cada um deles recebeu a indicação de seu partido e se elegeu presidente. Além disso, a Guerra do Vietnã, iniciada em meados da década de 1960 e que se estendeu nos anos 70, produziu divisões internas no Partido Democrata, que, por sua vez, geraram pressões para reformas posteriores. O elemento catalisador foi o processo de indica- tido na seleção do candidato democrata e conseguir uma representação mais eqüitativa do partido na convenção de indicação. As reformas adotadas iniciaram um processo por meio do qual os dois partidos principais democratizaram o modo de selecionar seus candidatos. ção democrata de 1968. Um movimento contra a guerra rachou o Partido Democrata e provocou violentas manifestações nas ruas de Chicago, cidade que sediou a convenção do partido naquele ano. Apesar do tumulto que acompanhou a reunião, o partido escolheu o vice-presidente Hubert Humphrey, que havia decidido não participar das primárias e, por isso, tornou-se alvo dos protestos contra a guerra. Na tentativa de unificar o partido dividido, a convenção democrata, depois de indicar Humphrey, concordou em criar uma comissão para reavaliar o processo de indicação de candidatos do partido. A comissão deveria ter dois objetivos: incentivar uma maior participação do par- disputarão a eleição geral. Dependendo da legislação de cada Estado, os eleitores podem votar diretamente nos candidatos de um partido à Presidência ou indiretamente nos delegados que estão “comprometidos” com esses candidatos. A outra única opção que os Estados têm no sistema atual é usar um processo de prévias/convenções de múltiplas etapas, em que os partidários que vivem em uma área geográfica relativamente pequena — uma zona eleitoral — votam em delegados que se comprometem a apoiar determinados candidatos. Esses delegados, por sua vez, representam sua zona eleitoral em uma convenção municipal e escolhem delegados à convenção estadual. Na convenção estadual são escolhidos os delegados que representarão o Estado na convenção nacional do partido. Embora esse sistema se estenda por vários meses, os candidatos preferidos são determinados basicamente na [ sistema atual de primárias e prévias As principais reformas instituídas pelos democratas incentivaram a maioria dos Estados, que legislam sobre as eleições em seu território, a realizar eleições primárias. Da forma como está constituída atualmente, a primária é uma eleição entre os simpatizantes de um mesmo partido para escolher os candidatos que primeira rodada de votação. O tamanho real da delegação estadual na convenção nacional é calculado com base em uma fórmula estabelecida por cada partido e que leva em consideração fatores como a população do Estado, o apoio aos candidatos nacionais do partido no passado e o número de titulares de cargos eletivos e dirigentes partidários que atualmente estão exercendo cargo público. A fórmula utilizada pelos democratas resulta em convenções nacionais com praticamente o dobro dos delegados que as dos republicanos. A Constituição dos EUA dá aos Estados a competência para elaborar sua própria legislação eleitoral de acordo com as regras e ressalvas que o Congresso possa estabelecer. Embora tenham liberdade para escolher a data de suas eleições primárias e prévias, os Estados são incentivados a seguir as regras do partido nas disputas para indicação de candidatos, pois a Suprema Corte dos EUA determinou que os partidos têm o direito de definir e aplicar suas próprias regras àqueles que participam das convenções nacionais. Os Estados que escolhem delegados em desacordo com as normas do partido podem vê-los impugnados nas convenções partidárias nacionais ou podem ter o tamanho da delegação reduzido pelo partido por violação das regras. Atualmente, mais de 80% dos delegados que comparecem à convenção nacional de seu partido são escolhidos em eleições primárias abertas a todos os democratas ou republicanos, filiados ou simpatizantes. O Partido Democrata impôs uma série de regras a todos os seus filiados estaduais; o Partido Republicano, não. O Partido Democrata, de fato, exige que os Estados realizem a disputa para indicação de candidatos entre a primeira terça-feira de fevereiro e a segunda terça-feira de junho em ano de eleição presidencial. Os pequenos Estados de Iowa e New Hampshire ficam oficialmente isentos de votar antes porque, por tradição, já realizam as primeiras prévias e primárias, respectivamente. Os democratas — para aumentar a representação das minorias que podem estar concentradas em comunidades dentro do Estado — também exigem que 75% dos delegados de um Estado sejam eleitos em distritos cujas dimensões não excedam as de um distrito congressional. Além disso, o número de delegados comprometidos a apoiar candidatos específicos é determinado em proporção aos votos que eles ou seus candidatos recebem. O Partido Democrata também tem outros delegados — dirigentes partidários e ocupantes de cargos eletivos — que não têm obrigação de apoiar determinados candidatos mesmo que estes vençam as primárias em seus Estados. Por fim, os democratas exigem que as delegações estaduais tenham um número mais ou menos igual de homens e mulheres. Apesar das diferenças nas regras dos partidos — os republicanos consultam seus filiados estaduais; os democratas, não — duas tendências importantes se destacam: n Muitos Estados transferiram suas primárias e prévias para o início do processo eleitoral a fim de exercer mais influência sobre a seleção dos candidatos, incentivá-los a atender às necessidades e aos interesses do Estado e obter mais recursos para suas campanhas. Essa estratégia é conhecida como “antecipação”. n Em uma prática conhecida como “regionalização”, os Estados cooperam uns com os outros para realizar suas primárias e prévias na mesma data de modo a maximizar a influência de uma região. Ambas as tendências forçam os candidatos a iniciar suas campanhas mais cedo para criar uma base de apoio nos Estados onde são realizadas as disputas iniciais. Os candidatos também dependem cada vez mais dos meios de comunicação de massa, sobretudo rádio e televisão, e do apoio de dirigentes partidários nos Estados, que ajudarão a angariar votos nos diversos Estados que estão realizando suas primárias no mesmo dia. A antecipação e regionalização do processo de indicação têm favorecido os candidatos mais conhecidos nacionalmente, como presidentes candidatos à reeleição; governadores dos principais Estados e senadores e deputados que têm acesso a dinheiro, cobertura da mídia e ao apoio de organizações. Considere, por exemplo, as preliminares do processo de indicação do candidato democrata para as eleições de 2004. Oito candidatos levantaram aproximadamente US$ 25 milhões e gastaram US$ 7 milhões até 31 de março de 2003, mais de 10 meses antes da primeira eleição prévia ou primária programada. Desses oito, os que tinham cadeiras no Congresso foram os que angariaram mais dinheiro, contrataram os consultores políticos mais conhecidos e começaram a montar as maiores equipes de campanha. A natureza compacta do processo desfavorece aqueles que desejam usar as primárias e prévias como um primeiro passo rumo à indicação, como Jimmy Carter em 1976 e John McCain em 2000. As mudanças contínuas no processo de indicação afetam a todos os candidatos. Nem mesmo os presidentes candidatos à reeleição têm garantia de reindicação. Em 1992, George H.W. Bush sofreu algumas derrotas vergonhosas nas primárias nas mãos do conservador Pat Buchanan, comentarista de talk show e colunista de jornal. Por outro lado, Bill Clinton, em 1996, arrecadou grandes somas de dinheiro logo no começo da campanha para fazer um oponente político de seu próprio partido desistir de desafiá-lo. Clinton usou o dinheiro para pôr em prática a estratégia de montar uma campanha eleitoral voltada para a mídia, que se estendesse do início das prévias e primárias até a eleição nacional. as prévias de iowa: procedimentos para a 1ª rodada das prévias de zonas eleitorais DEMOCRATAS: Somente os democratas filiados que vivem na zona eleitoral e são qualificados para votar podem participar. Os participantes reúnemse em grupos segundo sua preferência pelos candidatos. Para ser viável, um grupo deve ser constituído por pelo menos 15% dos presentes. Os grupos inviáveis são dissolvidos e seus membros podem entrar nos grupos viáveis. Nesse estágio, ocorre muito lobby. O número de delegados designados para os candidatos baseia-se estritamente na representatividade do grupo em relação à prévia como um todo. REPUBLICANOS: Os participantes, que devem estar qualificados para votar, mas não precisam ser filiados ao partido, votam secretamente em seu candidato preferido à Presidência. Os votos são computados por Estado. Os delegados à convenção do município são então selecionados por qualquer método escolhido na prévia, seja por eleição direta (o vencedor leva tudo) ou proporcionalmente com base em uma votação preliminar. centro: nove candidatos presidenciais do Partido Democrata em seu primeiro debate, na Carolina do Sul, 3 de maio, 2003. Da esquerda para a direita: congressista Dennis Kucinich, congressista Richard Gephardt, reverendo Al Sharpton, senador Joseph Lieberman, ex-senador Carol Moseley Braun, ex-governador Howard Dean, senador John Edwards, senador Bob Graham Martin Van Buren, democrata (1837-1841) ] 9 indicações partidárias e democracia As reformas no processo de indicação de candidatos à Presidência serviram claramente para alargar a base de participação popular. Em 1968, antes das recentes mudanças no processo, só 12 milhões de pessoas votaram nas primárias, aproximadamente 11% dos eleitores. Em 2000, cerca de 35 milhões participaram, ou 15% dos eleitores. Na corrida para a eleição presidencial de 2000, mais de 20 milhões votaram nas disputas entre George W. Bush e seus oponentes republicanos e cerca de 15 milhões votaram nas disputas democratas entre o vice-presidente Al Gore e seu principal oponente, o ex-senador + Inclui dirigentes partidários e titulares de cargos eletivos escolhidos em Estados que realizam primárias. * Não inclui Vermont, onde a votação para presidente não é obrigatória, mas os delegados são escolhidos em prévias e convenções estaduais. Fontes: De 1912-1964, F. Christopher Arterton, “Campaign Organizations Face the Mass Media in the 1976 Presidential Nomination Process” (trabalho apresentado no Encontro Anual da Associação Norte-Americana de Ciência Política, Washington, D.C., 1-4 de setembro de 1977); de 1968-1976, Austin Ranney, Participation in American Presidential Nominations, 1976 (Washington, D.C.: American Enterprise Institute, 1977), tabela 1, 6. Os números de 1980 foram compilados por Austin Ranney a partir de materiais distribuídos pelo Comitê Nacional Democrata e Comitê Nacional Republicano. Os números das eleições de 1980 em diante foram compilados pelo autor a partir de dados fornecidos pelos Comitês Nacionais Democrata e Republicano e pela Comissão Eleitoral Federal. 10 [ Bill Bradley. Além de ampliar a participação pública, a modernização do processo expandiu a representação dos grupos que formam a coalizão eleitoral de cada partido. Embora a representação demográfica – em termos de raça e gênero – tenha aumentado entre os delegados dos partidos às convenções de indicação, a representação ideológica não aumentou. A razão para isso é que aqueles que têm maior participação no processo de indicação tendem a ser militantes partidários, que são mais ideológicos do que o simpatizante comum do partido. Assim, os delegados que participam das convenções republicanas tendem NÚMERO DE PRIMÁRIAS PRESIDENCIAIS E PORCENTAGEM DE DELEGADOS ÀS PRIMÁRIAS ESTADUAIS POR PARTIDO 1912-2000 a ser mais conservadores e os delegados democratas, mais liberais que seus respectivos eleitorados. Conforme foi mencionado, as reformas também enfraqueceram o poder dos dirigentes partidários estaduais e estimularam aqueles que buscam a indicação de seu partido a apelar para um público mais amplo. Esses apelos estreitam os laços entre os candidatos e sua principal base de apoio e incentivam os que se elegem a cargos públicos a cumprir suas promessas de campanha. George W. Bush, no primeiro ano de mandato, concentrou suas energias nas principais metas políticas de sua campanha: redução de impostos, reforma educacional e maior pre- paro militar, iniciativas voltadas para sua base política conservadora. Embora muitas dessas reformas tenham contribuído para a democratização do processo de indicação de candidatos, ainda existem anomalias. Aqueles que participam das eleições primárias tendem a ter maior grau de instrução, renda mais alta e a ser mais velhos do que o eleitor republicano e o democrata médio. Além disso, como sempre, os que fazem doações para os candidatos ou suas causas normalmente estão entre as classes de maior poder socioeconômico. Inevitavelmente, eles têm mais influência nos resultados das eleições. Por fim, esse processo público e contencioso de indicação de candidatos provoca divisões dentro dos partidos. Quanto mais acirrada for a disputa pela candidatura, maior será a probabilidade de rupturas, e o partido terá de superá-las se quiser montar uma campanha presidencial bem-sucedida para seu candidato. televisão para assistir às convenções de indicação? O fato é que muitas pessoas não o fazem. A audiência das convenções caiu nos últimos anos, assim como o tempo de transmissão da propaganda política pelas principais redes de televisão durante o horário nobre. Em meados de 2000, durante as convenções dos partidos, os institutos de pesquisa constataram que cerca de metade dos telespectadores não estava sintonizada em nenhuma delas. Apesar da queda de audiência, as convenções ainda recebem atenção nos noticiários e jornais. As mesmas pesquisas indicaram que, em 2000, a consciência pública aumentou duran- nha mais eficazes e despertam mais entusiasmo entre os eleitores logo no início da temporada de eleições n primárias presidenciais. te e após as convenções, bem como o conhecimento dos candidatos e de suas políticas. As convenções serviram para informar os eleitores; obter apoio e gerar entusiasmo entre os partidários a respeito de seus candidatos; e concentrar a atenção do país na eleição geral. O processo de indicação de candidatos à Presidência não é perfeito, mas nas últimas décadas observou-se um aumento na participação, uma melhora na representação demográfica e um vínculo mais estreito entre o partidário médio e os candidatos. Da forma como está constituído, o processo privilegia os candidatos que são mais conhecidos, podem levantar mais recursos, têm as equipes de campa- Centro: uma antiga gravura que mostra a sessão da Convenção Nacional Democrata em Baltimore. À direita: o pin do candidato à Presidência de 1940, Wendell Willkie. A fita de Lincoln/ Hamlin referindo-se a Lincoln como o “honesto velho Abe”, eleição de 1860. William Henry Harrison, whig (1841) Stephen J. Wayne é professor de Estudos sobre Governo da Universidade de Georgetown em Washington, D.C., e autor do livro The Road to The White House 2004 (O Caminho rumo à Casa Branca) (Thomson/Wadsworth, 2004). O impacto das convenções políticas Outra conseqüência das mudanças no processo de indicação de candidatos à Presidência foi que a convenção partidária nacional perdeu importância. Hoje, o indicado para a Casa Branca é efetivamente determinado pelos eleitores no início do processo. Este, por sua vez, costuma escolher seu candidato à vice-Presidência antes das convenções. O vencedor também controla a versão preliminar da plataforma do partido. Por que motivo, então, o povo americano deveria perder tempo na frente de um aparelho de John Tyler, whig (1841-1845) ] 11 procedimentos eleitorais nos E.U.A. MICHAEL W. TRAUGOTT Acima: eleitores votam em uma eleição de meio de mandato, em 5 de novembro de 2002, em Halifax, Massachusetts. Centro: eleitores se preparam para votar nas novas urnas eletrônicas em Miami, Flórida, 4 de novembro, 2002 James K. Polk, democrata (1845-1849) 12 G eralmente, os eleitores americanos têm a oportunidade de participar de mais eleições do que os cidadãos da maioria das demais democracias. Alguns americanos podem ter de cinco a seis chances por ano para votar, tendo cada cédula de votação diferentes escolhas para diferentes cargos em vários níveis do governo. Por causa de seu sistema federal, em que tanto o governo nacional quanto os estaduais têm poderes distintos, o dia da eleição nos Estados Unidos é, na verdade, ocasião para uma série de eleições simultâneas estaduais e locais, cada qual com procedimentos administrativos separados. No sistema político dos EUA, muitos cargos são eletivos e, além destes, há várias decisões sobre ajuda financeira para a educação e serviços locais e estaduais, como parques e rodovias, que são tomadas pelo público pelo voto. E mais e mais decisões políticas estão sendo tomadas por meio destas iniciativas e referendos eleitorais. Alguns cientistas políticos explicam a freqüência das eleições como auxiliar no declínio do comparecimento dos eleitores nos Estados Unidos nos últimos 50 anos. Os americanos também escolhem a maioria dos candidatos dos partidos na primárias, que são, [ na realidade, uma função dos partidos políticos executada pelos administradores de eleições. o processo de votação Além disso, devido à natureza local das eleições dos EUA, há milhares de administradores de eleições responsáveis pela organização e condução, incluindo a tabulação e a certificação dos resultados. Estes funcionários exercem um conjunto de tarefas complexo e importante – definição das datas das eleições, certificação da elegibilidade dos candidatos, registro dos eleitores qualificados e preparação das listas de eleitores, seleção dos dispositivos para votação, modelo das cédulas, organização de uma grande força-tarefa temporária para administrar a votação no dia da eleição e, depois, tabulação dos votos e certificação dos resultados. Tradicionalmente, as eleições americanas não têm apresentado resultados apertados. A maioria dos cargos eletivos é local, e os limites distritais da eleição freqüentemente foram definidos pelo partido no poder, com base em padrões históricos de votação, de modo a torná-las seguras para um ou outro partido. Porém, há exceções recentes. O resultado das eleições presidenciais nos EUA em 2000 – a prolongada disputa para determinar o vencedor na eleição presidencial mais apertada da história dos EUA expôs os americanos a várias destas questões administrativas pela primeira vez. A votação nos Estados Unidos é um processo em duas etapas. Não há uma lista nacional de eleitores qualificados. Dessa forma, um cidadão precisa primeiro se qualificar, registrando-se. Os cidadãos registram-se para votar de acordo com o local onde moram; caso se mudem para nova localidade, terão que se registrar novamente. Os sistemas de registro foram planejados para eliminar fraudes. Mas, os procedimentos de registro dos eleitores variam de Estado para Estado. No passado, os procedimentos para registro foram usados, às vezes, para desencorajar certos cidadãos a participar das eleições. Recentemente, houve uma tendência para facilitar as exigências de registro e a Lei Nacional de Registro do Eleitor (a lei “Motor Voter”) de 1993 tornou possível às pessoas se registrarem como eleitores ao renovarem sua licença de motorista. Uma das mais importantes funções dos funcionários eleitorais é assegurar que toda pessoa qualificada para votar esteja nas listas de registro, e que as não qualificadas não estejam incluídas. Em geral, os funcionários eleitorais locais pecam por deixar pessoas nas listas mesmo que elas não tenham votado recentemente, em vez de eliminar eleitores potencialmente qualificados. Quando as pessoas cujos nomes não estão nas listas comparecem ao local de votação, recebem uma cédula provisória para a votação. Em seguida, sua qualificação é revista, antes de seus votos serem registrados. O papel dos administradores eleitorais Nos Estados Unidos, uma eleição é um exercício administrativo – conduzido na esfera local com um orçamento fixo – cujo fim é medir as preferências de eleitores qualificados de modo preciso e rápido. Quer dizer que os administradores eleitorais – tipicamente um funcionário público da cidade ou do condado – têm uma tarefa desencorajadora. São responsáveis pelo registro dos eleitores durante todo o ano e pela definição de quem está qualificado para votar em determinada eleição. Devem definir o modelo das cédulas para cada eleição, assegurar-se de que todos os candidatos certificados estejam listados e todas as questões a serem decididas corretamente redigidas. Além disso, devem tornar a cédula o mais simples e clara possível. Hoje não há padrão nacional para o modelo das cédulas ou para os dispositivos de votação. Em geral, os funcionários eleitorais devem fornecer cédulas em vários idiomas e, até mesmo, em formatos diferentes. Em algumas jurisdições, a ordem dos candidatos e dos par- tidos deve ser definida aleatoriamente. Por fim, os funcionários eleitorais locais devem selecionar as máquinas de votação específicas a serem usadas e as cédulas devem adequar-se às mesmas. Em resposta aos problemas surgidos na eleição presidencial em 2000 na Flórida, o Congresso aprovou uma lei provendo ajuda financeira aos Estados e condados para que adotem os mais modernos e confiáveis procedimentos de votação. Entre as eleições, estes funcionários são responsáveis pela armazenagem e manutenção das urnas eleitorais, tarefas normalmente terceirizadas. Além disso, uma das tarefas mais difíceis é contratar e treinar uma grande equipe temporária para uma longa jornada de trabalho (cerca de 10 a 15 horas) no dia da eleição. Quando o equipamento de votação ou o modelo das cédulas muda entre as eleições, esse processo de treinamento pode ser ainda mais desencorajador. A logística da transferência dos equipamentos e da contratação e treinamento da equipe é, às vezes, tão desgastante que a verificação da qualificação dos eleitores é deixada para voluntários cedidos pelos principais partidos políticos. Visto que os voluntários são, em geral, representantes de partidos, há discordâncias ocasionais, senão inevitáveis, a respeito da condução de algumas eleições locais. a natureza da votação A segunda etapa no processo de votação é o acesso do público à cédula de votação. Para a maioria dos eleitores qualificados, isso significa ir a um local de votação próximo de suas casas para votar. Por toda a nação, há uma ampla variação em termos da amplitude geográfica das zonas eleitorais e do número de pessoas qualificadas e registradas para votar em cada uma delas. As decisões sobre equipamento e modelo de cédula são tomadas em âmbito local pois tais sistemas são pagos localmente. Assim, o modo como as pessoas votam – o equipamento que usam e a qualidade de sua manutenção – tem relação com o status socioeconômico e a base tributária local. Já que a receita tributária local também financia escolas, serviços de polícia, corpo de bombeiros e instalações de recreação e parques, muitas vezes, pouca prioridade é dada a investimentos em tecnologia de votação. Nos EUA, há uma ampla variedade de urnas de votação e o cenário das tecnologias de votação muda constantemente. Hoje, há muito poucos lugares onde a votação regular ocorre com cédulas de papel marcadas com um “X” próximo ao nome do candidato, como era feito no passado. Mas vários sistemas computadorizados ainda dependem de cédulas em papel sobre as quais círculos são preenchidos ou linhas são ligadas. Estas cédulas são, então, escaneadas mecanicamente para registrar os votos. Várias jurisdições ainda usam máquinas “de alavanca”, nas quais os eleitores movem uma pequena alavanca próxima aos nomes dos candidatos de sua preferência ou ao lado de uma questão que apóiam. Os votos são registrados ao final desse processo puxando uma alavanca maior. Essas máquinas não são fabricadas há mais de 30 anos, portanto, sua manutenção é particularmente difícil e dispendiosa. Por isso elas estão sendo lentamente desativadas. Centro: um funcionário da cidade de Dixville Notch, New Hampshire, faz o primeiro voto simbólico da eleição presidencial de 2000. Margem direita, de cima para baixo: uma mulher em uma bicicleta deposita o voto em uma urna oficial em Portland, Oregon, na eleição presidencial de 2000. Uma mulher no nordeste do país segura a filha enquanto espera para votar. Cidadãos da terceira idade votam na eleição presidencial de 2000, em uma comunidade de aposentados na Flórida. Zachary Taylor, whig (1849-1850) ] 13 Millard Fillmore, whig (1850-1853) Outro equipamento comum é a máquina “perfuradora”. A cédula ou é um cartão onde orifícios ou depressões são feitas próximo ao nome do candidato, ou um cartão inserido em um suporte que o alinha com a imagem da cédula e, então, os orifícios são feitos. Esse é o modelo da cédula que gerou controvérsia na contagem dos votos na eleição presidencial de 2000, na Flórida. Como resultado, as máquinas “perfuradoras” também estão sendo desativadas. eleitores ausentes, as quais são emitidas para aqueles que declararam por antecipação que não estariam em casa (e em seu domicílio eleitoral) no dia da eleição.Alguns locais liberaram esta medida de forma gradual, permitindo que os cidadãos se registrassem como “eleitores ausentes permanentes” e passaram a enviar habitualmente uma cédula a sua residência. Outra medida nova é a “votação antecipada”, na qual as máquinas de positivos DRE ou o “perfurador”. Nos Estados Unidos como um todo, mais de um quinto do eleitorado vota antes do que era outrora definido como o “dia da eleição”. A tendência atual está voltada para a adoção de dispositivos de registro eletrônico direto (DRE) com telas de computador sensíveis ao toque, semelhantes às dos caixas automáticos dos bancos. Embora tenha havido uma discussão considerável a respeito da votação via computador ou Internet para tornar o processo mais fácil – e tal sistema tenha sido experimentado em uma primária no Arizona – os especialistas em segurança estão trabalhando para aperfeiçoar esses sistemas e seu uso ainda não está difundido. Uma mudança significativa na votação em anos recentes foi a adoção de procedimentos que tornam as cédulas disponíveis aos eleitores antes do dia da eleição. Esta tendência iniciou-se com medidas relativas a cédulas para votação são instaladas em shoppings ou outros espaços públicos com antecedência de até três semanas do dia da eleição. Os eleitores podem dar uma passada e votar conforme sua conveniência. Em alguns Estados, os eleitores votam pelo correio. No Oregon, todos recebem uma cédula 20 dias antes do dia da eleição e podem devolvê-la pelo correio ou deixá-la pessoalmente em locais designados. Outros locais – como Seattle e King County no Estado de Washington – adotaram a votação pelo correio, mas as localidades circunvizinhas ainda usam os dis- tradicional da eleição presidencial nos Estados Unidos não como o dia da eleição, mas como o “dia da apuração”. Embora estejam se tornando mais populares, as cédulas antecipadas não são contadas até o fim do dia da eleição, de modo que nenhuma informação acerca de quem está à frente ou atrás possa ser liberada antes do fechamento das urnas. Esse tipo de informação prévia poderia influenciar os estilos e os esforços das campanhas, assim como o comparecimento do eleitor. Uma série de lições marcantes a respeito da contagem dos votos veio à tona durante a eleição presidencial de 2000. O principal problema na Flórida, conforme determinado pela Suprema Corte dos EUA ao julgar a disputada apuração dos votos Como a proporção de eleitores que votam antes do dia da eleição vem aumentando, é mais apropriado pensar na primeira terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro dia Centro: uma funcionária de um condado na Geórgia opera uma nova urna eletrônica em outubro de 2002. O sistema estava sendo preparado para as eleições de novembro. Centro, em baixo: uma funcionária eleitoral verifica os registros de eleitores em Dearborn, Michigan, 7 de novembro de 2000. Franklin Pierce, democrata (1853-1857) 14 [ eleição, foi a questão relativa a padrões uniformes na contagem dos votos de diferentes tipos de cédulas. Em algumas jurisdições, as cédulas para os ausentes são diferentes daquelas que aparecem no dispositivo de votação nas zonas eleitorais. Conseqüentemente, pode ser preciso fazer mais do que um conjunto de tabulações. Além disso, as cédulas dos eleitores ausentes não são contadas em algumas jurisdições, se houver um número menor desse tipo de cédulas do que a diferença de votos entre os dois candidatos mais votados. A eleição de 2000 também revelou que as máquinas de votação são como qualquer outro tipo de dispositivo eletromecânico: elas tem tolerância de erro embutida, mas requerem manutenção regular e periódica para que funcionem com maior precisão. Se uma eleição for muito apertada, os dispositivos para tabulação podem apresentar totais levemente diferentes quando os votos são contados mais de uma vez. Quando uma eleição nacional é decidida por menos de 0,5% dos votos populares, e o resultado em um Estado — neste caso, a Flórida — é a diferença de apenas 202 votos em mais de 5,8 milhões de sufrágios, como ocorreu na disputa entre George W. Bush e Al Gore, os procedimentos da tabulação associados a determinados dispositivos utilizados podem tornar-se controversos. Uma grande proporção de votos na Flórida foi feita utilizando dispositivos “perfuradores”. A manutenção era um item questionável, e a habilidade dos eleitores de efetuar orifícios perfeitos em suas cédulas era outro. Em algumas localidades, o modelo das cédulas confundiu os eleitores, especialmente os idosos, e pode ter resultado na votação em candidato contrário ao que o eleitor pretendia. O resultado apertado da eleição na Flórida e o fato de este ter sido o último Estado a finalizar a contagem dos votos o tornaram o alvo principal para as equipes de Bush e Gore nas semanas seguintes ao dia da eleição. Devido à natureza local do sistema de eleição americano e ao fato de o colégio eleitoral atribuir seus votos por Estado com base em “o vencedor leva tudo”, os dois lados entraram com ações legais nos tribunais do Estado. Cada equipe escolheu os locais onde esperavam obter mais sucesso quanto às questões legais por ela levantadas, assim como por sua capacidade de impugnar determinados tipos de votos. Nenhuma das equipes solicitou a recontagem total dos votos do Estado. Finalmente, o caso avançou até a Suprema Corte dos EUA para a decisão judicial final, onde ficou decidido que a recontagem deveria ser interrompida e a certificação original do resultado, emitida pela secretária de Estado da Flórida, mantida. Assim, os 25 votos eleitorais da Flórida foram para George W. Bush, dando-lhe a maioria do colégio eleitoral e assegurando-lhe a Presidência. de votação. A Comissão Adjunta para Eleição proporá diretrizes voluntárias para os sistemas de votação e para o teste e a certificação do hardware e do software deste sistema. O portfólio da Comissão também inclui a criação de programas de pesquisa para estudar as máquinas de votação e o modelo da cédula, métodos de registro, métodos para votação provisória e para impedir fraudes, procedimentos para recrutar e treinar trabalhadores para a eleição, Esquerda: diplomatas norte-americanos e seus familiares votam na qualidade de eleitores residentes no exterior no Consulado dos EUA em Bombaim, Índia, 17 de outubro de 2000. o movimento de reforma Uma das claras lições da eleição de 2000 foi que questões relativas à administração da eleição, à votação, e à apuração dos votos encontradas na Flórida poderiam ter ocorrido até certo ponto em qualquer jurisdição do país. Embora fosse improvável que tivessem as mesmas conseqüências, porque os resultados das eleições muito raramente são tão apertados quanto os da eleição presidencial de 2000, verificou-se uma série de problemas. Vários estudos foram encomendados, e realizou-se uma série de mesas-redondas com especialistas, concluindo-se pela necessidade de reformas. Embora houvesse elementos indicativos tanto de uma proposta de revisão como de uma reforma final, a percepção da necessidade de ação antes da eleição de 2004 superou esses fatores. Em 2002, o 107o Congresso aprovou a Lei para Auxiliar os Americanos a Votar (Help America Vote Act - HAVA), que inclui vários itens notáveis. Primeiro, o governo federal ofereceu verbas aos Estados e localidades para a substituição das máquinas de votação “de alavanca” e “perfuradora” obsoletas. Segundo, criou-se uma Comissão Auxiliar para Eleições com vistas a dar assistência técnica aos funcionários administrativos eleitorais locais e estabelecer normas para os equipamentos programas educacionais para os eleitores, procedimentos para determinar se há necessidade de mais uniformidade entre os processos de recontagem dos Estados com relação aos órgãos federais e métodos alternativos para realizar eleições para órgãos federais. A HAVA representa um afastamento significativo do passado relutante do governo federal de se envolver no que era considerado um assunto administrativo local. Mas após os eventos da eleição de 2000, especialmente a contestação na Flórida, esse esforço para reformar os procedimentos ajudou a reconfirmar a confiança que os americanos depositam em seu sistema eleitoral. Além disso, os custos envolvidos são pequenos quando se considera que as eleições representam o fundamento legitimador do funcionamento de uma democracia. n Michael W. Traugott é professor de Estudos de Comunicação e Ciência Política na Universidade de Michigan. É o co-autor de The Voter’s Guide to Election Polls e Election Polls, the News Media and Democracy. Sua pesquisa atual enfoca o efeito da reforma administrativa eleitoral. ] James Buchanan, democrata (1857-1861) 15 DATas das eleições primárias presidenciais, prévias e convenções para a indicação de candidatos Nos Estados Unidos, as eleições primárias e as prévias (caucuses) dos partidos são essenciais para a escolha dos candidatos à Presidência. Este calendário traz uma relação das primárias e das prévias programadas atualmente com vistas à eleição presidencial nacional de 2004. Nesse contexto, uma “prévia” em geral se refere ao encontro estadual dos militantes políticos locais de cada partido durante o processo de indicação de candidato à Presidência. O objetivo do sistema de prévias é indicar, por meio da escolha de delegados, o candidato preferido pelos membros de cada partido no Estado. As primárias têm uma função semelhante, mas são disputas eleitorais diretas realizadas para escolher o candidato de um partido político a algum cargo público específico. Dependendo da legislação estadual, os eleitores votam em seu candidato preferido para a Presidência ou em delegados que se “comprometem” a apoiar aquele candidato na convenção do partido. 16 [ 19 de Janeiro Iowa 27 de Janeiro New Hampshire 3 de Fevereiro Arizona Delaware Missouri Oklahoma Carolina do Sul (Democrata) Novo México (Democrata) Dakota do Norte 7 de fevereiro Michigan (Democrata) 8 de fevereiro Maine (Democrata) 10 de fevereiro Tennessee Virginia Distrito de Colúmbia (Republicana) February 14 Distrito de Colúmbia (Democrata) Nevada (Democrata) 17 de Fevereiro Wisconsin 16 de Março Illinois 24 de Fevereiro Utah (Democrata) Havaí Idaho 20 de março Alasca (Democrata) Wyoming (Democrata) 2 de Março Califórnia Connecticut Georgia Maryland Massachusetts Nova York Ohio Rhode Island Vermont Washington Minnesota 9 de Março Flórida Louisiana Mississippi Texas 13 de março Kansas (Democrata) 13 de abril Colorado (Democrata) 27 de Abril Pensilvânia 4 de Maio Indiana Carolina do Norte 6-8 de maio Wyoming (Republicana) 11 de Maio Nebraska Virgínia Ocidental 15 de Maio Wyoming (Democrata) 18 de Maio Arkansas Kentucky Oregon 25 de Maio Idaho 1º de Junho Alabama New Mexico South Dakota 8 de Junho Montana New Jersey 26-29 de julho Convenção Nacional Democrata, Boston 30 de agosto-2 de Setembro Convenção Nacional Republicana, Nova York ] 17 ENTREVISTA COM ThOMas MANN SOBRE A campanHA DE 2004 PAUL MALAMUD Abraham Lincoln, republicano (1861-1865) Andrew Johnson, União (1865-1869) 18 P: Quais são as principais questões da eleição de 2004? R: Toda campanha, durante o seu desenrolar, toca em inúmeras questões mas, na próxima eleição presidencial, é muito provável que haja duas questões principais. Uma é o bem-estar da economia – isso significa crescimento econômico, empregos, a situação geral da política fiscal dos EUA. A segunda questão é a segurança, a segurança física. Ela envolve a sensação de bem-estar dos americanos vis-à-vis o terrorismo interno e também se refere à política de segurança nacional, em particular após nosso envolvimento militar no Afeganistão e no Iraque. P: O povo americano se importa com as questões de política externa? R: O interesse da população pela política externa aumenta e diminui de acordo com a conjuntura internacional. De forma mais ampla, houve momentos durante a Guerra Fria em que os americanos se importaram muito com a política externa; certamente a Guerra do Vietnã foi uma questão importante para todos nós. Na minha opinião, a razão pela qual a política externa será importante na eleição de 2004 é o 11/9. O atentado terrorista ao World Trade Center e ao Pentágono deixou claro para nós que não tínhamos tanta segurança quanto pensávamos e a vasta maioria dos americanos respondeu de maneira muito positiva ao argumento do presidente Bush de que precisávamos levar a guerra para o campo de batalha dos terroristas. Os acontecimentos de 11 de setembro significam que os americanos agora entendem que há uma ligação clara entre segurança interna e nossas políticas externas, e certamente o expressivo aumento da popularidade do presidente junto ao público americano e a sensação disseminada de que ele demonstrou uma liderança decisiva estão relacionados com suas ações na política externa e não com as iniciativas internas do governo. Depois de 11/9, os republicanos abriram uma imensa vantagem nas pesquisas de opinião como o partido em que a opinião pública confia para lidar com a política de segurança nacional e manter essa vantagem é uma das chaves para a reeleição [ do presidente. Diminuir essa vantagem é sem dúvida uma das metas dos democratas em seu esforço para voltar à Casa Branca. As decisivas vitórias militares das coalizões lideradas pelos EUA no Afeganistão e no Iraque foram seguidas de um desafio muito mais complexo de reconstrução pós-guerra, dando oportunidade aos críticos do governo para fazer disso um assunto da campanha. P: A eleição presidencial anterior, de 2000, entre Bush e Gore foi muito disputada. Como aquela votação com pequena margem de diferença influencia as táticas e a estratégia da eleição de 2004? R: A eleição presidencial de 2000 foi resolvida com a decisão por 5 a 4 da Suprema Corte de terminar a recontagem no Estado da Flórida. O que é importante aqui é que o resultado de 2000 reafirmou a mais importante das realidades, isto é, que somos uma nação dividida pela metade, dividida quase igualmente entre democratas e republicanos em todos os níveis de cargos eletivos e no âmbito dos eleitores individualmente. A conseqüência, na minha opinião, é que as estratégias dos dois partidos sinalizam uma eleição acirrada em 2004. Os dois partidos percebem agora o quanto é importante fazer com que seus principais partidários compareçam às urnas. Portanto, haverá um imenso esforço para mobilizar os eleitores um a um. Acho que veremos uma mudança fascinante nos recursos, que se deslocarão um pouco da campanha televisiva, que continuará sendo forte, para se concentrarem na identificação do eleitor e em campanhas “de comparecimento às urnas”. Os dois partidos e seus grupos aliados farão enormes investimentos para levar seus partidários às urnas. Os democratas talvez usem o descontentamento entre seus principais apoiadores com o resultado da Flórida em 2000 como força motivadora para levar seu pessoal às urnas. Vale a pena lembrar, porém, que, nas eleições de meio de mandato de 2002 para cadeiras no Congresso, os repu- blicanos ganharam a batalha pelo comparecimento às urnas. Eles foram mais bem-sucedidos na mobilização de seus apoiadores e isso garantiu, em grande parte, o sucesso nas eleições de meio de mandato. P: Como os partidos fazem com que os eleitores compareçam? R: Em outros países, com o voto obrigatório ou com a alta participação na votação, essas considerações não surgem da mesma maneira. Mas nos Estados Unidos, onde o comparecimento de 50% do eleitorado em idade de votar é considerado a norma nas eleições presidenciais, importa muito o que é feito para tentar motivar os cidadãos a ir às urnas. Agora, se você perguntar que fatores são determinantes para os americanos votarem ou não votarem, o fator predominante tende a ser a informação. Os eleitores potenciais de fato sabem que há uma eleição? Eles sabem quem são os candidatos? Sabem as diferenças entre os candidatos e os partidos? Segundo, eles têm uma ligação com algum dos partidos? Estão ligados de alguma maneira às forças rivais nas eleições? Terceiro, alguém pediu para que votassem? Tiveram contato pessoal com quem os informasse sobre os locais de votação e quando devem comparecer para votar e assim por diante? É esse último fator que é o foco das campanhas de comparecimento às urnas. Tais esforços exigem organização em nível local, com o uso de arquivos computadorizados para identificar possíveis eleitores, fazer contato com eles por telefone, por mala direta e, melhor, por meio de contato pessoal, de preferência a partir de uma fonte confiável – alguém com quem trabalhem, alguém da comunidade – e depois, no dia da eleição, fazer ligações de acompanhamento para ter certeza que foram votar, em alguns casos oferecendo transporte para irem aos locais de votação. Trata-se, na verdade, de um esforço extraordinário. P: Naturalmente, a mobilização funciona melhor com as principais bases eleitorais. Quais são as principais bases eleitorais de cada partido? R: Uma análise demográfica feita pelo Centro de Estudos Políticos da Universidade de Michigan [http://www.umich.edu/ ~nes/nesguide/nesguide.htm] sugere diferenças entre as bases de cada um dos partidos políticos. O estudo mostrou que os maiores simpatizantes dos democratas são afro-americanos. De modo geral, em cada dez afro-americanos, nove votam nos democratas. Os hispânicos tendem a apoiar os democratas, embora a margem seja de dois para um ou menos. Famílias de sindicalistas votam em massa nos democratas. A classe trabalhadora de renda mais baixa tende a votar mais nos democratas, embora alguns trabalhadores tendam a ser conservadores em questões sociais e grande parte deles seja ocasionalmente atraída pelos candidatos republicanos. As preocupações sociais e culturais são os principais motivos do apoio de homens brancos da classe trabalhadora e da classe média ao Partido Republicano. Pessoas divorciadas e famílias chefiadas por somente um dos pais tendem a ser mais democratas, enquanto casais mais tradicionais tendem a ser mais republicanos. A filiação, a prática e a participação religiosas são indicadores poderosos de quem está na base republicana. Quanto maior a freqüência com que uma pessoa participa de cerimônias religiosas, maior a probabilidade de ser republicana e votar nos republicanos. Os não religiosos tendem a votar nos democratas. Pessoas de renda mais alta são de orientação republicana. Isso é verdade em especial para os que atuam no comércio: de pequenos empresários a executivos de grandes empresas. E, no entanto, profissionais em início de carreira – com alto grau de instrução e com diploma universitário – votam cada vez mais nos democratas. Por fim, há uma diferença geográfica na base de cada um dos partidos. É o que chamamos de “Estados vermelhos e azuis” – com base em como o país ficou dividido em um mapa de televisão dos Estados Unidos depois da última eleição presidencial. Os Estados azuis no mapa votaram nos democratas; eles estão concentrados nas costas Leste e Oeste e no Norte dos Estados. Unidos Os Estados vermelhos, ou republicanos, tendem a se localizar no Sul, nos Estados com propriedades rurais, nos Estados das Montanhas Rochosas e em alguns dos Estados do Meio Oeste. Também pode-se observar a filiação partidária nos Estados. Os democratas tendem a ter suas bases nas cidades e nos subúrbios mais próximos. Os republicanos são mais fortes nos subúrbios mais afastados e nas áreas rurais. Os democratas estão cada vez mais fortes nas áreas de crescimento da alta-tecnologia, os republicanos estão mais fortes em algumas das áreas do país que na verdade perderam população – algumas das áreas rurais. Os republicanos foram muito bem em todos os subúrbios do Sul, inclusive em áreas de rápido crescimento, como a área ao redor de Atlanta (Geórgia). Em resumo, os republicanos podem ser considerados como o partido dos conservadores religiosos e culturais; homens e mulheres de negócios; o Sul, os Estados montanhosos e o Meio Oeste; os subúrbios mais afastados e as áreas rurais. Entre os partidários dos democratas estão as minorias; os não religiosos e os sociais liberais; as famílias de sindicalistas; moradores de baixa renda das grandes cidades; e as costas Leste e Oeste. É claro que todas essas classificações baseiam-se em tendências gerais. Entre todos os grupos demográficos, há diversidade na orientação política. P: Quais vantagens e desvantagens enfrentam os presidentes que concorrem à reeleição? R: Em primeiro lugar, é um fato histórico que a maioria dos presidentes que concorrem à reeleição têm se saído vitoriosos. Nem todos, é claro – na verdade, na história recente tivemos vários que não foram vitoriosos. O primeiro presidente Bush, em 1992, e o presidente Carter, em 1980, não conseguiram se reeleger. Também é verdade que Gerald Ford, que chegou à Presidência sem ter sido eleito, também não conseguiu se reeleger em sua primeira tentativa, em 1976. Mas, no geral, os presidentes tendem a vencer a eleição para um segundo mandato. Isso se dá em parte porque quase sempre eles evitam qualquer desafio na fase das primárias que possa prejudicar sua candidatura ressaltando suas vulnerabilidades. No entanto, o primeiro presidente Bush, o presidente Carter e o presidente Ford enfrentaram desafios na fase das primárias. O fato de o atual presidente, George W. Bush, não estar enfrentando nenhuma competição para a indicação republicana representa uma tremenda vantagem para ele. Em segundo lugar, os presidentes titulares estão em uma posição de dominar o que Theodore Roosevelt chamava de “palanque privilegiado” – isto é, definir a agenda e concentrar a atenção do público em questões que trabalhem a seu favor. Ocasionalmente, ao tomar decisões relativas à política externa e à política econômica interna, eles estão em posição de mudar a realidade no momento, de modo que isso possa trabalhar a seu favor na própria eleição. Também têm mais facilidade – como presidentes titulares – para arrecadar dinheiro e acumular recursos. Eles têm benefícios que podem distribuir a militantes do partido, o que lhes dá uma vantagem na eleição. A desvantagem de um presidente que concorre à reeleição é que os presidentes costumam receber os méritos pelas coisas boas que aconteceram durante seu mandato e a culpa pelas coisas ruins, independente de merecerem os méritos ou a culpa. Portanto, ocupar a Presidência durante momentos bons é ] Ulysses S. Grant, republicano (1869-1877) Rutherford B. Hayes, republicano (1877-1881) 19 James A. Garfield, republicano (1881) Chester A. Arthur, republicano (1881-1885) 20 um caminho para a reeleição. Mas ser o presidente titular quando a economia vai mal ou quando a política externa não é das melhores é uma clara desvantagem. As eleições em muitos aspectos são referendos do desempenho do atual governo. Se o momento for bom, é uma vantagem. Se o momento for ruim, é claramente uma desvantagem. P: A base política do presidente Bush é clara. Por outro lado, a maioria dos candidatos democratas já ocupou uma variedade de cargos – parlamentar, senador, governador de Estado, general do Exército. Como tais cargos afetam as chances de se tornarem presidente? R: Costuma-se dizer que a maioria dos membros do Senado dos EUA, ao acordar a cada manhã e se olhar no espelho do banheiro, vê um presidente em potencial. Mas, como dizemos, muitos senadores são “chamados”, mas poucos são de fato escolhidos. O último senador a chegar à Presidência foi John Kennedy, em 1960. Desde então, vários senadores foram indicados, mas perderam a eleição. Isso inclui Bob Dole em 1996 e George McGovern em 1972. Verifica-se que o Senado não é um bom ponto de lançamento para uma eleição presidencial. A maioria dos candidatos que chegou à Presidência veio da Vice-Presidência ou do governo do Estado. A VicePresidência é uma base natural para concorrer à Presidência, embora um vice-presidente nem sempre seja bemsucedido em sua candidatura, como Al Gore aprendeu em 2000. Os governos de Estado mostraram ser solos particularmente férteis para concorrer à Presidência – mais recentemente, George W. Bush; antes dele, Bill Clinton, Ronald Reagan, Jimmy Carter. Tem sido uma estatística realmente extraordinária. Uma carreira militar forneceu um solo fértil para presidentes no século 19, mas na era moderna somente Dwight Eisenhower passou de comandante militar para [ comandante-em-chefe. P: Como as leis de financiamento de campanhas influenciarão o resultado dessa eleição? R: George Bush foi o primeiro candidato à Presidência a recusar os matching funds públicos (do governo dos EUA) no processo de indicação em 2000. Portanto, por lei, ele não ficou sujeito aos limites de gastos naquela época. Desse modo, no ano de 2000, arrecadou mais de US$ 100 milhões e gastou mais do que seu adversário democrata. Isso não teria sido permitido se ele tivesse usado os recursos públicos. Em 2004, como os limites de contribuição de pessoas físicas aos candidatos dobraram de acordo com a lei de US$ 1 mil para US$ 2 mil, a campanha de Bush abrirá mão mais uma vez dos recursos públicos e arrecadará cerca de US$ 200 milhões durante o processo de indicação. Sem nenhum concorrente para a indicação republicana, a campanha de Bush poderá usar esse dinheiro para ajudar a definir em seus termos o candidato democrata que concorrerá com o presidente e a começar a construir uma estrutura local de obtenção de votos que ajudará nas eleições gerais. Essa é uma enorme vantagem. Nenhum dos candidatos democratas demonstrou a mesma capacidade de arrecadar esse montante de dinheiro durante a temporada de primárias do partido. Se eles aceitarem recursos públicos, ficarão limitados a gastar perto de US$ 50 milhões; grande parte desse valor será gasta na campanha para as primárias em 2003 e nos primeiros meses de 2004 tentando obter a indicação. Então, eles basicamente terão pouco ou nenhum dinheiro no período que se segue à escolha do candidato e à convenção partidária. Dada essa potencial disparidade, é de se esperar que um ou mais dos candidatos democratas recuse os recursos públicos e arrecade e gaste tanto dinheiro quanto puder. Depois de terminadas as campanhas das primárias e realizadas as convenções partidárias de indicação de candidatos, os candidatos decidem novamente se aceitam ou não o finan- ciamento público para a eleição geral. Espera-se que tanto o presidente Bush quanto o candidato democrata venham a aceitar os recursos públicos. P: O dinheiro faz toda essa diferença no resultado de uma disputa presidencial? R: O dinheiro faz mais diferença em algumas disputas e em algumas circunstâncias do que em outras. É extremamente importante nas disputas pela Câmara, nas disputas pelo Senado dos EUA e em disputas para os governos de Estado, porque é preciso muito dinheiro para que os competidores fiquem conhecidos dos eleitores e realmente tenham oportunidade de superar o obstáculo do anonimato existente para a maioria deles. É importante no processo de indicação presidencial, em que a maioria dos candidatos é relativamente desconhecida e precisa de dinheiro para divulgar a si próprios e suas plataformas e para se estruturar. Em uma eleição geral, o dinheiro tende a ser menos importante, porque há uma certa quantidade de atenção “gratuita” da mídia, devido à importância da disputa nesse ponto. Há debates na televisão. As pessoas confiam muito na identificação partidária ao analisar os candidatos. No entanto, em uma eleição muito disputada o dinheiro ainda pode fazer alguma diferença. P: Em 2004, será suficiente para o candidato à Presidência do Partido Democrata criticar o presidente Bush como o atual ocupante do cargo; ou os democratas precisam de algum tipo de agenda positiva para vencer a eleição? R: Para que os democratas saiam vitoriosos, eles precisam de duas coisas. De longe, a mais importante é que precisam de uma razão para que os eleitores neguem a George Bush um segundo mandato. Isso não é tanto um programa alternativo quanto um referendo negativo sobre como o país está indo sob a liderança de George Bush. Para que os democratas tenham uma chance de retornar à Casa Branca e recuperar o controle do Congresso, eles vão precisar de muitos eleitores que expressem algo assim: “Sinto-me menos seguro com relação ao meu bem-estar econômico e menos seguro fisicamente devido ao sucesso incerto na guerra contra o terrorismo e à situação confusa no Iraque.” Essa é uma condição necessária, porém provavelmente não suficiente, para que os democratas cheguem à Casa Branca em 2004. Em segundo lugar, os democratas precisam passar o limiar da credibilidade. Precisam ter um candidato que tenha a confiança do povo americano para proteger nossa segurança e perseguir políticas que não sejam excêntricas ou extremas ou que pareçam colocar mais riscos do que oportunidades para os americanos. Portanto, sim, os democratas têm que indicar um candidato que proponha uma estratégia de segurança nacional plausível, uma estratégia de política econômica e interna plausível. A maioria dos americanos não vai comparar as políticas do presidente Bush diretamente com a dos democratas. Mas, ao contrário, no caso de os americanos decidirem que o desempenho do presidente não merece necessariamente a renovação, eles então vão analisar mais de perto os democratas e se perguntar: “Podemos confiar neles?” É aí que o partido de oposição tem que ter uma alternativa plausível e positiva. P: Há um ditado que diz que, durante as primárias presidenciais, os candidatos assumem posições mais radicais à medida que procuraram agradar sua base partidária — os democratas à esquerda, os republicanos à direita. Será esse o caso e isso influenciará o comportamento político durante o próximo ano? R: Os candidatos à Presidência vitoriosos não se tornaram vítimas desse padrão nas eleições recentes. George Bush em 2000, por exemplo, encontrou um jeito de concorrer à indicação republicana oferecendo políticas substanciais à sua base conservadora que a deixou muito feliz, mas usando uma retórica de moderação e compaixão que evitou que ele fosse caracterizado como extremamente conservador ou de direita depois de ter conseguido a indicação. Bill Clinton rejeitou a tradicional abordagem esquerda versus direita em seu próprio partido e tentou agradar de outras maneiras tanto as bases quanto os eleitores indecisos. Sim, os militantes nas primárias tendem a ser mais radicais em termos ideológicos, à direita para os republicanos, à esquerda para os democratas; mas é possível arrumar atrativos e questões de maneiras que não necessariamente prejudicam sua posição na campanha para a eleição geral. P: Você vê um aumento do papel da internet nessa eleição presidencial? R: A maneira de ver a internet nesse contexto não é como um meio de comunicação de massa, não como um substituto da campanha na televisão. Pelo contrário, ela se tornou importante como uma forma de organização da campanha – recrutando e organizando voluntários, arrecadando dinheiro, coordenando atividades das bases, disseminando informações aos apoiadores. Howard Dean se aproveitou do sucesso de John McCain na eleição de 2000 arrecadando valores substanciais de dinheiro pela internet. Dean e outros candidatos do Partido Democrata estão usando a internet como um meio de se organizar. Por sua vez, as forças de Bush também entendem a importância da internet. Estão fazendo uso ativo dessa mídia, usando-a para arrecadar dinheiro, se estruturar localmente e garantir que tenham um meio de comunicação com militantes republicanos de uma maneira que tanto inspire quanto aloque recursos de modo eficiente. Portanto, nesses sentidos a internet será uma força importante nessa eleição. P: Também haverá eleições para a Câmara e o Senado, além da eleição presidencial. Como estão essas disputas? R: Neste exato momento, não vemos a possibilidade de uma eleição com vitória esmagadora para nenhum partido. Provavelmente será uma eleição muito disputada. O Partido Republicano tem sido o partido majoritário na Câmara dos Deputados desde a eleição de 1994. Eles também tiveram uma maioria apertada no Senado, que perderam por um curto período, quando o senador republicano Jim Jeffords saiu do partido e se tornou independente. Os republicanos reconquistaram a maioria do Senado na eleição de 2002. Muitos analistas que estudam a estrutura das eleições para a Câmara e o Senado concluíram que os republicanos provavelmente terão a maioria no restante da década, a menos que ocorra uma tendência inesperada a favor do Partido Democrata. Isso se dá em parte devido ao declínio do número de distritos eleitorais competitivos na Câmara dos Deputados, o que é conseqüência de muitos fatores. Nos últimos anos, isso foi resultado em parte do sucesso dos republicanos em usar o processo de alteração dos limites distritais nos Estados para distribuir com mais eficácia os eleitores nos distritos congressionais. Nessa próxima eleição, das 435 vagas na Câmara, provavelmente apenas 10% terão disputas acirradas. E com a vantagem republicana por ser o partido no poder, arrecadar mais dinheiro e ter mais sucesso na alteração dos limites distritais, os republicanos têm maior probabilidade de manter a maioria. No Senado, há mais cadeiras democratas do que republicanas. Lembre-se que um terço do Senado costuma concorrer à reeleição. Eles têm mandatos escalonados de seis anos. Mais cadeiras democratas estarão vagas para a nova eleição e essas cadeiras democratas tendem a ser dos Estados “vermelhos” (mais conservadores), Estados em que George Bush venceu em 2000. Portanto, somente se houver uma vitória esmagadora a favor dos democratas, eles terão oportunidade de se tornar o partido majoritário no n Congresso. ] Grover Cleveland, democrata (1885-1889) (1893-1897) 21 os dois partidos. Com eleições separadas e independentes para cada cargo, é possível um partido controlar o Congresso enquanto um representante do outro partido detém o cargo de presidente. Essa chamada divisão de governo tornou-se bastante comum. Partidos diferentes dividiram o controle do Congresso e da Presidência durante 16 dos últimos 24 anos. Os republicanos detêm a maioria JOHN H. ALDRICH mbora a mídia venha a focalizar na Câmara desde 1994.Também controa maior parte da sua atenção nas laram o Senado de 1994 até 2000, os seis eleições presidenciais em 2004, últimos anos do mandato de oito anos os americanos votarão ao mes- do presidente Bill Clinton. As eleições de 2000 terminaram com mo tempo em milhares de candidatos para muitos cargos diferentes. As os republicanos ganhando a Presidência eleições para o Congresso dos EUA, em e mantendo a maioria na Câmara. Os especial, podem ser tão competitivas e dois partidos, no entanto, têm 50 cadeiquase tão importantes como as da cam- ras no Senado. A Constituição concede panha presidencial. Atualmente, existe ao vice-presidente (o republicano Dick um grande equilíbrio de forças no Con- Cheney) o voto de Minerva no Senado. gresso entre os dois principais partidos Dessa forma, os republicanos têm a políticos. Na verdade, os republicanos maioria pela menor margem de diferentêm somente 12 cadeiras (de um total ça depois das eleições de 2000, dando de 435) a mais que os democratas na a eles o controle unificado do governo câmara baixa, a Câmara dos Deputados, e federal. Em junho de 2001, o senador republisomente 51 das 100 cadeiras no Senado, cano James Jeffords abandonou o Partia câmara alta. As eleições para o Congresso são im- do Republicano, passando o controle portantes devido ao papel fundamental do Senado aos democratas e causando que ele exerce na elaboração das políti- novamente a divisão de controle do cas.Ao contrário do sistema parlamentar, governo. Os democratas, por sua vez, o sistema americano adota a separação perderam essa maioria apertada nas eleide poderes entre o Congresso e o presi- ções de 2002, dando aos republicanos o dente.Todas as leis são inscritas e devem controle unificado. ser aprovadas pelo Congresso. Também, diferentemente do sistema parlamentar, como é eleito o congresso a disciplina partidária não é seguida tão A Câmara dos Deputados e o Senado estritamente. Os membros do Congresso têm poderes quase iguais, mas a forma são livres para votar nas políticas como de eleição de seus membros é bem melhor lhes aprouver, inclusive de acor- diferente. Os fundadores da República do com o que for mais favorável para sua Americana pretendiam que os represenreeleição. Assim, os líderes do Congresso tantes da Câmara se mantivessem mais compõem uma coalizão vencedora con- próximos do público, refletindo seus quistando a adesão dos congressistas, um desejos e ambições de modo mais fiel por um, em vez de contar com o suporte ao legislar. Portanto, o modelo pretenunificado de partidos altamente discipli- dido para a Câmara incluía um número nados, tornando dessa forma cada vitória relativamente grande de representantes ou derrota parlamentar importante para e eleições freqüentes (a cada dois anos). Originalmente, alguns consideravam muito longo um mandato de dois anos. Hoje, a preocupação maior é que, com eleições freqüentes, os titulares dos cargos estejam sempre concorrendo à eleições para o congresso E Benjamin Harrison, republicano (1889-1893) 22 [ reeleição e, por isso, deixem de lado os interesses da nação para cuidar de seus interesses eleitorais. Cada cadeira na Câmara representa uma base eleitoral geográfica, e cada membro é eleito por um distrito de representante único pela regra da pluralidade; isto é, o candidato com a maioria dos votos ganha a eleição. Cada um dos 50 Estados tem direito pelo menos a uma cadeira na Câmara, com as restantes distribuídas aos Estados segundo sua população. O Alasca, por exemplo, tem população diminuta e, portanto, ocupa somente uma cadeira na Câmara. A Califórnia é o maior Estado e detém 53 cadeiras atualmente. O Senado foi criado com o propósito de representar os Estados e, de fato, os senadores eram selecionados originalmente pelos legislativos estaduais. Apenas depois da aprovação da Décima Sétima Emenda à Constituição em 1913 é que os senadores passaram a ser eleitos diretamente pelos eleitores de seus Estados. Cada Estado tem dois senadores eleitos para mandatos de seis anos, com um terço das cadeiras do Senado colocadas para reeleição a cada dois anos. Então, na prática, os senadores são escolhidos pelos votos da pluralidade do eleitorado, com cada Estado servindo como distrito de representante único. As eleições que são decididas pela regra da pluralidade, especialmente por distritos de representante único, resultam quase sempre em um sistema com dois principais partidos políticos. Isso ocorre porque o candidato de um terceiro partido tem pouca possibilidade de vencer. Os eleitores preferem não “desperdiçar” seus votos em campanhas consideradas sem chances, e os candidatos que querem vencer as eleições, portanto, evitam se afiliar a um partido dessa espécie. Já que não há “representação periférica”, as vozes da minoria tendem a ser representadas dentro de um dos dois grandes parti- FIGURA 1: CONTRIBUiçõeS dos comitês de ação política para as campanhas à câmara, por partido, 1983-2000 120 CICLO DE ELEIÇÕES DE DOIS ANOS Fonte: U.S. Statistical Abstract MILHÕES DE DÓLARES 100 80 60 DEMOCRATAS REPUBLICANOS 40 20 0 1983-84 1985-86 1987-88 1989-90 1991-92 1993-94 1995-96 1997-98 1999-00 FIGURA 1 dos, e não por grupos dissidentes de opiniões menos populares. No decorrer de sua história, os Estados Unidos nunca tiveram mais de dois partidos principais. Atualidade, mesmo no auge de eleições reconhecidamente centradas em candidatos, partidos e candidatos nanicos podem muitas vezes tentar, mas muito raramente ganham eleições. Após as eleições de 2002, apenas dois dos 435 deputados da Câmara de Deputados dos EUA eram independentes, e havia somente um senador independente entre os 100 titulares. Todas as outras cadeiras das duas Casas são ocupadas por representantes do Partido Republicano ou do Partido Democrata, os dois partidos predominantes dos Estados Unidos desde 1860. fatores nas eleições para o congresso Durante a maior parte da história dos EUA, as eleições para o Congresso eram centradas em partidos. Como a maioria dos eleitores mantinha-se fiel a um ou outro partido político por muito tempo, seus votos seguiam essa tendência de fidelidade partidária. Os representantes do Congresso eram muitas vezes reeleitos, ocupando os cargos por várias décadas, porque a maioria de sua base eleitoral apoiava o partido. Seus esforços como titulares individuais raramente resultavam em maior ou menor adesão à sua candidatura, a não ser em termos marginais. Mais recentemente, as personalidades dos candidatos e as questões defendidas por eles emergiram como forças que contribuem para o impacto da fidelidade partidária. De fato, desde a década de 1960, as eleições nacionais tornaram-se cada vez mais centradas em candidatos. A capacidade dos candidatos em realizar campanhas pela televisão, levantar grandes quantias, conduzir pesquisas de opinião e tratar de outros aspectos das campanhas modernas tornou o eleitor mais consciente do candidato como indivíduo. Como resultado desses fatores, os eleitores tendem a considerar sua impressão dos pontos fortes e fracos dos dois candidatos, além da fidelidade partidária. O voto centrado em candidatos é uma vantagem fundamental para os que concorrem à reeleição. Esses, em geral, têm acesso a mais espaço na televisão e nos jornais do que seus oponentes. Com maior exposição na mídia e influência substancial sobre a política pública, os titulares do cargo também podem levantar mais dinheiro para a campanha. Por esses motivos, entre outros, os candidatos à reeleição têm muita probabilidade de vencer. Em 2002, 398 deputados concorreram à reeleição e apenas 16 foram derrotados, enquanto somente três dos 26 senadores que pretendiam renovar seus mandatos perderam. Com o índice de 88% de reeleição para o Senado e 96% para a Câmara, pode-se dizer que as eleições parlamentares são centradas não somente em candidatos, mas também nos candidatos à reeleição. ] O vice-presidente Dick Cheney dá um voto decisivo como presidente pro tempore do Senado dos EUA, em 23 de maio de 2003. O veterano senador democrata Robert Byrd da Virgínia Ocidental conversa com um grupo do lado de fora do Senado, 2003 23 FIGURA 2: contribuições dos comitês de ação política aos candidatos à reeleição e a seus oponentes para a câmara, por partido, 1983-2000 OPONENTES 140 CICLO DE ELEIÇÕES DE DOIS ANOS 120 MILHÕES DE DÓLARES CANDIDATOS À REELEIÇÃO 160 100 80 60 40 20 0 1983-84 1985-86 1987-88 1989-90 1991-92 1993-94 1995-96 1997-98 1999-00 FIGURA 2 William McKinley, republicano (1897-1901) 24 Com mais dinheiro e maior cobertura da mídia, os candidatos à reeleição vencem porque são conhecidos do eleitorado, ao contrário dos oponentes. Pesquisas mostram que mais de nove entre dez entrevistados reconhecem o nome do seu representante na Câmara ou no Senado, mas pouco mais da metade reconhece o nome do oponente, até mesmo no fim da campanha. Como são pouco conhecidos, os oponentes têm muita dificuldade de persuadir quem tem dinheiro a contribuir. Isso leva a um ciclo desastroso, no qual candidatos potencialmente fortes decidem não concorrer contra os titulares dos cargos e os considerados “apostas arriscadas” concorrem, porém não conseguem angariar fundos para suas campanhas. A quantidade de dinheiro destinada aos candidatos ao Congresso pelos Comitês de Ação Política (CAPs) indica a importância dos recursos, do partido e da titularidade do cargo nas eleições [ para o Congresso. As contribuições dos CAPs aos dois maiores partidos entre 1983 e 2000 (último ano com dados disponíveis) são exibidas na figura 1. A figura ilustra o aumento no fluxo das quantias destinadas às eleições nesse período. Pode-se observar também que os democratas foram beneficiados de modo substancial com recursos dos CAPs até 1994, isto é, durante o tempo em que eram o partido majoritário. Nos últimos três ciclos de eleições, os republicanos empataram com os democratas na obtenção desses recursos. Com competição tão acirrada, atualmente os dois partidos recebem na prática a mesma quantia de contribuição desses comitês. A figura 2 mostra as doações dos CAPs aos candidatos à reeleição e aos seus oponentes no mesmo período. A enorme vantagem recebida pelos titulares do cargo no levantamento de fundos é evidente em todas as eleições. De fato, as contribuições desses comitês aos candidatos à reeleição aumentaram muito ao longo das duas últimas décadas, enquanto os fundos para os oponentes aumentaram em menor escala. A figura em si só indica o motivo da vitória de candidatos à reeleição nessa proporção. Quando candidatos oponentes tornam-se conhecidos do eleitorado, há mais chance de os eleitores tratarem os dois de modo mais igualitário, votando no candidato cuja mensagem o eleitor acredita ser melhor. Que apelos são mais eficazes nas eleições ao Congresso? Isso também mudou, sobretudo nas eleições recentes. Até recentemente, as eleições para o Congresso eram em geral decididas com base nos interesses e preocupações pontuais de um distrito e não em questões nacionais. Isso ocorria de fato nas eleições de meio de mandato, isto é, as efetuadas na metade do mandato de quatro anos de um presidente, não tendo assim o foco nacional, inerente a uma campanha presidencial. Esse foco local das eleições vinha bem a calhar com a ascensão das eleições centradas em candidato, permitindo que eles acomodassem seus interesses a seus distritos. As eleições de 1994 representaram um divisor de águas. O Partido Republicano obteve maioria no Senado e o número surpreendente de 52 cadeiras, tirando do Partido Democrata a situação de partido majoritário pela primeira vez em 40 anos. Parte da estratégia de seu líder, o presidente da Câmara, Newt Gingrich, foi um programa legislativo de dez pontos, chamado Contract with America (Contrato com os Estados Unidos). O contrato foi endossado pela grande maioria dos candidatos republicanos à Câmara no início da campanha e tornou-se especialmente importante após as eleições. Gingrich prometeu – na maior parte das vezes com sucesso – que a maioria republicana aprovaria na Câmara as leis inspiradas nesse contrato no tempo recorde de 100 dias. Esse foco deu proeminência ao perfil do Partido Republicano e à sua liderança. Dessa forma, estabeleceu uma norma, segundo a qual as questões nacionais e uma plataforma nacional do partido constituiriam uma regra nas campanhas das eleições de meio de mandato. As duas eleições de meio de mandato realizadas depois de 1994 foram tão surpreendentes como as daquele ano. Em 1998, pela primeira vez desde 1934, o partido de um presidente titular tirou cadeiras (nesse caso, cinco e seis cadeiras, respectivamente) do partido da oposição na Câmara. Embora os republicanos mantivessem a maioria no Congresso, foram considerados, em essência, perdedores nas eleições de 1998. Muitos membros atribuíram essa “derrota” à omissão do partido em adotar uma postura clara diante de questões nacionais. Em 2002, os democratas não conquistaram mais cadeiras, sem conseguir, portanto, a posição majoritária e, uma vez mais, com razão ou não, muitos líderes do partido imputaram essa derrota ao fato de não terem esboçado uma plataforma partidária nacional. eleições para o congresso em 2004 cadeiras não pretendidas pelos atuais ocupantes. A combinação de candidaAs dramáticas reviravoltas das eleições tos bons e experientes para a Câmara para o Congresso durante a última e uma campanha forte por parte do década tornam arriscadas as previsões. candidato do partido à Presidência De fato, o que talvez se possa concluir pode causar a maior troca de cadeiras é que as maneiras antigas de condu- entre os dois partidos. zir as campanhas deixaram de ser as Nas últimas décadas, diminuiu a mais eficientes e que os eleitores estão “influência dos coattails presidenciais” mudando seu ponto de vista ao tomar – isto é, dos “puxadores de voto” que ledecisões. Ainda assim, há algumas coisas vam os eleitores a votar em senadores e a observar em 2004. deputados federais do mesmo partido A questão mais premente para 2004 do presidente. Os dois votos são relaé se os democratas têm possibilidade de tivamente independentes. E ademais, ganhar cadeiras suficientes para retomar a maioria na Câmara. Há somente 34 cadeiras no Senado concorrendo à eleição, 19 delas ocupadas por democratas. Além disso, menor número de republicanos teve disputas acirradas da última vez e 22 delas ocorrerão em Estados onde George W. Bush venceu em 2000. Portanto, parece improvável que os democratas venham a obter mais cadeiras no Senado. Desse modo, a permanência dos republicanos como partido majoritário no Senado parece garantida e as atenções se voltarão para a Câmara. Os dois partidos estão tentando recrutar os candidatos mais fortes e mobilizar recursos para as eleições para a Câmara. Muito depende do recrutamento de novos candidatos para concorrer a essas eleições, em especial os que têm experiência eleitoral, como os membros dos legislativos estaduais. Porém, também é importante o grau em que o candidato indicado à Presidência pelo partido venha a fortalecer ou enfraquecer as chances dos demais candidatos, particularmente daqueles que concorrem a Centro: deputada Kathleen Harris, (republicana, Flórida), cumprimenta deputado Kendrick Meek, (democrata, Flórida), enquanto se preparam para uma foto em grupo dos novos membros da Câmara dos Deputados, em novembro de 2002. Margem direita, de cima para baixo: candidata das primárias democratas ao Congresso, Denise Majette, agradece aos simpatizantes, agosto de 2002, Decatur, Geórgia. A senadora republicana do Texas, Kay Bailey Hutchison, acena, depois do discurso de aceitação, do lado de fora da Assembléia Legislativa do Texas, em Austin, 7 de novembro de 2000. Deputado Ernie Fletcher, republicano de Kentucky, celebra sua reeleição ao Congresso na mesma data em 2000, com os dois candidatos presidenciais recebendo quase a mesma votação, essa conexão não pôde trazer vantagem para nenhum partido nas disputas para o Congresso. Com um presidente no exercício do cargo buscando a reeleição e a divisão tão igualitária de cadeiras entre os dois partidos, o equilíbrio partidário no Congresso dependerá talvez da votação presidencial. Caso o presidente George Bush mantenha os altos índices de aprovação recebidos durante a guerra com o Iraque e imediatamente depois dela, é provável que aumentem as chances de os republicanos conservarem a maioria nas duas Casas. Se, pelo contrário, seus índices de aprovação desabarem devido talvez a questões econômicas, possivelmente serão encerrados os dez anos de maioria republicana no Congresso, ao encerrar seu mandato. ] 25 Theodore Roosevelt, republicano (1901-1909) Como as questões nacionais são parte cada vez mais importante das eleições para o Congresso, as forças nacionais mais decisivas em 2004 serão os candidatos presidenciais e suas campanhas políticas. Esse aspecto é o mais difícil de prever. Do lado dos democratas, a disputa para indicação à Presidência, até o momento em que é escrito esse artigo, está aberta, com vários candidatos buscando a indicação e com nenhum deles ainda emergindo como favorito. Nesse ponto, não podemos dizer se rismo possivelmente continuará a ser a questão principal da política externa. Já vem de algum tempo – desde a queda da União Soviética – a importância dada em uma eleição presidencial às preocupações internacionais, e é imprevisível o modo como será conduzido o debate pelos dois lados e como o público reagirá. No momento, contudo, parece que a economia dos EUA será o foco dominante entre os eleitores. Só que há uma grande incerteza sobre uma recuperação decisiva e visível da economia, entre os dois partidos. Portanto, há muitas coisas em jogo na democracia americana, já que os rumos da política serão diferentes, dependendo do partido que estiver no controle. Somadas a essa, há outras incertezas, ou seja, como a reação do público aos dois candidatos presidenciais influenciará os resultados no Congresso, quem serão os candidatos do Partido Democrático, que teses defenderão, e como o público reagirá a eles.Tudo isso torna a contenda de 2004 um espetáculo extremamente emocion nante. John H. Aldrich (Ph.D., Rochester), professor de Ciências Políticas da Universidade Pfizer-Pratt. É especialista em política americana e comportamento, teoria formal e metodologia. É autor ou co-autor, entre outros, dos seguintes livros: Parties, Before the Convention, Linear Probability, Logit and Probit Models, e uma série de livros sobre eleições, tendo sido recentemente publicado Change and Continuity in the 2000 and 2002 Elections. estará no topo da chapa democrática um liberal ou um moderado, um candidato a favor ou contra a guerra. Se, como imaginamos, o presidente Bush decidir concorrer, podemos ter certeza de que ganhará a indicação. É provável que a política interna ressurja como a questão central em 2004. Mesmo assim, a guerra contra o terro- 26 [ o que favoreceria os republicanos, ou a continuidade de seu enfraquecimento, chegando à recessão, fator esse que contribuiria para a retomada do poder pelos democratas. Em resumo, o controle partidário da Câmara e do Senado depende das eleições de 2004 devido ao equilíbrio estrito que perdurou na última década Acima: membros da Câmara dos Deputados prestam juramento em 7 de janeiro de 1997, no início do 105o Congresso. Abaixo: o presidente George W. Bush faz seu primeiro pronunciamento a uma sessão conjunta do Congresso dos EUA, em 27 de fevereiro de 2001. as pesquisas, os analistas e as eleições de 2004 M JOHN ZOGBY uitos americanos amam as pesquisas políticas. Outros adoram dizer que as odeiam. Aqueles que as amam gostam do jogo da política – quem está à frente, quem tem chance de ganhar, quem é mais popular para a área da saúde ou economia. Esses “aficionados da política” acompanham de perto os índices de desempenho de presidentes, governadores e prefeitos. E muitos eleitores parecem simplesmente gostar da idéia de estar ligados a outros cidadãos de sua comunidade ou nação. Em uma era em que cada vez mais os americanos estão isolados em cubículos nos locais de trabalho ou em longos percursos de casa ao trabalho e do trabalho para casa, as pesquisas dão aos cidadãos o sentido de onde eles se situam em relação aos demais, como parte de uma comunidade nacional. A profissão de pesquisador de opinião pública é controversa. Somos freqüentemente acusados de ir muito além da simples mensuração das oscilações da opinião pública em relação a temas e candidatos, de manipular eleitores, de exercer a dominação de um guru sobre titulares de cargo eletivo influenciáveis e, finalmente, de influir o comparecimento de eleitores às urnas. Contudo, nas minhas duas décadas de experiência como pesquisador profissional descobri que aqueles que mais reclamam das pesquisas são os que podem citar prontamente todos os dados mais recentes. pesquisa, ontem e hoje Houve um tempo em que apenas um ou dois institutos de pesquisa dominavam o mercado. Hoje, em uma era de notícias imediatas, internet e canais de notícias a cabo 24 horas no ar, grandes espaços noticiosos são freqüentemente preenchidos com pesquisas de opinião contratadas e não contratadas de diversas fontes. Embora a primeira pesquisa política tenha sido realizada em 1824 pelo jornal local de Harrisburg, Pensilvânia, as pesquisas independentes das campanhas políticas não geraram grande interesse de cobertura pela mídia até os anos 1930. As primeiras e melhores pesquisas modernas foram realizadas por institutos como Gallup e Roper, aos quais se juntaram mais tarde outros nomes americanos conhecidos como Sindlinger, Yankelovich e Harris. Além disso, nos anos 1970, as três principais agências de notícias das redes de TV americanas disponibilizaram suas próprias pesquisas para as disputas presidenciais e, logo depois, para importantes eleições estaduais para governador e para o Congresso dos Estados Unidos. As pesquisas da mídia – aquelas realizadas por uma rede de notícias em parceria com um jornal (por exemplo, CBS/New York Times, ABC/Washington Post, NBC/Wall Street Journal) – são, de diversas maneiras, diferentes das pesqui- Acima: delegados da convenção republicana apóiam o senador Robert Dole para presidente, San Diego, 1996. sas particulares realizadas por candidatos e partidos políticos e se tornaram uma parte importante do processo político. A diferença mais relevante é que as pesquisas da mídia são públicas e têm por objetivo principal informar os eleitores sobre quais candidatos estão na liderança em uma disputa política. Elas são elaboradas para ser imparciais e independentes. Essa objetividade é especialmente importante porque impede que os candidatos blefem sobre suas “próprias” pesquisas. No passado, por exemplo, um candidato poderia dizer que suas pesquisas mostravam que estava à frente, embora a opinião pública sugerisse o contrário. Ao longo das décadas, as pesquisas políticas independentes têm oferecido uma visão objetiva das disputas eleitorais, uma avaliação dos pontos fortes e fracos de cada candidato e uma análise dos grupos demográficos que apóiam cada candidato. As pesquisas independentes possibilitam a repórteres e editores elaborar e divulgar avaliações honestas sobre a posição de uma campanha. O tipo de transparência encontrado nas pesquisas independentes presta um serviço útil a leitores e espectadores. Mas mesmo elas podem ser problemáticas. Em 1996, o ex-líder republicano do Senado, Bob Dole, desafiou Bill Clinton, presidente democrata que concorria à reeleição. Enquanto muitas pesquisas mostravam Dole atrás por até 25 pon- ] De cima para baixo: um homem lê o Chicago Tribune, em 1o de maio, 1968, com a notícia da decisão do presidente Johnson de não concorrer à reeleição. O candidato democrata à Presidência, Eugene McCarthy, fala a estudantes na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, em abril de 1968. 27 William Howard Taft, republicano (1909-1913) direita: pessoal de mídia trabalha no site da Convenção Democrata, 17 de agosto de 2000, em Los Angeles 28 tos durante toda a campanha, minhas próprias pesquisas para a Reuters apontavam uma competição expressivamente mais apertada – com uma variação de 7 a 12 pontos. Entretanto, naquela disputa, as pesquisas das redes de outras organizações e dos principais jornais guiavam a cobertura da mídia. Assim, todo dia Dole era apontado como o candidato que estava muito atrás do presidente “nada mais, nada menos que 25 pontos”. Quando apenas as pesquisas mais tendenciosas são usadas como base para a cobertura de uma campanha, elas realmente podem distorcer a informação, sugerir um resultado e assim se tornar uma profecia autocumprida. Isso também não torna mais fácil para o candidato levantar dinheiro ou receber uma audiência justa. Quer dizer que pesquisas pré-eleitorais podem realmente influenciar o comparecimento dos eleitores ou os resultados? Em geral, a resposta é não. Embora a cobertura Dole-Clinton tivesse criado sérios problemas para o senador, não há provas de que Dole teria vencido. Também não há provas claras de que algum candidato alguma vez tenha perdido uma eleição porque as pesquisas pré-eleitorais o mostravam atrás. Contudo, há quem afirme que hoje há pesquisas de opinião em excesso, o que na língua inglesa foi apelidado de poll-ution. Tenho me referido às redes de notícias a cabo 24 horas no ar e sua necessidade de preencher grandes espaços noticiosos. Esse é um dos motivos da proliferação das pesquisas políticas. A simples competição entre as organizações da mídia certamente é outro. No ano 2000 houve no mínimo 14 grandes pesquisas independentes durante o período de campanha e seus resultados nem sempre foram consistentes. Mas os eleitores não podem [ reclamar – há opções, e eles devem ser bons consumidores ao assistir às pesquisas, assim como provavelmente são ao comprar uma casa ou um carro. Nas pesquisas de opinião, há algumas regras básicas a serem observadas, e aqui está o meu roteiro para melhor analisá-las. tamanho das amostras e margem de erro Às vezes são realizadas pesquisas da noite para o dia após um evento importante como o discurso anual do presidente sobre o Estado da União ou um debate entre candidatos a um cargo político. Geralmente essas pesquisas são realizadas em uma noite para publicação rápida no dia seguinte e representam uma amostra de apenas 500 pessoas adultas da nação. Embora essas “pesquisas de uma noite” possam oferecer um quadro rápido da reação pública, os especialistas acreditam que elas têm falhas. Em primeiro lugar, uma amostra de apenas 500 pessoas é muito pequena para avaliações consistentes em uma nação de 280 milhões de pessoas. Ela pode ser precisa em 95% do das vezes, 4,5% a mais ou a menos, mas decididamente não é suficiente em uma corrida presidencial ou de um grande Estado. Além disso, uma amostra de 500 pessoas, em minha opinião, não é suficiente para produzir a análise de subgrupo estatisticamente significativa que é necessária em uma eleição nacional ou de um dos principais Estados. Há também outros problemas metodológicos. Uma amostra de uma noite significa que uma ampla representação de pessoas poderia não ter estado em casa. Embora os pesquisadores atribuam pesos à sua amostra para que reflita com mais fidelidade os dados demográficos da população, os procedimentos de ponderação nem sempre compensam os grupos que não estão substancialmente representados. Por exemplo, uma pesquisa da noite para o dia poderia sub-representar os afro-americanos. Ou, em uma outra noite, o instituto de pes- quisa poderia ter contatado muitos afro-ame- ricanos do Nebraska ou Kansas e um número insuficiente de Nova York, do Mississipi ou da Carolina do Sul. Outro problema comum das pesquisas rápidas é que elas podem entrevistar “adultos” no lugar de “prováveis eleitores”. Os dados demográficos entre os dois grupos podem ser totalmente diferentes. Em geral, o grupo de adultos contém mais minorias, pessoas oriundas de famílias de renda mais baixa e membros de sindicatos. Considerando que cada um desses grupos tende para o Partido Democrata e seus candidatos, qualquer grande representação em seu número em uma pesquisa pode distorcer os resultados. Assim, observe o tamanho da amostra e a composição de uma pesquisa. Nos Estados Unidos, uma boa pesquisa nacional entrevistará no mínimo 1.000 eleitores prováveis e apresentará uma margem de erro não superior a mais ou menos três pontos. New Hampshire em 1972. O senador George McGovern de Dakota do Sul, que por um breve período vestiu o manto antiguerra em 1968 e depois liderou um movimento reformista dentro do Partido Democrata, desafiou o favorito, senador Edmund Muskie, nitidamente à frente, para receber a indicação prequando uma vitória não é vitória sidencial. As pesquisas particulares de Como a Mona Lisa ou uma grande obra McGovern mostravam que ele poderia de ficção, mesmo as pesquisas mais exceder os 40% na votação primária em completas são abertas à interpretação. New Hampshire: assim, ele sabiamente Elas também criam uma série de expec- insinuou à mídia que ficaria feliz se tativas para os repórteres e analistas de atingisse 35%. Quando conquistou 43% pesquisa de opinião que as lêem. Nesse contra os 48% de Muskie, a imprensa sentido, o pesquisador e os analistas argumentou que (como em 1968) o estabelecem essa figura ardilosa co- oponente tinha “vencido” ao exceder nhecida como “opinião pública”. E os as expectativas dos analistas. Como em dois grupos amam ver os candidatos 1968, a “vitória” deu a McGovern o que desafiarem essa opinião pública. Assim, os historiadores afirmam ser os maiores há uma história rica de candidatos que benefícios de vencer em New Hampshiemergiram das sombras, contrariando re: mídia, dinheiro e ímpeto. McGovern as tendências sugeridas pelos resulta- ganhou a indicação a candidato a presidos das pesquisas preliminares. dente pelo Partido Democrata embora Tomemos, por exemplo, o caso tenha perdido a eleição geral por uma do senador Eugene McCarthy em sua vitória esmagadora de Richard Nixon. cruzada contra a Guerra no Vietnã e Em 1976, o ex-governador da Geórgia, sua competição contra o presidente Jimmy Carter, foi inicialmente apelidado Lyndon Johnson em 1968. Embora o de “Jimmy Who” pela imprensa de Wasentimento contra a guerra estivesse shington. Os 28% mostrados em New se desenvolvendo nos Estados Unidos, Hampshire contra cinco candidatos ninguém pensava que um senador de democratas renomados foram suficienMinnesota pouco conhecido pudesse tes para lhe conceder a condição de representar um sério desafio ao poderoso presidente Johnson. Mas quando os votos foram contados depois da primeira primária (New Hampshire), McCarthy recebeu 41% dos votos contra os 49% de Johnson. Embora o nome do presidente nem ao menos constasse na cédula eleitoral e tivesse que ser escrito por aqueles que desejavam votar nele, os analistas entenderam que McCarthy tinha excedido de tal maneira todas as expectativas estabelecidas nas pesquisas pré-eleitorais que o declararam vitorioso. A “vitória” de McCarthy atordoou o universo político e, em duas semanas, o presidente Johnson decidiu não concorrer à reeleição. Uma vitória semelhante, anunciada pelos analistas de opinião, ocorreu na primária do Partido Democrata em favorito e a indicação definitiva. Assim, a lição em todos esses casos é que as pesquisas pré-eleitorais podem ser usadas para impulsionar a posição de um favorito ou enfraquecê-la. Na verdade, as pesquisas estabelecem padrões para a cobertura de campanhas e dão uma idéia da opinião pública com relação às expectativas de vitória. pesquisas de boca-de-urna Woodrow Wilson, democrata (1913-1921) As pesquisas de boca-de-urna têm sido de grande importância nas eleições estaduais e nacionais dos Estados Unidos desde os anos 1970. Pode-se argumentar que são as pesquisas mais controversas atualmente porque tentam prever vitórias eleitorais do lado de fora do local de votação, com base em entrevistas com pessoas que acabaram de votar. As pesquisas de boca-de-urna ficaram malvistas de forma especial nas eleições presidenciais de 2000, quando foram usadas de maneira equivocada pelas redes de televisão para fazer não apenas uma, mas duas projeções incorretas do vencedor que havia sido escolhido pelos eleitores na Flórida. Porém as pesquisas de boca-de-urna, quando utilizadas de forma apropriada, são instrumento fundamental para os pesquisadores, a imprensa e os aca- Da esquerda para a direita: republicanos se reúnem no Texas para assistir ao primeiro debate transmitido por televisão entre Al Gore e George W. Bush, em 2000. Uma eleitora de Los Angeles preenche uma pesquisa de boca-de-urna depois de votar nas eleições primárias. ] 29 dêmicos. Além de seu uso na projeção antecipada dos vencedores na noite da eleição, elas fornecem a especialistas e cientistas políticos detalhes de como determinados grupos demográficos votaram e as razões explicitadas para seu voto.Também ajudam os pesquisadores a desenvolver modelos de comparecimento de eleitores para eleições futuras – ou seja, uma noção de quantas pessoas de cada grupo demográfico espera-se que compareça a uma eleição. mas em um pleito apertado, uma margem de erro de um ou dois pontos ganha grandes proporções. Com base nas pesquisas de opinião pública pré-eleitorais e de boca-de-urna no decorrer do dia da eleição em 2000, não havia uma maneira legítima para que as redes de televisão pudessem anunciar se George W. Bush ou Al Gore tinham vencido no Estado da Flórida antes que todos os votos fossem apurados.A pressão para anunciar a projeção primeiro Direita: o candidato George W. Bush comparece ao programa de entrevistas na TV “Hardball with Chris Matthews” durante sua campanha à Presidência. Abaixo: George W. Bush no programa de entrevistas na TV “Meet the Press”. Isso é fundamental para garantir que as amostras futuras de eleitores com fins políticos sejam representativas. Contudo, as pesquisas de boca-de-urna tornam-se problemáticas quando são utilizadas para projetar um vencedor. Por mais que o processo de amostragem utilizado seja bom, ainda será uma amostragem, o que significa que há margem de erro. Isso tem menos importância se for uma eleição com maioria esmagadora de um partido, Warren G. Harding, republicano (1921-1923) 30 [ superou a pressão para anunciar a projeção correta. Este ponto de vista pode parecer estranho vindo de um pesquisador profissional, mas penso que o desastre da pesquisa de boca-de-urna em novembro de 2000 foi uma boa lição. Simplesmente não precisamos saber quem venceu uma eleição antes que o resultado real seja apurado. O processo eleitoral será mais bem servido se as pesquisas de boca-de-urna forem usadas durante a noite da eleição unicamente para deixar claro quem votou e por que votou daquela forma. a pesquisa de opinião está em crise? Hoje em dia fala-se muito sobre uma baixa nos índices de respostas às pesquisas de opinião. Quando comecei a trabalhar nesta profissão, a média dos índices de respostas era de 65% - ou seja, de cada três telefonemas, duas pessoas concordavam em responder à pesquisa. Hoje, o índice médio de retorno é de aproximadamente 30% e tende a ser muito mais baixo em algumas áreas metropolitanas. Diante disso, alguns analistas estão prontos a declarar que as pesquisas acabaram. Esse certamente não é o caso. Um índice de respostas mais baixo significa que leva mais tempo para se concluir as pesquisas, mas ainda é possível conseguir boas amostras. Embora algumas empresas de pesquisa — inclusive a minha — tenham aprendido muito depois de perder algumas contratações para eleições importantes, o fato é que todos nós, de modo geral, ainda somos capazes de conseguir bons resultados dentro de margens de erro por amostragem. Penso que ter expectativas razoáveis sobre o que as pesquisas podem e o que não podem fazer, combinado com um ceticismo saudável do consumidor de informação política, é a melhor abordagem a adotar à medida que todos nos preparamos para outro ano n de eleição majoritária em 2004. O pesquisador John Zogby é presidente e diretor executivo da Zogby International, empresa que fundou em 1984. Sua empresa tem realizado pesquisas para a Reuters e a rede de televisão NBC entre outras mídias. Zogby é autor de Decision 2002: Why the Republicans Gained. Informações adicionais sobre Zogby estão disponíveis no site: www.zogby.com a situação do financiamento de campanha U JOSEPH E. CANTOR m importante político americano declarou certa vez que “o dinheiro é o leite materno da política”. Isso não surpreende, se levarmos em conta que a forma democrática de governo americana é baseada em eleições livres e abertas e em uma tradição de pluralismo pela qual interesses concorrentes competem para influenciar a política pública. Essa caracterização é adequada, especialmente hoje em dia, quando o tamanho do eleitorado leva à dependência da mídia de massa para comunicação com os eleitores, pelo menos em eleições para os cargos majoritários. A propaganda no rádio e na TV é um meio eficiente, porém dispendioso, de atingir as audiências de massa. Os candidatos a cargos públicos nos Estados Unidos dependem normalmente de quatro fontes para fundos de campanha: (1) contribuições diretas de indivíduos; (2) seus próprios partidos políticos; (3) grupos de interesse, quase sempre por meio de comitês de ação política (CAPs); e (4) recursos pessoais e da família. Uma quinta fonte – recursos públicos – também tem estado disponível em algumas eleições, sobretudo nas eleições presidenciais, desde a década de 1970. A dependência crescente dos meios de radiodifusão e a profissionalização da política têm levado a campanhas eleitorais cada vez mais dispendiosas. Os candidatos à Presidência gastaram US$ 607 milhões na eleição de 2000, enquanto os candidatos ao Congresso gastaram ligeiramente acima de US$ 1 bilhão. O candidato médio eleito para o Congresso gastou US$ 7,4 milhões naquele ano, e o candidato médio eleito para a Câmara dos Deputados, US$ 849 mil. Os gastos dos candidatos, entretan- to, representam cada vez mais as parcelas menores do total das despesas para influenciar as eleições, uma vez que os partidos e os grupos de interesse têm participação maior na comunicação resultado da eleição. Esse fenômeno dificulta o monitoramento do fluxo de dinheiro nas eleições, o que resultou em desafios específicos aos formuladores de políticas na busca da regulamentação dos recursos utilizados fora do controle direto dos candidatos. Os críticos sempre afirmaram que os altos gastos nas eleições dos EUA, em conjunto com a dependência dos fundos de fontes privadas, são motivos de preocupação sobre a influência in- No alto: deputado Marty Meehan, democrata de Massachussets (esquerda), e deputado Chris Shays, republicano de Connecticut (direita), comemoram depois de uma votação vitoriosa na Câmara dos Deputados sobre a reforma do financiamento de campanhas, em março de 2002. Centro: senador Russ Feingold, democrata de Wisconsin (esquerda) e o senador John McCain, republicano do Arizona (direita), falam à imprensa em frente à Suprema Corte dos EUA, em setembro de 2003, durante uma audiência judicial sobre a constitucionalidade da lei de reforma de financiamento de campanhas de McCain-Feingold. direta com o eleitor. Os partidos políticos e os grupos de interesse tradicionalmente concentram seus recursos nas contribuições monetárias aos candidatos, que gastam dinheiro no contato com o eleitor, tanto para persuadir eleitores por meio de propaganda, mala direta, etc., quanto para assegurar o seu comparecimento às urnas. Nas eleições contemporâneas, partidos políticos e grupos de interesse contribuem para favorecer candidatos e gastam dinheiro mais diretamente para maximizar sua influência no devida exercida por doadores ricos e outros interesses na política pública. As soluções propostas geralmente envolvem mais regulamentação sobre os recursos na política, começando pelo aumento da transparência para facilitar a conscientização pública sobre o financiamento de eleições e assim impedir que “interesses especiais” obstruam a percepção do “interesse público”. Os “reformadores” têm sofrido oposição por parte daqueles que vêm ] Calvin Coolidge, republicano (1923-1929) 31 Herbert Hoover, republicano (1929-1933) Franklin D. Roosevelt, democrata (1933-1945) os gastos eleitorais como proporcionais aos custos de mercadorias e serviços na economia atual e ao valor do orçamento do governo. Esses observadores consideram os gastos eleitorais como o preço que a democracia paga em troca da competição eleitoral; e as grandes doações e gastos dos grupos de interesse, expressão contemporânea do já antigo pluralismo dos Estados Unidos. O braço judicial do governo levanta freqüentemente outra questão envolvida com a regulamentação dos fundos de campanha: se restrições nas doações e nos gastos limitam indevidamente o direito constitucional do doador à liberdade de expressão na arena política. Pode-se dizer que o atual sistema de financiamento de campanhas dos EUA mescla as filosofias dos reformadores, dos defensores do sistema e das decisões judiciais que estabeleceram parâmetros na regulamentação do governo. Isso se reflete tanto nas leis que foram aprovadas e mantidas quanto na forma como a política americana se desenvolveu. diferenças nos sistemas políticos das democracias As comparações entre o sistema de financiamento de campanhas americanas com os de outras democracias podem nos ajudar a entender alguns aspectos exclusivos do sistema político dos EUA. eleições centradas no candidato Em primeiro lugar, o abandono pelos Estados Unidos do regime adotado na maior parte das democracias, o parlamentarismo, que coloca os partidos políticos no centro do processo de eleição e administração do governo. Embora os partidos tenham papel relevante nas eleições americanas, são muito menos importantes do que já foram na história, antes das várias reformas e outras mudanças ocorridas durante o século 20. 32 [ Os Estados Unidos têm, para melhor ou para pior, um sistema eleitoral centrado no candidato, e não no partido. Os candidatos tendem a ser agentes independentes, que não devem suas carreiras ou indicações às autoridades do partido, mas sim aos eleitores que votaram nas eleições primárias. Embora essa independência tenha causado certos efeitos salutares em termos de maior abertura e responsabilidade, sem dúvida contribuiu para aumentar os custos, uma vez que os candidatos precisam de uma máquina de campanha e fontes de recursos quase independentes. Da mesma forma, muitos eleitores hoje em dia têm orgulho da sua independência de legendas, votando “na pessoa, e não no partido”, e imputando desse modo responsabilidade adicional ao candidato na comunicação adequada como figura pública. primeira emenda Outro aspecto único no sistema americano é o importante papel dos bem definidos direitos de liberdade de expressão e de associação no processo político, garantidos pela Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos. É função do Judiciário decidir se as leis aprovadas contrariam esses direitos. Na sua conhecida decisão em 1976 –Buckley v. Valeo – a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou as limitações das quantias que as campanhas, os partidos políticos e os grupos de interesse podiam gastar na comunicação com os eleitores, enquanto permitia restrições em fontes de recursos para entidades envolvidas em eleições. A Corte declarou que limitações das despesas de comunicação com eleitores constituíam uma restrição ilícita à liberdade de expressão. Embora a Corte reconhecesse que limites nas fontes (ou seja, nas doações) também envolviam redução da liberdade de expressão, declarou que limites razoáveis poderiam ser justificados pela necessidade de o governo proteger o sistema da corrupção real ou aparente, provocada pelo “tomalá-dá-cá” entre os doadores de campanhas e os candidatos. Equiparando o direito de usar recursos com o direito de liberdade de expressão, assim como diferenciando recursos doados a candidato de recursos gastos pelo candidato, esta e as decisões subseqüentes do tribunal inferior tiveram um profundo efeito na regulamentação e no fluxo de dinheiro da política dos EUA. apoio do governo à política O uso muito maior do Tesouro público por outras democracias no financiamento de eleições é outro aspecto no qual o sistema político dos EUA difere. Subsídios do governo para os partidos são comuns no cenário internacional, e privilégios de horário eleitoral gratuito são freqüentemente facilitados pelo fato de o governo ser proprietário de importantes emissoras de radiodifusão, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos. Em conjunto, os subsídios diretos e o horário gratuito no rádio e na TV reduzem a pressão sobre os políticos para arrecadar fundos de campanha. Alguns americanos há muito defendem subsídios públicos similares para campanhas eleitorais, bem como a obrigatoriedade de horários eleitorais gratuitos ou de custo reduzido nos meios de comunicação privados. E eles obtiveram certo sucesso na aprovação das suas idéias. Essas políticas, no entanto, encontraram resistência do ponto de vista filosófico (ao exigir que os contribuintes financiem candidatos aos quais podem se opor) e prático (por exemplo, como criar um sistema inteiramente justo para subsidiar campanhas). Os que apoiaram o financiamento público para candidatos obtiveram sucesso nos anos 1970 com a aprovação desse sistema para as eleições presidenciais e algumas eleições estaduais e locais, mas não para eleições de membros do Congresso dos EUA. Desde 1976, os candidatos indicados pelos principais partidos às eleições presidenciais têm se qualificado automaticamente a um subsídio vultoso para as eleições gerais (cerca de US$ 67 milhões em 2000 para cada: o re- publicano George W. Bush e o democrata Al Gore). Os partidos recebem subsídios às suas convenções para indicação de candidatos e, nas eleições primárias, os fundos do governo estão disponíveis em valores iguais às pequenas doações individuais aos candidatos. Em troca dos fundos recebidos, permitidos pela Suprema Corte por seu caráter voluntário, os candidatos têm de concordar com limites de gastos em campanha. A eficácia desses limites, entretanto, tem sido prejudicada pela capacidade de pessoas e grupos interessados, que conseguem gastar dinheiro em prol de candidatos de forma legal, porém além dos níveis previstos na legislação federal (“soft money”, conforme discussão a seguir). princípios básicos da legislação federal Desde a década de 1970, três princípios básicos têm regido a lei de financiamento de campanhas federais nos EUA, aplicáveis a todas as eleições presidenciais e do Congresso. (Cada um dos 50 Estados tem regras para as eleições estaduais e locais). Esses princípios são: DIVULGAÇÃO PÚBLICA DE ATIVIDADES FINANCEIRAS Visibilidade pública do dinheiro nas eleições, facilitando o escrutínio por partidos e candidatos de oposição e pela mídia, é tida como o maior obstáculo à corrupção que possa advir de contribuições e despesas de campanha. Pelo menos em princípio, há grande consenso sobre esse aspecto de regulamentação do governo. Na esfera federal, há necessidade de relatórios periódicos, com totais agregados e detalhamento dos gastos para quantias acima de US$ 200. PROIBIÇÃO DE FONTES DE RECURSOS Empresas, bancos nacionais e sindicatos de trabalhadores há muito estão proibidos de usar fundos das suas tesourarias – lucros corporativos e dinheiro arrecadado pelos sindicatos – para influenciar eleições federais (embora muitos Estados permitam tais fontes de recursos em suas eleições). Essas entidades podem, entretanto, formar Comitês de Ação Política (CAPs) para arrecadar doações voluntárias de executivos e acionistas e membros de sindicatos, respectivamente. Tais recursos podem ser usados em eleições federais, possibilitando, desse modo, a influência de empresas ou sindicatos patrocinadores. Recursos de campanha doados por estrangeiros também são proibidos em todas as eleições americanas. LIMITAÇÕES DE FONTES DE RECURSOS As leis federais limitam os valores de contribuição a candidatos, partidos e grupos envolvidos em eleições federais, tanto por pessoas, como por CAPs ou partidos. Uma pessoa poderá doar US$ 2 mil a um candidato em uma eleição e um total de US$ 95 mil a todos os candidatos, partidos e CAPs em um ciclo eleitoral de dois anos. Um CAP pode doar US$ 5 mil por eleição a um candidato, mas não há limite agregado de todas as contribuições por uma única entidade. limites tecnicamente permitidos pela lei federal, embora não fossem ostensivamente para uso em eleições federais per se. Esse retorno do financiador de campanha – o poderoso, rico contribuinte que presumivelmente fora contido pelas reformas dos anos 1970 – introduziu a arrecadação do soft money nas eleições americanas. O termo descreve recursos impulso para a reforma do financiamento de campanhas As questões suscitadas por recursos e política fizeram com que a reforma do financiamento de campanhas se transformasse em tema de debate constante nos Estados Unidos. Durante as décadas de 1980 e 1990, os defensores da reforma buscaram sem sucesso aperfeiçoar o sistema regulador aprovado na década de 1970, para reduzir o papel e a importância do dinheiro no sistema político. A lei finalmente aprovada em 2002, no entanto, tem pouca semelhança com as suas precursoras. Enquanto aquelas medidas buscavam melhorar o sistema regulador federal existente, o objetivo da Lei da Reforma das Campanhas Eleitorais de 2002, ou BCRA (mais conhecida como McCain-Feingold, nomes dos dois principais senadores que apresentaram a lei), é salvar esse sistema, trazendo para a regulamentação federal atividades que, segundo os proponentes, burlam a lei de financiamento de campanhas federais. Desde a década de 1980, os partidos políticos nacionais começaram a angariar fundos em quantias muito além dos que são angariados e gastos fora do sistema regulador das eleições federais, mas que podem causar pelo menos impacto indireto nesses pleitos (em contraste ao hard money, que é levantado e gasto segundo a legislação eleitoral federal). Em geral, essas doações de soft money, em quantias e de fontes proibidas em eleições federais, eram distribuídas aos partidos estaduais afiliados para uso em atividades de base e esforços de mobilização dos eleitores. Com o apoio a essas atividades, tais doações inevitavelmente ajudaram os candidatos federais, bem como as disputas estaduais e locais para os quais eram supostamente destinadas. Além disso, os esforços conjuntos para arrecadação de recursos pelas autoridades partidárias nacionais e por autoridades e candidatos federais sugerem que essas doações eram destinadas ] De cima para baixo: o candidato democrata a governador, John Baldacci, fala a colaboradores em junho de 2002, em Augusta, Maine. A disputa de 2002 foi a primeira no Maine em que os candidatos receberam financiamento público para suas campanhas. O presidente Bush acena a colaboradores em um evento para angariar fundos para a campanha em Los Angeles, em junho de 2003. O governador republicano de Nova York, George Pataki, cumprimenta colaborador durante evento para angariar fundos para a campanha. Harry S Truman, democrata (1945-1953) Dwight D. Eisenhower, republicano (1953-1961) 33 John F. Kennedy, democrata (1961-1963) Republicanos da Assembléia Legislativa do Estado da Califórnia anunciam a formação de um novo comitê de ação política, em maio de 1999, destinado a promover a participação dos latinos no processo político federal e estadual. 34 basicamente a apoiar candidatos federais. Contudo, apenas durante as eleições nacionais de 1996, a crença de que o sistema regulador entrava em colapso se tornou conhecida. Não somente US$ 900 milhões em soft money foram levantados pelos partidos políticos naquele ano, como também os grupos de interesse e os partidos políticos descobriram outra forma de influenciar as eleições federais, contornando as restrições existentes: a defesa de questões eleitorais. Essa forma de soft money envolve comunicados com comentários sobre candidatos e posições sobre questões específicas, mas sem insistir de forma explicita na derrota ou eleição de candidatos claramente identificados. Como a maioria dos tribunais inferiores interpretou que a decisão Buckley v. Valeo requeria tais palavras explícitas para submeter os comunicados à regulamentação do governo, os grupos podiam apresentar informação pública que estimulava visões positivas ou negativas das autoridades públicas − que também eram candidatos em eleições futuras − sem estar sujeitos às restrições da lei eleitoral federal. Segundo estimativa, foram gastos dezenas de milhões de dólares dessa forma nas eleições de 1996 e nas subseqüentes sem que se pudesse determinar seus níveis precisos porque se exigia pouca ou nenhuma divulgação. [ O Impacto da Mccain-feingold Após 1996, os reformadores transferiram o foco dos limites dos CAPs e dos gastos de campanha, assim como do financiamento público, para a eliminação das brechas que eles julgavam tornar a regulamentação federal sobre recursos em política cada vez mais carente de sentido. A lei McCain-Feingold de 2002 proíbe partidos nacionais e candidatos ou autoridades federais em geral de arrecadar e gastar soft money. Da mesma forma, proíbe que os partidos estaduais e locais gastem soft money no que é definido como “atividades de eleições federais”. Com relação à defesa de questões, a nova lei exige que a divulgação de todas as propagandas políticas referentes a candidatos federais claramente identificados seja feita nos 30 dias anteriores às primárias ou nos 60 dias anteriores às eleições gerais e proíbe o patrocínio com fundos das tesourarias de sindicatos ou de empresas. Durante todos os anos de debate que precederam a aprovação da McCainFeingold, a questão da constitucionalidade esteve presente nas discussões. Talvez isso fosse inevitável dada a experiência da decisão Buckley v. Valeo de 1976, que deixou na sua esteira um sistema não previsto pelo Congresso, porém com implicações de longo alcance para o fluxo de dinheiro em eleições federais. Quanto mais se aproximava a aprovação da lei, mais a questão da constitucionalidade se tornava o foco do debate. Com a campanha das eleições de 2004 já em andamento, e os políticos procurando adaptar-se à nova lei, a comunidade política aguarda ansiosamente a urgente revisão judicial determinada pela McCain-Feingold. Em 2 de maio de 2003, a primeira dessas decisões veio quando o Juíz Federal de Primeira Instância do Distrito de Columbia, no caso Mc Connell v. FEC, eliminou a proibição geral de arrecadação de soft money por partidos nacionais e seu uso por partidos estaduais e locais, mas manteve a proibição a comunicados públicos que podem afetar mais diretamente as eleições federais e à arrecadação de soft money por autoridades e candidatos federais. Além disso, derrubou a regulamentação de todas as propagandas de candidatos federais em rádio e TV, cuja veiculação se dava até determinado período de tempo antes do pleito, mas surpreendeu os observadores permitindo uma regulamentação baseada em padrão mais subjetivo: se a propaganda apoiava ou não um candidato federal, independentemente da data de veiculação. Essa decisão depois foi suspensa para minimizar a confusão para aqueles que já estavam em campanha para as eleições de 2004 e aguardam decisão final da Suprema Corte, que ouvirá a sustentação oral em setembro. A Suprema Corte seguirá seu padrão geral desde a decisão do caso Buckley v. Valeo e rejeitará a prorrogação da regulamentação da nova lei com base na liberdade de expressão? Ou será persuadida pelas provas volumosas e anos de experiência com a lei anterior de que os perigos da corrupção e da influência excessiva por parte de pessoas e grupos abastados podem justificar uma regulamentação mais abrangente do que preferiria em outras circunstâncias? O que está claro é que a próxima decisão da Suprema Corte terá um efeito profundo nos esforços futuros de regulamentação do fluxo de recursos na política. n Joseph E. Cantor é especialista em assuntos de governo dos EUA e trabalha no Serviço de Pesquisa do Congresso, um departamento da Biblioteca do Congresso. Começou ali sua carreira em 1973, após completar bacharelado na Universidade Johns Hopkins. Vem se especializando em financiamento de campanhas desde 1979, e, na qualidade de especialista, tem ajudado a informar o Congresso sobre o assunto e a analisar as questões envolvidas e as propostas de mudanças na lei pertinente. eleições 2004 glossário caucus (prévias) – Reunião, em especial uma reunião de pessoas cujo propósito é promover mudança política ou organizacional. Na política americana, o termo passou a designar encontro dos militantes políticos locais de cada partido durante o processo de indicação de candidato à Presidência. Em um sistema de prévias “em níveis”, os militantes locais do partido, que trabalham no âmbito da zona eleitoral, escolhem delegados para as reuniões do condado, que, por sua vez, escolhem delegados para as reuniões estaduais. Essas convenções estaduais então selecionam os delegados que os representarão na convenção nacional do partido que indica o candidato. O objetivo das prévias é indicar, por intermédio de delegados, o candidato presidencial preferido das bases do partido no Estado. Isso tem o efeito de democratizar as indicações de candidatos à Presidência, posto que as preferências são em última instância determinadas no nível distrital, logo no início do processo. Coattails (puxador de votos) – Alusão às abas traseiras (“caudas”) de um fraque. Na política americana, refere-se ao fato de a força da popularidade de um titular ou candidato a cargo público poder aumentar as chances de vitória de outros candidatos do mesmo partido político. Diz-se que tal candidato é “puxador de votos”. Conservador – Qualquer nuance de posicionamento político que abrange desde a opinião centro-direitista moderada à centro-direitista convicta. Dentre os dois principais partidos dos EUA, o Partido Republicano é geralmente considerado o mais conservador. Os “conservadores” dos Estados Unidos constumam defender princípios da economia de livre mercado e impostos baixos; também depositam menos confiança no poder do governo federal em comparação com os governos estadual e local. Ascendência após a convenção – Aumen- to da popularidade de um candidato à Presidência nas pesquisas de opinião pública conduzidas nos dias seguintes à sua indicação para o cargo na convenção nacional republicana ou democrata. Debate – Discussão envolvendo dois ou mais lados opostos de uma questão. Em anos recentes, os debates na política americana vêm sendo transmitidos pela televisão em que todos os candidatos à Presidência ou Vice-Presidência apresentam seus pontos de vista e também os de seus partidos, em resposta a perguntas levantadas pela mídia ou integrantes da platéia. Os debates também podem ser feitos pelo rádio ou em reunião com membros da comunidade, podendo ser realizados para cargos eletivos em todos os níveis de governo. Governo dividido – Termo que costuma designar uma situação em que o presidente é membro de um partido político e pelo menos uma casa do Congresso (o Senado ou a Câmara de Deputados) é controlada pelo partido de oposição. Essa situação pode também ocorrer em âmbito estadual: o governador pode ser de um partido e a legislatura estadual pode estar nas mãos de outro partido. No sistema político americano, o governo dividido ocorre com freqüência. Historicamente, seu impacto tem sido o de desestimular mudanças radicais e de levar os políticos de ambos os partidos a chegaram a um consenso em relação à legislação proposta. Colégio eleitoral - Quando os eleitores americanos vão às urnas para votar para presidente, muitos acreditam estar participando de uma eleição direta. Tecnicamente não é o caso, devido à existência do colégio eleitoral, relíquia constitucional do século 18. Colégio eleitoral é o nome dado a um grupo de “eleitores” indicado pelos membros do partido nos Estados. No dia da eleição, esses eleitores, que estão comprometidos com um ou outro candidato, são eleitos pelo voto popular. Em dezembro, após a eleição presidencial, os eleitores do colégio eleitoral reúnem-se nas capitais dos respectivos Estados e votam para presidente e vice. Para ser eleito presidente, o candidato precisa de 270 votos do colégio eleitoral. Comissão Eleitoral Federal [FEC] – Ór- gão regulador independente encarregado da administração e do cumprimento da lei federal de financiamento de campanhas. A FEC foi criada pela emenda de 1974 à Lei sobre Campanhas Eleitorais Federais de 1971. Antecipação – Prática de antecipar cada vez mais as prévias e as eleições primárias estaduais do partido em relação à eleição geral. Ao antecipar suas primárias, os Estados esperam dar um impulso decisivo a um ou dois candidatos presidenciais e assim exercer uma influência ainda maior na indicação do candidato do partido. Favorito – Candidato considerado mais popular ou com mais probabilidade de vitória em qualquer eleição ou processo de indicação. Gender gap (diferença de visão entre gêneros) – Em eleições recentes, as mulheres americanas tenderam a votar seguindo padrões diversos dos homens. Muitas vezes preferem candidatos democratas a republicanos ou aqueles no lado mais liberal do espectro político. A imprensa apelidou esse fenômeno de “gender gap”. Lyndon B. Johnson, democrata (1963-1969) Dinheiro hard/dinheiro soft – Termos usados para diferenciar recursos de campanha que são e que não são regulamentados pela lei federal de financiamento de campanhas. Hard money (dinheiro duro) são os recursos regulamentados por lei, que podem ser usados para influenciar o resultado das eleições federais, ou seja, para defender a eleição de candidatos específicos. O soft money (dinheiro macio) não é regulamentado por lei e só pode ser gasto em atividades que não afetem a eleição dos candidatos a cargo públicos nacionais. Isto é, podem ser gastos com mutirões para registro de eleitores, atividades de fortalecimento de partidos e custos administrativos, bem como ajuda a candidatos locais e estaduais. Corrida de cavalos (horse race)– Me- táfora usada em campanha, “corrida de cavalos” transmite a empolgação sentida pelas pessoas quando assistem a uma partida esportiva. A expressão também se refere à cobertura superficial de campanhas pela mídia, que costuma enfatizar as posições dos candidatos em pesquisas de opinião pública − como se fossem cavalos em uma corrida − em vez de destacar suas opiniões sobre temas de importância. Richard M. Nixon, republicano (1969-1974) Liberal – No espectro político dos Esta- dos Unidos, os “liberais” são tidos como levemente de centro-esquerda ou de alguma forma centro-esquerdistas. Dentre os dois partidos principais, os democratas são considerados mais liberais, de acordo com a definição atual do termo. Os “políticos” liberais tendem a defender maior poder federal para corrigir as desigualdades sociais existentes; em termos culturais, os liberais tendem a apoiar o feminismo, os direitos das minorias e o ênfase na liberdade de comportamento pessoal. ] Gerald Ford, republicano (1974-1977) 35 Eleição de meio de mandato – Eleição Jimmy Carter, democrata (1977-1981) diretamente no candidato presidencial de sua preferência ou então votam em delegados que se “comprometem” a apoiar aquele candidato na convenção nacional. As eleições primárias estaduais, quando ocorrem no início da temporada política, podem eventualmente interromper o avanço de um candidato à Presidência e gerar uma onda de apoio a um candidato menos conhecido. Note-se que as eleições primárias são uma alternativa ao sistema de seleção de candidatos por “prévias”. Publicidade negativa – Propaganda que Voto de protesto – Voto para um candi- visa persuadir os eleitores a votar em um candidato denegrindo a imagem do concorrente, atacando seu caráter ou seu passado com relação às questões em debate. dato de um terceiro partido, ou partido “nanico”, sem esperança de elegê-lo, mas apenas para mostrar descontentamento com os candidatos dos dois partidos políticos principais. ou consultor político contratado em uma campanha para garantir que o candidato receba a melhor publicidade possível em uma dada situação. Por exemplo, após um debate entre candidatos à Presidência, o spin doctor de cada candidato procura os jornalistas para mostrar-lhes os pontos fortes de seu candidato e tentar convencer a imprensa e, por extensão, o público, de que seu candidato “venceu” o debate. Quando esses assessores de mídia estão trabalhando, diz-se que estão fazendo spinning ou pondo spin (colocando efeito) em uma situação ou um evento. Plataforma – No contexto da política Redistribuição de distritos – Processo Terceiro partido – Qualquer partido po- presidencial dos EUA, esse termo denota uma declaração formal de um partido político, por escrito, sobre seus princípios e objetivos, elaborada e publicada durante o processo de indicação de candidatos à Presidência. Nos últimos anos, as plataformas partidárias perderam importância à medida que a televisão passou a enfocar mais a personalidade do candidato e sua capacidade de liderança. para redefinir os limites geográficos dos distritos congressionais, os distritos eleitorais dos Estados pelos quais são eleitos os membros da Câmara dos Deputados. Democratas e republicanos competem nos Estados para fazer uso dos mecanismos legais e políticos de alteração de limites distritais — em geral por meio do controle do Legislativo estadual. Assim, eles podem redefinir os limites dos distritos congressionais de maneira que venham a favorecer eleitoralmente seu próprio partido. lítico que não seja um dos dois partidos que têm dominado a política americana no século 20: o Partido Republicano e o Partido Democrata. Regionalização – Os 50 Estados estão Reunião local – Reunião informal entre Regra da pluralidade – Método de identificação do vencedor em uma eleição. Pluralidade de votos significa que o número de votos recebidos por um candidato é maior que o de qualquer um de seus oponentes, mas em geral não chega a 50% do total. Ou seja, se um candidato recebe 30% dos votos, um segundo candidato também recebe 30% e um terceiro recebe 40%, o terceiro candidato tem pluralidade de votos e vence a eleição. Ronald Reagan, republicano (1981-1989) George Bush, republicano (1989-1993) 36 Clipe Sonoro – Uma frase, de efeito, pro- para o Senado e a Câmara dos Deputados dos EUA que ocorre durante o mandato presidencial, isto é, dois anos depois de iniciado o mandato presidencial de quatro anos. Os resultados são por vezes interpretados como um referendo popular sobre o desempenho do presidente nos primeiros dois anos do mandato. As eleições de meio de mandato servem para eleger alguns senadores e todos os deputados, além de muitas autoridades estaduais e locais. Eleição primária – Disputa eleitoral rea- lizada para escolher o candidato de um partido político a determinado cargo público. As primárias podem ser realizadas em todos os níveis de governo, inclusive em disputas locais para prefeito, disputas distritais para candidatos a Câmara dos Deputados, eleições estaduais para governador ou senador e presidente dos Estados Unidos. Em primárias “fechadas”, só podem votar os membros filiados de um partido. Em primárias “abertas”, os eleitores de um partido (denominados eleitores cruzados) podem votar na primária de outro partido. As primárias presidenciais são realizadas nos estados para selecionar os candidatos preferidos pela população daquele Estado para cada partido. Dependendo da legislação estadual, os eleitores votam v [ extra-oficialmente agrupados em cerca de seis regiões com base em suas características geográficas e culturais comuns. Durante a temporada de eleições primárias presidenciais, o termo “regionalização” refere-se à prática de unir os Estados de uma região para maximizar o impacto da região no processo eleitoral, em geral realizando as eleições primárias no mesmo dia. Sistema distrital de representante único – Esquema atual usado para eleger legisladores nacionais e estaduais nos Estados Unidos, pelo qual cada distrito legislativo elege um candidato; o vencedor é o candidato que obtém a maioria dos votos. Esse sistema de voto distrital permite que somente um partido vença em cada distrito. É o oposto do sistema proporcional, que utiliza distritos muito maiores e elege vários membros de uma vez com base na proporção de votos recebidos pelos partidos. nunciada por um candidato a um cargo público e que é repetida em noticiários do rádio e da televisão. Spin doctor/spin – Assessor de mídia Chapa dividida - Votos em candidatos de partidos diferentes na mesma eleição, por exemplo, a escolha de um candidato democrata para presidente e de um republicano para senador. Como esses eleitores não votam em todos os candidatos de um partido, diz-se que eles “dividem” seus votos. um titular ou candidato a cargo público e um grupo de eleitores, freqüentemente de uma mesma comunidade, na qual o público pode fazer perguntas diretamente para o titular ou candidato. Tracking survey (pesquisa de tendências) – Tipo de pesquisa de opinião pública que permite aos candidatos acompanhar, ou “rastrear”, o sentimento dos eleitores no decorrer de uma campanha. No levantamento inicial, o pesquisador entrevista o mesmo número de eleitores por três noites consecutivas — por exemplo, 400 eleitores por noite, totalizando uma amostra de 1.200 pessoas. Na quarta noite, o pesquisador entrevista mais 400 eleitores, acrescenta suas respostas aos dados da pesquisa e remove as respostas da primeira noite. Desse modo, a amostra mantém sempre um número constante de 1.200 respostas obtidas nas três noites anteriores. Com o tempo, a campanha pode analisar os dados de todo o levantamento e verificar o impacto de certos eventos sobre a opinião dos eleitores. bibliografia e sites na internet LIVROS Thompson, Dennis Just Elections. University of Chicago Press, 2002, 240 pp. Centros de Imprensa Estrangeira – Links da Campanha de 2004 http://www.fpc.gov/c9725.htm Traugott, Michael e Paul J. Lavrakas Election Polls, the News Media & Democracy. Chatham House Publishers, 2000., 368 pp. Questões de Democracia: Eleições Justas e Livres, setembro de 1996 http://usinfo.state.gov/journals/itdhr/ 0996/ijde/ijde0996.htm Abramson, Paul R., John Aldrich e David Rohde Change and Continuity in the 2000 and 2002 Elections. CQ Press, 2003, 400 pp. Traugott, Michael e Paul J. Lavrakas artigos The Voter’s Guide To Election Polls. 2a edição. Chatham House Publishers, 2000, Brooks, David.“One nation, slightly divi192 pp. sible”, Atlantic Monthly, dezembro de 2001, pp. 53-65. 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