alguns aspectos da toxemia da prenhez em pequenos ruminantes
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ALGUNS ASPECTOS DA TOXEMIA DA PRENHEZ EM PEQUENOS RUMINANTES Adelmo Ferreira de Santana – Prof. Caprinocultura e Ovinocultura E-mail [email protected] Departamento de Produção Animal Escola de Medicina Veterinária Universidade Federal da Bahia CEP- 40.170-110 Salvador - Bahia Daniela Freitas Viana – Acadêmica de Medicina Veterinária M on og r af ia ap resent ada c omo part e de c onc lusão d o cu rs o d e M edic in a V e t e r in á r ia - ju l h o/ 20 0 1 RESUMO A toxemia da prenhez é uma enfermidade metabólica que tem como causa a adoção de um manejo nutricional inadequado para cabras gestantes. Observou-se que cabras e ovelhas com fetos múltiplos tinham mais propensão para desenvolver o quadro clínico, devido a maior necessidade energética e nutricional das mesmas. O estado corporal dos animais acometidos não segue um padrão específico, visto que fêmeas subnutridas, obesas e de boa condição corpórea apresentaram a toxemia da gestação. O tratamento depende diretamente do diagnóstico precoce, uma vez que os animais gravemente acometidos não respondem à terapia. Medidas preventivas representam, sem dúvida, a melhor maneira de evitar este problema. Dentre elas, a manutenção nutricional adequado durante todo período gestacional. U N I T E R M O S : toxemia, gestação, prenhez. de um nível 1. I N T R O D U Ç Ã O Os princípios de sanidade e a necessidade de uma boa nutrição representam regras de uma criação que visa a alta produtividade e com animais sadios. Os principais problemas que acometem a cabra gestante podem ser evitados ou minimizados adotando-se práticas simples quanto ao manejo nutricional e sanitário do rebanho. O maior índice de mortalidade caprina é observado na fase perinatal. Esta fase inclui as 48 horas que antecedem ao parto, o parto propriamente dito, e às 48 horas após o parto. (S ILVA E S ILVA 1983b). No Brasil, as exigências nutricionais de caprinos têm sido motivos de poucos estudos e os cálculos de rações baseiam-se em normas norteamericanas, tradicionalmente conhecidas do “National Research Council” – (NRC 1981), que assume exigências semelhantes para ovinos e bovinos. Estas recomendações têm sido usadas sem qualquer preocupação de examiná-las ou adaptá-las às condições locais, embora diversos trabalhos revelem diferenças nas exigências recomendadas, mesmo no país onde os dados são gerados em decorrência de tipos raciais, categoria animal, atividade funcional e região geográfica, dentre outros fatores. (R ESENDE et all 1999). Os abortos em caprinos, na região semi-árida do Nordeste, ocorrem numa proporção que varia de 15% a 36%, podendo atingir até 50%. Observou-se também, que a deficiência nutricional deveria ser a causa mais provável dessa ocorrência, uma vez que os exames sorológicos e bacteriológicos revelaram-se negativos para as doenças que mais comumente causariam os abortos. (U NANIAM E S ILVA 1989). Uma das mais importantes causas de mortalidade em ovelhas no final da gestação, é descrita sob vários nomes, tais como: doença do sono, doença 2 dos partos duplos, doença da estupidez, toxemia da gestação, dentre outros. A etiologia desta enfermidade não está claramente definida, embora se saiba que não é de ordem infecciosa, nem devido à deficiência de alguma vitamina ou mineral específico. Sabe-se também que a sua maior incidência é em fêmeas com gestações múltiplas. (S ANCHES 1986). De acordo com O RTOLANI E B ENESI (1989), a toxemia da prenhez é uma afecção metabólica, determinada por alimentação inadequada durante a gestação, metabólica, caracterizando-se com freqüentemente por sintomas com a morte uma nervosos do hipoglicemia, e animal, cetose digestivos que particularmente e acidose culminam das fêmeas portadoras de dois ou mais fetos no último terço da gestação. Em cabras, por ser alta a incidência de partos múltiplos, a importância dessa enfermidade parece ser tão grande como nas ovelhas, embora exista na literatura um número bem menor de trabalhos publicados com essa espécie. S ANCHES (1986). Assim sendo, tem-se como objetivo deste trabalho, abordar alguns aspectos do manejo nutricional, sintomatologia, quadro clínico, tratamento e medidas preventivas que envolvem a toxemia da prenhez em pequenos ruminantes. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 H I S T Ó R I C O Em 1854, Seaman observou pela primeira vez a ocorrência de toxemia da prenhez em ovelhas gordas que sofriam de jejum temporário, condicionado pelos tratadores que desejavam que os animais deveriam emagrecer para não terem problemas de parto. Em 1899, Gilruth descreveu uma série de casos de ovelhas superalimentadas com o quadro de toxemia, e atribuiu a doença à falta de exercício das gestantes. Já em 1935, Dayus e Weighton 3 encontraram sintomas semelhantes em ovelhas subnutridas e com parasitoses intestinais. No Brasil, em 1982, Ortolani e Benesi, relataram a ocorrência de quatro casos em cabras e três casos em ovelhas. apud (O RTOLANI 1985). 2.2 M E T A B O L I S M O DA G L IC O S E EM RUMINANTES Para uma melhor compreensão de como se instala o quadro de toxemia, se faz necessário uma prévia revisão sobre o metabolismo da glicose dos ruminantes. Nos monogástricos, grande parte da glicose provém da digestão intestinal de carbohidratos poli ou monossacarídeos, contendo em suas fórmulas, glicose que é rapidamente absorvida e incorporada à corrente sanguínea. Nos ruminantes, estes carbohidratos são metabolizados no rúmen em ácidos graxos voláteis (ácido propiônico, acético e butírico). Quando são absorvidos, parte do ácido propiônico é, no fígado, transformado em glicose, sendo responsável pela produção de 50% deste elemento. 30% a 35 % deste açúcar são derivados dos aminoácidos dietéticos (principalmente a alanina e o aspartato), que são incorporados nas rotas bioquímicas gliconeogênicas. O restante das fontes de glicose provém do metabolismo do lactato no fígado e rim, surgindo do metabolismo anaeróbico e do glicerol pela composição dos triglicerídios plasmáticos. (O RTOLANI 1994). Do ponto de vista bioquímico, a glicose é utilizada como principal fonte energética dos ruminantes, em números reduzidos de órgãos: sistema nervoso, fígado, glândula mamária e rim, mas os tecidos fetais a utilizam como carboidrato básico para o seu desenvolvimento. Assim sendo, quanto maior for o número de fetos e mais próximo do final da gestação, maior será a quantidade requerida de glicose pelo conjunto cabra-fetos, do que a da fêmea não gestante. (O RTOLANI 1994). 4 Gráfico I g GLICOSE / DIA Necessidades Diárias de Glicose na Cabra 250 200 150 100 50 0 150 110 Mantença da Cabra 50 kg 1 Feto 180 2 Fetos 210 3 Fetos Fonte: RUSSEL, 1983. A diminuição do nível calórico da dieta faz decrescer os níveis de glicose no sangue, uma vez que o requerimento da fêmea gestante se torna maior. Este nível cai de 40 a 60 mg/100 mL para 20 mg/100 mL e começam a ser utilizadas as reservas de glicogênio. Sabe-se que o conteúdo de glicogênio do fígado de cordeiros recém-nascidos é três vezes maior do que nas ovelhas adultas e sadias. Desta forma, o organismo se vê obrigado a queimar maiores quantidades de gorduras quando a alimentação não compensa o déficit de glicose. Uma rápida mobilização da gordura pode elevar os níveis de corpos cetônicos do sangue de duas a cinco mg % para 40 a 80 mg %. (H IEPE 1972). 2.3 C AUSAS DE A BORTOS EM P EQUENOS R UMINANTES O período de gestação é definido como o tempo compreendido entre a concepção e o parto, fase em que ocorre o desenvolvimento do feto e, conseqüentemente aumenta os requerimentos nutricionais. M EDEIROS et all (1997). De acordo com R ESENDE et all (1999), durante a gestação o nível nutricional tem extrema importância, sobretudo, nos últimos 45 dias, quando 5 os tecidos fetais têm maior desenvolvimento. Nas últimas oito semanas que antecedem o parto, as cabras reduzem em torno de 20% a sua ingestão de alimentos, devido ao aumento de volume do útero, que comprime o rúmen. Em contrapartida, é justamente neste período que as exigências nutricionais são mais elevadas, já que devem atender as necessidades da matriz e do feto em formação. Se os nutrientes não são suficientes, a concorrência entre mãe e feto poderá levar ao aborto.(S ANCHES 1985). A carência de microelementos também traz conseqüências, sendo a cabra mais sensível que os outros ruminantes. Diversos fatores dificultam a suplementação mineral dos caprinos, dentre eles, as poucas pesquisas referentes ao assunto e a inexistência no mercado de misturas comerciais prontas, destinadas especificamente a esta espécie. S ANCHES (1984). Observa-se ainda, que há diferenças entre as exigências minerais para cabras com gestações simples e gemelares. (R ESENDE et all 1999). Um estudo realizado em 127 propriedades do Estado do Ceará demonstrou que o aborto ocupa o terceiro lugar dentre os sinais clínicos que acometeram as causas de mortalidade de caprinos, perdendo apenas para edema de barbela e anemia, e diarréia. O aborto é descrito em 96 (75,6%) propriedades. Em 54,2% delas, o aborto ocorre durante todo o ano, 35,4% no período seco e 10,4% no período chuvoso. Provavelmente a principal causa de aborto no período seco seja de ordem nutricional. (P INHEIRO et all 2000). Na região semi-árida do Nordeste, onde foram acompanhadas 153 cabras adultas por um período de três anos, criadas em pastagem nativa e suplementadas com sal comum, observou-se 51 casos de abortos. Mais tarde, constatou-se, através de testes hematológicos e bioquímicos, que a ocorrência destes abortos eram por causa dos baixos níveis de proteína e de minerais (macro e microelementos). (S ILVA E S ILVA 1983a). 6 2.4 T OXEMIA DA P RENHEZ A. Conceito Vários autores referem-se a toxemia da gestação como uma intoxicação, outros tratam-na como uma doença com base numa hipoglicemia, tendo como principal sintoma, alterações ocorridas nas células nervosas. De acordo com O RTOLANI E B ENESI (1989), a toxemia da prenhez é uma afecção metabólica determinada por alimentação inadequada durante a prenhez, caracterizando-se metabólica, com freqüentemente por sintomas com a morte uma nervosos do hipoglicemia, e animal, cetose digestivos que particularmente e acidose culminam das fêmeas portadoras de dois ou mais fetos no último terço da gestação. Segundo H IEPE (1972) do ponto de vista neurológico, ocorre alterações no sistema nervoso central que se originam sob a base de uma hipoglicemia. A ação tóxica se deve principalmente a acetona e ao ácido acetoacético. M ARQUES (1994) afirma que a toxemia da gestação trata-se de uma encefalopatia hipoglicêmica e não de uma intoxicação. Isto porque, as lesões ocorridas nas células nervosas pela falta de glicose são irreversíveis, daí a ocorrência de diversas alterações nervosas. 1. B. Etiologia A etiologia da toxemia da gestação não está claramente definida, embora se saiba que não é de ordem infecciosa, nem devido à deficiência de alguma vitamina ou mineral específico. Sabe-se também que a sua maior incidência é em fêmeas com gestações múltiplas. S ANCHES (1986). 1 MARQUES, L. C. (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo - FMVZUSP). Comunicação Pessoal, 1994. 7 De acordo com O RTOLANI (1994), a toxemia da gestação pode ser provocada por condições determinantes relacionadas a condição nutricional da gestante. Além disso, a presença de fetos múltiplos, é um dos fatores predisponentes para a ocorrência desta enfermidade. Cabras primíparas têm maior necessidade de mantença e maior demanda de energia do que cabras multíparas. A falta de exercício, fatores que levem a diminuição do apetite do animal (estresse, transporte, administração de vacinas e/ou medicamentos) e alterações fisiológicas (insuficiência hepática, febre) também são citados como causadores desta enfermidade. C. Tipos de Toxemia da Prenhez O RTOLANI (1985) cita que a toxemia da prenhez pode ser definida em dois tipos. O tipo I é caracterizado pela subalimentação durante o período gestacional associado à presença de fetos múltiplos. Este quadro pode ser provocado diminuindo cerca de 50% da energia dietética adequada a ser oferecida a uma fêmea gestante (450g de NDT). No quadro 1, encontram-se apresentadas as quantidades necessárias de nutrientes para cabras em gestação. Sabe-se ainda que alimentos com baixa qualidade e/ou digestibilidade, oferecidos por longos períodos, podem também desencadear o quadro. O tipo II está relacionado à superalimentação, principalmente nos dois terços iniciais da gestação, onde muitas vezes os animais recebem alimentação “ad libitum” ou mal balanceada e ricas em grãos, farelos. O fornecimento de rações comerciais balanceadas, mas em quantidade elevadas também pode levar ao aparecimento da doença, principalmente quando essas rações atingem valores superiores a 30% em NDT normalmente requeridos. QUADRO 1 REQUISITOS DIÁRIOS PARA CABRAS NOS DOIS ÚLTIMOS MESES DE GESTAÇÃO 8 Peso Matéria Proteín Proteína E.D. N.D.T Ca P vivo Seca a Digestív (Kcal . (g) (g (kg) (Kg) Bruta el ) (g) (g) (g) 0,56 114 53 2098 475 7,0 0,84 133 71 2852 647 7,0 1,00 151 88 3528 800 8,0 1,15 167 105 4170 945 8,5 1,38 183 120 4781 1084 9,0 1,54 198 134 5367 1217 1,76 212 148 5933 1346 20 30 40 50 60 70 80 ) 4, 0 4, 5 5, 0 5, 5 6, 0 10, 6, 0 5 10, 6, 0 5 Fonte: S A N C H E S , (1981). D. Quadro Clínico A toxemia da prenhez caracteriza-se por depressão da consciência, distúrbios neuromusculares, da postura, tônus muscular, desequilíbrio e andar cambaleante e por movimentos primitivos (mímica da mastigação, ranger dos dentes). S ANCHES (1986). Do ponto de vista neurológico, ocorre alterações no sistema nervoso central que se originam sob a base de uma hipoglicemia. A ação tóxica se deve principalmente a acetona e ao ácido 9 acetoacético. H IEPE (1972). M ARQUES (1994) relata que as lesões ocorridas nas células nervosas pela falta de glicose, são irreversíveis, daí a ocorrência de diversas alterações nervosas, tornando o quadro de difícil prognóstico 2. O RTOLANI (1985) descreve as alterações nervosas de acordo com a área afetada pela a falta de glicose. Quanto maior a exigência de glicose por um setor do Sistema Nervoso Central, mais rápido e com maior intensidade ele é afetado. Assim, o cótex cerebral é o primeiro a ser acometido, sendo responsável pelo aparecimento da depressão da consciência, observada pela falta de resposta aos estímulos provocados, ausência de reação ao meio ambiente, surdez cortical e hiporexia ou anorexia. Em seguida o cerebelo é acometido surgindo distúrbios de balanço e postura, cambaleios laterais e alguns movimentos de rotação. Por fim, nas fases terminais do quadro, o diencéfalo é acometido, responsável pela mímica de mastigação e ranger dos dentes. A evolução do quadro clínico depende da origem etiológica, sendo de 10 a 15 dias para animais com subnutrição e três a oito dias para fêmeas com boa condição corporal, ou obesas. Observa-se hiporexia inicial seguida de anorexia terminal; disfagia no primeiro tempo de deglutição, hipotonia ou atonia ruminal e redução do volume fecal. Os animais evitam a locomoção ou perambulam sem objetivo, isolando-se do rebanho. Ao término da evolução do quadro clínico, ocorre perda de reflexos fotomotores, diminuição acentuada da resposta a estímulos sonoros e dolorosos; tremores da cabeça acompanhados de ranger dos dentes e mímica de mastigação; coma e morte após um período de um a seis dias. (O RTOLANI 1994). E. Diagnóstico • 2 Diagnóstico clínico MARQUES, L. C. (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo - FMVZUSP). Comunicação Pessoal, 1994. 10 Baseia-se na observação dos sinais clínicos do curso típico de como a toxemia da gestação se apresenta, bem como anamnese, ressaltando dentre outros aspectos a ocorrência de aborto, dieta das gestantes e cuidado com as mesmas. • Diagnóstico laboratorial H IEPE (1972). cita que o conteúdo de acetona na urina varia de 10 a 300 mg % e o nível de corpos cetônicos no sangue encontra-se elevado. A glicemia decresce, variando entre 10 a 30 mg %. Observa-se linfopenia e neutrofilia. Para O RTOLANI (1985), os achados no exame de sangue são: neutrofilia com ligeiro desvio à esquerda, com neutrófilos apresentando granulações tóxicas. Observa-se ainda linfocitopenia e ausência de eosinófilos. Na urinálise constata-se um pH muito ácido, chegando a 5. Sabe-se que os valores normais de pH vão de 7,8 a 8,4. No exame de Rothera para a pesquisa de corpos cetônicos, encontrou-se quatro cruzes indicando estar altamente positivo. A bioquímica sérica revela ema severa hipoglicemia (menor que 20 mg%) e um aumento da TGO (até 600 UI/ l). • Diagnóstico diferencial S ANCHES (1986) refere-se a avitaminose A. De acordo com H IEPE (1972), a listeriose, cenurose, doença de Borna, hipocalcemia e hipomagnesemia, devem ser excluídas para facilitar o diagnóstico da toxemia da gestação. F. Achados de Necrópsia • Os Achados anatomopatológicos achados anatomopatológicos revelam fetos a termo no útero (geralmente em bom estado de conservação), fígados e rins de coloração pálida e fezes ressecadas no reto e cobertas de muco. S ANCHES (1985). De acordo com H IEPE (1972), além da hipertrofia observada no fígado, ele 11 também se apresenta de coloração e de consistência friável. O RTOLANI E B ENESI (1989) descrevem rins de coloração esbranquiçadas e adrenais congestas e hipertrofiadas. O RTOLANI (1994) referem-se à presença de grandes quantidades de tecido gorduroso na cavidade abdominal (em animais obesos) e pouca quantidade de gordura (nos animais subnutridos); o fígado com aparente aumento de tamanho, bordos arredondados e de cor cinza amarelado; rúmen com conteúdo ressecado, amarelado e de odor acético; repleição aumentada dos vasos mesentéricos e pulmões com congestão hipostática. Nos animais subnutridos observou-se abomaso repleto de conteúdo de cor achocolatada, de pH 6,0 e grande quantidade de vermes adultos de Haemonchus contortus e inúmeros nódulos de Oesophagostomun sp. ao nível da serosa do intestino grosso. Vale ressaltar que estes animais eram submetidos a um manejo alimentar extremamente pobre e viviam em condições higiênico-sanitárias insatisfatórias, sem utilização periódica de vermífugos. • Achados histopatológicos S ANCHES (1985) descreve fígado e rins de coloração pálida, acometidos de infiltração gordurosa. De acordo com H IEPE (1972), há uma degeneração do miocardio, adipose renal e degeneração gordurosa do cótex e das cápsulas adrenais, bem como uma infiltração adiposa e degeneração hepática. G. Tratamento Para O RTOLANI (1994) o tratamento deve estar voltado para três metas principais: combate a hipoglicemia, diminuição da drenagem de glicose e redução da cetogênese. A administração de glicose por via oral, induz nos animais, a formação de uma goteira reticular, o que facilita a absorção contínua e prolongada de glicose pelo intestino delgado. Para diminuir a drenagem de glicose, a literatura indica a prática de cesariana, mas ao realizar esta cirurgia em fêmeas com toxemia da gestação, ocorreu morte 12 dos fetos e perda da matriz. A redução da cetogênese seria através de tratamento com insulina e certos tipos de esteróides, mas os resultados são incertos. Quanto mais precoce for o diagnóstico da doença, melhor será a recuperação do animal, sendo que, em casos avançados, a recuperação é raramente observada. O uso de glicose unicamente não dá bons resultados, pois a sua aplicação é normalmente descontínua. Para cabras e ovelhas, recomenda-se o uso de 200 a 400 ml de glicose a 40%, por via endovenosa, mais 60 ml de propilenoglicol, por via oral, durante cinco a nove dias. Este tratamento feito no início da doença oferece bons resultados. (SANCHES , 1986). S ICA N OÉ (1984) sugere que sejam administrados 125 ml de glicerina diluídos em 125 ml de água, por via oral. Este tratamento deve ser acompanhado de um equilíbrio da dieta do animal. M ARQUES (1994) recomenda que seja dado, por via oral, 50ml da solução contendo: 15gr de propionato de sódio, 25 ml de propilenoglicol, em 100 ml qsp de excipiente, BID 3 para cabras que se apresentem apáticas e sem apetite 4. H IEPE (1972) sugere que o tratamento responda as necessidades de glicose existentes no animal. Para isso empregam-se glicerina (60 gr/dia) via oral e solução de glicose a 5-10%, entre 250 a 500 ml, por via subcutânea. O melaço tem oferecido bons resultados (0,3 a 0,75 litro/dia). Para as matrizes de grande valor econômico, podem ser tratadas com preparados de Acth e corticóides. Refere-se ainda a interrupção da gestação e a prática de exercícios diários pela fêmea (uma vez tenham ocorrido os primeiros casos da enfermidade na propriedade), e se possível, o fornecimento do alimento ao ar livre. 3 4 duas vezes ao dia. MARQUES, L. C. (FMVZSP). Comunicação Pessoal, 1994. 13 De acordo com S ANCHES (1984), o tratamento recomendado é 50 a 100 ml de solução de gluconato de cálcio a 20 a 30%, por via endovenosa. O RTOLANI E B ENESI (1989) constataram que o tratamento realizado em animais em estágio avançado da doença, não produziu resultados satisfatórios. Esta terapia constituiu-se da administração oral diária de 200 ml de glicerina e injeção de glicose a 20% (endovenosa). Várias terapias são preconizadas: soluções de glicose a 60%, por via subcutânea (2,5 ml/kg (250-500 ml, BID ). BID ) e/ou solução de glicose a 5%, por via endovenosa Apesar de ser racional, a eficácia do tratamento com glicose é menor quando comparada aos precursores deste açúcar: glicerol (glicerina líquida 150-200 ml/dia, BID ) ou propilenoglicol (200 ml/dia BID ), administrados por via oral. Recomenda-se então, a associação dos dois esquemas, com a injeção de glicose como tratamento de choque e os precursores como manutenção dos níveis glicêmicos. (O RTOLANI 1985). H. Profilaxia Alguns autores recomendam várias medidas preventivas para evitar que as fêmeas, no terço final da gestação, venham a desenvolver a toxemia da prenhez. S ILVA E S ILVA (1983b) sugerem a utilização de uma maternidade, onde seriam colocadas as fêmeas gestantes. Esta prática favorece um atendimento especial a matriz, no tocante ao fornecimento de ração e/ou alimentação adequada, bem como a diminuição do estresse. Para isto, devese evitar práticas comuns de manejo tais como: mudanças bruscas de alimentação, cortes de casco, transporte de animais, manipulações individuais e do rebanho. Estudos têm demonstrado que o exercício físico e apropriado, para fêmeas gestantes aumentam a produção de glicose e diminui a formação de corpos cetônicos. (O RTOLANI E B ENESI , 1989). Quanto à dieta, é aconselhável que o animal receba alimentos de maior palatabilidade, visto que o crescimento do útero comprime o rúmen e 14 favorece a uma diminuição do apetite. Com isto, a ingesta deve ser de melhor qualidade e os nutrientes devem estar em equilíbrio. Para evitar uma superalimentação nos primeiros três meses, deve haver um controle quantitativo da ração, aumentando gradativamente deste período até o parto, conforme apresentado no gráfico II (O RTOLANI 1985). g / NDT / Dia Gráfico II Total g/NDT/dia Durante a Gestação 1200 Cabra 1ª Cria 1000 Multípara Constituição Razoável 800 600 Multípara Gorda 400 200 0 Primeiro Segundo Terceiro Quarto Mês da Gestação Quinto Fonte: RUSSEL, 1983. A higiene é um dos princípios básicos do manejo quando a meta for a criação de animais sadios e alta produtividade. Para tanto, deve-se preconizar a adoção de boas práticas do manejo nutricional e sanitário do rebanho. (S ILVA E S ILVA 1983b). 3. C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S A ocorrência de falhas no manejo nutricional das fêmeas gestantes é a principal causa da instalação do quadro de toxemia da prenhez. A condição corpórea dos animais acometidos não interferiu no prognóstico da doença, 15 observando-se assim, a incidência em animais subnutridos como também em animais obesos. Devido à alta necessidade de energia no terço final da gestação, cabras e ovelhas com gestação múltipla, têm propensão de desenvolver a doença, principalmente se o alimento oferecido for de baixa qualidade, pouca quantidade ou mal balanceado, não satisfazendo as necessidades energéticas do conjunto matriz-fetos. O tratamento da toxemia da gestação ainda é discutido, mas pôde-se observar que, quanto mais precoce for o diagnóstico, melhor será a resposta esperada a terapia escolhida. Medidas preventivas representam a melhor forma de evitar a ocorrência da doença. O mais relevante, portanto, é adotar um manejo adequado às necessidades especiais das fêmeas gestantes, priorizando o aspecto nutricional. Esta alternativa, diminuiria as chances de ocorrência de casos de toxemia da prenhez na propriedade. 4. 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