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Celui-ci n’est pas Keynes: Uma aproximação oblíqua às ideias de John Maynard Keynes Duarte Gonçalves Dezembro 2011 WP n.º 2011/07 DOCUMENTO DE TRABALHO WORKING PAPER Celui-ci n’est pass Keynes: Uma aprroximação oblíquaa às ideias de John J Mayynard Key ynes Duuarte Gonça alves♣ WPP nº 2011/07 Deccember 2011 2 Abstrract I – INTRODUÇÃO 2 II ‐ OB BJECTIVOS E MÉTODO 3 NCERTEZA III – IN 4 IV ‐ A A INCERTEZA NA ECONOM MIA 15 V ‐ O PAPEL DO ESTADO 23 VI ‐ O O SISTEMA IN NTERNACION NAL E AS GRA ANDES GUER RRAS 31 VII ‐ ""REVOLUÇÃO O METODOLÓ ÓGICA" 34 VIII ‐ REFORMA E SUPERAÇÃO O DO CAPITA ALISMO 38 IX ‐ ECONOMIC CONSEQUENC CES OF KEYN NES 44 X ‐ CO ONCLUSÕES 48 BIBLIOGRAFIA 49 ♣ ISC CTE-IUL. Agrade ecimentos: Não o posso perder a ocasião de ttornar manifesttos os meus ag gradecimentos à Professora Maria M de Fátima a Ferreiro por me m ter proporcionado a oporttunidade de dessenvolver este estudo e pelass atentas correccções e sugesttões que ajudarram a melhorá-lo, bem como p pelos seus consselhos e orientação. Por outro lado, são de re eferir os importtantes contributtos de Inês Ch haves e de And dré Cardoso Dias e o auxílio da minha eteerna revisora. Por P fim, agrade eço ao DINÂMIA A’CET pelas sign nificativas alteraações sugeridas e pela abertura a para aceitarem m publicar este estudo. A todo os, muito obrigado. Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ Celui-ci n’est pass Keynes: Uma aprroximação oblíquaa às ideias de John J Mayynard Key ynes RES SUMO Atravvés de fontes secundáriaas, este estuddo pretende mostrar o papel p centrall da incertezza nas teoriaas de John Maynard M Keynes. Recoloocando a ên nfase sobre este e conceitoo, a partir dee uma aproxximação à teooria keynesiaana das probbabilidades, pretendemos p destacar as llógicas de Keynes K refereentes à Econnomia e o papel p que, noo âmbito desta, competee ao Estado.. Em seguida, são analizzados os conntributos prááticos de Keeynes para o forjar do sistema internnacional no EntreE Guerrras e no pós-II Guerra Mundial, beem como a sua reflexão o crítica sobbre a metodo ologia econóómica, devoolvendo a Ecconomia, poor meio da ideia de org ganicismo soocial, ao seiio das Ciênccias Sociais. Depois, identificamoss a finalidaade do seu sistema coom a reform ma do capitaalismo, tenddente à suaa própria suublimação. Concluímos C com uma breves anottações refereentes à formaa como foram m apreendidaas as ideias de d Keynes. PALA AVRAS-CH HAVE: Keyn nes; Incertezza; Estado-Prrovidência; Economia; E Caapitalismo. ABS STRACT Basedd on secondaary sources, this study aiims to show the central role r of uncerrtainty in thee John Maynnard Keynes’s theories. Placing P the eemphasis on n this concep pt, from a Keeynesian app proach to thee theory of probability, we want too highlight Keynes’s K log gic regardinng Economiccs and state’’s role withiin it. Next, we analyzedd the Keynees’s pratical contributionns for forgin ng the internnational systtem from thee Great War onwards an nd in the post-World Waar II, as well as its critical reflectionn on econom mic methodoology, relocating Econo omics amidstt Social Sciiences ntify the purrpose of the keynesian system throuugh the idea of social organicism. Thhen, we iden with the reform of o capitalism,, which tend s to its own sublimation. We concludde with brieff notes regarrding the wayy that Keynes's ideas werre seized. KEY YWORDS: Keynes; K Unceertainty; We lfare State; Economics; E Capitalism. C 1 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ 1. IN NTRODUÇ ÇÃO I do not attempt a an answer a in thhis place. It would need a volume of a differennt character from this one to indiccate even in outline the practical measures in n which theyy might be gradually clothed. (John Maynard M Keyynes, 1936)1 Assim m se pronunnciou Keynees relativameente à sua Teoria T Geral do Empreggo, do Juro o e da Moedda e assim introduzimos i s este estudoo. É impossíível uma bio ografia verdaadeira de Keeynes, mesm mo ou sobretuudo uma biografia intelecctual. O real é descontínu uo e a lógicaa que é urdida pelo génerro biográficco é sempree ex-post, ppelo que é criada pelos próprios biógrafos2. Não pretenndemos im mpor uma lógica l ao ppensamento de Keynes, pelo quue abdicamo os da caraccterização deeste ensaio co omo uma bioografia. Tam mbém não pretendemos rrealizar uma metabiogrrafia3 das ideeias de Keyn nes, já que a nossa aborrdagem às diferentes d intterpretações sobre Keynnes foi mais selectiva e interpretativa i a que comprreensiva, perrdendo-se mu muitas das im magens que sse criaram sobre s este. A primeira, por reconheecimento das limitaçõess metodológicas e condiicionantes exxternas, a seg gunda por see desviar do nosso n móbil. Qual é entãão o nosso in ntuito? Será simplesmentte o de execu utar uma aprroximação ob blíqua às ideeias de Keynnes, segundo o Pressman, o economista que teve maior impaccto sobre o século s XX4, senão mesm mo um dos maiores m de toodos os sécu ulos e, simulttaneamente, «mais do qu ue um U aproxim mação que vvisa relevarr a importân ncia central da incerteza na econoomista»5. Uma Econnomia e no real-social, indistrinçávvel da persspectiva org ganicista de Keynes so obre a sociedade, re-situuando a Econ nomia entre aas Ciências Sociais, S com uma vincadaa dimensão moral, m humaana. A pertinênncia actual do d tema não podia ser maior, m dado não só o eestado presen nte do panorrama metoddológico da dita “ortodooxia” – term mo cunhado pelo própriio Keynes na n sua Teoriia Geral6, com c uma relevância acuutilante –, como c ainda faz este tem ma derivar a sua 1 2 3 4 5 6 KEYN NES, 2003. BOU URDIEU, 1996.. MAU URÍCIO, 2005: 11-15. PRES SSMAN, 2006: 157. SKID DELSKY, 2010: 90. Send do que a esta ortodoxia logo no prefácio faz referência a – KEYNES, 2003. 2 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ actuaalidade do contexto econ nómico, ondde se assom mam problem mas para os quais parecce não existiir resposta coerente c porr entre as tteorias econ nómicas dom minantes. Jullgamos, porr isso, imperrativo reconnhecer a importância da incerteza keeynesiana e todas t as ilaçções a partir desta foram m desenvolviidas por Keynes. 2. OB BJECTIVO OS E MÉT TODO O objjectivo destee ensaio será então tentar expor orden namente elem mentos várioss da ou das ló ógicas de ideeias de Johnn Maynard Keynes. K Contuudo, os nosssos interlocuttores primeirros serão as fontes secunndárias, cujass interpretaçõ ões das ideiaas keynesianaas (leia-se, de d J. M. Keynnes) procuraremos trazerr e confrontaar, transformando-as com m a leitura críítica que delaas fazemos. É por isso qu ue nos referiimos a uma aproximaçãão, dado quee não atingiiremos a verdadeira lóggica das ideiias de Keynnes, não apeenas por laccunas de coontacto com m as fontes primárias, m mas também m pela impossibilidade de d saber com mo interpretáá-las, algo que q possivelmente nem o próprio au utor é jamaiis capaz de o fazer, devido à naturezza cambiantee das ideias e da posição do indivíduo face ao coontexto que o rodeia. Desta form ma, a aproxim mação não será em “lin nha recta” à teoria de K Keynes, mass mais tributtária da aprroximação de d Ortega y Gasset em m O que é a filosofia ?, onde preetende «deseenvolver o meu m pensam mento em círrculos sucesssivos de raio o minguantee, em rota esspiral, portaanto»7. Apesaar de não intterpelarmos directamentee o autor do cerne deste trabalho, crremos, se nãão racional, ser pelo meenos “razoávvel”, ter preesente a “expectativa” dde que os esstudos acadéémicos sobree os quais nos baseámos cconstituírem m um repositó ório fidedigno no das teoriass deste econoomista, citanndo ainda larg gas passagenns das suas obras. Será uma lógica l contesstável, mas ttambém a ciiência e a procura do connhecimento são, a seu m modo, a arte do d possível. 7 ORT TEGA Y GASSE ET, 1999: 53. 3 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ 3. IN NCERTEZA A Se foosse possívell reduzir o pensamento p de John Maaynard Keyn nes (1883-19946) a uma única palavvra, essa palaavra seria inccerteza. De ffacto, concorrdamos com Skidelsky qquando este afirma a que ««o cerne da teoria de Keeynes é a exxistência de uma inescap pável incerteeza em relaçção ao futuroo»8. o central, com mo procurarremos mostraar, é possíveel fazer deseenrolar A partir deeste conceito toda a teoria de Keynes. K É a sua s porta de entrada e, pode-se dizer, a infraestruutura de todaa a sua teoriaa. Prob babilidade O deesenvolver da questão da incerteza rremonta aoss tempos de juventude dde Keynes, sendo indesstrinçável do seu estudo sobre probabbilidades, Trratado sobre as Probabillidades9, dad do que é nelee que se geraa este conceitto revolucionnário. Probabilidaade é «uma relação entree proposiçõees», isto é, «uma « relaçãoo lógica e racional de see conhecer allgo a partir da d ausência dde informaçãão, e de fontees de inform mação, perfeittas»10. Keynnes furta-se à definição co oncreta de prrobabilidadee, que declaraa impossívell, tal como para G. E. M Moore (18733-1958), filó ósofo cuja oobra teve um ma grande influência eem Keynes11, era impossível definir “bem”. Como o “bem” e o “amarelo”, probabiliidade era um ma noção sim mples e os de qualqu quer espécie de factos» era incorreer numa «ffalácia tentarr defini-los «em termo naturralista»12. Como relaação lógica e racional dde conhecim mento, temos de consideerar conhecim mento directto de um inddivíduo, as in nformações oobtidas e aprreendidas imediatamente,, a partir das quais se geram as prem missas, e conh hecimento inndirecto, quee se reporta à forma comoo as premissas são 8 SKID DELSKY, 2010: 17. Veja-se também: «A ffundamental tenet t of Keyne es’s revolutionn in economic theory is his argument (KEYNES, ( 2003: ch. 12) thaat probabilistic risks, conce eptually knowaable on the basis b of als, must be d distinguished from uncertainty where exxisting informa ation is pastt and present market signa not a reliable guide to future performance» » - DAVIDSON, Paul, «Unc certainty in eeconomics», DOW D & 1 HILLLARD, 1995: 111. 9 Que, embora tenh ha sido publica ado em 1921,, sabe-se que começou a se er redigido, peelo menos, em m 1905 KIDELSKY, 201 10: 125. – SK 10 Resspectivamente e NUNES, 1998 8: 41 e TERRA A & FERRARI FILHO, F 2011: 2. 11 Mo oore publica Principia P Ethicca em 1903, o primeiro an no de Keyness em Cambriddge. Influênciia cuja impo ortância este [Keynes] reco onhece na suaa memória «My Early Beliefss» (1938): «Th The large part played by cconsiderationss of probabilitty in his [de Moore] theorry of right co onduct, was inndeed an imp portant conttributory causse to my spen nding all the leisure of ma any years on the study of that subject. I was writing under the e joint influence of Mooree’s Principia Ethica E and Ru ussell’s Princip ipia Mathemat atica» NUN NES, 1998: 60 0. Veja-se tam mbém LAWSO N, Tony, «Eco onomics and expectations»», DOW & HIL LLARD, 1995 5: 92. 12 NUN NES, 1998: 76 6-7. 4 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ reflecctidas pelo indivíduo i e transformada t as em propo osições ou argumentos13 . A probabilidade traduuzia então o grau g de crençça de um inddivíduo relattivamente à possibilidade p e de tornar as a suas prem missas num aargumento14. Desta form ma, a probabiilidade não tinha t uma nnatureza estaatística inata,, mas lógica:: a fonte de conhecimento c o não era a observação, o mas m a razão155. No Tratadoo sobre as Probabilidad P des, Keynes procede p assiim à distinçãão de três tip pos de probaabilidades. Um U primeiro é a probabiilidade cardiinal ou mensurável (porr exemplo, p(A) p = 1/3), viabilizandoo a comparaçção através dda distância entre e os seus valores absoolutos, perm mitindo r Um segundo s tipoo é a probaabilidade ord dinal, que tr traduz apenaas um a avaaliação do risco. «conhhecimento vago», v qualittativo, dadoo que é inceerto, impossível de meddir em term mos de valorres absolutoss, situando-see entre a freequência estaatística e a in ncerteza irreedutível por, ainda assim m, permitir um ma comparaçção ordinal ddo tipo p(A) > p(B), mass apenas com m conhecimen nto de p(A) e p(B) se sittuarem algurres entre 0 e 1. Por fim, a tríade fica completa com om a probabilidade ma incerteza iirredutível, derivada d da ausência a de innformação, lacuna l descoonhecida, que veicula um que o tempo preencheria – incerteza eepistemológiica –, ou dee natureza oontológica, sendo «genuuinamente irrredutível»16. Como se coompreende, a teoria probbabilística dee Keynes não o raras vezess passou por “antimatem mática”, daddo que se preetendeu, efecctivamente, romper r com o espartilhoo da lógica fo ormal, alargaando-o. À lóógica formall, Keynes adduziu a lógicca humana, racional r e reealista e, porrtanto, reconnhecendo a limitação l cog gnitiva. Os jjuízos de pro obabilidade eram racionaais, porém, já j não frequuentistas, abaarcando o qu ue é provávell acontecer, como também o que é raazoável acon ntecer, ultrappassando a concepção c arristotélica dee probabilidade (o que ocorre o usuallmente)17 para dar contaa da complexxidade das estruturas e doo universo, que q não são passíveis dee ser abrangidas e comppreendidas naa sua totalidaade pelo Hom mem18. Já Allfred Marshaal, antigo proofessor de Keeynes, tinha dúvidas com m a excessivaa matematizaação do estud do da realidaade económicca. Para Key ynes, a presentada por um cardinnal, era, incllusive, maiorria das probaabilidades nãão era passívvel de ser rep não-m matemática, embora e lógicca19. 13 De referir que a noção de conhecimento de rivado de Berttrand Russell já j se baseia ta também em re elações babilísticas e não n apenas em m relações form mais (NUNES,, 1998: 36). prob 14 TER RRA & FERRAR RI FILHO, 201 11: 7. 15 SKIIDELSKY, 2010 0: 126. 16 SKIIDELSKY, 2010 0: 126-30, NUNES, 1998: 411-6. 17 NUN NES, 1998: 32 2. 18 NUN NES, 1998: 26 6. 19 BRA ADY, 1993: 36 60: «we can co onclude that ffor Keynes mo ost probabilitie es were 'non-nnumerical». 5 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ Sendoo lógica, no quadro de um ma lógica raacional com conheciment c o limitado20, a probabilid dade é apreeendida intuitivamente, tratando-se de uma “o opinião”21, uma crençaa, distinguin ndo-se probaabilidade e verdade: v algo pode ser rrazoável ou provável, mas m não ocorrrer, logo, nãão ser verdaade. Contudoo, a probabillidade «respeeita ao grau de crença que q é admisssível ter em certas condiições. Uma proposição p não é prováveel porque nóss pensamos que q o seja», nnão é subjecctiva22. Contrraria desta forma a esstruturação dde ideias da d Economiaa clássica dde que só existe conheecimento peerfeito «baseeado na verrdade indisccutível»23. É, para Keynnes, concebíível a existêência de connhecimento perfeito, p mas apenas em circunstância c as muito resttritas e para dados fins teóricos24. mento, Se a probabbilidade reprresenta a crennça de que a premissa see possa tornaar num argum c entre eviddência favorrável e ev vidência dessfavorável a um resulttando da comparação aconttecimento, o peso do arg gumento tradduz a evidênccia disponível, seja quanntitativamentte seja qualittativa e quanntitativamentte25. Se há m mais evidênciia relevante a suportar um m argumento o, não signiffica que hajja maior prrobabilidade,, mas que a validade da probabiliidade, o pesso do argum mento, é m maior26. Não se tem em m conta a informação i irrelevante, dado que existe inform mação irreleevante descon nhecida, inteegrando-se so omente a evidência relevvante27. Por outras palavvras, «Enquaanto a probab bilidade medde o grau de certeza ou incerteza da conclusão, o peso medee a incerteza no sentido do d grau de coonfiança»28, ou o seja, a pro obalidade da probabilidad de29. nes deixa caiir a categoriaa intermédia de probabiliidade ordinaal para Na Teoria Geral, Keyn evideenciar o conntraste entree incerteza e probabiliidade cardin nal ou frequ quentista, seg gundo Skideelsky30. Assim m, faz-se corrresponder a probabilidade (TP) à expectativa (TG TG) e o peso (TP) ( à confiança (TG), sendo s a inceerteza irreduttível sobretu udo associadaa ao longo pprazo31, o qu ue, em nossaa opinião, ferre o alcance conceptual c e analítico daa teoria probaabilística de K Keynes. 20 Tra ata-se do con nhecimento mediato, m dadoo que a expe eriência do in ndivíduo é lim mitada, caben ndo-lhe aperrceber-se das evidências, se endo esse o p papel atribuído o à intuição ou u a um juízo a priori, ainda que as prob babilididades existem e indepe endentementee dos indivíduo os – NUNES, 1998: 1 32-4. 21 DOW W, Sheila, «Uncertainty abo out uncertaintyy», DOW & HILLARD, 1995: 118. 22 NUN NES, 1998: 33 3. 23 NUN NES, 1998: 31 1. 24 NUN NES, 1998: 41 1, LAWSON, Tony, «Econom mics and expecctations», DOW W & HILLARD D, 1995: 92. 25 NUNES, 1998: 148-9. Esta terrminologia, peeso do argumento, foi usad da inicialmente te pelo filósofo o C. S. DY, 1993: 358. Peircce – vd. BRAD 26 Karrl Popper conttestou a ideia a de peso do argumento, avançando a que era paradoxxal – BRADY, 1993: 358. Contudo, O’Donnell desm mistifica a queestão e explica como não tem validadee a contestaçção de a própria lógicca interna do T Tratado de Pro robabilidades. Vd. V O'DONNELLL, 1992. Popp per a partir da 27 «K Keynes's existiing rule corre ectly excludees evidence which w has no o bearing on the proposittion» O'DO ONNELL, 1992 2: 47. 28 NUN NES, 1998: 47 7. 29 O'D DONNELL, 1992: 51. 30 SKIIDELSKY, 2010 0: 128. 31 NUNES, 1998: 12 27. O conceito o de confiançça probabilísticca é contra-intuitivo, logo, difícil de apre eender. delsky confunde expectativaa e confiança,,ou seja, pode e existir uma confiança elev vada e Por exemplo, Skid 6 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ A quuestão da proobabilidade encontra-se e ffundada na ideia i de inceerteza e, senndo dependen nte da intuiçção, como matéria m de opiinião, introduuz na Econo omia a necesssidade do esttudo da psico ologia do inndivíduo32, noomeadamentte quanto à fformulação de d expectativ vas. Porém, o indivíduo não é tido como um átomo, á senão o como um m “indivíduo o social”, naa linha do que depois foi o pensaamento de Norbert sobre a realidade N Eliaas33, afectanddo este presssuposto a perspectiva p econóómica. Traçáámos os temaas que procuuraremos deseenvolver de seguida. Incerteza By uncerttain knowledg ge, let me expllain, I do not mean to distinguish what w is knownn for certain from whatt is only proba able. The gam me of roulette is not sub bject in this sense to unceertainty […] Even the weather w is mo oderately unceertain, or the price of copper c and th he rate of intterest twenty years hen nce […] Abo out these maatters is no scientific basis on wh hich to form incalculable W simply do nnot know. probabilitty whatever. We (John Maynard Keyynes, 1937)34 Comoo atenta, e beem, Jacinto Nunes, N «a inccerteza é um m facto universal da vida»» e, acrescen ntamos nós, a viga-mesttra das ideias de Keynnes. A Econ nomia clássiica ou “ortoodoxa”35 tom ma os indivvíduos como detentores do d pleno conhhecimento «d de todas as distribuições d de probabiliidades relativas a aconntecimentos futuros»36, actuando os o indivíduo os, segundoo uma lógicca de om esse conhecimento perfeito. Keynes K racionnalidade forrmal ou maatemática, dde acordo co reconnhece que nem toda a actividade a eeconómica esstá pejada de d incerteza337, mas enfaatiza a importância destaa, tanto por existir umaa incerteza irrredutível faace ao futuroo de longo prazo, p comoo pelo facto de d ao estudo da Economiia não ser ap plicável a erg godicidade esstatística, um ma vez que o indivíduo em e si não é in nvariante, m mas sim impreevisível, tantto mais que aas suas acções são interrrelacionadas com as de todos os resstantes, dado o o carácter orgânico daa sociedade, como uma a expectativa pessimista e uma confian nça reduzida e uma expecttativa positivaa – vd. SKIDE ELSKY, 2010 0: 125. 32 BRA ADY, 1993: 35 59. 33 ELIA AS, 1993. 34 Apu ud NUNES, 1998: 149. 35 KEY YNES, 2003. 36 SKIIDELSKY, 2010 0: 115. 37 SKIIDELSKY, 2010 0: 125. 7 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ verem mos38. A inceerteza enfraq quece as prevvisões e corrrelações da teoria t clássicca (e neoclásssica), pois faz considerrar que os números n dass fórmulas de d hoje «é praticamente p e certo não serem aplicááveis amanhã»39. O’Donnell considera trrês tipos de incerteza keeynesiana: 1) incerteza eem relação a uma propoosição primáária, não se sabendo da suua veracidad de ou falsidad de, onde a prrobabilidade mede o graau de certezaa ou incertezaa; 2) incertezza em respeiito à evidênccia, estando rrelacionada com c o peso do argumennto, resultand do de se ter, relativamentte ao argumeento, uma quuantidade lim mitada ndo que estaa não altera o argumentto em si, maas o seu peso; 3) de innformação reelevante, sen incertteza face a uma proposiição secundáária, sendo as a probabilid dades desconnhecidas pello seu limitaado peso ou escassez de evidência40. A incerteza,, exibindo diferentes grauus, não pode então ser geenericamentee reduzida ao o cálculo da pprobabilidad de, ao risco41. A ideia de incerteza nãão era complletamente alh heia à teoria económica, conquanto tivesse sido recalcada do conscieente teórico face aos pressuposto os irrealistaas assumido os de racionnalidade e coonhecimento o perfeito. Dee facto, já Riichard Cantilllon (c. 16877 - c. 1734) aborda a a inceerteza quanddo se refere à incerteza ddo impacto do d dinheiro – dito “efeitoo Cantillon” – mas tambéém encaravva o futuro em geral como incertto, sendo toda a activvidade económica inerenntemente arrriscada42. J. Stuart Mill ((1806-1873), por outra parte, p dá a nnota da incerrteza a longoo prazo, quaando giza cen nários de prrevisão da ecconomia, considerando-oos ordinalmeente e não ccardinalmentte, pelo que pode p ser tom mado como um m anteceden nte de Keynees na determiinação da inncerteza de longo prazo43. Knight, p or exemplo, debruça-se também sobbre a incerteeza do compportamento humano, h intro oduzindo na sua análise outros o factorres, como as emoções, qu ue não são ccientificamennte mensuráv veis, divergiindo dele Keynes K ao reejeitar a teorria da competição perfeita e dos merrcados eficieentes, que Knnight apoia44. A incerteza é determin nante na ecoonomia. Um m exemplo claro é o faccto de a incerteza influeenciar determ minantementte o investim mento, como veremos. Como refere H Hutchinsson n, «An analyysis of a woorld with un ncertainty inn it […] can nnot start frrom the sam me assumptiion of 38 TER RRA & FERRAR RI FILHO, 201 11: 5. SKIIDELSKY, 2010 0: 125; NUNES S, 1998: 134. 40 NUN NES, 1998: 14 43-4. 41 LAW WSON, Tony, «Economics « and expectatio ns», DOW & HILLARD, H 1995: 91 e BRADYY, 1993: 360. 42 PRE ESSMAN, 2006 6: 20. 43 «Ra ather than prredicting the ultimate u outcoome of these conflicting fo orces, he (Mil l 1848, book 4) set forth h several posssibilities or scenarios for th he future. As a result, Mill deserves d cred it for being th he first econ nomist to recognize that long-run treends or outccomes cannott be forecastt with certain nty» PRE ESSMAN, 2006: 65-6. 44 BAC CKHOUSE, 200 02: 202-4. 39 8 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ ‘ratioonal’ conduct as that app plicable to a world witho out uncertain nty»45. Entãoo, como anallisar o compportamento dos d indivíduo os na sociedaade, num con ntexto de inceerteza? Orgaanicismo Thom mas Hobbes (1588-1679)), no Leviatãã, foi o prin ncipal teorizador do atom mismo ontollógico comoo concepção da sociedad de, noção quue está na baase da Econo omia clássicaa e neoclássiica. A grandde viragem metodológica m a na percepçãão social de que o todo não n é a somaa das partes está e já preseente nos inteelectuais vito orianos, com mo Ruskin e Coleridge, que se preeocupavam com c a sociedade como um todo46, sendo o prinncípio das unidades u org gânicas maiss desenvoltamente concrretizado por Moore nos Principia P Ethhica. Nesta obra, o estabeleece que todo o Universo é uma unidaade orgânica, não sendo passível p de sse analisar ass partes indep pendentemennte. Keynes aceita criticamente estas conclusõess: o todo nãão é a soma das partes, mas o princcípio das uniidades os da mente individuais47. orgânnicas deve seer concebido como restritto aos estado Nas diversas interpretaações sobre aas teorias keeynesianas, existe e uma qquesília sobre se a posiçção deste facce à probab bilidade era organicista já j à data daa publicaçãoo do Tratad do das Probaabilidades, se s se alterou de atomista para organicista entre esste momentoo e a vinda a lume da Teeoria Geral ou se nuncaa foi abandonnada uma posição atomista, controvvérsia amplam mente exploorada por Jaccinto Nunes e que nos aabstemos de reproduzir48. Da nossa pparte, partim mos do pressuposto, que,, a dada alturra, Keynes aadoptou umaa posição org ganicista, um ma vez que ele nos hesis which hhas worked so splendidly in physiccs breaks down in diz qque «The atoomic hypoth psychhics. We aree faced at ev very turn wiith the prob blems of organic unity, oof discreteneess of discoontinuity – thhe whole is not n equal to the sum of the parts, co omparisons oof quantity fail f us, smalll changes prooduce large effects, the aassumptionss of a uniform m homogenoous continuu um are not ssatisfied»49. Assim A sendo o, pensamoss ser essenciial para com mpreender ass suas ideiass uma brevee explanaçãoo desta visão, dado que loogicamente se relaciona com a formu mulação e alteeração das convenções soociais. O organicismo não tom ma apenas a sociedade como c um tod do, mas antees lhe reconh hece a ndo, os seus efeitos. L Lawson cham ma-lhe interddependência das partes, associando , não soman «interraccionismo societal», segundo s Jaciinto Nunes, «uma ideiaa de Wittgennstein, do próprio Marxx e, mais reecentemente,, de Giddenns»50. Dada a interacçãão entre as partes, o to odo é consttantemente redefinido r e,, por sua veez, influencia, condiciona a relaçãoo entre as partes. p 45 46 47 48 49 50 NUN NES, 1998: 15 52. NUN NES, 1998: 67 7. NUN NES, 1998: 81 1. NUN NES, 1998: 42 2 e ss. J. M M. Keynes, apu pud NUNES, 19 998: 116-7. NUN NES, 1998: 15 59. 9 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ Rotheeim defende que o organ nicismo sociaal «é o recon nhecimento de d que a natuureza do indiivíduo bem como sua percepção p dee si mesmo são funçõess de, e mudaam com, suaas interaçõess com u correspoondência na relação quee Raymond FFirth (1901--2002) outroos indivíduoss»51, tendo uma estabelece entre organização o e estrutura soociais52. Quais as consequênciias para a teorização económica e decorrentes d desta ideia? Em primeeiro lugar, a possibilidaade de existêência de “leeis” diferentees para uniddades de differente compplexidade, o que naturalm mente invalidda a sua exp pressão atóm mica de leis dde relacionam mento entre complexos díspares53. Por P outras ppalavras, a dois d complex xos orgânicoos distintos podem p orna inviávell procurarmoos tomar umaa “lei” corresponder “leis” diferentess, ou até oposstas, o que to sociaal como derivvando do relaacionamentoo entre os “áttomos” que compõem c o ttodo. A natu ureza e compplexidade dee uma unid dade orgâniica que inttegram estes “átomos”” tem modo os de funcionamento que q podem ser distintoss de uma outra o que oss mesmos ““átomos” tam mbém xiste uma rellação bívocaa entre incorrporam: o toddo não é merra soma das ppartes. Segundamente, ex indivvíduo e aconttecimento ecconómico, coom influênciaa mútua54, o que leva a uuma reciproccidade causaal55. Em terrceiro, a orrganicidade do sistemaa económico o traduz-se em relações de interddependência sincrónicas (espaciais) e diacrónicass (temporais), ocorrendoo a interpenetração de accções individduais e de prááticas sociaiss56, o que criia uma ligaçãão entre as ddecisões dos vários agenttes57. Em quaarto lugar, a imprevisibillidade da con njugação dass partes e acçções incrementa o nível de incertezaa e limita a capacidade dde previsão, quando não o gera uma in incerteza rad dical58. mente com a adopção po or Keynes dee uma preferrência Por ffim, esta visão relacionaa-se intimam pela “linguagem m corrente”, o que se deve ao alaargamento da d lógica fo formal à humana, e conta a ccomplexidad de da matériaa económicaa. É nesta lin nha de precoonizado por este, tendo em ideiass que se filiaa a aversão deste d pensaddor ao predom mínio do “frrequentismo”” que denom minava de “ccálculo benthhamita”. Face a isto, Keynes contin nua a considderar válida a indução em Econom mia, dado que q o nal para a inntuição, a deedução conheecimento paarcial proporcciona, aindaa assim, umaa base racion lógicaa e a previsão. É porr ser inconttornável a necessidade n de tomar ddecisões, qu uer as probaabilidades sej ejam ou não mensuráveis m s, que se torn na legítimo ser a decisão ou um “caprricho” indivvidual, uma decisão d indiv vidual, possivvelmente su ustentada num m arrazoado sobre a evid dência 51 TER RRA & FERRAR RI FILHO, 201 11: 3. FIR RTH, 1954. 53 NUN NES, 1998: 11 11-2. 54 Tra ata-se da persspectiva de Anna A Carabellii - NUNES, 19 998: 129. Vejja-se também m CARABELLI, Anna, «Un ncertainty and measurementt in Keynes: p probability and d organicness» », DOW & HILLLARD, 1995: 153. 55 TER RRA & FERRAR RI FILHO, 201 11: 4. 56 Seg gundo Lawson – NUNES, 1998: 158. 57 TER RRA & FERRAR RI FILHO, 201 11: 3. 58 TER RRA & FERRAR RI FILHO, 201 11: 4; NUNES, 1998: 156. 52 10 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ existeente, ou a siimples aceitaação de umaa convenção,, como mais tarde Keynnes veio a prreferir, dada a ênfase da noção de co onvenção dee grupo59 sob bre o carácteer psicológicco do processso de tomadda de decisãoo, sendo fundada na interrsubjectividaade60. Convvenções e Exxpectativas Existtindo a necesssidade de to omar decisõees, independeentemente do o grau de inccerteza paten nte no conteexto, os indiivíduos utilizzam na sua tomada de decisão con nvenções, istto é, «parâm metros profuundos dentroo dos quais o comporttamento inteencional de seres humaanos racionaais se maniffesta»61. Sãoo as regras e convenções elementos integrantes i do d sistema orrgânico no qual q se 62 inseree o indivídduo como agente de relações sociais s , paadrões e coondicionantees do compportamento que q em muito se assem melham às in nstituições dee pensadoress como Tho orstein Vebleen (1857-19229) e John R. R Commons (1862-1945)63. São as convenções qque permitem m lidar com a incerteza, ou melhorr, recalcá-laa para o do omínio do sub- ou messmo inconscciente, tranqquilizando e dando d confiaança ao indivvíduo64, já qu ue se consideera razoável, racional atéé (num âmbitto de uma raacionalidade que integre a lógica hum mana), tomar decisões de acordo com estas, comoo refere Keynnes65. A forrmulação dass convençõess decorre de forma orgân nica, intersub bjectiva, send ndo o seu exp poente máxim mo a assunçção de que o futuro se asssemelhará ao o passado66, algo que o inndivíduo sab be não ser vverdade, daddo que tudo indica o coontrário (a História H é diinâmica), m mas que cimeenta a estabilidade sociaal e económ mica67. Não ssão, portanto o, estáticas, mas sim orrgânicas. Pello seu caráccter intersubjjectivo e esssência sociaal, a convençção é criadaa pelo proceesso social, sendo passívvel de sofreer alterações no decursso do tempo. De outraa forma ditoo, as conveenções apressentam uma parte formad da pelo indivvíduo, varian ndo de um para p outro inndivíduo68, e outra pelo conjunto, seendo elas in nterdependenntes69. A con nvenção não o é estática, pelo contráário, é mica, mas a sua permaanência é dde menor vo olatilidade que q a do doomínio da crença c dinâm 59 Terriam a sua orig gem na psican nálise - NUNES S, 1998: 159-6 60. NUN NES, 1998: 13 32, 150. Keynes recusaria, por isso, o su ubjectivismo, a “aposta” inddividual, no processo de tomada de decisão, não o obstante aatribuir um lugar definido ao papel da subjectiv vidade, meadamente quando não ex xistem probabiilidades cardin nalmente mensuráveis. nom 61 SKIIDELSKY, 2010 0: 124. 62 NUN NES, 1998: 15 56, DAVIS, 199 94: 157. 63 Vd. PRESSMAN, 2006: 2 132-3 e BACKHOUSE,, 2002: 195-6, 198-200. 64 SKIIDELSKY, 2010 0: 149, NUNES S, 1998: 160. 65 SKIIDELSKY, 2010 0: 129. 66 NUNES, 1998: 169: «As pesso oas tendem a minimizar ass futuras mudanças, mesmoo quando acreditam c existentte não pode d durar indefinida amente». Veja a-se também NUNES, 1998: 160. que o estado de coisas 67 NU UNES, 1998: 167-8: 1 «Hábitto e convenç ões têm assim um papel estabilizador no comporta amento econ nómico. A esssência deste,, diz Keynes, é supor que e a situação existente conntinuará por tempo inde efinido, excep pto quando te enhamos razõões concretas para esperar uma altera ção. A valida ade do método assenta portanto p na co onfiança na coontinuidade da a convenção». 68 DAV VIS, 1994: 125. 69 DAV VIS, 1994: 128 8. 60 11 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ indivvidual, pelo que q serve com mo ancorageem social70. Por outro lad do, as conveenções reflecctem o proceesso de “apprendizagem”” humana ((social), inteegrando evid dência anterrior nas con ndutas sociaais71. Sem elaas, não seriaa possível coompreender a transformação da actuaação individu ual no conteexto social. p refferir que a aafiliação do conceito de convenção ttem relação,, mais Torna-se pertinente uma vvez, com a obra o de Moorre, que, quesstionando-se sobre como maximizar o “bem univ versal” num mundo funddamentalmente incerto, deefendia deveer a solução basear-se b em m regras sociais ou 72 g . costuumes muito gerais É a conveenção que intermedeia, i como as instituições para os innstitucionalisttas, o compportamento humano h e o estado e dos faactores produ utivos ou as condições c dee escassez73. Desta maneeira, o social enquadra a acção, a sendoo por sua vez enformado por p esta. Num períoodo de transfformação quue seja apercebida de forrma mais dráástica (sendo o-o ou não), a confiançça sobre a convenção torna-se red duzida. A convenção, c uuma regularridade tacitaamente assum mida pelos agentes, a que a utilizam como c premissa na qual depositam grande g confiança, perde aí a sua peertinência coomo depositáário de confi fiança e cesssa de ser razzoável c ela, algo o que retomaaremos de seeguida. actuaar de acordo com A partir da d teoria dass probabilidaades, Keynees estabelecee a ideia dee expectativ va que corresponde à noção n de prrobabilidade,, considerad da por Fran nk Hahn (19925- )74 o maior contrributo da Teooria Geral. A teoria sobrre as expectaativas keynessiana (de Keyynes) disting gue-se de um ma outra quee foi denomiinada de Hippótese das Expectativas E Racionais (H HER), pela qual q o valorr expectável é o valor antecipado a ppelo modelo de previsão o, acrescido do erro aleeatório representando a ignorância ou o incompettência residu ual. A HER,, desenvolviida por Rob bert E. Lucass, Jr. (1937- ) e outros teóricos de Chhicago75, partte de dois pressupostos: o primeiro, que q «o indivvíduo racionaal faz um uso o eficaz de tooda a inform mação a que tem t acesso»,, o segundo, que o modeelo que utiliiza para efeectuar as suaas previsõess é o modelo correcto»»76. A crítica que Skideelsky lhe tecce é que o “m modelo correecto”, segun ndo a óptica dos teóricoss, é o de Chicago, sendoo então o com mportamento o racional o qque dispõe expectativas e face ao futurro idênticas às à dos 77 econoomistas de Chicago C . Ou utra sensível contestação é a ideia de aplicabilidaade, dado quee seria 70 71 72 73 74 75 76 77 KIR RSHNER, 2009 9: 533: «order tends to rest upon crucial (…) ( foundations». SKIIDELSKY, 2010 0: 129. LAW WSON, Tony, «Economics « and expectatio ns», DOW & HILLARD, H 1995: 92. SKIIDELSKY, 2010 0: 124. BLA AUG, 1990: 75 5 NUN NES, 1998: 17 71. SKIIDELSKY, 2010 0: 64. SKIIDELSKY, 2010 0: 65. 12 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ uma tteoria aplicáável apenas a uma pequeena parte da realidade, r on nde «os proccessos estocáásticos envollvidos são esstacionários e ergódicos»»78. Keynes, peelo contrário, desenvolveeu esta ideia de forma diistinta, alarggando a conccepção de raccionalidade subjacente. A sua teoria é de expectaativas conven ncionais, istoo é, que é racional ter o princípio do d presente como c guia, dado que see desconhecem as formaas, intensidaades e pio de que o estado de op pinião sentiddos que tomaarão as alteraações futurass. A este acreesce o princíp existeente, traduzido nos preço os, é baseaddo em avaliaação correctaa das perspecctivas futuraas. Por fim, a inutilidadde do juízo individual, dado que a expectativa média serria talvez melhor m mada79, o que q resulta, afirma Keyynes, em tentarmos «ag gir em confformidade com c o inform compportamento da d maioria ou u da média»880. O processso de formaçção de expecttativas indiv viduais tem ccomo ponto de partida uma u expectattiva média sobre a expecctativa médiaa81. Contudo o, se a parte se transform ma, dada a dependênciaa recíproca entre e parte e todo, o toodo repercutee essa alteraação, o que,, sendo a reelação bívocca, se volta a reflectir sobre a parrte, isto porrque a expecctativa médiaa incorpora em e si todas aas expectativaas individuaiis. As expectaativas conven ncionais são assim orgân nicas ou interrsubjectivas e não atomísticas, e porr isso, dinâm micas, qualittativas, dadoo que a elass se associa um dado ggrau de conffiança, cogniitivas, por o conhecimeento ser sem mpre o con nhecimento de d algo82, oobjectivas, por p se consttituírem sobrre a evidênccia relevantee disponívell83. São as expectativas e e as conveenções factorres que lim mitam a insstabilidade dda realidadee económica, dado quue a curto prazo depenndemos da confiança c nass convençõess, seguindo as a expectativ vas convenciionais formu uladas. Na toomada de decisões a lo ongo prazo, o seu efeito o psicológico o é de acalm mia, não ob bstante saberrmo-las inadeequadas, estaando também m delas depen ndente a estaabilidade dass regularidad des84. A probabilidade, convéém recordar, é distinta dee verdade, daado que existtir a probabilidade de um m argumentto ocorrer não n se traduuz na ocorrêência do meesmo. Assim m, as expecttativas (probbabilidades) podem p estar erradas85. Peelo facto de serem as exp pectativas um m alicerce in nstável 78 NU UNES, 1998: 171. 1 A economia keynesia na é dinâmicca e não-ergó ódica: uma veez que o sisttema é irrevversível, ou se eja, as condiçõ ões de partidaa são irrepetíve eis e o tempo é irreversível,, sendo inapliccável a prevvisão estatísticca. 79 SKIIDELSKY, 2010 0: 135. 80 Afirrma ainda J. M. M Keynes: «A psicologia dee uma sociedade de indivídu uos, em que caada um tenta copiar os o outros, conduzz àquilo que podemos p desiignar, em sen ntido estrito, como c julgameento convencio onal» apud ud SKIDELSKY,, 2010: 135. 81 DAV VIS, 1994: 127 7-8. 82 NUN NES, 1998: 38 8. 83 AND DRADE, 2000:: 86. 84 NUNES, 1998: 168. 1 Como ap ponta Winslow w, «He also claims that the e psychologicaal basis of de enial is o Keynes, «Peeace and comffort of mind require r that w we should hide e from avoiidance of anxxiety», citando oursselves how litttle we forese ee» - WINSLLOW, Ted, «U Uncertainty an nd liquidity-prreference», DOW D & HILLLARD, 1995: 237. 2 85 Com mo nos lembra a Hahn, BLAUG G, 1990: 75. 13 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ e sim multaneamentte primordiall da tomada dde decisão, estão e sujeitass a uma alta vvolatilidade face a inform mações imeddiatas, como o «uma muddança do noticiário»86.A A incerteza ppsicológica que q se gera então sobre a confiança nas expectaativas e nas convenções c tem um efeiito disruptivo o, que move um “com mportamento o de manadaa”, com a súb bita substituiição de convvenções87. É esta a prom base teórica que fundamentaa a expressãão animal sp pirits, adaptaada de Desccartes a umaa ideia os animais são, s para Keeynes, uma marca freuddiana de actoo mental incconsciente88. Os espírito fulcraal dos investtidores, levan ndo-os a emppreendimentos arriscadoss caracterizaados pela incerteza irreduutível do futturo, o que se desconheece e não se pode conheecer89. Assim m, está o meercado sujeitto a ondas de d optimism mo e pessimiismo, sem seentido, face à inexistênccia de uma «base sólidaa para um cálculo c razo oável», mas por isso meesmo legítim mas90. Não cciclos de neegócio (Hayeek), nem dee inovação (Schumpeter)): espíritos animais a mov vidos pelas expectativass, pela confiança nas exxpectativas, em suma, pela incerteeza. Uma co onsequência disfuncionaal dos negóccios, agravadda pela dissociação entrre capital e gestão e pella emergênccia dos volátteis (e volúvveis) mercaddos bolsistass, que subliinham a im mportância do optimismoo ou pessim mismo esponntâneo dos innvestidores, decorrentes de uma consstrução de ex xpectativas ssobre expectaativas, em deetrimento dee uma já de sii incerta exppectativa facee à evolução dos factores produtivos91. Keynes dem marca-se – e afirma-o – dda postura “o ortodoxa”. Aponta A dois m métodos paraa lidar com o futuro: cállculos e conv venções92. D Declara o prim meiro ser um ma «false rattionalization [that] follow ws the liness of Benthaamite calculuus», ignoran ndo o impacto da dúviida, precarieedade, esperrança e medoo sobre o com mportamentoo humano93. Pelo contrárrio, não é deemais reforçaar, são os innstintos espontâneos e oss motivos, eexpectativas e incertezass psicológicaas individuaiis que marcaam decisivam mente a realiidade económ mica94. 86 SKIIDELSKY, 2010 0: 135. TER RRA & FERRA ARI FILHO, 20 011: 8. Veja--se também SKIDELSKY, S 2010: 136: «A A procura de “prova socia al” (...) poderá ser um insttinto de sobrevvivência». 88 NUN NES, 1998: 16 60. 89 KIR RSHNER, 2009 9: 532. 90 SKIIDELSKY, 2010 0: 135. 91 DA AVIS, 1994: 126. 1 Veja-se também a sseguinte passsagem: «Inde eed, a “calcuulated mathem matical expe ectation”, were it to be possible or aappropriate, would w at the very least rreflect an ind dividual know wledge of th he specific facts surroundiing a particu ular investmen nt. Yet sincee the separattion of own nership and management, m the in-housse acquaintan nce with firm m operations necessary fo or this know wledge and such s a calculation rarely exxists for most investors. Iro onically, with this separatio on, the tech hnique of judging the sign nificance of ccollections of the various facts f availablee to them th hat will imprrove on avera age expectatio on. As a resu ult of an unsta able balance between an aaverage expectation thatt is invariably wrong w yet acccepted and eaach individual’ss specific judg gments which lack firm foun ndation yet offer at least the promise of o doing betteer than averag ge thinking. It is this combinnation that makes it essary to reg gard a convention as a sstructure of expectations e – a structuree, it should still s be nece emp phasized, that is always rootted in a speciffic historical se etting» - DAVIIS, 1994: 129.. 92 WIN NSLOW, Ted, «Uncertainty and liquidity-p preference», DOW D & HILLARD, 1995: 2355. 93 Keyynes, apud KIR RSHNER, 2009 9: 532. 94 DAV VIS, 1994: 133 3. 87 14 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ A teooria económiica de Keynees é toda ela construída a partir do prrincípio da inncerteza. Vejjamos agoraa as implicaçções práticas desta concepptualização. 4. A INCERTE EZA NA EC CONOMIA A Um ccomentário innteressante que q escutámoos acerca da teoria económica de Keyynes, stricto senso, s é Keyynes “pôr a teoria t clássicca a fazer o ppino”. De faacto, partindo o da incertezza e não da certeza racionnalizada, Maynard M proccede na conntestação, ou u mesmo inv versão, da tteoria “ortod doxa”, sistem matizando váários contribu utos que moddela de form ma original. Moed da e Poupan nça Princcipiemos com m a constataçção de o dinhheiro ser umaa convenção social humaana para fazeer face à inceerteza95. A teeoria clássicaa classifica a moeda com mo um mero véu v que interrmedeia a tro oca de bens, sendo estéril em si96. Os preços corrresponderiam m a um rácio o entre as quuantidades dee bens trocaddos entre si,, libertando-se os indivííduos da moeda o mais rapidamentee possível97. Era a teoriaa quantitativaa da moeda, cujas bases fforam lançad das por Thom mas Gresham m (c. 1519-15 579) e John Locke (16322-1704)98, qu ue pressupõee que, não teendo o dinheiro qualquerr utilidade em m si, a dupliicação da quuantidade de moeda em ccirculação irria reflectir-sse na duplicaação do preçço dos bens, teoria desennvolvida maais tarde por Milton Friedman (1912-2006)99. A crítica keyneesiana ue se escondee nesta persp pectiva é de que a econoomia era de trocas diz-nnos que o preessuposto qu reais,, sendo o dinnheiro um eleemento neutrro, não influeenciando as decisões d dos agentes100. Pelo contrrário, segund do Keynes, o dinheiro comporta-see como um m «reservatórrio de valorr», uma paarte integran nte da econnomia de mercado, m um ma econom mia monetarrizada, concrretizando um ma ligação en ntre presente e futuro101. Sendo um reservatóro de d valor, há motivos lóg gicos para preeferir possuíí-la em detrim mento de dispender moeeda o mais rapidamente r possível. A preferência por liquidezz, sendo a liq quidez ma a posse de numerárrio, é justificcada por mo otivos razoááveis e instinntivos102, sendo o máxim principal, já referrido, o de fazzer face à inncerteza, isto o é, acalmar o desassosseego perante a falta m tradiccionalmente apontados para p a prefeerência-liquid dez: o de coonfiança. Trêês são os motivos motivvo-transacçãoo, ou seja, para realizzar os pagaamentos corrrentes; o m motivo-precaaução, 95 SKIIDELSKY, 2010 0: 115. Um contributo cu ujas raízes rem montam já a loongínqua douttrina cristã. 97 SK KIDELSKY, 201 10: 119, HIL LLARD, John, «Keynes, intterdependence e and the m monetary prod duction econ nomy», DOW & HILLARD, 1995: 1 251. 98 PRE ESSMAN, 2006 6: 16. 99 PRE ESSMAN, 2006 6: 237. 100 WIINSLOW, Ted,, «Uncertainty y and liquidity--preference», DOW & HILLA ARD, 1995: 2338. 101 SK KIDELSKY, 201 10: 119, 265. 102 SK KIDELSKY, 2010: 138 e WIINSLOW, Ted,, «Uncertainty y and liquidity y-preference»», DOW & HIL LLARD, 1995 5: 232. 96 15 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ relaciionado com a incerteza, para pagameentos inesperrados; e o motivo-especuulação, dado que a possee de numeráário permite que, pelo m menos, o acttivo que se detém não sse desvalorizze em termoos nominais. Nesse caso, quanto mennor a confian nça, maior a preferência-l p liquidez, o qu ue faz com que a taxa de d juro seja (também) ( um m prémio de renúncia à liquidez, l um m «pagamento o pelo aumeento do sentiimento de conforto c e coonfiança quee a sua possse [de numer erário] conferia ao possuuidor»103, disstinguindo-see do prémio de risco, a recompensa da abdicaçãão de determ minado monttante de riquueza, no sen ntido de recceber uma maior m quantiidade (quanttidade abdiccada e quanttidade-prémiio)104. É inteeressante veerificar que também t a preferência-li p iquidez é alterada mediaante convennções sociaiis, tendo exxistido umaa translacção o da conceppção de liq quidez privillegiando a posse p de pro opriedade funndiária para a preferência de numerrário, como refere Winsslow105. Esta ideia pode ser s ainda com mplexificadaa pela imiscu uição de facttores socioló ógicos, comoo o desejo dee poder e estatuto (statuus social), qu ue, infelizmeente, não tem m cabimento tratar mais desenvolviddamente nestee ensaio. Esta liberddade de não gastar, que caracteriza uma u econom mia monetáriaa é a premisssa de ue afirma a oferta gerar a sua Keynnes para procceder à refuttação da supposta “Lei dee Say”106, qu próprria procura, não n existindo o pelo empreesário qualqu uer expectativa de procuura quando produz p um serviço, pois esta produçção é «motivvada pela utiilidade que será s alcançadda ao se troccar os um outro bem m ou serviçço pretendido o»107. Uma vez que exiistia a frutoss da produçção por algu possibilidade de nem todo o rendimentoo ser gasto, Keynes K afirm ma ser a proocura agregaada ou total que determinna a oferta daa produção1008. Conssumo O connsumo era um m dos destin nos do rendim mento. Sobree ele Keyness labora umaa “lei psicoló ógica”, pela qual se afirrma que, com um deterrminado aum mento da qu uantidade dee rendimento o (A), mento do co onsumo (B), mas de nível inferior (A A>B). O invverso também era ocorrreria um aum válidoo, ou seja, a uma dimin nuição do renndimento co orrespondia uma u diminui uição do consumo, mas eem proporçãão inferior (o ou seja |A|>||B|). Isto ressulta na assu unção de quee o consumo o seria relativamente mais estável qu ue o rendimennto, pelo quee «confere ao o sistema um ma certa medida de mentos é a propensão p ao consumo, qque decrescerria em estabilidade»109. O rácio entree os dois aum mento relaçãão inversa à quantidadee do rendimeento, isto é,, se um indiivíduo auferre um rendim superrior relativam mente a outro indivíduo,, a propensão o ao consum mo do primeiiro é inferiorr à do 103 104 105 106 107 108 109 SK KIDELSKY, 201 10: 129-30. BR RADY, 1993: 371 e SKIDELS SKY, 2010: 1388-9. WIINSLOW, Ted,, «Uncertainty y and liquidity--preference», DOW & HILLA ARD, 1995: 2332. SK KIDELSKY, 201 10: 132. Veja-sse também BA ACKHOUSE, 20 002: 229-30. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 3. PR RESSMAN, 200 06: 151-2. SK KIDELSKY, 201 10: 132. 16 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ segunndo. A propeensão margin nal ao consuumo era decrescente respectivamente a um aumen nto do rendimento. umo encontraamos factorees subjectivo os, como a incerteza faace ao Influencianndo o consu d obter riqu ueza e o dessejo de disfrrutar de indeependência e poder, e faactores futuroo, o desejo de objecctivos, as varriáveis econó ómicas, sobreetudo o rendiimento auferrido, mas tam mbém outras como as taxxas de juro, os impostos, a distribuiçção de rendim mento e a deesigualdade na distribuiçção de riqueza e expecttativas quan nto ao rendim mento futurro110. Davis, por sua veez, identifica três mentais, resspeitando a afectação de d rendimennto, sendo eles e a factorres psicológgicos fundam propeensão ao coonsumo, a preferência-li p c iquidez e a expectativaa face ao reetorno do capital invesstido, dependdendo estes do d estado de confiança e das expectativas face aoo futuro, em suma, da inccerteza111. Decorrentee da primaziaa da procura sobre a criaação de ofertaa, da preferêência-liquidez e da propeensão ao coonsumo, Key ynes identifiica o “parad doxo de prosperidade”, que se trad duz na inevittabilidade da d falência do sistema pelo aumeento do rendimento. Veejamos, se todos prospperarem, obtiiverem maio or rendimentoo, a propensãão ao consum mo é menor, com um aum mento da pooupança assoociado, pelo que resulta nnuma diminu uição da pro ocura agregad ada, reduzind do, em conseequência, a oferta, o excep pto se o inceentivo ao inv vestimento aumente. «Asssim, quanto o mais “prósspera” for um ma sociedadee, mais dificuuldade terá em m manter o pleno p empreggo”»112. Invesstimento O rendimento obbtido por um u indivíduoo é dividido o em três parcelas p gennéricas, consumo, p sendo s esta úúltima parcela definidaa como um m resíduo en ntre o invesstimento e poupança, rendimento e as restantes duas partes. A procura agrregada é enttão a procuraa de consum mo e a d como indicám mos, o volum me de procuura de investtimento agreegadas, senddo esta que determina, produução e, loggo, o de em mprego. Senndo que o consumo era e razoavellmente estáv vel, a instabbilidade do sistema era e principaalmente atriibuída por Keynes aoo investimen nto113. Contrrariamente aos a clássicoss, que consiideravam a poupança p erra igual ao iinvestimento o, não conceebendo fugaas do circuito económicoo114, a Econ nomia de Keeynes demarrca-se: existee uma fuga do fluxo115, uma vez quee a poupançaa não consisste num aumento de inveestimento, mas m em 110 PR RESSMAN, 200 06: 152. DA AVIS, 1994: 12 21-3. 112 SK KIDELSKY, 201 10: 133 e BLAU UG, 1990: 11.. 113 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 17 e SKID DELSKY, 2010:: 132. 114 Pa ara os “ortodoxos”, eram as taxas de juro que equ uilibravam o nível de gasttos com o níível de poupança, algo que q Keynes rejeita r pela ssua própria perspectiva sobre a mesmaa, como prém mio de renú úncia à liquide ez e prémio de e risco. Para eeste, o equilíbrio entre gasto o e poupança devia-se ao volume v do rrendimento – vd v . BLAUG, 19 990: 12. 115 BLA LAUG, 1990: 12. 111 17 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ grandde medida na n procura dee numerárioo, ou seja, naa procura dee liquidez m máxima116, esstando directtamente relaacionada com a evoluçção da incerrteza face à expectativaa de retorno dos invesstimentos. d investimeento de Keyynes aproxim ma-se da dee Fisher, est stando o nív vel de A teoria de invesstimento dependente do retorno r esperrado (eficiên ncia marginall do capital) e da taxa dee juro, com uuma relaçãoo inversa entrre os dois117 . O investim mento de capiital a prazo eestá sujeito a uma incertteza irredutívvel, pois a distância tempporal que sep para o momeento da tomaada de decisãão e o mom mento esperaddo de obtençção de retorrno de invesstimento trará consigo allterações sob bre as quaiss não temos quaisquer prrevisões, senndo que todaas as alteraçõ ões, em maioor ou menorr grau, afectaarão o negóócio pela naatureza orgâânica da reaalidade sociaal. A natureeza, quantid dade e intensidade das variáveis é desconheciida, é incertta. Pretendeer o contrárrio correspon nde a o que acrediitamos não ser s possível. Daí a imporrtância do accto de pretennder saber o futuro, algo invesstimento, poiis, estando os o retornos addiados para uma data distante ou incclusive indeffinida, pode--se dizer corrresponderem m a «actos dde fé»118, correspondend do a expectattivas acertad das ou não. Podemos enntão recentrar a ideia de expectativa face à eficiêência marginnal, não sobre um s as ex xpectativas, a confiançaa e as cálcuulo racional das condições futuras, mas sim sobre conveenções sobree as quais assentam, que podem alterrar-se subita e radicalmen ente, tendo so obre o invesstimento umaa importânciaa central os ““espíritos animais”119. A emergênncia do merccado accioniista reduz a incerteza inerente a toddo o investim mento, pretenndendo-o líqquido para o indivíduo, mas sendo fixo para o conjunto. PPorém, tornaando o invesstimento maiis líquido, to orna-o mais susceptível à preferênccia-liquidez e à flutuaçãão das expecctativas, pelo que aumeenta a volattibilidade daa realidade económica, e com o paraadoxal resulttado de, enfi fim, aumentaar a instabiliddade e a inccerteza. Por outro lado, ttem uma nattureza contrraditória porr pretender dotar d de maaior liquidezz o investim mento individdual, emboraa seja impossível a liquuidez simulttânea de toddos os accionistas120. A incerteza coloca umaa forte p c prazo, que afectaa, por sua vez, v o relevâância na esspeculação profissional bolsista a curto invesstimento de capital, c causaando grande instabilidadee121. Como resuultado, temos a natureza oorgânica e in ntersubjectivaa do investim mento, repou usando principalmente soobre convençções e expecctativas e, por isso, só ind directamentee se relacionaado os 116 SK KIDELSKY, 201 10: 133. BA ACKHOUSE, 20 002: 230. 118 SK KIDELSKY, 201 10: 134. 119 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 9; PRESSM MAN, 2006: 15 54; e BACKHO OUSE, 2002: 2230. 120 DA AVIS, 1994: 132; SKIDEL LSKY, 2010: 136. Veja-se e também LA AWSON, Tonyy, «Economiccs and expe ectations», DO OW & HILLARD D, 1995: 89, 121 BA ACKHOUSE, 20 002: 231. 117 18 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ preçoos com as foorças fundam mentais da prrodutividade122. Eram as expectativass e as decisõ ões de longoo prazo que efectivament e te produziam m novos inveestimentos e que promovviam a «ampliação da riqqueza social»»123, sendo delas d dependeente o nível de d emprego, dado que, ppara Keynes, numa econoomia em crrescimento, «o desvio entre consu umo e prod dução deve ser suprido o pelo invesstimento, se se s pretender manter o em mprego pleno o»124. O invesstimento tinhha para este, como Miltoon Friedman realçou, um papel fulcraal a desempen nhar na econ nomia125. A taxa de juro, j relembrremos, é o ppreço que rellaciona a preeferência-liquuidez, o deseejo de possuuir numerárioo, e a quantidade de num merário disp ponível. Key ynes indica qque a taxa de juro tem uum efeito mínimo na pou upança, que ddependeria sobretudo do nível do renndimento, maas tem forte influência sobre s o inveestimento, ccujo aumento o depende de d uma reduução do cussto do N sequênciaa destas locuubrações, Keeynes determ mina o que é dito como o uma emprréstimo126. Na armaddilha de liqquidez, quan ndo a procuura de numeerário é tão elevada quue o aumen nto da quanttidade de num merário disponível não s e traduz num ma redução da d taxa de jurro127. A con ntestação doos pressuposstos irrealisttas Keynnes contestouu também o irrealismo ddos pressuposstos da Econ nomia “ortoddoxa” ou, seg gundo Skideelsky, mainstream, abran ngendo aindaa as evoluçõ ões da teoriaa económica pós-Keyness. Esta parte de uma série de pressup postos que nãão correspon ndiam à realid dade128. Alguuns deles forram já aborddados, como a limitação da procura ppela oferta, a neutralidad de da moeda,, a igualdadee entre poupaança e inveestimento e a racionaliddade, stricto o senso, dos agentes, coom conhecim mento perfeito. Na sua origem o estão as obras de A Adam Smith h (1723-1790 0), David Riccardo (1772--1823) S (1767-18 832), reconheecendo terem m estes sido tributários dde outros e as suas e Jeann-Baptiste Say teses terem sido posteriormeente desenvoolvidas, mas sublinhando o-os por tereem decisivam mente nómico. Porrém, a estes pressuposto os irrealista juntam-se outros o marcaado o pensaamento econ aindaa, como a auuto-regulação o dos mercaddos como o sistema maiss eficiente de organizaçãão dos factorres produtivvos (em regime de óptiimo de Pareeto), por um ma lógica cooncorrencialm mente perfeita e egoísticca, segundo a qual ao proomoverem o interesse pró óprio, os ageentes promov veriam o interesse geral. Associado a esta ideiaa encontram m-se os concceitos de divvisão do trab balho, relaciionado direcctamente com m a abrangêência do merrcado, prom movendo ganh nhos de eficiiência, bem como o presssuposto da flexibilidade f e perfeita de salários e prreços e da auusência de dívidas d 122 SK KIDELSKY, 201 10: 135-6. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 9. 124 SK KIDELSKY, 201 10: 132. 125 BLLAUG, 1990: 83. 8 Sendo a procura a geraadora de ofertta e a procura estando depe pendente do nível de rend dimento, este aumenta só se s através do iinvestimento, for criado mais emprego. 126 SK KIDELSKY, 201 10: 138. 127 BA ACKHOUSE, 20 002: 231. 128 SK KIDELSKY, 201 10: 94. 123 19 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ contrratuais. Haveeria, por isso o, benefícioss na não-inteervenção gov vernamental na economia. Em sumaa, falamos doo princípio do os mercadoss eficientes, da d “mão inviisível” smithhiana, e do la aissezfaire1129. Os m mercados (in)eficientes e as crises ecconómicas A teooria dos merccados eficien ntes prende-sse com o con nceito de equ uilíbrios de loongo prazo, isto é, com a estabilizaçção do mercaado num ponnto de equillíbrio atravéss da flexibiliidade dos faactores produutivos e dos preços, neutralizando a concorrênciia dos erros dos agentes.. Os desvioss eram tempoorários, ocoorrendo aju ustamentos ppara o reto orno ao eq quilíbrio. A volatilidad de do invesstimento era tida como um u mero erroo de curto prazo p dos ageentes. Esta te teoria foi tom mando expreessão, culminnando na co oncepção waalrasiana da economia co omo um sisttema de equ uações simulltâneas130. De acordo com o que já referimos, a economiaa é monetáriaa e numa ecoonomia monetária, afirm ma Keynes naa Teoria Geeral, as alterrações das ex xpectativas face f ao futurro são capazzes de influeenciar a quaantidade de emprego e nnão apenas a sua direcçção131. As fo forças de meercado estavvam constranngidas por arranjos a instiitucionais qu ue eram alheeios ao merc rcado, sendo, pelo mente determ minados: era em torno deles d que grravitava o siistema contrrário, social e historicam econóómico, não em e torno de pretensos p ponntos de equillíbrio em ópttimos de Pare reto132. Entre os principais p arrranjos instiitucionais en ncontravam-se exactameente os con ntratos moneetários133, senndo sobre estes que asssentava toda a organizaçção económiica, sendo en ntão a rigideez salarial e dos restantees contratos monetários apenas umaa convenção para minim mizar a incertteza relativaamente aos preços p futuroos de mão-d de-obra e do os bens, senddo estes con ntratos usuallmente estávveis134. Estan ndo consagraada assim a organização o económica, quando a prrocura diminnui, não são os preços relativos que se alteram, mas antes se s restaura o “equilíbrio” pela reduçção da produução135, atentta Keynes em m respeito do o pressuposto da flexibillidade perfeita dos saláriios. É pertinentte sublinhar que q Keynes procurava ass causas do desemprego. d A preocupaação, e não nnecessariameente a teoriazzação, era, siim, circunstaancial. Depo ois de uma inncisiva, mas curta, recessão no inícioo da década de d 1920, o m mundo vergou-se, no finaal da mesma,, a uma expressiva mica, a Gran nde Depressãão, de natureeza complexa que aqui nnão tratarem mos. É, depreessão económ 129 130 131 132 133 134 135 BA ACKHOUSE, 20 002: 121-3 e SKIDELSKY, S 20010: 116 e ss.. SK KIDELSKY, 201 10: 119-20, 13 34. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 10, SKIDE ELSKY, 2010: 125. DA AVIS, 1994: 12 24. CA ARVALHO, 200 06: 9. WIINSLOW, Ted,, «Uncertainty y and liquidity--preference», DOW & HILLA ARD, 1995: 2330. SK KIDELSKY, 201 10: 139-40. 20 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ contuudo, essenciaal deixar claro que foii um relativamente long go período qque foi em geral assocciado com um ma forte preessão deflaciionária, elevadíssimas taaxas de desem mprego e grrandes perdaas, com inconntáveis falên ncias nos paísses, em maio or ou menor grau, industrrializados ou u cujas econoomias estavaam directameente envolviddas com estes. Tendo dellineado a prrocura agreggada como fautor de oferta, é reelativamentee fácil comppreender quee o desempreego se traduzz numa abru upta quebra de d rendiment nto, que se reeflecte em reedução de prrocura, dimin nuição da proodução e, con nsequentemeente, do níveel de emprego o. Um ciclo vicioso. Foii avançada a explicação keynesiana de o princip pal problemaa económico o ser a ficiência da procura agrregada, senddo o sistem ma capitalistaa de laissezz-faire incap paz de insufi garanntir o pleno emprego e dos factores de pprodução136. A dificuldade em manteer uma situaçção de plenoo emprego reesultaria do carácter c monnetário da eco onomia, com m tudo o que isso acarretaa, e da assocciação de um ma taxa de ju uro de longo prazo estáveel com uma eficiência m marginal do capital c volúvvel e instávell137. Um dos grandes g prob blemas do ccapitalismo de laissez-ffaire para K Keynes era a sua incappacidade de se s auto-regullar e corrigirr a insuficiên ncia da procu ura agregada.. A persistên ncia da quebrra da procurra teria como o consequênncia o estabeelecer de um equilíbrio dde subempreego ou estaddo de repouso, ou seja, um u ponto onnde, clarameente não estaando satisfeiitas as propeensões psicoológicas à prrocura indiviiduais, se esstabelecia a oferta num volume subbóptimo, existindo condiições para occorrer uma maior m produçção138. Os accontecimento os surgem em m simultâneo o, não sendoo possível poossuir oconheecimento neccessário ao auto-equilíbr a io em nível dde pleno emp prego, seja a longo prazo, seja a curto139. Aliás, seria essa a mensagem principal p da Teoria Gera al para algunns economisstas, como James J Tobinn (1918-200 02)140. Existiiria então a possibilidade de múltiiplos “pontoos de equilíb brio” subópttimos onde haveria deseemprego invvoluntário, isto i é, pessooas com vonttade de trabaalhar pelo sallário correntee, sem conseguirem encoontrar empreg go141. Um decrésscimo dos saalários não reesolve a situ uação142, exceepto se aumeentasse o nív vel de procuura efectiva, «o que Keynes considderava muito o improvávell»143, pois nnão é a poup pança, senãoo a despesa que impulsiona a proddução e o em mprego. A crítica c à cappacidade de autoregullação do laisssez-faire tinh ha sido avanççada por Veb blen e depoiss por Wickseell (1851-192 26)144, 136 HA ARROD, 1982: 453; SKIDELS SKY, 2010: 2113-4; e SANTO OS, Jorge, «Co omentário», AA AAVV, 1986: 34 4. CA ARVALHO, 200 06: 9 e SKIDEL LSKY, 2010: 1 33. 138 HILLARD, John, «Keynes, inte erdependencee and the mon netary producttion economy»», DOW & HIL LLARD, 1995 5: 251. 139 HA ARCOURT & KE ERR, 2003: 34 44; DAVIS, 19 994: 122; e SK KIDELSKY, 201 10: 141-2, 1599. 140 BLA LAUG, 1990: 66. 141 Dissso nos dá con nta Frank Hah hn em BLAUG,, 1990: 77. 142 HA ARROD, 1982: 457. 143 BA ACKHOUSE, 20 002: 231. 144 Re espectivamente e, PRESSMAN, 2006: 135, 1126. 137 21 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ que cconsiderava que o deseemprego conntinuaria ind definidamente, a não sser que a po olítica econóómica o corrrigisse. Keyn nes sistematizza esta ideia:: contrariameente à teoria clássica de Smith, S Ricarrdo e Say, o mercado não o se auto-reggulava naturaal e sistematticamente em m níveis óptimos e no seeu máximo dee potencial, nem n sequer nno longo praazo145. O desvio entre e o consu umo e a proddução teria de d ser colmattado pelo invvestimento para p se manteer o pleno emprego146, o que não ocorria. A explicação repousava pprincipalmen nte na preferência-liquiddez e na exp pectativa facce ao retorno o do investim mento, resum mindo, resid dia, de nvestimento em ser supeerior à poup pança, novo, no limite, sobre a inccerteza147. Faalhando o in o e a econom mia só não coolapsa pela prressão rapiddamente se geeraria uma siituação de soobreprodução que se gera parra o empob brecimento da comunid dade, tenden nte a eclipssar o excesso de portância da ppoupança sob bre o investimento anteccedeu Keyness, mas poupaança148. A ênnfase na imp a sua preponderânncia tornou-sse definitiva com a Teoriia Geral149. 145 146 147 148 149 CA ARVALHO, 200 06: 5-6. SK KIDELSKY, 201 10: 132. DA AVIS, 1994: 13 33 e SKIDELSK KY, 2010: 1422. SK KIDELSKY, 201 10: 141. HA ARCOURT & KE ERR, 2003: 34 44. 22 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ 5. O PAPEL DO O ESTADO O Comoo Schumpeteer (1883-195 50), Keyness vê o capitaalismo como o inerentemeente instávell150. A incertteza, que podemos p ideentificar com mo o elemento central da instabiliidade keyneesiana, camppeava no modelo m laisssez-faire, alltamente vu ulnerável à flutuação dde convençõ ões e expecctativas151, sendo s logicaamente impoossível nele a eficiência152. Na sua obra The End E of Laisssez-faire (19926), sublinh ha os pressuupostos irreaalistas desta perspectivaa, sobretudo o da atomiicidade do consumo e produção1533. Devido à falta da su ustentação dda acção hu umana indivvidual, o Estaado é o agen nte social quue reúne maior quantidad de e qualidadde de inform mações dispeersas, à qual se associa a sua capaciidade decisiv va de influêência. Assim m, deve preceeder à coorddenação da actividade a ecconómica, poois só pela co oordenação da d livre acçãão individuall pode ser pootenciada a liberdade l ind dividual154 e pperseguido o bem comum m. “Polííticas Econóómicas Inteliigentes” A coorrecção das instituiçõess existentes não seriam suficientes para resolveer o problem ma do desem mprego155. Apenas A a imp plementaçãoo de políticass governameentais “inteliigentes” pod deriam salvaar o capitalism mo, permitin ndo beneficiiar dos seus atributos positivos sem ser atingidos pelo 1 seu ““lado negro”156 . O papel do Estado ddeveria ser o de controlarr as actividaddes marcadaas pela incertteza e com fortes impaactos sobre o bem com mum157, aten nuar a incert rteza em gerral na realiddade social e económica e promover o investimen nto158. urgia-se contra as políticcas de austerridade. Keynes, noo contexto daa Grande Deepressão, insu Escreeveu ele quee «As vozes que – numaa tal conjunttura [de subcconsumo e dde recessão] – nos dizem m que o cam minho de fug ga passa por uma econom mia de austeridade em qque se deve evitar, e semppre que posssível, utilizaar o potenciaal produtivo o do mundo, são vozess de ignaros e de loucoos»159. As fluutuações, paara o econom mista, funcio onário do Tesouro Britâânico desde 1915, deviaam ser limitaadas ao míniimo pela gesstão estatal da d procura attravés do que ue designava como «dinhheiro barato,, despesa seensata»160. O Ou seja, pro ocurou «form mas de conte ter a instabilidade 150 PR RESSMAN, 200 06: 159, SKIDE ELSKY, 2010: 140. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 10. 152 DA AVIDSON, Paul, «Uncertaintty in economiccs», DOW & HILLARD, 1995 5: 112. 153 HILLARD, John, «Keynes, inte erdependencee and the mon netary producttion economy»», DOW & HIL LLARD, 1995 5: 247. 154 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 10. 155 CA ARVALHO, 200 06: 9. 156 PR RESSMAN, 200 06: 149. 157 SK KIDELSKY, 201 10: 239. 158 MA ARCUZZO, 200 06b: 1. 159 Ke eynes, apud SK KIDELSKY, 2010: 118. 160 SK KIDELSKY, 201 10: 143. 151 23 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ cíclicca nos níveiss de produto e emprego»»161. Para issso actuaria ao nível da ««formatação e [d]a ampliiação das convenções» c nas quais são baseadaas as decisõ ões dos ageentes económ micos, aumeentando as «premissas dee conhecimeento directo» », contribuin ndo para umaa maior confiança nas exxpectativas e ainda sociaalizando os riiscos»162. Já os mercaantilistas e fisiocratas fi puunham por co ondição que todo o rendiimento deverria ser reinvvestido163. Nãão acontecendo isto, cabiaa então ao Estado, segun ndo Keynes, iincentivá-lo.. Taxaas de juro e política p mon netária As taaxas de juro deviam ser públicas e eestáveis – esspectáveis, poder-se-ia diizer –, de modo m a consttituirem um conhecimen nto directo, aatenuando a incerteza164. Deviam seer também baixas, b caso a poupançaa excedesse o investimeento, dando então um papel imporrtante aos bancos b o lado, deveria asseggurar a estab bilidade dos preços, com m base na ideeia de centraais165. Por outro “ilusãão da moedaa”, sobre a qual q Irving F Fisher (1867--1947) tinha teorizado166 . Dado que a vida econóómica assenttava em con ntratos moneetários rígido os, o choque monetário rrepercutia-see, mas lentam mente, podeendo as alterrações da quuantidade da moeda «desequilibrar aas expectativ vas de 167 negóccio», como Keynes K afirm ma em A Tracct on Moneta ary Reform (1923) ( . A teoria quantiitativa da m moeda, segunndo ele, eraa válida, maas apenas nu um momentto de pleno emprego. O que importava princippalmente eraa utilizar umaa política mo onetária expansionista paara asseguraar uma taxa de juro perm manentementte baixa168, uuma vez que este desco onfiava da efficácia da po olítica moneetária, pois operava apenaas indirectam mente sobre a procura efeectiva, tanto no que respeeita ao consuumo, como ao a investimen nto169. 161 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 10. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 11. O a utor determin na estas orien ntações ao nívvel do investim mento, conttudo cremos plenamente serem geneeralizáveis ao todo do sistema econóómico pelo exposto segu uidamente. 163 Te enha-se, entre vários, o exem mplo de Quessnay (1694-1774) – BACKHO OUSE, 2002: 1102. 164 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 12. 165 PR RESSMAN, 200 06: 151. 166 SK KIDELSKY, 201 10: 121-2 e PR RESSMAN, 20006: 138. 167 Ap pud SKIDELSKY Y, 2010: 121. 168 SK KIDELSKY, 201 10: 242. 169 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 13. Aqui, Keynes distan ncia-se de Friedman. 162 24 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ O curto-prazo No ââmbito desta conceptualização, não eexiste lugar para um lon ngo-prazo eqquilibrado1700. Este longoo prazo, escreeve Keynes, é um guiia enganador. r. A longo-pra azo estaremoss todos morto tos. Os econo omistas dedicaram m-se a uma ttarefa demasiiado fácil e demasiado d innútil se, nas alturas a tempestuo osas apenas nnos conseguem m dizer que, depois d de passsada a tormeenta, o mar volta ará a acalmar..171 A currto prazo – afirma noutrro lugar –ainnda estamoss vivos. «A vida v e a histtória são feitas de curtos-prazos»172. Como nos indica Michhal Kalecki (1899-1970), ( a tendênciaa de longo-prrazo é concrretizada por uma cadeia de mudançaas de curto-p prazo e não uma u entidade de independente173. O obbjectivo era sustentar a procura aggregada, sen ndo prestadaa uma atençção particullar ao objecctivo de garaantir um nív vel de plenoo emprego1774. Se a confiança era rreduzida dev vido à incertteza, o únicoo agente capaz de eficazm mente se mo obilizar e injeectar confiannça no sistem ma era o Estado. Invesstimento público Deviddo à falha doo investimen nto privado em m suprir o diferencial d en ntre produçãoo e poupançaa, esse papell teria de seer assegurad do pelo Estaado, por meeio de invesstimento púbblico, de modo a contrrariar a presssão deflacion nária da pouupança175, asssegurando «uma « socialiização algo ampla dos innvestimentos», defende Keynes176, ppromovendo a propensão o ao consum mo e uma sittuação próxiima do plenoo emprego. De D referir quue o investim mento público o deveria serr complemen ntar ao privaado e não conncorrencial, o que se tradduziria num desperdício d de d recursos1777. É aqui quee entra o fam moso conceitto de multipllicador desennvolvido porr Richard Kaahn (1905-19989) em 1931, que determ mina a relaçção entre o aumento a de pprocura inicial e os efeittos deste sobbre o conseq quente aumeento da proccura agregaada, relacionnando-se com m a percentagem de rrendimento que é conveertida em proocura, ou seja, com a preeferência-liqu uidez e a propensão ao coonsumo178. A circulaçãão de riquezaa a partir do ccapital invesstido e remun neração dos ffactores, ao que q se seguee acções dee consumo, tem “efeitoos multipliccadores” doss investimenntos, pelo que q a multiiplicação doo rendimento dos invesstidores teriia como co onsequência um aumen nto da 170 171 HA ARCOURT & KE ERR, 2003: 35 51. Ap pud SKIDELSKY Y, 2010: 121. 172 Ap pud SKIDELSKY Y, 2010: 221. 173 174 175 176 177 178 HA ARCOURT & KE ERR, 2003: 35 52. AR RIENTI, 2003: 100 e SKIDEL LSKY, 2010: 2214, 231. SK KIDELSKY, 201 10: 242. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 11. Segundo Kregel – vd. TERRA & FERRARI FIILHO, 2011: 15. 1 BA ACKHOUSE, 20 002: 229 e BLA AUG, 1990: 144. 25 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ confiança179. De referir que nos n inícios dda década de 1930 já erra consensuaal que o gassto em omo nos transparece da adopção do o New obrass públicas auumentaria o volume de emprego, co Deal rooseveltianno nos EUA A180. Keynees, com a ideia i de “so ocialização ddo investim mento”, a daas formas dee investimentto, conciliand do Estado e pprivados, ou u que a tambéém refere a ampliação dissem minação do capital de um m negócio foosse de tal fo orma elevada que de form ma quasi-natu ural se desennvolvessem preocupaçõees pelo bem m comum181. A questão o do investiimento públlico é importante, pois seria s este um m meio de peersecução do bem público o, dado que «There is no o clear ment policy which is socially advanntageous coin ncides evideence from exxperience thaat the investm with that which iss most profittable», comoo afirma Key ynes na Teorria Geral182, pelo que o Estado E aplicaaria medidass não no seu proveito enqquanto agentte económico o, mas no int nteresse gerall, algo que ddificilmente seria s possíveel com os privvados. O orççamento e a política fisccal O invvestimento púúblico deverria ser executtado através da contracçãão de um déffice do Orçam mento 1 de Esstado. Contuddo, Keynes não n defendiaa orçamentos deficitários183 , muito meenos cronicamente deficiitários, comoo os que se tornaram t a nnorma no pó ós-II Guerra Mundial184. Deveria ter-se em contaa duas parceelas distintaas do Orçam mento de Estado: uma corrente e outra de capital. Correespondendo «à manutençção dos servviços básicoss fornecidos pelo Estadoo à populaçãão sob sua gguarda, taiss como saúde pública, educação, infra-estrutu ura urbana, defesa naccional, segurrança públicca e previd dência sociaal», o orçam mento correente deveriaa ser, em regra, exceddentário, supperando a recceita correntte a despesa corrente, ou u, pelo menoos, ser equilib brado, 185 igualaando receitaa e despesa correntes c . Isto porque a existênciaa de défices nnesta compo onente do orrçamento nãoo gera contraapartidas lucrrativas futuraas, aumenta a pressão sobbre a taxa dee juros pela pprocura pública de dinheeiro para salldar défices e cria o riscco do Estadoo ter de criarr nova dívidda para pagarr dívidas anteeriores. Por outro lado, l o orçaamento de caapital, que se s destinaria a investimeentos reprodutivos estataais, com o fito f de regu ular o ciclo económico, aumentando o a procura efectiva, po oderia apressentar défice,, dado que, trratando-se dee investimen nto, geraria o seu próprio superávit a prazo, p equiliibrando-o, embora e fossee aconselhávvel o exced dente do orççamento corrrente equilib brar o 1 déficee da outra ccomponente186 . É desta maneira quee se logra atenuar a a deesconfiança face f à 179 180 181 182 183 184 185 186 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 17. BA ACKHOUSE, 20 002: 229. SK KIDELSKY, 201 10: 190. Ap pud DAVIS, 1994: 164. SK KIDELSKY, 201 10: 19, 143. MA ARCUZZO, 200 06b: 2. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 13. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 14-16. 26 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ solvêência estatal, não carecen ndo o Estado de contrair empréstimoss para manter er a sua actividade. É, poor fim, interressante veriificar que K Keynes apressenta como um pressupoosto a cicliccidade orçam mental e, adeemais, quand do o confronttam com a teeoria do “efeiito evicção” (crowding-o out)187, Keynnes rejeita que em peeríodo recesssivo se veerifique, po ois os inve stidores priivados simpllesmente nãoo têm apetên ncia para o iinvestimento em face das expectativaas e confiança em baixaa188. Directamennte relacion nado com aas políticas de investim mento públiico e orçam mental enconntra-se a pollítica fiscal, isto i porque a despesa co orrente deviaa ser balanceeada pelas reeceitas fiscaiis189. Mas nãão se esgota aqui a utiliddade da políttica fiscal. Reconhecendoo que a prop pensão ao coonsumo dass famílias co om maioress níveis de rendimento era menor que aquelaas que dispuunham de meenores níveiss de rendimennto, a políticca fiscal deveeria ser progrressiva, de modo m a limitaar a tendênciia para a acu umulação de poupança peelas famílias de maiores rendimentoss, que, comoo veremos, se associa a uma u lógica rredistributivaa para aumen ntar o consuumo daquelas com menoores rendimentos e, logo,, maior propeensão ao con nsumo, evitando-se o enggrossar do vo olume de pooupança na sociedade1900. Por este m mecanismo, imediatamen i nte se limitaa a progressãão em direcçção ao “parradoxo de prosperidadee” identificaado anteriorrmente. As desigualdad des de rendimento, e de riqueza, eraam socialmeente injustas e economicaamente inefiicientes, pelo o que, s fomenta o incrementto da procura agregada, estimulandoo um ambien nte de contrrariando-as, se igualddade de opportunidades191, reduzinddo as flutuações de in nvestimento1192, diminuin ndo a perceepção social de injustiça social, que ppoderia geraar conturbaçõ ões sociais coom consequêências econóómicas e socciais altamen nte danosas1993. Existindo à época teorrização sobree a importân ncia da progrressividade fiscal e da despesa púública com serviços socciais, de moodo a comp pensar desiggualdades de d rendimen nto em W Wicksell, porr exemplo, coube a Keynes dar-lhe d protaagonismo194, com uma argumentação à qual não era e alheia um ma sensibiliddade a impliccações 195 e posssibilidades práticas p . É ainda intteressante attentar em duuas aproximaações teóricaas. A primeiira é em relaação a Thom mas Robert Malthus M (176 66-1834), um ma reconheciida influênciia de Keyness. Isto não apenas a no quue se refere à necessidadee de realismoo nos pressu upostos adopttados, como veremos, mas por Malthhus ter indiicado anterio ormente os “capitalistass” deterem um excessoo de riqueza que 187 188 189 190 191 192 193 194 195 SA AMUELSON & NORDHAUS, N 2005: 2 649. SK KIDELSKY, 201 10: 268. SK KIDELSKY, 201 10: 163. BLA LAUG, 1990: 35 e CARVALHO O, 2006: 12. KIR RSHNER, 2009 9: 530-1. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 13, 16. KIR RSHNER, 2009 9: 531. PR RESSMAN, 200 06: 129-31. KIR RSHNER, 2009 9: 531. 27 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ poupaavam, por nãão serem cap pazes de a reiinvestir lucraativamente. A solução quue aponta é similar à de K Keynes: polííticas económ micas que deesviassem deste grupo social parcimoonioso o exceedente que sseria poupaddo, para ser redireccionaado para o grupo g dos “proprietárioss fundiários”” que, deviddo à sua proodigalidade, gastaria os recursos, mantendo m o fluxo f no circ rcuito, evitan ndo-se fugass196. A segunnda é relativaa aos clássic os e antecessores em gerral, que critiicavam fortemente as heeranças, ou seja, a riquezza acumuladaa. Já em Loccke encontraamos a argum mentação de que a terra deve pertenncer a quem m tenha capaacidade (e a concretize)) de a trabaalhar. De Sm mith e mente diferen nte da Ricarrdo é conheccida a sua aversão às heraanças, embora de naturezza essencialm de K Keynes. Este,, por sua veez, vê as heeranças como o economicaamente inefi ficientes, pelo que propõõe altas taxas sobre as heeranças, de fforma a aum mentar a prop pensão ao connsumo, segu undo a sua lóógica de ideiias197. Por fim, para p colmattar o ciclo, é preciso atentar que Keynes feecha o circu uito à possibilidade de fugas f do flux xo para a pouupança pela política fiscaal, liquidanddo a apetência para a pouupança dos que auferem m maiores rrendimentoss e/ou dispõ õem de maioor riqueza, sendo recannalizada paraa o equilíbriio orçamentaal. O “parad doxo da prosperidade” sseria evitado o pelo increm mento do innvestimento, para eliminnar a tendên ncia para a fuga f do fluxxo, aumentaando a procuura, mesmo quando q a socciedade no seeu todo fossee mais próspeera. Redisstribuição e o Estado-P Providência Debruucemo-nos agora a sobre como c foi preeconizada a manutenção m vés da da procura eefectiva atrav redisttribuição. d carácter redistributivo r o teriam parra Keynes a consequênccia de susten ntar a Medidas de procuura agregadaa. Não apenas o Estado ddevia intervirr no circuito para estimuular directam mente a produução e, entãoo, o emprego por via doo gasto de in nvestimento público, com mo também devia aumeentar o nível de rendimen nto das famíllias de recurrsos inferiorees, pois têm uuma propenssão ao consuumo superioor. Como o fazer? Tal prende-se com c o erigir de um m modelo de EstadoPreviidência, que assegurasse a protecçãoo contra queb bras de rendimento, com mo as que ocorrem por vvia do desem mprego, da doença, doo acidente, da d velhice e invalidez, como aindaa pela orfanndade e viuveez198 devend do estes esquuemas redistrributivos inicciar-se em peeríodos recessivos para ffomentar um m estado de procura em «qquasi-boom» », regularizan ndo o ciclo1999. 196 PR RESSMAN, 200 06: 50. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 13. 198 Te enha-se prese ente o período o histórico. D De facto, a asssunção pelo Estado, comoo sua obrigaçção, da defe esa das viúvass e dos órfãos tem fortes ra ízes históricass. 199 CA ARVALHO, 200 06: 18 e HARC COURT & KERR R, 2003: 346. 197 28 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ O “reelatório Beveeridge”200, nome pelo quual é conhecido o relatórrio intituladoo Social Insu urance and A Allied Serviices, apresen ntado por L Lord William m Beveridgee (1879-19633) ao Parlam mento britânnico em 19442, foi um, senão s o, maais importantte marco na conceptualiização do EstadoProviidência. Nelee, são identiificados os ccinco grandees males socciais, a Escaassez, a Doen nça, a Ignorrância, a Miiséria e a In nactividade2011, sendo o dever d do Esttado combatter estas “ch hagas” sociaais202. O relattório aborda somente a qquestão da Escassez, E pretendendo gizzar um plano o para dar liiberdade à sociedade s faace à Escasssez203 através da seguran nça social2044. Através de d três elemeentos centraais – transferrências paraa as famíliass (subsídios de desemprrego, de doeença e acideente, de viuveez, reformas), um sistem ma de saúde compreensivo c o e políticas de pleno em mprego –, preetende protaggonizar esta reforma r inciisiva nas prátticas políticas205. Apesar de discordânciaas passadas2006, William Beveridge, B no o decurso doo desenvolvim mento do seeu famoso relatório, dirige-se a K Keynes paraa conseguir assegurar a sustentabilidade finannceira do seuu plano. Este mostra-see fortementee entusiasmaado e desem mpenha um papel cruciaal na construução do esqu uema207 e no apoio políticco à iniciativ va208. Não é dde estranhar, dado que o plano preteendia aumenttar os níveis de vida, red duzir a desig gualdade, vissava a manuttenção do em mprego e da d procura agregada, coonsequentem mente limitando as flutu tuações cícliicas e reduzzindo a inceerteza, tinha como presssuposto sublliminar a deescrença na capacidade autoregullatória e optiimizante dass forças de m mercado dessreguladas e era, além diisso, extensiivo ao todo da populaçãoo e não apen nas aos grupoos contribuin ntes209. Marcu uzzo, enfim, declara Key ynes, a par de Beveridge,, um «twin fo ounding-fathher of the sysstem [of the Welfare W Statte]»210. 200 201 Vd d. JUDT, 2005:: 74-5. Id ddlessness, qu ue é usualmente traduzidaa por “ócio”. Cremos ser uma u má traduução, uma ve ez que pare ece ter subjaccente um carácter voluntá rio, algo que,, acreditamoss, não ser o ssentido origin nal, daí prefferirmos o term mo mais abran ngente de “inaactividade”, que pode reporrtar-se a uma atitude volun ntária e invo oluntária simulltaneamente. 202 BE EVERIDGE, 199 95: 6. 203 BE EVERIDGE, 199 95: 7. 204 he securing off an income to Be everidge define e segurança social como «th o take the placce of earningss when theyy are interruptted by unemp ployment, sickkness or accid dent, to provid de for retirem ment through age, a to provvide against lo oss of supportt by the death h of another person, p and to meet excepptional expend ditures, such h as those co onnected with h birth, death h and marriag ge. Primarily social s securityy means secu urity of inco ome up to a minimum, m but the provision of an income should be associated with treatment de esigned to b bring the interrruption of earn nings to an en nd as soon as possible» (p. 120). 205 MA ARCUZZO, 200 06b: 3. 206 Be everidge terá sido um forte defensor doo mercado-liv vre e do laisssez-faire, cheggando a direcctor da Lond don School off Economics (LSE), e tendoo criticado fortemente a Te eoria Geral apó pós a sua publicação (193 36). Surpreen ndentemente, as suas ideiaas inverteram m-se e aproxim mou-se fortem mente da lóg gica de ideia as de Keynes. Vd. MARCUZZ ZO, 2006b, ma max. 14. 207 A reacção de Keynes K em carrta para Beve ridge: «I have read your Memoranda, M w which leave me m in a e of wild enthusiasm for your general sch heme. I think it a vast consttructive reform m of real impo ortance state and am relieved to t find that it is so financiallyy possible» - CARVALHO, C 2006: 24. 208 Nã ão esquecer qu ue Maynard Ke eynes foi Lord d Keynes, com m assento na House H of Lordss britânica. 209 MA ARCUZZO, 200 06b: 5-10 210 MA ARCUZZO, 200 06b: 2. 29 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ A ressolução do problema p po olítico e a su uperação da escassez O’Doonnell identiificou diverssas funções a desempen nhar pelo Esstado deduzi zido das ideiias de Keynnes, sendo ellas: a guardaa do bem com mum, ser agente da racio onalidade soocial e defenssor da liberddade individuual, a promoção de combbinações com m o sector priivado, desennvolvendo tam mbém activiidades tendoo em conta critérios nãoo-económico os, e devend do conduzir as suas refformas modeerada e graduualmente211. Eram as polííticas govern namentais destinadas a reesolver o prob blema polítiico tal comoo Keynes o define: d eficiêência económ mica, justiça social e libeerdade indiv vidual, do quual eram indiistrinçáveis os o problemass económico os do desemp prego e da deesigual e arbitrária 212 distribuição de rendimento e riqueza r . Caso as poolíticas certass fossem adooptadas, seriaa possível ultrapassar a eescassez em pouco p mais de uma gerração, afirmaa Keynes. Issto implicav va que, em relativamente r e pouco tem mpo, a varia a uma eeficiência maarginal do caapital a zero2213, lembrand do esta expannsão do inveestimento lev expreessão a ideia de estado o estacionáriio de Ricard do e Marx (1818-1883)), entre outtros214. Contuudo, isto nãoo implicava a catástrofe , (havendo então e similarridades com m o pensamen nto de John Stuart-Mill)). Pelo conttrário, era ddesejável, po ois aí teria a sociedadee de encaraardo o verdaadeiro probleema: viver beem, de formaa agradável e sábia215. Era o papel destas “p políticas inteeligentes” trransformarem m a sociedaade216, fazen ndo os indivvíduos valoriizar os fins do sistema, viver bem, aos meios, o sistema eeconómico em e si, preferindo o bom m ao útil. Veremos de d seguida que q o “papeel transform macional” dass ideias e aacções do próprio n reflexão das d relações entre a econ nomia nacion nal e o “restoo do mundo””, bem Keynnes teve eco na comoo no redesenhhar do sistem ma internacioonal do pós-II Guerra Mu undial. 211 AN NDRADE, 2000 0: 88. TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 11. 213 CA ARVALHO, 200 06: 12. 214 É ccurioso notar que Keynes co onsiderava o llaissez-faire e o marxismo partilharem p a mesma base teórica econ nómica, o lega ado ricardiano o, que rejeitavaa – CARVALHO O, 2006: 17. 215 SK KIDELSKY, 201 10: 144. 216 Skkidelsky é uma a das vozes iso oladas que rejjeita que Keyn nes fosse um reformador r soocial, embora aponte a as id deias acima apresentadas. a posto, ser conntraditório reccusar a Naturalmentee, acreditamos, dado o exp persspectiva de Ma aynard Keyness como reform mador social, senão s até maiss além. 212 30 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ 6. O SISTEMA A INTERNA ACIONAL L E AS GRA ANDES GU UERRAS Comoo referimos, Keynes é funcionárioo do Tesou uro Britànico desde 19915. Aquand do da negocciação do Trratado de Verrsalhes, incoorpora a delegação do Tesouro. É a suua obra que critica c acutillantemente o referido traatado, The E Economic Co onsequences of Peace (11919), que o torna famoso217. O seu protagonism mo é então inddissociável do d culminar da d Grande G Guerra. bismo Proteeccionismo e livre-camb No qque respeita à sua posição face à dicotomia proteccionissmo/livre-cam ambismo, esta foi varianndo de acordo com as lições da connjuntura. Se em 1923 Keynescritica o proteccion nismo comoo incapaz dee solucionar o problema do desemprrego218, já co om a Grandee Depressão a sua postuura se altera. e para ra o crescim mento Veriificanddo a excessiva dependdência do comércio externo econóómico, com consequências nefastas aao nível das relações inteernacionais, K Keynes insurrge-se «conttra o fetiche do crescimen nto liderado pelas exporttações». Apeesar de reconnhecer existirrem as ricarddianas vanttagens na divisão innternacional do trabalho, acredittava terem sido sobreeestimadas2199. Assim, ap pela para quee o sector fiinanceiro fossse primordiialmente naccional, acredditando aindaa que, sendo o problema a deflação, as a tarifas adu uaneiras podderiam limitaar essa pressão sobre os preços. Pen nsava ainda que os países deviam desvincular-s d se do padrão o-ouro para ppoderem detterminar a su ua própria poolítica monetária, no sentido de adopttarem uma po olítica moneetária expanssionista220. O virar doo avesso da teoria clásssica torna-see completo com a ideiaa de que, dada d a excesssiva dependdência econó ómica das exxportações, o que levav va a encarar agressivameente a penettração em mercados m ex xternos, peloo que, conttrariamente à ideia smiithiana e affim, a globaalização podde conduzir à guerra e não à harm monia, e a au uto-suficiênccia nacional, pelo contrrário, à paz221. Poder-se-ia argumentaar que a Histó ória terá refu utado as ideiaas de Keyness, uma vez qque pouco depois se seguiu s a II Guerra Mu undial, num contexto dde incremen nto do proteccionismo económico. e Porém, P tal aafirmação coloca um pesso injusto soobre essa do outrina econóómica, pois a guerra deflagrou d peelo expansio onismo impeerialista dass forças do Eixo, aconttecimentos bélicos, b não essencialm mente económ micos, sendo o que, no ppós-guerra, outras guerrras mortíferas se sucederaam num conttexto de livree-cambismo e globalizaçção em acelerração. 217 RU UTHERFORD, 2005: 2 222-3 e KIRSHNER, 22009: 533. SK KIDELSKY, 201 10: 250. 219 SK KIDELSKY, 201 10: 250. 220 Dissto dá conta Keynes K em «N National Self-S Sufficiency» (1 1933) – vd. JA AMES, Harold,, «The Fall an nd Rise of th he European Economy E in the Twentieth C Century», BLANNING, 2000:: 191. 221 SK KIDELSKY, 201 10: 250. 218 31 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ Finan nciar a Guerra É exaactamente naa conjunturaa da II Guerrra Mundial que q podemos colher outrros contributtos de Keynnes. Um delees tem por designação d D Deferred Payyments Plan n, tendo conssistido num plano para ffinanciar o esforço e de gu uerra britânicco, tributando o o rendimen nto dos indivvíduos além de d um determ minado mínimo, numa proporção p prrogressiva. A contrapartida oferecidda era no imediato pós-gguerra o Esstado dispon nibilizar estte rendimen nto, embora de forma mais equittativa, traduuzindo-se num ma alavanca para evitar uuma recessãão por procurra insuficientte, sendo qu ue esse dinheeiro seria reccuperado a prazo pelo Esstado com o crescimento económico.. Era, desta forma, f um plano para evvitar o total colapso das fi finanças britâânicas em perríodo de gueerra, a curto-p prazo, assocciando-lhe a preparação da retoma no pós-guerra e ainda preocupaçõees redistribu utivas, aprovveitando a guuerra para inttroduzir refoormas222. A II Guerrra Mundial obriga Keyynes a advog gar o intern nacionalismoo, mas por razões r primoordialmente políticas e não n económiccas223. Isto porque, p com o progredir dda guerra e com c o reduzzir das reservvas do Tesou uro Britânicoo, Keynes, enquanto e con nselheiro do Tesouro, diirector do Baank of Englaand e membrro da House of Lords, realiza uma séérie de missõões aos EUA A (seis, entre 1941 e 19466) por formaa a assegurar auxílio finan nceiro ameriicano, traduzzindo-se no acordo a d-Lease224. Uma U das co ontrapartidas exigidas pelos p americcanos era a abdicação pelos Lendbritânnicos das tarrifas imperiaais preferencciais, sobre o que Keyn nes tinha forrtes reservass225. O retornno do internnacionalismo económico tinha uma explicação e mais m de caráccter circunsttancial que eessencial. Por u um novo sisttema monetário internaacional Foi nno âmbito deestas missõess (sobretudo a de Junho--Agosto de 1944 e a de M Março de 19 946)226 que uum dos maais importanttes contribuutos de Key ynes se forjo ou: o redeseenhar do siistema moneetário internaacional. Foi Keynes quem m esteve po or detrás da filosofia f de B Bretton Woo ods227, que estabeleceu o padrão-d dólar, estanndo as outrras moedas com uma taxa de cââmbio ólar (USD), embora ajusstável, sendo o dólar connvertível em ouro. relativamente fixa face ao dó Comoo instituiçõees estabilizad doras do sisstema encon ntramos o Fu undo Monettário Internacional (FMII) e o Bancoo Internacion nal para a R Reconstrução e Desenvolvimento (BIIRD), actualm mente parte integrante do d Banco Mu undial. Este sistema esteeve vigente até a 1971, com m a decisão de R. 222 PR RESSMAN, 200 06: 150 e CARV VALHO, 2006:: 21-2. JA AMES, Harold, «The Fall and d Rise of the European Eco onomy in the Twentieth Ceentury», BLAN NNING, 2000 0: 194. 224 Vd d. MARCUZZO,, 2006a:. 225 Po odendo, em alguma a medida, ter influen nciado o olharr de Keynes sobre o Impéério, refira-se a sua posiição no Departamento da Ín ndia, entre 19006-8, que aba andonou por desinteresse. d 226 MA ARCUZZO, 200 06a: 15. 227 JUDT, 2005: 107 7 e RUTHERFO ORD, 2005: 2223. 223 32 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ Nixonn (1913-19994, presid. 19 969-74) de aabandonar a convertibilid dade do dólaar em ouro, tendo sido posteriormente substituíído pelo ditto “Consensso de Washiington” desdde cerca de 1980 (polítticas neolibberais de comércio-liivre, privattizações, deesregulament ntação, equilíbrio orçam mental, taxass de câmbio flutuantes). Mostra-nos Skidelsky que, q na vigênncia do sistem ma de Brettoon Woods, houve h «meno or desempreggo, um maiorr crescimento, uma menoor volatilidad de das taxas de câmbio e menor dessigualdade»,, ao qual con ntrapõe o seeu sucessor, que já contaa com 228 m . cincoo recessões mundiais Convém reeferir que este sistema dde Bretton Woods W só em m parte correesponde à arrrojada propoosta de Keynnes. Este prretendia, em m primeiro lu ugar, que estte novo siste tema internacional perm mitisse aos países p que apresentasseem défices comerciais fosse empprestado din nheiro, penallizando os países que au uferissem sisstemáticos ex xcedentes co omerciais229, por meio dee uma Clearring Union. Isto porque enquanto oss primeiros perderiam p au utomaticamennte as reserv vas de ouro,, sendo forçaados a procurrar financiar o défice com mercial, estess últimos podderiam optarr entre o em mpréstimo e a acumulação de reservaas, o que im mporia uma pressão p deflaacionária e geraria g desem mprego nos anteriores2300, sendo injuusto e ineficciente o repo ouso do ónuus de ajustam mento excluusivamente sobre s os países deficitárrios - tal anáálise assentaa no mecaniismo de flux xo em espéccie identificaado por Canttillon e Hum me (1711-177 76)231. Assim m, pretendia que existissee uma reservva monetáriaa internacion nal, o bancorr, administrad da por um baanco central com a capaccidade de em mitir moeda. Prevaleceu o sistema dee quotas defeendido pelos EUA, que reejeitam a pro oposta keyneesiana. Uma últim ma reflexão sobre s o sisteema internaccional versa sobre a reguulação dos fluxos f internnacionais dee capitais. Prudente, P K Keynes, com mo referimoss, não apareentava ser muito favorrável à globalização, lev vantando resservas em reelação aos empréstimos e s estrangeiro os que causaariam tensõees e inimizaades em moomentos cru uciais de preessão232, pello que prefeeria o invesstimento inteerno. O pro oblema era ccomo conciliar a gestão monetáriaa nacional com c a internnacional. Acreditava quee os fluxos dee capitais dee curto-prazo o deveriam seer regulados, pois, caso contrário, poderiam p pro ovocar presssões para a convergênciia das taxas de juro entre os países, que não lhhes seriam benéficas, b daada a heterog geneidade dee circunstânccias que torn navam propíícias políticaas macroeco onómicas dísspares. Por outro lado, a desregulaação aumentaria a incertteza, o que geraria g fluxo os disruptivoos, desestabilizadores e disfuncionais d s, causando fortes flutuaações nas expectativass dos invesstidores233. Em directa relação coom o expllanado 228 229 230 231 232 233 SK KIDELSKY, 201 10: 164-175. PR RESSMAN, 200 06: 156. SK KIDELSKY, 201 10: 243. Vd d. capítulos corrrespondentess em PRESSMA AN, 2006. SK KIDELSKY, 201 10: 249. KIR RSHNER, 2009 9: 534-5. 33 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ imediiatamente anntes, dispensaamo-nos de rreferir que a sua lógica foi, fo em larga medida, ignorada, em prrol da promooção de um livre-cambissmo com um m elevado nív vel de desreggulação, que seria, sob uuma óptima keynesiana, k ineficiente, i pporque subóp ptimo. 7. “R REVOLUÇ ÇÃO METO ODOLÓGIICA” Keynnes é um doos protagonistas da recoonceptualizaçção da Econ nomia. Para ele, a Econ nomia estariia longe de ser s uma ciência exacta, m muito menoss natural. Eraa uma ciênciia moral, um m ramo da éttica e da lóggica234. Rejeiita o paradiggma positivissta neoclássiico, com o qqual se preteendeu, vés da pela matematizaçção, cientifiicizar a Ecoonomia e affastá-la da Filosofia235, para, atrav incertteza, introduuzir ou dar relevo a uuma série dee elementos sistematicaamente ignorados: motivvos, expectaativas, conveenções, instittuições, dinââmica. Era um u “filósofoo-economistaa”, tal comoo o tinham sido s Smith, Mill M e Marx2236. É de tal forma persiistente a conntrovérsia qu ue, em 1982, à afirmaçãoo de Tobin que q não exisstiria nada de d mais perig goso «do que ue um filósoffo que nomia», Harvvard Nozick responde «A A não ser um m economistta que sabiaa um bocadinnho de Econ 2 não ssabe nada dee Filosofia»237 . Na sequêência destas ideias, é peertinente menncionar que Anna Carabbelli vê o Tratado T sobrre Probabiliidades como o um ensaio o de Filosoffia prática e ética versaando sobre a aplicação da probabillidade ao âm mbito das ciências c morrais e da co onduta humaana238. Nesta parte do estudo o, temos já, em maior ou menor detalhe, d apreesentados os mais importantes conttributos de Keynes K paraa uma possív vel transform mação abruppta do parad digma mos este mom mento para condensá-las c s, realçando a sua metoddológico da Economia. Aproveitam importância e vallidade. Incerrto, mas reaalista O priincípio da incerteza afasttou Keynes dda excessiva matematização da Econnomia, que to oldava uma compreensãoo geral, pelo o que era um m céptico relaativamente à econometriia, consideraando-a mpreende, se nos recorrdarmos quee ele crê qu ue há uma “distracção””239. Facilmente se com 234 TE ERRA & FERRA ARI FILHO, 2011: 2; NUNES S, 1998: 41, 10 02; e ANDRAD DE, 2000: 91. Re eferimo-nos à vulgarmente conhecida com mo “revolução o marginalista” – BACKHOU USE, 2002: 166 6-72 -, bem m como a postteriores desenv volvimentos, ccomo o robbin niano – MARCUZZO, 2006b:: 7. Tal lógica vigora aind da na “ortodoxxia” teórica eco onómica. 236 AN NDRADE, 2000 0: 76. 237 Tra ata-se de um faits-divers, com c validade ilustrativa, referido por M. Jacinto Nunees em NUNES, 1998: 11. 238 AN NDRADE, 2000 0: 83. 239 RA AVETZ, Jerry, «Economics as a an elite foolk-science», DOW D & HILLA ARD, 1995: 633 e LAWSON, Tony, «Eco onomics and expectations», e , DOW & HILLLARD, 1995: 77. 7 235 34 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ «influuências de taal forma imp portantes quee não podem ser reduzidaas à forma esstatística»240, além de discordar do princípio p de verificação a posteriori no desenvollvimento da teoria econó ómica, p o que cconsiderava inaplicável. A teoria freequentista daas probabilidades não eraa adequada para estuddo da generaalidade da reealidade com mplexa e inccerta. Sendo a sua base filosófica, critica c amplaamente a raccionalização benthamita, isto é, o utiliitarismo, quee teve como expoente as ideias de Jerremy Benthaam (1748-1832). Contra o abstraccionism a mo ricardianno e o irreallismo dos prressupostos dda teoria cláássica, Keynnes não abdiicava do priincípio de reealismo. Casso contrário,, não teria qqualquer utilidade práticca. Em vez da d sedução do os modelos m matemáticos “limpos” e “elegantes”, pode-se dizeer que preferiu a compplexa, difícil realidadee, maioritariiamente não o tradutívell por expreessões q o numééricas, se seqquer correctamente inteliggível pelo Homem241. Seria interessannte analisar qual conceeito de valorr subjacente à teorizaçãoo keynesianaa, pois pensamos existirr argumentoss para falar duma recuperação da ideia de valor intrínseco através a do inttuicionismo e da influência de Moorre242, o que taambém seriaa dificilmentee transposto para um mod delo matemáático. Razooavelmente, orgânico e dinâmico d Com a teoria de Keynes o postulado da racionalidade indiv vidual transfforma-se. Não N se orna-se esse um conceiito abrangen nte. O abanddona a ideiaa de o indiivíduo racioonal, mas to capriccho, a expecctativa, o estaado de confiaança incorpo oram a racion nalidade hum mana, que cessa de ser um ma racionalidade omniscciente. A cappacidade de conhecer c do Homem H é lim mitada, a incerteza é um ma cortina esspessa que nos n impede dde vislumbraar sequer as consequênccias imediataas das acçõees próprias, quanto q mais o panorama geral presen nte, muito meenos futuro. O comportam mento 2 racionnal não é noormativo: é pragmático p e contingentee, é razoável243 , uma raciionalidade prrática, portaanto244. ncontra-se a ttranslacção de d uma concepção atomiicista da sociiedade Relacionanndo-se-lhe en para uma orgâniica, o que permite p a ddistinção enttre microeco onomia e m macroeconom mia. O indivvíduo não existe fora da sociedade, ppelo contráriio, o processso de individduação é coeetâneo com o processo social, com mo nos dá cconta o refeerido ensaio de Elias. ««Keynes salv vou a 240 241 Ap pud, SKIDELSK KY, 2010: 131. Vd. SKIDELSKY Y, 2010: 116, 123, ANDR RADE, 2000: 78, 92. De ressalvar, de novo, a inflluência maltthusiana, que e, em missiva para Ricardoo, escreve: «ssinto inclinado o a referir-me frequenteme ente às coisa as como elas são, sendo esssa a única foorma de tornarr aquilo que escrevemos e úttil, do ponto de vista práttico, à socieda ade» - apud SK KIDELSKY, 20 10: 120. 242 NU UNES, 1998: 79. 7 Skidelsky também t tem u uma passagem m na sua apre esentação resuumida de Keynes na quall refere que Keynes K teria tido t a percepçção de que as a acções da holdings ameericanas «esta avam a deprrimir muito ab baixo do seu valor v intrínsecoo» (itálico nosso) – SKIDELS SKY, 2010: 1110. 243 SK KIDELSKY, 201 10: 127-9; NU UNES, 1998: 115-7; ANDRAD DE, 2000: 85;; e WINSLOW W, Ted, «Unce ertainty and liquidity-prefe erence», DOW W & HILLARD, 1995: 222. 244 AN NDRADE, 2000 0: 84. 35 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ Econnomia das suuas amarras metodológic m cas [da Econ nomia “ortod doxa”] restauurando o pap pel do indivvíduo-decisorr num univerrso interdepeendente, tem mporal e orgânico»245. Maais, todo o siistema é dinââmico, com flutuações, f trransformaçõões, múltiploss “equilíbrios” subóptimoos. Obseervação vigillante A Ecconomia, paara Keynes, não era m metodologicaamente comp patível com m a verificaçção a posteeriori das prroposições em mpíricas, rejjeitando tantto a sua validação, com mo a sua refu utação pelo método em mpírico, pois,, segundo eele, não exisste regularid dade na natuureza, o tem mpo é pectiva irreveersível, logoo, as condições de ppartida são sempre differentes246. Uma persp verdaadeiramente heraclítica. h Por outro lado, l vê a Economia E coomo uma artte ou forma de pensar, ccaracterizadaa pela “obseervação vigillante” que permita escollher bons mo odelos, que captem c de foorma apropriiada o papell preciso daas convençõ ões num daado momen nto, associad do às atituddes e propeensões psicoológicas presentes247. Daq qui se pode retirar que o desempenh ho do econom mista é contíínuo e tem dde contemplaar várias perrspectivas doo real-social apontado po or Sedas Nun unes248, assocciando uma fforte ligaçãoo entre teoria e prática249. “Bab bilónia” Keynnes parte doo pressupossto epistemoológico que o conhecim mento comppleto, perfeito, é inalcaançável. Peersistirá sem mpre incerteeza. Assim, é-lhe associado um modo de pensar p babilóónico, ternárrio, contrário o ao pensam mento cartesiiano, dual, onde o não exiiste espaço para p a incertteza250. Anttecipa assim m as modernnas correntees pós-positiivistas, danddo mostras disso aquanndo da sua superação s daa lógica form mal, ao amplliar a noção de conhecim mento, abrangendo lógicaa formal e huumana, que não n se contraapõe, mas se complementam. Em directaa relação está a redigniificação da linguagem comum, c subbstancial, aberta e adequuada a racioccínios não-deemonstrativoos, capazes de d abarcar a variável v nãoo-mensurávell, nãoformaalizável, da incerteza i e to odo o decorrrente aparato conceptual251. Em sumaa, abre a Econ nomia a todoo o espectro de linguagen ns relevantess para o estud do da realidaade: «truth dooes not only come in thee guise of a mathematicaal model»2522. A defesa da d pluridispliinaridade e dda pluralidad de são 245 Ro otheim em NUN NES, 1998: 13 39-40. NU UNES, 1998: 105-7, 134-5. 247 DA AVIS, 1994: 12 25. 248 NU UNES, 1970. 249 AN NDRADE, 2000 0: 86. 250 NU UNES, 1998: 20-2. 2 A dialéctica hegeliana faz outro tantto, face ao dua alismo kantianno, quando an nalisa a natu ureza humana. – NUNES, 19 998: 40. 251 AN NDRADE, 2000 0: 83-87, NUNES, 1998: 1466. 252 HA ARCOURT & KE ERR, 2003: 35 57. 246 36 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ postuuras que facillmente podeemos entreveer nas ideias de John Maynard Keynees, nomeadam mente no seeu famoso obbituário de Alfred A Marshhall (1842-1924), onde, mais do quee uma apologia às qualiddades de Marshall, M teo oriza sobre as qualidad des que dev ve ter um bom economista, enuncciando todoo um prograama, uma ppostura mettodológica, uma autêntitica revoluçãão na Econnomia253. Parra ele, não existiriam (e, para elle, não exisstiram) fronnteiras rígidas do conheecimento254. A Ecconomia segu undo Keynees Consequente com m as suas ideeias está a tarrefa que deliineia para a Economia: rreduzir a incerteza 255 5 irreduutível, que abbranda ou atté bloqueia o progresso económico e , mudando, m moldando, o meio envollvente256. Nãão esquece, contudo, quee o futuro não n é objecto o de conheciimento, «O futuro não eestá à espera de alguém que q o aprendda: somos nó ós que o criam mos»257. Afaasta-se portan nto do progrrama enunciiado por Mill M 258, pelo qual a Ecconomia se preocupa ccom o indiv víduo, intereessado (e inteeressada, a Economia), E aapenas em maaximizar a su ua riqueza, oou, como dep pois se veio a dizer, a suaa “utilidade”259. Keynes «w was the right kind of an economist as a an econom mic scientist from my po oint of view»», declara Milton M Friedm man260. 253 «O mestre econ nomista deve possuir uma combinação rara de atrib butos (...) Dev eve ser matem mático, oriador, estad dista, filósofo – até certo ponto. Deve compreender os símboloss e exprimir-se por histo pala avras. Deve co ontemplar o particular p em ttermos do gerral e tocar o abstracto a e o concreto no mesmo m rasg go de pensame ento. Deve esstudar o prese nte à luz do passado, p em fu unção do futurro. Nenhum aspecto a da n natureza do Homem ou dass suas instituiçções deve ficar completame ente fora do allcance do seu u olhar. Devve ser simultan neamente detterminado e d desinteressado o, alheio e inc corruptível com mo um artista a e, no anto, ser por vezes v tão prag gmático como um político.» - Keynes, apu ud SKIDELSKYY, 2010: 91. enta 254 AN NDRADE, 2000 0: 93. 255 SK KIDELSKY, 201 10: 116, 131. 256 MA ARCUZZO, 200 06b: 8. 257 Co omo declara Skkidelsky – SKIDELSKY, 20100: 130. 258 MIILL, 1994. 259 KIR RSHNER, 2009 9: 536. 260 BLA LAUG, 1990: 89. 37 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ 8. RE EFORMA E SUPERA AÇÃO DO CAPITAL LISMO As posições éticaas de Maynard Keynes têm uma reelevância sig gnificativa qu quando se traata de obretudo dass implicaçõe s derivadas desta. avaliaar as ideias subliminares da sua teoorização e so Tomaava uma posstura crítica quanto q ao coontexto que o circundavaa, sendo legíttimo, acredittamos, tomá--las como a base ética e teleológica ddas suas propostas, pois «A todo o siistema econó ómico corresponde uma ética»261, incclusive àqueeles que se prroclamam sem m ética e a-m morais. Éticaa do investim mento No fiinal da sua vida, v Keyness foi adoptanndo uma posttura de respo onsabilizaçãoo do investid dor. O que qqueremos diizer? Que o investidor ttem responsabilidades para p com o bbem comum m, não devenndo ceder ao a «pânico das multiddões» em faace da queb bra da cotaação bolsistaa, por exem mplo262. Deviaa combater a obsessão peela liquidez, pois a estabiilidade sociaal também é do d seu intereesse e esta é vulnerávell às suas acçções. Keynees foi assim desenvolvenndo uma étiica do invesstimento que incorpora a admissibiliddade de perd das, sendo o crucial a fiddelidade à to omada de oppções criterioosamente detterminadas. Diz-nos Keeynes: N considero Não o ser vergonhha nenhuma dever uma acção a quandoo o mercado atinge o seu nível n mais baiixo. Não creiio ser a cond duta adequadaa de (...) um ueda (...) Vou ainda muito innvestidor [sérrio] vender e ffugir num meercado em qu m longe. Deevo dizer que é, de tempos a tempos, devver de um invvestidor sério mais aceitar a depreciação dass suas particcipações com tranquilidadde e sem se ualquer outra política é an nti-social, desttrutiva para a confiança e reecriminar. Qu inncompatível com c o funcionnamento do sistema s econó ómico. Um innvestidor (...) d deve ter como o principal obbjectivo os reesultados a longo l prazo, devendo ser juulgado apenass em função ddestes (John ( Maynarrd Keynes)263 Crítiica ao “amorr ao dinheirro” e ao egoíísmo mor ao dinheeiro” é aindaa um traço doo sistema económico. Paara Keynes, eeste só era frrívolo, O “am não sse identificanndo com o bem, b moralm mente ineficaaz, pois não promovia a adopção dee uma vida boa, e econoomicamente ineficiente, uma vez qu ue a disposição para a accumulação era um 261 262 263 NU UNES, 1998: 80. 8 SK KIDELSKY, 201 10: 109-10. Ke eynes, apud SK KIDELSKY, 2010: 112. 38 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ forte travão ao prrogresso econ nómico264. Q Quando chegaasse a era daa abundânciaa, o momento o em a onsiderou qu ue este amorr ao dinheiro o seria eficiêência marginnal do capitaal fosse nulaa, Keynes co tido ccomo «a som mewhat disg gusting morbbidity, one of o those sem mi-criminal, semi-pathological propeensities whicch one handss over with a shudder to o the speciallists in the m mental diseasse»265. Daí a ênfase no «ataque à poupança, p à abstinênciaa, que era um princípio fundamentaal dos vitoriianos»266. Dee certa formaa, partilha coom autores da d Antiguidad de e com os cristãos umaa série de ouutras posiçõees, como a noção n de jusstiça de preçços, sendo in njusta a flutuuação do nív vel de preçoos267. Bernard Mandeville M e, depois destee, Adam Smiith estabeleceeram que os vícios privad dos se conveertiam em viirtudes públiicas, confluinndo o egoísm mo individuaal em bem ccomum, por via v de um ssistema laisssez-faire e de d um mecan anismo de “m mão invisíveel” que caraacterizaria a autoregullação da sociiedade em geeral. Malthuss, pela ideia de parcimón nia dos capittalistas, que estava e fu do fluxo o, fala de virttudes privadas convertidas em vícioss públicos. Keynes K a provocar uma fuga reconnhece amboss os casos268. Daqui advvém a sua co oncertação entre e coordennação estataal com liberddade políticaa e económicca individuall. A coorden nação económ mica estatal porque, existindo falhass inerentes ao a sistema ecconómico, haavendo a possibilidade da d opção de iinvestimento o mais lucrattiva não coinncidir com a socialmentee mais vantaajosa269, então era necesssária a interv venção deste agente, com m capacidadee regulatória,, correctora de d disfunções e desequilííbrios e prom motora do prrogresso Hum mano em direcção a umaa vida boa. A liberdade política p e ecoonómica não é boa em sii, o que a fazz depender dee uma justifiicação. Keyn nes olha-a como instrumeental para alccançar os beens intrínsecoos, uma vez que, não tenndo os indiv víduos conhecimento direecto de estad dos de espíriito alheios, a persecução o do egoísmoo, enquanto princípio de maximizaçãão e não fau utor de 270 bem comum, é superior s ao altruísmo a . O interessee próprio e o interesse ppúblico não eram naturralmente conciliados271. O “amor ao dinheiro o” gerava ddesigualdadees de rendiimento e riiqueza que eram econoomicamente ineficientes, como aborrdámos atráss. Keynes, co omo Schumppeter, não erra um igualiitarista: a suua visão de justiça j era cclássica272, sendo justa a recompens a proporcion nal ao 264 SK KIDELSKY, 201 10: 198. KE EYNES, «Econ nomic Possibilities for Our G Grandchildren» (1930), apu pud WINSLOW W, Ted, «Unce ertainty and liquidity-prefe erence», DOW W & HILLARD, 1995: 222. 266 NU UNES, 1998: 80. 8 267 SK KIDELSKY, 201 10: 205 e BACKHOUSE, 200 2: 22-4, 42-6.. 268 M. Jacinto NUNE ES, «Posfácio» », em SKIDELS SKY, 2010: 26 65. 269 DA AVIS, 1994: 16 64. 270 SK KIDELSKY, 201 10: 193. 271 NU UNES, 1998: 21. 2 272 No o sentido geral do termo entenda-se, isto é, remo ontando à An ntiguidade Cláássica. Neste e caso, aristtotélica. 265 39 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ méritto ou à conntribuição273. Contudo, eera problemáática a conccentração exxcessiva, dev vida a instituuições distorrcidas, que se s tornava ddisfuncional2774 e inaceitáv vel socialmeente. As heranças, por exemplo, tradduziam a con ncentração dee riqueza sem m qualquer contrapartida c a individual e era o missão de riqqueza um princípio «fracco e estúpidoo»275, que po odia e princípio hereditáário de trasm deviaa ser alteradoo sem que a operação eeconómica so ofresse uma transformaçção substanccial. A redisttribuição de rendimento o e riqueza, que preconiiza, era umaa questão daa qual depen ndia a legitimidade do sistema, a justiça j sociaal e a eficiêência económ mica, segunndo estes meesmos mos longe e cada vez m mais distanttes de atingir estes ideaais, havendo o, por princípios. Estam de relacionad da, segundo Skidelsky, com c a paraddoxal que poossa parecer,, uma maiorr desigualdad globaalização276. Como afirm ma Kirshnerr, «To revisiit Keynes is to bring the question oof inequality y back towarrd the core of o macroecon nomic analyssis»277. Crítiica ao capitaalismo Para Keynes, o capitalismo c u ganho abbstracto e nãão um era uma proopensão psiccológica a um ma de relações de proprieedade, comoo definido por Marx, apro oximando-se,, ao invés, dee Max sistem Webeer278. O “amoor ao dinheirro” ou avarezza assumia a sua forma mais m absolutaa, sendo o siistema capitaalista «uma máquina geeradora de ddinheiro» e não n de bens.. Tinha um forte poder «para exploorar o valor de escassez do capital»2279 e, desreg gulado, tendiia a aumentaar a desiguaaldade, dandoo maiores renndimentos e riqueza a quuem deles já dispõe, algo que o dizer popular porttuguês captaa especialmennte bem na expressão e “oo dinheiro geera dinheiro””. Por outro llado, desregu ulado, o cappitalismo exiibe uma tend dência crónicca para um nível subópttimo de empprego dos faactores produutivos, que tende a min nar a organnização sociaal e auto-deestruir-se, seegundo o próprio Keynnes280. c coomo princípio o absoluto dee conduta traansformaria a vida Tomar o laaissez-faire capitalista sociaal numa espéécie de paród dia de pesaddelo de um contabilista, avaliando-se a e cada acção pelos seus potenciais financeiros. «Destruím mos a beleeza do cam mpo porquee os esplen ndores inaprropriados da natureza nãão têm valoor económico. Somos caapazes de aapagar o Soll e as 273 CA ARVALHO, 200 06: 7; KIRSHNER, 2009: 5311 e SKIDELSKY Y, 2010: 204. Po or funcional leia-se que resultava r no estimular doss comportamentos individuuais de form ma que resu ultasse um bem m maior para a sociedade n no seu todo – CARVALHO, 2006: 2 7. 275 Ap pud CARVALHO O, 2006: 8. 276 SK KIDELSKY, 201 10: 189. 277 KIR RSHNER, 2009 9: 531. 278 SK KIDELSKY, 201 10: 197. 279 SK KIDELSKY, 201 10: 205. 280 KIR RSHNER, 2009 9: 530-2. 274 40 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ estrellas porque nãão pagam div videndos»281 . Há limites morais ao crrescimento ecconómico, declara d Keynnes. A “V Vida Boa” Tal como para Saanto Agostinh ho (354-490))282, para Keynes a procu ura da riqueza za é um meio e não fim. O fim, o viver bem,, não está asssociado ao incessante i au umento da rriqueza, com mo dão um fi contaa vários estuddos relativos ao bem-estaar283. Keynes afaasta o utilitarrismo e a bussca da felicid dade ou prazeer das suas ppreocupaçõess, pois não é linear a liggação entre bondade b e pprazer. O quee deve ser maximizado m é o bem, istto é, a bondaade, e tem de d se levar em m linha de coonsideração o princípio de d unidade oorgânica de Moore M comoo forma de sopesar a bondade num m dado mom mento. A sim mples adiçãoo de bondad de nos estaddos mentais individuais não é posssível: «Con njunturas bo oas são “unnidades orgâânicas compplexas”»284. As A coisas bo oas são intrí rínsecamentee boas, tradu uzindo-se poor estados mentais m atempporais onde se pode enco ontrar o amoor, a criação,, a experiênccia estética e a prossecuçção do conheecimento285. É a consequ uência práticca desta ideiaa que legitim ma filosoficam mente a passsagem da ênnfase para o curto-prazo o, uma vez qque «a vida é para ser vivida no ppresente, e não n no passaado ou no futturo»286. É por tomaar como fito fundamentaal da existênccia a “vida boa” b que Keyynes se deteermina na neeutralização das flutuaçõ ões económiccas, pretendeendo ancorarr a economiaa no seu pottencial máxim mo, de form ma que, ob bviado o prroblema eco onómico, a Humanidadee se dedicaasse à prosssecução da referida r “vid da boa”. Supperação da escassez esssa que Keynnes pretendiia que ocorrresse num futturo próximo o – primeiro três, depois pouco mais de uma geraação287. À esccassez se seguiria o cresscimento da abundância para se alcaançar a estab bilidade288, iisto é, a eficciência marginal do capittal nula, a satturação do caapital, o estaado estacionáário keynesiaano. 281 Ke eynes, apud KIIRSHNER, 200 09: 531-2. Tra dução do inglês da nossa autoria. BA ACKHOUSE, 20 002: 34. Aliás, era para ele « anter vivas as tradicionais reesistências religiosas «essencial ma à bu usca incessantte de riqueza» » - SKIDELSKY Y, 2010: 190. 283 SK KIDELSKY, 201 10: 188-9. 284 SK KIDELSKY, 201 10: 190-2. 285 NU UNES, 1998: 79, 7 82. 286 NU UNES, 1998: 79. 7 287 SK KIDELSKY, 201 10: 142, 200. 288 Skkidelsky reconh hece-lhe influê ência de J. R. Commons – SKIDELSKY, S 20 010: 225. 282 41 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ O Esstado como instrumento i o Comoo tivemos oportunidade o e de notar, o Estado é uma peça central paara este projecto transfformacional.. Havia, paraa Keynes, um ma tendênciia natural paara o alargam mento do do omínio públiico, recomenndando-se a aplicação daas ditas “pollíticas econó ómicas inteliigentes” tend do em vista a coordenaçção económica e a sociallização do in nvestimento, que provocaariam mudan nças a longoo-prazo na sociedade, s não apenas eeconómicas, mas também m psicológiccas ou espirrituais, comoo indicámos: a preferência do bom aoo útil. ma «vertentee prática da ética» que procurava a melhor form ma de A política era então um actuaação governaamental, ten ndo por fim m facilitar a procura dos d “bens” aos membros da comuunidade289. A sua ideia do Governo, nna realidade, era no mín nimo contextu tual: este cab beria a uma elite desinteeressada quee não abusaaria do podeer290, a quem m caberia ddefinir os paadrões M impresssionante é o seu tacto político. p Tenndo por influ uência polítiicos da comuunidade291. Mais uma ddeterminadaa perspectiva de Edmund Burke, relaccionando a política p e a éttica com o dever e imbuuído de um princípio dee moderaçãoo292, recusa o fixismo e o dogma, dado que «todos « gostaaríamos de tentar t arquiteectar a nosssa própria saalvação»293, isto é, deviaa ser defend dida a liberddade para a «experimen ntação “políítico-económ mica”». Mod derado, repuudia o marx xismo, chegaando a descrever Vladim mir Lenine como «a bo ourgeois of the first wat ater»294, aind da que iniciaalmente tennha manifesstado certa simpatia pelos p princípios transfformacionaiss que veicuulavam. O cap pitalismo coomo meio pa ara a sua pr ópria superração Keynnes não era um revolucionário, mass um reform mista295. Con ntudo, não aacreditamos haver margem para dúvvidas: preten ndendia, com m as suas pro opostas, alcan nçar um “esttado estacion nário” e de recursos, a partir do qu ual as lógiccas subjacenttes ao caraccterizado pello máximo emprego capitaalismo, a proopensão paraa o ganho absstracto, seriam substituídas por um viiver bem. Para atingiir esse momento, o capiitalismo era, como para Marx, um pperíodo neceessário 2 para a passagem m da escasssez para a abundância296 . Esta lóg gica aproxim ma-o tambéém de Schum mpeter, que acredita na destruição ddo capitalism mo pelos seu us sucessos2297. Se esta é uma formaa de pensar socialista? Não N obstantee a associaçãão de Keyness ao Partido Liberal, Carrvalho 289 290 291 292 293 294 295 296 297 SK KIDELSKY, 201 10: 216. BLA LAUG, 1990: 50-1. SK KIDELSKY, 201 10: 219. NU UNES, 1998: 92. 9 SK KIDELSKY, 201 10: 251. RU UTHERFORD, 2005: 2 223. CA ARVALHO, 200 06: 16. SK KIDELSKY, 201 10: 189. PR RESSMAN, 200 06: 161. 42 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ pensaa que sim2988. É discutív vel, certameente, mas paarece-nos sin ntomático quue Tony Jud dt, no capítuulo intituladdo «The Soccial Democraatic Momentt», cite imed diatamente eem primeiro lugar Keynnes como ponnto de partida. Etimologiccamente, as suas reform mas e conseq quências preconizadas ppara o capitaalismo eram radicais: alteeravam-no na n sua raíz, leevando à suaa própria subllimação. All kinds oof social custtoms and econ nomic practicces, affecting the distribbution of weealth and off economic rrewards and penalties, which we now n maintain n at all cossts, however distasteful and unjust th hey may be in n themselves, bbecause they are tremenndously usefu ful in promotting the accuumulation off capital, wee shall then bee free, at last, to discard (John Maaynard Keynnes)299 298 299 CA ARVALHO, 200 06: 26. Re eferindo-se ao momento apó ós a saturaçãoo do capital - apud a , CARVAL LHO, 2006: 133. 43 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ 9. EC CONOMIC C CONSEQUENCES O OF KEYNE ES A qu uerela do leggado Diz-nnos Skidelskky que as ideias i de K Keynes foram m aceites so obretudo poor resignação o300 e imediiatamente oss aspectos ep pistemológiccos e o cernee dos metodo ológicos ignnorados301. No N ano seguiinte ao da puublicação daa Teoria Gerral, esta foi “sintetizada”” por J. R. H Hicks (1904--1989) num modelo que traduziria o sistema do eequilíbrio geeral IS/LM3022: era, segunndo Joan Rob binson o303, deixand do de fora a discussão o das (19033-1983), o abastardameento do keyynesianismo dinâm micas e dass expectativaas, em sum ma, da incerrteza304. Estee “keynesiannismo ortod doxo”, baseaado na “sínteese neoclássiica”, recalca os ensinameentos sobre a incerteza, a irreversibilidade do tem mpo, a centrralidade da procura p efecttiva e sobre o papel deseempenhado ppelo dinheiro o305. O que é usualmentee considerad da como um ma política económica e “k keynesiana” tem, na verrdade, muitoo pouco a verr com a teoriização de Keeynes relativaa à sociedadee e à ética306 . Por outro laado, o pós-keynesianism mo307, que se constituiu c co omo recuperaador dos con nceitos fundaamentais de Keynes esqu uecidos peloo keynesianissmo bastardo o, foi incapaaz de avançaar com uma fforma de inccorporar a infformação nãoo-quantitativ va na teoria, aponta a Fitzggibbons308. As accusações con ntra o keyneesianismo Muitoos téoricos apontaram as a ideias dee Keynes co omo fundadaas no seu ccontexto histtórico. Podem mos asseverar que as cirrcunstâncias históricas, a sua vivência pessoal, innfluenciaram m a sua perceepção dos prroblemas e, consequenteemente, dos meios e solluções do sisstema econó ómico. Emboora seja eviddente ser posssível um ecoonomista viv ver um perío odo onde o siistema econó ómico entre em falênciaa, com o volu ume de desem mpregados e o nível de miséria m e desstruição de riiqueza potenncial, sem quue isso abale a sua crençaa no equilíbriio óptimo dee mercado, cllaramente nãão terá sido o caso de Keeynes. Provav velmente porr isso mesmo o terá sido um m fulcral refferente o prob blema do ddesemprego, plasmado no n equilíbriio subóptimo de empreego dos facctores produ utivos. Skideelsky rejeita esta acusaçãão dirigida a Keynes com base na in ntervenção ggovernamenttal ser um ddado permaneente, por o sistema concoorrencial de mercado serr, por si só, o próprio cau usador dos ddesequilíbrioos, e na mo oral e objecctivos que assim a Keynees delineia ppara a activ vidade 300 301 302 303 304 305 306 307 308 SK KIDELSKY, 201 10: 148. NU UNES, 1998: 8. 8 FIT TZGIBBONS, Athol, A «Keyness’s policy mod del», DOW & HILLARD, H 1995 5: 212. SK KIDELSKY, 201 10: 150. BA ACKHOUSE, 20 002: 236. AN NDRADE, 2000 0: 81. DA AVIS, 1994: 15 58. AN NDRADE, 2000 0: 81. FIT TZGIBBONS, Athol, A «Keyness’s policy mod del», DOW & HILLARD, H 1995 5: 213. 44 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ econóómica309. A Grande Depressão D teerá sido um m factor motivador paara a sua visão? v Necessariamente.. Isso implicca serem as suas ideias circunstancciais? Certam mente que não. n A Milton Fried dman310, de que q a teoria foi refutada pelos inferêência que ussualmente se faz, como M factoss, referindo--se à estagfflação dos aanos 1970, ignora i que as a medidas preconizadaas por Keynnes nunca forram implantaadas na sua ggeneralidade.. O “keynessianismo” qu ue foi, em reegra, vilipen ndiado peloss neoclássicoos, monetariistas e outroos «não foi o keynesianissmo deixado por Keyness»311. Afasta--se também ddo plano teó órico o facto de muitos dos factores que tornaraam tão pertu urbada a déccada de 197 0 terem tido o uma 312 3 p , que deespoleta a crítica c origem exógena, como o caso dos “choques petrolíferos” Frieddman/Phelps ao “keynesianismo baastardo” ou “hidráulico o”, desenvollvido a parttir da persppectiva walraasiana de Keeynes313. Forram as polítiicas do “key ynesianismo bastardo”, não n as precoonizadas porr Keynes, associadas ao despesissmo estatal, com a crriação de défices d orçam mentais e creescimento desmesurado ddo aparelho burocrático b apontado a com mo «indiscipllinado macrooeconomicam mente e inefficiente microoeconomicam mente»314. Se no início dda década dee 1970 Richaard Nixon affirmou «We’re all keyneesians now», Friedman, posteriormen ente acrescen nta-lhe «and none of uss are keynessians anymoore»315, acreeditando quee a estagflaçção teria reffutado o “keynesian nismo bastarrdo”, mas não n de Keynnes316. Foi certamente a declaração de óbito do Keynnes, declaram m os pós-keyn nesianos. Poderíamos dizer quee a instauraação, mesm mo deficientee, de um cconsenso317 sobre determ minadas pollíticas derivaadas da teoriização de Keeynes no pós-II Guerra Mundial, resultou num momento de prosperiidade quasee a nível mundial, m sup perando «toodos os reccordes q ficou con nhecido com mo os Trinta Gloriosos ou o a Época D Dourada318. Se da anteriiores», no que evidêência histórica derivassee a legitimi dade das id deias keynessianas, esta constatação seria inconntornável. A preetensa falta de rigor Keynnes foi tambéém acusado de falta de rigor, sobrettudo pela dificuldade dee operacionalidade (mateemática) da sua teoria das probabbilidades. Co omo a maio oria das proobabilidades,, para Keynnes, se enconntrava sob o véu espessoo da incertezaa, logo, não poderiam seer matematizzáveis, 309 SK KIDELSKY, 201 10: 20. Millton Friedman em BLAUG, 1990: 1 83. 311 SK KIDELSKY, 201 10: 148. 312 AR RIENTI, 2003: 100 e KIRSHN NER, 2009: 5229. 313 HA ARCOURT & KE ERR, 2003: 34 45. 314 AR RIENTI, 2003: 112. 315 NU UNES, 1998: 10. 316 Millton Friedman em BLAUG, 1990: 1 87. 317 «K Keynesianism in this sense was practised d by the Consservative as well w as the Labbour Party un ntil Mrs Thattcher came to o power» - CAR RVALHO, 20066: 2. 318 HO OBSBAWM, 19 998: 256-7. 310 45 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ não sseriam probaabilidades cardinais, a coonclusão imeediata foi quee as suas ideeias não eram m uma teoriaa exacta, pelo que o seu u método erra não-operaacional319. Lucas conside dera-o «um desvio d tempoorário do proogresso cien ntífico na ecoonomia»320, ostentando o uma u postura ccontundentemente positiivista, evideenciando, allém disso, a crença im mplícita num ma correlaçção perfeita entre matem matização e cientificidad de. Também a matematizzação da real-social, acreeditamos, é, por si só, inoperacionaal, dada a complexidad c de deste que, no glosssário keynessiano, tem a sua n incontorn nável princíípio de inccerteza. O seu s rigor, ppoder-se-ia dizer, fundaamentação no corresponde em tentar compreeender o mun undo real, não o rejeitando os elementoss que tornam m mais ue se pretenddem atempo orais e difíciil a análise, mas integraando-os, furtaando-se aos modelos qu “eleggantes”, sem qualquer co orrespondênccia com o funcionamen f nto do sistem ma económicco, ou seja, o seu rigor é voluntariaamente limitaado, em detrrimento de um u rigor falssamente anaalítico. osta racionallista à incerteza suscitada por Keynees tem sido muito Diz JJacinto Nunees: «A respo simpllesmente neggar a sua exiistência. Com mo escreve Hahn, H os argu umentos daddos por Keyn nes no capítuulo XII da Teoria T Geral não têm siddo refutados, mas ignorad dos»321. A Ecconometria ignora i a fronnteira cimeirra entre incerrteza e risco3222. Se acaso a teoria de Keynes K não traduz a reealidade com mplexa, a viisão da Econ nomia clássiica também não corressponde ao m mundo em que vivemos323, sendo que não lo ogra a Econnomia “pré-keeynesiana” «encontrar « um ma saída para o desempreego generalizzado»324. A reaacção do laisssez-faire Frieddrich von Haayek (1899-1 1992) escrevve, entre 1940-3, uma daas suas mais famosas obrras, O Camiinho para a Servidão. Sem dúvidaa também in nfluenciada pelo p contextto político coevo, c Hayeek insurge-see contra o cen ntralismo esttatal, pretend dendo que seeria o individdualismo a melhor m salvaaguarda contrra o incorreccto exercício de um forte poder acum mulado, sendoo o individuaalismo a exppressão para o respeito pelo livre-arbbítrio individ dual. A questtão económicca desloca-see para um pplano políticco. O planeaamento centtral conduzirria, na sua opinião, a uum caminho o que, inevittavelmente, decairia no o totalitarism mo: «when economic power is ccentralized as an instruument of pollitical powerr it creates a degree of dependence scarcely disstinguishablee from slavery»325. Era um u poder ex xcesso na suaa essência, irreconciliáveel com a libeerdade indiv vidual, mente suborrdinando a sociedade3226. O sistem ma concorreencial, pelo contrário, permanentem olume comppetitivo, era então o únicco que poderria descentraalizar o podeer social, redduzindo o vo 319 320 321 322 323 324 325 326 BR RADY, 1993: 360. NU UNES, 1998: 172. NU UNES, 1998: 178. SK KIDELSKY, 201 10: 158. SK KIDELSKY, 201 10: 94. FERREIRA, Edua ardo de Sousa, em AAVV, 19986: 14. HA AYEK, 2005: 42. HA AYEK, 2005: 41, 50. 46 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ absolluto de podeer do Estado sobre o inddivíduo327. Apresentava A também o pplaneamento como limitaado, dada a complexidad c de da organizzação social,, incapaz de supervisionaar todos os factos, f consttantemente mutáveis. O volume de conhecim mento de que um Esstado dispõe era «inevvitavelmente inferior ao conhecimennto disperso» »328 – era tossco, primitivvo e limitado o329. A interfferência estaatal no sentid do de reduziir a instabiliidade resultaaria sempre numa reduçção do bem-estar social3330, pelo que se s posicionavva com as medidas m keynesianas de poolítica econó ómica, o período reccessivo do ciclo de que aacreditava auumentarem taanto a intensiidade como a duração do negóccios331. o política daa liberdade como c estreittamente vincculada ao la aissezTendo umaa concepção faire,, as propostaas de Hayek foram qualifficadas por alguns a de niiilistas332, daddo que a inccerteza radicaal destruiriaa quaisquer efeitos da acção econ nómica estattal, inclusivee o propósiito da regullamentação económica, o que lhe valeu o ep píteto de “aanarquista liiberal”, dado por A um sistema s de lliberdade ecconómica naatural334, com m elevados custos c Fitzggibbons333. Advoga sociaais, ameaçanddo a própriaa viabilidadee da coesão social. Emb bora o Estaddo seja incap paz de deter um conheciimento perfeeito, o sistem ma de laissezz-faire, segu undo as ideiaas de Keynes, não palado da auuto-regulação o335, pelo qu ue a sua possição imperffeita o atingiiria esse equuilíbrio prop tornaava, ainda asssim, no ageente preferenncial, dado ser s aquele qu ue maior voolume absolu uto de inform mação conseegue centraliizar e processsar, para tom mar medidas de coordenaação da activ vidade econóómica. Mayynard escreve então a H Hayek, comeentando a sua obra O Caminho para a Serviidão, afirmanndo «what we w want is noot no plannin ng, or even less planningg, indeed I should s w more»3336. É clara a clivagem c que se estabeleece entre o la aissezsay thhat we almosst certainly want faire e o keynessianismo no que respeitta à interveenção estatall, entre, podder-se-ia asssociar, comppetição individual e coord denação sociial. 327 HA AYEK, 2005: 59 9. SK KIDELSKY, 201 10: 222. 329 HA AYEK, 2005: 59 9. 330 SK KIDELSKY, 201 10: 156. 331 HA AYEK, 2005: 176. 332 NU UNES, 1998: 165. 333 NU UNES, 1998: 165. 334 Se e nos é permittido fazer o paralelismo p coom a conceptu ualização roussseauista pateente em ROUS SSEAU, 2010 0. De referir que q a distinçã ão entre as sittuações ideaiss de “liberdad de natural” e ““liberdade civ vil”, em gera al teorizada pelo p “contratu ualismo” dá coonta das dua as feições do liberalismo, eentre a comp petição indivvidual e a coordenação social. 335 PR RESSMAN, 200 06: 180. 336 Ke eynes, apud CA ARVALHO, 200 06: 10. 328 47 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ CON NCLUSÕES Tenddo em mente a sua críticaa à idolatrizaçção do cresccimento econ nómico comoo um valor em si e 3 não ccomo um meio m para se alcançar a “vida boa”337 , as propo ostas de Keyynes recoloccam a Econnomia como uma abordag gem do real--social. A in ncerteza fund damental invvalida a conccepção do hoomos oeconoomicus como o objecto de estudo, sub bstituindo o individualism i mo ontológicco por uma aabordagem organicista o que q afasta a iintemporalidade e a constante prospeecção do equilíbrio atempporal338. Keynes invventou a macroeconomiaa339. A actuaal visão econ nómica do siistema econó ómico 340 operaa sobre um ennquadramen nto teórico deefinido e eluccidado por Keynes K , ainnda que se teenham dispeensado os connceitos keyn nesianos centtrais, juntamente com a sua s densidadde interpretativa341, que aagora algumaas correntes da d teoria ecoonómica se prropõem recu uperar342. Esperamoss ainda pelass repercussõees da revolução metodollógica de Keeynes nas salas de aula. 337 SK KIDELSKY, 201 10: 230. NU UNES, 1998: 179. 339 Fra ank Hahn em BLAUG, 1990:: 76. 340 Dissto dá conta o próprio Miltton Friedman:: «In my opin nion, if you mean by Keyneesian economics the theo ory of The Ge eneral Theory, essentially noone of its sub bstance survive es. What survvives is its lang guage. We all of us use the t Keynesian terminology. We all of us look at the pro oblem in a diff fferent way, be ecause what Keynes did» - BLAUG, 1990: 88. of w 341 KIR RSHNER, 2009 9: 530. 342 Skkidelsky em BLLAUG, 1990: 53-4. 338 48 DINÂMIA’CET – IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socio D oeconómica e o Território ISCTE--IUL – Av. das FForças Armadass, 1649-026 Lisb boa, PORTUGALL T 217938638 Fax. 2179400442 E-mail: dinam Tel. [email protected] ww ww.dinamiacet.isscte-iul.pt Celui--ci n’est pas Keynes Ke : Uma a proximação oblíqua às ideia as de John Maaynard Keyness ________ __________ __________ __________ __________ ____________________ _____ BIBL LIOGRAF FIA AAV VV, 1986, Cinquentenár C rio da publiicação da teeoria geral de Keynes:: comunicaçções e comeentários apreesentados na a sessão inauugural do Seminário S do Departameento de Econ nomia, Dezem mbro 1986, Lisboa, L Instiituto Superioor de Econom mia. 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