VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica
Transcrição
VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica
VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica COMPORTAMENTO TRANSITÓRIO PARA EFICIÊNCIA TÉRMICA DE UM AQUECEDOR DE COMBUSTÃO SUJEITO A INCRUSTAÇÃO DE FULIGEM Ricardo Cecilio M. das Neves Aluno do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica – Unesp – Bauru Prof. Dr. Alcides Padilha Orientador – Depto de Engenharia Mecânica – Unesp – Bauru RESUMO Demandas constantes para a redução do desperdício de energia e aumento da eficiência térmica, reduzindo os custos operacionais, tem sido um parâmetro importante nos processos que fazem uso de máquinas térmicas, como caldeiras. Dentro do projeto construtivo das caldeiras, os pré-aquecedores de ar desempenham um papel fundamental na determinação da eficiência de recuperação de calor de baixo nível, tal como os gases de combustão antes de enviá-los para a atmosfera. Em geral, para uma caldeira comum, a cada 22°C recuperado dos gases de combustão por um pré-aquecedor de ar, a eficiência total do equipamento pode aumentar em cerca de 1%. O trabalho proposto tem como objetivo mostrar experimentalmente a perda de eficiência térmica de um pré-aquecedor de ar de uma caldeira de vapor superaquecido durante sua operação. Esta análise abrange a relação da perda de troca de calor por incrustações e entupimentos do banco de tubos do permutador de calor durante o seu processo de operação. Para analisar as perdas térmicas foram realizadas medições de velocidades máximas e velocidades médias através de tubos de Pitot e tubo de Venturi em conjunto com a equação de Bernoulli, calculando-se a taxa de fluxo de massa da corrente de entrada de gás e as de ar de combustão primário e secundário, ligando-os com a temperatura de entrada e de saída para cada fluxo. PALAVRAS-CHAVE: Caldeira, Pré-aquecedor de ar, Tubo de Pitot, Tubo de Venturi. 1 INTRODUÇÃO O vapor como uma fonte de energia tem sido amplamente utilizado pelo homem há anos. O primeiro registro de uma máquina movida a vapor, mesmo não sendo necessariamente caracterizado na época, foi Eulípila, inventada por Heron de Alexandria em 200 D.C. A Eulípila nada mais era que uma esfera que continha duas saídas opostas, e quando inserido água em seu interior e posta sobre o fogo, o vapor gerado fazia a mesma girar. Esta invenção de Heron, daria anos mais tarde a base para o desenvolvimento de máquinas rotativas movidas à vapor (BABCOCK E WILCOX, 2005). Atualmente, as plantas a vapor são complexas e altamente sofisticadas, uma verdadeira combinação de elementos de engenharia. O calor que produz o vapor pode ser obtido tanto em combustíveis fósseis primários como o carvão, óleo ou gás natural, ou por combustíveis nucleares na forma de urânio. Outras fontes de calor para a geração de energia incluem gases de exaustão, bagaço ou biomassa, como ainda resíduos sólidos urbanos, fontes geotérmicas, e fontes renováveis como a energia solar. VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica No campo da busca constante por eficiência energética, os esforços realizados para aperfeiçoamento dos sistemas de aquecimento tem se resumido basicamente em: (LIAO ET AL., 2004) Aperfeiçoamento dos sistemas de isolamento térmico. Aperfeiçoamento das caldeiras, convertendo as caldeiras de não condensação para condensação. Utilizando energia solar e outras fontes renováveis. Controle de radiadores e sistemas de distribuição. O grande enfoque dado atualmente para o desenvolvimento cada vez maior de tecnologias renováveis está intimamente relacionado com a preocupação em substituir de forma gradativa as fontes poluidoras e consequentemente melhorar o ambiente do planeta. O grande volume de equipamentos tradicionais, assim como a disponibilidade e variedade de combustíveis torna-se ainda, em termos econômicos, os processos convencionais mais atrativos para as empresas. Na grande maioria, o parque industrial no mundo está defasado e poucas empresas se preocupam em buscar o máximo da produção sustentável. Cabe ressaltar, entretanto, que mesmo com o setor industrial estar predominantemente equipado por equipamentos geradores de vapor com fontes poluidoras, os órgãos ambientais está a cada dia aumentando e desenvolvendo métodos de controle das emissões de carbono para a atmosfera. Aliado a isto, a mentalidade das empresas passam também a sofrer mudanças positivas de forma gradativa, ou seja, muitas delas estão percebendo que mesmo com processos de combustão onde a poluição é uma consequência, é possível atingir altos índices de eficiência e produtividade dos equipamentos e processos como forma de reduzir custos operacionais para buscarem maior competitividade ante o mercado nacional e internacional. O resultado deste trabalho sem dúvida alguma reduz a emissão de carbono na atmosfera, melhora a qualidade de vida das famílias que dependem diretamente da cadeia produtiva, assim como das pessoas que os cercam. Tudo isto ocorre ao mesmo tempo em que novas tecnologias são desenvolvidas por pesquisadores. A ativa busca por economia de baixo carbono é uma tendência da sociedade atual. As caldeiras são um tipo comum de equipamentos com alto consumo de energia. Atualmente, a eficiência de uma caldeira não é alta, e uma grande quantidade de energia tem sido desperdiçada na China. O teste de eficácia de uma caldeira é um modo efetivo de identificar problemas e aperfeiçoar sua eficiência. Até 2008, o número total de caldeiras industriais em utilização ultrapassava 578.200 unidades. (LV ET AL., 2012) 1.1 Principal contribuição Há tempos que se comenta em ganhos de produtividade e eficiência em processos industriais. A busca incessante por redução de custos nas empresas e redução do desperdício de bens materiais tem se tornado constante nas empresas como uma forma de garantir competitividade frente à concorrência, seja ela nacional quanto internacional. Para atender esta demanda é necessário não somente tecnologia e mão-de-obra capacitada para operar o processo térmico de geração de vapor. É necessário que se entenda perfeitamente os detalhes de cada componente de um equipamento, de uma etapa de transformação e aproveitamento térmico, ou seja, do todo. Contudo, o foco não deve ser dado somente para o volume de produção, como a quantidade de vapor, por exemplo, e sim para a qualidade da transformação da matéria-prima utilizada na combustão. VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica Neste contexto inserem-se os pré-aquecedores de ar de combustão. Estes equipamentos recuperativos de calor são os maiores responsáveis pela determinação de aumento ou redução da eficiência nos processos de combustão de caldeiras convencionais. Frente ao panorama apresentado, o presente trabalho busca complementar de forma experimental as pesquisas realizadas para ganhos de eficiência em caldeiras que utilizam préaquecedores de ar na concepção de seu projeto. O pré-aquecedor analisado é parte componente de uma caldeira de alta pressão cuja pressão, temperatura e vazão são respectivamente 67kgf/cm², 520°C, e 150 toneladas de vapor gerado por hora. O estudo irá analisar o comportamento transiente da operação de um pré-aquecedor de ar de combustão, e seus efeitos nas diferentes situações de operação, incrustação, assim como seu desempenho frente às mudanças climáticas. Será possível ainda, analisar a perda de eficiência do sistema durante cada variação do desempenho do pré-aquecedor, como também encontrar o custo do desperdício gerado durante operação. 2 DESENVOLVIMENTO A alta eficiência é a característica chave para qualquer equipamento que converte energia, e isto inclui caldeiras por exemplo. Entretanto é importante recuperar o máximo de energia possível disponível em um combustível. Isto vem de encontro com o que os préaquecedores de ar tem provado, ou seja, o de possuir uma importante influência sobre a eficiência global de uma caldeira. A tarefa de um pré-aquecedor de ar é justamente a de retornar um grande volume de calor que seria desperdiçado, o qual é carregado pelos gases de combustão, e, através deste equipamento, retornar novamente para o processo de combustão. (DROBNIC ET AL., 2006) De maneira geral, o calor utilizado para o aquecimento do ar de combustão é proveniente dos gases da queima do ou dos combustíveis utilizados pela caldeira. Embora exista uma infinidade de formas construtivas e tamanhos de pré-aquecedores de ar, o mais utilizado é o pré-aquecedor estacionário de superfície sólida e lisa, com geometria tubular. Este tipo de equipamento é largamente instalado em pequenas, médias ou grandes caldeiras, principalmente por se tratar de um equipamento de baixo custo, pouca manutenção e alto benefício. Nestes dispositivos, a energia térmica é transferida ao ar de entrada de forma indireta, onde os gases passam de forma descendente com fluxo laminar dentro do banco de tubos, e externamente ao banco de tubos, o ar passa de forma ascendente com fluxo altamente turbulento. Por condução e convecção o calor é transferido dos gases para o ar que será utilizado para a combustão que ocorrerá na fornalha da caldeira. Os pré-aquecedores são classificados conforme os princípios de operação como recuperativo ou regenerativo (BABCOCK AND WILCOX, 2005): Regenerativos: estes pré-aquecedores são os mais amplamente utilizados para aquecimento de ar de combustão em plantas de geração de energia elétrica. A característica operacional mais notável é o pequeno, mas significante volume de vazamento de ar para os gases que ocorrem neste tipo de equipamento rotativo. Os equipamentos mais comuns e conhecidos são o Ljungström, e o Rothemühle, o qual possui um sistema de funcionamento muito similar ao primeiro citado. Recuperativos: este tipo de pré-aquecedor de ar trabalha com uma pequena contaminação cruzada ou vazamento entre os fluxos. As superfícies de transferência de calor mais comum são a tubular e a placa. Para pré-aquecedores tubular, o contrafluxo e o fluxo cruzado são os mais comumente utilizados, e, consiste nos gases percorrendo a parte interna do banco de tubos, enquanto o ar percorre a área externa dos mesmos. VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica Os pré-aquecedores à placa com o tempo foram entrando em desuso principalmente pelos problemas que os selos apresentavam em termos de vazamentos entre os fluxos. Da mesma forma que o aquecedor tubular, este também transfere calor por contrafluxo. Atualmente, este tipo de aquecedor é utilizado apenas em pequenas aplicações de utilidades, principalmente pelo aperfeiçoamento ocorrido com os selos das placas. Para os dois casos de pré-quecedores, tanto regenerativo como recuperativo existem as vantagens e desvantagens que a Tabela 1 discrimina. Tabela 1. Vantagens e desvantagens dos tipos de pré-aquecedores Tipo Recuperativo Regenerativo Vantagens Baixo vazamento Sem movimento de peças Compacto Fácil reposição de superfície Desvantagens Grande e pesado Dificuldade de substituição de superfície Vazamento Alta manutenção Potencial de fogo No Brasil, principalmente devido o grande desenvolvimento de equipamentos voltados para o setor de açúcar e álcool, impulsionou a utilização de pré-aquecedores do tipo recuperativo em formato tubular. O trocador de calor em estudo possui escoamento cruzado, e os tubos não possuem aletas. Por esta razão, a dimensão do equipamento se torna elevada. Para efeito de redução de custo direto da implantação do projeto, o material utilizado para a troca térmica não é o mais eficiente, embora se atinja o resultado de recuperação esperado dentro do processo de troca térmica. A Tabela 02 descreve o dimensional e o material utilizado no banco de tubos do trocador de calor utilizado para aquecimento do ar de combustão. Tabela 02. Especificação técnica dos tubos do pré-aquecedor de ar Diâmetro (mm) Espessura (mm) Quantidade 63,5 2,25 3.472 Comprimento (mm) 11.730 Material SAE 1008 3. METODOLOGIA Para fundamentação do experimento, foi necessário estabelecer os fluxos de massa de cada corrente de ar, assim como dos gases de combustão. A Figura 01 ilustra de forma clara como ficou a configuração do sistema para início do experimento. VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica Figura 01. Determinação do volume de controle A condição de contorno utilizada neste trocador de calor, principalmente pela grande dificuldade em monitorar simultaneamente todas as vazões, foi a considerar que as vazões de entrada são iguais às vazões de saída. Isto para ar primário, ar secundário e gases de combustão. Em resumo, os instrumentos de medição, que definiram os dados para o balanço se estabeleceu conforme Tabela 03: Tabela 03. Balanço de instrumentos do experimento O diagrama de instalação dos instrumentos para monitorar este processo pode ser visualizado através da Figura 02. É muito importante ressaltar que todos os dutos de entrada como saída, isto para quaisquer vazões, é retangular. T1 (°C) - In Pitot Tube Location Hot Gas Inlet Venturi Tube Location T3 (°C) - In SECONDARY AIR PRE-HEATER Secondary FanAtmospheric Air Hot Gas T1 (°C) - Out Atmospheric Air Hot Primary Air PRIMARY AIR PRE-HEATER Primary Fan T2 (°C) - In Hot Secondary Air Pitot Tube Location T3 (°C) - Out Cold Gas Outlet T2 (°C) - Out Figura 02. Diagrama de processo e instrumentação VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica 3.1 Desenvolvimento tubo de Venturi Por se tratar de um grande equipamento, assim como o alto grau de impurezas contidas nos gases de combustão, para se estabelecer tal balanço de massa, foi necessário desenvolver um sistema de medição da vazão volumétrica e consequentemente da vazão mássica. Este equipamento necessitava ter alta resistência a temperaturas altas, assim como abrasão e dificuldade em apresentar entupimento dos tubos de pressão. Neste caso foi desenvolvido um tubo de Venturi especialmente para esta aplicação conforme a Figura 3. Esse equipamento foi desenvolvido manualmente respeitando a norma ISO 5167 para um Venturi Clássico. Figura 03. Tubo de Venturi utilizado para medição volumétrica dos gases A calibração do Venturi foi realizada através de túnel de vento com inversor de frequência, anemômetro, colunas manométricas, e termômetro. A curva de fluxo para a faixa de atuação do tubo de Venturi está descriminada abaixo através da Figura 04, assim como a equação que rege curva através da Equação 01. VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica Curva de Fluxo 0.3500 Vazão (m³/seg) 0.3000 0.2500 0.2000 0.1500 Potência () 0.1000 0.0500 0.0000 0.0000 20.0000 40.0000 60.0000 80.0000 100.0000 Pressão dinâmica (mmH2O) Figura 04. Curva de vazão do tubo de Venturi Vazão 0.0324 pressão _ dinâmica 0.5 (01) A Equação 02, expressa a curva de vazão volumétrica do Venturi aplicado no experimento. O valor da pressão dinâmica é adquirido através de transmissor de pressão diferencial. A Figura 05 demonstra o tubo de Venturi já instalado dentro do duto de saída de gases antes do pré-aquecedor de ar. Figura 05. Detalhe do tubo de Venturi instalado 3.2 Desenvolvimento tubo de Pitot Para realizar o monitoramento das vazões de ar, tanto secundário quanto primário, optou-se pelo desenvolvimento e instalação de tubos de pitot. A escolha se deu pela facilidade em desenvolver o instrumento, assim como por sua peculiar utilização. A grande vantagem neste processo foi o realizar a medição para obtenção das vazões de ar, que por sua vez apresentam temperaturas ambientes, e estão livres de impurezas, como já é o caso dos gases VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica de combustão medidos através do tubo de Venturi. Para ambos os fluxos de ar medidos (corrente de ar primário e corrente de ar secundário), os dutos são retangulares. A grande dificuldade em realizar o monitoramento das pressões dos tubos de Pitot simultaneamente com o restante das variáveis de processo foi justamente não possuir outros dois transmissores de pressão diferencial. Desta forma optou-se por deixar o transmissor monitorando as diferenças de pressão do tubo de Venturi em tempo integral. Entretanto, para não se perder a referência de vazão simultaneamente às demais variáveis de processo, uma curva de vazão para cada ventilador (primário e secundário) foi desenvolvida. Esta curva se baseou um relacionar a rotação dos motores dos ventiladores (uma vez que os mesmos são variáveis com a utilização de inversores de frequência). Tais rotações por sua vez passaram a ser historiadas em intervalos de 10 segundos, juntamente com as outras variáveis de processo, incluindo o tubo de Venturi. Para atingir o resultado com uma uniformidade maior, tomaramse alguns cuidados em definir as condições de contorno neste processo de geração de curva. A pressão interna da fornalha foi definida em regime permanente; O ar foi definido como um fluido incompressível, devido o número Mach <0,3 (FOX ET. AL. 2011); O atrito dentro dos tubos de pitot foi desprezado; O fluxo de ar primário e secundário foi estabelecido em regime de escoamento laminar; Com os instrumentos posicionados em cada duto, com a utilização de um transmissor de pressão diferencial para coletar as pressões, iniciou-se a coleta dos dados a cada 10 segundos, juntamente com o valor de rotação do motor para cada ventilador. Foi necessário gerar uma relação de pressão diferencial versus rotação do motor do ventilador, uma vez que para o experimento somente um transmissor estava disponível. As coletas de dados para realização desta curva de relação teve duração exata de 1 (uma) semana para cada ventilador. Isto gerou exatamente 60.480 pontos de medição para cada uma das variáveis, sendo pressão diferencial em mmca para o tubo de Pitot, e rotação do motor do inversor em RPM (rotações por minuto). Conforme já mencionado nas condições de contorno, a pressão interna da fornalha foi tomada como regime permanente, uma vez que não foi possível encontrar relação direta com a entrada de ar. O ventilador primário gerou a curva demonstrada na Figura 06, seguida da Equação 02, e na Figura 07 pode ser visualizada a curva para o ventilador de ar secundário, seguida da Equação 03. Figura 06. Curva de relação diferencial de pressão x RPM ventilador primário VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica pressão _ dinâmica 3.66 E 13 x 5 1.32 E 09 x 4 1.8E 06 x 3 1.17 E 03 x 2 0.339 x 37,27 (02) Onde o valor de x representa a rotação do motor do ventilador. Figura 07. Curva de relação diferencial de pressão x RPM ventilador secundário Y 3.67 E 16 x 6 1.61E 12 x 5 2.77 E 09 x 4 2.41E 06 x 3 0.0011 x 2 0.26 x 23.63 (03) Onde o valor de x representa a rotação do motor do ventilador. 4. RESULTADOS Uma prévia dos dados coletados logo após a instalação dos instrumentos da caldeira deu-se em um intervalo de 1.194 horas de operação da caldeira. No primeiro momento de coletas, todos os dados de rampa de início e término do equipamento (caldeira) foram eliminados a fim de entender o seu comportamento à plena carga. A análise de eficiência do pré-aquecedor de ar deu-se através de balanço de massa e energia. O fluxo de calor foi calculado para cada corrente independente, e seu cálculo se deu conforme a Equação 04. No fluxo do processo que pode ser visualizado na Figura 01 do Capítulo 3 é possível verificar que os gases de combustão tanto aquecem o ar secundário (cujo aquecimento ocorre primeiro) quanto o ar primário. Por se tratarem de correntes onde existe contato indireto entre elas, a forma mais interessante de se obter a eficiência global do equipamento é com o balanço dos fluxos conforme Equação 05. Q m C p T (04) Eficiência Q primary_ air Q sec ondary_ air Q gas (05) VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica C Tem-se que Q é o fluxo de calor e m o fluxo de massa, com p como coeficiente de calor e T como diferencial de temperatura de entrada e saída no trocador de calor. Os valores utilizados para o coeficiente de calor do ar foi retirado de tabela termodinâmica (ÇENGEL ET. AL, 2006). Para o coeficiente de calor utilizado para os cálculos de fluxo de calor dos gases de combustão, foi necessário utilizar software de combustão VULCANO versão 1.1 de 08/05/2006. Para a obtenção dos fluxos de massa para o ar secundário e ar primário através das medições com os tubos de Pitot, se utilizou o valor da densidade para ar (ρ) de 1,1245 kg/m³. Este valor foi retirado com base na altura da cidade de Lins-SP, onde a termoelétrica está instalada, e cujo valor é de 436m. A equação de cálculo da velocidade máxima que percorre o tubo é dada através da equação de Bernoulli (Equação 06). Como já mencionado anteriormente, os tubos de Pitot foram instalados de forma a atingir o valor de velocidade máxima da parábola de escoamento laminar. Para obter o valor de velocidade média para cálculo da vazão volumétrica, a Equação 07, similar a Hagen-Poiseuille para escoamento laminar entre placas planas foi utilizada (BIRD ET. AL, 1960). Vmax v med 2 * ( p0 p) air 2 V max 3 (06) (07) O valor de p0 é a pressão de estagnação, e p é a pressão estática retirada da parede do duto, sendo a densidade do ar. Para a Equação 07, vmed representa o valor calculado da velocidade média, e V max é a velocidade máxima obtida através da Equação 06. O resultado desta primeira análise pode ser vista na Figura 08. Tal resultado gráfico demonstrou uma anomalia no sistema de medição, ou sistema físico do equipamento. Pelo balanço teórico, o valor teria que ser próximo a 100%. Como na prática existem perdas para o ambiente este valor necessariamente se apresentaria pouco menor, porém não na ordem de 60%. VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica 80.00% 70.00% Eficiência 60.00% 50.00% 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% 744 794 844 894 944 994 1044 1094 1144 1194 Horas de Operação Figura 08. Comportamento transitório da eficiência térmica Foram analisados todos os pontos de medição para encontrar possíveis desvios, assim como análise física da caldeira. Os pontos de medição se apresentaram normais. O desvio de valores se deu através da análise física da caldeira. Alguns pontos encontrados foram de encontro com os baixos valores de eficiência térmica, o qual se pode citar diretamente o balanço de massa. Neste experimento, considerou-se para cada fluxo de massa como sendo iguais entradas e saídas. Pela análise das temperaturas, os valores apresentados no experimento condizem os valores de processo. Os resultados levaram a análise diretamente à checagem visual para possíveis vazamentos entre os fluxos. A Figura 09 demonstra o ocorrido dentro do sistema, o qual justifica os baixos valores de eficiência. Em resumo, houve a necessidade de substituição dos tubos danificados. Neste caso a empresa optou por substituir 100% dos tubos do pré-ar da caldeira. Figura 08. Banco de tubos danificados VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica 4.1 Análise pós-substituição do banco de tubos Após o retorno do processo, já com o sistema do pré-aquecedor de ar reformado com a substituição de 100% dos tubos, iniciou-se novamente a coleta de dados para realização da segunda análise de eficiência térmica. Para a segunda análise, um comparativo entre a norma ASME PTC 4.1 (ASME, 1968) para testes de performances para pré-aquecedores de ar de caldeira, e o balanço convencional de energia foram feitos. As equações para o cálculo convencional de balanço térmico já descrito no item 4 foram os mesmos utilizados nesta segunda análise. Não somente as equações, mas também os valores de densidade do ar, coeficiente de calor para o ar e gases de combustão foram os mesmos. O objetivo desta segunda análise foi comparar e ilustrar os resultados alcançados entre os dois diferentes métodos de análise de performance. Para esta segunda análise, o tempo total de dados coletados foi de aproximadamente 800 horas. Da mesma forma como a primeira análise, os valores de rampa de partida e parada foram desconsiderados, ou seja, somente o tempo durante produção foi considerado. Para o método ASME PTC 4.1, a Equação 08 descreve o conceito. A Figura 09 apresenta o resultado comparativo dos dois métodos. (08) Onde é a temperatura de entrada do gás, é a temperatura de saída do gás, é a porcentagem de vazamento de ar, é o coeficiente de calor do ar, é o coeficiente de calor do gás, é a temperatura de entrada de ar (temperatura ambiente). Vale novamente ressaltar que os coeficientes de calor foram os mesmos utilizados para o item 4. Para esta comparação, a porcentagem de vazamento de ar foi considerada nula, uma vez que os tubos foram 100% substituídos. Figura 09. Comparativo entre balanços de eficiência VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica 5. CONCLUSÕES Os resultados acima demonstraram valores de eficiência baixos para o trocador de calor. Na primeira análise, este número se acentuou de forma ampla, onde através de inspeção mais detalhada sobre o equipamento utilizado no estudo foi possível verificar uma grande anomalia que resultou em substituição por completo do banco de tubos do equipamento. Como uma das condições de contorno foi justamente a de considerar entradas iguais às saídas, o balanço de massa se distanciou do valor ideal. O que ocorreu na prática para acontecer esta grande diferença no balanço é que por se tratar de “insuflamento” de ar, a pressão do fluxo de ar secundário está positiva, sendo o oposto do lado dos gases de combustão, que por sua vez estão sobre vácuo. Desta forma, parte do ar secundário passa para os gases de combustão, que por sua vez, além de se perder a referência de saída das massas, “esfriou” parte dos gases de combustão, que consequentemente afetou a saída de temperatura para a corrente de ar primário. Para este estudo em questão e decisão de substituição dos materiais danificados foram de grande valia, uma vez que foram de encontro com a ideia de se definir a condição de contorno para as massas de entrada iguais as de saída. O resultado da segunda análise já com os tubos em condição ideal demonstrou melhores resultados dos números quando comparado à primeira análise. Embora durante o período de análise coletado o fator incrustação de maneira macro não efetuou grande diferença nos resultados apresentados. A comparação entre o método de balanços utilizando as massas medidas, denominado aqui como Convencional, com o método registrado na ASME, cujo leva em consideração as temperaturas do sistema foi de grande valia. Mesmo que os métodos apresentem certa diferença de valores, o comportamento é similar, o que mostra que as medições de massa para os fluxos de ar primário, secundário e gases de combustão foram realizados com sucesso, e a condição de contorno possui validade nos resultados. Embora os dados apresentados na Figura 09 através do método utilizado neste trabalho (linha convencional) variem a todo o tempo, é possível analisar uma ligeira queda de eficiência. O início desta queda está relacionado com a incrustação de fuligem. Para o período em estudo, o consumo de bagaço foi de 35 toneladas por hora (sendo com a operação cheia 66 toneladas por hora). Através das medições de cinza retirada da caldeira, é possível chegar em 5% sobre o bagaço consumido, isto é o mesmo que dizer que cerca de 1,75 toneladas por hora de cinzas percorreu as paredes internas do pré-aquecedor de ar. Entretanto, mesmo não estando o trabalho concluído, é possível verificar que é possível realizar um acompanhamento a fundo das variáveis de processo, e atingir um grau de confiabilidade grande a fim de estipular momentos de parada e manutenção para verificação, e recomposição do fator incrustante que prejudicam o rendimento do pré-aquecedor de ar. VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASME, 1968. Performance Test Code 4.1 Air Heaters BABCOCK AND WILCOX COMPANY, 2005. Steam Its Generation and Use. Edition 41. I-1; 20-1 20-17 p. Y. A. Çengel and M. A. Boles, Thermodynamics: An Engineering Approach, 5th ed, McGraw-Hill, 2006. 959 p. Drobnic, Bostjan, Janez Oman, e Matija Tuma. 2006. “A numerical model for the analyses of heat transfer and leakages in a rotary air preheater”. International Journal of Heat and Mass Transfer 49 (25-26) (dezembro): 5001–5009. doi:16/j.ijheatmasstransfer.2006.05.027. Liao, Z., e A.L. Dexter. 2004. “The potential for energy saving in heating systems through improving boiler controls”. Energy and Buildings 36 (3) (março): 261–271. doi:10.1016/j.enbuild.2003.12.006. Lv, Tai, Linghao Yu, e Jinmin Song. 2012. “A Research of Simplified Method in Boiler Efficiency Test”. Energy Procedia 17, Part B: 1007–1013. doi:10.1016/j.egypro.2012.02.200. R. Byron Bird, Warren E. Stewart, Edwin N. Lightfoot., 1960. Transport Phenomena. Second Edition. John Wiley & Sons, Inc. 96 p. Robert W. Fox, Philip J. Pritchard, Alan T. McDonald., 2011. Introdução à Mecânica dos Fluidos. Sétima edição. 54 p.