Giselle Medeiros da Costa One Helder Neves de Albuquerque
Transcrição
Giselle Medeiros da Costa One Helder Neves de Albuquerque
Giselle Medeiros da Costa One Helder Neves de Albuquerque (Organizadores) SAÚDE E MEIO AMBIENTE: conhecimento, integração e tecnologia 1 IBEA João Pessoa - PB 2016 IBEA Instituto Bioeducação Editor Chefe Giselle Medeiros da Costa One Corpo Editorial Beatriz Susana Ovruski de Ceballos Ednice Fideles Cavalcante Anízio Giselle Medeiros da Costa One Helder Neves de Albuquerque Roseanne da Cunha Uchôa Revisão Final Ednice Fideles Cavalcante Anízio FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFPB S255 Saúde e meio ambiente: conhecimento, integração e tecnologia 1 [recurso eletrônico] / Organizadores: Giselle Medeiros da Costa One, Helder Neves de Albuquerque.-- João Pessoa: IBEA, 2016. 3/4 1CD-ROM; 4 pol.(6.213kb) ISBN: 978-85-92522-00-1 Disponível também: www.sinasama.com.br 1. Saúde e meio ambiente. 2. Água mineral - avaliação qualidade. 3. Educação ambiental. 4. Impactos ambientais. I.One, Giselle Medeiros da Costa. II. Albuquerque, Helder Neves de. CDU: 614:504 Esta obra tem o incentivo e apoio da Coordenação de Pós Graduação do Instituto Bioeducação Direitos desta Edição reservados ao Instituto Bioeducação www.institutobioeducacao.org.br Impresso no Brasil / Printed in Brazil IBEA INSTITUTO BIOEDUCAÇÃO Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico, gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições aplicam-se também às características gráficas e/ou editoriais. A violação dos direitos autorais é punível como Crime (Código Penal art. 184 e §§; Lei 9.895/80), com busca e apreensão e indenizações diversas (Lei 9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais - arts. 122, 123, 124 e 126) Todas as opiniões e textos presentes neste livro são de inteira responsabilidade de seus autores, ficando o organizador isento dos crimes de plágios e informações enganosas. IBEA Instituo Bioeducação Rua,Eng. Lourival de Andrade, 1405- Bodocongó – Campina Grande – PB. CEP: 58.430-030 / (0xx83) 3321 4575 / www.institutobioeducacao.org.br Impresso no Brasil 2016 Aos participantes do SINASAMA pela dedicação que executam suas atividades e pelo amor que escrevem os capítulos que compõem esse livro. “Escrever e ler são formas de fazer amor. O escritor não escreve com intensões didático – pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta ou são de vida longa e tediosa.” Rubem Alves PREFÁCIO Os livros “SAÚDE E MEIO AMBIENTE: conhecimento, integração e tecnologia 1, 2 e 3” tem conteúdo interdisciplinar, contribuindo para o aprendizado e compreensão de varias temáticas dentro da área em estudo. Esta obra é uma coletânea de pesquisas de campo e bibliográfica, fruto dos trabalhos apresentados no Simpósio Nacional de Saúde e Meio Ambiente realizado entre os dias 6, 7 e 8 de Novembro de 2015 na cidade de João Pessoa-PB. O SINASAMA é um evento que tem como objetivo proporcionar subsídios para que os participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da educação. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico, Nutricional e Ambiental de direcionar todos que formam a Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana e Educação socioambiental para a Vida. Os eixos temáticos abordados no Simpósio Nacional de Saúde e Meio Ambiente e nos livros garantem uma ampla discussão, incentivando, promovendo e apoiando a pesquisa. Os organizadores objetivaram incentivar, promover, e apoiar a pesquisa em geral para que os leitores aproveitem cada capítulo como uma leitura prazerosa e com a competência, eficiência e profissionalismo da equipe de autores que muito se dedicaram a escrever trabalhos de excelente qualidade direcionados a um público vasto. Esta publicação pode ser destinada aos diversos leitores que se interessem pelos temas debatidos. Espera-se que este trabalho desperte novas ações, estimule novas percepções e desenvolva novos humanos cidadãos. Aproveitem a oportunidade e boa leitura. SAÚDE E MEIO AMBIENTE SUMÁRIO CAPÍTULO 1 18 ÁGUA E SAÚDE CAPÍTULO 2 43 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS CAPÍTULO 3 63 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA CAPÍTULO 4 76 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO CAPÍTULO 5 91 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA CAPÍTULO 6 105 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB CAPÍTULO 7 117 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE CAPÍTULO 8 129 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E INTERNACIONAL NA PROMOÇÃO DOS AMBIENTES LIVRES DOS FATORES QUE CONDUZEM A DEPENDÊNCIA QUÍMICA CAPÍTULO 9 144 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA CAPÍTULO 10 157 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉ-PE CAPÍTULO 11 172 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR CAPÍTULO 12 186 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR CAPÍTULO 13 200 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR CAPÍTULO 14 212 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB CAPÍTULO 14 226 AMBIENTE ESCOLAR: AÇÕES INTERDISCIPLINARES QUE PROMOVEM A SUSTENTABILIDADE 226 CAPÍTULO 15 240 AMBIENTES 100% LIVRE DE POLUIÇÃO TABÁGICA EM CAMPINA GRANDEPB CAPÍTULO 16 254 REUSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA CAPÍTULO17 267 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS CAPÍTULO18 279 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR CAPÍTULO 19 293 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUO DA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS CAPÍTULO 20 308 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE CAPÍTULO 21 323 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS CAPÍTULO 22 338 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR CAPÍTULO 23 349 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO CAPÍTULO 24 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS 361 CAPÍTULO 25 373 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA CAPÍTULO 26 388 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (OREOCHROMIS NILOTICUS L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO CAPITULO 27 403 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB CAPITULO 28 422 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE CAPÍTULO 29 434 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CAPÍTULO 30 445 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS CAPÍTULO 31 453 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS CAPÍTULO 32 468 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE CAPITULO 33 482 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS:ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB CAPÍTULO 34 492 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS CAPÍTULO 35 507 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE CU2+ E PB2+ EM EFLUENTES AQUOSOS CAPÍTULO 36 522 REGULAMENTAÇÃO DA LEI 12.546/11 NA CIDADE DE CAMPINA GRANDEPB ÁGUA E SAÚDE CAPÍTULO 1 ÁGUA E SAÚDE Célia Regina DINIZ1 Beatriz Susana Ovruski de CEBALLOS1 ¹Professora da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB RESUMO: São numerosas as doenças relacionadas com água, não apenas as associadas ao seu consumo, mas também as associadas com insetos vetores de doenças que se reproduzem na água. Entre estas doenças, destacam-se as febres Dengue, a Chicungunha e a Zica, que são transmitidas pelo mesmo mosquito Aedes aegypti e têm alguns sintomas semelhantes. A ausência de saneamento básico, e a coleta e destino inapropriado dos resíduos sólidos resultam diretamente no aumento de risco destas febres, pois facilita o surgimento de criadouros do mosquito. Medidas adotadas pelos órgãos públicos de saúde e a contribuição da população, evitando gerar e manter ambientes favoráveis para o inseto vetor são essenciais para diminuir o problema e evitar epidemias. Palavras-chave: Doenças de veiculação hídrica. Doenças transmitidas por vetores. Doenças emergentes e reemergentes. 18 ÁGUA E SAÚDE 1 INTRODUÇÃO Quando o homem passou a viver em grupos, domesticou animais e os usou como alimento, criou as condições apropriadas para a circulação contínua de agentes infecciosos e ao se transformar em um reservatório de microrganismos contribuiu na sua transferência; fechou o ciclo ambienteanimal-homem. Transformações sociais e econômicas e o rápido desenvolvimento científico e tecnológico no século passado provocaram mudanças profundas nos hábitos de vida e nas relações humanas e influenciaram no perfil das doenças infecciosas. Foi reconhecido que as doenças infecciosas são condicionadas por complexos conjuntos de fatores de origens diversas, com destaque para os modelos de desenvolvimento econômico e a industrialização e suas consequências como a urbanização acelerada, as migrações do campo para as cidades, os consequentes impactos ambientais e o aumento do intercâmbio internacional; este último assumiu o papel de “vetor cultural” na disseminação das doenças infecciosas, ao dizer de Waldmam (2001, p.131). A constante e intensa intervenção do homem no ambiente alterou a qualidade do ar, das águas e do solo com descargas poluidoras que causaram mudanças profundas na distribuição dos diversos componentes da biota (TUNDISI, MATSUMURA TUNDISI, 2011). Entre eles destacam-se vetores de doenças infecciosas que deixam seus habitats naturais agredidos em busca de ambientes mais apropriados para sua adaptação e consequente desenvolvimento e reprodução. Fezes humanas e resíduos sólidos contaminados são os principais veículos transmissores de doenças infecciosas que se propagam pela água e as principais causas de morte 19 ÁGUA E SAÚDE em crianças menores de dois anos. A pobreza e a desnutrição, ainda endêmicas no século XXI, favorecem a transmissão dos microrganismos patogênicos. Unidas ás deficiências de saneamento básico com destaque para o suprimento insuficiente de água potável, contaminação de mananciais, destino inadequado dos resíduos sólidos e insuficientes redes de coleta de esgoto e de seu tratamento, facilitam a proliferação de insetos e roedores que agem como vetores. O panorama do saneamento básico se une ao alto risco causado pelas falhas dos sistemas de vigilância epidemiológica, o controle insuficiente da população de mosquitos transmissores de patógenos e a aproximação da fauna silvestre aos grupos humanos urbanos ou rurais, pelo desflorestamento e outros impactos (LARREINAGA; CORCHO, 2001). Na Figura 1 se apresenta um fluxograma com as principais vias de transmissão dos microrganismos enteropatogênicos de veiculação hídrica. 20 ÁGUA E SAÚDE Figura 1 - Principais vias de transmissão de microrganismos enteropatogênicos de veiculação hídrica. A nova realidade acelerou o processo de disseminação dos microrganismos, modificou sua interação com o homem e criou condições para a emergência e difusão de novas doenças infecciosas, modificou o comportamento de doenças já conhecidas e ressurgiram doenças consideradas erradicadas ou pelo menos controladas desde os inícios do século XX. Os anos 90 foram marcados pelo retorno de diversas doenças infecciosas ao redor do mundo, independente de seu nível de desenvolvimento (MORSE, 1995). O conceito de doenças emergentes e reemergentes foi elaborado nos anos 90, década marcada por grandes epidemias e surtos das mesmas doenças de séculos atrás. As doenças emergentes e reemergentes foram definidas como doenças recentemente identificadas no homem ou 21 ÁGUA E SAÚDE já existentes que apresentam um aumento rápido de incidência, com ampla distribuição geográfica (SATCHER, 1995). Sua denominação “emergentes e reemergentes” expressou, de acordo com Waldmam (2001, p.135), a “busca de novas abordagens de avaliação e de tentativas de identificar quais os instrumentos que permitiriam implementar novas estratégias para o controle dessas doenças, num mundo onde a introdução de novos fatores de risco e mudanças das características dos grupos expostos ocorrem com extrema rapidez”. O CDC (1994) destacou dentre as doenças infecciosas emergentes e reemergentes a síndrome pulmonar por hantavírus, a febre hemorrágica por Ebola, a febre viral aguda de Lassa, a doença de Lyme transmitida por carrapatos, a cólera, a coqueluche, a dengue, e a febre amarela, estas duas últimas transmitidas por mosquitos de gênero Aedes, transmissores de Dengue (reemergente), Chicungunha e Zica (emergentes). No Brasil, a febre amarela apresenta ciclos humanos urbanos e silvestres entre macacos, transmitida pelo Aedes aegypti selvagem (SILVA, 1998). A maior área endêmica do planeta está na região amazônica, mas desde 1942 não existem registros da forma urbana. Entretanto, o Brasil passou 60 anos sem registrar casos de dengue. O Aedes aegypti foi combatido desde 1930 no Brasil tendo êxito 20 anos depois. Reinfeções ocorreram em 1976 com ampla distribuição e 10 anos depois foi registrado por primeira vez o A. albopictus, vetor secundário da dengue em regiões do sudeste da Ásia e suscetível à infecção pelo vírus da febre amarela. Sua proliferação é um fator de risco para a reurbanização da febre amarela no Brasil. A Tabela 1 apresenta alguns dos fatores que contribuíram para a emergência e reemergência de doenças infecciosas. 22 ÁGUA E SAÚDE Tabela 1 - fatores que contribuíram para a emergência e reemergência de doenças infecciosas. FONTE: Morse (1995) Reemergentes ou emergentes circunscritas em uma região limitada se disseminaram e atingiram zonas urbanas infectando numerosas pessoas em caráter epidêmico e algumas tornaram-se endêmicas. Uma classificação interessante das doenças citadas que relaciona os agentes etiológicos e seus vetores com o ambiente foi elaborada por Feachem et al. (1983), utilizada ate hoje pelo seu conteúdo e praticidade. A mesma considera quatro categorias de doenças segundo sua associação com a água. A classe 1 reúne infecções relacionadas com águas contaminadas (waterborne diseases): a contaminação ocorre pelo contato físico com a água: banho, natação, ingestão, gelo usado para resfriar bebidas, consumir alimentos crus lavados com águas contaminadas, etc. A transmissão depende da 23 ÁGUA E SAÚDE concentração do patógeno na água e do tempo de sobrevivência nesse ambiente (persistência), da dose infectante (DI) e do contato com o novo hospedeiro. São exemplos: cólera, salmoneloses, shigeloses, criptosporidiases e giardíases. Águas receptoras de material fecal são as principais fontes desses microrganismos patogênicos. A classe 2 apresenta infecções baseadas na água (waterbased) e causadas por microrganismos parasitos que passam parte de seu ciclo de vida na água ou no interior de hospedeiros intermediários que vivem na água. As doenças são adquiridas pelo contato com água contaminada como na esquistossomose causada pelo Schistosoma mansoni cujo miracídio, liberado do ovo, penetra no caramujo (Biomphalaria spp) para se transformar em cercaria e infetar o homem; ou pela ingestão de água com hospedeiros intermediários como na dracunculíase ou dracunculose causada pelo verme-daguiné que se desenvolve em copépodos do gênero Cyclops (pulga de água) que estão nessas águas contaminadas. Na classe 3 se incluem as infecções relacionadas com a água (water related diseases): através de insetos vetores que se reproduzem na água ou que ali fazem a deposição dos ovos e onde nascem as larvas. Os insetos vetores mais comuns são mosquitos de diferentes gêneros, entre eles: Anopheles, Culex e Aedes. Neste último gênero se destacam atualmente as espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, transmissores de vírus que causam Dengue, Chicungunha e Zica. A classe 4 reúne as infecções associadas com a falta de água e portanto, com condições deficientes de higiene pessoal. São transmitidas por insetos como as moscas que são vetores mecânicos de bactérias patogênicas como Chlamidia tracomatis que causa tracoma, que leva à cegueira 24 ÁGUA E SAÚDE e por outros agentes de conjuntivites. Incluem-se também a piolhos, pulgas e carrapatos (scabies). É facilmente controlado com o aprovisionamento de abundante água de boa qualidade e de fácil acesso. A disponibilidade de água deve estar acompanhada com ações de educação sanitária e ambiental. Essa classificação ambiental das enfermidades relacionadas com as fezes e os esgotos é ampliada na Tabela 2, que considera seis categorias que avaliam a existência ou não de um período de latência do patógeno (período necessário para que o microrganismo após de excretado, se torne infectivo - os vermes parasitos tem latência), a concentração da dose infecciosa (concentração de partículas infecciosas necessárias para causar a enfermidade), a persistência (tempo de sobrevivência no ambiente das formas infecciosas), a existência de um hospedeiro intermediário, a forma de transmissão e algumas medidas importantes de controle. Observa-se, na Tabela 2 que para a maioria dessas doenças o controle passa pela construção de banheiros e pelo tratamento dos esgotos, ambas as medidas dirigidas à redução da disseminação a céu aberto dos microrganismos patogênicos. São medidas básicas e essenciais que constituem barreiras sanitárias que diminuem significativamente a circulação ambiental dos patógenos e, portanto, diminuem os riscos às infecções de humanos e animas e reduz, em consequência, a contaminação das águas superficiais e do solo. Essas medidas junto à maior distribuição de água potável promovem a saúde humana e ambiental. A coleta e destino adequado dos resíduos sólidos incluem a conscientização da necessidade do descarte seguro de garrafas, pneus, e outros recipientes que por acumular 25 ÁGUA E SAÚDE água favorecem a proliferação de mosquitos vetores das mais novas epidemias: dengue, chicungunha e zica. Tabela 2 - Classificação ambiental das doenças relacionadas comas excretas (Feachem et al., 1983) A seguir se analisa com mais detalhes doenças transmitidas por vetores que se relacionam com a água em 26 ÁGUA E SAÚDE uma fase de seu desenvolvimento, que são epidêmicas e algumas até endêmicas no Brasil. 2 DOENÇAS TRANSMITIDAS POR VETORES QUE SE RELACIONAM COM A ÁGUA A dengue é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. É transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, principal vetor do vírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae, do qual são conhecidos quatro sorotipos de genoma RNA (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). A infecção pode causar desde infecções assintomáticas até formas mais graves que podem levar a óbitos. No Brasil, o padrão epidemiológico tem variado ao longo dos anos, com casos inicialmente de dengue clássica em adultos jovens, e posteriormente com uma elevação de formas graves, atingindo, principalmente, crianças, entre 2007 e 2009 (BRASIL, 2015a). Até 2006, os casos predominavam na faixa etária de 20 a 40 anos de idade, porém em 2007 verificou-se que 53% dos casos ocorreram entre menores de quinze anos de idade (TEIXEIRA et al., 2008). A dengue pode ser transmitida pelas espécies de mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus (BRASIL, 2001). No Brasil há apenas o registro de sua transmissão pelo Aedes aegypti, isso porque o Aedes albopictus não possui característica domiciliar (SILVA, MARIANO, SCOPEL, 2008). O Aedes aegypti apresenta um ciclo aquático e pode se reproduzir em reservatórios de águas limpas ou em coleções de água com diferentes níveis de poluição (ALLAN, KLINE, 1995; MARQUES et al., 2013) Nos últimos 50 anos, a incidência da dengue aumentou 30 vezes, com ampliação da expansão geográfica para novos 27 ÁGUA E SAÚDE países e, na presente década, para pequenas cidades e áreas rurais. É estimado que 50 milhões de infecções por dengue ocorram anualmente, e que aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas residem em países onde ela é endêmica (BRASIL, 2015b). No Brasil, os primeiros relatos de dengue datam do final do século XIX, em Curitiba (PR), e do início do século XX, em Niterói (RJ). No início do século XX, o mosquito já era um problema, mas não por conta da dengue. Na época, a principal preocupação era a transmissão da febre amarela. Em 1955, o Brasil erradicou o Aedes aegypti como resultado de medidas para controle da febre amarela (IOC, 2015). As condições socioambientais favoráveis à expansão do Aedes aegypti possibilitaram a dispersão desse vetor, desde sua reintrodução em 1976, que não conseguiu ser controlada no Brasil e no continente (BRASIL, 2002). A primeira epidemia de dengue, documentada clínica e laboratorialmente, ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista-RR, causada pelos sorotipos DENV-1 e DENV-4. Anos depois, em 1986, houve epidemias no Rio de Janeiro e em algumas capitais do Nordeste. Desde então, a Dengue vem ocorrendo no Brasil de forma continuada. A situação epidemiológica da doença no Brasil é apresentada na Figura 2, mostrando-se a introdução e a dispersão do vetor e dos diferentes sorotipos do vírus no país. O Aedes aegypti, atualmente, encontra-se disseminado por todo o território nacional, bem como com os quatro sorotipos existentes do vírus (DENV-1, DENV-2, DENV3 e DENV-4) (BRASIL, 2015a). No Brasil, a dengue caracteriza-se por um cenário de transmissão endêmica/epidêmica em grande parte do país, determinada principalmente pela circulação simultânea de vários sorotipos virais e presença disseminada do Aedes 28 ÁGUA E SAÚDE aegypti (BRASIL, 2015a). Em 2011, houve o predomínio da circulação do sorotipo DENV-1, com isolamento em 86,1% das amostras (RIBEIRO, BALSAN, MOURA, 2013). Figura 2 - Número de serotipos da dengue circulando nas Américas, 1990 - 2013 Fonte: OPAS/OMS (2014) A maior epidemia de dengue no país, foi registrada em 2013, com a circulação predominante de DENV-4 e DENV-1, com 1.452.489 de casos notificados. As regiões com maior incidência de casos de dengue entre 1990 e 2014 foram a Sudeste e Nordeste, com 4.223.725 e 2.811.887 casos respectivamente (Figura 3). A região Sul apresentou, no mesmo período, o menor número de casos (217.913), seguida 29 ÁGUA E SAÚDE das regiões Norte (750.937) e Centro-Oeste (1.246.673) (BRASIL, 2015b). Figura 3 – Evolução dos casos de dengue no Brasil e nas regiões Sudeste e Nordeste, 1990 a 2014 FONTE: Brasil (2015b). Em 2015, foram registrados 1.350.406 casos prováveis de dengue – casos notificados, incluindo todas as classificações. Nesse período, a região Sudeste registrou o maior número de casos prováveis (869.346 casos; 64,4%) em relação ao total do país, seguida das regiões Nordeste (239.574 casos; 17,7%), Centro Oeste (162.336 casos; 12,0%), Sul (52.703 casos; 3,9%) e Norte (26.447 casos; 2,0%) (BRASIL, 2015a). O Mapa da Dengue no país mostra que carências de saneamento básico facilita o surgimento de criadouros do mosquito: menos de 45% dos esgotos são coletados e destes apenas 35% recebem algum tipo de tratamento. O lixo tem uma situação semelhante ou pior: no país foram produzidos 60,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2010, quantia 6,8% superior ao registrado em 2009 e seis vezes superior ao índice de crescimento populacional urbano registrado no mesmo período. Na região Norte, 44,4% dos 30 ÁGUA E SAÚDE focos de transmissão estão associados com os resíduos sólidos; no Nordeste, 72,1% são relacionados ao abastecimento de água (AGENCIA BRASIL, 2011). Um agravante para o combate à Dengue é o abastecimento irregular de água, porque leva a população a usar pequenos reservatórios, que quando mal tampados, são ambientes ideais para a procriação do mosquito. No lixo, o problema são as garrafas plásticas, tampinhas, pneus e outros objetos onde a água da chuva se acumula com rapidez. Portanto, a falta de abastecimento de água e de coleta de lixo está relacionada diretamente com o alto número de casos de dengue nas cidades. Um levantamento feito pela Agência Brasil (2011) mostra que dos 48 municípios brasileiros com risco de surto da doença no verão, 62,5% têm menos da metade das casas com acesso a saneamento adequado. Uma casa tem saneamento adequado, segundo critérios do IBGE, quando dispõe de rede de água, esgoto ou fossa séptica e coleta de lixo direta ou indireta feita por uma empresa. De acordo com o levantamento, em somente 18 cidades com risco de surto a maioria das casas se encontra nessa situação. O restante dos municípios se enquadra em saneamento semiadequado, quando dispõe de pelo menos um dos serviços, ou inadequado, quando não há nenhum dos serviços em pleno funcionamento (ABES, 2011; AGÊNCIA BRASIL, 2011). A Febre de Chicungunha é uma arbovirose causada pelo vírus Chicungunha , da família Togaviridae e do gênero Alphavirus, também com genoma de RNA (BRASIL, 2014). Trata-se de uma doença infecciosa febril (febre de CHIK), transmitida pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectados (BRASIL, 2015c). 31 ÁGUA E SAÚDE A doença já afetou milhões de pessoas e continua a causar epidemias em diversos países. No final de 2013, a primeira transmissão local (autóctones) nas Américas foi documentada. Os sintomas mais comuns são febre, dor muscular, dor de cabeça, náuseas, fadiga e erupção cutânea. Alguns sinais clínicos são compartilhados com dengue, e pode ser diagnosticada em áreas onde a dengue é comum. Não há cura para a doença. O tratamento é focado no alívio dos sintomas (AIDE MEMORIE, 2014). O termo Chicungunha significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia e refere-se à aparência curvada dos pacientes, que foram atendidos na primeira epidemia documentada naquele país, localizada no leste da África (BRASIL, 2015c). Esta aparência é motivada pelas intensas dores articulares e musculares, características da doença. A febre de CHIK atinge todas as faixas etárias, e ambos os gêneros se afetam por igual. Depois de um período de incubação de 3-7 dias (faixa: 1-12 dias) da picada do mosquito, o vírus de CHIK causa uma enfermidade febril, associada com artralgia/artrite (87% dos casos), dor nas costas (67%) e cefaleia (62%). A viremia persiste por até 8 dias do surgimento clínico. A dor das articulações tende a ser pior no de manhã, aliviada pelo exercício leve e exacerbada por movimentos dinâmicos. Os tornozelos, munhecas e articulações pequenas da mão tendem a ser mais afetadas. As articulações maiores como o joelho, ombro e a coluna também podem ser afetados. Poliartrite migratória com efusões e observada em ao redor de 70% dos casos (AIDE MEMORIE, 2014). A doença ocorre na África, Ásia e do subcontinente indiano. Em 2007, a transmissão da doença foi relatada pela 32 ÁGUA E SAÚDE primeira vez na Europa, em um surto localizado no nordeste da Itália. Em dezembro de 2013, a OPAS/OMS recebeu a confirmação dos primeiros casos de transmissão autóctone de Chicungunha nas Américas (Caribe) (OPAS/OMS, 2015). A seguir, foi confirmada, no Oiapoque, a ocorrência no Brasil (DONALISIO; FREITAS, 2015). Em 2014, foram registrados casos importados confirmados por laboratório, nas seguintes unidades da federação: Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Até agosto/2015, foram notificados 9.084 casos autóctones suspeitos de febre de Chicungunha . Destes, 3.554 foram confirmados, sendo 123 por critério laboratorial e 3.431 por critério clínicoepidemiológico; 5.217 continuam em investigação (BRASIL, 2015d). Diferentemente da Dengue, que tem quatro subtipos, o Chicungunha é único. Uma vez que a pessoa é infectada e se recupera, ela se torna imune à doença. Quem já teve Dengue não está nem menos nem mais vulnerável ao Chicungunha: apesar dos sintomas parecidos e da forma de transmissão similar, tratam-se de vírus diferentes. Por ser transmitido pelo mesmo vetor da Dengue, o mosquito Aedes aegypti, e também pelo mosquito Aedes albopictus, a infecção pelo Chicungunha segue os mesmos padrões sazonais da Dengue. O risco aumenta, portanto, em épocas de calor e chuva, mais propícias à reprodução dos insetos. Eles também picam principalmente durante o dia. A principal diferença de transmissão em relação à Dengue é que o Aedes albopictus também pode ser encontrado em áreas rurais, não apenas em cidades. Ao se comparar com a Dengue, a Chicungunha apresenta características que amplificam a disseminação da doença e 33 ÁGUA E SAÚDE aumentam a possibilidade de grandes e explosivas epidemias (DONALISIO; FREITAS, 2015). Apesar de haver poucos riscos de formas hemorrágicas da infecção por Chicungunha, recomenda-se evitar medicamentos à base de ácido acetilsalicílico (aspirina) nos primeiros dias de sintomas, antes da obtenção do diagnóstico definitivo (CFF, 2014). No grupo de maiores de 65 anos a maior preocupação é a descompensação de doenças pré-existentes (BRASIL, 2014). Estudos mostram que pacientes com idade acima de 65 anos têm uma taxa de letalidade cerca de 50 vezes maior do que indivíduos abaixo de 45 anos (OPAS, 2011). Não há um tratamento capaz de curar a infecção, nem vacinas voltadas para preveni-la. O tratamento é paliativo, com uso de antipiréticos e analgésicos para aliviar os sintomas. Se as dores articulares permanecerem por muito tempo e forem dolorosas demais, uma opção terapêutica é o uso de corticoides (G1, 2014). Outra infecção transmitida pelo mosquito Aedes aegypti é a febre Zica, causada pelo vírus ZICAV, da família Flaviviridae, do gênero Flavivirus (SBI, 2015). Descrita como uma doença febril aguda, autolimitada, com duração de 3-7 dias, geralmente sem complicações graves, sem registro de mortes. O Zica vírus tem uma evolução benigna, com um período de incubação de aproximadamente quatro dias. A doença é caraterizada por febre baixa, hiperemia conjuntival (olhos vermelhos) sem secreção e sem coceira, artralgia (dores em articulação) e exantema maculo-papular (erupção cutânea com pontos brancos ou vermelhos), dores musculares, dor de cabeça e dor nas costas. A taxa de hospitalização é potencialmente baixa. Mais de 80% das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas, porém quando 34 ÁGUA E SAÚDE presentes a doença se caracteriza pelo surgimento do exantema maculopapular pruriginoso, febre intermitente, hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia e dor de cabeça e menos frequentemente, edema, dor de garganta, tosse, vômitos e haematospermia. No entanto, a artralgia pode persistir por aproximadamente um mês (BRASIL, 2015e). A primeira evidência de infecção humana pelo ZICAV ocorreu em 1952, a partir de amostras de soro humano do Leste da África. Entretanto, o ZICAV permaneceu relativamente desconhecido até 2007, quando ocorreu um grande surto na ilha de Yap e em outras ilhas próximas dos Estados Federados da Micronésia. Inicialmente, o surto foi relacionado ao vírus da Dengue, de maneira equivocada. Posteriormente, a partir de exames sorológicos e de biologia molecular, foi possível identificar o ZICAV como agente etiológico responsável. Durante o surto, cerca de 70% dos residentes na ilha de Yap foram afetados, aproximadamente 8.187 de 11.697 pessoas (BRASIL, 2015f). Casos importados do Zica vírus foram descritos na Austrália, Alemanha, Canadá, Itália, Japão e Estados Unidos. Nas Américas, o Zica vírus foi identificado somente na Ilha de Páscoa, território do Chile no Oceano Pacífico, no início de 2014 (FEBRE..., 2015). No Brasil a confirmação da circulação do Zica vírus, pelo Ministério da Saúde, ocorreu em maio de 2015. A Secretaria de Vigilância em Saúde vinha monitorando desde o final de fevereiro o registro de casos de doença exantemática na Região Nordeste, segundo as notificações compartilhadas pelas Secretarias de Saúde dos estados da Bahia, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba. Em abril do corrente ano, pesquisadores do Laboratório de 35 ÁGUA E SAÚDE Virologia do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UFBA) identificaram o vírus em análise de amostras de sangue de pacientes de Camaçari - BA. O Instituto Evandro Chagas atestou positivo para o exame de 16 pessoas que apresentaram resultados preliminares para o vírus. Foram oito amostras da Bahia e oito do Rio Grande do Norte. Segue a investigação de outros casos suspeitos de doenças exantemáticas que somam mais de 6.800 casos (OPAS, OMS, 2015). Não há tratamento específico. O tratamento é sintomático e de suporte, incluindo: repouso, ingestão de grandes quantidades de fluidos e uso de acetaminofeno para febre e dor. No caso de erupções pruriginosas, os anti-histamínicos podem ser considerados. Não é recomendável o uso de ácido acetilsalicílico e de drogas anti-inflamatórias devido ao risco aumentado de síndrome hemorrágica, como ocorre com outros flavivírus (BRASIL, 2015f). Em função da possível sobreposição de áreas de transmissão do ZICAV com áreas onde já ocorra a circulação de outros flavivírus, notadamente dengue e, mais recentemente, Chicungunha , em diversos países de zonas tropicais, o diagnóstico clínico de possíveis casos de ZICAV figura como um grande desafio aos profissionais da saúde e ao sistema de vigilância (BRASIL, 2015f). Diante do exposto, verifica-se que alguns sintomas da Dengue, Chicungunha e da Zicka são parecidos, mas há diferenças que podem indicar o quadro clínico. A Tabela 3, apresenta a comparação da frequência dos principais sinais e sintomas ocasionados pela infecção pelos vírus dengue, Chicungunha e Zica vírus. 36 ÁGUA E SAÚDE Tabela 3 - Comparação da frequência dos principais sinais e sintomas ocasionados pela infecção pelos vírus dengue, Chicungunha e Zica vírus. Fonte: BRASIL, 2015f A professora do departamento de Clinica Médica e Infectologia da UFMG, Marise Oliveira Fonseca afirma que a Dengue é a mais mortal das três doenças. A Chicungunha tem maior morbidade, porque as dores nas juntas podem persistir por meses e até anos, evoluindo para a forma crônica e a Zica, não há relatos de mortes, mas é preciso tomar cuidado para que não haja complicações hemorrágicas (TRIBUNA UNIÃO, 2015). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na atualidade, o mundo enfrenta o risco de expansão de novas e velhas doenças como resultado do rápido processo de urbanização, com migrações de grandes contingentes populacionais das áreas rurais para as urbanas, associado à 37 ÁGUA E SAÚDE ausência de saneamento básico e, em consequência, o descuido com a higiene pessoal doméstica. Apesar dos progressos realizados em matéria de antibióticos e vacinas, as doenças infecciosas continuam a ser uma das principais causas de morte no mundo, e a forma de enfrentar os desafios em relação a estas doenças junto aos problemas sanitários permanentes depende da realização de várias medidas de controle tais como: Potencializar a comunicação e a informação em saúde pública, envolvendo toda a população, respeitando características regionais, garantindo medidas preventivas referentes às doenças infecciosas emergentes. Avaliar as intervenções de maneira permanente. Usar tecnologia apropriada e localmente acessível, sob enfoque preventivo e de promoção de saúde. Implementar políticas para uso racional de antibióticos. Entender as variabilidades que todos os agentes vivos possuem para permitir a sua própria existência, sabendo que a força genética de preservação das espécies é muito mais potente que a “inteligência” humana. Buscar o equilíbrio com a natureza, respeitando o planeta, seus recursos, a aparente finitude de sua disponibilidade para a vida. Encontrar a harmonia da solidariedade que potencializa o afeto e distribui com equanimidade os bens sociais renováveis, preservando a perspectiva de vida adequada e digna para todos. 38 ÁGUA E SAÚDE Manutenção de vigilância epidemiológica e o estímulo a pesquisas, para a busca de soluções para essas questões. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABES. 2011. Disponível em: <http://www.abesdn.org.br/publicacoes/abesinfor/ABESInformaN256.pdf>. Acesso em 15 de setembro de 2015. AGÊNCIA BRASIL. Número de casos de dengue está relacionado à falta de saneamento. 2011. Disponível em: <adequadohttp://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/201 1-12-20/numero-de-casos-de-dengue-esta-relacionado-faltade-saneamento-adequado> Acesso em 13 de setembro de 2015. AIDE MEMOIRE. Informação para profissionais de saúde febre de Chicungunha . OPAS/OMS. 2014. Disponível em: <POR_CHIK_Aide-memoire_-clinicians%20(6).pdf>. Acesso em 20 de setembro de 2015. ALLAN, A. S.; KLINE, D. L. Evaluation of organic infusions and synthetic compounds mediating oviposition in Aedes albopictus and Aedes aegypti (Diptera: Culicidae). J Chem Ecol., v. 21, n.11, p. 1847-60,1995. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Dengue instruções para pessoal de combate ao vetor : manual de normas técnicas. - 3. ed., rev. - Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 2001. 84 p. : il. 30 cm. ______. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Programa Nacional de Controle da Dengue. Brasília, 2002. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Plano de Contingência Nacional para Epidemias de Dengue. Brasília: Ministério da Saúde, 2015a. 42 p.: il. 39 ÁGUA E SAÚDE ______. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Dengue. Disponível em: <www.saude.gov.br>. 2015b. Acesso em 12 de setembro de 2015. ______. Ministério da Saúde. Blog da Saúde. Chicungunha . Disponível em: < http://www.blog.saude.gov.br/570-perguntase-respostas/34432-perguntas-e-respostas-sobre-Chicungunha >. 2015c. Acesso em: 12 de setembro de 2015. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de vigilância em saúde. Febre de Chicungunha . Boletim epidemiológico, v.46, n.24, p. 8, 2015d. ______. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Febre do Zica Vírus. Disponível em: <www.saude.gov.br>. 2015e. Acesso em 12 de setembro de 2015. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de vigilância em saúde. Febre pelo vírus Zica: uma revisão narrativa sobre a doença. Boletim epidemiológico, v.46, n.26, p. 1-7, 2015f. CDC – CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Addressing Emerging Infectious Disease Threats. A Prevention Strategies for the United States. 1994. Disponível em: <www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwhtml/0003/93>. Acesso em: 20 de setembro de 2015. CFF – Conselho Federal de Farmácia. Brasil tem 1.364 casos de Chicungunha , diz Ministério da Saúde. Disponível em: <http://www.cff.org.br/noticia.php?id=2432>. 2014. Acesso em: 10 de setembro de 2015. DONALISIO, M. R.; FREITAS, A. R. R. Chicungunha no Brasil: um desafio emergente. Rev Bras Epidemiol, v.18, n.1, p. 2835, jan-mar. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v18n1/1415-790X-rbepid-1801-00283.pdf>. Acesso em 20 de setembro de 2015. FEACHEM, R.G.; BRADLEY, D.J.; GARELIK, H.; MARA, D.D. Santination an Disease: health aspects of excreta and waste water management. John Wiley and Sons, Chichester, 1983. 501p. 40 ÁGUA E SAÚDE FEBRE pelo vírus Zica. Infectologia em Foco. 2015. Disponível em: <http://i9projetos.com.br/infectologiaemfoco_blog/?p=2793>. Acesso em 10 de setembro de 2015. G1. Bem Estar. Brasil tem 1.364 casos de Chicungunha , diz Ministério da Saúde. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2014/12/brasil-tem1364-de-Chicungunha -diz-novo-balanco-do-ministerio-dasaude.html>. Acesso em: 12 de setembro de 2015. IOC – Instituto Oswaldo Cruz. Dengue: vírus e vetor. Disponível em: <http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/longatraje.html>. Acesso em 12 de setembro de 2015. LARREINAGA, C. L. S.; CORCHO, D. B. Enfermedades emergentes y reemergentes: factores causales y vigilancia. Rev Cubana Med Gen Integr, Havana, v.16, n.6, nov/dez 2001. Versão online ISSN 1561-3038. MARQUES, G. R. A. M. et al. Água de abastecimento público de consumo humano e oviposição de Aedes aegypti. Rev Saúde Pública, Lorena, v. 47, n. 3, p. 579-87, 2013. Disponível em: <www.scielo.br/rsp>. Acesso em: 20 de setembro de 2015. MORSE, S. S. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis., v. 1, p. 715, 1995. OPAS. Preparación y respuesta ante la eventual introducción del virus Chicungunha en las Américas. Washington, D.C. 2011. OPAS/OMS. Situación Epidemiológica del Dengue. 2014. Disponível em: <file:///C:/Users/C%C3%A9lia/Downloads/152014-cha-situacion-epi-Dengue.pdf>. Acesso em 05 de setembro de 2015. OPAS/OMS. Confirmada a circulação do Zica Vírus no Brasil. 2015. Disponível em:<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content& view=article&id=4838%3Aconfirmada-a-circulacao-do-Zica41 ÁGUA E SAÚDE virus-no-brasil&catid=1272%3Anoticiasdtent&Itemid=816>. Acesso em 12 de setembro de 2015. RIBEIRO, A. L. N.; BALSAN, L. A. G.; MOURA, G. L. Análise das políticas públicas de combate à dengue. Contribuciones a las Ciencias Sociales. 2013. Disponível em: <http://www.eumed.net/rev/cccss/24/politicas-publicasdengue.html>. Acesso em 09 de setembro de 2015. SATCHER, D. Emerging Infectious: getting ahead of the curve. Emerg. Infec. Dis., v.1, n.1, p. 1-6, 1995. SBI – Sociedade Brasileira de Infectologia. Vírus Zica é a nova doença transmitida pelo Aedes aegypti. 2015. Disponível em: <http://www.infectologia.org.br/virus-Zica-e-anova-doenca-transmitida-pelo-aedes-aegypti/>. Acesso em 12 de setembro de 2015. SILVA, L. J. Emerging infectious diseases in Brazil. Emerg Infect Dis. v.4, n. 2, p. 341-3. Apr-Jun, 1998. SILVA, J. S.; MARIANO, Z. F.; SCOPEL, I. a dengue no brasil e as políticas de combate ao Aedes Aegypti: da tentativa de erradicação ás políticas de controle. Hygeia, v. 3, n. 6, p. 163175, jun. 2008. Disponível em: <www.hygeia.ig.ufu.br/>. Acesso em: 17 de setembro de 2015. TEIXEIRA, M. G. et al. Recent Shift in Age Pattern of dengue Hemorrhagic Fever, Brazil. Emerging Infectious Diseases, v.14, n.10, p.1663, 2008. TRIBUNA UNIÃO. Tira-teima: o que você precisa saber sobre dengue, chicungunha e zica vírus. 2015. Disponível em: <http://www.tribunauniao.com.br/noticias/ver/38738/Tirateima%3A+o+que+voc%C3%AA+precisa+saber+sobre+dengu e,+Chicungunha +e+Zica+v%C3%ADrus>. Acesso em: 11 de setembro de 2015. TUNDISI, J.G.; MATSUMURA-TUNDISI. Recursos Hídricos no Século XXI.: Oficina de Textos, 2011. 328 p. WALDMAM, E. A. Doenças infecciosas emergentes e reemergentes . Revista USP, São Paulo, n.51, p. 128-137, set./nov. 2001. 42 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS CAPÍTULO 2 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS Ermeton Duarte DO NASCIMENTO1 Roseanne da Cunha UCHÔA2 Giselle Medeiros da Costa ONE³ Magnólia Fernandes Florêncio de ARAÚJO1 1 Professor da UFRN; 2 Professora da UFPB; 3 Professora do Instituto Biolab PB [email protected] RESUMO: O fenômeno da resistência bacteriana as drogas antimicrobianas é um evento genético e está relacionado a diferentes mecanismos bioquímicos, existentes na bactéria, que impedem a ação desses medicamentos. Entretanto, apesar de não ser recente, esse evento só se tornou o foco dos estudiosos quando foi considerado um sério problema de saúde pública. A propagação de bactérias resistentes e de genes de resistência pode ser influenciada por vários fatores, tais como falta de saneamento, aglomerações, viagens, e agrupamento de pessoas suscetíveis, como idosos e crianças, por exemplo. Além disso, as diferenças de protocolos de prescrição medicamentosa, ausência de políticas de controle do uso racional de antibióticos e variáveis sócio-econômicas, como baixa escolaridade, podem influenciar o consumo indiscriminado dessas drogas e consequentemente também levar ao desenvolvimento da resistência bacteriana. Neste contexto, uma das maiores preocupações para a vigilância ambiental em saúde, um área da vigilância epidemiológica, está no fato de que vários trabalhos no Brasil e no mundo 43 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS identificaram bactérias resistentes aos antimicrobianos em diversos ambientes aquáticos. Esse receio é justificável, ao passo que estes ambientes são usados para diversos fins e que a água pode ser um veículo para o surgimento de infecções. Palavras-chave: Contaminação ambiental. Resistência antimicrobiana. Ambientes aquáticos. 1 INTRODUÇÃO A batalha do homem contra os microrganismos causadores de doenças é tão antiga quanto à própria existência das doenças infecciosas. Desde a pré-história, o homem vem tentando promover a atenção a saúde (FERRAZ; FERRAZ, 1997) e se defender dos processos infeciosos. Diversas civilizações antigas, há mais de 3.000 anos antes de Era Comum, já conheciam as propriedades terapêuticas e antimicrobianas de mofos ou bolores empregados no tratamento de feridas infectadas. Porém, somente a partir do século XIX, com o desenvolvimento da alquimia e a descoberta da penicilina, é que as drogas antimicrobianas passaram a ser obtidas por métodos laboratoriais (TAVARES, 2002). Os antimicrobianos são uma classe de drogas caracterizada como compostos naturais, sintéticos ou semissintéticos capazes de inibir o crescimento ou causar a morte de fungos ou bactérias. Aqueles que agem sobre as bactérias podem ser classificados como bactericidas, quando causam a sua morte, ou bacteriostáticos, quando levam a inibição do seu crescimento (WALSH, 2003). 44 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS A descoberta do primeiro antibiótico, em 1929 por Alexander Fleming, aconteceu por acaso quando estudava culturas de Staphylococcus aureus. Deixadas sobre a bancada, as culturas foram contaminadas acidentalmente por fungos da espécie Penicillium notatum (atualmente denominado P. chrysogenum), e o pesquisador observou que em torno dos fungos contaminantes não havia crescimento bacteriano. Fleming então descobriu que o fungo contaminante produzia uma substância, filtrável e não tóxica, que exercia atividade antibacteriana, e que recebeu o nome de Penicilina. Posteriormente em 1939, Florey e Chain isolaram a penicilina das culturas do Penicillium, viabilizando sua produção para o uso clínico (RAVAT et al., 2011). As descobertas dos antimicrobianos continuaram e diversas outras pesquisas foram realizadas nos anos seguintes levando à descoberta de várias drogas. A maioria dos antibióticos usados na pratica médica atual é originada de fungos pertencentes aos gêneros Penicillium, Cephalosporium e Micromonospora, e de bactérias dos gêneros Bacillus e Streptomyces. As drogas antimicrobianas de origem semissintética empregadas na atualidade derivam de compostos como penicilina, cefalosporina, tetraciclina e eritromicina (TAVARES, 2002; WRIGHT, 2007). Apesar de terem surgido novas classes de medicamentos, a resistência a essas drogas têm surgido em seguida, e a pesquisa por novos fármacos não está progredindo com a mesma velocidade do aparecimento de novas formas de resistência (CAUMO et al., 2010). O desenvolvimento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos não é mais considerado um evento surpresa ou novidade no meio científico. No entanto, o alcance 45 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS e a escala desse fenômeno se tornou uma crise crescente na saúde pública mundial ao passo que a resistência às drogas se acumula de forma acelerada ao longo do espaço e do tempo (CHOFFNES; RELMAN; MACK, 2010). Esse fenômeno pode ser considerado como uma resposta evolutiva dos microrganismos à presença dos agentes antimicrobianos no ambiente (WRIGHT, 2007). Vários fatores podem estar envolvidos com o surgimento da resistência, como o uso inadequado dessas drogas, por exemplo, e os problemas em decorrência de infecções causadas por cepas resistentes, vêm se agravando a cada ano (OBATA, 2010). A resistência bacteriana pode ser definida com base em dois critérios: microbiologico (resistência in vitro) e clínico (resistência in vivo). De acordo com a definição microbiológica, uma cepa é considerada resistente quando consegue cresçer numa concentração de um antimicrobiano acima daquela suportada por outras cepas filogeneticamente relacionadas. Já no caso da definição clínica, uma cepa é resistênte quando sobrevive a uma terapia antimicrobiana que normalmente é utilizada e debela o processo infeccioso. Independentemente da definição utilizada trata-se de um complexo mecanismo que envolve uma variedade de agentes antimicrobianos, espécies de bactérias, genes de resistência e mecanismos de resistência (AARESTRUP, 2005a). Essa resistência pode ocorrer por mutações (deleções, inserções ou mutações pontuais), propagação clonal ou por transferência horizontal de genes de resistência localizados em vários tipos de elementos genéticos móveis ou não (KAPIL, 2005). 46 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS São descritos na literatura, seis mecanismos bioquímicos utilizados pelas bactérias para inativar os antimicrobianos: inativação por enzimas, bombas de efluxo, alteração do receptor da droga, alteração da permeabilidade bacteriana a droga, alteração do sistema de transporte na célula e síntese de vias metabólicas alternativas (FRANCO et al., 2009). O mecanismo de resistência bacteriano mais importante e frequente é a degradação do antimicrobiano por enzimas que promovem alterações estruturais na molécula do fármaco, tornando-o inativo contra aquele microrganismo. Dentre as mais conhecidas e descritas encontram-se as betalactamases, que hidrolisam a ligação amida do anel betalactâmico, destruindo, assim, o local onde esses antimicrobianos se ligam às proteínas ligadoras de Penicilina (Penicillin-Binding Protein - PBPs) bacterianas e através do qual exercem seu efeito antibacteriano. Foram descritas numerosas beta-lactamases diferentes. Essas enzimas são codificadas em cromossomos ou sítios extracromossômicos através de plasmídios ou transposons, podendo ser produzidas de modo constitutivo ou ser induzido (WILLETTS, 1980). 2 MATERIAL E MÉTODOS Este estudo constitui-se de uma revisão bibliográfica descritiva, realizada entre junho a setembro de 2015, no qual foi feita uma consulta por artigos científicos nas bases de dados LiLacs, PubMed e SciELO. A pesquisa foi limitada por artigos publicados entre 1988 a 2015 e utilizou os descritores 47 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS water, antibiotic e resistance da Biblioteca Virtual em Saúde em inglês, português e espanhol. Foram incluídos nessa revisão todos os estudos que apresentavam como foco principal qualquer tipo de resistência aos antimicrobianos (antibióticos, semi-sintéticos e/ou quimioterápicos) em bactérias isoladas de ambientes aquáticos. Foram excluídos estudos que não tinham a resistência como foco principal, aqueles onde o ambiente de origem do isolamento bacteriano não era o aquático ou aqueles que apenas citavam a resistência em seu texto. Foram excluídos também aqueles realizados com qualquer outro organismo que não as bactérias ou os que discutiam a resistência bacteriana a outros grupos farmacológicos diferentes dos antimicrobianos. Em seguida, buscou-se comparar e discutir a resistência antimicrobiana em bactérias isoladas de ambientes aquáticos no Brasil e no mundo, observando os principais ambientes aquáticos onde esses microrganismos foram isolados, os principais agentes antimicrobianos relatados, os genes envolvidos na resistência, os gêneros e espécies bacterianos mais prevalentes e os principais mecanismos de resistência presentes. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Há várias décadas, grandes quantidades de antibióticos vêm sendo despejados no meio ambiente, entretanto, até recentemente, não era dada a devida atenção à existência de tais substâncias indutoras de resistência na natureza (KÜMMERER, 2004). De acordo com Jorgensen e HallingSorensen (2000), a introdução e a progressiva acumulação de 48 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS agentes antimicrobianos no ambiente, contribuíram para a evolução e dispersão de tais organismos, em graus crescentes de patogenicidade, tornando a resistência bacteriana um fator preocupante e alvo crescente de medidas de contenção entre a comunidade cientifica. Os genes bacterianos que codificam resistência aos antibióticos tiveram sua origem no meio ambiente, sendo comprovada a existência de genes envolvidos em mecanismos de resistência bacteriana em precursores ancestrais das atuais bactérias (BENVENISTE e DAVIES, 1973). A análise filogenética de vários grupos de genes de resistência aos antibióticos sugere que o material genético de bactérias resistentes aos antibióticos atuais sofreram uma longa história de seleção e diversificação, bem antes do advento da era antibiótica (AMINOV; MACKIE, 2007). Diversos estudos vêm demonstrando diferentes tipos de reservatórios ambientais envolvidos na disseminação de bactérias resistentes, as quais têm surgido por causa do uso indiscriminado e descontrolado de antimicrobianos na agropecuária, agricultura, aquicultura e no uso do solo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Nesse contexto, apesar de vários trabalhos terem mostrado que os ambientes naturais representam importantes reservatórios de genes de resistência, as intervenções antropogênicas no meio ambiente, também podem atuar como um importante indutor, favorecendo o surgimento da resistência até mesmo em bactérias comensais. Isso se configura num fator preocupante, considerando que a maioria das pesquisas têm seu foco na resistência antimicrobiana já estabelecida, enquanto que aquelas no meio ambiente, provavelmente a principal causa do surgimento de genes de 49 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS resistência bacteriana, estão recebendo pouca atenção (KUMAR; CHANG; XAGORARAKI, 2010). 3.1 A resistência antimicrobiana em ambientes aquáticos A contaminação dos ambientes aquáticos por microrganismos resistentes aos antibióticos não é um evento recente e grande parte da dispersão e evolução de bactérias resistentes a antibióticos está relacionada a esses ambientes. A água constitui não somente um meio de disseminação de organismos resistentes aos antibióticos entre populações humana e animal, mas também a via pela qual genes de resistência são introduzidos no ecossistema e em bactérias ambientais, alterando a própria microbiota ambiental. Em todo o mundo, a resistência a antibióticos tem sido observada em vários ambientes aquáticos incluindo rios e áreas costeiras, esgoto doméstico, esgoto hospitalar, sedimentos de corpos aquáticos, águas superficiais, lagos, oceanos e água potável (BAQUERO; MARTÍNEZ; CANTÓN, 2008). Ainda segundo Baquero, Martínez e Cantón (2008), as bactérias encontradas na água podem não ser típicas daquele ambiente, sendo isoladas como resultado da presença de animais, vegetais ou de solo superficial carreado ocasionalmente pela chuva, sendo então consideradas exógenas e transitórias. Esses autores relatam, por exemplo, que a resistência de Pseudomonas spp. isoladas do ambiente aquático, não depende apenas da composição de espécies daquela microbiota, mas também do próprio local de onde elas foram isoladas, observando-se que as cepas mais resistentes aos antimicrobianos foram coletadas próximas à costa e/ou à 50 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS baía, indicando a influência de organismos não aquáticos ou poluentes sobre a aquisição da resistência. Atualmente, observa-se que o uso maciço de antibióticos profiláticos na aquicultura, como na criação de peixes, por exemplo, tem influência na seleção de microrganismos resistentes no ambiente aquático, assim como na possibilidade das concentrações elevadas desses compostos serem dispersas pelos habitat naturais (CABELLO, 2006). No Brasil, nos últimos 25 anos, apesar de existirem relatos desse tipo de contaminação em água de rio, de lago, de lagoa, do mar, e até mesmo em água de estação de tratamento de esgoto e em água de beber, a maioria dos estudos com foco na resistência antimicrobiana, têm se concentrado nas atividades em aquicultura, principalmente nos Estados da região Sudeste, onde os microrganismos mais estudados têm sido aqueles pertencentes ao gênero Aeromonas spp., provavelmente porque as infecções das espécies desse gênero causem grandes perdas financeiras para a aquicultura (DO NASCIMENTO; ARAUJO, 2014). Ainda segundo esses autores, no Brasil, durante o período estudado, a maioria das bactérias apresentaram maior prevalência de resistência ao cloramfenicol, tetraciclina, gentamicina e ampicilina, e apenas três estudos descreveram mecanismos e genes de resistência ao antibióticos. Esse aumento da frequência do isolamento de bactérias resistentes em ambientes aquáticos é influenciado pela transferência de material genético entre os indivíduos. O contato físico entre as bactérias no meio aquático possibilita uma alta freqüência de troca de elementos genéticos móveis, como plasmídeos e transposons codificadores de resistência 51 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS aos antimicrobianos. Eventos como esses são particularmente importantes para a difusão de resistência a essas drogas (NASCIMENTO; MAESTRO; CAMPOS, 2001). Nesse contexto, o cultivo do pescado com o uso de dejetos animais para adubação dos seus tanques de criação, a fim de reduzir os custos de produção, e promover o desenvolvimento do plâncton, alimento natural para peixes filtradores, como a tilápia, por exemplo, são uma importante fonte de contaminação em ambientes aquáticos. Os excrementos de animais podem carrear resíduos de antibióticos ou bactérias resistentes a essas drogas para esse ambiente, trazendo sérios riscos à saúde humana, ao passo que esses microrganismos resistentes podem se inserir na cadeia alimentar humana, por meio do pescado contaminado e transferir, dentro do trato gastrointestinal humano, genes de resistência às bactérias da microbiota indígena ou àquelas potencialmente patogênicas (PETERSEN; DALSGAARD, 2003). No Brasil já houve o relato do isolamento de microrganismos resistentes em 100% das amostras dos peixes de uma fazenda de piscicultura alimentada por água de esgoto doméstico pré-tratado por sedimentação, que integrava a produção de fertilizantes para agricultura e o cultivo de tilápias. Nesse estudo, em 93,3% dos fertilizantes orgânicos produzidos, foram isolados algum tipo de bactéria resistente aos antimicrobianos, com um índice de multirresistência de 37,7% (RIBEIRO et al., 2010). Segundo esses autores, nas últimas décadas o uso de água servida na agricultura e na aquicultura tem aumentado consideravelmente. Outra consideração importante para o surgimento da resistência antimicrobiana no ambiente aquático, apontado 52 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS como um problema de abrangência mundial, é o despejo de fármacos residuais em esgotos domésticos e em águas naturais. Estudos realizados na Alemanha, Canadá, Holanda, Inglaterra, Reino Unido, Itália, Suécia, Estados Unidos e Brasil, mostram que esses compostos e seus metabólitos estão presentes nos mais diversos ambientes aquáticos (BILA; DEZOTTI, 2003). Kolpin e colaboradores (2002), detectaram antibióticos, em diversas amostras de águas superficiais nos Estados Unidos. E alguns estudos apontam para o risco que a persistência de diversas classes de antimicrobianos representa nesses ambientes, considerando que alguns desses medicamentos não são completamente removidos durante os processos de tratamento da água (BILA; DEZOTTI, 2003). Dessa forma, essas drogas, nesses ambientes, não levam apenas ao surgimento da resistência antibiótica, mas também alteram todo o ecossistema microbiano por causa de um novo comportamento metabólico que essas bactérias assumem em decorrência da pressão seletiva (MARTÍNEZ, 2008). Em alguns casos esses antibióticos podem alterar completamente a comunidade microbiana daquele ambiente, levando a uma expressiva alteração do equilíbrio previamente existente, com morte de algumas espécies e supercrescimento de outras (HAACK et al., 2012). Nesse contexto, o monitoramento de fármacos residuais no meio ambiente vem ganhando grande interesse dos órgãos públicos, porque essas substâncias têm sido frequentemente encontradas em estações de tratamento de esgoto e podem atingir ou impactar os corpos d‟água receptores, alcançando 53 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS ambientes aquáticos naturais, mesmo após o tratamento (BILA; DEZOTTI, 2003). O uso de corpos d‟água como receptores de efluentes urbanos, tem aumentado com o crescimento da população, agravando o declínio das condições sanitárias em diversas comunidades humanas (MEIRELLES-PEREIRA et al., 2002). A contaminação de águas superficiais e subterrâneas com efluentes não tratados, causa sérios danos ambientais. Além disso, altos níveis de nitrogênio e fósforo são descartados nessas águas, em decorrência da presença de compostos orgânicos, levando à eutrofização, um fenômeno causado pelo excesso de nutrientes numa massa de água (WIGGINS, 2001). Um grande exemplo de corpo d´água fortemente impactado pela contaminação com antimicrobianos são os rios. E nesse contexto, considerando que são uma das principais fontes direta ou indireta de água para o consumo humano e animal, a sua poluição pode contribuir para a seleção e dispersão da resistência aos antimicrobianos (GOÑI-URRIZA et al., 2000). Portanto, a água não constitui apenas um meio para disseminação de microrganismos resistentes aos antibióticos entre população humana e animal, mas também a via pela qual os genes de resistência são introduzidos em ecossistemas naturais (BAQUERO; MARTÍNEZ; CANTÓN, 2008). A maioria dos estudos sobre a resistência aos antimicrobianos no ambiente aquático está centrada em bactérias de origem fecal, visto que estas são utilizadas como indicadores de poluição e podem estar associadas a doenças infecciosas. A presença de bactérias coliformes em corpos d‟água pode indicar o contato dessa água com esgotos 54 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS urbanos, onde se observa a grande possibilidade de transmissão de doenças de veiculação hídricas. Na condição de bioindicadoras de poluição antrópica, as bactérias do grupo coliforme podem oferecer grandes riscos de transmissão de doenças. Entretanto, algumas cepas dessas bactérias, isoladas de água e que apresentam resistência aos antibióticos, podem representar um sério risco ambiental, levando a disseminação da resistência a outras bactérias, inclusive aquelas caracteristicamente patogênicas (GOÑIURRIZA et al., 2000). Sendo assim, o aumento da população humana, a contaminação de mananciais, como lagos, lagoas e rios e a ingestão de água contaminada devido à falta de saneamento, trazem um grande risco à saúde, elevando a concentração de microrganismos resistentes no meio ambiente e facilitando a transferência de genes de resistência a patógenos humanos. Desse modo, a investigação de microrganismos aquáticos (NASCIMENTO; ARAÚJO, 2013), bem como, o implemento de medidas de contenção que impeçam a contaminação hídrica, aliado a estudos de mecanismos de resistência a antibióticos, se faz necessário para o controle da disseminação da resistência bacteriana nesses ambientes (MARTÍNEZ, 2008). 3.2 Perspectivas futuras Os microrganismos são submetidos à pressão seletiva desde a introdução do primeiro antimicrobiano na prática clínica, resultando no surgimento de espécies bacterianas resistentes que desafiam a indústria farmacêutica e ameaçam a saúde pública global (BLOT et al., 2003). E nesse contexto, a busca por novos antimicrobianos pode ser a solução, e 55 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS novas fontes para a descoberta de protótipos de antibacterianos, sejam de origem vegetal, animal ou sintética, são de grande interesse para a comunidade mundial (WHO, 2010). A necessidade da busca de novos agentes antimicrobianos surge como fator indispensável no combate a resistência bacteriana no meio ambiente aquático, no entanto, estudos que relatem a presença de antibióticos, em amostras de efluentes de esgoto e corpos hídricos, além de outras matrizes, são praticamente inexistentes (MARINHO et al., 2009). Igualmente, existem poucos trabalhos investigando a presença de resíduos de antibióticos em alimentos e outros contaminantes do meio aquático. No Brasil, apesar de alguns estudos de monitoramento, há uma grande carência de informações sobre a dinâmica e o comportamento dos principais antibióticos no meio ambiente, além da carência de avaliações de possíveis impactos desses resíduos nos organismos locais, aquáticos e terrestres (DENOBILE; NASCIMENTO, 2004). Uma das alternativas propostas, já que os antibióticos são despejados nos mananciais, é que esse despejo ocorra de forma regular, diminuindo a quantidade dessas drogas nesses ambientes. Assim, com uma concentração subinibitória, e com a ausência do estresse celular, a bactéria não sofrerá nenhuma modificação metabólica, diminuindo a taxa de mutação que dá origem às bactérias multirresistentes. Essa proposta se justifica, porque um dos grandes problemas na atualidade é o despejo de antibióticos em doses letais nos ambientes aquáticos, e observa-se que são os mesmos antibióticos, na mesma concentração utilizada na terapia clínica (AMINOV, 2009). 56 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS É importante resaltar também, que a falta de saneamento básico é um fator chave para o surgimento da resistência, pois sem saneamento os indivíduos tornam-se mais suscetíveis à aquisição de infecções bacterianas, assim como, há aumentos na probabilidade do desenvolvimento de novos organismos resistentes no meio (CHANDRAN et al., 2008). Apesar da necessidade crescente de desenvolvimento de novas tecnologias de controle e combate à resistência bacteriana no meio ambiente aliado à educação social/ambiental, faz-se necessário também à participação do poder público, em todas as suas esferas, adotando medidas preventivas de controle, com a finalidade de reduzir a resistência desses microrganismos, que embora aparentemente sejam mais custosas, caso implantadas de imediato, poderão futuramente reduzir os gastos com medicamentos e políticas de saúde pública para o tratamento de indivíduos infectados, e tornando o meio ambiente um local, cada vez mais isento desses microrganismos resistentes (GONZALEZ-CANDELAS et al., 2011). Ainda existem diversas lacunas no conhecimento a respeito dos mecanismos de resistência bacteriana no meio ambiente. Nesse sentido, mais pesquisas são necessárias a fim de avaliar a presença desses organismos nesses locais, assim como a adoção de medidas de controle e combate ao desenvolvimento desses microrganismos, sendo imprescindível a intervenção do poder público e da sociedade nesse contexto. Embora o combate ao desenvolvimento da resistência bacteriana seja um processo de extrema dificuldade, sobretudo devido aos mecanismos genéticos de transferência horizontal, ressalta-se que grande parte deste 57 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS processo é fruto do intervencionismo humano, e que, do mesmo modo que possibilitou o seu surgimento, também poderá contornar tal situação (MARTÍNEZ, 2008). 4 CONCLUSÕES Após a análise das referências bibliográficas, observouse que a maioria delas constituem-se de pesquisas experimentais e que apresentam objetivos de estudo diferentes. No Brasil, por exemplo, a maioria das pesquisas com resistência antimicrobiana nos ambientes aquáticos são direcionadas para a pesquisa aplicada na área de aquicultura. Já em países desenvolvidos, os estudos com esse enfoque são distribuídos igualmente entre as áreas das ciências básicas e aplicadas. As bactérias Gram-negativas são o foco da maioria desses estudos, e no Brasil o gênero Aeromonas spp. alcança maior destaque entre os demais. As águas doces superficias são as mais estudadas e os lagos e rios são os ambientes mais prevalentes. Pesquisas dessa natureza precisam ser desenvolvidas com mais frequência, principalmente nos países em desenvolvimento, considerando que a água nesses países pode ser o principal veículo para a transmissão de doenças para a população. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AARESTRUP, F. M. Antimicrobial Resistance in Bacteria of Animal Origin. Washington: Editora ASM Press, 2005a. p. 454 AMINOV, R. I. Minireview The role of antibiotics and antibiotic resistance. Environmental microbiology, v. 11, n. 12, p. 2970–2988, 2009. 58 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS AMINOV, R. I.; MACKIE, R. I. Evolution and ecology of antibiotic resistance genes. FEMS microbiology letters, v. 271, n. 2, p. 147–61, jun. 2007. BAQUERO, F.; MARTÍNEZ, J.-L.; CANTÓN, R. Antibiotics and antibiotic resistance in water environments. Current opinion in biotechnology, v. 19, n. 3, p. 260–5, jun. 2008. BENVENISTE, R.; DAVIES, J. Aminoglycoside antibiotic-inactivating enzymes in actinomycetes similar to those present in clinical isolates of antibiotic-resistant bacteria. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 70, n. 8, p. 2276–80, ago. 1973. BILA, D. M.; DEZOTTI, M. Fármacos no meio ambiente. Quimica Nova, v. 26, n. 4, p. 523–530, 2003. BLOT, S. et al. Reappraisal of attributable mortality in critically ill patients with nosocomial bacteraemia involving Pseudomonas aeruginosa. Journal of Hospital Infection, v. 53, n. 1, p. 18–24, jan. 2003. CABELLO, F. C. Heavy use of prophylactic antibiotics in aquaculture: a growing problem for human and animal health and for the environment. Environmental microbiology, v. 8, n. 7, p. 1137–44, jul. 2006. CAUMO, K. et al. Resistência bacteriana no meio ambiente e implicações na clínica hospitalar. Revista Liberato, v. 11, n. 16, p. 89–188, 2010. CHANDRAN, A. et al. Prevalence of Multiple Drug Resistant Escherichia coli Serotypes in a Tropical Estuary, India. Microbes and Environments, v. 23, n. 2, p. 153–158, 2008. CHOFFNES, E. R.; RELMAN, D. A.; MACK, A. Antibiotic Resistance: Implications for Global Health and Novel Intervention Strategies: WorkshopWashington: National Academy of Science, 2010 CIRILO, J. A. Políticas públicas de recursos hídricos para o semi-árido. Estudos Avançados, v. 22, n. 63, p. 61–82, 2008. DENOBILE, M.; NASCIMENTO, E. D. S. Validação de método para determinação de resíduos dos antibióticos oxitetraciclina , tetraciclina , clortetraciclina e doxiciclina , em leite , por cromatografia líquida de alta eficiência. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 40, n. 2, p. 2009 – 2018, 2004. DO NASCIMENTO, E. D.; ARAUJO, M. F. F. Antimicrobial resistance in bacteria isolated from aquatic environments in Brazil : a systematic review. Ambiente e Água, v. 9, n. 2, p. 239–249, 2014. 59 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS FERRAZ, E. M.; FERRAZ, A. A. Infecção em cirurgia: Aspectos históricos. In: Infecção em Cirurgia. 1th. ed. Rio Janeiro: MEDSI, 1997. p. 1–6. FRANCO, B. E. et al. The determinants of the antibiotic resistance process. Infection and drug resistance, v. 2, p. 1–11, jan. 2009. GOÑI-URRIZA, M. et al. Impact of an urban effluent on antibiotic resistance of riverine Enterobacteriaceae and Aeromonas spp. Applied and environmental microbiology, v. 66, n. 1, p. 125–32, jan. 2000. GONZALEZ-CANDELAS, F. et al. The Evolution of Antibiotic Resistance. In: Genetics and Evolution of Infectious Diseases. [s.l.] Elsevier Inc., 2011. p. 33. HAACK, S. K. et al. E ff ects on Groundwater Microbial Communities of an Engineered 30- Day In Situ Exposure to the Antibiotic Sulfamethoxazole. Environmental science & technology, v. 42, p. 7478 – 7486, 2012. JORGENSEN, S. E.; HALLING-SORENSEN, B. Drugs in the environment 1. Chemosphere, v. 40, p. 691–699, 2000. KAPIL, A. The challenge of antibiotic resistance: need to contemplate. The Indian journal of medical research, v. 121, n. 2, p. 83–91, fev. 2005. KOLPIN, D. W. et al. Pharmaceuticals, hormones, and other organic wastewater contaminants in U.S. streams, 1999-2000: a national reconnaissance. Environmental science & technology, v. 36, n. 6, p. 1202–11, 15 mar. 2002. KUMAR, A.; CHANG, B.; XAGORARAKI, I. Human health risk assessment of pharmaceuticals in water: issues and challenges ahead. International journal of environmental research and public health, v. 7, n. 11, p. 3929–53, nov. 2010. KÜMMERER, K. Resistance in the environment. The Journal of antimicrobial chemotherapy, v. 54, n. 2, p. 311–20, ago. 2004. LAZZARO, X. et al. Do fish regulate phytoplankton in shallow eutrophic Northeast Brazilian reservoirs? Freshwater Biology, v. 48, n. 4, p. 649– 668, abr. 2003. MARINHO, P. R. et al. Marine Pseudomonas putida: a potential source of antimicrobial substances against antibiotic-resistant bacteria. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 104, n. 5, p. 678–82, ago. 2009. MARTÍNEZ, J. L. Antibiotics and antibiotic resistance genes in natural environments. Science (New York, N.Y.), v. 321, n. 5887, p. 365–7, 18 jul. 2008. 60 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS MEIRELLES-PEREIRA, F. DE et al. ECOLOGICAL ASPECTS OF THE ANTIMICROBIAL RESISTANCE IN BACTERIA OF IMPORTANCE TO HUMAN INFECTIONS. Brazilian Journal of Microbiology, n. 33, p. 287– 293, 2002. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema de Informações de Mortalidade C.6 Mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de 5 anos de idade. Brasil, 2006. NASCIMENTO, V. S. F.; ARAÚJO, M. F. F. DE. OCORRÊNCIA DE BACTÉRIAS PATOGÊNICAS OPORTUNISTAS EM UM RESERVATÓRIO DO SEMIÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE , BRASIL. Revista de Ciências Ambientais, v. 7, n. 1, p. 91–104, 2013. NASCIMENTO, G. G. F. DO; MAESTRO, V.; CAMPOS, M. S. P. DE. OCORRÊNCIA DE RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS NO LEITE COMERCIALIZADO EM PIRACICABA, SP. Revista de Nutrição, v. 14, n. 1, p. 119–124, 2001. OBATA, F. Influence of Escherichia coli shiga toxin on the mammalian central nervous system. Advances in applied microbiology, v. 71, p. 1– 19, jan. 2010. PETERSEN, A.; DALSGAARD, A. Species composition and antimicrobial resistance genes of Enterococcus spp, isolated from integrated and traditional fish farms in Thailand. Environmental microbiology, v. 5, n. 5, p. 395–402, maio 2003. RAVAT, F. et al. Antibiotics and the burn patient. Burns : journal of the International Society for Burn Injuries, v. 37, n. 1, p. 16–26, fev. 2011. RIBEIRO, R. V et al. Incidence and antimicrobial resistance of enteropathogens isolated from an integrated aquaculture system. Letters in applied microbiology, v. 51, n. 6, p. 611–8, dez. 2010. TAVARES, W. Manual de antibióticos, quimioterápicos e antiinfecciosos. São Paulo: Editora Atheneu, 2002. p. 1216 WALSH, C. Antibiotics: Actions, Origins, Resistence. Washington: ASM Press, 2003. p. 900 WIGGINS, B. A. Use of Antibiotic Resistance Analysis ( ARA ) to Identify Nonpoint Sources of Fecal Contamination in the Moores Creek Watershed. Harrisonburg: [s.n.]. James Madsin University. 31p. 2001. 61 A ÁGUA COMO VEÍCULO PARA A TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES AOS ANTIMICROBIANOS WILLETTS, N. Interactions between the F conjugal transfer system and CloDF13::Tna plasmids. Molecular & general genetics : MGG, v. 180, n. 1, p. 213–7, jan. 1980. WHO. 2010. World Health Organization - Informations about WHO. Disponível em http://www.who.int, acesso em 10 de outubro de 2013. WRIGHT, G. D. The antibiotic resistome: the nexus of chemical and genetic diversity. Nature reviews. Microbiology, v. 5, n. 3, p. 175–86, mar. 2007. 62 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA Érica Bento SARMENTO1 Andrea Maria Brandão Mendes de OLIVEIRA2 Luiz Fernando de Oliveira COELHO3 1 Aluno pós graduação UEPB, 2 Professora do CCTA UFCG, 3Graduando em Gestão . Ambiental, UNESA RESUMO: O acesso à água potável tem impacto fundamental para o desenvolvimento socioeconômico e a avaliação da sua qualidade é fator essencial para assegurar seu uso sustentável e apresentar segurança quanto a sua potabilidade. Neste intuito, o objetivo deste trabalho foi investigar a qualidade da água mineral comercializada em 06 cidades da Paraíba através de analises físico-químicas. Foram analisadas 33 amostras coletadas nas cidades de João Pessoa, Campina Grande, Patos, Pombal, Sousa e Cajazeiras. Alguns parâmetros importantes que influenciam na qualidade da água para consumo humano foram avaliados e comparados com os limites permitidos pela legislação. As águas envasadas sejam minerais ou de mesa ou ainda mineralizadas terão nos próximos anos um consumo ainda mais crescente, pois com a crise hídrica que atualmente enfrentamos ou em ocasião de desastres essas reservas tornam-se estratégicas e esse quadro situacional de sua importância deve ser alvo de monitoramento ambiental constante para salvaguardar a integridade dos mananciais e qualidade de vida das pessoas. Palavras-chave: Água subterrânea, saúde, consumo humano. 63 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA 1 INTRODUÇÃO O acesso à água potável tem sido recentemente declarado pela ONU como direito humano essencial, intrinsicamente relacionado com o direito à vida, à saúde e à alimentação. O direito à água está compreendido também no direito humano à alimentação adequada, sendo responsabilidade do Estado assegurar esse direito a todos os cidadãos, sobretudo aqueles em situação de vulnerabilidade socioambiental. A água superficial em sua maioria é viável para consumo humano, porém boa parte dos consumidores opta por beber água mineral à água tratada fornecida por companhias de distribuição local, isso devido tanto à preocupação com a qualidade dos mananciais como também por terem a percepção de que a água mineral por ser uma água subterrânea é isenta de qualquer tipo de alteração nas suas características como também de fontes de poluição (SANTANA, 2004). Segundo o Código de Águas Minerais (Decreto-Lei Nº 7.841, de 08/08/1945), águas minerais são aquelas provenientes de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas que possuam composição química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas comuns, com características que lhes confiram uma ação medicamentosa. A água mineral para fins de industrialização e comercialização tem como dever seguir o Manual de Boas Práticas e exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e por questões de segurança são realizadas análises físico-químicas in loco, as mesmas são divulgadas em seus rótulos o que passa a levar ao consumidor a ter certa confiança no produto adquirido. Nesse intuito, o trabalho 64 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA propôs-se investigar a qualidade da água mineral comercializada nas cidades de João Pessoa, Campina Grande, Patos, Pombal, Sousa e Cajazeiras. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Coleta das amostras Tendo em vista a diversidade de marcas de águas minerais que são comercializadas no estado da Paraíba optou-se por coletar em cidades pólos ilustrada pela Figura 1, conhecidas como fornecedoras de produtos e serviços para as cidades circunvizinhas para que assim se tivesse uma noção de como está à qualidade da água mineral atualmente comercializada no estado. Figura 1- Foto ilustrativa com a localização das cidades escolhidas para coletas Fonte:Arquivo Pessoal Foram analisadas sete marcas comerciais de água mineral num total de 33 amostras, as mesmas foram obtidas nos maiores varejos das cidades de João Pessoa (JP), Campina Grande (CG), Patos (PT), Pombal (PL), Sousa (SS) e Cajazeiras (CZ). As quatro marcas mais comercializadas foram analisadas em um maior número e lotes diferentes. 65 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA Todas foram adquiridas em temperatura ambiente, garrafas lacradas de volumes de 1 L, 500 mL, 330 mL e copo de 200 mL. As amostras foram referenciadas pela sigla da cidade continuada pela ordem alfabética a exemplo: As águas analisadas da cidade de João Pessoa - JPA, JPB, etc. 2.2 Determinações Físico-Químicas Para determinação da qualidade físico-química das águas minerais em estudo foram analisados os parâmetros listados na Tabela 1, seguido dos métodos adotados para os mesmos. As determinações titulométricas foram realizadas em triplicata. Tabela 1 - Parâmetros e métodos Adotados nas análises Parâmetro Físico-Químico Cloretos Condutividade Elétrica Dureza Parcial Dureza Total pH Potássio Sódio Sulfatos Método Adotado na Análise Método de Mohr (BACCAN, 2001). Condutivímetro (APHA, 1992). Titulometria de Complexação (APHA, 1992). Titulometria de Complexação (APHA, 1992). Peagâmetro (APHA, 1992). Fotometria de Chama (APHA, 1992). Fotometria de Chama (APHA, 1992). Espectrofotométrico (APHA, 1992) Fonte:Arquivo Pessoal 66 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Análises dos parâmetros Físico-químicos – Comparativo com rótulos das embalagens Análise dos rótulos Conforme a Portaria nº 470, de 24 de novembro de 1999 quanto aos elementos informativos que deverão constar nos rótulos. Analisando os rótulos das amostras foi possível detectar que todas atendem aos incisos I,II,III,V,VI,VII,VIII,IX,XI,XII. Já o disposto no inciso VI, somente a marca da amostra JPB apresentava os oito elementos e estes na forma iônica. O inciso X não foi cumprido por uma marca (6,06%) coletada na cidade de Sousa sendo que a mesma fez a impressão somente da data de envasamento e não da duração do produto. Conforme os rótulos comerciais sobre as datas das análises que foram realizadas nas fontes, em uma marca coletada na cidade de Sousa (SSA e SSB) constava o ano de 1995, ou seja, há 20 anos, as demais marcas segue entre 5 e 7 anos, estes anterior ao dessa pesquisa, exceto a marca da amostra JPL que foi realizada há dois. Nestes termos, o valor único e constante impressos nos rótulos das embalagens tende a mascarar a variação real observada se o monitoramento fosse mensal, é motivo de questionar o porquê da impressão não ser feita conforme a produção dos lotes sendo assim atualizados, pois de acordo com o Código das Águas vigente as analises deve ser feita imediatamente a 67 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA coleta, logo, é possível concluir que na data de fabricação é feita uma análise e o que consta no rótulo não é a mesma, sabemos que dependendo do tempo a água subterrânea não tem variações significativas em suas características só que 20 anos é um tempo muito grande, alguma mudança deve ter nessa água, pois por mais que o poço seja profundo o que faz com que as suas características químicas mude, nesse período possivelmente o tempo e suas variáveis devem ter oscilado, pelo menos um parâmetro deveria ter tido variação, isso deve ser considerado, visto desse ponto a saúde do consumidor tem sido colocada em risco. Ainda sobre a análise dos rótulos observou-se que todas as marcas seguiram o que a RDC nº 274, de 22 de setembro de 2005 da ANVISA que aprova o "REGULAMENTO TÉCNICO PARA ÁGUAS ENVASADAS E GELO" no item 7. Fazendo uma análise das informações contidas nos rótulos tem-se a classificação das amostras conforme Tabela 2. Tabela 2 - Classificação das amostras analisadas N° de amostras 02 02 15 14 Fonte: Arquivo Pessoal Classificação Carbogasosa e Hipotermal Alcalino Bicarbonatada e Hipotermal Hipotermal Fluoretada e Hipotermal Diante do exposto é possível diagnosticar a desconformidade de cada rótulo no que diz respeito a informações precisas e de importância para o consumidor. Segundo estudo feito por MAIO et al (2002) com objetivo de avaliar os teores de minerais e contaminantes inorgânicos em águas minerais, identificou-se que 63% das águas minerais 68 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA nacionais não atendiam a legislação com relação ao teor de minerais na rotulagem, logo o setor de atualização dessas informações precisa se adequar as necessidades dos consumidores. Análises Físico-Químicas Os resultados Físico-Químicos das amostras estão esquematizados nas Tabelas de 3 a 8 juntamente com os valores contidos nos rótulos. Tabela 3– Resultados das análises Físico-químicas para as amostras JPA até JPL Fonte:Arquivo Pessoal 69 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA Tabela 4 – Resultados das análises Físico-químicas para as amostras CGA até CGF. Parâmetros/ AMOSTRA C.E(µs/cm) Rótulo Ph Rótulo Temperatura (°C) Rótulo Cloretos (mg/L) Rótulo Ca²+ (mg/L) Rótulo Mg²+ (mg/L) :Rótulo Potássio Rótulo Sódio Rótulo Sulfatos Rótulo CGA CGB CGC CGD CGE CGF 80,38 99,8 4,90 4,64 24,1 27,6 39,76 23,80 0,398 0,23 19,52 0,76 0,045 0,79 0,025 14,99 0,001 0,8 78,31 90,3 6,75 5,59 24,2 27,6 28,4 13,75 0,398 0,369 29,48 0,816 0,016 8,240 0,027 8,932 0,448 2,68 97,04 90,3 4 5,59 24,4 27,6 29,11 13,75 0,597 0,369 39,24 0,816 0,017 8,240 0,027 8,932 0,706 2,68 59,49 61,5 5,94 5,40 24,4 28,9 24,14 8,39 0,199 1,796 29,68 1,576 0,043 0,804 0,032 6,285 0,497 - 102,8 98,1 4,19 6,21 24,2 28,5 26,98 8,91 0,597 5,285 29,28 4,276 0,041 0,931 0,028 7,529 0,408 4,96 124,0 99,8 3,63 4,64 24,3 27,6 38,34 23,80 1,194 0,23 18,72 0,76 0,043 0,79 0,022 14,99 0,458 0,8 Fonte:Arquivo Pessoal Tabela 5– Resultados das análises Físicoquímicas para as amostras PLA até PLC. Parâmetros/AMOSTRA C.E(µs/cm) Rótulo Ph Rótulo Temperatura (°C) Rótulo Cloretos (mg/L) Rótulo PLA 84 99,8 4,84 4,64 24,2 27,6 46,86 23,08 PLB 60,13 61,5 5,99 5,40 24,2 28,9 29,11 8,39 PLC 78,50 90,3 6,70 5,59 24,1 27,6 33,37 13,75 70 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA Ca²+ (mg/L) Rótulo Mg²+ (mg/L) Rótulo Potássio Rótulo Sódio Rótulo Sulfatos Rótulo 0,398 0,23 19,52 0,76 0,041 0,79 0,020 14,99 0,229 0,8 0,2985 1,796 49,5 1,576 0,044 0,804 0,031 6,285 0,159 4,49 0,398 0,369 29,48 0,816 0,043 8,240 0,026 8,932 0,279 2,68 Fonte:Arquivo Pessoal Tabela 6– Resultados das análises Físico-químicas para as amostras SSA até SSF. Parâmetros/AMOSTRA C.E(µs/cm) Rótulo pH Rótulo Temperatura (°C) Rótulo Cloretos (mg/L) Rótulo Ca²+ (mg/L) Rótulo Mg²+ (mg/L) Rótulo Potássio Rótulo Sódio Rótulo Sulfatos Rótulo SSA 191,1 148 6,05 5,20 24,5 30,0 49,7 25,79 0,4776 6,01 150,9 6,32 0,014 15,00 0,040 6,00 0,706 20,52 SSB 195,0 148 6 5,20 24,3 30,0 46,15 25,79 0,3184 6,01 135,13 6,32 0,013 15,00 0,037 6,00 0,120 20,52 SSC 78,56 99,8 5,16 4,64 24,4 27,6 49,7 23,80 0,2388 0,23 23,67 0,76 0,044 0,79 0,022 14,99 0,269 0,8 SSD 80,45 99.8 5,09 4,64 24,3 27,6 56,09 23,80 0,3184 0,23 15,62 0,76 0,044 0,79 0,023 14,99 0,259 0,8 SSE 60,90 61,5 6,16 5,40 24,4 28,9 32,66 8,39 0,2388 1,796 15,7 1,576 0,042 0,804 0,031 6,285 0,279 4,49 SSF 62,15 61,5 6,01 5,40 24,4 28,9 31,95 8,39 0,2388 1,796 47,56 1,576 0,013 0,804 0,037 6,285 0,120 4,49 71 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA Tabela 7 – Resultados das análises Físico-químicas para as amostras CZA até CZC. Parâmetros/AMOSTRA C.E(µs/cm) Rótulo pH Rótulo Temperatura (°C) Rótulo Cloretos (mg/L) Rótulo Ca²+ (mg/L) Rótulo Mg²+ (mg/L) Rótulo Potássio Rótulo Sódio Rótulo Sulfatos Rótulo CZA 80,94 99,8 4,99 4,64 24,2 27,6 54,67 23,08 0,398 0,23 39,44 0,76 0,042 0,79 0,031 14,99 0,279 0,8 CZB 479,5 503 8,11 7,76 24,3 27,76 51,83 21,81 0,796 13,600 98,79 6,708 0,037 2,514 -0,0007 99,650 0,448 - CZC 59,91 61,5 6,05 5,40 24,4 28,9 26,98 8,39 0,398 1,796 39,44 1,576 0,043 0,804 0,031 6,285 0,328 4,49 Fonte:Arquivo Pessoal Observando as tabelas quanto ao pH é possível constatar que há uma variação em relação ao rótulo. Verificase que 72,72% das amostras apresentaram valores de pH<6,0 mostrando que as mesmas se encontram ácidas e apenas 27,27% estão dentro dos padrões da Portaria nº 2914 de 2011 do Ministério da Saúde que recomenda que o pH da água seja mantido entre 6,0 a 9,5 para ser apta para consumo humano. Esses valores que se encontram em desconformidade com a Portaria comprometem a qualidade dessas águas pelo risco que a acidez provoca na saúde humana. É possível que esses valores tenham sido alterados devido o transporte e as formas de acondicionamento dessas águas, pois como se sabe, o pH varia com a temperatura. Segundo Bertolo (2007) cerca de 50% das águas minerais brasileiras pode ser classificada como de baixíssima mineralização, apresentando características de pH<6,0. Estas 72 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA características são indicativas de que os aquíferos explorados fornecem água de circulação local, rasa e de curto tempo de trânsito, sendo, portanto, vulneráveis à poluição. Águas com essas características ocorrem principalmente nas regiões norte, nordeste e centro-oeste do país, mas também são comuns no sudeste e sul. Algumas dessas águas possuem composição química semelhante à da chuva, com pH variando entre 4 e 5. Apenas 27,27% da população amostral sugerem águas típicas de sistemas de circulação mais profunda, portanto potencialmente mais preservada. Os valores de Cloretos encontrados em todas as amostras são expressivamente maiores dos do rótulo embora não ultrapassam o valor máximo permitido pela legislação que é de 250 mg/L. O elevado teor de sais transmite a água um sabor salgado por vezes indesejável e repulsivo por parte da população. Essa discrepância pode ser devida a diferença temporal entre a análise do projeto e a análise contida no rótulo que se distanciam entre 05 e 20 anos. O que corroboraria com a fala de Bertolo (2007) quanto à susceptibilidade a variações dos poços rasos. O teor de Magnésio em todas as amostras foi elevado em relação aos dos rótulos, já os de Cálcio foram menores, o magnésio juntamente com o cálcio são responsáveis pela dureza da água. Onde 96,96 % das amostras apresentaram a dureza total (cálcio + magnésio) inferior a 100 mg/L e 3,04 % restante apresentaram teor máximo de 152 mg/L de CaCO 3. Embora esses valores se apresentem alto em todas as amostras as mesmas se encontram aptas para consumo humano, pois o limite máximo permitido é de 500mg/L. Em relação ao teor de Sódio em todas as amostras foi menor em relação aos expressos nos rótulos. 73 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA 4 CONCLUSÕES A partir das análises pôde-se constatar que o controle quanto à rotulagem a atual informação das características físico-químicas é muito distante da fornecida no laudo da lavra disponibilizados nos rótulos onde a medida em anos supera a expectativa dos consumidores,sendo também a água mineral uma água para consumo humano e que deve atender aos critérios de potabilidade para isso, é preciso que os órgãos competentes olhem por essa ótica e deem o mesmo valor e importância, deveria ser modificada para o resultado analítico obtido na fonte com data anterior máxima de dois meses antes do envase e deveriam ser disponibilizados no sítio da concessionária pois por lei as análises de alguns parâmetros físico-químicos são feitas diariamente e as mesmas não são encontrados no banco de dados nem mesmo as que são especificadas nos rótulos. Com essa mudança acreditamos que dariam melhores e seguras informações ao consumidor e traria um efeito fiscalizador positivo sobre a linha de produção, dando a ela um estado de espírito mais alerta. As águas envasadas sejam minerais ou de mesa ou ainda mineralizadas terão nos próximos anos um consumo ainda mais crescente, pois com a crise hídrica que atualmente enfrentamos ou em ocasião de desastres, essas reservas tornam-se estratégicas e esse quadro situacional de sua importância deve ser alvo de monitoramento ambiental constante para salvaguardar a integridade dos mananciais e qualidade de vida das pessoas. 74 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA MINERAL COMERCIALIZADA EM CIDADES DA PARAIBA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTOLO R.A. 2006. Reflexões sobre a classificação e as características químicas da água mineral envasada do Brasil. In: Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, 14, Curitiba, Atas, CD, 18 p. BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Portaria Nº 1628,de 04/12/1984, DOU de 05/12/1984. Aprovação de rótulos nas embalagens de águas minerais e potáveis de mesa. Disponível em: <http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=67&IDPagina=84&IDLegi slacao=78> Acesso em 29 de mar. de 2015. BRASIL. DNPM- Departamento Nacional de Produção Mineral. DecretoLei Nº 7841, de 08/08/1945, DOU de 08/08/1945. Código de águas minerais. Disponível em: <http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=67&IDPagina=84&IDLegi slacao=3>. Acesso em 29 de mar. de 2015. MAIO,F.D.;I.A.;CARVALHO.M.F.H.;KIRA,C.S.;DURAN,M.C.;ZENEBOM,O. Avaliação da rotulagem e dos teores de minerais e contaminantes inorgânicos em águas minerais nacionais e importadas.Rev.Inst.Adolfo Lutz,v:61,p 27- 32,2002. SANTANA, M. V. Análise de Consumo de Água: Condomínio Residencial em Florianópolis. Trabalho apresentado à disciplina de Uso Racional de Água do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Florianópolis, 2004. 75 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO CAPÍTULO 4 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO Fernanda Liégina da S. FERNANDES¹ Ivanise GOMES¹ Tércio José da SILVA1 Celia Regina DINIZ2 Beatriz Susana O. de CEBALLOS3 1 Graduandos em Ciências Biológicas - UEPB; 2Professora do curso de Enfermagem - UEPB; 3 Professora do curso de Biologia – CCBS/UFCG. Autor para correspondência: [email protected] RESUMO: Analisaram-se relações de convivência de agricultores/artesãos da Comunidade Chã da Pia/Areia/PB na estiagem, identificando efeitos na saúde associados à qualidade das águas das operações emergenciaise percepções/tensões entre os saberes étnicos e tecnológicos em interrelação com o ambiente impactado pelo uso das águas, solos e vegetação. Entrevistaram-se 10 famílias, coletaram-se águas de cisternas, potes e pias (poças nos lajedos) e levantaram-se registros de diarreias no posto de saúde. A renda familiar variou com: número de aposentados, crianças, adolescentes e “extras” das vendas das cerâmicas. Percebemas diferentes qualidades das águas utilizadas e cuidam do manejo, mas não aplicam desinfecção. Ausência de cloro residual e uso de baldes são causa da contaminação bacteriana nas águas de beber. Registraram-se aumentos de diarreia em menores de 2 anos em 2014, com um óbito.A extração do “barro da loiça” para as “loiças de barro”e o corte de amorosa (Mimosa) e marmeleiro (Croton sp) para sua cocção impactam o solo e a vegetação. A produção das cerâmicas é individual, poucos participam da cooperativa e 76 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO percebem-se hierarquizações sociais e tensões entre os cooperados e “os de fora”. Ausência de ações cidadãs e comunitárias refletem necessidade de politicas com tecnologias sociais e educação ambiental. Palavras chave: manejo; diarreia; tecnologias sociais 1 INTRODUÇÃO A problemática secular do Nordeste semiárido e que torna vulnerável seu desenvolvimento econômico e social é a disponibilidade de água. Com chuvas médias de 800mm (mínima 150mm, no cariri - máxima 1.1000mm, na transição agreste/litoral) políticas publicas que estimulem a aplicação de tecnologias apropriadas de coleta e uso/re-uso da água podem atenuar as incertezas das chuvas ainda quando ocorrem estiagens prolongadas (GNADLINGER, 2011 ). O saber dos sertanejos reconhece secas extremas que ocorrem cada 10 ou 12 anos(REBOUÇAS et al., 2006). Os longos períodos que as separam (mais de 10 anos!) permitem a adoção de medidas preventivas e a elaboração e aplicação de políticas sustentáveis de curto, médio e longo prazo. Para Gabaglia (1985, p.26) “as secas, diferentemente de incêndios, não são desastres súbitos, mas permitem um planejamento para organizar trabalhos para suas vítimas”. Barbosa (2005, p.39) considera problema fundamental no semiárido que supera a questão do clima, a ausência de política sintonizada com as necessidades da população “que desate o nó histórico que construiu a insana concentração de terra, água, poder econômico e político na mão de poucas famílias, em contraste à população expropriada dos seus direitos mais elementares de cidadania”. 77 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO Comunidades rurais dispersas sem acesso a água potável são as mais castigadas com as secas, intensificadas com as mudanças climáticas (GNADLINGER, 2011).A convivência com a região passa por conhecer o que esta possui e disponibiliza e entender suas limitações, acumular água durante as chuvas e usá-la nas estiagens (ASA, 2015). Ações transformadoras pode ser um conjunto de obras pequenas e médias, de baixo custo e positivo impacto ambiental com participação dos beneficiados e com efeito multiplicativo que respeitem os limites naturais e gerem condições dignas de vida (BAVA, 2004). O Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais - P1MC, abraça uma tecnologia social de grande aceitação no semiárido: a coleta de água de chuva em cisternaspré-moldadas(ASA, 2015). Outras tecnologias sociais simples, eficazes e de ampla abrangência são o soro caseiro, a oferta horizontal de solidariedade, as cooperativas de produção e consumo (ITS, 2015). A cisterna de Placas Pré-moldadas foi idealizada por um pedreiro de Sergipe, seu Nel, e disseminada rapidamente no semiárido. Foi adotada pelo P1MC, pela facilidade de construção (2 dias em mutirão), longa duração e baixo custo (R$ 1.800,00 a 2.300,00); seu volume de 16.000L abastece com 8 a 9L de água boa por dia durante 12 meses uma família de cinco membros. O armazenamento de água da chuva nas cisternas no quintal permitiu fácil acesso com água boa para o consumo diário e a democratização da água por ser a família que a gerencia. As melhorias na qualidade de vida possibilitaram a diminuição de doenças relacionadas com a água, aumento da frequência escolar de crianças e adultos, menor carga de trabalho das mulheres, maior atenção aos 78 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO filhos e investir na sua própria educação. Como tecnologia social o P1MC se projeta além do ato de fornecer água, é um estímulo à organização comunitária e conquista da cidadania, inclui a defesa dos direitos de acesso à água boa de qualidade e quantidade adequada para uma vida digna, à educação, atualizada, alimentação, habitação, etc. (ASA, 2015). Dentre as limitações do P1MC, cita-se o volume de armazenamento. O P1MC foi pensado para “atenuar as necessidades de água potável nas secas interanuais de até um ano de duração” e não para estiagens mais prolongadas. Mas a média de água disponibilizada ainda nos espaços anuais não é suficiente para uma higiene digna: a Organização Mundial da Saúde recomenda 20 L por pessoa por dia.Essa falta motiva o retorno às antigas fontes (poças,barreiros, olhos de água), de qualidade inferior e altos riscos à saúde. Possivelmente essa seja a causa de algumas pesquisas não conseguirem mostrar diferenças significativas nas taxas de diarreia infantil em crianças de comunidades rurais com e sem esse benefício (SILVA et al., 2012) O modelo técnico do P1MC pode ser adaptado para captar maior volume aumentando a área do telhado e/ou com cisternas de maior capacidade. O aumento de custos versus vantagens deve considerar que mais cisternas de maior volume de água diminuiriam despesas com operações emergências, assistenciais, temporárias e complexas. Estas são frágeis quando diminui ou até falta água das fontes e mais frágil na preservação da qualidade. Embora com grandes esforços para satisfazer maiores necessidades de água não conseguem suprir todas as famílias com volumes superiores que as cisternas do P1MC, e nem sempre com qualidade microbiológica dentro dos padrões de potabilidade (Portaria 2914/2011-MS). Oferecer ao habitante do semiárido, 79 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO condições para construir mais de uma cisterna e de maior tamanho permitiria acumular mais água gratuitamente, e autoadministrar esses volumes cuidando da qualidade durante os anos de seca; podem ser uma solução douradura e sustentável, eficiente em quantidade e qualidade. As operações emergenciaisseriam complementares para prevenir a falta de águas nas cisternas ao longo da seca e não para enchê-las após de ficarem secas. A pesquisa objetivou analisar as relações de convivência com a região semiárida, nas condições da seca atual, de uma comunidade de agricultores e ceramistas do semiárido paraibano que manejam águas de diferentes fontes e qualidades, assim como identificar percepções e tensões entre os saberes étnicos e tecnológicos, em sua relação com o ambiente por eventuais impactos de uso exploratório da água, do solo e da vegetação, que dialogam ou se enfrentam com os ensinamentos transmitidos pela ASA-P1MC, implícitos nas tecnologias sociais, de preservação ambiental. 2 MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na comunidade Chã da Pia no município de Areia/PB, no agreste paraibano a 484 - 552 m do nível do mar (6°54‟15‟e 6° 55‟6‟ S; 35°46‟39 e 35° 47‟41‟ O). O relevo é ondulado e suavemente ondulado, o clima é quente tropical úmido com precipitação média de 800 mm/ano e máximas de 1.000 mm/ano; A vegetação é de caatinga (ASA, 20015. O universo amostral foi de 10 famílias de agricultores que produzem artesanalmente cerâmicas utilitárias com técnica herdada dos seus antepassados indígenas. O primeiro momento da pesquisa foi de aproximação, conversas 80 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO informais.Seguiram com aplicação de questionários (sócioeconômico, higiene/saneamentobásico/saúde) e questões sobre as atividades produtivas (agricultura, fabricação de cerâmicas). Foram feitas visitas mensais curtas de acompanhamento às famílias, para observação de mudanças e novas percepções. Coletaram-se amostras de águas para avaliação da qualidade das cisternas que recebem água da Operação Pipa, dos potes de barro ou plástico nas cozinhas que reservam água das cisternas para beber e cozinhar, das pias e das cisternas coletivas. As amostras foram preservadas a temperatura inferior a 10oC e processadas nas 6 horas seguintes. Avaliaram-se parâmetros físicos, químicos e biólogos para caracterização da qualidade da água: pH,cor, turbidez, cloro residual livre, densidade de coliformes termotolerantes e frequência de Escherichia coli – E.coli). Utilizaram-se metodologias padronizadas (APHA, 2012). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A comunidade de Chá da Pia foi escolhida por apresentar um uso diferencial da água, a produção de peças utilitárias de barro (panelas, fogareiros, potes) que são vendidas em férias livres e fornece renda extra significativa às famílias. Figura 01. Loiceiras em suas atividades e loiças fabricadas A atividade faz uso do solo e da vegetação. Do primeiro extraem o “barro da loiça”, principal material utilizado para a 81 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO preparação da massa para as “loiças de barro”. É obtido de uma camada de terra a 30 - 40 cm da superfície de solo que corresponde ao horizonte Bt solos tipo Planossolo Nátrico Órtico e Planossolo Háplico Eutrófico(ALVES, 2004). Figura 02. Escavações para extração do “barro de loiça”. Para a cocção das loiças preferem a amorosa (Mimosa) e o marmeleiro (Croton sp), pela sua queima lenta, necessária para a cocção homogênea das cerâmicas. Figura 03. Madeira para cocção das peças de barro e forno de lenha. Nove das 10 famílias entrevistadas,tinham chefes de família mulheres, com idade media de 55 anos. Cuidam da agricultura familiar na época de chuva e dedicam-se à produção de peças de barro nas secas. O quadro 1 mostra famílias com 2 a 5 membros e nenhuma criança menor de cinco anos. O declínio da fecundidade nas comunidades rurais do nordeste foi de 30,4% nos últimos 10 anos e destacado pelo IBGE (2010). 82 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO Quadro 01– Condições socioeconômicas dos artesões e origem das águas para consumo e gasto. 1Família com 3 aposentados, 2Carro pipa; 3depressões naturais nos lajedos; nc: não corresponde. Variáveis Membros – família Idade (anos) – criança Idade (anos) - artesões Renda familiar Origem da água-beber Origem da água-gasto Cisterna-c.p² Cisterna- chuva Pias³ Barreiros Carros pipa Media Min Max 4 2–5 9 7 – 11 55 46 – 71 R$ 1.241 R$ 500- 2.3641 - (%) nc nc nc nc 90 10 20 30 60 A renda media aproximada, de R$ 1.241 por família, variade um a trêssalários mínimos. Alguns dos artesões são aposentados, outros recebem benefício social do governo federal (bolsa-família, bolsa-escola). Há também ingressos “extras” de R$ 600,00 ou mais com a venda de uma “fornada” de 50 peças de barro. A melhor condição econômica deu acesso a novos bens, serviços de saúde, continuação de estudos, diminuição da morte infantil e controle da natalidade. Chuvas esporádicas na longa estiagem acumulam águaem tanques de pedra, pias (depressões nas pedras), barreiros e cisternas e são usadas para “o gasto” e para a produção das louças. Estas águas são mais alcalinas e pouco salinas e não provocam rachaduras nas peças durante a cocção. Todas as residências possuem cisternas e até duas, uma do P1MC e outra construída pela família. Na estiagem, as 83 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO cisternas são usadas para armazenam águas de carros pipa de diferentes origens. As famílias criaram uma gestão particular das cisternas de acordo com a qualidade da água recebida: 1) cisternas comunitárias e familiares, em bom estado de conservação com “água potável” da operação pipa (beber, cozinhar e banho); 2) cisternas familiares com água potável ou de açude dos carros das prefeituras (gasto ou beber se não houver outra melhor); 3) cisternas familiares com águas de carros pipa particulares de origens desconhecidas destinadas para “o gasto”. Mantem cuidados higiênicos com as águas de beber, mas algumas “brechas” no manejo provocadas por hábitos ancestrais como o uso de balde para retirar a água da cisterna facilita a contaminação microbiana. A bomba manual do P1MC permite extrair água sem retirar a tampa, preservando sua qualidade. Outra barreira sanitária não aplicada é a desinfecção, por ordem do exercito de não adicionar nada à água porque “já está clorada”. Nenhuma das cisternas nem os potes de barro, onde é reservada água para consumo e higiene pessoal tinha cloro residual (deve permanecer entre 0,5 a 2 mgL-1 para evitar contaminação microbiana). O SUS, no contexto do P1MC, ensina a adicionar hipoclorito de sódio nos potes ou nos filtros, ou seja, no ponto final do consumo. A tabela 1 apresenta a qualidade das águas. Tabela 1. Qualidade física, química e microbiológica da água das cisternas familiar e comunitária, dos potes das residências e das pia de Chã da Pia ( 2015; n=10 famílias) Parâmetros CF PR CC PIA (VMP²) pH 7,6¹ 7,5 7,9 6,6 Cloro res.livre(mgl-1) 0 0 0 0 Turbides (µT) 2,3 2,0 0,1 0,8 6,5-9,0 0,5 – 2 5 84 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO Cor Aparente (µH) <1 <1 - - 15 Coli term (UFC 100ml-1) 138 37 800 95 0 50 100 100 0 E.coli (% de positividade) 50 CF: cisternas familiares; PR: potes nas residências; CC: cisternas comunitárias; Pia: buracos ou pias cavados naturalmente nos lajedos; VMP: Valor Máximo Permitido (Portaria 2914-2011 – MS); Coli Term: coliformes termotoleranbtes. Os únicos VMP não atingidos foram cloro residual livre e coliformes. A contaminação microbiana das águas das pias foi intermediara entre os potes e as cisternas familiares e inferiores às cisternas comunitárias. Entre 50% das cisternas e dos potes e ate 100% das cisternas comunitárias tiveram Escherichia coli, indicador universal de contaminação fecal. As cisternas comunitárias tiveram densidade de coliformes termotolerantes inaceitáveis para consumo humano e próximos ao valore limite para uso na irrigação irrestrita, de 1.000 coliformes termotolerantes em 100ml de água (CONAMA 357-2005).Os níveis de coliformes e E.coli em 50% a 100% das amostras indicam alto risco para os consumidores. As cisternas comunitárias, por atenderem a várias famílias podem infetar simultaneamente muitas pessoas com bactérias patogênicas (Salmonella typhi, S.typhimurium, Shigella spp), por vírus (hepatite) e por protozoários e helmintos (Entamoeba histolytica, Ascaris lumbricoides, etc). A contaminação ocorre pela ausência de cloro residual livre e pelo uso de baldes para retirar a água das cisternas. As menores densidades de coliformes nos potes do que nas cisternas, se devem à decantação das bactérias durante o armazenamento e pelos maiores cuidados no manejo dessas águas. Já nas pias, os 85 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO teores baixos de coliformes se explicam pelo efeito sinérgico da luz solar sobre o oxigênio dissolvido (produzido em abundancia pelas algas e cianobactérias presentes nessas águas de cor verde intenso), que liberam radicais livres que destroem as bactérias ao atingir as membranas celulares. Mas, ainda baixos, a presença de E.colialerta para a contaminação fecal da água e possível existência de cistos de protozoários e ovos de helmintos, mais resistentes às condições ambientais adversas. A água das cisternas e potes pode ser tratada e alcançar padrões de potabilidade se for aplicada cloração caseira, devido à sua boa qualidade física e química, com baixa turbidez, que facilita o efeito oxidante do cloro. Duas gotas de hipoclorito de sódio ao 2,5% por litro de água 30 minutos antes de beber elimina os riscos de diarreias e disenterias. A tabela 3 mostra resultados do levantamento de casos de diarreia infantil e de tratamentos de reidratação oral em um posto de saúde da comunidade. Em 2014, embora poucos, os quadros diarréicos aumentaram em menores de 2 anos, com óbito de uma criança. Tabela 2. Registros dos casos de diarreia e Terapia de Reidratação Oral (TRO) no posto de saúde da comunidade de Chã da Pia –Areia/PB (2013 - 2015) 2014 20151 Diarreia 5 o (n de casos) 3 < 2a 2 ad4 TRO 19 ad 6 < 2a2 1 óbito3 0 17 ad 10 ad Total 23 10 2013 24 1 janeiro-agosto/2015; 2anos; 3criança < 1 ano; 4adultos . 86 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO No período 2000 - 2010 a taxa de mortalidade infantil no nordeste caiu de 44,7% para 18,5% (IBGE, 2010). Esse decréscimo foi atribuído a programas como PIMC de acesso a água boa, ao aumento do salário mínimo, à queda das desigualdades sociais e regionais através da transferência de renda, entre outras causas. Alguns aumentos de doenças diarreicas ou até da permanência do numero de casos em comunidades com cisternas do P1MC são associados à deficiências no manejo da água de chuva, desde a captação, o manuseio e o armazenamento e a adoção ou não de algum tratamento antes do uso. O conjunto dessas medidas constituem as barreiras sanitárias necessárias para garantir “água potável” (XAVIER et al. 2009). Na seca extrema, com cisternas que recebem águas de carros pipa de qualidade potável e outras não potáveis as falhas de manejo podem se iniciar no carro pipa (falta de informação em lugar visível do tipo de agua distribuído, mangueira e tanques sujos e ausência de cloro residual), continuar na cisterna sem cuidados higiênicos, tampas envergadas, ausência de bomba manual ou não uso dessa bomba, e concluir com a não desinfecção da água antes do consumo e por contaminações cruzadas por se manejar, num mesmo ambiente, aguas limpas e águas contaminadas. Os resultados da presente pesquisa evidenciam a necessidade de intensificar, no contexto do P1MC e das operações emergências, melhoria das práticas sanitárias em relação à água consumida e maiores cuidados com as águas de “gasto”, práticas que devem ser incorporadas a rotina das famílias. Esses ensinamentos são transferidos, no âmbito do SUS, aos usuários de cisternas do P1MC pelos Agentes Comunitários de Saúde e os Agentes de Vigilância Ambiental em Saúde. 87 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO A ação sobre o solo e a vegetação não é vista como predatória por alguns artesãos, e poucos falam sobre o tema ou justificam sua predação por ser solos “de terra seca que não prestam” e “ plantas do mato que crescem sozinhas”. São importantes a transferência de princípios da educação ambiental e politicas publicas que valorizem seu trabalho, visualizando-o como uma tecnologia social que pode ser mais efetiva se estimulada em organizações cooperativas,revertendo em usos não predatórios do ambientes e melhores condições de vida. 4 CONCLUSÕES Na Paraíba e no Nordeste diversas comunidades de agricultores e artesãos como os de Chã da Pia, em geral marginalizadas, evidenciem a região com suas peças de barro. Políticas públicas que abracem tecnologias sociais com ativa participação dos artesãos nos processos de tomada de decisão sobre os recursos que utilizamtécnicas de melhor aproveitamento das diversas águas atenuando as incertezas das estiagens assim como promover atividades de preservação cultural de suas técnicas artesanais e comercialização mais digna e favorável. Ações de educação ambiental, alternativas tecnológicas diversificadas e estímulos às atividades complementares da agricultura familiar são importantes no processo de melhorias sociais e econômicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, A. G. Do “barro de loiça” à “loiça de barro”: caracterização etnopedológica de um artesanato camponês no agreste paraibano. 2004. 88 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO 179f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade Federal de São Carlos, 2004. ANDRADE NETO, C.O. Proteção sanitária das cisternas rurais. In: Simpósio luso-brasileiro de engenharia sanitária e ambiental, 11. 2004. Natal-RN. Anais... Natal: ABES/APESB/APRH, 2004. APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and wastewater. 22th ed. Washington, DC: APHA, AWWA, WEF, 2012. 1946 p. ASA.Articulação do Semiárido. Disponível em:<http://www.asabrasil.org.br/acoes/p1mc>. Acesso em: 09/09/2015. BARBOSA. E. M. Água doce: direito fundamental da pessoa humana. 2005. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leit ura&artigo_id=3172 >. Acesso em: 10/ 07/2015 BRASIL. CONAMA 357de 17 de Março de 2005. Em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em 21/07/2015. BAVA, S. A. C. Tecnologia social e desenvolvimento local. In: Fundação Banco do Brasil (2004)Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil. GABLAGLIA, G. R. A questão das secas na Província do Ceará. In: ROSADO, V.-E.-U. Sexto livro das secas. Mossoró: Mossoroense, 1985. Trabalho original publicado na Tipografia do Correio Mercantil em 1861, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.colecaomossoroense.org.br/acervo/sexto_Livro_das_secas.pdf > . Acesso em: 08/07/2015 GNADLINGER, J. Captação de água de chuva:uma ferramenta para atendimento ás populações rurais inseridas em localidades áridas e semiáridas. In:Recursoshídricos em regiões semiáridas. Ed: Salomão Medeiros, Hans Raj Gheyi, Carlos O. Galvão, Silva Paz, V.P. INSA, 2011. 325-360. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/>. Acesso em: 07/08/2015 ITS - INSTITUTO DE TECNOLOGIAS SOCIAIS. Disponível em: <http://www.Itsbrasil.org.br/>. Acesso em: 06/07/2015 MIRANDA, P,C. Cisternas no Cariri Paraibano: avaliação das práticas de educação ambiental no uso higiênico da água. 2011. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental) - Universidade Estadual da Paraíba, 167 P RTS – REDE DE TECNOLOGIA SOCIAL. Documento constitutivo Disponível em: <http://rts.ibict.br/>. Acesso em 05/09/2015 89 ÁGUA, CLIMA E SAÚDE. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA COM SEMIÁRIDO SILVA,C, V.;HELLER,L.;CARNEIRO,M. Cisternas para armazenamento de água de chuva e efeito na diarreia infantil: um estudo na área rural do semiárido de Minas Gerais. Engenharia. Sanitária e Ambiental,Rio de Janeiro, v.17, n.4,out./dez.2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141341522012000400006&script=sci_arttext>. Acesso em: 23/01/2013 XAVIER, R.P.; NOBREGA, R.L, B; MIRANDA, P.C. GALVÃO, C.O; CEBALLOS, B.S.O . Avaliação da eficiência de dois tipos de desvios das primeiras águas de chuva na melhoria da qualidade da água de cisternas rurais. In: 7o Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva. Setembro-outubro/2009-Caruaru/Pernambuco. 90 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA CAPÍTULO 5 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA Patrícia Silva CRUZ1 Leandro Gomes VIANA2 Silvia Yasmin Lustosa COSTA2 1 Doutoranda. Universidade Estadual da Paraíba – UEPB 2 Mestrandos. Universidade Estadual da Paraíba-UEPB E-mail: [email protected] RESUMO: A utilização de cisternas visa suprir a carência de água das pessoas que convivem com a seca, com a finalidade de captar água proveniente das chuvas, que geralmente são excelentes para vários usos, incluindo o consumo humano. O presente estudo objetivou caracterizar (física e química) a água armazenada em cisternas localizadas na região semiárida, Nordeste do Brasil, no período de chuva e comparar os resultados obtidos com legislação vigente de vigilância da qualidade de água para consumo e potabilidade. Os dados foram levantados em agosto de 2013, através de visitas técnicas e coletas de amostras de água armazenadas em 10 cisternas dispostas de forma aleatória. Os resultados evidenciaram que a água armazenada nas cisternas em estudo apresentou todos os indicadores físicos e químicos com valores inferiores ao VMP da Portaria Nº 2.914∕2011-MS. Porém, ressalta-se que a utilização dessas variáveis de forma isolada não é suficiente para determinação da qualidade da água utilizada para consumo humano. Fazendo-se, portanto necessário, a realização de monitoramento microbiológico 91 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA desta para descartar a presença de ovos e cistos de parasitos, que inviabiliza a sua utilização, além da adoção de medidas preventivas que atuem como barreiras sanitárias, que possam minimizar os riscos à saúde da população abastecida. Palavras- Chave: Semiárido. Captação. Qualidade. 1 INTRODUÇÃO No que se refere ao Nordeste Brasileiro, verifica-se que a demanda de evaporação é elevada nessa região durante todo ano, caracterizando um clima semiárido. Por esse motivo, é uma região muito carente em relação à distribuição de água (SOUZA et al., 2011). A irregularidade e má distribuição das precipitações pluviométricas na estação chuvosa juntamente com a intensa evaporação durante o período de estiagem e o elevado escoamento superficial das águas, conjugam-se para conformar uma acentuada deficiência hídrica (D‟ALVA; FARIAS, 2008). A captação e o armazenamento de água pluvial em cisternas individuais tornam-se uma solução viável para estocar a água de chuva para uso durante o período de estiagem que assola a região. O sistema de captação e armazenamento de água de chuva em cisternas é uma forma simples de obtenção de água, e tem sido amplamente adotado em todo o mundo há vários séculos para o consumo humano. Consegue-se, através do mesmo em regiões semiáridas, com o baixo índice pluviométrico, uma quantidade de água capaz de suprir as necessidades básicas de uma família, com relação à água 92 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA para beber e cozinhar, durante o período de maior escassez hídrica (SILVA; PÁDUA, 2007). Para Amorin; Porto (2003), a utilização das cisternas visa suprir a carência de água das pessoas que convivem com a seca, mas, embora construídas com a finalidade de captar água proveniente das chuvas, que geralmente são excelentes para vários usos, incluindo o consumo humano, podem ser abastecidas com água de outras fontes, a exemplo de carrospipa, o que contribui para não confiabilidade da potabilidade da água armazenada. A água proveniente das chuvas, que podem ser armazenadas em cisternas, é geralmente excelente para vários usos, inclusive para beber, exceto em locais com forte poluição atmosférica, densamente povoada ou industrializada. Um dos principais fatores que pode interferir no consumo da água de cisternas é seu manejo adequado, que reduz a ocorrência de contaminação. Por ser um sistema aberto, a água de chuva armazenada em cisternas está sujeita a contaminação e recontaminações, principalmente se a retirada da água for manual (baldes e cordas), o que implica na constante abertura da cisterna, possibilitando a entrada de agentes contaminantes (SILVA; PÁDUA, 2007). A segurança sanitária de sistemas de captação de água de chuva em cisternas rurais depende da educação sanitária e da participação social da comunidade envolvida, mas também depende de um projeto adequado, inspeção regular e manutenção do sistema. A qualidade da água da cisterna está diretamente associada ao manejo, seja o manejo da água pelo morador, seja o manejo físico do sistema de captação e armazenamento. Manter a cisterna íntegra: fechada, livre de 93 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA animais, fazer a lavagem anual do reservatório, como também a manutenção do sistema de captação bem como o manejo correto da utilização da bomba manual e do sistema de desvio das primeiras águas, no conjunto, reflete boas práticas de manejo físico do sistema (XAVIER, 2010). Proteger a água da contaminação durante o transporte e armazenamento é tão importante quanto proteger a própria fonte. O manejo de forma inadequada é uma das principais formas de contaminação da água (UNICEF, 2008). Diante do exposto, o presente estudo objetivou caracterizar (física e química) a água armazenada em cisternas na região semiárida, Nordeste do Brasil, no período de chuva e comparar os resultados obtidos com legislação vigente de vigilância da qualidade de água para consumo e potabilidade. 2 MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido na comunidade do Tambor, localizada no Município de Vertente do Lério – PE,região semiárida, Nordeste do Brasil. O município limita-se a norte com a Paraíba, a sul com Surubim, a leste com Casinhas e a oeste com Santa Maria do Cambucá. A sede do município tem uma altitude aproximada de 290m e coordenadas geográficas de 7°46‟17‟‟ de latitude sul e 35°51‟00‟‟ de longitude oeste (BELTRÃO et al., 2005). Para levantamento dos dados, foram realizadas visitas técnicas na comunidade, cujo universo amostral foi composto por 10 cisternas (C1, C2, C3, C4, C5, C6, C7, C8, C9, C10), distribuído de forma aleatória (Figura 1), sendo ainda realizado o registro de imagens da área ao entorno das cisternas. As 94 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA coletas foram realizadas, em todas as cisternas, no mês de agosto de 2013 (período de chuva). Os parâmetros analisados e a metodologia empregada estão dispostos na tabela 1. A coleta, transporte, preservação e análise das amostras seguiram as recomendações do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (AWWA, 2005). As análises foram realizadas em parceria com o Setor de Piscicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (DZ/CCA/UFPB). Os dados foram analisados através de representações gráficas, realizadas com o programa computacional Microsoft Office Excel 2010. Figura 1. Mapa de localização das cisternas, no munícipio de Vertente do Lério-PE. Tabela 1: Métodos utilizados na análise das variáveis de qualidade da água. VARIÁVEL Temperatura da UNIDADE MÉTODO ANOTAÇÕES o Eletrométrico Oxímetro Digimed C água 95 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA pH -------- Potenciométrico pH metro Tecnal modelo TEC3MPpV:9VDC Condutividade µS.cm-1 Eletrométrico Condutivimetro da marca Lutron modelo 4303 UNT Eletrométrico Turbidímetro mg∕L Cápsulas AWWA (APHA, 2005) Elétrica (C.E.) Turbidez Sólidos Totais Dissolvidos (SDT) 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos evidenciaram que a temperatura apresentou variação de ± 1°C entre as cisternas, observandose valor mínimo de 18,7°C e máximo de 19,7°C (Figura 2). Para Libânio (2010), essa variação pode estar associada à disposição das cisternas e a insolação que estas se expõem, ou ainda influenciadas pelo clima e latitude. Figura 2. Valores de TºC mensurados nas cisternas estudadas. 96 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA Quando analisados os resultados obtidos para o pH, constatou-se que estes, em todas as cisternas, apresentaram valores que encontram-se dentro do valor máximo permitido (VMP) estabelecido pela Portaria 2.914 do Ministério da Saúde (pH entre 6,0 e 9,0) (Figura 3). De acordo com Freitas; Brilhante; Almeida (2001),essa variável influi no grau de solubilidade de diversas substâncias,e como consequência na intensidadedacor,na distribuição das formas livre e ionizada de diversos compostos químicos, definindo também o potencial de toxicidade de vários elementos. Mesmo todas as cisternas apresentando resultados compatíveis com a Legislação Vigente, pode-se constatar que as cisternas C1 e C8, foram as que apresentaram os maiores valores de pH (>8,0), provavelmente influenciada pela presença de substâncias dissolvidas da parede interna de revestimento. Segundo Mantovani et al.,(2012), a água da chuva em contato com superfícies que contenha cimento, pode ocasionar a dissolução do mesmo, removendo assim, carbonato de cálcio (CaCO3) e elevando os valores de pH. Provavelmente o aumento do valor dessa variável, esteja associado à influência de íons de carbonatos (CO 32) e bicarbonatos (HCO3) liberados do cimento. 97 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA Figura 3. Valores de pH mensurados nas cisternas estudadas. Para Libânio (2010), o pH se constitui noparâmetrodemaior frequênciademonitoramentonarotinaoperacional dasestaçõesdetratamentodeáguapela interferênciaem diversosprocessoseoperaçõesunitáriasinerentesàpotabilizaç ão,daaplicaçãodos coagulantes aoprocessodedesinfecçãoquímica. Para turbidez, a Portaria 2.914-MS determina VMP de 5,0 uT para amostras pontuais. Nas amostras em estudo, observou-se que todas as cisternas (Figura 4) enquadram-se no padrão estabelecido. A cisterna C9 foi a que apresentou o maior valor de turbidez (1,0 uT). Esse registro pode está associado à ressuspensão dos sedimentos acumulados no fundo na cisterna, por ação das chuvas (KATO et al., 2006) ou em decorrência da precipitação, que pode carrear partículas de argila, silte, areia e fragmentos de rocha, que se não 98 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA desviados na primeira chuva, se depositam nas cisternas (LIBÂNIO, 2010). Figura 4. Valores de turbidez mensurados nas cisternas. Para a WHO (2006) a turbidez é um parâmetro importante, por ser um indicador sanitário, que indica a concentração de partículas em suspensão na água que podem proteger os microrganismos da desinfecção, e pode permitir o crescimento bacteriano. Deacordocomestudos deCastania (2009)os valores deturbidezdevemsempresermenores que5,0UTem processosusuaisdedesinfecçãodeágua,jáquepartículassuspe nsasatuam como “escudos”paraos patógenos diminuindoaaçãododesinfetante. A condutividade elétrica é um indicador não considerado na Portaria, mas caracteriza-se pela presença de íons na água que conduzem a corrente elétrica. De acordo com a UNICEF (2008), os valores desse parâmetro geralmente variam de 1 a 2 vezes a concentração de 99 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA sólidos dissolvidos totais (SDT) em mg/L. Na figura 5, observa-se que nas cisternas em estudo, os valores desta variável esteve na faixa de 90,01 a 187,5 µS.cm-1. Schüring; Schwientek (2005) em estudo sobre águas de chuvas armazenadas em cisternas de comunidades rurais do semiárido pernambucano observaram valor médio de condutividade elétrica de 211,2 µS.cm -1 valor este, superior aos encontrados nessa pesquisa. Figura 5. Valores de condutividade elétrica mensurados nas cisternas. Nas cisternas C1, C4 e C5, a condutividade elétrica apresentou-se elevada, fato provavelmente associado à influência da concentração de sais nesses reservatórios, oriundos da água captada durante o período de chuvas (TAVARES, 2009), ou ainda, pela liberação de íons do material de construção das cisternas (XAVIER, 2010). A condutividade elétrica está diretamente relacionada com a presença de íons dissolvidos, nas suas concentrações totais, mobilidade e valência. Sua análise não determina 100 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA especificamente, quais os íons estão presentes em determinada amostra de água, mas indica a presença de íons que podem estar relacionados a possíveis impactos ambientais na água (MELO, 2007). Foram observados em todas as cisternas em estudo, que os valores de sólidos dissolvidos totais (SDT) foram inferiores ao VMP da Portaria (1000 mg/L), conforme evidencia-se na figura 6. Figura 6. Valores de sólidos totais dissolvidos mensurados nas cisternas. Os sólidos dissolvidos em água potável são constituídos principalmente por sais inorgânicos e matéria orgânica (SAWYER et al., 1994). Estudos de Palhares; Guidoni (2012) abordam que a concentração de SDT é um indicador importante, pois esses são potenciais carreadores de elementos poluentes que possuem características hidrofóbicas. Segundo Von Sperling (2005) os sólidos em suspensão são forma do constituinte responsável pela turbidez, que 101 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água, cuja presença na água pode conferir proteção a patógenos. Para a UNICEF (2008) a água tratada com SDT inferior a 600 mg/L é de boa qualidade para consumo. Para Scorsafava et al., (2010) a presença de sólidos dissolvidos requer cuidados de limpeza e manutenção do sistema, com a finalidade de evitar a entrada de contaminantes nas cisternas. Dentre as medidas que podem ser adotadas, destaca-se: a limpeza e manutenção periódica do sistema de coleta e da cisterna; desvio da primeira água; retirada da água evitando a utilização de instrumentos em condições higiênicas precárias e evitar o uso comum destes recipientes para outras atividades (AMORIM; PORTO, 2003). 4 CONCLUSÕES A água armazenada nas cisternas em estudo apresentou todos os indicadores físicos e químicos com valores inferiores ao VMP da Portaria Nº 2.914∕2011-MS. Porém, ressalta-se que a utilização dessas variáveis de forma isolada não é suficiente para determinação da qualidade da água utilizada para consumo humano, fazendo-se necessário, a realização de monitoramento microbiológico desta para descartar a presença de ovos e cistos de parasitos, a exemplo da Giárdia sp , Entamoeba coli, Thichuris sp e Ascaris sp, o que inviabiliza a sua utilização; além da adoção de medidas preventivas que atuem como barreiras sanitárias, que possam minimizar os riscos à saúde da população abastecida. 102 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAM PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and wastewater. 19 ed. Washington D.C.: APHA – AWWA – WPCF.2005. AMORIM, M.C.C.; PORTO, E.R. Considerações sobre controle e vigilância da qualidade de água de cisternas e seus tratamentos. In: Anais do Simpósio Brasi- leiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, 2003, Juazeiro. CD Rom, 2003. BELTRÃO, B. A.; MASCARENHAS, J. C.; MIRANDA, J. L. F.; JUNIOR, L. C. S.; GALVÃO, M. J. T. G. Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por Água Subterrânea Diagnóstico do Município de Vertente do Lério Estado de Pernambuco. 2005, 20f. Cadastramento. Projeto de cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea estado de Pernambuco. Ministério de Minas e energia secretaria de geologia, mineração e transformação mineral, Recife, 2005. D‟ALVA, O. A.; FARIAS, L. O. P. Programa cisternas: um estudo sobre a demanda, cobertura e focalização. Cadernos de estudos: desenvolvimento social em debate. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Número 7. Brasília 2008. FREITAS,M.B.;BRILHANTE,O.M. ; ALMEIDA,L.M.Importânciadaanálisedeáguaparaa saúdepúblicaemduasregiõesdoestadodoRiodeJaneiro:enfoqueparacoliform esfecais,nitratoe alumínio.Cad.SaúdePública,RiodeJaneiro,Mai\Jun,2001. KTO, M. T.; PERAZZO, G. M.; FLORÊNCIO, L.; SANTOS, S. G. Qualidade de água de cisternas utilizada para fins de consumo humano no município de Poço Redondo –SE. Anais do III Seminário Internacional de Engenharia de Saúde Pública, FUNASA, 2006. LIBNIO, M. Fundamento de qualidade e tratamento de água. 3 ed. São Paulo, Brasil: Atomo, 2010, p. 16- 49. MANTOVANI, D.; CORAZZA, M.L.; CARDOZO FILHO, L.; COSTA, S. C.; SCHMIDT, C. A. P. Levantamento Pluviométrico e Qualidade Microbiológica e Físico-Química da Água da Chuva na Cidade de Maringá, Paraná. Revista Tecnológica, Maringá,PR.v.21,p.93-102,2012. MELO, L.R.C. Variação da Qualidade da água de Chuva no Início da Precipitação.Natal, 2007.95p. Dissertação (obtenção do grau em mestre Engenharia Sanitária). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. PALHARES, J. C. P.; GUIDONE, A. L. Qualidade da água de chuva armazenada em cisterna utilizada na dessedentação de suínos e bovinos de corte. Revista ambiental e água – Na interdisciplinary Journal of Applied Science: v. 7, n. 1, 2012. 103 AVALIAÇÃOFÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS DE PLACA SAWYER, C.N.; McCARTY, P.L; PARKIN, G.F. Chemistry forenvironmental engineering, 4. ed. New York: McGraw-Hill, 1994. SCORSAFAVA, M. A.; SOUZA, A.; STOFER, M.; NUNES,C.A.; MILANEZ, T.V. Avaliação físico-química da qualidade de água de poços e minas destinada ao consumo humano. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v.69, n.2, p.229-232, 2010. SCHÜRING, K.; SCHWIENTEK, S. Quality of rainwater for domestic purposes harvested in different catchment systems within the semiarid region of northeast Brazil Project Report. Convenio Universidade de Ciências Aplicadas de Bremem, Alemanha e Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.2005. SILVA, C. V.; PÁDUA, V. L. Qualidade microbiológica de água de chuva armazenada em cisternas de placas, construídas em comunidades rurais do município de Araçuaí – MG. 6º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007. SOUZA, J. H. B.; MONTENEGRO, S. M. G. L.; SANTOS, S. M.; PESSOA, S. G. S. Avaliação da qualidade da água e da eficácia de barreiras sanitárias em sistemas para aproveitamento de águas de chuva. RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 16 n. 3 – Jul/Set 2011, 81-93p. TAVARES, A. C. Aspectos físicos, químicos e microbiológicos da água armazenada em cisternas de comunidades rurais no semiárido Paraibano. Campina Grande, 2009. 165p. Dissertação (obtenção do grau em mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente). Universidade Estadual e Federal da Paraíba. UNITED NATIONS CHILDREN'S FUND (UNICEF). Unicef Handbook On Water Quality. New York, 2008. XAVIER, R. P. Influência de barreiras sanitárias na qualidade da água de chuva armazenada em cisternas no semiárido paraibano. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação da Universidade Federal de Campina Grande, 2010. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Volume 1: Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. 3.ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFMG, 2005. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Hardness in Drinking-water. 2nd ed. Vol. 2. Geneva. 2006. 104 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB CAPÍTULO 6 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB Raíssa da Silva SOUSA1 Karla Vanessa Cunha de ARAÚJO2 Maria Deise das Dores Costa DUARTE3 1 Aluna de graduação em Ciências Biológicas pela UFPB, João Pessoa; 2 Aluna de Graduação em Gestão Ambiental pelo IFPB, João Pessoa; 3Professora Msc. IFPB, João Pessoa. [email protected] RESUMO: A ocupação de várzeas de inundação em grandes cidades cresceu consideravelmente nas últimas décadas. O aumento da população, especialmente de baixa renda, leva à busca por locais considerados sem valor especulativo no mercado imobiliário e nestes são construídas habitações. Esses locais geralmente são às margens de rios e não contam com o mínimo de infraestrutura para se tornar uma área residencial, o que resulta na poluição do ambiente e em danos para a população. O objetivo do trabalho foianalisar as condições ambientais do rio Jaguaribe, no trecho da comunidade são Rafael, através da percepção dos moradores e da análise da qualidade da água. Para o estudo em questão foram feitas análises microbiológicas da água do rio e foram aplicados questionários para uma amostra de moradores da comunidade. Os resultados da pesquisa mostram que há uma grande deficiência no saneamento básico da área, contribuindopara a poluiçãodo rio, que ainda é utilizado para diversos fins, e possibilita a transmissão de doenças de veiculação hídrica. 105 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB Palavras-chave: Ocupação de Várzea, Saneamento Básico, Poluição Hídrica. 1 INTRODUÇÃO Historicamente, o homem utiliza dos recursos naturais para sobrevivência. Porém, ao longo dos anos este uso tornou-se sem controle, gerando uma série de problemas que hoje vivenciamos. “Sabe-se que o ambiente natural veio sendo drasticamente modificado pela ação humana. E o crescimento populacional, o desenvolvimento tecnológico, o acúmulo de resíduos são agentes que levam a uma interação desarmônica entre homem e biosfera” (SILVA, A. J. P. et al, 2009, p. 2). Como uma das consequências dessa interação desarmônica surge a poluição dos corpos d‟água. Atualmente, a degradação dos rios urbanos e a poluição de suas águas é algo comum, devido a processos antrópicos, como: despejos de efluentes diversos, deposição de resíduos sólidos, retirada da vegetação ciliar, assoreamento do leito, ocupação das margens, entre outros. A poluição hídrica por esgotos domésticos é uma forma séria de degradação, pois se constitui de água que foi utilizada para fins higiênicos, onde predominam as águas de lavagem e matéria fecal(Souza, 2008 apud Santos e Moreau, 2012). Esse tipo de poluição traz diversos danos ao rio e a população ribeirinha, como por exemplo, má aparência estética, com águas com coloração escura e odor desagradável, eutrofização do corpo d'água, além de servir como ambiente para o desenvolvimento de vetores transmissores de doenças de veiculação hídrica. 106 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE (2008), 2495 municípios brasileiros, ou cerca de 34,8 milhões de pessoas, estão completamente desassistidos pela coleta e tratamento de esgoto. Apesar do desenvolvimento no que diz respeito à infraestrutura no Brasil, a oferta de saneamento básico ainda é precária e, por ser um serviço fundamental para a qualidade de vida, sua ausência acarreta poluição dos recursos hídricos, trazendo prejuízo à saúde da população. No estado da Paraíba, por exemplo, 73,1% das cidades possuem rede coletora de esgoto, contudo apenas 22,9% dos domicílios paraibanos seriam atendidos (IBGE, 2008). Essa falha no sistema de coleta de esgoto leva-o a ter uma destinação inadequada, que geralmente incluem o despejo em valas, ligações clandestinas na rede de drenagem e em áreas ribeirinhas. Águas que recebem grandes descargas de efluentes domésticos, são ricas em matéria orgânica e além das espécies nativas recebem microrganismos transitórios provenientes do efluente, as quais podem se proliferar, comprometendo a qualidade da água. Um exemplo dessas bactérias são as do grupo coliformes totais, as quais são bacilos gram-negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos (FUNASA, 2013). Dentro do grupo coliforme existe o subgrupo dos termotolerantes que tem como principal representante a Escherichia coli, que por ser exclusivamente de origem fecal, configura-se como indicador de qualidade da água. Além de poder causar prejuízos à saúde da população. Diante desse cenário, surgem várias doenças de veiculação hídrica, comuns em regiões de clima tropical 107 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB úmido, dentre as quais podemos citar gastroenterites, viroses, dermatites e verminoses. Essas doenças podem ser contraídas através da água contaminada, seja ela por contato cutâneo, preparação de alimentos, ingestão direta ou por meio de organismos hospedeiros que completam seu ciclo de vida na água. Todos esses processos de degradação hídrica podem ser observados na Bacia do Rio do Jaguaribe, na cidade de João Pessoa, Paraíba. De acordo com Oliveira (2001) a ocupação da bacia do rio Jaguaribe, principalmente no que diz respeito ao seu vale, retrata bem esta realidade, pois a mesma está se expandindo de forma desordenada, devido à inexistência de um planejamento por parte do poder público responsável. Esse processo de degradação pode ser constatado ao longo de diversos trechos do rio, a exemplo da área ocupada pela comunidade São Rafael que é desprovida de vários serviços de infraestrutura básica. Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é estudar as condições de saneamento básico e saúde pública ofertados numa comunidade na várzea do Rio Jaguaribe, sua influência como fonte de poluição do rio, e a percepção dos moradores sobre esse quadro de desequilíbrio ecológico. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo: A comunidade São Rafael, em João Pessoa, PB, é uma das comunidades que ocupa as margens de um trecho do rio Jaguaribe. Essa comunidade surgiu na década de 50, através da ocupação indevida da granja São Rafael, a qual originou o nome da comunidade. Ela abrange os bairros da Torre e Castelo Branco, é delimitada pela BR 108 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB 230, a avenida D. Pedro II e o Rio Jaguaribe (Figura 1). A descarga dos efluentes dessa comunidade começa a poluir as águas do rio Jaguaribe pouco após sua saída do Jardim Botânico Benjamim Maranhão, além do rio já receber uma carga considerável de efluentes em partes anteriores do seu curso dentro da comunidade São Rafael. Figura 1 - Localização da área de estudo Fonte: Google Maps Caracterização e percepção ambiental dos moradores da comunidade São Rafael: No presente estudo, também foram aplicados 40 (quarenta) questionários entre as famílias ribeirinhas no local, visando a caracterização socioambiental da comunidade e a obtenção de informações sobre a percepção dos moradores a respeito de temas como 109 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB qualidade dos sistemas públicos de esgotamento sanitário e abastecimento de água, qualidade ambiental do rio e seus usos mais comuns, saúde pública, dentre outros. Avaliação microbiológica da água do Rio: Todo o procedimento de coleta foi executado seguindo as recomendações do manual da FUNASA (2013). Foram coletadas seis amostras em três pontos distintos. O método de análise utilizado foi a técnica dos tubos múltiplos, a qual se baseia na repetição de uma série de tubos e seus resultados são expressos através da determinação do número mais provável (NMP), um cálculo estimativo da média microbiana em uma amostra, criada por McCrady (APHA, 2005). Essa técnica é dividida nas fases presuntiva e confirmativa, onde se utiliza de meios seletivos e não seletivos para a detecção de bactérias do grupo dos coliformes. As bactérias do grupo coliformes totais, não formadores de esporos, oxidase-negativos, capazes de desenvolver na presença de sais biliares ou agentes tensoativos que fermentam a lactose com produção de ácido, gás e aldeído a 35,0 ± 0,5ºC em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da enzima ß-galactosidase (FUNASA, 2013). O subgrupo dos termotolerantes têm como característica a fermentação da lactose a 44,5 ± 0,2ºC em 24 horas; tendo como principal representante a Escherichia coli. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir do levantamento na Comunidade São Rafael, constatou-se que a maior parte das residências amostradas possuía entre 3 a 5 moradores. 110 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB Quando analisadas as condições de saneamento e saúde na comunidade, a maioria dos entrevistados (35%) avalia como “péssimas” tais condições e apenas 5% considera ótima a condição no local. Além disso, a falta de manutenção e assistência ao sistema de esgotamento sanitário por parte da Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba tem levado ao entupimento das tubulações e escoamento dos efluentes em diversos quintais e na várzea do rio, causando a degradação do mesmo e comprometendo a qualidade de vida da população local. Quando questionados sobre a presença de ligação de sua residência na rede pública de água e esgoto, metade dos entrevistados afirmaram possuir e os outros 50% disseram somente possuir ligação na rede pública de água. Embora todos afirmarem possuir instalações sanitárias, apenas 20% responderam ter fossa séptica em sua residência. Apesar dos dados mostrados anteriormente, apenas 35% afirmou que os efluentes domésticos de suas residências são inteiramente canalizados para o sistema de esgotamento sanitário, uma vez que há falhas no mesmo. Os outros 65% admitiram uma destinação alternativa para seus efluentes, dos quais 89% dizem lançarno Rio Jaguaribe. Essa elevada quantidade de efluentes lançados no rio, provavelmente, ocorre pela falta de interesse de alguns moradores em fazer a canalização adequada dos esgotos para a rede, pelas falhas no sistema de esgotamento sanitário (tubulações danificadas, vazamentos, esgotos estourados correndo a céu aberto, etc.), como pôde ser observado nas visitas realizadas na comunidade e pela falta de acompanhamento do aumento da ocupação por parte das autoridades cabíveis. 111 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB Quando se trata dos resíduos sólidos, 97,5% dos moradores afirmaram que estes são coletados pela prefeitura, e apenas 2,5% alegaram incinerar seus resíduos. Embora quase a totalidade dos entrevistados se diga assistidos pelo sistema de coleta de lixo, foram identificados vários pontos de disposição de resíduos às margens do rio.Os moradores relataram ter a consciência de que há muito lançamento de lixo e esgotos nas margens (65%) e que o esgoto é proveniente da própria comunidade. Além disso, parte do lixo encontrado se caracteriza como lixo eletrônico, que podem causar contaminação química do solo, da água e é um risco a mais para os moradores da área. Através da consulta aos moradores, ficou claro que apesar de poluído o rio ainda é muito usado naquela área, inclusive por pessoas que não são residentes da comunidade. Uma das atividades mais observadas foi a pesca em caráter de consumo humano, apontada por 77,5% dos entrevistados. Outro uso da água também bastante citado foi para a dessedentação de animais. De acordo com Oliveira, et al, (2007), "A dessedentação de animais feita em lagos, ribeirões, açudes, reservatórios ou mananciais que tem contato direto com a própria pastagem podem constituir-se num risco de contaminação por diversos agentes que causam doenças de veiculação hídrica, principalmente microrganismos patogênicos de origem entérica." Também, muitos entrevistados afirmaramhaver o uso do rio para lazer (62,5%), principalmente entre crianças, apesar da grande carga de poluentes que o rio recebe. Essas atividades expõem ao risco de contrair doenças, especialmente as adquiridas pelo contato da pele e mucosas com água contaminada por esgoto humano ou por fezes e/ou 112 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB urina de animais. Um outro uso, menos frequente atualmente, é para lavagem de roupas. Vários animais são comumente encontrados na comunidade, e alguns destes podem tornar-se vetores de doenças. Os mais apontados pelos moradores foram respectivamente mamíferos (82,5%), representados por cães e gatos; insetos (80%); roedores (70%); e aracnídeos (62,5%). Também foi citado o aparecimento de serpentes, provavelmente devido à proximidade com uma reserva de mata atlântica eresquícios de mata ciliar, e pela abundância de macrófitas ao longo do rio. As falhas de saneamento e de controle de zoonoses influem imensamente no aparecimento desses animais. Os roedores, além de estarem associados à falta do controle de zoonoses, também podem ser associados à presença de lixo e entulho. Sua presença indica um risco potencial de transmissão de leptospirose, quefoi citada por 30% dos moradores como já registradas na comunidade. Já os insetos podem causar uma série de doenças, como a doença de chagas, leishmaniose e a dengue, a qual foi a doença mais citada pelos moradores (62,5%) como frequente na área. Outras doenças também citadas foram verminoses, sendo a esquistossomose a mais mencionada, além das dermatites. Dentre essas enfermidades, a esquistossomose e a leptospirose merecem destaque, haja vista que, segundo Vranjac (2009), são de notificação compulsória. A maior parte dos moradores (70%) afirmou não ser comum o caso de doenças de veiculação hídrica na área. Contudo, boa parte deles apontou diversas doenças como comuns no bairro, fato do qual pode-se deduzir que essas doenças ocorrem com alguma frequência. Entretanto os 113 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB moradores não associam a água como vetor, provavelmente por falta de conhecimento sobre o assunto, o que os deixa mais susceptíveis ao acometimento dessas doenças. Após a obtenção dos resultados microbiológicos, os valores de número mais provável de coliformes totais e Escherichia Coli foi relacionadocom a devida legislação vigente, como mostra o quadro a seguir. Quadro1 - Classificação da água analisada de acordo com a legislação pertinente Uso Pesca Lazer Dessedentação de animais Legislação VMP/100 ml Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 CONAMA 357 Até 2500/100 ml CONAMA 274 (recreação de contato primário) Ótima – 200/100 ml; Boa – 400/100 ml; Satisfatório – 800/100 ml >2400 NMP Própria 1600 NMP Própria 1600 NMP Própria >2400 NMP Imprópria 1600 NMP Imprópria 1600 NMP Imprópria CONAMA 357 (recreação de contato secundário) Até 2500/100 ml > 2400 NMP Imprópria 1600 NMP Própria 1600 NMP Própria CONAMA 357 Até 1000/100 ml >2400 NMP Imprópria 1600 NMP Imprópria 1600 NMP Imprópria Os dados da análise demonstram que, dependendo do tipo de uso do rio, a água é considerada imprópria para a maioria das atividades apontadas como mais comuns pelos moradores da comunidade. 4 CONCLUSÕES 114 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB As condições de saneamento e saúde na comunidade São Rafael que ocupa um trecho da margem do rio Jaguaribe, são precárias, pois ela se trata de uma ocupação invasiva e sem planejamento público, tendo deficiência em vários serviços que deveriam ser prestados pelo poder público, especialmente coleta e tratamento do esgoto. Agravando a situação, ainda é muito verificado o uso do rio para diversas atividades, que comprometem a saúde da população, uma vez que sua maioria não tem conhecimento ou tem muito pouco sobre os riscos que correm fazendo uso dessa água, que eles próprios poluem. Levando em consideração os malefícios dessa situação, algumas medidas devem ser tomadas para solucionar o problema. Entre elas a remoção dos moradores ribeirinhos para novas instalações através de um programa de habitação. A ampliação e reparo dos sistemas de esgotamento sanitário e drenagem pluvial no bairro, visando a redução ou o fim do despejo de efluentes no rio. Por fim devem ser feitos trabalhos de educação ambiental e conscientização da população local, para torná-las cientes das consequências da poluição e os malefícios que podem trazer, estimulando-os a ter atitudes ambientalmente corretas. E com os conhecimentos adquiridos, fazê-los sair da situação de acomodamento em que se encontram e torná-los capazes de exigir seus direitos perante o poder público. Algumas ações já vêm sendo realizadas na comunidade. Atualmente, é perceptível a iniciativa de alguns moradores do local que criaram quintais produtivos em suas residências. Embora essa iniciativa não seja praticada em toda a comunidade, tal atitude tem estimulado moradores a zelar pelo ambiente em que vivem, uma vez que percebem a 115 PERCEPÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO RAFAEL – JOÃO PESSOA, PB importância de preservar seu meio, não lançando resíduos e efluentes no rio. Isso pode contribuir para a melhoria de qualidade do ambiente local e de vida dessa comunidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA (2005).American Public Health Association. Standard methods for the examination of water and wastewater, 21st ed. Washington. BRASIL (2000). Resolução CONAMA n° 274, de 29 de novembro de 2000 - Define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras. BRASIL (2005). Resolução CONAMA n° 357, de 17 de março de 2005 Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. FUNASA, Fundação Nacional de Saúde. Manual Prático de Análise de Água. Brasília, 2013. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2008, RJ. OLIVEIRA, A. A.; CAPPI, N; et al. Qualidade microbiológica das águas utilizadas para dessedentação animal na fazenda UEMS – Unidade Universitária de Aquidauana. MS, 2007. OLIVEIRA, F. B. Degradação do Meio Físico e Implicações Ambientais na Bacia do Rio Jaguaribe - João Pessoa – PB. Dissertação de Mestrado 2001. ROSSI, W.; BRANCO, L. C.; LACERDA, J. A.; GOMES, A. C.; WAGNER, E. M. S. Fontes de Poluição e o Controle da Degradação Ambiental dos Rios Urbanos em Salvador, UFBA – Universidade Federal da Bahia, 2012. SANTOS, I. S.; MOREAU, M. S. Poluição dos Recursos Hídricos e Saneamento Básico no Bairro Nossa Senhora da Vitória, Ilhéus-Ba, 2012. SILVA, A. J. P.; SILVEIRA D. P. B.; VALE, I. N. F.; ALVES, M. B.; SOUZA, R. C. Ocupação humana como principal fator de degradação ambiental da região leste do rio Anil – IV Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica. Belém, PA, 2009. VRANJAC, A. Doenças Relacionadas a água ou de Transmissão Hídrica. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – SES/SP. 2009. 116 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE CAPÍTULO 7 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE Alfésio Luis Ferreira BRAGA¹ Lúcia Magnólia A. S. de CAMARGO² 1 Pós-Doutor em Epidemiologia Ambiental, professor doutor e pesquisador do Grupo de Avaliação de Exposição e Risco Ambiental pela UNISANTOS. Santos/SP; 2Mestre em Saúde de Bacharelado em Enfermagem pela UNESC Coletiva, Professora e Coordenadora do Curso Faculdades. Campina Grande/PB. [email protected] RESUMO: Meio ambiente e saúde possuem íntima relação, assim como o desenvolvimento das indústrias sucroalcooleiras, e o surgimento de doenças decorrentes da industrialização da cana-de-açúcar. O estudo analisou os efeitos na saúde ocasionados pela exposição aos poluentes gerados pelas atividades dessas indústrias no Estado da Paraíba, nos municípios de Itabaiana, Pedras de Fogo e Pilar e no Estado do Rio Grande do Norte, em Arês, Monte Alegre e São José do Mipibú, entre 2001 e 2011. O estudo ecológico, descritivo de séries temporais, analisou as ocorrências de casos de doenças endócrinas, cardiovasculares, respiratórias e digestórias. Não houve mensuração de exposição de poluentes de forma quantitativa, devido à falta de sistema de monitoramento. Os dados foram tratados sob a forma de taxas anuais por períodos de safra e entressafra para o total de internações dos quatro grupos de doenças e do padrão sazonal de ocorrência desses grupos de doenças. Observouse que nas taxas de internações há uma maior ocorrência nos 117 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE períodos de safra. Ficou sugerido que as internações por estes grupos de doenças foram influenciadas pelas condições ambientais geradas pelas indústrias sucroalcooleiras, aliada à falta de legislações específicas, e pela falta de um órgão regulador desses poluentes nesta região. Palavras Chave: Meio Ambiente, Cana-de-açúcar, Agravos à saúde. 1 INTRODUÇÃO O conceito de meio ambiente mais recentemente utilizado, não é meramente o meio natural, agrega a si um conceito amplo e contemporâneo, deste modo, compreendese meio ambiente como produção social, podendo ser comprometido pelas relações políticas, econômicas, culturais e socioambientais, impactando diretamente na qualidade de vida e na saúde daqueles que habitam este meio, inclusive o próprio homem, acarretando até em saúde ou doença, tendo em vista sua causalidade social. A partir do final da década de 70, observou-se uma íntima relação entre meio ambiente e saúde, entendendo este último processo como individual e/ou coletivo, desenvolvido “dentro de um núcleo biológico afetado pelos processos sociais, que por sua vez são dimensões da realidade com o passado e futuro”. (FIGUEIREDO, 2005) Nesta mesma década, surgiu então o Programa Proálcool, o que transformou o Brasil no maior produtor de cana de açúcar no mundo. Devidamente instaladas as indústrias sucroalcooleiras ou usinas de bioenergia, como também são podem ser denominadas, revelam outra expressão, além do desenvolvimento econômico, apontam 118 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE para a realidade, o desenvolvimento e/ou o agravo de diversas patologias decorrentes de todo o processo de industrialização da cana-de-açúcar, provenientes de toda e qualquer etapa deste processo, o que envolve desde o preparo do solo, o plantio, adubação, conservação, corte, transporte e todo processo de usinagem da cana-de-açúcar. Cada etapa do processo de industrialização de canade-açúcar acarreta em impactos ao meio ambiente, decorrente dos poluentes emanados por este processo, vão desde material particulado, uma espécie de combinação de partículas líquidas e sólidas suspensas no ar, como também gases tóxicos, como o ozônio, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e óxidos de hidrogênio, (CANÇADO et al., 2006), além dos agrotóxicos, defensivos agrícolas e fertilizantes. Os impactos na saúde ocasionados por esses poluentes decorrente do processo da cana-de-açúcar, e podem ser manifestados por patologias do sistema respiratório, como por exemplo, as doenças bronco pulmonares, ao sistema cardiovascular, como a hipertensão, além de possíveis patologias ao sistema digestivo, endócrino, como também doenças do olho, do ouvido, da pele e até mesmo neoplasias (GONÇALVES, 2006). Assim, o estudo teve como objetivo geral avaliar os efeitos na saúde ocasionados pela exposição aos poluentes atmosféricos gerados pelas atividades das indústrias sucroalcooleiras nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, entre 2001 e 2011, tendo em vista que nestas regiões, não há qualquer tipo de estudoreferente a tal problemática, além de não haver monitoramento algum da emissão desses poluentes, relando então a necessidade e relevância do estudo realizado. 119 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Local do Estudo A pesquisa foi realizada em seis municípios da região do litoral sul dos Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. As cidades sede das indústrias sucroalcooleiras são Pedras de Fogo-PB e Arez-RN. Além dessas cidades, foram tomadas como objeto de estudo municípios que fazem fronteira com elas, tomando como base para tal, o direcionamento do vento, pois grande parte dos poluentes são lançados ao ar.De acordo com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos CPTEC, nas referidas regiões o vento é predominantemente sudeste, o que torna os municípios paraibanos como Itabaiana e Pilar e os norte rio grandensse como Monte Alegre e São José do Mipibú, objetos da pesquisa também. (CPTEC, 2012) Além de tomar como base o direcionamento do vento, para a escolha dos municípios não-sede das indústrias, levouse em consideração também algumas peculiaridades marcantes, como pode-se destacar as obtidas a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, na qual pertencem à macrorregião da Zona da Mata, apresentam as mesmas características geográficas, com vegetação originada na Mata Atlântica, clima tropical e úmido e chuvas regulares (IBGE, 2012), além de densidade demográfica, bem como extensão territorial semelhantes (IBGE, 2010). 2.2 Dados de Saúde 120 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE Os dados trabalhados foram todos aqueles pertencentes aos consolidados de atendimento hospitalar com internações nos referidos municípios, informados aos órgãos competentes como Secretarias Municipais de Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde, e disponibilizados para consulta pública junto ao Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde Brasileiro - DATASUS. Foram selecionados todos os casos registrados na base de dados do DATASUS, independente de sexo e faixa etária, referentes a atendimentos de internação hospitalar inseridas na Classificação Internacional das Doenças – CID 10, relacionados às patologias endócrinas (Capítulo IV), respiratórias (Capítulo IX), circulatórias (Capítulo X) e digestórias (Capítulo XI), nos municípios de interesse, para o período entre 01 de janeiro de 2001 e 31 de dezembro de 2011. 2.3 Dados de Exposição A falta de um sistema de monitoramento da qualidade do ar nas regiões analisadas não permitiu a mensuração da exposição aos poluentes atmosféricos, de forma quantitativa. Deste modo, a exposição foi caracterizada levando-se em conta informações públicas como o início e o final das atividades de industrialização da cana-de-açúcara cada ano. Com isso, foi possível identificar os períodos de safra (agosto a fevereiro) e entressafra (março a julho), caracterizando a exposição como uma variável dicotômica (sim ou não). 2.4 Analise Estatística 121 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE Foram analisados através do padrão de distribuição temporal, os dados referentes às internações por doenças respiratórias, cardiovasculares, digestórias e endócrinas, nos municípios envolvidos no estudo, Itabaiana/PB, Pedras de Fogo/PB, Pilar/PB, Arês/RN, Monte Alegre/RN e São José do Mipibú/RN. Foram construídas anualmente taxas para os períodos de queima (safra) e não queima (entressafra) para o total de internações dos quatro grupos de doenças analisadas. A partir dessas taxas foram construídos gráficos de séries de tempo dos quatro grupos de doençaspara a análise descritiva do comportamento ao longo do período do estudo. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A figura 1 apresenta o total mensal, ao longo do período de 2001 a 2011, de internações por doenças endócrinas, cardiovasculares, respiratórias e digestórias, destacados por períodos de safra e entressafra, ocorridos nos municípios paraibanos de Itabaiana, Pedras de Fogo e Pilar. 122 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE FIGURA 1. Total mensal de internações por doenças endócrinas, cardiovasculares, respiratórias e digestórias, por períodos de safra e entre safra nos municípios paraibanos de Itabaiana, Pedras de Fogo e Pilar. Nota-se nesta figura que, o maior número de casos de internações ao longo do período estudado, para o Estado da Paraíba, foi de doenças respiratórias, e que este mesmo grupo de doenças apresentou a maior tendência para queda ao longo dos anos de 2001 a 2011. Além disso, as doenças respiratórias apresentam maior ocorrência de internações nos períodos de safra, ocorrendo inversão apenas nas entressafras dos anos de 2001 e 2003. As doenças cardiovasculares, que se apresentam como o segundo maior grupo de doenças com ocorrências de internações nos municípios estudados, também revela mais número de ocorrênciasnos períodos de safra, e assim como as doenças respiratórias, também apresentou uma tendência para queda do número de casos de internações ao longo do período 123 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE estudado. As doenças endócrinas aparecem como terceira colocada em relação ao número de internações ao longo do período estudado nos municípios paraibanos envolvidos no estudo, mostrando flutuações de internações nos dois períodos, de safra e entressafra, porém com predomínio nas épocas de safra. As doenças digestórias, apresentam-se como grupo de doenças com menor número de ocorrência para o Estado da Paraíba ao longo do período estudado, e que, apesar de manter um padrão linear de ocorrência, mostra maior número de internações para o período da safra. A seguir, a Figura 3 apresenta o total mensal, ao longo do período de 2001 a2011, de internações por doenças endócrinas, cardiovasculares, respiratórias e digestórias, destacados por períodos de safra e entressafra, ocorridos nos municípios do Estado do Rio Grande do Norte, Arês, Monte Alegre e São José do Mipibú. FIGURA 3. Total mensal de internações por doenças endócrinas, cardiovasculares, respiratórias e digestórias, por períodos de safra e entre safra nos municípios paraibanos de Itabaiana, Pedras de Fogo e Pilar. 124 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE Esta figura mostra que o Estado do Rio Grande do Norte, também apresenta maior numero de internações por doenças respiratórias ao longo do período estudado, e que estes casos ocorrem com maior predominância nos períodos de safra, com inversão apenas nas entressafras dos anos de 2002 e 2007. As doenças digestórias, ao contrário do que ocorre no Estado da Paraíba, se apresentam como o segundo maior grupo de doenças com ocorrências de internações, mostrando flutuações de internações nos dois períodos de estudo, safra e entressafra, com maior predomínio de ocorrências nas épocas de safra. As doenças cardiovasculares aparecem como terceira colocada em relação ao número de internações, com maior número de ocorrências nos períodos de safra. As doenças endócrinas apresentam-se como grupo de doenças com menor número de ocorrência para o Estado do Rio Grande do Norte ao longo do período estudado, e mostra maior número de internações para os períodos da safra. Ao observar estes resultados o estudo nos revela que, tanto nas cidades da Paraíba quanto nas cidades do Rio Grande do Norte, envolvidas na pesquisa, ao longo do período estudado, há de forma em geral mais casos de internações durante os períodos de queima da palha da cana-de-açúcar, época de safra, do que nos períodos de não queima, entressafra, para as os quatro grupos de doenças: endócrinas, respiratórias, cardiovasculares e digestórias. Especificamente para o grupo de doenças respiratórias, observou-se no Estado da Paraíba, uma maiortendência para queda ao longo do período estudado. Sabe -se que em 2007houve uma grande reestruturação na gestão dessas unidades sucroalcooleiras nas cidades de Pedras de Fogo/PB 125 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE e Arês/RN, no qual estas unidades passaram a ser administradas por um grupo multinacional, o qual investiu não somente no intuito de aumentar a produção de industrialização da cana-de-açúcar, mas em adequar as unidades para que o processo fabril cumprisse com a legislação em vigor no Estado de São Paulo, tendo em vista que os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, não possuem legislação tão específica. Desta forma, foi ampliado o número de hectares de colheita mecanizável nas duas regiões, diminuindo assim as queimadas na etapa da pré-colheita, além de terem sido instalados nas áreas industriais, um mecanismo denominado de “lavador de gases‟, no intuito de “filtrar” as partículas de poluentes atmosféricos emanados pelo processo de industrialização (JORNAL DA CANA, 2010). 4 CONCLUSÕES No presente estudo observou-se uma maior ocorrência de internações nos períodos de safra. As doenças respiratórias foram as que registraram maiores taxas de internações nestes períodos e o município de Itabaiana/PB registrou os maiores valores. Apesar de não ser unanime entre os municípios envolvidos no estudo, como nos casos das internações por doenças respiratórias, as taxas de internações por doenças cardiovasculares apareceram como segundo grupo de doenças com maiores taxas de internações ao longo do período estudado na maioria dos municípios, e apesar de em algumas cidades não ter havido uma diferença numérica muito grande entre os valores registrados nas duas épocas de 126 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE atividade agrícola, houve sempre maiores taxas nas épocas da safra. As taxas de internações por doenças digestórias e endócrinas também foram mais frequentes nos períodos de safra. Desta forma ficou sugerido que as internações por estes grupos de doenças, foram influenciadas pelas condições ambientais geradas pelas indústrias sucroalcooleiras nas populações dos municípios sede e nos municípios no entorno,aliada à falta de legislações específicas para o controle da queima da palha da cana-de-açúcar nas localidades de interesse, e pela falta de um órgão regulador desses poluentes nesta região. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANÇADO, J. E. D., et al. Repercussões clínicas da exposição à poluição atmosférica.J. Bras. Pneumol, São Paulo, vol. 32, p. 5-11, maio 2006. CENTRO DE PRECISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS. [site] Brasília, DF: Ministério da Ciência e Tecnologia. Disponível em: <http://www.cptec.inpe.br>. Acesso em: 10 maio 2012. DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA DO DISTEMA ÚNICO DE SAÚDE BRASILEIRO. [site] Brasília, DF: Ministério da Saúde. Disponível em <http://www.datasus.gov.br> Acesso em: 28 jan. 2012. FIGUEREDO, N. M. A. Ensinando a Cuidar em Saúde Pública. São Caetano do Sul: Yendis, 1995. GONÇALVES, Tedi Marcelo. Impacto da queima da palha da cana-deaçúcar na saúde. In: II Fórum Ambiental da Alta Paulista, 2006, São Paulo: ANAP, 2006, p.1-13. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. [site] Brasília,DF: Governo Federal, 2012. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 12 fev. 2012. ______. [site] Brasília,DF: Governo Federal: IBGE, c2010. Disponível em <http://www.censo2010.ibge.gov>. Acesso em: 12 fev. 2012. 127 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA GERADA PELA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE DAPARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE JORNAL DA CANA. [site]. Disponível <http://www.jornaldacana.com.br/noticia/Jornal-cana/33574+Dreyfus> Acesso em: 25 jun. 2013. em 128 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. CAPÍTULO 8 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E INTERNACIONAL NA PROMOÇÃO DOS AMBIENTES LIVRES DOS FATORES QUE CONDUZEM A DEPENDÊNCIA QUÍMICA. Lucas Brasileiro de Oliveira GOMES1 Thaynná Batista de ALMEIDA1 Clésia Oliveira PACHÚ2 1 Graduandos de Direito da UEPB-Campina Grande 2 Professora Dra. daUEPB- Campina Grande Email da autora: [email protected] RESUMO: Todos os anos crescem o número de pessoas que morrem vítimas de enfermidades causadas por agentes que causam a dependência química. O cigarro, por exemplo, possui fatia considerável nas estatísticas por ser um produto legalizado, de fácil obtenção, culturalmente aceito e principalmente por fazer parte de um mercado que movimenta todos os anos grandes somas de dinheiro, gerando grande atenção do mercado que usa de várias estratégias para vender cada vez mais o seu produto. Assim, tornou-se necessária a implantação de leis e a ratificação de tratados de âmbito internacional que versem sobre a regulamentação do uso de tais agentes em vias públicas, como forma de diminuir a mortalidade e as morbidades causadas por estes agentes. PALAVRAS-CHAVES: Morbidades, leis, cigarro. 129 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. 1 INTRODUÇÃO O Brasil se tornou um dos principais atores no cenário mundial no tocante ao controle da epidemia tabágica. Esta causa milhares de morte todos os anos no país e no mundo. Tal papel de destaque tem se intensificado principalmente nas últimas décadas do século XX e permanece até os dias atuais, principalmente pelas pesquisas não „financiadas pela indústria tabagista. Essas pesquisas têm demonstrado o risco à saúde pública que substâncias presentes no fumo causam aqueles que o consomem. A população mais jovem se tornou o principal alvo da indústria dos derivados do tabaco tendo em vista a sua vulnerabilidade psicológica para dependência química e ser potencial consumidor por vários anos. Além do dano à saúde pública, o dano econômico, deixado pela indústria tabagista aponta para enfraquecer os cofres públicos brasileiro que despendem milhões de reais todos os anos para arcar com as doenças relacionadas ao tabaco e a exposição a sua fumaça, em especial, ao tratamento da dependência química causada pela nicotina presente no cigarro (SEELING, 2009). Diante das problemáticas causadas pela fumaça do cigarro, os países foram pressionados pelas instituições internacionais a reorganizar suas respectivas legislações vigentes para que estas se adequem a realidade constatada e respaldada pelas pesquisas científicas como forma de diminuir o número de mortes causadas pela fumaça do cigarro, considerada a maior causa de morte evitável no mundo (WHO, 2015). Destarte, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estudou o material ao longo de vários anos, por meio de pesquisas de cunho científico e constatou que a atenuação do número cada vez maior de doenças causadas pelo cigarro, 130 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. seria necessária a criação de documento de cooperação internacional que unissem os países membros com o compromisso de regulamentar os produtos tabágicos. Em resposta a esse esforço de âmbito internacional, a indústria tabagista, preocupada com o impacto que tais medidas fossem causar no lucro da venda dos seus produtos, utilizou de toda sua influência política e econômica para frear tais ações, financiando diversas pesquisas duvidosas que contrariassem dados “negativos” da OMS acerca dos malefícios do tabaco, forjando documentos como forma de comprovar que a regulamentação proposta se tornaria desnecessária com o argumento de que o uso esporádico do fumo tanto ativo como passivo não causariam doenças do trato respiratório e vários tipos de câncer. No entanto, tais esforços para frear o controle do uso do tabaco foram derrubados por pesquisas comprobatórias da veracidade dos inúmeros malefícios dos produtos derivados do tabaco (SEELING, 2009). Outra discussão, considerada pela indústria tabagista diz respeito à arrecadação tributária que os países detêm com a venda dos produtos tabagistas, já que, alguns países têm como produto principal o cultivo do tabaco seriamente afetado se determinadas práticas da indústria tabagista fossem reguladas e restritas. Além disso, ainda há a questão da geração de milhares de empregos direitos e indiretos que a indústria do tabaco proporciona. O meio encontrado para reduzir as expectativas impostas pela indústria do tabaco como vantagens econômicas e sociais do consumo de cigarro foi a verificação do número acentuado de morte tabaco relacionadas e o número, cada vez maior, de dependentes químicos do tabaco, em especial, jovens que se tornam alvos fáceis do marketing 131 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. dessas indústrias. A regulamentação desses produtos, imposta por meio de normas, restringe a publicidade e venda para determinados públicos (grifo nosso). 1.1Contexto histórico da Convenção-Quadro e sua influência no ordenamento jurídico brasileiro Dados disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram que,cerca de 5 milhões por ano de pessoas morrem em todo mundo tendo por causa o consumo direto ou indireto de produtos fumígenos derivados do tabaco. Outros dados informados pela OMS dão conta que caso a atual taxa de consumo se mantenha pelas próximas três ou quatro décadas, o número de mortes causadas pelos produtos derivados do tabaco irá alcançar a marca de 10 milhões de mortes anuais, sendo 70% delas em países em desenvolvimento como o Brasil onde serão 200 mil mortes anuais provenientes do tabagismo. Diante de tais dados, a criação de um documento que unissem os países em prol do reconhecimento e do controle a expansão da epidemia do tabagismo se tornou urgente e foi o principal eixo propulsor para criação da Convenção-Quadro, durante a 52ª Assembléia Mundial da Saúde, ocorrida em maio de 1999. O documento representou o primeiro Tratado Internacional de Saúde Pública da históriaentrando oficialmente em vigor em fevereiro de 2005, contando com 40 ratificações. O Tratado tem como principal alvo, conter a expansão do consumo do tabaco, oferta e demanda. O Brasil teve papel de destaque durante toda a construção e negociação da Convenção-Quadro, sendo o segundo país a assiná-lo. A implantação da Convenção-Quadro no Brasil ganhou status de Política de Estado e sua ratificação se deu por meio do Decreto Legislativo nº 1012/2005. Além disso, o 132 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. cumprimento das medidas e diretrizes propostas pelo Tratado se tornou obrigação legal do governo brasileiro com a promulgação da Convenção-Quadro pelo Decreto nº 5658 em 2 de janeiro e 2006(INCA, 2015). 1.2As modificações no ordenamento jurídico brasileiro após a ratificação da Convenção-Quadro O Brasil na atualidade é o segundo maior exportador mundial de produtos derivados do tabaco (INCA, 2011). Mesmo assim, foi a principal liderança na Convenção-Quadro e coordenou a Convenção em três dos quatro anos da sua elaboração. O país possui a legislação mais completa relacionada ao controle do tabagismo. O cumprimento efetivo das normas da Convenção-Quadro, promulgado pelo Decreto nº 5.658/06, proclama a legislação brasileira no controle do tabaco, Lei nº 9294/96. Previsão de proibição da publicidade em torno do tabaco e restrições ao uso deste em locais públicos e privados somados a qualquer tipo de promoção do tabaco instigante ao consumir do tabaco por adolescentes (BRASIL, 2006) A legislação brasileira por meio da promulgação da lei 12.546/2011 tendo como principal escopo a proibição total de qualquer forma de propaganda dos produtos derivados de tabaco, no âmbito do ponto de venda, em qualquer veículo de comunicação em massa, ou outro meio, qualquer alusão a eles, veta os locais fechados públicos e privados do cigarro, pois anteriormente existiam áreas destinadas a fumantes, dentre outras disposições taxativas contra o cigarro e seus similares (BRASIL, 1996; BRASIL, 2011). Destarte, a lei 12.546/2011, impõe restrições mais rígidas com relação ao uso do tabaco em locais públicos e privados, já que a legislação anterior permitia o uso em locais específicos, fumodromos(BRASIL, 2011). A lei promulgada em 133 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. 2011, expressa a proibição do uso em qualquer espaço, vedação da publicidade e do marketing que induza venda, além da proibição da comercialização para menores de 18 anos. Porém, em nosso país, o aspecto normativo é extremamente rico, a execução desses dispositivos aconteceu em 2014. Após três anos, da norma promulgada ocorreu sua regulamentação pela presidente da federação em 2014. 1.3. Ambientes públicos e privados livres de fumo Estudos realizados por organizações de saúde, baseados nos princípios da engenharia mecânica dos fluidos, constataram que os fumodromos não oferecem efetiva proteção àqueles que não fumam, não bastando, a separação física dos fumantes dos não-fumantes como forma de proteger a saúde destes. Isso se deve principalmente porque a fumaça proveniente da combustão se dissipa no ar com enorme facilidade, tornando quase que impossível uma ventilação capaz de proteger nãofumantes do fumo passivo. Até mesmo os potentes sistemas de ventilação e exaustão não são eficientes para inibir os resíduos provenientes da combustão dos produtos fumígenos, por conta da espessura e elevada densidade das partículas desprendidas da queima do mesmo, tanto da ponta incandescente do cigarro, como pela fumaça expelida do fumante. O Federation of European Heating, Ventilation and Air Conditioning (REHVA) se posicionou da seguinte maneira sobre os ambientes livres de fumaça: A primeira prioridade no controle da qualidade do ar é sempre remover a fonte dos poluentes, ou seja, tratando-se de assegurar boa qualidade do ar, nada pode ser comparado à proibição do fumo.Mesmo o melhor sistema de ventilação possível não 134 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. resultará na redução dos compostos químicos nocivos da fumaça do tabaco a um nível de zero absoluto. Mas, dependendo do sistema escolhido, é possível reduzir a concentração dos compostos contaminados a uma fração do nível original. Deve-se considerar que o princípio da “concentração máxima permitida” é prática comum em muitas áreas quanto se trata da qualidade do ar. Porém, não existe “concentração máxima permitida” baseada na saúde para a poluição tabagística ambiental (REHVA, 2004 págs.13 e 14). Neste contexto, a completa vedação do fumo em ambientes fechados, semi-abertos, inclusive os “fumódromos” é a única maneira segura, atualmente, de proteger as pessoas do fumo passivo que potencializa as causas das “doençasgatilho”, como também eleva o risco para obtenção de males crônicos associados à exposição à fumaça do tabaco. 1.4 Lei 12.546/11 e a proteção da saúde pública Entende-se por tabagismo passivo aquele em que há a exposição à fumaça exalada pelos fumantes e por produtos de tabaco durante a sua queima. Essa exposição se mostra tão prejudicial à saúde quanto o seu próprio consumo. Segundo dados do OMS as mortes causadas por males do fumo passivo estão no 3º lugar em número de casos e mortes evitáveis no mundo, sendo a grande maioria destas vítimas crianças, que inalam a fumaça do cigarro exalada por seus pais antes mesmo de nascerem. Ainda, segundo dados da OMS, o número de crianças afetadas por doenças provenientes do fumo passivo chega a 700 milhões no mundo todo. Pode-se concluir que a exposição à fumaça ambiental do 135 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. tabaco está correlacionada ao desenvolvimento de doenças e agravos à saúde, mesmo de quem não fuma. Não há níveis seguros para essa exposição, incluindo a exposição às emissões advindas dos cigarros eletrônicos, e-cig, vaper (OMS, 2014). Por este motivo se torna igualmente relevante a regulação, vigilância e monitoramento da exposição da população fumante e não fumante ao tabagismo passivo, tanto em ambientes públicos quanto em suas casas. Uma das principais vertentes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco está presente no seu artigo 8º que diz respeito aos ambientes livres de fumaça. Por meio desta vertente presente na ConvençãoQuadro para o Controle do Tabaco em 2011 foi aprovada no Brasil a Lei 12.546 que regulamenta os espaços em que é permitido o uso de produtos fumígenos. A Lei, regulamentada em 2014, proíbe o ato de fumar cigarrilhas, charutos, cachimbos, narguilés e outros produtos em locais de uso coletivo, públicos ou privados, como halls e corredores de condomínios, restaurantes e clubes, mesmo que o ambiente esteja parcialmente fechado por uma parede, divisória, teto ou toldo. Além disso, os estabelecimentos comerciais que desrespeitarem a norma estão sujeitos a multas ou, nos casos mais graves, até mesmo perder a licença para ao seu funcionamento. 2 MATERIAIS E MÉTODOS A presente pesquisa tida como qualitativa, uma vez que a mesma imprime uma finalidade subjetiva, analisando os fenômenos sociais, onde o estudo em questão não busca 136 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. números, mas compreensão detalhada do envolvimento social com a legislação, nitidamente algo que não pode ser buscado por meio dos números, mas de maneira qualitativa. Também será de cunho descritivo por visar proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito.A análise exploratória e descritiva, corresponde a exploração apartir de material já existente (publicações científicas), tendo como objetivo a exploração de dados já constantes para formar opinião sólida e fundamentada, de maneira ofertar uma interpretação balizada a respeito da Lei sob exame analítico. Nesse estudo serão utilizadas fontes legislativas e doutrinárias, assim como dados disponibilizados pelos principais órgãos de saúde internacionais e nacionais como a OMS, Instituto Nacional do Câncer (INCA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Os dados utilizados serão coletados das legislações de 1996 até o presente dia. Serão incluídos documentos concernentes ao controle da dependência química, atividades de verificação do cumprimento da legislação concernente ao consumo de derivados do tabaco em ambientes privados e públicos, e, documentos relacionados aos gastos públicos que o país despende quanto mortalidade relacionada ao tabagismo. A convenção-Quadro para o Controle do Tabaco será utilizado como documento subsidiário nesse estudo, Visando maior entendimento de como a legislação mundial e brasileira se modificou para regulamentar o uso de derivados do tabaco, passando pelo contexto histórico que conduziu a essa modificação da legislação até a regulamentação dos pontos de venda, da publicidade e distribuição dos produtos fumígenos. 137 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A convenção-Quadro possuidois enfoques principais, demanda e oferta. Isso porque os principais fatores que conduziu a expansão de indústria tabagista foram o enriquecimento e o poderio econômico que os produtos derivados do tabaco alcançavam. Assim, para obter cada vez mais lucros, as grandes companhias tabagistas investiram maciçamente na ampliação do seu comércio para outros países, no marketing por meio da internet para ampliar o comércio digital, além de outras formas de publicidade. O investimento promovido pelas indústrias tabagistas na ampliação do mercado do tabaco também foi de grande contribuição na elevação da taxa de mortalidade derivada do tabagismo (INCA, 2015). No texto final da Convenção-Quadro as medidas relacionadas à demanda estão inseridas nos artigos 6 o a 14 e dizem respeito ao aumento depreços e impostos sobre produtos de tabaco como instrumento para prevenção e redução do tabagismo (artigo 6º);proteção contra os riscos da exposição à fumaça do tabaco (artigo 8º); regulamentação do conteúdo e emissões dos produtos de tabaco com o enfoque da redução dos danos causados por esses produtos (artigo 9º); regulamentação da divulgação das informações sobre os produtos de tabaco (artigo 10); regulamentação da embalagem e etiquetagem dos mesmos (artigo 11); educação, comunicação, treinamento e conscientização do público (artigo 12); proibição da publicidade, promoção e patrocínio dos produtos de tabaco (artigo 13) e,promoção da cessação do tabagismo (artigo 14). As medidas relacionadas à oferta estão nos artigos 15 a 17,envolve o combate ao comércio ilícito de produtos de 138 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. tabaco como forma de recuperar perdas tributárias e, sobretudo reduzir o acesso dos jovens e da população de baixa renda aos produtos de baixo preço fornecidos pelo mercado ilegal; a proibição da venda a menores de idade ou por eles; promoção e apoio a atividades alternativas economicamente viáveis à produção de fumo na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Também dispõe sobre questões de proteção à saúde do trabalhador e ao meioambiente relacionadas à produção de fumo e derivados (artigo 18). A regulamentação prevê, por exemplo, penalidades em caso de desrespeito a lei (BRASIL, 2012). A efetividade da lei deve ser requerida pelo cidadão brasileiro, uma vez não ter sido regulamentada em todo o território nacional. As leis restringem o uso e a venda do tabaco corroborando com a ratificação da Convenção-Quadro. Neste contexto, possibilita o país reduzir o número de dependentes do tabaco de 34% no ano de 1989, para 16% no ano de 2006 (MINUCI, 2012). A legislação denota Política Pública eficaz e sua efetividade dependerá da atuação dos cidadãos em absorver e exigirem o cumprimento das normas. O Ministério da Saúde voltado para a promoção, prevenção e assistência à saúde desempenhou papel ativo e crucial para a ratificação brasileira da CQCT. Nesse viés, seguindo tendência mundial de saúde pública, a edição da lei 12.546/11 e o Decreto 8.262/14, tornou-se novo marco no tocante ao ordenamento jurídico brasileiro. Disciplinando a total proibição dos “fumódromos”, áreas para fumantes ou quaisquer outros ambientes público e privados, fechados ou semi-abertos, de qualquer interferência tóxica da fumaça dos derivados do tabaco e demais fumígenos. Permitindo apenas o uso apenas na rua, a céu 139 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. aberto ou em residências privadas, salvo os casos permitidos em lei, lugares de culto aonde o ato de fumar faça parte do ritual, dentre outras disposições reguladas por esses dois instrumentos legais. A norma além de extinguir os fumódromos também acaba com a possibilidade de propaganda comercial de cigarros, mesmo nos pontos de venda, onde era permitida publicidade em displays. A Lei apenas libera a exposição dos produtos, acompanhada por mensagens sobre os males provocados pelo fumo. Além disso, os fabricantes terão que aumentar no próprio produto os espaços para avisos sobre os danos causados pelo tabaco. A mensagem deve ocupar 100% da face posterior das embalagens e 30% de uma de suas laterais. Assim, a Lei 12.546/11 pretende contribuir para redução do número de enfermidades para não fumantes ativos, mas que por frequentarem local onde há fumantes acabam por se expor a fumaça dos produtos derivados do tabaco. Segundo a OMS, estes locais contêm três vezes mais nicotina que o cigarro propriamente dito, causando assim, dano maior aqueles expostos a poluição ambiental tabágica. 4 CONCLUSÕES O tabagismo é uma doença, causada pela dependência química a nicotina, substância encontrada no tabaco dentre as mais de 4.700 existentes no cigarro.Essa doença é a principal causa de morte evitável no cenário mundial, estimando que a terça parte da população mundial adulta, sejam dependentes químicos do tabaco. O quantum total de mortes associadas ao tabaco e seu uso alcançou o patamar de 4,9 milhões de mortes anuais, correspondente a mais de 10 mil óbitos diários. 140 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. A projeção pela instituição de saúde de caráter mundial é de que caso as cifras expansionistas de quantidade de usuários de tabaco continue a se elevar no mesmo ritmo, por volta do ano de 2030, serão 10 milhões de óbitos anuais, dentre eles 50% de população em idade produtiva, 35 anos a 69 anos. A criação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco foi de suma importância para o controle do tabagismo e a redução dos níveis de morbimortalidade causada pelo tabaco. O Brasil desempenhou papel de destaque na elaboração e coordenação da Convenção e, antes da elaboração deste, já contava com legislação relacionada ao tema. O conjunto de Políticas Públicas voltadas para controlar a epidemia do tabagismo foi elaborado e efetivado por meio doe trabalho conjunto dos Ministérios da Saúde, Desenvolvimento Agrário, Justiça, Educação e, Trabalho e Emprego. Essas medidas permitem a garantia do direito social à saúde, devendo ser assegurado pelo Estado e, permite a aplicação do Princípio da Reserva do Possível que protege a inviolabilidade do direito à vida e à saúde, qualificada como direito subjetivo inalienável assegurado a todos pela própria Constituição da República. Assim, apenas é possível privilegiar o respeito indeclinável à vida e saúde humanas. Assim, definido os únicos locais onde é permitido fumar de acordo com a Lei é casa, em áreas ao ar livre, parques, praças, áreas abertas de estádios de futebol, vias públicas e tabacarias, estas devem ser voltadas especificamente para esse fim. Entre as exceções estão também cultos religiosos, onde os fiéis podem fumar caso faça parte do ritual. A efetivação de Políticas Públicas prima por prevalecer à vida. Em contrapartida ao interesse financeiro e secundário do 141 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. Estado. Configurado esse dilema, razões de ética jurídica impõem uma só e possível opção, aquela a privilegiar o respeito indeclinável à vida e saúde humanas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA DE,Guilherme Eidt Gonçalves. A interferência da indústria do tabaco na aprovação de lei federal n.12.546 de 2011 para ambientes livres de fumo. Disponível em http://actbr.org.br/uploads/conteudo/733_A_Interferencia_da_industria_do_ Tabaco_na_lei.pdf Acesso em 22 de setembro de 2015. BACKERS,Simone Regina,MARQUES,Lima Claúdia.FCCT e a restrição à publicidade do tabaco. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/82525/Resumo_20020942 .pdf?sequence=1 Acesso em 21 de setembro de 2015. BRASIL, Decreto nº 5.658/06, de 2 de Janeiro de 2006. Que Promulga a Convenção-Quadro sobre Controle do Uso do Tabaco, adotada pelos países membros da Organização Mundial de Saúde em 21 de maio de 2003 e assinada pelo Brasil em 16 de junho de 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20042006/2006/Decreto/D5658.htm. Acesso em 23 de setembro de 2015. BRASIL, Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Que em dentre as suas disposições, fala sobre a proibição da publicidade do tabaco no âmbito dos locais de venda; a proteção dos ambientes públicos e privados da fumaça do cigarro e seus congêneres. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12546.htm Acesso em 22 de setembro de 2015. BRASIL, Lei nº 9294/96, de 15 de Julho de 1996. Que Dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4° do art. 220 da Constituição Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9294.htm. Acesso em 23 de setembro de 2015. CQTC,Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco; Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2011. Disponível em http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/convencao_quadro_texto_oficial.PDF Acesso em 21 de setembro de 2015 INCA,Instituto Nacional do Câncer ,2011 Disponível em http://www1.inca.gov.br/tabagismo/. Acesso em 20 de setembro de 2015 MINUSSI, Larissa Mendes. A construção social das normas. A origem da convenção-quadro para o controle do tabaco e seus impactos no 142 A legislação brasileira e internacional na promoção dos ambientes livres dos fatores que conduzem a dependência química. Brasil. Disponível em http://www.maxwell.vrac.pucrio.br/20704/20704_1.PDF. Acesso em 22 de setembro de 2015 OMS, Organização Mundial da Saúde, 2015 disponivel em: http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5 74:tabagismo&Itemid=539. Acesso em 22 de setembro de 2015. REHVA, Federation of European Heating, Ventilation and Air Conditioning, 2015. Disponivel em:http://www.rehva.eu/index.php?id=225. Acesso em 22 de setembro de 2015. SAMPAIO, Kelly Cristine Baião. REIS, Fellipe Guerra David. A proibição de “fumódromos” no Brasil pela lei 12.546/11: uma abordagem pela ordem constitucional. Disponível em http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=1f1baa5b8edac74e. Acesso em 22 de setembro de 2015. SCHEIBLER, Juliana Luisa. A emergência de fóruns reguladores globais: relações e conflitos entre atores locais no processo de regulação do tabaco.Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp042344.pdf. Acesso em 22 de setembro de 2014 SELLING, Marina Fonseca. A ventilação e a poluição tabagística ambiental – argumentação científica para o estabelecimento de leis de ambientes interiores livres de fumo.Disponivel em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/21259/000735849.pdf?se quence=1. Acesso em: 22 de setembro de 2015. WHO, World Health Organization, 2011. Disponível http://www.who.int/en. Acesso em 22 de setembro de 2015 143 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA CAPÍTULO 9 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA Tiago José Vasconcelos De FARIAS¹ Josivânia Silva CAMPOS¹ Luciana Iara Das Neves ALVES¹ Giselle Medeiros Da Costa ONE² ¹ Mestres em Ciências da Educação e Multidisciplinariedade pela FacNorte/IBEA. ²Orientadora. Bióloga. Drª Biotecnologia. Instituto BioEducação RESUMO: Embora a EA tenha se tornado uma exigência constitucional, ainda está distante de ser uma atividade aceita e desenvolvida em nossa sociedade, pois implica profundas transformações. A EA introduzida nas escolas em todos os níveis e modalidades de ensino pode contribuir para produzir mudanças de comportamento, de atitudes e valores, no intuito de defender e preservar o MA para as presentes e futuras gerações. Neste sentido, o presente estudo objetivou investigar e compreender a relação existente entre os elementos naturais e culturais dentro de uma visão geográfica. Identificou-se que a geografia não percebe a EA em sua totalidade, tende a associá-la meramente aos fatores naturais, prática adversa de sociedade dita consumista e de EA contemporânea aos rumores da internacionalização do capital, como também, ao pensamento geográfico hodierno. Portanto, conclui-se que o coletivo escolar deverá oferecer meios efetivos para que seus educandos e educadores apercebam os fenômenos naturais e humanos por intermédio de uma 144 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA visão sistêmica, para que assim o MA possa ser compreendido a partir de uma ótica integral desconsiderando as práticas de cunho conservacionista e/ou reducionista. Palavras-chave: Geografia e Meio Ambiente. Percepção ambiental. Educação ambiental. 1 INTRODUÇÃO Atualmente as questões ambientais vêm ocupando lugar de destaque nos mais variados contextos sociais, acredita-se que o viés condutor de tal realidade justifique-se na considerável crise ambiental que se encontra submerso este grande amalgama chamado „Terra‟. Sendo assim, para mitigar-se e/ou converter-se esse fato torna-se preeminente fazer valer o preconizado pela Educação Ambiental (EA) hodierna que entende o Meio Ambiente (MA) como uma confluência lavrada entre os elementos sociais e naturais. Jacobi (2003) acrescenta que o maior desafiado é evitar cair na simplificação de que a educação ambiental poderá superar uma relação pouco harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente mediante práticas localizadas e pontuais, muitas vezes distantes da realidade social de cada aluno. Desta forma, optou-se por suscitar a temática „Percepção Ambiental no contexto escolar‟ a partir de uma ótica geográfica em decorrência da precisão de translucidar para este coletivo, que apegar a uma prática pedagógica tradicionalista/reducionista que não procura conhecer/compreender as interfaces que se processam continuamente nos espaços de vivência, pouco colabora-se para a formação de educandos críticos, atuantes e capazes de promover transformações salutares no meio em que encontram-se inseridos. 145 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA Desse modo, compete à escola em estudo buscar contribuir para o desenvolvimento de uma nova racionalidade ambiental, definindo e redefinindo prioridades e estratégias, estabelecendo e restabelecendo práticas capazes de transformar os indivíduos, a sociedade, para que promovam melhoria no MA, consequentemente na qualidade de vida, e a AE apresenta-se como agente fundamental para o alce desse anseio. Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo suscitar a temática „Percepção Ambiental no contexto escolar‟ a partir de uma ótica geográfica. 2 METODOLOGIA Realizou-se uma revisão bibliográfica acerca da temática „Percepção Ambiental no contexto escolar‟ a partir de uma ótica geográfica através de artigos científicos, dissertações e teses no banco de dados da Scielo. Utilizou-se como palavraschave: Geografia e Meio Ambiente. Percepção ambiental. Educação mbiental. 3 RESULTADOS E DISCUSÃO As discussões acerca da problemática ambiental remontam as décadas de 60/70 quando ecólogos por meio de movimentos ecologistas demonstraram a necessidade de mudar o espontaneismo determinado pela apropriação privada da natureza associada ao desenvolvimento tecnológico. Esse desenvolvimento vem distanciando a relação existente entre homem-natureza e causando transformações consideradas 146 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA intensivas e extensivas geradoras de uma acumulação gradativa de problemas ambientais (FARIAS, 2008). Diante de tal contexto a Educação Ambiental (EA) passa a exercer um papel extremamente relevante, encarregando-se de transparecer para o convívio social que apegar-se a um sistema imediatista em que a filosofia do ter prevalece sobre a do ser torna-se o fator gerador de uma acumulação gradativa de impactos ambientais. Esse pensamento comprova-se nas palavras Deperon (2004) quando adita que “a EA deve evidenciar mudança de atitudes, valores e ações na forma de se relacionar com a vida e com a natureza. Pensar o ambiente significa introduzir novas formas de percepção”. Ainda de acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente, a EA deve ser compreendida como “um processo de formação e informação, orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre questões que levem à participação das comunidades para a preservação do equilíbrio ambiental” (BRASIL, 2002). Para que essa formação crítica aconteça de maneira preponderante, torna-se indispensável despertar no sujeito a capacidade de ler e interpretar o ambiente, as relações e conflitos aí presentes, onde só será possível a partir do momento que a EA, subsidiada de “conhecimentos geográficos”, ultrapassar os paradigmas positivistas e dotar-se de uma postura transversal que tenha como eixo norteador a construção de uma prática pedagógica baseada na realidade de cada aprendiz (FARIAS, 2013). Neste sentido, observa-se a necessidade de (re) educar os cidadãos e cidadãs a fim de que possam atuar de modo responsável, conservando o ambiente saudável, passando assim a compreender, exigir e respeitar os direitos próprios e dos diversos seres, como também, ampliar a qualidade de 147 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA suas relações intra e interpessoais com o ambiente tanto físico quanto social, uma vez que a noção de meio ambiente constitui-se a partir de um “conjunto de condições, leis, influencia e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 2002). Daí a importância de acometer-se numa compreensão ambiental a partir das inter-relações entre o social e o natural. É no cerne dessas vinculações que a dimensão ambiental alude-se ao pensamento geográfico, em virtude deste ser produzido e dilato a partir de confluências que se estabelecem entre “o homem, as sociedades e os componentes físicos, químicos, bióticos do meio, estes integram também os aspectos econômicos, sociais e culturais de um meio”. (MENDOÇA, 2001). Pautado em uma análise epistemológica, assegura-se que inúmeros são as pesquisas voltadas para a temática ambiental, cabe aqui nos indagar se essas investigações estão realmente alcançando os objetivos desejados, ou se existe uma carência de efeitos e/ou contextualização nesses estudos. De acordo com Silva (2004): O que se pretende com a Educação Ambiental é a ligação do ser humano com a natureza interna e externa. Em Educação Ambiental é essencial que o educador associe a aprendizagem de informação e a vivência de atividades que possibilitem o desenvolvimento da sensibilidade, de criatividade e da ludicidade como a prática de ações e atitudes ambientais corretas, o que possibilitará ao educando ver, pensar, 148 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA sentir e agir em consonância com o meio ambiente, proporcionando a integridade do conhecimento, assim enfatizando a necessidade de preservar e/ou conservar os recursos ambientais. Em relação a essa asserção torna-se evidente o distanciamento que há ente o discurso pronunciado e as práticas efetivadas nos espaços acadêmicos, o que contribui para a propagação de uma EA apática, inautêntica, incapaz de (re) introduzir outros modos de vida para que se possa promover a transformação e/ ou (re) construção de uma nova sociedade, onde o planejamento, a equidade, a sustentabilidade, tornem-se artífices preeminentes (MATIAS, 2011). Cabe ressaltaR, que por mais que os discursos do desenvolvimento sustentável propagados pelos mais variados canais de comunicação carregam consigo a iniciativa de fomentar mudanças socioambientais no envolto humano, as instituições e empresas de base capitalista sempre estarão buscando desarticular tais perspectivas (FARIAS, 2008). Para tanto, faz-se necessário que as atitudes humanitárias sejam individuais e coletivas, caso contrário, encontraremos apenas práticas reduzidas, disjuntivas, ações isoladas que pouco contribuem para o melhoramento da qualidade ambiental. Nesse sentido, compete ao sujeito despertar para a necessidade de converter determinadas posturas, atitudes e comportamentos frente ao MA (FARIAS, 2008). Outro princípio que merece ser destacado e/ou problematizado nesta reflexão, diz respeito à necessidade de explicitar para a sociedade que a formação social e ecológica do indivíduo não é tarefa apenas de uma instituição social 149 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA (escola), mas da nação como um todo, pois como afirma Souza (2007): A tarefa de educar não compete apenas à escola, é também uma responsabilidade da sociedade pelo processo como um todo: família, estado (governo) e a mídia; esta última constitui a maior fonte de informação que a maioria das crianças e das famílias possuem em seu meio ambiente. Desse modo, confirma-se a precisão de translucidar para a sociedade que o espaço escolar não se configura como sendo o único responsável pela formação da consciência ambientalista ou por uma mudança de hábitos, este influi, mas a transformação das relações sociais entre os seres humanos e o meio natural requer uma alto-integração entre todos os setores subsistentes ao convívio social (FARIAS, 2008). Embasado numa concepção sistêmica, pode-se assegurar que para a EA alcançar os objetivos propostos, torna-se indispensável à execução dos seguintes princípios: área de abrangência, a permanência e a consciência crítica por parte do grupo social envolvido. Em relação ao princípio da abrangência compreende-se que a obtenção de êxito no processo educativo só acontece a partir do momento que este passa a envolver todo um coletivo levando em consideração os lugares vividos por este, o requisito da permanência tem como finalidade atentar para que a perspectiva ambiental seja trabalhada de forma consistente e ativa nos mais variados espaços sociais, e por fim o preceito da consciência crítica que propõem despertar no indivíduo o censo crítico, destarte, contribuir para o exercício da cidadania, objetivando assim a constituição de uma sociedade consciente e ecologicamente sustentável (FARIAS, 2008). 150 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA Sobre estes preceitos, ainda salienta-se que a EA não pode e não deve ser limitada apenas ao local (interior), esta deve partir de uma significação particular para uma projeção global, em virtude de sua ideologia ser respaldada a partir da confluência de fatores ecológicos, econômicos, sociais, políticos, culturais e éticos, fundamentos essenciais para a formação cidadã (FARIAS, 2008). Outro aspecto desencadeador de múltiplos questionamentos em torno dessa problemática diz respeito às práticas de cunho reduzido adotadas nos mais variados âmbitos sociais, políticos e econômicos, pois se costuma associar e/ou delimitar o meio ambiente apenas aos fatores naturais, essa nossa reflexão é confirmada por Carvalho (2006), quando ressalta que: No universo daquilo que chamamos de “ambiente” é muito frequente o fato de o trabalho pedagógico recair sobre as interações com o ambiente natural, seja buscando sua compreensão biológica/física, seja problematizando os impactos da ação humana sobre a natureza. Em ambos os casos corre-se o risco de tomar a tradição naturalista como matriz explicativa e resumir o meio ambiente à natureza (...) Essa lente “naturalista” é um dos polos em oposição aos quais práticas de Educação Ambiental crítica têm vivenciado novas leituras e interpretações. Essa tendência de deslindar meio ambiente apenas aos elementos naturais vitaliza o discurso determinista da Geografia, este apregoava a ideia de que as condições naturais, especialmente as climáticas, determinavam à existência e o comportamento humano, interferindo assim na 151 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA sua capacidade de evoluir. Tal perspectiva confirma-se a partir da teoria ratizeliana quando elucida que “a natureza é quem determina a ação humana”. Vale ressaltar que essa perspectiva foi vanguardeada até o final do século XIX e início do século XX, quando passou a ser questionada por outros paradigmas, concomitantemente o Possibilismo, o Método Regional, a Nova Geografia e a Geografia Crítica. Sem desfazer-se de nenhuma dessas concepções, todas responderiam ao seu modo, por uma aproximação da geografia as relações homem-natureza (FARIAS, 2008). Diante dessa linha de contradições, definições e reflexões, o que se observa atualmente é “uma forte tendência à utilização, de forma ampla, do termo „socioambiental‟, pois tornou-se muito difícil e insuficiente falar de meio ambiente somente do ponto de vista da natureza quando se pensa na problemática interação sociedade-natureza” (MENDONÇA, 2001). Como já se evidenciou anteriormente, as discussões e conquistas galgadas pela EA são frutos de constantes embates populares, neste intento a Constituição Brasileira no seu Artigo 225 assegura que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem do uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (MATIAS, 2011). Visando contribuir com a mudança de percepção ambiental da sociedade brasileira as Comissões Interinstitucionais Estaduais de Educação Ambiental (CIEAS), as Redes de Educação Ambiental em concomitância com outras organizações, elaboraram o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), que tem como principal 152 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA escopo colaborar com a construção de um Brasil sustentável (FARIAS, 2008). Para tanto, o supracitado programa, fomentou-se por intermédio da propagação de um viés focado no desenvolvimento de atitudes e/ou posturas equídeas perante todas as formas de vida existentes no planeta, premissa ímpar para o alce de uma EA sistêmica, transformadora capaz de atender a complexidade dos múltiplos espaços bióticos e abióticos (FARIAS, 2008). Daí denota-se a necessidade de adquirir-se novos valores e atitudes frente às questões ambientais, só assim poderá alcançar o enraizamento de uma cultura respeitosa no meio social, reconhecendo a importância que cada elemento seja ele de ordem natural ou social detém na formação desse grande organismo chamado “Terra‟‟. Outrossim, declara-se a precisão de empregar o tema “Meio Ambiente” de maneira transversal, o que não ocorre nos mais variados espaços socioambientais (MATIAS, 2011). Desta forma, tem-se conhecimento de que a percepção ambiental envolve uma complexa rede de relações procedentes da confluência de múltiplos fatores onde o entendimento do lugar segundo Moreira e Hespanhol (2007) é considerado “não como uma soma de objetos, mas como um sistema de relações (subjetivo-objetivo, aparência-essência, mediato-imediato, real e simbólico)”, que tornam-se o marco principal para que o sujeito possa desmistificar e compreender o ambiente global a partir de sua espacialização. No entanto, para que esse pensamento “geosistêmico” possa ser realmente difundido e propicie a formação de uma sociedade ecologicamente sustentável, é preciso que ocorra um relacionamento mais intenso e extenso entre o sociocultural e o natural. Desta feita, atingiremos aos anseios 153 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA lobrigados pela perspectiva ambiental intencionada nesta pesquisa (FARIAS, 2008). Segundo Brito (2004) nesta acepção: A escola deve ter como imprescindível a estimulação do exercício pleno da cidadania, almejando o aprendizado de novos valores que busquem a constituição de uma sociedade mais justa e sustentável. Por meio da educação ambiental, que faz com que os educandos compreendam o funcionamento, a dependência e como podem ser afetados, espera-se que possam participar ativamente de sua proteção e melhoria. Portanto, aplicar a Educação Ambiental de forma pluralista no ambiente escolar acredita-se ser o viés de maior relevância, em virtude deste contexto ter como principal função proporcionar ao indivíduo a capacidade de ler o mundo a partir de suas especificidades, como também, mostrar que para continuarmos a existir necessitamos iminentemente mudarmos nossas práticas e posturas frente aos recursos naturais (FARIAS, 2008). 4 CONCLUSÕES Com base nas informações obtidas denotou-se que o tema MA é compreendido a partir de uma visão naturalista, que dissociam os elementos sociais/culturais do cerne da perspectiva ambiental, prática adversa a filosofia da EA ambiental contemporânea que se configura por meio de uma visão sistêmica onde o natural-social tencionam-se como fatores conexos e interdependentes. 154 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA REFERÊNCIAS BRASIL. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução nº 306, 19 de julho de 2002. Dispõe sobre Estabelece os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi =23. Acesso em: 04 mai. 2011 BRITO, A. M. de. Gestão escolar e meio ambiente. In: HAMMES, V. S. Educação Ambiental: Construção da Proposta Pedagógica. 2ª edição, São Paulo: Editora Globo, 2004. CARVALHO, I.C. de M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológica. 2ª edição, São Paulo: Cortez, 2006. DEPERON, M. L. da S. Educação ambiental, ética e cidadania planetária. In: HAMMES, V. S. Educação Ambiental: Construção da Proposta Pedagógica. 2ª edição, São Paulo: Editora Globo, 2004. FARIAS, T. J. V. de. Percepção ambiental a partir do coletivo escolar: estudo de caso realizado no 5º ano do ensino fundamental da EEMEIEF. Alice Jorge da SilvaCaraúbas/PB. Monografia (Curso Licenciatura Plena em Geografia) Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, 2008. JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, mar. 2003 MATIAS, R. dos S. PERCEPÇÃO AMBIENTAL: estudo de caso realizado com alunos do 6º e 9º Ano do Ensino Fundamental II no município de Caraúbas-PB. Monografia (Curso Licenciatura Plena em Biologia) Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, 2011. MENDONÇA, F. Geografia Socioambiental. São Paulo, Terra Livre, páginas 113 a 132, número 16, 1º semestre de 2001. MOREIRA. E. V. ; HESPANHOL. R. A. de M. O lugar como uma construção social. Revista Formação, v. 2, n.14, 2007. 155 PROBLEMATIZANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA SILVA, M. M. P. da. II Fase de Capacitação do Curso de Agentes Multiplicadores em Educação Ambiental: In Caderno de curso realizado no município de Caraúbas- PB. 2004. SOUZA, J. M. F. de. Educação Ambiental no Ensino Fundamental: metodologias e dificuldades detectadas em escolas de município no interior da Paraíba. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) Universidade Lusófona de Humanidades e tecnologias, Portugal, 2007. 156 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE CAPÍTULO 10 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉ-PE Hugo Lamezony de Oliveira BARRETO1 José Fabrício Ramos dos SANTOS2 Hellayne Priscilla Conceição Sales SANTOS3 Ednaldo Ramos dos SANTOS4 Jorge Luiz Silva ARAÚJO-FILHO5 1 Discente do mestrado em Saúde Coletiva e Gestão Hospitalar FACNORTE/BIOEDUCAÇÃO, Barreiros-PE, e-mail:[email protected]; 2 Discente do mestrado em Saúde Coletiva e Gestão Hospitalar FACNORTE/BIOEDUCAÇÃO, Barreiros-PE; 3 Discente do mestrado em Saúde Coletiva e Gestão Hospitalar FACNORTE/BIOEDUCAÇÃO, Recife-PE;4 Biólogo, Mestre em Ciências Biológicas, Doutor em Ciências Biológicas, Professor da Faculdade Joaquim Nabuco, Recife-PE; 5 Docente das FIP e UNINASSAU, Mestre em Patologia, Doutor . em Biotecnologia RESUMO: O valor do solo e a sua importância sempre foram aspectos importantes no cotidiano dos homens.Ao longo dos tempos a ocupação racional desse solo se tornou algo indispensável para o desenvolvimento das cidades. Administrar a complexidade que envolve essa ocupação, principalmente a que ocorre de forma desenfreada nos ambientes urbanos mais populosos. Aliado às necessidades dos homens, também figura a importância dos aspectos sociais e suas inter-relações, incluindo o turismo que é também fator importante no desenvolvimento de algumas regiões. É necessária a compreensão dos valores para um ambiente saudável e ecologicamente equilibrado. Analisando este contexto o presente estudo tem como objetivo realizar uma avaliação sobre as potencialidades das áreas de morro do município de Tamandaré-PE. O pensamento sistêmico 157 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE possui como características principais a busca do entendimento do processo que compele a dinâmica da ocupação do solo e a relação dos processos abrangentes à questão decorrente do rápido crescimento populacional e falta de uma estratégia sistêmica que resulte em um desenvolvimento sustentável do município. Palavras-Chave: Solo. Ocupação. Meio Ambiente. Turismo. 1 INTRODUÇÃO A atividade voltada para análise das potencialidades turísticas nas áreas de morro do município de Tamandaré-PE, objetiva também desvendar os aspectos ambientais e ações antrópicas que interferem direta e indiretamente no turismo ecológico das mesmas, nesse sentido se faz necessárias abordagens e discussões de temas afins no intuito de obter dados que possibilitem a implantação dessa atividade turística, e consequentemente favoreça o crescimento econômico local. O estudo nos revela de forma hipotética que; quando os meios físicos e biológicos de uma área urbana não estão equilibrados, tendem à regeneração natural. Em meio a tudo isso uma nova dinâmica de relações são determinadas. Na abordagem do tema, foram questionadas primeiramente as características da população e do ambiente que serão tratados como objeto de estudo, buscando-se a interação desses elementos de análise, tendo isso em mente, elaborou-se uma sucinta abordagem sobre a qualidade de vida e conservação ambiental das áreas de morro do município de Tamandaré-PE, considerando os componentes socioeconômicos, demográficos e ambientais de um estudo previamente desenvolvido e que oferece a base para o presente ensaio em relação ao potencial turístico que as áreas observadas 158 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE oferecem.Nessa acepção, o presente estudo visa oferecer algumas contribuições para o impasse desses desafios e apresentar o autêntico potencial turístico das áreas de morro da cidade de Tamandaré; município este, que fica centrado no litoral sul do estado de Pernambuco e equidista a 100 quilômetros da capital, atualmente totaliza uma população de 18.999 habitantes, segundo dados do Censo 2009 (IBGE, 2009). 2 MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido no município de Tamandaré. Foram realizadas visitas às áreas de morro selecionadas, e aplicados questionários para os moradores da região, e aos turistas para aferir a percepção dessa população sobre as potencialidades e desafios dessas áreas para o desenvolvimento do turismo ambiental. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Constituição Brasileira estabelece no artigo 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”(BRASIL, 1988). Nesta conjuntura se faz necessário, então, trazer a discussão o tema Análise das Potencialidades e Desafios Para o Turismo Ambiental nas Áreas de Morro do Município de Tamandaré-PE, no intuito de sugerir um norte à sociedade no sentido de promover a sustentabilidade através do ecoturismo 159 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE em áreas de morro, e cumprindo o dever constitucional de respeito à natureza como patrimônio público a ser protegido. O processo de evolução que o homem passou, desde os seus primórdios aos dias atuais, culminou com o atual regime capitalista, que segundo Chauí (2005) separa o trabalhador e a propriedade das condições de seu trabalho, convertendo em capital, por um lado, os meios sociais de vida e de produção, enquanto, por outro lado converte os produtores diretos em assalariados.Cavalcanti (2007), fala no modelo econômico convencional, de índole mecanicista, onde o homem parece não dever nada a natureza. Contudo, nos dias atuais, a preocupação com a conservação e a educação ambiental, vem ressaltando ao homem que ele precisa pensar nas causas e consequências do seu atual modo de vida e uso do ambiente. Assim observa-se que o processo de urbanização e a perspectiva ambiental, tem-se caracterizado, entre outras coisas, pela ocupação desordenada do espaço urbano. A Agenda 21 brasileira confirma o agravamento dos problemas urbanos devido a esse crescimento (BRASIL, 2000). Analisando numa perspectiva positiva, vemos nas áreas de morro um potencial turístico exacerbado esbarrando em problemas detectados na pesquisa como: Ocupação desordenada do solo, Crescimento populacional, Densidade demográfica, entre outros que de maneira direta ou indiretamente participa do processo de favelização de determinadas áreas periféricas do município, alterando toda característica natural do local. 160 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA DA OCUPAÇÃO E USO DO SOLO O espaço litorâneo do sul de Pernambuco apresenta configurações microrregionais decorrentes do processo histórico de sua ocupação. A política de colonização vinculou a cultura e a produção do açúcar, induzindo uma estrutura de ocupação bastante homogênea. As nucleações urbanas do litoral surgiram junto às sedes dos antigos engenhos adensando uma faixa costeira de aproximadamente 10 km. As principais delas ocuparam as margens dos rios de maior porte como o Ipojuca, Sirinhaém, Formoso e Una (CPRH, 2015). Em parte essas informações nos levam a crê que, durante muito tempo na estreita faixa costeira predominou a cultura do coco e pequenos aglomerados populacionais compostos por trabalhadores do coqueiral e da mão de obra temporária dos canaviais, além dos pescadores, nos dando a estranha certeza de que a ideia de exploração comercial e turística do local era irrelevante. A década de 60 vivenciou um acelerado processo de urbanização, de caráter, no mais das vezes, especulativo, tanto com a ocupação desordenada desta faixa como pela indexação de 50% da área da faixa costeira à implantação de loteamentos de veraneio (FIDEM, 1987). Foram observadas três áreas de morro distintas do município de Tamandaré, cada área apresenta um potencial de exploração particular, mas todos possuem características comuns como altitude, relevo, vegetação e visualização da parte costeira do município, sendo o Morro do Oitizeiro a única área de morro habitada. Nos dias atuais pode ser observada a analogia do antes e o depois da ocupação habitacional de um trecho da 161 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE área presentes, a dinâmica que mudou o Morro do Oitizeiro no sentido econômico, social e cultural. A idéia de explorar única e exclusivamente a região costeira de forma extrativista através da pesca e coleta de coco, ganha nas últimas três décadas um elemento sazonal denominado veraneio. Alguns moradores nativos alugam seus imóveis e agenciam passeios de barco e de jangadas com o intuito de obter um retorno financeiro, diante desse contexto surgi de maneira um tanto simplista a prática do turismo informal. Outros meios bastante utilizados que podem ser facilmente citados são; a comercialização de doces e frutas nativas da região, juntamente com apetrechos de enfeites e decoração produzidos por artesões locais e da região; atualmente tal pratica vem tornando-se cada vez mais comuns graças às intervenções externas como: especulação imobiliária, aumento da demanda por regiões pouco exploradas, pavimentação de vias de acesso e divulgação de informações a respeito do local nos meio de comunicação de fácil acesso, tais como: jornal de circulação regional, emissoras de rádio, emissoras regionais de televisão e internet. Naturezas da atividade urbanística É comum aos seres pensantes acreditar que toda porção de solo plano é produtiva e economicamente viável, por outro lado se ignora a existência do potencial econômico das áreas de morro e se contesta sua viabilidade no processo de crescimento econômico. Para execução de qualquer atividade de produção faz-se necessário à realização de estudos prévios de diagnose. 162 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE Segundo Savi (1997), “Identificar o perfil dos usuários é fundamental para o sucesso do uso público, afinal, após se conhecer o perfil dos visitantes é possível a tomada de decisões com maior qualidade, com responsabilidade da aplicação de medidas técnicas mais objetivas, gerando racionamento e melhoramento de recursos materiais, financeiros e humanos.” Nas áreas de morro observadas do município de Tamandaré, foi visto que não só os munícipes, mas também os turistas e visitantes não consideram uma extensão territorial de aclive como ponto turístico, alguns pelo fato do município esta localizado na região litorânea do estado e outros pela falta de conhecimento sobre o assunto abordado, como podemos observar nos gráficos que seguem anexos. As caracterizações dessas áreas são bastante comuns em grande parte das cidades do interior do estado, geralmente as áreas de morro são ocupadas de forma inadequada e desordenada, provocando um choque visual e paisagístico, o que também seria importante ressaltar é fato da utilização indevida do solo, na prática de atividades como: retirada e comercialização de argila, e utilização de áreas de morro mais afastadas do município para implantação de lixões; como podem ser observadas a caracterização o solo reage mecanicamente às intervenções. Esses e outros conflitos foram caracterizados como impasses para prática do ecoturismo de morro no município detectados nos autos da pesquisa. Se tratando das questões físicas e ecológicas do ambiente, o município apresenta uma riqueza geológica com terrenos associados a um grupo de barreiras e solo argiloso. Com relação à fauna e a flora dos locais visitados durante o 163 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE ensaio, identificou-se uma formação vegetacional correspondente à originária mata atlântica na parte superior da área, já na parte mais baixa se distinguir uma pequena porção de ecossistema manguezal, altamente antropotizado. O levantamento da flora expressa uma variabilidade florística para o ambiente de mata atlântica, tendo sido encontradas várias espécies nativas do ecossistema. Em se tratando das observações relacionadas à fauna, foram vistas grande variedade de aves, répteis e insetos, predominando as de ampla valência ecológica. Esses diagnóstico de observação nos refletem o processo de antropização pelo qual o município vem passando. Análises das potencialidades identificadas Tuan (1980) retrata aspectos que podem ser relacionados à paisagem, além da topofilia, como o conceito de topocídio: sendo o primeiro uma forma de expor seus sentimentos pelo local visitado, podendo voltar várias vezes por senti-lo como um local agradável e até podendo passar a defendê-lo; já, o segundo, é tido como um lugar que não é agradável para seus freqüentadores, sendo degradado por não ter uma função clara aos seus usuários. As condições geográficas, segundo Filho (1999), determinam as atrações exercidas por um lugar turístico, gerando sentimentos topofílicos ou topocídicos para outros, já que em todas as paisagens há atos conservacionistas e atos de depredação. Analisando o potencial e a situação dos atrativos e infra-estrutura das áreas de morro do município de Tamandaré-PE, chegamos a alguns resultados, propostas ou pontos de visão, que podem ser considerados no quadro 01. 164 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE Localizado em locais de fácil acesso e próximos às vias de acesso ao centro comercial da cidade e via litorâneas, as áreas de morro do município vez antes citado encontra-se aberto para visitação pública diariamente, vez que se encontram na condição de áreas pertencentes ao município e não de propriedade privada. Os locais apresentam ambientes arejados, arborizados e com uma vista privilegiadas de vários pontos da cidade devido a sua localização e altitude, e de aproximadamente oito dos quatorzes quilômetros pertencentes a faixa costeira de praia. Todavia, não existem instalações e prédios que ofereça serviços de lanches, refeições, fotografias, vídeos, barracas de artesanatos, sanitários, dentre outros, proporcionem o desenvolvimento do ecoturismo de morro. 165 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE Quadro 01: análise das potencialidades identificadas nas áreas de morro Potencialidades Áreas naturais turismo e lazer Atual situação de Biodiversidade Local de fácil acesso e localização favorável Áreas relativamente conservadas e pouco comprometidas pela ausência de eventos no local. Elevado grau de ocupação desordenada e invasões nas porções inferiores do morro, extração de barro não autorizada. Proximidade do centro da cidade de Tamandaré, de serviços turísticos e meios de hospedagem, e da via de contorno Costa Dourada. Importância para o ecoturismo local Possibilidade de trabalhar com a real interpretação ambiental. Propostas para o desenvolvimento do ecoturismo Criação de uma agência municipal de ecoturismo e cooperativas. Espaço com um potencial para implementação de trilhas e outros esportes de aventura. Viabilizar a criação de um roteiro específico para a Prática do turismo nas áreas de morro. Possibilidade de utilização do espaço para prática de educação ambiental e de pesquisa científica. Inserir o local em roteiros turísticos e de visitação do litoral sul do estado. A atividade turística que mais apresenta características atrativas é o ecoturismo. Com o seu surgimento na década de 1980, é apontado como um segmento da atividade turística, o qual se apresenta como uma alternativa sustentável de exploração turística dos ambientes naturais. Existem muitas ameaças de impactos ambientais que a atividade turística pode provocar ao patrimônio natural de uma determinada área (Quadro 2). 166 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE Quadro 02: Benefícios e riscos do turismo associados às áreas de morro Benefícios Ambientais Informa o devido valor da conservação e preservação do ambiente. Fomenta o surgimento de novas práticas ambientais. Induz lideranças locais a promover projetos de desenvolvimento e uso sustentável do ambiente. Aumento da procura e oferta de emprego no ramo turístico, em função do aumento da visitação. Riscos Ambientais Faunas podem ser afugentadas devido ao fluxo de visitação. O solo pode ser compactado nos locais mais visitados. Aumento de demanda por água potável do município. Crescimento significativo na geração de resíduos sólidos. Em relação ao turismo de morro consideramos tal evento como ecoturismo, pois sua atividade é capaz de conciliar o desenvolvimento local com a conservação do meio ambiente, principalmente quando se trata de áreas protegidas. De acordo com Lindberg e Huber (2001) “uma das principais vantagens do ecoturismo é a de proporcionar um impulso que favorece tanto a expansão da conservação quanto o desenvolvimento do turismo.” Ainda considerando os princípios do ecoturismo e co-relacionando os mesmos as atividades realizadas em áreas de morro citados por Kinker (2005), pode-se destacar que a atividade deve considerar que o atrativo principal é a natureza conservada da mesma, o ecoturismo deve produzir o mínimo impacto no meio ambiente natural e cultural, deve despertar e sensibilizar o turista e a comunidade local, além de contribuir financeiramente para a proteção, conservação do meio ambiente e fortalecer as comunidades locais do ponto de vista econômico. Que segundo Dale (2005), o ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através 167 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas. Resultados da percepção de conhecimentos básicos sobre áreas de morro. Os aspectos naturais de uma área de morro, por si só, caracterizam-se por atrativos potenciais para o desenvolvimento do ecoturismo, sobretudo visando o bem estar da população local, dos ambientes visitados e do desenvolvimento econômico local. Com essa análise foi aplicado um questionário a um público alvo com um total de 137 entrevistados, realizado em aspectos perceptivo sobre as áreas de morro do município de Tamandaré; quando perguntados a respeito da existência de paisagens naturais, do total dos entrevistados 76% responderam que existe enquanto 24% afirmaram não conhecer tais paisagens; quando questionados em relação às atividades de turismo ambiental 68% disseram conhecer a atividade, e, 32% citaram não conhecer; questionados sobre a existência de um potencial turístico no município, 81% afirmaram que sim, enquanto 19% disseram que não; é perceptível o interesse da população sobre o tema, quando questionados sobre localização e condições de moradia 77% dizem serem adequadas, e, 23% afirmaram que as moradias são inadequadas; os moradores mostraram insatisfação, quando questionados em relação à facilidade de acesso ao local, pois 88% dizem ser de difícil acesso, e apenas 12% dizem de fácil acesso; Perguntados em relação a possibilidade de enquadrar as áreas de estudos em atividades de roteiros turísticos, e, passeio 69% afirmam que sim, enquanto 31% afirmaram que não seria possível adequar as áreas de estudos a prática de 168 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE atividades, e, de roteiro turístico; Questionados quanto a percepção de potencialidades turísticas nas áreas de morros, 62% dizem que sim, e, 38% afirmam não conhecerem as potencialidades. O resultado deste questionário ajuda a demostrar as reais necessidades de estudos sistêmicos no que diz respeito a pratica do turismo em áreas de morros do município de Tamandaré–PE, já que estas são potencialmente positivas quando realizadas de forma criteriosa que contemplam as respectivas carências econômicas e socioambientais. 4 CONCLUSÕES A ocupação das áreas de morro no que diz respeito a atividades de empreendimentos imobiliários, pratica de atividades turísticas são perceptíveis para os habitantes e poderes públicos que objetivam o desenvolvimento socioambiental da área estudada. Hoje o município de Tamandaré é objeto de investimentos que devem ser sistematicamente estudados, pois os impactos positivos devem ser abrangentes aos meios que participam desse crescimento urbano, assim o turismo se torna não uma atividade causadora de degradação, mas uma pratica de gera renda e desenvolvimento. A implantação de um novo roteiro turístico na região costeira do estado é interessante visto que o município apresenta características físicas e climáticas apropriadas para tal fim. Essa temática refere-se ao não só ao potencial turístico, que sem dúvidas existe, mas, precisa ser aprimorado sistematicamente, no sentimento de preservação do patrimônio natural, presente nas comunidades receptoras do 169 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE próprio turista, assim sendo assegurado um ambiente agradável as gerações atuais e futuras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACERENZA, M. A. Administração do turismo: conceituação e organização. Bauru, SP:EDUSC, 2002. BLEY, L. M. Um estudo de paisagem valorizada. In: DEL RIO, Vicente; OLIVEIRA, Lívia de (Orgs.). Percepção Ambiental: A Experiência Brasileira. 2ª ed. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Agenda 21 Brasileira. Bases para Discussão. Comissão de políticas de desenvolvimento sustentável e da agenda 21 nacional. Brasília, 2000. p.196. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Agenda 21 Brasileira – Ações Prioritárias/Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21. Brasília, 2001.160p. CAVALCANTI, C. Nem desenvolvimento nem sustentabilidade: o modelo econômico dominante. Recife: Fundação Joaquim Nabuco. 1997. CHAUÍ, M. O que é Ideologia. 39. ed. São Paulo: Brasiliense S.A. 1995. CPRH. Diagnóstico Ambiental do Litoral Sul de Pernambuco e Projeto de Gerenciamento Costeiro de Pernambuco, Recife,1999. CPRH. Diagnóstico Sócio Ambiental do Litoral Sul de Pernambuco. Recife. 1997. CPRH. Planode Gestão: Perfil Litoral Sul de Pernambuco, Recife. outubro/1997. DALE, P. Definindo ecoturismo...Para quê? Para quem? In: NEIMAN, Zysman; MENDONÇA, Rita (orgs). Ecoturismo no Brasil. Barueri, SP: Manole, 2005. Estatística de Contagem Populacional, Tamandaré. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contage m_final/tabela1_1_13.pdf. FERREIRA, Rita C Monteiro & GALDINO, Paula Regina. Planejamento Estratégico na Administração Pública, 2009. KINKER, S. Ecoturismo e conservação da natureza em parques nacionais. 2.ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. LINDBERG, K. ; HUBER, R. M. Questões Econômicas na Gestão do Ecoturismo. In: LINDBERG, Kreg ; HAWKINS, Donald. Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. 3 ed. São Paulo: Senac, 2001. 170 ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA O TURISMO AMBIENTAL NAS ÁREAS DE MORRO DO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉPE PIRES, M. J. Lazer e turismo cultural. São Paulo: Ed. Manole. 2edição, 2002. QUEIROZ, E. Coletânea de texto do curso de planejamento estratégico para o ecoturismo, 2007. SANTOS, A. D. A . Gestão de resíduos sólidos e áreas de zonas espaciais de interesse social. Dissertação de Mestrado (Gestão e Políticas Ambientais). UFPE, Recife, 2004.p.171. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo, Difel, 1980. 171 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR CAPÍTULO 11 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR Ivele Anicet HERTZ1 Daniel de Almeida RABER2 Ana Maria Coulon GRISA3 1 Aluna Mestrado Profissional Ensino de Ciências e MatemáticaUCS; 2Aluno Mestrado Profissional Ensino de Ciências e MatemáticaUCS; 3Professora Mestrado Profissional Ensino de Ciências e Matemática UCS RESUMO: A educação ambiental busca por meio de um processo participativo e permanente imprimir uma consciência sobre a problemática ambiental e a importância da sustentabilidade. Assim, como uma forma abrangente de educação, procura alcançar todos os cidadãos. A sociedade atual necessita de ações coletivas que possam definir novas relações produtivas, culturais e sociais que proporcionem uma vivência mais sustentável. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo contribuir para o conhecimento e a conscientização dos alunos com relação ao ambiente e cidadania, desenvolvendo ações para a preservação e desenvolvimento sustentável através de um projeto de educação ambiental com pesquisa participativa no ambiente escolar e fora dele. Esta pesquisa foi realizada pelos alunos e professores participantes do Programa de Iniciação em Ciências, Matemática, Engenharias, Tecnologias Criativas e Letras (PICMEL) com o apoio da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O presente trabalho foi realizado em uma escola pública de Gramado/RS e por meio de práticas educativas, proporcionou 172 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR aos estudantes uma maior consciência em relação ao meio ambiente e conhecimento de estratégias que contribuem para a sustentabilidade. Palavras-chave: Sustentabilidade. Meio ambiente. Ensino Médio. 1 INTRODUÇÃO A atual problemática ambiental revela a desarmonia que se encontra a sociedade com a natureza (SILVA, 2012). Com o crescimento populacional, aumentou a demanda global dos recursos naturais. A exploração desses recursos naturais passou a ser feita de forma demasiadamente intensa e a ponto de pôr em risco a sua renovação. Os PCN (BRASIL, 1998) apresentam uma proposta interdisciplinar e ressaltam a necessidade da formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global (DEPRESBITERIS, 1998). Nessa perspectiva realizou-se um trabalho interdisciplinar sobre educação ambiental, envolvendo alunos do Ensino Médio Politécnico de uma escola pública do município de Gramado, Rio Grande do Sul, com o objetivo de analisar questões pertinentes ao meio ambiente, fomentar discussões acerca do atual modo de vida da sociedade e despertar nos estudantes e professores a difusão de conceitos e práticas que contribuam para preservação e proteção do meio ambiente. No desenvolvimento deste trabalho inicialmente foram propostas ações metodológicas relacionadas à produção de 173 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR resíduos sólidos gerados na cidade de Gramado/RS, com a observação direta do percurso desses resíduos. Posteriormente foi realizada uma sequência de visitas técnicas fora do ambiente escolar, com o intuito de proporcionar ao estudante a percepção da extensão de pequenas ações danosas ao ambiente, em relação à má utilização dos recursos naturais e descarte incorreto dos resíduos gerados, através da compreensão e utilização dos 5R‟s (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar). Considerando toda a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, no tempo e no espaço; as escolas sobressaem-se como espaços privilegiados na elaboração e aplicação de situações que propiciem essa reflexão. O desenvolvimento de projetos que tem relação com a vida do estudante, que lhes desafia e traz de fato uma aplicação de conhecimentos, resulta em uma aprendizagem com potencial significativo. Possibilita promover e estabelecer estratégias de organização, estimulando os educandos a fazerem escolhas, assumir responsabilidades e realizarem um trabalho coletivo e interdisciplinar (HERNÁNDEZ e VENTURA, 1998). Considerando esse pensamento, se faz necessária a implantação de projetos voltados à educação ambiental, abordando questões ecológicas, como: estudar a natureza; evitar contaminações e poluição do ar e queimadas; responsabilidade na geração e descarte de resíduos sólidos, pois seu destino tornou-se um dos maiores problemas ambientais da nossa sociedade. Sabe-se que, “[...] o desafio de um projeto de educação ambiental é incentivar as pessoas a se reconhecerem capazes de tomar atitudes” (MEIRELLES e SANTOS, 2005, p.35). 174 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR Contudo, acredita-se que o conhecimento acerca da demanda de recursos naturais e de alternativas de recuperação, reciclagem e reutilização de resíduos sólidos, podem gerar mudanças de hábitos e de práticas de consumo, contribuindo para a preservação do meio ambiente. 2 MATERIAIS E MÉTODO Inicialmente os professores de biologia, química e matemática realizaram uma palestra sobre ecologia envolvendo assuntos conceituais e o modo de vida do ser humano na sociedade contemporânea, visando conscientização e sensibilização dos estudantes do Ensino Médio Politécnico. A metodologia utilizada teve como fundamento uma ação educativa e participativa, buscando envolver os alunos em todas as etapas do processo. O trabalho foi realizado no ano de 2014 com aproximadamente 300 estudantes de 1º, 2º e 3º anos do ensino médio politécnico da Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco, localizada em Gramado/RS. No segundo momento foi realizada a visitação à central de triagem do município, com o objetivo de proporcionar aos estudantes a vivência da vida cotidiana dos profissionais que trabalham na triagem de resíduos, considerando a importância social, econômica e ambiental da atividade. Por meio de um instrumento na forma de um questionário, durante a visitação à usina de triagem, observações sobre o meio foram registradas. A participação no registro e levantamento dos aspectos interativos e 175 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR colaborativos é uma estratégia que permite a construção do conhecimento (MEMBEILA, 2005). No terceiro momento os alunos e os instrutores realizaram uma visita a uma mina de extração de carvão mineral e a um aterro sanitário no município de Minas do Leão/RS, local onde é depositado o rejeito da cidade de Gramado/RS. A saída de campo foi finalizada com uma visita, ao local que já funcionou como uma jazida de extração de basalto, o Rincão Gaia, no município de Pantano Grande/RS, área da sede da Fundação Gaia que atualmente é um exemplo de recuperação de áreas degradadas. Posteriormente após as saídas de campo, os estudantes realizaram um trabalho descrevendo o percurso realizado, ou seja, sua caminhada ecológica. As observações individuais do percurso, da escola ao Rincão Gaia, foram registradas na forma de um trabalho ilustrativo e explicativo em um caderno individual chamado SchoolBook. Nesse caderno interdisciplinar são registradas as atividades desenvolvidas por todas as disciplinas e se constitui de um projeto desenvolvido anualmente. SchoolBook é um projeto interdisciplinar do Ensino Médio Politécnico da escola citada e consiste em um caderno individual onde são registradas as principais atividades dos alunos de uma forma pessoal e personalizada. As atividades elaboradas pelos alunos nesta proposta metodológica foram relatórios da saída de campo, uma avaliação das ações cotidianas quanto aos hábitos e a pegada ecológica individual, realizada no site footprintnetwork.com, que analisa o cotidiano de vida e o correspondente aos gastos de recursos naturais do planeta. 176 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No momento inicial, após a realização da palestra sobre meio ambiente, a participação dos alunos na troca de ideias das ações individuais e coletivas para a preservação do meio ambiente são etapas essenciais de um processo educativo. Posteriormente foi realizado um debate sobre as ações pessoais que afetam o ambiente e quais medidas devem ser tomadas para minimizá-las. As ações voltadas à diminuição de gasto de energia elétrica e água na escola e nas residências, são medidas elencadas e que podem ser realizadas pelos próprios alunos, com vistas à melhoria do meio ambiente. Promover o conhecimento sobre o meio ambiente e a importância de atitudes sustentáveis requer o pensar e o agir nas diversas dimensões da vida. Segundo Meireles e Santos (2005, p.35), [...] “O desafio de um projeto de educação ambiental é incentivar as pessoas a se reconhecerem capazes de tomar atitudes”. As atividades propostas pelos professores das diferentes áreas do conhecimento no planejamento do projeto foram desenvolvidas com interesse pelos alunos. Para Vaitsman e Vaitsman (2006), a interdisciplinaridade é entendida como uma concepção didático-pedagógica na qual são enfatizadas as interdependências existentes na abordagem de diferentes temas, evitando-se assim a compartimentalização do ensino. Essa etapa foi muito significante, pois em um único momento e espaço, todos os estudantes e os professores 177 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR dialogaram e esclareceram as dúvidas em grande grupo, em uma atividade participativa. A Figura 1 ilustra a visitação à central de triagem realizada por todas as turmas do ensino médio e acompanhada pelos professores do projeto, o Secretário de Meio Ambiente e um funcionário da empresa responsável pela coleta dos resíduos na cidade. Quando perguntados sobre a importância da utilização de plantas medicinais para o tratamento de doenças (Figura 1), onde 87% dos entrevistados responderam positivamente. Figura 1.Visitação à Central de Triagem de Gramado/RS (Fonte: professores do projeto). As anotações registradas no roteiro de observação durante a visitação foram analisadas e discutidas nas aulas de Biologia. Os alunos destacaram a estrutura física, limpeza e organização do pavilhão de triagem como adequada, 178 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR evidenciaram a ausência de animais nas dependências da central, a separação em baias dos diferentes materiais e a dificuldade da separação do resíduo orgânico do seco. Nesse momento também foi ressaltada a importância da conscientização sobre da separação do resíduo e da reciclagem de materiais, como sendo uma medida importante para a sustentabilidade do meio ambiente. Paralelamente os alunos realizaram um levantamento sobre o tempo que alguns materiais levam para se decompor na natureza e o impacto do descarte no meio ambiente. A tabulação dos dados elencados na pesquisa realizada na aula de Biologia foi efetuada nas aulas de Matemática. Essa atividade visa uma apropriação da linguagem estatística para a sua formação, com a intenção de se verificar o desempenho dos mesmos diante de questões que envolvem leitura e interpretação dos tipos mais comuns de gráficos. A estatística torna-se uma presença constante no cotidiano de qualquer pessoa, fazendo com que a formação estatística seja uma prioridade da sociedade contemporânea. Esse conhecimento fornece habilidades para que as pessoas possam analisar de modo crítico os dados apresentados e ainda questionar sua veracidade (LOPES, 2010). A elaboração de gráficos que relacionavam o tipo de resíduo pesquisado com o tempo de decomposição foi realizada em grupos e utilizaram como recurso tecnológico o software Excel, que serve para explorar novas possibilidades pedagógicas e contribuir para uma melhoria do trabalho docente, valorizando o estudante como sujeito do processo educativo. Mercado (1998) aponta que o objetivo de introduzir novas tecnologias na escola é para trazer novidades pedagogicamente importantes que não são realizadas de 179 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR outras maneiras. Dessa forma, a escola passa a ser um lugar mais interessante e que prepara o estudante para o seu futuro. A Figura 2 ilustra o gráfico que contém o tempo de degradação, medido em décadas, de diferentes tipos dos materiais, produzido por um dos grupos de alunos. Figura 2. Relação entre resíduos sólidos e tempo de degradação no ambiente(Fonte: grupo de alunos participantes do projeto). Os gráficos produzidos foram expostos na forma de cartazes para os demais alunos da escola, servindo de base para um debate entre os próprios alunos acerca do tempo de decomposição de diferentes materiais e ideias de continuidade de trabalhos sobre conscientização, reuso e reciclagem desses materiais. A Figura 3 ilustra a mina de extração de carvão mineral na cidade de Minas do Leão e Pantano Grande, ambas no RS. Figura 3.Minade carvão mineral (Fonte: professores do projeto). 180 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR Nessa visitação os alunos levantaram questões ao guia da mina quanto: a quantidade de mineral extraído, o uso e a formação do carvão, a restauração da área explorada, o tempo de exploração e tempo de capacidade da mina. Esses esclarecimentos foram registrados pelos estudantes. Os alunos observaram também, uma área regenerada pela companhia (Figura 4), onde foram informados que quando é concluída a mineração, as etapas de recuperação compreendem os seguintes passos: recomposição topográfica, espalhamento do solo vegetal, correção e adubação do solo e revegetação. Figura 4.Árearegenerada pela CRM (Fonte: www.crm.rs.gov.br). Após, realizaram a visitação na Central de Resíduos do Recreio (CRR), administrada pela Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR). Nesse local está instalado o aterro sanitário e os alunos receberam informações sobre as normas, orientações sobre a instalação do aterro, capacidade, tamanho da propriedade e fauna e flora presentes. A partir dos dados e por meio das anotações, os alunos organizados em grupos fizeram uma produção escrita 181 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR das informações coletadas na saída de campo, durante as aulas de Biologia e Química. Na visitação ao Rincão Gaia (Figura 5), os alunos visualizaram a diversidade dos ambientes do local e a interação com a natureza, assim ouviram lições de educação ambiental. Na escrita de relatório da visitação, foram destacadas as práticas de baixo impacto, como as hortas e pomares sem agrotóxicos, a geração de energia solar e a criação de animais soltos no espaço do sítio. Figura 5.Visitação ao Rincão Gaia (Fonte: professores do projeto). A Figura 6 mostra o registro da caminhada ecológica realizada no SchoolBook e as ações que devem ser tomadas para a sustentabilidade do meio ambiente. 182 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR Figura 6.Atividades dos estudantes sobre a realização da saída de campo (Fonte: professores do projeto). As atividades incluíram relatórios da saída de campo, uma avaliação das ações cotidianas quando aos hábitos e a pegada ecológica individual, realizada no site footprintnetwork.com. Essa atividade foi analisada e apresentada à turma durante as aulas de Biologia. 4 CONCLUSÕES O papel dos professores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade como parte de um processo coletivo. O projeto teve um impacto positivo na comunidade escolar, uma vez que a utilização de atividades interdisciplinares demonstrou a possibilidade de se fazer ciência e apresentar o conhecimento científico. O trabalho realizado proporcionou uma oportunidade de reflexão sobre a complexidade dos problemas ambientais e do papel fundamental da educação ambiental no ensino, como um instrumento essencial às práticas sustentáveis. 183 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR A educação ambiental se processa como uma metodologia de caráter interdisciplinar e as atividades desenvolvidas forneceram subsídios à tomada de atitudes e ações com relação à preservação do meio ambiente. O pensamento complexo só poderá se concretizar se mantiver uma relação permanente de colaboração e diálogo entre os diversos campos de conhecimento, de modo que a interdisciplinaridade é uma etapa para o desenvolvimento de novos conhecimentos que permitam aprender a lidar com os desafios socioambientais. O processo do conhecimento precisa ser perpassado pela aptidão de contextualizar, integrar e globalizar saberes. As atividades dos trabalhos realizados foram registrados no SchoolBook como forma de divulgar as tarefas realizadas com relação à sustentabilidade e enfatizando que a educação é o melhor meio de divulgação do conhecimento e de grande impacto social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, M. L. T. Educação ambiental no cotidiano da sala de aula: um percurso pelos anos iniciais. Rio de Janeiro: Livro técnico, 2009. BIZZO, N.; OTHERO, F. O “método dos projetos” no ensino de Ciências: reflexões sobre seis anos de aplicação. In: VII Encontro “Perspectivas do Ensino de Biologia” e I Simpósio Latino-Americano da Ioste, 2002, São Paulo. O “método dos projetos” no ensino de ciências: reflexões sobre seis anos de aplicação. São Paulo: FEUSP, 2000. p. 807-809. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. DEPRESBITERIS, L. Educação Ambiental: algumas considerações sobre interdisciplinaridade e transversalidade. In: NOAL, F. O.; REIGOTA, M.; BARCELOS, V. H. L. (org.) Tendências da Educação Ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1998. p. 127- 143. 184 O TEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM PROJETO INTERDISCIPLINAR DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992. FEJES, M. et al. Implementación de proyectos de investigación en ciencias vía telemática. RevistaNovedades Educativas: ideas y recursos, Buenos Aires, v. 16, n. 163, p. 04-09, 2004. HERNÁNDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do Currículo por Projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ªed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. LOPES, C. A Educação Estatística no Currículo de Matemática: Um ensaio Teórico. In: Reunião Anual da ANPED. Caxambu, v. 33, p. 1-15, 2010. MEIRELLES, M. S; SANTOS, M. T. Educação Ambiental uma Construção Participativa. 2. ed. São Paulo, 2005. MEMBIELA, P. Enseñanza de las ciencias desde la perspectiva cienciatecnología-sociedad: formación científica para la ciudadanía. Madrid: Narcea Ediciones. 2002. MERCADO, L. P. L. Formação Docente e Novas Tecnologias. In: IV Congresso RIBIE. Brasília, 1998. PEREIRA, U. C. Sustentabilidade: da teoria à prática – por uma educação ambiental transformadora. In: II SEAT – Simpósio de Educação Ambiental e Transdisciplinaridade UFG / IESA / NUPEAT. Goiânia. 2011. SILVA, D. G. A importância da educação ambiental para a sustentabilidade. Trabalho de Conclusão de Curso (Ciências Biológicas com ênfase em Gestão Ambiental). Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. São Joaquim, 2012. SORRENTINO, Marcos. Desenvolvimento sustentável e participação: algumas reflexões em voz alta. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, v. 21, 2002. VAITSMAN, E. P.; VAITSMAN, D. S. Química e Meio Ambiente: Ensino Contextualizado. Rio de Janeiro: Interciência, 2006. 185 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR CAPÍTULO 12 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR Gabrielle de Araújo RIBEIRO1 Sandra dos Santos SALES2 Thais Marculino da SILVA2 Lizandra de Farias Rodrigues QUEIROZ2 Rafael Felipe R. R. M. CAVALCANTI2 1 Doutoranda de Recursos Naturais na UFCG, Campina Grande; 2 Mestrandos de Recursos Naturais na UFCG, Campina Grande. E-mail: [email protected]. RESUMO: Objetivou-se avaliar os impactos ambientais em terrenos baldios localizado na zona oeste da cidade de Campina Grande/PB, Brasil.Trata-se de um estudo descritivo, exploratório com abordagem quantiqualitativa, realizado no período de abril a junho de 2015. Para coleta de dados utilizou-se aobservação participante e, posteriormente, os mesmos foram analisados a partir dos métodos de Rede de Interação e de Matriz com Ponderação de Atributos. Identificou-se nos terrenos baldios uma grande quantidade de resíduos sólidos urbanos, com acúmulo de entulhos provenientes da construção civil, lixo doméstico e lixo orgânico, como também, observou-se a presença de atividade humana e de animais. Os impactos ambientais constatados foram: poluição do solo, do ar, problemas sanitários e socioeconômicos. As ações mitigadoras propostas consistem na fiscalização eficiente e limpeza desses terrenos, como também, a promoção de ações com o intuito de reduzir, reutilizar e reciclar os resíduos, outro fator primordial consiste na arborização, construções de praças e áreas de 186 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR lazer.Destarte, é imprescindível a busca de uma abordagem interdisciplinar com vistas a solucionar as questões de ordem ambiental mediante a complexidade da temática. Palavras-chave: : Meio ambiente; Resíduos sólidos; Saúde Pública 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a sociedade se depara com um grande desafio: diminuir a quantidade dos resíduos sólidos gerados e garantir uma disposição final segura para o meio ambiente. Essa problemática vem sendo cada vez mais objeto de preocupação mundial, em decorrência do aumento da produção desses resíduos, do gerenciamento inadequado e da ausência de áreas para a disposição final (JACOBI; BESEN, 2011). Os resíduos sólidos dispostos inadequadamente em terrenos baldios ocasionam problemas sanitários, socioeconômicos e estéticos. Nesse sentido, quando o seu manejo não acontece de forma adequada, torna-se um problema sanitário de grande relevância para a sociedade, necessitando que sejam incorporadas medidas com o intuito de prevenir e controlar as doenças decorrentes desta problemática, assim como, visa-se ao efeito psicológico que uma comunidade limpa exerce sobre os hábitos da população em geral, estimulando a adoção de práticas corretas que evitam a proliferação de vetores e roedores (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006). O Panorama dos Resíduos sólidos no Brasil (2013), realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), indicam que 187 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR a quantidade de lixo produzido no Brasil aumentou e o país não evoluiu na coleta e destinação adequada desses resíduos. Nesse contexto, a geração total de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no estado da Paraíba, no ano de 2013 foram coletados mais de 2 mil toneladas por dia de RSU e a quantidade gerada excedeu o total de 3 mil toneladas ao dia, ou seja, parte dos resíduos produzidos sequer foi coletado e podem ter sido dispostos em locais inadequados, como terrenos baldios, córregos, ruas e rios. De acordo com Alves et al. (2004) o terreno baldio representa um problema ambiental e de saúde pública de grande importância, considerando que a simples presença desse tipo de terreno sem que sejam realizados os cuidados de limpeza necessários, favorecem a proliferação de animais peçonhentos, insetos e roedores. Além disso, estes locais estão propensos a tornar-se uma área de disposição de lixo doméstico, visto que esse hábito é frequente nas cidades da região. Nesse contexto, objetivou-se avaliar os impactos ambientais em terrenos baldios localizados na zona oeste da cidade de Campina Grande/PB. 2 MATERIAIS E MÉTODO Trata-se de um estudo exploratório, descritivo com abordagem quantiqualitativa. Segundo Gil (2009), as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade proporcionar maior proximidade com o problema, no intuito de torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses assim como aprimorar as ideias ou descobrir intuições. 188 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR Ainda segundo este autor, as pesquisas descritivas apresentam como objetivo principal “a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. A pesquisa quantiqualitativa foi escolhida por abordar as questões sociais e é responsável pelo espaço mais amplo das relações como o significado, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, bem como mensurar a significância dos impactos. Para tanto, foi adotado o método da observação participante aliada aos métodos de Rede de Interação e a Matriz com Ponderação de Atributos, que determinam e avaliam os impactos ambientais. A observação participante foi utilizada com a finalidade de identificar in locus o contexto dos terrenos baldios localizados na zona oeste do município de Campina Grande/PB, bem como, identificar os possíveis impactos ambientais provenientes da disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos. Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos, foi selecionada a zona oeste do referido município, em virtude da mesma possuir o maior percentual de terrenos baldios. A pesquisa foi realizada durante os períodos de abril a junho de 2015. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO a. GESTÃO DOS TERRENOS BALDIOS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE – PB 189 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR De acordo com o Art. 225 da Constituição Federal de 1988, o Município tem o dever de proteger o meio ambiente, uma vez que impõe ao poder público (União, Estado e Município) e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Logo, o Município pode legislar sobre proteção ambiental e exercer o poder de polícia administrativa. A Lei Federal nº 12.305/2010 que dispõe sobre a Política Nacional dos Resíduos Sólidos estabelece expressamente em seu artigo 10, a responsabilidade do Município para o serviço de coleta, destinação e tratamento dos resíduos sólidos: O aparato jurídico acerca da gestão dos resíduos em Campina Grande/PB foi aprovada pela Lei Municipal n° 4.129 de 07 de agosto de 2003, que estabelece em seu Art. 126, que antes da coleta, o resíduo acondicionado deverá ser mantido em recipientes apropriados. Ainda acerca do Código de Postura do Município em seus Arts. 37 e 40, onde se enquadram os terrenos baldios, tem-se: Art. 37: Os terrenos não edificados, bem como pátios e quintais localizados na zona urbana deverão ser limpos e isentos de quaisquer materiais ou substâncias que comprometam a segurança pública, o meio ambiente e a saúde. Art. 40: Será de responsabilidade dos proprietários dos terrenos a execução dos serviços de muro, cercamento e drenagem, quando necessário, conforme os prazos estabelecidos pelo Município (CAMPINA GRANDE, 2003). Nesse contexto, a inobservância aos requisitos supracitados em consonância com o Art. 37, Inciso 1° dará autonomia ao Poder Público Municipal para realizar a limpeza 190 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR do respectivo terreno, utilizando-se dos próprios meios e recursos, sendo o inquilino ou proprietário responsável pela compensação dos custos de execução dos serviços do erário público, como também implicará no pagamento da multa e os infratores serão notificados. b. CARACTERIZAÇÃO DOS ATUAL DA ZONA OESTE TERRENOS: SITUAÇÃO Em relação à limpeza pública, os dados da Secretaria de Planejamento - SEPLAN indicam que a Prefeitura atende em termos gerais a 79.069 domicílios, nos 49 bairros, situados nas 4 zonas existentes, através da coleta de lixo realizada por veículos e funcionários públicos municipais através da URBEMA e via terceirização, com veículos e funcionários de uma empresa particular a Líder. A pesquisa se limitou a estudar a zona com a maior quantidade de terrenos baldios e descarte de resíduos sólidos no município. Portanto, foi escolhida a zona oeste e os bairros de Bodocongó, Pedregal e Universitário com o intuito de realizar a observação e caracterização dos terrenos. Nesta região estão localizados mais de 25 % dos terrenos baldios do município (SOUZA, 2011).Esse conjunto de bairros caracteriza-se por possuir terrenos baldios com áreas extensas, transformando-os em espécies de “pequenos lixões”, como pode ser observado nas imagens de satélite obtidas pelo software Google Earth (Figura 1). Nesses terrenos, observa-sea maior concentração de detritos formados por Resíduos Classe III, de acordo com a norma NBR 10.004 da Associação Brasileira de Normas 191 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR Técnicas - ABNT (2004). Dentre os resíduos dessa classe encontram-se entulhos de construção civil, papelões e matérias recicláveis como papeis, plásticos e até moveis velhos (Figura 2), assim como outros resíduos, sendo estes os lixos domésticos e podas (resíduos verdes) (Figura 3). Foi constatada a presença de atividade humana, como catadores de resíduos recicláveis ou até mesmo do lixo residencial nos terrenos baldios dessas localidades(Figura 4). Figura 1 - Terrenos Baldios nos Bairros de Bodocongó, Pedregal e Universitário. Fonte: Google Earth, 2015. Figura 2 – Entulhos da construção civil e lixos domésticos Fonte: dados da pesquisa 192 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR Figura 3 – Podas (resíduos verdes) Fonte:dados da pesquisa Outro fator percebido é a presença de animais de grande porte como bois, cavalos e cachorros que são atraídos pelos restos de comidas, assim como também roedores ou outras espécies atraídas por abrigo nos entulhos (Figura 5). Figura 4- Atividade humana em terreno baldio no bairro de Bodocongó. Fonte:dados da pesquisa 193 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR Figura 5- Presença de animais em terreno baldio Fonte:Dados da pesquisa c. AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTIAS OCASIONADOS PELOS TERRENOS BALDIOS NA ZONA OESTE Diante da quantidade de métodos para determinar e avaliar os impactos é importante selecionar o que se adapta melhor aos critérios que serão avaliados, sendo, portanto úteis nas tomadas de decisões (MARTIM; SANTOS, 2013). O método de rede de interação consiste em relação de causacondição-efeito, estabelecendo a inter-relação dos impactos indiretos e diretos (CREMONEZ et al., 2014). Uma das principais vantagens do referido método é a rápida identificação dos impactos diretos e indiretos, entretanto não detecta os aspectos temporais e a importância relativa desses, além da extensão das redes (CARVALHO; LIMA, 2010). A figura7 apresenta a rede de interação para a avaliação do estudo de terrenos baldios, permitindo identificar as principais atividades impactantes, possibilitando a análise qualitativa dos efeitos ao meio ambiente. Observa-se que em decorrência de aspectos ambientais como o acúmulo de resíduos, sejam eles lixos orgânicos, de construção civil ou outros, afetará no aumento de vetores (ratos, baratas, 194 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR mosquitos, escorpiões, etc) que por sua vez acarretará em riscos à saúde da população. Outros pontos que sofrerão impactos diante desses resíduos é a qualidade do ar, diante dos odores produzidos; a atividade de catadores atraídos pelo lixo presente no local; qualidade do solo que será prejudicada e por consequente reduz a qualidade da água subterrânea e prejuízo à flora; e o impacto visual que também prejudicará a especulação imobiliária. O crescimento da vegetação também presente nos terrenos causa certa insegurança para população. A falta de iluminação combinado com locais de vegetação em crescimento são atrativos para a comercialização de drogas ilícitas, sobretudo para roubos e furtos, o que diminui a especulação imobiliária. Figura 7 – Rede de interação dos impactos ambientais referente a terrenos baldios. Fonte: dados da pesquisa Outra metodologia empregada para avaliar o grau do impacto ambiental é a matriz com ponderação de atributo. Segundo Sánchez (2006) a ponderação de atributos é aplicar 195 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR um peso a cada atributo selecionado e posteriormente combiná-los por uma função matemática predeterminada, e são ordenados de acordo com a importância para o critério de avaliação, sendo atributos mais importantes com maiores pesos. A Figura 8 apresenta a matriz correlacionando os impactos gerados pelos terrenos e seus atributos. Os atributos e grau de significância foram baseados pelo exemplo adotado em Sánchez (2006). A magnitude, com peso 5, refere-se a intensidade do impacto com uma escala de valores dos atributos de 1(pequeno), 2(médio), 3(grande) e 4(muito grande). A reversibilidade, com peso também 5, indica as chances do ambiente retornar às situações pré-existentes, sendo 1 para reversível e 2 para irreversível. Acerca da probabilidade de ocorrência possui peso 2, refere a possibilidade daquele impacto ocorrer, a escala é 1(muito baixa), 2(baixa), 3(alta) e 4(certa). O nível de preocupação pública com peso 3, baseia-se na importância que o poder público e população tem com impacto, sendo 1(pouca), 2(média) e 3(grande). Por fim, a significância do impacto, pequena (0-20), média (21-35) ou grande (36- 47). 196 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR Figura 8 – Matriz com ponderação de atributos referentes aos impactos de terrenos baldios. Fonte: dados da pesquisa Conforme a matriz com ponderação de atributos, os maiores valores de significância foram o aumento de vetores e riscos à saúde pública, os quais estão interligados. O impacto visual e especulação imobiliária também obtiveram valores de grande significância. As atividades de catadores, a violência, a qualidade do solo e da água foram classificadas como média significância. Enquanto, a qualidade do ar e o prejuízo à flora foram os menores valores, portanto, baixa significância. d. AÇÕES MITIGADORAS Assim como é fundamental avaliar os impactos ambientais é necessário também propor ações mitigadoras para minimizar e prevenir as ações negativas. Inicialmente é primordial a fiscalização eficiente desses terrenos baldios para que sejam cumpridas as legislações que punem e obrigam aos proprietários limpar e murar os mesmos, evitando assim todos os demais danos. O descarte de resíduos nesses terrenos como uma das atividades potencialmente impactante deve ter atenção especial. Portanto, reduzir, reutilizar e reciclar os resíduos são ações fundamentais para evitar o acúmulo em terrenos. Obras de arborização,limpeza, construções de praças e áreas de lazerdessas áreas também contribuem para a solução da problemática. Assim com a educação e conscientização ambiental de cada cidadão é essencialmente mais importante. 197 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR 4 CONCLUSÕES A utilização das redes de interações permitiu a identificação de impactos nos seguintes aspectos: impactos diretos (aumento de vetores, qualidade do ar, atividades de catadores, visual, violência e impactos no solo) e indiretos (riscos a saúde publica, especulação imobiliária, qualidade da água e prejuízo a flora). Já a metodologia de matriz com ponderação de atributos permitiu avaliar a significância desses impactos ocasionados pelos terrenos baldios. Com isso o aspecto ambiental de acúmulo de resíduos foi o que obteve maior impacto ambiental e com maior significância. Por fim, as ações mitigadoras para essas áreas reduzirão os riscos, principalmente a saúde publica, afetada diretamente pelo descarte de resíduos sólidos urbanos. Para tanto é imprescindível àbusca de uma abordagem interdisciplinar com vistas a solucionar as questões de ordem ambiental mediante a complexidade da temática. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ABNT, Associação Brasileira de Normas e Técnicas. NBR 10.004. Resíduos Sólidos – Classificação. Rio de Janeiro, 2004. ABRELPE, Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, 2013. Disponível em <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2013.pdf>.Acesso em: 3 mar. 2015. ALVES, J. B., et al. Diagnóstico ambiental de ruas e bairros da cidade de Teixeira, PB. Rev. Árvore, Viçosa, v.28, n.5, p.755-764, Out., 2004. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010067622004000500016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 jun. 2015. ______, BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Dispõe sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/03/ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 02 jun. 2015. 198 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TERRENOS BALDIOS: UM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR CAMPINA GRANDE. Prefeitura Municipal. Lei nº 4.129/2003. Dispõe sobre o Código de Posturas do Município. Disponível em:<http://pmcg.org.br/wp-content/uploads/2014/10/CODIGO-DEPOSTURA.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2015. CARVALHO, D.L.; LIMA, A.V. Metodologias para Avaliação de Impactos Ambientais de Aproveitamentos Hidrelétricos. In: XVI Encontro Nacional dos Geógrafos, Porto Alegre: 2010. CREMONEZ, F. E.; CREMONEZ, P. A.; FEROLDI, M.; CAMARGO, M. P.; KLAJN, F. F.; FEIDEN, A. Avaliação de impacto ambiental: metodologias aplicadas no Brasil. Revista Monografias Ambientais, v.13, n. 5, p. 38213830, dez. 2014. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Manual de Saneamento. 3.ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006. 408 p. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. JACOBI, P. R.; BESEN, G. R. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo: desafios da sustentabilidade. Estud. av., São Paulo , v. 25, n. 71, abr., 2011. MARTIM, H. C.; SANTOS, V. M.L. Avaliação de impactos ambientais em empresa de mineração de cobre utilizando redes de interação. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 17, n. 17, p. 3246 – 3257, Dez, 2013. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. Editora Oficina de Textos. São Paulo: 2006. SOUZA, A. P. B. Problemática dos resíduos sólidos urbanos dispostos em terrenos baldios na cidade de Campina Grande – Paraíba. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande, 2011. 199 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR CAPÍTULO 13 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Emilly Firmino de MOURA1 Daniele Fidelis de ARAÚJO1 Stéphanie Mirim Alves FALCÃO1 Railton Barbosa da SILVA1 Célia Regina DINIZ2 1 Estudante do curso de Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB; 2 Professora da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB RESUMO: Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) representam fontes potenciais de propagação de doenças e risco adicional à população quando gerenciados de forma inadequada. O estudo teve como objetivo analisar o gerenciamento dos Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS em uma Instituição de Ensino Superior (IES), avaliando se o processo está de acordo com a legislação vigente. Os dados foram coletados em clínicas e laboratórios daIES, na cidade de Campina Grande – PB. Identificou-se a necessidade da instituição providenciar mudanças no manejo dos resíduos dos serviços de saúde, particularmente no acondicionamento, procedendo à identificação dos recipientes, cuja falta prejudica seu transporte e armazenamento. O uso incompleto de equipamentos de proteção individual e a falta de recipientes apropriados para transporte dos RSS incrementam os riscos potenciais de acidentes de trabalho e de doenças ocupacionais. 200 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Palavras-chave: Resíduos dos Serviços de Saúde. Manejo dos Resíduos. Saúde Pública. 1 INTRODUÇÃO Entre as fontes de degradação ambiental, os resíduos gerados na área da saúde (RSS), apesar de representar uma pequena parcela em relação ao total de resíduos gerados em uma comunidade, são fontes potenciais de propagação de doenças e apresentam um risco adicional à população, quando gerenciados de forma inadequada. Os RSS constituem um grande desafio para asinstituições geradoras, considerando que seu manejo é de responsabilidade de quem o produz(LEMOS, SILVA, PINTO, 2010). Tauchen e Brandli (2006) consideram que as instituições universitárias podem ser comparadas com pequenos núcleos urbanos, uma vez que envolvem atividades de ensino, pesquisa, extensão e asreferentes à sua operação, como restaurantes e locais de convivência. Em consequência,há geração de resíduos comuns e de resíduos infectantes, químicos, perfurocortantes e até radiativos. A RDC nº 306/2004 classifica os resíduos em cinco grupos: Grupo A - resíduos com a possível presença de agentes biológicos como culturas e estoques de microrganismos; resíduos de fabricação de produtos biológicos, excreções, secreções e líquidos orgânicos; tecidos, órgãos, fetos e peças anatômicas, entre outros; Grupo B contém substâncias químicas comoprodutos hormonais e antimicrobianos; resíduos de saneantes e para laboratórios, dentre outros; Grupo C - materiais resultantes de atividades 201 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR humanas que contenham radionuclídeos; Grupo D - não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Grupo E - materiais perfurocortantes ou escarificantes como agulhas, escalpes, lâminas de bisturi, tubos capilares e outros similares (BRASIL, 2004). As normas e resoluções estabelecidas pelos órgãos governamentais servem como instrumentos de orientação, fiscalização e exigência de práticas adequadas para o manejo de tais resíduos a fim de minimizar e/ou eliminar danos à saúde dos trabalhadores, à sociedade e ao ambiente. Apesar da existência dessas normas, a não observação da legislação vigente pode colocar em risco à saúde pública e o meio ambiente, propiciando as infecções hospitalares, as doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho. Este trabalho tem como objetivo caracterizar qualitativamente os resíduos dos serviços de saúde gerados numa instituição de ensino superior, identificando as formas de segregação, acondicionamento, coleta, transporte interno, armazenamento temporário e armazenamento externo, tratamento e destino final das instituições e os riscos associados a luz da RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº 358/05. 2 MATERIAL E MÉTODOS Os dados foram coletados em clínicas e laboratórios de uma InstituiçãoPública deEnsino Superior (IES) da cidade de Campina Grande - PB, no período deagosto de 2014 a julho de 2015. Foram pesquisadas as clínicas de Odontologia, 202 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Fisioterapia, e de Enfermagem, a Farmácia Escola e o Laboratório de Análises Clínicas. Como instrumentos de coleta de dados, foram usados formulários, elaborados buscando realizar o diagnóstico ambiental das condições operacionais dos sistemas de coleta e destinação final desses resíduos. Buscaram-se informações sobre os procedimentosgerenciais, operacionais e levantamento de dados qualitativos dos RSS gerados, abrangendo os aspectos relativos à segregação,acondicionamento, armazenamento interno e externo, transporte, tratamento edisposição final, adotando como referências a RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº 358/05. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A segregação é a separação dos resíduos no momento e local de sua geração, de acordo com as suas características físicas, químicas, biológicas, e os riscos envolvidos e o acondicionamento consiste no ato de embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e ruptura (BRASIL, 2004, 2005a). Neste estudo, a segregação era realizada na fonte geradora e o acondicionamento em sacos de acordo com a classe de resíduos, mas nem todos os recipientes estavam identificados quanto ao tipo de resíduo abrigado (Quadro 1, Figura 1). No manuseio desses resíduos, os funcionários devem, obrigatoriamente, usar Equipamento de Proteção Individual – EPI, conforme previsto na NR-6 do Manual de Segurança e Medicina do Trabalho, e também seguirem a NR-32, sobre 203 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde (BRASIL, 2005b). A Identificação consiste no conjunto de medidas que permitem o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes, fornecendo informações ao correto manejo dos RSS. Deve estar aposta nos sacos de acondicionamento, nos recipientes de coleta interna e externa, nos recipientes de transporte interno e externo, e nos locais de armazenamento, em local de fácil visualização, de forma indelével, utilizando-se símbolos, cores e frases, atendendo aos parâmetros referenciados na norma NBR 7.500 da ABNT, além de outras exigências relacionadas à identificação de conteúdo e ao risco específico de cada grupo de resíduos (ABNT, 2004). A identificação podeser feita por adesivos, desde que seja garantida a resistência destes aos processos normais de manuseio dos sacos e recipientes. O Grupo A é identificado pelo símbolo de substância infectante, com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos. O Grupo B é identificado através do símbolo de risco associado, e com discriminação de substância química e frases de risco. O Grupo C é representado pelo símbolo internacional de presença de radiação ionizante (trifólio de cor magenta) em rótulos de fundo amarelo e contornos pretos, acrescido da expressão REJEITO RADIOATIVO. O Grupo E é identificado pelo símbolo de substância infectante com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos, acrescido da inscrição de RESÍDUO PERFUROCORTANTE, indicando o risco que apresenta o resíduo. 204 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Quadro 1.Acondicionamento e identificação dos Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS, numa instituição de ensino superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 UNIDADE ACONDICIONAMENTO IDENTIFICAÇÃO Laboratório Os RSS (Grupo A) em sacos brancos leitosos Todos os sacos brancos de identificados. Os resíduos comuns (Grupo D), e Análises recipientes estavam Clínicas e em sacos pretos. Os perfurocortantes (Grupo identificados Farmácia - E) eram armazenados em caixa de papelão de respectivo símbolo. com seu Escola 1,5L. Clínica- Para cada equipo, há um recipiente plástico Todos os sacos brancos com volume total de 60L com tampa sem estavam articulação, e recipientes em aço inoxidável com com tampa articulada (20L), e neles são símbolo. Os recipientes postos sacos brancos leitosos identificados de para identificação. Escola de Odontologia material infectante (grupo A). Os identificados seu 60L, respectivo não tinham perfurocortantes (Grupo E) eram armazenados em caixa de papelão de 3L. Foi verificado um saco aberto colocado indevidamente diretamente no chão de uma das clínicas odontológicas. ClínicaEscola de Fisioterapia Os RSS (Grupo A) em sacos brancos leitosos Todos os sacos brancos identificados. Os resíduos comuns (Grupo D), estavam em com sacos pretos. Esporadicamente são identificados seu respectivo usados sacos brancos leitosos para coleta dos símbolo. Os recipientes resíduos comuns (Grupo D) não continham nenhuma identificação. ClínicaEscola de Enfermagem Os RSS (Grupo A) em sacos brancos leitosos Todos os sacos brancos identificados. Os resíduos comuns (Grupo D), e em sacos pretos e os perfurocortantes (Grupo identificados E), armazenados em caixa de papelão de 3L. respectivo símbolo. recipientes estavam com seu 205 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Foi observado que não estavam sendo respeitados os limites de preenchimento dos contenedores e nem os limites de peso de cada saco, o que pode provocar acidentes de trabalho. Apesar de ser proibido o esvaziamento ou reaproveitamento dos sacos, foi verificada essa prática. Os materiais perfurocortantes estavam acondicionados emrecipientes apropriados. Um acondicionamento inadequado compromete a segurança do processo e o encarece. Recipientes inadequados ou improvisados aumentam o risco de acidentes de trabalho. Figura 1 – Acondicionamento de RSS numa instituição de ensino superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 O transporte interno era realizado de forma manual em detrimento da quantidade, peso e volume dos resíduos (Figura 2). A adequação do peso da embalagem transportada com o biótipo do funcionário é fundamental para evitar, principalmente, carga biomecânica excessiva. Os recipientes para transporte interno devem ser de material rígido, lavável, impermeável, provido de tampa articulada ao próprio corpo do equipamento, cantos e bordas 206 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR arredondados, e identificados com o símbolo correspondente ao risco do resíduo neles contidos. Devem ser providos de rodas revestidas de material que reduza o ruído. Recipientes com mais de 400L devem possuir válvula de dreno no fundo. O uso de recipientes desprovidos de rodas deve observar os limites de carga permitidos para o transporte pelos trabalhadores, conforme normas reguladoras do Ministério do Trabalho e Emprego. Funcionários das clínicas transportavam os RSS sem carrinhos e/ou recipientes. Muitos transportavam os sacos sem o uso de todos os EPIs (Figura 2). Figura 2 – Transporte interno dos RSS numa instituição de ensino superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 O armazenamento temporário consiste na guarda provisória dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados, em local próximo aos pontos de geração. Este, só foi observado na Clínica de Odontologia. Na unidade era usado um espaço com cerca de 100m2, totalmente aberto (Figura 3). Este ambiente fica paralelo ao corredor onde trafegam funcionários das clínicas e pacientes, sendo um meio potencialmente infeccioso ou até mesmo patológico, pois não 207 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR apresenta nenhum tipo de segurança, isolamento ou identificação. Foram flagrados sacos com material infectante provenientes das fontes geradoras dispostos diretamente no chão, com liberação dechorume que contaminava o pisoe favorecia a presença deinsetos, roedores e outros animais (Figura 4). Figura3 – Local destinado ao Armazenamento Temporário dos RSS em Clínicas de Odontologia, instituição de ensino superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 208 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Figura4 – Sacos com material infectante, dispostos diretamente no piso, instituição de ensino superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 O armazenamento externo consiste na guarda dos recipientes de resíduos até a realização da etapa de coleta externa, em ambiente exclusivo com acesso facilitado para os veículos coletores. Nele, não é permitida a manutenção dos sacos de resíduos fora dos recipientes ali estacionados (BRASIL, 2004, 2005a).O transporte entre o armazenamento temporário ou fonte geradora e o armazenamento externo, muitas vezes é feita de forma inadequada ao estabelecido na legislação.Foi verificado o transporte dos RSS, com um cabo de madeira e sacos pendurados, carregado por dois funcionários (Figura 5). O armazenamento externo era realizado de forma insatisfatória: os resíduos ficavam indevidamente dispostos ao ar livre, não era respeitada a capacidade limite de cada recipiente. Os sacos plásticos com os RSS ficavam em contato direto com o solo. 209 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Figura5 –Transporte inadequado de saco com resíduos infectantes (Grupo A) em Clínicas de Odontologia, instituição de ensino superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 Para o destino final dos RSS, a instituição contratou uma empresa licenciada e especializada na prestação de serviços de coleta, transporte e destinação final de resíduos biológicos e tóxicos dos grupos A, B e E. O contrato prevê em regime de comodato, disponibilidade de bombonas com tampa em polietileno de alta densidade, com capacidade de 200 litros, revestidas internamente com sacos plásticos resistentes, compatível com seu volume. 4 CONCLUSÕES Evidenciou-se a necessidade dainstituição providenciar mudanças no manejo dos RSS, particularmente no acondicionamento, onde os recipientes não estão identificados, prejudicando o transporte e armazenamento dos mesmos. O transporte interno é feito manualmente pelos funcionários da limpeza que muitas vezes transportam carga biomecânica excessiva e sem EPI. O armazenamento temporário na Clínica de Odontologia é feito de forma irregular. O armazenamento externo está fora do previsto na legislação,constituindo risco à saúde da comunidade acadêmica, à população atendida e ao meio ambiente. Faz-se necessária uma rigorosa revisão nos procedimentos atualmente praticados pela instituição de ensino, na gestão dos resíduos dos serviços de saúde gerados. 210 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7500. Identificação para o transporte terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de produtos. Rio de Janeiro, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 306, de 07 de dezembro de 2004: dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília, 2004. ______. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 358, de 29 de abril de 2005: dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Brasília, 2005a. ______. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde). Portaria GM nº 485, de 11 de novembro de 2005. Brasília, 2005b. LEMOS, K. I. L.; SILVA, M. G. C.; PINTO, F. J. M. Produção de resíduos em hospitais públicos e filantrópicos no município de Fortaleza (CE). Revista Baiana de Saúde Pública, v.34, n.2, p. 321-332, abr./jun. 2010. TAUCHEN, J.; BRANDLI, L. L.A gestão ambiental em instituições de ensino superior: modelo para implantação em campus universitário.Gestão & Produção, v.13, n.3, p.503-515, set.-dez. 2006. 211 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB CAPÍTULO 14 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB¹ Josivânia Silva CAMPOS¹ Geraldo Mazelo Galdino CAMPOS¹ Luciana Iara¹ Tiago José Vasconcelos De FARIAS Giselle Medeiros Da Costa ONE² ¹ Mestres em Ciências da Educação e Multidisciplinariedade pela FacNorte/IBEA. Orientadora. Bióloga. Drª Biotecnologia. Instituto BioEducação Resumo: A problemática dos resíduos sólidos cresce a medida que a população cresce. O principal problema referente a geração desses resíduos consiste no na necessidade de um lugar adequado para depositá-lo. Uma alternativa para diminuir esse impacto seria o reaproveitamento desses resíduos, tornando-se importante sensibilizar a população quanto aos prejuízos que esse excesso de “lixo” pode causar para o ambiente e para todos os seres vivos. A Educação Ambiental representa um instrumento essencial para superar os atuais impasses da nossa sociedade. Objetivou-se realizar ações pedagógicas na Escola Municipal João Pinto da Silva em Barra de São Miguel-PB. Foi realizado com os alunos do 6º ano do ensino fundamental uma palestra visando sensibilizá-los sobre a importância do reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos. A oficina de sucata foi realizada utilizando resíduos gerados pelos 212 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB alunos no ambiente escolar entre novembro e dezembro de 2014. Verificou-se que os alunos tinham um conhecimento básico sobre a temática em estudo. Assistiram a palestra com muita atenção e mostraram-se preocupados com a questão dos resíduos gerados e a importância dos 3R‟s: reduzir, reutilizar e reciclar. A oficina de sucata foi uma grande contribuição para a sensibilização dos alunos, uma vez que eles puderam aprender que nem tudo que eles descartavam na escola era considerado lixo. Durante a exposição dos produtos confeccionados, os alunos pediam que aos visitantes (pais, alunos e professores) procurassem preservar o meio ambiente para terem uma melhoria na qualidade de vida. Conclui-se que as ações pedagógicas auxiliaram para despertar a percepção ambiental dos alunos e que a escola é sem dúvidas o local de formar cidadãos mais consciente, pois quando desde cedo os alunos vivenciam uma experiência como esta, eles começam a alertar e ter uma sensibilidade maior para a percepção do meio ambiente e a importância da preservação do mesmo. Palavras-chaves: reaproveitamento, resíduos escolares, sensibilização ambiental. 2 INTRODUÇÃO A destinação dos resíduos sólidos é um problema que atinge quase todos os municípios brasileiros. Apesar de ser mais visível nas médias e grandes cidades. Com isso a falta de educação ambiental e de uma política governamental que encare este problema de forma mais enérgica agravam dia-adia esses problemas. Vendo-se abusos e negligências praticadas contra o meio ambiente por uma população, desinformada quanto ao uso e manuseio de certos produtos, 213 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB cabendo a população quase sempre, a forma de dispor e dar destino a seus resíduos. Apesar da legislação brasileira já mencionar sobre a disposição e tratamento dos resíduos, a população ainda não se sensibilizou com relação a esta temática, e não se coloca como responsável pelos resíduos sólidos que gera. A Política Nacional dos Resíduos Sólidos, disposta na Lei 12.305 de 2010, regulamentada pelo decreto lei 7404, estabelece a responsabilidade compartilhada, a qual corresponde ao conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos (BRASIL, 2010). Portanto a participação da comunidade e a formação de uma sociedade sustentável auxilia o estabelecimento de estratégias e o cumprimento dos mandamentos ecológicos, de redução do resíduos e de resíduos, melhoria das condições do ar e das águas, a conservação do solo, da flora e da fauna (REIS et al., 2013) De acordo com os Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente e saúde perceber as condições ambientais é reconhecer não só os elementos naturais, mas também os elementos construídos, bem como todos os aspectos socioeconômicos, culturais e políticos envolvidos na questão ambiental, uma vez que está inserido na sociedade através de programas educativos ou projetos desenvolvidos na escola por meio de ações implantadas pelos educadores junto às turmas, em função de desenvolver interesse e sensibilização a respeito do reaproveitamento do lixo. Atualmente é um dos temas mais 214 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB discutidos passando ter uma ampliação multidisciplinar em todas as instituições em prol da preservação ambiental de qualidade no ambiente escolar (BRASIL, 1997) Assim, ações voltadas para o reaproveitamento e reciclagem dos resíduos é de grande importância ser trabalhado nas escolas, uma vez que a educação ambiental é um importantíssimo instrumento para o crescimento do indivíduo; localizando-o dentro do ecossistema global, fazendo com que desenvolva atitudes de respeito e responsabilidade com o meio ambiente, necessárias à conservação e à sobrevivência da humanidade e a garantia das gerações futuras. O que significar dizer que é fundamental enfatizar a importância da Educação Ambiental no âmbito escolar a fim de promover cada vez mais esclarecimentos sobre as questões ambientais. Entendendo que a relação homem-natureza, deve ser repensada. Diante do exposto é objetivou-se a realização de ações pedagógicas na comunidade escolar de Barra de São MiguelPB para uma sensibilização dos alunos do 6º ano do ensino fundamental sobre a importância do reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos e realizar uma oficina de sucata com esses resíduos. 3 METODOLOGIA A pesquisa teve uma abordagem qualitativa realizada na Escola Municipal João Pinto da Silva, localizada no município de Barra de São Miguel-PB, com os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II, no período vespertino, tendo uma amostragem de 20% da população de alunos com faixa etária entre 9 a 12 anos de idade, de ambos os sexos. A pesquisa foi realizada no período de novembro a dezembro de 2014. Foi realizada uma palestra de sensibilização com os 215 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB alunos sobre a questão ambiental abordando a importância do reciclagem do lixo. A atividade continuou com a confecção de brinquedos de sucata utilizando resíduos armazenados pelos alunos por um período de 4 semanas. 4 RESULTADOS E DISCUSÃO De acordo com a abordagem inicial realizada com os alunos em sala de aula, verificou-se que eles tinham um conhecimento básico sobre a temática em estudo e tinham noção de reciclagem e aproveitamento do “lixo”, termo muito utilizado por eles. Durante a sensibilização (Figura 1) com os alunos, foram abordados diversos tópicos relacionados ao meio ambiente e a importância do reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos. Figura 1. Alunos participando e interagindo durante a palestra sobre reciclados na Escola Municipal João Pinto da Silva. Barra de São Miguel – PB. Foto: Própria autora 216 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB De início começou-se falando sobre Meio Ambiente, colocando os alunos dentro de um contexto ambiental e parte desse universo. Apresentou-se a diferença entre as definições envolvendo meio ambiente, a diferenças dos 3R‟s, educação ambiental, e resíduos sólidos. No momento os alunos compartilhavam experiência vivida e concordaram com a palestra realizada pela autora deste trabalho. Quando abordado o tema reciclagem, foram explorados assuntos como coleta seletiva de lixo, e os tipos de recipientes para cada material. A intervenção do aprendizado dos três R‟s capacitou o aluno a deixou-o com um maior poder de refletir e repassar os conteúdos abordados para outras pessoas. Durante os meses do projeto, os alunos coletaram o lixo da escola, separaram e armazenaram para serem utilizados na oficina de reciclagem. Tentaram reaproveitá-lo de todas as maneiras possíveis, fizeram o reaproveitamento do lixo confeccionando porta retrato, ornamentos para residência, jogo de dama, porta-treco, e outros (Figura 2). Figura 2. Alunos confeccionando materiais reaproveitando resíduos na Escola Municipal João Pinto da Silva. Barra de São Miguel – PB Foto: Própria autora 217 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB A tarde foi bem proveitosa, os alunos interagiram bem e participaram da oficina com o sentimento de alegria e empolgação com o que estavam produzindo (Figura 3). Figura 3. Alunos se divertindo durante a confecção dos brinquedos de sucata na Escola Municipal João Pinto da Silva. Barra de São Miguel – PB Foto: Própria autora Após o termino da oficina os materiais confeccionados foram expostos na sala de aula para que os outros alunos pudessem observar (Figura 4). 218 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB Figura 4. Exposição dos materiais confeccionados pelos alunos durante a Oficina de sucata na Escola Municipal João Pinto da Silva. Barra de São Miguel – PB Foto: Própria autora Essa experiência mostrou a importância do educador trabalhar a questão ambiental com seus alunos e mostrar não se trata de ensinar de forma crítica os conceitos da ciência e 219 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB da ecologia. Trata-se então de desenvolver o processo educativo, contemplando tanto o conhecimento científico como os aspectos subjetivos da vida, que incluem as representações sociais, assim como o imaginário acerca da natureza e da relação do ser humano. As mudanças de atitudes são possíveis somente a partir da revisão de valores e sentimentos, por isso é preciso resgatar o vínculo afetivo das pessoas com o ambiente. Alves (1984) reconhece que o aprendizado não passa pela razão, mas envolve questões de natureza efetiva e nos brinda com a afirmação: além de saber, é imprescindível sentir. Dentro desse contexto, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação de atividades que propiciem uma reflexão, sobre os três Rs, (reduzir, reutilizar e reciclar), pois isso necessita de atividades de sala de aula e atividades de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem a atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar (DIAS,1992). O desafio é de fortalecer a cidadania na comunidade escolar e também na sociedade como um todo, e não para um grupo restrito, se concretiza a partir da possibilidade de cada indivíduo ser portador de direitos e deveres, e se converter, portanto, em ator co-responsável pela defesa da qualidade de vida (ZABALA, 1998). Através da oficina de reciclagem e exposição dos produtos confeccionados, os alunos mostraram para a comunidade, que tudo a respeito do lixo, que seja orgânico ou inorgânico, pode ser reaproveitado, seja para trabalhos ornamentais ou para produzir e adubo através da compostagem. Na linguagem dos alunos, pediram que à 220 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB comunidade de forma geral, se que se conscientizassem e respeitassem o respeito do meio ambiente, procurando preservá-lo, para serem cidadãos conscientes e terem uma melhoria na qualidade de vida na sociedade. Nesse contexto fica evidente a importância de educar o ser humano para que haja de modo responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro; saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, tanto local como nacional e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quanto nas relações com o ambiente. Para a escola é reservado um grande desafio de formar cidadãos éticos e comprometidos com a qualidade de vida do planeta, por meio de uma pedagogia que se preocupe em abrir caminhos de vivência e reflexão em seu cotidiano escolar, que modifique a forma de agir e de pensar individual e coletivamente, formando pessoas sensíveis e perspectivas, determinadas, críticas e transformadoras, conscientes do papel para a formação de um mundo melhor. A consolidação de uma educação ambiental, na Escola ou em qualquer instituição deve ser a meta norteadora para todos os indivíduos do planeta. Se quiser manter os níveis de eficiência e os processos de sustentação da vida, por mais tempo, vai ser necessário uma maior sensibilização, um esforço substancial e investimentos de recursos energéticos renováveis, a proteção da biodiversidade, a conservação dos solos, a racionalização do consumo e a redução da dívida dos países pobres. Tudo isso em um contexto de uma nova ordem econômica mundial. Portanto, a Educação Ambiental insere-se como um dos instrumentos adequados para se processarem as transformações necessárias. Sendo assim, contribui-se 221 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB efetivamente para a construção de consciência ambiental a medida que busca-se orientar e incentivar crianças, jovens e adolescentes para amar a natureza, o meio ambiente como elementos de suma importância para o futuro das gerações As soluções apontadas em relação à outros problemas ambientais foram várias. Portanto, é possível dizer que no conjunto a maioria dos alunos têm uma consciência em relação a importância de preservar e conservar o meio ambiente, e de sempre que possível usar os resíduos para confecção de objetos que podem ser reutilizados. Para Gadotti (2000), estas atitudes devem estar contextualizadas em critérios para o melhoramento da qualidade de vida que levem em conta os problemas socioambientais Nesse processo, a educação ambiental entra não somente com uma passagem de informações como ocorre geralmente com a educação tradicional, mas também na aplicação dessas informações como forma de mudança de comportamento e atitudes em relação aos problemas ambientais. A educação ambiental deve sensibilizar cidadão para que se possam sanar os problemas associados; ao meio ambiente, a partir do conhecimento reflexivo e crítico da sua realidade, social, política, econômica e cultural, para que, a partir da apropriação da realidade concreta, possa gerar nele e na sua comunidade, atitudes de valorização e respeito por seu ambiente (PRADO, 1999). É uma temática que começa a despertar interesse, falar sobre Educação Ambiental num país como o Brasil constitui, na atualidade no mínimo, um enorme desafio. Não dispomos de qualquer estudo aprofundado que possa constitui-se em subsídio consistente para referenciar pesquisas neste campo. Com isso, ainda nos encontramos num patamar bem inicial, 222 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB onde sequer acumulamos discussões conceituais referentes à temática. A busca por publicações na literatura brasileira da área constitui tarefa ingrata, mas ao mesmo tempo instigante. Já nos deparamos com isso em outros momentos, especificamente em três estudos anteriores nos quais estivemos envolvidos (SILVA, 2001). Onde os processos pedagógicos relativos à educação ambiental caracterizam-se, principalmente, na participação. A participação é um aprendizado, cabendo à educação ambiental resgatar valores humanos como solidariedade, ética, respeito pela vida, honestidade, responsabilidade, entre outros. Desta forma, irá favorecer uma participação responsável nas decisões de melhoria da qualidade de vida, do meio natural, social e cultural. A Educação deveria desempenhar o papel de catalisador ou denominador comum na renovação do ensino contemporâneo (IANNI, 1997). Nesta perspectiva crítica, a Educação Ambiental constrói-se pelo estabelecimento de um caráter contra hegemônico como oposição ao paradigma cartesiano, cientificista, mecanicista e conservador, ligado à sociedade urbana industrial, tecnológica e globalizada. A visão conservadora, segundo Guimarães (2004), refere-se ao caráter antropocêntrico de nossa civilização, onde a lógica prevalecente é a do homem separado da natureza e não pertencente a ela. Guimarães (2000), ressalta que a Educação Ambiental intitulada conservadora prima pelo individualismo no qual as relações sociais são secundarizadas no trabalho pedagógico. Nesse sentido as políticas ambientais e os programas educacionais relacionados à sensibilização sobre a crise ambiental demandam cada vez mais novos enfoques 223 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB integrados de uma realidade contraditória e geradora de desigualdades que transcendem a mera aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis, quando a comunidade escolar consome algo e descarta em qualquer ambiente traz problemas maléficos a sociedade. O trabalho de intervenção realizado com os alunos teve um impacto positivo, e os alunos mostraram-se sensibilizados com a questão ambiental e a longo prazo espera-se que eles sejam multiplicadores dessa sensibilização, onde foram chamados de agentes multiplicadores ambiental. 5 CONCLUSÃO As ações pedagógicas realizadas com os alunos do 6º ano da Escola João Pinto da Silva em Barra de São Miguel-PB através da sensibilização realizada no ambiente escolar verificaram que eles como sujeitos que fazem parte do ambiente escolas se sentem de maneira direta ou indireta, responsáveis pela produção dos resíduos produzido neste ambiente. A oficina de reciclagem foi muito proveitosa, onde os alunos constataram que os produtos descartados, “lixo” após o lanche ou materiais de uso de escritório podem servir e ser reciclado para confeccionarem materiais uteis que podem ser usados no seu dia a dia. A comunidade escolar: pais, professores e demais alunos da escola ficaram surpresos com a exposição realizada com produtos reaproveitáveis, e se sentiram motivados a seguir o exemplo desses alunos do 6º ano da Escola João Pinto da Silva. 224 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB REFERÊNCIAS ALVES, R. Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1984. 108 p. BRASIL. Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2ago. 2010 .Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/.../ lei/l12305.htm > Acesso em:22 de jan.2012. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente e saúde. Brasília, 1997. 64p. DIAS G. F. Educação Ambiental: princípios e praticas. 6. ed.São Paulo: Ed. Gaia, 1992. 549p. GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. Petrópolis: Vozes, 2000. IANNI, O. Teorias da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1997. PRADO, E. G. C. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. São Paulo: Cortez, 1999. REIS, M. et al. , A educação ambiental na formação inicial de professores de biologia: concepções, componentes curriculares e possibilidades de ações segundo os licenciandos. Ensino, Saúde e Ambiente – 6 (3), p. 96-113, dez. 2013. SILVA, F. D. Os equipamentos de educação ambiental da Espanha inseridos na temática da agroecologia. Piracicaba, 2001. 63p. ZABALA, A.A. Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998. 225 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB CAPÍTULO 14 AMBIENTE ESCOLAR: AÇÕES INTERDISCIPLINARES QUE PROMOVEM A SUSTENTABILIDADE Daniel de Almeida RABER1 Ivele Anicet HERTZ2 Ana Maria Coulon GRISA3 1 Aluno Mestrado Profissional Ensino de Ciências e MatemáticaUCS; 2Aluna Mestrado Profissional Ensino de Ciências e MatemáticaUCS; 3Professora Mestrado Profissional Ensino de Ciências e Matemática UCS RESUMO: A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente, cria uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental. Este trabalho é um recorte de um projeto maior: Sustentabilidade e o turismo como economia, que está sendo realizado por alunos e professores participantes do Programa de Iniciação em Ciências, Matemática, Engenharias, Tecnologias Criativas e Letras com o apoio da Universidade de Caxias do Sul, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A presente pesquisa-ação de caráter interdisciplinar foi realizada em uma escola pública de Gramado/RS, com o objetivo de investigar o meio ambiente e a execução de atividades que promovam a consciência de preservação ambiental, gerando mudanças de atitudes na busca por soluções sustentáveis. Os resultados alcançados demonstram o potencial de ações interdisciplinares com o envolvimento dos alunos em ações ativas e uso de metodologias participativas significativas para promover a sustentabilidade do meio ambiente. 226 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB Palavras-chave: Educação Ambiental. Ensino Médio. Etnia Interdisciplinaridade. 1 INTRODUÇÃO Um dos grandes desafios do processo de ensinar é o de propor diferentes estratégias para que o estudante atinja competências, desenvolvendo habilidades necessárias para a sua profissionalização de forma ética, científica e cidadã, em um contexto social, econômico, tecnológico e sustentável. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2013), há a necessidade de contextualização para uma maior compreensão de conceitos científicos, bem como o desenvolvimento de habilidades e competências, para que o estudante possa tomar decisões conscientes em seu meio. O Inova Engenharia (2006), ressalta a importância de ações conjuntas entre as universidades e escolas na busca de metodologias que permitam motivar os professores, buscando despertar no aluno o interesse pelas ciências e a tecnologia. É de fundamental importância um aprendizado voltado a promoção da educação ambiental, de práticas que visem à sustentabilidade e a forma que podemos atuar sobre o meio. A expressão sustentabilidade está atrelada às ideias de conservação, manutenção, sobrevivência, bem como à noção de continuidade e deve ser entendidas por meio de aspectos ambientais, sociais, políticos, econômicos, demográficos, cultural e espacial (NOVAES, 2000). Como forma de concretizar açõesna prática dos professores de Ciências, ao abordar temas significativos, proporcionam-se situações voltadas à autonomia do estudante. O aluno sujeito ativo de sua aprendizagem, com um referencial holístico-integrador de trabalho interdisciplinar, 227 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB trilha um caminho que pode trazer melhorias no seu processo de aprendizagem (MENEZES e FARIA, 2003; ARROIO et al., 2005). Um tema transversal normalmente contemplado em todas as disciplinas e que desperta interesse, independente do grau de formação, é meio ambiente. Inúmeras informações de problemas ambientais são apontadas por diferentes meios de comunicação. Integrar e estabelecer relações entre diferentes áreas do conhecimento, desenvolver trabalhos em equipe e propor resolução de problemas, são ações fundamentais na aplicação dos conhecimentos adquiridos em novas situações. Diante deste pressuposto, despertar o desenvolvimento de um projeto baseado em conceitos de sustentabilidade, com objetivo de melhoria da qualidade de vida, representa um desafio. O termo sustentabilidade integra aspectos econômicos, sociais e ambientais, considerando que o desenvolvimento de uma geração deve satisfazer às necessidades desta sem comprometer a capacidade e as necessidades das gerações futuras (OMER, 2008). A principal motivação de projetos nesta área é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de modo comprometido com a vida e com o bem-estar de cada um e da sociedade. Os projetos de ensino possuem três premissas básicas: realidade: não utilizam simulações de situações, tratam de elementos presentes na realidade do estudante; veracidade: trabalham com temas verídicos e importantes para a comunidade e não com demonstrações; solidariedade: intercâmbio de conhecimento entre estudantes da mesma ou de diferentes escolas, através do 228 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB uso de ferramentas de comunicação digitais (BIZZO e OTHERO, 2000; FEJES et al., 2004). A metodologia de projetos através de atividades interdisciplinares, no desenvolvimento de responsabilidade, autonomia, reflexão e cooperação, visa proporcionar aos alunos, por meio da pesquisa-ação, a identificação da influência do turismo na cidade de Gramado/RS e proposição de ações que apontem à sustentabilidade. 2 MATERIAIS E MÉTODO Nos últimos anos, novas abordagens no ensino de Ciências vêm sendo discutidas na busca por contemplar mudanças na aquisição de conteúdos formais, em favor da promoção de uma cultura que engaje os estudantes na linguagem e nas formas da investigação científica. Despertar o interesse pelas Ciências é uma meta que deve ser constantemente seguida pelos professores para a melhoria da qualidade de vida da sociedade (BARAB et al., 2000; BARAB e HAY, 2001; CARVALHO e GIL-PÉREZ, 2001; BARAB e LUEHMANN, 2003; GOLICK et al., 2003). Ao participar de um projeto, o estudante estará envolvendo-se em uma experiência educativa em que o processo de construção de conhecimento está integrado às práticas vividas (LEITE, 2007). As atividades propostas foram iniciadas em 2014 com alunos da 1ª série do Ensino Médio Politécnico da Escola Estadual de Ensino Médio Boaventura Ramos Pacheco, Gramado/RS, com faixa etária entre 15 e 16 anos, com os professores de Biologia, Matemática e Seminário Integrado. Considerando que a transformação dos alunos ocorre no viver da vida cotidiana, a escola constitui-se como um 229 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB espaço que possibilita reflexão e tomada de ações voltadas à criação de uma consciência sustentável. A noção de sustentabilidade necessita ser assimilada pela comunidade, pois a cidade deve precisa ser um local apto a proporcionar qualidade de vida sadia aos seus habitantes. As atividades propostas foram elaboradas com vistas a uma metodologia participativa, com atuação efetiva dos integrantes, valorizando seus conhecimentos na identificação e busca de soluções. Através de um questionário sócio-antropológicoambiental online aplicado nas aulas de Matemática, foiinvestigado o perfil dos estudantes do ensino médio, quanto as suas características, percepções e pretensões futuras, trabalho atual, continuidade dos estudos e ideias relacionadas a meio ambiente. Nas aulas de Biologia,foi realizado um diálogo sobre resíduos do ambiente escolar, das residências e da cidade, assim como sugestões de atividades a serem realizadas para obtenção de possíveis melhorias, visando sustentabilidade. As ações a serem desenvolvidas devem estar voltadas a aquisição de valores e atitudes necessários para o desenvolvimento de situações-problemas e encontrar soluções sustentáveis (SHUNEMAN e ROSA, 2010; DIAS, 2013). Uma pesquisa sobreresíduos eletrônicos, a importância de postosde coleta apropriados e os impactos gerados pelo descarte inapropriado, foi realizada nas aulas de Biologia e Seminário Integrado.Após essa, juntamente com a Secretaria de Meio Ambiente da cidade, foi instalado um contêiner na escola para coleta desses resíduos. A educação nesse contexto promove um aprendizado capaz de transformar ações que economizem recursos, evitem desperdícios e gerem hábitos saudáveis. Assim, o desafio da 230 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB educação é que além das informações, sejam desenvolvidas habilidade e procedimentos (ALVES et al., 2004). Posteriormente os estudantes observaram o ambiente escolar avaliando a prática de hábitos sustentáveis, como o descarte correto dos resíduos gerados. O registro foi por meio de fotografias e anotações e sua avaliação por tabulação dos resultados. Os projetos interdisciplinares são conjuntos de atividades que trabalham com conhecimentos específicos, construídos a partir um problema para resolver e um produto que se quer obter. Pelo diálogo, interações com leituras, interpretações e análises de diferentes saberes, constroem-se conhecimentos, sendo esse um saber coletivo. Para a formação do pensamento estatístico, o professor deve direcionar uma abordagem que privilegie os métodos, as técnicas e os conceitos estatísticos articuladamente. Para essa compreensão, sugere-se uma prática docente com dados reais relevantes para o estudante e, principalmente, obtidos por ele mesmo (WODEWOTZKI e JACOBINI, 2004). Na etapa final do projeto, os estudantes confeccionaram cartazes para as demais turmas com a divulgação de sua pesquisa sobre sustentabilidade e seu compromisso com o meio ambiente na forma de uma campanha ambiental. A utilização de ferramentas digitais no desenvolvimento de um projeto e na coleta de dados possibilita aos participantes: informações; troca de dados; comunicação e divulgação, oferecendo uma possibilidade de intercâmbio de ideias e resultados (SCARDAMALIA e BEREITER, 1999). 231 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A discussão da relevância deste projeto pode ser iniciada pela afirmação de que, para estabelecer pequenas mudanças, é preciso que um processo de ruptura com a primeira cultura aconteça para que a cultura elaborada – relacionada ao conhecimento científico, seja apropriada. Nesse contexto, Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002) apontam, como uma das tarefas da educação, o trabalho didático-pedagógico que considere explicitamente as rupturas que os estudantes precisam realizar. A Figura 1 ilustra parte dos resultados da pesquisa sócio-antropológica-ambiental com relação as suas práticas na separação de resíduos e ações que possam contribuir para uma mudança de atitude no ambiente escolar, realizada com os 230 estudantes do ensino médio politécnico. Figura 1.Resultados da pesquisa sócio-antropológica-ambiental (Fonte: alunos do projeto). As tabelas e os gráficos fornecem informações a respeito das variáveis em estudo, permitindo determinações pedagógicas mais coerentes e científicas (CRESPO, 2002). 232 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB Observou-se que a maioria (93%) dos alunos tem preocupação com o meio ambiente; 72% dos alunos realizam a separação de resíduos sólidos, evidenciando o seu compromisso com a sustentabilidade. Ressalta-se a importância da família, pois 81% dos pais são receptivos a ações que visem a melhoria do meio ambiente. O diálogo com os estudantes a respeito de suas interpretações e opiniões sobre meio ambiente e outras questões sobre ambiente escolar, residências e cidade, foi realizado com anotações de sugestões de atividades futuras na obtenção de possíveis melhorias. Neste processo, os estudantes sugeriram ações como: intensificação da coleta seletiva da escola; instalação de um ponto para coleta de resíduos eletrônicos; campanhas educativas; entre outras na forma de projetos futuros. O pensamento estatístico não se desenvolve em situações abstratas: ele requer contextualização para o domínio da linguagem gráfica (BRASIL, 2002). Para Ponte, Brocardo e Oliveira (2006), a estatística através das investigações de problemas do mundo real, é um campo privilegiado para promover a interdisciplinaridade. A estatística associada ao método científico permite observar, formular questões, reunir dados e comparar os resultados com os inferidos previamente, assim com novas questões, gerando um processo recursivo. Após esta etapa, foi realizado um levantamento de dados sobre sustentabilidade e meio ambiente, selecionando fontes e coletando informações. As produções escritas dos estudantes abrangeram conceitos de sustentabilidade, meio ambiente e educação ambiental com pesquisas em artigos científicos disponíveis no repositório do Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/). 233 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB Esse levantamento de dados foi realizado nas aulas de Biologia e teve ênfase aos resíduos eletrônicos, citando, por exemplo, a Constituição Federal Brasileira quanto à educação ambiental e a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A quantidade de televisores, celulares, eletrodomésticos portáteis, aparelhos de microinformática, DVD‟S, luminárias fluorescentes, brinquedos eletrônicos e muitos outros produtos, idealizados para facilitar a vida moderna, hoje são descartados na medida em que se tornam tecnologicamente ultrapassados em um ciclo de vida cada vez mais curto ou então devido à inviabilidade econômica de conserto (Rodrigues, 2003). A necessidade do estudo sobre os problemas ambientais causados pela industrialização obrigou a sociedade a iniciar discussões voltadas ao destino correto dos produtos eletroeletrônicos. Em função deste levantamento, um contêiner para coleta destes resíduos (Figura 2) foi instalado na escola com apoio da Secretaria de Meio Ambiente, pois uma das tarefas como um cidadão voltado à sustentabilidade é a de propor possíveis soluções para minimizar os impactos ao meio ambiente. Figura 2.Contêiner para coleta de resíduo eletrônico (Fonte: professores do projeto). 234 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB Foram recolhidos aproximadamente 240kg de eletrônicos na primeira coleta, incluindo computadores, baterias e celulares. O destino foi a central de triagem da cidade para serem acondicionados e posteriormenteenviados a usinas de reciclagem de eletrônicos. Essa coleta foi tão significativa que a Secretaria do Meio Ambiente estendeu este projeto para as demais escolas do município, assim, os alunos sentiram-se motivados ao perceber que suas ações contribuíram consideravelmente com o meio ambiente local. A observação do ambiente escolar avaliando a prática de hábitos sustentáveis foi realizada através de fotografias e anotações. Posteriormente foi realizada a confecção de cartazes (Figura 3) e divulgação de seus resultados para as demais turmas da escola em uma campanha ambiental. Figura 3.Cartazes informativos (Fonte: alunos do projeto). 235 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB 4 CONCLUSÕES O trabalho interdisciplinar dos professores das diferentes áreas e dos estudantes de educação básica se contrapôs à ação fragmentária que divide o conhecimento em partes esfareladas que faz com que a própria escola se torne fragmentada. Os resultados deste trabalho são dados parciais de uma pesquisa realizada por seis alunos de duas diferentes turmas, que atualmente frequentam a 2ª série do Ensino Médio Politécnico. O resultado mais significativo desta proposta foi a integração entre as diferentes áreas do saber e o incentivo à pesquisa, apoiadas no projeto intitulado Sustentabilidade e o Turismo como Economia, que permitiu a construção de aprender com significado a aplicação dos conhecimentos adquiridos na atividade cotidiana e escolar de cada um. Este trabalho busca contribuir no desenvolvimento de habilidades e competências indispensáveis para o futuro cidadão de cada um. Considerando que a realidade é interdisciplinar e que os diversos fenômenos que vivenciamos diariamente interagem entre si, não podemos mais conceber a explicação de um sistema complexo isolando suas partes através de uma metodologia tradicional. Um trabalho que considere a realidades dos estudantes é essencial na transformação pedagógica, uma vez que o professor que proporciona um aprendizado fragmentado não estabelece relações das partes com o todo. Cabe ressaltar o caráter fundamental para novas mudanças no ensino tão necessárias na educação, frente aos desafios que o mundo contemporâneo nos impõe: a busca por alternativas que qualifiquem a aprendizagem e desenvolvam 236 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB habilidades e competências, tornando o estudante um agente de transformações apto a compreender o mundo que vive. A aplicação de metodologias voltadas à pesquisa, visando um processo de ensino-aprendizagem dinâmico, interdisciplinar e contextualizado, pode ser um modo de o professor despertar nos estudantes a consciência da importância da preservação do meio ambiente, construindo assim conceitos significativos para a melhoria de sua qualidade de vida. Educar para o desenvolvimento sustentável é contribuir para que os estudantes sejam aptos a nutrir seus próprios valores e ao mesmo tempo contribuir para a realização de metas nacionais e mundiais, partindo de ações que estão ao seu alcance (DELIZOICOV, ANGOTTI E PERNAMBUCO, 2002). Observou-se que no desenvolvimento da metodologia proposta, os estudantes mostraram-se motivados e participativos ao realizarem as atividades de pesquisa. O apoio da Secretaria do Meio Ambiente com relação a coleta seletiva de resíduos eletrônicos e posteriormente nas demais escolas de Gramado, foi um incentivo aos estudantes com relação ao projeto que está sendo desenvolvido. Nos aspectos relacionados à aprendizagem, na forma como os conhecimentos foram trabalhados, conectados com temas da realidade, houve uma significativa contribuição para uma aprendizagem com significado para os estudantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, J. E. H. et al. Noções Básicas de Educação Ambiental: uma proposta de formação continuada. Goiânia: Grafset. 2004. 237 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB ARROIO, A. et al. O ensino de química quântica e o computador na perspectiva de projetos. QuímicaNova, São Paulo, v. 28, p. 360-363, 2005. BARAB, S. A.; HAY, K. E. Doing science at the elbows of scientists: Issues related to the scientist apprentice camp. Journal of Research in Science Teaching, vol. 38, n. 1, p. 70-102, 2001. BARAB, S. A. et al. Virtual Solar System Project: Building understanding through model building. Journal of Research in Science Teaching, vol. 37, n. 7, p. 719-756, 2000. BARAB, S. A.; LUEHMANN, A. L. Building sustainable science curriculum: acknowledging and accommodating local adaptation. Science Education, vol. 87, n. 4, p. 454-467, jul 2003. BIZZO, N.; OTHERO, F. O “método dos projetos” no ensino de Ciências: reflexões sobre seis anos de aplicação. In: VII Encontro “Perspectivas Do Ensino De Biologia” E I Simpósio Latino-Americano Da Ioste, 2002, São Paulo. O “método dos projetos” no ensino de ciências: reflexões sobre seis anos de aplicação. São Paulo: FEUSP, 2000. p. 807-809. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília, DF: MEC/SEB/DICEI, 542 p., 2013. BRASIL. PCN + Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/Semtec, 2002. CARVALHO, A. M. P; PÉREZ, D. G. O saber e o saber fazer dos professores. In: Castro, A. D. e Carvalho, A. M. P. (Org.) Ensinar a Ensinar: Didática para a Escola Fundamental e Média. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, p. 107-124. 2001. CRESPO, A. A Estatística Fácil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 8. ed. São Paulo: Gaia, 2013. FEJES, M. E. et al. Implementación de proyectos de investigación en ciencias vía telemática. Novedades Educativas: ideas y recursos, Buenos Aires, v. 16, n. 163, p. 04-09, 2004. GOLICK, D. A. et al. Bumble Boosters: Students doing real science. Journal of Science Education and Technology, vol. 12, n. 2, p. 149-152, jun 2003. INOVA ENGENHARIA. Propostas para a modernização da educação em engenharia no Brasil. Brasília: IEL.NC/SENAI.DN, 2006. LEITE, L. H. A. Pedagogia de projetos e Projetos de Trabalho. Presença Pedagógica, v. 73, p. 62-69, 2007. MENEZES, H. C.; FARIA, A. G. Utilizando o monitoramento ambiental para o ensino de Química. Pedagogia de projeto. Química Nova, v. 26, p. 287, 2003. 238 AÇÕES PEDAGÓGICAS SENSIBILIZANDO A COMUNIDADE DA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO PINTO DA SILVA EM BARRA DE SÃO MIGUEL-PB NOVAES, W. Agenda 21 Brasileira: bases para a discussão. Brasília: MMMA/PNDUD, 2000. OMER, A. M. Energy, environment and sustainable development. Renewable and sustainable energy reviews, v. 12, n. 9, p. 2265-2300, 2008. PONTE, J. P., BROCARDO, J., OLIVEIRA, H. Investigações Matemáticas na Sala de Aula. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. RODRIGUES, A. C. Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos: Alternativas de Política e Gestão. Biblioteca da Escola de Sociologia e Política de SP. 2003. SCARDAMALIA, M.; BEREITER, C. Schools as knowledge building organizations. In: D. Keating & C. Herztman (Eds). Today‟s children, tomorrow‟s society: The developmental health and wealth of nations.New York: Guilford. p. 274-289, 1999. SCHÜNEMANN, D. R.; ROSA, M. B. Conscientização ambiental na educação infantil. Revista Monografias Ambientais, v. 1, n. 1, p. 122-132, 2010. WODEWOTZKI, M. L. e JACOBINI, O. R. O Ensino da Estatística no Contexto da Educação Matemática in BICUDO, M. A. V. e BORBA, M. C. (Orgs.) Educação Matemática: Pesquisa em Movimento, São Paulo: Cortez, 2004. pp. 232-249. 239 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE CAPÍTULO 15 AMBIENTES 100% LIVRE DE POLUIÇÃO TABÁGICA EM CAMPINA GRANDE-PB Lucas Brasileiro de Oliveira Gomes1 Thaynná Batista de Almeida1 Clésia Oliveira Pachú2 1 Graduandos de Direito e 2 Professora Dra da Universidade Estadual da Paraíba RESUMO:A presente pesquisa objetiva analisar a efetividade da legislação federal na cidade de Campina Grande com enfoque específico no dispositivo normativo que institui os ambientes 100% livres de fumo. Trata-se de estudo qualitativoindutivo, utilizando-se de fontes bibliográfica, de 1996 até a presente data, acerca dos ambientes livres de fumo. Coletaram-se dados da legislação federal, estadual e local. Nos resultados encontrados foi possível observar a importância da efetividade dos ambientes livres da poluição tabágica e, consequente redução da morbimortalidade promovida pela fumaça dos produtos fumígenos. Estes se encontram atrelados de forma direta com diversas causas de câncer e doenças do trato respiratório, bronquite e asma. O fumo ativo e passivo é a principal causa de morte evitável conforme enfatiza a Organização Mundial de Saúde. Concluise afirmando a necessidade do cumprimento da legislação vigente quanto aos ambientes livres de fumo. Constata-se o alto gasto estatal com a morbimortalidade relacionada ao tabagismo. Faz-se necessário acompanhar, monitorar e efetivar os ambientes públicos e privados livres do resíduo tóxico da fumaça proveniente da combustão do tabaco. Palavras-chave: Poluição. Cigarro. Legislação. 240 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE 1 INTRODUÇÃO Brasil como referência mundial contra a epidemia da dependência química da nicotina. O Brasil é destaque no cenário mundial político-normativo referente ao controle: Prevenção, Promoção de ambientes livres de fumo e Tratamento. O avanço das pesquisas científicas financiadas por entidades governamentais e não governamentais desvinculadas do poderio da indústria tabagista constataram risco a saúde pública em virtude do consumo de substâncias presentes no fumo. Para consumidores apresentado como forma de obtenção de “prazer”. A população jovem, potenciais usuários dos produtos fumígenos, da indústria multimilionária utiliza após iniciação promovida por propaganda e distribuição massiva. Assim, instala-se a dependência química à nicotina durante longos anos e garante a sobrevivência desse comércio. Este conglomerado industrial alcança todos os anos lucros na faixa de bilhões de dólares, “deixando uma conta” caríssima para o sistema público de saúde brasileiro ao arcar com doenças relacionadas à exposição da fumaça do tabaco, como também ao tratar os males vinculados ao uso em longo prazo das substâncias presentes no cigarro, como a nicotina, responsável pela dependência química (SEELING, 2009). Dessa maneira ao visualizar o panorama internacional de saúde, as instituições internacionais pressionaram os entes estatais a adequar seus ordenamentos jurídicos as realidades alarmantes, em vista a necessidade urgente de evitar as mortes provenientes da fumaça do cigarro, sendo considerado 241 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE como a maior causa de morte evitável do mundo (WHO, 2011). Nessa vertente a Organização Mundial de Saúde estudou a matéria por longos anos, e constatou a necessidade de documento de cooperação internacional que atrelasse os países membros ao compromisso de ordem mundial. Neste contexto, ocorre a regulamentação dos produtos derivados do tabaco no mercado interno e externo com intuito de reduzir os números de novos dependentes químicos, como também a quantificação de cidadãos afetados pelas doenças ocasionadas pelo fumo ativo ou passivo. Entretanto, ao visualizar o esforço de organizações, as indústrias tabagistas começaram a utilizar da influência política, econômica e tecnológica para neutralizar tais atitudes. E assim, passaram a financiar de forma sorrateira pesquisas de cunho “científico” por meio de profissionais de saúde, forjando documentos para comprovar a ausência de causa para regulamentação segundo estudos patrocinados pela indústria “desnecessária”. Em seus trabalhos angariados por “pesquisadores” argumentava que o uso esporádico, o fumo passivo e ativo, não estariam atrelados diretamente as causas de mortandade por câncer ou doenças do trato respiratório, mesmo após anos e anos aspirando de forma contínua a fumaça do cigarro. No entanto, tais argumentos fabricados foram desfeitos em virtude das pesquisas e tecnologias que evoluíram e verificaram a não veracidade de tais ditos (SEELING, 2009). Após a derrubada dessa argumentação inverídica, outro discurso, dessa vez, tido como relevante, foi a arrecadação tributária dos países que seria afetada em cheio ao regular e restringir determinadas práticas promocionais dessa indústria 242 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE que vende maciçamente e, portanto, gera empregos diretos e indiretos (BORGES, 2011). A solução encontrada foi regulamentar esses produtos, uma vez que o grande poderio econômico dessa indústria e os “benefícios” trazidos por ela não justifica a morte de milhares de pessoas, jovens menores de idade, que se tornam vítimas fáceis do maquinário publicitário. Este formulado para essa faixa etária os induzindo ao consumo, e, tornando-os assíduos usuários por toda a vida desse produto. Sem mencionar os gastos alarmantes com saúde pública, atrelados ao tratamento da dependência química, como também para sanar determinados males clínicos (grifo nosso). 2 MATERIAIS E MÉTODO A presente pesquisa qualitativa descritiva foi realizada por meio de fontes doutrinárias e legislativas e dados disponíveis do ano de 1996 a 2014 nos principais órgãos de saúde como da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Foram incluídos documentos relativos a gastos públicos com a mortalidade relacionada ao tabagismo, atividades realizadas quanto ao controle da dependência química a nicotina, verificação do cumprimento da legislação que proíbe a publicidade de cigarros e consumo de tais produtos em ambientes públicos e privados. Excluídos documentos que remetem a demais atividades da área de saúde. A Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco foi utilizada como instrumento subsidiário para entendimento do contexto histórico internacional e adequação da legislação 243 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE brasileira, acerca da regulamentação dos pontos de venda, locais de utilização e distribuição dos produtos fumígenos. O ordenamento jurídico brasileiro confere embasamento a legislação extravagante existente referida à proteção da saúde pública, e, interesse social das normas de regulamentação do consumo de cigarro no Brasil. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Proteção do trabalhador da fumaça do tabaco A normatividade da matéria no Estado da Paraíba se encontra no corpo da Lei 8.958/2009, dita “lei antifumo”. A lei prevê fiscalizações em bares e restaurantes paraibanos e, ampla campanha de conscientização para inibir o consumo do tabaco (BRASIL, 2009). Desde o dia 1º de novembro de 2009, no Estado da Paraíba, está vetado o consumo de derivados ou não de tabaco que produzam fumaçaem ambientes de uso coletivo, públicos ou privados. As proibições também incluem todos os locais fechados (PARAÍBA, 2009). A Lei propõe ainda que bares, restaurantes, hotéis e áreas de condomínios deverão ter cartazes, mencionando a lei e proibição do fumo. A regulamentação e fiscalização proposta pela lei se encontram no artigo 7o do mesmo dispositivo, que reza: “Art. 7º As penalidades decorrentes de infrações às disposições desta lei serão impostas, nos respectivos âmbitos de 244 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE atribuições, pelos órgãos estaduais de vigilância sanitária ou de defesa do consumidor. Parágrafo único - O início da aplicação das penalidades será precedido de ampla campanha educativa nos meios de comunicação, como jornais, revistas, rádio e televisão, para esclarecimento sobre os deveres, proibições e sanções impostas por esta Lei, além da nocividade do fumo à saúde” (PARAÍBA, 2009). Entretanto, a referida lei, necessita de estímulo das autoridades públicas para efetividade. Afirmativa inquestionável em virtude do número de dependentes à nicotina nos Estados nordestinos, em especial, na Paraíba. Tais disposições legislativas estão em consonância com a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco que dispõe no artigo 8o, todos devem ser protegidos contra a exposição à fumaça do tabaco. Estas provisões legais foram importantes para o Estado paraibano adquirir experiência na retirada dos fumodrómos, regulamentação das áreas de utilização do tabaco, e assim, protegendo os trabalhadores e demais cidadãos dos malefícios do fumo passivo e de “terceira-mão”. Este chamado fumo de terceira-mão uma vez que mesmo com o cigarro apagado, o mesmo libera substâncias na atmosfera que prejudicam as pessoas presentes e, próximas a ele. Tais partículas ao desprenderem no ar ocupam o ambiente e se dispersam com facilidade (SEELING, 2009). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Saúde de 2008, ano antes da 245 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE promulgação dessa lei por parte do governador do Estado, 24% dos trabalhadores a nível Brasil eram expostos à fumaça de produtos derivados do tabaco em seu ambiente de trabalho. Dado utilizado como alicerce dessa lei estadual que visa à proteção da população dessa exposição danosa. Estes dados demonstram a legislação federal lei 9.294/96, não eficaz por permitir ambientes para utilização do cigarro, os fumodromos. Na efetivação desse dispositivo normativo supracitado foi essencial a atuação do Ministério Público do Trabalho (MPT).Na tutela da saúde dos trabalhadores nos ambientes de trabalho coletivo, faz-se necessário prevenir os males provenientes da combustão do tabaco. O MPT tem efetuado ações de fiscalização, desde 2009, visando à coibição e a promoção dos ambientes livres de fumo nos estabelecimentos públicos. Em contrapartida, nos ambientes privados, responsáveis por bares, restaurantes, lanchonetes e similares têm sido alvo de audiências para firmar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), visando o comprometimento dos empresários em banir o fumo dos ambientes coletivos. No ano de 2009, ano de promulgaçãoda lei estadual “antifumo”, cerca de 200 TACs foram firmados entre estabelecimentos e o MPT. Destes, 182 firmados pela Procuradoria do Trabalho do Município de Campina Grande, Paraíba. Nessa Procuradoria foi realizada audiência pública em agosto do ano 2009, na cidade de Campina Grande, resultando em acréscimo de mais 100 TACs firmados. Almejava-se a regulação dos ambientes livres de fumo em recintos de trabalho coletivo. Desse modo, o Município de Campina Grande assumiu o compromisso diante do MPT de 246 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE coibir à fumaça do cigarro das suas Cozinhas Comunitárias e Restaurantes Populares. Observa-se o TAC como instrumento poderoso frente à tutela dos diretos coletivos e difusos por parte do Ministério Público. Estipulando cláusulas de descumprimento com obrigações de fazer ou não fazer, além de multa pecuniária agregada a gravidade e continuidade da infração constatada que viola o termo em questão. No MPTo TAC promove a eficácia na tutela dos interesses sociais. De forma coercitiva aplica a lei às situações concretas e inibe abusos por parte dossetores públicos ou privados. O direito de não fumar não deve prevalecer sobre o direito de fumar, tratando-se de conflitos de normas de direitos fundamentais uma não pode se sobrepor a outra. No entanto, não há sobreposição de uma norma sobre outra, ou direito maior ou melhor que outro, mas uma regulamentação das práticas de fumar e seus respectivos locais seguros de utilização para a sociedade. Existe regulamentação para outras áreas da vida cotidiana, como sexo, roupas de banho em repartições públicas, dentre outras atividades (Grifo Nosso). Nesse caso, a norma proposta pelo governo estadual, fiscalizada pelo MPT e efetivadaspor meio dos TACs não estão infringindo a constituição, uma vez que regulam uma prática, restringindo e propondo locais adequados para utilização dessas substâncias nocivas. O direito à saúde pública não pode ser negado em face do direito à liberdade de fumar. No caso do trabalhador que passa, em média, por volta de oito horas/dia em ambiente de trabalho, caso esse ambiente esteja contaminado por substâncias tóxicas, como a 247 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE fumaça do cigarro, o mesmo poderá sofrer a médio ou longo prazo consequências devastadoras em sua saúde. A exposição a esses fatores nos locais de trabalho pode causar danos irreversíveis à saúde do trabalhador. Ainda mais grave a situação em ambientes fechados e lugares onda há manipulação de gêneros alimentícios (REHVA, 2004). A fiscalização das condições de segurança e saúde dos trabalhadores nas relações de trabalho e emprego se insere nas atribuições do Ministério do Trabalho e Emprego no tocante ao setor de inspeção do trabalho por meio dos Auditores-Fiscais do Trabalho.A Portaria Interministerial, número 9, de 7 de outubro de 2014, publica a Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos (LINACH), como referência para a formulação de políticas públicas. Nessa portaria se encontra uma lista dos agentes possivelmente carcinogênicos para humanos-2B, provavelmente carcinogênico para humanos-2A; agentes confirmados como carcinogênicos para humanos-1, neste consta a maior gravidade da exposição a esses agentes químicos. Os danos são poluição do ar, poluição do ar em partículas, tabaco em uso passivo, tabaco sem fumaça, tabagismo. O embasamento advém de estudos do Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Saúde, Ministério da Previdência Social, estudos científicos existentes e lista de agentes cancerígenos da Agência Internacional para a Investigação do Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Estes descrevem os males advindos da exposição esporádica e constante do trabalhador em seu ambiente laboral por agentes nocivos à saúde do mesmo. No entanto, o setor de inspeção do trabalho na cidade de Campina Grande se encontra deficitário em virtude de 248 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE denúncias relativas a infrações trabalhistas na jurisdição da Gerência Regional do Trabalho dessa cidade. A quantidade de dez auditores fiscais em atividade se torna insuficiente ao analisar 89 municípios circunvizinhos a Campina Grande que devem ser fiscalizados pela GRT e a ausência de corpo funcional adequado, estrutura física, recursos para efetivação desses dispositivos normativos em questão, tendo em foco a saúde e segurança do trabalhador.Na seara do ambiente, a Gerência Regional de Vigilância Sanitária, a GEVISA, é responsável pela fiscalização das condições ambientais dos locais públicos e privados onde ocorra circulação de pessoas. A Constituição Federal, em seus artigos 7º, inciso XXII, 196, 200, inciso VIII, e 225, assegura o direito à saúde e segurança no trabalho. Nos termos do artigo 2º, parágrafo 1º da Lei 9.294/1996, combinado com o artigo 157 e seguintes da CLT, o empregador tem o dever geral de proteger a saúde e segurança do trabalho ante a contaminação produzida pela fumaça do cigarro. É devido, segundo entendimento jurisprudencial, adicional de insalubridade em virtude da agressão à saúde do trabalhador com exposição nociva desses agentes derivados do tabaco, acarretando doenças do trato respiratório, cardiovascular, dentre outros males irreversíveis. Essa prática é incipiente ao analisar a quantidade de ambientes públicos e privados que insistem em burlar o ordenamento jurídico nas esferas federal, estadual e municipal. Neste contexto, a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, da Organização Mundial da Saúde, ratificada pelo Brasil em 2006, os poderes públicos e a sociedade devem 249 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE prevenir e restringir o consumo, propaganda e a venda de produtos de tabaco. 4.2.1 Fumantes e não fumantes em mesmo ambiente Os fumantes e não fumantes em mesmo ambiente acarretam malefícios devastadores para ambos: para o fumante que inala cem por cento da fumaça proveniente da combustão do tabaco e por tabela o fumante passivo inala boa parte dessa fumaça. Estudo afirma que não há sistema de ventilação que controle ou reduza significativamente os riscos impostos pelas partículas do cigarro desprendidas pelo ar, tanto pela densidade delas, como pela grande quantidade liberada com a combustão(REHVA, 2004). Por outro lado ambientes para fumantes em ambientes separados, mas isolados também não possuem eficácia no tocante a proteção da saúde dos transeuntes, trabalhadores e demais não fumantes que circulação no local. A redução da exposição da fumaça do tabaco no ambiente comum não é suficiente. Técnicas de escoamento da fumaça, sistema de ventilação, exaustão, limpeza e filtragem do ar podem reduzir os riscos provenientes dessa exposição, todavia, não os exaurindo por completo, uma vez que a movimentação das pessoas interfere nesse sistema de transporte de fluidos e as condições físicas das partículas dispersas no ar atmosférico pela combustão dos derivados de tabaco dificultam tal circulação de ar (SEELING, 2009). Áreas para fumantes isoladas das áreas para não fumantes podem reduzir a exposição à fumaça do tabaco pelos não fumantes caso haja um eficaz escoamento e 250 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE exaustão dessa fumaça e demais resíduos provenientes da combustão do tabaco. A exaustão deve ser controlada para não contaminar o ambiente de não fumantes, seja por brechas de janelas ou portas entre dois ambientes (SEELING, 2009). Nesse sistema não há controle de redução da fumaça do cigarro, uma vez que o ambiente isolado dos fumantes está “vedado”, impossibilitando o escoamento adequado dessa fumaça, agravando ainda mais os problemas que o cigarro acarreta. Dessa maneira, a total eliminação de “fumodrómos” ou quaisquer áreas destinadas exclusivamente para fumar são a única forma segura e eficaz de atenuar os efeitos do cigarro para os fumantes comparado com os ambientes isolados, e eficientes em relação ao sistema de circulação de fluidos no tocante à proteção dos não fumantes contra a fumaça do cigarro. Assim, o ato de fumar deve ser permitido ao ar livre, sem qualquer barreira física ou próxima a janelas, portas ou saídas de ar para assim liberar o fluxo de ar, fazendo com que as partículas do cigarro em combustão sejam dispersas com devida eficácia (SEELING, 2009). 4 CONCLUSÕES A Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, Tratado ratificado pelo Brasil teve papel preponderante como agente normativo em âmbito internacional no combate aos males provenientes da fumaça do tabaco. Tal dispositivo normativo propôs medidas urgentes para regulamentação do tabaco, vedação de publicidade, e restrição de utilização por jovens menores de idade, dentre outras disposições. Atitudes essas de relevante interesse 251 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE público, uma vez que segundo dados do Instituto Nacional do Câncer o país gasta com saúde pública no tratamento de doenças relacionadas diretamente ao tabagismo à soma de 22 bilhões de reais anualmente. O gasto com o Sistema Único de Saúde com atendimento universal e sem custos para população se encontra sobrecarregado com uma demanda para cofres públicos no atendimento a indivíduos atingidos por males do cigarro. Dinheiro esse que poderia ser utilizado em outras utilidades públicas que necessitam de subvenção e custeio. Por outro lado, é inegável a atuação dos órgãos de controle do tabagismo, prevenção e regulamentação do tabaco. Está provado que a repressão à venda do tabaco não é a forma mais eficaz de combate, tendo em vista o contrabandeio e outras formas de entrada e produção desses produtos de maneira ilícita (INCA, 2015). Assim, a regulamentação das práticas tabágicas, promoção de ambientes públicos e privados livrem de fatores que conduzem à dependência química pela nicotina, vedação da publicidade do tabaco, elevação de impostos sobre os produtos derivados do tabaco, fiscalização das fronteiras contra o contrabando de cigarros, dentre outras iniciativas, mostram-se efetivas em relação à diminuição do número de fumantes ativos e dos males provenientes do fumo passivo. O maior comprometimento estatal com a proteção à saúde dos cidadãos viventes e das gerações futuras se faz necessário. Deve-se ser criada uma Política de Estado para controle do tabagismo, garantindo o acesso à saúde de qualidade e diminuição dos males provenientes do tabaco. Dessa maneira, a efetivação dos direitos sociais, dentre eles o direito à saúde devem ser constantes. 252 AMBIENTES 100% LIVRES DE POLUIÇÃO TABAGISTA EM CAMPINA GRANDE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA- AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Consulta Pública n. 29 de 2 de abril de 2007. Dispõe sobre funcionamento das salas destinadas exclusivamente para o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno derivado do tabaco que produza fumaça ambiental do tabaco (FAT) nos recintos coletivos, públicos ou provados. Diário Oficial da União. Brasília, 3 abr. 2007. BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2014. BORGES, Renata de Lacerda Antunes. O tabaco no Rio Grande do Sul: análise da cadeia agroindustrial e dos possíveis impactos das políticas derivadas da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco sobre a economia fumageira. Trabalho de Conclusão de curso em Economia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS. Porto Alegre, 2011. CQTC, Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco; Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2011. INCA, Instituto Nacional do Câncer; Rio de Janeiro – 2015. PARAÍBA, Lei nº 8.958 de 30 de outubro de 2009. Proíbe o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do Tabaco, na forma que específica, e crias ambientes de uso coletivo livre de tabaco. REHVA – FEDERATION OF EUROPEAN HEATING AND AIRCONDITIONING ASSOCIATIONS. Ventilation and smoking: reducing the exposure to ETS in buildings.Brussels: 2004. 144p. SELLING, Marina Fonseca. A VENTILAÇÃO E A POLUIÇÃO TABAGÍSTICA AMBIENTAL – ARGUMENTAÇÃO CIENTÍFICA PARA O ESTABELECIMENTO DE LEIS DE AMBIENTES INTERIORES LIVRES DE FUMO.Tese (Doutorado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Report on the Global Tobacco Epidemic, 2011: Warning about the dangers of tobacco. Geneva: World Health Organization, 2011. 253 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA CAPÍTULO 16 REUSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA Wanessa Alves MARTINS1 Carlos Eduardo Pereira de MORAIS2 Andréa Maria Brandão Mendes de OLIVEIRA3 1 Aluna da Pós- Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, UFPB; 2Graduando em Engenharia Ambiental, UFCG;3 Professora do CCTA, UFCG. RESUMO: Na busca do desenvolvimento de atividades que estejam de acordo com os objetivos da sustentabilidade, é necessário considerar a prática do reúso de águas como uma das opções para a problemática da oferta hídrica. O presente trabalho teve como objetivo estudar o tema reúso de esgoto na agricultura e na aquicultura, destacando a sua importância para a preservação da qualidade e quantidade dos corpos hídricos, para a presente e futura gerações. A metodologia foi de Appolinário (2006), que se caracteriza segundo a sua finalidade como básica e de tipo descritiva, e de abordagem quali-quantitativa. Com base nos procedimentos técnicos e metodológicos identificados por Diehl et al. (2004) esta investigação é de modelo bibliográfico e documental. Através da pesquisa realizada, torna-se evidente a necessidade da ampliação das novas alternativas para o uso racional da água potável, a utilização da água residuária para atividades que não necessitem de uma qualidade especial, para o desenvolvimento de suas tarefas, essa pode ser uma ação dentre várias que causa a diminuição da poluição dos corpos hídricos. Palavras-Chave: Escassez; sustentabilidade; proteção. 254 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA 1 INTRODUÇÃO Atualmente, um dos principais problemas enfrentados é a escassez de água em todas as regiões do mundo. Este fato se justifica principalmente pelo aumento populacional associado com a falta de gerenciamento adequado da água fazendo com que essas sofram com a falta desse recurso. O Brasil é um país privilegiado por contar com uma grande quantidade de rios e mananciais superficiais, somando uma vazão estimada em 180 mil m 3∙s-1 correspondendo aproximadamente 12% da disponibilidade hídrica mundial. Porém a distribuição geográfica das bacias hidrográficas é irregular assim como o regime pluviométrico no território nacional (ANA, 2012). Levando em consideração essa problemática é imprescindível identificar e minimizar os desperdícios, inclusive das águas residuais, por possuírem um grande potencial de uso (OENNING JUNIOR e PAWLOSKY, 2007). A principal vantagem da utilização da água de reuso é a de preservar a água potável exclusivamente para o abastecimento público humano. Segundo Cerqueira et al., (2008) o reúso planejado dessas águas na agricultura é apontado com medida para minimizar o problema da escassez hídrica nas regiões semiáridas, tendo a possibilidade de substituir parcialmente o uso de fertilizantes químicos e desta maneira reduzir o impacto ambiental. A Organização das Nações Unidas (ONU) revela que aproximadamente 70% de toda a água disponível no mundo são utilizadas na irrigação. No Brasil, esse índice chega a 72%. A tendência de acordo com os últimos relatórios 255 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA divulgados pela ONU, é que o gasto seja elevado em até 50% em 2025 nos países em desenvolvimento, e em 18% em países desenvolvidos. Outro setor que também requer o recurso água no seu processo produtivo é a aquicultura, sendo que o desenvolvimento desse tipo de atividade apresenta riscos de deteriorar a qualidade e comprometer a quantidade da água, podendo contribuir para a diminuição da qualidade ambiental, social e econômica (TIAGO; GIANESELLA, 2003). Atualmente, a aquicultura enfrenta o desafio de aperfeiçoar-se ao conceito de sustentabilidade, o que implica unir novos valores à produção de conhecimento e às práticas do setor (ELER; MILLANI, 2007). Na busca do desenvolvimento de atividades que estejam de acordo com os objetivos da sustentabilidade, nas quais as atividades devem ser economicamente viáveis, ecologicamente corretas e socialmente justas, é necessário considerar a prática do reúso de águas como uma das opções para a problemática da oferta hídrica (SANTOS et al, 2009), além de ser considerado como uma medida de controle da poluição, pois, com a adoção de tal prática evita-se o lançamento de esgotos nos corpos de água (MOTA, 2008). De uma maneira geral, a água poderá ser recuperada e reusada para fins diversos. A qualidade da água utilizada e o objeto específico do reúso estabelecerão os níveis de tratamento recomendados, os critérios de segurança a serem adotados e os custos de capital, operação e manutenção associados. (HESPANHOL, 2005). O presente trabalho teve como objetivo estudar o tema reúso de esgoto na agricultura e na aquicultura, destacando a sua importância para a 256 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA preservação da qualidade e quantidade dos corpos hídricos, para os presentes e para as gerações futuras. 2 MATERIAIS E MÉTODO De acordo com as definições metodológicas de Appolinário (2006), a pesquisa proposta se caracteriza segundo a sua finalidade como básica, de tipo descritiva, e de abordagem quali-quantitativa. Com base nos procedimentos técnicos e metodológicos identificados por Diehl et al. (2004) esta investigação é de modelo bibliográfico e documental. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Reúso de esgoto na agricultura O reúso de águas é uma técnica milenar para a irrigação de culturas agrícola e atualmente está sendo disseminada para todos os países (JÚNIOR, SILVA e LEITE, 2003). A agricultura irrigada é uma atividade lucrativa economicamente, porém necessita de grandes volumes de água, principalmente nas regiões de clima quente onde possui elevados índices de evapotranspiração como no Nordeste brasileiro (DUARTE, 2014). Desta maneira, a utilização de efluentes de esgotos domésticos tratados no Nordeste brasileiro, pode ser uma alternativa viável, particularmente para a irrigação. Um problema para o uso destas águas ainda é um preconceito por parte da população que ainda não conhece os processos de tratamento da mesma (SOUSA; LEITE, 2003). Entretanto, os sistemas de tratamento de esgotos, quando bem projetados e operados, removem 257 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA satisfatoriamente constituintes nocivos ao meio ambiente, como matéria orgânica biodegradável, sólidos em suspensão e organismos patogênicos (SOUSA et al.,2001). Para uma maior segurança a OMS aprofunda-se em pesquisas científicas e epidemiológicas para estabelecer critérios para o uso dos esgotos e recomendou para efluentes líquidos, às diretrizes expressas na (Tabela 1) abaixo. Tabela1. Diretriz da OMS para irrigação de esgotos sanitários. Fonte: WHO, (1989). A maior parte dos esgotos domésticos é composta de água, numa proporção que chega a 99,9% de água. O restante é composto por sólidos orgânicos (cerca de 70%), inorgânicos (cerca de 30%), suspensos e dissolvidos (VON SPERLING, 1996). Segundo Nuvolari, 2003 o nível de contaminação da água de reúso depende do sistema de irrigação, do tipo de cultura, das condições climáticas e do tipo de tratamento utilizado. A figura 1 mostra alguns métodos de irrigação e os respectivos riscos de contaminação. 258 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA Figura 1. Orientações quanto aos riscos e consequências sobre a utilização de águas que recebem esgotos de acordo com os métodos de Irrigação e suas características. Fonte: Nuvolari, 2003. Segundo a WHO (2006) o tratamento de esgotos por sistema de lagoa de estabilização é a metodologia mais eficiente de remoção de organismos patogênicos e o mais recomendado para países em desenvolvimento quando se tiver em vista o reúso na agricultura. Para tratar esgotos sanitários, geralmente usa-se uma lagoa anaeróbia seguida de uma facultativa, e quando se pretende reduzir organismos patogênicos, utilizam-se lagoas de maturação (SOUSA; LEITE, 2003). A utilização destas águas residuárias tratadas na agricultura cresceu consideravelmente, pois a mesma é rica em nutrientes, sendo uma fonte natural de fertilizantes, garantindo uma boa produtividade das culturas irrigadas (DUARTE, 2014). 259 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA Estudos realizados em Fortaleza, Ceará, determinaram para a cultura do sorgo irrigado com efluente de estação de tratamento, com características de esgoto doméstico, possui teores de proteínas iguais a 10,86% e 12,15%, no grão e na palha, respectivamente, enquanto para o sorgo irrigado com água de poços esses teores foram de 10,09% e 10,82% (MOTA et al, 2000). De acordo com Mendes (2010), a utilização das águas residuárias na irrigação de mamona na região de Irecê, Bahia, tem favorecido o incremento de macronutrientes ao solo por parte do reúso da água sem adubação, o que tem favorecido à germinação de sementes de mamona, quando comparadas à água potável sem adubação. 3.2 Reúso de esgoto na aquicultura A aquicultura é a produção de organismos aquáticos em cativeiro, como por exemplo, a criação de animais e plantas aquáticas (RIBEIRO, 2013). Nos últimos cinquenta anos a aquicultura mundial cresceu de maneira significativa, apresentando uma taxa de incremento médio de 3,2% ao ano no período 1961–2009 (FAO, 2012). Os processos de produção na aquicultura têm sido intensos em resposta ao aumento da demanda. Esse aumento da produção de peixes quando conduzido de modo inadequado pode levar a um maior impacto ambiental em termos de produção de dejetos e uso de água. Assim, uma alternativa cada vez mais presente para minimizar esse impacto ambiental pela aquicultura é o reúso da água, visando à racionalização deste recurso natural essencial e cada vez mais escasso em termos qualitativos (SILVA, 2013). Dentre os principais impactos potenciais, destaca-se a quantidade elevada de matéria orgânica e nutriente, como nitrogênio e fósforo nos efluentes que podem comprometer a 260 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA qualidade da água nos cursos hídricos a jusante (SILVA, 2013). No Brasil, a prática do uso de esgotos tratados em aquiculturas ainda está se iniciando, portanto necessita da realização de estudos epidemiológicos para o estabelecimento de padrões de qualidade das águas de alimentação, tanto de sistemas diretos como os indiretos (MACHADO, 2006). Andrade (2008) estudou formas de criação e a produção de tilápia-do-Nilo numa estação de tratamento de esgoto em Brasília (DF), visando o reúso de água na piscicultura e simultaneamente verificando se havia melhoria da qualidade do efluente tratado pelo processo de reúso através do cultivo dessa espécie de peixe. De acordo com Hespanhol (2002), o reúso é ainda utilizado de maneira clandestina, pois ainda não se tem como comprovar seus benefícios cientificamente e epidemiologicamente, sobre a saúde da aquicultura fertilizada com esgotos ou excreta, porém, o que serve de base para os trabalhos voltados nesta área são as normas e diretrizes da OMS, como podemos observar na (Figura 2) sobre padrões referentes à piscicultura. Figura 2. Níveis de qualidade microbiológica para aquicultura utilizando esgotos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. 261 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA Fonte:WHO (2006). Diversos estudos comprovam que a qualidade da carne dos peixes criado em efluentes de lagoas de estabilização, é satisfatória para o consumo. Porém, por se tratar de um efluente residual, devem-se tomar o princípio da prevenção. O sucesso de um sistema de criação de peixes depende de monitoramento criterioso da eficiência do sistema de tratamento e qualidade do efluente e produto (RIBEIRO, 2013).Na Pesquisa desenvolvida por Santos et al (2009), foram submetidos três tratamento em viveiros, sendo que no primeiro tratamento o viveiro foi abastecido com esgoto doméstico tratado no sistema de lagoas de estabilização sem aeração (VE-1); o segundo com esgoto doméstico tratado e utilizando um aerador mecânico (VE-2) e o terceiro foi abastecido com água de poço, definindo o mesmo com o teste em branco (VT). Através dos resultados pode-se perceber que o peso médio (g/peixe), para a alevinagem de Tilápia do Nilo foi crescente com o decorrer dos dias, como é demonstrado na tabela 2. Tabela 2. Resultados das biometrias, em peso médio (g/peixe), para a alevinagem de tilápia do Nilo nos viveiros VE1, VE-2 e VT. 262 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA Fonte: Santos et al. (2009). 4 CONCLUSÕES Através da pesquisa realizada, torna-se evidente a necessidade da ampliação das novas alternativas para o uso racional da água potável. A utilização da água residuária para atividades que não necessitem de uma água com alta qualidade para o desenvolvimento de suas atividades pode ser o caminho para a preservação dos mananciais. O reúso de água para o desenvolvimento da agricultura e aquicultura mostraram lucrativas, tanto pelo incremento de nutrientes para as plantas e animais, como pela preservação dos mananciais e para o meio ambiente. O sistema de lagoas de estabilização para tratamento de águas residuais domésticas com fins de reúso tanto na aquicultura como na agricultura mostraram grande potencial para a geração de emprego e renda além de diversos benefícios sócios ambientais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANA - Agência Nacional de Águas. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: informe 2012. Ed. Especial. 215 p. Brasília, 2012. ANDRADE, A. C. Cultivo de tilápia do nilo (O. niloticus) em efluentes do sistema de lagoas de estabilização da Estação de Tratamento de Esgotos de Samambaia – DF (Distrito Federal). 2008. 182 f. Dissertação(Mestrado) - Faculdade de Tecnologia, UnB, Brasília, DF. AMBIENTE BRASIL. 2012. Reuso de Água. Disponível em: < http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_aguas_urbanas/reuso _de_agua.html>. Acesso em: 08 de Julho de 2015. APPOLINÁRIO, F. Metodologia da Ciência: filosofia e prática da pesquisa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. P. 59-70. BERNARDI, C. C. Reuso de água para irrigação. 52 p. Dissertação Especialização Lato Sensu em Gestão Sustentável da Agricultura Irrigada, com área de concentração em Planejamento Estratégico. Brasília, 2003. CAVALCANTE, K.D.B. O Uso de Águas Residuais e as Vantagens de sua Aplicação na Agricultura. 2015.42f. Trabalho de Conclusão de Curso 263 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA (Graduação em Biologia). Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande. 2015. CERQUEIRA, L. L. et al. Desenvolvimento de heliconia psittacorum e gladiolus hortulanus irrigados com águas residuárias tratadas.Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 12, n. 6, 2008, p. 606 - 613. CNRH. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 54, de 28 de novembro de 2005. Estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reuso direito não potável de água, e dá outras providências. CROOK, J. Critérios de qualidade de água para reuso. Revista DAE, v.53, n.174, p.10-18, 1993. CUNHA, A. H. N; OLIVEIRA, T. H; FERREIRA, R. B; MILHARDES, A. L. M; SILVA, S. M. C. O Reuso De Água No Brasil: A Importância da Reutilização De Água No País. Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas – UnUCET – UEG. Anápolis-GO, 2011. DIEHL, A. A.; TATIM, D. C. Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo: Prentice Hall, 2004. P. 43-87. DUARTE, A. T. G. Potencialidade de reúso das ETE's das cidades de Patos e Cajazeiras na Paraíba. 2014.62f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental). Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande. 2015. ELER, M.N.; MILLANI, T.J. Métodos de estudos de sustentabilidade aplicados a aquicultura. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, p. 33-44, 2007. FAO. The state of world fisheries and aquaculture. Roma, 2012. 209 p. HESPANHOL, I. Potencial de reuso de água no Brasil: Agricultura, Industria, Municípios, recarga de aquíferos. RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 7, n. 4. Out/ Dez de2002. 75 - 95. HESPANHOL, I. Conservação e reuso de água na indústria. In: Workshop Uso e Reuso de Águas de qualidade inferior – Realidades e Perspectivas. Campina Grande: UFCG/UEPB, 2005. p.167-193. LAVRADOR FILHO, J. Contribuição para o entendimento do reúso planejado da água e algumas considerações sobre suas possibilidades no Brasil. São Paulo, 1987. 198p. Dissertação (mestrado) – Escola Politécnica de São Paulo/USP. LIMA, C. B. et al. Qualidade da água em canais de irrigação com cultivo intensivo de tilápia nilótica (Oreochromis niloticus). Revista Ciência Agronômica. v. 39, n. 04, p. 531- 539, out-dez, 2008. MACHADO, B.C. Avaliação da qualidade dos efluentes das Lagoas de estabilização em série da estação de tratamento de esgoto de Samambaia – DF para o cultivo de tilápia (oreochromis niloticus). 264 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA Brasília, 2006.143p. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Brasília, Brasília- DF, 2006. MENDES, J. A. D. Avaliação da eficiência do reúso direto de efluentes tratados de esgotos urbanos na fertilização de plantas oleaginosas. Dissertação de mestrado- Universidade Federal da Bahia/UFBA, Grupo deRecursos Hídricos-GRH, 2010. MOTA, S.; BEZERRA, F. C.; TOMÉ, L. M. Avaliação do desempenho de culturas irrigadas com esgoto tratado. Associação Brasileira de EngenhariaSanitária e Ambiental-ABES. Fortaleza-CE, 2000. MOTA, S. Gestão Ambiental de Recursos Hídricos. 3ª ed., atual. e rev. Rio de Janeiro: ABES, 343p., 2008. OENNING JÚNIOR, A.; PAWLOSKY, U. Avaliação de tecnologias avançadas para o reúso de água em indústria metal-mecânica. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, 2007, p. 305 – 316. ONU. Organização Das Nações Unidas. Disponível em: <http://nacoesunidas.org/>. Acesso em: 01/07/2015 ORNELAS, P. Reuso de água em edifícios públicos: o caso da Escola Politécnica da UFBA. 2004. Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo) – Departamento de Engenharia Ambiental, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2004. RIBEIRO, J.Í.C. Proposta de implantação de um sistema de lagoas de estabilização conjugadas no tratamento de esgoto para fins de reuso em aquicultura e agricultura da cidade de Tavares/PB. 2013.70f. Trabalho de conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental). Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande. 2013. SANTOS, E.S.; OLIVEIRA, M. A.; MOTA, S.; AQUINO, M. D.; VASCONCELOS,M.M. Crescimento e qualidade dos alevinos de tilápia do Nilo produzidos em esgoto doméstico tratado. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE .Revista Ciência Agronômica, v. 40, n. 2, p.232239 abr-jun, 2009. SANTOS, E.S.; FURTADO NETO, M.; MOTA, S. et al. Cultivo de tilápia do Nilo em esgoto doméstico tratado, com diferentes taxas de alimentação. Revista DAE, v. 180, p. 4-11, 2009. SILVA, M.S.G.M.; LOSEKANN, M.E.; HISANO, H. Aquicultura: manejo aproveitamento de efluentes. Jaguariúna, SP: Embrapa Meio Ambiente, 2013. 39 p. SOUSA, J.T.; LEITE, V.D. Tratamento e utilização de esgotos domésticos na agricultura-2.ed.-Campina Grande: EDUEP,2003. SOUSA, J.T.; LEITE, V.D.; LUNA, J.G. Desempenho da cultura do arroz irrigado com esgotos sanitários previamente tratados. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande – PB, v.5, n.1, p.107-110. Jan./abr. 2001. 265 REÚSO DE EFLUENTES NA AGRICULTURA E NA AQUICULTURA TIAGO, G.G.; GIANESELLA, S.M.F. O uso da água pela aqüicultura: estratégias e ferramentas de implementação de gestão. Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo, v. 29, n.1, p. 1-7. 2003. VON SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. v.3.Lagoas de Estabilização. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais, 1996. 124p. VON SPERLING, M. Introdução á qualidade das águas e ao tratamento de esgotos-3ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais, 2005. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Reuse of effluents: methods of wastewater treatment and health safeguards. Of a WHO meeting of experts. Technical report seriesNº 517. Genebra, 1973. WHO - World Health Organization. Health Guidelines for the Use of Wastewater in Agricuture and Aquaculture. Technical Report series nº 778. Geneva, World Health Organization, 1989. WHO - World Health Organization. Guidelines for the use of wastewater, excreta and greywater. Vol. 2. Wastewater use in agriculture. Geneva: World Health Organization, 2006. WESTERHOFF, G. P. Un update of research needs for water reuse. In: WATER REUSE SYMPOSIUM, 3º Proceedings. San Diego, Califórnia, 198 266 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS CAPÍTULO17 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS Leandro Gomes VIANA1 Silvia Yasmin Lustosa COSTA2 Patrícia Silva CRUZ3 1, 2 3 Mestrandos. Universidade Estadual da Paraíba-UEPB Doutoranda. Universidade Estadual da Paraíba - UEPB E-mail:[email protected] RESUMO:Os resíduos agroindustriais são gerados no processamento de materiais como alimentos, fibras, couro e madeira. Estes são produzidos em usinas sucroalcooleiras, abatedouros e criações de animais, indústrias de processamento de carnes, indústrias de processamento de grãos, frutas e hortaliças, indústrias de produção de celulose e papel, curtumes, etc. Atualmente, a maior problemática relacionada à agroindústria, é a grande quantidade de resíduos gerados durante o processamento/beneficiamentos de suas matérias primas. Na maioria dos casos, esses resíduos, não são tratados e reaproveitados, apresentando uma disposição ambientalmente inadequada, com potenciais ricos de contaminação dos solos e águas. Sendo assim, o presente trabalho busca apresentar os principais resíduos gerados em diversos ramos da agroindústria e mencionar suas potenciais formas de aproveitamento, no intuito de fornecer informações para a elaboração de planos de gestão adequados dos mesmos. Palavras-chave: Matéria prima. Gestão. Reaproveitamento. 267 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS 1 INTRODUÇÃO A agroindústria é o conjunto de atividades relacionadas à transformação de matérias-primas provenientes da agricultura, pecuária, aquicultura ou silvicultura (LOURENÇO, 2009).A agroindústria, ainda pode ser entendida como todo segmento industrial de produtos alimentícios, e as indústrias que transformam matéria-prima agropecuária em produtos intermediários para fins alimentares e não alimentares como as indústrias de óleos vegetais não comestíveis(ARAÚJO, 2005). Os resíduos resultantes das atividades agroindustriais são gerados no processamento de couro, fibras, alimentos, madeira, produção de açúcar e álcool, etc. Sua produção é geralmente, sazonal, condicionada pela maturidade da cultura ou oferta da matéria-prima (MATOS, 2005). O tipo e quantidade de resíduos agroindustriais produzidos são variáveis com o tempo (MATOS, 2014). Um dos principais entraves para a ascensão das atividades agroindustriais no Brasil, além da falta de incentivo aos pequenos produtores e a escassez de políticas públicas mais eficientes voltadas para o dinamismo das ações desse setor, é a falta de uma logística e infraestrutura adequada para o escoamento dos produtos, que a cada dia ganha maior importância dentro das empresas (LOURENÇO, 2009). Concomitante a isso, outra problemática relacionada à agroindústria brasileira é a grande quantidade de resíduos gerados durante o processamento/beneficiamentos de suas matérias primas (CARVALHO, 1992). Na maioria dos casos, os resíduos oriundos das agroindústrias, não são tratados e apresentam uma disposição 268 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS ambientalmente inadequada, com potenciais ricos de contaminação dos solos e águas. Ante o exposto, o presente trabalho busca apresentar os principais resíduos gerados em diversos ramos da agroindústria e mencionar suas potenciais formas de aproveitamento, no intuito de fornecer informações para a elaboração de planos de gestão adequados dos mesmos. 2 MATERIAIS E MÉTODO No presente estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os principais ramos da agroindústria e os potenciais usos dos resíduos resultantes de suas atividades. Para tanto, foram utilizados recursos como monografia, dissertações de mestrado e artigos científicos, além de livros que abordam o tema em estudo. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO USINAS SUCROALCOOLEIRAS As usinas sucroalcooleiras produzem como resíduos, folhas verdes e secas, palhas e ponteiros, o bagaço e a torta de filtro (MARQUES; SASSO, 2010). O processamento de 1000 t de cana-de-açúcar rende, nas usinas, em média 280 t de bagaço (AGUIAR FILHO; ROMANHOLO FERREIRA; MONTEIRO, 2010) e 35 t de torta de filtro (TORRES et al., 2012). No Brasil, são produzidos 201.418.487 t ano-1 de resíduos do bagaço e da torta de filtro (BRASIL, 2011). 269 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS Ainda no processamento da cana-de-açúcar, é produzido como resíduo a vinhaça (destilação do melaço), que apresenta uma elevada DBO (>20.000 mg.L-1) (MATOS, 2005). A vinhaça é um subproduto de alta importância para a lavoura, pois é rico em sais minerais, como o potássio, mas também é um agente poluidor do ambiente. Se não for tratada e utilizada corretamente, pode poluir rios e o solo, causando danos à fauna e as populações que habitam estes ecossistemas (FERREIRA, 2009). A produção de 1 L de álcool produz aproximadamente 14 L de vinhaça (TORRES et al., 2012). O processamento de 1000 toneladas de cana-de-açúcar rende, nas usinas de produção de álcool, em média 910 m 3de vinhaça (NASCENTES et al., 2011). O bagaço da cana-de-açúcar pode ser utilizado nas próprias usinas, como fonte de energia para a geração de vapor e energia elétrica (MATOS, 2014). Ainda conforme o mesmo autor, o excedente do bagaço pode ser utilizado como ração animal e também em compostagem com a vinhaça e a torta de filtro, para a produção de composto orgânico. A torta de filtra, resíduo rico em nutrientes, pode ser utilizada como fertilizante agrícola (NOLLA et al., 2015). CURTUMES Os resíduos sólidos dos curtumes são essencialmente resíduos orgânicos: pêlos, gordura, carne e lodos do tratamento biológico (SCHWABE; LAUFFER; MOREIRA, 1998), aparas de couro, serragem de raspadeira e pó de lixadeira. Além desses, são resíduos as cinzas e fuligem das 270 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS caldeiras e o sal do batimento das peles. O processamento de 1 t de pele salgada até a etapa de acabamento final gera cerca de 100 Kg de matéria seca de lodo (MATOS, 2014). As aparas caleadas (sem cromo) podem ser utilizadas nas fábricas de colas (ALVES; BARBOSA, 2013). Aparas curtidas mais o pó de couro podem ser destinados à fábrica de recouro, para a produção de palmilhas (MATOS, 2014). INDÚSTRIAS DE PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL Os principais resíduos produzidos nas indústrias de papel e celulose são restos de madeira, lama de cal, cinzas da caldeira, dregs, grits e lodo. Para cada tonelada de celulose produzida são gerados 800 kg de resíduos sólidos (GUERRA, 2007). Alguns dos resíduos oriundos da produção de celulose e papel vêm sendo utilizados no condicionamento e na fertilidade do solo, melhorando as propriedades necessárias para o desenvolvimento da cultura florestal (BELLOTE et al., 1998). Resíduos sólidos e os efluentes gerados nos processos de fabricação de celulose e papel têm sido aplicados como corretivos de acidez dos solos e adubos em povoamentos de eucalipto, proporcionando redução nos custos com aquisição de fertilizantes (RODRIGUES, 2004). INDÚSTRIAS PROCESSAMENTO DE GRÃOS, FRUTAS E HORTALIÇAS Os principais resíduos oriundos das indústrias processamento de grãos, frutas e hortaliças são o bagaço, as tortas, refugo, cascas, palhas, sementes e as folhas. 271 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS É enorme quantidade de resíduos produzidos nas indústrias processamento de grãos, frutas e hortaliças. Por exemplo, na cultura do milho, de toda a biomassa produzida, cerca de 50 % são resíduos que vão permanecer no campo; cerca de 30 % vão ficar com resíduos no processamento e menos de 20 % vão corresponder aos grãos do milho propriamente ditos (MATOS, 2014). Na cultura do arroz os principais resíduos resultantes do beneficiamento do arroz são a palha e a casca que corresponde a 20 ou 25% do peso dos grãos (MATOS, 2014). As cascas de arroz podem se utilizadas para a geração de energia elétrica, através de sua queima, e como corretivo de solos (NOLLA et al., 2010). A palha do arroz pode ser utilizada na produção de argamassas à base de cimento Portland e geração de etanol (BEZERRA et al., 2011; FOLETTO et al., 2005). Em estudos realizados, observou-se que os resíduos de palha de arroz, apresentaram uma elevada conversão de celulose em etanol, algo em torno de 80%, valor bem próximo aos obtidos com resíduos da cana-de-açúcar, que ficam entre 85 - 89% (NUNES et al., 2013). Com relação à cultura da banana, um dos principias resíduos resultantes e o pseudocaule da bananeira. Este pode ser utilizado para a produção de etanol, papeis especiais e biogás (ROSA, 2011). Na cultura da laranja, as sementes, podem ser fonte de óleo vegetal e proteínas para o consumo humano. O óleo de semente de laranja tem uma elevada quantidade de ácidos graxos insaturados (69%) e de ácidos graxos essenciais (linoleico + linolênico) (EL-ADAWY; TAHA, 2001). O ácido linoleico é o principal ácido graxo presente (38,4%), seguido 272 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS por ácido oleico(26,0%), ácido palmítico (29,5%), e ácido esteárico (5,3%) (ROSA; VILLA-VÉLEZ; TELIS-ROMERO, 2013). Em consequência de suascaracterísticas físicoquímicas especificas e do seu perfil de ácidos graxos, o óleo de sementes de laranja pode ser utilizado em aplicações alimentares e industriais e como umóleo comestível (ANWAR et al., 2008). Na cultura do dendê os principais resíduos do processamento do fruto do dendê são: • As cascas: Podem ser utilizadas como combustível (ROSA, 2011). • As cinzas das caldeiras: Podem ser utilizadas como adubo (OLIVEIRA; FURLAN JÚNIOR; TEIXEIRA, 2006). • Torta de palmiste: Pode ser utilizada na alimentação de animais domésticos (ROSA et al., 2011). • A fibra do mesocarpo: Pode ser utilizada como adubo orgânico (FERREIRA; BOTELHO; VILAR, 1998). • POME: Pode ser utilizado para a fabricação de plástico biodegradável (polihidroxibutirato) (ROSA, 2011). O Brasil é um dos 10 maiores produtores de coco do mundo, com produção maior que 7000 t por ano desta fibra (MARENGO; VERCELHEZE; MALI, 2013).Estima-se que 1520% da fibra de coco não seja reutilizada, mas depositada em lixões ao céu aberto ou em aterros sanitários (FILHO et al., 2010). Cerca de 70% do lixo gerado nas praias do nordeste do Brasil é composto por cascas de coco verde (OLIVEIRA, 2010).Na cultura do coco verde de 80% a 85% do peso bruto 273 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS do coco verde corresponde a resíduo(CARRIJO; LIZ; MAKISHIMA, 2002). A casca do coco tem difícil degradação e demora mais de 8 anos para se decompor completamente (CARRIJO; LIZ; MAKISHIMA, 2002), o que causa grandeimpacto ambiental nos aterros sanitários em função, principalmente, dogrande volume ocupado com sua disposição. O aproveitamento dos resíduos derivados do coco verde pode ser uma alternativa para a redução do espaço ocupado por estes, no aterro sanitário, e desta forma aumentar a vida útil do mesmo. E média de 13 a 15 cocos fornecem 1 kg de fibras, o principal resíduo das indústrias de processamento do coco verde (SANTOS, 2006). As fibras do coco verde podem ser utilizadas para o enchimento de bancos, como isolantes acústicos e térmicos, na fabricação de cordas e tapetes e na produção de material filtrante para o tratamento de águas residuárias (CORRADINI et al., 2006; MATOS, 2014). O briquete produzido a partir das cascasdo coco verde surge também como alternativa para fornecimento de energia preservando as florestas nativas e como incremento na cadeia produtiva do coco verde por meio de agregação de valor e geração de emprego e renda para classes sociais menos favorecidas e profissionais com mão-de-obra qualificada que estejam desempregados (SILVEIRA, 2008). Ainda, o aproveitamento do resíduo do coco verde para geração de energia através da produção de briquetes contribui para o uso sustentável de biomassa vegetal como combustível, não incrementando o teor de CO2 na atmosfera, já que este é produzido durante a combustão, equilibrando-se com o CO2 consumido durante a fotossíntese (LORA, 2002). 274 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS 4 CONCLUSÕES Como visto, é alta à quantidade de resíduos gerados nos mais diversos ramos da agroindústria, sendo necessárias medidas que busquem a disposição ambientalmente correta e o aproveitamento destes, como matéria-prima para outras atividades. Para tanto é necessária à realização de uma extensão subsidiada por órgãos de pesquisa, no sentido de sistematizar o conhecimento disponível sobre a disposição e tratamento adequado dos resíduos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR FILHO, M. M.; ROMANHOLO FERREIRA, L. F.; MONTEIRO, R. T. R. Use of vinasse and sugarcane bagasse for the production of enzymes by lignocellulolytic fungi. Brazilian Archives of Biology and Technology, Paraná, v. 53, n. 5, p. 1245-1254, 2010. ALVES, V. C.; BARBOSA, A. S. Práticas de gestão ambiental das indústrias coureiras de Franca-SP. Revista Gestão & Produção, v. 20, n. 4, p. 883-898, 2013. ANWAR, F.; NASSER, R.; ASHRAF, S.; TALPUR, F.N.; ALADEDUNYE, F.A. Physico-chemical characteristics of ciitrus seeds and seed oils from Pakistan. Journal of American Oil Chemists’ Society, v. 85, p. 321330, 2008. ARAÚJO, M, J. Fundamentos de agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas,2005. BELLOTE, A. F. J.; SILVA, H. D.; FERREIRA, C. A.; ANDRADE, G. C. Resíduos da indústria de celulose em plantios florestais. Boletim de Pesquisa Florestal, Colombo, n. 37, p. 99-106. 1998. BEZERRA, I. M. T.; SOUZA. J.; DE CARVALHO, J. B. Q.; NEVES, G. A. Aplicação da cinza da casca do arroz em argamassas de assentamento. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. v. 15, n.6, p.639–645, 2011. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, 2011. 102 p. 275 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS CARRIJO, O. A.; LIZ, R. S.; MAKISHIMA, N. Fibra da casca do coco verde como substrato agrícola. Horticultura Brasileira, v. 20, n. 4, p. 533-535, 2002. CARVALHO, F. C. Disponibilidade de Resíduos Agroindustriais e do Beneficiamento de Produtos Agrícolas. Informações Econômicas (Impresso), v. 22, p. 31-46, 1992. CORRADINI, E.; MORAIS, L. C.; ROSA, M. F.; MAZZETTO, S. E.; MATTOSO, L. H. C; AGNELLI, J. A. M. A Preliminary Study for the Use of Natural Fibers as Reinforcement in Starch-Gluten-Glycerol Matrix. Macromolecular symposia, v. 245, n. 1, p. 558-564, 2006. EL-ADAWY, T. A.; TAHA, K. M. Characteristics and composition of different seed oils and flours. Food Chemistry, v. 74, p. 47-54, 2001. FERREIRA, L. F. R. Biodegradação de vinhaça proveniente do processo industrial de cana-de-açúcar por fungos. 2009. 135 p. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2009. FERREIRA, W. DE A.; BOTELHO, S. M.; VILAR, R. R. L. Composição química dos subprodutos da agroindústria do dendê. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 1998. Documentos, 119. FILHO, J. L. R. P; SADER, L. T.; DAMIANOVIC, M. H. R. Z.; FORESTI, E.; SILVA, E. L. Performance evaluation of packing materials in the removal of hydrogen sulphide in gas-phase biofilters: Polyurethane foam, sugarcane bagasse, and coconut fibre. Chemical Engineering Journal, v. 158, p. 441-450, 2010. FOLETTO, E. L.; HOFFMANN, R.; HOFFMANN, R. S.; PORTUGAL JR, U. L.; JAHN, S. L. Química Nova, v. 28, n. 6, p.1055-1060, 2005. GUERRA, M. A. S. L. Avaliação de indicadores biológicos e físico-químicos no composto orgânico produzido a partir de resíduos da indústria de celulose. 2007. 70 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2007. LORA, E. E. S. Prevenção e controle da poluição nos setores energético, industrial e de transporte. Interciência, 2002. LOURENÇO, J. C.Logística Agroindustrial: desafios para o Brasil na primeira década do século XXI. Monografia, Graduação em Administração - CCHSA/UFPB: Bananeiras, 2009, 74 p. MARENGO, V. A.; VERCELHEZE, A. E. S.; MALI, S. Compósitos biodegradáveis de amido de mandioca e resíduos da agroindústria. Química Nova, v. 36, n. 5, p. S1, 2013. MARQUES, T. A.; SASSO, C. G. A colheita da Cana Queimada e Relação com o Meio Ambiente. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.3, n.2, p. 93-102, 2010. 276 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS MATOS, A. T. Curso Sobre Tratamento de Resíduos Agroindustriais. Viçosa: FEAM/UFV, 2005. MATOS, A. T. Tratamento e Aproveitamento Agrícola de Resíduos Sólidos. Viçosa, Minas Gerais: Ed. UFV, 2014. NASCENTES, R.; AZEVEDO, I. C. A. D; JESUS, S. C. DE; NETO, F. DE D. F.; TIBANA, S.; GUIMARÃES, L. M.; PORTELINHA, F. H. M. Coeficiente de difusão de nitrato e potássio em solo fertirrigado com vinhaça. Geotecnia (Lisboa), v. 117, p. 43-69, 2011. NOLLA, A.; VILA, E. J. P.; SILVA, W.; BERTICELL, C. L; CARNEIRO, A. R. Atributos e Estratégias de Utilização da Torta de filtro como Fertilizante para a Cana-de-açúcar. Journal of Agronomic Sciences, v.4, n. especial, p.121-135, 2015. e arroz em lisímetros. Revista Cultivando o Saber, v. 3, p. 1-8, 2010. NUNES, R.M.; GUARDA. E. A; SERRA, J. C. V.; MARTINS, A. A. Resíduos Agroindustriais: potencial de produção do etanol de segunda geração no Brasil. Revista Liberato (Novo Hamburgo), v. 14, p. 113-238, 2013. OLIVEIRA, R. F.; FURLAN JÚNIOR, J.; TEIXEIRA, L. B. Composição Química de Cinzas de Caldeira da Agroindústria do Dendê. Comunicado técnico 155. ISSN 1517-2244. Junho, 2006. Embrapa AmazôniaOriental, Belém, PA. OLIVEIRA, S. L. do R. de. Aproveitamento da casca do coco verde (Cocos nucifera L.) para produção de celulases. 2010. 81f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010. RODRIGUES, C. M. Efeito da aplicação de resíduo da indústria de papel e celulose nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo, na nutrição e biomassa do Pinus taeda L. 2004, 121 f. Dissertação (Mestrado em Ciência do Solo) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004. ROSA, M. F. Valorização de resíduos da agroindústria. In: II Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais, 2011, Foz do Iguaçu. Anais do II Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais, 2011. p. 98-105. ROSA. D. P; VILLA-VÉLEZ, H. A; TELIS-ROMERO, J. Study of the enthalpy-entropy mechanism from water sorption of orange seeds (C. sinensis cv. Brazilian) for the use of agro-industrial residues as a possible source of vegetable oil production. Food Science and Technology, v. 33, p. 95-101, 2013. SANTOS, A. M. Estudo de Compósitos Híbridos Polipropileno/Fibras de Vidro e Coco para Aplicações em Engenharia. 2006. 90 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Universidade Federal de Paraná, Curitiba, 2006. 277 AGROINDÚSTRIAS E SEUS RESÍDUOS SCHWABE, W. K. ; LAUFFER, J. ; MOREIRA, R. V. O Cromo nos Resíduos Sólidos de Curtumes - Imobilização em Materiais Cerâmicos. In: O Cromo nos Resíduos Sólidos de Curtumes - Imobilização em Materiais Cerâmicos, 1998, Foz de Iguaçú. Anais do 19° Congresso de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1998. SILVEIRA, M. S. Aproveitamento das cascas de coco verde para produção de briquetes em Salvador - BA. 2008. 163 f. Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo) Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008. TORRES, N. H.; SARTORI, S. B.; AMÉRICO, J. H. P.; FERREIRA, L. F. R. Indústria sucroalcooleira: gestão de subprodutos. Revista de Ciências Agro-ambientais, v. 10, n. 2, p. 225-236, 2012. 278 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR CAPÍTULO18 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR Bruna Emanuela Nunes FORTUNATO¹ Brenda Kelly Cunha MACIEL¹ Luana Fernandes MELO¹ Aline Fernandes MELO¹ Sandra Regina Dantas BAÍA¹ 1 Aluna da Faculdade Maurício de Nassau, Remígio; 2Aluna da Faculdade Maurício de Nassau, Remígio; 3 Aluna da Universidade Federal da Paraíba, Solânea; 4 Aluna da Faculdade Maurício de Nassau, Remígio; 5 Professora da Faculdade Maurício de Nassau, Campina Grande; bruninhafortunato@hotmailcom RESUMO: A agricultura orgânica tem sido praticada desde a década de 20, inicialmente como uma resposta ao processo de industrialização da agricultura, marcado pela tecnificação. Os alimentos orgânicos são definidos como aqueles alimentos in natura ou processados que são oriundos de um sistema orgânico de produção agropecuária e industrial. O objetivo foi reunir informações que permitissem destacar a relevância da agricultura familiar na produção de alimentos orgânicos, consequentemente, promovendo a saúde da população. A revisão bibliográfica foi conduzida a partir de livro e levantamentos da internet, através de artigos científicos, cartilhas, relatório de atividades, manuais, guias e outros. Ao optar por alimentos orgânicos, o consumidor está ingerindo menos substâncias tóxicas e apoiando um processo de transição ecológica que visa à desintoxicação gradual dos alimentos, do solo e das águas, promovendo a saúde 279 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR ambiental. A adubação orgânica, ao contrário da adubação química, torna as plantas mais resistentes às pragas e doenças, protege e melhora a vida do solo, ajuda a restaurar a biodiversidade, mantém e melhora a fertilidade do solo ao longo do tempo e, ainda produz hortaliças mais saborosas e nutritivas. A agricultura familiar é de extrema importância para o meio ambiente, saúde da população, economia, geração da segurança alimentar e outros fatores. Palavras-chave:Produção. Natural. Saúde. 1 INTRODUÇÃO A agricultura orgânica moderna surgiu na década de 60 quando produtores e consumidores começaram a reconhecer que a utilização de insumos químicos na produção de alimentos poderia causar sérios problemas à saúde da população e ao meio ambiente (FAO, 2003), contudo de acordo com Torjusen et al. (2001), a agricultura orgânica tem sido praticada desde a década de 20, inicialmente como uma resposta ao processo de industrialização da agricultura, marcado pela tecnificação. FAO (1999) explica que os alimentos orgânicos são determinados como aqueles alimentos in natura ou processados que são oriundos de um sistema orgânico de produção agropecuária e industrial. A produção de alimentos orgânicos é fundamentada em técnicas que não necessitam do uso de insumos como pesticidas sintéticos, fertilizantes químicos, medicamentos veterinários, organismos geneticamente modificados, conservantes, aditivos e irradiação. O destaque da produção está direcionado ao uso de práticas de gestão e manejo do solo que levam em conta 280 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR os níveis regionais e a necessidade de conciliar localmente os sistemas de produção. Souza (2003) explica que a procura por alimentos provenientes de um complexo de produção mais sustentáveis, como técnicas orgânicos de produção, é uma tendência que vem se fortalecendo e se consolidando mundialmente. Dani et al,. (2008) em seu estudo explica que existem diversos motivos pelos quais os alimentos orgânicos favorecem a criação de um sistema alimentar saudável e com menos danos a natureza. Primeiro, algumas frutas, vegetais e sucos podem conter mais antioxidades e polifenóis em confronto com seus correspondentes cultivados de maneira convencional. Felizmente, os alimentos orgânicos estão se tornando mais disponíveis no mercado. Um levantamento realizado em 2009 mostrou que as vendas de alimentos orgânicos nos EUA cresceram quase 16% em 2008, e representando em comparação com 2007, totalizando 22,9 bilhoes de dólares em vendas em 2008; 3,5% de todas as vendas de alimentos (Organic Trade Association, 2009). FAO (2009) em seus estudos explica que a agricultura familiar fornece cerca de 80% dos alimentos no mundo. A prevalência e a produção significam que “são vitais para a solução do problema da fome”, que afeta mais de 800 milhões de pessoas. A agricultura familiar é também guardiã de cerca de 75% de todos os meios agrícolas do mundo, assim sendo é proeminente para a melhoria da sustentabilidade ecológica e dos recursos. Nove em cada dez das 570 milhões de propriedades agrícolas no mundo são geridas por famílias, fazendo com que a agricultura familiar seja a forma mais predominante de 281 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR agricultura e, consequentemente, um potencial e crucial agente de mudança para alcançar a segurança alimentar sustentável e a erradicação da fome no futuro (FAO, 2009). Silva (2015) explica que segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a agricultura familiar aplicou R$ 25 milhões em mais de sete milhões de quilos de produtos, entre eles o arroz, farinha de mandioca, farinha de trigo, feijão, flocos de milho, fubá, macarrão e leite em pó. Leifert (2014) explica que a partir de análises de 343 estudos sobre as diferenças entre as culturas orgânicas produzidas em modo biológico e as convencionais, alguns investigadores descobriram que a alimentação feita por frutos, vegetais e cereais biológicos, assim como seus derivados, fornece o dobro de antioxidantes das porções convencionais. No mundo de hoje existe relação intrínseca entre a agricultura e a saúde dos consumidores. Os métodos de cultivo afetam a qualidade do solo e este o equilíbrio da planta e finalmente a planta interfere na qualidade de vida do homem e do animal que dela se alimentam. A saúde só será preservada se consumirmos alimentos sadios, isentos de qualquer tipo de contaminantes químicos (Hamerschmidt et al., 2015). Torjusen (2001) explica que às metas da agricultura orgânica mais relevantes para os consumidores são, a não utilização de pesticidas e fertilizantes químicos sintéticos, de organismos geneticamente modificados, de estimulantes de crescimento sintéticos e de antibióticos, além do uso restrito de aditivos em alimentos processados. Moreira (2013) explica que no âmbito da agricultura familiar há uma importância cada vez maior em se produzir hortaliças com paradigma de qualidade, livres de resíduos de 282 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR agrotóxicos e que não comprometam o ambiente agrícola, respeitando-se, também, os princípios da segurança alimentar. Atualmente, o consumo de hortaliças tornou-se uma proposta de médicos e nutricionistas para uma dieta saudável e como uma alternativa para a população brasileira e mundial, que evite a obesidade e suas consequências para a saúde. Considerando a tendência mundial de busca por produtos naturais e o fato de as plantas medicinais se destinarem ao uso em pessoas com algum tipo de debilidade, é fundamental que estejam livres de agroquímicos, o que equivale a dizer que o sistema de agricultura a ser praticado deve ser o orgânico. Outros fatores desaconselham o uso de agroquímicos: o processo de secagem e extração que pode concentrar os ingredientes ativos dos agrotóxicos e o uso de adubos químicos e agrotóxicos que pode alterar a composição da planta, isto faz que percam seu valor medicinal, podendo até provocar efeitos colaterais ou tóxicos (BRASIL, 2006). Bourn (2002) explica quanto aos aspectos sensoriais, embora faltem evidências conclusivas, há indicações de que os alimentos orgânicos sejam mais saborosos. Outro aspecto importante relaciona-se à durabilidade, uma vez que a adubação à base de nitrogênio utilizada na agricultura convencional promove um aumento no teor de água dos vegetais, tornando tais alimentos mais perecíveis (Azevedo, 2006). O objetivo deste estudo foi reunir informações que permitissem destacar a relevância da agricultura familiar na produção de alimentos orgânicos, consequentemente, promovendo a saúde da população. 283 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR 2 MATERIAIS E MÉTODO A revisão bibliográfica foi conduzida a partir de livro e levantamentos da internet, através de artigos científicos, cartilhas, relatório de atividades, manuais, guias, revistas e outros. A busca foi efetuada através da base de dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, Guia alimentar - Ministério da Saúde, livro de Nutrição. Scientific Electronic Libraly Online, Revista Panamericana de Saúde Pública e demais. A revisão integrativa da literatura tem sido empregada como recurso metodológico, que faz uso de estratégia sistematizada para reunir e sintetizar resultados de estudos sobre um tema específico, com a finalidade de aprofundar e fortalecer o conhecimento científico da área de Agroecologia e Nutrição e subsidiar futuras tomadas de decisões para influenciar positivamente outras pessoas a uma alimentação saudável. Os critérios de inclusão dos artigos na revisão foram: artigos completos disponíveis eletronicamente/ internet, publicados no idioma português, inglês e espanhol, que abordaram a temática sobre práticas agroecológicas e nutricionais no combate a produção e consumo de agrotóxicos. Teses foram excluídas do estudo. A pesquisa foi delimitada por docente, estudantes e nutricionista. Nesta pesquisa considerou-se importante analisar principalmente artigos que abordassem as questões relativas aos benefícios da agricultura orgânica, doenças relacionadas a alimentação não saudável, agrotóxicos e seus riscos à saúde humana. 284 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR A elaboração dos assuntos abordados nesse estudo foram baseados numa fundamentação teórica, atingindo temas como, Nutrição e Agroecologia, riscos à saúde e ao meio ambiente, sintomas de doenças, abordagens agroecológicas, ou seja, substituição de uma má alimentação por uma alimentação natural e sustentável, entre diversos outros assuntos inseridos. Esse estudo visa relatar a extensão dos perigos que alguns alimentos que contem resíduos químicos podem causar, os melhores meios de conseguir realizar uma boa alimentação através de produtos naturais e da agricultura familiar, através de alimentos, orgânicos, agroecológicos e alertar os consumidores acerca de uma melhor alimentação e estilo de vida. Os artigos, cartilhas e guias selecionados foram analisados de forma judiciosa, com prudência e critérios, o que desencadeou na formação de categorias temáticas, baseadas nos principais assuntos abordados no estudo. Com a leitura dos textos, foram identificados elementos que possuem características relevantes. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Mayer (2015) explica que diferente do modelo de produção proporcionado pela agricultura familiar, a exposição a agrotóxicos, por exemplo, o glifosato, utilizados em modelos convencionais de produção, pode gerar problemas de saúde como: TDHA ( transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), alzheimer, anencefalia (defeito de nascimento), autismo, câncer cerebral, câncer de mama, câncer, intolerância ao glúten e doença celíaca, doença 285 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR crônica nos rins, colite, depressão, diabetes, doença cardíaca, hipotireoidismo, doença inflamatória intestinal, doença hepática, doença de lou gehrig, esclerose múltipla, linfoma não-hodgkin, doença de parkinson, problemas na gravidez, obesidade, problemas reprodutivos e doenças respiratórias. Sousa (2012) explica que os alimentos orgânicos se destacam por sua baixa toxicidade, maior durabilidade e maior teor de alguns nutrientes em alguns alimentos. Ao optar por alimentos orgânicos, o consumidor está consumindo menos substâncias tóxicas e apoiando um processo de transição ecológica que visa à desintoxicação gradual dos alimentos, do solo e das águas, promovendo a saúde ambiental. FAO (2009) explica que a agricultura familiar é consequentemente demarcada com um triplo desafio: a elevação do rendimento agrícola para responder à necessidade mundial de segurança alimentar e de uma melhor nutrição; a sustentabilidade ambiental para defender o planeta e para assegurar a própria capacidade produtiva; e o aumento da produtividade e a diferenciação dos meios de subsistência que lhes permitam sair da pobreza e da fome. A agricultura familiar é um constituinte essencial dos sistemas alimentares saudáveis de que precisamos para levar uma vida mais aprazível. Mali explica que é proeminente consumir produtos saudáveis, para assim, evitar doenças, por exemplo, estudos epidemiológicos já falam em casos de suicídios através da ingestão de agrotóxicos, ou seja, é de extrema importância estarmos conscientes da procedência do alimento que está indo para as nossas mesas. No quadro 1. podemos observar sistemas de produção e suas características. 286 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR Quadro 1. Sistema de Produção. Praticas Preparado do solo Convencional Intenso resolvimento do solo considerado apenas como suporte para as plantas Hidropônico Ultiliza apenas água, que não tem contato com o solo Adubação Uso de químicos solúveis adubos altamente Uso de adubos químicos altamente solúveis Controle de pragas e doenças Uso de produtos químicos (agrotóxicos) Uso de adubos químicos altamente solúveis Controle do mato Uso de herbicidas; o “mato” é considerado uma erva daninha Não existe o problema, pois o ambiente é controlado (estufas plásticas) O controle preventivo manual mecânico Poluição das águas e degradação do solo Poluição das águas por meio de elementos químicos residuais Preservação do solo e das fontes de água Consequências meio ambiente ao Orgânico Pouco revolvimento do solo que é visto como um organismo vivo Uso de adubos orgânicos. Não usa adubos químicos À base de medidas preventivas. Sem agrotóxicos é e Sociedade Social de Agricultura – SNA Para diminuir o uso de agrotóxicos, pode-se utilizar outros modos de controle de pragas muito praticados na produção orgânica, o policultivo, a rotação e o consórcio de culturas, a criação de corredores ecológicos, a adubação verde, o emprego de plantas companheiras e repelentes, e o uso de cercas vivas ou cordões de contorno. O agrotóxico também pode ser substituído por produtos de ação parecida, que têm menor efeito nocivo para o meio ambiente e a saúde humana, chamados de “produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica” (Decreto 6913/2009). 287 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR São algumas bactérias, fungos e vírus, extratos de plantas, óleos essenciais, pós de rocha, própolis, biofertilizantes, e armadilhas luminosas e adesivas (ANVISA, 2014). Segundo, a carne orgânica pode reduzir o desenvolvimento de resistência humana a antibióticos e diminuir a população do ar e da água (American Medical Association, 2008). Terceiro, o consumo de laticínios orgânicos em comparação com os produtos convencionais pode resultar em risco menor de eczema durante os primeiros dois anos de vida, possivelmente pela ingestão aumentada de ácidos graxos w-3 ou ácidos linoleicos conjugados (Kummeling et al., 2008). Silva (2011) explica que a produção orgânica de hortaliças é de extrema importância para a saúde humana, pois fornece nutrientes importantes para o organismo, realiza manutenção e melhoria da saúde, prevenção de vários tipos de doenças, longevidade de vida humana entre outros fatores. O consumo de hortaliças é essencial, pois são ricas em vitaminas e sais minerais, apresentam bom teor de carboidratos e fibras, poucas gorduras e calorias, apresentando uma gama de variedade de compostos funcionais e com virtudes dietéticas e até terapêuticas. Leifert (2014) explica que existem diferenças na composição de alimentos biológicos e convencionais, e agora existe uma necessidade urgente de desenvolver intervenções controladas na dieta humana e estudos longitudinais especificamente desenhados para identificação e quantificação do impacto na saúde para a mudança para o alimento dependente do modo de produção biológico. Na quadro 2. podemos observar conferição entre os dois sistemas. 288 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR Quadro 2. Breve comparação entre os dois sistemas. AGRICULTURA CONVENCIONAL Objetivo do manejo: a planta Monocultura: uso unilateral do solo Manejo baseado em 16 nutrientes Antibiose: eliminar os problemas por meio de “cidas” (herbicidas e inseticidas, fungicidas, etc.) Aumento da quantidade de minerais solúveis Acréscimo gradual de adubos químicos e agrotóxicos Indução de resistência nos patógenos (pragas e doenças) Menor sabor e aroma Nutrição humana incompleta Produz a medida que degrada o meio ambiente Produção quantitativa Não há controle de qualidade e origem AGRICULTURA ORGÂNICA Objetivo do manejo: o solo Policultivo: diversificação do uso do solo e plantas Manejo baseado em 52 nutrientes (macro e micro nutrientes) Probiose: equilibrar os problemas por meio de probióticos (vida controlando a vida) Aumentos dos minerais da forma proteica (bactérias, fungos, actinomicetos) Acréscimo gradual de adubos orgânicos Enfraquecimento gradual na virulência de doenças Maior sabor e aroma Nutrição humana e completa Produz à medida que recupera e mantem a saúde do solo e ecossistema Produção qualitativa A certificação orgânica implica em controle de qualidade e aspectos Fonte: Frutal, 2001. Silva (2011) explica que no geral todos os benefícios proporcionados pelas hortas deixam de existir se forem aplicados agrotóxicos e adubos químicos, pois as hortaliças contaminadas causam intoxicações nas pessoas e, principalmente, em indivíduos internados, podendo ocasionar graves danos à saúde destas pessoas, uma vez que, podem transformar os efeitos dos medicamentos, onde os agrotóxicos encontrados nestes cultivos são ingredientes ativos com alto grau de toxicidade aguda confirmada e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer. 289 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR Silva (2011) explica que a adubação orgânica, ao oposto da adubação química, torna as plantas mais vigorosas às pragas e doenças, protege e aperfeiçoa a vida do solo, ajuda a recompor a biodiversidade, conserva e melhora a fertilidade do solo ao longo do tempo e, ainda fornece hortaliças mais apetitosas e nutritivas. As principais vantagens na aquisição de hortaliças de agricultores familiares são a alta qualidade dos produtos e os baixos preços praticados (JUNQUEIRA, 2010). 4 CONCLUSÕES A agricultura familiar é de extrema importância para o meio ambiente, saúde da população, economia, geração da segurança alimentar e outros fatores, pois através da mesma há uma menor poluição ambiental e degradação dos solos, aumento e controle da saúde, redução dos riscos de doenças, elevação da economia, maior garantia de alimentos de qualidade e manutenção da vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Medical Association: Report of the Council on Science and Public Health. (CSAPH). CSAPH Report 8-A-09. Sustainable Food, Resolution 405: A-08.2008. Accessed 20 june 2009 from http://www.amaassn.org/ama1/pub/upload/mm/443/csaph-rep8-a09.pdf. ANVISA. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 4, DE 18 DE JUNHO DE 2014. ANVISA 2014. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ZGHWt79186M J:portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/10f7288044703a8bbbf8fffe3a642e 80/Guia%2Bfinal%2Bdicol%2B180614.pdf%3FMOD%3DAJPERES+&cd=1 &hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 17 mai. 2015. AZEVEDO, E. Alimentos orgânicos: ampliando conceitos de saúde humana, social e ambiental. Tubarão: Unisul; 2006. 290 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR BOURN, D; PRESCOTT, J. A comparison of the nutritional value, sensory qualities, and food safety of organically and conventionally produced foods. Crit Rev Food Sci Nutr. 2002;42(1):1-34. BRASIL. Boas Práticas Agrícolas (BPA) de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília: MAPA/SDC, 2006. 48 p. – (Plantas Medicinais & Orientações Gerais para o Cultivo). DANI, C et al: intake of purple grape juice as a hepatoprotective agent in Wistar rats.F. Med Food 11:127, 2008. FAO. COLOCAR OS AGRICULTORES FAMILIARES EM PRIMEIRO PARA ERRADICAR A FOME. FAO. 2009. Disponível em:https://www.fao.org.br/cafppef.asp. Acesso em: 30 ago. 2015. FAO. Organic agriculture: what is this?Disponível em: http://www.fao.org. Acesso em: 08 set. 2015 FRUTAL. Agricultura Convencional x Agricultura Alternativa. 2001. Manual horta. Food and Agriculture Organization, FAO Inter-Departmental Working Group on Organic Agriculture. Organic agriculture. 1999. Disponível em: <http://www.fao.org/organicag/oa-faq/oa-faq1/es/>. Acesso em: 30 ago. 2015. HAMERSCHMIDT, I. Agricultura Orgânica e Segurança Alimentar. Organicsnet. 2015. Disponível em: <http://www.organicsnet.com.br/2015/02/agricultura-organica-e-segurancaalimentar/>. Acesso em: 13 set. 2015. JUNQUEIRA, A. M.R. Aparticipação da agricultura familiar na produção de hortaliças e o mercado de orgânicos. Grupo Cultivar. 2010. Disponível em: <http://www.grupocultivar.com.br/site/content/noticias/?q=16338>. Acesso em: 14 ago. 2015. KUMMELING I, et al: Consumption of organic food and risk of atopic disease during the first 2 years of life in the Netherlands, Br F Nutr 99:598, 2008. LEIFERT. Vegetais orgânicos contêm 60% mais determinados antioxidantes do que os convencionais. EcoD. 2014. Disponível em: <http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2014/vegetais-organicoscontem-60-mais-determinados/popup_impressao>. Acesso em: 30 ago. 2015. MALI, T. Envenenados: agrotóxicos contaminam cidades, intoxicam pessoas e já chegam às mesas dos brasileiros. Revista Galileu Globo. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI34165117773,00- 291 DESTAQUE DAPRODUÇÃO ORGÂNICA E SUA INTERFERÊNCIA NA SAÚDE: ENFOQUE NA AGRICULTURA FAMILIAR ENVENENADOS+AGROTOXICOS+CONTAMINAM+CIDADES+INTOXIC AM+PESSOAS+E+JA+CHEGAM+AS.html>. Acesso em: 13 set. 2015. MAYER. Monsanto: 25 doenças que podem ser causadas pelo agrotóxico glifosato. MST. 2015. Disponível em:<http://www.mst.org.br/2015/02/18/monsanto-25-doencas-quepodem-ser-causadas-pelo-agrotoxico-glifosato.html>. Acesso em: 30 ago. 2015. MITCHELL, A. E, et al: tem year comparison of the influence of organic and conventional crop management on the contento f flavonoids in tomatoes, F Agric Food Chem 55:6154, 2007. MOREIRA, M. R. S. Um olhar sobre a agricultura familiar, a saúde humana e o ambiente. Scielo. 2013.Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S000967252013000300018&script=sci_arttext>. Acesso em: 14 mar. 2015. OLSSON, M. E, et al: Antioxidant levels and inhibition of cancer cell proliferation in vitro by extracts from organically and conventionally cultivated strawberries, F Agri Food Chem 54:248, 2006. Organic Trade Association: Organic Trade Association‟s 2009 organic industry survey, Greenfield, Ma, 2009, Organic Trade Association, Accessed 1 july 2009 from http://www.ota.com. SILVA, A. C. F. da. Importância da horta orgânica. Cultivo Orgânico. 2011. Disponível em: <http://cultivehortaorganica.blogspot.com.br/2011/06/importancia-da-hortaorganica.html>. Acesso em: 14 mar. 2015. SILVA. Agricultura familiar vende mais de 7 milhões de quilos de produtos. Brasil de Fato. 2015. Disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/30936>. Acesso em: 30 ago. 2015. Sociedade Social da Agricultura (SNA). Por que consumir orgânicos? Organicsnet. Disponível em: <http://www.organicsnet.com.br/2011/02/porque-consumir-organicos/>. Acesso em: 13 set. 2015. SOUSA, A. A de. et al,.Alimentos orgânicos e saúde humana: estudo sobre as controvérsias. Revista Panamericana de Saúde Pública. 2012. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=s102049892012000600010&script=sci_arttext>. Acesso em: 13 set. 2015. SOUZA, M. C. M. Aspectos institucionais do sistema agroindustrial de produtos orgânicos. Informações Econômicas. 2003; 33(3): 7-16. TORJUSEN, H et al. Food system orientation and quality perception among consumers and producers of organic food in Hedmark County, Norway. Food Qual Preferences. 2001; 12: 207-216. 292 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS CAPÍTULO 19 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUO DA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS Andréa Maria Brandão Mendes de OLIVEIRA1 Carlos Eduardo Pereira de MORAIS2 Wanessa Alves MARTINS3 Luiz Fernando de Oliveira COELHO4 1 3 Professora Doutora do CCTA,UFCG; 2 Graduando em Engenharia Ambiental,UFCG; Aluna de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental,UFPB; 4 Graduando em Gestão Ambiental, UNESA. RESUMO: O presente estudo buscou investigar o potencial adsortivo da casca da banana na remoção de chumbo e cobre em efluentes. Inicialmente foi preparado o adsorvente e adsorvato, em seguida as amostras foram caracterizadas pelas técnicas FTIR, MEV e TG/DSC. Posteriormente, foram testadas na adsorção dos íons chumbo e cobre. Foram observados os grupos funcionais presentes na casca da banana com destaque para lignina, celulose e hemicelulose. Os melhores resultados de adsorção para o chumbo ocorreram à 50°C com aproximadamente 99,6% de remoção e 70% de remoção para o cobre a 27ºC. Assim podemos notar que a casca da banana é um bom adsorvente natural e tem viabilidade para ser utilizado como material alternativo em procedimentos de adsorção pelo seu baixo custo, facilidade de manuseio e seletividade. Palavras-Chave:adsorção, íons metálicos, biossorventes. 293 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS 1 INTRODUÇÃO A atividade industrial moderna têm sido responsável pela contaminação dos recursos hídricos naturais (SCHNEIDER, 1995), os metais tóxicos estão entre as espécies de maior relevância toxicológica presentes nos efluentes industriais (VAGHETTI, 2009). Para a preservação dos recursos naturais é necessário o estabelecimento de normas para o lançamento de efluentes industriais, obrigando as empresas geradoras de resíduos, promoverem o tratamento dos seus efluentes a fim de atender a legislação vigente (THEODORO, 2010). Segundo a resolução CONAMA 430/2011, as diretrizes para gestão do lançamento de efluentes de corpos de água receptores para o cobre dissolvido é de 1,0 mg/L Cu e para o chumbo um limite de 0,5 mg/L de Pb. Para Gavallah e Kilbertus (1998), citado por Moreira (2010) a descontaminação de efluentes contendo metais pesados pode ser feita por diferentes métodos, entre eles pode-se citar os processos de troca iônica, adsorção por carvão ativado, separação por membrana, processos biológicos, eletroquímicos além da neutralização por precipitação química. Segundo (BONIOLO, 2008), os processos para remoção de íons metálicos mais utilizados são os de troca iônica, precipitação química e adsorção. Dentre esses a adsorção é um dos mais estudados, de acordo com Cavalcanti (2009), adsorção é um processo de separação de substâncias orgânicas e inorgânicas que estão em solução sobre uma interface entre um líquido e um sólido. Segundo (CRUZ, 2009) os adsorventes mais utilizados na remoção de 294 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS vários compostos orgânicos e íons metálicos são de alto custo e/ou de natureza impactante com relação ao meio ambiente. Desta forma, a busca de novos materiais alternativos de baixo custo, de fonte renovável, de fácil manuseio, de alta eficiência e menor impacto ambiental quando descartados são extremamente almejados. Diferentes tipos de adsorventes têm sido estudados, como casca de banana, casca de arroz, serragem de madeira, casca de laranja, fibra de coco, entre outros (NAMASIVAYAM et al., 2001 apud BATISTA et al., 2012). No Brasil a casca da banana merece destaque visto que o país se destaca como maior consumidor per capita do fruto com 30,8 kg/habitante/ano (FAO, 2010 apud FRANCISCO, 2011). O uso da casca de banana como adsorvente reduz o impacto ambiental de duas formas, a biomassa residual que muitas vezes torna-se um poluente pelo acúmulo é retirada do local onde é gerada ou depositada e ainda as águas residuárias podem ser tratadas por esta biomassa (BONIOLO, 2008). 2 MATERIAIS E MÉTODOS Material e substâncias químicas Farinha da casca da banana (Musa spp) obtida na região de Pombal – PB; Nitratos divalentes hidratados de chumbo e cobre (Merk) sem purificação prévia; Hidróxido de sódio (Merk); Ácido Clorídrico (Merk); Nitrato de sódio (Carlos Erba); Cloreto de Sódio P.A. (Merk); 295 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS Água deionizada. PARTE EXPERIMENTAL – experimentos de adsorção Adsorvato As soluções metálicas de chumbo e cobre foram obtidas através da dissolução do sal de nitrato de chumbo e cobre em água deionizada. Fora preparado 1,0 dm 3 de cada solução na concentração de 0,01 mol/dm3. Adsorvente O material adsorvente utilizado em todos os experimentos de adsorção foi à Farinha da Casca da Banana Natural (FBN) obtida na condição otimizada de secagem (65°C e 2,0 m s-1). As cascas da banana foram coletadas na Indústria de Doce Campo Verde localizada na cidade de Pombal-PB. Posteriormente foram lavadas com água corrente e cortadas em pedaços de aproximadamente 5 cm de comprimento. Em seguida o material foi posto para secar por três dias ao sol, por 20 horas e posteriormente transferidas para estufa de secagem com circulação de ar com temperatura de 65ºC por 24 horas. Após a secagem o material fora triturado em moinho de facas e peneirado para obtenção de frações composta de partículas com tamanho entre 0,15 a 1,18 mm. CARACTERIZAÇÃO Espectroscopia de absorção na região do infravermelho A espectroscopia no infravermelho buscou determinar as frequências de vibrações dos grupos funcionais presentes 296 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS na FBN na faixa de comprimento de onda de 4000 a 400 cm -1. A amostra do adsorvente foi previamente seca em estufa a 65 ± 2°C e analisada com tamanha de partícula ≤ 0,15 mm. A análise foi realizada em espectrofotômetro infravermelho com transformada de Fourier ((FTIR) da marca Bomem, modelo MB – 100). A aquisição dos espectros foi feita com a resolução de 4 cm-1, com um número de 30 acumulações utilizando pastilhas de KBr com 1% em massa da amostra. Microscopia eletrônica de varredura A análise foi realizada após a secagem da FBN em estufa 65±2°C. A Microscopia Eletrônica de varredura permite a análise de superfície possibilitando a análise de falhas e o mapeamento químico de superfícies. As imagens de microscopia de varredura foram obtidas em microscópio eletrônico de varredura após a metalização das amostras em ouro e paládio usando o microscópio JEOL T-300. A microscopia eletrônica de varredura (MEV) buscou investigar a morfologia superficial da FBN. Análise termogravimétrica A análise foi realizada após secagem da farinha da casca de banana natural em estufa 65 ± 2 °C. A FBN pura e trocada foi caracterizada por análise termogravimétrica. As curvas termogravimétricas (TG) foram obtidas em uma termobalançada marca Du Pont 951, interfaciada ao computador Du Pont, modelo 9900, sob razão de aquecimento programada em 10 K min-1, numa atmosfera de nitrogênio na faixa de temperatura de 300–1239 K. 297 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS Determinação das isotermas de troca iônica na farinha da casca da banana Isoterma de Tempo Utilizou-se o método de batelada para a obtenção da isoterma de tempo em meio aquoso a fim de se fixar o tempo máximo de contato para maior adsorção do íon metálico. A isoterma fora obtida pelo contato de 1g do sólido, medidas em balança analítica, suspensas em 20,0 cm 3 da solução aquosa do íon metálico de0,01 mol/dm3. A suspensão a 298,15 K foi, então, mecanicamente agitada em incubadora com rotação de 180 rpm em tempos variados. Após os tempos préestabelecidos, as suspensões foram filtradas e as alíquotas do sobrenadante foram removidas, com o auxílio de uma pipeta, sendo a quantidade do cátion metálico determinado através do espectrofotômetro de absorção atômica. Assim, pode-se determinar a quantidade de cátion trocado (Nf) por grama de farinha de casca de banana pela diferença entre a quantidade de cátion inicial (Ni) e aquela presente após o equilíbrio (Ns) conforme a equação abaixo. (N N s ) Nf i Equação 1.0 m Isoterma de concentração Estabelecido o tempo da reação e dosagem do sólido, a influência da concentração do cátion metálico foi avaliada, adotando-se o mesmo procedimento da isoterma de tempo, utilizando concentrações crescentes do cátion metálico na faixa entre 10-3 a 10-2 mol.dm-3 em três temperaturas 27, 40 e 50 °C. 298 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização das amostras por espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier A capacidade de remoção de metais pela casca de banana depende da composição química da sua superfície, onde alguns grupos funcionais ativos são responsáveis pela sorção. A espectroscopia no infravermelho das amostras da FBN encontra-se apresentada na Figura 1. Figura 1. Espectro de infravermelho da farinha da casca de banana. Fonte: Arquivo pessoal O espectro de infravermelho revelou presença de bandas na região de 3437 e 3001 cm -1 que são atribuídas a estiramentos vibracionais axiais dos grupos O–H -1 característicos da celulose, em 2943 cm pode ser atribuído aos grupos CH de grupos alifáticos também característicos da estrutura da celulose e em 1647 cm-1 é atribuída à vibração de deformação axial de C=O de ácidos carboxílicos presentes na casca de banana (ácido péptico ou ácido cítrico) ou de ésteres (CRUZ, 2009). A banda em 1501 cm-1 pode ser atribuída ao estiramento ligado a grupos NO2 e NH já a banda em 1049 cm1 pode ser atribuída as ligações C–O de esteres e S=O. A 299 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS banda em 908 cm-1 pode ser atribuída também as ligações O– H. A (Tabela 1) apresenta as atribuições das bandas características obtidas na faixa de 4000 a 400 cm -1 para a casca da banana. Tabela 1. Principais grupos funcionais presentes na casca de banana. Banda de absorção(cm-1) 3439 1628 2933 2847 1741 1053 Grupo funcional O-H O-H C-H C-H C=O C-O Função orgânica Alcoóis, fenóis e carbonila Hidroxila da água Alcanos alifáticos Alcanos alifáticos Aldeídos, ésteres e cetonas Ésteres saturados, insaturados aromáticos além dos alcoóis Fonte: Boniolo (2008). A análise do FTIR da FBN sugere a presença de grupos funcionais como: celulose, lignina, ácido peptico, ácidos orgânicos pequenos, ésteres amilícos e proteínas assim como Cruz (2009) também encontrou para a casca da banana. Análise termogravimétrica (TG) A (Figura 2) imagem (a) apresenta as curvas termogravimétricas (TG) e termogravimétricas derivadas (DTG) para a farinha da casca da banana. Foi observada a ocorrência de três eventos principais. O primeiro evento corresponde à perda de massa referente à perda da água absorvida do biomaterial no intervalo de temperatura de 23 a 170 °C. No segundo evento ocorre à degradação da hemicelulose e celulose, termicamente menos estáveis que a lignina e ocorre no intervalo de temperatura de 170 a 350°C. O 300 e REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS terceiro evento corresponde à perda de massa com temperatura superior a 350°C, havendo a quebra das ligações C-O e C-C, liberando CO e CO2, acima de 400 °C há a formação de uma camada de grafite. Até 1500 C ocorre a liberação da água adsorvida, água estrutural e celulose entre 1500 e 2400 C, quebra das ligações C – O e C – C dentro do anel, liberando CO e CO2 entre 2400 e 4000 C acima de 400 0 C há a formação de uma camada de grafite (SOUSA et al, 2006). A partir de 50 °C observaram-se eventos caracteristicamente exotérmicos, onde ocorre a perda de toda a água do biomaterial além do inicio da decomposição térmica do material que se complementa a partir de 400 0C. Figura 2. Curvas das análises de TG e DSC da farinha da casca de banana pura (a) em contado com o chumbo (b) e com cobre (c). Fonte: Arquivo pessoal. As imagens (b) para o chumbo e (c) para o cobre na (figura 2) apresentam a análise termogravimétrica da casca da banana após o processo de troca iônica. É possível observar que da mesma forma que identificou as três etapas na casca da banana natural, a farinha em contato com o chumbo e com o cobre, ocorreu as mesmas três etapas de decomposição térmica, verificando que as curvas termogravimétricas do 301 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS material natural e dos sólidos com o cátions metálicos apresentam perfis semelhantes com diferença apenas na massa final, esto sugere a presença do íon na biomassa após a adsorção. Análise por microscopia eletrônica de varredura A microscopias da amostra de farinha da casca da banana encontra-se apresentada na (Figura 3). Figura 3. Micrografia da farinha da casca de banana. Fonte: Arquivo pessoal Na (Figura 3) ampliada 500 vezes, pode ser notada a estrutura fibrosa e irregular da farinha da casca de banana natural (FBN) formando camadas sobrepostas de fibras, sendo possível notar grãos menores agregados aos grupos maiores. A superfície irregular e a morfologia porosa como podem ser vista na micrografia, tendem a facilitar a adsorção de metais em solução aquosa, permitindo uma boa remoção destes nas diferentes partes da FBN. Para verificar a presença dos íons de chumbo e cobre na farinha da casca de banana, após processo de biossorção foram realizadas análises com o microscópio eletrônico de varredura (MEV), as amostras apresentavam um tamanho de partícula de 250 mm. 302 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS A B Figura 4. Micrografia da farinha da casca de banana em contato com o íon chumbo (A) e íon cobre (B). Fonte: Arquivo pessoal. Pôde-se observar uma ligeira redução na quantidade de poros livres conforme observado (Figura 4), quando comparado a (Figura 3), isso possivelmente se deve a ocupação dos espaços porosos pela espécie metálica, o que induz que a farinha da casca de banana, realmente tem bom potencial adsortivo para os metais pesquisados. Influência do tempo A influência do tempo de contato entre o íon em solução e o adsorvente é de suma importância para a eficiência do processo, sendo alcançado quando o sistema entra em equilíbrio. Assim, o efeito do tempo de contato para a adsorção dos íons Pb2+ e Cu2+ na casca de banana pode ser visualizada na (Figura 5) A e B respectivamente. Observando as figuras referentes à interação do sólido com os íons chumbo e cobre, percebe-se que houve uma rápida adsorção nos primeiro minutos, seguido por um gradual equilíbrio. Isso mostra que a adsorção máxima para ambos os íons ocorreu em 10 minutos e que quase não há retenção além desse período. Assim, o tempo de reação de 10 minutos foi fixado como o tempo de equilíbrio ao longo desse estudo. 303 0,0002 Nf (mol/g) Nf (mol/g) REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS 0,0001 0 0 50 A tempo(min) 100 0,0002 0,0001 0 B 0 50 100 tempo(min) Figura 5. Influência do tempo de contato na adsorção de chumbo (A) e cobre em (B) pela farinha da casca de banana. Fonte: Arquivo pessoal. Influência da concentração As isotermas de adsorção indicam como o adsorvente efetivamente adsorverá a espécie de interesse, bem como apresentar uma estimativa máxima da capacidade de adsorção. Com o tempo de equilíbrio definido, foi possível construir as isotermas e calcular o percentual de cátion adsorvido pela FBN, em diferentes condições operacionais. As isotermas de Pb2+ e Cu2+ nas diferentes concentrações para as temperaturas 27, 40 e 50°C estão ilustradas na (Figura 6) nas imagens A e B respectivamente. Observou-se que as isotermas seguiram basicamente o mesmo comportamento crescente nas três temperaturas estudadas. A capacidade máxima de adsorção de Pb 2+ foi de aproximadamente 95,2; 98 e 99,6 % nas temperaturas de 27, 40 e 50°C respectivamente. Enquanto para o Cu 2+ a capacidade máxima de adsorção foi de aproximadamente 69,84; 44,57 e 40,93% nas temperaturas de 27, 40 e 50 °C, respectivamente. O aumento da concentração da solução proporcionou um aumento no percentual de remoção para ambos os metais. 304 90 T1 70 T2 50 T3 0,004 0,008 0,012 0 A Concentração de Pb (mol/L) % remoção % de remoção REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS 60 40 20 0 B T1 T2 T3 0 0,004 0,008 0,012 Concentação de Cu (mol/L) Figura 6. Isoterma de concentração dos íons chumbo e cobre com pH 5 nas imagens (A) e (B) respectivamente. Fonte: Arquivo pessoal 4 CONCLUSÕES No presente estudo foram investigados os processos de troca iônica envolvendo a FBN e os íons metálicos Pb2+ e Cu2+ em solução aquosa. Observamos que diversos fatores experimentais estão envolvidos neste processo de adsorção podendo destacar como fator primordial o tempo de reação. O tempo de 10 minutos para a remoção do Pb 2+ e Cu2+ foi escolhido por não apresentar uma variação significativa após este tempo, o comportamento foi observado para ambos os íons. Verificou-se que com o aumento da concentração da solução aumenta a remoção de metal, comportamento observado para ambos os metais. A caracterização da FBN pelo FTIR apresentou grupos funcionais comuns à celulose, hemicelulose e lignina presentes na casca da banana. A termogravimetria (TGA) e termogravimetria derivada (DTG) demonstraram a ocorrência de três estágios de perda de massa relativos primeiramente à umidade, o segundo referente a degradação da celulose e hemicelulose e o terceiro da degradação da lignina. A casca da banana demonstrou ser um bom adsorvente natural para os íons metálicos investigados com ótima capacidade de 305 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS remoção dos metais estudados, se mostrando atrativo por se tratar de um subproduto agroindustrial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, T. S.; LIRA, T. K. B.; SOUZA, J. S. B.; BARROS, T. R. B.; LIMA, V. E. Remoção de chumbo(ll) em efluentes utilizando diferentes biomassas adsorventes. Encontro Nacional de Educação, Ciência e Tecnologia/UEPB. 2012.10f. BONIOLO, M. R. Biossorção de urânio nas cascas de banana. 2008. 107f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia Nuclear - Materiais), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, São Paulo – SP, 2008. CAVALCANTI, J. E. W. de A. Manual de tratamento de efluentes industriais. São Paulo: Engenho Editora Técnica Ltda. 2009. 453 p. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução n° 430, de 13 de maio de 2011. Disponível em:<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646>. Acesso em 15 de janeiro de 2014. CRUZ, M. A. R. F. da. Utilização da casca de banana como biossorvente. 2009. 74f . Dissertação (Mestrado em Química dos Recursos naturais), Universidade Estadual de Londrina, Londrina – PR, 2009. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION - FAO. Certification in the value chain for fresh fruits: The example of the banana industry. Rome, 2009. 102 p. (FAO Commodity Studies4). Disponível em: <ftp://ftp.fao.org/docrep/ fao/011/i0529e/i0529e00.pdf>. Acesso em: 24 de outubro de 2014. FRANCISCO, M. S. Diagnóstico da produção e qualidade dos frutos de banana (Musa spp), cultivada no município de Bananeiras – PB. 2011. 87f. Dissertação (Qualidade de Matérias-Primas), Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, Universidade Federal a Paraíba, Bananeiras – PB, 2011. GAVALLAH, L.; KILBERTUS, G. Recovery of metal ions through decontamination os synthetic solutions and industrial effluents using modified barks. Journal of Geochemical Exploration, v. 62, p. 241-286, 1998. MOREIRA, D. R. Desenvolvimento de adsorventes naturais para tratamento de efluentes de galvanoplastia. 2010,79f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Tecnologia de Materiais), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS, 2010. 306 REAPROVEITAMENTO DO RESÍDUODA CASCA DA BANANA PARA A REMOÇÃO DE METAIS EM EFLUENTES AQUOSOS NAMASIVAYAM, C.; KUMAR, M. D.; SILVI, K.; BEGUM, R. A.; VANATH, T.; YAMUNA, R. T. Waste’ coirpith – a potential biomass for the treatment of dyeing wastewaters. Biomass & Energy, n. 21,p.477483,2001. SOUSA, E.; RAMBO, C.R.; MONTEDO, D.H.; OLIVEIRA, A.P.N. Vitrocerâmicas porosas do sistema LZSA utilizando resíduos orgânicos como agentes formadores de poros. Exacta, v. 4, p. 289-296, 2006. Disponível em: http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/exacta / exactav4n2/exactav4n2_3f04.pdf> acesso em 03/07/2013. SCHNEIDER, I. A. H. Biossorção de metais pesados com biomassa de macrófitos aquáticos. 1995, 141f. Tese (Doutorado Programa de Pós – Graduação em Engenharia Metalúrgica e dos Materiais), Porto Alegre, 1995. THEODORO, P. S.; Utilização da eletrocoagulação no tratamento de efluentes da indústria galvânica. Dissertação ( Mestrado em Engenharia Química), Universidade Estadual do Oeste do Paraná. 136f. Toledo – PR, 2010. VAGHETTI, J. C. P., Utilização de biossorvente para remediação de efluentes aquosos contaminados com íons metálicos. 2009. 99f. Tese (Doutorado em Química)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS. 2009. 307 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE CAPÍTULO 20 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE Afonso Feitosa REIS NETO1 Stevam Gabriel ALVES2 1 Mestrando do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente-UFPE/Graduando em DireitoUFPE 2 Mestrando do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente-UFPE; [email protected] RESUMO: As práticas agrícolas convencionais são amplamente criticadas pelos danos causados à saúde do agricultor, a população de um modo geral e principalmente ao meio ambiente. O uso de agrotóxicos e a queimada podem ser levantadas como principais exponentes dessas atividades. A relação entre doenças com tais atividades são cada vez mais latentes. Buscando minorar tais efeitos, foi criada a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Este trabalho teve como objetivo analisar as principais práticas agrícolas desenvolvidas em uma comunidade na zona da mata pernambucana. Nesse contexto, o desenvolvimento do estudo foi feito a partir de uma visita a comunidade do Sítio Palmeiras, localizado no município de Gloria do Goitá/PE. Chegou-se a conclusão que a escolha das práticas tradicionais de agricultura na verdade são imposições feitas pelo mercado consumidor que exige uma grande quantidade de alimentos, fazendo com que o agricultor utilize-se de medidas prejudiciais a sua saúde e ao meio ambiente. Palavras-chave: Direito Ambiental; Decreto 7.794/12; Agrotóxicos. 308 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE 1 INTRODUÇÃO A busca por meios alternativos de produção de alimentos, pautados na conservação da agrobiodiversidade, valorização dos conhecimentos tradicionais, igualdade de gêneros, fim dos conflitos no campo. Agroecologia e sustentabilidade, é de caráter interdisciplinar e um necessidade iminente da sociedade brasileira. A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), instituída pelo Decreto 7.794/12, a qual correspondeu à necessidade de mudanças no modelo atual insustentável de produção de alimentos e à cristalização de algumas reivindicações dos movimentos sociais. Além do mais, tais práticas diminuem os danos na saúde dos agricultores tendo em vista que existe uma diminuição significativa, ou quase inexistente, no uso de agrotóxicos. Nesse sentido, caso a PNAPO for efetivamente implementada representará ferramenta importante na busca por uma proteção mais integral do meio ambiente. Dessa maneira, suscita-se a polêmica entre produção e consumo, em que o paradigma dominante exige cada vez mais não só dos recursos naturais mas também do próprio homem, fazendo com que paulatinamente exista uma diminuição da qualidade de vida. É sobre o solo que as atividades econômicas são desenvolvidas, especialmente, a agricultura. Nas áreas rurais, a prática de atividades agrícolas é intrinsecamente importante para sobrevivências das pessoas que vivem no campo, pois é 309 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE dela que eles tiram seu sustento. Essa realidade faz parte da vida das pessoas que residem na comunidade do sítio Palmeiras, localizado no município de Glória do Goitá, a 75 km da capital, Recife (PE). A produção de hortaliças consiste no cultivo do tomate, pimentão, cebolinha, coentro e alface. O presente trabalho visa analisar a forma como os agricultores desenvolvem os sistemas de cultivos no decorrer da produção agrícola, destacando as principais técnicas agrícolas utilizadas, bem como os impactos socioambientais provocados no meio ambiente, buscando fazer um cotejo entre a realidade fática e a previsão legal da PNAPO. 2 MATERIAIS E MÉTODO A elaboração da presente pesquisa compreendeu a consulta aos dados oficiais de órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (SINITOX). Ademais, o estudou prezou pela consulta a documentos jurídicos, tais como a legislação, corporificada no decreto 7794/12, e nas lições de Milaré (2013). Formado o arcabouço basilar, foi feita a visitação in loco com objetivo de consolidar os preceitos visualizados na parte teórica.A visita foi na comunidade do Sítio Palmeira, inserida no município de Glória do Goitá/PE. A atividade de campo foi desenvolvida no mês de setembro de 2013, através do qual, foram aplicados questionários junto aos agricultores que concederam termo de consentimento prévio da pesquisa, sendo adotados os seguintes procedimentos metodológicos: i) 310 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE a visita de campo; ii) o registro fotográfico; e iii) aplicação de questionário. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 AGROTÓXICOS, PRODUÇÃO AGRÍCOLA E SAÚDE Com o advento da chamada “Revolução Verde” no século XX, mais especificamente no início da década de 60, o homem ganhou uma maior autonomia em relação ao meio ambiente no que cabe a produção agrícola. O que antes era uma relação simbiótica, passou a ser uma relação sujeitorecurso natural. Sem dúvida que graças aos fertilizantes químicos e o uso de defensivos agrícolas, a produção de alimentos cresceu exponencialmente, espantando de vez a Teoria Malthusiana. Apesar dos benefícios trazidos pelos agrotóxicos em termos de produtividade agrícola e, consequentemente, em termos econômicos, já não é novidade que esses produtos são perigosos para a saúde humana e o para o meio ambiente. Duas particularidades, entretanto, devem ser acentuadas, quando se examina os efeitos adversos desses produtos: os efeitos inter-relacionados – persistência dos resíduos no ambiente e nos alimentos – e os danos para a saúde, os quais são geralmente insidiosos e aparecem depois de um longo tempo (CODONHO, 2014). Nesse sentido, recorde-se, por exemplo, o caso da atrazina, um herbicida proibido na Alemanha desde 1991, cujos metabólitos ainda podem ser encontrados no meio ambiente, depois de todos esses anos. Essa persistência do referido herbicida no ambiente gera uma grande preocupação, em virtude do 311 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE potencial cancerígeno e endócrino da atividade desse produto químico. Um evento marcante na história foi o lançamento do livro Primavera Silenciosa em 1962, pela bióloga norteamericana Rachel Carson que surgiu uma preocupação mais generalizada acerca do potencial lesivo dessas substâncias, principalmente acerca da persistência desses produtos no ambiente e dos danos causados pelo inseticida Dicloro-DifenilTricloroetano, conhecido por DDT, contribuindo para que esse fungicida fosse banido nos Estados Unidos já no ano de 1962. Desde o título o livro já trazia seu impacto, a “Primavera Silenciosa” significava que ao invés do florescer das plantas, dos cantos dos pássaros e zunidos dos insetos, a estação que outrora era uma sinfonia da vida, mostrou-se na verdade um silêncio sepulcral em razão do uso do DDT, as espécies de insetos polinizadores morreram e consequentemente afetaram todo o nicho ecológico. Todavia, os alertas trazidos pela autora não foram suficientes para frear essa utilização em larga escala em grande parte do mundo. Um fato que contribui para o histórico de tragédias ligadas aos pesticidas foi o “Acidente de Bophal” na Índia, no ano de 1982. A empresa norte-americana Union Carbide, que atuava na cidade de Bophal, quando em 3 de dezembro ocorreu o vazamento de 40 toneladas de gases tóxicos ligados a produção dos defensivos. Sem entrar no mérito do erro industrial e nas seguidas falhas de planejamento/organização, tal situação confirmou o potencial lesivo de tais substâncias para a saúde humana. Tal quadro só vem se agravando no cenário mundial, e nacional, ao longo dos anos. Em razão da grande demanda por alimentos e devido aos grandes países produtores usarem 312 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE os produtos agrícolas como um peso na busca pelo superávit na balança comercial, a pressão exercida no meio ambiente é cada vez maior, seja em razão do exaurimento dos recursos naturais, seja pela intensificação dos insumos químicos. O Brasil é o exemplo paradigmático de tal situação. Em 2002, pesquisa realizada pelo IBGE constatou que a poluição de água provocada por agrotóxico ou fertilizante era um problema para 16,2% (901) dos municípios brasileiros e a contaminação no solo por uso de agrotóxicos e fertilizantes afetava 20,7% (1.152) municípios (IBGE, 2002). Mais recentemente, de acordo com o Atlas de Saneamento do IBGE, publicado em 2011, verificou-se que, considerando os municípios que declararam a poluição da água, os agrotóxicos são responsáveis, juntamente com o esgoto sanitário e a destinação inadequada do lixo por 72% das incidências de poluição na captação de água em mananciais superficiais, 54% em poços profundos e 60% em poços rasos (IBGE, 2011). Além da poluição do solo e da água, constatou-se ainda que a utilização dos agrotóxicos também polui o ar dos municípios brasileiros. Os gestores municipais de 1.224 municípios informaram as causas mais frequentes e impactantes da poluição do ar, tendo sido obtidos os seguintes resultados: queimadas (64%), vias não pavimentadas (41%), atividade industrial (38%), atividade agropecuária (geração de poeira, pulverização de agrotóxicos, etc.) (31%) e veículos automotores (26%) (IBGE, 2011). A atividade agropecuária vem merecendo atenção especial dos órgãos ambientais, tendo em vista que esta atividade econômica, além de lançar no ar partícula dos resíduos oriundos da pulverização de 313 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE culturas com agrotóxicos,encontra-se em franca expansão no País. Outra característica observada foi que o uso de agrotóxicos e fertilizantes e a criação de animais, mais importantes nos municípios com características rurais, foram tão mais frequentes quanto menor o porte populacional dos mesmos. Mais recentemente, pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo chegou à conclusão de que 27% das pequenas propriedades (0-10 hectares) usam agrotóxicos, 36% das propriedades de 10 a 100 hectares e nas maiores de 100 hectares 80% usam agrotóxicos (BOMBARDI, 2011). Um dado ainda mais alarmante consiste no aumento do consumo médio do produto, que vem sendo acrescido em relação à área plantada, ou seja, passou-se de 10,5 litros por hectare em 2002 para 12,0 l/ha em 2011. Esse aumento está associado a vários fatores, entre eles a expansão do plantio da soja transgênica que amplia o consumo do herbicida glifosato, a crescente resistência das ervas daninhas, dos fungos e insetos, demandando maior consumo de agrotóxicos, além do aumento de doenças na lavoura, como a ferruagem asiática na soja, que aumentam o consumo de pesticidas (BOMBARDI, 2011). Os dados do Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (SINITOX) alertam para a necessidade de aprimoramento dos instrumentos que regulamentam os agrotóxicos no Brasil, uma vez que em 2009 foram registrados 11.484 casos de intoxicação por agrotóxicos no país. Nesse mesmo ano, foram registrados 186 casos de óbitos de intoxicação por agrotóxicos no País, sendo: 159 decorrentes de suicídio, 18 de acidentes individuais, 3 de causa ocupacional, 2 de acidentes coletivos, 1 de tentativa de aborto, 314 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE 2 de causas ignoradas e 1 de Violência/Homicídio. (SINITOX, 2009) 3.2 ESTUDO DE CASO Quando questionados sobre a utilização de agrotóxicos durante as plantações, 70% dos agricultores afirmaram que usam, justificando que é indispensável para melhorar a produtividade. Enquanto que 30% deixaram claro que nunca utilizam. Os que usam, aplicam agrotóxicos visando impedir a proliferação de pragas nas hortaliças (alface, coentro, tomate, pimentão, entre outros). Vale destacar que o uso inadequado destes compostos químicos pode acarretar efeitos deletérios na saúde dos aplicadores e ainda aos consumidores dessas hortaliças. Em face da discussão acerca do uso dos agrotóxicos Ross (2008), traz a seguinte contribuição: A aplicação frequente de quantidades cada vez maiores desses produtos químicos, genericamente chamados de insumos agrícolas, contamina o solo. Além disso, eles são transportados pela chuva para os riachos e rios, afetando, desse modo, a qualidade das águas que alimentam o gado, abastecem as cidades e abrigam os peixes. O veneno afeta a fauna, e os pássaros e os peixes desaparecem rapidamente das áreas de monocultura, favorecendo a proliferação de pragas, lagartas, mosquitos e insetos em geral. A impregnação do solo com venenos e adubos químicos tende torná-lo estéril pela eliminação da vida microbiana. (ROSS, 2008, p. 226-228) O solo é um elemento vivo da natureza, sua contaminação o torna progressivamente sem vida e menos produtivo. De 315 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE acordo com Carraro (1997), a agricultura químico-industrial e o uso de agrotóxicos provocaram consequências drásticas ao meio ambiente. Podem-se citar: contaminação de alimentos; poluição de rios; erosão de solos e desertificação; intoxicação e morte de animais e extinção de várias espécies de animais. Para diminuir a exposição dos agricultores aos agrotóxicos e mudar esse paradigma agrícola é necessário que haja projetos que trabalhem com sistemas alternativos agrícolas (Agroecologia), que tem por objetivo, através de ações educativas, a sensibilização dos agricultores sobre perigos dos defensivos agrícolas e a importância da sustentabilidade nas suas respectivas produções. Nesse sentido, o Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA), localizado no Município de Glória do Goitá, onde está inserida a área de estudo, vem desenvolvendo um trabalho com jovens, educadores/as e produtores/as familiares por meio da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads), metodologia que trabalha com sistemas formais e não-formais de educação na perspectiva de mobilização social e construção de bases tecnológicas e sociais que o desenvolvimento sustentável requer. O intuito maior dessa proposta é incentivar os jovens e agricultores a aplicar as tecnologias alternativas que desenvolveram no SERTA, passando a exercer na suas respectivas localidade o mesmo papel da unidade (SERTA,2003). Ao longo da pesquisa constatou-se o desconhecimento ou despreparo dos agricultores no que tange ao uso de técnicas apropriadas afim de evitar e/ou minimizar a degradação do solo, no qual 80% dos agricultores afirmaram 316 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE não conhecer as principais técnicas que contribuem para evitar o desgaste do solo. Já 20% disseram conhecer, inclusive alguns deles utilizaram em suas propriedades, tais como: plantio em curva de nível e a rotação de cultura (Figura 1) Figura 1: Hortaliças produzidas no Sítio Palmeiras Fonte: Pesquisa direta realizada em setembro de 2013 . O plantio em curas de nível consiste na produção ordenada por meio de linhas com diferentes altitudes do terreno. Essa técnica é essencial para áreas íngremes, pois este processo ajuda a conservar o solo contra erosões e contribui com o escoamento da água da chuva, fazendo com que ela se infiltre mais facilmente na terra e evite os 317 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE deslizamentos (PENSAMENTO VERDE, 2014). Nos relatos dos agricultores foi constatada a utilização dessa técnica de plantio, com a justificativa de evitar a erosão do solo, principalmente no período chuvoso. Esse conhecimento empírico está fundamentado no saber tradicional, entendido como o resultado do acúmulo de experiências vivenciadas pelos indivíduos em um lugar, na relação que estabelecem com o ambiente natural e social e, da mesma forma, a memória coletiva de um grupo que se reproduz na relação entre os sujeitos e seus pares (LIMA, 2009). Outro ponto relevante identificado na pesquisa diz respeito ao uso das queimadas para preparar o solo antes do cultivo das hortaliças (Figura 2). Figura 2: Queimada provocada pelos agricultores. Fonte: Pesquisa direta realizada em setembro de 2013. 318 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE Desde os primórdios, o homem emprega o fogo objetivando a limpeza do terreno e o seu manejo para a pecuária e a agricultura. É fato que o uso do fogo é uma prática comum no meio rural, por ser uma técnica eficiente sob o ponto de vista dos pequenos produtores. Os agricultores utilizam a queimada porconsiderá-la um meio prático para diversas finalidades, como limpezado terreno para eliminar restos de cultura; aumento da disponibilidade de nutrientes no solo e, consequentemente, da sua capacidade produtiva; redução da incidência de pragas, de doenças, de gastos com mão de obra para limpeza do terreno; reduçãodos custos de produção; entre outras (OLIMPO, 2014). Contudo, Oliveira (2001), afirma que as queimadaseliminam os microrganismos presentes na camada superficial do solo, desgastando-o e empobrecendo-o. Além do mais, o solo agrícola leva muitos anos para formar a camada fértil, que consiste numa boa qualidade de matéria orgânica e de microrganismos. Na área de estudo, os agricultores afirmaram que fazem o uso da mesma com objetivo de limpar o terreno para introduzirem suas plantações. Este foi o caso de 87% dos entrevistados que afirmaram usar esta prática que segundo eles, facilita o desenvolvimento da plantação de diversas culturas. Enquanto que 13 % responderam que não usam, tendo em vista que já ouviram falar dos impactos negativos que as queimadas provocam ao solo. Nota-se que os agricultores da comunidade ainda não conseguem usufruir do escopo da PNAPO que consiste em integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica de base agroecológica, contribuindo para o desenvolvimento 319 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis. Percebe-se que a prática das queimadas é diametralmente oposta as diretrizes da política. Contudo fazse mister salientar que a PNAPO ainda é recente possuindo uma atuação ainda tímida e que tais práticas fazem parte do cotidiano dessas populações. 4 CONCLUSÕES A interação homem com a natureza é algo imprescindível, principalmente para a espécie humana. Ao longo dos séculos, essa relação vem se deteriorando ao ponto de o que era um elo de respeito, tornou-se uma verdadeira tolerância. A ideia de natureza como simples recurso veio corroborar com tal entendimento. Com o aumento população, a produção de alimentos teve que assumir o ônus de prover recursos alimentares para todos, mesmo que isso custasse a saúde de muitos. Nesse conta, surge os principais catalisadores desse efeito: fertilizantes químicos e defensivos agrícolas. Apesar dos malefícios já comprovados, não só para o meio ambiente mas também para os seres humanos, sua utilização ainda continua ocorrendo em larga escala, conforme demonstram os dados do IBGE. Isso muito se deve à pressão contínua do mercado que exife produção em larga escala sem respeitar os limites naturais. Buscando frear tal força, entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro a PNAPO. Todavia seus efeitos ainda não são possíveis de visualizar. Exemplo que 320 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE colabora para tal afirmativa é o da comunidade no Sítio Palmeiras que mesmo sabendo dos malefícios causados os agricultores ainda insistem nas práticas do uso de agrotóxicos e nas queimadas. Destarte, partindo de uma visão crítica, seria errôneo afirmar que a culpa é única e exclusivamente dos pequenos agricultores. Em verdade, todas essas práticas são causadas por um efeito sistémico que tem como fio condutor, em razão da sua hipossuficiência, a figura do homem do campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Decreto nº 7.794. Institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20112014/2012/decreto/d7794.htm>. Acesso em: 14 de mar. 2015 BOMBARDI, Larissa Mies.Intoxicação e morte por agrotóxicos no Brasil: a nova versão do capitalismo oligopolizado. Boletim Data Luta, v. 45, 2011. CARRARO, G. Agrotóxico e Meio Ambiente: uma proposta de ensino de ciências e de química. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1997. CODONHO, Maria Leonor Paes Cavalcanti Ferreira. Desafios para a concretização da agricultura sustentável no Brasil: uma contribuição do direito para a regulação do uso de agrotóxicos. São Paulo: Inst. O direito por um Planeta Verde, 2014. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIETE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). Produtos agrotóxicos e afins comercializados em 2009 no Brasil: uma abordagem ambiental. Brasília: IBAMA, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Atlas de Saneamento do IBGE, 2011. Disponível em:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/atlas_saneamento/d efault_saneamento.Acesso em 5 de mar. 2015. p. 197. 321 PRÁTICAS AGRÍCOLAS, SAÚDE E MEIO AMBIENTE: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE GLORIA DO GOITÁ/PE ____________ Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Perfil dos Municípios Brasileiros. Meio Ambiente, 2002. Disponível em:<http:// http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/meio_ambien te_2002/meio_ambiente2002.pdf>. Acesso em 11 de jun de 2015 LIMA. W. C. R. Saber Tradicional: suporte para o Exercício da Territorialidade de uma Comunidade no Estuário Amazônico. In:Revista Ensaio Geral. Belém, v.1, n.1, jan-jun|.2009. Disponível em:http://www.revistaeletronica.ufpa.br/index.php/ensaio_geral/article/view/ 102/32>. Acesso em: 08/04/2015 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: Gestão Ambiental em foco. 8 ed. Rio de Janeiro: RT, 2013. OLIMPO, J. A. Queimadas na Agricultura.Disponível em: <http://www.sinterpi.org.br/media/upload/Queimadas%20na%20agricultura. doc>. 2014. Acesso em 08/04/2015. OLIVEIRA, J. V. Queimadas Causas e Consequências. Revista Mundo Jovem, São Paulo, n.317 p.16 , jun. 2001.PENSAMENTO VERDE. SERVIÇO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA (SERTA). Objetivo e Área de Atuação.Disponível em:<http://www.serta.org.br/site/o-serta/objetivo-earea-de-atuacao>.2003. Acesso em: 08/04/2015. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS (SINITOX). Agrotóxicos em Geral (agrotóxicos de uso agrícola, doméstico, produtos veterinários e raticidas) – 2009. Disponível em:http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/media/tab01_agro_geral_2009.pdf. Acesso em: 18 de ago. de 2015. ROSS, J. L. S (Org). Geografia do Brasil. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. 322 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. CAPÍTULO 21 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. Adiene Silva ARAÚJO¹ Lucas Marconi dos Santos LEITE² Vanessa Diniz VIEIRA³ 1 -Graduanda em Nutrição- FIP-Tuparetama-PE; 2- Graduando em Nutrição- FIP- Caicó-RN; 3- Professora de Bioquímica- FIP- Patos-PB. [email protected] RESUMO: A agricultura familiar é um conceito genérico que incorpora uma diversidade de situações específicas e particulares, fundada pela relação entre trabalho, propriedade e família. No entanto, não basta ser orgânico para ter qualidade, o produto tem que ser um alimento com qualidade, isto é, no mínimo saudável, alimento sem resíduos de agrotóxicos prejudiciais a saúde. O referido trabalho tem por objetivo discutir a importância dos alimentos orgânicos, focando o respeito ao meio ambiente e a saúde dos seres vivos, bem como o papel da agricultura familiar na manutenção de grande parte da alimentação brasileira. A pesquisa teve uma amostra de 181 entrevistados, dentre alunos consumidores e produtores rurais de orgânicos, realizada em uma escola e na feira livre, ambas no município de Tuparetama-PE. A partir das informações coletadas, constatou-se que o consumo de orgânicos vem aumentando, que os critérios adotados no momento da compra são voltados para a qualidade do produto e a oferta de uma vida saudável, 323 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. destacando que o preço alto ainda é o principal entrave para a compra. Conclui-se que Tuparetama é um representante de produtos orgânicos na feira agroecológica semanal e um divulgador de qualidade de vida pelo consumo destes para o Estado. Palavras-chave: Meio ambiente; Qualidade de vida; Saúde. 1 INTRODUÇÃO O sistema de produção orgânico surge como alternativa consistente e crescente atualmente perante o mercado consumidor. Tavella et al. (2010) complementam que ocorre uma conscientização da população por uma dieta alimentar rica e saudável, onde o consumo de hortaliças tem aumentado sensivelmente, com isso, o desenvolvimento de sistemas de cultivo com hortaliças que assegurem o equilíbrio do ambiente e seus recursos. A agricultura familiar incorpora a diversidade de situações fundamentadas pela relação entre trabalho, propriedade e família, onde o homem do campo produz e vive em sociedade, tendo sua autonomia demográfica, social e econômica na sua propriedade (SANTOS e VIEIRA, 2012). A agricultura orgânica consiste em um conjunto de processos de produção agrícola que parte da fertilidade da matéria orgânica do solo, da ação de microrganismos presentes nos compostos biodegradáveis e da existência de uma abundante fauna microbiana diminui os desequilíbrios e possibilita o suprimento de elementos minerais e químicos necessários ao desenvolvimento dos vegetais cultivados (ORMOND, 2002). 324 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. A produção orgânica é entendida como uma estratégia para alcançar a sustentabilidade dos agroecossistemas, promovendo a conservação da biodiversidade e dos ciclos biológicos, visando à sustentabilidade social, ambiental e econômica da unidade de produção (SANTOS e SOUZA, 2012). O Brasil é o país que apresenta o maior potencial de produção orgânica no mundo, são aproximadamente 90 milhões de hectares agricultáveis, sem contar as áreas de produção convencional que podem migrar para o sistema orgânico de cultivo agropecuário. Atualmente, o país ocupa o terceiro lugar em áreas cultivadas com produção orgânica e tem cerca de 90 mil produtores rurais orgânicos, tanto certificados como não certificados. (PLANETA ORGÂNICO, 2013). No entanto, não basta ser orgânico para ter qualidade, o produto tem que ser um alimento saudável sem resíduos de agrotóxicos, sem aditivos químicos e sem contaminações microbiológicas prejudiciais a saúde humana, apresentando uma tendência atual em consumir alimentos frescos orgânicos (“in natura”) (ALMEIDA e JUNQUEIRA, 2011). Com isso, o referido trabalho tem por objetivo discutir a importância dos alimentos orgânicos e consumo pela população, focando o papel da agricultura familiar para a manutenção de grande parte da alimentação brasileira, reconhecendo os benefícios do consumo de alimentos naturais, isentos do uso de agrotóxicos. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 325 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. A pesquisa foi realizada na Escola de Ensino Médio Cônego Olímpio Torres no município de Tuparetama, Pernambuco, no período de julho a setembro de 2015. Foram entrevistados 174 alunos do ensino médio, com faixa etária de 14 a 18 anos e com 7 produtores rurais de alimentos orgânicos, sendo também vendedores na feira livre, localizada no Pátio de Eventos Prefeito João Tunú da Costa, funcionando todas segundas-feiras de 04:00 às 14:00 horas (Figura 1). Figura 1: Venda de produtos orgânicos na feira de Tuparetama, Pernambuco. É localizada no Polígono das Secas, na microrregião do Sertão do Pajeú, apresenta clima predominantemente semiárido quente, com uma população residente de 7.925 habitantes, sendo 3.852 homens e 4.073 mulheres, distribuídas 6.351 pessoas na zona urbana e 1.574 na zona rural. A cidade localiza-se a uma altitude de 560 m, apresentando uma área de 179 km², densidade demográfica de 44,38 hab./km² e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,662. Limita-se ao Norte com São José do Egito, ao Sul com Iguaracy, ao Leste com o Estado da Paraíba e a Oeste com Ingazeira e Iguaracy (IBGE, 2010). 326 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. Figura 2: Mapa do município de Tuparetama-PE e limites (Oliveira,1999). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O município de Tuparetama tem sua economia voltada para as atividades agrícolas, nos últimos 5 anos a produção diminuiu significativamente, devido ao longo período de secas e a distribuição de chuvas irregulares. Os agricultores cultivam milho, feijão, hortaliças, legumes e frutas para a venda na feira livre local, agricultura de subsistência. Segundo a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010), a área plantada por tipo de cultura em Tuparetama, inclusive o milho e o feijão corresponde a 1.600 ha (51,07%) e 1.510 ha (48,20%) respectivamente. No aspecto de produtividade agrícola por área cultivada, a banana gerou R$ 1.916,00/ha, mandioca R$ 836,67/ha e algodão R$ 365,00/ha, isso referente à produção por hectares em R$/ha, a preços do ano de 2000. Com o aumento da demanda do mercado consumidor, a agricultura orgânica tem evoluído com produtos mais 327 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. saudáveis, com qualidade nutricional e com um maior tempo de durabilidade, prolongando seu armazenamento e conservação (RESENDE et al., 2010). Dos 174 consumidores de alimentos orgânicos entrevistados, 53% consomem produtos orgânicos, a população procura uma alimentação saudável e de qualidade, 22% das pessoas não consomem, por não ter conhecimento suficiente dos benefícios e não acreditarem da idoneidade dos produtos. Araújo et al (2004) relata, que a crescente sensibilização dos consumidores acerca das consequências de suas decisões sobre o meio ambiente e a saúde tem ocasionado mudanças consideráveis nos padrões de consumo. De acordo com Resende et al (2010) os produtos orgânicos, quando comparados aos produzidos convencionalmente, possuem maior valor agregado, o que de certa forma torna o sistema atrativo ao produtor. Quando questionados sobre a frequência do consumo de produtos orgânicos, 18% afirmam que consomem todos os dias, 27% uma vez por semana, 26% uma vez por mês, 7% raramente e 22% nunca consumem, ressaltando que um dos fatores principais para o baixo consumo é o alto valor comercial que os orgânicos são vendidos, a população com renda familiar baixa, não pode comprar os produtos, mesmo tendo conhecimento que o preço é proporcional à qualidade do produto, contudo a demanda por esse tipo de produto é alta. Esta é uma percepção que ocorre em nível mundial em um mercado que já apresenta índices de crescimento acima de 20% no mundo todo, fazendo com que as atenções se 328 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. voltem para a demanda deste tipo de produto, bem como para os meios de garantir a distribuição, qualidade e certificação adequada (STORSTAD; BJORKHAUG, 2003). Um dos obstáculos de maior relevância em relação ao consumo de produtos orgânicos é sem dúvida o custo alto em relação ao convencional. De acordo com Azevedo (2011) o preço dos produtos orgânicos pode custar de 20 a 100% a mais. A comercialização dos produtos orgânicos tem se mostrado o maior desafio para os agricultores familiares e para as associações de produtos orgânicos no Brasil. Sendo assim, a agricultura e o consumo de produtos orgânicos estão em um processo de expansão nos últimos anos e especialistas do setor estão prevendo crescimento de 9% ou mais (DIAS, et al.,2015), ressaltando que as vendas de alimentos orgânicos nos Estados Unidos aumentaram de aproximadamente US $ 11 bilhões em 2004, para cerca de US $ 27 bilhões em 2012, de acordo com o Nutrition Business Journal. O critério utilizado na compra de um produto orgânico é a qualidade em 59%, fator primordial para o consumo, serem naturais e de diminuírem os riscos à saúde (Figura 3). 329 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. 70% 59% 60% 50% 40% 29% 30% 20% 10% 10% 1% 1% Preço Tamanho 0% Qualidade Aparência Sabor Figura 3: Critério utilizado na compra de um alimento orgânico em Tuparetama, Pernambuco. Desta forma, estudos do mercado consumidor identificam que as compras orgânicas foram geralmente atribuídas a algum tipo de valor ou motivo de compra relacionado aos valores ou consciência ligada ao meio ambiente, questões éticas, de qualidade; saúde, consciência, bem como ao produto específico atributos como valor nutricional, sabor, frescor e preço (BROWNE et al., 2000; GRUNERT; JUHL, 1995). A população relata que na maioria das vezes não conseguem identificar se o produto é orgânico, pois nem sempre apresentam o selo de certificação ou não conhecem o selo, isso, dificultando também a escolha do produto e o consumo. Uma medida fundamental no processo da comercialização é a certificação, exigida pelos estabelecimentos que vendem produtos orgânicos, garantia da qualidade do produto a ser consumido. De acordo com o IPD (2010) o total de 5.175.636 estabelecimentos brasileiros 330 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. computados no Censo Agropecuário de 2006 foi apontado que apenas 90.498 dos estabelecimentos no Brasil são de produtos orgânicos, ou seja, 1,7%. O segundo questionário foi destinado aos produtores e vendedores dos produtos orgânicos. Apresentando-se estatisticamente 14% dos produtores produzem produtos orgânicos há 2 anos, 29% há 3 anos, 14% há 4 anos e 43% cultivam orgânicos há mais de 5 anos, declaram que a produção vem ganhando espaço, visto que ultimamente a demanda e a procura por esses alimentos cresceram bastante, alegando que os consumidores buscam conciliar saúde, respeito ao meio ambiente e sabor. Os produtores também destacam que a importância do cultivo de orgânicos está relacionada diretamente a implantação de medidas que pressupõem uma vida mais saudável, além da agricultura orgânica ser considerada um marco no critério de sustentabilidade e respeito aos ciclos naturais e ao equilíbrio biológico. O crescente interesse pelo consumo de alimentos orgânicos veio devido o maior valor nutritivo e menor teor de contaminantes, além da busca por hábitos de vida mais saudáveis, têm contribuído para impulsionar o consumo de produtos orgânicos (HOEFKENS, 2009). A expressiva expansão do consumo de alimentos orgânicos no Brasil tem estimulado a demanda por estudos sobre o comportamento dos consumidores (PIMENTA, 2008). Informações sobre o comportamento dos consumidores e dos principais fatores que influenciam a sua decisão de compra são essenciais para identificação de oportunidades de mercado (SILVA, 2003). 331 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. O motivo pelo qual levaram os agricultores a produzirem produtos orgânicos na região foram em base de 59% ofertar alimento saudável, 33% serem os produtos mais procurados e consequentemente bem vendidos e 8% mais fáceis de serem cultivados. Para se caracterizar um produto orgânico, é preciso ter conhecimento da sua produção, significa que durante todo seu processo produtivo se empregou técnicas e métodos não agressivos ao meio ambiente, não se referem apenas a alimentos sem agrotóxicos (SOUZA e REZENDE, 2006). O local onde são vendidos contribui para a procura do produto no município de Tuparetama-PE, como as barracas próximas as áreas peri urbanas. A população questiona que a localização dos pontos de vendas e a disponibilidade são fatores que acabam dificultando a compra. Portanto, 37% dos produtores vendem seus produtos preferencialmente nas feiras, 26% nos sacolões de frutas locais na cidade, 11% nos supermercados, 21% na própria casa e 5% vende em outros locais. Em relação ao varejo alimentar brasileiro, os super e hipermercados representam o setor de maior destaque. De maneira geral, o país vem acompanhando tendências mundiais e hoje apresenta uma grande variedade de formatos de lojas, que atendem às mais diversas necessidades de mercado (PARENTE, 2000). Os locais de venda devem ser pontos estratégicos para a compra dos produtos, oferecendo dessa forma, viabilidade e uma procura maior dos consumidores, onde a garantia da qualidade do orgânico tem uma relação intrínseca na credibilidade e na confiança para a compra dos mesmos. 332 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. Sousa et al (2012) destacam que a venda direta e as feiras são propostas eficazes para o fortalecimento de associações de agricultores orgânicos. A variedade dos produtos também são requisitos fundamentais para aumentar a venda dos produtos. Os consumidores relatam que a diversidade e a qualidade do produto faz a diferença no momento da compra. Os produtos orgânicos mais vendidos são: banana, tomate, laranja, limão, maracujá, pinha, caju, goiaba, melancia, pimentão, salsa, alface, beterraba, berinjela, abobrinha, cenoura e cheiro verde, apresentados na figura 4. 9% 8% 8% 8% 7% 8% 7% 7% 7% 7% 6% 5% 5% 5% 5% 5% 4% 4% 4% 4% 4% 3% 3% 3% 3% 2% 2% 1% Goiaba Caju Pinha Maracujá Abobrinha Berinjela Melancia Melão Pepino Cenoura Cheiro verde Beterraba Alface Salsa Pimentão Limão Laranja Tomate Banana 0% Figura 4: Os produtos orgânicos mais vendidos na feira de Tuparetama, Pernambuco. 333 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. A diversificação da produção oferece ao pequeno agricultor a vantagem da estabilidade da renda durante todas as estações do ano, assim diminuindo a sazonalidade e, ao mesmo tempo, melhorando a segurança, pois se reduz o risco de quebras na renda devido à flutuação nos preços ou a incidentes naturais e climáticos (CAMPANHOLA e VALARINI, 2001). A distribuição de alimentos orgânicos em Tuparetama vem se expandindo cada vez mais, onde estes não se restringem a apenas uma única cultura, mas uma variedade de produtos. Sousa et al (2012) afirmam que ao adquirir o alimento orgânico, o consumidor contribui para a promoção da sua saúde, para a qualidade de vida das futuras gerações e para a preservação dos ecossistemas naturais. Segundo Whitacker (2012) a agricultura orgânica enquanto técnica de produção agropecuária oportuniza novas relações de trabalho e de competitividade tanto na agricultura familiar como no agronegócio brasileiro. Pensar sobre qualidade de vida e Agricultura Familiar Orgânica implica no estreitamento das relações no mundo rural e na percepção da importância de se construir, nesse meio, uma realidade que não se restrinja às atividades produtivas (KARAM, 2001). 4 CONCLUSÕES Conclui-se que o município de Tuparetama é um representante de produtos orgânicos na feira agroecológica semanal e um divulgador de qualidade de vida pelo consumo destes para o Estado, propiciando a população o aumento da 334 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. longevidade, tornando os produtores aumentando a renda na região. autônomos e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, I.L & JUNQUEIRA, A.M.R. Produção de Hortaliças em Sistema Orgânico, Agricultura Familiar e Segurança Alimentar no Brasil. Sociedade e Desenvolvimento Rural, online – v.5, n. 1 – Set – 2011. ARAÚJO, J.F.; COSTA, N.D.; LIMA, M.A.C.; PEDREIRA, C.M.; SANTOS, C.; LEITE, W.M. Avaliação de genótipos de cebola em cultivo orgânico. Horticultura Brasileira, Vitória da Conquista, v.22, n.2, p.420-424, 2004. AZEVEDO, E. de. SCHMIDT, W. KARAM, K. F. Agricultura familiar orgânica e qualidade de vida. Um estudo de caso em Santa Rosa de Lima, SC, Brasil. Rev. Bras. de Agroecologia. 6(3): 81-106 (2011). BROWNE, A. W. et al. Organic production and ethical trade: definition, practice and links. Food Policy, v. 25, n. 1, p. 69-89, Feb 2000. ISSN 0306-9192. CAMPANHOLA, C.; VALARINI P. J. A agricultura orgânica e seu potencial para o pequeno agricultor. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 18, n. 3, p. 69-101, set./dez. 2001. DIAS, V. V. SCHULTZ, G. SCHUSTER, M. S. TALAMINI, E. RÉVILLION, J. P. O mercado de alimentos orgânicos: um panorama quantitativo e qualitativo das publicações internacionais. Ambiente & Sociedade. São Paulo v. XVIII, nº 1, p. 161-182, jan.-mar. 2015. GRUNERT, S. C.; JUHL, H. J. VALUES. Environmental attitudes, and buying of organic foods. Journal of Economic Psychology, v. 16, n. 1, p. 39-62, 1995. ISSN 0167-4870. HOEFKENS, C.; VERBEKE, W.; AERTSENS, MONDELAERS K.; VAN CAMP J. The nutritional and toxicological value of organic vegetables: Consumer perception versus scientific evidence. British Food Journal, Bingley, v. 111, n. 10, p. 1062-1077, 2009. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. IBGE, 2010. IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Produção agrícola e área plantada por cidade do Brasil – Tuparetama-PE, 2010. INSTITUTO DE PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO (IPD). Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). Perfil do mercado orgânico brasileiro como processo de inclusão social. IPD. Curitiba: 2010. 335 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. KARAM, K.F. Agricultura orgânica: estratégia para uma nova ruralidade. Curitiba, 2001. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade Federal do Paraná. OLIVEIRA, T. J. S. Tuparetama, O livro do município. Casa da cultura de Tuparetama.Tuparetama, 1999. ORMOND, J. G. P. Agricultura orgânica: quando o passado é futuro. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 15, p. 3-34, mar. 2002. PARENTE, Juracy. Varejo do Brasil. São Paulo: Atlas, 2000. PIMENTA, M. L. Comportamento do Consumidor de Alimentos Orgânicos na Cidade de Uberlândia: um Estudo com Base na Cadeia de Meios e Fins. 2008. 125 f. Dissertação (Mestrado em Administração)Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008. PLANETA ORGÂNICO. Posição do Brasil no mercado de alimentos orgânicos. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <http://www.planetaorganico.com.br >. Acesso em: 14 set. 2015. (2013). RESENDE, J.T.V.; MARCHESE, A.; CAMARGO, L.K.P.; MARODIN, J.C.; CAMARGO, C.K.; MORALES, R.G.F. Produtividade e qualidade póscolheita de cultivares de cebola em sistemas de cultivo orgânico e convencional. Bragantia, Campinas, v.69, n.2, p.305-311, 2010. SANTOS, A. R. dos. VIEIRA, N. dos S. FERREIRA, P. R. CASTRO, T. T. S. e. Agricultura Familiar e Segurança Alimentar e Nutricional: análise dos resultados do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA Doação Simultânea) nos estados da Bahia e Minas Gerais. Cadernos Gestão Social, V.3, n.1, p.9-24, jan/jun 2012. SANTOS, C. O. dos. SOUZA, R. M. e. Agricultura Orgânica em Sergipe: alternativa à sustentabilidade? Revista Geonorte, Edição Especial, V.3, N.4, p. 449-462, 2012. SILVA, D. M. Produtos Orgânicos: Uma Análise do Varejo e do Consumidor nos Supermercados de Londrina, PR. 2003. 149 f. Dissertação (Mestrado em Administração)- Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2003. SOUSA, A. A. AZEVEDO E, LIMA, E. E, SILVA, A.P.F. Alimentos orgânicos e saúde humana: estudo sobre as controvérsias. Rev Panam Salud Publica. 2012;31(6):513–7. SOUZA, J. L. de; REZENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica. 2° edição atualizada e ampliada. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, 2006. STORSTAD, O.; BJORKHAUG, H. Foundations of production and consumption of organic food in Norway: Common attitudes among farmers and consumers? Agriculture and Human Values, v. 20, n. 2, p. 151-163, 2003. ISSN 0889-048X. 336 ALIMENTOS ORGÂNICOS PRODUZIDOS PELA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, PERNAMBUCO, BRASIL: ALIMENTOS SAUDÁVEIS. TAVELLA, L.B.; GALVÃO, R.O.; FERREIRA, R.L.F.; ARAÚJO NETO, S.E.; NEGREIROS, J.R.S. Cultivo orgânico de coentro em plantio direto utilizando cobertura viva e morta adubado com composto. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v.41, n.4, p.614-618, 2010. WHITACKER, G. M. Agricultura Orgânica: estratégia capitalista para a (re) produção do espaço rural. Departamento de Geografia da FCT/UNESP, Presidente Prudente, n. 12, v.1, janeiro a junho de 2012, p.75-94. . 337 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR CAPÍTULO 22 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR Rita de Cássia de Araújo BIDÔ¹ Miniamy Pereira NOBREGA1 Maria Elieidy Gomes de OLIVEIRA² Maria Emília Evaristo CALUÊTE³ Sandra Regina Dantas BAÍA³ ¹Graduando em Nutrição pela Universidade Federal de Campina Grande-CES, PB. ²Professora Drª. da Universidade Federal de Campina Grande, campus Cuité-PB. ³Nutricionista de um hospital público na cidade de Campina Grande, PB. RESUMO: No Brasil o desperdício de alimentos chega a 26 milhões de toneladas por ano, número suficiente para alimentar aproximadamente 35 milhões de pessoas. Diante disto, percebe-se a necessidade de adotar medidas que reduzam este número, dentre elas a reutilização de partes convencionalmente não comestíveis de alimentos. Este trabalho objetivou aproveitar e verificar a aceitabilidade de partes desprezadas da hortaliça couve-flor em preparações oferecidas à coletividade sadia em um hospital universitário público na Paraíba. Foram desenvolvidas 4 preparações com talos e folhas de couve-flor. A amostra foi escolhida aleatoriamente, para a qual foi aplicado uma escala hedônica de 5 pontos. A avalição da aceitação foi feita através do cálculo da porcentagem e da média de nota para o grau de aceitação. Como resultados, dentro de um universo total de 120 provadores, 39,17% assinalaram que “Adoraram” as 338 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR preparações e 50% assinalaram que “Gostaram” e, as médias de notas, para todas as preparações foi de ≥ 4 correspondentes aos termos hedônicos “gostei” a “adorei”. Portanto, conclui-se que as preparações foram bem aceitas e já inclusas no cardápio da unidade, constituindo dessa forma, uma excelente alternativa contra o desperdício de alimentos, bem como, uma forma de enriquecer e criar novas opções de cardápios. Palavras-chave: Folhas. Talos. Desperdício. 2 INTRODUÇÃO No Brasil o desperdício de alimentos chega a 26 milhões de toneladas por ano, o que seria suficiente para alimentar 35 milhões de pessoas. E dentro desse quadro, o desperdício de frutas, hortaliças, grãos e outros alimentos apresentam-se em trono de 14 milhões de toneladas anuais e, mais especificamente, segundo o Levantamento da Embrapa Ministério da Agricultura, o desperdício de hortaliças no Brasil chega a 37 quilos por habitante por ano (EMBRAPA, 2007). Dentre os alimentos que fazem parte do quadro de desperdício, encontra-se a Brassica oleracea var. botritys, popularmente conhecida como couve-flor, um vegetal que possui em sua estrutura flores, folhas e talos, sendo que as folhas e talos são comumente desprezadas. A média de porcentagem de perdas e fator de correção da couve-flor constitui, 55% e 2,22, respectivamente. As folhas e talos podem ser empregados em saladas, refogados, sucos, sopas entre outros (ORNELAS, 2007; MONTEIRO, 2009). A couve-flor é uma hortaliça importante do ponto de vista nutricional, pois é rica em cálcio e fósforo, sendo também 339 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR fonte de vitamina C. Além de ser livre de gorduras e colesterol, e conter baixos teores de sódio e calorias. As hortaliças, por serem coloridas e por possuírem variedades de sabor, melhoram as características sensoriais do cardápio, beneficiando a sua aceitação (ORNELAS, 2007; MELO; SILVA; ALVES, [(200-)]). As partes não aproveitáveis dos alimentos, segundo Souza et al. (2007), poderiam ser utilizadas enfatizando o enriquecimento alimentar, diminuindo o desperdício e aumentando o valor nutricional das refeições, pois talos e folhas podem ser mais nutritivos do que a parte nobre do vegetal como é o caso das folhas verdes da couve-flor que, mesmo sendo mais duras, contêm mais ferro e são mais nutritivas que a própria couve-flor. A utilização de partes desprezadas de alimentos, como cascas, talos e folhas, constitui um dos fatores contribuintes para a redução do desperdício, pois o aproveitamento integral dos alimentos, além de diminuir os gastos com a alimentação e melhorar a qualidade nutricional das preparações, torna possível a criação de novas receitas, como, por exemplo, sucos, geleias, doces e farinhas. Além de colaborar com a redução do desperdício, o aproveitamento de alimentos não utilizados poderia ser uma solução eficaz para a resolução dos problemas emergenciais que o mundo enfrenta em decorrência da fome. Esta prática, em teoria, beneficia tanto os produtores como os consumidores (GONDIM et al., 2005; BELIK; CUNHA; COSTA, 2012). Uma Unidade de Alimentação e Nutrição Coletiva, além de fornecer refeições seguras e de qualidade, também é campo fértil para o desenvolvimento de atividades que 340 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR envolvam educação em saúde, tal bem como o reaproveitamento de partes desprezadas de vegetais que são bem frequentes nesses tipos de estabelecimentos. Tendo em vista que, como fato real, a couve-flor, umas das hortaliças solicitadas no pedido de verdura da Unidade de Alimentação Coletiva, na qual, foi realizado o presente trabalho, têm, em grande quantidade, seus talos e folhas desprezadas e que estas são ricas nutricionalmente e desempenham inúmeros benefícios no organismo humano, objetivou-se aproveitar/utilizar estas partes em preparações oferecidas à coletividade sadia e verificar o nível de aceitação das mesmas. 3 MATERIAIS E MÉTODO O presente trabalho foi realizado durante o estágio supervisionado em Unidade de Alimentação Coletiva, da Universidade Federal de Campina Grande do curso de Bacharelado em Nutrição, no mês de março de 2015. Para a realização do trabalho foi aproveitado/utilizado partes desprezadas da hortaliça couve-flor, como talos e folhas, provenientes do setor de processamento de alimentos da Unidade de Alimentação e Nutrição Coletiva de um Hospital Universitário na cidade de Campina Grande/PB. Os colaboradores da Unidade de Alimentação e Nutrição Coletiva foram treinados/orientados quanto ao: Recebimento Nessa etapa, os talos e folhas da couve-flor, partes que eram desprezas, foram recolhidas e, submetidas a uma avaliação do seu estado de frescor, ausência de defeitos, 341 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR enfermidades causadas por insetos ou larvas, isentas de odor pútrido ou fermentado, livres da presença de bolor ou mucosidade (gosmenta). Após esta avaliação, essas partes foram armazenadas em sacos plásticos e submetidas a refrigeração (ORNELAS, 2007). Pré-preparo Os talos e as folhas foram lavados em água corrente, deixadas de molho em solução de hipoclorito de sódio na proporção de um litro de água para uma colher de sopa de água sanitária, durante 15 minutos, e novamente lavadas em água corrente (STORCK; NUNES; OLIVEIRA; BASSO, 2013). Preparo Foram feitas 4 (quatro) preparações com o aproveitamento dos talhos e folhas, das quais, 2(dois) tipos foram de saladas (Salada 1 e Salada 2) e 2(dois) tipos foram de sucos (Suco 1 e Suco 2). Para a Salada 1 foram utilizados como ingredientes: abacaxi, repolho, tomate, talhos e folhas da couve-flor; para a Salada 2 foram: maça, acelga, tomate, talhos e folhas da couve-flor; para o Suco 1 foram: abacaxi, limão, talhos e folhas da couve flor e açúcar; para o Suco 2 foram: caju, limão, talhos e folhas da couve-flor e açúcar. Para os cortes foram utilizadas faca(s) afiada(s) para evitar maceração e consequente destruição das vitaminas. Para a avaliação da aceitabilidade foram selecionados 30 (trinta) comensais da coletividade sadia, aleatoriamente, para os quais foram aplicados uma escala hedônica de 5 (cinco) pontos que variavam entre “adorei” e “detestei” 342 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR (FONSECA, 2011; ROSÁRIO, 2011). As preparações foram oferecidas junto com o almoço e os testes, para cada preparação, foram feitos em dias diferentes. O questionário foi elaborado com base no Material Orientativo para a Aplicação dos Testes de Aceitabilidade no Programa Nacional De Alimentação Escolar – PNAE. E a avalição do nível de aceitabilidade foi feita através do cálculo da porcentagem, da média das notas para cada preparação, bem como da análise dos comentários dos provadores. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Segue na tabela 1 a frequência de notas e porcentagem do nível de aceitação das quatro preparações desenvolvidas com a utilização dos talos e folhas da couve-flor. Tabela 1 - Frequência de notas atribuídas à aceitação das preparações. Preparações Aceitação Salada 1 n % Salada 2 n % Suco 1 n % Suco 2 n % “Adorei” 6 20,0 9 30,0 11 36,7 21 70,0 “Gostei” 19 63,3 17 56,7 17 56,7 7 23,3 Indiferente” 1 3,3 3 10,0 3 10,0 1 3,3 “Não gostei” 3 10,0 0 0 2 6,7 1 3,3 “Detestei” 0 0 0 0 0 0 0 0 Nulo 1 3,3 1 3,3 0 0 0 0 30 100 30 100 30 100 30 100 Total participantes de 343 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR De acordo com os resultados presentados na tabela 1, percebe-se que as quatro preparações apresentaram boa aceitação, tendo em vista que, para as quais, 39,17% dos provadores assinalaram que “Adoraram” as preparações e 50% assinalaram que “Gostaram”, em um universo total de 120 (cento e vinte) provadores. E que apenas 6,7% e 5% apontaram “Indiferente” e “Não gostei”, respectivamente. Os 1,7% referentes aos questionários nulos correspondem aos que tiveram mais de um termo hedônico marcado, sendo dessa forma, descartados. Na Tabela 2 são apresentadas as médias das notas atribuídas pelos provadores para o grau de aceitação para cada preparação. Tabela 2 - Médias das notas atribuídas pelos provadores para o grau de aceitação para cada preparação. Preparação Salada 1 Salada 2 Suco 1 Suco 2 Notas Atribuídas 4,0 4,2 4,5 4,6 1= detestei, 2= não gostei, 3= indiferente, 4= gostei, 5= adorei. Observou-se que a média de notas esteve entre o termo hedônico “gostei” a “adorei”, reforçando os resultados obtidos na tabela 1, demostrando que todas as preparações obtiveram uma boa aceitação, o que indica que esses tipos de preparações com aproveitamento de partes dos alimentos geralmente desprezadas não tiveram suas características sensoriais prejudicadas, como foi encontrado no trabalho de Souza et al. (2007), no qual foi possível verificar que as tortas preparadas com talos de couve-flor e de brócolis, com cascas 344 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR de cenoura e de beterraba, tiveram boa aceitação em relação ao sabor, aparência, textura e cor. AIolfi e Basso (2013) também encontraram bom aceitação para as três preparações desenvolvidas com cascas de frutas e hortaliças, a saber, 1) bolo de casca de banana, 2) patê de casca de cenoura e 3) suco de casca de abacaxi, para as quais obtiveram índice de aceitabilidade de 97%, 92% e 91%, respectivamente. Além disso, essas preparações podem vir a contribuir no aumento do valor nutricional do cardápio oferecido dento da Unidade de Alimentação e Nutrição Coletiva, visto que no trabalho de Monteiro (2009) os valores encontrados de proteínas totais nas folhas foram maiores em relação à flor; lipídeos totais nas folhas e talos foram menores; fibras totais nos talos e folhas foram maiores; ferro (Fe) nas folhas foram maiores; cálcio (Ca) foram significativamente maiores nos talos e folhas e, potássio (K) foram maiores nas folhas. Além de que os outros ingredientes acrescentados às preparações, como o limão, contribuem no enriquecimento nutricional das mesmas, pois, o suco de limão é considerado fonte de vitamina C, além de ácido fólico, niacina e piridoxina (Viera et al., 2010). Na tabela 3 são relacionados os comentários dos provadores em relação às preparações elaboradas com partes desprezadas da hortaliça couve-flor, indicando novamente a ótima percepção sensorial das preparações. Tabela 3 - Comentários dos provadores em relação às preparações. Preparações Salada 1 Salada 2 Suco 1 Comentários dos provadores “As misturas da salada com as frutas ficou ótima” “Muito bom. Se for sempre com frutas maravilha” “Cada dia está melhor!” “Muito bom! Parabéns!” “Faça todos os dias” 345 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR Suco 2 “Bom no sabor e rico em vitaminas” “Delícia ... Delícia” “Achei diferente a mistura das frutas com a couve-flor, bem como refrescante” “Não consegui identificar os sabores (o que continha) mas não fez diferença em minha opinião! Muito bom e imagino que muito nutritivo! Excelente combinação!” “Ótimo maravilhoso” Viera et al (2010), com objetivo de incentivar o aproveitamento integral de alimentos e oferecer uma alternativa nutritiva para uma alimentação com baixo custo, elaboram e analisaram sensorialmente sucos utilizando cascas, e folhas de frutas e verduras, também encontram resultdados positivos para a preparação de suco de couve com limão, para a qual média do índice de aceitabilidade foi de 57,49%, sendo que no atributo sabor obteve o maior índice de aceitabilidade (79,16%) dentre as outras preparações desenvolvidas (suco de casca de maçã e refrigerante caseiro de cenoura e laranja). 5 CONCLUSÕES Os resultados alcançados no presente trabalho permitiram ver que a utilização de partes desprezadas da hortaliça couve-flor, como talhos e folhas, concomitante ao aproveitamento integral de alimentos, em preparações como saladas e sucos é uma excelente alternativa contra o desperdício de alimentos, bem como, uma forma de enriquecer nutricionalmente e criar novas opções de cardápios, além de contribuir para a melhora do estado de saúde e qualidade de vida dos indivíduos. 346 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIOLFI, A. H.; BASSO, C. Preparações elaboradas com aproveitamento integral dos alimentos. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 14, n. 1, p. 109-114, 2013. BELIK, W.; CUNHA, A. R. A. A.; COSTA, L. A. Crise dos alimentos e estratégias para a redução do desperdício no contexto de uma política de segurança alimentar e nutricional no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas | PPP |, 2012. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/viewFile/277/255>. Acesso em: 02 mar. 2015. EMBRAPA (EMPRESA BRASILEIRA DE PESUISA AGROPECUÁRIA). O papel dos bancos de alimentos na redução do desperdício de alimentos. 2007. Disponível em: < http://mds.gov.br/backup/programas/seguranca-alimentar-e-nutricionalsan/banco-de-alimentos/i-seminario-tecnico-do-programa-banco-dealimentos/arquivos/4._o_papel_dos_bancos_de_alimentos_na_reducao_do _desperdicio_de_alimentos_-_roberto_machado_-_19.09.pdf >. Acesso em: 27 fev. 2015. FONSECA, R. S.; SANTO, V. R. D.; SOUZA, G. B.; PEREIRA, C. A. M. Elaboração de barra de cereais com casca de abacaxi. Archivos Latinoamericanos de Nutricion, v. 61, n. 2, p. 217-218, 2011. Disponível em: <file:///C:/Users/Rita/Desktop/Aceitabilidade.pdf>. Acesso em: 05 mar. light. Revista Eletrônica da Univar, n. 7, p. 127, 2011. SOUZA, P.D.J.; NOVELLO, D.; ALMEIDA, J.M.; QUINTILIANO, D.A. Analise sensorial e nutricional de torta salgada elaborada através do aproveitamento alternativo de talos e cascas de hortaliças. Alimentação e Nutrição, v. 18, n. 1, p. 55-60, 2007. Disponível em: <http://servbib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/alimentos/article/viewFile/133/143>. Acesso em: 28 fev. 2015. STORCK, C.R.; NUNES, 2015. GONDIM, J. A. M.; MOURA, M. F. V.; DANTAS, A. S.; MEDEIROS, R. L. S.; SANTOS, K. M. Composição centesimal e de minerais em cascas de frutas. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 25, n. 4, p. 825-826, 2005. 347 APROVEITAMENTO E ACEITABILIDADE DE PARTES DESPREZADAS DA HORTALIÇA COUVE-FLOR EM PREPARAÇÕES OFERECIDAS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA HOSPITALAR Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cta/v25n4/27658.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2015. MONTEIRO, B. A. Valor nutricional de partes convencionais e não convencionais de frutas e hortaliças. 2009, 62 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Agronômicas) – UNESP, Botucatu-SP. ORNELAS, H. L. Seleção e preparo de alimentos. 8. ed. São Paulo: Atheneu, 2007, 276 p. ROSÁRIO, L.; ALENCAR, M.; RESENDE, C.; MELO, K.; CRUZ, L.; MARTINS, C.; GIACOMINE, C.; BARBOSA, L. Avaliação sensorial de patê de talos comum e G. L.; OLIVEIRA, B. B.; BASSO, C. Folhas, talos, cascas e sementes de vegetais: composição nutricional, aproveitamento na alimentação e análise sensorial de preparações. Ciência Rural, v. 43, n. 3, p. 538, 2013. VIERA, V. B.; TAMBARA, T. T.; BUZATTI, N. B.; BARBOSA, A. L. R.; LOPES, M. R.; MIRON, V. R.; SACCOL, A. L. F. Análise sensorial de sucos elaborados com aproveitamento integral de alimentos. In: JORNADA INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE, 3. Anais eletrônicos... Santa Maria: UNIFRA, 2010. Disponível em: http://www.unifra.br/eventos/jis2010/Trabalhos/253.pdf. Acesso em: 01 out. 2015. 348 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO CAPÍTULO 23 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO Vanessa Macedo Barros dos SANTOS¹ Viviane Priscila Barros de MEDEIROS¹ Sandra Regina Dantas BAÍA2 Maria Emília Evaristo CALUÊTE2 Jefferson Carneiro de BARROS3 1 Aluno do curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG/CES,Cuité-PB 2Nutricionista do Hospital Universitário Alcides Carneiro/EBSERH, Campina Grande-PB 3 Professor do curso de Bacharelado em Nutrição da UFCG/CES, Cuité-PB e-mail: [email protected] RESUMO: Em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) é necessário satisfazer os comensais. As características físicas das refeições ofertadas estão ligadas à elaboração dos cardápios e sua apresentação, que quando desfavoráveis, o desperdício estará presente, sendo este um fator de grande relevância, uma vez que são associados diretamente aos custos da UAN. Objetivou-se avaliar o desperdício do almoço dos funcionários de uma UAN hospitalar em Campina GrandePB. Foram pesados os restos de alimento descartados na lixeira do refeitório pelos usuários para avaliação do restoingesta (RI), considerando resultados aceitáveis os inferiores a 10%. As sobras limpas (SL) foram quantificadas com base nos alimentos que restaram no balcão de distribuição, considerando percentuais adequados inferiores ou igual a 3%. O RI e a SL analisadas, apresentaram médias de 5,17% e 12,93%, respectivamente. Tais resultados, demonstraram uma 349 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO adequação do percentual de RI face o alto percentual de SL, que podem estar relacionados a falhas no porcionamento, no planejamento do cardápio e/ou na estimativa dos per capitas, porém, evidencia uma satisfação dos comensais às preparações servidas. Torna-se, portanto, importante intervenções que possibilitem uma diminuição do desperdício e, consequentemente, dos custos tendo em vista o impacto positivo no serviço. Palavras chave: Perdas alimentares. Cardápio. Coletividade sadia. 1 INTRODUÇÃO A Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) hospitalar apresenta finalidades voltadas para prevenção, melhora e recuperação da população que atende, consistindo de um serviço organizado que tem como principal objetivo fornecer refeições equilibradas e com padrões dietéticos e higiênicos adequados para atingir as necessidades nutricionais de seus comensais, ajustando-se aos limites financeiros da instituição (ABREU et al., 2013; AMARAL, 2008). No processo de produção e distribuição de refeições todos os produtos utilizados devem ter qualidade e passarem pelo emprego de técnicas adequadas de preparo, bem como cuidados de higiene na sua manipulação. Considerando esta necessidade, na elaboração das refeições, torna-se necessário um controle dos serviços oferecidos através de avaliações eficientes (TEIXEIRA et al., 2010). Dessa forma, cabe ao nutricionista, na qualidade de responsável técnico da UAN, desempenhar funções técnicas e administrativas adequadas para obtenção de um melhor desempenho e gerenciamento dos serviços prestados (CFN, 2005). 350 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO Segundo Abreu, Spinelli e Pinto (2013), em UAN é necessário satisfazer os comensais considerando, dentre outros, as características físicas das refeições ofertadas, estando essas relacionadas ao tipo de cardápios, apresentação das preparações e aparência física do ambiente. Entretanto, problemas relacionados ao desperdício tem sido um fator de relevância às UAN, uma vez que está ligado diretamente aos custos para o estabelecimento. Desse modo, é de extrema importância aperfeiçoar a eficiência do sistema alimentar com o intuito de prevenir, diminuir ou eliminar as perdas, para assim garantir um bom funcionamento e estabilidade financeira da unidade de alimentação (PEDRO; CLARO, 2010). Neste contexto, a avaliação diária das sobras é uma medida que pode ser utilizada no controle de qualidade de uma UAN, visto que seu excesso pode denotar falhas no porcionamento, no planejamento do cardápio e até mesmo na estimativa dos per capitas utilizados no serviço. O controle do desperdício (resto ou rejeito) também tem o objetivo de avaliar o porcionamento e à aceitação do cardápio pela clientela (ABREU et al., 2013; TEIXEIRA et al., 2010). De acordo com Soares et al. (2011), faz-se necessário um melhor planejamento e adequação na elaboração das preparações, associado a ações para educação nutricional com o intuito de garantir uma melhor aceitação pelos comensais dos alimentos oferecidos. Destaca-se ainda que o custo com o desperdício poderia ser convertido em investimentos para a unidade no que se diz respeito a aquisição de novos equipamentos, produtos alimentícios e melhoria dos processos produtivos. 351 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO De acordo com o exposto e considerando a necessidade de aprofundar o conhecimento científico a respeito desta problemática no setor, buscou-se avaliar as sobras e o resto ingesta dos comensais (funcionários), para identificar as possíveis falhas do serviço e assim contribuir para reduzir os custos da UAN hospitalar em questão. A quantificação da sobra limpa e o resto ingesta (rejeito) possibilitarão identificar o agente causal deste desperdício, favorecendo a elaboração de propostas de intervenção futuras para um efetivo controle e acompanhamento com o propósito de diminuir a quantidade de alimentos desperdiçados. 2 MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida durante uma semana do mês de maio de 2015 em uma UAN Hospitalar do munícipio de Campina Grande-PB, a qual funciona no sistema de autogestão e atende a coletividade enferma (pacientes) e sadia (funcionários e acompanhantes), servindo em média 500 refeições diariamente, distribuídas entre desjejum, almoço, lanche, jantar e colação. Atualmente, a unidade encontra-se com cardápio de nível médio, bem diversificado e com um sistema de distribuição do tipo misto (centralizado para os funcionários e descentralizado para as enfermarias). Em relação ao almoço e jantar para a coletividade sadia, estes são dispostos em balcões de distribuição com utilização de pratos com sistema de distribuição das refeições do tipo self-service parcial, visto que o prato proteico e a sobremesa são porcionadas por funcionários da unidade. 352 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO Para efeito de avaliação do desperdício com base na sobra limpa (SL) e no resto ingesta (RI), considerou-se a refeição do almoço por ser a principal refeição do dia em relação ao número de comensais atendidos e por esta ter a maior variação de alimentos. Entretanto, apenas o almoço dos funcionários foi avaliado, tendo em vista que são comensais fixos da unidade e apresentam uma média de 200 refeições diariamente. Quanto a quantificação das SL e RI do almoço utilizouse uma balança mecânica de piso, marca Micheletti. As sobras foram quantificadas com base nos alimentos que restaram no balcão de distribuição. Para tanto, utilizou-se a formula descrita por Abreu, Spinelli e Souza Pinto (2013): % Sobras = (total produzido – total distribuído) x 100/total produzido Para sua operacionalização, pesou-se as cubas vazias e em seguidas com as preparações prontas que foram distribuídas nos dias avaliados. Após isto, descontou-se o valor das cubas. Depois da distribuição da refeição, pesou-se os alimentos/preparações servidos e não consumidos do balcão de distribuição. Os valores obtidos foram inseridos na formula apresentada anteriormente, subtraindo-se o peso das preparações produzidas do total de alimentos restantes nas cubas, dividindo-se o resultado pelo valor total das preparações produzidas, sendo o valor final expresso em percentual, considerando percentuais adequados inferiores ou igual a 3%, segundo Vaz (2011). Para o RI, após o encerramento do horário do almoço foram pesados os restos de alimento descartados na lixeira do 353 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO refeitório pelos usuários. O índice de RI foi calculado de acordo com Abreu, Spinelli e Pinto (2013) através da formula: % RI = (Peso do rejeito x 100 / peso da refeição distribuída Em seguida, os resultados expressos em percentual foram comparados ao estipulado por Mezomo (2002), que estabelece índice inferior a 10% para indicar alimentos bem preparados e com uma apresentação agradável ao comensal. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O controle do desperdício objetiva avaliar a adequação das quantidades preparadas em relação às necessidades de consumo (sobra), porcionamento na distribuição e aceitação do cardápio (resto), podendo ainda ser explicado por uma má apresentação do prato. Embora alguns autores considerem que a unidade de alimentação deverá estabelecer um parâmetro próprio de percentual levando em consideração a margem de segurança atendida vezes o número de comensais, devendo esse percentual ser muito próximo a zero, outros estudos consideram aceitável valores entre 3% e 10% (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2013; MEZOMO, 2002; VAZ, 2011). Como o desperdício em UAN está relacionado a diversos fatores, Gandra e Gambardella (1986) afirmam que para identificar a real causa em uma determinada UAN, é necessário realizar uma avaliação que permita o cumprimento de objetivos e metas que são propostas diante de um planejamento anteriormente elaborado, sendo indispensável 354 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO em um serviço de alimentação e de maneira continua, para que se implemente ações corretivas. Na tabela 1, encontram-se os resultados obtidos nos sete dias de acompanhamento das sobras. Ao analisar os resultados, a porcentagem das SL mostrou-se alta, tendo em vista que a média obtida foi de 12,9%. De acordo com Vaz (2011) este percentual encontra-se muito além do considerado aceitável (3%) demonstrando ser um dado preocupante, uma vez que requer atenção na estimativa do per capita e no planejamento do cardápio, tendo em vista a grande quantidade de alimento produzidos que não consumidos. Tabela 1. Quantitativo de alimentos produzidos, distribuídos e de Sobras do almoço dos funcionários, Campina Grande, 2015 Dias Quant. Prod. (kg) Quant. Distr. (kg) Sobra (kg) Sobra (%) Refeições (nº) 1 75,6 61,2 14,4 19,04 191 2 94,1 79,2 14,9 15,83 174 3 90,8 79,3 11,5 12,66 199 4 78,8 67,1 11,7 14,84 116 5 77,0 66,8 10,2 13,24 188 6 72,5 69,5 3,0 4,13 101 7 74,2 66,2 8,0 10,78 94 Total 563 9489,3 73,7 90,52 1063 Md 80,43 69,9 10,53 12,93 151,86 Fonte: dados da pesquisa (2015). Os resultados obtidos neste estudo assemelham-se aos encontrados por Canonico, Pagamunici e Ruiz (2014) em um 355 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO restaurante popular no município de Maringá, PR, o qual obteve 16,13% de sobra limpa. Em avaliação realizada em uma UAN de um Centro de Educação Estadual de Guarapuava/PR, Moura, Honaiser e Bolognini (2010) encontraram valor ligeiramente inferior (10,41 %) ao deste estudo. Augustini et al. (2008) avaliaram uma UAN em Piracicaba/SP, a qual apresentou variação de porcentagem de sobra limpa do almoço entre 7,48% a 13,39%, sendo a média de 9,04%, valor este considerado menor ao deste estudo, mas dentro da faixa de limite aceitável para coletividade sadia. Ao analisar o estudo apresentado por Pikelaizen e Spinelli (2013), o mesmo demonstrou um elevado índice de sobras, com média de 28,6%, estando muito superior aos limites toleráveis, relacionando-se à baixa aceitação do cardápio. Ao se analisar o percentual de sobras obtido neste estudo, constata-se a necessidade de ajustes na estimativa dos per capitas utilizados pela Unidade e no planejamento dos cardápios. Vaz (2011) sugere estratégias para ajudar a controlar as sobras, destacando-se: planejar o número de refeições a serem servidas e a quantidade per capita dos diferentes alimentos; manter anotações do número médio de comensais diariamente e utilizar ficha técnica das preparações. Os dados da tabela 2 abaixo trazem as porcentagens relacionadas ao RI da UAN avaliada. 356 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO Tabela 2. Quantitativo de alimentos produzidos, distribuídos e do Resto Ingesta do almoço dos funcionários, Campina Grande, 2015 Dias Quant. Produzida (kg) Quant. Distribuída (kg) 1 75,6 61,2 3,5 5,71 191 2 94,1 79,2 5,0 6,31 174 3 90,8 79,3 4,8 6,05 199 4 78,8 67,1 4,5 6,70 116 5 77,0 66,8 4,2 6,28 188 6 72,5 69,5 2,0 2,87 101 7 74,2 66,2 1,5 2,26 94 RI (kg) RI (%) Refeições (n°) Total 563 489,3 25,5 36,18 1063 Md 80,43 69,9 3,64 5,17 151,86 Fonte: dados da pesquisa (2015). Podemos observar que os percentuais de RI se encontraram entre 2,26% a 6,70%, com média de 5,17%. As menores porcentagens observadas nos dias 6 e 7 decorre do menor número de comensais pelo fato de ser sábado e domingo. Nestes dias os cardápios são mais elaborados, resultando numa maior aceitação. Ao observar a média de RI dos dias avaliados, os percentuais se mostraram dentro do recomendado, com valores inferiores a 10% conforme propõe Mezomo (2002). Os resultados encontramos neste estudo para RI em coletividade sadia são semelhantes ao verificado por Augustini et al. (2008), que obteve médias no almoço de 5,83%. 357 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO Por outro lado, alto desperdício de sobras limpas denota a realização de trabalho de conscientização junto aos colaborados da unidade, visando uma reavaliação do porcionamento e padronização das quantidades. Além disso, os nutricionistas da produção devem promover melhor planejamento dos cardápios, visando adequar-se às preferências e hábitos dos usuários. Nesse sentido, torna-se necessário avaliar a média de comensais atendidos diariamente para planejar o quantitativo de ingredientes propostos na refeição do dia, utilizando-se as fichas técnicas como instrumento de apoio para este fim (TEXEIRA et al.,2010; VAZ, 2011). Apesar de um RI satisfatório, torna-se necessário a intervenção junto aos comensais, através de medidas de educação nutricional. Em estudo apresentado por Parisoto et al. (2013) em um restaurante popular localizado em santa Catarina, comprovou que após medidas de intervenção envolvendo a elaboração de fichas técnicas de preparo, educação nutricional com os comensais e capacitação em serviço, houve uma redução do desperdício, a uma média de 3,39% para o RI, se contrapondo ao índice anterior registrado de 4,77 %. Segundo Silvério e Oltramari (2014), para minimizar o desperdício nas UANs, deve-se identificar quais os fatores relacionados, tendo em vista que estes podem variar muito de acordo com a situação de cada unidade. Sendo assim, é importante implementar ações na UAN estudada para que se consiga atingir percentuais de diminuição do RI e, principalmente, das SL que se mostraram altamente desfavoráveis. 358 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO 4 CONCLUSÃO Diante do exposto, entende-se que um bom planejamento do cardápio a partir da estimativa dos per capitas e utilização de fichas técnicas minimizariam o desperdício observado na UAN. Além disso, é importante que os envolvidos na elaboração das refeições, em especial os colaboradores, tenha capacitação periódica quanto aos procedimentos técnicos-operacionais, com orientação e monitoramento das suas atividades. Visando a implementação de melhorias contínuas na qualidade do serviço, faz-se importante a avaliação dos cardápios propostos, o nível de aceitação das preparações pelos comensais e a utilização da educação nutricional para sensibilizar os usuários sobre o impacto que o desperdício pode trazer para a UAN e a sociedade. Não obstante, os resultados de RI se mantiveram dentro da faixa de aceitação, sugerindo uma boa aceitabilidade das preparações servidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição: um modo de fazer. 5. ed. p.187-190. São Paulo: Metha, 2013. AMARAL, L. B. Redução do desperdício de alimentos na produção de refeições hospitalares. 2008. 50 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Programa de Pós Graduação em Gestão Pública) faculdade IBGEN Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios, Porto Alegre, 2008. AUGUSTINI, V. C. M; KISHIMOTO, P; TESCARO, T. C; ALMEIDA, F. Q. A. Avaliação do índice de resto-ingesta e sobras em Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) de uma empresa metalúrgica na Cidade de Piracicaba/SP. Revista Simbio-Logias, v.1, n.1, 2008. 359 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS SERVIDOS A FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR A PARTIR DOS INDICADORES DE SOBRA E REJEITO CANONICO, F. S; PAGAMUNICI, L. M; RUIZ; S. P. Avaliação de sobras e resto-ingesta de um restaurante popular do município de Maringá-PR. Revista UNINGÁ Review, v.19, n. 2, p. 05-08, 2014. CONSELHO FEDERAL DOS NUTRICIONISTAS. Resolução n. 380/2005. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos de referência, por área de atuação, e dá outras providências. Disponível em: htpp://www.cfn.org.br. Acesso em: 10 jul. 2015. GANDRA, Y. R.; GANBARDELLA, A. M. D. Avaliação de serviços de nutrição e alimentação. São Paulo: Sarvier, 1986. 100p. MEZOMO, I. F. B. Os serviços de alimentação: Planejamento e Administração. São Paulo: Manole, 2002. MOURA, P. N; HONAISER, A; BOLOGNINI, M. C. M. Avaliação do índice de resto-ingesta e sobras em Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) do colégio agrícola de Guarapuava/PR. Revista Salus, v. 3, n. 1, p. 71-77, 2011. PEDRO, M. M. R; CLARO, J. A. C. S. Gestão de perdas em unidade de Restaurante Popular: um estudo de caso em São Vicente. Qualit@s Revista Eletronica, v. 9, n.1, p.1-10, 2010. TEIXEIRA, S. M. F. G; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.; BISCONTINI, T. M. B. Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. 1. ed. p.199-201. São Paulo: Atheneu, 2010. PARISOTO, D. F; HAUTRIVE, T. P; CEMBRANEL, F. M. Redução do desperdício de alimentos em um restaurante popular. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial. v. 7, n. 2, 2013. PIKELAIZEN, C; SPINELLI, M. G. N. Avaliação do desperdício de alimentos na distribuição do almoço servido para estudantes de um colégio privado em São Paulo, SP. Revista Univap, v. 19, n. 33, p.5-12, 2013. SILVÉRIO, A, G; OLTRAMARI, K. Desperdício de alimentos em Unidades de Alimentação e Nutrição brasileiras Foodwaste in BrazilianUnitsFoodandNutrition. Ambiência, v. 10, n. 1, p. 125-133, 2014. SOARES, I. C. C; SILVA, E. R. S; PRIORE, E; RIBEIRO, RC. L; PEREIRA, M. M. L. S; PINHEIRO-SANT‟ANA, H. M. Quantificação e análise do custo da sobra limpa em unidades de alimentação e nutrição de uma empresa de grande porte. Revista de Nutrição, v. 24, n.4, p. 593-604, 2011. VAZ, C. S. Restaurantes: controlando custos e aumentando lucros. 2. ed. p. 85-95. Brasília, 2011. 360 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS CAPÍTULO 24 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS Karla Thuany de Oliveira SANTOS1; Jéssica Alves dos SANTOS1; Jefferson Carneiro de BARROS2 1 Graduanda. Nutrição. Universidade Federal de Campina Grande, PB. 2 Universidade Federal de Campina Grande, Cuité, Paraíba, Brasil. [email protected] RESUMO: O desperdício de alimentos, considerado um grave problema de ordem socioeconômica, propicia grande impacto dentro de um UAN, indo desde fatores econômicos até ambientais. Objetivou-se avaliar o desperdício de vegetais em uma Unidade de Alimentação e Nutrição com base na determinação dos fatores de correção. Trata-se de um estudo transversal e quantitativo, realizado entre junho e julho de 2015 na área de pré-preparo de um hospital público municipal. Para a determinação dos fatores de correção das frutas e hortaliças foi obtido, com uso de balança de precisão, o peso bruto (PB) e líquido (PL) e realizado a comparação com os dados da literatura. Foi verificado que dentre as hortaliças investigadas, as que apresentaram maior desperdício foram à alface, tomate, coentro e cenoura e nas frutas, o abacaxi, maçã, melão e banana. O nível de desperdício verificado para estes alimentos pode ser explicado por falhas no armazenamento dos vegetais e pela falta de treinamento regular dos manipuladores de alimentos. Torna-se imprescindível monitorar o grau de desperdícios de alimentos 361 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS nas Unidades de Alimentação, assim como a elaboração de estratégias que a reduzam, como aplicação do reaproveitamento integral dos alimentos e treinamentos periódicos com os manipuladores de alimentos. Palavras-Chave: Hortifrutis. Manipulação. Perdas. 1 INTRODUÇÃO Entende-se por Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) o estabelecimento que trabalha com a produção e distribuição de alimentação para coletividades sadias ou enfermas (SCHMIDT, 2014). O objetivo da UAN é oferecer refeições saudáveis, adequadas nutricionalmente e seguras do ponto de vista higiênico-sanitário, para contribuir com a manutenção, recuperação e promoção da saúde do trabalhador que realiza suas refeições no local de trabalho e garantir a satisfação do mesmo (RICARTE et al., 2008). As UAN hospitalares são definidas como estabelecimentos localizados em ambiente hospitalar que desempenham atividades desde técnico-administrativas à manipulação, preparação, armazenamento e distribuição de alimentos e refeições, tanto para enfermos como para seus funcionários (BRASIL, 2002; WENDISCH, 2010). A UAN hospitalar objeto deste estudo é composta por uma equipe de 6 nutricionistas, 2 copeiras, 1 cozinheira, 1 auxiliar de limpeza e 2 despenseiros. A estrutura local é composta por 6 áreas, a saber: estoque de gêneros perecíveis; estoque de gêneros não perecíveis (almoxarifado); a área de processamento (pré-preparo, preparo e cocção); área de higienização dos utensílios; área de distribuição e área da administração (sala do nutricionista e área de 362 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS repouso), que serve para guarda de objetos pessoais. Todas as áreas possuem revestimento liso, impermeável e lavável. São servidos aos pacientes 6 refeições diárias (desjejum, colação, almoço, lanche, jantar e ceia) e 4 aos seus funcionários (desjejum, almoço, lanche e jantar). Entretanto, não se tem um controle efetivo no quantitativo de refeições distribuídas em decorrência da alta rotatividade de pacientes, o que traz impacto sobre a produção e controle das refeições distribuídas. Neste sentido, para um gerenciamento de uma UAN, o monitoramento do desperdício é um fator de grande relevância. O desperdício de alimentos na cadeia alimentar tem impactos econômicos, políticos, culturais e tecnológicos, que abrangem as etapas de produção, transporte, comercialização, sistema de embalagem e armazenamento. O desperdício envolve perdas que variam desde alimentos que não são utilizados, como as preparações prontas que não chegaram a serem servidas (sobras limpas), até aquelas geradas pelas sobras alimentares dos comensais (resto), que são destinadas ao lixo (CASTRO, 2002). Segundo Vaz (2006), o desperdício se mostra bastante significativo na cadeia produtiva de alimentos, o que demonstra falta de comprometimento dos funcionários da UAN com a sua cidadania, pois o desperdício também parte de quem produz a refeição, a qual é mensurada através do fator de correção e o índice de sobras; e também pelos seus usuários/consumidores, a partir da quantificação do índice de resto-ingesta. Desta forma, torna-se imprescindível o monitoramento do desperdício, em especial durante a etapa de pré-preparo 363 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS dos alimentos. Tendo grande relevância para este caso o fator de correção, cujo índice é determinado pela relação entre o peso bruto (alimento in natura) e o peso líquido (alimento depois de limpo e preparado para utilização), com obtenção do percentual de perda dos alimentos (KIMURA, 1998). Tendo em vista que o ser humano necessita diariamente de uma alimentação variada, rica em nutrientes e saudáveis do ponto de vista sanitários, foi demonstrado que isto pode ser alcançado com partes de alimentos que geralmente são desprezados como: talos, folhas, cascas, sementes e, com isto, obter um ter aproveitamento integral dos alimentos, diminuindo os gastos com a aquisição de gêneros alimentícios e melhorando-se a qualidade nutricional da alimentação servida, de forma a reduzir o desperdício de alimentos e criar novas receitas (sucos, bolos, geléias, dentre outros) (HARDISON et al., 2001), contribuindo tanto para a preservação ambiental, como para diminuir o impacto sobre as questões socioeconômicas da Unidade (GONDIM et al., 2005). Diante do exposto torna-se imprescindível monitorar o grau de desperdício em unidades de alimentação, visando criar estratégias que viabilizem sua redução. Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar o grau de desperdício de vegetais (frutas e hortaliças) em uma Unidade de Alimentação com base nos fatores de correção adotados. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi realizado em uma Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar pública do interior da Paraíba, compreendendo os meses de junho e julho de 2015. 364 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS A coleta de dados foi feita nas terças e sexta- feiras, coincidindo com os dias de recebimento de frutas e hortaliças pelo serviço. Foram avaliados 19 hortifrútis, sendo 13 hortaliças (chuchu, cenoura, pimentão, tomate, alho, batata inglesa, cebola, coentro, alface, macaxeira, inhame, couve e beterraba) e 6 frutas (abacaxi, maçã, melão,mamão, laranja e banana). As frutas e hortaliças foram pesadas antes e após a sua manipulação para obtenção do peso bruto (PB) e peso líquido (PL), respectivamente, sendo utilizada para isto uma balança manual de precisão, capacidade até 4 Kg para se calcular os fatores de correção (FC) das frutas e hortaliças. Para determinação do FC, foi utilizada a fórmula preconizada por Araújo et al. (2007), que consiste no cálculo da relação entre o peso do alimento como foi adquirido (peso bruto) e o peso das partes que serão descartadas, alcançando-se o peso do alimento após a limpeza (peso líquido (PL), resultando na seguinte expressão: FC = PB/ PL. Os dados foram coletados triplicata e calculados seus valores médios. Esse procedimento foi feito para cada tipo de vegetal utilizado durante todo o período de coleta de dados (RICARTE et al., 2008). Os valores de fator de correção das frutas e hortaliças avaliadas foram comparados com os fatores de correção da literatura, para observar o índice de desperdício. 365 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O presente estudo mostra o peso bruto obtido das frutas e hortaliças e sua média antes da manipulação dos hortifrútis, assim como o peso líquido de cada uma delas, após a limpeza e retirada das cascas (Tabela 1). Tabela 1: Peso bruto (PB) e líquido (PL) de frutas e hortaliças e observadas em uma Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar Hortaliças / Frutas Peso em g Chuchu PB 1 441 PB 2 442 PB 3 440 441 PL 1 327 PL 2 328 PL 3 328 Cenoura 351 352 351 351,33 281 279 279 279,67 Pimentão 111 112 Alho 35 34 111 111,33 91 91 89 90,33 36 35 33 33 33 33 Batata 243 Cebola 71 240 242 241,67 201 200 201 200,6 71 70 70,67 65 65 64 64,67 Coentro Alface 242 239 238 239,67 155 155 155 155 172 171 172 171,67 92 92 91 91,67 Macaxeira 611 611 611 611 484 484 484 484 Inhame 1284 1283 1281 1282,6 1092 1092 1092 1092 197 197 174 173 175 174 163 163,33 137 134 135 135,33 1114,33 486 487 487 486,67 Md Md 327,67 Couve 198 196 Beterraba 163 164 Abacaxi 1114 1114 Maça 80 81 81 80,66 42 42g 42g 42 Banana 85 83 83 83,67 51 51 51 51 Mamão 894 895 895 894,67 623 621 621 621,67 Melão 1173 1174 1174 1173,67 945 944 944 944,33 Laranja 204 204 204 204 186 186 994 185,67 1115 Destaca-se abaixo (Tabela 2) os fatores de correção encontrados para todas as frutas e hortaliças analisadas na 366 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS unidade, bem como fatores de correção com base pela literatura. Tabela 2: Fatores de correção de hortaliças e frutas observadas em uma Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar e fatores de correção da Literatura Chuchu Fator de Correção (Unidade) 1,35 Fator de (Literatura) 1,47 Cenoura 1,26 1,17 Pimentão 1,23 1,26 Tomate 1,76 1,25 Alho 1,06 1,08 Batata Inglesa 1,20 1,06 Cebola 1,09 1,03 – 2,44 Coentro 1,55 1,10 Alface 1,87 1,09 – 1,33 Macaxeira 1,26 1,39 Inhame 1,17 1,40 Couve 1,13 1,60 – 2,22 Abacaxi 2,29 1,83 Maça 1,92 1,14 – 1,35 Beterraba 1,21 1,61 – 1,88 Banana- 1,64 1,50 Mamão 1,44 1,47 – 1,79 Melão 1,24 1,04 Laranja 1,10 1,39 – 2,13 Hortaliças/Frutas Correção Com relação às hortaliças, podemos constatar que os fatores de correção de quatro (cenoura, alface, coentro e tomate) dos 13 vegetais avaliados estão acima do valor recomendado pela literatura. Estes dados corroboram com o 367 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS estudo feito por Ricarte et al. (2008), que ao avaliar o desperdício de alimentos em um Restaurante Universitário em Fortaleza-CE, constatou que quatro dos 12 vegetais avaliados estavam acima do valor recomendado pela literatura (ORNELLAS, 2001). Entre eles encontrou-se a alface, a cenoura e o coentro. Estes autores também encontraram fatores de correção das seguintes frutas acima dos valores preconizados por Ornellas (2001): o abacaxi e o melão, semelhante ao verificado neste trabalho. Na pesquisa feita por Souza e Corrêa (2011) que tinha por objetivo determinar o índice de descarte de hortaliças através do levantamento dos fatores de correção em um Restaurante Popular no município de Várzea Grande-MT, constatou também que a alface e a cenoura apresentaram fatores de correção acima do valor recomendado, enquanto para cebola e pimentão, os valores estavam dentro do recomendado por Ornellas (2001). As hortaliças com os fatores de correção acima dos valores recomendados pela literatura geram desperdícios, pois se removem partes além do necessário gerando desperdício para a unidade. Segundo Souza e Corrêa (2011), vários motivos podem contribuir para esses descartes ocorrerem, destacando-se: mercadoria de má qualidade, acondicionamento em altas temperaturas ou manuseio errado durante o pré-preparo. Ornellas (2001) ressalta que por serem alimentos perecíveis e estragarem-se facilmente, exigem cuidados especiais, pois apresentam uma alta porcentagem de desperdício. Desta forma, influi sobre a porcentagem de perdas o tratamento que recebe as hortaliças e/ou frutas no 368 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS momento de seu pré-preparo, como por exemplo, a espessura das cascas removidas. Neste momento o papel do manipulador é de suma importância, pois deve estar consciente do seu trabalho e ser treinado e supervisionado regularmente. Ressalta ainda, a importância de todo serviço de alimentação estabelecer sua própria tabela de fator de correção de acordo com o tipo de alimento que adquire para uma maior segurança quanto à quantidade a ser adquirido, o que permite monitorar possíveis perdas no momento do seu preparo (ORNELLAS, 2001). Na otimização das técnicas envolvidas nesta etapa, deve-se levar em conta critérios econômicos. Por exemplo, deve-se tentar aproveitar ao máximo os alimentos em relação às aparas e espessuras das cascas removidas e, quando possível, aproveitar os talos e partes folhosas para outros fins, subdividindo-os ou mesmo reutilizando-os em outras preparações (RIBEIRO, 2002). Apesar de a fome ser um grave problema de ordem social no país, a cultura brasileira ainda desconhece técnicas que permitam aproveitar integralmente os alimentos, bem como sua importância, tendo vista a alta produção para frutas, verduras e legumes (MARCHETTO et al., 2008). A reutilização das sobras pode servir para elementos tanto de decoração como guarnição e, também, na alimentação alternativa, com o reaproveitamento integral de alimentos, garantido a elaboração de um prato nutritivo e de baixo custo, pois o objetivo final do cardápio para o profissional deve ser o de proporcionar saúde ao comensal (MARCOS, 2001; CARSOSO; MARQUES, 2004). 369 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS 4 CONCLUSÕES Diante do exposto, constata-se que o desperdício é um grave problema encontrado na cadeia produtiva da alimentação, sendo importante monitorar frequentemente o grau de desperdício das unidades de alimentação, assim como garantir o ambiente propício para minimizar as perdas alimentares através do treinamento e supervisão dos manipuladores de alimentos. Desta forma, a implantação de uma tabela de fatores de correção de frutas/hortaliças da própria unidade, como proposto por esta pesquisa, seria um dos subsídios para investigar o grau de desperdício, através de comparativos. Também é importante ressaltar a elaboração de estratégias que visem diminuir o desperdício, como a proposta de aproveitamento integral dos alimentos, que além de atenuar o impacto econômico que o desperdício gera, garante aos comensais uma refeição rica em nutrientes, que podem ser encontrados em partes antes descartadas (talos, cascas e aparas), contribuindo para a preservação do meio ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, W. M. C; MONTEBELLO, N. P; BOTELHO, R. B. A; BORGO, L. A. Alquimia dos alimentos. São Paulo: SENAC, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 275 de 21 de outubro de 2002. Dispõe sobre o regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores / industrializadores de alimentos e a lista de verificação. 370 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS CARDOSO, M. H; MARQUES, S. V. B. Estudo do Efeito do Tipo de Corte de Hortaliças Cruas sobre a Preferência do Consumidor. Revista Nutrição em Pauta, v. 64, n. 12, p. 48-52, 2004. CASTRO, M. H. C. A. Fatores determinantes de desperdício de alimentos no Brasil: Diagnóstico da situação. 2002. 93p. Monografia (Especialização em Gestão de Qualidade em Serviços de Alimentação) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2002 GONDIM, J. A. M; MOURA, M. F. V; DANTAS, A. S; MEDEIROS, R. L. S et al. Composição centesimal e de minerais em cascas de frutas. Ciência de Tecnologia e Alimentação, v. 25, n. 4, p. 825-827, 2005. HARDISON, A; RUBIO, C; BAEZ, A; MARTIN, M et al. Mineral composition of the banana (Musa acuminata) from the island of Tenerife. Food Chemistry, v. 73, p. 153-161, 2001. KIMURA, A. Y. Planejamento e administração de custos em restaurantes industriais. São Paulo: Fazendo Arte, 1998. MARCHETTO, A. M. P; ATAIDE, H. H; MASSON, M. L. F; PELIZER, L. H et al. Avaliação das partes desperdiçadas de alimentos do setor de hortifrutis visando seu reaproveitamento. Revista de Simbio-Logias, v. 1, n. 2, p. 1-14, 2008. MARCOS, S. K. Desenvolvimento de tomate de mesa, com o uso do método QFD (Quality Function Deployment), comercializado em um supermercado. [Tese doutorado] Campinas (SP): UNICAMP; 2001. ORNELLAS, L. H. Técnica dietética – Seleção e preparo de alimentos. 7 ed. São Paulo: Atheneu, 2001. 149p. RIBEIRO, C. S. G. R. Análise de Perdas em Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) industriais: estudo de caso em Restaurantes Industriais. 2003. 145p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. RICARTE, M. P. R; MOURA FÉ, A. B; SANTOS, I. H. V. S; LOPES, A. K. M. Avaliação do desperdício de alimentos em uma unidade de alimentação e nutrição institucional em Fortaleza-Ce. Saber Científico, v. 1 n. 1 p. 158175, 2008. SCHMIDT, V. Análise do Índice de Resto-Ingesta em uma Unidade de Alimentação e Nutrição do Noroeste do Estado do RS.2014.20f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Nutrição, do Departamento de Ciências da Vida – DC)- Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, 2014. SOUZA, A. L. T. M; CORRÊA, L. O. Determinação do Índice de Descarte de Hortaliças do Restaurante Popular do Município da Várzea Grande-MT. UNICiências, v. 15, n.1, p. 185-200, 2011. 371 AVALIAÇÃO DO DESPERDÍCIO DE VEGETAIS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM BASE NO FATOR DE CORREÇÃO DE ALIMENTOS VAZ, C. S. Alimentação de Coletividade – Uma Abordagem Gerencial. 2. ed. Brasília: 2003. WENDISCH, C. Avaliação da Qualidade de Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) Hospitalares: Construção de um Instrumento. 2010. 133f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2010. 372 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA CAPÍTULO 25 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA Stevam Gabriel ALVES1 Afonso Feitosa REIS NETO² ¹ Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPE. [email protected] ² Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPE. [email protected] RESUMO: No Nordeste brasileiro, a utilização de plantas e animais para finalidade terapêutica é uma prática tradicional que se perpetua entre gerações. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo realizar um levantamento de espécies de plantas e animais utilizadas para fins terapêuticos por agricultores residentes no municípios de Poço Redondo, localizado no Semiárido sergipano Sergipano. O procedimento metodológico utilizado na pesquisa foi a listagem livre para o levantamento das espécies e seus respectivos usos. Como resultado, foram levantadas 19 espécies de flora e 8 espécies de fauna, utilizadas para tratamento de várias doenças. Em conclusão, foi constatado que a cultura expressada na utilização das plantas e animais para fim terapêutico traz a lume a importância do reconhecimento dos saberes tradicionais do sertanejo. Palavras-chave: Saúde Ambiental. População Tradicional. Biodiversidade. 373 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA 1. INTRODUÇÃO Devido ao movimento de expansão humana pelo semiárido nordestino, grande parte do sertão foi ocupada e fragmentada por estradas abertas para o deslocamento das boiadas assentadas, todos eles nos locais de água permanente e de boa pastagem. A expansão deste povo criador de animais pelo interior do Nordeste fez surgir uma nova categoria de população tradicional não indígena, denominado sertanejo, sendo este, toda e qualquer pessoa que possui convivência com o semiárido (DIEGUES et.al, 1999). O Sertanejo é considerado uma população tradicional, definida por Little (2005) como: “Populações que fazem uso sustentável da terra, pelo destino da sua produção e o seu vínculo territorial, incluindo sua situação fundiária, pela importância que os ciclos naturais têm nas suas práticas produtivas, pelo uso que fazem dos recursos renováveis e as práticas de uso comunitário dos mesmos, pelo seu conhecimento profundo do ecossistema no qual vivem e pelo uso de tecnologias de baixo impacto ambiental, por sua organização social, na qual a família extensa representa papel importante, também por suas expressões culturais e as inter-relações com outros grupos da região” (LITTLE, 2005). Ao longo de séculos, essa população descobriu e aprendeu a utilizar recursos naturais de origem vegetal e animal, nativos do semiárido para fins de cura humana (DIEGUES et.al, 1999). A partir disto, o presente estudo está 374 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA baseado em um ramo da etnociência denominado etnoecologia, que tem como enfoque a interação do homem com as plantas (etnobotânica) e animais (etnozoologia). Tanto a etnobotânica quanto a etnozoologia são constituídas por meio de conceitos teóricos metodológicos vindo das ciências humanas, sociais, exatas e naturais (CRUELLS et.al., 2010). Segundo Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), a etnobotânica compreende basicamente o estudo das sociedades, passadas e presentes e suas interações ecológicas, genéticas e evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas, podendo reunir informações importantes para o desenvolvimento de novas formas de exploração dos ecossistemas. Ao se tratar de um estudo etnobotânico, as plantas medicinais acabam ganhando destaque. Em praticamente todas as regiões do mundo, as pessoas tem algum conhecimento ou utilizam as mais variadas formas plantas com finalidade terapêutica evidenciandouma estreita relação entre a etnobotânica e a saúde, afinal o bem estar pessoal e coletivo dessas comunidades depende dos conhecimentos que se tem sobre recursos de origem vegetal e dos usos que se fazem desses recursos (HAVERROTH, 2013). A etnozoologia busca compreender como os mais variados povos percebem e interagem com os recursos faunísticos ao longo da história humana. Segundo Alves & Souto (2010), a etnozoologia é um estudo transdisciplinar dos pensamentos, percepções, sentimentos e comportamentos que intermediam as relações entre as populações humanas com as espécies de animais dos ecossistemas que as incluem. 375 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA Devido a grande parte do território brasileiro possuir áreas predominantemente rurais, a agricultura familiar apresenta algumas vantagens para as práticas da medicina alternativa1 tais como: disponibilidade de terra para o cultivo de plantas medicinais, a detenção de conhecimentos tradicionais, as práticas agroecológicas e a experiência acumulada na relação com a biodiversidade. A valorização da medicina alternativa deve-se, também, a seus méritos próprios. Tal valorização é reconhecida internacionalmente na saúde pública e no Brasil está sendo incentivada pela atual Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (TESSER & BARROS, 2008). Dentro desse mesmo contexto, a valorização da utilização das plantas medicinais está respaldada pela Política Nacional de Plantas Medicinal e Fitoterápicos, além dos estudos de diversas instituições como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que comprovam a eficácia dos medicamentos advindos das plantas (BRASIL, 2006). Dessa forma, a medicina alternativatorna-se uma opção frente à medicina moderna que tem como uma de suas vertentes o uso de plantas para fins terapêuticos. Nesse sentido, através das informações obtidas, o estudo realizou um levantamento das espécies vegetais e animais que 1 A medicinal alternativa pode ser definida como um grupo de sistemas médicos e de cuidado à saúde, práticas e produtos que não são presentemente considerados parte da biomedicina (TESSER & BARROS, 2008). 376 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA possuem fins terapêuticos, em uma comunidade tradicional no semiárido sergipano. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A elaboração da presente pesquisa teve como área de estudo a comunidade: II) Garrote do Emiliano no município de Poço Redondo (Figura 1). Figura 1. Localização da Área de Estudo. Fonte: Adaptado de Silva et.al., (2013). O registro das informações foi feita através de anotações e gravações de áudio realizadas pelos autores. Os entrevistados foram sugeridos pelo MPA – Movimento de Pequenos Agricultores da região, que desenvolvem e acompanham os projetos, práticas e experiências com os agricultores, sendo um de cada comunidade.Após a coleta dos dados em campo, realizou-se o tratamento destes, com base em artigos científicos, dissertações, teses, sites especializados em plantas medicinais e livros. 377 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA O procedimento metodológico utilizado com os agricultores para o levantamento das espécies de plantas e animais com finalidade terapêutica foi a listagem livre (free listening), no qual cada informante foi estimulado a nomear espécies utilizadas para o tratamento de determinadas doenças. A listagem livre segundo Quilan (2005) é considerada um método de obtenção de dados na medida em que relaciona às fronteiras de domínios culturais, partindo do pressuposto que quando as pessoas listam livremente, tendem a citar os termos em ordem de familiaridade. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No total, foram levantadas 19 espécies de plantas e 8 de animais com finalidade medicinal na comunidades visitada. Todas as espécies citadas e seus respectivos usos terapêuticos foram mencionados pelos entrevistados. 3.1 O Decréscimo da Utilização de Animais para fins Medicinais Na presente pesquisa foi observado a utilização de animais para fins medicinais, porém representada por menor número de espécies quando comparada com espécies vegetais. Destaca-se a atividade da apicultura através da espécie da Apis melífera (abelha Europa), que também representa uma das principais fontes de renda das famílias. Um dos argumentos que sustenta a pouca utilização dos animais com fins terapêuticos é a diminuição da população destes, sendo justificada principalmente pelo processo de degradação da Caatinga, visto que, este problema está inserido num campo onde ambiente e sociedade vivem uma 378 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA realidade conflitante, envolvendo cultura e tradição, ambientes vulneráveis, população com renda per capita muito baixa, espécies ameaçadas e o interesse coletivo de conservação da biodiversidade (MARQUES et al., 2010). 3.2Identificação e Utilização de Plantas com Finalidade Terapêutica As famílias que só foram representadas por uma planta são em sua maioria típicas da caatinga, o que mostra que tal bioma é riquíssimo em termos de diversidade vegetal e ainda pouco explorado. De acordo com Albuquerque et.al. (2010), existem na Caatinga cerca de 400 espécies utilizadas medicinalmente para os mais diferentes problemas de saúde. Porém, na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), apenas 62 espécies são reconhecidas para fins medicinais. Dessa forma, podem ser apontadas duas constatações: a primeira é que essas plantas no semiárido nordestino desempenham uma função muito importante, pois, em muitos lugares, são a única forma existente de preparar um remédio para se melhorar de alguma doença ou para diminuir os sintomas que ela causa, visto que, muitas vezes, o acesso a médicos e a postos de saúde não existe, e, quando existe, estes ficam muito distantes das vilas, dos sítios e das fazendas onde algumas pessoas moram. Por outro lado, estas plantas do bioma Caatinga devem ser melhor estudadas pela comunidade científica nacional, o que ressalta a importância da catalogação das espécies e identificação de seus efeitos, propriedades e utilizações. A maior destinação dos usos das espécies citadas foram indicadas e/ou utilizados para doenças relacionadas ao sistema digestivo, cicatrizantes, antibióticos, analgésicos, 379 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA problemas respiratórios e sistema urinário, respectivamente. As afirmações de Mahopatra et. al., (1989) e Amorozo (2002), corroboram com esse pensamento, visto que, resultados semelhantes têm sido apontados em outros locais, tanto no Brasil, quanto em outros paises. Tais doenças podem estar diretamente relacionadas com o saneamento básico quase que inexistente nas comunidades e com a precariedade de sua infraestrutura, deixando tais populações susceptíveis a incidência de verminoses, contaminações alimentares e outros males comuns em zonas rurais (MAHOPATRA et. al., 1989). A relevância da Mata branca2 se faz ainda mais importante quando verificada a íntima ligação entre suas espécies e a utilização para fins medicinais. Essa relação é nítida na comunidade Garrote do Emiliano, visto que o entrevistado, em seu relato, afirmou que buscava as espécies que necessitava para o tratamento de determinadas enfermidades numa área preservada de Caatinga. Isso mostra a importância da etnoconservação dessas áreas naturais, que aliadas ao conhecimento tradicional, estimulam a utilização das plantas medicinais. Outro motivo que impulsiona os moradores ao usarem as plantas é a distância da comunidade ao acesso aos medicamentos, visto que, o centro médico e as farmácias estão longe da comunidade. Almeida e Bandeira (2010), constataram que as comunidades quilombolas do Raso da Catarina, na parte norte da Bahia, próximo a Sergipe, também fazem uso das plantas, principalmente com uso medicinal, e que estes possuem áreas de conservação da diversidade da biota. 2 Significado etimológico da palavra caatinga. 380 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA A seguir, apresentamos o levantamento das espécies de plantas e animais identificadas na comunidade Garrote do Emiliano (Tabela, 1). Tabela 1. Relação de plantas e animais com fins medicinais na comunidade Garrote do Emiliano. Nome Popular Nome Científico Família Araticunzeiro Annona crassiflora Mart. Annonaceae Myracrodruon urundeuva Allemão Anacardiaceae Folha (Chá)/ Inalação da Fumaça Sabonete para caspa /Infecção/ Sinosite Catingueira Caesalpinia pyramidalis Tul. Caesalpinaceae Folha (Chá) Dor de Barriga Goiabeira Psidium guajava L. Myrtaceae Folha (Chá) Dor de Barriga Graviola Annona muricata L. Graviola Folha (CHÁ) Diabetes Juazeiro Ziziphus joazeiro Mart Rhamnaceae Casca (Creme) Higienização Bucal Mimosa arenosa (Willd.) Poir. Mimosaceae Casca (Chá) Analgésico para dor de dente Aroeira Sertão Jurema Vermelha do – Parte Planta da Raiz Finalidade de uso Mordida de Cobra (Sumo) 381 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA Limão Siciliano Citrus limon (L.) Burm. f. Rutaceae Folha (CHÁ) / Casca da fruta (Chá) Intestino / Dor de cabeça Mandacaru Cereus jamacaru DC. Cactaceae Caule + cupim preto (Lambedo) Tosse/Pneumonia Manjericão cheiroso Ocimum basilicum var. anisatum L. Lamiaceae Folha (CHÁ) Expectorante Mata Pasto Chromolaena maximilianii (Schrad. ex DC.) Asteraceae Folha (Sumo) Ferida de (crianças) Pereiro Aspidosperma pyrifolium Mart. Apocynaceae Folha (Sumo) Má-digestão (provoca regurgitação) Pinheira Annona squamosa L. Annonaceae Folha (Chá) Pressão Quipá Tacinga inamoena (K.Schum.) Cactaceae Raiz (Chá) Diarreia Quixabeira Sideroxylon obtusifolium Sapotaceae Casca (Chá) / Folha (Sumo) Desinfecção Desinchaço muscular Sapindaceae Pecíolo (Seiva) Micose de Pele Tingui (Roem. & Schult.) Magonia pubescens A. boca 382 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA St Umburana ou cambão Commiphora leptophloeos (Mart.) Burseraceae Casca (Chá) Dor de Barriga Umbuzeiro Spondias tuberosa Arruda Anacardiaceae Flor (Chá) Batata Febre Infecção Urtiga Urtica dioica L. Urticaceae Raiz (Chá) Diarreia Abelha Europa Apis mellifera L. Apidae Mel Ferimentos Boi Bos tauros L. Bovidae Chifre (Queima) Insônia/Problemas Estomacais/Relaxam ento/ Febre Camaleão Chamaeleo chamaeleon L. Chamaeleonida e Banha Ferimentos animais Carneiro Ovis Áries L. Caprinae Sebo (in natura) Dor nas articulações Galinha Gallus gallus domesticus L. Phasianidae Polivitamínico Jibóia Boa constrictor L. Boidae Casca do ovo + semente de abóbora + folha da macaxeira Banha Sapo Bufo Gray Bufonidae Banha Retirar espinho dos animais spp. Ferimentos animais nos nos 383 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA Tatu-peba Euphractus sexcinctus L. Dasypodide Banha Ferimentos animais nos O conhecimento da identificação e o uso das mais diversas espécies foram adquiridos pelos entrevistados por meio de seus antepassados através de um processo educativo designado de endoculturação ou socialização (THOMPSON, 1992; VIERTLER, 1988). Este processo de endoculturação, na medida em que se vale também da linguagem falada, permite que o imaturo possa beneficiar-se das experiências dos maduros sem que tenha a necessidade de revivê-las por conta própria. Com isto, cria-se um processo cumulativo de enriquecimento de estratégias e soluções culturais de uma para outra geração, designado de dinâmica cultural (VIERTLER, 1988). 4. CONCLUSÕES A partir do estudo da etnobotânica e etnozoologia no semiárido Sergipano na comunidade Povoado Garrote do Emiliano, proporcionou a constatação das visões cosmológicas (cosmos), prática (práxis) e experimentação (corpus) que se apresentam nas relações entre homem-meio ambiente e sua simbiose. Ademais, foi possível constatar que a cultura expressada na utilização das plantas com fins de tratamentos, traz a lume a importância do reconhecimento desses saberes. A efetividade terapêutica de algumas plantas pesquisadas precisam ser avaliadas para sua utilização em programas de assistência médica primária da comunidade 384 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA pesquisada, uma vez que, muitas das espécies levantadas tem uso regular pelos pessoas entrevistados. Como proposto, o estudo traz em seu bojo o levantamento e a identificação de 19 espécies de plantas e 8 espécies de animais utilizadas com fins terapêuticos na área de estudo definidas pelas populações tradicionais. Nota-se que, em áreas onde a Caatinga encontra-se num certo estágio de preservação, o número de organismos identificados tende a aumentar. Dessa forma, a manutenção do bioma mostrou-se fundamental para continuidade e perpetuação dos conhecimentos da medicina alternativa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, U. P. de. et. al.Núcleo de Publicações em Ecologia e Etnobotânica Aplicada. Caatinga: biodiversidade e qualidade de vida. Bauru, SP: canal6, 2010. Disponível em: http://www.etnobotanicaaplicada.com.br/pt/livros/Caatinga_Biodiversidade_ Qualidade_de_Vida.pdf. Acesso em 14/11/2014. ALMEIDA, V. S.; BANDEIRA, F.P.S.F. O significado cultural do uso de plantas da caatinga pelos quilombolas do Raso da Catarina, município de Jeremoabo, Bahia, Brasil. Rodriguesia 61(2): 195-209. 2010. ALVES, R. R. N.; SOUTO, W.M.S. Etnozoologia: Conceitos, considerações históricas e importância. In: ALVES, R.R.N., SOUTO, W.M.S., MOURÃO, J.S (eds.), A Etnozoologia no Brasil: importância, status atual e perspectivas. NUPEEA, Recife. 2010. AMOROZO, M. C. M. A perspectiva etnobotânica na conservação de biodiversidade. In: Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo, XIV, Rio Claro: UNESP, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 60 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_arquivos_64/Pol% 385 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA C3%ADtica_Nacional_de_Plantas_Medicinais_e_Fitoter%C3%A1picos.pdf >. Acesso em: 15/06/2015. CRUELLS, G. M. et. al. Contemporary Challenges of Ethnobotany, In: "Ethnobotany". Paulino de Alburquerque, U. Y Hanazaki, N. (Comps.) Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia. 2010. DIEGUES, A. C., ARRUDA, R. S. V., SILVA, V. C. F., FIGOLS, F. A. B. & ANDRADE, D. Biodiversidade e Comunidades Tradicionais no Brasil. Ministério do Meio Ambiente / Universidade de São Paulo - NUPAUB. São Paulo. 1999. FONSECA-KRUEL, V.S.; PEIXOTO, A.L. Etnobotânica na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, Rj, Brasil. Acta Botânica Brasílica, porto Alegre, v.18, n.1, p.177-90, 2004. Disponível em: <http://www.researchgate.net/publication/265049213_FonsecaKruel_V.S._ Peixoto_A.L._2004._Etnobotnica_na_Reserva_Extrativista_Marinha_de_Ar raial_do_Cabo_Rio_de_Janeiro_Brazil._Acta_Botanica_Brasilica_18(1)_17 7-190>. Acesso em 15/06/2015. HAVERROTH, M. Etnobiologia e Saúde de Povos Indígenas / Moacir Haverroth (org). Recife, PE: NUPEEA, 2013. LITTLE, P. E. I Encontro Nacional de Populações Tradicionais: uma experiência na formulação de políticas públicas no Brasil. DF. 2005. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/sobreoministerio/orgaoscolegiados/orgaosemdesta que/cnpct/arquivos/relatorios/PDF%20%20I%20Encontro%20Nacional%20 de%20Comunidades%20Tradicionais.pdf/view>. Acesso em: 01/04/2015 MARQUES, J. B.; BARBOSA, M. R. V.; AGRA, M. F. Efeitos do comércio para fins medicinais sobre o manejo e a conservação de três espécies ameaçadas de extinção, em duas áreas do cariri oriental paraibano. In: GARIGLIO, M. A.; SAMPAIO, E. V. S. B.; CESTARO, L. A.; KAGEYAMA, P.Y. Uso sustentável e conservação dos recursos florestais da caatinga. Brasília: Serviço Florestal Brasileiro, 2010. MOHAPATRA, S. C.; MOHAPATRA, P.; SINGH, I. J.; GAUR, S. D. Epidemiology of gastro-intestinal and respiratory tract diseases in rural áreas of varanasi (India). European Journal of Epidemiology, v. 5, n.1. 1989. QUINLAN M. Considerations for collectingfreelists in thefield: Examples from ethnobotany. Field Meth 17: 1-16. 2005. SILVA, A. C. da C. et.al. Aspectos de ecologia de paisagem e ameaças à biodiversidade em uma unidade de conservação na Caatinga, em Sergipe. In:Rev. Árvore vol.37 no.3 Viçosa May/June 2013. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010067622013000300011&script=sci_arttext>. Acesso em: 23/06/2015. 386 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS COM FINALIDADE FITOTERÁPICA NO BIOMA CAATINGA TESSER, C. D.; BARROS, N. F.Medicalização Social e Medicina Alternativa e Complementar: Pluralização Terapêutica do Sistema Único de Saúde. Rev. SaúdePública, São Paulo, v.42, n.5, Out. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102008000500018> Acesso em: 17 de Agosto 2014. THOMPSON, P. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. P. 385 VIERTLER, R. B. Ecologia cultural: uma antropologia da mudança. São Paulo: Ática, 1988. 61 p. 387 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO CAPÍTULO 26 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO Séfura Maria Assis MOURA1 Renata Chastinet BRAGA2 Jéssica Roberta Pereira MARTINS3 Rayanne Mara Maia das CHAGAS4 1 Professora do IFCE-Campus Limoeiro do Norte/ [email protected]; Professora do IFCE-Campus Limoeiro do Norte/ [email protected]; 3 Aluna do Curso Técnico em Meio Ambiente do IFCE-Campus Limoeiro do Norte/ [email protected]; 4 Aluna do Curso de Tecnologia de Alimentos do IFCE-Campus Limoeiro do Norte/ [email protected] 2 RESUMO: A aquicultura brasileira cresce significativamente. Como destaque, a produção de tilápia, cultivada especialmente no nordeste brasileiro, é considerada principal recurso pesqueiro de água doce. Para o beneficiamento do pescado, as indústrias geram resíduos ricos em compostos orgânicos e inorgânicos. Assim, este trabalho teve como objetivo estudar o aproveitamento do resíduo do beneficiamento do peixe tilápia do Nilo, produzido no açude Castanhão, através da extração e caracterização do óleo. Utilizou-se a metodologia de cocção por contato direto para a extração do óleo da cabeça e das vísceras do peixe, obtendose um rendimento de 1,85% e 36,39%, respectivamente. Determinou-se os parâmetros físico-químicos do óleo, a partir das Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz, obtendo-se os seguintes resultados: óleo da cabeça- índice de acidez= 388 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO 1,31mg de NaOH/g e acidez em ácido oléico= 0,66%; óleo das vísceras- índice de acidez= 31,78mg de NaOH/g, acidez em ácido oléico= 15,96%, índice de saponificação= 171,97meq/g e índice de peróxido= 0,84meq/1000g. Em relação a acidez, o óleo da cabeça encontrou-se dentro dos padrõespara óleo bruto de peixes. O óleo das vísceras, em relação aos parâmetros físico-químicos avaliados,não se enquadrou dentro dos referidos padrões, podendo a forma de extração ter influência nesse resultado. Palavras-chave: Pescado, Subprodutos, Sustentabilidade 1 INTRODUÇÃO Com 12% da água doce disponível do planeta e um litoral de mais de oito mil quilômetros, o Brasil possui um enorme potencial para a aquicultura (BRASIL, 2014a). Em levantamento estatístico divulgado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura em 2010, essa atividade apresentou acentuado crescimento nos últimos anos, com um aumento de 35% em menos de uma década. Vale ressaltar que o crescimento da piscicultura chegou a 60,2%, entre 2007 e 2009 (BRASIL, 2014b). A produção de tilápia contribuiu significativamente para o crescimento do setor. E, segundo Figueiredo (2008), desde 2004 o Ceará consolidou sua liderança como produtor de tilápia, ao produzir 6.000 toneladas a mais que o Paraná. Apesar da incidência de seca, que já perdura por quatro anos no semiárido brasileiro, o açude Castanhão – o maior reservatório construído pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) para usos múltiplos – situado sobre o leito do rio Jaguaribe, no estado do Ceará, apresentou uma relevante produção do peixe em 2014. No período, foram 389 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO produzidos e pescados quase 13.000 toneladas (DNOCS, 2014). Assim como a produção, o consumo de pescado está em alta no mundo inteiro, visto que, o peixe é um alimento saudável e cada vez mais procurado pela população em todas as faixas de renda. O brasileiro consome hoje cerca de 9kg de pescado por ano, o que ainda é inferior ao que recomenda a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que é de 12kg por pessoa, mas, o consumo interno continua a crescer (BRASIL, 2014a). No processo de beneficiamento do pescado, primeiramente os peixes são selecionados por tamanho, sendo então lavados e submetidos a congelamento. Após este processo inicial, os peixes são comercializados inteiros, eviscerados com cabeça ou fracionados em filés ou lâminas. Os resíduos gerados (cabeça, vísceras, nadadeira, cauda, coluna vertebral, barbatana, escamas e restos de carne) podem representar mais de 50% da matéria-prima utilizada, variando conforme as espécies e o processamento(FELTES et al., 2010). No caso da tilápia, cujo principal produto para comercialização é o filé, o seu aproveitamento fica entre 30 e 36% do peso total do animal, ou seja, uma relação de 2:1 resíduos/subprodutos contra filé (FERNANDES et al, 2011). Por apresentarem uma composição rica em compostos orgânicos e inorgânicos, a disposição dos resíduosde pescado diretamente no meio ambiente pode gerar fortes impactos negativos (FELTES et al, 2010). Se não controlado de forma correta, o processo físicoquímico de decomposição dos resíduos orgânicosirá produzir líquidos percolados (chorume), que contaminam os veios hídricos e cursos d‟água quando infiltrados no solo. E, a 390 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO decomposição anaeróbica das frações orgânicas dos resíduos, lança no ar compostos poluentes e gases de amônia, enxofre, gás carbônico, dentre outros (SOARES et al, 2007). Dentre as possibilidades para o aproveitamento dos resíduos do beneficiamento do pescado, a farinha de peixe,utilizada para a alimentação animal, constituída por cerca de 70% de proteína, é atualmente a principal alternativa.Porém, de acordo com Arruda (2006), apesar de ser amplamente produzida, a farinha obtida pelo método tradicional geralmente apresenta baixa qualidade. A silagem, produto líquido obtido a partir da adição de ácidos, enzimas ou bactérias produtoras de ácido láctico ao pescado inteiro ou em partes, está entre as alternativas economicamente mais vantajosas. Mas, outros subprodutos, tais como, linguiças, fishburguers, caldos e iscas de peixe, adubos orgânicos, assim como produtos artesanais também podem ser originados a partir dos resíduos pesqueiros (PIMENTA et al, 2008; SEBRAE, 2010). Dias (2009) destaca o óleo de peixe como importante forma de aproveitamento de peixes descartados e resíduos do processamento, citando a indústria do biodiesel como uma boa opção de mercado para a utilização desse óleo. Para as indústrias alimentícias e farmacêuticas, os óleos de peixes também são de grande interesse, tendo muitas pesquisas direcionadas para fabricação de suplementos alimentares e concentrados com ômega-3, ácidos graxos poliinsaturados, que promovem a redução da concentração de colesterol LDL no sangue, e consequentemente previne doenças cardiovasculares. 391 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO A destinação correta dos resíduos da pesca, bem como o aproveitamento integral do pescado, figuram atualmente entre os principais desafios de suas cadeias produtivas. O setor deve dispor de alternativas para o gerenciamento desses resíduos, garantindo a diversificação da linha de produtos, a sustentabilidade das suas atividades e principalmente a responsabilidade sócio-ambiental. Fazendo parte de um Instituto Acadêmico, inserido na microregião que engloba o açude Castanhão, procurou-se desenvolver uma pesquisa que pudesse contribuir para a destinação adequada dos resíduos gerados durante o beneficiamento da tilápia, retirando do meio ambiente estas fontes poluidoras do solo e dos recursos hídricos, além de alterar hábitos rotineiros dos produtores que hoje exercem a atividade. Outro aspecto motivador foi possibilitar a melhoria do déficit de emprego e renda da população próxima ao reservatório. Diante do exposto, esse trabalho teve como objetivo estudar o aproveitamento de resíduos (cabeça e vísceras) do peixe tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.), produzido no açude Castanhão, através da extração e caracterização do óleo, visando agregar valor aos resíduos gerados da indústria de pesca. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO E OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS 392 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO A pesquisa foi realizada no Laboratório de Química de Alimentos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus-Limoeiro do Norte. As amostras de cabeças e vísceras do peixe tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.), fornecidas pela Aplages (Associação dos Produtores e Processadores de Peixes de Jaguaribara e Lages), situada próximo ao açude Castanhão, foram armazenadas em caixas de isopor com gelo para preservação até a chegada ao Laboratório, e congeladas, para posterior análise. 2.2 METODOLOGIA DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO A extração do óleo (cocção por contato direto) foi baseada no método descrito por Guerra e Onã (2009, apud SEGURA, 2012), com modificações. O processamento hidrotérmico da gordura, realizado em banho-maria à temperatura de 60-65°C foi realizado por 1 hora e 30 minutos para as cabeças, e em diferentes intervalos de tempo para as vísceras. Em seguida, o óleo foi retirado e colocado em funil de decantação para separação de partículas sólidas. O tempo de decantação foi de aproximadamente 2 horas. Para uma melhor qualidade do óleo bruto de pescado, este foi acondicionado em frasco plástico de coloração escura, sendo armazenado sob refrigeração de no mínimo -10°C. 2.3ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS A determinação dos parâmetros físico-químicos do óleo foi realizada segundo os Métodos de Análise de Alimentos do Instituto Adolfo Lutz (2008), sendo cada parâmetro realizado em triplicata. 393 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO 2.3.1ÍNDICE DE ACIDEZ Pesou-se 2 g da amostra em frasco erlenmeyer de 125 mL. Adicionou-se 25 mL de solução de éter-álcool (2:1) neutra e duas gotas do indicador fenolftaleína. Titulou-se com solução de hidróxido de sódio 0,1M até o aparecimento da coloração rósea. ÍndicedeAcidez= V × f × 5,61 P Acidez em ácido oléico = V × f × M x 28,2, onde: P V = n.° demLdesoluçãodehidróxidodesódio 0,1Mgasto natitulação f= fatordecorreçãodasoluçãodehidróxidodesódio 0,1M P= númerodegdaamostra 2.3.2 ÍNDICE DE PERÓXIDO Pesou-se aproximadamente 5 g da amostra em um frasco erlenmeyer de 250 mL. Adicionou-se 30 mL da solução acido acético-clorofórmio 3:2 e agitou-se até a dissolução da amostra. Adicionou-se 0,5 mL da solução saturada de KI e deixou-se em repouso ao abrigo da luz por exatamente um minuto. Em seguida acrescentou-se 30 mL de água e titulouse com solução de tiossulfato de sódio 0,1N, com constante agitação. Continuou-se a titulação até que a coloração amarela tenha quase desaparecido. Adicionou-se 0,5 mL de solução de amido indicadora e continuou-se a titulação até o completo desaparecimento da coloração azul. Preparou-se uma prova em branco, nas mesmas condições e titulou-se (INSTITUTOADOLFOLUTZ, 2008). Índice de peróxido: (A-B)x N x f x 1000, onde: P 394 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO A = volume em mL da solução de tiossulfato de sódio 0,1N gasto na titulação daamostra B = volume em mL da solução de tiossulfato de sódio 0,1N gasto na titulação dobranco N = normalidade da solução de tiossulfato de sódio f = fator da solução de tiossulfato de sódio. P = número de g da amostra 2.3.3 ÍNDICE DE SAPONIFICAÇÃO A amostra no estado líquido foi homogeneizada e pesou-se cerca de 4 gramas. Foram adicionados 50mLdasoluçãoalcoólicadeKOHa 4% m/v. Conectouseaocondensadorderefluxoedeixouseatéacompletasaponificaçãodaamostra (aproximadamente 60minutos). Desconectou-seeapósoresfriamentoadicionouse1mLdefenolftaleínaetitulou-secomasoluçãodeácidoclorídrico 0,5 M até o desaparecimento da cor rósea. Índice de saponificação: 28,06 x f x (B-A), onde: P A=volume gasto na titulação da amostra B = volume gasto na titulação do branco f = fator da solução de HCl 0,5M P = número de g da amostra 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O rendimento do óleo extraído do peixe tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.) foi calculado pela relação entre a massa obtida do óleo e a massa da amostra. Da cabeça, obteve-se um rendimento de 1,85% e das vísceras, o 395 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO rendimento em diferentes intervalos de tempo de extração, está descrito na Tabela 1. Tabela 1: Rendimento do óleo das vísceras do peixe tilápia do Nilo extraído em diferentes intervalos de tempo. Tempo (min) Rendimento (%) 90 24,11 120 34,91 150 35,44 180 36,39 O rendimento do óleo extraído da cabeça do peixe tilápia do Nilo foi baixo (1,85%). Moreira et al (2003), ao analisar o teor de lipídios em cabeças de peixes do gênero Brycon (matrinxã, piraputanga e piracanjuba), oriundas de cativeiros e nativas, utilizando o método de Bligh e Dyer (1959),obteve resultados para lipídios totais, determinados gravimetricamente, entre 14% e 22%. Possivelmente, a extração do óleo da cabeça com solvente é mais eficiente. Em relação ao óleo extraído das vísceras, o rendimento alcançado de até 36,39% é considerado satisfatório, observando-se que após 2 horas de aquecimento, o aumento da extração foi relativamente pequeno. Segundo Santos (2010), as vísceras contém de 35% a 45% de óleo. Segura (2012) observou diferença significativa entre os rendimentos do óleo de vísceras de três espécies de peixes de água doce, sendo que o maior rendimento obtido foi do pacu (Piaractus mesopotamicus), com 42,53%, seguido pela truta arco- 396 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO íris(Oncorhynchus mykiss), com 27,58% e o curimbatá (Prochilodus spp.), 13,75%. Os resultados obtidos do índice de acidez e da acidez em ácido oléico do óleo da cabeça do peixe tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.) foram 1,31mg de NaOH/g e 0,66%, respectivamente. Para o óleo das vísceras obteve-se 31,78 mg de NaOH/g de índice de acidez e 15,96% de acidez em ácido oléico. Na Tabela 2 constam os resultados dos parâmetros físico-químicos analisados do óleo extraído das vísceras da tilápia do Nilo, comparados com óleos brutos das vísceras de outras espécies descritas na literatura. De acordo com BellavereZanotto (2004), óleo de peixe é o produto não em decomposição, obtido pelo processamento de tecidos gordurosos pré-selecionadosde pescados. Não deve conter outras fontes de gorduras que não a de peixes, devendo ser produzido sob Boas Práticas de Fabricação. Aacidez medida como ácido oléico (%) deve ser no máximo de 2,5, o índice de peróxido no máximo 5 meq/1000g e o índicedesaponificaçãodeve estar entre 189-193. Tabela 2: Comparação dos parâmetros físico-químicos do óleo das vísceras da tilápia do Nilo com a literatura Parâmetro Óleo de Óleo tilápia do Nilo truta íris de Óleo de pacu arco Óleo curimbatá de Óleo de peixes marinhos Índice de acidez 31,78 (mg de NaOH/g) - - - 1,47 Acidez em ácido 15,96 oléico (%) 6,06 4,92 4,12 - 397 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO Índice de 171,97 saponificação (meq de KOH/g) 226,49 237,80 234,23 180,00 Índice de 0,84 peróxido (meq/1000g) 7,26 6,81 27,27 - Fonte:SEGURA (2012) e BERY et al (2012) Os resultados obtidos demonstram que a acidez em ácido oléico (%) do óleo extraído da cabeça do peixe tilápia do Nilo apresentou valor baixo, dentro dos padrões estabelecidos por Bellaver e Zanotto e pelo RIISPOA (RegulamentodaInspeçãoIndustrialeSanitáriadeProdutosdeOri gemAnimal) que regulamenta a acidez em ácido oléico de no máximo 3%. O óleo extraído das vísceras da tilápia do Nilo apresentou acidez em ácido oléico elevada, 15,96%. Ainda maior que o óleo bruto de vísceras de truta arco-íris, 6,06%, estudado por Segura (2012). Segundo o Instituto Adolfo Lutz (2008), a determinação da acidez pode fornecer um dado importante na avaliação do estado de conservação do óleo. Um processo de decomposição altera quase sempre a concentração dos íons hidrogênio, sendo a rancidez geralmente acompanhada pela formação de ácidos graxos livres. O índice de peróxidos do óleo das vísceras da tilápia do Nilo apresentou valor marcadamente baixo. Este índice é o mais usado para determinar o grau de oxidação, determinando a presença de peróxidos orgânicos formados no início da rancidez. 398 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO O índice de saponificação varia com a natureza dos ácidos graxos constituintes da gordura, apresentando-se importante para verificação do peso molecular médio da gordura e de adulteração por outros óleos com índices de saponificação bem diferentes (MORETTO; FETT, 1998). O óleo extraído das vísceras do peixe tilápia do Nilo apresentou índice de saponificação inferior a todos os óleos citados na Tabela 2, apresentando também valor menor que o descrito por Bellaver e Zanotto (2012). De acordo com Moretto e Fett (1998), grosseiramente, para as gorduras vegetais, quanto mais alto for o índice de saponificação, mais se prestam para fins alimentares. 4 CONCLUSÕES A extração do óleo dos resíduos do peixe tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.), utilizando a metodologia de cocção por contato direto foi notadamente mais eficiente para as vísceras do que para as cabeças. Porém, apesar do baixo rendimento, em relação a acidez, o óleo da cabeça encontrou-se dentro dos padrões referidos para óleo bruto de peixe. As vísceras apresentaram-se como uma fonte rica de lipídios. Entretanto, o óleo extraído não se enquadrou dentro dos padrões em relação aos parâmetros físico-químicos avaliados. Dentre outros fatores, a matéria-prima utilizada e a metodologia de extração podem interferir no rendimento e na qualidade do óleo, havendo a necessidade de estudos posteriores para a obtenção de um melhor rendimento do óleo 399 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO da cabeça e de um óleo de vísceras que se enquadre dentro dos limites exigidos. A subsequente utilização do óleo dos resíduos do peixe tilápia do Nilo deve ser avaliada e determinada em função de seu perfil lipídico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, L. F.; BORGHESI, R.; BRUM, A.; REGITANO D'ARCE, M.; OETTERER, M.; Nutritional aspects of nile tilaps (Oreochromis niloticus) silage. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 26, n. 4, p. 749-756, 2006. BELLAVER, C.; ZANOTTO, D. L. Parâmetros de qualidade em gorduras e subprodutos protéicos de origem animal: Palestra.[ 2004]. Santos/SP: Conferência APINCO. BERY, C. C. S.; NUNES, M. L.; SILVA, G. F., SANTOS, J. A. B; BERY, C. S. Estudo da viabilidade do óleo de vísceras de peixes marinhos (Seriola Dumerlii (arabaiana), Thunnus ssp (atum), Scomberomorus cavala (cavala) e Carcharrhinus spp (cação) comercializados em Aracaju-Se para a produção de biodiesel. Revista GEINTEC. São Cristóvão/SE, vol. 2, n. 3, p. 297-306, 2012. BLIGH, E.G.; DYER, W.J. Can. J. Biochem. Physiol., n. 37, 1959, 911p. BRASIL. Ministério da Pesca e Aquicultura. Potencial brasileiro. jun. 2014a. Disponível em: <www.mpa.gov.br/aquicultura/producao>. Acesso em: 24 de agosto de 2015. BRASIL. Ministério da Pesca e Aquicultura.Produção. jun. 2014b. Disponível em: <www.mpa.gov.br/aquicultura/producao>. Acesso em: 24 de agosto de 2015. BRASIL. Decreto-lei n. 30.691, de 29 de março de 1952. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). Presidência da República, Rio de Janeiro, 29 mar. 1952. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/19501969/D30691.htm>. Acesso em: 10 set. 2015. BRUM, A. A. S.; ARRUDA, L. F.; REGITANO-D´ARCE,M. A. B. Métodos de extração e qualidade da fração lipídica de matérias-primas de origem vegetal e animal. Química Nova, vol. 32, n. 4, p. 849-854, 2009. DIAS, F. P. Aproveitamento de vísceras de tilápia para produção de biodiesel. 2009. 101p. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-Ce. 2009. 400 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). Divisão de Comunicação Social. Produção de peixe no açude Castanhão é grande fonte de renda no interior do Ceará. Fortaleza-Ce, 2014. Disponível em: <http://www.dnocs.gov.br/php/comunicacao/noticias.php.> Acesso em: 24 de agosto de 2015. FELTES, M. M. C.; CORREIA, J. F. G.; BEIRÃO, L. H.; BLOCK, J. M.; NINOW, J. L.; SPILLER, V. R. Alternativas para a agregação de valor aos resíduos da industrialização de peixe. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.14, n.6, p. 669 – 677, 2010. FERNANDES, D. R. A.; NEU, D. H.; MORO, E. B.; BOSCOLO, W. R.; FEIDEN, A. Aquicultura x Meio Ambiente. In: ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA, 3, 2011, Paraná. Anais... Paraná: UTFPR, 2011. FIGUEIREDO JÚNIOR, C. A.; VALENTE JÚNIOR, A. S. Cultivo de tilápias no Brasil: origens e cenário atual. In: Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 46, 2008, Acre. Anais... Rio Branco: SOBER, 2008. FOLCH, J.; LEES, M.; STANLEY, G. H. S. J. Biol. Chem., 226, 1957,497p. GUERRA, J.; ONÃ, M. Obtención de aceite de vísceras de pescado, caracterización de los ácidos grasos presentes y su efecto em la alimentación de pollos parrilleros y trucha arco-íris. 2009. 137f. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Agropecuária). Instituto Agropecuario Superior Andino, Escuela Politécnica Del Ejército – ESPE, Sangolquí-Equador. 2009. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos Físico-Químicos para Análise de Alimentos.4ª. ed.–1ª. edição digital, São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. Disponível em: <http://www.ial.sp.gov.br/index.php?option=com_remository&Itemid=20> Acesso em: 25 de set. 2015. MORETTO, E.; FETT, R. Tecnologias de óleos e gorduras vegetais na indústria de alimentos. São Paulo: Varella, 1998. PIMENTA, M. E. S. G; FREATO, T. A.; de OLIVEIRA, G. R. Silagem de Pescado: uma forma interessante de aproveitamento de resíduos do processamento de peixes. Revista Eletrônica Nutritime. Minas Gerais, vol.5, n. 4, jul/ago, p. 592-598, 2008. SANTOS, F. F. P.; MALVEIRA, J. Q.; CRUZ, M. G. A.; FERNANDES, F. A. N. Production of biodiesel by ultrasound assisted esterification of Oreochromis niloticul oil. Fuel, v. 89, p. 275-279, 2010. SEBRAE. Diagnóstico dos Resíduos da Pesca e Aquicultura do Espírito Santo. Brasil: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, 2010. 401 APROVEITAMENTO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DO PEIXE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus L.) PARA A PRODUÇÃO DE ÓLEO SEGURA, J. G. Extração e Caracterização de Óleos de Resíduos de Peixes de Água Doce. Dissertação de Mestrado. 97f. Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, 2012. SOARES, L. G. C.; SALGUEIRO, A. A.; GAZINEU, M. H. P. Educação ambiental aplicada aos resíduos sólidos na cidade de Olinda, Pernambuco – um estudo de caso. Revista Ciências & Tecnologia. Recife, ano 1, n. 1, jul. - dez., 2007 402 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB CAPITULO 27 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB Angleib Justino Figueiredo de FREITAS1 Roberlúcia Araújo CANDEIA2 Luciano Leal de Morais SALES3 José Lucas de Souza ABREU4 Damião Junior GOMES5 1 MSc. em Sistemas Agroindustriais - PPGSA/CCTA/UFCG,Pombal-PB, [email protected] 2 Profa. D.Sc. do Centro de Ciências de Tecnologia Agroalimentar da UFCG, Pombal-PB, [email protected] 3 Prof. D.Sc. do Centro de Formação de Professores, UFCG, Cajazeiras –PB, [email protected] 4 Graduando em Engenharia Ambiental, Pombal-PB, [email protected]; 5 MSc em Sistemas Agroindustriais, Souza-PB, [email protected]. RESUMO: Este trabalho analisa o desempenho de dois biodigestores anaeróbios (tipo batelada), alimentados por resíduos de abatedouros e excremento bovino com e sem adição de soro de leite, gerados por agroindústria na Região de Pombal – PB, com fins de produzir biogás e biofertilizante. Os biorreatores, com capacidade de 220L, foram construídos e ativados com misturas de biomassa distintas, e monitorados por 35 dias. As coletas dos substratos procederam nos tempos de 0, 7, 14, 21, 28 e 35 dias de retenção hidráulica, e estas foram caracterizadas por parâmetros físicos químicos. As quantidades de macronutrientes (NPK) foram investigadas para os afluentes e efluentes de ambos os biorreatores, assim como a produção do biogás, buscando inferir sobre a 403 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB influência do soro de leite no processo da biodigestão anaeróbia. Os resultados apontaram que o biorreator B (sem o soro de leite) obteve melhor desempenho, embora os valores das análises não tenham sido tão discrepante em relação ao biodigestor A. A produção de biogás, o biorreator B registrou maior produção de biogás, nos fazendo acreditar que a presença de soro de leite promove redução quanto ao desenvolvimento das bactérias metanogênicas, mas não tão relevante, podendo ser aproveitado no processo da biodigestão com bom senso. Palavras-chave: Agroindústria, Resíduos e Dejetos, Biogás. 1 INTRODUÇÃO O avanço tecnológico, associado a um intenso processo de urbanização, tem causado sérios problemas ambientais ao planeta, sobretudo às nações menos desenvolvidas ou em estágio de desenvolvimento. Dentre os aspectos que causam impactos ambientais negativos ao meio ambiente, se destacam os resíduos sólidos e líquidos, visto que tais materiais são gerados inevitavelmente das atividades desenvolvidas nas cidades e também no campo. De acordo com a Norma Brasileira (NBR) 10.004 (2004), são denominados resíduos sólidos os resultantes de atividades industriais, doméstica, agrícola entre outros, incluindo os lodos das Estações de Tratamento de Efluentes (ETE‟s), resíduos gerados em equipamentos e instalações de controle da poluição, os quais não podem ser lançados nos esgotos públicos, nem no ambiente. Algumas atividades agroindustriais (matadouros, abatedouros e frigoríficos) dispõem de elevada geração de resíduos sólidos e líquidos, apresentando em suas águas 404 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB residuárias, alta concentração de sangue, gordura, excremento e substâncias contidas no trato digestivo dos animais dentre outros, caracterizando um efluente com elevada carga de matéria orgânica, com grave consequência ambiental, principalmente as áreas de rios e nascentes, causando processo de eutrofização destes (FEISTEL, 2011). Logo, faz-se necessário promover o tratamento destes resíduos, mantendo assim uma melhor qualidade de aproveitamento dos recursos hídricos escassos na região nordestina. Ciente da geração dos mais variados tipos de resíduos proveniente da agroindústria, estudos apontam que estes podem ser tratados por processos biológicos, visando à reciclagem energética e preservação do meio ambiente (COSTA et al, 2005). Do ponto de vista econômico e ambiental muito destes produtos residuais poderiam ser transformados em subprodutos úteis para consumo humano, alimento de animais, indústria de rações ou fertilizantes (PACHECO, 2008). Reis (2012) e Maier e Oliveira (2014) relataram que no Brasil, o processo utilizado para tratamento de fração orgânica putrescível dos resíduos sólidos tem sido o aeróbio (compostagem), no qual objetiva à obtenção do composto orgânico para aplicação na agricultura. Assim como, o processo anaeróbio, que embora apresente uma taxa de bioestabilização da matéria orgânica mais lenta, configura-se como uma das alternativas que vem sendo mais adotada nos últimos tempos, haja vista seu potencial de reaproveitamento com o retorno benéfico de produtos gerados, tal como, o biogás e o biofertilizante orgânico. 405 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB Para tanto o tratamento dos afluentes orgânicos no biodigestor promove a estabilização do material, resultando na produção do biogás (gás metano em sua maior concentração) para geração de energia, e do biofertilizante orgânico. Por sua vez, sabe-se que, a importância trazida pelo biofertilizante leva a proporcionar benefícios socioeconômicos e ecológicos, entre os quais se destaca o melhoramento da qualidade do solo, como o restabelecimento do teor de húmus e nutrientes no solo, auxiliando nas propriedades físico-químicas deste, bem como na melhoria da atividade microbiana, podendo ser aplicado diretamente sob a forma líquida ou desidratada, dependendo das condições locais de infraestrutura e necessidades. Entre outras vantagens, por exemplo, segurança alimentar, saúde humana e animal, e com isso a melhoria na qualidade do meio ambiente (OWAMAH et al, 2014; DANTAS et al, 2006). Outra atividade de suma importância na economia das propriedades rurais é a pecuária leiteira. Grande parte da produção vem da agricultura familiar e a matéria prima é industrializada nos laticínios de pequeno e médio porte, onde se faz necessário um cuidado adequado no despejo dos resíduos sólidos e líquidos. Aproximadamente 90% do volume de leite utilizado na fabricação de queijo resultam no soro, que é utilizado na alimentação de animais (suínos) e na produção de ricota, além do descarte feito de maneira inadequada, diretamente em lagoas e/ou rios sem tratamento prévio (LACERDA, OLIVEIRA, CARUSO, 1990). Este soro contém sais minerais, lactose, nitrogênio não proteico e é rico em proteínas solúveis, que são componentes que podem ser usados no tratamento anaeróbio em biodigestores (ROSA et al, 2014). 406 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB Considerando que a Região do Sertão Paraibano, especificamente a Microrregião da cidade de Pombal-PB, aponta representação na atividade leiteira de pequeno e médio porte, a fabricação artesanal de queijo é representada por cerca de 36 microempreendimentos, distribuídos em sua maior parte na zona rural do referido município. Esses microempreendimentos contribuem significativamente na formação de renda dos produtores de leite e na economia da região. Diariamente essas queijeiras processam mais de 200.000L de leite de vaca para a produção de queijo de coalho, queijo de manteiga, manteiga da terra e subprodutos como nata e creme (ALMEIDA, 2010). Araújo (2013) inferi que em média, para fabricação de 1 Kg de queijo necessita-se de 10 L de leite, gerando-se 9 L de soro. Diante do exposto, este estudo propôs avaliar comportamento metabólico da biodigestão anaeróbia, observando dois biodigestores ativados com mistura de resíduos da agroindústria, em especifico resíduos dos abatedouros e excremento bovino, com e sem adição de soro de leite gerada pelas queijeiras locais. 2 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na cidade de Pombal - PB, em escala de bancada e desenvolvido no Laboratório de Resíduo Sólidos do Centro de Ciência e Tecnologia Agroalimentar da Universidade Federal de Campina Grande. Os biodigestores foram montados separadamente, utilizando tambores com formato do tipo tubular vertical (PVC, de 54 cm de diâmetro, circunferência 134 cm e 109 cm de altura, com capacidade de 220L). Estes continham espaço 407 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB para a fermentação e gasômetro, visto que, em cada um, havia ponto de saída de descarga de efluente, alimentador vertical para introdução da biomassa; e saída de gás com manômetro, para coletar o biogás produzido. a) Matéria Prima Para a execução do experimento foram empregados resíduos de abatedouro e excrementos bovinos, coletados em uma fazenda, situada a 1 km da cidade de Pombal - PB, ao lado do Rio Piranhas que corta o referido município, sendo o gado alimentado com conteúdo de forragem proveniente de capim elefante e farelo de milho na sua dieta. Os soros de leite foram obtidos das queijeiras locais. As misturas dos resíduos e dejetos obtidas foram inseridas nos biodigestores na proporção, conforme a apresentada na Tabela 1. As misturas de resíduos sólidos foram constituídas por: vísceras (gordura, sangue, conteúdo ruminante, entre outros) e dejetos (esterco bovino), além da incorporação do soro de leite apenas em um dos biodigestores (Biodigestor A), em que se acrescentou 5% de soro de leite em relação à biomassa total. Após proceder com a mistura, realizou-se o prétratamento: trituração e diluição. Na trituração, buscou-se aumentar a superfície de contato das partículas da matéria prima, de modo a facilitar a etapa de hidrólise microbiana, obtida na primeira etapa do processo da biodigestão anaeróbia. Tabela 1 – Proporções da matéria prima e água na mistura Mistura para o Biodigestor A Mistura para o Biodigestor B 80 Kg de Esterco 80 Kg de Esterco 408 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB 2,2 Kg de Vísceras 2,2 Kg de Vísceras 5,46 L de Soro de Leite 27 L de Água 27 L de Água b) Ativação e Monitoramento nos Biodigestores Os biodigestores foram ativados com proporções de diluição 1:1 (biomassa/água), sendo diferenciados pela presença e ausência de soro de leite, incorporados à mistura de biomassa. O processo da biodigestão anaeróbia, em ambos os biorreatores, foram monitorados por 7, 14, 21, 28 e 35 dias de tempo de retenção hidráulica, com temperatura variando entre 30 a 41 ºC. Coletaram-se frações dos substratos (sempre às 08h00min) e os analisaram através dos parâmetros físicoquímicos. Ao final do processo da biodigestão anaeróbia, os efluentes (biofertilizantes) foram caracterizados fisicoquimicamente e por quantidades de macronutrientes (NPK). TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO As misturas orgânicas foram caracterizadas antes de sua introdução nos biodigestores, durante todo o processo de biodigestão e ao final do processo. Para determinar as características dos afluentes e dos substratos fermentados foram realizadas medidas de umidade, temperatura, pH, condutividade elétrica, sólidos totais, fixos e voláteis, adotaram-se as técnicas descritas em Standard Methods for The Examination of Water and Wastewater (APHA, 2005). Enquanto que, nos afluentes (0º dia) e efluentes (no 35º dia) do processo de biodigestão anaeróbica, realizaram-se a quantificação dos macronutrientes Nitrogênio, Potássio e Fósforo seguindo-se as técnicas de Tedesco (1995). A 409 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB verificação do volume do biogás, em cada biorreator, foi mensurada diariamente pelo deslocamento vertical do gasômetro. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização dos Afluentes (antes da ativação nos biorreatores) Os afluentes foram analisados fisico-quimicamente, antes do início do processo, para se conhecer melhor a composição da mistura, em virtude desta influenciar nas etapas metabólicas de biodegradação, em especifico no processo de geração de biogás. Tabela 2 Valores Médios de Parâmetros Físico Químicos referente às Misturas de Biomassa, antes do Processo da Biodigestão Anaeróbica Parâmetros Físico Químicos pH Condutividade Elétrica (mS/cm) ST (g/kg) STF (g/kg) STV (g/kg) Nitrogênio (g/kg) Fósforo (g/kg) Potássio (mg/kg) Mistura da Biomassa com Soro de Leite 6,1 7,5 169,42 79,35 90,07 15,28 15,47 1,31 Mistura da Biomassa sem Soro de Leite 7,6 6,7 174,42 82,95 91,47 17,03 14,71 33,63 ST: Sólidos Totais; STF: Sólidos Totais Fixos; STV: Sólidos Totais Voláteis. De acordo com os resultados expostos na Tabela 2, pode ser verificada distinção nos parâmetros em questão. A mistura de biomassa com soro de leite revelou ser mais ácida, tendo em vista que só o soro de leite apresentava pH 3.9, além de possuir maior condutividade elétrica, caracterizando 410 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB presença de sais adsorvidos em maior quantidade. Apesar da acidez da mistura (afluente), não se fez necessário suplementação com soluções alcalinas, tal como, bicarbonato de sódio, hidróxido de sódio entre outras, para elevar o pH. Em termos de sólidos totais (ST), sólidos totais voláteis (STV) e sólidos totais fixos (STF), observa-se que a mistura com soro de leite adquiriu valores inferiores em relação à mistura sem soro de leite. De acordo com La Farge (1995), o grau de diluição pode ser determinado pela observação do teor de sólidos totais (ST), também chamado de matéria seca presentes na amostra. Os sólidos totais voláteis (STV), que são os substratos para as bactérias metanogênicas, são responsáveis diretos pela produção de biogás, e representam neste estudo 90,07 e 91,47 g/kg, respectivamente para a mistura de biomassa com e sem a presença do soro de leite. As análises das quantidades de macronutrientes (Nitrogênio, Fósforo e Potássio) realizadas nos afluentes, apontaram índices elevados para o afluente com ausência do soro de leite. Caracterização dos Substratos (durante o processo da biodigestão anaeróbica) Os biorreatores, após serem ativados, foram acompanhados semanalmente durante um período de 35 dias. Todas as coletas foram efetuadas sempre no mesmo horário. As Tabelas 3 e 4 apresentam os resultados ao longo dos 35 dias de acompanhamento dos substratos no processo da biodigestão. Os dados experimentais obtidos no Biorreator “A” (Tabela 3), evidenciaram variações nos índices de pH, iniciando-o com 6.04 (meio ácido) e finalizando em 7.35 (meio básico). A condutividade elétrica nos apontou decréscimos 411 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB quanto à presença de sais adsorvidos nos subtratos durante os 35 dias, corroborando com o comportamento dos sólidos totais (ST), os quais assumiram valores decrescentes, nos fazendo entender que ocorreu decomposição (liberação voláteis) de matéria orgânica. Os resultados dos sólidos totais fixos (STF) variaram entre 79,35 g/kg (T0) a 82,58 g/kg (T35), caracterizando aumento de retenção da matéria inorgânica, enquanto que, nos sólidos totais voláteis (STV) procedera a liberação de matérias biodegradáveis. Os dados expressam que durante o monitoramento, o biodigestor A obteve uma liberação de materiais voláteis em torno de aproximadamente 60% em relação à porcentagem de sólidos totais (ST), no T0 (Tempo zero). Segundo Vedrenne (2008) as variações para os potenciais dos sólidos totais voláteis (STV) ocorrem devido às diferenças nas composições dos dejetos, em específico, proteínas, lipídios, carboidratos e lignina, com cada fração apresentando um determinado potencial para a produção de biogás. E em seu estudo inferiu que para 90 dias de tempo de retenção hidráulica (TRH), seria necessário 90% dos verdadeiros potenciais de SV, isto para um biodigestor contínuo. Tabela 3 - Valores Médios de Parâmetros Físicos Químicos referentes aos Substratos do Biodigestor “A” Monitorados por 35 dias Parâmetros (Biodigestor A) T0 (dia) T7 (dias) T14 (dias) T21 (dias) T28 (dias) T35 (dias) Temperatura (ºC) pH Condutividade (mS/cm) 31 30 35 41 37 41 6,04 10,23 6,00 8,84 5,97 12,22 5,98 13,15 7,31 9,65 7,35 9,39 ST (g/kg) 169,42 168,09 163,31 156,17 155,05 151,45 412 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB STF (g/kg) STV (g/kg) 79,35 90,07 79,16 88,93 78,98 84,33 76,61 79,56 82,14 72,91 82,58 68,87 ST: Sólidos Totais; STF: Sólidos Totais Fixos; STV: Sólidos Totais Voláteis. No que concerne os resultados obtidos no acompanhamento do biodigestor B (Tabela 4), percebe-se variações significativas em alguns parâmetros ao comparar com o biodigestor A. Verifica-se aumento na temperatura, enquanto que o pH aponta comportamento variável, aumentando até o 14º dia, e posterior diminuição até o 28º dia, caracterizado o meio como ácido. Após o 35º dia o pH encontrava-se alcalino. A condutividade elétrica revelou valores de sais dissolvidos entre 9,93 e 6,73 mS/cm. Enquanto isso, os sólidos totais e voláteis apresentaram reduções nos seus valores iniciais de matéria orgânica, sendo que os sólidos voláteis indicaram liberação em torno de 70% (SV em T28), enquanto que os sólidos fixos teve aumento de material inorgânico. Comparando os resultados obtidos entre os biodigestores A e B, pode ser evidenciadas variações nas temperaturas dos substratos, podendo ser explicado pela ocorrência das reações químicas proporcionadas pelos microrganismos nas diferentes etapas da biodigestão. Assim sendo, o biodigestor B apontou teores mais elevados em alguns parâmetros físico químicos. 413 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB Tabela 4 - Valores Médios de Parâmetros Físicos Químicos referentes aos Substratos do Biodigestor “B” Monitorados por 35 dias De acordo Magalhães (1986) as bactérias metanogênicas responsáveis pela conversão dos ácidos orgânicos em metano, são sensíveis a valores de pH abaixo de 6,5, bem como, a variações de pH. Para o bom desempenho dos biorreatores, o ideal é que o pH permaneça entre 6,5 a 7,2. Para outros autores o intervalo de pH pode ser entre 6,0 a 8,0, para que o processo de digestão anaeróbia venha a se desenvolvido em condições favoráveis (BATISTA ,1981), ou de 6,7 a 7,4 (BRYANT, 1979). Neste caso, tanto o biodigestor A como o B, neste trabalho, estão dentro dos padrões ideias. Com relação à eficiência do processo, no período de digestão os sólidos totais e sólidos voláteis no biodigestor com presença de soro de leite obteve maior liberação de compostos orgânicos (biodegradáveis) em relação ao biodigestor com ausência de soro. Acredita-se que, o biodigestor A obteve maior produção de ácidos na fase acidogênica, comprometendo o desenvolvimento das bactérias metanogênicas, ou seja, última etapa do processo. Caracterização dos Efluentes (Biofertilizantes) 414 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB Os efluentes líquidos de ambos os biodigestores, chamado de biofertilizantes, é considerado uma fonte rica em nutrientes, adquirido ao longo do processo da digestão anaeróbia, onde a liberação de componentes gasosos como metano e gás carbônico, formados por C, O e H, resulta no substrato conservado com nitrogênio, fósforo, potássio entre outros (RIBEIRO, 2013). Os valores médios referentes às análises físico químicas das amostras dos efluentes de ambos os biodigestores, seguem apresentadas na Tabela 5. Os resultados expressam que ambos os efluentes se encontravam sob meio alcalino, conforme revelam os pH‟s. Já os teores de sólidos totais (ST), fixos (STF) e voláteis (STV), indicaram ser superiores para o biodigestor B, sem a interferência do soro de leite na mistura. No que concerne aos teores de macronutrientes (NPK), o efluente biodegradado com a presença de soro de leite revelou valores inferiores em relação ao efluente do biodigestor B. Para tanto, nos leva a inferir que a fixação dos macronutrientes do processo de biodigestão anaeróbia ocorrida no biodigestor B aponta ser mais eficaz. Tabela 5 - Valores Médios de Parâmetros Físicos Químicos correspondentes aos Efluentes, ao final da Biodigestão Anaeróbica. Parâmetros Físico Efluente Biodigestor Efluente Químicos A Biodigestor B Temperatura (ºC) 41 40 pH 7,35 7,96 Condutividade (mS/cm) 9,39 8,14 ST (g/kg) 151,45 158,34 STF (g/kg) 82,58 85,67 415 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB STV (g/kg) 68,87 72,67 Nitrogênio (g/kg) 18,55 18,84 Fósforo (g/kg) 16,23 15,32 Potássio (mg/kg) 1,67 39,06 Segundo Amorim (2005) afirma em seu trabalho, que o biofertilizante oriundo de processo de biodigestão anaeróbica apresenta inúmeras vantagens, tais como a melhoria na estrutura do solo, por permitir uma maior penetração de ar com consequente estimulo á oxidação da matéria orgânica pelos microrganismos do solo. O conteúdo de matéria orgânica do resíduo resulta na capacidade de retenção de umidade pelo solo, evitando demora no crescimento das plantas durante o tempo seco, além de introduzir um grande número de bactérias e protozoários, resultando em aumento da velocidade de decomposição, o que torna os nutrientes disponíveis para as plantas, bem como promove a introdução de alguns minerais importantes para o crescimento destas. Malavolta (2008) afirma em seu estudo que os biofertilizantes contêm de 1,5 a 2,0% de nitrogênio, 1,0 a 1,5% de fósforo (P) e 0,5 a 1,0% de potássio (K), que são liberados no solo com a função de fazer a correção de acidez, por ter um pH em torno de 7,5. Berni (2011) realizou experimentos sobre biofertilizantes com efluentes bovinos, principalmente analisando os macronutriente (NPK) comparando as concentrações obtidas em seu estudo com os biofertilizantes sintético. A pesquisa resultou nas concentrações de 1,05 mg/L de nitrogênio, 0,39 g/L de fósforo e 0,4 g/L de potássio, concluindo que estes valores atendem às exigências nutricionais mínimas para fertilizar o solo. 416 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB De acordo com o exposto, pode-se inferir que as quantidades de macronutrientes encontradas neste trabalho foram maiores em relação à Berni (2011). Em virtude do processo de biodigestão anaeróbica ter resultado numa melhor fixação desses elementos nos efluentes de ambos os biodigestores, principalmente no biorreator B. Produção de Biogás Em ambos os biorreatores pode-se quantificar a produção de gases, conforme ilustrado na Figura 1. No entanto, não foi possível conhecer nesta pesquisa a composição desses gases, mas por outro lado constatou-se pelo teste de chama, a presença do gás metano (CH 4). Neste teste, confirmou-se a emissão da chama e seu poder de queima, caracterizando existência do referido de gás. Figura 1 - Quantidade de Biogás Produzido no Período de 35 dias De acordo com os dados ilustrados na Figura 1, observa-se que no biorreator B a produção de gás foi mais significativa em relação ao biorreator A. Até o 14º dia não se observou nenhum desprendimento de biogás. Após o 14º dia, 417 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB a produção de gases por semana foi ascendente, assumindo valores ao final do processo de 2,4 e 3,1 L, respectivamente para biorreatores A e B. Isso reforça a observação de que na proporção que a taxa de produção de biogás elevava-se a cada fase operacional, ocorreu acréscimos nos valores de remoção de matéria orgânica (STV), conforme relatadas na Tabela 3 e 4, anteriormente discutidas. A literatura retrata que a produção de gases pode ser influenciada devido a vários fatores, dentre eles a temperatura, pH e composição da biomassa (LAY et al, 1997). Neste estudo o aumento da temperatura externa, variou entre 30 a 41 ºC, e, portanto, os substratos sofreram sucessivas reações químicas que os levaram a possíveis rupturas de ligações para formações de outros compostos moleculares, acreditando-se que neste instante tenha ocorrido a liberação de matéria orgânica para a produção de gases. Sabe-se ainda que, a temperatura interfere na atividade enzimática durante a biodigestão, cuja finalidade é a produção de gases, em especifico o gás obtido na fase metanogênese (CH4). 4 CONCLUSÕES Os resultados obtidos nesta pesquisa foram bastante interessantes. Monitoraram-se dois biodigestores alimentados com rejeitos de abatedouros e excremento bovino com e sem a presença de soro de leite. Estes desempenharam comportamentos distintos no decorrer do processo metabólico, tendo o biorreator com a presença do soro de leite uma menor produção do biogás em relação ao biorreator sem o referido soro. Tal fato pode ser explicado, em virtude da presença do soro de leite ao substrato no biodigestor favorecer a liberação 418 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB de ácidos em maior quantidade, resultando em um processo mais lento, e meio mais acidificado, comprometendo outras fases do processo da digestão anaeróbica, principalmente a fase metanogênica. Visto que, o desenvolvimento das bactérias metanogênicas são favorecidas em meio alcalino. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 10.004:2004 Resíduos sólidos - Classificação. Rio de Janeiro, 2004. AMORIM, A. C. Avaliação do potencial de impacto ambiental e do uso da compostagem e biodigestão Anaeróbia na produção de caprinos. Tese. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jaboticabal, 2005. AMORIM, A. C.; LUCAS JÚNIOR, J.; RESENDE, K. T. Biodigestão anaeróbia de dejetos de caprinos obtidos nas diferentes estações do ano. Revista Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.24, n.1, 2004, p.16-24. APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION – standard methods for the examination of water and wastewater. New York: APHA, WWA, WPCR. 21ª ed. 2005. ALMEIDA, E. P.; Diagnóstico das Queijeiras em Pombal e Região. SEBRAE/PB; p.02-08, 2010. ARAÚJO, M. de S. Produção de etanol neutro a partir do soro de queijo coalho por destilação convencional. 2013. 66p. Dissertação. Universidade Federal de Campina Grande/Campus Pombal, Pombal, PB. 2013. BATISTA, L. F. Construção e operação de biodigestores. Brasília, DF: EMATER, 1981. BERNI, J. V. Fermentação Anaeróbica de Dejetos Bovinos em Biodigestor Canadense: Análise de Macro e Micronutrientes de Biofertilizante. 2011. 58p. Monografia. Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, Araçatuba - SP, 2011. BRYANT, M. P. Microbial methane production- theoretical aspects. Journal of Animal Science, Champaing, v. 48, n. 1, 1979, p. 193-201. COSTA, M. S. S. M.; COSTA, L A. M.; SESTAK, M.; OLIBONE, D.; SESTAK, D.; KAUFMANN, A. V.; ROTTA, S. R. Compostagem de resíduos da indústria de desfibrilação de algodão. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.25, n.2, 2005, p.540-548, 419 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB DANTAS, T. A. G.; CAVALCANTE, L. F.; SANTOS, G. P.; NASCIMENTO, J. A. M.; RODOLFO JR., F.; MACEDO, J. P. S. Crescimento e produção do maracujazeiro-amarelo em solo tratado com biofertilizantes, NPK e calcário. In: Congresso Brasileiro de Fruticultura, 19, 2006, Cabo Frio. Anais... Cabo Frio: SBF/UENF/UFRRJ, 2006. p. 547. FEISTEL, J. C. Tratamento e destinação de resíduos e efluentes de matadouros e abatedouros. 2011. 37p. Universidade Federal de Goiás, Goiânia – GO, 2011. LACERDA, T. H. M.; OLIVEIRA, A. J.; CARUSO, J. G. B. Viabilidade do Tratamento do Soro de Queijo com Digestão Anaeróbia. An. Esc. Super. Agric. Luiz de Queiroz: Piracicaba v. 47, n. 2, 1990, p. 573-577. LA FARGE, B. de. Le biogaz: procédés de fermentation méthanique. Paris: Masson, 1995. 237p. MAGALHÃES, A. P. T. Biogás: um projeto de saneamento urbano. São Paulo: Nobel, 1986. 120 p. MAIER, S.; OLIVEIRA, L. B. Economic feasibility of energy recovery from solid waste in the light of Brazil's waste policy: The case of Rio de Janeiro. Renewable and Sustainable Energy Reviews v.35, 2014, p. 484–498 LAY, J. J.; LI, Y.Y; NOIKE, T.; ENDO, J.; ISHIMOTO, S. Analysis of environmental factors affecting methane production from high-solids organic waste. Japan Elsevier Science. v. 36, n. 6-7, 1997, p. 493 – 500. MALAVOLTA, E. O futuro da nutrição de plantas tendo em vista aspectos agronômicos, econômicos e ambientais. Piracicaba: Internacional Plant Nutrition Institute, Boletim, n.121. p.10, março, 2008. OWAMAH,H.I.; DAHUNSI, S. O.; ORANUSI, U.S.; ALFA, M.I. Fertilizer and sanitary quality of digestate biofertilizer from the co-digestion of food waste and human excreta. Waste Management, v 34, n 4, 2014, p. 747–752. PACHECO, J. W. Guia técnico ambiental de frigoríficos - industrialização de carnes (bovina e suína). São Paulo: CETESB (Série P + L), 2008. REIS, A dos S. Tratamento de resíduos sólidos orgânicos em biodigestor anaeróbio. 2012. 63p. Dissertação. Universidade Federal de Pernambuco. Caruaru – PE, 2012. RIBEIRO, C. P. Análise energética, econômica e ambiental da Biodigestão de resíduos agropecuários gerados por pequenos e médios produtores rurais da região sul do Espírito Santo. 2013. 207p. Tese. Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, 2013. ROSA, P. R. F.; SANTOS, S. C.; SAKAMOTO, I.K.; VARESCHE, M.B.A.; SILVA, E.L. Hydrogen production from cheese whey with ethanol-type fermentation: Effect of hydraulic retention time on the microbial community composition. Bioresource Technology, v.161, 2014, p. 10–19. 420 INFLUÊNCIA DO SORO DE LEITE NO PROCESSO DE BIODIGESTÃO ANAEROBICA: ESTUDO DE CASO EM POMBAL-PB TEDESCO, M. J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C. A.; BOHNEN, H; VOLKWEISS, S. J. Análise de solo, plantas e outros materiais. 2.ed. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. 174p. VEDRENNE, F.; BELINE, F.; DABERT, P.; BERNET, N. The effect of incubation conditions on the laboratory measurement of the methane producing capacity of livestock wastes. Bioresource Technology, Essex, v. 99, n.1, 2008, p. 146-155. ....... 421 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE CAPITULO 28 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE Francisco Kyllmann Oliveira DE LIMA1; Maria de Fátima Ferreira NOBREGA2 Stéphanny Sallomé Sousa OLIVEIRA3 Maria do Socorro Rocha Melo PEIXOTO4. Graduado em Farmácia – Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)- Campina Grande1. Mestre em Saneamento Ambiental – Professora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)-Campina Grande. 2 Graduada em Biomedicina – Faculdade Maurício de Nassau- Campina Grande e Pós graduanda em Citologia Clínica - Centro de Capacitação Educacional- CCE - Recife. 3 Doutora em Recursos Naturais - Professora da Faculdade Maurício de Nassau – Campina Grande e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)-Campina Grande.4 RESUMO: Os parasitos intestinais são agentes etiológicos de doenças, que podem atingir considerável parcela da população principalmente as que apresentam condições socioeconômicas deficitárias, ocasionando agravos à saúde de diversas formas. No presente trabalho determinou-se a ocorrência de parasitas intestinais em pacientes atendidos no Laboratório Municipal de Análises Clínicas na Cidade de OrósCE. O estudo do tipo descritivo e documental foi realizado no período compreendido entre maio de 2012 a setembro de 2013. Verificou-se (uma positividade para enteroparasitos) a presença de enteroparasitos nos resultados analisados, dentre os protozoários detectados a Entamoeba histolytica / Entamoeba dispar apresentou um maior número de ocorrência. Com relação aos helmintos, a espécie mais prevalente foi o Enterobius vermiculares. A faixa etária que 422 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE apresentou maior índice de contaminação foi entre 0 a 10 anos. No gênero feminino foi averiguado um maior percentual de pessoas parasitadas. Concluiu-se que na amostra estudada, uma parcela considerável de pacientes encontravase infectada. Como a maioria das enteroparasitoses são assintomáticas ou apresentam sintomas clínicos discretos ou inespecíficos, é necessária a investigação diagnóstica para identificá-las e assim evitar consequências mais graves e até fatais. Palavras-chave: Enteroparasitoses. Condições socioeconômicas. 1 INTRODUÇÃO Na população mundial e no Brasil um dos principais problemas de saúde pública consiste nas doenças causadas por parasitas intestinais, que elevam taxas de morbidade e mortalidade principalmente nos países subdesenvolvidos. Estima-se que nestes países aproximadamente um terço da população viva em condições ambientais desfavoráveis que facilitam a disseminação de parasitas intestinais. No mundo, as infecções por protozoários e helmintos intestinais afetam 3,5 bilhões de pessoas, sendo que a maior parcela dos infectados constituída por criança (BELLOTO; JÚNIOR, 2011). As enteroparasitoses são transmitidas na grande maioria das vezes por via oral, por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados com formas parasitárias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta sobre a alta frequência das doenças parasitárias na população mundial, estimando que cerca de 200 a 500 milhões de pessoas estejam parasitadas pelo Ascaris lumbricoides, Giardia lamblia e Entamoeba hstolytica (MAMUS et al., 2008). 423 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE As parasitoses intestinais estão entre os principais patógenos encontrados em seres humanos, estes pertencem aos filos Sarcomastigophora, Apicomplexa, Ciliophora, Microspora, Platyhelminthes, Nematoda e Acantocephala. As condições de vida, informações sobre os parasitas, moradia e saneamento básico são, em grande parte, determinantes da transmissão de tais parasitas (ANDRADE et al., 2011 ). As infecções parasitárias afetam não só crianças, mas pessoas de todas as idades, no entanto, as crianças são as mais acometidas (STEKETEE, 2003; OLIVEIRA, 2011). No Brasil, a população pediátrica tem sido o grupo mais prejudicado pela alta incidência de infecções parasitárias, devido aos problemas provenientes dessas infecções, tais como diarreia crônica e desnutrição, que podem afetar o desenvolvimento físico e intelectual das crianças (OLIVEIRA, 2011). Dentre os protozooses intestinais, destacam-se pela sua importância na infância a Giardíase e a Amebíase, sendo a primeira bem mais frequente e encontrada também nas populações de mais alto nível socioeconômico (COSTA et al., 2009). Pelos prejuízos a saúde que os parasitas intestinais podem ocasionar em considerável parcela da população, o presente estudo tem como objetivo avaliar a ocorrência de parasitas intestinais em pacientes atendidos no Laboratório Municipal de Análises Clínicas da Cidade de Orós – CE. Para que possa ser feito uma estimativa das reais condições socioeconômicas, da população estudada. 2 MATERIAIS E MÉTODO 424 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE 2.1 Delineamento da Pesquisa Trata-se de um estudo transversal de caráter descritivo e quantitativo, visando detectar a ocorrência de enteroparasitoses em pacientes atendidos no Laboratório Municipal de Análises Clínicas da Cidade de Orós-Ce. No período de 01 de maio de 2012 a 31 de outubro de 2013. 2.2 Área de Estudo Orós é um município brasileiro pertencente ao Estado do Ceará, encontra-se situado na mesorregião do Centro-Sul Cearense. De acordo com o censo 2010, realizado pelo IBGE a população residencial total é de 21.389 habitantes. Sua densidade demográfica é de 37,12 hab/km² (IBGE, 2010). Mais de 90% das residências da cidade apresentam uma cobertura pelo serviço de coleta dos esgotos (saneamento básico), mas não possui estação de tratamento e os mesmos são lançados no seu efluente Rio Jaguaribe (IBGE, 2010). 2.3 Coleta de Dados Os dados foram coletados no Hospital e Maternidade Luzia Teodoro da Costa no arquivo do laboratório e transcritos para um formulário adequado para a realização desta pesquisa. Foram analisados 1032 laudos os quais foram apurados: idade e sexo dos pacientes, realizados durante os períodos de análises. 2.4 Definição da População 425 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE Todos os adultos e crianças, de ambos os sexos atendidas no Laboratório, Municipal de Análises Clínicas da cidade de Orós-CE, no período de 01 de maio de 2012 a 31 de outubro de 2013. 20 2.5 Análise de Dados Os dados obtidos foram organizados e analisados em tabelas e gráficos, através do programa Microsoft Office Excel 2007, para melhor visualização e interpretação dos resultados. 3.7 Considerações Éticas A coleta dos dados no Hospital e Maternidade Luzia Teodora da Costa só teve inicio após a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba – CAAE 30580514.30000.5187. 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a coleta de dados referentes aos exames parasitológicos de fezes realizados no Laboratório Municipal de Orós - CE no período de maio de 2012 a setembro de 2013 foram executados 1032 procedimentos, dos quais 165 (15,98%) foram positivos e 877 (84,02%) foram negativos conforme ilustrado na Tabela 1. 426 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE Tabela 1. Percentual dos resultados positivos e negativos em pacientes atendidos no Laboratório Municipal de Orós – CE, no período de Maio 2012 a Setembro 2013. Os dados apresentados na Tabela 1 são concordantes com os achados de Clímaco (2011), que por sua vez, estudando a ocorrência de enteroparasitoses em pacientes atendidos no Laboratório de Brejo da Madre de Deus - PE detectou uma positividade de 15,14%. Brandino, Piazza e Cruz (2006), constataram 9,73% de positividade, quando estudaram a frequência de enteroparasitoses em amostras fecais e suas associações à taxa de eosinófilos no sangue proveniente de habitantes da cidade de Limeira - SP. Os resultados demonstraram que o atual trabalho apresentou um maior percentual de casos positivos, quando comparados com os referenciados na literatura. Possivelmente essas diferenças se devem por causa dos hábitos de higiene entre os dois grupos estudados. Em trabalho realizado por Carvalho e Gomes (2013), que estudando alunos da Escola Pública Melvin Jones em Teresina - PI evidenciou a presença de entereoparasitas em 67.5 % da amostra. Muitos trabalhos sobre a ocorrência de parasitoses intestinais apresentam resultados discordantes por não considerar as metodologias utilizadas nos trabalhos, visto que, uma mesma técnica não tem sensibilidade suficiente para 427 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE visualizar todas as formas parasitárias detectáveis (PEREIRA; CARDOSO 2010). Na Tabela 2 estão representadas as espécies de enteroparasitos encontrados no presente estudo, foi observada uma maior frequência para os protozoários, a E. histolytica com um percentual de 29,18%, seguida por E. coli com 25,83%, em relação aos helmintos foi observado E. vermiculares com 1,91% em seguida Taenia spp. 0,47%. Tabela 2 – Classificação das espécies de enteroparasitos em pacientes atendidos no Laboratório Municipal de Orós – CE, no período de Maio 2012 a Setembro 2013. Em estudo desenvolvido por Clímaco (2011) onde foi verificada uma frequência de 43,54% para E. histolytica, em contra partida, no estudo realizado por Costa et al (2009) em Caxias do Sul - RS, os helmintos apresentaram uma maior ocorrência com 61,5%. Outra situação semelhante foi observada por Ferreira e Andrade (2005) em alunos de Estiva Gerbi - SP, após 2 anos houve a manutenção da taxa geral de 428 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE parasitismo com redução na prevalência de helmintos e acréscimo dos protozoários. As divergências encontradas em alguns resultados com relação ao presente estudo ocorreram supostamente devido as condições ambientais mais favoráveis a manutenção das formas de contaminação nas regiões onde foram realizados os respectivos estudos. A frequência de enteroparasitoses depende do tipo e grau de exposição às formas infectantes dos parasitos (cistos, ovos e larvas). Entretanto, outros fatores ditos determinantes intermediários, como as condições de moradias e de saneamento básico, cuidados de higiene e de saúde, e determinantes distais como poder aquisitivo, nível de educação são também condicionantes desta situação. As praticas educativas, quando bem aplicadas, levam as pessoas a adquirirem os conhecimentos para a prevenção e a redução das enteroparasitoses (CLÍMACO, 2011). A Figura 1 demonstra a frequência de enteroparasitoses por faixa etária, a qual observa-se que a maior ocorrência deuse na faixa etária de 0 a 10 anos de idade com valores de 35,75% seguido pela faixa etária de 11 a 20 anos com 18,78%. 429 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE Figura 1. Frequência de casos de enteroparasitos por faixa etária em pacientes atendidos no Laboratório Municipal de Orós – CE, no período de Maio 2012 a Setembro 2013. Situação semelhante foram observadas em estudos realizados por Castro et al (2004) que estudando saúde e nutrição de crianças de 0 a 60 meses no Vale do Rio Doce – MG, encontrou um percentual de 96,1% de casos positivos desta população estudada. Gurgel et al (2005) avaliando as infestações por parasitas intestinais em Aracaju – SE encontrou 51,5% de positividade; Silva et al (2010) evidenciando Dermatite atópica e ascaridíase em crianças de creches de Porto Alegre - RS 26,1% de casos positivos . Diante deste contexto evidência que as infecções parasitárias afetam não só crianças, mas pessoas de todas as idades, no entanto, crianças menores de dois anos são as mais acometidas por terem um maior contato com o solo, ao engatinhar e levar objetos à boca pode ser mais susceptível a adquirirem essas parasitoses. As espécies de parasitas apresentam variações nas diferentes regiões do país, de acordo com as diferenças 430 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE climáticas, socioeconômica, culturais, educacionais bem com condições sanitárias de cada região. A Figura 2 demonstra a presença de parasitoses intestinais por gênero. Nota-se que o maior percentual de casos positivos foi observado no gênero feminino com 10,17% e no gênero masculino foi observado um percentual de 5,81%. Figura 2. Frequência de parasitoses por gênero em pacientes atendidos no Laboratório Municipal de Orós – CE, no período de Maio 2012 a Setembro 2013. Os resultados apresentados na Figura 2 são consonantes com os encontrados por Clímaco (2011) quando observou uma positividade de 10,16% no gênero feminino e de 4,98% no gênero masculino. Capuano et al (2008) também constatou valores semelhantes ao estudar os manipuladores de alimentos no município de Ribeirão Preto - SP, onde o gênero feminino apresentou maior frequência com 19,26%. Apesar dos estudos supracitados não apontaram hipóteses que possam justificar uma maior frequência no gênero feminino, vale salientar que as mulheres são as que mais procuram os serviços de saúde para a realização de exames de rotina. 431 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE 4 CONCLUSÕES Verificou-se um percentual de 15,98% casos positivos para enteroparasitos; Frequência de protozoários foi maior que a de helmintos; O principal protozoário evidenciado foi Entamoeba histolytica/E.dispar, enquanto o helminto mais frequente foi Enterobius vermiculares; A faixa etária mais acometida foi a de 0 a 10 anos; O gênero feminino mostrou maiores percentuais de infecção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, E. C.; LEITE, I. C. G; RODRIGUES, V. O; CESCA, M. G. Parasitoses intestinais: uma revisão sobre seus aspectos sociais, Epidemiológicos, clínicos e terapêuticos. Revista APS, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 231-240, abr./jun. 2011. BELLOTO, M. V.; JUNIOR, E. S.; CASTRO, C.; PONCE, A.; MACEDO, E. A.; TAUYR, L. V. et al. Enteroparasitoses numa população de escolares da rede pública de ensino do Município de Mirassol, São Paulo, Brasil. Revista Pan-Amaz Saude 2011; 2(1):37-44. 2011. BRANDINO, B. A.; CRUZ, L. K.; PIAZZA, F. J. D.; Avaliação da incidência de parasitoses intestinais correlacionada ao eosinófilos em crianças e adultos em 2005 na cidade de Limeira/SP. Newlab: n.77. 2006. CAPUANO, D. M.; LAZZARINI, M. P. T.; JUNIOR GIOCOMETTI, E.; Enteroparasitoses em manipuladores de alimentos do município de Ribeirão Preto - SP, Brasil, 2000. Revista Brasileira Epidemiol; 11(4): 687-95. 2008. CARVALHO, S. D. E. N.; GOMES, P. N. Prevalência de enteroparasitoses em crianças na faixa etária de 6 a 12 anos na escola pública Melvin Jones em Teresina-PI Revista Interdisciplinar. v.6, n.4, p.95-101, out.nov.dez. 2013. CASTRO, T. G.; CAMPOS, F. M; PRIORE, S. E.; COELHO, F. M, G.; COMPOS, M. T. F S.; RANGEL, A. A.; Saúde e nutrição de crianças de 0 a 432 OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DA CIDADE DE ORÓS-CE 60 meses de um assentamento de reforma agrária, Vale do Rio Doce, MG, Brasil. Revista de Nutrição, Campinas, 17(2):167-176, abr./jun., 2004. CLIMACO, M. S.; Ocorrência De Enteroparasitoses Em Pacientes Atendidos No Laboratório Municipal da Cidade de– Pe. 2011, 48f. Brejo da Madre de Deus-PE, TCC (Graduação em Farmácia) UEPB. Brejo Da Madre de Deus, 2011. COSTA, S. S.;SILVA, B. F. P.; MORAIS, A. F. C.;WANDERLEY, F. S. Ocorrência de parasitas intestinais em material subungueal e fecal em crianças de uma creche no município de Maceió –Alagoas. Revista Pediatria (São Paulo) 2009;31(3):198-203. 2009. GURGEL, R. Q.; CARDOSO, G. S.; SILVA, A. M.; SANTOS, L. N.; OLIVEIRA, R.; Creche: ambiente expositor ou protetor nas infestações por parasitas intestinais em Aracaju, SE. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba 38(2):267-269, mai-jun, 2005. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2013.Censo 2010. Disponível em:http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230950& search=|| infogr%E1ficos:-hist%F3rico. Acesso em 19 de fevereiro de 2014. OLIVEIRA, M. A. A.; Prevalência De Enteroparasitoses Em Uma Comunidade Carente De Fortaleza-Ce: Comparação Entre Duas Décadas. 2011. Dissertação (Mestado)- Universidade Federal do Ceará, Departamento de Patologia e Medicina Legal, Fortaleza, 2011. PEREIRA-CARDOSO, F. D.; ARAÚJO, B. M.; BATISTA, H. L.; GALVÃO, W. G.; Prevalência de enteroparasitoses em escolares de 06 a 14 anos no município de Araguaína – Tocantins. Revista Eletrônica de Farmácia Vol 7 (1), 54-64, 2010. RAMOS JUNIOR,F.J.L., Prevalência de enteroparasitoses entre alunos de creche publica da cidade de Campina Grande-Pb. 2011, f33. Campina grande, TCC (Graduação em farmácia) UEPB. Campina grande 2014. SILVA, M. T. N.; SOUZA, V. M.; BRAGAGNOLIS, G,; TEOBALDO, G. R.; MALAGUENOZ, E.; Dermatite atópica e ascaridíase em crianças de 2 a 10 anos. Jornal de Pediatria, Porto alegre, Vol. 86, Nº 1, 2010. STEKETEE, R.W. Pregnancy, nutrition and parasitic diseases. The Journal of Nutrition, v 133, p. S1661–S1667, 2003. UCHÔA, C. M. A.; ALBURQUERQUE, M. C.; CARVALHO, F. M.; et al. Parasitismo Intestinal Em Crianças E Funcionários De Creches Comunitárias Na Cidade De Niterói-Rj, Brasil. REVISTA DE PATOLOGIA TROPICAL Vol. 38 (4): 267-278. Out.- Dez. 2009. 433 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CAPÍTULO 29 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Jaqueline Costa DANTAS1 Clecia Kelly do Nascimento OLIVEIRA1 Rossana Paula Silva LIMA2 Giseuda Dias MONTEIRO2 Hallana Karolina Marques CAVALCANTE3 1 Nutricionista Residente Multiprofissional em Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente, UFPB, João Pessoa/PB; 2 Nutricionista do Hospital Universitário Lauro Wanderley, UFPB, João Pessoa/PB; 3 Mestranda em Saúde Coletiva e Gestão Hospitalar, Facnorte, João Pessoa/PB. e-mail: [email protected] RESUMO: Este artigo visa caracterizar o perfil das doadoras e do leite coletado no posto de coleta de leite humano do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), nos meses de julho e agosto de 2015. Trata-se de um estudo transversal retrospectivo. O perfil das doadoras foi avaliado a partir de variáveis referentes à idade, ocupação, local do pré-natal, estado nutricional no início da gestação, ganho de peso durante a gestação, uso de medicamentos, intercorrências na gestação e estilo de vida. Quanto ao leite humano foi descrito o seu tipo e teor calórico. Foram utilizados nesta pesquisa 16 cadastros de doadoras. Os resultados apresentaram que a maioria das doadoras eram adultas (62,5%) e metade tinham vínculo empregatício. A respeito do leite humano pasteurizado foram doados 46 frascos com volumes diferenciados, sendo 71,7%, 15,3% e 13% das amostras, de leite maduro, colostro e leite de transição, respectivamente. Ademais, analisando a 434 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO calorimetria geral, 60,9% dos leites eram normocalóricos, 21,7% hipocalóricos e 17,4% hipercalóricos. Diante do exposto, este estudo se mostrou relevante visto permitir conhecer o seu público-alvo e assim poder subsidiar estratégias de otimização dos serviços prestados nessa instituição. Palavras-chave: Banco de Leite Humano. Aleitamento Materno. Saúde Materno Infantil. 1 INTRODUÇÃO O leite materno é um alimento nutricionalmente completo, espécie-específico, que corresponde as peculiaridades fisiológicas, metabólicas e imunológicas da criança. Devido a sua boa digestibilidade, composição nutricional e capacidade de atuar como mecanismo de defesa do bebê, o leite materno é considerado como o alimento ideal e exclusivo para crianças até o sexto mês de vida, devendo após esse período ser complementado com uma alimentação de seguimento ou complementar, até os dois anos de vida (LEITE, PUGLIESE, TRIDA, 2014). Em relação aos fatores de defesa, o leite materno exerce proteção contra infecções e reduz a mortalidade infantil. Estima-se que o aleitamento materno seria capaz de evitar 13% das mortes por causas preveníveis em menores de 5 anos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Unicef, cerca de seis milhões de mortes de crianças são evitadas a cada ano por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva (BRASIL, 2009). Quando considerado os recém-nascido pré-termo (RNPT) este alimento torna-se essencial, visto que estes apresentam baixa reserva de carboidrato e gordura, 435 Saúde e Meio Ambiente CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO necessidade de glicose para energia e metabolismo cerebral aumentado, maior perda de água insensível e peristalse mais lenta, dentre outras necessidades (MORAES, 2013). Assim, levando em consideração as vantagens e a importância do leite humano, as doações voluntárias deste alimento são essenciais para auxiliar as mães que não conseguem amamentar ou suprir com as necessidades do bebê. Neste contexto, destaca-se a Rede de Bancos de Leite Humano, criada em 1998, pelo Ministério da Saúde e o Centro de Referência Nacional da Fundação Oswaldo Cruz, como uma estratégia de promoção do aleitamento materno, tendo como uma das suas funções atender lactentes clinicamente impossibilitados de serem amamentados por suas próprias mães, por meio da utilização de leite humano pasteurizado (MAIA et al., 2006). Os Bancos de Leite Humano (BLH) são instituições que executam ações de coleta, processamento, controle de qualidade do leite humano e distribuição. Em paralelo a isso, executam ações de promoção e incentivo ao aleitamento materno (ALMEIDA, 2012). Dados da Rede Brasileira de Leite Humano apontam que no ano de 2014 foram coletados no Estado da Paraíba cerca de sete mil litros de leite humano, fornecido por 6.709 doadoras, que beneficiaram 11.263 receptores (BRASIL, 2015). Os BLH são instituições sem fins lucrativos, dependendo assim, da participação e cooperação de doadoras para cumprir os seus objetivos. As doadoras são nutrizes sadias que apresentam produção láctica superior às necessidades dos seus filhos e que se dispõe a doar o excesso por livre e espontânea vontade (BRASIL, 2008). 436 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Neste contexto, este estudo propõe-se a caracterizar o perfil das doadoras e do leite coletado no posto de coleta de leite humano do HULW, nos meses de julho a agosto de 2015. 2 MATERIAIS E MÉTODO Trata-se de um estudo transversal retrospectivo com os dados das doadoras registrados no posto de coleta de leite humano do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), situado no município de João Pessoa, Paraíba, nos meses de julho e agosto de 2015. O HULW é um hospital escola de médio porte, com 238 leitos, destes, sendo seis de Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais Convencionais e seis leitos de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. O hospital não possui Banco de Leite Humano, e recebe leite humano pasteurizado de um banco de leite de gestão estadual, situado no mesmo município. Este leite recebido é destinado principalmente aos prematuros internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais Convencionais. O estudo será realizado por meio de análise de dados secundários, ou seja, por meio dos registros de cadastro das doadoras do posto de coleta de leite humano do HULW. O perfil das doadoras foi avaliado a partir de variáveis referentes à idade, ocupação, local do pré-natal, estado nutricional no início da gestação, ganho de peso durante a gestação, uso de medicamentos, intercorrências na gestação e estilo de vida, quanto ao etilismo, tabagismo e uso de drogas. Quanto a avaliação do leite humano coletado no período da pesquisa, este ocorreu a partir das informações de 437 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO volume, composição calórica e tipo de leite humano, colhidas nos formulários do Serviço de Nutrição Enteral do HULW. As análises do teor calórico foram realizadas pelo banco de leite humano Anita Cabral (BLHAC), que é referência para o HULW. Os resultados foram enviados pelo BLHAC juntamente com os respectivos lotes de leite humano pasteurizados, e arquivados no hospital. Após a coleta dos dados os questionários foram digitados utilizando os recursos do programa Microsoft Access 2013. Após a digitação, o banco de dados foi transferido para o Programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) for Windows versão 22.0 para a realização da análise estatística descritiva dos dados. O teor calórico do leite humano pasteurizado foi classificado como hipocalórico (menos que 580 Kcal/L), normocalórico (581 a 710 Kcal/L) e hipercalórico (maior que 711Kcal/L). Para este estudo foram realizadas análises descritivas e bivariadas, por meio do teste de frequência simples e cruzamento de frequências, respectivamente, obtendo assim uma caracterização das variáveis em estudo. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O presente estudo possibilitou conhecer as características das doadoras do Posto de Coleta de Leite Humano do Hospital Universitário Lauro Wanderley, João Pessoa/PB, bem como as informações de calorimetria e tipo do leite humano doado. Dos 18 cadastros de doadoras realizados nos meses de julho a agosto de 2015, 16 foram 438 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO utilizados na construção deste trabalho, visto conter todas as informações necessárias. Na Tabela 1 observam-se a distribuição de nutrizes segundo a idade, ocupação, local de realização do pré-natal, estilo de vida, intercorrências na gestação, estado nutricional no início da gestação e ganho de peso gestacional. Tabela 1: Descrição das doadoras de leite humano segundo idade, ocupação, local de realização do pré-natal e estilo de vida Variáveis N % Idade Adolescentes (< 20 anos) 06 37,5 Adultas (20 a < 40 anos) 10 62,5 Ocupação Tem trabalho 08 50 Dona de casa 05 31,2 Estudante 03 18,8 Realização do pré-natal Rede pública 16 100 Fumante Não 16 100 Etilista Não 16 100 Usa drogas Não 14 87,5 Não registrado 02 12,5 Usa medicamentos Não 14 87,5 Não registrado 02 12,5 Intercorrências na gestação Sim 05 31,3 Não 11 68,7 Estado nutricional no início da gestação Baixo peso (16,5 – 19,7) 01 6,3 Normal (19,8 – 26) 10 62,5 Sobrepeso (26 – 29) 01 6,3 439 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Obesidade (> 29) 04 25 Ganho de peso durante a gestação < 7 Kg 04 25 7 a 11 Kg 09 56,2 12,5 a 18 Kg 02 12,5 Perdeu peso 01 6,3 Fonte: Registros do Posto de Coleta de Leite Humano do HULW, julho e agosto de 2015 Caracterizando esta amostra observa-se que a maioria das doadoras eram adultas (62,5%), havendo 6 casos (37,5%) de adolescentes, sendo a média de idade de 24,8 anos e desvio-padrão de ±7,5. Com isso, percebe-se a prevalência de um grupo jovem, importando ressaltar a significante parcela de mães adolescentes, sendo assim necessário um reforço nas orientações, acompanhamento e estímulo a amamentação. Santos et al. (2009) destaca em seu estudo realizado no Banco de Leite Humano do Hospital Universitário de Londrina, Paraná, a prevalência de 11% de doadoras adolescentes. Quanto ao vínculo empregatício, metade das doadoras (50%) relatou tê-lo, sendo as outras donas de casa (31,2%) e estudantes (18,8%). Os valores deste estudo superam os de Alencar e Seidl (2009) que observaram em sua amostra uma prevalência de 15% de donas de casa e 2% de estudantes. Todas as doadoras tiveram o pré-natal assistido pela rede pública de saúde, mas especificadamente pelo Programa Saúde da Família. Isto pode ser explicado pela proximidade e expansibilidade da Equipe Saúde da Família, o que representa uma política pública bastante positiva, propiciando o acompanhamento e o cuidado ao binômio mãe-bebê. Quando questionadas sobre o estilo de vida, todas as entrevistadas afirmaram não serem tabagistas ou etilistas e 14 440 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO doadoras relataram não usarem drogas ou medicamentos (87,5%), estando não preenchido a resposta nos outros 2 casos. Segundo o Ministério da Saúde, dentre as exigências para tornar apta uma doadora de leite estão não ser tabagista, etilista, usar álcool ou drogas (BRASIL, 2008). Dessa forma é importante que não haja casos de subnotificação dessas informações como ocorrido no local de estudo desta pesquisa. No tocante ao estado nutricional das doadoras na fase inicial da gestação, 62,5% estavam dentro da normalidade, porém 31,3% das doadoras apresentaram excesso de peso. Avaliando o ganho de peso durante a gestação destaca-se que 56,2% das doadoras adquiriram de 7 a 11 kg e 25% obtiveram menos de 7 kg, sendo que em um caso invés da gestante ganhar peso ela perdeu 5 kg, o que pode representar um fator preocupante na formação da criança. Com isso, analisando os valores de ganho de peso com base nas recomendações do Institute of Medicine (2009) vislumbra-se que a maioria das doadoras não obteve um ganho de peso adequado durante a gestação, visto que 81,2% das doadoras tiveram um ganho de peso recomendado para gestantes com excesso de peso (menor que 11 kg). Ademais, 31,3% das participantes apresentaram intercorrências na gestação, sendo estas a diabetes gestacional e a infecção do trato urinário. 441 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO 35 71,7% 30 5 25 20 19 15 10 5 15,3% 13% 7 3 2 1 Leite de Transição 0 Colostro Hipocalórico Normocalórico 9 Leite Maduro Hipercalórico Figura 1 – Classificação do tipo de leite humano e teor calórico dos leites doados no Posto de Coleta do HULW nos meses de julho a agosto de 2015. Fonte: Registros do Posto de Coleta de Leite Humano do HULW, julho e agosto de 2015 A respeito do leite humano pasteurizado foram doados 46 frascos com volumes diferenciados, sendo 71,7%, 15,3% e 13% das amostras, de leite maduro, colostro e leite de transição, respectivamente. Analisando a calorimetria geral, 60,9% dos leites eram normocalóricos, 21,7% hipocalóricos e 17,4% hipercalóricos. Moraes, Oliveira e Dalmas (2013) analisando o leite coletado nos anos de 2006 a 2009, pelo Banco de Leite Humano do Hospital Universitário de Londrina, observaram que 53,5% destes eram hipocalóricos (menos que 580kcal/L), 36,4% normocalóricos e 8,3% hipercalóricos (maior que 711kcal/L). Avaliando o teor calórico de cada tipo de leite observase que todas as amostras de colostro são normocalóricos. No caso do leite de transição, metade deste era hipercalórico, 33,3% normocalórico e 16,7% hipocalórico. Já o leite maduro 442 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO se apresentou em sua maioria normocalórico (57,6%), sendo o restante formado por leites hipocalóricos (27,3%) e hipercalóricos (15,2%). Comparando com os valores de referência para composição do leite humano nos diferentes estágios de lactação, proposto por Kunz, Rodriguez-Palmero e Koletzko (1999 apud Leite, Pugliese e Trida 2014), observa-se que o leite colostro está adequado, dentro da faixa de 58 kcal/100ml; o leite de transição que tem referência de 74kcal/100ml, apenas em 50% da amostra se apresenta adequado; e o leite maduro que tem como referência de 70 a 71kcal/100ml, mostrou-se adequado em 57,6% da amostra (normocalórico). 4 CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos, pode-se verificar que as doadoras que buscam os serviços do Posto de Coleta de Leite Humano do HULW são em sua maioria adultas, que realizaram seu pré-natal na rede pública. Em relação à ocupação, metade desse grupo alegou ter vínculo empregatício, seguido das donas de casa e estudantes. O perfil do leite humano ordenhado indicou que as doações são compostas em sua maioria por leite maduro e leites normocalóricos. Comparando o teor calórico em cada tipo de leite humano com os valores de referência, o leite colostro, o leite de transição e o leite maduro apresentaram 100%, 50% e 57,6% de adequação, respectivamente. Diante do exposto, este estudo se mostrou relevante tendo em vista que o diagnóstico das características das doadoras e o perfil do leite doado fornece subsídios para 443 CARACTERIZAÇÃO DAS MÃES DOADORAS E DO LEITE COLETADO EM UM POSTO DE COLETA DE LEITE HUMANO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO definir estratégias de otimização dos serviços prestados pelo Posto de Coleta de Leite Humano do HULW. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, L. C. E.; SEIDL, E. M. F. Doação de leite humano: experiência de mulheres doadoras. Revista de Saúde Pública, v. 43, n. 1, p. 70 – 77, São Paulo, 2009. ALMEIDA, V.M.; NASCIMENTO, A.R.; CHAVES, N.P. et al. Diagnóstico das condições higiênico-sanitárias de um banco de leite humano na cidade de São Luís, MA, Brasil. Alim. Nutr., Araraquara v. 23, n. 1, p. 95-99, 2012. BRASIL. Fundação Osvaldo Cruz. A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano: Dados Estatísticos. Acesso em: 14 de junho de 2015. Disponível em: <http://www.redeblh.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=352> BRASIL. Ministério da Saúde. INAN – Recomendações Técnicas para funcionamento dos Bancos de Leite Humano. Brasília, 2008, 48p. BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde. Vigilância Alimentar e Nutricional SISVAN. 2008; 7p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. Institute of Medicine (IOM). National Academy of Sciences. Weight gain during pregnancy: Reexamining the guidelines; 2009. LEITE, A. G. Z.; PUGLIESE, C.; TRIDA, V. C. Aleitamento Materno. In: SILVA, A. P. A.; NASCIMENTO, A. G.; ZAMBERLAN, P. Manual de dietas e condutas nutricionais em pediatria. São Paulo: Editora Atheneu, 2014. cap. 1, p. 2 – 8. MAIA, P. R. S.; ALMEIDA, J. A. G.; NOVAK, F. R.; SILVA, D. A. Rede Nacional de Bancos de Leite Humano: gênese e evolução. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 6, n. 3, p. 285 – 292, Recife, 2006. MORAES, P. S.; OLIVEIRA, M. M. B.; DALMAS, J. C. Perfil calórico do leite pasteurizado no banco de leite humano de um hospital escola. Revista Paulista de Pediatria, v. 31, n. 1, p. 46 – 50, São Paulo, 2013. SANTOS, D. T.; VANNUCHI, M. T. O.; OLIVEIRA, M. M. B.; DALMAS, J. C. Perfil das doadoras de leite do banco de leite humano de um hospital universitário. Acta Scientiarum Health Sciences, v. 31, n. 1, p. 15-21, Maringá, 2009. 444 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS CAPÍTULO 30 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS Jéssica Roberta Pereira MARTINS¹ Rayanne Mara Maia das CHAGAS¹ Séfura Maria de Assis MOURA¹ Renata CHASTINET¹, ² ¹IFCE- Campos Limoeiro do Norte ²Orientador RESUMO: Azadirachta Indica A.juss, conhecida no Brasil por Nim, possui uma alta capacidade inseticida, repelente e fitoterápico. A árvore desfolha naturalmente durante janeiro e fevereiro de cada ano e as folhas são recolhidas como desperdício. Em estudos realizados por IMMCHI (2006), o pó da folha de NIM foi aplicado no tratamento de efluente de indústria. Com o crescimento industrial as descargas de efluentes contendo metais tóxicos, tornam-se preocupantes, varias pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de se empregar trocadores iônicos naturais e de baixo custo. Por essa razão o presente trabalho pretende avaliar a capacidade da cinza da folha de Nim (CFN) na remoção de metais como ferro e manganês. Para avaliar a eficiência do adsorvente será utilizado o espectrofotômetro de absorção atômica (EAA), o material em estudo mostrou-se muito eficiente na remoção destes metais, demonstrando uma eficiência de até 100% das diferentes concentrações sendo submetidos a agitação forçada e em repouso. 445 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS Palavras-chave: Tratamento Azadinachta Indica. Metais tóxicos. 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento industrial acelerado acarreta grandes benefícios para a comunidade, empregos e melhorias na qualidade populacional. Porem traz consigo problemas, como a deterioração dos ecossistemas pelo acúmulo de metais pesados, nos efluentes industriais (SILVA et al, 2013). O CONAMA (357/2005) dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluente, ferro dissolvido 15,0 mg/L e manganês 1,0 mg/L. Mesmo em concentrações reduzidas, os cátions de metais pesados, uma vez lançados num corpo receptor, como rios, mares e lagoas, por exemplo, ao atingirem as águas de um estuário sofrem o efeito denominado de Amplificação Biológica, sendo armazenados pelos organismos vivos (LIMA, 2013; OLIVEIRA, 2011). A adsorção é uma das técnicas que tem sido empregada com sucesso para remoção de metais. O carvão ativo é, até agora, o adsorvente mais usado. Considerando seu alto custo e considerando a enorme quantidade de efluente que normalmente se tratam buscam-se outros adsorventes alternaativos (HAMEED, 2011; ANDRADE, 2012). O pó do Nim mostra-se promissor como adsorvente, nim (Azadirachta indica) possui folhas com a presença de grupos polares na superfície, o que lhes confere capacidade de troca catiônica (BRASIL, 2013). 446 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS Este trabalho tem como finalidade de aplicar a cinza da folha de nim (CFN) na remoção de ferro e manganês em amostras sintéticas, com ensaios de agitação forçada e repouso. 2 MATERIAIS E MÉTODO Para produção do material adsorvente (CFN) foi utilizado como matéria-prima as podas da arvore NIM. O material foi coletado nas ruas de Limoeiro do Norte- CE. Preparo da amostra A princípio, para fazer o adsorvente, foram coletadas as podas das árvores de Nim (Azadirachta indica) essas foram lavadas e deixadas por dez dias na sombra para secar. As folhas já secas em estado quebradiço foram trituradas com o auxílio de um moinho de rotor vertical com serras de aço, cinco gramas desse material foram colocados em cápsulas de porcelana, a mesma fora posta no forno mufla sofrendo alteração de temperatura ate atingir 600°C passando assim três horas na dita temperatura. Ensaio de adsorção As soluções foram preparadas apartir de uma solução de 1000 mg/L, sendo diluída para concentração de 50 mg/L. Dois béqueres distintos, cada um contendo 0,5g de CFN, foram submetidos o primeiro a uma solução de ferro e o segundo a uma solução de manganês, dois outros béqueres foram 447 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS introduzidos ao ensaio onde foi colocado uma amostra em branco de cada metal. As alíquotas coletadas foram determinadas por EAA. A taxa de retenção do metal adsorvido foi calculada através do decréscimo da concentração dos íons metálicos no meio (Equação1): 1) Taxa de Retenção = [(Co – Cf)/Co)]×100 Sendo: Co= Concentração inicial de íons metálicos (mg.L -1) na solução, antes do contato com a CFN. Cf= Concentração final de íons metálicos (mg.L-1) na solução após o contato com a CFN. Estudo de agitação Para a verificação a influência da agitação no processo de remoção, utilizou-se 0,5 g do material adsorvente e 50 mL da solução sintética, na concentração de 50 mg/L. As misturas foram deixadas em repouso e outras submetidas à agitação em mesa agitadora orbital, à velocidade de 150 rpm por diferentes intervalos de tempo (1, 2, 3 e 24 h). As alíquotas coletadas foram determinadas por EAA. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 448 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS A CFN após o tratamento térmico teve uma grande perda em massa, essa perda se deve aos compostos orgânicos que volatilizam ou carbonizam devido à alta temperatura. Os resultados obtidos nos ensaios de adsorção realizados com as soluções em repouso e agitação forçada de manganês estão ilustrados na figura 1. 100 Com agitação Sem agitação Retenção (%) 80 60 40 20 1 2 3 4 5 6 Tempo de contato (h) Figura 01.Relação entre a adsorção da CFN (0,5g) em contato com manganês (50mg/L) em repouso e agitação (150rpm) Nesse ensaio é possível observar em ambos os casos nos primeiros 60min de ensaio houve a remoção de 100% de Mn2+ na concentração de 50mg/L. Nos referidos ensaios, a adsorção atingi o equilíbrio nos primeiros 60 min. Mesmo em agitação forçada a CFN manteve o equilíbrio da adsorção não sendo constatado dessorção de íons metais em nem uma tempo de contato. 449 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS Na Figura 02, mostra uma interpolação dos dois ensaios de adsorção, repouso e agitação forçada. Esse comportamento evidencia a elevada afinidade dos metais pelos sítios de adsorção da CFN. 100 Com agitação Sem agitação Retenção (%) 80 60 40 20 1 2 3 4 5 6 Tempo de contato (h) Figura 02. Relação entre a adsorção da CFN (0,5g) em contato com ferro (50mg/L) em repouso e agitação (150rpm) Normalmente, à agitação favorece a adsorção, no entanto alguns adsorventes quando submetidos a agitação dissociam do adsorbato. No caso dá CFN agitação não favoreceu o processo, uma vez que os resultados nos dois testes com os metais em estudo foram iguais, não havendo dessorção em nem um intervalo de tempo em estudo. 450 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS Mn2+ Fe2+ Figura 03. Precipitação íon metálica de manganês e ferro O alto índice de adsorção realizado pela CFN (Figura 03) pode ser comprovado visualmente, pela precipitação dos íons metais. Os metais testados encontram na superfície da CFN, o que comprova a afinidade com que os íons dos metaias tem pelo material adsorvente. Dessa forma, é provável que a adsorção tenha ocorrido primeiramente na superfície da CFN e em seguida por difusão para dentro dos sítios. A partir dos resultados dos ensaios e o tempo de contato de 60min ser suficiente para a adsorção obter 100% e manter o equilíbrio é possível que o adsorvente não tenha atingido o grau de saturação. 4 CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos, pode-se verificar que o percentual de 100% ocorrido nos testes de adsorção de manganês e ferro com e sem agitação, e a não ocorrência de 451 APLICAÇÃO DO PROCESSO ADSORTIVO NA REMOÇÃO DE FERRO E MANGANÊS EM AMOSTRAS SINTÉTICAS dessorção, fica provado que a CFN mostrou-se bastante eficiente na remoção dos metais testado, tanto nos testes com agitação quanto nos testes sem agitação. Em fim, conclui-se que o CFN é um material de fácil acessibilidade, baixo custo, e alta eficiência para adsorção de íons ferro e íons manganês, podendo ser usado no tratamento de efluentes para remoção destes íons. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, L. N. et al. Investigação da capacidade de adsorção/regeneração de resíduo siderúrgico para tratamento de efluentes oleosos. In: ENCONTRO BRASILEIRO SOBRE ADSORÇÃO, 9.; SIMPÓSIO IBERO-AMERICANO SOBRE ADSORÇÃO, 1., 2012, Recife. Anais… Recife: EBAIBA, 2012 BRASIL, R.B. Aspectos botânicos, usos tradicionais e potencialidades de Azadirachta indica (NEEM). Revista Enciclopédia Biosfera, V. 9, n 17; 2013. HAMEED, B. H.; DIN, A. T. M.; AHMAD, A. L. “Adsorption of methylene blue onto bamboo-based activated carbon: kinetics and equilibrium studies”, Journal of Hazardous Materials. n. 141. p. 819-825. 2007 IMMICH,A. P. S.; Remoção de corantes de efluentes testeis ultililando folhas de Azadirachta indica como adsorvente. Florianópolis, Universidade Federalde Santa Catarina, 2006. 119p (dissertação de mestrado). LIMA. D.P. Avaliação da contaminação por metais pesados na água e nos peixes da bacia do Rio Cassiporé, Estado do Amapá, Amazônia, Brasil. Dissertação de Mestrado Fundação Universidade Federal do Amapá, Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, 2013. SILVA, K. M. D.; REZENDE, L. C. S. H.; SILVA, C. A.; BERGAMASCO, R.; GONÇALVES, D. S.; Caracterização físico-química da fibra de coco verde para a adsorção de metais pesados em efluente de indústria de tintas. ENGEVISTA, V. 15, n. 1. p. 43-50, abril 2013 Oliveira IP, Oliveira LC (2011) Metais pesados. Revista Eletrônica Faculdade de Iporá 1: 59-86. 452 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS CAPÍTULO 31 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS Maria Rosilene Cândido MOREIRA1 Eder Almeida FREIRE2 Jacqueline Pires Gonçalves LUSTOSA3 1 Doutora em Biotecnologia. Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri Doutor em Bioquímica. Professor Adjunto da Universidade Federal de Campina Grande 3 Doutora em Geociências.Professora Associada da Universidade Federal de Campina Grande E-mail: [email protected] 2 RESUMO: Este estudo se propôs a investigar o perfil das pesquisas sobre Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) nas produções científicas brasileiras da última década na área de Ciências Ambientais (CiAmb). Trata-se de estudo bibliométrico que utilizou como fonte de dados a Biblioteca Científica Eletrônica on line SciELO Brasil, por ser de fácil acesso e difundir de maneira abrangente os artigos publicados no país, e o Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que coordena o Sistema de Pós-graduação brasileiro. Foram encontrados 35 artigos, com predomínio na área das Ciências da Saúde (65,7%) e em revistas de qualidade científica A e B (62,7%), além de 100 dissertações e 19 teses, porém apenas 12,6% destas classificadas nas CiAmb e concentradas no sul do país (20,1%). Estes achados refletem que os RSS vêm sendo estudados em diversas áreas do conhecimento, com discreta tendência crescente nos artigos publicados, mas decrescente nos trabalhos defendidos, sinalizando a necessidade de mais 453 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS produções textuais para difundirem o saber proveniente dos cursos de pós-graduação de outras regiões do país. Evidenciou-se ainda escassez de trabalhos sobre RSS na perspectiva das CiAmb, gerando lacunas nessa seara e obstaculizando novos olhares no campo da sustentabilidade ambiental. Palavras-chave: Sustentabilidade ambiental; Resíduos sólidos; Bibliometria. 1 INTRODUÇÃO Desenvolvimento Sustentável (DS) é conceituado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) como sendo aquele capaz de atender às necessidades do mundo contemporâneo, sem comprometer as gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades. Esta definição abrange três dimensões consideradas os pilares do DS, sendo elas a ambiental, a econômica e a social (BARBOSA, 2008). Com esta compreensão, a Sustentabilidade Ambiental pode ser alcançada através da intensificação dos recursos existentes e potenciais, da limitação do consumo de recursos esgotáveis e da utilização de produtos renováveis, sendo necessário para isso o incremento de pesquisas que proponham o desenvolvimento de tecnologias limpas, pois significa produzir e consumir de maneira a garantir os recursos sem esgotá-los (NASCIMENTO, 2012). Consistindo uma das principais dimensões, as demandas socioambientais do DS são elementos inerentes às Ciências Ambientais (CiAmb), uma vez que o escopo desta área é multidisciplinar, requerendo a compilação de diferentes 454 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS áreas do saber, possibilitando reflexões sob diferentes compreensões e perspectivas (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR CAPES, 2013). Torna-se evidente que a dimensão ambiental do DS encontra espaço nos diversos ambientes sociais e econômicos, envolvendo a participação consciente de todos os atores envolvidos, quer sejam agentes governamentais ou não. Ainda nesse sentido, a temática dos resíduos sólidos emerge como um assunto que vem sendo cada vez mais explorado, tanto no âmbito das políticas públicas, como nos ambientes de trabalho e domiciliares, principalmente, devido ao seu potencial de poluição e de reutilização. Nessa perspectiva, dentre os diferentes tipos de resíduos gerados pelo homem, os produzidos nos serviços de saúde têm merecido maior atenção nos últimos anos, especialmente por suas frações infectantes. Os resíduos sólidos dos serviços de saúde, também denominados lixo hospitalar ou resíduos de serviços de saúde (RSS) podem ser definidos como "rejeitos produzidos pelos estabelecimentos de saúde, abrangendo hospitais, clínicas veterinárias, farmácias, clínicas médicas e odontológicas, laboratórios de análises clínicas e outros (DOI; MOURA, 2011). Dessa forma, para a segregação desses resíduos, em 2005, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) publicou a Resolução no 358, que os classifica em cinco grupos: A, B, C, D e E. Enquadram-se no grupo A os que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio 455 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS ambiente devido à possível presença de agentes biológicos, dentre eles, materiais contendo secreções e líquidos orgânicos; no grupo B encontram-se os resíduos químicos; no grupo C, os rejeitos radioativos; no grupo D, os resíduos comuns e no grupo E os materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como agulhas e escalpes (BRASIL, 2005). Entretanto, mesmo com essa classificação, alguns estabelecimentos de saúde desconhecem a quantidade e a composição dos resíduos que produzem (REIS et al, 2013), resultando no seu inadequado manejo, oferecendo risco ao ambiente e à saúde. Com base nessa constatação, e considerando ser premente que mais estudos aprofundem a temática, uma vez que a questão ambiental sustentável constitui tema inesgotável de investigação e reflexões, propôs-se o presente trabalho, que buscou avaliar o perfil das pesquisas sobre RSS nos artigos publicados em periódicos nacionais e em dissertações e teses oriundas dos programas nacionais de pós-graduação stricto sensu na área de Ciências Ambientais. Pretende-se, com este artigo, contribuir para estimular reflexões acerca dos RSS na perspectiva das CiAmb, fomentando curiosidades científicas, além de discorrer sobre o que tem sido explorado atualmente nesta dimensão e assim contribuir para o Desenvolvimento Sustentável. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo configura-se como descritivo, documental, com abordagem quantitativa, que utilizou técnicas de análise bibliométrica, cuja intenção é quantificar e analisar a produção 456 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS científica acerca do tema escolhido e assim possibilitar a elucidação de estratégias para futuras pesquisas que aprofundem o assunto (SOUZA; RIBEIRO, 2013). Por bibliometria compreende-se um método quantitativo e estatístico de medição de índices de produção/disseminação do conhecimento científico, uma vez que, estudos dessa natureza abrangem toda pesquisa que tem o intuito de quantificar os processos de comunicação escrita (PRITCHARD, 1969; ARAÚJO, 2006 apud FERREIRA, 2010). Com esta definição, optou-se por este tipo de estudo, uma vez que ele pretende investigar amplamente a produção textual de artigos científicos, dissertações e teses sobre RSS, enquadrando-se na essência dos estudos bibliométricos. Para a análise dos trabalhos, foram consideradas as três leis básicas da bibliometria: a Lei de Bradford (produtividade de periódicos), ou Lei da dispersão, sob a qual é possível estabelecer o núcleo e as áreas de dispersão sobre determinado assunto em um mesmo conjunto de revistas, através da medição da produtividade dos periódicos; a Lei de Lotka (produtividade de autores), ou Lei do Quadrado Inverso, considera a perspectiva da probabilidade em publicar trabalhos, considerando que à medida que muitos autores escrevem um só trabalho isto se torna inversamente proporcional a quantidade de autores diversos que escrevem sobre um mesmo tema, ou seja, quanto mais se publica, mais fácil se torna publicar novo trabalho; e c) Lei de Zipf (frequência de ocorrência de palavras) ou Lei do Menor Esforço, que reflete a medição da frequência do aparecimento dos termos pesquisados nos documentos científicos, gerando 457 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS uma listagem ordenada sobre determinado assunto que viabiliza sua medição e análise (FERREIRA, 2010). No presente estudo, para cumprir os preceitos da Lei de Bradford, utilizou-se o Banco de Dados do Portal de Revistas Eletrônicas on line SciELO Brasil e o Banco de Teses da CAPES, a fim de identificar os periódicos e as instituições depositárias das produções acerca do tema sob estudo e assim poder verificar a dispersão do tema em âmbito nacional; para cumprir uma das premissas da Lei de Lotka, buscou-se averiguar as publicações e classificá-las conforme as diversas áreas do conhecimento, tomando como base as credenciais dos autores informadas nos artigos. Por último, em cumprimento á Lei de Zipf, foi adotado um termo de busca para identificação dos trabalhos – Resíduos de serviços de saúde - a fim de padronizar as pesquisas e encontrar o maior número de publicações e produções acadêmicas existentes nas bibliotecas investigadas. Foram analisados artigos publicados na última década (2005 – 2015) e dissertações e teses defendidas nos últimos cinco anos (2010 – 2015), a fim de estabelecer uma análise de tendência. Os artigos foram lidos na íntegra e avaliados quanto ao periódico de publicação, área de conhecimento relacionada, conteúdo da pesquisa, formação/credenciais dos autores e evolução cronológica das publicações. Além desses quesitos, o conceito Qualis da CAPES também foi mensurado, tomando-se por base a avaliação trienal 2013 (CAPES, 2013) e a área de conhecimento CiAmb na definição dos estratos, pois considera-se que, para a realidade brasileira, o Qualis da CAPES e o formato de 458 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS avaliação por estratos é a melhor maneira de analisar a qualidade das revistas científicas (FERREIRA, 2010). As dissertações e teses tiveram seus resumos lidos e foram examinadas quanto à área de conhecimento envolvida, conteúdo do trabalho, ano de defesa, instituição de educação superior vinculada e evolução cronológica das produções. Todos os documentos textuais foram lidos durante o mês de agosto de 2015 e os resultados digitados e tabulados no Microsoft Excel 2007, sendo apresentados sob a forma de tabelas e gráficos, mediante análise estatística descritiva. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados 35 artigos em 16 periódicos, que foram agrupados conforme a qualificação Qualis CAPES (Tabela 1). Tabela 1. Publicações sobre RSS, por periódico e classificação Qualis em Ciências Ambientais. Periódico Eng. Sanit. Ambient. Ciênc. saúde coletiva Cad. Saúde Pública Rev. Bras. Enferm. J. Bras. Patol. Med. Lab. Rev Panam Salud Publica Rev. Gaúcha Enferm. Acta paul. enferm. Arq Bras Endocrinol Metab. Interface (Botucatu) Quím. Nova Rev. Latino-Am. Enfermagem Rev. Soc. Bras. Med. Trop. Rev. bras. saúde ocup. Rev. bras. saúde prod. anim. Texto contexto - enferm. TOTAL N° de artigos f % 10 28,5 04 11,3 03 8,5 03 8,5 02 5,7 02 5,7 02 5,7 01 2,9 01 2,9 01 2,9 01 2,9 01 2,9 01 2,9 01 2,9 01 2,9 01 2,9 35 100,0 Estrato Qualis A2 A2 A2 Sem Qualis Sem Qualis B1 Sem Qualis Sem Qualis Sem Qualis Sem Qualis A2 Sem Qualis B1 B4 B2 Sem Qualis - 459 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS Fonte: Autoria própria, 2015. Analisando-se os estratos Qualis, verifica-se que quatro periódicos estão classificados com Qualis A2 na área das CiAmb, representando 51,2% dos artigos publicados nessa temática (18 artigos), sendo considerado padrão ouro na produção nacional conforme a classificação da CAPES na avaliação dos orientadores pertencentes aos programas de pós-graduação stricto sensu no país. No estrato B1, foram encontrados dois periódicos, com três artigos neles publicados (8,6%) e no B2 uma revista (2,9%), todos considerados bons estratos para credenciamento, manutenção e qualificação dos programas de mestrado e doutorado no país. Entretanto, em um elevado número de periódicos (08 revistas) não foi encontrada classificação Qualis para a área de CiAmb, representando 34,4% (12 artigos) da produção encontrada em RSS. Associado a isto, observa-se que cinco destes periódicos são específicos da área de Enfermagem, cujas publicações poderiam ser agregadas, contribuindo para aumentar o arsenal de publicações em CiAmb e assim reforçar o caráter interdisciplinar desta área de conhecimento. Destaca-se que a área de CiAmb foi introduzida no contexto da pós-graduação da CAPES no ano de 2011, decorrente da necessidade de contemplar as produções que envolvem a complexidade dos problemas ambientais, mediante o caráter indissociável entre os sistemas antrópicos e naturais que emergem no mundo contemporâneo (CAPES, 2013). Analisando-se a evolução cronológica das publicações, verifica-se que há uma tendência crescente, porém discreta, 460 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS com picos pontuais nos anos de 2008 e 2011, sendo de 2,9 a média de artigos publicados por ano sobre a temática em questão, durante a década pesquisada (Figura 1). Figura 1. Evolução cronológica das publicações sobre RSS. Fonte: Autoria própria, 2015. Quanto às áreas de conhecimento relacionadas às publicações (Tabela 2), verifica-se que as Ciências da Saúde agruparam a maior parte das publicações (65,7%), enfocando, sobretudo, conhecimento de RSS no âmbito universitário (MORESCHI et. al, 2014; SHINZATO et al., 2010); manejo de RSS nos estabelecimentos de atenção primária (SANTOS; SOUZA, 2012; ALVES et al., 2012), secundária (PEREIRA et al, 2013), terciária (RAMOS et al, 2011; DOI; MOURA, 2011) e em laboratórios de análises clínicas (ALMEIDA et al., 2011; GONÇALVES et al, 2011) e vulnerabilidade dos trabalhadores que manipulam esses resíduos (LAZZARI; REIS, 2011). As Engenharias também concentraram produção na temática, ocupando o segundo lugar em maior quantidade de artigos publicados (28,5%), revelando pesquisas sobre o 461 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS gerenciamento dos RSS pelos órgãos governamentais municipais (SILVA; SPERLING; BARROS, 2014; GOMES; ESTEVES, 2012;); classificação dos RSS gerados em serviços hospitalares (ADUAN et al, 2014) e caracterização microbiológica existente em RSS (SILVA et al., 2011a; SILVA et al., 2011b). Tabela 2. Artigos sobre RSS classificados por área temática. Área de conhecimento Ciências da Saúde Engenharias Ciências Agrárias Ciências Exatas e da Terra TOTAL f 23 10 01 01 35 % 65,7 28,5 2,9 2,9 100,0 Fonte: Autoria própria, 2015. Destacam-se as áreas de Ciências Agrárias, que publicou artigo de pesquisa investigando o gerenciamento de RSS em estabelecimentos veterinários (REIS et al., 2013) e das Ciências Exatas e da Terra, que publicou uma pesquisa caracterizando as cinzas geradas na incineração dos RSS (SILVA; LANGE, 2008). Estas iniciativas demonstram que o tema é complexo e multifacetado, podendo ser matéria de estudo de varias áreas de conhecimento. Ressalta-se a ausência da classificação dos artigos na área das CiAmb, embora tenham sido encontrados estudos que se enquadram nessa seara do conhecimento. Em relação à pós-graduação, foram encontrados 119 registros, sendo 100 dissertações e 19 teses. As dissertações representaram 84% do total de produções, com 81 (68%) de programas de mestrado acadêmico e 19 (16%) de mestrado profissional, sinalizando a intensa contribuição dos programas 462 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS de mestrado no incremento das pesquisas em RSS no país. Além disso, a maior quantidade de produções sobre RSS concentram-se nas Universidades Estaduais de Maringá e do Oeste do Paraná, somando 20,1% do total de trabalhos defendidos (Tabela 3). Tabela 3. Trabalhos sobre RSS por IES depositárias. IES f Universidade Estadual de Maringá 14 Univ. Estadual do Oeste do Paraná 10 Fundação Oswaldo Cruz 07 Universidade Estadual de Campinas 04 Universidade de São Paulo 04 Universidade Federal de Goiás 04 Demais IES 76 TOTAL 119 % 11,7 8,4 5,9 3,4 3,4 3,4 63,8 100,0 Fonte: Autoria própria, 2015. Para analisar a evolução cronológica das produções acadêmicas, ampliou-se a busca para os trabalhos defendidos na última década (2005-2015); porém, só estão disponíveis no portal da CAPES os trabalhos defendidos em 2011 e 2012. Entretanto, embora a análise dos dois anos disponíveis não possibilite traçar um panorama sobre a evolução cronológica das produções, os dados apresentados no biênio registraram o quantitativo de 62 trabalhos em 2011 e 57 em 2012, sinalizando um decréscimo de um ano para o outro. Além disso, esses dados refletem uma baixa produção textual oriunda dos programas de pós-graduação do país, cuja média de dissertações foi de apenas 50 e de teses 9,5, por ano, durante o biênio pesquisado. 463 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS Analisando-se as produções acadêmicas conforme a área de conhecimento relacionada, verifica-se que a maior parte delas está concentrada nas Engenharias, que detém 44,5% das produções acadêmicas sobre RSS e em segundo lugar aparecem as CiAmb, representando 12,6% dos trabalhos defendidos no período estudado (Tabela 4). Tabela 4. Áreas de conhecimento relacionadas aos trabalhos acadêmicos sobre RSS. Área de conhecimento Engenharias Ciências Ambientais Saúde Pública/Saúde Coletiva Enfermagem Administração Medicina Veterinária Demais áreas TOTAL f 53 15 14 04 03 03 27 119 % 44,5 12,6 11,8 3,4 2,5 2,5 22,7 100,0 Fonte: Autoria própria, 2015. Foram identificados ainda trabalhos acadêmicos nas áreas de Enfermagem, Administração, Medicina Veterinária, Direito e outras, em uma demonstração de que os RSS constituem assunto transversal para as diversas áreas do conhecimento científico. Ressalta-se a existência de poucos trabalhos defendidos sobre RSS relacionando-os às CiAmb; embora tenham sido encontrados estes estudos, eles representam somente 12,6% da produção total de dissertações e teses defendidas no mesmo período. 464 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS 4 CONCLUSÕES A análise bibliométrica das produções científicas nacionais sobre RSS revelou que este tema vem sendo estudado em diversas áreas do conhecimento, com discreta tendência crescente nos artigos, mas decrescente nos trabalhos oriundos da pós-graduação, embora, tenham sido encontrados mais trabalhos defendidos do que artigos publicados, sinalizando a necessidade de mais publicações para agregar valor aos cursos de mestrado e doutorado, pesquisadores envolvidos e instituições depositárias. Sob outro enfoque, evidenciou-se escassez de trabalhos sobre RSS na perspectiva das Ciências Ambientais, sinalizando haver uma lacuna nesta seara do conhecimento, necessitando que estudos futuros teçam reflexões acerca dos possíveis fatores contribuintes para este reduzido número de trabalhos envolvendo essa interface. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADUAN, S.A. et al . Avaliação dos resíduos de serviços de saúde do Grupo A em hospitais de Vitória (ES), Brasil. Eng. Sanit. Ambient., Rio de Janeiro , v. 19, n. 2, p. 133-141, 2014. ALMEIDA, M.C.A. et al. Concentração de fenol em resíduos de laboratórios de análises clínicas. J. Bras. Patol. Med. Lab.; v.47, n.4, p. 431-437, 2011. ALVES, S.B. et al. Manejo de resíduos gerados na assistência domiciliar pela Estratégia de Saúde da Familia. Rev. Bras. Enferm., v.65, v.1, p.128134, 2012. BARBOSA, G.S. O desafio do desenvolvimento sustentável. Revista Visões, v.1, n.4, 2008. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução 358 – dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras 465 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS providências. Brasília, 2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35805.pdf. Acesso em: 02 ago. 2015. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR (CAPES). Avaliação trienal 2013. Disponível em: http://qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/documentosDeArea.seam?con versationPropagation=begin. Acesso em: 20 jul. 2015. DOI, K. M.; MOURA, G. M. M. S. S. Resíduos sólidos de serviços de saúde: uma fotografia do comprometimento da equipe de enfermagem. Rev. Gaúcha Enferm., vol.32, n.2, p. 338-344, 2011. FERREIRA, A.G.C. Bibliometria na avaliação de periódicos científicos. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v.11, n.3, 2010. Disponível em: http://www.dgz.org.br/jun10/Art_05.htm#NOTAS. Acesso em: 20 ago. 2015. GONÇALVES, E.M.N. et al. Modelo de implantação de plano de gerenciamento de resíduos no laboratório clínico. J. Bras. Patol. Med. Lab., v. 47, n.3, p. 249-255, 2011. GOMES, L. P.; ESTEVES, R. V. R. Análise do sistema de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde nos municípios da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil. Eng. Sanit. Ambient., Rio de Janeiro , v. 17, n. 4, p. 377-384, 2012 . LAZZARI, M.A.; REIS, C.B. Os coletores de lixo urbano no município de Dourados (MS) e sua percepção sobre os riscos biológicos em seu processo de trabalho. Ciênc. saúde coletiva, v.16, n.8, p.3437-3442, 2011. MORESCHI, Claudete et al . A importância dos resíduos de serviços de saúde para docentes, discentes e egressos da área da saúde. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre , v. 35, n. 2, p. 20-26, 2014 . NASCIMENTO, E.P. Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social ao econômico. Estudos Avançados, v.26, n. 74, p. 51-64, 2012. PEREIRA, M.S. et al. Gerenciamento de resíduos em unidades não hospitalares de urgência e emergência. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v.21, n.especial, p.259-266, 2013. RAMOS, Y.Z. et al. Vulnerabilidade no manejo dos resíduos de serviços de saúde de João Pessoa (PB, Brasil). Ciênc. saúde coletiva, v. 16, n. 8, p. 3553-3560, 2011. REIS, M. A. et al. Conhecimento, prática e percepção sobre o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde em estabelecimentos médicos veterinários de Salvador, Bahia. Rev. bras. saúde prod. anim., v.14, n.2, p.287-298, 2013. 466 REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS SANTOS, M.A.; SOUZA, A.O. Conhecimento de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família sobre resíduos dos serviços de saúde. Rev. Bras. Enferm., v.65, n.4, p.645-652, 2012. SHINZATO, M.P. et al. Análise preliminar de riscos sobre o gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde de uma instituição de ensino em Mato Grosso do Sul: estudo de caso. Rev. bras. saúde ocup., v.35, n.122, p.340-352, 2010. SILVA, M.L.; LANGE, L.C. Caracterização das cinzas de incineração de resíduos industriais e de serviços de saúde. Quím. Nova, v.31, n.2, p.199203, 2008. SILVA, D. F.; SPERLING, E. V.; BARROS, R. T. V. Avaliação do gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde em municípios da região metropolitana de Belo Horizonte (Brasil). Eng. Sanit. Ambient., Rio de Janeiro , v. 19, n. 3, p. 251-262, 2014. SILVA, C.A.M.C. et al. Caracterização microbiológica de lixiviados gerados por resíduos sólidos domiciliares e de serviços de saúde da cidade do Rio de Janeiro. Eng. Sanit. Ambient., v.16, n.2, p.127-132, 2011a. SILVA, W.S. et al. Avaliação dos benefícios da coleta de lixo em Palmas, Tocantins: uma aplicação do método de avaliação contingente. Eng. Sanit. Ambient., v.16, n.2, p.141-148, 2011b. SOUZA, M.T.S.; RIBEIRO, H.C.M. Sustentabilidade ambiental: uma metaanálise da produção brasileira em periódicos de administração. Revista de Administração contemporânea, v.17, n.3, p.368-396, 2013. 467 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE CAPÍTULO 32 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE Daniele Fidelis de ARAÚJO1 Emerson Eduardo Farias BASÍLIO 1 Emilly Firmino de MOURA1 Célia Regina DINIZ2 1 Estudante do curso de Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB; 2 Professora da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB RESUMO: Os Resíduos dos Serviços de Saúde - RSS representam um problema de saúde individual e coletiva para aqueles que trabalham no seu manejo, e para comunidade que é indiretamente exposta por meio dos aerossóis e vetores. O objetivo do estudo foi avaliar se a geração dos RSS favorece a ocorrência de doenças ocupacionais e/ou acidentes de trabalho entre profissionais dos serviços de limpeza.A pesquisa foi realizada numa Instituição Pública de Ensino Superior (IES) da cidade de Campina Grande - PB, entre agosto de 2014 e julho de 2015, com 11 profissionais que trabalham com os serviços de limpeza nas unidades geradoras de RSS. Verificou-se que a instituição deve estabelecer umapolítica permanente de educação ecapacitação de seus funcionários, com enfoque para gerenciamento dos RSS, visando à prevenção deacidentes durante as atividades de trabalho, a preservação do meio ambiente e a promoção da saúde da população. Palavras-chave: Resíduos dos Serviços de Saúde. Saúde do Trabalhador.Acidentes de Trabalho. 468 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE 1. INTRODUÇÃO Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) têm despertado especial atenção das autoridades e da população em geral sobre a importância e o significado desses, como risco potencial para a saúde humana e ambiental. De acordo com as resoluções nº 306 da ANVISA (BRASIL, 2004a) e nº 358 do Conama - Conselho Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 2005a), os Resíduos dos Serviços de Saúde (RSS) são gerados por todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre outros similares. O gerador de resíduos de serviços de saúde deve estar atento ao cumprimento da RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº 358/05. Ao cumprir as normas de biossegurança, todo gerador, estará prevenindo acidentes entre as pessoas que trabalham no manejo dos RSS. É necessário administrar os riscos de infecções nas instituições que geram resíduos dos serviços de saúde, buscando sempre a minimização máxima das infecções oriundas deste contexto institucional. Nessas organizações 469 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE existe ainda a possibilidade dos riscos químico e físico, pelos produtos e materiais utilizados, os quais são igualmente perigosos requerendo uma política de manuseio e controle adequado. No Brasil, a preocupação com os riscos inerentes à atividade profissional do trabalhador fez com que fossem materializadas normas de condutas a serem seguidas pela classe patronal e laboral. Várias determinações dirigidas para profissionais da área da saúde estão contidas na NR-32, aprovada pela Portaria no 485/2005 do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2005b). De acordo com a Portaria nº 3.214/1978, na sua NR-6 (BRASIL, 1978), no caso de agentes insalubres químicos e físicos, equipamentos de proteção individual (EPI), assim como equipamentos de proteção coletiva e controle na fonte, devem ser adotados. Empregado e empregador têm responsabilidade na observância destes equipamentos. Desse modo, constitui-se em falta a recusa injustificada do uso de equipamentos de segurança. No caso de agentes biológicos, como em grande parte das situações é impossível ou inviável o controle na fonte ou do ambiente, a utilização de barreiras de proteção, representadas nesse caso pelos EPI, deve ser conduta prioritária em todas as situações que ofereçam risco (CAIXETA; BARBOSA-BRANCO, 2005). Todos os estabelecimentos geradores de RSS devem disponibilizar os equipamentos de proteção individual (EPI) e equipamentos de proteção coletiva (EPC) específicos de acordo com o risco envolvido. Entretanto, apesar da adoção de medidas preventivas, acidentes podem ocorrer e expor os trabalhadores ao material biológico. Todos que trabalham no manejo dos RSS devem ter ciência dos riscos de acidentes inerentes a esta prática laboral e às medidas de segurança a 470 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE serem adotadas para prevenir acidentes. Cabe também a estes profissionais comunicarem imediatamente todo evento adverso com possível exposição a agentes biológicos, ao responsável pelo local de trabalho e, quando houver e ao serviço de segurança do trabalho. Os estabelecimentos que geram RSS, devem estar estruturados para fazer a notificação do acidente, atendimento e acompanhamento do profissional, quando necessário. Acidente com material biológico é considerado como agravo de notificação compulsória pela Portaria n° 777/2004, a qual também prevê o uso da ficha de notificação padronizada pelo Ministério da Saúde para a notificação compulsória e segundo o fluxo do Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN) (BRASIL, 2004b). A adoção de medidas preventivas, para instituições geradoras de RSS, é extremamente necessária, uma vez que os riscos à saúde são mais eminentes pela possibilidade de contágio por agentes infecciosos ao se considerar as características da modalidade de serviços que são desenvolvidos por estas instituições. Este trabalho teve como objetivo avaliar se a geração dos Resíduos dos Serviços de Saúde favorece a ocorrência de doenças ocupacionais e/ou acidentes de trabalho entre profissionais que trabalham com os serviços de limpeza, após exposição a material biológico e/ou perfurocortante potencialmente contaminados. 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada numa Instituição Pública de Ensino Superior (IES) da cidade de Campina Grande - PB, no 471 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE período de agosto de 2014 a julho de 2015. Teve como sujeitos da pesquisa, os profissionais que trabalham com os serviços de limpeza nas unidades geradoras de RSS. Foram investigados os aspectos de segurança do trabalho (riscos biológicos, físicos e químicos). Foram entrevistados 11 auxiliares de serviços de limpeza, que trabalham nas clínicas de Odontologia, Enfermagem, Fisioterapia, Laboratório de Análises Clínicas, Farmácia-Escola da instituição investigada. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação aos dados dos profissionais que trabalham diretamente nos serviços de limpeza. Foram entrevistados 11 auxiliares de serviços de limpeza, que trabalham nas clínicas de Odontologia, Enfermagem, Fisioterapia, Laboratório de Análises Clínicas e FarmáciaEscola. A maioria (63,6%) possui ensino médio e trabalham nesta atividade entre 4 e 7 anos (54,5%) (Figura 1) e trabalham diretamente com os RSS (72,7%). Embora a maioria destes profissionais trabalhe há bastante tempo nesta atividade, e 63,6% informarem que conhecem a classificação dos RSS, os resultados sugerem não serem fidedignos, pois apenas um funcionário (9,1%) realizou curso de capacitação e 27,3% assistiram apenas uma palestra abordando a temática. 472 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE 12 anos 9,09% 9 anos 9,09% 27,27% 5 a 7 anos 27,27% 4 anos 27,27% ≤ 2 anos 0 1 2 3 Figura 1. Tempo de serviço como Auxiliar de Serviços Gerais, entre profissionais pesquisados, Instituição de Ensino Superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 Énecessária uma capacitação específica a respeito do tema para que este assunto seja incorporado comouma corresponsabilidade na equipe de profissionais que atuam no gerenciamento e manejo dos RSS.De acordo com Fernandes, Maciel e Xavier (2007) osprogramas de capacitação ou educação permanente são de fundamental importância, pois éatravés destes que os profissionais podem familiarizar-se com as normas que regemtodo o gerenciamento dos RSS, bem como aderir aos princípios que visam à manutençãoda saúde do trabalhador, da população e da preservação do meio ambiente.É extremamente necessário que o profissional tenha uma instrução adequada para atuar corretamente nos serviços de coleta e limpeza das unidades que geram RSS. A higienização dos ambientes que geram RSS é fundamental para garantir a segurança e a saúde das pessoas que frequentam estes setores. Além de prevenir doenças e manter os locais em perfeito estado, a limpeza evita a proliferação de bactérias e a disseminação de doenças. 473 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE Portanto, a higienização deve ser feita por profissionais devem estar capacitados para retirar osRSS, controlar produtos de limpeza e saber sobre o correto destino final destes resíduos para que a possibilidade de contaminação seja reduzida. Entre as atividades desenvolvidas pelos profissionais que trabalham nos serviços de limpeza dos serviços de saúde destacam-se: limpeza dos setores, retirada e transporte dos RSS dentro da unidade e até o armazenamento externo. Apesar de a grande maioria considerar que esta atividade representa riscos de acidentes de trabalho ou de doenças ocupacionais (90,9%), verificou-se que um funcionário (9,1%) não considera esse risco. O Quadro 2, apresenta os riscos apontados pelos profissionais que trabalham nos serviços de limpeza dos RSS. Contudo, quanto ao uso de Equipamento de Proteção Individual - EPI, não foi verificado o uso completo dos EPIs. Todos informaram usar luva e máscara (100%). Além destes, 72,7% informaram que usam a touca, 63,6% sapato fechado, 45,5% usam jaleco e 9,1% usam avental ou óculos. Entretanto, foi verificado, in loco, que muitos não usam nenhum EPI no transporte dos RSS (Figura 2a).Todos os estabelecimentos geradores de RSS devem disponibilizar osequipamentos de proteção individual (EPI) e equipamentos de proteção coletiva (EPC) específicosde acordo com o risco envolvido. Como EPC, o único equipamento que foi declarado foi um “cabo de vassoura” que auxilia no transporte dos sacos até o armazenamento externo (18,2%) (Figura 2b). 474 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE b a Figura2. Transporte dos Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS, sem uso de EPI e de EPC, pelos profissionais de serviços gerais, Instituição de Ensino Superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 Quadro 2: Principais riscos segundo os profissionais que trabalham com os serviços de limpeza dos RSS, Instituição de Ensino Superior, Campina Grande, PB, 2014-201 Riscos durante atividade de coleta e limpeza dos RSS Doenças como hepatite, sífilis, AIDS, tuberculose Contato com fezes, urina e sangue e com placas de Petri contaminadas Cortes ou com perfurocortantes, lâminas, quedas e queimaduras Contaminação com sangue, seringas, bisturis, luvas e algodão contaminados, resíduos tóxicos e de radiologia Contaminação bactérias, fungos com substâncias químicas Apesar da adoção de medidas preventivas,acidentes podem ocorrer e expor os trabalhadores aomaterial biológico. Assim, todos que trabalham no manejo dos RSS devem ter ciência dos riscos de acidentes inerentes a esta prática laborale às medidas de segurança a serem adotadas paraprevenir acidentes. Cabe também a estes profissionais 475 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE comunicarem imediatamente todo evento adverso compossível exposição a agentes biológicos, ao responsávelpelo local de trabalho e, quando houver e ao serviço desegurança do trabalho. Os estabelecimentos que geram RSS, devem estar estruturados para fazer a notificaçãodo acidente, atendimento e acompanhamento doprofissional, quando necessário. Acidente com materialbiológico é considerado como agravo de notificaçãocompulsória pela Portaria n° 777/2004, a qual tambémprevê o uso da ficha de notificação padronizada peloMinistério da Saúde para a notificação compulsória esegundo o fluxo do Sistema de Informação de Agravose Notificação (SINAN) (BRASIL, 2004b). A Norma Regulamentadora NR –32 torna-se necessária, uma vez que temcomo finalidade estabelecer as diretrizesbásicas para a implantação de medidas deproteção à segurança e à saúde dostrabalhadores dos serviços de saúde (BRASIL, 2005b), particularmente quando se refere à exigência das instituiçõesde disponibilizarem os Equipamentos deProteção Individual – EPI, para que os mesmos sejam usados de forma adequada esegura. Nenhum funcionário mencionou ocorrência de acidentes de trabalho. Entretanto, 27,3% relataram problemas ergonômicos ou doenças adquiridas (Figura 3). Entre elas destacaram-se: problemas de coluna, de pele e dores nos ombros, associadas a sobrepeso. Exposições mecânicas como levantamento ou transporte dos RSS, particularmente emposturas inapropriadas, movimentos de puxar eempurrar, podem estar associadas às dores de coluna e de ombro. 476 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE Figura3. Doenças ocupacionais segundo os profissionais que trabalham com os serviços de limpeza dos RSS, Instituição de Ensino Superior, Campina Grande, PB, 2014-2015 Conforme pesquisa da Fiocruz, os profissionais que atuam nas áreas de limpeza, construção civil, mecânica e metalurgia são os mais afetados pela dermatite de contato ocupacional, uma espécie de alergia de pele causada por agentes físicos, químicos e biológicos presentes no ambiente de trabalho, que causa desconforto, dor, prurido (coceira), queimação e reações psicossomáticas que podem comprometer a saúde como um todo.Dos 1.735 pacientes atendidos entre 2000 e 2011 no Serviço de Dermatologia Ocupacional da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, vinculada à Fiocruz, 218 adquiriram a doença no ambiente de trabalho. As ocorrências ocupacionais são subnotificadas devido ao desconhecimento sobre a legislação das doenças ocupacionais pelos profissionais de saúde da rede pública e privada, a falta de integração nos diversos níveis de assistência e o déficit de serviços de dermatologia ocupacional (SAÚDE E CIÊNCIA, 2013) 477 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE Nesse estudo, apesar das atividades apresentarem riscos à saúde do trabalhador, 27,3% não têm esquema de vacinação completo. A imunização é a medida mais eficaz e duradoura na prevenção de doenças, além de ser um excelente meio de minimizar a ocorrência de endemias e epidemias (ALVES et al., 2006). A imunização dos profissionais que trabalham com os serviços de limpeza dos RSS, é imprescindível já que estão expostos a microrganismos patogênicos, causadores de doenças infeciosas. O contato humano com os resíduos dos serviços de saúde implica riscos biológicos, químicos e físicos à saúde dostrabalhadores envolvidos principalmente com sua coleta, transporte e armazenamento. Aexposição também abrange uma série de agentes patogênicos, tais como bactérias, fungos, vírus eparasitas, além de substâncias químicas tóxicas e de fatores como excesso de barulho, exposiçãoà radiação solar e esforço muscular excessivo (RUSHTON, 2003; WOUTERS et al., 2006; OLIVEIRA,2007; DOMINGO, et al., 2009). Apesar dos profissionais deste estudo não reatarem acidentes de trabalho no desenvolvimento de suas atividades, os resultados apresentados são preocupantes, pois eles aumentam os riscos potenciais a que estes trabalhadores estão expostos. Estudos realizados Marino et al. (2001) relataram que, em seis anos,foram tratados aproximadamente 1.300 casosde acidentes envolvendo materiais biológicosno Hospital São Paulo. Desses acidentes, 90%foram problemas percutâneos, a maioria envolvendoagulhas, casos são frequentemente provocados pela disposiçãoinadequada e reencape das 478 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE agulhas. No entanto,a subnotificaçãodos acidentes de trabalho no país, é uma realidadeque impossibilita a detecçãodos riscos potenciais a que os trabalhadoresdos serviços de saúde estão expostos.Acredita-se que o gerenciamento adequadodos resíduos possa contribuir significativamentepara a redução da ocorrência de acidentesde trabalho, especialmente aqueles provocadospor perfurocortantes. Dessa forma, tambémpoderia ser reduzida a exposição percutâneados trabalhadores dos serviços de saúde amateriais biológicos, uma medida no contextoda biossegurança que teria grande valor para asaúde ocupacional (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004). 4. CONCLUSÕES Os resultados permitiram concluir que a instituição deve estabelecer umapolítica permanente de educação ecapacitação de seus funcionários, com enfoque para gerenciamento dos Resíduos dos Serviços de Saúde, visando à prevenção deacidentes durante as atividades laborais, a preservação do meio ambiente e a promoção da saúde. O gerenciamento adequadodos resíduos pode contribuir significativamentepara a redução da ocorrência de acidentesde trabalho, especialmente aqueles provocadospor perfurocortantes. Dessa forma, tambémpode ser reduzida a exposição percutâneados trabalhadores que manuseiam os RSS amateriais biológicos, melhorando sua biossegurança. 479 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES V. M., et al.. A base de dados Scielo como fonte para pesquisas sobre o tema vacinação. Rev Rene.,v. 7, n.1, p.61-69,2006. BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978.Brasília, 1978.Disponível em: <http://www.editoramagister.com/doc_308880_PORTARIA_N_3214_DE_8 _DE_JUNHO_DE_1978.aspx>. Acesso em 20 de setembro de 2015. ______. Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 306, de 07 de dezembro de 2004: dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília, 2004a. ______. Ministério do Trabalho. Portaria nº 777/GM, de 28 de abril de 2004. Brasília, 2004b.Disponível em: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2012-07/portaria-no.-777-gmem-28-de-abril-de-2004.pdf>.Acesso em 20 de setembro de 2015. ______. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 358, de 29 de abril de 2005: dispõe sobre o tratamento e a disposição fi nal dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Brasília, 2005a. ______. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde). Portaria GM nº 485, de 11 de novembro de 2005. Brasília, 2005b. CAIXETA, R. B.; BARBOSA-BRANCO, A. Acidente de trabalho, com material biológico, em profissionais de saúde de hospitais públicos do Distrito Federal, Brasil, 2002/2003. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 737-746, jun. 2005. DOMINGO, J. L.; NADAL, M. Domestic waste composting facilities: A review of human health risks. Environment International, v. 35, p. 382– 389, 2009. FERNANDES, M. I.; MACIEL, S. S. S. V.; XAVIER, W. C. S. Gerenciamento dos resíduos sólidos nos serviços de saúde dos hospitais de Caruaru-PE. Rev Saúde Coletiva, v. 3, n.1, p. 45-54, 2007. GARCIA, L. P. ZANETTI-RAMOS, B. G. Gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde: uma questão de biossegurança. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p.744-752, mai-jun, 2004. MARINO, C. G. G. et al. Cut and puncture accidents involving health care workers exposed to biological materials. Braz J Infect Dis; v. 5, p. 235-42, 2001. OLIVEIRA, M. G. Características organizacionais e acidentes ocupacionais em empresas de limpeza urbana em Salvador – BA. 480 RISCOS DE ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE Tese de Doutorado, Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia. 2007. RUSHTON, L. Health hazards and waste management. British Medical Bulletin., v. 68, p.183 – 197, 2003. SAÚDE E CIÊNCIA. Doenças de pele afetam mais os trabalhadores da construção, limpeza e metalurgia. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/saude/2013/07/metalurgicos-etrabalhadores-da-construcao-civil-limpeza-sao-os-mais-afetados-pordoencas-na-pele-9512.html/>. 2013. Acesso em: 20 de setembro de 2015. WOUTERS, I. M. et al.. Overview of Personal Occupational Exposure Levels to Inhalable Dust, Endotoxin, b(13)-Glucan and Fungal Extracellular Polysaccharides in the Waste Management Chain. Ann. Occup. Hyg., v.50, n.1, p. 39–53, 2006. 481 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB CAPITULO 33 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS:ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB Rômulo Henrique Teixeira do EGITO1 Henrique de Castro SILVA1 Arturo Dias da CRUZ1 Gilcean Silva ALVES2 1 Graudando em Gestão Ambiental do IFPB, João Pessoa; 2Professor Doutor de Ecologia Geral do IFPB [email protected] RESUMO:O presente estudo vem mostrar uma análise de percepção ambiental e saúde dos frequentadores da Praça da Paz que utilizam o espaço para pratica de atividade física e lazer, como também uma contabilização das espécies arbóreas presentes, e qual o grau de importância é dada a arborização e a atividade física assim como os principais problemas relatados pelos usuários. Foi feito um breve estudo sobre as plantas arbóreas presentes na Praça da Paz como também aplicado um formulário com o objetivo de fazer a ligação entre o espaço verde ali presente e a atividade física, e os resultados mostraram que existe a uma preocupação das pessoas em praticar atividades físicas em espaços arborizados e apesar de grandes problemas apresentados a Praça da Paz ainda é um bom lugar para se frequentar. Palavras-chave: Meio ambiente.Saúde e qualidade de vida. 1. INTRODUÇÃO 482 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB As áreas verdes são consideradas um indicador na avaliação da qualidade ambiental urbana e também obrigatórias por lei. Quando não existem ou não são efetivadas no ambiente urbano interferem na qualidade do mesmo, bem como a falta desses espaços adequados para o lazer prejudica a qualidade de vida da população já que assumem um papel de equilíbrio entre o espaço modificado para o assentamento urbano e o meio ambiente, a falta de arborização pode trazer desconforto térmico e possíveis alterações no microclima (LIMA; AMORIM, 2006). A paisagem exerce uma influência marcante na vida das pessoas, ao ponto de melhorar a qualidade de vida quando as mesmas são tratadas, em especial a dos espaços públicos, isso estimula a mobilização dos cidadãos a favor da cidade, a paisagem urbana pode, ainda, ser analisada pelo direito, pois trata-se de um bem de domínio público, de desfrute e uso comum; Com o crescimento populacional das cidades , nota-se um planejamento urbano onde a valorização da vegetação, como um todo, não tem sido considerada pela grande importância que desempenha na melhoria das condições de vida nos centros urbanos , ficando muitas vezes em segundo plano (FERREIRA 2005). A arborização ainda contribui agindo sobre o lado físico e mental do homem, atenuando o sentimento de opressão frente as grandes edificações. Constitui-se em eficaz filtro de ar e de ruídos, exercendo ação purificadora por fixação de poeiras, partículas residuais e gases tóxicos, proporcionando a depuração de microrganismos e a reciclagem do ar através da fotossíntese. Exerce ainda influência no balanço hídrico, atenua a temperatura e luminosidade, amortiza o impacto das 483 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB chuvas além de servir de abrigo à fauna (DANTAS; SOUZA 2004). 2. MATERIAIS E MÉTODOS Descrição da Área de Estudo O estudo foi realizado na Praça da Paz no bairro dos Bancários na cidade de João Pessoa/PB, (Figura 1). De acordo com o censo realizado pelo IBGE (2010) o bairro tem uma população de 11.863 habitantes, e muitos destes utilizam a praça como forma de lazer, exercícios e bem estar. A Praça da Paz fica localizada na parte central do bairro e o grande diferencial desta área é que hoje é composta por parques infantis, quadras de esporte, academia para a terceira idade, pista de skate, pista de cooper, biblioteca, jardins, anfiteatro, lanchonetes e bares (SOARES, 2014), e apesar de uma grande falta de manutenção ainda é bastante utilizada principalmente no início da manhã e no final da tarde. A Praça da Paz atualmente se apresenta como atrativo espaço de uso coletivo para pessoas de diferentes idades, consistindo em contraexemplo da lógica do esvaziamento público, da abdicação crescente do público em relação ao privado nas grandes cidades (SENNETT, 1998;CALDEIRA, 2000,apud, Soares, 2014).MAPA PRAÇA DA PAZ – JOÂO PESSOA /PB 484 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB Figura 2. Mapa da praça da paz Foi realizada uma pesquisa de campo no período entre maio e agosto de 2015 dividida em dois momentos, primeiramente, um estudo das condições arbóreas, através de informações anotadas em ficha de campo e análise das folhas, caule, frutos e outras características com o intuito da identificação das espécies. Em um segundo momento foi realizada a aplicação de um formulário com 80 pessoas de percepção ambiental nos períodos matutino e vespertinos com o objetivo de avaliar a interação dos usuários da praça e as condições ambientais ali presentes. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na primeira etapa do estudo na praça foi possível observar uma grande variedade de espécies num total de 161 plantas arbóreas catalogadas. Observamos também uma grande presença de vegetação arbustiva e gramínea. Catalogámos árvores nativas de Mata Atlântica como o Pau Brasil (Caesalpinia echinata), Jucá (Caesalpinia férrea) e a Goiabeira 485 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB (Psidium guajava) e árvores exóticas como a Castanhola (Terminalia catappa), Algaroba (Prosopis juliflora) e o Tamarindo (Tamarindus indica), sendo clara a percepção do número de espécies exóticas superior ao número de espécies nativas. Foi observado que os indivíduos arbóreos atuais apresentam em sua maioria altura média entre 2 e 7 metros mesmo em casos de espécies de grande porte como o Pau Brasil (Caesalpinia echinata), e Ipê (Tabebuia impetiginosa). Na segunda etapa através da aplicação dos formulários com 80 pessoas e observamos os seguintes resultados sobre a faixa etária (Figura 2). Matutino Abaixo de 20 20 a 30 30 a 40 40 a 50 50 a 60 60 a 70 Acima de 70 Homem 1 5 3 5 5 2 21 Mulher 2 1 1 8 5 2 19 Vespertino Homem 2 4 4 2 5 1 2 20 Mulher 2 8 5 3 2 20 Tabela 1. Relação de faixa etária e gênero nos períodos matutino e vespertino. É possível notar que no período matutino 40 entrevistadas tem idade superior a contrapartida a faixa etária no período destaque para pessoas de até 50 anos, e maioria jovens. 27 pessoas das 50 anos, em vespertino tem em sua grande 486 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB Abaixo a (Figura 3) mostra o grau de importância da vegetação: Figura 2. Relação da Importância da Vegetação Foi constatado que nenhum dos entrevistados considera a arborização da Praça Pouquíssimo ou Pouco importante, opções essas apresentadas no formulário. E de acordo com os dados coletados 55% das pessoas responderam que não utilizariam a praça com a mesma frequência se a área não fosse arborizada. De acordo com KARDAN et.al (2015) as pessoas que vivem em vizinhanças que tem uma grade quantidade de árvores em suas ruas relatam uma percepção de um significante aumento na saúde e significantemente menos situações cardo-metabólicas. As áreas verdes contribuem para requalificação da estrutura urbana dando uma imagem mais atrativa aos locais que foram implantadas (BLANC, 2008; MADUREIRA, 2012 apud SILVA,2014). A gestão e ocupação de espaços públicos arborizados são de 487 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB fundamental importância para o desenvolvimento das atividades físicas e de lazer, bem como o desenvolvimento da consciência Ambiental, pode atuar como um instrumento na mudança de atitudes (SZYMCZAK et.al 2012). Em análise da figura 4, pode se notar que a maioria dos entrevistados utiliza o espaço da praça destinados a atividade física 5 vezes por semana em ambos os períodos, com uma faixa uso da praça de mais de 5 anos no período matutino e de um 1 ano ou menos no período vespertino Frequência Matutino Vespertino Tempo Matutino Vespertino 1 por semana 2 1 1 ano 6 14 2 por semana 3 3 2 anos 2 5 3 por semana 6 11 3 anos 5 4 4 por semana 7 4 4 anos 4 3 5 por semana 15 13 5 anos 2 6 Mais de 5 7 8 Mais de 5 21 8 Tabela 2. Tabela de frequência e tempo A figura 5 apresenta o grau de importância que os entrevistados deram a atividade física, mostrando que mais de 50% atribuíram essa atividade uma importância fundamental. 488 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB Figura 3. Grau de importância de atividades físicas Outra questão abordada no estudo foi relativa a críticas, sugestões e opiniões sobre a praça. Os resultados obtidos levaram a 3 tópicos em grande relevância: 33,7% criticaram a falta de segurança, 28,7% criticaram a falta de conservação dos equipamentos da academia ao ar livre e 36,2% criticaram a má conservação da praça como questões relacionadas iluminação e toda parte de infra estrutura ali presentes. 4. CONCLUSÕES A atividade física associada a um espaço arborizado é de importância fundamental para os frequentadores da Praça da Paz, mesmo que 45% do total de pessoas abordadas tenha declarado que frequentaria o espaço da mesma forma se este não fosse arborizado. Tal afirmação tem respaldo em questões como a proximidade da residência ou do trabalho, fator de influencia fundamental para a escolha do espaço para a prática de atividade física. 489 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB Outra questão importante do estudo compete a temas como segurança e conservação do espaço, uma vez que o trecho do formulário dedicado a críticas, sugestões e opiniões foi preenchido em sua maioria com reclamações relacionadas a esses temas, revelando um problema de gestão publica carente de preocupação efetiva com áreas verdes dedicadas a atividade física e lazer comunitário. Por fim, nota-se que espaços como esse têm relevância imprescindível quando objetiva-se trabalhar a associação de temas como o meio ambiente, saúde e qualidade de vida comunitária, por esse motivo merecem ser multiplicados e conservados com apresso pela administração publica afim de contribuir para uma melhoria da satisfação popular. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DANTAS.I.C; SOUZA.C.M.C. ARBORIZAÇÃO URBANA NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE - PB: Inventário e suas espécies. Revista ciências biológicas da terra. Vol. 4, n°2 – 2° semestre de 2004. FERREIRA. A.D. EFEITOS POSITIVOS GERADOS PELOS PARQUES URBANOS: o caso do passeio público da cidade do rio de janeiro. Dissertação (mestrado em ciência ambiental) – Universidade federal de Fluminense, Niterói:[s.n.], 2005. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. <Www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/.../0000000490.xls >. Acesso dia 11/08/2015 LIMA.V; AMORIM.M.C.C.T. A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS VERDES PARA A QUALIDADE AMBIENTAL DAS CIDADES. Revista formação, vol. 1, n°13, pg.139-165,2006. SILVA. J. F. D. CONTRIBUTO DOS ESPAÇOS VERDES PARA O BEMESTAR DAS POPULAÇÕES ESTUDO DE CASO EM VILA REAL. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana: Ordenamento do Território e Desenvolvimento,2014 SOARES.S.L.R. REVITALIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO 490 BEM-ESTAR E ARBORIZAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO DE CASO – PRAÇA DA PAZ – JOÃO PESSOA - PB E OS IMPACTOS SOBRE AS SOCIABILIDADES ENTRE IDOSOS NA CIDADE: o caso da praça da paz em João Pessoa. Revista A Terceira Idade Estudos Sobre o Envelhecimento, vol. 25, n°59, pg. 33-44, 2014. SZYMCZAK. D. A; BRUN. F. G. K; KLEINPAUL. I. S; MARAFIGA. J. S; KRAMPE. A. L. Percepção Ambiental Na Gestão De Espaços Públicos: O Caso Da Cohab Fernando Ferrari, Santa Maria, RS. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v(7), nº 7, p. 1500-1509, MAR-AGO, 2012 KARDAN. O; GOZDYRA. P; MISIC. B; MOOLA. F; PALMER. L. J; PAUS. T; BERMAN. M. G. Neighborhood greenspace and health in a large urban center. Scientific Reports ,2015. 491 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS CAPÍTULO 34 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS Kalanity de Souza Alves1 Roberta Florêncio Sabina da Silva2 1 Bióloga,SUVISA-GO,Goiânia-GO; 2Gestora Ambiental,SUVISA-GO,Goiânia-GO ([email protected]) RESUMO: O grande número de postos de combustíveis instalados em áreas urbanas, periféricas e em rodovias, tem elevado os riscos de contaminação do solo, água e ar e consequentemente da população. Os tanques de aço subterrâneos em uso por mais de 20 anos de instalação, são mais vulneráveis a corrosões e rachaduras. Estima-se que o número de postos com vazamento variam de 20% a 30% no Brasil. O frentista é o profissional com alta probabilidade de contaminação pela exposição direta e frequente aos produtos químicos, assim como a população circunvizinha ao posto. Em 2003, 31 moradores de Valparaiso-GO foram intoxicados pelos compostos derivados do petróleo que contaminaram o lençol freático. O objetivo é avaliar os possíveis problemas decorrentes das instalações e atividades dos postos de combustíveis que possam causar prejuízos ambientais e à saúde da população. Utilizou-se o método de Estatística Descritiva, totalizando 339 Postos de combustíveis no período de 2014-2015. Existem muitos postos com tanques antigos e com mais de 20 anos de atividade. Palavras chave: Vigisolo. Benzeno. Contaminação 492 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS 1 INTRODUÇÃO O grande número de postos revendedores de combustíveis instalados em áreas urbanas, periféricas e em rodovias, tem elevado os riscos de contaminação ambiental do solo, água e ar e consequentemente da população, considerando principalmente o tempo dessa atividade sem a devida substituição dos tanques de armazenamento dos combustíveis. Estudos demonstram que os tanques de aço subterrâneos em uso por mais de 20 anos de instalação, são mais vulneráveis a vazamentos por sofrerem gradativamente algum processo de corrosão e/ou rachaduras. Estima-se que o número de postos com vazamento variam de 20% a 30% no Brasil. Loureiro (2002), confirmou este percentual em estudo realizado no município de Belo Horizonte, MG em um universo de trezentos e dez postos revendedores, no ano de 1999. Somente os compostos da gasolina possui mais de 200 produtos químicos, sendo os mais danosos à saúde humana os relacionados com os hidrocarbonetos aromáticos dentre os quais se destacam o Benzeno, Tolueno, Etil-benzeno e os Xilenos, conhecidos como compostos BTEX que são depressores do sistema nervoso central (SILVA et al., 2002). Estes produtos são frequentemente encontrados em águas subterrâneas pela facilidade de mobilidade no solo, em consequência dos vazamentos dos tanques de estocagem, dentre outros (TUBURTIUS, 2004). A resolução Conama nº 273/2000, registra a necessidade de avaliação, não superior a cinco anos, dos sistemas de armazenamento e distribuição de combustíveis 493 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS para avaliar possíveis falhas ou vazamentos no intuito de prevenir problemas ambientais, em especial a contaminação dos lençóis freáticos, que geram imediatos agravos à saúde da população. O benzeno é considerado o hidrocarboneto mais tóxico por causar óbito tanto na exposição aguda como crônica. A respiração é a via mais importante de absorção do benzeno podendo reter 46% do benzeno aspirado. Quando absorvido, consegue ser eliminado até 50% pelos pulmões, o restante é distribuído pelos tecidos (RUPPENTHAL, 2013), mas também pode ocorrer por via oral e cutânea. Na intoxicação aguda, esse produto tóxico acumula-se parte no sistema nervoso central e de forma crônica na medula óssea (40%), no figado (43%) e tecidos adiposos (10%), aproximadamente. O Benzenismo é uma síndrome causada pela exposição ao benzeno com diversos sintomas como cefaleia, náuseas, coceiras e depressão. A exposição por longos períodos pode provocar prejuízos hematopoético, no sistema nervoso central, endócrino, imunológico e aos órgãos hepático e renal sendo considerado substância carcinogênica por evoluir para leucemia. Porém, a intensidade da ação do agente tóxico dependerá da concentração, do tempo de exposição e o estágio de desenvolvimento e da biologia do organismo (RUPPENTHAL, 2013). O frentista é o profissional com alta probabilidade de contaminação pela exposição direta e frequente aos produtos químicos. Estudos realizados em medula óssea de trabalhadores com benzenismo evidenciaram alterações no sangue numa média de 4 anos de exposição (FUNDACENTRO, 2012). A população circunvizinha também pode ser afetada pela proximidade com o posto. 494 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS Em 2003 os moradores próximos a um posto de combustível recém instalado no município de Valparaiso-GO, relataram queixar de fortes dores de cabeça, alergias, diarreia e tontura e em seguida notando mau cheiro e cor escura na água. Posteriormente perceberam suas cisternas e poços artesianos com uma grossa camada de óleo. O vazamento de combustível contaminou o solo, chegando na água subterrânea, expondo a população aos perigos de explosões devido aos gases confinados e prejudicando a saúde de moradores circunvizinhos de três quadras que utilizavam a água dos poços para consumo. Pelos exames toxicológicos apresentados na justiça, constatou-se que trinta e uma pessoas foram intoxicadas pelos compostos derivados do petróleo (TJGO, 2013). A lei estadual n° 17.684 de 26 de junho de 2012, ao delimitar a distância mínima de 200m das indústrias potencialmente poluidoras, bem como as construções ou estruturas que armazenem substâncias causadoras de poluição hídrica das coleções hídricas ou de cursos d‟água, justificam a preocupação da Vigilância em Saúde Ambiental do Estado com a contaminação ambiental e da população, podendo causar prejuízos irreversíveis. O objetivo do trabalho é avaliar os possíveis problemas decorrentes das instalações e atividades dos postos de combustíveis que possam causar prejuízos ambientais e à saúde da população. 2 MATERIAIS E MÉTODOS De acordo com os registros de postos revendedores de combustíveis na Agência Nacional do Petróleo - ANP há 2920 495 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS postos registrados no estado de Goiás até primeiro semestre de 2015. A amostragem desse trabalho foi de quase 12% dos postos de Goiás totalizando 339 Postos de combustíveis avaliados, período de 2014-2015. Utilizou-se o método de Estatística Descritiva, EXCEL 2010 para tratamento dos dados das Fichas de Investigação e de Campo do período de 2013 a agosto de 2015. Estas Fichas são em formato de questionários e utilizadas pelos técnicos das Vigilâncias Municipais do Estado de Goiás em visitas aos postos de revenda de combustíveis e encaminhadas à Vigilância Estadual de Goiás para inserção no Sistema de Informação de Vigilância de Populações Expostas a Solos Contaminados – SISSOLO, versão 1.0.3. É parte integrante do Programa de Vigilância em Saúde de populações expostas a Solo contaminado - VIGISOLO do Ministério da Saúde. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme Figura 1, a contaminação do solo e da água por hidrocarbonetos é devido não somente pela rachadura ou corrosão nos tanques subterrâneos, apesar destes terem um grande impacto ambiental, visto que estão em contato com o solo e próximos ao lençol freático, além de armazenarem grande quantidade de litros de combustíveis. Deve-se considerar também os possíveis riscos de derramamentos em várias áreas do posto de combustível. 496 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS Figura 1. Vazamento de um tanque de combustível. Machado (2007). Segundo Maciel e Freitas (2014), são vários os motivos de contaminação ambiental nos postos de revendas de combustíveis, como: infiltração nas rachaduras dos pisos do posto, derramamentos superficiais constantes e sucessivos junto às bombas e aos bocais, durante a operação de transferência do produto para o tanque ou o abastecimento, vazamentos na própria bomba de abastecimento, no sistema ou no tanque, devido à corrosão, falhas estruturais ou das tubulações subterrâneas conectadas ao tanque e instalação inadequada. No levantamento feito nos 339 postos de combustíveis, quase 90% apresentaram pisos sem rachaduras (Figura 1), demonstrando uma ótima qualidade dos postos neste quesito. Porém, os 10% com registros de rachaduras levantam a perspectiva de muitos postos de revenda estarem com o solo contaminado, considerando o grande número de postos em Goiás e no Brasil. 497 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS Figura 1. Porcentagem da avaliação da qualidade dos pisos dos postos de combustíveis do Estado de Goiás. Fonte: Sissolo/Vigisolo Figura 2. Porcentagem da avaliação da presença de canaletas de drenagem e caixa separadora de água e óleo dos postos de combustíveis do Estado de Goiás. Fonte: Sissolo/Vigisolo A Figura 2 demonstra que 90% dos postos de revenda possuem canaletas e caixas separadoras de água e óleo. 498 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS As canaletas ao redor da pista de abastecimento é fator de prevenção. As canaletas direcionam os resíduos para um separador de água e óleo. O óleo é recolhido normalmente por empresa licenciada para destinação correta. Os derramamentos ocorridos durante as operações de abastecimento ou descarga de combustíveis e efluentes da lavagem de veículos e da própria pista do posto, se escoados diretamente para as galerias pluviais, de esgotos, garagens, etc. e geram um ambiente inflamável pela alta volatilidade dos compostos, com riscos de explosões. ROCHA et al. (2014) em pesquisa realizada em Teresópolis-GO, avaliou que todos os postos de combustíveis apresentavam caixa separadora de água e óleo. Fonte: Sissolo/Vigisolo Figura 3. Porcentagem da avaliação do número de postos de combustíveis que possuem empresa específica de coleta do óleo no estado de Goiás. Fonte: Sissolo/Vigisolo A Resolução CONAMA nº 362 que dispõe sobre o recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante 499 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS usado ou contaminado, estabelece em seu Art. 3° que todo o óleo lubrificante usado ou contaminado coletado devem ser destinado à reciclagem por meio do processo de refino. A reutilização do óleo contribui para o manejo ambiental, mas também a destinação correta dos resíduos do serviço de troca, como os vasilhames são importantes para esse controle. Rocha (2014) avaliou que os resíduos da troca de óleo (serragem, pano,etc) de todos os postos de Teresópolis-GO, são descartados no aterro controlado, misturado com o lixo comum, mesmo existindo fiscalização. O responsável pelo posto deve contratar uma empresa coletora de óleo para o recolhimento do resíduo, devidamente licenciada pelo órgão ambiental, pois essa empresa estará autorizada a realizar o descarte de forma correta sem prejuízos ao meio ambiente e consequentemente a população. Desses quase 34% de postos que não possuem empresa específica para a coleta do resíduo, não se sabe ao certo como é feito o descarte. Sendo a forma mais comum pela rede de esgoto ou galeria pluvial, prejudicando drasticamente os rios que seria o destino final. Porém, também importante salientar que nesse índice, constam os postos que não praticam a troca de óleo. De acordo com a Figura 4, 145 postos de revenda de combustíveis, equivalendo a quase 43% dos postos ainda não realizaram a troca dos tanques. Muitos desses postos são recém instalados e portanto, dentro do tempo estipulado, sem necessidade imediata de substituição. Os postos instalados recentemente devem utilizar as tecnologias e procedimentos de monitoramento e de proteção contra a corrosão dos Sistemas de Armazenamento Subterrâneo de Combustíveis 500 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS SASCs. De acordo com Loureiro, (2002) esses itens foram introduzidos somente a partir dos anos de 1995 e 1997, com a publicação das normas técnicas NBR – 13.212/95 e NBR – 13.786/97. Figura 4. Quantidade de postos que trocaram os tanques subterrâneos. Fonte: Sissolo/Vigisolo Segundo Gomes Filho (2014), tanques de armazenamento de combustíveis (em especial os de aço galvanizado), têm no máximo 20 anos de vida útil de acordo com as especificações do fabricante. Após esse período, dependendo de fatores como o tipo de solo em que se encontram instalados ficam vulneráveis a rupturas. Loureiro (2002), afirma que os postos com mais de 20 anos são preocupantes pelos seguintes fatores: 1) a idade dos Sistemas de Armazenamento Subterrâneo de Combustíveis instalados pode ser a mesma do posto; e 2) a tecnologia de equipamentos, os materiais aplicados e as técnicas de construção utilizadas podem estar desatualizados. 501 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS Em Goiás, não há uma obrigatoriedade na substituição de tanques, estando a licença em vigor. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente Recursos Hídricos de Goiás - SEMARH (2014) solicita a substituição dos tanques subterrâneos a partir de vinte (20) anos de uso e a substituição da tubulação de distribuição de combustíveis de aço galvanizado por tubulação de Pead, ambos no período de renovação da licença, que pode ser de 2, 4 ou 6 anos. No levantamento dos dados, foram encontrados muitos postos de combustíveis com mais de 20 anos de atividade sem troca dos tanques. Figura 5. Postos com mais de 20 anos em atividade. Fonte: Sissolo/Vigisolo Na Figura 5, dos 339 postos de revenda de combustíveis, 81 deles, correspondendo a quase 24%, possuem mais de 20 anos de atividade. Os postos que trocaram os tanques subterrâneos são em um universo de 67, percentual de 83% e 14 postos, correspondendo a 17% ainda não trocaram. Verificou-se também que a média da primeira troca dos tanques subterrâneos só ocorre a partir de 20 anos em 502 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS atividade. Tempo que ultrapassa o limite de 20 anos que a legislação orienta, incorrendo em riscos desnecessários. A média de tempo que os frentistas possuem de profissão corresponde a 8 anos. Um período de grande probabilidade de já estarem com alterações hematológicas, pois os estudos da Fundacentro (2012) mostram que após 4 anos de exposição ao benzeno podem ocorrer variações nos componentes do sangue. O manual da Fundacentro (2012) recomenda-se fazer hemograma completo do frentista, semestralmente para acompanhar os valores quantitativos e qualitativos de leucócitos sendo os resultados organizados na forma de série histórica para comparação e avaliação. Os três sintomas mais citado pelos frentistas foram: cefaleia, dores de garganta e irritação nos olhos. 4 CONCLUSÕES Os postos de revenda de combustíveis em geral constam com as instalações de pisos e canaletas de drenagem e caixa separadora de água e óleo com boas instalações. Entretanto, o descarte de resíduos do óleo como lixo comum e o quantitativo de postos que não fazem a reutilização do óleo é relevante e geram muita poluição ambiental. O quantitativo de postos que ainda não fizeram a troca pelo tempo de atividade é preocupante, considerando que muitos desses postos ainda possuem tecnologia ultrapassada e sem os itens de seguranças necessários, conforme estabelecido pela legislação. Podemos inferir que muitas dessas trocas de tanques foram realizadas para substituição 503 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS de tanques de aço galvanizado que já haviam apresentado problemas. Chama a atenção o fato de que na renovação de licença ambiental ocorra a exigência de instalações ou trocas de tanques com tecnologias resistentes e modernas e ainda existir muitos postos com tanques antigos e com mais de 20 anos de atividade. As Leis estaduais e municipais são pouco restritivas na área ambiental levando o meio ambiente e a população a um potencial de risco de contaminação grave. A legislação para a primeira troca de tanque ultrapassa o tempo de vida útil estipulado, o que torna vulnerável a saúde da população pelo risco de vazamentos. Observou-se a necessidade de conscientizar e sensibilizar os gestores do município, empreendedores e trabalhadores da área para a instalação segura e de qualidade do empreendimento, em especial dos postos com mais de vinte anos e também da importância do acompanhamento da saúde dos frentistas com exames hematológicos periódicos e uso adequado dos EPI´s. Avaliando as estatísticas alarmantes, tanto dos postos como dos frentistas, as Coordenações da Saúde Ambiental e da Saúde do Trabalhado da SUVISA-GO, está empreendendo um “Projeto Piloto” com o objetivo de identificar a realidade dos profissionais frentistas e do ambiente de trabalho destes para discussão de novas medidas protetoras desses profissionais e da população circunvizinha. 504 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP. Disponível em:http://www.anp.gov.br/?id=1086 BRASIL, CONAMA, 273/2000. Dispõe sobre prevenção e controle da poluição em postos de combustíveis e serviços. - Data da legislação: 29/11/2000 - Publicação DOU nº 005, de 08/01/2001, págs. 20-23. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=271. Acesso em: 02 de setembro de 2015. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Efeitos da Exposição ao Benzeno para a Saúde. Série Benzeno Fascículo 1. FUNDACENTRO, 2012, São Paulo – SP. GOIÁS, Lei Estadual nº 17.684 de 26 de junho de 2012. Estabelece normas para a localização de empreendimentos potencialmente poluidores junto a coleções hídricas no Estado de Goiás, para fins de proteção ambiental, e dá outras providências. Diário Oficial de 29-062012 – Suplemento. GOMES FILHO, F. de M. Práticas de Adequação Ambiental Implementadas em Posto de Combustível como Meio de Prevenção de Eventuais Danos Ambientais: um estudo de caso. Disponível em: https://unp.br/wp-content/uploads/2014/06/Disserta%C3%A7%C3%A3o_fernando_de_miranda_gomes_filho.pdf. Acesso em: 20 de Set. 2015. LOUREIRO, C. de O., et al,. Postos Distribuidores de Combustíveis e o Problema Ambiental em Belo Horizonte, MG. XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas. São Paulo, SP, 2002. Disponível em: http://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/viewFile/22452/14 753 Acesso em: 18 de agosto de 2015. MACHADO, F. H.; FERREIRA, O.M. Postos De Combustíveis: Quantificação E Qualificação Da Atividade No Município De Goiânia. Disponível em: http://www.pucgoias.edu.br/ucg/prope/cpgss/ArquivosUpload/36/file/POST OS%20DE%20COMBUST%C3%8DVEIS%20%20QUANTIFICA%C3%87%C3%83O%20E%20QUALIFICA%C3%87%C3 %83O%20DA%20ATIVIDADE%20NO%20MUNICIPIO%20DE%20GOI%C 3%82NIA.pdf. Acesso em: 25 de setembro de 2015. MACIEL, D. dos S. C.; FREITAS, L. S. de. UTILIZAÇÃO DO MÉTODO FMEA NA IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELOS POSTOS DE COMBUSTÍVEIS: UM ESTUDO DE 505 VIGILÂNCIA EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE GOIÁS CASO Rev. Adm. UFSM, Santa Maria, v. 7, número 4, p. 570-589, DEZ. 2014. RUPPENTHAL, J.E. Toxicologia. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2013. Disponível em: http://estudio01.proj.ufsm.br/cadernos_seguranca/sexta_etapa/toxicologia.p df. Acesso em: 15 de agosto 2015. ROCHA, B. da S.; SCALIZE, P. S.; ARRUDA, P. N.; CRUVINEL, K. A. da S. Gestão do óleo lubrificante usado em postos de combustíveis no município de Terezópolis de Goiás – GO, Brasil Revista Monografias Ambientais - REMOA v.13, n.4, set-dez. 2014, p.3673-3682. Revista do Centro do Ciências Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria, RS. SILVA, R. L.B.; BARRA, C.M.; MONTEIRO, T.B.N.; BRILHANTE, O.M. Estudo da contaminação de poços rasos por combustíveis orgânicos e possíveis consequências para a saúde pública no Município de Itaguaí, Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(6):1599-1607, nov-dez, 2002. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás - Notícias do TJGO - Juiz condena posto de gasolina que contaminou água em Valparaíso de Goiás. Disponível em: http://www.tjgo.jus.br/index.php/home/imprensa/noticias/119-tribunal/3269juiz-condena-posto-de-gasolina-que-contaminou-agua. Acesso em: 19 de agosto de 2015. TIBURTIUS, E. R. L., ZAMORA, P.P., LEAL, E. S. Contaminação de águas por BTXs e processos utilizados na remediação de sítios contaminados. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010040422004000300014. Acesso em: 02 de setembro de 2015. 506 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS CAPÍTULO 35 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE CU2+ E PB2+ EM EFLUENTES AQUOSOS Carlos Eduardo Pereira de MORAIS 1 Andréa Maria Brandão Mendes de OLIVEIRA 2 Wanessa Alves MARTINS3 Luiz Fernando de Oliveira COELHO4 3 1 Graduando em Engenharia Ambiental, UFCG; 2 Professora Doutora do CCTA, UFCG; Aluna da Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, UFPB; 4 Graduando em Gestão Ambiental, UNESA. RESUMO: Pensando em uma alternativa viável do ponto de vista econômico e ambiental, têm sido estudadas fontes alternativas para remoção de metais pesados em efluentes. O presente trabalho teve como objetivo investigar o potencial da farinha da casca da banana modificada com ácido clorídrico, como material alternativo na remoção de Cu2+ e Pb2+ em efluentes aquosos. O biossorvente foi caracterizado por espectroscopia de absorção na região do infravermelho (FTIR), onde foram identificado os grupos funcionais presentes na casca da banana, com destaque para lignina, celulose e hemicelulose. Foi investigado a interferência do tempo de contato, do pH da solução, da massa do adsorvente, da concentração da solução e da temperatura no processo de adsorção. A saturação ocorreu em 10 minutos para ambos os metais, para a massa verificou-se melhores resultados com o aumento da dosagem do adsorvente, para o pH verificou-se que seu aumento melhora a remoção dos metais nas diferentes temperaturas. Para a concentração nas três 507 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS temperaturas anlisadas os resultados foram similares com cerca de 80% de remoção em todos os casos. Palavras-Chave: biossorção, íons metálicos, modificação química. 1 INTRODUÇÃO A contaminação dos recursos hídricos naturais tem sido ocasionada principalmente em função da atividade industrial moderna (SCHNEIDER, 1995), o que tem contribuído significativamente para um aumento nas concentrações de íons metálicos em águas, representando uma grande fonte de contaminação dos corpos aquáticos (BATISTA et al., 2012). Os metais tóxicos estão entre as espécies de maior relevância toxicológica presentes nos efluentes industriais (VAGHETTI, 2009). Metais como cobre e chumbo são encontrados em águas residuárias geradas por numerosos processos, e devido à toxicidade suas concentrações precisam ser reduzidas a níveis muito baixos antes do lançamento (MANAHAN, 2013). Nesse sentido as empresas geradoras são obrigadas a promoverem o tratamento dos seus efluentes a fim de atender a legislação vigente (THEODORO, 2010). A resolução 430/2011 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é quem estabelece os limites e padrões para o lançamento de efluentes, a mesma aponta para o cobre dissolvido o limite de 1,0 mg/L Cu e para o chumbo total 0,5 mg/L de Pb como valores máximos para que assim possam ser lançados em corpos hídricos. Segundo (GAVALLAH e KILBERTUS, 1998) citado por (MOREIRA, 2010) a descontaminação de efluentes contendo metais pesados pode ser feita por diferentes métodos. De 508 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS acordo com Boniolo (2008) os processos de troca iônica, precipitação química e adsorção são os mais utilizados para remoção de íons metálicos em efluentes. Sendo a adsorção um dos mais utilizados. Para Demirbas (2008) conforme Vaghetti (2009), na maioria das vezes os processos convencionais são direcionados ao tratamento de concentrações elevadas do poluente, não abrangendo sistemas que apresentam baixa concentração de íons metálicos. Segundo Boniolo (2008), o alto custo dos materiais encontrados comercialmente, como por exemplo, o carvão ativo e as resinas quelantes, se tornam fator limitante. De acordo com Cruz (2009) alguns desses materiais ainda causam impacto significativo ao meio ambiente inviabilizando sua aplicação em escala industrial. Diante desta necessidade surgem os biossorventes originários de restos do setor agroindustrial para remediação de efluentes contaminados solucionando ao mesmo tempo os problemas de destinação dos resíduos agroindustriais e a redução de custos para a descontaminação de efluentes carregados com íons metálicos tóxicos (VAGHETTI, 2009). De acordo com Ngah e Hanafiah (2008) citado por (MIMURA et al., 2010), quando de origem vegetal os biossorventes são constituídos basicamente por macromoléculas como substâncias húmicas, lignina, celulose, hemicelulose e proteínas, as quais possuem sítios adsortivos, tais como grupos carbonilas, carboxilas, aminas e hidroxilas, capazes de adsorverem as espécies metálicas por processos de troca iônica ou de complexação. A casca da banana é um material atrativo para adsorção de substâncias catiônicas devido a presença de ácido péptico, ácidos orgânicos pequenos, lignina e proteínas 509 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS (JESUS et al, 2011) o que a faz possuir sítios ativos disponíveis para interação com a espécie de interesse merece atenção especial. Dermibas (2008) conforme Vaghetti (2009) destaca que os sítios são pontos de adsorção constituídos por um ou mais grupos funcionais químicos distribuídos pela superfície do biossorvente. Essa superfície pode ser modificada quimicamente com o objetivo de aumentar a quantidade de sítios ativos e por consequência aumentar a capacidade de adsorção de íons metálicos. Segundo Caretta (2010), a modificação do biossorvente com solução de HCl é capaz de promover um aumento considerável nos valores de adsorção de íons metálicos em solução aquosa pelos materiais biossorventes, visto que os íons metálicos presentes nas cascas são removidos, e desta forma há uma melhor e maior disponibilização de sítios ativos do material para a adsorção. Neste sentido esse trabalho buscou investigar o potencial de adsorção da farinha da casca de banana modificada quimicamente com ácido clorídrico na remoção de cobre e chumbo em efluentes aquosos. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Material e substâncias químicas Casca de banana – originadas da região de Pombal–PB e posteriormente modificadas com solução de HCl 0,05M; Nitratos divalente hidratado de cobre e de chumbo (Merk) sem purificação prévia; Hidróxido de sódio (Merk) Ácido Clorídrico (Merk) Nitrato de sódio (Carlos Erba) 510 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Cloreto de Sódio P.A. (Merk) Água deionizada Parte Experimental Solução metálica As soluções de nitrato de cobre e de chumbo foram preparadas na quantidade de 1,0 dm 3 na concentração de 0,01 mol/dm3. Preparação do Biossorvente As cascas da banana foram coletadas na Indústria Campo Verde localizada na cidade de Pombal - PB. As cascas coletadas foram lavadas com água corrente e cortadas em pedaços de aproximadamente 5 cm. Em seguida o material foi posto para secar por três dias ao sol, totalizando 20 horas e posteriormente transferidas para estufa de secagem com circulação de ar com temperatura de 65ºC por 2 dias, totalizando 24 horas. Após a secagem o material fora triturado em moinho de facas e peneirado para obtenção de frações composta de partículas com tamanho entre 0,15 e 1,18 mm. Modificação do Biossorvente A fim de modificar o material obtido, pegou-se uma quantidade de aproximadamente 500g e a esta foi adicionado ácido clorídrico em concentração 0,05M, numa quantidade suficiente para deixá-lo completamente submerso. O mesmo permaneceu em contato por 10 minutos e em seguida foi lavado exaustivamente com água deionizada e filtrado a vácuo, posteriormente o material foi levado à estufa numa temperatura de 65°C por 24 horas, até secagem completa. O material passou a ser denominado farinha da casca de banana modificada (FBM) e foi utilizado em todos os experimentos de adsorção. 511 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Caracterização Espectroscopia de absorção na região do infravermelho Os espectros de absorção na região do infravermelho da FBM e trocada com o metal foram obtidos no espectrofotômetro Bomem série MB, através da técnica da pastilha de brometo de potássio com 1% em massa da amostra. A resolução foi de 4 cm-1, os espectros foram obtidos na região de 4000-400 cm-1 e o número de acumulação foi 30. Determinação das isotermas de troca iônica na farinha da casca da banana Isoterma de Tempo Utilizou-se o método de batelada para a obtenção da isoterma de tempo em meio aquoso a fim de se fixar o tempo máximo de contato para maior adsorção do íon metálico. A isoterma fora obtida pelo contato de 1g do sólido, medidas em balança analítica Shimadzu modelo AUY 220 sensibilidade 0,0001 g, suspensas em 20,0 cm3 da solução aquosa do íon metálico de 0,01 mol/dm3. A suspensão a 298,15 K foi, então, mecanicamente agitada em incubadora tipo shaker da marca SOLAB modelo SL 222 com rotação de 180 rpm em tempos variados. Após os tempos pré-estabelecidos, as suspensões foram filtradas e as alíquotas do sobrenadante foram removidas, com o auxílio de uma pipeta, sendo a quantidade do cátion metálico determinadas através do espectrofotômetro de absorção atômica da marca GBC modelo 908 AA. Assim pode-se determinar a quantidade de cátion trocado (Nf) por grama de farinha de casca de banana modificada pela diferença entre a quantidade de cátion inicial (Ni) e aquela presente após o equilíbrio (Ns) conforme a equação 512 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Nf (Ni N s ) m Equação 1.0 Isoterma da massa do adsorvente Depois de estabelecido o tempo da reação o próximo passo foi determinar a dosagem do adsorvente adotando-se o mesmo procedimento da isoterma de tempo, porém, utilizouse diferentes dosagens do sólido a fim de determinar a melhor quantidade do adsorvente. As massas utilizadas foram de 250mg, 500mg, 750mg e 1000mg. Isoterma de concentração da solução Estabelecido o tempo da reação e dosagem do sólido, a influência da concentração do cátion metálico foi avaliado, adotando-se o mesmo procedimento da isoterma de tempo, utilizando concentrações crescentes dos cátions metálicos na faixa 10-3 a 10-2 mol dm-3 em três temperaturas 27, 40 e 50° C. Isoterma de pH Para verificar o pH da solução de metal onde ocorre a máxima adsorção pelo biossorvente, realizou-se o método da batelada. Adotando-se o mesmo procedimento da isoterma de tempo fixado o tempo de contato a dosagem do adsorvente e a concentração dos cátions, variou-se o pH das soluções à saber 2, 3, 4, 5, 6, e 8. Os valores de pH da solução foram ajustados utilizando soluções de HCl ou NaOH, em três temperaturas 27°C, 40°C e 50°C. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise por Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier 513 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS A capacidade de remoção de metais pela farinha da casca de banana depende da composição química da sua superfície, onde alguns grupos funcionais ativos são responsáveis pela sorção. A espectroscopia no infravermelho das amostras da FBM encontra-se apresentada na (Figura 1) Figura 1. espectro de infravermelho da farinha da casca de banana. Fonte: arquivo pessoal Observou-se que o espectro de infravermelho revelou presença de bandas na região de 3412 cm -1 a qual característica dos grupos O–H livre, na região de 2924 cm-1 as vibrações são decorrentes dos grupos C–H alifáticos, bandas na faixa de 1630 cm-1 são atribuídas à vibração de deformação axial de C=O de amidas. A banda com mínimo em 1032 cm -1 é característica dos grupos C–O, e a banda de fraca intensidade com máximo em 876 cm-1 é caracteristica dos anéis aromáticos. Esses resultados corroboram com os de Boniolo (2008), para grupos funcionais presentes na casca de banana. Na (Tabela 1) estão dispostos os principais grupos funcionais presentes na casca da banana. 514 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Tabela 1. Principais banana. -1 Banda de absorção(cm ) 3439 1628 2933 2847 1741 1053 grupos funcionais presentes na casca de Grupo funcional Função orgânica O-H Alcoóis, fenóis e carbonila O-H Hidroxila da água C-H Alcanos alifáticos C-H Alcanos alifáticos C=O Aldeídos, ésteres e cetonas C-O Ésteres saturados, insaturados e aromáticos além dos alcoóis Fonte: Boniolo (2008). Influência do Tempo A influência do tempo de contato entre o íon em solução e o adsorvente é de suma importância para a eficiência do processo, pois, ao atingir o equilíbrio, a concentração do adsorvato torna-se constante na solução. Assim, o efeito do tempo de contato para a adsorção dos íons Pb 2+ e Cu2+ na FBM podem ser visualizados na (Figura 2) imagens A e B respectivamente. Observando as figuras que referem à interação do sólido com o chumbo e o cobre, percebe-se que houve uma rápida adsorção nos primeiro minutos, seguida por um gradual equilíbrio. Isso mostra que a adsorção máxima para Pb 2+ e Cu2+ ocorreu em 10 minutos para ambos quase não havendo variação de retenção além desse período. O que sugere que os sítios ativos de adsorção estão facilmente disponibilizados na partícula para interagirem com o íon metálico em solução, assim, o tempo de reação de 10 minutos foi fixado como o tempo de equilíbrio ao longo desse estudo. Cruz (2009), que trabalhou o processo de biossorção com farinha da casca de 515 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS 0,0002 Nf (mol/g) Nf (mol/g) banana modificada encontrou como tempo de saturação 20 minutos, tempo superior ao apresentado no presente trabalho tanto para o íon Cu2+ como para o Pb2+. 0,0001 0 A 0 30 Tempo(min) 60 B 0,0002 0,0001 0 0 30 60 Tempo(min) Figura 2. Influência do tempo de contato na adsorção de Pb 2+ e de Cu2+ respectivamente nas imagens (A) e (B), pela FBM. Fonte: arquivo pessoal. Influência da Concentração da Solução Com o tempo de equilíbrio definido em 10 minutos e utilizando a dosagem do adsorvente de 1000 mg, foi possível construir essas isotermas e calcular o percentual de cátion adsorvido pela FBM. as isotermas de Cu2+e Pb2+ foram realizadas nas temperaturas 27, 40 e 50°C e concentração variando de 10-3 até 10-2 estão ilustradas na (Figura 3) nas imagens A e B para o Chumbo e o Cobre respectivamente. A T1=27°C T2=40°C T3=50°C 0 0,004 … 0,008 100 80 60 40 20 0 % Remoção % Remoção 100 80 60 40 20 0 B T1=27°C T2=40°C T3=50°C 0 0,004 0,008 Concentração (mg/dm3) 2+ 2+ Figura 3. Isoterma de concentração dos íons Pb e Cu respectivamente nas imagens (A) e (B), com pH 5,0 e tempo de contato de 10 minutos pela FBM. Fonte: arquivo pessoal. 516 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Observou-se que as isotermas seguiram um comportamento basicamente constante nas três temperaturas estudadas, não apresentando diferenças bruscas de remoção nas diferentes concentrações, para ambos os metais. Tal fato leva-nos à hipótese de que o biossorvente é eficiente para remoção de pequenas concentrações metálicas. Para o Pb2+ os melhores resultados apresentados foram 93,2% para T1, 92,9% para T2 e 93,3% para T3. Já para o Cu 2+ os melhores resultados foram 96,4% para T1, 93,1% para T2 e 91,3% para T3. Influência da massa do adsorvente Pôde-se observar que houve um aumento na porcentagem de remoção para ambos os íons metálicos com o aumento da dosagem do biossorvente conforme (Figura 4) nas imagens A e B. % Remoção % Remoção 100 80 60 40 20 A 0 0,00 0,25 0,50 0,75 Massa (g) 1,00 B 100 80 60 40 20 0 0 0,25 0,5 0,75 Massa (g) 1 Figura 4. Influência da massa do adsorvente na adsorção de íons Pb 2+ Cu respectivamente nas imagens (A) e (B), pela FBM. Fonte: arquivo pessoal. 2+ e Tal fato pode ser atribuído ao acréscimo ocorrido no número de sítios ativos disponíveis para a adsorção, aumentando o percentual de remoção, resultado semelhante foi observado por Vaghetti (2009), que utilizou como biossorvente casca de noz pecã e a casca do pinhão. 517 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Influência da variação de pH De acordo com Cruz (2009), pela natureza dos grupos orgânicos presentes na casca da banana o processo de adsorção deve ocorrer por um processo de troca-iônica entre as espécies em solução e o hidrogênio, presente nos grupos – COOH do ácido péctico e dos ácidos orgânicos pequenos e do grupo –OH fenólicos da lignina. Variação de pH T=27°C 50 Variação de pH T=40°C 0 A0 2 pH 4 6 8 100 80 60 40 20 0 % Remoção % Remoção 100 0B 2 4pH 6 8 Variação de pH T=27°C Variação de pH T=40°C Variação de pH T=50°C 2+ 2+ Figura 5. Influência do pH na adsorção de íons Pb e Cu respectivamente nas imagens (A) e (B) em diferentes temperaturas pela FBM. Fonte: arquivo pessoal. Observa-se na (Figura 5) imagens A e B que o valor da adsorção do metal cresce com o aumento do pH atingindo um máximo de adsorção entre o pH 4 e 5. Caretta (2010), sugere que o processo de competição entre o próton da solução e o metal dissolvido. Um fato importante a ser considerado neste ponto é que os sítios ativos de sorção do biossorvente são formados por grupos ácidos orgânicos, os quais apresentam pKa no intervalo de 3,5 a 5,0. Em pH superiores a 5,0 observou-se que a solução apresentou turbidez e precipitados, Isto pode ser devido a processos de hidrólise dos íons e sua posterior precipitação da solução na forma de hidróxidos hidratados. 518 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS 4 CONCLUSÕES A partir da investigação do potencial de remoção dos íons metálicos Pb2+ e Cu2+ em solução aquosa pela FBM, observamos que diversos fatores experimentais estão envolvidos neste processo de adsorção o tempo de contato, a variação da massa do adsorvente, o pH, a concentração da solução e temperatura. A caracterização pelo espectro no infravermelho (FTIR) apresentou grupos funcionais comuns à celulose, hemicelulose e lignina presentes na casca da banana. O tempo de 10 minutos tanto para o Pb2+ quanto para o Cu2+ foi escolhido por não apresentar uma variação significativa após este tempo. Verificou-se que com que com o aumento da massa do adsorvente, provocou um aumento no percentual de remoção do metal, para ambos os metais. O aumento do pH apresentou melhoria nos percentuais de remoção, sendo o pH 5 o ideal. Em pH acima de 6,0 observouse a ocorrência de precipitados. Para concentração, percebeuse que esta não influência significativamente na remoção, nas três temperaturas estudadas, fato que leva-nos à hipótese de que o biossorvente é eficiente para remoção de pequenas concentrações metálicas. A FBM demonstrou ser um bom adsorvente para os íons metálicos investigados, apresentando ótima capacidade de remoção dos metais estudados, o que à torna um material bastante atrativo por se tratar de um subproduto agroindustrial, tendo em vista sua facilidade de manuseio, baixo custo e seletividade. Portanto, a FBM apresenta potencialidade para ser utilizado como material alternativo no tratamento de efluentes contendo íons metálicos em solução. 519 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Agradecimentos Ao Programa PIBIC/CNPq/UFCG pela bolsa de iniciação científica, ao CCTA/UFCG, a UFPI e ao Laag/CCTA pelo apoio logístico e infraestrutura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, T.S.; LIRA, T.K.B.; SOUZA, J.S.B.; BARROS, T.R.B.; LIMA,V.E. Remoção de chumbo (ii) em efluentes utilizando diferentes biomassas adsorventes. 2012. 10f. Encontro Nacional de Educação, Ciência e Tecnologia/UEPB. BONIOLO, M. R. Biossorção de urânio nas cascas de banana. 2008. 107f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia Nuclear - Materiais), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, São Paulo – SP, 2008. CARETTA, T. de O. Avaliação do potencial das cascas de maracujá amarelo e de mexerica como biossorventes de metais pesados. 2010. 63f. Dissertação (Mestrado em Química dos Recursos Naturais). Universidade Estadual de Londrina – Londrina, 2010. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução n° 430, de 13 de maio de 2011. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em 15 jan.2014. CRUZ, M. A. R. F. da.Utilização da casca de banana como biossorvente. 2009. 74f Dissertação (Mestrado em Química dos Recursos naturais), Universidade Estadual de Londrina, Londrina – PR, 2009. DEMIRBAS A.; A review, Journal of Hazardous Materials 2008, 157, 220. GAVALLAH, L.; KILBERTUS, G. Recovery of metal ions through decontamination os synthetic solutions and industrial effluents using modified barks. Journal of Geochemical Exploration, v. 62, p. 241-286, 1998. JESUS, D.M.A.; ROCHA, J.F.; ALFAYA, A.A.F. Utilização da farinha da casca de banana na remoção de corante têxtil em solução aquosa. In: 34ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 2011, Florianópolis. Anais Florianópolis, Sociedade Brasileira de Química (SBQ), 2011. 520 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS MANAHAN, S. E. Química Ambiental. Tradução de Félix Nonnenmacher. Porto Alegre: Bookman, 2013. 912 p. Tradução de Environmental Chemistry. MIMURA, A. M. S.; VIEIRA, T. V. DE. A.; MARTELLI, P. B.; GORGULHO, 2+ 3+ H. de. F.; Aplicação da casca de arroz na adsorção dos íons Cu , Al , 2+ Ni e Zn. São João del Rei, Quim. Nova, Vol. 33, No. 6, 1279-1284, 2010. MOREIRA, D. R. Desenvolvimento de adsorventes naturais para tratamento de efluentes de galvanoplastia. 2010,79f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Tecnologia de Materiais), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS, 2010. NGAH,W. S. W.; HANAFIAH,M.A.K.M.; Bioresour. Technol.2008, 99, 3935. SCHNEIDER, I. A. H. Biossorção de metais pesados com biomassa de macrófitos aquáticos. 1995, 141f. Tese (Doutorado Programa de Pós – Graduação em Engenharia Metalúrgica e dos Materiais), Porto Alegre, 1995. THEODORO, P. S. Utilização da eletrocoagulação no tratamento de efluentes da indústria galvânica. 2010. 112f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química). Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Toledo, 2010. VAGHETTI, J. C. P. Utilização de biossorvente para remediação de efluentes aquosos contaminados com íons metálicos. 2009. 84f. Tese (Doutorado em Química), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 2009. 521 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS CAPÍTULO 36 REGULAMENTAÇÃO DA LEI 12.546/11 NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB Lucas Brasileiro de Oliveira GOMES1 Thaynná Batista de Almeida1 Clésia Oliveira Pachú2 2 1 Graduandos de Direito Professora Dra Universidade Estadual da Paraíba RESUMO: Objetiva-se analisar a regulamentação da lei 12.546/11 na cidade de Campina Grande, Paraíba. A presente abordagem qualitativa descritiva e, utilizou-se como fonte a revisão da literatura, por meio da legislação brasileira em contrapartida com a norma efetivada na cidade de Campina Grande. Os resultados encontrados demonstram que a toxicidade da fumaça dos produtos fumígenos causa morte e se encontra diretamente atrelada a diversas causas de câncer, e, doenças do trato respiratório, como bronquite e asma. O fumo ativo e passivo é tido como principal causa de morte evitável pela Organização Mundial de Saúde. Demonstra-se assim, a dependência química à nicotina como epidemia. O cumprimento da legislação vigente, investigada na literatura constata por meio de documen0tos públicos os dados do gasto estatal com a mortandade relacionada ao tabagismo. Apesar destes dados alarmantes, inexiste a observância da normativa dos instrumentos legais positivados. Palavras-chave: Convenção-Quadro. Legislação. Tabagismo. 522 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS 1 INTRODUÇÃO Contexto de ratificação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco Durante a 52a Assembléia Mundial da Saúde (MAS), os países-membros da Organização das Nações Unidas, conjuntamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS) formularam o primeiro tratado internacional de saúde pública da história mundial, chamado Convenção Quadro para Controle do Tabaco (CQCT). A CQCT fora criada após evidências científicas que apontavam para o desenvolvimento da indústria tabagista, seu enriquecimento e poderio econômico. Esta estava atrelada diretamente ao crescimento exacerbado do tabagismo no mundo (NIKOGOSIAN, 2010). Esse cenário tornou-se agravado devido às estratégias de grandes companhias transnacionais e multinacionais de tabaco com o objetivo de ampliarem seus comércios, atravessando continentes e chegando a diversos países, desenvolvidos ou em desenvolvimento. Por intermédio dos novos instrumentos de promoção mássica como a internet, comércio digital, dentre outras formas de marketing, no seu sentido amplo do termo, o mercado ilegal de produtos de tabaco se tornaram expoentes na elevação da taxa de mortalidade derivada do tabagismo (INCA, 2015). Segundo dados disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por ano morrem em média 5 milhões de pessoas em todo o mundo, tendo como causa direta ou indireta o consumo dos produtos fumígenos 523 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS derivados do tabaco. Essa mesma organização estima que no caso da manutenção na taxa de consumo pelas próximas três ou quatro décadas, a epidemia proveniente do tabaco será responsável por 10 milhões de mortes anuais, destas, 70% delas serão em países em desenvolvimento, como o Brasil. Serão 200 mil mortes por ano provenientes do tabagismo, na qual os fumantes hoje jovens tornaram-se adultos de meiaidade. Objetiva-se avaliar a regulamentação da lei 12.546 de 2011 e sua aplicabilidade na cidade de Campina Grande, Paraíba. 4 MATERIAIS E MÉTODO Trata-se de pesquisa qualitativa, descritiva realizado por meio de fontes doutrinárias e legislativas e, dados disponíveis nos principais órgãos de saúde. Foram utilizados documentos de órgãos públicos como da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Instituto Nacional do Câncer (INCA), com acesso livre aos usuários da internet. Incluídos os documentos relativos a gastos públicos com a mortalidade relacionada ao tabagismo, atividades realizadas quanto ao controle da dependência química à nicotina; verificação do cumprimento da legislação no tocante a publicidade e consumo de cigarros em ambientes públicos e privados. Excluídos documentos que remetem a demais atividades da área de saúde. A revisão do material científico produzido por alguns dos estudiosos brasileiros do tema relacionado ao tabagismo encontra respaldo nos dados epidemiológicos atrelados ao contato com a fumaça proveniente da combustão do tabaco. 524 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS A Convenção-Quadro para Controle do Tabaco utilizada como instrumento subsidiário para entendimento do contexto histórico internacional de adequação da legislação brasileira, a respeito da regulamentação dos pontos de venda, locais de utilização dos produtos fumígenos, distribuição. O levantamento normativo no ordenamento jurídico brasileiro da legislação que confere embasamento a legislação extravagante existente referida à proteção da saúde pública, e do interesse social das normas de regulamentação do consumo de cigarros no Brasil. As respostas obtidas no estudo em questão foram positivadas por meio de delineamento d a evolução do número de usuários de tabaco no Brasil e no mundo segundo a OMS. A relação com o quantum de mortalidade referente às doenças ocasionadas pela exposição à fumaça do tabaco e nuances no cenário político normativo. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 A Convenção-Quadro para Controle do Tabaco e seus reflexos no ordenamento jurídico brasileiro O reconhecido da importância em regular o uso, comércio, distribuição e publicidade desses produtos é fato. A OMS após mais de quatro anos de tentativas entre propor e aprovar um Tratado Internacional para Controle do Tabaco evidenciou processo complexo de elaboração do documento, com choque de interesses envolvidos provendo o retardo da ratificação pela generalidade dos países. 525 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Neste contexto, após assembleias, em fevereiro de 2003, por meio dos membros da OMS, os 192 paísesmembro, produziram o primeiro tratado internacional de saúde pública, tendo o Brasil como uma das principais nações presentes auxiliando nas negociações para a ratificação dos países nessa assembleia da CQCT. O processo complexo de negociações foi extinto, e, após a ratificação em maio do mesmo ano a versão finalizada desse documento, adotado na 56o Assembleia Mundial de Saúde. O Brasil foi o segundo país a ser signatário do Tratado, afirmando sua seriedade na luta contra o tabagismo em prol da saúde pública. Ao se tornar signatário do Tratado, os países assumem a responsabilidade perante a comunidade internacional de ratificar, e dessa maneira adequar o aparato político normativo do seu país para torná-lo em consonância com proposições da Convenção. O artigo 23 da CQCT dispõe que até um ano após a entrada em vigor será constituída a Conferência das Partes (COP). A Conferencia é uma instituição executiva atrelada a Convenção, que se constitui dos países que a ratificaram . O cerne da COP é a deliberação para a real implementação da CQCT, como também monitorando todo o processo de adequação legislativa pelos Estados que fazem parte da mesma. A ratificação, no caso do Brasil, é de atribuição privativa do Presidente da República, como consta no artigo 84 caput e inciso VIII da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 2015) A verificação da CQCT pelo Congresso Nacional se iniciou em agosto de 2003, com a formalização da entrega do referido dispositivo normativo à Câmara dos Deputados por 526 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS intermédio do Ministro da Saúde e do Ministro das Relações Exteriores. No dia 31 de maio é aprovado pela casa legislativa em questão o documento, sendo a posteriori enviada a outra casa do Congresso Nacional, o Senado Federal. Em 27 de outubro marca o dia no qual a Convenção fora aprovada e ratificada por meio do Decreto Legislativo no 1012 (BRASIL, 2006a) pelo sistema bicameral de casas do Congresso Nacional. Tornando o Governo Federal responsável por instituir o Programa Nacional de Diversificação de Áreas Cultivadas com Tabaco. Após ratificação o centésimo país a tomar tal conduta, promulgando-o pelo Presidente da República por meio do Decreto no 5658, de 2 de janeiro de 2006 (BRASIL, 2006b) Tal atribuição está disposta no dispositivo constitucional. No mês de agosto do ano de 2003, foi criada a CONICQ, Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco e seus Protocolos, tendo por base legal o texto do Decreto de 1 de agosto de 2003. A referida comissão tem como líder o Ministro da Saúde sendo composta por membros do Ministério da Saúde. Nesta, as instituições vinculadas diretamente ao controle, regulamentação dos produtos derivados do tabaco, prevenção ao tabagismo, dentre outras atribuições como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Este, é órgão responsável no Brasil pelas políticas públicas relacionadas ao tratamento do tabagismo, como também o de Secretária Executiva dessa Comissão. O INCA tem como foco principal a formulação de uma sistemática de governo voltada para a adequação das 527 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS disposições propostas pela CQCT. Todo esse aparato estatal tem como objetivo a proteção da saúde pública, sendo um direito social garantido constitucionalmente no caput do artigo 6o do diploma constitucional da República Federativa do Brasil. A CQCT tem por objetivo salvar vidas, por meio da prevenção e controle do uso de produtos do tabaco. “Proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco (Art. 3º).” Dentre as diretrizes propostas por esse documento, foi formulado o MPOWER. Estabelecendo seis níveis de atuação: controlar o uso e prevenir, proteger a população da inalação de fumaça, oferecer ajuda para deixar de fumar, alertar sobre os riscos, proibir publicidade e aumentar os impostos ao fumo. As diretrizes supracitadas determina que cada país signatário do Tratado, deverá equiparar progressivamente, no período máximo de dois anos seu ordenamento jurídico para se adequar as proposições da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco com o auxílio do MPOWER. Como por exemplo, a CQCT propõe em seus 38 artigos que haja combinação de medidas para redução da demanda por produtos derivados do tabaco e reduzir a oferta. Dessa maneira os governos estatais e a sociedade civil possuem papel chave na confecção e promoção desse movimento prol da saúde pública. 528 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Esse é o ano no qual a CQCT completa dez anos de existência, sendo um marco internacional para campanha de redução da mortalidade pelo tabaco, todavia se deve ater que o trabalho incessante da pesquisa científica, do Estado e da sociedade civil para combater a promoção da indústria que ceifa indiretamente/diretamente a vida dos nossos jovens e adultos, por meio de “promessas” de prazer. (grifo nosso) "Sabemos que a redução do consumo de tabaco salva vidas, mas também sabemos que a indústria não vai ficar parada e em silêncio e deixar que isso aconteça. O 10º aniversário da CQCT é um bom momento para fazer um balanço do nosso progresso até agora e para inspirar todos os países a se unirem para tornar a epidemia do tabagismo uma coisa do passado." Adriana Blanco, Assessora Sênior para o Controle do Tabaco da OPAS / OMS. Após 1o de fevereiro de 2006, data que estabelece a entrada em vigor da Convenção, o ordenamento jurídico brasileiro sofreu adequações legislativas para que as novas normas coercitivas de conduta tornassem válidas as disposições propostas pelo dispositivo internacional, como a lei 12.546/11. 3.2. Lei 12.546/11 e a proteção da saúde pública Constatou-se o acentuado número de mortes anuais com causas associadas ao uso esporádico ou regular, como também ao contato passivo com a fumaça tóxica proveniente da combustão do tabaco. Vale mencionar também a despesa 529 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS do Sistema Único de Saúde com tratamento de doenças tabacorelacionadas, e recuperação dos dependentes químicos à nicotina presente no tabaco. Uma vez que, todo tratamento de saúde deve ser custeado pelo SUS, embasado pelo princípio da universalidade do atendimento de saúde do SUS (PONTES et al, 2009), tendo por base o direito social à saúde, previsto no diploma constitucional em eu artigo 6 o (BRASIL, 2015). O princípio da universalidade que confere ao atendimento público de saúde o caráter universal, no atendimento da população. O mundo inteiro tem conhecimento do tabagismo como doença, causada pela dependência química à nicotina, substância encontrada no tabaco dentre as mais de 4.700 substâncias existentes no cigarro (OMS, 2015; INCA, 2015). A OMS considera essa doença como a principal causa de morte evitável no cenário mundial, e estima que a terça parte da população mundial adulta, seja dependente químico do tabaco. Em números absolutos se tem 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, das quais 200 milhões são mulheres. O quantum total de mortes associadas ao tabaco e seu uso alcançou o patamar de 4,9 milhões de mortes anuais, correspondente a mais de 10 mil óbitos diários. Dados estatísticos fornecidos pela OMS demonstram que 47% de todo o contingente masculino no mundo fumam, em contrapartida 12% da população feminina se utiliza da mesma conduta. Entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento há discrepância estatística relacionada ao uso do tabaco em suas respectivas populações. Vê-se nos países de maior renda, os números porcentuais de participação feminina são inferiores, por volta de 7%, contra 24% em países em desenvolvimento. Outro dado fornecido diz 530 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS respeito aos dados masculinos de tabagismo, em torno de 48% em países desenvolvidos e 42% em países em desenvolvimento. A projeção pela instituição de saúde de caráter mundial é no provável aumento das cifras expansionistas de quantidade de usuários de tabaco continue a se elevar no mesmo ritmo, teremos por volta do ano de 2030, 10 milhões de óbitos anuais, dentre eles 50% de população em idade produtiva de 35 anos e 69 anos (WHO, 2003). 3.3. Decreto 8.262 /14 regulamenta as disposições da lei 12.546/11 A lei 12.546/11 regulamentada por meio do decreto 8.262/14 observa as disposições da lei supracitada. Dentre as normativas a que merece destaque nesse estudo se relaciona com a promoção dos ambientes 100% livres da fumaça do tabaco, e outros produtos fumígenos. O que muda com a proposição desses novos instrumentos normativos se torna relevante para saúde pública, uma vez que disciplina o uso do tabaco para ambientes abertos totalmente, sem janelas, paredes, tetos ou qualquer superfície protetora mesmo que provisoriamente (BRASIL, 2015). Protegendo a população contra o fumo passivo, inibindo a constante utilização do cigarro pelo fumante, dessa maneira protegendo seu organismo, e incentivando indiretamente a cessação do consumo de produtos derivados do tabaco (DAUDT, 2000). A nova legislação também disciplina a publicidade do tabaco, vetando inclusive os pontos de venda do produto de 531 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS qualquer forma de menção alusiva ao mesmo. Anteriormente o “merchandising” poderia ser realizado por meio de displays nesses locais. No referido decreto se observa que será permitida, exclusivamente, a exposição dos produtos derivados do tabaco nos locais de venda, entretanto, sem qualquer publicidade suplementar. A utilização do fumo será legal somente em cultos religiosos no caso de ser parte do ritual, em tabacarias sinalizadas, em estúdio e locais de filmagem para produção artística quando necessário, em ambientes destinados à pesquisa e desenvolvimento de produtos fumígenos, instituições de tratamento de saúde que possuem pacientes autorizados a fumar pela autoridade médica responsável pelo mesmo. Tais medidas só serão legais caso haja condições de isolamento, ventilação e exaustão do ar, como também medidas de proteção à saúde do trabalhador exposto. Em contrapartida, há proibição da existência de “fumodrómos”. Estes são ambientes reservados ao uso do tabaco e seus derivados se encontrando isolado ou não do contato da fumaça pelos usuários que circulavam aos arredores do local. As embalagens desses produtos deverão conter advertências a respeito dos riscos da utilização do produto em 100% do verso e de uma das laterais, e a partir de 2016 serão acrescidas advertências em 30% da face frontal das embalagens (BRASIL, 2015). Tal decreto fora sancionado pela Presidência da República no dia 2 de junho de 2014, entrando em vigor após 180 dias da sua publicação no Diário Oficial. 532 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS Os usuários de cigarro não serão alvo de sanção, todavia, os responsáveis legais pelos estabelecimentos públicos ou privados nos quais os fumantes estejam exercendo esse hábito em locais proibidos, poderão sofrer autuações pelas autoridades competentes para fiscalizar tais condutas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e regionalmente as vigilâncias sanitárias dos Estados e municípios ficarão encarregadas de fiscalizar o cumprimento da legislação. Nos casos em que haja transgressão das disposições normativas pelo estabelecimento, o mesmo poderá receber sanções, como advertência, multa, ser interditado e ter a autorização cancelada para funcionamento, com o alvará de licenciamento suspenso (ANVISA, 2014). 4 CONCLUSÕES A Convenção-Quadro para Controle do Tabaco tem atuado de forma efetiva no ordenamento jurídico brasileiro após a recepção do mesmo pelo Congresso Nacional e Presidência da República. O Brasil age de forma a adequar sua legislação às tendências internacionais de saúde pública para fomentar a redução da mortalidade atrelada ao tabagismo, utilizando-se das diretrizes propostas pelo MPOWER. Dessa maneira, desde 2005 o país vem utilizando fontes normativas e órgãos estatais encarregados de promover ações de controle ao tabagismo, como o INCA. A legislação é uma peça fundamental ao controle da dependência química à nicotina. A lei 12.546/11 nas suas disposições propõe a promoção dos ambientes público ou privados de uso popular 100% livres de fumo. Trata-se de 533 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS tendência mundial na qual o Brasil é considerado pioneiro na adoção de tais medidas antitabagistas. Assim, após três anos da sanção da lei referida, apenas em 2014 que ocorreu a regulamentação por meio do decreto 8262/14, tipificando as disposições existentes na lei referida, tornando-a eficaz do ponto de vista legal. E assim, apresentando normativa para o diploma legislativo supracitado. Tem-se observado o compromisso estatal com disposições normativas para inibição do aumento de fumantes e o tratamento dos que almejam parar de fumar. Todavia, a real efetividade desses dispositivos normativos ainda é discutível. Uma vez que a fiscalização e sanção propostas legalmente não são efetivadas na totalidade conforme prescreve o disposto. São válidas as iniciativas estatais, do INCA e da OMS, de promover políticas para a redução do número de tabagistas, proteção da população do fumo passivo, como as gerações futuras das consequências devastadoras da exposição à fumaça do tabaco. Entretanto, muito há a ser realizado. Espera-se a proibição de toda e qualquer publicidade do tabaco, que atual legislação inexiste permite a exibição de tais produtos em obras artísticas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA- AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Consulta Pública n. 29 de 2 de abril de 2007. Dispõe sobre funcionamento das salas destinadas exclusivamente para o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno derivado do tabaco que produza fumaça ambiental do tabaco (FAT) nos recintos coletivos, públicos ou provados. Diário Oficial da União. Brasília, 3 abr. 2007. 534 ESTUDO DA FARINHA DA CASCA DA BANANA MODIFICADA NA REMOÇÃO DE 2+ 2+ CU E PB EM EFLUENTES AQUOSOS BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2014. BRASIL, Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Que em dentre as suas disposições, fala sobre a proibição da publicidade do tabaco no âmbito dos locais de venda; a proteção dos ambientes públicos e privados da fumaça do cigarro e seus congêneres. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12546.htm Acesso em 22 de maio de 2014. BRASIL, Decreto 8.262 de 31 de maio de 2014. Altera o Decreto nº 2.018, de 1º de outubro de 1996, que regulamenta a Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20112014/2014/Decreto/D8262.htm . Acesso em 23 de setembro de 2015. BRASIL. Decreto n.5658, de 2 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção-Quadro sobre o Controle do Uso do tabaco, adotada pelos países membros da Organização Mundial de Saúde em 21 de maio de 2003 e assinada pelo Brasil em 16 de junho de 2003. Brasília, 2006. CQTC,Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco; Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2011. Disponível em http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/convencao_quadro_texto_oficial.PDF . Acesso em 16 de maio de 2014. CQCT, Convenção – Quadro para o controle do tabaco. Primeiro tratado internacional ratificado de saúde pública do mundo. Acesso em 20 de setembro de 2015. DAUDT, Alexander Welaussen. Tabaco & saúde: contribuições à epidemiologia e à educação em controle do tabagismo 2000. Tese. (Doutorado em Ciências Pneumológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul –UFRGS. Porto Alegre. 2000. NIKOGOSIAN, H. Convenio marco de la OMS para El control Del tabaco: la globalizacion de la salud publica. (WHO Framework Convention on Tobacco Control: the globalization of public health. Prevencion del Tabaquismo (Prevention of tobacco addiction). 5(2), 71-5. WHO,World Health Organization, 2011 Disponível http://www.who.int/en/. Acesso em 22 de maio de 2014. INCA,Instituto Nacional do Câncer ,2011 Disponível em http://www1.inca.gov.br/tabagismo/. Acesso em 19 de maio de 2014. 535 SIMPÓSIO NACIONAL DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE: Conhecimento, integração e tecnologia O SIMPÓSIO NACIONAL DE SAÚDE MEIO AMBIENTE está destinado a estudantes e profissionais da área saúde (nutrição, farmácia, enfermagem, fisioterapia, educação física) e áreas afins e tem como objetivo de proporcionar, por meio de um conjunto de palestras, mesa redonda e apresentações de trabalhos, subsídios para que os participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da educação no contexto atual. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico e Ambiental de inserir todos que formam a Comunidade Acadêmica para uma Educação sócio-ambiental para a Vida. Foram abordados diversos temas durante o evento, entre eles: Uso racional de medicamentos, Aplicações da Biotecnologia na Saúde, Política Nacional de Alimentação e Nutrição, Gastronomia, meio ambiente e sustentabilidade, Patógenas emergentes associados ao abastecimento de água para consumo humano, A saúde mental no século XXI, um desafio dos profissionais de saúde, ducação Alimentar e Nutricional: uma estrategia de Segurança Alimentar do século XXI. Diante da grandiosa contribuição dos artigos aprovados, os livros frutos desse Evento: SAÚDE E MEIO AMBIENTE: conhecimento, integração e tecnologia, NUTRIÇÃO E SAÚDE: conhecimento, integração e tecnologia e ODONTOLOGIA: integração em pesquisa, tecnologia e aplicabilidade clínica, ,contribuirão para o conhecimento dos alunos da área de Ciencias biológicas e Saúde. Este livro foi publicado em 2016 Rua: Eng. Lourival de Andrade,1405- Bodoncongó Campina Grande-PB 58.430-030 Fone: (83) 3321.4575 536
Documentos relacionados
Giselle Medeiros da Costa One Helder Neves de Albuquerque
Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana e Educação socioambiental para a Vida. Os eixos temáticos abordados no Simpósio Nacional de Saúde e Meio Ambiente e nos livros garantem uma ampla discussã...
Leia mais