Vibrações de Miami Beach
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Vibrações de Miami Beach
Volume XII Issue 2 May 2003 Newsletter of the Portuguese Language Division of the American Translators Association -ATA Vibrações de Miami Beach Lúcia Leão e Clarisse Mello An overview of the 9th Spring Meeting of the PLD in Miami Beach this year, including topics, speakers and “happenings”. The abstracts and names of presenters are listed following this article, for the benefit of those who could not attend or didn’t read the final program. Hora da piada, exercícios de relaxamento contra o estresse cotidiano, exercícios de respiração, terapia do abraço, a importância de viver o momento... Você deve estar se perguntando se vamos falar de um congresso da PLD em Miami Beach ou de um curso de autoajuda e meditação. Talvez um pouco de cada um. O 9º encontro anual da Portuguese Language Division da ATA, realizado no Roney Palace Resort, nos dias 25 e 26 de abril, teve novidades e propostas de novidade. Reginaldo Alcântara propôs a criação da “hora da piada” para que em todas as reuniões da PLD haja um momento designado para os participantes que desejarem contar piadas – sempre com temática “lingüística” apropriada, ou seja, piadas ligadas ao nosso ofício. Durante a apresentação de Sandra Schamas, no sábado de manhã, todos os 37 participantes levantaram-se literalmente da cadeira sob o comando impecável da palestrante para aprender a fazer circular a energia interna e responder com tranqüilidade às influências do mundo exterior. Em uma apresentação cativante e revelando um talento excepcional para o palco, Sandra abordou o tema sempre tão presente do estresse na vida de todos nós, sejamos tradutores e/ou intérpretes. Deu dicas espertas e pertinentes, que todos anotamos mentalmente para colocar em prática no momento certo, sem pressa, sem perfeccionismo... sem estresse!!! As apresentações de John Jensen, John Rock e Ines Bojlesen, na sexta-feira, abordaram temas bem variados. John falou sobre interpretação para serviços sociais, parte de um programa que desenvolveu para a Secretaria de Serviços de Saúde da Flórida. John Rock mostrou alguns detalhes no uso do inglês que fazem uma grande diferença no resultado final de uma tradução. Ines descreveu os desafios da interpretação por telefone, em que o intérprete participa de situações de frustração, tristeza, dor e alegria vividas com a distância e a proximidade de uma ligação telefônica e características também da profissão. Bons equipamentos e preparação são fundamentais para esse tipo de atividade. A brisa do mar que temperou o jantar no Lario’s na sexta à noite foi uma mostra da atmosfera de South Beach para os participantes que vieram de outros estados ou cidades. No sábado, a chuva forte mudou a paisagem de mais um dia de excelentes palestras. Gladys Wiezel falou sobre sua experiência com tradução de software na J.D. Edwards. Arlene Kelly, depois de relembrar sua temporada no rio Xingu, levou-nos às paisagens de Massachussets. Vimos o dia-a-dia de Arlene e os bastidores da interpretação em tribunais. Continua na página 2 Nesta edição Vibrações de Miami Beach.. 1,2-11,12 Administrator's Corner ...................... 3 Maria Chaves de Mello..................... 4 Brazilian Polyglot ............. 4,6-14,16 Canto Legal ............................... 7-8 The Samba & The Fado 9,10-16,17 O que eu aprendi ........................ 11 Engineering Dictionary Review... 12 Humor - Urucubaca's Law .......... 13 Events .................18 PLData Volume XII Issue 2 May, 2003 Editor Tereza Braga Assistant Editor Ines N. Bojlesen Design Ines N. Bojlesen Final proof Tereza Braga PLData is a quarterly publication Portuguese Language Division - PLD Administrator Tereza d'Ávila Braga Phone: (972) 690-7730 Fax: (972) 690-5088 [email protected] Assistant Administrator Kátia Iole Phone: (954) 349-4085 Fax (954) 349-4021 [email protected] Treasurer Ines N. Bojlesen Phone: (503) 699-0998 Fax (503) 675-8609 [email protected] Secretary Arlene M. Kelly Phone: (617) 698-3216 Fax (617) 698-1874 [email protected] Web Master Nelson Laterman [email protected] Opinions expressed in this Newsletter are solely those of their authors. Articles submitted become the property of PLData and are subject to editing. Submissions for publications are invited and may be mailed, faxed or e-mailed to the editor. Continuação da capa Depois de um delicioso almoço mexicano no hotel, Mark Gimson divertiu a platéia com exercícios sobre as diferenças entre os vários tipos de inglês e mostrou que há muito mais significados diferentes entre diversas culturas do planeta do que imagina nosso suposto profundo conhecimento. O encerramento, com a apresentação de Paulo Lopes, foi a escolha certa para fechar a reunião organizada com os talentos combinados de Kátia Iole, Tereza Braga, Arlene Kelly e Ines Bojlesen. Paulo provocou boas gargalhadas na platéia sem que ninguém tirasse os olhos do motor de um carro. Nunca mais esqueceremos o “virabrequim”, “girabrequim”ou “árvore de manivela” (em carioquês). E uma coisa é certa: até os mais resistentes a uma tradução técnica passaram a adorar parafusos, cilindros e mancais. O encontro em Miami teve a dose certa de graça, conteúdo bem elaborado e informações novas e úteis, características de todos os encontros anuais da nossa Divisão. Os participantes se divertiram, se reencontraram, e muitos fizeram novos amigos. Todos receberam dos colegas contribuições importantes sobre sua experiência profissional e pessoal de forma divertida e competente. A terapia do abraço, idéia original de Adriana Giovanini, surtiu um efeito especial nos participantes desse já tradicional evento da primavera, ao final da palestra de Sandra Schamas. A proposta de abraçar demoradamente os colegas que estivessem mais perto aproximou ainda mais o grupo. Deixamos aqui um abraço virtual para os que estiveram lá e para os que não puderam comparecer. Merecem um abraço especial, é claro, as organizadoras do evento. Até a próxima! Lúcia Leão has a B.A. in English and literature from UERJ, a Master’s in comparative literature from UERJ and a Master’s in print journalism from the University of Miami. Her first collection of short stories – Ensaios a dois - was published in Brazil in 2002. Contact: [email protected] Clarisse Mello has been translating and interpreting since 1983 and teaches Portuguese and Translation at FIU (Florida). She has B.A. and M.A degrees in Portuguese and English and studied translation and interpretation both at UERJ and PUC, in Brazil, and at FIU. She was a teacher and coordinator of translation/interpretation courses at UERJ and Universidade Estácio de Sá, in Rio. Contact: [email protected] Abstracts - see page 11 A Terapia do Abraço! Members of the Portuguese Language Division receive this newsletter for free. Non-members: US$10.00/year. Portuguese Language Division is a non-profit organization and a division of the American Translators Association 225 Reinekers Lane, Suite 590 Alexandria, VA 22314 Phone (703) 683-6100 Fax (703) 683-6122 http://www.atanet.org www.ata-divisions.org/PLD Rates for Ads: Full page (7.5 pol x 9.75 pol) - US$100 Half page (7.5 pol x 4.87 pol) = US$75 1/4 page (4.75 pol x 4.87 pol) = US$50 Business Card (9 pol x 6 pol) = US$12 PLData Errata: PLData de fevereiro de 2003 O Mundo Lusófono em Números (pág. 10) Os dados sobre o número de habitantes de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste referem-se a milhares, e não a milhões. Page 2 May 2003 The Administrator's FROM THE ADMINISTRATOR Corner South Beach and the Hudson River: two conferences back to back down the Hudson on Sunday morning (identified Our 9th Annual correctly by Donna Sandin, a cruise expert). Spring Meeting in Miami Beach was a In the Portuguese segment, the celebrity speaker was success and a Maria Chaves de Mello, a lawyer practicing in Rio de pleasure to Janeiro and author of the well-known and bilingual organize. We had Law Dictionary. Tamara Barile, PLD member and 37 participants and tradutora juramentada from São Paulo, was another 8 speakers. Please outstanding presenter. The surprise speaker was a very see a list of young lawyer from São Paulo called Vera Scarpinella, presenters and also a law professor at PUC, who conducted a lively abstracts at the bottom of the conference review by Lúcia Leão and Clarisse Mello in this edition of the and extremely useful session called “Comprehensive PLData. We took many photographs, which can be Overview of Administrative Law in Brazil and a seen in our website. Participant evaluation was highly Comparison of the U.S. Administrative Law System”. positive and there was a wide variety of topics for The suggestion to invite Vera (and Cassio, her linguists working on both specialties - from and into husband and partner at the law practice) had come Portuguese. The famous Lario’s, on from another speaker at the conference, South Beach, was the venue for our who works with Spanish and knew her Check out our site! informal dinner on Friday night. It was a from Columbia University. little bit too noisy for some of us, but the See the photos of our 9th Cuban cuisine and music were In the words of Maria Chaves de Mello, annual meeting in Miami outstanding. “Vera e Cassio conseguiram transformar Beach! algo tão solene e grave numa coisa tão On the weekend immediately following leve e agradável de ver, ouvir e Many thanks to our the PLD meeting, we had the first ATA aprender.” volunteer photographers Legal Translation Conference in New Márcia Frias, Gabe Bokor Jersey, with rave reviews. This From Miami Beach to the Hudson and Arlene Kelly and conference gathered a top-notch group River, we learned much and networked special thanks to our of speakers for three full days of much. I found it hard to come back volunteer webmaster sessions and workshops. Many home and face the market reality most Nelson Laterman. languages were represented, with a very of us are facing now. It has been The website of the strong Portuguese component. specially hard to keep swimming and Portuguese Language Organized by Marian Greenfield, ATA stay afloat. Let’s continue to share our Division is: Director & Professional Development experiences. Committee Chair, with help from ATA www.ata-divisions.org/PLD staff, this conference had been a dream A nominating committee has been of ATA President Tom West since he assigned to prepare for our board took office. It brought together leading elections in November. I encourage all experts and provided a high-level forum for legal of you to consider serving on the PLD board. It’s translators to exchange ideas and market their rewarding and fun. services. We are preparing a surprise celebrity interview for the The conference venue was the amazing Hyatt Regency next PLData, in August. Stay tuned! in Jersey City, located literally on the Hudson River, with beautiful views of the NYC skyline. From the Tereza d’Ávila Braga restaurant, we saw the Queen Elizabeth II floating PLD Administrator PLData Page 3 May 2003 Maria Chaves de Mello na ATA Legal Translation Conference em New Jersey Tamara Barile, Maria Chaves de Mello e Donna Sandim A recém-ocorrida ATA Legal Translation Conference, em Jersey City, NJ, contou com a presença de Maria Chaves de Mello, do Rio de Janeiro, advogada e autora do amplamente utilizado Dicionário Jurídico Port-Ing e Ing-Port, agora em sua 7ª edição no Brasil e 8ª em Portugal. A palestra da Dra. Maria foi “Do Direito Romano versus o Direito Anglo-Saxão: Rumo à tradução do jargão jurídico”, dividida em duas sessões, uma pela manhã e outra à tarde. Tereza Braga, Maria Chaves e Liane Lazoski Huet de Bacellar Outros palestrantes da seção de português do congresso foram Tamara Barile, tradutora juramentada de São Paulo, e Vera Scarpinella, advogada e professora da PUC, também de São Paulo. Brazilian polyglot translates poems from 60 languages (Poliglota brasileiro traduz poemas de 60 idiomas) Entrevista com Carlos do Amaral Freire Janer Cristaldo Editor’s Note: This is an Interview with Carlos do Amaral Freire, one of the two thousand erudites of the 21st century, according to Cambridge University (quoted from the interviewer). Now in his seventies, Mr. Freire lives in Florianópolis, Brazil. He has translated poetry from 60 languages (from Sanskrit to Chinese) into Portuguese. Janer Cristaldo is an author, literary translator, lawyer, philosopher and journalist based in São Paulo. Contact: [email protected] Considerado pela Universidade de Cambridge como um dos dois mil eruditos do século XXI, Carlos do Amaral Freire já estudou sistematicamente mais de cem línguas, das quais domina sessenta. Há mais de quarenta anos vem desenvolvendo o projeto de estudar sistemática e cientificamente duas novas línguas por ano. Traduziu para o português poesias de 60 idiomas, desde o sanscrito até o chinês, reunidos na antologia multilíngüe Babel de Poemas, cuja edição está sendo negociada com a editora gaúcha L&PM. Uma monografia sua, PLData Page 4 Los fonemas oclusivos y africados del aymara y del georgiano, foi publicada em espanhol pela Universidade de Sucre e traduzida ao russo e ao serbo-croata. Nasceu em Dom Pedrito, RS, há setenta anos e estudou nos Estados Unidos, Espanha, Itália, China, na ex-Iugoslávia, na exTchecolosváquia e na ex-URSS. Chama-se Carlos do Amaral Freire e vive atualmente em Florianópolis. Continua na próxima página May 2003 JC - Onde e como surgiu o teu interesse por línguas? Sim, tenho dificuldade de encontrar um editor. Algumas editoras (universitárias, principalmente) disseram-me que havia problemas técnicos – doze alfabetos diferentes, necessidade de criar vários sinais diacríticos e símbolos diferentes – creio porém que a razão principal foi a constatação de que semelhante edição poderia ser onerosa e com pouco retorno financeiro. O meu interesse pelo estudo das línguas estrangeiras surgiu cedo, quando era ainda estudante ginasiano, ao dar-me conta de que ler os clássicos estrangeiros em traduções representava uma enorme desvantagem, isto é, que somente lendo no original eu poderia usufruir do prazer estético que só o original oferece plenamente. Depois, o fascínio pelo estudo, pela JC - Onde aprendeste línguas não-latinas, como chinês, descoberta, através das línguas, de russo e árabe? outros tantos mundos, culturas e As línguas latinas e as germânicas maneiras diferentes de pensar Em resumo, poderia estudei-as em Porto Alegre, na PUC. tomaram conta de mim, As eslavas estudei nos Estados Unidos, principalmente com as muitas viagens dizer que estudei Itália, Iugoslávia, Tchecolosváquia e na que realizei mais tarde. O umas 30 línguas em ex-URSS. O russo eu já tinha iniciado conhecimento de muitas línguas cursos regulares, aqui no Brasil, com emigrantes, durante estrangeiras deu-me a oportunidade de oficiais ou a época que estava na universidade. fazer amizades com muitas pessoas universitários. As Com o russo criei um método que em vários lugares do mundo. O considero muitíssimo eficiente. Fui domínio de línguas estrangeiras nos demais, estudei-as morar com uma família russa para ter a fornece, talvez, a ferramenta mais autodidaticamente. possibilidade de aprendê-lo na prática, eficiente para o conhecimento e a na necessidade de cada dia. A parte aceitação do diferente. teórica eu estudava sozinho. JC - Te dedicaste nos últimos anos a um O chinês, que tinha começado aqui no Brasil, com empreendimento insólito em língua portuguesa e nativos dessa língua (o mandarim) tive, mais tarde, a mesmo nas demais línguas, a tradução de 60 poemas oportunidade de seguir um curso regular na de sessenta idiomas diferentes. Tens dificuldades para Universidade de Madri e, depois, na Universidade do a publicação desse trabalho? Texas. Bem mais tarde, por volta de 1985, fiz um curso intensivo na Universidade de Pequim. Estudei o árabe, Há mais de 20 anos venho fazendo traduções, tanto principalmente, com os muitos amigos palestinos que prosa como poesia, de muitíssimas línguas tinha aqui no Brasil. Depois tive a oportunidade de estrangeiras ao português. Primeiramente, comecei a seguir um curso teórico-prático dessa língua, também na fazer traduções de contos, principalmente, e de Universidade de Madri. poemas como hobby. Ou melhor, como um desafio lingüístico para testar minha própria habilidade e Em resumo, poderia dizer que estudei umas 30 línguas conhecimento das línguas que vinha estudando em cursos regulares, oficiais ou universitários. As sistematicamente há mais de 40 anos. Me explico... demais, estudei-as autodidaticamente. Alguém já disse quando estudo uma determinada língua, me proponho que as dez primeiras são as mais difíceis. Depois, de como objetivo final chegar ao ponto de poder traduzir acordo com o objetivo em vista ou a necessidade algo dessa língua ao português. E, se possível, momentânea, a gente inventa o seu próprio método. conseguir comunicar-me nela oralmente. Comecei com as traduções de pequenos poemas das línguas latinas, germânicas e eslavas. Depois... as demais. JC - Julgas ser o chinês uma língua simples. Fala. Mais tarde, aconselhado por amigos, resolvi reunir Sim, o chinês é muito simples, no sentido lingüístico do todas as traduções a fim de fazer uma antologia termo. Isto é, uma língua simples em contraste com as multilingüe, na qual constasse o original vis-à-vis com indo-européias, por exemplo, que são línguas a respectiva tradução ao português. E, como apêndice, complexas. Creio que esta é, justamente, a razão pequenas notas biográficas e lingüísticas onde dou principal porque a sua aprendizagem se torna tão difícil algumas informações sobre algumas línguas exóticas para nós, ocidentais. Estamos acostumados às estruturas ou pouco conhecidas do leitor brasileiro, como lingüísticas complexas, como a do português. O chinês é georgiano, maltês, romani, papiamento, romanche, extremamente conciso, não tem gêneros nem números indonésio, sauíli, albanês. Etc. Continua na próxima página PLData Page 5 May 2003 Continuação das páginas 5 e 6 Brazilian polyglot gramaticais e o verbo não se conjuga. Simples não é sinônimo de fácil e, no caso do chinês, é antônimo. As estruturas simples tornam-se difíceis, confusas, pois não sabemos como compará-las com as nossas. JC - Na Bolívia, encontraste um futuro "nãoaristotélico" no aimara. Conta melhor essa descoberta. Durante minha longa estada (dez anos) na Bolívia, onde dirigi o Centro de Estudos Brasileiros em La Paz, nomeado pelo Itamaraty, tratei logo de estudar as línguas altiplânicas, com falantes nativos. Essa experiência me foi muito valiosa, pois pouco mais tarde fui convidado a lecionar Lingüística Contrastiva na Universidade Mayor de San Andrés, em La Paz. Foi comparando as estruturas lingüísticas dessas línguas com várias outras, indo-européias ou não, que cheguei a algumas conclusões interessantes sobre as notáveis semelhanças fonéticas delas com as línguas caucásicas e das características estruturais com as línguas altaicas. Quanto ao aimara, como demonstrou cabalmente o matemático e aimarista boliviano Guzmán de Rojas, “existe uma lógica lingüística diferente, nãoaristotélica, claramente incorporada na sintaxe dessa língua”. A comunicação deficiente, ou melhor, o desentendimento multissecular entre os indígenas e os conquistadores e seus descendentes explica-se, em grande parte, devido a sua diferente cosmovisão que, no caso dos aimaras, reflete-se nitidamente em sua sintaxe através de morfemas especiais bem definidos. Nós que falamos línguas indo-européias estamos imbuídos da concepção aristotélica, dicotômica, de verdadeiro X falso, certo X errado, sim X não, e temos certa dificuldade em aceitar ou compreender a concepção trivalente: certo-errado-verossímil, do aimara, onde a ambigüidade ou o terceiro não incluído tem valor de verdade. A fim de tornar mais claro o tipo de lógica trivalente do aimara usarei dois exemplos da notável monografia de Guzmán de Rojas, Problemática Lógico-lingüística de la Comunicación Social en el Pueblo Aimara. Quando um falante nativo aimara, expressando-se em espanhol, diz: “- Mañana he de venir nomás”, as palavras usadas não coincidem com o significado que as mesmas têm em espanhol, ou teriam em português. A expressão “nomás”, muito típica do espanhol PLData Page 6 popular da Bolívia e do Peru, em situações semelhantes, revela, na verdade, o pensamento aimara maltraduzido ao espanhol. Em sua língua materna usaria a frase: “- Qharürux jutätki”, onde o morfema “ki” traduz ou expressa a dúvida simétrica, o terceiro valor da verdade, o que simplesmente não existe em nossas línguas. Usa, pois, a expressão 'nomás” para traduzir o sufixo “ki”, indicativo apenas de verosimilhança. Na realidade, ele quer dizer o seguinte: “amanhã pode ser que eu venha ou pode ser que eu não venha. Não estou me compromentendo”. Quando diz, porém “Mañana he de venir pues”, usa o “pues” para traduzir o sufixo “pi” do aimara, que indica certeza. Assim, “Qharüru jutätpi” é a forma aimara que corresponderia ao nosso “- Amanhã eu virei certamente, me comprometi”. Vemos, portanto, que o aimara tem um futuro positivo, um futuro negativo e um futuro de dúvida simétrica. Assim que, se os nossos políticos falassem em aiamara, teriam de escolher bem o tipo de futuro a que se referem. JC - Andei pesquisando sobre o Guzmán de Rojas. Não sei se sabes, mas ele criou o Qopuchawi, um ICQ que traduz instantaneamente mensagens a seis idiomas. Durante minha longa estada em La Paz, tive o privilégio de fazer amizade com Guzmán de Rojas e de acompanhar, de perto, o seu projeto. E sabes qual é a língua que usa como base para a tradução das restantes cinco? É o aimara, uma língua aglutinante de extraordinária regularidade sufixal. JC - Tens um estudo sobre as afinidades fonológicas entre o aimara e as línguas caucásicas, publicado pela Universidade de Sucre e traduzido ao russo. A minha monografia se chama Los fonemas oclusivos y africados del aymara y del georgiano, publicado pela Universidade de Sucre. Pouco depois foi traduzido ao russo, pois a comparação com o georgiano sempre interessou os lingüistas soviéticos. Mais tarde, entre 1968-88, período em que exerci a função de Leitor de Língua Portuguesa na Universidade de Belgrado, esse trabalho foi traduzido ao servo-croata, pois despertara muito interesse não apenas aos lingüistas mas também a alguns antropólogos e outros profissionais que assistiram às minhas conferências. Estou convencido de que tanto o quíchua como o aimara são línguas tipologicamente altaicas. Contudo, fonologicamente se assemelham às línguas caucásicas e, particularmente, ao georgiano, a língua materna de Stalin. Continua na página 14 May 2003 Canto Legal (The Legal Corner) by Enéas Theodoro Prejuízo sem Preconceito estaria prejudicado pela intenção (animus) da parte ou pela intempestividade (“untimeliness”) da medida. Um despacho sobre questão incidente do processo—não a questão principal—pode ser prejudicial a esta por formar (e firmar) um julgamento antecipado da lide, determinando a existência ou inexistência de um direito. “A questão da ‘interpretive resemblance’ argumenta que as discrepâncias na tradução são geralmente devidas aos efeitos entre o que é codificado e o que é comunicado.” (Teoria da Relevância em Lingüística Cognitiva) Traduzindo: “quem não trumbica” (Chacrinha) se comunica se Se esse problema já é altamente prejudicial na tradução em geral, quanto mais quando conceitos e expressões jurídicas estão em jogo. Trocando em miúdos, na Tradução no Direito, o contexto é tudo. Vale a reiteração pois, afinal de contas, o que abunda não prejudica. O conceito de prejuízo (com os correlatos prejudicar, prejudicial) requer uma análise bem estruturada. Portanto, como dizia Jack, o Estripador, vamos por partes. Prejuízo – “do latim praejudicium, originariamente significa o julgamento prévio ou o prejulgamento. (...)” De Plácido e Silva Prejudice – “a forejudgment; bias; partiality; preconceived opinion. (...)” Black’s Conclusões preliminares: (a) ambos os conceitos existem em inglês e português, talvez com maior conotação de viés ou parcialidade em inglês; e (b) existem os óbvios falsos cognatos com o sentido de “loss” ou damnum e com a idéia de, por exemplo, uma situação ser prejudicada (“impaired”, “hampered” etc.). Quando se diz que algum ato prejudicaria o direito da parte, isso significa que haveria um “pré-juízo” (praejudicium) de tal direito, o qual se veria reduzido (“impaired”) ou se tornaria inoperante (“void”) mas que seria, de toda forma, prejudicado. É o caso de a parte não alegar ou requerer algo no devido momento, durante o andamento do processo, e intentar fazê-lo mais tarde. Conforme a circunstância, esse direito PLData Page 7 Deixando a erudição de lado por uns instantes, voltemos à vaca fria do enunciado preambular acima (“interpretive resemblance”), concentrando-nos na prática e nas—como sempre indefectíveis—diferenças entre o conceito de “prejuízo” e “prejudice” nos ordenamentos jurídicos (“legal systems”) do Brasil e do EUA. No Brasil: a idéia de “prejuízo” está muito mais arraigada (Direito Civil, codificado) e é bem mais corriqueira. Haja vista as disposições contratuais do gênero “sem prejuízo do disposto nesta cláusula, as obrigações da outra parte...” ou “o direito do credor não será prejudicado pela falta de interpelação”. Muito embora não seja incorreto, estritamente falando, dizer “without prejudice to the provisions of this section, the other party’s obligations...” e “creditor’s right shall not be prejudiced by failure to serve notice”, os puristas – mormente tradutores com formação de Direito nos EUA ou native speakers – talvez clamem por algo como “the provisions of this section notwithstanding...” e “creditor’s right shall not be impaired...” Nos EUA: a idéia de “prejudice” aparece menos nesses conceitos de Direito Civil e bem mais no Direito Processual (Judge-made Law)—no “practice and procedure” dos advogados e juízes americanos. É o caso de “dismissal without prejudice”, quando o magistrado deixa claro que os direitos da parte não ficam prejudicados pela extinção do processo (“dismissal of the case”), ou de “prejudicial error”, quando os direitos e obrigações da parte são prejudicados (“prejudiced” mais do que “impaired”). Isso não quer dizer que a teoria na prática seja a outra mas sim que, ao lidar com palavras representativas de conceitos fundamentais do Direito, convém ficar com Continua na próxima página May 2003 um olho no Black’s e o outro no De Plácido (e nunca fechar o terceiro). Consultas sobre dúvidas • (Versão para o inglês) Em carteira de identidade profissional: “[aqueles que fizerem anotações desautorizadas] estarão sujeitos a sanções disciplinares, legais e regimentais”. A dúvida do colega paira sobre “regimentais” (seria regimento interno?). Com efeito, a referência é a “disciplinary, legal [or statutory] and regulatory sanctions”. É bom sempre lembrar que o Poder Legislativo tem as suas normas jurídicas (statutory provisions) e o Poder Executivo as suas normas, regimentos, regulamentos, regulamentações etc. (regulatory provisions); daí a diferença entre a “norma jurídica” e a “norma regimental”. Além do que, a redação brasileira usa e abusa de toda a sinonímia permissível na nossa querida “Latium’s late blossom”. • REAL-LIFE COURT TRANSCRIPT Prosecutor: “Did you observe anything?” Witness: “Yes, we did. When we found the vehicle, we saw several unusual items in the car in the right front floorboard of the vehicle. There was what appeared to be a Molotov cocktail, a green bottle—” Defense lawyer: “Objection. I’m going to object to that word, Molotov cocktail.” Judge: “What is your legal objection, Counsel?” Defense lawyer: “It’s inflammatory, Your Honor.” *** Enéas Theodoro Jr. is based in Tucson, Arizona, and has 20 years of experience in legal translation. From 1980 to 1990 he was a partner with several attorneys in São Paulo’s first specialized legal translation agency. Any questions or suggestions? Just write to: [email protected] (Tradução para o português) Em cláusula contratual dispondo sobre a legislação aplicável (“governing law”), ou seja, em sede de Direito Internacional Privado (conflito de leis ou “conflict of laws”), menção é feita a “[irrespective of any] mandatory provision under local law (...)” O colega—poliglota—indaga se a expressão não seria traduzível como “disposição de direito imperativo”, já que em francês usar-se-ia “droit impératif”. Após consulta junto a colega formada e militante em direito (a practicing lawyer), a solução foi em favor de “disposição [ou dispositivo] legal obrigatória”, uma vez que a expressão “direito imperativo” seria alienígena ao Direito brasileiro, pelo menos nesse contexto. QUOTABLE QUIPS “Doctors and lawyers must go to school for years and years, often with little sleep and with great sacrifice to their first wives.” (ROY G. BLOUNT, Jr.) “I know of no method to secure the repeal of bad or obnoxious laws so effective as their stringent execution.” (ULYSSES S. GRANT) Curiosidades… português de Portugal Em directo de Bagdade (contribution by e-mail from Tom West – ATA President) Quando o telejornal da Rede de Televisão Portuguesa acionava seu correspondente de guerra no Iraque, o âncora do noticiário anunciava: “e agora, em directo de Bagdade...” Na denominação portuguesa, Stuttgart, Alemanha, vira Estugárdia. Quebec, Canadá, é Quebeque. Bancoc, Tailândia, vira Bancoque. Ottawa, Canadá, é Otava. Oxford, Inglaterra, é Oxónia. A capital da Dinamarca, Copenhaga. Geórgia, estado americano, em Portugal é designado Jórgia. PLData Page 8 May 2003 The Samba and the Fado John Fitzpatrick (Reprinted with permission from the Brazzil (www.brazzil.com) magazine, Feb. 2003) The attachment to the Portuguese language among Brazilians is more related to the fact that it makes them stand out from their Spanish-speaking neighbors. Despite the obvious connections, one can say that the average Brazilian cares little for Portugal. A recent Brazzil article featured an extremely interesting article by Ray Vogensen on the differences between the Portuguese spoken in Brazil and in Portugal itself. I would like to complement this by adding a few brief personal comments on the rather ambiguous relationship between Brazil and its socalled mother country. On September 7, 1822, Dom Pedro I made his famous declaration of independence: "Independência ou morte" (Independence or death) during a visit to São Paulo. On December 1, he was officially crowned Emperor of Brazil and three years later, after much bloodshed, Portugal was forced to recognize Brazil's independence. Not only did the Portuguese lose the jewel in the crown of their empire but they also lost most of their economic influence in Brazil, to the British. Since then, the Portuguese influence has remained, principally in terms of language, religion and architecture. In some places you still find beautiful colonial-style buildings and churches and since names like da Silva, dos Santos, Nascimento, Mello etc. are common, this influence will remain for as long as Brazil remains. A special relationship undeniably still exists, formally and informally. For example, Portuguese citizens enjoy privileges under the Constitution denied to other foreigners. Relations at government level are good and there is a constant coming and going of political leaders. If you have ever had the misfortune to attend a ceremony between representatives of either country at which speeches were made, then you will have been exposed to the gushy, sentimental myth of eternal Luso-Brazilian togetherness. There is a large Portuguese community here and a large Brazilian community in Portugal. Portuguese have been coming here for 500 years so there are still many family links although not nearly as close as at periods of mass immigration. Many Brazilians making their first visit to Europe stop off in Lisbon where they have, at least, the reassurance of a (more or less) common language. PLData Page 9 The language forms a strong bond with other Portuguese-speaking countries. A few months ago, I attended a concert in São Paulo at which the guest of honor was the recently-elected president of East Timor. The warmth of the reception he was given by the audience, most of which had probably never heard of East Timor until recently, was quite astonishing. One of the reasons for this admiration may have been the decision by the East Timor government to make Portuguese the official language. This was an odd decision, since most Timorese do not speak it and the country's nearest democratic neighbor is Englishspeaking Australia, which will probably be its big brother for a long, long time. However, I believe this attachment to the Portuguese language among Brazilians is more related to the fact that it makes them stand out from their Spanishspeaking neighbors rather than any innate love for Portugal. In fact, had history developed differently, Portuguese may not have been the language spoken by Brazilians at all. In the early 19th century, Portuguese was only spoken in the Northeast, with a variant of the Tupi Indian language spoken elsewhere. The gold rush, which brought in more Europeans and African slaves and led to the opening of the interior changed this1. While the Portuguese language eventually linked all of Brazil, unfortunately it led to the suppression of native languages, like Guarani, which thrive in places like Paraguay. Overall, Portugal's links with Brazil are much weaker than those which Britain still has with, say, Canada, Australia, New Zealand, South Africa and other former colonies, including the U.S.. In political terms, for example, there is no Portuguese equivalent of the Commonwealth, which still links virtually every former British territory. Nowadays the Commonwealth even includes Mozambique, an ex-Portuguese colony. Just Talk One often reads reports that a Portuguese-speaking political group will be formed but nothing ever comes of it. Even if such a body were formed it would have little Continua na próxima página May 2003 Continuação da página 9 Spain, exploited rather than developed its overseas political or economic weight. Apart from Brazil and territories. Of course, all imperialist powers have Portugal, the others are among the world's poorest exploited the lands and peoples they conquered but the states with only begging bowls to offer. In the 20th Iberians seem to have been particularly ruthless and, as a century, all the British territories voluntarily sent result, left little good will in their troops to fight alongside British forces former colonies. The Portuguese Most places in Brazil seem in two world wars. It would be to be indigenous Indian names seem to have been particularly difficult to imagine Brazil sending (Ipiranga, where Dom Pedro inept. The east Timorese are just forces to assist Portuguese forces in declared independence or death), the latest example of a people being have religious origins (São Paulo) any armed conflict. abandoned by their so-called Portugal fought the wars in its African or were named after geographical protectors even though technically colonies alone, even though the features by practically-minded they were Portuguese citizens military was in charge of Brazil at that sailors or travelers (Rio de Janeiro, living in what were supposed to be time. Brazil has actually helped clear Porto Seguro etc.) or heroes parts of Portugal overseas. (Benjamin Constant). up the mess left by Portugal's The same happened to the incompetent imperialism in Africa and inhabitants of Goa when India annexed it in the 60s Asia. Brazilian troops are currently in East Timor and although fortunately the Indians treated the locals more have also acted as peace monitors in places like humanely than the Indonesians did the Timorese. With Angola and Mozambique, which collapsed into the return of Macao to China in 1999, fortunately the anarchy and barbarism after the Portuguese simply age of Portuguese colonialism has ended and no other walked out in the mid-70s. people, except the Portuguese themselves, will suffer So despite the obvious connections, I think one can their incompetent rule. fairly say that the average Brazilian cares little for Portugal. Let us start with one or two small examples. Ingratitude and Arrogance In his book The Brazilians, Joseph Page makes an interesting point when he says: "Brazilian Portugal has also proved to be a poor role model, municipalities named after Portuguese cities and especially for Brazil. While Brazil was large, Portugal towns are exceedingly rare." Most places in Brazil was small. While Brazil was rich, Portugal was poor. seem to be indigenous Indian names (Ipiranga, where While Brazilians were developing the samba the Dom Pedro declared independence or death), have Portuguese were listening to the gloomy fado. Portugal religious origins (São Paulo) or were named after benefited not only in material terms from Brazil but also geographical features by practically-minded sailors or politically. In fact, it was the colony which came to the travelers (Rio de Janeiro, Porto Seguro etc.) or heroes rescue of the mother country when the Portuguese court (Benjamin Constant). fled to Brazil to escape Napoleon's troops. There is, indeed, a remarkable shortage of New The fact that most of the court eventually went back to Lisbons and New Portos. I noticed recently that a Lisbon is seen by the Brazilians as a sign of ingratitude square in São Paulo called Praça Portugal had been and arrogance. By refusing orders to return to Portugal, recently defaced and someone had scrawled "This is Dom Pedro I won the hearts of the Brazilians. His Brazil" on the signpost. Another example of this declaration of independence was, in fact, done in the resentment is that even today many Brazilians still spontaneous, cavalier manner of the true Brazilian as express annoyance that the Portuguese sent criminals opposed to the mote cautious Portuguese. to Brazil as though the country was a dustbin for Portuguese rubbish. As E. Bradford Burns puts it: "Pedro unsheathed his sword right there on the bank of the Ipiranga River and Brazilians also believe that the Portuguese looted gave the cry "Independence or Death". One man, then, Brazil of its gold, which was sent to Lisbon but ended without the backing of a congress or junta declared the up in London since Portugal was indebted to the independence of Latin America's largest nation. He left English. Less seriously, the Portuguese are the butts no formal, written document of his accomplishment. His of a million jokes and, in an untypically cruel jest for declaration was solely verbal. In that solitary act, the the easy-going Brazilian, a Portuguese woman is personable prince accurately reflected public always said to have a moustache. sentiment."2 I think the reason for this lack of respect and, at times, hostility to Portugal lies in the fact that Portugal, like Continua na página 16 PLData Page 10 May 2003 Continuação da página 2 - Abstracts O que eu aprendi Sandra Schamas Friday, April 25th INTERPRETATION FOR THE SOCIAL SERVICES John Jensen, Ph.D. Social Services is a new area between medical and legal interpreting. It is a growing field necessitated by recent legislation that requires that all social service agencies receiving or benefiting from federal funds must provide interpretation to LEP clients. We will examine its background, procedures and ethics. Comments specific to Portuguese for Social Services. LITTLE THINGS MEAN A LOT – ERRORS AND OVERSIGHTS John Rock, Ph.D. An otherwise good translation can often be rejected because of a transgression which happens to be the client's pet peeve. Small errors torpedo a translation! The most frequently encountered errors and oversights in translation from the Romance languages and more specifically from Portuguese into English. MUTE THE PARROT AND TURN OFF THE STEREO! TELEPHONE INTERPRETING Ines Bojlesen An overview of Telephone Interpreting. The different types of work agreements, who uses Telephone Interpreting, and the ideal workstation. How to stage a courtroom, an emergency room, a police station, or even a Coast Guard Rescue Center right in your home office and render a seamless interpretation. Telephone interpreting is a growing business! Saturday, April 26th THE IN-HOUSE EXPERIENCE TRANSLATION IN THE U.S. WITH SOFTWARE Gladys Wiezel Imagine joining a team working in 21 different languages! Personal experiences of a Brazilian working for the first time inside a U.S. corporation. The challenge of “educating” your company about translation and what it involves. Software translation – the process. What is localization and its specific problems. Terminology management. Tools demonstration. Content Manager for building manuals. Databases. TDB for storing terms, definitions, usage and context. CUIDADO COM O ESTRESSE! STRESS MANAGEMENT FOR LINGUISTS Sandra Schamas Freelancers face long working hours, either at the computer or in very tense interpreting situations. They need 100% of their attention and concentration capabilities and still have to do all their own marketing, accounting and customer service. Based on personal testimonies and interviews with physicians, psychologists and professionals of alternative medicine, this presentation offers useful information and exercises. Learn how to create restorative breaks, relax and relieve stress! Sandra Schamas was a speaker and participant at our 9th Spring Meeting in Miami Beach. She is a Portuguese teacher, writer and translator of English and Spanish into Portuguese. Contact: [email protected] De todo livro que lemos, todo filme que assistimos e todo congresso de que participamos, sempre há algo que fica, que nos acompanha e nos ajuda em nossa vida profissional ou pessoal. Tudo depende da nossa receptividade e da maneira como as novas informações foram transmitidas. Quando há uma combinação feliz das duas coisas, o resultado é muito bom, muito gratificante e o que aprendemos passa a fazer parte do nosso arquivo de experiência de vida. Na minha experiência pessoal durante a 9º Reunião de Primavera da PLD, a feliz combinação aconteceu e, recorrendo apenas à minha memória, eu aprendi que: • é muito importante conversar, ouvir e ser ouvido, declarar nosso valor, reconhecer o valor dos colegas e sentir orgulho em fazer parte do grupo. O relógio foi implacável durante a apresentação inicial dos participantes, mas não impediu a alegria de compartilhar experiências de trabalho e a maneira com que elas enriquecem nossa vida pessoal. • uma apostila com glossários e sugestões de websites como fontes de terminologia é um material preciso e útil. • “Little Things Mean a Lot”, ou seja, os detalhes são muito importantes. Os erros tendem a ocorrer onde as línguas têm estruturas diferentes. Síntese, clareza e consistência são fundamentais. Ninguém é perfeito, mas é melhor estar sempre preparado para defender sua escolha. • na Inglaterra, milk float é um carrinho de leiteiro, na África do Sul robot é semáforo e trolley, em Calcutá, é carrinho de chá. • ser intérprete por telefone pode ser uma aventura emocionante ou uma experiência dramática, mas sempre exige o máximo de concentração, profissionalismo, eficiência e imparcialidade. • a tradução de software é muito mais técnica e sofisticada do que se pode imaginar e trabalhar com tradutores de 21 idiomas diferentes num mesmo escritório pode ser uma experiência ímpar. • em Massachussets, os sinais de trânsito são confusos e a paisagem é linda, mas o mais importante foi ver com detalhes o que se passa dentro de um tribunal em sessão, conhecer o vocabulário específico e saber dos imprevistos que um intérprete enfrenta. • é fácil e divertido entender, em inglês e em português, como funciona o motor de um carro e prestar muita atenção e revisar mil vezes é imprescindível no trabalho de tradução. • o sucesso de um bom congresso está na eficiência da sua organização e, principalmente, na dedicação e empenho de seus organizadores. • abraçar é muito bom, sempre! Valeu! Continua na página 12 PLData Page 11 May 2003 Engineering Dictionary Review Naomi de Moraes I would like to bring two wonderful English<>Brazilian Portuguese dictionaries to the attention of all engineering translators. They were both self-published by Emmanuel J. Peralta, a retired engineer and former professor at ITA (once a very good engineering school, falling into decay due to poor professor salaries.) During his many years in industry, he was involved with the implementation of the USIBA (Usina Siderúrgica da Bahia and the COSIPA (Usina Siderúrgica Paulista), the first General Motors and Ford factories, and projects in the areas of shipping, agriculture, and construction. I spoke to him on the telephone and he said that early in his career, everything arrived with foreign names and he had to coin new words as he went along. It is a pity the computer engineers did not take the time to do this—now we are stuck with mouses next to our keyboards. The two dictionaries are Dicionário de Eletricidade (1997) and Dicionário de Máquinas e Ferramentas (2000), both published by "Tech Books", his own company. Both books have over 300 pages. The cover of the first says it includes: equipment, components, installations, tools, materials, circuits, diagrams, and protection. The cover of the second claims it includes: industry, mining, agriculture, construction, transport, gardening (a hobby perhaps?), machine parts, and instruments. The electricity dictionary has some pictures, but the machines one has many more. Page 205 of the second dictionary shows 12 types of valves, including a pressure reducing valve, a needle valve, a globe valve, a gate valve, and a butterfly valve. The names are given in English in the figures and the reader must then search for the individual entry in the dictionary. The entry for pressure reducing valve is: (hid.) válvula redutora de pressão; uma válvula utilizada para reduzir a pressão do fluído de uma tubulação. 201 – 1 where hid. indicates hydraulics and the number at the end indicates that the entry is shown on page 201, figure 1. Each entry usually contains a translation followed by a description. Another page shows 28 types of screws, bolts and washers! An example from the electricity dictionary is: PLData Page 12 knob insulator: isolador roldana; um isolador de porcelana ou de material plástico utilizado em forros de residências sobre estruturas de madeira, providos de um furo para fixação por parafuso (entry accompanied by figure). Both dictionaries contain reverse glossaries at the end so the dictionary can be used from Portuguese into English. The books can be purchased in Brazilian bookshops, but his distributor is not very efficient, so contact him directly for faster service (and you can tell him I sent you!): Av. Piassanguaba, 946 04060-001 São Paulo-SP (11) 5581-1445 [email protected] Naomi James Sutcliffe de Moraes was born in Detroit, Michigan, and completed a B.S. in mechanical engineering and her M.S in physics, both at UCLA. After graduation, she worked in the defense industry on radar and tracking projects before moving to Brazil. There, she began translating technical documents (Portuguese↔English), fell in love with languages, and is now working towards a Ph.D. in Lusophone African literature at the University of São Paulo. She has a diploma in translation/interpreting from Associação Alumni and now teaches Scientific, Engineering and Medical Translation in the same program. She is one of the two principals in the translation agency Just Right Communications, based in São Paulo, Brazil. Contact: [email protected]. Continuação da página 11 COURT INTERPRETING: DEALING WITH THE UNEXPECTED Arlene Kelly, Ph.D. For anyone thinking about working as a court interpreter, there is more to consider than being able to interpret for witnesses or defendants during trials. This is a look at "the rest of the story!" DIFFERENT VERSIONS OF ENGLISH AND HOW THEY AFFECT OUR WORK Mark Gimson In our work, we deal mostly with American English. Should we know anything about other versions of our most important working language? U.K. English and versions close to it are widespread in the world and many mistakes happen because we ignore some important, and sometimes subtle, differences between standard US English and standard UK English. Come ready for a fun test! NUTS AND BOLTS FROM BUMPER TO BUMPER Paulo Roberto Lopes Our own “car talk” show! Both translators and interpreters will benefit from this automotive overview of major car parts/assemblies, working its way up from simple screws (or is it ‘bolts’?) to wishbones, gearboxes, and crankshafts, in a very visual and essentially practical way. You never thought car talk could be this fun! May 2003 Humor.... URUCUBACA'S LAW (or Murphy’s Laws Updated) (contributed by PLD member Edméa McCarty) Lei da relatividade documentada: Nada é tão fácil quanto parece e nem tão difícil quanto a explicação do manual. Lei da administração do tempo: Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível. Lei da procura indireta: · O modo mais rápido de encontrar uma coisa é procurar outra. · Você sempre encontra aquilo que não está procurando. Lei da telefonia: Quando te ligam: - se você tem caneta, não tem papel. - se tem papel, não tem caneta. - se tem ambos, ninguém liga. Quando você liga para um número de telefone errado, ele nunca está ocupado. Parágrafo Único: Todo corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone. Lei da gravidade Se você consegue manter o seu juízo enquanto à sua volta todos estão perdendo o deles, provavelmente você não entendeu a gravidade da situação. Lei da experiência Só sabe a profundidade do buraco quem nele cai. Lei das unidades de medida: Se estiver escrito "tamanho único", é porque não serve em ninguém. Lei da queda livre: Qualquer esforço para agarrar um objeto em queda provocará mais destruição do que se deixássemos o objeto cair naturalmente. · A probabilidade do pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete. · O gato sempre cai em pé. · Não adianta amarrar o pão com manteiga nas costas do gato e jogá-lo no carpete; o gato comerá o pão antes de cair. Em pé. Lei das filas e engarrafamentos: A fila do lado sempre anda mais rápido. Parágrafo Único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida. Lei do esparadrapo: Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai. Regulamentação do especialista: · Especialista é aquele cara que sabe cada vez mais sobre cada vez menos. · Superespecialista é aquele que sabe absolutamente tudo sobre absolutamente nada. Lei da vida: · Pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada. · Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda. Guia prático para a Ciência Moderna: · Se se mexe, pertence à Biologia. · Se cheira mal, pertence à Química. · Se não funciona, pertence à Física. · Se ninguém entende, é Matemática. · Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia. PLData Lei dos cursos, provas e afins: · Se o curso que você mais desejava fazer só tem "n" vagas, pode ter certeza de que você será o aluno "n + 1" a tentar se matricular. · 80% do exame final será baseado na única aula que você perdeu, baseada no único livro que você não leu. · Cada professor parte do pressuposto de que você não tem mais nada a fazer senão estudar a matéria dele. Parágrafo Único: A citação mais valiosa para a sua redação será aquela cujo autor você não consegue lembrar. Lei da atração de partículas: Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto. Page 13 May 2003 Continuação da página 6 mantenho a tradição de começar a estudar, sistematicamente, ao menos uma nova língua estrangeira no início de cada ano. Já escolhi a próxima, wolof (uólofe), que comecei a estudar no dia 1° de janeiro passado. Brazilian polyglot translates poems from 60 languages JC - Podes nos contar como chegaste lá? Como cheguei lá? Por acaso... Eu estava dando uma aula de fonologia aos meus alunos de Línguas Latinas da Universidade de La Paz. Apresentei-lhes uma fita gravada numa língua desconhecida para eles (e para mim mesmo, naquela ocasião). Depois de terem ouvido o texto várias vezes no laboratório lingüístico eu lhes pedi que transcrevessem com o alfabeto fonético internacional (IPA) as palavras que tinham escutado repetidas vezes. Terminado o trabalho, verifiquei que aqueles alunos, cujas línguas maternas eram o quíchua e o aimara, acertaram mais de 80% o exercício, enquanto que os falantes nativos de outras línguas tiveram um acerto de, no máximo, 20%. A conclusão? Quem ouve pela primeira vez uma língua desconhecida e consegue identificar mais de 80% de seus fonemas é porque, quase seguramente, esses mesmos fonemas existem nas suas línguas maternas. Depois disso prossegui com minhas investigações, entrei em contato com colegas da Universidade de Tbilissi, capital da Geórgia e, para minha surpresa, fui convidado a fazer pesquisas de campo in loco pela Academia de Ciências da então República Socialista da Geórgia. O meu trabalho, Los fonemas oclusivos y africados del quecha y del aymara é o resultado prático dessas pesquisas. E, de fato, o georgiano, aquela língua desconhecida das aulas de fonologia, tem notável semelhança fonológica com o aimara. JC - Quantas línguas dominas atualmente e quais são teus critérios para dar uma língua por dominada? Dominar completamente uma língua, até mesmo a própria língua materna, é uma empresa extremamente difícil. Pra mim, contudo, dominar uma língua é possuir um conhecimento teórico-prático que me permita comunicar-me nela e de poder traduzir, ainda que com dificuldade, um texto literário. Baseado neste critério, um tanto pessoal, eu poderia dizer que domino umas 30 línguas. Outras tantas posso traduzir, mas tenho pouco conhecimento prático. Quando me perguntam quantas línguas falo (ou domino) prefiro responder que conheço, isto é, que já estudei, com critérios filológicos-lingüísticos, mais de 100 línguas durante um período de mais de 50 anos consecutivos. Depois de me ter formado em Línguas Neolatinas e em Línguas Anglo-germânicas (PUC, 1958), PLData Page 14 JC - Traduzir é impossível. Mas é necessário. Como é que fica um texto traduzido do chinês para o português? Não creio que a tradução seja impossível e, a prova disso é que há traduções realmente notáveis, excelentes, principalmente quando a língua-fonte e a língua-alvo pertencem ao mesmo grupo lingüístico e as culturas que elas veiculam são próximas. Na introdução que faço à minha antologia Babel de Poemas, tento mostrar que a poesia clássica chinesa é quase intraduzível. Pode-se traduzir parte dela, não o todo. Por que? Porque a poesia chinesa é escrita em ideogramas, verdadeira arte plástica. É língua tonal, portanto música. É lirismo, literatura por seu conteúdo poética. O poema chinês é uma combinação dessas três artes: pintura, música e literatura. A caligrafia chinesa é uma arte que não consiste apenas em caracteres ou palavras para transmitir uma mensagem, mas deve compreender, além disso, um elemento visual que expresse um significado por meio da forma. Os ideogramas têm, portanto, alto valor simbólico, intraduzíveis a outras línguas. A descoberta do imenso valor estético dos ideogramas pelos poetas ocidentais, principalmente Ezra Pound e, depois pelos nossos poetas concretistas, foi uma fonte fecunda de inspiração. Concluindo, poderíamos dizer que o verdadeiramente intraduzível da poesia chinesa não se escreve, mas se pinta com pincel, arte plástica, ou se ouve, quando se lê em voz alta, combinação de tons, música. O que resta, ao traduzir, é algo abstrato e genérico. É como tirar dessa poesia algo consubstancial ao seu corpo. É justamente essa harmonia intrínseca entre conteúdo, forma e um estilo extremamente conciso o que torna a poesia clássica chinesa quase intraduzível. JC - Segundo o lingüista francês Claude Hagège, uma língua desaparece todos os quinze dias. Ou seja, 25 línguas morrem por ano. Mais da metade das 600 línguas indonésias seriam moribundas. O ritmo de extinção de línguas, que já se havia acelerado no século passado, deve atingir grandes proporções neste. Isto empobrece a humanidade? Ou torna mais fácil a comunicação entre os homens? Continua na próxima página May 2003 Continuação da página 14 O caso das línguas malaio-polinésicas é muito ilustrativo. Elas são faladas desde Madagascar até a Polinésia. Só na República da Indonésia falam-se mais de duzentas línguas diferentes. Como todas essas línguas pertencem à mesma família lingüística foi relativamente fácil elevar o indonésio á categoria de língua oficial do país, pois ela é uma língua veicular, resultado da simplificação e assimilação de muitas outras línguas locais. Somente aquelas línguas antigas indonésias, que têm história e literatura importantes, como o javanês (60 milhões de falantes), o sudanês, o batak, o madurês, o balinês e poucas outras poderão subsistir por muito tempo. O ritmo de extinção das línguas deverá continuar enquanto os países interessados não tiverem políticas lingüísticas definidas, as condições econômicas necessárias e, acima de tudo, contar com lingüistas competentes que possam estudar e classificar as línguas minoritárias em via de extinção. Para que não desapareçam completamente é absolutamente fundamental que elas não continuem como línguas não-escritas e que haja escolas onde possam ser ensinadas. Teoricamente, é claro que a comunicação entre os homens seria facilitada se houvesse apenas umas poucas línguas, porém é igualmente certo que isso acarretaria um Já esqueci muitas línguas, ou melhor, muitas das línguas que estudei estão bastante desativadas. Contudo, com um pouco de esforço elas poderão ser reativadas novamente. Traduzir, por exemplo, é uma das melhores maneiras de não esquecê-las. A expansão do anglo-americano, assim como a de todas as grandes línguas internacionais, é a conseqüência lógica das conquistas militares e econômicas, tanto no passado como no presente. A língua do conquistador, geralmente, prevalece. JC - Teu atual projeto é estudar o wolof. Consta que esta língua é tão perigosa para as línguas minoritárias do Senegal como o inglês ou o francês, pois não é considerada língua estrangeira e possui o prestígio das grandes línguas africanas. Tens opinião sobre a polêmica? No Senegal existem dez línguas nativas, das quais seis foram promovidas a línguas nacionais. O wolof é compreendido por 80% da população. As seis línguas nacionais – peul, serere, diola, malinke e soninke, além do wolof – são ensinadas nas escolas primárias e difundidas através do rádio e da televisão. O Senegal tem, portanto, uma política lingüística definida e não creio que as outras restantes corram o risco de extinção, não como em outros países. A tendência no Senegal é a de continuar o francês como língua oficial e o wolof como língua veicular mais importante entre as demais etnias. JC - Por toda a parte, há esforço de lingüistas tentando salvar línguas faladas por comunidades de até 50 ou 100 pessoas. Vale a pena o esforço? enorme empobrecimento do espírito. As línguas são aspectos fundamentais, únicos e irrepetíveis da experiência humana. E, aliás, a característica maior de nossa espécie. Cada língua que desaparece – principalmente sem deixar vestígios, sem ter sido estudada e documentada – significa a extinção de uma espécie. JC - Há um estudo alarmante da Unesco, segundo o qual nada menos 5.500 línguas, entre seis mil, desaparecerão dentro um século. Acreditas nesta possibilidade? Se não tomarem, ao menos, as providências acima enumeradas, o desaparecimento de centenas de línguas será inexorável a curto prazo. PLData JC - A expansão do anglo-americano e de outras grandes línguas pode ser responsabilizada por este massacre de línguas? Page 15 Foi justamente o conhecimento de uma das mais antigas línguas pré-colombianas, o aimara, falado por uns dois milhões de pessoas na Bolívia e no Peru, que levou Guzmán de Rojas a constatar que essa língua nativa tem uma lógica do Terceiro Incluído imbuída em sua sintaxe, isto é, uma lógica trivalente e não a lógica dicotômica (verdadeiro x falso), aristotélica, de todas as línguas indo-européias, de toda a cultura ocidental. Há séculos os falantes dessa língua raciocinam segundo esse princípio, hoje reconhecido e defendido por um grande número de cientistas e filósofos: Lobachewsky, Vasilev e J. Lukasiewicz, na matemática. Planck na física, J. Lacan na psicanálise e muitos outros. Esse é apenas um exemplo eloqüente para comprovar o quanto a lingüística aplicada ao estudo de línguas minoritárias e exóticas poderá contribuir para a ciência, para o conhecimento do homem. Continua na próxima página May 2003 Continuação da página 15 Estou plenamente convencido de que o aprofundamento dos estudos de línguas que expressam culturas não-aristotélicas poderá trazer ainda muitas contribuições nesse campo de investigação do Terceiro Incluído. Creio que a investigação sobre a Weltanschaaung, sobre a cosmovisão de falantes de línguas indígenas, assim como a de falantes do chinês, do japonês e do coreano – e de outras línguas não tributárias do princípio da contradição e da lógica clássica – poderá confirmar, definitivamente, a tese do Terceiro Incluído num futuro próximo. É pertinente lembrar que o próprio Einstein admitiu que o princípio do Terceiro Excluído, da ciência clássica, é apenas um postulado metafísico. Não há dúvida! Vale a pena o esforço. Essa é uma tarefa absolutamente prioritária da lingüística. JC - No País Basco e na Catalunha, as escolas estão dando mais ênfase ao basco e ao catalão que propriamente ao espanhol. Na Espanha, há pais que já não conseguem se comunicar com os filhos. A teu ver, há algum lucro em renunciar a um idioma falado por centenas de milhões de pessoas e encerrar-se em uma língua minoritária, falada apenas por centenas de milhares? O caso do basco (euskera) e do catalão é de outra natureza. O basco continua sendo um enigma para a lingüística. Não tem parentesco cientificamente comprovado com nenhum grupo lingüístico. É uma língua única, amada, estudada e difundida por seus falantes. Ao contrário das centenas de línguas africanas, asiáticas e ameríndias, está longe de desaparecer. Ao contrário, o interesse por ela tem crescido enormemente e está sendo ensinada e difundida pela mídia, em todos os níveis. O catalão é uma língua de riquíssima história e magnífica literatura. Está fadado a um crescimento constante. Se a política lingüística do governo espanhol continuar democrática como está sendo atualmente, reconhecendo autonomia às províncias com língua e cultura próprias, a sorte delas estará garantida. Somente se houver ruptura do Estado e essas províncias se tornarem independentes, aí sim os seus falantes preferirão a língua materna em detrimento do espanhol. JC - Está sendo proposta uma nova língua na Europa, o europanto. To speakare europanto, tu basta mixare alles wat tu know in extranges linguas. Seria a única PLData Page 16 língua do mundo que se aprende quase sem estudá-la. Teria 42% de inglês, 38% de francês, uns 15% de um misto de outras línguas européias e uns 5% de fantasia. No est englado, non est espano, no est franzo, no est keine known lingua aber du understande. Wat tu know nicht, keine worry, tu invente. Terá futuro? JC - Não creio que o europanto tenha futuro. Aliás, a questão de aceitação de uma língua artificial internacional é mais política do que lingüística. Do ponto de vista puramente lingüístico, o esperanto é uma obra-prima e, no entanto, ainda não conseguiu impor-se como deveria. JC - Quantas línguas já esqueceste? É uma boa pergunta... Já esqueci muitas, ou melhor, muitas das línguas que estudei estão bastante desativadas. Contudo, com um pouco de esforço elas poderão ser reativadas novamente. Traduzir, por exemplo, é uma das melhores maneiras de não esquecêlas. Por outro lado a idade – estou com 70 anos – é um fator negativo inexorável. Continuação da página 9 The Samba and the Fado In more modern times, Portugal was one of the most backward countries in Europe and offered little to inspire Brazilians. Not only was it poor but, in places, primitive. I recall visiting northern Portugal as recently as 12 years ago and seeing wagons pulled by oxen. A trip from Porto to Bragança became a nightmare after a sudden storm flooded the poorly constructed main road and required a massive detour. Lisbon, at that time, with its faded beauty, and cramped Alfama district around the São Jorge castle, its crippled black beggars, reminders of the defeats in Africa, had an almost medieval feel. It may sound like a cliché but on my first visit to Lisbon I felt I was in an African rather than a European city. Even when Brazilians visited other parts of Europe, such as France or Germany, any Portuguese they met were probably immigrants working as low-paid waiters or construction workers. The drab, bad-tempered concierge in Paris was typically a Portuguese woman.3 Portugal's small size could not cope with a place as immense as Brazil. There were never enough soldiers or Continua na próxima página May 2003 Continuação da página 16 colonizers to penetrate it in depth. The Portuguese were always in a minority, outnumbered by native Indians or imported black slaves. In 1822, for example, the population of Brazil amounted to around three million, of whom one-third were slaves, a quarter Indians and most of the rest of mixed race4. Finally, I would like to stress that the point of this article is not to downplay the Portuguese contribution to the development of Brazil in any way but one cannot stop wondering how this continental-sized country would have developed had other powers been the colonizers. 1 Since enslaved Indians and Africans were named after their owners this gives a false impression of the Portuguese influence, since most had no Portuguese blood. At the same time, intermixing with Africans and Indians resulted in a huge mixed-race population, which, once again, had Portuguese names. Until the mass immigration of the late 19th century and early 20th century the population of Brazil was overwhelmingly of mixed race. Even the most recent census showed that around 45 percent of the people said they were of mixed race. The result of this is that a Brazilian bearing the most traditional Portuguese name can easily have no idea about Portugal or affinity with it. 5 As well as being outnumbered physically by the Indians and blacks, the Portuguese culture absorbed native and African elements. Since the population was mainly of mixed race it adopted the languages and traditions of the three main groups. In terms of coping with the environment the Indian element was obviously the most reliable. It is interesting to note that the Brazilian national dish, feijoada, combines inferior cuts of meat destined for slaves with farinha, a coarse floury accompaniment made from mandioca (manioc), a staple food of the Indians. African Legacy Whereas the Portuguese have tended to be rather selfeffacing and introverted, the Brazilian became the opposite, thanks to the African influence. The slaves may have lost their names and languages, but they kept many of their cultural and religious traditions. Their dancing and singing helped create the culture, which the whole world recognizes as uniquely Brazilian. In religious terms as well, the Africans combined their traditional beliefs with Catholicism to such an extent that many white Brazilians adopted them. I have twice welcomed in the New Year by walking into the sea and throwing flowers on the waves accompanied by hundreds of others, of all races, everyone dressed in white, all of us enacting a ritual the slaves brought from their African homeland. PLData Page 17 História do Brasil, Jorge Caldeira A History of Brazil, E. Bradford Burns 3 Having said that, in recent years Portugal has grown richer, thanks to the return of democracy and its membership of the European Union, and Portuguese businesses have started investing once again in Brazil. 4 História do Brasil, Jorge Caldeira 5 (I cannot let this point go without recalling an incident in Bruce Chatwin's book In Patagonia where he meets a red-haired Argentinean gaucho called Robbie Ross who announces that he is Scottish but has absolutely no idea about his Scottish roots. As Chatwin puts its rather plaintively: "He peered at me with milky blue eyes, feeling out affinities of race and background with a mixture of curiosity and pain.") 2 John Fitzpatrick is a Scottish journalist who first visited Brazil in 1987 and has lived in São Paulo since 1995. He writes on politics and finance and runs his own company, Celtic Comunicações, which specializes in editorial and translation services for Brazilian and foreign clients. You can reach him at [email protected] © John Fitzpatrick 2003 September in Rio! A New Event Attention all Portuguese Linguists A brand-new event announced by ABRATES I Congresso Nacional da ABRATES September 27-28, 2003, Rio de Janeiro Information: Email [email protected] Web www.abrates.com.br May 2003 EVENTS 3rd International Conference on Maritime Terminology, Lisbon, 16th. and 17th. June 2003 International Association for Language Learning Technology - IALLT 2003, University of Michigan Ann Arbor, MI June 19-21, 2003 ATA/TermNet annual Terminology Summer Academy, Kent State University, Kent, Ohio, June 17-21. 8th Euronext Paris Financial Translation Workshop 8e séminaire sur la traduction financière. Rencontres traduction financière, 70 rue de Rome, 75008 Paris, France. Email: [email protected]. Third Annual Meeting of the Association of Portuguese- and Spanish-based Creoles, A Coruna, Spain 26-Jun2003 - 27-Jun-2003 3rd International Conference on Maritime Terminology. Communication and Globalization. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisbon, Portugal. 23-24 June 2003 14th European Symposium on Language for Special Purposes: "Communication, Culture, Knowledge" .University of Surrey, Guildford, UK. 18-22 August 2003 3rd Translation and Interpretation Conference Cordoba, Argentina, August 16-18, 2003 Globalisation, localisation, and international accounting practice: economic and linguistic effects on international business XXVIII Annual Conference of the International Association Language and Business Rennes, France Contact: [email protected] 12-13 September 2003 Machine Translation Summit IX New Orleans, La 23-28 September 2003 I Congresso Nacional da ABRATES, O Profissional da Tradução na Atualidade. Local: Rio Atlântica Hotel – Av. Atlântica, 2964, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ. 27 e 28 de setembro de 2003 [email protected] 50th Anniversary of the International Federation of Translators – Unesco Building, Paris, France - 20 November 2003 - Multiple versions of Harry Potter- 21 November 2003 - Translation and Copyright - 22 November 2003 - Translators' Rights and official ceremony American Translators Association 225 Reinekers Lane, Suite 590 Alexandria, VA 22314 FIRST CLASS MAIL