A narrativa da vinha de Nabot em 1Rs 21
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A narrativa da vinha de Nabot em 1Rs 21
1 O FALSO TESTEMUNHO E SUAS TRÁGICAS CONSEQUÊNCIAS: BREVE ANÁLISE DO EPISÓDIO DA VINHA DE NABOT Prof. Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R1 INTRODUÇÃO Embora não sendo um biblista, o que me motivou a escolher as duas perícopes, contidas em1Rs 21, 1-29, foi a forma com que elas são escritas, pelos seus conteúdos atuais e o desejo de aprofunda-las, descobrindo o que está nas suas entrelinhas. Elas nos fazem refletir sobre a opressão no campo, a desigualdade social que é gerada por ela e sobre as injustiças de quem comete tais atitudes. Os conflitos que presenciamos, atualmente, não são tão diferentes do mencionado no relato da vinha de Nabot. Aqueles que desejam as terras dos índios ou a dos pequenos agricultores que tem uma pequena vinha ao lado do imenso latifúndio, conseguem facilmente a intervenção de Jezabel (a lei) e dos nobres e anciãos (o sistema político) para tomá-la e se manterem impunes. O relato de 1Rs 21, 1-16 é taxativo ao afirmar: Nabot foi condenado e morreu, vítima de um sistema que oprimia e, pior, que se utilizou a mentira para perseguir aqueles que se opunham a ele. Olhando para a nossa realidade no Brasil, quantos Nabotes foram condenados injustamente à morte por lutarem por seus direitos? Onde estão os seus acusadores e mandantes? Parece que a voz dos pequenos, salvo raras exceções, não é ouvida. Quanto sangue já foi derramado por causa da posse da terra e isso causa muita indignação àqueles que lutam por justiça. Surge então a profecia (1Rs 21, 17-26). Ao estudar o profeta Elias descobrimos o que se guarda em suas palavras: memórias. A memória do passado é a segurança para o futuro. Um povo sem memória, sem suas raízes preservadas, é um povo lançado no vazio do mundo. Elias é profeta que reclama a memória de um homem injustiçado – são muitos homens na memória de Nabot. É a memória dos que não falam... Ele é simplesmente a ponte entre tantos casos de morte pela terra, pela fome, pela religião e pelos tribunais que se instauram para cometerem a injustiça. Os casos de morte, de injustiça em nossos dias são muitos. Porém, muitas vezes, falta quem clame por justiça e lute pela memória dos que derramaram o seu sangue, garantindo, assim, a inquietação do Reino de Deus. Ser profeta é não buscar a tranqüilidade falsa do caminho dos falsos deuses que subjugam a vida do homem. É poder descobrir a inquietação da paz, da justiça e do direito que brotam no sofrimento de tantos homens e mulheres que são 1 Professor de Teologia Moral e Bioética e Doutorando em Teologia Moral pela Accademia Alfonsiana, Roma, Itália. 2 oprimidos e esquecidos na história. Eles e elas não têm quem os guarde na memória da vida, para que seus sofrimentos sejam reclamados nas vozes dos sem voz e sem vez. Assim, o texto bíblico vem nos questionar se atualmente não estamos vivenciando tais realidades e como tomar posição diante delas. Não podemos deixar que depois da morte do camponês o rei desça de seu palácio e tome conta da terra. Os “conflitos pela terra”2 vão existir, porque alguns se acham no direito de ter mais do que outros, provocando a morte dos mais fracos que são massacrados e renegados à escória da sociedade. Mas a força da profecia que descobrimos na memória que está guardada nas palavras do profeta Elias e a imagem de Deus que ele nos propõe aos nossos dias e convoca-nos a profetizar contra a injustiça e ganância daqueles que esfolam os pobres, tirando-lhes a pele, a carne e quebrando seus ossos e deixando-os na miséria. 1. APRESENTAÇÃO DO PRIMEIRO LIVRO DOS REIS Os livros dos Reis3 foram escritos num período de mais ou menos 400 anos, que corresponde ao reinado de Salomão (971 a.C), até Jeconias, no exílio da Babilônia, em 561 a.C 2Rs (25, 27-30). Os livros passaram por duas edições, uma pré-exílica, feita pela escola deuteronomista no tempo de Josias (640–609), narrando a história que vai de Salomão até Josias, cujo objetivo era tornar aceitável a reforma josiânica e inculcar as prescrições do Deuteronômio, assumidas e impostas por Josias como lei para todo o Estado de Israel. Isso pode ser verificado em 2Rs 22–23, quando Josias faz a grande reforma religiosa, que culmina com a celebração da Páscoa4. A segunda edição é exílica e a escola deuteronomista continuou sua atividade no tempo do exílio. Nessa época, completou-se a versão pré-exílica, acrescentando-se o reino de Judá após Josias, até o ano de 561 (2Rs 25, 27), as datações dos reinos de Judá e Israel e a história dos reis passa a fazer parte da Grande História deuteronomista, relatando os acontecimentos, desde a conquista de Canaã até o exílio babilônico. O primeiro livro de Reis5 relata minuciosamente os temas centrais do reinado de Salomão, a construção do Templo e a degeneração do seu reinado devido a sua infidelidade. Conforme o livro, os pecados de Salomão e a estultice do seu filho provocam a divisão do reino em Norte (Israel) e Sul (Judá). Nesse sentido, grande parte de primeiro livro de Reis trata do reino do norte, dos líderes idólatras e por isso para eles não haverá reino duradouro. 2 Esta expressão pode ser entendida como outros bens que geram conflitos: petróleo, fronteiras, etc. Cf. Ivo STORNIOLO. Como ler os livros dos Reis: da glória à ruína, p. 7-8. 4 Cf. Shigeyuki NAKANOSE. Uma História para se contar... A Páscoa de Josias, p. 231-260. 5 Cf. Alice L. LAFFEY. 1 e 2Reis, in: Comentário Bíblico, p. 273-276. 3 3 Os primeiros capítulos de Reis possuem um eixo literário com 1 e 2 Samuel. Em 2 Samuel, Davi morre e confere o direito de sucessão a Salomão, filho de Bat-Sheba, a esposa preferida de Davi, embora, por direito, o filho Adonias deveria ser o sucessor do trono. Os capítulos subseqüentes enfatizam que o reinado de Salomão se caracteriza pela fidelidade a Iahweh, explicando, desse modo, o seu sucesso político e econômico. Salomão inicia o seu reinado jurando fidelidade à aliança e reverência a Iahweh. É para Iahweh e por causa do dom que Ele atribui a Salomão que o rei será bem sucedido. Os últimos capítulos 1Rs 11–12, porém, demonstram a infidelidade de Salomão. Ele que tinha amado o Senhor, agora ama muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidinias e hetéias, pertencentes às nações das quais Iahweh dissera aos filhos de Israel: “vós não entrareis em contato com eles e eles não entrarão em contato convosco; pois, certamente, eles desviarão vossos corações para seus deuses'" (1Rs 11, 1-2). Esse julgamento é responsável pelo fato de Salomão perder o apoio de seu povo, porque ele se tornou opressor6, através da cobrança de imposto e pelo trabalho forçado e a conseqüência disso é a divisão de seu reino. 1.1. Estruturação do Primeiro Livro Reis Na estruturação do Primeiro Livro de Reis, optamos por esquematizá-lo de forma objetiva, demonstrando os tópicos essenciais do livro, sem atermos exaustivamente em cada tópico. Vamos nos deter apenas ao denominado ciclo de Elias (1Rs 17, 1–2Rs 1,1-17), cujo bloco se situa as duas perícopes (1Rs 21, 1-16 e 1Rs 21, 17-26) que escolhemos para este trabalho. Tivemos a preocupação, mencionar os respectivos versículos e comentá-los, facilitando a visualização do bloco. 1Rs 17, 1 – 18, 46: Elias aparece a Acab e profetiza três anos de seca (17, 1). Depois o encontramos em Carit, onde é alimentado por corvos (17, 2-8). De Carit é enviado por Yahweh para Sarepta, na Fenícia, onde é acolhido por uma viúva e lá multiplica farinha e azeite e ressuscita o filho da viúva (17, 9-24). Depois de três anos apresenta-se novamente a Acab, por meio de Obadias (18, 1-17). Nesse encontro ele desafia Acab com os seus profetas, para ver se será Yahweh ou Baal a enviar a chuva. O desafio tem como local o monte Carmelo. Os profetas de Baal são desiludidos e Yahweh escuta Elias (18, 18-46). 1Rs 19, 1-21: Elias é obrigado a fugir por Jezabel, que o quer morto. Foge para o monte Horeb e lá tem um encontro com Yahweh que se manifesta na brisa suave. No caminho de volta convoca Eliseu, que estava na terra lavrando-a, para que o siga (19, 19-21). 6 Cf. Friedrich Erich DOBBERAHM. Trabalhador e Trabalho, in Estudos Bíblicos, nº 11, p. 48-75. 4 1Rs 21, 1-29: nesse capítulo temos contado a vida de um vinhateiro de Jezrael, Nabot (21, 1-7), que é morto por Jezabel (21, 8-16). Sua morte vai ser reclamada por Elias, que profetiza a morte de Acab, Jezabel e toda sua casa (21, 17-29). 2Rs 1: Elias ameaça Acazias por ter consultado Baal-Zebude, deus de Ecrom. E temos outra intervenção de Yahweh ao enviar fogo do céu para consumir cem homens, que foram enviados para prendê-lo. 2Rs 2, 1-18: Elias é arrebatado por um carro de fogo, deixando para Eliseu o seu manto e dois terços de seu espírito de profecia. O ciclo de Elias apresenta a sua vida de luta, quase solitária, contra o culto a Baal, introduzido por Jezabel. Elias é um profeta que insiste no culto ao único e verdadeiro Deus, Yahweh. Sua vida é demonstração de toda grandeza de Yahweh. 1.2. A mensagem do livro No início do texto, encontramos uma teologia da autoridade política, em que o rei deve ser fiel a Deus: "guardarás as ordens de Iahweh teu Deus andando em seu caminho, observando seus estatutos, seus mandamentos, suas normas e seus testemunhos, conforme estão escritas na lei de Moisés, a fim, de seres bem sucedido em tudo quando empreenderes e em todos os teus projetos." (1Rs 2,3). Além disso, o rei deve governar com sabedoria e justiça, servindo ao povo: "se hoje te sujeitares à vontade deste povo, se te submeteres e lhes dirigires boas palavras, então eles serão para sempre teus servidores"(1Rs 12, 7). Esse povo pertence unicamente a Deus: "teu servo se encontra no meio do teu povo que escolheste, o povo tão numeroso que não se pode contar nem calcular. Dá, pois, a teu servo um coração que escuta para governar teu povo, que é tão numeroso?"(1Rs 3, 8-9). Entretanto, os reis foram infiéis e fizeram o que Iahweh reprova, praticando a idolatria, venderam a nação a Baal e seus sacerdotes e às nações estrangeiras, perseguiram os profetas, dividiram, exploraram e oprimiram o povo. Desse modo, obra se baseia na tese deuteronômica que se repete em 1Rs e 2Rs 17. Se o povo israelita e os seus reis se mantêm fiel à aliança fiel a Iahweh, são abençoados. Caso contrário, são punidos, amaldiçoados e até mesmo aniquilados. A ingratidão e a infidelidade do povo eleito e os reis têm uma grave conseqüência, capaz de levar a ruína Israel e posteriormente Judá que fracassam em relação a Iahweh. Entretanto, o livro nos mostra que ainda permanece um resto de Sião fiel a Iahweh, capaz de adorá-lo, não o substituindo por Baal. Se olharmos com olhos críticos, para nós, o livro é tendencioso, porque mostra a resistência admirável da dinastia davídica, sobre a qual repousam as promessas messiânicas, 5 enquanto que no reino do Norte as dinastias se sucederam a custo de muito sangue e violência. 2. ANÁLISE LITERÁRIA: 2.1. Delimitação dos textos As perícopes que optamos para análise encontram-se no capítulo 21 do primeiro livro dos Reis. Esse capítulo encontra-se num bloco, conforme assinalamos na estrutura do livro, denominado de Elias que se inicia em 1Rs 17 e finda em 2Rs 2, 17. Nesse bloco de 1Rs 17, até 1Rs 21, temos alguns relatos significativos como o episódio da seca na corrente de Carit (1Rs 17, 2-6), a narrativa da viúva de Sarepta que acolhe Elias em sua casa (1Rs 17, 7-24), o desafio de Elias a Baal e aos sacerdotes baalins, no monte Carmelo (1Rs 18, 1-40). Seguindo a dinâmica do texto, encontramos a narrativa da perseguição de Jezabel, mulher do rei Acab, a Elias, com a intenção de assassiná-lo, porém o profeta se refugiou no monte Horeb e lá experimentou uma grande teofania (1Rs 19, 1-21). Por fim, 1Rs 21, 1-29 que é composto por três redações, a saber: a) 1Rs 21, 1-16: mostra-nos a história da vinha de Nabot de Jezrael, seu conflito com o rei Acab e Jezabel que, através do falso testemunho ordena a morte do jezraelita. Temos uma narrativa de tradição popular. b) 1Rs 21, 17-26: a condenação de Elias a Acab e Jezabel, por terem feito o que é mau aos olhos de Iahweh. Portanto, temos aqui uma tradição profética. c) 1Rs 21, 27-29: a narrativa de arrependimento de Acab, que é denominada de ciclo deuteronomista josiânico, cujo objetivo é salvar a honra do rei. Dessa três redações, optamos por duas, a primeira referente à tradição popular 1Rs 21, 1-16 e a segunda de tradição profética 1Rs 21, 17-26. Postos esses elementos, vamos situar os textos propriamente ditos. 2.1.1. 1Rs 21, 1-16: relato de tradição popular Essa perícope é um relato narrativo que possui uma introdução (vv. 1-3), desenvolvimento (vv, 4-13) e conclusão (vv.14-16), ou seja, o texto nos introduz dois personagens principais: Nabot e Acab e o cenário, a vinha. O desenvolvimento da narrativa se dá em torno do desejo de posse da vinha por Acab. O relato atinge o seu clímax com a atuação de Jezabel que se vale do direito do rei (1Sm 8, 10-17), contratando os homens de Belial que acusam Nabot de ter amaldiçoado a Iahweh e o rei. O desfecho é o apedrejamento de Nabot e a tomada da posse da vinha, por Acab. 6 O texto tem uma fórmula especial que faz a abertura do texto היוי (e aconteceu), indicando que o autor quer narrar um fato. A abertura de todos os versículos é precedida pelo vav conjuntivo ()ו, que acompanha todos os que fazem abertura do texto, exceto o v. 12 e pode ser traduzido por “e”. Portanto, ele se caracteriza por ser uma fórmula de abertura de cada versículo. Vejamos um pouco mais detalhados: v.1. (yhiy>w:) e aconteceu = qal imperfeito; v.2: (rBed;y>w) e falou = qal imperfeito; v. 3: (rm,aYOw): e disse = qal imperfeito; v. 4: (aboYw" ) e entrou = qal imperfeito; v. 5: (aboT'w) e veio = qal imperfeito; v. 6: (rBed;y>w:) e falou = piel imperfeito; v. 7: (rm,aTow): e disse = qal imperfeito; v. 8-9: (bTokT . iw ) e escreveu = qal imperfeito; v. 10: (WbyviAhw>) fez sentar = hifil imperfeito; v. 11: (Wf[]Y:w) e executaram = qal imperfeito; v. 12: (War>q) convocaram = qal perfeito (exceção, pois não apresenta o vav conjuntivo); v. 13: (WbyviAhw>) e entraram = qal imperfeito; v. 14: (Wxl.v.YIw) e envie = qal imperfeito; v. 15-16: (yhiy>w:) e aconteceu. É importante salientar que todos os verbos possuem uma dinamicidade, o que dá vida à narrativa. Outros elementos importantes no texto são os personagens centrais: Nabot, Acab e Jezrael que se mantêm até o fim, o que dá a coerência à narrativa. Essas observações são importantes, porque nos ajudam a compreender o texto. Quanto às mudanças verbais o texto mantém uma estrutura verbal, cuja predominância é o tronco de Qal (59 vezes), Piel (9 vezes), Hifil (8vezes) e o Pual (2 vezes). Isso significa que o texto possui um movimento interno ativo (ao utilizar o Qal perfeito, imperfeito e imperativo), o ativo intensivo causativo (Piel), um ativo causativo (Hifil) e passivo intensivo (Pual). Na perícope não há mudança de local, isto é, a narrativa se dá em torno da posse da vinha e as mudanças dos tempos verbais, conforme já vimos, são para dar maior ação ao episódio. Isso possibilita a conclusão de que a perícope mantém a coerência do estilo literário do início ao fim. 2.1.2. 1Rs 21, 17-26: relato de tradição profética Esta segunda perícope relata a memória de Nabot, morto por mando de Jezabel, esposa de Acab, rei de Israel (1Rs 21, 17-26). E principalmente a intervenção do profeta Elias contra a injustiça cometida por Acab e Jezabel. 7 O texto é o segundo da lista, pertencente à tradição profética. Trabalhando-o agora, é necessário situá-lo. A perícope apresenta: introdução (vv. 17-18), onde são apresentados os personagens e o cenário; desenvolvimento (vv. 19-24): um diálogo entre Elias e Acab; e a conclusão (vv. 25-26), mostrando a memória do deuteronomista. Os personagens Elias, Acab e Jezabel giram em torno da morte de Nabot. É sobre esse fato que a ação profética de Elias se manifesta, julgando os que são responsáveis pela injustiça. O texto possui uma dinamicidade dada pelo tronco qal que aparece 33 vezes em toda a perícope. Assim, iremos demonstrar na apresentar de todos os verbos, com seus respectivos troncos: v.17 (yhiy>w:) e aconteceu = qal imperfeito, (rmoale) dizendo = qal infinitivo; v. 18 (~Wq) fica de pé = qal imperativo, (dre) desce = qal imperativo, (tar;q.li) para encontrar = qal infinitivo, (ATv.rIl) para tomar posse = qal infinitivo; v. 19 (T'r>B;dIw>) e fala = piel, (rmoal) para dizer = qal infinitivo, (rm;a') diz = qal perfeito, (T'x.c;r'h) tu matastes = qal perfeito, (T'v.r'y) tomastes posse = qal perfeito, (T'r>B;dIw)> e fala = piel perfeito, (rmoale) para dizer = qal infinitivo, (rm;a)' diz = qal perfeito, (Wqq.l') lambeu = qal perfeito, (WQl{y") lamberam = qal imperativo; v. 20 (rm,aYOw) e disse = qal imperfeito, (ynIta ; c'm.h) tu me achastes = qal perfeito, (ybiy>a)o ser inimigo = qal participio, (rm,aYOw): e disse = qal imperfeito, (ytiac'm') achei = qal perfeito, (^r>K,m;t.hi) te vendestes = hitpael infinitivo, (tAf[]l) para fazer = qal infinitivo; v. 21 (ybim) trarei = hiphil, (yTir>[;biW) e queimarei = piel perfeito, (yTir;k.hiw)> e eliminarei = hiphil perfeito, (rWc['w>) e trancado = qal passivo, (bWz['w>) e abandonado qal passivo; v. 22 (yTit;n"w>) e farei = qal perfeito, (T's.[k ; .hi) tu me provocastes = hiphil perfeito, (ajix]T;w) e pecar = hiphil imperativo; v. 23 (rB,DI) falou = piel perfeito, (rmoal) dizendo = qal infinitivo, (Wlk.ayO) comerão = qal imperfeito; v. 24 (tMeh;) morre = qal particípio, (Wlk.ayO) comerão = qal imperfeito, (tMeh;w)> e morrer = qal particípio, (Wlk.ayO) comerão = qal imperfeito; v. 25 (hy"h') existiu = qal perfeito, (rKem;th . i) se vendeu = hitpael perfeito, (tAf[]l;) para fazer = qal infinitivo, (hT's;he) se seduziu = hiphil perfeito; v. 26 8 (b[et.Yw: :) e fez muitas coisas abomináveis = hiphil imperfeito, (tk,l,l') seguindo = qal infinitivo, (Wf[) fazem = qal perfeito, (vyrIAh) lançou fora = hiphil perfeito. 2.2. Tradução literária rv,a] ylia[er>z>YhI ; tAbn"l. hy"h' ~r,K, hL,aeh' ~yrIb'D>h; rx;a; yhiyw> : que Jezraelita o Nabot tinha vinha isto a 1 palavras as depois aconteceu E `!Arm.vo %l,m, ba'x.a; lk;yhe lc,ae la[,r>z>yIB. Samaria rei Acab palácio ao lado Jezrael em yli-yhiywI ^m.r>K;-ta, yLi-hn"T. rmoale tAbn"-la, ba'x.a; rBed;yw> : 2 mim para será e tua vinha a mim para dê dizendo Nabot para Acab falou E ~r,K, wyT'x.T; ^l. hn"T.aw, > ytiyBe lc,ae bArq' aWh yKi qr'y"-!g:l. vinha em lugar de ti para dou e minha casa ao lado próximo ela porque horta para `hz< ryxim. @s,k, ^l.-hn"T.a, ^yn<y[eB. bAj ~ai WNM,mi bAj bom valor equivalente este prata ti para dou diante de teus olhos for em agradável se sua parte yt;boa] tl;x]n:-ta, yTiTimi hw"hyme yLi hl'ylix' ba'x.a;-la, tAbn" rm,aYOw: 3 meus pais herança a minha dar eu Yahweh por mim a reprovável Acab a Nabot disse E `%l' ti para tAbn" wyl'ae rB,DI-rv,a] rb'D'h;-l[; @[ez"w> rs; AtyBe-la, ba'x.a; aboYw" : 4 Nabot ele para disse que palavra causa por furioso e desgostoso sua casa em Acab entrou E AtJ'm-i l[; bK;v.YwI : yt'Aba] tl;x]n:-ta, ^l. !Tea,-al{ rm,aYOw: ylia[er>z>YIh; sua cama sobre deitou e meus pais herança a ti para dou não disse e Jezraelita o `~x,l' lk;a'-al{w> wyn"P'-ta, pão comeu não e face sua a bSeY:w: virou e ^n>yaew> hr's' ^x]Wr hZ<-hm; wyl'ae rBed;T.w: ATv.ai lb,z<yai wyl'ae aboT'w: 5 9 tu nenhum e desgostoso teu espírito isto que o ele a falou e mulher sua Jezabel ele a veio E `~x,l' lkeao pão comido yLi-hn"T. Al rm;aow" ylia[er>z>YIh; tAbn"-la, rBed;a]-yKi h'yl,ae rBed;y>w: 6 (intensamente) falou E mim para dê ele para disse e Jezraelita o Nabot a falei (insistentemente) que em ela a wyT'x.T; ~r,k, ^l.-hn"T.a, hT'a; #pex'-~ai Aa @s,k,B. dele em lugar vinha ti para dou ti a interesse (agrado) se ou `ymir>K;-ta, minha vinha ^l. ti para ^m.r>K;-ta, prata por tua vinha a !Tea,-al{ rm,aYOw: dou não eu disse e laer'f.yI-l[; hk'Wlm. hf,[]T; hT'[; hT'a; ATv.ai lb,z<yai wyl'ae rm,aTow: 7 Israel sobre realeza tua execute agora tu mulher sua Jezabel ele a disse E `ylia[er>z>YIh; tAbn" ~r,K,-ta, ^l. !Tea, ynIa] ^B,li bj;yIw> ~x,l,-lk'a/ ~Wq Jezraelita o Nabot (de) vinha a ti para darei eu teu coração alegre e pão coma levante ~yrIp's.h; xl;v.Tiw: Amt'xoB. ~Tox.T;w: ba'x.a; ~veB. ~yrIp's. bTok.Tiw: 8 cartas as enviou e selo seu com selou e `tAbn"-ta, Nabot com ~ybiv.YhO ; Ary[iB. habitavam sua cidade na Acab (de) nome em rv,a] ~yrIxoh;-la,w> que nobres aos e cartas escreveu E ~ynIqez>h;-la, anciãos aos varoB tAbn"-ta, WbyviAhw> ~Ac-War>qi rmoale ~yrIp'S.B; bTok.Tiw: 9 cabeça na Nabot sentem e jejum convoque dizendo cartas nas escreveu E `~['h.' povo o T'k.r;Be rmoale Whdu[iywI ADg>n< l[;Y:lib.-ynEB. ~yvin"a] ~yIn:v. WbyviAhw> 10 sentaram E amaldiçoaste dizendo ele testemunhar fizeram e dele diante Belial (de) homens homens dois `tmoy"w> Whluq.siw> WhauyciAhw> %l,m,w" ~yhil{a/ mate-o e apedreje-o e ele sair façam e rei e Deus 10 rv,a]K; Ary[iB. ~ybiv.YOh; rv,a] ~yrIxoh;w> ~ynIqeZ>h; Ary[i yven>a; Wf[]Y:w: 11 fizeram E que como dele cidade na habitavam que nobres os e anciãos os dela cidade homens `~h,ylea] hx'l.v' rv,a] ~yrIp'S.B; bWtK' rv,aK] ; lb,z"yai ~h,ylea] hx'lv. ' eles para ela enviou que cartas em escrito tinha que como Jezabel eles a enviou `~['h' varoB. tAbn"-ta, Wbyvihow> ~Ac War>q' 12 povo o cabeça a Nabot sentaram e jejum convocaram e l[;Yl: iB.h; yven>a;W hdu[iy>w: ADg>n< Wbv.YwE : l[;Y:lib.-ynEB. ~yvin"a]h' ynEv. WaboY"w: 13 entraram E Belial de homens testemunhar fizeram e dele defronte sentaram e Belial filhos os homens dois #Wxmi WhauciYOw: %l,mw, " ~yhil{a/ tAbn" %r;Be rmoale ~['h' dg<n< tAbn"-ta, fora para sair fez então rei e Deus Nabot amaldiçoou dizendo e povo o presença na `tmoY"w: ~ynIb'a]b' mate-o e pedras com Nabot Whluq.s.YwI : ry[il' apedreje-o e cidade a `tmoY"w: tAbn" lQ;su rmoale lb,zy< ai-la, Wxl.v.YIw: 14 morreu e Nabot apedrejado foi dizendo Jezabel a envie E ba'x.a;-la, lb,zy< ai rm,aTow: tmoY"w: tAbn" lQ;su-yKi lb,z<yai [;mov.Ki yhiy>w: 15 E Acab para Jezabel falou e morreu e Nabot apedrejado foi como Jezabel escutou que aconteceu yKi @s,k,b. ^l.-tt,l' !aeme rv,a] ylia[er>zY> Ih; tAbn" ~r,K,-ta, vre ~Wq levante-se mas prata em ti para dar recusou que Jezraelita o Nabot (de) vinha (da) posse tome `tme-yKi yx; tAbn" !yae morreu porque vive Nabot não ~r,K-, la, td,r,l' ba'x.a; ~q'Yw" : tAbn" tme yKi ba'x.a; [;mvo .Ki yhiy>w: 16 de vinha para descer para Acab levantou e Nabot morreu como Acab escutar tornou E `ATv.rlI . ylia[er>z>YhI ; tAbn" possuí-la para Jezraelita o Nabot `rmoale yBiv.Tih; WhY"liae-la, hw"hy>-rb;D> yhiy>w: 17 11 dizendo tesbita o Elias para Yahweh de palavra aconteceu E ~r,k,B. hNEhi !Arm.voB. rv,a] laer'f.yI-%l,m, ba'x.a; tar;q.li dre ~Wq18 de vinha em que eis Samaria em que Israel de rei Acab confrontar para desce pé de Fica `ATv.rlI . ~v' dr;y"-rv,a] tAbn" posse tomar para lá desceu que Nabot T'r>B;dIw> T'v.r'y"-~g:w> T'x.c;r'h] hw"hy> rm;a' hKo rmoale wyl'ae T'r>B;dIw> 19 ele contra fala E ? posse tomastes tu novamente e matastes tu Yahweh diz Ele assim dizendo ~D;-ta ~ybil'K.h; Wqq.l' rv,a] ~Aqm.Bi hw"hy> rm;a' hKo rmoale wyl'ae de sangue o cães os lambeu que lugar no Yahweh diz assim dizendo ele contra falas tu e `hT'a'-~G: ^m.D-' ta, ~ybil'K.h; WQl{y" tAbn", teu o novamente sangue teu o cães os lamberão Nabot ![;y: ytiac'm' rm,aYOw: ybiy>ao ynIt;ac'm.h; WhY"liae-la, ba'x.a; m,aYOw: 20 devido achei eu disse ele E ? inimigo ser eu achastes me tu Elias para `hw"hy> ynEy[eB. Acab disse E [r;h' tAf[]l; ^r>K,mt; .hi Yahweh de olhos aos mal o fazer para vendestes te tu ba'x.a;l. yTir;k.hiw> ^yr,x]a; yTir>[;biW Acab de eliminarei e outro h['r' ^yl,ae ybime ynIn>hi 21 o queimarei Eu e mal o de ti junto trarei que Eis `laer'f.yIB. bWz['w> rWc['w> ryqiB. !yTiv.m; Israel em abandonado e retido e muro no urinar hY"xia-] !b, av'[.B; tybek.W jb'n>-!B, ~['b.r'y" tybeK. ^t.yBe-ta, yTit;n"w> 22 darei E Aías de filho Baasa de a casa como e Nebat de filho Jeroboão de casa a como `laer'f.yI-ta, ajix]T;w: T's.[;k.hi rv,a] Israel a pecar casa tua da s[;K;h;-la, e irritastes tu me que irritação da causa por lb,zy< ai-ta, Wlk.ayO ~ybil'K.h; rmoale hw"hy> rB,DI lb,z<yail.-~g:w> 23 Jezabel comerão eles cães os dizendo Yahweh falou Jezabel para igualmente E `la[,r>z>yI lxeB. 12 Jezrael de muro do diante @A[ Wlk.ayO hd,F'B; tMeh;w> ~ybil'K.h; Wlk.ayO ry[iB' ba'x.a;l. tMeh; 24 dos aves as comerão campo no morrer que o e comerão cães os cidade na Acab de morrer que o `~yIm'Vh' ; céus hw"hy> ynEy[eB [r;h' tAf[]l; rKemt; .hi rv,a] ba'x.ak; . hy"h'-al{ qr; 25 Yahweh de olhos aos mal o fazer para vendeu se que Acab como existiu não Somente `ATv.ai lb,z<yai Atao hT's;he-rv,a]. mulher sua Jezabel por instigar fez se que rv,a yrImoa/h' Wf[' rv,a] lkoK. ~yliLuGhI ; yrex]a; tk,l,l' daom. b[et.Y:w: 26 abomináveis coisas muitas fez E que amorreus os fizeram que tudo conforme ídolos dos atrás caminhando `laer'f.yI ynEB . ynEP.mi hw"hy> Israel vyrIAh] de filhos dos face da Yahweh desapossou 2.3. Tradução definitiva 1. E aconteceu depois das palavras isto. Tinha Nabot, o jezraelita, uma vinha, em Jezrael, ao lado do palácio do rei Acab, da Samaria. 2. E falou Acab para Nabot, dizendo: dê para mim a tua vinha e será para mim uma horta, porque ela está próxima, ao lado de minha casa. Dou para ti, em lugar da vinha outra boa, em outra parte, se for agradável diante de teus olhos. Dou para ti prata em valor equivalente a esta. 3.E disse Nabot a Acab: é reprovável a mim, por Yahweh, dar minha herança, de meus pais para ti. 4. E entrou Acab em sua casa desgostoso e furioso, por causa da palavra que lhe disse Nabot, o jezraelita: não dou para ti a herança de meus pais. E deitou-se sobre sua cama e virou sua face e não comeu pão. 5. E veio a ele Jezabel, sua mulher e lhe falou: o que este espírito teu está desgostoso e tu, nenhum pão comeste? 6. E falou intensamente a ela, porque insistentemente falei a Nabot, o jezraelita e disse para ele: dê para mim tua vinha por prata ou se for do teu agrado, dou para ti outra vinha em lugar dela. E Nabot disse: eu não dou para ti minha vinha. 7. E, Jezabel sua mulher, disse para ele: tu, agora, executes tua realeza sobre Israel. Levante e coma o pão e alegre teu coração. Eu darei para ti a vinha de Nabot, o jezraelita.8. E escreveu cartas em nome de Acab e lacrou com o selo dele e ela enviou para os anciãos e para os nobres que na 13 sua cidade, habitavam com Nabot. 9. E escreveu nas cartas dizendo: convoque jejum e sentem Nabot na frente do povo. 10. E sentaram dois homens, filhos de Belial, diante de Nabot e fizeram testemunhar contra ele, dizendo: tu amaldiçoaste os deuses e o rei: façam sair Nabot e apedreje-o e mate-o.11. E fizeram os homens da cidade dela, os anciãos e os nobres que habitavam na cidade de Nabot, conforme lhes enviou Jezabel, como tinha escrito em cartas que ela enviou para eles.12. Convocaram jejum e sentaram Nabot em frente do povo.13. E entraram os dois homens, filhos de Belial e sentaram defronte dele (Nabot) e fizeram testemunhar contra ele os homens de Belial: Nabot amaldiçoou os deuses e o rei, então o faça-o sair para fora da cidade e apedreje-o com pedras e mate-o.14. E envie a Jezabel, dizendo, Nabot foi apedrejado e morreu.15. E aconteceu que escutou Jezabel como foi apedrejado Nabot e como morreu. Então, disse Jezabel para Acab: levante-se, tome posse da vinha de Nabot, o jezraelita, que recusou dar para ti a vinha em prata, mas Nabot não vive, porque morreu.16. E tornou a escutar Acab como morreu Nabot e levantou Acab, para descer para a vinha de Nabot o jezraelita, para possuí-la. 17. E aconteceu a palavra de Yahweh para Elias o tesbista dizendo:18. Fica de pé desce para encontrar Acab, rei de Israel,em Samaria. Eis que em vinha de Nabot desceu lá para tomar posse.19. E fala contra ele dizendo, assim diz Yahweh : tu que matastes e novamente tomastes posse? E tu fala contra ele dizendo, assim diz Yahweh: no lugar que lamberam os cães o sangue de Nabot, lamberão os cães teu sangue. 20. E disse Acab para Elias: tu me achaste ser inimigo? E ele disse: eu achei, porque tu te vendeste fazendo o que é mal aos olhos de Yahweh. 21. Eis que trarei junto de ti o mal e Eu queimarei e eliminarei o outro de Acab, urinando no muro retido e abandonado em Israel. 22. E farei da tua casa como a casa de Jeroboão, filho de Nebat, e como a casa de Baasa, filho de Aías, por causada irritação que tu me irritastes e pecar a Israel. 23. E igualmente para Jezabel falou Yahweh, dizendo: os cães comerão Jezabel diante do muro de Jezrael. 24. O que morrer de Acab, na cidade, os cães comerão, e o que morrer no campo comerão as aves do céu. 25. Somente não existiu como Acab, que se vendeu para fazer o mal aos olhos de Yahweh, que se fez instigar por Jezabel, sua mulher. 26. E fez muitas coisas abomináveis, caminhando atrás dos ídolos, conforme tudo que fizeram os amorreus que Yahweh desapossou da face dos filhos de Israel. 2.4. Estruturação das perícopes Na parte que se segue iremos detalhar o bloco de 1Rs 21, 1-26, em duas perícopes, possibilitando melhor análise dos textos bíblicos. 14 2.4.1. Estrutura de 1Rs 21, 1-16 Na composição e estruturação do texto devemos levar em conta alguns elementos: há uma relação entre introdução e conclusão, expressada pelo verbo (yhiy>w) nos vv. 1 e 15-16, pelos personagens Nabot e Acab (v. 1//.v.16). Vale notar que o verbo repete muitos verbos e outras palavras, vejamos: falar/ dizer (vv. 2, 3, 6, 7 e 9); dar (vv. 2, 3, 6 e 7); fazer sentar (vv. 9, 10, 12), testemunhar e amaldiçoar (vv. 10 e 13), apedrejar/ ser apedrejado, matar/ ser morto (vv. 10, 13, 14 e 15), morrer (vv. 15 e 16), vinha (vv. 1,2, 6, 7, 15 e 16), prata (2, 6, 15) e herança dos pais (vv. 3 e 4). Isso significa que o texto mantém a coesão na sua estrutura interna de tal forma que consegue formar um quiasmo, cujo objetivo é demonstrar a condenação e morte de Nabot. Ora, isso se confirma a partir dos dados levantados e do gráfico que apresentaremos abaixo. A insistência nos verbos e em algumas palavras é proposital pelo autor e/ou grupo que escreveu a narrativa. Visualizando a estrutura da perícope, apresentaremos a estruturação do texto, detalhadamente à página seguinte. 15 v. 1-3: Introdução: Acab e A Nabot v.1: apresentação do cenário (vinha) e dos personagens centrais: Nabot e Jezabel v. 2: Acab pede a Nabot a vinha para que a transforme numa horta v. 3: Nabot recusa ceder a vinha vv. 4-13: desenvolvimento Acab e B Jezabel v. 4: Aborrecimento de Acab por ter seu pedido rejeitado por Nabot v. 5: indagação de Jezabel a Nabot sobre o seu aborrecimento v.6: Acab esclarece a Jezabel o motivo de seu aborrecimento v.7: Jezabel questiona Acab – és tu que governas sobre Israel. Promessa de Jezabel em dar a seu marido a vinha de Nabot C Jezabel e Anciãos v.8: Jezabel escreve cartas aos anciãos e nobres concidadãos de Nabot v.9: proclamação do jejum e Nabot comparecer entre os primeiros do povo. v.10: Acusação contra Nabot – maldição a Deus e ao rei e a ordem de lançá-lo para fora e apedrejá-lo D Condenação e morte de Nabot v.11: Ancião e nobres obedecem à ordem de Jezabel v.12: Proclamação de jejum e Nabot entre os primeiros v. 13: acusação contra Nabot – de amaldiçoar a Deus e o rei – apedrejá-lo e lançá-lo fora e ele morreu. v. 14-16: conclusão Jezabel e v.14: Notícia da morte de Nabot a Jezabel C Anciãos v.15: ao saber que Nabot estava morto, Jezabel ordena que Acab vá B Acab e Jezabel A Acab e Nabot v.16: Conclusão – Tomada de posse da vinha de Nabot por Acab tomar posse da vinha de Nabot 16 2.4.2. Estrutura de 1Rs 21, 17-26 A estrutura desta perícope se organiza da seguinte forma: na introdução temos a apresentação dos personagens: Elias, Acab e Nabot. A imagem de Nabot é a memória do pobre que sofreu a injustiça e violência do sistema monárquico. Sua morte aconteceu em 1Rs 21, 13-14: “Então, vieram dois homens, filhos de Belial, e puseram-se defronte dele; e os homens, filhos de Belial, testemunharam contra ele, contra Nabot, perante o povo dizendo: Nabot blasfemou contra Deus e contra o rei. E o levaram para fora da cidade e o apedrejaram com pedras, e morreu”. O cenário do encontro é na vinha que era de Nabot, na planície de Jezrael. A causa de sua morte é a negação da venda de sua vinha ao rei Acab. O desenvolvimento da narração é formado pela palavra profética de Elias, que fala em nome de Yahweh, condenando e julgando a ação iníqua de Acab e sua esposa Jezabel. É com a morte de Nabot que Acab vai tomar posse da vinha do camponês. A conclusão da narrativa temos posto o julgamento sobre Acab. Assim, temos um oráculo profético e podemos visualizar a estrutura e as suas fórmulas introdutórias da seguinte forma: a) Introdução: (vv.17-18) E aconteceu a palavra de Yahweh para Elias o tesbita dizendo: b) Profecia (v. 19): assim diz Yahweh: c) Julgamento divino (vv. 20-24): assim diz Yahweh: no lugar que lambeu o cão o sangue de Nabot, lamberão os cães teu sangue. d) Motivo do julgamento (vv. 25) – Porém não existiu como Acab, que se vendeu para fazer o mal aos olhos de Yahweh ,quase seduziu por Jezabel, sua mulher e) Conclusão (v. 26) E fez muitas coisas abomináveis, seguindo outros ídolos, conforme todos os que fazem os amorreus que Yahweh lançou fora dos filhos de Israel. A perícope 1Rs 21, 17-26 é um oráculo profético, não tendo a constituição de uma narrativa, da mesma forma da perícope anterior. A forma de oráculo é dada pela formula inicial, que é constituída pela palavra de Yahweh enviada a Elias (vv. 17-18), cuja acusação faz surgir a profecia (v. 19). O julgamento divino é constituído pelos versículos 20-24 e a conclusão do oráculo é formada pelos motivos encontrados nos versículos 25-26. A introdução da profecia está conectada aos versículos da perícope anterior pelo verbo (yhiyw> ) “e aconteceu”. Esta forma de iniciar o oráculo, indica que o autor vai dar continuidade à narração do episódio de Nabot, mostrando as conseqüências que a morte injusta do camponês causaria a Acab e Jezabel. Nessa primeira parte o movimento e coesão do texto são dados pelos verbos, em sua maioria no tronco qal infinitivo construto (dizer, para encontrar, 17 para tomar posse). Temos outros dois verbos no mesmo tronco, mas na forma de imperativo (fica de pé e desce). A profecia é dada pelo imperativo: “fica de pé e desce para encontrar”, no v. 18. A atitude do profeta é de aceitar a palavra de intervenção de Yahweh, sem questioná-la. A emergência da ação divina parece ser redundante, pois os verbos no v. 19b “matar e tomar posse” estão no qal perfeito, que refletem uma ação concluída e não no seu tempo propriamente dito. Estes dois verbos estão ligados pela conjunção (~g:) “novamente”, dandonos a entrever que a ação de Acab está ligada à primeira: matar. A palavra profética é iniciada por uma partícula interrogativa (h), que exige de quem é por ela questionado uma simples resposta, um sim ou um não7. A coesão interna do v. 19 está na ordem divina: “e fala contra ele dizendo”. O verbo (r>B;dI) falar, está no piel perfeito, o tronco piel é um ativo intensivo ou causativo 8, a forma perfeita, como já refletimos é de uma ação concluída. Já o verbo (rmoa) dizer está no qal infinitivo construto. O tronco qal é ativo simples, e a forma no construto só expressa a idéia básica da raiz verbal. O verbo (acm) “achar” usado tanto na pergunta de Acab, como na resposta de Elias está na forma qal perfeita. A conclusão de Elias é o que dá a diferença ao julgamento divino, pois Acab “se vendeu”, fazendo o que “é mal aos olhos de”. O verbo dizer também se apresenta no qal perfeito. Aqui a intervenção divina já está concluída, não tem mais volta. O fim de Acab será o mesmo que o de Nabot. A pergunta de Acab: “tu me achaste ser inimigo?” não corresponde à pergunta feita pelo profeta: “tu matastes e novamente tomastes posse?”. Todavia, o veredicto do julgamento já foi dado. A raiz da palavra “o mal” ([r;h'), está no verbo ([[;r') “ser mau, ser ruim”9, refletindo a força da perversidade da ação de Acab. Seus desdobramentos variam: mal, aflição, ruim, maldade, infortúnio. Com freqüência a raiz ocorre junto com a formula “aos olhos de”10. Essa fórmula na perícope está descrevendo o relacionamento de Acab com Yahweh e de Acab com Nabot. É bom notar que a forma do verbo vender está no hitpael, que mostra uma ação reflexiva “tu te vendestes”. Esta mesma forma verbal está no v. 25, na justificação divina do 7 Cf. Page H. KELLEY.Hebraico Bíblico: uma Gramática Introdutória, p.126. Cf. Ibidem, p. 138. 9 R. Laird HARRIS. Dicionário Internacional, p.1441. 10 Ibidem, p. 1441. 8 18 castigo. Só que nesta conclusão do julgamento contém os verdadeiros motivos que no v. 20 ainda não estão claros. O ato reflexivo de Acab é respondido com a rejeição de Yahweh. A ação divina que reprova veementemente os atos de injustiça e de idolatria de Acab está desenvolvida nos vv. 21-24, onde é o centro da perícope, que relata a ação/justiça de Yahweh. Aqui não está só um julgamento particular, mas nele se encontram outros responsáveis: a casa de Acab, entendido como sua posteridade, e Jezabel. 2. 5. Comentando os textos Na análise semântica vamos nos valer das estruturas apresentadas anteriormente: introdução, desenvolvimento e conclusão. A análise de cada termo nos vai permitir aprofundar o texto bíblico, a partir dos elementos levantados. 2.5.1. Comentando 1Rs 21, 1-16 a) Introdução (vv. 1-3) A introdução nos apresenta alguns personagens, lugares e palavras que nos são imprescindíveis: Nabot, Jezrael, vinha palácio, Acab, Samaria, prata e herança. A narrativa de 1Rs 1, 1-16 apresenta, no início, um dos personagens centrais da história, Nabot11 (tAbn") de Jezrael. O nome é de significado incerto (a raiz está associada a termos que conotam elevação ou crescimento como o árabe nadaba)12. Ele era proprietário de uma vinha e se recusou vendê-la ao rei Acab, porque era a herança dos seus antepassados. Devido à recusa, Jezabel o acusa de ter amaldiçoado a Deus e ao rei e se vale do falso testemunho e o condena ao apedrejamento até morrer. Entretanto, não bastam apenas essas informações, faz-se necessários buscar compreender o personagem a partir de um elemento geográfico fornecido pelo próprio texto: Jezrael13 (la[,r>z>yI) que significa “Deus semeou” e era uma planície que se estendia da Samaria a Galiléia, cujos limites eram os montes Carmelo, Gilboé e Tabor. Era uma planície fértil e de grande influência econômica, pois fazia parte de uma das rotas comerciais. É por lá que se tem acesso a Damasco e Mesopotâmia. Neste local, o rei Acab mandou construir um palácio de inverno (1Rs 21, 1-6), próximo à vinha de Nabot e por motivos pessoais queria aumentar o tamanho de suas posses, comprando ou trocando as terras de Nabot e, posteriormente, através de Jezabel, cometeu o 11 Cf. L. MONLOUBOU e F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 549. Cf. Diccionário Enciclopedio de la Bíblia, p. 1070. 13 Cf. L. MONLOUBOU e F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 417. 12 19 nefasto assassinato do camponês. Mas foi na planície de Jezrael14 que a rainha Jezabel, que outrora mandou executar o camponês, foi assassinada por Jeú, bem como o rei Jorão (2Rs 9,16 – 10, 11; Os 1, 4) e toda a casa de Acab. Jezrael foi parte do quinto distrito de Salomão 1Rs 4, 12). Jezrael era um vale que dividia a Galiléia da região da Samaria em duas partes, uma ocidental, formando uma figura triangular, estendendo-se entre o Carmelo, Gilboé e os montes da Galiléia. Ao norte da planície corria o riacho que se desemboca no Mediterrâneo. A parte oriental, bem mais estreita, começava próxima ao Gilboé e Mora , chegando ao Vale do Jordão. Jezrael servia de travessia, através das montanhas setentrionais e nela cruzavam os caminhos que vinham do Mediterrâneo ao Jordão, do Egito e Samaria, Galiléia, Síria e Fenícia. Devido a essa posição estratégica, Jezrael foi cenário de muitas batalhas decisivas ao longo da história de Israel. Débora contra Sísara (Jz 4–5), Gedeão e os madianitas (Jz 7), Saul e os filisteus (1Sm 31) e de Josias contra Necao (2Cr 35, 20-22). Da cidade de Jezrael, derivou-se o nome do vale de Jezrael. As planícies, no relevo palestino, são áreas beneficiadas pelo solo úmido e fértil e pela concentração de águas 15. Nesse lugar, segundo o texto bíblico, Nabot plantou uma vinha (~r,K)16. O clima da palestina era favorável para a plantação de vinha nas montanhas a mais de 700 m de altitude. A vinha não teme o frio. No inverno, necessita de chuva abundante, mas teme a umidade quente de certos verões. A montanha de Judá e o monte Hebron eram célebres por suas vinhas (Gn 49, 11; Nm 13, 23). Nabot tinha uma propriedade que herdara de seus antepassados ao lado do palácio (lk'yhe)17 do rei Acab. Na arqueologia palestina costuma-se designar palácio as construções nitidamente maiores do que aquelas circunvizinhas e que se destacam, além do tamanho, pela qualidade da construção e pela decoração. O palácio de Acab ficou conhecido como a casa de marfim. Nas "ruínas os arqueólogos encontraram mais de 500 peças de marfim, algumas recobertas de ouro” · O rei Acab (ba'x.a)18 Seu nome, em hebraico significa aja ‘ab = “o irmão do pai19” está ligado à introdução em Israel dos cultos fenícios, devido ao casamento com Jezabel, filha de Tiro (1Rs 16, 31-33). Ele reinou em Israel entre os anos 874-853 a.C (1Rs 16, 29) e foi o sétimo de Israel, da dinastia de Amri, rei de Israel, que reinou entre os anos 885-874 a.C (1Rs 14 Cf. VV.AA. Diccionário Enciclopedio de la Bíblia, p. 587-588. Cf. Milton SCHWANTES. Historia de los orígenes de Israel, p. 14. 16 Cf. L. MONLOUBOU e F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 820. 17 Cf. Ibidem, p. 583. 18 Cf. L. MONLOUBOU e F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 7. 15 20 16, 22-24) e foi quem comprou, constituiu e construiu Samaria como a capital (1Rs 16, 2327). Acab. Segundo o deuteronomista20, um dos grandes males de Acab foi o seu casamento com a princesa fenícia, cuja aliança política que terá grandes conseqüências a Israel e à religião, pois com Jezabel, veio o culto a outros deuses, especialmente a divindade conhecida como Baal. Ela é responsável pela difusão do culto a Baal com seus profetas (1Rs 18, 19) e perseguir Elias (1Rs 19, 1-2). O nome do rei Acab está ligado à reunião do Monte Carmelo (1Rs 18), à perseguição dos fiéis dos profetas de Iahweh (1Rs 18, 13), ao assassinato de Nabot e ao seu arrependimento tardio (1Rs 21, 27) à pérfida consulta de Miquéias filho de Jemla (1Rs 22). Ele lutou e venceu Bem-Adad, rei de Damasco (1Rs 20). Reconciliado com o rei de Damasco, faz aliança com ele, contra a Assíria e toma parte na batalha de Carcar. Em 1Rs 22 descreve a sua morte. Durante o seu reinado houve paz no reino de Judá. Sua filha Atália se casou com Jorão (2Rs 8,18). Acab reinava na Samaria21(!Arm.vo) Fundada em 880 a.C por Amri (2Rs 16, 24), situada a 77 km ao norte de Jerusalém, numa colina de mais ou menos 450 metros de altitude e de fortificada, no entroncamento das rotas comerciais mais importantes, no centro do reino de Israel e ponto estratégico, militarmente. As obras de construção começaram por volta de 875 por Amri e continuaram através do reinado de Acab que ali construiu novo palácio. A Samaria ficou sendo a capital do reino de Israel até a ruína da nação em 722 a.C (2Rs 18, 9-12) e posteriormente tornou-se centro administrativo da província persa da Samaria. Situada cerca de 10 km ao noroeste de Nablus, estava localizada no cruzamento dos caminhos que levam para a costa e para Jezrael. O lugar não era habitado até que Amri fez dela sua capital (1Rs 16, 24). A Samaria foi tomada pelo assírio Sargon em 721, depois de três anos de sítio. A população foi deportada e substituída por colonos estrangeiros (2Rs 17, 5s) e tornou-se a capital de uma província Assíria e o seu nome foi estendido ao país que a cercava, depois da conquista dos assírios em 721 a.C (2Rs 17, 26). Eles estabeleceram aí sua província de Samaria (Jr 31, 5) e de seu território (Ab 19). A população foi deportada para a Síria, Assíria e Babilônia. Quando a Samaria caiu, o reino de Israel deixou de existir. Por causa da cidade, a região passou a se chamar Samaria. O povo da Samaria desde o início seguiu as religiões pagãs. Os profetas condenavam a cidade por se prostituir ao culto aos ídolos e advertiam que, por esse motivo, a cidade seria 19 VV.AA. Diccionário Enciclopedio de la Bíblia, p. 32. Cf. John L. MCKENZIE. Dicionário Bíblico, p. 9. 21 Cf. L. MONLOUBOU e F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 722. 20 21 destruída. A Síria atacou e sitiou a Samaria muitas vezes. Os assírios tomaram a cidade em 722 a.C. A cidade e sua província conservavam seu nome sob os diversos impérios que seguiram (Esd 4, 10-17; Ne 3, 34). A Bíblia traz outras referências sobre a Samaria. Em 1Rs 18, 2 fala de uma grande fome. Em 1Rs 20, 1, do palácio do rei, da tomada do território e da deportação de Israel para Assíria, no nono ano de Oséias, rei da Assíria. (2Rs 17, 6). Ela é a cabeça de Efraim (Is 7, 9), considerada a irmã mais velha (Ez 16, 46) e onde atuou Miquéias, no período de Joatão, Acaz e Ezequias (Mq 1,1). O rei Acab fez um pedido, à primeira vista gentil a Nabot. Ele quer comprar a vinha pertencente ao camponês, que está próxima ao palácio real e quer transformá-la numa horta. Oferece a Nabot outra vinha ou pratas em valor dela (v.2). No ato de compra e venda, naquele ; tempo se usava, geralmente a prata, dinheiro (@s,K): Kesep -. A prata recém garimpada e derretida Pv 25, 4; 26, 23; Ez 22, 18 era o material usado em utensílios, trombetas e ídolos Gn 44, 2; 24, 53; Nm 10, 2; Ex 20, 23; Is 2, 20. Na Bíblia o termo prata é empregado várias vezes: a riqueza de Abraão em prata e ouro (Gn 13,2), valor ou preço de algo (Gn 23, 9; 1Cr 21, 24; 2Sm 24,24) valor devido atribuído à mercadoria (1Cr 21, 22); dinheiro propriamente dito (Dt 2, 6; 2, 8; 14, 25; 21; 14; 1Rs 21,6; Is 43, 24; 52,3; Jr 32, 25; 32, 44; Lm 5, 4; Am 2,6; 8,6 e Mq 3, 11). Como prata encontramos (Js 22,8; Is 48, 10 e Jr 10,4) e prata como riqueza (Esd 1, 4; Ez 27,12) A prata era o padrão usual de comércio. No tempo de Moisés dois siclos de prata eram o preço de um carneiro Lv 5, 15. As moedas de prata eram usadas na Grécia já em 670. No Antigo Testamento não encontramos claras referências a moedas de prata, mas é possível que Esdras 8, 27 esteja mencionando as moedas de ouro dos persas. O outro e a prata foram usados já bastante cedo, mas as moedas passaram a vigorar a partir do século VIII, ou seja, A cunhagem de moeda começou aproximadamente nesse período e as primeiras moedas eram peças de metal padrão impressos em selo Um siclo não era uma moeda, mas um peso de ouro ou prata. Os negociantes carregavam consigo grandes quantidades de metal que era preciso pesar e testar. Muitas vezes a moeda era denominada pelo peso que pesava. Amós usa o termo Sheqel, que pode ser traduzido por peso. Um sheqel equivalia a 13 gramas. 22 Entretanto, Nabot resiste a vender a vinha por pratas, porque ela era herança dos antepassados (v. 3). A herança22, em hebraico תלחו, significa legado, possessão. A herança exprime a maravilhosa relação que se estabelece entre Deus e Israel, relação que a tradição designa pelo nome de Aliança. O verbo nahal tem sentido de dar ou receber propriedade, a qual faz parte de uma possessão permanente e resultado de uma sucessão hereditária. Já o substantivo tem basicamente a conotação daquilo que é ou pode ser passado adiante como herança (Gn 31, 14), daquilo que pertence a alguém em virtude de um direito antigo e passa pertencer a outrem. O texto imprescindível para a compreensão da terra como herança está em Dt 25, 2334. a terra não poderia ser vendida, pois perante aos olhos de Iahweh aqueles que habitavam sobre eles são apenas hóspedes e estrangeiros, porque a permanência do homem na terra é fugaz (1Cr 29, 15) Quando alguém, por motivos justos fosse obrigado a vender sua propriedade, ele podia resgatá-la. Essa lei, fazia com que não houvesse a formação de grandes extensões terra, evitando a desigualdade social, o que era norma no sistema tribal. Em Rt 4, 112, diante da situação de pobreza de Noemi, Boaz subiu à Porta da cidade e, juntamente com dez anciãos declarou o direito de resgate de Noemi que para sobreviver precisou vender sua propriedade. O direito ao resgate da terra também é prescrito em Jr 32, 6-9. A Bíblia tem amplas referências sobre a herança, a herança que Deus dá aos piedosos, as regulamentações sociais legais acerca da terra e a terra como possessão de Iahweh e Deus como herança legada aos piedosos. Para a concepção Israelita, a terra pertence ao seu criador (Sl 47,4, 15). Na distribuição da herança por Iahweh, ele fixou o limite do povo em conformidade com os filhos de Israel (Dt 32, 8) e é o lugar reservado ao povo eleito (Ex 15, 17). A terra onde manam leite e mel (Dt 31, 20), é o lugar que apresenta a verdadeira salvação (Dt 12, 9), herança do povo, concedida por Deus, o grande rei (Jz 8, 23). A divisão da terra por sorteio antes de sua conquista foi uma manifestação de soberania divina (Nm 26, 56), conforme era bem sabido no Antigo Oriente. A herança divina especial, criada e escolhida, é o povo de Israel. Iahweh liberta o povo do Egito para que seja sua herança (Dt 4, 20) e diante da infidelidade do povo, Moisés roga a Iahweh para que Ele torne o povo sua herança (Ex 34, 9). A herança era condição bendita (Sl 33, 12), fundamento para petições (Dt 9, 26, 29; Sl 29, 9) e confiança (Mq 7, 14, 18, Sl 94, 14) 22 Cf. R. Laird HARRIS. Dicionário Internacional, p. 948-949. 23 A noção bíblica de herança se desenvolve principalmente no Pentateuco 23, de modo especial nos livros de Números e Deuteronômio, em antecipação à distribuição de terrenos, na Terra Prometida. A terra pertence à família, podia ser hipotecada, mas não vendida (Nm 36, 16-19). A casa e os bens vinham como herança dos pais (Prov 19, 14). A herança era sinal de cidadania de uma pessoa. No sentido próprio, é o patrimônio transmitido ao filho de um homem falecido.24 Na Antigüidade israelita não havia testamento escrito e segundo o costume e a lei antiga, o primogênito recebia uma parte duas vezes maior que seus irmãos mais novos (Dt 21, 17), ou seja, o filho maior recebia uma dupla porção (Dt 25, 15-17), mas o direito de outros filhos, filhas e demais parentes também eram levados em conta (Nm 27, 1-11). Nm 27, 8-11 refere-se à lei acerca da herança. Quando alguém morresse e não tivesse filhos, a herança deveria ser passada à filha, se este não tivesse filha, a propriedade deveria ser passada ao irmão do falecido e se ele não tiver irmão, ao parente mais próximo. O sentido espiritual que adquire a nação de herança na Bíblia se liga ao pacto. Em Jó 27, 13, a herança dos perversos será o castigo de Iahweh, mas Iahweh é a porção da herança daqueles que o procuram (Sl 16, 5). Este sentido se desenvolve em um tríplice momento: Israel é a herança de Iahweh, a terra prometida é a herança de Israel (Dt 9,5; 1Rs 8, 36, Sl 105, 9-11) e esta terra chega a ser de Iahweh. Portanto, o direito de posse e a herança parte do fato de que a terra a propriedade de Iahweh (Lv 25, 23, Is 14, 2). b) Desenvolvimento (vv. 4-13) Posto os elementos introdutórios, partimos para a análise do corpo da perícope, no qual, apresenta o desenvolvimento da narrativa e o quiasmo. Evidenciamos as palavras face, Jezrael, coração, anciãos, notáveis, jejum, homens de Belial e os verbos amaldiçoar e apedrejar/ apedrejamento. Diante da recusa de Nabot, Acab ficou furioso e desgostoso e retornou para a casa e voltou a face (~ynIP' /hn<P)25 para a parede. No Antigo Testamento, a face/ rosto é considerada (o) mais importante que a cabeça. Sempre usado no plural, significa as várias maneiras que se tem de entrar em contato com o semelhante. Expressa uma escala cheia das emoções e sentimentos, para os hebreus26 (dor, alegria, vergonha e a serenidade). Irritar-se, no sentido de ser rejeitado é descrito por um semblante caído. É muito comum, o israelita mencionar a face 23 Cf. Samuel VILA, Diccionario Bíblico Ilustrado, p. 473-474. Cf. VV.AA. Dicionário Cultural da Bíblia, p 118. 25 Cf. L. MOULOUBOU E F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 283. 26 Cf. The Anchor Bible Dictionary, p.743-744. 24 24 de Iahweh, querendo significar a própria pessoa Dele, sua presença (Sl 31, 21; 80,17). Assim, quando Iahweh por cólera desvia sua face, afasta-se do homem. Face é a mais comum palavra do AT denominada como a presença num sentido mais amplo do que apenas rosto. A palavra “panin” é referente a estar (na) ou deixar a presença de um rei, de um superior ou de um ser na presença de Iahweh. Diante da situação constrangedora do rei e da sua tristeza, sua mulher, Jezabel, indagao acerca do ocorrido. Jezabel (lb,zy< ai)27, “ausência de glória”, era filha de Etbaal de Tiro, casou-se com Acab e gerou Atália. Ela trouxe desenvolveu, em Israel, o culto a Baal de Tiro. Para a instrução e manutenção do culto, um importante grupo de pessoas eram consagradas a essa finalidade. Os textos se referem a 450 profetas de Baal. A religião de Baal quis se impor com exclusividade e Jezabel e começou a perseguir os filhos dos profetas. Esta ação despertou reação contrária de Elias que exercia uma influência inegável sobre o rei (1Rs 18). Elias mandou executar aos profetas de Baal e depois teve que fugir (1Rs 19, 1-8), porque foi perseguido por Jezabel. Jezabel significa a concepção despótica do poder real calcada naquela que prevalece nos reinos cananeus. Ela é profunda conhecedora do modelo tribal e também dos direitos do rei (1Sm 8, 10-17). Tal fato explica o assassínio de Nabot. Após a morte de camponês, recai sobre ela a condenação proferida por Elias (1Rs, 21, 13-24). Jeú executa a sentença de Elias quando, em Jezrael esmaga com seus cavalos o corpo de Jezabel, em 841 a.C (2Rs 9, 30-37). Jezabel, diante da resistência de Nabot faz uma indagação a Acab: és tu que agora governa Israel? Levanta-te e come e que teu coração te alegre (v.8). O coração (ble)28 é a palavra de grande importância que define o homem bíblico. O coração é um órgão sujeito às oscilações (Jr 4, 19), à doença (Is 1,5) à morte. É o órgão do sentimento, da alegria, do pesar (Jz 18, 20), da tristeza ou do descontentamento (1Sm 1, 8), da coragem e do medo, é o órgão do desejo (Is 9, 8). Em Prov 8, 5 o coração é definido como o instrumento do conhecimento e é por ele que se chega à compreensão das coisas. Um coração endurecido se recusa a compreender (Is 6, 10), porque é por ele que se torna atento e escuta a palavra proferida. É pelo coração que Iahweh falou a Israel (Os 2, 16) e por isso ele é comparado ao ouvido (Prov, 29, 3). Ser sem coração é tornar-se incapaz de escutar, de compreender (Os 4, 11). O coração guarda a lembrança que Iahweh disse a Israel (Dt 6,6). É o lugar em que se faz a reflexão 27 28 Cf. L. MONLOUBOU e F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 417. Cf. Ibidem, p. 152. 25 (1Sm 9, 20). O coração é o centro da tomada de decisões e é dele que brota a intenção (2Sm 7, 3), como obediência (1Rs 8, 61) e conversão se passa por ele (Ez 11, 19). O coração29 designa a totalidade do homem em contraste com o exterior da pessoa. Para os egípcios o coração era o centro de todos os movimentos espirituais. Era a sede da razão, da vontade, do sentimento e o símbolo da vida. Sem este órgão não se podia pensar em sobrevivência após a morte. Na técnica de embalsamento, o único órgão que não se podia tirar era o coração. Ele representa o verdadeiro ser do homem, que não está na beleza, mas no seu interior (1Sm 16,7). Assim como os rins representam a imagem do homem interior o coração também o é (Jr 11, 20). A atitude de coração marca o homem interior. Em Ex 7, 23 refere-se ao coração do faraó que teve o coração endurecido por Iahweh que também endureceu o coração (Ex 9, 12). O homem é capaz de infidelidade, mas ama a Deus de todo o coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças (Dt 6, 5). Diante do coração aborrecido de Acab Jezabel interveio, pois o rei pode tomar os campos, as vinhas os melhores olivais e dar aos seus oficiais (1Sm 8, 14). Valendo-se desse direito, Jezabel convoca, através de carta os anciãos (!qez)" 30 e os nobres (rxo), concidadãos de Nabot (v.8). Essa classe estava ligada à estrutura política e, principalmente da justiça, o período tribal. Em hebraico Zaqen significa “ser velho” e é verbo derivado de zaqan “barba”. Seu valor como conselheiro (Ez 7, 26) é reconhecido (Ez 7, 26), no relato da rejeição de seu conselho por Roboão, em favor do conselho dos mais jovens (1Rs 12, 6ss). Zaqen é um termo técnico que ocorre cerca de 100 vezes na Bíblia. O grupo de governantes de uma cidade israelita, bem como nas cidades de povos como moabitas e midianitas (Nm 22, 4.7) e também os gibeonitas (Js 9, 11) era constituído de anciãos. Os anciãos assentados à Porta da cidade (Dt 21, 19, 22, 15, Pv 31, 23, Lm 5, 14) eram responsáveis pela resolução de questões tais como dúvidas sobre a virgindade (Dt 22, 15), ratificavam acordos sobre propriedades (Rt 4, 9.11) e julgavam os casos de homicídios (Dt 19, 12, 21, 1ss e Js 20, 4) Os anciãos de Israel (Ex 3, 16, 18, 12), testemunharam quando Moisés feria a rocha (Ex 17, 5.6) e no deserto 70 anciãos testemunharam a cerimônia de aliança (Ex 24, 1.9, Ex 24, 1.9). Foram eles que julgaram o caso, enquanto Moisés permaneceu na montanha (Ex 24, 14). Eles impunham as mãos sobre a cabeça da oferta pelo pecado quando toda a comunidade tinha pecado (Lv 4, 15). Formavam, muitas vezes, um grupo de dez homens e constituíam o governo da localidade (Rt 4, 2). Eles continuaram a ser um grupo de conselheiros do rei na 29 Cf. Manfredo LURKER. Dicionário de figuras e símbolos bíblicos, p. 67. 26 história posterior (1Rs, 7) e retiveram autoridade independente (1Rs 21, 8). Josias os convocou para a leitura do recém livro da lei (2Rs 23, 1). Na convocação de Jezabel, através das cartas aos anciãos e notáveis, havia um pedido de proclamação de jejum (~Ac)31. A Lei ordenava o jejum apenas no grande dia da Expiação no décimo dia, do sétimo mês (Lv 16, 29-30; 23, 27.32 e Nm 29, 7). Após o exílio foram introduzidos outros dias de jejum, comemorando calamidades nacionais. Jejuam homens de todas as idades, todo o povo e até mesmo os animais. O jejum no Antigo Testamento exigia atitude exterior de seriedade religiosa de um indivíduo ou de todo o povo quando se voltavam a Deus em meio à grande necessidade. O jejum consistia na renúncia à comida, à bebida ou a limitação dos mesmos (Dn 10, 3). Estão ligadas ao jejum, as práticas: choro, lamentação em alta voz, vestir-se de saco, cinza, pó, rasgar as vestes, renúncia e relação sexual, cuidado do corpo com único e banho, pés descalços, omissão da saudação e dormir sobre o chão (2Sm 12, 16). No jejum público havia reunião cultual e a cessação do trabalho, convocação de assembléia, reunindo anciãos e habitantes da terra na casa de Iahweh (Jl 1, 14) e deveria rasgar os corações em atitude de conversão (Jl 2, 14-16). Era preparação para um julgamento (1Rs 21, 9.10,12) e nunca faltava a oração (Ne 1, 4, Br 1, 5) O jejum tinha o caráter de auto-humilhação32. Era recomendado em grandes provações Dt 9, 18s, Ne 1, 4 e Jl 1, 3s, depois de um falecimento (2Sm 3, 35) ou para afastar calamidades (Jn 3,8) Os profetas mostravam a inutilidade da prática do jejum quando não acompanhada da conversão (Js 58, 1-5; Jr 14, 12). Outros textos bíblicos se referem à conversão (Lv 16, 29; Zc 7, 5; 8,19; Jz 20, 26; Ne 1; 2Sm 12, 16. 20; Est 4, 16; Is 58, 3-5; Jl 2, 13; Jn 3,5). Após o exílio33 foram introduzidas outros dois jejuns regulares no décimo mês para recordar o começo do assédio de Jerusalém e, no quarto mês, para lembrar a queda da cidade. A nação inteira ou pessoas individuais também jejuavam em tempos de necessidades pessoais e em sinal de verdadeiro arrependimento. Além do pedido de jejum, a rainha estabelece um tribunal e pede para que os anciãos façam Nabot sentar entre os primeiros do povo e que se fizesse comparecer perante ele 30 Cf. R. Laird HARRIS. Dicionário Internacional, p. 404-405. Cf. Johannes B. BAUER. Dicionário de Teologia Bíblica. vol. I, p. 543. 32 Cf. L. MONLOUBOU e F.M du BUIT. Dicionário Bíblico Universal, p. 403. 33 Cf. Enciclopédia Ilustrada da Bíblia, p 158-159. 31 27 homens de Belial (l[;Y:lib.-ynEB)34 Beliya’ál: belial, inutilidade. Belial vem de beli e ya'al “não, sem” e “ser de uso”, útil, lucrativo. No ugarítico bl-nut, “não morte” imortalidade ou blmlk, “não rei”, “cidadão comum”. Outros derivam o termo a partir de bl’, “engolir”, daí o “engolidor”. O termo aparece 27 vezes na Bíblia. Normalmente a palavra ocorre em expressões como “filho(s) de Belial” que significam homens vagabundos, maus, sem utilidade (Dt 13, 14), vagabundos da cidade (Jz 19, 22), homens desonestos (1Sm 2, 120, homens ociosos (2Cr 13, 7). Uma filha de Belial (1Sm 1, 16) era considerada vadia. O homem ou homens de Belial são grosseiros (1Sm 25, 25), sanguinários, bandidos (2Sm 16, 7), acusam falsamente (1Rs 21, 13) e são malvados. Uma testemunha de Belial é indigna (Prov 19, 28). Em Prov 6, 12, o “homem de Belial” é equivalente ao “ímpio”. Ele cava o mal (Pv 16, 27), como tal é conselheiro vil (Na 1, 11), sendo alguém que zomba da justiça (Pv 19, 28). Nos salmos Belial é usado para as torrentes de perdição e destruição que envolveram o salmista (Sl 18, 5, 2Sl 22, 5) para se referir ao que é mortal (Sl 41, 9) ou a algo de mal (Sl 101, 3) Assim, a acusação forjada pela rainha, testemunhada pelos Homens de Belial consistia na maldição imprecada por Nabot a Deus e ao rei. A acusação a Nabot foi de amaldiçoar a Deus e ao rei. Amaldiçoar (%rB), na Bíblia, é algo muito grave. De amaldiçoar deriva a palavra maldição que tem várias aplicações. Em Gn 8, 21 apresenta Iahweh não amaldiçoando a terra porque o desígnio do homem é mau desde a sua infância. A bênção e a maldição no contexto de Gn 12, 3, são referentes ao chamado de Abraão e serão abençoados aqueles que o abençoarem e amaldiçoados aqueles que o amaldiçoarem. Em Ex 21, 17 aquele que amaldiçoar o pai ou a mãe será morto ou o seu sangue cairá sobre ele (Lv 20, 9) e ele ficará nas trevas (Prov 20, 20). Aquele que amaldiçoar seu Deus levará sobre si o pecado e aquele que blasfemar o nome do Senhor será morto, apedrejado por toda a comunidade, podendo ser estrangeiro ou da própria terra. Balaque ao enviar mensageiros a Balãao pede para que amaldiçoe o povo que saiu do Egito que é mais forte do que ele (Nm 22, 6). No cântico de Débora, o anjo do Senhor pede para que amaldiçoe a Meroz e os seus moradores porque não foram ao encontro do Senhor (Jz, 5, 23). Em Sm 16, 5 há referência da maldição de Davi por Simei. No episódio de Eliseu e os jovens que zombaram dele e foram amaldiçoados em nome de Senhor pelo profeta. Em Jó 2, 9, amaldiçoar a Deus é sinal de morte. Em meio ao sofrimento, Jó amaldiçoa o dia em que 34 Cf. R. Laird HARRIS. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p 185. 28 nasceu. Da mesma forma Jeremias (14, 14-18). O servo não deve ser caluniado em frente ao seu Senhor para que aquele que o faz não seja amaldiçoado. Ecl 10, 20 afirma que não se deve amaldiçoar o rei nem no pensamento, nem no interior do quarto, nem o rico. Em Ml 2, 2 Iahweh amaldiçoa os sacerdotes porque estes não honram o nome Dele. Tudo foi feito conforme o pedido de Jezabel. Os anciãos e os notáveis proclamaram o jejum e fizeram Nabot comparecer no tribunal, os homens de Belial proclamaram o falso testemunho e o camponês é condenado ao apedrejamento35. O apedrejamento como forma de punição a crimes cometidos era comum em Israel. O termo hebraico é (lq;s') saqal e significa apedrejar até a morte. Em 2Sm 16, 6 Simei fica atirando pedra em Davi como gesto de hostilidade e desprezo. As demais ocorrências envolvem execução por apedrejamento. Acab fez com que Nabot fosse apedrejado e morto a fim de que ele ficasse com sua vinha (1Rs 21, 10). O verbo é usado especialmente nos diversos textos legais, por exemplo em Ex 21, 28, se um boi ferisse alguém deveria ser apedrejado até a morte. Moisés determinou a morte por apedrejamento (Dt 13, 10; 17, 5, Dt 22, 21). Em Js 7, 25 Acab e sua família foram apedrejados. A execução por apedrejamento era responsabilidade dos concidadãos como um todo. Isso se dava fora da cidade (Lv 24, 49; Dt 22, 24, 1Rs 21, 13). As testemunhas contra o acusado deveriam impor as mãos sobre ele (Lv 24, 14) e atiram a primeira pedra (Jo 8, 7), seguida do restante da população (Dt 17, 5-7). A morte por apedrejamento era determinada principalmente para os casos de delitos espirituais e sexuais ostensivos. c) Conclusão (vv. 14-16) Após ter eliminado Nabot, Acab desce do seu palácio para tomar posse (vr;y") da vinha. A fidelidade de Nabot à herança dos antepassados, a sua herança tribal levou-o à morte e, facilmente o rei apossou da propriedade alheia. Entretanto, este se acha no direito de fazêlo, pois se vale do direito do rei estabelecido em 1Sm 8, 10-17. 2.5.2. Dando continuidade... comentando o relato profético (1Rs 21, 17-26) Continuando a análise, destacaremos algumas palavras de 1Rs 21, 17-26 que nos ajudarão na compreensão da perícope e também do conjunto do texto. a) Introdução (vv. 17-18) 35 Cf. R. Laird HARRIS. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1059-1060. 29 A abertura do texto é feita pelo verbo (hyh) que significa ser, tornar, existir, acontecer36. A raiz do verbo está no qal imperfeito, expressando uma ação que depende do contexto para ser compreendida37. No texto esse verbo está dependendo da ação anterior de Acab. É sobre ela que vem a palavra de Yahweh a Elias. O mesmo é observado nos outros verbos que estão nesse mesmo tronco verbal: o verbo falar ou dizer (rma), no v. 20, que aparece duas vezes; o verbo comer, consumir, devorar (lka), nos vv. 23-24. A ação de injustiça está no último verbo, no v. 18 (vry) que significa para tomar posse, desalojar, ocupar, apoderar-se de38. O primeiro personagem que surge é Elias (WhY"lia), já identificado como o tesbita (yBiv.T). A forma de como ele é apresentado, é semelhante ao capítulo 17, 1: “Então, Elias, o tesbita, dos moradores de Gileade”. O significado de seu nome é “meu Deus é Yahweh”39. Elias é um profeta que luta contra as outras divindades, em Israel, e contra as injustiças aos mais fracos, sejam israelitas, no caso de Nabot ou não, como no episódio da viúva de Sarepta, na região de Tiro (1Rs 17, 8-24). Sua luta contra a divindade Baal se dá principalmente com Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, esposa de Acab, porque ela é a principal promotora do culto a Baal (16, 31-32), responsável por matar os profetas de Yahweh (18,13) pondo os profetas de Baal e Asera no lugar dos outros (18, 19. 22) e pela morte de Nabot (21, 8-16). O próprio profeta teve que fugir após ameaças de Jezabel (19, 1ss). A palavra profética de Elias estabelece a superioridade de Yahweh sobre os outros deuses em Israel, basta-nos recordar o relato da disputa com os profetas de Baal (18, 22-40) ou quando fala contra Acazias (2Rs 1, 1-3). Em torno de Elias criaram-se lendas que chegaram até o Novo Testamento. Em Ml 3, 23, temos a afirmação de seu retorno antes do “Dia de Yahweh”. Nos Evangelhos sua imagem é confundida com João Batista (Lc 1, 17; Jo 1, 21) e com o próprio Jesus (Mt 16, 14; Mc 6, 15; Lc 9, 8). Outras passagens que aludem a Elias são Rm 11, 2 e Tg 5, 17. Elias é enviado por Yahweh a ir ter com Acab. Em 1Rs 21, 17-26, o encontro de Acab com Elias acontece na vinha de Nabot, em Jezrael. O verbo usado para definir a ação de Acab (vry), evidenciando a violência escondida na atitude de Jezabel que conseguiu a morte de Nabot, para o rei ter seus caprichos (1Rs 21, 2). Conforme já verificamos anteriormente, Acab 36 Cf. R. Laird HARRIS. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 351. Cf. Page H. KELLEY. Hebraico bíblico: uma gramática introdutória, p. 164. 38 Cf. R. Laird HARRIS. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 671. 39 Cf. John L. McKENZIE. Dicionário Bíblico, p. 273. 37 30 e Jezabel estão ligados ao culto a Baal ()לעב, que significa “senhor”, com uma conotação de “posse, de pertença a” . “O título Baal como senhor era atribuído a muitos deuses. Entretanto, quando o título era usado sem mais qualificações, significava o deus da tempestade” 40 .O culto a Baal apareceu muito cedo na história de Israel. A referência a esse deus se encontra em Gn 25, 1ss. É-nos comumente conhecido como o deus da fertilidade, da chuva, do trovão e de outros fenômenos da natureza. Os relacionamentos do profeta com o rei acontecem em três encontros. O primeiro em 1R 17, 1, relatando o anúncio de uma seca. O segundo em 1Rs 18, 1-40, quando ele anuncia o fim da seca, que tem como desfecho a morte dos 450 profetas de Baal, sustentados por Jezabel. O terceiro encontro é por causa de Nabot, condenado a morte por falso testemunho de Jezabel (1Rs 21, 17-29). Acab não foi o primeiro responsável pela idolatria em Israel e nem o culpado imediato pela morte de Nabot. No entanto, ele permitiu que tudo isso acontecesse, favorecendo as ações de sua esposa. Para Acab, Elias é “flagelo de Israel” (1Rs 18, 17). Mas a resposta de Elias é dura: “mas és tu e tua família, porque abandonastes Yahweh e seguistes os baals” (1Rs 18, 18). b) Desenvolvimento (vv. 19-24) No desenvolvimento de nossa narrativa temos a palavra de Yahweh enviada a Acab condenando sua ação de injustiça. É interessante notar o movimento que o deuteronomista dá ao texto, pois na segunda vez que ele usa o verbo “tomar posse de” (ATv.rIl) , ele acrescenta a conjunção “novamente, igualmente” (T'v.r'y"-~g:w>). Parece que o redator quer duplicar a ação violenta de Acab. Da morte de Nabot, sabemos que ele foi apedrejado fora dos muros da cidade (1Rs 21, 13). Na perícope 1Rs 21, 17-16, Elias dá mais informações ao proferir como será a morte de Acab: “No lugar que os cães lamberam o sangue de Nabot os cães lamberão o teu sangue” (v. 19). No Antigo Testamento, o sangue (~D') é entendido como a vida do ser vivo (Gn 9, 4; Dt 12, 32). “Tirar a vida significa derramar o sangue e o derramamento de sangue é vingado com o derramamento de sangue (Gn 9, 6)”41. O sangue de Abel derramado por Caim clama na terra por justiça (Gn 4, 10). Há leis e ritos próprios no Israel para quando se encontra um corpo morto na cidade, cujo autor é desconhecido (Dt 21, 1-9). Outro fato importante a 40 Cf. John L. McKENZIE. Dicionário Bíblico, p. 100. 31 recordar é o da morte de Urias (2Sam 11, 1-27), reclamada pelo profeta da corte, Natã (2Sam 12, 1-12). O ato de Davi é tão cruel, que mesmo o profeta de sua corte fala contra ele. Elias surge reclamando o sangue de Nabot. E sua sentença cai sobre toda a sua família. Elias é a palavra de Yahweh que vê as injustiças de um sistema corrupto, que para conseguir seus objetivos não se importa com as vidas tirando-as impiedosamente. Assim, o sangue de Nabot vai ser vingado e o mesmo fim terá Acab, Jezabel e sua posteridade. Essas mortes estão retratadas em 1Rs 22, 37-38; 2Rs 9, 33-37; 10, 1-14. No v. 22 está posto a memória de Jeroboão, filho de Nebat e de Baasa, filho de Aías, causadores dos pecados de Israel, segundo o deuteronomista. Jeroboão foi o primeiro rei de Israel, logo após a separação das tribos do Norte (1Rs 12, 16ss). O pecado de Jeroboão é citado pelo deuteronomista como aprovação do culto em outros santuários (1Rs 12, 25-33), pois para o deuteronomista Yahweh deve ser adorado somente em Jerusalém42. A fala do profeta também se dirige a Jezabel que terá o fim de seu marido. Foi por seu meio que o culto a Baal se espalhou mais facilmente em Israel. A sua morte é relatada em 2Rs 9, 30-37. Ela foi morta por Jeú. Ironicamente, o relato de sua morte é descrito da seguinte forma: foi lançada da janela do palácio em Jezrael, pisoteada pelos cavalos de Jeú e sua carne devorada por cães. c) Conclusão (vv. 25-26) A terceira parte da perícope, vv. 25-26, termina com a afirmação de que Acab fez mal aos olhos do Senhor porque Jezabel sua mulher o incitava (v. 25). Esta fórmula final de 1Rs 21, 17-26 é semelhante aos textos de 1Rs 15, 30; 16, 26 e 22, 53. A memória de Jeroboão está presente em todas essa passagens, e a ela vão se somando os reis de Israel. Outro dado que podemos observar é que o deuteronomista parece entrever que Acab é um homem “fraco”, por ter-se deixado seduzir por sua esposa, que o induzia tanto ao culto a Baal, como a praticar a injustiça. O verbo que descreve essa passividade está na forma hifil perfeito. O tronco hifil demonstra um ativo causativo: “ele se fez seduzir”. E por fim, descreve onde Israel aprendeu a idolatria, dos amorreus. 3. A REALIDADE DO TEXTO: O TEXTO NO SEU CONTEXTO Para dissertamos sobre os aspectos sociológicos de 1Rs 21, 1-26 é indispensável conhecer o reinado de Acab, cujas referências importantes encontramos nos capítulos 1Rs 16, 41 Cf. John L. McKENZIE. Dicionário Bíblico, p. 846. 32 29–22, 40. Portanto, é do sistema monárquico que obteremos as conseqüências econômicas, sócio-político e ideológico-religioso que se apresentam nas entrelinhas da vida de cada personagem. Esses elementos estão muito imbricados entre si. Não há como refletir sem transitar num e noutro. O próprio texto de 1Rs 21, 1-26 o faz. Esses dados são favorecidos devido ao casamento de Acab com Jezabel43, que significa aliança entre Israel e Fenícia e a introdução, no reino de Israel, de um novo modelo econômico religioso, através do culto a Baal que gerará conflitos posteriores, citados em 1Rs 18. É importante para a compreensão de 1Rs 21, 1-26, levantar em conta as mudanças do Israel tribal para o Israel monarquia. É com a monarquia que surge o “direito do rei” (1Sam 8, 11-18). Conhecendo bem o que é o direito de rei, compreenderemos as ações de Acab. Assim começa o texto de 1Samuel: “Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos e os empregará para os seus carros e para seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros; e os porá por príncipes de milhares e por cinqüentenários; e para que lavrem a sua lavoura, e seguem a sua sega, e façam as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas e dos vossos olivais e os dará aos seus criados. E as vossas sementes e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus eunucos e aos seus criados. Também os vossos criados, e as vossas criadas, e os vossos melhores jovens, e os vossos jumentos tomará e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de criados.” Esses postulados tiraram a participação do povo nas decisões comuns e consequentemente, a Assembléia das Doze Tribos foi desfeita pelo poder do rei que se achava no direito de se apossar de tudo, desde as terras, até as pessoas. Assim, é no relato de 1Rs 21, 1-26, em torno da vinha/terra que se inicia um grande conflito político-econômico-religioso. 3.1. Aspecto Econômico Entendemos por economia tudo o que se refere à produção e ao trabalho. As perguntas que surgem desse ponto de partida são: o que se produz? Quem é o dono da terra e da produção? Como se vive e o que se produz? No relato de 1Rs 21, 1-26 devemos destacar algumas palavras que nos colocam no contexto econômico das perícopes (1Rs 21, 1-16 e 1Rs 21, 17-26). São elas: vinha (vv. 1, 2(2x), 6(3x), 7, 15, 16, 18, pagar o valor (v.2); prata (vv. 2, 6, 15) e herança (vv. 3, 4), tomar 42 43 Ibidem, p. 473. Cf. Norman K. GOTTWALD. Introdução Socioliterária à Bíblia hebraica, p. 327. 33 posse (vv. 16,18), roubar (v. 19), campo (v.24). A palavra vinha é citada dez vezes no texto; prata, três e herança duas vezes. Ora, esses termos nos ajudam a identificar que o modelo econômico expressado, através de Nabot é clânico, agrícola que tem pequenas propriedades e que se sustentam através da plantação de vinha, cujos frutos eram de grande valor comercial. O clima da região era propício para o cultivo de uvas, possibilitando uma boa safra. Não é à toa que o redator identifica Nabot com um indicativo: Jezrael – “Deus semeou”. Sabemos que Jezrael era uma planície fértil, responsável pelo fornecimento de produtos agrícolas. Outro elemento que nos ajuda a perceber que o modelo econômico era tribal, a recusa de Nabot em entregar a herança de seus antepassados: hl'ylix' ba'x.a;-la, tAbn" rm,aYOw: %l' yt;boa] tl;x]n:-ta, yTiTimi hw"hyme yLi – “é reprovável a mim, por Iahweh eu dar a minha herança de meus pais”(1Rs 21, 3). Essa assertiva relembra o tribalismo, cujo direito à terra era sagrado e esta não podia ser vendida, salvo raríssimas exceções, porque era concessão de Iahweh, através da aliança com o seu povo. Assim, a propriedade parte da herança de seus pais, pertencia menos a Nabot pessoalmente que à sua família – passada, presente e futura. Fazia parte do dom concedido a Iahweh ao povo de Israel na aliança e devia permanecer no seio da família, de modo a assegurar à geração presente e às futuras o acesso garantido à mais fundamental fonte de vida e de subsistência para os membros da família, a terra44. Nabot era o dono da terra que estava situada ao lado do palácio do rei Acab, conforme 1Rs 21, 1. Entretanto, o texto usa um recurso de aproximação das duas realidades, a vinha de Nabot e o palácio de Acab, o camponês e a realeza, mostrando sutilmente a gênesis do conflito. Na realidade o grupo que escreveu o texto faz um deslocamento geográfico. Nabot é jezraelita e a sua vinha está ao lado do palácio real, em Samaria. Ora, geograficamente Samaria e Jezrael ficam distantes. Em outras palavras, a intenção de quem escreveu é mostrar que o rei está roubando a terra. Significa que a terra fértil está sendo tomada pelo palácio, pela realeza e para isso não há fronteiras. A terra situada ao lado do palácio é grilada por um sistema que possui tentáculos gigantes e abarca para si propriedades, expulsando e matando os seus legítimos proprietários. O relato mostra que o rei, por sua vez, tinha interesse em ampliar a sua propriedade e cultivar uma horta. Para essa empreitada, ele tenta negociar com o camponês que permanece irredutível, pois este esbarra em prescrições legais acerca da herança, encontradas no Lv 25, 23-24, que estabelece que a terra não será vendida 44 Anthony R. CERESKO. Introdução ao Antigo Testamento numa perspectiva libertadora, p. 166. 34 perpetuamente porque é propriedade de Iahweh. Portanto, “vender definitivamente essa porção de terra seria trair um dos mais importantes elementos da estrutura socioeconômica fundamental de Israel e de sua ética religiosa”45. Na proposta de aquisição da vinha, Acab oferece pratas a Nabot em troca dela. Isso significa a inserção de um novo modelo econômico, contrapondo-se ao um modo de produção tribal ou clânico. Os dois modelos entram em conflito e prevalece o modelo mais forte, o de Acab. Portanto, a condenação e a morte de Nabot são feitas em nome de um modelo econômico que se instaura e destrói todo aquele que se opõe a ele. A compreensão de Acab, diante da resposta de Nabot, faz com que ele fique desgostoso, furioso e passivo em relação à compra. Entra em cena Jezabel, que era proveniente de uma civilização de comerciantes, e esposa de Acab, valendo-se do “direito do rei” para tomar posse das terras de Nabot. O poder do monarca é usado em benefício próprio, ferindo a integridade do pobre agricultor (21, 13). Tudo com um único desejo: apoderar da terra, dom de Yahweh ao homem. Como princesa cananéia e ardente devota do Baalismo, enxergava a questão da vinha duma perspectiva inteiramente diferente. No seu modo de ver, Acab, como rei, era dono de todo o território do reino como concessão dos deuses. O fato de Nabot recusar-se a ceder o pedaço de terra ao rei equivalia, na sua opinião, a uma traição, um crime que merecia a morte46. Aqui o fator econômico está interligado ao dado religioso, pois Jezabel articula tanto o poder do rei, como o religioso, ao conseguir falsas testemunhas para deporem contra Nabot (21, 13) e conseguir a sua terra, herança de seus antepassados. E é somente através da morte de Nabot, que Acab terá livre acesso às terras do camponês. A herança estava vinculada a Iahweh, pois a terra era uma concessão feita por Ele. Entretanto, na óptica de Jezabel, a terra também era concessão dos deuses ao rei, então, este tinha direito sobre ela. Devemos levar em consideração que Jezabel se pauta num postulado do direito do rei para articular, juntamente com os anciãos e nobres, a posse da vinha de Nabot: “tomará os melhores dos vossos campos, das nossas vinhas e dos nossos olivais e dos dará a seus oficiais” (1Sm 8, 14). A ação de Jezabel e de Acab é contrária à encontrada em Dt 17, 14-20, que não era favorável ao rei. O modelo econômico de Acab é fortalecido quando este estabelece, através de Jezabel, aliança com a Fenícia. Vale lembrar que Acab era da Dinastia de Amri e Jezabel era filha de 45 46 Anthony R. CERESKO. Introdução ao Antigo Testamento numa perspectiva libertadora, p. 166. Ibidem, p. 166. 35 Etbaal, sacerdote da deusa Astarte47 e subiu ao poder em Tiro, quando Amri estabelece o seu reinado em Israel. Essa aproximação de ambos culmina no casamento de Acab com Jezabel e com ela, o fortalecimento das alianças comerciais. Sobre o governo de Amri pouco se sabe. Os registros que se têm afirmam que: O governo de Omri (Amri) durou apenas 11 anos e dele pouco se fala na Bíblia. Porém com ele começou um período de paz e de progresso econômico, continuado pelo filho Acabe. Toda a política, tanto interna quanto externa, dos dois reis era dirigida para uma estabilização e um aumento do poder econômico do país48. Neste período, a região adquiriu grande estabilidade econômica: “a estabilidade econômica assim obtida trouxe uma época de grande luxo e riqueza, que ainda podem ser observadas nas ruínas das enormes construções, da capital Samaria”49. A Fenícia era uma região que abrangia o Monte Líbano e a zona litorânea, desde o Monte Carmelo. Seus habitantes dedicavam ao comércio e à navegação. Uma das cidades mais importantes dessa região era Biblos que já havia desenvolvido o comércio marítimo desde o século XVIII a.C. A cidade foi destruída depois do ano 1000 por Tiro e Sidon, duas cidades da região, ricas em madeira de lei, ouro e artesãos para a construção de templos em Jerusalém (1Rs 9, 10ss). A região é bem regada em água e possui apenas cinco meses de seca durante o ano e muitos rios são alimentados pela neve das montanhas. Seu solo é bom para o cultivo de cereais e de excelentes frutas50. A Fenícia possuía diversos portos naturais e a sua economia era baseada na agricultura e na indústria, sendo a fonte principal de riqueza o comércio. Os fenícios monopolizavam o comércio marítimo no Mediterrâneo51. Portanto, todo o progresso econômico conseguido não só por Acab, mas também, anteriormente, por seu pai, foi à custa da injustiça e da ambição. “Acab e Jezabel pisavam nos pobres, roubavam suas terras e matavam para alcançar o que queriam, como se fossem donos da vida e da morte dos seus súditos”52. 3. 2. Aspecto Social Com relação à sociedade descrita em 1Rs 21, 1-26, podemos assinalar alguns termos fundamentais: Jezrael, Samaria (v. 1), Israel (v.7), cidade (v. 8, 11,13), povo (v. 9,12), casa/ 47 Peter F. ELIAS. Os homens e a mensagem do Antigo Testamento, p. 189. Carlos MESTER. O Profeta Elias: inspiração para hoje, in: REB, vol. 30, fasc. 119, p. 596. 49 Ibidem, p. 597. 50 Cf. John L MAcKENZIE. Dicionário Bíblico, p. 344. 51 Cf. Ibidem, p. 345. 48 36 família de Acab (vv. 21, 24). Eles nos situarão na dinâmica do sistema social da época. Em 1Rs 21, 1-26 aparecem alguns estratos sociais: Nabot, Acab, Jezabel, anciãos, nobres, povo, Elias. Nabot é o paradigma das classes oprimidas, os pequenos camponeses que são assolados pela realeza e pelos interesses palacianos, responsáveis por serem os instrumentos mantenedores do poder. A primeira perícope 1Rs 21, 1-16 apresenta um modelo social em vias de transformação. Conforme vimos na análise econômica, a nova estrutura, com certeza, ditará as novas regras sociais. O modelo clânico-tribal está em xeque, há um conflito social entre sistema tribal e monarquia. O primeiro, representado pelo campesinato, o segundo pelas pratas. Posto estes dados, faz-se necessário esclarecê-los. No sistema tribal não havia centralização do poder. As decisões clânicas eram tomadas em conjunto e a liderança não era hereditária. A terra era comunitária e cada clã era livre para produzir de acordo com as necessidades. A terra não podia ser comprada nem vendida porque era propriedade de Iahweh (Lv 25, 23). Isso significa que o latifúndio e o acúmulo eram proibidos, segundo as prescrições de Ex 16, 4-5 e as leis que regiam o clã defendiam o sistema igualitário53. Ora, Nabot de Jezrael representa a realidade dos pequenos camponeses que estavam sendo ameaçados pelo novo sistema econômico que estava modificando as relações sociais presentes naquela sociedade. O sistema tribal procurou viver um tipo de organização igualitária, mas entra em decadência por fatores, econômicos, sociais, políticos e religiosos. Essa desfragmentação fez com que se buscasse instaurar um sistema que tinha por objetivo organizar a sociedade. Diante disso, o povo de Israel pede um rei (Jz 8, 22-23). Logo a sociedade israelita percebeu as conseqüências e isso é evidenciado no Apólogo de Joatão (Jz 9, 7-15), uma crítica à monarquia. O surgimento dela interferiu nas relações sociais, caracterizando-se por um sistema ambíguo beneficiando as elites e produzindo pobres. Embora com Acab houvesse desenvolvimento econômico, a pobreza era a conseqüência. Ele estava preocupado em encontrar fontes e ervas para manter seus cavalos e burros, em outras palavras, manter o exército, o aparelho repressor da sociedade. Mesmo com tamanha pobreza, Acab construiu para si uma casa de marfim (1Rs 22, 39). Perante a aberração do poder tirânico o povo ficou oprimido. Eram roubados e assassinados pelo sistema monárquico sob a figura de Acab e Jezabel. Segundo o quiasmo de 1Rs 21, 1-16, era 52 Carlos MESTERS e Wolfgang GRUEN, O profeta Elias, homem de Deus, homem do povo, p. 66 Cf. Carlos MESTERS. Restabelecer a Justiça de Deus no meio do povo. Vida e luta do profeta Elias,in: Convergência, vol. 19, p. 177. 53 37 um sistema sócio-político que condenava e matava o seu povo. Assim, Nabot representa a realidade pauperizada, despida de suas propriedades. Desse modo, a estabilização econômica trouxe consigo aquela mudança profunda nas estruturas sociais, desfazendo por completo o antigo quadro da organização tribal. Este quadro conferia, anteriormente, uma igualdade fundamental a todos os membros do povo. Liberado desta estrutura, o homem começou a progredir com os seus talentos pessoais. Surge a desigualdade social54 A sociedade retratada na segunda perícope 1Rs 21, 17-26 é sem sombra de dúvidas uma sociedade hierárquica. Tendo no topo da pirâmide o rei Acab e sua mulher, juntamente com os profetas de Baal, exército, por último, a camada que sustentava o rei, o pobre camponês e o agricultor. A relação é de exploração e de injustiça, causando grandes conflitos internos. “A estabilidade econômica trouxe consigo aquela mudança profunda nas estruturas sociais, desfazendo por completo o antigo quadro da organização tribal” 55. Samaria, como capital, e Jezrael, como um palácio, é a grande evidência dessa nova realidade. “Os pobres, forçados, em tempos de penúria, a tomarem emprestado aos ricos às taxas de usura, hipotecavam suas terras. (...) Podemos suspeitar, se não podemos provar, que a grande seca do reinado de Acab fez com que muitos pequenos agricultores perdessem todas as suas terras”56. 3.3. Aspecto Político Ora, se há um rei, faz-se necessário uma capital (2Sam 5, 11), funcionários, sacerdotes (2Sam 8, 15-18; 20, 23-26) e um exército (1Sam 8,11). Para manter tudo isso não bastava o trabalho dos camponeses, era necessário o tributo (1Sam 17, 25; 2Sam 24, 1-9) e a corvéia (2Sam 20, 24). Postos estes dados, teremos uma visão mais ampla do sistema monárquico e compreenderemos melhor as ações de Acab, Jezabel e Elias. Os elementos que nos reportam a situação política são palácio (v.1), rei (vv. 1, 10, 13, 18), o verbo governar (v.7), anciãos e nobres (vv. 8, 11). Através deles podemos perceber o sistema político da época de Acab. A política interna e externa de Acab visava a estabilização e o progreso econômico. A política externa se fundamentava em quatro diretrizes57: 1) Paz com Judá, através do casamento de Atália com Jorão, rei de Judá (2Rs 8, 18. 25-27). “A paz com Judá, com o qual viviam em guerra desde o tempo da revolução de Jeroboão, e a aliança com Tiro permitia 54 Carlos MESTERS. O Profeta Elias: inspiração para hoje, in: REB, vol. 30, fasc. 119, p. 600. Ibidem, p. 600. 56 J. BRIGHT, História de Israel, pp. 324-325. 57 Cf. Carlos MESTERS. O Profeta Elias: inspiração para hoje, in: REB, vol. 30, fasc. 119, p. 596. 55 38 opor uma força maior contra os perigos dos arameus e davam ao país maior tranqüilidade nas fronteiras e uma possibilidade maior para o desenvolvimento interno”58.; 2) Aliança econômica com Etbaal, rei de Tiro, pelo casamento de Acab com Jezabel (1Rs 16, 31), jogada política-econômica de alianças entre Samaria e Tiro, cujos benefícios seriam o livre comércio não só com os fenícios, mas também com os outros países que também comercializavam com a Fenícia; 3) Conquista do território dos moabitas, na Transjordânia, cujos interesses eram econômicos e comerciais; 4) guerra contra os arameus (1Rs 2, 1-34; 22, 1-38). Portanto, todos esses acordos tinham objetivos estritamente político-econômicos com os povos vizinhos. Nessa aliança política também está implicada nova concepção religiosa, pois com Jezabel vêm as suas divindades para Israel. Não será por esse motivo que Amri compra Samaria (1Rs 16, 24) e a estabelece como capital? Desse modo, a situação geográfica da Samaria iria permitir uma relação com outros povos mais fácil econômica e religiosamente. Durante o reinado de Acab a situação do povo era muito difícil. A aliança através do casamento de Jezabel, com a Fenícia, possibilitou grande apogeu das classes dominantes, enquanto as classes pobres se tornavam cada vez mais pobres e tinham que se subjugar as elites, através de empréstimos econômicos. Outro fator do empobrecimento dos camponeses, foi a grande seca e, os ricos que tinham os seus silos vendiam os mantimentos super-faturados aos pobres. Se eles não conseguissem solver a dívida, entregavam a sua terra, seus filhos, a mulher e por último, tonava-se escravo. O relato da vinha de Nabot narra sem eufemismos a situação conflitante, decorrente da situação política da época, cujo modelo instaurado é para subjugar os camponeses às fagulhas do sistema tribal. São claros, no relato de 1Rs 21, 1-26, os elementos norteadores da monarquia. É um sistema centralizador, que determina as regras de funcionamento da sociedade. Com seus editos ele pode tributar o povo para manter seus privilégios e, conseqüentemente explorar. Para isso utiliza-se do exército (1Rs 18, 6) como força coercitiva e as grandes obras como o palácio e templo, utiliza-se do trabalho escravo (1Rs 9, 15-24). O modelo de propriedade não é mais comunitário, em que a terra é de todos, mas é propriedade particular do rei. Além do exército, para sustentar o regime de opressão, nomeava-se chefes e prefeitos (1Rs 4, 1-19) e se utilizava a influência dos anciãos e dos homens de Belial (1Rs 21, 8-14). Em 1Rs 21, 7 há uma assertiva fundamental feita por Jezabel hT'[; hT' laer'f.yI-l[; hk'Wlm. hf,[T] ; :“tu agora execute tua realeza sobre Israel”. Em outras palavras Jezabel diz ao 58 Carlos MESTERS, REB, p. 597. 39 rei: faça valer os seus direitos de rei! É importante constatar que é a rainha quem faz valer o direito do rei e, nesse caso, numa sociedade patriarcal em que o homem governava, parece que ela subverte essa ordem. É a mulher quem domina. Jezabel conhece o direito do rei e as suas prescrições. Portanto, o direito real possibilitava a guerra, o luxo, tomar a terra, tributar, escravizar, tomar tudo do povo59. Se de um lado Jezabel estava amparada pelo direito do rei para atingir seu objetivo, por outro ela se esbarra na jurisdição do sistema tribal que prescrevia a proibição de julgamento sem testemunhas (Dt 17, 4-7; 19, 15-20; Lv 19, 15-17; Nm 36,30). Entretanto, ela consegue homens de Belial e os subornam para que deponham contra Nabot. Os homens de Belial eram pessoas iníquas, ociosos que percorriam as cidades e eram utilizadas para praticarem o mal. Conseguidas as testemunhas e contornando a legislação tribal, ela trama um bom argumento: %l,mw, " ~yhil{a/ T'k.r;B – amaldiçoaste Deus e o rei (1Rs 21, 10). Essa acusação é grave e encontra fundamento em Ex 22, 7, porque era abominação em Israel blasfemar contra Deus e amaldiçoar o chefe do povo e, aquele que o fazia, deveria ser condenado á morte (Dt 17, 4-7; Lv 24, 14-16). Ora, Jezabel ainda que levianamente, vence todas as instâncias tribais e faz com que a lei seja aplicada pelos anciãos da cidade de Nabot (1Rs 21, 11-14). Portanto, fica evidente que os anciãos e os nobres são instituições políticas que se aliavam ao rei para controlarem o poder. Aqui os anciãos já perderam sua identidade clânica e aderem ao novo sistema político, pois são beneficiados. Fica claro que eles são os colaboradores das instâncias jurídicas do palácio real. No sistema monárquico todo o poder está concentrado nas mãos e na vontade do rei. Basta-nos recordar do que já sinalizamos ao discorrer sobre o “direito do rei”. A dinastia de Amri conseguiu o poder com um golpe militar (1Rs 16, 15-22). Seu governo não durou mais que onze anos. “Com ele começou um período de paz e de progresso econômico, continuado pelo filho Acab. Toda política, tanto interna como externa, dos dois reis era dirigida para uma estabilização e um aumento do poder econômico do país”60. Fica claro que os ganhos políticos de Israel não significavam um bem para todos. Só aos poderosos era dada a maioria do ganho. Basta-nos olhar para Nabot, que aqui representa o agricultor sem muita influência política ou econômica. Pois se ele tivesse uma ascensão na sociedade participaria da corte de Acab, é o que nos revela 1Rs 21, 11. A palavra profética se ergue para fazer um verdadeiro julgamento, levando a condenação aos culpados e absorvendo o justo. A profecia de Elias é sem piedade para quem não pratica a justiça e sua pergunta: “Tu 59 Cf. VV.AA. Primeiro Livro de Samuel: pedir um rei foi nosso pecado, p. 108. 40 mataste e novamente tomastes posse” (v. 19), desdobra numa ação de idolatria “para fazer o que é mal aos olhos de Yahweh” (v. 20) e política: “Eis que trarei mal sobre ti e arrancarei a tua posteridade” (v. 21). Nesse julgamento Elias propõe acabar com o mal pela raiz: a posteridade. 3.4. Aspecto Ideológico/Religioso Com a aliança política, o casamento de Acab, é nítida à sociedade israelita uma “baalização” de Yahweh. Jezabel cultivava a divindade Baal e Asera. Para o seu deus construiu um templo (1Rs 16, 30-33) e trouxe os sacerdotes e profetas de Baal e de Asera (1Rs 18, 19). O próprio Acab prestou culto a Baal oferecendo em sacrifício dois filhos seus (1Rs 16, 34). Os novos profetas do rei gozavam de privilégios (1Rs 18, 19), enquanto os profetas de Yahweh eram perseguidos e mortos (1Rs 18, 4. 13; 19, 10). Assim, a ideologia/ religião encontrada no texto de 1Rs 21, 1-26 se situa num conflito entre Iahweh e Baal. A tradição baalística é personalizada por Acab e Jezabel e a de Iahweh, por Nabot de Jezrael. Assim, é importante aprofundar alguns aspectos dos baalismo para compreendermos esse conflito. O texto fundamental para compreensão ideológica perpassada em 1Rs 21, 1-26 é 1Rs 16, 30-33, em que afirma que Acab fez o que é mau diante dos olhos de Iahweh, mais do que todos os seus antecessores: desposou Jezabel, filha de Etbaal e passou a servir a Baal e adorá-lo. Baal לעב etimologicamente, em hebraico, Ba’al significa “senhor” no sentido de dono/proprietário de alguma coisa, de alguém61 ou dono62 da casa, do campo, do rebanho menor (ovelhas e cabras) da manada de bois (fenícios), dos carros de guerra e possuidor de pratas (arameu), dono de boi, do poço, da casa (hebreu). Baal tinha uma companheira, Asera, a divindade feminina dos fenícios. Era o nome do deus mais importante e mais popular da Síria, Fenícia e Canaã. Era considerado o senhor das chuvas, da vegetação e da fertilidade em geral. Seu culto atraiu os israelitas que traíram a confiança de Iahweh (1Rs 16, 31-33; 18, 20s), sendo muito combatido pelos profetas (Jr, 2, 23; 11, 13; Ez 6, 4-6; os 13, 1-6). A religião baalim cresceu com o campo. Baal e Astarte se identificavam com a natureza, com o sangue, com o solo e o seu culto utilizou o sacrifício de crianças (Jr 19,5) e jamais se viu tamanha prostituição sagrada (Jz 8, 33) em nenhum lugar do Oriente63. Desse modo, a introdução do culto a Baal, em Israel, 60 Carlos MESTERS. O Profeta Elias: inspiração para hoje, in: REB, vol. 30, fasc. 119, p. 597. Cf. John L MAcKENZIE. Dicionário Bíblico, p. 100. 62 Cf. G. BOTTERWECK e J. RINGGREN. Diccionario Enciclopédico de la Biblia, p. 719. 63 Cf. H. RENCKENS. A Religião de Israel, p. 162. 61 41 sempre foi muito conflituosa. Em Jz 2, 13 afirma que os filhos de Israel deixaram a Iahweh para servirem o baalismo. Encontramos Gedeão destruindo o altar de Baal, devido à ordem de Iahweh (Jz 6, 25-32). Isso significa que o culto a Baal estava sendo combatido e substituído por Iahweh. Mas depois de morte de Gedeão, os filhos de Israel voltaram a se prostituir aos baals e tomaram por deus, Baal-Berit, no lugar de Iahweh (Jz 8, 33). Entretanto, os filhos de Israel assumem os seus pecado, perante a Iahweh, por terem servido aos baals. Em 1Rs 16, 31-33, Acab passou a servir a Baal e adorá-lo e erigiu um altar no templo de Baal que construiu na Samaria e por essa prática irritou a Iahweh, Deus de Israel. Elias acusa Acab por seguir Baal e os 450 profetas que eram sustentados por Jezabel (1Rs 18, 1619) e aqueles que se ajoelharam a Baal não serão poupados. Jeú põe fim ao culto de Baal, ao seu templo, massacrando os seus servidores. A política de Amri e de Acab, especialmente a aliança com Tiro, provocou uma difusão crescente da religião cananéia, de modo que os israelitas se acostumaram a prestar culto a Javé e a Baal. Em 1Rs 21, 1-16, constatamos que há duas concepções religiosas diferentes. Há três referências acerca de Deus64. Em 1Rs 21, 3 que usa a nomenclatura utilizavam o termo hw"hy (v.3) e duas que ~yhil{a (vv. 10.13). O l{a (El) era um deus venerado em Canaã que era cultuado sob variados nomes: El-Roi (Deus Proverá) Gn 22, 14; El-Olan (Deus Eterno) Gn 21,33. l{a era pai de Baal e o chefe dos deuses. ~yhil{a é uma ampliação de l{a. Nabot menciona hw"hy que era o nome por excelência utilizado por Israel para designar o seu Deus. Jezabel ao citar ~yhil{a deixa transparecer sua ligação com a religião cananéia que cultuava vários deuses, o que significa que para Jezabel Nabot tinha amaldiçoado aos deuses e ao rei. Portanto, quem escreveu 1Rs 21, 10.13, ao colocar na boca de Jezabel a nomenclatura ~yhil{a e hw"hy na boca de Nabot, tinha o intuito de mostrar que há um conflito ideológico-religioso e que Baal se torna o rival do Deus único de Israel, hw"hy. O culto a Baal era orientado pelos acontecimentos cíclicos de natureza muito importantes para a população agrícola de Canaã. Os adoradores de hw"hy consideravam estes ritos de fecundidade, prostituição sagrada. Conforme a fé israelita hw"hy é o único e soberano de todo o universo e todas as coisas foram 64 hw"hy , l{a, ~yhil{a Esses conceitos bíblicos acerca de Deus são bastante amplos e variam de acordo com a cronologia, região, ideologia ou a religião e cultura. Seja como for, para este trabalho não vamos nos preocupar em detalhar as diferentes formas que Deus é denominado, mas restringi-las apenas ao contexto do próprio texto de 1Rs 21, 1-16. 42 criadas por ele, enquanto Baal era apenas deus do território que lhe era designado proteger. Mas, especificamente neste texto hw"hy parece ser derrotado por clamou por ele, Nabot, foi morto. Jezabel massacrou os profetas de ~yhil{a, porque quem hw"hy (1Rs 18, 4) e se utilizou de um argumento religioso para acusar o camponês (v.10). Ela representa a astúcia, capaz de praticar a justiça, ao seu modo, contra aqueles que amaldiçoam o rei e aos deuses. Isso demonstra que culto aos deuses nesse período atingiu o coração de todo Israel. Se em 1Rs 21, 1-16 a conclusão que se chega é que ~yhil{a derrota hw"hy, em 1Rs 21, 17-26, Elias, que traz no nome sua missão: “meu Deus é Yahweh”, faz valer os direitos de hw"hy. Nesse sentido, o relato profético tem duplo significado: denunciar o sistema monárquico que comete atrocidades e combater o baalismo. Desse modo, falar de baalização de Yahweh é descobrir que sua verdadeira imagem está sendo distorcida e falsificada num culto vazio. O povo já não sabe diferenciar Yahweh, Deus que não tem rosto, e se manifesta na história pessoal e comunitária, de Baal, deus que tem várias formas de se representar e de se invocar. Yahweh passa a ter um mesmo valor de Baal. Elias denuncia a idolatria de Acab, trazendo a memória de Nabot, morto violentamente pelas mãos de Jezabel. Dá para perceber que Jezabel é uma rainha estratégica e de conhecimento das tradições de Israel, pois ela não se contenta com a passividade de Acab diante de Nabot e faz acontecer o “direito do rei” (1Rs 21, 7). Tanto Baal, Asera e Yahweh são manipulados pela monarquia. O mais grave realmente é a manipulação da imagem do Deus da Vida, Yahweh, pelos profetas de Baal (1Rs 22, 6). Resgatar a memória de Nabot é mostrar o afastamento do rei a Yahweh (18, 18). É por causa das injustiças que Yahweh vai castigar Acab e toda sua casa. Essa é a voz da defesa de Nabot, pois ainda Yahweh se encontra ao lado do fraco e necessitado de justiça para sobreviver. “Elias não agi como jurista, nem como político, sociólogo ou economista, mas como profeta de Yahweh”65. 4. E YAHWEH GRITOU CONTRA O REI! Para a análise do cotidiano escolhemos os temas centrais das perícopes. Da primeira 1Rs 21, 1-16, destacamos o quiasmo: a condenação e a morte de Nabot que se deu de forma “maquiavélica”, embasada no falso testemunho, cuja finalidade era atender às expectativas do 65 Carlos MESTERS. Restabelecer a Justiça de Deus no meio do povo. Vida e luta do profeta Elias,in: Convergência, vol. 19, p. 185. 43 poder tirânico. Da segunda 1Rs 21, 17-26, ressaltamos a profecia que clama justiça pelo sangue derramado. Yahweh, o Deus da vida, através de Elias grita ao rei: “tu que matastes e novamente tomastes posse?” (v. 19). Nabot é vítima do sistema que mata as pessoas, utilizando-se do falso testemunho. Em outras palavras, quem escreveu o texto está dizendo que a monarquia está arrasando o sistema tribal e é um sistema sanguinário. Se assim o é, significa que há na narrativa, marcas de luta pela sobrevivência. Quando Nabot se recusa a ceder a vinha, está resguardando o direito de sobrevivência de si e das gerações vindouras. Sua fala demonstra resistência e expressa a dor e o sofrimento de todas as pessoas do seu tempo que tinham as suas propriedades tomadas e eram de alguma forma escravizadas. A dinâmica do texto quer mostrar que elas estão perdendo os seus direitos e, no sistema tribal, perder a herança é perder a identidade. A denúncia do texto bíblico está no fato de que ele apresenta para nós uma situação de morte, em que seres humanos estão sendo destituídos de sua própria identidade pessoal e, para isso eles não se vendem e lutam até o fim. Em 1Rs 21, 1-16, as relações de gênero são conflituosas. Nabot é vítima de Jezabel. Ela se vale de todas as maquinações para atingir o seu fim, a vinha de Nabot e, consequentemente agradar ao rei. Aqui, conforme já mencionamos anteriormente, há uma inversão de papéis, porque quem determina toda a ação é Jezabel. A única coisa que Acab faz é descer, depois de tudo consumado, e tomar posse da vinha que ele desejava. No que se refere à sociedade israelita, sabemos que era patriarcal, mas aqui quem toma as coordenadas é a mulher. Não seria Jezabel proveniente de um sistema matriarcal? Se considerarmos que os fenícios cultuavam os deuses da fertilidade, possivelmente haveria uma veneração da mulher, porque esta é sinal de fertilidade. Nesse sentido, as identidades dos homens e mulheres, no texto, são paradigmáticas, sendo que Nabot é a identidade do camponês expulso de sua própria terra e a de Acab e Jezabel, a da realeza perversa que se vale dos anciãos e dos homens de Belial, os ímpios para conseguir seus objetivos. Essas identidades são permeadas pelo conflito que geram a morte daquela identidade mais fraca. Os corpos que aparecem durante toda a narrativa são o de Nabot que está sendo massacrado pelo falso testemunho e que vai derramar o seu próprio sangue, porque lutou pela sua sobrevivência, a terra e o de Jezabel que simboliza os interesses econômicos e as alianças feitas para garantir a estabilidade comercial. Entretanto, o texto não deixa transparecer quais são os corpos que estão ocultos, provavelmente os de todos os pobres, vítimas do sistema implantado por 44 Acab. Quanto a Acab há poucas referências na Bíblia, apenas 90, mas que não explicitam muitas coisas acerca do seu reinado, a não ser que conseguiu a estabilidade econômica. O relato apresenta os condicionamentos étnicos e as suas conseqüências. Nabot é Jezraelita, camponês; Jezabel fenícia e rainha, o protótipo das relações comerciais. Acab, da dinastia de Amri, a linhagem real. Isso significa que os estratos sociais são bem definidos e cada um apresenta interesses particulares. Consequentemente, suas ações tem implicações legais no cotidiano, isto é, Nabot se baseia nos seus princípios legislativo para defender a sua herança (Lv 25, 23-24) e Jezabel no direito do rei (1Sm 8, 11-17). Nesse sentido, estão em jogo, interesses e que, no caso da realeza, será justificada a partir da própria religião baalista. Desse modo, o exercício do poder em 1Rs 21, 1-16 afeta o sentimento do grupo dos pequenos camponeses. Diante do poder que mata, reagem, têm insegurança e mencionam o nome de Iahweh, o Deus que caminha na história dos pequenos. Em relação a realeza, o poder é destruidor da vida. A prepotência e a ganância fazem com que o direito à vida seja desrespeitado, violentado e destruído. Essa é a lógica presente no texto através do quiasmo. As experiências de Deus presentes nos textos são diferenciadas. Nabot resiste em Iahweh. Implícita na sua fala “é reprovável a mim, por Iahweh eu dar a minha herança de meus pais” relata uma experiência diferente de Deus. Remete ao Deus de Israel que caminhou com o seu povo e que era gerador da vida. Nela está contida a memória dos antepassados tribais, o Deus de Abraão o Deus de Isaac, o Deus de Jacó. O Iahweh clamado por Nabot não é o dos Exércitos, nem do culto davidita, mas do povo pobre. Se Nabot cedesse sua herança, cometeria um sacrilégio contra Iahweh, porque se este a tem, é porque Iahweh o abençoou. Caso contrário, seria amaldiçoado, pois estaria ferindo o código ético-religioso da tradição dos seus antepassados. Portanto, Nabot luta até o fim, defendendo sua crença em Iahweh e a ética do sistema tribal, contrapondo-se à idolatria que justificava a morte. A resistência em entregar a herança, a vinha, significa não entregar a identidade ao outro desconhecido e que é capaz de tirar a vida, não somente de si mesmo, mas de toda a sua linhagem. Assim, se de um lado temos o Deus dos pequenos que luta pela sobrevivência, do outro, o deus66 que mata. Em outras palavras, a experiência que prevalece no texto é a do deus da morte. O objetivo da Bíblia é mostrar que naquele contexto, o deus presente era o do interesse econômico e em nome dele se condenou e matou Nabot. Portanto, a conseqüência desse texto no cotidiano daquele povo, significa a experiência do conflito e da luta pela vida e 66 Usamos deus para se referir a tudo aquilo que não promove a vida, contrapondo-o ao Deus da Vida. O sistema monárquico provocava a morte das pessoas e era idolatrado por aqueles que viviam às custas dos pequenos e 45 ainda mais, denunciar que pessoas estão sendo condenadas injustamente à morte porque se opõe ao regime político que os segrega. Se 1Rs 21, 1-16 Nabot é morto injustamente, em 1Rs 17, 17-26 temos o grito de Yahweh e a denúncia de Elias ao afirmar: “tu te vendestes fazendo o que é mal aos olhos de Yahweh” (v. 20). Esta frase guarda a verdadeira imagem do Deus do Israel. Se Baal permitia a morte de inocentes ou pedia a vida de inocentes para sacrifício, Yahweh é diferente. A única coisa que parece pedir é a justiça. O roubo, a falsa testemunha e a morte são sinais de afastamento de Yahweh. Ele só pode habitar em nosso meio quando a justiça acontece. O arrependimento é a mudança das estruturas de opressão e do próprio ser. Acab é a imagem do homem que confia em seu poder de monarca. Mas sua concepção de poder está no serviço e honrarias que seus súditos devem lhe prestar. É por isso que acontece a morte de inocentes. O inocente é o que descobriu a imagem de Yahweh não no monarca, mas no dia-a-dia e na memória de sua família, que lhe guarda o direito de ter sua terra para a sobrevivência. É por isso que Nabot se recusa a se desfazer de suas terras. Nelas estão suas memórias e suas raízes. Mas quem vem de fora não pode compreender o coração do outro. Jezabel é mulher que faz valer seus interesses políticos, econômicos e religiosos. Sua raiz está no suposto poder que seu marido tem. Não sabe ela que Yahweh sempre aparece reclamando a memória do inocente, porque sua imagem não é a fertilidade, a chuva, o raio ou o terremoto. Mas é a brisa suave que refresca o corpo cansado pelo trabalho na terra. Na terra esconde-se a dignidade do homem que a cultiva e faz dela surgir a vida para todos. Quando só se acumula terra e mais terras ela se torna inútil ao seu dono. É por isso que Elias profetiza a morte a toda casa de Acab, pois os seus fariam o mesmo que seu pai, o mal aos olhos de Yahweh: injustiça, falso testemunho e morte. São ações que Elias recorda claramente em suas palavras, fazendo todo Israel escutá-lo. 5. UM GRITO PROFÉTICO: PARTILHAR PARA TER VIDA EM ABUNDÂNCIA67 A mensagem bíblica para surtir efeito deve ser atualizada para os dias atuais. Não podemos deslocá-la do seu tempo e aplicá-la, hoje, sem antes ir ao texto original e situá-lo no seu tempo. Portanto, o texto fala no seu contexto e fazer ao contrário, significa descontextualizar a sua mensagem e, conseqüentemente manipulá-la. A perícope 1Rs 21, 1-16 lida superficialmente, parece ser mais uma narrativa de um conflito como outro qualquer, que culmina na morte, pobres, tirando-lhes a terra e a vida. O Deus da vida é aquele que grita contra a morte e contra o roubo (1Rs 21, 19). 46 geralmente do mais fraco. Entretanto, as entrelinhas nos mostram uma densidade profunda e um objetivo: mostrar que a vida está sendo sucumbida, através do roubo da propriedade dos pequenos camponeses pelos grandes latifundiários que constroem palácios de marfim (1Rs 21, 39) e que arrancam a carne, a pele e os ossos do povo (Mq 3,3). Isso é evidenciado ainda mais quando lemos 1Rs 21, 17-26 e sentimos que há um grito por justiça, fazendo valer o direito à vida, onde há um sistema que para sobreviver necessita tirar a vida de outrem. Postos esses dados, surge uma pergunta: quem são Nabot, Acab, Jezabel e Elias dos dias atuais? Assim, partindo dos elementos fornecidos pelo texto bíblico e as notícias relatadas no início da página, verificamos que os acontecimentos nos tempos de outrora, no mundo bíblico, fazem-se presentes ainda hoje. Nabot é a representação do homem do campo, do pequeno camponês que produz para subsistência, mas que tem a sua terra roubada por interesses econômicos que tentam aniquilar quem luta para sobreviver. Ora, se partimos desse princípio, veremos que a situação da terra, especialmente no Brasil não é tão diferente. Desde as suas fundações, com a doação das Sesmarias, com a ampliação do latifúndio e a sua modernização com as agroindústrias, a situação parece ficar cada vez mais difícil, porque essas instituições provocam a desigualdade social e, através dos seus interesses engolem as pequenas propriedades. A questão é muito gritante e pode ser verificada em relação às terras indígenas que foram tomadas para a criação de gado ou simplesmente para ser um latifúndio improdutivo. Diante disso, podemos afirmar que ainda hoje há muito do reinado de Acab e de Jezabel na sociedade brasileira. Acab é o paradigma dos gananciosos que empurram as suas cercas e querem ter o caminho livre para ampliar ilicitamente seus negócios, nem que para isso se valha de meios ilícitos para atingir tal fim. Jezabel significa o modelo econômico que gera o conflito e faz com que a propriedade dos pequenos seja tomada à força e para isso, utiliza-se dos tribunais, dos pistoleiros, das leis, violentando trabalhadores e trabalhadoras. Enquanto matam e espalham o terror e sequer são punidos pelos seus crimes. 1Rs 21, 1-16 é trágico. Não aparece nenhum vestígio de justiça, os opressores não são culpados pelo que fizeram. Pelo contrário, eles instauram um tribunal e julgam o inocente e o condenam e não há a intervenção de ninguém. Nesse sentido, a intenção de quem o escreveu é ressaltar que pessoas estão morrendo inocentemente, vítimas de novo sistema que lhes sugam o direito de viver. Ler o profeta Elias em nossos dias seja talvez, encontrar um lugar seguro para que os sonhos não morram. Em sua profecia está guardada a memória de muitos que deram suas 67 O título corresponde às duas análises do hoje que se complementam e possuem um fio condutor entre si. 47 vidas, muitas vezes sem o direito à defesa, por causa do direito dos pequenos. Em sua profecia se esconde a verdadeira face de um Deus que é Vida. Mas escutá-lo é comprometer-se com sua proposta de transformação da realidade de injustiça e de medo. As vozes dos que se levantam para protestar contra um sistema injusto muitas vezes se torna fraca. O clamor é abafado por um poder destruidor terrível e os poucos ouvidos que escutam os clamores que brotam da terra, pouco ou quase nada podem fazer. Todavia, a memória dos que morrem está guardada no mais profundo da terra e ressurgirá “nos novos céus e novas terras”, semeado pelo sangue dos que acreditam na vida para todos. Ao lermos 1Rs 21, 17-26, perceberemos a denúncia de Elias que nos conforta. Iahweh fez justiça ao pobre sofredor. Atualmente, resta-nos refletir também que são os profetas de hoje. A vida jamais pode ser sucumbida, porque ela é herança de Iahweh e aqueles que praticam o mal deverão ser punidos justamente. Assim, a profecia nos convoca a comprometermos com a prática da justiça em nos dias, por toda a nossa existência. BIBLIOGRAFIA A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2001. BAUER, Johannes B. Dicionário de Teologia Bíblica. vol. I. São Paulo: Loyola, 1973. Bíblia Sagrada. Trad. João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2ª ed., 1998. 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