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OGLOBO Irineu Marinho (1876-1925) SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 2016 ANO XCI - Nº 30.275 (1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO oglobo.com.br EXCLUSIVO/MÁQUINA INFLADA ESPORTES Estatais contrataram 56 mil em quatro anos _ Velódromo é entregue GABRIEL DE PAIVA A OBRA QUE FALTAVA PARA OS JOGOS Aumento do número de servidores foi de 11% no período de 2010 a 2014 Entre as empresas públicas federais que dependem exclusivamente do Tesouro, as contratações cresceram de 39.443 para 58.553, um salto de 48% Aprovada. Ciclista testa o velódromo no evento da entrega das chaves da arena ao Rio-2016: a pista vinda da Sibéria foi elogiada Obra mais problemática da Olimpíada do Rio, o velódromo foi entregue, ontem, pelo prefeito Eduardo Paes ao presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, com seis meses de atraso e a 40 dias do início dos Jogos. Ao custo de R$ 147 milhões, foi a última a ser recebida pelo comitê, mas não está totalmente concluída, como reconhe- ceu Paes, ao citar a instalação das arquibancadas provisórias. Presente ao evento, dirigente do COI fez elogios. O ponto alto do velódromo é a pista importada da Sibéria, testada ontem por ciclistas. Brasileiro Sem controle, órgãos da União sofrem desvios Citadas na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, seis estatais, com menos instrumentos de controle que a Petrobras, sofreram desvios. No Banco do Nordeste, o TCU apontou prejuízo de R$ 683 milhões com esquema de fraudes em empréstimos. PÁGINA 3 Reforma prevê aposentadoria aos 70 EXCLUSIVO Embora a intenção inicial seja estabelecer em 65 anos a idade mínima para aposentadoria, o governo de Michel Temer quer elevá-la para 70 anos no caso da futura geração. A medida só seria aplicada daqui a 20 anos, mas já constaria da proposta de reforma da Previdência a ser enviada ao Congresso, conta SIMONE IGLESIAS. PÁGINA 4 Entreouvido (ainda!) no teatro de operações O Fluminense derrotou o Flamengo, por 2 a 1, ontem, em Natal, em jogo no qual os gols saíram por falhas defensivas. William Arão fez contra, de cabeça, o primeiro gol tricolor. Após falha de Gum, Guerrero empatou. Aproveitando bola mal atrasada de Rafael Vaz, Richarlison decretou a vitória do Flu, que ocupa o 9º lugar no Brasileiro. O Flamengo está em 6º. Já o Botafogo venceu o Internacional, em Porto Alegre, por 3 a 2, e foi para 17º. Em Natal. Scarpa, Wellington Silva e Gum festejam o 1º gol do Flu, de William Arão contra Brexit causa turbulência em partidos britânicos O Reino Unido viu seu cenário político mergulhar na confusão no fim de semana, após a vitória do Brexit — a saída da União Europeia — em referendo. Ontem, 11 integrantes da cúpula do Partido Trabalhista renunciaram em apoio a tre outras. Na mira do governo do presidente interino Michel Temer, a EBC aumentou o número de funcionários em 180%: de 913 para 2.564. O governo trava embates com o Congresso para aprovar uma nova lei das estatais, reformando a gestão e a governança, mas há ceticismo do mercado quanto à sua efetivação. PÁGINA 15 NELSON PEREZ/FLUMINENSE EM JOGO DE ERROS, FLU VENCE O FLA CHILE É BICAMPEÃO DA COPA AMÉRICA Dados do governo mostram que de 2010 a 2014 o número de servidores de estatais federais cresceu 11%, passando de 497.020 para 552.856. O percentual é ainda maior nas empresas públicas que dependem exclusivamente do Tesouro: 48%, revela DANILO FARIELLO. É o caso da Embrapa e da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), en- um colega demitido por contestar a liderança do chefe da legenda, Jeremy Corbyn. Entre os conservadores, abalados pela demissão do premier David Cameron, dois grupos rivais se articulam para disputar a sucessão. PÁGINAS 17, 19 e 20 Espanha tem novas eleições, mas não sai do impasse PÁGINA 21 CHICO — Os que forem a favor da Lava-Jato permaneçam como estão, os que forem contra... melhor não falar nada! Médica assassinada na Linha Vermelha Dornelles: frota da polícia pode parar A médica Gisele Palhares Gouvêa, de 34 anos, foi morta em tentativa de assalto num acesso da Linha Vermelha, na noite de sábado, na Pavuna. No mesmo bairro, o PM Denílson de Souza, 48 anos, foi assassinado ontem. PÁGINAS 6 a 8 O governador do Rio em exercício, Francisco Dornelles, disse que, se a ajuda federal de R$ 2,9 bilhões não chegar até o fim da semana, a frota da polícia pode parar. Mas afirmou estar confiante no repasse. PÁGINA 9 LEO MARTINS SEGUNDO CADERNO VIVÊNCIAS DE MIÚCHA Celebrando quatro décadas de carreira, a cantora diz que guarda gravações inéditas do ex-marido João Gilberto e tem planos de fazer cinema. SOCIEDADE A nova polêmica no Vaticano PAPA DEFENDE PEDIDO DE PERDÃO A GAYS 3ª Edição • Preço deste exemplar no Estado do Rio de Janeiro • R$ 4,00 • Circulam com esta edição: Segundo Caderno e caderno Esportes PÁGINA 22 2 l O GLOBO Segunda-feira 27 .6 .2016 Página 2 Conte algo que não sei [email protected] _ RICARDO NOBLAT ‘As mulheres foram classificadas como amadoras’ _ Ana Paula Cavalcanti Simioni, professora Paulista, que pesquisa sobre mulheres artistas antes do período modernista, veio ao Rio para debate no CCBB sobre arte e feminismo no Brasil FERNANDO LEMOS “Tenho doutorado em Sociologia pela USP, onde sou professora e pesquisadora desde 2009, com ênfase na questão arte e gênero. Pesquiso sobre mulheres artistas desde 2000. Dar aula é uma satisfação enorme. É onde acho que a minha profissão faz sentido.” | | “A corrupção é uma ‘serial killer’ que se disfarça de buracos de estrada, falta de medicamentos e pobreza” PROCURADOR DALLAGNOL _ Não chore pelo PT _ Para Hiroo Onoda, a 2ª Guerra Mundial só terminou no dia 9 de março de 1974, quando ele emergiu da selva da ilha Lubang, nas Filipinas, e se rendeu ao seu superior, o major Yoshimi Taniguch, que lhe ordenara 30 anos antes resistir até a morte. Depôs a espada e o rifle ferrolho Arisaka, em perfeito estado de revista. Vestia um gasto uniforme de soldado. De volta ao Japão, foi recebido como herói. ENTREVISTA A: AMANDA PRADO [email protected] ANTONIO LUCENA Conte algo que não sei. A primeira artista plástica a ser premiada, em 1884, é do interior do Rio de Janeiro, da cidade de Vassouras, e se chamava Abigail de Andrade. A premiação foi da Exposição Geral de Belas Artes. Ela foi uma pintora muito atuante entre 1881 e 1884. Pioneira, teve bom reconhecimento da crítica, fez várias exposições, mas, infelizmente, nenhum museu público tem obras dela. Ela se mudou cedo para a capital, para estudar no Liceu de Artes e Ofícios, a primeira instituição pública com nível próximo ao ensino superior para as mulheres. No Rio, foi aluna de Ângelo Agostini, dono da revista “Illustrada”. Eles se apaixonaram. Foi uma reviravolta à época, porque ele era casado. Grávida do segundo filho dele e morando na França, assim que o bebê nasceu ele morreu de tuberculose e ela, também. Apesar de curta, foi uma trajetória muito rica. É triste que sua obra fique apenas em coleções privadas. l Por que isso acontece? As instituições da época não tinham um olhar para as mulheres, o que foi gerando vários empecilhos ao longo do tempo. No Brasil, isso não é uma questão de política afirmativa apenas. A questão é que historicamente as mulheres foram classificadas como amadoras. Os críticos de arte viam as mulheres à maneira do seu tempo, como seres sem plena capacidade. Tudo isso contribuiu para a produção de uma amnésia. É a história de que desconhecimento gera desconhecimento, assim como conhecimento gera mais conhecimento. l O que muda quando as mulheres chegam à universidade? Elas já podem ganhar prêmios acadêmicos importantes, e o reconhecimento passa a vir de outra forma. A academia no Brasil abre a possibilidade de inscrição para as mulheres a partir de 1892, e no ano seguinte ela já recebe alunas. Com a transforma- l ção do regime (monarquia para República), é sancionada uma lei em que os cursos superiores passam a admitir mulheres. Esses cursos são Medicina, Direito, Engenharia e a Escola de Belas Artes. Antes disso, elas só podiam pensar em Medicina, porque tinham formação de parteiras. O que chama atenção entre as primeiras acadêmicas artistas? Há obras que até chegaram a museus, mas ficaram em reservas técnicas. Foi o caso de Julieta de França, uma escultora nascida em Belém, no Pará, e filha de músicos, que veio para o Rio e fez parte do primeiro grupo de alunas da Escola Nacional de Belas Artes. Ela ganhou o prêmio de viagem ao estrangeiro em 1900. Era o prêmio máximo da academia, apenas um por ano. Todos os homens que ganharam entraram para a História. Mas pouco se sabia sobre essa mulher, quando comecei a l pesquisar. Há obras dela na reserva técnica do Museu Nacional de Belas Artes, sem exibição, onde está escrito “participou do Salão da França de 1903 e obteve menção honrosa”. Quantos artistas brasileiros foram para Paris, passaram cinco anos, conseguiram expor no salão e obtiveram menção honrosa? Ela foi para a França, estudou, ganhou prêmio, foi aluna de Auguste Rodin. Como ela não entrou para a História? Como o público poderia conhecer as obras dessas mulheres? O Masp e o MAM, por exemplo, ou o MoMA, nos EUA, foram formados com doações, mas acho que nossa elite, hoje, tem pouca sensibilidade para essas questões, além de uma desconfiança em relação à capacidade de as instituições públicas no Brasil cuidarem das obras. Precisamos encontrar uma solução. l Imagem da semana _ A CRISE DE CUNHA AO VIVO NA TV FOTO ANDRÉ COELHO Mesmo afastado pelo STF, o deputado Eduardo Cunha teve pronunciamento feito terça-feira passada, num hotel de Brasília, transmitido pela TV Câmara. Ele negou que vá renunciar ou delatar e, fiel a seu estilo, atacou o procurador Rodrigo Janot, adversários e a mídia. O diretor de Comunicação da Câmara foi demitido no mesmo dia.l Leia também _ País Economia Foragido da Justiça, o empresário Ricardo Magro, dono de Manguinhos, entra na lista da Interpol Café e leite tiveram aumentos acima da inflação este ano: 9% e 18%, de acordo com o IPCA-15. Os motivos são a redução dos estoques mundiais do grão e a entressafra PÁGINA 5 PÁGINA 16 Rio Caixas de som de Parada Funk no Aterro provocam vibração no prédio do MAM e danificam peça em exposição Com o pedido de recuperação judicial da Oi, analistas recomendam cautela com ações de empresas de telecom PÁGINA 14 PÁGINA 18 Loterias O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados. l MEGA-SENA 15 l 27 l 28 l 32 l 48 l 55 l Um acertador 1.831 DUPLA SENA 1.509 03 l 09 l 11 l 15 l 21 l 28 l 2º Sorteio l 05 l 09 l 12 l 13 l 35 l 47 Acumulado em R$ 308,8 mil 1º Sorteio QUINA 4.115 09 l 37 l 66 l 75 l 78 l Acumulado em R$ 478,7 mil ONODA ALISTOU-SE com 20 anos para servir ao Exército imperial japonês, em guerra contra os Estados Unidos, a União Soviética, a Inglaterra e demais países aliados. Foi enviado a Lubang para evitar que a ilha caísse em mãos inimigas. Como ela caiu, ele e mais três soldados se refugiaram nas montanhas para resistir. Dois morreram. Onoda não acreditava que o Japão fora derrotado. TALVEZ FOSSE o caso de Lula procurar Dilma para informá-la de que a guerra contra o impeachment acabou, e que ela, ele e o PT foram derrotados. Ao contrário de Onoda, Dilma não recebeu ordem do seu superior para resistir até a morte. Resiste por teimosia. Lula está em outra, negociando a salvação da própria pele. O PT estima suas perdas, que podem ser maiores do que supõe. O QUE MENOS interessa ao PT é o que Dilma promete, caso sobreviva ao julgamento do Senado e retorne ao cargo: um plebiscito para que o brasileiro decida se quer antecipar a eleição presidencial de 2018. Plebiscito ou referendo nem sempre é a melhor solução. Milhões de britânicos arrependeram-se do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia. EM SEU PIOR momento desde que foi fundado, o PT está condenado a perder as eleições municipais de outubro próximo. Como poderia ganhar uma eleição presidencial? De resto, por que o Senado devolverá o poder a Dilma se ela acena com a possibilidade de não governar até o fim do mandato? Não devolverá. O melhor seria que Dilma se rendesse, sem provocar mais danos ao país. BASTAM OS DANOS que provocou legando ao presidente interino a herança maldita de mais de 11 milhões de desempregados. Bastam os que o PT também provocou — entre eles, a corrupção que contaminou todo o aparelho do Estado e suas relações com sócios e fornecedores privados. O que a Lava-Jato já descobriu empurrou o Brasil para o cume dos países mais corruptos. O QUE COMEÇA A ser descoberto poderá catapultar o PT para a galeria dos partidos mais cruéis com o povo. Que tal um partido capaz de roubar parte do salário de funcionários públicos, pensionistas e aposentados endividados que, para manter suas famílias, recorriam a empréstimos consignados cujas prestações são descontadas automaticamente em folha de pagamento? NA SEMANA PASSADA, Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministro do Planejamento do governo Lula e das Comunicações do governo Dilma, foi preso sob a suspeita de ter sido um dos chefes da organização criminosa que arrecadou entre 2009 e 2015 algo como R$ 100 milhões em propina para financiar o PT e enriquecer seus caciques. DE CADA R$ 1 pago mensalmente por um servidor público como taxa de gerenciamento do seu empréstimo, R$ 0,70 iam parar nos cofres do PT. Roubar dinheiro de quem trabalha para ganhá-lo? Um partido, aqui, nunca ousou tanto. “Chorei por mim e por meus amigos. Há várias maneiras de ser assaltada”, comentou a servidora pública Ana Gori, de Brasília, endividada há 16 anos. www.oglobo.com.br/noblat www.twitter.com/blogdonoblat www.facebook.com/blogdonoblatoglobo Segunda-feira 27 .6 .2016 2ª Edição O GLOBO País l 3 ESCÂNDALOS EM SÉRIE Órgãos federais menos regulados e mais corruptos _ LUCIANA WHITAKER/VALOR ECONÔMICO/4-7-2012 O delator. O ex-presidente da Transpetro: Petrobras era “mais disciplinada” do que outras unidades do governo Citados por Sérgio Machado, BNB, Funasa, Dnit, Dnocs, Docas e FNDE são alvo de desvios SÉRGIO ROXO E TIAGO DANTAS [email protected] -SÃO PAULO- Alvos constantes de disputas políticas, os seis órgãos federais citados na delação de Sérgio Machado acumulam escândalos de corrupção e denúncias de irregularidades em suas gestões. Estariam em situação bem pior que a Petrobras, segundo ele “a madame mais honesta dos cabarés do Brasil”. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente da Transpetro surpreendeu ao afirmar que a petrolífera, cujo rombo estimado pela Polícia Federal é de R$ 42 bilhões, era um organismo “bastante regulamentado e disciplinado”. Ele acrescentou que outras unidades do governo têm práticas “menos ortodoxas”. Um das instituições citadas por Machado foi o Banco do Nordeste (BNB). Investigações dos ministérios públicos Federal e Estadual do Ceará, onde fica a sede da instituição, apontam irregularidades nas concessões de empréstimos, favorecimento de empresas e desvio de recursos para financiar campanhas políticas. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que apenas o esquema de fraudes nos empréstimos gerou prejuízo de R$ 683 milhões. — Uma verdadeira quadrilha se instalou dentro do Banco do Nordeste. Verbas foram loteadas para fins eleitoreiros e se praticou todo tipo de falcatrua em valores altíssimos dentro da instituição — acusa o promotor Ricardo Rocha, do Ministério Público Estadual, que deu início às apurações após ser procurado por um funcionário que denunciou as irregularidades. De acordo com Rocha, as investigações comprovaram que os balanços de empresas eram maquiados para permitir a concessão dos empréstimos com a anuência de diretores que “recebiam comissões”. As fraudes beneficiavam companhias que estavam perto de falir e até uma das empresas do esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, condenado na Lava-Jato. Também haveria corrupção na classificação das notas de créditos das empresas. Segundo o promotor, elas eram ameaçadas de ter as notas reduzidas, o que diminuiria as margens para empréstimos, se não pagassem propina. — O que apareceu até agora é só a ponta do iceberg. O esquema da Lava-Jato operava aqui no Banco do Nordeste também — afirma o procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal (MPF), que não tem conseguido levar suas investigações adiante. Até agora, cinco ações penais e cinco de improbidade administrativa não avançaram por causa de habeas corpus ou recusa de juízes de primeira instância. O MPF apresentou recursos ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Para o promotor Ricardo Rocha, os problemas do BNB estão relacionados à influência política. — Todos os diretores do Banco do Nordeste são indicados por políticos — afirma. Entre 2003 e 2011, quando tiveram início as irregularidades, segundo o Ministério Público, o BNB foi presidido por Roberto Smith, indicado pelo deputado federal José Guimarães (PT-CE), ex-líder do governo Dilma Rousseff na Câmara. Smith chegou a ser denunciado pelo MPF por omissão na recuperação de créditos. A ação foi trancada pelo TRF5. — Isso não é crime. Só indiquei o presidente do banco — admite o deputado, negando ter influência sobre toda a gestão da instituição. Guimarães disse que não se sente responsável por eventuais irregularidades que tenham ocorrido na gestão de seu indicado. O petista ainda destacou que, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o comando do banco era indicado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e que o atual presidente, Marco Costa Holanda, nomeado em 2015, é apadrinhado pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Bruno Queiroz, advogado de Roberto Smith, garantiu que a Justiça comprovou que o cliente não tinha participação nas irregularidades: — Embora tenha sido presidente, ele não pode ser responsabilizado por tudo o que acontece no banco. Não existe nada formalmente contra ele. Não existe ação penal em que ele seja réu e nenhum inquérito em que tenha sido indiciado. O BNB informou que instaurou “processos administrativos disciplinares” e fez cobranças judiciais para reaver os prejuízos. O escândalo mais recente envolvendo as outras “madames do cabaré” foi revelado em maio e tem como alvo a Superintendência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) de Santa Catarina. A Polícia Federal (PF) investiga um esquema montado por servidores federais, prefeituras e empreiteiras que teria movimentado cerca de R$ 2 milhões em propinas. Embora os valores desviados não sejam tão altos como aqueles apurados na Petrobras, a fraude se repete em várias regiões do país, segundo investigadores. Nos últimos cinco anos, a PF investigou esquemas similares em Amapá, Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rondônia e Tocantins. Responsável por obras de esgoto e saneamento básico, a fundação tem orçamento de R$ 3,2 bilhões, maior que o dos ministérios da Cultura e do Meio Ambiente. Em Santa Catarina, as empresas investigadas receberam dinheiro de obras de saneamento básico mesmo sem ter feito todo o serviço. A PF chegou a prender o superintendente Adenor Piovesan, filiado ao PMDB e presidente da Fundação Ulysses Guimarães no estado. Piovesan já está solto, e seu advogado não foi localizado. Segundo a Funasa, as irregularidades apontadas como de responsabilidade dos funcionários da fundação “terão todas as providências administrativas internas adotadas”. Reduto do PR, o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) foi palco de um escândalo que levou à demissão de 20 pessoas e à queda do então ministro Alfredo Nascimento. Segundo as denúncias, empresas pagavam 4% de propina ao PR para ganhar licitações e aditivos. Até agora, ninguém foi preso. No Rio Grande do Norte, o MPF descobriu desvios de R$ 13,9 milhões na duplicação da BR-101 e denunciou 25 pessoas no ano passado. O Dnit não respondeu. Ligado ao Ministério da Integração Nacional e dominado nos últimos anos por PMDB e PP, o Departamento Nacional de Obras Contra Seca (Dnocs) foi alvo de duas investigações recentes. Em março de 2013, a Operação Cactus apurou supostos desvios em contratos distribuídos por 20 municípios do Ceará. A investigação teve início com um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontando suspeita de fraudes que chegavam a R$ 200 milhões. Os policiais apuram a participação de parlamentares no esquema, por meio de emendas ao Orçamento da União. Dois anos depois, foi desarticulado um suposto esquema de fraudes em licitações no Rio Grande do Norte. O Dnocs informou que “todos os diretores envolvidos nas denúncias foram afastados dos cargos de direção e encontram-se respondendo a processos administrativos”. Também foram citadas na delação de Machado as companhias Docas, que administram portos federais. Em 2012, o MPF denunciou o ex-diretor-presidente da Companhia Docas do Espírito Santo, Hugo Merçon, sob a acusação de favorecer a contratação de uma empresa por dispensar a licitação. O processo ainda está em andamento. Merçon não foi localizado. Outro órgão que sofreu com influência política na gestão foi o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento anual de R$ 60 bilhões e cuida de programas como o fornecimento de merenda. Em abril, às vésperas da votação do impeachment na Câmara, Dilma nomeou para o órgão Gastão Vieira, do nanico PROS, ex-ministro do Turismo, na tentativa de ganhar o apoio da legenda. Em 2013, o então presidente, José Carlos Wanderley Dias de Freitas, foi flagrado em um grampo da PF alertando o reitor da UFPR sobre uma investigação contra a instituição. A PF informou que o caso já foi concluído, mas não poderia dizer se foi constatada alguma irregularidade. O FNDE afirmou que não se pronunciaria sobre um caso ocorrido na gestão anterior. l Só o esquema de fraudes nos empréstimos do Banco do Nordeste gerou prejuízo de R$ 683 milhões, concluiu relatório do Tribunal de Contas da União O QUE FAZEM BANCO DO NORDESTE (BNB) É o banco de desenvolvimento regional que atua nos estados do Nordeste. Possui cerca de 300 agências na região Partidos que tiveram influência na direção nos últimos anos: PT e atualmente PMDB Investigações: Foram apontadas fraudes nas concessões de empréstimos e no Programa Nacional de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf) Faturamento: R$ 7,5 bilhões FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (FNDE) Subordinado ao Ministério da Educação, é responsável por viabilizar programas em parcerias com municípios, como o de transporte escolar e merenda Partidos que tiveram influência na direção nos últimos anos: PT e atualmente é comandado pelo PROS Investigação: presidente do FNDE soube previamente de investigação da PF na UFPR, em 2013, e avisou ao reitor Orçamento: R$ 60 bilhões DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA SECA (DNOCS) Ligado ao Ministério da Integração Nacional, é responsável pela atuação no semiárido nordestino Partidos que tiveram influência nos últimos anos: PMDB e, mais recentemente, PP Investigação: Servidores no Ceará e no Rio Grande do Norte são acusados de desviar recursos de obras no sertão Orçamento: R$ 1,2 bilhão DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES (DNIT) Subordinado ao Ministério dos Transportes, é responsável por obras em rodovias, ferrovias e hidrovias Partido que teve influência nos últimos anos: PR Investigação: Em 2011, denúncias mostraram que empresas pagavam 4% de propina ao PR para ganhar licitações e aditivos. O esquema causou a queda do então ministro Alfredo Nascimento e o afastamento de 20 servidores Orçamento: R$ 8 bilhões FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FUNASA) Vinculada ao Ministério da Saúde, é responsável por ações de saneamento básico e prevenção de doenças em todo o país Partidos que tiveram influência nos últimos anos: PMDB, majoritariamente, e PTN Investigação: Superintendente em Santa Catarina foi preso acusado de receber propina para beneficiar empresas Orçamento: R$ 3,2 bilhões COMPANHIAS DOCAS Subordinadas à Secretaria de Portos, as oito companhias são responsáveis por administrar os portos federais Partidos que tiveram influência nos últimos anos: PMDB, em São Paulo e no Rio Investigação: Em 2012, o presidente da Companhia Docas do Espírito Santo foi denunciado por contratar empresas sem licitação Receita: R$ 1,3 bilhão * * apenas as companhias de São Paulo, Rio e Espírito Santo. Dado referente ao ano de 2014 U Memória ‘DÓLARES NA CUECA’ SAÍRAM DO BANCO DO NORDESTE Em julho de 2005, no auge do escândalo do mensalão, José Adalberto Vieira da Silva foi flagrado ao tentar embarcar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com US$ 100 mil na cueca. Na época, era assessor do deputado estadual José Guimarães (PT-CE), irmão do então presidente do PT, José Genoino. A divulgação do caso abalou o mundo político e obrigou Genoino a abandonar o comando da legenda. Além dos US$ 100 mil levados na cueca, Adalberto carregava R$ 209 mil em uma maleta. O Ministério Público Federal (MPF) do Ceará passou a investigar o caso e concluiu que o dinheiro era proveniente de propinas pagas para facilitar a concessão de um empréstimo pelo Banco do Nordeste (BNB). Após ser preso no aeroporto por não ter declarado que viajava com mais de R$ 10 mil, como manda a legislação, Adalberto, inicialmente, disse que o dinheiro identificado na mala pelo raio X era fruto da venda de legumes na Companhia de Entrepostos Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp). Mas os policiais desconfiaram da versão por causa de suas mãos bem cuidadas. Então, o assessor de Guimarães mudou a versão e disse que a quantia era proveniente de empréstimo de um amigo para montar um negócio. As investigações mostraram que, pouco antes de ser preso, Adalberto havia telefonado para Kennedy Moura, assessor especial da presidência do Banco do Nordeste. O MPF apresentou uma ação de improbidade administrativa ao concluir que o dinheiro levado por ele fazia parte de propina paga depois da liberação irregular de recursos para o consórcio que construía uma linha de transmissão de energia entre Teresina e Fortaleza. O ex-presidente do Banco do Nordeste Roberto Smith, indicado para o cargo por José Guimarães, chegou a ser condenado, em 2014, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª região (TRF5) por participação no caso, mas conseguiu reverter a decisão. As condenações de Adalberto e Moura continuam em vigor. Guimarães se livrou da ação de improbidade administrativa ao recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2012. 4 l O GLOBO l País l 2ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016 Governo quer aposentadoria só aos 70 anos Idade mínima para benefício começaria aos 65 anos, mas seria estendida e aplicada daqui a 20 anos SIMONE IGLESIAS [email protected] -BRASÍLIA- O governo de Michel Temer quer que a idade mínima para a futura geração se aposentar chegue aos 70 anos. A ideia, segundo uma fonte do governo que está participando das discussões, é estabelecer no projeto que será enviado ao Congresso duas faixas: a primeira, de 65 anos; e a segunda, de 70 anos, para ser aplicada só daqui a 20 anos. Há praticamente consenso de que a reforma da Previdência em estudo deverá estabelecer 65 anos como idade mínima a partir da aprovação do texto, mas com uma regra de transição que não penalize tanto quem já está no mercado de trabalho e ainda menos quem está mais próximo da aposentadoria. Por exemplo, se um homem já contribuiu 30 dos 35 anos que determinam a lei atual e tem 50 anos, ele não terá que trabalhar mais 15 anos, até os 65. Haverá uma transição. O objetivo do governo é elevar a idade média das pessoas ao se aposentarem. Hoje, é de 54 anos. Os que entrarem no mercado de trabalho a partir da sanção da nova regra se enquadrarão integralmente na faixa de 65 anos. Mesmo que o governo envie o projeto ao Congresso ainda este ano, dificilmente ele será aprovado antes de 2017. — Se vamos estabelecer a idade mínima agora, já podemos pensar nas próximas décadas, deixando uma faixa mais alta para a futura geração, que está longe ainda de entrar no mercado de trabalho. Agora, a adoção dos 65 anos como idade mínima terá uma regra de transição muito clara para não prejudicar quem já está no mercado de trabalho há mais tempo — afirmou um integrante do governo Temer. As fórmulas para esta regra de transição ainda estão sendo analisadas pelo governo, mas levarão em conta o tempo de contribuição dos trabalhadores e o período que falta para a aposentadoria. Apesar de o presidente Michel Temer ter declarado na última sexta-feira ser a favor de que as mulheres se aposentem levemente mais cedo do que os homens, a intenção da equipe econômica é, a longo prazo, fazer com que a idade para ambos os sexos coincida. Amanhã, haverá reunião entre governo e as centrais sindicais, da qual poderá sair a primeira versão da reforma da Previdência. O Planalto ain- da tem dúvida sobre a apresentação de um documento para evitar um “pacote pronto”, porque busca entendimento com os sindicatos, que têm se mostrado inflexíveis especialmente quanto a alterações na regra que afetem quem está no mercado de trabalho ou próximo da aposentadoria. A decisão sobre apresentar ou não essas linhas gerais será definida em cima da hora, dependendo do clima entre governo e sindicatos. — As centrais resistem em praticamente todos os pontos, mas estão começando a assumir a responsabilidade. A previdência não é um problema do governo, que passa; mas de quem vai se aposentar. Se o governo não fizer nada rápido, o Brasil vai acabar daqui a uns anos como países europeus que quebraram — disse uma alta fonte do governo. A expectativa do governo é receber algumas ideias das centrais na reunião de amanhã, mas há impasse. Os sindicatos querem a manutenção da regra 85/95 (soma entre idade e tempo de contribuição para mulheres e homens, respectivamente) e pedem, em vez de mudanças A ideia é elevar a idade mínima para a futura geração, que ainda está longe de entrar no mercado de trabalho estruturais no sistema, que o governo faça uma fiscalização rigorosa nos gastos com os recursos previdenciários. — Queremos que o governo abra a caixa-preta da Previdência. O trabalhador não é o responsável pelo deficit que existe no sistema — disse ontem o vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres, que estará amanhã em Brasília para a reunião no Palácio do Planalto. Medidas que afetam quem ainda não entrou no mercado de trabalho, no entanto, causam menos polêmica entre as centrais. Segundo Miguel Torres, não há entre as centrais uma decisão sobre o tema. Há dois pontos apresentados pelas centrais que o governo vê com bons olhos: a abertura de um programa de refinanciamento de débitos inscritos na dívida ativa com a Previdência e a revisão das isenções às entidades filantrópicas. A Previdência do setor rural é outro ponto polêmico. Os sindicatos afirmam que este responde pela maior parte do deficit do sistema. O governo busca discutir esse problema em mesas separadas. Ouviu as queixas dos sindicalistas, mas quer discutir alternativas com os ruralistas para não contaminar as discussões. Uma fonte do governo disse que alguma medida terá de ser adotada para reduzir as despesas previdenciárias do setor. l Temer faz ofensiva em aniversário de senador Compra de remédios é nova CARLOS EDUARDO RECHE/GOVERNO DE GOIÁS Presidente interino vai a fazenda em Goiás atrás de votos pelo impeachment Programa era apenas para funcionários, mas reembolsou drogas até para cães, diz ‘Fantástico’ GABRIELA VALENTE E ANDRÉ DE SOUZA [email protected] -BRASÍLIA- Em busca de votos a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, o presidente interino Michel Temer intensifica o corpo a corpo com senadores e ontem deixou sua casa em São Paulo para comparecer ao aniversário do senador Wilder Morais (PP-GO), em Goiás. Nas conversas com aliados, no trajeto entre a base aérea de Goiás e a fazenda de Morais, Temer fez uma avaliação sobre os votos para a aprovação do impeachment e orientou os líderes a mapearem dificuldades de indecisos e encaminhálas para ele resolver. Na festa, para cerca de quatro mil pessoas, Temer conversou com vários senadores ao som de músicas de Wesley Safadão e Aviões do Forró. Os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE), Ciro Nogueira (PP-PI), Sérgio Petecão (PSD-AC), José Medeiros (PSD-MT), Hélio José (PMDB-DF) e José Perrela (PRMG) estavam presentes. Para a plateia, fez um rápido discurso. Homenageou o aniversariante e cumprimentou nominalmente todos os políticos importantes que estavam ali, inclusive o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). — Nessa nossa interinidade, o que estamos tentando fazer é unir o país. Os brasileiros têm que estar unidos para tirar o país da crise — discursou Temer. — Os brasileiros têm de ter essa alegria que estão expressando aqui. Em referência ao aniversariante, o presidente interino lembrou a trajetória do senador que Corpo a corpo. Temer entre o governador de Goiás, Marconi Perillo (à esquerda), e o senador Wilder Morais (PP-GO) “Nessa nossa interinidade, o que estamos tentando fazer é unir o país” Michel Temer “nasceu na roça” e chegou ao Parlamento, e aproveitou para falar da sua origem. — Eu sou filho de imigrantes (…) e cheguei aonde cheguei. A visita ao aniversário do senador foi rápida. Em apenas 40 minutos, Temer já retornava ao avião que o levaria para Brasília. No trajeto de helicóptero para a fazenda de Morais, em Nerópolis, conversou com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira. Ouviu do parlamentar que, dos 27 governadores, 23 estão aplaudindo a iniciativa de negociar a dívida com os estados. Temer teria dito que foi Urologia - Sexologia Dr. Rodolpho Ottoni - CRM 52.11303.0 • Próstata sem cirurgia • DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) • DAEM (Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino ou Hipogonadismo) • Reposição hormonal • Disfunções Sexuais Laboratório Próprio - Av. N. Sra. 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Houve uma negociação, virou a noite. E o presidente do PP (senador Ciro Nogueira) e o deputado Dudu da Fonte (PP-PE) numa noite viraram o bloco inteiro — con- 140 SÃO JOÃO DO MERITI (SHOPPING GRANDE RIO) Estrada Antonio Sendas, 111 SHOPPING VIA PARQUE Av. Ayrton Senna, 3.000 AMÉRICAS SHOPPING Av. das Américas, 15.500 tou Padilha. — Daí porque houve essa participação tão expressiva do PP (no governo). Padilha negou pressão sobre os senadores, que confirmarão ou não o afastamento de Dilma. Segundo ele, o que tem ocorrido são conversas. Para Dilma ser afastada de vez, é preciso o voto de dois terços do Senado, ou seja, de pelo menos 54 dos 81 senadores. — O que eu posso dizer é o que o presidente Temer é um político de excelência, e ele tem conversado muito — disse o ministro. Após ter dado a entender que defendia o fim da Lava-Jato, Padilha afirmou que a operação prestou um grande serviço ao Brasil. Ele disse que esse e outros escândalos atrapalham a imagem dos políticos, mas negou que haja dificuldades no governo Temer por isso: — O governo tem mais que dois terços na Câmara, mais que dois terços no Senado, votou tudo o que queria até agora; aprovou com larga folga. Portanto, não há crise política no governo, mas eu vejo um desgaste na imagem dos partidos e dos políticos. l Um programa da Petrobras destinado a compra de remédios se transformou em mais uma fonte de fraudes na estatal. Reportagem exibida ontem pelo “Fantástico”, da TV Globo, revelou que o uso ilegal do benefício causou prejuízos mensais de R$ 6 milhões, valor correspondente a um terço dos gastos totais do programa. Levantamento interno apontou 13 mil receitas com reembolso irregular, incluindo até o caso de compra de remédios para o cão de uma funcionária. O programa, criado para beneficiar cerca de 300 mil funcionários e seus dependentes, custava mensalmente R$ 30 milhões à estatal. Com a crise, a Petrobras mudou o modelo do benefício, chamado de securitização, e contratou a empresa Global Saúde, em setembro do ano passado, para tentar economizar. Como a nova firma passou a receber um valor fixo de R$ 15 milhões, promoveu um pente-fino nos reembolsos e achou mais de 13 mil receitas fraudulentas. REMÉDIO PARA IZA A busca encontrou notas em branco, sem data e sem nem ao menos o nome do médico. Os resultados foram encaminhados para a Secretaria de Controle Externo de Estatais do Tribunal de Contas da União (TCU). Esta semana, o tribunal vai julgar se a Petrobras deve encerrar o programa ou criar novos mecanismos de controle para essas compras. Um dos casos mais curiosos foi encontrado em uma farmácia de Curitiba. A receita era de uma clínica veterinária, emitida em nome da paciente “Iza”. A re- portagem do “Fantástico” constatou que Iza é o nome da cachorrinha de Vanessa Silva, casada com um funcionário da Petrobras. Abordada pelo repórter, Vanessa admitiu que o benefício foi usado para a cadela: — Mas faz parte da minha família. É para comprar remédio. Se tenho o desconto, tenho o direito. PROGRAMA SEM CONTROLE O programa, suspenso pela Petrobras depois da descoberta das irregularidades, funcionava há dez anos. Para usá-lo, bastava ao funcionário ir até uma farmácia conveniada e apresentar a receita e o cartão do programa de saúde. A farmácia enviava a conta a uma firma contratada para administrar o programa, e o custo era repassado à Petrobras. Pela regra, os funcionários só deveriam comprar remédios para si mesmos e seus dependentes. Mas a falta de controle abriu caminho para deturpações. É o caso de nove compras no mesmo dia, 27 de julho do ano passado, com um mesmo número de beneficiário, em diferentes estados. O roteiro de compras começa em Candeias, na Bahia. Minutos depois, aparece em Angra dos Reis, no Rio. A seguir, nova compra, em Salvador. Depois, três vezes no Rio, uma em São Paulo, outra em Aracaju e mais uma em Salvador. Localizada, a dona do cartão, Dulce Fernandes Pereira, aposentada da Petrobras em Salvador, negou o envolvimento: — Não. De maneira alguma. Eu, inclusive, já tem mais de três anos que não viajo. Em nota ao “Fantástico”, a Petrobras declarou que tomará todas as medidas legais cabíveis para reparação e compensação de danos, além de mover eventuais ações de improbidade administrativa. l NOITE DE POP STAR Moro é ovacionado em show de rock Vocalista do Capital Inicial dedica ao juiz da Lava-Jato, presente ao teatro, a música ‘Que país é esse?’ -SÃO PAULO- O acesse GUANABARA (SHOPPING GUANABARA BARRA) Av. das Américas, 3.501 fonte de fraudes na Petrobras juiz Sérgio Moro viveu mais um momento de superstar no sábado à noite, durante show do Capital Inicial em Curitiba. Por mais de um minuto, ele foi ovacionado pelo público presente à apresentação da banda de rock brasiliense. Como sempre faz nos shows do Capital, antes de tocar o clássico “Que país é esse?”, da Legião Urbana, o cantor Dinho Ouro Preto criticou o sistema político e lamentou o momento do país: — Tenho a impressão de que o poder é tóxico. Eles se sentam naquelas cadeiras lá, naqueles palácios, e tudo desanda. A minha frustração é imensa. Eu não me sinto representado por nin- guém. Gostaria que o Brasil voltasse às nossas mãos. Dinho então disse que iria dedicar a música a uma das 2.400 pessoas que estavam no teatro: — A gente sempre dedica essa música a alguém que está envolvido em algum escândalo. Nesta semana poderia ser o Paulo Bernardo (ex-ministro dos governos Lula e Dilma, respectivamente). Mas eu vou de- dicar essa música hoje ao juiz Sérgio Moro. Ele está aqui assistindo (ao show). Dinho e o público procuraram o juiz, que se levantou, para delírio dos presentes. Vestindo preto, como de costume, Moro acenou e se curvou, em reverência, para a plateia que por mais de um minuto gritou seu nome e o aplaudiu. l l País l Segunda-feira 27 .6 .2016 O GLOBO Empresário foragido na lista da Interpol l 5 PABLO JACOB/15-10-2012 Acusado de lesar fundos de pensão, Ricardo Andrade Magro é dono de Manguinhos e integra Grupo Galileo CHICO OTAVIO [email protected] Ele comanda um dos maiores esquemas de sonegação fiscal do país, acreditam as autoridades que já o investigaram. Por onde passou, deixou dívidas milionárias em tributos. Manteve conexões com o PMDB, o PT e o PCdoB, provavelmente em busca de blindagem. E agora aparece ligado a fraudes nos fundos de pensão de estatais. Mas onde está o empresário e advogado Ricardo Magro, perguntam os agentes da Polícia Federal que desde sexta-feira tentam prendê-lo. Ricardo Andrade Magro, dono do grupo que controla a Refinaria Manguinhos e uma rede de distribuidoras de combustíveis, é considerado foragido da Justiça. A 5ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro autorizou a prisão do empresário, junto com outras seis pessoas, por desvio de R$ 90 milhões em recursos dos fundos de pensão Petros, da Petrobras, e Postalis, dos Correios, na aquisição de debêntures (títulos mobiliários) do Grupo Galileo. Dos sete, quatro ainda não foram presos. Dois deles, Ricardo Magro e Márcio André Mendes Costa, ambos do Galileo, tiveram os nomes lançados na difusão vermelha da Interpol por suspeita de estarem no exterior — Magro, nos Estados Unidos; e Márcio, em Portugal. Além de comandar a refinaria, Magro era um dos sócios do Galileo na época da transação fraudulenta. A Operação Recomeço, deflagrada pela PF e pelo Ministério Público Federal, apurou que o grupo emitiu, em dezembro de 2010, R$ 100 milhões em debêntures, a pretexto de angariar recursos para recuperar a Universidade Gama Filho. O dinheiro captado, segundo as investigações, foi ilegalmente desviado para outros fins, em especial para contas bancárias dos investigados, o que levou à quebra definitiva da Gama Filho, com danos a milhares de estudantes. LIGAÇÕES COM POLÍTICOS O esquema prejudicou os fundos de pensão Postalis e Petros, que amargaram prejuízo de R$ 90 milhões ao adquirir em 2011 as debêntures do Galileo. De 2011 a 2015 (governo Dilma), a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ETC), patrocinadora do Postalis, foi dirigida por Wagner Pinheiro. O mesmo dirigente também comandou por oito anos a Petros (governo Lula). Já Adilson Florêncio da Costa, ex-diretor financeiro do Postalis e um dos três presos na sexta-feira, é apontado como indicação do PMDB. — A gravidade dos supostos crimes cometidos é potencializada por dois fatores sociais cruéis: o prejuízo em suas aposentadorias sofrido pelos se- gurados dos fundos de pensão afetados e o irreversível dano a milhares de alunos — lamentou o procurador regional da República Márcio Barra Lima, do grupo que conduziu a investigação. As conexões de Magro com o mundo político não são recentes. Na Operação Alquila, de 2009, a polícia fluminense revelou que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado pelo Supremo Tribunal Federal da Presidência da Câmara, prometeu, em conversa com Magro, pressionar a Braskem a retomar a venda de gasolina A para Manguinhos. A investigação sustentou que o combustível era despejado no mercado fluminense em operações ilegais com sonegação de ICMS. Manguinhos se valia dos benefícios fiscais concedidos a refinarias e adquiria a gasolina A, já industrializada, como se fosse insumo. A empresa de Magro, porém, não produzia uma gota de gasolina. As mesmas gravações também revelaram que Magro, na época, foi recebido pelo então senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA), em Brasília. O encontro foi agendado por um assessor da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Depois disso, decisões tomadas por dirigentes da ANP, indicados pelo então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, pai do senador, favoreceram as empresas do grupo Magro. Manguinhos. A refinaria, no Rio de Janeiro: grupo de Magro também controla rede de distribuidoras de combustíveis “A gravidade dos supostos crimes cometidos é potencializada pelo prejuízo sofrido pelos segurados dos fundos de pensão afetados e pelo irreversível dano a milhares de alunos” Márcio Barra Lima Procurador regional da República Outro personagem citado no inquérito é o ex-superintendente de Abastecimento da ANP Edson Menezes da Silva. Flagrado por interceptações telefônicas em conversas com gestores da refinaria, Edson foi membro da direção estadual do PCdoB gaúcho. Sendo assim, pertencia ao mesmo partido do então presidente do Conselho Administrativo de Manguinhos, Felipi Rizzo. CUNHA NEGOU ENVOLVIMENTO Os petistas também tiveram ligação com a refinaria. Em 2008, o ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno passou pelo comando de Manguinhos como integrante do Conselho da Grandiflorum, que tinha o controle acionário da refinaria. Na ocasião, Eduardo Cunha admitiu as conversas com Magro, mas negou envolvimento em qualquer tipo de esquema de fraude. Os demais políticos citados, também ouvidos pelo GLOBO na época, negaram conhecer o esquema. A família Andrade Magro começou atuando na revenda de combustíveis e lubrificantes em São Paulo. Nos anos 1990, logo após entrar no ramo, tornou-se um dos principais grupos dos chamados novos entrantes (distribuidoras TM, JPJ e Dínamo, entre outras). Foi o grupo que mais usou liminares para escapar da tributação de 1998 a 2004. Mais tarde, levou o mesmo modelo, sustentado pela indústria de liminares, para o Paraná e para o Rio, onde a refinaria se transformou no quartel-general do esquema. Os investigadores da Operação Recomeço não afastam a hipótese de ligação entre a fraude contra os fundos de pensão e as operações ilegais da refinaria. Também estavam foragidos até ontem Carlos Alberto Peregrino da Silva, do Galileo; e Luiz Alfredo da Gama Botafogo Muniz, da Gama Filho. l 6 l O GLOBO 2ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016 Rio INSEGURANÇA NAS RUAS Morte a caminho de casa _ Médica é assassinada com um tiro em tentativa de assalto num dos acessos à Linha Vermelha LUCAS ALTINO, MÁRCIO MENASCE E GABRIELA L APAGESSE [email protected] Depois de participar da inauguração de um Centro de Acolhimento ao Deficiente e visitar pacientes em Nova Iguaçu, a médica Gisele Palhares Gouvêa telefonou para o marido e avisou que estava voltando para casa, na Barra da Tijuca. O trajeto, porém, foi interrompido por uma tentativa de assalto no acesso da Rodovia Presidente Dutra à Linha Vermelha, na noite de sábado. O tiro que atingiu a cabeça de Gisele, de 34 anos, pôs fim ao caminho que ela começou a traçar ainda jovem, quando sonhava em ajudar os mais necessitados, e estava sendo trilhado por meio do seu trabalho como diretora da Clínica da Família de Vila de Cava, na cidade da Baixada Fluminense. O crime ocorreu por volta das 19h. Gisele chegou a ser levada com vida para o Hospital estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, mas não resistiu. Na manhã de ontem, parentes tentavam buscar forças no espírito alegre e solidário cultivado pela médica para superar a perda de alguém tão querido. Em choque, o marido da vítima, o cirurgião plástico Renato Palhares, fez um apelo ao governo e ao secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame: — Estou abismado com a violência do Rio. Queria pedir às autoridades que repensem a segurança do estado. Não podemos viver nessas condições. Não sou o primeiro nem serei o último a pedir isso. Nunca acreditei que a violência chegaria até mim. Hoje perdi a pessoa que mais amava no mundo, amanhã a vítima pode ser outra pessoa. Minha mulher era uma “anja” e colocava a caridade acima de tudo. Se quisesse, ela poderia viver em casa, sem trabalhar, devido ao nosso conforto financeiro, mas ela fazia questão de ajudar as pessoas necessitadas — afirmou Palhares, que atendeu a um pedido da mulher e autorizou a doação da córnea. Segundo o marido, Gisele tinha o hábito de olhar o celular ao dirigir e pode não ter reparado a ação dos criminosos. — Depois que conversamos por telefone, percebi que ela estava demorando para chegar em casa. Foi então que minha cunhada me ligou, contando o ocorrido. Ela também estava tentando falar com a irmã, e o policial atendeu o celular — explicou o marido, que chegou a encontrar a mulher com vida, na noite de sábado. — Ela sofreu traumatismo cranioencefálico, perdeu muita massa encefálica, já estava praticamente morta. Fiquei transtornado. FAMÍLIA IA COMPRAR CARRO BLINDADO Gisele fazia o trajeto entre a Barra e a Baixada, onde trabalhava, diariamente. O percurso já era motivo de preocupação para o marido há tempos. Ele, que fazia o mesmo caminho duas vezes por semana, planejava blindar o carro em breve. — No mês passado fomos à França e à Inglaterra para uma conferência médica. Vimos como o Brasil é malvisto lá fora por causa da insegurança. Conversamos bastante sobre isso e eu disse que queria que ela andasse em carro blindado. Mas ela era apegada ao Land Rover, estava resistindo para trocar — explicou Palhares, que clamou por mudanças no sistema de segurança. — Ou muda (o sistema), ou o povo terá que andar somente de carro blindado para conseguir viver. DIVULGAÇÃO Muito abalada, a mãe de Gisele não foi ao hospital. Já o pai, Uzias Gouvêa, reforçou o pedido por segurança: — Estamos vivendo uma situação terrível no país inteiro, mas principalmente no nosso estado. Os governantes não se preocupam com segurança nem com educação. O investimento na educação também é essencial, porque é a base de tudo. Mas nossos políticos parecem se importar apenas com Olimpíada e em realizar obras faraônicas. Ao conversar com amigos e jornalistas, Palhares não deixava de exibir fotos de Gisele em poses alegres e em eventos beneficentes em Nova Iguaçu. Na tarde de sábado, após participar da inauguração do centro, no bairro Monte Líbano, a médica ainda foi à casa de uma paciente, para ajudar a fazer pratos típicos de festa junina. — Ela me enviou fotos dos caldos e bolos que estava fazendo na casa de uma paciente. Ela costumava fazer essas visitas só para alegrar as pessoas. Todos a amavam — disse o marido. “ESTÁ MUITO GRAVE A CRISE NA SEGURANÇA” Ao saberem do crime, o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles, e o secretário de Saúde de Nova Iguaçu, Emerson Trindade, lamentaram o caso e prometeram providências. A secretaria de Segurança informou que Beltrame cobrou prioridade nas investigações. — Que desastre. Está muito grave a crise na segurança — enfatizou Dornelles. Trindade destacou a competência de Gisele: — Esperamos que o crime seja esclarecido o mais rapidamente possível. Neste momento, nos solidarizamos com a família de Gisele, que era uma excelente profissional, dedicada, comprometida com a Saúde de Nova Iguaçu e que fará imensa falta a todos nós. Nas redes sociais, amigos e parentes também se manifestaram. Em uma de suas postagens durante o dia, Renato Palhares definiu a esposa como “uma pessoa que realmente não pertencia a esse planeta, cheio de pessoas maldosas”. Nos comentários, muitos pedidos por justiça e mensagens de condolências. O corpo de Gisele será enterrado hoje, às 14h30m, no Cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita. Ontem, a Polícia Militar informou que patrulhas do comando do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) que estavam na Linha Vermelha na noite de sábado foram chamadas devido a uma tentativa de roubo. No local, os policiais encontraram a vítima ferida com um tiro por criminosos, que fugiram. Os PMs do BPVE chegaram a fazer um cerco na região, mas ninguém foi encontrado. Desde janeiro, a área onde houve o crime conta com reforço no policiamento, com apoio do Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos (BPGE). O caso chegou a ser registrado inicialmente na 39ª DP (Pavuna), mas as investigações serão conduzidas pela Divisão de Homicídios da Baixada. Os policiais acreditam que a médica estava sendo perseguida desde a Dutra. Os investigadores querem saber também se ela não percebeu a abordagem ou se tentou fugir ao notar a aproximação dos criminosos. Ontem, O GLOBO fez contato por telefone com a delegacia, mas a atendente informou que não havia delegado de plantão. l Colaborou Giselle Ouchana REPRODUÇÃO DO FACEBOOK Tragédia. A médica Gisele Palhares Gouvêa, acima, no evento em Nova Iguaçu, horas antes de morrer. Ao lado, o carro da vítima parado no acesso à Linha Vermelha U SOLIDÁRIA SONHO DE MUDAR O MUNDO É INTERROMPIDO O sonho de “Bijuzinho” — como Gisele Palhares Gouvêa era carinhosamente chamada pelo marido, Renato Palhares — sempre foi ajudar os mais necessitados. A percepção de que estava diante de alguém especial veio logo no primeiro encontro, disse o cirurgião. — Nos conhecemos em um plantão meu, quando ela apareceu para levar a tia, doente, ao hospital. A primeira vez que a vi ela já estava salvando uma vida. Era realmente um anjinho — lembrou o médico, que também era chamado pelo apelido de “bijuzinho” pela mulher. O casal morava junto há 14 anos, mas o casamento só foi oficializado há quatro. O desejo de Gisele de ajudar o mundo começou a se transformar em seu ofício quando ela decidiu cursar medicina na Universidade Iguaçu, incentivada principalmente pelo marido. Depois de formada, se especializou em dermatologia e, pouco tempo depois, começou a trabalhar no consultório que os dois abriram em Nova Iguaçu, há cerca de cinco anos. Desde o ano passado, ela trabalhava também como diretora da Clínica da Família de Vila de Cava, que fora reinaugurada após a demolição do antigo prédio. Nascida e criada em Nova Iguaçu, Gisele retornou à cidade de origem com a missão de ajudar os mais necessitados, segundo explicou o pai. — Não podia ver ninguém sofrendo. O sonho dela sempre foi ajudar os outros. Perdi uma joia — disse Uzias Gouvêa, que ainda tem outras três filhas. No Facebook, Gisele costumava postar fotos de eventos beneficentes e inaugurações de obras relacionadas à saúde de Nova Iguaçu. Além disso, não se furtava a visitar pacientes, principalmente os mais idosos. — Ela era uma excelente diretora e uma pessoa maravilhosa. Todos os colegas gostavam dela — afirmou um amigo da família. acesse 140 BOULEVARD RIO SHOPPING Rua Barão de São Francisco, 236 SHOPPING NOVA AMÉRICA Linha Amarela, Saída 5 e Metrô Del Castilho GUANABARA ALCÂNTARA Av. Jornalista Roberto Marinho, 221 acesse 140 SHOPPING BOULEVARD SÃO GONÇALO Av. Presidente Kennedy, 425 SÃO GONÇALO SHOPPING Av. São Gonçalo, 100 IRAJÁ Av. Monsenhor Felix, 1.154 Classificados do Rio. Achou de verdade. classificadosdorio.com.br 2534-4333 l Rio l Segunda-feira 27 .6 .2016 O GLOBO l 7 INSEGURANÇA NAS RUAS _ Um dia depois, policiamento escasso na via Cabines estavam vazias, e só dois PMs patrulhavam os 22 quilômetros do Centro à Baixada ontem à tarde FERNANDO LEMOS GABRIELA L APAGESSE [email protected] GABRIEL ROSA [email protected] Menos de 24 horas após a morte da médica Gisele Palhares Gouvêa, uma equipe do GLOBO percorreu a Linha Vermelha e, por volta das 12h30m de ontem, encontrou apenas uma viatura com dois policiais militares ao longo de quase 22 quilômetros. Além disso, as quatro cabines de policiamento da via — que ficam perto da Avenida das Missões e do Fundão, na altura do Caju e no acesso à Via Binário — estavam vazias. Apesar disso, a Polícia Militar diz que o Batalhão de Policiamento das Vias Expressas (BPVE) realiza um policiamento ostensivo, com operações sistemáticas na Linha Vermelha. Segundo a PM, os policiais ficam baseados em pontos estratégicos e circulam pela via expressa em locais e horários de maior incidência criminal. Desde a última quinta-feira, informa a PM, um grupo de policiais do BPVE capacitados no curso de Operações de Policiamento em Vias Expressas também passou a atuar exclusivamente na Linha Vermelha. ONDE ACONTECEU O CRIME MÉDICA FOI ABORDADA EM ACESSO DA DUTRA À LINHA VERMELHA Linha Vermelha Rio Pavuna Av. Canal da Pavuna Local da abordagem Rod . Pre CENTRO s. D utra N Editoria de Arte Abandonado. Posto na Linha Vermelha, próximo à Avenida das Missões, não tinha policiais e está sem parte do teto Embora a cada caso de violência a polícia diga que reforçou o patrulhamento, os arrastões, tiroteios, assaltos e mortes são frequentes na via, inaugurada em 1992, como principal acesso ao Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão). Em novembro do ano passado, a imagem de um homem com um bebê no colo, buscando proteção atrás do carro, virou símbolo do desespero dos usuários da Linha Vermelha. Em dezembro, uma mulher morreu baleada em um assalto na altura de São João de Meriti. ARRASTÃO NA AVENIDA BRASIL Já na Avenida Brasil, um arrastão deixou os motoristas em pânico ontem, na altura de Guadalupe. Pelo menos dois carros foram roubados e duas vítimas registraram ocorrência nas delegacias de Ricardo de Albuquerque (31ªDP) e de Honório Gurgel (40ªDP). Uma delas levou uma coronhada e precisou de atendimento médico. O crime aconteceu por volta das 18h30m, no sentido Centro. Cerca de dez homens armados abordaram os motoristas, que tentaram voltar pela contramão. Policiais do BPVE foram chamados, mas não encontraram mais nada no local. Diante desse histórico de violência, no início deste mês o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, informou que o município contaria com até três mil homens das Forças Armadas patrulhando as vias expressas e outras áreas consideradas de risco durante os Jogos Olímpicos. A presença do Exército, da Marinha e da Aeronáutica nas ruas será formalizada com a assinatura de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo presidente interino Michel Temer e pelo governador em exercício, Francis- co Dornelles. A prioridade de atuação será na Avenida Brasil, assim como nas linhas Vermelha e Amarela. No caso da Linha Amarela, no início de maio a jovem Ana Beatriz Frade, de 17 anos, morreu ao ser atingida por um tiro durante um arrastão na altura de Del Castilho. A adolescente morava em Guarapari, no Espírito Santo, e tinha vindo ao Rio fazer uma surpresa devido ao Dia das Mães. l l O GLOBO l Rio l Forte Apache carioca Dia 2 de agosto, três dias antes do início da Rio-2016, três ministros do governo federal se mudam de mala e cuia para o Rio. Ficarão hospedados no Hotel de Trânsito da Marinha, na Avenida Borges de Medeiros. São eles: Raul Jungmann (Defesa), Alexandre de Moraes (Justiça) e o general Sérgio Etchegoyen (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional). I-Pronatec Mendonça Filho, ministro da Educação, prepara o lançamento do curso à distância, dentro do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Não falta sacanagem Sabe qual é o último filme da produtora Brasileirinhas, aquela do ramo da saliência? “Operação Leva-Jato.” O enredo se passa em Brasília com personagens interpretando deputados, senadores, assessoras, operadoras de propina e o escambau. Crise em terra A recessão tem afetado as empresas que administram os seis aeroportos brasileiros que foram concedidos à iniciativa privada, inclusive o Galeão/Tom Jobim. No mais A exemplo do que ocorre hoje em relação à Rio-2016, também meses, e mesmo semanas antes da Copa do Mundo de 2014 pairavam sobre o evento nuvens pessimistas. O que se viu depois foi que o bordão “Imagina na Copa” perdeu de 7 a 1 para o sucesso de organização e segurança. É como diz o samba-enredo do carnaval da Mocidade, em 1992: “Sonhar não custa nada/O meu sonho é tão real/Mergulhei nessa magia/Era tudo que eu queria/Para esse carnaval.” Segunda-feira 27 .6 .2016 www.oglobo.com.br/ancelmo ANCELMO GOIS ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, DANIEL BRUNET E TIAGO ROGERO A FESTA DOS LIVROS JÁ COMEÇOU A Flip começa quarta, mas alguns escritores estrangeiros convidados já estão chegando. Sábado, o americano Benjamin Moser e o holandês Arthur Japin foram homenageados com um almoço no Rio, pelo casal Bia e Pedro Corrêa do Lago, com direito a uma moqueca dos deuses. Antes, os dois fizeram um programa de pura emoção. Japin, autor de “O homem com asas”, romance em torno do Santos Dumont, visitou a magnifica exposição sobre o pai da aviação no Museu do Amanhã, com direito a esta foto, onde aparece “pilotando” a “Libellule”, como ficou conhecido o modelo “Demoiselle” criado pelo aviador brasileiro. Já Moser, que projetou a obra de Clarice Lispector pelo mundo, visitou o túmulo da escritora no Cemitério Israelita do Caju. Aliás, Ferreira Gullar, amigo de Clarice, ao voltar de táxi do enterro dela, em 1977, não parava de pensar na escritora e escreveu o poema “Na vertigem do dia” ( ... “e o clarão de teu olhar soterrado resistindo ainda...”). Mas isto é outra história. l BENJAMIN MOSER Carrinho vazio ‘Jardim-pomar’ Análise da CNC mostra que o segmento de hiper e supermercados está sentindo a crise com mais intensidade. De janeiro a abril deste ano foram fechados 14,3 mil estabelecimentos do setor, contra 2.400 no mesmo período em 2015. Nos quatro primeiros meses de 2016, o segmento viu suas vendas recuarem 3,2%. É a maior queda desde 2003. O novo CD de Nando Reis terá capa assinada pela artista plástica Vânia Mignone. Ela pintou, veja na reprodução, um retrato do músico, cujo novo CD se chamará “Jardim-pomar” e será lançado em novembro. A turnê do trabalho começará em março de 2017. Também o desemprego... O mercado de trabalho do setor também foi impactado. Houve o fechamento de 29,7 mil postos com carteira assinada no período analisado. Isto é Barretão! ARTHUR JAPIN De Luiz Carlos Barreto, 88 anos, nosso senhor cinema, sobre a nota em que ele teria dado vivas a Temer: — Eu sou lulista e não dilmista. Ainda assim, em nome do estado de direito, sou contra o impeachment da presidente. Quanto ao cinema, Barretão diz defendê-lo em qualquer governo: — É uma questão de Estado e não de partidos. Maravilha. Correndo atrás do prejuízo Acusado de ter sido perdulário no passado e pouco previdente em relação aos royalties de petróleo, o Estado do Rio tem procurado, agora, fazer o dever de casa. Temer cobrou dos governadores que receberam, outro dia, um óbulo de Brasília, que também abracem a proposta de que o gasto público não deve subir mais que a inflação. Pois bem... Zona Franca Nos primeiros quatro meses deste ano, o governo federal gastou 12% a mais do que em igual período de 2015. Já o governo do Rio subiu apenas 2%. Isso contra a inflação de uns 10%. Teresa, Ari e Ariel Bergher convidam para Crise interna na Unimed U haskará em memória do deputado Gerson Bergher, amanhã, às 19h, na Ari. Luc Bouveret lança, hoje, às 19h, na Travessa de Ipanema, “O homem que deu à luz”. Francisco Dornelles recebe, hoje, a Comenda Padre José de Anchieta, na Academia Carioca de Letras, que completa 90 anos. Kees Koolen, cofundador do Booking.com, vem para o Fire 2016, evento da Hotmart. É dia 19 a abertura dos festejos pelo centenário de Jurandyr Noronha, com a inauguração de galeria que leva o seu nome e mostra permanente no MAM. A curadoria é de Hernani Heffner. A GSPP, de André Soares, faz amanhã e quinta workshop de finanças para franquias. O Faixa Etária toca, dia 16, em Cabo Frio. Caroline Rossato lança nova coleção. O médico e administrador Alfredo Cardoso (ex-ANS, Amil e Rede D’Or) deixou o comando executivo da Unimed-Rio. Para ele, “a forte briga política interna entre os cooperados compromete o êxito da gestão”. Som em duas rodas Os mototaxistas da Rocinha, agora, oferecem aos passageiros fone de ouvido com músicas para curtir durante o trajeto. Entre as trilhas sonoras estão “as melhores do baile da favorita”, aquela festa que é realizada lá na favela. INSEGURANÇA NAS RUAS _ Policial que trabalhava com Paes é morto REPRODUÇÃO DO FACEBOOK Tenente da PM foi assassinado em tentativa de assalto na Pavuna Região onde médica e militar foram atacados teve aumento de 65% no número de homicídios GABRIEL ROSA E GISELLE OUCHANA [email protected] O tenente da PM Denilson Theodoro de Souza, de 48 anos, é o 49º policial morto no Rio este ano. Ele integrava a equipe de seguranças do prefeito Eduardo Paes e foi baleado na madrugada de ontem, na Pavuna. De acordo com o 41° BPM (Irajá), o militar reagiu a uma tentativa de assalto na Rua Sargento Antônio Ernesto. Ele estava com o cunhado, que conseguiu pedir socorro a uma viatura do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE). O oficial seguia para a casa do sogro quando foi abordado por quatro bandidos, que já tinham roubado outro veículo. Segundo a família, ao ser rendido o tenente tentou pegar a carteira, e os criminosos acharam que ele queria alcançar uma arma. Os ladrões podem ter desconfiado que o motorista era um policial militar e atiraram, atingindo a cabeça e o braço do PM. Denilson chegou a ser socorrido no Hospital Central da Polícia Militar, no Estácio, mas não resistiu aos ferimentos. Durante a fuga, os bandidos abandonaram um dos veículos próximo ao local do crime. A Polícia Militar fez buscas para tentar prender os suspeitos, mas ninguém foi encontrado. O caso foi registrado na 39ª DP (Pavuna), mas as investigações serão conduzidas pela Divisão de Homicídios da capital. “TORÇO PARA A GENTE MELHORAR O RIO” Ontem, durante a entrega de cinco mil unidades do programa Minha Casa Minha Vida, em Campo Grande, o prefeito Eduardo Paes lamentou a morte: — Só tenho a lamentar. É uma pessoa que protege a gente e que na sua hora de lazer acaba sendo ferida e perdendo a vida. É muito ruim, é muito triste. Lamento pela família dele, lamento por nós, que estabelecemos uma relação pessoal. Torço muito para que a gente possa melhorar o Rio, e que essas coisas não aconteçam mais. Um bairro da Zona Norte marcado pela violência Ataque. O tenente Denilson Theodoro de Souza, morto por bandidos: rendido durante assalto “É muito ruim, é muito triste. Lamento pela família dele, lamento por nós, que estabelecemos uma relação pessoal” Eduardo Paes Prefeito Há 29 anos na corporação, Denilson era casado e deixa dois filhos, um menino de 16 anos e uma menina de 9. Outra baixa na corporação foi registrada anteontem. Um policial militar que estava internado desde o dia 14 no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, acabou morrendo. O PM aposentado Waldir Nobre foi baleado no rosto durante um assalto em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ele fazia compras num mercado invadido por dois criminosos armados. O corpo do PM será sepultado hoje, no cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Na quinta-feira, dois sargentos foram executados no Rio. Uma das vítimas foi Ericson Gonçalves do Rosário, de 34 anos. Lotado na UPP de Manguinhos, ele foi baleado na cabeça ao participar de uma operação na Favela do Jacarezinho. O militar estava dentro de um carro da corporação quando foi atingido. Indignado com os ataques a policiais de folga ou em serviço, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse, após a morte de Rosário, que o PM “foi vítima de um ato de terrorismo”. — Uma torpe emboscada, sem chance de defesa. O objetivo dessas tocaias em comunidades onde se busca um projeto de paz é criar a cultura do terror, do medo. Essas tocaias devem ser tratadas como terrorismo, pois atentam contra a vida, contra as instituições e contra o estado — disse o secretário, na semana passada. O outro PM morto na quinta-feira foi o sargento João Batista Simas Junior, do 40º BPM (Campo Grande). Ele foi executado no início da manhã, dentro de um carro, perto da estação do BRT de Mato Alto, em Guaratiba, deixando em pânico passageiros que aguardavam a condução. l À margem do processo de pacificação, a Pavuna, na Zona Norte, viu os índices de criminalidade crescerem nos últimos anos. Localizado na região onde o PM Denilson Theodoro de Souza e a médica Gisele Palhares Gouvêa foram mortos no fim de semana, o bairro chama a atenção pelos constantes episódios de violência. Nos primeiros quatro meses do ano, a taxa de homicídio doloso na área cresceu 65%, na comparação com o mesmo período do ano passado (passou de 20 para 33 casos). O número de roubos aumentou 3,45% (de 1.392 para 1.440). Cercada pela Rodovia Presidente Dutra e pela Avenida Brasil, a Pavuna está numa das regiões que mais preocupam o estado, em termos de segurança pública na capital. O bairro fica ao lado de Costa Barros, onde estão os Complexos da Pedreira e do Chapadão. A Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) faz investigações nas favelas para reduzir esse tipo de crime, um dos mais registrados na área: até abril deste ano, a 39ª DP (Pavuna) contabilizou 122 boletins. ROUBO DE CARGAS O problema já levou empresas a mudarem o endereço, e, trabalhadores, os hábitos. Motoristas de transportadoras evitam trafegar em horário de menor fluxo e procuram sair em comboio dos depósitos para realizar as entregas. O bairro onde fica a última estação da Linha 2 do metrô também tem como vizinhos os municípios de Nilópolis e São João de Meriti. As duas cidades também estão preocupadas com a violência e apresentaram medidas para freá-la. Em maio, a prefeitura de Nilópolis anunciou que vai montar barreiras nos acessos da cidade para tentar afastar os bandidos. Já São João de Meriti decretou estado de emergência no começo do mês por causa da violência. PLAYBOY DOMINAVA ÁREA Em agosto do ano passado, o traficante Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, foi morto durante uma operação no Morro da Pedreira. Chefe da comunidade, o criminoso era o mais procurado do estado. Por meio de informações passadas pelo setor de Inteligência da Policia Federal, equipes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil chegaram a uma casa no morro, que seria da namorada do traficante. Houve troca de tiros. A recompensa por informações sobre ele era de R$ 50 mil. Dois crimes emblemáticos teriam sido comandados por Playboy, segundo a polícia. Um deles foi o roubo de 190 motos de dentro de um galpão terceirizado do Departamento de Transportes Rodoviários do Rio (Detro), na madrugada de 31 de dezembro de 2014, na Fazenda Botafogo. O outro ocorreu em outubro do mesmo ano, quando bandidos fortemente armados invadiram a Vila olímpica de Honório Gurgel. Fotos publicadas na internet mostravam os criminosos ostentando fuzis dentro da piscina. Na época, investigadores afirmaram que o grupo era oriundo do Complexo da Pedreira. l REPRODUÇÃO 8 l Rio l Segunda-feira 27 .6 .2016 DIVULGAÇÃO ‘PARA TÃO LONGO AMOR’ O GLOBO l 9 ENTREVISTA Francisco Dornelles MARCELO CARNAVAL/29-03-2015 Regiane Alves, paulista, 37 anos, posa nos bastidores da peça “Para tão longo amor”, em cartaz no Teatro Morumbi, em São Paulo. No espetáculo, a atriz dá vida a Raquel, uma jovem poeta que vive um relacionamento conturbado com o seu editor. Regiane, ainda este ano, volta à TV como Beth, em “A Lei do coração”, próxima novela das 21h da TV Globo. Já estava com saudades... THALES ATHAYDE LUTHER KING E AS FAVELAS Taís Araújo, Lázaro Ramos e Celso Athayde, em reunião sobre o espetáculo “O topo da montanha”, que faz alusão ao último discurso de Martin Luther King. Eles querem fazer uma sessão no Teatro Municipal do Rio para moradores de favelas Preocupação. Dornelles afirma que pagamento de salários dos servidores será definido após levantamento de quanto o estado tem em caixa U Ponto Final A vitória no referendo no Reino Unido da saída do país da União Europeia (UE) é um baita acontecimento, que afeta o mundo inteiro. Mas a notícia internacional mais importante da semana passada foi, acho, o acordo de paz na Colômbia, mesmo ainda que só no papel, selado com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Trata-se de um conflito aqui ao lado, que, em 50 anos, resultou em 200 mil mortos e 6,9 milhões de pessoas obrigadas a deixarem suas casas. e-mail: [email protected] Fotos: [email protected] Agentes fazem ‘vaquinha’ para reparo de veículos Um terço dos carros das delegacias do estado está parado por medida de economia devido à crise GISELLE OUCHANA [email protected] A crise na segurança pública não afeta só os cidadãos, mas também os próprios agentes que trabalham para garantir o policiamento no estado. Mesmo com os salários atrasados, policiais civis afirmam que arcam com as despesas de manutenção de veículos, material de escritório e até reparos de infiltrações nas delegacias. Além do combustível escasso para abastecer os carros, um terço dos automóveis de todas as delegacias está parado. A ordem foi mais uma medida de economia. Numa delegacia da Zona Norte, de oito veículos, três estão “na base”. — É impossível conseguir fazer nosso serviço direito. Rondas, investigações, a parte operacional. Tudo fica limitado — disse um agente que preferiu não ser identificado. AJUDA DE COMERCIANTES Os policiais também afirmam que a manutenção de parte da frota da Polícia Civil acaba sendo arcada pelo próprio servidor. Os consertos dos carros mais novos, que são alugados, são feitos por uma empresa conveniada ao governo do estado, em Bonsucesso. Já os dos mais antigos (modelo Megane, por exemplo) acabam sendo custeados pelos investigadores. — Ou conserta ou não trabalha — disse o policial de uma delegacia especializada. — Se eu não trocar um filtro, pastilha de freio, lona de freio, eu estarei na rua e não terei segurança (no trânsito). Na maioria das vezes, pedimos aos mecânicos que façam o trabalho a preço de custo, e eles não cobram a mão de obra. Com pe- na, mas pedimos — relatou o agente, que no último conserto, cujo valor total foi de R$ 500, dividiu a conta com outros dois policiais. No interior, comerciantes se tornaram “padrinhos” dos policiais e custeiam a manutenção das viaturas. O problema atinge não só os carros comuns, mas também os blindados, conhecidos como caveirões, além dos helicópteros. CAVEIRÃO COM DEFEITO Dos dois veículos blindados à disposição das delegacias especializadas, um está apresentando problemas, mas, mesmo assim, continua sendo usado em operações. Na semana passada, o veículo enguiçou numa operação na Vila do João, na Maré. Uma equipe da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) precisou de socorro e só conseguiu sair da comunidade uma hora e meia depois, quando outro blindado conseguiu chegar ao local. O carro enguiçado foi rebocado e consertado, de forma amadora, pelos próprios agentes. Na sexta-feira, o diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DPGE), delegado Ronaldo Oliveira, queixou-se da precariedade dos equipamentos após não conseguir recapturar o traficante Nícolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family, que foi resgatado do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Ele vinculou a falha na operação à falta de um helicóptero. Os agentes localizaram a casa onde o criminoso estava recebendo cuidados médicos, mas não tiveram o apoio do helicóptero durante a ação. Os policiais levaram mais de uma hora para se aproximar do imóvel. Quando chegaram ao local, Fat Family já havia fugido. Dos três helicópteros da Polícia Civil, apenas um é blindado. O equipamento está parado por falta de manutenção. l ‘A frota da polícia corre o risco de parar’ mim, isso é muito penoso. Governador em exercício diz que o estado só tem verba para abastecer carros da PM até o fim da semana e que, com a ajuda federal de R$ 2,9 bilhões, remanejará recursos para a saúde, o metrô e as barcas LEILA YOUSSEFF [email protected] Na semana decisiva para o Rio receber a ajuda federal de R$ 2,9 bilhões, o governador em exercício Francisco Dornelles faz o alerta: a segurança do estado está sob ameaça. Ele afirma que a frota da polícia pode parar porque não há dinheiro para a gasolina. “Só aguentaremos até o fim desta semana”, diz ele. Dornelles ressalta, no entanto, que o crédito extraordinário da União destinado à segurança pública para a Olimpíada sairá até quintafeira. O dinheiro seria o suficiente para arcar com os custos da pasta por três meses. Hoje, a segurança do estado consome R$ 940 milhões por mês. O pagamento dos servidores, no entanto, continua indefinido. Mas já está batido o martelo sobre como o estado remanejará seus recursos após receber a verba do Planalto. O socorro federal de R$ 2,9 bilhões será utilizado para pagar despesas da segurança pública. De que forma? A segurança é prioritária, temos que cobrir os problemas da área. A frota da polícia corre o risco de parar. Conseguimos fazer uma ginástica financeira e só aguentaremos até o fim da semana. Ao ouvir o delegado que se queixou da falta de helicóptero em uma operação policial, me senti frustrado, mas dou toda razão a ele. O secretário (de Segurança, José Mariano) Beltrame está preocupado com os recursos da polícia. E não é só ele. São todos os secretários. Em casa que não tem pão, todos brigam, ninguém tem razão. O da Saúde (Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior ) chora no meu gabinete e, para l E o impacto da crise na Olimpíada do Rio? O senhor tem falado em riscos. Sou otimista com relação aos Jogos, mas tenho que mostrar a realidade. Podemos fazer uma grande Olimpíada, mas se algumas medidas não forem tomadas, pode ser um grande fracasso. Tenho dito que, sem segurança e sem metrô, haverá dificuldades. Como é que as pessoas vão chegar aos locais de competições sem metrô? Como é que as pessoas vão se sentir protegidas na cidade sem segurança? Temos que dar a demonstração de que estamos equipando a segurança e com a mobilidade pronta para que as pessoas venham ao país. l A medida provisória para liberar o crédito não foi assinada ainda. O que falta? Ainda está no prazo combinado, que é até o dia 30, quintafeira. Considero que liberação da subvenção está certa. O governo federal não ia baixar uma medida se não fosse liberar. l E qual será a destinação dos recursos estaduais que poderão ser remanejados? Saúde, metrô e barcas, além de pagamento de despesas atrasadas. O metrô está quase pronto. Falta pouco mais do que um quilômetro, mas estamos devendo mais de R$ 400 milhões para as empresas (responsáveis pelas obras). Elas já tinham prontas mais de 7 mil cartas de aviso prévio para demissão de funcionários. Só não deram continuidade porque fizemos mais uma ginástica. A situação da saúde é calamitosa. No caso das barcas, temos uma embarcação novinha parada, que não entra em operação por falta de pagamento. l Quanto ao salário dos servidores, parte desse remanejamento de recursos não vai para a folha de pagamento? A folha de pagamento não tem nada a ver com o dinheiro que vai sair. Não posso mentir para os servidores. A segunda parcela não está definida ainda. Até terça-feira, vou ter um levantamento do que temos em caixa para pagar. O pagamento é obrigação nossa. Ter uma pessoa trabalhando o mês todo e não receber é uma forma de trabalho escravo. O funcionalismo do Rio é de bom gabarito. Nosso problema é a queda de arrecadação. Nós estamos vi- l vendo para pagar a folha. Com exceção dos professores, que recebem em dia pelo Fundeb (Fundo da Educação Básica) e, ainda assim, estão em greve. Todos estão com atraso no governo. E digo, aumento, neca. Não tem dinheiro para isso. O pagamento de salários para as forças de segurança está garantido com a ajuda do governo federal? Temos que olhar os termos da nova medida provisória. O pessoal vai ser pago, mas temos que ver como. O salário tem que ser pago. l O que o senhor achou de o prefeito Eduardo Paes dizer que a Olimpíada não pode ser desculpa para a crise? Cada um fala o que quer. Não sou candidato a mais nada. Então, podem jogar toda a culpa em mim. Quero que Paes ganhe a eleição. Ele está fazendo uma grande administração. Se tudo o que ele fala é para ajudar na eleição, então estou de acordo. l As secretarias estão demorando a apresentar os cortes? Não. O decreto que fiz diz que os cortes devem começar no dia 1º de julho, mas ainda assim já estamos agindo. l Como está a relação com o Judiciário e o Legislativo diante da crise? Em plena harmonia. l E passados esses três meses da ajuda federal, o que será do estado? O pacto é para a Olimpíada. Depois a gente vai ter que pensar. l A Cedae será privatizada? A venda é uma imposição do governo federal? Não houve imposição do governo federal. Privatização da Cedae é um nome fantasia. Ninguém pensa em privatizar a Cedae. Nunca se pensou em privatizar Petrobras e, sim, quebrar o monopólio. Há grupos técnicos que defendem que, para estimular o investimento no estado, a Cedae poderia conceder à iniciativa privada a exploração de água, como fazem hoje Niterói, Petrópolis e Resende. l Há resistência para isso? Há posições diferentes. A vitória sangrenta é sempre burra. A derrota sangrenta é mais burra ainda. Tem que se fazer isso dentro de um clima de consenso. A Cedae tem que compreender que certas concessões são mais vantajosas do que ela explorar sozinha. A companhia receberia o dinheiro e poderia aplicar em outras áreas. Mas não há unanimidade. l Além da queda do preço do petróleo, o que fez o Rio chegar a esta situação? O pior problema chama-se Previdência. Muitos se aposentam muito cedo, e temos quase o mesmo número de servidores ativos e inativos. Houve reajuste salarial. Muitos ganharam o aumento e se aposentaram. Fomos obrigados a aumentar muito o número de policiais, de professores... O estado contou com uma economia crescendo entre 3% e 4%, quando foi o contrário. Não se pensou que a cadeia de petróleo fosse despencar. l Como está o governador Pezão? Parece tão bem que digo a ele: “Pezão, acho que você está enganando a turma". Nessa hora difícil do estado, você está mesmo se escondendo da gente. l “Sou otimista com relação aos Jogos, mas tenho que mostrar a realidade. Podemos fazer uma grande Olimpíada, mas se algumas medidas não forem tomadas, pode ser um grande fracasso” E o senhor? O que achou de enfrentar essa crise à frente do governo? Para mim foi um abacaxi. Eu já tinha decidido encerrar a minha minha carreira política. Não quis concorrer ao Senado e só aceitei disputar a vice porque achei que seria como o Marco Maciel (vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso), só assumindo de vez em quando. De repente, caiu essa bomba nas minhas mãos. l l l O GLOBO 10 l Rio l RIO ZONA SUL ZONA NORTE ZONA OESTE SENSAÇÃO TÉRMICA/RIO PROBABILIDADE DE CHUVA 13°/25° 12°/28° 12°/28° 14°/26° Baixa Previsão Uma grande massa de ar seco predomina e deixa o tempo firme com sol em praticamente todo o estado. O dia ainda começa frio e com névoa e nevoeiro. Chove um pouco no Norte Fluminense. HOJE Ontem Mínima Máxima 12,5˚ Vila Militar 25,4˚ Vila Militar 14°/26° 13°/29° 13°/29° 15°/27° Baixa 24° 15°/26° 14°/29° 14°/29° 15°/28° Baixa 15° Santo Antônio 15° de Pádua QUINTA 15°/26° 14°/29° 14°/29° 15°/28° Baixa SEXTA 16°/27° 15°/30° 15°/30° 16°/29° Baixa SÁBADO 17°/28° 16°/31° 17°/31° 17°/30° Baixa DOMINGO 18°/29° 17°/32° 18°/32° 18°/31° Baixa 13° do Sul Impróprias (informações Inea): Flamengo, Botafogo, Leblon, São Conrado, Barra (Quebra-Mar) e Pontal. Marés RIO DE JANEIRO Baixa Alta Baixa Alta Hora 3h03m 7h43m 15h25m 20h30m 1m 0,4m 1m Altura 0,6m ANGRA DOS REIS Baixa Hora 0h47m Altura 0,5m Alta Baixa Alta 6h48m 13h30m 20h07m 0,9m 0,4m 0,9m CABO FRIO Baixa Alta Baixa Alta Hora 2h07m 7h07m 14h31m 21h12m 0,9m 0,3m 0,9m Altura 0,5m de Mauá 37˚/40˚ 23° SERRANA 18° Nova Friburgo 5° 20° Santa Maria Madalena 24° 16° AMÉRICA DO SUL Mín. Máx. São Francisco de Itabapoana NORTE São Fidélis MUNDO 15° Campos Ondas por volta de 1,0m. Ondulação de sudeste. Melhores locais: Prainha, Grumari, Macumba e Barra (informações Ricosurf). Vento de nordeste a sudeste/leste, entre 8km/h e 25km/h. Rajadas de até 45km/h. Pressão atmosférica de 1.027hPa. 15° 17° 14° 7° 12° 19° -4° 15° 12° 12° 4° 18° 15° 15° 25° 6° 23° 17° 22° 18° Amanhã Mín. Máx. S S N C C S C S S 14° 5° 10° 19° 0° 16° 8° 13° 8° 0h 24° 15° -2h 0h 14° 27° -1,5h -1h 6° 23° -2h 0h 16° 22° -2h 0h 22° AMÉRICA DO NORTE/CENTRAL 20° 8° 24° São Paulo 12°/ 23° Porto Alegre 11°/ 22° C C C C S S C S S Assunção Bogotá Buenos Aires Caracas La Paz Lima Montevidéu Quito Santiago 25° 23° São João 24° da Barra 16° 25° Volta TEMPERATURAS MÁXIMAS Acima de 40˚ Itaperuna Hoje 22° Macaé Teresópolis BRASIL 24° 8° Casimiro 26° 17° Valença de Abreu 15° 13° Sol e umidade baixa em quase 27° Cachoeiras Redonda 24° 25° 24° Rio das Barra todo o Sudeste e Centro-Oeste, Resende 13° 19° 13° de Macacu do Piraí 14° Petrópolis 13° em Santa Catarina, no Paraná, 17° Ostras 7° 25° Barra SUL 25° no interior do Nordeste, no Silva Jardim 25° Mansa 13° 28° Duque 16° Búzios Tocantins, sul do Amazonas, 14° LAGOS de Caxias 26° do Pará e em Rondônia. 26° 12° 25° Niterói 14° Araruama Cabo Frio 25° Pancadas de chuva nas 15° 14° Mangaratiba 28° Rio de 14° demais áreas do país. 26° Janeiro Saquarema 26°Maricá 12° 15° Angra 25° 15° METROPOLITANA Macapá Fortaleza dos Reis Boa Vista 14° 25° 24° / 35° 23°/ 32° Natal 23°/ 32° Paraty 14° 21°/ 29° São Luís Belém / 33° 24° Manaus João Sol 23°/ 33° 23°/ 33° Pessoa Nascente Poente 21°/ 29° Porto Velho Teresina 6h34m 17h18m Recife 21°/ 33° 20°/ 34° 22°/ 29° Palmas Rio Branco Maceió 21°/ 36° 19°/ 28° 22°/ 31° Aracaju Salvador Brasília Cuiabá 22°/ 26° 21°/ 27° 12°/ 26° 17°/ 35° Vitória Campo Grande 18°/ 24° 18°/ 28° Belo Horizonte 11°/ 24° Goiânia Rio de Janeiro / 29° 12° Ondas Ventos 12°/ 28° 4° Praias Bom Jesus do Itabapoana QUARTA 20° Visconde Crescente Cheia Minguante Nova 11/7 19/7 27/6 4/7 21° Porciúncula 14° AMANHÃ 25° Paraíba Lua Segunda-feira 27 .6 .2016 Florianópolis 14°/ 24° Cid. do México Havana Los Angeles Miami Montreal Nova York Orlando Washington DC C C S C C S C S 12° 24° 20° 25° 20° 14° 25° 19° 21° 35° 33° 33° 29° 30° 34° 28° C C S C C C C C 11° 24° 21° 26° 16° 18° 24° 21° 22° 36° 33° 34° 26° 29° 33° 29° -3h -1h -4h -1h -1h -1h -1h -1h C S S S C C S S N S C C S 14° 20° 16° 13° 12° 10° 7° 18° 13° 17° 18° 12° 21° 16° 30° 28° 23° 19° 21° 20° 37° 17° 33° 27° 20° 26° C C S S S S C S C S S S S 14° 22° 15° 14° 9° 11° 8° 17° 7° 19° 14° 10° 21° 17° 30° 30° 22° 19° 21° 24° 31° 17° 33° 25° 21° 27° +5h +6h +5h +5h +5h +5h +5h +4h +4h +5h +6h +5h +5h EUROPA Amsterdã Atenas Barcelona Berlim Bruxelas Frankfurt Genebra Lisboa Londres Madri Moscou Paris Roma ÁSIA Jerusalém Pequim Tóquio S 22° 33° C 21° 37° C 20° 27° S 20° 30° +5h C 20° 29° +11h C 18° 21° +12h Cairo S 24° 38° Johannesburgo S 3° 17° S 23° 38° +5h S 4° 19° +5h ÁFRICA OCEANIA Sydney S 6° S: sol N: nublado 14° S 6° C: chuvoso 16° +14h Ne: neve Mais informações sobre o tempo NA INTERNET Curitiba 10°/ 20° oglobo.com.br/servicos/tempo/ PREVISÃO 34˚/36˚ 31˚/33º 28˚/30˚ 25˚/27˚ 22˚/24˚ 18˚/21˚ 13˚/17˚ Abaixo de 12˚ Sol Parcialmente nublado Nublado Sol com pancadas de chuva Nublado com chuvas Chuvas com trovoadas Geada AMEAÇADO DE EXTINÇÃO Ofensiva tenta salvar botos-cinza na Costa Verde DIVULGAÇÃO/INSTITUTO BOTO-CINZA Operação da Polícia Federal combate a pesca predatória em um dos últimos santuários da espécie no litoral fluminense ANTÔNIO WERNECK [email protected] A Polícia Federal desencadeou uma grande ofensiva contra a pesca predatória no litoral de Angra dos Reis, Paraty e Mangaratiba. A operação, que começou em maio, é para evitar que o boto-cinza, ameaçado de extinção, desapareça da Costa Verde, no litoral sul fluminense. A região é considerada um dos últimos santuários da espécie no mundo. Mas vem convivendo com cenas de carcaças achadas nas praias e animais presos a redes. Uma realidade que, nos últimos 11 anos, contribuiu para reduzir a menos da metade a população de botos no Rio. A ação da PF está sendo realizada em conjunto com o Ibama e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), atendendo a uma antiga reivindicação de biólogos e do Ministério Público Federal (MPF), que no início do ano alertou para o risco da pesca ilegal à sobrevivência dos botos. Em menos de dois meses, segundo os policiais federais, a operação — sem data para terminar — já levou à prisão em flagrante de 47 pescadores, com base no artigo 34 da Lei 9605, que pune os crimes ambientais. Também foram apreendidas mais de dez embarcações, cinco toneladas de peixes e camarões capturados ilegalmente, além de redes e outros apetrechos. — Todos os presos estão sujeitos a penas de detenção que vão de um a três anos — afirma o delegado federal Adriano Soares, diretor da Delegacia Regional da PF em Angra dos Reis e coordenador da operação. Ele explica, contudo, que parte dos pescadores não permanece presa, já que o crime é afiançável. Enquanto isso, as ameaças ao boto continuam preocupando os ambientalistas nas baías da Ilha Grande e de Sepetiba. — O número de carcaças de botos encontradas nos últimos três anos já está chegando à casa de 50% da população estimada de botos na região. É alto e muito preocupante — afirma o biólogo Leonardo Flach, coordenador científico do Instituto Boto-Cinza, que estuda a espécie de 1997. Ele lembra que em nenhum outro país do mundo é possível encontrar tantos indivíduos da espécie juntos. Mas, em 2002, biólogos que estudam o comportamento dos mamíferos identificaram entre 700 e 2 mil botos só na Baía de Sepetiba. No ano passado, em nova pesquisa, o número de animais tinha desabado: foram catalogados no máximo 850. — Identificamos grandes pesqueiros do Sul do país, de estado como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em atividade ilegal na Baía de Desolador. Boto encontrado morto no litoral fluminense: ação da PF tenta coibir repetição de cenas parecidas Sepetiba e na costa de Angra dos Reis e de Paraty. São embarcações que buscam peixes da cadeia alimentar do boto-cinza usados como iscas vivas na pesca de atum, realizada em alto mar. Essas ações reduzem o alimento do botocinza — diz Leonardo. Segundo os biólogos do Instituto Boto-Cinza, os pescadores também não respeitam o período de defeso (quando a pesca é proibida) das espécies de peixes das quais o mamífero se alimenta, como sardinhas boca torta, corvinas e tainhas, desequilibrando ainda mais a cadeia alimentar. MEDIDAS MAIS RIGOROSAS Para tentar reverter essa situação, a procuradora Monique Cheker, da Procuradoria da República em Angra dos Reis, afirma que o MPF estuda medidas mais rigorosas para deter o avanço da pesca predatória. Foi ela que, em fevereiro, enviou à PF e ao estado uma recomendação que acabou resultando na atual operação. — O que notamos é que a pesca ilícita, de grandes pesqueiros, está exterminando a vida marinha, afetando principalmente peixes que são parte da dieta dos botos. Os barcos que buscam capturar camarões, por exemplo, arrastam tudo, acabando com a biodiversidade. Eles também não respeitam o defeso. O que não é camarão na rede, vai parar no lixo — diz Monique. — Se for necessário, vamos aplicar medidas mais duras, como pedir a prisão preventiva dos pescadores. Estamos reprimindo a pesca ilícita para depois reorganizar a pesca artesanal na região — afirma Monique. Na cidade do Rio, um dos últimos botoscinza da Baía de Guanabara, batizado de “Acerola”, foi encontrado morto este mês pela Comlurb, com indícios de facadas e marcas de captura em redes de pesca. Presentes na bandeira da cidade do Rio, eles agora são apenas 34 na Baía de Guanabara, contra uma população de cerca de 400 botos na década de 1980. l VLT funcionará até as 17h a partir de hoje LARGURA 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 col. col. col. col. col. col. col. col. col. col. col. col. (4,6 cm) (4,6 cm) (4,6 cm) (9,6 cm) (9,6 cm) (9,6 cm) (9,6 cm) (9,6 cm) (14,6 cm) (14,6 cm) (14,6 cm) (14,6 cm) ALTURA R$ R$ 3 cm 4 cm 5 cm 3 cm 4 cm 5 cm 7 cm 8 cm 4 cm 6 cm 7 cm 10 cm 1.125,00 1.500,00 1.875,00 2.250,00 3.000,00 3.750,00 5.250,00 6.000,00 4.500,00 6.750,00 7.875,00 11.250,00 1.518,00 2.024,00 2.530,00 3.036,00 4.048,00 5.060,00 7.084,00 8.096,00 6.072,00 9.108,00 10.626,00 15.180,00 2534-4333 • Para outros formatos consulte: , de 2ª a 6ª feira, das 8 às 20h. • Loja: Rua Irineu Marinho, 35, Cidade Nova, de 2ª a 6ª feira, das 9 às 18h. • Plantão final de semana / feriados: 2534-5501, Sábado, das 10 às 17h. Sábado, das 10 às 16h para demais dias. Domingo, das 16 às 19h. Pa amento à vista somente em dinheiro ou che ue. Número de composições em circulação aumenta para quatro O horário de funcionamento do VLT será ampliado mais uma vez a partir de hoje. Os bondes continuarão começando a circular às 10h, mas vão rodar até uma hora mais tarde, às 17h, por enquanto apenas de segunda a sexta-feira. A frota em circulação também aumentará, de três para quatro composições, com intervalos de 15 minutos entre um bonde e outro em cada sentido. Em mais essa etapa da operação, no entanto, o trajeto seguirá o mesmo, sem chegar ainda à Rodoviária Novo Rio. O itinerário permanece com nove paradas, do Aeroporto Santos Dumont à Parada dos Navios, próxima ao terminal de cruzeiros, na altura do Armazém 4 do Porto. Antes da inauguração do VLT, a prefeitura tinha divulga- do um plano operacional do novo transporte. Pela proposta, até agosto o serviço seria ampliado gradativamente, em oito etapas, para atingir o pleno funcionamento, durante a Olimpíada. A previsão era que, em média, a cada uma semana os bondes passassem a circular por mais tempo na cidade. GRATUIDADE PRESTES A ACABAR Desde a inauguração do VLT, no último dia 5 de junho, já foram feitos alguns ajustes no planejamento, como o aumento do número de composições acima do previsto para contor- nar a superlotação da primeira semana de funcionamento. Já as passagens devem continuar gratuitas até quinta-feira. Para o dia 1º de julho, é previsto o início da cobrança de tarifa (R$ 3,80). A recarga do Bilhete Único ou compra do cartão VLT poderá ser feita, em dinheiro ou cartão de débito, em máquinas automáticas, em cada uma das paradas. A validação terá que ser feita voluntariamente dentro das composições. Haverá, no entanto, fiscais da concessionária e guardas municipais conferindo se os passageiros fizeram o pagamento. l Segunda-feira 27 .6 .2016 O GLOBO Dos Leitores | oglobo.com.br/participe Eu-repórter | Das redes sociais twitter.com/jornaloglobo facebook.com/jornaloglobo twitter.com/jornaloglobo THIAGO FREITAS/EXTRA MARCIA FOLETTO/ 15-6-2011 “Se sem chuva já é difícil transitar, quando chove piora. Tive que ir para o meio da rua” l 11 REUTERS Silvana Machado, sobre os buracos nas calçadas da Rua Prefeito Olímpio de Melo, em Benfica, que além de levar risco às pessoas acumulam água. A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos diz que vai vistoriar o local, mas lembra que a responsabilidade das calçadas é compartilhada. Em frente a residências e estabelecimentos comerciais, é do proprietário. Já nos locais públicos, o serviço cabe à prefeitura. | “O Rio de Janeiro é um abatedouro a céu aberto” @JorgeBastos PM anuncia reforço no policiamento da Linha Vermelha após morte de médica Cartas e e-mails “Gente, esse governador só sabe lamentar!” “Cada um tem o Trump que merece!” Claudia Bastos @kaoru Marido de médica morta a tiros faz apelo por segurança no Rio Ex-prefeito de Londres quer conduzir o Reino Unido para fora da UE | As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Dos Leitores. O GLOBO, Rua Irineu Marinho 35, CEP 20233-900. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail [email protected] _ _ _ CUSTO BRASIL FALTA DE DECORO ROMBO NA PETROS a Ninguém segura esses criminosos políticos, meu Deus! Um ministro monta engrenagem mafiosa para apropriar-se do dinheiro do pobre. Quando procura por empréstimo consignado é que a coisa não está bem. Aí aparecem corruptos para tirar proveito dos parcos salários dessas pessoas. Juiz e promotores devem pedir uma penalidade pesada para esses criminosos. Ainda dizem que são defensores dos pobres. Quando vamos ver essa turbulência da corrupção que está infestada em todos os setores da administração pública estancar? a O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, comprovou que não tem condição de exercer o cargo, ao decretar uma semana de férias para suas excelências festejarem São João. Com o país cheio de assuntos urgentes a serem resolvidos, é um deboche afrontar a sociedade dessa maneira. Para o país voltar a crescer e a ser respeitado, esse tipo de político que tem que ser banido da vida pública. a “Um buraco avantajado de R$ 16,1 bilhões, no fundo Petros, dos funcionários da Petrobras, será coberto pela estatal e os próprios empregados” (25/6). O que o Sindipetro e a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) fizeram para impedir, ou denunciar, essas irregularidades? Importante ouvir as duas entidades. _ a Inaceitável que uma pessoa que ajudou a desviar milhões de reais, lesando o patrimônio público, vá cumprir a pena em casa. Não adianta tornozeleira. Lugar de quem rouba é na cadeia. Que lei é essa que sempre beneficia o infrator? Vai devolver tudo o que roubou, ou só um pouquinho, para fazer de conta? Brasil, país de roubo, jeitinho, manobras e pouca-vergonha. Que péssimo exemplo a Justiça está dando. Aliás, Justiça? Ou injustiça? ROBERVAL FERNANDES RIO a Paulo Bernardo, para se defender da acusação de corrupção no Ministério do Planejamento quando era o titular, disse que o responsável era o secretário de RH, um dos seus subordinados. Ou seja, além de, como sempre, alegar que de nada sabia, como fazem todos petistas acusados, Bernardo ainda acusa um subordinado, numa demonstração do caráter dos dirigentes do partido. Até quando pensam que podem iludir o povo? ROGERIO FERREIRA ESTEVES RIO _ a A bancada do PT no Senado divulgou nota de solidariedade à senadora Gleisi Hoffmann, após a prisão de seu marido, Paulo Bernardo. Esta mesma bancada não foi solidária a Delcídio Amaral, não só deixando-o entregue à própria sorte, quando foi preso, como votando pela perda do mandato. Dois pesos e duas medidas. Estes políticos ainda não se deram conta que a impunidade acabou, e que todos os que têm rabo preso irão, mais cedo ou mais tarde, prestar contas à Justiça. LUIZ FERNANDO VIOLA RIO FERNANDO ARTHUR QUEIROZ DE BARROS RIO _ PÉSSIMO EXEMPLO a Injunções regulamentares deter- LIANE GOUVEA RIO _ FORO PRIVILEGIADO a Os políticos jamais abrirão mão do foro privilegiado, porque tudo é muito lento no STF. Dormitam nas gavetas da Corte mais de dois mil processos (dados de 2014), alguns, com mais de 20 anos. Alguém já assistiu a uma sessão do STF? Já começa atrasada em pelo menos meia hora. O relator de uma matéria perde pelo menos duas horas lendo seu parecer que todos já conhecem. E são emitidos mais dez votos, muitas das vezes, iguais, mas ditos de forma diferente. Ministros morrem e se aposentam, e nada acontece. E assim o tempo passa. E os bandidos ficam soltos. _ a Políticos que estão indignados _ ROMILSON LUIZ RIO TAXA DE CORRUPÇÃO a Será que nos pagamentos mensais do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida não existe o desconto da taxa petista, tal qual nos empréstimos consignados ? RICARDO DE G. PONTE RIO JOHN SCHULTS/REUTERS/4-1-1999 OI É TURBINADA NA ERA LULA Com apoio do BNDES, empresa comprou Brasil Telecom em 2008 para brigar com estrangeiros. Sequestro AVIÃO É LEVADO PARA UGANDA Há 40 anos, terroristas pró-Palestina desviaram um Airbus, que ia de Tel Aviv para Paris. Lenda do boxe PUGILISTA MAX SCHMELING NO RIO Em 1958, o campeão alemão esteve na cidade, onde deu entrevista no Galeão. acervo.oglobo.globo.com minam a troca de comando do STF, em setembro. Acredito que seria de grande valia para o Brasil se o julgamento da presidente afastada fosse realizado após a posse dos novos mandatários, arejando o nosso cenário político, mesmo à custa de recursos protelatórios. OSCAR POSSOLLO TERESÓPOLIS, RJ _ REINO UNIDO FORA DA UE a O país que inventou o capitalismo e foi o maior imperialista até a acensão dos EUA mostrou ao mundo que não é bobo de participar desse conglomerado decadente chamado União Europeia, formado, em grande parte, por demagogos esquerdistas. Caiu fora antes de comprometer seu poderio econômico, financeiro, militar e político, uma vez que se uniu, mas nunca se misturou. LUIZ THADEU NUNES E SILVA SÃO LUÍS, MA _ a Em entrevista à emissora BBC, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, afirmou que o Parlamento escocês poderá vetar a saída do Reino Unido da UE, pois na Escócia o “Permanecer” venceu por 62%, e o “Sair” teve 38% dos votos. Como simples cidadão, ficarei na torcida para que os 28 países da UE permaneçam unidos, para que não ocorra mais conflitos, como as duas grandes guerras mundiais, onde milhares de seres humanos foram eliminados. EDGARD GOBBI CAMPINAS, SP _ a O Reino Unido votou pela saída da UE. Nada mais. Não quer dizer FELIPE SEBASTIANY BUENO BRANDÃO RIO _ a A imprensa divulgou que com a saída do Reino Unido da UE o mercado perdeu US$ 1 trilhão. A coisa não funciona dessa forma. A regra do mercado é muito simples: se alguém perdeu alguém ganhou. No caso, os especuladores que detinham posições vendidas encheram a burra de dinheiro. O resto é choro de perdedor. Bangu, na Zona Oeste. Certamente, não sabe quanto custa manter equipamento, material e pessoal. Construir neste momento de crise da saúde é um deboche! Nossos hospitais estão deficitários de tudo. Por que não usar os hospitais militares (Polícia Militar, Exército, Marinha e Aeronáutica)? É minha sugestão, bem mais barata. REINALDO SALEMA RIO _ a A ideia de hospital de campanha para atendimento a presos só pode ser brincadeira, e de péssimo gosto. Se no Souza Aguiar bandidos não tiveram dificuldade para resgatar comparsa, imaginem numa unidade bisonha e sem recursos para casos mais graves? A medida ocupará maior número de policiais, que darão plantões na unidade de campanha e também nos hospitais convencionais. Além disso, anexar as instalações de campanha a uma UPA já existente colocará em risco um maior de pessoas que estejam em busca de pronto-atendimento. A experiência, tão fútil quanto inútil, custará caro ao contribuinte. PAULO SÉRGIO RODRIGUES PEREIRA RIO NELSON NÓBREGA RIO _ _ a Se o Reino Unido quer comandar sua própria sociedade, fora de um bloco de ações, ela tem esse direito. Qualquer país tem o direito de impor suas próprias leis, e se diferem das nossas temos que respeitar as diferenças. A saída foi obtida pelo exercício democrático da votação; o povo escolheu. O reino Unido já pertenceu à UE e no momento acha conveniente sair. Quanto às consequências para aquele Estado ou para o mundo, só o tempo mostrará, e com certeza com a sua integridade e soberania arcará com seu erro ou acerto. Aos outros compete respeitar a decisão. ROSA CRISTI BEYER SZRAJBMAN RIO _ HOSPITAL DE CAMPANHA a Sou médico, e sei o que passam todos que trabalham em hospitais (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, pessoal de limpeza) quando há apenados internados em enfermarias. O secretário da Saúde, Luiz Antonio Teixeira Junior, falou em construir centro cirúrgico e CTI para tratar de presos custodiados dentro do Complexo Penitenciário de Gericinó, em PRIVATIZAÇÃO a Uma vez que o governo está planejando retomar as privatizações, uma das primeiras deveria ser a dos Correios. Do jeito que está não pode continuar. Se a empresa não encontra solução para as suas deficiências, que seja privatizada. NEUSA BARROS RIO _ BAILE FUNK a O funk carioca é uma vergonha para o país. Não passa de apologia ao analfabetismo, à pornografia (inclusive a infantil), ao desrespeito às mulheres, à exaltação de facções criminosas, à perturbação da ordem, ao estímulo ao consumo de drogas e a outras coisas mais, ou seja, um “kit completo” de tudo o que não desejamos em um processo civilizatório bem-sucedido. Por que nosso nobre deputado Marcelo Freixo não se preocupa em trazer essa turma para a luz da verdadeira cultura, em vez de tentar nomear todo aquele obscurantismo como uma forma de cultura popular? ANTONIO FREIRE RIO Há 50 anos 27 de junho de 1966 Hoje no Acervo O GLOBO Supertele _ TROCA DE COMANDO NO STF IRIA DE SÁ DODDE RIO com a prisão de Paulo Bernardo deveriam se solidarizar com os milhões de funcionários públicos tungados. Se um ministro rouba, deixa de ser ministro e vira ladrão. Estamos vivendo numa época estranha, em que parlamentares ficam com pena do ladrão. MARCIO MOITINHO MALTA RIO que milhares de europeus serão expulsos do país e que cortarão relações com a Europa. O resultado mostra apenas o descontentamento de grande parcela da população em relação à UE, que de mercado comum, focado no livre comércio, migrou para uma instituição de burocratas sediados em Bruxelas focados em uma agenda política pouco eficiente em resolver os problemas europeus. Os ajustes e os riscos de curto prazo serão superados, assim como em 1973, quando o Reino Unido entrou no bloco, e poderemos vê-lo resgatar a imagem de um Estado sério e de economia pujante que sempre teve. Europa em festa NOITE DE GALA EM PARIS Bolsa francesa comemora o 1º dia da nova moeda, o euro, em 1999. Alcino mobiliza ação contra a corrupção nos Estados Brasília conhece uma nova crise: a falta de taquígrafos Preocupado particularmente com os testamentos políticos de governos em fim de mandato, o Prof. Alcino Salazar, Procurador-Geral da República, disse ontem lamentar que, mesmo após a Revolução, que teve como objetivo o saneamento na gestão dos negócios públicos, a crise siga a sua linha ascendente. Daí a necessidade de reunir os procuradores-gerais da Justiça nos Estados, em Brasília, para o exame da situação e uma tomada de posição para coibir crimes contra a Fazenda Pública Estadual e Municipal. O Supremo Tribunal Federal está impossibilitado de preencher seis vagas de taquígrafo, porque não dispõe de moradia para os concursados. Os dois únicos aprovados na primeira prova do último concurso, no qual se inscreveram 36 candidatos, desistiram de fazer a segunda prova, porque, residindo em São Paulo, onde exercem função pública técnica específica, não se mudariam sem a garantia de apartamento para morar. O concurso não pôde prosseguir, e o Ministro Ribeiro da Costa, presidente da Côrte, solicitou nova cota de unidades residenciais. 12 l O GLOBO Segunda-feira 27 .6 .2016 OGLOBO Tema em discussão | | O funk como manifestação cultural | Nossa opinião | | Outra opinião | Respeito ao direito Cultura da futilidade conhecida a trajetória do samba. De cadas — a ponto de tais eventos serem explicitamúsica “da malandragem”, proibida, mente proibidos pelos comando de UPPs ali com seus compositores perseguidos instaladas, uma afronta a direitos comezinhos pela polícia, tornou-se identificada co- como a liberdade de reunião e de manifestação. mo autêntica manifestação da cultura do país. No âmbito institucional, a discriminação mal A fase clandestina gerou personagens — um disfarçada chegou a virar lei na Assembleia Ledeles chegou a ser cantado nos versos mole- gislativa, em 2008, a partir de projeto do então ques de Tio João e Nilton Campolino (Delega- deputado Álvaro Lins, o ex-chefe de Polícia predo Chico Palha/Sem alma, sem coração/Não so por se imiscuir com o crime organizado. Sinquer samba nem curimba/Na sua jurisdição./ tomático. Sob o pretexto de regulamentar os Ele não prendia/Só batia...). bailes, o diploma os inviabilizava. Igualmente, o atual estágio de reconhecimenO funk não é, necessariamente, um ritmo de to de seu valor tem sido mote pabandidos, assim como o rock, a ra compositores (o sambista João despeito de a ele se associar o jargão “sexo, drogas e rock’n’roll”, não Nogueira, por exemplo, enalteceu A qualidade do pode ser resumido a “música de a respeitabilidade ainda que tarque se ouve drogados”. Ao contrário, de sua simdia: “Samba, és hoje da alta sociemede-se com o plicidade inicial decorreu uma prodade/Desce do morro pra cidafusão de músicos de talento. de/E já frequentas o Municipal”). tempo. É reproNo caso do funk, há letras que Não foi outra a origem de ouvável censurar exaltam a violência, a criminalidatros ritmos cujo valor hoje é recoo ritmo e de, o analfabetismo político, o desnhecido pela sociedade — o jazz respeito à lei. Mas não se pode esdos negros americanos, o jongo, perseguir quecer que ele nasceu como manimanifestação de resistência no seus adeptos festação de comunidades onde a Rio de Janeiro e por aí vai. É imviolência é uma realidade. Se o portante assinalar a maneira como manifestações culturais nascem e se tornam oportunismo social o associou ao crime é outra emblemáticas da expressão do que se costuma discussão — um problema de combate ao banchamar de minorias (ainda que não numerica- ditismo, não à música. A qualidade (ou a falta dela) do que se ouve mente, mas como grupos de produção de cultura) num momento em que, por discriminação, mede-se com o tempo. O que é bom fica. Poderadicalismo ou quaisquer outras razões, parcela se ou não gostar do ritmo. Letras devem ser julconsiderável da sociedade tem relegado o funk gadas pelo valor (ou, igualmente, pela ausência dele) em si. Esses são o filtro correto, os critérios à simplória categoria de “música de bandidos”. É uma simplificação perigosa. Ela leva, em ge- aceitáveis para discutir o funk — ou qualquer ral, ao preconceito e à perseguição. Ambos es- outro ritmo; nunca, aqueles que procurem abatão presentes, por exemplo, na estigmatização tê-lo como direito de manifestação cultural, que policial dos bailes realizados em favelas pacifi- é um princípio universal, e não seletivo. l neiro. O caso chocou o Brasil e o mundo, abrindo uma série de polêmicas. E, quando o caso profundamente lamentável que a mú- parecia não ter novas notícias, os marginais utisica brasileira tenha chegado a esse lizaram uma letra debochando da jovem na inponto, depois de ter encantado o pla- ternet. Os “pegadores” cuspiram na cara da soneta com a bossa nova, o chorinho, o ciedade, da lei. samba de raiz. Isso é o reflexo da falta de cultuFunk não é cultura da favela. É cultura dos ra de um país que tem um ensino sucateado bandidos. Os que moram na favela não consipelas aprovações automáticas. O que esperar deram os traficantes como heróis, como o funk do funk, das pessoas que se submetem a um canta. Não odeiam policiais como o funk canta. pancadão? Seria o cúmulo da vergonha consi- Respeitam mulheres e crianças. Enfim, o funk derar um tipo de música tão vulgar e ridícula não representa o pobre. Defender o funk é decomo forma de manifestação cultural. Isso sem fender que o morador da favela continue refém falar que os bailes funk servem pado tráfico. ra ajudar a fazer apologia ao tráfico Encaramos esse movimento Seria o cúmulo de drogas e armas, que todos já sacomo destruidor de famílias, ou da vergonha bem, com letras que fazem exaltar vamos continuar sendo hipócriconsiderar um a violência, o crime e a prostituitas achando que as comunidação. des gostam de conviver com titipo de música Não que o funk seja a causa disso roteios, que é normal ver suas tão vulgar e crianças sendo aliciadas, que é tudo, mas ele exalta valores que ridícula como legal fazer de sua porta ponto de perpetuam essa realidade. É no venda e consumo de drogas e funk que bandidos viram heróis manifestação que é cinematográfico presenciem suas letras malfeitas e sem pocultural ar os traficantes exibindo suas esia. A naturalização da violência, poderosas armas. já tão presente na vida de jovens e E quem não gosta do funk, e ainda tem a infecrianças que crescem em comunidades carentes, a desvalorização da vida e a busca inconse- licidade de morar próximo a lugares onde se requente por ascensão social só colaboram para alizam a bagunça, não pode sequer reclamar maiores índices de morte, tortura, estupro etc. do barulho excessivo que se estende madrugaSão aspectos do funk que infligem frustração e da adentro. Caso o cidadão resolva chamar a sofrimento em seres humanos. Os valores das polícia, certamente depois vai receber ameaças famílias e do amor são trocados pelas facções e à sua integridade física. Som alto não é só desrespeito. É contravenção e crime. Enfim, o funk pela cultura do estupro. O funk está ligado à banalização do crime e à não é cultura. É uma ameaça devastadora. l vulgaridade. No último dia 21 de maio, uma menina de 16 anos sofreu um estupro coletivo Milton Rangel é deputado estadual, líder do DEM após um baile funk na Zona Oeste do Rio de Ja- na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro É MILTON RANGEL É DENIS LERRER ROSENFIELD Quando parar? Brasil está sendo lavado a jato. Não há semana, senão dia, em que um novo evento não mostre as entranhas fétidas dos últimos governos petistas, não envolvendo apenas o partido da presidente afastada, mas, também, outros partidos que se locupletaram no assalto ao Tesouro nacional. Nesta última semana, foi a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo e a busca e apreensão na sede nacional do PT em São Paulo, além do envolvimento de outros próceres e ministros do partido. Nas semanas anteriores, foi a cúpula mesma do PMDB e ministros recémnomeados do governo Temer. A abrangência suprapartidária destas investigações e denúncias bem mostra que essas operações não estão a mando de partido nenhum, todos podendo ser igualmente atingidos. Note-se que esta última operação, denominada Custo Brasil — poderia ser igualmente chamada de Custo PT —, já não se origina na denominada por Lula “República de Curitiba”, mas em São Paulo, envolvendo, além da Polícia Federal, a Receita Federal. Isto significa que estamos diante de uma efetiva nacionalização da Lava-Jato, espraiando-se por outros estados e seguindo um mesmo padrão de moralidade pública e de operacionalidade. Nada indica que essa operação, desdobrando-se em novos braços, esteja com data definida de término. A pergunta pelo término desta operação talvez seja uma questão mal formulada, embora possa ter um certo sentido. Mal formulada, porque ela nasce de uma exigência de moralidade pública e de luta contra a corrup- O ção, liderada por setores do Judiciário, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Questão, porém, para alguns pertinente, pois para além do fato de toda operação deste tipo dever ter um término, ela pode talvez ter como consequência um enfraquecimento ainda maior do próprio sistema representativo. Ocorre que a deterioração do sistema representativo não é um efeito da Operação Lava-Jato, mas a sua causa. Partidos políticos, parlamentares, ministros de Estado — e mesmo o ex-presidente Lula — e funcionários públicos e de estatais se aliaram a empresários inescrupulosos, notadamente de empreiteiras, porém não a eles restritos, para o saqueio da coisa pública. A República veio para eles significar cosa nostra. O Estado brasileiro estava sendo corroído por dentro, aparelhado ideologicamente e partidariamente, quando uma sociedade atuante, graças à sua imprensa e aos seus meios de comunicação, começa a denunciar e noticiar a ruína que estava se aproximando perigosamente. A atuação de juízes, promotores e policiais federais inscreveu-se, precisamente, neste processo de resistência, procurando reverter a desestruturação completa da coisa pública. Desrespeito à Lei Orçamentária e à Lei de Responsabilidade Fiscal, queda abrupta do PIB, inflação em alta e desemprego galopante são consequências desta República em crise. Logo, exigir um término à Lava-Jato sem levar em conta as suas causas pode ser um contrassenso, na medida em que ela é efeito. O país deve, antes de tudo, criar condições e mecanismos Fale com O GLOBO PRESIDENTE Roberto Irineu Marinho VICE-PRESIDENTES João Roberto Marinho - José Roberto Marinho _ OGLOBO é publicado pela Infoglobo Comunicação e Participações S.A. DIRETOR - GERAL: Frederic Zoghaib Kachar _ DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR RESPONSÁVEL AGÊNCIA O GLOBO DE NOTÍCIAS Venda de noticiário: (21) 2534-5656 Banco de imagens: (21) 2534-5777 Pesquisa: (21) 2534-5779 Atendimento ao estudante: (21) 2534-5610 PUBLICIDADE Noticiário: (21) 2534-4310 Classificados: (21) 2534-4333 MARCELO que impeçam o desvirtuamento da atividade parlamentar e o aparelhamento do Poder Executivo. Ou seja, o Executivo e o Legislativo deveriam começar a tomar medidas políticas que atuem sobre as causas desta deterioração da coisa pública, tornando, neste sentido, desnecessária a própria Lava-Jato e os seus desdobramentos. Uma reforma política seria aqui prioritária. Se não ocorrer, como tudo indica que não ocorrerá por atingir interesses incrustados nos partidos políticos, nada mais natural que as investigações em curso sigam o seu caminho. Em todo caso, os esquemas desvendados na Petrobras muito provavelmente existem em outras estatais. Outros ministérios continuam também a ser objeto de investigações. Se a faxina continua, é porque exis- Geral e Redação (21) 2534-5000 Jornais de Bairro: (21) 2534-4355 Missas, religiosos e fúnebres: (21) 2534-4333. Plantão nos fins de semana e feriados: (21) 2534-5501 Loja: Rua Irineu Marinho 35, Cidade Nova International sales: Multimedia, Inc. (USA). Tel: +1-407 903-5000 E-mail: [email protected] te ainda muita sujeira a ser lavada. Alguns economistas, que deveriam, aliás, rasgar os seus diplomas, fazem o cálculo de quanto o país estaria perdendo economicamente com a LavaJato. Deveriam calcular o quanto o país perdeu com os governos petistas, com a corrupção e o desvio de recursos públicos. Parece que a miopia ideológica não permite tal cálculo. No que diz respeito a um eventual enfraquecimento do sistema representativo, cabe preliminarmente observar que a operação Lava-Jato e o seu imenso apoio na opinião pública mostram que determinadas instituições do Estado estão funcionando. A sociedade civil, por sua vez, tornou-se uma protagonista central neste processo de transformação política. De um lado, a repre- Classifone (21) 2534-4333 Relacionamento com o Assinante: www.portaldoassinante.com.br ou pelos telefones 4002-5300 (capitais e grandes cidades) e 0800-0218433 (demais localidades), de 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 12h Twitter: @falecom_OGLOBO. Facebook: facebook.com/clubeoglobo Assinatura mensal com débito automáti- sentação partidária foi enfraquecida, de outro, certas instituições republicanas e a sociedade civil se fortaleceram. Contudo, há uma certa apreensão em relação ao fato de que, consoante com a operação Mãos Limpas na Itália, o enfraquecimento dos partidos políticos poderia levar a aventuras políticas, mediante a eleição de um (a) aventureiro(a) em 2018. O risco existe e é próprio de qualquer sistema eleitoral. A vontade popular pode também optar pelo pior. Já o fez, aliás! Veja-se a situação na qual nos encontramos, tendo se tornado necessário o próprio impeachment da presidente da República, no pleno respeito à Constituição brasileira. O povo poder fazer péssimas escolhas. É da vida política. Ora, o que não se pode fazer é optar por frear a Lava-Jato e seus desdobramentos mediante novas leis que perpetuem o status quo político e partidário que está sendo, precisamente, submetido a um duro teste de moralidade pública. Não há indícios de que os partidos políticos estejam efetivamente aprendendo com essa nova cena pública brasileira. A iniciativa cabe precisamente ao novo governo e à representação parlamentar que, com novos exemplos, possam mostrar um novo caminho a ser percorrido, tornando-se a moralidade pública uma bandeira política nacional. Se isto vier a ocorrer, o término da Lava-Jato será uma consequência deste novo tratamento da coisa pública. Se tardar, ela tenderá a se perpetuar. l Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul Para assinar (21) 2534-4315 ou oglobo.com.br/assine co no cartão de crédito, ou débito em contacorrente (preço de segunda a domingo), para RJ/MG/ES: normal, R$ 125,66; promocional, R$ 89,90 VENDA AVULSA/Estados Dias úteis: RJ, MG e ES: R$ 4,00; SP e DF: 4,00; demais estados: 5,50; Domingos: RJ, MG e ES: R$ 5,00; SP: R$ 5,50; DF: 7,00; demais estados: 10,00 Carga tributária federal aproximada de 20% ATENDIMENTO AO LEITOR De 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 12h, Tel: (21) 2534 5200 oglobo.com.br/faleconosco O GLOBO é associado: ANJ - IVC - GDA - SIP - WAN Ascânio Seleme EDITORES EXECUTIVOS Chico Amaral, Paulo Motta e Silvia Fonseca _ Rua Irineu Marinho 35 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ CEP 20.230-901 Tel: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535 _ Princípios editoriais do Grupo Globo: http://glo.bo/pri_edit a EDITORES - País: Alan Gripp - [email protected] Rio: Rolland Gianotti - [email protected] Economia: Flávia Barbosa - [email protected] Mundo: Sandra Cohen [email protected] Sociedade: William Helal [email protected] Segundo Caderno: Fátima Sá - [email protected] Esportes: Márvio dos Anjos - [email protected] Fotografia: Claudio Versiani - [email protected] Arte: Rubens Paiva - [email protected] Opinião: Aluizio Maranhão - [email protected] Acervo e Qualificação: Gustavo Villela - [email protected] a SUPLEMENTOS - Boa Viagem: Léa Cristina - [email protected] Rio Show: Inês Amorim - [email protected] Ela: Renata Izaal - [email protected] Revista O GLOBO: Ana Cristina Reis - [email protected] Bairros: Milton Calmon Filho - [email protected] Site: Eduardo Diniz - [email protected] Videojornalismo: Roberto Maltchik - [email protected] Desenvolvimento de Plataformas: Maíra Carvalho - [email protected] a SUCURSAIS - Brasília: Sergio Fadul - [email protected] São Paulo: Aguinaldo Novo - [email protected] O GLOBO Segunda-feira 27 .6 .2016 l 13 OGLOBO PAULO GUEDES _ Faça algo a respeito “A Operação Lava-Jato deve prosseguir enquanto houver irregularidades”, reconhece Michel Temer. “Mas o país não pode ficar dez anos nesta situação”, sugere o presidente interino. Ora, as degeneradas práticas políticas investigadas pela Lava-Jato parecem existir há mais de dez anos, e durariam outros dez não fosse o despertar de instituições republicanas como a Polícia Federal, o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União e o Poder Judiciário. Mas o presidente, que parece ansioso em abreviar nossa penosa situação, pode fazer muito a esse respeito. Afinal, foram exatamente a omissão e a cumplicidade do Executivo e do Legislativo quanto a essas práticas degeneradas que nos atolaram nesse lamaçal. Um dia após a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, Temer deveria encaminhar ao Congresso uma mensagem com o seguinte teor: “A classe política está sob suspeita. Houve acusações de compra de votos na aprovação da emenda constitucional favorável à reeleição, financiamentos irregulares de campanhas eleitorais, compra de sustentação parlamentar, obstrução de Justiça e desvio de recursos públicos envolvendo nossas principais lideranças políti- cas. É incontornável a conclusão de que há algo de profundamente errado com nossa forma de lidar com a coisa pública. Devemos ao povo brasileiro uma reforma política.” A negligência e até mesmo a hipocrisia ante a corrupção sistêmica tornam insaciável a opinião pública e intermináveis as investigações da Lava-Jato. Piratas privados e políticos corruptos aperfeiçoaram a engrenagem de administração O presidente Temer acha que o país não pode ficar dez anos na atual situação. Mas sua ansiedade deve se traduzir em reformas Riscos regulatórios Pela Mata Atlântica ADRIANO PIRES H oje o setor de petróleo no Brasil conta com dois novos sistemas (partilha e cessão onerosa), que convivem com o regime de concessões. A mera existência de regimes regulatórios distintos num país não é, necessariamente, uma fonte de incertezas, mas a falta de harmonia entre eles tem esse potencial. A aprovação do projeto de lei que prevê a flexibilização da operação única do pré-sal pela Petrobras responde por uma parcela relevante da potencial retomada dos investimentos em petróleo no Brasil, mas não é a única resposta devida. Muito embora operar um campo no pré-sal seja atrativo para qualquer grande empresa internacional do setor, o estágio embrionário da regulação brasileira sobre individualização da produção ainda limitaria o retorno do capital internacional. Individualizações de produção ocorrem quando dois ou mais blocos compartilham uma mesma jazida de petróleo. Para evitar investimentos ineficientes e competição predatória, todas as empresas donas dos blocos por onde a jazida se estende passam a ter uma participação. As participações são determinadas por quanto da jazida se localiza em cada bloco. Com os megacampos de pré-sal, as individualizações de produção serão relativamente frequentes, como os exemplos recentes preconizam. A complexidade evidente é aumentada quando os blocos vizinhos estão em regimes regulatórios diferentes, e ainda mais quando um desses blocos é uma área estratégica ou do pré-sal ainda não licitada. Há três pontos fundamentais a serem endereçados, sendo o primeiro relativo à diferença de regimes regulatórios. Numa individualização de produção entre um regime de concessão e a cessão onerosa ou área não licitada, há diferença nas participações governamentais. O regime de concessão é sujeito a royalties e participação especial, a cessão onerosa somente a royalties na mesma alíquota do regime de concessão, as áreas não licitadas pagam apenas royalties numa alíquota diferente do regime concessão. O panorama não é diferente no caso do conteúdo local; como conciliar exigências diferentes para regimes distintos unidos por uma mesma jazida? Não há um caminho claro na regulação. As soluções não precisam ser complicadas, a ANP pode ajustar os créditos ou débitos devidos nas participações especiais nos recolhimentos futuros. O conteúdo local da jazida individualizada deveria seguir — em percentual e regras — as exigências do bloco que concentra a maior parte da jazida individualizada. O segundo e o terceiro pontos dizem respeito a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), que representa a União nos procedimentos de individualização MARCIA HIROTA M Alocação proporcional de responsabilidades não está explicitada na regulação hoje. Esse é um ponto caro ao investidor da produção em área estratégica ou do pré-sal ainda não licitada. A PPSA é um participante mandatório nesses casos, mas não faz pagamentos diretos, sendo carregada pelos demais participantes. O retorno virá da própria produção da jazida individualizada, sendo a dívida da PPSA abatida do volume de produção a que essa tem direito. A PPSA deveria ter autonomia para gerir suas receitas e honrar seus compromissos como as demais partes. O último ponto é mais sutil, mas certamente mais polêmico. O que acontece caso ocorra um acidente ambiental de larga proporção num campo individualizado com a PPSA e não seja mais possível produzir? A PPSA deveria responder como as demais partes, utilizando seus recursos para responder na proporção de sua participação. Mas a alocação proporcional de responsabilidades não está explicitada na regulação hoje. Esse é um ponto caro ao investidor, como ensinou a experiência de Macondo, no Golfo do México. Os fatores necessários à retomada do investimento em petróleo e gás natural no Brasil não se limitam apenas à Petrobras como operador único dos contratos de partilha no présal. A convivências de regimes regulatórios distintos precisa ser harmonizada para que um novo componente de risco não seja criado. O país e o setor seriam gratos pelas respostas necessárias. l Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura A necessária e improvável reforma MARCUS PESTANA O país está de pernas para o ar. A combinação da mais grave recessão desde 1929 com o maior escândalo de nossa história, desvendado pela Lava-Jato, e seus desdobramentos políticos tem efeito devastador e decreta a falência do atual sistema político. Não se troca presidente da República como se troca de camisa. Um impeachment é sempre traumático, deixa feridas e cicatrizes. Mas não há nenhum golpe em curso. Crimes fiscais, eleitorais, morais e de obstrução da Justiça foram cometidos. E a lei é para todos. O processo é absolutamente constitucional, e o país saberá construir seu futuro sem retrocessos. Hoje, a distância abissal que existe nas sociedades contemporâneas entre as pessoas e sua representação política é agravada, no Brasil, pela corrupção sistêmica e institucionalizada e por um sistema político disfuncional e irracional. Há visível esgotamento e uma inviabilização clara do chamado “presidencialismo de coalizão”, transformado em “presidencialismo de cooptação”, onde a dinâmica movida a chantagens, concessões e cooptação dita o ritmo da República. centralizada herdada do regime militar. A corrupção na política e a armadilha do baixo crescimento na economia são as duas faces de um governo central hipertrofiado e disfuncional. Um pacto federativo permitiria a reforma administrativa do Estado para enxugamento radical do número de ministérios e a descentralização de recursos para estados e municípios. A descentralização das políticas públicas coloca um eixo republicano na busca de sustentação parlamentar e na gestão dos recursos públicos. Menos dinheiro para a roubalheira na engrenagem estatal de administração centralizada e mais dinheiro para saúde, segurança, saneamento e educação onde o povo está. Nos estados e nos municípios, não em Brasília. l Isto, somado a um sistema de financiamento da atividade política vulnerável e ao império da demagogia, do populismo e do corporativismo, impede a aprovação das reformas necessárias e inadiáveis para que o Brasil saia da crise. Embora seja falso afirmar que a corrupção e a crise são culpas do sistema, em grande parte nossas mazelas se devem a regras políticas mui- Há visível esgotamento e uma inviabilização clara do chamado ‘presidencialismo de coalizão’, transformado em ‘presidencialismo de cooptação’ to ruins, que norteiam nosso processo decisório coletivo. Como abordar temas complexos e polêmicos num plenário da Câmara com inacreditáveis 27 partidos políticos? Como obter a confiança da sociedade quando até as doações legais foram demonizadas e criminalizadas? Como estabelecer controles sociais sobre os mandatos se, segundo as pesquisas, 70% dos brasileiros não sabem sequer citar o nome de seu deputado? A atual crise repõe a necessidade urgente de retomar a discussão sobre a reforma política. Após a Lava-Jato, o financiamento público exclusivo é quase uma imposição no Brasil. Mas ele só é viável se tivermos a mudança do sistema eleitoral, só é possível com a introdução do voto distrital como nos EUA e no Reino Unido, ou da lista partidária, como na Itália, Espanha e Portugal. Ou do modelo misto da Alemanha ou Coreia do Sul. Com a cláusula de desempenho para assegurar representação parlamentar, na Alemanha a exigência é de 5% dos votos nacionais. Mas aí nos vemos no espelho diante de nossa armadilha existencial. A vida e a sociedade, cansadas de escândalos e ansiosas por mudanças, reclamam alterações radicais. Mas o sistema apegado ao status quo não se autorreformará. E dizem juristas conceituados que Constituinte exclusiva não faz sentido em plena vigência de uma Constituição democrática. Ou seja, estamos diante de um verdadeiro enigma da esfinge: decifra-me ou devoro-te. A democracia brasileira, duramente conquistada, não pode se render a este impasse. l Marcus Pestana (MG) é líder do PSDB na Câmara uitas pessoas têm a falsa impressão de que a Mata Atlântica está restrita àquelas grandes áreas de florestas distantes das cidades. Na verdade, ela está muito mais perto do que a gente imagina. Somos 145 milhões que habitamos as 3.429 cidades do bioma, inclusive algumas das maiores do país. O Rio de Janeiro é belo exemplo. Moramos na Mata Atlântica e dependemos dos serviços por ela prestados, como a regulação do clima, abastecimento de água, fornecimento de recursos para a economia, qualidade de vida e bem-estar. Entretanto, do mesmo jeito que usufruímos desses benefícios, também pagamos um preço alto por termos destruído cerca de 90% da sua área original. Os motivos para tamanha devastação recontam a própria história do Brasil. Mas, do mesmo modo como nossa história se confunde com a da Mata Atlântica, nosso futuro também depende dela, o que faz da conservação e recuperação do bioma um desafio coletivo. Já parou para pensar como seria sua vida, sua rua e sua cidade se vivesse num local onde cuidar do meio ambiente fosse uma prioridade? Existem inúmeras formas de contribuir para um ambiente melhor, principalmente se pensarmos naquele local onde vivemos e que pode ser mais sadio e equilibrado. É nisto que a SOS Mata Atlântica acredita, que cada um pode fazer algo, individual ou coletivamente. Para reunir histórias de Há inúmeras gente que faz a diferença, criaformas de mos o portal contribuir www.gpsmataapara um meio tlantica.org.br, uma ferramenta ambiente para as pessoas melhor compartilharem suas causas e se conectarem em rede com outros que também desenvolvem iniciativas ambientais. E como tem sido surpreendente observar a quantidade de jovens engajados lutando por causas nobres. São tantas histórias inspiradoras que, em maio passado, numa parceria com a Fundação Roberto Marinho, nos reunimos no Museu do Amanhã para conhecer algumas dessas soluções inovadoras. Ali ouvimos sete jovens que apresentaram suas causas: Marcelo Rebelo, que desenvolveu uma plataforma que viabiliza a revitalização de praças públicas; Celina Hissa, fundadora de uma empresa de moda que investe no artesanato e estimula os consumidores a repensarem seu consumo; Flávia Rego, coordenadora de um projeto de turismo ecológico; Tom Adnet Moura, educador ambiental que trabalha com o tema da conservação dos recursos hídricos; Christian Engelmann, criador de um aplicativo que indica pontos de coleta para descarte de resíduos; Deloan Perini, que desenvolveu um modelo inovador de agricultura para cidades de pequeno porte; e Iago Hairon, que abordou o incentivo ao ativismo ambiental entre jovens. Com um público formado igualmente por jovens e apresentação de Serginho Groisman, foi um momento de reflexão e muito brilho nos olhos para o amanhã que desejamos. Esses jovens empreendedores estão plantando sementes para germinar esse sonho coletivo por um ambiente melhor para todos. No que depender deles, e de tantos outros que estão contribuindo em prol desta causa, nosso futuro (e o da Mata Atlântica) está garantido. l Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica 14 l O GLOBO l Rio l Segunda-feira 27 .6 .2016 Som do Rio Parada Funk danifica obra no MAM Museu teve que fechar mais cedo, e vibrações geradas por volume das músicas derrubaram peça em exposição CAROLINA CALLEGARI [email protected] O evento era do lado de fora, no Aterro do Flamengo, mas o som da sexta edição do Rio Parada Funk causou prejuízos dentro do Museu de Arte Moderna (MAM) ontem. A vibração gerada pelo volume alto das músicas provocou a queda de uma obra de porcelana da artista plástica Gabriela Machado que fazia parte da exposição “Things that fit in my hand". A peça acabou danificada ao cair da mesa em que era exibida. E, em todo o MAM, os visitantes tiveram de conviver com o funk de 12 equipes que tocavam, desde as 9h, em palcos perto do Monumento aos Pracinhas. — Não fomos avisados sobre o evento. Colocaram as caixas de som viradas para o museu e não nos falaram nada. Se sabiam que o som seria tão potente, deveriam ter nos alertado. Se soubéssemos, pelo menos teríamos tomado alguma medida de proteção — afirma Carlos Alberto Chateaubriand, presidente do MAM. A instituição teve, inclusive, que cancelar parte de sua programação e encerrar as atividades mais cedo, às 15h, em vez de fechar às 18h. Além disso, para evitar novos danos, a equipe do MAM teve de retirar do lugar algumas obras que também poderiam sofrer danos. A administração do museu fez um boletim de ocorrência e afirma que vai procurar ressarcimento na Justiça. Moradora de Copacabana, Maya Pijnappel chegou ao MAM para visitar a exposição de Ivens Machado, em seu último dia cartaz. Às 16h, ela encontrou as portas fechadas. — Eu venho sempre ao MAM. Não queria perder essa exposição — lamentou Maya. Em nota, a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) disse que não foi comunicada dos prejuízos no MAM: “Mas entraremos em contato com os organizadores do evento para que o dano seja reparado, caso fique comprovado que o incidente foi causado pelo impacto do som”. l PEDRO TEIXEIRA Prevenção. Museu precisou mudar obras de lugar para evitar outras quedas Evento faz parte do calendário cultural do Rio Sexta edição da festa teve a apresentação de 90 MC’s e 120 DJ’s Apesar dos problemas causados no Museu de Arte Moderna (MAM), o Rio Parada Funk tinha autorização da prefeitura. Como parte do calendário oficial de eventos culturais da cidade, já tinham ocorrido edições anteriores no Largo da Carioca, na Lapa e na Apoteose. Na programação de ontem, no Aterro do Flamengo, apresentaram-se 12 equipes de som, 90 MC’s e 120 DJ’s, entre eles os DJ Marlboro. A escolha do novo local para a festa agradou Thais Arimateia, moradora de São João de Meriti. Segundo ela, o espaço amplo proporcionou que artistas de diferentes épocas pudessem se reunir. — Tem como escutar as músicas em todos os lugares. Se o público cansa de um artista, pode ir para um palco com outra apresentação. Está tudo maravilhoso. Tomara que tenha mais vezes — disse Thais, que também tinha participado de edições anteriores do Rio Parada Funk. Uma das novidades este ano foi a distribuição de prêmios em quatro categorias: melhor funk de todos os tempos, melhor vinheta de equipem, funk do momento e melhor baile funk. Para o evento, tido como o maior baile do tipo no mundo, foi montando um esquema especial de trânsito entre o Monumento aos Pracinhas e o MAM. l Hoje na web oglobo.com.br/rio Saiba como colaborar com o conteúdo do GLOBO. Envie informações, fotos e vídeos para (21) 99999-9110. glo.bo/1YJ2MIi l WHATSAPP: l TWITTER: Siga as notícias da cidade no microblog. twitter.com/OGlobo_Rio Confira as notícias de Rio na rede social. l FACEBOOK: facebook.com/jornaloglobo l RIO 2016: Saiba tudo sobre a preparação para as Olimpíadas. oglobo.com.br/rio/rio-2016 acesse 140 CENTRO - RJ Av. Passos, 42, 44 e 46 SHOPPING JARDIM GUADALUPE Av. Brasil, 22.155 CABO FRIO (SHOPPING PARK LAGOS CABO FRIO) Av. Henrique Terra, 1.700 Segunda-feira 27 .6 .2016 O GLOBO Economia BLOOMBERG PEDRO KIRILOS Inflação l 15 Você Investe PÁG. 16 PÁG. 18 CAFÉ COM LEITE COM PREÇO SALGADO CAUTELA COM AÇÕES DO SETOR DE TELECOM Produtos tiveram alta acima da inflação: 9,3% e 18,5%, por causa da entressafra e da redução dos estoques Rafael Ohmachi (foto), da Guide, diz que crise econômica e mudanças tecnológicas afetam negócios CONTRATAÇÕES EM ALTA Estatais federais infladas _ Em quatro anos, número de servidores subiu 11%. Entre as dependentes do Tesouro, 48% OS NÚMEROS DAS EMPRESAS PÚBLICAS FEDERAIS DANILO FARIELLO [email protected] -BRASÍLIA- Apesar da propalada dificuldade finan- ceira de várias estatais federais, as 135 que existem país afora continuam infladas, com crescimento constante de pessoal. Dados atualizados do governo mostram que, de 2010 a 2014, o número total de contratados nessas empresas teve um acréscimo de 11,2%, o que representa 55.836 novas contratações. O aumento foi ininterrupto. Mas, se forem levadas em conta as estatais que dependem exclusivamente do Tesouro Nacional — como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), entre outros exemplos — a alta foi de 48,4% no período. Já de 2006 a 2014, o volume de servidores nas estatais aumentou em 30%, e o das dependentes do Tesouro, em 75%. Enquanto o número de funcionários disparou, o volume de investimentos das estatais federais no primeiro quadrimestre caiu ao menor nível desde 2006. Entre as distorções no setor está a Agência Brasileira Gestora de Fundos de Garantidores e Garantias (ABGF), criada em 2012 e com quase 96 funcionários. A estatal foi fundada com o objetivo principal de gerir um novo fundo garantidor de concessões de infraestrutura que, no entanto, nunca foi lançado, e o atual governo não confirma os seus planos de capitalização. Na mira do governo interino de Michel Temer, a EBC viu seu número de funcionários saltar de 913, em 2010, para 2.564, em 2014, um incremento de 180% em quatro anos. No mesmo período, os investimentos das estatais cresceram 13,6%. Em termos agregados, o prejuízo das empresas públicas brasileiras, no ano passado, beirou os R$ 60 bilhões, com os resultados negativos de gigantes como Petrobras, Eletrobras, Correios e Infraero. A penúria financeira das estatais contamina as contas públicas. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado neste mês, as empresas públicas responderam por um deficit primário de R$ 1,7 bilhão no ano passado. — Os governos anteriores acreditavam no aumento do gasto público como motor de crescimento da economia, mas as empresas tiveram problemas por má gestão — disse Paulo Vicente, professor de gestão pública e estratégica da Fundação Dom Cabral. Evolução do número de estatais 2010 2011 2012 2014 138 139 141 141 135 550.029 2013 552.856 2014 539.219 2012 Evolução do número de empregados nas estatais AUMENTO DE 2010 A 2014 11,2% 515.318 2011 497.020 2010 AUMENTO DE 2010 A 2014 48,4% Evolução de empregados de empresas dependentes do Tesouro Nacional 39.443 2010 40.270 2011 43.096 2012 Investimentos das estatais federais 2010 58.533 2014 2013 97.968 2012 83.976 47.433 2013 113.541 (R$ MILHÕES EM VALORES CORRENTES DE 2014) “O congelamento da folha, proposta pelo governo Temer, é cruel, como todas as medidas possíveis, mas é um remédio para amenizar gastos” 2013 95.506 2014 82.468 2011 Paulo Vicente Professor de gestão pública e estratégica da Fundação Dom Cabral É com esses números que a equipe do presidente interino, Michel Temer, está trabalhando para moldar o conceito de “Estado suficiente”, que vai balizar todas as privatizações que estão por vir, caso se confirme o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo Fernando Soares, diretor do Departamento de Estatais do Ministério do Planejamento — que deverá ser alçado a secretaria nos próximos dias —, o governo vai procurar trazer um modelo de gestão privada para as estatais, com regras adaptadas de governança e transparência. Ele destaca, porém, que as estatais têm de atender aos interesses da sociedade, e não apenas render lucros ao governo. — Os retornos da Embrapa ou dos hospitais são sociais. Algumas empresas dão retorno econômico e outras, apenas social — disse Soares. Já Vicente destacou, contudo, que, uma vez infladas as folhas de pagamento das estatais, a redução não é trivial. Os programas de de- missões voluntárias (PDVs) existentes em algumas delas, disse ele, tendem a tirar os servidores mais competentes, que conseguem se realocar em outras empresas. Outras medidas, como afastamentos, implicam riscos jurídicos. — O congelamento da folha, proposto pelo governo Temer, é cruel, como todas as medidas possíveis, mas é um remédio para amenizar gastos — disse o professor da Dom Cabral. O governo interino trava embates com o Congresso para, além de definir o teto de gastos que comprimirá os salários dos servidores, aprovar uma nova lei das estatais, reformando a gestão e a governança das maiores empresas. Mesmo com a aprovação do texto, porém, há ceticismo do mercado quanto à sua efetiva revolução na gestão das estatais. BB 114.200 CAIXA 100.677 21% CORREIOS 120.461 22% Fontes: Dest e TCU 18% Maiores estatais federais em número de empregados próprios (EM % DO TOTAL) PETROBRAS 56.945 10% Editoria de Arte “A mistura de papéis entre governo e empresas levou ao sonho de um Brasil maior, mas esse sonho pode ter virado delírio, ou pesadelo” Paulo Pedrosa Secretário executivo do Ministério de Minas e Energia O tempo dirá se a nova lei vai alterar substancialmente a qualidade e a assertividade da governança das estatais, escreveu o presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Emilio Carazzai, aos seus associados na última sexta-feira: “Todavia, assim como foram falsas as expectativas de que a mera promoção de funcionários de carreira seria bastante para blindar aquelas empresas de más práticas, o acervo de conhecimento do IBGC nos permite afirmar que as medidas incluídas no novo estatuto estão longe de assegurar que aquele intento seja plenamente alcançado.” A carta se refere ao fato de ex-servidores da Petrobras alçados a cargos de chefia terem capitaneado grande parte dos crimes e desvios que foram alvo da Operação Lava-Jato. Agora, o governo procurou indicar nomes notáveis para as principais estatais e dar-lhes autonomia. Pedro Parente, novo presidente da Petrobras, assumiu dizendo que comandará a empresa sob uma ótica empresarial, sem espaços para interferências do governo. Na Eletrobras, segunda maior estatal, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, indicou o presidente da CPFL, Wilson Ferreira, e já decidiu que seu secretário executivo não será mais conselheiro da empresa e que seus diretores não participarão da cúpula que define os rumos do setor em Brasília. — A mistura de papéis entre governo e empresas levou ao sonho de um Brasil maior, mas esse sonho pode ter virado delírio, ou pesadelo, e agora estamos no momento do despertar — disse Paulo Pedrosa, secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, sobre o rumo das estatais. Antes de o governo determinar o bloqueio a indicações de políticos em estatais, foram apontados nomes claramente políticos, como o presidente do PSD, Guilherme Campos, para a presidência dos Correios, e Gilberto Occhi, do PP, para a Caixa — embora ele seja servidor do banco. Para Soares, limites por relações políticas ou sindicais muitas vezes são insuficientes para blindar as empresas. — A lei já é um avanço, mas vamos avançar mais em partes — afirmou Soares. Nesse cenário, o ministério do Planejamento prepara uma reformulação do seu Departamento de Estatais (Dest), transformando-o em uma secretaria — sob a batuta de Soares e com um contingente maior — encarregada sanear as empresas públicas em dificuldade e prepará-las para a privatização. Ou seja, cuidará da saída do setor público de áreas estratégicas, como energia, transportes, petróleo e gás. Soares explica que terá uma equipe dedicada exclusivamente a analisar essas operações. l 16 l O GLOBO l Economia l Segunda-feira 27 .6 .2016 Preços muito acima da média para o tradicional café com leite [email protected] GEORGE VIDOR Produtos tiveram alta superior a inflação este ano: 9,32% e 18,52% LUCIANNE CARNEIRO | | FILETE DE LUZ Índices de julho devem confirmar queda da inflação e Banco Central poderá então reduzir a taxa básica de juros H á um filete de luz no fim do túnel da economia brasileira e não é uma “locomotiva” vindo em direção contrária. A inflação, finalmente, está cedendo. Os índices estão sendo ainda puxados por altas nos chamados preços administrados — fruto da correção automática pela inflação passada — e por variações pontuais em alguns alimentos por questões climáticas. A demanda esmoreceu porque os consumidores estão assustados diante da perda de empregos e retração de salários. Como as leis de funcionamento da economia não foram “revogadas”, a inflação teria de ceder e isso só não havia ainda ocorrido por força dos mecanismos de indexação que não conseguimos nos livrar por causa do trauma remanescente de décadas de alta de preços desenfreada no país. Esse filete de luz ficará mais visível com os índices de preços de julho. Então, em agosto, o Banco Central (BC) terá condições de cortar os juros básicos, mesmo que faça isso simbolicamente, reduzindo a Taxa Selic de 14,25% para 14% ao ano. Os juros reais continuarão excessivamente elevados no Brasil, porém é o que pode ser feito em uma economia abalroada por uma crise política que provavelmente não terá solução antes de 2018. Por mais ínfimo que seja, um corte nos juros decidido por uma equipe que tem credibilidade junto aos mercados sinalizará que a economia de fato começa a se recuperar. _ Biodegradáveis Até setembro, a Petrobras terá de substituir fluídos usados na perfuração de poços por produtos que representem menos riscos ao meio ambiente. Os fluidos são usados para auxiliar a penetração da broca, proteger as paredes dos poços (evitando desmoronamento) e retirar o cascalho à medida que a perfuração avança. A quantidade usada na perfuração de cada poço é considerável, especialmente em águas profundas, pois a coluna de perfuração é preenchida com fluidos antes mesmo de a sonda alcançar o leito do mar. O volume de cascalho retirado também só pode ser descartado em terra, porque está contaminado com produtos poluentes. Uma parte dos fluidos usados pela Petrobras fica estocada nas embarcações de apoio às plataformas. O estoque é grande porque a empresa previa a utilização de setenta sondas de perfuração no mar — e atualmente só trabalha com sete no pré-sal da Bacia de Santos. Em face dessa questão ambiental, estão avançando as tecnologias dos fluidos biodegradáveis, com soluções à base de água (usadas originalmente na perfuração de poços), mas que se autodegradam com auxílio dos chamados nano particulados. Como não são poluentes, o cascalho e os fluídos podem ser lançados no mar. Uma empresa brasileira de perfuração de poços em terra (Great) vai usar pela primeira vez esses fluidos biodegradáveis em blocos que arrematou na Bacia do Recôncavo. É uma espécie de teste São Tomé. Se passarem bem pela experiência, os riscos ambientais relacionados à perfuração de poços diminuirão muito. _ Desafio na saúde Os custos médicos e hospitalares sobem acima da inflação, e esse é um fenômeno que não se restringe ao Brasil. Reduzir esses custos sem prejudicar os pacientes é um desafio que envolve várias frentes, e uma delas é razoavelmente barata e não exige tanto emprego da tecnologia. Trata-se do combate à desnutrição hospitalar. Pacientes que recebem tratamento nutricional adequado antes de uma cirurgia ficam dois dias a menos internados, revela um estudo realizado no Brasil junto a 20 mil pacientes em 110 instituições hospitalares (públicas e privadas). A pesquisa, denominada Brains, revelou um risco especialmente entre idosos, ainda mais os que estão em tratamento contra o câncer. “Estamos sensibilizando nossos colegas para a necessidade de se estabelecer protocolos específicos para esses pacientes e encontramos boa receptividade no Instituto Nacional do Câncer (Inca)”, observa Monica Meale, nutricionista responsável pelo Brains. Em face da rotatividade de profissionais de saúde no atendimento dos pacientes, tais protocolos são essenciais porque definem procedimentos e rotinas nutricionais antes da realização de exames. O cuidado nutricional dos pacientes evita muitas vezes a reinternação e os riscos de infecções. A pesquisa Brains mostra como é possível se reduzir custos nos sistemas de saúde sem ter que se reinventar a roda. _ [email protected] A VARIAÇÃO PELO IPCA-15 O feijão não é o único item do cardápio brasileiro com forte alta de preços em 2016: o tradicional café com leite também está mais caro. O preço do leite longa vida subiu 18,52% este ano, até junho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial no país. Já o café teve alta de 9,32%. Quem gosta de adoçar com açúcar cristal, viu o preço saltar 16,29%. No mesmo período, o preço dos alimentos e bebidas avançou 7,30% e a inflação geral, 4,62%. — O leite sobe porque nessa época chove pouco, e as pastagens ficam prejudicadas. O gado se alimenta mal e produz menos leite — explica Andre Braz, da Fundação Getulio Vargas. ACUMULADO NO ANO (JANEIRO A JUNHO) REFLEXO NOS LATICÍNIOS O início do período de entressafra é a principal razão do aumento do preço do leite, mas não a única, explica o consultor de mercado da Scot Consultoria Rafael Ribeiro de Lima Filho: — Neste ano, houve um agravante. O milho e a soja, usados para completar a alimentação do rebanho quando piora a qualidade dos pastos, aumentaram de preço, e o custo do produtor subiu. Levantamento da GfK — que monitora preços de 35 categorias de produtos em 320 supermercados do país — mostra que o preço médio do litro do leite longa vida subiu quase 30% desde o início do ano e está em R$ 3,33 em junho, considerando as duas primeiras semanas do mês. Em janeiro, era R$ 2,61. É o maior nível do preço nominal em cinco anos, desde 2011. Pelo site PesquisaPraMim, que faz levantamentos diários de preço, o litro de leite varia- Inflação geral Alimentos e bebidas Apenas em junho, o leite sofreu aumento de 4,62% 7,30% 18,52% LEITE 5,35% 12,29% Leite e derivados 41,89% Manteiga Iogurte e bebidas lácteas Leite condensado Café moído Açúcar cristal 7,33% 12,87% 9,32% 16,29% Fonte: IBGE “Os preços devem ficar firmes ao menos até julho e agosto. A partir de setembro, começa o período de chuvas, favorecendo os pastos e a produção de leite” Rafael Ribeiro de Lima Filho Consultor da Scot Consultoria Editoria de Arte va entre R$ 3,80 e R$ 4,29 em supermercados da Barra da Tijuca e do Recreio na semana passada. — O leite é o tipo de produto que as pessoas não têm muito como substituir ou reduzir o consumo. Com isso, acabam cortando outros itens para garantir sua compra — afirma o diretor de atendimento da GfK, Marco Aurélio Lima. CAEM SAFRAS DE CAFÉ E AÇÚCAR Mais do que apenas um produto, o salto no preço do leite afeta toda a cadeia de laticínios, que inclui itens como manteiga, queijo, iogurte e requeijão. O preço da manteiga disparou este ano, com alta de 41,89%. Já o iogurte subiu 7,33%, e o leite condensado, 12,87%. E nas próximas semanas o preço vai continuar em alta, segundo Lima Filho: — Os preços devem ficar firmes ao menos até julho e agosto. A partir de setembro, começa o período de chuvas, que favorece os pastos e a produção de leite. No caso do café, a produção brasileira está em época de colheitas, mas os estoques mundiais do grão devem cair este ano, o que tem pressionado os preços. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que os estoques mundiais de café devem recuar 11% na safra 2016/17, para 31,5 milhões de sacas. Segundo o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, Renato Garcia Ribeiro, é o menor nível desde a safra 2012/2013. O preço do açúcar cristal, por sua vez, tem sido afetado pelas chuvas, que prejudicam a moagem da cana-de-açúcar, também de acordo com análise do Cepea. O movimento é reforçado pela alta no mercado internacional, em função das expectativas de déficit global de açúcar. No mês de junho, o preço ao produtor já avançou 12,05%, segundo o Cepea, o que sugere efeitos mais à frente para o consumidor. l Senado sabatina indicados à diretoria do BC Entrevistas ocorrem amanhã, data da divulgação da previsão de inflação GABRIELA VALENTE [email protected] -BRASÍLIA - No mesmo dia em que o Banco Central (BC) divulgará as previsões para a inflação e atividade no relatório trimestral, os novos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) serão sabati- SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA SESI e o SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL - SENAI tornam público aos interessados que realizará a licitação abaixo: Pregão Presencial SESI-RJ/SENAI-RJ nº 028/2016 Objeto: Registro de Preços para eventual aquisição de frascos de plástico para atendimento às necessidades do SESI-RJ e do SENAI-RJ. Data abertura das propostas: 06/07/2016, às 14h00. Retirada do edital: http://portaldecompras.firjan.org.br Comissão de Licitações do Sistema FIRJAN-CLSF nados no Senado. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) marcou para amanhã a entrevista com os indicados aos cargos de diretores da autoridade monetária. Para a diretoria de Política Econômica, concorre o economista da PUC-Rio Carlos Viana de Carvalho. Reinaldo Le Grazie ocupará, se aprovado pelos senadores, a diretoria de Política Monetária e Tiago Couto Berriel é o indicado para a diretoria de Assuntos Internacionais. O atual procurador do BC, Isaac Sidney, acesse 140 BANGU SHOPPING Rua Fonseca, 240 SHOPPING METROPOLITANO BARRA Av. Embaixador Abelardo Bueno, 1.300 CASCADURA Av. Dom Helder Camara, 9.783 deixa o posto e pode ter um assento no Copom, se autorizado pelos senadores. Sidney comandará a diretoria de Relações Institucionais. GOLDFAJN TRAÇARÁ CENÁRIO Depois de aprovados pela CAE, os quatro nomes devem ser avalizados pelo plenário do Senado Federal. Só depois disso, os indicados podem assumir os cargos. No mesmo momento em que os senadores fizerem perguntas para os possíveis diretores, o novo presidente do BC, Ilan SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA SESI e o SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL - SENAI tornam público aos interessados que realizará a licitação abaixo: Pregão Eletrônico SESI-RJ/SENAI-RJ nº 043/2016 Objeto: Aquisição de equipamentos para laboratório (balança analítica, destilador de cianeto, termômetro digital e afins) para atender às necessidades de diversas Unidades do SESI-RJ e do SENAI-RJ. Data abertura das propostas: 08/07/2016, às 10h00. Retirada do edital: http://portaldecompras.firjan.org.br Comissão de Licitações do Sistema FIRJAN-CLSF Goldfajn, dará sua primeira entrevista coletiva no cargo. Ele aproveitará a apresentação do relatório trimestral de inflação para traçar um cenário do atual momento econômico do país. A fala ganha ainda mais importância depois de Goldfajn ter passado o fim de semana inteiro em debates com outros presidentes de bancos centrais, na Basileia, Suíça. As atenções estarão voltadas para sua leitura do cenário internacional após a decisão dos britânicos de deixar a União Europeia. l acesse 140 COPACABANA Rua Barata Ribeiro, 181 DUQUE DE CAXIAS (PREZUNIC CENTER) Rua José de Alvarenga, 95 NOVA IGUAÇU Av. Nilo Peçanha, 639 SULACAP (PARQUE SHOPPING SULACAP) Av. Marechal Fontenele, s/nº Oportunidade pós-Lava Jato Com as grandes empreiteiras atoladas na operação LavaJato, têm surgido oportunidades para empresas médias no setor. Agora em julho, um consórcio liderado pela Barbosa Mello Participações, grupo empreiteiro local, assina um contrato de parceria público-privada para modernizar toda a iluminação das ruas de Belo Horizonte. Será a primeira capital brasileira a assinar esse tipo de contrato. Serão trocados 145 mil pontos de luz por lâmpadas LED, mais econômicas e ambientalmente mais sustentáveis. Por 20 anos o consórcio ficará responsável pela manutenção dessa rede, com redução de 45% na conta de luz da prefeitura. l oglobo.globo.com/ blogs/vidor acesse 140 JACAREPAGUÁ (PREZUNIC CENTER) Estr. Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, 906 MADUREIRA SHOPPING Estrada do Portela, 222 TIJUCA Rua Conde de Bonfim, 604 ITABORAÍ SHOPPING Rod. Gov. Mario Covas, BR 101, KM 205 Classificados do Rio. Achou de verdade. classificadosdorio.com.br 2534-4333 classificadosdorio.com.br 2534-4333 l Economia l Segunda-feira 27 .6 .2016 BIS alerta para ‘trindade de riscos’ na economia global Para instituição, mercado estava exposto mesmo antes do Brexit -LONDRES E PEQUIM- A política econômica global precisa urgentemente ser reequilibrada, afirmou o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) ontem, enquanto o mundo enfrenta uma “trindade de riscos”. O BIS, órgão que reúne os principais bancos centrais, disse, ainda, em seu relatório anual que a economia global estava altamente exposta mesmo antes do voto de quinta-feira pela saída do Reino Unido da União Europeia. “Há desenvolvimentos preocupantes, uma espécie de ‘trindade de riscos’, difícil de assistir”, disse o chefe do departamento monetário e econômico do BIS, Claudio Borio, listando esses problemas: “crescimento da produtividade que está anormalmente baixo, jogando uma sombra sobre melhoras futuras no padrão de vida; níveis globais de dívida que são historicamente altos, elevando os riscos à estabilidade financeira; e um espaço notavelmente estreito para manobras políticas.” Ele afirmou que a economia global não pode depender mais do modelo de crescimento estimulado pela dívida, que levou à atual conjuntura. Apesar das taxas de juros abaixo de zero e dos trilhões de dólares em estímulos, os bancos centrais da Europa e do Japão estão tendo dificuldade para levantar a inflação e o crescimento. Os mercados se acostumaram com este suporte, mas estão cada vez mais preocupados de que o poder de fogo já foi, na maior parte, gasto. “Caso essa situação seja prolongada ao ponto de abalar a confiança pública na elaboração de políticas, as consequências para os mercados financeiros e para a economia podem ser sérias”, acrescentou. O BIS também afirma que o mundo está cada vez mais sob risco de ser afetado por turbulências que começam nas economias emergentes, em função da influência crescente destes países no comércio e nas finanças globais. BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/11-07-2013 Brexit. Ministro das Finanças da China, Lou Jiwei: “repercussões vão emergir em cinco anos” A instituição ressalta que nos, emergentes, os tomadores de créditos não bancários — que acumularam trilhões em dívidas em dólar na era do dinheiro barato pós-crise de 2009 — estão sob tensão, enquanto suas economias desaceleram, e as moedas enfraquecem. EFEITO LIMITADO SOBRE A CHINA Legisladores e economistas chineses manifestaram preocupação sobre o Brexit. O ministro das Finanças da China, Lou Jiwei disse que o processo elevou a incerteza no mercado financeiro, apesar de uma expectativa de impacto limitado sobre a economia chinesa. A decisão “lança uma sombra sobre a economia global. As repercussões vão emergir durante os próximos cinco a dez anos”, disse Lou, acrescentando: — A reação instintiva do mercado é provavelmente um pouco exagerada. É preciso acalmar e ter uma visão objetiva. As Bolsas pelo mundo despencaram após o resultado do referendo britâni- co, e a libra atingiu seu menor valor desde 1985 frente ao dólar. As declarações de Lou foram apoiadas pelo chefe do principal órgão de planejamento econômico da China e outros economistas no Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), na cidade de Tianjin. — O incidente do Brexit afetará a economia chinesa através de investimento, comércio e capital, mas acredito que o impacto não será grande, e departamentos de governo relevantes prepararam planos de contingência — afirmou Xu Shaoshi, presidente da Comissão de Reforma e Desenvolvimento Nacional, no WEF. Li Daokui, professor da Universidade de Tsingua e ex-consultor do BC chinês, é mais otimista sobre os efeitos do Brexit na China: — O impacto de curto prazo acho que pode ser na taxa de câmbio do yuan. Mas acho que, dentro de algumas sessões de mercado, a situação será rapidamente controlada. l ‘City’ não deixará de ser centro financeiro, mas se enfraquecerá, diz executivo do Deutsche Bank JOHN MACDOUGALL/AFP/21-6-2016 O inglês John Cryan espera volatilidade acima do habitual nas próximas semanas -BERLIM- O diretor executivo do D eutsche Bank, John Cr yan, afirmou ontem que Londres não morrerá como centro financeiro. Contudo, ele disse acreditar que a região conhecida como City de L ondres — uma pequena área no Centro histórico da capital que funciona há séculos como importante polo financeiro global — ficará enfraquecida após a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia. John Cryan, inglês que divide o tempo entre Frankfurt e Londres, disse ao jornal financeiro alemão “Handelsblatt” que espera maior volatilidade do que o comum nos mercados financeiros nas próximas semanas. “O centro financeiro não morrerá, mas enfraquecerá”, Seu espaço Consequência. Cryan não comentou efeito direto do Brexit para o banco ressaltou Cryan em Londres. O executivo não comentou o possível impacto direto que o Deutsche Bank pode enfrentar após o referendo britânico realizado na quinta-feira. REPATRIAÇÃO O Deutsche Bank emprega ao menos 11 mil funcionários no Reino Unido. A instituição financeira mantém um grupo de trabalho para analisar a repatr iação de parte de sua operação para a zona do euro, sobretudo na Alemanha. Cryan está trabalhando em uma revisão estratégia do maior banco creditício na Alemanha. Ele já anunciou que cortará nove mil postos de trabalho, dos quais quatro mil serão eliminados no país sede. l O escritório que você precisa no momento necessário• Conheça as nossas soluções flexíveis de espaços de trabalho para facilitar a abertura, expansão ou realocação de sua empresa. Escolha a melhor localização para sua empresa no Rio de Janeiro, ou conheça nossa rede global com mais de 3000 centros de negócios, incluindo 11 cidades do Brasil. Escritórios Mobiliados Escritórios Virtuais Coworking Salas de Reunião Business Lounges 0800 707 3487 regus.com.br O GLOBO l 17 Investidores atentos ao desenrolar político Incertezas e apetite moderado por risco vão dar o tom das negociações -SYDNEY E NOVA YORK- A libra — que na sexta-feira registrou sua maior queda para um dia ante o dólar — estendeu o recuo na abertura dos mercados asiáticos hoje (noite de domingo no Brasil). O movimento levou outras moedas europeias a caírem, enquanto a inesperada vitória do voto pela saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de quintafeira pesou nos mercados cambiais pelo segundo dia. E as questões políticas devem se tornar o foco. A cotação da libra caía 1,6% às 7h em Tóquio, a US$ 1,3468, e o euro se desvalorizava em 0,5%. A coroa norueguesa, por sua vez, recuava mais de 2%, também ante a moeda americana. Já a divisa japonesa, comumente comprada em momentos de estresse nos mercados, operava quase estável, a 102,19 por dólar, após chegar a avançar 0,7%. Na sexta-feira, o iene chegou próximo de sua máxima em três anos, a 99,02 por dólar. MENOS US$ 2 TRILHÕES Na sexta-feira, já havia sido possível notar a busca dos investidores por ativos seguros, o que fez com que a cotação do ouro também subisse. As incertezas levaram a quedas generalizadas nas Bolsas de Valores, o que fez com que o mercado global perdesse US$ 2 trilhões. O foco agora está mudando e sendo direcionado para os bancos centrais, enquanto estas instituições buscam uma forma de minimizar os danos nos mercados. Isso também se reflete nas expectativas. Agora, as apostas de que o banco central americano (Fed) vá aumentar os juros em dezembro caiu para 15%. Antes do referendo, 50% esperavam a alta. — Os desenvolvimentos políticos vão definir, em grande parte, o tom para os mercados nas próximas semanas, e muitas questões continuam sem resposta — avaliou Jason Wong, estrategista cambial do Banco da Nova Zelândia. — A incerteza à frente sugere que um período de apetite moderado por risco deve se desenvolver nas próximas semanas. Entre os temores no radar dos investidores, está o receito de que os investimentos das empresas tanto na UE quanto na Grã Bretanha serão adiados, agravando a situação nas já fragilizadas economias. Ninguém sabe exatamente qual será o impacto do Brexit, o que é um grande problema, já que para investimentos de longo prazo as empresas precisam ter uma ideia clara sobre regras de comércio e tarifas, além das regulações, que enfrentarão no futuro. Assim, o voto pela saída do Reino Unido deixou o horizonte ainda mais imprevisível. Andrew Hood, diretor sênior da Dechert, disse à agência de notícias AP, que grandes empresas de tecnologia e manufatura temem enfrentar problemas se o Reino Unido focar demais em manter os serviços financeiros. Segundo Hood, ele já ficou sabendo de três acordos postos em espera indefinidamente em função do Brexit. l Partidos em guerra interna, na página 19 18 l O GLOBO l Economia l Luz amarela para ações de operadoras de telefonia Setor, que sempre foi visto como defensivo, passa por mudanças, o que exige cautela, dizem analistas JOÃO SORIMA NETO [email protected] -SÃO PAULO- O pedido de recuperação judicial da Oi acendeu a luz amarela para os investidores que sempre viram no setor de telecomunicações um porto seguro no mercado acionário. Consideradas defensivas, já que oscilam menos que a média do mercado, além de boas pagadoras de dividendos (parte do lucro que é distribuída aos acionistas), as ações das teles, segundo especialistas, estão em processo de mudança. Por isso, eles recomendam cautela com esses papéis. — As ações de telecomunicações sempre foram procuradas pelo investidor interessado em receber dividendos, o que ajuda a se proteger de perdas no mercado de ações em tempos de baixa. Mas a crise da economia e as mudanças tecnológicas estão afetando o negócio — explica Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos. Na prática, as empresas do setor estão tendo que se reinventar, e isso tem um custo. Com as inovações tecnológicas constantes (3G, 4G), elas precisaram aumentar seus investimentos para atender às necessidades do consumidor. Isso consome o caixa, eleva o endividamento e reduz os dividendos, explicam analistas. É um cenário diferente do observado logo após a privatização das teles, no início dos anos 2000, quando a Telebras foi fatiada em 12 empresas, que tiveram de investir pesado em infraestrutura para, depois, fazer apenas a manutenção. — Era uma receita constante Você investe FÔLEGO MENOR MUDANÇA NO MODELO DE NEGÓCIOS E CRISE ECONÔMICA AFETAM SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES (EM BILHÕES DE REAIS) Oi TIM NOVA ONDA DE REESTRUTURAÇÃO No Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, o setor de telecomunicações representa hoje apenas 2,9%, o que mostra a rapidez da consolidação. No passado, as ações das teles já chegaram a representar quase 50% da carteira do índice. Na Guide, a única recomendação positiva entre os três papéis é para a Vivo. Segundo Ohmachi, embora a companhia tenha sofrido com a conjuntura adversa para o setor, ela se mantém eficiente, com margens maiores de ganho e bom pagamento de dividendos. Na Bolsa, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Vivo, que têm prioridade no recebimento dos dividendos, têm valorização de 19,3% no ano. Já os papéis PN da Oi têm queda de 22,3% em 2016. Na semana passada, no dia seguinte ao pedido de recuperação judicial, as ações da operadora chegaram a 21/06 0,2169% 22/06 0,2135% 23/06 0,2057% Selic: 14,25% Correção da Poupança Até 03/05/12 DIA 09/07 10/07 11/07 12/07 13/07 14/07 15/07 16/07 17/07 18/07 19/07 20/07 21/07 22/07 23/07 HOJE - PESQUISAS: A FGV divulga a Sondagem do Consumidor de junho. Em maio, o indicador ficou em 67,9 pontos. No dia 29, sai o IGP-M de junho. Espera-se aceleração de 0,82% para 1,52% A partir de 04/05/12 ÍNDICE 0,7121% 0,6694% 0,6635% 0,6923% 0,7132% 0,6945% 0,6834% 0,7217% 0,6795% 0,6529% 0,6911% 0,7316% 0,7180% 0,7146% 0,7067% DIA 09/07 10/07 11/07 12/07 13/07 14/07 15/07 16/07 17/07 18/07 19/07 20/07 21/07 22/07 23/07 ÍNDICE 0,7121% 0,6694% 0,6635% 0,6923% 0,7132% 0,6945% 0,6834% 0,7217% 0,6795% 0,6529% 0,6911% 0,7316% 0,7180% 0,7146% 0,7067% Obs: Segundo norma do Banco Central, os rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem ao dia 1º do mês subsequente. 1,8 Dezembro -3,9% Janeiro -6,79% Fevereiro +5,91% Março +16,9% Abril +7,7% Maio -10,1% R$ 788 R$ 788 R$ 880 R$ 880 R$ 880 R$ 880 R$ 953,47 R$ 1.052,34 R$ 1.052,34 R$ 1.052,34 R$ 1.052,34 R$ 1.052,34 Obs: * O valor do salário mínimo a partir de 1º de janeiro de 2016 é de R$ 880. ** Piso para empregado doméstico, entre outros. IMPOSTO DE RENDA IR NA FONTE JUNHO 2016 Base de cálculo R$ 1.903,98 De R$ 1.903,99 a 2.826,65 De R$ 2.826,66 a 3.751,05 De R$ 3.751,06 a 4.664,68 Acima de R$ 4.664,68 Alíquota Parcela a deduzir Isento 7,5% 15% 22,5% 27,5% — R$ 142,80 R$ 354,80 R$ 636,13 R$ 869,36 Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) dedução especial para aposentados, pensionistas e transferidos para a reserva remunerada com 65 anos ou mais: R$ 1.903,98; c) contribuição mensal à Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido a acordo ou sentença judicial. Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa. Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRPF este ano. A correção da terceira parcela do IRPF de 2016, que vence no dia 30 de junho, é de 2,11%. Desde março, a situação se agravou. Ao pedir recuperação judicial, a empresa informou uma dívida de R$ 65,4 bilhões Dívida bruta 4 2,2 1,9 41,7 51 2,3 2016* 2010 27 14,4 16,4 10,2 2010 2016* 2010 2016* 2010 2016* 2010 2016* 15,7 Operadora vem enfrentando dificuldades em suas operações 2010 4,3 -6,22 2016* 3,2 2010 2016* Fonte: Economática *Em 12 meses até março Reinvenção. Rafael Ohmachi, da Guide: “A crise da economia e as mudanças tecnológicas estão afetando o negócio” cair mais de 30%, recuperandose após o governo sinalizar que agilizará a tramitação da Lei Geral das Comunicações. Na quinta e na sexta-feira, subiram 35% e 18%, respectivamente. A TIM, que só negocia ações ordinárias (ON, com direito a voto), perde 1,4% no ano. Ohmachi observa que, para o investidor que busca o pagamento de dividendos, há hoje empresas do setor de energia mais interessantes que as teles: — Os papéis de algumas transmissoras de energia, como Alupar e Taesa, estão oferecendo dividendos melhores que os do setor de telecomunicações. Para o consultor de investimentos Paulo Bittencourt, o in- Salário de contribuição (R$) Até 1.556,94 de 1.556,95 a 2.594,92 de 2.594,93 a 5.189,82 Alíquota (%) 8 9 11 Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa (artigo 22 do regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social). Trabalhador autônomo Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da contribuição deverá ser de 20% do salário-base. Contribuição mensal mínima de R$ 176,00 (para o piso de R$ 880,00) e máxima de R$ 1.037,96 (para o teto de R$ 5.189,82) Junho R$ 1,0641 Obs: foi extinta 29/6 - DESEMPREGO: O IBGE informa os dados de emprego referentes a maio, pela Pnad Contínua Mensal. Em abril, o índice de desemprego foi de 11,2%. As projeções apontam 11,4% UFIR/RJ Junho R$ 3,0023 IPCA (IBGE) (12/93=100) 4493,17 4550,23 4591,18 4610,92 4639,05 4675,23 Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08 Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj = 44,2655 Ufir-RJ) No ano Últ. 12meses 0,96% 10,67% 1,27% 1,27% 0,90% 2,18% 0,43% 2,62% 0,61% 3,25% 0,78% 4,05% 10,48% 10,67% 10,71% 9,39% 9,28% 9,32% Índice Variações percentuais Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio 617,044 624,060 632,114 635,349 637,434 642,651 No mês No ano Últ. 12meses 0,49% 10,54% 1,14% 1,14% 1,29% 2,44% 0,51% 2,97% 0,33% 3,30% 0,82% 4,15% 10,54% 10,95% 12,08% 11,56% 10,63% 11,09% IGP-DI (FGV) Índice Variações percentuais (8/94=100) UNIF No mês IGP-M (FGV) (8/94=100) Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio 610,128 619,476 624,366 627,060 629,345 636,468 móvel e transmissão de dados de forma separada. Hoje, as empresas precisam oferecer os três serviços integrados, além de ter em seu pacote a TV por assinatura. Bittencourt lembra ainda que a crise econômica reduziu o consumo dos serviços de telefonia nas classes C e D, que migraram para os pré-pagos e usam WiFi para transmissão de dados. Ele acredita que a situação da Oi pode desencadear uma nova onda de reestruturação do setor, com a entrada de grandes grupos estrangeiros, por exemplo. E que TIM e Vivo podem se beneficiar com a migração de clientes da Oi. Isso, diz, teria impacto positivo nos papéis do setor, mas esse cenário ainda é incerto. 2016* 2010 2016* No mês Para quem já tem ações da Oi em seu portfólio, o especialista em investimentos do banco Ourinvest, Mauro Calil, recomenda a venda dos papéis se eles representarem uma parte pequena do total de recursos aplicados. Mas, se o valor alocado for robusto, o melhor é esperar. — Se o valor alocado for igual ou superior a 50% do total de investimentos, é melhor ficar com as ações. Mas se representar apenas 5% do portfólio, o ideal é cair fora. E para quem não tem nenhum papel de tele neste momento, não recomendo comprar. Há outras alternativas na renda variável mais interessantes, como os fundos recebíveis imobiliários, que oferecem um retorno melhor no curto e médio prazo — diz Calil. DEBÊNTURES: NA FILA Os investidores que aplicam em fundos de investimento com papéis da Oi também terão perdas. Isso porque esses fundos terão de reconhecer o prejuízo e provisionar perdas, o que afetará negativamente o rendimento. Levantamento da Economática mostra que 163 fundos têm debêntures ou ações da Oi, no total de R$ 519 milhões. Como as debêntures são títulos de dívida privada emitidos por uma empresa, quando ela entra em recuperação judicial o pagamento é suspenso. — Os donos de debêntures entram na fila com os demais credores para receber. Algumas debêntures oferecem garantias, como imóveis ou o pagamento atrelado à receita da empresa. Isso pode reduzir um pouco o prejuízo — explica Calil. l 30/6 - REINO UNIDO: O governo britânico publica os dados revisados do PIB no primeiro trimestre. Segundo analistas, o crescimento de 0,4% divulgado em maio não deve ser alterado 1/7 - INDÚSTRIA: O IBGE divulga a produção industrial referente a maio. E o Ministério do Desenvolvimento informa o resultado da balança comercial para o mês de junho CÂMBIO BOLSA DE VALORES: Informações sobre cotações diárias de ações e evolução dos índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser obtidas no site da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI podem ser consultadas nos sites de Anbima (www.anbima.com.br) e Cetip (www.cetip.com.br). A Taxa Básica Financeira (TBF) está disponível no site do Banco Central (www.bc.gov.br). Para visualizá-la, clicar em “Economia e finanças” e, posteriormente, em “Séries temporais” FUNDOS DE INVESTIMENTO: Informações disponíveis no site da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), www.anbima.com.br. Clicar em “Fundos de investimento” IDTR: Pode ser consultado no site da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na barra “Serviços” e, posteriormente, em FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados ÍNDICE DE PREÇOS: Outros indicadores podem ser consultados nos sites da Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da Anbima (www.anbima.com.br) DÓLAR Índice Variações percentuais Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio 1,8 | INFLAÇÃO Trabalhador assalariado UFIR vestidor pessoa física deve, neste momento, ficar fora dos papéis de telecomunicações. Ele não vê parâmetros para estimar o comportamento dessas ações em prazo mais longo, como deve ocorrer com o investimento em renda variável. — Estamos em um momento de mudança de paradigma no setor, em que o modelo de negócios está sendo reelaborado, com novo mix de produtos. Por isso, acho os papéis arriscados para investidor pessoa física, que tem pouca informação. O momento é de cautela, e é melhor esperar — explica. O consultor observa que o modelo de privatização foi concebido para oferecer telefonia fixa, Fique de olho AMANHÃ - EUA: O governo americano divulga a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. A previsão é que o dado fique em 1%, contra 0,8% da estimativa anterior 2010 8,9 7,04 Editoria de Arte PEDRO KIRILOS INSS/JUNHO BOVESPA SAL. MÍNIMO SAL. MÍNIMO (FEDERAL)* (RJ)** TR Lucro líquido e previsível, com fluxo de caixa estável — diz Ohmachi. Nas três companhias do setor que têm ações negociadas na Bolsa de Valores, Oi, TIM e Telefônica Brasil (Vivo), a distribuição de dividendos vem minguando nos últimos anos. Segundo levantamento da consultoria Economática, a Oi pagou R$ 2,4 bilhões em dividendos em 2012 — mas, no ano passado, apenas R$ 57 milhões. Na Vivo, a divisão dos lucros com os acionistas caiu de R$ 5,3 bilhões em 2011 para R$ 3,6 bilhões em 2015. E na TIM, encolheu de R$ 734 milhões em 2013 para R$ 360 milhões no ano passado. A Claro não tem papéis no pregão. ÍNDICES Indicadores Vivo Receita líquida | HOJE - SAGA BREXIT: Os investidores acompanharão com a atenção os mercados de ações e de câmbio, que ainda devem reagir à decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia Segunda-feira 27 .6 .2016 No ano Últ. 12meses 1,19% 10,21% 0,44% 10,70% 1,53% 1,53% 0,43% 2,78% 0,36% 3,15% 1,13% 4,32% 10,64% 10,70% 11,65% 11,07% 10,46% 11,26% Dólar comercial (taxa Ptax) Paralelo (São Paulo/CMA) Diferença entre paralelo e comercial Dólar-turismo esp. (Banco do Brasil) Dólar-turismo esp. (Bradesco) EURO Euro comercial (taxa Ptax) Euro-turismo esp. (Banco do Brasil) Euro-turismo esp. (Bradesco) Compra R$ Venda R$ 3,3766 3,30 -2,27% 3,28 3,3772 3,50 3,63% 3,46 3,13 3,57 Compra R$ Venda R$ 3,7558 3,6413 3,47 3,7571 3,8482 3,96 OUTRAS MOEDAS Cotações para venda ao público (em R$) Franco suíço Iene japonês Libra esterlina Peso argentino Yuan chinês Peso chileno Peso mexicano Dólar canadense 3,47015 0,0330056 4,60844 0,226469 0,509689 0,00496328 0,178430 2,60038 FONTE: MERCADO Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e www.oanda.com. Segunda-feira 27 .6 .2016 O GLOBO Mundo A nova Europa l 19 Partidos em guerra interna Conservadores se dividem sobre sucessão de Cameron, e trabalhistas se rebelam contra líder ODD ANDERSEN/AFP Racha britânico. Homens caminham sobre a ponte de Westminster envoltos em bandeiras do Reino Unido: decisão pela saída da União Europeia deu início a uma disputa interna de poder nos partidos Conservador e Trabalhista DAN BALZ, ANTHONY FAIOLA E GRIFF WITTE Do “Washington Post” U As consequências políticas da decisão sem precedentes do Reino Unido de deixar a União Europeia (UE) intensificaram-se ontem, com uma rebelião interna nos dois principais partidos do país. De um lado, o Partido Conservador se divide sobre a escolha do sucessor do primeiro-ministro David Cameron. Do outro, o líder do Partido Trabalhista, da oposição, denuncia uma tentativa de golpe. Descrito como o evento mais importante na História do pós-guerra do Reino Unido, o referendo que deu vitória ao Brexit (saída do bloco europeu) deixou o país instável, praticamente sem líder e em território desconhecido. O complexo processo de negociação dos termos da separação da UE colidiu com uma crise de liderança, desencadeada pela revolta dos eleitores contra quase todo o establishment político. Na madrugada de domingo, foi noticiada a primeira baixa do Partido Trabalhista como resultado direto do Brexit. O líder Jeremy Corbyn demitiu Hilary Benn, um dos membros mais antigos de sua equipe de liderança e secretário de Relações Exteriores do chamado Gabinete paralelo, a quem acusou de conspirar contra ele. A demissão de Benn provocou a debandada de outros dez membros da cúpula da sigla, que renunciaram em solidariedade ao colega. A revolta nas fileiras da principal legenda da oposição reforçou o temor de que o partido sofra o que Benn chamou de uma derrota “catastrófica” se houver uma eleição geral em novembro, depois de o Partido Conservador escolher um novo líder para suceder a Cameron. — Ele é um homem bom e decente, mas não é um líder — disse Benn sobre Corbyn, à BBC. PARTIDO TRABALHISTA -LONDRES- TRABALHISTA ENFRENTA MOÇÃO DE DESCONFIANÇA Corbyn enfrenta um voto de desconfiança entre os seus pares nesta semana, mas prometeu manter-se firme contra os esforços para derrubá-lo. Eleito líder no ano passado numa onda de entusiasmo por suas posições de esquerda, o trabalhista está sendo criticado por falhar em persuadir eleitores em votarem pela permanência na UE. Ele tem amplo apoio de membros da base do partido, o que poderia resultar numa guerra civil potencialmente desastrosa dentro da sigla. “Lamento que tenha havido renúncias hoje em meu Gabinete paralelo. Mas não vou trair a confiança daqueles que votaram em mim, ou os milhões de apoiadores país afora que precisam dos trabalhistas para representá-los”, disse Corbyn num comunicado. “Aqueles que quiserem mudar a liderança trabalhista devem concorrer numa eleição democrática, na qual eu serei candidato.” O destino de Corbyn, porém, é visto como secundário em relação à escolha de quem vai liderar os conservadores, uma vez que o nomeado U SEM SINTONIA REUTERS ‘RECALL’ DO BREXIT PARTIDO CONSERVADOR REUTERS AFP AFP Puxão de tapete. Hilary Benn (esquerda) e Corbyn Rivais pela liderança. Theresa May e Boris Johnson REBELIÃO DE CORRELIGIONÁRIOS SUCESSÃO EM ABERTO O líder trabalhista Jeremy Corbyn, à esquerda da maioria de seus correligionários, nunca teve apoio expressivo na bancada. Em sua eleição, em 2015, menos de 20 dos 230 deputados trabalhistas votaram nele, mas sua vitória foi garantida pelos votos dos filiados ao partido. Acusado de fazer campanha anti-Brexit morna, sofre contestação liderada pelo agora ex-secretário de Relações Exteriores do Gabinete paralelo, Hilary Benn. A vitória do Brexit levou à renúncia do premier David Cameron, que apoiou a permanência na UE. A próxima eleição só precisa ser convocada em 2020, mas com a saída do premier, especula-se que seu sucessor, a ser escolhido internamente no partido, possa antecipá-las. Boris Johnson, um dos líderes do Brexit, é candidato forte, mas enfrentará a secretária do Interior, Theresa May, cujo nome é articulado pela ala contrária ao ex-prefeito de Londres. se tornará imediatamente premier. Os conservadores se reunirão em outubro para apontar um novo comandante. Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e a voz de liderança na campanha pela saída da UE, está sendo considerado o favorito para assumir o lugar de Cameron. Mas o exuberante Johnson é um ímã de controvérsias, e emergiram relatos ontem sobre esforços por parte de outros conservadores para negar-lhe o cargo, que ele vem manobrando para reivindicar. Uma possível rival do ex-prefeito é Theresa May, atualmente secretária do Interior e uma silenciosa militante a favor da permanência do Reino Unido no bloco europeu. Ela é vista como uma alternativa a Johnson e uma figura que poderia unificar o partido após o terremoto provocado pelo referendo também no Partido Conservador — cujos parlamentares ficaram praticamente rachados ao meio sobre a saída. Alan Duncan, deputado conservador e ex-ministro, disse que é errado considerar que o novo líder deva ser necessariamente um partidário do Brexit. Outro possível candidato é Amber Rudd, secretário de Energia, que confrontou Johnson na TV e agora está sendo pressionado a concorrer pela ala mais progressista. A crise política se acentuou no momento em que líderes europeus continuam a exigir a ação rápida do Reino Unido para a separação. O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, pediu ontem a Cameron que inicie o processo já amanhã, quando será realizada uma cúpula europeia. O premier deixou a seu sucessor a tarefa. — Essa atitude de dúvida, simplesmente para seguir o jogo tático dos conservadores, prejudica a todos — afirmou Schulz. Ao mesmo tempo, a ministra-chefe da Escócia, Nicola Sturgeon, pressiona pela realização de um novo referendo para declarar a independência do Reino Unido e buscar um acordo separadamente para ficar na UE. Ela reiterou a determinação de avançar com ações que poderiam desmantelar o país. Embora os escoceses tenham rejeitado a independência nas urnas, há dois anos, as circunstâncias mudaram, disse Sturgeon ontem à BBC. PAPA PEDE ‘CRIATIVA E SAUDÁVEL DESUNIÃO’ Pesquisas apontam que a opção separatista volta a crescer entre os escoceses após o Brexit. A premier também levantou a possibilidade de o Parlamento escocês tentar bloquear a separação. Especialistas, porém, dizem que o órgão não pode vetar a retirada britânica da UE, embora possa não dar seu consentimento sobre questões relativas aos poderes autônomos do país que passem pelo bloco. Alertando contra o “ar de divisão na Europa”, o Papa Francisco afirmou ontem que a UE deve “redescobrir a força em suas raízes, uma criativa e saudável desunião, dando mais independência e mais liberdade para os países da união”. (Com agências internacionais) l PETIÇÃO É INVESTIGADA POR SUPOSTA FRAUDE -LONDRES- A petição demandando a realização de um novo plebiscito sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia (UE) já obteve mais de três milhões de assinaturas. A iniciativa, porém, está sendo investigada, após denúncias de irregularidades. O Parlamento britânico confirmou que monitora de perto o processo, e o Comitê que analisa petições já anulou 77 mil assinaturas, suspeitas de terem sido computadas de forma fraudulenta. A petição só pode ser assinada por cidadãos britânicos e residentes do Reino Unido. Dados da campanha, no entanto, mostram assinaturas oriundas de vários países, inclusive Islândia, Ilhas Cayman e Tunísia. Além disso, em alguns casos, o número de assinaturas supera o da população. É o caso do Vaticano, cuja população é de apenas 800 habitantes, mas aparentemente 39 mil residentes da cidade-Estado assinaram o pedido. Helen Jones, presidente do Comitê de petições, afirmou que as assinaturas falsas serão eliminadas e acrescentou que essas fraudes “enfraquecem o processo de democracia parlamentar”. O dado curioso é que William Oliver Healey, autor da petição para refazer o plebiscito, é partidário do Brexit. Ele fez o pedido em maio passado, temendo que a opção por sair da União Europeia fosse derrotada na consulta. Em sua página no Facebook, Healey admitiu ser o criador da petição, acrescentando que devido ao resultado do plebiscito, os que apoiam a opção pela permanência na UE “sequestraram” a petição. Segundo a proposta, qualquer plebiscito que não receba ao menos 60% dos votos com 75% de comparecimento às urnas deve ser refeito. O resultado foi de 52% pela saída, contra 48% por permanecer no bloco, com 72% de comparecimento. Especialistas indicam que a chance de a petição ir adiante é quase nula, por se referir a fato já passado. A petição de Healey já é a mais assinada desde que esse tipo de mobilização on-line foi introduzido no Reino Unido, em 2011. Qualquer petição com mais de cem mil adesões obriga o Parlamento a debater suas propostas. 20 l O GLOBO l Mundo l Segunda-feira 27 .6 .2016 A nova Europa Brexit estimula clima xenófobo no Reino Unido Incidentes racistas contra poloneses e outros imigrantes se espalham; cidadãos do Leste Europeu cogitam partir AFP GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER Correspondente [email protected] Após terem servido como um dos pretextos para a saída da União Europeia (UE), os imigrantes do Leste Europeu que vivem no Reino Unido e não têm grandes chances de permanecer quando os britânicos deixarem o bloco já começaram a manifestar a intenção de voltar a seus países de origem. Esta é pelo menos a conclusão de um estudo do Instituto de Relações Internacionais de Varsóvia, que constatou a tendência em 40% dos chamados “migrantes do trabalho”. Desde a realização do plebiscito, na última quinta-feira, inúmeros incidentes de cunho xenófobo e racista ocorreram no país. A polícia britânica investiga um ataque “racialmente motivado” de vândalos contra a Associação Social e Cultural Polonesa, um centro comunitário no Oeste de Londres, cujas paredes e janelas foram pichadas com a expressão “Go home” (“vá embora”). Em Cambridgeshire, as autoridades apuram a distribuição de panfletos deixados do lado de fora de uma escola primária, onde se lia: “Saiam da UE! Chega de vermes poloneses!”. Hoje, vivem no Reino Unido 850 mil poloneses — o maior grupo de estrangeiros do Leste Europeu. Há cinco anos, eram no total 700 mil. Desde então, vieram para o Reino Unido mais 2,6 milhões, sobretudo dos países pobres do Leste. O combate a essa migração foi um tema central da campanha do Brexit. — Não há dúvida de que o Reino Unido está dando uma guinada para um clima mais racista — disse Adam Posen, diretor do Peterson Institute for International Economics. Incerteza. Mulher observa a loja de um pequeno comerciante polonês em Berwick-upon-Tweed, no Norte da Inglaterra: clima de incerteza entre imigrantes cresceu após referendo RISCO DE DEPORTAÇÃO Para defender os interesses dos seus cidadãos e evitar o caos que resultaria se houvesse um retorno maciço de imigrantes, o chefe do governo tcheco, Bohuslav Sobotka, exigiu que também os países do Leste Europeu participem das negociações sobre o Brexit. Cem mil tchecos vivem no Reino Unido. Segundo o estudo do instituto de Varsóvia, eles querem voltar porque sabem que não poderão ficar. Mesmo os que querem ficar, mas chegaram há menos de cinco anos, precisam contar com o risco de deportação. Dados do governo polonês revelam que cerca de 400 mil poderão ser deportados. Durante o debate sobre o Brexit, muitos poloneses decidiram se mudar de Londres para Berlim, elevando o número de trabalhadores poloneses residentes na capital alemã nos últimos meses em 50%, para 354 mil. Com a boa imagem de trabalhar bem, de forma meticulosa, rápida e barata, os poloneses e outros imigrantes do Leste são, porém, alvo das críticas dos sindicatos, que receiam a pressão de redução dos salários. Eles também são acusados de “roubar” os empregos dos britânicos. Marek Szczesny, polonês que vive em Londres há oito anos, afirmou que há um clima de grande apreensão entre os imigrantes do Leste da Europa, sobretudo os que chegaram nos últimos cinco anos, mais vulneráveis à deportação. O presidente da Polônia, Andrej Duda, aconselhou os compatriotas a voltarem para a pátria, mas Szczesny diz que muitos têm medo de retornar para a pobreza e o desemprego. Desde que a Polônia ingressou na UE, em 2004, a situação econômica melhorou bastante. O desemprego caiu de 20% para cerca de 10%, taxa registrada em dezembro último. Mas o nível salarial do país é ainda bem mais baixo do que a média da UE. Muitas cidades pequenas, sobretudo do Leste, perto da fronteira com a Ucrânia, encolheram nos últimos anos com a emigração em massa. Diversos analistas afirmam que o desemprego caiu porque os desempregados foram embora. Para o economista alemão Gabriel Felbermayr, com o Brexit os ingleses disseram clara- -BERLIM- mente aos europeus do Leste: “Não queremos mais vocês aqui”. Segundo Jasvir Singh, advogado em Londres e ativista do Partido Trabalhista, o tom do plebiscito “legitimou a retórica racista”: — Há agora uma minoria que se sente fortalecida para usar o resultado do plebiscito para expressar seu ódio. AGRESSÕES VERBAIS A IMIGRANTES Desde a vitória do Brexit, os britânicos estão denunciando incidentes xenófobos e racistas nas redes sociais, como Facebook e Twitter. Cerca de cem foram registrados nos últimos dias. Fiona Anderson, por exemplo, disse ter testemunhado num ônibus uma senhora dizendo a uma jovem polonesa e seu bebê para “fazer as malas e dar o fora”. Já Heaven Crawley, professor da Coventry University, disse no Twitter que sua filha “ao sair do trabalho em Birmingham, viu um grupo de jovens encurralar uma menina muçulmana, enquanto gritavam: “Saia, nós votamos pelo Brexit”. (Com agências internacionais) l Produção cultural deve ficar mais difícil e cara REUTERS Saída da UE pode afetar sobretudo os projetos que dependem do financiamento das agências de fomento europeias SILVIO ESSINGER [email protected] Responsável, em grande parte, pela imagem que o mundo faz do Reino Unido, a sua indústria cultural deve ser profundamente afetada com a decisão dos britânicos de se retirarem da União Europeia (UE). Reconhecida em todo o mundo por causa de artistas que vão de Beatles a One Direction, a indústria fonográfica britânica — que traz, anualmente, cerca de £ 4 bilhões para os cofres do governo — será uma das primeiras a sentir o baque, alerta Geoff Taylor, presidente executivo da BPI, associação que representa os produtores de música gravada no Reino Unido. — O resultado do referendo da UE virá como uma surpresa para muitos na comunidade de música, que ficará preocupada com a incerteza econômica que se avizinha e com o impacto que isso pode ter sobre as perspectivas de negócios — alerta Taylor. — Essa decisão vai significar novas prioridades para a indústria da música em nosso trabalho com o governo. GOLPE PARA AS PRODUÇÕES INDEPENDENTES A ideia daqui para frente, afirma o executivo, é pressionar as autoridades a negociarem rapidamente acordos comerciais que garantam o livre acesso aos mercados da UE para a música britânica e para os seus artistas em turnê. — Nosso governo também terá agora a oportunidade de legislar em prol de regras mais severas para os direitos autorais que incentivem o investimento aqui no Reino Unido e que protejam os criadores da pirataria e da perda de dinheiro, nas brechas da lei, com as plataformas de tecnologia — acrescenta. De Lily Allen aos Chemical Brothers, passan- Protesto. Um flash mob, realizado no Festival de Glastonbury, pediu a permanência do Reino Unido na União Europeia do pelo guitarrista dos Smiths, Johnny Marr, muitos foram os músicos britânicos que lamentaram o resultado do referendo. Entre os nomes mais notórios da música, apenas os vocalistas do The Who, Roger Daltrey, e do Iron Maiden, Bruce Dickinson, assumiram publicamente a defesa do afastamento da União Europeia. Presidente da Independent Film and Television Alliance e sócio da GFM Films, Michael Ryan acredita que a decisão dos eleitores britânicos tenha efeito “devastador” para o setor criativo dos países, como afirmou em comunicado divulgado na sexta-feira. “É um grande golpe para a indústria do cinema e da TV. A produção de filmes e de programas de televisão é um negócio muito caro e muito arriscado, e é obrigatório que haja certeza sobre as regras que afetam o negócio.” Para Ryan, a mudança abala as fundações da indústria britânica. “A partir de hoje, já não sabemos como os nossos relacionamentos com os coprodutores, financiadores e distribuidores vão funcionar, nem se novos impostos serão lançados sobre nossas atividades no resto da Europa, ou como o financiamento de produção vai ser obtido sem apoio de agências de financiamento europeias.” Como demorará anos — pelo menos dois, provavelmente algo entre cinco e seis — para o Reino Unido desembaraçar-se legalmente das instituições europeias, a insegurança jurídica tornará mais difícil e cara a realização de filmes independentes com o envolvimento britânico, acredita o executivo. “A incerteza é o maior problema”, aponta Michael Ryan. “Fazer um filme independente financiado é arriscado mesmo no melhor dos tempos. Isto significará ainda mais gastos com advogados e contadores... Daqui a cinco ou seis anos, tenho certeza que vamos ficar bem. Até lá, estamos ferrados.” l PENÚRIA Cornualha: se arrependimento matasse... Região pobre votou pelo Brexit, e agora teme perder recursos que vinham da UE -LONDRES- E nquanto alguns têm ressaca pelo Brexit, a Cornualha tem pesadelos. Só agora, depois de dar 56,52% de seus votos pela saída da União Europeia (UE), a região — uma das mais pobres do Reino Unido — se deu conta de que é fortemente dependente dos subsídios do bloco. E a perspectiva de ficar sem os cruciais recursos fez a ficha cair nos dias seguintes ao referendo. Não bastou a ligação histórica com a Europa — a região foi povoada pelos celtas assim como a Bretanha, que está do outro lado do Canal da Mancha — para fazer os habitantes locais se comoverem pela permanência na UE. Os córnicos seguiram a pregação do campo do Leave (de “sair”) de que o dinheiro pago à UE poderia ser utilizado internamente. Localizado no Sudoeste da Inglaterra, o condado com pouco mais de 500 mil habitantes enfrenta a decadência de suas principais atividades econômicas — a mineração e a pesca— e recebe anualmente cerca de € 82 milhões da UE para projetos de desenvolvimento, que incluem desde banda larga à construção de um campus universitário em Penryn. Com a vitória do Brexit, a região espera que o fluxo de dinheiro não pare, como afirmou o conselho local em um comunicado: “Antes do referendo, fomos assegurados de que a decisão não afetaria o financiamento já alocado para a Cornualha. Estamos pedindo aos ministros a confirmação urgente de que esse é o caso”. John Pollard, líder do conselho local, disse ao jornal inglês “The Independent” que tomará as medidas necessárias: A Cornualha tem mesmo o que temer. Após a divulgação do resultado do referendo, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), Nigel Farage, afirmou não estar certo de que todas as promessas seriam cumpridas. l l Mundo l Segunda-feira 27 .6 .2016 2ª Edição O GLOBO Espanha volta ao ponto de partida após nova eleição l 21 MARCELO DEL POZO/REUTERS PP melhora desempenho, mas, sem maioria, Rajoy terá de negociar PARLAMENTO FRAGMENTADO M AI OR QUATRO PARTIDOS DIVIDEM A MAIOR PARTE DOS ASSENTOS 71 PSOE 90 PSOE PP 2016 69,84% 85 76 :1 IA 137 Participação dos eleitores 123 PP 350 69 PO PO DE M OS UPUPEC 2 assentos 40 32 26 25 OUTROS OUTROS 2015 Fonte: Agências internacionais fim do bipartidarismo entre PP e PSOE, com a entrada em cena de Podemos e Cidadãos, que fizeram campanha com temas como combate à corrupção e críticas à austeridade. Líder do Podemos, Pablo Iglesias reconheceu o desempenho aquém do esperado e expressou preocupação com o au- Editoria de Arte mento do apoio ao conservador PP. Com o lema da mudança e da esperança, o Podemos nasceu em grande parte do movimento dos Indignados e teve uma rápida ascensão. — Os resultados não foram satisfatórios. Tínhamos expectativas diferentes — afirmou. As últimas sondagens antes Iraque anuncia retomada total de Falluja REUTERS Militares sufocam últimos focos de resistência do Estado Islâmico -BAGDÁ- O governo do Iraque anunciou ontem que as Forças Armadas do país, com apoio aéreo dos Estados Unidos, retomaram completamente a cidade de Falluja, que estava sob poder do grupo extremista Estado Islâmico (EI) desde janeiro de 2014. Localizada a 50 quilômetros a oeste de Bagdá, a cidade já havia sido parcialmente libertada há cerca de uma semana, mas o EI ainda resistia em algumas áreas, inclusive o distrito de Jolan. — Hoje, o comandante das operações em Falluja, general Abdelwahab al-Saadi, anuncia que a cidade foi libertada depois que as forças de elite antiterroristas assumiram o controle do bairro al-Jolan — afirmou ontem o porta-voz militar Sabah al-Noman. — Al-Jolan, último bastião do Daesh (acrônimo em árabe do grupo Estado Islâmico) na cidade, está agora protegido deste grupo terrorista. A ofensiva para reconquistar Falluja teve início em 23 de maio e resultou na morte de pelo menos 1,8 mil combatentes do EI. Mais de 85 mil residentes da cidade fugiram para UN ID OS OS ADÃ CID CIDADÃOS ACENA AO PP Ontem mesmo, o líder do Cidadãos, Albert Rivera, anunciou a disposição de abrir negociações imediatas para uma coalizão com o PP. Os dois partidos juntos teriam 169 cadeiras — ainda sete abaixo da maioria absoluta, mas há chance de cooptar outros dois partidos menores com mais seis cadeiras. Após os partidos fracassarem na tentativa de formar um governo de coalizão, o rei Felipe IV foi forçado a convocar novas eleições para romper o bloqueio político na quarta maior economia da zona do euro, com um governo interino desde dezembro. Como na votação de ontem, nenhum partido havia conseguido maioria parlamentar. — Espero que façam melhor desta vez e sejam capazes de deixar o egoísmo e formar um governo — disse à AFP Justina Zamora, aposentada de 65 anos, após votar nos socialistas na província de Barcelona. As legislativas de dezembro resultaram num Parlamento muito fragmentado e provocaram o Alegria pós-eleitoral. Partidários do PP celebram em Madri a vitória do partido nas urnas: resultado fortalece legenda, mas não garante formação de governo OS M DE RAJOY REIVINDICA GOVERNO O PP de Rajoy venceu pela segunda vez, com 33% dos votos. A legenda obteve 137 assentos no Parlamento, ante os 123 conquistados em dezembro, enquanto todas as outras siglas diminuíram ou ficaram estáveis. Para governar com maioria, um partido ou coalizão precisa de ao menos 176 das 350 cadeiras do Parlamento.O PSOE, de esquerda, manteve-se em segundo lugar com 22,68% dos votos, mas caiu de 90 assentos para 85. Já a aliança do Podemos ficou estável, com 21% de apoio e 71 assentos. O partido liberal Cidadãos (13%), por sua vez, reduziu a bancada para 32 assentos, contra os 40 do fim do ano passado. Em seu discurso, Rajoy comemorou a vitória e acenou para negociações com os partidos a partir de hoje. — Foi duro, mas ganhamos a batalha pela Espanha. Sintome enormemente orgulhoso pelo meu partido — afirmou, reivindicando o direito de governar o país depois de chegar pela segunda vez consecutiva à frente dos outros. OS ADÃ CID -MADRI- Os resultados das eleições espanholas, ontem, apontam para uma grande fragmentação do cenário político entre os quatro maiores partidos do país e indicam uma nova e complicada rodada de negociações, como ocorreu na disputa de dezembro. O governista Partido Popular (PP) melhorou seu desempenho, mas ainda ficou longe do número de cadeiras necessário para a maioria no Parlamento. A previsão de que uma eventual aliança antiausteridade entre o Unidos Podemos e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) conquistaria assentos suficientes para obter a maioria não se confirmou, desenhando um cenário muito similar ao anterior. Para analistas, tal resultado parece indicar que o apelo de última hora do presidente interino do governo, o conservador Mariano Rajoy (PP), contra as reformas profundas defendidas pelo Podemos surtiu efeito, apenas três dias após o terremoto causado pelo referendo que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia. Agora os partidos têm novamente o desafio de tentar formar governo e destravar o impasse político que já dura mais de seis meses. das eleições colocavam o Podemos na frente do PSOE, e analistas cogitavam uma aliança entre os dois partidos caso tivessem assentos suficientes para viabilizar um governo de maioria de esquerda. Mas o líder socialista, Pedro Sánchez, que rejeitou a todo momento uma coligação com o Pode- JANAÍNA FIGUEIREDO Correspondente [email protected] Após surfar numa onda de otimismo, quando chegou à Casa Rosada há seis meses, Mauricio Macri viu sua taxa de desaprovação crescer de 25%, então, para 43%, agora, segundo a consultoria Poliarquia. No mesmo período, o índice de aprovação ao governo Macri caiu 15 pontos percentuais, ficando em 56%. Já a popularidade de Evo Morales caiu de 54% para 29%, após a revelação de um escândalo, em que o presidente boliviano é acusado de tráfico de influência, revelou o jornal “Página Siete”. “A sociedade avalia de forma crítica e com grande preocupação a atual conjuntura, mas, ao mesmo tempo, mantém expectativas elevadas em relação ao futuro”, comentou o diretor da Poliarquia, Alejandro Catterberg, segundo o “La Nación”. De fato, a mesma pesquisa mostrou que 58% dos argentinos acreditam que a situação do país melhorará num prazo de um ano. Macri pretendia -BUENOS AIRES- campos de refugiados. — Bastaram duas horas para as CTS (forças antiterroristas) assumirem o controle do bairro, e o Daesh não deu nenhum tiro, o que demonstra que estava derrotado antes mesmo da entrada das tropas — disse o porta-voz. Algumas horas após a libertação de Falluja, o primeiroministro Haider al-Abadi visitou a cidade e pediu à população que festeje a vitória contra os extremistas do EI. — Faço um apelo aos iraquianos para que, onde quer que estejam, saiam e celebrem a vitória — afirmou diante do hospital da cidade, com uma bandeira iraquiana ao redor do pescoço. — Como prometemos a vocês, hoje esta bandeira está erguida em Falluja e, na vontade de Deus, voará em breve para Mossul. ‘SEGURA E HABITÁVEL’ O ministro da Defesa, Khalid al-Obeidi, disse no Twitter que cerca de 90% de Falluja permanecem “segura e habitável”, comparando favoravelmente às cidades de Ramadi e Sinjar, que foram recapturadas ao EI e tinham sido severamente da- nificadas pelos extremistas. O prefeito de Falluja, Esa alEsawi, disse à agência Reuters que as famílias deslocadas poderão retornar à cidade em dois meses se o governo e agências de ajuda humanitária fornecerem assistência: — A cidade não apenas exige reconstrução de sua infraestrutura, mas também séria reabilitação de sua sociedade. O porta-voz do comando de operações contra o EI no Iraque declarou que “ainda há focos de resistência do EI a noroeste de Falluja”. l DESAFIOS DO BREXIT Diante dos desafios que surgem com a saída do Reino Unido da União Europeia, após o resultado do referendo britânico de quinta-feira, o PP apresentou-se como uma garantia de “estabilidade”. No poder desde 2011, os conservadores afirmam que suas políticas conseguiram tirar a Espanha da prolongada recessão, registrando um crescimento de 3,2% em 2015, embora a taxa de desemprego continue extremamente elevada — 21%. l Popularidade de Macri e Morales recua, revelam pesquisas Preocupação com economia, na Argentina, e corrupção, na Bolívia, afeta presidentes Próximo alvo. Tropas iraquianas auxiliam civis em al-Shirqat, nos arredores de Mossul, alvo da ofensiva contra o EI mos, resistiu no segundo lugar, apesar de ter fracassado em março em ser nomeado chefe do governos. Apesar de os socialistas permanecerem a principal força de esquerda, Sánchez disse não estar satisfeito com o resultado das urnas, e acusou Iglesias de permitir o aumento do número de assentos do PP. — Espero que Iglesias reflita sobre esses resultados. Teve a chance de colocar fim ao governo de Rajoy, mas a intransigência e o interesse próprio acima do interesse público permitiram a melhora dos resultados do PP — criticou. começar a mostrar resultados positivos a partir do segundo semestre deste ano, mas tudo parece indicar que a economia, principal preocupação da população, só se reativará a partir de 2017. Nos primeiros seis meses do ano, a inflação acumulada chega a quase 25%, e o país deverá terminar o ano com uma taxa superior a 40%. FILHO SECRETO DE MORALES No caso de Morales, a pesquisa, realizada pela consultoria Mercados y Muestras, revelou que 29% dos consultados classificaram como “boa” a gestão do presidente boliviano. Em janeiro, esse percentual era de 54%. Além disso, o levantamento mostrou que 44% dos pesquisados consideraram o desempenho de Morales como “regular”, e 25%, “ruim”. No início do ano, essas percepções eram de 33% e 11%, respectivamente. Analistas atribuem que a revelação de um filho secreto do presidente e um suposto tráfico de influência foram os fatores que levaram Morales à derrota no referendo em que buscava autorização para concorrer a um quarto mandato presidencial (20202025). A pesquisa de ontem também mostrou que 65% dos entrevistados opinam que o presidente boliviano deve aceitar o resultado do referendo. (Com agências internacionais) l 22 l O GLOBO Sociedade Segunda-feira 27 .6 .2016 NOVOS VENTOS Papa: Igreja deveria buscar perdão dos gays _ AP Francisco defendeu que o mesmo seja feito com outras minorias marginalizadas -CIDADE DO VATICANO- Depois de uma visita de três dias à Armênia, em que irritou o governo turco ao usar a palavra “genocídio” para se referir ao massacre de mais de um milhão de armênios pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, o Papa voltou a fazer uma declaração de peso, desta vez referindo-se aos homossexuais. Francisco afirmou ontem que os cristãos e a Igreja Católica deveriam buscar o perdão dos gays pela maneira como os têm tratado. E estendeu o comentário a outras minorias que, de uma forma ou de outra, foram marginalizadas pelos católicos. — Eu acho que a Igreja não deveria apenas se desculpar com um gay que tenha ofendido. Acho que ela tem que se desculpar também com os pobres, com as mulheres que explorou, com as crianças que foram exploradas no trabalho forçado. A Igreja tem que se desculpar por ter abençoado tantas armas — respondeu Francisco, que relembrou os ensinamentos da Igreja sobre os gays de que tendências homossexuais não são um pecado, mas sim os atos. — Homossexuais não devem ser discriminados. Eles devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente. A declaração foi feita a bordo do avião papal durante o voo que levava o Pontífice de volta ao Vaticano após a visita à Armênia. Durante a cerca de uma hora de conversa com jornalis- Francisco tas, que já virou uma das mar- Papa cas de suas viagens, Francisco foi questionado por um repórter se, à luz do massacre que deixou 49 mortos numa boate gay de Orlando, nos EUA, duas semanas atrás, ele concordava com os comentários recentes do cardeal alemão Reinhard Marx de que a Igreja deveria se desculpar com os homossexuais. Arcebispo de Munique e Freising, Marx faz parte do conselho de nove cardeais escolhidos por Francisco para aconselhá-lo. Na semana passada, o cardeal afirmou, durante palestra no Trinity College, em Dublin, na Irlanda, que “a história dos homossexuais nas nossas sociedades é muito ruim porque fizemos muito para marginalizá-los.” O Papa continuou sua resposta, afirmando que os cristãos deveriam pedir perdão, e não apenas desculpar-se: — Nós cristãos temos que nos desculpar por muitas coisas, não só por isso. Mas temos que pedir perdão, não apenas nos desculpar. Perdão! Deus, essa é uma palavra da qual nos esquecemos muito — disse Francisco. Durante a conversa com jornalistas no avião papal, Francisco cunhou uma nova versão do discurso feito em sua primeira viagem internacional, em 2013, quando, também referindo-se aos gays, questionou “quem sou eu para julgar?”, num pronunciamento considerado liberal para um Papa. — A questão é: se uma pessoa tem essa condição, se tem boa vontade, e se procura por Deus, quem somos nós para julgá-la? — perguntou na ocasião. Ainda se referindo aos homossexuais, o Papa afirmou ontem existirem “tradições em certos países, em certas culturas, que têm uma mentalidade diferente sobre essa questão” e que há “demonstrações que são muito ofensivas para alguns”, mas sugeriu que nada disso deve servir de base para a discriminação ou a marginalização dos homossexuais. Declarações como a de ontem fizeram com que integrantes da comunidade gay elogiassem a postura de Francisco, por considerá-lo um Pontífice mais liberal, apesar do documento resultante do Sínodo da Família, realizado em 2015, ter desapontado a muitos por não mencionar as novas formações familiares. A declaração do Papa acontece em meio as celebrações pelo orgulho LGBT, realizadas em diversas cidades do mundo durante o fim de semana. Já os setores ultraconservadores da Igreja têm criticado os comentários do Papa sobre o homossexualismo por considerá-los ambíguos sobre a moralidade sexual exigida pelo catolicismo. A postura de Francisco levantou especulações sobre se o descontentamento desses grupos aumentaria a influência do papa emérito Bento XVI, reconhecidamente conservador, no Vaticano. Ainda durante o voo, Francisco não se esquivou das perguntas sobre o tema e, em tom de brincadeira, afirmou ter ouvido que, quando um integrante da Igreja vai a Bento XVI para reclamar de seu comportamento liberal, o “Papa emérito o manda embora”. — Há apenas um Papa — afirmou, agradecendo a Bento XVI por “me proteger com suas orações.” l “Temos que nos desculpar por muitas coisas, não só por isso. Mas temos que pedir perdão, não apenas nos desculpar.” Na rua. Em Nova York, milhares participaram da parada gay, que lembrou os mortos do massacre de Orlando REUTERS A bordo. Durante viagem de retorno ao Vaticano, o Papa Francisco responde às perguntas dos jornalistas sobre os gays; Pontífice afirmou que a Igreja deveria pedir perdão a eles, mas também a mulheres e crianças exploradas U Memória ‘QUEM SOU EU PARA JULGAR?’ A declaração de ontem sobre os homossexuais não foi a primeira de Francisco. Em 2013, voltando da viagem que fez ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude, a primeira de seu papado, ele afirmou em entrevista durante o voo que “o catecismo da Igreja católica explica de forma muito bonita” a homossexualidade. Na ocasião, o Pontífice fez um de seus comentários mais famosos, que, de certa forma, repetiu ontem: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. Mas a postura aparentemente mais liberal de Francisco foi posta em xeque em abril deste ano, quando o Vaticano divulgou um documento de mais de 250 páginas com as diretrizes da Igreja para as famílias católicas — resultado de um questionário enviado a fiéis em diversas partes do mundo e também das discussões realizadas em dois sínodos (encontros de bispos e cardeais). No texto, Francisco defende que divorciados e homossexuais sejam respeitados e acolhidos pela Igreja. Mesmo assim, não abandona totalmente a postura conservadora, condenando o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto. O homossexualismo chegou a ser questão de Estado quando, em fevereiro de 2015, o cargo de embaixador da França no Vaticano ficou vago. O presidente François Hollande indicou um gay assumido para o posto, mas Laurent Stefanini não chegou a apresentar suas credenciais. Rumores indicaram que o Vaticano não daria a aceitação. Hoje, Stefanini é o representante do país na Unesco. O novo embaixador francês na Santa Sé entregou as credenciais na quinta-feira passada, depois do posto ter ficado vago por quase um ano e meio. [email protected] A combinação da crise econômica com turbulência política fez com que o país vivenciasse neste semestre provavelmente o maior movimento de greves e ocupações dos últimos 20 anos. É difícil ser contra algumas das principais reivindicações, como o reajuste salarial para professores e a melhoria nas condições de ensino em escolas ou universidades. É inaceitável saber que ainda há colégios ou campi sem condições mínimas de infraestrutura. Especialmente no caso da educação básica, pagar salários melhores aos docentes, além de ser uma meta do Plano Nacional de Educação, é um dos investimentos mais importantes para aumentar a atratividade da carreira. Este modelo da greve na educação pública como forma de pressionar governos, no entanto, já não é mais unânime nem mesmo no campo da esquerda. Um exemplo disso foi dado no ano passado, quando o professor da UFF Daniel Aarão Reis escreveu uma carta se opondo ao movimento que começava na época. Em suas palavras, na ocasião: “A greve por tempo indeterminado não qualifica o debate, anula-o; não acumula forças, dispersa-as; não concentra, fragmenta e pulveriza; não for- ANTÔNIO GOIS EDUCAÇÃO Impasses Greves longas no ensino público têm eficácia discutível. A única certeza é que os maiores prejudicados serão os alunos talece, enfraquece.” Com os ânimos acirrados, surgem também cenas como as registradas na Unicamp num vídeo que foi divulgado na semana passada. Nele aparecem três alunos invadindo a aula do professor Serguei Popov no Instituto de Matemática. Ele tenta continuar, mesmo com o barulho alto de tambores ao fundo e com os manifestantes circulando à sua fren- te. Um dos jovens se posiciona ao lado do professor e, ostensivamente, começa a apagar o conteúdo da lição que Popov acabara de escrever no quadro. É possível ainda ouvir um estudante argumentando que eles “estavam desrespeitando um cara que estava querendo dar aula”. Após o episódio, jornais de São Paulo trouxeram depoimentos de outros professores que se sentiam intimidados e recorriam a aulas secretas ou pela internet em universidades paulistas. Os alunos que invadiram a sala argumentaram depois que o professor se recusara a dialogar com o movimento, mas acabaram eles mesmo produzindo um gesto de intolerância com quem exercia seu direito de dar aulas e com os demais estudantes, que também estavam no seu direito de não querer apoiar a greve. A intolerância, é claro, não é monopólio de um campo ideológico. Poucos dias antes da divulgação do episódio da Unicamp, circulou outro vídeo, desta vez mostrando alunos em greve na UnB sendo hostilizados com gritos homofóbicos e racistas por manifestantes contrários ao movimento. No Rio, foram registrados conflitos entre grupos de estudantes que queriam ter aulas e outros que ocupavam – e ainda ocupam – escolas em apoio a greve dos professores. No caso da rede estadual fluminense, a paralisação dos docentes completará em breve 100 dias. Não há o menor sinal de que o governo cederá às pressões salariais. Há apenas uma certeza: os maiores prejudicados serão, como sempre, os alunos. l ESPORTES OGLOBO Problemas das defesas SEGUNDA-FEIRA 27.6.2016 oglobo.com.br Fernando Calazans PÁGINA 2 NELSON PEREZ/FLUMINENSE ATUAÇÕES aa F L A M E N G O Alex Muralha 6. Sem culpa. Foi pouco exigido na partida. Nos gols, nada podia fazer. Pará 6. Duas fases. Ajudou Marcelo Cirino no primeiro tempo. No segundo, foi contido e pouco atacou. Réver 7. Seguro. Não cometeu erros graves no jogo e mostrou segurança, ganhando seus duelos com os atacantes tricolores. Rafael Vaz 3. Decisivo. Cometeu um erro individual que ditou o rumo do clássico. Jorge 5. Apagado. Não conseguiu participar das ações ofensivas. Márcio Araújo 6. Esforço. Fez alguns desarmes, mas na hora de atuar no campo rival, ajudou pouco. Mancuello 6. Tarde. Entrou e melhorou a criação, mas ficou pouco tempo em campo. Willian Arão 4,5. Infeliz. Fazia boa partida, mas fez contra, de cabeça, o primeiro gol do Fluminense. Alan Patrick 6. Desperdício. Ajudou na criação de jogadas, mas perdeu boas chances no primeiro tempo. Marcelo Cirino 6,5. Produziu. Fez boas jogadas no primeiro tempo. No segundo, participou do gol. Fernandinho 4,5. Dificuldade. Sem espaço para correr, teve problemas para criar situações de perigo. Guerrero 7,5. Ajudou. Voltou bem ao time. Além de ter marcado o gol, fez boas jogadas como pivô. Duelo no clássico. O tricolor Wellington Silva consegue desarmar o rubro-negro Éderson. Apesar da falha no gol do Flamengo, a marcação do Fluminense melhorou em relação aos últimos jogos Jogos de erros NATAL TRICOLOR Na versão potiguar do clássico carioca, Fla cria e erra mais do que o rival e dá dois gols de presente ao aplicado Flu Flamengo 1 Fluminense 2 Flamengo: Alex Muralha, Pará, Réver, Rafael Vaz e Jorge; Márcio Araújo (Mancuello), Willian Arão e Alan Patrick; Marcelo Cirino (Fernandinho), Guerrero e Éderson (Emerson Sheik). Fluminense: Diego Cavalieri, Wellington Silva, Gum, Henrique e Giovanni; Édson, Douglas, Gustavo Scarpa, Cícero e Maranhão (Osvaldo); Magno Alves (Richarlison, depois Pedro). Gols: 2T: Willian Arão (contra) aos 3m, Guerrero aos 12m, Richarlison aos 30m. Cartão amarelo: Wellington Silva. Juiz: Luiz Flávio de Oliveira. Público pagante: 25.946 Local: Arena das Dunas, Natal (RN) Éderson 6,5. Mediano. Teve presença importante ao buscar o centro do campo. Mas faltou ser mais decisivo. Saiu no intervalo. Emerson Sheik 5. Discreto. Pareceu fora de suas melhores condições e contribuiu pouco. Zé Ricardo 5,5. Progresso. A escalação fez o time fazer um bom primeiro tempo. As trocas não ajudaram o time no segundo tempo. aa F LU M I N E N S E Diego Cavalieri 6. Quase... Fazia bom jogo, com pelo menos duas boas defesas. Mas poderia ter rebatido melhor a bola no gol do Flamengo. Wellington Silva 6,5. Combateu. Salvou bola importante após chute de Rafael Vaz e marcou bem. Gum 6. Cruel. Tinha ótima atuação, mas bobeu no lance do gol de Guerrero. S CARLOS EDUARDO MANSUR [email protected] e é verdade que o Flamengo finalizou mais, que prevaleceu no primeiro tempo, também não é possível dizer que o volume de chances criadas tenha sido suficiente para tornar surreal o resultado do Fla-Flu de ontem. Ainda que o jogo pudesse ter outro desfecho. Afinal, o futebol pode ser um jogo decidido pela construção de jogadas, mas também pelo acúmulo de erros. No fim, após um jogo de poucas ousadias táticas e raros momentos de brilho técnico, o 2 a 1 premiou um Fluminense dedicado e defensivamente mais sólido no segundo tempo. E puniu um Flamengo que abusou dos equívocos individuais graves. A eterna busca tricolor pela formação que lhe dê equilíbrio entre ataque e defesa pode não ter acabado. Ontem, o time demorou muito a conseguir incomodar o rival. Mas Levir Culpi pode ter encontrado um caminho com Douglas ao lado de Édson à frente dos zagueiros. Douglas, aliás, foi dos melhores jogadores do clássico, dando agilidade ao meio-campo tricolor. Desarmou e ajudou a conduzir o time à frente, mesmo em dificuldade para achar companheiros à altura na hora de criar jogadas. Gustavo Scarpa não foi bem ontem. GOL DA RODADA Alex Muralha Rafael Vaz Richarlisson Richarlisson Rever Mas, em especial a partir do intervalo, o Fluminense foi um time mais organizado na defesa. Dias antes, contra o Santos, fora desequilibrado sem a bola. O mesmo Flamengo que ontem apresentou alguns progressos, segue sua caminhada de incertezas no Campeonato Brasileiro. Uma delas, descobrir qual a sua casa. Outra, a eterna dúvida sobre efetivar ou não seu treinador, contratar ou não um nome definitivo. É como se isto retardasse também a efetivação de um modelo de jogo. Zé Ricardo organizou um time de bons momentos na primeira etapa. A entrada de Éderson, possível pela surpreendente decisão de poupar Éverton, dava ao Flamengo superioridade no meio-campo, já que o meia buscava o centro do campo para tentar trocar passes. Não era brilhante, longe disso. Mas criava um movimento diferente num duelo de dois times com sistemas de jogo muito similares. Acontece que a substituição dele por Emerson Sheik, no O atacante Richarlison, que ficou apenas 12 minutos em campo, aproveitou recuo errado do zagueiro Rafael Vaz para marcar o gol da vitória tricolor, aos 30 minutos do 2º tempo, após driblar Alex Muralha e mandar para o fundo da rede. intervalo, acabou com tal predomínio. Já a entrada de Mancuello, quando o placar já era de 2 a 1 para o Fluminense, devolveu articulação ao Flamengo, mas pareceu uma decisão tardia. Possivelmente pelo plano original de jogo, no primeiro tempo o Flamengo criou as raras chances da partida. Alan Patrick perdeu duas ótimas oportunidades, ambas nascidas pelo lado direito, onde Marcelo Cirino levava vantagem. A substituição rubro-negra e um Fluminense defensivamente melhor organizado equilibraram a balança do jogo na segunda etapa. E, claro, as circunstâncias da partida acabaram por ajudar o time de Levir Culpi. Afinal, antes mesmo que esquemas fossem postos à prova, Willian Arão, ótimo nome do Flamengo em 2016, cabeceou contra o próprio gol uma bola oriunda de um escanteio, aos três minutos. GOL, EMOÇÃO E LESÃO Ficava claro que o Flamengo tentaria agredir e o tricolor, contra-atacar. É verdade que Diego Cavalieri poderia ter rebatido de outra forma, que Gum vacilou ao interceptar o rebote do goleiro, mas o empate do Flamengo surgiu no primeiro lance de envolvimento de um ataque sobre a defesa rival na segunda etapa. Foi após uma triangulação de Arão, Cirino e Guerrero que o atacante peruano empatou, aos 12. Mas, do outro lado do campo, o Fluminense também teve suas oportunidades: Magno Alves andou perto do gol. Levir apostou em Richarlison e Osvaldo, Zé Ricardo em Fernandinho. Havia mais rapidez e menos pensamento em campo. Com isso, menos chances reais. Até que Rafael Vaz deu a Richarlison a bola do gol da vitória do Fluminense, aos 30. As lágrimas do jovem atacante, em seu primeiro gol no clube, foram a mais bela cena da tarde de Natal. Quis o destino que, 12 minutos depois, ele saísse machucado. Mas vitorioso. l Henrique 6. Inseguro. Ficou abaixo do companheiro de zaga, mas também teve muito trabalho. Giovanni 5. Envolvido. Teve grande dificuldade na marcação no primeiro tempo. Édson 6. Empenho. Não achou a marcação no primeiro tempo. Aos poucos, foi crescendo na partida. Douglas 7. Versátil. Fez bom jogo. Ajudou muito no duelo de meio-campo e participou das transições para o ataque. Cícero 6. Alternou. Correu e se esforçou, mas não participou de lances importantes. Maranhão 4,5. Correria. Muito esforço, mas pouca inspiração. Osvaldo 5. Apagado. Entrou e produziu pouco. Magno Alves 5. Sem inspiração. Teve duas boas chances e não aproveitou. Richarlison 6,5. Estrela. Entrou, aproveitou falha de Rafael Vaz para fazer seu gol e, depois, se machucou após 12 minutos. Pedro Sem nota. Pouco tempo. Entrou no fim do jogo, com a contusão de Richarlison. Gustavo Scarpa 5,5. Abaixo. Já teve melhor rendimento com a camisa tricolor. Teve raras aparições na construção das jogadas. Ajudou muito na recomposição. Levir Culpi 6. Caminho. Segue em sua busca para equilibrar o time. Ontem, faltou mais poder ofensivo, mas o time marcou bem. No segundo tempo, a equipe produziu mais. aa A R B I T R AG E M Tranquilidade. Luiz Flávio de Oliveira não teve problemas no jogo, que conduziu com apenas um cartão amarelo. l O GLOBO l Esportes l FERNANDO CALAZANS Atrás de novos ídolos | Erros decisivos Foram três gols, três erros de defesa. Não fossem eles, os erros, o clássico Fla-Flu teria terminado como devia e como mereciam os times: 0 a 0. A defesa do Flamengo errou mais, e por isso o Fluminense venceu por 2 a 1. Porque mostrou, pelo menos, mais eficiência no aproveitamento das falhas do adversário. Mas ficou evidente que os dois times ainda não encontraram a melhor escalação e o melhor esquema de jogo. O primeiro tempo mostrou um Flamengo mais ofensivo, criando e desperdiçando mais oportunidades, as duas principais com Alan Patrick chutando para fora na área. Fla e Flu se ressentiam também da queda de rendimento de seus maiores criadores de jogadas de ataque. Gustavo Scarpa do Fluminense, Willian Arão do Flamengo. Ao contrário de jogos anteriores, Arão permaneceu mais atrás, restrito à defesa e ao meio de campo, parecendo evitar as penetrações na defesa rival, que caracterizavam suas atuações anteriores. Gustavo Scarpa não reproduziu os passes das principais jogadas ofensivas do Fluminense. Os erros decisivos vieram no segundo tempo. Num córner sobre a área do Flamengo, Willian Arão desferiu uma cabeçada indefensável contra o próprio gol. O goleiro Alex Muralha nada pôde fazer. Depois, foi a bobeada de Gum na outra área, da qual Guerrero se aproveitou para empatar o jogo. E, por fim, a falha que decidiu a partida, quando Rafael Vaz dominou mal a bola e deu o passe precioso para Richarlison penetrar na área, se livrar de Muralha e decretar o 2 a 1 final. Levir Culpi ainda está à procura da dupla de ataque do Fluminense. Ontem, trocou Magno Alves e Maranhão por Osvaldo e Richarlison no segundo tempo. No Flamengo, é absolutamente inexplicável e ininteligível que Mancuello permaneça no banco em vários jogos ou entre nos minutos finais, como só aconteceu ontem. Entram Cirino, Éverton, Éderson, Emerson Sheik, Gabriel, Fernandinho, enquanto Mancuello assiste ao jogo do banco. _ Vitória olímpica Andrezinho estava meio apagado, como todo o time do Vasco, sábado, em Maceió, quando, aos 13 minutos do segundo tempo, num córner desses que acontecem a toda hora no futebol, ele mesmo, Andrezinho, com uma cobrança magistral, fez o chamado “Gol Olímpico”, vencendo o goleiro e enfiando a bola diretamente na rede do CRB. Imagino eu que numa referência — ou reverência — aos Jogos Olímpicos que estão chegando ao Rio. Andrezinho definiu, de virada, a vitória de 2 a 1 do Vasco. O gol surpreendeu muita gente, dentro e fora de campo, particularmente a mim, porque faz tempo que (eu pelo menos) não vejo gol olímpico. O jogo proporcionou essa agradável surpresa e, ao mesmo tempo, uma dúvida que de agradável não tem nada: será impressão minha ou o time do Vasco perdeu mesmo a arrumação e a fluência que mostrava até ver interrompida a invencibilidade que manteve em nada menos do que 34 jogos? Depois, não sei se em decorrência disso, o time caiu de produção, como mostrou mais uma vez. A defesa falhou muito, até por um motivo explicável: Aislan foi escalado na última hora, por causa da contusão de Jomar no aquecimento. Jomar é que tinha sido preparado para entrar no lugar do “capitão” Rodrigo, suspenso por causa dos cartões coloridos que ele tanto aprecia e faz questão de levar. Numa das falhas da defesa, Lúcio Maranhão abriu o placar no primeiro tempo e, numa de suas poucas jogadas, Leandrão empatou. Outra demonstração da inconstância do time do Vasco foi que, depois do gol da vitória de Andrezinho, já no segundo tempo, o CRB voltou a dominar e só não empatou porque um outro jogador do Vasco conseguiu brilhar mais até do que Andrezinho: o goleiro Martin Silva, com três ou quatro defesas salvadoras— a última delas numa cobrança de pênalti. Conclusão da partida: ao menos dois jogadores estão mantendo o alto nível anterior do Vasco, Andrezinho e sobretudo Martin Silva. A vitória de sábado foi dos dois. _ Segunda-feira com Iniesta O amigo Paulo Cesar Vasconcellos, que está na França comentando jogos da Eurocopa para o SporTV, envia uma mensagem para falar de seu prazer em acompanhar — de perto, reforça ele — atuações do espanhol Iniesta, um dos destaques da competição, no auge de seus 32 anos. Segundo o PC, Iniesta o faz recordar craques do meio-campo que já tivemos, como Didi, Gérson , Rivellino e outros, sobretudo pela valorização dos passes, a visão do campo e as jogadas de criação. Aproveito para lembrar aos leitores que podem admirar Iniesta, a partir das 13 horas de hoje, num jogo que vai mexer com a Eurocopa: Itália x Espanha. Segunda-feira especial no futebol. l PÁGINA VIRANDO Levir exalta jovens como Richarlison, autor do gol da vitória do Flu, mas pede calma na busca por novas referências após saída de Fred e admite reforços -NATAL- Para o Fluminense, o clássico contra o Flamengo na Arena das Dunas, em Natal foi como atuar fora de casa — e não apenas pela distância em relação ao Rio. Reconhecendo que a torcida rubro-negra estava em ampla maioria no estádio, o técnico Levir Culpi comemorou o efeito da vitória por 2 a 1 no aspecto emocional da equipe tricolor. — Clássico é um jogo para o torcedor. Havia praticamente 85% de flamenguistas no estádio, nem sei de onde sai tanto flamenguista, mas quem comemorou foi a torcida do Fluminense. Quero cumprimentar os torcedores, sei que muitos tricolores vieram de outras cidades do Nordeste — comentou Levir, lembrando que o resultado interrompe uma sequência negativa do tricolor: — Houve duas derrotas, se também perdesse o clássico ficaria difícil recuperar a parte emocional. Dá para equilibrar um time com jogadores pouco conhecidos, mas tudo vai de acordo com os resultados. ATACANTE SE EMOCIONA Após a saída de Fred, o Fluminense ainda tenta criar novas referências em campo. Levir admitiu que o clube estuda reforços pontuais, mas mostrou confiança em jovens como Gustavo Scarpa, Marcos Júnior e Richarlison, com a ressalva de que é necessário ter paciência para não sobrecarregá-los. Richarlison, de 19 anos, se emocionou com o gol, seu primeiro pelo Fluminense. O atacante, que saiu pouco depois com dores no tornozelo, disse ter lembrado das orientações de Levir ao roubar a bola mal recuada por Rafael Vaz. — No banco de reservas, o Levir falou para eu apertar o Vaz. Apertei, ele recuou fraco e tive velocidade. É agradecer a Deus, descansar e tratar do tornozelo — afirmou. l NELSON PEREZ/DIVULGAÇÃO Bote. Richarlison tenta desarmar Rafael Vaz: Levir pediu ao atacante tricolor para apertar a marcação na saída de bola Zé Ricardo alivia após falhas de Arão e Vaz Treinador prefere elogiar atuação do Flamengo e diz que resultado, mesmo com erros, poderia ser melhor -NATAL - O técnico Zé Ricardo procurou eximir Willian Arão e Rafael Vaz de culpa após a derrota do Flamengo por 2 a 1 no clássico contra o Fluminense, que foi definida em falhas individuais do volante e do zagueiro. Reforçando que gostou da atuação rubro-negra, o treinador interino lembrou que o time não conseguiu traduzir sua atuação em mais gols. — Não tive nada em especial para falar aos dois. O jogo é feito tanto por momentos ofensi- vos quanto defensivos. Todos estão ali para fazer seu melhor, mas há dias em que as coisas não acontecem a nosso favor. É um pecado porque nos sentimos capazes, durante toda a partida, de conseguir um resultado melhor — afirmou. O zagueiro Réver foi outro que fez questão de apoiar Rafael Vaz após a falha. — Acabou acontecendo com ele, mas podia ser com qualquer outro. Deixamos a desejar e agora é pensar no próximo jogo (contra o Internacional, quarta, em Cariacica) — ressaltou o zagueiro. Zé Ricardo citou o desgaste físico como motivo para ter poupado o lateral-direito Ro- dinei e o meia Everton, lançando em seus lugares Pará e Ederson, respectivamente. O treinador citou que outros jogadores vêm sofrendo com cansaço acumulado, como o atacante Marcelo Cirino, que não teve boa atuação no FlaFlu e viu a torcida pegar em seu pé no segundo tempo. O retorno do atacante Paolo Guerrero, por outro lado, foi comemorado por Zé Ricardo. O peruano, que estava fora desde maio por conta da Copa América Centenário, marcou seu primeiro gol no Brasileiro. — Guerrero é um jogador de peso no setor ofensivo. Fez o que a gente esperava que ele fizesse — resumiu o treinador. l Brasileiro - Série A CLASSIFICAÇÃO EQUIPE Libertadores | 2ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016 BRASILEIRO [email protected] Rebaixamento 2 1 Palmeiras 2 Internacional 3 Santos 4 Corinthians 5 Grêmio 6 Flamengo 7 Atlético-PR 8 Atlético-MG 9 Fluminense 10 São Paulo 11 Chapecoense 12 Cruzeiro 13 Ponte Preta 14 Figueirense 15 Vitória 16 Sport 17 Botafogo 18 Santa Cruz 19 Coritiba 20 América-MG DÉCIMA PRIMEIRA RODADA P J V E D GP GC 22 20 19 19 18 17 17 16 16 15 15 14 14 14 13 12 12 11 10 8 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 7 6 6 6 5 5 5 4 4 4 3 4 4 3 3 3 3 3 2 2 1 2 1 1 3 2 2 4 4 3 6 2 2 5 4 3 3 2 4 2 3 3 4 4 3 4 4 3 3 4 2 5 5 3 4 5 5 6 5 7 22 15 18 16 17 12 12 16 12 10 17 14 11 10 12 15 11 14 14 9 P - Pontos ganhos; J - Jogos; V - Vitórias; E - Empates; D - Derrotas; GP - Gols pró; GC - Gols contra; N - Não jogou 12 10 9 10 12 11 13 16 13 11 18 15 19 10 16 16 15 15 18 18 ÚLTIMOS JOGOS E V V D E V D D V V E D V D D D V V E D V D D V V E V V D E V D D V D V D D D V V E V D D V E V D E E V D E V E E D E D D D V V D D V V V D D V E E E V V D E D 25/6 Cruzeiro Corinthians 2x1 Palmeiras 2x1 Santa Cruz América-MG Vitória Flamengo Santos Internacional Atlético-PR Figueirense Sport 0x1 1x1 1x2 3x0 2x3 2x0 0x0 5x1 ONTEM Atlético-MG Ponte Preta Fluminense São Paulo Botafogo Grêmio Coritiba Chapecoense DÉCIMA SEGUNDA RODADA OS ARTILHEIROS 8 gols 7 gols 6 gols 5 gols 4 gols Grafite (Santa Cruz) Bruno Rangel (Chapecoense) e Gabriel Jesus (Palmeiras) Diego Souza (Sport) e Kieza (Vitória) Rafael Moura (Figueirense), Luan (Grêmio) e Vitor Bueno (Santos) Sassá (Botafogo), Kleber (Coritiba), Arrascaeta (Cruzeiro), Felipe Azevedo (Ponte Preta), Fred e Cazares (Atlético-MG), Vitinho e Eduardo Sasha (Internacional) QUARTA 19:30 19:30 19:30 21:00 21:00 21:45 21:45 Vitória Flamengo Grêmio Coritiba Chapecoense São Paulo América-MG x x x x x x x Sport Internacional Santos Atlético-PR Cruzeiro Fluminense Corinthians Palmeiras Santa Cruz Atlético-MG x x x Figueirense Ponte Preta Botafogo QUINTA 19:30 19:30 21:00 8 gols Grafite, Santa Cruz Série C Macaé perde a quinta seguida O Macaé perdeu para o Ypiranga, ontem, por 2 a 0, em Erechim, no Rio Grande do Sul, com gols de Maycon e Danilinho. Foi a quinta derrota seguida do time fluminense, que amarga a penúltima colocação do grupo B, da Série C, com apenas três pontos. Com mais esta derrota, a próxima partida do time, no sábado, no Moarcyzão, ganhou ainda mais importância já que é contra o lanterna Guaratinguetá (dois pontos). l Esportes l Segunda-feira 27 .6 .2016 O GLOBO l 3 BRASILEIRO Contra-ataque WESLEY SANTOS ATUAÇÕES ALEGRIA NO SUL, TCHÊ aa B OTA FO G O Sidão 8. Paredão. Em tarde inspirada, fez belas defesas, saiu-se bem nas bolas aéreas e foi fundamental para garantir a vitória. Sem culpa nos gols. Luís Ricardo 6,5. Fez a diferença. Bela jogada no 1º gol. Renan Fonseca 5. Seguro. Resistiu à pressão colorada. Emerson Silva 6. Firme. Bem nas divididas. Diogo Barbosa 7. Inspirado. Esteve bem nos desarmes e deu início a contra-ataques perigosos. Airton 6. Substituído. Fez bom primeiro tempo. Saiu no intervalo com dores. Rodrigo Lindoso 5,5. Na mesma. Manteve o nível de Airton. Fernandes 7. Fez o seu. Autor do 1º gol, armou bem os contra-ataques, mas perdeu chance clara no 2º tempo que poderia ter matado o jogo. Em jogo dramático, Botafogo vai bem nas finalizações, algo raro no ano, para conquistar primeira vitória fora de casa Gegê Sem nota. No fim. Jogou cinco minutos. Bruno Silva 6,5. Cão de guarda. Firme na contenção e tirou bola na linha do gol no 1º tempo. Camilo 8. Enfim, fora. Fernandes e Luís Ricardo comemoram o primeiro gol do Botafogo, seguidos por Camilo e Ribamar -PORTO ALEGRE- O Botafogo conse- guiu sua primeira vitória fora de casa no Brasileiro, ontem, contra o Internacional, no Beira-Rio, por 3 a 2. Com um jogador a mais desde os 43 minutos do primeiro tempo, o time de Ricardo Gomes soube resistir à pressão colorada, apostou em contra-ataques e foi eficiente nas finalizações, algo raro nesta temporada. A vitória deu fôlego e confiança na luta alvinegra contra o Z-4. Já o Internacional desperdiçou a oportunidade de voltar à liderança. — Acredito que foi a melhor atuação pelo resultado que conseguimos, mas precisamos melhorar muita coisa ainda — disse o meia Camilo, estreante e autor do terceiro gol. No início de jogo, pelo que o time vinha apresentando nos Santos usa São Paulo de degrau para subir ao G-4 últimos jogos, a impressão era de que o Botafogo estava perdido, correndo atrás da bola. Aos seis minutos, o Internacional já tinha 82% de posse. Esta impressão, no entanto, mostrou-se equivocada logo em seguida. Jogando sem afobação, o time de Ricardo Gomes soube lidar com suas limitações e apostou em contra-ataques eficientes. Com 15 minutos, conseguiria marcar duas vezes. A estratégia do Botafogo começou a funcionar, aos sete minutos, quando Luís Ricardo recebeu a bola pela direita, passou como quis por Geferson e cruzou para a área. A bola foi de encontro a Fernandes, livre, bem perto da marca do pênalti. Ele teve tempo de dominar com a coxa direita e Internacional Botafogo 2 3 Internacional: Jacsson, William, Alan Costa, Ernando e Gefereson (Alex); Rodrigo Dourado, Fabinho, Anderson, Andrigo (Marquinhos) e Gustavo Ferrareis (Bruno Baio); Eduardo Sasha. Botafogo: Sidão, Luís Ricardo, Renan Fonseca, Emerson Silva e Diogo; Airton (Rodrigo Lindoso), Bruno Silva, Fernandes (Gegê) e Camilo (Gervasio Núñez); Ribamar e Neílton. Juiz: Wilton Sampaio (GO). Cartão vermelho: Fabinho Gols: 1T: Fernandes, aos 7m, e Neílton, aos 15m. 2T: Sasha, aos 25, Camilo, aos 26, e Ernando, aos 28m. Local: Beira-Rio, em Porto Alegre. chutar com a mesma perna para abrir o placar. Após o primeiro gol, o Internacional, então invicto em casa neste Brasileiro, parecia não acreditar no gol relâmpago e tentou Cafeteira espresso Coffee Cream C-08 MONDIAL TRÊS GOLS EM TRÊS MINUTOS Com a tamanha facilidade que saíram os dois primeiros gols nos minutos iniciais, a impressão era de que todo contra-ataque alvinegro terminaria com a bola na rede. Não foi assim, mas levou perigo quase sempre. Ainda antes do intervalo, a situação do Internacional piorou após a expulsão de Fabinho. Mesmo com um a mais, o Botafogo ficou acuado e apostando no contra-ataque. So- Estreante. Mostrou categoria, distribuiu mente na metade do segundo tempo pareceu se lembrar que era maioria em campo e começou a trocar mais a bola no meio de campo. Curiosamente, foi neste momento que saiu o primeiro gol do Internacional e iniciou-se os três minutos mais eletrizantes do jogo. Aos 25, enfim, Sasha fez o primeiro do Internacional. Aos 26, Camilo, da entrada da área, marcou com categoria. Aos 28, Ernando cabeceou no ângulo para balançar a rede. Após os gols, a torcida da casa tentou empurrar o time acreditando no empate. Fernandes poderia ter jogado um balde de água fria nesta festa, aos 33, mas acertou a trave ao se deparar cara a cara com o goleiro. A partir daí, o jogo continuou dramático até o apito final. l Com bobina,, 12 dígitos Cód. 159045 Prepara café e capuccino, 110 V Cód. 472024 R$ 20 317, 3x à vista ou em sem juros nos cartões GRÊMIO DERROTADO Ainda na parte de cima da tabela, o Grêmio (19), quinto colocado, deixou o G-4 ao perder por 2 a 0 para o Atlético-PR, em Curitiba, com gols de Hernani e André Lima. O goleiro Marcelo Grohe, em tarde inspirada, impediu que o placar fosse mais elástico. Com a vitória, o time do Paraná chegou a 17 pontos, mesma pontuação do Flamengo, e ganhou fôlego para brigar por uma classificação para a Libertadores. l Caixa organizadora VAULTZ Com segredo numérico Cód. 637157 à vista R$ ou em sem juros nos cartões 00 119, 3x Fotos meramente ilustrativas. 10 460, 10x à vista ou em sem juros nos cartões Carregador veicular USB BRIGHT No break Net 4 + Expert 1.400 VA SMS Cód. 443221 Com 5 tomadas, bivolt Cód. 446808 R$ 90 787, 3x à vista R$ ou em sem juros nos cartões VENDAS PARA EMPRESAS 16,90 à vista blister c/ 1 unid. GRANDE SÃO PAULO OUTRAS LOCALIDADES 11 3347-7000 0800-0195566 Não abrimos embalagens. Ofertas válidas até 3.7.2016 ou enquanto durarem nossos estoques. As ofertas anunciadas terão validade em nossas lojas, na Internet e no Televendas. No caso de promoções que envolvam trocas, a apresentação de NF e outras similares terão validade apenas em nossas lojas. Garantimos o estoque de 40 unidades de cada produto ofertado na rede até o término desta promoção ou enquanto durarem nossos estoques. No Televendas, exclusivamente para a capital de São Paulo e Grande Rio de Janeiro, o frete é grátis para compras acima de R$ 250,00. Para os pedidos abaixo desse valor, o frete será por conta do cliente. Promoção para todos os tipos de mercadorias. Para pagamento com cheque somente com aprovação cadastral. Apresentação de CPF, RG, referências pessoais, comprovantes de residência e de rendimentos para Pessoa Física. Para Pessoa Jurídica, acrescer CNPJ, documentos dos sócios, referências comerciais e bancárias. As parcelas mínimas em cheques são de R$ 30,00 cada. Não abrimos embalagens. SACK - Serviço de Atendimento ao Cliente Kalunga: 11 3346-9966. *Linha completa de Smartphones na Kalunga.com. Consulte disponibilidade nas lojas. 140 Razoável. Entrou no lugar de Camilo, não foi mal, mas também não manteve o nível do estreante. Neílton 7. Elétrico. Fez gol, provocou a expulsão de Fabinho e deu trabalho à zaga do Internacional. Ribamar 7. Pivô. Incomodou a zaga e puxou a marcação em momentos importantes. Ricardo Gomes 7. Sofrido. Mesmo inferior tecnicamente, time criou oportunidades e soube aproveitá-las. aa I N T E R N AC I O N A L Ineficiente. O time da casa não soube transformar a pressão em gols. Sasha e Alex deram trabalho à defesa alvinegra. aa A R B I T R AG E M No limite. Wilton Sampaio (GO) inverteu algumas marcações, mas soube deixar o jogo correr e não interferiu no resultados. Jorginho elogia Andrezinho, autor do gol olímpico, que decretou a virada do time -SÃO PAULO- R$ bem o jogo, deu passe para gol e deixou o seu em chute colocado de fora da área. Gervasio Núñez 6. SÉRIE B Vasco festeja as vitórias da semana fora de casa Calculadora de mesa CASIO Em dia de ação pela paz no futebol, Denis falha feio na derrota no clássico por 3 a 0 Denis entrou no clima de amizade que levou os times de Santos e São Paulo a chegarem juntos ao Pacaembu, ontem, em uma ação para promover a paz no futebol. Logo no primeiro minuto de jogo, o goleiro são-paulino falhou no gol de Vitor Bueno que abriu a vitória por 3 a 0 no clássico. Com a vitória, o Santos não só chegou ao G-4 como alcançou a terceira colocação. — A equipe foi séria, concentrada em busca do resultado. Jogamos em cima das nossas características, com confiança. Trabalhando a bola, sendo uma equipe simples e, em cima dessa simplicidade, conseguiu envolver o São Paulo — avaliou o técnico Dorival Jr. Com a vitória sobre o São Paulo, que foi completada com gols de Lucas Lima e Rodrigão, o Santos chegou a 19 pontos, ficando a três da liderança. Já que o líder Palmeiras (22) e o vice-líder Internacional (20) perderam nesta rodada. Foi a segunda vitória seguida do Santos, que havia batido o Fluminense no meio da semana. transformar a maior posse de bola em pressão. Não funcionou. Aos 15, Camilo foi lançado em contra-ataque pela esquerda e carregou a bola até a entrada da área, onde tocou para Neílton, do outro lado da área, que bateu cruzado sem chances para o goleiro Jacsson. As vitórias sobre o Londrina (1 a 0) e sobre o CRB (2 a 1), ambas fora de casa, na terça-feira e no sábado, serviram de conforto no Vasco. Elas, de certa forma, compensam a derrota para o Paysandu, por 2 a 0, ocorrida no último dia 18, em São Januário. O técnico Jorginho fez questão de ressaltar que os pontos obtidos fora de casa têm um peso importante na campanha do time, que lidera a Série B, com 22 pontos. — Foi ótimo. Conseguimos o objetivo principal, os seis pontos nos dois jogos fora. Tivemos resultado ruim em casa (contra o Paysandu), e são pontos que a gente não recupera, porque sabemos que vamos perder pontos fora de casa. Esses pontos foram fundamentais para deixar a gente em uma situação muito boa na classificação — disse o treinador, após a vitória sobre o time alagoano, no sábado, em Maceió. Jorginho destacou a reação do time ao não se abater por ter saído atrás do placar. — O CRB é uma equipe que joga em velocidade, muito vertical, tenta pressionar o adversário. Mas o time soube trabalhar, não se abateu com o gol que tomou e teve poder de reação. O técnico elogiou o meia Andrezinho, autor do olímpico, o da virada vascaína: — Andrezinho bate muito bem na bola. A bola dele sempre vai em direção ao gol, desde faltas laterais. l 4 l O GLOBO l Esportes l 3ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016 COPA AMÉRICA NELSON ALMEIDA/AFP SOBE E DESCE á á BRAVO. O goleiro chileno fez defesa monumental na prorrogação e defendeu pênalti de Biglia. DECIDIU. Francisco Silva entrou no lugar de Sánchez e marcou o pênalti que definiu o título. O CRAQUE. Messi não fez bom jogo no tempo normal e perdeu pênalti. DE NOVO. Mais uma final da Argentina que Higuain perde chance clara. APITO. TORCIDA. Mais de 80 mil torcedores lotaram o estádio em Nova Jersey. O brasileiro Héber Roberto Lopes foi rigoroso demais nos cartões e inverteu marcações a ponto de ser o protagonista do primeiro tempo. Tristeza. Messi cabisbaixo após perder sua cobrança na disputa por pênaltis: derrota argentina por 4 a 2 e bicampeonato do Chile na Copa América Centenário, realizada nos Estados Unidos Sina Argentina 0 0 ÍCONE DA CRUELDADE Nos pênaltis, Chile 4 x 2 Argentina Argentina: Romero, Mercado, Otamendi, Funes Mori e Rojo; Mascherano, Biglia e Banega (Lamela); Messi, Di María (Kranevitter) e Higuaín (Aguero). Chile: Bravo, Isla, Medel, Jara e Beausejour; Díaz, Vidal e Aránguiz; Fuenzalida (Edson Puch), Vargas (Nicolás Castillo) e Sánchez (Francisco Silva). Cartões amarelos: Mascherano, Kranevitter, Messi, Díaz, Aránguíz, Beausejour e Vidal. Cartões vermelhos: Marcos Rojo e Díaz. Juiz: Héber Roberto Lopes (Brasil). Público presente: 82,026. Local: Nova Jersey (EUA). Vitória nos pênaltis dá ao Chile o bicampeonato. Jejum argentino é mantido com cobrança errada de Messi CARLOS EDUARDO MANSUR [email protected] Cruel, esse tal de futebol. Parte dos 23 anos que já dura o jejum de títulos do futebol argentino foram coincidir logo com a passagem de Messi pela seleção. Dono de superpoderes com a camisa do Barcelona, consagrado cinco vezes como melhor do mundo, posto indiscutível, parece condenado a ser figura icônica de uma era de derrotas duras como a de ontem, em Nova Jersey (EUA). Após 120 minutos de 0 a 0, logo ele chutou fora um dos pênaltis: o Chile venceu por 4 a 2 e repetiu o título de 2015. O gol da conquista chilena foi marcado por Francisco Silva. Eram duas propostas claras de jogo, dois times tentando adaptar o jogo ao estilo que mais os deixa cômodos. Mesmo pressionado em sua saída de bola, o Chile tentava a todo custo iniciar as jogadas com toques, pela sua boa presença e capacidade de passe no meiocampo. A Argentina não se incomodava em buscar bolas longas. Ainda não é um time com tão bom manejo de bola no setor central, preferia fazer a jogada chegar rapidamente aos últimos metros, onde estão seus homens de enorme capacidade de definição, como Messi. Mas a forma mais eficiente dos argentinos ativarem seus homens de frente foi com a retomada no campo rival. Éo ponto em que o time mais evoluiu. Consegue tirar espaços do adversário, roubar a bola e explorar a rapidez do ataque. Nenhum dos times impôs seu jogo, mas um erro em saída de bola de Medel resultou na única chance de gol. E que chance... Higuaín, de frente para o goleiro Bravo, perdeu seu terceiro gol claro em três finais seguidas com a Argentina: Copa do Mundo, Copa América de 2015 e ontem. Daí em diante, o persona- gem foi Héber Roberto Lopes, que tirou um jogador de cada lado: o chileno Marcelo Díaz em lance até aceitável, após dois cartões amarelos; o argentino Rojo, este vítima de uma expulsão direta que teve um certo exagero, uma cara de compensação forçada. Entre uma e outra, a Argentina teve 15 minutos com um a mais. Faltou apoio dos volantes e dos laterais para criar oportunidades de gol. No segundo tempo, seria outra história: um jogo de dez contra dez que exigiria mais do físico, mas também da ordem coletiva e do controle da bola Chile para evitar que a defesa fosse pega desprevenida. Neste terreno, o Chile se impôs, com ótima partida de Vidal. Era o time que ficava com a posse de bola, trocava passes e dominava, ainda que faltassem o último passe e a finalização. Perdendo o meio-campo, o técnico argentino Tata Martino trocou Di María por Kranevitter. Aos poucos, amenizou, mas não reverteu o quadro. A melhor chance foi chilena, em passe longo de Sanchez para Vargas esbarrar em Romero. A Argentina esperava, na realidade, pela chance de uma arrancada fatal de Messi, encomenda- va seu destino à genialidade do do melhor jogador do mundo. Ela veio, no último minuto, curiosamente após Sanchez perder um gol incrível na outra extremidade do campo. Na volta, Messi conduziu mas faltaram-lhe pernas para chutar com equilíbrio. Vieram mais 30 minutos, uma prorrogação com uma cabeçada quase fatal para cada lado, a argentina culminando em defesa monstruosa de Bravo. Nos pênaltis, além de Messi, perdeu a outra estrela: o chileno Vidal. Mas Biglia também errou: parou em Bravo. l Com agências internacionais EUROCOPA Favoritos espantam zebras e avançam às quartas de final AFP França, Alemanha e Bélgica seguem firmes. Itália e Espanha repetem hoje a decisão de 2012 Alemanha, França e Bélgica finalmente mostraram bom futebol na Eurocopa e se garantiram nas quartas de final. Donos da casa, os franceses sofreram um pouco mais, mas exibiram um segundo tempo consistente e, graças a uma atuação decisiva de Griezmann, venceram a Irlanda por 2 a 1, em Lyon. Atuais campeões do mundo, os alemães tiveram uma de suas melhores atuações desde a conquista da Copa de 2014 e venceram a Eslováquia por 3 a 0, em Villeneuve-d'Ascq. Já os belgas atropelaram a Hungria por 4 a 0, em Toulouse. FASE DECISIVA OITAVAS DE FINAL QUARTAS DE FINAL OITAVAS DE FINAL Ontem SUÍÇA 1 (4) POLÔNIA* 1 (5) -PARIS- ADVERSÁRIOS SAEM HOJE Franceses e alemães conhecerão hoje seus adversários. A seleção do técnico Didier Deschamps terá pela frente o vencedor do duelo entre Inglaterra e a surpreendente Islândia, que se enfrentam às 16h (de Brasília), em Nice. O time de Joachim Löw pegará o sobrevivente do clássico entre Itália e Espanha, que jogam às 13h, no Stade de France, em Saint-Denis. Sportv e Band transmitem. QUARTAS DE FINAL 25/6 Quinta - 16h POLÔNIA 25/6 Sábado - 16h SEMIFINAIS 6/7 - 16h 3 ALEMANHA 0 ESLOVÁQUIA ALEMANHA Hoje - 13h PORTUGAL CROÁCIA 0 (0) ITÁLIA PORTUGAL** 0 (1) ESPANHA 7/7 - 16h 25/6 Ontem PAÍS DE GALES 1 IRLANDA DO N. 0 Sexta - 16h Domingo - 16h PAÍS DE GALES Ontem HUNGRIA BÉLGICA Homenagem. Payet beija a chuteira de Griezmann, autor de dois gols Os belgas terão como rivais o País de Gales na sexta-feira. A França fez um primeiro tempo sofrível. Levou um gol de pênalti de Brady logo aos 2 minutos de jogo, mas a entrada de Coman no lugar de Kanté no intervalo e a consequente mudança de posicionamento de Pogba mudou o time, que passou a criar mais jogadas no ataque e chegou à virada com dois gols de Griezmann. — Dissemos algumas coisas no vestiário e demos tudo o que tínhamos — disse Griezmann, acostumado com o sofrimento que a França vem vivendo na Eurocopa. — Para mim é assim no ano todo. No Atlético (de Madrid) ganhamos por 1 a 0 e sofremos até o fim. Pensava que seria um pouco diferente com a França, mas tem sido do mesmo jeito — brincou. Já a Alemanha não sofreu pe- *Nos pênaltis BÉLGICA FINAL FRANÇA 1 IRLANDA FRANÇA 10/7 - 16h 0 Hoje - 16h INGLATERRA 4 ISLÂNDIA **Na prorrogação la primeira vez no torneio. Pelo contrário, passou por cima da Eslováquia sem piedade. Boateng, Mario Gomez e Draxler fizeram os gols. O meia do Wolfsburg foi o destaque. — Não foi fácil para mim ficar de fora no último jogo. Mas tive nova oportunidade e fico feliz de ter ajudado o time. Mais fácil ainda foi a vitória da Bélgica. O time até sofreu alguma pressão da Hungria no 2 Editoria de Arte segundo tempo, mas matou o jogo nos contra-ataques. Alderweireld, Batshuayi, Hazard e Carrasco fizeram os gols. CLÁSSICO NA EURO Itália e Espanha farão hoje o primeiro clássico de peso da Eurocopa. O jogo é uma reedição da final de 2012, quando os espanhóis golearam implacavelmente por 4 a 0 e conquistaram o bicampeonato. — A Espanha tem sido a nossa Nêmesis (referência à deusa da vingança na mitologia grega) desde 2008 (quando a Itália perdeu nos pênaltis nas quartas de final), quando começaram a era de ouro deles. Gosto da palavra “vingança”, mas, mais do que a palavra, precisamos colocar isso em prática — disse o zagueiro Chiellini, um dos quatro italianos que estiveram nas duas derrotas. l l Esportes l Segunda-feira 27 .6 .2016 Fenômeno CORRIDA AO GOLDEN SLAM Wimbledon começa hoje, com Novak Djokovic em busca de novas marcas. Especialistas avaliam evolução do sérvio GUSTAVO LOIO [email protected] Disputado pela primeira vez em 1877, Wimbledon, o mais tradicional torneio de tênis do planeta, começa hoje. E, na chave masculina, as atenções estarão voltadas, principalmente, para Novak Djokovic. Hexacampeão do Aberto da Austrália, em janeiro, e após título inédito em Roland Garros, no início do mês, o sérvio vai seguir fazendo história, caso confirme o favoritismo na grama britânica. Afinal, apenas o líder do ranking pode conquistar, em 2016, o Golden Slam: o ouro olímpico e os quatro Grand Slams na mesma temporada (o último será o US Open, em setembro), façanha inédita entre os homens. Campeão de três dos quatro torneios mais importantes do circuito em 2015, o tenista de Belgrado, aos 29 anos, tem mos- O trado uma evolução ano a ano. Em entrevista ao GLOBO, especialistas analisaram o progresso de Djokovic, que estreia hoje em Wimbledon contra o anfitrião James Ward (177º do mundo), às 9h (de Brasília), na busca pelo 13º Grand Slam. Sportv 3 e ESPN transmitem. — Uma das coisas que mais mudaram no jogo dele foi o saque. Outro fundamento que ele não fazia com tanta eficiência era a transição da defesa para o ataque. A parte física também impressiona muito. Desde a história do glúten (que o sérvio cortou da alimentação no fim de 2010), ele vem mostrando alto nível durante muito tempo. Isso faz toda a diferença — observa Fernando Meligeni, comentarista da ESPN, que vê o sérvio ainda mais motivado, com grande possibilidade de fechar o Golden Slam neste ano. Capitão do Brasil na Copa “Do jeito que ele está ganhando, pode chegar ao número de Grand Slams de Roger Federer ” Fernando Meligeni Sobre o líder do ranking Davis e treinador de Thomaz Bellucci, que hoje enfrenta o belga Ruben Bemelmans na primeira rodada, João Zwetsch assina embaixo: — A principal mudança foi o O GLOBO aprimoramento em questões técnicas que fizeram diferença grande, principalmente, o saque. Ele fez uma leve mudança que ajudou muito, era o golpe que comprometia um pouco o jogo dele. Mas a principal mudança foi na parte mental. Ex-88º do mundo, o paulista Thiago Alves, que chegou a treinar duas vezes com Djokovic, em 2005 e 2006, concorda. — O que mais mudou foi a parte física. Lembro-me de um jogo dele com o Rafael Nadal, em Roland Garros (em 2006), em que acabou passando mal e desistiu. Junto com o físico, veio tudo, e o mental evoluiu demais. A questão técnica sempre foi muito boa, mas o saque evoluiu bastante. Ele está, praticamente, invencível — analisa. RECORDE À VISTA Olhando para a frente, Meligeni, Zwetsch e Alves veem o sérvio com chances de bater o recorde de Grand Slams do suíço Roger Federer, que tem 17. — Do jeito que ele está ganhando, pode chegar. Se não tiver algum problema físico, vai levar um tempo para deixar de ganhar com frequência — aposta Meligeni. — Não vai ser fácil, mas é possível que ele até ultrapasse os 17. Eu o vejo nesta mesma pegada por mais uns dois ou três anos — acredita Zwetsch. Em Wimbledon, Djokovic, se nenhuma zebra cruzar o caminho, deverá enfrentar nas semifinais o heptacampeão Federer — que hoje estreia contra o argentino Guido Pella. E uma eventual decisão seria com o anfitrião Andy Murray, seu algoz na decisão de 2013. Revanche à vista? l Título com sabor diferente no Intercolegial Olímpico vasto currículo de Micaela, ex-ala da seleção brasileira de basquete, não foi suficiente para aplacar a emoção de um título no Intercolegial. Campeã pelo Ciep Professor Álvaro da Fonseca Lontra, de Miracema, sua cidade natal, ela parecia uma criança após a vitória por 19 a 4 sobre o GEO Doutor Sócrates, de Guaratiba, sábado, no ginásio do Sesc de Ramos, palco das finais da modalidade. Com participações em Olimpíada, PanAmericano, Sul-Americano, entre outras competições, Micaela agora vive uma nova fase. Como auxiliar técnica do Álvaro Lontra participou da conquista do primeiro lugar na categoria sub-13 não federada feminina. – Se me fizesse essa pergunta antes de eu parar de jogar, eu falaria que jamais (seria treinadora), mas agora já começo a pensar. Tenho ajudado o Carlinhos (Bessa, professor do Ciep) e me tornar treinadora faz parte meus projetos – disse ela, explicando o significado de sua mais nova vitória: – Essa medalha vai ter um lugar especial porque significa toda a luta dessas meninas, que são guerreiras. Elas batalham NÚMEROS DE DJOKOVIC 28 14 12 vitórias consecutivas (quatro títulos seguidos) em Grand Slams vitórias consecutivas (dois títulos seguidos) em Wimbledon títulos de Grand Slam na carreira Das últimas 5 edições de Wimbledon, chegou a 4 decisões e ganhou 3 (2011, 2014 e 2015) Dos últimos 9 Grand Slams, chegou a oito finais e ganhou 6 TÍTULOS 6 em2016 65 nacarreira PREMIAÇÕES (US$) Na carreira 101,9 milhões 8,3 milhões Neste ano NO ANO NA CARREIRA 44 730 vitórias vitórias 3 Fonte: ATP P Editoria de Arte 4 Patrocínio Master: Apoio: muito para treinar, vir jogar aqui no Rio de Janeiro e tudo mais. Não foi só o Ciep Álvaro Lontra que comemorou, pelo contrário. Censa, de Campos, e Lisam, de Nova Iguaçu, conquistaram dois títulos cada um. O primeiro papou tudo na categoria sub-15, na qual se sagrou campeão feminino e masculino. – Sempre falo para meus atletas: temos objetivo de ser campeões em todas as competições que formos disputar, respeitando os adversários, pois todos fazem ótimos trabalhos. Quando não vencemos, O camisa 12 do Colégio Vasco da Gama na vitória sobre o Loide Martha pelo título sub-18 federado analisamos onde e porque erramos – garante Carlos Eduardo, técnico do Censa. Sob o comando da técnica Camila Tomaz, o Lisam subiu duas vezes ao lugar mais alto do pódio, nas categorias sub-18 não federado tanto entre meninos como entre meninas. Foi a terceira vez que o time masculino levou o ouro. – Graças a Deus estamos conseguindo nos manter no topo, mas vai ficando cada vez mais difícil. E não sei se vou viver muitos anos assim. Meu coração dispara muito aqui à beira da quadra (risos). São mais de 15 anos no basquete e devo minha vida a este esporte. Esses meninos e meninas treinam muito e são muito regrados – revela. E por falar em campeões seguidos, o Colégio Vasco da Gama levou o bicampeonato da sub-18 federada masculina e celebrou ao som do tradicional grito de “Casaca”, que ecoou pelo ginásio. O ADN Master, do Méier, conquistou a sub-18 federada feminina, enquanto o GEO Félix Venerando, do Caju, a sub-13 não federada masculina. O Intercolegial Olímpico é uma realização do GLOBO, com patrocínio master do Sesc, patrocínio de Furnas, apoio do Sportv e produção da Abadai Eventos. 149 derrotas derrotas Parceria: Fotos : Ari Gomes As campeãs do Ciep Álvaro Lontra, que conta com Micaela, ex-jogadora da seleção brasileira de basquete l 5 Realização: 6 l O GLOBO l Esportes l Handebol Vôlei Ginástica artística SELEÇÃO DERROTA FLÁVIA SARAIVA GANHA DOIS OUROS EM PORTUGAL TURQUIA NO GRAND PRIX BRASIL VENCE NA ARENA DO FUTURO funcionou bem desta vez. O técnico dinamarquês Morten Soubak aproveitou para testar as 18 atletas pré-convocadas para os Jogos de 2016. Ainda haverá quatro cortes antes da Olimpíada. — Estávamos bem nervosos no primeiro tempo e não conseguimos sair com algumas jogadas. No segundo tempo, conseguimos mudar principalmente na defesa, o que nos possibilitou mais contra-ataques. Isso fez a diferença no jogo — avaliou. ALEXANDRE LOUREIRO/PHOTO&GRAFIA A seleção feminina de handebol venceu a Suíça por 30 a 24 em amistoso, ontem, na Arena do Futuro. Foi a primeira vez que as jogadoras atuaram no palco da modalidade na Olimpíada. O evento-teste de handebol, em maio, havia sido disputado por equipes masculinas. As brasileiras aprovaram as instalações, mas apontaram alguns detalhes que podem ser melhorados. A pivô Dara, capitã da seleção, pediu mais espelhos nos vestiários. Já o piso, que descolou em alguns pontos no evento-teste, Segunda-feira 27 .6 .2016 As brasileiras da ginástica artística tiveram grande desempenho na etapa de Anadia da Copa do Mundo, em Portugal, ontem. Flávia Saraiva ganhou medalhas de ouro no solo e na trave, enquanto Rebeca Andrade ficou com a prata nas duas provas. Flávia, de apenas 16 anos, brilhou principalmente na trave. Com nota 15,125, a brasileira indicou que tem chances de brigar pelo pódio no aparelho na Olimpíada do Rio. No solo, Flavinha conseguiu 14,350 na final. Entre os homens, Sérgio Sasaki conseguiu a prata no salto sobre o cavalo, com média de 15,212. O ouro ficou com o chinês Yu Cen, que anotou 15,375. A seleção brasileira feminina de vôlei se despediu do último compromisso pela fase classificatória do Grand Prix, em Ancara, na Turquia, com vitória: 3 sets a 0 (25/14, 25/21 e 25/19) contra as donas da casa. O Brasil venceu com facilidade o primeito set, por 25/14. Mas as turcas cresceram no segundo set, muitas vezes encostando no placar. Porém, as brasileiras souberam se impor e venceram por 25/21. No terceiro set, a seleção de Zé Roberto Guimarães não deu chance às turcas e fechou o jogo. Agora, a seleção brasileira parte para Bangcoc, na Tailândia, onde disputa de 6 a 10 de julho a fase final da competição. FOTOS DE GABRIEL DE PAIVA PARQUE OLÍMPICO VELÓDROMO. Considerada a obra mais preocupante do Parque Olímpico, ainda tem fachada e corredores internos inacabados. Após dois aditivos, o custo saltou de R$ 118 milhões para R$ 147 milhões. ARENA DO FUTURO. Primeira instalação esportiva entregue no Parque Olímpico, em setembro. Houve críticas no evento-teste ao piso e ao mau cheiro, por ficar próxima à Lagoa de Jacarepaguá. Custou R$ 140,1 milhões. ARENAS CARIOCAS. As três arenas foram entregues entre janeiro e maio. Duas delas, com detalhes inacabados. Entraram na PPP do Parque Olímpico, que envolve outros três prédios e infraestrutura, ao custo total de R$ 1,6 bilhão Faltando. O velódromo ainda apresenta parte inacabadas, como a arquibancada temporária e a instalação de cadeiras, além da conclusão da área de circulação de torcedores, encoberta por panos verdes Velocidade máxima CONTRA O RELÓGIO Prefeito entrega velódromo ao Rio-2016, mas reconhece que ainda há o que fazer. Diante da perspectiva de não vê-la pronta, COI elogia arena e, finalmente, atletas puderam testar a pista importada da Sibéria AGÊNCIA O GLOBO CAROLINA OLIVEIRA CASTRO [email protected] A 40 dias dos Jogos Olímpicos, a Prefeitura do Rio entregou ontem as chaves do velódromo, com seis meses de atraso, ao presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. Com 97% de conclusão, a última arena a ficar pronta superou as expectativas do Comitê Olímpico Internacional (COI), que já duvidava da conclusão das áreas comuns e da faixada. O velódromo, no entanto, ainda corre contra o tempo para ficar em perfeitas condições, o que somente deve acontecer dias antes das competições. O custo da obra está em R$ 147 milhões e, por causa do atraso, o evento-teste, inicialmente previsto para março e depois remarcado para abril, foi cancelado. A entrega das chaves ao comitê seria no sábado, mas foi desmarcada horas antes pela prefeitura. A assessoria municipal informou que uma incompatibilidade na agenda do prefeito Eduardo Paes teria sido o motivo do adiamento. No entanto, Paes confessou, ontem, que um problema na máquina gerou um atraso na instalação das placas de metal do lado de fora da arena. Mal-acabada, assimétrica e visivelmente feita com pressa, a fachada ainda era montada antes da cerimônia começar. “ Estou satisfeito. Ainda faltam alguns detalhes a serem feitos, mas o principal, que é a parte dos atletas, está muito bom” Christophe Dubi Diretor esportivo do COI Elogios. Ciclista testa pela 1ª vez a pista importada da Sibéria, considerada a parte mais complexa da obra. Ela foi aprovada — Não queria entregar essa chave para o Nuzman sem todas as placas da fachada. Botamos a turma para trabalhar a noite inteira. A gente ainda tem alguns detalhes, como as arquibancadas temporárias. Mas o que a gente chama de local de competição está pronto. É um momento de muita alegria, porque é a última arena. E a que foi mais difícil também — disse Paes. Dentro do ginásio, também havia sinais de que ainda há o que fazer. Panos verdes e pretos, colocados entre as arqui- bancadas, tiravam a visão dos corredores e do acesso aos banheiros e lanchonetes, onde os torcedores circularão durante as competições. Limitados a uma parte da arquibancada, os jornalistas que estiveram no local não puderam caminhar por toda a arena. PEDIDO DO COI Na parte que era possível ver, algumas cadeiras já estavam instadas. Além da instalação das arquibancadas temporárias, faltam o acabamento das pare- des em que estão os aparelhos de ar-condicionado, os corrimãos e os acessos às escadas. No começo do ano, o COI pediu para que o prefeito esquecesse o acabamento e concentrasse esforços na parte de competição. Na ocasião, Paes dissera que não deixaria de fazer nada, mas priorizou a parte dos atletas, como a pista e os vestiários. O mais delicado da obra foi a instalação da pista de madeira siberiana. O ar-condicionado só poderia ser instalado depois que ela fosse colocada, para que o vento não influenciasse a performance dos atletas. Feito isso, a obra tomou outro andamento. A parte de competição foi elogiada pelos atletas: — A pista é muito boa. Estamos no meio de uma construção e há poeira, mas há tempo para ficar tudo pronto. É bom já conhecer a estrutura, assim como o clima. Não senti falta de um evento-teste oficial, o importante é conhecermos a pista — disse o ciclista suíço Gael Suter, que disputará sua primeira Olimpíada e que foi MARIA LENK. Inaugurado para o Pan de 2007, passou por reformas concluídas em maio. As mudanças, que se concentraram na parte de aquecimento dos atletas, custaram R$ 21,4 milhões. ESTÁDIO AQUÁTICO. Palco da natação nos Jogos de 2016, foi entregue em abril. No dia da inauguração, houve queda de energia. Orçada em R$ 225,3 milhões, foi a arena de maior custo no Parque Olímpico. CENTRO DE TÊNIS. A quadra central recebeu evento-teste em dezembro, mas a obra do estádio não está concluída. Em janeiro, a Prefeitura rompeu o contrato com o consórcio responsável. Orçada em R$ 175 milhões, a obra recebeu aditivo e passou a custar R$ 201,6 milhões. um dos ciclistas que testaram a pista ontem. No final, o COI ficou satisfeito com o que foi entregue. A entidade acreditava que a obra não ficaria pronta e acompanhou de perto a construção. O diretor esportivo do COI, Christophe Dubi, elogiou a arena: — Eu gostei. Estou satisfeito. Ainda faltam alguns detalhes a serem feitos, mas o principal, que é a parte dos atletas, está muito bom. O que vocês veem aqui reflete os Jogos. Temos todas essas cores; temos todos os atletas aqui; e é disso que se trata. Esse velódromo foi incrivelmente complicado, mas, com esforços combinados, foi possível encontrar soluções. O FIM DO PROBLEMA A obra do velódromo foi a maior dor de cabeça do prefeito Eduardo Paes durante a construção das arenas. Ele voltou a criticar a lei de licitações do país. A Tecnosolo, que venceu a concorrência por oferecer menor preço, passava por uma recuperação judicial quando assumiu a obra. Desde o início de 2015, a Riourbe notifica a empresa sobre atrasos no cronograma. Porém, em janeiro deste ano, a Tecnocolo sublocou a obra para a Engetecnica e se retirou oficialmente no mês passado. Um contrato de emergência foi firmado entre a prefeitura e a nova empresa. l SEGUNDO CADERNO OGLOBO Os imigrantes levam benesses à Europa, e pensar que se pode detê-los é idiotice pág. 2 JOSÉ EDUARDO AGUALUSA SEGUNDA-FEIRA 27.6.2016 oglobo.com.br ARTE COLETÂNEA DE OBRAS DADÁ IDEALIZADA EM 1921 VIRA EXPOSIÇÃO pág. 6 Comemorando 40 anos de carreira, a cantora Miúcha lembra histórias engraçadas vividas com João Gilberto, Chico Buarque, Tom Jobim e Stan Getz, entre outros músicos, e fala de seus planos. Ela tem convites para um filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos e para um curta, e estuda a possibilidade de lançar gravações caseiras inéditas com João Gilberto LEONARDO LICHOTE [email protected] I rmã de Chico Buarque, exmulher de João Gilberto, amiga de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Miúcha fez mais do que testemunhar a genialidade em torno dela ao longo de sua vida. É conhecida por grandes discos como “Miúcha & Antonio Carlos Jobim”, de 1977, e “Miúcha”, de 1989, e por ter gravado com artistas como Stan Getz e Pablo Milanés, mas não só isso. Ao completar 40 anos de carreira, Miúcha celebra o feito com o projeto de um filme sobre ela dirigido por Nelson Pereira dos Santos, e estuda lançar gravações caseiras inéditas de João Gilberto. Em entrevista ao GLOBO, a cantora, de 78 anos, conta que foi ela quem deu ensejo para o clássico “álbum branco” do pai da bossa nova, apresentou João Donato a seus futuros parceiros Caetano Veloso e Gilberto Gil, e ensinou os primeiros acordes de violão a seu irmão. com Luiz Bonfá. Antes desse compacto teve o disco de capa branca do João (o cultuado “João Gilberto”, de 1973). O que tem o álbum branco? Estava fazendo um disco meu, gravei “Águas de março”... O João foi conhecer o estúdio, gravamos “Izaura" juntos, ele entrou no disco e, aí, acabou virando um disco dele (risos). Essa é a origem do álbum. l Vocês se conheceram quando? Em 1963, eu morava em Paris. Em 1964, fui para Nova York e arrumei logo um emprego. Não sabia nem falar inglês, mas arrumei um emprego de datilógrafa. Eu era desenhista, tinha feito publicidade. Uma das perguntas que me fizeram na entrevista foi se eu era boa com figures (cálculos, números, em português). Eu disse “oh, l yes”, pensando que era desenhar figuras (risos). Casei com João em 1965. Na época viajávamos muito, nos mudamos muito. Uma vez peguei um ônibus errado, fui parar em New Jersey, gostei e voltei com uma casa alugada. Como João via isso, essas ideias malucas? Ideia maluca era com ele mesmo (risos). Eu insistia, mas ele l nunca queria ir ver os apartamentos comigo antes. Teve um... A gente estava chegando com a mudança, ele viu e disse: “Heloísa, esqueci de te dizer que não gosto de casa de tijolinho”. Passei boas com ele. Fomos fazer uma turnê no México, o início estava o maior sucesso. Até que perguntaram se ele não se sentia mal com a altitude. Então, ele caiu duro na hora! Sentiu a altitude (risos). LEO MARTINS Como João está, na chegada dos 85 anos? Igualzinho. Mas tocando como nunca. l Como você começou a fazer música? Tinha aqueles encontros lá em casa, com meu pai (Sérgio Buarque de Holanda), com Vinicius. Aí juntei minhas irmãs e tínhamos praticamente um conjunto vocal. E o Vinicius estimulava, ele me ensinou os primeiros acordes de violão, eu devia ter uns 12 anos. Depois eu ensinava pro Chico o pouco de violão que tinha aprendido com Vinicius. E Chico logo começou a brincar de fazer música. Teve uma música que ele fez que eu aprendi, e uma vez peguei o violão, já casada com João, e comecei a cantarolar. João perguntou: “O que é isso?”. “É a música do meu irmãozinho”. “Que interessante”. Foi a primeira vez que ele ouviu Chico. l Neste ano, celebram-se quatro décadas do lançamento do disco “The best of two words”, com você, Stan Getz e João Gilberto, o primeiro LP em que você aparece na capa... Sim, mas saiu sem meu nome. Estou na foto da capa, mas não tem crédito para mim. Reclamei, mas ficou por isso mesmo. Esse disco teve muita história, gravamos em várias etapas. Primeiro, gravamos tudo e voltamos para o Brasil. Mas quando viramos as costas, o Stan Getz mexeu... Nesse disco, o sax é muito mais alto do que todo o resto. Quando vem o solo de sax, a gente tem que abaixar o volume (risos). João reclamou da mixagem, tivemos que voltar aos Estados Unidos. Ficamos um tempão morando na casa do Getz. No final dessa remixagem, encontrei o Tom e gravamos juntos “O boto” (do disco “Urubu”, de 1976). Estava lá gravando com João e Stan Getz num estúdio, e o Tom em outro, e ninguém podia saber, porque Getz queria que o Tom participasse do disco, e o Tom estava fugindo. Mas o engenheiro de som entregou e acabei ficando mal, ali de espiã entre os dois, me senti uma Mata Hari. l l Antes você já tinha gravado o quê? Fiz um compacto duplo, com duas músicas de cada lado, em 1975. Apresentei Donato a Gil e a Caetano, e eles fizeram as primeiras parcerias, “Naturalmente” (com Caetano) e “Lugar comum” (com Gil). Pus as duas no disco e gravei também com a Bebel, bem criança, uma música anti-homofóbica, “O que quer dizer”, do Péricles Cavalcanti (“E por que falar/ Prata é mulher/ Rosa mulher/ Lua mulher/ Se quando a gente é pequeno/ A gente costuma brincar/ Eu vou ser o que você quiser agora”). É tão bonitinha com Bebel cantando. A quarta é “Correnteza”, de Tom Jobim Parou a turnê, aquilo deu uma confusão infernal. Mas tenho muita gravação linda em cassete dessa época. Gal (Costa) cantando, João acompanhando. Tem muito vocal da gente, muita música inédita dele. Vamos resolver ainda se isso sai ou não, o que dessas coisas pode ser recuperado. l E hoje? O que você prepara para celebrar sua trajetória? Foi lançado o “Ao vivo no Paço Imperial”, enquanto que o “Miúcha”, de 1989, foi reeditado. É meu disco de luxo. Gravei com Pablo Milanés em Cuba. Tem Donato tocando trombone, quatro músicas de Guinga com Paulinho (César) Pinheiro. E estou preparando coisas para o cinema. O que você está fazendo para o cinema? A Georgiana de Moraes e a Dora Jobim estão querendo fazer um curta comigo: “Curta Miúcha”. A curtição são as cartas que escrevi. A ideia é fazer um filme a partir dessas cartas. Quando morei na Europa e nos Estados Unidos, escrevia feito doida pra minha família e pros amigos. Tenho sete pastas. Conversei com os irmãos Campana, meus amigos, pra eles bolarem um cenário disso, botar as cartas penduradas como se fosse uma floresta feita delas. Eu vou andando no meio, pego uma por acaso, começo a ler. E a partir daí vamos para essas histórias, e elas são encenadas. E Nelson Pereira dos Santos quer fazer um longa nesse formato comigo. Trabalhei com Nelson nos roteiros dos filmes que ele fez sobre meu pai (“Raízes do Brasil”) e Tom (“A música segundo Tom Jobim”). Agora, estou tomando coragem de ler essas cartas. Tem tanta maluquice, leio uns pedaços e fico muito perturbada. São muitas, é chocante, não sei como não virei escritora. De repente, ainda viro. l l Miúcha EM PRIMEIRO PLANO l O GLOBO l Segundo Caderno l [email protected] JOSÉ EDUARDO AGUALUSA | | Escrevo esta coluna na sexta-feira, 24 de junho. A primeira notícia que li, manhã cedo, dizia respeito ao resultado do referendo através do qual uma maioria de britânicos escolheu romper com a União Europeia. A seguir comecei a receber mensagens de amigos ingleses desiludidos e assustados. Um deles defendia a independência de Londres, mantendo-se a cidade ligada à União Europeia. Julguei que estivesse a brincar. Depressa percebi que não. Há mais gente defendendo o mesmo. A capital inglesa — famosa pela diversidade étnica e cultural, e cujo prefeito, Sadiq Khan, é um muçulmano de origem paquistanesa — votou de forma expressiva pela permanência do Reino Unido na União Europeia: 2.263.519 votos sim; 1.513.232 não. “Vamos soltar Londres do resto da ilha e navegar com a cidade até o continente”, acrescentou o meu amigo, numa afirmação que me fez recordar José Saramago e a sua “Jangada de pedra”. medo do outro — dos imigrantes — tem sido amplamente utilizado pela direita britânica para mobilizar o país contra a União Europeia. Acontece que o outro já se tornou — faz tempo — parte do conjunto, e até parte da norma. Nos últimos dias circula nas redes sociais um recorte de um jornal em língua inglesa, dando conta de um episódio ilustrativo daquilo que é hoje o Reino Unido (e a Europa, de uma forma geral) — numa estação de trem um passageiro indigna-se diante de uma mulher, coberta com um niqab, a qual conversa com o filho num idioma estranho. “Estamos na Inglaterra”, diz, “vocês deviam falar inglês!”. Um outro sujeito interrompe-o: “Na verdade estamos no País de Gales, e eles estão falando galês (cymraeg)!”. O escritor moçambicano Mia Couto costuma contar uma estória que tem semelhanças com a anterior. Uma ocasião, em Estocolmo, entrou num estabelecimento comercial onde, para sua grande surpresa, encontrou um velho amigo. O amigo, um moçambicano negro, vive há décadas na Suécia, possui passaporte sueco e fala fluentemente a língua do país. Os dois homens abraçaram-se, relembrando casos antigos, falando alto, rindo ainda mais alto, numa descontração que, entre nós, expressa apenas alegria, mas que, na Suécia, pode facilmente ser confundida com tumulto. Veio o gerente do estabelecimento, já um tanto nervoso. Voltou-se para Mia Couto e começou a explicarlhe, em sueco, que aquele não era um comportamento adequado. O moçambicano negro sorriu: “O senhor vai ter de falar comigo. Eu é que sou o sueco. O meu amigo é africano e não entende uma palavra da nossa bela língua”. Os novos europeus mudaram definitivamente o rosto da Europa. A tese de que é possível deter esse processo, e mesmo invertê-lo, não me parece apenas idiota; acho-a de uma ingenuidade quase infantil. Ingênua, porque nenhum muro, por mais alto, consegue deter multidões desesperadas. Enquanto houver territórios em guerra, ou devastados por uma pobreza crônica, e territórios relativamente prósperos e em paz, haverá movimentos de pessoas de uns para outros. Idiota, na medida em que assume como ruinoso um fenômeno que, muito pelo contrário, tem vindo a revitalizar um continente envelhecido em termos demográficos e culturais. Há países europeus, como é o caso de Portugal, cuja população diminui de ano para ano. Os imigrantes ajudam a equilibrar a demografia e as finanças, e ainda contribuem para renovar todo o cenário cultural. A música popular portuguesa, francesa ou inglesa tem hoje como protagonistas inúmeros rostos de origem africana. No caso francês, isso nem é novo. Boa parte do extraordinário movimento da chanson française, nos anos 1940, 50, 60 e 70, foi encabeçada por artistas como Charles Aznavour (de origem armênia), Serge Reggiani (de origem italiana) ou Georges Moustaki (de origem grega), já para não falar na cantora negra, natural de Saint Louis, nos Estados Unidos, Josephine Baker. E o que seria da moderna literatura inglesa sem os imigrantes? Os ingleses não se poderiam orgulhar de figuras como V. S. Naipaul, Zadie Smith ou Salman Rushdie, entre muitas outras. Receia-se que a atitude dos britânicos possa impulsionar movimentos nacionalistas um pouco por toda a Europa, levando a referendos semelhantes e a um eventual desmembramento da União Europeia. Não creio que tal tragédia venha a ocorrer. O que aconteceu no Reino Unido, contudo, não pode deixar de ser visto como um recuo enorme no ideal de construção de um mundo mais unido, livre de fronteiras e aberto à humanidade inteira. l JOSÉ EDUARDO AGUALUSA 3ª MARCUS FAUSTINI 4ª 5ª 6ª FRED FLÁVIA ZÉLIA COELHO OLIVEIRA DUNCAN SAB MARCIO TAVARES D'AMARAL DOM FERNANDO GABEIRA Boa | CLEO GUIMARÃES Uma derrota da inteligência 2ª Gente Email: [email protected] e Blog: http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/ COM MARIA FORTUNA E FERNANDA PONTES | O Segunda-feira 27 .6 .2016 UM ATO DE RESISTÊNCIA Elisa Ventura lança revista impressa: ‘Tem um público a fim de conteúdo’, diz a dona da Blooks MARCOS RAMOS Minha vida é andar... Gonzaguinha deixou um livro pronto sobre o pai, Luiz Gonzaga, que Louise Martins, a Lelete, viúva do compositor, vai lançar em 2017. A obra se chamará “Minha vida é andar por este país”. Para onde vai o Pelé? Uma estátua de Pelé em tamanho natural está desde 2013 no estúdio do escultor e cartunista Ique, na Barra, e ainda não tem seu destino definido. Toda em bronze, ela foi encomendada pelo governo do estado para ser instalada no Maracanã na Copa das Confederações, mas a inauguração foi adiada porque Pelé operou o quadril, depois houve uma mudança na Secretaria de Esportes, em seguida, a crise... “Estou com a estátua aqui há três anos e não sei o que fazer com ela”, diz Ique. Em primeira mão Palavras. Elisa: “Queremos falar de assuntos não óbvios como afrofuturismo, por exemplo” E lisa Ventura lançou, dias atrás, no bar Olho da Rua, a Revista Blooks, que amplia os horizontes de sua charmosa livraria homônima. “Parece loucura, né? Todo mundo fechando tudo e eu abrindo uma revista impressa... É quase uma resistência”, diz. l “Mas tem um público a fim de conteúdo. Queremos abrir novos espaços de diálogo e reunir pessoas com ideias interessantes”, continua. “Nossa livraria já é uma grande revista em movimento”. O número de estreia tem participação de Jean Wyllys, entre outros. “Não queremos ser uma revista de literatura ou institucional, nem estarmos ligados ao que a gente vende”, explica. “Vamos fazer pautas que não estão na mídia, sobre assuntos não óbvios, mas que as pessoas estejam discutindo, como afrofuturismo”. l A revista, gratuita e bimestral, é bancada com anúncios. Ela pode ser encontrada no IED, MAM, Fundição Progresso e Circo Voador, além da Blooks. A MÚSICA QUE VOCÊ VESTE DIVULGAÇÃO Vinte atletas de alta performance que competirão nos Jogos vão conhecer, antes de todo mundo, a nova coleção — é assim que ela chama seu cardápio — de Roberta Sudbrack. A chef olímpica (ela cuidará do menu da delegação brasileira na Vila dos Atletas) vai mostrar o que é que a taioba, ingrediente-estrela de seu novo menu, tem. Os atletas serão definidos de acordo com as liberações do COB, mas todos têm expectativa de medalha. Aliás e a propósito Assim como fez em Londres, Roberta estará na Casa Brasil para receber os atletas medalhistas com o seu já famoso “brigadeiro da vitória”. Grana preta As Olimpíadas vão gerar mais de R$ 1 milhão ao INPI, órgão público que registra as marcas no país. Esse valor será quanto o COI, a Rio 2016 e o Comitê Olímpico Brasileiro terão que desembolsar para proteger seus ativos contra o marketing de emboscada. Tentativa de fraude Chamou a atenção da Vigilância Sanitária a quantidade de tentativas de fraude de seu sistema de licenciamento desde que ele passou a funcionar, no início de janeiro. Os números são impressionantes: das 6.894 solicitações de clínicas médicas e odontológicas, 6.116 (ou seja, 88% delas) foram indeferidas — a grande maioria por fraude. Entre os pedidos de bares e restaurantes (4.379), 1.931 foram negados pelo mesmo motivo. Segue a história Brilho. Ludmilla: referência de estilo, junto com Karol Conka e Lelezinha, do Passinho A cantora Ludmilla é uma das artistas estilosas da nova cena pop que aparecem retratadas na exposição “A música que você veste”, promovida pelo Instituto Rio Moda, de Alessandra Martins e Roberto Meireles, no Fashion Mall, a partir de amanhã. l “O foco é a música como fonte de inspiração para a criação de coleções e lançamento de tendências de moda”, diz Alessandra. “Ela influencia na criação de padrões estéticos, incluindo estampas, cores e formas de modelagem. Algumas têm imediata identificação com novos estilos no vestir”. A anexação de documentos falsos é a fraude mais grave. Por causa disso, a Vigilância mandou um ofício à Delegacia de Defraudações pedindo ajuda na apuração dos crimes. ‘É chá de carqueja’ MARIZA LIMA / DIVULGAÇÃO 2 l O evento, que vai até quinta-feira, também conta com talk-shows e palestras nacionais e internacionais. U Mago do som. Hermeto Pascoal: “Santinho” Geração do sexo fácil na internet Ao sair da salinha reservada dentro da exposição que celebra seus 80 anos, Hermeto Pascoal entregou a taça de vinho que segurava a um assistente e disse: “Melhor levar porque aí vão pensar que sou santinho!”. No que alguém ali gritou “é chá de carqueja!”, brincando com o nome de uma música de Hermeto. Antes de ouvir o som dos amigos que se apresentaram em sua homenagem, Hermeto fez um pedido à plateia. “Vamos fazer silêncio, mas quem quiser participar, pode bater o pé”. Tatiana Presser Psicóloga de formação, Tatiana Presser é expert em sexo (“sexpert”, como ela se apresenta) e anda preocupada com a maneira como os adolescentes da era da internet (e dos vídeos pornôs ao alcance de um clique) lidam com a sexualidade. O assunto é abordado no livro “Vem transar comigo” (Ed. Rocco), que ela vai lançar em julho. O acesso fácil ao conteúdo pornô mudou a maneira como os adolescentes lidam com o sexo? Sim. E a quantidade de material disponível também. Quase 40% da internet é de material pornográfico. Antigamente, os caras que hoje têm 40, 50 anos de idade tinham que fazer todo um esquema com o jornaleiro para arrumar uma revista pornô. l Algo mais te preocupa? A qualidade desse material. Antigamente você ia ver revista pornô ou assistir a um filme e encontrava peito, bunda, casal transando... Enfim, pornô normal. Hoje em dia um menino ou uma menina que nunca viram nada disso podem dar de cara com um vídeo sadomasoquista, uma mulher transando com um cavalo, ou seja, várias coisas que, para chegar a esse nível de fantasia sexual, precisa haver uma evolução natural da sexualidade. l Não deve ser fácil lidar com tanta informação nesta idade. Não é. E quando esses adolescentes começam a vida sexual, esperam uma performance como a do vídeo. Aí entra a frustração. Muita frustração. l U Curtinhas Walter Carvalho exibe seu filme “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície”, sobre Armando Freitas Filho, na Flip, quarta. Ballet da Rússia faz única apresentação no próximo dia 4, no Teatro Bradesco, na Barra. Restaurante Barbado, do pescador Wolney, está completando 32 anos em Geribá. l Segundo Caderno l Segunda-feira 27 .6 .2016 O GLOBO l 3 VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR OU ACESSE NO SITE: rioshow.com.br OS DESTAQUES DE HOJE DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL Concerto ‘Sons na catedral’ Música de câmara e inclusão A série “Sons na catedral” surgiu a partir do projeto Som+Eu, ação social de educação musical para crianças e adolescentes da região do Morro da Providência. Dirigida pelo maestro, pianista e compositor Anderson Alves (foto), de 30 anos, a iniciativa apresenta um concerto, hoje, na Lapa. — Nossa Orquestra de Câmara da Providência, que conta com 16 músicos, vai tocar com a Domitila Ballesteros como solista, uma organista de renome internacional. Nossa ideia é democratizar a música de concerto — afirma Alves. O jovem regente destaca o valor do órgão de tubos da Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa, onde será a apresentação. — É um instrumento raro, de 1898, feito pelo francês Aristide Cavaillè-Coll — explica. No programa, obras de Bach, Villa-Lobos, Vivaldi e Mozart, entre outros. — Destaco também o “Concerto para órgão e orquestra”, de Händel, uma peça pouco executada no Rio — diz. (Sérgio Luz) DIVULGAÇÃO/DANIEL EBENDINGER Cinema ‘Faça a coisa certa’ O Bonequinho viu DIVULGAÇÃO Atrito e tensão racial nos EUA DOCUMENTÁRIO Divisor de águas na história do cinema negro americano, o filme de 1989, de Spike Lee (que vive Mookie, na foto), será exibido na mostra “Cinema político: o poder da imagem”, após o curta “Proibidão”, de Ludmila Curi e Guilherme Arruda. ONDE: Estação NET Botafogo. Rua Voluntários da Pátria 88. QUANDO: Seg, às 21h. QUANTO: R$ 26. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. Teatro ‘Os inadequados’ Cachorro, música alta e desavenças DIVULGAÇÃO/ELISA MENDES ‘Marguerite’ Um grupo de atletas paralímpicos brasileiros é acompanhado durante alguns anos pela equipe de Marcelo Mesquita em um documentário que revela não só a tenacidade dos personagens, mas também intrigas e injustiças dos bastidores. Ponto para a atriz Catherine Frot, um dos quatro prêmios Cesar conquistados pelo longa. Tudo faz com que nos sintamos mais envergonhados de nós mesmos no nosso papel de juízes do talento alheio do que por Marguerite. Sérgio Rizzo Carlos Helí de Almeida SUSPENSE COMÉDIA DRAMÁTICA ‘O caseiro’ Inez Viana dirige a peça da Cia OmondÉ que encerra hoje temporada no Teatro Ipanema. Na trama, oito atores narram cartas reais de reclamação dos moradores de um condomínio. ONDE: Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa. Largo da Lapa s/nº, Lapa (3094-8307). QUANDO: Seg, às 18h. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre. DRAMA ‘Paratodos’ ONDE: Teatro Ipanema. Rua Prudente de Morais 824, Ipanema (3594-2690). QUANDO: Seg, às 20h30m. Último dia. QUANTO: R$ 30. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. ‘Nós ou nada em Paris’ As limitações em relação aos filmes recheados de efeitos especiais de Hollywood ressaltam ainda mais o bom resultado obtido pela simplicidade e falta de pretensão de Julio Santi, que entrega um filme que aguça a curiosidade e provoca arrepios. Dirigido, roteirizado e estrelado por Kheiron, astro iraniano-francês do stand-up, o filme opta pela comédia para abordar a juventude de seus pais, no Irã e em Paris. O tom leve impede aprofundamento, mas cria empatia. Mario Abbade Ruy Gardnier Artes visuais DIVULGAÇÃO/DANIEL FEINGOLD Agenda da semana AMANHÃ O CCBB (3808-2020) inaugura às 19h30m a última exposição da série Prêmio CCBB Contemporâneo, que contemplou dez projetos de artistas contemporâneos em 2015. O carioca Floriano Romano ocupa o espaço expositivo com a instalação sonora “Errância”: uma massa sonora emitida por seis alto-falantes, cujo conteúdo foi colhido por pessoas microfonadas em bares de vários bairros do Rio, tendo como provocação inicial textos ficcionais do artista. l O Centro Cultural Justiça Federal (3261-2550) inaugura às 19h a exposição “Ruídos para ver”, com uma videoprojeção e 13 fotografias de Fernando Gonçalves. A curadoria é de Daniela Name. l SÁBADO, DIA 2 Geometria. Obra de Daniel Feingold da série “Homage to Corot” (2011), uma das quatro individuais de fotografia em cartaz no Paço Imperial O PAÇO SE RENDE À FOTO Novo pacote de exposições inclui quatro individuais e mostra do acervo do IMS NANI RUBIN [email protected] N o mês em que acontece na cidade o FotoRio, com várias mostras em museus e centros culturais, o Paço Imperial também adere ao suporte. A instituição acaba de inaugurar seis exposições, das quais cinco são de fotografia. Uma delas, histórica: “O Paço, a praça e o morro” exibe, até 28 de agosto, imagens (de 1860 a 1930) do acervo do Instituto Moreira Salles, que privilegiam o Paço e seu entorno (incluindo uma série dedicada ao cotidiano do Morro do Castelo e seu desmonte). Outras quatro são individuais. Cezar Bartholomeu (“Colisões”), Daniel Feingold (“Fotografia em três séries”), e Flavio Colker (“Cânticos”) dividem o espaço do Terreiro, no térreo, até o dia 31 de julho, enquanto Maritza Caneca expõe no primeiro andar (até 28 de agosto) sua série “Piscinas”, com 25 l O Centro Cultural Oduvaldo Viana Filho (2205-0655) abre ao público, a partir das 10h, a exposição “Como habitar abismos”. A artista Mariana Guimarães ocupa todos os andares do Castelinho do Flamengo com instalações, bordados e desenhos que tratam das ambiguidades da intimidade, da sexualidade e do feminino. l A Galeria do Ateliê (2541 -3314) abre às 12h a exposição “Sertão cerrado”, fruto das inúmeras andanças do fotógrafo José Diniz na região do cerrado brasileiro. A curadoria é de Claudia Tavares. DOMINGO, DIA 3 O Museu de Arte do Rio – MAR (3031-2742) realiza visitas guiadas às 10h e 11h (encontro no pilotis). Às 14h, acontecem a conversa de galeria “Sagrano profado” e a atividade educativa “Vogalize”. l DIVULGAÇÃO/MARITZA CANECA Arte pré-colombiana Masp faz comodato com Coleção Landmann O Museu de Arte de São Pauloexibe, a partir de hoje, quatro peças da Coleção Edith e Oscar Landmann, uma das principais de arte pré-colombiana da América do Sul, com mais de 900 obras. A exibição celebra o acordo de comodato feito com o museu, e antecede a exposição, em 2018, do precioso acervo. A coleção cobre 2.500 anos, desde 1000 a.C. até a conquista europeia, na metade do século XVI, e passa a se chamar Coleção Masp Landman l Repouso. A imagem “Submerso” (2015), parte da série “Piscinas”, de Maritza Caneca Na fazenda Em Miami imagens clicadas ao longo de três anos de viagens pelo mundo. — Na verdade, houve uma certa coincidência, não foi proposital, a não ser no caso do Terreiro, ocupado por três artistas que experimentam a fotografia — conta Claudia Saldanha, diretora do Paço. A única exposição não fotográfica é a de Nadam Guerra, “A virgem do Alto do Moura”, uma narrativa ficcional construída em barro, a partir de residência feita pelo artista em Caruaru, Pernambuco. No texto de apresentação das mostras, Claudia observa que um dos usos do local, no passado, foi servir de ateliê aos artistas que trabalhavam na côrte. Ela lembra, ainda, que uma das primeiras imagens fotográficas da América Latina foi feita no Largo do Paço e que D. Pedro II foi um notório entusiasta da fotografia. — Isso faz uma ligação com a mostra do Instituto Moreira Salles — diz ela. A maior das mostras é “Piscinas”, um recorte, feito pela curadora Vanda Klabin, de um extenso trabalho de registro EAV abre inscrições para residência Polêmica em mostra brasileira A Escola de Artes Visuais do Parque Lage acaba de abrir 18 vagas para o Programa de Residência Artística Parque Lage — Residência São João, que será realizado de 11 a 30 de agosto no Vale do Café. O objetivo é utilizar os espaços da fazenda para o desenvolvimento de pesquisas individuais e colaborativas, sob a supervisão de sete professores da EAV. Informações e inscrições através do e-mail par [email protected] Inaugurada em 3 de junho no Institute of Contemporary Art (ICA), em Miami, a exposição “The inverse”, da brasileira Laura Lima, voltou ao noticiário na semana passada, depois que uma das participantes da performance de abertura disse que foi “pressionada” pela artista a fazer uma penetração vaginal com uma corda de nylon. Ao jornal “Miami News Times”, Laura se disse surpresa com a acusação. l de equipamentos desse tipo pelo mundo. Maritza, que faz a primeira individual de sua recente carreira como artista, é uma experiente diretora de fotografia de cinema, cuja trajetória profissional se iniciou justamente com uma câmera fotográfica, quando, em 1986, assinou o still de “Cinema falado”, de Caetano Veloso. Para o Paço, a curadora optou por imagens destituídas de pessoas. — É uma série com discurso mais silencioso, um universo anônimo, com uma estética em repouso — diz Vanda, que também assina a curadoria da mostra de Feingold. — A fotografia do Daniel é um desdobramento grande do trabalho dele como pintor. Há uma presença dinâmica da geometria, um jogo de luz e sombra, uma potência pictórica. l “O PAÇO, A PRAÇA, E O MORRO” E OUTRAS ONDE: Paço Imperial — Praça XV de Novembro 48, Centro (2215-2093). QUANDO: Ter. a dom., das 12h às 19h. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre. 4 l O GLOBO l Segundo Caderno l Segunda-feira 27 .6 .2016 Os destaques de hoje na TV FOTOS DE DIVULGAR Canal Brasil, 20h Conversas para se guardar A série “As grandes entrevistas do Pasquim” reconstitui a segunda entrevista de Chico Buarque (Marcos Sacramento) ao jornal em 1975, sobre carreira, composições e festivais de música. OFF, 22h Multishow, 22h30m Record, 22h30m Band, 22h45m ‘Surfe no oeste da África’ ‘Prêmio Multishow de humor’ ‘Xuxa Meneghel’ ‘A liga’ Xuxa recebe o namorado Junno (foto) e os casais Roberto Justus e Ana Paula Siebert, e Laura Keller e Jorge Sousa — dupla vencedora do reality “Power couple” — para uma noite de jogos. É em Copacabana que o programa acontece. Nas areias, Mariana Weickert (foto) acompanha a rotina dos salva-vidas, enquanto Guga Noblat entrevista vendedores ambulantes. No sétimo episódio, os surfistas Carlos Bahia e Rô Barros chegam ao Senegal sem as pranchas, que ficaram no aeroporto. Com equipamentos emprestados, eles surfam na orla de Youff. Natalia Castro [email protected] Nesta quinta temporada, Marcelo Marrom entra na bancada com Natalia Klein, Sérgio Mallandro, Dani Valente e Bento Ribeiro. Horóscopo POR CLAUDIA LISBOA (21/3 a 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Libra. Regente: Marte. Ao sentir que acordou com o humor alterado e com vontade de jogar tudo para o alto, é sinal de que tem alguma coisa errada. É tempo de perceber o que causa essa irritação e reverter isso. LIBRA (23/9 a 22/10) Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Áries. Regente: Vênus. Neste momento, você pode ter o foco necessário para realizar o que quer e a sensibilidade para intuir o que pode ser ainda melhor. É tempo de aproveitar para resolver as questões difíceis. TOURO (21/4 a 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Escorpião. Regente: Vênus. Ao optar por enxergar o mundo de uma forma mais bonita, as possibilidades de viver com prazer serão ampliadas. É tempo de se dedicar à arte de tornar o mundo à sua volta mais belo e prazeroso. ESCORPIÃO (23/10 a 21/11) Elemento: Água. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Touro. Regente: Plutão. Um tema difícil de ser digerido pode ser passado de maneira mais leve sem comprometer o conteúdo principal. É tempo de encontrar formas de passar adiante as informações importantes. GÊMEOS (21/5 a 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio. Para dar conta de tantos interesses, talvez seja preciso pensar em formas de minimizar os excessos. É tempo de escolher fazer algo de que você goste e se deixar levar pelos impulsos da curiosidade. SAGITÁRIO (22/11 a 21/12) Elemento: Fogo. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Gêmeos. Regente: Júpiter. Alimentar o espírito é tão importante quanto alimentar o corpo. Um bom livro é um prato cheio para nutrir a mente. É tempo de relaxar, evitando lugares que o deixam ansioso e estressado. CÂNCER LEÃO (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Capricórnio. Regente: Lua. Ao compreender o mundo para além da sua opinião, você consegue ter uma percepção do todo e uma sensação de plenitude. É tempo de usar a sensibilidade para entender esse outro universo. CAPRICÓRNIO (22/12 a 20/1) Elemento: Terra. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Câncer. Regente: Saturno. (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Aquário. Regente: Sol. Existem tantas formas de se irritar e perder a paciência que é preciso ficar atento para que você não seja dominado pelo mau humor. É tempo de procurar atividades que propiciem o bem-estar. AQUÁRIO O comprometimento acirrado em lutar pelo que é justo pode fazer com que você veja tudo em preto e branco. É tempo de ter mais flexibilidade na maneira de ser, sem que isso afete seus ideais. (21/1 a 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Leão. Regente: Urano. Quando existe energia de sobra, é bom aproveitar para lutar pelos seus ideais mais nobres e seguir em frente. É tempo de construir o caminho que leva à possibilidade de realizar seus sonhos. Logodesafio POR SÔNIA PERDIGÃO VIRGEM (23/8 a 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Peixes. Regente: Mercúrio. Mesmo tendo capacidade crítica, você pode se sentir inseguro para expor as suas observações. É preciso não ter medo de errar. É tempo de entender que falhas fazem parte do aprendizado. PEIXES (20/2 a 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Virgem. Regente: Netuno. Ao querer dizer algo, e não saber de que forma fazer isso, a voz parece que some. Talvez seja melhor escrever para organizar os pensamentos. É tempo de buscar outros meios para se expressar. Foram encontradas 49 palavras: 32 de 5 letras, 11 de 6 letras, 6 de 7 letras, além da palavra original. Com a sequência de letras ÇO foram encontradas 10 palavras. Instruções: Encontrar a palavra original utilizando todas as letras contidas apenas no quadro maior. Com estas mesmas letras formar o maior número possível de palavras de 5 letras ou mais. Achar outras palavras (de 4 letras ou mais) com o auxílio da sequência de letras do quadro menor. As letras só poderão ser usadas uma vez em cada palavra. Não valem verbos, plurais e nomes próprios. Solução: abono, anelo, átomo, átono, batom, beato, bemol, benta, bento, boate, boato, bolão, botão, ébano, então, láteo, lenta, lento, lombo, malte, mambo, manto, melão, menta, metal, monta, monte, motel, ontem, telão, tombo, tonel, alento, boleto, bolota, embalo, êmbolo, malote, mental, mentol, moela, montão, também, lamento, metanol, molambo, moletom, momento, tômbola. MOLAMBENTO. Com a sequência de letras ÇO : almoço, baço, bolaço, emboço, laço, lenço, maço, maçom, melaço, moço. ÁRIES Expediente EDITORA: FÁTIMA SÁ [email protected] l EDITORES ASSISTENTES: CRISTINA FIBE [email protected], EDUARDO FRADKIN [email protected], EDUARDO RODRIGUES [email protected], GABRIELA GOULART [email protected], HELENA ARAGÃO [email protected] l DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MORGADO, PAULA FABRIS E TOMÁS BREVES l TELEFONES: REDAÇÃO: 2534-5703 l PUBLICIDADE: 2534-4310 [email protected] l CORRESPONDÊNCIA: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. CEP: 20233-900 l Segundo Caderno l Segunda-feira 27 .6 .2016 GLOBO/ JOÃO MIGUEL JÚNIOR [email protected] PATRÍCIA KOGUT COM FLORENÇA MAZZA, ANNA LUIZA SANTIAGO E RAFAELA SANTOS CARREIRA NOS EUA Thaila Ayala será uma das protagonistas do filme americano “Woddy Woodpecker”, o famoso Picapau. Ela interpretará Vanessa no longa com atores — a única animação será o pássaro. Há dois anos a atriz se mudou para Nova York e vem investindo na carreira internacional. 10 0 Para Marcelo Médici, pelo Agilson de “Haja coração”, novela de Daniel Ortiz dirigida por Fred Mayrink. Ela é um ótimo ator e construiu seu personagem dando atenção aos mínimos detalhes. Está de-mais. Para as televendas no TV Max, que agora ultrapassam todos os limites da sensatez ao mostrar imagens de um homem entrando num aparelho de tomografia. Pode isso, Arnaldo? USAM A LUPA Dira Paes e Irandhir Santos gravam a cena de “Velho Chico” em que analisam os documentos da prefeitura de Grotas em busca de indícios de corrupção. À direita, o cinegrafista Murilo Azevedo Cinema Jornadas A peça “Tô grávida”, uma comédia romântica estrelada por Fernanda Rodrigues e Paulo Vilhena, vai virar longa-metragem. A produção é do marido da atriz, Raoni Carneiro, e a direção, de Pedro Vasconcelos. Eles vão filmar este ano e a ideia é estrear em 2017. No ar em “Haja coração”, Tatá Werneck também grava “Estranho show de Renatinho”, programa que estreia em agosto no Multishow. Simony, que teve uma passagem ruidosa pelo “Power couple”, e Lucélia Santos serão as primeiras convidadas. É produção da Floresta. VAI AO AR AMANHÃ Marília Gabriela gravou com Juliano Cazarré para o “TV Mulher”, do Canal Viva. O ator tem se dedicado ao cinema desde o fim de “A regra do jogo”, na qual interpretou o MC Merlô MARCELO TABACH O GLOBO TV GLOBO/ESTEVAM AVELLAR PILANTRA EM SÉRIE Antonio Calloni em cena como Antenor, seu personagem na minissérie da Globo “Justiça”. Sócio de Euclydes (Luiz Carlos Vasconcellos), ele vai aplicar um golpe no amigo e limpará a empresa, deixando os funcionários sem pagamento LEITE MATERNO Walcyr Carrasco fará merchandising social em “Êta mundo bom!”. O autor deixou um recado numa sequência em que Filomena (Débora Nascimento) amamentará o bebê. “Atenção, direção. Crianças devem ser amamentadas pela mãe. É uma questão de saúde pública. Façam como for possível”. Limitações Sobe Nova novela da Record, “A Terra Prometida” terá algumas limitações por conta do horário de exibição: 20h30m. Por exemplo, a personagem de Juliana Silveira, a rainha Kalesi, será uma devoradora de homens. Mas as cenas de sexo dela serão só insinuadas. O mesmo acontecerá com as sequências de sacrifícios de virgens e crianças. O “Encontro com Fátima Bernardes” completou quatro anos no último dia 25 com audiência ascendente. No PNT, passou de sete pontos em 2012 para dez pontos na média parcial de 2016, um crescimento de 43%. Em São Paulo, o aumento é de 33% (de seis para oito pontos). ...E mais As chuvas recentes no Rio atrapalharam as gravações de “A Terra Prometida”. Embora a equipe já tenha recebido 60 capítulos, ainda não há uma frente confortável de material pronto. Para reverter essa situação, eles vêm trabalhando até aos domingos. ‘Separação’ T rês anos após lançar o seu primeiro livro de poemas, “Motivo”, o escritor e jornalista Luciano Trigo está de volta ao gênero com “Separação” (ambos publicados pela editora 7Letras). Assim como na sua estreia, os poemas do novo livro foram escritos num curto espaço de tempo, com exceção de alguns texto guardados, e refletem sobre relações familiares e afetivas, como o próprio título sugere. Autor de romances e contos, Trigo demorou para retornar à poesia pelo tempo próprio que ela exige. — A poesia, pelo menos para mim, depende muito de conseguir entrar numa certa energia, numa certa onda. Se você dispõe das ferramentas e da bagagem necessárias, escrever um romance, um conto ou um ensaio só depende de ter vontade e tempo, disciplina e perseverança. Com a poesia é diferente — diz o poeta, em entrevista por e-mail. Quando ele entra nessa vibração, explica, tudo pode virar matéria-prima: uma frase ouvida na rua, a cena de um filme ou o pedaço de um sonho. Depois, esses elementos vão se juntando e terminam por se materializar na ideia de um futuro poema. A etapa seguinte é escrever, cortar, reescrever, seguida- .com.br Rafinha Bastos, que teve uma série no FX chamada “A vida de Rafinha Bastos”, vai lançar um filme homônimo. Serão seis esquetes, nos moldes do programa: uma ficção baseada na vida real do humorista. NA WEB patriciakogut.com O mundo da televisão passa por aqui. Visite. Obituário _ Bill Cunningham. Lenda das ruas Fotógrafo de moda do ‘New York Times’, ele era cultuado por seus retratos e sua persona Luciano Trigo lança livro de poemas inspirado pelo fim de um casamento e critica repetição de convidados em feiras literárias [email protected] Tela grande DIVULGAÇÃO/CLARICE SAADI COMUNHÃO PELA POESIA LEONARDO CAZES l 5 mente, o texto no computador, até que esteja satisfeito. No nascimento dos poemas de “Separação”, que já ganhou elogios do poeta Armando Freitas Filho (“Fica difícil escolher os melhores poemas, pois todos parecem ter sido escritos sem descansar a mão”), está uma experiência pessoal: o fim de um casamento, que fez com que o tema da separação aparecesse em vários momentos. Contudo, o poeta ressalta que não se trata de um relato autobiográfico, com a exceção de “Romeu”, que fala do cachorro da sua filha. A matéria-prima da poesia, afirma, “não é o sentimento, é a palavra”: — Os relacionamentos são questões que ocupam uma boa parte da vida das pessoas e que nunca se resolvem de forma plena, então esse é um território comum, um canal de comunicação potencial entre escritores e leitores. A poesia pode funcionar, assim, como uma comunhão, um compartilhamento de experiência vividas. É claro que o tema é apenas um dos fatores da equação: se bastassem sentimentos e experiências para escrever poesia, todo mundo seria poeta. Um trecho do poema “Diálética” diz: “escrever poesia é quase pedir esmola, / um minutinho da atenção do leitor.” A poesia é sempre um gênero considerado “difícil” de vender, e Trigo argumen- Í Vibração certa. Luciano Trigo defende que vontade e disciplina não bastam para criar poesia ta que parte da culpa é dos próprios autores. Na sua opinião, a literatura brasileira contemporânea sofre de “um certo ‘umbiguismo’”, pois os autores parecem escrever apenas para si mesmos ou os seus pares. Incapazes, portanto, de refletir o Brasil de hoje. POESIA MARGINAL CAUSOU “GRANDE MAL” No caso da poesia, especificamente, o escritor diz que o último movimento com traços bem claros, a poesia marginal, causou um grande mal às novas gerações ao limitar as experiências com a linguagem, algo que tinha um sentido no contexto cultural e social da década de 1970. Trigo aponta também um “padrão poético” identificável entre os poetas que frequentam os principais eventos literários no país, como a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). — Hoje você tem poetas veteranos ainda em atividade produzindo poesia de grande qualidade e tem uma miríade de poetas mais jovens com uma produção bastante desigual. O que distingue esses poetas é a capacidade de inserção em determinados circuitos, mais do que a qualidade da sua poesia. Por exemplo, vou todos os anos à Flip e a outros eventos literários e percebo, nas mesas dedicadas à poesia, a repetição de um determinado padrão. Não só um padrão poético, mas na própria forma de falar e de se colocar no mundo, de defender determinadas ideias. E vejo também poetas que não são de forma alguma inferiores, mas que não se encaixam nesse padrão, ficarem de fora desse circuito, que se autoalimenta pela reiteração dos mesmos nomes, por assim dizer, eleitos — critica ele. l “SEPARAÇÃO” AUTOR: Luciano Trigo. EDITORA: 7Letras. PÁGINAS: 76. PREÇO: R$ 34. cone da fotografia de moda dos Estados Unidos, Bill Cunningham foi também uma figura emblemática das ruas de Nova York. Montado em sua bicicleta, com uma câmera a tiracolo e sempre de jaqueta azul, ele pedalava pelas ruas em busca de instantes em que o comportamento e a moda se uniam. Reconhecido por seu trabalho à frente da fotografia de moda do “New York Times”, Cunningham garantiu sua vaga no jornal quando flagrou a reclusa atriz Greta Garbo na rua. Em 1978, iniciou a sua carreira no periódico e construiu um portfólio singular sobre as transformações da cidade, remodelando o imaginário sobre Nova York e seus habitantes. Nascido em Boston, em 1920, Cunningham foi considerado pelo Departamento de Conservação de Nova York uma “lenda viva”, em 2009, e dizia: “Não se deve ter ideias preconcebidas, você tem que sair e deixar que a rua lhe diga qual é a história”. Em um documentário sobre o fotógrafo, a diretora da revista “Vogue” americana, Anna Wintour, diz que ele via antes “o que viraria tendência em seis meses”. Cunningham foi hospitalizado na última sexta-feira, depois de sofrer um AVC, e morreu anteontem, aos 87 anos. l VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR OU NAVEGUE PELO SITE: 6 l O GLOBO C omo fiz com Patricia Highsmith, minha autora favorita, há algumas colunas, resolvi escrever este texto sobre a importância da (curta) obra do sueco Stieg Larsson, responsável pela mais sólida série de livros policiais da literatura contemporânea. Se você ainda não conhece, vai se surpreender. Caso já conheça, puxe a cadeira mais próxima e iniciemos a conversa. Eu tinha 18 anos quando “Os homens que não amavam as mulheres”, primeiro livro da série “Millennium”, chegou ao Brasil. Na época, eu já era apaixonado por literatura policial, vinha lendo todos os clássicos europeus e norte-americanos e escrevia os primeiros rascunhos de “Suicidas”, meu romance de estreia. Ao encontrar “Os homens que não amavam as mulheres” na livraria, lembro com clareza que o elogio do Luiz Alfredo Garcia-Roza na contracapa me fez correr ao caixa e levar o livro para casa. Devorei as 522 páginas em um fim de semana. Ao concluir a leitura, tive a certeza de que estava diante de algo grandioso. Em seu romance de estreia, Stieg Larsson realiza literatura em sua plenitude. O volume permite várias camadas de leitura: na superfície, uma trama instigante que entretém o leitor desde o prólogo elegante até o final. Em observações mais atentas, o livro revela uma linguagem apurada, traz críticas sociais pertinentes e questões políticas contemporâneas pouco abordadas pela literatura. Sem dúvida, Stieg Larsson foi o primeiro autor a fazer um “romance policial do século XXI”, num estilo pop e vibrante, explorando todas as possibilidades tecnológicas que nosso tempo permite e retomando com força esta tendência da literatura l Segundo Caderno l Segunda-feira 27 .6 .2016 E-mail: [email protected] RAPHAEL MONTES LARSSON policial de ser, antes de tudo, uma literatura que reflete as mazelas da sociedade. Nesse livro, Stieg Larsson se revelou um profundo conhecedor da tradição de crime fiction: em suas primeiras páginas, “Os homens que não amavam as mulheres” lembra um whodunit tradicional de Agatha Christie, com um desaparecimento misterioso, suspeitos em um local fechado e um detetive contratado para investigar o crime ocorrido anos antes. Partindo dessa premissa clássica, a obra ganha contorno e ritmo modernos, principalmente graças a seus dois protagonistas, o jornalista Mikael Blomqvist e a problemática hacker Lisbeth Salander. Enquanto “Os homens que não amavam as mulheres” homenageia o romance policial clássico inglês, os dois livros seguintes da série “Millennium” abraçam outros subgêneros da literatura policial. Com trama ágil, “A menina que brincava com fogo” faz lembrar um thriller noir americano, com ganchos em cada capítulo e um vilão implacável que ameaça a vida dos protagonistas ao longo das páginas. Neste segundo volume, Mikael e Lisbeth são levados ao submundo da sociedade sueca e precisam enfrentar seus inimigos não apenas com o cérebro, mas com os punhos. Já o terceiro livro, “A rainha do castelo de ar”, tem referências ao romance de espionagem e certas pitadas de livros de Ian Fleming, criador de James Bond, e de John Le Carré. Merecidamente, a série “Millennium” vendeu mais de 80 milhões de exemplares no mundo e rendeu quatro filmes: “Os homens que não amavam as mulheres”, “A menina que brincava com fogo” e “A rainha do castelo de ar”, todos lançados em 2009 na Suécia, e o americano “Millennium: Os homens que não amavam as mulheres”, estrelado por Daniel Craig e com di- O autor foi um dos mais influentes jornalistas e ativistas políticos de seu país. Fundou a revista ‘Expo’, onde denunciou organizações neofascistas e racistas MoMA de Nova York reção de David Fincher, de 2011. Pelo que se diz, Stieg Larsson pretendia escrever dez livros protagonizados por Mikael e Lisbeth. Para mim parece claro que Larsson pretendia homenagear um subgênero do romance policial em cada volume — há muitos outros como o suspense médico, o thriller psicológico, etc. Infelizmente, o autor não teve tempo de ver todo o sucesso que seu trabalho alcançou: ele faleceu em 2004, aos 50 anos, de um ataque cardíaco, antes que seu primeiro livro tivesse sido publicado na Suécia. A própria história de vida de Stieg Larsson parece uma trama policial: o autor foi um dos mais influentes jornalistas e ativistas políticos de seu país. Fundou a revista “Expo”, onde denunciou organizações neofascistas e racistas. Quando Larsson morreu, por questões jurídicas, Eva Gabrielsson, companheira do escritor por 32 anos, não teve direito a nenhum tostão da fortuna obtida com a série “Millenium” — isto porque ela e Larsson nunca se casaram oficialmente. O pai e o irmão do autor foram considerados os únicos herdeiros à luz da lei sueca, claramente obsoleta. Ansiosos por continuar a série, os editores suecos contrataram David Lagercrantz, coautor de “Eu sou Zlatan Ibrahimovic”, a biografia do atacante sueco, para a insana tarefa de escrever o quarto livro da série a partir do zero. Ano passado, o livro “A garota na teia de aranha” foi publicado no Brasil e tive a oportunidade de lê-lo. Como já era de se esperar, a história não chega aos pés das três anteriores. Só existe um único Stieg Larsson — e nada pode ser feito a respeito disso. Mas, se ao contrário de mim, você ainda não mergulhou nas aventuras ao lado de Mikael e Lisbeth Salander, corra até a livraria mais próxima para se deliciar na melhor série policial dos últimos tempos. l FOTOS DE DIVULGAÇÃO Em exposição. O “retrato de Sophie Taeuber com sua cabeça dadá”, de 1920, e “O rouxinol chinês” (abaixo), de Max Ernst, do mesmo ano: obras integrantes do “Dadaglobe” QUEBRA-CABEÇA DA ARTE DADÁ Exposição reconstrói o ‘Dadaglobe’, compêndio idealizado por Tristan Tzara para seu movimento artístico, após seis anos de pesquisa de curadora EDUARDO GRAÇA Especial para O GLOBO, de Nova York [email protected] P ara marcar o centenário do Dadaísmo, o Museu de Arte Moderna de Nova York dispunha de um caminho seguro: revisitar sua impressionante “Dada”, de 2006, a primeira mostra dedicada exclusivamente ao movimento artístico nos EUA, com curadoria da especialista Adrian Sudhalter. Mas o MoMA optou por uma saída mais, digamos, dadaísta. Tal qual uma história de detetive das boas, Sudhalter reconstruiu, peça a peça, o “Dadaglobe”, livro pensado pelo poeta, ensaísta e artista plástico francês de origem romena Tristan Tzara (1896-1963), fundador daquele movimento, e jamais publicado por conta das dificuldades financeiras dos turbulentos anos 1920. O trabalho do curador levou seis anos, com pesquisas minuciosas em dezenas de coleções públicas e privadas. Tzara convidou 50 artistas de dez países a figurar na sua antologia com obras em quatro categorias: autorretratos fotográficos, desenhos originais, fotos de obras de arte e composições para páginas de livros. A mostra reúne esse material iconográfico, além de algumas pinturas e esculturas que aparecem nas fotos feitas pelos artistas para o livro. — Quando Tzara morreu, parte do acervo foi adquirido pelo MoMA, mas a maior parte foi passando de colecionador a colecionador. O mais complicado foi convencê-los a me deixar retirar as obras das molduras, por exemplo, e verificar se elas faziam de fato parte do “Dadaglobe” — conta a curadora. “Dadaglobe reconstructed”, uma parceria com o museu Kunsthaus Zürich, na Suíça, nascedouro oficial do movimento e onde foi apresentada em tamanho redux na primeira metade do ano, é, tal qual o título sugere, a recriação, em forma de catálogo (à venda na loja do museu) e exposição, de um dos mais curiosos projetos artísticos da primeira metade do século XX, um ambicioso compêndio da arte de vanguarda europeia no entreguerras finalmente revelado ao público. — Quando estava fazendo a curadoria de “Da- da”, há dez anos, percebi que algumas obras, todas originalmente da coleção de Tzara, tinham números anotados em seus versos, e com o mesmo giz colorido. Ora, eram as peças enviadas a ele para seu sonhado “Dadaglobe”! O mito estava desfeito. Pensei, então, que não poderia haver homenagem mais interessante no centenário do movimento do que esta — diz Sudhalter. As três galerias no segundo andar do MoMA dão vida até setembro ao que críticos batizaram informalmente de “atlas do dadaísmo”, uma tentativa pioneira, décadas antes da explosão das feiras de arte contemporânea e da expansão global dos museus de grife, de se ultrapassar, com a arte, fronteiras geográficas de uma Europa em frangalhos depois da destruição causada pela Primeira Guerra Mundial. Para o “Dadaglobe”, Tzara amealhou gigantes de Paris — Marcel Duchamp (1887-1968) —, de Berlim — Max Ernst (1891-1976), George Grosz, (1893-1959) — e até suspeitos menos óbvios, como o romeno radicado em Paris Constantin Brancusi (1876-1957) e o americano de origem italiana Joseph Stella (18771946). Tzara e os dadaístas buscavam criar, como pontua a também curadora Samantha Friedman (“dadá, a palavra inventada, em si, igualmente sem significado em todas as línguas do planeta, é já um indicador do desejo de não se identificar com lugar nenhum”) uma arte desafiadoramente antinacionalista: — Pode parecer contraditório reunir pela primeira vez, em um dos mais bem estruturados museus do planeta, o conjunto de fotos, desenhos, montagens, colagens e manuscritos enviado a Tzara, cujo mote era justamente o de apresentar ao público uma arte revolucionária, uma antiarte. Mas o ideólogo do Dadaísmo estava, conscientemente, tentando criar com o livro o inventário definitivo do movimento iconoclasta, agora finalmente ao alcance do público tal como ele imaginou — diz Friedman. AUTORRETRATOS REMETEM A SELFIES Não há registros de que Tzara vislumbrou, em 1921 — quando, com a ajuda de seu parceiro dadaísta Francis Picabia (1879-1953), encomendou as 160 obras do livro-manifesto (das quais pouco mais de uma centena estão presentes no MoMA) —, uma exposição para acompanhar o livro “Dadaglobe”. Pois um dos aspectos mais interessantes do tributo do MoMA é justamente poder comparar as reproduções enviadas ao poeta com as esculturas, pinturas e colagens criadas a partir do projeto muito bem estruturado de Tzara. Não por acaso, a exposição abre com as sete cartas escritas por Tzara aos artistas dadá que sobreviveram ao tempo, com as instruções detalhadas sobre as obras a serem enviadas. — A ênfase nos autorretratos remete o espectador contemporâneo imediatamente aos selfies, parte crucial da arte contemporânea, tanto amadora, com os instagrams e pinterests da vida, quanto à obra de artistas como Cindy Sherman, por exemplo — diz Friedman. Uma das especificações para o livro era a sugestão de que cada artista enviasse um autorretrato que poderia ser trabalhado artisticamente mas que teria de ser claramente uma representação do artista em questão, um convite para se tratar da identidade do indivíduo de acordo com suas próprias concepções. Pois os dadaístas, tal qual Sherman, passearam pelos estereótipos da autorrepresentação, brincando com identidades falsas ou inventadas. Entre os destaques estão os autorretratos da escultora e pintora suíça Sophie Taeuber-Arp (1889-1943) (celebrizada como a “Cabeça dadá”), do próprio Picabia (batizado pelo artista francês de “Tableau rastadada”) e a escultura “To be looked at (from the other side of the glass) with one eye, close to, for almost an hour”, de Duchamp. — Fechamos, creio, uma lacuna da arte moderna com “Dadaglobe”: haveria um magnum opus do dadá se esse ambicioso livro tivesse sido publicado, e quiçá traria um novo elemento na história do dadá, quase sempre eclipsada pelo Surrealismo — diz Sudhalter. O MoMA segue a homenagem ao centenário do dadaísmo com uma grande exposição sobre Picabia: “Our heads are round so our thoughts can change direction” será apresentada a partir de novembro reunindo cerca de 200 obras do artista, em outra parceria com o Kunsthaus Zürich. l