Edição em português de setembro e outubro de 2010
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Edição em português de setembro e outubro de 2010
Brazilian Journal of Physical Therapy ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 361-445, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Associação Brasileira de Editores Científicos Journal affiliated with the A B E C ISSN 1413-3555 Rev. Bras. Fisioter., São Carlos, v. 14 n. 5 INFORMAÇÕES BÁSICAS A Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy é o veículo da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia (ABRAPG-Ft). Publicada a partir de 1996, a Revista adota o processo de revisão por especialistas (peer review), sendo que cada artigo somente é publicado apenas após a aceitação dos revisores, mantidos no anonimato. Os editores não assumem nenhuma responsabilidade por danos a pessoas ou propriedades que possam ser causados por uso das idéias, técnicas ou procedimentos contidos no material publicado nesta revista. A submissão de artigos pressupõe que estes artigos, com exceção dos resumos ampliados, não tenham sido publicados anteriormente, nem submetidos a qualquer outra publicação. O título abreviado da revista é Rev. Bras. Fisioter., forma que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida, por qualquer meio, seja eletrônico, mecânico ou fotocópia sem expressa autorização dos editores. A Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy encontra-se gratuitamente disponível na página da internet (http://scielo.br/ scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-3555&Ing=en&nrm=iso). Os artigos estão disponíveis nos idiomas inglês e português. MISSÃO: publicar artigos científicos relativos ao objeto básico de estudo e campo de atuação profissional da Fisioterapia e Ciências da Reabilitação, veiculando estudos básicos e aplicados sobre a prevenção e tratamento das disfunções de movimento. BASIC INFORMATION The Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy is published by the Brazilian Association for Research and Graduate studies in Physical Therapy. Published since 1996, the Brazilian Journal of Physical Therapy adopts a peer review process. Each article is only published after it is accepted by the reviewers, who are maintained anonymous during the process. The editors accept no responsibility for damage to people or property, which may have been caused by the use of ideas, techniques or procedures described in the material published by this journal. The submission of articles presupposes that these articles, with the exception of extended summaries, have not been previously published elsewhere, nor submitted to any other publication. The abbreviated title of the journal is Rev. Bras. Fisioter. and this must be used in references, footnotes and bibliographic legends. No part of this publication can be reproduced or transmitted by any media, be it electronic, mechanical or photocopy, without the express authorization of the editors. The Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy is freely accessible at the homepage on the web (http://scielo.br/scielo. php?script=sci_serial&pid=1413-3555&Ing=en&nrm=iso). All papers are available in full text in both English and Portuguese. MISSION: to publish scientific articles related to the areas of study and professional activity in Physical Therapy and Rehabilitation Sciences, specially basic and applied research on the prevention and treatment of movement disorders. Indexada nos seguintes bancos de dados/ Indexed in the following databases: MEDLINE (National Library of Medicine), CINAHL, CSA, EMcare, JCR (Journal Citation Reports), LILACS, LATINDEX, Periódica, SciELO, SciSearch (Science Citation Index Expanded), Scopus and SPORTDiscus Endereço para contato/ Contact address: Revista Brasileira de Fisioterapia/ Brazilian Journal of Physical Therapy, UFSCar, Rod. Washington Luís, Km 235, Caixa Postal 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP - Brasil Tel/Fax: +55(16) 3351-8755; E-mail: [email protected] Suporte Técnico - Administrativo/ Technical - Administrative Support: Ana Paula de Luca, Leonor A. Saidel Aizza and Lucilda P. Rosales Produção Editorial/ Editorial Production: Zeppelini Editorial, Rua Dr. César, 530, Cj. 1308, Santana, São Paulo, SP Tel/Fax: (11) 2978-6686; www.zeppelini.com.br Printed in acid free paper Assinatura: consulte o site/Subscription: see web site www.rbf-bjpt.org.br Revista Brasileira de Fisioterapia (Brazilian Journal of Physical Therapy)/Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia. v. 1, n. 1 (1996). – São Carlos: 1996. v. 14, n. 5 (set./out. 2010). Bimestral Sumários em Inglês e Português ISSN 1413-3555 1. Fisioterapia/periódicos I. Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia. Revisão/Review Librarian: Dormélia Pereira Cazella CRB 8/4334 ii Sumário / Summary ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 361-445, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia EDITORIAL v A parceria COFFITO e RBF The COFFITO/BJPT partnership Roberto Mattar Cepeda vii A realidade do Acesso Livre (Open-Access) e a busca por estabilidade financeira The reality of open access and the search for financial stability Marisa Cotta Mancini, Aparecida Maria Catai, Débora Bevilaqua Grossi REVISÃO SISTEMÁTICA/SYSTEMATIC REVIEW 361 Revisão sistemática sobre os efeitos da reabilitação vestibular em adultos de meia-idade e idosos A systematic review about the effects of the vestibular rehabilitation in middle-age and older adults Natalia A. Ricci, Mayra C. Aratani, Flávia Doná, Camila Macedo, Heloísa H. Caovilla, Fernando F. Ganança ARTIGOS ORIGINAIS/ORIGINAL ARTICLES 372 Limitations of the Neurological Evolutional Exam (ENE) as a motor assessment for first graders Limitações do Exame Neurológico Evolutivo (ENE) como um instrumento de avaliação motora para crianças da primeira série Priscila M. Caçola, Tatiana G. Bobbio, Amabile V. Arias, Vanda G. Gonçalves, Carl Gabbard 377 Psychometric properties of the Portuguese version of the Jebsen-Taylor test for adults with mild hemiparesis Avaliação das propriedades pscicométricas da versão em português do teste de Jebsen Taylor para adultos com hemiparesia leve Karina N. Ferreiro, Renata L. Santos, Adriana B. Conforto 383 Resposta da frequência cardíaca durante o exercício isométrico de pacientes submetidos à reabilitação cardíaca fase III Heart rate responses during isometric exercises in patients undergoing a phase III cardiac rehabilitation program Poliana H. Leite, Ruth C. Melo, Marcelo F. Mello, Ester da Silva, Audrey Borghi-Silva, Aparecida M. Catai 390 Efeito do exercício físico na percepção de satisfação de vida e função imunológica em pacientes infectados pelo HIV: Ensaio clínico não randomizado Effects of physical exercise in the perception of life satisfaction and immunological function in HIV-infected patients: Non-randomized clinical trial Rodrigo D. Gomes, Juliana P. Borges, Dirce B. Lima, Paulo T. V. Farinatti 396 Padrão e ritmo de aquisição das habilidades motoras de lactentes pré-termo nos quatro primeiros meses de idade corrigida Pattern and rate of motor skill acquisition among preterm infants during the first four months corrected age Elaine P. Raniero, Eloisa Tudella, Rosana S. Mattos 404 Análise do uso de suporte parcial de peso corporal em esteira e em piso fixo durante o andar de crianças com paralisia cerebral Analysis of partial body weight support during treadmill and overground walking of children with cerebral palsy Vânia M. Matsuno, Muriel R. Camargo, Gabriel C. Palma, Diego Alveno, Ana Maria F. Barela 411 Padrão respiratório e movimento toracoabdominal em indivíduos saudáveis: influência da idade e do sexo Breathing pattern and thoracoabdominal motion in healthy individuals: influence of age and sex Verônica F. Parreira, Carolina J. Bueno,Danielle C. França, Danielle S. R. Vieira, Dirceu R. Pereira, Raquel R. Britto 417 Caracterização de adultos com paralisia cerebral Caracterization of adults with cerebral palsy Anna L. M.Margre, Maria G. L. Reis, Rosane L. S. Morais iii 426 Comparação entre o manovacuômetro nacional e o importado para medida da pressão inspiratória nasal Comparison between a national and a foreign manovacuometer for nasal inspiratory pressure measurement Fernanda G. Severino, Vanessa R. Resqueti, Selma S. Bruno, Ingrid G. Azevedo, Rudolfo H. G. Vieira, Guilherme A. F. Fregonezi 432 Confiabilidade interavaliadores e intra-avaliador do escoliômetro Inter and intra-rater reliability of the scoliometer Guilherme H. Bonagamba, Daniel M. Coelho, Anamaria S. de Oliveira ARTIGO METODOLÓGICO/METHODOLOGICAL ARTICLE 438 Escala de Locus de controle da dor: adaptação e confiabilidade para idosos Pain Locus of control scale: adaptation and reliability for elderly Louise G. Araújo, Débora M. F. Lima, Rosana F. Sampaio, Leani S. M. Pereira ÍNDICE/INDEX INSTRUÇÕES GERAIS AOS AUTORES/GENERAL INSTRUCTIONS TO AUTHORS iv ISSN 1413-3555 EDITORIAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. v-vi, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia A parceria COFFITO e RBF The COFFITO/BJPT partnership Prezado colega, No mundo ou na era do conhecimento, somente ampliaremos o nosso ser à medida que ampliarmos os nossos conhecimentos. O conhecimento científico é infinito e não tem fronteiras; pois, em qualquer lugar do mundo, estamos constantemente questionando, rediscutindo e reavaliando as nossas verdades, os nossos saberes e as nossas práticas clínicas em busca do que é melhor para a vida das pessoas. Portanto, a assinatura do termo de cooperação entre o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e a Revista Brasileira de Fisioterapia (RBF) trouxe-nos muita satisfação, muita honra e muitos sentimentos, entre eles: O sentimento da gratidão e do respeito: aos primeiros editores da RBF Profs. Carlos Eduardo dos Santos Castro, Dirceu Costa, Eloísa Tudella, José Rubens Rebellato, Nivaldo A. Parizotto, Rosana Mattioli e Vanessa M. Pedro bem como às pessoas que deram continuidade e apostaram no projeto desta revista científica, Prof.ª Helenice Jane Cote Gil Coury, Prof. Gil Lúcio Almeida, Prof.ª Tania de Fátima Salvini e Prof. Sérgio T. Fonseca e, atualmente, as Prof.ªs Aparecida Maria Catai, Débora Bevilaqua Grossi e Marisa Cotta Mancini. O sentimento do compromisso e da responsabilidade: o COFFITO, enquanto autarquia federal tem a função de zelar pela ética. Segundo Rubem Alves1, em seu conceito ampliado, ética significa compaixão – sentimento de cuidar e de amar todos os seres vivos e tudo aquilo que se encontra ao seu redor. Sendo assim, disponibilizar o conhecimento científico para o cuidado da vida é, sem dúvida, a justificativa ética de maior relevância deste projeto. O sentimento da solidariedade: por poder socializar este conhecimento científico de excelência aos 140.000 profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais deste país com o intuito de beneficiar aproximadamente 190 milhões de brasileiros com uma prática assistencial de qualidade, fundamentada cada vez mais em pesquisas científicas. O sentimento da esperança: para que, a partir deste e de outros exemplos, o Estado brasileiro reflita, cada vez mais, sobre a importância da pesquisa em saúde. A pesquisa não se dá somente em função da titulação do professor ou das exigências legais, nossos pesquisadores necessitam de condições básicas, ou seja, de infraestrutura e de financiamento adequados para desenvolver e socializar o conhecimento científico, o que permitirá que mais pessoas no planeta vivam mais e melhor. 1 Alves R. Meu coração fica junto ao coração dela... Sabor do saber. Folha de São Paulo (Sinapse), 27/09/2005 v Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):v-vii. Se saúde é um direito de todos os brasileiros, penso que o verdadeiro valor da pesquisa científica encontra-se na sua capacidade de transformar a realidade da sociedade em busca da dignidade humana e da justiça social. Por fim, a assinatura deste termo de cooperação representa também um reconhecimento do Sistema COFFITO-CREFITO´s aos profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais pelo próximo dia “13 de outubro”, dia das nossas profissões e, consequentemente, do cumprimento do nosso dever para com toda a população brasileira que, a partir de hoje, como já dito, também se beneficiará diretamente por esta iniciativa. Roberto Mattar Cepeda Presidente do COFFITO vi Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):v-vii. ISSN 1413-3555 EDITORIAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. vii-viii, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia A realidade do Acesso Livre (Open-Access) e a busca por estabilidade financeira The reality of open access and the search for financial stability C om a indexação da Revista Brasileira de Fisioterapia (RBF) nas bases SciELO e, mais recentemente, Medline, os artigos publicados neste periódico ganharam uma grande visibilidade nos cenários nacional e internacio- nal. Além disso, os artigos publicados eletronicamente pela RBF podem ser acessados livremente, sem pagamento por acesso ou assinatura. Se, por um lado, a adoção do sistema de acesso gratuito (acesso livre/open-access) é um passo importante para a divulgação e a citação dos artigos disponibilizados pela RBF, por outro, cria-se uma distorção. Como viabilizar financeiramente uma revista que não cobra pelo acesso de seu produto? A solução para esse problema não é nada trivial, mas necessária para uma revista com a magnitude da RBF. A literatura disponível em Acesso Livre (AL) é digital, online e gratuita, ou seja, livre de certas restrições impostas por cobrança de taxa e/ou por barreiras referentes à permissão1 (i.e., direitos autorais). Na verdade, esta realidade não-remunerada se estende em cadeia. Os autores de artigos científicos doam seu trabalho e sua produção intelectual para serem disponibilizados em AL. Da mesma forma, os revisores ad-hoc, que analisam e avaliam os artigos submetidos ao periódico científico, trabalham voluntariamente, e os editores destes periódicos assumem responsabilidades e compromissos, também sem qualquer remuneração. Esses trabalhadores voluntários se empenham pela ciência. Certamente, pesquisadores e cientistas recebem um tratamento bastante diferenciado em relação à sua produção, comparados com os de outras áreas, como Música ou Cinema, em que a autoria da produção é fortemente ancorada em regulamentações referentes a direitos autorais. Apesar do livre acesso, a literatura disponibilizada tem custos de produção e divulgação. A maioria dos periódicos que oferecem artigos online e também em versão impressa contam com infraestrutura administrativa que garante os trâmites de recebimento, processamento e organização da versão impressa e, no Brasil, os custos com tradução são necessários para a qualidade da versão em inglês. Diante deste cenário, a questão que se apresenta é a seguinte: Como pagar a conta? A RBF tem atingido patamares importantes de indexação, que ampliam a visibilidade de suas publicações. Mas à medida que esta revista cresce, crescem também os custos operacionais para sua manutenção. A RBF conta hoje com o apoio financeiro das agências de fomento CNPq-CAPES e FAPESP e das instituições de ensino UFSCar, UFMG, UNINOVE e USP. Tal apoio é essencial, porém, insuficiente para atender aos custos de pessoal técnico-administrativo e tradutores, produção e divulgação da revista. Mais recentemente, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) aprovou a solicitação de apoio financeiro da RBF, o qual será imprescindível para cumprir com os compromissos referentes às despesas com recursos humanos da infraestrutura de secretaria. vii Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):v-vii. Na tentativa de manter este periódico em circulação, o Conselho Editorial da RBF aprovou, em reunião realizada na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, em 18/6/2010, a cobrança de uma taxa de processamento a ser paga pelos autores no momento da submissão do artigo, bem como o fim do subsídio da taxa de publicação/tradução, que atualmente é cobrada quando o artigo é aceito para publicação*. Reiteramos que o aumento no valor da taxa de publicação/tradução corresponde, na realidade, ao fim do subsídio que era dado à tradução dos manuscritos publicados, transferindo para os autores dos artigos a responsabilidade integral dos custos de tradução. A cobrança dessas taxas tem como objetivo permitir que a RBF continue investindo na modernização de sua infraestrutura, garantindo a continuidade do bom desenvolvimento apresentado pela revista nos últimos anos. Apesar dessa cobrança, as fontes de financiamento indicadas acima continuam sendo necessárias para fazer face às nossas despesas. Nós, editores da RBF, continuaremos a nos dedicar voluntariamente às responsabilidades que nos são atribuídas. Aproveitamos a oportunidade para reiterar nossos agradecimentos aos pesquisadores que submetem seus artigos à RBF, ao empenho do corpo editorial, aos esforços do Conselho de Editores, bem como à dedicação dos revisores que também, de forma gratuita, contribuem para que a RBF seja mantida em conformidade com os elevados padrões requeridos pela comunidade. Marisa Cotta Mancini Aparecida Maria Catai Débora Bevilaqua Grossi Editores RBF/BJPT Referência Bibliográfica 1. Suber P [Internet]. Open Acess Overview. c2004-2006 [atualizado em June 19, 2007; citado em July 7, 2010]. Disponível em: http://www.earlham.edu/~peters/fos/overview.htm. * Os valores das taxas de processamento e de publicação/tradução estão disponíveis no site www.rbf-bjpt.org.br viii Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):v-vii. ISSN 1413-3555 REVISÃO SISTEMÁTICA Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 361-71, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Revisão sistemática sobre os efeitos da reabilitação vestibular em adultos de meia-idade e idosos A systematic review about the effects of the vestibular rehabilitation in middle-age and older adults Natalia A. Ricci1 , Mayra C. Aratani2, Flávia Doná3, Camila Macedo4, Heloísa H. Caovilla4, Fernando F. Ganança4 Resumo Objetivo: Sistematizar os resultados de ensaios clínicos sobre reabilitação vestibular (RV) em indivíduos de meia-idade e idosos com distúrbios vestibulares. Métodos: A busca de publicações sobre a RV em indivíduos com distúrbios vestibulares foi realizada nas bases de dados LILACS, EMBASE, MEDLINE, SciELO, Cochrane, ISI Web of Knowledge e bibliotecas virtuais de teses e dissertações. Foram selecionados ensaios clínicos aleatórios e controlados dos últimos 10 anos em língua inglesa, portuguesa e espanhola. A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada pela escala PEDro. A análise dos resultados dos estudos foi feita por meio de revisão crítica dos conteúdos. Resultados: Nove estudos foram revisados na íntegra, sendo a faixa etária dos participantes acima de 40 anos (n=4) e composta exclusivamente por idosos (n=5). Os achados de disfunção vestibular foram diversificados, sendo os mais comuns queixa de desequilíbrio corporal ou instabilidade postural (n=3) e queixa de vertigem ou tontura (n=3). A Escala Visual Analógica (EVA) foi o instrumento mais utilizado para avaliar a percepção subjetiva da sintomatologia da disfunção vestibular (n=4). A escala PEDro revelou que quatro dos artigos apresentaram delineamento de boa qualidade para a condução do estudo experimental. A proposta de intervenção mais utilizada foi o protocolo de Cawthorne & Cooksey (n=4). Os estudos que compararam a RV com outro tipo de intervenção não apresentaram, na maioria dos desfechos analisados, diferença entre os grupos após a terapia. Conclusão: Estudos aleatorizados controlados disponibilizaram evidências de efeitos positivos da RV em idosos e adultos de meia-idade com distúrbios vestibulares. Palavras-chave: tontura; doenças vestibulares; reabilitação; idosos. Abstract Objective: To summarize the results of clinical trials on vestibular rehabilitation (VR) in middle-aged and elderly people with vestibular disorders. Methods: A search for relevant trials was performed in the databases LILACS, EMBASE, MEDLINE, SciELO, Cochrane, ISI Web of Knowledge and virtual libraries of theses and dissertations. Randomized controlled trials published in the last 10 years and written in English, Portuguese or Spanish were included. The methodological quality of the studies was assessed by the PEDro scale. Results from the included studies were analyzed through a critical review of content. Results: Nine studies were included in the review. Four studies reported on participants aged over 40 years (middle-aged and elderly) and five studies consisted exclusively of elderly subjects (over 60 years). Findings of vestibular dysfunction were diverse and the most common complaints were body imbalance or postural instability (3 studies), and vertigo or dizziness (3 studies). The Visual Analogue Scale (VAS) was the most commonly used instrument to assess subjective perception of symptoms of vestibular dysfunction (4 studies). According to the PEDro scale, four studies were considered to be of good quality. The most common experimental intervention was the Cawthorne & Cooksey protocol (4 studies). For most outcome measures, the studies comparing VR with another type of intervention showed no differences between the groups after the therapy. Conclusions: The studies included in this review provide evidence for the positive effects of VR in elderly and middle-aged adults with vestibular disturbances. Key words: vestibular diseases; rehabilitation; older adults. Recebido: 19/05/2009 – Revisado: 13/10/2009 – Aceito: 12/12/2009 1 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil 2 Programa de Pós-Graduação em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo (SP), Brasil 3 Programa de Pós-Graduação em Reabilitação Vestibular e Inclusão Social, Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), São Paulo (SP), Brasil 4 Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, EPM, UNIFESP Correspondência para: Natalia Aquaroni Ricci, Rua Pacaembu, 257 apto 602, Jardim Paulistano, CEP 18040-710 , Sorocaba (SP), Brasil, e-mail: [email protected] 361 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. Natalia A. Ricci , Mayra C. Aratani, Flávia Doná, Camila Macedo, Heloísa H. Caovilla, Fernando F. Ganança Introdução A manutenção do equilíbrio postural é dependente da harmoniosa interação entre as informações dos sistemas sensoriais (visual, proprioceptivo e vestibular), o processamento do sistema nervoso central (SNC) e a adequada execução pelo sistema efetor (neuromuscular). A integração das informações sensoriais pelo SNC desencadeia dentre outros, os reflexos vestíbulo-ocular (RVO) e vestíbulo-espinhal que atuam na estabilização do campo visual e na manutenção da postura ereta durante a movimentação corporal e cefálica. Quando há conflito na integração das informações sensoriais, especialmente por disfunção vestibular, tornam-se frequentes os sintomas e sinais de perturbação do equilíbrio corporal1,2. A queixa de vertigem ou outras tonturas em indivíduos com disfunção vestibular manifestam-se, habitualmente, por meio de desequilíbrios posturais, aumento da oscilação corporal, redução do limite de estabilidade, distúrbio de marcha, quedas e redução da capacidade funcional2,3. A tontura é a sensação de perturbação do equilíbrio corporal, enquanto a vertigem é uma sensação de desorientação espacial do tipo rotatória. A vertigem e outras tonturas de origem vestibular estão presentes em 5 a 10% da população mundial, sendo o sintoma mais comum após os 65 anos, atingindo 80% dos idosos atendidos em ambulatório geriátrico4. A tontura no idoso é considerada uma síndrome geriátrica, condição de saúde multifatorial, decorrente de alterações próprias do envelhecimento e/ ou patológicas, a qual resulta em instabilidade e maior predisposição às quedas4. Entretanto, já aos 40 anos, é possível observar alterações microscópicas sinápticas no nervo vestibular; aos 50 anos há o aumento da degeneração dos receptores vestibulares nas cristas dos canais semicirculares e sáculo, e, aos 60 anos, dentre tantas alterações, pode-se citar o aumento do atrito das fibras nervosas do nervo vestibular e a redução da velocidade de condução do estímulo elétrico no nervo vestibular4. A reabilitação vestibular (RV) é um recurso terapêutico aplicado em pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal de origem vestibular. Sua proposta de atuação é baseada em mecanismos centrais de neuroplasticidade, conhecidos como adaptação, habituação e substituição, cujo objetivo é a compensação vestibular5. Os exercícios de RV visam melhorar a interação vestibulovisual durante a movimentação cefálica e ampliar a estabilidade postural estática e dinâmica nas condições que produzem informações sensoriais conflitantes. A RV apresenta efeitos positivos na melhora do equilíbrio estático e dinâmico, da marcha, do sentimento de autoconfiança, da qualidade de vida e na diminuição dos sintomas de tontura, ansiedade e depressão4,5. A RV pode promover a cura completa em 30% dos casos e diferentes graus de melhora em 85% dos indivíduos6. Existem diversos protocolos de RV na 362 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. literatura, sendo os mais usados o de Cawthorne & Cooksey, de Herdman39, da Associação Italiana de Otoneurologia e de Norré. No entanto, há uma escassez de informações sobre a RV e a eficácia dos protocolos em adultos de meia-idade e idosos, tendo em vista as peculiaridades dessa população quanto aos problemas de ordem vestibular. Dessa forma, uma revisão sistemática da literatura auxiliaria no planejamento das intervenções ao disponibilizar uma síntese das evidências sobre os efeitos da RV como recurso terapêutico para tal população. Esta revisão tem como objetivo sistematizar os resultados das pesquisas sobre a RV em indivíduos de meia-idade e idosos com distúrbios vestibulares a fim de esclarecer os efeitos desta intervenção. Materiais e métodos Para verificar o conjunto de publicações sobre o tema, realizou-se levantamento bibliográfico no mês de novembro de 2008, nas bases de dados eletrônicas LILACS, EMBASE, MEDLINE, SciELO, Cochrane, ISI Web of Knowledge e bibliotecas virtuais de teses e dissertações (Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Universidade Estadual Paulista (UNESP). Utilizou-se, como estratégia de pesquisa, nas bases de dados, a combinação das palavras-chave: “aged” ou “elderly” ou “middle aged” ou “older people” e “vestibular diseases” ou “vestibular disorder” e “vestibular rehabilitation” ou “exercises” ou “balance training” ou “balance exercises” ou “virtual reality rehabilitation” ou “rehabilitation”. As buscas foram limitadas por idioma (inglês, português e espanhol) e data de publicação (últimos dez anos-novembro/1998 a novembro/2008). As publicações que resultaram da estratégia de seleção inicial foram analisadas, por dois avaliadores independentes, quanto aos seguintes critérios de inclusão para a revisão na íntegra: 1) amostra com idade acima de 40 anos, 2) sujeitos com disfunção vestibular, 3) processo de amostragem aleatória dos sujeitos, 4) presença de grupo assistido por RV e grupo controle ou com outra intervenção; 5) intervenção definida como exercícios de estimulação para restauração da função vestibular e equilíbrio corporal por meio da neuroplasticidade vestibular. Foram excluídos os estudos que apresentaram a média de idade da amostra sem especificar a faixa etária, devido ao primeiro critério de inclusão para a revisão na íntegra, e pesquisas com intervenções farmacológicas, eletrofisiológicas ou por manobras de reposicionamento sem a associação de exercícios vestibulares, devido ao quinto critério. Os artigos selecionados para a revisão na íntegra foram analisados por meio de roteiro estruturado que contemplava os seguintes itens: características da amostra, desfechos primários e secundários, desenho metodológico, características da intervenção, resultados e efeitos da intervenção. Efeitos da reabilitação vestibular em idosos e adultos Os desfechos primários foram selecionados de acordo com a praticidade e relevância clínica em ambulatórios e centros de reabilitação, sendo estes a avaliação subjetiva da intensidade da tontura e do desequilíbrio corporal, testes clínicos para avaliar o equilíbrio e a marcha, e questionários e/ou escalas para mensurar o impacto das disfunções vestibulares nas atividades de vida diária. As medidas secundárias escolhidas foram os exames laboratoriais, que avaliam o equilíbrio corporal, marcha e acuidade visual, ultrassonografia doppler e escalas para avaliar sintomas secundários à vestibulopatia (ex.: depressão e ansiedade). Para verificar a qualidade metodológica das pesquisas, foi consultada a Escala PEDro que consiste em 11 critérios sobre a validade interna e interpretação dos resultados de estudos experimentais na área da reabilitação7. A pontuação da escala é feita pela atribuição de um ponto na presença de indicadores da qualidade da evidência apresentada e zero ponto na ausência desses indicadores, sendo que o primeiro critério (critérios de seleção da amostra) não deve ser pontuado. Quanto maior a pontuação, mais adequado é o desenho do estudo e maior é a possibilidade de reprodutibilidade dos dados apresentados. As análises dos ensaios clínicos, com suas respectivas notas, estão disponíveis na base de dados PEDro e são feitas por pareceristas treinados7. As discordâncias entre os pesquisadores nas fases de seleção e avaliação dos estudos foram solucionadas em consenso com o auxílio de um terceiro pesquisador que analisou as questões divergentes. Realizou-se a análise por revisão crítica dos conteúdos e confrontou-se com outras publicações sobre o assunto. Resultados Resultaram da busca inicial por meio das palavras-chave 105 estudos. Pela leitura do resumo, foram identificadas 28 pesquisas com características passíveis de entrarem para a revisão. Contudo, pela leitura na íntegra, 19 estudos não preencheram os critérios de inclusão devido à idade da amostra ser inferior à estipulada (n=14)8-21, falta de aleatorização na seleção dos sujeitos (n=4)22-25 e amostra com ausência de queixa ou de distúrbios vestibulares (n=1)26. Assim, nove estudos clínicos aleatórios controlados com intervenção por RV apresentaram os critérios determinados para esta revisão e foram selecionados para a análise crítica do conteúdo. A sinopse dos principais dados das publicações revisadas está exposta na Tabela 1. Características das amostras O tamanho das amostras variou de 1427 a 21528 sujeitos submetidos à intervenção por RV ou controle. Em quatro trabalhos, a faixa etária dos participantes foi acima de 40 anos (meia-idade e idosos)27,29-31 e, em cinco estudos, foi composta exclusivamente por idosos (acima de 60 anos)28,32-35. As amostras foram constituídas por participantes de ambos os genêros, porém com prevalência de mulheres28,29,31,33-35. Os dados de disfunção vestibular foram diversificados entre os estudos, sendo os mais comuns a queixa de desequilíbrio corporal ou instabilidade postural28,32,35, de tontura ou vertigem31,33,35. A topografia da disfunção vestibular foi pouco relatada, sendo a mais comum a hipofunção vestibular27,29. Para a obtenção do diagnóstico topográfico da síndrome vestibular, foram empregados a eletronistagmografia29,30,32 e outros exames, como audiometria tonal liminar28,32, provas rotatórias27,29,33 e pesquisa de potenciais auditivos de tronco encefálico28. Não houve controle da dieta alimentar em nenhum dos estudos e, quanto ao uso de medicação antivertiginosa, somente um estudo27 restringiu a sua utilização durante o tratamento por RV. Desfechos avaliados Desfechos primários: A percepção subjetiva da sintomatologia da disfunção vestibular foi avaliada pela maioria dos estudos27,28,30-33,35, sendo a Escala Visual Analógica (EVA)27,31,32,35 o instrumento mais empregado para tal finalidade. Outros desfechos com destaque nas avaliações foram o equilíbrio corporal estático28,30-33,35 e dinâmico30,31,33,35. As escalas funcionais que analisam o impacto da tontura nas atividades de vida diária e qualidade de vida foram aplicadas em quatro estudos30,32-34, sendo o instrumento Dizziness Handicap Inventory (DHI) o mais usado30,33. Desfechos secundários: Os testes laboratoriais utilizados foram a posturografia computadorizada28,32,35, plataforma de força para marcha29, teste computadorizado de acuidade visual27 e ultrassonografia intracraniana com mapeamento doppler28. Desenho metodológico Todos os estudos eram de caráter experimental, com seleção dos participantes de forma aleatória para a composição dos grupos. A eficácia da RV foi analisada pela comparação entre as medidas pré e pós intervenção por RV com o grupo controle27,28,30,31,33-35 ou com outro protocolo29,32. Os estudos de Vereeck et al.30 e Hånsson, Mansson e Håkansson31 realizaram análise de seguimento após o período de intervenção. A análise metodológica pela escala PEDRo revelou que quatro dos artigos27,30,33,35 apresentaram delineamento de boa qualidade para a condução do estudo experimental e, consequentemente, com elevada evidência científica (Tabela 2). 363 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. 364 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. McGibbon et al.29 GE1: n=17 (56,9±11,6 anos) GE2: n=19 (61,7±11,3 anos) Grupos: n=53 (perda amostral= 17) n=36 (20 mulheres e 16 homens) 59,5±11,5 anos Idade: 41 a 81 anos. Diagnóstico: hipofunção vestibular unilateral e bilateral. Inclusão: indivíduos com desequilíbrio corporal sem realizar RV nos últimos 6 meses. GE1: n=16 GE2: n=16 Grupos: n=39 (perda amostral =7) Estudo experimental aleatorizado contro1) Análise da marcha (plataforma de lado pré e pós-intervenção. força): - função dinâmica da marcha (velocidade da marcha, extensão do passo, largura do passo e duração da postura); - função neuromuscular de membros inferiores (gasto de energia mecânica do tornozelo, joelho, quadril e total); - estabilidade do tronco pelo centro de massa (velocidade ântero-posterior, lateral, angular sagital e frontal do tronco). 3) Limites de estabilidade pela posturografia dinâmica: - latência para o início do movimento; - velocidade do movimento; - ponto final da excursão do centro de massa; - excursão máxima do centro de massa; - controle direcional do movimento. 2) EVA do sintoma de desequilíbrio. Efeitos encontrados Sessão: em grupo, 1 vez por semana com 70 minutos de duração (total: 10 semanas) GE2: Protocolo Tai Chi Chuan. - Aquecimento (alongamentos); - Posições de Tai Chi (redução da base de suporte, extensão do tronco e rotação dos braços em posições desafiadoras) e meditação (respiração diafragmática). - Discussão sobre os sintomas e exercícios para o domicílio. Sessão: em grupo, 1 vez por semana com 70 minutos de duração (total: 10 semanas) GE1: Protocolo de RV. - Exercícios oculares e cefálicos durante atividades funcionais estáticas e dinâmicas. - Treino do RVO. - Treino do equilíbrio vertical (base de suporte, informações sensoriais, incorporação de movimentos cefálicos e tronco). - Discussão sobre os sintomas e exercícios para o domicílio. - Não houve diferença entre os grupos nas medidas de função neuromuscular e estabilidade de tronco. - Melhora significativa no GE1 para a duração da postura e extensão do passo. - Melhora significativa do GE2 para a velocidade da marcha e extensão do passo. - Na função muscular, somente o GE2 apresentou diferença significativa com redução na energia mecânica de quadril e aumento no tornozelo. - Aumento significante na velocidade do tronco durante a marcha após a intervenção no GE2, já o GE1 não apresentou diferença significativa. - GE1 e GE2 com redução estatisticamente significativa no Disability Index. - EVA com 100% de melhora no GE1 e Sessão: 2 vezes por dia (total= 60 dias). 87,5% no GE2. - Não houve diferença entre os grupos GE2: exercícios de adaptação do RVO quanto aos parâmetros de limite de pelo protocolo de Tusa e Herdman. estabilidade após a intervenção. Sessão: 2 vezes por dia (total= 60 dias). - Melhora significativa no GE2 para a excursão do centro de massa. Estudo experimental aleatorizado contro- GE1: RV pelo protocolo de Cawthorne & lado pré e pós-intervenção. Cooksey. 1) Escala “Disability Index”. Idade: acima de 65 anos. Diagnóstico: desequilíbrio corporal. Inclusão: sintomas de desequilíbrio corporal por 3 meses ou mais. Simoceli, Bittar e Sznifer32 Intervenção Desenho metodológico Desfechos Avaliados Amostra Estudo Tabela 1. Sinopse dos dados dos ensaios clínicos controlados aleatorizados sobre Reabilitação Vestibular em adultos de meia-idade e idosos com disfunção vestibular. Natalia A. Ricci , Mayra C. Aratani, Flávia Doná, Camila Macedo, Heloísa H. Caovilla, Fernando F. Ganança Idade: 46 a 73 anos. Diagnóstico: hipofunção vestibular bilateral. Inclusão: indivíduos com hipofunção vestibular bilateral e acuidade visual dinâmica alterada para a idade. Herdman et al.27 GE: n=8 63,6±9,4 anos GC: n=5 63,6±10,8 anos Grupos: n=14 63,6±9,4 anos (perda amostral=1) Idade: acima de 65 anos. Diagnóstico: tontura crônica. Inclusão: idosos (65 a 80 anos) com vertigem recorrente por pelo menos 1 mês. Johansson et al.33 Sessão: visita semanal para aprender os exercícios que deveriam ser realizados no domicílio de 4 a 5 vezes por dia (total: 6 semanas) GC: Protocolo de exercícios placebo. - Exercícios oculares sem estimulação labiríntica (cabeça estacionária); - Exercícios de marcha e equilíbrio corporal; - Orientação de exercícios para o domicílio conforme os sintomas dos pacientes. Sessão: visita semanal para aprender os exercícios que deveriam ser realizados no domicílio de 4 a 5 vezes por dia (total: 6 semanas) 1) Avaliação da acuidade visual dinâmica Estudo experimental aleatório controlado GE: Protocolo de RV. por teste computadorizado. pré e pós-intervenção. - Exercícios de adaptação, oculares e cefálicos. 2) EVA do “Grau” de oscilopsia e da - Exercícios de marcha e equilíbrio “intensidade” do desequilíbrio corporal. corporal. - Orientação de exercícios para o 3) Função vestibular (Ganho do RVO) domicílio conforme os sintomas do por meio da prova calórica e do teste da paciente. cadeira rotatória. 1) Marcha rápida em 10 metros (tempo). Estudo experimental aleatorizado contro- GE: Protocolo de RV associado com lado pré e pós-intervenção. terapia comportamental. 2) Romberg: posição tandem. - RV pelos exercícios de Yardley e de Cawthorne & Cooksey. 3) Tempo despendido em exercícios de - Terapia comportamental com exercícios rotação cefálica. de relaxamento. Grupos: n=22 (16 mulheres e 6 homens) 4) DHI. - Discussão sobre os sintomas e exercí71,8±5,2 anos cios para o domicílio. 5) Vertigo Symptom Scale, versão curta (perda amostral =3) (VSS). Sessão: em grupo, 5 sessões com duGE: n=9 ração de 1 a 2 horas durante 7 semanas 6) Spielberger’s Trait Anxiety Inventory GC: n=10 e um contato telefônico no meio da (STAI-t). intervenção. 7) Beck Depression Inventory (BDI). GC: permaneceu na lista de espera sem realizar nehum tipo de intervenção. Tabela 1. Continuação. - Melhora significativa do GE na acuidade visual dinâmica após a intervenção. - Não houve mudanças significativas na função vestibular pelo RVO em nenhum dos grupos após a intervenção. - Não houve correlação entre as variáveis idade, EVA da oscilopsia e EVA do desequilíbrio corporal com a acuidade visual após intervenção. - Melhora no teste de caminhada no GE em relação ao GC após o tratamento. - Posição tandem sem diferença entre os grupos. - Melhora significativa em dois movimentos provocativos de tontura (cabeça inclinada com olhos abertos e cabeça inclinada com olhos fixos) no GE após tratamento. - GE apresentou melhora na pontuação do DHI em relação ao GC. - VSS, STAI-t, BDI: não houve diferença entre os grupos. Efeitos da reabilitação vestibular em idosos e adultos Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. 365 366 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. Vereeck et al.30 Prasansuk et al.28 GCIdoso: n=15 (60,0±6,6 anos) GCJovem: n=16 (41,6±5,9 anos) GEIdoso: n=11 (58,5±6,2 anos) GEJovem: n=11 (40,8±7,4 anos) Grupos: n= 57 (perda amostral= 4) n=53 Idade: acima de 50 anos. Diagnóstico: neuroma acústico. Inclusão: indicação cirúrgica para retirada de neuroma acústico. GE: n=110 (79 mulheres e 31 homens) (67,2±6,4 anos) GC: n=105 (82 mulheres e 23 homens) (67,6±5,5 anos) Grupos: n= 265 (perda amostral= 50) n=215 (161 mulheres e 54 homens) 67,4±6,0 anos Idade: acima de 60 anos. Diagnóstico: sintomas vestibulares ou de desequilíbrio. Inclusão: sintomas de desequilíbrio corporal, vertigem ou tontura nos últimos 6 meses. Tabela 1. Continuação. 5) DGI. 4) Marcha tandem. 3) TUGT. 2) Equilíbrio estático (Romberg, Romberg em superfície instável, Romberg em posição tandem e Apoio unipodal). 1) DHI. 4) Ultrassonografia Doppler. 3) Posturografia. 2) Questionário sobre o protocolo de exercícios (facilidade de execução, benefícios e severidade dos sintomas). Avaliação feita no pré, pós-operatório (1ª-aguda, 3ª, 6ª, 9ª e 12ª semanacompensação) e seguimento (6 meses e 1 ano após a cirurgia). Ensaio clínico controlado aleatorizado pré e pós-intervenção e seguimento. GEjovem e GEidoso: - Instruções gerais no pré e póscirúrgico. - Aumentar as atividades cotidianas gradativamente. - Exercícios no pós-cirúrgico hospitalar (3 a 5 dias). - Cartilha de RV customizada para cada caso após a alta. Os exercícios (estabilidade ocular, marcha, sensibilização ao movimento e equilíbrio estático) deveriam ser realizados 3 vezes ao dia por pelo menos 30 minutos totais. Progressão feita a cada visita do paciente ao centro de reabilitação (a cada 3 semanas em um total de 12 semanas). Sessão: tratamento individualizado, porém feito no domicílio sem a supervisão do terapeuta. - Comparação geral entre GCidoso/ GCjovem com GEidoso/GCjovem teve diferença estatística na marcha tandem na fase aguda e de compensação. - Entre os grupos jovens não houve diferença nas medidas em nenhuma das fases de recuperação. - Melhora no GEidoso em todas as medidas e fases, exceto no DHI na fase aguda, na marcha tandem e equilíbrio estático no seguimento em relação ao GCidoso. - Melhora dos 4 grupos após a fase aguda e compensatória. - Sem diferença entre os grupos na fase de seguimento. - 6 semanas após a cirurgia, apenas o GEidoso atingiu os resultados iniciais em todos os testes. - Após 12 semanas, todos os grupos GCjovem e GCidoso: - Instruções gerais alcançaram seus níveis anteriores de funcionalidade. no pré e pós-cirúrgico. - Os efeitos benéficos continuaram após - Aumentar as atividades cotidianas 1 ano da cirurgia em todos os grupos. gradativamente. - Sem exercícios para o domicílio após a alta hospitalar. - Sem diferença entre os grupos após as 8 semanas no US-doppler intracaniano e BERA. - GE teve melhora significativa no fluxo sanguíneo da artéria carótida interna. - Número de casos anormais na posturografia maior estatisticamente no GC em relação ao GE na 8ª semana. - Sem diferença da escala numérica de GC: sintomas após a 20ª semana. - 8 semanas sem realizar exercícios. - Últimas 12 semanas aplicado o mesmo - 19,3% da amostra relataram cura total após os exercícios. protocolo do GE. Sessão: 12 semanas. GE: Protocolo de RV. - Exercícios de Cawthorne & Cooksey (ênfase nos exercícios de movimentação Avaliações realizadas na 8ª e 20ª semana cefálica). - Cartilha com protocolo de exercícios de tratamento. para o domicílio. Sessão: 20 semanas. 1) Escala numérica de sintomas de dese- Ensaio clínico controlado aleatorizado pré e pós-intervenção. quilíbrio/ vestibular (0-10 pontos). Natalia A. Ricci , Mayra C. Aratani, Flávia Doná, Camila Macedo, Heloísa H. Caovilla, Fernando F. Ganança GE1: n=23 GC: n=19 Grupos: n= 57 (perda amostral= 15) n=42 (30 mulheres e 12 homens) média etária de 77 anos GC: n=12 (7 mulheres e 5 homens) (71,8±3,5 anos) Idade: acima de 50 anos. Diagnóstico: Tontura de origem central e tontura relacionada ao envelhecimento. Inclusão: indivíduos (50 anos e mais) com tontura de origem central ou causada pelo envelhecimento. GE: n=11 (6 mulheres e 5 homens) (71,5±4,3 anos) Grupos: n= 67 (perda amostral=44) n=23 Grupos: n=16 (16 mulheres) GE: n=8 média etária de 70,5 anos GC: n=8 média etária de 69,3 anos Idade: acima de 65 anos. Diagnóstico: vertigem de origem não periférica e instabilidade postural. Inclusão: Idosos com vertigem não periférica e/ou instabilidade, os quais não fizeram parte de treinamento do equilíbrio. Idade: acima de 60 anos. Diagnóstico: VPPB Inclusão: idosos (60 anos e mais) com VPPB. 3)EVA da queixa de tontura. 2) Equilíbrio dinâmico: - Stop walking when talking;- Marcha tandem; - Marcha em oito. 1) Equilíbrio estático com olhos abertos e fechados (Romberg, Romberg em posição tandem e apoio unipodal). 4) Posturografia dinâmica: teste de organização sensorial. 3) Análise da marcha (para frente, para trás e rápida). 2) Equilíbrio estático com olhos abertos e fechados (Romberg, Romberg em posição tandem e apoio unipodal). 1) EVA do grau de vertigem e instabilidade. 1) Escala de atividade de vida diária e disfunções vestibulares (dimensões: físico, ambulação e instrumental). Ensaio clínico randomizado aleatorizado pré e pós-intervenção e seguimento (3 meses). Ensaio clínico controlado aleatorizado pré e pós-intervenção. Ensaio clínico randomizado aleatorizado pré e pós-intervenção. GC: Não recebeu nenhum tipo de intervenção. Sessão: em grupo, 2 vezes por semana com duração de 45 minutos (total: 6 semanas) GE: Protocolo de RV com exercícios de equilíbrio corporal, movimentação de olhos e cefálica em superfície instável. GC: Não realizou nenhum tipo de exercício. Sessão: em grupo, 2 vezes por semana com 60 minutos de duração (total: 8 semanas) GE: Protocolo de RV: - Aquecimento. - Treino de equilíbrio em diferentes estações. - Exercícios de flexibilidade, fortalecimento e equilíbrio em superfície estável. - Relaxamento. GC: não realizou exercícios. - 40mg de Gingko-Biloba de 12h/12h durante 30 dias. Sessão: em grupo, 2 vezes por semana (total= 5 semanas). - 40mg de Gingko-Biloba de 12h/12h durante 30 dias. GE: RV pelo protocolo de Cawthorne & Cooksey. - Apoio unipodal direito com olhos fechados mostrou melhora significativa do GE em relação ao GC após 6 semanas de intervenção. - Após 3 meses, melhora significativa nos testes de apoio unipodal no GE em relação ao GC. - Nos demais testes, não houve diferença entre os grupos. - O GE melhorou em 80% dos testes e deteriorou em 5%, enquanto o GC melhorou em 30% e deteriorou em 55%. - GE com melhora significativa no apoio unipodal com olhos abertos, marcha para frente e marcha rápida. - Melhora significativa no GE em relação ao GC no apoio unipodal com olhos abertos. - Melhora significativa nos sintomas de vertigem e instabilidade pela EVA no GE na análise intragrupo e intergrupo. - GE com melhora significativa nas condições 3, 4 e 6 da posturografia. - Melhora significativa no GE em relação ao GC nas condições 1, 3, 4 e 6 da posturografia. - GE com melhora significativa nos escores das 3 dimensões da escala após a intervenção. - GC sem diferença significativa nas dimensões da escala no período estudado. - Melhora significativa do GE em relação ao GC na escala de vida diária após a intervenção. BDI= Beck Depression Inventory; BERA= Audiometria de resposta elétrica de tronco cerebral; DGI= Dinamic Gait Index GC= Grupo Controle; DHI= Dizziness Handicap Inventory; EVA= Escala Visual Analógica; GE= Grupo Experimental; RV= Reabilitação Vestibular; RVO= Reflexo vestíbulo-ocular; STAI-t= Spielberger’s Trait Anxiety Inventory; TUGT= Time up and go Test; VPPB= Vertigem Posicional Paroxística Benigna; VSS= Vertigo Symptom Scale, versão curta Hånsson, Mansson e Håkansson31 Kammerlind, Håkansson e Skogsberg35 Resende et al.34 Tabela 1. Continuação. Efeitos da reabilitação vestibular em idosos e adultos Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. 367 Natalia A. Ricci , Mayra C. Aratani, Flávia Doná, Camila Macedo, Heloísa H. Caovilla, Fernando F. Ganança Tabela 2. Análise metodológia pela Escala Pedro dos ensaios clínicos controlados randomizados sobre Reabilitação Vestibular em adultos de meia –idade e idosos com disfunção vestibular. 1 - Inclusão 2 - Alocação Aleatória 3 - Ocultação na aleatorização 4 - Similaridade inicial entre grupos 5 - Mascaramento participantes 6 - Mascaramento Terapeutas 7 - Mascaramento Avaliadores 8 - Medidas de desfecho em 85% da amostra 9 - Análise de intenção tratar 10 - Comparação entre grupos 11 - Tendência central Pontuação Simoceli, Bittar e Sznifer32* - McGibbon Johansson et al.29 et al.33 Herdman et al.27 Prasansuk Vereeck et et al.28 al.30 Resende et al.34 SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM NÃO SIM SIM SIM Kammerlind, Håkansson e Skogsberg35 SIM SIM Hånsson, Mansson e Håkansson31 SIM SIM - NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO SIM NÃO - SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM NÃO - NÃO NÃO SIM NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO - NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO - NÃO SIM SIM NÃO SIM NÃO NÃO NÃO - NÃO SIM SIM NÃO SIM NÃO SIM SIM - NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO - SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM - SIM 04 SIM 06 SIM 07 SIM 04 SIM 06 SIM 04 SIM 06 NÃO 02 *Estudo não avaliado pela base PEDro. Protocolo de intervenção Efeitos da intervenção A proposta de intervenção mais utilizada foi o protocolo de RV de Cawthorne & Cooksey28,32-34. A maioria dos estudos recomendou, por meio de orientações e cartilhas, que os exercícios fossem realizados no domicílio27-30,33. Em três estudos27,28,30, os exercícios eram realizados exclusivamente no domicílio, de três30 a cinco27 vezes ao dia, sendo realizadas visitas ao terapeuta semanalmente27 ou a cada três semanas30 para orientar a progressão do tratamento. Nos demais estudos28,29,33, a inserção dos exercícios domiciliares foi feita para complementar a terapia realizada no centro de reablitação. As sessões de terapia foram realizadas em grupo pela maioria dos estudos29,31,33-35, administradas semanalmente29,33 e duas vezes por semana31,34,35. O tempo total de aplicação dos protocolos de exercícios variou entre o mínimo de cinco34 e o máximo de 20 semanas28,30. A maioria dos estudos comparou o protocolo de RV com grupo controle formado por aqueles que não realizavam qualquer tipo de exercício30,33-35 ou por aqueles que realizavam exercícios placebo27. No estudo de McGibbon et al.29, o grupo controle realizou o Tai Chi Chuan e no de Simoceli, Bittar e Sznifer32, o protocolo de Tusa e Herdman para a comparação com o grupo de RV tradicional. Os estudos que compararam a RV com outro tipo de intervenção29,32 não apresentaram diferença entre os grupos após a terapia na maioria dos desfechos analisados. No estudo de Simoceli, Bittar e Sznifer32, tanto o grupo no qual foi aplicado o protocolo de Cawthorne & Cooksey como o grupo do protocolo de Tusa e Herdman, para adpatação do RVO, tiveram melhora da EVA e da escala funcional, porém sem diferença nos limites de estabilidade à posturografia dinâmica após a intervenção. Na comparação entre os exercícios de RV e o Tai Chi Chuan29 também não foram verificadas diferenças entre os grupos nos parâmetros de função neuromuscular e estabilidade de tronco após a intervenção. Em relação ao grupo controle, a proposta de intervenção por meio de exercícios no domicílio27,30 mostrou-se estatisticamente superior no ganho da acuidade visual dinâmica27, Time Up and Go Test (TUGT)30 e Dynamic Gait Index (DGI)30, porém não foi encontrada diferença significante para a estabilização do RVO27, marcha tandem30, equilíbrio estático30 e DHI30. No estudo de Hånsson, Mansson e Håkansson31, no seguimento de três meses, o grupo de intervenção permaneceu com melhora significativa no apoio unipodal em relação ao grupo controle. Já o estudo30 que analisou os efeitos após seis meses e um 368 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. Efeitos da reabilitação vestibular em idosos e adultos ano da intervenção verificou que ambos os grupos (experimental e controle) atingiram seus níveis funcionais prévios e mantiveram os ganhos obtidos no período. Nesse estudo, verificou-se que, após cirurgia para retirada de neuroma acústico, o grupo controle, sem realizar exercícios, atingiu no seguimento os mesmos valores funcionais do grupo que realizou a RV no pós-operatório. Contudo, nas fases iniciais, a recuperação do grupo experimental idoso foi estatisticamente superior à do grupo controle. Entre os estudos que utilizaram como intervenção o protocolo de Cawtorne & Cooksey, houve melhora significativa em relação ao grupo controle no DHI33, na velocidade da marcha33, no número de casos anormais na posturografia28 e na escala de atividades de vida diária e desordens vestibulares34. Contudo, após a intervenção, não foram verificadas diferenças entre os grupos no limite de estabilidade32, escala funcional32, EVA32, ultrassom doppler das artérias carótidas internas28, posição tandem33 e nas escalas psicocognitivas Vertigo Symptom Scale (VSS), Spielberger’s Trait Anxiety Inventory (STAI-t) e Beck Depression Inventory (BDI)33. Dos quatro estudos27,31,32,35 que avaliaram a sintomatologia de tontura pela EVA, dois32,35 verificaram melhora significativa após a intervenção. Quanto ao equilíbrio estático, houve melhora em dois31,35 dos seis estudos28,30-33,35 que analisaram esse desfecho, assim como na marcha29-31,33,35, em que somente dois trabalhos33,35 apresentaram resultados superiores ao controle após a intervenção. Nenhum dos estudos revisados relatou efeitos adversos relacionados à intervenção por RV. Discussão Estudos randomizados com intervenção por RV específica para a população de meia-idade e idosa são restritos na literatura. Entretanto, apesar da escassez em números, os artigos selecionados nesta revisão mostraram evidências positivas da RV no controle postural, capacidade funcional e qualidade de vida de idosos e adultos de meia-idade com queixas ou diagnóstico de síndrome vestibular. Entretanto, a diferença metodológica entre eles torna difícil estabelecer o melhor protocolo, tempo de intervenção, entre outros parâmetros. Embora quatro estudos tenham apresentado qualidade científica adequada pela escala PEDro, falta, nesses trabalhos, a ocultação na aleatorização, no mascaramento dos sujeitos, terapeutas e avaliadores. Isso pode levar a um viés dos efeitos encontrados pela intervenção e diminuir a evidência apresentada. O estudo de Simoceli, Bittar e Sznifer32 ainda não teve sua avaliação pela base PEDro, mas apresenta as mesmas dificuldades metodológicas dos demais. Além disso, o pequeno tamanho amostral de alguns estudos27,32,33,35 pode ser insuficiente para garantir a validade externa dos resultados. Devido à variabilidade nas avaliações e intervenções propostas não foi possível realizar a metanálise dos resultados. Foram incluídos os trabalhos realizados tanto com adultos de meia-idade como idosos para permitir uma discussão mais ampla sobre os efeitos dessa intervenção, visto que as alterações estruturais e fisiológicas no sistema vestibular começam a surgir, de fato, aos 40 anos, isto é na meia-idade4. Diversos estudos foram excluídos por apresentarem amostras compostas por jovens, adultos e idosos. Tal fato evidencia a necessidade de pesquisas com amostras homogêneas, envolvendo exclusivamente a população idosa, por se tratar de um grupo com características físicas e funcionais peculiares. A diversidade dos critérios de inclusão nos estudos dificultou a comparação entre as amostras. Agrupar pela topografia da síndrome vestibular pode ser incerto, uma vez que o idoso, mesmo com sintomas vestibulares, pode apresentar prova calórica normal6. Os exames complementares, como pesquisa de potenciais auditivos de tronco encefálico e audiometria tonal liminar, entre outros, não caracterizam os distúrbios vestibulares sobre os aspectos funcionais do equilíbrio corporal e, em idosos, apresentam pouca significância para a monitorização do tratamento clínico. Em contrapartida, considerar simplesmente as manifestações clínicas de tontura e instabilidade postural no diagnóstico do distúrbio vestibular não possibilita a reprodutibilidade do estudo devido à heterogeneidade de afecções que podem resultar nesses sintomas. Assim, agrupar idosos com somente uma etiologia de disfunção vestibular pode ser desafiador, visto que muitos deles têm mais do que um diagnóstico responsável pela manifestação da tontura6. Apesar da dificuldade, trabalhar com amostras homogêneas permite maior controle dos vieses de confusão que podem interferir na análise da efetividade da RV. A adequada identificação da vestibulopatia e da sua causa são indispensáveis para a implementação do melhor tipo de tratamento6. Estima-se que 20% dos idosos com disfunção vestibular apresentam vestibulopatia de origem vascular36. Os principais distúrbios circulatórios que podem causar comprometimento periférico ou central dos sistemas auditivo e vestibular são hiper ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, arritmias, hipersensibilidade dos reflexos dos seios carotídicos, estenose aórtica e aterosclerose36. A ultrassonografia intracraniana com mapeamento doppler foi utilizada em um dos estudos28 e identificou redução no fluxo sanguíneo das artérias carótida interna, oftálmica e basilar em idosos com queixas de tontura crônica e desequilíbrio corporal. Os autores observaram aumento significativo do fluxo sanguíneo na artéria carótida interna após a RV realizada por oito semanas. Dentre os desfechos, a EVA foi o instrumento mais utilizado para avaliar a percepção subjetiva dos pacientes em relação ao 369 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. Natalia A. Ricci , Mayra C. Aratani, Flávia Doná, Camila Macedo, Heloísa H. Caovilla, Fernando F. Ganança grau ou à intensidade da tontura31,35, oscilopsia27, instabilidade postural35 e/ou desequilíbrio corporal27,28,32. Outros instrumentos subjetivos empregados para mensurar o impacto da tontura na qualidade de vida e nas atividades de vida diárias em idosos foram DHI30,33, Disability Index32, VSS33 e Escala de Atividade Diária e Disfunções Vestibulares34. As medidas objetivas, como os testes de equilíbrio, conseguem revelar maiores limitações no desempenho. Entretanto, as medidas subjetivas consideram a percepção do indivíduo frente ao impacto de sintomas de difícil quantificação objetiva, como é o caso da tontura no cotidiano. O controle postural foi avaliado por meio de testes de equilíbrio estático30,31,33,35 e dinâmico30,31, escalas funcionais30 e pela posturografia computadorizada28,32,35. Os testes de equilíbrio estático (Romberg e suas versões sensibilizadas) são práticos e rápidos de serem aplicados, porém não avaliam os aspectos funcionais do equilíbrio corporal e mobilidade. Os testes dinâmicos e funcionais, como o DGI e o TUGT, utilizados em um dos estudos30, avaliam o desempenho do indivíduo em tarefas baseadas nas atividades de vida diária básica e instrumental, bem como características do equilíbrio, marcha e mobilidade. Embora os testes funcionais sejam úteis no delineamento do prognóstico funcional, pouco contribuem para determinar fraqueza ou encurtamento muscular ou incoordenação motora, sinais importantes no planejamento de um tratamento personalizado que pode refletir na efetividade da RV. Já a posturografia computadorizada é aplicada na avaliação laboratorial do equilíbrio corporal. Entre os desfechos avaliados em três estudos28,32,35 que utilizaram a posturografia computatorizada, destacaram-se o limite de estabilidade32, a latência para o início do movimento32, a excursão do centro de pressão28,35 e a influência da interação sensorial sobre o equilíbrio corporal28,35. A posturografia computadorizada complementa os testes convencionais para o estabelecimento do diagnóstico vestibular e tem valor na abordagem clínica, documentação e monitorização do tratamento dos distúrbios do equilíbrio corporal30. A literatura27-35 é concordante em afirmar que os exercícios de RV personalizados ou em grupo, realizados na clínica e diariamente no domicílio, minimizam o conflito sensorial em idosos com tontura e desequilíbrio corporal. O fator idade não é considerado limitante para a resposta final do tratamento. Um estudo retrospectivo observou similaridade da efetividade da RV personalizada realizada em jovens e em idosos quanto à sintomatologia e qualidade de vida37. Nos estudos analisados, não houve comparação da efetividade entre a intervenção por RV personalizada e em grupo, ou sob orientação domiciliar. No entanto, a forma mais utilizada foi o tratamento em grupo28,29,31,33-35 e com orientações domiciliares27-30,33. Tais estratégias de atendimento seriam mais adequadas tendo em vista a grande demanda e custos na prestação dos serviços de saúde à população idosa. Em revisão sistemática sobre a RV em adultos com disfunção vestibular 370 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):361-71. periférica unilateral, os protocolos com enfoque na educação, demonstração e exercícios para casa apresentaram resultados satisfatórios38; entretanto, de acordo com Herdman39, os exercícios de RV personalizados levam à remissão dos sintomas em 85% dos pacientes com vestibulopatias, enquanto os genéricos apresentam resolução completa em 64% dos casos. As propostas de intervenção utilizadas pela maioria dos estudos foram o protocolo de Cawthorne & Cooksey28,32-34, exercícios de adaptação da Herdman39 e exercícios de equilíbrio corporal estático e dinâmico27,29-31,35. Essas propostas têm como objetivo promover a estabilização visual aos movimentos da cabeça, melhorar a estabilidade postural nas situações em que surgem os conflitos sensoriais, minimizar a sensibilidade à movimentação cefálica e melhorar o equilíbrio corporal estático e dinâmico. Entre os estudos28,32-34 que utilizaram como intervenção o protocolo de Cawthorne & Cooksey, houve melhora significativa em relação ao grupo controle no equilíbrio dinâmico, na posturografia e na escala de vida diária. Não foram verificadas diferenças entre os grupos após a RV no limite de estabilidade, posição tandem, EVA e nas escalas psicocognitivas. Esses resultados podem ser decorrentes da ausência, no protocolo de Cawthorne & Cooksey, de exercícios de manipulação da informação proprioceptiva com a visual, modificação da base de sustentação e outros componentes sensório-motores. O período de aplicação dos protocolos de exercícios e a frequência das sessões variou amplamente entre os estudos, o que impossibilitou a determinação da melhor duração do tratamento a fim de garantir a efetividade da RV. Todavia, a maioria dos autores mostrou, após a RV, redução ou remissão dos sintomas tontura, oscilopsia ou instabilidade postural e desaparecimento gradual do desequilíbrio corporal estático e dinâmico. Os exercícios de Tai Chi utilizados por McGibbon et al.29 mostraram-se efetivos na avaliação laboratorial da marcha em idosos com hipofunção vestibular em relação ao grupo submetido à RV. O Tai Chi é uma modalidade de ginástica chinesa de alta aderência entre os idosos e tem sido citado40,41 como capaz de incrementar, nessa população, ganhos de condicionamento físico, força e equilíbrio e prevenir quedas. As consequências somatopsíquicas da tontura causadas por afecções vestibulares podem incluir angústia, ansiedade e ataques de pânico, medo de sair sozinho, interferência nas atividades diárias e sentimentos de estar fora da realidade, despersonalização e humor deprimido42. Um dos estudos analisados revelou que a terapia cognitivo-comportamental associada à RV reduziu significativamente a tontura e melhorou a qualidade de vida em idosos vestibulopatas, quando comparados ao grupo que recebeu simplesmente a RV33. Esta revisão sistemática sintetiza evidências sobre os efeitos da RV e instrumentos de avaliação do equilíbrio corporal que podem contribuir para subsidiar as ações clínicas de Efeitos da reabilitação vestibular em idosos e adultos profissionais que trabalham nessa área, favorecendo a prática baseada em evidências. Os estudos reforçam a sensibilidade do emprego de medidas e instrumentos comuns na prática clínica para avaliar os resultados da intervenção frente aos defechos primários e o uso de protocolos simples e com baixo custo como mais adequados para o tratamento dessa população. Contudo, novos estudos com desenhos metodológicos mais otimizados devem ser feitos para esclarecer algumas dúvidas que ainda existem sobre a RV, como o prognóstico frente a determinadas doenças, o tempo necessário para evitar recorrências da sintomatologia e a comparação com protocolos de multicomponentes do controle postural. Referências bibliográficas 1. Massion J. 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Bobbio2, Amabile V. Arias2, Vanda G. Gonçalves2, Carl Gabbard1 Abstract Background: Many clinicians and researchers in Brazil consider the Neurological Developmental Exam (NDE), a valid and reliable assessment for Brazilian school-aged children. However, since its inception, several tests have emerged that, according to some researchers, provide more in-depth evaluation of motor ability and go beyond the detection of general motor status (soft neurological signs). Objectives: To highlight the limitations of the NDE as a motor skill assessment for first graders. Methods: Thirty-five children were compared on seven selected items of the NDE, seven of the Bruininks-Oseretsky Test (BOT), and seven of the Visual-Motor Integration test (VMI). Participants received a “pass” or “fail” score for each item, as prescribed by the respective test manual. Results: Chi-square and ANOVA results indicated that the vast majority of children (74%) passed the NDE items, whereas values for the other tests were 29% (BOT) and 20% (VMI). Analysis of specific categories (e.g. visual, fine, and gross motor coordination) revealed a similar outcome. Conclusions: Our data suggest that while the NDE may be a valid and reliable test for the detection of general motor status, its use as a diagnostic/remedial tool for identifying motor ability is questionable. One of our recommendations is the consideration of a revised NDE in light of the current needs of clinicians and researchers. Key words: motor skills; psychomotor performance; child development. Resumo Contextualização: Muitos clínicos e pesquisadores brasileiros consideram o Exame Neurológico Evolutivo (ENE), um instrumento válido e confiável para crianças brasileiras em idade escolar. Entretanto, desde a sua criação, surgiram outros testes para uma avaliação mais profunda de habilidade motora, os quais vão além de detectar status motor geral em forma de sinais neurológicos leves. Objetivos: Demonstrar os pontos fracos do ENE como teste de avaliação de habilidade motora para crianças de primeira série. Métodos: Trinta e cinco crianças realizaram 7 itens selecionados do ENE, 7 do teste Bruininks-Oseretsky (BOT) e 7 do Visual-Motor Integration Test (VMI), numa sessão única de 30 minutos. Para cada item, os participantes receberam a classificação “êxito” ou “fracasso”, como prescrito por cada manual. Resultados: Os testes chi-quadrado e ANOVA indicaram que a vasta maioria das crianças (74%) passaram nos itens do ENE, enquanto os valores para os outros testes foram 29% (BOT) e 20% (VMI). Análises das categorias específicas (fino, visual e motor grosso) revelaram um resultado similar. Conclusões: Estes dados sugerem que, enquanto o ENE pode ser um teste válido e confiável para detecção de status motor geral, a sua atuação como instrumento diagnóstico e de encaminhamento para identificação de habilidade motora é questionável. Uma das nossas recomendações é a consideração de uma versão do ENE revisada, baseada nas necessidades atuais de profissionais clínicos e pesquisadores. Palavras-chave: habilidades motoras; performance psicomotora; desenvolvimento da criança. Received: 19/02/2009 – Revised: 19/06/2009 – Accepted: 22/09/2009 1 Department of Health and Kinesiology, Texas A&M University, College Station, TX, USA 2 Center for Investigation in Pediatrics (CIPED), Universidade de Campinas (UNICAMP), Campinas (SP), Brazil Correspondence to: Priscila Caçola, Texas A&M University, Department of Health and Kinesiology, 276A Read Building, TAMU 4243 - College Station, TX, USA 77843-4243, e-mail: [email protected] 372 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):372-6. Limitations of the NDE Introduction Motor function assessments are useful to determine whether the child is developing normally or if there are delays requiring therapy and special assistance. Standards for motor assessments are often used as indicators for identifying developmental status and prescribing rehabilitative activities. Although there is a variety of acceptable motor performance assessments for use with infants and preschoolers, there are only a few assessments for school-age children (six years and older). The importance of this fact was underscored by Bessa and Ferreira1 when they suggested that an adequate motor coordination assessment is essential for school-age children, as any alteration in this capacity may interfere with school learning and general behavior. Among the most common tests used internationally are (a) the Bruininks-Oseretsky Test (BOT)2 for ages five to 14 years, (b) the Visual-Motor Integration Test (VMI)3 for ages three to seven years, (c) the Peabody Developmental Motor Scales (PDMS-2)4 for ages zero to seven years, (d) the Test of Gross Motor Development (TGMD-2)5 for ages three to ten years, and (e) the Movement ABC (M-ABC)6 for ages three to 16 years. In our search for a motor assessment for school-age children in Brazil, one of the most widely used and highly recommended was the Neurological Developmental Exam7 (NDE), designed for children aged three to seven years. The instrument has been recognized for its ease of administration and strong set of standards for Brazilian children. The NDE was developed to facilitate the administration of neurological assessment in clinical examinations. The exam consists of 124 test items that assess the functional development of the nervous system. The test items are divided into blocks to assess speech, static balance, dynamic balance, fine motor coordination, upper-body coordination, motor persistence, muscle tonus and sensibility. The test is administered individually, and the scoring system is relatively simple: each item is scored as “pass” when the child is able to perform the task or “fail” when the child is unable to execute the task appropriately. The NDE has been reported as a valid and reliable assessment with Brazilian children8-12. Bobbio et al.13 recently evaluated 402 first graders using the NDE and found an unusually high passing rate for virtually all test items. In addition, a ‘ceiling effect’ was observed. With the exception of a few gross motor items identified as interlimb coordination skills, 85% or more passed in the categories of visual, fine, and gross motor coordination at the end of the school year. In essence, the test items were too easy for the vast majority of children. When designing the present study, the researchers asked four international experts in motor assessment for their opinion on task item classification. Interestingly, their evaluation concluded that, in general, the NDE was an assessment of “soft neurological signs” (SNS), i.e. the test can be used to detect “general motor [neurological] status and minor abnormalities”, which is in accordance with the NDE’s purpose. Nevertheless, and relevant to the aim of this paper, it has been suggested that SNS tests such as the NDE are not sensitive enough to assess motor ability or detect specific motor development delays, especially the ones related to daily life skills. It is important to note that it is not uncommon for researchers and clinicians to use the NDE to identify motor ability, motor delay, and prescribe remediation, which arguably is not the purpose of the NDE. In fact, Vohr14 pointed out that assessments that are basically neurological are poor predictors of motor delays. Furthermore, the NDE was created in 1979, and since then it has not been revised. In order to demonstrate the limitations of the NDE, compared to more contemporary assessments of wide use, we compared motor scores of children evaluated with selected items of the NDE with selected items from two internationally used motor assessment batteries that have reputable psychometric properties, namely the VMI15 and the BOT16. Test selection was based primarily on test availability and appropriateness for the age group tested. We hypothesized that significantly more children would achieve passing scores with the NDE. This result would add to our initial expectation that, compared to more contemporary tests, the NDE is less sensitive in detecting motor skill delays. Methods Participants The study involved a convenience sample of 35 first graders (20 males, 15 females) from Campinas, a large city in southeast Brazil. Participants were recruited from a single public school. At this particular school, class size was approximately 40 students, physical education was provided twice a week, and art classes once a week. Children were excluded from the study if they had previously failed the first grade, did not attend school regularly, required special care, did not wish to be evaluated, and had physical, mental or neurological disorders. The mean age was 6.8 years (±0.37; range 6.7-7.3 years). Considering the gender division, the mean age for females was 6.7 (±0.9) and for males, 6.7 (±0.6), showing no statistical difference for gender and age (p=0.11). All participants were volunteers via agreement with the children and parent or guardian. This research project was approved by the Research Ethics Committee of the School of Medical Sciences, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas (SP), Brazil, under protocol number 818/2008. 373 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):372-6. Priscila M. Caçola, Tatiana G. Bobbio, Amabile V. Arias, Vanda G. Gonçalves, and Carl Gabbard Assessment of motor function All 35 children were submitted to selected test items of the NDE, VMI and BOT. It is important to mention that, to the best of our knowledge, the VMI and BOT have not been validated for use with the Brazilian population. However, our goal was to use them only as comparative measures for the NDE. Hence, two Brazilian researchers translated the two test items into Portuguese. The selected items for each test used are shown in Table 1. We used seven items from the original “upper body (appendicular) coordination” section of the NDE. Within that section, we identified tasks that could be grouped as visual-motor integration (2), fine motor control (1), and gross motor coordination (4). More specifically, these items were evaluated as tasks requiring interlimb coordination. It is important to note that classifications were based on the expert opinion of four motor assessment specialists from the USA. For the VMI, we chose seven items that assess integration between visual and motor abilities. For the BOT, we chose seven items representing interlimb coordination (6) and visualmotor control (1). It is worth noting that although the items were obviously not identical across tests, the group of tasks represented the specific test’s assessment of motor ability for that category. The instructions for each item, as defined in the manuals, were rigorously followed. A single examiner trained to administer and report on all tests conducted the assessments in an isolated room. All children performed the three tests in a single session (lasting approximately 30 minutes) in the following order: NDE, VMI, and BOT. The BOT and NDE tasks were first demonstrated by the examiner, and the child then had two chances to perform each task. For the VMI, geometric figures were shown, and the child was asked to copy them, as instructed in the manual. The item was scored as “fail” if the child was unable to achieve the objective of the task or as “pass” if the child performed the task correctly, as prescribed by the respective test manual. For the few items that belonged to two tests simultaneously (i.e. NDE and BOT), we used the respective scoring system for that test to define the score. In addition, BOT items 2 and 7 presented a “point score” instead of “pass” or “fail”, therefore we simply assigned a passing score to the child who achieved 50% or more of the point score and a failing score otherwise. Table 1. Selected items from the NDE, BOT, VMI and categories. Category Gross Motor (Interlimb) Coordination Fine Motor Control Visual-Motor Control Selected Items NDE 1. Moving hands back and forth simultaneously with palms facing out 2. Making circular motions with index fingers, arms extended to the side 3. Pivoting thumb and index finger 4. Tapping – foot and finger on opposite sides synchronized 5. Replicating rhythmic taps with pencil 6. Winding thread onto a reel while walking 7. Copying a vertical diamond with preferred hand BOT 1. Jumping up and touching heels with hands VMI 2. Drawing lines and crosses simultaneously 3. Pivoting thumb and index finger 4. Tapping – foot and finger on opposite sides synchronized 5. Jumping in place – leg and arm on same side synchronized 6. Jumping in place – leg and arm on opposite sides synchronized 7. Copying a horizontal diamond with preferred hand 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. * For all VMI items, the task was simply to copy the geometric figures with the preferred hand (figures are not displayed in real size). 374 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):372-6. Limitations of the NDE Treatment of the data Data (scores) were analyzed using frequency analyses and chi-square procedures to compare participants classified as “pass” or “fail”. Analyses were performed with Epi-Info 6.0 and SPSS 15.0. Statistical significance was set at p<0.05. Results The percentages of participants who passed each test (composite score for all sections) were 29% for the BOT test, 74% for the NDE test and 20% for the VMI test. Chi-square analysis revealed significant differences between the tests (X2(2)=24.6; p<0.0001). As shown in Table 2, scores were lowest on the BOT and VMI tests, and highest on the NDE test. According to these results, 71% of participants failed when evaluated with the BOT items, and 80% with the VMI. Discussion The purpose of the present study was to highlight the limitations of the NDE. In order to do that, we compared the participants’ scores for selected items of the NDE with their scores for two other motor assessment batteries that are recognized for providing more in-depth evaluation of motor ability, i.e. the VMI15 and BOT16. As hypothesized, significantly more children obtained passing scores for the NDE than for the BOT and VMI assessments, and data for the BOT and VMI were similar. In both tests, more than 70% of the participants were classified as “fail”. The present findings address interesting observations. First, we found that the NDE assessment is indeed a less sensitive test of motor skills compared to the VMI and BOT. The vast majority of children in our sample passed almost all of the NDE items, confirming the unusually high passing rate found by Bobbio et al.13. This is in contrast to having failed the majority of items from the other tests we selected. This result means that in a clinical assessment, for instance, more than 50% of the children in our study would be identified as “typically developing” when evaluated with the NDE. Arguably, this finding supports the suggested fragility of the NDE for specific motor functions, especially those items related to daily life skills. This is not a surprising fact, as the intended purpose of the NDE was not to test motor skills. Nevertheless, this test has been widely used to determine levels of motor behavior for clinical assessment and research purposes ( for examples, see references 9 and 10). We wish to note that our purpose was not to compare domains between tests but rather compare age-related test items in general. However, interesting points are worthy of note. For example, out of seven selected items of the NDE, two represented visual-motor integration, one represented fine motor coordination, and four were defined as interlimb coordination (with the gross motor section). For the VMI, we chose seven items that assessed integration between visual and motor abilities, and for the BOT, six items were selected from the sections of interlimb coordination and one from visual-motor control. In our sample, the visual-motor component of the VMI was the section in which the participants had the poorest performance, with a 20% passing rate. The VMI assessment requires the child to copy a series of geometric designs. According to Goyen and Duff17, visual-motor integration may be more important when children are learning to form letters, when speed is not important, and reliance on visual feedback may be greater. Our sample of children was finishing the first grade of elementary school when they were administered the tests, and it is quite puzzling that only a small portion of them (20%) were able to pass the skills required by the VMI. We would have expected at least 50% of the group would pass the visual-motor integration items; the literature supports the notion that this characteristic plays an influential role in the primary stages of learning letter formation17. However, for such a generalization, we admit that our relatively small sample size may have been a factor. Only the NDE and the BOT assessments provide specific tasks of interlimb coordination, and as expected, scores for the latter were lower than those for the former. It is important to note that the interlimb coordination items from the NDE were actually listed in the gross motor section. Interlimb coordination involves the timing of locomotor cycles of the limbs in relation to one another18. In the context used here, that meant alternating opening and closing hands, alternating tapping finger/foot of one side with the other side, turning hands simultaneously with arms extended, and matching a rhythm with alternating feet tapping. Although basic characteristics of interlimb coordination are displayed by the end of the first year, it appears considerable improvement occurs from about age six to ten years18-21. In regard to the implications of the present study, our findings have local as well as possibly far-reaching implications. First, however, we feel the need to mention the strengths of the NDE. In Brazil, the NDE is recognized by many as a relatively Table 2. Percentage of children identified as “pass” and “fail”. Tests BOT NDE VMI Fail N (%) 25 (71.4) 9 (25.7) 28 (80.0) Pass N (%) 10 (28.6) 26 (74.3) 7 (20.0) χ² 24.6* *P<0.001 375 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):372-6. Priscila M. Caçola, Tatiana G. Bobbio, Amabile V. Arias, Vanda G. Gonçalves, and Carl Gabbard easy-to-administer, valid, and reliable test of SNS in children, even though it was created three decades ago. In addition, it has a large set of standards based on Brazilian children. However, the NDE could have limitations as a research tool, and according to our findings, it was less sensitive in detecting motor ability. If we were to re-evaluate the NDE, we would suggest that researchers and clinicians take a close look at the potential considerations addressed by the present study. First of all, NDE scores presented a “ceiling effect” for 7-year-old children. Bobbio et al.22 found that 85% of children in a large sample obtained passing scores with the NDE. In addition, the age range for NDE is limited: three to seven years. Moreover, if the aim is to gather specific information regarding the developmental status of the child, perhaps other motor tasks should be added to the NDE assessment. Also, gross motor and interlimb coordination as well as fine motor coordination and visual motor integration sections should be separated. Some points warrant mention when it comes to the limitations of the present study. Once again, the sample was relatively small and restricted to one city, which obviously limits the generalization of results. In addition, the VMI and BOT test items were translated into Portuguese for the purposes of this study; however, they were not submitted to transcultural adaptation. Our goal was to use those tests for comparative purposes only. Obviously the tests in their entirety are not comparable, but we feel that their role as illustrative measures was fulfilled. Given that these international tests have not yet been validated for Brazilian children does not, in our opinion, take away from the suggestion to revise the NDE and perhaps reconsider its use. One of the merits of our findings is that they could be used to revise and amplify the scope of the NDE. Tests such as the VMI and BOT present items that could be included in a revision of the NDE and/or the creation of another instrument that taps more characteristics of motor skill development for Brazilian children. And finally, we wish to point out that we acknowledge that no single assessment instrument tests all facets of motor function. Therefore, researchers and practitioners need to determine what their goals are (testing specific motor delays or general neurological status) and select the appropriate test or combination of tests. Here, we demonstrated some possible limitations of the NDE as an assessment of motor skills and provided suggestions for strengthening the instrument. And, finally, it is our strong belief that the NDE, with adequate revision, could continue to be an effective tool for assessing schoolage Brazilian children. References 1. Bessa MFS, Ferreira JS. Balance and motor coordination in preschool: A comparative study. Rev Bras Ciênc Mov. 2002;10(4):57-62. 2. Bruininks RH. Bruininks-oseretsky test of motor proficiency. Minnesota: Circle Pines; 1995. 3. Beery KE. Developmental test of visual-motor integration. 4ª ed. New Jersey: Modern Curriculum Press; 1997. 4. Folio MR, Fewell RR. Peabody developmental motor scales. 2ª ed. Austin: PRO-ED; 2000. 5. Ulrich DA. Test of gross motor development (TGMD-2). 2ª ed. Austin: PRO-ED; 2000. 6. Henderson SE, Sugden DA. Movement assessment battery for children (Movement ABC). 2ª ed. London: Psychological Corporation; 2007. 7. Lefévre AB. 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ISSN 1413-3555 ORIGINAL ARTICLE Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. n. 5, p. 377-81, Sept./Oct. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Psychometric properties of the Portuguese version of the Jebsen-Taylor test for adults with mild hemiparesis Avaliação das propriedades pscicométricas da versão em português do teste de Jebsen Taylor para adultos com hemiparesia leve Karina N. Ferreiro1, Renata L. dos Santos1, Adriana B. Conforto1,2 Abstract Objectives: To evaluate the psychometric properties of the Portuguese version of the Jebsen-Taylor Test (JTT) in patients with stroke. Methods: Forty participants who suffered a stroke in the cerebral hemisphere were videotaped while performing the JTT. Scores were defined by the time taken to perform the tasks, and two physical therapists evaluated the performance of the participants. Intra- and inter-rater reliability was defined by intraclass correlation coefficients (ICC) through videotape analysis. Cronbach’s alpha and Pearson’s correlation coefficient (r) were used to measure the internal consistency of the scale. Confidence intervals (CI) were calculated, and the influence of handedness and educational level on the JTT scores was evaluated. Results: Inter-rater (ICC = 1.0; CI, 1.0-1.0) and intra-rater reliabilities (ICC=0.997; CI, 0.995-0.998) were excellent. Regarding internal consistency, Cronbach’s α was 0.924. The item “writing a sentence” was less consistent than the other items (Cronbach’s alpha=0.884). Pearson’s r (item score - total score) was lower for the item “small objects” (r=0.657). There was no significant influence of handedness or educational level on the JTT scores. Conclusions: Videotaping test performances can be a useful tool in multicenter studies if inter-rater reliability is appropriate. The interand intra-rater reliabilities of the Portuguese version of the JTT were excellent in patients with stroke. The JTT can be a valuable tool for evaluating dexterity in research protocols aiming at efficacy of rehabilitation interventions. Key words: Stroke; reproducibility of results; disability evaluation; motor skills; rehabilitation; activities of daily living. Resumo Objetivos: Avaliar as propriedades psicométricas da versão em Português do teste de Jebsen-Taylor (TJT) em pacientes com acidente vascular encefálico (AVE). Métodos: Quarenta pacientes com AVEs em hemisférios cerebrais foram filmados enquanto realizaram o TJT. A pontuação no teste é definida pelo tempo de execução de tarefas motoras. Duas fisioterapeutas avaliaram o desempenho dos pacientes. Por meio das análises dos vídeos, foram determinadas as confiabilidades intra e interexaminador, pelos coeficientes de correlação intraclasse (CCI). O alfa de Crobach e o coeficiente de correlação de Pearson (r) foram utilizados para medir a consistência interna da escala. Foram avaliados os efeitos de dominância manual e escolaridade sobre a pontuação no TJT. Resultados: Houve excelentes correlações interexaminador (CCI=1,0; intervalo de confiança, 1,0-1,0) e intraexaminador (CCI=0,997; intervalo de confiança, 0,995-0,998). Na avaliação da consistência interna, o alfa de Cronbach total foi 0,924. O item “escrever uma frase” teve consistência menor que os demais itens (Cronbach’s alpha=0,884). O coeficiente de correlação de Pearson (item - total da escala) foi mais baixo para o item “objetos pequenos” (r=0,657). Não houve efeitos significativos de dominância manual ou escolaridade, sobre a pontuação no TJT. Conclusões: As confiabilidades interexaminador e intraexaminador foram excelentes, assim como a consistência interna da versão em Português do TJT em pacientes com AVE, avaliada por meio de vídeos. Essas são informações importantes para o planejamento de protocolos de reabilitação voltados para a melhora da função do membro superior em pacientes com AVE. Palavras-chave: acidente vascular encefálico; reprodutibilidade dos resultados; avaliação da deficiência; destreza motora; reabilitação; atividades cotidianas. Received: 02/03/2009 – Revised: 19/08/2009 – Accepted: 21/08/2009 1 Laboratório de Neuroestimulação, Divisão de Clínica Neurológica, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brazil 2 Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP), Brazil Correspondence to: Karina Nocelo Ferreiro, Laboratório de Neuroestimulação, Divisão de Clínica Neurológica, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, Av Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, ICHC, 255/ 5084, CEP 05403-000, Cerqueira César, São Paulo (SP), Brazil, e-mail: knfi[email protected] 377 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):377-81. Karina N. Ferreiro, Renata L. dos Santos, Adriana B. Conforto Introduction Stroke is a leading cause of death in Brazil1, and the most frequent neurological impairment is hemiparesis2, which can lead to a decrease in function and ability in activities of daily living (ADLs). In general, the functional recovery of the upper limbs is slower and less efficient than lower limb recovery3. It has been estimated that 45% of stroke patients do not recover upper limb function2. Hand function has a significant impact on disability in patients with stroke2,4, therefore tools to evaluate upper limb function are highly relevant to stroke rehabilitation. Grasping, holding and manipulating objects are ADLs that may be affected after stroke5. The Jebsen Taylor Test6 (JTT) (Figure 1), described in 1969, evaluates these activities and consists of seven tasks: writing a sentence, card turning, small common objects, simulated feeding, stacking checkers, moving large light objects and large heavy objects. The JTT has good test-retest reliability6, good concurrent validity with other tests of upper limb dexterity7, and it has been used in many studies on the effects of somatosensory or cortical stimulation on upper extremity function in patients with stroke and spinal cord injury8-12. The aim of the present study was to evaluate the following psychometric properties: inter-rater reliability, intra-rater reliability and internal consistency of the videotaped Portuguese 1. Writing a sentence; 2. Card Turning; 3. Small common objects; 4. Simulated Feeding; 5. Checkers; 6. Large light and large heavy objects. Figure 1. Tasks of the Jebsen-Taylor test. 378 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):377-81. version of the JTT in patients with hemiparesis following stroke. In addition, we investigated the influence of handedness and educational level on test performance. Methods Patients were recruited from the Cerebrovascular Diseases Clinic and the Neurology Emergency Department of our institution. The inclusion criteria were: hemiparesis following a single, ischemic stroke confirmed by computed tomography or magnetic resonance imaging; a minimum of 30 days since stroke; age between 18 and 80 years; ability to understand instructions and perform all JTT tasks. The exclusion criteria were: multiple brain lesions; severe joint deformity; severe heart or lung disease, advanced cancer. Forty-eight patients fulfilled the inclusion criteria, and eight patients were excluded due to inability to perform all JTT tasks. Therefore, forty patients were included in the study. Age, gender, years of education (<5 years or ≥5 years), time since stroke and handedness (according to the Oldfield Inventory13) were recorded. The JTT instructions were translated and adapted to the Portuguese language. Back-translation was performed by an expert in English14. We manufactured a board with the characteristics described by Jebsen et al.6: 105.4 cm long, 28.6 cm wide and 1.1 cm thick. The front edge (1.1 cm thick) of the board was marked at 10.1 cm intervals. A vertical barrier (50.8 cm long, 5.08 cm wide and 1.3 cm thick) was glued to the board 11.7 cm from the right end and 15.2 cm from the front of the board. The front of the vertical barrier was marked at 5.1 cm intervals beginning 2.5 cm from each end for referencing in object placement. Cards were placed 5.1 cm apart and 12.7 cm from the front edge of the desk. For the “small objects” task, a can was placed 12.7 cm from the front edge of the desk. Six small objects were placed in a horizontal row to the left of the can: two paper clips positioned vertically, two regular-size bottle caps with the inside of the cap facing up and two US one-cent coins. The paper clips were placed at the far left and the coins next to the can. The distance between objects was 5.1 cm. For the “simulated feeding” task, five beans were placed on the board in front of the participant, 12.7 cm from the front edge of the desk, positioned to the left of the center, parallel to and touching the vertical barrier, and 5.1 cm apart. A can was placed in front of the board. For the “stacking checkers” task, four checkers (3.2 cm diameter) were placed on the table in contact with the front of the board, at a distance of 12.7 cm from the front edge of the desk. For the “moving objects” task, five light cans (height, 9.5 cm; diameter, 7.5 cm) were placed in front of the board, 5.1 cm apart. In addition, five heavy cans (weighing 1 pound) were positioned as described above. Jebsen-Taylor test: psychometric properties The commands given to the patients to complete the tasks were the same as those described in the original article, and all tests were videotaped. Rater 1 (R.L.S.) evaluated the participants and reevaluated the tapes on separate occasions, blinded to the performance time measured in the first evaluation. Rater 2 (K.N.F) evaluated the videos and was blind to the performance time measured by Rater 1. Intra- and inter-rater reliabilities were evaluated by intraclass correlation coefficients (ICC)15. The internal consistency15 of the scale was checked with Pearson’s16 r (total score versus each item and total score versus total score minus each item), and Cronbach’s α17 (total score versus total score minus each item). The raters also recorded the number of mistakes performed during the JTT: misspelled words; changes in the strategy to turn the cards; dropped small objects, beans, checkers, or cans. The JTT scores for the paretic, dominant hand were compared to the scores for the paretic, non-dominant hand using the Mann-Whitney test. This test was also used to compare scores between participants with higher (>4 years) and lower levels (≤4 years) of education. The Wilcoxon test was used to compare the number of mistakes recorded by Raters 1 and 2. The Mann-Whitney test was used to evaluate differences in JTT scores between participants with lesions on the right and left hemispheres. A p-value of 0.05 was considered statistically significant. The experimental protocol was approved by the Ethics Committee of Hospital das Clínicas/ Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brazil (protocol numbers 1049/04 and 279/05). All patients gave their written informed consent. Results The mean age (±SD) was 52.5±16.1 years, and 42.5% of the participants were male. Fifty percent had 5 to 16 years of education. The mean interval between stroke onset and testing was 214 (±141.9) days; 57.2% of the participants had hemiparesis on the dominant side, and 92.5% were right-handed according to the Oldfield Inventory13. The ICC was 0.997 (0.995-0.998) for intra-rater reliability and 1.0 (1.0-1.0) for inter-rater reliability. Inter-rater reliability for each of the tasks is shown in Table 1. Pearson’s correlation coefficients and Cronbach’s alpha were used to assess internal consistency and are shown in Table 2. The internal consistency of the test was good (Cronbach’s α=0.924). Regarding each item, “writing a sentence” was less consistent than the other tasks (Cronbach’s α=0.884, total versus total minus item). Pearson’s r was lower for the task “picking up small objects” (r=0.657). There were no significant differences in JTT scores between the participants with different levels of education (p=0.291). In addition, there were no significant differences Table 1. Interrater reliability for each task. Rater 1 mean (SD) Writing (s) 56.8 (39.1) Card turning (s) 16.5 (9.3) Small common object (s) 16.1 (10.2) Simulated feeding (s) 16.6 (7.7) Checkers (s) 12.0 (9.4) Large light objects (s) 8.0 (3.9) Large heavy objects (s) 7.6 (3.0) Rater 2 mean (SD) 56.6 (38.9) 15.6 (8.9) 16.1 (10.1) 16.2 (7.5) 11.8 (9.3) 7.9 (3.9) 7.5 (3.1) ICC (95% CI) interrater 0.999 (0.998-0.999) 0.977 (0.957-0.987) 0.998 (0.996-0.999) 0.991 (0.984-0.995) 0.995 (0.991-0.997) 0.988 (0.977-0.993) 0.991 (0.983-0.995) p value <0.01 <0.01 <0.01 <0.01 <0.01 <0.01 <0.01 Table 2. Internal consistency of the Jebsen-Taylor test, evaluated with Pearson correlation coefficients (r) and Cronbach’s alpha. Internal Consistency Writing Card turning Small common objects Simulated feeding Checkers Large light objects Large heavy objects R r Cronbach’s alpha Total x Total x Total Total x Total Each item minus item minus item 0.812 0.886 0.844 0.857 0.998 0.632 0.657 0.982 0.651 0.813 0.998 0.646 0.712 0.985 0.633 0.849 1.000 0.681 0.898 1.000 0.687 Table 3. Individual scores for each task performed with the dominant (dom) or non-dominant (non-dom) limb. Writing (s) Card turning (s) Small common objects (s) Simulated feeding (s) Checkers (s) Large light objects (s) Large heavy objects (s) Mean (SD) dom 52.6 (45.5) 14.9 (10.3) 17.3 (12.7) 14.8 (7.5) 12.9 (11.8) 8.2 (4.6) 7.8 (3.8) Mean (SD) non-dom 62.0 (28.1) 16.6 (6.6) 14.4 (4.6) 18.2 (7.2) 10.4 (4.0) 7.6 (2.7) 7.1 (1.9) p 0.82 0.17 0.80 0.07 0.72 0.91 0.99 SD=standard deviation. (p=0.277) in the JTT scores measured in the paretic, dominant hand (128.6±80.5 seconds) and those measured in the paretic, non-dominant hand (139.3±41.1 seconds). Table 3 shows individual scores for each task. The median number of mistakes in the JTT was 1 (range, 0-10). There were no significant differences (p=0.531) in the number of mistakes, as evaluated by each of the raters (Rater 1: median 1, range 0-8; Rater 2: median 1, range 0-10). Discussion Our results showed excellent intra- and inter-rater reliabilities of the JTT scale in stroke patients by videotape analysis. The psychometric properties of the scale were similar to those reported by the videotape analysis of the Wolf 379 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):377-81. Karina N. Ferreiro, Renata L. dos Santos, Adriana B. Conforto Motor Function (WMFT)18 and the Action Research Arm Test (ARAT)19. The WMFT is a detailed, validated laboratory-based scale for evaluation of upper-limb performance that has been widely used, particularly in clinical trials of constraint-induced therapy9,20-23. The test can be videotaped for off-line scoring. Concerns have been raised regarding the limitations of the WMFT in functional evaluation23,24. The tasks in this test are not directly related to ADLs, and the scores are based on the time taken to complete predefined tasks and on the evaluation of coordination and fluidity, as well as clinically relevant characteristics of movement18. The ARAT is composed of 19 tasks that include grasping, gripping, pinching and gross movement subscales. Rating is based on the ability to properly perform the tasks. The test can be administered relatively quickly, can be videotaped and is sensitive to clinically meaningful changes in upper limb ability19,25. Standardized instructions for administration have been published26. The ARAT tasks are less related to ADLs than the JTT tasks. The Arm Motor Ability Test (AMAT)27 is composed of ten tasks for the upper limb that resemble ADLs, and the interrater reliability has been shown to be appropriate. The test is time consuming, which may be an obstacle to widespread use. The original version of the Test d’Évaluation des Membres Supérieurs de Personnes Âgées (TEMPA)28 is comprised of nine tasks (5 bimanual and 4 unimanual) and evaluates quantitative and qualitative aspects of motor performance. The ICC for inter-rater reliability of the translated version of the TEMPA (with 8 tasks) was 0.94. This is lower than the coefficient obtained in the present study. AMAT and TEMPA assess many bimanual activities, whereas JTT evaluates unimanual tasks. Although the number of tasks in the adapted version of TEMPA and the JTT is quite similar, the TEMPA can be more time-consuming because it includes more complex tasks and because the functional rating and the quality of the performed tasks are also analyzed. The intra-rater reliability of the JTT was excellent, and the inter-rater reliability was higher than the inter-rater reliability reported by the videotape analysis of the Wolf Motor Function 18 (WMFT; ICC=0.97) and the Action Research Arm Test19 (ARAT; ICC=0.98). The internal consistency of the JTT scale was similar to that of the WMFT scale (α=0.92). However, the items “writing” and “picking up small objects” were slightly less consistent than the others. The relatively low level of education and the fact that most patients had lesions in the left hemisphere ( frequently associated with language disorders) might explain the results obtained in the item “writing a sentence”. The likely explanation for this finding is that this item reflects 380 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):377-81. not only dexterity but also language abilities. With regard to the item “picking up small objects”, the performance of more precise pinch movements, requiring higher levels of dexterity, may have contributed to the lower consistency of this item, compared to the others. There were no significant differences between the scores obtained in the item “writing a sentence” for the participants with lower and higher levels of education or in the participants performing the task with the paretic, dominant hand compared to those performing the test with the paretic, non-dominant hand. The sample size may have limited the statistical power to make these comparisons. Alternatively, the effect of impairment due to stroke on performance in this item may have had a greater magnitude than the effects of handedness or education. A limitation of this study is that the inter- and intra-rater reliability was based on the evaluation of videotapes by the raters. Rater 1 evaluated the participants in person and, for intra-rater reliability, watched the videotapes blinded to the previously scored results. Rater 2 evaluated only the videotapes. It is theoretically possible that reliability would be lower if the participants were not instructed in a standard manner, or if the scores were based on a less objective evaluation than on time to complete the tasks. The need to provide the same written instructions to patients and to follow the recommendations to position the participant and the objects cannot be overemphasized. Still, our results show that, if patients are taped while performing the JTT, reliable scores can be given by different raters and by the same rater on separate occasions. This information is important to plan rehabilitation trials. In other scales that are widely used in neurology studies, videotapes are often employed to train raters, as well as to check intra- and inter-rater reliability, and the results are sometimes not as good as those reported here. For instance, videotapes have been used in the certification of a widely used scale of neurological impairment in patients with stroke, the NIH stroke scale29 (NIHSS). The NIHSS is often used in research protocols and in clinical practice because the score in this scale is part of the criteria to perform intravenous thrombolysis in acute stroke patients30. Nevertheless, NIHSS overall scoring by analysis of videotapes by a large diverse sample of physicians has been shown to be inconsistent31. In contrast, inter-rater reliability based on the videotape analysis of the WMFT18 has been reported to be as high as that reported in the present study. The objects used in the test can be easily purchased, and the implementation of the JTT is inexpensive. The instructions are simple, straightforward, and expertise on administering Jebsen-Taylor test: psychometric properties the test is not time-consuming. Another important advantage of the JTT scale is the evaluation of movements related to ADLs, even though the WMFT includes some tasks that are commonly performed in daily living (such as turning a key in the lock, lifting a basket), other tasks (such as elbow extension, moving the hand to a box) are more laboratorybased23,24. In addition, the WMFT is more time-consuming than the JTT. The JTT has some limitations. The test rates speed, but does not rate different strategies of task performance. Different compensation mechanisms to position the upper limb during the JTT will not be reflected on the scores. Hence, it is important to provide appropriate instructions before starting the test and to ask patients not to change their strategy while being tested or, in clinical trials that use the JTT score as an endpoint, not to change strategies in follow-up evaluations. Furthermore, patients with moderate to severe functional impairment are often not testable with the JTT. Therefore, the test is appropriate to evaluate dexterity in patients with slight to moderate hand disability. The main advantage of the JTT is to provide an objective measure of hand function, employing functionally relevant tasks, with good intra- and inter-rater reliability. We conclude that the Brazilian Portuguese version of the JTT is an important scale in protocols that investigate the efficacy of rehabilitation interventions on upper extremity function in hemiparetic stroke patients. 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Catai1 Resumo Contextualização: A magnitude das respostas cardiovasculares depende dos componentes estático e dinâmico bem como da duração e intensidade da contração realizada. Objetivo: Avaliar as respostas da frequência cardíaca (FC) frente a diferentes percentuais de contração isométrica em 12 pacientes (63±11,6 anos; média±dp) com doença da artéria coronária e/ou fatores de risco para ela, participantes de um programa de reabilitação cardíaca fase III. Métodos: A variação da frequência cardíaca (ΔFC) foi avaliada durante as contrações voluntárias máximas (CVM; 5” e 10” de duração) e submáximas (CVSM; 30 e 60% da CVM-5, até exaustão muscular) de preensão palmar, utilizando-se um dinamômetro (hand grip). Adicionalmente, o RMSSD dos iR-R em ms (índice representante da modulação vagal cardíaca) foi calculado em repouso (pré-contração) nos últimos 30 segundos da CVSM e na recuperação (póscontração). Resultados: A ΔFC apresentou maiores valores em CVM-10 vs CVM-5 (17±5,5 vs 12±4,2 bpm, p<0,05) e no CVSM-60 vs CVSM-30 (19±5,8 vs 15±5,1 bpm, p<0,05). No entanto, os resultados para CVM-10 mostraram ΔFC similar quando comparados aos resultados obtidos para CVSM (p>0,05). RMSSD de repouso reduziu-se (p<0,05) durante a CVSM-30 (30%=29,9±17,1 vs 12,9±8,5ms) e CVSM-60 (60%=25,8±18,2 vs 9,96±4,2 ms), mas retornou aos valores basais quando a contração foi interrompida. Conclusões: Em pacientes com doença da artéria coronária e/ou fatores de risco para ela, a contração isométrica de baixa intensidade mantida por longos períodos de tempo apresenta os mesmos efeitos sobre as respostas da FC, quando comparada à contração isométrica de alta ou máxima intensidade, porém de breve duração. Palavras-chave: contração isométrica; frequência cardíaca; sistema nervoso autonômico; doenças cardiovasculares. Abstract Background: The magnitude of cardiovascular responses is dependent on the static and dynamic components as well as the duration and intensity of the contraction performed. Objective: To evaluate the heart rate responses to different percentages of isometric contractions in 12 patients (63±11.6 years) with coronary artery disease and/or risk factors for coronary artery disease that were participating in a phase III cardiac rehabilitation program. Methods: Heart rate variation (ΔHR) was evaluated during maximum (MVC, five and ten seconds in duration) and submaximal (SMVC, 30 and 60% of MVC-5, until muscle exhaustion) voluntary contraction, using a handgrip dynamometer. Additionally, the representative index of cardiac vagal modulation (RMSSD index) was calculated at rest (pre-contraction), at the final 30 seconds of SMVC and during recovery (post-contraction). Results: ΔHR showed higher values in MVC-10 versus MVC-5 (17±5.5 vs 12±4.2 bpm, p<0.05) and the SMVC-60 vs SMVC-30 (19±5.8 vs 15±5.1 bpm, p<0.05). However, results for CVM-10 showed similar ΔHR compared to results for CVSM (p> 0.05). RICVM at rest decreased (p<0.05) during SMVC-30 (30% = 27.9±17.1 vs 12.9±8.5 ms) and SMVC-60 (60% =25.8±18.2 vs 9.96±4.2 ms), but returned to the baseline values when the contraction was interrupted. Conclusions: In patients with coronary artery disease and/or risk factors for coronary heart disease, low intensity isometric contraction, maintained over long periods of time, presents the same effect on the responses of HR, compared to a high intensity or maximal isometric contraction of briefly duration. Key words: isometric contraction; heart rate; autonomic nervous system; cardiovascular diseases. Recebido: 05/05/2009 – Revisado: 23/11/2009 – Aceito: 21/12/2009 1 Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular, Núcleo de Pesquisa em Exercício Físico (NUPEF), Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil 2 Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil 3 Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Piracicaba (SP), Brasil Correspondência para: Aparecida Maria Catai, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Rodovia Washington Luís, Km 235, Bairro Monjolinho, CEP 13565-905, São Carlos (SP), Brasil, e-mail: [email protected] 383 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):383-9. Poliana H. Leite, Ruth C. Melo, Marcelo F. Mello, Ester da Silva, Audrey Borghi-Silva, Aparecida M. Catai Introdução Materiais e métodos Toda atividade física requer ajustes rápidos no sistema cardiovascular (SCV) para manter a homeostase circulatória1,2. A regulação da frequência cardíaca (FC) e a modulação de suas oscilações estão em grande parte na dependência do sistema nervoso autonômico (SNA) por meio da estimulação ou inibição dos seus eferentes, o sistema nervoso parassimpático (SNP), através do vago, e o sistema nervoso simpático (SNS)2. Está bem documentado que contrações isométricas causam aumento da FC, caracterizada por uma resposta inicial rápida, atribuída à inibição da modulação vagal sobre o nódulo sinusal (NSA). Isso ocorre nos 10 segundos iniciais do exercício2. Dependendo da intensidade da contração isométrica realizada e do seu tempo de manutenção, a FC mantém-se em elevação gradual, sendo que essa elevação é predominantemente devido à modulação simpática sobre o SNA2-7. Alguns estudos têm reportado que o ganho de força muscular e o treinamento de resistência são seguros para pacientes de baixo risco8-10. No entanto, é importante observar que esse tipo de treinamento inclui tanto exercício isotônico quanto isométrico, e a magnitude das respostas cardiovasculares depende dos componentes estático e dinâmico presentes bem como da duração e intensidade do exercício10. Sabendo-se que a contração isométrica provoca grande sobrecarga e aumenta a atividade simpática7,11, a prescrição de exercício exclusivamente isométrico deve ser evitada em programas de reabilitação cardiovascular9. No entanto, alguns estudos recentes têm relatado que o treinamento isométrico com hand grip modifica alguns fatores de risco cardiovascular (ou seja, reduz pressão arterial (PA), melhora a função endotelial e aumenta a variabilidade da FC) em pacientes com hipertensão arterial12,13. Assim, são necessários trabalhos que enfatizem as respostas cardiovasculares durante contrações isométricas em diferentes intensidades e durações para que possa haver subsídios quanto à prescrição adequada desse tipo de exercício para pacientes inseridos em programas de reabilitação cardiovascular. A hipótese deste trabalho é que a contração isométrica em 100% da contração voluntária máxima (CVM) (5” e 10”) incita menores respostas da FC que o percentual submáximo da CVM com duração maior. O objetivo do presente estudo foi avaliar as respostas da FC durante três contrações isométricas de diferentes intensidades em pacientes com doença da artéria coronária e/ou fatores de risco para ela. Doze homens (63±11,6 anos) com doença da artéria coronária e/ou fatores de risco para ela (Tabela 1) participaram do presente estudo. Todos os pacientes estavam envolvidos, há pelo menos seis meses, em um programa de reabilitação cardiovascular ( fase III), (60’/sessão, 3x/semana) predominantemente aeróbio, incluindo exercícios em esteira rolante e cicloergômetro, a uma intensidade entre 70 e 75% da FC atingida durante o teste ergométrico clínico. Os pacientes foram submetidos a exames clínico (inspeção geral, eletrocardiograma, (ECG) convencional), físico (teste ergométrico máximo e/ou sintoma limitado, realizado por cardiologista) e laboratoriais (colesterol total e frações, triglicerídeos, glicemia de jejum, hemograma completo, urina tipo 1 e ureia). Foram excluídos os pacientes que eram fumantes e tinham doenças osteomusculares. Todos foram informados dos procedimentos experimentais e, após concordarem, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido de participação no estudo, o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil, (parecer 071/2005). Todos os participantes foram avaliados no mesmo período do dia, considerando-se a influência do ciclo circadiano. Os experimentos foram realizados em uma sala climatizada, sendo a temperatura e a umidade relativa do ar mantidas a 22-23°C e 50-60%, respectivamente. Os testes foram feitos em dias não consecutivos, separados por um intervalo de cinco dias. Os pacientes foram previamente familiarizados com os procedimentos e os equipamentos a serem utilizados no estudo. Cada um foi orientado a evitar cafeína, bebidas alcoólicas e exercício físico e a manter a medicação em uso no dia antecedente e no dia dos experimentos. Antes do início dos testes, os indivíduos foram questionados sobre a ocorrência de uma noite normal de sono e, ainda, examinados para certificar-se de que as condições basais estavam dentro de limites de normalidade (PA≤130/85mmHg; FC: 60-80bpm)14. Durante os experimentos, a FC e os intervalos entre duas ondas R do ECG (iR-R) foram coletados batimento a batimento a partir da derivação MC5 por meio de um monitor cardíaco de um canal (TC–500, ECAFIX, São Paulo, SP, Brasil) acoplado a um conversor analógico digital Lab – PC + (National Instruments, Co, Austin, TX, USA), que constitui uma interface entre o monitor cardíaco e o microcomputador. A partir dela, o sinal analógico do ECG foi convertido em valores binários para o acesso ao microcomputador a uma taxa de amostragem de 500Hz que, por meio de um software específico15, permitia o posterior processamento e análise dos dados. 384 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):383-9. Resposta da frequência cardíaca durante exercício isométrico Previamente ao registro da FC, os indivíduos permaneceram em repouso (20’) para que houvesse estabilização da mesma. Depois, a FC e os iR-R foram obtidos durante o repouso pré-contração (60”); as contrações isométricas (5” e 10” para as máximas e até a exaustão muscular para as submáximas) e a recuperação pós-contração (120”) se deram com o paciente na posição sentada. Além disso, a pressão arterial (PA) foi aferida com um esfigmomanômetro de coluna de mercúrio antes e imediatamente após a contração muscular. As contrações isométricas foram realizadas utilizando-se um dinamômetro analógico de preensão palmar (Jamar® - Sammons Preston, INC Bolingbrook, IL, E.U.A.), com o paciente sentado em uma cadeira com encosto e apoio de antebraço regulável, de modo que o ângulo de flexão do antebraço se mantivesse a 90°. No primeiro dia de experimento, os pacientes realizaram duas séries de três CVMs, as quais foram aleatoriamente sustentadas durante 5 (CVM-5) e 10 (CVM-10) segundos. No segundo dia de experimento, os pacientes foram orientados a manter uma contração a 30% (CVSM-30) e 60% (CVSM-60) do CVM -5, em uma ordem aleatorizada por sorteio, até exaustão muscular. Em ambos os dias dos testes, os pacientes descansaram por um período de 3 minutos ou até o retorno da FC perto dos níveis basais. Além disso, eles foram instruídos a manterem a respiração espontânea e a evitarem a realização da manobra de Valsalva conjuntamente ao exercício. As respostas cardiovasculares para a contração isométrica foram avaliadas pela diferença entre a FC pico (maior valor observado antes do final de contração) e FC de repouso (précontração). A duração da contração voluntária submáxima (CVSM) não foi pré-determinada, ou seja, os pacientes mantiveram a contração muscular até a exaustão, o RMSSD (raiz quadrada da somatória do quadrado das diferenças entre os iR-R em ms no registro dividida pelo número dos iR-R em ms em um tempo determinado menos um) foi também calculado durante a CVSM-30, sendo que o trecho de análise foi escolhido com base no tempo de exaustão individual observado para a CVSM-60. Além disso, a modulação autonômica da FC foi avaliada durante o repouso (pré-contração) nos 30 segundos antecedentes ao final da contração e nos primeiros segundos do período de recuperação. Para análise dos dados, a CVSM a 30% (30% da CVM, considerando-se 5”) foi subdividida em CVSM-30%A= valor calculado com base no tempo de exaustão a CVSM a 60% e CVSM-30%B= valor calculado com base no tempo de exaustão a CVSM a 30%. Análise estatística Os dados estão apresentados em média ± DP. As diferenças de FC e RMSSD entre todas as contrações estudadas foram comparadas pela análise de variância de uma via (ANOVA) para medidas repetidas. Os valores da PA pré e pós-contração foram comparados pelo test-t de Student. O nível de significância foi fixado em p<0,05. Resultados Na Tabela 1, estão apresentadas as características dos pacientes, o diagnóstico clínico e os medicamentos em uso. Não foram encontradas diferenças para a FC de repouso em todas as contrações estudadas (Tabela 2). Em relação a FC pico, a CVSM-30%A, determinada com base no tempo de esgotamento muscular da CVSM-60, apresentou o menor valor comparativamente às demais contrações (p<0,05) (Tabela 2). Além disso, a CVM-5 apresentou FC pico significativamente inferior à CVSM-60 (p<0,05) (Tabela 2). Considerando a ΔFC, a CVSM-30%A produziu a menor resposta cardiovascular (p<0,05) em relação às demais contrações, enquanto a CVSM-60 apresentou maior ΔFC nas contrações estudadas (com exceção da CVM-10). Já para a CVSM-30%B, na qual a ΔFC foi calculada considerando-se a exaustão muscular, observou-se ΔFC similar às CVM-5 e CVM-10 (Tabela 2, Figura 1). Na condição de repouso, não foram observadas diferenças estatísticas para o índice RMSSD das CVSM-30 e CVSM-60. Como esperado, o índice RMSSD reduziu-se durante a contração isométrica, atingindo significância estatística (p<0,05), exceto para a CVSM-30%A. Além disso, quando esse índice foi calculado, considerando-se o tempo de exaustão Tabela 1. Características dos pacientes. Características Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC (Kg/m2) Diagnósticos clínicos Hipertensão arterial DAC DAC + RM Infarto do miocárdio Dislipidemias Medicações β-bloqueadores Diuréticos Vasodilatadores Bloqueadores de canais de cálcio Hipolipemiante Aspirina Antiarrítmico n=12 63±11,6 82,2±14,6 1,70±0,1 25,4±9,9 7 (58%) 1 (8%) 4 (33%) 2 (17%) 6 (50%) 3 (25%) 8 (66%) 4 (33%) 1 (8%) 6 (50%) 6 (50%) 1 (8%) IMC=índice de massa corpórea; DAC=doença arterial coronariana; RM=revascularização do miocárdio. 385 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):383-9. Poliana H. Leite, Ruth C. Melo, Marcelo F. Mello, Ester da Silva, Audrey Borghi-Silva, Aparecida M. Catai Tabela 2. Contrações isométricas. CVM Tempo (seg) Intensidade (%) FCrepouso (bpm) FCpico (bpm) ΔFC (bpm) RMSSD (ms) Repouso Exercício Recuperação Força (Kgf) PAS (mmHg) Repouso Recuperação PAD (mmHg) Repouso Recuperação 5 5 100 61±9,1 73±10,2 12±4,2 10 10 100 60±9,7 77±12,7 17±5,5† 30%A 69±13,8 30 61±8,7 67±10,6* 6±3,9* CVSM 30%B 198±58,0 30 61±9,0 76±11,1 15±5,1 60% 69±13,8 60 61±8,7 79±12,4† 19±5,8†§ 37,9±7,1 35,4±5,3 27,9±17,1 16,8±11,5 27,6±19,1 12,7±2,3 27,9±17,1 12,9±8,5+ 27,6±19,1 12,7±2,3 25,8±18,2 9,96±4,2+‡ 28,9±10,6 23,2±4,1 120,4±6,3 129,2±11,3+ 120,4±6,3 128,3±12,9+ 120,0±12,9 - 120,0±12,9 127,9±12,3+ 120,0±12,9 129,2±10,6+ 80,4±4,8 85,0±6,8+ 80,4±4,8 86,7±7,2+ 79,6±9,3 - 79,6±9,3 80,8±9,3 79,6±9,3 82,1±10,0 Valores apresentados em média±dp. FC=frequência cardíaca; PAS=pressão arterial sistólica; PAD=pressão arterial diastólica; CVM=contração voluntária máxima; CVSM=contração voluntária submáxima; 30=intensidade a 30% de CVM (5”); A=valor calculado baseado no tempo de exaustão da CVSM a 60%; B=valor calculado baseado no tempo de exaustão da CVSM a 30%; 60=intensidade a 60% de CVM; *p<0,05 vs. todas as contrações estudadas; †p<0,05 vs. CVM-5; §p<0,05 vs. CVSM-30%B; +p<0,05 vs. condições de repouso e recuperação (quando aplicado); ‡p<0,05 vs. CVSM-30%A. A=valor calculado baseado no tempo de exaustão da CVSM a 60%; B=valor calculado baseado no tempo de exaustão da CVSM a 30%; *p<0,05 vs. CVM-5 †p<0,05 vs. todas as contrações estudadas; §p<0,05 vs. CVSM-30%B. Figura 1. Variação da frequência cardíaca durante as contrações voluntárias máximas (CVM) e submáximas (CVSM). da CVSM-60, menor valor de RMSSD foi observado para a CVSM-60 comparativamente à CVSM-30%A (p<0,05). No período de recuperação, após a contração, os valores de RMSSD foram similares para ambas as intensidades testadas (p>0,05) (Tabela 2, Figura 2). Os valores de pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD), medidos nos primeiros segundos do período de recuperação, foram maiores em comparação aos valores de repouso (p<0,05), exceto as CVSMs, que apresentaram valores similares de PAD (p>0,05) entre os períodos de repouso e recuperação (Tabela 2). 386 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):383-9. A=valor calculado baseado no tempo de exaustão da CVSM a 60%; B=valor calculado baseado no tempo de exaustão da CVSM a 30%; *p<0,05 vs. condições de repouso e recuperação; †p<0,05 vs. CVSM-30%A. Figura 2. Modulação autonômica da frequência cardíaca por meio do índice RMSSD dos intervalos R-R em ms, avaliada durante o repouso, as contrações voluntárias submáximas (CVSM) e a recuperação. Discussão O presente estudo investigou a resposta da FC, durante contrações isométricas, com diferentes intensidades e durações, de pacientes com doença cardiovascular e/ou fatores de risco cardiovascular. A magnitude das respostas cardiovasculares, avaliadas pela ΔFC e índice RMSSD dos iR-R em ms, mostrou-se dependente da intensidade e duração das contrações isométricas. Assim, com uma contração isométrica de baixa intensidade, mantida por longos períodos de tempo, observaram-se efeitos sobre as respostas da FC semelhantes Resposta da frequência cardíaca durante exercício isométrico aos de uma contração de alta intensidade ou máxima, mantida por curto período de tempo. O sistema cardiovascular tem um papel importante na manutenção da homeostase. Durante a realização de um exercício físico, ocorrem ajustes hemodinâmicos que permitem a distribuição adequada do fluxo sanguíneo e substratos para os músculos em atividade. Além disso, a magnitude desses ajustes parece ser dependente das características do exercício2,16. O exercício isométrico promove um aumento significativo da FC, PA e resistência vascular periférica11, sendo que os mecanismos responsáveis por essas respostas são de natureza central e periférica1,11,16,17. O mecanismo central ativa circuitos neuronais no SNC para modificar as atividades do simpático e parassimpático, consequentemente determinando algumas respostas cardiovasculares1. Ainda, evidências provenientes de registros eletromiográficos mostram que a ativação de mais unidades motoras de fibras musculares recrutadas durante uma contração está relacionada com o mecanismo neural de comando central, o qual determina mudanças imediatas no nível de atividade eferente dos SNS e SNP, atuantes sobre o coração, e do SNS, atuante nos vasos sanguíneos17,18. Além disso, o mecanismo neural reflexo, relacionado às atividades mecânica e metabólica do músculo em contração, também determina o nível de atividade autonômica sobre o sistema cardiocirculatório. Impulsos neurais relacionados à atividade mecânica são transmitidos inicialmente pelos receptores musculares por meio de fibras aferentes do grupo III e IV e alcançam áreas de controle cardiovascular quase que simultaneamente aos impulsos neurais do comando central4,19,20. Os impulsos neurais relacionados à atividade metabólica do músculo são transmitidos primariamente pelas fibras musculares aferentes do grupo IV e alcançam a área de controle vascular com retardo de alguns segundos17,21,22. Os receptores musculares aferentes dos grupos III e IV são divididos em ergoceptores (grupo III), os quais são ativados pela contração muscular, e nociceptores (grupo IV), ativados por estímulos que são responsáveis pela sensação de dor muscular20,23. Assim, a redução no aporte de oxigênio aos músculos ativos, que é causada por uma obstrução mecânica dos vasos sanguíneos durante a contração isométrica de alta intensidade, provoca um aumento no acúmulo de metabólitos no tecido muscular e, consequentemente, estimula o reflexo pressor do exercício19. A elevação da FC ocorre abruptamente no início do exercício isométrico, sendo que a sua magnitude parece estar diretamente relacionada com níveis de tensão muscular2,24. Essa elevação inicial da FC, que ocorre dentro dos primeiros segundos de contração (5” a 30”), também está relacionada à intensidade do exercício e é atribuída à retirada da modulação vagal sobre o NSA. No entanto, se o exercício é mantido até a exaustão, a FC vai aumentar gradualmente devido ao aumento da modulação simpática sobre o coração2,7,21. No presente estudo, foi possível observar que o incremento rápido da FC, avaliado pela ΔFC, para a mesma tensão (CVM), está na dependência do tempo em que a contração é mantida. Portanto, os presentes resultados são concordantes com os autores supracitados, pois a CVM mantida durante 5 segundos não pode ter sido longa o suficiente para promover a máxima retirada vagal. Iellamo et al.7 avaliaram o controle autonômico da FC em indivíduos jovens por meio da análise no domínio da frequência durante 4 minutos de contração isométrica de extensão do joelho (30% da CVM). Os autores observaram redução da modulação vagal e aumento da modulação simpática cardíaca, o que sugere a participação do componente simpático na regulação da FC durante exercícios de baixa intensidade e longa duração. Embora Stewart et al.25 tenham demonstrado diminuição da modulação vagal durante o exercício de hand grip (35% CVM) em indivíduos jovens, eles não foram capazes de reproduzir os mesmos resultados de Iellamo et al.7. Por outro lado, os autores observaram redução da modulação simpática no primeiro minuto de exercício e seu retorno para valores basais préexercício. Como Stewart et al.25 utilizaram apenas períodos de 1 minuto para analisar a variabilidade da FC, é possível que a modulação simpática tenha sido subestimada, o que explicaria parte da divergência entre os resultados dos dois trabalhos acima discutidos. Neste estudo, os pacientes não foram capazes de manter, na CVSM, o período de tempo necessário para realizar análise da VFC no domínio da frequência (30%=3 minutos e 60%=1 minuto, aproximadamente) já que ela requer, no mínimo, 4-5 minutos de coleta e, ainda, que o sinal ECG esteja estável26. Neste contexto, o controle autonômico da FC foi avaliado somente pelo índice RMSSD dos iR-R em ms (domínio do tempo), o qual representa o componente oscilatório rápido, isto é, a modulação vagal responsável pela variação entre os ciclos cardíacos. Como o índice RMSSD dos iR-R em ms diminuiu durante a contração isométrica para ambas as intensidades submáximas estudadas, os presentes resultados concordam, em parte, com os de Iellamo et al.7 e Stewart et al.25. No entanto, nada pode ser afirmado sobre a modulação simpática durante a contração isométrica a partir desses resultados. A literatura tem relatado que a magnitude da resposta da FC durante o exercício isométrico está relacionada com a massa muscular, tensão e duração desenvolvidas durante a contração17,27. No presente trabalho, procurou-se estudar o efeito de diferentes intensidades e tempos de contração sobre a resposta da FC. Sendo assim, o protocolo utilizado testou apenas um grupamento muscular (preensores palmares) em um ângulo de atuação, ou seja, mesmo comprimento 387 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):383-9. Poliana H. Leite, Ruth C. Melo, Marcelo F. Mello, Ester da Silva, Audrey Borghi-Silva, Aparecida M. Catai muscular já que o punho se encontrava em posição neutra. Nessas condições, a FC mostrou ser influenciada pelo tempo e intensidade da contração isométrica, pois esforços máximos de curta duração produziram respostas semelhantes a esforços submáximos sustentados. Além disso, o efeito do tempo foi mostrado quando a ΔFC foi comparada na mesma intensidade (CVSM-30%A vs CVSM-30%B), mas com duração diferente (69” vs 198”). No presente estudo, os pacientes apresentaram respostas cardiovasculares adequadas ao exercício isométrico, e nenhum apresentou sinais ou sintomas que exigissem a interrupção do exercício. Ressalta-se que, previamente ao início do protocolo experimental, todos foram submetidos a teste ergométrico clínico e, além disso, já participavam do treinamento físico aeróbio há pelo menos 6 meses, portanto apresentavam capacidade aeróbia adequada e, ainda, estavam em uso de medicamentos específicos. Assim, a prescrição de exercícios isométricos parece ser promissora e segura para pacientes de baixo risco, ou seja, aqueles com boa capacidade funcional, hipertensão arterial controlada, sem evidência de isquemia miocárdica de repouso ou induzida pelo esforço, sem grave disfunção ventricular esquerda ou arritmias ventriculares complexas, que são as características dos pacientes do presente trabalho, engajados em programas de reabilitação cardiovascular ( fase III), desde que sejam devidamente avaliados e instruídos durante a realização desse tipo de exercício. As respostas da PA também estão diretamente relacionadas com a duração da contração isométrica. No entanto, a avaliação da PA durante a CVM não pôde ser realizada devido à limitação do tempo de execução e à indisponibilidade de equipamento para verificação contínua não-invasiva da PA durante o exercício; quanto à CVSM, o tempo variável de realização entre os voluntários não permitiu coletar os dados de PA de forma padronizada, razão pela qual não são apresentados neste manuscrito. Assim, padronizou-se avaliar as respostas de PA imediatamente após a interrupção das contrações (CVM e CVSM), sendo que os valores de PAS mostraram-se elevados em relação aos valores de repouso. Para encaminhamentos futuros, seria interessante avaliar a PA durante a contração isométrica, o que poderia trazer contribuições adicionais. De forma geral, em pacientes com doenças cardiovasculares e/ou fatores de risco cardiovascular, a resposta da FC e seu 388 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):383-9. controle autonômico parecem ser dependentes da intensidade e duração das contrações isométricas. Além disso, todos os pacientes estudados apresentaram adequadas respostas de FC durante o exercício, sugerindo que ele pode ser prescrito na reabilitação cardiovascular em caso de doentes de baixo risco, cuidadosamente selecionados e orientados e com características semelhantes aos dos pacientes do presente estudo. Ressalta-se ainda que alguns participantes (n=3) faziam uso de medicamentos que afetam diretamente as respostas da FC (por exemplo, betabloqueadores). Como os betabloqueadores são bastante utilizados no tratamento de pacientes com doença da artéria coronária estável, hipertensão arterial e insuficiência cardíaca28,29, principalmente devido ao seu efeito positivo sobre o prognóstico deles, na prática clínica, é muito comum encontrar pacientes na fase III da reabilitação cardiovascular em uso de betabloqueadores associados a outros medicamentos. Portanto, os resultados do presente trabalho devem ser interpretados com cautela e não devem ser transferidos para todos os tipos de população e/ou pacientes. Em conclusão, nos pacientes estudados, os resultados mostraram que a contração isométrica de baixa intensidade, mantida ao longo de grandes períodos de tempo, apresenta os mesmos efeitos sobre as respostas da FC que uma contração isométrica de alta ou máxima intensidade, porém de breve duração. Considerando-se que a resposta da PA está diretamente relacionada com o exercício isométrico, sua avaliação traria informações relevantes e complementares a este estudo. Para encaminhamentos futuros, seria interessante: a) avaliar a PA de forma contínua não-invasiva durante a contração isométrica; b) avaliar o efeito crônico do treinamento isométrico em pacientes de baixo risco e c) trabalhar conjuntamente com um grupo controle. Agradecimentos Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq - 309312/2009-4) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP - 05/54838-9). Resposta da frequência cardíaca durante exercício isométrico Referências bibliográficas 1. Williamson JW, Fadel PJ, Mitchell JH. New insights into central cardiovascular control during exercise in humans: a central command update. Exp Physiol. 2006;91(1):51-8. 15. Silva E, Catai AM, Trevelin LC, Guimaraes JO, Silva Jr LP, Silva LMP, et al. Design of computerized system to evaluate the cardiac function during dynamic exercise. Phys Med Biol. 1984;33:409. 2. Freeman JV, Dewey FE, Hadley DM, Myers J, Froelicher VF. Autonomic nervous system interaction with the cardiovascular system during exercise. Prog Cardiovasc Dis. 2006;48(5):342-62. 16. Iellamo F. Neural mechanisms of cardiovascular regulation during exercise. Auton Neurosci. 2001;90(1-2):66-75. 3. 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ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 390-5, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Efeito do exercício físico na percepção de satisfação de vida e função imunológica em pacientes infectados pelo HIV: Ensaio clínico não randomizado Effects of physical exercise in the perception of life satisfaction and immunological function in HIV-infected patients: Non-randomized clinical trial Rodrigo D. Gomes1, Juliana P. Borges1, Dirce B. Lima2, Paulo T. V. Farinatti1,3 Resumo Contextualização: Os estudos sobre a relação entre prática de exercícios e bem-estar psicológico de pacientes com vírus da imunodeficiência humana (HIV) são raros. Objetivo: Investigar a influência de programa de condicionamento físico sobre a satisfação com a própria vida e sobre a função imunológica. Métodos: Para tal análise, 29 pacientes soropositivos (idade: 45±2 anos; índice de massa corporal (IMC): 22,8±1,0 kg/m2; TCD4: 20,5±2,0%), foram divididos em grupo controle (GC, n=10) e grupo experimental (GE, n=19). O GE participou durante 12 semanas de programa de exercícios que combinavam exercícios aeróbios, força e flexibilidade (três vezes/semana; aeróbio-30min: carga em watts equivalente a 150bpm-PWC150; força-50min: três séries de 12 repetições em cinco exercícios a 60-80% 12 RM; flexibilidade-10min: duas séries de 30s na máxima amplitude em oito exercícios). A função imunológica foi avaliada por contagem absoluta e relativa das células TCD4 (citometria de fluxo),e a satisfação de vida, por meio do Índice de Satisfação de Vida (ISV). Resultados: A análise de variância (ANOVA) não identificou alteração significativa para os linfócitos TCD4 em ambos os grupos, apesar da tendência à elevação no GE (16%, p=0,19). Houve melhora significativa no ISV (≈15%, P<0,05) para o GE, mas não para o GC. Conclusão: Um programa de condicionamento físico de intensidade moderada melhorou a percepção de satisfação de vida dos pacientes com HIV observados, sem acarretar prejuízos imunológicos. Artigo registrado no Australian New Zealand Clinical Trials Registry sob o número ACTRN12610000683033. Palavras-chave: atividade física; AIDS; aptidão física; saúde; HIV. Abstract Background: There is a lack of research about the relationship between exercise and the psychological well-being of HIV-infected (Human Immunodeficiency Virus) patients. Objective: The objective of this study was to investigate the influence of a physical training program on life satisfaction and on the immunological function in HIV-patients. Methods: A total of 29 HIV-seropositive patients [age: 45±2 yrs; Body Mass Index (BMI): 22.8±1.0 kg/m2; TCD4: 20.5±2.0%] were allocated to the control (CG, n=10) and to the experimental groups (EG, n=19). The EG participated in an exercise program combining aerobic, strength, and flexibility exercises for a period of 12 weeks [3 times/week of 30 min of aerobic exercise (workload corresponding to 150 bpm-PWC150); 50 min of strength exercises (3 sets of 12 repetitions in 5 exercises at 60-80% 12 RM); and 10 min of flexibility exercises (2 sets of 30 seconds at maximal range of motion of 8 exercises)]. The immunological function was assessed by flow citometry [absolute and relative TCD4 cells counting] and the life satisfaction was assessed by the Life Satisfaction Index (LSI). Results: The analysis of variance (ANOVA) showed no significant differences for relative and absolute CD4 T counts for both groups, however, a slight enhancement trend in the EG [16%, p=0.19] was observed. There was a significant improvement of LSI [approximately 15%; P<0.05] in EG, but not for CG. Conclusion: A physical activity program of moderate intensity improved life satisfaction perception in HIV-infected patients with no immunological function impairment. Article registered in the Australian New Zealand Clinical Trials Registry under the number ACTRN12610000683033. Key words: physical activity; AIDS; physical fitness; health; HIV. Recebido: 20/05/2009 – Revisado: 17/11/2009 – Aceito: 23/02/2010 1 Instituto de Educação Física e Desportos, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro (RJ), Brasil 2 Departamento de Medicina Interna, UERJ. 3 Programa de Pós Graduação em Ciências da Atividade Física, Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Rio de Janeiro (RJ), Brasil Correspondência para: Paulo de Tarso Veras Farinatti, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, sala 8133, Bloco F, Maracanã, CEP 20550-013, Rio de Janeiro (RJ), Brasil, e-mail: [email protected] ou [email protected] 390 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):390-5. Exercício, satisfação de vida e função imune em soropositivos Introdução O advento da terapia antirretroviral de alta atividade (HAART) proporcionou o aumento da expectativa de vida dos pacientes1,2, de forma que hoje a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) tem um novo prognóstico. De certa forma, a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) assumiu o perfil de doença crônica, abrindo espaço para intervenções não medicamentosas, dentre elas, o exercício físico3,4, para manutenção da funcionalidade e qualidade de vida por muitos anos. Com isso, a manutenção da aptidão física e funcional tornou-se um dos objetivos prioritários do tratamento de pacientes com HIV/AIDS, notadamente quando há diagnóstico de síndrome de ‘Wasting’, com perda pronunciada da massa muscular5. Por outro lado, indivíduos infectados pelo HIV são confrontados com múltiplos estressores psicossociais que, em último caso, podem acelerar a progressão da doença. Essas condições podem estar relacionadas ao diagnóstico da infecção ou à natureza incontrolável de eventos associados à doença6, mas também à diminuição da funcionalidade associada a prejuízos na capacidade física de forma geral7. Desse modo, ainda que a expectativa de vida tenha aumentado, os problemas psicológicos parecem continuar a afetar indivíduos soropositivos, com prejuízos à sua qualidade de vida8. Nesse contexto, há evidências de que a saúde mental também pode ser favorecida pela realização regular de atividades físicas. Assim, a prática regular de exercícios pode ser uma estratégia interessante de combate a problemas psicológicos associados à infecção pelo HIV. Alguns estudos vêm demonstrando que indivíduos engajados em um programa de treinamento de força ou aeróbio podem apresentar melhora do bem-estar9, além de diminuição dos sintomas de depressão10. Apesar disso, percebe-se que o aspecto psicológico vem sendo negligenciado pelas investigações sobre as relações entre a prática de atividades físicas e a infecção pelo HIV. De fato, há poucos estudos sobre o tema, principalmente após o advento da terapia antirretroviral de alta atividade. Estudos nesse sentido seriam relevantes, uma vez que os efeitos colaterais dos medicamentos antirretrovirais também podem resultar em distúrbios psicológicos. Logo, é importante conhecer mais sobre o impacto de programas regulares de exercícios físicos sobre a condição geral do paciente portador do HIV. Idealmente, a prática de atividades físicas deveria induzir adaptações favoráveis no plano da funcionalidade e da percepção de bem-estar sem, contudo, acarretar impacto negativo sobre a sua condição clínica, especialmente a função imunológica. Assim, o presente estudo verificou a influência de um programa de condicionamento físico sobre o bem-estar psicológico de indivíduos soropositivos. Testou-se a hipótese de que portadores do HIV engajados em programa supervisionado de exercícios tenderiam a exibir modificações mais favoráveis na percepção de sua qualidade de vida em comparação com sujeitos sedentários, ainda que sob tratamento com HAART. Adicionalmente, comparou-se a função imunológica de ambos os grupos por meio da contagem de células TCD4 em sujeitos ativos e sedentários. Materiais e Métodos Amostragem A amostra foi composta por 29 pacientes portadores de HIV, com idade média de 45±2 anos (índice de massa corporal (IMC): 22,8±1,0 kg/m2; TCD4: 20,5±2,0%), todos acompanhados por médicos assistentes. Os sujeitos foram divididos em dois grupos: experimental (GE, n=19; 12 homens e 7 mulheres), que participou do programa de exercícios, e controle (GC, n=10; 5 homens e 5 mulheres), que manteve suas atividades habituais. Todos os participantes do estudo assinaram termo de consentimento livre e esclarecido e o protocolo experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro (RJ), Brasil (Processo nº 1942-CEP). Por razões éticas, a divisão dos grupos não foi aleatória: o GE foi composto pelos indivíduos que apresentavam disponibilidade para participar das sessões de treinamento. Já o GC contou com sujeitos que se evadiram do programa, selecionados entre aqueles que estiveram presentes em menos de 25% do total de sessões, e de pessoas que aguardavam em fila de espera para participarem das atividades. Para serem incluídos no estudo, os sujeitos não poderiam ter apresentado quadro de doenças oportunistas até, pelo menos, três meses antes do início do treinamento e deveriam fazer uso de medicamentos antirretrovirais. Além disso, não deveriam ter praticado exercícios físicos com regularidade até, pelo menos, seis meses antes do início do treinamento. Não houve desistências em ambos os grupos ao longo da aplicação do protocolo experimental. Protocolo de treinamento O programa de exercícios incluiu atividades aeróbias, de força e flexibilidade, com frequência de três vezes por semana (em dias alternados), durante 12 semanas. As sessões de treinamento consistiam em 30 min de exercício aeróbio (esteira ou bicicleta), com intensidade que não poderia ultrapassar a frequência cardíaca de 150 bpm (physical work capacity-PWC 150), a fim de evitar possível imunodepressão induzida por intensidade elevada11,12. A seguir, realizava-se uma sequência de exercícios de força: leg press, levantamento supino horizontal, extensão de joelhos na cadeira extensora, remada baixa (pegada supinada) e flexão abdominal parcial. Foram executadas, em todos os exercícios, três séries de 391 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):390-5. Rodrigo D. Gomes, Juliana P. Borges, Dirce B. Lima, Paulo T. V. Farinatti 12 repetições com carga de 60% a 80% daquela associada a 12 repetições máximas (RM). As cargas de trabalho utilizadas foram estipuladas com base em testes de 12RM realizados a cada duas semanas, de forma que a carga evoluísse progressivamente. Nesses testes, os voluntários executavam 12 repetições do exercício com a maior carga possível selecionada até que não fosse mais viável a realização do movimento sem ajuda externa. Ao final de cada sessão, eram realizados oito exercícios visando ao aumento da flexibilidade de grandes articulações (tronco, quadril, joelho, ombro e cotovelo), com manutenção da máxima amplitude de movimentos em três séries de 30s para cada posição. Contagem das células TCD4 Para verificar possível comprometimento imunológico em função do exercício, foi feita a quantificação dos linfócitos TCD4, principal marcador de progressão da doença. Para a determinação da contagem absoluta e relativa das células TCD4, uma pequena amostra de sangue (450μL) foi retirada de uma veia periférica do braço (EDTA vacutainer tubes, Becton-DickinsonTM, San Jose, CA, USA) de preferência e imediatamente analisada por citometria de fluxo (BD FACSArrayTM, Franklin Lakes, NJ, USA), aplicada por ser considerada padrão-ouro para contagem de células TCD413. A contagem foi feita com anticorpos monoclonais específicos (T CD3+CD4+), isotiocianato de fluoresceína (FITC) e anticorpos monoclonais conjugados à fluoresceína (PE) (Becton DickinsonTM Immunocytometry Systems, San Jose, CA, USA). Os anticorpos eram fixados, e as estruturas específicas da superfície das células TCD4 identificadas por meio de detecção baseada em fluorescência. Todas as medidas foram feitas em ambiente hospitalar, no mesmo horário do dia. A fim de evitar efeitos agudos do exercício sobre os resultados, as amostras de sangue eram coletadas após, pelo menos, 48 horas decorrentes da última sessão de exercícios. Os pacientes eram instruídos a não ingerir álcool e cafeína nas 24 horas precedentes. Os exames foram realizados de acordo com o sistema duplo-cego, em que os técnicos responsáveis não sabiam quais indivíduos faziam parte do GE ou GC. Tabela 1. Contagem de células T CD4 (absoluta e percentual) e Índice de Satisfação de Vida (ISV) antes e após o treinamento físico no GE e no GC. Grupo experimental (GE) Grupo controle (GC) 46±3 (n=19) 43±5 (n=10) Antes Depois Δ% Antes Depois Δ% T CD4, cel/mm³ 503,9±55,0 565,6±72,1 12,3 462,2±39,7 398,1±69,4 -13,9 T CD4, % 20,3±2,1 23,5±2,0 15,8 20,8±4,0 21,7±3,5 4,3 ISV 25±7 28±4 ¥ 15,1 28±5* 28±5 1,8 Idade, anos ¥: diferença significativa em relação à linha de base (p=0,002); *: diferença significativa em relação ao GE (P=0,03). TCD4 (absoluto e relativo) (média±dp). ISV (mediana±diferença interquartil). 392 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):390-5. Índice de satisfação de vida O nível de satisfação de vida foi apreciado com auxílio de instrumento previamente validado para avaliação do nível de satisfação de vida, o Índice de Satisfação de Vida (ISV) (Life Satisfaction Index)14,15. Trata-se de um formulário preenchido pelo próprio avaliado para a mensuração do seu bem-estar psicológico. De acordo com o preenchimento, é atribuída uma pontuação que pode variar de 0 a 40 – quão maior a pontuação, melhor a percepção de satisfação com a própria realidade. A validade e a fidedignidade do ISV do tipo A (Life Satisfaction Index A – LSI-A) foram ratificadas em diversas situações e populações16-18. O formulário pretende identificar cinco componentes (disposição, resolução, relação entre objetivos almejados e alcançados, auto-conceito positivo e estado de espírito) do que se entende como fatores que contribuem para o sujeito sentir-se satisfeito com sua existência presente. Da mesma forma que a citometria de fluxo, a aferição do ISV também foi feita em protocolo duplo-cego, por avaliadores com experiência na aplicação do questionário. Análise estatística Após verificação dos pressupostos de normalidade e homocedasticidade, a análise de variância (ANOVA) de duas entradas foi usada para testar diferenças significativas entre os grupos para as células TCD4, seguida de verificação post-hoc de Fisher, quando necessário. Diferenças para o ISV obtidas por questionário foram verificadas por meio do teste de Friedman, com posterior aplicação do teste de Wilcoxon a título de verificação post-hoc. Em todas as situações, o nível de significância foi fixado em p<0,05. O software STATISTICA 6.0 foi utilizado para todas as análises (StatsoftTM, OK, USA). Resultados Os effect-sizes associados à variação entre as medidas pré e pós-treinamento, considerando as amostras respectivas para GC e GE, flutuaram entre 2,13 e 2,94 (IC95% 1,32-3,25). Uma verificação post-hoc da adequação do tamanho amostral para as comparações intra e intergrupos com medidas repetidas (GPower 3.0.10, Kiel, Alemanha), considerando P≤0,05 e a faixa de effect-sizes calculada, revelaram que a potência estatística (1-beta) variou entre 0,80 e 0,85, o que foi considerado satisfatório. A Tabela 1 apresenta a estatística descritiva e os resultados da ANOVA para as células TCD4 e para o ISV. Não houve alterações significativas para os níveis dos linfócitos TCD4 em ambos os grupos, apesar da nítida tendência de aumento de contagem de células no GE, cuja variação percentual positiva para a contagem Exercício, satisfação de vida e função imune em soropositivos absoluta ultrapassou os 12% (P=0,39), enquanto no GC diminuiu aproximadamente 14% (P=0,49). Na contagem relativa, o GE teve incremento de 16% (P=0,19), enquanto, no GC, a variação foi de apenas 2% (P=0,67). Por outro lado, observaram-se melhoras estatisticamente significativas para o GE no tocante ao ISV (≈15%; P=0,002), mas não para o GC (P=0,39). De fato, a percepção de satisfação de vida no GE, inicialmente inferior àquela do GC (P=0,03), evoluiu positivamente ao ponto de, no final do experimento, ambos os grupos exibiram escores similares (P=0,56). Discussão O presente estudo propôs-se a investigar o efeito de um programa de condicionamento físico na função imunológica e no bem-estar psicológico de indivíduos soropositivos. Os resultados indicaram que, no mínimo, o programa de exercícios não acarretou prejuízo na função imunológica, promovendo, de outra parte, melhora significativa na percepção da satisfação de vida nos indivíduos que participaram das atividades físicas. Duas limitações dos métodos aplicados devem ser apontadas. Em primeiro lugar, deve-se reconhecer que a amostragem não foi randomizada, tampouco a alocação de pacientes no GC. Desse modo, não foi possível parear os grupos na linha de base em relação às variáveis observadas, notadamente o resultado para o questionário do ISV. No entanto, não havia como justificar, no plano ético, excluir do programa de exercícios pacientes que tinham interesse e condições de realizá-lo, portanto beneficiando-se de seus efeitos. Não houve cálculo amostral prévio em função das características do paciente portador do HIV. Sabe-se que é difícil formar grandes grupos com esse tipo de paciente, pois a chance de evasão por problemas clínicos é importante. Além disso, trata-se de pacientes que nem sempre querem ter divulgada a sua condição. Por essa razão, a maior parte dos estudos disponíveis sobre as relações entre AIDS e exercício trabalhou com amostras pequenas, como é o caso de Souza et al.5 (14 experimentais, sem GC), Dolan et al.19 (40 experimentais em programa domiciliar, sem GC), Driscoll et al.20 (11 experimentais e 14 controles), Roubenoff e Wilson21 (6 experimentais e 19 controles), MacArthur, Levine e Birk22 (3 experimentais e 3 controles), Rigsby et al.23 (19 experimentais, sem GC) ou Spence et al.24 (24 experimentais e 12 controles). Este estudo, portanto, tem amostra compatível com aquelas de outros estudos experimentais similares, em que o GC tem um menor número de participantes que o GE, e muitos não apresentam GC. Por outro lado, essa diferença não chegou a comprometer os pressupostos de homocedasticidade e esfericidade necessários para a aplicação da ANOVA. Nota-se que, mesmo com essa limitação, o cálculo amostral confirmatório indicou uma potência estatística satisfatória (>0,80) nos cálculos efetuados. A segunda limitação diz respeito ao estabelecimento da intensidade de trabalho aeróbio com base na carga absoluta correspondente à frequência cardíaca de 150 bpm (PWC150) em vez de se utilizar como referência valores percentuais da frequência cardíaca máxima. Por outro lado, deve-se notar que o programa de treinamento almejava que a atividade fosse feita de maneira que não se ultrapassassem limites de intensidade que pudessem comprometer agudamente a função imunológica. O estabelecimento de cargas com base na fórmula de Karvonen nessa população seria problemático em virtude do grau de sarcopenia e predisposição à fadiga periférica de alguns pacientes. Na impossibilidade de se realizarem testes máximos de exercício para obtenção da frequência máxima real ou máximo consumo de oxigênio (por razões operacionais e pelo desejo de evitar exercícios dessa intensidade), optou-se pela consagrada e antiga abordagem do PWC. Classicamente há duas opções, o PWC150 e o PWC170. Na faixa etária dos pacientes, muito provavelmente o PWC150 os colocaria em uma faixa de intensidade abaixo do ponto de compensação respiratória, compatível com os objetivos do programa. Além disso, facilitou-se sobremaneira o controle da intensidade durante as sessões com ajuda dos próprios pacientes, que apenas mantinham em mente que não poderiam ultrapassar o limite de 150 bpm25. Essa abordagem foi utilizada na mesma perspectiva por estudos prévios, com diferentes populações sedentárias, como crianças obesas, grávidas ou idosos26-28. A depressão e a ansiedade parecem ser os principais sintomas psicológicos avaliados em indivíduos soropositivos submetidos a um programa de exercícios físicos. Não foi possível localizar estudos que tivessem apreciado a condição psicológica por um prisma mais positivo, qual seja a percepção do bem-estar em vez de traços psicológicos negativos. Determinar o nível de qualidade de vida individual é algo complexo e sempre subjetivo, uma vez que se trata de uma noção que remete a um sem número de construtos, como bem-estar psicológico, ajustamento social, realização pessoal, independência física ou suporte social. No entanto, a satisfação com a própria vida parece ter relação evidente com o bem-estar geral, portanto com a qualidade de vida dos pacientes, seja qual for o construto adotado. Alguns estudos já foram conduzidos procurando verificar o efeito de exercícios físicos sobre parâmetros psicológicos em diversas populações especiais, demonstrando resultados positivos como melhora nos níveis de depressão e ansiedade. Singh et al.16 demonstraram que o treinamento de força com alta intensidade, realizado durante oito semanas com frequência de três vezes semanais, seria um modo de tratamento seguro, exequível e efetivo para idosos depressivos. Brochu et al.29 estudaram idosas com doença coronariana, verificando que aquelas engajadas em treinamento de força durante seis meses exibiam menor nível de depressão comparadas às do grupo de inativas. De forma geral, 393 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):390-5. Rodrigo D. Gomes, Juliana P. Borges, Dirce B. Lima, Paulo T. V. Farinatti aceita-se que a preservação da aptidão físico-funcional contribui para uma melhor percepção da qualidade de vida30. A melhora na percepção de satisfação de vida de indivíduos soropositivos, presentemente constatada, vai ao encontro de pesquisas anteriores, ratificando seus resultados. O trabalho de LaPerriere et al.31 talvez tenha sido o primeiro a analisar tal relação. Entretanto, a proposta desse grupo foi diferente, uma vez que os indivíduos participantes da amostra ainda não tinham conhecimento de sua soropositividade. Aqueles que realizaram atividade aeróbia e tiveram resultado positivo para o HIV tiveram níveis de depressão atenuados, quando comparados com indivíduos que tiveram o mesmo resultado, mas que não realizaram nenhum tipo de exercício. Outros estudos apresentaram resultados similares com indivíduos já cientes do diagnóstico de soropositividade. MacArthur, Levine e Birk22 aplicaram a pacientes infectados pelo HIV o Questionário de Saúde Geral (cuja pontuação em 28 itens correlaciona-se com sintomas de ansiedade e depressão de forma geral), antes e após 12 semanas de treinamento físico de caráter geral. Os pacientes que participaram de mais de 80% das sessões de treinamento exibiram uma tendência não significativa para a melhora em sua pontuação, enquanto o grupo que teve participação inferior teve piora significativa. Neidig, Smith e Brashers10 também demonstraram que indivíduos soropositivos participantes de 12 semanas de treinamento aeróbio (60-80% do VO2max) exibiam significativamente menos sintomas de depressão que os sujeitos alocados no GC. Percebe-se que a maioria dos trabalhos que avaliaram a influência do treinamento no aspecto psicológico focalizaram exclusivamente o exercício aeróbio. Isso difere de nosso protocolo de treinamento, que aplicou conjuntamente exercícios aeróbios, de força e flexibilidade. Lox, McAuley e Tucker9 também se valeram dos exercícios resistidos como forma de treinamento, mas formaram grupos diferentes ( força, grupo aeróbio e controle). Assim como no presente estudo, obtiveram-se resultados positivos, com ambos os grupos que treinaram melhorando a sensação de bem-estar subjetivo. Enfim, Roubenoff e Wilson21 relataram que indivíduos soropositivos se beneficiaram com o treinamento de força, demonstrando melhora na função física autorrelatada, o que não deixa de ter uma relação com a função psicológica. Alguns fatores poderiam ser citados como responsáveis pela melhora observada no GE. LaPerriere et al.6 propuseram um modelo teórico para descrever as relações entre o exercício e os aspectos psicológico, endócrino e imunológico. De acordo com esse modelo, o treinamento físico talvez contribuísse para a melhora do estado emocional, aumentasse a liberação de opioides endógenos e reduzisse a atividade dos sistemas adrenocortical, pituitário e hipotalâmico (ACPH); ou seja, acreditando-se nesse modelo, a atividade física teria potencial para moderar as sequelas psicológicas e fisiológicas de doenças crônicas, incluindo a 394 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):390-5. infecção pelo HIV. Deve-se mencionar ainda que, além de os efeitos positivos do próprio exercício poderem estar relacionados com essa melhora, o fato de as aulas terem sido realizadas em grupo, reunindo pessoas que partilhavam do mesmo problema e ansiedades, pode ter sido um fator que também contribuiu para os resultados obtidos. Estudos adicionais precisariam ser desenvolvidos para a ratificação dessa hipótese. A função imunológica é uma preocupação central dos programas de exercícios para pacientes com HIV. Nesse sentido, a contagem das células TCD4 é frequentemente utilizada como marcador19,32. A contagem absoluta mede o número de células em cada mm3 de sangue. A contagem normal em sujeitos não infectados pelo HIV varia entre 500 e 1500 células/mm1. A contagem relativa (%) remete à proporção das células TCD4 em comparação com todos os linfócitos, situando-se normalmente em torno dos 40% e podendo ficar abaixo de 20% em pacientes com HIV, refletindo alto risco de infecções oportunistas33. Apesar de uma provável relação da prática de exercícios com uma melhora clínica geral34, as pesquisas disponíveis não permitem afirmar com certeza que haja um impacto significativo direto sobre indicadores da função imunológica (p.ex., células TCD4 ou carga viral). Revisão sistemática, incluindo dez estudos randomizados com treinamento aeróbio feito três vezes por semana durante, pelo menos, quatro semanas35, revelou pequenas melhoras, mas não significativas, na contagem das células TCD4 diferença média ponderada: 14 células·mm-3, 95% CI: -26 a 54 e carga viral (diferença ponderada média: 0,40 log10 cópias, 95% CI: -0,28 a 1,07). Mais recentemente, meta-análise do mesmo grupo36 avaliou o impacto de exercícios resistidos (isolados ou combinados com exercícios aeróbios) em pacientes com HIV ou AIDS. Demonstrou-se um aumento não-significativo da contagem das células TCD4 [95% CI: -6.60 a 103.23, n=68] em comparação com GCs que não se exercitaram. Os intervalos de confiança relatados sugerem, contudo, uma possível tendência à elevação da contagem de células nos GEs, o que pode ser clinicamente relevante. No presente estudo, não houve diferenças significativas entre GE e GC tanto para a contagem absoluta quanto para a relativa em resposta ao programa de treinamento. No entanto, os valores absolutos no GE aumentaram 62 células/mm3 [~12%], tendo declinado 55 células/mm3 no CG [~14%]. A contagem relativa era criticamente baixa em ambos os grupos na linha de base (aproximadamente 20%), indicando risco para infecções oportunistas. Depois da intervenção, observou-se um aumento de quase 16% no GE e de apenas 2% no CG. Assim, embora as diferenças não tenham tido significância estatística, essas alterações representam um desfecho clinicamente importante, apoiando a ideia de que a prática de exercícios físicos pode afetar positivamente a contagem de células TCD4. Esforço investigativo adicional deve ser feito para um melhor entendimento da relação entre o exercício físico e as células TCD4, além de outros marcadores imunológicos. Exercício, satisfação de vida e função imune em soropositivos Em conclusão, um programa de condicionamento físico de intensidade moderada, combinando exercícios aeróbios, de força e flexibilidade foi capaz de melhorar significativamente a percepção de satisfação de vida dos indivíduos soropositivos sem acarretar prejuízos imunológicos, ao menos nos limites das características daqueles observados no presente estudo. Portanto, programas supervisionados de atividades físicas podem ser ferramentas efetivas para melhorar o bem-estar psicológico de pacientes infectados pelo HIV, além de potencialmente poderem exercer influência positiva sobre as células TCD4. Essa informação é relevante no contexto de intervenções conduzidas por profissionais de saúde, como é o caso de fisioterapeutas e educadores físicos. Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). 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Métodos: Participaram do estudo 12 lactentes pré-termo saudáveis, (MD=33,6 semanas de idade gestacional, ± 1,25) e 10 lactentes a termo saudáveis (MD=39,1 semanas de idade gestacional, ± 0,73). Eles foram avaliados mensalmente (zero a quatro meses de idade) com o Test of Infant Motor Performance (TIMP). Resultados: O padrão de desempenho motor aumentou ao longo dos meses em ambos os grupos, constatando variabilidade nos escores totais em todas as idades. O grupo pré-termo apresentou escore médio mais elevado do que o a termo entre um e quatro meses de idade. Nesse grupo, o ritmo de aquisição motora foi maior de zero a um do que de três a quatro meses. Verificou-se também que os cuidadores desses lactentes iniciaram a estimulação com brinquedos anteriormente aos cuidadores do grupo a termo. Ambos os grupos apresentaram escores médios inferiores aos do TIMP. Conclusões: Os lactentes pré-termo apresentaram padrão de desenvolvimento motor semelhante aos típicos quanto à sequência de habilidades adquiridas e ritmo acelerado no período de recém-nascido (RN) a um mês de idade. Sugere-se que lactentes pré-termo com essas características não necessitam de correção do grau de prematuridade e que programas de acompanhamento orientem os pais e cuidadores a estimulá-los, desde o primeiro mês, com brinquedos, propiciando a exploração precoce de diversos padrões motores. Palavras-chave: nascimento prematuro; desenvolvimento infantil; avaliação de desempenho. Abstract Objectives: This study aimed to characterize the pattern and rate of motor skill acquisition among preterm infants from newborn to four months corrected age, in comparison with a group of full-term infants. Methods: Twelve healthy preterm infants (mean gestational age=33.6 weeks ± 1.25) and 10 healthy full-term infants (mean gestational age=39.1 weeks ± 0.73) participated in the study. These infants were assessed monthly (0-4 months of age) using the Test of Infant Motor Performance (TIMP). Results: The motor performance pattern increased over the months in both groups, with variability in the total scores at all ages. The preterm group presented a higher mean score than shown by the full-term group between one and four months of age. In the full-term group, the motor acquisition rate was higher from age newborn to one month than from age three to four months. It was also found that the caregivers of the preterm infants began toy stimulation earlier than did the caregivers of the full-term infants. Both groups presented mean scores below the TIMP values. Conclusions: The preterm infants presented a pattern of motor development similar to the typical pattern regarding the sequence of abilities achieved. The preterm infants also presented a faster rate during the neonate period at one month of age. This suggests that correction for prematurity is unnecessary for preterm infants with these characteristics and that follow-up programs should instruct parents and caregivers to begin stimulation with toys at one month of age, thereby providing early exploration of various motor skills. Keywords: premature birth; infant development; performance test. Recebido: 21/05/2009 – Revisado: 17/11/2009 – Aceito: 21/12/2009 1 Programa de Diagnóstico e Intervenção Precoce, Prefeitura Municipal de Araraquara, Araraquara (SP), Brasil 2 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil 3 Unidade de Terapia Intensiva , Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, Araraquara (SP), Brasil Correspondência para: Elaine Pereira Raniero, Avenida João Soares de Arruda, 1004, apto 112, Bl. IV, Jardim Universal, CEP 14.801-525, Araraquara (SP), Brasil, e-mail: [email protected] 396 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):396-403. Padrão e ritmo de aquisição de habilidades motoras Introdução A aquisição das habilidades motoras no primeiro ano de vida é de extrema importância para o desenvolvimento global futuro, visto que esse período é marcado por constantes e rápidas mudanças no ritmo e nos padrões motores, podendo ser influenciado por diversos fatores de risco, tais como, o nascimento prematuro e o baixo peso ao nascer1. Lactentes nascidos pré-termo, no primeiro ano de vida, apresentam comprometimentos mais evidentes no desempenho motor global, provavelmente devido à distonia transitória associada à prematuridade2, e diversos estudos indicam que o nascimento pré-termo acarreta importante risco de atraso no desenvolvimento motor3-5. Avaliar a aquisição e o aprimoramento da qualidade de movimento, do controle e alinhamento postural, do equilíbrio e coordenação e das habilidades funcionais nos primeiros meses de vida para classificar o desenvolvimento dos lactentes pré-termo ainda desafia os pesquisadores6-8. Assim, pesquisas têm buscado estabelecer o perfil de aquisição das habilidades motoras tanto em relação ao padrão quanto ao ritmo em que elas se processam nos lactentes típicos, tentando definir, dessa forma, normas a partir das quais se possa avaliar a normalidade do desempenho9. Ainda são escassos os estudos nesse sentido, tanto com latentes típicos10 quanto com aqueles com diagnósticos específicos como paralisia cerebral11, síndrome de Down12 e lactentes pré-termo13. As hipóteses propostas foram as de que os lactentes prétermo apresentariam um padrão não linear e um ritmo mais lento de aquisição de habilidades motoras em relação ao grupo a termo. O presente estudo teve por objetivos caracterizar o padrão e o ritmo de aquisição das habilidades motoras de lactentes nascidos pré-termo saudáveis durante os quatro primeiros meses de idade corrigida, comparando-os com um grupo de bebês a termo por meio do Test of Infant Motor Performance (TIMP)14. Tal conhecimento poderá contribuir na identificação acurada de lactentes que necessitem de intervenção precoce, além de facilitar a diferenciação entre lactentes pré-termo com real déficit motor e lactentes pré-termo cujo ritmo próprio de aquisição não envolveria comprometimentos motores futuros. Materiais e métodos Desenho do estudo Estudo de caráter longitudinal de uma amostra de conveniência, no qual foram selecionados, dentre os lactentes nascidos na Santa Casa de Misericórdia de Araraquara (SP), Brasil, (berçário e Unidade de Terapia Intensiva Neonatal), no período de setembro a dezembro de 2007, os que residiam nesse município e que atendessem aos critérios de inclusão e exclusão deste estudo. Por ser uma amostra de conveniência, todos os lactentes pré-termo participavam de um programa de acompanhamento oferecido pela Prefeitura de Araraquara, no qual recebiam orientações mensais de uma equipe multidisciplinar. Critérios de inclusão Os lactentes foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão: grupo pré-termo – composto por lactentes saudáveis com idade gestacional, ao nascer, entre 31 e 36 semanas e seis dias; peso adequado para a idade gestacional (AIG) e escore de Apgar maior do que sete no quinto minuto; grupo a termo – lactentes saudáveis com idade gestacional entre 37 e 41 semanas; peso adequado para a idade gestacional (AIG) e escore de Apgar maior do que sete no quinto minuto. Critérios de exclusão Em ambos os grupos, foram excluídos os lactentes que apresentavam alterações congênitas nos sistemas nervoso e musculoesquelético, bem como diagnóstico de síndrome genética ou sintomas de crise de abstinência associada ao relato de abuso materno de álcool e drogas, sorologia positiva para infecções gestacionais e déficits sensoriais (auditivo e visual), detectados durante o período neonatal. Participantes Foram selecionados 29 lactentes nascidos na Santa Casa de Misericórdia de Araraquara (SP), Brasil, e moradores da área urbana desse município, cujos pais aceitaram participar deste estudo. Entretanto, foram excluídos sete lactentes (cinco nascidos a termo e dois nascidos pré-termo) em função de mudança de residência ou pela desistência da mãe na continuidade deste estudo. Os 22 lactentes que permaneceram foram distribuídos em dois grupos: a) pré-termo - composto por 12 lactentes com idade gestacional variando entre 32 e 36 semanas (MD = 33,6; DP = 1,25 semanas), sendo quatro do gênero feminino e oito do gênero masculino, com um peso médio de 1.968 gramas (DP ± 527 gramas); e b) grupo a termo - composto por 10 lactentes com idade gestacional média de 39,1 semanas (DP ± 0,73 semanas), sendo sete do gênero feminino e três do gênero masculino, com peso médio de 3270 gramas (DP ± 574). 397 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):396-403. Elaine P. Raniero, Eloisa Tudella, Rosana S. Mattos Procedimentos gerais Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil, conforme parecer 160/2007. Os pais e/ou responsáveis pelos lactentes selecionados assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Todos os lactentes foram avaliados empregando-se a versão original do TIMP14, sendo filmados nessa etapa por meio de uma câmera digital Sony - D8. O TIMP é um instrumento com reconhecida validade preditiva15,16 e ecológica17, capaz de discriminar lactentes com diversos graus de risco para apresentarem déficits motores18,19 bem como detectar desempenho motor funcional inferior já aos três meses de idade20. Esse instrumento avalia a postura e o controle seletivo dos movimentos de lactentes a partir de 32 semanas de idade gestacional até quatro meses de idade corrigida14. Ele é composto por 42 itens (13 observados e 29 eliciados) que avaliam tanto o controle cervical e a orientação espacial em diversas posições quanto a resposta a estímulos visuais e auditivos, construído de forma hierárquica de dificuldade, isto é, inicia com itens simples e progride para aqueles mais complexos, que exigem maior maturidade motora. O escore total bruto é obtido pela somatória da pontuação em todos os itens, sendo que para os itens observados pontua-se zero quando não é observado durante a movimentação espontânea e 1 quando visto. Em relação aos itens eliciados, pontuam-se entre 5 (0 – 4) e 7 (0 – 6) níveis de acordo com o desempenho apresentado, sendo que, ao se somarem aos itens observados, o escore bruto pode variar entre 0 e 142 pontos. Para a utilização desse teste, foi realizado um treinamento com um pesquisador habilitado (estudo do manual do teste e do CD-ROM próprio para treino); em seguida, foi obtido um coeficiente de correlação intraclasse (ICC)21 de 0,87 intraobservador e 0,88 inter-observadores (três pesquisadores). Procedimento de teste Os lactentes foram avaliados, sempre pelo mesmo pesquisador, em cinco ocasiões, sendo que a primeira avaliação foi realizada até o quinto dia pós-natal para o grupo a termo e até o quinto dia de idade corrigida para o grupo pré-termo. Nesse primeiro contato com os pais, foi realizada uma entrevista para obter informações sobre a história gestacional e perinatal, nível socioeconômico, grau de instrução e idade materna, bem como composição familiar (número de filhos). Os dados de nascimento (peso, idade gestacional, Apgar e intercorrências) foram coletados do prontuário hospitalar (UTI neonatal e berçário). 398 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):396-403. As demais avaliações ocorreram quando os lactentes tinham um, dois, três e quatro meses, tendo sido realizadas na data de aniversário (± 7 dias), sendo que, para o grupo pré-termo, a idade foi corrigida. Nessas ocasiões, foram também obtidas informações com os pais sobre a rotina do lactente em relação ao cuidador principal e os estímulos diários (brinquedos) aos quais ele era submetido, utilizando-se um questionário estruturado. As avaliações foram realizadas em domicilio, possibilitando, assim, observar os lactentes em seu ambiente natural. Sua duração foi de aproximadamente 30 minutos, no intervalo entre as mamadas. Os bebês eram despidos e então submetidos à aplicação do TIMP a partir dos itens observáveis e, em seguida, os itens eliciados eram testados. De acordo com o manual do TIMP, durante essas avaliações, os lactentes deveriam estar nos estados 3 (sonolento, olhos abrindo e fechando), 4 (acordado, olhos abertos e movimentos corporais mínimos) ou 5 (totalmente acordado, movimentos corporais vigorosos) definidos por Brazelton21. Se o lactente chorasse, poderia ser acalmado pelo cuidador; se esse intuito não fosse logrado, impossibilitando terminar o teste, agendava-se um horário para o dia seguinte. Descrição das variáveis Neste estudo, as variáveis independentes foram idade do lactente e condição de nascimento (a termo ou pré-termo). Como variáveis dependentes, analisaram-se o escore total obtido pelo TIMP, a aquisição motora e o percentual de aquisição motora a cada mês e os dados normativos oferecido pelo TIMP. Escore total É a somatória dos pontos obtidos em todos os itens do TIMP (observados e eliciados). Aquisição de habilidades motoras Definiu-se como “aquisição de habilidades motoras” as mudanças comportamentais observadas no lactente no decorrer dos meses, mudanças essas referentes ao surgimento de novas habilidades, computadas numericamente por meio da aquisição, em pontos, no escore total do TIMP em relação ao mês anterior, ou seja: Aquisição motora = [escore mês X – escores do mês (X-1)] Por meio dessa variável, caracterizou-se o padrão de aquisição de habilidades motoras, verificando se era ou não linear (aumento do desempenho motor de modo gradual e sequencial). Percentual de aquisição motora mensal Obteve-se o percentual de aquisição motora mensal pela seguinte equação: %Aquisição = [escore mês X – escore mês (X-1)]/ escore mês X * 100 Padrão e ritmo de aquisição de habilidades motoras Por meio dessa variável, caracterizou-se o ritmo de aquisição de habilidades motoras, verificando se a porcentagem de aquisição era semelhante a cada mês, isto é, se a velocidade era ou não constante com o passar do tempo. Dados normativos do TIMP Realizou-se uma comparação da curva de progressão dos valores de escore médio de cada grupo com a curva de progressão dos valores normativos do TIMP para as mesmas idades. Análise estatística Foram utilizados os programas SPSS 13.0, STATÍSTICA 7.0 e GRAPHPAD 3.05 para realizar as análises. Inicialmente, foi realizada a comparação das características econômicas e sociodemográficas com o teste Qui-quadrado (cuidador principal, nível de instrução materno, número de gestações, classe econômica e estimulação recebida) e o teste t de student (idade materna) para verificar se os grupos eram semelhantes entre si em relação a elas. Em relação às variáveis dependentes, como os dados não apresentaram normalidade, foram selecionados os seguintes testes: Mann-Whitney para a análise intergrupo, comparando os escores totais obtidos no grupo a termo e pré-termo a cada mês e para averiguar se houve diferença entre as aquisições dos grupos a termo e pré-termo em cada idade com relação ao escore total (1M - RN, 2M -1M, 3M – 2M, 4M – 3M); Teste de Friedman para comparar os percentuais de aquisições mensais para cada grupo (análise intra-grupo) e, encontradas diferenças significantes, realizava-se o teste post hoc de comparações múltiplas de Dunn. Para comparar os escores médios mensais de cada grupo com o escore médio mensal fornecido pelo TIMP, foram realizados o teste de Kruskal-Wallis para testar tanto a condição idade gestacional (termo, pré-termo e TIMP) quanto a idade cronológica (0=RN, 1=1mês, 2=2meses, 3-3meses e 4=4meses) e a Correlação de Kendall (para variáveis ordinais) para verificar se os grupos se relacionam entre si. O valor de α utilizado foi p≤0,05. Resultados Inicialmente foram caracterizados os lactentes pré-termo e a termo quanto às condições econômicas e sociodemográficas e em relação à estimulação com brinquedos em cada mês. A Tabela 1 mostra que, em relação às características econômicas e sociodemográficas, não houve diferenças significativas entre os grupos, que são comparáveis entre si. Em relação ao início da estimulação, observa-se que foi prevalente no grupo pré-termo do primeiro ao terceiro mês em relação ao grupo a termo, sendo significativa (p≤0,35) apenas no primeiro mês. O número de lactentes avaliados em cada mês foi de 12 no grupo pré-termo e 10 no grupo a termo, embora três avaliações tenham sido excluídas devido a crise de cólica (grupo a termo: um na idade de RN e um com quatro meses) e reação à vacina de rotina (grupo pré-termo: um com dois meses), o que afetou o desempenho do lactente em duas tentativas subsequentes (dois dias consecutivos). Escore total Pode-se observar, na Figura 1, que houve um aumento progressivo, com o passar dos meses, do desempenho motor avaliado pelo TIMP em ambos os grupos avaliados, sendo nítida a variabilidade nos valores do escore total dos lactentes em todas as idades. Aquisição motora e percentual de aquisição motora mensal Não houve diferenças significativas na aquisição motora e no percentual de aquisição motora mensal entre os grupos em função do tempo, mas encontrou-se diferença significante no percentual de aquisição motora mensal no grupo pré-termo (p=0,016) e identificou-se que tal diferença no percentual de ganho em relação ao escore do mês anterior se deu entre os intervalos RN-um mês (52%) em relação a três-quatro meses (12%). Tabela 1. Características dos lactentes estudados. VARIÁVEIS Idade mãe1 MD ± SD Instrução materna2 Fundamental Médio Superior Número de gestações2 Primíparas Multíparas Cuidador principal2 Mãe Outros Estimulação (brinquedos)2 1M 2M 3M 4M ABEP# 2 B1 B2 C1 C2 PRÉ-TERMO 31±8 TERMO 28±5 Valor de p 0,261 3 6 3 2 6 2 0,896 4 8 2 8 0,484 10 2 9 1 0,650 9 9 11 12 2 5 6 9 0,035* 0,285 0,225 0,513 3 6 3 2 5 3 0,175 Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)22 apresenta as classes sociais em ordem decrescente. 1 teste t-student para 2 amostras, 2 teste Qui-quadrado; * estatisticamente significativo. 399 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):396-403. Elaine P. Raniero, Eloisa Tudella, Rosana S. Mattos Boxplot - Escore Tim p 140 120 Termo Pré-termo * Outliers E score Timp 100 80 60 40 20 0 RN 1M 2M Idade (meses) 4M 3M Figura 1. Escore total do TIMP ao longo dos meses. A termo Pré-termo TIMP 140 120 Escore TIMP 100 80 60 40 20 0 RN 1M 2M Idade (meses) 3M 4M Figura 2. Comparação entre a média dos escores totais mensais dos grupos pré-termo e a termo e os valores médios normativos da escala TIMP. Dados normativos da escala TIMP Ao se realizar a Correlação de Kendall, verificou-se que há correlação forte, positiva e significativa entre os grupos termo, prétermo e TIMP (coeficiente de correlação = 1); mas, ao se realizar o teste de Kruskal-Wallis, não houve diferença estatisticamente significativa entre eles. Entretanto, observando-se a Figura 2, verifica-se que os bebês avaliados obtiveram escores inferiores aos previstos pelo teste no período de RN a três meses de idade e que o grupo pré-termo registrou pontuação média superior ao grupo a termo no período do primeiro ao quarto mês, conseguindo, nesse último mês, atingir a média esperada pelo teste. Discussão Em relação ao escore total do TIMP, a cada mês, os grupos de lactentes pré-termo e a termo não apresentaram 400 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):396-403. diferenças significativas entre si, o que pode ser explicado pela variabilidade de desempenho observada entre os membros de cada grupo. Em cada um dos grupos, houve lactentes com alto e baixo desempenho, segundo os padrões fornecidos pelo teste. Pode-se compreender isso a partir da perspectiva dos sistemas dinâmicos, que enfatiza a interação de fatores intrínsecos (maturação dos diversos sistemas orgânicos), das atividades motoras vivenciadas bem como do contexto ambiental e sociocultural23-26. Embora os lactentes pré-termo e a termo fossem saudáveis em relação às características clínicas de nascimento, acredita-se que o ambiente de cada um deles e a estimulação recebida foram determinados pela dinâmica intrínseca de cada família. Por conta disso, a quantidade e a qualidade de estímulos recebidos variaram para cada lactente, podendo gerar diferentes restrições extrínsecas no âmbito da tarefa e do contexto, culminando em um assincronismo de desenvolvimento dos diversos subsistemas. Também, nesse sentido, Kamm, Thelen e Jensen27 e Rocha, Tudella e Barella28 afirmaram que, embora os subsistemas atuem conjuntamente para adquirir uma habilidade/comportamento, eles apresentam estágios e velocidades de maturação individuais. Um interessante achado foi a diferença na porcentagem de aquisição motora no grupo pré-termo no decorrer do tempo. Constatou-se um acelerado e significante aumento no desempenho entre o período de recém-nascido e um mês quando comparado com o período entre três e quatro meses, sendo que tal comportamento não foi observado nos lactentes a termo. Segundo dados da literatura, o bebê prematuro precisa adaptar-se à ação da força gravitacional bem como aos estímulos sensoriais (dor, sons, luminosidade e manipulação), utilizando-se de um sistema nervoso e muscular ainda imaturos. Entretanto, a exposição de um organismo imaturo a esses estímulos influenciará o processo de maturação. Desse modo, ao atingirem 40 semanas de idade corrigida (RN), os lactentes pré-termo apresentaram características distintas em relação aos lactentes a termo, com escore inferior no TIMP. Sabe-se que a dificuldade dos lactentes pré-termo em integrar e modular os estímulos recebidos pelos diversos subsistemas (como tátil, visual e vestibular) afeta a ativação muscular e, consequentemente, o controle postural, fato que os leva frequentemente a apresentarem uma menor organização comportamental do que os lactentes típicos nessa idade29,30. Acredita-se que o ritmo acelerado de aquisição motora entre a idade de recém-nascido e a idade corrigida de um mês se deva ao fato de ser esse o período em que o lactente alcança o auge da sua capacidade de adaptar-se aos estímulos recebidos por meio de um processo de auto-organização27, acoplando os componentes motores e perceptuais durante a execução de cada atividade, de modo a organizarem e reorganizarem Padrão e ritmo de aquisição de habilidades motoras suas respostas aos estímulos do meio. Resultados semelhantes foram obtidos por Medoff-Cooper e Ratcliffe30, os quais observaram que lactentes pré-termo apresentaram significante maturação neurocomportamental entre 40 e 44 semanas de idade (pós-concepção), o que permite supor que eles desenvolveram estratégias para lidar com as desvantagens orgânicas e, assim, se adaptarem ao meio via uma organização comportamental (sucção/deglutição/respiração, estado de alerta) e maturação motora intensa. Corroborando esses achados, Lopes, Lima e Tudella10 observaram 70 bebês a termo típicos, aplicando a escala AIMS e não encontraram diferença significativa no escore bruto entre a idade de recém-nascido e um mês, o que denota que, para os lactentes a termo, esse período não é marcado pelas mesmas adaptações observadas nos lactentes pré-termo. Os resultados obtidos demonstraram um desempenho relativamente superior dos lactentes do grupo pré-termo em relação aos do grupo a termo, desempenho esse indicado pela comparação dos escores totais de ambos os grupos com os valores normativos do TIMP. Tal resultado difere de outros estudos que afirmam que lactentes nascidos pré-termo apresentam, em geral, desempenho inferior àqueles nascidos a termo, mesmo se corrigida a idade cronológica. Tais diferenças podem se dever a critérios diversos de elegibilidade dos lactentes, como idade gestacional e peso de nascimento31,32 e desenho experimental13, bem como o período estudado (que variou de 40 semanas de idade gestacional até dois anos e meio de idade cronológica) e as particularidades culturais (nacionalidades diferentes), sendo difícil, portanto, realizar uma comparação direta. Em relação às restrições intrínsecas (orgânicas), a correção da idade gestacional pode, em parte, ter subsidiado esse melhor desempenho do grupo pré-termo. O grupo estudado apresentou idade gestacional média de 33,6 semanas, classificada como prematuridade moderada33. A idade dos lactentes foi corrigida durante o protocolo de avaliação, conforme determinado pela escala TIMP. Diversos estudos têm demonstrado que lactentes nascidos com moderado grau de prematuridade apresentam prognóstico de desenvolvimento motor próximo ao normal. Persson e Strömberg34, em um estudo longitudinal, encontraram pouca diferença em relação ao nível de desempenho motor médio entre grupos com diferente risco de comprometimento motor, principalmente entre o grupo de lactentes pré-termo moderado e o grupo controle. Nesse sentido, Campbell e Hedeker17, ao compararem cinco grupos de lactentes com diversos graus de risco de comprometimento motor, também observaram que não houve diferença significativa com relação ao desempenho na escala TIMP dos grupos de bebês a termo (baixo risco) e pré-termo sem complicações clínicas significativas (médio risco). Dessa forma, o melhor desempenho dos lactentes pré-termo avaliados pode se dever à correção da idade em um grupo de bebês que já apresentaria aquisição das habilidades motoras semelhante ao típico devido ao moderado grau de prematuridade. Assim, mais estudos são necessários para se determinar em que faixa de idade gestacional essa correção se faz necessária, até quando se deve corrigi-la e em que domínios35. Outro fator que pode ter influenciado o melhor desempenho dos lactentes pré-termo foi o fato de eles terem participado de um programa de acompanhamento periódico oferecido em ambulatório municipal, onde os pais e/ou cuidadores recebiam orientações quanto ao posicionamento e formas adequadas de estimular seus bebês. As orientações recebidas possivelmente promoveram o rompimento de padrões de insegurança comumente observados em pais de lactentes prematuros, que usualmente se mostram receosos em manipular e estimular seus filhos36. Acredita-se que esse acompanhamento pode ter influenciado as restrições extrínsecas (ambientais), propiciando ao lactente uma exploração precoce de diversos padrões motores, tais como, as coordenações áudio-visuo-cefálica e óculo-manual, alcance e exploração de objetos, entre outros, e, consequentemente, propiciaram uma aquisição motora em idade próxima à sugerida pela escala. Essa idéia reafirma-se a partir de comentários feitos pelas mães dos bebês pré-termo avaliados, as quais já haviam tido filhos nascidos a termo. Elas perceberam diferenças na forma como realizavam os cuidados diários e na estimulação nas duas situações e referiram que se sentiam tranquilas em deixar os filhos nascidos a termo dormirem e passarem boa parte do dia no berço ou carrinho, o que não acontecia em relação aos filhos que nasceram prematuros. Também afirmaram que lhes parecia necessário dar mais atenção e estímulo aos bebês pré-termo para compensar os problemas que apresentaram ao nascer. Concordando com esta ideia, Andraca et al.23 afirmaram que a responsividade da mãe em relação às demandas do bebê e sua capacidade de interação com ele tem efeito direto no desempenho motor e cognitivo que ele irá alcançar. Em vista dos resultados obtidos, pode-se afirmar que a hipótese inicial de que os lactentes pré-termo teriam um padrão de aquisição das habilidades motoras diferente daquele observado nos lactentes a termo não se confirmou; pois, estatisticamente, os grupos apresentaram um padrão de aquisição das habilidades motoras semelhante. Em relação à hipótese de que os lactentes pré-termo teriam um ritmo de aquisição das habilidades motoras mais lento em relação aos a termo, constatou-se que, enquanto os lactentes a termo apresentaram um comportamento crescente e linear de aquisição motora, o grupo pré-termo apresentou um ritmo acelerado de aquisição de habilidades motoras no período de 401 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):396-403. Elaine P. Raniero, Eloisa Tudella, Rosana S. Mattos recém-nascido a um mês de idade corrigida, mantendo-se crescente entre o primeiro e terceiro mês, desacelerando-se entre o terceiro e quarto mês. A despeito disso, ambos os grupos alcançaram valores finais semelhantes quando comparados aos escores do TIMP. Achados semelhantes foram apresentados por van Haastert et al.13 que, ao avaliarem 800 lactentes nascidos pré-termo entre um e 18 meses de idade corrigida, concluíram que o comportamento característico de desenvolvimento motor dos lactentes pré-termo seria uma variação do padrão de desenvolvimento motor considerado típico. Limitações do estudo e pesquisas futuras Não foi possível avaliar um número maior de bebês, o que seria relevante para que as conclusões pudessem ser generalizadas e, ainda, avaliar separadamente bebês com diferentes graus de prematuridade. Além disto, os resultados sugerem que para esse grupo não seria necessária a correção do grau de prematuridade ao se avaliar aquisição das habilidades motoras; entretanto, para generalizar tal constatação, são necessários estudos com uma amostra populacional mais abrangente. Para estudos futuros, seria interessante aplicarem-se ferramentas validadas para avaliar o vínculo e a interação mãebebê de modo que seja possível investigar de que forma ambos podem afetar o ritmo de aquisição das habilidades motoras e cognitivas em lactentes pré-termo. Também seria interessante realizarem-se estudos comparando o emprego da idade cronológica e da idade corrigida com a finalidade de se determinar qual delas teria maior valor preditivo para o prognóstico motor dos lactentes pré-termo. Conclusões O conhecimento do ritmo e padrão de aquisição motora de lactentes pré-termo é importante para auxiliar os profissionais a identificarem se o desenvolvimento deles está ocorrendo de acordo com o que é esperado ou se está apresentando déficits motores. Sendo assim, poder-se-á julgar o melhor momento para iniciar ou indicar a intervenção, potencializando as capacidades intrínsecas desses lactentes. Tal conhecimento poderá também minimizar indicações desnecessárias de intervenção que, além de onerosas ao sistema público de saúde, geram elevado nível de estresse familiar. A partir dos resultados obtidos, conclui-se que os lactentes nascidos pré-termo, saudáveis, com idade gestacional maior do que 32 semanas, apresentaram um padrão de aquisição das habilidades motoras semelhante aos lactentes típicos quanto à sequência de habilidades adquiridas, mas com um ritmo próprio, o que se pode considerar uma variação dentro do espectro de normalidade. Do ponto de vista clínico, é importante refletir que, para lactentes com características semelhantes aos que compuseram este estudo, seria indicado que os programas de acompanhamento não enfocassem apenas a avaliação deles, mas que também ensinassem e orientassem os pais e cuidadores quanto às peculiaridades do desenvolvimento motor desses bebês, buscando minimizar o receio quanto à manipulação e cuidados diários, para que assim estimulassem corretamente seus filhos. Com esses cuidados, acredita-se que será possível propiciar o fortalecimento do vínculo mãe-bebê e promover o desenvolvimento pleno das capacidades intrínsecas por intermédio das restrições extrínsecas favoráveis. Agradecimentos À Maria Beatriz Linhares e Vanessa Maziero Barbosa pelas valiosas sugestões na finalização deste manuscrito e aos lactentes e seus familiares que, participando deste estudo, possibilitaram agregar conhecimentos que futuramente irão auxiliar outras famílias. Este trabalho recebeu auxílio-pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Referências bibliográficas 1. Mancini MC, Teixeira S, Araújo LG, Paixão ML, Magalhães LC, Coelho ZAC, et al. Estudo do desenvolvimento da função motora aos 8 e 12 meses de idade em crianças nascidas pré-termo e a termo. Arq Neuropsiquiatr. 2002;60(4):974-80. 2. Kohlhauser C, Fuiko R, Panagl A, Zadra C, Haschke N, Brandstetter S, et al. Outcome of very-low-birth-weight infants at 1 and 2 years of age: the importance of early identification of neurodevelopmental deficits. Clin Pediatr (Phila). 2000;39(8):441-9. de Kleine MJ, den Ouden AL, Kollée LA, Ilsen A, van Wassenaer AG, Brand R, et al. Lower mortality but higher neonatal morbidity over a decade in very preterm infants. Paediatr Perinat Epidemiol. 2007;21(1):15-25. 3. 402 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):396-403. 4. Aylward GP. Neurodevelopmental outcomes of infants born prematurely. J Dev Behav Pediatr. 2005;26(6):427-40. 5. 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ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 404-10, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia ARTIGO ORIGINAL Análise do uso de suporte parcial de peso corporal em esteira e em piso fixo durante o andar de crianças com paralisia cerebral Analysis of partial body weight support during treadmill and overground walking of children with cerebral palsy Vânia M. Matsuno1,, Muriel R. Camargo1, Gabriel C. Palma1, Diego Alveno1, Ana Maria F. Barela1,2 Resumo Objetivo: Analisar características espaço-temporais e ângulos articulares de crianças com paralisia cerebral andando sem o uso de suporte parcial de peso corporal (SPPC) em piso fixo e com 0% e 30% de SPPC em piso fixo e em esteira. Métodos: Seis crianças com paralisia cerebral hemiplégica espástica (7,70±1,04 anos) foram filmadas andando com velocidade confortável sem o uso de SPPC, com 0% e 30% de SPPC em piso fixo e com 0% e 30% de SPPC em esteira. Marcadores refletivos foram afixados nos principais pontos anatômicos dos dois hemicorpos para registro das coordenadas “x”, “y”, “z”. Resultados: As crianças andaram mais rapidamente e com passadas mais longas e mais rápidas, com duração dos períodos de apoio simples e balanço maiores e apoio duplo menor no piso fixo do que na esteira, independentemente do uso do SPPC. O quadril foi a única articulação que apresentou diferenças entre os hemicorpos e entre as condições, sendo que o hemicorpo plégico apresentou menor amplitude de movimento (ADM) que o hemicorpo não plégico, e a ADM foi maior na condição sem o uso de SPPC do que com 30% de SPPC em piso fixo. Conclusão: Crianças com paralisia cerebral hemiplégica espástica são capazes de andar em piso fixo e esteira com diferentes porcentagens de SPPC, sendo que seus desempenhos foram melhores no piso fixo, independentemente do uso de SPPC, do que na esteira. Palavras-chave: ângulos articulares; parâmetros espaço-temporais; hemiplegia; crianças. Abstract Objective: To analyze the spatial-temporal characteristics and joint angles during overground walking without body weight support (BWS) and with 0% and 30% BWS, and during treadmill walking with the same BWS in children with cerebral palsy. Methods: Six children with hemiplegic and spastic cerebral palsy (7.70 ± 1.04 years old) were videotaped during overground walking at a comfortable speed with no BWS, with 0% and 30% BWS, and during treadmill walking with 0% and 30% BWS. Reflective markers were placed over main bony landmarks in both body sides to register the coordinates “x”, “y”, “z”. Results: During overground walking, children walked faster and presented longer and faster strides, longer duration of single-stance and swing periods, and shorter duration of double-stance period, than treadmill walking, regardless of BWS use. The hip was the only joint that presented a difference between body sides and experimental conditions; i.e. range of motion (ROM) was reduced in the plegic side when compared to the nonplegic side, and during overground walking without BWS when compared to 30% BWS. Conclusion: Children with hemiplegic and spastic cerebral palsy were able to walk overground and on a treadmill with different percentages of BWS, and their performance was superior during overground walking, regardless of BWS use. Key words: joint angles; spatial-temporal parameters; hemiplegia; children. Recebido: 26/05/2009 – Revisado: 10/11/2009 – Aceito: 26/01/2010 1 Laboratório de Análise do Movimento, Instituto de Ciências da Atividade Física e Esporte, Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo (SP), Brasil 2 Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo (SP), Brasil Correspondência para: Ana Maria Forti Barela, Universidade Cruzeiro do Sul, Instituto de Ciências da Atividade Física e Esporte (ICAFE), Rua Galvão Bueno, 868 – 13o. Andar, Bloco B, Liberdade, CEP 01506-000, São Paulo (SP), Brasil, e-mail: [email protected] 404 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):404-10. Suporte parcial de peso corporal e paralisia cerebral Introdução Sistemas que envolvem o uso de colete suspenso e acoplado a um suporte parcial de peso corporal (SPPC) têm sido utilizados como forma de treinamento do andar1. Nesse tipo de treinamento, o indivíduo pratica o andar em uma esteira motorizada enquanto o seu peso é parcialmente sustentado por um colete suspenso. O SPPC pode ser usado de diferentes maneiras que permitem diferentes graus de movimento do corpo, sendo que, com esse sistema, é possível ajustar a altura do colete e o alívio de peso corporal da pessoa que o usa por meio de calibração com células de carga, contrapesos, elevação pneumática, molas, etc.. Dessa forma, a pessoa pode ser suspensa completamente ou de acordo com a porcentagem do peso corporal que se deseja aliviar. Dentre as diferentes porcentagens de alívio de peso que podem ser utilizadas com o sistema de SPPC, a maioria dos estudos que o utilizou em esteira motorizada adotou 30% de SPPC devido à sua efetividade no treinamento da locomoção2-5. Além de selecionar a porcentagem apropriada de alívio de peso corporal durante as sessões de treinamento com SPPC, um outro aspecto que deveria ser considerado é o tipo de superfície que o indivíduo anda durante essas sessões, com intuito de aproximar as condições de intervenção o máximo possível das situações enfrentadas no dia a dia para facilitar a transferência de habilidade para as atividades da vida diária6,7. Há diferenças entre o andar sem SPPC em esteira e piso fixo que foram investigadas em indivíduos sadios8-11 e em indivíduos hemiparéticos em decorrência de acidente vascular encefálico12,13. As características da locomoção, tais como ângulos articulares e parâmetros espaço-temporais8,14,15, contato do pé com a superfície11 e ativação muscular13, são influenciadas pelo tipo de superfície em que se anda. Sendo assim, pode ser que o treinamento do andar em esteira motorizada possa interferir na transferência das habilidades adquiridas para o andar em piso fixo7,10,16, que é o tipo de superfície em que os indivíduos andam no dia a dia. Dentre os indivíduos com comprometimento no aparelho locomotor, um grupo que pode se beneficiar do treinamento do andar com SPPC é o de crianças com paralisia cerebral, uma vez que o desenvolvimento de um andar independente e eficiente é uma das grandes metas para essas crianças. Paralisia cerebral (PC) descreve um grupo de distúrbios permanentes de desenvolvimento dos movimentos e da postura, que causam limitação da atividade. Esses distúrbios são atribuídos a perturbações não progressivas que surgiram no encéfalo em desenvolvimento fetal ou infantil17. Até o momento, há poucos estudos que utilizaram o SPPC para treinamento do andar de crianças com PC18,19, sendo, na sua maioria, estudos de caso20-23. Nos estudos já realizados, o que normalmente se avaliou foi a melhora em testes motores, tais como o “Gross Motor Function Measure”24, antes e após o treinamento, e o que todos sugerem é que a utilização do SPPC pode melhorar o andar das crianças com PC. Entretanto, não há informações disponíveis sobre as implicações de se andar com o sistema de SPPC e em diferentes tipos de superfície, tais como esteira motorizada e piso fixo. Poucos estudos investigaram o uso de SPPC em piso fixo3,25-27, e nenhum deles investigou crianças. Sendo assim, antes de submeter crianças com PC a um programa de treinamento com SPPC, seria importante avaliá-las andando com o SPPC nos dois tipos de superfície, com intuito de verificar as implicações de se andar em piso fixo e esteira com esse sistema. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi analisar características espaço-temporais e ângulos articulares de crianças com PC andando sem o uso de SPPC em piso fixo e com 0% e 30% de SPPC em piso fixo e em esteira. Materiais e métodos Amostra Seis crianças com PC hemiplégica espástica, com idades entre 6 e 9 anos, participaram deste estudo. Para participar dele, elas deveriam ser hemiplégicas espásticas, sem qualquer deficiência cognitiva, verbal e visual que pudesse interferir na realização das tarefas, e serem classificadas entre os níveis I e III do sistema de classificação da função motora grossa (Gross Motor Function Classification System – GMFCS)28. Tais crianças foram recrutadas por meio de contato telefônico, uma vez que estavam inseridas em um programa de intervenção na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil, ou já haviam passado por esse programa anteriormente. As características das crianças são apresentadas na Tabela 1. Procedimentos As crianças acompanhadas de seus pais ou responsáveis compareceram ao Laboratório de Aprendizagem, Biomecânica, Avaliação e Treinamento (LABAT), Departamento de Educação Física, UFSCar, onde os dados foram adquiridos. Inicialmente, os objetivos e procedimentos do estudo foram explicados, e os acompanhantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo (SP), Brasil, (parecer no 100/2007). Enquanto os acompanhantes foram entrevistados por um dos experimentadores sobre o Inventário de Avaliação Pediátrica de Disfunção (Pediatric Evalualion of Disability 405 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):404-10. Vânia M. Matsuno,, Muriel R. Camargo, Gabriel C. Palma, Diego Alveno, Ana Maria F. Barela Tabela 1. Características das crianças com PC hemiplégica espástica referentes à idade (anos), gênero (masculino/feminino), hemicorpo plégico (direito/esquerdo), massa (kg), estatura (cm), nível de classificação motora grossa para paralisia cerebral (GMFCS) e grau de espasticidade dos membros inferiores conforme a escala de Ashworth30. Participante 1 2 3 4 5 6 Média DP Idade 6,3 6,7 7,8 8 8,3 9,1 7,70 1,04 Gênero M F M F F M Hemiplegia E D D D D E Massa 21,7 18,5 21,9 28,1 26,7 46,9 27,30 10,23 Estatura 120 112 130 125 131 142 126,67 10,27 GMFCS I II I II II III Escala de Ashworth 1 1 1 2 1 2 M=masculino; F=feminino; E=esquerda; D=direita; DP=desvio-padrão. Inventory – PEDI)29, que abrange questões referentes às áreas de mobilidade, autocuidado e função social, os demais experimentadores aferiram massa e estatura das crianças, e o grau de espasticidade foi avaliado por uma fisioterapeuta com base na escala de Ashworth30. Em seguida, marcadores refletivos foram afixados bilateralmente, com fita adesiva apropriada, no quinto metatarso, maléolo lateral, côndilo lateral do fêmur, trocanter maior e tubérculo maior do úmero para definir os segmentos pé, perna, coxa e tronco, respectivamente e para calcular posteriormente os ângulos articulares. Dessa forma, pé e perna definiram o ângulo do tornozelo, perna e coxa definiram o ângulo do joelho e coxa e tronco definiram o ângulo do quadril. As crianças foram filmadas por quatro câmeras digitais (Panasonic, modelo AG-DVC7P) a 60 Hz, dispostas bilateralmente, enquanto realizaram o andar em cinco condições experimentais: piso fixo sem o uso do SPPC, piso fixo com 0% de SPPC, piso fixo com 30% de SPPC, esteira com 0% de SPPC e esteira com 30% de SPPC. Nas condições realizadas no piso fixo, as crianças andaram com velocidade autosselecionada e confortável em um trecho de aproximadamente 10 m, sendo que, antes de iniciar a filmagem em cada uma das condições experimentais, as crianças realizaram algumas tentativas práticas para se familiarizarem com os procedimentos experimentais. Nas condições realizadas na esteira, que foi posicionada no centro do trecho de 10 m, elas andaram com velocidade que julgaram confortáveis, conforme um dos experimentadores incrementava essa velocidade e verificava se a criança conseguia realizar a tarefa. Após a definição da velocidade da esteira para cada criança individualmente, elas andaram cerca de cinco minutos em cada uma das porcentagens de alívio de peso para se adaptarem às condições experimentais antes de se iniciarem as filmagens referentes a cada uma das porcentagens de alívio de peso. Em todas as condições experimentais, todas as crianças usaram calçados e não usaram qualquer tipo de órtese. Quatro repetições em cada condição foram filmadas, e todas as crianças andaram primeiro no piso fixo sem o uso de 406 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):404-10. SPPC (condição controle). Para minimizar o tempo em que a criança teria que permanecer no laboratório, as condições com o uso do SPPC foram realizadas inicialmente no piso fixo e, em seguida, na esteira. Sendo assim, somente a ordem da porcentagem de alívio do peso corporal foi aleatória, sendo sorteada previamente pela própria criança. Todas tiveram intervalo para descanso quando necessário. O sistema de SPPC utilizado neste estudo consiste em um colete com cintos ajustáveis e alças revestidas na região da pelve e coxa, que foi suspenso por um cabo de aço acoplado a um motor que desliza em um trilho de aproximadamente 10 m de extensão afixado no teto do laboratório. Uma célula de carga, posicionada entre o colete e o cabo de aço, visualizada por um mostrador digital, foi utilizada para verificar a porcentagem aproximada de alívio de peso corporal das crianças. Para ajustar a porcentagem do peso aliviado, o motor era acionado para encurtar ou alongar o comprimento do cabo de aço até a porcentagem desejada. Tratamento dos dados Os dados da filmagem foram transferidos para um computador via uma placa de captura (ieee1394), e uma passada do membro plégico e uma do membro não plégico foram selecionadas de duas tentativas em cada condição experimental com a utilização do programa Ariel Performance Analysis System (APAS). Esses dados foram digitalizados com o mesmo programa para obtenção das coordenadas “x”, “y” e “z” dos marcadores que foram afixados nos pontos anatômicos das crianças. O procedimento para a transformação das coordenadas reais dos dados adquiridos foi o da transformação linear direta (DLT, direct linear transformation). Essas coordenadas foram filtradas com o filtro Butterworth de 4a ordem, passa-baixa de 10 Hz, e as seguintes variáveis foram calculadas com a utilização do programa Matlab (MathWorks, Inc.): descritivas (velocidade média de locomoção, comprimento e velocidade da passada e cadência), temporais (durações do período de apoio simples, de apoio duplo total e de balanço) e articulares (amplitude de movimento (ADM) das Suporte parcial de peso corporal e paralisia cerebral articulações do quadril, joelho e tornozelo) durante o ciclo do andar. Os dados da coordenada “x” (referente ao plano de progressão) do marcador afixado no trocanter maior foram utilizados para cálculo da velocidade média de locomoção, e os dos marcadores afixados nos maléolos laterais direito e esquerdo foram utilizados para cálculo do comprimento da passada. A velocidade da passada foi calculada pela razão entre comprimento e duração da passada. A ADM foi calculada a partir da diferença entre os ângulos máximo e mínimo de cada articulação. Tratamento estatístico Para comparar o andar das crianças com PC hemiplégica espástica entre as cinco condições experimentais, análises de variância univariadas (ANOVAs) e análises de variância multivariadas (MANOVAs) para medidas repetidas foram empregadas. A primeira ANOVA teve como fator condição e como variável dependente a velocidade média de locomoção; a segunda ANOVA teve como fatores condição e hemicorpo (plégico e não plégico) e como variável dependente a cadência. As MANOVAs tiveram como fatores condição e hemicorpo e como variáveis dependentes comprimento da passada e velocidade da passada para a primeira MANOVA, duração dos períodos de apoio simples, apoio duplo total e balanço para a segunda MANOVA e ADM das articulações do quadril, joelho e tornozelo para a terceira MANOVA. Quando necessários, testes post hoc de Tukey foram empregados. O nível de significância foi mantido em α=0,05 para todos os testes estatísticos, os quais foram realizados com o software Statistical Package for the Social Sciences – SPSS (versão 10.0, SPSS Inc.). Resultados A Tabela 2 apresenta os valores médios (± DP) das variáveis descritivas e das variáveis temporais. Com relação à velocidade média de locomoção, a ANOVA indicou diferença para condição, F4,20=19,33, p<0,001. Testes post hoc indicaram que as crianças andaram mais rapidamente no piso fixo sem o uso do SPPC e com 0% SPPC do que na esteira com 0% e 30% de SPPC. Com relação ao comprimento e velocidade da passada, a MANOVA indicou diferença para condição, Wilk’s Lambda=0,15, F8,38=7,57, p<0,001, não indicou diferença para hemicorpo, Wilk’s Lambda=0,37, F2,4=3,34, p>0,05, nem interação entre condição e hemicorpo, Wilk’s Lambda=0,87, F8,38=0,33, p>0,05. Testes univariados para condição indicaram diferenças para comprimento, F4,20=21,19, p<0,001, e velocidade, F4,20=22,99, p<0,001, da passada. Testes post hoc indicaram que as crianças andaram com passadas mais longas e mais rápidas no piso fixo sem uso do SPPC e com 0% SPPC do que na esteira com 0% e 30% de SPPC. Com relação à cadência, a ANOVA indicou diferença para condição, F4,20=29,21, p<0,001, não indicou diferença para hemicorpo, F1,5=1,84, p>0,05, nem interação entre condição e hemicorpo, F4,20=0,48, p>0,05. Testes post hoc indicaram que as crianças apresentaram cadência mais alta no piso fixo sem uso do SPPC e com 0% de SPPC do que na esteira (0% e 30% de SPPC), e apresentaram cadência mais alta no piso fixo com 30% de SPPC do que na esteira com 30% de SPPC. Com relação às variáveis temporais, a MANOVA indicou diferença para condição, Wilk’s Lambda=0,11, F12,47=5,31, p<0,001, não indicou diferença para hemicorpo, Wilk’s Lambda=0,75, F3,3=0,80, p>0,05, nem interação entre condição e hemicorpo, Tabela 2. Valores médios (± DP) da velocidade média de locomoção, comprimento e velocidade da passada, cadência, durações dos períodos de apoio simples, apoio duplo total e balanço nas condições piso fixo sem colete (PF), piso fixo com 0% e 30% de SPPC (0% PF e 30% PF, respectivamente), e esteira com 0% e 30% de SPPC (0% ES e 30% ES, respectivamente), para os hemicorpos plégico e não plégico das crianças com paralisia cerebral hemiplégica espástica (n=6). Condição Vel. Média (m/s) Comprimento da Passada (m) Vel. Passada (m/s) Cadência (passos/min) Apoio Simples (%) Apoio Duplo Total (%) Balanço (%) 1,03±0,28 1,01±0,19 1,00±0,20 1,08±0,29 1,05±0,30 128±16 126±17 38,03±4,86 40,83±3,45 21,92±6,37 21,43±7,23 40,06±2,83 37,74±4,41 0,87±0,21 0,86±0,16 0,84±0,15 0,90±0,20 0,89±0,18 126±10 127±13 36,66±2,00 39,77±4,57 19,71±4,50 20,44±5,82 43,62±4,99 39,80±6,79 0,67±0,15 0,79±0,15 0,77±0,16 0,72±0,17 0,70±0,17 110±17 110±17 39,03±6,88 39,64±6,51 23,51±5,76 23,07±6,78 37,46±4,61 37,29±4,21 0,41±0,07 0,59±0,09 0,58±0,11 0,40±0,06 0,38±0,07 82±6 79±5 30,61±3,17 29,41±3,42 43,05±8,92 42,58±8,31 26,33±7,92 28,01±7,62 0,41±0,05 0,56±0,13 0,56±0,11 0,37±0,06 0,37±0,05 81±9 80±9 30,28±4,06 29,32±3,43 36,52±6,38 36,66±4,51 33,20±6,63 34,01±4,65 PF Plégico Não plégico 0% PF Plégico Não plégico 30% PF Plégico Não plégico 0% ES Plégico Não plégico 30% ES Plégico Não plégico 407 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):404-10. Vânia M. Matsuno,, Muriel R. Camargo, Gabriel C. Palma, Diego Alveno, Ana Maria F. Barela A) 80 Plégico Não Plégico AMD de Quadril (º) 70 60 50 40 30 20 10 B) 80 AMD de Joelho (º) 70 60 50 Discussão 40 30 20 10 C) 80 AMD de Tornozelo (º) Lambda=0,15, F12,47=4,25, p<0,001, para hemicorpo, Wilk’s Lambda=0,05, F3,3=18,66, p<0,05, e não indicou interação entre condição e hemicorpo, Wilk’s Lambda=0,38, F12,47=1,77, p>0,05. Testes univariados para condição indicaram diferenças para ADM do quadril, F4,20=5,91, p<0,005, do joelho, F4,20=3,75, p<0,05, e do tornozelo, F4,20=3,87, p<0,05. Testes univariados para hemicorpo indicaram diferenças para ADM do quadril, F1,5=32,64, p<0,005, em que o hemicorpo plégico apresentou menor ADM que o hemicorpo não plégico. Testes post hoc para condição indicaram que a ADM do quadril foi maior sem o uso do SPPC do que com 30% de SPPC em piso fixo e não indicaram qualquer diferença para a ADM do joelho e do tornozelo. 70 60 50 40 30 20 10 Sem SPPC 0% PF 30% PF 0% Est 30% Est Figura 1. Valores médios (± DP) da amplitude de movimento das articulações do quadril, joelho e tornozelo dos hemicorpos plégico e não plégico durante o andar das crianças com PC nas condições experimentais sem o uso do suporte parcial de peso corporal (sem SPPC), com 0% e 30% de SPPC em piso fixo (0% PF, 30% PF, respectivamente), e com 0% e 30% de SPPC em esteira motorizada (0% Est, 30% Est, respectivamente) (n=6). Wilk’s Lambda=0,63, F12,47=0,76, p>0,05. Testes univariados para condição indicaram diferenças para duração do apoio simples, F4,20=12,84, p<0,001, apoio duplo total, F4,20=25,57, p<0,001, e balanço, F4,20=9,33, p<0,001. Testes post hoc indicaram que as crianças apresentaram duração do período de apoio simples maior sem uso do SPPC e com 0% de SPPC em piso fixo do que na esteira. A duração do período de apoio duplo total foi menor no piso fixo sem uso do SPPC e com 0% de SPPC do que na esteira, e foi menor no piso fixo com 30% de SPPC do que na esteira com 0% de SPPC. A duração do período de balanço foi maior no piso fixo sem o uso de SPPC e com 0% de SPPC do que na esteira com 0% de SPPC. A Figura 1 apresenta média (± DP) das ADMs articulares. A MANOVA indicou diferença para condição, Wilk’s 408 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):404-10. Este estudo analisou as características espaço-temporais e os ângulos articulares de crianças com PC andando sem SPPC em piso fixo e com 0% e 30% de SPPC em piso fixo e esteira. Poucos estudos verificaram o uso de SPPC em piso fixo3,25,27, sendo que eles investigaram pacientes que sofreram acidente vascular encefálico. O presente estudo foi o primeiro a analisar o andar de crianças com PC com SPPC em piso fixo e a compará-lo ao andar sem o uso do SPPC e com SPPC em esteira. De acordo com os resultados encontrados, as crianças andaram mais rapidamente e apresentaram passadas mais longas e mais rápidas no piso fixo, independentemente do uso ou não do SPPC, do que na esteira. Em termos de ângulos articulares, o quadril foi a única articulação que apresentou diferenças entre os hemicorpos e entre as condições, sendo que o hemicorpo plégico apresentou menor ADM do que o hemicorpo não plégico, e a ADM foi maior na condição sem o uso de SPPC do que com 30% de SPPC em piso fixo. Em se tratando do tipo de superfície, a maioria das diferenças encontradas para as variáveis espaço-temporais pode ser decorrente das características da esteira e da velocidade em que as crianças andaram nesse tipo de superfície. Por exemplo, o comprimento da esteira pode interferir no comprimento da passada31 e, pelo fato de a esteira ser uma superfície móvel, essa superfície é mais instável do que o piso fixo, o que também contribui para diminuir comprimento e velocidade da passada32. Por outro lado, a velocidade média de locomoção interfere nas características espaço-temporais do andar33. Provavelmente, se a velocidade da esteira tivesse sido similar à velocidade em que as crianças andaram no piso fixo, elas não teriam apresentado comprimento e velocidade da passada diferentes entre os dois tipos de superfície. Porém, o fato de essas crianças não estarem habituadas a andar em esteira motorizada contribuiu para não se sentirem confortáveis para andar com uma velocidade mais rápida. Um Suporte parcial de peso corporal e paralisia cerebral outro aspecto relacionado à instabilidade quando se anda na esteira pôde ser conferido com a duração dos períodos de apoio e balanço, que também foram diferentes entre o piso fixo e a esteira. É bem estabelecido que a duração do período de apoio simples indica a capacidade de sustentar o membro34, da mesma forma que a diminuição da duração do apoio duplo indica estabilidade do andar. Pelo fato de a esteira ser uma superfície móvel, as crianças necessitaram permanecer um tempo maior com os dois pés apoiados na superfície de contato durante o ciclo do andar do que quando andaram no piso fixo. Consequentemente, elas permaneceram um tempo menor com apenas um pé apoiado na superfície de contato durante o ciclo do andar na esteira do que no piso fixo. Um dos fatores que contribui para aumentar a estabilidade e o equilíbrio é o aumento da base de suporte35 e, no caso deste estudo, as crianças permaneceram um tempo maior com os dois pés apoiados na esteira para garantir maior estabilidade enquanto andavam nessa superfície. O uso da esteira pode apresentar vantagens e desvantagens quando se pensa em um programa de treinamento do andar para crianças com PC. Em termos de vantagens, a esteira pode ser usada em um espaço pequeno para as crianças andarem; favorece prática repetitiva de ciclos completos do andar, com passos simétricos e consistentes36; o número de repetições por sessão de treinamento de ciclos do andar pode ser elevado, uma vez que a criança deve continuar andando enquanto a esteira estiver em movimento; a velocidade de locomoção pode ser controlada precisamente, possibilitando o aumento da velocidade, à medida que ela se adapta à condição de andar na esteira. Em termos de desvantagens, a esteira apresenta demandas de contexto diferentes daquelas necessárias no piso fixo, principalmente quanto à propulsão e controle do equilíbrio37. Em termos de propulsão, enquanto que para realizar os passos no piso fixo é preciso aplicar força suficiente à superfície de contato para avançar os membros direito e esquerdo à frente alternadamente, na esteira, quando se utiliza algum tipo de suporte externo (e.g. SPPC, barras laterais), a propulsão gerada não precisa necessariamente ser proporcional à velocidade38, sendo possível que o cinto da esteira movimente passivamente os membros sem alterar a ativação muscular13. Dessa forma, a criança pode simplesmente elevar e abaixar os membros enquanto o cinto se movimenta. Em termos de controle de equilíbrio, como a esteira é uma superfície móvel, a estratégia utilizada para andar nela pode ser diferente da estratégia adotada para andar no piso fixo para se manter estável. Esse aspecto foi constatado, neste estudo, por meio da variável duração dos períodos de apoio simples e apoio duplo, que foi discutida anteriormente. Essas “desvantagens” podem limitar a transferência das habilidades adquiridas na esteira para o andar em piso fixo37, uma vez que as estratégias adotadas para andar na esteira durante a intervenção podem não corresponder aos requisitos necessários para se andar no piso fixo, que é o tipo de superfície em que se anda normalmente. No caso do treinamento do andar de crianças com PC, uma preocupação que se deveria ter é com as condições impostas a essas crianças, possibilitando uma aprendizagem mais efetiva dessa forma de locomoção. E, talvez mais importante, se tais condições facilitariam ou dificultariam a transferência da aprendizagem para o andar nas condições do dia a dia delas. Sendo assim, seria importante comparar o treinamento do andar de crianças com PC nos dois tipos de superfície para verificar as implicações de cada um dos procedimentos na capacidade de locomoção e, consequentemente, nas atividades da vida diária dessas crianças. No que se refere à ADM articular, a ausência de diferenças para as articulações do joelho e tornozelo pode ser decorrente do número reduzido da amostra e da variabilidade entre as crianças, o que pode ser observado pelos altos valores do desviopadrão (Figura 1b e 1c). O quadril, por outro lado, apresentou menor variabilidade, possivelmente por ser uma articulação mais proximal que joelho e tornozelo, e apresentou diferenças entre os hemicorpos plégico e não plégico, sendo que as diferenças encontradas entre as condições podem ser atribuídas ao uso do colete, que pode restringir o movimento dessa articulação26,37. Por fim, diferenças entre as duas porcentagens de alívio de peso selecionadas para esteira e piso fixo não foram encontradas para a maioria das variáveis investigadas, o que contradiz estudo anterior que investigou o andar com SPPC em piso fixo de pacientes hemiparéticos26. Mais uma vez, este resultado pode ser atribuído ao tamanho reduzido da amostra e à grande variabilidade entre as crianças. Até o momento, para nosso conhecimento, não há qualquer estudo publicado que tenha investigado o andar com diferentes porcentagens de alívio de peso em crianças com PC. Para estudos futuros, é importante investigar um número maior de crianças com PC, principalmente devido à grande variabilidade que há no tipo de lesão encefálica nessas crianças. Este estudo demonstrou que é possível utilizar sistemas de SPPC em piso fixo e em esteira em crianças com PC hemiplégica espástica, e que as principais diferenças podem ser observadas entre os tipos de superfície. Por ser o primeiro estudo que investigou o uso de SPPC em piso fixo e diferentes porcentagens de alívio de peso, algumas limitações podem ser apontadas. Por exemplo, a não aleatorização dos tipos de superfície, o tempo de familiarização com as condições experimentais que poderia ter sido maior, a velocidade da esteira que foi diferente da velocidade adotada para andar no piso fixo, o tamanho reduzido da amostra, entre outras. Participaram, deste estudo, apenas crianças que eram capazes de deambular independentemente, porém, elas apresentaram 409 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):404-10. Vânia M. Matsuno,, Muriel R. Camargo, Gabriel C. Palma, Diego Alveno, Ana Maria F. Barela grande variabilidade na execução da tarefa nas diferentes condições experimentais. Estudos futuros com um número maior de crianças, com diferentes tipos de PC e maior comprometimento na locomoção devem ser realizados, além de outras características do andar serem consideradas para análise. Ainda, estudos que investiguem os efeitos de treinamento do andar nos dois tipos de superfície devem ser realizados para esclarecer se sistemas de SPPC são efetivos per se ou se é a combinação entre o sistema e o tipo de superfície que favorece a melhora no andar de crianças com PC. Agradecimentos À Paula Hentschel Lobo da Costa, por disponibilizar o LABAT para aquisição dos dados; a Diogo Costa Garção, pelo auxílio na seleção das crianças; a Catarina de Oliveira Sousa e André Rocha Viana, pelo auxílio nas coletas de dados; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processos 119254/2009-3 e 121626/2009-1 (bolsas de iniciação científica), e aos responsáveis legais das crianças que participaram do estudo. Referências bibliográficas 1. Therlkeld AJ, Cooper LD, Monger BP, Craven AN, Haupt HG. Temporospatial and kinematic gait alterations during treadmill walking with body weight suspension. Gait Posture. 2003;17(3):235-45. 20. Beard L, Harrow C, Bothner K. 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ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 411-6, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Padrão respiratório e movimento toracoabdominal em indivíduos saudáveis: influência da idade e do sexo Breathing pattern and thoracoabdominal motion in healthy individuals: influence of age and sex Verônica F. Parreira1, Carolina J. Bueno2, Danielle C. França3, Danielle S. R. Vieira3, Dirceu R. Pereira2, Raquel R. Britto1 Resumo Objetivo: Descrever o padrão respiratório e o movimento toracoabdominal de indivíduos saudáveis considerando a idade e o sexo. Métodos: Foram estudados 104 indivíduos com idades entre 20-39, 40-59 e 60-80 anos, 41 homens e 63 mulheres, com índice de massa corporal e valores espirométricos normais. A pletismografia respiratória por indutância foi utilizada para mensurar, durante o repouso e em decúbito dorsal, as seguintes variáveis: volume corrente (Vc), frequência respiratória (f), ventilação minuto (VE), razão entre o tempo inspiratório e o tempo total do ciclo respiratório (Ti/Ttot) e fluxo inspiratório médio (Vc/Ti), deslocamento da caixa torácica (%CT), relação de fase inspiratória (PhRIB), relação de fase expiratória (PhREB) e ângulo de fase (AngFase). As comparações entre as faixas etárias foram realizadas por meio da ANOVA one-way ou Kruskal-Wallis H, comparações entre os sexos foram realizadas por meio dos testes t de Student para amostras independentes ou Mann-Withney U, de acordo com a distribuição dos dados, considerando significativo p<0,05. Resultados: Na comparação entre os sexos, mulheres apresentaram valores significativamente menores em relação aos homens nas variáveis Vc, VE e Ti/Ttot nas faixas etárias de 20 a 39 e de 60 a 80 anos, sem nenhuma diferença na faixa etária de 40 a 59 anos. Na comparação entre as faixas etárias, indivíduos com 60 a 80 anos apresentaram PhRIB e AngFase significativamente maiores em relação aos adultos entre 20 e 39 anos, sem diferenças significativas nas variáveis do padrão respiratório. Conclusão: Os dados encontrados sugerem influência do sexo sobre o padrão respiratório e da idade sobre o movimento toracoabdominal. Palavras-chave: fisioterapia respiratória; avaliação; padrão respiratório; movimento toracoabdominal; indivíduos saudáveis. Abstract Objective: To describe the breathing pattern and thoracoabdominal motion of healthy individuals, taking age and sex into consideration. Methods: The study included 104 individuals aged 20 to 39, 40 to 59, and 60 to 80 years (41 males and 63 females), with normal body mass index and spirometric values. Participants were evaluated at rest in the supine position, by means of respiratory inductive plethysmography. The following variables were measured: tidal volume (Vt), respiratory frequency (f), minute ventilation (VE), inspiratory duty cycle (Ti/Ttot), mean inspiratory flow (Vt/Ti), rib cage motion (%RC), inspiratory phase relation (PhRIB), expiratory phase relation (PhREB), and phase angle (PhaseAng). Comparisons between the age groups were performed using one-way ANOVA or KruskalWallis H, while comparisons between the sexes were performed using Student’s t test or the Mann-Whitney U test, depending on the data distribution; p<0.05 was taken to be significant. Results: Comparison between the sexes showed that, in the age groups 20 to 39 and 60 to 80 years, women presented significantly lower values for Vt, VE, and Ti/Ttot than men, and there was no significant difference in the age group 40 to 59 years. Comparisons between the age groups showed that participants aged 60 to 80 presented significantly greater PhRIB and PhaseAng than participants aged 20 to 39 years, without significant differences in the breathing pattern. Conclusion: The data suggest that breathing pattern is influenced by sex whereas thoracoabdominal motion is influenced by age. Key words: respiratory physical therapy; assessment; breathing pattern; thoracoabdominal motion; healthy individuals. Recebido: 29/05/2009 – Revisado: 20/10/2009 – Aceito: 26/01/2010 1 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil 2 Curso de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil 3 Programa de Pós-Graduação em Ciências de Reabilitação, UFMG Correspondência para: Verônica Franco Parreira, Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Departamento de Fisioterapia, Av. Presidente Antônio Carlos, 6627, Pampulha, CEP 31.270-901, Belo Horizonte (MG), Brasil, e-mail: [email protected] 411 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):411-6. Verônica F. Parreira, Carolina J. Bueno, Danielle C. França, Danielle S. R. Vieira, Dirceu R. Pereira, Raquel R. Britto Introdução O sistema respiratório é basicamente constituído pelos pulmões, cuja principal função é garantir as trocas gasosas com o meio, e pela parede torácica, que se movimenta devido a uma ação contínua de músculos1. A parede torácica expressa o conjunto toracoabdominal (TA) que tem como componentes a caixa torácica (CT) e o abdômen (AB), separados pelo diafragma2,3. Dessa forma, o movimento toracoabdominal normal é constituído pela expansão e retração desses compartimentos durante a inspiração e a expiração, respectivamente4,5. Embora CT e AB se movam em unidade, cada um dos compartimentos apresenta independência de movimento6. Quando o deslocamento entre os compartimentos deixa de ser harmônico, o movimento TA torna-se assincrônico4,5,7. Homens e mulheres saudáveis de diferentes faixas etárias apresentaram simetria entre os movimentos dos lados direito e esquerdo do tórax e abdômen8. O padrão respiratório e o movimento TA podem ser influenciados por vários fatores como posicionamento do indivíduo9,10, idade10,11, sexo10, sobrecarga respiratória12, doenças neuromusculares13, doenças pulmonares associadas ao aumento da resistência da via aérea4,14,15 e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)5,16-18. O aumento dos índices de assincronia pode estar relacionado a pior prognóstico e mortalidade significativamente maior16. Dentre os fatores que podem influenciar o sistema respiratório em indivíduos saudáveis, destacam-se a idade e o sexo. Nos idosos, as alterações estruturais do sistema respiratório englobam modificações que ocorrem nos pulmões, na CT, na musculatura respiratória e no drive respiratório. A principal alteração relacionada à CT consiste na diminuição de sua complacência. Em indivíduos saudáveis, essas mudanças são mais evidentes a partir dos 80 anos, apesar de estarem presentes desde os 50 anos11. Estudos que utilizam a pletismografia demonstraram que os valores médios dos componentes do padrão respiratório de idosos saudáveis não diferiram significativamente daqueles encontrados em adultos7,10,11, sugerindo que o processo de envelhecimento do sistema respiratório da população estudada não provocou grande impacto nos parâmetros analisados. Em relação ao sexo, em um estudo no qual foi realizada comparação entre homens e mulheres, houve diferença em relação aos tempos respiratórios3. O tempo inspiratório, tempo expiratório e tempo total do ciclo respiratório foram menores nas mulheres. Além disso, elas apresentaram frequência respiratória maior, sugerindo a tendência de as mulheres de respirarem mais rápido do que os homens3. Na análise do movimento TA, durante a respiração tranquila, homens e mulheres apresentaram o mesmo comportamento3,10. 412 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):411-6. Os dados do padrão respiratório e da assincronia TA são importantes fontes de informação sobre a função respiratória10,11,14,19, representando uma ferramenta importante na avaliação fisioterápica de pacientes com disfunções respiratórias agudas e crônicas, desde a atenção primária, realizada na porta de entrada da rede de saúde pública, até em um ambiente de alta complexidade, como em unidades de terapia intensiva. Os dados relativos ao padrão respiratório, como o volume corrente e a frequência respiratória são úteis no acompanhamento, durante diferentes tipos de intervenção da fisioterapia respiratória, como a reabilitação pulmonar e a assistência a pacientes no pré e/ou pós-operatório de cirurgias torácicas e abdominais, dentre outras situações clínicas, possibilitando a observação da evolução favorável ou não de diferentes parâmetros. Um instrumento frequentemente utilizado na pesquisa para a avaliação do padrão respiratório e do movimento TA é a pletismografia por indutância, que permite registrar o deslocamento dos compartimentos, além das alterações no tempo e volume pulmonar3,7,10. Dentro do nosso conhecimento, os estudos sobre padrão respiratório e movimento TA em adultos saudáveis avaliaram poucos indivíduos3, números muito diferentes de indivíduos em faixas etárias distintas7 ou um número restrito de variáveis10. Tendo em vista a relevância da avaliação do padrão respiratório e do movimento toracoabdominal para a prática clínica, é interessante obter dados de diferentes variáveis em número expressivo de indivíduos brasileiros. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi descrever o padrão respiratório e o movimento TA em indivíduos saudáveis brasileiros considerando o sexo e a idade. Materiais e métodos Amostra Foram recrutados 109 indivíduos para o estudo. As coletas foram realizadas no Laboratório de Avaliação e Pesquisa em Desempenho Cardiorrespiratório. Os critérios de inclusão foram: idade entre 20 e 80 anos; índice de massa corporal (IMC) sem indicação de sobrepeso (18,5 e 29,9 kg/m2)20; não tabagista; ausência de distúrbios ventilatórios de qualquer ordem na prova de função pulmonar de acordo com os valores previstos por Pereira21; ausência de deformidade torácica ou abdominal evidente; ausência de doenças cardíacas ou neuromuscular; ausência de cirurgia torácica ou abdominal prévia. O critério de exclusão foi incapacidade de compreender e/ou realizar algum dos procedimentos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil (Parecer ETIC 148/07) e todos os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Padrão respiratório e movimento toracoabdominal em saudáveis Procedimentos e instrumentos de medida Variáveis analisadas Após a leitura e assinatura do termo de consentimento, foram verificados o peso e altura por meio da balança calibrada (Filizola ind. Ltda, São Paulo, SP, Brasil) para cálculo do IMC, e realizada a prova de função pulmonar por meio da manobra forçada da espirometria (Vitalograph 2120, Buckinghan, England). Para avaliar o padrão respiratório e o movimento toracoabdominal, foi utilizada a Pletismografia Respiratória por Indutância (Respitrace®, Nims, Miami, FL, USA), a qual é um método não-invasivo que requer pouco esforço por parte do sujeito, demonstra acurácia22-24 e tem sido utilizada em diferentes estudos3,5,7,10-12,14-17,25-32. As medidas da pletismografia respiratória por indutância são baseadas em mudanças na área de secção transversa captadas por duas faixas de indutância. Cada faixa é composta por duas partes elásticas finas e aderidas que envolvem um fio transdutor disposto de forma sinusoidal envolvido por material plástico. Uma das faixas foi posicionada na axila, e a outra, na linha umbilical. As faixas foram levemente esticadas em torno do indivíduo para assegurar um ajuste firme e minimizar a distorção do sinal, sem, no entanto, limitar o movimento torácico ou causar desconforto33. O participante foi posicionado e orientado a permanecer confortavelmente em decúbito dorsal, sem elevação da cabeceira (0º), respirando tranquilamente, sem falar, dormir e movimentar qualquer seguimento corporal até o final do registro dos dados. A calibração dos sinais foi realizada durante respiração espontânea por meio de um procedimento específico (Qualitative Diagnostic Calibration), descrito inicialmente por Sackner et al.34. Tal procedimento é realizado em duas etapas. Inicialmente, o indivíduo respira espontaneamente, o que permite o equilíbrio dos ganhos elétricos dos sinais referentes à CT e AB que, corretamente amplificados e divididos, possibilitam a calibração relativa que dura em torno de cinco minutos. Em seguida, após o uso de uma seringa de volume conhecido, o indivíduo respira por meio de um espirômetro (Vitatrace, Pro Médico, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), com um clip nasal, de 30 a 60 segundos. Nessa etapa, os sinais elétricos de CT e AB são utilizados para se obter o volume corrente em ml. A calibração é realizada por meio de um software (RespiPanel, NIMS, Miami, FL, USA). Uma descrição detalhada da calibração foi publicada anteriormente28,35. Após a calibração, os dados pletismográficos foram registrados por aproximadamente dez minutos por meio de um software específico (RespiEvents5.2, NIMS, Miami, FL, USA). Para a análise dos dados, foram selecionados intervalos de no mínimo 30 segundos de traçado estável. Além disso, esses intervalos deveriam somar, no mínimo, 5 minutos de registro. Para o padrão respiratório, foram analisadas as seguintes variáveis de volume e tempo11: volume corrente (Vc), frequência respiratória (f), ventilação minuto (VE), razão entre o tempo inspiratório e o tempo total do ciclo respiratório (Ti/Ttot), fluxo inspiratório médio (Vc/Ti). Em relação ao movimento TA, foram analisadas: deslocamento do tórax (%CT), ângulo de fase (AngFase), que reflete o atraso entre as excursões de CT e AB4,5,12,14,15,27,29,30, relação de fase inspiratória (PhRIB) e relação de fase expiratória (PhREB), que refletem a porcentagem de tempo em que a CT e o AB movem-se em direções opostas durante a inspiração e expiração, respectivamente29,30. Análise estatística Os dados são apresentados como tendência central e dispersão. Para análise dos dados, os indivíduos foram divididos em três grupos de acordo com a idade, 20 a 39 anos, 40 a 59 anos e 60 a 80 anos. Para comparações entre os sexos, os indivíduos de cada faixa etária foram separados em mulheres e homens. A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. As comparações entre os sexos foram realizadas por meio dos testes t de Student para amostras independentes ou Mann-Withney U, de acordo com a distribuição dos dados. As comparações entre as faixas etárias foram realizadas por meio da ANOVA one-way ou Kruskal-Wallis H, de acordo com a distribuição dos dados. Considerou-se significativo p<0,05. As análises foram realizadas no software Statistical Package for Social Sciences, versão 13.0. Resultados Dos 109 indivíduos recrutados, cinco foram excluídos em função de problemas técnicos durante a coleta. Assim, os dados apresentados são relativos a 104 indivíduos (48 entre 20 e 39 anos; 18 entre 40 e 59 anos e 38 entre 60 e 80 anos). Foram analisados 8667 ciclos respiratórios, com uma média de 84 ciclos por indivíduo. A Tabela 1 descreve as características antropométricas, demográficas e espirométricas da amostra. A Tabela 2 apresenta os valores das variáveis do padrão respiratório e do movimento TA em mulheres e homens das três faixas etárias estudadas. Foram realizadas comparações entre os sexos de cada grupo de idade, as quais mostraram Vc, VE e Ti/Ttot significativamente menores nas mulheres no grupo de adultos, com idades entre 20 e 39 anos, sem diferença significativa nas demais variáveis; ausência de diferenças significativas 413 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):411-6. Verônica F. Parreira, Carolina J. Bueno, Danielle C. França, Danielle S. R. Vieira, Dirceu R. Pereira, Raquel R. Britto na faixa entre 40 e 59 anos e Vc, VE e Vc/Ti significativamente menores nas mulheres no grupo de idosos, sem diferença significativa nas demais variáveis. A Tabela 3 apresenta comparações do padrão respiratório e do movimento TA entre as faixas etárias. Não foram observadas diferenças significativas em nenhuma das variáveis relativas ao padrão respiratório. Em relação ao movimento toracoabdominal, PhRIB e AngFase foram significativamente maiores nos indivíduos com mais de 60 anos em relação aos adultos entre 20 e 39 anos. Adicionalmente foi realizada comparação entre as faixas etárias para os grupos de homens e de mulheres separadamente. Não foram encontradas diferenças significativas entre as faixas etárias no grupo das mulheres. No grupo dos homens foi encontrada diferença significativa apenas na variável Ti/Ttot. Homens com idade de 20 a 39 anos apresentaram valores significativamente menores em relação a homens com idade maior que 60 anos. Tabela 1. Dados relativos às variáveis antropométricas, demográficas e espirométricas dos 104 indivíduos estudados. O principal resultado deste estudo foi que houve diferença significativa em algumas das variáveis do padrão respiratório entre os sexos e do movimento TA entre os indivíduos dos três grupos de idade avaliados. Na comparação entre os sexos, mulheres apresentaram valores significativamente menores em relação aos homens nas variáveis Vc, VE e Ti/Tot nos adultos entre 20 e 39 anos e Vc, VE e Vc/Ti nos idosos, sem diferenças significativas nas variáveis do movimento toracoabdominal. Na comparação entre as faixas etárias, indivíduos com mais de 60 anos apresentaram, em relação aos adultos entre 20 e 39 anos, PhRIB e AngFase significativamente maiores, sem diferenças significativas nas variáveis do padrão respiratório. Participantes n = 104 Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC (Kg/m2) VEF1 (% predito) CVF (% predito) VEF1/CVF FEF25-75% (% predito) 46,24±19,57 67,12±14,45 1,65±0,09 24,66±5,36 96,38±10,45 97,02±10,34 99,67±7,32 90,7±25,96 Os dados estão apresentados como média e desvio-padrão. IMC: índice de massa corpórea; CVF: capacidade vital forçada; VEF1: volume expiratório forçado no 1° segundo; VEF1/CVF: razão entre VEF1 e CVF e FEF25-75%: fluxo expiratório forçado entre 25-75% da CVF. Discussão Tabela 2. Dados relativos às variáveis do padrão respiratório e do movimento toracoabdominal entre os sexos nas três faixas etárias. Vc (ml) f (irpm) VE (l/min) Ti/Ttot Vc/Ti(ml/s) %CT/Vc PhRIB (%) PhREB (%) AngFase (°) 20 a 39 anos Mulheres Homens 325±127 441±114 * 15±2 13±4 4,69±1,34 5,61±1,13 * 0,39±0,03 0,42±0,04 * 199±56 221±46 46±15 39±10 7±3 8±3 15±6 12±6 11±5 10±6 40 a 59 anos Mulheres Homens 309±111 325±115 14±2 16±3 4,43±1,51 4,65±2,08 0,39±0,03 0,41±0,02 193±80 192±90 40±9 32±7 7±3 11±6 13±6 16±6 12±4 17±9 60 a 80 anos Mulheres Homens 283±83 383±124 * 15±2 15±3 4,26±1,29 5,98±1,76 * 0,38±0,04 0,39±0,04 187±49 259±68 * 45±18 37±14 10±4 12±6 16±9 18±8 13±7 17±9 Os dados estão apresentados como média ± desvio-padrão. Vc: volume corrente; f: freqüência respiratória; VE: ventilação minuto; Ti/Ttot: razão do tempo inspiratório e o tempo total do ciclo respiratório e Vc/Ti: fluxo inspiratório médio; %CT: deslocamento do tórax; PhRIB: relação de fase inspiratória; PhREB: relação de fase expiratória; AngFase: ângulo de fase. * : diferença significativa (p<0,05) nas comparações entre mulheres e homens em cada faixa etária. Tabela 3. Comparação das variáveis do padrão respiratório e do movimento toracoabdominal nas três faixas etárias. Vc (ml) f (irpm) VE (l/min) Ti/Ttot Vc/Ti(ml/s) %CT/Vc PhRIB (%) PhREB (%) AngFase (°) 20 a 39 anos 352±133 15±3 4,9±1,3 0,40±0,04 204±55 44±14 8±3 15±7 11±6 40 a 59 anos 302±117 15±3 4,6±1,7 0,40±0,03 193±82 36±11 9±5 15±6 14±7 60 a 80 anos 338±118 16±3 5,2±1,8 0,38±0,04 227±70 40±16 11±5* 17±8 15±8* p 0,323 0,532 0,370 0,079 0,085 0,058 0,002 0,093 0,032 Os dados estão apresentados como média ± desvio-padrão. Vc: volume corrente; f: freqüência respiratória; VE: ventilação minuto; Ti/Ttot: razão do tempo inspiratório e o tempo total do ciclo respiratório e Vc/Ti: fluxo inspiratório médio; %CT: deslocamento do tórax; PhRIB: relação de fase inspiratória; PhREB: relação de fase expiratória; AngFase: ângulo de fase. *:diferença significativa (p<0,05) entre adultos (20 a 39 anos) e idosos (60 a 80 anos). 414 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):411-6. Padrão respiratório e movimento toracoabdominal em saudáveis Dentro do nosso conhecimento, os estudos anteriores que avaliaram variáveis do padrão respiratório e do movimento TA em adultos saudáveis foram realizados com populações de outros países e/ou utilizando um número restrito de variáveis ou indivíduos3,7,10. O presente estudo acrescenta informações importantes, considerando-se que os valores observados em indivíduos de diferentes faixas etárias podem ser utilizados tanto no processo de avaliação como durante intervenções da fisioterapia com pacientes que apresentam disfunções respiratórias agudas ou crônicas. Os participantes foram recrutados por conveniência entre moradores da cidade de Belo Horizonte, MG, Brasil, o que pode ser considerado uma limitação deste estudo. No entanto, o número de indivíduos analisados é similar ao de outros estudos relativos a parâmetros da função respiratória que propuseram valores de referência36,37. Em relação ao instrumento de medida utilizado, vale ressalter que a pletismografia respiratória por indutância se trata de metodologia adequada para avaliar o padrão respiratório e o movimento toracoabdominal, como proposto no presente estudo. Cabe ainda considerar que atualmente existe uma metodologia que pode trazer informações mais detalhadas sobre os volumes operacionais da parede torácica. O grande diferencial dessa nova metodologia é uma análise mais acurada durante a realização de exercício, tendo em vista que se pode fazer uma análise tridimensional que considera três compartimentos da parede torácica (caixa torácica pulmonar, caixa torácica abdominal e abdômen), diferente da pletismografia respiratória por indutância que considera dois compartimentos. Esse é um aspecto relevante particularmente na presença de hiperinsuflação dinâmica38,39. A presença de hiperinsuflação nos indivíduos do presente estudo é pouco provável, já que a avaliação foi realizada em saudáveis durante o repouso. Em relação à comparação entre os sexos, foram observadas diferenças significativas nas variáveis do padrão respiratório. Em relação aos homens, as mulheres do grupo de adultos entre 20 e 39 anos apresentaram Vc, VE e Ti/Ttot significativamente menores. Dentro do nosso conhecimento, apenas em um estudo foi realizada comparação do padrão respiratório entre homens e mulheres, no qual foram avaliados indivíduos entre 20 e 45 anos3. Nossos dados corroboram o observado anteriormente em relação ao Vc, que foi significativamente menor no grupo feminino. Tal resultado pode ser atribuído à diferença na constituição física entre homens e mulheres. No entanto, essa diferença não foi suficiente para influenciar de maneira significativa a VE, que não apresentou diferença entre mulheres e homens nos dois estudos. Nos componentes de tempo do padrão respiratório, Feltrim3 encontrou um ti menor no grupo feminino. Esse resultado pode ajudar a explicar o Ti/Ttot significantemente menor nas mulheres do presente estudo. No grupo dos idosos, as diferenças significativas observadas no Vc e VE são semelhantes às observadas nos adultos entre 20 e 39 anos, e a diferença no Vc/Ti parece ser decorrente da alteração do Vc, já que não se observou alteração no Ti/Ttot. Em relação aos indivíduos com idade entre 40 e 59 anos, nenhuma diferença significativa foi observada. Em relação à comparação entre os sexos, a única diferença foi nos valores de Ti/Ttot nos homens com idade maior que 60 anos quando comparados aos com idade entre 20 e 39 anos. Apesar da diferença observada, os valores encontram-se dentro da normalidade7. Verschakelen e Demedts10 avaliaram a influência do sexo em indivíduos nessa faixa etária apenas sobre as variáveis do movimento toracoabdominal. Na comparação das variáveis relativas ao movimento TA entre os sexos, não se observou diferença significativa entre mulheres e homens. Tal resultado corrobora os achados da literatura. A influência do sexo sobre o movimento TA foi avaliada previamente em dois estudos3,10. Em nenhum deles se verificou diferença significativa nos percentuais de deslocamento dos compartimentos torácicos e abdominais entre homens e mulheres na posição supina durante o repouso. Assim, parece bem estabelecido que o deslocamento do compartimento abdominal é proporcionalmente maior tanto nos homens como nas mulheres na posição supina. Em relação à assincronia TA, não foram encontradas diferenças significativas entre homens e mulheres. Dentro do nosso conhecimento, a influência do sexo sobre o sincronismo TA não foi avaliada em nenhum estudo. Os valores observados no presente estudo são próximos aos descritos na literatura para indivíduos saudáveis em repouso26. Na comparação entre os indivíduos dos três grupos de idade, não se observaram diferenças significativas nas variáveis do padrão respiratório. Esses resultados estão de acordo com os estudos encontrados, que compararam variáveis do padrão respiratório entre adultos e idosos saudáveis. Em nenhum deles, foram observadas diferenças significativas nos parâmetros analisados durante o repouso 7,11. Recentemente, Britto et al.40 avaliaram dois grupos de idosos, entre 60 e 69 anos e idosos acima de 69 anos, e também não verificaram diferenças significativas no padrão respiratório. Em relação ao movimento TA, neste estudo, os idosos apresentaram PhRIB e AngFase significativamente maiores do que os dos adultos entre 20 e 39 anos. A presença de maior assincronia TA observada nos idosos pode ser decorrente das alterações estruturais da caixa torácica, fraqueza da musculatura respiratória e alterações no drive respiratório41, já que esses fatores podem contribuir para aumentar a sobrecarga respiratória25. A influência da idade sobre a assincronia TA foi previamente avaliada em 18 indivíduos idosos7. Esses autores avaliaram a razão entre a amplitude compartimental máxima e o Vc, parâmetro de assincronia TA, e não se observou diferença significativa. É possível que o número restrito de indivíduos possa ter influenciado os resultados. 415 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):411-6. Verônica F. Parreira, Carolina J. Bueno, Danielle C. França, Danielle S. R. Vieira, Dirceu R. Pereira, Raquel R. Britto Concluindo, o presente estudo permitiu descrever valores para variáveis do padrão respiratório e do movimento toracoabdominal em homens e mulheres saudáveis de diferentes grupos de idade. Os dados encontrados sugerem influência do sexo sobre o padrão respiratório e da idade sobre o movimento toracoabdominal. Agradecimentos Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Referências bibliográficas 1. Macklem PT. Clinical assessment on the respiratory muscles. Pneumonol Pol. 1988;56(6):249-53. 2. 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Avaliação do volume corrente e da configuração toracoabdominal durante o uso de espirômetros de incentivo a volume e a fluxo, em sujeitos saudáveis: influência da posição corporal. Rev Bras Fisioter. 2004;8(1):45-51. 36. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC, Nery LE. Reference values for lung function tests. II. Maximal respiratory pressures and voluntary ventilation. Braz J Med Biol Res. 1999;32(6):719-27. 37. Neder JA, Andreoni S, Castelo-Filho A, Nery LE. Reference values for lung function tests. I. Static volumes. Braz J Med Biol Res. 1999;32(6):703-17. 38. Aliverti A, Stevenson N, Dellaca RL, Lo Mauro A, Pedotti A, Calverley PM. Regional chest wall volumes during exercise in chronic obstructive pulmonary disease. Thorax. 2004;59(3):210-6. 39. Vogiatzis I, Georgiadou O, Golemati S, Aliverti A, Kosmas E, Kastanakis E, et al. Patterns of dynamic hyperinflation during exercise and recovery in patients with severe chronic obstructive pulmonary disease. Thorax. 200;60(9):723-9. 21. 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Morais Resumo Contextualização: Paralisia Cerebral (PC) é um grupo de perturbações permanentes no desenvolvimento de movimentos e posturas que causam limitação nas atividades funcionais e que são atribuídas a distúrbios não-progressivos que ocorrem no cérebro fetal ou infantil. Nos últimos anos, com o aumento na expectativa de vida dos indivíduos com PC, vários estudos têm descrito a instalação de deficiências musculoesqueléticas e limitações funcionais ao longo do ciclo vital. Objetivo: Caracterizar adultos com PC por meio de informações sociodemográficas, classificações, saúde geral e condições associadas, complicações físicas e locomoção. Métodos: Participaram deste estudo 22 adultos com PC residentes em uma cidade no interior do Brasil, recrutados nos centros de reabilitação locais. Aplicou-se um questionário para caracterização sociodemográfica, de comorbidades e complicações físicas. Além disso, realizou-se breve avaliação fisioterapêutica e aplicaram-se as classificações padronizadas, Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS) e Sistema de Classificação das Habilidades Manuais (MACS). Os dados foram analisados de forma descritiva. Resultados: A média de idade foi de 28,7 anos, 86,4% participantes moravam com os pais, 4,5% possuíam emprego. A maior parte da amostra era composta por quadriplégicos espásticos, níveis IV e V do GMFCS e do MACS. Houve presença de diferentes comorbidades e importantes complicações físicas, como escoliose e contraturas musculares. Mais da metade dos participantes não deambula. Conclusões: A maioria dos participantes demonstrou ter importante restrição na participação social, além de escolaridade baixa. Adultos com PC estão sujeitos ainda a instalação de várias complicações físicas e limitações progressivas na marcha. Palavras-chave: paralisia cerebral; envelhecimento; dados sociodemográficos; classificação; complicações; locomoção. Abstract Background: Cerebral Palsy (CP) is a group of permanent disorders of the development of movement and posture that cause functional limitation and are attributed to non-progressive disorders which occur in the fetal or infant brain. In recent years, with the increase in life expectancy of individuals with CP, several studies have described the impact of musculoskeletal disabilities and functional limitations over the life cycle. Objective: To characterize adults with CP through sociodemographic information, classifications, general health, associated conditions, physical complications and locomotion. Methods: Twenty-two adults with CP recruited from local rehabilitation centers in an inner town of Brazil participated in this study. A questionnaire was used to collect data on sociodemographic characteristics, comorbities, and physical complications. A brief physical therapy evaluation was carried out, and the Gross Motor Function Classification System (GMFCS) and the Manual Ability Classification System (MACS) were applied. Data were analyzed through descriptive statistics. Results: The mean age was 28.7 (SD 10.6) years, 86.4% of participants lived with parents, and 4.5% were employed. Most of the sample consisted of spastic quadriplegic subjects, corresponding to levels IV and V of the GMFCS and MACS. Different comorbidities and important physical complications such as scoliosis and muscle contractures were present. More than half of the participants were unable to walk. Conclusions: Most participants demonstrated important restrictions in social participation and lower educational level. Adults with CP can be affected by several physical complications and progressive limitations in gait. Key words: cerebral palsy; aging; sociodemographic data; classification; complications; locomotion. Recebido: 21/06/2009 – Revisado: 16/11/2009 – Aceito: 21/12/2009 Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina (MG), Brasil Correspondência para: Rosane Luzia de Souza Morais, Rua José Amaral, 255/102, Bairro Ouro Preto, CEP 31320-020, Belo Horizonte (MG), Brasil, e-mail: [email protected] 417 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. Anna L. M. Margre, Maria G. L. Reis, Rosane L. S. Morais Introdução Materiais e métodos Paralisia Cerebral (PC) é um “grupo de perturbações permanentes no desenvolvimento de movimentos e posturas que causam limitações nas atividades funcionais e que são atribuídas a distúrbios não-progressivos que ocorrem no cérebro fetal ou infantil”1. O curso natural da PC mudou bastante durante os últimos 50 anos. Estudos em vários países têm demonstrado que a expectativa de vida de indivíduos com PC tem aumentado2-4. Segundo Donkervoort et al.5, crianças com PC podem ter sobrevivência semelhante à da população em geral, quando não apresentam comorbidades significativas e recebem cuidados médicos adequados. A PC é uma condição permanente e, embora a lesão neurológica seja estática, as sequelas osteomusculares mudam ao longo da vida6. Nos últimos anos, estudos têm descrito um progressivo aparecimento de deficiências, tais como: deformidades ortopédicas6,7, fraqueza e diminuição de flexibilidade muscular8,9, degeneração articular10, osteoporose11,12, fadiga13,14 e dor14,15. Além disso, há relatos de limitações progressivas das atividades funcionais, como a marcha5,14,16,17. Pesquisas sobre os aspectos relacionados à saúde de adultos com PC são importantes para que profissionais da saúde possam disponibilizar abordagens terapêuticas adequadas, documentar a necessidade de políticas públicas voltadas para essa população bem como contribuir para formulação de estratégias preventivas para crianças com PC16,17. Nos últimos anos, há um fluxo crescente de estudos sobre adultos com PC2,3,13,16,18-22, principalmente em países desenvolvidos2,3,13,16,18-20,22. Após pesquisa bibliográfica, não foram encontrados estudos científicos sobre adultos com PC na população brasileira. No entanto, dentro de uma perspectiva biopsicossocial, o ambiente físico, social, cultural e político também influenciam a saúde do adulto com PC23. Assim, é importante conhecer as necessidades, condições de vida, deficiências, limitações funcionais e restrições sociais que envolvem adultos brasileiros com PC. Portanto, o objetivo do presente estudo é caracterizar adultos com PC por meio de informações sociodemográficas (idade, gênero, escolaridade, estado civil, nível econômico, emprego, estado de habitação e constituição familiar); classificação da PC (quanto à disfunção neuromotora, distribuição topográfica, função motora grossa e função motora fina); saúde geral e condições associadas; complicações físicas e modo de locomoção. Tipo de estudo e participantes 418 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. Trata-se de um estudo descritivo para caracterização de uma população, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina (MG), Brasil, registro 011/09. Participaram deste estudo 22 adultos com PC recrutados em todos os centros de reabilitação da cidade de Diamantina (MG): Núcleo de Reabilitação Nossa Senhora da Saúde, Clínica-Escola de Fisioterapia da UFVJM e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. Os critérios de inclusão foram: possuir PC diagnosticada e registrada em prontuário pelas instituições de origem; idade maior ou igual a 18 anos; residir no município de Diamantina. Todos os participantes, ou responsáveis, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Instrumentos Para verificação do nível econômico, utilizou-se o Critério de Classificação Econômica Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)24, questionário que se baseia na acumulação de bens materiais e escolaridade. A classificação econômica geral resultante desse critério varia de A1 (indicando classe econômica elevada) a E (indicando classe econômica muito baixa)24. Para a classificação da função motora grossa, aplicou-se o Sistema de Classificação da Função Motora Grossa ou Gross Motor Function Classification System (GMFCS)25. O GMFCS baseia-se no movimento iniciado voluntariamente, enfatizando a posição sentada e a marcha. As distinções entre os níveis de função motora, de I a V, são baseadas nas limitações funcionais e na necessidade de tecnologia assistiva25. Apesar da faixa etária estabelecida até 18 anos26, já existem na literatura estudos que fazem uso do GMFCS para adultos com PC8,27-29. Para classificar a função motora fina, utilizou-se o Sistema de Classificação das Habilidades Manuais ou Manual Ability Classification System (MACS)30. É um sistema para classificar o modo como crianças com PC manuseiam os objetos em atividades diárias, necessidades de assistência ou adaptações30. É composto por 5 níveis, de I a V, crescentes quanto às limitações presentes. Segundo Haak et al. 23 e Donnelly et al.29, embora o MACS tenha sido concebido para crianças, pode contribuir para trabalhos em adultos com PC. Elaborou-se, a partir da revisão literária2,6,7,13,16,17,19,20,31,32, um questionário que aborda diversos aspectos da vida do adulto com PC (Anexo 1). Ele contém informações sociodemográficas, classificações, saúde geral, condições associadas, complicações físicas e modo de locomoção. Adultos com paralisia cerebral Procedimentos No prontuário médico e fisioterapêutico da instituição de origem de cada participante, foram colhidas informações sobre o tipo de PC e a distribuição topográfica. Os questionários e entrevistas foram respondidos pelo participante. Entretanto, no caso de dificuldades de expressão e/ou compreensão que comprometesse a entrevista, o cuidador do participante foi quem respondeu às perguntas. Solicitou-se aos entrevistados que apresentassem exames que pudessem comprovar a existência de doenças ou complicações físicas. Para complementar as informações necessárias, realizaram-se inspeção e avaliação da movimentação passiva. Assim, foi verificado se havia deformidades, como escoliose e obliquidade pélvica, além de contraturas e outras alterações. Segundo Tardieu et al.33, contratura muscular é a perda da extensibilidade muscular que deve ser mensurada em completa ausência de contração muscular, constatada pela atividade eletromiográfica ausente. No entanto, como foi realizada medida clínica, admite-se também a existência de fatores neurais no aumento da resistência à movimentação passiva34. O modo de locomoção dos participantes foi observado. Para aqueles que não deambulavam, questionou-se sobre a presença da marcha em alguma fase da vida. Para aqueles que deambulavam, observou-se o tipo de marcha segundo adaptação dos “Critérios para Deambulação Funcional ou não Funcional”35: marcha comunitária, ser capaz de deambular em ambientes externos e comunitários com ou sem auxílio de dispositivo para marcha; marcha domiciliar/escolar, ser capaz de deambular dentro de casa ou dentro da sala de aula com ou sem auxílio de dispositivo, mas necessitar de cadeira de rodas, auxílio ou apoio de terceiros para deambulação em ambientes externos ou comunitários; marcha não funcional ou terapêutica, ser capaz de dar alguns passos em terreno regular com ou sem auxílio de dispositivos, mas necessitar de supervisão. Análise de dados Realizou-se a análise descritiva dos dados, média, desviopadrão, porcentagem, e frequência por meio do software aplicativo Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 15.0, SPSS Inc.. Resultados (77,3%) os cuidadores. A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas da população de adultos com PC. Os participantes tinham entre 18 a 52 anos, com média de idade de 28,7 (±10,6%) anos. A amostra teve maior porcentagem do gênero masculino, 63,6%. Quanto à escolaridade, sete (31,8%) não possuíam nenhuma escolaridade; 10 (45,5%) estudavam ou haviam estudado em escola especial; dois (9,1%) possuíam ensino fundamental completo ou incompleto, três (13,6%) possuíam o ensino médio completo ou incompleto. Dos 22 participantes, apenas um (4,5%) tinha emprego. Dezenove (86,4%) participantes residiam com os pais, um (4,5%) residia com a irmã, um (4,5%) residia em uma instituição de longa permanência e um (4,5%) com a esposa e filhos biológicos. Quanto à classificação econômica, um (4,5%) participante pertencia ao nível A2; dois (9,1%), ao nível B2; sete (31,8%), ao nível C1; oito (36,4%) ao nível C2; dois (9,1%), ao nível D e um (4,5%), ao nível E. Uma participante residia em instituição de longa permanência, não sendo possível sua classificação. Classificação quanto à PC As classificações quanto à disfunção neuromotora, distribuição topográfica e nível de funcionalidade por meio do GMFCS e do MACS estão representadas na Tabela 2. Dos 22 participantes, 86,4% tinham PC espática; 13,6%, PC discinética. Os demais tipos (atáxico, hipotônico) não foram encontrados. Como padronização, os pacientes com PC mista (espástica e discinética) foram classificados como PC discinética. Dos participantes espásticos, 22,7% eram hemiplégicos; 22,7%, diplégicos e 40,9%, quadriplégicos. Quanto ao GMFCS, 45,4% pertenciam aos níveis I e II e 54,5%, aos níveis IV e V. Todos os participantes quadriplégicos espásticos bem como dois dos três participantes discinéticos pertenciam aos níveis IV e V do GMFCS. Dos cinco participantes hemiplégicos, quatro pertenciam aos níveis I e II, bem como quatro dos cinco diplégicos. Quanto ao MACS, encontraram-se resultados semelhantes aos do GMFCS, 45,4% de todos os participantes pertenciam aos níveis I e II e 54,5% aos níveis IV e V. Todos os participantes quadriplégicos pertenciam aos níveis IV e V, todos os hemiplégicos aos níveis I e II. Três dos cinco diplégicos pertenciam aos níveis I e II, bem como dois dos três discinéticos. Dados sociodemográficos Saúde geral, condições associadas e complicações físicas A amostra foi composta por 22 participantes, cinco (22,7%) entrevistados foram os próprios participantes e 17, Informações sobre a saúde geral, condições associadas e complicações físicas estão na Tabela 3. 419 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. Anna L. M. Margre, Maria G. L. Reis, Rosane L. S. Morais Tabela 1. Dados sociodemográficos da amostra de adultos com PC. Participante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Entrevistado Próprio Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Próprio Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Próprio Próprio Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Cuidador Próprio Idade (anos) 37 52 20 19 39 22 35 21 18 52 23 37 23 24 29 18 24 23 20 30 21 44 Gênero M F M F M M M M F M M F F F F M F M M M F M Emprego Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Sim Escolaridade EMC NE NE EE1 EE1 EE1 EMC EFI EE1 EE1 EE1 EE2 EFC NE NE EE1 NE EE2 NE NE EE2 EMI Estado civil Coabitação Solteiro Pais Solteira Instituição Solteiro Pais Solteira Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Solteira Pais Solteiro Irmão Solteiro Pais Solteira Pais Solteira Pais Solteira Pais Solteira Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Solteiro Pais Casado Esposa/Filhos Filhos Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Sim NE C2 * C1 C1 B2 E C2 C1 D C2 C1 B2 C1 C1 C2 C2 C2 C1 C2 D A2 C2 PC: Paralisia Cerebral; M: masculino; F: feminino; NE: Nenhuma Escolaridade; EE1: Escola Especial (não lê ou escreve); EE2: Escola Especial (lê e escreve); EFI: Ensino Fundamental Incompleto; EFC: Ensino Fundamental Completo; EMI: Ensino Médio Incompleto; EMC: Ensino Médio Completo; NE: Nível Econômico; A2 a E: escala decrescente quanto ao nível econômico.. *Participante reside em instituição filantrópica de longa permanência. Tabela 2. Classificação da amostra de adultos com PC quanto à disfunção neuromotora, distribuição topográfica, GMFCS e MACS. Hemiplegia (n) Espástica Diplegia (n) Quadriplegia (n) Discinética (n) Total (n) 3 1 0 1 0 5 3 1 1 0 0 5 0 0 0 1 8 9 1 0 0 1 1 3 7 2 1 3 9 22 4 0 1 0 0 5 0 2 1 2 0 5 0 0 0 4 5 9 0 1 1 0 1 3 4 3 3 6 6 22 GMFCS Nível I Nível II Nível III Nível IV Nível V Total MACS Nível I Nível II Nível III Nível IV Nível V Total GMFCS: Sistema de Classificação da Função Motora Grossa; MACS: Sistema de Classificação das Habilidades Manuais; (n): número de participantes. Locomoção Dos 22 participantes, 12 não deambulavam (54,5%), sendo que 10 nunca adquiriram a marcha e dois perderam tal habilidade após a infância. Dez (45,5%) possuíam marcha: oito, (36,4%) comunitária; um (4,5%), domiciliar e um (4,5%), 420 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. terapêutica. Três (13,6%) participantes que deambulavam utilizavam órteses tornozelo-pé sólidas. Dos participantes que não deambulavam, nove (40,9%) eram conduzidos por terceiros em cadeira de rodas manuais dentro e fora de casa, um (4,5%) arrastava-se pelo chão. Dois (9,1%) não deambulavam, mas também não possuíam cadeira de rodas (Tabela 4). Adultos com paralisia cerebral Discussão O presente estudo caracterizou uma amostra de 22 adultos com PC residentes em uma cidade do interior do Brasil. A maioria dos participantes foi classificada como espástica, com maior número de quadriplégicos. Embora haja consenso na literatura quanto ao tipo espástico ser o mais prevalente entre indivíduos com PC, a distribuição topográfica é variável entre os estudos19,36,37. Segundo Andersson e Mattsson19, uma possível justificativa para esse fato poderia ser a diferença nas definições entre pesquisadores, principalmente para distinguir diplégicos severos e quadriplégicos. Os participantes hemiplégicos e diplégicos, em sua maioria, apresentaram GMFCS níveis I e II e aqueles quadriplégicos e discinéticos, em sua maioria, GMFCS níveis IV e V. Nossos achados estão de acordo com o estudo realizado por Shevell et al.38. Os autores verificaram a relação entre o GMFCS e os tipos de PC em 301 crianças e concluíram existir uma correlação entre PC espástica e discinética com os níveis de maior incapacidade motora grossa e correlação entre hemiplegia e diplegia com os níveis de menor incapacidade motora grossa. Quanto ao MACS, os participantes quadriplégicos e hemiplégicos apresentaram resultados semelhantes àqueles encontrados para o GMFCS. Já para os participantes diplégicos e discinéticos, verificou-se uma distribuição mais equivalente entre os níveis de menores e maiores incapacidades. Esses resultados estão de acordo com estudos que procuraram verificar a associação entre o GMFCS e o MACS39,40. O MACS está relacionado com o grau do comprometimento neuromotor dos membros superiores, variável entre diplégicos, bem como com a preservação da cognição, frequente tanto em indivíduos discinéticos como diplégicos39,40 . Quanto à caracterização sociodemográfica, a maioria dos participantes era do gênero masculino, classe econômica variada, embora maior porcentagem pertencesse a classes intermediárias. Ao se considerar a faixa etária dos participantes, entre 18 a 52 anos de idade, é possível observar, assim como em outros países, aumento na expectativa de vida. Hemming et al.3 acompanharam uma coorte de indivíduos com PC nascidos de 1940 a 1960 no Reino Unido. Os autores constataram que daqueles indivíduos vivos aos 20 anos de idade, 86% sobreviveram até a idade de 50 anos. Segundo Hutton e Pharoah4, a severidade e a quantidade de comorbidades exercem importante papel na sobrevida de indivíduos com PC ao longo da vida. Em um estudo realizado por esses autores, 99% de indivíduos com Tabela 3. Saúde geral, condições associadas e complicações físicas nos adultos com PC. Saúde geral, condições associadas, complicações físicas Epilepsia Afasia/disartria Visão subnormal Distúrbios de deglutição Disfunção intestinal e/ou vesical Refluxo gastroesofágico Problemas dentários Luxação de quadril Obliquidade pélvica Escoliose Fadiga Osteopenia Osteoartrose Fraturas Contraturas Ausente Presente Contraturas por articulação Cotovelo Punho Quadril Joelho Tornozelo n % 12 17 4 9 12 4 11 2 13 20 9 0 1 2 54,5 77,3 18,2 40,9 54,5 18,2 50 9,1 59,1 90,9 40,9 0,0 4,5 9,1 4 18 18,2 81,8 4 7 11 15 18 18,2 31,8 50,0 68,2 81,8 n: número de participantes; %: porcentagem de participantes. Tabela 4. Locomoção na amostra de adultos com PC. Locomoção Já deambularam Deambulam Cadeira de rodas Arrastam-se Nenhuma Classificação da marcha Comunitária Domicílio Terapêutica Órteses Hemiplégicos n Diplégicos n Quadriplégicos n Discinéticos n Total n (%) 0 4 1 0 0 0 6 0 0 0 1 0 6 1 2 1 0 2 0 0 2 (9,0)* 10 (45,5) 9 (40,9) 1 (4,5) 2 (9,1) 4 0 0 1 4 1 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 8 (36,4) 1 (4,5) 1(4,5) 3 (13,6) n: número de participantes; (%) porcentagem de participantes. * Dois participantes que já deambularam se locomovem atualmente por meio de cadeira de rodas. 421 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. Anna L. M. Margre, Maria G. L. Reis, Rosane L. S. Morais PC leve sobreviveram até 30 anos. Entre aqueles com quatro comorbidades graves, apenas 33% sobreviveram até 30 anos de idade. Segundo Strauss et al.2, desde a década de 1980, foi dada maior importância para o estado nutricional apropriado para crianças e adultos com deficiências, passou a haver reconhecimento precoce e tratamento vigoroso de infecções, além de melhor suporte tecnológico disponível nos serviços médicos. No Brasil, há um aumento na expectativa de vida da população em geral, dadas as melhores condições de vida e cuidados de saúde41. Porém, foi possível observar, no presente estudo, que a idade máxima dos participantes ainda se encontra abaixo da expectativa de vida do brasileiro, de 71,3 anos41. No entanto, essa é uma realidade encontrada em outros estudos2-4,23,42. Embora a expectativa de vida de indivíduos com PC tenha aumentado, permanece inferior à expectativa da população geral, mesmo em países desenvolvidos2-4,23,42. Os participantes deste estudo demonstraram restrição na participação social, com exceção de um participante apenas no que concerne à obtenção de emprego, formação de família e independência dos pais. Além disso, os participantes demonstraram grau de escolaridade baixo. Tal realidade é diferente daquela descrita na literatura para países desenvolvidos, embora, mesmo nesses países, a participação social de adultos com PC ainda seja menor do que a encontrada na população em geral19,20. Em um estudo realizado na Dinamarca20 com 486 adultos com PC nascidos entre 1965 a 1970, 68% viviam independentemente, 28% constituíram família, 19 % tinham filhos e 45% tinham emprego22. Outro estudo realizado na Suécia19 com 221 adultos com PC, 61% viviam independentemente, 24% trabalhavam em tempo integral, 57% completaram mais dois ou três anos de estudos após os 16 anos de idade, 14% constituíram famílias. Os autores desses estudos19, 20 associam a restrição na participação social de adultos com PC à severidade das deficiências, ao tipo de classificação neuromotora e topográfica, ao grau de dependência funcional e à ausência de marcha, além de condições associadas como epilepsia e alterações cognitivas. De fato, no presente estudo, o paciente que apresentou melhor participação social tem ensino médio incompleto, é diplégico com GMFCS nível I, MACS nível II e apresenta deambulação comunitária. Foi capaz de responder sozinho ao questionário e relatou não ter epilepsia. É possível que a importante restrição na participação social e baixo grau de escolaridade dos participantes deste estudo estejam relacionados às condições associadas, pois há relato de epilepsia em 54% dos participantes e distúrbios de comunicação em 77,3 % deles. Além disso, 77,3% dos participantes necessitaram de auxílio para responder o questionário em decorrência de alteração cognitiva ou distúrbios de comunicação. No entanto, também é necessário considerar a influência 422 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. de fatores ambientais23,32. Embora, nos últimos anos, o Brasil tenha apresentado avanços econômicos e sociais, com diminuição na proporção de pobres e aumento no Índice de Desenvolvimento Humano41, a realidade do ambiente social, cultural e econômico bem como o processo de inclusão social ainda são bem diferentes da situação dos países desenvolvidos. Perguntou-se aos participantes ou cuidadores sobre a existência de problemas de saúde e condições associadas. Os principais encontradas foram os distúrbios de comunicação, como afasia/disartria, epilepsia, disfunção intestinal e/ou vesical, distúrbios de deglutição e problemas dentários. Os resultados encontrados estão em conformidade com outros estudos16,23,31,32,36,42, porém refluxo gastroesofágico, déficits auditivos e visuais são também frequentemente relatados na literatura16,23,31,36,42. Segundo Turk42, a maioria dos problemas de saúde ou condições associadas dos adultos com PC são as mesmas que os acompanham desde a infância. No entanto, PC adultos queixam-se mais de problemas dentários, urinários, intestinais, dor e, principalmente, de disfunções do sistema musculoesquelético36,42 . No presente estudo, observou-se um elevado número de escoliose, obliquidade pélvica e contraturas musculares. Apenas dois participantes relataram fraturas por motivo de queda na infância. Nenhum participante soube informar sobre osteoporose, apenas um relatou osteoartose, e dois relataram luxação do quadril. No entanto, tais achados devem ser analisados com cautela, visto que os participantes negaram possuir exames complementares para análise; além disso, demonstraram pouco conhecimento sobre conceitos e evolução da PC. Bottos et al.16, em um estudo de caracterização de 72 adultos com PC na Itália, encontraram escoliose acima de 30° em 20,3 % dos participantes e 28,2% de luxação ou subluxação de quadris. Turk et al.36, em um estudo com 63 mulheres adultas com PC, encontraram 40% de deformidades de quadril (obliquidade pélvica ou luxação de quadril), 53% de deformidades na coluna (cifose ou escoliose) e 75% de contraturas musculares. Segundo a literatura pesquisada6,7,16,19,43, deformidades como escoliose, obliquidade pélvica e luxação do quadril são mais frequentes em adultos gravemente acometidos, geralmente aqueles com PC do tipo quadriplégica ou aqueles que não deambulam. As contraturas musculares, deformidade nos pés e osteoartrose, por outro lado, são encontradas em todos os tipos de PC. Neste estudo, houve uma grande proporção de indivíduos com contraturas (81,8%), sendo mais constantes em extensores de tornozelo, seguidas pelas dos flexores de joelho, quadril, punho e cotovelo, respectivamente. Dois hemiplégicos, um diplégico e um discinético não tinham contraturas, e todos os quadriplégicos tinham de dois a cinco grupos musculares contraturados. As contraturas foram encontradas em 100% Adultos com paralisia cerebral daqueles participantes que não deambulavam e em 60% daqueles que deambulavam. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Andersson e Mattsson19. Eles encontraram 80% de contraturas em estudo com adultos com PC: dos 27 participantes quadriplégicos, 25 não deambulavam e, dentre estes, apenas 1 relatou não possuir contratura; dos 47 hemiplégicos, 31 relataram possuir contraturas, sendo que todos deambulavam. Segundos resultados de estudos de ultrassonografia em músculos de indivíduos com PC8,9, tanto em casos da imobilidade ou desuso como em casos de uso em excesso ou em situação biomecânica desfavorável ocorrem adaptações teciduais, como consequências, ocorrem contraturas, atrofias musculares e modificações na arquitetura muscular. Isso ocorre porque o músculo é um órgão dinâmico que se adequa às demandas de sua utilização19, 44. A fadiga é descrita como uma diminuição da capacidade de manter a força muscular e desempenhar tarefas; a experiência de se sentir esgotado, cansado, fraco ou com falta de energia13. Neste estudo, a fadiga foi relatada por nove (40,9%) participantes, sendo a maioria dentre aqueles que deambulavam. Segundo Jahnsen et al.13, a fadiga exige uma determinada quantidade de atividade, e os indivíduos com graves incapacidades motoras talvez não tenham atividades motoras suficientes para se tornarem fisicamente fadigados. A marcha foi observada em 10 (45,5%) participantes, quatro hemiplégicos e seis diplégicos. A maior parte desses indivíduos possuía marcha comunitária. Doze participantes quadriplégicos não deambulavam. Segundo a literatura17,45,46, embora a análise de prognóstico de marcha em indivíduos com PC seja complexa e multifatorial, o diagnóstico topográfico da PC é um fator importante, ou seja, hemiplégicos, seguidos de diplégicos, geralmente têm um prognóstico favorável para o desenvolvimento da marcha enquanto que o prognóstico para quadriplégicos é desfavorável17,45,46. Um participante discinético perdeu a marcha aos 32 anos devido à espondilolistese seguida por mielopatia. De acordo com Murphy43, há possibilidade de ocorrer espondilolistese em adultos com PC discinéticos devido à posturas distônicas contorcionais da cabeça e do pescoço. Outro participante quadriplégico espástico perdeu a marcha aos 12 anos por deterioração da capacidade funcional. Resultados de estudos têm demonstrado que uma progressiva limitação funcional pode ocorrer precocemente em indivíduos com PC; alguns, entre 25 e 35 anos, perdem a capacidade de deambular14,17,19,23,42. Segundo Bottos e Gericke17, dentre os vários fatores relacionados à perda de marcha em adultos com PC, os principais seriam: os processos degenerativos e dores articulares em consequência do uso de uma biomecânica desfavorável; o desequilíbrio entre a demanda para marcha em contexto dinâmico ambiental; o surgimento da fadiga e cirurgias ortopédicas que não levam em conta as respostas compensatórias e funcionais do indivíduo. Recentemente, um estudo longitudinal14 demonstrou que em 146 adultos com PC, 52% declararam limitação funcional na marcha. Essa deterioração estava associada principalmente ao tipo de PC bilateral (quadriplégicos e diplégicos) e nível III do GMFCS. Houve correlação com queixa de dor, fadiga e perda de equilíbrio corporal. Os autores concluíram que indivíduos com PC bilateral, nível III do GMFCS, mais do que os demais, sobrecarregam seus sistemas musculoesqueléticos com o intuito de cumprir suas metas funcionais e sociais. Além disso, fatores ambientais, com escassa oferta de reabilitação, treinamento físico para adultos com PC e falta de adaptações ambientais, são determinantes. Vários estudos16,17,19,23,42 alertam para o fato de que, de um modo geral, há descontinuidade na reabilitação física de indivíduos com PC na fase adulta. Quando existentes, as terapêuticas são voltadas para as necessidades das crianças. Thorpe47 ressalta que há poucos estudos sobre reabilitação ou atividade física em adultos com PC e, como atualmente eles apresentam maior expectativa de vida, é imperativo que a comunidade científica promova fundamentação para terapêuticas adequadas às necessidades desses indivíduos. Limitações do estudo É importante salientar, que por se tratar de um estudo de desenho transversal e se basear em uma amostra de conveniência, há limitação na generalização dos resultados. No entanto, como não há estudos epidemiológicos ou de desenho experimental ou longitudinal com adultos com PC no Brasil, os achados deste estudo são importantes para fomentar discussões sobre expectativa de vida, deficiências, limitações e necessidades de assistência para adultos com PC. Ressalta-se a necessidade de se incluir, em estudos futuros, algumas informações, como avaliação cognitiva, histórico de cirurgias e neurólises e maiores informações sobre os distúrbios de linguagem, não coletadas no presente estudo. Conclusões Assim como na literatura pesquisada, verificou-se que os adultos com PC, participantes do presente estudo, apresentam características e necessidades específicas. Eles apresentaram grandes restrições sociais, instalação de deficiências musculoesqueléticas importantes e limitações progressivas na marcha. Além disso, os participantes e cuidadores demonstraram pouco conhecimento sobre a PC e sua evolução. 423 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. Anna L. M. Margre, Maria G. L. Reis, Rosane L. S. Morais Ao se considerar o aumento da expectativa de vida desses indivíduos, são necessárias políticas públicas que visem a melhor e maior acesso a informações, a serviços médicos, ao ensino e ao mercado de trabalho, bem como adaptações de ambientes físicos que proporcionem maior acessibilidade aos espaços públicos. É importante ressaltar a necessidade da elaboração de programas de treinamento físico específicos dentro das deficiências e limitações encontradas para indivíduos com PC na fase adulta. Referências bibliográficas 1. Rosenbaum P, Paneth N, Leviton A, Goldstein M, Bax M, Damiano D, et al. 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Beckung E, Hagberg G, Uldall P, Cans C; Surveillance of Cerebral Palsy in Europe. Probability of walking in children with cerebral palsy in Europe. Pediatrics. 2008;121(1):e187-92. 45. Sala DA, Grant AD. Prognoses for ambulation in cerebral palsy. Dev Med Child Neurol. 1995;37(11):1020-6. 47. Thorpe D. The role of fitness in health and disease: status of adults with cerebral palsy. Dev Med Child Neurol. 2009;51 Suppl 4:S52-8. Anexo 1. Caracterização de Adultos com Paralisia Cerebral Residentes no Município de Diamantina- MG, Brasil. I. Dados sociodemográficos e econômicos I.1 Data de nascimento________________ I.2 Gênero ( ) Masculino I.3 Classe Econômica (ABEP – 2005) ( ) A1 ( ) A2 ( ) B1 ( ) B2 I.4 Escolaridade e alfabetização ( ) Nenhuma escolaridade ( ) Ensino Fundamental: de 1ª a 4ª série ( ) Ensino Fundamental: de 5ª a 8ª série ( ) Ensino Médio Incompleto Idade : ________ ( ) Feminino ( )C ( )D ( )E ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Ensino Superior Completo I.5 Características Familiares: III. Saúde Geral e Condições Associadas (relato) ( ) Epilepsia/convulsões ( ) Afasia ou disartria ( ) Visão subnormal ( ) Doenças dentárias ( ) Disfunção intestinal e vesical ( ) Refluxo gastroesofágico ( ) Motricidade oral (dificuldades deglutição/sialorréia) ( ) Outras______________________ IV. Complicações Físicas ( ) Escoliose ( ) Luxação de quadril ( ) Obliqüidade pélvica ( ) Osteoporose ( ) Fadiga (“você se sente cansado?”, “você tem falta de energia?”, “você se sente fraco?”) ( ) Fraturas, quais/contexto __________________________________ ( ) Osteoartrose, articulações ________________________________ ( ) Contraturas, grupos musculares _____________________________ ( ) Outras ______________________________________________ I.5.1 Estado Civil ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Outros _______ ( ) União estável V. Locomoção Deambula ( ) Não ( ) Sim I.5.2 Estado de habitação ( ) Independente ( ) Com os Pais ( ) Outros ____________________ ( ) Instituição Tipo ( ) Comunitária I.5.3 Filhos Biológicos ( ) Não ( ) Sim I.6 Emprego ( ) Não ( ) Sim II. Dados diagnósticos II.1 Disfunção Neuromotora ( ) Espástica ( ) Discinética ( ) Outra________ ( ) Domiciliar ( ) Terapêutica Uso dispositivo de auxílio ( ) Não ( ) Sim, qual__________ Uso de órteses ( ) Não ( ) Sim, qual__________ Cadeira de Rodas ( ) Não ( ) Sim, meio: ( ) Principal Tipo ( ) Manual ( ) Motorizada ( ) Terceiros ( ) Secundário II.2 Distribuição topográfica ( ) Hemiplegia ( ) Diplegia ( ) Outra ___________ ( ) Quadriplegia II.3 GMFCS ( ) Nível I ( ) Nível IV ( ) Nível III Condutor ( ) Próprio ( ) Nível III Quem respondeu: ( ) Próprio participante ( ) Cuidador, parentesco ____________________ II.4 MACS ( ) Nível I ( ) Nível IV ( ) Nível II ( ) Nível V ( ) Nível II ( ) Nível V 425 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):417-25. ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 426-31, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia ARTIGO ORIGINAL Comparação entre o manovacuômetro nacional e o importado para medida da pressão inspiratória nasal Comparison between a national and a foreign manovacuometer for nasal inspiratory pressure measurement Fernanda G. Severino1, Vanessa R. Resqueti2, Selma S. Bruno2, Ingrid G. Azevedo3, Rudolfo H. G. Vieira3, Guilherme A. F. Fregonezi2 Resumo Contextualização: A medida da pressão inspiratória nasal, conhecida como sniff teste, desenvolvida como um novo teste de força muscular inspiratória, utilizada principalmente em doenças neuromusculares, é de fácil realização e não invasiva. Apesar da importância clínica da avaliação da pressão inspiratória nasal, não existe um instrumento nacional disponível para realizá-la. Objetivos: Comparar os manovacuômetros eletrônicos nacional e importado para a avaliação da pressão inspiratória nasal em pessoas saudáveis. Métodos: Foram avaliados 18 voluntários saudáveis (idade 21,4±2,8 anos, IMC 23,4±2,5 Kg/m2, CVF 102,1±10,3%pred, VEF1 98,4±1%pred) por meio de duas medidas de pressão inspiratória nasal em dois equipamentos diferentes: um nacional e outro importado. Todos os sujeitos realizaram a manobra no mesmo horário do dia, em dias ocasionais, sendo a ordem determinada aleatoriamente. Para análise estatística, foi utilizado o teste t pareado, a correlação de Pearson e o Bland-Altman com nível de significância de 5%. Resultados: As médias encontradas durante as duas medidas das pressões nasais foram de 125±42,4 cmH2O para o aparelho importado e de 131,7±28,7 cmH2O para o nacional. A análise de Pearson demonstrou uma correlação significativa entre as médias, com um coeficiente r=0,63. Os valores médios não apresentaram diferenças significativas pelo teste t pareado (p>0,05). Na análise de Bland-Altman, encontrou-se um BIAS igual a 7 cmH2O, desvio-padrão de 32,9 cmH2O para o DP e um intervalo de confiança de -57,5 cmH2O até 71,5 cmH2O. Conclusão: Os resultados encontrados sugerem que o manovacuômetro eletrônico nacional é viável e seguro para realização do sniff teste em sujeitos saudáveis. Palavras-chave: força do músculo respiratório; treinamento dos músculos respiratórios; pressão respiratória; pressão inspiratória nasal. Abstract Background: The measurement of nasal inspiratory pressure, known as the sniff test, was developed as a new test of inspiratory muscle strength, mainly used in neuromuscular conditions. The test is easy to be performed and noninvasive. Despite the clinical importance of assessment of nasal inspiratory pressure a national equipment is not available to assess it. Objectives: To compare a national with a foreign manovacuometer in assessing the nasal inspiratory pressure (sniff test) in healthy subjects. Methods: 18 subjects were evaluated (age 21.44±2.8 years, BMI 23.4±2.5 kg/m2, FVC 102.1±10.3% pred, FEV1 98.4±1% pred). We performed two measures of nasal inspiratory pressure using two different manovacuometer: a national and a foreign. All subjects performed the tests at the same time of day, in different days being the order of the testes established randomly. It was used the paired t test, Pearson correlation and the Bland-Altman plots for statistical analysis considering a 5% significance level. Results: The averages observed for the two measures of nasal pressures were 125±42.4 cmH2O for the foreign equipment, and 131.7±28.7 cmH2O for the national equipment. The Pearson correlation showed significant correlation between the means with a coefficient of r=0.63. The t test showed no significant differences between both measurements (p>0,05). The BIAS±SD found in BlandAltman plot analysis was 7 cmH2O with limits of agreement between -57.5 cmH2O and 71.5 cmH2O. Conclusion: The results suggest that the national electronic device is feasible and safe to the sniff test measurement in healthy subjects. Key words: respiratory muscle strength; respiratory muscle training; respiratory pressure; nasal inspiratory pressure. Recebido: 29/06/2009 – Revisado: 02/11/2009 – Aceito: 26/01/2010 1 Departamento de Fisioterapia, Faculdades Nordeste (FANOR), Fortaleza (CE), Brasil 2 Departamento de Fisioterapia, Laboratório de Fisioterapia Pneumocardiovascular, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal (RN), Brasil 3 Fisioterapeuta Correspondência para: Guilherme A. F. Fregonezi, Departamento de Fisioterapia, Laboratório de Fisioterapia Pneumocardiovascular, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Caixa Postal 1524, Campus Universitário Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal (RN), Brasil, e-mail: [email protected] 426 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):426-31. Avaliação da pressão inspiratória nasal Introdução Materiais e Métodos A fraqueza muscular respiratória é um importante problema clínico e pode ter início agudo ou crônico, sendo uma condição potencialmente tratável1. Clinicamente, a fraqueza muscular respiratória está relacionada com hipercapnia, infecções respiratórias, tosse ineficiente, o que predispõe o desenvolvimento de atelectasias e insuficiência respiratória1-4. Nas doenças neuromusculares, as disfunções dos músculos respiratórios precipitam o início da insuficiência respiratória1,4. A importância clínica de avaliar os músculos respiratórios com uma variedade de testes foi proposta em trabalhos prévios5,6. A força de tais músculos pode ser avaliada por meio de medidas estáticas ou dinâmicas. As medidas estáticas mais clássicas de avaliação da força dos músculos respiratórios são as pressões respiratórias máximas (PImáx, pressão inspiratória máxima e PEmáx, pressão expiratória máxima)7,8. Entretanto, apesar de a medida de PImáx ser simples, ela depende da colaboração e coordenação do paciente avaliado, o que pode levar à imprecisão das avaliações e, consequentemente, a um diagnóstico incorreto9. Alguns autores sugerem que o uso de um único teste pode não ser suficiente para identificar a disfunção muscular inspiratória. Portanto, a combinação de vários testes melhoraria a precisão do diagnóstico de fraqueza muscular inspiratória5. Uma alternativa recentemente desenvolvida é a avaliação da pressão inspiratória nasal ou sniff teste10. O teste representa a PImáx atingida através de uma inspiração a partir da capacidade residual funcional (CRF) transmitida por conexão via fossa nasal11. Nesse teste, o tipo de ativação dos músculos respiratórios, a interface paciente/equipamento, o aprendizado e a realização são mais simples que a PImáx12,13. Clinicamente, o sniff teste foi considerado por alguns autores um método de avaliação complementar no diagnóstico da fraqueza muscular inspiratória quando associado à medida de PImáx 5,9. Comercialmente, existe apenas um único equipamento de manovacuometria eletrônica para avaliação do sniff teste. Por ser um equipamento importado, os custos são elevados, e a utilização dessa medida de grande importância clínica na área de Fisioterapia Cardiorrespiratória torna-se, muitas vezes, inviabilizada. No mercado nacional, o equipamento de manovacuometria eletrônica, semelhante ao importado, foi desenvolvido para avaliação das pressões respiratórias máximas e está disponível comercialmente. Entretanto, ainda não foi testada a viabilidade da avaliação do sniff teste nesse equipamento. O objetivo do estudo foi comparar a medida de pressão inspiratória nasal em sujeitos saudáveis entre dois manovacuômetros eletrônicos: nacional e importado. Esta pesquisa foi realizada de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todos os procedimentos aos quais os sujeitos foram submetidos tiveram a aprovação do Comitê de Ética do Hospital Universitário Onofre Lopes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal (RN), Brasil, segundo o protocolo no 238/08, e os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para participar do estudo. Sujeitos A amostra foi composta de estudantes do curso de Fisioterapia da UFRN onde o estudo foi realizado. Todos participaram voluntariamente. Foram incluídos alunos sem conhecimento prévio da técnica utilizada, não tabagistas, sem patologias cardiopulmonares, asmáticos em período intercrise, não podiam apresentar desvio de septo nasal e/ou rinite crônica diagnosticada por médico especialista, não podiam ter histórico prévio de cirurgias na cavidade nasal e nem possuir capacidade vital forçada (CVF), volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a relação entre o VEF1/CVF abaixo dos parâmetros de normalidade (<80% dos valores preditos). Foram excluídos aqueles indivíduos que apresentaram congestão nasal durante o período de realização das medidas e que estavam utilizando medicações que pudessem influenciar os resultados das avaliações. Procedimentos Previamente ao início das avaliações referentes ao sniff teste, todos os sujeitos foram avaliados pelo otorrinolaringologista para excluir da amostra aqueles com desvio de septo nasal ou rinite. Essa medida foi adotada para assegurar que os resultados do sniff teste fossem confiáveis, apesar de não ser necessária na prática clínica diária. As avaliações realizadas pelo otorrinolaringologista consistiam em anamnese e rinoscopia anterior com espéculo nasal, seguindo protocolo previamente publicado14. Ao se iniciarem os procedimentos fisioterápicos de avaliação, os sujeitos eram questionados a respeito dos hábitos de vida (estado de saúde geral, prática de exercícios físicos e uso de medicações), assim como os sinais vitais eram aferidos (pressão arterial sistêmica, temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência respiratória). As medidas antropométricas e as espirométricas foram realizadas por dois avaliadores previamente treinados para tais procedimentos. Os indivíduos foram submetidos às avaliações do sniff teste em dois equipamentos distintos: o nacional, MVD300® 427 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):426-31. Fernanda G. Severino, Vanessa R. Resqueti, Selma S. Bruno, Ingrid G. Azevedo, Rudolfo H. G. Vieira, Guilherme A. F. Fregonezi (Globalmed, Brasil) e o importado, MicroRPM® (Micromedical, Reino Unido). Todas as medidas foram realizadas no mesmo horário do dia, em dias diferentes, sendo a ordem de utilização dos equipamentos determinada aleatoriamente por sorteio individual. Variáveis analisadas Valores antropométricos: a avaliação antropométrica foi realizada para a caracterização da amostra por meio da medida do peso corpóreo e da altura do indivíduo em uma balança da marca WELMY®- modelo R-110 (WELMY, Santa Bárbara d´Oeste, Brasil). Espirometria: foi realizada para a caracterização da amostra saudável do ponto de vista espirométrico, seguindo os procedimentos técnicos e os critérios de aceitabilidade da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia15. Os pacientes foram instruídos detalhadamente sobre todos os procedimentos a serem realizados durante a avaliação da espirometria. Os testes foram aplicados com os participantes sentados em uma cadeira confortável, e foi utilizado um clipe nasal. Os pacientes foram orientados a respirar através de um bocal de papelão descartável colocado entre os dentes, observado atenciosamente pelo avaliador para evitar a presença de vazamentos de ar durante as manobras espirométricas. Solicitou-se aos sujeitos que realizassem uma inspiração máxima, próxima à capacidade pulmonar total (CPT), seguida de uma expiração máxima, próxima ao volume residual (VR). Realizaram-se, no máximo, oito testes em cada paciente, e foram considerados os três melhores, sendo a variabilidade entre eles inferior a 5% ou 200 mililitros. Foram analisados o VEF1, a CVF e a relação entre o VEF1/CVF nos seus valores absolutos e relativos, sendo este último obtido pela comparação com a curva de normalidade para todas as variáveis espirométricas e para os valores de referência16. O equipamento utilizado foi o espirômetro DATOSPIR 120 (SibelMed Barcelona, Espanha) acoplado a um microcomputador e calibrado diariamente. Pressão inspiratória nasal: foram realizadas duas medidas do sniff teste em dois equipamentos de manovacuometria eletrônica: uma medida no equipamento importado MicroRPM® (SNIP1) e uma medida no equipamento nacional MVD300® (SNIP2). Embora os equipamentos apresentem o mesmo mecanismo eletrônico, o equipamento MicroRPM® dispõe de uma chave de seleção para a opção MIP/MEP, representando PImáx/PEmáx, e outra opção de seleção para SNIP. O aparelho importado possui quatro plugues nasais próprios de polietileno em formato cilíndrico, com a borda exterior convexa para conexão com o orifício nasal. Para cada indivíduo, foi escolhido o plugue nasal que melhor se adaptasse ao tamanho do orifício nasal. Em relação ao seu tamanho, as bases variam de 428 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):426-31. 1,1 a 1,9 cm de altura, a espessura varia de 3,1 a 4,5 cm e há um orifício interno de 0,5 cm. O prolongamento é de silicone e mede 68 cm. O equipamento MVD300® possui duas opções de conexão, uma para avaliação da PImáx e outra para avaliação da PEmáx. A manobra para obtenção do SNIP foi realizada na opção de conexão de avaliação da PImáx, opção capaz de captar a pressão negativa gerada pelo teste. O equipamento possui um prolongamento de silicone de 60 cm e foi utilizado para avaliação do sniff com um plugue nasal de silicone semelhante ao importado, com o formato cônico, com base e altura de 2,2 cm e com um orifício de 0,5 mm de diâmetro interno para transmissão da pressão. As avaliações do sniff teste foram realizadas seguindo a descrição metodológica padronizada9-11,17, e foram utilizados os valores de referência previamente descritos para a população inglesa9, uma vez que não existem valores descritos e normalizados para a população brasileira. O teste foi realizado por meio da colocação do plugue nasal em uma das narinas, sem preferência pela direita ou esquerda, mantendo a narina contralateral sem oclusão. Em seguida, solicitou-se aos sujeitos que mantivessem uma respiração tranquila e, ao final da expiração relaxada, identificada como CRF, a boca deveria ser fechada e então realizava-se um esforço inspiratório máximo. Nesse momento a pressão gerada era transmitida da narina conectada ao plugue nasal para o manovacuômetro pelo prolongamento de silicone. Durante a manobra, os sujeitos foram estimulados verbalmente. A manobra foi realizada dez vezes, sendo o intervalo entre elas de 60 segundos e, ao final de dez manobras, o maior valor foi utilizado, considerando-o como a pressão inspiratória nasal do indivíduo10, 11,17. Para a realização do sniff teste com o equipamento MVD300®, conectou-se o plugue nasal em uma extremidade do prolongamento (local onde seria conectado o bocal), enquanto a outra extremidade foi ligada ao manovacuômetro na conexão de avaliação da PImáx. Análise estatística Para o cálculo do tamanho da amostra, utilizou-se um poder de confiabilidade de 95% e o desvio-padrão, previamente publicado por Uldry e Fitting9, de 29,5 cmH2O, considerando uma diferença máxima entre 14-18 cmH2O devido à ausência de resultados prévios sobre diferenças máximas ou mínimas estabelecidas. Tal cálculo indicou uma amostra de 10 a 17 indivíduos. A normalidade das variáveis foi testada pelo teste Kolmogorov Smirnov. O teste t pareado foi realizado para avaliar a existência de diferenças entre as medidas SNIP1 e SNIP2, sendo esses os valores obtidos no equipamento importado e no nacional, respectivamente. Para avaliar as correlações entre as médias realizadas nos dois equipamentos, SNIP1 e Avaliação da pressão inspiratória nasal SNIP2, utilizou-se a análise de correlação simples por meio do coeficiente de correlação de Pearson (r)18. Pela análise de Bland-Altman, avaliou-se a média das diferenças (BIAS) a qual estabelece quão importante clinicamente são as discrepâncias entre os dois equipamentos utilizados e quais limites de concordância determinam as diferenças entre os dois equipamentos situadas no intervalo de confiança de 95%19,20. Para a análise estatística, empregou-se o software SPSS 15.0 (SSPS, Chicago, IL, USA) e o GraphPad Prism® 4 (GraphPad Software Inc.). O nível de significância foi ajustado para um p<0.05 com uma aproximação bilateral. Atenderam ao convite para participar da pesquisa 26 sujeitos, porém apenas 18 saudáveis, com idade entre 18 e 35 anos, de ambos os sexos, foram incluídos no estudo. Oito sujeitos foram excluídos, dois devido a desvio de septo nasal, um por se apresentar em período de crise asmática, quatro por serem atletas e um por já ter conhecimento das técnicas de avaliação utilizadas no estudo. A amostra foi constituída por nove sujeitos do sexo masculino e nove do sexo feminino. A distribuição das variáveis foi considerada normal. A amostra foi constituída de sujeitos jovens, com valores espirométricos próximos aos considerados saudáveis, VEF1/CVF%≥90%, CVF≥80% do predito, como demonstrado na Tabela 1. A Tabela 2 mostra a média do valor de referência do sniff teste da amostra, a média±desvio-padrão dos valores encontrados em cada manovacuômetro ao se realizar a pressão inspiratória nasal e o percentual das médias em relação aos valores de referência para a população saudável. Na mesma tabela, estão descritos os valores do teste t pareado (p>0,05, 95%IC= -23,4-9,4), nos quais não foram encontradas diferenças significativas entre os valores obtidos nos diferentes equipamentos. Os resultados da análise de correlação de Pearson (r) demonstraram uma correlação significativa entre as medidas com um r=0,63 (p=0,0049, 95%, IC=0,23 a 0,85 e R2=0,39), como demonstrado na Figura 1. Na análise estatística gráfica realizada pelo teste de Bland-Altman entre as medidas SNIP1 e SNIP2, representado na Figura 2, encontrou-se uma BIAS igual a 7 cmH2O, um desvio-padrão de 32,9 cmH2O para o DP e um intervalo de confiança de -57,5cmH2O até 71,5 cmH2O. Tabela 1. Características antropométricas e espirométricas da amostra. Tabela 2. Comparação entre os manovacuômetros: importado x nacional. Resultados Variável Sujeitos Idade (anos) IMC (Kg/m2) CVF (% pred.) FEV1 (% pred.) VEF1/ CVF (% pred.) Homens 9 20,9±1,4 24,8±1,9 93,9±8,5 91,9±10,0 86,1±1,2 Mulheres 9 22,0±3,8 22,0±2,3 93,5±11,7 98,1±13,6 90,4±0,7 Total 18 21,4±2,8 23,4±2,5 93,8±9,9 95±12 88,3±2,4 IMC=índice massa corpórea; CVF=capacidade vital forçada; VEF1=volume expiratório no primeiro segundo; VEF1/CVF=relação entre o VEF1/CVF. Homens Mulheres Total Média VR Sniff (cmH2O) 118±0,6 90±0,8 104±20,3 Média SNIP1 (cmH2O) 146,3±46,4 103,1±25,0 124,7±42,4 Média SNIP2 (%) (cm H2O) (%) 124 141,5±29,2 120 114 121,9±26,0 135 119 131,7±28,7 126 Teste t pareado* Valor p 0,70 0,58 0,38 VR=valor de referencia; SNIP1=valor do sniff teste no manovacuômetro importado; SNIP2=valor do sniff teste no manovacuômetro nacional; * teste t pareado entre os valores absolutos de SNIP1 e SNIP2. 250 200 SNIP2 (cmH2O) 150 Limite de concordância superior 71,57 cmH2O 100 150 50 r=0,63 p=0,0049 100 BIAS 7 cmH2O 0 -50 50 Limite de concordância inferior 57,2 cmH2O -100 -150 0 0 50 100 150 200 250 0 50 100 150 200 250 SNIP1 (cmH2O) SNIP1=valor do sniff teste no manovacuômetro importado; SNIP2=valor do sniff teste no manovacuômetro nacional. Figura 1. Correlação de Pearson entre os equipamentos. Figura 2. Bland-Altman entre as avaliações do sniff teste em ambos os equipamentos. 429 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):426-31. Fernanda G. Severino, Vanessa R. Resqueti, Selma S. Bruno, Ingrid G. Azevedo, Rudolfo H. G. Vieira, Guilherme A. F. Fregonezi Discussão O presente estudo foi realizado com objetivo de avaliar a viabilidade da avaliação do sniff teste por meio de um manovacuômetro eletrônico nacional. Não foram encontradas diferenças significativas entre as médias dos resultados do sniff teste em ambos os equipamentos, foram encontrados limites de concordância fracos entre as medidas, ao mesmo tempo em que a média das diferenças encontradas foi inferior ao coeficiente de variação da medida. A avaliação do sniff teste realizada com o manovacuômetro nacional mostrou ser viável e segura. Por meio da análise dos resultados, pode-se sugerir algumas implicações. Primeiramente, a possibilidade do fácil acesso à avaliação da pressão inspiratória nasal com um equipamento de custo acessível em relação ao importado. Secundariamente, a origem do equipamento é nacional e ele está normatizado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), além de sua comercialização, aquisição e manutenção serem realizadas mais facilmente em território nacional. Atualmente, o equipamento importado utilizado para avaliação do sniff teste é o único disponível no comércio mundial para este tipo de avaliação, o que dificulta seu acesso devido aos custos do equipamento, da importação e da manutenção. A pressão inspiratória nasal avaliada pelo sniff teste começou a ser utilizada na década de 909, quando se estabeleceram os valores de referência para a população inglesa. Porém, apenas na última década, foram demonstrados, em algumas publicações, os parâmetros e informações clínicas sobre a importância do teste no acompanhamento e na avaliação da força muscular inspiratória17,21-23, principalmente em pacientes com doenças restritivas de caixa torácica de origem musculoesquelética e com doenças neuromusculares. Em recente trabalho, Maillard et al.22 demonstraram que o sniff teste apresenta reprodutibilidade similar aos valores descritos para PImáx em sujeitos saudáveis com um coeficiente de variação de 6% . Logo o estudo de Luo et al.23, também com indivíduos saudáveis, demonstrou que o sniff teste apresenta reprodutibilidade similar aos valores descritos para a pressão transdiafragmática com um coeficiente de variação de 11%. Ambos os resultados reforçaram a hipótese de o sniff teste ser considerado um teste confiável que reflete em grande parte a força do músculo diafragma. Fisiologicamente, durante a 430 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):426-31. sua realização, ocorre forte ativação neuromuscular do músculo diafragma e do músculo escaleno12,13. Essa contração, devido às características do teste, ocorre de forma rápida, sendo considerada uma contração muscular balística, em detrimento da contração isométrica sustentada dos músculos inspiratórios, como ocorre na manobra de avaliação da PImáx. A realização da manobra é mais simples que a PImáx, pois há uma menor exigência de coordenação entre o final da expiração e o encaixe com a peça bocal9. Apesar de algumas semelhanças entre as manobras para obtenção da PImáx e da sniff teste, os limites de concordância entre elas são largos, indicando que essas medidas não são intercambiáveis e, portanto, são consideradas complementares para a avaliação da força muscular inspiratória24,25 . Os resultados encontrados pelo presente estudo mostraram não haver diferença significativa entre as médias avaliadas pelos dois equipamentos. Os resultados da correlação entre as médias em ambos os equipamentos devem ser interpretados com cautela, pois, na análise de Bland-Altman, a amplitude encontrada nos limites de concordância foi extensa, ainda que o BIAS, ou média das diferenças entre as medidas avaliadas, mostrou-se próxima a zero, abaixo dos valores de variabilidade encontrados em outros estudos (6-11%)21,23 e inferior ao coeficiente de repetibilidade de 23-32 cmH2O, observado por Maillard et al.22. O estudo apresenta algumas potenciais limitações, como a não realização de um reteste para as medidas do sniff teste, o que pode ser minimizado pela quantidade de manobras realizadas, dez tentativas, em cada avaliação para obtenção da medida. Outra potencial limitação é a larga amplitude dos limites de concordância encontrados na análise de Bland-Altman. Devido às características do sniff teste, que é esforço dependente, possivelmente o baixo desempenho de quatro indivíduos pode ter contribuído para elevar o desvio-padrão das diferenças, assim como os limites de concordância. Conclusão A avaliação do sniff teste realizada pelo manovacuômetro eletrônico nacional mostrou ser uma medida viável e segura. Os resultados apresentados podem contribuir para a difusão da técnica de avaliação da pressão inspiratória nasal. Avaliação da pressão inspiratória nasal Referências Bibliográficas 1. Fitting JW. Sniff nasal inspiratory pressure: simple or too simple? Eur Respir J. 2006;27(5):881-3. 2. Polkey MI, Green M, Moxham J. Measurement of respiratory muscle strength. Thorax. 1995;50(11):1131-5. 3. American Thoracic Society/ European Respiratory Society. ATS/ERS Statement on respiratory muscle testing. Am J Respir Crit Care Med. 2002;166(4):518-624. 4. Ramirez-Sarmiento A, Orozco-Levi M. 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ISSN 1413-3555 ARTIGO ORIGINAL Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 432-7, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Confiabilidade interavaliadores e intraavaliador do escoliômetro Inter and intra-rater reliability of the scoliometer Guilherme H. Bonagamba1, Daniel M. Coelho2, Anamaria S. de Oliveira3 Resumo Contextualização: O escoliômetro foi desenvolvido para medir a rotação axial do tronco de portadores de escoliose idiopática. No entanto, a confiabilidade das medidas obtidas por esse dispositivo é controversa. Objetivo: Testar a confiabilidade interavaliadores e intra-avaliador do escoliômetro em pacientes com escoliose. Métodos: Foram avaliados 24 voluntários de ambos os sexos com escoliose idiopática (18±4 anos), com curvaturas médias de 24,8±12,7° Cobb. As medidas foram realizadas em um só dia e por dois examinadores treinados, com os níveis vertebrais demarcados por um só examinador. Os avaliadores registraram uma medida para cada vértebra dos níveis torácico e lombar em cada avaliação. Na análise dos dados, as medidas foram separadas em níveis vertebrais: torácico alto, torácico médio, torácico baixo e lombar. O ICC (1,1) foi o teste estatístico utilizado para determinar a confiabilidade intra-avaliador e o ICC (3,1), para a confiabilidade interavaliador. Resultados: A confiabilidade intraexaminador das medidas dos segmentos torácicos médio e baixo e lombar foi considerada de muito boa a excelente. A confiabilidade interexaminadores das medidas de rotação axial do tronco foi considerada boa para o segmento torácico alto e excelente para os segmentos torácicos médio e baixo e lombar. Conclusões: O escoliômetro é um instrumento que possui valores de confiabilidade de muito bons a excelentes para as medidas repetidas de um mesmo examinador. A confiabilidade interavaliadores nos segmentos torácicos médio e baixo e lombar em indivíduos com escoliose idiopática é relativamente menor que a medida intra-examinador, mesmo que sejam eliminados os erros de palpação e marcação do local de posicionamento do instrumento. Palavras-chave: escoliose; reprodutibilidade dos testes; estudo de avaliação; confiabilidade. Abstract Background:The scoliometer was developed to analyze the axial rotation of the trunk in patients with idiopathic scoliosis. However, there is controversy regarding the reliability of the measures obtained with this device. Objective: To test the intra-rater and inter-rater reliability of the scoliometer in patients with scoliosis. Methods: 24 volunteers of both sex with idiopathic scoliosis diagnostic (18±4 years-old) and curvatures with mean and standard deviation of 24.8±12.7° Cobb. The measurement procedure was accomplished in one day by two trained examiners. The palpation and determination of each spinal level was accomplished by just one examiner. Each examiner obtained one measure with the device for each vertebra from the thoracic and lumbar levels in each evaluation. For statistical analysis the measurements were divided by spinal levels into upper thorax, medium thorax, lower thorax and lumbar segments. The Intraclass Correlation Coefficient type 1,1 (ICC1,1) was used to determine the intra-rater reliability while the ICC3,1 was used to determine the inter-rater reliability. Results: The observed intra-rater reliability values for the medium and lower thorax and lumbar segments of the subjects ranged from very good to excellent. The inter-rater reliability of the measures of axial trunk rotations was considered good to the upper thorax and excellent for the medium and lower thorax and lumbar spine. Conclusion: The scoliometer is a device that has intra-rater reliability estimates ranging from very good to excellent. The interrater reliability for the upper and low thorax and for the lumbar spine is relatively lower than the intra-rater values for the same spinal segments, even when the errors from palpation and positioning of the instrument were eliminated. Key words: scoliosis; reproducibility of tests; evaluation studies; reliability. Recebido: 23/07/2009 – Revisado: 09/11/2009 – Aceito: 31/03/2010 1 Curso de Fisioterapia, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto(SP), Brasil 2 Programa de Pós-Graduação em Ortopedia, Traumatologia e Reabilitação, FMRP/USP 3 Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, FMRP/USP Correspondência para: Anamaria Siriani de Oliveira, Av. Bandeirantes, 3900, Vila Monte Alegre, CEP 14049-900, Ribeirão Preto (SP), Brasil, e-mail: [email protected] 432 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):432-7. Confiabilidade do escoliômetro Introdução A escoliose é uma deformidade cuja prevalência é de 0,5% a 3,0% da população em geral para uma curvatura de, no mínimo, 5° e que acomete principalmente indivíduos jovens e do sexo feminino1,2. O diagnóstico e o acompanhamento clínico da escoliose idiopática são feitos por radiografia ântero-posterior da coluna vertebral, na qual se mede o ângulo de Cobb, considerado a medida padrão-ouro3. Várias tentativas foram realizadas de modo a validar alguns métodos de identificação da curvatura escoliótica por meio de análises não radiográficas. Esses métodos surgiram como alternativa ao método de avaliação radiográfico por diminuir a exposição dos pacientes que possuem escoliose à excessiva radiação, pela facilidade de avaliação no consultório e pelo custo reduzido de alguns dispositivos, quando comparados ao exame radiográfico. Exemplos desses métodos não radiográficos são a fotografia de Moiré4-6, o Sistema de Quantec7, o eletrogoniômetro8 e o escoliômetro2,3,9-14. O escoliômetro é um equipamento similar a um inclinômetro, no qual há uma esfera de metal em seu interior embebida em água que indica o ângulo de rotação axial do tronco, podendo ser deslocada numa amplitude de 0 a 30° para ambos os lados em uma escala crescente de valores unitários, como pode ser observado na Figura 1. O avaliador posiciona o escoliômetro, de forma perpendicular ao eixo axial da coluna sobre os processos espinhosos das vértebras nivelados com a marcação referente ao centro do escoliômetro9,12. Não há na literatura correlação estabelecida entre o valor de rotação axial do tronco encontrado pela avaliação com o escoliômetro e seu valor correspondente em ângulos de Cobb. O valor de referência obtido com o escoliômetro, como sugerido pelo seu criador, para caracterização de curvatura escoliótica de pelo menos 10° Cobb é de, no mínimo, 5° para qualquer um dos lados12. Amendt et al.2 sugerem que valores de rotação axial do tronco de 7° a 10° correspondem à escoliose de, pelo menos, 20° Cobb. Alguns estudos foram conduzidos em amostras de indivíduos portadores de escoliose, predominantemente do sexo feminino, com idades variáveis entre 15 e 37 anos, com a finalidade de determinar a confiabilidade do escoliômetro2,3,9,10,13. Em dois estudos, o escoliômetro apresentou ótimos valores de confiabilidade tanto interavaliadores como intra-avaliador e, portanto, foi recomendado como uma ferramenta confiável, prática e barata para utilização na prática clínica2,12. Porém, em um desses estudos2, a análise estatística foi realizada com o coeficiente de correlação “r” de Pearson, que não é o teste estatístico mais utilizado para analisar confiabilidade, pois tende a aumentar a associação das medidas3. Côté et al.3 e Murrell et al.9 encontraram ótimos valores de confiabilidade intra-avaliador, mas baixos valores de confiabilidade inter-avaliadores para o escoliômetro devido à pouca precisão da medida inerente à sua mensuração, o que limitaria a utilização desse instrumento na prática clínica. Nesses estudos foram realizados outros procedimentos além da avaliação escoliométrica, como a verificação do teste de Adam e a palpação e determinação da vértebra apical da curvatura dos pacientes. Como não há descrição acerca do tempo de descanso entre as avaliações ou do tempo de duração de todas as medições realizadas, o paciente poderia apresentar desconforto devido à manutenção da postura adotada para o teste e apresentar alterações posturais que poderiam gerar erro durante o procedimento de medição. Além disso, em todos os estudos citados, todo o método de medição com o escoliômetro foi testado, pois cada examinador realizava todo o procedimento, desde o posicionamento do paciente até a documentação do valor de rotação axial da vértebra, e não somente a análise da confiabilidade do instrumento isoladamente2,3,9,10,13. A palpação dos processos espinhosos da coluna vertebral é uma técnica essencial na avaliação com o escoliômetro. Alguns estudos da literatura demonstraram boa repetibilidade interavaliador15,16 e excelente repetibilidade intra-avaliador da técnica15-17, tanto nos segmentos torácicos quanto no lombar. Eles ainda referem que, se a palpação for realizada por terapeuta especialista em técnicas de terapia manual, a repetibilidade é ainda maior. Diante do exposto, a quantificação das confiabilidades interavaliadores e intra-avaliador das medidas escoliométricas é ainda descrita de forma controversa na literatura e o objetivo do estudo foi testar a confiabilidade interavaliadores e intra-avaliador de medidas de rotação axial do tronco obtidas com o escoliômetro em indivíduos com diagnóstico de escoliose idiopática. Materiais e Métodos Voluntários Vinte e quatro voluntários de ambos os sexos com diagnóstico de escoliose idiopática concordaram em participar deste estudo e foram avaliados, sendo dois homens e vinte e Figura 1. Escoliômetro. 433 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):432-7. Guilherme H. Bonagamba, Daniel M. Coelho, Anamaria S. de Oliveira duas mulheres. Dos indivíduos da amostra, quatro participantes possuíam a curvatura escoliótica simples exclusivamente no nível torácico (16,7%); três, no lombar (12,5%) e cinco, na transição toracolombar (20,8%). Doze voluntários possuíam curvatura dupla toracolombar (50%). A média de idade dos indivíduos da amostra foi de 18 (±4) anos; a média da altura, de 1,60 (±0,89) m; a média do peso, de 54,4 (±9,4) Kg; a média do IMC, de 21,1 (±3,0), e o valor médio do ângulo de Cobb, de 24,8±12,7°. O diagnóstico da deformidade foi realizado por um médico ortopedista especialista em coluna vertebral durante consultas. O diagnóstico foi confirmado a partir da história clínica do paciente, exame físico e testes especiais e observação dos exames radiográficos da coluna vertebral em exposição ânteroposterior para obtenção dos valores do ângulo de Cobb. Os participantes deste estudo foram recrutados por conveniência a partir da lista de consulta do Ambulatório de Ortopedia e Coluna Vertebral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), Ribeirão Preto (SP), Brasil, no período de outubro de 2006 a julho de 2007. Foram excluídos deste estudo voluntários previamente submetidos a tratamento cirúrgico da coluna ou dos membros inferiores, com discrepância do comprimento de membros inferiores maiores que 2,5 centímetros, que apresentassem escoliose não idiopática ou que apresentassem postura escoliótica antálgica. Os procedimentos realizados no estudo foram explicados, e o termo de consentimento disponibilizado para que o voluntário ou seu responsável, caso o voluntário possuísse menos de 18 anos, concordasse formalmente com sua Figura 2. Medição realizada com o escoliômetro durante a avaliação com o voluntário posicionado em ortostatismo e flexão anterior do tronco. 434 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):432-7. participação e assinasse o termo de consentimento. A aprovação do projeto de pesquisa foi concedida pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do HCFMRP-USP, processo número 2439/2006, em 28 de agosto de 2006. Procedimentos O procedimento de medição foi realizado por dois examinadores previamente treinados por, em média, 10 horas com manejo do escoliômetro, tempo considerado pelos examinadores deste estudo suficiente para o aprendizado do método de avaliação, embora não haja na literatura recomendação em relação ao tempo de treinamento necessário para correta utilização do instrumento. O mesmo escoliômetro, desenvolvido pela Ortophaedics Systems Incorporation®, foi utilizado pelos examinadores para avaliação de todos os voluntários com a finalidade de reduzir o erro associado à medição. Durante o processo de medição, todos os indivíduos estavam descalços, os voluntários do sexo feminino utilizaram cabelos presos e uma blusa padronizada que permitia a visualização de todo o seu dorso. Os indivíduos do sexo masculino foram avaliados sem camisa. A fim de que a variabilidade de identificação por palpação dos níveis da coluna vertebral não fosse incluída como variável no estudo, o processo espinhoso de cada vértebra torácica e lombar da coluna vertebral, a partir de T1 até L5, foi localizado por meio de palpação com o voluntário na posição ortostática. Os processos espinhosos foram demarcados com caneta dermográfica pelo examinador 2, que apresentava experiência de 4 anos de trabalho com técnicas de terapia manual. O escoliômetro é capaz de analisar, em graus, assimetrias e a rotação axial do tronco no plano frontal, com o paciente posicionado em flexão anterior do tronco12. O paciente deve ser posicionado em ortostatismo, com o tronco desnudo, flexionado anteriormente e praticamente paralelo ao solo, com os braços relaxados, pendentes de forma perpendicular ao tronco e as mãos unidas, como representado na Figura 2. O valor indicado pela esfera de metal após o posicionamento do escoliômetro sobre o processo espinhoso e sua parada completa é utilizado para indicar o valor de rotação axial do tronco. Cada examinador realizou sua medição, que durava aproximadamente 3 minutos, sem pausas. Os examinadores posicionaram o centro do equipamento sobre a marcação referente ao processo espinhoso de cada vértebra com o escoliômetro perpendicular ao eixo axial da coluna e mensuraram a rotação axial do tronco. Os examinadores não tiveram acesso aos resultados das outras avaliações para que não houvesse memorização dos valores obtidos. Entre cada avaliação, o voluntário foi orientado a sair da posição da avaliação para descansar. A avaliação do examinador 2 foi feita logo após o período de descanso, que tinha duração variável, conforme relato do paciente. Entre a primeira e Confiabilidade do escoliômetro a segunda avaliação do examinador 1, foram decorridos de 15 a 20 minutos de intervalo, tempo este no qual era realizada a avaliação do examinador 2. Assim, duas das três avaliações, a primeira e a última,foram realizadas pelo examinador 1, e uma avaliação, a segunda, foi realizada pelo examinador 2. Em cada avaliação, os examinadores avaliaram uma só vez os 17 processos espinhosos de T1 a L5 de cada um dos 24 voluntários, totalizando 408 medições obtidas ao final de cada avaliação. Análise dos dados e estatística As medidas de rotação axial realizadas sobre os 17 processos espinhosos (T1 a L5) foram analisadas por categorias de acordo com quatro níveis vertebrais: torácico alto (T1 a T4), torácico médio (T5 a T8), torácico baixo (T9 a T12) e lombar (L1 a L5). As rotações à esquerda da marcação 0° do escoliômetro foram anotadas como negativas, e as rotações situadas à direita da marcação central, como positivas, para que fosse identificado o lado da concavidade da curvatura. No entanto, os valores foram considerados em módulo ou absolutos para os testes de confiabilidade. Para determinação da confiabilidade interavaliadores, as medidas de cada nível vertebral obtidas na primeira avaliação do examinador 1 e na avaliação do examinador 2, dentro do mesmo segmento, foram submetidas à análise estatística Intraclass Correlation Coefficient (ICC) (3,1)18. Para determinação da confiabilidade intra-avaliador, as medidas de cada nível vertebral obtidas na primeira avaliação do examinador 1 e na segunda avaliação do mesmo examinador, dentro do mesmo segmento, foram submetidas à análise estatística ICC (1,1)18. As medidas de rotação axial do tronco também foram utilizadas para o cálculo do erro padrão e do intervalo de confiança. Para valores de 1,0 a 0,81, a confiabilidade foi considerada excelente; de 0,80 a 0,61, muito boa; de 0,60 a 0,41, boa; de 0,40 a 0,21, razoável e, por fim, de 0,20 a 0,00, pobre18. Resultados As médias, o erro padrão e o intervalo de confiança (IC=95%; p<0,0001) dos valores de rotação axial da amostra (n=24), por região da coluna vertebral, são apresentados na Tabela 1. Os valores de confiabilidade interavaliadores e intra-avaliador para todos os segmentos da coluna vertebral para todos os indivíduos da amostra (n=24) são apresentados na Tabela 2. A confiabilidade intraexaminador das medidas de rotação axial do tronco mensuradas pelo escoliômetro foi considerada excelente para os segmentos torácicos médio e baixo e lombar (ICC 0,87-0,92) e muito boa para o segmento torácico alto (ICC 0,74). Os maiores coeficientes de confiabilidade intraexaminador foram obtidos nas medidas de rotação axial do tronco nos segmentos torácicos médio (T5-T8) e baixo (T9-T12). A confiabilidade interexaminadores das medidas de rotação axial do tronco foi considerada boa (ICC 0,57) para o segmento torácico alto e excelente para os segmentos torácicos médio e baixo e lombar (ICC 0,84-0.95). Discussão No presente estudo, o escoliômetro apresentou-se como um instrumento confiável para avaliar a rotação axial do tronco em vértebras de pacientes com escoliose idiopática. Entretanto, o instrumento mostrou-se mais confiável se for utilizado pelo mesmo examinador em pacientes com escoliose idiopática especialmente para avaliar curvaturas nos segmentos torácicos médio e baixo da coluna vertebral. A confiabilidade intra-avaliador foi muito boa no segmento torácico alto, excelente nos segmentos torácicos médio, e baixo e lombar da coluna vertebral, e valores maiores foram encontrados para os segmentos torácicos médio e baixo de indivíduos, semelhante aos resultados encontrados por outros autores2,3,9,12,14. Esses resultados indicam que o escoliômetro é uma ferramenta confiável para avaliar rotações axiais do tronco de indivíduos com escoliose idiopática em todos os segmentos da coluna vertebral, especialmente se a avaliação é realizada pelo mesmo avaliador e nos segmentos torácicos médio e baixo. Em relação à confiabilidade interavaliadores, observaram-se valores excelentes de confiabilidade para os segmentos torácicos médio e baixo e lombar, enquanto o segmento torácico alto apresentou confiabilidade boa, desde que o erro de determinação do nível vertebral não fosse incluído como variável. Os valores relativamente mais baixos encontrados para a confiabilidade inter-avaliadores no segmento torácico alto pode ser devido ao fato de que, na região avaliada, qualquer movimento acessório de rotação cervical de pequena amplitude pode gerar compensação postural na região torácica. Logo, como o escoliômetro é um instrumento em que o valor obtido na leitura depende da oscilação de uma esfera metálica no plano transverso, qualquer posicionamento das vértebras torácicas altas em rotação pode gerar uma oscilação correspondente na esfera metálica e provocar viés na medida obtida na avaliação. A palpação e a demarcação das vértebras com caneta dermográfica foi realizada apenas pelo examinador 2, pois não se objetivou a análise de confiabilidade do método completo de medição com o escoliômetro, mas sim a confiabilidade do instrumento. Isso pode ter contribuído para melhores valores de confiabilidade interavaliadores para os segmentos torácicos médio e baixo, quando comparados aos anteriormente citados na literatura. 435 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):432-7. Guilherme H. Bonagamba, Daniel M. Coelho, Anamaria S. de Oliveira Tabela 1. Medidas de rotação axial do tronco determinadas, com o escoliômetro, por dois examinadores em 24 sujeitos com escoliose idiopática. Examinador 1/ Primeira avaliação Média (erro padrão) (IC) 3,5 (±0,2) (2,9-4,0) Examinador 2/ Única avaliação Média (erro padrão) (IC) 4,2 (±0,3) (3,5-4,9) Examinador 1/ Segunda avaliação Média (erro padrão) (IC) 3,6 (±0,3) (3,0-4,3) Torácico médio (T5-T8) 4,2 (±0,3) (3,4-4,9) 4,8 (±0,4) (3,9-5,7) 4,3 (±0,3) (3,7-5,0) Torácico baixo (T9-T12) 5,3 (±0,4) (4,4-6,2) 5,9 (±0,4) (4,9-6,8) 5,3 (±0,4) (4,5-6,2) Lombar (L1-L5) 2,9 (±0,2) (2,7-3,7) 2,5 (±0,2) (2,3-3,2) 2,8 (±0,2) (2,6-3,5) Segmento vertebral Torácico alto (T1-T4) Dados correspondem à média (erro padrão) e IC 95%. As duas avaliações do examinador 1 foram realizadas em um intervalo de 15 a 20 minutos. Tabela 2. Valores de confiabilidade inter e intra-avaliador encontrados em cada segmento da coluna após avaliação escoliométrica de 24 sujeitos com escoliose idiopática. Segmento vertebral Confiabilidade Inter- Confiabilidade IntraAvaliadores Avaliador Torácico alto (T1-T4) 0,57 0,74 Torácico médio (T5-T8) 0,89 0,92 Torácico baixo (T9-T12) 0,95 0,92 Lombar (L1-L5) 0,84 0,87 No estudo de Côté et al.3 os autores obtiveram valores de confiabilidade inter-avaliadores de 0,91 para a região torácica e 0,74 para a região lombar, sendo que os examinadores reproduziram toda a avaliação, desde o posicionamento do paciente, determinação das vértebras e registro da medida com o escoliômetro. No estudo de Amendt et al.2, os autores relataram que o escoliômetro foi um instrumento altamente confiável tanto nas análises interavaliadores como intra-avaliador (r=0,86-0,97). No entanto, os autores não estratificaram os resultados por regiões da coluna vertebral. Além disso, em um dos estudos anteriores2, o teste estatístico utilizado para análise da confiabilidade do escoliômetro foi o coeficiente de correlação de Pearson, que tende a superestimar a associação dos dados e aumentar os valores de confiabilidade. O teste estatístico mais indicado para a análise de confiabilidade é o ICC, pois apresenta uma análise de associação dos dados em um dado intervalo3. Ao compararmos os resultados obtidos neste estudo com os de outros em que a palpação e determinação dos processos espinhosos foram incluídas como variáveis2,3, pode-se observar que os resultados encontrados no presente estudo foram similares ou até melhores do que os encontrados na literatura quando se analisa a confiabilidade interavaliadores para as 436 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):432-7. regiões torácicas média e baixa e lombar. A partir dessa premissa, pode-se inferir que a maior fonte de variabilidade da medida realizada com o escoliômetro advém do processo de posicionamento, palpação e determinação dos processos espinhosos e não apenas do registro das medidas de rotação axial com o instrumento. A variabilidade das mensurações com o escoliômetro encontrada entre as medidas dos dois examinadores justifica as diferenças entre os valores de confiabilidade interavaliadores e intra-avaliador. Essa maior variabilidade de interavaliadores do que de intra-avaliador também foi demonstrada no estudo de Murrell et al.9 O erro interexaminadores é uma medida associada à precisão do instrumento ou erro do experimentador. A variabilidade das mensurações pode ser associada a diferenças entre as leituras dos examinadores no momento de suas respectivas avaliações, pois, como o escoliômetro apresenta em seu interior uma esfera metálica cujo tamanho é praticamente igual ao espaço entre as demarcações das unidades angulares, e a rotação vertebral é registrada em cada nível com um número inteiro, se a esfera se posicionar entre duas demarcações das unidades, um examinador poderia avaliar a posição da esfera como uma angulação acima, enquanto o outro examinador poderia adotar a posição da esfera de forma diferente e classificar a rotação axial do mesmo nível vertebral uma unidade abaixo, gerando assim variabilidade. Pode-se verificar que, embora a maioria das regiões avaliadas tenha apresentado medidas de confiabilidade excelente, e o efeito da palpação e determinação do local de mensuração referente ao nível vertebral tenha sido excluído deste estudo, as medidas inter-examinadores dos segmentos torácicos alto, médio e baixo devem ser interpretadas com cuidado se o valor de 5° do escoliômetro for escolhido como indicativo de uma angulação Cobb de 10°, angulação corte para diagnóstico de escoliose12. Isso ocorre porque, na presente amostra, o erro absoluto nessas medidas pode ser suficiente para alterar o valor Confiabilidade do escoliômetro obtido pelo escoliômetro ao ponto de atingir o valor de 5° e diagnosticar um sujeito erroneamente, alterando a sensibilidade-especificidade desse exame. O tempo de treinamento com o escoliômetro efetuado pelos examinadores, de aproximadamente 10 horas, foi efetivo para o aprendizado do método de registro do instrumento e pode ter colaborado para aquisição de bons valores de confiabilidade. Baseados nos resultados encontrados em nosso estudo, sugere-se que esse mesmo tempo seja aplicado em estudos de metodologia semelhante. Estudos que melhor estabeleçam o valor de escoliometria indicativo do diagnóstico da escoliose serão úteis para definir se o erro da medida escoliométrica é crítico ou não para suportar sua aplicabilidade clínica. Os dados do presente estudo avaliaram a repetibilidade interavaliadores das medidas sem considerar o erro que a palpação realizada por diferentes examinadores poderia acrescentar aos erros obtidos no estudo. Além disso, o escoliômetro é um equipamento que apresenta amplitude máxima de registro de 0 a 30°, e como ainda não há uma correspondência determinada na literatura entre o valor encontrado pela avaliação com o escoliômetro e o valor correspondente em graus Cobb, não há como determinar se o erro das medidas é crítico para invalidar sua aplicabilidade diagnóstica. Limitações do estudo O escoliômetro é um instrumento que possui valores de confiabilidade de muito bons a excelentes para as medidas repetidas de um mesmo examinador. A confiabilidade interexaminadores das medidas de rotação axial do tronco foi considerada boa para o segmento torácico alto e excelente para os segmentos torácicos médio e baixo e lombar. Outros estudos são necessários na literatura para determinar qual a confiabilidade do método de avaliação do escoliômetro desde a palpação até o registro dos valores de rotação axial do tronco e se o erro das medidas torna crítica a sua aplicabilidade clínica para diagnóstico. Um fator que pode ter contribuído para os ótimos resultados de confiabilidade intra-examinadores como interexaminadores encontrados foi a realização das avaliações dos dois examinadores em um único dia e em períodos de 20 minutos de intervalo entre a primeira e a última avaliação realizada, pois, como todo o procedimento foi realizado no mesmo dia, variáveis como dor, desconforto muscular, fadiga e estresse emocional, que podem proporcionar alterações do alinhamento postural19,20, foram minimizadas. Conclusão Referências Bibliográficas 1. Kim HJ, Blanco JS, Widmann RF. Update on the management of idiopathic scoliosis. Curr Opin Pediatr. 2009;21(1):55-64. 11. Sapkas G, Papagelopoulos PJ, Kateros K, Koundis GL, Boscainos PJ, Koukou UI, et al. Prediction of cobb angle in idiopathic adolescent scoliosis. Clin Orthop Relat Res. 2003;411:32-9. 2. Amendt LE, Ause-Ellias KL, Eybers JL, Wadsworth CT, Nielsen DH, Weinstein SL. Validity and reliability testing of the scoliometer. 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ISSN 1413-3555 ARTIGO METODOLÓGICO Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 438-45, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia Escala de Locus de controle da dor: adaptação e confiabilidade para idosos Pain Locus of control scale: adaptation and reliability for elderly Louise G. Araújo1, Débora M. F. Lima2, Rosana F. Sampaio3, Leani S. M. Pereira3 Resumo Contextualização: A dor é considerada uma experiência multidimensional e muito prevalente em idosos. O locus de controle da dor tem se tornado fundamental para entender como percepções, expectativas e crenças individuais se relacionam a comportamentos, atitudes, enfrentamento e aderência dos idosos frente às condições de saúde e propostas de tratamento. Estudos focados na adaptação e confiabilidade de instrumentos são necessários para os profissionais de saúde. Objetivos: Realizar a adaptação transcultural, para o Brasil, do instrumento Pain Locus of Control Scale (forma C da Multidimensional Health Locus of Control ) e avaliar sua confiabilidade intra e interexaminadores em uma amostra de 68 idosos comunitários, com dor crônica não oncológica. Métodos: A adaptação transcultural da escala foi feita conforme metodologia padronizada por Beaton et al. (2000)*. Para análise estatística, foram usados os coeficientes de correlação de Pearson (CCP) e de correlação intraclasse (CCI) (p≤0.05). Resultados: A média de idade dos idosos foi de 69,6±5,5 anos, predominando mulheres, de baixa renda e escolaridade. O tempo médio de evolução da dor foi de 10,2 anos, e o principal diagnóstico clínico foi a osteoartrite. A confiabilidade da escala mostrou-se adequada com correlação de regular a muito forte (CCP=0,60 a 0,93) e de moderada a quase perfeita (CCI =0,60 a 0,93), principalmente nas subescalas de controle ao acaso e de profissionais médicos e de saúde. Conclusão: Após as adaptações e as adequações da escala para aplicação em idosos, verificou-se sua aplicabilidade e confiabilidade adequadas na amostra estudada. Palavras-chave: controle da dor; confiabilidade; adaptação transcultural; idosos. * Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine (Phila Pa 1976). 2000;25(24):3186-91. Abstract Background: Pain is considered a multidimensional experience and is very common in the elderly. The pain locus of control has become essential to understand how the perceptions, expectations and beliefs are related to individual behavior, attitudes, coping and adherence of the elderly with regards to the health conditions and with the proposed treatment. Studies focused on adaptation and reliability of instruments are necessary for health professionals. Objectives: The present study performed the cross-cultural adaptation of the Pain Locus of Control Scale (C form of Multidimensional Health Locus of Control) for Brazil and assessed its intra and inter-examiner reliability among a sample of 68 elderly individuals with non-oncological pain living in the community. Methods: The cross-cultural adaptation of the scale was performed using the methodology standardized by Beaton et al. (2000)*. Pearson’s correlation coefficient (PCC) and the intraclass correlation coefficient (ICC) were used for the statistical analysis (p≤0.05). Results: Average age of the subjects was 69.6 ± 5.5 years; most were women, with low levels of income and education. The average pain duration was 10.2 years and the main clinical diagnosis was osteoarthritis. The reliability of the scale was adequate, with a regular to very strong correlations (PCC = 0.60 to 0.93) and a moderate to nearly perfect ICC (0.60 to 0.93), in mainly the chance locus of control and medical and healthcare professionals locus of control subscales. Conclusion: An adequate reliability and applicability was observed in our sample after adjustments and adaptations of the scale for use in elderly Key words: pain control; reliability; cross-cultural adaptation; elderly. * Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine (Phila Pa 1976). 2000;25(24):3186-91. Recebido: 18/09/2009 – Revisado: 02/02/2010 – Aceito: 30/04/2010 1 Departamento de Fisioterapia, Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Belo Horizonte (MG), Brasil 2 Fisioterapeuta 3 Departamento de Fisioterapia, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Correspondência para: Louise Guimarães de Araújo, Rua Perdigão, 67, Apto 404, Fernão Dias, CEP 31910-190, Belo Horizonte (MG), Brasil, email: [email protected] 438 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):438-45. Escala de Locus de controle da dor para idosos Introdução Estimativas indicam que 80% dos idosos apresentam problemas de saúde que os predispõem ao desenvolvimento de dor crônica. Inquéritos populacionais brasileiros mostraram que mais de 60% dos idosos relataram doenças crônicas causadoras de dor1. Em ambulatórios fisioterápicos americanos, 50% dos pacientes eram idosos que relatavam a dor como queixa principal2. As repercussões da dor crônica na qualidade de vida do idoso envolvem sua associação com depressão, incapacidade e mortalidade3. A alta prevalência de dor crônica demanda a utilização de maiores recursos financeiros e de saúde, o que reflete negativamente nos sistemas de saúde, no indivíduo e na sociedade4. A abordagem mais utilizada para o tratamento da dor crônica é a medicação. No idoso, algumas limitações dessa terapêutica merecem consideração: o alto custo, os frequentes efeitos colaterais negativos e a menor eficiência na melhora dos sintomas. Essas limitações potencializam a procura por outras abordagens, como a fisioterapia, a psicoterapia e a terapia comportamental5,6. A dor é conceituada como uma experiência multidimensional4. Estudos relacionados à experiência de dor persistente apontam para a necessidade de considerar uma perspectiva biopsicossocial para a sua avaliação e tratamento. Nesse modelo, os fatores psicossociais interagem com os biológicos5,7. Dentre os instrumentos mais utilizados para avaliar a dor, destaca-se a Escala Visual Analógica (EVA) e o questionários McGill. A EVA é uma medida unidimensional de intensidade da dor8. Já o questionário de dor McGill, apesar de multidimensional (avalia propriedades, qualidade, distribuição espacial e intensidade da dor), não contempla as expectativas e crenças do indivíduo frente à dor. Instrumentos com foco nesses fatores tornam-se necessários quando se considera a interferência deles, nas atitudes do indivíduo frente ao tratamento proposto9. Evidências apontam que fatores psicológicos parecem interferir mais acentuadamente que os fatores sociais, demográficos e físicos nas experiências dolorosas e mostram ser mediadores importantes no tratamento da dor crônica. Estudos prévios, com análises estatísticas multivariadas em adultos e idosos com dor crônica, concluíram que fatores psicológicos (percepção de controle da dor, sentimento de incapacidade em lidar com a dor e estratégias de enfrentamento passivas) estão associados à depressão, à pior qualidade de vida, à incapacidade funcional e à intensidade da dor10-12. De acordo com os fatores relacionados à dor, destaca-se a percepção do controle da dor, o locus de controle (LC), baseado na teoria do aprendizado socia13. A teoria defende que, com base nas experiências pessoais previamente vividas, as pessoas adquirem uma percepção de controle da dor que pode sofrer influência de novas experiências14. O LC da dor tem se tornado fundamental para entender como as percepções, as expectativas e as crenças individuais se relacionam ao comportamento, atitudes, enfrentamento e aderência dos idosos frente às suas condições de saúde e propostas de tratamento14. Existem dois locais nos quais o indivíduo pode perceber predominantemente quem ou o que detém o controle dos eventos da sua vida: internamente (o indivíduo percebe que os eventos da vida são controlados por ele mesmo) ou externamente15. Os fatores externos são subdivididos em controle ao acaso (o indivíduo percebe que os eventos da vida são controlados por fatores, como azar, sorte ou destino) ou por pessoas poderosas (o indivíduo percebe que quem controla os eventos são profissionais de saúde, familiares e outras pessoas)14,15. Embasados nessa teoria, Wallston, Wallston e De Vellis15 formularam a escala Multidimensional Heath Locus of Control (MHCL) ( formas A e B), desenvolvida para avaliar o LC de estados gerais de saúde. Essas formas já foram traduzidas e adaptadas para o Brasil e suas propriedades psicométricas já foram verificadas em nossa população16,17. As formas A e B são mais adequadas para observar a percepção do LC de estados gerais de saúde, limitando sua observação a condições específicas de saúde, tais como câncer e dor18-20. Diante da necessidade de adaptação das formas A e B para avaliar a dor, o autor da escala original propôs o desenvolvimento da forma C20. Essa escala visa classificar o local no qual o indivíduo percebe predominantemente quem ou o que detém o controle da sua dor. A análise fatorial dos componentes principais dessa nova escala revelou quatro dimensões: LC interno, LC ao acaso, LC em outras pessoas (amigos e familiares), LC em médicos e profissionais de saúde20. Não foram encontrados outros estudos publicados que tivessem realizado a adaptação transcultural para o Brasil e avaliado as propriedades psicométricas dessa nova escala específica para dor e/ou para idosos. Estudos indicam que indivíduos que percebem o controle da dor externamente possuem maior incapacidade funcional, exibem mais alterações psicológicas, utilizam mais os serviços de saúde e mais frequentemente estratégias de enfrentamento, como idéias catastróficas, preces e diminuição das atividades17,21. Em contrapartida, indivíduos que possuem uma percepção do LC interno descrevem a dor com menor frequência e intensidade, possuem limiar de dor mais alto, melhor funcionalidade e utilizam estratégias de enfrentamento focadas no problema. Eles apresentam também menos alterações psicológicas, maior integração social, mais aderência aos tratamentos de orientação e melhores condições de saúde22,23. Apesar de o LC ser identificado como relevante e bastante estudado19,21 no Brasil, na revisão de literatura realizada para 439 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):438-45. Louise G. Araújo, Débora M. F. Lima, Rosana F. Sampaio, Leani S. M. Pereira o presente trabalho, foram encontrados poucos estudos que utilizam o construto de LC da saúde e da dor16,17. Não foi encontrado nenhum estudo publicado, metodologicamente padronizado, de tradução, adaptação transcultural e análise da confiabilidade da forma C da escala para a avaliação do LC da dor para os idosos brasileiros. A terapia comportamental se baseia em ensinar ao indivíduo estratégias cognitivas e comportamentais para controlar a dor; informar sobre o efeito de estratégias específicas (pensamentos, crenças e atitudes), emoções (medo da dor) e comportamentos (evitar atividades devido ao medo da dor) e enfatizar o papel primário que ele tem no controle da dor e na sua adaptação frente a ela2. Acredita-se que a terapia comportamental é compatível com a atuação fisioterapêutica, porque ambas promovem a adoção de estratégias de automanejo para o tratamento da dor24. Conhecer o LC da dor do paciente permite ao fisioterapeuta e demais profissionais da saúde incentivar a modificação de comportamentos inadequados e a utilização de habilidades específicas de enfrentamento, influenciando na melhora da aderência aos exercícios e da capacidade funcional9. O objetivo do presente estudo foi realizar o processo de tradução e adaptação transcultural do instrumento Pain Locus of Control Scale ( forma C) para idosos brasileiros com dor crônica, residentes na comunidade, e testar a confiabilidade intra e interexaminadores do instrumento na amostra pesquisada. Materiais e métodos Trata-se de um estudo do tipo metodológico aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil (ETIC 110/06). Participaram 68 idosos brasileiros comunitários, com dor crônica, não oncológica, persistente há mais de três meses, e com idade igual ou superior a 60 anos: 30 idosos na fase piloto para observação da aplicabilidade da escala e 38 idosos na fase de análises de confiabilidade. Os participantes foram selecionados em serviços ambulatoriais de Clínicas Escolas de Belo Horizonte (MG), Brasil. Foram excluídos os idosos com dor aguda, com déficits visuais e/ou auditivos e os que apresentavam alterações cognitivas avaliadas pelo Miniexame do Estado Mental (versão brasileira)25. Instrumentos Para a caracterização da amostra, aplicou-se um questionário estruturado, elaborado pelos autores, contendo dados clínicos e sociodemográficos. 440 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):438-45. A escala traduzida e adaptada para a população idosa brasileira neste estudo foi a forma C da Escala Multidimensional de LC da Saúde (MHLC), que mostrou propriedades psicométricas aceitáveis no estudo original em uma amostra americana (n=588) composta por adultos: consistência interna com α maior que 0,7 em todas as subescalas. A confiabilidade teste reteste, em um intervalo de seis semanas, por meio do coeficiente de Pearson (CCP), mostrou correlações de regular (r=0,40) a forte (r=0,80) entre as respostas20. Seguindo recomendação do autor, a aplicação da escala foi realizada substituindo a palavra saúde pela palavra dor. A escala apresenta 18 itens divididos em quatro subescalas, que correspondem aos fatores avaliados pelo instrumento: percepção de LC interno (6 itens), LC ao acaso (6 itens), LC outros poderosos: médicos e profissionais de saúde (3 itens) e LC outras pessoas (3 itens)20. Considerando a baixa escolaridade dos idosos brasileiros, após autorização do autor da escala original, ela foi aplicada em forma de entrevista, e foram utilizadas somente quatro opções de resposta: “Não concordo muito” (1 ponto), “Não concordo pouco” (2 pontos), “Concordo pouco” (3 pontos) e “Concordo muito” (4 pontos), diferentemente da escala original que contempla seis opções. Cada subescala recebe pontuação independente, variando de 6 a 24 (subescalas de LC interno e ao acaso) e de 3 a 12 (subescalas de LC em profissionais de saúde e outras pessoas). Cada uma pode ser aplicada separadamente e, quanto maior sua pontuação, maior o LC na dimensão. As percepções predominantes de controle da dor foram analisadas considerando-se as subescalas com maiores pontuações. Procedimentos Após o autor autorizar a adaptação transcultural da escala e o termo de consentimento livre e esclarecido ter sido assinado pelos participantes, o estudo foi dividido em duas fases. Na primeira fase, realizou-se o processo de tradução e adaptação transcultural da escala, seguindo a metodologia proposta por Beaton et al.26, que contempla as seguintes etapas: tradução, síntese das traduções, retrotradução, discussão com um comitê de especialistas e aplicação da versão pré-final da escala ( fase piloto). Na fase piloto, a versão pré-final foi aplicada em 30 idosos. Nessa oportunidade, foram detectadas algumas expressões de difícil compreensão pelos participantes. Elas foram novamente submetidas para análise do comitê de especialistas. A discussão interdisciplinar com os participantes do comitê, dois médicos (anestesiologista e geriatra), um psicólogo, um fisioterapeuta, um metodologista da pesquisa científica, um tradutor e um retrotradutor, auxiliou na solução das Escala de Locus de controle da dor para idosos discrepâncias semântica, idiomática, cultural e conceitual entre a versão original e a versão adaptada da escala. Após essa segunda discussão, foi estabelecida a versão final para a coleta de dados referentes à análise da confiabilidade (Anexo 1). A discussão com o comitê de especialistas culminou em sugestões para facilitar a compreensão da escala pelos idosos: explicação inicial sobre o preenchimento da escala, permissão da fala espontânea dos idosos após a leitura de cada item e utilização de uma escala visual com as quatro opções de resposta. A explicação sobre o preenchimento da escala ocorreu da seguinte forma: antes da aplicação, foi explicado ao idoso que não havia resposta certa ou errada para os itens e que, concordar ou não, dependia das experiências individuais relacionadas à dor. A permissão da fala espontânea dos idosos, após a leitura pelo examinador de cada item, facilitou a compreensão. Nesse momento, os idosos, por meio de situações previamente vividas e repetindo as frases com outras palavras, compreendiam melhor o item e escolhiam as respostas com mais segurança. Por exemplo, durante o preenchimento do item 6: “Sou eu que posso melhorar ou piorar a minha dor”, após a leitura da frase, o aplicador perguntava ao idoso: “Você acha que você pode melhorar ou piorar a sua dor? Dê um exemplo”. Na utilização da escala visual com as opções de resposta para pontuação de cada item, após a leitura da frase, perguntava-se ao participante se ele concordava ou não com o item. A partir dessa primeira resposta, a escala visual com as quatro opções (escritas em letra tamanho 18 e com cores diferentes) era lida e mostrada ao participante para a escolha da resposta final. As avaliações foram realizadas em consultório com a presença apenas do avaliador e do participante. Dois examinadores, previamente treinados, foram responsáveis pela coleta de dados. Na segunda fase do estudo, referente à análise das confiabilidades intra e interexaminadores, a escala foi aplicada de maneira independente e mascarada quanto ao resultado anterior. Para a análise da confiabilidade interexaminadores, o idoso compareceu no primeiro dia de avaliação, e os dois examinadores aplicaram a escala em momentos diferentes. Para a análise da confiabilidade intraexaminadores, os idosos retornaram em um segundo dia de avaliação, em um intervalo máximo de cinco dias, e responderam à escala para o mesmo avaliador anterior. Nenhum tratamento adicional poderia ser iniciado durante o período entre as duas avaliações. Adotou-se o intervalo máximo de cinco dias com base na disponibilidade do idoso e visando evitar mudanças na percepção de LC da dor. Análise estatística Os dados referentes à caracterização da amostra foram analisados por meio de medidas de tendência central e dispersão e distribuição de frequências, baseadas na distribuição de cada variável. As análises da confiabilidade foram realizadas utilizando-se o CCP e o coeficiente de correlação intraclasse (CCI). Para a análise com o CCP, o cálculo amostral indicou a necessidade de 22 idosos e, para a análise com o CCI, identificou-se a necessidade de 28 idosos. Os cálculos consideraram correlação (CCP) e concordância (CCI) significativas maior ou igual a 0,5, duas medidas repetidas, um poder de 0,8 e um nível de significância de 5%. Para determinar as confiabilidades, considerou-se um nível de significância de 5%. A interpretação dos resultados obtidos no CCI baseou-se nos pontos de corte sugeridos por Landis e Koch27, que adotam: abaixo de 0=pobre; 0 a 0,20=fraca; 0,21 a 0,40=regular; 0,41 a 0,60=moderada; 0,61 a 0,80 boa e 0,81 a 1=quase perfeita27. Para a interpretação dos resultados obtidos com o CCP, adotaram-se os critérios sugeridos por Tiboni28, que adota r=0,0 (correlação nula); 0,1 a 0,3 ( fraca); 0,31 a 0,6 (regular); 0,61 a 0,9 ( forte), 0,91 a 0,99 (muito forte) e 1,0 (perfeita)28. Resultados A média de idade foi de 69,6±5,5 (60-81) anos. Os dados clínicos e sociodemográficos podem ser observados na Tabela 1. Os resultados demonstram maiores índices de consistência nas subescalas de LC ao acaso e em médicos e profissionais de saúde. A subescala que mostrou menor consistência nos resultados foi LC em outras pessoas, como familiares e amigos. Os valores médios obtidos em cada subescala nas duas avaliações para demonstração da confiabilidade intra e interexaminadores com o CCP e o CCI podem ser observados nas Tabelas 2 e 3. Na aplicação da primeira versão da escala, 53,4% dos idosos relataram dificuldade razoável e 20%, muita dificuldade no preenchimento. Após as adequações sugeridas pelo comitê de especialistas, os resultados indicaram que 42% relataram nenhuma dificuldade; 31,6%, razoável; 26,4%, pouca dificuldade e nenhum idoso relatou muita dificuldade. Discussão Durante o processo de tradução e retrotradução, uma dificuldade encontrada, e já relatada na literatura, foi a escolha de 441 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):438-45. Louise G. Araújo, Débora M. F. Lima, Rosana F. Sampaio, Leani S. M. Pereira sinônimos para termos que eram adjetivos ou descreviam sentimentos, como os termos: a big role e plays a big part29. Considerando que alguns termos não possuem correspondentes em português, fez-se necessário uma tradução realizada pelo contexto. Frente à dificuldade na tradução literal, a subjetividade do construto avaliado pela escala e as características da Tabela 1. Perfil clínico e sociodemográfico da amostra estudada (n=68). Variáveis Sexo Feminino Masculino Idade Média ± DP (mínimo-máximo) Estado civil Casados Solteiros Viúvos Desquitados Escolaridade 0 anos 1 a 7 anos Mais de 8 anos Renda Sem rendimento Até 2 salários mínimos 2 a 5 salários mínimos 5 a 10 salários mínimos Localização da dor principal Coluna cervical/cabeça e face Membros superiores e ombro Coluna torácica Coluna lombar Pelve e quadril Membros inferiores Pé Tempo de evolução da dor Média ± DP (mínimo-máximo) Principais diagnósticos clínicos Artrose Osteoporose Alterações inflamatórias musculoesqueléticas Fibromialgia Outras patologias reumáticas n % 58 10 85,3 14,7 69,6±5,5 (60-81) 32 3 27 6 47 4,4 39,7 8,9 12 51 5 17,6 75 7,4 6 54 6 2 8,8 79,4 8,8 3 5 13 3 16 5 27 4 7,3 19,1 4,4 23,5 7,3 39,7 5,9 10,22±10,43 (0,5-51) 50 10 12 73,5 14,7 17,6 8 5 11,8 7,35 DP = desvio-padrão. amostra estudada, idosos brasileiros, nos quais peculiaridades emocionais e cognitivas são regras inerentes ao processo do envelhecimento, tornou-se imprescindível uma adequação na aplicação da escala, permitindo-se a fala espontânea e exemplos por parte dos idosos para a escolha das respostas. Essa forma de aplicação facilitou a compreensão dos itens para tal população específica. A realização de uma fase piloto (aplicação da escala em 30 idosos), antes do estabelecimento da versão final, fortaleceu a importância dessa etapa bem como a discussão com o comitê de especialistas no processo de tradução e adaptação de instrumentos. Recomenda-se que a aplicação da escala em idosos siga os seguintes procedimentos: explicação sobre o preenchimento da escala, permissão da fala espontânea dos idosos e utilização de uma escala visual para a escolha das respostas. Nesse sentido, Scherest, Fay e Zaidi30 apontam que, muitas vezes, é mais importante explicar o significado de uma expressão do que tentar parear vocábulos sinônimos30. As consistências das subescalas avaliadas pelo instrumento mostraram-se adequadas com índices de confiabilidade intra e interexaminadores, no mínimo moderada no CCI e regular e muito forte no CCP. A comparação dos resultados encontrados com os de outros estudos foi limitada devido às diferentes formas de análise da confiabilidade propostas pela literatura. A maioria deles avaliou a consistência da escala utilizando somente uma análise da consistência interna das formas A ou B da escala MHLC16,21. Wallston, Stein e Smith20 utilizaram a forma C da escala, como no presente estudo, para análise da confiabilidade teste reteste em uma população jovem, de bom nível educacional, com vários tipos de dor crônica não oncológica. Esses autores observaram um CCP que variava de regular a forte nas subescalas em um intervalo de seis semanas: r=0,80 na subescala de LC interno; r=0,72 na ao acaso, r=0,58 na médicos e profissionais de saúde e r=0,40 na outras pessoas20. No presente estudo, foram encontrados índices maiores no CCP se comparados ao estudo de Wallston, Stein e Smith20. Essas diferenças podem estar relacionadas ao intervalo de tempo decorrido entre as aplicações da escala que, no presente estudo, foi de cinco dias no máximo e, no estudo anterior, foi de seis semanas. Wallston, Stein e Smith20 Tabela 2. Análise da confiabilidade intraexaminadores com o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e com o coeficiente de correlação de Pearson (CCP). Subescala locus de controle Interno Acaso Médicos Outras pessoas * p<0,0001. 442 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):438-45. Examinador primeiro momento Média (desvio-padrão) 19,6±3,7 14±5,12 10,5±2,13 7,9±3 Examinador segundo momento Média (desvio-padrão) 20±3,25 12,9±5 10,6±2,11 7,35±3,15 CCI (valor p) 0,72* 0,90* 0,93* 0,60* CCP (valor p) 0,72* 0,90* 0,93* 0,60* Escala de Locus de controle da dor para idosos Tabela 3. Análise da confiabilidade interexaminadores com o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e com o coeficiente de correlação de Pearson (CCP). Subescala locus de controle Interno Acaso Médicos Outras pessoas Examinador 1 Média (desvio-padrão) 20±3,8 13,5±5,4 10,9±2,8 7,9±3,15 Examinador 2 Média (desvio-padrão) 19,7±4,5 14,1±5,26 11±1,88 6,9±3,11 ICC (valor p) 0,77* 0,90* 0,80* 0,72* CCP (valor p) 0,79* 0,90* 0,81* 0,72* * p<0,0001. justificam que o intervalo de seis semanas entre as aplicações pode ter influenciado as percepções das fontes de controle pelos participantes, interferindo na confiabilidade20. Esses achados fortalecem a evidência, já relatada por outros autores, de que o LC da dor é um construto subjetivo que pode, portanto, sofrer influência de novas experiências vivenciadas pelo indivíduo21,22. Neste estudo, observou-se uma maior consistência das respostas nas subescalas de LC ao acaso e médicos e profissionais de saúde e uma menor consistência nas subescalas de LC interno e outras pessoas. Embora não se tenha encontrado nenhum estudo que discuta tais diferenças, esses achados podem estar relacionados aos acontecimentos e experiências cotidianos vivenciados e relatados pelos idosos que pareceram influenciar as percepções de controle da dor. Durante a segunda aplicação da escala para a análise da confiabilidade intraexaminadores, que permitiu um intervalo de até cinco dias entre as aplicações, situações objetivas foram conscientemente relatadas: três idosos perceberam a diferença na escolha das respostas fornecidas ao examinador e justificaram com acontecimentos ocorridos. Um deles relatou ter carregado peso excessivo e ter feito faxina em casa, outro relatou ter tido um contato social prazeroso com uma vizinha, e o outro relatou ter brigado com familiares. Esses fatos, mesmo corriqueiros, podem ter influenciado a escolha das respostas e repercutido em uma menor consistência delas nas subescalas que avaliam a percepção de LC da dor interno e em outras pessoas. O número de itens contido na subescala outras pessoas (três itens) pode ter influenciado a menor consistência nas respostas, conforme já pontuado em outro estudo20. Porém, essa justificativa deve ser interpretada com cautela, pois não se observou menor consistência na subescala médicos e profissionais de saúde, também com três itens. Quanto aos fatores que parecem influenciar a crença de controle ao acaso e em médicos e profissionais de saúde, não foi permitido iniciar novos tratamentos ou realizar consultas médicas no intervalo entre as aplicações. Nenhum idoso relatou fatos diferentes daqueles da primeira avaliação que pudessem ter influenciado as suas crenças. Embora a literatura aponte que a confiabilidade intraexaminador é, na maioria dos estudos, melhor que a confiabilidade interexaminadores, no presente estudo, esse resultado foi diferente. Tal achado pode ter sofrido influência do tempo decorrido entre as aplicações para a análise da confiabilidade: as aplicações foram realizadas no mesmo dia para a análise interexaminadores, com um intervalo de, aproximadamente, 60 minutos e admitiu-se um intervalo máximo de cinco dias entre as aplicações para a análise intraexaminadores. O intervalo de cinco dias pode ter proporcionado a ocorrência de acontecimentos na vida dos participantes que influenciaram os índices de confiabilidade das subescalas. Ressalta-se que se trata de uma escala multidimensional em que situações cotidianas que se refletem sobre os aspectos emocionais possivelmente repercutem na resposta dos idosos. No presente estudo, mesmo com diferentes pontuações nas subescalas entre as duas avaliações, os idosos continuaram sendo classificados com a mesma crença preferencial de controle da dor. Neste estudo, verificou-se que a forma de aplicação da escala, permitindo relato dos idosos e utilizando a escala visual para a escolha das respostas, contribuiu para a consistência e para os índices de confiabilidade encontrados. Algumas limitações deste estudo merecem consideração. A amostra foi de conveniência e houve heterogeneidade clínica dos idosos, o que pode ter interferido nos resultados. Conclusão O estudo mostrou a aplicabilidade da escala de LC da dor em uma amostra de idosos comunitários com dor crônica. A utilização da escala permitirá um maior conhecimento do LC da dor do idoso possibilitando, dessa forma, uma abordagem mais adequada da dor crônica nessa população. Esse estudo deve ser visto como um marco inicial no sentido do desenvolvimento da versão do instrumento Pain Locus of control (PLOC-C) para o português brasileiro, uma vez que amostras maiores e com características diferentes devem ser avaliadas, além da realização de estudos que investiguem outras propriedades psicométricas. 443 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):438-45. Louise G. Araújo, Débora M. F. Lima, Rosana F. Sampaio, Leani S. M. Pereira Referências bibliográficas 1. Dellarozza MSG, Pimenta CAM, Matsuo T. Prevalência e caracterização da dor crônica em idosos não institucionalizados. Cad Saúde Pública. 2007;23(5):1151-60. 16. Paine P, Pasquali L, Paulo Ede S, Bianchi AL, Solha AC. Psychometric properties of the brazilian health locus of control scale. Psychol Rep. 1994;75(1 Pt 1):91-4. 2. Beissner K, Henderson CR Jr, Papaleontioul M, Olkhovskaya Y, Wigglesworth J, Reid MC. 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Para cada item, solicitamos que você marque o número que melhor representa o quanto você concorda ou não concorda com a afirmação. Quanto mais você concordar com uma afirmação, maior será o número que irá marcar. Por favor, responda a TODOS OS ITENS e marque APENAS UM NÚMERO em cada item. Não existem aqui respostas certas ou erradas. Instruções para a pontuação da escala (utilizada pelo aplicador): a pontuação em cada subescala é a soma dos valores marcados em cada item da subescala (em que 1 = não concordo muito e 4 = concordo muito). Todas as subescalas são independentes umas das outras. Não existe uma pontuação total para a escala. A pontuação é observada em cada subescala, de modo que a subescala com a maior pontuação reflete a crença predominante do indivíduo frente ao controle da dor. Subescala Variação possível Itens Locus de controle interno 6-24 1,6,8,12,13,17 Locus de controle ao acaso 6-24 2,4,9,11,15,16 Locus de controle em médicos e profissionais de saúde 3-12 3,5,14 Locus de controle em outras pessoas 3-12 7,10,18 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Se a minha dor ficar pior, é o que eu fizer que vai me fazer melhorar rápido ou devagar. Pensando na minha dor, o que tiver que acontecer vai acontecer. Se eu consultar meu médico regularmente, vou ter menos problemas com minha dor. A maioria das coisas que afetam a minha dor acontece por acaso (ou seja, sem motivo, à toa, porque tem que ser). Toda vez que minha dor ficar pior, eu devo consultar um profissional de saúde. Sou eu que posso melhorar ou piorar a minha dor. Outras pessoas (amigos, familiares, acompanhantes, cuidadores) são importantes para que a minha dor melhore, fique igual ou piore. Tudo que acontece de errado com a minha dor é por minha culpa. Grande parte da melhora da minha dor é causada pela sorte. Para que minha dor melhore, outras pessoas devem fazer as coisas certas. Qualquer melhora da minha dor é em grande parte por causa da sorte. O que mais melhora ou piora a minha dor é o que eu mesmo faço. Eu mereço os parabéns quando minha dor melhora e mereço ser culpado quando ela piora. Seguir as orientações médicas corretamente (ou seja, fazer o que o médico disse) é o melhor para não piorar a minha dor. Se minha dor ficar pior é por causa do destino (ou seja, porque tem que ser). Se eu tiver sorte, a minha dor vai ficar melhor. Se minha dor ficar pior é porque não cuido bem de mim. O tipo de ajuda que recebo de outras pessoas (amigos, familiares, cuidadores, acompanhantes) faz minha dor melhorar mais rápido ou mais devagar. Não concordo muito 1 Não concordo pouco 2 Concordo pouco 3 Concordo muito 4 1 1 2 2 3 3 4 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 1 2 2 3 3 4 4 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 445 Rev Bras Fisioter. 2010;14(5):438-45. Índice/Index ISSN 1413-3555 Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 5, p. 361-446, set./out. 2010 © Revista Brasileira de Fisioterapia CONTROLE MOTOR, COMPORTAMENTO E MOTRICIDADE/ MOTOR CONTROL, MOTOR BEHAVIOR AND MOTOR FUNCTION 372 Limitations of the Neurological Evolutional Exam (ENE) as a motor assessment for first graders Limitações do Exame Neurológico Evolutivo (ENE) como um instrumento de avaliação motora para crianças da primeira série Priscila M. Caçola, Tatiana G. Bobbio, Amabile V. Arias, Vanda G. Gonçalves, Carl Gabbard 396 Padrão e ritmo de aquisição das habilidades motoras de lactentes pré-termo nos quatro primeiros meses de idade corrigida Pattern and rate of motor skill acquisition among preterm infants during the first four months corrected age Elaine P. Raniero, Eloisa Tudella, Rosana S. Mattos FISIOTERAPIA NAS CONDIÇÕES CARDIOVASCULARES E RESPIRATÓRIAS/ PHYSICAL THERAPY FOR CARDIOVASCULAR AND RESPIRATORY CONDITIONS 426 Comparação entre o manovacuômetro nacional e o importado para medida da pressão inspiratória nasal Comparison between a national and a foreign manovacuometer for nasal inspiratory pressure measurement Fernanda G. Severino, Vanessa R. Resqueti, Selma S. Bruno, Ingrid G. Azevedo, Rudolfo H. G. Vieira, Guilherme A. F. Fregonezi 390 Efeito do exercício físico na percepção de satisfação de vida e função imunológica em pacientes infectados pelo HIV: Ensaio clínico não randomizado Effects of physical exercise in the perception of life satisfaction and immunological function in HIV-infected patients: Nonrandomized clinical trial Rodrigo D. Gomes, Juliana P. Borges, Dirce B. Lima, Paulo T. V. Farinatti 411 Padrão respiratório e movimento toracoabdominal em indivíduos saudáveis: influência da idade e do sexo Breathing pattern and thoracoabdominal motion in healthy individuals: influence of age and sex Verônica F. Parreira, Carolina J. Bueno,Danielle C. França, Danielle S. R. Vieira, Dirceu R. Pereira, Raquel R. Britto 383 Resposta da frequência cardíaca durante o exercício isométrico de pacientes submetidos à reabilitação cardíaca fase III Heart rate responses during isometric exercises in patients undergoing a phase III cardiac rehabilitation program Poliana H. Leite, Ruth C. Melo, Marcelo F. Mello, Ester da Silva, Audrey Borghi-Silva, Aparecida M. Catai FISIOTERAPIA EM GERONTOLOGIA/ PHYSICAL THERAPY IN GERONTOLOGY 438 Escala de Locus de controle da dor: adaptação e confiabilidade para idosos Pain Locus of control scale: adaptation and reliability for elderly Louise G. Araújo, Débora M. F. Lima, Rosana F. Sampaio, Leani S. M. Pereira 361 Revisão sistemática sobre os efeitos da reabilitação vestibular em adultos de meia-idade e idosos A systematic review about the effects of the vestibular rehabilitation in middle-age and older adults Natalia A. Ricci, Mayra C. Aratani, Flávia Doná, Camila Macedo, Heloísa H. Caovilla, Fernando F. Ganança FISIOTERAPIA NAS CONDIÇÕES NEUROLÓGICAS/ PHYSICAL THERAPY FOR NEUROLOGICAL CONDITIONS 404 Análise do uso de suporte parcial de peso corporal em esteira e em piso fixo durante o andar de crianças com paralisia cerebral Analysis of partial body weight support during treadmill and overground walking of children with cerebral palsy Vânia M. Matsuno, Muriel R. Camargo, Gabriel C. Palma, Diego Alveno, Ana Maria F. Barela 417 Caracterização de adultos com paralisia cerebral Caracterization of adults with cerebral palsy Anna L. M.Margre, Maria G. L. Reis, Rosane L. S. Morais AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO EM FISIOTERAPIA/ ASSESSMENT AND MEASUREMENT IN PHYSICAL THERAPY 432 Confiabilidade interavaliadores e intra-avaliador do escoliômetro Inter and intra-rater reliability of the scoliometer Guilherme H. Bonagamba, Daniel M. Coelho, Anamaria S. de Oliveira 377 Psychometric properties of the Portuguese version of the Jebsen-Taylor test for adults with mild hemiparesis Avaliação das propriedades pscicométricas da versão em português do teste de Jebsen Taylor para adultos com hemiparesia leve Karina N. Ferreiro, Renata L. Santos, Adriana B. Conforto INSTRUÇÕES AOS AUTORES OUTUBRO 2010 Para submissão de manuscrito (preferencialmente em inglês) consulte NORMAS EDITORIAIS no website: < http://www.scielo.br/ revistas/rbfis/pinstruc.htm>. Informações gerais A submissão dos manuscritos deverá ser efetuada por via eletrônica, no site <http://www.scielo.br/rbfis> e implica que o trabalho não tenha sido publicado e não esteja sob consideração para publicação em outro periódico. Quando parte do material já tiver sido apresentada em uma comunicação preliminar, em Simpósio, Congresso, etc., deve ser citada como nota de rodapé na página de título, e uma cópia do texto da apresentação deve acompanhar a submissão do manuscrito. Forma e preparação dos manuscritos A RBF/BJPT aceita, no máximo, 6 (seis) autores em um manuscrito. O manuscrito deve ser escrito preferencialmente em inglês e pode conter até 3.500 palavras (excluindo Resumo/Abstract, Referências, Figuras, Tabelas e Anexos). Estudos de Caso não devem ultrapassar 1.600 palavras, excluindo Resumo/Abstract, Referências, Figuras, Tabelas e Anexos. Ao submeter um manuscrito para publicação, os autores devem enviar, por via eletrônica, como documento(s) suplementar(es): 1) Carta de encaminhamento do material, contendo as seguintes informações: a) Nomes completos dos autores; b) Tipo e área principal do artigo (ver OBJETIVOS, ESCOPO E POLÍTICA); c) Número e nome da Instituição que emitiu o parecer do Comitê de Ética para pesquisas em seres humanos e para os experimentos em animais. Para as pesquisas em seres humanos, incluir também uma declaração de que foi obtido o Termo de Consentimento dos participantes do estudo; d) Conforme descritos em OBJETIVOS, ESCOPO E POLÍTICA, os manuscritos com resultados relativos aos ensaios clínicos deverão apresentar número de identificação, que deverá ser registrado no final do Resumo/Abstract. (Sugestão de site para registro: <http://www.anzctr.org.au/Survey/UserQuestion.aspx>); 2) Declaração de responsabilidade de conflitos de interesse. Os autores devem declarar a existência ou não de eventuais conflitos de interesse (profissionais, financeiros e benefícios diretos e indiretos) que possam influenciar os resultados da pesquisa; 3) Declaração assinada por todos os autores, com o número de CPF, indicando a responsabilidade pelo conteúdo do manuscrito e transferência de direitos autorais (copyright) para a RBF/BJPT, caso o artigo venha a ser aceito pelos Editores. Os modelos da carta de encaminhamento e das declarações encontram-se disponíveis no site da RBF/BJPT: <http://www.rbf-bjpt. org.br>. É de responsabilidade dos autores a eliminação de todas as informações (exceto na página do título e identificação) que possam identificar a origem ou autoria do artigo. Formato do manuscrito O manuscrito deve ser elaborado com todas as páginas numeradas consecutivamente na margem superior direita, com início na página de título. Os Artigos Originais devem ser estruturados conforme sequência abaixo: Página de título e identificação (1ª. página) A página de identificação deve conter os seguintes dados: a) Título do manuscrito em letras maiúsculas; b) Autor: nome e sobrenome de cada autor em letras maiúsculas, sem titulação, seguidos por número sobrescrito (expoente), identificando a afiliação institucional/vínculo (Unidade/ Instituição/ Cidade/ Estado/ País); para mais de um autor, separar por vírgula; c) Nome e endereço completo. (É de responsabilidade do autor correspondente manter atualizado o endereço e e-mail para contatos); d) Título para as páginas do artigo: indicar um título curto, em Português e em Inglês, para ser usado no cabeçalho das páginas do artigo, não excedendo 60 caracteres; e) Palavras-chave: termos de indexação ou palavras-chave (máximo seis), em Português e em Inglês. A RBF/BJPT recomenda o uso do DeCS – Descritores em Ciências da Saúde para consulta aos termos de indexação (palavras-chave) a serem utilizados no artigo <http://decs.bvs.br/>. Resumo/Abstract Uma exposição concisa, que não exceda 250 palavras em um único parágrafo, em português (Resumo) e em Inglês (Abstract) deve ser escrita e colocada logo após a página de título. Notas de rodapé e abreviações não definidas não devem ser usadas. Se for preciso citar uma referência, a citação completa deve ser feita dentro do resumo. O Resumo e o Abstract devem ser apresentados em formato estruturado, incluindo os seguintes itens separadamente: Contextualização (Background), Objetivos (Objectives), Métodos (Methods), Resultados (Results) e Conclusões (Conclusions). Corpo do texto: Introdução, Materiais e Métodos, Resultados e Discussão Incluir, em itens destacados: Introdução: deve informar sobre o objeto investigado e conter os objetivos da investigação, suas relações com outros trabalhos da área e os motivos que levaram o(s) autor(es) a empreender a pesquisa. Materiais e Métodos: descrever de modo a permitir que o trabalho possa ser inteiramente repetido por outros pesquisadores. Incluir todas as informações necessárias – ou fazer referências a artigos publicados em outras revistas científicas – para permitir a replicabilidade dos dados coletados. Recomenda-se fortemente que estudos de intervenção apresentem grupo controle e, quando possível, aleatorização da amostra. Resultados: devem ser apresentados de forma breve e concisa. Tabelas, Figuras e Anexos podem ser incluídos quando necessários para garantir melhor e mais efetiva compreensão dos dados. Discussão: o objetivo da discussão é interpretar os resultados e relacioná-los aos conhecimentos já existentes e disponíveis, principalmente àqueles que foram indicados na Introdução do trabalho. As informações dadas anteriormente no texto podem ser citadas, mas não devem ser repetidas em detalhes na discussão. Estudos de Revisão Sistemática com Metanálise. Devem incluir: a) uma seção que descreva os métodos empregados para localizar, selecionar, obter, classificar e sintetizar as informações, b) número suficiente de artigos, com qualidade metodológica alta (segundo mecanismos próprios de avaliação) de tal forma que seja possível uma análise apropriada sobre o tema de investigação, e c) técnica de metanálise, que integre os resultados dos estudos selecionados, sobre a questão de pesquisa. Manuscritos de revisão sistemática com metanálise que apresentem uma quantidade insuficiente de artigos selecionados e/ou artigos de baixa qualidade, que não utilizem técnica estatística para síntese ponderada dos efeitos dos estudos (metanálise) e que não apresentem uma conclusão assertiva e válida sobre o tema, não serão considerados para análise de revisão por pares. Agradecimentos Quando apropriados, os agradecimentos poderão ser incluídos, de forma concisa, no final do texto, antes das Referências Bibliográficas, especificando: assistências técnicas, subvenções para a pesquisa e bolsa de estudo e colaboração de pessoas que merecem reconhecimento (aconselhamento e assistência). Os autores são responsáveis pela obtenção da permissão documentada das pessoas cujos nomes constam dos Agradecimentos. Referências Bibliográficas O número recomendado é de, no mínimo, 50 (cinquenta) referências bibliográficas para Artigo de Revisão; 30 (trinta) referências bibliográficas para Artigo Original, Metanálise, Revisão Sistemática e Metodológico. Para Estudos de Caso recomenda-se, no máximo, 10 (dez) referências bibliográficas. As referências bibliográficas devem ser organizadas em sequência numérica, de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, seguindo os Requisitos Uniformizados para Manuscritos Submetidos a Jornais Biomédicos, elaborados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas – ICMJE <http:// www.icmje.org/index.html>. Os títulos de periódicos devem ser referidos de forma abreviada, de acordo com a List of Journals do Index Medicus <http://www. index-medicus.com>. As revistas não indexadas não deverão ter seus nomes abreviados. As citações das referências bibliográficas devem ser mencionadas no texto em números sobrescritos (expoente), sem datas. A exatidão das referências bibliográficas constantes no manuscrito e a correta citação no texto são de responsabilidade do(s) autor(es) do manuscrito. (Ver exemplos no site: <http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html>). Tabelas, Figuras e Anexos: as Tabelas, Figuras e Anexos são limitados a 5(cinco) no total. Tabelas: devem incluir apenas os dados imprescindíveis, evitando-se tabelas muito longas (tamanho máximo permitido: uma página em espaço duplo), e devem ser numeradas, consecutivamente, com algarismos arábicos e inseridas no final do texto. Título descritivo e legendas devem torná-las compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto do artigo. Não devem ser formatadas com marcadores horizontais nem verticais, apenas necessitam de linhas horizontais para a separação de suas seções principais. Devem ser usados parágrafos ou recuos e espaços verticais e horizontais para agrupar os dados. Figuras: as Figuras não devem repetir os dados já descritos nas Tabelas. Todas devem ser citadas e devem ser numeradas, consecutivamente, em arábico, na ordem em que aparecem no texto. Não é recomendado o uso de cores. As legendas devem torná-las compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto. Digitar todas as legendas em espaço duplo e explicar todos os símbolos e abreviações. Usar letras em caixa-alta (A, B, C, etc.) para identificar as partes individuais de figuras múltiplas. Se possível, todos os símbolos devem aparecer nas legendas; entretanto, símbolos para identificação de curvas em um gráfico podem ser incluídos no corpo de uma figura, desde que isso não dificulte a análise dos dados. Em relação à arte final, todas as Figuras devem estar no formato .tiff. Figuras de baixa qualidade podem resultar em atrasos na aceitação e publicação do artigo. As Tabelas, Figuras e Anexos publicados em outras revistas ou livros devem conter as respectivas referências e o consentimento, por escrito, do autor ou editores. Para artigos submetidos em língua portuguesa, um conjunto adicional em inglês das Tabelas, Figuras, Anexos e suas respectivas legendas deve ser anexado como documento suplementar. Notas de Rodapé As notas de rodapé do texto, se imprescindíveis, devem ser numeradas consecutivamente em sobrescrito no manuscrito e escritas em folha separada, colocada no final do texto. INSTRUCTIONS TO AUTHORS OCTOBER 2010 For manuscript submission (preferably in English), please see EDITORIAL RULES <http://www.scielo.br/revistas/rbfis/iinstruc. htm>. General information The submission of manuscripts must be made through the website http://www.scielo.br/rbfis and implies that the work has neither been published nor is under consideration for publication in another journal. If part of the material has already been presented in a preliminary communication, in a Symposium or Congress, etc., this should be cited as a footnote on the title page and a copy of this communication must accompany the submission of the manuscript. Form and preparation of manuscripts The RBF/BJPT accepts up to 6 (six) authors in one manuscript. Manuscripts must be submitted preferably in English and must contain up to 3500 words (excluding Abstract, References, Figures, Tables and Appendices). Case Studies must not exceed 1600 words, excluding Abstract, References, Figures, Tables and Appendices. When submitting manuscripts for publication, the authors must forward the following supplementary documents by post or online: 1) Cover letter containing the following information: a) Full name of each of the authors; b) Article type and the main field (see OBJECTIVES, SCOPE AND POLICY); c) Approval number and name of the Institution that gave the Ethics Committee approval for research on humans and experiments on animals. For research on humans, also include a declaration that written consent was obtained from the individuals who participated in the study; d) As described in the OBJECTIVES, SCOPE AND POLICY, manuscripts with results related to clinical trials must include the identification number at the end of the Abstract (Suggested registration website: www.anzctr.org.au/Survey/ UserQuestion.aspx); 2) Conflict of interest statement. The authors must disclose any possible conflicts of interest (professional, financial and direct and indirect benefits) that might have influenced research results; 3) A declaration signed by all of the authors stating that they are responsible for the content of the manuscript and that they will transfer copyrights to the RBF/BJPT, should the article be accepted by the Editors. Cover letter and declaration templates are available online at http://www.rbf-bjpt.org.br. Authors must remove all information (except in the title and identification page) that may identify the source or authorship of the article. Manuscript formatting The manuscript must be prepared with all the pages numbered consecutively on the right-hand side of the top margin, starting with the title page. The original articles must be structured in the following order: Title page and Identification (1st. page) The identification page must contain the following data: a) Title of the manuscript in capital letters; b) Author: first name and surname of each author, in capital letters, without titles, followed by superscript numbers to identify their institutional affiliation (Unit/Institution/City/State/Country). For more than one author, separate using commas; c) Full name and address. (It is the corresponding author’s responsibility to keep the contact address and e-mail up to date for contact); d) Running head for the pages of the article: indicate a short title in Portuguese and in English to be used in the header on each page of the article, not exceeding 60 characters in length; e) Key words: a list of indexing terms or key words (no more than six) in Portuguese and English. The RBF/BJPT recommends the use of HSDe – Health Sciences Descriptors to consult the indexing terms or key words to be used in the article (<http://decs.bvs. br/>). Abstract A concise presentation not exceeding 250 words in a single paragraph, in Portuguese (Resumo) and English (Abstract) must be inserted immediately after the title page. Footnotes and undefined abbreviations must not be included. If a reference must be cited, the full citation must be included in the abstract. The abstract must be written in structured format, including the following items separately: Background, Objectives, Methods, Results and Conclusions. Body of the text: Introduction, Methods, Results and Discussion Include the following as highlighted item: Introduction – This should give information on the subject of investigation and contain the objectives of the investigation, how it relates to other studies in the same field and the reasons that led the author(s) to follow this line of research; Methods – These should be described in detail so that other researchers can repeat the entire study. All the necessary information should be included (or reference should be made to articles already published in other scientific journals) to allow the replication of the collected data. It is strongly recommended that intervention studies present control groups and, when possible, randomization of the sample. Results – These should be presented briefly and concisely. Tables, Figures and Appendices can be included when necessary to ensure better and more effective comprehension of the data. Discussion – The purpose of the discussion is to interpret the results and relate them to existing and available knowledge, especially the knowledge already indicated in the Introduction of the study. Information given earlier in the text may be cited, but should not be repeated in detail in the Discussion. Systematic Review with Meta-analysis Manuscripts: must include a) section that describes the methods employed for locating, selecting, obtaining, classifying and synthesizing information, b) sufficient number of selected articles, of high methodological quality (according to proper mechanisms of evaluation) in such way as to make possible an appropriate analysis of the topic of investigation, and c) meta-analysis technique that integrates the results from selected studies, around the research topic. Systematic review with meta-analysis manuscripts, that show insufficient amount of selected articles and/or articles of low quality, do not use statistical technique for the weighted synthesis of the studies’ effects (meta-analysis), and do not present assertive and valid conclusion(s) of the topic, will not be considered for peer review. Acknowledgements When appropriate, brief acknowledgements can be included at the end of the text and before the References, specifying technical assistance, financial support for the research, study grants, and collaboration from individuals who deserve recognition (counseling and assistance). The authors are responsible for obtaining permission in writing from the individuals whose names appear in the Acknowledgements. References The recommended number of references is at least 50 references for review articles; 30 references for original articles, meta-analyses, systematic reviews and methodological articles. For case studies, no more than 10 references are recommended. References should be organized in numerical order of first appearance in the text, following the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals, drawn up by the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE - http://www.icmje. org/index.html). Journal titles should be referred to in abbreviated form, in accordance with the List of Journals of Index Medicus (<http://www.indexmedicus.com>). Non-indexed journals should not have their names abbreviated. Citations should be mentioned in the text as superscript numbers, without dates. The accuracy of the references appearing in the manuscript and their correct citation in the text are the responsibility of the authors of the manuscript. (See examples in the website: <http:// www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html>). Tables, Figures and Appendices The tables, figures and appendices are limited to a total of five. Tables – must include only indispensable data and must not be excessively long (maximum size permitted: one page with double spacing). The tables should be numbered consecutively using Arabic numerals and should be inserted at the end of the text. Descriptive titles and legends must make the tables intelligible without the need to refer to the text of the article. The tables should not be formatted with horizontal or vertical markers; only horizontal lines are needed to separate their main sections. Paragraphs or indentations and vertical and horizontal spaces should be used to group the data. Figures – must not repeat the data described in the Tables. All figures must be cited and numbered consecutively using Arabic numerals in the order in which they appear in the text. The use of color is not recommended. The legends should make the figures intelligible, with no need to refer to the text. They must be double spaced and explain all symbols and abbreviations. Use uppercase letters (A, B, C, etc.) to identify the individual parts of multiple figures. When possible, all the symbols should appear in the legends. However, symbols identifying curves in a graph can be included in the body of the figure, provided this does not hinder the analysis of the data. With regard to final artwork, all figures must be in .tiff format. Poor-quality figures may result in delays in the acceptance and publication of the article. Tables, figures and appendices published in other journals or books must include the respective references and written consent from the authors or editors. For articles submitted in Portuguese, an additional set of tables, figures and appendices with English legends must be included as a supplementary document. Footnotes If absolutely necessary, footnotes should be consecutively numbered as superscripts in the manuscript and placed on a separate page after the references. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO MESTRADO E DOUTORADO Recomendado pela CAPES – Conceito 5 O Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação tem como base a perspectiva apresentada no modelo proposto pela Organização Mundial de Saúde e propõe que as dissertações e trabalhos científicos desenvolvidos estejam relacionados com o desempenho funcional humano. Com a utilização de um modelo internacional, espera-se estimular o desenvolvimento de pesquisas que possam contribuir para uma melhor compreensão do processo de função e disfunção humana, contribuir para a organização da informação e estimular a produção científica numa estrutura conceitual mundialmente reconhecida. O Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação tem como objetivo tanto formar como aprofundar o conhecimento profissional e acadêmico, possibilitando ao aluno desenvolver habilidades para a condução de pesquisas na área de desempenho funcional humano. O programa conta com parcerias nacionais e internacionais sedimentadas, e os seus laboratórios de pesquisa contam com equipamentos de ponta para o desenvolvimento de estudos na área de Ciências da Reabilitação. Maiores informações Fone/Fax: (31) 3409-4781 www.eef.ufmg.br/mreab
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