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ARTIGOS CIENTÍFICOS Displasia cementária periapical - estudo de prevalência Periapical cemental dysplasia - a prevalence study Rafael Marques PEREIRA1, Érica Del Peloso RIBEIRO2, Sandro BITTENCOURT3 RESUMO A displasia cementária periapical é um tumor odontogênico benigno que apresenta características que levam o cirurgiãodentista menos perspicaz a um incorreto diagnóstico e tratamento.O objetivo deste trabalho é avaliar a prevalência da displasia cementária periapical em pacientes atendidos no Curso de Odontologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. O estudo justificou-se pela ausência de dados com relação a prevalência desta patologia na população brasileira; bem como, possibilita difundir conhecimentos a respeito da displasia cementária periapical. Trata-se de um estudo retrospectivo observacional in vivo que compreendeu a análise dos arquivos dos pacientes atendidos no período compreendido de 1999 a 2007 e que possuíam documentação radiográfica periapical completa. Foram encontrados 9 pacientes com displasia cementária periapical representando um percentual de 1% de pacientes dentro dos critérios de inclusão. Todos os casos foram de pacientes do sexo feminino (3 faiodermas e 6 melanodermas) com idade acima dos 30 anos apresentando lesões assintomáticas localizadas na região de incisivos inferiores. O presente estudo detectou a prevalência de 1% de displasia cementária periapical nos pacientes atendidos nos ambulatórios. Palavras-chave: Patologia bucal. Granuloma periapical. Neoplasias bucais. ABSTRACT Periapical cemental dysplasia is a benign odontogenic tumor that presents characteristics that might mislead the less perceptive dentist into an incorrect diagnosis and treatment. The aims of this research were to weigh up the periapical cemental dysplasia prevalence in patients who have been treated in the Dentistry Course of Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. This study justified itself by the absence of data regarding the prevalence of this pathology in the Brazilian population, as well as, to spread knowledge about periapical cemental dysplasia. It comprises an observational retrospective study in vivo of the patients who have been seen in the period from 1999 to 2006 and also have had the complete periapical radiographic documentation with good quality and conservation condition. The data consisted of 9 cases of patients presenting periapical cemental dysplasia, representing a percentage of 1% of patients within the inclusion criteria. Two patients presented an unnecessary endodontic treatment done outside of the institution. All cases were in female patients (3 white and 6 black) up to 30 years old with lesions asymptomatic located in the area of lower incisors. Therefore, the present study weighs up the 1% prevalence of periapical cemental dysplasia in patients who have been treated, as well as, made possible to spread knowledge about periapical cemental dysplasia, avoiding erroneous diagnosis and unnecessary treatment. Key words: Pathology, oral. Periapical granuloma. Mouth neoplasms. 1. Graduanda em Odontologia e bolsista de iniciação científica pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. 2. Professora adjunta da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. 3. Professor assistente da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. INNOVATIONS IMPLANT JOURNAL - BIOMATERIALS AND ESTHETICS 362-08-Revista Innovation Vol. 3 - Num 05 - 2008.indd 43 43 21.01.09 19:01:36 INTRODUÇÃO A displasia cementária periapical (DCP) é um tumor odontogênico benigno que apresenta características que levam o cirurgião-dentista menos perspicaz a um incorreto diagnóstico e tratamento1,8.A DCP ocorre, geralmente, no ápice dos incisivos inferiores, especialmente naqueles com vitalidade pulpar. Raramente acomete os dentes posteriores, sendo difícil o diagnóstico nesta região, em função de diagnósticos diferenciais11-12. Sua etiologia ainda permanece desconhecida embora, alguns autores, acreditem que represente uma reação incomum do osso periapical a um fator irritante local7-8 ,enquanto outros sugerem que o traumatismo, distúrbios hormonais, fatores sistêmicos e genéticos possam estar envolvidos no seu desenvolvimento1,3,15. As lesões de DCP são assintomáticas, bem delimitadas e diagnosticadas através de exames radiográficos de rotina, em três fases1,8. Na primeira fase, é possível evidenciar uma radiolucência periapical (Figura 1). Com a lesão progredindo (fase 2), um caráter misto ou mosqueado pode ocorrer devido a tentativa de reparo ósseo ou devido a deposição de tecido cementóide (Figura 2). A partir de então (fase 3), pode evoluir para uma massa radiopaca, circundada por um halo radiotransparente (Figura 3)1,7-8. Existe uma marcada predileção por mulheres (14:1) e aproximadamente 70% dos casos afetam negros.O diagnóstico raramente é feito antes dos 20 anos de idade1,3,8. Nos exames imaginológicos são observadas mais freqüentemente em áreas correspondentes às raízes dos incisivos inferiores, sendo rara sua ocorrência na maxila1-3,5,14,8. Focos múltiplos são mais habituais, mas quando único, não excede 1 cm de diâmetro2,13. Pode-se perceber ainda que a lesão está contígüa ao ligamento periodontal e a lâmina dura permanece intacta1,8. O tratamento é desnecessário já que a lesão estabiliza-se sem causar complicações, sendo necessário apenas a observação periódica8. Sabendo-se das características da DCP, nota-se a sua grande semelhança com outras patologias como as de origem endodôntica (cistos e granulomas) que são condições mais comumente encontradas e que se assemelham com a 1ª fase ou osteolítica3,5. Existem relatos na literatura em que um incorreto diagnóstico levou a tratamentos endodônticos desnecessários6,10,15. Portanto, o presente estudo teve como finalidade avaliar a prevalência de displasia cementária periapical em pacientes atendidos nos ambulatórios do Curso de Odontologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) visando contribuir para geração de dados a respeito da prevalência desta patologia, bem como, possibilita difundir conhecimentos a respeito da DCP evitando-se diagnósticos errôneos e, por conseguinte, tratamentos desnecessários. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi um estudo retrospectivo observacional in vivo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EBMSP sob protocolo no 20/2007 compreendendo a análise dos arquivos 44 FIGURA 1 - Displasia cementária periapical com imagem radiográfica compatível com a 1a fase FIGURA 2 - Displasia cementária periapical com imagem radiográfica compatível com a 2a fase FIGURA 3 - Displasia cementária periapical com imagem radiográfica compatível com a 3a fase dos pacientes atendidos no Curso de Odontologia da EBMSP no período de 1999 a 2007. Para este estudo, foram selecionados os prontuários odontológicos que possuíam documentação radiográfica periapical completa, com boa qualidade e em bom estado de conservação. Os critérios de inclusão consistiram em pacientes com mais de 20 anos de idade e presença, ao menos, dos dentes do sextante V. As radiografias periapicais constantes nos prontuários foram avaliadas, com auxílio de lupa e negatoscópio, em uma sala escura em busca de alterações sugestivas de DCP. Nos casos em que foram encontradas alterações radiográficas sugestivas de DCP e que não constava nenhuma informação registrada no prontuário a respeito da natureza da lesão, os pacientes foram convidados Volume 3 - Número 5 - Maio/Agosto 2008 362-08-Revista Innovation Vol. 3 - Num 05 - 2008.indd 44 21.01.09 19:01:36 ARTIGOS CIENTÍFICOS a comparecer para uma consulta de avaliação e diagnóstico. Nesta consulta, foi revisada a história médica-odontológica, sendo feito um exame clínico acurado e quando foi necessário, novas radiografias periapicais foram realizadas. O exame clínico constou de sondagem periodontal das unidades adjacentes a alteração, teste de sensibilidade pulpar e avaliação dos contatos oclusais para excluir a possibilidade de trauma de oclusão. Feito o diagnóstico, os pacientes foram encaminhados para tratamento de outras condições odontológicas ou para observação nos ambulatórios de Clínica Integrada da EBMSP. Realizou-se uma análise estatística descritiva apresentando o número de casos de DCP na população estudada correlacionando a localização, idade e sexo dos pacientes acometidos. RESULTADOS Os dados obtidos demonstraram que do total de 15.000 prontuários analisados 893 estavam dentro dos critérios de inclusão, representando um percentual de 5,95% de prontuários incluídos na pesquisa. Dentre os prontuários que se enquadravam nos critérios do presente estudo (893) foram encontrados 9 casos de pacientes com DCP representando um percentual de prevalência de 1%. Todos os casos foram de pacientes do sexo feminino com idade acima dos 30 anos localizada na região de incisivos inferiores, assintomáticas, tendo como características étnicas 3 faiodermas e 6 melanodermas. DISCUSSÃO Nesta pesquisa, a amostra não evidenciou características étnicas, cronológicas e localizacionais de acometimento diferentes do habitual da DCP, ou seja, em mulheres faiodermas ou melanodermas, acima dos 20 anos de idade, na região de incisivos inferiores e assintomáticas como observado nos estudos de alguns autores1,3-5,7-8,14-15. Entretanto, alguns autores relataram casos de DCP em pacientes leucodermas, na segunda década de vida e na região de pré-molares superiores9. Outros autores2,13 descreveram casos de DCP, com lesões múltiplas, na maxila e mandíbula se localizando principalmente na região de molares e pré-molares. Em situações típicas, a idade, o sexo, a localização, o aspecto radiográfico e a sensibilidade pulpar auxiliam no diagnóstico da condição referida, tornando desnecessária a biópsia1,7-8. Contudo, quando estes fatores são atípicos pode-se indicar a realização de uma biópsia7-8. A maior preocupação é a falha em reconhecer a lesão, o que pode resultar em um tratamento endodôntico ou exodôntico desnecessários, por se acreditar que a lesão represente uma lesão periapical inflamatória. No presente estudo foi possível identificar uma paciente que foi encaminhada por um cirurgião-dentista de um convênio odontológico solicitando que fosse realizado o diagnóstico para as lesões que a paciente apresentava em dois incisivos inferiores. Em seu relatório, o cirurgião-dentista comunica que inicialmente fez um diagnóstico de necrose pulpar por encontrar áreas radiolúcidas próximas ao ápice dos incisivos inferiores, mas ao realizar acesso à câmara pulpar a paciente se queixou de muita dor. Mesmo achando estranho, ele realizou anestesia infiltrativa terminal e continuou o acesso até ser surpreendido pelo sangramento advindo da câmara pulpar, quando decidiu interromper o tratamento e encaminhar a paciente para a EBMSP. Após novo exame radiográfico e teste de sensibilidade pulpar foi fechado o diagnóstico de DCP. O diagnóstico diferencial depende de um exame clínico e radiográfico que vai variar de acordo com o estágio evolutivo da lesão. Para a DCP na 1a fase, o diagnóstico diferencial inclui as periapicopatias (cisto periodontal apical e granuloma), trauma de oclusão, displasia cemento-óssea florida e displasia cementoóssea focal, devido a perda de estrutura óssea e substituição por fibrose. Entretanto, as lesões periapicais de origem endodôntica apresentam teste de sensibilidade pulpar negativo. Daí a necessidade da realização de testes de sensibilidade pulpar nas unidades acometidas para descartar as periapicopatias. Na 3a fase, também conhecida como fase de maturação, o diagnóstico diferencial deve incluir odontoma, osteoblastoma e osteomielite focal esclerosante7. CONCLUSÃO A prevalência da displasia cementária periapical, nos pacientes atendidos nos ambulatórios da EBMSP, foi de 1%, sendo todos os casos em pacientes do sexo feminino, com idade acima dos 30 anos, localizada na região de incisivos inferiores, assintomáticas, tendo como características étnicas 3 faiodermas e 6 melanodermas. INNOVATIONS IMPLANT JOURNAL - BIOMATERIALS AND ESTHETICS 362-08-Revista Innovation Vol. 3 - Num 05 - 2008.indd 45 45 21.01.09 19:01:38 REFERÊNCIAS 1. Baden E, Saroff SA. Periapical cemental dysplasia and periodontal disease. A case report with review of the literature. J Periodontol. 1987;58(3):187-91. 2. Falace DA, Cunningham CJ. Periapical cemental dysplasia: simultaneous occurrence in multiple maxillary and mandibular teeth. J Endod. 1984;10(9):455-6. 3. Feller L, Buskin A, Raubenheimer EJ. Cementoossifying fibroma: case report and review of the literature. J Int Acad Periodontol. 2004;6(4):131-5. 4. Galgano C, Samson J, Kuffer R, Lombardi T. 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