Carlos Latuff – cartunista
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Carlos Latuff – cartunista
Jornal Mulier – Julho de 2011, Nº 90 Entrevista com Carlos Latuff, cartunista e ativista político e social Carlos Latuff clicado por Marcelo Carnaval para a revista “Carta Capital” – Reprodução Latuff afirma que as mulheres geralmente são retratadas de forma caricata e ridícula nos cartuns, reflexo do machismo dos próprios cartunistas Mulier - Carlos, sempre pedimos para que o entrevistado nos conte um pouco sobre sua vida, origens e formação profissional. Carlos Latuff - Nada muito interessante que vale a pena contar. Não tenho muito a dizer sobre mim, nasci no Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1968, vivo uma vida normal, tomo café, escovo os dentes, pago contas... Mulier - Quando e como começou o trabalho como cartunista? Carlos Latuff - Profissionalmente, em 1990, ilustrando materiais informativos do Sindicato dos Estivadores aqui do Rio de Janeiro e depois do Sindicato dos Radialistas. Posteriormente segui trabalhando com a imprensa sindical de esquerda até os dias de hoje, o que muito me orgulha. Mulier - Como analisa a produção de cartuns hoje no Brasil? Carlos Latuff - Antes do advento da Internet, a única maneira das pessoas terem acesso a charges e cartuns era através de jornais e revistas. Hoje qualquer um pode publicar seus trabalhos, bastando abrir um blog e divulgando em redes sociais como Twitter e Facebook. Produz-se muita coisa, mas são poucos os trabalhos dignos de nota. No entanto, mesmo com essa janela que é a Internet, os cartunistas que mais têm visibilidade são os que trabalham para a chamada “grande” imprensa. Mulier - E a maneira como as mulheres são retratadas pelos cartunistas em geral? 1 Carlos Latuff - Geralmente caricata, ridícula, reflete o machismo dos próprios cartunistas. Só mesmo artistas que militam na esquerda é que costumam ter uma visão diferenciada. Mulier - Você trabalha com, conhece ou poderia citar mulheres cartunistas? Carlos Latuff - Conheço apenas a Mariana Massarani, que creio ser mais ilustradora que cartunista. Mulier - O diferencial do seu trabalho é o comprometimento com o ativismo político e social. O que o levou a estas escolhas? Carlos Latuff - Um processo de acúmulo, talvez facilitado por ter trabalhado por tanto tempo com a imprensa sindical de esquerda. Uma sensação de que não poderia me omitir, que deveria colocar meu trabalho a serviço de causas importantes, não estas vindas de ONGs, do Viva Rio, das Organizações Globo. Causas realmente importantes, como a do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que não têm, obviamente, espaço e nem defesa por parte da mídia rica. Mulier - O Jornal Mulier conheceu o seu trabalho através dos desenhos que fez para as Mães de Maio de São Paulo. A temática da violência policial é frequente em seus desenhos, por quê? Você já teve problemas por isso? Carlos Latuff - Apesar de ter sido levado a delegacias de polícia por três vezes na vida por desenhar contra a violência policial, não seria justo dizer que sou vítima, comparado com tantas famílias que buscam seus filhos ou parentes, vivos ou mortos. Meu envolvimento com esta causa é por uma questão de direitos humanos e porque me dói ver a covardia impune das forças policiais no Brasil. Mulier - Além das Mães de Maio, você costuma retratar as mulheres? Como? Poderia citar alguns exemplos? Carlos Latuff - Em geral são charges para a imprensa sindical e mostram mais o lado da militante, da trabalhadora. Já os desenhos que fiz sobre a Marcha das Vadias abordam mais o aspecto feminino, feminista, sexual, coisa que não tenho tratado comumente, infelizmente por falta de espaço. Mulier - Você também retrata a realidade internacional. Quais suas temáticas preferidas? Carlos Latuff - Eu tenho apoiado diversas causas mundo afora. Sempre que posso estou desenhando para alguma campanha. No mês passado, estive no Chile e desenhei sobre os Mapuche; no ano passado, na Turquia, e desenhei sobre os 2 Curdos. No início desse ano, em janeiro, desenhei para os manifestantes egípcios. Gosto de saber que meus trabalhos são usados em protestos. Gosto de acreditar que eles podem ser relevantes para as pessoas aqui e lá fora. Mulier - Gostaria que nos contasse seu engajamento com a causa Palestina e a luta das mulheres na região em decorrência dos conflitos com Israel. Carlos Latuff - Tudo aconteceu quando estive na Palestina em 1999. De lá para cá, tenho feito muitas charges em apoio à causa palestina e denunciando as atrocidades do estado de Israel. A mulher palestina é duplamente forte, porque além de lidar com a brutalidade da ocupação israelense, ainda enfrentam o preconceito de uma sociedade machista. Um dos personagens mais legais que criei foi a “Mãe Palestina”, baseado numa senhora que conheci num campo de refugiados palestinos na Jordânia em 2009. Ela morreu há uns três meses, seu nome era Zarevh Hamdan Al fararjh. Mulier - Como tem sido a divulgação e a repercussão de seu trabalho no Brasil e no exterior? Carlos Latuff - Tem sido excepcional. Graças a Internet não dependo de grandes conglomerados de comunicação para que meu trabalho seja conhecido internacionalmente. 3
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