eisFluências Agosto 2011
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ISSN 2177-5761 ISSN 2177-5761 9 772177 576008 revista bimestral agosto/2011 ano II - núm XII ENTREVISTA COM ANTONIO MIRANDA por Oleg Almeida “Maranhense por nascimento, homem do mundo por vocação, com trânsito principalmente pela América Latina”, como o caracteriza Anderson Braga Horta, Antonio Miranda é poeta, escritor, teatrólogo, ensaísta, pesquisador e professor universitário, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília e idealizador da Bienal Internacional de Poesia organizada na capital brasileira. Nosso correspondente Oleg Almeida acaba de entrevistá-lo sobre o atual estado da poesia no Brasil e as principais tendências de seu desenvolvimento. Oleg Almeida: Fala-se muito, em nossos tempos pós-modernos, no gradual declínio da cultura tradicional e, sobretudo, na presumível morte da poesia. Qual seria o seu diagnóstico: a poesia realmente está morta, internada na UTI ou, apesar dos pesares, bem de saúde? Antonio Miranda: Estamos na era da hipermodernidade. A poesia expande-se por novos suportes e formas de expressão, sem abandonar as vias tradicionais como o livro, o recital, as revistas. Continuam os cordelistas e repentistas ao lado de performers e grafiteiros, os sonetistas ao lado de jovens que mandam poemas pelo celular, livros impressos competindo com blogs. No fundo, acabam somandose, relacionando-se ou dando a volta por cima, no caso dos blogueiros que se unem em antologia impressa... Nunca se escreveu e divulgou tanta poesia. Talvez não se venda tanto quanto em tempos passados, mas isso acontece com o CD, como na ausência de público nas salas de cinema. O cinema virou vídeo, a música tornou-se MP3 e a poesia em 140 toques. O soneto deu lugar ao poema cibernético. Mas todas as formas convivem e sobrevivem. Vivemos na era da diversidade. OA: A poesia é uma das mais genuínas manifestações artísticas. Mas as artes em si são inúteis, tese lançada por Oscar Wilde e sustentada, até agora, por editores que dizem: “A poesia não vende”. Pessoalmente eu acho que a poesia não vende porque não tem preço, enquanto nossa amiga Thereza Christina Rocque da Motta, poeta e editora do Rio, alega que “a poesia não vende pouco, mas, sim, aos poucos”, ou seja, possui certo valor pecuniário. O que é que o amigo pensa disso? AM: Poeta escreve para ser lido, ouvido ou visto. Não escreve para vender. Mas é bom vender... ou ganhar algum sustento pelo exercício de sua função social. Alguns conseguem isso, ainda que raramente. Manuel de Barros e Thiago de Mello vendem bem. Os cordelistas vão de feira em feira e conseguem, alguns deles, viver de seu trabalho. Não sei se os poetas no auge do romantismo e do modernismo ganharam muito dinheiro. Imagino que os herdeiros de Drummond ganhem mais do que o poeta de Itabira. Os editores póstumos de Fernando Pessoa ganham muito mais que o autor de Mensagem... Alguns herdeiros são sanguessugas e até prestam um desserviço à memória dos poetas... A crise do livro não é exclusividade da poesia. Os livros didáticos vão para o tablet, os romances estão virando ebooks, mas as editoras continuam vendendo. Até mesmo poesia. E temos muitas editoras especializadas em poesia aqui e em muitos países, seja cobrando dos autores para a publicação, para uma coedição e até como empreendimento de risco... Creio que a melhora do nível de escolaridade e a difusão cultural entre neoleitores vão revitalizar melhor o avanço da leitura de poesia, seja em que suporte for, do que a choradeira dos preteridos à entrada do salão ou terreiro da festa... OA: Qual é, a seu ver, o atual estado da poesia no Brasil? Há novas vertentes, novas ideias; há grandes nomes, ou não seria exagero afirmar que os gênios ficaram no século XX? AM: Como disse Cora Coralina, do alto de seus mais de 80 anos, “os tempos atuais são infinitamente melhores”. Eu não vivo olhando pelo retrovisor, só quando preciso avançar. Edgar Morin nos lembra que a poesia se sustenta no passado, mas se projeta no futuro. Hoje temos grandes nomes, e muitos serão as glórias futuras, pois é difícil um distanciamento para garantir quais os nomes que vão ficar. Manuel de Barros, Augusto de Campos, Thiago de Mello, Lêdo Ivo, Adélia Prado, Décio Pignatari, Armando Freitas Filho, Ruy Espinheira Filho, Frederico Barbosa, Armindo Trevisan, Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant´Anna, José Santiago Naud, Antonio Riserio, Affonso Ávila, Alberto da Costa e Silva, Hugo Mund Jr., Glauco Mattoso, Virgilio Maia, Antonio Fernando de Franceschi, Ariano Suassuna. Vou ficando por aqui, pois a lista é extensa, e certamente outros grandes poetas de todos os sexos vão ficar irritados por não tê-los nomeado. Sem contar com os poetas-compositores musicais, os videopoetas, os que trabalham tanto no campo da integração da poesia com outros meios de expressão, como os que se apoiam na convergência tecnológica em campos experimentais. Temos mais poetas vivos, hoje, do que em tempos passados, mas eles ainda não tiveram a seu favor o reconhecimento de sua obra. OA: É relativamente fácil produzir um livro impresso ou virtual no Brasil. Entretanto o advento da impressão digital e das mídias eletrônicas tem feito um papel ambíguo: por um lado, tornou o acesso ao mercado livreiro menos elitizado; por outro lado, propiciou o aparecimento de muitos livros medíocres, dando início a uma espécie de polifagia literária. Minha opinião lhe parece por demais radical ou este problema existe mesmo? Como separar o joio do trigo na poesia? 02 | eisFluências Agosto 2011 AM: Livros medíocres sempre existiram. E vão continuar sendo escritos. É assim também na música, na arquitetura, nas artes gráficas. Acho que faltam críticos e espaços para a crítica, em vez de elogios cruzados. Só o tempo decanta, sedimenta. Mas devemos reconhecer que existem grandes nomes do passado que foram enterrados com os autores. Apesar de que as páginas web oferecem muitos destes nomes, pois seria impossível seguir republicando-os em formato de papel. É como um iceberg que depende da base submersa para manter-se na superfície. Poesia é uma criação coletiva, mesmo quando o poeta escreve na solidão ou na sua torre de marfim. O poeta se alimenta de paideuma, do que leu, ouviu, tanto como fôrma quanto conteúdo, por mais original que pretenda ser. Importante é que alguns abram novos caminhos. Agora, longe dos ismos, a frente é mais ampla e difusa, mas extremamente vigorosa. No futuro, vai ser possível definir as tendências que vigoram atualmente, embora alguns (poucos) críticos possam antecipar-nos algumas dessas tendências. Neobarroco? Haikais reformulados, aforismos? Sonetistas renovados, letristas geniais, tecnólogos dos versos. Tem de tudo, para todos. E quando não há uma livraria na esquina, tem uma loja virtual à disposição. OA: Resumindo, a Internet seria, nesse contexto, a força motriz da nova literatura ou, para assim dizer, um amigo da onça? AM: Certamente que a internet é uma força motriz e centrifugadora, mas os bares estão cheios de sessões de poesia, as boas livrarias também. A internet, além de oferecer conteúdos, também tem o poder de convocatória para promover encontros. Antes eu buscava estas oportunidades na imprensa ou esperava a chegada do convite pelo correio. Hoje recebo por e-mail. Vantagem na rapidez, mas resulta no mesmo fenômeno de atrair e reunir autores e público. Seja presencialmente, seja digitalmente. Mas cabe lembrar que a internet vem impondo novas formas de criação literária, além de promover a convergência tecnológica por amalgamar os gêneros literários. E não me venham com a história da massificação. A internet transformou o poeta no seu próprio editor e há de tudo para todos, ou quase todos. Não havia livrarias em toda parte, como não existem ainda computadores em todos os lares, mas levamos uma grande vantagem no acesso às obras em comparação com as possibilidades que existiam, se me lembro de minha juventude. OA: Em 2008, a atenção de todo o Brasil se voltou a Brasília, onde acontecia um evento de porte internacional – a 1ª Bienal de Poesia. Como o amigo avaliaria os resultados desse evento: foram satisfatórios? AM: A I BIP foi um fenômeno que ainda falta avaliar em toda a sua extensão. Foi um ponto de partida. É difícil deslocar o eixo das coisas. Sair da hegemonia do Centro-Sul e da costa atlântica para o interior, como queria JK ao prever Brasília como um ponto de irradiação central. Não há mais centralidade, a territorialização perdeu parte de sua vigência, até o tempo mudou: vivemos agora no não-lugar, no tempo relativizado, pois é possível estar em linha e interativo como também virar “becape”. A ideia da I BIP foi reunir poetas, mas garantir que eles continuassem na rede. A II BIP, de 14 a 17 de setembro próximo, vai tentar consolidar esta proposta, na medida em que faremos sessões por videoconferência ou TV digital, como manteremos os vídeos e os textos na página da BIP em caráter permanente. OA: A 2ª Bienal de Poesia de Brasília se passará em setembro deste ano. Conte-nos um pouco sobre a programação dela. AM: Queremos oferecer um panorama da poesia que é praticada no Brasil, em Iberoamerica e em alguns países mais. Vamos ter participantes também de Cabo Verde, Moçambique, assim como da Suécia, da Indonésia e de outros países mais remotos. Vamos promover leituras de poemas na Biblioteca Nacional de Brasília, em bibliotecas e escolas da periferia, na rodoviária e na praça, nos bares e em universidades. Poesia visual, cordel, poesia pintada e vídeo. O melhor é ir ao nosso sítio que está sendo montado, com novidades, à medida que chegam as confirmações para a montagem final da programação: http://bipbrasilia.com/. OA: A Bienal de Poesia reunirá não apenas vários poetas brasileiros, como também os representantes da lusofonia poética em geral. Que eu saiba, o português Luís Serguilha e a moçambicana Tânia Tomé já confirmaram sua vinda a Brasília. Será que os poetas de outros países e idiomas participarão da Bienal? AM: Sim, já temos grandes nomes como Humberto Ak´Abal da Guatemala, Juan Calzadilla da Venezuela, Clemente Padin do Uruguai, Corsino Fortes de Cabo Verde... Melhor é ir ao sitio... Alguns nomes vêm pelas embaixadas (México, Panamá, Espanha, etc.) cujos nomes estão sendo confirmados, os poemas traduzidos ao português para uma apresentação pública bilíngue. Como aconteceu antes, vamos lançar o Poemário Oficial do evento e uma antologia de poesia goiana, oficial da BIP, organizada por Salomão Sousa. Na bienal anterior, lançamos uma antologia de Brasília e uma infanto-juvenil produzida pelos jovens. Na II BIP vamos escolher outra região, entre as menos favorecidas em termos de divulgação de sua produção poética. Mas também estamos organizando um encontro de tradutores, outro com os editores, um seminário sobre poesia infantil. Etc, etc. FICHA TÉCNICA Conselho de Redacção Director Victor Jerónimo (Portugal/Brasil) Abilio Pacheco (Brasil) Humberto Rodrigues Neto (Brasil) Luiz Gilberto de Barros (Brasil) Marco Bastos (Brasil) Petrônio de Souza Gonçalves (Brasil) Rosa Pena (Brasil) Directora Cultural Carmo Vasconcelos (Portugal) Nosso sítio http://www.eisfluencias.ecosdapoesia.org/ Contacto [email protected] Propriedade de Mercêdes Batista Pordeus Barroqueiro Recife/PE/Brasil Tiragem: 100 ex Distribuição Gratuíta Responsável pela Redacção Mercêdes Pordeus (Brasil) Design Gráfico e Composição Victor Jerónimo Revista de eventos, actualidades, notícias culturais, político/sociais, e outras, mas sempre virada à directriz cultural, nas suas várias facetas. Correspondentes Divulgação via internet Alemanha - António da Cunha Duarte Justo Argentina - María Cristina Garay Andrade Bielorussia - Oleg Almeida Brasil - Elizabeth Misciasci Espanha - María Sánchez Fernández Depósito legal LEI DO DEPÓSITO LEGAL LEI N° 10.994, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2004 Biblioteca Nacional Brasil ISNN 2177-5761 eisFluências Agosto 2011 | 03 OA: Discutindo os destinos da poesia no mundo contemporâneo, deixamos de lado a personalidade do poeta Antonio Miranda. Os leitores da nossa revista estariam interessados em saber como é seu presente criativo e seus planos para o futuro. AM: Wally Salomão me fez uma dedicatória em um de seus livros, dizendo que eu sou um “oximoro concreto”. Pois é, eu cultivo a poesia textual, a visual, a satírica, a social e, apesar da idade, ainda faço incursões pela lírica amorosa. E pratico a poesofia, o poema-ensaio, além do poema-objeto. Tenho alguns heterônimos para dividir esta variedade. Até mesmo um pseudônimo que eu não revelo, pelo menos, por enquanto... E tenho no prelo, em vários países — Brasil, Venezuela, México — livros inéditos e antologias. E publico o tempo todo na minha página pessoal: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_ilustrada/poesia_ilustrada.html, onde estão textos em português, mas também versões em russo (por Oleg Almeida...), em basco, em guarani, em alemão, italiano, francês, inglês, holandês... e até em latim e tukano. OA: Muito obrigado pela entrevista. Foi um prazer conversarmos. Desejo-lhe novos sucessos em seu nobre ofício de escritor e promotor cultural. E viva a poesia! ~~~ Terminada a entrevista, não quero deixar de acrescentar aqui que os poemas de Antonio Miranda, desde o início dos anos 70 do século passado, vêm dando oportunidade para diversas parcerias com compositores musicais, a partir do espetáculo TU PAÍS ESTÁ FELIZ (Teatro Ateneo de Caracas, Venezuela, em 1971) com Xulio Formoso. A empatia criativa Miranda & Formoso foi decisiva para a montagem do referido espetáculo, pelo diretor Carlos Giménez, e para o extraordinário sucesso internacional do musical venezuelano. Depois veio a experiência, outra vez com Xulio Formoso, na composição de quatro temas musicais para o espetáculo "Jesucristo astronauta; autosacramental sobre lo profano y lo divino", que gerou um e-play de 45 rpm com 4 faixas. Seguiram-se outras parcerias musicais e outros espetáculos, que nossos leitores poderão ver na página do autor:http://www.antoniomiranda.com.br/musicas/musicas_index.html Inclusivamente , uma parceria musical com a nossa Directora Cultural, Carmo Vasconcelos, cujo tema poderão ouvir, em: Carmo Vasconcelos, poetisa e declamadora portuguesa, apresenta CANTIGA PARA UM POETA acompanhada da canção "Além de Ti", de A. Miranda e X. Formoso, interpretada por Elga Pérez-Laborde Oleg Almeida, Brasília/DF, Brasil www.olegalmeida.com NR-Veja a entrevista do autor Oleg Almeida, sobre o seu trabalho literário e a poesia russa, ainda pouco conhecida no Brasil, concedida a Paulo Mohylovski para a revista Germina: www.olegalmeida.com/entrevista_v_37.html HOMENAGEM AOS 104 ANOS DE MIGUEL TORGA Por Carmo Vasconcelos Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em São Martinho de Anta, a 12 de Agosto de 1907 e foi um dos mais importantes escritores portugueses do século XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaiosOriundo de uma família humilde de Sabrosa (Trás-os-Montes), era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros. Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918, foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou Português, Geografia e História, aprendeu latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois comunicou ao pai que não seria padre.Emigrou para o Brasil em 1920, ainda com doze anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma fazenda de café. Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, convicto de que ele viria a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal e concluir os estudos liceais.Em 1928, entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade. Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema Altitudes. A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca era bandeira literária do grupo modernista e bandeira libertária da revolução modernista. Em 1930, rompe definitivamente com a revista Presença, por «razões de discordância estética e razões de liberdade humana», assumindo uma posição independente.A obra de Torga traduz a sua rebeldia contra as injustiças e o seu inconformismo diante dos abusos de poder. Reflecte a sua origem aldeã, a experiência médica em contacto com a gente pobre e ainda os cinco anos que passou no Brasil (dos 13 aos 18 anos de idade), período que deixou impresso em Traço de União (impressões de viagem, 1955) e em um personagem que lhe servia de alter-ego em A criação do mundo, obra de ficção em vários volumes, publicada entre 1937 e 1939.As críticas que fez aí ao franquismo resultaram em sua prisão (1940).Após a revolução dos cravos (1974), Torga surge na política para apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República (1979). Era, porém, avesso à agitação e à publicidade e manteve-se distante de movimentos políticos e literários. Crítico da praxe e das restantes tradições académicas, chama depreciativamente «farda» à capa e batina. Ama a cidade de Coimbra, onde exerceu a sua profissão de médico a partir de 1939 e onde escreveu a maioria dos seus livros. Em 1933 concluiu a licenciatura em Medicina pela Universidade de Coimbra. Começou a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas, pano de fundo de grande parte da sua obra. 04 | eisFluências Agosto 2011 Dividiu o seu tempo entre a clínica de otorrinolaringologia e a literatura. Autor prolífico publicou mais de cinquenta livros e foi indicado para o Prémio Nobel por várias vezes. Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha cria o pseudónimo "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras trasmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/actuam como parecem/sem um disfarce que os mude).Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a natureza - mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte, é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à natureza, como os trabalhadores rurais trasmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a natureza, malgrado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, ao ver de Torga, fazem do homem único ser digno de adoração.Considerado por muitos como um avarento de trato difícil e carácter duro, foge dos meios das elites pedantes, mas dá consultas médicas gratuitas a gente pobre e é referido pelo povo como um homem de bom coração e de boa conversa.Casou-se com Andrée Crabbé em 1940, uma estudante belga que, enquanto aluna de Estudos Portugueses, com Vitorino Nemésio em Bruxelas, viera a Portugal fazer um curso de verão na Universidade de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 3 de Outubro de 1955. Da sua vasta obra, citarei apenas alguns títulos: Poesia: Rampa; O outro livro de Job; Libertação; Orfeu rebelde; Câmara ardente; Poemas ibéricos Prosa: Pão Ázimo; Criação do Mundo; A Terceira Voz; Bichos; Contos da Montanha; Rua; Novos Contos da Montanha; Vindima; Portugal; Fogo Preso; Fábula de Fábulas; Diário, em 16 Volumes Peças de teatro: Terra Firme e Mar; Sinfonia; O Paraíso; Portugal; Traço de União. Prémios: Prémio do Diário de Notícias (1969); Prémio de Poesia da XII Bienal de Internacional de Poesia de Knokke-Heist - Bélgica (1977); Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos Drummond de Andrade (1980); Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S. (1981); Prémio Luso-Brasileiro Luís de Camões(1989);Prémio Personalidade do Ano (1991); Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992); Prémio da Crítica, consagrando a sua obra (1993). Os seus livros foram traduzidos em diversos idiomas, algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.Torga sofria de câncer e não escrevia mais desde o ano de 1994, vindo a falecer em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995. A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.O seu Diário (1941 - 1994), em 16 volumes, mistura poesia, contos, memórias, crítica social e reflexões. No último volume, diz Miguel Torga: "Chego ao fim, perplexo diante de meu próprio enigma. Despeço-me do mundo a contemplar atónito e triste o espectáculo de um pobre Adão paradoxal, expulso da inocência sem culpa sem explicação.” PORTUGAL Miguel Torga BRASIL Miguel Torga Avivo no teu rosto o rosto que me deste, E torno mais real o rosto que te dou. Mostro aos olhos que não te desfigura Quem te desfigurou. Criatura da tua criatura, Serás sempre o que sou. E eu sou a liberdade dum perfil Desenhado no mar. Ondulo e permaneço. Cavo, remo, imagino, E descubro na bruma o meu destino Que de antemão conheço: Teimoso aventureiro da ilusão, Surdo às razões do tempo e da fortuna, Achar sem nunca achar o que procuro, Exilado Na gávea do futuro, Mais alta ainda do que no passado. Pátria de emigração, É num poema que te posso ter, A terra — possessiva inspiração; E os rios — como versos a correr. E assim consigo ver-te Como te sinto: Na dourada moldura da lembrança. O retrato da pura imensidade O que dei a possível semelhança Com palavras e rimas e saudade. (Diário X - Coimbra, 16 de Dezembro de 1963) (Diário X - Coimbra, 16 de Dezembro de 1963) Achada na longínqua meninice, Perdida na perdida juventude, Guardei-te como pude Onde podia: Na doce quietude Da forçada represada poesia. Pesquisa e composição de Carmo Vasconcelos (Subsídios Wikipédia e Biblioteca da Autora) Lisboa/Portugal http://carmovasconcelosf.spaces.live.com eisFluências Agosto 2011 | 05 Entre o eu integral e o eu superficial – Uma nova Pedagogia Problemas nas Relações são Momentos de Desenvolvimento António Justo Uma pessoa, tal como o seu carácter, é mais que a soma dos seus detalhes psicológicos. Ao dizermos ou sentirmos o nosso eu referimo-nos a algo definido como se fosse um produto, algo já acabado e não um processo na realização do ser. O meu eu inclui-me a mim e às minhas circunstâncias. Estas são eu, tu, o outro, o universo e o mistério. A nossa personalidade é formada por um eu profundo integral e por um eu superficial parcial, ou seja um eu luz e um eu treva. O ego é a sombra do eu integral; é como que a sua crusta, a parte opaca da transparência, a sombra duma realidade, mais ou menos oculta, a tudo conectada. No ego predominam as forças centrípetas enquanto no eu integral reina a harmonia dum universo de forças ordenadas. A relação acontece na tensão entre um eu e um tu para se realizar no nós. No nosso trajecto vivemos a fugir da anonimidade duma massa despersonalizada para através do eu personalizado voltarmos à comunidade dum nós pessoal. É a luta das cores por se diferenciarem do verde da natura para poderem brotar na flor. Somos com e no universo, todo o mundo, a caminho, na procura do “Sol”, num mesmo sistema interligado pelas mesmas leis. Ao sermos projectados do útero da mãe inicia-se o processo da individuação. No grito original iniciamos uma nova relação com órbita própria a firmar-se numa nova constelação. Ao ser-nos cortado o cordão umbilical, abandonamos o paraíso na procura de identidade. Começa a marcha a caminho do eu no sentido de realizarmos a ipseidade no todo. Primeiro de gatas, depois amparado e por fim só. Quanto ao desenvolvimento psicológico esse torna-se mais demorado e complicado. Como na natureza nem toda a planta chega a dar flor, o que não torna o seu verde menos esplendoroso. Vale a pena o esforço de ver para lá dele. O desenvolvimento pressupõe um processo dialéctico exterior numa realidade que ultrapassa a dialéctica (afirmação-contradição, teseantítese ou a mera síntese). A afirmação da parte contra a parte e deste modo o reagir e a distanciação contra o todo provoca a dor insatisfeita. Doutro modo a fricção do eu no tu seria integrada no desenvolvimento não se cristalizando na dor (culpa, medo). O movimento de separação e aproximação, tal como as ondas e as marés, não são mais que o pulsar do coração com os seus impulsos e pausas, como a alegria e a tristeza, o entusiasmo e a frustração; são momentos duma mesma realidade que nos envolve, define e determina. A separação que se dá no desenvolvimento cumula na razão, onde o mundo deixa de ser uno como antes (Árvore da sabedoria no paraíso!). Aqui surge o perigo de o intelecto se autonomizar e criar um mundo “ideal” à margem da realidade com forças que não se deixam reduzir a meras leis. Com a caminhada da razão, que agora se acentua, dá-se um processo de diferenciação, de distinção entre um eu e um tu; em função da individuação afirma-se um sujeito contra um objecto, que na realidade, é sujeito numa dinâmica de complementaridade; a dialéctica leva o outro a ser tornado provisoriamente casulo para, assim, o eu se tornar sujeito. O sujeito, ao atingir o seu verdadeiro desenvolvimento, deveria passar a ver o resto da realidade como sujeito e relacionar-se de maneira a reconhecer-lhe tal dignidade (como parte dela/e). (O espírito incarna na matéria e a matéria ganha asas próprias para voar, tal como procura demonstrar o mistério da incarnação e ressurreição e a Trindade realiza). Ao encontrarmo-nos todos num processo de transformação já não tentaremos destruir ou modificar o outro: a minha mudança já provoca a mudança do outro porque a transformação pressupõe relação, relação pessoal mesmo com o mundo inadequadamente considerado “coisa”. Trata-se de superar um pensar unidimensional só com lugar para a parte geométrica da vida, de superar o jogo das escondidas no nicho do intelecto. Os distúrbios, de que todos sofremos como adultos, provêm dum mundo do pensamento paralelo, criado à margem da realidade orgânica e aos “traumas” que acompanharam o nosso desenvolvimento desde a criança infantil até ao estado de infantil adulto. A princípio agarrados às saias da mãe esperamos dela o amor simbiótico que nos mantinha a ela unidos no seu ventre, o paraíso terreal (muitas vezes a luta posterior não passa duma tentativa por restabelecer o estado simbiótico original: é a luta errada por se satisfazer a “culpa” do “pecado” original). Tal união, porém, não permitiria o desenvolvimento da própria identidade passando, naturalmente, a acentuar-se as forças centrífugas para depois culminarem na ressaca das forças centrípetas (egocêntricas). Segue-se então um caminho de experiências mais ou menos agradáveis, mais ou menos traumáticas que nos levam a andar pelo próprio pé ou a andar agarrados às eternas muletas de situações irreflectidas. A experiência individual cria frustrações e gratificações que mais tarde se podem revelar em sentimento de culpa, em sentimento de inferioridade/superioridade que depois será reafirmado pela vida fora num rescrito comportamental de arrogância ou de timidez. Nesta fase dominam os monólogos interiores e arrazoamentos que não permitem uma descrição adequada da realidade própria nem dos outros. Como não nos encontramos a nós mesmos continuamos a reduzir o outro à qualidade de objecto a ser assimilado ou a ser repelido. Muitos agarram-se desesperadamente ao pescoço da vida na fuga contra o vazio, contra a solidão. Procuram fora o que já se encontra dentro. As muletas das ideias revelam-se depois como poluidoras de paisagens emocionais interiores. É a fase da vida em canteiros de jardim infantil ou no jogo do gato e do rato. Na infância a harmonia é procurada na mãe enquanto na fase adulta se procura na fusão de dois (polos) sujeitos, na "união conjugal". Aqui encontram-se, a nível psicológico e comportamental, forças contraditórias em ebulição à semelhança do que se dá no desenvolvimento do universo com a sua formação de galáxias e de sistemas como o sistema solar, num jogo de forças que procuram o equilíbrio para depois seguiram o chamamento que pressupõe um novo desequilíbrio; este mantem a ordem viva num sistema de universos a caminho. Egocentrismo (movimento de rotação em torno de si mesmo) e altrocentrismo (movimento de translação em torno do outro) tornam-se condicionantes duma realidade maior. O amor que envolve os dois provoca o movimento aparentemente contraditório. A fixação extrema no ego ou no outro fecha os olhos para a felicidade (equilíbrio), para o amor, fixando-a no amor-próprio, na própria necessidade sem contemplar o sistema. O ego procura então não o outro mas a própria felicidade no outro contradizendo assim a felicidade, que é relação, o momento de equilíbrio (de esquecimento) que já traz em si o momento de desequilíbrio que provoca o desenvolvimento, a vida e não a estagnação. A vida que engloba o outro e a mim a caminho duma maior grandeza. A força centrípeta, o egoísmo exige uma relação de subalternos, quer ter, não quer ser, (ou confunde o ter com o ser) faz de todos seus satélites desprezando a realidade de que também os astros pertencem a estrelas e estas a galáxias, ao serviço duma realização maior. Cada um, tal como o universo, está chamado a seguir um chamamento; encontramo-nos todos a caminho do mistério na realização do amor, que é a energia que mantem todo o ser e todo o universo, unindo o que parece contraditório.A necessidade do amor infantil (amor necessidade) domina as relações que se tornam por isso insatisfatórias. Cada um, criança traída, acusa no outro, sem saber, a sua mãe que o não acariciou suficientemente ou o considerou apenas seu satélite. Em vez de cada um se assumir aceitando as dores do parto de si mesmo (em processo) deixa-se dominar pelos fantasmas do passado sem reconhecer a realidade das forças próprias e ambientais na sua interdependência e complementaridade. Pior ainda: projecta no outro as próprias deficiências querendo torna-lo a mãe que não teve. Nesta dinâmica, mendigos do amor tornam outros mendigos também. Cada um gira em torno de si mesmo querendo criar os outros à sua imagem e semelhança. Num processo de desenvolvimento para a maturidade (a nível dos dois) deverá criar-se um espaço para se fazerem as pazes com os “traidores” da infância para que estes não nos atraiçoem no outro. Isto deve ser naturalmente integrado em movimentos consecutivos de ensombramento de si mesmo e de luminosidade do outro e vice-versa; o mesmo se dá de forma inconsciente no ciclo do dia e da noite que 06 | eisFluências Agosto 2011 pressupõe o reconhecimento da existência dos outros astros na realidade do nós (indivíduos e comunidade). Nesta realidade sentiremos e integraremos em nós não só a desejada acalmia primaveril e veraneia mas também as ventanias outonais que purificarão o nosso ser da folhagem impeditiva da próxima fase de desenvolvimento no sentido do todo. Na constelação relacional do desenvolvimento também se encontram meteoritos isolados que vivem apenas o sexo à margem do acto criador de interacção. Esta pressupõe amor e este pressupõe a dor, resultada da tensão entre o eu e o outro. A dor é o momento de desequilíbrio que possibilita a evolução. Fugir à dor é negar-se, é negar o outro em si e negar-se a si no outro; não basta procurar, porque o sentido é encontrar-se, encontrar-se como universo a dar à luz. A vida inconsciente, além de viver na fuga e da fuga, luta continuamente com o destino. Falta-lhe a coragem para a felicidade e abdica permanecendo na contradição; esta pode, no máximo, produzir o gozo da fricção mas não a felicidade. Para o egoísta a culpa está nos outros, ele prefere ver a vida passar-lhe ao lado como os vinhateiros atrasados da parábola. Mas também o altruísmo pode ser um egoísmo escondido ou indício dum eu fraco (debilitado). Manter o equilíbrio da balança é a tarefa da vida da pessoa e do universo sempre em movimento. Eu e tu, os dois somos três a caminho do nós. Eu e tu com o universo numa relação amorosa não dialéctica encontramo-nos num processo de interdependência e afirmação mútua; encontramo-nos todos ao serviço uns dos outros, no seguimento duma força maior: o amor. O momento dialéctico (contradição) é apenas o instante do desequilíbrio num processo maior pendular de desequilíbrio para o equilíbrio, do equilíbrio para o desequilíbrio na realização dum equilíbrio maior. Aqui já não há um com razão e o outro sem ela, agora já não há um perfeito e outro imperfeito, um culpado e o outro inocente. Aqui o intelecto e o coração unemse para possibilitarem uma visão global integral: a vida toda na própria vida e não uma vida em segunda mão. Deixa então de haver a autonomia do astro rei e a dependência do satélite para na complementaridade se desenvolver uma nova identidade, a identidade do nós no eu criativo e criador. A felicidade realiza-se em comunidade (Filho pródigo). Somos filhos do amor, fomos feitos de graça para vivermos na graça do amor. Como filhos da terra tornamo-nos no sol da natureza agradecida a abençoar. Resta-nos o agradecimento e a paciência. Somos novos mundos a criar um novo mundo, não podemos parar nem abdicar de nós mesmos nem dos outros. Para criarmos uma nova maneira de estar no mundo, uma nova maneira de nos relacionarmos nele e com ele teremos de criar uma nova relação amorosa com o outro na realidade do nós numa dinâmica identitária processual do eu-tu-nós: uma relação já não só de diálogo mas de triálogo, à maneira da incarnação e ressurreição numa relação pessoal trinitária na unidade do eu-tu-nós. António da Cunha Duarte Justo Teólogo e pedagogo www.antonio-justo.eu HISTÓRICO DO GRUPO DE POETAS LIVRES FUNDADO EM 13 DE ABRIL DE 1998, EM FLORIANÓPOLIS, S.C. Por Maura Soares O Grupo de Poetas Livres foi fundado em 13 de abril de 1998, no auditório da Biblioteca Pública Municipal Professor Barreiros Filho, Bairro Canto, Florianópolis, por Maria Vilma Nascimento Campos e poetas amigos. Na ocasião da fundação, visitava Florianópolis o Orfeão “Edmundo Machado de Oliveira” (*), de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores-Portugal. Alguns de seus membros, trazidos à fundação do GPL pela escritora Vilca Merizio, assinaram a ata respectiva. O Grupo Coral universalmente reconhecido pela UNICEF apresentou-se dias 14 e 15 de abril com recitais realizados na Igreja Santo Antonio de Lisboa, no Campus da UFSC e na Catedral Metropolitana de Florianópolis. A presença do Orfeão marcou a abertura da programação das comemorações do Cinqüentenário do I Congresso de História Catarinense e dos 250 anos da chegada dos primeiros açorianos ao litoral catarinense. O objetivo principal da fundadora era simplesmente fundar um grupo sem atrelamentos, juntando jovens poetas, alunos de escolas do município. O Grupo, em 1998, aliou-se aos membros da Associação de Amigos da Biblioteca e conseguiu montar espetáculos de música, teatro e poesia com seus jovens poetas, tendo grande repercussão. Foi com essa junção e com o Colégio Nossa Senhora de Fátima e a Escola Básica Municipal Almirante Carvalhal que foi editado, em forma artesanal, a obra “Eu e o Mar”, com poesias e desenhos dos alunos desses dois educandários. O Estatuto do GPL prevê ampla liberdade de pensamento, sem seguir o estilo francês acadêmico que limita o número de 40 membros. Ao longo desses 13 anos de existência já passaram pelo Grupo mais de 300 pessoas. Seu objetivo principal é divulgar o escritor catarinense, aquele que aqui nasceu e os que escolheram Santa Catarina para viver e formar suas famílias. Reconhecido de Utilidade Pública Municipal pela Lei 5671, de 26 de maio de 2000 e de Utilidade Pública Estadual pela Lei nº 14.560, de 1º. de dezembro de 2008. Seus Projetos: VIAJANDO COM POESIA -cartazes-adesivos afixados nos ônibus da Capital, levando palavras de otimismo àqueles que utilizam o transporte coletivo. REVISTA VENTOS DO SUL - congrega poesias dos associados efetivos, correspondentes e amigos de Santa Catarina, de cidades brasileiras e do exterior. A Revista é distribuída gratuitamente, viajando em cidades catarinenses, brasileiras, Madri (Espanha); Buenos Aires e outras províncias da Argentina; Açores; Portugal e Sacramento (Califórnia) (EUA); DOCE POEMA - poemas dos membros do Grupo publicados nos sacos para pães. POESIA NA PRAÇA - colocação de poesias nos encostos dos bancos das praias de Itaguaçu, Bom Abrigo, Palmeiras e Ponta do Leal Balneário (Estreito), retirados com as obras da Beiramar Continental (PC 3). Os primeiros trabalhos nos encostos dos bancos foram feitos pela artista plástica Leuzi Soares, usando um pirógrafo. eisFluências Agosto 2011 | 07 ENCONTROS COM A POESIA Idéia do Grupo Armação com participação do GPL em que aconteceram alguns recitais de poesia, com membros do Grupo e convidados; ANTOLOGIAS - o Grupo possui 6 antologias de Poesias; uma Miniantologia encartada em agenda de uma Construtora; um Livreto com poesias de Auto-ajuda, e a obra “Folhetim - Cada caso, um Causo”, desta feita com contos e crônicas dos associados efetivos e correspondentes. Um Projeto interno tem dado ótimos resultados: O ESCRITOR E SUA OBRA. Consiste em pesquisa dos membros do Grupo sobre autores catarinenses e apresentados em suas reuniões e também a presença de escritores convidados. Além desses projetos o Grupo também apresenta Sessões Especiais pelo centenário de nascimento de poetas catarinenses; aniversário da fundadora Maria Vilma Nascimento Campos e Sessões de Saudade. Concursos de poesia também fazem parte da história do Grupo, com temas tais como “Amor Eterno”; Guerra e Paz”; ”Amor Adolescente”;”Amor à Mãe”;”Pão, alimento da vida”; “A natureza é onde mora a vida”; três concursos que reúnem poesia, teatro e desenho intitulado “Palavras com Forma”; “Eu e o Mar”, que resultou em um livro, já citado. Com alunos do CEJA (Curso de Educação Carcerária) do Presídio Regional de Tijucas, SC, estamos já na 7a. edição do concurso “Liberte-se...nas Asas da Poesia!” O GPL faz atualmente e desde 2007, com a primeira edição, Concursos On-Line de Poesia com internautas do Brasil e exterior, de fala portuguesa ou espanhola, bastando acessar o site do Grupo e postar seus poemas. As poesias dos classificados são publicadas na Revista Ventos do Sul. Temas dos concursos On-Line: “Água, fonte de vida”; “A paz na minha aldeia”; “Uma história de amor - em tempo de paz”; “Onde eu estava no verão passado”; de trovas e quadras com tema livre com o nome “Concurso de Trovas e Quadras Maria da Anunciação Pereira” e em 2011 com o tema “A casa caiu” . O Grupo participa de Feiras de Livro. A arte teatral também está presente. O grupo apresentou, em forma teatralizada o poema “Balada dos Jácom-Terra”, do escritor Júlio de Queiroz. Espetáculos como “Poesia, Luz e Som”; “A utilidade da utopia” foram produzidos pelos poetas do Grupo em duas versões. Importantes portarias fazem parte da história do Grupo: a n.1/2009, de 8 de maio de 2009, designa a Sala e a Biblioteca do Grupo: Sala Manoel Jover Teles e Biblioteca Maria Vilma Nascimento Campos; a n.2/2009, de 7 de agosto de 2009, institui a Oração do Poeta de autoria de Zeula Soares, como Oração dos Poetas, oficial do Grupo, para abrir todas as reuniões; a n.3/2009, de 4 de setembro de 2009, institui o Hino dos Poetas Livres, autoria, letra e música de José Cacildo Silva, como Hino Oficial do Grupo. Em 2010, a Portaria 01/2010, instituiu a Medalha do Poeta “Maria Vilma Campos. Em 2011 a Portaria 01/2011 instituiu a Bandeira do Grupo de Poetas Livres. Em síntese, o trabalho do GPL ao longo desses treze anos de atividades. Profa. Maura Soares - Presidente do GPL www.lachascona.blogspot.com ALGUNS POEMAS DE MEMBROS DO GPL SUELI RODRIGUES BITTENCOURT - nasceu em 1920--completou em 2010, 90 anos—professora, tem 2 livros publicados e de um deles, fez um áudio-livro. Criou e desenvolve o Projeto Paz e Poesia, pela internet. PAZ sueli rodrigues bittencourt É tempo de luz e esperança, de compreensão e bonança! É tempo de amor e perdão, buscando paz e união. União de povos, de raças diversas, de pessoas de ideias inversas... Tranquilidade, evolução e paz o Terceiro Milênio nos traz se banirmos vis sentimentos, ódios, ganância, tormentos, unindo-nos em esforço tenaz para que reine na Terra a Paz. *** MARIA DA ANUNCIAÇÃO PEREIRA - nasceu em 1925, alfabetizada aos 67 anos, diz de cor seus poemas---imaginava, gravava na memória e pedia para os filhos escreverem. Trabalhou na roça. Tem uma filha delegada de polícia, outra dentista outros formados em faculdade. Particularmente tenho um carinho especial por ela e por Doralice, também, por Maurilia—que formam o trio As Cazajeiras. FESTA DE SÃO JOÃO maria da anunciação pereira Chegou o mês de junho, tem festa de São João O salão está enfeitado, tem fogueira e tem quentão. As moças todas arrumadas com seus vestidos de chita, com seus cabelos de trança, com lindos laços de fita. Chegou o dono da casa e manda o acordeom tocar. Dançam jovens senhoras todas no mesmo lugar. Quando chega a meia-noite todos na mesma alegria (Grita o dono da casa), venham senhoras e senhores vamos dançar a quadrilha. Todos dançam e todos pulam. A comida é de montão: Batata doce e melado, aipim, pipoca e pinhão. E assim termina a festa da noite de São João. Todos em roda da fogueira soltando foguete e balão. 08 | eisFluências Agosto 2011 DORALICE ROSA DE SOUZA SILVA - nasceu em 1929,possui 2 livros publicados—fez somente até o 3º. Ano primário---após ingressar no GPL,fez o curso completo do NETI-UFSC(Núcleo da Terceira Idade da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo que fazer estágio com alunos em sala de aula)—ganhou concurso de contos pela UFSC. Um de seus filhos – Vidomar - é professor de português e literatura-apenas corrige se algo sai errado, jamais interfere na ideia da mãe. Com a calmaria do vento é gratificante olhar o mar fica mais sereno sei que posso navegar. O PAPEL E A CANETA adriana cruz doralice rosa de souza silva Pois poeta sempre escreve o que está no coração às vezes faz o poema pra transformar em canção Lá no lindo céu azul a lua se despedia o sol estava nascendo para mais um novo dia *** [Fundadora e Presidente-Perpétuo do GPL] AS CORDAS Lembrei-me da minha infância do lugar onde eu vivia das noites de lua cheia fui feliz e não sabia. A João, meu pai maura soares *** MAURILIA FREITAS - nasceu em 1939; professora regionalista, aposentada. Forma com Doralice e Maria, o trio “As Cajazeiras” cantam e dançam nas apresentações do GPL maurilia freitas Olhando as ondas revoltas fico a me questionar quantos segredos esconde a profundeza do mar. Os segredos lá do fundo são difíceis de desvendar quanto mais o homem procura coisas novas vai achar. Escutando os barulhos das ondas sentada na praia a pensar na juventude distante gosto de recordar. Minha Alma fica serena sinto uma paz imensa o vento batendo em meu rosto de JESUS sinto a presença. PERCEPÇÃO Mesmo sem percebermos resistimos às tendências reais de vidas irreais. Atingimos objetivos sem ao menos prevermos o que a vida nos reserva. O susto das intransigências; O medo das fatalidades; O receio de viver a vida. Loucura de uma vivência intensa e desregrada, marcas de um passado que teima em estar presente. Peguei papel e caneta não sabia o que escrevia mas tive a inspiração pra fazer a poesia ONDAS DO MAR *** Nas cordas do teu violão dedilhavas modinhas valsas tangos e canções Menina, ficava a teu lado a te ouvir cantar e tocar os seresteiros Chico Alves Dilermando Silvio Caldas Conquistavas a menina que cedo aprendeu a cantar tango sem conhecer direito a língua portenha Teu jeito quieto, reservado, expandias na música e se havia uma cerveja gelada as mãos grandes do duro trabalho soltavam com delicadeza as cordas que vibravam com emoção Não conseguia entender – entendo agora – como é que daquelas mãos tão grandes podiam sair tão belos acordes Agora sei. O amor pela música, o dom natural da genética, punha pra fora o que estava reprimido: a emoção. Agora, no outono da vida, ao ouvir acordes que outros seresteiros fazem, lembro-me de ti meu pai, João, como muitos, mas João, como poucos, que encantava meu coração de menina que, comovida pelas lembranças, dedica estes versos ao sentir vibrar as cordas do coração. Aos 21 e 22/11/2009 – madrugada Presidente do GPL MAURA SOARES - Nasceu em Florianópolis, em 7 de Janeiro de 1943. Licenciada em Letras (UFSC) e Pedagogia. Habilitação Supervisão Escolar (UDESC). Exerceu a presidência da Associação dos Supervisores Escolares de Santa Catarina, em duas gestões 1989-1992. Autora teatral com mais de 30 peças, das quais 15 já encenadas pelo Grupo Independente. Membro emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, participando de sua directoria. Autora de “A Biblioteca e Seus Patronos”, biografias dos patronos da Biblioteca Pública Municipal Prof. Francisco Barreiros Filho, obra editada pela Fundação Franklin Cascaes, da Prefeitura Municipal de Florianópolis. Possui obras artesanais de poesia, contos e crónicas. Presidente do Grupo de Poetas Livres desde o ano 2000, participando de suas antologias e revistas com textos e poemas. No Grupo de Poetas Livres edita a Revista Ventos do Sul e tem coordenado todas as suas Antologias. Membro da Academia Desterrense de Letras, da qual participa na directoria. eisFluências Agosto 2011 | 09 UMA CRÔNICA À LUZ DE BEGIN THE BEGINE NO PANO DE FUNDO DE ALGUNS DOS PRÊMIOS NOBEL DE LITERATURA – 1945/2010 Por Marco Bastos Recentemente, na internet, assisti a vídeos de musicais e danças, e isso para mim não é coisa rotineira. 1945 foi atribuído a Gabriela Mistral "pela sua poesia lírica, que, inspirada por emoções poderosas, fez seu nome um símbolo das aspirações idealistas do mundo latino-americano". Normalmente acesso os sites em que escrevo, recebo e respondo mensagens de email, busco notícias sobre as atualidades e sobre assuntos mais específicos relacionados com literatura, política internacional, meio ambiente e economia. 1946 foi atribuído a Hermann Hesse "por seus escritos inspirados que, embora crescendo em ousadia e penetração, exemplificam os ideais clássicos humanitários e alta qualidade de estilo" Atraem-me os novos fatos do desenvolvimento científico. Leio sobre Cosmologia, assunto de deleite para o agnóstico que pensa não como quem crê e se vê perplexo diante da imensidão que nunca virá a conhecer totalmente. Leio como quem questiona, diante do Universo que apenas parcialmente vê, intui ou percebe, e considera natural a impossibilidade de conhecer tudo ou o todo. 1950 foi atribuído a Bertrand Russell "em reconhecimento dos seus escritos variados e significativos nos quais preponderam ideais humanitários e liberdade de pensamento". Ao longo dos muitos anos, na medida em que o tempo passava, ao engenheiro mais se aguçava a curiosidade e a consciência da necessidade de melhor compreender o seu tempo. 1953 foi atribuído a Winston Churchill "por sua maestria na descrição histórica e biográfica, bem como pela oratória brilhante na defesa exaltada de valores humanos". Na juventude, na época da Universidade, década dos 60´s, ainda trazendo a aura da alegria dos Anos Dourados, do otimismo das primeiras duas décadas do pós-guerra, e da própria idade, vivenciava um mundo em profunda transformação e repleto de contradições. 1957 foi atribuído a Albert Camus "por sua importante produção literária, que, com lúcida sinceridade ilumina os problemas da consciência humana no nosso tempo". Guerra-fria entre Ocidente e Oriente a disputar a hegemonia no mundo que derrotou o totalitarismo nazifascista; a guerra do Vietnã, pelos mesmos motivos, a demonstrar que a estratégia das guerras localizadas inaugurada nos anos 50´s, na Coréia, seria a forma de guerra possível por não mobilizar um poderio destruidor imensurável. 1958 foi atribuído a Boris Pasternak "pela sua realização importante, na poesia lírica contemporânea e no campo da tradição russa grande épico". Boris Pasternak inicialmente aceitou o prêmio, mas mais tarde foi convencido pelas autoridades de seu país a recusar o prêmio. O fantasma de Nagasaki e Hiroshima não desestimulou nem evitou, mas ao contrário incentivou os testes atômicos no Atol de Bikini e nas paisagens desoladas do deserto de Nevada, no Utah – a humanidade soube da existência da bomba H sem ser imolada em suas labaredas. 1962 foi atribuído a John Steinbeck "por seus escritos realistas e imaginários, combinados com humor simpático e percepção social afiada". Acirrou-se a corrida espacial - o heroísmo das pegadas do homem na Lua não prenunciaria nem deixou transparecer o projeto Guerra nas Estrelas, estratégico domínio dos Sistemas de Comunicação. E tudo prossegue nas décadas seguintes mais ou menos sob a égide desses mesmos fatores, diferindo apenas quanto às regiões periféricas - teatro dos acontecimentos. Choques nos preços do petróleo provocaram movimentos na geopolítica do Oriente Médio, tornando mais acesa a disputa entre árabes e judeus (ou nesse espaço confrontam-se religiões e mais que isso, ideologias e dependências energéticas da moderna sociedade). 1964 foi atribuído a Jean-Paul Sartre "por seu trabalho que, rico em idéias e do espírito de liberdade na busca da verdade, tem exercido uma influência de longo alcance nos tempos atuais". Jean-Paul Sartre recusou o Prêmio Nobel. Esgotou-se na África o modelo da ocupação e exploração colonialistas. 1967 foi atribuído a Miguel Angel Asturias "por sua realização literária viva, enraizada nos traços e tradições nacionais dos povos indígenas da América Latina". 10 | eisFluências Agosto 2011 Das cinzas da segunda grande guerra, ressurgem a Alemanha e o Japão, e inventou-se através da transferência de capitais e de tecnologia um novo Sudeste Asiático, enquanto a China acorda e se faz superpotência ao apagar das luzes da União das Republicas Socialistas. E o mundo se reparte em blocos no palco do Neoliberalismo – não tão neo, menos ainda liberalista. No mesmo período de tempo, arma-se e desaba a moeda padrão sucedânea em paridade ao padrão-ouro de Bretton Woods e recrudesce a violência. 1969 foi atribuído a Samuel Beckett "por sua escrita, em novas formas para o romance e o drama - na miséria, o homem moderno adquire sua elevação". Em algumas oportunidades o mundo se esquece da cláusula trinta da Declaração Universal dos Direitos Humanos que na grandeza dos seus propósitos de sedimentação de Princípios, reconhece direitos e deveres, e não se declara mera regulamentação que atenda a circunstâncias ou conjunturas – a moralidade legal não conferiu poderes para a usurpação dos Direitos reconhecidos, mesmo diante do terrorismo que se torna operante e das drogas que solapam a humanidade. Se foram esses os cenários que nos trouxeram até ao presente de consciência ecológica e de vontade da harmonia planetária, houve nesse caminho fatos outros que registraram ou induziram a posturas que passaram a vigorar. 1971 foi atribuído a Pablo Neruda "por uma poesia que com a ação de uma força Elemental mantém vivo o destino de um continente e os sonhos". Na moda, a revolucionária bem-comportada Coco Chanel abriu o espaço para o advento de Mary-Quant em um mundo de biquínis, hot pants e mini-saias, a demonstrarem a rebeldia do novo multirracial, multilateral, multifacetado mundo onde acontece a women´s lib. Desloca-se de Paris para Londres o eixo da moda, ajustando-se agora à contracultura Beat de inspiração existencialista. 1980 foi atribuído a Czeslaw Milosz "que com a condição de intransigente clarividência expõe as vozes dos homens em um mundo de conflitos graves". O fox, as valsas e os boleros cedem espaço, e na música, o rock´n roll do Elvis e as canções dos Beatles têm a mesma correspondência que há entre Coco e Mary Quant – a de fato revolucionária suplanta a que inova sem romper com os padrões estéticos do passado – o mundo tem sede de caminhos nunca trilhados. Elvis tinha um certo quê de cowboy, continuista. 1982 foi atribuído a Gabriel García Márquez "por seus romances e contos, nos quais o fantástico e o real são combinados em um mundo ricamente composto de imaginação, refletindo a vida de um continente e conflitos". Não surge um novo Freud, nem outro Jung, mas Eros e Thanatos interagem e se aproximam à luz do pensamento de Marcuse. Fenômenos de massa voltam a balançar os cânones da História que por seu lado, impassível mantém a posição de desrespeito às fronteiras geográficas. 1985 foi atribuído a Claude Simon ", que em seu romance combina a criatividade do poeta e do pintor com uma consciência mais profunda do tempo na representação da condição humana". O mundo volta a se lembrar de Nietzsche. Kafka metonimicamente metamorfoseia a psique dos mais jovens, Éxupéry reacende a pureza do idealismo dos pequenos príncipes e mostra o que pensa o Rei em Cidadela; 1989 foi atribuído a Camilo José Cela "por uma prosa rica e intensa, que com compaixão contém uma visão desafiadora da vulnerabilidade do homem". Salinger nos dá as malas para sairmos mundo a fora como “apanhadores em campos de centeio”. Cristo e Buda são relembrados, enquanto voam Fernãos Capelos Gaivotas para ensinarem a voar na contra-mão; 1992 foi atribuído a Derek Walcott "por uma obra poética de grande luminosidade, sustentado por uma visão histórica, resultado de um compromisso multicultural". e chegam-nos do Oriente as doses de Nirvana e as mandalas do misticismo necessárias à aceitação dos sarongs, coloridos nos devaneios do LSD. 1994 foi atribuído a Kenzaburo Oe "que com força poética cria um mundo imaginário, onde se condensam a vida e o mito para formar um quadro desconcertante da condição humana de hoje" Nouvelle Vague, e se misturam Candelabros Italianos e Blow-Ups, em “gritos e sussurros”, desbancando Art Nouveau, Bauhauss e cadeiras Thonet, as austríacas de balanço. 1998 foi atribuído a José Saramago "que, com parábolas sustentadas pela compaixão, imaginação e ironia continua nos permite mais uma vez apreender uma realidade indefinível" E Maquiavel, Maquiavel prá quê? eisFluências Agosto 2011 | 11 2004 foi atribuído a Elfriede Jelinek "para seu fluxo musical de vozes e contra-vozes em novelas e peças que com zelo lingüístico extraordinário revelam o absurdo dos clichés da sociedade e seu poder de subjugar". O esclerosado Marx morre só – seus seguidores quiseram o Capitalismo do Estado e levaram um século a perseguirem somente o trânsito das riquezas, esquecendo-se que no reverso da mais valia, prevalecia, mesmo do Estado, ainda o Capitalismo. 2005 foi atribuído a Harold Pinter “que em suas peças revela o precipício sob a conversa fiada cotidiana e as forças de entrada em salas fechadas da opressão”. E surge Morin centrado no homem em busca do sistêmico social nas asas das borboletas do Oriente. 2009 foi atribuído a Herta Müller, “que, com a síntese da poesia e a franqueza da prosa, retrata a paisagem dos despossuídos" E volto ao início, àqueles filmes musicais e àquelas danças perfeitas, de puro entrosamento lúdico, de ritmo, harmonia e movimento, quando até os cabelos dançam e os braços parecem labaredas - o que é lindo sem dar tesão, passa a parecer uma brincadeira. 2010 foi atribuído a Mario Vargas Llosa "por sua cartografia das estruturas de poder e suas imagens vigorosas de resistência do indivíduo, revolta, e derrota. E vamos então ao hip hop, individual e coletivo, aeróbico, sensual ou pegajoso, que também exige preparo e habilidade, que insinua luta e sexualidade, e é como se a explicitação criasse a novidade. *** BEGIN THE BEGINE http://www.youtube.com/watch?v=onIMYEqk-Fk&feature=youtu.be LAUREADOS COM O PRÊMIO NOBEL – LISTA COMPLETA Fonte: http://nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/ NOTA: Embora a idéia na elaboração desse texto tenha sido a de inter-contextualizar, no curto espaço de tempo em que foi redigido, ficou impossível buscar correspondências mais fidedignas entre o meu texto e a obra do premiado. A citação associada aos autores premiados não é interpretação minha, e sim a tradução livre da justificativa para a premiação que consta do arquivo nobelprizes, acima citado. A cronologia é apenas indicativa desde que os aspectos citados se interpenetram no tempo e não se submetem à anualidade. Marco Bastos Salvador/Bahia/Br NOTÍCIA Por Clevane Pessoa Na qualidade de uma das acadêmicas de entidades congregadas à FALASP (*) , Federação das Academias de Letras de S.Paulo, contristada venho registrar a passagem da acadêmica Clarinha Martins Santiago Leite de Moraes. Ver no link abaixo as comunicações do Conde Thiago de Menezes, presidente egrégio da FALASP, sempre afetivo e zeloso de seus acadêmicos, também Presidente da COMTUR de Itapira onde reside, e também residia a falecida, imortal todavia, perene na lembrança dos que a conheceram. A querida confreira foi colunista da Folha de Itapira , sob o pseudônimo de "Soraya" e recebeu, entre outras, a Medalha "Pero Vaz de Caminha" da FALASP. A todos os confrades e confreiras, meu abraço de solidariedade nesse momento de despedida. Mas, conforme sempre digo, não morrem jamais aqueles que são lidos e lembrados. Com pesar, compartilho desse momento, também em nome das entidades às quais pertenço: Clevane Pessoa de Araújo Lopes http://hana-haruko.blogspot.com/2011/06/falasp-de-luto-porclarinha-martins.html Na foto, o Presidente da FALASP, Conde Thiago de Menezes e a estimada Sra.Clarinha Martins Santiago Leite de Moraes, in memoriam Poema a Clarinha Clevane Pessoa Clareará a outra dimensão, essa luz que nos deixa , claríssima fonte de afeto, e tecerá flores de luz, com sorriso estrelado, na espera de cada primavera, a aguardar os outros que um dia chegarão, a reencontrar os que se foram... As moiras, ao cortar com a tesoura de ouro o fio de sua vida, ficaram com as pontas dos dedos douradas, tal sua beleza . Ouviram anjos entoarem a música celeste do acolhimento e então, encerraram a passagem por este planeta de quem agora pisca no firmamento: mais uma estrelinha a nos acenar Poesia. Seus amigos , confrades e confreiras, comentarão suas estórias de vida, ela que faz parte da história de sua cidade , Itapira -e por isso, não morrerá jamais nas lembranças e na Memória 12 | eisFluências Agosto 2011 O SONHO DO JACARÉ por Mário Resende - Cadê Ela? - Sei não, acho que chegou a fera. - Como assim? - Se ela não apareceu até agora é porque está naquele período. Ela só voltará quando ele for embora. - Eu não acredito! Ela pode ficar assim tão indiferente? Afinal, ela é a maior amiga da gente! - Amiga é? Tá me cheirando a dor de cotovelo... Disfarça! Disfarça! Lá vem ela! Lá ri lá lá... – limpando as unhas nas penas - Acho que vai chover... - Não disse que ele tinha chegado? Eu tinha certeza! - Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido. Agora, vamos ter que esperar a maré de calmaria passar. - É, quando ele for embora, volta ansiedade outra vez, ataca a neurose e ela fica toda nervosinha, então a gente faz a festa. É só esperar. - Tem certeza disso? Você confia em quê? Tem gente pra tudo meu filho! Eu não confio em ninguém. Ainda mais em felino, ou felina... - Que nada, você não viu a piscadela que ela deu pra mim? - Ih! Sai pra lá jacaré! Se enxerga! - Pura inveja tua! Do jeito que as coisas andam, se transformam ou evoluem na natureza, tudo pode acontecer. Você nunca ouviu falar em Darwin? Tá precisando se instruir, hein! - Ah! Pesquei! Jacaré apaixonado, né? Onde já se viu isso? Se todos os seus sonhos se realizassem iria nascer um bicho meio esquisito. Onça com cara de jacaré. Ou seria um jacaré com cara de onça? Oncinha com rabo de jacarezinho, jacarezinho com rabinho de oncinha e cheio de manchinhas... É, para um coração apaixonado, quando a prática conflita com a teoria, muda-se a teoria... -E daí? Sonhar não faz mal a ninguém! Tudo pode acontecer. Quem viver verá! A minha maior paixão são aqueles lábios carnudos, que bocão, meu Deus! É o que mais me atrai... - Que lábios que nada, jacaré. Aquilo é beiço mesmo! - Tu és muito despeitada isso sim! Só porque tem esse bico fino? Tá mais é com inveja! - É melhor ouvir isso que ser surda. Bico que te presta. E muito, não é? Seu mal agradecido. Por que você não pede a ela pra vir pra cá te catar? - Ela só não vem porque a natureza dela é outra, o nosso destino não é esse, senão... - Então tá bom. Deixa o gatão dela ir embora lá pras outras paradas que eu quero ver se tu é macho mesmo pra resolver a tua encrenca. - Ah! Deixe-me em paz! Continua limpando as minhas costas, seu passarinho pernudo e despeitado. - Isso é que eu não vou ter nunca mesmo. Du-vi-de-o-dó! Não sou mamífero! Eu vou é embora. Não estou aqui pra aguentar desaforo de mal agradecido. Tchau! - Vai, pode ir, passarinho ignorante. Eu não falei de peito, foi despeito. Quanta burrice! “É por isso que apesar de ser um pássaro bonito e elegante, vai ficar sempre nessa vidinha. Nem aprendeu a cantar, só sabe grasnar. Não vê que quando a gente quer a gente consegue? Temos que ser perseverantes. A natureza sempre dá um jeitinho.” – Pensou enquanto mergulhava fundo no rio pra refrescar as ideias. BOLHAS DE SABÃO IMAGINE Mário Resende Mário Resende Muitas bolhas de sabão eu soprei na sua direção: uma cheia de carinho atingiu os seus cabelos como se fosse a minha mão. Outra era um sorriso carregado de alegria para animar o seu dia. Uma bem sugestiva, armada de sedução, isca do meu desejo, para chamar a sua atenção. Outra nos seus lábios, um beijinho bem roubado. Desfilaram junto ao seu rosto, meus olhos refletidos nos seus, a esperança e suspiros, galanteios, muitos sorrisos, beijos, beijos, beijos doces, coloridos e de todos os tipos, esperando acontecer. Mas aquela especial, carregada de amor, estourou em seu peito, bem pertinho do coração. Imagine se tudo acontecesse assim como é tão fácil imaginar. Imagine se fosse tão fácil esquecer um amor, imaginar que não existiu, que não aconteceu. Imagine se fosse tão fácil apagar como se faz com grafite as marcas que ficam na memória, lembranças felizes. Imagine se fosse tão fácil como os efeitos da magia: a palavra mágica transforma a realidade. Imagine que é tão fácil imaginar e imagine, para o bem viver, muitas outras formas de amar a quem, imagine! Nem imagina viver sem te amar. Site onde publica seus textos: http://www.recantodasletras.com.br/autores/mrrezende Blogs: http://mariorezendemeusescritos.blogspot.com http://mariorezendecontandocasos.blogspot.com/ http://sitedoescritor.ning.com/profile/MarioRezende LIVROS PUBLICADOS: CAUSOS DA BOLEIA – MADIO EDITORIAL – 2010 DIVERSAS ANTOLOGIAS DE CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS Mario Rezende é psicólogo e administrador de empresas. Tem imenso prazer em escrever. As suas emoções, sentimentos e amores, junto com a observação da sociedade e da vida, vão estimulando sua imaginação, fornecendo conteúdo. Com isso, conseguiu diversos prêmios pelos seus textos em prosa e verso. Começou a escrever ainda jovem, numa época em que aconteciam muitos festivais estudantis, a princípio, em forma de letras de músicas, e delas para a poesia e a prosa foi um passo. Nos seus textos, confundem-se a realidade, a fantasia e os desejos em ficção. MEMBRO EFETIVO DA APOLO – ACADEMIA POÇOENSE DE LETRAS E ARTES ACADÊMICO CORRESPONDENTE DA ARTPOP – ACADEMIA DE ARTES DE CABO FRIO ESCRITOR COLABORADOR COM A MINIRREVISTINHA LITERÁRIA CONTANDO E POETIZANDO – ORGANIZADA POR MARCOS TOLEDO eisFluências Agosto 2011 | 13 CORNÉLIO PIRES Humberto Rodrigues Neto Quase todos os Espíritas conhecem Cornélio Pires, tanto por suas obras em prosa como em verso, não havendo, portanto, necessidade de repetir seus dados biográficos. Interessa-nos, sim, conhecer a maneira pela qual se converteu, de contumaz gozador do Espiritismo em um de seus mais ardorosos defensores. Nascido em Tietê-SP em 13-07-1884, veio para São Paulo em 1901, instalando-se na casa de uma bondosa tia, protestante, que o instruiu no Evangelho, no qual viu contradições nas palavras de Jesus, quando este dizia que não viera mudar a lei, e depois perdoara a mulher adúltera quando a lei mandava apedrejá-la. Notou que Deus dava preferências a uns e sacrificava a outros; um Deus que, sendo amor e bondade, criava entes fracos para depois enviá-los ao fogo eterno, a minar-lhe a crença na veracidade das Escrituras. Certa vez, viajando de carro, saiu de Caxambu e foi a Lambari, onde seu motorista o avisa de que usara, sem perceber, a chave-reserva do carro, pois talvez tivesse esquecido a bolsinha das chaves do estepe, portas e contato em Caxambu. Caso um pneu furasse, não teriam como usar o estepe. Voltam a Caxambu e como não a encontram, Cornélio escreve para a “Cássio Muniz”, Um grande magazine de São Paulo na época, pedindo lhe remetam novas chaves para Poços de Caldas, mas ali chegam e nada de chaves. Escreve, sucessivamente, novas cartas pedindo a remessa das chaves para as cidades seguintes, como Poços de Caldas, São João da Boa Vista (onde mandou lavar o carro e os tapetes), São Carlos, Novo Horizonte e Valparaíso. E nada das chaves! Todavia, em Pirajuí, ao retornarem do almoço para o auto, deparam com a bolsinha das chaves sobre o tapete do motorista, não obstante o carro e os tapetes terem sido lavados dias antes sem que os lavadores a tivessem visto! “Aqui tem coisa”... - pensou Cornélio Pires, desconfiado. Quando seguiam para Lindóia e Serra Negra, ao entrarem numa farmácia na qual o escritor precisava tomar uma injeção de “Eparseno”, o farmacêutico entorta três agulhas sem conseguir introduzi-las no músculo, o que faz Cornélio desistir e dizer, intrigado: “Aqui tem coisa”... Em São Carlos, visita o amigo Lobo, que o apresenta a Alfredo, seu cozinheiro, afiançando-lhe tratar-se de um grande médium sonâmbulo. Cornélio, então, segreda-lhe em tom de troça: “Cuidado, que o Juqueri está lotado...”. De inopino, o médium entra em transe, dizendo: “Meu amigo: fez muito bem em não tomar a injeção: aquilo era arsênico e o seu fígado está em péssimo estado”, o que o deixa de novo empertigado, pois nem ao Lobo contara o caso da injeção. Lembrou-se, então, que logo depois de ter conhecido o médium, encontrara as chaves perdidas, o que o deixara a matutar! Em Novo Horizonte, ao pedir ao motorista que lhe tire uma foto, esta expõe, ao ser revelada, uma barata enorme, do tamanho do seu rosto, sobre a cabeça! “Aqui tem coisa, “seo” Zé...” – diz ao motorista. Ao contar o fato no hotel, já em Ponta Grossa, um senhor lhe pediu para ver a foto e, concentrado nela, diz: “É uma troça inocente...”. Ao perceber tratar-se de um médium, pede-lhe para escrever a frase no verso da foto, com o que ele concorda, anotando: “É uma troça inocente – Emílio”. Aturdido, pergunta ao homem se tratar-se-ia de Emílio de Menezes (um dos maiores sátiros da poesia brasileira) – “Sim, sou quem estás pensando” – respondeu o espírito pela voz do médium. Regressando a Curitiba, eis que recebe no hotel, por outro médium, um bilhete escrito de trás para diante, no qual, depois de colocado frente a um espelho, lê: “Amigo Cornélio – Abraços, e não beijos; eu não te beijaria nem por um conto de réis – Emílio”. Ao conferir as assinaturas, eram perfeitamente iguais. Por essa altura recebe, também, mensagens de Bezerra de Menezes. Não mais alimenta dúvidas: passa a comprar e a ler avidamente inúmeros livros espíritas, inclusive de renomados autores estrangeiros, como Bozzano, Dennis, Flammarion, Lodge, Zolner, De Rochas, Crookes, Dellane e muitos outros, rendendo-se, definitivamente, às verdades da doutrina e passando a divulgá-las até o momento da sua morte, ocorrida em São Paulo em 17-02-58. O que nos parece revoltante é que os biógrafos, ao descreverem a vida de vultos famosos, torcem o nariz diante de fatos verídicos relacionados a atividades espíritas por eles desenvolvidas, omitindo-os deliberada e criminosamente, no vesgo raciocínio de que tal tipo de divulgação pudesse empanar-lhes a fama, como assevera Jorge Rizzini em seu belo livro “Escritores e Fantasmas”, editado em 2a. edição pela Editora Espírita Correio Fraterno do ABC”, cuja leitura recomendamos a todos os Espíritas sérios. PAIS DE VERDADE QUEM SABE? Humberto Rodrigues Neto Humberto Rodrigues Neto Tem, toda mãe, aquela devoção de dar aos filhos alegria e gozo, mas cumpre bem melhor a árdua missão se tem a ajuda de um ativo esposo. ”Elias já veio - eis o que disse o Cristo – e se hoje o guardam as funéreas loisas, há de voltar conforme está previsto pra restabelecer todas as coisas”! E é tão gostoso aos seus rebentos, quando notam do pai os gestos prestimosos, nos trabalhos da mãe cooperando, mormente nos que são mais trabalhosos. Contudo, dois milênios são passados depois que o Mestre fez tal predição; contesta-se o teor de tais recados, supondo-os faltos de confirmação. Se a mãe adoece e falta-lhe a energia, tal pai não foge à colaboração: pega a vassoura, vai ao tanque e à pia, e se preciso encara até o fogão. Quem teria sido, pois, o Elias novo que viria dar-nos outra ideologia, legando às crenças magistral renovo, imune aos erros da mitologia? E quanta vez, numa fatalidade, nossa mãezinha para o além se vai; é quando Deus, num rasgo de bondade, nos troca o amor da mãe pelo do pai! Negar tal profecia a mim não cabe, mas ante a sábia frase do Messias tudo me inclina a cogitar... Quem sabe, não foi Kardec aquele antigo Elias? São Paulo/BR São Paulo/BR "A vida só pode ser entendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para frente. " (S. Kierkegaard, filósofo e teólogo dinamarquês) 14 | eisFluências Agosto 2011 Acontecimientos culturales Úbeda y Baeza en las Fiestas del Renacimiento 2011 María Sánchez Fernández El día 3 de abril del año 2003 fueron declaradas por la UNESCO Patrimonio de la Humanidad .las Ciudades Renacentistas de Úbeda y Baeza – ESPAÑA Desde ese año y en conmemoración del importante evento, se celebran en ambas ciudades hermanas en los primeros días del mes julio las Fiestas del Renacimiento. Me centraré en Úbeda, ciudad en la que resido y en donde en esos días vivo plenamente en sus calles y plazas el ambiente festivo y colorista de otra época. Esta Úbeda callada, dorada y monumental; “La Ciudad del Renacimiento que mira al Sur”, ha retornado en la primera semana del mes de julio al siglo XVI. Úbeda ha despertado de un letargo de quinientos años y se ha visto viva, palpitante, y ha vuelto a ser aquella hermosa dama noble y alegre que se engalanaba con el manto multicolor de juglares y danzantes; de músicos y poetas; de malabaristas y múltiples “celestinas” que con sus trajes negros, lengua afilada y ademanes obscenos hacían los regocijos de viejos y jóvenes; de cetreros con magníficos ejemplares de presa; de vendedores que exponían en sus tenderetes entoldados y ofrecían las más variadas mercaderías de las tres culturas que en ella se asentaban. La ciudad en estos días ha sido un mosaico multicolor, donde en las calles, ondeaban al aire, como pájaros al vuelo, banderolas rojas y gualda; donde el asfalto se alfombraba de paja dorada y hierba fresca; donde todas sus gentes han vivido un auténtico espíritu de fiesta y han colaborado sin complejos en vestir los ropajes engolados sin importarle el calor de julio. Las Plazas de Vázquez de Molina, Primero de Mayo y calles adyacentes se diría que esperaban, por segunda vez, al mismo Emperador Carlos V acompañado de su Secretario de Estado Don Francisco de los Cobos, el cual habitualmente residía en Úbeda por ser hijo de esta ciudad. Majestuosas danzas acompañadas de tamboriles, dulzainas y laúdes adornaban la noche, bajo la mirada complaciente de múltiples atlantes, severos escoltas del Palacio de las Cadenas. La polifonía brillaba con todo su esplendor. En el gran patio del Palacio Juan Vázquez de Molina un grupo de voces maravillosas acompañadas por varios instrumentistas y danzarines cantaban a los grandes músicos y poetas de la época: Juan del Encina, Orlando di Lasso, Alfonso VIII (que conquistó la ciudad), Cancionero de Upsala y otros muchos que mi memoria no abarca. Y al final, al mismo pié de la Sacra Capilla de El Salvador, la gran cena medieval celebrada al aire libre y ambientada por músicos y cantores y también, hay que decirlo, por unas campanitas que dulcemente se unían a la fiesta. Eran las campanas de los Padres Carmelitas que llamaban a maitines, allí, muy cerca, como llaman jubilosas en todas las albas de todos los días. Allí, en ese mismo lugar maravilloso donde nuestro gran poeta, Juan de la Cruz, Patrón Universal de la Poesía en Lengua Castellana, tuvo a bien ir a cantarlos donde la Poesía es eterna. Fue en aquella madrugada del 14 de diciembre de 1591. Y Úbeda, pasados estos tres días, despierta de su sueño de siglos para vivir su vida sosegada en nuestros días presentes, para en los atardeceres, dejarse mirar coquetamente en sus piedras labradas y doradas de sol; para abrir con generosidad su gran alma de eterna poeta que por siempre canta, danza y declama. Tomaré prestados unos versos de San Juan de la Cruz, extraídos de su Cántico Espiritual, para decir a todo el mundo que Úbeda es: “la música callada / la soledad sonora / la cena que recrea y enamora” María Sánchez Fernández Úbeda – España - 8 de Julio de 2011 Nasceste no lar que precisavas, vestiste o corpo físico que merecias, moras onde melhor Deus te proporcionou, de acordo com teu adiantamento. Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades, nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para a tua realização. Teus parentes, amigos são as almas que atraíste, com tua própria afinidade. Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle. Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas tudo aquilo que te rodeia a existência. Teus pensamentos e vontade são a chave de teus atos e atitudes... São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivencial. Não reclames nem te faças de vítima. Antes de tudo, analisa e observa. A mudança está em tuas mãos. Reprograma tua meta, busca o bem e viverás melhor. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim. Francisco do Espírito Santo Neto (ditado por Hammed) In: Um Modo de Entender: Uma Nova Forma de Viver Editora Boa Nova http://www.rosangelaliberti.recantodasletras.com.br/blog.php?idb=8977 eisFluências Agosto 2011 | 15 Comunidade Terapêutica São Francisco de Assis Carlos Lúcio Gontijo No dia primeiro de julho deste ano de 2011, no município de Santo Antônio do Monte, no Centro-Oeste de Minas Gerais, estivemos na Comunidade Terapêutica São Francisco, reverenciado santo da Igreja Católica, que teve o filosófico verso de sua oração (“é dando que se recebe”) transgredido e desrespeitado pela classe política, que o rebaixou a sinônimo de corrupção e troca de favores ilícitos na fonte e, mais tarde, criminosos, pois retiram verbas de setores importantes, entre eles a saúde pública, onde o atendimento precário é responsável pela morte de muitos brasileiros. Contudo, na comunidade em questão, São Francisco de Assis se vê realmente homenageado (e reabilitado), uma vez que ali se presta valioso trabalho cristão de acolhimento aos que buscam tratamento para o vício do consumo de drogas e álcool, que tanto mal têm levado às famílias brasileiras, que assistem à corrosão de seus pilares toda vez que um de seus membros é seduzido pelos agentes do mundo do tráfico. Imbuída de sensibilidade e compromisso social, Maria Ortélia de Castro Melo, professora, escritora e ativista cultural, tomou a iniciativa de elaborar uma versão bem humorada da história infantil “Branca de Neve e os Sete Anões”, que foi encenada com brilhantismo pelos internos em processo de erradicação do vício que os atormenta, demonstrando claramente a importância do acesso democratizado às artes como mecanismo capaz de tanto auxiliar no tratamento dos dependentes químicos quanto servir de barreira à materialização de tal infortúnio, que se transformou em problema da sociedade como um todo. Tivemos o prazer de rever o ex-prefeito da cidade de Santo Antônio do Monte, Getúlio Batista de Oliveira, que no ano de 1977, nos outorgou diploma de honra ao mérito, sob proposição de então vereador José Magela Couto. Naquele momento, fizemos a absoluta questão de cumprimentá-lo por patrocinar tão auspiciosa obra de caráter social e cristão, em época que a droga invade praticamente todos os setores e atividades da sociedade brasileira, colocando-nos próximos à efetivação de um estado embebido no aniquilador domínio do narcotráfico, jogando a república nos braços da narcocracia. Getúlio Batista, não tem mais qualquer ambição política, mas se nos apresenta sob o pleno exercício do inalienável mandato de cidadão que se sente responsável pelo destino das pessoas. Ou seja, ele nos passa a visão fraterna de que não é necessário mandato político para o incremento de ações no campo da prática do amor ao próximo, do qual tanto carece a nossa malcuidada lavoura social. Ao me deparar com Getúlio Batista de Oliveira espargindo contentamento, pelo sucesso da obra comunitária fundada e presidida por ele, remontei-me a políticos que jamais largam o osso da disputa por mandatos, ainda que em idade avançada, como se a única maneira de eles servirem à sociedade fosse postar debaixo do braço algum diploma político, como aconteceu recentemente com o expresidente Itamar Franco, que aos 80 anos concorreu (e venceu) a uma cadeira de senador por oito anos, para alegria do suplente, José Perrela, que agora foi premiado com a sua morte, ganhando (de mão-beijada) sete anos e meio de mandato. Getúlio Batista, com sua capacidade empreendedora, e Maria Ortélia (a Telinha), com seu talento artístico-literário, nos passaram naquele primeiro de julho a suprema e cristã lição de responsabilidade social, enquanto aos internos em tratamento São Francisco de Assis derramava a divina força do livre arbítrio, concedendo-lhes a graça da indispensável consciência de que “o recomeço acontece no horizonte do querer”. Carlos Lúcio Gontijo Poeta, escritor e jornalista www.carlosluciogontijo.jor.br AFAGO MÁGICO CORRENTES Carlos Lúcio Gontijo Carlos Lúcico Gontijo O orvalho é o pranto da noite Que as flores afagam na escuridão E que se transforma em gotas coloridas Aos primeiros raios de vida das manhãs Feito samambaia na fresta dos rochedos Sem medo cresce-nos a festa da paixão O horizonte do coração fronteiras não tem Pingando mel, abertos em açucarado cio Não nos importa o pavio curto dos mercados Pois, divinamente, os amantes e os rios Serpenteantes no macio de seus leitos Seguem alvadios e livres entre correntes... Venha então meu melaço de amor Pedaço sem dor de minha alma Eclipse meu coração com o seu Sua mão deslize em meu corpo Preciso do conforto de seu toque Encontrar-me em paz e são Feito nação no riso de sua gente. LEITE E LUA Carlos Lúcio Gontijo Sem os cantos que cantava Sem os risos que sorria Sem a mulher que amava Aceito ficar... Sem o caminho que antes ia Sem as esperas que esperava Sem cama, sem ama Posso ficar... Sem gente na rua Sem luta, sem liberdade Sem leite, sem lua Pra que sociedade? (Poema publicado em 1977, no livro LEITE E LUA) PRIVILÉGIO Carlos Lúcio Gontijo Esperando pelo dom sensível do dividir Os arrozais se doam ao brotar e reflorir Mas por alguma anomalia congênita Uma vez na bacia o grão de arroz O homem que pôs à frente sua ganância Exibindo uma arrogância que a tudo consome Escolhe os que comem e os que de fome morrem Colhe na divina natureza a matéria-prima do privilégio E a gente faz oração clamando por Deus (Como inocentes meninos em aula de religião em colégio) Sem entender que o Criador não nos conduz Pois deixou em nossas próprias mãos O livre-arbítrio de acender ou apagar a luz! (Do romance O CONTADOR DE FORMIGAS - 1988/1999 - 1ª e 2ª edições) www.carlosluciogontijo.jor.br 16 | eisFluências Agosto 2011 Pedra de baritina* Por Abilio Pacheco Meu contato com a literatura desde que cheguei a Belém passou a ser também o contato (mais frequente) com pessoas relacionadas com a literatura. Antes parecia-me algo bem distante, muito distante. O contato com a literatura era mais com o texto, e a biografia dos autores falava de gente inacessível. Nunca me imaginei perto de algum deles. Em Belém, foi-me possível conhecer pessoalmente Milton Hatoum, Benedito Monteiro, Ariano Suassuna, por exemplo. Poderia falar do contato com algum destes. Faço isso em outra oportunidade, pois hoje sinto-me com o desejo de falar sobre Fernando Pessoa. Não sobre ele, mas como cheguei até ele. Não através de seus textos, mas como cheguei perto dele como Werther se aproximou de Carlota (segundo descreve na carta 18 de julho): estando perto de alguém que esteve com sua amada. Eu morava no edifício Nuno Álvares e sentia-me ainda muito à vontade em Belém. Zero por cento conhecido, eu poderia não me preocupar com detalhes de vestuário. Daí que eu vestia qualquer camisa para ir comprar pão. Meio sonado, entrei no elevador e um senhor que lá estava perguntou-me se eu gostava de literatura. É claro que gosto: veias, músculos, carne e pele. A ele disse apenas que sim, não me ocorria o porquê da pergunta. A resposta saiu automática como se de madrugada perguntassem-me quanto é dois-mais-dois. O senhor emendou perguntando se eu gostava de Fernando Pessoa. Ora como não? Ainda meio letargo disse que sim e chofrei-lhe um por quê? Eu estava usando uma camisa que a turma de letras 99 da UFPa-Marabá havia feito para um evento sobre o autor (Café com Pessoa). Aquela conhecida caricatura feita por Almada Negreiros. O elevador descia lento e rangendo, abriu uma ou outra vez e não sei que pergunta mais ele me faria para que eu saísse do sonambulamento. Saí, súbito, como se me abrisse a máquina do mundo. Ele apontou a caricatura na minha camisa e, com a voz leve de português, timbrada por certa serenidade, disse: Conheci-o quando eu tinha nove. Despertei-me de vez. Mas como se de repente à luz, custei-me a desanuviar. Dei-lhe atenção deveras, mas o tempo até chegar o solo era insuficiente para o que o evento merecia e certamente não consigo lembrar-me de tudo que ele me disse palavra por palavra. É certo que me contou como conheceu o vate protuguês, em que praça de Lisboa estava... logo saltou para o fato de não trabalhar com literatura, mas gostar de ler. Emendou falando de sua profissão mais pragmática que deleitosa. Tive uma ideia e uma ação, quase epifânica. Disse-lhe meu nome, perguntei o seu e apertei-lhe a mão. Era uma atitude premeditada. Deixei que falasse mais e mais, sem eu me descurar do planejado. Quando chegamos ao térreo perguntei-lhe se ao falar com o poeta ele o havia apertado a mão. Deliciei-me com o sim. Comemorei por dentro como se fizesse um gol inesperado. Dali para frente aquele senhor passou a ser minha pedra de Bolonha. Eu havia pego na mão de alguém que apertou a mão de Fernando Pessoa. * “Deste o século XVII se dá o nome de Pedra de Bolonha ao espato de baritina, o mais importante dos derivados do Bário. A baritina foi elaborada pelo sapateiro bolonhês Vicente Casciorolus que, ao calcinar uma mescla pulverulenta do mineral, mais carvão e verniz, obteve uma massa fosforescente logo depois chamada de lápis salários. Anos mais tarde, o nome foi trocado para pedra luminosa de Bolonha.” (Extraído de [http://mundo-nosso.blogspot.com/2008/01/mensagem-de-ano-novo-2.html] Abilio Pacheco, professor, escritor http://www.abiliopacheco.com.br/ MEDO DO ESTRANHO PROCURA Danilo Asp Abilio Pacheco Garanto que agora, depois que joguei Verde pra colher maduro. Ela deve estar num conflito, num dilema: entre o medo e o desejo -o medo de se entregar a um estranhopode ser que seja um psicopata ou um assassino ou talvez um estrupador ou simplesmente um covarde cretino Porém, o desejo é mais forte a ânsia, a calcinha molhada... Imaginando, querendo... O medo, ao final, aumenta ainda mais seu desejo. O perigo lhe excita Pode estar confusa, mas a vontade lhe anima, a faz querer se entregar e satisfazer Esse desejo louco, instalado na mente e no corpo: a pele que se arrepia e a mente que fantasia. Entre os silêncios noturnos, grito-me o teu nome que mal vaga em vão pelas paredes de mim; pois tantas são as vozes, entrecortadas, entrecruzadas, vozes às vezes babélicas, buzinas, apitos e roncos, miados, latidos e urros, todas vivendo em mim, que o meu grito se perde pelas frestas da porta rompe a rua silente e desperta os olhos de mim. Apesar de tudo, seguem-se os preparativos. E o vento lá fora, continua soprando, enquanto nós, aqui e acolá aguardamos um desfecho... Danilo Asp (Bragança-Pa) (Divulgação de Abilio Pacheco) ELEGIA DA NOITE Abilio Pacheco Entre penumbras e sombras sobras e restos de cores de luzes ausentes... abertas asas de ave em secreto luar de estrelas : vives! Entre orvalhos de aurora cantares de galos e galos em matinais cores... claros horizontes abertos estrelas falecidas : morres! (In Mosaico Primevo/2008) eisFluências Agosto 2011 | 17 A Solidão é Comunista Rosa Pena Acordou com o barulho das crianças no andar de cima. Não precisou se levantar, pois nada a esperava. Aposentou-se do trabalho há dez anos e da vida há quatro. Era tão cedo que o porteiro ainda não havia colocado o jornal em sua porta. O Activia também não apresentava seus efeitos. Hoje é segunda-feira? Voltou a pensar nos direitos humanos e as proteções legais a eles. Concordava plenamente. Um absurdo a homofobia, o bullying, qualquer forma de racismo, o desrespeito aos deficientes físicos. Mas cadê a lei que proíbe a solidão? Aquela que estupra, tortura, discrimina, isola o coração? Essa maldita que o Criador deixou de mimo para todos sem distinção. Terça? Ah! Dirá alguém... Existem os “Eikes Batistas”, que possuem carros fabulosos, aviões, filhos, barcos, restaurantes, mil amigos, mulheres do estilo Martinho da Vila ("Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores...”) tudo na proporção de suas contas bancárias, que não sofrem desse mal. Como não? Vivem de trocas, na eterna busca do poder. Para preencher o quê? Diga, se for capaz, que não é o vazio existencial. O ditadinho de merda, “que dinheiro não traz felicidade” até que é um pouquinho verdadeiro, pois a grana compra e suborna tudo, exceto a solidão. Essa filha da puta é honesta, honestíssima, não aceita propina de ninguém e trata todos da mesma forma. Ela é marxista, maltrata democraticamente. Quarta? Seu João é “pobre pobre pobre de marré marré deci". Mora no morro, teve um bocado de parceiras, quinze filhos, e hoje só com muita cachaça, suporta a vida. Dr. Marcelo, classe média alta, um Peugeot novo, AP próprio, divorciado duas vezes, casado atualmente com uma de suas peguetes, afirma no bar de todos, que sua melhor companhia é o Rivotril. Joana é riquinha. Reside no Leblon, já fez bodas de tudo, ta quase na de ouro. A filha concluiu o mestrado na PUC, virou uma executiva, casou com um reizinho e... Joana vai a Europa compulsivamente todos os anos e faz análise esses anos todos. Adora uma bolsa Gucci com uma caixa de Frontal dentro. Quinta? O pior é que a solidão, protagonista dessas malfadadas linhas, não ataca só a galera da "Feliz idade" como pode parecer nas entrelinhas. Aliás, quem inventou essa da idade foi a turma que adora auto-ajuda (vendem livros adoidado, logo foram ajudados). Eles afirmam que a vida vive de altos e baixos (a idade do salto oito e do Usaflex?), mas só na juventude. Com a idade chegam as realizações... e a artrose. Sexta? Desde que nascemos padecemos da safada. O recém-nascido nasce aos berros porque sai da proteção materna. O adolescente se isola (se sente incompreendido por todos). E o adulto (tão esperto) corre atrás de algo o tempo inteiro. Quando acha fica sem ter o que fazer (perdeu o objetivo) e quando não encontra fica frustrado. Socorro! Por que, insensata mulher, querer uma passeata contra a solidão? Reuniria mais gente do que Woodstock, mas ela permaneceria intacta com seus poderes de sacanear os humanos. Sábado? Activia começou a fazer efeito e o jornal chegou. Definitivamente não há mais tempo a perder com o halloween que festeja indevidamente seu dia em mentes vazias. O melhor é soltar as bruxas junto com o fettuccine da véspera, puxar a válvula e assistir o louro José. Mas hoje é domingo... Ou não? Restou a opção de pensar na frase de Carlos Néri, um dos discípulos da Pollyanna, a rainha da resignação. “Lembre-se que os sonhos sempre serão a melhor companhia do humano”. Daí você não entra pelo cano. Hahai (Sílvio Santos vem ai?) virou uma rima, mas não uma solução, não é mestre Drummond? A pedra continuará eternamente no caminho. Para que tanta preocupação com o calendário se os dias são absolutamente iguais? _____________________________ Rosa Pena http://www.rosapena.com/ VERSO MUDA Elane Tomish Elane Tomich O interessante deste verso é que posso não fazê-lo e ainda que o faça foge do meu espírito o gestual implícito de erguer a escrita ou a taça em supremacia de zelo.. O rímel escorre em meu rosto a manchar de cinza o silêncio lágrima sem soluço. Teu amor do lado oposto ao meu, ninho de agosto, de alegria, colorida Fujo de um aconchego imenso sonho e me engasgo de bruços ilusão de maquiagem intensa onde a vida nem é vida O interessante deste imerso é que em leveza se desfaça a ligeireza da farsa do volteio que me abraça e que se atraia o disperso em mim, centro do prelo desse dizer nu em pelo. Elane Tomish - (Mineira, de Belo Horizonte, morando atualmente em Teófilo Otoni, nordeste de Mg. Três filhos adultos, ex- professora de psicologia. (Divulgação de Rosa Pena) 18 | eisFluências Agosto 2011 A VOZ DOS POETAS PORTUGAL/BRASIL AMANHÃ SOMENTE A VOZ DE DEUS Alfredo dos Santos Mendes Raymundo Salles Brasil Jamais posso esquecer que sou matéria. Que pertenço a um reino zoológico. Que transporto um relógio biológico, Que marca minha hora em cada artéria! Na calada da noite eu caminhava, E nada ouvia, simplesmente nada, Um silêncio de túmulos reinava, Reinava a paz em cada sombra, em cada Que não possuo em mim, virtude etérea. Que sou por condição ser cronológico. E como tal, meu fim será o lógico. Retornarei a pó, em paz funérea. Pincelada de luz que a lua dava Eu via a mão de Deus, iluminada, Segurando o pincel – e eu me encantava! Eu me senti com Deus naquela estrada. Como um arado o tempo vai rasgando, As rugas que no rosto vão ficando, Emolduradas de modestas cãs. Estava a lua iluminando tudo Do espaço sideral, linda e prateada, Realçando o silêncio, sobretudo. Meu corpo que já fora escultural, É como uma ribeira sem caudal... Um rio onde se cruzam amanhãs! Era uma noite de verão nos céus! Vez em quando soprava uma lufada, Trazendo ao meu ouvido a voz de Deus. (Lagos, Portugal) (Salvador/BR) QUEM SOU CONSTATAÇÃO Rui Pais Clóvis Campêlo Sou um ser diferente na sua curiosidade Com uma paixão desmesurada pelo ambiente Onde há inocência existe grande fragilidade Já trazia a natureza no meu ser consciente! Pra sempre ser "gauche" na vida não me foi por um anjo dito, foi minha opção escolhida, foi o meu destino bendito. Sou uma criatura em busca do conhecimento A minha direcção exige firmeza e confiança Onde ascendo através do desenvolvimento Banindo aos poucos a minha insegurança. Desfolhar sempre a realidade como quem procura na essência a busca de toda a verdade, verdade de toda existência. Cheguei aqui como todos, um ser pacífico Desejo o equilíbrio onde impere o bom senso A metamorfose merece um estudo científico Minha mente acredita no mundo do consenso! No entanto, resistia o mundo a este sincero e profundo desejo de o ver transformado. Cada ser é uma pequena parcela da verdade Traz dentro de si extensos e exóticos pomares Traços genuínos identificam a sua personalidade O Sol é a Luz da Vida acima da terra e dos mares! E embora guerreiro na luta investisse com força bruta, eu é que fui sendo mudado. (Recife/BR) http://cloviscampelo.blogspot.com/ (Estoril/Portugal) http://pensamentospoesiaemanuel.blogspot.com/ NOTÍCIA Faleceu no dia 12 de Julho a Drª Celeste Manzini, Directora Artística do Movimento Poético Nacional em São Paulo/Brasil. Natural de Vila Real em Trás-os-Montes, Portugal, era cantora lírica e cantou a última vez em Abril, em dupla com o Cantor Arlindo Guariglia, e em Maio na festa do Dia das Mães e da Canção Portuguesa ela só declamou. No acto fúnebre e ao fechar do caixão os cantores do Movimento Poético Nacional cantaram a Ave Maria e na missa de 7º dia, na Basilica de Santa Ifigênia, 7 cantores cantaram as ave-marias e outras músicas, sacras. A revista eisFluências apresenta ao Movimento Poético Nacional e ao seu esposo Dr. Adriano da Costa Filho o seu profundo pesar por tão grande perda Em nome da revista eisFluências Victor Jerónimo Director eisFluências Agosto 2011 | 19 O HOMEM E A FLOR DO IPÊ AMARELO Luiz Poeta ( Luiz Gilberto de Barros ) – às 18 h e 52 min do dia 22 de julho de 2011 do Rio de Janeiro, especialmente para a revista eisFluências. O modestíssimo homem caminhava pela cidade, levando uma flor... pela mão. Não era uma flor qualquer...era uma flor de ipê amarelo, que o acompanhava e ria para o pudico sorriso de uma pessoa apenas preocupada em misturar fantasias com reflexões. Seguindo cada passo que ambos davam, os passarinhos pulavam de galho em galho, de fio em fio, entoando cantos que contrastavam com os rumores metropolitanos. E para completar sinestesias paralelas, borboletas multicoloridas emolduravam aquele momento único, desfilando vangogues dentro dos olhos da flor e dos sonhos do homem. Os indivíduos que estavam em frente à banca de jornais situada no coração da praça, ou que tomavam suas bebidas matinais, olecraniados nos balcões das padarias e bares, e que taquicardiavam conversas ruidosamente gesticuladas, os condutores dos ônibus lotados de pressas e reclamações, os motoristas de veículos particulares transitando confortos de pendrives plugando canções sonolentas, e todos quantos ali estavam, celebrando a fisiologia da vida, pararam para olhar a inusitada imagem daquele homem simplório conduzindo uma magnífica flor de ipê amarelo... pela mão. Não se sabia definir quem era mais louco: o homem com a flor, a flor com o homem, o padre que se benzera, o ciclista que caíra sobre uma freira orando, ao celular, o bêbado que raciocinara, o policial que se auto-algemara, a vocalize que silenciara, o capitalista que se engravatara a um filósofo da plebe rude, espremidos, todos, unissonamente boquiabrindo sussurros, estarrecidos diante daquela inefável cena que se movimentava na ternura ótica dos que ainda sonambulam lirismos diurnos, observando algum resquício de poesia nos jardins de uma praça espremida entre sombras arquitetônicas que se esgueiram de prédios absurdamente monumentais. O homem era pequenino, esquálido, compulsivamente feliz, gengivando sorrisos no espasmo das mais tenras e ternas alegrias... a sedutora flor apenas dourava o ambiente, despetalando taciturnas seduções, e distraindo-se com a simpaticíssima e bucólica solidão humana que tornava aquele cidadão, mais que gente, uma outra alma... de flor. Súbita, abrupta e repentinamente, como consequência daquele êxtase coletivo de olhares perdidos, mirando um simples homem e uma flor humanizada, inúmeras freadas sonorizaram pequenas tragédias metropolitanas: colisões traseiras e dianteiras... sons de buzinas, sirenes, motores, berros, agressões verbais vocativando pornofonias... viaturas policiais ecoando advertências, ambulâncias escavando estrias territoriais no trânsito congestionado que estuprava calmarias... todos se modificaram, tornando-se descontroladamente irritados, desvairadamente estressados... mas todos sabiam quem eram os culpados ! O homem e a flor de ipê amarelo ! E era preciso puni-los, madalenizá-los, agredi-los, linchá-los... matá-los ! Exterminá-los da agitação das calçadas impregnadas de fumaça e odores peculiarmente urbanos... Os grupos foram se avolumando, organizando-se numa trôpega multidão entorpecida pela sede de vingança e que, a exemplo de alguns vermes que se deglutem, transformava-se em uma massa disforme de humanidade e densa de vorazes ameaças. O descontrole era geral. Gritarias, buzinas, sirenes e roncos de motores tornavam-se mais estridentes ainda... decibéis estupravam silêncios. Todos empurravam-se, xingavam-se, agrediam-se física, psicológica e instintivamente... Num átimo, tiros no ar, gente correndo, gritando, pisoteando-se, cachorros latindo, estridências, confusão e um súbito... silêncio . Bebadamente gradativa, a calma tornou-se sonolenta e suprimiu cada eco que ainda pairava no ar, transformando-se numa paz profundamente metafísica... findos todos os ruídos humanos, mecânicos, instintivos ou fisiológicos, cada olhar voltou-se definitivo, para uma inevitável direção. Nela, o homem e a flor pareciam sublimar a leveza das suas derradeiras passadas, tornando inefáveis aqueles líricos minutos de um passeio eternizado em cada retina perdida em trôpegas abstrações transcendentais. Numa última, inequívoca e sublime troca de olhares, suas atitudes não careciam de palavras. Ele deitou-se num banco de concreto, suspirou seu último sorriso e adormeceu, polinizando eternos devaneios. Seus olhos nebulosamente azuis desmaiaram sobre a mansidão amarela de uma flor de ipê... Delicadamente, uma tênue brisa acariciou, uma a uma, todas as pétalas que bailaram no ar, polinizando, com afetuosa generosidade, o encantamento dos velhinhos que ainda sonham, a lúdica abstração das crianças que não conhecem o pecado e sobrenatural pureza dos poetas que ainda voam, como pétalas... de ipês... amarelos. _________________________ Rio de Janeiro/Br http://www.luizpoeta.com/ NO ÂMAGO DA MINHA FANTASIA O OUTRO LADO DO DESEJO Luiz Poeta (Luiz Gilberto de Barros às 9h e 29 min do dia 21 de julho de 2011 do Rio de Janeiro – Dia do meu aniversário) Luiz Poeta Um dia eu te olhei, nem percebi O teu olhar no meu...estava absorto Na essência que tu tens, e me senti Um náufrago buscando o próprio porto. Um dia, me afoguei, senti-me morto Num mar de sedução, mas me afogando, No abismo do teu ser, o meu conforto Foi ver que ia morrer, porém te amando. Agora, te sonhei, só sonho quando Meu coração desmaia e silencia, Mas sente o teu coração pulsando No âmago da minha fantasia. Na arte de lembrar com mais ternura Teus olhos que um dia foram meus, O meu olhar se perde e em vão, procura Amar a solidão dos olhos teus. Luiz Gilberto de Barros (às 23 h e 21 min do dia 22 de julho de 2011 do Rio de Janeiro, para a revista eisFluências) A alma sente muito do que alguém note, Há sempre um mote abrindo a porta da poesia; Ninguém permite ao sofrimento que desbote A tinta forte que alimenta a fantasia. Há muita sede e pouca gente indo ao pote, Cada recorte necessita da fatia Que sempre falta, mas se a cobra dá o bote, É no decote que repousa a ousadia. E nessa ânsia de mostrar o outro lado, Quando o recado do desejo é sedutor, É no olhar provocador e apaixonado, Que o outro lado do desejo mostra amor. http://www.luizpoeta.com/ 20 | eisFluências Agosto 2011 A BÍBLIA E O CLIMA ORGANIZACIONAL Faustino Vicente Solicitados, numa de nossas palestras, a sugerir a leitura de um livro especial na abordagem de conceitos e práticas sobre clima organizacional, indicamos a Bíblia - o que causou uma certa estranheza - pela equivocada percepção da abrangência, e da profundidade, desse best-seller cristão - um legitimo manual de qualidade da vida. Visão, missão, valores, princípios, normas de procedimento e metas, elementos que ganharam status organizacional no século XX, constam nas Escrituras de forma explícita. Uma das primeiras referências encontra-se na construção da Arca de Noé. A ordem de serviço veio com todas as especificações técnicas: "Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento; de cinqüenta, largura; e a altura, de trinta. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de altura; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca:um em baixo, um segundo e um terceiro" (Gênesis 6: 14 a 16). Hoje, produtos e serviços são desenvolvidos obedecendo normas técnicas internacionais, cujos certificados são verdadeiros passaportes para a inserção das empresas nos negócios globalizados. Entre as habilidades gerenciais de Noé destaca-se a sua capacidade de planejamento organizacional, disciplina tática no cumprimento do cronograma, "ouvido de mercador" frente as provocações dos incrédulos de plantão e a aguçada percepção no aproveitamento das características individuais de cada um de seus colaboradores. Formou uma equipe, motivou-a, alocou recursos,estabeleceu processos operacionais, distribuiu tarefas, informou o prazo e gerenciou o andamento do projeto. Noé não foi apóstolo da burocracia. Outro personagem histórico da Bíblia é José do Egito - administrador admirável, (Gênesis 41: 37 a 45)que pode ser comparado com o CEO (Chief Executive Officer) Presidente Executivo, de hoje. Notabilizou-se, principalmente, pela administração do país nos períodos "das sete vacas gordas e das sete vacas magras" - interpretados como anos de fartura e de escassez. Em termos de relacionamento interpessoal, a vida de José é uma das mais comoventes e atraentes da história. As vagarosas e silenciosas passadas de Moisés pelo deserto o colocaram na galeria dos protagonistas que agregam valores à gestão de recursos humanos. Dentre os seus desafios destaca-se a complexidade no atendimento das necessidades dos milhares de judeus que liderava à caminho da Terra Prometida. A solução do problema partiu de seu sogro, Jetro, quando lhe disse: "E tu, dentre todo povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem,maiorais de cinqüenta e maiorais de dez; para que julguem este povo em todo tempo, e seja que todo negócio pequeno eles o julguem: assim a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo" (Êxodo, 18: 13 a 26). Nascia, assim, uma metodologia de descentralização do poder - o "calcanhar-de-aquiles" das atividades humanas. Reagimos como democratas, mas agimos como autocratas. Esta é a mais devastadora das causas de desmotivação de funcionários e do desaparecimento prematuro de promissoras lideranças. O clima organizacional das empresas depende, essencialmente, de uma política de recursos humanos que consolide a seguinte prática: dar oportunidades (iguais) para que os funcionários possam revelar e/ou desenvolver o seu potencial. Questionar as idéias, não as pessoas é a mais eficaz das estratégias para manter a indispensável "oxigenação" do processo gerencial. Entendemos que, se lêssemos, refletíssemos e vivenciássemos, com maior freqüência, os ensinamentos contidos na Bíblia seríamos muito mais felizes e, de quebra, muito mais prósperos. É crer para ver. ___________________ Faustino Vicente Jundiaí (Terra da Uva) – São Paulo – Brasil Faustino Vicente é Advogado, Professor, Consultor de Empresas e de Orgãos Públicos. Especializado em Recursos Humanos pela USP, foi Conselheiro Regional de Jundaí-S.P.;Integra o Conselho Editorial da Revista Banas Qualidade. Autor de vários textos (articulista há 12 anos), os seus trabalhos têm sido repassados,divulgados,lidos e publicados em vários países dos 05 continentes, em 05 idiomas: inglês, italiano, espanhol.francês e português. Foram participantes desta edição os seguintes autores (por ordem de paginação): Oleg Almeida; Carmo Vasconcelos; António Justo; Maura Soares; Marco Bastos; Clevane Pessoa; Mário Resende; Humberto Neto; María Sánchez Fernández; Carlos Lúcio Gontijo; Abilio Pacheco; Rosa Pena; Clóvis Campelo; Alfredo dos Santos Mendes; Raymundo Salles Brasil; Rui Pais; Luiz Poeta; Faustino Vicente A Revista eisFluências agradece as preciosas participações dos prezados colaboradores e convidados. “As autorias das obras aqui presentes são de inteira e exclusiva responsabilidade dos seus autores e dos colaboradores que no-las enviam para publicação, tal como a sua revisão literária. A aderência, ou não, ao Novo Acordo Ortográfico, fica também ao critério dos autores.”