Edição 06 Revista Universo Acadêmico Julho a Dezembro de 2004
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Edição 06 Revista Universo Acadêmico Julho a Dezembro de 2004
ISSN 1676-3408 UNIVERSO ACADÊMICO Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN Instituto de Ensino Superior de Nova Venécia – INESV v.4 n. 6 julho/dezembro – 2004 - Semestral Diretor Geral Tadeu Antônio de Oliveira Penina Coordenadora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Coordenador Financeiro Fernando Bom Costalonga Coordenadores de Curso Administração de Empresas / Ciências Contábeis Elen Karla Três Administração com Ênfase em Comércio Exterior / Administração com Ênfase em Análise de Sistemas José Carnielli Pedagogia Edna Milanez Grechi Letras / Normal Superior Eleusa Pansiere de Souza Zucolotto Direito Lélio Marcarini Bibliotecária Alexandra Barbosa Oliveira Presidente da Comissão Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Comissão Editorial Alexandra Barbosa Oliveira Elen Karla Trés Eleusa Pansiere de Souza Zucolotto Eliene Maria Gava Ferrão Késsya Penitente Endereço para correspondência Biblioteca Pe. Carlos Furbetta Rua Jacobina, 165 – Bairro São Francisco 29830-000 – Nova Venécia – ES e-mail: [email protected] Capa Ednilson José Roncatto Universo Acadêmico / Faculdade Capixaba de Nova Venécia / Instituto de Ensino Superior de Nova Venécia – Nova Venécia: Cricaré, (jul./dez. 2004). Semestral ISSN 1676-3408 1. Produção científica – Faculdade Capixaba de Nova Venécia. II. Instituto de Ensino Superior de Nova Venécia. III. Título UNIVERSO ACADÊMICO SUMÁRIO ARTIGOS Uma nova cultura visando a qualidade de vida no trabalho com o uso da motivação................................................... 07 Angelo Daher Balarini Elementos neoclássicos nos mecanismos do protocolo de kyoto.................................................................................... 31 Cláudia Guio Bragato Goldner Comunicação: um desafio da gestão educativa na escola fundamental.................................................................. 62 Eleusa Pansiere de Souza Zucolotto A evidenciação contábil: publicação de aspectos sócio-ambientais e econômico-financeiros nas demonstrações contábeis.............................................................................. 93 Francislene Ferraz Magalhães de Paulo Flávia Zoboli Dalmácio Aspectos psicológicos y sociolingüísticos vividos por un hablante en el desarrollo del bilingüismo...................................... 140 Leida Raasch Proposição, correção e avaliação de redação........................................... 160 Lourdes Aparecida de Souza Cezana Arte no currículo: caminhos e descaminhos da educação...................... 188 Maria da Penha Gozzer Cimadon ENSAIO Luiz Vaz de Camões..................................................................................... 205 Elias Pereira do Nascimento ISSN 1676-3408 UMA NOVA CULTURA VISANDO A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO COM O USO DA MOTIVAÇÃO Angelo Daher Balarini 1 RESUMO Motivação é o grande segredo para o sucesso das empresas, claramente notável que o ser humano motivado tem um desenvolvimento superior. Ao almejar algo futuro ele passa a trabalhar com mais empenho e dedicação. Uma nova cultura foi criada, notamos que as novas empresas tratam seus funcionários de forma diferente das antigas, que tinham a idéia de homem maquina. Essas novas empresas se preocupam com a qualidade de vida de funcionários dentro e fora delas, tratam cada um de seus funcionários de forma adequada para que assim tenha o sincronismo exato para o sucesso, tem a idéia do homem humano. PALAVRAS-CHAVE: Motivação; Homem Humano; Qualidade de vida; Capital intelectual ABSTRACT Motivation is the great secret for the success of the companies, clearly notable that the motivated human being has a superior development. When longing for something future he starts to work with more pledge and dedication. A new culture was created; we noticed that the new companies treat their employees in a different form from the old ones, which had the idea of man as a machine. Those new companies worry about the quality of employees' life inside and out of them, they treat each one of their employees in an appropriate way so that he/she has the right synchronism for the success, he/she has the idea of men as human. KEY-WORDS: Motivation; Men as human; quality of life; 1 Professor da UNIVEN/INVESV 7 1 INTRODUÇÃO A cada dia presenciamos as empresas repensarem suas estratégias, e isto afeta diretamente o profissional. Muda-se o perfil do profissional para atender às demandas das organizações. Urge, portanto, um reposicionamento dos seres humanos nas organizações, novas culturas são criadas. É tempo de cada profissional refletir sobre o seu papel na empresa, porque as mudanças são velozes e para estar inserido neste novo cenário é preciso acompanhar as mudanças. A motivação para o trabalho é um estado de espírito positivo, que permite ao indivíduo a realização das tarefas do cargo e de seu pleno potencial. É a mola impulsionadora para se enfrentarem os desafios da função e da organização. É a paixão com que o indivíduo exerce uma missão, alcançando satisfação quando os objetivos são alcançados. A motivação dos colaboradores somente atinge níveis máximos quando as pessoas consideram nobres as missões da empresa e se orgulham de estarem tomando parte da busca desses objetivos 8 maiores. Em contrapartida, quando não têm essa atitude para com as missões da organização em que trabalham, as pessoas não estão, naturalmente, íntegras, e não podem dar o máximo de si. A verdadeira motivação só é efetivamente atingida quando cada um dos colaboradores consegue concretizar/realizar seus objetivos de vida dentro da própria empresa e por meio dela, quando o funcionário esta agindo de acordo com a cultura de sua empresa. Páginas e mais páginas têm sido escritas sobre o assunto “motivação” nos últimos tempos e temos visto as empresas preocuparem-se em motivar seus empregados para deles obter uma melhor produtividade. A disposição de um indivíduo para o trabalho depende de sua formação, suas atitudes, sua motivação, seus desejos, suas necessidades e de seus objetivos pessoais, o exemplo claro disso é a Microsoft. As pessoas não querem só atingir metas, querem ter também qualidade de vida e realizações. Elas querem se sentir bem a respeito do que fazem e dar sua contribuição para o mundo pois 9 saímos da cultura de homem maquina para humano; o foco principal passou a ser o capital intelectual. A segurança do contra-cheque, as boas condições de trabalho, a estabilidade no emprego, a chefia e a política da empresa são muito importantes, pois estes são os fatores que impulsionam os funcionários a produzir, a evoluir, em busca de realização profissional, reconhecimento do seu valor, através de um trabalho desafiador e a oportunidade de sempre progredir. 2 MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA E INTRÍNSECA Bergamini (1997) afirma que não existe uma única teoria que seja capaz de desvendar todas as características próprias da psicodinâmica motivacional de uma só vez. Segundo a autora, muitos teóricos denominam de comportamento motivado as ações condicionadas pelas variáveis do meio ambiente, o que, para a ciência comportamental, é uma denominação incorreta. Os teóricos da escola behaviorista pressupõem que o comportamento humano possa ser planejado, modelado ou mudado por meio da utilização adequada dos vários tipos de recompensas ou punições disponíveis no meio ambiente. Cita a autora que alguns estudos 10 da linha comportamental propõem, por exemplo, que a atração do empregado pelas reconhecimento desempenho recompensas tem grande satisfatório. externas poder Alguns para autores recompensas externas dando-lhes o como forma determinar se referem nome de de um às motivação extrínseca. Para eles, motivação é sinônimo de condicionamento. Milhollan & Forisha (apud BERGAMINI, 1997, p. 40) afirmam que a orientação comportamentalista considera o homem um organismo passivo, governado por estímulos fornecidos pelo ambiente externo. O homem pode ser manipulado, isto é, seu comportamento pode ser controlado através de adequado controle dos estímulos ambientais [...]. Esse tipo de visão nega a liberdade humana, considerando o comportamento humano nada mais do que simples respostas aos estímulos ambientais, não havendo lugar para se falar em automotivação. Bergamini (1997, p. 41) critica o uso inapropriado dos termos motivação e condicionamento. Afirma a autora que eles absolutamente não são a mesma coisa, embora sejam usados por muitas pessoas como se tivessem o mesmo significado. Esse uso 11 indiscriminado dos conceitos de condicionamento e motivação como se fossem sinônimos, dá origem a um dos mais significativos problemas quando ao verdadeiro entendimento daquilo que representa a maior fonte interna de energia do comportamento humano. Segundo Bergamini (1997), as descobertas de Pavlov, em 1904, a respeito do “Reflexo Condicionado” transformaram-se em ponto de partida para as teorias que tratam do condicionamento, dentro da linha behaviorista. Para a compreensão do comportamento humano, dentro da escola behaviorista, são utilizados dois conceitos-chave: O primeiro é aquele que define o estímulo como qualquer modificação que venha a ocorrer com uma ou mais variáveis do meio ambiente, tais como o aumento da luminosidade, variações de temperatura, intensidade de sons, e assim por diante. O segundo é o de resposta, entendida como reação comportamental do sujeito submetido aos estímulos existentes no meio ambiente. Esses estímulos têm o poder de modificar o comportamento de forma a fazê-lo buscar adaptar-se às variações ocorridas fora dele (BERGAMINI, 1997, p. 43). 12 Comenta a autora que os psicólogos behavioristas defendiam a lógica e a total previsibilidade do comportamento humano, havendo sempre um estímulo anterior a uma resposta, considerando assim todo comportamento como uma ação “respondente”. Segundo Bergamini (1997, p. 52): “[...] a doutrina behaviorista se deixa pautar pela suposição de que todos os homens se tornariam iguais caso estivessem submetidos às mesmas condições ambientais”. A autora vai de encontro a essas teorias, pois não levam em conta aspectos referentes às intenções das pessoas, não dando valor aos motivos pessoais e seus potenciais de energia motivacional. Um grande número de teorias sobre motivação esqueceu-se de pesquisar a real compreensão do processo interno ou mais precisamente em que reside a psicodinâmica interior da motivação. Gooch & McDowell (apud BERGAMINI, 1997, p. 82) conceituam a motivação da seguinte maneira: a motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um 13 desejo. Uma pessoa não consegue jamais motivar alguém; o que ela pode fazer é estimular a outra pessoa. A probabilidade de que uma pessoa siga uma orientação de ação desejável está diretamente ligada à força de um desejo. Essa definição deixa claro que as pessoas fazem as coisas como querem e quando querem, pressupondo que elas tenham liberdade e autonomia própria. Bergamini (1997, p. 83) define a motivação como um impulso, cujas fontes de energia estão no interior de cada pessoa, afirmando ainda que “nada se pode fazer para conseguir motivação de uma pessoa, a não ser que ela mesma esteja espontaneamente predisposta para tanto”. A grande dificuldade do estudo direto do fenômeno motivacional está justamente no fato de ela ser algo interno, e não se poder contar com testes que avaliem o percentual de motivação a cada diferente tarefa. 2.1 ENTENDENDO O QUE É QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 14 Neste novo milênio que se inicia existem muitos desafios que se apresentam para o mundo empresarial, e dois deles parecem ser universais quanto à natureza. O primeiro destes desafios está relacionado à necessidade de uma força de trabalho saudável, motivada e preparada para a extrema competição existente. O segundo desafio é a capacidade de a empresa responder à demanda de seus funcionários em relação a uma melhor qualidade de vida. Estas duas variáveis estão interligadas, e isto faz com que as empresas comecem a pensar cada vez mais na implantação de programas de qualidade de vida. As primeiras décadas do século XXI estarão voltadas para altas tecnologias que permitirão grandes resultados, com desenvolvimento cada vez maior da integração empregadoempregador e modificações sócio-culturais importantes no ambiente empresarial. Esse cenário deverá envolver governo, comunidade, escolas e empresas, e solicitará de um desses seguimentos um papel forte na educação e na melhora da qualidade de vida da população. 15 O campo de interesse das organizações neste início de milênio está representado por: produtividade; competitividade; qualidade; contenção de custos; treinamento. A empresa moderna deve, cada vez mais, valorizar seus funcionários, possibilitar autonomia de decisões, descentralizar, considerar os valores pessoais dos indivíduos para atingir uma performance que permita excelentes resultados. Quando se fala em qualidade total nota-se clara relação desta com a qualidade de vida. A integração destes dois conceitos faz com que o caminho para o sucesso empresarial esteja centrado, cada vez mais, no agente deste processo: o homem. De acordo com Marchi e Silva (1997, p. 11), o novo modelo empresarial do século 21 está baseado em indivíduos saudáveis, dentro de organizações saudáveis, que respeitam e contribuem para uma comunidade em meio ambiente saudáveis. Pessoas saudáveis representam negócios saudáveis, com melhores lucros e maior retorno do investimento. O grande capital da empresa é representado por pessoas capazes, aptas, sadias, equilibradas, criativas, íntegras e motivadas. 16 Se uma empresa investe no desenho, no desenvolvimento e na operação de um programa de promoção de saúde, atendendo as necessidades e interesses de seus empregados, o potencial para aumento na produtividade dos trabalhadores presentes no trabalho é significativo. Essa é uma boa maneira de atender à pressão cada vez maior por resultados e produtividade. Mas não basta apenas isso. As horas gastas no local de trabalho já estão em seu limite. Por conta disso, as companhias estão procurando outras maneiras de aumentar a produtividade. É nesse ponto que a saúde e a vitalidade dos empregados viram variáveis importantes (MARCHI & SILVA, 1997). O objetivo principal é conscientizar os indivíduos, por meio de processos educativos, da necessidade de serem capazes de gerenciar seu estilo de vida, tornando-o mais saudável, feliz e produtivo, independentemente do meio em que vivem ou atuam. É bastante possível alcançar esse objetivo por meio de implantação de programas de Qualidade de Vida e Promoção de Saúde, cujos benefícios são: melhor saúde e estilo de vida; melhor disposição geral; melhor educação nutricional; menores riscos cardíacos. 17 No Brasil, os programas de Qualidade de Vida e Promoção de Saúde têm despertado grande interesse nos últimos anos. As empresas percebem que a qualidade de vida de seus funcionários está diretamente ligada à maior produtividade. Cada vez mais as empresas que desejarem sobreviver e perpetuar-se deverão investir nas pessoas. Ter uma cultura saudável, valorizando seu capital humano, faz parte da empresa moderna. Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) – O Trabalho Humanizado Por qualidade de vida no trabalho (QVT) queremos dizer os pontos favoráveis e desfavoráveis de um ambiente de trabalho para as pessoas. A proposta básica é desenvolver ambientes de trabalho que sejam tão bons para as pessoas como para a saúde econômica da organização. Os elementos típicos de um programa de QVT incluem muitos itens – comunicações abertas, sistemas de recompensa justos, preocupação com a segurança dos empregos e participação no planejamento do trabalho. A QVT produz um ambiente de trabalho mais humanizado. De acordo com Keith (1996), seu objetivo é servir tanto às aspirações mais altas dos trabalhadores quanto às suas necessidades mais básicas. Ela procura aproveitar as habilidades mais refinadas dos 18 trabalhadores e proporcionar um ambiente que os encoraje a desenvolver suas capacidades. A idéia é que os trabalhadores são recursos humanos que têm que ser desenvolvidos e não simplesmente usados. Além disso, o trabalho não deve ter condições excessivamente negativas, nem submeter os trabalhadores a tensões indevidas, tampouco prejudicar ou degradar sua humanidade e nem ser arriscado ou indevidamente perigosos. Ele deve, sim construir – ou pelo menos não prejudicar – a capacidade de os trabalhadores desempenharem outros papéis, como o de cidadão, ou seja, é preciso que o trabalho contribua para o desenvolvimento social em geral. A hipótese básica do trabalho humanizado é que ele é mais vantajoso quando promove o “melhor ajustamento” entre os empregados, tarefas, tecnologia e meio ambiente. Por conseqüência, o melhor esquema será diferente para se ajustar a diferentes arranjos dessas variáveis. Como é necessário um projeto de cargo adequado a cada situação, este não será estabelecido em uma só vez e mantido indefinidamente. Ao contrário, deve haver um reajuste regular entre os fatores acima mencionados para se manter o melhor ajustamento. 19 - Energizando o Ambiente de Trabalho – Uma forma de Motivar os Funcionários Para obter sucesso, uma empresa precisa da ajuda de seus colaboradores e para isto, esses precisam estar dispostos a levála ao topo. Energizar as pessoas é motivá-las, cabendo ao administrador transmitir essa energia através de conversas de motivação, círculos de qualidade, maiores salários, treinamento, melhor comunicação, organização e várias outras coisas que poderão motivar seus colaboradores (BYHAM, 1992). É importante manter sempre a auto-estima, saber ouvir, responder com empatia e ajudar as pessoas sem tirar dela a responsabilidade, fazendo com que elas considerem importante o seu trabalho. É através da confiança que as pessoas passam a trabalhar em equipe e desenvolvem o melhor de si (JACOMINO & SOMOGGI, 1999). Cada pessoa deve ser energizada de uma maneira, pois nem todas são motivadas facilmente. Algumas exigem mais dedicação do que outras. 20 O administrador nunca deve centralizar apenas em si os problemas, mas sim, procurar ajuda para solucioná-los e procurar sempre ajudar para solucioná-los e procurar estar sempre se aprimorando e criando novas e melhores formas para motivar as pessoas (COLOMBINI, 1999). Atualmente as empresas necessitam cada vez mais implantar o sistema de motivação, pois estão exigindo que seus colaboradores sejam capazes de executar várias tarefas, isto é, que sejam polivalentes para que se alcance um objetivo comum, as pessoas só se desempenham mais e melhor se estiverem motivadas e energizadas para isto (BARTOLOMÉ, 1999). Neste mundo, acirrado pela competição, deve sempre haver aquela receita que faz a diferença: onde o cliente sai sempre satisfeito. Não é simplesmente cumprir sua obrigação entregando o serviço em troca de dinheiro, mas sim atender bem o cliente para que ele sempre volte. Para que tudo isso aconteça é preciso muita motivação (BYHAM, 1992). É necessário manter as pessoas animadas com seu trabalho, dispostas a executá-lo da melhor maneira possível. Pessoas motivadas, fazem com que o seu trabalho renda muito mais e 21 além disso, o vêem de uma forma prazerosa, como algo que fazem porque gostam e procuram cada vez mais melhoras (BYHAM, 1992). 2.2 APRENDER E ENSINAR: UM GRANDE DESAFIO – A EMPRESA COMO ESCOLA Em seu livro “Aprendizagem e Criatividade Emocional”, Teixeira (1998, p. 30), cita Gibran em “O Profeta” quando fala do ensino: nenhum homem pode revelar-vos o que não esteja semi-adormecido no alvorecer de vosso conhecimento. Se for realmente sábio, não vos convidará a entrar na mansão de seu saber, mas, sim, vos conduzirá ao limiar de vossa própria mente. Pois a visão de um homem não empresta suas asas a outro homem. E eis, então, o grande desafio: o que e como ensinar, de tal forma que as mentes alcancem tal plenitude que reflitam não só conhecimento, mas sabedoria e felicidade. Durante séculos os educadores julgaram que “educar era transferir conhecimentos de forma a ajustar o educando às exigências da sociedade”. A individualidade, os sonhos, os desejos mais íntimos, não eram considerados, mas postos em 22 plano secundário. O papel do educando era aprender o que o professor ensinava, do jeito que ensinava e para um fim que nem sempre empatava com o seu ideal. Felizmente os tempos são outros. Há necessidade premente de ajuste à nova realidade. Isso já é uma questão de vida ou morte profissional, porque duas verdades são inquestionáveis: (1) ninguém aprende nada que não queira aprender; (2) todos são capazes de aprender se encontrarem prazer em fazê-lo. Segundo Teixeira (1998), as motivações que levam qualquer pessoa a aprender qualquer coisa podem ser as mais variadas, e, dentre elas, podemos citar as cinco mais freqüentes: (1) a dor; (2) a inveja; (3) a ambição; (4) a necessidade; (5) o prazer. A motivação para aprender não precisa ser eticamente correta. O que impõe a uma pessoa o desejo de aprender são as próprias circunstâncias da vida e o julgamento que se faz delas e de suas conseqüências. 23 2.3 A TEMPORALIDADE HUMANA E MOTIVAÇÃO NO TRABALHO A dimensão do tempo vivido é diferente da dimensão do tempo cronológico. As práticas gerenciais preocupam-se unicamente com a administração do tempo cronológico e desconhecem o “tempo vivido” (psicológico). As motivações, as expectativas, os projetos existenciais e as realizações humanas estão todos interligados com essas noções fundamentais (MOURA, 1997). As pessoas agem e reagem de acordo com o momento vivido psicologicamente. É muito importante a expectativa temporal na vida humana. O ideal é o equilíbrio entre a integração com o passado, a vivência do presente e os projetos futuros, aliados a sentimentos afetivos positivos. As pessoas agem em função do futuro, logo as motivações estão ligadas ao amanhã. No passado nós temos apenas fixações de motivos que nos impedem de crescer, e não verdadeiras motivações. As categorias motivacionais humanas classificam-se, de acordo com Patrão (1997) em três grupos, sendo: 24 - Aspirações de crescimento, de desenvolvimento, desafios e realizações. - Reconhecimento positivo de participar de estruturas seguras. - Aspirações pelo poder e apreciação do sucesso. Essas três categorias são básicas para despertarmos a motivação. As pessoas gostam de desafios, crescimento, reconhecimento e sucesso. A maioria dos gerentes nas organizações desconhecem a relevância desses fatos. Inúmeros aspectos devem ser considerados – tensões, desmotivações, descomprometimento e comportamentos defensivos estão relacionados à má programação do tempo vivido. Procura-se viver um tempo neutro no qual o sentimento afetivo-emocional não é considerado relevante na determinação do comportamento humano. Entre eles, citados por Patrão (1997), estão: 1 Tempo e Tensão: falta de informações vitais geram tensões, boatos, agitação política e instabilidade emocional nas pessoas. As tensões crescem a níveis indesejáveis, provocam instabilidades administrativas e desgastes inúteis. O custo 25 social das tensões é elevado e perde-se energia e produtividade. 2 Tempo e Motivação: o que impulsiona as pessoas a determinado comportamento é a busca de um resultado ou de um objetivo. A motivação é ação e essa não existe no passado. É sempre busca de um futuro desejado. 3 Tempo e Comportamento: comportamento é engajamento com o viver e com o realizar. Participar da elaboração de planos, projetos e controles é dar sentido ao trabalho e criar condições de realização pessoal. É organizar o tempo da esperança, é não ser alienado. 4 Tempo e Poder: exercer poder é ter oportunidade de influenciar o comportamento das pessoas ou grupos. A sensação de poder ou influenciar no processo decisório e na definição dos projetos é um dos maiores motivadores do comportamento humano. Planejar o futuro significa ter segurança, e dar sentido ao trabalho é alcançar a realização pessoal. 5 Tempo e Decisão: decidir é prever um acontecimento no futuro, logo, é algo indefinido. É uma suposição e não uma certeza. Por isso mesmo, a decisão gera dúvidas e incertezas. Gerentes eficazes procuram aprender com o passado mas, enfocam e enfatizam o futuro positivamente. Do ponto de vista 26 estratégico o futuro deve ser prioritário. Empresas que adotam uma abordagem estratégica à gestão de seu capital intelectual vêem uma oportunidade de melhorar suas posições de mercado relativas a organizações que continuam a gerenciar tal capital de forma oportunista: se, na realidade, “conhecimento é poder”, então seu controle e canalização fazem mais sentido, em termos de negócios, do que simplesmente deixar que as fagulhas voem (Castilho, 1992). 3 CONCLUSÃO No transcorrer deste trabalho percebemos que a motivação é um conceito que nos ajuda a compreender os gestos dos que nos rodeiam. Dada a sua importância, todo o campo de análise sobre o comportamento organizacional está cheio de teorias que visam explicar o que motiva os seres humanos, para compreender como as suas necessidades e seus desejos os conduzem a agir desta ou daquela maneira, para obter qualidade de vida no trabalho. O grande interesse da questão reside evidentemente na hipótese de que, se compreendermos o que levas as pessoas a agir, poderemos, influir sobre seu rendimento. 27 Nota-se uma tendência a visualizar o ser humano como uma “caixa preta” munida de entradas e saídas, onde o que não é diretamente observável é ignorado. Não foi sem motivo que Freud estabeleceu uma analogia entre a motivação das maiorias das pessoas e a estrutura de um iceberg. Um segmento considerável da motivação humana encontra-se de tal forma oculto que nem sempre é evidente para o próprio indivíduo. Mas com essa nova visão de cultura humana, se notou que um trabalhador motivado rende mais lucros. Não é tão fácil descobrir porque as pessoas agem de determinadas maneiras. Isso provavelmente se deve ao fato de que nem sempre cada uma delas faz as mesmas coisas exatamente pelas mesmas razões. Não somente os objetivos que cada um procura atingir são diferentes daqueles que outros almejam, como também as fontes de energia responsáveis por disparar esse tipo de comportamento são diferentes. Assim, o estudo da motivação humana diz respeito à descoberta do por que as pessoas se movimentam e qual a fonte de energia que 28 estão usando para tanto, por isso a cultura da empresa deve estar bem explicada a seus funcionários. Chega-se portanto à conclusão de que os comportamentos ou ações de cada pessoa não possuem o mesmo ponto de origem. Podem elas comportar-se quer como resposta a estimulo vindo do meio ambiente, quer com base em informações que guarda no cociente, que por impulsos cuja origem são completamente desconhecidas , armazenadas no seu mundo inconsciente. As pessoas motivadas trazem dentro de si toda a energia da qual necessitam, e aquilo que a empresa precisa fazer é adotar uma cultura na qual se crie um ambiente onde seja possível desbloquear essa energia motivacional 5 REFERÊNCIAS BARTOLOMÉ, F. Ninguém confia plenamente no chefe, e daí? Revista Você, São Paulo, p. 96-105, jul. 1999. BERGAMINI, C.W. Psicologia aplicada à administração: psicologia do comportamento organizacional. São Paulo: Atlas, 1982. . Motivação nas organizações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997. BYHAM, W.C. Zapp! O poder da energização. 20. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. CASTILHO, A. Liderando grupos: um enfoque gerencial. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992. 29 COLOMBINI, L. Aposte no que você acredita. Revista Você, São Paulo, p. 6063, jul. 1999. JACOMINO, D; SOMOGGI, L. A difícil conquista da harmonia. Revista Você, São Paulo, p. 14-17, jul. 1999. KEITH, Davis. Comportamento humano no trabalho. Tradução de Eunice Laçava. São Paulo: pioneira, 1996. MARCHI, Ricardo de; SILVA, Marco Aurélio Dias da. Saúde e qualidade de vida no trabalho. São Paulo: Círculo do Livro, 1997. MOURA, L.R. Qualidade simplesmente total. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. PATRÃO, G.V.C. Liderança para a qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. TEIXEIRA, E.A. Aprendizagem e criatividade emocional. São Paulo: Makron, 1998. 30 ELEMENTOS NEOCLÁSSICOS NOS MECANISMOS DO PROTOCOLO DE KYOTO1 Cláudia Guio Bragato Goldner 2 RESUMO Este artigo discute o progresso econômico e tecnológico da humanidade e suas conseqüências sobre o meio ambiente. Busca-se através de um referencial teórico, no caso a teoria econômica neoclássica, identificar como os problemas sociais e ambientais são tratados pela ciência econômica. Discutese ainda o Protocolo de Kyoto e seus mecanismos, com o intuito de investigar a existência de elementos da teoria neoclássica nele embutidos. E por fim, são apresentadas as oportunidades colocadas para o Brasil com a criação de um mercado de carbono mundial quando da adoção desse Protocolo. Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável; Teoria econômica neoclássica; Protocolo de Kyoto; Mercado de carbono mundial. ABSTRACT This paper treats the economical and technological humanity progress and its results concerning the environment. It tries over the neoclassical economic theory – the theoretical reference, to identify how the social and environmental problems are discussed by Economics. It also treats the mechanisms taken by the Kyoto Protocol, with the aim at investigating the neoclassical economic theory existing in its purposes. Finally, it shows the opportunities placed to Brazil with the creation of a worldwide carbon market in the adoption of this Protocol. 1 Artigo laureado com o 1º lugar na categoria “Artigos de Economistas”, no IX Prêmio Espírito Santo de Economia 2004, promovido pelo Conselho Regional de Economia do Espírito Santo – 17ª região. 2 Mestra em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo. 31 Key-words: sustainable development; neoclassical economic theory; Kyoto Protocol; worldwide carbon market. 2 INTRODUÇÃO É inegável a contribuição da industrialização mundial para o progresso material humano, possibilitado pelo importante papel do desenvolvimento tecnológico e suas mudanças nas características das sociedades ao longo do tempo. Contudo, a industrialização não trouxe apenas efeitos positivos sobre a vida econômica e social da humanidade. Esse processo trouxe também efeitos negativos, que tornam-se visíveis pelos impactos negativos da atividade industrial, em suas diferentes áreas produtivas sobre o meio ambiente. O crescimento econômico, acelerado pelo desenvolvimento tecnológico, aumentou a velocidade de utilização dos recursos naturais e intensificou o uso de matérias-primas e energia. Os impactos negativos causados ao meio ambiente são tratados pela ciência econômica como externalidades negativas, pois são geradas pela evolução da atividade produtiva, as quais causam poluição de vários tipos, resultante do acúmulo de poluentes além 32 de sua capacidade de absorção pelo planeta, e caracterizam o desequilíbrio ambiental vigente. As principais mudanças climáticas tiveram sua origem no desenvolvimento industrial. O reconhecimento do processo econômico como um processo físico de transformação de matérias reforça a evidência de que a Revolução Industrial foi uma revolução tecno-energética. A Convenção do Clima, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, já reconhecia que os problemas de poluição são causados principalmente pelos países desenvolvidos e relacionados com o uso de combustíveis fósseis para a geração de energia e a emissão de dióxido de carbono (CO2). Assim, foi seu objetivo que as restrições propostas para estabilizar as emissões permitissem adequar os ecossistemas naturais e a sociedade como um todo, haja vista que os problemas nacionais deixaram de ser locais e tomaram uma dimensão global, sobretudo quando relacionados aos problemas ambientais causados. Os debates acerca desenvolvimento de crescimento sustentável em busca econômico de um e de mundo ecologicamente viável, por meio de mecanismos de proteção ambiental, têm tido continuidade com as várias Conferências que 33 se seguiram após a Convenção do Clima no Rio de Janeiro e têm propiciado a implementação de instrumentos econômicos como forma de retardar a evolução desenfreada do crescimento sem planejamento. O Protocolo de Kyoto, iniciado na Conferência em 1997, na cidade de Kyoto, Japão, construiu novos caminhos para um desenvolvimento planejado e sustentável através da adoção de instrumentos negativas neoclássicos via políticas de controle públicas, de sejam externalidades nacionais ou internacionais, inclusive com a criação de um novo mercado – o mercado do carbono. está em curso uma mudança de mentalidade, ou “paradigma”. A redução de emissões de carbono sugerida pela pesquisa atmosférica era vista exclusivamente como restrição à atividade industrial, leia-se recessão. Hoje, ela é vista também como oportunidade econômica, chance de fazer negócios (Leite, 1998, p. 7). Sendo assim, o presente trabalho está organizado da seguinte forma: finda esta introdução, o próximo item busca identificar os instrumentos na teoria econômica neoclássica para o controle das externalidades negativas, que geram custos sociais. O item três apresenta o Protocolo de Kyoto e suas principais resoluções. O item quatro explica os instrumentos neoclássicos adotados nesse 34 Protocolo, discutindo a criação de oportunidades para os países, em especial para o Brasil, através da criação de um novo mercado mundial. Por último, seguem as considerações finais onde se busca algumas conclusões sobre o tema discutido. 2 TEORIA NEOCLÁSSICA: FUNDAMENTOS SOBRE EXTERNALIDADES E CUSTO SOCIAL A teoria econômica clássica de Adam Smith acreditava, em sua visão, que o mundo harmônico seria obtido via funcionamento do livre mercado concorrencial, onde uma “mão invisível” orientaria os agentes econômicos às melhores soluções e a sociedade se beneficiaria dessas ações, o que lhe proporcionaria bem-estar. Isso seria possível sem a interferência do Estado nas atividades econômicas e em suas implicações sobre a coletividade. Constata-se dessa forma que, o liberalismo econômico de Smith supõe que o mercado competitivo é a maneira mais eficiente de alocação de recursos na economia, pois afirma que os agentes buscam produzir o máximo e que a sociedade, a partir daí, escolhe um conjunto de bens e serviços que maximize seu bemestar sujeito aos preços relativos praticados no mercado. 35 Entretanto, obter eficiência econômica é uma condição dentro da economia neoclássica que está ligada a mercados competitivos. Na realidade, as estruturas que prevalecem no mercado são imperfeitas. Logo, pode-se afirmar que, na prática, existem várias situações em que os mercados competitivos falham, ou seja, há situações em que um mercado competitivo que não possui regulamentação é ineficiente porque seu sistema de preços não fornece sinais adequados aos consumidores e produtores. Esses casos estão cada vez mais presentes na economia atual diante do acentuado desenvolvimento tecnológico ocorrido após a 1.ª Revolução Industrial. As proposições e os princípios da ortodoxia liberal chocaram-se, porém, com as novas realidades que emergiram das ondas sucessivas de revoluções tecnológicas e industriais, ocorridas nos últimos dois séculos. Chocaram-se também com os vícios e as imperfeições da própria economia de mercado, tanto no plano micro, como no macroeconômico. E ainda com as novas requisições sociais que o empreendimento privado e o mercado não foram capazes de atender (Rossetti, 2000, p. 314). Percebe-se que, mesmo que os princípios liberais de Smith não vislumbrassem as ineficiência do mercado, o debate na ciência econômica avançou e a teoria microeconômica neoclássica possui as bases para estudá-la em sua abordagem. 36 De acordo com a teoria, existem algumas situações em que podem ocorrer falhas de mercado: a) quando há poder de mercado; b) quando os mercados ofertam quantidades insuficientes de bens públicos; c) quando há informação incompleta sobre o produto que o consumidor adquire, impedindo que ele consiga maximizar sua utilidade; e d) quando ocorrem externalidades. Para fins deste artigo, me limitarei a focar a última falha de mercado citada. Em seu conceito, externalidade é a “ação de um consumidor ou de um produtor que tem influência sobre outros produtores ou consumidores, mas que não é levada em consideração na fixação do preço de mercado” (Pyndick & Rubinfeld, 2002, p. 292), ou seja, a externalidade é tratada nos manuais microeconômicos marginalistas como efeitos que ocorrem sobre terceiros devido às ações e comportamentos dos agentes quando produzem algo. Essas ações podem ser positivas, quando trazem benefícios à sociedade, e podem ser negativas, quando implicam em custos 37 sociais. O tratamento dado às externalidades é, portanto, suficiente e oferece sustentação para tratar os problemas ambientais, desde quando eles surgiram como foco de interesse mundial por parte das instituições e países avançados no século XX (ALMEIDA, 1998). Sabe-se que a evolução tecnológica, fruto dos avanços técnicos, além de gerar externalidades positivas através dos benefícios resultantes do aumento da produção material, tem também a capacidade de gerar externalidades negativas, conhecidas como problemas ambientais. Na questão ambiental, as externalidades ocorrem porque não existem mecanismos de livre mercado que impeçam o “sobre uso” de seus recursos ou exijam direitos de usá-los. Os recursos ambientais sempre foram tratados pelo mercado como bens “sem preço”, ou seja, “sem propriedade”, por serem de propriedade e domínio universal. Logo, os agentes poluidores não acreditam que devam arcar com os custos sociais e ambientais decorridos de sua ineficiente alocação de recursos que tem conseqüências sobre outros. Não espera-se assim, que eles venham a reparar prontamente, ou por iniciativa própria, o custo de suas ações sobre a sociedade. Pode-se pensar que como os recursos 38 ambientais não tem valor monetário, a priori, não caberia uma compensação financeira à sociedade por tais danos. A externalidade negativa gerada pelos agentes poluidores é chamada de poluição, pois seus efeitos atingem a sociedade, afetando seu nível de bem-estar. Eis um exemplo para elucidar a questão: em uma cidade qualquer existe uma fábrica que gera poluição atmosférica e causa danos à saúde de sua população; as decisões e ações dessa empresa implicam em externalidades negativas, pois ocasiona perda de bem-estar dos moradores afetados pela poluição do ar; como o ar limpo e o direito de mantê-lo próximo aos níveis ideais para a saúde humana não têm valores monetários, e como não há uma intervenção governamental, através de algum tipo de legislação, tal fábrica continuará produzindo sem embutir em seus custos, o valor do dano causado aos outros, ou seja, continuará operando sem “internalizar” em seus custos, o custo social de seu processo produtivo. O resultado obtido do exemplo dado é uma quantidade produzida além do nível ótimo de poluição desejável pela sociedade. Conclui-se que a origem de tal ineficiência está no preço incorreto 39 do produto, uma vez que nele está incluído apenas o custo marginal privado e não está “internalizado” o custo marginal social. Somente elevando-se o preço de mercado do produto poluente, torna-se possível obter um nível de produção eficiente para a sociedade em termos de poluição aceitável. É importante ressaltar que poluição zero é o mesmo que nível zero de atividade econômica ou custo de controle de poluição nulos, o que não é aplicável na realidade (ALMEIDA, 1998). Por si só, as empresas poderiam substituir insumos poluentes por outros menos poluentes como forma de manter sua produção no nível desejado, porém isto nem sempre ocorre por iniciativa própria. A teoria neoclássica sugere, então, a adoção de instrumentos de controle de externalidades negativas como forma de corrigir ou reparar tais falhas de mercado ligadas à ineficiência econômica resultante do mal uso dos recursos ambientais. Tais instrumentos devem, portanto, ser aplicados via intervenção governamental. ...a intervenção governamental, tão execrada pelos neoclássicos, parece ser necessária quando se trata de problemas relacionados ao meio ambiente. Sugerem, então, a adoção de mecanismos de mercado (instrumentos que operam como incentivos econômicos) que simulam um “preço” da degradação ambiental que os poluidores devem incorporar aos seus custos privados, ou seja, acabam por 40 “internalizar” as externalidades (ALMEIDA, 1998, p. 28). A reparação ou correção das ineficiências resultantes das externalidades negativas torna-se factível quando há a introdução de legislação governamental que regulamente o direito de poluir e/ou que propicie à sociedade o direito de usufruir de recursos ambientais “limpos” ou “puros”. No primeiro caso, a empresa deverá estar disposta a pagar para produzir além do nível socialmente desejável, ou seja, ela terá necessariamente de rever sua estrutura de custos. No segundo caso, os cidadãos deverão estar dispostos a pagar para que a empresa poluidora reduza seus níveis de poluição, podendo assim gozar de bens “mais puros”. Este caso é controverso na teoria econômica, uma vez que se a vítima da poluição pagar a uma firma poluidora para que ela polua menos, poderá atrair novas empresas poluidoras para tal mercado. A teoria propõe alguns instrumentos para o controle das externalidades geradas por problemas ambientais, como forma de encorajar as empresas poluidoras a reduzir seu nível de emissões. São eles: 41 a) taxar a emissão de poluentes: ato em que o governo impõe uma taxa para cada unidade de poluente emitido pela firma poluidora – a empresa tende a reduzir suas emissões até o ponto em que o custo do imposto seja igual ao seu benefício marginal; b) fixar um padrão de emissões de poluentes: ato em que o governo impõe um limite legal de emissão de poluição para uma empresa poluidora – este padrão busca assegurar que a empresa produza num nível eficiente de poluição, mesmo que para isso ela tenha uma despesa maior decorrente da instalação de equipamentos redutores de poluição, ou seja, com custos maiores, muda-se a condição de eficiência para o setor afetado com tal regulação, pois caso a empresa ultrapasse o padrão legal poderá sofrer multas e sanções; c) utilizar permissões transferíveis para emissões: neste sistema, o governo especifica exatamente a quantidade de poluentes que cada empresa pode emitir e, caso a empresa polua e não possua a permissão adequada para tal, ela corre o risco de pagar multas substanciais – as permissões são usadas com o intuito de estabelecer um nível máximo e específico de emissões que poderão ser negociadas entre as empresas que poluíram aquém e além do nível estabelecido, ou seja, os excedentes poupados ou gerados podem ser 42 negociados, criando assim, condições de barganha que resultarão em estabelecimento de “preços” para a poluição, ou melhor, na criação de um mercado para a poluição. E é justamente a utilização de permissões transferíveis para emissões, o instrumento que será usado pelo Protocolo de Kyoto para reduzir as emissões de carbono na superfície terrestre. 3 O PROTOCOLO DE KYOTO Na década de 1980, evidências científicas denotaram a possível ocorrência de mudanças climáticas em nível mundial. As causas dessas alterações estariam ligadas a fatores antropogênicos: queima de combustíveis fósseis, processos industriais, desflorestamento, fabricação de cimento, entre outros. Assim, em dezembro de 1997, os principais países do mundo, interessados nos rumos do crescimento econômico e dos impactos ambientais por ele causados, reuniram-se em Kyoto, no Japão, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. O grande e principal tema desse encontro foi o aumento da temperatura da Terra, sinalizado como efeito estufa, 43 provocado pelo aumento de alguns gases danosos emitidos na atmosfera terrestre, devido à intensificação da atividade econômica com o passar do tempo. É sabido que uma das fontes principais do efeito estufa é a emissão de CO2, causado pela queima de combustíveis fósseis, usados na produção de energia elétrica e mecânica. O objetivo da reunião em Kyoto era rever a proposta assinada por 165 países na Conferência do Rio de Janeiro em 1992, em que 35 países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões de CO2 aos níveis de 1990, até o ano de 2000. Nesse encontro os países foram divididos em 2 grupos: “Países do Anexo 1” (Tabela 1), considerados grandes emissores de CO2 e que deverão cumprir metas de redução de emissões; e “Países do Anexo 2” ou “Outros Países”, considerados de baixo nível de industrialização e que, mesmo não tendo metas a cumprir, assumiram compromisso de buscar o desenvolvimento sustentável de suas nações. Para conhecer as emissões totais de CO2, foi realizado um estudo comparativo entre os 20 maiores responsáveis por essas emissões no ano de 1994, em relação a suas posições em 1950. Os dados obtidos mostraram que, nos primeiros lugares do 44 ranking de 1994, há não só grandes economias industrializadas e ricas, mas também economias em desenvolvimento e com altos níveis de pobreza2. TABELA 1 – Países Membros do “Anexo 1” Países em maior parte responsáveis pelo aquecimento global que assumiram compromissos de reduzir as emissões dos gases que causam o efeito estufa Porcentagem do ano-base ou período Alemanha.......................................................................................................................................... 92 Austrália............................................................................................................................................ 108 Áustria.............................................................................................................................................. 92 Belarus*............................................................................................................................................ 92 Bélgica.............................................................................................................................................. 92 Bulgária*............................................................................................................................................ 92 Canadá............................................................................................................................................. 94 Comunidade Européia...................................................................................................................... 92 Croácia*,**......................................................................................................................................... 95 Dinamarca......................................................................................................................................... 92 Eslováquia*,**................................................................................................................................... 92 Eslovênia............................................................................................................................................ 92 Espanha............................................................................................................................................. 92 Estados Unidos da América............................................................................................................. 93 Estônia*.............................................................................................................................................. 92 Federação Russa*............................................................................................................................. 100 Finlândia........................................................................................................................................... 92 França............................................................................................................................................... 92 Grécia................................................................................................................................................. 92 Hungria*............................................................................................................................................. 94 Irlanda................................................................................................................................................ 92 Islândia.............................................................................................................................................. 110 Itália.................................................................................................................................................... 92 Japão.................................................................................................................................................. 94 2 Para conhecer o ranking e os dados, veja CONJUNTURA ECONÔMICA, 1997, p. 57. 45 Letônia*............................................................................................................................................. 92 Liechtenstein*................................................................................................................................... 92 Lituânia*............................................................................................................................................ 92 Luxemburgo....................................................................................................................................... 92 Mônaco*............................................................................................................................................ 92 Noruega............................................................................................................................................ 101 Nova Zelândia................................................................................................................................... 100 Países Baixos................................................................................................................................... 92 Polônia*............................................................................................................................................. 94 Portugal............................................................................................................................................. 92 Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte............................................................................. 92 República Tcheca*,**........................................................................................................................ 92 Romênia*.......................................................................................................................................... 92 Suécia............................................................................................................................................... 92 Suíça................................................................................................................................................ 92 Turquia............................................................................................................................................ 00 (sic) Ucrânia*............................................................................................................................................. 100 * Países em processo de transição para uma economia de mercado. ** Países que passaram a fazer parte do Anexo 1 mediante emenda que entrou em vigor no dia 13 de agosto de 1998, em conformidade com a decisão 4/CP.3 adotada na COP 3. Fonte: Rocha (2000, p. 33). Em virtude de poucos países industrializados terem atingido suas metas, a Comunidade Européia propôs, nessa reunião, que até o ano de 2010 os países do “Anexo 1” diminuíssem a emissão de gases tóxicos em 15% em relação aos níveis emitidos em 1990. Os Estados Unidos sugeriram que até o ano de 2012 as emissões se reduzissem aos níveis de 1990 e que os países em desenvolvimento também participassem desse acordo de redução de emissões. 46 Mais recentemente, tem-se observado uma certa hesitação, principalmente dos Estados Unidos, em assinar esse acordo, por não aceitar que grandes países em desenvolvimento não estejam incluídos no “Anexo 1”. Os países em desenvolvimento justificamse pelo fato de acreditar que ainda precisam desenvolver-se para atingir o nível de progresso vivenciado pelas nações mais desenvolvidas e, principalmente, pelo estilo de vida adotado pelos países capitalistas desenvolvidos, de crescimento com pressões sobre os recursos naturais e de acúmulo de grande quantidade de lixo ambiental. Assim, o resultado desse encontro foi apenas o estabelecimento da diminuição média de 5,2% dos gases causadores do efeito estufa abaixo dos níveis registrados em 1990, de 2008 até o ano de 2012, significando uma diminuição de cerca de 40% nas emissões totais desses gases, em especial do CO2. Cotas especiais foram estipuladas para a Comunidade Européia, para os EUA e para o Japão. Por enquanto, o Protocolo foi assinado apenas por 84 países e somente entrará em vigor após ser ratificado por um conjunto mínimo de 55 países que representem pelo menos 55% das emissões mundiais de CO2. A Conferência de Joanesburgo, na África do Sul, em 2002, frustrou qualquer expectativa de avanço global imediato quanto a esse acordo, com uma vez mais a 47 ausência da representação americana. Os EUA representam 25% do total mundial das emissões de gases poluentes. Espera-se então que a Rússia, responsável por 18% das emissões, assine o Protocolo, pois a quantidade de países que ratificaram o Protocolo (o Brasil, apesar de não fazer parte do “Anexo 1”, ratificou em 23 de julho de 2002) ainda não representa o conjunto mínimo de emissões totais, não permitindo no estado atual que o Protocolo entre em vigor. Independentemente dos níveis a serem cumpridos por cada país e dos países que realmente ratificarão o Protocolo, algumas ações podem e devem ser implementadas para atingir as cotas, reduzindo as emissões de poluentes pelos países interessados e envolvidos no acordo, de maneira a criar impactos econômicos e ambientais positivos, antes mesmo dele começar a funcionar. Isso porque os países que já assinaram o acordo têm consciência que a característica dos gases do efeito estufa (GEE) é expandir-se uniformemente pela superfície terrestre independente de onde eles forem emitidos e, portanto, que reduzir suas emissões podem criar benefícios, em qualquer lugar do mundo em que tais atos ocorrerem. As emissões de poluentes podem ser encaradas como fluxos que refletem acréscimos ao estoque de poluição existente [...] A necessidade de se promover um ajuste na situação descrita com o fito de combater 48 o efeito estufa mostra que a única variável passível de controle é o fluxo de emissões (Diniz, 1998, p. 313). De acordo com Diniz (1998), existem quatro efeitos que impactam o fluxo de emissões de poluentes no mundo: a) o efeito escala, que reflete o impacto do crescimento da produção no mundo sobre as emissões de poluentes; b) o efeito tecnologia, que reflete o impacto das mudanças tecnológicas que podem alterar a proporção das emissões no produto; c) o efeito composição entre os países, que reflete alterações na parcela correspondente a cada país no produto do setor i; d) o efeito composição entre setores, que reflete mudanças na fração do setor i no produto mundial. Pode-se observar que o efeito escala é cumulativo e que as emissões tendem a aumentar; o efeito tecnologia poderá diminuir as emissões, quando tecnologias menos poluidoras passarem a ser adotadas; o efeito composição entre países poderá diminuir as emissões ao se aumentar a fração do produto do setor i para os setores menos poluidores; e o efeito composição entre setores poderá diminuir as emissões ao se aumentar a participação dos setores menos poluidores na produção mundial. Nota-se que “o 49 efeito composição sempre envolve pelo menos dois países (em c) ou dois setores (em d), enquanto o efeito tecnologia pode ser resultado do esforço de um só país em um único setor” (Diniz, 1998, p. 314). O Protocolo de Kyoto, ao criar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), parece ter levado em consideração esses quatro efeitos, através dos instrumentos propostos para que os países do “Anexo 1” possam atingir suas metas de redução de emissões. Eis algumas alternativas de projetos a serem cumpridos pelos países que assinaram o acordo: a) cortar o subsídio concedido às energias provenientes de combustíveis fósseis tradicionais, forçando o emprego de fontes alternativas, como a solar, a eólica, a hidráulica, as células de hidrogênio, e até mesmo a nuclear; b) utilizar combustíveis menos poluentes, como o gás natural e, substituir combustíveis fósseis por combustíveis renováveis, como o bagaço de cana, o cavaco da madeira, a palha do arroz, e o lixo urbano reciclado; c) investir pesadamente em P & D para possibilitar avanços tecnológicos, via pesquisa 50 aplicada direcionada para tecnologias corretivas (end-of-pipe), e também voltada para o desenvolvimento de tecnologias novas, eficientes e “limpas”; d) estabelecer acordos bilaterais, em que grandes emissores de CO2 poderiam compensar suas emissões por meio da criação e conservação de “sumidouros”, como florestas em outros países, ou seja, o seqüestro ou remoção de carbono se daria nos países geralmente em desenvolvimento, por meio de plantios de compensação, em troca da continuidade de emissão de GEE pelos países mais poluentes; e) criar um mercado mundial de licenças para emissão de CO2, onde os países mais poluentes comprariam cotas dos menos poluentes para poluírem além das suas estabelecidas, dando lugar à compra e venda de Créditos de Redução de Emissões (CREs), de modo que, na troca, um nível global de emissões desejado seria atingido. Essa ação dá lugar aos seguintes agentes protagonistas: os emissores, interessados na aquisição dos certificados de emissões reduzidas; os captores, que contribuirão no seqüestro de carbono e outros gases, ou na redução de sua emissão e que obterão certificados a serem comercializados; e os facilitadores, que prestarão serviços, ou seja, serão os auditores e consultores para a fiscalização e certificação e que trabalharão conjuntamente com bancos de 51 investimento, seguradoras, assessores jurídicos, empresariais e financeiros. Sendo assim, os investimentos nos chamados “projetos de emissão evitada” tendem a ocasionar vários efeitos: o corte de subsídios aos combustíveis poluentes e o uso de combustíveis menos poluentes visam estimular a produção econômica com a utilização de energia limpa e refletirão um impacto menor sobre o meio ambiente, ou seja, uma redução na emissão de poluentes e um controle maior do efeito escala; os avanços em P & D em busca de tecnologias corretivas refletirão um efeito tecnologia positivo e também abre a possibilidade de fornecimento de tecnologia “limpa” aos países em desenvolvimento, em troca de créditos de carbono; com a redução de emissões por produto, os projetos para seqüestro de carbono entre países refletirão o efeito composição entre setores quando as empresas poluentes de diferentes setores, para continuar poluindo, terão de investir em projetos florestais para melhoria do ar através de remoção de carbono, nos países menos desenvolvidos, efeito este também evidenciado com a criação de um mercado de carbono mundial. Entretanto, o efeito composição entre países poderá não ser positivo: 52 ...os países, ao atingirem um grau mais alto de desenvolvimento, delegariam a terceiros a produção de bens cujo processo produtivo seja altamente poluidor, o que elevaria o preço de tais bens e estimularia a produção dos mesmos por países pobres [...]. Logo, o mero desenvolvimento econômico não contribui para a eliminação do problema, e um acordo se torna necessário para forçar a diminuição das emissões (Diniz, 1998, p. 314-315). Logo, um país responsável por grande produção material para consumo interno e para exportação, mesmo não sendo considerado inicialmente um grande poluidor, poderá ser incluído, num futuro próximo, como um dos mais poluentes. É necessário que os países envolvidos no mecanismo do Protocolo atentem para este fato e planejem suas decisões acerca do desenvolvimento sustentável desejável. Percebe-se então, que quaisquer que sejam os projetos a serem usados pelos empresários e seus países, eles tendem a estimular fluxos de investimento privados entre países e que cumprir a meta de redução de emissões aos níveis de 1990, implicará em grandes volumes de investimentos não somente dentro das fronteiras geográficas dos países que compõem o “Anexo 1”, mas também investimentos em projetos do MDL nos países em 53 desenvolvimento, onde os custos para atingir tais metas tendem a ser menores (Lopes, 2003). 4 A CRIAÇÃO DE UM MERCADO DE CARBONO MUNDIAL Ao analisar os instrumentos adotados pelo MDL do Protocolo de Kyoto, constata-se que, ao estabelecer um “preço” para a poluição através da criação de um mercado para a emissão de carbono mundial, nele foi aplicado um instrumento sugerido pela teoria econômica neoclássica. Esse instrumento possibilitará que seja incorporado, no preço do produto de uma empresa com produção poluente, o custo devido à poluição por ela causada à sociedade, implicando com isso que a maximização de seus lucros ocorra num nível de produção em que a poluição gerada seja a mais próxima possível do nível socialmente desejável. Isso torna-se aparente, ao relatar o interesse dos países do “Anexo 1” em internalizar em seus custos, os projetos de seqüestro de carbono e compra de CREs, como forma de reparar as externalidades que são geradas. 54 A questão é: qual o “preço” do carbono no mercado mundial? O valor de todo bem econômico surge de acordo com sua escassez no mercado. Como há excesso de carbono na atmosfera, falta é carbono fixado (reflorestamento, por exemplo), ou que se deixou de emitir – um bem negativo, por assim dizer, que ganha valor quando retirado de circulação (Leite, 1998, p. 7). A falta de ar puro na atmosfera e a disputa pelos CREs pelas empresas poluidoras possibilitaram o surgimento natural de um mercado global de carbono, antes mesmo da ratificação do Protocolo. As ações já desenvolvidas por tais empresas, num mercado não oficial de carbono, por meio dos instrumentos previstos no MDL, vem confirmar desde já a aceitação do carbono como uma commodity ambiental a ser negociada em breve nas principais bolsas de valores do mundo. De acordo com o Protocolo, as empresas dos países do “Anexo 1” que possuem projetos de emissão evitada poderão usar esses títulos para abater parte do déficit de seus países entre os anos de 2008 e 2012. Porém, para usar os CREs provenientes desses projetos do MDL, antes eles deverão passar por várias etapas. O detentor desse certificado possui um ativo que pode ser negociado no mercado e propiciar ganhos devido à sua valorização, além de gerar divisas para 55 o país onde o empreendimento foi realizado. Portanto, além de propiciar um fluxo de investimentos, geram divisas para o país. Os empresários ganham nova fonte de recursos e uma oportunidade de ganho com a valorização das RCEs (reduções certificadas de emissão) no mercado de carbono (Lopes, 2003, p. 45). Atualmente, o CRE ainda é comercializado a preços muito baixos, em torno de US$ 5 por tonelada no mercado mundial de carbono, mas poderá atingir US$ 30 a tonelada em mercados organizados (Muggiati, 2002; Lopes, 2003). O comprador do crédito é, normalmente, um empresário que tem metas a cumprir e o vendedor é um empresário de um país do “Anexo 2”, que pode ser o Brasil, e que possui e tem o domínio de algum projeto a ser enquadrado no MDL. É obvio que, o interesse do comprador é comprar o crédito o mais barato possível, caso contrário, ele investiria em projetos de redução de emissões em seu próprio processo de produção, ou em seu próprio país. Nota-se, que há oportunidades econômicas tanto para os países do “Anexo 1” quanto para os países do “Anexo 2”. No Brasil, as oportunidades têm surgido justamente pelo fato do país não fazer parte do “Anexo 1” e por ser considerado, até o momento, uma nação relativamente limpa em termos tecnológicos e em fontes de energia empregadas, diante de sua dimensão continental, sobretudo se comparado a outras nações em desenvolvimento. 56 ...o Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo propôs a criação da Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais, com vistas a negociar, com transparência e publicidade, mercadorias à vista, com entrega física e no mercado futuro, por meio de financiamentos nos prazos adequados para a produção sustentável. Desde 1994, a Environmental Protection Agency, EPA, vem emitindo milhares de certificados autorizando emissões de toneladas de dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros gases poluentes (Rocha, 2000, p. 32-33). As vantagens brasileiras estão, portanto, na possibilidade de o pais servir de sumidouro para os países do “Anexo 1” – onde eles investiriam em projetos de conservação de matas e florestas -, como também na sofisticação do mercado financeiro nacional, fator imprescindível para implementar um mercado de carbono regulado e de credibilidade, e que possa ser vinculado aos mercados globais oficiais de carbono para, em breve, poder negociar os CREs e atrair um fluxo maior de divisas para o país. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A obtenção de bem-estar pela sociedade vislumbrada na economia liberal de Smith parece não funcionar da maneira idealizada, quando os mercados são imperfeitos e operam sem eficiência econômica, sobretudo quando ocorrem falhas de mercado ligadas às externalidades. 57 Mostrou-se, que os recursos naturais são de propriedade de todos, sendo, portanto, sem fronteiras. Assim, a legislação ambiental continua sendo a mais poderosa pressão exercida sobre os agentes econômicos para que firmas, comunidades, força trabalhadora e investidores produzam de forma mais limpa e mais consciente, incorporando em sua produção, os custos sociais de sua atividade. Às vezes, a falta de conhecimento e informação sobre as externalidades advindas da adoção de uma nova tecnologia, devido também à ausência de consciência ambiental, pode induzir à aquisição de tecnologias mais poluentes por parte dos agentes econômicos. Logo, pequenas ações locais, quando somadas, têm implicações globais. É preciso compreender que os problemas ambientais correntes avançam e se acumulam em pequenos efeitos e que esses pequenos eventos isolados e locais se tornam grandes problemas ao longo do tempo. Então, a correção local de problemas locais pode ter, junto com outros mais, resultados em nível global. Não é possível separar riqueza e progresso; no entanto, é preciso conciliar ambos em uma existência pacífica com o meio ambiente. O Protocolo de Kyoto parece ter dado início a essa conscientização, pois ao adotar o MDL, tem contribuído 58 para criar oportunidades econômicas para países mais e menos desenvolvidos sem, com isso, restringir a atividade econômica mundial. As medidas do Protocolo de Kyoto mostram que a percepção dos problemas ambientais na atualidade e das questões relacionadas a eles encontra-se num contexto diferente daquele iniciado com a onda de conscientização no passado. Percebe-se, portanto, uma postura mais pró-ativa dos agentes envolvidos para mudar a direção do progresso tecnológico mundial, facilitando essas medidas. A adoção dos instrumentos do MDL do Protocolo por alguns países do “Anexo 1” e aceitos por alguns países do “Anexo 2” leva à crença de que é possível mudar o paradigma tecnoeconômico rumo ao “esverdeamento” tecnológico. Essa mudança de postura dependerá da interação entre os agentes microeconômicos – firmas e indivíduos – e o governo, que, através de medidas como as citadas, poderá afetar agentes individuais e também o sistema como um todo. O sucesso de tal estratégia convence por fazer crer na possibilidade de se sair do fenômeno de lock-in (aprisionamento) de um paradigma anterior. As mudanças de paradigmas tecnológicos apresentam-se como transformadoras de um contexto econômico anterior e requerem, para tal, mudanças sociais e institucionais. Conclui-se assim que serão necessários agentes para realizar tal mudança, os quais terão de adaptar-se ao novo contexto 59 macroeconômico instaurado. O uso de instrumentos econômicos pode auxiliar na construção de uma nova trajetória mais consciente, na qual crescimento e desenvolvimento tecnológicos possam ser ecologicamente sustentáveis. Abre-se também a oportunidade para conjugar ações econômicas e ações ambientais para o bem-estar mundial, numa interação possível e num intercâmbio construtivo entre economia e ecologia. 6 REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. T. Política ambiental: uma análise econômica. Campinas: Papirus, 1998. CONJUNTURA ECONÔMICA. O encontro de Quioto. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, v. 51, n. 12, dez. 1997. _______ . A polêmica ambiental. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, v. 53. n. 2, fev. 1999. CORDEIRO, R. Aumenta interesse por créditos de carbono. Brasil Energia, Rio de Janeiro, n. 273, p. 41-42, ago. 2003. DINIZ , E. M. O protocolo de Kyoto. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 52, n. 2, p. 311-321, abr./jun. 1998. GIBBON, V.; ANDRADE, J. P. V. de. Lições de Quioto para reduzir a pobreza. Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, v. 57, n. 6, p. 48-50, jun. 2003. KEMP, R.; SOETE, L. The greening of technological progress: an evolutionary perpective. 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São Paulo: Atlas, 2000. 61 COMUNICAÇÃO: UM DESAFIO DA GESTÃO EDUCATIVA NA ESCOLA FUNDAMENTAL Eleusa Pansiere de Souza Zucolotto 1 RESUMO Este estudo busca ressaltar a importância da competência comunicativa, assim como as variedades e indicadores para o êxito da mesma. A investigação representa uma contribuição da prática pedagógica por quanto oferecer uma alternativa com o propósito de adequar o nível de comunicação na língua materna dos estudantes, cujas dificuldades não podem ser atendidas sem ter em conta seu contexto social. PALAVRAS–CHAVE: Comunicação; Linguagem; Competência Comunicativa. ABSTRACT This study search to focus on the communicative competence importance, as the varieties and the indicators of the development of it. The investigation represents a contribution of the educatinal practice and also offer an alternative with the aim to improve the leve of communication of the student’s mother language, whose dificulties can not be answered without bearing its social context in mind. KEY-WORDS: Communication; Language; Comunicative Competence 1 INTRODUÇÃO 1 Pós-Graduada em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira – Universo e Professora e Coordenadora do Curso de Letras e Normal Superior do INESV/UNIVEN. 62 O domínio da linguagem, em sua atividade comunicativa e cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma sociedade lingüística, são condições de possibilidades de plena participação social. Através da linguagem, os homens se comunicam, tem acesso à informação, expressam e defendem pontos de vistas, trocam ou constroem visões de mundo, produzem cultura. Assim, cabe a escola a função e a responsabilidade de construir para garantir a todos os alunos o acesso aos valores lingüísticos necessários para o exercício da cidadania. 2 COMUNICAÇÃO: UM DESAFIO DA GESTÃO EDUCATIVA NA ESCOLA FUNDAMENTAL 2.1 A LINGUAGEM: FUNÇÕES COGNOSCITIVAS E COMUNICATIVAS. A linguagem ocupou e ocupa um papel fundamental tanto na origem como no posterior desenvolvimento do homem, do feito constitui um poderoso instrumento 63 para a formação do pensamento e um meio insubstituível de comunicação entre os seres humanos. Vigotsky considerou a íntima relação entre o pensamento e a linguagem como um produto do desenvolvimento histórico da consciência humana. Como um processo que se manifesta no ir e vir do pensamento à palavra e da palavra ao pensamento. Encontrou a unidade do pensamento verbal na significação da palavra; fenômeno que é difícil precisar se pertence a linguagem ou ao pensamento. Uma palavra carente de significado é um conjunto de sons vazios, o significado é seu componente indispensável. Neste caso, se pode interpretar como um fenômeno da linguagem. Porém, desde o ponto de vista psicológico o significado de cada palavra é uma generalização ou conceito, como estes são atos do pensamento se pode considerar ao significado como um fenômeno do pensamento. O significado da palavra é um fenômeno do pensamento, enquanto este, encarnado na linguagem e constitui um fenômeno da linguagem somente quando se relaciona com o pensamento. É um fenômeno do pensamento verbal ou da linguagem significativa. 64 A linguagem e o pensamento não são idênticos, a relação entre eles é um processo vivo. O pensamento existe através de palavras e se expressa através delas. “Uma palavra sem pensamento é uma coisa morta e um pensamento desprovido de palavra permanece na sombra”. É através de suas funções básicas: comunicativa e cognoscitiva que a linguagem cumpre seu papel na sociedade: · Função Comunicativa: Tanto no plano filogênico como ontogenético a primeira função presente na linguagem é a comunicativa. No processo comunicativo, o individuo entra em contato com o que o rodeia, se relaciona com o mundo circundante, assimila novos conhecimentos, forma seu pensamento, daí que se diga que a primeira função da linguagem é social. A função comunicativa teve sua origem nas formas elementares (pré-verbais de comunicação). A primeira forma de comunicação que se estabelece a criança com o adulto é através do grito. 65 No desenvolvimento das primeiras formas pré-verbais de comunicação, assim como nas etapas iniciais da atividade verbal, se o concede um grande significado às reações imitativa às reações imitativas, que fazem possível a reprodução do percebido. Na seguinte etapa já por meio da formulação verbal, a entonação continua conservando sua importância. Por meio dela se expressa a reação emocional da criança com uma ou outra expressão, ela complementa a idéia, fazendo-a mais exata. As possibilidades comunicativas da criança se encontram em dependência das condições que tenha de assimilar os meios que lhe oferece a língua. Na medida que se encontra os meios léxicogramaticais mais complexos, ela poderá estabelecer formas mais elevadas de comunicação. Função Cognoscitiva: A função cognoscitiva da linguagem se encontra em estreita relação com a função comunicativa. Esta função se desenvolve na medida em que a criança possa estabelecer contato com o que a rodeia. Com a ajuda da linguagem não só obtém a nova 66 informação, se não também a possibilidade de poder realizar sua atividade cognoscitiva de uma forma nova. A palavra atua, influi sobre a atividade sensorial e perceptual, sobre a consciência do homem levando-a ao conhecimento racional. Pode-se dizer que toda atividade psíquica do homem se reorganiza ganhando em perfeição e complexidade. A palavra se encontra presente no processo imaginativo, proporciona a este um meio de apoio. Sabe-se que aquilo que imagina a criança se encontra representando em grande medida na palavra. As necessidades cognoscitivas do homem se vêem, satisfeitas, em grande medida pela participação da linguagem, que é o instrumento da atividade cognoscitiva. Em correspondência com o anterior, se necessita desenvolver nos educandos capacidades cognoscitivas e comunicativas através da linguagem, assumindo assim suas distintas debilidades, a que é elaborada e processadas de acordo com as manifestações concretas que dêem sentido, força e direção à personalidade, que o aprendido adquira um significado e um sentido pessoal tal que, 67 consiga desenvolver novas necessidades e aprendizagens em seu desenvolvimento pela vida. Jose Marti dizia: “os homens crescem, crescem fisicamente de uma maneira visível, crescem quando aprendem algo, quando conseguem algo e quando fazem o bem”. Isto significa que há que estabelecer um vínculo cognitivo para que nossos educandos cheguem a alcançar determinadas habilidades. Para desenvolver a habilidade de comunicação o educador deve tomar em conta os seguintes aspectos: 1º) Pelo sistema de comunicação se podem descobrir distorções na função cognitiva de um aluno; 2º) Se espera que o sistema de comunicação seja um indicador que impere na escola entre professor e aluno; Fernando González Rey afirma que há um estudo do processo de comunicação mediante a utilização de técnicas individuais. Isto indica que todo indicador deve estar comprometido com elementos que sejam verdadeiros desde os pontos de vista cognitivo e comunicativo. 68 2.1.1 A LINGUAGEM COMO PROCESSO DE INTERAÇÃO VERBAL Uma compreensão da linguagem e por conseguinte de língua fará que nossa prática se fundamente em suportes teóricos trabalhados pela Sociolingüística, Etnolingüística, Pragmática, Teoria da Enunciação e Análises do Discurso. Em todas essas correntes de uma forma ou de outra se trabalham os aspectos sociais, culturais e lingüísticos. A continuação se apresenta uma breve caracterização de cada uma dessas correntes, tendo como base os critérios da autora Eni Orlandi. A Sociolingüística, segundo a autora, toma a sociedade como causa e vê na linguagem os reflexos das estruturas sociais. Tendo como objetivo sistematizar a variação existente na linguagem, explicando-a através de fatores sociais. A Etnolingüística, com a oposição oposta ao da Sociolingüística, considera a linguagem não como um reflexo das estruturas sociais ou culturais, se não como uma causa dessas estruturas, pois segundo os estudiosos a linguagem organiza para o individuo o mundo em que vive. 69 A Pragmática é uma vertente teórica que vai estudar o usuário da linguagem em sua relação de interlocução com outro usuário, em uma situação de comunicação. Destaca a questão da significação partindo da intenção; a realização de determinadas ações; a argumentação. Teoria da Enunciação. Para esta vertente teórica, o centro de estudo é a linguagem, isto é, o locutor em sua relação com o destinatário. O que interessa é o processo da enunciação: a forma por meio da qual o sujeito se destaca naquilo que disse. A linguagem se utiliza, então, não somente como instrumento de pensamento ou de comunicação, se não principalmente, como algo que é decisivo na constituição da identidade da pessoa. Análises do Discurso. Essa forma, segundo Orlandi, aprofunda nas críticas feitas pela Sociolingüística, pela Pragmática e pela Teoria da Enunciação. Sua principal proposta é considerar como essencial, a relação da linguagem com a realidade extra lingüística, isto é, com as condições de produção do discurso: o falante, o ouvinte, o contexto, da comunicação e o contexto histórico-social. 70 Ainda que haja enfoques e práticas diferentes, essas teorias têm como objetivo de análise o ato da fala – discurso -, uma dimensão que não separa a linguagem de seu processo histórico, produto da interação entre os homens. Ela é concebida não como um produto, se não como um processo de construção social, fundada em determinações, materiais que a influenciarão, mas também serão influenciadas por ela. O enfoque dado ao signo lingüístico, na perspectiva dessas teorias, toma em conta, portanto, a natureza semiótica do signo que resulta de um consenso de indivíduos socialmente organizados no decorrer de um processo de interação. Razão pela qual as formas dos signos são condicionadas tanto pela organização social de tais indivíduos como pelas condições em que a interação se produz. Aceitar os pressupostos estudados até agora, como já dissemos, conduzirá nossa prática pedagógica a determinadas direções: considerar a linguagem um processo de construção social, portanto histórico, produto da interação entre os homens. A autora entende, procedente, considerar outras concepções, de linguagem e de língua, construídas sobre a base de suportes teóricos diferentes aos antes expostos. 71 A continuação se apresenta uma classificação sugerida por Geraldi, 1984, que sugere três concepções sobre a linguagem: a primeira em que se percebe como Expressão do Pensamento, a segunda como Meio Objetivo para a comunicação e a terceira, que percebe a linguagem como Processo de Interação Verbal coincidente com as correntes antes mencionadas ao início da epígrafe. 2.1.2 A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO A concepção que visualiza a linguagem como expressão do Pensamento, busca explicá-la a partir das condições de vida psíquica e individual do sujeito falante. Em outras palavras, a linguagem é vista como puramente individual. A linguagem, para esta concepção, é gerada no interior do pensamento do indivíduo, que depois o exterioriza com ajuda de códigos de signos exteriores. Essa teoria supõe, pois certo dualismo entre o interior e o exterior com predominância do conteúdo interior, uma vez que o ato de objetivação procede do interior até o exterior. 72 Sendo assim, a ênfases é dada ao sujeito que conhece; a linguagem se constrói no pensamento, no interior do indivíduo, no estando presente no receptor da interação, muito menos a situação social que determina as condições sociais reais da enunciação. Não são tomadas em consideração as circunstâncias, as condições em que a linguagem é produzida. Através da linguagem, segundo esta concepção, o homem representa para si o mundo, sendo, pois, sua função refletir seus pensamentos e seu conhecimento de mundo. Para teóricos dessa concepção, segundo Neder (1993), a linguagem é uma faculdade divina. O homem já nasce com a capacidade de exteriorizar seu pensamento, que é gerado em seu psiquismo. De sua capacidade de organizar o pensamento, dependerá sua exteriorização. Se o homem não consegue uma organização lógica de seu pensamento, sua linguagem estará afetada, isto é, desarticulada. Logo, o pensamento deve ser organizado, obedecendo a determinada lógica, dificilmente terá condições de organizar seus pensamentos. Equivale dizer que, se ele não consegue expressar-se com lógica, é porque não é capaz de pensar. Assim, se presume que há regras que devem ser 73 seguidas para alcançar a organização lógica, do pensamento e conseqüentemente da linguagem. Linguagem equivale, portanto, a pensamento. A língua é concebida como produto acabado, como sistema estável. Há regras e normas constituídas que devem ser seguidas. É como se houvesse um depósito com pacotes preparados para serem usados por qualquer falante de determinada língua. A gramática normativa, ainda que se proponha a ensinar a fala e a escrever “corretamente”, apresenta problemas como prioridade descritiva dada aos conceitos e definições que misturam critérios de classificação, função e uso. Há preocupação excessiva com fatos gramaticais de exceção. Além disso, as prescrições são mais para a língua escrita que para a língua falada. Segundo o antes exposto, pode afirmar-se que a gramática normativa existe e persiste por privilegiar uma cultura letrada, ou seja, ela prescreve regras de escrita para uma comunidade que 74 as use e faça delas uma forma mais de comunicação social ao lado da oral e da não-verbal. Muitos são os estudos que têm como foco a apropriação da linguagem. Esses estudos se detêm, às vezes, nas análises dos métodos utilizados no processo da alfabetização como convencionalmente é denominado o processo de apropriação da linguagem escrita, nos motivos que levam grande número de crianças, principalmente aquelas pertencentes às classes populares, a fracassar em seu processo de ensino-aprendizagem. 2.1.3 A LINGUAGEM COMO PROCESSO COMUNICATIVO Possari e Neder apresentam outra concepção de linguagem: aquela em que é vista como meio objetivo para a comunicação. A diferença da primeira concepção (linguagem como expressão do pensamento), essa segunda considera a variação lingüística como um de seus princípios de sustentação. Por isso, antes de entrarmos em sua caracterização, é importante determos um pouco para responder a seguinte interrogativa: Que é variação lingüística? 75 É fundamental compreender que a variação lingüística se dá na língua falada e escrita pelos falantes de uma determinada comunidade e esta tem o papel de caracterizar a comunicação entre eles. Observe as frases: _ “Vão fazê us exercíciu?” _ “Cumé que se faiz? Cum lapisó”! _ “Nóis vai fazê tudo di bão”! _ “Eu nu truci u livro”. A conversação apresentada mostra que falantes não empregam a norma culta, mas eles se entendem porque usam as mesmas variações lingüísticas interferindo nos discursos foi possível demonstrar entendimento em suas falas. De acordo com Faraco e Moura : “A linguagem coloquial é aquela empregada no cotidiano. Portanto é bastante informal, incorpora formas e expressões populares e não obedece necessariamente às regras da gramática normativa”. 76 As variações vistas estão portanto relacionadas com a comunidade em que cada pessoa vive. Estas variedades são devidas à relação linguagem e sociedade. Já vimos que essa relação é definida na sociolingüística. Eles também comentam que: “A linguagem culta se trata de uma linguagem mais formal, que segue os princípios da gramática normativa. Empregada na escola, no trabalho, nos jornais, nos livros em geral”. Segundo Neder, essa teoria é da variação. Esta variação da linguagem está sociológica – diretamente cargos, relacionada graus de com a variação escolaridade, nível socioeconômico. O contexto extralingüístico é obtido como fundamental uma vez que somente na inter - relação da linguagem se estabelece. Faraco e Moura sustentam que: “Quem faz a língua são os falantes, não os gramáticos. Estes simplesmente recolhem e analisam o material produzido pelos 77 falantes, já que a língua é viva e dinâmica. Ela não está sujeita a regras eternas e não mutáveis”. 2.2 QUE É A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA? A língua é um sistema organizado de elementos que tem a finalidade de transmitir comunicação entre os falantes. Então, pode-se afirmar que o ensino da língua deve partir da idéia de que a língua é comunicação. O termo competência foi utilizado pelo lingüista norte-americano N. Chomsky (1970) para caracterizar o fundamental na teoria lingüística a partir das habilidades abstratas dos falantes que os permite produzir orações corretas desde o ponto de vista gramatical. “A teoria lingüística se preocupa principalmente com o falanteouvinte ideal em uma comunidade de fala completamente homogênea”. Esta concepção que, como uma reação à lingüística estruturalista norte-americana, deu lugar à chamada Gramática Gerativa e 78 Transformacional, foi posteriormente submetida à crítica por outros estudiosos da lingüística como Halliday (1994), que sem desconhecer a importância desta concepção a complementaram e deram uma maior amplitude à visão da competência Chomskiana. De tal forma, surgiu o termo competência comunicativa vinculando diretamente ao chamado “Enfoque comunicativo” para o ensino de línguas. O objetivo fundamental do enfoque comunicativo é contribuir ao desenvolvimento da competência comunicativa do aluno, entendida esta, como competência lingüística (habilidade para empregar os meios ou recursos lingüísticos); competência sócio lingüística (habilidade para adequar os meios lingüísticos às características da situação e o contexto); competência discursiva (habilidade para relacionar coerentemente as partes do discurso com este como um todo); e competência estratégica (habilidade para iniciar, desenvolver e concluir a comunicação). Esta teoria lingüística sobre a comunicação que defende o ensino comunicativo da língua é a descrição funcional de Halliday sobre o discurso da língua. 79 “A lingüística estuda a descrição dos atos da fala ou dos textos, visto que, somente através do estudo da língua, se manifestam todas as funções da linguagem e os componentes do significado”. Ele desenvolveu, uma importante teoria sobre as funções da língua que oferece uma visão ampla da competência comunicativa. Halliday descreve as sete funções lingüísticas básicas quando as crianças aprendem sua primeira língua: a função instrumental: uso da língua para obter conhecimento sobre determinado termo; a função reguladora: uso da língua para controlar a conduta das pessoas; a função interativa: uso da língua para criar interação com outros; a função pessoal: uso da língua para expressar sentimentos e significados pessoais; a função heurística: uso da língua para aprender e descobrir novas situações; a função imaginativa: uso da língua para estimular o mundo da imaginação; a função representativa: uso da língua para informar. 80 O ensino comunicativo da língua, no plano da teoria lingüística, tem uma base teórica de grande riqueza, ainda que um tanto eclético. Algumas das características desta teoria comunicativa são as seguintes: a) A língua é um sistema para expressar seu significado; b) A principal função da língua é a interação e a comunicação; c) A estrutura da língua reflete seus usos funcionais e comunicativos; d) As unidades principais da língua não são somente os elementos gramaticais e estruturais, se não categorias de significado funcional e comunicativo tais como se manifestam no discurso: em contraste com o que está escrito sobre a dimensão comunicativa da língua pouco se há escrito sobre a teoria de sua aprendizagem. Em algumas práticas do enfoque, pode-se presenciar alguns princípios de uma teoria de aprendizagem subjacente. Um destes elementos se pode escrever como o principio da comunicação: as atividades que requerem comunicação real promovem a aprendizagem. Um segundo elemento é o princípio da tarefa: as atividades nas quais se utiliza a língua para chegar a realizar tarefas significativas melhoram a aprendizagem. Em terceiro elemento é o princípio do significado: a língua que é significativa para o aluno ajuda no processo de aprendizagem. Portanto, as atividades de aprendizagem se relacionam de acordo com o grau em que conseguem que os alunos usem a língua de maneira significativa e real (não praticando mecanicamente as estruturas). 81 Descrições mais recentes, têm tentado descrever teorias sobre o processo da aprendizagem da língua que são compatíveis com o Enfoque comunicativo, e consideram o papel das variantes lingüísticas, sociais, cognoscitivas e individuais na aquisição da língua. Outros teóricos, que não se associam diretamente com este enfoque vêm desenvolvendo teorias que se consideram compatíveis com os princípios do Enfoque Comunicativo. Consideram que a aquisição é o processo básico que permite alcançar o domínio da língua, e o distingue da aprendizagem. A aquisição se refere ao desenvolvimento inconsciente do sistema da língua – objeto como conseqüência de usá-la em função da comunicação. Segundo Krashen, a aprendizagem é a representação consciente do conhecimento gramatical que resulta do ensino e que não leva a aquisição. É o sistema adquirido, posto em jogo para criar enunciados no uso espontâneo da língua. O sistema aprendido só pode servir como guia da produção do sistema adquirido. Um aspecto importante é o eixo de que os materiais do ensino, no Enfoque Comunicativo, tendem a manter a autenticidade das 82 situações reais do uso da língua, evitando-se simplificações ou adaptações que possam prejudicar seu valor comunicativo. Em outras palavras, os exemplos autênticos são privilegiados, en detrimento de materiais com estruturas sintáticas rigidamentes controladas, dentro de um limite de vocabulário e gramática prédeterminados. A gramática passa a assumir o relevante papel de suporte para as funções comunicativas para serem desenvolvidas, não sendo, por isso, enfatizada e ensinada como um fim em si mesma. 3 DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES COMUNICATIVAS Todos os elementos encontrados dentro dos quatro subsistemas do sistema lingüístico são utilizados no que chamamos “habilidades comunicativas”; é dizer, as habilidades integradas de escutar, falar, ler e escrever. O termo “integrada” ou “integrativa” é usado para introduzir duas idéias: a) Geralmente, as habilidades são usadas juntas. Escutamos e lemos ou escrevemos, lemos e falamos, ou lemos e escrevemos; b) Os elementos descritivos são combinados em seqüências informativas e significativas nos atos da fala ou em unidades maiores do discurso e do texto. 83 Para que se compreenda o antes exposto, resulta procedente discutir as quatro habilidades lingüísticas, como forma de melhor caracterizá-las no contexto comunicativo: 3.1 HABILIDADES DE AUDIÇÃO A habilidade do estudante para compreender (decodificar) qualquer enunciado ou texto maior dependerá de vários fatores: a) sua familiaridade com todos os elementos; b) sua habilidade para reconhecer elementos redundantes na mensagem; c) sua habilidade para adivinhar ou hipotetizar sobre algumas palavras ou grupos de palavras não familiares de acordo com sua posição no contexto; d) sua “expectativa” com relação às habilidades anteriores, porque serão encontradas numerosas vezes em uma variedade de tarefas essenciais (aquelas que contenham grande informação) da primeira parte do texto, para continuar escutando as outras partes. 84 3.1.1 HABILIDADES DE FALAR Falar é uma habilidade mais complexa que escutar, já que, em síntese, conduz a conhecer o som, a estrutura, o vocabulário e subsistemas culturais da língua. 3.1.2 HABILIDADES DE LEITURA A leitura é um processo interativo, porque a compreensão de um texto se caracteriza pela interação de diversos níveis de conhecimento. Esses níveis de conhecimento constituem o conhecimento prévio, que o leitor utiliza para poder compreender um texto. A interação deles é essencial, pois a falta de domínio de um, sempre compromete o esforço do leitor em recriar o sentido do texto. O conhecimento de mundo, também denominado enciclopédico, pode ser adquirido formal ou informalmente. Na aquisição formal, a compreensão de determinadas informações contidas em um texto se realiza a partir da ativação do conhecimento enciclopédico, ou seja, através da recuperação de informações de caráter extra lingüístico, que o leitor tem sobre o assunto do texto. 85 A aquisição informal desse conhecimento ocorre através das práticas sociais e das experiências vividas, é o que se denomina saber compartido entre o leitor e o autor. O conhecimento lingüístico se utiliza como estratégica de leitura e abrange todos os conhecimentos relativos da língua. O leitor, para demonstrar o domínio desses conhecimentos deve reconhecer as estruturas morfológicas, sintáticas e lexicais das orações indicativas do estabelecimento da coesão do texto, cuja ausência, segundo Koch e Travaglia (1989), podem em determinadas situações, ocasionar a falta de coerência. Deve ressaltar-se que além disso o conhecimento das palavras, cuja função é a de estabelecer as relações sintáticas entre os termos, orações e parágrafos de um texto, se requer do leitor no processamento do texto, o domínio dos conhecimentos semânticos, os quais auxiliam o leitor na percepção do ajuste dos elementos que compõem as palavras ao contexto lingüístico e de aceitabilidade de tais palavras segundo os padrões da língua. Como foi dito anteriormente, todo ser humano possui uma competência textual, o que significa que, qualquer indivíduo é capaz de avaliar a boa ou má informação do texto, modificar um 86 texto de diversas maneiras e com diferentes fins e reconhecer, segundo determinada tipologia, um tipo de texto dado. O conhecimento textual abrange um conjunto de noções e conceitos sobre o texto, desempenha um papel importante na compreensão dos textos. Sua importância se fundamenta no eixo de que o grau de compreensão do leitor, depende em parte do grau de conhecimento textual, ou seja, quanto maior for o conhecimento textual e maior será a exposição do leitor a uma variedade de tipos de texto, mais fácil será sua compreensão. 3.1.3 HABILIDADE DA ESCRITA A escrita deve reforçar a ajudar a ampliar as habilidades de audição, expressão oral e leitura. Os especialistas afirmam é que se deve priorizar na aula as tarefas relacionadas com a audição e expressão oral. Os estudantes de níveis avançados, reforçam os autores, devem ser providos de experiências de observação, audição e leitura de modo que tenham idéias sobre o que escrever. 87 Conforme o exposto, se pode observar que, apesar de que cada uma das habilidades tem sido tratada separadamente, elas se integram na vida real. Uma das principais tarefas é ajudar os estudantes, que fazem uso delas, a construir um repertório de expressões, noções, e idéias que possam ser valiosas para eles. Esse valor ocorrerá mais facilmente se as expressões, noções e estruturas são reintroduzidas muitas vezes em situações socioculturais apropriadas, de modo que estes estudantes aprendam a antecipá-las na audição e na leitura a proceder de maneira fluida em sua própria expressão oral e na escritura. 4 INDICADORES PARA DETERMINAR A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA O ensino da língua materna tende a centralizar-se na gramática normativa. Por esta razão, Celso Pedro Luft em seu trabalho Língua e Liberdade, aponta a necessidade, de redimensionar o ensino desta língua. Para ele, o objetivo do ensino da língua materna é mostrar como funciona a linguagem humana e, de forma mais particular, como funciona a língua materna. 88 Na maioria das escolas brasileiras confundem estudar a língua com estudar gramática, confundem expressão escrita com fazer produção textual. Segundo Vigotsky, o processo de aquisição e utilização da linguagem como instrumento do pensamento passa por etapas durante o transcurso da vida das pessoas. Ainda que se originam e desenvolvem de forma independente, a certa altura da vida, o pensamento e a linguagem se encontram, formando um pensamento mais complexo. Assim, elaborou uma teoria que tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, no qual a linguagem e a aprendizagem possuem relevantes pontos. Para compreender e descrever as situações comunicativas da língua é necessário conhecer suas funções estruturais. Ter em conta que a didática da língua deve êxito a uma preparação adequada a tais situações para que possa melhorar a competência comunicativa dos falantes. A prática escolar sobre a base de um ensino discursivo não há recebido muita atenção. Para que ela amplie as oportunidades de troca e possibilite aos alunos 89 manifestações de seus pensamentos, tem que ter em conta, conseqüentemente, suas impressões do mundo. Para o ensino da língua os estudiosos apontam quatro dimensões ou áreas da competência comunicativa, aos quais nos referimos ao definir o termo, que podem ser atendidas como indicadores: Competência sociolingüística. Habilidade para compreender o conteúdo em que tem lugar a comunicação. No processo ensinoaprendizagem corresponde a ensinar ao estudante a desenvolver habilidades para a utilização e compreensão de sua língua e de outras línguas em situações sociolingüística. É a capacidade de dominar a realidade. Predicar sobre ela a partir dos conhecimentos primários que se possui dos diferentes estados lingüísticos que se unem ao sistema, até obter as criações de um todo coerente de intenção comum. Competência discursiva. Habilidades para interconectar as partes do discurso e interpretar o texto como um todo. Deve propor-se a ensinar a língua sobre a base de uma estratificação conceptual das categorias comunicativas do texto. Dominar conteúdos e estudar o texto constitui um instrumento para compreender e guiar 90 o processo de ensino-aprendizagem tomando em consideração que o estudante é componente essencial do processo. Competência estratégica. Capacidade para elaborar a estratégia de comunicação, iniciar, continuar ou finalizar o processo comunicativo. O estudante deve ser capaz de ampliar uma função comunicativa e desenvolver, compreender, analisar e assim recriar a o texto capacidade em de favor do desenvolvimento da comunicação. 5 CONCLUSÃO O desenvolvimento da competência comunicativa da língua materna implica não só atenção à área lingüística ou gramatical propriamente dita, se não a atenção a outras dimensões como a sociolingüística, a estratégica e a discursiva que, relacionadas, integram o ato comunicativo. 5 REFERÊNCIAS CHOMSKY, N.A. Reflexões sobre linguagem. São Paulo: Cultrix, [s/d]. 91 inter- ____et alii. Novas Perspectivas lingüísticas. Petrópolis: Vozes, 1970. FARRACO & MOURA . Língua e literatura. São Paulo: Àtica, 1996. HALLIDAY, M. A. El lenguaje como semiótica social: la interpretación social del lenguage y del significado. Colómbia: Fundo de Cultura Económica, 1994. KOCH & TRAVAGLIA, Luís Carlos. A coerência textual. São Paulo: Cortez, 1989. LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. São Paulo: Ática, 1997. NEDER, Maria Lúcia Cavalli. Ensino da linguagem: a configuração de um drama. Cuiabá: UFMT, 1992. ORLANDI, Eni Pulcinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, São Paulo: Pontes, 1987. Parârmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa / SEF - Brasília: MEC, 1988. PEREZ, José Martí. Obras completas. Ed. Ciências Sociais, Habana, 1975. VIGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 92 A EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL: PUBLICAÇÃO DE ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS E ECONÔMICOFINANCEIROS NAS MONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Francislene Ferraz Magalhães de Paulo 1 Flávia Zoboli Dalmácio 2 RESUMO A contabilidade busca, constantemente, transformar dados e registros em informações úteis, relevantes e transparentes, para atender o maior número de usuários possíveis. Como as necessidades e o grau de conhecimento sobre as demonstrações contábeis são diferentes entre os usuários, questionou-se, então, qual a forma mais eficiente de evidenciação da informação contábil, que poderia facilitar a compreensão e a interpretação de aspectos sócio-ambientais e econômico-financeiros, que tanto interessam para esses usuários. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e documental, utilizando-se como amostra as Demonstrações Contábeis de empresas industriais, sociedades anônimas, do Estado do Espírito Santo. Foram coletados os demonstrativos contábeis referentes ao ano de 2002, publicados em 2003. De acordo com os resultados encontrados, a existência de evidenciação das informações propostas, em empresas capixabas, oscilou entre as Notas Explicativas e o Relatório da Administração, mas, dentro dos objetivos propostos e, avaliandose o referencial teórico, o Relatório da Administração, como forma de evidenciação, mostrou-se ser mais flexível e interessante para os usuários externos, levando-se em consideração as proxies utilizadas. ABSTRACT Accounting constantly goals to transform data and registers in useful, relevant and transparent information, to answer the greatest number of possible users. 1 Graduada em Ciencias Contábeis pela UNIVEN; Pós-graduada em Gestão Empresarial pela UNIVEN; Professora da UNIVEN/INESV. 2 Graduada em Ciências Contábeis pela UFES; Pós-graduada em Contabilidade Gerencial pela UFES; Mestra em Finanças e Controladoria pela FUCAPE. 93 As necessities and degrees of knowledge about the accounting demonstration are different between users, it has been questioned, though, what the most efficient way to evidence the accounting information is that could ease the comprehension and interpretation of social-environmental and economicfinancing aspects in which these users are so interested in. So that, a bibliographic and documental research was made, used as samples of the accountant demonstrations of industrial companies, inc., of Espírito Santo state. The accountant demonstratives have been collected, referred to the year of 2002, published in 2003. According to the found results, the existence of evidence of the proposed information, at companies from Espírito Santo, have changed between the explicative notes and the administration report, but, considering the proposed goals and evaluation, mainly the theory reference, the administration report, in an evident way, has shown to be more flexible and interesting for the extern users, considering the used proxies. 1 INTRODUÇÃO A contabilidade tem como finalidade gerar informações aos diversos usuários para a tomada de decisão. Essas informações deverão ser úteis, relevantes, precisas e fornecidas em tempo hábil. Os dados registrados na contabilidade são transformados em relatórios e, a partir destes, a empresa prepara as demonstrações contábeis. Estas são publicadas com intuito de tornar pública a situação econômica e financeira das empresas. No entanto, grande parte dos usuários externos (sociedade, clientes, fornecedores, investidores, financiadores, dentre outros) tem dificuldade em compreender as informações contidas nessas demonstrações, visto que as mesmas são altamente técnicas. 94 Os usuários externos, especialmente no Brasil, devido à concentração acionária (LOPES, 2002), não têm acesso aos relatórios internos da empresa, de onde derivam os demonstrativos contábeis publicados, necessitando assim, de um maior número de informações, além das que estão disponíveis, a fim de possibilitar uma melhor interpretação e análise dos dados apresentados. Esses usuários, de posse dos demonstrativos, devem ser capazes de avaliar em que situação a empresa se encontra, se é rentável, se valoriza os seus funcionários e se há preocupação com os aspectos sócio-ambientais. Percebe-se assim, a necessidade de uma maior transparência nas informações contábeis, a fim de torná-las compreensíveis a todos os usuários interessados, reduzindo, inclusive, a possibilidade de irregularidades e fraudes. Torna-se necessário, portanto, discutir como melhorar as formas de evidenciação das informações contábeis. Entende-se que seja essencial publicar informações que sejam relevantes não só para as empresas, mas para todos os possíveis usuários externos (IUDÍCIBUS, 2000). Dentre os demonstrativos, exigidos pela Lei das Sociedades Anônimas, apenas o Relatório da Administração e as Notas Explicativas permitem uma maior evidenciação da situação social, 95 da política da empresa e a possibilidade de inclusão de alguns indicadores econômico-financeiros. Com a possibilidade de inclusão, no Relatório da Administração e nas Notas Explicativas, de informações que visam atender os interesses de diversos usuários, facilitando a interpretação dos demonstrativos contábeis, esses relatórios deveriam ser instrumentos de auxílio, principalmente, aos usuários externos. A dificuldade na compreensão dos demonstrativos contábeis pode desencadear, nos usuários externos, um desinteresse informacional, daí surge a seguinte questão: Como evidenciar, no relatório da administração ou em notas explicativas, para os usuários externos da contabilidade, informações que auxiliem na interpretação dos demonstrativos contábeis no que tange aos aspectos sócio-ambientais e econômicofinanceiros? Este trabalho tem como objetivo geral, identificar informações complementares que, se publicadas no relatório da administração ou em notas explicativas, melhorariam a compreensão desses demonstrativos, no que tange aos aspectos sócio-ambientais e econômico-financeiros. Para alcançar o objetivo geral, propõem96 se dois objetivos específicos: (1) a evidenciação de informações relevantes, sobre os aspectos sócio-ambientais; (2) a publicação de índices econômico-financeiros ou indicadores de desempenho como liquidez, rentabilidade e estrutura de capital. Este trabalho restringe-se ao Relatório da Administração e às Notas Explicativas, componentes das demonstrações contábeis, publicadas em jornais, homepages e revistas, pelas Sociedades Anônimas, que atuam no setor industrial no Estado do Espírito Santo. Parte-se da hipótese de que, as empresas estão preocupadas com a transparência na divulgação dos seus demonstrativos e, visando a apreciação destes pelos usuários externos, publicam informações acessíveis, por meio de demonstrativos transparentes, objetivos, contendo informações textuais, quadros e tabelas sobre o aspecto social, além de índices econômicos e financeiro. Maximizando, dessa forma, a credibilidade e o respeito dos usuários externos em relação à empresa. 97 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE A contabilidade surgiu da necessidade do homem em controlar suas propriedades e riquezas. Alguns fatos na história da evolução do homem impulsionaram o desenvolvimento da contabilidade, a descoberta do papel, o aparecimento da moeda, o desenvolvimento da imprensa, o surgimento do capitalismo, a crise de 1929, a revolução industrial e outros. Demonstrando assim que, “a preocupação com as propriedades e a riqueza é uma constante no homem da Antiguidade, e o homem teve de ir aperfeiçoando seu instrumento de avaliação da situação patrimonial à medida que as atividades foram desenvolvendo-se em dimensão e complexibilidade” (IUDÍCIBUS, 2000, p.30). Com o desenvolvimento das sociedades, os procedimentos de contabilidade foram avaliados, teorias e práticas surgiram, por processos de dedução e indução, até chegar ao estágio atual. Portanto, a contabilidade, sendo uma ciência social aplicada, encontra-se em constante evolução, por meio de pesquisas, estudos, mensuração de bens intangíveis, preocupando-se com a 98 evidenciação e sempre visando atender aos seus objetivos principais. 2.1 OBJETIVOS DA CONTABILIDADE Entre os vários autores pesquisados, existe uma diversidade de idéias quanto aos objetivos da contabilidade. Segundo Iudícibus (2000, p. 19), ou consideramos que o objetivo da contabilidade é fornecer aos usuários, independente de sua natureza, um conjunto básico de informações que presumivelmente, deveria atender igualmente bem a todos os tipos de usuários, ou a Contabilidade deveria ser capaz e responsável pela apresentação de cadastros de informações totalmente diferenciadas, para cada tipo de usuário. [grifo nosso] De acordo com esta visão, o correto seria possibilitar aos usuários um arquivo básico, no qual cada usuário de acordo com a sua necessidade e com seu modelo decisório, poderia obter as informações contábeis que desejasse, dando ênfase à informação que lhe fosse mais importante. Segundo Iudícibus; Martins & Gelbecke (2000, p. 43), o objetivo principal da Contabilidade“, é o de permitir a cada grupo principal 99 de usuários, a avaliação da situação econômica e financeira da entidade, num sentido estático, bem como fazer inferências sobre suas tendências futuras”. Esta definição acresce, ao objetivo da contabilidade, o aspecto de tendências futuras. Os demonstrativos contábeis referem-se a um período contábil, geralmente, ao ano civil que termina em 31 de dezembro. As informações referem-se aquele momento, o que não desfigura a possibilidade de utilizá-las como base para eventos futuros, tendo em vista, a possibilidade de repetição das mesmas situações no futuro. Para alguns usuários externos, se as informações contábeis não forem preditivas, não existe interesse por essas informações. Ainda sobre o objetivo da contabilidade, Hendriksen & Breda (1999, p. 120), definem-no abordando a situação financeira, para eles, “o objetivo da contabilidade é fornecer um conjunto de relatórios financeiros para usuários indeterminados com relação à riqueza ou transações econômicas da empresa”. O Conselho Federal de Contabilidade, na sua resolução 774/94, apresenta o objetivo da contabilidade como sendo: 100 a correta apresentação do Patrimônio e na apreensão e análise das causas das suas mutações. Já sob a ótica pragmática, a aplicação da Contabilidade a uma Entidade particularizada, busca prover ou usuários com informações sobre aspectos de natureza econômica, financeira e física do Patrimônio da Entidade e suas mutações, o que compreende registros, demonstrações, análises, diagnósticos e prognósticos, expressos sob a forma de relatos, pareceres, tabelas, planilhas e outros meios [grifo nosso]. Em comum, todos os conceitos de objetivos abordados nesse tópico, refere-se aos usuários. Portanto, a contabilidade deve atendê-los, prioritariamente, com informações que lhes interessem, o difícil é conhecer o modelo decisório de cada usuário. 2.3 USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p. 43), conceituam usuários como “toda pessoa física ou jurídica que tenha interesse na avaliação da situação e do progresso de determinada entidade, seja tal entidade empresa, ente de finalidades não lucrativas, ou mesmo patrimônio familiar”. 101 Se o objetivo principal da contabilidade é atender aos usuários, é necessário definir quem são esses usuários e qual o tipo de informação que eles desejam. Para atender às finalidades deste trabalho, consideram-se usuários como sendo internos e externos. Os usuários internos são aqueles que trabalham diretamente com as informações contábeis ou têm acesso a elas dentro da empresa. Os usuários externos, não têm acesso direto às informações, e podem ser funcionários, clientes, fornecedores, a sociedade, o governo, além de todos aqueles interessados na situação econômica, social e financeira da empresa. Para que os demonstrativos contábeis atendam a esses usuários de forma eficaz, é necessário maximizar as informações relevantes, evitando informações inúteis e irrelevantes. Para alcançar e atender os anseios do usuário externo, a contabilidade deverá pesquisar e preparar a melhor forma de evidenciação dos seus demonstrativos. 2.4 EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL Evidenciar é tornar evidente, mostrar com clareza e que evidente é aquilo que não oferece dúvida, que se compreende prontamente... Talvez pudéssemos unir essas conceituações e dizer que evidenciação significa divulgação com clareza, divulgação em que se compreende de imediato o que está sendo comunicado (AQUINO & SANTANA, 1992, p. 1, grifo nosso). 102 De acordo com a AICPA – American Institute of Certified Public Accountants (1961 apud IUDÍCIBUS, 2000, p. 117), as informações contábeis devem evidenciar informações relevantes, sem exageros que poderiam ofuscar e confundir quem estivesse analisando-as. Assim, “os demonstrativos contábeis deveriam evidenciar o que for necessário, a fim de não torná-los enganosos”. Além disso, as informações contábeis deverão ser disponibilizadas em tempo hábil, possibilitando a tomada de decisão no momento do ocorrido, atendendo o Princípio da Oportunidade. O Princípio da Oportunidade refere-se simultaneamente, à tempestividade e à integridade do registro do patrimônio e das suas mutações determinando que este seja feito de imediato e com a extensão correta, independentemente das causas que originaram (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, Art 6º, Resolução 750/93, grifo nosso). A tempestividade de registro exige que as informações contábeis sejam registradas no momento em que ocorrem, evitando que os registros sobre o patrimônio estejam incompletos ou desatualizados nas demonstrações. Além da tempestividade e integridade, Iudícibus (2000, p. 77) sugere que as informações contábeis devam possuir outras qualidades, dentre elas, a confiabilidade, comparabilidade e compreensibilidade. 103 A Confiabilidade é a qualidade (atributo) que faz com que o usuário aceite a informação contábil e a utilize como base para suas decisões. A Comparabilidade deve poder propiciar ao usuário o discernimento entre entidades distintas. A Compreensibilidade revela a qualidade da informação contábil, que deve ser exposta da forma mais compreensível possível, para que o usuário possa, efetivamente, entende-la e utiliza-la de forma cabal nas tomadas de decisões. Iudícibus, ao ressaltar as qualidades da informação, indica que o acolhimento das qualidades conduz ao atendimento eficiente das necessidades do usuário. Portanto, para que as informações contábeis possuam comparabilidade, é imprescindível que exista consistência nos critérios utilizados pela empresa. Normalmente, os demonstrativos contábeis são publicados com os resultados do exercício atual e anterior, possibilitando que o usuário compareos. Isso não significa que os critérios contábeis não possam ser alterados, contudo, se acontecer, as alterações deverão estar, de alguma forma, evidenciadas. Segundo Iudícibus (2000, p. 121), a evidenciação deve “apresentar informação qualitativa e quantitativa de maneira ordenada, deixando o menos possível para ficar de fora dos demonstrativos formais, a fim de propiciar uma base adequada de informação para o usuário”. Esse autor expõe que, não é 104 apropriado sobrecarregar as notas explicativas com informações adicionais. Deve-se atentar para o fato de que as informações qualitativas não se tornem informações subjetivas, o que prejudicaria a evidenciação. Além disso, Iudícibus (2000, p. 117) ainda ressalta, a relação entre a evidenciação e a convenção da materialidade. Todas a informações evidenciadas deverão ser relevantes e materiais para os usuários. O contador, ao preparar os demonstrativos para a publicação, precisa perceber que esses demonstrativos são o mais evidente processo de comunicação com o usuário externo. “O processo de comunicar implica no reconhecimento dos tipos de informações necessárias aos usuários da informação contábil e a avaliação da sua habilidade em interpretar adequadamente a informação” (LOUZADA, 2002, p. 19). A habilidade de análise da informação contábil deve ser do contador ou de um profissional preparado, os relatórios contábeis devem ser preparados tendo em vista ser analisados por indivíduos com conhecimento bastante avantajado dos procedimentos e das normas contábeis, os quais interpretarão e traduzirão em termos mais simples o que dizem os demonstrativos para seus clientes (IUDÍCIBUS, 2000, p. 118). 105 Ou ainda que, “a interpretação dos demonstrativos contábeis é tarefa única e exclusivamente reservada aos experts em Contabilidade e Finanças, que deveriam ser os intermediários entre as empresas e os donos de recursos, assessorando estes últimos nas análises” (IUDÍCIBUS, 2000, p.117). Pretendendo alcançar transparência, nos demonstrativos elaborados, o contador poderá utilizar-se de todas formas de evidenciação conhecidas. 2.4.1 FORMAS DE EVIDENCIAÇÃO Informações entre parênteses, notas de rodapé, quadros e demonstrativos suplementares são formas de evidenciação das informações contábeis. Entretanto, estes métodos devem ser instrumentos de complementação às demonstrações contábeis, que devem constar as maiores informações a respeito da empresa. Portanto, as principais formas de evidenciação das informações contábeis são: O Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração das Origens e 106 Aplicações de Recursos, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados, as Notas Explicativas, o Parecer da Auditoria e o Relatório da Administração. Neste trabalho, dar-se-á ênfase às Notas Explicativas e ao Relatório da Administração. 2.4.1.1 NOTAS EXPLICATIVAS A publicação das Notas Explicativas é estabelecida pela Lei nº 6.404/76 denominada Lei das Sociedades Anônimas. Dispondo que “as demonstrações serão complementares por Notas Explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessárias para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício” (Art. 176, § 4). A Lei 6.404, art. 176 §5, destaca algumas informações que devem constar em Notas Explicativas, dentre elas, (a) Os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização dos elementos do ativo; (b) Os investimentos em outras sociedades, 107 quando relevantes; (c) O aumento de valor dos elementos do ativo resultante de novas avaliações; (d) Os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; (e) A taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; (f) O número, a espécie e classes das ações do capital social; (g) As opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; (h) Os ajustes de exercícios anteriores; (i) Os eventos subseqüentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia. Além destas, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) recomenda a divulgação de outras notas, consideradas como informações relevantes ao usuário externo. As Notas explicativas serão analisadas neste trabalho, visando a sua capacidade de divulgação, de informações complementares aos demonstrativos, possibilitando, dessa forma, a evidenciação de aspectos sociais e índices econômicos e financeiros, com utilização de quadros, gráficos e informações textuais, a fim de facilitar a interpretação dos usuários. 108 2.4.1.2 RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO O Relatório da Administração, segundo Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p. 398), representa um necessário e importante complemento às demonstrações contábeis publicadas por uma empresa, em termos de permitir o fornecimento de dados e informações adicionais que sejam úteis aos usuários em seu julgamento e processo de tomada de decisões. Esse relatório possui algumas características que permitem a compreensão de um maior número de usuários visto que, é descritivo e menos técnico, além de “servir como elemento preditivo da evolução e resultados futuros da empresa” (IUDÍCIBUS; MARTINS e GELBCKE, 2000, p. 398). Essas características podem ser encontradas nos relatórios quando elaborados de acordo com as Instruções da CVM e obrigatoriedade da Lei 6.404/76. Para auxiliar as empresas na elaboração e publicação do Relatório da Administração, a Comissão de Valores Mobiliários recomenda alguns itens que atenderiam às necessidades informativas dos usuários e que já estão sendo utilizados em algumas empresas. 109 Dentre eles, podem ser destacados: a descrição dos negócios, produtos e serviços; comentários sobre a conjuntura econômica geral; recursos humanos; investimentos; pesquisa e desenvolvimento; novos produtos e serviços; proteção ao meio ambiente; reformulações administrativas; investimentos em controladas e coligadas; direitos dos acionistas e dados de mercado; perspectivas e planos para o exercício em curso e os futuros. A empresa não precisa limitar-se a estes itens, pode usar de criatividade e bom senso para produzir o relatório (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS). No Parecer de Orientação nº 15, de 28/12/1987, a Comissão de Valores Mobiliários - CVM - estabelece as informações que, necessariamente deverão estar contidas no Relatório da Administração, dentre elas: (a) aquisição de debêntures de sua própria emissão (art. 55, § 2º); (b) política de reinvestimento de lucros e distribuição de dividendos; (c) constantes de acordo de acionistas (art. 118, § 5º); (d) negócios sociais e principais fatos administrativos ocorridos no exercício (art. 133, Inciso I); (e) relação dos investimentos em sociedades coligadas e/ou controladas evidenciando as modificações ocorridas durante o exercício (art. 243). 110 No Brasil, o Relatório da Administração é considerado insuficiente em relação à qualidade das informações, pois poucas são as empresas que publicam o relatório, explorando toda a sua capacidade informativa. Grande parte das empresas publica apenas o que é exigido em Lei, outras publicam apenas um comentário curto da Diretoria, informando sobre a apresentação dos demonstrativos contábeis como exigência legal e submetendo-os à análise dos acionistas, há ainda, algumas empresas que utilizam o relatório para autopromoção da administração, o que não condiz com as recomendações legais (IUDÍCIBUS; MARTINS e GELBCKE, 2000). De acordo com a pesquisa que foi feita neste trabalho, verificouse que o Relatório da Administração permite a evidenciação de informações sociais e os índices econômico-financeiros, maximizando as informações geradas pela empresa e atendendo aos interesses dos usuários externos. 2.5 BALANÇO SOCIAL “O Balanço Social busca demonstrar o grau de responsabilidade social assumido pela empresa e assim prestar contas à sociedade 111 pelo uso do patrimônio público, constituído dos recursos naturais, humanos e o direito de conviver e usufruir dos benefícios da sociedade em que atua” (IUDÍCIBUS; MARTINS e GELBECKE, 2000, p. 31). As empresas possuem um compromisso social com a sociedade, não devendo mais almejar somente o lucro. É necessário que exista um relacionamento de respeito no aspecto social e também o interesse na preservação do meio ambiente, pois as empresas tornaram-se peças fundamentais para o desenvolvimento econômico e social da nação. Os investidores, fornecedores, financiadores, consumidores, empregados, o estado e o meio ambiente são os principais componentes dessa sociedade que procuram absorver informações sobre a posição da empresa tanto sobre aspecto econômico quanto sócio-ambiental (DE LUCA, 1998). Na sociedade existe uma preocupação crescente de se analisar a empresa como uma instituição social e não somente como uma instituição econômica. Isto porque a sociedade vem premiando aquelas empresas que tomam iniciativas de desenvolver atividades sociais relacionadas com seus empregados e com a sociedade e de participar do processo de preservação do meio ambiente onde ela está inserida (DE LUCA, 1998, p.18). 112 Para que isso aconteça, a empresa precisa que seus demonstrativos sejam transparentes e tenham intuito de fornecer informações à sociedade sobre a utilização de recursos humanos, naturais, financeiros, tecnológicos e outros que pertencem à própria sociedade (direta ou indiretamente) é o mínimo que as empresas devem fazer para merecer o respeito e a credibilidade necessários a continuidade de suas operações (DE LUCA, 1998, p. 19). [...] Numa abordagem social, o objetivo da contabilidade é fornecer informações para permitir aos seus usuários uma avaliação dos efeitos das atividades da empresa sobre a sociedade onde ela está inserida (DE LUCA, 1998, p.21) Os usuários precisam e procuram, nos Demonstrativos contábeis publicados, informações sociais sobre a empresa. A contabilidade, portanto, procurando atender aos anseios destes usuários, fornece o Balanço Social como instrumento de evidenciação das informações sociais. Esse demonstrativo ainda não é obrigatório, mas a sua publicação pode facilitar a distinção entre empresas que se preocupam com o aspecto social e ambiental e aquelas que não se preocupam ou que por não se preocuparem em melhorar a evidenciação dos seus demonstrativos, não publicam as suas atividades neste aspecto. Não percebendo assim, a importância que a sociedade atribui atualmente às empresas que tem responsabilidade social. A sociedade só terá conhecimento se a empresa divulgar os fatos. 113 Segundo Júnior e Begalli (2002, p. 272), no Congresso Nacional encontra-se em trâmite um projeto de lei que obrigaria as empresas com mais de 100 empregados a divulgar juntamente com as outras peças contábeis o Balanço Social. O que não impede que as empresas com menos de empregados também publiquem. Este Balanço Social deverá conter, entre outras, informações sobre a situação dos empregados na empresa, investimentos na comunidade e no meio ambiente. 2.6 ÍNDICES ECONÔMICO-FINANCEIROS “Índice é a relação entre contas ou grupo de contas das demonstrações financeiras, que visa evidenciar determinado aspecto da situação econômica ou financeira de uma empresa“ (JÚNIOR e BEGALLI, 2002, p. 235). Segundo os mesmos autores, o objetivo da análise das informações econômicofinanceira, por meio de índices, é a elaboração de informações úteis aos usuários. Não é necessária a utilização de uma grande quantidade de índices, mas sim, a escolha daqueles que mais atenderão aos interessados. 114 Os índices propostos neste trabalho são os mais comuns, os de mais fácil interpretação e os mais utilizados. São eles: Estrutura de capital, Liquidez e Rentabilidade. Os índices de Liquidez e Estrutura de Capital indicam a situação financeira da empresa e utilizam, principalmente, o Balanço Patrimonial como fonte de informações. Os índices de Rentabilidade indicam a situação econômica e utilizam, principalmente, a Demonstração de Resultado e o Balanço Patrimonial como fontes das informações. Matarazzo (1998) e Iudícibus (1998), dentre outros autores clássicos, apresentam um conjunto de indicadores, considerado ideal para demonstrar a situação econômico-financeira de uma empresa. 3 METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido utilizando-se de artigos, livros, jornais, revistas científicas, publicações oficiais e internet sobre o tema abordado. A pesquisa classifica-se como documental e bibliográfica, “a documental usa materiais que ainda não foram explorados, a bibliográfica baseia-se nas contribuições dos diversos autores que já abordaram a questão” (NASCIMENTO, 2002, p. 81). 115 3.1 COLETA DE DADOS A coleta de dados se deu pela escolha de demonstrações contábeis de sociedades anônimas, do setor industrial, no Estado do Espírito Santo, publicadas em 2003, referentes ao exercício de 2002. Para escolha das empresas, foram utilizados os dados da Revista 150 Maiores Empresas do Espírito Santo, edição 2002. Dentre as 150 empresas, 53 são do setor industrial, e destas, apenas 39 são sociedades anônimas. Com caráter exploratório, a pesquisa foi realizada com 14 das 39 empresas sociedades anônimas (36%). Posteriormente, foram coletados os demonstrativos contábeis de duas empresas industriais premiadas, em âmbito nacional, com o Troféu Transparência da ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) – FIPECAFI (Fundação e Instituto de Pesquisas de Contabilidade, Atuarias e Finanças) – SERASA (Empresa nacional de informações comerciais). Participaram, da seleção desse prêmio, as 500 Maiores e Melhores Empresas privadas e as 50 maiores estatais do Brasil. A premiação já é conferida há seis anos, tendo sido a EMBRAER – Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A a 116 vencedora de 2001 e a Companhia vale do Rio Doce vencedora em 2002, com os demonstrativos contábeis respectivos aos anos de 2000 e 2001. Essas empresas (EMBRAER e CVRD) serviram de parâmetros de comparação. As empresas participantes do prêmio poderiam atuar no setor de comércio, indústria e serviços, devendo ter publicado as suas demonstrações conforme exigência da Lei 6.404/76. O prêmio foi instituído com o intuito de premiar aquelas empresas que melhor publicam seus demonstrativos com informações transparentes, adequadas aos Princípios contábeis e que evidenciam informações relevantes aos seus usuários. Informações sobre o prêmio encontram-se disponíveis na homepage da ANEFAC (www.anefac.com.br). 3.2 TRATAMENTO DOS DADOS Após coleta de dados, as demonstrações contábeis foram analisadas e foram destacadas informações relevantes, evidenciadas no Relatório da Administração e em Notas Explicativas, sobre os aspectos sócio-ambiental e econômicofinanceiros. Em Notas Explicativas foram considerados os 117 aspectos econômico-financeiros e nos demonstrativos adicionais, os aspectos sócio-ambientais. A partir desses destaques foi possível responder ao problema da pesquisa. 3.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS A análise e a interpretação transformaram dados em informações. Nessa análise, fez-se a comparação entre as informações obtidas da EMBRAER e CVRD com as empresas Estado do Espírito Santo. Vale ressaltar que, todas as análises realizadas nos demonstrativos não objetivaram verificar a fidedignidade dos registros, pois acredita-se que as empresas pesquisadas sejam detentoras de credibilidade e fieis as exigências legais, com contadores éticos e responsáveis. Também não se avaliou se os índices, propostos na Análise e Interpretação dos dados são eficazes, ou não, pois, objetivou-se propor a utilização de indicadores de desempenho, sendo de livre escolha da empresa a forma e quais índices refletiriam com maior transparência a situação econômico-financeira da mesma. 118 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS A apresentação dos resultados da pesquisa inicia-se com a apresentação das demonstrações contábeis da Companhia Vale do Rio Doce e da Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A. Conforme descrito, as duas empresas foram vencedoras do Prêmio ANEFAC – FIPECAFI – SERASA, em 2002 e 2001, respectivamente. A finalidade do prêmio é premiar empresas que prezem pela transparência da informação contábil e pela predisposição, em divulgar informações relevantes, adicionais às exigidas em lei. Sendo os objetivos deste trabalho voltados para os aspectos sócio-ambientais e para a utilização de índices econômicos e financeiros, faz-se necessário apresentar os itens evidenciados por estas empresas que atendem, segundo os idealizadores e organizadores do Prêmio, às necessidades de vários usuários. 4.1 COMPANHIA VALE DO RIO DOCE A CVRD publicou, em 2002, os demonstrativos referentes ao ano de 2001, que encontram-se disponíveis na homepage da companhia (www.cvrd.com.br). As demonstrações contábeis são 119 compostas pelos seguintes itens: Relatório da Administração; Comentários da Administração; Demonstrações Contábeis (consolidado); Notas Explicativas; Balanço Social; Demonstração do Valor Adicionado; Demonstração do Fluxo de Caixa. Analisando essas peças contábeis é possível identificar as informações consideradas como relevantes e que atendem os objetivos propostos neste trabalho. 4.1.1 ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS No Relatório da Administração, a CVRD fornece aos usuários informações sobre sua estratégia de negócios, definição do modelo de governança corporativa, definição do seu modelo de gestão, estabelecimento de plano de remuneração para executivos, compra e venda de ativos, os investimentos em controladas, política de distribuição e reinvestimento de lucros, captação de recursos, venda de ações e recordes de vendas. Além destas, no relatório, também, encontra-se a utilização do índice econômico EBTIDA, relação da situação econômica e financeira da empresa com a conjuntura econômica nacional, avaliação do endividamento no curto e no longo prazo e comparação percentual e quantitativa com o ano anterior, das 120 receitas, dos lucros, do retorno sobre o patrimônio líquido e das exportações. Em Notas Explicativas, especifica-se, detalhadamente, quais as empresas controladas, coligadas e com participações societárias. 4.1.2 ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS Após o Relatório da Administração, a empresa apresenta as demonstrações contábeis, disponibilizando, além destas, o Balanço Social, não obrigatório por lei, como informação adicional. Neste Balanço Social, a companhia fornece uma relação das despesas com funcionários, do percentual dessas despesas sobre a folha de pagamento bruta e sobre o faturamento bruto (venda de produtos e serviços). As despesas especificadas no Balanço Social são: alimentação; encargos sociais compulsórios; previdência privada; saúde; educação; participação nos lucros ou resultados; outros benefícios. São informados, também, o número de funcionários admitidos e o saldo dos funcionários no final do exercício. A CVRD evidencia nesse balanço as despesas com projetos e ações sociais e ambientais. 121 Sobre o aspecto social, em Notas Explicativas evidencia-se o plano de benefícios previdenciários para os funcionários com parcela de contribuição e patrocínio da CVRD. Tendo a CVRD, como atividades principais, a extração, o beneficiamento e a venda de minério de ferro, atividades estas que impactam sobre o meio ambiente, a companhia evidencia os gastos com reflorestamento (evidenciados em notas explicativas no imobilizado), gerenciando suas relações com o meio ambiente, de acordo com a norma ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental - Especificação e diretrizes para uso), tentando minimizar o impacto ambiental de suas operações, provisionando, também, no seu Balanço Patrimonial a provisão para passivos ambientais (Impactos ambientais – reais ou potenciais – produzidos no passado que não foram resolvidos). 4.2 EMBRAER – EMPRESA BRASILEIRA DE AERONÁUTICA S/A A EMBRAER publicou, em 2001, os demonstrativos referentes ao ano de 2000, que, encontram-se disponíveis na homepage da Comissão de Valores Mobiliários (www.cvm.gov.br). Para a 122 pesquisa, foram utilizadas as seguintes peças contábeis: Relatório da Administração; Balanço Patrimonial; Demonstração do Resultado do Exercício; Notas Explicativas. 4.2.1 ASPECTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS O Relatório da Administração da EMBRAER é detalhado e fornece, aos usuários, informações textuais e gráficos de fácil interpretação sobre a situação econômica e financeira da empresa. Foram feitas comparações quantitativas, entre a Receita Líquida, o Lucro Líquido e as exportações do ano corrente com o anterior. Além de uma descrição das vendas, dos produtos fabricados, da representação destes para com o faturamento total e a boa aceitação dos produtos pelo mercado. Destacam-se, também, as seguintes informações: Apresentação de novos produtos, detalhando as suas características; Ampliação de construção de novas fábricas; Principais clientes e encomendas; Satisfação do cliente; Inclusão de ações da empresa em bolsas de valores internacionais; Descrição dos negócios da empresa; Expansão dos negócios e do mercado por meio de alianças estratégicas e novas tecnologias; Investimentos em pesquisa e desenvolvimento Demonstração do Valor Adicionado. 123 de novos produtos; A empresa evidencia seus índices econômicos e financeiros utilizando-se de uma tabela que contém: endividamento, retorno sobre o ativo, retorno sobre o patrimônio, índice de liquidez corrente e giro de estoques. Todos estes índices são comparados com o exercício anterior. No Relatório da Administração, também, são evidenciadas informações sobre os projetos sociais desenvolvidos pela empresa, dados sobre a ampliação do quadro de funcionários, número total de funcionários, receita por empregado, remuneração global dos empregados (comparando com anos anteriores), e ainda, programas de capacitação profissional, motivação, aperfeiçoamento e atualização técnica, formação de novos operários (ingresso de jovens para o primeiro emprego), captação de profissionais, recém formados, para treinamento e possível inclusão no quadro de funcionários da empresa. A EMBRAER, em parceria com outras empresas, desenvolve programas para melhoria continua da saúde e qualidade de vida dos seus funcionários, dentro e fora do trabalho. A empresa demonstra preocupação com: prevenção e recuperação de dependência química; campanhas de saúde, hipertensão, tabagismo, obesidade, diabete, colesterol e atividade física; 124 campanha da vitalidade: postura corporal, stress, alimentação saudável e exercícios físicos; campanhas de doação de sangue. A empresa realiza, também, contribuições financeiras a entidades que prestam serviços à sociedade. Evidenciando, em seu Relatório da Administração, quais são as entidades beneficiadas e qual a atividade desenvolvida por cada uma delas. A empresa evidencia, também os benefícios concedidos aos empregados, tais como: alimentação; seguro de vida em grupo; transporte; despesas médicas e farmacêuticas; plano de previdência privada (complementar ao INSS onde parte é pago pela empresa); saúde; participação nos lucros e resultados. 4.2.2 ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS No Relatório da Administração, também, são evidenciadas informações sobre os projetos ambientais desenvolvidos pela empresa. Entre eles: Programa de prevenção e monitoramento em todas as áreas de produção; Projeto de Gestão Ambiental ISO 14000; Prevenção da poluição atmosférica; Manutenção da 125 qualidade da água; Coleta e tratamento de todos os resíduos sólidos e lixo orgânico produzidos pela empresa. 4.3 INDÚSTRIAS DO ESPÍRITO SANTO Foram analisadas, Demonstrações Contábeis de 14 sociedades anônimas, classificadas em 2002, segundo a Revista 150 Maiores Empresas do Espírito Santo entre as 53 maiores empresas industriais do estado. As empresas analisadas foram: Aracruz Celulose S/A; Brametal Brandão Metalúrgica S/A; Carboderivados S/A; Contek Engenharia S/A; CST- Companhia Siderúrgica de Tubarão; Fibrasa S/A Embalagens; Frisa Frigorífico Rio Doce S/A; Chocolates Garoto S/A; Itabrasco – Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização; Metalosa Indústria Metalúrgica S/A; Ornato S/A Industrial de Pisos e Azulejos; Rimo S/A Indústria e Comércio; S. A. A Gazeta; TN Industrial S/A. 126 4.3.1 EMPRESAS QUE NÃO DIVULGAM INFORMAÇÕES SÓCIO- AMBIENTAIS E ÍNDICES ECONÔMICO- FINANCEIROS Nas Demonstrações Contábeis das empresas, Brametal Brandão Metalúrgica S/A, TN Industrial S/A, Rimo S/A Indústria e Comércio, Ornato S/A Industrial de Pisos e Azulejos, Frisa – Frigorífico Rio Doce S/A, Carboderivados S/A, não foi evidenciada nenhuma informação sobre os aspectos sócio-ambientais e índices econômico-financeiros. O Relatório da Administração ou Relatório da Diretoria é apresentado em, no máximo, 10 linhas, com a finalidade de submeter às Demonstrações Contábeis e demais peças contábeis à apreciação dos acionistas, divulgando a política da empresa. As empresas Contek Engenharia S/A e Fibrasa S/A Embalagens não divulgam o Relatório da Administração. As Notas explicativas, dessas empresas, limitam-se a alguns itens das recomendações da Comissão de Valores Mobiliários e da Lei 6.404/76 (art. 176). 127 4.3.2 EMPRESAS QUE DIVULGAM INFORMAÇÕES SOCIAIS E/OU ÍNDICES ECONÔMICO-FINANCEIROS A Metalosa Indústria Metalúrgica S/A, nas Notas Explicativas, evidencia a participação de empregados sobre seus lucros. Essa informação não é detalhada, sendo difícil entender qual é o procedimento utilizado para a participação. No Relatório da Administração, apenas submete as Demonstrações Contábeis e demais peças à apreciação dos acionistas. A empresa Chocolates Garoto S/A utiliza o Relatório da Administração da mesma forma que a empresa anterior. Entretanto, em Notas Explicativas, observa-se a evidenciação de um item sobre o plano de complementação da aposentadoria para empregados, patrocinado pela empresa. O plano é instituído pela Fundação Garoto de Previdência Social que, também, institui programas assistenciais de natureza social e financeira. A empresa S.A. A Gazeta, no Relatório da Administração, revisa os acontecimentos do ano que influenciaram na situação econômica e financeira da empresa, apresentando investimentos em novos equipamentos adquiridos para melhorar a produtividade. Sob o aspecto social, a empresa, visando reduzir 128 os custos operacionais, vem demitindo funcionários. O resultado operacional da S.A. A Gazeta é medido através do EBITDA, evidenciado por meio de gráfico, no Relatório da Administração. As Notas explicativas, dessa empresa, limita-se a alguns itens das recomendações da Comissão de Valores Mobiliários e da Lei 6.404/76 (art. 176). 4.3.3 EMPRESAS QUE DIVULGAM INFORMAÇÕES SÓCIO-AMBIENTAIS E ÍNDICES ECONÔMICO-FINANCEIROS A empresa Itabrasco – Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização informa, no Relatório da Administração, a receita de vendas, o lucro líquido e o EBTIDA do exercício, comparando-os com o exercício anterior. Além disso, informa recertificação da ISO 9001, e a unificação de procedimentos comuns a ISO 9000 e ISO 14000. As ações ambientais da Itabrasco são discriminadas, por software, para gerenciamento de resíduos, melhoria na central de armazenamento de resíduos, monitoramento da qualidade do ar, monitoramento de efluentes, estudos de análises epidemiológicas do impacto da poluição do ar na saúde da população. 129 No conteúdo das Notas Explicativas da Itabrasco, verifica-se a existência do item sobre um plano de complementação de aposentadoria, onde a empresa efetua contribuições equivalentes às de seus funcionários participantes do plano. No entanto, as empresas, que por meio das Demonstrações Contábeis, mais fatos evidenciaram foram: CST – Companhia Siderúrgica de Tubarão e Aracruz Celulose. A CST divide o seu Relatório da Administração em tópicos, evidenciando os assuntos que mais se destacaram no ano, conforme apresentado a seguir: (1) Introdução: ampliação dos negócios, aumento da capacidade produtiva, histórico dos acontecimentos importantes no ano; (2) Performance operacional: novos produtos e novas tecnologias, vendas ao exterior, atualização da ISO 9001, novos equipamentos, auto-suficiência em energia elétrica contribuindo para a melhoria das condições ambientais; (3) Investimentos: programas de aperfeiçoamento profissional dos empregados, novas empresas; (4) Desempenho econômico-financeiro: crescimento do EBITDA, endividamento da empresa; (5) Mercado de capitais e retorno aos acionistas; (6) Governança corporativa: preocupação com a melhoria da divulgação das informações financeiras e não financeiras; (7) 130 Balanço Social: Indicadores laborais: alimentação, previdência privada, saúde, educação, participação nos lucros ou resultados; Indicadores sociais: investimento em cidadania, ações sociais, projetos em meio ambiente; Indicadores do corpo funcional: número de empregados admitidos e saldo no final do ano. Além destas informações, destacam-se, também, indicações de projetos para segurança no trabalho, programas de orientação e apoio procurando melhorar a qualidade de vida do funcionário e de seus dependentes, plano de participação nos resultados, política salarial e benefícios, plano de previdência complementar com assistência médica, farmacêutica e odontológica, programa de apoio à escolarização com escola dentro da empresa e Demonstração do Valor Adicionado. São destacadas as ações para o meio-ambiente: Reaproveitamento de resíduos industriais; Empresa certificada com a ISO 14001; Tratamento de água; Utilização dos gases expelidos pela fabricação para produção de energia elétrica, reduzindo os impactos ambientais. No Relatório da Administração da Aracruz Celulose S/A, apresenta-se a empresa, os produtos, a capacidade de produção e, posteriormente, apresentam-se 131 algumas informações relevantes sobre as estratégias e resultados da empresa. As informações podem ser agrupadas conforme segue: Cenário internacional: relação entre a oferta e a demanda dos produtos e desaceleração do crescimento; Visão estratégica: objetivo da empresa, instalação novas unidades de produção, atualização dos sistemas de informação, alinhamento das metas individuais e setoriais às estratégias corporativas; Desempenho financeiro: comparação do lucro líquido, da receita operacional líquida, do custo do produto vendido e das despesas operacionais e financeiras do ano anterior e atual, desvalorização do real frente ao dólar, indicação do EBITDA, alocação dos investimentos de capital, fluxo de caixa e o endividamento; Processos internos: melhoria no transporte de produtos, terceirização das atividades de manutenção, trabalho de melhoramento genético do eucalipto e novas tecnologias; Gestão de pessoas: sistema formal de acompanhamento do desenvolvimento dos empregados em nível operacional e administrativo, redução do número de acidentes de trabalho, programa de recrutamento interno com ascensão profissional, contratação de mão de obra local, programa objetivando elevar o nível de escolaridade dos empregados, estímulo à prática da atividade física pelo empregado com reembolso de 50% dos gastos do empregado, programa para reabilitar profissionais que tiveram sua capacidade original de 132 trabalho reduzida, ajuda psicológica e de medicamentos a funcionários e familiares que desejam largar o tabagismo; Ações para a comunidade: apoio a programas sociais na região de atuação da empresa, acordo com comunidades indígenas, visando auxílio financeiro e obras de recuperação para rios e reflorestamento; Gestão ambiental: aprimoração dos procedimentos de manejo florestal, visando reduzir os impactos de suas atividades sobre o meio ambiente, obtenção de licenças ambientais. Em Notas Explicativas, a empresa evidencia uma contribuição percentual sobre a folha de pagamento para o Plano de Previdência Privada dos funcionários, o Fluxo de Caixa e a Demonstração do Valor Adicionado da empresa, como demonstrativos adicionais. 5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Após análise da Companhia Vale do Rio Doce e da EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronáutica, verificou-se que as mesmas atendem, plenamente, os objetivos gerais e específicos deste trabalho. Para evidenciar as informações sócio-ambientais e 133 econômico-financeiras, as duas empresas optaram por fazê-los, quase na sua totalidade, no Relatório da Administração. No aspecto econômico-financeiro, a CVRD poderia ter utilizado outros índices econômico-financeiros, além do EBTIDA e da simples informação sobre o endividamento a curto e longo prazo, contudo, no aspecto sócio-ambiental, a publicação do Balanço Social enriqueceu as informações fornecidas. A EMBRAER atende aos objetivos gerais e, principalmente, aos específicos, com a utilização de gráficos, tabelas e textos sobre os aspectos econômico-financeiros e sócio-ambientais. Conforme o Gráfico 1, das empresas do Espírito Santo, 57,14% não apresentam as evidenciações propostas nos objetivos deste trabalho. Algumas empresas pesquisadas (27,14%) chegam a publicar alguma informação sobre os aspectos sócio-ambientais e/ou índices econômico-financeiros, mas, as informações não estão transparentes ou são apenas itens das Notas Explicativas, sem divulgação necessária para possibilitar e facilitar a interpretação e compreensão do usuário. Além disso, quando divulgam índices econômico-financeiros o fazem por gráfico sem maiores informações. 134 Destacam-se, então, as empresas correspondentes a 21,43% do total da amostra, que evidenciam aspectos sócio-ambientais e índices econômico-financeiros, procurando atender aos interesses dos usuários externos. Por fim, comparando os resultados obtidos entre as empresas do Espírito Santo, com a CVRD e a EMBRAER constatou-se, então, a necessidade de melhorias nas publicações dos Demonstrativos Contábeis efetuados pelas empresas capixabas. 21,43 57,14 21,43 Nâo divulgam Sociais e /ou Índice s Sociais , am bie ntais e Índice s Fonte: Pesquisa própria. Gráfico 1- Percentual da existência de informações propostas Propõe-se, neste trabalho, que as empresas procurem evidenciar os aspectos sócio-ambientais e econômico-financeiros no Relatório da Administração, por meio de tópicos separados, descrevendo as ações sociais da empresa, principalmente, dados relativos aos projetos desenvolvidos em prol do funcionário, da 135 sociedade e do meio ambiente, indicando valores atribuídos às ações e o percentual desses valores sobre o faturamento da empresa. Os índices econômico-financeiros podem ser evidenciados por meio de tabelas, com valores e percentuais para o exercício atual e o anterior. Os índices devem ser escolhidos pela empresa, dentro daqueles mais conhecidos pelos usuários externos e que melhor evidenciem a realidade econômico-financeira da mesma. Evidenciar, em Notas Explicativas, essas informações é possível, pode-se utilizar quadros e demonstrativos, como parte integrante dessas notas. Entretanto, quando se pretende atingir um grande número de usuários, com grau de conhecimento diferente, é necessário que estes sejam atraídos para a leitura. Os usuários geralmente procuram, em Notas Explicativas, somente as informações que esclareçam dúvidas sobre itens dos demonstrativos, não analisando-as quando não têm dúvida ou questionamentos sobre os registros. Além disso, as notas são publicadas, na maioria das vezes, no final dos demonstrativos, o que pode não despertar o interesse do usuário. 136 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os objetivos propostos neste trabalho foram alcançados. Com base nas proxies utilizadas, foi possível identificar e quantificar o percentual das empresas capixabas que se preocupam com a qualidade da evidenciação e as que não se preocupam. Este trabalho, portanto, contribui para despertar as empresas quanto à necessidade de atualização, de pesquisas e da busca constante de melhorias para atender as exigências dos usuários externos. No entanto, apresenta limitações, uma vez que, não investigou o outro lado envolvido, ou seja, o usuário externo. A publicação das informações, no Relatório da Administração, é uma das respostas ao problema da pesquisa. Este relatório encontra-se no início da publicação dos demonstrativos e tem a capacidade de despertar o interesse do usuário em conhecer mais sobre a empresa. Entretanto, é necessário que as informações divulgadas no Relatório da Administração, não sejam tratadas como propagandas da empresa, sem veracidade e com a incidência de viés. É primordial que, o relatório seja utilizado com ética, responsabilidade e transparência pelos profissionais de contabilidade. 137 Há grande dificuldade, para os contadores e empresas, em saber qual o tipo e a forma de melhor evidenciar essas informações, adequando-as à realidade brasileira. Neste trabalho, portanto, propõe-se uma forma de melhorar a evidenciação, no que tange os aspectos sócio-ambientais e econômico-financeiros, mas, o estudo desse processo de comunicação entre a empresa e o usuário externo e a qualidade da evidenciação, ainda, requer outras pesquisas e estudos. É necessário identificar qual o processo de comunicação que é mais bem aceito pelos usuários, visto que, estes têm diferentes graus de conhecimentos e diferentes necessidades. Espera-se que, este trabalho, desperte e conscientize as empresas de que, além de existir uma necessidade intensa por novas informações, é necessário que as mesmas desenvolvam projetos e ações para que estes possam ser evidenciados. 7 REFERÊNCIAS 150 Maiores Empresas do Espírito Santo, Edição 2002, Vitória, n 6, p. 129. AQUINO, Wagner de, SANTANA, Antonio Carlos de. Evidenciação. São Paulo, Caderno de Estudos da FIPECAFI, jun/1992. 138 ANEFAC. Troféu transparência. Disponível em: <http://www.anefac.com.Br/eventos/transp_2002.htm>. Acesso em: 20 out. 2002. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Companhias abertas: demonstrações financeiras padronizadas. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 30 abr. 2003. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, Resolução n. 750, de 29 de dezembro de 1993. Dispõe sobre os princípios fundamentais de contabilidade.Presidente: Ivan Carlos Gatti. Diário oficial da união, Brasília, 31 dez 1994. DE LUCA, Márcia Martins Mendes de. 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La adquisición de la segunda lengua sufre influjo, entre otros, de la inteligencia, la edad, las aptitudes lingüísticas, la preeficiencia de la lengua nativa y la motivación del hablante. Uno de los factores socio psicológicos relevantes para la adquisición de la segunda lengua es la actitud del aprendiz frente la comunidad de llegada y su cultura, si ésta es atractiva para él, el aprendizaje será tarea sencilla. Otro factor es la edad, llegamos a la conclusión que la afirmación de que los niños aprenden con más facilidad la segunda lengua, no es de todo una verdad. Sino sólo algunos aspectos de ésta, como la fonética, los factores cognitivos son personales y hacen la diferencia. Para finalizar, los probables efectos negativos del bilingüismo pueden ser minimizados a través de la aceptación sin discriminación de las minorías étnicas, de su identidad, sus valores, el ofrecimiento de oportunidades y la adquisición del “umbral” en ambas las lenguas. Así tendremos una situación de aprendizaje favorable que capacite el hablante para el desarrollo cognitivo positivo y el éxito de la adquisición de la segunda lengua. PALABRAS-CLAVES: Bilingüismo; Cerebro; Lengua; Contexto social; Edad; Psicológico; Cognitivo: Personalidad. 1 Graduada em Historia, especialista em Historia do Brasil e Gestão Escolar, cursos de espanhol do CCAA e UFES. Professora de Língua Espanhola e Literaturas de Língua Espanhola na Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN. 140 ABSTRACT The acceptment of a foreign language is a characteristic of the actual wourd and it`s necessary for many reasons. It`s importance is present in economic, politics, social aspects, besides the cultural ones. We can define this acceptment of a foreign language as the practice of using alternatety two languages and the person who it is called bilingual. Studying the bilingual brain is not an easy task. Until now it was only possible through recovery studies about brain damage and the last conclusion was that the two languages don`t. Localize at different brain areas, only the neulogical aspects are different. The second language acquisition is influenced by intelligence, the age, the linguistics ability, the efficiency the native language and the leaner`s motivation. One of the most important social-psychologic elements to the second language acquisition is the leaner`s attitude to the arrival com munity it`s culture, if it`s attractive, the learning will be a simple and easy task. Another element is the age, so we got the conclusion that the children acquire the second language easier than the adults is not totally true. Only some its aspects, as the phonetics, the cognizant elements are personal and do the difference. Finishing, the probable negative effects of the acceptment of a foreign language can be diminished through the acceptance without discrimination of the ethnic minority, of its identity, its value, the opportunities offered and the acquisition of “umbral” on both languages. So, We`ll have a favourable learning situation that enables the learner to the positive cognizant development and the success of the second language acquisition. 1 INTRODUCCIÓN En la actualidad el bilingüismo es una necesidad, sea educativa, económica, social o cultural. Así pues, pretendemos con este trabajo conocer algunos aspectos relevantes vividos por un hablante durante el desarrollo del bilingüismo en un proceso natural de adquisición de la segunda lengua. 141 Para empezar, conceptuaremos bilingüismo enfocando la definición sociológica de Weinreich (1953) apud Appel y Muysken (1996). Intentaremos contestar la pregunta ¿Quién puede ser considerado bilingüe? En segundo lugar nos proponemos conocer algunos rasgos del funcionamiento del cerebro bilingüe y discutir las razones para que un hablante adquiera la segunda lengua, para tanto, empezaremos por los factores socio psicológicos, principalmente la relación de la lengua con la adopción de la nueva cultura. En tercer lugar investigaremos la veracidad de la afirmación: ¿Los niños aprenden la segunda lengua con más facilidad que los adultos? Por último vamos analizar algunas consecuencias del bilingüismo en su contexto social, a través de la definición social. Después buscaremos sus efectos cognitivos y si ocurren también sobre la personalidad. Nuestro referencial teórico principal será Appel y Muysken (1996). Creemos ofrecer, de esta manera, una visión general del desarrollo de la adquisición de la segunda lengua. 142 2 EL CONCEPTO DE BILINGÜISMO La relevancia del Bilingüismo adquiere, como es sabido, cada vez más evidencia debido al volumen y cualidad de los procesos de integración o desintegración política y económica transnacionales. El considerable aumento de la movilidad personal voluntaria e involuntaria, la presencia significativa de corrientes migratorias temporales por motivos de estudio y trabajo, el proceso de globalización comercial, industrial y financiero. La creciente corriente de inmigración debida a falta de trabajo y riqueza de hombres y mujeres de zonas pobres a zonas ricas, de África y Asia, pongamos por caso, Europa y Estados Unidos. La acogida o rechazo de refugiados políticos e inmigrantes y las cuestiones relacionadas con los programas de integración cultural y lingüística de dichos grupos en los países de recepción. El mayor o menor grado de aceptación por parte de las sociedades autóctonas receptoras de que hoy en día la composición demográfica y cultural de sus poblaciones es menos homogénea que antes, nos lleva a una serie de situaciones comunicativas que hoy más que nunca tienen lugar a través de las fronteras lingüísticas y culturales. Esta tensión entre lo propio y lo ajeno, entre la globalidad y la localidad se expresa en muchas lenguas 143 de muchas formas distintas y desde perspectivas muy diversas y suscita la necesidad del bilingüismo. El bilingüismo es inevitablemente resultado del contacto de lenguas. En general, se distinguen dos tipos de bilingüismo: el bilingüismo social y el individual. Normalmente, el bilingüismo social se produce en sociedades en las que se hablan dos lenguas o más. Así siendo, casi todas las sociedades son bilingües, la diferencia está en el grado y la forma del bilingüismo. Conceptuar bilingüismo individual es una tarea sencilla, pero denominar una persona como bilingüe es complicado. Cuestiones como ¿Hasta que punto una persona debe dominar las dos lenguas para calificarla como bilingüe? ¿Debe demostrar fluidez oral y escrita en ambas lenguas? ¿Qué criterios utilizar? Muchas definiciones se han propuesto en la historia del estudio del bilingüismo. Elegimos dos variantes extremas, según Bloomfield (1933) apud Appel y Muysken (1996), un bilingüe debe poseer “un dominio de dos o más lenguas igual que el de un nativo”. Por otro lado, Macnamara (1969) apud Appel y Muysken (1996)decía que una persona podía ser calificada como bilingüe si, además de las habilidades en su propia lengua, tenía algunas 144 habilidades en una de las cuatro modalidades (hablar, entender, escribir, leer) de la segunda lengua. Esta definición psicológica presenta problemas, pues es imposible hallar una forma general en la que se pueda medir la competencia de un hablante. Así que, preferimos la definición sociológica de Weinreich (1953) apud Appel y Muysken (1996) “la práctica de utilizar dos lenguas de forma alternativa se denominará bilingüismo y las personas implicadas bilingües”. De esta manera, los hablantes pueden poseer habilidades lingüísticas muy diversas y todas son aceptables. Cabe añadir que las personas poseen habilidades y competencias distintas o inteligencias múltiplas como defiende el psicólogo americano Howard Gardner (1995), su idea central es la de que la inteligencia es compuesta de varias competencias, sendo considerada un conjunto de habilidades y talentos, por lo tanto es difícil establecer un estándar para esta definición. 3 EL CEREBRO BILINGÜE El comportamiento lingüístico es posible gracias a una competencia subyacente, los individuos poseen un conocimiento 145 implícito de las lenguas que hablan y/o entienden, o sea, la tienen interiorizada. Planteamos una pregunta ¿Cómo interiorizan los individuos bilingües sus dos lenguas? De pronto buscaremos la respuesta a esta cuestión. Hay poca información sobre este tema, como dijo Grosjean (1982) apud Appel y Muysken (1996) “el cerebro bilingüe es aún, en gran medida, tierra incógnita”. Los investigadores no tienen acceso directo al cerebro o a la mente bilingüe, es necesario inferir las posibles respuestas a partir de fenómenos observables y ellas suelen ser ambiguas, además, distintos autores no coinciden en sus afirmaciones, de esta forma resulta difícil ofrecer un panorama coherente del estado de la cuestión en este campo de investigación. Es una asunción general que el hemisferio izquierdo del cerebro es el principal responsable del procesamiento lingüístico. Nuestro intento es saber si las dos lenguas se localizan en la misma área del cerebro y si comparten los mismos mecanismos neurológicos. Las respuestas para la cuestión pueden ser encontradas casi siempre en dos fuentes de información: en estudios sobre los efectos lingüísticos de los daños cerebrales y en experimentos psicolingüísticos que miden la implicación de los hemisferios 146 derecho e izquierdo. Pongo como ejemplo la Afasia que es el nombre que reciben todos los tipos de trastornos del lenguaje y del habla, resultantes del daño cerebral. Según Paradis (1977) apud Appel y Muysken (1996) en alrededor de la mitad de los casos estudiados los pacientes siguieron un modelo de recuperación simultánea, es decir que el progreso en una lengua iba acompañado por el progreso en otra. Otro modelo es el de la recuperación selectiva donde ocurre la recuperación de una o algunas lenguas y no todas. El modelo simultáneo paralelo es el más frecuente. Nair y Virmani (1973, citados en Paradis, 1977) afirman que el 90% de 33 pacientes seleccionados al azar mostraban el modelo paralelo. Por mucho tiempo se ha pensado que el hemisferio izquierdo era el área dominante monolingües del procesamiento lingüístico de los y el derecho de los bilingües, estudios recientes demostraron que esto no es verdadero, como ejemplo, Soares y Grosjean (1981) citados por Appel y Muysken (1996) concluyeron que los hablantes bilingües presentaron el mismo resultado en los estudios que los monolingües. Si por un lado era un asunción general que las lenguas no se localizan en regiones completamente diferentes del cerebro 147 bilingüe, por otro es posible diferir aspectos neurológicos de la organización lingüística. Tomemos una vez más Paradis (1981) apud Appel y Muysken (1996) que distingue dos perspectivas. La hipótesis del sistema extendido donde afirma que dos lenguas forman un solo sistema y que se apoyan en los mismos mecanismos neurológicos. La otra es la hipótesis del sistema dual, sus defensores mantienen que las dos lenguas están localizadas en la misma área, pero que cada lengua se apoya en mecanismos neurológicos diferentes. Paradis (1981) propuso que las lenguas se almacenan en un sistema único extendido, con subsistemas independientes dentro de cada sistema formado por cada lengua. La hipótesis de Paradis puede explicar los modelos de recuperación paralelos y los no paralelos. Sin embargo, son sólo hipótesis que necesitan más investigaciones. 4 LA ADQUISICIÓN DE SEGUNDAS LENGUAS Aprender una segunda lengua es una necesidad para los grupos minoritarios en la actual sociedad, además de su lengua vernácula, un inmigrante turco aprende alemán, un aborigen en Australia aprende inglés. Sólo los grupos mayoritarios poseen la comodidad de seguir siendo monolingües. 148 Las personas difieren cuanto la forma de adquisición de la segunda lengua, varios son los factores que influyen en el grado de desarrollo de ésta, como la inteligencia, la edad y las aptitudes lingüísticas. Walqui (2000) agrega otros factores que corresponden a una segunda lengua, pongamos como ejemplo la preeficiencia de la lengua nativa, el conocimiento de la segunda lengua, las actitudes del hablante. Además, Walqui añade la oposición de los amigos del estudiante, la presencia de un buen modelo, el nivel de apoyo en casa y el deseo a aprenderla. Estamos en acuerdo con todos los factores mencionados, sobretodo, el influjo de las personas cercanas al estudiante y la motivación del estudiante son factores esenciales para el éxito de la adquisición de la segunda lengua. En seguida, trataremos de los factores socio psicológicos de la adquisición de la segunda lengua y el problema de la edad. Cabe agregar que no pretendemos un arraigamiento, sino empezar a discutir el tema y proponer algunas respuestas. 4.1 LOS FACTORES SOCIO PSICOLÓGICOS ADQUISICIÓN DE LA SEGUNDA LENGUA DE LA Comprobado está a través de Gardner y Lumbert (1972) apud Appel y Muysken (1996) entre otros, que la actitud del aprendiz 149 frente la comunidad que habla la lengua pretendida es fundamental para el éxito del aprendizaje, la persona que objetiva convertirse en miembro de la comunidad y no solamente tiene motivación funcional, tipo comercial y educativa tendrá más facilidad en la adquisición de la segunda lengua. Gardner (1979) apud Appel y Muysken (1996) también afirma que una competencia lingüística elevada favorece el contacto con hablantes nativos de la lengua de llegada, que por su vez, mejora el dominio de la lengua. Otra cuestión interesante discutida por Appel y Muysken (1996), trata de la relación entre adquisición de segunda lengua y asimilación cultural. Según Gardner (1979) citado por Appel y Muysken (1996): “La adopción de los principales valores culturales de la comunidad de la lengua de llegada, es una condición importante para realizar con éxito la adquisición de la segunda lengua”. Appel y Muysken están en contra cuando afirman: es evidente que las lenguas tienen relación con las culturas debido a su uso habitual en contextos culturales determinados, pero ello no implica necesariamente que hablar una lengua determinada signifique también adoptar la cultura y el estilo de vida de la comunidad en la 150 que esa lengua es el medio dominante de interacción. Si ése fuese el caso, los bilingües competentes serían más o menos esquizofrénicos, forzados, como estarían, a vivir con dos sistemas de normas y valores que podrían entrar en conflicto”. (APPEL y MUYSKEN,1996, p.140) Sin duda, no vemos la necesidad de adoptar la nueva cultura como la suya, por ello, estamos de acuerdo con Appel y Muysken, resaltando que para el éxito del aprendizaje, el aprendiz tendrá que demostrar por lo menos simpatía por la cultura de la segunda lengua, sin esta motivación el aprendizaje no será efectivo. 4.2 EL PROBLEMA DE LA EDAD La creencia popular ha dicho que los niños aprenden la segunda lengua con más facilidad, adquiriendo alto grado de competencia, sin duda, esta es una generalización que necesita de diferentes matizaciones. A seguir expondremos algunas líneas de investigación sobre este tema. Para empezar, no hay momento cierto o una edad apropiada para el aprendizaje de la segunda lengua; o por lo menos mejor época. Lenneberg (1967) apud Appel y Muysken (1996) creía que el 151 periodo adecuado tenía relación con la lateralización del cerebro, o sea, con la especialización de funciones, y esto finalizaba con la pubertad. Sin embargo, no es posible establecer con seguridad el momento de la lateralización. Así pues, sólo sea posible establecer el mejor momento para desarrollar habilidades como la pronunciación. En segundo lugar parece que los adultos aprenden más rápido, mientras los niños adquieren mayor nivel de competencia. En conclusión, el problema de la edad para la adquisición de la segunda lengua no se encuentra en la edad propiamente dicha, pero en factores cognitivos, afectivos y sociales. El desarrollo cognitivo es diferente en aprendices de la misma edad, como también la relación entre la comunidad de llegada y el aprendiz que, generalmente, adopta un discurso menos complejo con los adultos que con los niños; lo que facilita el aprendizaje por parte de éstos. 152 5 EL BILINGÜISMO Y SUS CONSECUENCIAS El bilingüismo presenta efectos positivos y negativos en los individuos, según la investigación de Vildomec (1963) apud Appel y Muysken (1996) los negativos son: inseguridad, timidez o complejo de inferioridad y positivos: la ampliación de horizontes, aumento de agilidad mental y mejor comprensión de la relatividad de las cosas. Como veremos adelante estudios recientes corroboran los aspectos positivos. Podemos definir socialmente dos tipos de bilingüismo, a saber, bilingüismo aditivo e sustractivo. El bilingüismo aditivo ocurre cuando el individuo agrega una segunda lengua a su repertorio lingüístico sin ocasionar peligro a la primera, pongo como ejemplo los americanos anglófonos que añaden el español. Por su vez, el bilingüismo sustractivo ocurre cuando el aprendizaje de la segunda lengua forma parte de un proceso de sustitución lingüística, como los inmigrantes turcos en Alemania que acabaron siendo más o menos competentes en alemán además de su lengua materna. 153 Ante todo una verdad es latente, los efectos del bilingüismo sólo pueden ser analizados en su contexto social, eso es lo que haremos en seguida. 5.1 LOS EFECTOS COGNITIVOS Analizando la bibliografía sobre los efectos cognitivos del bilingüismo, Darcy (1953) apud Appel y Muysken (1996) concluyó que: “los bilingües sufren un defecto lingüístico si lo medimos por medio de pruebas verbales de inteligencia”. En contrapartida, Peal y Lambert (1962) apud Appel y Muysken (1996) anunciaba una distancia entre el bilingüismo y la inteligencia. Los resultados de sus pesquisas apuntaron consecuencias intelectuales positivas del bilingüismo y afirmaron que los resultados negativos anteriores ocurrieron debido a la debilidad metodológica. Desde entonces muchos estudios corroboran los efectos positivos del bilingüismo en relación a la inteligencia. Otros estudiosos analizaron aspectos más específicos del funcionamiento cognitivo, entre ellos Ianco – Worrell (1972) apud Appel y Muysken (1996) que investigó la habilidad metalingüística de los bilingües y concluyó que los niños bilingües se hallaban en 154 una fase más avanzada del desarrollo metalingüístico que los monolingües. Otro aspecto del funcionamiento cognitivo próximo a la conciencia metalingüística, que aparece con frecuencia en las investigaciones es la flexibilidad cognitiva y otra vez los bilingües superaran los monolingües como comprobaron los estudios de Cummins y Gulutsan (1974) apud Appel y Muysken (1996) en investigaciones sobre pensamiento convergente y divergente La explicación está según Peal y Lambert (1962) apud Appel y Muysken (1996) en que los niños bilingües pueden mostrar ventajas cognitivas porque son más hábiles para disociar los conceptos de las palabras empleadas para verbalizar y esto agiliza la mente. Así razonando, esta explicación sirve para los resultados referentes a la conciencia metalingüística y a la flexibilidad cognitiva. A la vista de los diferentes efectos del bilingüismo aditivo y sustractivo, es posible afirmar, que no es el bilingüismo en sí mismo la causa de las ventajas y desventajas cognitivas, sino factores sociales como la posición socioeconómica, el prestigio de las dos lenguas y la situación educativa. Éstas determinan el aprendizaje del bilingüe. 155 Para evitar los efectos negativos sobre los aspectos cognitivos y que al mismo tiempo favorezcan los positivos, Cummins (1979) apud Appel y Muysken (1996) ha formulado la Hipótesis del umbral que afirma que los estudiantes deben adquirir el “umbral” (conocimiento previo) en ambas lenguas que lo capacite para el desarrollo cognitivo positivo. 5.2 LOS EFECTOS SOBRE LA PERSONALIDAD Mucho se ha dicho sobre el efecto negativo que el bilingüismo causa sobre el desarrollo de la personalidad, como si éstos sufriesen conflictos de valores, identidad y visión del mundo, y se les faltara una referencia. La ideología Nazi defendida por Adolf Hitler en Alemania requería la “pureza” de la nación y uno de los rasgos necesarios era la intensa relación entre un pueblo y su lengua y esto ocasionó intensificación de la discriminación étnica. Además de un sentimiento de superioridad de la nación alemana. Sin embargo, estudios más sólidos han demostrado una vez más que el bilingüismo no es una variable causal, sino sólo actúa como mediador en la influencia de los factores sociales y 156 culturales que son los verdaderos responsables por los efectos negativos en la personalidad como: el sentimiento de inferioridad y la discriminación que sufren los grupos minoritarios. En comunidades bilingües estables, no ocurre ese problema, pues se ha establecido una identidad bilingüe o bicultural como los canadienses anglófonos que han adquirido el francés como segunda lengua, tanto sus lenguas como sus culturas tienen prestigio social. Para finalizar, hay una estrecha relación entre lengua y las formas de pensar, esto fue comprobado por Ervin–Tripp (1967) a través de varios experimentos donde las respuestas a situaciones problemas estaban casi siempre relacionadas a valores culturales. Por otro lado, el hecho de dominar una lengua no significa la posesión de sus valores cultural es, como afirman Appel y Muysken: la relación entre lengua y cultura está enraizada en la vida social del bilingüe y no refleja de forma determinante en los aspectos cognitivos. […] Los problemas sociales y emocionales de algunos bilingües no estarán causados por su bilingüismo como fenómeno cognitivo, sino por el contexto social. (APPEL y MUYSKEN ,1996, p.171) 157 Ante lo estudiado, podemos concluir que el bilingüismo es un facto, una necesidad en constante ampliación, sin duda, los factores cognitivos necesitan de más investigaciones y el respeto por el ser humano, principalmente para con las minorías étnicas ayudará a disminuir los efectos negativos del bilingüismo. Aún pulsa fuerte la utopía de una sociedad más justa como solución, incluso para los problemas sociolingüísticos. 6 REFERENCIAS APPEL, R.; MUYSKEN, P. Bilingüismo y contacto de lenguas. Barcelona: Editorial Ariel S.A., 1996. Cuadernos Cervantes de la Lengua Española: La revista del español en el mundo. Cc 44. Ediciones Luis Revenga 2000-2005. GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. ALARCOS LLORACH, Emilio. Gramática de la lengua española. Madrid: Espasa Calpe, 1994. ALCOBRA, Santiago. Léxico literario español. Barcelona: Editorial Ariel, 1987. BOUSOÑO, Carlos. Teoría de la expresión poética. Madrid: Gredos, 1976. CALDERÓN, Alfonso. Antología, leyendas y tradiciones. Santiago de Chile: Universitaria, 1992. 158 GARCÍA DE LA CONCHA (Coord.) Viaje al español. Salamanca: Santillana, 1993. GONZALEZ, Hermoso et al. Gramática de español lengua extranjera: normas recursos para la conversación. Madrid: Edelsa,1995. MATTE BON, Francisco. Gramática comunicativa del español. Tomo II. De la idea a la Lengua. Madrid: Difusión, 1992. 159 PROPOSIÇÃO, CORREÇÃO E AVALIAÇÃO DE REDAÇÃO Lourdes Aparecida de Souza Cezana 1 RESUMO Dentre as tarefas que devem ser desempenhadas pelo professor de redação está a proposição do título, bem como a distinção entre a correção e a avaliação dos textos. A primeira dessas tarefas é uma operação importante, já que o título deve ser claro, despertar o interesse do aluno, em suma, estar repleto de características que o tornem um estímulo eficaz. Depois, verifica-se que corrigir e avaliar são atividades comumente confundidas na prática escolar. O presente artigo propõe-se a enfocar esses elementos, procurando enfatizar a diversidade de objetivos e de métodos dessas atividades, dando sugestões sobre a formulação de títulos, e, em seguida, mostrando a diferença de metodologia aplicada na correção e na avaliação de textos, nos ensinos fundamental e médio. PALAVRAS-CHAVE: Relevância do título; Metodologia da correção; Metodologia da avaliação. ABSTRACT Among the tasks that should be carried out by writing skills’ professor is the proposition of the title, as well as the distinction between the correction and evaluation of the texts. The first one of these tasks is an important operation, since the title should be clear, to provoke the interest of the student, concisely, be filled out with characteristics that turn it an effective incentive. Then, it is verified that to correct and to evaluate are activities commonly confused in the school pratice. This article intends to focus these elements, seeking to emphasize the diversity of objectives and methods of these activities, giving 1 Pós-graduada em Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências e Letras Plínio Augusto do Amaral – Amparo(SP) e professora do Instituto de Ensino Superior de Nova Venécia - INESV 160 suggestions about the composition of titles, and, soon afterwards, showing the diference of the aplied methodology on the correction and evaluation of texts, on the Elementary School and High School. KEY WORDS: The title’s relevance; Correction and evaluation’s; Methodologies. 1 OS TÍTULOS DAS REDAÇÕES Um grande desafio para nós, professores, é a escolha do título das redações, uma vez que consideramos ser o título o estímulo à escrita do aluno. Assim, devemos considerar os três ângulos pelos quais os títulos podem ser analisados: sua estrutura formal, gênero textual e tema. A escolha, dessa forma, deverá ser planejada, pois dependerá dela a metodologia a ser aplicada e os objetivos que devem ser alcançados. 1.1 ESTRUTURA FORMAL DOS TÍTULOS Segundo sua formulação, os títulos podem ser classificados em três categorias: o título-frase-de-efeito, o título-estímulo-aberto e o título-roteiro. O título-frase-de-efeito compreende as citações. Se observarmos os temas de vestibulares, podemos concluir que se abusa de 161 citações nos títulos das redações. Porém, os nossos jovens têm coragem de contradizer as afirmações de uma citação? Na maioria das vezes, não, submetendo-se passivamente ao princípio da autoridade, e, ao invés de repensar clichês, consideram-nos como verdadeiros, obedecendo ao prestígio do autor. O título-estímulo-aberto propõe um tema, generalizando-o. Nesse caso, há o risco de se desenvolver um assunto de maneira genérica, sem identificar uma determinada perspectiva. Por exemplo: “A televisão”. Qual o ângulo? O que abordar? Nesse tipo de título tem-se que identificar uma perspectiva a ser abordada, a fim de evitar um desenvolvimento genérico. O título-roteiro caracteriza-se pelo convite à reflexão, à pesquisa do assunto, pois não só propõe o tema, como também oferece uma série de pontos de vista, proporcionando a pauta do desenvolvimento. Deve-se, no entanto, ter o cuidado de observar a apresentação desse tipo de título, pois se já apresenta uma linha de raciocínio ou direção definida, conseqüentemente, tolherá o aluno. 162 Segundo Serafini (1998), deve-se trabalhar, principalmente, com os alunos os títulos-roteiro e os títulos-estímulo-aberto, mas é preciso diferencia-los. Se há um direcionamento em relação ao desenvolvimento do texto nos primeiros, é oportuno usa-los numa 1ª fase; já os segundos, que apenas propõem o assunto, pedem um trabalho maior de pesquisa de informação e organização de idéias, adequados, dessa forma, para uma 2ª fase, em que o aluno já esteja familiarizado com o ato de escrever. Para os títulos que se referem à literatura é importante graduar as dificuldades apresentando propostas que as introduzam progressivamente. Seguem-se algumas sugestões: 1. Comentário de um texto literário de modo subjetivo, não-histórico e estrutural. Por exemplo: “Comentar o poema ‘Itabira’, de Carlos Drummond de Andrade, pensando também em como você descreveria a sua cidade”. 2. Relato-resumo de um trecho de crítica literária. Exemplo: “Apresentar as idéias principais do capítulo ‘O nacionalismo literário’, da obra Formação da literatura brasileira, de Antonio Candido”. 3. Balanço geral de um período literário. Por exemplo: ‘Apresentar as principais correntes poéticas da literatura brasileira no século XX”. 4. Comentário sobre o aspecto histórico e literário de um texto, apresentando também impressões pessoais. Exemplo: “Comentar o poema ‘Marília de Dirceu’, de Tomás Antonio Gonzaga, apontando suas características pré-românticas. Acrescentar algumas impressões pessoais” (SERAFINI, 1998, p.105). 163 1.2 GÊNEROS TEXTUAIS DAS REDAÇÕES Observa-se que, atualmente, a maior parte dos títulos estão voltados para a elaboração de informações atuais, através do texto dissertativo-argumentativo, todavia, é interessante que seja proporcionado ao aluno a oportunidade de escrever nos diversos gêneros textuais, a fim de explorar a sua criatividade. Normalmente, quando isso acontece, escrever passa a ser sinônimo de diversão. 1.3 TEMA DAS REDAÇÕES Observa-se uma incidência maior de temas voltados para a contemporaneidade, porém, percebemos que, nessa seleção, quase nunca são utilizados títulos ligados a problemas sobre os quais os alunos tenham tido experiências diretas. Percebe-se, portanto, que o ensino de redação na escola deve proporcionar ao aluno o preparo adequado para desenvolver um assunto, ou possibilidades de se preparar. Assim, faz-se necessária a leitura de livros, debates em sala, pesquisa em 164 artigos de jornais, evitando desenvolvimentos retóricos e genéricos. A partir desse entendimento, pensamos que o título deve ser um motivo que possibilite ao aluno realizar inferências e relatar experiências. 2 A CORREÇÃO Entende-se por correção, o conjunto de intervenções que o professor faz para apontar inadequações. Certamente, a correção de uma redação é bem mais complexa que um exercício de matemática, porque falta um referencial que permita um processo mecânico. Ao contrário, cada gênero textual exige uma postura diferente do professor em relação a vários fatores de correção como, por exemplo, linguagem e forma, pontuação, introdução e conclusão, entre outros. Além disso, o professor deve refletir sobre o que considerar relevante, levando em conta a idade, a experiência e a formação dos alunos, e, ainda, fazer observações específicas, promovendo o aprimoramento de cada estudante. 165 Para Serafini (1998) são seis os pressupostos e atitudes que conduzem à construção de uma boa metodologia de correção. São eles: A correção não deve ser ambígua. Esse princípio pede precisão na indicação de desvios quanto à norma padrão. Não adianta sublinhar palavras, linhas onduladas, chaves, colchetes, e não indicar o tipo de inadequação. O estudante tem que compreender se o problema de seu texto consiste no uso impróprio de um termo, emprego de uma informação imprecisa, dentre outros. Dessa maneira, é necessário que o professor possibilite ao aluno distinguir entre a necessidade de reformulação total do texto ou apenas a correção parcial de alguns dos seus elementos. Os erros (sic) devem ser reagrupados e catalogados. Quando o professor identifica os problemas existentes no texto, fica fácil para o aluno corrigir, já que entende a sua natureza. O aluno deve ser estimulado a rever as correções feitas, compreendê-las e trabalhar sobre elas. Pode-se conseguir isso através de dois recursos freqüentes como reescrita de trechos corrigidos pelo professor ou 166 reelaboração de todo o texto, seguindo sugestões do professor. Deve-se corrigir poucos erros (sic) em cada texto.Primeiro, para não desestimular o aluno; segundo, porque é limitada sua concentração sobre os desvios. É interessante observar que esse princípio aplicar-se-á de maneiras diferentes em cada aluno, pois a compreensão desses desvios dependerá da experiência e formação de cada um. O professor deve estar predisposto a aceitar o texto do aluno. Isso implica aceitar o enfoque, as idéias, o estilo e a linguagem escolhidos pelo estudante, pois a correção difere de acordo com o gênero textual, isto é, diferentes gêneros possibilitam o uso de estilo, linguagem concernentes a cada um. A correção deve ser adequada à capacidade do aluno. A autoconfiança é imprescindível para o sucesso do aluno no aprimoramento da escritura de textos. Levar em conta sua capacidade e estimulá-lo, ao invés de criticá-lo severamente frente aos desvios de ortografia, gramática, sintaxe, organização, léxico, contribuirá para seu progresso. 167 Segundo Britton & Griffith (apud SERAFINI, 1998) os maiores e mais efetivos progressos efetivam-se quando o professor respeita, estimula e valoriza o aluno-escritor, ajudando-o a passar por três fases. Na primeira fase, o aluno deve familiarizar-se com o papel, a caneta e a escrita, superando o medo da folha em branco, típico de quem não tem experiência.Somente quando tenha alcançado uma certa desenvoltura é que pode passar para a segunda fase, na qual é estimulado a buscar a coerência de seus textos. Finalmente, só na terceira fase, o professor pode visar à precisão do texto. Essas três fases do aprendizado (desenvoltura, coerência e precisão) não são ligadas à idade específica dos alunos, mas à história individual de cada um. 2.1 CORREÇÃO INDICATIVA, RESOLUTIVA E CLASSIFICATÓRIA Há três métodos de correção de redações: Indicativa, Resolutiva e Classificatória. A primeira consiste em marcar junto à margem as palavras, frases, períodos que apresentam inadequações, muitas vezes, 168 apontados sem precisão, tornando-a ambígua. Vejamos o exemplo seguinte: [a possibilidade de acordos entre as partes aumentam a cada dia.] Através desse exemplo, podemos verificar que o aluno dificilmente vai ser capaz de entender a natureza do desvio de seu texto. A segunda consiste na correção de todos os desvios pelo professor. Percebe-se, nesse método, que ao solucionar o problema, o professor limita o aluno a um modelo determinado, sobrepondo sua opinião, mostrando ao aluno uma única correção, quando sabemos que em muitos casos temos várias correções aceitáveis, diferentes modos de se expressar, todos corretos. Vejamos: A possibilidade de acordos entre as partes aumenta a cada dia. Nessa correção, o professor cancela o “m” de “aumentam”, não explicando o porquê, tornando obscuro para o aluno o motivo da inadequação de seu texto. 169 A terceira consiste na identificação não ambígua dos desvios através de uma classificação, permitindo uma catalogação. Dessa forma, o aluno é estimulado a trabalhar sobre seus textos.No exemplo abaixo, observamos que a natureza da inadequação passa a ser clara também para o aluno: A possibilidade de acordos entre as partes aumentam a cada dia. Concordância sujeito-verbo Percebe-se, portanto, que a correção classificatória é a mais eficaz, uma vez que ajuda o aluno a melhorar sua performance em relação à produção de textos, pois, ao invés de apenas descrever(indicativa) ou resolver(resolutiva), o aluno é levado a construir o seu texto, através da autocorreção. Uma análise sistemática dos textos dos alunos nos mostra que os erros são de tipo limitado e podem ser catalogados (Apud Shaughnessy, 1981). 170 Planilha de correção de uma dissertação 1. Organização de Conteúdo Tese Correspondência entre idéias e parágrafos Precisão dos argumentos Presença de exemplos Nexos lógicos Introdução e conclusão Documentação Riqueza de idéias 2. Linguagem e forma Comprimento dos parágrafos e das frases Clareza e legibilidade Adequação de linguagem Sintaxe Pontuação Ortografia Caligrafia Tabela 1 – Planilha de correção para a dissertação Fonte: Como escrever textos (SERAFINI, 1998, p.116) 3 A AVALIAÇÃO A avaliação deve ser compreendida como conjunto de ações organizadas com a finalidade de obter informações sobre o que o aluno aprendeu, de que forma e em quais condições. Para tanto, é preciso elaborar um conjunto de procedimentos investigativos que possibilitem o ajuste e a orientação da intervenção pedagógica para tornar possível o ensino e a aprendizagem de melhor qualidade. (PCN – LÍNGUA PORTUGUESA, 5ª A 8ª SÉRIES,1998, p.93) 171 Pela definição acima, compreende-se que procede-se à avaliação, a partir da coleta de dados representada pela correção. Portanto, são duas operações distintas, já que corrigir uma redação é observar os erros do texto e fazer uma intervenção diagnóstica, enquanto avaliar é o julgamento que se dá ao texto. Esse julgamento, segundo DE LANDSHEERE, 1973; DE BARTOLOMEIS, 1974 e GATTULLO, 1971, (apud SERAFINI, 1998, p. 130) pode ter a função Administrativa ou de Mensuração quando um texto é avaliado em relação a outros textos; Preditiva, quando avalia-se o futuro desempenho do aluno ou a função de Pesquisa que analisa o progresso das capacidades do aluno em um espaço de tempo, ou o rendimento de um grupo de alunos num contexto particular. Na prática, são evidentes os problemas enfrentados pelo professor, ao fazer uma avaliação de um texto. Primeiro, pelos aspectos contraditórios a serem avaliados. Por exemplo, como avaliar uma redação que seja original, bem documentada, porém com problemas de adequação de palavras, organização? Segundo, porque é um processo que não apresenta regras, técnicas. 172 Serafini (1998) indica quatro princípios fundamentais para a avaliação de um texto: A avaliação deve levar em conta as diversas fases de desenvolvimento das capacidades; A avaliação deve levar em conta o objetivo do texto; A avaliação deve levar em conta o gênero textual usado; A avaliação deve estar relacionada com o tipo de estímulo dado à escrita. MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DE TEXTOS Os métodos para avaliar os textos podem ser agrupados em quatro tipos fundamentais: Avaliações Totalizantes, Analíticas, Atômicas e os Testes. Diederich; Najimi; Myers; Cooper & Mellon (apud SERAFINI, 1998, p. 134). 3.1. MÉTODOS TOTALIZANTES Segundo Serafini (1998), nesse método, a avaliação final de um texto é obtida assim que se acaba a leitura com base na 173 impressão do professor. Assim, quanto melhor e maior a experiência do professor, maior a credibilidade para o método. Vejamos três modelos de avaliação que ilustram esse método: Avaliação baseada em uma ‘escala de referência’ Esse tipo de avaliação utiliza uma série de textos completos e ordenados segundo sua qualidade: o primeiro exemplar da série é um texto muito bem-feito, o último é um muito fraco. Os textos de referência são selecionados dentre uma grande quantidade deles. Diversas escalas são construídas para cada tipo de redação e para cada série escolar. Cada novo texto avaliado é colocado na posição da escala correspondente ao texto ao qual mais se assemelha.[...] Reação ao centro da gravidade O que caracteriza este método é a rapidez da avaliação; o avaliador deve dar respostas sintéticas que captem a essência da mensagem contida no texto imediatamente após sua leitura. O método pode ser aplicado respondendo-se às seguintes perguntas: 1.Diga, em quinze segundos, qual é o ponto principal, o âmago ou o centro de gravidade do texto (um exemplo: ‘Texto muito triste, a 174 morte parece ser o elemento principal; muitas observações sobre o vestuário’). 2.Sintetize o texto numa única frase. 3.Escolha uma palavra do texto que melhor o sintetize. 4.Escolha uma palavra que não esteja no texto e que melhor o sintetize. [...] Avaliação por impressão geral Dentre os métodos totalizantes esse é o mais adotado, pois não requer o conhecimento de uma escala de referência. De uma forma mais simples, o professor constrói pouco a pouco a própria escala avaliando o texto em comparação aos outros escritos na mesma ocasião. Geralmente tende a distribuir as notas conforme uma curva que em certos casos é decidida por ele próprio e em outros segue critérios prefixados.[...] (SERAFINI, 1998, p.135-6) 3.2 MÉTODOS ANALÍTICOS Os métodos analíticos (SERAFINI, 1998, p. 137) “identificam nos textos alguns aspectos ou critérios particulares de julgamento que 175 são avaliados separadamente”. A respeito desse tipo de método, THEREZO (2002, p.43) comenta que: o professor de português depara-se com uma questão de enorme importância: como fazer para que aquilo que observou na redação do aluno possa chegar a este, de modo a contribuir para o seu crescimento como produtor de texto? Como fazê-lo perceber as falhas, incentivá-lo a buscar recursos gramaticais, lexicais, semânticos para recompor as frases, ordenar de modo adequado as idéias, desenvolvê-las a contento, apresentar mais dados de fundamentação, aprofundar suas reflexões (no caso da dissertação); de que modo, por meio de que instrumentos, fazê-lo perceber que é preciso caracterizar melhor as personagens, lidar adequadamente com tempo e espaço, trabalhar com o conflito e a complicação, de modo a interessar o leitor, manipular a linguagem como matéria de criação e encantamento (no caso da narrativa)? Nesse ponto, surge a angústia da constatação de que não é suficiente sublinhar as falhas, pois, na maioria das vezes, o mais importante é o que não foi dito e deveria tê-lo sido; ou foi dito de modo insuficiente e confuso, ou desordenado.[...] Como avaliar tudo isso, sem se perder ou se desorganizar? Sem confundir-se e confundir o aluno? Nossa sugestão, a partir dos critérios estudados e de experiências bem sucedidas no ensino médio (aliás, bem sucedidas, também, junto aos pais), é utilizar uma folha especial de redação, se possível, ou pelo menos, uma tira de papel grampeada em cada texto, com uma grade de critérios com sub-itens que detalhem cada um deles. Em ordem, o professor poderá assinalar cada um dos tipos de falhas, dando ao aluno a oportunidade de verificar pontualmente suas dificuldades.[...] 176 Podemos exemplificar esse método, através dos exemplos seguintes de escalas: 3.2.1 ESCALA ANALÍTICA Na escala analítica, os textos são avaliados com base nas características do gênero ao qual pertencem, isto é, diferentes critérios para diferentes tipos de textos. Observemos a tabela a seguir: BAIXO MÉDIO ALTO I. Qualidades Gerais A. Papel do autor B. Estilo e autenticidade C. Figura central D. Fundo E. Seqüência F. Argumento II. Uso da linguagem 2 3 4 2 2 2 4 6 8 4 4 4 6 9 12 6 6 6 8 12 16 8 8 8 10 15 20 10 10 10 A. Vocabulário B. Sintaxe C. Pontuação D.Ortografia 2 1 1 1 4 2 2 2 6 3 3 3 8 4 4 4 10 5 5 5 Instruções: Para cada elemento da lista, faça um círculo em torno do número que avalia melhor a posição do texto na escala apresentada. Por fim, some os números circundados. 177 I. Qualidades gerais A. Papel do autor O papel do autor é dado pela relação que o aluno estabelece com o assunto, o acontecimento ou a pessoa de quem se trata. Em uma autobiografia o autor escreve sobre si mesmo, é o protagonista; usa freqüentemente pronomes da primeira pessoa do singular e do plural. Em uma biografia o autor escreve sobre os outros e não se envolve com os exemplos, é um observador; usa principalmente pronomes de terceira pessoa do singular e do plural. Alto: O autor assume adequadamente o papel de participante ou de observador. Médio:Na biografia o autor fala demais de si; na autobiografia fala demais dos outros personagens. Baixo: O autor passa continuamente do papel de observador ao de participante e vice-versa. Quem lê tem dificuldade em entender se se trata de uma biografia ou de uma autobiografia (SERAFINI, 1998, p. 138). A respeito desse tipo de escala, Therezo (2002. p. 46) nos diz que: é interessante organizar uma escala que pode ser elaborada para cada um dos critérios (alguns examinadores chamam a isto de grade). Se vai atribuir de zero a dois pontos para cada um deles, 178 pode pensar que tipo de desempenho merecerá zero, 0.5, 1.0, 1.5,2.0. Acreditamos que o trabalho de atribuir cinco notas para a mesma prova, inicialmente moroso, (apenas inicialmente, porque a prática levará à percepção crítica mais aguda, com conseqüente ganho em velocidade) permitirá ao professor trabalhar, efetivamente, com méritos de zero a dez, saindo da chamada nota ‘prudente’ (cinco) ou da nota ‘simpática’ (seis), estas que, comumente, atribui, quando, numa avaliação global e superficial, por falta de tempo, a redação lhe parece ‘mais ou menos boa’.A grade possibilitará segurança, certeza de justiça e, muito mais do que isso, a oportunidade de dar ao aluno noção transparente dos pontos a melhorar. Para ilustrar a afirmação acima, observemos as tabelas seguintes, também encontradas: 179 Critérios de avaliação de texto (zero a dois pontos cada um) 5as. e 6as. séries do Ensino Fundamental 1. Quanto à Composição A – Apresentação ( ) Fazer letra legível. ( ) Evitar rasuras. ( ) Marcar parágrafo com espaço maior ( ) Manter margens regulares. B – Tipo de texto ( ) Fazer corresponder o texto ao tipo de composição pedido. ( ) Usar recursos próprios do tipo de composição. 2. Quanto ao Tema ( ) Fazer corresponder o texto ao tema. ( ) Demonstrar conteúdo. 3. Quanto à Linguagem A – Vocabulário ( ) Empregar palavras adequadas B – Gramática ( ) Respeitar a ortografia. ( ) Acentuar corretamente as palavras ( ) Usar crase antes de palavras ou locuções femininas. ( ) Usar ponto final no final do pensamento. ( ) Usar vírgula, quando necessário. ( ) Pontuar corretamente com o sujeito da frase. ( ) Concordar o adjetivo e/ou artigo com o substantivo. 4. Quanto à Coesão ( ) Evitar repetição de palavras. ( ) Evitar repetição de idéias. ( ) Construir frases claras e completas. ( ) Usar melhor os pronomes. ( ) Usar melhor as conjunções. 5. Quanto à Coerência ( ) Encadear as idéias. ( ) Fazer corresponder o título ao texto. ( ) Verificar se as idéias estão de acordo com a realidade. Refeitura ( ) Melhorou o texto. ( ) Apresentou outros problemas ( ) Manteve o nível. ( ) Empregar corretamente os pronomes. ( ) Usar corretamente o tempo e/ou modo verbal. Tabela 3 - Critérios de avaliação de texto (zero a dois pontos cada um) 5as. e 6as. séries do Ensino Fundamental Fonte: THEREZO, Graciema Pires. Como Corrigir Redação. 4. ed. São Paulo : Alínea, 2002, p. 47. 180 Critérios de avaliação de texto 7as. e 8as. séries do Ensino Fundamental 1. Tema ( ) Adequação ao tema. ( ) Nível de informalidade 2. Tipo de texto ( ) Adequação ao tipo de texto. ( ) Estrutura do texto. ( ) Introdução. ( ) Desenvolvimento. ( ) Conclusão. ( ) Recursos próprios de composição 3. Nível de Linguagem. ( ) Regência. ( ) Concordância. ( ) Emprego adequado de pronomes. ( ) Emprego adequado de conjunções. ( ) Emprego adequado de tempos e modos verbais. ( ) Emprego adequado de preposições ( ) Pontuação. 4. Coesão ( ) Construção de períodos. 5. Coerência ( ) Interna. ( ) Encadeamento de idéias no texto. ( ) Relação entre título e conteúdo. ( ) Externa. ( ) Relação entre as idéias e a realidade Refeitura ( ) Melhorou o texto. ( ) Apresentou outros problemas ( ) Manteve o nível. ( ) Repetição de palavras. ( ) Vocabulário ( ) Variedade Vocabular. ( ) Adequação vocabular. ( ) Gramática ( ) Ortografia. ( ) Frases incompletas. ( ) Uso de palavras de referência (pronomes). ( ) Uso de palavras de transição (conjunções). ( ) Acentuação. Tabela 4 – Critérios de avaliação de texto 7as. e 8as. séries do Ensino Fundamental Fonte: THEREZO, Graciema Pires. Como Corrigir Redação. 4. ed. São Paulo : Alínea, 2002, p. 48. 181 Critérios de avaliação de texto Ensino Médio 1. Quanto ao Tema, o texto: ( ) Ortografia. ( ) Concordância. -Foge completamente ao tema. -Explora o assunto mais aborda superficialmente o tema. -Aborda parcialmente o tema. -Aborda adequadamente o tema. -Apresenta contribuição pessoal. 2. Quanto ao Tipo de texto: ( ) Uso de conectivos. ( ) Pontuação. ( ) Adequação pronominal. ( ) Regência. ( ) Adequação verbal. -Variedade vocabular insuficiente, interferências da oralidade, inadequações gramaticais. -Variedade, entretanto, falhas em propriedade vocabular. -Foge totalmente. -Foge parcialmente (mistura modalidades textuais). -Atende ao tipo, porém, apresenta falhas de estrutura. oãn sam opit oa ednetA ڤ utiliza todos os seus recursos. -Apresenta bom aproveitamento de todos os recursos do tipo de texto. -Adequação gramatical e vocabular -Além de variedade e propriedade vocabular, uso pessoal dos recursos lexicais e sintáticos. 4. Quanto à Coesão, o texto: -É composto de frases soltas, uso indevido das conjunções, emprego incorreto de pronomes. 3. Quanto ao nível de linguagem, o texto apresenta: -Insuficiência vocabular erros gramaticais. ( ) Acentuação. e -Apresenta falhas de articulação (repetição de palavras, frases incompletas ou emendadas, falta de paralelismo). -Não apresenta deficiências graves, entretanto, matem o uso das conjunções mais conhecidas e utiliza poucos recursos pronominais. -Apresenta bom uso dos elementos coesivos e transições adequadas entre as idéias. -Apresenta boa transição entre os parágrafos. 5. Quanto à Coerência, o texto apresenta: -Incoerência por: ( ) Falta de adequação ao tema. ( ) Falta de adequação à realidade. ( ) Falta de Coesão entre as idéias. -Pouca coerência interna ( ) idéias contraditórias ou ambíguas. ( ) quebra de relação entre pensamentos. -Coerência interna mas ( ) insuficiência de argumentação. ( ) pouca profundidade de reflexão. -Coerência interna mas falhas de progressão. -Coerência absoluta. Tabela 5 - Critérios de avaliação de texto Ensino Médio Fonte: THEREZO, Graciema Pires. Como Corrigir Redação. 4. ed. São Paulo : Alínea, 2002, p. 49. 182 3.2.2 ESCALA DICOTÔMICA Na escala dicotômica temos a simplificação de uma escala analítica, pois é necessário apenas responder sim ou não a uma série de afirmações. Vejamos: SIM NÃO ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ I.Qualidades gerais A. B. C. D. E. F. O autor assume adequadamente o seu papel de participante ou de observador O estilo é autêntico e interessante O assunto é apresentado de modo claro O cenário é rico e apropriado As seqüências dos acontecimentos são claras A figura central é bem desenvolvida II.Uso da língua A. B. C. D. O vocabulário é rico e apropriado A sintaxe é, no seu conjunto, correta Poucos erros de pontuação Poucos erros de ortografia Total de sim __________________ Tabela 6 – Escala dicotômica para textos narrativos de tipo pessoal (biográficos ou autobiográficos. Fonte: Como escrever textos (SERAFINI, 1998, p. 139) 3.3.MÉTODOS ATÔMICOS Os métodos atômicos, segundo Diederich & Finn (apud SERAFINI, 1998, p. 140) se baseiam na contagem de elementos específicos que permitem a classificação da capacidade de 183 escrever e a avaliação precisa de seu desenvolvimento no tempo, principalmente em relação a elementos lexicais e sintáticos. Ao contrário dos métodos anteriores, o método atômico privilegia, principalmente, a função de pesquisa, já que há a necessidade de analisar amostras estatísticas de grande dimensão. 3.4 TESTES Os testes, de acordo com Fagan & Diederich (apud SERAFINI, 1998, p. 140) “propõem aos candidatos a escolha de uma resposta dentre um conjunto de respostas sugeridas”. Observa-se que esse método é caracterizado pela objetividade, devido à uniformidade dos elementos de avaliação, bem como pela rapidez da correção. Devemos notar, porém, que nesse método mede-se somente a aquisição de capacidades lingüísticas, por exemplo, testes sobre o conhecimento do significado de palavras ou sobre a adequação de construções sintáticas, ficando, assim, evidente sua inadequação para qualificar a capacidade de redigir (SERAFINI, 1998, p.140) 184 Pelo exposto acima, podemos observar que todos os métodos estudados são interessantes, pois são complementares e interdependentes. A escolha dependerá das características do texto e do objetivo do professor. 4. CONCLUSÃO Diante de alguns pontos levantados no artigo, é possível tecermos algumas considerações e conclusões finais. Primeiramente, observamos que o título da redação determina, quase sempre, sua boa feitura. Conseqüentemente, a escolha de títulos que abordem problemas atuais e interessantes são desenvolvidos prazerosamente pelos alunos. No que tange à questão da correção de textos, muitos são os desafios enfrentados pelo professor, já que o seu trabalho intensifica-se a partir da refeitura do texto pelo aluno. Salientamos que é papel do educador mostrar ao discente que a sua relação com o texto é de produtor de texto autor, isto é, há a necessidade de que tenha uma relação institucional com a linguagem, em 185 suma, o seu texto deve ser escrito para um leitor exigente, interpretativo e crítico. Há, pois, a necessidade de que o professor proceda a uma correção eficiente, entendida como uma das fases do processo e alicerçada em conhecimento científico. Em relação à avaliação, é importante enfatizar o forte elemento de arbitrariedade que existe na avaliação de textos. Por essa razão, a construção de uma metodologia explícita, precisa e objetiva é fundamental. Em função disso, observamos que, dentre os métodos estudados, podemos escolher aquele que melhor se aplica aos nossos objetivos, desde que atenda à necessidade de oferecer ao aluno indicações claras para que este possa efetivamente melhorar. Finalmente, definir os critérios de avaliação e compartilhá-los com os alunos permite tanto ao professor tornar sua prática mais eficiente pela possibilidade de obter indicadores mais confiáveis sobre o processo de aprendizagem, quanto permite ao aluno centrar sua atenção nos aspectos focalizados, conferindo à sua produção, cada vez mais qualidade. 186 5 REFERÊNCIAS CEREJA, Willian Roberto et MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma proposta e produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual, 2000. PARÂMETROS Curriculares Nacionais. 5ª a 8ª Séries. Ministério da Educação, Brasília, 1998. ______. Ensino Médio. Ministério da Educação, Brasília, 1999. PLATÃO, F. S. et. FIORIN J. L. Lições de texto: leitura e redação. 2. ed. São Paulo: Ática, 1997. ______. Para entender o texto: leitura e redação. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995. SERAFINI, Maria Teresa. Como escrever textos. 9. ed. São Paulo: Globo, 1998. THEREZO, Graciema Pires. Como corrigir redação. 4. ed. São Paulo: Alínea, 2002. 187 ARTE NO CURRÍCULO: CAMINHOS E DESCAMINHOS DA EDUCAÇÃO Maria da Penha Gozzer Cimadon 1 RESUMO A Arte no processo educacional é emancipadora. Significa estar no currículo escolar, no sentimento equilibrado e na reflexão social, possibilitando o desenvolvimento da personalidade em todos os aspectos: intelectual, emocional, social, perceptivo, físico e criativo. A expressão do perceber, do pensar, do receber, do imaginar, do sentir e do explicar na produção artística experimenta nas diversas linguagens das várias áreas do conhecimento humano resultados benéficos. O objetivo foi verificar a importância da Arte na interação docente- aluno e o seu papel no currículo como elemento facilitador na concentração do aluno em sala de aula. Esta relação pode ser facilitada com Arte em todas as disciplinas, despertando os processos sensórioperceptível do cérebro. A Arte prepara para o desenvolvimento mental, melhora a sensibilidade, aprofunda os saberes teóricos, elevando o compromisso educacional como se verificou nas pesquisa descritivas e interpretativas durante todas as aulas de Educação, Arte e Movimento na Graduação de Pedagogia no decorrer do semestre. O método empírico de observação sistematizado empregado ajudou na interpretação dos resultados. Dos depoimentos dos alunos foi realizado a análise e constatou-se que a Arte pode ser considerada uma disciplina que facilita a interação docente-aluno e que no ensino-aprendizagem é uma aliada para a interdisciplinaridade. PALAVRAS-CHAVE: Arte; Interação; Cérebro; Concentração. ABSTRACT The Art in the education process is independent. It means to be in the school curriculum, in the balanced sense and in the social reflection, making possible the development of the personality in all of the aspects: intellectual, emotional, 1 Graduada em História – FAFIC, Especialista em Planejamento Educacional e Supervisão Escolar. Professora do Curso de Pedagogia do INESV. 188 social, perceptive, physical and creative. The expression of noticing, of thinking, of receiving, of imagining, of feeling and of explaining in the artistic production experiments in the several languages of the various areas of the human knowledge beneficial results. The objective was to verify the importance of the Art in the interaction educational-student and its role in the curriculum as facilitative element in the student's concentration in classroom. This relationship can be facilitated with Art in all the disciplines, waking up the sensorialperceptible processes of the brain. The Art prepares for the mental development, it improves the sensibility, and it deepens the theoretical knowledge, elevating the education commitment as it was verified in the descriptive and interpretative researches during all of the classes of Education, Art and Movement in the Graduation of Pedagogy in elapsing of the semester. The empiric method of observation systematized used helped in the interpretation of the results. Of the students' testimonies the analysis was accomplished and it was verified that the Art can be considered a discipline that facilitates the interaction educator-student and that in the teaching-learning is an allied for the interdisciplinary. KEY-WORDS: Art; Interaction; Brain; Concentration. 1 INTRODUÇÃO Como a Arte é um fazer e é um conjunto de atos, surge assim, a necessidade de conhecer sua plasticidade para fazer interagir no processo ensino-aprendizagem. É neste contexto que se pretende sensibilizar os profissionais a saber Arte e saber ser educador em Arte. Do grego aesthesis, significa a percepção sensível (sensação) do mundo vivido. As dificuldades e as limitações do cotidiano podem ser moldados com a pintura, com a música, com a poesia, com a dança, encantando e aguçando a criatividade. 189 Comenius (1999, p.152), usava em 1627 o método de ensinar com arte na interação docente-aluno. O ensinar não pode mais centrar na idéia linear.Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sobre ARTE falham em não aprofundar e esclarecer a complexidade do funcionamento do processo sensório-perceptível do cérebro pouco explorado na utilização da Arte no currículo. Paulo (FREIRE, 1996, p.36), afirma que com a dialogicidade, a Arte deve buscar uma consciência crítica, estética e capacidade de se tornar mais e mais responsável para uma socialização transformadora de qualidade. Educar tem a ver com a sedução (ASSMANN, 2001). O conhecimento humano nunca é pura operação mental. Ensinando com Arte os alunos tornam-se mais receptíveis e mais perceptíveis. A Arte completa a formação humana . Vygotsky (OLIVEIRA; 1997, 31), afirma que a aquisição do conhecimento se dá no sócio-interacionismo e que a Arte propicia esta interação e ativa aprendizagem . Esta a inteligência na preparação ativação está entretecida de da emoção provocada quando há adesão a Arte.Para o desenvolvimento integral do ser humano necessário 190 se faz obter estes conhecimentos.Ensinar é uma atividade complexa que se passa em um cenário singular e o professor sem estes conhecimentos pode obter resultados imprevisíveis. Toda a produção humana tem a ver com a experiência do prazer. Este é um dos aspectos pouco explorado no ensinoaprendizagem. Deve ser acessível a todos, garantindo o conhecimento artístico e estético nos aspectos perceptíveis, motores e psicológicos.O estudo da Arte vem contribuir para o desenvolvimento estético e criativo no que se refere ao processo de produção do conhecimento e apreciação deste mesmo estético. Valorizar independente de a produção talentos criadora especiais dos discentes aflora as , suas potencialidades. O conhecimento de cada cultura com suas diversas manifestações disponibiliza a interpretar a vida em toda a sua plenitude quando se faz Arte no currículo. No Artigo, 206, da Constituição Federal estabelece que o ensino será dado sobre as bases dos seguintes princípios: I – Igualdade de condições para permanência na escola; 191 II – Liberdade de aprender, investigar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. 2 CONCENTRAÇÃO DO DISCENTE PARA A APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA DE ARTE A complexidade do processo ensino-aprendizagem quando não considerado pode prejudicar o sistema educativo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9394/96 ) estabelece em artigo 26, parágrafo 2, “o ensino da Arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Segundo Fusari e Ferraz (1993, p.18) “a arte pode auxiliar na fundamentação de uma proposta de ensino”. Como trabalhar melhor a concentração do aluno em sala –deaula? O estado de ânimo, o relacionamento e a comunicação são eixos estruturais que dinamizam quando se possibilita trabalhar o currículo com a Arte. Wallon (2001 p.12), afirma que “as estruturas cognitivas dependem do alimento afetivo para alcançar níveis de competência”. Conhecer o funcionamento de nossas sensações, 192 ações e emoções pela arte auxilia o processo da aprendizagem. Para Vygotsky, a arte aparece como um fenômeno humano, que decorre da relação direta ou mediata do homem com um cosmo físico, social e cultural, onde se constroem e se multiplicam variedades de facetas e nuanças que caracterizam o homem como integrante desse cosmo”. A Arte aparece como mediadora do conhecimento, pela criatividade e imaginação se compreende e se relaciona com o meio. A mente humana é capaz de grandes proezas, desde que seja corretamente estimulada para funcionar coordenada e harmoniosa. O cérebro trabalha mais de 60% para as mãos e para a face. O pensamento criativo, artístico e intuitivo devem ser explorados pela Arte. As expressões faciais no ensino- aprendizagem com a ocupação das mãos harmonizam e coordenam os hemisférios cerebrais. Enfocar diretamente o raciocínio lógico, ao ensinar acaba gerando desequilíbrio e dificultando a aprendizagem. O funcionamento periférico do cérebro é bem perceptível quando trabalha primeiro com Arte na aprendizagem.As imagens que se recebem e se gravam da realidade neo-liberal é de uma realidade que embrutece os sentidos. A Arte quando trabalhada vem em defesa de se ter 193 também compromisso social.As correntes ideológicas, materialistas, racionalistas, positivistas e tecnicistas geraram tensões e conseqüentemente uma sociedade do desamor. O pensar e o agir baseados muitas vezes no raciocínio lógico, linear e seqüencial de acordo com o paradigma cartesiano dificultam a imaginação, a criatividade e a intuição bases para a produção de conhecimento e de novas soluções para os problemas. A Arte ao estimular as áreas periféricas ajudam aos neurônios a fazerem conexões novas, diversificando os campos de interesse. Wallon (2001 p. 18), já em 1879 estudou a psicogênese da pessoa, entendendo que a inteligência e a afetividade se relacionando com o meio, ajudam a cada momento do processo educativo. Trabalhando as emoções, estas transformam e estimulam este corpo livrando-o das tensões neo-liberais. Aprendendo a usar as divisões periféricas, as atividades mais complexas fluem ordenadamente. 194 2 O ENCONTRO ENTRE A PERCEPÇÃO E O CURRÍCULO A Arte no processo educacional é a dialética da relação homemmundo. A Arte tem função social e resguarda o espírito humano contra a matéria. Segundo Bosi (2001, p 08), “os momentos decisivos no processo artístico para o currículo, o fazer, o conhecer e o exprimir”, é a efusão do que se exprime, manifesta e simboliza. Pelo artístico se tem espaço do fazer, repensar e exprimir. A Arte empresta o olhar para as relações com o meio buscando a integração entre conhecimento e expressão. A Arte no currículo propiciou às alunas a percepção de fazer a interdisciplinaridade nas aulas da graduação em Pedagogia da UNIVEN durante o desenvolvimento teóricos da Disciplina de Educação, Arte e Movimento. No decorrer do curso ,constatou-se que a Arte tem influência na capacidade de concentração. Este foi um dos grandes problemas diagnosticado nas escolas que estagiaram. Aumentando assim, a complexidade da produção do conhecimento quando não se inclui Arte. É considerada uma aliada na interação ensino–aprendizagem auxiliando o sistema educativo. 195 Quando se interpretou um quadro vivo na disciplina de História, a leitura de um texto da mitologia grega do dramaturgo Sófocles (496-406 a.C.) intitulada a tragédia: “Édipo Rei” representaram sua vivência, demonstrando mais interesse no decorrer do desenvolvimento do trabalho. Na disciplina de Matemática, as oficinas com jogos, a concentração e os efeitos sobre a atenção foram visíveis. Piaget afirma: “o jogo de construção”, um instrumento de criatividade para a aprendizagem trabalhada na consciência gradativamente com a disciplina de Português o teatro das “Pombas” de Raimundo Correia resgatou-se a autoestima. Os PCNs de Arte na “Sexualidade” dança com o tema transversal ampliou-se a consciência da vida. A Dança- Educação é um referencial para as questões que permeiam a educação de nossos tempos, mostra o quanto pode criar, expressar, aprender, socializar e cooperar. A oficina de Poesia, também em Português constatou-se respostas rápidas, criativas e espontâneas nas tarefas executadas, amenizando a ansiedade e a agitação. No desenvolvimento da pesquisa, percebeu-se como se processa o percepção, a sensório-perceptível do imaginação, o interesse, a cérebro. A criatividade, a capacidade expressiva, a sociabilidade, o cuidado com o material, o auto-controle e o respeito à sua produção e a dos outros foram considerações proposta no estudo. O prazer em produzir é a via 196 por onde se deve estudar as funções cerebrais do hemisfério direito e esquerdo. Qual a relação dessa prática com os sistemas periféricos? Captando todos os ensinamentos com prazer garante a posse dos conhecimentos e das habilidades negadas nas observações. 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Com os estudos pesquisados nos depoimentos e dados obtidos foram emanadas as seguintes conclusões: Devem: - estimular o hemisfério direito para que se produza pelos neurotransmissores o prazer . - despertar primeiro as sensações, a sensibilidade e a imaginação antes de qualquer tarefa mais complexa. - acalmar o aluno para aguçar a inteligência, dando-lhe alegria de compreender de que é capaz. - saber que toda produção humana tem a ver com a experiência do prazer atingindo toda a conhecimento. 197 área do - conhecer as aptidões cerebrais dominantes respeitando a maneira de agir, de aprender , de apreender para o aprimoramento inter-relação. - compreender que o cérebro comanda melhor os problemas quando há equilíbrio entre emoção e raciocínio. - aprender que os canais sensoriais não são iguais na interação das pessoas, que há canal predominante. Quando se abdica desses conhecimentos prejudica o processo educacional. - buscar interação entre os dois hemisférios cerebrais . - usar habitualmente uma categoria de palavras processuais (visual, auditiva, cinestésica) em detrimento de outras compromete o ensino –aprendizagem. 198 Figura 2- Os Hemisférios Cerebrais Fonte Ned Herrmann 4 EXERCÍCIOS PARA EQUILIBRAR E LIBERAR HORMÔNIOS DO PRAZER: Pensar positivamente sempre; Resolver cada problema ordenadamente; Evitar excesso de barulho; Ler bastante, um dos melhores exercícios; Rabiscar e desenhar muito; Trabalhar as estruturas mentais em qualquer situação; tais como: QUANDO? 199 ONDE? POR QUÊ? QUAL?; Peça perdão e perdoe. O cérebro apesar de ser esta máquina espetacular, esplendorosa e magnífica não assegura este comando; é impossível. 5 O POTENCIAL DO CÉREBRO Há um tesouro, uma verdadeira mina de ouro entre as orelhas. Construir um computador com as mesmas características do cérebro custariam mais de 3 bilhões e bilhões de dólares: assim USS 3.000.000.000.000.000.000. O cérebro é composto por milhões de células nervosas ligadas com todo o corpo.(PROJETO E REALIZAÇÃO ESCALA, 2004 p.11). Saber usar o cérebro integral seria o ideal. Todo seu potencial riquíssimo é surpreendente quando usado com sabedoria constrói significado de inserção e participação social moldando os sentidos das ações . Revoluciona os métodos, dá forma ao que se deseja, transforma e disponibiliza as estruturas mais profundas do ser. Faz reflexões serenas, dialoga, possibilita a busca, capacita a se tornar mais livres, responsáveis e adesão profunda aos valores. 200 Saber usar o cérebro significa produzir equilibradamente beta endorfina, noroepinefrina, serotonina e dopamina, hormônios ligados a sentimentos de clareza mental. (Extraído da revista “Como treinar o cérebro para realizar o impossível, Ícone Editora). Este é o desafio do século XXI. Conhecer o verdadeiro mecanismo e como funciona um sistema perfeito de química tão importante para a vida. A memória, a razão, a linguagem, a visão, a emoção, o discernimento, as habilidades manuais, o talento, a previsão, a capacidade de fazer associação, a consciência , o desejo, o prazer, a depressão, a loucura e outras capacidades inatas e apreendidas estão na delicada massa cinzenta do sistema cerebral.De fato o cérebro é uma máquina complexa que coordena e controla o nosso corpo. Para que este funcione com toda sua capacidade e eficiência, deve-se exercitá-lo (AMMEN, 2004, p. 25). 6 CONCLUSÃO Conclui-se, que a Arte facilita a aprendizagem tornando todos capazes e reflexivos. Que proporciona de forma muito sintética, mas objetiva e estruturada, uma familiarização com 201 a auto- confiança. Esta é a opção e o caminho que dinamiza a interrelação social. Sua influência é de ordem tanto estética quanto pedagógica. A metodologia utilizada durante o curso traçou o perfil da trajetória educativa no currículo com Arte.Despertou a sensibilidade, favorecendo o processo ensino-aprendizagem como um todo. Contribuiu no sentido de esclarecer certos aspectos da Arte , servindo de estímulo para auxiliar alunos na produção de conhecimento e professores na compreensão de sua própria prática pedagógica. Para traçar este panorama é necessário fazer leituras de alguns teóricos educativa da abordagem sobre Arte para uma comprometida formação profissional. Pensa-se que o resultado obtido satisfez os requisitos. 7 REFERÊNCIAS ALTHUSSER, L. Ideologias e aparelhos ideológico do Estado. Lisboa: Editorial Presença, s/d. ALVES Hilda, Regina Leite Garcia. Rediscutindo papel dos diferentes profissionais da escola na contemporaneidade. Texto do livro. Supervisão educacional para uma escola de qualidade. São Paulo: s/ed.1998. AMARAL, A. M . Teatro de formas animadas. São Paulo: Edusp, 1991. AMMEN, Daniel. Transforme seu cérebro, transforme sua vida. São Paulo: Mercuryo. 2004. 202 ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002. ARROYO, Miguel. Escolas as mudanças necessárias. São Paulo, 1996. ASSMANN, Hugo.Reencantar a educação, rumo à educação aprendente. Petrópolis-RJ: Vozes. 2001. AUSUBEL, David P. et alie. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 2001. BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação do brasil nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. BRUNER, J. S. O processo da educação. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1987 BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método. São Paulo: Brasiliense. 1997. Constituição da República Federativa do Brasil, Editora Saraiva, 20 ed, 1998. COTRIM, Gilberto. Saber e fazer história, história geral e do Brasil. 9. ed. São Paulo: Saraiva,2003. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1967 _______.Pedagogia da Autonomia, saberes necessários à prática de liberdade. 7.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura). FUSARI, Maria F. de Resende; FERRAZ; Maria Heloisa C. de Toledo. Arte na educação escolar. 3 ed. São Paulo: Ática, 2001. GENTILI, Pablo; SILVA, T.T. da (orgs.). Neoliberalismo, qualidade total da educação: visões críticas. 2.ed. Petrópolis-RJ: Vozes,1995 IAVELBERG, R. Pedagogia da arte ou arte pedagógica: alerta para a recuperação das oficinas de percurso de criação pessoal no ensino da arte.Pátio.Ano I ( I ), maio/ julho. Porto Alegre: Artes Médicas,1977 203 LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1997. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais.Brasília: Distrito Federal, 1994. MOREIRA, Marco Antônio. Universidade de Brasília, 1999. Aprendizagem significativa. Brasília: NÓVOA, A ( Org. ). Os professores e sua formação. Lisboa: Don Quixote,1992. OLIVEIRA, Silvio Luis. Tratado de metodologia científica. São Paulo: COPYGHT, 1997. PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar,1975 PUPO, M. L. S. B. Palavras em jogo. Tese de livre docência. São Paulo: ECA/USP,1997. Projeto e Realização Escala, São Paulo: 2004. Revista Presença Pedagógica. Belo Horizonte: 2001 Revista Cérebro. São Paulo, Ícone Editora, maio 2004. Revista Educação. São Paulo, maio 2004. Revista Nova Escola , agosto 2004. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente.São Paulo: Martins Fontes,1984. _______ Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes,1999. 204 ENSAIO LUIZ VAZ DE CAMÕES Elias Pereira do Nascimento 1 Luiz Vaz de Camões (1524 – 1580) nasceu em Lisboa ou em Coimbra, não se sabe ao certo, embora tenha feito seus estudos em Coimbra. Filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá de Macedo, nobres empobrecidos. Sua biografia é um tanto quanto obscura, mas sabe-se que por volta de 1542, encontrava-se em Lisboa, onde freqüentava círculos palacianos. Também é fato que viajou até Celta, para participar da guerra, onde, ferido em combate, perdeu o olho direito. Foram anos de dificuldades econômicas e algumas passagens pela cadeia. Uma delas por ter ferido com sua espada, um oficial do rei. Participou de várias expedições à Costa de Gibraltar, Mar Vermelho e Golfo Pérsico. Chegou a morar em Macau, colônia portuguesa na China. Todavia, por motivos ignorados, foi obrigado a retornar a Goa, sob prisão. A nau em que viajava naufragou, e Camões alcançou a nado o rio Mekong, salvando o manuscrito de “Os Lusíadas”, já em fase avançada de produção. Só retorna definitivamente a Portugal em 1570, após a morte de D. João III, já com os Lusíadas concluído. Em 1571 obteve licença da inquisição para publicar “Os Lusíadas”, que só sairia em 1572. Camões é considerado o gênio da poesia lírica portuguesa, que tem presença marcante da qualidade: ora a nítida herança tradicional portuguesa, ora poesias perfeitamente enquadradas no estilo novo do renascimento. Ele praticou todos os gêneros poéticos. Redondilhas com cinco ou sete sílabas (menor e maior), e cultivou todos os gêneros clássicos: a écloga de Virgílio, a ode de Horácio, a canção e o soneto de Petrarca, a elegia, etc.,e foi o primeiro poeta português a escrever uma epopéia clássica, “Os Lusíadas”. 1 Aluno do sétimo período de Letras português / inglês 205 Considerado o maior poema épico da língua portuguesa. Não pelos 8816 versos isométricos, no metro decassílabo e ritmo heróico, distribuídos em 1102 oitavas, mas pelo seu valor poético, capitado em toda essência e verossimilhança que o mestre, em sua atitude espontânea, dá vazão à sua experiência íntima, e a postura puramente artística que pretende desligar-se do emocional, atingindo o total domínio da forma. O poeta utiliza com sutileza as imagens poéticas, figuras, antíteses e paradoxos, antecipando à explosão barroca. O lusitano, por ser clássico, destaca-se pela beleza da forma e, sobretudo, pela correção lingüística, pelo vocabulário culto existente em toda a sua obra. E pela poeticidade contida em cada verso, é o artista despido de emoções, que busca no estrato fônico das rimas, ligadas entre si pelo esquema rímico ABABAB/CD, deixando cada oitava D’Os Lusíadas na perfeição que devora séculos. O mestre lusitano, ao longo dos dez cantos que compõem “Os Lusíadas”, exalta todo o povo lusitano, do qual Vasco da Gama é digno representante. Já no primeiro verso do canto I , o próprio poeta afirma que vai cantar “as armas e os barões assinalados” que navegaram “por mares nunca dantes navegados”. Ou seja, todo o povo lusitano navegador que enfrentou a morte pelos mares desconhecidos. Essa é a proposição do poema que se estende até a terceira oitava. Nas estrofes quatro e cinco do mesmo canto, Camões faz sua invocação pedindo às tágides, ninfas do Tejo, inspiração, para que lhe dêem um “engenho ardente”, um estilo grandíloquo e sublimado. A dedicatória do poema, feita a D. Sebastião, rei de Portugal à época da publicação do poema, se estende da estrofe 6 a 18 do canto I. Na narração o poeta desenvolve o tema cantando os episódios da viagem de Vasco da Gama e a história de Portugal, num misto de ficção e realidade, juntamente com a mitologia grega, estendendo-se das oitavas 19 do canto I, até a 144 do canto X. O epílogo inicia-se com uma das mais belas e angustiadas estrofes de todo o poema, na qual o poeta mostra-se triste, abatido, desiludido com a pátria, que não merece mais ser cantada. O genial Camões buscou inspiração nos poetas da antiguidade: Virgílio, Horácio, Petrarca, etc., cultivando os gêneros clássicos, como já citado anteriormente, que vivem até hoje. Essa perfeição clássica ainda atrai adeptos, embora que remotamente, e como a arte é um circulo onde tudo se recria, se 206 assemelha, se contrafaz, há alguém que busca no mestre lusitano a mesma inspiração clássica, como nas oitavas a seguir: Se calíope e a sorte me valerem E co’a inspiração puder contar; Se Polímnia e Clio me socorrerem E a história às páginas ganhar E os quatro brancos séculos vencerem E as clássicas oitavas emanar, O esforço não terá sido insano, Sob a forma do mestre lusitano. Somente então verei nos versos meus O alento que do canto inspirado Viestes socorrer-me com os teus Encantos sempiternos marchetados; Agradeço a vós, filhas de Zeus, Por terem nestas páginas guiado O retorno do clássico de outrora, Tardou, mas vive intrépido agora. 207