1 AS CARTAS DE MARIA MESSINA A ALESSIO DI - Assis
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1 AS CARTAS DE MARIA MESSINA A ALESSIO DI - Assis
X SEL – Seminário de Estudos Literários UNESP – Campus de Assis ISSN: 2179-4871 www.assis.unesp.br/sel [email protected] AS CARTAS DE MARIA MESSINA A ALESSIO DI GIOVANNI, GIOVANNI VERGA E ENRICO BEMPORAD Francisco Cláudio Alves Marques (Docente – UNESP/Assis) RESUMO: Quando as mulheres começaram a frequentar os círculos literários italianos do “novecentos” defrontaram-se com uma mentalidade hostil e preconceituosa da parte de alguns escritores da época. Luigi Capuana, por exemplo, dizia, em 1907, que os homens não precisavam preocupar-se “dell´invadente concorrenza” das mulheres na arte de narrar. Ele acredita que as escritoras existem porque os “intelectuais masculinos” lhes abriram o caminho. Estas, acrescenta, infiltram na arte “um elemento todo particular, a feminilidade”, “como o perfume sutil que exala do cálice das flores”, de modo que “não criarão nada de novo: será uma eterna repetição”. A farta correspondência que a escritora mantinha com Di Giovanni, Verga e Bemporad é um atestado das dificuldades encontradas pelas mulheres que se aventuravam a escrever na Itália do “Novecentos”. PALAVRAS-CHAVE: Maria Messina; literatura italiana; verismo; cartas. “Mio padre é nato ad Alimena: à molti, moltissimi parenti sparsi un po´ per tutta la Sicilia. La famiglia di mia madre [...] era di Prizzi. La mia sicilianità s´è dunque alimentata nelle più profonde radici dell´animo mio: sicilianità di razza, di nascita e di sentimenti, di cui vado orgogliosa”. (Giovanni Garra Agosta. Un idillio letterario inedito verghiano (Lettere inedite di Maria Messina a Giovanni Verga, p. 50) “... sempre la Messina affolla la pagina di luoghi e di oggetti che raccontano, più degli stessi personaggi e delle loro storie, l´ambiguo ed irrisolto rapporto di maschere affette dalle sindromi contrarie della claustrofobia e della claustrofilia con l´ordine e con la libertà”. (Mariella Muscariello. “Vicoli, gorghi e case: reclusione e/o identità nella narrativa di Maria Messina”. In: Les femmes écrivains en Italie (1870-1920): ordres et libertes, p.333) “Si sentiva distinto il ronzio d´una mosca che si sbateva contro i vetri aperti cercando invano l´uscita [...]” (Maria Messina. La casa nel vicolo, p.68) 1 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” 1. Maria Messina (1887-1944) Segundo o periódico Il Centro Storico (2006) 1 , de Mistretta, Maria Messina teria nascido em Alimena (província de Palermo), em 14 de março de 1887. Filha de Gaetano, inspetor escolar, e de Gaetana Valenza Traina, expoente de uma família “baronale”, originária de Prizzi, cuja beleza e infortúnio Messina teria descrito em uma de suas cartas endereçadas a Giovanni Verga: “bella e facoltosa, distrutta da un cattivo vento di sfortuna”2. Como muitas moças de sua época, Maria Messina não frequentou a escola, contudo recebeu uma instrução doméstica, tendo sido orientada pela mãe e pelo irmão Salvatore, que encorajou a sua precoce vocação literária3. A produção literária da escritora tardo-verista compreende uma série de novelas reunidas em vários volumes e romances, tendo sido muito bem acolhida pela crítica e pelo público do “Novecento” italiano, principalmente pelas editoras responsáveis pela sua notoriedade (Sandron, Treves, Bemporad, Le Monnier, Vallardi, Giannini, Ceschina), e ainda pelas revistas La nuova antologia, La Donna, e pelo Corriere dei Piccoli. Aos 22 anos surge nos círculos literários com a coletânea de novelas Petinni fini, de 1909, Sandron, vencedora da medalha de ouro em um concurso patrocinado pela revista La Donna, em 1910. O relator da Comissão julgadora era Giuseppe Antonio Borgese, crítico literário que, depois da publicação da segunda coletânea de novelas Piccoli gorghi, de 1911, publicou um ensaio considerando Maria Messina “Una scolara di Verga”: “una provinciale di onesta e modesta fantasia, aliena da pervertimenti sensuali, da smanie sentimentali, da ambizioni teoriche”4. A atividade literária de Maria Messina foi intensa até 1928, ano de publicação do romance L´amore negato, seu último trabalho. A partir daí, seu total e silencioso isolamento permitiu que ela fosse esquecida pelo público, pela crítica e pelos editores. A escritora começava a apresentar os primeiros sinais de esclerose múltipla, doença degenerativa que, gradativamente, foi impedindo que ela continuasse a escrever. Esquecida pela história literária do “Novecento” italiano, Messina foi também ignorada por aqueles que iniciaram a recuperação da literatura “femminile” na Itália. A publicação, em Lucio Bartolotta, “Maria Messina (1887-1944)”, Il Centro Storico, Mistretta, 2006, p.56. Giovanni Garra Agosta, Un idillio letterario inedito verghiano (Lettere inedite di Maria Messina a Giovanni Verga), p.10. 3 Os dados biográficos, constantes dos próximos parágrafos, são emprestados ao artigo “Maria Messina (18871944), de Lucio Bartolotta, publicado no periódico Il Centro Storico, Mistretta, 2006. 4 Giuseppe Antonio Borgese, “Una scolara di Verga, in: La vita e Il libro, terza serie, Bologna, Nicola Zanichelli, 1928, pp.164-169. 1 2 2 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” 1979, das cartas da escritora endereçadas a Verga, reunidas no volume Un idillio letterario inedito verghiano, de G. Garra Agosta, representou o prelúdio à redescoberta da sua obra. Decisiva para a reavaliação crítica da obra de Messina foi a intervenção de Leonardo Sciascia que, em 1981, inseriu no volume Partono i bastimenti (Mondadori), dois de seus contos sobre a emigração ambientada em Mistretta, cujo tema é a desagregação dos vínculos familiares. Os contos “Nonna Lidda” e “La Merica”, de ascendência verghiana, podem ser elencados como os melhores de Messina, reunidos por Sciascia no referido volume. Para a reedição de Casa paterna, de 1981, Leonardo Sciascia redigiu uma nota crítica com vista a ressarcir a escritora do injusto silêncio, nos seguintes termos: Ci meraviglia che nell´attuale urgenza delle rivendicazioni femminili e femministe, nell´attenzione delle scrittrici del passato e nel tentativo di costruire principalmente attraverso la loro opera una rappresentazione della condizione femminile nel mondo, in Itália e particolarmente nel Meridione, non pochi suoi libri e il suo nome stesso siano rimasti del tutto ignorati. La dimenticanza, o, se si vuole, più poeticamente l´oblio, spesso s´insinua e dilaga come edera rampicante a coprire certe aree e certi nomi della nostra storia civile e letteraria5. Recentemente, a editora Sellerio6, de Palermo, repropôs à atenção do público uma reedição da obra narrativa de Maria Messina. A ruptura do silêncio se deve também a muitos estudiosos na Itália, nos Estados Unidos, na Alemanha e na França, dentre eles, Barbarulli & Brandi, Leotta, Di Giovanna, Santoro, Magistro, Pausini, Zambon, Schoell-Dombrowsky, Kroha, cujos livros e artigos constam da bibliografia deste projeto. Tais estudos, observa Sebastiano Lo Iacono, [...] con corredi critici approfonditi hanno rivalutato i testi della scrittrice, i qualli, ritraendo gli errori, la miseria umana, le frustrazioni e le sofferenze delle sue protagoniste, ha fornito uno strumento di riflessione su argomenti di attualità, quali la mancata corrispondenza tra i sogni dell´adolescenza e la realtà della vita, l´opacità dell´esistenza dominata dal motivo economico, che soffoca i sentimenti più genuini, le conseguenze della trasgressione alle regole sociali, l´incomunicabilità tra i componenti della stessa famiglia, la diffidenza negli strati socialmente depressi per i libri e lo studio7. Enfim, a modernidade dos romances e novelas da escritora consiste num amargo render-se ao destino, nos desejos irrealizáveis, nos males da vida e do cotidiano, que afligem vencidos e vencedores. A sua obra opera como uma espécie de denúncia precisa de uma sociedade mergulhada no imobilismo que refuta à mulher sua autonomia, em uma determinada situação histórica e política, a saber, Sicilia do “Otto/Novecento”. Maria Messina, Casa paterna, a cura di Leonardo Sciascia, Palermo, Sellerio, 1981, p.11. Ver bibliografia. 7 Sebastiano Lo Iacono, “Maria Messina – Profilo Biografico e Bibliografico”, Mistrettanews, 2009, p.23. 5 6 3 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” 2. A obra narrativa de Maria Messina: núcleos temáticos De acordo com Maria Di Giovana8, a obra narrativa de Maria Messina subdivide-se em três núcleos temáticos: a) O primeiro representado pelas novelas de caráter “verista”, cujos acontecimentos são protagonizados pelos pobres. Trata-se de homens que vivem sem esperança de um futuro melhor, e de mulheres cujo único recurso é refugiar-se no adultério ou submeter-se à paixão cega. No prefácio ao Le briciole del destino, de 1918, Treves, a escritora Ada Negri reconhece na “piccola sorella Maria” a capacidade de colocar em evidência as desventuras e infortúnios dos quais “gli umili” são protagonistas: Mia piccola sorella Maria, sì; le briciole del destino: avare e magre, sprezzanti ed anonime, che la vita getta con distratto compatimento agli Umili, i quali non posseggono la forza di offendere, né quella di ben difendersi, e non possono mettere in mostra la tragica bellezza di grandi sventure. Le briciole del destino … Tu hai voluto studiare questi cantucci di umanità, che sanno di vecchia polvere, di vecchi stracci abbandonati, di vecchie ragnatele, di vecchie lagrime rancide. Tu vi sei riuscita, piccola sorella Maria. Come? … Non so. La tua anima fresca si compiace stranamente degli oscuri meandri ove pullula la povera gente senza risorse, senza fortuna, e, anche, sì – senza appoggio. E l’intuizione, che aiuta il novellatore assai più che l’esperienza, ti conduce talvolta a misteriose profondità. Misteriose profondità che io leggo anche ne’ tuoi occhi guardanti a me dal ritratto, piccola sorella lontana ch’io non ho mai vista e della quale non udrò forse la corporal voce – e che pure mi dici tutto di te, nelle sommesse pagine ove l’anima insoddisfatta e torbida assume spesso la verdastra densità degli insondabili fiumi9. b) Ao segundo núcleo pertencem as novelas sobre a emigração para a América. Aqui ganha relevância o estilo com o qual a escritora trata da matéria, sem implicações de caráter social e sem pretensões sociológicas. A autora limita-se à narração nua dos fatos, tratando daqueles que tornam à província vencidos pela saudade ou pelas dificuldades encontradas na “Mérica”. Nas novelas que tratam da emigração, percebe-se a insistência de um leitmotiv: Maria Messina insiste no tema da crise da família patriarcal, das dolorosas separações, da solidão e da dissolução dos vínculos familiares. Assim em Le scarpette: 8 9 Maria di Giovanna, La fuga impossibile. Sulla narrativa di Maria Messina, pp.2-3. Ada Negri, “Prefazione”. In: Maria Messina, Casa paterna, pp.12-13. 4 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” Le vicine dicevano che la Merica non lascia più tornare alcuno, che il meglio della gioventù si consuma in quella terra sconosciuta e l´emigrante non rimpatria se non ha cent´onze per farsi una casa. Anche la sera della partenza egli volle parere allegro. Peppe e Cola vennero a prenderlo verso le otto e la gna Nunzia lo seguì per accompagnarlo fino a Cicè. Maredda, con gli occhi Rossi, s´affacciò sulla finestra, a salutarlo, sporgendo un po´ la testa fra un basilico e una rosa; na novela La Merica, [...] tutti partivano nel quartiere dell’Amarelli; non c’era casa che non piangesse. Pareva la guerra; e come quando c’è la guerra, le mogli restavan senza marito e le mamme senza figlioli. Chi poteva contarli? Partivan tutti e nelle case in lutto le donne restavano a piangere. Pure ognuno possedeva un pezzo di terra, una quota, la casa, pure ognuno partiva. E i meglio giovani del paese andavano a lavorare in quella terra incantata che se li tirava come una malafemmina. Ma la Merica, diceva la gna Maria "è un tarlo che rode, una malattia che s’attacca; come viene il tempo che uno si deve comprare la valigia, non c’è niente che lo tenga. Em Nonna Lidda, o filho viúvo de uma velha lavadeira, para ir à América, deixa seu filho pequeno com a mãe, que o sustenta entre mil e uma dificuldades: Richiedeva il piccolo come niente fosse. Scordandosi che se l’era cresciuto lei, povera vecchia, con la sua fatica, che gliel’aveva lasciato quant’un gattino! Non lo sapeva lui che schianto le dava, oh, figliolo disamorato! oh figliolo sciagurato! No final, separada do neto, “nonna Lidda” morre “intontita”, "come un corpo senz’anima”. c) Do terceiro núcleo participa uma parcela daquela produção que trata da condição feminina vivida no estreito mundo da pequena burguesia siciliana da época. O romance La casa nel vicolo é o principal representante desse período, de onde extraímos o trecho a seguir, significativo para a compreensão do enredo e da temática da clausura e da submissão feminina presente na escrita de Messina: Nicolina cuciva sul balcone, affrettandosi a dar gli ultimi punti nella smorta luce del crepuscolo. La vista che offriva l'alto balcone era chiusa, quasi soffocata, fra il vicoletto, che a quell'ora pareva fondo e cupo come un pozzo vuoto, e la gran distesa di tetti rossicci e borraccini su cui gravava un cielo basso e scolorato. Nicolina cuciva in fretta, senza alzare gli occhi: sentiva, come se la respirasse con l'aria, la monotonia del limitato paesaggio. Senza volerlo, indugiava a pensare alla casa di Sant'Agata; rivedeva il balconcino di ferro arrugginito, spalancato sui campi, davanti al cielo libero che pareva mescolare le sue nubi col mare, lontano lontano. Era quella, per Nicolina, l'ora più riposata, benché la più malinconica, della giornata. Tutte le faccende erano sbrigate. Nella casa, come nell'aria, come dentro l'anima, si faceva una sosta, un accorato silenzio. Allora pareva che i pensieri, 5 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” i rimpianti, le speranze, si facessero innanzi circonfusi della stessa luce incerta che rischiarava il cielo. E nessuno interrompeva i vaghi, incompiuti soliloqui10. Na casa silenciosa situada em um beco “fondo e cupo come un pozzo vuoto”, Maria Messina segue, por um arco de tempo, a esquálida existência de duas irmãs cegamente submissas a Don Lucio, marido de Antonietta (“povera cosa senza volontà”) e cunhado de Nicolina (“già vecchia senza aver vissuto la sua parte di vita”). O poder e o autoritarismo de Don Lucio pesam silenciosamente sobre toda a casa e seus habitantes. Ele considera a família uma propriedade a ser governada de acordo com as suas regras. Tudo ali é metodicamente estabelecido, obedecendo a um ritual absurdo, onde o “ditador”, tranquilamente, desfruta a devoção da esposa “dal temperamento docile e mansueto, fatto per essere plasmato come l´argilla fresca”. O mesmo pensamento estende-se à figura da cunhada, Nicolina. Contudo, ambas, infelizes, reconhecem e aceitam a superioridade de Don Lucio, e passam os seus dias no ambiente fechado da Casa nel vicolo, envolvidas por um profundo senso di mistério e de tristeza. Nicolina, a cunhada, sofrerá, sem reagir, a sedução do soberano, mas a ternura inicial se transformará em “orrore e ribrezzo”, restando apenas, à jovem Nicolina, os pensamentos amargos e um “nodo di lacrime che non ci riesce di piangere”. A relação entre Don Lucio e a cunhada “sposa senza anello e senza sposo” se inscreve como um elemento inevitável, previsível, aceitável, na lógica do domínio, da posse, do homem sobre a mulher, a quem tudo é devido. O relacionamento entre as duas irmãs, inicialmente de grande afeto, vai se deteriorando gradativamente, de modo irremediável, até o ódio áspero e triste, passando a ser vivido como “castigo”. Descoberta a relação incestuosa entre Don Lucio e Nicolina, Antonietta intima a irmã a deixar a casa. Nicolina prepara sua autodefesa com base no fato de ser mulher: Tu mi hai rovinata. E ora mi vorresti scacciare? Non me ne andrò. Ho sciupato qui la mia giovinezza fresca e spensierata, come un velo che si butti su una siepe di spini. Tu mi hai messa in bocca al lupo. Intorpidita dall´egoismo mi lasciavi sola, giornate intere, per servirlo. E non pensavi, non eri più snaturata femmina? Andarmene! Come un cencio logoro che non serve più! Come un limone spremuto che si butta in mezzo alla strada!11 As irmãs protagonistas são “due colpevoli chiuse nella stessa gabbia”. São duas vítimas de um mesmo sistema, submissas às mesmas regras e normas que regem o patriarcado 10 11 Maria Messina, La casa nel vicolo, p.9. Idem, p. 99. 6 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” siciliano na época em que Maria Messina escreve. Sobre o romance, Anna Maria Bonfiglio faz a seguinte observação: A casa nel vicolo é la prova migliore della Messina, storia in cui si concentrano i temi privilegiati della sua narrativa, raccontata con un taglio stilistico al quale è estranea la drammaticità sanguigna di certa letteratura siciliana. E invero, eccetto quella parte di racconti di matrice verista, localizzabili nella realtà isolana, il resto non denuncia nessuna collocazione territoriale di particolare rilievo. Le storie raccontate rappresentano una provincia che può appartenere a più di un territorio; il carattere, la psicologia dei personaggi e i loro moduli di comportamento sono la spia di un modello di società rintracciabile in qualsiasi luogo. Se c'è un nodo fra la scrittrice e la sua terra è un legame che non si manifesta attraverso il luogo comune, è una sorta di linea di congiunzione che si rivela sotteraneamente. La sua vocazione non è quella di raccontare la vita di un luogo, ma più ampiamente di testimoniare una realtà più diffusa di quanto non sia possibile immaginare. Maria Messina apre le porte di un mondo mediocre, chiuso nel proprio egoismo e refrattario ad ogni mutamento, un mondo di piccoli borghesi la cui unica preoccupazione è di salvare la faccia di fronte alla comunità cui appartiene. A questo universo ristretto e spesso meschino non è facile sfuggire, soprattutto per chi, come le donne che lei racconta, non riesce ad esercitare la propria libertà interiore. Il suo occhio entra nella dimensione delle piccole vicende ordinarie, si punta su quegli ambienti sociali che non vivono di splendori e ci rende la visione dimessa di una realtà minima dalla quale non v’è fuga né riscatto. Nelle vicende anonime, nello squallore di una mentalità pedissequa è racchiusa la linea ideologica della scrittrice che non indica vie per la conquista della libertà, ma che di questa libertà intravede la necessità e la ragione. Le prigioni che descrive, che rinserrano tanto le vittime quanto i persecutori, sono i cerchi chiusi dentro i quali le protagoniste si vedono vivere. Nella rinuncia, nella resa, nell’accettazione di quello che è ritenuto ineluttabile non v’è debolezza o ignavia, ma il segno di una realtà da scontare12. 3. Janelas fechadas para o mundo: a metáfora da mosca presa na garrafa O tema da clausura e da incomunicabilidade em Maria Messina é analisado também pela pesquisadora Mariella Muscariello, no ensaio “Vicoli, gorghi e case: Reclusioni e/o identità nella narrativa di Maria Messina”. Giovanni Macchia, citado por Muscariello, fazendo uma leitura sugestiva sobre o teatro pirandelliano como espaço claustrofóbico, escreve: Sarà anche per questo se forse nessun altro autore teatrale del Novecento ha dato alla scenografia, nelle infinite, accurate, soffocanti didascalie, tanta importanza quanta ne dette Pirandello. E a nessun regista sarà consentito disfarsene. Il luogo (qui, ora) non può essere cancellato. Esso deve imporre la sua densità, il suo spessore, deve resistere più del personaggio che dentro è rinchiuso. Anche nelle novelle e nei romanzi si aggirano, come mosche in una botiglia, infinite serie di claustrati13. (Grifo nosso) Muscariello observa que semelhante metáfora, a da “mosche in una botiglia”, poderia muito bem servir de ponto de partida para a análise que se pretende fazer do tema da claustrofobia e da incomunicabilidade na narrativa de Maria Messina. A ideia de personagens 12 13 Anna Maria Bonfiglio, “Maria Messina”. In: Figure femminili del Novecento a Palermo, pp.45-46. Giovanni Macchia, Pirandello o la stanza della tortura, Milano, Mondadori, p.14. 7 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” “come mosche che si agitano in una botiglia”, teria sugerido a Muscariello, por associação, uma imagem semelhante no romance La casa nel vicolo, imagem que Maria Messina teria inserido com sutileza, como é seu estilo, no quadro triste e asfixiante da casa onde convivem Antonietta e Nicolina: “Si sentiva distinti il ronzio d´una mosca che si sbatteva contro i vetri aperti cercando invano l´uscita [...]”14. Maria Messina escreve numa época em que as janelas do círculo literário encontramse totalmente fechadas para a incursão da figura feminina que se aventura a escrever. Redescoberta só em 1981, por Leonardo Sciascia, Messina se coloca entre aquelas mulheres que, ao lado de Ada Negri, Matilde Serao, Elvira Mancuso, Sibilla Aleramo, arriscam escrever nos primeiros decênios do “Novecento”. A mentalidade é hostil às escritoras, como demonstra, entre outros, um artigo de Luigi Capuana (1907)15: no seu entender, não precisa preocupar-se “dell´invadente concorrenza” das mulheres na arte de narrar. As escritoras existem porque, entende Capuana, “gli intellettuali mascolini” lhes abriram o caminho. Estas, acrescenta, infiltram na arte “un elemento tutto proprio, la femminilità”, “come il sottile profumo che sprigiona dal calice del fiore”, de modo que “non creeranno nulla di nuovo”: sarà una eterna ripetizione”. Maria Messina escreve a Verga sobre os problemas que encontra para inserir-se no círculo literário da época e fala de “aspra, dolorosa via che affina lo spirito pure spogliandolo d´ogni bella illusione”. Para Messina, parece difícil continuar o seu trabalho “tormentato e tormentoso, lasciato e ripreso più volte in mezzo a scoramenti profondi” 16 . É provável que Messina não tivesse consciência do nexo existente entre tais dificuldades e o fato de ser mulher. 4. As cartas endereçadas a Di Giovanni, Verga e Bemporad As cartas que Maria Messina escreveu a Giovanni Verga foram reunidas por Giovanni Garra Agosta em Un idillio letterario inedito verghiano, publicado em 1979. O diálogo epistolar com Verga nos permite conhecer traços da personalidade da escritora siciliana. Nelas percebemos um pequeno contraste: nas obras de ficção Messina denuncia a condição de subalternidade da figura feminina no contexto patriarcalista do Meridiano novecentesco. No entanto, nas cartas, sua postura perante os expoentes da literatura italiana é bem diferente. Dirige-se a Verga com certa vaidade, enorme respeito e admiração pela sua obra e pela sua Maria Messina, La casa nel vicolo, p.68. trechos do artigo de Capuana aqui citados foram extraídos do ensaio de Clotilde Barbarulli e Luciana Brandi, I colori del silenzio: Strategie narrative e linguistiche in Maria Messina, p.45. 16 Giovanni Garra Agosta, op. cit., p.34. 14 15Os 8 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” autoridade: “Illustre amatissimo Maestro! Ecco che la Sua piccola amica, si permette, come ogni anno, di mandarLe i suoi sinceri auguri”. O diálogo com Verga, nestas cartas, ganha uma implícita conotação paterna haja vista que, à época, Verga contava com Oitenta anos e Messina com apenas vinte. Na sua obra literária, diferentemente, revela-se um constante e complexo conflito, uma relação ambígua e sempre problemática entre a mulher e a figura masculina, tangenciando, algumas vezes, a hostilidade, a repulsa e a desaprovação. No diálogo com o escritor verista, a relação homem/mulher é idealizada. De acordo com Lara G. Raffaelli Comunicare tramite le lettere fornisce forse a Messina un ambito sicuro, privo de minacce e soprattutto irreale in cui interagire col sesso oposto. All´interno di questo mondo fittizio che crea intorno a se stessa e Verga, Il rapporto maschio-femmina può essere sempre ideale, perchè non é mai contaminato dalla realtà e dai problemi materiali della vita quotidiana17. Por essa via, o diálogo entre Messina e Verga é realmente idílico, contudo, sua fala, nas cartas, revela um notável tom de submissão, de modo que a escritora assume a posição de mulher subordinada no confronto homem/mulher, o que não ocorre na sua obra de ficção. Nesta, representa-se a submissão feminina com o fim de denunciá-la. Lara Raffaelli vê, no comportamento da escritora, uma marcada habilidade manipulativa18 , visto que precisava do aval de um expoente da literatura para firmar-se como escritora naquele momento. Do mesmo modo ocorre com as cartas direcionadas a Alessio di Giovanni. Constante do acervo da Biblioteca Comunale de Palermo, são 27 cartas escritas a mão. Nestas, Messina combinava uma mistura elevada de religiosidade e espiritualidade, expressando-se de modo muito “fiorito” com relação ao estilo de Di Giovanni, como neste trecho de um cartão postal datado de 10 de junho de 1922: “Le scrivo dal mio posticino preferito: un chioschetto verde ombroso e luminoso. Il posto ideale per sentire la Sua arte, tutta frulli d´alli, e trilli, e sussurri di foglie e d´acque...”19 O fato de demonstrar grande interesse pelo estilo do escritor parece uma tentativa de elogiá-lo e, com isso, mostrar-se uma pessoa digna de sua amizade: uma alma gêmea. Demonstrava sempre grande interesse em ler os lançamentos do escritor e opinar sobre eles e, desse modo, conseguia que ele lesse também seus romances e novelas, como podemos ler neste cartão postal enviado por ela aos 2 de abril de 1920: Napoli. Via Luca Giordano al Vomero 201. Lara Gochin Raffaelli, “Una storia approfondita: Le lettere di Maria Messina ad Alessio di Giovanni ed Enrico Bemporad (1910-1940)”, Italica, nº 3, 2009, vol.86, pp.339-391. 18 Idem, ibidem. 19 Idem. 17 9 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” 2 aprile 1920. Egregio Amico. Grazie di “Caterina Percoto”20. Avevo letto gran bene di questo Suo lavoro che desideravo conoscere. Io le ricambio il caro dono com “Primavera senza sole” che esce adesso. Le piace? Cordialmente Maria Messina Por outro lado, o diálogo epistolar com o editor Enrico Bemporad revela o forte senso comercial de Messina. Geralmente, quando escrevia a Bemporad, mencionava intencionalmente seus problemas de saúde, convidando sempre a visitá-la em Napoli. Aqui também Messina dirige-se a Bemporad sempre num tom elogioso e cortês: “Illustre Signor Commendatore”, “Egregio Signor Comm. Bemporad”. No entanto, diante da primeira dificuldade em receber o pagamento da editora Bemporad, recorria à Società Italiana degli Autori para que interviesse junto ao editor. Escrevia a Bemporad como mulher, apelando à sensibilidade masculina na tentativa de obter melhores acordos e publicar suas novelas e romances. Lara Raffaelli conclui, a partir da leitura das cartas de Messina, que o uso de estratagemas femininos para com os três homens é um indício de que a escritora utilizava dois pesos e duas medidas para conseguir manter-se em evidência e ser aceita nos círculos literários da época, totalmente liderado pelos homens: Nelle sue opere denunciava il sistema patriarcale che sfruttava e assoggettava le donne. Nella vita, sfruttava questo sistema, giocando sulla compassione degli uomini e accentuando la propria fragilità e femminilità21. Enfim, na ficção, observa-se uma profunda hostilidade nos confrontos “armados” contra a autoridade masculina. A figura masculina é sempre distorcida, tanto psicologicamente quanto fisicamente. Em seu La casa nel vicolo, Maria Messina desenha Don Lucio como um “ditador” a quem todos devem obedecer, inclusive as duas irmãs, Nicolina, sua amante e Antonietta, sua esposa. A neurose de don Lucio penetra a psique das duas mulheres a tal ponto de transformálas em meras executantes da sua vontade. Até certo ponto, as irmãs compartilham da ideologia de don Lucio: os homens nasceram para trabalhar e produzir, as mulheres para servir. Vejamos a atitude de Antonietta neste episódio em que don Lucio a reprova pelo fato de tê-lo acordado no meio da noite: “Antonietta abbassò gli occhi, mortificata. Lui aveva ragione. Un uomo che deve 20 21 Conferência de Di Giovanni de 1919. Idem. 10 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” far lavorare la testa ha bisogno di riguardi e non può sacrificare Il sonno come una femminetta” 22. E neste, quando Nicolina prepara um copo de água com limão para don Lucio. O ritmo e a precisão da descrição reproduzem a mecanicidade ritual dos seus gestos: Strizzò poco meno di mezzo limone nell´acqua, badando che col succo non cadesse qualche seme; aggiunse tanto vino quanto bastava a tinger l´acqua: ci sciolse un cucchiaino scarso di zucchero; agitò, rimestò, lasciò riposare. Poi guardò il bicchiere contro il lume, per accertarsi che la bibita fosse perfettamente límpida, come sapeva prepararla Antonietta. E finalmente portò il bicchiere, su un piatto, cautamente23. Contudo, a relação de Maria Messina com os homens reais – pelo que pude observar nas evidências presentes nas cartas –, permanece sempre no universo epistolar e, portanto, em uma dimensão imaginária, idealizada e moldada a sua vontade. 4. Referências bibliográficas 1. Obras de Maria Messina. Novelas MESSINA, Maria. Pettini fini e altre novelle. Palermo, Sandron, 1909. ______. Piccoli gorghi. Palermo, Sandron, 1911. ______. Le briciole del destino. Milano, Treves, 1918. ______. Il guinzaglio. Milano, Treves, 1921. ______. Personcine. Milano, A. Vallardi, 1921. ______. Ragazze siciliane. Firenze, Le Monnier, 1921. Romances MESSINA, Maria. La casa nel vicolo. Milano, Treves, 1921. ______. Alla deriva. Milano, Treves, 1920. ______. Primavera senza sole. Napoli, Giannini, 1920. 22 23 Maria Messina, La casa nel vicolo, p.16. Idem, ibidem, p.10. 11 ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” ______. Un fiore che non fiorì. Milano, Treves, 1923. ______. Le pause della vita. Milano, Treves, 1926. ______. L´amore negato. Milano, Ceschina, 1926. Cartas AGOSTA, Giovanni Garra. Un idillio letterario inedito verghiano (Lettere inedite di Maria Messina a Giovanni Verga). Catania, Greco, 1979. PAUSINI, Cristina. Le “briciole” della letteratura: le novelle e i romanzi di Maria Messina. Bologna, Clueb, 2001. 2. Fortuna crítica. 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Le briciole del destino. Palermo, Sellerio, 1996. ______. Pettini-fini. Palermo, Sellerio, 1996. ______. “Luciuzza”, in: Il Novecento. Antologia di scrittrici italiane del primo ventennio, a cura di Anna Santoro, Roma, Bulzoni, 1997. ______. Ragazze siciliane. Palermo, Sellerio, 1997. ______. “Demetrio Càrmine” e “Casa paterna”, in: Novelle d´autrice tra Otto e Novecento, a cura di Patrizia Zambon, Roma, Bulzoni, 1998. ______. Dopo l´inverno, a cura di Roswitha Schoell-Dombrowsky, Palermo, Sellerio, 1998. ______. Personcine. Palermo, Sellerio, 1998. 13