Virtual Capitulo 1

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Virtual Capitulo 1
CAPITULO I
I. A DESCOBERTA DA FOTOGRAFIA E DO CINEMA
O cinema como o conhecemos hoje, somente se tornou possível depois
da descoberta da fotografia mas como veremos mais adiante, mesmo de uma
forma primitiva e rude, ele já se desenvolvia sob a forma de imagens (desenhos)
em movimento muito tempo antes da fotografia ser descoberta.
De fato, é uma falácia comum pensarmos que cinema é meramente
fotografia em movimento. Como veremos nos capítulos a seguir, o cinema é um
fenômeno muito mais complexo do que normalmente se pensa possuindo elementos da música, da palavra, da linguagem gestual e de outras formas de
comunicacão. Estas questões no entanto, virão na sua devida ordem pois de
início precisamos analisar a descoberta do que foi sem dúvida uma das mais
importantes contribuições para a cultura do Século XX - a descoberta da Fotografia que também é um dos pré requisitos para o cinema
O desejo da fotografia ou alguma coisa semelhante, parece ser intrínseco ao homem -um instinto quase-. O desenho e a pintura na sua forma mais
básica não são mais nem menos, do que manifestações do grande desejo de
RETRATAR O MUNDO que todos nós possuímos desde a infância e que é
comum tanto nos primitivos quanto nos civilizados. Historicamente, sabemos
que mesmo antes de existir a escrita os primitivos ja se comunicavm por meio
de desenhos (Ver fig. 1.). Mas mesmo depois que a escrita foi inventada tanto
o desenho como a pintura continuaram a ser de enorme importância. Isto devese ao fato de que as imagens comunicam em níveis diferentes aos da palavra
seja ela ecrita ou falada. Mas é verdade também que tanto a pintura quanto o
desenho não conseguiam satisfazer a vontade de muitos artistas de retratar o
mundo com o maior realismo possível. O fato é que enquanto não existiu a
fotografia muitas - muitíssimas pessoas - estavam insatisfeitas com o que se
podia fazer com o desenho e a pintura sobre tudo em matéria de REALISMO.
A busca da minúcia, da espontaneidade da perspectiva são tão antigas quanto o
desenho.
A fotografia representa justamente o detalhe, a minúcia, a perspectiva, a luz, o momento fugaz, a espontaneidade, e a velocidade que muitos
procuravam mas não conseguiam por outros meios. Não é de hoje a afirmação
que a invenção da fotografia LIBERTOU a pintura para encontrar a sua verdadeira vocação expressiva. Poderíamos até afirmar que do ponto de vista de um
determinismo histórico, a humanidade estava fadada a descobrir a fotografia ou
alguma coisa semelhante porque não desistiria dessa busca até chegar ao que
procurava. Nas próximas páginas iremos ver rápidamente como foi a busca
deste meio até hoje insuperádo de registrar imagens de incrível perfeição e realismo.
12 x7 cm
Foto Vanessa F.M. Harell
figFig. 1.1. Fotografia de Pintura Rupestre nas cavernas de Jataí Goiás. Estima-se
que alugumas destas imagens tenham mais de onze mil anos. Poderiamos refletir de
como seria difícil fazer uma descrição precisa destes desenhos se não existisse a
fotografia.
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CAPITULO I
2. OS PRINCÍPIOS DA FOTOGRAFIA
Podemos reduzir a três, os princípios que possibilitaram a descoberta da
fotografia. Estes três princípios já existiam muito tempo antes da fotografia ser
inventada mas foi necessário reuni-los de forma coerente para que essa invenção pudesse vir à tona. Eles são:
A). O PRINCÍPIO DA CÂMARA ESCURA DE ORIFÍCIO,
B). O PRINCÍPIO DA FOTOSENSIBILIDADE,
C). OS PRINCÍPIOS DA ÓPTICA.
Foram estes princípios que possibilitaram a descoberta da fotografia mas
não podemos esquecer que existiram múltiplos outros fatores conjunturais,
históricos e culturais que também contribuíram de forma decisiva para essa
descoberta. O mundo estava pronto para a descoberta da fotografia somente
no momento em que ela veio e não antes.
Da mesma maneira que Edison não poderia ter feito a descoberta da
vitrola ou da lâmpada incandescente antes que existisse o telégrafo ou o arco
voltaico, a fotografia não poderia ser descoberta sem que esses e outros importantes requisitos para a completa unificação dos princípios viessem à tona.A
verdade é que a busca do processo fotográfico é tão antigo quanto o desejo de
representar visualmente o mundo, os objetos, os acontecimentos e os semblantes que consideramos importantes. Mas o caminho para a descoberta da fotografia como todas as outras descobertas dependeu de diversas outras descobertas
Vejamos mais detalhadamente cada um desses três princípios básicos e
como cada um deles contribuiu para a descoberta completa da fotografia.
A) . O Principio da Câmara Escura de Orifício
O principio da câmara escura de orifício é uma invenção anônima
e data dos tempos mais remotos. Para sermos mais claros não se sabe quando
foi inventada nem por quem. Uma das comprovações mais antigas que temos
da sua utilização prática segundo o historiador alemão, Klaus Opten Hoefel é
da observação de uma eclipse solar pelo sábio árabe Ibn Al Haitam, na corte de
Constantinopla no ano 1038. O princípio porém, é muito mais antigo pois já era
conhecido na Grécia antiga quando Aristóteles (384 -322 A.C.) fez uma discrição da formação de imagens durante a passagem da luz por pequenos orifícios.
Na Itália, o progresso da câmara escura foi grande a partir de sua divulgação nos escritos de Leonardo da Vinci (1452 -1519). Da Vinci foi o primeiro
a fazer uma discrição precisa do fenômeno da câmara escura. Posteriormente
esta passou a receber diversos refinamentos um dos quais foi a introdução de
uma lente
convergente
no lugar do
orifício para
dar uma ima9.5X 4 cm
gem muito
mais nítida e
brilhante.
Originalmente, a
câmara es- Fig.1. 2. O principio da Camara escura de Orificio é de origem desconhecida e data dos tempos mais remotos como mostra esta gravrura datada de
cura de orifí24 de Janeiro de 1544 com a inscrição:Solis Designium.
cio era uma
caixa ou mesmo um quarto escuro (de onde o nome câmara), no qual uma das
paredes possuía um pequeno orifício por onde passava um filete de luz. Este
filete de luz penetrando pelo pequeno orifício projetava na parede oposta, uma
imagem do que se encontrava do lado de fora.(Ver Figura 1.2.)
As pesquisas sobre a natureza da Câmara Escura de Orifício intensificaram-se nos séculos XVII e XVIII. No século XVIII, houve grande interesse
por todo tipo de princípio científico e os nobres mais esclarecidos faziam encontros para os quais convidavam os grandes pensadores da época. Na França a
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CAPITULO I
exemplo disto, Madame de Staël, esposa do célebre matemático do mesmo nome,
realizava freqüentes “senácles” para os quais convidava figuras como Montesquieu,
Voltaire, Diderot, Rousseau, D’Holbach, La Mettrie e outros.
Até meados e fins do século XVIII (veja figs. 3.e 4.) câmaras escuras de
inúmeros formatos eram utilizadas para ampliar transparências e desenhos e
mesmo para o retrato pelos artistas da época , mas até esse momento ninguém
havia encontrado uma forma de gravar as imagens formadas dentro da Câmara
escura a não ser pelo desenho.
Devemos notar bem aqui que todos esses avanços são indícios de uma
emergente voracidade de ver. As lunetas, os telescópios, os microscópios, a câmara escura, a gravura, a pintura representam nesta época uma crescente necessidade do homem de ver e de conhecer o seu mundo desde o microcosmos até o
macrocosmos. É esta época que representa o início da cultura visual do século
XX e é caracterizada pela busca do conhecimento através da verificação empírica
(o método científico). É interessante notar que o crescente uso ao qual foi submetida a câmara escura nos séculos XVII e XVIII, como um aparelho auxiliar
na execução de esboços e desenhos contribuiu muito para reforçar as pesquisas
em torno de como melhorar e sobretudo fixar a imagem por ela
produzida
.
Figura1. 3.
O princípio da
câmara escura em
gravura do seculo
XVII. Note-se a
imagem projetada
de forma invertida
comprovando que os
raios de luz se
propagam em linha
reta.
12 X 8.4 cm
12 X 6 .2 cm
Figura 1. 4. Gravura mostrando a câmara escura já munida e uma objetiva
sendo utilizada para copiar desenhos. Note-se bem que ela está montada encima
de trilhos para movimentá-la de forma a conseguir diferentes níveis de ampliacão.
Figura1. 5.
Esta câmara escura com objetiva, espelho e vidro despolido
data de 1820 e
estava exposta
no Museu da
Imagem e do
Som. Fotografia
do autor.
6 x 8 cm
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CAPITULO I
B. O princípio da Fotossensibilidade:
B.1. Johann Heinrich Schulze
A busca para encontrar algum material que permitisse fixar as imagens
produzidas pela câmara escura vêm dos tempos mais antigos. Naturalmente foi
necessário que a ciência da química se desenvolvesse para que algumas descobertas nesse sentido, pudessem ser feitas. Embora ninguém o soubesse, mesmo
o próprio descobridor, um passo importantíssimo na descoberta da fotografia foi
dado em 1727. Nesse ano, o experimentador alemão Johann Heinrich Schulze
publicou os resultados de pesquisa na qual constatava que umas folhas de papel
por ele tratadas com nitrato de prata enegreciam quando expostas à luz do dia.
Mas, como relata o historiador alemão Klaus Op Ten Hoefl, “ O Prof.Johann
Heinrich Schulze tinha tudo em mente menos fazer descobertas fotográficas; a sua intenção era a fabricação de pedras luminosas de fósforo.”
O trabalho do Prof. Schulze foi publicado sob o
título “ DE COMO DESCOBRI O PORTADOR DA
ESCURIDÃO AO TENTAR DESCOBRIR O PORTADOR DA LUZ”. Obviamente Schulze referia-se
ao fato de o material por ele tratado escurecer com a
ação da luz em lugar de brilhar como ele desejava.
Nunca lhe ocorreu que na realidade ele havia dado o
primeiro passo para descobrir o verdadeiro portador da
luz - a Fotografia. Schulze, como bom cientista fez novas experiências para certificar-se que era realmente a
ação da luz que causava essa transformação na prata
mas não levou o seu trabalho além desse ponto e nunca
lhe ocorreu de tentar formar uma imagem na câmara
escura. Além disto, Schulze também não teve sucesso
na tentativa de encontrar algum processo de interromper o enegrecimento da prata quando submetida à luz.
B.2. ThomasWedgewood
Em 1802, quase cem anos depois de Shulze, o inglês Thomas
Wedgewood, descreveu um processo semelhante ao de Schulze que também
utilizava nitrato de prata e que ele descrevia como “belo e prático” quando
utilizado para copiar gravuras sendo que carecia somente de alguma forma
para fixar as imagens. Wedgewood, embora tenha aplicado o princípio da
fotossensibilidade da prata à produção de imagens também falhou na
tentativa de encontrar um agente fixador . Na época em que Wedgewood
relatou as suas experiências no começo do século XIX, já existiam inúmeros
experimentadores em diversos países do mundo, a maioria sem saber os uns
dos outros, mas todos unidos no propósito de descobrir alguma forma de
fixar a imagem produzida dentro da câmara escura.
FiFig .6. Johann Heinrich Schulze. Em
1727 foi ele quem descobriu a fotossensibilidade dos sais de prata.
C. O Princípio da Óptica
Este terceiro e último princípio não pode ser subestimado na sua importância para a descoberta da fotografia.
Não se sabe ao certo quando é que a câmara escura deixou
de ter um orifício e passou a incorporar uma lente. Este
passo no entanto foi de grande importância uma vez que a
lente produz uma imagem muito mais nítida e brilhante. Quem
conhece o princípio da câmara escura de orifício sabe como
a imagem produzida por este meio é fraca e sem nitidez.
As lentes convergentes estão entre as mais antigas
que conhecemos e temos notícias de que o Veneziano BÁRBARO foi o primeiro a colocar uma lente convergente na
câmara escura no século XV. É importante lembrarmos
que nos séculos XVII e XVIII foram feitos grandes avanços na óptica. Nesta época as idéias de Copernico eram
avidamente discutidas e as lunetas e telescópios já eram
muito populares e amplamente utilizados.
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CAPITULO I
Nessa época, os primeiros protótipos de microscópios desenvolvidos pelo holandês Leeuwenhoeck também já haviam sido largamente difundidos. É desta
época que data também a teoria dos micróbios. A questão da óptica tem
muito a ver com aquilo que mencionamos mais cedo, a vontade de olhar.
Tanto os avanços técnicos como a liberalização do pensamento possibilitaram aos pensadores da época olhar para o cosmos de uma maneira nova e
imaginativa. Como exemplos disto podemos citar também o conto fantástico
Viagem à Lua do escritor e poeta Cyrano de Bergerac e Micromégas de Voltaire.
Enfim poderiamos afirmar que tanto tecnologicamente como intelectualmente
rompe-se a barreira entre o mundo antigo e o moderno.
A DESCOBERTA DA FOTOGRAFIA
8.5 x 5.3 cm
Fig.1. 8. Joseph Nicephore
Figura 1. 7. A primeira fotografia da historia realizada por Niepce (1765-1833).
Joseph Nicephore Niepce.
I . JOSEPH NICEPHORE NIEPCE
II. JAQUES MANDÉ DAGUERRE
Foi o francês, Joseph Nicephore Niepce, quem produziu para a humanidade a primeira fotografia permanente da história. Niepce procurava desde
1793 alguma forma de copiar gravuras e desenhos. As suas pesquisas o levaram a experimentar com uma grande variedade de materiais fotossensiveis.
Em 1822, ele consegui realizar a cópia de uma gravura em metal sobre vidro,
processo ao qual ele deu o nome de HELIOGRAFIA. Quatro anos mais
tarde, em 1826, ele consegui fazer a primeira fotografia durável da
história expondo uma chapa sensibilizada com asfalto e exposta durante oito
horas. Como fixador ele usou um ácido a urina. Apesar da enormidade dessa
descoberta, ainda hoje este fato importante é ignorado por 90% da humanidade
(Ver figuras. 7 e 8).
• Nota:
O processo da Daguerreotipia consistia no uso de uma chapa de
cobre sensibilizada por uma fina camada de prata preparada numa câmara especial contendo iodo em estado gasoso. O iodo combinava-se com a prata para formar
iodeto de prata, um material fotossensível. A imagem latente resultante era depois
revelada com vapor de mercúrio aquecido por uma chama embaixo da chapa. O
resultado era uma fotogravura de altissima qualidade.
Niepce associou-se em 1829 a um pintor de paisagens e gravurista, Jaques
Mandé Daguerre. Este dedicado artista, procurava um meio mais fácil e realista
de fazer gravuras. Depois do falecimento de Niepce Daguerre passou a realizar
experiências com o químico Dumas e desde cedo abandonou os lentos processos
desenvolvidos pelo sócio.
Após vários anos de experiências, em agosto de 1839, Daquerre apresentou um novo processo a L’Acadêmie des Sciènces et Beaux Arts de Paris. (Fig.
10.) O processo provou-se revolucionário , fez imediato sucesso e ficou conhecido como Daguerreotipia. Por solicitação do próprio Daguerre, a técnica foi
divulgada livremente ao mundo sem quaisquer direitos autorais. Em compensação Daguerre recebeu uma pensão vitalícia do governo francês. Apesar de revolucionário, o processo era muito trabalhoso (Ver Box nesta página). A complexidade e periculosidade do manuseio dos reagentes químicos junto com a lentidão
da sensibilidade do processo limitavam enormemente as possibilidades temáticas
das primeiras daguerreotipias. Apesar disto, nada impediu o tremendo desenvolvimento e popularidade da técnica. . Uma Daguerreotipia era uma fotogravura
feita numa chapa de cobre e não havea meios de reproduzi-la. Mesmo assim,
poucos meses depois da sua divulgação Daguerreotipos já estavam sendo realizados na Europa, América e nos mais recônditos lugares do mundo.
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CAPITULO I
A
grande popularidade da qual gozou a daguerreotipia foi o resultado
deste ser o primeiro processo prático de fotografar. Mesmo assim,
devido às dificuldades do processo já mencionadas, os primeiros
Daguerreotipos sofriam de severas limitações temáticas (eram de prédios, monumentos, natureza mortas e cenas de rua).
O retrato era particularmente difícil de executar devido ao fato que os
tempos de exposição eram muito longos (em excesso de 45 a 30 minutos).
Isto requeria uma tremenda paciência por parte dos modelos que precisavam
se manter perfeitamente imóveis, frequentemente sustentados por armações
de ferro durante os longos tempos de exposição. É por isto que em algumas das
daguerreotipias mais antigas, não se pode distinguir se a pessoa retratada está
de olhos abertos ou não pois por imóvel que a pessoa pudesse se mater era
impossível parar de piscar. Estes tempos de exposição foram rapida e progressivamente sendo reduzidos na medida em que a técnica ia sendo aperfeiçoada.
Menos de um ano depois, Godard em Londres, anunciou uma técnica muito
mais rápida. Até 1841, o tempo de exposição para uma daguerrreotipia já havia
sido reduzido para dez ou quinze segundos.Cabe ressaltar que a daguerreotipia
Figura 1.10.
Jaques Mandé Daguerre (17871851) Inventor da Daguerreotipia
6.5 xprimeiro
5
processo prático de fotogracm far que foi durante anos o mais popular do mundo.
era um processo análogo a gravura, ou melhor o tipo de gravura conhecido como
aquaforte, era em essência uma fotogravura.
Cada imagem era uma só chapa de cobre e prata, produzida por um processo bastante lento e caro. Não havia até então um meio prático de fazer cópias
de uma daguerreotipa. Quem quisesse dois retratos teria que posar igual número
de vezes. Também não era possível a esta altura imprimir uma fotografia numa
revista ou num jornal. Os meios de imprensa dependiam ainda do trabalho de
desenhistas e gravuristas para ilustrar as suas publicações.
III. WILLIAM HENRY FOX-TALBOT E O PROCESSO NEGATIVOPOSITIVO.
12 x 6.5 cm
Figura 1. 9. A Daguerreotipia foi o primero processo prático de se fotografar.
Apesar de suas múltiplas dificuldades e até perigos este processo teve uma
açeitação generalizada e muito rápida.
O
Inglês, William Henry Fox-Talbot, trabalhando independentemente das
experiências de Niepce e Daguerre, desenvolveu um processo
fotográfico análogo ao dos dois pesquizadores franceses porém muito
mais barato e prático. Em 1839 quando Talbot soube do trabalho de Daguerre, ele
apresentou apressadamente o resultado das suas pesquisas à Academia Real da
Inglaterra para garantir os direitos ao seu processo.
Diferentemente desses pesquisadores, Talbot foi o primeiro a utilizar um
negativo de papel do qual era possível tirar cópias positivas por contato. Foi esta
a grande contribuição de Talbot, pois foi o seu processo que possibilitou a fotografia em série. A maior desvantagem do processo de Talbot porém era que o seu
negativo de papel não permitia cópias com a mesma qualidade dos daguerreotipos.
Talbot como outros antes dele não conseguiu desenvolver um método adequado
para aplicar a prata sensível ao vidro. Mesmo assim, o progresso feito por Talbot
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CAPITULO I
foi considrável tornou o seu processo batizado pela mãe como “Talbotipia” altamente popular.A Talbotipia em 1841 já conseguia concorrer em popularidade com
a Daguerreotipia. Deve se dizer que houve processos e acusações de plágio entre
ambos os rivais mas Talbot perdeu quase todas e não viu jamais os lucros do seu
trabalho. Anos mais tarde, o francês Gustave Le-Gray refinou a técnica imergindo
os negativos de papel num banho de cera para torná-los mais transparentes.
IV. Hercules Florence e a fotografia no Brasil
Devemos mencionar aqui também a contribuição do franco-brasileiro, Hércules Florence, cujo trabalho e
perspicácia por muito tempo ficaram
desconhecidos. Florence trabalhou independentemente dos pesquisadores
europeus e conseguiu resultados surpreendentemente avançados. Foi ele
12 x 7 cm
quem segundo o seu biógrafo Boris
Kossoy, utilizou a palavra fotografia anFigura 1.12. William Henry Fox-Talbot
tes mesmo de Niepce. Sem sombra
(1800-1877)
de dúvida, os maiores inimigos de
Florence não foram os seus concorrentes e contemporâneos mas o esquecimento e a solidão aos quais são frequentemente relegados os pesquisadores no Brasil. De fato, Florence utilizou sais de prata e produziu fotografias. A verdade é que tanto Florence
Fig. 1.11. Uma Talbotipia realizada por Talbot em 1840
como outros pesquisadores chegaram
muito perto de descobrir a fotografia
mas não tiveram a oportunidade de registrar as suas descobertas perante as ins- grafia utilizando-se das propriedades dos sais de prata como substâncias
tituições oficiais como o fizeram Niepce, Daguerre e Fox -Talbot . É consenso sensíveis à luz”. Na verdade se Florence não pode ser considerado o descobrigeral que Niepce foi o primeiro a tornar públicas as suas descobertas e portanto é dor da fotografia ele deveria ser ao menos citado como um dos seus descobridoconsiderado o inventor da fotografia. Isto de forma alguma desmerece o traba- res coisa que poucos historiadores se mostram dispostos a fazer até o presente
lho realizado por outros pesquisadores no resto do mundo. Sem dúvida é pensando momento. Não sendo historiador e portanto não me sentido sujeito ao rigor histónisto que Boris Kossoy escreve à respeito de Florence: ..." segundo ele mesmo, rico que talvez se impinge sobre outros e desejando fazer uma justiça reparadora
que seguidamente repete o fato de seu isolamento em relação aos centros coloco aqui ao letitor a necessidade de reconhecer o importante trabalho da vida
culturais e científicos...Florence desenvolve seus estudos no campo da foto- e obra de Hercules Flrorence.
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CAPITULO I
Apesar das desvantagens, já mencionadas, o processo dava melhores
resultados qua qualquer outro processo conhecido até então e acabou sendo o
mais utilizado durante os próximos vinte anos. Este processo deu início àqueles
fotógrafos que saiam para o campo munidos de câmara, tripé, barraca escura
para servir de laboratório junto com vidros e banheiras para os reagentes.As
dificuldades de se fazer fotografia de paisagem eram enormes mas é justamente
desta época que datam alguns dos registros mais memoráveis de expedições,
accidentes, guerras, catastrofes e outros eventos que são testemunhos vivos de
momentos da história que de outra maneira estariam completamente perdidos, e
da coragem e inventividade dos primeiros fotógrafos. Ë desta época que datam
as fotografias de Roger Fenton (1819-1869) e outros.
Figura 1. 13. Hercules Florence (1804-1879) e cópia de seus
manuscritos
Fig1. 14.
V. FREDERICK SCOTT-ARCHER E A “CHAPA ÚMIDA”
E
m 1851, outro Inglês, Frederik Scott Archer, obteve êxito com um
processo que logo derrubou a Daguerreotipia e a Calotipia juntas .
O processo apresentava grandes vantagens em relação aos processos
anteriores pois utilizava um negativo de vidro (com a qualidade da Daguerreotipia)
e possibilitava a tiragem de inúmeras cópias (a vantagem da Calotipia), com
um custo baixo e materiais muito menos perigosos.
6.2 x10.1 cm
Ao lado temos a Imagem do fotógrafo
itinerante carregando os materiais do
seu ofício (Tripé, barraca, câmara,
reagentes e todos os acessórios). Esta
imagem tornou-se popular à partir do
momento em que foi inventado o
processo úmido por volta de 1865.
Este processo introduzido por Scott-Archer na Inglaterra e quase que
simultaneamente por Gustave Le-Gray na França possuía a única desvantagem
de ter que ser preparado e revelado em estado úmido. O processo utilizava um
colódio*, que era aplicado, ao vidro, e devia ser exposto na câmara escura
ainda em estado húmido. Esta era a sua principal desvantagem e incômodo.
*Colódio
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CAPITULO I
VI. RICHARD LEACH-MADDOX: A CHAPA SECA
A fotografia externa somente se tornou mais fácil à partir do ano 1871,
quando Richard Leach-Maddox, um amador Inglês introduziu a emulsão de gelatina. Este processo foi rapidamente aperfeiçoado e ficou conhecido como “chapa
seca”. A invenção da chapa seca foi de tremenda importância para a fotografia.
Os fotografos poderiam ficar muito mais a vontade para se concentrar no assunto
deixando todos os preparativos complicados de lado. Evidentemente a chapa
seca beneficiou muito mais a fotografia externa . A época da chapa seca é
caracteriazada princpalmente pelos negativos de vidro que também eram usados
com os processos humidos. Entre 1871 e 1885 muita pesquisa foi feita para
encontrar novos suportes para a emulsão seca entre os quais o nitrato de celulose foi um dos preferidos.
12.5 x 7 cm
Figura 1.16. Imagem de George Eastman e a Câmara de
Caixinha por ele inventada. Eastman fez pela fotografia o que Bill
gates fez pela informática
VII. GEORGE EASTAMAN E O FILME EM ROLOS
12 x 7 cm
Figura 1.15.
Os conhecimentos necessários para a produção de fotografias pelo processo
humido barravam um sem numero de usuários. Tudo isto iria acabar com a introdução
da chapa seca. Acima vemos o material de um "retratista de paisagens".
J
á em 1888, a Eastman Kodak Company revolucionou a fotografia com
a introdução de filmes em rolos. Uma verdadeira panacéia para a época, foi o lançamento conjunto de uma pequena câmara de caixinha.
Com esta forma de marketing a fotografia atingia a sua vocação popular
e encontrava-se finalmente ao alcance de pessoas inexperientes de todos os
poderes aquisitivos. "Você tira as fotos ...nos fazemos o resto" dizia o lema
da Kodak. Se Bill Gates tem algum precursor na história certamente esta pessoa é George Eastman. Da mesmma forma que gates fez com o
microcomputador, este visionário também se preocupou em levar a tecnologia
da fotografia da forma mais simples possível para dentro do lar de cada pessoa.
É a ele que devemos o que hoje é conhecido por fotografia popular.
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CAPITULO I
Nadar phtogrphe de
paris
Figura 1.17.
Fig 1.19. A fotografia sem-
A imagem a esquerda é
uma gravura mostrando
o famoso fotógrafo
parisiense Nadar num
balão a ar quente fotografando a cidade numa
de suas arriscadas aventuras fotográficas.
pre atraiú as pessoas interessadas em captar cenas
sem serem apercebidos o
que deu origem a camaras
escondidas em clips de gravata, relógios e até chapeus
como mostra a imagem ao
lado .
Le Chapeau
Photographique
Fig. 1.18.
Fotografo Brasil
Fotográfia de um
estúdio da época em
que aparece placa
de aviso; "As encomendas serão pagas
adiantadas"
Fig.1.20.
Retrato de familia. Daguerrotipia
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CAPITULO I
SEGUNDA PARTE
OS ANTECEDENTES DO CINEMA
I. ROGET E A TEORIA DA PERSISTÊNCIA DA VISÃO
Mesmo antes de Niepce ter conseguido realizar a primeira fotografia da história, o matemático inglês, Peter Mark Roget já anunciara perante
a Royal Academy of Sciences, a sua TEORIA SOBRE A PRESISTÊNCIA
DA VISÃO COM RESPEITO A OBJETOS EM MOVIMENTO (1824).
Esta teoria fundamentava-se no fato de que qualquer imagem que atinge a
retina dos olhos, não desaparece instantaneamente mas demora um determinado tempo para se esvanecer.
Este fenômeno é também conhecido por ‘retenção retiniana’. Se uma
segunda imagem é subitamente introduzida diante da visão, substituindo a primeira, as duas imagens se fundem dando a impressão de ser uma só.
A teoria de Roget despertou ávido interesse em toda Europa e foram
empreendidas inúmeras experiências para comprovar a sua veracidade. O
significado disto é que mesmo antes da fotografia tornar-se uma realidade, a
teoria e os meios para a animação de desenhos já apontavam na direção do
que viria a se tornar cinema quando as duas coisas pudessem ser unificadas.
II. O THAUMOTROPO DE J.A. PARIS
Um brinquedo desenvolvido por John Ayrton Paris em 1826 demonstrava com eloquente simplicidade o principio da retenção da imagem pela retina. Este simples brinquedinho científico recebeu o nome de Thaumótropo
(em alguns livros Tahumatrópio) consistia num cartão redondo com dois desenhos diferentes, um de cada lado. Num dos lados havia o desenho de uma
gaiola, no outro um passarinho. Quando o cartão era posto à girar por intermédio de barbantes ou elásticos (Veja a ilustração 21.), as duas imagens pareciam se fundir e o passarinho ficava dentro da gaiola. Este fenômeno fisiológico da percepção humana é o fundamento da animação, do cinema, e da televisão.
Fig. 1.21. O Thaumotropo de J.A. Paris (1826). Este pequeno brinquedo baseado na teoria de Roget sobre a persistência da visão desencadeou serias pesquisas que levaram àinvenção de outros aparelhos mais complexos e eventualmente
a descoberta da animação e do cinema.
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CAPITULO I
III. J. A PLATEAU E AS PRIMEIRAS ANIMAÇÕES
O cientista belga J.A. Plateau, fez a completa consolidação do fenômeno da persistência da visão em 1829 e introduziu em 1832 o Fenakistiscópio
o primeiro aparelho a animar uma série de desenhos.
Lembremos que o Thaumotropio somente ‘fundia’ duas imagens uma na
outra mas não dava a ilusão do movimento. A teroria de Roget teve o efeito de
sucitar um ávido interesse por todo tipo de inventos e resultou em inúmeras
experiências para comprovar a sua veracidade na América e Europa trazendo
a tona progressos incalculáveis. Isto quer dizer que, a teoria e os meios para a
animação de desenhos capazes de criar a ilusão do movimento, já estavam
sólidamente estabelecidos mesmo antes da fotografia tornar-se um meio prático de registrar imagens. J.A. Plateau foi o primeiro a consolidar a teoria do
fenômeno mas eventualmente outros aparelhos como o Zootropio e depois o
Praxiscópio assim como o Praxinoscópio de Émile Reynaud conseguiam
efeitos de animacão de desenhos bastante sofisticados.
IV. EMILE REYNAUD,O PRAXINOSCÓPIO E O TEÁTRO
OPTICO.
Foi na realidade Émile Reynaud quem mais contibuiu nesta epoca para
o aperfeiçoamento da técnica de animação de desenhos primeiramente com a
sua lanterna mágica que recebeu o nome de Praxinonscópio, e depois com o
complexo “Theâtre Optique”. Os “filmes”de Reynaud criaram sensacão na
europa e apresentavam deliciosas estorinhas animadas e roteirizadas pelo inventor. Algumas das fitas desenhadas e coloridas à mão atingiam tal nível de
sofisticação que muitas contavam com mais de setecentos desenhos e
displumham de projecão dupla de fundo e acão (Veja ilustracão). Reynaud
mostrou seus desenhos por toda europa por muitos anos até que a invencão do
cinema o levou ao anonimato. Com a eclosão do cinema, Reynaud encontrouse abandonado por seu público não mais atradido pela fantasia dos seus desenhos e sim pelo realismo e acabou por destruir a maioria de suas fitas jogandoas no rio Sena e sumindo da vida pública para sempre. É um fato lamentável
que este génio não tenha percebido as possibilidades que o cinema le oferecia
pois foi na verdade um dos pais do desenho animado e portanto o grande
precursor de Émile Cohl na França e de Walt Disney na América.
Fig. 1.22.
O Fenakistiscópio o
primeiro aparelho a
animar uma série de
desenhos pela persistência da visão.
(Encyclopedia of
film and T.V)
( Imagem: Encyclopedia of Film and T.V)
Fig. 1.23. O complexo e
sofisticado“Theâtre
Optique” de Émile
Reynaud. Note-se bem que
o sistema de espelhos permitia a projeção de um fundo fixo emquanto que um
segundo sistema móvel
projetava a fita com a
ação.1.) Espelho de imagem principal 2.) Lanterna
de projeção de fundo
3)Tambor facetado de espelhos. 4) fita translúcida
com desenhos. 5)Tela de
retro projeção. 6) objetiva
Projetora7) espelho refletor 8) lanterna de projeção
da imagem móvel.
12
CAPITULO I
OS PESQUISADORES;
V. EDWEARDE MUYBRIDGE
Em quanto que alguns como Reynaud seguiam pelos caminhos do desenho
animado, outros pesquisadores continuaram a levar a frente as suas experiências
junto à fotografia na busca de um meio de reproduzir o movimento. Torna-se
necessário mencionarmos que a fotografia nos anos 1850 e 1860 sofre diversos
avanços tecnológicos 1. e temáticos 2. tanto na Europa como nos Estados Unidos
possibilitando o aumento das modalidades praticávies de fotografia. Este fato
certamente contribuiu para que certos pesquisadores
pudessem levar as suas experiências à frente.
O engenheiro americano Coleman Sellers, foi
provavelmete o primeiro a tentar uma animação de
fotografias com o Kinematoscópio inventado por ele
em 1861. Mas, sem dúvida foi o pesquisador angloamericano Edwearde Muybrige quem encontrou a
forma mais criativa de fazer esse tipo de registro.
Por volta de 1873, Muybridge, com a ajuda financeira do Governador da California, Leland Stanford iniciou as suas experiências utilizando uma bateria de
24 cameras fotográficas disparadas em sequencia
para registrar a corrida de um cavalo. A forma simples e direta com que Muybridge resolveu o problema técnico rendeu-le o dinheiro oferecido pelo Governador (que desejava ganhar uma aposta sobre o
fato de se o cavalo em galope fica sem uma só pata
apoiada no chão).
1. As emulsões fotograficas eram constantemente m
elhoradas e se tornavam cada
vez mais sensíveis. Foi também durante esta época que obturadores capazes de maior precisão e
possibilitando tempos de exposição muito mais curtos foram desenvolvidos.
2. Os melhoramentos tecnológicos evidentemente possibilitaram uma nova variedade de temas
outrora impossiveis para os fotógrafos que trabalhavam com emulsões lentas e sem obturador. Os
cavalos de Muybridge e as aves em movimento de Marey são exemplos destes avanços.
O desafio e a recompensa, lançados pelo Governador propunham de vez
por todas por fim a essa dúvida quanto á dinâmica do galope equino. Graças à
fotografia e à inventividade de Muybrige, essa questão foi resolvida para sempre. O aparelho montado por Muybridge embora rude e primitivo mostrou que a
nova tecnologia da fotografia podia ser utilizada para resolver uma série de
questões técnicas e científicas. Nessa época não existia ainda uma câmara que
pudesse disparar várias fotografias em sequëncia mas Muybridge montou uma
fileira de câmaras mais simples. O próprio cavalo foi o dispositivo de disparo
rompendo as linhas na sua passagem e disparando as câmaras. Ver fig.23.
14.25 x8 cm
Fig 1.24.
A ilustração acima mostra a técnica utilizada por Muybridge para conseguir uma
sequencia rápida de fotografias de forma a fazer um registro preciso do galope de um
cavalo. As camaras estão alinhadas a esquerda e os disparadores presos a barbantes
aque são rompidos pela passagem do cavalo. O efeito e de disparar cada câmara no
instante em que o cavalo se encontra diante do capmpo de visão da objetiva.
13
CAPITULO I
VI. ETIENNE MAREY
Estimulado pelas experiências do anglo-americano Muybridge, o fisiologo
e inventor francês , Dr. Jules Eienne Marey criou o que ele msmo chamava de
uma ‘ espingarda fotográfica’. Este engenhoso aparelho com o qual Marey
conseguia fotografar aves em voo e outros animais em movimeto, é provavelmente o mais antigo exemplo que temos de uma máquina desenhada
específicamente para fazer uma série de exposições fotográficas. O revolver
fotográfico de Marey era técnicamene muito mais avanaçado que a bateria de
câmaras de Muybridge pois era um só aparelho, era altamente móvel e disparava em intervalos controlados pelo operador mediante um gatilho. Com esse
aparelho Marey podia expor doze fotogramas em pouco mais de um segundo
num disco redondo e seguir os movimentos do seu alvo, coisa que era impossível
de fazer com
as duzias de
camaras fixas
de
Muybridge.
Outra vantagem; o mes10. x 6 cm
mo disco utilizado na câmara- revolver servia
para a projeção
em
sequencia
depois da re- Fig.1.25. A espingarda fotográfica de Etienne Marey. (Fonte
velação das
British Museum)
imagens.
A contribuicão de marey foi de incalculável importáncia no desenvolvimento do cinema e aparelhos subsequentes por ele inventados chegaram a ser
verdadeiros protótipos de filmadoras como as conhecemos hoje. As pesquisas
de Marey que se concentravam em torno da fisiologia e dos moviemtos dos
animais o levaram a desenvolver uma câmara fotográrfica portátil munida de
um obturador rotativo que permitia sucessivas exposicões estrboscópicas de
objetos em movimento . ( Em 1894 ele introduziu um aparelho capaz de fazer
sequências em camara lenta de até 700 fotogramas por segundo.)
Fig 1.26. O disco inserido no revolver (1.) As imagens registrdas
no disco (2.) (Encyclopedia of film and T.V)
VII. THOMAS EDISON E O KINETOSCÓPIO
No mesmo ano em que a Kodak lançava o filme em rolos, o inventor norteamericano Thomas alva Edison apresentava ao público a sua mais recente invenção; a vitrola. Edison já havia visto as fotografias animadas de Muybridge e até a
havia conversado com ele. Nesse mesmo ano ele passou a realizar experiências
com uma longas tiras de filme que ele requisitara ao George Eastman. Por falta
de tempo para desenvolver o projeto pessoalmente, Eastman entregou-o ao seu
assistente William Kennedy Laurie Dickson. Dickson não menos intuitivo do que
seu chefe criou um sistema de furos nas bordas do filme para garantir o perfeito
posicionamento de cada fotograma o seu avanço e registro.
14
CAPITULO I
O filme inventado por Dickson tinha 35m de largura, e o sistema de furos
é o mesmo utilizado até hoje. Este importante detalhe já havia aparecido em
alguns dos produtos criados por Marey e até nos desenhos animados de Reynaud
mas encontrava-se pela primeira vês sistematizado de forma coerente. Em menos de um ano, exatamente a 6 de outubro de 1889, Dickson projetou um filme de
uns dois minutos de duração e no qual ele mesmo aparecia e FALAVA!.
Dickson havia juntado uma vitrola ao KINETOSCÓPIO, fazendo do primeiro filme da história um filme sonoro. O aparelho logo batizado de Kinetoscópio
foi comercializado na forma de uma máquina de diversão individual. Nem Edison
nem o seu assistente parecem ter percebido que seria possível projetar as imagens numa tela assim aproveitando um público maior em lugar de numa telinha
visível por uma só pessoa de cada vez.
Não sabemos ao certo o que Edison pensava em relação a sua invenção, mas ele
não percebeu a importância e o impacto emocional de um espetçaulo em massa.
Nos dois anos seguintes surgiram nos Estado Unidos centenas de salões
onde as pessoas podiam assistir filmes curtos colocando uma moeda no
Kinetoscópio. Edison patenteou a sua invenção em 1891, mas também não teve
a visão de fazé-la valer mundialmente. Como era de se esperar, logo surgiram
cópias e imitações do Kinetoscópio em toda Europa.
Na Alemanha, Max Sklandowsky lançou o BIOSKOP, baseado no aparelho de Edison. Porém, nem todos se limitaram a simplesmente reproduzir a
invenção do americano pois as experiências de de Muybridge e Marey haviam
estimulado um interesse geral por parte de inventores em todas as partes do mundo.
Na Inglaterra, por exemplo, o inventor Robert Paul modernizou o conceito do Kinetoscópio lançando uma câmara portátil (a câmara de Edison era de
proporções enormes) e introduziu o movimento de Cruz de Malta utilizado até
hoje em muitos projetores e camaras do mundo. O fato é que uma vez realizado
o sonho do fenómeno cinematográfico, faltava apenas descobrir o seu potencial
como espetáculo pelo desenvolvimento da técnica e de sua linguagem.
Fig. 1.27. O Kinetoscópio era um projetor de filme concebido no nível puramente individual sendo que uma só pessoa por vez podia desfrutar do espetáculo.
Temos os seguintes principais mecanismos: (1) O visor, (2) feixe luminoso, (3)
o sistema de obturação, e (4) a tira de filme sem fim (film loop). As setas
mostram a direção do movimento da fita.
(Encyclopedia of film and T.V)
Fig 1.27. Maquina de projeção de Edison utilizaba uma érie de roletes em
forma de anél sem fim para passar uma fita de aproximadamente 3 minutos
para um só individuo de cada vez (Encyclopedia of film and T.V)
15
CAPITULO I
A INVENÇÃO DO CINEMA
VIII. OS IRMÃOS LUMIÈRE
Poderia-se afirmar que a dupla Dickson/Edison foi responsável pela
descoberta do cinema técnicamente mas foram os irmãos Louis e Auguste
Lumière os inventores do cinema espetáculo. Já mencionamos o fato de Edison
não ter percebido o lado público do cinema embora ele tenha sido muito perspicaz em enxergar o lado consumidor.
Este fato foi importantíssimo para disseminação do cinema na sua
fase pre-industrial em que roteirista, fotografo, e diretor eram geralmente
uma pessoa só. Além disto, o Cinematógrafo projetava a imagem numa tela
grande, coisa que o Kinetoscópio era incapaz de fazer. A diferença era a seguinte; um Kinetoscópio levava 150 minutos para
passar uma fitinha de 3 muitos para 50 pessoas
uma a uma individualmente. Um cinematógrafo
levava 3 minutos para fazer a projeção para o
mesmo grupo de 50 pessoas levando 49 vezes
menos tempo e tendo a mesma redução de
desgaste no seu mecanismo!. Além do mais a
reação grupal era intrinsecamente diferente da
individual.
(Encyclopedia of film and T.V)
Os irmãos Lumière (por incrível que pareça o nome significa LUZ!), iniciaram
a sua carreira na cidade de Lyon no
ano 1870 onde o pai um rico industrial,
(portanto um burguês), abriu para eles
uma casa de serviços fotográficos. Louis
sempre um ávido inventor, não teve descanso depois de ter visto o primeiro
Kinetoscópio numa feira em Paris no
ano de 1894. Não é possível especular
até que ponto os Lumière se inspiraram
na invenção de Edison mas duas coisas
são certas, a primeira é que não ha dúvida que o KINETOSCÓPIO mostrou
a eles o caminho certo, e a segunda é
que eles souberam magnificamente evoluir e aprimorar o conçeito.O protótipo
do CINEMATOGRAFO apresentado
pelos Lumière era em muitos pontos superior ao Kinetoscópio. A simplicidade
das operações era tal que pouca experiência era necessária para aprender a
utilizá-lo.
Ainda mais importante; o Cinematógrafo, como foi apelidado, era
bastante portátil e desempenhava as funções de câmara, projetor e copiadora.
Qualquer pessoa que entende um pouco de cinema pode apreciar estas vantagens
uma vez que de posse de um Cinematógrafo em sua configuração modular era
possível realizar, copiar, e projetar um filme com um só aparelho.
Fig. 1.28. Desenho do Cinematógrafo (1897) sendo utilizado como
projetor. Ve-se a direita do operador a lâmpada (não havia ainda luz
eletrica) que projetava um feixe de luz. Este feixe atravessava o filme e
era projetado atravez do mecanismo da câmara e a objetiva para uma
tela que se encontrava alguns metros a frente. A manivela era o sistema
de transporte tanto para projeções como para tomadas pois não existiam
ainda os motores eletricos ou mesmo de corda.
Este aspecto foi logo verificado pelos irmãos Lumière na estreia do cinematógrafo que
por falta de um espaço mais adequado deu-se
no Grand Café Boulevard dês Capucines em
29 de dezembro de 1895. O filme mostrava
entre outras coisas a chegada de uma locomotiva na estação de Lyon. Tão forte foi o impacto e tão inusitada a sensação, que sofisticados
cavalheiros e finas damas da sociedade francesa por pouco não se atropelaram os uns aos
outros na tentativa de fuga que se seguiu à cena
em que o trem se aproxima em direção da tela.
Assim é que nasceu o cinema espetáculo de
uma forma ingênua, inesperada e totalmente espetacular!
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CAPITULO I
Fig 1.30. A esquerda:
Sequencia do fotogramas da Chegada
do Trem em Lyon dos
Irmãos Lumière
Fig 1.29. A direita:
O delicioso e idilico "Café du Matin"
com o pequeno Lumière. Uma das primeiras fitas rodadas pelos irmãos inventores da setima arte.
Fig. 1.31.
A esquerda: Detalhe da cena
que movimentou París e o mundo nas suas primeiras projeções:
A Chegada do Trem em Lyon
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