Dissertacao de Mestrado
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Dissertacao de Mestrado
Fabio Cabrera De Léo Estrutura e dinâmica da fauna bêntica em regiões da plataforma e talude superior do Atlântico Sudoeste. Dissertação apresentada ao Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciências, área de Oceanografia Biológica. Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Setubal Pires Vanin São Paulo 2003 Fabio De Léo Ao meu pai (in memorian), e a toda minha família pelo apoio em todos os momentos difíceis que passamos. Far in the future, the World Controllers have finally created the ideal society. In laboratories worldwide, genetic science has brought the human race to perfection. From the Alpha-Plus mandarin class to the Epsilon-Minus Semi-Morons, designed to perform menial tasks, man is bred and educated to be blissfully content with his predestined role. But, in the Central London Hatchery and Conditioning Centre, Bernard Marx is unhappy. Harboring an unnatural desire for solitude, feeling only distaste for the endless pleasures of compulsory promiscuity, Bernard has an ill-defined longing to break free. A visit to one of the few remaining Savage Reservations where the old, imperfect life still continues, may be the cure for his distress... “Brave New World” – Aldous Huxley AGRADECIMENTOS À profa. Ana Maria Vanin pela amizade construída nesses quatro anos de convívio, por todo aprendizado no campo da oceanografia e pela confiança depositada em mim durante todo o percurso. Muito obrigado!! Ao prof. Airton Santo Tararam pelo impulso inicial no Instituto Oceanográfico da USP. E claro ao seu Filho e xará Fabio, amigo de colégio de tantas e tantas histórias engraçadas. Ao CNPq pelo subvencionamento do projeto DEPROAS através do programa PRONEX e pela concessão da bolsa de mestrado processo no 133737/2000-4. À FUNDESPA pela concessão de bolsa-auxílio de maio a julho de 2003, para o término da dissertação. A toda tripulação do Navio Oceanográfico Prof. “Wladimir Besnard”, pela atenção e suor dispensados nas coletas das amostras. Em especial para o “Jãozinho” (o homem das duas esposas) para o “Hans” (Raimundo Nonato) e “Jura”, os “palhaços” das horas de folga. Ao Comandante Teixeira pelo jeito ranzinza bonachão de alegrar as refeições, principalmente aquelas em que os pratos de sopa insistiam em querer escapar da mesa e molhar nossas roupas já sujas de lama. À toda equipe de pesquisadores (professores e alunos) que participaram dos cruzeiros do DEPROAS pela grata convivência abordo (Kika, Marinella, Gabi, Doris, Lucy, Juliana, Sandras, Monica, Ana, PH, Montanha, Sérgio, Soto, Pablo, Paulinho, Marquinho, Lula, Cíntia, Rogério, Melina e todos os demais que eu não lembro agora. À todos os técnicos e funcionários do Instituto Oceanográfico pela ajuda não só nos trabalhos de campo mas pela amizade e convivência, em especial ao Neca, Vartão, Ricardão, Manelão e Tomazinho. Edílson, valeu pelas análises granulométricas do sedimento. Ao pessoal da Biblioteca (Chris, Cida, Claudinha, Dna. Rai, Cido, etc) pela paciência descomunal em procurar aquele “Journal of Macroridiculíds of Mid-Southern Polinese Islands”. E pela vista grossa ao meus atrasos na devolução de livros e artigos. Ao pessoal da secretaria da pós-graduação (Jorge, Silvana e Ana Paula) por todos os tramites burocráticos e pela amizade. À Edna por me aturar pedindo a chave da sala dos micros de meia em meia hora. Desculpa por todos os atrasos, sumiço de chaves, etc. Obrigado!! Ao seu Amaro, pelas reanimadas no corredor, mesmo nos dias em que tudo dava errado estava lá ele para lembrar que nem tudo está perdido! Aos estagiários Melina, Rogério e Sandra Nishio, pela ajuda na triagem da megafuna bêntica: serviço sujo hein!! Boa sorte no mestrado que está por vir! A todo o pessoal do laboratório que desde 2000 fizeram parte do dia-a-dia de trabalho: Letícia, Pablo, Irene, Kátia, Juliana, Sandra, Rogério, Melina, Sandrinha. Até as novas estagiárias que até agora só me viram entrar e sair da sala correndo atrás da dissertação! (Garinê, Ana, Milene e Carina). Um agradecimento especial à Sandra Bromberg por todos os milhões de favores e quebragalhos (máquina digital, zip-drive; até por tomar bronca da Edna no meu lugar!!). Pena que seu gosto musical seja terrível e eu seja obrigado a ouvir a Alha FM enquanto estamos na lupa! Oh musiquinha de elevador hein? À turma do mestrado de 2001: Venâncio, Cínthia, Cacá, Natália, Andressa, Karl, Juliana, Rafa, Carolina, André, Marinella, Denis, pelos momentos juntos em campo e em sala de aula. À minha ‘chefa’ Ana Maria Vanin pela identificação dos Isopoda. À Maria Fernanda pela identificação dos Cumacea. À Kátia Christoll dos Santos pela identificação dos Tanaidacea. À Profa. Maria Teresa pela identificação dos Amphipoda. Ao Prof. Luis Roberto Tommasi pela identificação dos Ophiuroidea. Espécie nova hein!! Vamos publicar!! À Gisele Yukimi Kawaushi pela identificação dos Sipúncula. À Cintia Miyaji pela identificação de parte dos Gastropoda. Ao Prof. Sério Vanin pela ajuda na identificação de Mollusca (Gastropoda, Bivalvia e Scaphopoda). Ao Fabiano, Pablo e Paulinho Paiva pela ajuda na identificação dos Polychaeta. Ao Paulo Yukio, pela amizade, confiança e incentivo científico. Pela troca de idéias sobre ‘deepsea”, papers, livros, máquina digital, lupa, etc. E por fim por ser um guerreiro palestrino como eu. Ao Paulo Paiva, quem admiro demais pela grande pessoa e cientista que é. Espero continuar contando com teu braço esquerdo de amigo e direito de cientista. Valeu!!! Ao Prof. Ilson pela amizade, incentivo e pelos papos sobre nosso futuro científico. Obrigado também pela imagens, diagramas TS, secções verticais do DEPROAS, em fim ACAS na veia! Ao Alê Athiê pelas referências bibliográficas e intercâmbios de informações DEPROAS e REVIZEE e pelas piadas na hora do almoço! Ao Dr. Tigrão (Fabiano), pela grande amizade, inúmeros favores e quebra-galhos (papers, slides, transparências, etc). E pela companhia nos clássicos da segundona: Palmeiras X Mogi Mirim, Palmeiras X Anapolina, CRB.... . Ah! Sem esquecer do nosso amigo José Menino!! A cidade de Santos nunca mais vai ser a mesma depois do nosso: ‘Artificial Rock Life Atratator Tabajara’ – um emissário onde a vida brota da m....!! A toda galera do IO, amigos inseparáveis da hora do café e das horas de descontração: Cíntia, Marquinho, Angelo, Gian, Fabiano, Pablo, Nati, Cacá, Alê, Denis, Camilo, Betinho, Lú, Cintia, Letícia, Evelyn, Marianas, Caia, Monster, Lula, Estér, Paulinho, Kika, Marinella, Gabi, Juan, Cleyci, Chris, Andréia, Rita e Michael ..... Ao Vartão pelos trocentos favores relacionados ao Sr. Bill Charlatão Gates, que inventa computadores que dêem ‘pau’ só para pessoas como o Mestre Miyagi terem emprego. Ah! Pode deixar que eu não te denuncio para sociedade protetora dos animais pelas atrocidades cometidas com os pobres paguros, queimados até a morte com seu isqueiro ZIPPO. Aos Mários (Paulo, Sono, Marquinhos, Mateus, Wanderley e Marião) pelos melhores anos da minha vida lá na República em São Carlos. Vocês são os ‘presidentes’ . Ao Fabinho do xerox e ao Pedro da Gráfica pelas cópias e encadernações da dissertação. Um agradecimento especial ao irmão científico, Pablo Muniz, por toda ajuda e ensinamento nesses quatro anos de convívio. Algumas broncas, muitas aulas de estatística, poliquetas, discussões intermináveis sobre o bentos e muito apoio ‘moral’ nos momentos difíceis. Valeu irmão!! À Cacá, que nem sei como e por onde começar os agradecimentos. Você participou de todas as etapas desse trabalho, desde a primeira aula de Oceanografia Física até o último minuto do segundo tempo na hora de imprimir e ‘ajeitar’ a versão final da dissertação. Muito obrigado pela sua enorme paciência com esse ‘cabeça dura’ que muitas vezes não consegue dizer o que está sentindo. Você é realmente especial!!! À nação Uruguaia: Nati, Letícia, Pablo, Ricardo (Chochãn) e Dna. Raquel pela convivência e intercâmbio cultural latino-americano. Ao pessoal do ‘aldeiaadventures’ pela força e descontração nos momentos de folga. A galera de ‘MDD’ (Madre de Dios): Bety ‘a feia’; El Rachid Teletub; O argentino do pé-branco; Dona Laura; Zé Ruela comedor de salada de polvo; Jane a adestradora de Rubalo; Tafarel o soneca; Newtão monstro da lama; Ract Mar; Kojack; Dr. chefe Rubalo; Super-Super; etc. Espero encontrá-los em breve em mais um capítulo da nossa telenovela: “RELAMA, em busca do hidrocarboneto perdido”. Por último um agradecimento especial a minha família: minha mãe, meu irmão, meus tios e primos que a todo momento estão em pensamento torcendo pra mim, assim como eu por eles. Muito obrigado, amos voces!! Desculpa se eu esqueci alguém, na tese de Doutorado eu me redimo da falta. i ÍNDICE Índice de Tabelas ....................................................................................................................... (iii) Índice de Figuras ........................................................................................................................ (iv) Resumo ...................................................................................................................................... (vi) Abstract ..................................................................................................................................... (vii) 1. Introdução ................................................................................................................................ 1 2. Objetivos .................................................................................................................................. 8 3. Caracterização da área de estudo ......................................................................................... 9 3.1 Cabo Frio .......................................................................................................................... 9 3.2 Ubatuba .......................................................................................................................... 11 4. Material e Métodos ................................................................................................................ 13 4.1 Dados ambientais ........................................................................................................... 13 4.2 Dados biológicos............................................................................................................. 14 4.2.1 Megafauna bêntica................................................................................................ 14 4.2.2 Macrofauna bêntica............................................................................................... 18 4.2.2.1 fundos inconsolidados ..........................................................................18 4.2.2.2 fundos de algas calcárias .....................................................................22 5. Megafauna bêntica nas áreas de plataforma de Ubatuba e Cabo Frio ............................ 24 5.1 Introdução ....................................................................................................................... 24 5.2 Resultados ...................................................................................................................... 26 5.2.1 Condições oceanográficas nas áreas estudadas ................................................. 26 5.2.2 Sedimento ............................................................................................................. 27 5.2.3 Composição faunística .......................................................................................... 29 5.2.4 Freqüência de ocorrência das espécies ............................................................... 31 5.2.5 Parâmetros de comunidade .................................................................................. 33 5.2.6 Variação espaço-temporal da megafauna ............................................................ 42 5.2.7 Análise multivariada .............................................................................................. 46 5.2.7.1 Análise de Componentes Pricipais ........................................................46 5.2.7.2 Agrupamento .........................................................................................47 5.3 Discussão ....................................................................................................................... 51 5.4 Conclusões ..................................................................................................................... 58 6. Macrofauna bêntica num gradiente de profundidade entre 30 e 500 m ao largo de Arraial do Cabo.......................................................................................................................... 59 6.1 Introdução ....................................................................................................................... 59 6.2 Resultados ...................................................................................................................... 61 ii 6.2.1 Variáveis ambientais............................................................................................. 61 6.2.2 Sedimento ............................................................................................................. 63 6.2.3 Composição faunística .......................................................................................... 64 6.2.4 Abundância relativa específica ............................................................................. 68 6.2.5 Eficiência dos amostradores e distrib. vertical da macrofauna no sedimento ...... 73 6.2.6 Parâmetros de comunidade .................................................................................. 80 6.2.7 Grupos tróficos de Polychaeta .............................................................................. 83 6.2.8 Associações de espécies ..................................................................................... 85 6.3 Discussão ....................................................................................................................... 88 6.3.1 Natureza dos amostradores.................................................................................. 88 6.3.2 Distribuição vertical da macrofauna ...................................................................... 90 6.3.3 Grupos Tróficos de Polychaeta............................................................................. 95 6.3.4 Parâmetros de comunidade e associações de espécies.................................... 101 6.4 Conclusões ................................................................................................................... 106 7. Macrofauna associada a fundos calcários na região de quebra de plataforma de Cabo Frio............................................................................................................................................ 107 7.1 Introdução ..................................................................................................................... 107 7.2 Resultados e Discussão ............................................................................................... 111 7.2.1 Fundos calcários e fundos inconsolidados ........................................................ 111 7.2.2 Abundância e biomassa da criptofauna............................................................. 122 7.3 Conclusões ................................................................................................................... 131 8. Referências Bibliográficas ................................................................................................. 132 9. Anexos.................................................................................................................................. 153 iii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Dados de posição, data de coleta, profundidade, temperatura e salinidade de fundo, das estações oceanográficas estudadas................................................................ 27 Tabela 2: Parâmetros sedimentológicos das estações de coleta. (AG, areia grossa; AM, areia média; AF, areia fina; AMF, areia muito fina; SIL, silte; ARG, argila; MO, matéria orgânica total). ........................................................................................................ 28 Tabela 3: Espécies que ocorreram exclusivamente em Cabo Frio e Ubatuba ......................... 30 Tabela 4: Classificação das espécies segundo sua freqüência de ocorrência na plataforma continental de Ubatuba........................................................................................... 32 Tabela 5: Classificação das espécies segundo sua freqüência de ocorrência na plataforma continental de Cabo Frio......................................................................................... 33 Tabela 6: Resultados da análise de variância monofatorial não paramétrica (teste de KruskallWallis) para os parâmetros de comunidade da megafauna. .................................. 41 Tabela 7: Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA). ...................................... 47 Tabela 8: Resultados da análise BIO-ENV, mostrando as combinações de variáveis ambientais correlacionadas com os padrões de distribuição da megafauna. .......................... 51 Tabela 9: Dados de posição, profundidade e parâmetros ambientais das estações oceanográficas onde a macrofauna bêntica foi estudada. ..................................... 61 Tabela 10: Participação dos grupos da macrofauna em termos do número de espécies e porcentagem. .......................................................................................................... 68 Tabela 11: Correlações significativas (rho-Spearman) entre as variáveis ambientais e os parâmetros de comunidade da macrofauna bêntica. ............................................. 83 Tabela 12: Correlações significativas (p< 0,05; rho-Spearman) entre as variáveis ambientais e os índices de importância trófica de Polychaeta. ........................................................ 85 Tabela 13: Lista com as espécies da macrofauna pertencentes aos grupos formados na análise de agrupamento...................................................................................................... 87 Tabela 14: Peso úmido, volume total e % de volume ocupado por galerias nas quatro amostras de blocos de algas calcárias................................................................................... 123 Tabela 15: Grupos da macrofauna presentes nas amostras de algas calcárias. ..................... 126 Tabela 16: Biomassa total dos principais grupos da criptofauna. ..............................................127 iv ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Mapa da área de estudo mostrando as estações oceanográficas onde houve coletas de arrasto de fundo para a megafauna bêntica...................................................... 14 Figura 2: Mapa da área de estudo mostrando a radial de estações ao largo de Arraial do Cabo, onde foram realizadas amostragens da macrofauna bêntica. ............................... 19 Figura 3: Porcentagem de matéria orgânica nos sedimentos nas áreas de Ubatuba e Cabo Frio. Dados da mesma profundidade indicam réplicas de box corer.............................. 29 Figura 4: Abundância de indivíduos da megafauna durante o período amostrado (No médio de ind/16.677 m2. a) para todos os cruzeiros; b) Cabo Frio; c) Ubatuba. ................... 36 Figura 5: Biomassa da megafauna durante o período amostrado (gramas/16.677 m2)........... 37 Figura 6: Relação entre os parâmetros abundância de indivíduos e biomassa da megafauna bêntica durante o período amostrado, nas áreas de platafroma interna e externa de Cabo Frio e Ubatuba............................................................................................... 38 Figura 7: Riqueza de espécies da megafauna bêntica. ............................................................ 39 Figura 8: Variação temporal da abundância relativa das principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma interna de Cabo Frio. .......................................... 42 Figura 9: Variação temporal da abundância relativa das principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma externa de Cabo Frio. ......................................... 43 Figura 10: Variação temporal da abundância relativa das principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma interna de Ubatuba. ............................................ 44 Figura 11: Variação temporal da abundância relativa das principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma externa de Ubatuba. ........................................... 45 Figura 12: Diagrama de ordenação da ACP para os dados ambientais................................... 47 Figura 13: Diagrama de Agrupamento de estações (megafauna) ............................................ 50 Figura 14: Diagrama de Agrupamento de espécies (megafauna) ............................................ 50 Figura 15: Diagrama TS obtido pelos cruzeiros de Mesoescala do projeto DEPROAS mostrando as massas de água na região................................................................................. 62 Figura 16: Secções verticais de temperatura mostrando a frente térmica da ressurgência. A) ACAS em subsuperfície. B) ACAS aflora na superfície. ........................................ 62 Figura 17: Abundância relativa dos grupos mais representativos da macrofauna bêntica para toda área de estudo. ............................................................................................... 64 Figura 18: Abundância relativa dos grupos da macrofauna...................................................... 65 Figura 19: Abundância relativa dos grupos principais da macrofauna no gradiente de profundidade. .......................................................................................................... 66 Figura 20: Grau de identificação da macrofauna nas quatro estações oceanográficas. .......... 67 Figura 21: Abundância relativa das espécies mais representativas na estação de 38 m. ....... 69 Figura 22: Abundância relativa das espécies mais representativas na estação de 100 m. ..... 70 Figura 23: Abundância relativa das espécies mais representativas na estação de 200 m. ..... 71 Figura 24: Abundância relativa das espécies mais representativas da estação de 500 m. ..... 72 Figura 25: Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6920 (38 m). ................................... 74 Figura 26: Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6922 (100 m). ................................. 75 v Figura 27: Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6923 (200 m). ................................. 76 Figura 28: Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6924 (500 m). ................................. 76 Figura 29: Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 38 m (a partir de uma amostra de box corer com área de 0,09 m2).................................... 77 Figura 30: Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 100 m... 78 Figura 31: Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 205 m... 79 Figura 32: Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 500 m... 79 Figura 33: Riqueza de espécies da macrofauna no gradiente batimétrico. a) conchas de gastrópodes sem partes moles; b) apenas conchas com partes moles. ............... 80 Figura 34: a) Diversidade de Shannon (H’); b) Equitatividade de Pielou (J’) para as quatro estações amostradas.............................................................................................. 80 Figura 35 : Abundância de indivíduos da macrofauna bêntica nas quatro estações................ 80 Figura 36: Riqueza de espécies dos principais grupos da macrofauna bêntica no gradiente de profundidade (valores totais para os três aparelhos de coleta). ............................ 82 Figura 37: Índice de Importância Trófica de Polychaeta (IIT; Paiva, 1993) para as quatro estações estudadas (C= carnívoros; S= depos. Superfície; B= depos. Subsuperfície; O= onívoros; F= suspensívoros). ........................................................................... 84 Figura 38: Diagrama da análise de agrupamento em modo R- macrofauna........................... 86 Figura 39: Áreas mapeadas sobre as margens continentais do Atlântico com destaque para o projeto REMAC. ...................................................................................................... 107 Figura 40: Tipos de fundos calcários na costa brasileira. ......................................................... 109 Figura 41: Amostra coletada com box corer mostrando a estratificação do sedimento: fragmentos calcários na superfície e lama na porção inferior................................ 111 Figura 42: Nódulos calcários obtidos em 10 minutos de arrasto com draga “beam trawl”. ...... 112 Figura 43: Abundância de indivíduos dos principais grupos da macrofauna bêntica em quatro réplicas do sedimento e nos blocos de algas calcárias.......................................... 113 Figura 44: Composição faunística dos substratos formados pelos blocos de algas calcárias e por sedimento inconsolidado. ................................................................................. 113 Figura 45: Superfície de corte de um fragmento de alga calcária com marcas deixadas pela escavação do Polychaeta Pherusa cf. scutigera (Flabelligeridae)......................... 116 Figura 46: Bloco de alga calcária fragmentado onde aparece o Polychaeta Eunice longicirrata (Eunicidae) saindo de uma galeria. ........................................................................ 117 Figura 47: Superfície de corte de um fragmento de alga calcária mostrando a feição típica de uma escavação feita por um sipunculídeo do gênero Asphidosiphon. .................. 118 Figura 48: Fragmentos de algas calcárias com grande área superficial e grande quantidade de escavações e galerias feitas pelos organismos da criptofauna. ............................ 122 Figura 49: Fragmento de alga calcária com área superficial mais uniforme e poucas perfurações feitas pelos organismos da criptofauna. ................................................................. 122 Figura 50: Abundância de indivíduos dos principais grupos da criptofauna associada as quatro amostras de fragmentos de algas calcárias. .......................................................... 125 Figura 51: Biomassa total dos principais grupos da criptofauna (criptolítica e endolítica). ...... 127 vi RESUMO A estrutura e dinâmica da mega- e macrofauna bênticas nas regiões da plataforma continental e talude superior do Atlântico Sudoeste foram investigadas. A megafauna foi estudada durante dois anos nas áreas da plataforma interna e externa de Ubatuba, SP e Cabo Frio, RJ. Os seus padrões de distribuição foram correlacionados à dinâmica de massas de água na região, à profundidade e às características do sedimento. Em Cabo Frio, com o impacto da intrusão da ACAS sobre a plataforma interna associada ao evento da ressurgência costeira, ocorre uma alta dominância de espécies carnívoras de topo de cadeia, como Portunus spinicarpus e Astropecten brasiliensis, que são responsáveis por altos valores de biomassa (~6.000 g/arrasto). A plataforma continental ao largo de Ubatuba e Cabo Frio caracteriza-se por ter distintas associações de espécies e em Cabo Frio a biomassa da megafauna foi cerca de três vezes maior do que em Ubatuba principalmente no verão, fato provavelmente ligado ao grande aporte de matéria orgânica para o fundo. Coletada com um pegador van Veen e um ‘box corer’, a macrofauna bêntica foi investigada num gradiente de profundidade entre 30 e 500 m ao largo de Arraial do Cabo, RJ. A abundância de indivíduos decresceu com o aumento da profundidade e a riqueza de espécies foi maior nas estações que apresentaram um sedimento composto predominantemente por areia (38 e 230 m). Polychaeta foi o grupo de destaque, sendo que a distribuição de seus grupos tróficos pôde ser correlacionada às condições hidrodinâmicas e à composição do sedimento. A fauna esteve distribuída em média nos dez primeiros centímetros da coluna sedimentar, com crustáceos e moluscos ocorrendo preferencialmente na superfície e poliquetas até camadas mais profundas (~16 cm). A análise de agrupamento mostrou duas associações de espécies para a macrofauna, características da plataforma continental e talude superior, respectivamente. Na área da quebra da plataforma, o fundo apresentou-se tipicamente composto por algas calcárias, formando blocos com vários tamanhos e diferentes texturas. A fauna associada a esses fundos de algas calcárias foi investigada e uma grande diversidade e abundância de espécies foi observada. Blocos com maior área superficial e maior porcentagem de espaços vazios e galerias apresentaram uma maior colonização pela macrofauna, mostrando o dobro dos valores de abundância e três vezes os de biomassa quando comparados com blocos de menor área superficial. Palavras-chave: Megafauna e macrofauna bêntica marinha; ressurgência costeira; Água Central do Atlântico Sul; estrutura e dinâmica de ecossistemas; Costa Sudeste, Atlântico Sul, Brasil. . vii ABSTRACT The structure and dynamics of the benthic fauna from the shelf and upper slope of Southwestern Atlantic was investigated. Benthic megafauna was studied over a two-year period on the inner and outer shelf of Ubatuba-SP and Cabo Frio-RJ. The faunal distribution patterns showed a correlation with water mass dynamics, depth and sediment parameters. In the Cabo Frio region, the impact of South Atlantic Central Water (SACW) over the inner shelf during summer months promotes a shift in benthic communities with high dominance of top carnivores like Portunus spinicarpus and Astropecten brasiliensis, which account for most of the total biomass (~6000 g/trawl). Distinct species associations were found between the Ubatuba and Cabo Frio regions and the total biomass from Cabo Frio was three times higher than that of Ubatuba during summer, probably due to the high amount of organic matter reaching the sea floor during upwelling events. Benthic macrofauna was investigated using quantitative and qualitative samplers across a depth gradient from 30 to 500 m offshore Cabo Frio. Abundance decreased with depth and species richness was higher on stations where sediment was mainly composed by sand fractions (38 and 230 m depth). Polychaeta was the most important taxon and the distribution of their trophic groups was correlated with hydrodynamic conditions and sediment types. The macrofauna was concentrated on the top 10 cm of the sediment column, with crustaceans and mollusks occurring at surface layers and polychaetes more evenly distributed within the sediment. Cluster analyses showed two distinct faunal assemblages, one from shelf depths and another from the shelf break and upper slope. The shelf break bottom was characterized by the presence of calcareous algal blocks varying in size and texture. The macrofauna associated with these algal reefs was studied and a high diversity of species and abundance was observed. Reef blocks with larger surface area and higher percentage of cavity space showed higher criptofauna abundance (twice) and biomass (three times) than reef blocks with smaller surface areas. Keywords: Marine benthic megafauna and macrofauna; coastal upwelling; South Atlantic Central Water; structure and dynamics of ecosystems; Southeast Coast; Brazil. 1 1. INTRODUÇÃO As regiões de plataforma continental formam uma porção relativamente estreita ao redor dos continentes que, em conjunto, recobrem apenas cerca de 7 a 10% da superfície e menos de 0,2% do volume de todos os oceanos. Suportam os mais diversos ecossistemas apesar de constituirem, por si só, sistemas abrangentes e característicos (Walsh, 1981; Postma & Zijlstra, 1988;). Segundo Shepard (1973), a extensão física dos ecossistemas de plataforma atuais apresenta, em média, 75 km de largura e 130 metros de profundidade na área de quebra da plataforma. Para um estudo ecossistêmico, é fundamental que se conheça a dinâmica das massas de água na plataforma continental, a fertilidade dessas águas, a composição e distribuição dos componentes biológicos do sistema, e seu inter-relacionamento com as variáveis físicas, químicas e sedimentológicas atuantes (Pires-Vanin,1993). Dentro dos ecossistemas de plataforma, a fauna bêntica desempenha papel vital tanto como receptora de energia proveniente do ambiente pelágico, quanto como fornecedora de energia para os organismos demersais e nutrientes para o fitoplâncton. O estudo do bentos é, portanto, fundamental para qualquer estudo ecossistêmico que se pretenda fazer nas áreas de plataforma (Proop et al., 1979; Warwick, 1979; Postma & Zijlstra, 1988; Pires-Vanin, 1993) A fonte de energia que alimenta as comunidades bênticas é proveniente principalmente da produção de matéria orgânica realizada na coluna de água e que atinge o fundo sob diversas formas, tais como restos de animais grandes, principalmente carcassas de vertebrados; restos vegetais de macroalgas, gramíneas marinhas e material de origem terrestre; partículas orgânicas, tais como pelotas fecais, carcassas de zooplâncton, carapaças de crustáceos e restos de organismos do fitoplâncton; e por último os macroagregados formados por organismos zooplanctônicos gelatinosos, aderidos por filmes de bactérias denominados genericamente de neve marinha (Mann, 1976 e 1982; Smetacek, 1984; Smith, 1985; Gooday & Turley, 1990; Hargrave, 1991). 2 O interesse nos processos dinâmicos associados às comunidades bênticas tem se desenvolvido principalmente nas regiões temperadas e de altas latitudes. Nesses ecossistemas os padrões espaciais dessas comunidades são muito bem conhecidos. Em contraste, os ambientes tropicais de plataforma continental são menos compreendidos devido à sua grande extensão, compondo cerca de um terço das áreas de plataforma dos oceanos (Postma & Zijlstra, 1988) e devido a questões sócio-econômicas inerentes aos países considerados de terceiro mundo ou às nações em desenvolvimento. Wiebe (1987) aponta que os sistemas marinhos tropicais têm sido inadequadamente estudados e geralmente amostrados somente em algumas localidades e em expedições de curta duração. Estima-se a biomassa dos invertebrados bênticos no mundo em 6-7 x 9 10 toneladas métricas, das quais 80% está localizada nas áreas de plataforma continental. A razão para esse padrão de distribuição deve-se ao fato da produtividade primária ser maior em águas costeiras do que em áreas oceânicas, e a proporção do carbono fixado que atinge o fundo ser inversamente proporcional à profundidade da coluna de água. Com base neste fato, a fauna bêntica marinha do mundo pode ser dividida em comunidades eutróficas e oligotróficas (Cushing & Walsh, 1976). Para o homem, o valor econômico da maior parte do bentos está no fato de servir como alimento para os estoques pesqueiros de peixes demersais economicamente importantes (Soares et al., 1993; Rossi- Wongtschowski et al., 1997; Vetter & Dayton, 1999; Gasalla & Soares, 2001). Porém, uma proporção é explorada diretamente para o consumo humano. Os moluscos e crustáceos pertencentes ao bentos são particularmente vulneráveis à pressão pesqueira, já que suas populações são mais agregadas e prontamente localizadas (Cushing & Walsh, 1976; Caddy, 1989). Embora as espécies de invertebrados bênticos utilizados como alimento para o homem sejam bem menos numerosas do que as espécies de peixes e sejam retiradas em menor quantidade dos oceanos, são geralmente consideradas como produtos de alta qualidade e com um valor muito alto no mercado. Por exemplo, na região de Georges Bank, na costa nordeste dos Estados Unidos, o ‘scalop’ (Placopecten magellanicus) é a espécie mais valorizada de todas as pescadas, e, apesar de sua captura 3 contribuir com apenas 4% do volume dos desembarques, contribui com cerca de 32% em termos monetários (Cushing & Walsh, 1976; Postma & Zijlstra, 1988). No Brasil, os estudos do bentos têm se restringido às zonas entremarés e à plataforma continental na região da costa sudeste. Em particular, a costa norte do Estado de São Paulo, entre a Ilha de São Sebastião até a divisa com o estado do Rio de Janeiro, tem recebido uma especial atenção (Lana et al., 1996). Petti (1997) descreve o desenvolvimento e a evolução da pesquisa sobre o bentos nessa região. Esta foi mudando de enfoque conforme os conhecimentos sobre a fauna foram sendo acumulados, havendo também o aprimoramento de técnicas e equipamentos de coleta, a presença de novas instalações e o aperfeiçoamento de pessoal. Inicialmente os estudos do bentos apresentavam um caráter descritivo, abordando aspectos sistemáticos e de distribuição geográfica, e ocorriam principalmente em praias e costões, cujo acesso era mais fácil. A partir dos anos 60 os estudos se intensificaram e passaram a abordar a influência de fatores abióticos na distribuição dos organismos. A autora ainda destaca o estabelecimento, em Ubatuba, da base norte do IOUSP em 1955, a passagem do ‘Calypso’ pela costa brasileira, em 1961, e a chegada do N/Oc. “Prof. W. Besnard” em 1967, como marcos para a ampliação e o desenvolvimento das pesquisas oceanográficas na região, incluindo os estudos das comunidades bênticas. A partir da década de 80 começam a se desenvolver projetos com um caráter multidisciplinar, envolvendo pesquisadores das varias áreas da oceanografia. Nesta nova fase, nos projetos “Utilização Racional do Ecossistema Costeiro da Região Tropical Brasileira: Estado de São Paulo”, na região de Ubatuba, e “Oceanografia da Plataforma Interna da região de São Sebastião” (OPISS), São Paulo, os estudos foram focados em profundidades da plataforma até 75 ou 100 metros (Paiva, 1990; Pires, 1992; Pires-Vanin, 1993) em detrimento das áreas de quebra de plataforma e talude continental. Sumida & Pires-Vanin (1997) foram dos poucos a investigarem a distribuição da macrofauna bêntica em profundidades da plataforma externa e talude superior, na região de Ubatuba, encontrando comunidades distintas entre as áreas mais internas da plataforma, as áreas de quebra de plataforma e as áreas sobre o 4 talude continental, corroborando com os resultados obtidos nos clássicos trabalhos de Sanders & Hessler (1969) e Rex (1981, 1983), para a região do Atlântico Norte. Na linha de estudos em regiões profundas, o projeto PADCT, desenvolvido pelo IOUSP e ainda em andamento, tem o objetivo de caracterizar a região da plataforma continental externa e talude superior da costa sudeste, para avaliar seus recursos vivos e não vivos entre as isóbatas de 100 e 500 metros. Porém, este apresenta um enfoque nos estudos de produção biológica sem considerar processos envolvidos na dinâmica desses ecossistemas. Em outras regiões da costa brasileira podemos destacar o trabalho de Capitolli & Bonilha (1991). Os autores investigaram as associações macrobênticas em relação à biomassa e à densidade, em profundidades entre 60 e 500 m na região do Rio Grande do Sul, também em uma concepção de estudo integrado e interdisciplinar, dentro do denominado projeto TALUDE, desenvolvido pela Fundação Universidade do Rio Grande (FURG). Estudos sobre a diversidade, organização espaço temporal, biomassa e interações com processos físicos, como a penetração da Água Central do Atlântico Sul (ACAS) na plataforma continental, de componentes do ecossistema ao largo de Ubatuba foram realizados por Pires-Vanin (1993). Informações sobre os processos biológicos e sobre a trofodinâmica da comunidade, no entanto, são escassas, sendo os conhecimentos disponíveis relativos à estrutura trófica de grupos de organismos predominantes (Paiva, 1990, 1993; Petti, 1990; Pires-Vanin, 1993; Soares, 1992; Tararam et al., 1993). Na costa sudeste brasileira, na latitude de Cabo Frio, RJ, ocorre o fenômeno da ressurgência costeira, resultante da interação entre os sistemas atmosfera e oceano, que através da transferência de energia dos ventos para a superfície do mar, somada ao efeito de rotação da Terra, promovem movimentos verticais ascendentes de massas de água de regiões mais profundas, mais frias e geralmente ricas em nutrientes, para a as camadas superficiais, oferecendo condições para uma explosão da produtividade primária. O fenômeno da ressurgência costeira é muito intenso nas bordas oeste dos continentes, associado às correntes de contorno leste, mais fracas e com 5 pouca estratificação vertical, que permitem uma troca eficiente de nutrientes a partir de camadas mais profundas em direção à superfície. Esses sistemas suportam uma alta produtividade tanto primária como secundária e apresentam importantes estoques pesqueiros associados, estando entre as áreas mais produtivas dos oceanos (Bowden, 1983; Thurman, 1994; Mann & Lazier, 1996). Os estudos sobre a ressurgência e suas conseqüências sobre os ecossistemas, em princípio, eram realizados por grupos de cientistas de todas as áreas das ciências relacionadas ao ambiente marinho, porém de forma isolada. Hoje estes estudos são, talvez, no escopo da oceanografia, ocasiões onde ocorram as maiores cooperações de forma multi- e interdisciplinar, e devido ao grande potencial de recursos que podem ser extraídos dessas regiões, muitos incentivos governamentais têm dado suporte a essas pesquisas (Boje & Tomczak, 1978; Valentin, 1984; Lavaleye et al., 2002). Como era de se esperar, as comunidades bênticas sob regiões de ressurgência são muito produtivas e apresentam uma alta biomassa devido à grande produtividade das águas superficiais e a um fluxo muito intenso de material orgânico atingindo o fundo. Sob este aspecto, Thiel (1978) levanta a importância das pesquisas sobre as comunidades bênticas para o entendimento dos processos atuantes nesses sistemas de ressurgência. O mesmo autor afirma ser fundamental a existência de programas de pesquisa de longo prazo, para compreensão de vários aspectos, tais como pulsos de ressurgência, enriquecimento de nutrientes, transporte horizontal das águas ressurgidas, produção primária, previsões dos intervalos de tempo entre um pico de produção e outro, etc. Poucos estudos sobre o bentos da região de Cabo Frio foram realizados até o presente momento, e o efeito da grande produtividade primária sobre o sistema de fundo, ou seja, sobre a estrutura e dinâmica das comunidades associadas ao fundo, representa uma lacuna a ser preenchida. A plataforma de Cabo Frio apresenta também áreas com fundos consolidados. O estudo do bentos desses fundos foi inicialmente realizado por Yoneshige (1985), que constatou uma grande diversidade e biomassa de macroalgas dos grupos Rhodophyta, Phaeophyta e Chlorophyta. Aliada à essa grande biomassa de macroalgas, principalmente em regiões expostas, com 6 forte ação hidrodinâmica das ondas, grande suprimento de nutrientes e biomassa fitoplanctônica, desenvolvem-se extensos bancos de mexilhões da espécie Perna perna e densas populações de crustáceos cirripédios. Assim, a distribuição, efeitos de zonação, recrutamento larval, mortalidade pósassentamento e padrões de herbivoria das comunidades bênticas de costões rochosos também foram investigadas na região (Coutinho, 1995). O estudo da distribuição, abundância e hábito alimentar de Asteroidea (Echinodermata) de fundos inconsolidados na plataforma continental ao largo de Cabo Frio foi efetuado por Ventura (1991). Ventura & Fernandes (1995) estudaram a distribuição batimétrica e a estrutura populacional de estrelas-domar da ordem Paxillosida num gradiente entre 30 e 60 metros, correlacionandoas com as massas de água e características do sedimento da região. Ventura et al. (1997) estudaram o ciclo reprodutivo de Astropecten brasiliensis e encontraram uma coincidência entre o pico de maturação gonadal e liberação de gametas com os eventos de ressurgência, revelando um caráter adaptativo da espécie, que obtém uma grande sobrevivência de suas larvas devido à uma alta disponibilidade de alimento no plâncton durante estes eventos. Costa & Fernandes (1993) fizeram um levantamento da captura de cefalópodes e encontraram um padrão de aumento nas capturas associado às espécies Loligo sanpaulensis e Eledone massyae, em profundidades entre 45 e 60 metros, principalmente durante os períodos de primavera e verão, coincidindo com eventos de ressurgência. Aspectos biológicos de Dardanus insignis (Crustacea Paguridea), e a distribuição batimétrica, a freqüência e dominância dos crustáceos anomuros da plataforma da região de Cabo Frio foram estudados por Da Gama & Fernandes (1994). Estudos sobre as populações de Portunus spinicarpus (Crustacea – Brachyura) associadas às condições de massas de água sobre a plataforma continental de Cabo Frio (Brisson, 1992) revelaram a alta dominância desta espécie, considerada oportunista, durante o evento da intrusão da ACAS sobre a plataforma. Gomes (1989) estudou a distribuição espacial de moluscos bivalves relacionando-a às características sedimentológicas e hidrológicas da região, entre as profundidades de 30 e 60 metros. 7 Como visto, são poucos os estudos realizados até o presente com as comunidades bênticas da região de Cabo Frio, referindo-se apenas a alguns grupos de organismos da plataforma situados em profundidades rasas de até 60 metros. O presente estudo, parte integrante do projeto DEPROAS (Dinâmica do Ecossistema de Plataforma da Região Oeste do Atlântico Sul), sub-projeto Trofodinâmica, visa obter informações sobre a estrutura e dinâmica das comunidades da megafauna bêntica nas áreas de plataforma interna e externa de Cabo Frio, onde o evento marcadamente sazonal da ressurgência costeira confere à região uma alta produtividade e transferência energética entre os compartimentos biológicos do sistema. Visa também comparar essa estrutura com a das comunidades da megafauna da região de Ubatuba, amplamente estudadas em trabalhos anteriores, e que estão sob influência de diferentes condições oceanográficas. Outro aspecto que entendemos ser relevante no presente trabalho é o de identificar a composição da macrofauna bêntica num gradiente de profundidade entre 30 e 500 m ao largo de Arraial do Cabo, visto que o conhecimento sobre essa fauna é aí bastante deficiente, especialmente para o bentos de profundidades de quebra da plataforma e talude superior. São raras as amostragens para essa região e na costa brasileira como um todo. Estes estudos servirão de suporte para a compreensão futura dos processos de transferência de material orgânico através dos compartimentos biológicos do sistema, indicando o papel do bentos nesse fluxo de energia, tanto como receptor de matéria oriunda da coluna de água, quanto como exportador de energia para as comunidades de fundo e como regenerador de nutrientes, retroalimentando a produção primária. 8 2. OBJETIVOS O objetivo principal do Projeto DEPROAS foi o estudo dos mecanismos físicos que permitem a intrusão sazonal da ACAS na plataforma continental compreendida entre Cabo de São Tomé e São Sebastião, e as conseqüências desse evento, marcadamente sazonal, sobre os processos biológicos da região. No presente estudo, essas conseqüências foram analisadas sobre as comunidades bênticas ao largo de Cabo Frio e Ubatuba, locais que diferem quanto à intensidade de intrusão da ACAS. O presente estudo dá suporte ao sub-projeto Trofodinâmica, que objetiva traçar as principais vias do fluxo de matéria orgânica através dos compartimentos biológicos do sistema, verificando as transferências de energia entre cada compartimento trófico, e a qualidade e a quantidade dessa energia disponível em cada nível dessa rede alimentar. Para dar esse suporte, nossos objetivos específicos são: 1. Estudar a estrutura e a dinâmica da megafauna bêntica nas áreas de plataforma interna e externa ao largo de Ubatuba, SP e Arraial do Cabo, RJ; 2. Identificar possíveis correlações entre os padrões de distribuição, abundância e biomassa do megabentos com a dinâmica das condições oceanográficas presentes nas duas regiões de estudo; 3. Estudar a composição da macrofauna bêntica num gradiente de profundidade entre 30 e 500 m, ao largo de Cabo Frio. 4. Verificar a formação de associações faunísticas ao longo do gradiente batimétrico e identificar possíveis correlações com fatores abióticos, como temperatura, salinidade, e composição sedimentológica; 5. Estudar a distribuição vertical da macrofauna no sedimento. 6. Correlacionar a distribuição dos grupos tróficos de Polychaeta com as características sedimentológicas e condições hidrodinâmicas presentes em Cabo Frio. 9 3 . CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 3.1. Cabo Frio A região de Cabo Frio (RJ), situada na margem continental sul brasileira (Kowsmann et al., 1977) consiste em uma área de transição em relação às características da plataforma continental. Ao norte de Cabo Frio (região leste da costa brasileira) a plataforma continental é estreita com um perfil suave até cerca de 60 m de profundidade, onde sofre uma ruptura de declive em ângulo bem acentuado, formando um talude abrupto, com a isóbata de 100 m muito próxima da de 1000 m. Ao sul de Cabo Frio a plataforma se alarga, com a isóbata de 100 m afastando-se progressivamente da costa (Kempf, 1972). Em relação às características sedimentológicas, a área de estudo apresenta dois domínios sedimentares bem definidos: um terrígeno, de plataforma interna e média, onde se destacam lamas na primeira e areias com facies lamosas isoladas na segunda, e outro carbonático, de plataforma externa, onde são encontrados fundos de algas calcárias sob forma de bancos isolados em meio a fundos de areia e areia lamacenta. Tais formações calcárias, formando seixos e blocos, são constituídas por algas rodofíceas calcificadas e incrustantes do gênero Lithothaminium, e estão associadas a eventos regressivos do nível do mar (Kempf, 1972). Constituem um importante substrato para as comunidades bentônicas (Sumida & Pires-Vanin, 1997). Com relação às massas de água presentes na região, ao norte de Cabo Frio a massa de água predominante é a Água Tropical, enquanto ao sul, na costa sudeste, predomina uma mistura entre a Água Tropical (AT), quente e salina (T>20oC e S>36,40), a Água Central do Atlântico Sul (ACAS), relativamente fria (T<20oC e S<36,40), e a Água Costeira (AC), resultante da mistura da água doce continental e água da plataforma continental (Emílsson, 1961; Mascarenhas et al., 1971; Miranda, 1982; Castro-Filho, 1996). Segundo Castro & Miranda (1998), a plataforma continental sudeste pode ser dividida em: (1) plataforma interna, limitada externamente por uma frente térmica profunda localizada entre 10 e 20 km no verão e entre 40 e 50 km no inverno, com predomínio da Água Costeira e coluna de água verticalmente 10 homogênea devido ao processo de mistura causado principalmente pelo vento; (2) plataforma continental média, que apresenta uma estratificação de massas de água bem definida principalmente durante o verão, quando ocorre o desenvolvimento de uma termoclina sazonal, sendo a camada inferior preenchida principalmente pela ACAS; e (3) plataforma continental externa, limitada por uma frente salina superficial localizada entre 80 e 120 km da costa e a quebra da plataforma, e é ocupada por uma água altamente salina característica da AT na camada superficial, enquanto na camada inferior observa-se uma forte influência da ACAS. Esta intrusão da ACAS na plataforma continental sudeste está relacionada ao fenômeno da ressurgência em cabo Frio, a meandros e vórtices da corrente do Brasil e a mudanças no padrão de ventos (Castro-Filho & Miranda, 1998). Em Cabo Frio, a ressurgência ocorre com maior freqüência e intensidade durante o verão, quando predominam os ventos E-NE. Estes ventos arrastam a água superficial em direção ao mar aberto, proporcionando o afloramento da ACAS que vem de uma profundidade de aproximadamente 300 metros. Esta massa de água atinge a superfície numa faixa costeira com até 5 km de largura, caracterizada por grande instabilidade hidrológica. Sobre a plataforma continental, a ressurgência é caracterizada pela inclinação da termoclina. A inversão dos ventos de NE para SO, decorrente da passagem de frentes frias, provoca o fenômeno inverso, chamado de subsidência, que inibe o afloramento da ACAS. Durante o inverno, com uma maior freqüência dessas frentes frias, ocorre uma condição quase permanente de subsidência (Mascarenhas et al., 1971; Valentin et al., 1987). Apesar da hidrologia na região de Cabo Frio depender diretamente de condições meteorológicas, sendo o padrão de ventos o principal responsável pela distribuição das massas de água, as feições topográficas também influenciam o padrão de circulação e parecem participar diretamente da indução de vórtices na corrente do Brasil que, nesta região, flui para o sul, ocupando a parte externa da plataforma e região do talude continental. No local onde a linha de costa muda de direção passando de NE para E-W em Cabo Frio, a corrente do Brasil é forçada a girar ciclonicamente para o oeste, voltando a atingir a quebra da plataforma continental por volta de 24o S. Após alcançar a região 11 costeira, cruzando a plataforma externa quase perpendicularmente, a corrente do Brasil meandra em torno da quebra da plataforma (Mascarenhas et al., 1971; Valentin et al., 1987; Castro-Filho & Miranda, 1998; Silveira et al., 2000). 3.2. Ubatuba A região de Ubatuba, situada na porção norte do litoral paulista, apresenta características peculiares, com uma linha de costa bastante recortada, apresentando várias enseadas que possuem um caráter de semiconfinamento. Outra característica fisiográfica é a presença marcante da Serra do Mar, que se projeta diretamente sobre o Oceano Atlântico, quase não apresentando planícies costeiras, comparando-se com as áreas do litoral sul paulista (Mahiques, 1995). A plataforma continental ao largo de Ubatuba, também situada na porção sul da margem continental brasileira, apresenta uma largura média de 120 Km e apresenta domínios sedimentares bem definidos em uma porção interna, estendendo-se até cerca de 80 m de profundidade, com sedimentos de origem terrígena, e outra externa, estendendo-se até a quebra da plataforma onde predominam os carbonatos (Kowsmann & Costa, 1979) Com relação aos processos sedimentares atuantes na região, foi constatado o predomínio de condições hidrodinâmicas de baixa energia na porção das enseadas, revelado pela formação de centros de deposição de sedimentos pelíticos com contribuição predominante das frações de silte e argila. Neste sentido, as ilhas Anchieta e do Mar Virado, funcionam como barreiras naturais ao confronto direto das ondulações predominantes dos quadrante S-SE e E, impedindo que processos erosivos e de transporte e retrabalhamento de sedimentos predominem na região. Porém, em certas épocas do ano, com a passagem de sistemas frontais, ocorrem condições favoráveis ao transporte de sedimentos em direção à plataforma adjacente, condicionadas à freqüência e intensidade dessas frentes (Tessler, 1988). Com relação ao transporte de material sedimentar de origem continental para a plataforma adjacente, este é significativamente aumentado durante o período chuvoso, entre novembro e março, em virtude da drenagem continental. 12 Concomitantemente, a intrusão da ACAS junto ao fundo nas áreas mais rasas nesta mesma ocasião, induz a saída da Água Costeira em superfície, que transporta esse material de origem continental para a plataforma. Já nas áreas da plataforma adjacente ocorre o predomínio de areias finas e muito finas, o que confere à região de plataforma ao largo de Ubatuba uma grande variabilidade de tipos sedimentológicos, proporcionando um certo grau de complexidade ao padrão de sedimentação na área (Mahiques, 1995). Com relação às condições hidrográficas da região ao lago de Ubatuba, existem dois domínios bem marcados, e que apresentam características físicas diferentes, um interior e costeiro e outro exterior, separados por uma zona frontal bem definida pelo campo de temperatura. Durante o verão, o domínio interno apresenta uma estratificação em duas camadas, com o desenvolvimento de uma termoclina sazonal, devido à intrusão da ACAS em subsuperfície, cuja mistura vertical com a Água Costeira é observada apenas nas proximidades da costa. Em superfície, a AC fica restrita entre a isóbata de 20 m e a porção costeira, e se mistura com a AT mais ao largo (Castro-Filho et al., 1987). No inverno a ACAS se retrai para a plataforma externa, e na camada superficial da coluna de água ocorre uma intrusão acentuada da AT no domínio exterior (Castro-Filho et al., 1987). O mesmo autor sugere a partir desses padrões de distribuição de massas de água e das condições meteorológicas da região, um modelo de circulação cuja dinâmica é controlada pelo vento e pela ação da Corrente do Brasil. Esta é responsável pela indução de vórtices frontais no domínio externo da plataforma, que desempenham papel importante na troca de massas de água entre a costa e o talude, contribuindo para o enriquecimento das águas da plataforma através da ressurgência de águas frias e ricas em nutrientes. 13 4. MATERIAL E MÉTODOS O material deste estudo pertence ao projeto DEPROAS (Dinâmica do Ecossistema da Plataforma da Região Oeste do Atlântico Sul), subprojeto Trofodinâmica, subvencionado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), programa PRONEX, em parceria como o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. As coletas foram realizadas à bordo do N/Oc. “Prof. W. Besnard” do IOUSP durante dois anos, em quatro cruzeiros oceanográficos. O primeiro, no verão de 2001 entre os dias 14 e 21 de fevereiro; o segundo no inverno do mesmo, ano entre 21 e 31 de julho; o terceiro no verão de 2002, de 14 a 21 de fevereiro, e o último no final do inverno de 2002, entre 10 e 17 de setembro. As estações oceanográficas foram posicionadas em radiais perpendiculares à costa na latitude de Cabo Frio e Ubatuba. 4.1. Dados ambientais Os dados hidrográficos de temperatura e salinidade foram obtidos com a utilização de CTD (Condutivity, Temperature, Depth) e calibrados com a utilização de garrafas de Nansen com termômetros de reversão, lançadas em três profundidades, superfície, meio da coluna de água e sobre o fundo. Amostras de sedimento foram coletadas com auxílio do pegador e/ ou box corer, em cada uma das estações, e a seguir congeladas para a análise dos parâmetros granulométricos e do conteúdo de material orgânico total. As análises granulométricas foram feitas segundo o método de peneiramento e pipetagem (Suguio, 1973) e a caracterização das frações granulométricas seguiu os parâmetros de Folk & Ward (Folk & Ward, 1957) e o diagrama triangular de Shepard (Shepard, 1954). O conteúdo de material orgânico total do sedimento foi analisado utilizando-se a técnica de calcinação em mufla a uma temperatura de 400-500o C durante um período de 2,5 hs (Byers et al., 1978). 14 4.2 Dados biológicos 4.2.1. Megafauna bêntica As estações oceanográficas onde houve amostragem do megabentos, posicionadas com o auxílio de um GPS (Global Posicional System), suas profundidades e respectivas coordenadas estão apresentadas na Tabela 1, no ítem 5.2. A área estudada situa-se entre as coordenadas 220 58,5’ S; 42 0 41,3’ W e 230 45’ S; 410 32’ W (Figura 1). Cabo de São Tomé 22 S South America Rio de Janeiro Cabo Frio 23 Ubatuba 24 100m 25 N 200m 500m 1000m 2000m 2500m 1500m 26 46 W 45 44 43 42 41 40 Figura 1: Mapa da área de estudo mostrando as estações oceanográficas onde houve coletas de arrasto de fundo para a megafauna bêntica (círculos pretos). A megafauna bêntica foi amostrada com a utilização de uma rede de arrasto de porta, com malha de 24 mm no corpo e 20 mm no ensacador, portas pesando 60 Kg e uma abertura de 9 metros quando em operação. Em cada estação foram realizados de 2 a 3 arrastos, cada um durante 30 minutos a uma velocidade de 3 nós, aproximadamente. A área total percorrida sobre o fundo em cada arrasto foi de 16.677 m2 (Pires, 1992). Os invertebrados bênticos coletados foram separados à bordo em grandes grupos taxonômicos, contados e depois congelados para posterior pesagem em laboratório e identificação em 15 nível específico. Nos arrastos em que a quantidade de organismos de uma ou mais espécies excedia algumas centenas de indivíduos, estes eram pesados, sub-amostras eram retiradas e o restante era descartado. Conchas, esqueletos internos e exoesqueletos foram incluídos nos valores de biomassa (Maurer & Wigley, 1984; Pires-Vanin, 1993; Escobar-Briones & Soto, 1997). Os parâmetros de comunidade analisados foram abundância (no de indivíduos/arrasto), biomassa (gramas/arrasto), riqueza de espécies (S – no de espécies/arrasto), diversidade de Shannon (H’) e Equitatividade de Pielou (J’), também obtidos para cada unidade amostral (arrasto). Valores médios para cada estação foram obtidos somando-se os valores de cada parâmetro nos arrastos e dividindo pelo no total de arrastos realizados em cada estação. O índice de Shannon-Wiener (Shannon & Weaver, 1963), amplamente utilizado em estudos bênticos, é dado pela seguinte expressão: S H ' = ∑ p1 log ep1 i =1 Onde: P1 = porcentagem de importância da espécie i na amostra, no caso da densidade p1 = ni/N, ou seja, o número de indivíduos da iésima espécie sobre o número total de indivíduos da amostra. O índice de Equitatividade de Pielou (Pielou, 1966), para estimar a uniformidade na distribuição dos indivíduos nas espécies, é dado pela expressão: J '= H' log 2 S Onde: H’ = índice de diversidade de Shannon-Wiener; S = número de espécies na amostra. Com o objetivo de se verificar diferenças significativas entre os parâmetros de comunidade da megafauna tanto em escalas espaciais, ou seja, 16 entre as comunidades de Ubatuba e Cabo Frio, ou entre áreas de plataforma interna e externa, como em escala temporal, entre os cruzeiros de verão e inverno, foi realizada uma análise de variância monofatorial não-paramétrica (teste de Kruskal-Wallis) considerando um nível de significância de 0,05. O teste tipo Tukey (contraste de médias) foi empregado a posteriori para evidenciar quais grupos apresentavam diferença significativa (Zar, 1996). Foram escolhidos grupos de arrastos que pudessem representar condições ambientais distintas, tais como o efeito da sazonalidade (ressurgência, não ressurgência); e diferenças espacias (Ubatuba e Cabo Frio/ plataforma interna e externa). A partir da matriz dos dados abióticos foi realizada uma análise de Componentes Principais (PCA), para ordenar as estações de coleta em função de suas características ambientais. Os dados foram previamente padronizados, ou seja, os valores foram centrados e reduzidos, devido às diferenças nos intervalos de variação de cada unidade de medida das variáveis. Segundo Clarke & Warwick (1994) a PCA é um tipo de análise de ordenação recomendado e muito utilizado no tratamento de variáveis ambientais. Em seguida foi realizada uma análise de agrupamento com base na matriz de abundância das espécies. A matriz de dados original composta por um total de 54 espécies em 32 arrastos, foi reduzida de forma que apenas as espécies com freqüência de ocorrência superior a 10 %, ou seja, presentes em pelo menos 3 arrastos, foram mantidas, retirando assim das análises as espécies consideradas raras, impedindo a geração de ‘ruídos’ e resultados de difícil interpretação (Field et al., 1982). Segundo Milligan & Cooper (1987), as espécies raras funcionam como dimensões aleatórias impedindo o bom desempenho dos algorítimos de classificação e gerando grupos de pouca robustez. Foram obtidos os valores médios de abundância das espécies em cada estação, dividindo a abundância total das mesmas pelo número de arrastos realizados em cada estação. A partir da matriz de dados quantitativos resultante, com 28 espécies em 14 estações, e sua subseqüente transformação linearizante, utilizando-se o método da raiz quarta, foi feita uma análise de agrupamento para estações 17 (modo q) e para as espécies (modo r) utilizando-se o coeficiente de similaridade de Morisita (Morisita, 1959). O coeficiente de Morisita é considerado na literatura como um dos melhores índices para estudos ecológicos, e varia de 0 até um valor máximo próximo a 1, indicando o máximo de similaridade entre duas comunidades (Valentin, 2000). O método de agrupamento empregado foi o método dos pesos proporcionais (WPGMA – Weighted paired grouping clustering), pois leva em consideração grupos de amostras com tamanhos diferentes, resultante de amostragens em regiões diferentes, e evita assim que essas diferenças no esforço de amostragem interfiram no cálculos da associação média. Tais inconvenientes ocorreram no presente trabalho, onde regiões foram menos amostradas do que outras por motivos logísticos, como, por exemplo, a região de Ubatuba que não foi amostrada no cruzeiro de fevereiro de 2001. Esse método (WPGMA) proposto por Sokal & Michener (1958) difere do método da associação média (UPGMA) (Sneath & Sokal, 1973), pois atribui um peso igual a dois ramos do dendrograma que estão para fusionar, e para isso, no cálculo da associação média, cada similaridade (ou distância) é multiplicada por dois coeficientes (um para cada objeto), e a associação média é calculada fazendo-se a soma ponderada dos diferentes pares de objetos dos dois grupos a fusionar (Valentin, 2000). Apesar do tipo de amostrador utilizado (rede de portas) ser considerado por muitos autores como um aparelho qualitativo/semi-quantitativo, devido a possíveis falhas no seu funcionamento que levem à uma subestimação da área total percorrida, a escolha pela utilização da matriz biológica de forma quantitativa leva em consideração os trabalhos realizados tanto na costa sudeste brasileira como em outras regiões do mundo. Nestes trabalhos, os resultados obtidos, consistentes e representativos, asseguram a utilização da rede de arrasto de forma quantitativa (Pires-Vanin, 1989; Petti, 1990; Ventura, 1991; Pires, 1992; Tararan et al., 1993; Da Gama & Fernandes, 1994; Ventura & Fernandes, 1995; Escobar-Briones & Soto, 1997; Pires-Vanin et al., 1997; Ventura et al. 1997; Pires-Vanin, 2001). 18 Para identificar as variáveis ambientais mais importantes para a formação dos grupos faunísticos foi realizada a análise BIO-ENV (BioticEnvironment Matching, Clarke & Ainsworth, 1993). Esta análise consiste em obter o conjunto de variáveis que melhor explique o padrão biológico encontrado, comparando as duas matrizes (biológica e ambiental). Geralmente, como as matrizes de similaridade baseiam-se em índices diferentes (por ex. Morisita para espécies e distância euclidiana para dados ambientais), torna-se difícil uma comparação entre as duas devido as diferentes escalas. Desta forma, apenas seus “rankings” podem ser comparados, e isto se dá através de um coeficiente de correlação de “rankings”. O BIO-ENV utiliza o coeficiente de Spearman ponderado (ρw, Clarke & Ainsworth, 1993), que varia entre – 1 e 1, indicando oposição e coincidência entre as duas séries de “rankings”, respectivamente. O método começa dando valores de ρw para as variáveis uma a uma, duas a duas, três a três, etc. Assim são escolhidas as melhores séries de variáveis que expliquem os padrões faunísticos. 4.2.2. Macrofauna 4.2.2.1 Fundos inconsolidados As coletas da macrofauna bêntica pertencem apenas ao cruzeiro oceanográfico realizado no verão de 2001, onde quatro estações foram posicionadas numa radial ao largo de Arraial do Cabo, nas profundidades de 30, 100, 230 e 500 m (Figura 2). A macrofauna foi amostrada utilizando-se dois aparelhos quantitativos, um pegador de fundo do tipo van Veen com 0,1 m2 de área amostral e capacidade para 20 litros de sedimento (2 réplicas por estação), e um box corer com área amostral de 0,09 m2 e capacidade para cerca de 40 litros de sedimento (2 réplicas por estação). As amostras de box corer foram fatiadas para o estudo da distribuição vertical da macrofauna no sedimento, segundo uma distinção visual de horizontes sedimentares bem marcados, quando presentes. Na ausência dos horizontes definidos, uma fatia arbitrária de alguns centímetros foi considerada como horizonte superior e o restante da amostra 19 como horizonte inferior. O volume obtido em cada amostra e de cada horizonte foi determinado utilizando-se baldes plásticos graduados. Uma draga retangular do tipo ‘beam trawl’ com uma abertura de 1,2 m X 0,3 m, malha interna de 11 mm e externa de 20 mm foi utilizada como aparelho qualitativo, sendo arrastada por 5 a 10 minutos a uma velocidade de 3 nós, perpendicularmente a orientação da costa e em direção ao continente. O volume amostrado também foi mensurado com a utilização de baldes graduados, num máximo de 20 litros. O material cotetado com os três aparelhos foi lavado sobre um conjunto de peneiras com malhas de 2, 1 e 0,5 mm e os organismos e o resíduo retidos foram acondicionados em frascos plásticos etiquetados preservados em álcool a 70%, para posterior triagem e identificação no laboratório de Ecologia Bêntica do IOUSP. DEPROAS 1 07 a 13/fev/2001 Cabo Frio 23 6920 100 m 6922 200 m 6923 6924 500 m 24 S 1000 m 2000 m 43 W 42 41 Figura 2: Mapa da área de estudo mostrando a radial de estações ao largo de Arraial do Cabo, onde foram realizadas amostragens da macrofauna bêntica (círculos). 20 A identificação dos grupos da macrofauna bêntica deu-se com a utilização de lupa e microscópio óptico, chaves e bibliografia especializadas, e ajuda de especialistas, até o nível específico quando possível. Quando não foi possível a identificação de espécies, os organismos foram tipados morfologicamente para o reconhecimento de espécies distintas. Os parâmetros de comunidade como abundância de indivíduos, riqueza de espécies, diversidade de Shannon-Wiener e equitatividade de Pielou, foram obtidos para as amostras realizadas com os aparelhos quantitativos (box corer e van Veen). Possíveis diferenças significativas desses parâmetros entre as quatro estações estudadas foram testadas utilizando-se a análise de variância monofatorial não-paramétrica (teste de Kruskal-Wallis) (Zar, 1996). Ainda com relação aos parâmetros de comunidade, foi realizada uma análise de correlação múltipla não-paramétrica, utilizando o coeficiente de Spearman (Zar, 1996), com as variáveis ambientais medidas (temperatura, salinidade, profundidade e parâmetros sedimentológicos) em um nível de significância de 0,05. Como o grupo Polychaeta foi o mais representativo, tanto em termos de abundância de indivíduos como em número de espécies, foi analisada a estrutura das guildas tróficas do grupo em cada estação de coleta. Este tipo de estudo tem demostrado uma grande eficiência na caracterização do ambiente bêntico, refletindo as condições hidrodinâmicas predominantes, perturbações ambientais e impactos antrópicos (Paiva, 1993; Muniz et al., 1998; Venturini, 2002). A classificação das espécies em grupos funcionais de alimentação se baseou nos trabalhos de Fauchald & Jumars (1979), Dauer et al. (1981), Gaston (1987) e Paiva (1990). Para a determinação da estrutura trófica foram considerados cinco grupos tróficos baseados nos grupos funcionais de alimentação: carnívoros (C), depositívoros de superfície (S), depositívoros de subsuperfície (B), omnívoros (O) e suspensívoros (F). Quando não foi possível identificar o grupo funcional de algum espécime, principalmente aqueles que não foram identificados em nível específico, foi atribuído o grupo funcional referente ao gênero mais próximo ou ao referente à família. As espécies, gêneros ou famílias, que na literatura são relacionadas a mais de um grupo 21 trófico de alimentação, foram computadas em ambos os grupos. Tais problemas relacionados ao desconhecimento dos grupos funcionais de alimentação de espécies de poliquetas são comuns em trabalhos de ecologia trófica devido à escassez de estudos sobre a autoecologia das espécies, sendo solucionados por métodos criteriosos, porém subjetivos (Paiva, 1993; Ruta, 1999). A seguir foi calculado o índice de importância trófica (IIT) proposto por Paiva (1993), que pode ser expresso por: S IIT = ∑ ln ni + 0,1 i =1 Onde: S = número total de espécies do grupo trófico na amostra ni = número de indivíduos da iésima espécie na amostra ln = logarítimo natural 0,1 = constante para quando ni = 1, ln ≠ 0. Este índice visa impedir a superestimação da abundância das espécies no cálculo dos grupos tróficos, preservando a riqueza e, por tanto, trabalhando com esses dois componentes (Paiva, 1993). O coeficiente 0,1 incorporado ao índice por Muniz et al. (1998) serve para os casos onde o número de indivíduos de determidada espécie é 1, impedindo que o logaritmo natural seja igual a 0. Uma correlação múltipla não paramétrica de Spearman também foi realizada para evidenciar a dependência entre os grupos tróficos de Polychaeta e as variáveis ambientais medidas, com um nível de significância de 0,05. Para evidenciar possíveis associações de espécies ao longo do gradiente batimétrico foi realizada uma análise de agrupamento utilizando-se os dados de presença e ausência das espécies nas estações. Foram consideradas para a análise apenas as espécies que apresentaram uma freqüência de ocorrência superior a 10%, ou seja, presentes em pelo menos 2 lances de 22 qualquer aparelho quantitativo ou aquelas presentes com mais de 15 indivíduos. O índice binário utilizado foi o de Sorensen, que não considera as duplas ausências e é utilizado quando se pretende valorizar a ocorrência simultânea de duas espécies (Valentin, 2000). 4.2.2.2. Fundos de algas calcárias Amostras de substratos consolidados, compostos por nódulos de algas calcárias, foram obtidos a partir dos arrastos de draga na estação de 230 m de profundidade. Estes foram subamostrados (20 litros) devido ao grande volume presente na amostra, lavados sobre o jogo de peneiras, acondicionados em frascos plásticos e fixados com formol a 4%. As amostras coletadas no cruzeiro de verão de 2002 serviram para uma primeira análise quantitativa e qualitativa da abundância de indivíduos e da riqueza de espécies dos principais grupos da macrofauna, respectivamente. Foram comparadas a composição faunística e abundância relativa da macrofauna dos substratos calcários com as do substrato inconsolidado, amostrado com o box corer e o pegador van Veen. Alguns blocos foram fragmentados para a extração de organismos perfurandes (endolíticos), para serem identificados. No cruzeiro de inverno de 2002, amostras dos nódulos calcários foram obtidas para uma análise da biomassa e abundância de indivíduos expressas em termos do peso úmido dos blocos e do volume ocupado pelas galerias e perfurações na matriz calcária, respectivamente. Quatro réplicas de tamanho e peso similares foram acondicionadas em frascos plásticos, fixadas em formol a 4% e lacradas com fita adesiva. Em laboratório foi empregada metodologia similar à descrita por Hutchings & Weate (1977), para a medida do volume dos blocos e para a extração da criptofauna. As amostras foram pesadas (peso úmido) e o volume foi obtido a partir do deslocamento de água utilizando proveta e cubas graduadas. A indicação da proporção do volume ocupado pelos espaços vazios, perfurações e galerias, ou seja, espaço disponível para os organismos da criptofauna, foi obtida recobrindo-se os blocos com filme plástico transparente (filme de PVC tipo Magipack) e redeterminando o volume 23 novamente por deslocamento de água. Por subtração foi obtida a porcentagem de espaços vazios ocupados pelas galerias sobre o total do volume dos blocos. Dentre as quatro amostras, duas apresentavam uma superfície altamente perfurada, com muitas saliências e rugosidades, sendo facilmente fragmentada com as mãos, enquanto as duas restantes tinham superfícies mais lisas e dificilmente eram quebradas. A extração dos organismos foi realizada com a utilização de uma pinça, para aqueles que eram facilmente localizados na superfície dos blocos e com o auxílio de martelo e formão para a retirada dos organismos endolíticos. Os fragmentos foram lavados sobre peneira com malha de 0,5 mm e os organismos retidos foram preservados em álcool a 70% para posterior identificação em nível de grandes grupos. A biomassa dos grupos da macrofauna foi obtida com a utilização de uma balança analítica com precisão de 0,0001 g. Os resultados do presente estudo serão apresentados nos ítens 5, 6 e 7, referindo-se à megafauna, macrofauna de fundos inconsolidados e macrofauna associada a fundos calcários, respectivamente. 24 5. Megafauna bêntica nas áreas de plataforma de Ubatuba e Cabo Frio. 5.1. INTRODUÇÃO A megafauna bêntica, composta por aqueles organismos que são capturados em redes de arrasto de fundo (Lampitt et al., 1986), ou que são visíveis em câmeras fotográficas ou de vídeo sobre o assoalho marinho (Rice et al., 1982), além de participar da estruturação das comunidades de fundo, através de interações competitivas, predação, etc, pode ser considerada como recurso pesqueiro importante para o homem. Muitos crustáceos, tais como camarões, lagostas, caranguejos e moluscos são explorados comercialmente, e o estudo da estrutura e dinâmica das comunidades da megafauna é um dos pré-requisitos para uma exploração racional desses recursos, além dos estudos que abordem a dinâmica populacional e aspectos biológicos de crescimento e reprodução. Na década de 80, estudos já apontavam para a grande importância dos invertebrados bênticos como recurso pesqueiro no cenário da pesca mundial. Em relatório da FAO (Food and Agriculture Organization), estatísticas mostravam que o alto valor dos recursos de invertebrados marinhos por unidade de peso, perfaziam 40% do total da pesca mundial em termos monetários. Fato que compensava os baixos valores (~15%) em termos de peso de moluscos e crustáceos capturados. Isso eqüivale à uma grande fatia do mercado mundial, se comparada a outras categorias combinadas de peixes demersais e pequenos peixes pelágicos por exemplo (Caddy, 1989). Com a delimitação da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), a partir de 1994, onde foram somadas à faixa de mar territorial mais 188 milhas náuticas, os países que quisessem manter o direito exclusivo de exploração de seus recursos nessa área (200 Mn), deveriam comprovar a capacidade de explorálos de forma sustentada, garantindo sua renovabilidade. Dessa forma, estariam legalmente protegidos contra qualquer atividade pesqueira por parte de outras nações. Neste contexto, surgiu o REVIZEE (Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva), programa nacional envolvendo várias instituições de pesquisa e o governo federal, com o objetivo de fazer um levantamento e ‘mapear’ os recursos vivos na faixa das 200 milhas náuticas, apontar a situação 25 atual dos estoques pesqueiros das principais espécies comerciais e avaliar o potencial de exploração dos diversos ramos da pesca, tanto em nível industrial como artesanal. Os resultados já em fases conclusivas desse amplo programa apontam para condições alarmantes da pesca marinha no Brasil, mostrando que os recursos estão no seu limite máximo de exploração econômica sustentável e, em alguns casos, já até ultrapassaram esse limite (Rossi-Wongtschowski, 2003). Um grave exemplo dessa condição está na pesca do caranguejo de profundidade do gênero Chaceon (Geryonidae). Com a presença de naviosfábrica, dentre eles o Kimpo Maru e o Royalist, contratados em forma de arrendamento pelo Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e atuando com maior intensidade a partir do ano de 1999, estão promovendo a pesca predatória, capturando acima das 1.150 toneladas/ano, estipuladas pelo REVIZEE, para uma exploração racional e sustentada (Athiê & Rossi-Wongtschowski, 2002). Embora a produção de recursos pesqueiros em regiões tropicais, influenciadas por correntes de contorno oeste, como é o caso da costa brasileira, sejam menos significativas do que nas zonas temperadas e em áreas associadas à ressurgência, como o caso da costa do Peru, Califórnia e de Benguela na África (Postma & Zijlstra, 1988; Mann & Lazier, 1996), ainda assim devemos atentar para a importância desses recursos. Não apenas pensando nos lucros para a balança comercial brasileira e na geração de empregos, mas principalmente na imensidão de pessoas que vivem no Brasil sob condições de miséria absoluta, e que sequer imaginam o potencial de recursos naturais que o país possui e que muitas vezes é desperdiçado pela utilização irracional, pela falta de ética, ou simplesmente pelo descaso. Num contexto muito menos ambicioso, esta parte do presente trabalho aborda a estrutura e dinâmica das comunidades da megafauna de invertebrados nas regiões de Cabo Frio e Ubatuba, influenciadas por condições oceanográficas distintas e nas quais algumas espécies encontradas são consideradas de interesse comercial, além de participarem na estruturação dos ecossistemas de plataforma numa dimensão mais ampla. 26 5.2. RESULTADOS 5.2.1. Condições Oceanográficas nas áreas estudadas No cruzeiro realizado em fevereiro de 2001, a área de estudo abrangeu apenas a região do Cabo Frio devido ao caráter de ser um campanha piloto. Nos demais as duas áreas foram amostradas (Ubatuba e Cabo Frio). No primeiro cruzeiro as massas de água presentes em Cabo Frio, tanto na plataforma interna (30 m) como na sua porção externa (100 m), foram: a Água Tropical (AT), com valores de temperatura maiores que 200C e valores de salinidade superiores a 37, ficando em superfície; e a Água Central do Atlântico Sul (ACAS), sobre o fundo, com valores de temperatura menores que 20 0C e salinidades entre 34,6 e 36. Dados dos cruzeiros de mesoescala realizados na quinzena anterior, revelaram a presença de águas com 14 0C localizadas a 40 m de profundidade no dia 09, as quais dois dias mais tarde, estavam em superfície, mostrando o estabelecimento da frente de ressurgência devido à persistência dos ventos de NE sobre a região. Essa frente apresentou uma extensão de 15 Km, onde foram observadas temperaturas inferiores a 120C junto ao fundo (Silveira et al., 2002). No cruzeiro de inverno, realizado no mês de agosto de 2001, observamos o recuo da frente térmica da ACAS e a presença da Água Costeira (AC) nas regiões da plataforma interna, tanto de Ubatuba como de Cabo Frio, com valores de temperaturas superiores a 220C e baixos valores de salinidade. Nas áreas de plataforma em torno dos 100 m, tanto de Cabo Frio quanto de Ubatuba, observamos a presença da ACAS junto ao fundo. Na região de Cabo Frio, em especial, observamos a fase oposta do fenômeno da ressurgência, com domos de Água Tropical seguindo em direção à costa em subsuperfície, indicando condição de subsidência (Silveira et al., 2002). Segundo Ciotti (Lab. Bio-ótica Marinha, IOUSP, com. pessoal), tais intrusões de águas salinas provocaram perturbações na nutriclina, disponibilizando grande quantidade de nutrientes para a zona eufótica, e ocasionaram um “bloom” de produção primária, mesmo em presença de uma massa de água pobre em nutrientes, como a AT. No cruzeiro de verão de 2002 foram constatadas as mesmas condições presentes no verão anterior para Cabo Frio. Em Ubatuba, região não amostrada 27 em fevereiro de 2001, observamos também a frente térmica da ACAS na isóbata dos 30 m, com temperaturas inferiores a 180C sobre o fundo. No último cruzeiro, realizado em início de setembro de 2002, final do inverno, observamos na região de Cabo Frio a frente térmica da ACAS em avanço sobre a plataforma interna, devido à presença de águas com temperaturas de 18,320C na isóbata de 40 m, uma condição totalmente atípica para essa época do ano, onde a presença da Água Costeira é marcante para as áreas internas da plataforma continental da região sudeste. Já em Ubatuba, isso não foi observado, pois as temperaturas de fundo na estação de 40 m ficaram em torno dos 20o C, demostrando a presença da AC. Os dados referentes à posição e profundidade das estações oceanográficas realizadas durante os 4 cruzeiros, assim como seus respectivos valores de temperatura e salinidade, estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1: Dados de posição, data de coleta, profundidade, temperatura e salinidade de fundo (sal.), das estações oceanográficas estudadas. A última coluna corresponde à massa de água presente junto ao fundo nos períodos amostrados (ACAS, Água Central do Atlântico Sul; AC, Água Costeira). Região Cabo Frio Ubatuba Cabo Frio Ubatuba Cabo Frio estações # 6920 # 6922 # 7076 # 7077 # 7081 # 7082 # 7183 # 7184 # 7185 # 7186 # 7321 # 7322 # 7323 # 7324 Data 16/02/01 18/02/01 24/07/01 26/07/01 29/07/01 30/07/01 15/02/02 16/02/02 17/02/02 19/02/02 11/09/02 12/0902 13/09/02 14/09/02 Latitude (S) Longitude (W) Prof (m) o 22 58,5' o 23 04.5' o 22 58,43' o 23 04.5' o 24 20,0' o 23 42,3' o 23 42,3' o 24 20,0' o 22 58,56' o 23 04.5' o 23 42,3' o 24 20,0' o 22 58,68' o 23 04.5' o 42 03,3' o 42 00,9' o 42 3,34' o 42 00,9' o 44 51,6' o 45 01,6' o 45 01,6' o 44 51,6' o 42 03,19' o 42 00,9' o 45 01,6' o 44 51,6' o 42 3,31' o 42 00,9' 38.0 100.0 31.3 99.2 102.0 37.0 36.0 108.0 37.0 100.0 37.2 100.0 37.6 97.1 o Temp C Sal m. água 16.06 14.17 22.36 17.7992 18.7485 20.57 18.327 15.9157 13.7557 13.753 20.04 15.549 13.5545 14.2725 35.52 35.65 35.597 36.1494 36.169 34.5259 35.342 35.647 35.319 35.3 34.668 35.581 35.293 35.402 ACAS ACAS AC ACAS ACAS AC ACAS ACAS ACAS ACAS AC ACAS ACAS ACAS 5.2.2. Sedimento Os parâmetros de sedimento analisados são mostrados na Tabela 2. As estações posicionadas sobre a plataforma interna de Cabo Frio (~30 m) apresentaram um sedimento composto principalmente pelas frações de areia fina e areia muito fina, com pouca variação durante o período amostrado. Na 28 região da plataforma externa de Cabo Frio, o sedimento foi composto predominantemente por silte (40%) e a argila (30%), sendo classificado como silte argilo-arenoso. Em Ubatuba, na estação mais rasa, o sedimento foi composto por cerca de 70 % de areia muito fina, 12-14 % de silte e 5-19 % de argila, sendo classificado como areia argilosa ou areia síltica. Nos 100 m de profundidade, o sedimento foi composto predominantemente de areia grossa (40-50 %), areia média (23-28 %) e areia fina (15-20 %), com um baixo coeficiente de seleção de grãos. Tabela 2: Parâmetros sedimentológicos das estações de coleta. ( AG, areia grossa; AM, areia média; AF, areia fina; AMF, areia muito fina; SIL, silte; ARG, argila; MO, matéria orgânica total; s.d, sem dados). Região Cabo Frio Ubatuba Cabo Frio Ubatuba Cabo Frio estacões # 6920 # 6922 # 7076 # 7077 # 7081 # 7082 # 7183 # 7184 # 7185 # 7186 # 7321 # 7322 # 7323 # 7324 % AG 0.81 0.00 0.17 0.10 40.11 0.60 0.41 31.19 0.33 0.31 0.79 49.02 0.20 0.16 % AM 8.47 0.00 7.33 0.36 26.24 0.66 0.56 23.90 5.26 0.58 0.76 28.57 1.76 0.63 % AF % AMF 52.90 35.80 0.00 20.45 56.97 35.30 1.04 25.76 17.88 9.74 2.07 71.18 1.81 77.41 20.26 13.50 56.80 37.14 2.22 25.60 2.32 64.95 15.50 5.98 47.17 50.11 1.97 27.07 % SIL % ARG Diam mé coef sel 2.03 0.00 2.79 0.49 42.74 36.80 6.18 1.96 0.23 0.00 2.78 0.42 41.45 31.28 5.75 2.03 4.37 1.67 1.35 1.69 13.34 12.15 4.36 1.57 14.55 5.25 3.73 1.03 7.80 3.33 1.79 1.95 0.47 0.00 2.84 0.39 31.68 39.60 6.24 2.13 12.12 19.05 4.98 2.10 0.94 0.00 0.91 1.42 0.68 0.00 2.96 0.33 42.67 27.50 5.69 2.03 % MO s.d s.d 0.025 0.035 0.008 0.113 0.037 0.024 0.011 0.096 A porcentagem de matéria orgânica no sedimento é mostrada na Figura 3, para as estações de Cabo Frio e Ubatuba. Infelizmente, o conteúdo de matéria orgânica das amostras do sedimento referentes aos cruzeiros de verão e inverno de 2001 não puderam ser analisadas por problemas logísticos. Para a região de Cabo Frio também são mostrados dados referentes às estações de 200 e 500 m, onde embora a megafauna bêntica não tenha sido amostrada, pôde nos indicar um padrão de deposição de matéria orgânica ao longo do gradiente batimétrico nesta região. Podemos observar que as estações posicionadas na região da plataforma externa de Cabo Frio apresentaram os maiores valores da porcentagem de matéria orgânica no sedimento, com uma ordem de grandeza 29 superior as demais estações tanto de Ubatuba quanto de Cabo Frio. Esse padrão foi observado tanto no verão como no inverno de 2002. Em Ubatuba, no verão de 2002, os maiores valores de matéria orgânica estiveram presentes no sedimento da estação dos 100 m. No inverno essa situação se inverteu, com maiores valores presentes na estação rasa (~40 m). Ubatuba - Inverno 2002 0.06 0.06 0.05 0.05 % MO tot % MO tot Ubatuba - Verão 2002 0.04 0.03 0.02 0.04 0.03 0.02 0.01 0.01 0 0 40 m 40 m 100 m 40 m 100 m C. Frio - Verão 2002 40 m 100 m C. Frio - Inverno 2002 0.14 0.14 0.12 0.12 % MO tot 0.1 % MO tot 40 m 0.08 0.06 0.04 0.02 0.1 0.08 0.06 0.04 0.02 0 0 40 m 100 m 200 m 200 m 200 m 200 m 500 m 40 m 40 m 100 m 100 m 200 m 200 m 500 m 500 m 1000 Figura 3: Porcentagem de matéria orgânica nos sedimentos nas áreas de Ubatuba e Cabo Frio. Dados da mesma profundidade indicam réplicas de box corer e/ ou van Veen. As linhas verticais indicam o desvio padrão. 5.2.3. Composição Faunística Foram realizados um total de 32 arrastos, somando-se os quatro cruzeiros e as duas regiões estudadas, Ubatuba e Cabo Frio, e coletou-se 14.319 indivíduos pertencentes a 54 espécies, conforme pode ser visto na Tabela I dos Anexos. Do total de indivíduos coletados, 99,7% foi identificado em nível específico. Crustacea foi o grupo dominante com 32 espécies, seguido de Mollusca com 11 espécies, Echinodermata com 10 e Polychaeta com apenas uma espécie. 30 No grupo dos Crustacea, Brachyura apresentou maior número de espécies (19), seguido por Dendrobranchiata (4), Caridea (2), Anomura Paguridea (2), Anomura Galatheidea (1), Stomatopoda (2), Astacidea (1) e Palinura (1). Dentre os Mollusca, Gastropoda apresentou 10 espécies enquanto o grupo Polyplacophora esteve representado por apenas uma espécie. Echinodermata apresentou 6 espécies de Asteroidea, 2 de Echinoidea, uma espécie de Crinoidea e uma de Holothuroidea. A Tabela 3 mostra quais foram as espécies exclusivas na região de Cabo Frio e de Ubatuba e as espécies comuns às duas áreas, nas coletas efetuadas. Do total de espécies amostradas, 31,5% só ocorreram na região de Cabo Frio e 25,9% só ocorreram em Ubatuba. Tabela 3: Espécies que ocorreram exclusivamente em Cabo Frio e Ubatuba, e espécies que foram enconcontradas das duas regiões, de acordo com as coletas efetuadas. Cabo Frio CRUSTACEA Leurocyclus tuberculosus Araneus cibrarius Pyromaia tuberculata Leucipa pentagona Xanthidae sp Brachyura sp1 Brachyura sp2 Paguridea sp Alpheidae sp Farfantepenaeus sp Metanephrops rubellus MOLLUSCA Dorsanum moniliferum Cymatium partenopeum Buccinanops gradatum Buccinanops lamarcki Thais haemastoma Tonna galea Cabo Frio e Ubatuba CRUSTACEA Portunus spinicarpus Stenocionops spinosissima Libinia spinosa Hepatus pudibundus Persephona mediterranea Tetraxanthus ratbunae Homola barbata Squilla brasiliensis Parapenaeus americanus Trachypenaeus constrictus Plesionika longirostris Sycionia typica Dardanus insignis Scylarides brasiliensis Munida irrasa MOLLUSCA Zidona dufresnei Aphrodita longicornis Adelomelon becki ECHINODERMATA Astropecten brasiliensis Luidia l. scotti Luidia clathrata Holothuroidea sp Lytechinus variegatus Ubatuba CRUSTACEA Portunus spinimanus Callinectes ornatus Partenophe pourtalesi Persephona punctata Ocipodidae sp Hemisquilla braziliensis MOLLUSCA Siratus tenuivaricosus Fusinus frenguelli Chaetopleura angulata ECHINODERMATA Astropecten cingulatus Echinaster brasiliensis Neocomatella pulchella Echinoidea sp Anthenoides piercei 31 5.2.4. Freqüência de ocorrência das espécies Para cada uma das regiões estudadas (plataforma interna e externa de Ubatuba e plataforma interna e externa de Cabo Frio), as espécies coletadas foram classificadas segundo critério de Guillé (1970): constantes, aquelas com freqüência de ocorrência superior a 50 %; comuns, com freqüência de ocorrência entre 10% e 50%; e raras, com freqüência menor que 10% (Tabelas 4 e 5). Na área da plataforma interna de Ubatuba observamos 10 espécies constantes: Zidona dufresnei, Chaetopleura angulata, Dardanus insignis, Portunus spinicarpus, Portunus spinimanus, Hepatus pudibundus, Persephona mediterranea, Sycionia typica, Astropecten brasiliensis e Luidia ludwigi scotti. O siri Portunus spinimanus e o molusco poliplacóforo Chaetopleura angulata, ocorreram somente nesta região. As espécies comuns foram Astropecten cingulatus, Luidia clathrata, Anthenoides piercei, Litechinus variegatus, Trachypenaeus constrictus, Callinectes ornatus, Libinia spinosa, Squilla brasiliensis, Scyllarides brasiliensis, Syratus tenuivaricosus e Adelomelon becki. A estrela-do-mar Astropecten cingulatus, o siri Callinectes ornatus e o gastrópode Siratus tenuivaricosus só ocorreram nesta região de Ubatuba (Tabela 4). Na área da plataforma externa de Ubatuba, 7 espécies foram consideradas constantes: Anthenoides piercei, Astropecten brasiliensis, Neocomatella pulchella, Dardanus insignis, Squilla brasiliensis, Hemisquilla braziliensis e Fusinus frenguelli. Outras 15 espécies foram classificadas como comuns: Echinaster brasiliensis, Echinoidea sp, Holothuroidea sp, Plesionika longirostris, Parapenaeus americanus, Portunus spinicarpus, Tetraxanthus rathbunae, Persephona punctata, Partenophe pourtalesi, Ocypodidae sp, Stenocionops spinosissima, Homola barbata, Munida irrasa, Zidona dufresnei, Aphrodita longicornis. Esta área apresentou 8 espécies exclusivas, não coletadas nas demais regiões: Neocomatella pulchella, Hemisquilla braziliensis, Fusinus frenguelli, Echinaster brasiliensis, Echinoidea pourtalesi, Ocypodidae sp e Persephona punctata (Tabela 4). sp, Partenophe 32 Tabela 4: Classificação das espécies, segundo sua freqüência de ocorrência, na plataforma continental de Ubatuba. As espécies destacadas correspondem à ocorrência exclusiva naquela região (Ex: Portunus spinimanus só ocorreu na plataforma interna de Ubatuba). Plataforma interna de Ubatuba (40 m) espécies frequência de ocorrência Astropecten brasiliensis Luidia ludwigi scotti Sycionia typica Portunus spinicarpus Portunus spinimanus Hepatus pudibundus Persephona mediterranea 80% 60% 60% 80% 60% 80% 60% Dardanus insignis Zidona dufresnei Chaetopleura angulata 80% 100% 80% Astropecten cingulatus Luidia clathrata Anthenoides piercei Lytechinus variegatus Trachypenaeus constrictus Callinectes ornatus Libinia spinosa Squilla brasiliensis Scyllarides brasiliensis Siratus tenuivaricosus Adelomelon becki 20% 40% 20% 40% 20% 40% 40% 40% 20% 20% 20% Plataforma externa de Ubatuba (100 m) Classificação (Guille, 1970) CONSTANTES (F > 50 %) frequência de ocorrência Classificação (Guille, 1970) Astropecten brasiliensis Anthenoides piercei Neocomatella pulchella Dardanus insignis Squilla brasiliensis Hemisquilla braziliensis Fusinus frenguelli 71,42& 57.14% 85.71% 100.00% 57.14% 57.14% 71.42% CONSTANTES (F > 50 %) Echinaster brasiliensis Echinoidea sp Holothuroidea sp 42.85% 14.28% 14.28% espécies Plesionika longirostris Parapenaeus americanus Portunus spinicarpus Tetraxanthus ratbunae Persephona punctata COMUNS (10 % < F < 49 %) Partenophe pourtalesi Ocypodidae sp Stenocionops spinosissima Homola barbata Munida irrasa Zidona dufresnei Aphrodita longicornis 14.28% 42.85% 28.57% 14.28% 14.28% 14.28% 14.28% 42.85% 14.28% 14.28% 28.57% 28.57% COMUNS (10%< F < 49%) Na região da plataforma interna de Cabo Frio as espécies constantes foram: Astropecten brasiliensis, Luidia l. scotti, Portunus spinicarpus, Leurocyclus tuberculosus, Libinia spinosa, Dardanus insignis e Zidona dufresnei. O grupo das espécies comuns foi formado por: Stenocionops spinosisima, Squilla brasiliensis, Scyllarides brasiliensis, Dorsanum moniliferum, Cymathium partenopeum e Aphrodita longicornis. Esta região foi a única a apresentar espécies com freqüência de ocorrência inferior a 10 %, ou seja, raras, e foram elas: Luidia clathrata, Lytechinus variegatus, Alpheidae sp, Araneus cibrarius, Hepatus pudibundus, Persephona mediterranea, Pyromaia tuberculata, Brachyura sp1, Brachyura sp2, Paguridea sp, Thais haemastoma, Adelomelon becki, Tonna gallea, Buccinanops gradatum e Buccinanops lamarcki. As 12 espécies que ocorreram exclusivamente nessa área estão destacadas na Tabela 5. Na área da plataforma externa de Cabo Frio, as espécies constantes foram: Astropecten brasiliensis, Plesionika longirostris, Parapenaeus americanus, Portunus spinicarpus, Stenocionops spinosissima, Dardanus 33 insignis, Munida irrasa, Squilla brasiliensis, Metanephrops rubellus e Tonna gallea. Já as espécies comuns foram: Luidia ludwigi scotti, Holothuroidea sp, Trachypenaeus constrictus, Farfantepenaeus sp, Sycionia typica, Tetraxanthus rathbunae, Libinia spinosa, Homola barbata, Zidona dufresnei, Aphrodita longicornis (Tabela 5). Metanephrops rubellus e Farfantepenaeus sp só ocorreram nestas estações. Tabela 5: Classificação das espécies, segundo sua freqüência de ocorrência, na plataforma continental de Cabo Frio. As espécies destacadas correspondem à ocorrência exclusiva naquela região (Ex: Metanephrops rubellus só ocorreu na plataforma externa de Cabo Frio). Plataforma interna de Cabo Frio (40 m) espécies frequência de ocorrência Astropecten brasiliensis Luidia ludwigi scotti Portunus spinicarpus Leurocyclus tuberculosus Libinia spinosa Dardanus insignis Zidona dufresnei 90.90% 81.81% 90.90% 81.81% 63.63% 81.81% 63.63% Stenocionops spinosissima Squilla brasiliensis Scyllarides brasiliensis 36.36% 11.11% 18.18% Dorsanum moniliferum Cymatium partenopeum Aphrodita longicornis 27.27% 18.18% Luidia clatrata Lytechinus variegatus Alpheidae sp Araneus cibrarius Hepatus pudibundus Persephona mediterranea Pyromaia tuberculata Brachyura sp 1 Brachyura sp 2 Paguridea sp Thais haemastoma Adelomelon becki Tonna galea Buccinanops gradatum Buccinanops lamarckii Classificação (Guille, 1970) Plataforma externa de Cabo Frio (100 m) espécies frequência de ocorrência Astropecten brasiliensis Plesionika longirostris Parapenaus americanus Portunus spinicarpus Stenocionops spinosissima Dardanus insignis Munida irrasa 88.88% 66.66% 77.77% 55.55% 66.66% 88.88% 100% Squilla brasiliensis Metanephrops rubellus Tonna galea 72.72% 77.77% 66.66% Luidia ludwigi scotti Holothuroidea 22.22% 33.33% 27.27% Trachypenaeus constrictus 11.11% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% Farfantepenaeus sp Sycionia typica Tetraxanthus ratbunae Libinia spinosa Homola barbata Zidona dufresnei Aprodita longicornis 22.22% 11.11% 11.11% 22.22% 11.11% 33.33% 11.11% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% 9.09% CONSTANTES (F > 50 %) COMUNS (10 % < F < 49 %) RARAS (F < 10 %) Classificação (Guille, 1970) CONSTANTES (F > 50 %) COMUNS (10 % < F < 49 %) 5.2.5. Parâmetros de comunidade Nas figuras 4 a 7 estão representados os valores de abundância média por arrasto em cada estação (no de indivíduos/16.677m2), biomassa média (gramas/16.677 m2) e riqueza de espécies (S). Os valores dos índices de 34 diversidade de Shannon (H’) e equitatividade de Pielou (J’), calculados também sobre a média de arrastos em cada estação, são apresentados na Tabela II dos Anexos. Na Figura 4 observamos que no primeiro cruzeiro realizado apenas na região do Cabo Frio, no verão de 2001, a abundância média de indivíduos foi baixa tanto para a região da plataforma interna quanto para a plataforma externa com valores médios de 94 e 175 indivíduos respectivamente (Figuras 4 a, b). Os valores médios de biomassa, porém, foram maiores na plataforma interna com 2.600 g /arrasto, contra 1.275 g/arrasto na plataforma externa (Figura 5 a). Esse padrão inverso em relação ao número de indivíduos se deve a abundância de Astropecten brasiliensis na estação de ~40 m, espécie de maior tamanho e peso do que o crustáceo anomuro Munida irrasa, responsável pelo maior número de indivíduos na estação de 100 m. Quanto ao número de espécies, a região externa apresentou em média 9 espécies contra apenas 6 na região interna (Figura 7). No cruzeiro de inverno de 2001, na região de Cabo Frio houve um aumento considerável na abundância média de indivíduos, principalmente na estação de 100 m, onde ocorreu grande dominância de Portunus spinicarpus (1.968 indivíduos/arrasto) (Figuras 4 a e b). Na área interna, a abundância foi baixa, com média de 202 indivíduos por arrasto. A biomassa acompanhou o padrão da abundância, com 19.700 g/arrasto na área externa e 1.817 g/arrasto na área interna (Figuras 5 a e b). Nota-se que quando excluímos P. spinicarpus das análises, a abundância de indivíduos na estação rasa torna-se maior (Figura 4b). Em termos de riqueza de espécies, as áreas interna e externa apresentaram valores médios semelhantes (Figura 7a). Porém, em termos do número total de espécies presentes, na área interna encontramos um valor quase duas vezes maior do que na área externa, com 24 espécies contra 13 (Figura 7c) Em Ubatuba também observamos o mesmo padrão de distribuição, uma maior abundância da megafauna na região da plataforma externa, com uma média de 1.035 indivíduos/arrasto contra 131 indivíduos/arrasto na estação mais rasa (Figura 4a e c). Na área externa, contribuíram para a grande abundância de indivíduos, por ordem de importância, o crinóide Neocomatella 35 pulchella, o siri Portunus spinicarpus e o camarão Plesionika longirostris. Se retiramos o alto valor da abundância de N. pulchella (900 indiv.) em apenas um arrasto, vemos que o padrão não se altera muito, porém o desvio padrão para abundância é bastante reduzido. A biomassa também foi superior na plataforma externa em relação à interna (Figura 5b), seguindo esse mesmo padrão a riqueza de espécies, com um total de 18 espécies na área externa contra 11 na área interna (Figura 7c). No verão de 2002, na região de Cabo Frio, encontramos novamente baixos valores na abundância de indivíduos. Para a plataforma interna houve uma média de 188 indivíduos/arrasto e as espécies mais abundantes foram Astropecten brasiliensis, perfazendo 45% do total da fauna, e Portunus spinicarpus, com 23% do total. Na área externa a abundância média de indivíduos foi ligeiramente inferior, com 133 indivíduos/arrasto (Figuras 4a e b). Com relação à biomassa, a região da plataforma interna também apresentou valores maiores do que a plataforma externa (Figura 5a). Em termos da riqueza de espécies, as duas áreas apresentaram um número médio e acumulado de espécies similar, 10 e 15 respectivamente (Figuras 7a e c). Já para a região de Ubatuba observamos uma maior abundância de indivíduos e uma maior biomassa na região externa da plataforma, devido principalmente à grande dominância de Stenocionops spinosissima, com 816 indivíduos, somando um peso total de cerca de 20 Kg em apenas um arrasto (Figuras 4a e c; 5b). Em relação à riqueza de espécies, a região dos 100 m apresentou um número total de 7 espécies, enquanto que na plataforma interna o número total de espécies foi de 10 (Figura 7c). No último cruzeiro, em setembro de 2002, os maiores valores de abundância e biomassa foram observados nas áreas internas da plataforma, tanto de Cabo Frio quanto de Ubatuba (Figuras 4 e 5). Em Cabo Frio, a alta abundância (759 ind./arrasto) foi devida principalmente à Portunus spinicarpus, que esteve presente com uma média de 709 indivíduos por arrasto. Já em Ubatuba, os altos valores de biomassa e abundância na plataforma interna foram atribuídos à Callinectes ornatus (193 ind.), Libinia spinosa (144 ind.) e Portunus spinimanus (70 ind.). Em termos da riqueza acumulada de espécies, também observamos valores maiores nas áreas da plataforma interna tanto de 36 Ubatuba (15 sp) quanto de Cabo Frio (11 sp), enquanto nas áreas externas das duas regiões encontramos apenas 7 espécies (Figura 7c). 2500 a no de indiv./16.677 m 2 2000 1500 1000 500 0 40 100 40 100 40 100 C.F C.F Ver. 2001 40 100 40 100 Ub C.F 40 100 Ub C.F Ver. 2002 Inv. 2001 C. Frio ** b 500 No indiv./16.677 m 2 No indiv./16.677 m 2 3000 2500 2000 1500 1000 500 40 100 40 100 40 100 40 100 V. 2001 I. 2001 V. 2002 I. 2002 350 300 250 200 150 100 50 800 1600 700 1400 1200 1000 800 600 400 40 100 40 100 40 100 V. 2001 I. 2001 V. 2002 40 100 I. 2002 Ubatuba ** 900 1800 No indiv./16.677 m 2 No indiv./16.677 m 2 450 400 0 c Ubatuba 2000 Ub Inv. 2002 C. Frio 3500 0 40 100 600 500 400 300 200 100 200 0 40 m 100 m Inv. 2001 40 m 0 100 m V. 2002 40 m 100 m Inv. 2002 40 m 100 m Inv. 2001 40 m 100 m V. 2002 40 m 100 m Inv. 2002 Figura 4: Abundância de indivíduos da megafauna durante o período amostrado (No médio de ind/16.677 m2. a) para todos os cruzeiros; b) Cabo Frio; c) Ubatuba. ** Os gráficos à direita representam a estimativa de abundância sem as espécies dominantes. As barras sombreadas indicam a realização de apenas um arrasto de fundo na estação e as linhas verticais correspondem ao desvio padrão. 37 Biom assa - Cabo Frio ** Biomassa - Cabo Frio 10000 30000 a 20000 15000 10000 b 9000 8000 (g/16.677m 2) (g/16.677m2) 25000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 5000 1000 0 40 m 100 m 40 m 100 m Inv. 2001 Ver. 2001 40 m 100 m 40 m 100 m Ver. 2002 Inv. 2002 0 Biomassa - Ubatuba 40 m 100 m Ver. 2001 Inv. 2001 40 m 100 m Ver. 2002 40 m 100 m Inv. 2002 Biomassa - Ubatuba ** 30000 9000 c 44.229 d 8000 25000 7000 20000 (g/16.677m 2) (g/16.677m 2) 40 m 100 m 15000 10000 6000 5000 4000 3000 2000 5000 1000 0 40 m 100 m Inverno 2001 0 40 m 100 m Verão 2002 40 m 100 m 40 m 100 m Inverno 2002 Inverno 2001 40 m 100 m Verão 2002 40 m 100 m Inverno 2002 Figura 5: Biomassa da megafauna durante o período amostrado (gramas/16.677 m2). a) Cabo Frio; b) Cabo Frio descontando os valores de biomassa associados à espécie dominante P. spinicarpus.; c) Ubatuba; d) Ubatuba descontando os valores de biomassa associados às espécies dominantes S. spinosissima (verão 2002- 100 m) e C. ornatus (inverno 2002- 40 m). As barras sombreadas indicam a realização de apenas um arrasto de fundo na estação e as linhas verticais correspondem ao desvio padrão. A Figura 6 mostra como os parâmetros de abundância e biomassa variaram ao longo do período amostrado nas áreas da plataforma interna e externa de Cabo Frio e Ubatuba. No primeiro ano de coleta (2001), a região de Cabo Frio apresentou picos de abundância e biomassa na região da plataforma externa e durante o inverno, devido à presença massiva de P. spinicarpus com uma média de 1.968 indivíduos (Figuras 6a e c). No ano seguinte, os maiores valores de abundância e biomassa ocorreram na área da plataforma interna (Figura 6a e c). No verão de 2002, os altos valores de biomassa estiveram associados à grande abundância de A. brasiliensis, com uma média de 110 indivíduos. No inverno de 2002, P. spinicarpus novamente foi o responsável pelos altos valores de abundância e biomassa, com 709 indivíduos em média (Figura 6a e c). Na região de Ubatuba, no inverno de 2001, observamos um pico de abundância na área da plataforma externa (Figura 6d). Porém, a biomassa não 38 seguiu a mesma tendência em virtude da espécie mais abundante, o crinóide N. pulchella, apresentar baixa biomassa por indivíduo (Figura 6b). No verão de 2002 houve o fenômeno inverso: um pico de biomassa na área da plataforma interna que não foi acompanhado pela abundância de indivíduos (Figuras 6b e d). Isto ocorreu, pois uma grande quantidade do caranguejo S. spinosissima (816 indivíduos) esteve presente em apenas um arrasto, e assim sendo o número médio de indivíduos naquela estação não foi tão elevado. No inverno de 2002, como ocorreu em Cabo Frio, houve uma inversão nos padrões de abundância e biomassa, que apresentaram valores mais altos nas áreas da plataforma interna devido principalmente aos braquiúros, L. spinosa, C. ornatus e H. pudibundus. 25000 20000 15000 10000 5000 0 V 2001 Inv. 2001 V 2002 Inv. 2002 2000 1500 1000 500 0 V 2001 Inv. 2001 30000 25000 20000 15000 plat. int 10000 plat. ext 5000 0 Inv. 2001 c 2500 V 2002 Inv. 2002 b Ubatuba V 2002 Inv. 2002 d Ubatuba Ab. m édia (no ind./arrasto) Cabo Frio Ab. m édia (no ind./arrasto) a Biom assa m édia (g/arrasto) Biom assa m édia (g/arrasto) Cabo Frio 1200 1000 800 plat. int 600 plat. ext 400 200 0 Inv. 2001 V 2002 Inv. 2002 Figura 6: Relação entre os parâmetros abundância de indivíduos e biomassa da megafauna bêntica durante o período amostrado, nas áreas de plataforma interna e externa de Cabo Frio e Ubatuba. 39 [S] Cabo Frio Riqueza m édia/16.677 m 2 16 a 14 12 10 8 6 4 2 0 40 m 100 m 40 m Ver. 2001 100 m Inv. 2001 40 m 100 m Ver. 2002 40 m 100 m Inv. 2001 [S] Ubatuba Riqueza m édia/16.677 m 2 18 b 16 14 12 10 8 6 4 2 0 40 m 40 m 100 m 100 m 40 m Verão 2001 Inverno 2001 100 m Inverno 2002 Riqueza acumulada [S] 30 c 25 20 15 10 5 0 C.F Ver. 2001 C.F Ub C.F Ub Ver. 2002 Ub Inv. 2002 Inv. 2001 1Plat. interna C.F 2Plat. externa Figura 7: Riqueza de espécies da megafauna bêntica: a) Riqueza média (No de espécies/16.677 m2) para a região de Cabo Frio; b) Riqueza média (No de espécies/16.677 m2) para a região de Ubatuba; c) Riqueza de espécies acumulada, ou seja, total para cada estação. As barras sombreadas indicam a realização de apenas um arrasto na estação e as linhas verticais correspondem ao desvio padrão. 40 Com relação aos parâmetros de comunidade analisados, os resultados da análise de variância monofatorial não paramétrica (teste de Kruskall Wallis) mostraram algumas diferenças significativas, principalmente em termos de biomassa e abundância de indivíduos, entre conjuntos de arrastos formados, conforme mostra a Tabela 6. A primeira hipótese testada (i) foi entre 3 grupos de arrastos. O primeiro deles formados pelos arrastos realizados na presença da Água Costeira (# 7076 em C. Frio e # 7082, # 7321 em Ubatuba); o segundo composto pelos arrastos realizados nas áreas de influência da da frente térmica da ACAS sobre as áreas da plataforma interna (#6920, #7185 e #7323 em C.Frio; #7183 em Ubatuba) e o último grupo composto por arrastos realizados nas áreas de plataforma externa com influência perene da ACAS (#6921, #6922, #7077, #7078, #7186, #7324 em C Frio; #7081, #7184 e #7322 em Ubatuba). Como pode ser visto na Tabela 6, nenhum parâmetro analisado apresentou diferença significativa. A segunda hipótese testada (ii) foi entre 4 grupos de arrastos: (1) Água Costeira; (2) Frente térmica da ACAS em Cabo Frio; (3) Plataforma externa de C. Frio; (4) Plataforma externa de Ubatuba. Não foi considerado o grupo formado pelas estações sobre a infuência da frente térmica da ACAS em Ubatuba, por ali terem sido realizados apenas dois arrastos, o que impossibilitou a realização da análise de variância. Nenhuma diferença significativa em nenhum parâmetro analisado foi verificada, possivelmente devido ao pequeno número de arrastos em cada um dos grupos com uma variância muito grande dentro dos grupos. Na terceira hipótese testada (iii), entre apenas 2 grupos de arrastos, sendo o primeiro deles formado pelos arrastos na área interna de C. Frio durante os 2 verões, e o segundo pelos arrastos na plataforma externa de C. Frio (100 m) nos dois verões, apenas a biomassa apresentou uma diferença significativa entre os dois grupos (p = 0,0143) sendo significativamente maior na área interna, na presença da frente térmica da ACAS (Tabela 6). As hipóteses (iv) e (v) foram testadas entre os grupos de arrastos realizados nas áreas de plataforma interna, tanto de C. Frio como de Ubatuba, e os arrastos feitos nas áreas de plataforma externa, também para C. Frio e 41 Ubatuba, sendo a primeira (iv) para o inverno de 2001 e a segunda (v) para o inverno de 2002. No inverno de 2001, tanto a biomassa como a abundância de indivíduos nas áreas de plataforma interna apresentaram valores significativamente menores (p = 0,0275) e (p = 0,0143), respectivamente. Já no inverno de 2002 esse padrão foi inverso, com valores significativamente maiores de biomassa e abundância de indivíduos na área interna (p = 0,0339) para ambos os parâmetros (Tabela 6). A hipótese (vi) testada foi entre os grupos de arrastos realizados na área da plataforma interna de Cabo Frio no verão de 2001 e verão de 2002. Apenas a abundância de indivíduos apresentou uma diferença significativa (p = 0,0495), sendo significativamente maior no segundo verão estudado. As duas últimas hipóteses isolaram os arrastos feitos nos invernos de 2001 e 2002 em Ubatuba (vii) e em Cabo Frio (viii). Em ambas nenhuma diferença significativa foi observada para os parâmetros de comunidade analisados. Tabela 6: Resultados da análise de variância monofatorial não paramétrica (teste de KruskallWallis) para os parâmetros de comunidade: biomassa (gramas/arrasto), abundância (No de indivíduos/arrasto), riqueza de espécies (No de espécies/arrasto), diversidade de Shannon (H’/arrasto) e equitatividade de Pielou (J’/arrasto). (i) a (viii) = hipóteses testadas. Em destaque estão os parâmetros que apresentaram diferenças significativas entre os grupos de arrastos. Grupos de arrastos Parâmetro H Grupos de arrastos p (i) Parâmetro H p Biomassa Abundância Riqueza Diversidade Equitatividade 3,2366 0,7255 4,0369 1,2304 2,567 0,3566 0,8672 0,2575 0,7823 0,6451 Biomassa Inv. 2001 plat. Int. Abundância Inv. 2001 plat. ext. Riqueza Diversidade Equitatividade 4,86 6 0,5945 2,16 2,16 0,0275 0,0143 0,4407 0,1416 0,1416 Biomassa Abundância Riqueza Diversidade Equitatividade 2,33 3,8571 3,2323 0,4282 0,4286 0,1266 0,0495 0,0722 0,5127 0,5127 Biomassa Abundância Riqueza Inv. 2002 - C. Frio Diversidade Equitatividade 0 1,0899 0,8597 0,0667 0,0667 0,999 0,2967 0,3538 0,7963 0,7963 (ii) Biomassa Abundância Riqueza Diversidade Equitatividade 1,0166 3,4851 3,2237 1,5144 1,5021 0,6015 0,1751 0,1995 0,469 0,4719 Biomassa CF Verão plat.int Abundância CF Verão plat. ext. Riqueza Diversidade Equitatividade 6 0 2,645 3,84 0,24 0,0143 0,999 0,1039 0,05 0,6242 4,5 4,5 4,5818 1,125 0,5 0,0339 0,0339 0,0323 0,288 0,4795 0,006 2 1,2115 1,1256 0,125 0,9996 0,1573 0,271 0,2888 0,7237 AC frente ACAS plat. ext. (iv) (iii) (v) Biomassa Inv. 2002 plat. Int. Abundância Inv. 2002 plat. ext. Riqueza Diversidade Equitatividade (vii) Biomassa Abundância Riqueza Inv. 2002 Ubatuba Diversidade Equitatividade In. 2001 Ubatuba AC frente ACAS CF Plat. Ext C. Frio Plat. Ext Ubatuba (vi) Ver. 2001 CF plat.int. Ver. 2002 CF plat int. (viii) Inv. 2001 - C. Frio 42 5.2.6. Variação espaço temporal da megafauna Na região da plataforma interna de Cabo Frio a composição da fauna foi bastante similar nos dois verões estudados, com uma grande dominância de A. brasiliensis. O siri P. spinicarpus veio em seguida, representando 17% do total da fauna no verão de 2001 e 23% no verão de 2002 (Figura 8 a e c). Já no inverno de 2001, na presença da Água Costeira, a composição da fauna se modifica, com a ausência de P. spinicarpus. Contudo, A. brasiliensis continuou dominando na região com 41% do total (figura 8b). No inverno de 2002, onde as condições oceanográficas indicaram a presença da ACAS na área, uma condição atípica para esta época do ano, a dominância de P. spinicarpus foi muito acentuada, com 95 % do total da fauna (figura 8d). a 10% # 6920 - VERÃO 2001 - ACAS b 4% # 7076 - INVERNO 2001 - AC 8% Astropecten brasiliensis Astropecten brasiliensis 8% Portunus spinicarpus 5% Hepatus pudibundus Leurocyclus tuberculosus 5% 41% Libinia spinosa Buccinanops gradatum Dardanus arrosor insignis 59% 17% Leucipa pentagona Outros Outros 37% 6% c 7% # 7185 - VERÃO 2002 - ACAS d # 7323 - INVERNO 2002 - ACAS 5% 5% 7% Astropecten brasiliensis Portunus spinicarpus Portunus spinicarpus Outros Leurocyclus tuberculosus 7% 45% Libinia spinosa Dardanus arrosor insignis Luidia ludw igi scotti 6% Outros 23% 95% Figura 8: Variação temporal da abundância relativa das principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma interna de Cabo Frio. a) verão 2001; b) inverno 2001; c) verão de 2002; d) inverno de 2002. Na área da plataforma externa de Cabo Frio, no primeiro verão (2001) o galateídeo Munida irrasa foi a espécie dominante com 50% da fauna total, seguindo-se o carideo Plesionika longirostris com 15%, o estomatópode Squilla 43 brasiliensis com 14% e o peneídeo P. americanus com 9% (Figura 9a). No verão de 2002 a composição faunística apresentou pequenas diferenças, com a presença adicional de Dardanus insignis (6%) e Stenocionops spinossisima (4%) (Figura 9c). No inverno de 2001 a plataforma externa de Cabo Frio teve uma dominância absoluta de P. spinicarpus (92%) (figura 9b). Já no inverno de 2002 essa mesma área foi dominada por P. americanus, perfazendo 65% da fauna total, seguido de Munida irrasa com 25% (figura 9d). a # 6922 - VERÃO 2001 - ACAS 12% # 7077 - INVERNO 2001 - ACAS 4% 4% 15% 14% b 9% Plesionika longirostris Parapenaeus americanus Parapenaeus americanus Portunus spinicarpus Munida irrasa Outros Squilla brasiliensis Outros 50% 92% c d # 7186 - VERÃO 2002 - ACAS 4% 15% 16% 5% # 7324 - INVERNO 2002 - ACAS 5% Astropecten brasiliensis 5% Astropecten brasiliensis Plesionika longirostris Parapenaeus americanus Parapenaeus americanus 25% Munida irrasa Stenocionops spinosissima Outros Dardanus arrosor insignis 20% Munida irrasa 30% 6% 4% Squilla brasiliensis Outros 65% Figura 9: Variação temporal da abundância relativa da principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma externa de Cabo Frio. a) verão 2001; b) inverno 2001; c) verão 2002; d) inverno 2002. Na região de Ubatuba, onde os estudos se iniciaram a partir do inverno de 2001, a composição faunística foi bem diferente da encontrada na região de Cabo Frio. No inverno de 2001 na plataforma interna, sob influência da Água Costeira, não encontramos uma espécie muito abundante em relação às demais. Libinia spinosa esteve presente com 26%, Hepatus pudibundus com 22%, Zidona dufresnei com 21% e Trachypenaeus constrictus com 11% (Figura 10a). No verão de 2002, com a presença da ACAS na região, a fauna se 44 modificou, e aparecem P. spinicarpus (18%), Luidia l. scotti, Luidia clathrata e Siratus tenuivaricosus (Figura 10b). Já no inverno de 2002, com o recuo da ACAS, voltou a dominar Libinia spinosa e Hepatus pudibundus com 26 e 16% do total da fauna, respectivamente. Aparece também em destaque o siri Callinectes ornatus, compondo 34% da fauna amostrada (Figura 10c). Na área da plataforma externa de Ubatuba, nos dois invernos, observamos a grande dominância do crinóideo Neocomatella pulchella, perfazendo 50% do total da fauna em 2001 e 69% em 2002. Em 2001, foram representativos o siri P. spinicarpus (17%) e o camarão Plesionika longirostris (19%). Já em 2002, (inverno) as espécies representativas foram P. americanus (13%) e Dardanus insignis (10%) (Figuras 11 a e c). No verão de 2001, observamos uma acentuada dominância do caranguejo Stenocionops spinosissima, com 82% do total da fauna (Figura 11b). # 7082 - INVERNO 2001 - AC a 15% # 7183 - VERÃO 2002 - ACAS b 11% Trachypenaeus constrictus 6% 13% 11% 22% Libinia spinosa Luidia ludw igi scotti 3% Hepatus pudibundus Portunus spinicarpus 6% Hepatus pudibundus Dardanus arrosor insignis 21% Luidia clathrata Zidona dufresnei 18% Dardanus arrosor insignis 11% Outros Libinia spinosa Syratus tenuivaricosus 5% 8% 26% Zidona dufresnei Outros 24% # 7321 - INVERNO 2002 - AC c 5% 6% 13% Portunus spinimanus Callinectes ornatus Hepatus pudibundus Libinia spinosa 26% Dardanus arrosor insignis 34% Outros 16% Figura 10: Variação temporal da abundância relativa das principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma interna de Ubatuba. a) inv. 2001; b) ver 2002; c) inv. 2002. 45 a b # 7081 - INVERNO 2001 - ACAS # 7184 - VERÃO 2002 - ACAS 12% 9% 5% 17% Neocomatella pulchella 50% Stenocionops spinosissima 6% Plesionika longirostris Munida irrasa Portunus spinicarpus Outros Dardanus arrosor insignis Outros 19% 82% # 7322 - INVERNO 2002 - ACAS c 8% 10% Neocomatella pulchella Parapenaeus americanus Dardanus arrosor insignis 13% Outros 69% Figura 11: Variação temporal da abundância relativa das principais espécies da megafauna bêntica na região da plataforma externa de Ubatuba. a) inv. 2001; b) ver. 2002; c) inv. 2002. 46 5.2.7 Análises multivariadas 5.2.7.1. Análise de Componentes Principais (ACP) O resultado da Análise de Componentes Principais mostrou uma nítida discriminação entre os grupos de estações estudadas, com uma alta porcentagem de explicação para a os três primeiros eixos (89, 94%) (Tabela 7). Os parâmetros do sedimento foram as variáveis que mais contribuíram para a variância dos dados. O eixo I explicou 47,8% dessa variação e correlaciou-se positivamente com a variável areia muito fina e negativamente com silte, argila, diâmetro médio e coeficiente de seleção. O eixo II, com uma porcentagem de explicação de 34,3%, foi correlacionado positivamente com a profundidade, salinidade, areia grossa e areia média, e negativamente com areia muito fina. A temperatura só aparece como variável explicativa no terceiro componente principal (eixo III) (Tabela 7). Podemos observar a formação de 4 grupos de estações (Figura 12). Os grupo I e II, formados pelas estações da plataforma externa, corresponderam às estações de 100 m de profundidade de Cabo Frio e Ubatuba, respectivamente. Em relação ao eixo I, estes dois grupos de estações se separam em razão das características do sedimento que em Cabo Frio foi composto pelas frações finas de silte e argila e em Ubatuba por areia grossa e média. Os grupos III e IV, correspondem às estações de plataforma interna de Ubatuba e Cabo Frio, respectivamente. Em relação ao eixo I, estes grupos se separam em virtude da composição do sedimento que em Cabo Frio foi composto predominantemente por areia fina e em Ubatuba as frações de silte e argila estiveram presentes em maior porcentagem no sedimento. Em relação ao eixo II, estes dois grupos se separam dos demais pela profundidade e pela salinidade, devido algumas das estações terem sido realizadas em presença da água Costeira nos meses de inverno. 47 CP1 (42,8%) CP2 (34,3%) Grupo II Grupo I + Plat. ext. CF 5 Prof A. M. 12 Plat. ext. Ub 8 4 2 A.G. 10 14 CP1 (42,8%) CP2(34,3%) Grupo IV Sal Grupo III Plat int. Ub AMF. 1 9 3 13 11 - 6 - Plat int. CF 7 Silte, Argila diametro médio, coef. seleção Areia fina . + Figura 12: Diagrama de ordenação resultante da Análise de Componentes Principais (ACP), representando os dois primeiros eixos principais, a partir da matriz de dados ambientais. Tabela 7: Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA). Porcentagem de expicação dos três primeiros eixos. Em negrito aparecem as contribuições das variáveis que mais correlacionaram-se aos três primeiros eixos. Compon. Principais eixo 1 eixo 2 eixo 3 Eigenvalues Porcetagem (%) Porc. Cumul. (%) 4,721 42,839 42,839 3,773 34,304 77,144 1,408 12,798 89,942 Variáveis eixo 1 eixo 2 eixo 3 Profundidade Temperatura Salinidade Areia grossa Areia média Areia fina Areia muito fina Silte Argila Diam. Méd. coef. Seleção 0,208 0,093 0,043 0,209 0,283 0,353 0,024 0,440 0,449 0,432 0,340 0,456 0,146 0,371 0,409 0,382 0,115 0,468 0,082 0,048 0,154 0,236 0,058 0,583 0,308 0,295 0,206 0,446 0,253 0,105 0,059 0,107 0,378 5.2.7.2. Agrupamento No resultado do agrupamento das estações, representado na Figura 13, podemos observar que dois grandes grupos foram separados em função da profundidade. Um primeiro conjunto reuniu as estações de plataforma interna, 48 tanto de C. Frio como de Ubatuba, e o outro reuniu as estações de plataforma externa também pertencentes às duas regiões. No grupo das estações rasas observamos dois subgrupos com uma similaridade de 61%, um para as estações de Cabo Frio e outro para as de Ubatuba. O primeiro subgrupo foi formado pelas estações internas de Cabo Frio, com similaridade superior a 66%, sendo que as estações dos dois verões (V1 e V2) apresentam cerca de 94% de similaridade, devido à grande semelhança na composição faunística e na abundância relativa das espécies dominantes (Astropecten brasiliensis, Portunus spinicarpus e Dardanus insignis) (Figura 13). A estação interna de Cabo Frio, apresentou uma menor similaridade no primeiro inverno, possivelmente pela baixa dominância de Astropecten brasiliensis, e pela presença de espécies características de águas mais quentes, como o gastrópode Buccinanops gradatum e o caranguejo Hepatus pudibundus, revelando a influência predominante da Água Costeira nesta região durante o inverno de 2001. O segundo subgrupo, formado pelas estações internas de Ubatuba, com uma similaridade de 74%, apresentou a maior similaridade (84%) entre as estações do verão e do inverno de 2002 (V2 e I2) (Figura 13). O segundo grande grupo, formado pelas estações de plataforma externa, com similaridade de cerca de 45%, também isolou as estações de Cabo Frio daquelas de Ubatuba em subgrupos diferentes. Dentre as estações de Cabo Frio, foram reunidos com similaridade de 90%, aqueles locais coletados nos dois cruzeiros de verão (CFV1 100 e CFV2 100). Esta reunião ocorreu devido às espécies mais representativas terem sido os camarões Parapenaeus americanus e Plesionika longirostris e o galateídeo Munida irrasa, somando cerca de 65 a 75% da fauna total em ambos os períodos. Dentre as estações de Ubatuba, as referentes aos dois invernos foram agrupadas em nível de 70% de similaridade devido à grande dominância do crinóideo Neocomatella pulchella (Figura 13). A grande abundância do caranguejo Stenocionops spinosissima, somando 82 % da fauna total, e a ausência de N. pulchella na estação de 100 m de Ubatuba no verão de 2002, isolou-a das demais estações (Figura 13). 49 No agrupamento em modo r (associações de espécies), representado na Figura 14, observamos a presença de dois grandes grupos, separados ao que tudo indica pela temperatura das massas de água presentes na área de estudo e que, em última instância, reflete o gradiente batimétrico de distribuição das espécies. O primeiro grande grupo é formado pelas espécies características de águas tropicais mais quentes (AC e AT), e o segundo é formado pelas espécies tolerantes a águas mais frias (ACAS) (Figura 14). No grupo das espécies características de massa de água quente e costeira, com similaridade de cerca de 46%, observamos os caranguejos Hepatus pudibundus, Persephona mediterranea, o siri Portunus spinimanus, a estrela-do-mar Luidia clathrata, o molusco poliplacóforo Chaetopleura angulata, o ouriço-do-mar Lytechinus variegatus e o camarão-pedra Sycionia typica. No segundo grande grupo, composto por espécies características de águas mais frias, temos um primeiro subgrupo formado pelas espécies que estão permanentemente sobre a influência da Água Central do Atlântico Sul, e por isso caracterizam as áreas de plataforma externa. Neste subgrupo ainda observamos duas associações de espécies distintas, uma delas caracterizando a região da plataforma externa de Cabo Frio, com similaride de cerca de 63%, composta pelos camarões Parapenaeus americanus e Plesionika longirostris, pelo anomuro galateídeo Munida irrasa, pelo lagostim Metanephrops rubellus, pelo estomatópode Squilla brasiliensis e pelo gastrópode Tonna galea. A outra associação, caracterizando a área de plataforma externa de Ubatuba, e com similaridade de cerca de 77%, é formada pelo gastrópode Fusinis frenguelli, pelo estomatópode Hemisquilla braziliensis, pelas estrelas-do-mar Anthenoides piercei e Echinaster brasiliensis e pelo crinóideo Neocomatella pulchella (Figura 14). No segundo subgrupo característico de águas frias, observamos as espécies associadas à frente térmica da ACAS agrupadas com cerca de 54% de similaridade. São elas as estrelas-do-mar Astropecten brasiliensis e Luidia scotti, o anomuro pagurídeo Dardanus insignis, os caranguejos Libinia spinosa e Leurocyclus tuberculosus, o siri Portunus spinicarpus, o gastrópode Zidona dufresnei e a lagosta sapateira Scylarides brasiliensis (Figura 14). 50 WPGMA 0.28 0.4 0.52 UB V2 100 UB I2 100 UB I1 100 CF I2 100 CF I1 100 CF V2 100 CFV1 100 UB I2 40 UB V2 40 UB I1 40 CF I1 40 CF I2 40 CF V2 40 CF V1 40 0.64 0.76 0.88 1 Modified Morisita's Similarity Figura 13: Diagrama de agrupamento de estações (Modo Q). WPGMA Sycionia typica Litechinus variegatus Chetopleura angulata Portunus spinimanus Hepatus pudibindus Persephona mediterrânea Luidia clathrata Tonna gallea Metanephrops rubellus Munida irrasa Parapenaeus americanus Squilla brasiliensis Plesionika longirostris Aphrodita longicornis Stenocionops spinosissima Fusinus frenguelli Hemisquilla brasiliensis Neocumatella pulchella Equinaster brasiliensis Anthenoides piercei Scylarides brasiliensis Leurocyclus tuberculosus Luidia ludwigi scotti Portunus spinicarpus Zidonna dufresnei Libinia spinosa Dardanus arrosor insignis Astropecten brasiliensis AC + AT ACAS 0.04 0.2 0.36 0.52 0.68 0.84 1 Modified Morisita's Similarity Figura 14: Diagrama de agrupamento das espécies da megafauna (modo R). Os resultados do BIO-ENV apresentados na Tabela 8, mostram que a melhor combinação de variáveis ambientais que explica os padrões de 51 distribuição da megafauna está relacionada à composição do sedimento. Com uma correlação ρw = 0,432, aparecem areia grossa, areia muito fina e silte. Na segunda combinação de variáveis ainda aparecem areia muito fina e areia grossa, porém a profundidade surge como variável importante (ρw = 0,43). Tabela 8: Resultados da análise BIO-ENV, mostrando as combinações de variáveis ambientais que mais estiveram correlacionadas com os padrões de distribuição da megafauna. Variáveis Correlação 1 0,432 A. grossa A. m. fina Silte 2 0,430 Profund. A. grossa A. m. fina 2 0,427 A. grossa A. m. fina Silte Coef. sel. 3 0,425 Profund. A. grossa A. m. fina Silte 4 0,423 A. grossa Silte 5 0,423 Profund. A. grossa Silte 6 0,422 Profund. A. grossa A. m. fina Silte Diâm. méd. 7 0,420 Profund. A. grossa A. média Silte Coef. sel. 8 0,415 Profund. A. grossa A. média 9 0,415 Profund. A. grossa 5.3. DISCUSSÃO As associações de espécies encontradas na área de estudo foram determinadas em função dos parâmetros da profundidade, temperatura e salinidade, que refletem as condições de massas de água presentes na região e do sedimento. Foram discriminados dois grandes grupos de espécies, um com afinidade por águas mais rasas, quentes, e menos salinas, que esteve presente principalmente nos cruzeiros de Inverno, na presença da Água Costeira, sobre a isóbata de 40 m. O segundo grupo abrangeu as espécies com afinidades por águas mais frias. Destas espécies parte ocorreu preferencialmente nas áreas da plataforma externa, com influência perene da ACAS e o restante esteve associado à frente térmica da ACAS sobre a plataforma interna. Os padrões de distribuição da megafauna obtidos no presente trabalho corroboram os estudos que na literatura abordam aspectos de distribuição e zoogeografia, principalmente em relação aos crustáceos e moluscos (Rios, 52 1985; Melo, 1996, 1999). Das espécies características da plataforma externa, observamos nitidamente que algumas ocorreram preferencialmente em Cabo Frio, enquanto outras ocorreram em Ubatuba. Como nessa profundidade as condições de massas de água são homogêneas durante todo o ano, o fator ambiental mais provável para a distinção dessas duas associações de espécies é a composição do sedimento. Em Cabo Frio, nos 100 m de profundidade, o sedimento foi composto predominantemente por silte e argila, enquanto em Ubatuba a fração de areia grossa predominou. A análise de componentes principais (PCA) com os dados ambientais e o resultado da análise BIO-ENV, comprovam a influência do sedimento na clara distinção dos grupos de estações e na formação das assembléias faunísticas, respectivamente. De fato, no presente estudo, algumas espécies encontradas nos 100 m de profundidade, em Ubatuba, apresentam uma maior afinidade a substratos arenosos com fragmentos de conchas, como é o caso do crinóideo N. pulchella, espécie séssil que necessita de um substrato adequado para fixação e as estrelas-do-mar Anthenoides piercei e Echinaster brasiliensis. Estudos realizados na região de Ubatuba e São Sebastião também encontraram os padrões de distribuição das espécies da megafauna intimamente ligados à variável sedimento. Pires (1992) atribuiu a variação na composição de espécies em escala temporal, tanto em áreas rasas como nas áreas da plataforma externa de Ubatuba, às características do sedimento, agindo este de forma estruturadora para essas comunidades. A presença de manchas de sedimentos grosseiros em meio a fundos de areia fina ou silte, decorrente de processos erosivos e de ressuspensão do fundo, modifica a estrutura dos microambientes e altera o substrato onde a meio- e macrofauna habitam, organismos estes que, em última instância, compõem a dieta das espécies da megafauna. Observando a lista de espécies coletadas exclusivamente ou em Cabo Frio ou em Ubatuba, percebemos que em Ubatuba há um maior número de espécies com afinidades tropicais, como é o caso dos braquiúros C. ornatus, P. spinimanus, H. pudibundus e o gastrópode Siratus tenuivaricosus. Em Cabo Frio há predominância de espécies com afinidades subtropicais, devido à 53 influência maior da ACAS sobre a plataforma em virtude da ressurgência costeira ocorrer de forma mais intensa e freqüente nessa região. Uma análise geral dos resultados obtidos acerca da estrutura e dinâmica das comunidades da megafauna bêntica nos permite fazer algumas generalizações e estabelecer alguns padrões de distribuição intimamente ligados à dinâmica das massas de água presente nas duas regiões estudadas, refletindo de certa forma os regimes de produtividade associados à intrusão da ACAS sobre a plataforma interna nos meses de verão. Nesta época ocorre um aumento da produção primária pelágica, e quando a ACAS recua nos meses de inverno, dá lugar a águas mais quentes e oligotróficas. Tais padrões já foram identificados em estudos prévios para as comunidades do megabentos na região de Ubatuba (Pires, 1992: Pires-Vanin, 1993), São Sebastião (PiresVanin et al., 1997; Pires-Vanin, 2001) e para Cabo Frio (Ventura, 1991; Da Gama & Fernandes, 1994; Ventura & Fernandes, 1995; Ventura et al., 1997). Observando os parâmetros de comunidade obtidos no presente estudo, vemos que principalmente a abundância e a biomassa de indivíduos sofreram variações significativas tanto em escalas espaciais como temporais. Quanto aos parâmetros de riqueza específica, diversidade e eqüitatividade, não foram evidenciados padrões claros para as áreas e os períodos estudados. Contudo, percebemos que, principalmente na região de Cabo Frio, na frente térmica da ACAS sobre a plataforma interna, ocorre uma alta dominância de Portunus spinicarpus e Astropecten brasiliensis, fazendo com que a diversidade e a equitatividade nesta área sejam baixas. Estudos realizados na plataforma continental ao largo de Ubatuba demostraram a grande eficiência competitiva do siri P. spinicarpus, que nos sistemas frontais atuam como agentes estruturadores das comunidades bênticas, através das altas taxas de predação. Esta espécie característica de águas frias, é altamente voraz, atacando tando organismos mais lentos como as estrelas-do-mar, poliquetas e moluscos, quanto espécies altamente móveis, tais como outros braquiúros. Desta forma P. spinicarpus se beneficia em detrimento das espécies outrora abundantes na região, que com o impacto das mudanças no ambiente físico, revelado principalmente pela queda abrupta de temperatura, tornam-se muito suceptíveis à predação (Pires, 1992). 54 A estrela-do-mar Astropecten brasiliensis, também muito abundante no sistema frontal de Cabo Frio, apresenta uma estratégia reprodutiva associada ao evento da ressurgência costeira, com um pico de maturação gonadal e liberação de gametas sincronizado entre os indivíduos da população durante esses eventos. Obtém assim grandes chances de fertilização e alta sobrevivência de larvas devido à abundância de alimento no plâncton (Ventura et al., 1997). Ventura & Fernandes (1995) encontraram um padrão de distribuição das estrelas do mar da ordem Paxillosida, ligado ao gradiente batimétrico. Observaram nas áreas mais rasas em torno dos 30 m, uma maior abundância de A. brasiliensis associada a um sedimento predominantemente composto por areia média, enquanto Luidia ludwigi scotti e Astropecten cingulatus, foram mais abundantes nas faixas dos 45 e 60 m respectivamente, onde os sedimentos tornam-se mais finos com maiores quantidades de matéria orgânica. Esse padrão foi observado num período de 3 anos de investigação, onde também foi verificado que a faixa intermediária dos 45 m, onde existe uma maior heterogeneidade na composição do sedimento, as três espécies coocorreram em freqüências similares. Padrões similares na distribuição batimétrica de A. brasiliensis e A. cingulatus foram observados também na plataforma sul da costa brasileira (Carrera-Rodriguez & Tommasi, 1977). Quanto à biomassa e abundância de indivíduos da megafauna, na região de Cabo Frio observamos no primeiro ano de estudo maiores valores de abundância e biomassa no inverno, devido principalmente à grande dominância de P. spinicarpus na área da plataforma externa. Nesta mesma região foram encontrados altos teores de clorofila-a no sedimento, mostrando um grande aporte de material orgânico fresco, a partir da coluna de água, com valor vinte vezes superior na estação de 100 m em relação à de 40 m (Sumida et al, IOUSP, em prep.). Em resposta a essa chegada de grande quantidade de alimento, a comunidade microbiana do sedimento apresentou alta biomassa (Sumida et al, IOUSP, em prep.). Esses dados suportam a alta biomassa encontrada para o megabentos nessa mesma região. Com uma grande disponibilidade de fitodetritos e a pronta utilização desse material pelas bactérias e organismos da meiofauna (Gooday, 1988; Soltwedel, 1997), os níveis tróficos subseqüentes, como os organismos da macro- e megafauna, 55 encontram grande quantidade de alimento convertendo-o em biomassa corporal (Rice et al.,1982; Smith, 1985; Pires,1992; Soltwedel, 1997;). De fato, a abundância de indivíduos da meiofauna também foi bastante alta na região da plataforma externa de Cabo Frio, mostrando uma rápida resposta à chegada de material orgânico fresco no sedimento (Argeiro & Corbisier, IOUSP, dados não pubicados) Segundo Ciotti (Lab. Bio-óptica Marinha, IO-USP, com. pessoal), o grande aporte de fitodetritos para as comunidades bênticas no inverno de 2001 ocorreu em virtude de perturbações na nutriclina causadas pela intrusão de domos de águas salinas, da Água Tropical, resultantes do processo de subsidência na região (Silveira et al., 2002), e que resultaram num pico de produção primária mesmo em condições atípicas, ou seja, sem a presença da ACAS nos limites da zona eufótica. Outro fator que pode ter influenciado a grande produtividade e conseqüentemente na alta biomassa da comunidade do megabentos durante o inverno em Cabo Frio, mesmo em condições teoricamente de oligotrofia, é que esta região, segundo Gonzalez-Rodriguez et al. (1992), apresenta um alto enriquecimento orgânico quando comparado à áreas adjacentes, devido à grande ressuspensão de sedimentos da plataforma com a passagem de frentes frias. Essa fonte de material orgânico, em sua maior parte formado por material particulado em suspensão, garante energia suficiente para manter altos níveis de produção primária. Essa produção é transferida para os outros compartimentos do ecossistema, principalmente através das comunidades zooplanctônicas, que assumem um papel de destaque na transferência de matéria orgânica para o sistema bêntico, através do afundamento de pelotas fecais e agregados de carapaças de organismos mortos (Valentin & Moreira, 1978; Gonzalez-Rodriguez et al., 1992). No verão de 2002, na região de plataforma interna de Cabo Frio, a alta biomassa da megafauna, cerca de três vezes maior que a de Ubatuba (Figuras 5a e b), também pode ser correlacionada à grande disponibilidade de alimento no sedimento, esta revelada pelos altos teores de clorofila-a e pela alta biomassa da comunidade microbiana (Sumida et al., IOUSP, em prep.). 56 Nas áreas de plataforma externa de Cabo Frio neste mesmo verão (2002), valores apenas ligeiramente maiores de fitodetritos e biomassa microbiana foram encontrados em relação à plataforma interna da mesma região (Sumida et al., IOUSP, em prep.). O mesmo padrão foi observado para a megafauna, que apresentou alta biomassa tanto a 40 m como a 100 m. Uma alta biomassa do megabentos na áreas de plataforma externa, associada à grande disponibilidade de material orgânico no sedimento, poderia ser um indicativo do transporte horizontal de águas ressurgidas em direção a mar aberto, pois segundo Valentin (1984) os picos de produção primária ocorrem cerca de 4 a 7 dias depois do afloramento da ACAS em superfície, devido a processos de ajuste fisiológico das células do fitoplâncton. Assim, a pluma de águas ressurgidas e ricas em fitoplâncton é advectada para fora da costa em direção à plataforma externa através do transporte de Ekman, sedimentando grandes quantidades de matéria orgânica nessa região (Valentin et al., 1987). Dados de produtividade primária e secundária do ambiente pelágico, e de taxas de sedimentação de partículas estão sendo obtidos por outras equipes de pesquisadores do IOUSP e servirão futuramente para uma melhor compreensão dos fluxos de materia orgânica para o sistema bêntico. Na plataforma externa de Ubatuba, apesar de valores reduzidos tanto na quantidade de fitodetritos como na biomassa bacteriana (Sumida et al., em prep), o conteúdo de material orgânico total no sedimento foi ligeiramente superior nessa região (Figura 3) do que na área interna (40 m). A biomassa da megafauna bêntica seguiu esse mesmo padrão, porém com valores muito superiores nos 100 m de profundidade devido à grande abundância do caranguejo S. spinosissima. No final do inverno, no último cruzeiro do projeto, a abundância de indivíduos e a biomassa do megabentos foram significativamente maiores nas áreas de plataforma interna tanto de Cabo Frio como de Ubatuba, em detrimento das estações dos 100 m nas duas áreas. Em Cabo Frio esse fato provavelmente ocorreu devido à frente térmica da ACAS já estar em avanço sobre as áreas da plataforma interna, impulsionada pela mudança nos padrões de ventos predominantes, passando de S-SO para N-NE. A espécie responsável pela alta biomassa foi novamente o siri Portunus spinicarpus. Em 57 Ubatuba, a ACAS não se encontrava sobre a plataforma interna nessa ocasião, e os altos valores de biomassa estiveram associados aos siris Calinnectes ornatus e Portunus spinimanus e aos caranguejos Hepatus pudibundus e Libinia spinosa, sendo os três primeiros característicos da Água Costeira, mais quente e menos salina. Essas variações nos padrões de biomassa e abundância de indivíduos nas duas regiões estudadas, mostram uma variação interanual na distribuição dos organismos, principalmente na região de Cabo Frio, que foi amostrada em dois verões e dois invernos. No ano de 2001, picos de abundância e biomassa ocorreram nas áreas de plataforma externa, enquanto no ano seguinte esses picos ocorreram nas áreas da plataforma interna, ambos relacionados à presença massiva de P. spinicarpus (Figura 6). Tais variações interanuais foram observadas também por Pires (1992), para as comunidades do megabentos na região de Ubatuba, que apresentaram picos de abundância e biomassa na área da plataforma interna no ano de 1986 e nas áreas da plataforma externa no ano de 1987. O motivo dessa variação estaria diretamente associado à dinâmica da intrusão da ACAS na região, que em 1986 chegou bem próxima à linha de costa no verão. Nesta zona frontal o maior responsável pelos altos valores de abundância e biomassa foi também P. spinicarpus. No inverno, com o recuo da frente térmica para a área da plataforma externa, a espécie responsável pela alta biomassa na área interna foi a do camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri, indicadora da presença da Água Costeira na região. Contudo, segundo Pires (1992), é ressaltado ainda que intensas ações hidrodinâmicas junto ao fundo, causadoras de ressuspensão e transporte de sedimentos, conferem àquele sistema de plataforma o caráter de ambiente em constante transformação, gerando habitats temporalmente distintos num mesmo local e influenciando na ocupação diferencial da megafauna vágil ao longo do ano. 58 5.4 CONCLUSÕES 1. A estrutura e dinâmica das comunidades da megafauna bêntica nas regiões de Ubatuba e Cabo Frio são determinadas principalmente pela dinâmica de massas de água, pela profundidade e pelas características do sedimento. 2. No verão, na área da plataforma interna de Cabo Frio, ocorre uma alta dominância de espécies carnívoras de topo de cadeia alimentar, dentre as quais destacam-se o siri Portunus spinicarpus e a estrela-do-mar A. brasiliensis. 3. No inverno, a composição faunística nas áreas da plataforma interna de Ubatuba e Cabo Frio se caracterizou por apresentar espécies características de águas mais quentes e menos salinas como é o caso de Calinectes ornatus, Portunus spinimanus, Hepatus pudibundus, Persephona mediterranea e Buccinanops gradatum, indicando a presença da massa de Água Costeira. 4. Foram encontradas na plataforma externa de Ubatuba e Cabo Frio, distintas associações de espécies, provavelmente em virtude da grande diferença na composição do sedimento existente em cada área, pois em Cabo Frio predominaram as frações de silte e argila, e em Ubatuba areia grossa e média. 5. Na região de Cabo Frio, a biomassa da megafauna foi superior a de Ubatuba, principalmente durante o verão, provavelmente devido ao maior aporte de matéria orgânica sobre o sedimento, decorrente do fenômeno da ressurgência costeira ser muito mais intenso nessa região. 59 6. Macrofauna bêntica num gradiente de profundidade entre 30 e 500 m ao largo de Arraial do Cabo. 6.1 INTRODUÇÃO A região de Cabo Frio, sem dúvida apresenta condições oceanográficas muito peculiares quando comparadas a outras áreas da plataforma continental sudeste brasileira (Emilsson, 1961; Mascarenhas et al., 1971; Castro-Filho & Miranda, 1998). O fenômeno da ressurgência costeira confere ao ecossistema marinho da região uma alta produtividade biológica, extensamente documentada para as comunidades planctônicas, tanto por parte do fitoplâncton (Valentin, 1984; Valentin et al., 1987; Gonzales-Rodrigues et al., 1992; Carbonell & Valentin, 1999) como do zooplâncton (Valentin & Moreira,1978; Valentin & MonteiroRibas,1993). Contudo, em relação ao bentos, principalmente a macrofauna associada ao sedimento, essa região é pouco conhecida tanto em termos da composição da fauna, como em termos de seu papel na estrutura trófica e na transferência energética para outros compartimentos biológicos do ecossistema. Os poucos trabalhos realizados até o presente estudaram aspectos da distribuição de alguns grupos de organismos em profundidades rasas da plataforma (Gomes, 1989; Ruta, 1999). Trabalhos realizados em áreas de quebra da plataforma e talude na região foram restritos a amostragens pontuais (Miyaji, 1995, 2001; Heitor, 1996; Attolini,1997, 2002;). Com relação ao papel do bentos na estrutura trófica do ecossistema marinho de Cabo Frio, estão sendo realizados estudos utilizando-se isótopos estáveis de carbono e nitrogênio para traçar os caminhos da matéria orgânica nos níveis tróficos do sistema. Tais estudos encontram-se em fase inicial de interpretação e análise de resultados. Outro estudo pioneiro para a região, também no contexto do projeto DEPROAS, e em andamento, trata das respostas da comunidade microbiana do sedimento aos fluxos verticais de material orgânico particulado. Esta parte do presente trabalho aborda a estrutura das comunidades da macrofauna bêntica, englobando todos os grupos de organismos, num 60 gradiente de profundidade a partir da plataforma interna até a área sobre o talude superior, sua distribuição vertical no sedimento e uma análise da estrutura trófica do grupo dos poliquetas. Este grupo foi escolhido devido seu papel destacado nessas comunidades. No início do planejamento amostral pretendia-se estudar essa radial de estações em pelo menos duas campanhas oceanográficas, uma no verão e outra no inverno, para identificar possíveis variações sazonais que pudessem indicar o papel do fenômeno da ressurgência costeira sobre a macrofauna bêntica da região. Porém, devido a problemas logísticos relacionados principalmente ao tempo gasto na triagem das amostras e posterior identificação dos organismos, aqui apenas são apresentados os dados referentes ao cruzeiro de fevereiro de 2001. Num futuro próximo, os presentes resultados serão complementados com a análise dos dados biológicos e ambientais provenientes dos outros três cruzeiros realizados, aliados aos estudos mencionados acima acerca da estrutura trófica e também das comunidades de microorganismos do sedimento. Assim será possível conhecermos com maior clareza o papel do bentos na dinâmica do ecossistema de Cabo Frio. Será possível verificar como essas comunidades respondem ao processo de enriquecimento ocasionado pelo aumento da produtividade primária pelágica, e de certa forma, como estas respostas estão relacionadas a outros compartimentos do sistema, tais como a comunidade de peixes demersais e a de invertebrados da megafauna bêntica. 61 6.2 RESULTADOS 6.2.1 Variáveis ambientais Na tabela 9 são apresentados os dados de posição e profundidade das estações oceanográficas estudadas, com seus respectivos valores de temperatura e salinidade de fundo. Tabela 9 - Dados de posição, profundidade e parâmetros ambientais das estações oceanográficas estudadas. (AG: areia grossa; AM: areia média; AF: areia fina; AMF: areia muito fina; d. méd.: diâmetro médio; c. sel: coeficiente de seleção. PARÂMETROS SEDIMENTOLÓGICOS (%) Latitude (S) Longitude (W) Prof. (m) o Temp. ( C) Sal. AG AM AF (0-7) INF. 0,81 8,47 52,9 (7-13) SUP. 0,55 1,11 29,86 38,94 11,09 18,46 4,69 2,32 (0-10) INF. 0 0 0 20,45 42,74 36,8 6,18 1,96 (10-16) SUP. 0,2 0,78 1,77 38,9 37,6 20,75 5,39 1,97 44,17 16,96 7,6 15,07 9,53 6,67 1,67 2,52 (6-14) SUP. 3,02 2,29 4,26 35,87 38,2 16,37 5,17 2,23 (0-10) INF. 8,3 21,52 15,14 25,41 19,75 9,87 (10-14) 6,01 9,22 12,35 25,65 35,07 11,69 4,26 2,37 horizonte AMF Silte Argila d.mé c. sel. SUP. # 6920 22o 58,5' # 6922 23o 04,5' # 6923 23o 43,1' # 6924 23o 48,8' o 42 03,3' o 42 00,9' o 42 07' o 42 07' 30 100 230 500 16,06 14,37 14,25 11,23 35,52 35,65 35,51 35,25 (0-6) INF. 35,8 2,03 0 2,79 0,49 3,5 2,26 Os valores de temperatura ficaram entre 11,23 o C na estação de 500 m e 16,06o C na estação rasa de 30 m. Até a estação de 230 m, pode-se verificar a presença junto ao fundo da Água Central do Atlântico Sul (ACAS), revelada pelos índices termohalinos e representada no diagrama TS mostrado na Figura 15. Na estação de 500 m a massa de água presente junto ao fundo foi a Água Intermediária Antártica (AIA), caracterizada por baixos valores de temperatura e salinidade. Quanto aos valores de salinidade, estes também apresentaram a assinatura da ACAS para as estações de 30, 100 e 230 m, variando entre 35,51 e 35,65. Na região costeira verificou-se uma forte estratificação vertical, com uma acentuada termoclina, mostrando a presença da Água Tropical (AT) em superfície com valores de temperatura entre 20,46 e 21,07o C, salinidade entre 35,52 e 35,85, e a ACAS junto ao fundo. No cruzeiro anterior, de Mesoescala, 62 realizado no mês de janeiro, foi possível identificar o afloramento da ACAS em superfície, impulsionado pelo regime de ventos do quadrante Nordeste, e revelando o acionamento do fenômeno da ressurgência costeira, que pode ser observado nas seções verticais da Figura 16. AC AT Ressurgência ACAS AIA APAN FONTE: LADO IOUSP Figura 15 - Diagrama TS obtido pelos cruzeiros de Mesoescala do projeto DEPROAS mostrando as massas de água na região. (AC= Água Costeira, AT= Água Tropical, ACAS = Água Central do Atlântico Sul, AIA= Água Intermediária Antártica e APAN= Água Profunda do Atlântico Norte (Retirado com autorização de Silveira et al., 2002). A. FONTE: LADO IOUSP B. FONTE: LADO IOUSP Figura 16 – Secções verticais de temperatura mostrando a frente térmica da ressurgência. A) ACAS em subsuperfície. B) ACAS aflora na superfície (Retirado com autorização de Silveira et al., 2002). 63 6.2.2 Sedimento Encontram-se sumarizados na Tabela 9 os parâmetros granulométricos do sedimento obtidos a partir das amostras de box corer que foram fatiadas em seus horizontes superior e inferior. O limite dos horizontes também é mostrado nessa tabela. Na estação rasa, de 30 m, observamos um sedimento contendo 97,9 % de areia no horizonte superior (0-7 cm), onde dominam as frações de areia fina (52,9%) e areia muito fina (35,8). No horizonte inferior (7-13 cm) ainda encontramos 70,47 % de areia, porém a fração de areia muito fina domina com 38,9% e a fração de areia fina apresenta 29,8%. As frações finas correspondem a 11,07 % de silte e 18,46 % de argila. Neste horizonte o sedimento é classificado como areia argilosa segundo o diagrama de Shepard. Já na estação de 100 m encontramos um sedimento com diâmetro médio de silte fino no horizonte superior (0-10 cm). No horizonte inferior (10-16 cm) domina a fração de silte com 42,74%, seguida pela fração argilosa, 36,8%, sendo classificado como silte argiloso. Na estação 6923, a 230 m, encontramos um sedimento visivelmente bem estratificado, apresentando uma porção superior (0-6 cm) amarelada, com estruturas carbonáticas derivadas da fragmentação de recifes calcários presentes naquela região, composto por 44,17% de areia grossa e muito pobremente selecionado. O horizonte inferior (6-14 cm), de coloração cinza escuro, apresentou 35,87 % de areia muito fina, 38,2 % de silte e 16,37 % de argila, sendo classificado como areia síltica e também muito pobremente selecionado. Na estação de 500 m, o horizonte superior (0-10 cm) do sedimento foi composto por 25,5% de areia média, 25,4% de areia muito fina e 19,75% de silte, sendo classificado, segundo o diagrama de Shepard, como areia síltica. No horizonte inferior (10-14 cm), o sedimento foi composto de 35% de silte, 35,6% de areia muito fina e 11,7% de argila, e também classificado com areia síltica. 64 6.2.3 Composição faunística Aqui são apresentados os dados referentes às amostragens feitas com os dois aparelhos quantitativos (Box Corer e van Veen) e com o amostrador qualitativo semi-quantitativo (Draga retangular). Os grupos da macrofauna coletados com cada aparelho estão apresentados nos anexos, especificamente na Tabela III (estações de 30 e 100 m – áreas de plataforma) e Tabela IV (estações de 230 e 500 m – quebra da plataforma e talude superior). Foi coletado um total de 5.987 espécimes pertencentes a 12 filos, para toda a área amostrada, sendo que 3.450 foram obtidos nas estações correspondentes à região da plataforma continental, e 2.537 nas áreas de quebra da plataforma e talude superior. O grupo mais abundante para toda a área de estudo foi Polychaeta, com 31% do total de indivíduos coletados. Em seguida vieram Mollusca com 23%, e Crustacea e Echinodermata, com 21% cada. Os demais grupos da macrofauna somaram 4% do total (Figura 17). Abundância Geral 4% 21% 31% Polychaeta Mollusca Equinodermata Crustacea Outros 21% 23% Figura 17 – Abundância relativa dos grupos mais representativos da macrofauna bêntica para toda área de estudo, computando os dados de todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). Observando a importância dos principais grupos, em termos da abundância relativa nas quatro profundidades amostradas, vemos que Polychaeta foi mais numeroso na área mais rasa (41,6%), decrescendo em abundância nos 100 m (29,4%) e 230 m (21,9%), e apresentando um ligeiro aumento na zona mais profunda (31,4%) (Figuras 18 e 19). 65 # 6922 - 100 m # 6920 - 30 m 5,6% 2,9% 18,3% 18,6% 6,7% Polychaeta Bivalvia 29,4% Bivalvia 24,3% Scaphopoda Scaphopoda 3,1% Amphipoda Aplacophora 4,1% Cumacea Outros 3,7% 8,0% 7,1% 43,3% 21,9% 11,2% Outros Polychaeta Gastropoda Amphipoda 2,0% 2,3% Ophiuroidea 8,9% 11,9% Polychaeta Bivalvia 7,9% 11,9% Amphipoda # 6924 - 500 m # 6923 - 230 m 42,3% Gastropoda 4,0% Ostracoda 12,3% Polychaeta Gastropoda 33,3% Bivalvia Scaphopoda 16,5% Ophiuroidea Ophiuroidea Outros Galatheidea Outros 18,5% 19,8% Figura 18 – Abundância relativa dos grupos da macrofauna nas 4 estações oceanográficas, computando os dados de todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). Mollusca mostrou uma abundância relativa de cerca de 25% na estação de 30 m e de 31% nos 100 m, sendo que na estação mais rasa Gastropoda participou com 18%, Bivalvia com 6% e Scaphopoda com 2,7% (Figura 19). Nos 100 m o grupo mais abundante foi Bivalvia com 12% da abundância relativa. Scaphopoda veio em seguida com 9% e Gastropoda participou com cerca de 4%. Nos 230 m foi onde Mollusca teve uma menor participação em termos da Abundância relativa, apenas 10%, sendo que Gastropoda foi o grupo mais representativo, com 8%. Na estação mais profunda (500m), Mollusca foi o grupo mais importante representando 35% da fauna total, sendo que Bivalvia destacou-se com 18%, seguido de Scaphopoda com 16% da abundância relativa. Crustacea apresentou uma abundância relativa 25% na estação de 30 m, onde Amphipoda foi o grupo mais representativo, com 17%. Em seguida vieram Ostracoda e Cumacea com cerca de 3% cada. Nos 100 m a importância de Crustacea em termos da fauna total cai para apenas 12,5%, sendo que Amphipoda aparece novamente com maior abundância relativa, 8%. Nos 230 m Crustacea volta a participar com cerca de 20% da fauna total, sendo que 66 Decapoda é o principal grupo com 13,5% da abundância relativa. Na estação profunda (500 m), a abundância relativa de Crustacea cai para apenas cerca de 7% e Decapoda, Isopoda, Tanaidacea, Cumacea, Amphipoda e Ostracoda participam com apenas alguns indivíduos, cerca de 1-2% da abundância relativa para cada um deles (Figura 19). Dentre os Echinodermata o grupo mais representativo foi Ophiuroidea que teve um aumento na sua abundância relativa com o gradiente de profundidade. Na estação dos 30 m aparece com apenas 1% da abundância relativa. Nos 100 e 200 m esse valor sobe para 24 e 42%, respectivamente. Nos 500 m fica em torno de 16% (Figura 19). POLYCHAETA MOLLUSCA 60 Abundância relativa (%) Abundância relativa (%) 60 40 20 0 30 m 230 m 100 m Scaphopoda 40 Bivalvia Gastropoda 20 0 500 m 30 m CRUSTACEA 230 m 500 m OPHIUROIDEA 60 Decapoda Ostracoda 40 Cumacea Tanaidacea Isopoda 20 Amphipoda 0 Abundância relativa (%) 60 Abundância relativa (%) 100 m 40 20 0 30 m 100 m 230 m 500 m 30 m 100 m 230 m 500 m Figura 19 – Abundância relativa dos grupos principais da macrofauna no gradiente de profundidade, computando os dados de todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). Na estação de 230 m são computados também os organismos associados aos nódulos calcários. De modo geral, conforme o apresentado, os grupos da macrofauna parecem se distribuir em três padrões de abundância relacionados com a profundidade. No primeiro padrão, há um aumento da abundância relativa do número de indivíduos com a profundidade e foi observado para Ophiuroidea, Scaphopoda e Bivalvia, para os dois últimos grupos, exceto na estação à 230 67 m de profundidade, onde a abundância relativa foi inferior. Na segunda tendência observada, há uma diminuição da abundância com a profundidade, como é o caso para Amphipoda, Cumacea, Ostracoda e uma tendência para Gastropoda. O último padrão é o apresentado por Polychaeta, em que a abundância relativa é elevada em todas as profundidades, sempre acima de 20%. Do total de 5.972 espécimes coletados, 5.732 deles foram identificados até o nível específico ou tipados, representando 95,98% do total. Com relação à identificação da fauna ao longo do gradiente de profundidade, podemos observar na Figura 20 que nas estações da plataforma continental (30 e 100 m) uma maior percentagem da fauna foi identificada nos níveis específico e genérico. Já nas estações de 230 e 500 m aumentou consideravelmente a percentagem de identificação dos organismos em nível de família, diminuindo a identificação nos níveis genérico e especifico. Até o presente foram descobertas quatro novas espécies para a região, sendo três delas de Amphipoda e uma de Ophiuroidea. Porém, segundo informação de especialistas, ainda há grande possibilidade de aparecerem novas espécies para as estações profundas, onde existe pouca bibliografia disponível e material para comparação, principalmente para o grupo dos poliquetas. Duas novas ocorrências também foram registradas para duas famílias de Tanaidacea, características de regiões profundas. 45 40 35 espécie % 30 25 gênero 20 família 15 gr. grupo 10 5 0 30m m 30 100m m 100 200m m 230 500 500 m m Figura 20 – Grau de identificação da macrofauna nas quatro estações oceanográficas. Computando-se os dados obtidos com todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). Somando-se ao fato da fauna bêntica de regiões profundas ser menos conhecida pelos especialistas da maioria dos grupos de invertebrados marinhos, a fragilidade dos organismos, que assumem formas cada vez 68 menores, da ordem de milímetros com o aumento da profundidade, torna-os mais susceptíveis à danificação no momento da manipulação, peneiramento, e triagem das amostras (Gage & Tyler, 1991), o que dificulta o processo de identificação. Dentre os organismos identificados em nível específico e tipados, foi reconhecido um total de 350 espécies, sendo que Polychaeta apresentou 37,8% desse total, com 132 espécies. Em seguida veio Mollusca com 96 espécies (27,5%), Crustacea com 88 espécies (25,2%) e Echinodermata com 33 espécies (9,7%). A Tabela 10 mostra a participação dos taxa dentro de cada grande grupo da macrofauna em termos do número de espécies e da percentagem da fauna total. Tabela 10 – Número de espécies por grupo da macrofauna bêntica e sua porcentagem em relação à fauna total obtida em Cabo Frio, RJ. Dados referentes a todos os aparelhos. o N espécies % POLYCHAETA 132 37,8 MOLLUSCA 96 27,5 Gastropoda Bivalvia Scaphopoda Aplacophora Cephalopoda 54 25 15 1 1 15,47 7,16 4,3 0,28 0,28 CRUSTACEA 88 25,21 Amphipoda Isopoda Cumacea Tanaidacea Ostracoda Decapoda 31 18 15 12 7 5 8,9 5,16 4,3 3,43 2 1,43 ECHINODERMATA 34 9,74 Ophiuroidea Asteroidea Holothuroidea 31 2 1 8,88 0,57 0,28 TOTAL 350 100 6.2.4 Abundância relativa específica Na estação rasa (30 m), 12 espécies representaram cerca de 69% do total da macrofauna bêntica (Figura 21). Dentre os Polychaeta, o espionídeo Spiophanes missionensis apresentou uma abundância relativa de 22%, 69 seguido por Paraonis sp (4,5%), Ampharetidae sp.1 (3,76%) e pelo capitelídeo Mediomastus cf. californiensis (2,8%). Dentre os Crustacea, os Amphipoda Microphoxus sp. nov. e Phoxocephalopis sp.1 representaram 10 e 5% da fauna total, respectivamente. O ostrácode Cypridinidae sp e o cumáceo Anchystillis sp.1 tiveram uma abundância relativa próxima dos 4%. No grupo Mollusca, o gastrópode Pyrunculus caelatus apresentou uma abundância relativa de 4,2%, seguido dos bivalves Tellina sp (2,6%) e Tellina petitiana (1,8%) e do escafópode Polyschides tetraschistus (2,4%). CRUSTACEA 25 20 Abundância relativa (%) 20 15 10 5 15 Amphipoda 10 5 0 Cumacea us M et ed id io ae m sp as 1 tu s ca lif or ni e. .. sp 1 op ho x M ic r A m ph ar Pa ra on is is 0 io ne ns m is s MOLLUSCA 10 Gastropoda Scaphopoda Bivalvia 5 hi st us te tra sc pe tit ia na ch id es Po ly s Te lin a Te lin a un cu lu s sp 0 ca el at us Abundância relativa (%) 15 Py r Sp io ph an es Ostracoda sp Ph no ox v. oc ep ha lo pi s sp 1 Ci pr id in id ae sp A nc hy st ilis sp 1 Abundância relativa (%) POLYCHAETA Figura 21 – Abundância relativa das espécies mais representativas na estação # 6920 (30 m). Computado-se os dados referentes a todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). 70 Na área da plataforma externa, estação de 100 m de profundidade, 13 espécies corresponderam a cerca de 73% da fauna total (Figura 22). Dentre os Mollusca, o bivalve Corbula patagonica contribuiu com 8,85% para a abundância relativa do grupo, Aplacophora sp.1 com 7%, os escafópodes Gadilinidae sp.1 (3,62%), Antalis infractum (2,61%) e Ephisiphon cf. sowerbyi (2,19%), e o gastrópode Natica sp com 1,68%. Em Crustacea, o Amphipoda Pseudharpinia dentata apresentou 6,49% de abundância relativa e Penaeidea sp.1, 2,86%. Dentre os Polychaeta apareceram Nephtydae sp.3 (5,98%), o maldanídeo Chirimia sp.2 (3,96%) e Spionidae sp.1 (3,62%). No grupo dos Echinodermata, destacou-se o ofiuróide Amphiura complanata com 20,8%, seguido por Amphilimna olivacea com 3,96% da abundância relativa. CRUSTACEA MOLLUSCA 15 15 Abund. relativa (%) Abund. relativa (%) 12.5 10 7.5 5 2.5 7.5 5 2.5 Pseudharpinia dentata POLYCHAETA OPHIUROIDEA 15 15 Abund. relativa (%) Abund. relativa (%) PENAEIDEA sp1 A Co rb ul a 10 0 pa ta go pl ni ac ca op ho r a G ad sp ilin 1 id A a e n ta sp Ep lis 1 hi si i n ph fr ac on tu cf m so w er by i Na tic a sp 0 12.5 10 5 0 Nephtydae sp3 Chirimia sp2 Spionidae sp1 10 5 0 Amphiura complanata Amphiliminna olivacea Figura 22 – Abundância relativa das espécies mais representativas na estação 6922 (100 m). Computando-se os dados de todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). 71 Na estação de 230 m, região de quebra da plataforma, 15 espécies compuseram cerca de 69% do total da fauna (Figura 23). O grupo mais representativo foi Ophiuroidea, onde os ofiacantídeos Ophiacantha cosmica e Ophiacantha pentacrinus apresentaram uma abundância relativa de 15,3 e 11,4%, respectivamente. Em seguida vieram Amphipholizona delicata (8,2%) e Ophiura lymani (3,4%). Dentre os Crustacea,o anomuro galateídeo Munida irrasa apresentou uma abundância relativa de 11,6%, seguido por Penaeidea sp2 (3,2%). O grupo Polychaeta apresentou cinco espécies com abundância relativa entre 1 e 3%, Onuphidae sp1 (2,85%), Syllidae sp.1 (1,7%), o flabeligerídeo Pherusa cf. scutigera (1,6%), o onufídeo Nothria sp (1,4%) e o nereidídeo Neanthes sp (1,4%). No grupo Mollusca aparecem os gastrópodes Eulimidae sp (2,3%), Alvania sp (1,14%), Ancistrobasis sp (1%) e Cranopsis bilsae (0,99%). OPHIUROIDEA CRUSTACEA 15 Abund.relativa (%) 9 6 3 0 9 6 3 an i ly um O MOLLUSCA POLYCHAETA 15 15 12 12 Abund.relativa (%) 9 6 3 9 6 3 0 sc ut ig er a N ot hr ia sp N ea nt he s sp sp 1 sp 1 Ph er us a AE ID H UP N O sp An ci st ro ba si s sp C ra no ps is bi ls ae Al va ni a Eu l im id ae sp 0 Sy ll id ae Abund.relativa (%) PENAEIDEA sp2 ph iu ra de li c at a liz on a ri n us ph ip ho pe nt ac ph ia ca nt ha O Munida irrasa Am co sm ic a 0 ph ia ca nt ha O 12 cf Abund.relativa (%) 15 12 Figura 23: Abundância relativa das espécies mais representativas na estação 6923 (230 m). Computando-se os dados de todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). 72 Na área do talude superior, estação de 500 m, 9 espécies somam 46% da fauna total. Dentre os Mollusca, o bivalve Abra lioica apresentou uma abundância relativa de 9%, seguido pelos escafópodes Fissidentalium cf. candidum (8,2%) e Cadulus parvus (5,1%). No grupo dos Polychaeta, quatro espécies mostraram abundância relativa entre 3 e 4%: Onuphidae sp.3 (4,2%), Pilargidae sp.2 (4,1%), Ampharetidae sp.6 (3,6%) e Flabelligeridae sp.2 (2,8%). Em Ophiuroidea, Ophiomastus satelitae e Amphiura latispina contribuiram com 7,4 e 1,6%, respectivamente (Figura 24). POLYCHAETA MOLLUSCA 15 Bivalvia Scaphopoda 9 6 3 Abund. relativa (%) 12 12 9 6 3 id ae sp 2 sp 6 Fl ab el lig er et id ae m ph ar A Pi la rg id ae sp 3 O nu ph id ae pl at en s Ca du lu s cf de nt al iu m is ca nd id um lio ic a br a A sp 2 0 0 Fi ss OPHIUROIDEA 15 Abund. relativa (%) Abund. relativa (%) 15 12 9 6 3 0 Ophimastus satelitae Amphiura latispina Figura 24 – Abundância relativa das espécies mais representativas da estação # 6924 (500 m). Computando-se os dados de todos os aparelhos (Box corer, draga e van Veen). 73 6.2.5 Eficiência dos amostradores e distribuição vertical da macrofauna no sedimento. A princípio, no delineamento dos objetivos iniciais do trabalho, desejavase fazer uma comparação quali- e quantitativa entre as amostragens feitas com o pegador de fundo (van Veen) e o ‘box corer’. Porém, como o material proveniente desta parte do trabalho refere-se ao cruzeiro piloto do projeto DEPROAS, algumas dificuldades no manuseio do ‘box corer’ foram sentidas pela equipe de técnicos e pesquisadores à bordo. Na estação de 30 m, por exemplo, devido ao sedimento muito arenoso, muitos lances de box corer foram necessários para a coleta de um volume representativo de sedimento. Os dispositivos de vedação da caixa inox não estavam ainda aperfeiçoados e muito material era perdido durante a subida do equipamento, fazendo com que a estrutura vertical da coluna sedimentar fosse perturbada, inviabilizando o estudo da distribuição vertical dos organismos da macrofauna. Devido a essa dificuldade, nessa estação, apenas uma amostra de ‘box corer’ foi retirada de modo satisfatório. Nas estações de 100 e 230 m o funcionamento do ‘box corer’ foi mais eficiente devido à natureza do sedimento, muito lodoso e compacto, impedindo a lavagem do material durante a subida. Ainda assim, na estação dos 230 m, muitas vezes o aparelho voltava vazio, ou com pouco sedimento, devido à presença de grandes blocos calcários que impediam o correto fechamento do sistema da trava do aparelho. Na estação mais profunda (500 m), também foram sentidas dificuldades para obtenção de amostras principalmente devido às condições do mar que faziam oscilar muito o cabo de aço do guincho, impedindo que o aparelho penetrasse corretamente no sedimento. Nesta estação também só foi possível a retirada de uma amostra satisfatória para esse aparelho. Nos cruzeiros subseqüentes, já com o sistema de vedação da caixa amostradora funcionando corretamente, foi utilizada uma estratégia para a amostragem nas estações mais profundas. A técnica consistia em baixar o equipamento até uma profundidade de cerca de 5-10 m acima do fundo, esperar alguns minutos até a oscilação do cabo diminuir, e então liberar o cabo 74 de forma abrupta para o aparelho atingir uma boa velocidade antes de atingir o fundo, garantindo uma eficiente penetração no sedimento. Deste modo, as comparações presentes neste trabalho, tanto qualitativas como quantitativas, entre van Veen e ‘box corer’, servem apenas como uma análise exploratória, visando a obtenção de um indicativo da eficiência de um ou de outro aparelho para coleta de um maior número de indivíduos e/ou um maior número de espécies, não havendo nenhuma comprovação estatística devido ao pequeno número de amostras. A seguir são representados esquemas (Figuras 25 a 29) que apresentam o número de espécies capturadas com cada aparelho quantitativo e também na draga, assim como as espécies capturadas por mais de um aparelho, o número de espécies obtidas exclusivamente por determinado aparelho e o número de espécies coletadas em comum pelos três aparelhos, em cada estação. Na estação rasa, um maior número de espécies (77) foi amostrado com o box corer, seguido pelo van Veen, 69 espécies, e pela draga, 47 espécies (Figura 25). No ‘box corer’ também foi observado um maior número de espécies exclusivas (33), representando 42,85% do total de espécies capturadas pelo aparelho. Já nas amostras de van Veen, 23 espécies foram amostradas de forma exclusiva, representando 33%. A draga amostrou 27 espécies exclusivas, representando 57,4%. Pegador Total 69 23 32 8 6 Box Corer Total 77 33 6 27 Draga Total 47 Figura 25 - Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6920 (30 m). 75 Na estação dos 100 m houve diferença marcante entre o número de espécies capturadas pelos aparelhos quantitativos: 47 pelo van Veen e 64 pelo o ‘box corer’ (Figura 26). A percentagem de espécies exclusivas para ambos aparelhos também foi distinta, em torno de 54% para o ‘box corer’ e 44% para o pegador. Em termos da abundância de indivíduos, mesmo com a fauna concentrada nos primeiros 10 cm da coluna de sedimento (conforme será visto na próxima sessão), podemos encontrar algumas espécies altamente adaptadas a viver no meio do sedimento compactado e abaixo dos 10 cm da superfície, como, por exemplo, alguns poliquetas capitelídeos e maldanídeos, só observados nas amostras de box corer e nos horizontes inferiores. Verificou-se que nesta estação houve um maior número de espécies que ocorreram nos três aparelhos (14), quando comparado à estação de 30 m. Talvez a maior homogeneidade do substrato possa ser uma explicação para tal fato. Por ser o substrato muito compacto, não foi lavado na subida dos equipamentos, inclusive da draga, o que permitiu às espécies menores, representantes da infauna, ficarem retidas em todos os aparelhos. Pegador Total 47 21 10 2 14 Box Corer 35 Total 64 5 18 Draga Total 39 Figura 26 - Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6922 (100 m). A Figura 27 mostra o mesmo diagrama para a estação de 230 m, onde encontramos um fundo composto por mosaicos de sedimentos lamosos, cascalho biodetrítico e algas calcárias. Como dito anteriormente, o funcionamento do ‘box corer’ neste fundo biodetrítico foi prejudicado devido à presença de fragmentos desse substrato calcário. Ainda assim o ‘box corer’ amostrou um total de 104 espécies, enquanto o van Veen amostrou 95. 76 Contudo, a percentagem de espécies exclusivas para cada aparelho foi praticamente a mesma, em torno de 31%. Nesta estação é onde ocorre o maior número de espécies amostradas pelos três aparelhos (25) e também onde o número de espécies exclusivas para a draga foi maior, 37 espécies. Este fato possivelmente seja devido à amostragem seletiva de blocos calcários pela draga, blocos esses que abrigam uma fauna distinta da fauna presente no sedimento, que será analisada em detalhe na próxima seção do presente trabalho. Pegador Total 95 30 34 6 25 Box Corer Total 104 33 12 37 Draga Total 80 Figura 27 - Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6923 (230 m). Na estação de 500 m, o pegador amostrou um total de 59 espécies enquanto o ‘box corer’ amostrou apenas 27. A draga amostrou 13 espécies, sendo que 11 delas exclusivas para esse aparelho (Figura 28). Ressaltamos novamente o mal funcionamento do ‘box corer’ nesta estação. Pegador Total 59 39 18 1 1 Box Corer Total 27 8 0 11 Draga Total 13 Figura 28 - Número de espécies coletadas exclusivamente por determinado aparelho, ou por mais de um aparelho de coleta na estação # 6924 (500 m). 77 As Figuras 29 a 32 mostram como estiveram distribuídos os taxa da macrofauna bêntica na coluna sedimentar obtida a partir das amostras de ‘box corer’, e fatiadas arbitrariamente em um limite superior e um inferior. Esse limite, como dito anteriormente, foi estabelecido segundo uma diferenciação nos padrões visuais de textura e coloração do sedimento, indicando zonas de transição entre um sedimento mais oxigenado, superficial, e um sedimento possivelmente pobre em oxigênio nas camadas inferiores. Na estação de 30 m observamos que a maior parte da fauna esteve concentrada abaixo dos 7 cm iniciais da coluna sedimentar, com cerca de 500 indivíduos. Neste horizonte houve uma grande abundância de poliquetas (240 ind.), dentre os quais destacaram-se o espionídeo Sphiophanes missionensis (121 ind.), o paraonídeo Paraonis sp (45 ind.), Ampharetidae sp.1 (32 indiv.) e o capitelídeo Mediomastus cf. californiensis (16 ind.). Em seguida os grupos mais abundantes foram Gastropoda (70 ind.), Amphipoda (62 ind.), Cumacea (29 ind.) e Ostracoda (29 ind.). No horizonte superior (0-7 cm) estiveram presentes num total de 187 indivíduos, sendo que Polychaeta novamente dominou, apresentando 98. Em seguida, com apenas poucos, indivíduos vieram Gastropoda, Bivalvia e Scaphopoda (Figura 29). # 30 m - Box Corer 1 Polychaeta Gastropoda Bivalvia superior 0-7 cm Scaphopoda Amphipoda Cumacea inferior 7-13 cm Ostracoda Ophiuroidea 0 100 200 300 400 500 Sipuncula No de indivíduos Figura 29 – Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 30 m (a partir de uma amostra de box corer com área de 0,09 m2). 78 Nos 100 m de profundidade, onde duas amostras de ‘box corer’ foram coletadas com sucesso, observamos que a macrofauna esteve concentrada nos primeiros 10 cm do sedimento e onde dominaram os moluscos bivalves, Ophiuroidea e Polychaeta (Figura 30). Na réplica 1 o ofiuróide Amphiura complanata dominou com 162 indivíduos, enquanto na réplica 2 o bivalve Corbula patagonica dominou com 70 indivíduos. No horizonte inferior (10-16 cm), observamos cerca de apenas 30 indivíduos na réplica 1 e 49 exemplares na réplica 2. O ofiuróide Amphiura complanata e o poliqueta Euphrosinidae sp1 estiveram presentes com um maior número de indivíduos, 25 e 17, respectivamente, nas réplicas 1 e 2. # 100 m - Box Corer 1 # 100 m - Box Corer 2 Polychaeta Polychaeta Gastropoda Gastropoda Bivalvia superior 0-10 cm Scaphopoda Aplacophora Bivalvia superior 0-10 cm Scaphopoda Aplacophora Amphipoda Isopoda inferior 10-16 cm Tanaidacea Amphipoda inferior 10-16 cm Isopoda Cumacea Cumacea 0 100 200 No de indivíduos 300 Ostracoda Ophiuroidea 0 50 100 150 No de indivíduos 200 Ostracoda Ophiuroidea Figura 30: Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 100 m. (a partir de duas amostras de box corer com área de 0,09 m2). Na estação dos 230 m também observamos a macrofauna distribuída mais abundantemente nas camadas superficiais do sedimento (0-6 cm). Em ambas as réplicas, Polychaeta e Gastropoda foram os grupos dominantes nesse horizonte. Na fauna dessa estação aparecem organismos que são tipicamente associados a sedimentos biodetríticos, como Brachiopoda, Pycnogonida e Sipuncula. No horizonte inferior (6-14 cm), com características sedimentológicas bem distintas da camada superior, composto principalmente pelas frações de areia fina e muito fina, o grupo mais representativo foi Gastropoda e as espécies mais abundantes foram Alvania sp (Rissoidae), Ancistrobasis sp (Trochidae) e Eulimidae sp (Figura 31). 79 Polychaeta # 230 m - Box Corer 1 Polychaeta Gastropoda # 230 m - Box Corer 2 Gastropoda Bivalvia Scaphopoda Amphipoda Bivalvia Scaphopoda superior 0-6 cm Amphipoda Isopoda superior 0-6 cm Isopoda Tanaidacea Cumacea Tanaidacea Ophiuroidea inferior 6-14 cm Brachiopoda Ostracoda 0 50 10 0 Galatheidea 150 0 Sipuncula No de individuos Ostracoda Pycnogonida inferior 6-14 cm 50 100 150 200 N de individuos o Ophiuroidea Nemertinea Brachiopoda Sipuncula Figura 31: Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 200 m. (a partir de duas amostras de box corer com área de 0,09 m2). Na última estação, a mais profunda, novamente apenas uma amostra de ‘box corer’ foi analisada e todos os 137 indivíduos amostrados estiveram presentes no horizonte superior (0-10 cm) do sedimento (Figura 32). Assim como na estação de 230 m, os grupos mais abundantes foram Polychaeta e Gastropoda. # 500 m - Box Corer 1 Polychaeta Scaphopoda superior 0-10 cm Aplacophora Bivalvia Amphipoda Isopoda Cumacea inferior 10-14 cm Tanaidacea 0 20 40 60 80 100 No de indivíduos Figura 32 – Distribuição vertical da macrofauna bêntica no sedimento na estação de 500 m. (a partir de uma amostra de box corer com área de 0,09 m2). 80 6.2.6. Parâmetros de Comunidade Com relação aos parâmetros de comunidade obtidos para as quatro estações de coleta ao longo do gradiente batimétrico, plotados separadamente para cada aparelho quantitativo, observamos que as estações de 30 e 230 m apresentaram maiores valores de riqueza de espécies (S) e nos índices de diversidade de Shannon (H’) e de equitatividade de Pielou (J’) (Figuras 33 e 34). A abundância de indivíduos decresceu ao longo da radial de estações, atingindo um valor máximo acumulado de cerca de 2.000 indivíduos na estação rasa e de cerca de 480 indivíduos na estação de 500 m. (Figura 35). 160 a.. Riqueza de espécies (S) Riqueza de espécies (S) 175 150 125 Pegador 100 Box Corer 75 Acumulada 50 25 0 30 m 100 m 230 m b.. 140 120 Pegador 100 80 Box Corer 60 Acumulada 40 20 0 500 m 30 m 100 m 230 m 500 m 3,6 1 a. 3 2,4 Pegador 1,8 Box Corer 1,2 0,6 Equitativ. Pielou (J') Diversidade de Shannon (H') Figura 33 – Riqueza de espécies no gradiente batimétrico. a) conchas de gastrópodes sem partes moles; b) apenas conchas com partes moles ( - amostras sem réplica). 0 b.. 0,75 Pegador 0,5 Box Corer 0,25 0 30 m 100 m 230 m 500 m 30 m 100 m 230 m 500 m Figura 34 – a) Diversidade de Shannon (H’); b) Equitatividade de Pielou (J’) para as quatro estações amostradas ( - amostras sem réplica). Abundância de indiv. 2000 1500 Pegador 1000 Box Corer Acumulada 500 0 30 m 100 m 230 m 500 m Figura 35 – Abundância de indivíduos. ( - amostras sem réplica). 81 Na figura 33 são plotados os valores de riqueza de espécies calculados com base na fauna total de macroinvertebrados, incluindo as espécies de moluscos gastrópodes sem partes moles (Figura 33-a), e excluindo-as (Figura 33-b). Alguns autores sugerem que a presença de indivíduos mesmo sem suas partes moles, mas com conchas em bom estado de conservação, não apresentando sinais de abrasão, perda de coloração, brilho, etc, podem indicar a ocorrência daquele organismo nas proximidades da área amostrada, sugerindo a ausência de transporte por correntes de fundo através de grandes distâncias. Assim, a informação obtida a partir de uma listagem de espécies poderia nos indicar o papel desses organismos nos padrões de biodiversidade local. No presente estudo, apenas nas estações de 230 e 500 m um grande número de conchas de gastrópodes foi amostrada sem partes moles e em bom estado de conservação. Como a fauna bêntica dessas regiões de quebra de plataforma e talude são muito pouco conhecidas para as regiões do Atlântico Sul Ocidental (Sumida & Pires-Vanin, 1997; Miyaji, 2001; Atollini, 2002), achamos interessante identificar as conchas vazias também, como potencial de informação para uma eventual ocorrência de novas espécies. De fato, estudos sobre a fauna de gastrópodes da costa brasileira, na última década, têm revelado aos cientistas uma grande quantidade de novas espécies (Rios & Leal 1993; Absalão & Rios 1995; Absalão et al. 2001; Pimenta & Absalão, 2002), especialmente em regiões de mar profundo. Observando a figura 33 a e b, podemos notar que os padrões de riqueza de espécies não se alteram em ambos os casos e a estação de 230 m continua apresentando uma maior riqueza de espécies (142), mesmo sem computar as 37 espécies de gastrópodes sem partes moles amostradas nesta estação. A estação de 30 m apresentou um total de 125 espécies, enquanto as estações de 100 e 500 m apresentaram 97 e 113 espécies, respectivamente. Os resultados da análise de variância monofatorial não-paramétrica (teste de Kruskall-Wallis) revelaram que a estação da plataforma interna (30m) apresentou valores de abundância significativamente maiores que as outras estações (p=0,035). Com relação à riqueza de espécies e a diversidade de Shannon, as estações de 30 e 200 m apresentaram valores significativamente maiores do que as estações de 100 e 500 m, p=0,027 e p=0,041 82 respectivamente. O índice de Equitatividade de Pielou não apresentou variação significativa entre as quatro estações. Com relação ao número de espécies dos grupos dominantes da macrofauna bêntica, nas quatro profundidades amostradas, vemos que Polychaeta apresenta o mesmo número de espécies nas estações da plataforma (30), um pico de 51 espécies na estação de 230 m, caindo para apenas 24 espécies na estação profunda de 500 m (Figura 36). Mollusca tem um padrão de declínio no número de espécies ao longo da radial, 51 espécies a 30 m e 15 espécies a 500 m. Crustacea aparece com 26 espécies na estação mais rasa, 19 espécies na estação de 100 m, 36 espécies a 230 m e 19 espécies a 500 m. O grupo dos Echinodermata, que participa com um menor número de espécies para a área estudada, apresenta o mesmo padrão dos Crustacea, e aparece com 9 espécies a 30 m, 5 espécies nos 100 m, 14 Riqueza de espécies (S) espécies nos 200 m e 10 espécies a 500 m (Figura 36). 60 50 Polychaeta 40 Mollusca 30 Crustacea 20 Echinodermata 10 0 30 m 100 m 230 200 m m 500 500 m m Figura 36 – Riqueza de espécies dos principais grupos da macrofauna bêntica no gradiente de profundidade (valores totais para os três aparelhos de coleta). A Tabela 11 mostra as variáveis ambientais que apresentaram correlação significativa (rho-Spearman) com os parâmetros de comunidade analisados (Abundância, Riqueza, Diversidade e Equitatividade). A abundância de indivíduos apresentou uma correlação negativa com a profundidade e com o coeficiente de seleção do sedimento, e apresentou uma correlação positiva com a porcentagem de areia muito fina. A riqueza de espécies (S) esteve correlacionada negativamente com as porcentagens de silte, argila e com o diâmetro médio do sedimento. A diversidade (H’) apresentou correlação positiva com a porcentagem de areia grossa e a 83 equitatividade mostrou correlação positiva com a profundidade e negativa com a temperatura (Tabela 11). Tabela 11 – Correlações significativas (rho-Spearman) entre as variáveis ambientais e os parâmetros de comunidade (N, abundância; S, Riqueza; H’ diversidade de Shannon; J’ equitatividade de Pielou) N Profundidade Temperatura Salinidade % AG % AM % AF % AMF % Silte % Argila Diâm. Médio Coef. Seleção S H’ - J’ + + + - 6.2.7. Grupos Tróficos de Polychaeta A importância de cada grupo trófico de Polychaeta nas quatro estações estudadas é mostrada na Figura 37. Na estação de 30 m os grupos dominantes foram os depositívoros de superfície seguido dos carnívoros. Dentre os carnívoros as espécies mais abundantes foram Nephtydae sp2, Onuphis cf. eremita, Sigambra grubei, Sigalionidae sp.2 e Anaitides sp.1. No grupo dos depositívoros de superfície as espécies dominantes foram Sphiophanes missionensis, Ampharetidae sp.1 e Paraonis sp. Nos 100 m, o grupo dos carnívoros dominou e foi seguido dos depositívoros. Nesta estação os depositívoros de subsuperfície aparecem com uma importância similar aos de superfície (Figura 37). Dentre os carnívoros as espécies mais importantes foram Nephtydae sp.3 e Euphrosinidae sp.1. Dentre os depositívoros de superfície destacaram-se Owenidae sp.1, Spionidae sp.1 e Ampharetidae sp.1, e dentre os depositívoros de subsuperfície, Maldanidae sp.1 e Chirimia sp. Os demais grupos tróficos foram de pequena importância. 84 Na estação dos 230 m, o grupo dos carnívoros também dominou, seguido dos depositívoros de superfície. Os depositívoros de subsuperfície, omnívoros e suspensívoros aparecem com pouca importância (Figura 37). Dentre os carnívoros, as espécies mais importantes foram Onuphidae sp.1 e Syllidae sp.3. Entre os depositívoros de superfície destacaram-se Ampharetidae sp4, Paraonis sp.2 e Pherusa cf. scutigera. Na estação sobre o talude superior, os grupos onívoro, depositívoro de subsuperfície e suspensívoro aparecem com uma importância ligeiramente maior do que nas outras estações, porém, os grupos tróficos dominantes continuam sendo depositívoros de superfície e carnívoros (Figura 37). Dentre os últimos destacaram-se Pilargidae sp.2 e Onuphidae sp.3 e no grupo dos depositívoros de superfície dominaram Ampharetidae sp.6, Cirratulidae sp.2 e Flabelligeridae sp.2. 30 m 100 m 16 14 14 12 12 10 10 8 8 6 6 4 4 2 2 0 0 C S B C O S B 200 m m 230 O F O F 500 m 14 14 12 12 10 10 8 8 6 6 4 4 2 2 0 0 C S B O F C S B Figura 37 – Índice de Importância Trófica de Polychaeta (IIT; Paiva, 1993) para as quatro estações estudadas (C= carnívoros; S= depositívoros de superfície; B= depositívoros de subsuperfície; O= onívoros; F= suspensívoros). A Tabela 12 mostra as variáveis ambientais que apresentaram correlação significativa com os grupos tróficos de Polychaeta. O grupo dos carnívoros correlacionou-se negativamente com a profundidade e positivamente com a temperatura. Já os depositívoros de superfície estiveram 85 correlacionados positivamente com as porcentagens de areia fina, areia muito fina, silte e argila, e negativamente com a profundidade. Os depositívoros de subsuperfície apresentaram correlação negativa com a porcentagem de areia grossa e coeficiente de seleção, e positiva com a porcentagem de areia muito fina. O grupo dos onívoros mostrou correlação negativa com a salinidade e positiva com a porcentagem de areia média. Por último, os suspensívoros apresentaram correlação positiva com as porcentagens de areia muito fina, silte, argila e com o diâmetro médio de grãos, e negativa com o coeficiente de seleção. Tabela 12 – Correlações significativas (p< 0,05; rho-Spearman) entre as variáveis ambientais e os índices de importância trófica de Polychaeta (C= carnívoros; S= depositívoros de superfície; B= depositívoros de subsuperfície; O=omnívoros; F= suspensívoros). Profundidade Temperatura Salinidade % AG % AM % AF % AMF % Silte % Argila Diâm. Médio Coef. Seleção C S + + B O F - + + + + + + - + + + + - 6.2.8. Associações de espécies O resultado da análise de agrupamento em modo r (associações de espécies) está representado pelo dendrograma da Figura 38. Uma lista com as espécies presentes em cada grupo é mostrada na Tabela 13. Podemos observar nitidamente a separação de dois grandes grupos relacionados com a profundidade em um nível de 5% de similaridade. O primeiro deles é formado pelas espécies que ocorreram preferencialmente na plataforma continental, sendo subdividido em dois subgrupos. O primeiro subgrupo (a.), a um nível de similaridade de cerca de 67%, agrupou as espécies da plataforma externa (100 m). O segundo subgrupo (b.) apresentou ainda dois conjuntos de espécies, o primeiro com aquelas que ocorreram em d. 40 100 100 m Plataforma Continental A P LA C O P H O R A s p 1 P s e u d h a r p i n ia d e n t a t a A r a b e ll i d a e s p 1 O w eni dae s p 1 A s te ro p e l l a s p A n t h ur i d ae s p 1 N e ta m e li t a s p A m p h i u r a c o m p la n a t a A m p h i l im n a o li va c e a H a li s t yl u s c a l l u m a Pr un um s p T e i n o s to m a s p C o r b u l la c ym e l l a E p h i s i p h o n c f . s o w e r b yi A n t a l is i n f r a c t u m N e p h t yd a e s p 3 S i g am b r a s p P o da r k e s p S ig a l i o n i d a e s p 3 P o l yn o i d a e s p 3 S yll i d a e s p 2 O r b in i i d a e s p 1 A m p hi no m i d ae s p 1 E up h r os i n i d a e s p 1 P o e c i lo c h a e t i d a e s p 1 M a ld a n i d a e s p 1 C h ir i m i a s p A c t e o n p e le c a i s P yr u n c u l u s c a e l a tu s V o l vu ll e l l a p e r s i m il i s D i pl odo nta s p G adi l a s p E ph i s i p h o n s p S pi o n i d a e s p 1 A mp har eti dae s p 1 P o l yn o i d a e s p 2 N e r e i d i d ae s p 1 D o r vi ll e i d a e s p 1 P h yl lo d o c e s p 1 A xio te l l a b r a s i l ie n s i s L u m b r in e r is s p 1 O l ivi d a e s p E pi t o n i u m s p 1 T ur r i da e s p N a t ic a s p S yll i d a e s p 1 A n a it i d e s s p 1 P a r a o n is s p 1 L u m b r i n e r i s te tr a u r a L u m b r in e r io p s m a c r o n a t a N ot om a s t u s s p 1 M e d io m a s t u s c a l i fo r n ie n s i s C yl in d r o l e b e r id i n i d a e s p M ic r o p h o xu s s p n o v. P h o xo c e p h a l o p is s p 1 P h o t is b r e vip e s P la tys c h i n o p i i d a e s p 1 A n c h ys ti l is s p 1 D r a s tyl e s s p 2 C yc la s p e s s p 2 A m p h i u r a j o ub i n i A m p h iu r a f l e xu o s a P yr a m i d e l li d a e s p T u r b o n il l a s p 1 T u r b o n il l a s p 2 T u r b o n il l a s p 3 T u r b o n il l a s p 4 C o l lu m b e l li d a e s p A na c h i s o be s a C a ll i o s t o m a r o t a S o l a r ie ll a c a r va lh o ii O l i ve l la d e fi o r e i L it i o p a m e l a n o s t o m a A c te o c i n a c a n d e i C ym a t h i u m p a r te n o p e u m A d r a n a e l ec t a T e l l in a s p T e l li n a p e ti t ia n a P o l ys c h i d e s t r e t r a s c h i s tu s S p i op h a n e s m i s s i o ne ns i s N e p h t yd a e s p 1 N e p h t yd a e s p 2 O nup hi s c f er e mi ta D io p a t r a s p S ig a m b r a g r u b e i G yp t yi s c a p e n s i s G l yc e r a s p 1 M a g e l o n a c f. r io j a i M a g e l o n a va r io l a m e ll a t a S ig a l i o n i d a e s p 1 S ig a l i o n i d a e s p 2 P o l yn o i d a e s p 1 F i s s i d e n ta li u m c f . c a n d i d u m A mp har eti dae s p 6 O n u p h i d ae s p 3 P i la r g i d a e s p 2 C a p i te ll ia d a e s p 3 G l yc e r i d a e s p 3 M ag el oni da e s p L a e tm o n ic e s p E un i c i d a e s p 3 O r bi ni dae s p 3 O p h e ll i d a e s p 2 Par a oni dae s p 5 F l a b e l l ig e r i d a e s p 2 B yb l i s s p O p h i o m a s t u s s a te li ta e C a d u l u s c f . p a r vu s C a d u lu s p la te n s i s A b r a l i o ic a C o r b u la p a ta g o n ic a G a d i li n i d a e s p 1 P a r a o n is s p 2 O p h i o t ri x r a t b u n i O p hi o m i c e s f r u t e r c ul os u s O p h io m i s i d i u m s p e c io s u m C r a n o p s i s b i ls a e A nc i s tr oba s i s s p E u l im i d a e s p O li ve l l a s p G r a n u l in a o vu l if o r m i s M an g el i a s p A b ra c f. b r a s i l ia n a C a d u lu s b r a s i l ie n s i s A n t a l is c ir c u n c i c t u m L a o n ic e s p A mp har eti dae s p 4 K i m b e r g o n u p h i s c f a t l a n t ic a H ya li n o e c i a s p N ot h r i a s p O n u p h i d ae s p 1 P i la r g i d a e s p 1 H e s yo n i d a e s p 1 C a p i t e ll i d a e s p 2 G l yc e r i d a e s p 1 S ig a l i o n i d a e s p 4 P o e c i lo c h a e t i d a e s p 1 C h r ys o p e t a l u m s p N e r e i d i d ae s p 3 N e a n t he s s p E un i c i d a e s p 2 E u n ic e lo n g i c i r r a t a A n a it i d e s m a d e ir e n s i s O p h e ll i d a e s p 1 A m p hi no m i d ae s p 2 A m p hi no m i d ae s p 3 M a ld a n i d a e s p 2 P h e r u s a c f s c u ti g e r a O w eni dae s p 2 P a r a n e s id e a c f . a l b a t r o s s a E xp a n a n t h u r i d a e s p 1 H ys s u r i d a e s p N a ta t o l a n a s p I an i r el l a s p J a e ro p s i s s p G n athi a s p A m pe l i s c a r o m i g i C er apu s s p P ar a c a pr el l a s p A o r i da e s p L ys i a n a s s i d a e s p 2 N AT 2 SP H YR A PID AE T Y P H L O T A N AID AE M E T A PS EU D ID A E L E P T O C C H E L II D A E A N AR T H U R ID AE BR A C H IO P O D A N ep h a s o m a s p 2 A p i o s o m a m i s a k ia n u m O p h i u r a l yu n g m a n i O p h ia c a n t h a c o s m ic a O p h i a c a n th a p e n t a c r in u s A m p h i p h o li z o n a d e l i c a t a L um br i ner i dae s p 1 G o ni a d i d a e s p 1 S yll i d a e s p 3 E un i c i d a e s p 1 P h yll o d o c i d a e s p 2 C r a n o p s i s g r a n ul a t a A n a to m a s p A lva n i a s p D i pl odo nta s p S pi o n i d a e s p 3 C ir r a tu l i d a e s p 2 C h l a m ys t e a ve l c h u s N u c u l a p u e lc h a C yp r id i n i d a e s p S i m i la r it y 86 toda plataforma continental, tanto nos 30 como nos 100 m, e o segundo com espécies exclusivas da plataforma interna (Figura 38). O segundo grande grupo reuniu as espécies presentes nas estações de 230 e 500 m, ou seja, nas áreas de quebra da plataforma e talude superior, respectivamente. Este foi subdividido em 2 subgrupos, o primeiro (c.) composto pelas espécies que ocorreram exclusivamente na estação de 500 m e o segundo (d.), composto ainda por três conjuntos: d1- espécies com ampla distribuição batimétrica; d2: presentes na quebra da plataforma com uma similaridade de cerca de 67% e, d3: espécies que ocorreram na quebra da plataforma e talude superior, com 70% de similaridade. 0 20 a. b. 30 + 100 m c. 30 m d. d1 60 d2 500 m *** d3 80 230 m 230 + 500 m Quebra plat. + Talude superior Figura 38: Diagrama de agrupamento das espécies da macrofauna bêntica, com base nos dados de presença e ausência. (*** espécies com ampla distribuição batimétrica). 87 Tabela 13: Lista com as espécies da macrofauna pertencentes aos grupos formados na análise de agrupamento. Plataforma Continental ( a. e b.) 30 m 100 m Pyramidellidae sp Olividae sp. Turbonilla sp.1 Halistylus calluma Prunum sp. Turbonilla sp.2 Teinostoma sp. Turbonilla sp.3 Turbonilla sp.4 Quebra da Plataforma e Talude Superior (c. e d.) 30 e 100 m 200 m 500 m 200 e 500 m Cadulus cf. parvus Epitonium sp.1 Cranopsis bilsae Ancistrobasis sp. Cadulus platensis Cranopsis granulata Anatoma sp. Turridae sp. Eulimidae sp. Fissidentalium cf. candidum Alvania sp. Corbula cymella Natica sp. Olivella sp. Ampharetidae sp.6 Diplodonta sp. Ephisiphon cf. sowerbyi Acteon pelecais Onuphidae sp.3 Spionidae sp.3 Collumbellidae sp. Antalis infractum Pyrunculus caelatus Granulina ovuliformis Mangelia sp. Pilargidae sp.2 Cirratulidae sp.2 Anachis obesa Nephtydae sp.3 Volvullella persimilis Abra cf. brasiliana Capitelliadae sp.3 Lumbrineridae sp.1 Calliostoma rota Sigambra sp. Diplodonta sp. Cadulus brasiliensis Glyceridae sp.3 Goniadidae sp.1 Syllidae sp.3 Solariella carvalhoii Podarke sp. Gadila sp. Sigalionidae sp.3 Ephisiphon sp. Antalis circuncictum Laonice sp. Magelonidae sp. Olivella defiorei Laetmonice sp. Eunicidae sp.1 Litiopa melanostoma Polynoidae sp.3 Spionidae sp.1 Ampharetidae sp.4 Eunicidae sp.3 Phyllodocidae sp.2 Kimbergonuphis cf atlantica Hyalinoecia sp. Ophellidae sp.2 Acteocina candei Syllidae sp.2 Ampharetidae sp.1 Cymathium partenopeum Orbiniidae sp.1 Polynoidae sp.2 Orbinidae sp.3 Adrana electa Amphinomidae sp.1 Nereididae sp.1 Nothria sp. Paraonidae sp.5 Tellina sp. Euphrosinidae sp.1 Dorvilleidae sp.1 Onuphidae sp.1 Flabelligeridae sp.2 Tellina petitiana Poecilochaetidae sp.1 Phyllodoce sp.1 Pilargidae sp.1 Byblis sp. Nephtydae sp.1 Maldanidae sp.1 Axiotella brasiliensis Hesyonidae sp.1 Ophiomastus satelitae Nephtydae sp.2 Chirimia sp. Lumbrineris sp.1 Ampharetidae sp.4 Onuphis cf. eremita Arabellidae sp.1 Diopatra sp. Owenidae sp.1 Kimbergonuphis cf atlantica Hyalinoecia sp. *** Ampla distribuição Sigambra grubei Asteropella sp. Nothria sp. Abra lioica Gyptyis capensis Anthuridae sp.1 Onuphidae sp.1 Corbula patagonica Glycera sp.1 Netamelita sp. Pilargidae sp.1 Gadilinidae sp.1 Magelona cf. riojai Amphiura complanata Hesyonidae sp.1 Paraonis sp2 Magelona variolamellata Amphilimna olivacea Capitellidae sp.2 Chlamys teavelchus Sigalionidae sp.1 Glyceridae sp.1 Nucula puelcha Sigalionidae sp.1 Sigalionidae sp.4 Cypridinidae sp Polynoidae sp.1 Poecilochaetidae sp.1 APLACOPHORA sp1 Syllidae sp.1 Chrysopetalum sp. Pseudharpinia dentata Anaitides sp.1 Nereididae sp.3 Paraonis sp.1 Neanthes sp. Lumbrineris tetraura Eunicidae sp.2 Lumbrineriops macronata Eunice longicirrata Notomastus sp.1 Anaitides madeirensis Mediomastus californiensis Ophellidae sp.1 Cylindroleberidinidae sp. Amphinomidae sp.2 Microphoxus sp. nov. Amphinomidae sp.3 Phoxocephalopis sp.1 Maldanidae sp.2 Photis brevipes Pherusa cf scutigera Platyschinopiidae sp.1 Owenidae sp.2 Anchystilis sp.1 Paranesidea cf. albatrossa Diastylis sp.2 Expananthuridae sp.1 Cyclaspis sp.2 Hyssuridae sp. Amphiura joubini Natatolana sp. Amphiura flexuosa Ianirella sp. Jaeropsis sp. Gnathia sp. Ampelisca romigi Cerapus sp. Paracaprella sp. Aoridae sp. Lysianassidae sp.2 Tanaidacea sp.2 SPHYRAPIDAE TYPHLOTANAIDAE METAPSEUDIDAE LEPTOCCHELIIDAE ANARTHURIDAE BRACHIOPODA Nephasoma sp.2 Apiosoma misakianum Ophiura lyungmani Ophiacantha cosmica Ophiacantha pentacrinus Amphipholizona delicata Ophiotrix ratbuni Ophiomices fruterculosus Ophiomisidium speciosum 88 6.3. DISCUSSÃO 6.3.1. Natureza dos amostradores Com relação a draga retangular ‘beam trawl’, observamos que houve uma grande porcentagem de ocorrência de espécies exclusivas para esse amostrador. Certamente este fato pode ser explicado pela ação seletiva desse aparelho sobre a epifauna, capturando organismos com maior mobilidade e que dificilmente são capturados com aparelhos quantitativos, como o caso do van Veen e do box corer. Outra vantagem da draga decorre da possibilidade de amostragem de vários microambientes, ou manchas de assembléias faunísticas, já que os organismos bênticos tendem a se distribuir de forma agregada. Assim, a área amostral é maior em relação aos aparelhos quantitativos. Apesar dos resultados aqui apresentados não apontarem de forma conclusiva para uma maior eficiência por parte do pegador de fundo van Veen ou do box corer, em termos do número de espécies ou de indivíduos capturados, este último aparelho parece oferecer melhores condições de amostragem quando manuseado corretamente e sob condições de tempo favoráveis, ou seja, sem muita oscilação do cabo do guincho. Ainda, a possibilidade de estudos mais consistentes sobre a distribuição vertical dos organismos e as propriedades do sedimento, torna o aparelho mais apreciado pelos pesquisadores que lidam com estudos das comunidades bênticas. Pudemos observar que o box corer amostrou um maior número de espécies e de indivíduos nas estações de 30, 100 e 230 m. Especialmente nas estações de 38 e 100 m, este aparelho capturou, respectivamente, 8 e 17 espécies a mais do que o pegador de fundo (Figuras 25, 26 e 27). O box corer também amostrou, de forma geral, uma maior porcentagem de espécies exclusivas, ou seja que só foram obtidas por esse aparelho, o que pode estar indicando sua eficiência em amostrar camadas mais profundas da coluna sedimentar e também a total retenção de sedimento durante o processo de subida. Em relação a abundância de indivíduos nas estações sobre a plataforma externa (100 m) e sobre a quebra da plataforma (200 m), o box corer capturou um maior número de indivíduos do que o pegador de fundo (Figura 26, Tabela III-Anexos). Esta maior eficiência está provavelmente 89 associada ao também maior volume de sedimento amostrado, reflexo de uma penetração mais profunda no substrato lamoso, devido à robustez do box corer e seu maior peso (~500 kg), já que a área superficial dos dois aparelhos é muito similar: 0,1 m2 para o van Veen e 0,09 m2 para o box corer. Na estação sobre o talude (500 m), o box corer apresentou uma eficiência menor que o van Veen em virtude do pequeno volume de sedimento amostrado, pois o aparelho não pôde ser manuseado de forma eficaz devido às condições de mar agitado. O box corer talvez seja o equipamento mais utilizado nos estudos quantitativos do bentos nas áreas de plataforma e mar profundo (Hessler & Jumars, 1974; Rex, 1981; Rowe, 1983 ; Jumars & Eckman, 1983; Blake, 1994; Duineveld et al., 2001, etc). Desenvolvido por Hessler & Jumars, pesquisadores do ‘Scripps Institute of Oceanography’, em conjunto com o Laboratório Eletrônico Naval dos EUA, em San Diego, Califórnia, vem sendo utilizado de forma eficaz em vários tipos de sedimento do fundo marinho. Desde então, muitas inovações e modificações foram realizadas, adequando o equipamento às necessidades específicas de seu uso, como, por exemplo, versões menores e mais leves para serem utilizadas em embarcações costeiras, e modificações na caixa amostradora que permitem a retirada instantânea de réplicas a partir de subdivisões em seu interior, delimitando sub-áreas iguais. Apesar de sua eficiência extensamente comprovada, o box corer está longe de ser o equipamento ideal, e outros equipamentos ainda mais eficazes e modernos vêm sendo utilizados nos estudos dos fundos inconsolidados marinhos, não só no que tange à distribuição dos organismos, mas também em relação às propriedades biogeoquímicas dos sedimentos. O ‘Multiple corer’ e o ‘Megacorer’ são equipamentos altamente eficientes e permitem a amostragem da coluna sedimentar com pouquíssima perturbação. Este último, dotado de uma armação onde podem ser fixados até um pouco mais de uma dezena de tubos de acrílico, com cerca de 10 cm de diâmetro, é forçado suavemente sobre a superfície do sedimento e um sistema de fechamento veda as duas extremidades dos tubos, deixando a interface água-sedimento praticamente intacta. Estudos comprovaram que este equipamento apresenta uma eficiência cerca de 40 % superior à do box corer, em termos da amostragem da macro- e 90 meiofauna. O box corer pode perturbar a superfície do sedimento na sua chegada ao fundo devido à provocação de turbulência, perdendo-se, assim, muitas vezes, camadas espessas de fitodetritos recém-depositadas no fundo, que geralmente é onde grande parte dos organismos está concentrada. Pensando de uma forma mais prática e realista, devemos analisar a questão da amostragem do bentos nas áreas de plataforma e talude na região da costa brasileira, sobre o escopo das possibilidades reais inerentes às instituições envolvidas com a pesquisa oceanográfica no Brasil, já que os equipamentos mencionados acima atingem valores da ordem de uma centena de milhares de reais. Por isso, devemos investir em melhorias nos equipamentos existentes, desenvolver nossas próprias tecnologias, baseadas na experiência de campo de muitos pesquisadores, tentando aprimorar a eficiência de amostragem levando-se em conta sempre os objetivos iniciais da pesquisa proposta. Contudo, cabe ressaltar que muitas vezes devemos lançar mão de equipamentos mais simples, como é o pegador de fundo van Veen, em casos onde o manuseio de equipamentos robustos como o box corer fique comprometido pelas más condições de tempo, tornando seu uso inviável ou perigoso para a tripulação no convés do navio. 6.3.2. Distribuição vertical da macrofauna Com relação à distribuição vertical da macrofauna no sedimento, pudemos observar alguns padrões similares aos encontrados em outros estudos realizados em fundos inconsolidados em áreas de plataforma e talude continentais, apesar da metodologia amostral utilizada no presente trabalho. Aqui, apenas dois horizontes sedimentares (superior e inferior), tomados arbitrariamente, foram estudados, diferindo da metodologia geralmente empregada, que utiliza de três a quatro horizontes da coluna sedimentar (Shirayama & Horikoshi, 1982; Hayashi, 1991; Blake, 1994; Schaff & Levin, 1994; Flach & Heip, 1996; Duineveld et al., 2001). Observamos que a fauna esteve distribuída nos primeiros 10 cm da coluna sedimentar nas quatro estações estudadas, com exceção da estação mais rasa (30 m). Nesta estação costeira, provavelmente devido à presença de 91 um sedimento arenoso tanto na superfície como na camada inferior, que permite uma maior oxigenação e percolação de nutrientes até camadas mais profundas, a fauna apresentou-se concentrada abaixo dos 7 cm na coluna sedimentar. Também observamos que os crustáceos e moluscos tendem a habitar as camadas superiores do sedimento, enquanto que os poliquetas apresentam uma distribuição mais variável, habitando inclusive as camadas mais profundas. Este padrão também apresentou uma exceção para a estação rasa, onde anfípodes, cumáceos e ostrácodes foram observados no horizonte inferior. Um dos primeiros autores a investigar a distribuição vertical da macroinfauna bêntica em fundos inconsolidados foi Johnson (1967), que estudando amostras em um baixio arenoso na região entremarés na costa da Califórnia, e correlacionando-as aos efeitos da variação de marés, observou 80% da fauna ocorrendo nos 10 primeiros cm de uma coluna sedimentar de 25 cm de profundidade. A concentração da infauna nos limites superiores do sedimento em regiões profundas também é bastante documentada (Jumars, 1978; Jumars & Eckman, 1983; Gage & Tyler, 1991), e na maioria dos programas de amostragem do bentos nessas áreas, são coletados apenas os dez centímetros iniciais da coluna sedimentar de amostras de box corer (Blake, 1994). A partir da década de oitenta, estudos de distribuição vertical da fauna bêntica têm atraído a atenção não só de biólogos marinhos e oceanógrafos da área biológica, mas também de geólogos e geoquímicos, devido à atividade de bioturbação. A infauna bêntica desempenha direta ou indiretamente um papel importante no destino do material orgânico que atinge a interface águasedimento. A fauna transporta ativamente partículas sedimentares e modifica substancialmente as propriedades físicas, químicas e biológicas do sedimento (Smith et al., 1986, 1993, 1997; Smith, 1992). Por isso, o conhecimento dos mecanismos e taxas desses movimentos de partículas são fundamentais para a compreensão de uma gama de processos ligados ao fundo marinho, tais como o destino do carbono e outros nutrientes oriundos da produção pelágica que atinge o fundo, sua remineralização, e até mesmo a estruturação e evolução das comunidades bênticas (Smith et al., 1997). 92 Os estudos de distribuição vertical da macrofauna bêntica em relação a gradientes de profundidade têm demonstrado resultados contrastantes, evidenciando a interação de uma complexidade de fatores na determinação de padrões de distribuição dos organismos na coluna sedimentar. Shirayama & Horikoshi (1982), num transecto entre 100 e 500 m de profundidade na baía de Suruga, Japão central, observaram uma maior proporção de organismos vivendo em maiores profundidades no sedimento, conforme o aumento da profundidade. Eles correlacionaram esse fato ao aumento da abundância relativa do grupo Polychaeta com o aumento da profundidade, e mostraram que 40% desses animais, nas estações profundas, pertencia ao grupo dos depositívoros de subsuperfície, que tendem a habitar o horizonte de 3 a 5 centímetros abaixo da superfície. Em contraposição, os crustáceos foram encontrados sempre nos primeiros 2 centímetros do sedimento. É interessante ressaltar que a região deste estudo localiza-se numa baía onde, segundo os autores, o conteúdo de matéria orgânica nos sedimentos, mesmo das estações profundas, parece não constituir um fator limitante para os organismos da macrofauna bêntica. Uma tendência oposta foi observada por Josefson (1981), que encontrou uma fauna distribuída até camadas mais profundas no sedimento em áreas rasas. Contudo, o autor correlaciona o fato à presença de escavadores ativos nestas regiões, como os decápodes Colocaris e Nephrops, que com sua atividade de escavação aumentam a difusão de oxigênio e nutrientes para camadas inferiores do sedimento, permitindo a instalação de outros organismos da macrofauna neste horizonte. Blake (1994), estudando a distribuição vertical da macrofauna, principalmente de Polychaeta, num transecto sobre o talude continental na região de Cape Lookout, Carolina do Norte, entre profundidades de 500 e 3000 m, correlacionou a posição dos organismos na coluna sedimentar basicamente à morfologia de seus aparatos cefálicos, e portanto, a seus comportamentos alimentares. Suspensívoros e depositívoros de superfície ocorreram nos dois primeiros centímetros do sedimento, enquanto os depositívoros de subsuperfície foram obtidos preferencialmente em camadas inferiores. 93 Onívoros e carnívoros já apresentaram uma distribuição menos restrita, sendo encontrados em todas as profundidades do sedimento. No presente estudo, devido ao pequeno número de amostras e a uma metodologia experimental, ou seja, onde apenas dois horizontes da coluna sedimentar foram analisados, não foi possível extrair um padrão claro de distribuição vertical da macrofauna ao longo do gradiente batimétrico. Na estação dos 30 m, onde ocorreu a maior abundância de indivíduos em toda a área estudada, cerca de 80 % da macrofauna esteve concentrada abaixo dos 7 cm na coluna sedimentar provavelmente devido à grande oxigenação do sedimento que ali era composto basicamente por areia fina e muito fina com baixo coeficiente de seleção no horizonte inferior. Apesar da região costeira ser mais susceptível à defaunação, devido à ação hidrodinâmica de ondas e passagens de frentes frias (Ruta, 1999), durante o verão, época da nossa coleta, esses eventos são raros e a estabilidade ambiental, aliada à intrusão da ACAS sobre a plataforma interna, favorece o estabelecimento e crescimento das comunidades bênticas. Esse processo ocorre devido ao grande aporte de matéria orgânica oriundo da explosão de produção primária ocasionada pela ressurgência costeira (Ventura, 1991; Ventura & Fernandes, 1995; Ventura et al., 1997; Ruta, 1999). Já na estação dos 100 m, os organismos parecem estar distribuídos nos primeiros 10 cm da coluna sedimentar, possivelmente pela grande quantidade de fitodetritos que é depositada na área da plataforma externa (ver capítulo referente à megafauna; Sumida et al., dados não publicados). Nesta estação encontramos uma grande concentração do ofiuróide depositívoro Amphiura complanata, o que reforça a idéia de ser este um ambiente deposicional, já que esses agregados de ofiuróides são comuns em áreas de grande concentração de matéria orgânica (Smith & Hamilton, 1983; Smith, 1985). Nesta estação também foi encontrada uma proporção maior de poliquetas depositívoros de subsuperfície (Figura 37), o que poderia indicar o transporte de material orgânico fresco para camadas mais profundas do sedimento, através de processos de bioturbação. A essa atividade podemos associar a presença do poliqueta da família Capitellidae, Notomastos sp, e do ofiuróide Amphiura complanata, encontrados a grandes profundidades na coluna sedimentar, bem 94 abaixo dos 10 cm, transportando matéria orgânica para camadas ainda mais profundas do sedimento. Na estação localizada na região de quebra da plataforma (230 m), observamos a fauna concentrada nos primeiros 6 cm do sedimento. Talvez a grande heterogeneidade de habitats proporcionada por um sedimento biodetrítico, com fragmentos de algas calcárias de vários tamanhos e formatos, favoreça a colonização preferencial desta zona superior ao invés do horizonte inferior. Aliado a esse fato, o aumento da participação de grupos tipicamente suspensívoros, como hidrozoários, braquiópodes, sipúnculas e alguns poliquetas, indica a presença de material orgânico em suspensão, que viria a favorecer os organismos que vivem na interface água-sedimento. Na estação mais profunda, sobre o talude continental, encontramos a macrofauna restrita completamente ao horizonte superior da coluna de sedimento (0-10 cm). Embora apenas uma amostra de box corer tenha sido analisada, pudemos notar numa primeira inspeção visual no momento da triagem e identificação, que o tamanho dos indivíduos da maioria dos grupos foi consideravelmente menor do que o observado nas outras estações, fato comum para a fauna de regiões profundas (Gage & Tyler, 1991). Segundo Shirayama & Horikoshi (1982), os organismos menores da macrofauna apresentam uma capacidade menor de se enterrarem muito fundo no sedimento, devido a ausência de grandes apêndices cefálicos, como no caso dos poliquetas, e por isso ficam confinados aos limites superiores da coluna sedimentar. Esta estação também foi o local onde houve maior participação dos poliquetas suspensívoros (Figura 37), indicando também a existência de fluxos laterais de material orgânico particulado em suspensão, comuns em áreas de talude continental, onde as correntes de fundo geralmente ganham velocidade (Shepard, 1973). Assim, à semelhança de outros estudos de distribuição vertical da macrofauna, o presente trabalho também parece apontar para uma interação de vários fatores físicos e bióticos agindo da determinação de padrões de distribuição dos organismos na coluna sedimentar. Oxigenação, que em última análise está intimamente associada a características granulométricas do sedimento, disponibilidade de alimento, taxas de bioturbação e relações 95 interespecíficas, como competição e predação, embora não discutidas aqui, parecem atuar conjuntamente e determinar o modo como as comunidades da infauna se distribuem. Futuros estudos acerca da distribuição vertical da macrofauna bêntica em áreas de plataforma e talude continentais na região do Atlântico Sudoeste, que englobem uma área geográfica mais ampla, servirão para uma melhor compreensão de processos dinâmicos, tais como pulsos sazonais de matéria orgânica que atingem o bentos oriundos, por exemplo, da intrusão da ACAS sobre a plataforma continental sudeste, ou mesmo pulsos episódicos associados à passagem de vórtices ciclônicos ou à ressurgência em áreas de quebra da plataforma, já que o comportamento da fauna no horizonte sedimentar pode funcionar com um indicador desses processos dinâmicos (Smith et al., 1986, 1993, 1997; Smith, 1992). 6.3.3. Grupos Tróficos de Polychaeta Apesar dos resultados referentes à macrofauna bêntica pertencerem a apenas uma campanha oceanográfica realizada no verão de 2001, alguns aspectos relacionados às guildas tróficas de Polychaeta podem ser aqui considerados, por corroborarem estudos preliminares realizados na região de Cabo Frio (Ruta 1999; Attolini, 2002) e na região da plataforma continental ao largo de Ubatuba (Paiva, 1993; Muniz et al., 1998; Muniz & Pires-Vanin, 1999, 2000). Tais estudos puderam correlacionar de forma bastante consistente a distribuição dos grupos tróficos de Polychaeta com agentes hidrodinâmicos, tais como a entrada da massa de Água Central do Atlântico Sul sobre as áreas da plataforma interna nos meses de primavera e verão, e a eventos de desestabilização dos sedimentos, como a passagem de sistemas frontais durante os meses de inverno. Estudos ecossistêmicos que investiguem os principais fluxos energéticos, sem a necessidade de uma análise detalhada das comunidades em nível taxonômico específico, são cada vez mais apreciados, uma vez que, principalmente nos ecossistemas marinhos tropicais, a grande diversidade biológica pode dificultar o reconhecimento das teias alimentares por onde percorre grande parte dos fluxos energéticos (Paiva, 1993; Escobar-Briones & Soto, 1997). Por esse motivo, o agrupamento de organismos bênticos em 96 categorias tróficas é uma solução eficaz adotada para a determinação dos fluxos de energia nos ecossistemas marinhos e tem demonstrado ser significativo em evidenciar diversos processos e condições ambientais, tais como: características hidrodinâmicas, enriquecimento por matéria orgânica, características sedimentares, distúrbios ambientais e impactos antrópicos (Sanders, 1958; Levinton, 1972; Dauer, 1984; Gaston, 1987; Paiva, 1993; Muniz & Pires-Vanin, 1999, Venturini, 2002). O grupo Polychaeta tem sido utilizado nas últimas décadas de forma bastante eficaz em estudos tróficos de comunidades bênticas devido sua grande importância na produtividade secundária bêntica em áreas de plataforma (Knox, 1977 apud Paiva, 1993). Além de ser, geralmente, o principal componente da fauna de fundos inconsolidados, tanto em termos de abundância de indivíduos como em termos do número de espécies, a plasticidade de formas de alimentação permite que estudos sobre a estrutura trófica bêntica sejam realizados apenas utilizando-se esse grupo (Gaston, 1987; Paiva, 1993; Amaral & Nonato, 1996). No presente estudo os grupos tróficos predominantes em toda área amostrada foram os carnívoros e os depositívoros de superfície. Os carnívoros tiveram participação mais acentuada em relação aos outros grupos, principalmente nas estações de 30 e 200 m. Sua distribuição esteve correlacionada positivamente com a temperatura e negativamente com a profundidade (Tabela 12). Provavelmente, essas correlações estejam mascarando o gradiente ambiental relacionado ao tipo de sedimento que, conforme a profundidade aumenta, tende a ser composto predominantemente por frações mais finas, embora nenhuma correlação entre carnívoros e os parâmetros do sedimento foi observada. Muitos estudos correlacionaram o aumento de abundância dos poliquetas de hábito carnívoro em sedimentos arenosos e sua diminuição em sedimentos com alto teor de silte e argila (Gaston, 1987; Maurer & Leathem, 1981; Muniz et al., 1998; Ruta, 1999). Poliquetas de hábito carnívoro são geralmente abundantes em locais com maior hidrodinamismo e sedimento arenoso, onde a maior porcentagem de espaços intersticiais favorece a colonização de presas em potencial, tais como poliquetas de pequeno tamanho e crustáceos peracáridos (isópodes, 97 anfípodes, cumáceos e tanaidáceos). Os espaços intersticiais, ainda, facilitam a locomoção dos carnívoros, cujas espécies geralmente apresentam grande mobilidade. Essas condições ambientais foram observadas nas estações de 38 e 200 m de profundidade, que apresentaram um sedimento basicamente constituído por areia. Na estação de quebra da plataforma, os fragmentos de algas calcárias presentes no sedimento possivelmente favoreceram a abundância dos carnívoros devido à grande quantidade de presas em potencial que abrigam, tanto vágeis como sésseis (ver capítulo referente à fauna associada aos fundos calcários). Dentre os espécimes de carnívoros mais representativos para toda a área de estudo, alguns gêneros e espécies foram também encontrados nos estudos de Ruta (1999) e Attolini (2002), como Kimbergonuphis orensanzi (Onuphidae), Sigambra grubei (Pilargidae), e Nephtys spp. (Nephtydae). Os depositívoros de superfície foram especialmente abundantes na estação de 30 m de profundidade e na estação sobre o talude superior (500 m) (Figura 37). Na área da plataforma interna destacou-se Spiophanes missionensis, pertencente à família Spionidae. A dominância de Spionidae dentre os depositívoros de superfície e sua conhecida habilidade na colonização de fundos com alta mobilidade do sedimento (Maurer & Leathem, 1980 apud Paiva, 1993), fizeram com que o índice de importância trófica desse grupo atingisse seu maior valor na área rasa, onde distúrbios físicos derivados da passagem de ondas são mais intensos. Nessa mesma região ao largo de Arraial do Cabo, Ruta (1999) associou a grande abundância dos depositívoros de superfície, aos impactos causados pela intrusão da ACAS sobre a plataforma. A distribuição do grupo esteve estritamente correlacionada ao conteúdo de nitrogênio orgânico do sedimento, resultado da acumulação de grande quantidade de matéria orgânica sobre o fundo, após os pulsos de ressurgência na região. O aumento da fração do nitrogênio orgânico provavelmente está associada à decomposição microbiana no sedimento, disponibilizando alimento com alto valor nutricional para os organismos depositívoros. Estes são responsáveis pela rápida reestruturação das comunidades bênticas, que se inicia pouco antes dos eventos de ressurgência, já que esses organismos resistem ao processo de ‘defaunação’ causado pela 98 passagem de frentes frias, mais comuns nos meses de outono e inverno (Ruta, 1999). Essa resistência deve-se a ocorrência de muitas espécies ‘r’ estrategistas, de ciclo de vida curto, capazes de uma rápida colonização em ambientes perturbados, e com duplo comportamento alimentar, como é o caso dos espionídeos. Estes animais podem utilizar seus longos palpos não só para se alimentar do material detrítico depositado sobre o sedimento, mas também para a captura de partículas em suspensão (Faulchald & Jumars, 1979). A colonização de fundos inconsolidados por organismos depositívoros de superfície, em estágios iniciais de sucessão ecológica, é comum em ambientes estuarinos e de plataforma (Rhoads et al., 1978; Probert, 1984; Gaston & Nasci, 1988 apud Paiva, 1993). Na estação sobre o talude superior, o grupo dos depositívoros de superfície apresentou uma importância ligeiramente superior àquela do grupo dos carnívoros (Figura 37), e somando a participação dos depositívoros de subsuperfície, a dominância dos detritívoros torna-se mais significativa. Este fato corrobora o padrão encontrado para a maioria dos organismos da macrofauna de regiões profundas, onde, em geral, 80% das espécies são depositívoras (Gage & Tyler, 1991). Esse padrão reflete, na verdade, mudanças ligadas principalmente às características do sedimento, que apresenta teores maiores das frações finas com o aumento da profundidade em conseqüência da maior estabilidade hidrodinâmica. As correlações positivas entre o grupo dos depositívoros de superfície e as frações de areia fina, areia muito fina, silte e argila corroboram esta tendência (Tabela 12). Já as correlações positiva com a temperatura e negativa com a profundidade provavelmente foram observadas devido ao alto valor absoluto do índice trófico para esse grupo, que caiu em direção às estações mais profundas com valores de temperatura gradativamente menores. Attolini (2002), estudando as associações de poliquetas desde Cabo de Santa Marta até Cabo Frio, encontrou um padrão similar ao observado no presente estudo, com a participação maior de carnívoros em todas as faixas batimétricas estudadas, de 70 até 1000 m de profundidade. Porém, quando somados os grupos dos depositívoros de superfície e de subsuperfície, a participação dessa guilda foi maior nas faixas batimétricas mais profundas que 99 225 m, fato este que o autor também correlaciona à granulometria do sedimento, composto predominantemente por frações finas. Depositívoro de subsuperfície foi o grupo mais representativo nas estações de 100 e 500 m, onde o sedimento apresentou uma grande proporção de areia muito fina, conforme mostrado pela correlação positiva entre ambos (Tabela 12). Paiva (1993) encontrou uma correlação negativa entre a distribuição dos depositívoros de subsuperfície na plataforma continental ao largo de Ubatuba e o conteúdo de carbonato de cálcio (CaCO3) do sedimento. O autor atribuiu tal correlação a um efeito adverso dos fragmentos de conchas na alimentação das espécies, que ingerem as partículas finas de sedimento e digerem apenas a matéria orgânica e microorganismos associados aos grãos. No presente estudo não foi analisado o conteúdo de CaCO3 do sedimento, porém, a correlação negativa entre os depositívoros de subsuperfície e a fração de areia grossa pode estar indicando o mesmo fenômeno, e talvez por isso, a participação desse grupo trófico tenha sido tão reduzida na estação de quebra da plataforma (Figura 37), onde está presente um sedimento biodetrítico contendo muitos fragmentos de conchas e algas calcárias. Nos 100 m, a participação dos depositívoros de subsuperfície foi quase equivalente a dos de superfície. Nesta estação, conforme discutido na sessão 6.3.2, sobre a distribuição vertical da macrofauna no sedimento, possíveis atividades de bioturbação por parte de alguns organismos escavadores podem ter redistribuído material orgânico fresco (fitodetritos) para camadas inferiores do sedimento, favorecendo a ocorrência de poliquetas do grupo dos depositívoros de subsuperfície, como Axiotella brasiliensis, Maldanidae sp1 e Chirimia sp, os três da família Maldanidae. Esse processo pode ser confirmado pela presença de picos subsuperficiais de clorofila-a e biomassa microbiana encontrados em amostras de box corer por Sumida et al. (em prep.). Este fenômeno é comum em regiões onde pulsos de enriquecimento orgânico ocorrem em eventos episódicos, como é o caso da ressurgência em Cabo Frio. Assim, espécies depositívoras ‘seqüestram’ a maior quantidade de alimento possível e enterram-na em camadas subsuperficiais do sedimento, como o caso de muitas espécies de equiuros e poliquetas (Gage & Tyler, 1991; Smith et al., 1997). 100 Omnívoros foram pouco representativos na área de estudo, com uma participação relativa apenas na estação de 500 m (Figura 37). Outros autores não identificaram a ocorrência do grupo associada à profundidade ou a qualquer parâmetro sedimentológico, mas sim à baixa densidade de indivíduos coletados (Paiva, 1993; Muniz et al., 1998; Attolini, 2002), o que também observamos no presente estudo na estação sobre o talude superior. Talvez a onivoria seja uma estratégia adotada por alguns poliquetas devido à escassez de alimento em regiões profundas, o que também estaria refletido na baixa densidade de organismos. Os suspensívoros não tiveram também grande participação em relação aos demais grupos tróficos, com exceção da estação sobre o talude superior, sendo este fato apontado pela correlação positiva do grupo com as frações finas do sedimento (Tabela12). Nesta área, provavelmente o aumento da intensidade das correntes de fundo disponibilizem uma maior quantidade de material particulado em suspensão, beneficiando os animais com alimentação suspensívora (Shepard, 1973; Sumida, 1994; Duineveld et al., 2001). A ocorrência simultânea de suspensívoros e depositívoros nesta estação profunda, provavelmente indica a ausência de uma interação negativa do tipo ‘amensalismo trófico’ (Rhoads & Young, 1970) que, sob condições de baixa densidade de indivíduos, não apresenta efeito significativo (Peterson, 1979; Paiva, 1993). Com a presença de poucos indivíduos, o efeito de desmoronamento do sedimento provocado pela atividade dos depositívoros não é sentido pelos organismos suspensívoros, pois, provavelmente, os diferentes grupos estejam habitando microambientes distintos sobre o substrato, sem sobreposição. A ausência de amensalismo trófico também foi observada por Ruta (1999) e Attolini (2002), que nas associações de poliquetas, tanto em áreas rasas da plataforma como em áreas profundas do talude, encontraram os dois grupos ocorrendo simultaneamente e com a mesma abundância. O presente estudo dá suporte para futuras investigações sobre a estrutura e funcionamento do ecossistema bêntico na região de Cabo Frio. De forma complementar aos trabalhos de Ruta (1999) e Attolini (2002), que analisaram as associações de poliquetas nas áreas da plataforma interna e de 101 quebra da plataforma e talude superior, respectivamente, os dados do presente trabalho, somados aos dados que serão processados dos outros 3 cruzeiros realizados sazonalmente na mesma região, poderão elucidar melhor o papel da macrofauna bêntica na dinâmica do ecossistema de ressurgência de Cabo Frio. 6.3.4. Parâmetros de comunidade e associações de espécies Em relação aos parâmetros de comunidade analisados na radial de estações ao largo de Cabo Frio, observamos uma forte tendência à diminuição da abundância de indivíduos a partir da área da plataforma interna em direção ao talude (Figura 35), um padrão muito comum observado para o bentos em gradientes de profundidade desde os primeiros estudos utilizando amostradores quantitativos, a partir da década de 50 (Spärk, 1956 apud Gage & Tyler, 1991). Tal padrão tem sido correlacionado aos regimes de produtividade pelágica, que apresentam uma relação inversa com a profundidade, indicando o papel decisivo da disponibilidade de recursos alimentares para o estabelecimento e estruturação das comunidades bênticas. Em Cabo Frio, o fenômeno da ressurgência costeira proporciona altos níveis de produção primária pelágica que resultam numa alta taxa de sedimentação de matéria orgânica sobre o fundo. Como observado em outros trabalhos (Valentin et al., 1987; Carbonel & Valentin, 1999; Ruta, 1999; Sumida et al., IOUSP, em prep.) e no presente estudo, a região sob maior influência da grande produtividade primária está localizada na área externa da plataforma, próximo à isóbata de 100 m, em virtude da advecção de águas ressurgidas próximas à costa em direção ao mar aberto. Embora haja um grande aporte de matéria orgânica para o fundo nessa região, nela não observamos os maiores valores de abundância de indivíduos. Esse fato provavelmente esteja associado ao tipo de sedimento, que ali é composto predominantemente pelas frações finas, silte (37%) e argila (20%), podendo favorecer a colonização seletiva de organismos depositívoros com menor mobilidade em detrimento de organismos com maior mobilidade. Enquanto isso, a estação de 30 m, composta por areia fina e muito fina, apresentou os maiores valores de abundância, mesmo com um menor conteúdo orgânico no sedimento. 102 Em relação à riqueza de espécies, observamos que as estações onde o sedimento foi composto predominantemente pelas frações arenosas, o número de espécies encontrado foi significativamente maior, com um pico na área da quebra da plataforma. De fato, a análise de correlação múltipla apontou uma relação negativa entre a riqueza de espécies e as frações finas do sedimento, silte e argila (Tabela 11), enquanto o índice de diversidade de Shannon foi correlacionado positivamente com a fração areia grossa. O papel do sedimento na estruturação das comunidades macrobênticas marinhas tem sido extensamente documentado em diversos trabalhos desde o início do século 20. Dentre esses os mais citados são os de Sanders (1958) e Gray (1974, 1981), que atribuem ao sedimento um caráter de ‘superparâmetro’, que indicaria de forma indireta uma gama de outros fatores ambientais, como condições hidrodinâmicas sobre o fundo, regime de produtividade das águas sobrejacentes, oxigenação, processos de deposição e transporte, etc. Sedimentos arenosos geralmente apresentam uma maior quantidade de espaços intersticiais por entre os grãos, facilitando a percolação de nutrientes e oxigênio e favorecendo a colonização de uma grande diversidade de organismos da meio- e macrofaunas. Já os sedimentos compostos pelas frações finas são mais compactos e dificultam a movimentação dos organismos da macrofauna, selecionando aqueles com hábito de vida depositívoro e preferencialmente com menor mobilidade. Estudos acerca da riqueza e diversidade de espécies ao longo de gradientes de profundidade mostram que há um aumento desses parâmetros da região costeira em direção ao talude continental, voltando a diminuir sobre as planícies abissais. Essa distribuição parabólica foi primeiro observada por Sanders & Hessler (1969) para poliquetas e bivalves, que apresentaram uma diversidade de espécies sobre o talude na região do Atlântico Norte comparável àquela encontrada em fundos rasos de regiões tropicais. Rex (1973, 1976) encontrou o mesmo padrão para gastrópodes e mais tarde atribuiu esse padrão para quase todos os taxa da macrofauna (Rex, 1981, 1983). Embora até hoje não se tenha chegado a um consenso acerca de todos os processos responsáveis pela manutenção da alta diversidade do bentos em 103 regiões profundas, muitas hipóteses foram formuladas e o que se sabe é que os padrões de biodiversidade nas áreas de mar profundo são regidos por uma complexidade de fenômenos em escalas de tempo diferentes. São processos de curto prazo, envolvendo interações biológicas como predação e exclusão competitiva, e processos de longo prazo, em escala de tempo geológica, envolvendo taxas de especiação e extinção e dispersão geográfica (Gage & Tyler, 1991) A primeira hipótese formulada para explicar a alta diversidade do bentos em regiões profundas foi a hipótese da estabilidade no tempo (‘Stability-Time Hypotesis’) proposta por Sanders & Hessler (1969). Os autores sugeriram que as condições de extrema estabilidade física presente nas grandes profundidades permitiria uma grande especialização das espécies na exploração dos recursos disponíveis, ao longo da escala de tempo evolutivo. Assim, os efeitos da sobreposição de nichos e competição entre as espécies seriam diminuídos, evitando-se as altas taxas de extinção e permitindo com que elas atingissem um estado de acomodação biológica. Pouco mais tarde Dayton & Hessler (1972) propõem a teoria do desequilíbrio, visto que a hipótese inicial (estabilidade) não explicava os picos de diversidade encontrados sobre as áreas do talude. Essa hipótese baseia-se no efeito da predação de grandes carnívoros bento-pelágicos, como peixes, crustáceos e equinodermos, abundantes nessas regiões. Esse distúrbio biológico serviria para controlar a abundância de espécies potencialmente competidoras, evitando a exclusão competitiva e permitindo a coexistência das espécies. Assim, a maior diversidade seria favorecida não pela especialização de nichos proposta no modelo da estabilidade, mas pela coexistência de espécies com hábitos generalistas e um certo grau de sobreposição de nichos, que seriam controladas pelo efeito da predação. A alta diversidade de espécies encontrada na estação localizada na região da quebra da plataforma, provavelmente esteve associada à presença de substratos consolidados (fundos de algas calcárias) sob forma de manchas em meio a fundos de lama e de cascalho biodetrítico (ver capítulo referente à fauna associada aos fundos calcários). Esta heterogeneidade de habitats certamente favorece a colonização de uma diversidade de espécies que 104 ocupam os diversos nichos disponíveis. A predação e a competição provavelmente muito intensa sobre esses ambientes, como é o caso da maioria dos ambientes recifais (Levinton, 1995), devem atuar como agentes controladores de curto prazo na alta diversidade de espécies. Sumida e Pires-Vanin (1997) sugerem que a dinâmica de massas de água sobre as áreas de quebra da plataforma tem fundamental importância na estrutura das comunidades bênticas. A intrusão da ACAS sobre a área da plataforma atua como um agente transportador de larvas de regiões mais profundas para áreas mais rasas. Em Cabo Frio, assim como observado por esses autores na área da plataforma externa de Ubatuba, os fundos biodetríticos fornecem um substrato ideal para o assentamento de muitas espécies, causando um grande aumento na diversidade local. A dinâmica da ACAS sobre as áreas da quebra da plataforma e talude superior atuaria então, como agente responsável pela manutenção dos altos valores de diversidade em escala de tempo evolutivo. Com relação às associações de espécies encontradas na região, observamos uma nítida distinção entre a fauna que ocorreu nas áreas de plataforma daquela presente na quebra da plataforma e talude superior, evidenciando a influência da profundidade na distribuição da fauna na região (Figura 38). Embora o número de estações oceanográficas amostradas tenha sido pequeno, esse padrão encontrado é extensamente documentado para estudos da distribuição do bentos ao longo de gradientes de profundidade (Sanders & Hessler, 1969; Grassle et al., 1979; Rex, 1981, 1983). A maioria desses trabalhos atribui a mudança na composição da fauna principalmente às características do sedimento, que varia conforme a profundidade e à maior estabilidade ambiental encontrada nas áreas mais profundas. Na região de Ubatuba, Sumida e Pires-Vanin (1997) observaram maiores taxas de reposição faunística sobre as áreas da quebra da plataforma e talude superior e associaram essas mudanças principalmente às características do sedimento, que indiretamente estão ligadas ao gradiente de profundidade, uma vez que as condições hidrodinâmicas junto ao fundo foram homogêneas por toda área de estudo. 105 As áreas sobre a quebra da plataforma e talude continental representam, pois, zonas de transição entre a fauna de plataforma e a de mar profundo, devido às mudanças abruptas no gradiente de profundidade. Murray (1895, apud Gage & Tyler, 1991) define o “mud line concept” (‘conceito de linha de lama’), que propõem uma faixa que separaria sedimentos lamosos, característicos de áreas profundas e que abrigam uma fauna peculiar, de sedimentos mais heterogêneos encontrados nas áreas sobre a plataforma, com uma fauna também característica. Um dos limites dessa faixa ou zona de transição foi marcante nos nossos resultados, e caracterizada por um fundo peculiar e composto por substratos mistos, com enclaves recifais pretéritos, característicos dessa região do Atlântico Sudoeste. 106 6. 4. CONCLUSÕES 1. Com relação à amostragem da macrofauna bêntica, concluímos ser imprescindível a utilização de aparelhos quali- e quantitativos para melhor estimar a diversidade faunística, devido à natureza seletiva de ambos amostradores. O box corer se mostrou mais eficiente do que o van Veen em termos do número de espécies e indivíduos amostrados, quando manuseado de forma correta e em condições de tempo favoráveis. 2. A macrofauna apresentou-se distribuída predominantemente nos primeiros centímetros da coluna sedimentar. Crustáceos e moluscos tendem a habitar as camadas superiores enquanto poliquetas têm maior habilidade de viver mais profundamente no sedimento. 3. O grupo Polychaeta apresentou um papel de destaque na fauna bêntica ao largo de Arraial do Cabo, com uma abundância relativa elevada em todas as profundidades amostradas. O agrupamento das espécies em categorias tróficas serviu como um bom indicador das condições hidrodinâmicas presentes na região. 4. Os parâmetros de comunidade estiveram intimamente ligados às características do sedimento e à profundidade. A abundância de indivíduos da macrofauna diminuiu em relação ao gradiente batimétrico e a riqueza de espécies e a diversidade de Shannon foram significativamente maiores nas estações com sedimentos mais heterogênios e compostos predominantemente por areia. 5. A análise de agrupamento evidenciou dois grandes grupos de espécies relacionados com a profundidade. O primeiro composto por espécies que ocorreram nas estações de 30 e 100 m (plataforma continental) e o segundo composto por espécies que ocorreram nas estações de 230 e 500 m (quebra da plataforma e talude superior). 6. A descoberta de quatro novas espécies para a região (3 de Amphipoda e 1 de Ophiuroidea), e duas novas ocorrências para Tanaidacea, revelam o grau de desconhecimento da macrofauna bêntica na região de Cabo Frio. 107 7. Macrofauna associada a fundos calcários na região de quebra da plataforma de Cabo Frio. 7.1 INTRODUÇÃO Os fundos de algas calcárias participam ativamente dos processos de sedimentação nas margens continentais do Atlântico Oeste, cobrindo substratos consolidados em todos os climas, do ártico ao tropical; porém, como componente de larga distribuição em sedimentos de plataforma, sua distribuição é bem mais restrita, ocorrendo entre 35o N (Cape Hatteras, Carolina do Norte) e 230 S, na região sudeste do Brasil (Milliman, 1977; Kowsmann et al., 1977). A Figura 39 mostra a ampla área sobre as margens continentais do Atlântico investigada em projetos de mapeamento e caracterização das feições geológicas do fundo marinho (Milliman, 1977). Para a costa brasileira destacase o projeto REMAC (Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira), um programa financiado por um consórcio de agências estatais e privadas, dentre elas destacando-se a PETROBRÁS, o Departamento de Hidrografia e Navegação (DHN) e o Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tais projetos ajudaram a desvendar a importância dos fundos carbonáticos em processos atuais de sedimentação, uma vez que anteriormente esses fundos eram estudados de forma isolada, à luz de processos apenas regionais (Ginsburg et al., 1972; Adey & MacIntyre, 1973). Figura 39: Áreas mapeadas sobre as margens continentais do Atlântico com destaque para o projeto REMAC (Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira) (Milliman, 1977). 108 Dois tipos de algas calcárias contribuem predominantemente para os sedimentos nas margens continentais: as algas coralinas (Rhodophyta) e as Codiáceas, principalmente do gênero Hallimeda (Chlorophyta). Esta última ocorre em sedimentos inconsolidados como manchas discretas, próximo a recifes de corais e em areias da plataforma. A partir das algas coralinas, três tipos de sedimentos podem ser formados: (1) os “maerls”, que são areias ou cascalhos formados por ramificações de nódulos incrustantes, cuja maioria é composta pelas espécies Lithothaminium solutum, Lithothaminium coraloides, e Pymatholithum calcareum; (2) os recifes carbonáticos, formados por algas coralinas incrustantes, ocorrendo em grandes formações esparsas em meio a sedimentos inconsolidados. Variam em tamanho desde blocos pequenos até um cascalho fino. Ocorrem próximos a substratos rochosos onde as algas podem se fixar; (3) os rodolitos, que incluem nódulos de algas e concreções sobre um núcleo rochoso. Suas formas e tamanhos dependem das condições de energia, profundidade e espécies de algas envolvidas. Kempf (1972) ressalta o domínio dessas formações de substratos calcários nas regiões nordeste e leste da costa brasileira, ocorrência que diminui em direção a região sul, ficando confinada a áreas da plataforma externa sob forma de manchas isoladas, em alternância com fundos predominantemente lamosos. Sua formação está associada a eventos regressivos do nível do mar. Na região de Cabo Frio, as formações identificadas foram principalmente as algas do gênero Lithothamniun (Rhodophyta, Corallinacea, Melobesidae) e encontram-se em sua maioria mortas. A grande abundância desses tipos de fundo nas regiões nordeste e leste da costa brasileira deve-se principalmente à pequena profundidade da plataforma, aliada à baixa influência terrígena, ou seja, pouca carga de sedimento em suspensão. Ainda, a ausência de competição com espécies de corais hermatípicos, devido à grande intensidade da Corrente das Guianas (ramo norte da Corrente do Brasil), a alta turbidez e a influência de água doce na região da foz do Rio Amazonas, impedem a dispersão de larvas a partir dos 109 recifes coralinos do Caribe e de outras regiões mais ao norte (Milliman, 1977). A Figura 40 mostra os tipos de fundos calcários na costa brasileira. Figura 40: Tipos de fundos calcários na costa brasileira (modific. de Milliman, 1977). As algas calcárias ainda apresentam uma grande importância no ciclo global do Carbono, devido as altas taxas de precipitação de CaCO3, tanto de forma orgânica como inorgânica, funcionando como um importante sumidouro de Carbono (Oliveira, 1992). Apresentam reservatórios estimados em 200 bilhões de toneladas, sendo 95 % desse total composto de carbonato, cuja exploração como matéria prima para a construção civil vem sendo amplamente discutida em virtude dos potenciais impactos sobre o ecossistema marinho (Milliman & Amaral, 1974; Oliveira, 1989). 110 Na região de quebra da plataforma de Cabo Frio, durante os cruzeiros do projeto DEPROAS, grande quantidade de blocos de algas calcárias foram coletados. Estas formações, embora tenham sido identificadas em estudos geológicos prévios, como citado anteriormente, carecem de informações sobre as comunidades de organismos a elas associadas. Uma das primeiras investigações sobre a fauna bêntica associada a esses fundos em Cabo Frio foi realizada por Tommasi (1970), numa nota sobre a ocorrência de corais solitários (Scleractinia) e de uma rica fauna de equinodermos, com destaque para o grupo Ophiuroidea. Heitor (1996) estudou a fauna de Echinodermata nas áreas da bacia de Campos até o limite de Cabo Frio, reportando também uma alta diversidade associada aos fundos biodetríticos. Na região de Ubatuba, Sumida (1994) observou as comunidades da macrofauna bêntica em fundos de algas calcárias nas áreas de plataforma externa, limite sul de ocorrência dessas formações na plataforma continental brasileira (Kempf, 1972). O autor ressalta a importância desse tipo de substrato na estruturação das comunidades bênticas da região, favorecendo a criação de diversos microambientes ocupados tanto por espécies sésseis filtradoras, tais como, esponjas, hidrozoários e crinóides, quanto por espécies perfurantes (‘borers’) e espécies vágeis. Dentre estas há uma grande diversidade de poliquetas, crustáceos, moluscos, sipúnculos e equinodermos. Esta parte do presente trabalho visa conhecer a biodiversidade de invertebrados bênticos associada aos substratos calcários na região de quebra de plataforma de Cabo Frio, área muito pouco estudada sob este ponto de vista, assim como a maior parte das regiões da costa brasileira em profundidades superiores aos 100 m (Pires-Vanin, 1993; Lana et al., 1996; Sumida & Pires-Vanin, 1997). A partir de estimativas de abundância e biomassa e de características ligadas à atividade de colonização e perfuração da matriz calcária das algas pelos organismos da macrofauna, pretende-se chamar atenção para a importância desses organismos na estruturação das comunidades bênticas da região, e como fonte potencial de alimento para espécies de peixes demersais e invertebrados da megafauna. 111 7. 2 RESULTADOS E DISCUSSÃO 7.2.1 Fundos calcários e fundos inconsolidados Na região estudada, os valores de temperatura e salinidade indicaram a presença constante da Água Central do Atlântico Sul junto ao fundo, com temperaturas variando entre 14,12o C e 14,7o C e salinidade entre 35,76 e 35,32. O sedimento apresentou uma nítida estratificação, havendo uma camada arenosa superior, contendo fragmentos de algas calcárias, foraminíferos e briozoários, e uma fração mais fina no horizonte inferior (Figura 41). Figura 41: Amostra coletada por box corer mostrando a estratificação do sedimento: fragmentos calcários na superfície e lama na porção inferior. À direita, vista superior da caixa amostradora. Camada superior (0-6 cm); camada inferior (6-14 cm). A Figura 42 mostra a grande quantidade de blocos de algas calcárias que foram coletados em apenas 10 minutos de arrasto de draga, do qual foi retirado uma sub-amostra de aproximadamente 15 litros. 112 Figura 42: Nódulos calcários obtidos em 10 minutos de arrasto com draga “beam trawl”. Note-se a grande quantidade e a variação de formas e tamanhos. A macrofauna bêntica apresentou claramente uma maior abundância de indivíduos no substrato consolidado constituído pelos blocos de algas calcárias, com um total de 1.543 indivíduos num volume de 15 litros de blocos, enquanto no substrato inconsolidado encontramos em média 202 indivíduos em cerca de 18-20 litros de sedimento (Figura 43). Essa densidade maior de organismos associados aos blocos de algas calcárias foi devida principalmente à grande abundância de Ophiuroidea (Echinodermata), com 753 indivíduos, grande parte deles em estágio de pós-larvas, recém assentados no substrato, e Crustacea Galatheidae (Munida cf. irrasa), com 224 indivíduos. Polychaeta também apresentou papel de destaque, com 204 indivíduos. A seguir vieram Mollusca com 119 indivíduos, Cnidaria com 112, Sipuncula com 38 e Brachiopoda com 19. 113 600 500 No de indivíduos POLYCHAETA MOLLUSCA 400 CRUSTACEA 300 EQUINODERMATA BRACHIOPODA 200 SIPUNCULA CNIDARIA 100 0 P1 P2 BC1 BC2 BLOCOS Figura 43: Abundância de indivíduos dos principais grupos da macrofauna bêntica em quatro réplicas do sedimento (P1 e P2 – pegador; BC1 e BC2 – box corer) e nos blocos de algas calcárias coletados com a draga. Há também uma nítida diferença entre a composição faunística do sedimento inconsolidado e dos nódulos de algas calcárias (Figura 44). Em termos da abundância relativa, Polychaeta apresentou 36,6 % do total da fauna no sedimento, seguido por Gastropoda com 25 % e Ophiuroidea com 15,2 %. No substrato consolidado adjacente os grupos predominantes foram Ophiuroidea (50,7 %), seguido de Crustacea (Anomura, Galatheidae) (15 %), Polychaeta com 13,7 % e Scyphozoa da ordem Coronatae, que participou com 8 %. Algas calcárias Sedim ento Polychaeta 4,2% 8% 13,7% Polychaeta Gastropoda Bivalvia Amphipoda 36,6% 15,2% Galatheidea Penaeidea 15% Ophiuroidea Holothoroidea 2,6% Brachiopoda Tanaidacea Ostracoda Ophiuroidea Sipuncula 3,9% 3,9% Scyphozoa 50,7% Outros Bivalvia Scaphopoda Amphipoda Isopoda 25,0% Brachiopoda Outros Figura 44: Composição faunística dos substratos formados pelos blocos de algas calcárias e por sedimento inconsolidado (A abundância relativa dos grupos da macrofauna no sedimento é baseada na média das quatro réplicas amostradas). 114 Uma relação com as espécies encontradas em ambos os tipos de substrato é apresentada na Tabela IV dos Anexos. Nas quatro amostras de sedimento foi observado um total de 102 espécies, enquanto que no substrato calcário, 77 espécies foram encontradas. Devemos ressaltar que, nas amostras desse substrato, não foram extraídos todos os exemplares endolíticos. Obtivemos 37 espécies exclusivas dos blocos calcários (28,5%) e 102 espécies que só ocorreram em fundos inconsolidados (aproximadamente 65%). Com relação ao grupo Polychaeta, muitos exemplares foram identificados apenas em nível de família em virtude do desconhecimento da fauna de regiões profundas na costa brasileira e da ausência de material para comparação. Os especialistas consultados acreditam que muitos dos espécimes obtidos possam ser novas espécies ou novas ocorrências para a costa brasileira. É, pois, um material que será destinado a estudos taxonômicos futuros. Hutchings & Weate (1977) definiram o termo criptofauna para os organismos que vivem nas reentrâncias e galerias formadas na superfície dos corais e algas calcárias. Foram denominados de endolíticos os escavadores com algum mecanismo químico ou mecânico para a perfuração da matriz coralalgal, tais como sipúnculos, bivalves, esponjas, e algumas espécies de poliquetas; e de criptolíticos os organismos oportunistas, que se utilizam das saliências já existentes no recife ou de perfurações escavadas pela fauna endolítica. Tais espécies oportunistas, que normalmente constituem a maior proporção da criptofauna de recifes coralinos e calcários, são representadas principalmente por crustáceos, equinodermos, moluscos gastrópodes e poliquetos (Hutchings & Weate, 1977), o que também foi observado na composição faunística encontrada nos nódulos de algas calcárias na área do presente estudo. Dentre os Ophiuroidea, observamos a presença de 12 espécies colonizando os blocos de algas calcárias e 7 espécies presentes no fundo inconsolidado. Dentre elas, duas ocorreram exclusivamente no sedimento: Ophiactis lymani e Amphioplus lucyae e seis espécies ocorreram apenas no substrato das algas: Amphiura sp, Amphipholis sp, Ophiacantha pentacrinus, Ophyactis savignyi, Amphiura flexuosa e Ophioplax clarimundae. Nos fundos calcários as espécies mais abundantes foram Ophiacantha cosmica (290 ind.), 115 Ophiacantha pentacrinus (221 ind.) e Amphipholizona delicata (151 ind.), que juntas representaram 46,26% de toda a fauna nesse substrato. Heitor (1996) já havia identificado essa associação de espécies para fundos biodetríticos da região, que apesar de não ser exclusiva desse tipo de substrato, parece ocorrer preferencialmente sobre os nódulos de algas calcárias. Provavelmente, a ocorrência de espécies de forma exclusiva em um ou outro substrato possa estar correlacionada a algum mecanismo de seletividade no assentamento larval. Turon et al. (2000) encontraram uma alta seletividade no assentamento larval de Ophiotrix fragilis, espécie que ocorre em recifes coralinos do Mediterrâneo, relacionada à presença de algumas espécies de esponja existentes na superfície dos corais. As larvas assentam sobre as esponjas e assim obtêm um maior sucesso de sobrevivência, já que capturam alimento através da corrente inalante produzida pelo hospedeiro. Quando atingem cerca de 1 mm (diâmetro do disco), abandonam as esponjas e procuram abrigo em reentrâncias e galerias no recife. Muitas esponjas incrustantes da classe Sclerospongiae também foram encontradas aderidas às rugosidades da superfície das algas no presente estudo, podendo indicar o mesmo tipo de relação interespecífica. Outro fator reconhecidamente importante no assentamento larval de equinodermos sobre substratos consolidados é a presença de um filme bacteriano sobre a matriz rochosa. Mckenzie et al. (2000) afirmam ser determinante para a grande taxa de assentamento larval de algumas espécies de Ophiuroidea, a presença de bactérias sobre substratos consolidados. Este fato também foi observado por Johnson et al. (1991), que identificou uma preferência das larvas da estrela-do-mar Acanthaster planci por substratos de algas calcárias, especificamente do gênero Lithothaminium, devido à presença do filme bacteriano. O grupo dos Polychaeta apresentou 27 famílias associadas aos nódulos calcários, 18 delas ocorrendo sobre a superfície do substrato e portanto denominadas de criptofauna, e 9 ocorrendo dentro da matriz calcária (Phyllodocidae, Eunicidae, Nereididae, Terebellidae, Sabellidae, Euphrosinidae, Flabelligeridae, Syllidae e Capitellidae). Não é possível afirmar com certeza quais destes últimos grupos realmente possuem algum mecanismo químico ou 116 mecânico para a escavação da matriz calcária, pois podem estar habitando galerias construídas por outros organismos. Porém, dentre os poliquetas, os mais conspícuos e que ocorreram a vários centímetros dentro da matriz calcária foram o filodocídeo Anaitides madeirensis, o eunicídeo Eunice longicirrata, o nereidídeo Neanthes sp e o flabeligerídeo Pherusa cf. scutigera. As galerias deste último deixam sinais bem marcados na superfície de corte dos blocos fragmentados, como pode ser observado na Figura 45. Esta talvez seja a espécie mais abundante e, ao contrário da maioria das espécies perfurantes, dificilmente visíveis na superfície da matriz calcária, pôde ser facilmente observada devido às cerdas referentes aos 3-4 primeiros setígeros serem muito alongadas e posicionadas para frente, ficando expostas para fora da galeria. Figura 45: Superfície de corte de um fragmento de alga com marcas deixadas pela escavação do Polychaeta Pherusa cf scutigera (Flabelligeridae), indicado pelas setas. Segundo Fauchald & Jumars (1979), Eunicidae é uma família muito comum sobre substratos consolidados, altamente adaptada a perfurar a matriz calcária construindo galerias. Hutchings (1986) e Gathof (1984) descrevem os mecanismos de perfuração dos eunicídeos, que utilizam suas maxilas para se fixarem ao substrato enquanto as mandíbulas raspam a superfície da rocha calcária. O gênero Eunice apresenta muitas espécies que são dominantes em 117 fundos de recifes coralinos e calcários, participando de forma importante como fonte de alimento para peixes e outros invertebrados (Kohn, 1968; Bakus 1969; Vittor & Johnson 1977). Aqui foram encontradas duas espécies de Eunicidae habitando os blocos calcários, sendo Eunice longicirrata obtida dentro de galerias ao serem os blocos fragmentados com martelo (Figura 46). Figura 46: Bloco de alga calcária fragmentado onde aparece o Polychaeta Eunice longicirrata (Eunicidae) saindo de uma galeria. A fauna de poliquetas do substrato inconsolidado adjacente apresentou um número total de 46 espécies pertencentes a 28 famílias, das quais 10 ocorreram apenas no sedimento (Sabellidae, Pilargidae, Hesyonidae, Arabellidae, Oweniidae, Goniadidae, Magelonidae, Poecilochaetidae, Orbinidae e Pholoididae). Outro grupo considerado como endolítico é Sipuncula representado pelas espécies Asphidosiphon gosnoldi, Phascolion sp e Asphidosoma sp. Esses mesmos gêneros endolíticos foram encontrados habitando nódulos de algas calcárias na região de Ubatuba, como observado por Sumida (1994). Outros autores descrevem os sipúnculos como um dos principais componentes da fauna endolítica de recifes coralíneos e calcários vivos e mortos (Hutchings & Weate, 1974, 1977; Hutchings, 1986; Young, 1986; Santa-Isabel, 2001). Willians & Margolis (1974) descrevem os mecanismos físicos e químicos envolvidos na perfuração da matriz calcária, revelando o sucesso deste grupo 118 na colonização desses ambientes. A Figura 47 mostra as marcas deixadas por uma galeria construída por um Sipuncula do gênero Asphidosiphon. Figura 47: Superfície de corte de um fragmento de alga mostrando a feição típica de uma escavação feita por um Sipuculídeo do gênero Asphidosiphon. Indicado pela seta. No substrato inconsolidado foram encontradas outras espécies: Apiosoma misakianum e Nephasoma sp, o que pode também estar indicando preferências das espécies por substratos específicos. Entre os crustáceos peracáridos Amphipoda apresentou 7 famílias nos substratos calcários e 9 famílias nos fundos arenosos. Corophiidae, representada pelo gênero Cerapus, que constrói tubos com uma matriz orgânica e pedaços de conchas e grãos de areia, esteve presente apenas nas saliências da superfície das algas. Já as famílias Amphilochoidae, Podoceridae e Leucothoidae, representadas pelos gêneros Amphilocus, Podocerus e Leucothoe, respectivamente, ocorreram apenas nos fundos moles adjacentes. Os isópodes foram representados por 4 famílias habitando os nódulos calcários e 6 famílias habitando o sedimento inconsolidado. Dessas últimas, Aegidae e Expananthuridae foram exclusivas nesse substrato. Dentre os tanaidáceos foram encontradas as famílias Typhlotanaidae, Sphyrapidae, Metapseudidae e Leptochelidae, presentes em ambos os substratos. Um grupo que ocorreu exclusivamente sobre as algas calcárias foi o cnidário da ordem Coronatae (Scyphozoa). São encontrados em seu estágio 119 polipóide denominado cifístoma, fixos ao substrato. Esta é a fase séssil no ciclo de vida desses organismos que apresentam também um estágio medusóide. Alguns exemplares foram encaminhados para o laboratório do Dr. Fábio Lang, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP, onde foram mantidos vivos em aquários para a descrição completa dos estágios do ciclo de vida, necessária à identificação das espécies. Esses organismos ocorrem em fundos rochosos do infralitoral e são característicos de grandes profundidades (Ruppert & Barnes, 1994). Embora para costa brasileira poucas espécies tenham sido descritas até o momento, durante o projeto REVIZEE quatro novas espécies foram descobertas, associadas a corais escleractínios entre profundidades de 130 e 800 m (Jarms et al., 2002). Possivelmente, segundo os especialistas do grupo, os espécimes coletados no presente estudo correspondam ou a uma nova espécie, ou a uma nova ocorrência para a região. Este grupo apresenta características peculiares em relação a seu ciclo de vida, apresentando estágios de dormência sob condições de variações ambientais amplas, sendo capazes de armazenar energia num estágio polipóide perene (F. L. Silveira et al., 2002). Outro grupo bastante conspícuo habitando apenas as reentrâncias sobre as algas foi Holothuroidea, com representantes da família Psolidae. Tommasi (1971) descreveu duas espécie do gênero Psolus para a região da Baia de Ilha Grande, RJ, entre profundidades de 80 e 150 m, também sobre substratos biodetríticos. Este é um grupo talvez dos mais derivados dentre os Echinodermata, essencialmente sésseis, raramente errantes, comumente associados a fundos rochosos ou aderidos a conchas de moluscos (Hadfield, 1961 apud McEven & Chia, 1991). Como adaptação, apresentam um dorso encarapaçado composto por diversas placas e uma sola adesiva onde se encontram as fileiras de pés ambulacrários, que lhes garante uma forte fixação sobre o substrato. Outro aspecto interessante do grupo é a incubação dos embriões sobre a sola do indivíduo adulto em algumas espécies, garantindo altas taxas de sobrevivência entre os juvenis (McEven, 1984; McEven & Chia, 1991). Muitos estudos quantitativos mostram que a criptofauna, endolítica e criptolítica, associada a recifes coralinos e calcários, é abundante e diversa 120 (Grassle, 1973; Reish, 1968; Huchtings & Weate, 1974; Hucthings, 1986; Young, 1986; Gischler & Ginsburg, 1996; Santa-Isabel, 2001; Tribollet et al., 2002). Porém, pouco se sabe ainda sobre a interação entre as comunidades de fundos recifais e as comunidades que habitam as áreas adjacentes formadas por sedimentos inconsolidados (Paulo Paiva, UFRJ, com. pessoal). É sabido que a própria natureza do substrato seleciona comunidades distintas de espécies, que apresentam uma seletividade no assentamento larval ligada a diversos fatores endógenos (quimiorreceptores) ou exógenos, tais como a textura e rugosidade do fundo (Mullineaux, 1988), presença de recrutas da mesma espécie, (Keough, 1988), presença de um filme microbiano sobre o substrato, (Rodriguez et al., 1993; Mckenzie et al., 2000), presas em potencial, luz, gravidade, etc (Thorson, 1966). Porém, se existe algum grau de interação entre esses dois tipos de comunidades, se elas partilham recursos, se as espécies apresentam nichos de alimentação em comum ou habitam exclusivamente um ou outro substrato, ainda não existem informações relevantes. Paiva (no prelo) estudando comunidades de Polychaeta em sedimentos oriundos da erosão de recifes coralinos na região do banco de Abrolhos, encontrou uma fauna típica de fundos inconsolidados, onde raramente as espécies reconhecidamente habitantes dos recifes se estabeleceram sobre o sedimento. Quando isso ocorria, segundo o autor, provavelmente era de forma acidental. Este mesmo padrão também foi observado para Amphipoda e para Alpheidae (Young, Museu Nacional, RJ, em prep.). Como indica o presente trabalho, parecem existir comunidades distintas habitando os sedimentos inconsolidados e os nódulos de algas calcárias; mas existe também um pequeno número de espécies encontradas em ambos os tipos de fundo. Este fato também foi observado por Miyaji (1995), que encontrou associações de espécies de gastrópodes e bivalves características de fundos biodetríticos, porém não de forma exclusiva. Também Heitor (1996) identificou associações de espécies de equinodermos habitando a superfície das algas calcárias preferencialmente, mas que também ocorreram, em menor grau, sobre sedimentos arenosos. Uma possível explicação para esse grau de sobreposição das associações de espécies de ambos o substratos pode estar 121 no fato da existência de uma grande quantidade de pequenos fragmentos calcários oriundos da erosão tanto mecânica das correntes de fundo, e das atividade ligadas à escavação dos organismos endolíticos. Essa fonte de sedimentos grosseiros mal selecionados permite a colonização de ambos os tipos de fauna, tanto da infauna característica de fundos inconsolidados, com capacidade de movimentação por entre os grãos sedimentares, como aquela denominada de criptofauna vivendo na superfície e rugosidades dos fragmentos de rocha. Esse ambiente de fragmentos seria um ecótono entre os dois ambientes. Este fato pode ser confirmado pela presença de espécies sésseis características de fundos consolidados, encontradas nas amostras de box corer e van Veen, tais como hidrozoários e esponjas. Observamos que há uma maior porcentagem de espécies que ocorreram apenas no sedimento (cerca de 60 %), em relação às espécies exclusivas dos recifes (48 %). Isso pode ser um indicativo de que algumas espécies representantes dos fundos duros podem se adaptar melhor às diferentes condições oferecidas pelo substrato, o que, em última análise, pode refletir uma plasticidade de hábitos alimentares dessas espécies. Tal é o caso de Amphipholizona delicata e Ophiacantha pentacrinus (Ophiuroidea) que podem tanto se alimentar de particulas em suspensão, sob condições favoráveis de correntes, como podem se alimentar da matéria orgânica depositada sobre o fundo. 122 7.2.2 Abundância e biomassa da criptofauna Encontrou-se uma grande diferença física nos blocos calcários coletados. As fotos correspondentes às Figuras 48 e 49 mostram nódulos calcários com grande área superficial (‘rugosos’) e com menor área de superfície (‘lisos’), respectivamente. Outro aspecto bem característico que diferencia os dois tipos de blocos é a dureza ou densidade. Os que possuem muitas perfurações são facilmente quebrados com as mãos, enquanto aqueles com superfície mais uniforme necessitam do emprego de força para fragmentação (p. ex. uma marreta). Figura 48: Fragmentos de algas calcárias com grande área superficial e grande quantidade de escavações e galerias feitas pelos organismos da criptofauna. Figura 49: Fragmento de alga calcária com área superficial mais uniforme e poucas perfurações feitas por organismos da criptofauna. 123 Na Tabela 14 são mostrados os dados do peso e volume das 4 amostras de blocos de algas calcárias utilizadas para uma análise quantitativa da densidade e biomassa da criptofauna. Nota-se que as réplicas dos blocos rugosos tiveram de 25-29% do seu volume ocupado por cavidades, reentrâncias e espaços vazios, enquanto as réplicas dos blocos lisos apresentaram de 15-16% (Figura 50). Considerando-se um fundo com todos os tipos de blocos, em média esses substratos apresentaram cerca de 21% de seu volume ocupado por galerias e cavidades, espaço este utilizado pelos organismos para fixação e proteção. Tabela 14: Peso úmido, volume total e % de volume ocupado por galerias nas quatro amostras de blocos de algas calcárias. nódulos rugosos nódulos lisos Réplica 1 Réplica 2 Réplica 1 Réplica 2 Média Peso úmido(g) 1800 1600 1623 1450 1618,25 Vol. (ml) 580 540 700 490 577,5 Vol.(com filme plást.) 780 765 830 585 740 Vol. Galerias (ml) 200 225 130 95 162,5 % Vol. Galerias 25,64 29,41 15,66 16,24 21,73 Esses valores parecem estar de acordo com os resultados obtidos em estudos realizados em recifes de coral na região da grande barreira da Austrália (Hutchings & Weate,1977; Gischler & Ginsburg, 1996). Esses autores observaram em amostras de recifes coralinos com grande área superficial, que valores entre 10-39% do volume dos recifes eram ocupados por galerias, enquanto que, em habitats onde os recifes apresentavam uma superfície mais uniforme, esse valor ficou entre 3-20%. Quanto maior for a incidência de perfurações na matriz calcária, sejam elas o produto de processos erosivos ou da atividade de escavação dos organismos da criptofauna, maior será o volume ocupado por canais e orifícios, fazendo com que a área superficial de contato entre o substrato e a água circundante aumente significativamente. Esse processo de bioerosão (Neumann, 1966) tem um papel fundamental não só na produção de sedimentos (Hutchings, 1986; Hubbard et al., 1990), mas também 124 na estruturação do ecossistema através da criação de novos micronichos que são colonizados por novas espécies, causando um aumento da diversidade (Stearn & Scoffin, 1977; Kiene & Hutchings, 1994). Em recifes coralinos vivos esse processo ainda é responsável pela cimentação de camadas de matriz coral-algal, pois espaços e galerias quando abandonadas pelos organismos são preenchidas com cristais de carbonato de cálcio, que funcionam como uma cola natural dos recifes (Bosence, 1984; Hutchings, 1986). Muitos estudos relacionados à atividade bioerodidora dos organismos da criptofauna em ambientes recifais têm sido realizados; porém, a maioria deles em localidades isoladas, em poucos pontos de amostragem e apenas considerando a atividade dos macroperfuradores (Tribollet et al., 2002). Recentemente a atenção tem sido despertada para a atividade dos microperfuradores, como microalgas, cianobactérias e fungos, na modificação do substrato. Esses organismos tornam o substrato mais susceptível ao recrutamento de muitas espécies da macrofauna, atraindo ainda uma diversidade de organismos pastadores que se alimentam do filme de material orgânico (Bruggemann et al., 1996). Brander et al. (1971) observaram que substratos com maior área superficial, ou seja, com maior número de reentrâncias e galerias, são susceptíveis à maior colonização pela criptofauna. Observaram também que essa fauna evita habitar recifes vivos, preferindo colonizar a matriz calcária morta, fato este que observamos nas algas encontradas na região de Cabo Frio, em sua maioria mortas. Uma possível explicação para isto é que a presença de uma matriz celular de filamentos algais impediria a perfuração dos organismos, pois as células algais, ao produzirem uma infinidade de metabólitos extracelulares, reconstituem os tecidos mortos e impedem que os danos causados pela fauna criptolítica afetem o crescimento da matriz celular (Alexandersson, 1977). Em relação a abundância da fauna nas quatro amostras analisadas, observamos nitidamente uma colonização mais acentuada sobre os blocos onde há maior porcentagem de espaços vazios e galerias (Figura 51). O grupo dos Polychaeta apresenta uma média de 42 indivíduos nos nódulos com maior percentagem de volume de galerias e de cerca de 21 125 indivíduos nas amostras com menor volume. Ophiuroidea apresentou uma média de 39 indivíduos nos nódulos ‘rugosos’, enquanto nos nódulos ‘lisos’ esteve presente somente na amostra 4 e com apenas 2 indivíduos. O terceiro grupo mais representativo da fauna, os cnidários sésseis Coronatae (Scyphozoa), aparecem com cerca de 25 indivíduos nas amostras 1 e 2 e com 10 indivíduos nas amostras 3 e 4. O grupo Holothuroidea (Psolidae) aparece de forma uniforme, com cerca de 5 indivíduos em cada amostra. 60 No de indiv. 50 Scyphozoa 40 Polychaeta 30 Sipuncula 20 Ophiuroidea 10 Holothuroidea 0 Réplica 1 Réplica 2 nódulo s rugo s o s Réplica 1 Réplica 2 nódulo s lis o s Figura 50: Abundância de indivíduos dos principais grupos da criptofauna associada as quatro amostras de fragmentos de algas calcárias. No grupo Polychaeta notamos também que há uma maior diversidade de famílias habitando os nódulos com maior área superficial (Tabela 15). Nas amostras 1 e 2 (nódulos rugosos) encontramos 16 e 17 famílias, respectivamente. Nas amostras 3 e 4 encontramos apenas 7 famílias. Isto poderia ser explicado pela presença de um número muito maior de microambientes nos nódulos rugosos, possibilitando a colonização de espécies com diversos hábitos de vida, como observado por Hutchings (1981, 1986). Esta autora também encontrou uma maior diversidade de espécies de Polychaeta associada a substratos com maior porcentagem de volume ocupada por galerias e escavações em recifes coralinos em Lizard Island, na grande barreira de coral da Austrália. A tabela 15 mostra os valores da abundância de indivíduos dos principais grupos da macrofauna encontrados sobre os nódulos, expressa em valores absolutos e em relação ao volume total ocupado pelos blocos. 126 Tabela 15: Grupos da macrofauna presentes nas amostras de fragmentos de algas calcárias (No de indivíduos - * não são computados os organismos coloniais). Grupos PORIFERA CNIDARIA BIVALVIA GASTROPODA BRACHIOPODA SIPUNCULA ECHIURA NEMATODA NEMERTINEA POLYCHAETA Spionidae Paraonidae Capitellidae Flabelligeridae Eunicidae Nereidae Goniadidae Euphrosinidae Syllidae Onuphidae Phyllodocidae Maldanidae Serpulidae Chrysopetallidae Amphinomidae Terebellidae Cirratulidae Polynoidae Lumbrineridae Oweniidae OSTRACODA AMPHIPODA TANAIDACEA ISOPODA Gnathidae Anthuridae Cirolanidae Jaeropsidae OPHIUROIDEA HOLOTHUROIDEA TOTAL* o n ind./vol c. filme plást. nódulos rugosos nódulos lisos Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 10 21 3 1 1 3 19 30 1 3 2 3 1 4 1 2 1 1 6 3 5 1 2 7 2 1 1 5 4 2 10 3 6 1 1 6 4 8 1 9 1 2 3 5 2 1 1 5 2 6 1 5 1 1 2 4 2 2 1 1 1 1 1 1 3 1 1 2 2 1 1 1 1 5 1 2 3 2 1 4 1 43 7 36 5 5 1 2 5 144 127 56 36 0,18 0,17 0,07 0,06 1 8 1 4 127 Com relação à biomassa dos principais grupos da macrofauna, observamos um padrão similar ao da abundância de indivíduos, com os altos valores associados aos nódulos de maior área superficial, como pode ser observado na Tabela 16 e na Figura 52. Tabela 16: Biomassa total dos principais grupos da criptofauna (epifauna e fauna endolítica) em relação ao peso úmido dos nódulos calcários. Blocos rugosos com maior volume de galerias Grupos da macrofauna Réplica 1 Blocos lisos com menor volume de galerias Réplica 2 Réplica 1 Réplica 2 p. úmido (g) % peso úmido % peso úmido % peso úmido % PORIFERA 0,17 6,25 0,42 16,23 0,022 2,91 0,0031 0,39 CNIDARIA (Scyphozoa) 0,75 27,59 0,47 18,16 0,38 50,39 0,21 26,41 MOLLUSCA 0,03 1,1 0,012 0,46 _ _ _ _ POLYCHAETA 0,88 32,37 0,72 27,82 0,108 14,32 0,278 34,97 CRUSTACEA 0,09 3,31 0,02 0,77 0,031 4,11 0,011 1,38 0,648 23,84 0,836 32,3 0,213 28,24 0,185 23,27 0,15 5,51 0,11 4,25 _ _ 0,08 10,06 2,718 100 2,588 100 0,754 100 0,795 100 ECHINODERMATA SIPUNCULA TOTAL % Biomassa sobre o peso 0,1495 úmido dos blocos 0,1617 0,0548 b. 0,2 Sipuncula 2,5 Crustacea 2 0,15 Polychaeta 1,5 Mollusca 1 Scyphozoa 0,5 Porifera Echinodermata 0 1 2 3 4 % Biomassa total (g) a. 0,0464 0,1 0,05 0 1 2 3 4 Figura 51: a) Biomassa total dos principais grupos da criptofauna (criptolítica e endolítica) por amostra; b) Biomassa animal expressa em termos do peso úmido de cada bloco de alga. Notamos que os grupos que mais contribuem para a biomassa, nos dois tipos de blocos, são Polychaeta e Echinodermata, este último principalmente devido aos Ophiuroidea. Em menor proporção participam Mollusca, Cnidária e Crustacea. 128 Os valores de biomassa encontrados, em torno de 0,15 % do peso úmido dos blocos para as amostras com maior área superficial e 0,05 % para as de menor superfície, parecem estar de acordo com os observados em outros estudos (Brander et al., 1971; Peyrot-Clausade, 1974; Hutchings & Weate, 1974; Hutchings, 1986). Esta última autora, estudando recifes coralinos-algais em ‘Lizard Island’, região ao norte da grande barreira de corais da Austrália, encontrou valores de biomassa de invertebrados entre 0,2 e 0,06 % do peso úmido dos recifes. A mesma autora sugere que a grande variabilidade nos valores de biomassa encontrados não é devida apenas a um fator agindo isoladamente, mas sim é o resultado de vários agentes físicos e biológicos agindo conjuntamente. Substratos com grande área superficial podem favorecer o assentamento larval devido à grande quantidade de espaço disponível; porém, depois da fase do assentamento, o estabelecimento definitivo dos organismos irá depender de uma série de outros fatores, entre os quais se destaca o encontro de um local adequado na periferia da superfície onde o indivíduo jovem tenha acesso fácil à alimentação, seja ela do tipo suspensívora ou detritívora; a presença de espécies predadoras, tais como muitas esponjas que se alimentam de larvas de invertebrados e reduzem o sucesso de colonização de muitas espécies de poliquetas e moluscos. As condições físicas, tais como a turbulência gerada por correntes de fundo, também podem arrastar organismos que não encontraram um local adequado para abrigo. Embora poucas amostras tenham sido analisadas, e portanto nenhuma confirmação estatística possa ser feita, os altos valores de biomassa, similares aos encontrados em outros estudos em ambientes recifais, nos permitem chamar a atenção para estes ambientes da região de quebra da plataforma como sendo detentores de grande biomassa de invertebrados bênticos, que, em última instância, assumem importância na exportação de energia para as comunidades de peixes demersais e invertebrados maiores (megafauna). Essa importância pode ser ainda destacada se levarmos em conta a extensão desses fundos calcários, que ocorrem em grandes bancos por toda a margem continental sudeste até o limite de São Sebastião (Kempf, 1972). 129 Podemos ainda, considerar os valores de biomassa obtidos para criptofauna associada aos nódulos, como sendo elevados se comparados aos valores de biomassa encontrados em sedimentos inconsolidados nas áreas de plataforma continental da região sudeste do Brasil. Dados do Projeto Integrado (PI-IOUSP), mostraram valores entre 6 e 20 g de peso úmido./0,1 m2 (PiresVanin, 1993) entre profundidades de 30 e 100 m ao largo de Ubatuba. Dados do REVIZEE apontam valores ente 0,5 a 22 g/0,1 m2 de peso úmido para a macrofauna bêntica entre profundidades de 60 e 600 m entre as latitudes de Cabo de São Tomé e Chuí (Amaral, 1999). Se considerarmos que os aparelhos utilizados nos trabalhos acima referidos, amostram cerca de 20 litros (van Veen) a 40 litros (Box corer) de sedimento, quando falamos de valores de biomassa entre 0,5 e 2 g para um volume de cerca de 0,7 litros, podemos chegar a valores similares ou superiores para uma mesma unidade de volume. O papel da fauna bêntica na dieta alimentar de muitas espécies de peixes e invertebrados comercialmente importantes é extensamente documentado para locais da costa brasileira, especialmente para a região sudeste (Soares et al., 1993; Tararam et al., 1993; Rossi-Wongtschowski et al., 1997; Gasalla & Soares 2001; Vasconcellos & Gasalla, 2001). Estes estudos demonstram a estreita ligação, em termos energéticos, entre os compartimentos bêntico e pelágico. Na região de Cabo Frio, sobre as áreas recifais estudadas, são capturadas com a utilização de armadilhas algumas espécies importantes no cenário da pesca comercial, dentre elas o peixe-batata (Lopholatilus sp) e o Pargo (Pagrus pagrus) (Roberto Ávila, REVIZZE, com. pessoal). Esta última espécie apresenta uma dieta composta basicamente de poliquetas e crustáceos. Dados da pesca com espinhel de fundo nesta área de estudo estão sendo processados e analisados pela equipe do REVIZZE, score sul, e futuramente poderão nos dar uma melhor idéia da importância desses ambientes recifais calcários na manutenção de estoques pesqueiros e na dinâmica trófica do ecossistema. Fundos carbonáticos similares aos observados no presente trabalho foram estudados em áreas do Atlântico Norte, no talude continental da Irlanda (Porcupine Seabight), porém com uma maior participação de corais 130 escleractínios de mar profundo. Tais fundos apresentam espécies da macrofauna muito similares às encontradas no presente estudo, dentre elas poliquetas endolíticos das famílias Eunicidae e Phyllodocidae, sipunculídeos, crustáceos galateídeos e ophiuróides (Sumida & Kennedy, 1998). Estudos futuros podem nos dar uma série de informações a respeito da relação entre a fauna desses ambientes. Possivelmente podem ocorrer espécies em comum para grupos com alta capacidade de dispersão, ou pode haver equivalentes ecológicos, que em virtude de pressões seletivas distintas tenham dado origem a espécies diferentes, mas que ocupam nichos bem similares. Visto também que há uma grande diversidade de formas e tamanhos dos nódulos calcários, próximas investigações devem atentar para a obtenção de dados de abundância e biomassa mais acurados, tomando um maior número de réplicas de cada tipo substrato e aprimorando as técnicas de extração da fauna criptolítica. Os indícios apresentados no presente estudo de que esses ambientes se tratam de ecossistemas extremamente produtivos com alta biomassa de invertebrados bênticos, servem de base para estimular novas pesquisas utilizando uma metodologia mais específica, permitindo medir quantitativamente de forma acurada parâmetros físicos dos blocos, tais como volume, área superficial, e parâmetros biológicos, como abundância e biomassa. 131 7. 3. CONCLUSÕES 1. Os fundos de algas calcárias na região de quebra da plataforma ao largo de Cabo Frio constituem um ‘hotspot’ de abundância e diversidade de organismos da macrofauna bêntica. 2. Muitas espécies que ocorrem sobre esses fundos calcários revelaramse desconhecidas dos cientistas consultados, havendo ainda uma grande diversidade de poliquetas, crustáceos e equinodermos a ser pesquisada na área. 3. A composição da fauna existente nos fundos de algas calcárias é bastante distinta da fauna que habita os fundos inconsolidados adjacentes. Contudo, um pequeno número de espécies que ocorrem nos dois ambientes pode indicar a existência de um ecótono formado por um sedimento composto de fragmentos menores de algas, oriundos de processos erosivos, onde tanto espécies características do sedimento, como dos recifes podem co-habitar. 4. A abundância e biomassa da fauna endolítica e criptolítica sobre os nódulos com maior área superficial são maiores do que as encontradas em nódulos lisos, com menor porcentagem de volume ocupado por galerias. 132 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABSALÃO R. S. & E. C. RIOS. 1995. Descriptions of two new species of Caelatura (Gastropoda, Rissoidea, Barleeidae) from Brazil. Apex. 10: 8793. ABSALÃO, R. S.; C. MIYAJI & A. D. PIMENTA. 2001. The genus Brokula Iredale, 1912 (Gastropoda, Trochidae) from Brazil: description of a new species, with notes on other South American species. Zoosystema. 23 (4): 675-687. ADEY, W. H. & I. G. MACINTYRE. 1973. Crustose coralline algae: a reevaluation in the geological sciences. Geol. Soc. A. Bull. 84: 883-904. ALEXANDERSSON, T. 1977. Carbonate Cementation in Recent Coralline Algae. In: E. Flügel (ed.). Fossil Algae - Recent Results and Developments. Berlin, Springer-Verlag. p. 261-269. AMARAL, A. C. Z. 1999. 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ANEXOS TABELA I - Lista de espécies da megafauna (no de indivíduos por arrasto; no médio de ind.por estação e biomassa média por estaçã Cabo Frio 100 m ESPÉCIES INVERNO 2001 Ubatuba 100 m VERÃO 2002 Ubatuba 40 m 40 m 100 m # 7077 # 7078 # 7081 # 7081 # 7082 # 7183 # 7183 # 7184 # 7184 9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7 0 0 0 0 0 0 0 0 1 50 0 0 0 6 17 0 0 140 0 18 0 0 0 13 12 0 1 900 0 2 5 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 8 0 0 0 0 0 0 0 1 0 6 3 0 0 0 0 0 0 29 0 0 0 8 7 0 0 1 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 47 96 0 0 0 0 1110 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 7 0 56 7 0 6 0 19 37 0 2 0 0 1644 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 5 1 0 3 0 0 0 0 0 0 0 149 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 35 0 0 1 24 0 0 391 19 0 0 0 0 197 0 0 0 0 11 0 0 0 2 0 3 0 3 0 0 0 0 1 70 0 0 0 0 0 0 0 0 14 0 5 0 4 0 0 0 29 0 0 0 0 0 0 0 0 0 35 0 0 0 0 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 19 0 0 0 8 0 0 0 3 0 0 0 0 0 26 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 816 0 0 0 0 0 7 0 55 0 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 0 0 0 0 0 0 0 0 10 0 0 6 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 34 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 28 2 0 0 0 0 0 7 0 0 0 2 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 9 0 0 0 0 1 2 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1375 0 1724 1 425 0 131 131 3000 11 0 24 0 88 0 936 0 36 ECHINODERMATA Astropecten brasiliensis Astropecten cingulatus Luidia ludwigi scotti Luidia clathrata Anthenoides piercei Echinaster brasiliensis Lytechinus variegatus Echinoidea sp Neocomatella pulchella Holothuroidea sp CRUSTACEA Plesionika longirostris Parapenaeus americanus Trachypenaeus constrictus Farfantepenaeus sp Sycionia typica Alpheidae sp Portunus spinicarpus Portunus spinimanus Araneus cibrarius Callinectes ornatus Hepatus pudibundus Tetraxanthus rathbunae Leurocyclus tuberculosus Xanthidae sp Persephona mediterranea Persephona punctata Parthenope pourtalesi Ocipodidae sp Leucipa pentagona Stenocionops spinosissima Libinia spinosa Pyromaia tuberculata Brachyura sp 4 Brachyura sp 5 Homola barbata Dardanus insignis Paguridea sp 1 Munida irrasa Squilla brasiliensis Hemisquilla braziliensis Metanephrops rubellus Scylarides brasiliensis MOLLUSCA Fusinus frenguelli Siratus tenuivaricosus Thais haemastoma Dorsanum moniliferum Cymatium parthenopeum Zidonna dufresnei Adelomelon becki Tonna galea Buccinanops gradatum Buccinanops cf. lamarckii Chaetopleura angulata POLYCHAETA Aphrodita longicornis No de indiv. por arrasto No médio de indiv. por estação Biomassa média por estação (g) Riqueza de esp. por estação 2127 19700 13 0 1646 1035,5 5600 18 56 1850 14 332,66 26933 13 TABELA I - Lista de espécies da megafauna (n o de indivíduos por arrasto; n o médio de ind.por estação e biomassa média por estação) VERÃO 2001 Cabo Frio ESPÉCIES 40 m 100 m INVERNO 2001 Cabo Frio 40 m 100 m # 6919 # 6920 # 6920 # 6921 # 6922 # 7076 # 7076 # 7076 # 7077 10 0 6 0 0 0 0 0 0 0 20 0 2 0 0 0 0 0 0 0 136 0 1 0 0 0 0 0 0 0 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 2 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 216 0 12 2 0 0 0 0 0 0 26 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 35 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 0 0 0 14 0 0 0 0 23 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 5 0 34 16 0 0 0 53 30 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 10 0 140 33 0 4 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 14 0 0 0 0 202 0 0 6 1 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 35 0 6 0 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 13 0 0 0 0 0 5 67 0 2 0 0 3150 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 0 5 14 0 0 0 0 0 0 1 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 18 45 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 97 0 42 94,33 2601 7 0 144 0 64 0 285 0 9 0 234 202,33 1816,7 24 2 364 0 3282 2127 19700 13 ECHINODERMATA Astropecten brasiliensis Astropecten cingulatus Luidia ludwigi scotti Luidia clathrata Anthenoides piercei Echinaster brasiliensis Lytechinus variegatus Echinoidea sp Neocomatella pulchella Holothuroidea sp CRUSTACEA Plesionika longirostris Parapenaeus americanus Trachypenaeus constrictus Farfantepenaeus sp Sycionia typica Alpheidae sp Portunus spinicarpus Portunus spinimanus Araneus cibrarius Callinectes ornatus Hepatus pudibundus Tetraxanthus rathbunae Leurocyclus tuberculosus Xanthidae sp Persephona mediterranea Persephona punctata Parthenope pourtalesi Ocipodidae sp Leucipa pentagona Stenocionops spinosissima Libinia spinosa Pyromaia tuberculata Brachyura sp 4 Brachyura sp 5 Homola barbata Dardanus insignis Paguridea sp 1 Munida irrasa Squilla brasiliensis Hemisquilla braziliensis Metanephrops rubellus Scylarides brasiliensis MOLLUSCA Fusinus frenguelli Siratus tenuivaricosus Thais haemastoma Dorsanum moniliferum Cymatium parthenopeum Zidona dufresnei Adelomelon becki Tonna galea Buccinanops gradatum Buccinanops cf. lamarckii Chaetopleura angulata POLYCHAETA Aphrodita longicornis No de indiv. por arrasto No médio de indiv. por estação Biomassa média por estação (g) Riqueza de espécies por estação 174,5 1275 14 TABELA I - Lista de espécies da megafauna (no de indivíduos por arrasto; no médio de ind.por estação e biomassa média por estação). ESPÉCIES INVERNO 2002 Ubatuba 40 m VERÃO 2002 Cabo Frio Ubatuba 100 m 40 m 100 m # 7184 # 7185 # 7185 # 7185 # 7186 # 7186 # 7186 # 7321 # 7321 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 119 0 13 0 0 0 0 0 0 0 73 0 21 0 0 0 1 0 0 0 137 0 6 0 0 0 0 0 0 0 14 0 0 0 0 0 0 0 0 1 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 1 0 0 0 3 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 0 0 13 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 11 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 62 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 1 9 0 0 0 0 17 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 47 0 0 0 0 0 25 0 0 0 0 0 0 0 30 0 0 0 0 9 0 0 0 0 0 1 0 91 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 2 0 0 0 0 5 0 58 13 0 1 0 1 33 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 0 7 0 8 3 0 10 0 67 0 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8 5 0 0 0 0 15 0 20 3 0 2 0 0 0 0 0 2 0 1 21 0 138 48 0 0 0 1 0 0 0 0 0 79 0 0 0 0 15 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 49 0 55 41 0 0 0 1 0 0 0 0 0 65 0 0 0 0 10 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 3 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 13 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 12 0 0 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 1 3 26 332,66 26933 13 0 175 0 190 212,33 6283 15 2 272 0 190 0 71 133,33 4676 15 1 139 0 321 0 234 ECHINODERMATA Astropecten brasiliensis Astropecten cingulatus Luidia ludwigi scotti Luidia clathrata Anthenoides piercei Echinaster brasiliensis Lytechinus variegatus Echinoidea sp Neocomatella pulchella Holothuroidea sp CRUSTACEA Plesionika longirostris Parapenaeus americanus Trachypenaeus constrictus Farfantepenaeus sp Sycionia typica Alpheidae sp Portunus spinicarpus Portunus spinimanus Araneus cibrarius Callinectes ornatus Hepatus pudibundus Tetraxanthus rathbunae Leurocyclus tuberculosus Xanthidae sp Persephona mediterranea Persephona punctata Parthenope pourtalesi Ocipodidae sp Leucipa pentagona Stenocionops spinosissima Libinia spinosa Pyromaia tuberculata Brachyura sp 4 Brachyura sp 5 Homola barbata Dardanus insignis Paguridea sp 1 Munida irrasa Squilla brasiliensis Hemisquilla braziliensis Metanephrops rubellus Scylarides brasiliensis MOLLUSCA Fusinus frenguelli Siratus tenuivaricosus Thais haemastoma Dorsanum moniliferum Cymatium parthenopeum Zidonna dufresnei Adelomelon becki Tonna galea Buccinanops gradatum Buccinanops cf. lamarckii Chaetopleura angulata POLYCHAETA Aphrodita longicornis No de indiv. por arrasto No médio de indiv. por estação Biomassa média por estação (g) Riqueza de espécies por estação 277,5 11500 15 TABELA I - Lista de espécies da megafauna (no de indivíduos por arrasto; no médio de ind.por estação e biomassa média por estação). INVERNO 2002 Cabo Frio 40 m Ubatuba 100 m ESPÉCIES 100 m # 7322 # 7322 # 7323 # 7323 # 7324 2 0 0 0 0 0 0 0 89 1 1 0 0 0 0 0 0 0 19 0 2 0 5 0 0 0 0 0 0 0 1 0 10 0 0 0 0 0 0 0 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 3 0 0 0 17 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 556 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 2 3 0 0 0 0 18 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 862 0 0 0 0 0 6 0 0 0 0 0 0 1 4 0 0 0 0 17 0 0 0 0 0 1 0 79 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 30 0 0 1 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 17 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 114 0 46 0 597 2 921 0 121 121 900 7 ECHINODERMATA Astropecten brasiliensis Astropecten cingulatus Luidia ludwigi scotti Luidia clathrata Anthenoides piercei Echinaster brasiliensis Lytechinus variegatus Echinoidea sp Neocomatella pulchella Holothuroidea sp CRUSTACEA Plesionika longirostris Parapenaeus americanus Trachypenaeus constrictus Farfantepenaeus sp Sycionia typica Alpheidae sp Portunus spinicarpus Portunus spinimanus Araneus cibrarius Callinectes ornatus Hepatus pudibindus Tetraxanthus rathbunae Leurocyclus tuberculosus Xanthidae sp Persephona mediterranea Persephona punctata Parthenope pourtalesi Ocipodidae sp Leucipa pentagona Stenocionops spinosissima Libinia spinosa Pyromaia tuberculata Brachyura sp 4 Brachyura sp 5 Homola barbata Dardanus insignis Paguridea sp 1 Munida irrasa Squilla brasiliensis Hemisquilla braziliensis Metanephrops rubellus Scylarides brasiliensis MOLLUSCA Fusinus frenguelli Siratus tenuivaricosus Thais haemastoma Dorsanum moniliferum Cymatium parthenopeum Zidonna dufresnei Adelomelon becki Tonna galea Buccinanops gradatum Buccinanops cf. lamarckii Chaetopleura angulata POLYCHAETA Aphrodita longicornis No de indiv. por arrasto No médio de indiv. por estação Biomassa média por estação (g) Riqueza de espécies por estação 78 800 7 759 10600 10 TABELA III - Número de indivíduos das espécies da macrofauna bêntica obtidos pelos aparelhos quantitativos e pela draga Estações da plataforma continental.Para o box corer são mostrados os valores obtidos em cada horizonte da coluna sedimentar (superior e infereior) Plataforma interna GRUPOS Pegador 1 2 13 6 Plataforma externa Box Corer 1o lance sup. Pegador 2o lance inf. total 11 1 3 12 1 sup. inf. draga total 1 2 1 3 1 Box Corer 1o lance sup. inf. 2o lance total sup. 1 1 inf. draga total CNIDARIA 3 1 ANTHOZOA NEMATODA NEMERTINEA 1 1 8 MOLLUSCA GASTROPODA PYRAMIDELLIDAE Pyramidellidae sp1 Turbonilla sp 1 Turbonilla sp 2 1 1 1 2 3 Turbonilla sp 3 4 13 4 1 4 16 4 1 1 1 1 1 1 1 2 2 Turbonilla sp 4 Turbonilla sp 5 Turbonila cf. rushii Turbonilla dispar Odostomia sp 21 12 15 2 3 1 COLUMBELLIDAE 1 Collumbellidae sp 1 1 1 11 Costoanachis sertularium Costoanachis sp 1 4 Anachis obesa Alia sp 4 21 1 TROCHIDAE 1 Halistylus columna Calliostoma bruneopictum Solariella carvalhoii 1 1 4 4 1 46 2 1 Calliostoma rota OLIVIDAE 1 Olividae sp Olivella defiorei 1 Ancilla dimidiata 1 3 2 MARGINELLIDAE Prunum sp 1 1 EPITONIDAE Epitonium sp 1 1 1 Epitonium sp 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 TURRIDAE 1 Turridae sp1 1 1 1 1 2 Nannodiella vespuciana Cryoturris cf. adamsi 1 Cryoturris serga 1 Ithycythara lanceolata COLUMBRARIIDAE 1 Metula anfractura THAIDIDAE 2 Thais haemastoma 1 Typhina riosi NATICIDAE Natica sp 2 5 4 16 LITIOPIDAE 2 Litiopa melanostoma 2 10 3 2 1 ACTEONIDAE 3 Acteon pelecais 1 1 1 1 RETUSIDAE Pyrunculus caelatus Pyrunculus ovatus Volvulella persimilis 39 4 6 39 14 14 3 2 2 19 17 10 10 CYLICHNIDAE Acteocina candei 10 CYMATHIDAE Cymathium parthenopeum 2 1 3 3 1 1 TABELA III - continuação Plataforma interna GRUPOS Pegador 1 Plataforma externa Box Corer 1o lance 2 sup. inf. Pegador 2o lance total sup. inf. draga total 1 Box Corer 1o lance 2 sup. inf. 2o lance total sup. inf. draga total EULIMIDAE 1 Eulima bifasciata Balcis sp 3 1 3 5 5 VITRINELLIDAE 1 Vitrinelidae sp Solariorbis sp 1 Teinostoma sp 3 4 1 1 BIVALVIA NUCULIDAE Adrana electa 2 2 1 3 Nucula puelcha PECTINIDAE Chlamys tehuelchus 1 OSTREIIDAE Ostrea cf puelchana 2 ARCIDEA 1 Anadara (Lunarca) ovalis MYTILIDAE 4 Mytilidae sp TELLINIDAE Tellina sp Tellina petitiana 27 11 8 25 5 3 19 24 3 1 SOLEMYDAE 1 Solemya cf ocidentalis 1 MALLETIDAE 1 Malletia cumingii SEMELLIDAE 1 Abra lioica CORBULIDAE 1 Corbula sp 8 1 Corbula patagonica Corbula cymella 1 3 10 2 10 2 68 2 70 16 CUSPIDARIDAE Cardiomya perrostrata 1 1 2 2 LIMIDAE Limatula hendersoni UNGULINIDAE 3 Diplodonta sp 1 1 6 11 11 Felaniella vilardeboana 3 2 1 4 2 POROMYDAE Poromya cymata 1 1 SCAPHOPODA GADILIDAE Polyschides tretraschistus Gadila sp 13 1 11 1 26 37 1 4 1 4 3 3 1 1 12 6 13 1 13 1 12 12 GADILINIDAE Gadilinidae sp Ephisiphon sp 2 4 4 Ephisiphon cf. sowerbyi 1 2 3 23 8 1 9 26 33 1 3 3 33 3 3 1 DENTALIDAE Antalis infractum APLACOPHORA 3 9 2 21 6 1 2 12 12 CEPHALOPODA POLYCHAETA SPIONIDAE Spiophanes missionensis 145 124 98 121 219 Spionidae sp1 Spionidae sp2 AMPHARETIDAE Ampharetidae sp1 Ampharetidae sp2 Ampharetidae sp3 TRYCHOBRANCHIDAE 30 21 14 1 2 18 32 1 2 7 7 TABELA III - continuação Plataforma interna GRUPOS Pegador 1 Plataforma externa Box Corer 1o lance 2 sup. inf. 1 Trychobranchidae sp1 Pegador 2o lance total sup. inf. draga total Box Corer 1o lance 1 2 18 27 sup. inf. 2o lance total sup. inf. draga total 1 CIRRATULIDAE Cirratulidae sp1 1 NEPHTYDAE Nephtydae sp1 Nephtydae sp2 3 12 2 5 2 1 2 4 4 5 Nephtydae sp3 14 14 8 1 9 13 3 1 1 1 1 2 1 ONUPHIDAE Onuphis cf eremita 4 5 5 5 24 Diopatra sp 1 Kimbergonuphis orensanzi PILARGIDAE Sigambra grubei 16 3 9 9 Sigambra sp 2 1 8 3 HESYONIDAE Gyptyis capensis 1 1 1 Podarke sp GLYCERIDAE Glycera sp1 3 1 3 3 1 Glycera sp2 GONIADIDAE 1 1 Goniada sp1 Goniada sp2 1 1 1 Goniada cf emerita MAGELONIDAE Magelona sp1 Magelona cf. riojai Magelona variolamellata 3 2 2 1 4 2 1 4 7 2 SIGALIONIDAE Sigalionidae sp1 2 Sigalionidae sp2 2 9 1 Sigalionidae sp3 3 1 1 1 2 POLYNOIDAE Polynoidae sp1 2 1 1 Polynoidae sp2 1 3 3 4 Polynoidae sp3 1 SYLLIDAE Syllidae sp1 2 1 2 Syllidae sp2 4 4 1 1 1 1 1 1 2 1 1 NEREIDIDAE Nereididae sp1 1 2 4 Nereididae sp2 1 4 DORVILLEIDAE Dorvilleidae sp1 1 1 LYSARETIDAE 1 Lysarete sp1 PHYLLODOCIDAE Phyllodoce sp1 Anaitides sp1 1 1 3 2 1 5 1 5 2 10 1 1 Phyllodocidae sp1 ORBINIIDAE 4 Orbiniidae sp1 2 2 PARAONIDAE Paraonis sp1 35 20 45 45 2 1 1 1 Paraonis sp2 Paraonidae sp1 Paraonidae sp2 Aricidea sp 1 1 1 1 OPHELLIDAE Travisia sp 1 1 AMPHINOMIDAE Amphinomidae sp1 EUPHROSINIDAE 1 1 1 11 TABELA III - continuação Plataforma interna GRUPOS Pegador 1 Plataforma externa Box Corer 1o lance 2 sup. inf. Pegador 2o lance total sup. inf. draga total 1 Box Corer 1o lance 2 sup. inf. 2o lance total sup. inf. 17 Euphrosinidae sp1 draga total 17 POECILOCHAETIDAE 1 Poecilochaetidae sp1 1 MALDANIDAE 2 Axiotella brasiliensis 2 1 Climenella dalesi 1 2 12 Maldanidae sp1 3 3 8 1 Chirimia sp 8 1 46 ARABELLIDAE 2 Arabellidae sp1 1 1 1 1 1 1 1 LUMBRINERIDAE Lumbrineris sp1 3 4 1 Lumbrineris sp2 1 Lumbrineris tetraura 2 3 1 3 5 Lumbrineris atlantica Lumbrineriops macronata 1 1 1 1 5 16 4 3 4 3 CAPITELLIDAE Notomastus sp1 Mediomastus californiensis 23 23 5 3 13 3 3 Capitellidae sp1 2 2 1 1 PECTINARIDAE 1 Pectinaridae sp FLABELLIGERIDAE Fabelligeridae sp1 1 1 1 1 STERNASPIDAE Sternaspis sp 3 3 8 8 1 1 2 1 1 1 OWENIIDAE 6 Owenidae sp1 4 1 CRUSTACEA 10 CIRRIPEDIA OSTRACODA CYPRIDINIDAE Cypridinidae sp 31 1 25 25 5 1 4 4 CYLINDROLEBERIDINIDAE Cylindroleberidinidae sp Asteropella sp SARSIELLIDAE Adelta sp COPEPODA STOMATOPODA 1 2 1 2 1 3 3 5 5 ISOPODA IDOTEIDAE 1 3 Idotea baltica Synidotea sp CIROLANIDAE 1 Politolana cf eximia SEROLIDAE 1 7 Cristaserolis laevis Cleantis sp1 GNATHIDAE 1 Gnathia andrei ANTHURIDAE Eisothistos sp 3 Anthuridae sp1 AMPHIPODA Microphoxus sp nov. Phoxocephalopis sp1 Ampelisca sp1 98 59 2 87 62 45 9 2 1 1 45 9 2 Ampelisca sp nov. 1 Ampelisca sp nov. 2 1 Ampelisca pugetica Photis brevipes Liljeborgia sp1 1 3 1 7 2 2 4 1 TABELA III - continuação Plataforma interna GRUPOS Pegador 1 Liljeborgia quiquedentata Platyschinopiidae sp1 Lysianassidae sp1 Oedicerotidae sp1 Synopiidae sp1 1o lance 2 sup. inf. 1 8 2 1 1 Plataforma externa Box Corer 5 3 Pegador 2o lance total sup. inf. draga total Box Corer 1o lance 1 2 17 2 9 16 sup. Ceradocus sp Pseudharpinia dentata TANAIDACEA sp1 Drastyles sp2 25 1 Cyclaspis reticulata 30 1 1 1 Cyclaspis sp2 Leucon sp1 2o lance total sup. inf. draga total 1 3 Netamelita sp CUMACEA Anchystilis sp1 inf. 27 28 1 1 1 1 16 1 16 1 15 1 16 2 2 2 2 12 1 1 Leucon sp2 Eudorella sp1 1 1 2 Cumella sp1 Campylaspis sp1 Campylaspis sp2 1 1 2 Campylaspis sp3 DECAPODA PENAEIDEA sp1 1 BRACHYURA 3 4 1 29 2 33 ANOMURA PAGURIDEA 30 Dardanus insignis GALATHEIDEA 1 Munida irrasa 1 6 ECHYURA SIPUNCULA 1 Asphisosiphon albus Golfingia sp1 1 1 1 18 137 25 162 1 1 1 1 2 2 1 Nephasoma sp1 ECHINODERMATA OPHIUROIDEA 1 Amphiura joubini 1 1 4 3 Amphiura flexuosa Amphiura sp nov. Amphiura rosae Amphiura deichmanii 1 1 1 4 3 7 1 7 1 10 Amphiura complanata Amphiura crassipes Amphiura sp1 1 Amphiura sp3 1 12 1 36 21 1 9 14 1 Amphilimna olivacea Ophiuroidea jovem 10 1 Amphiura sp2 Nudamphiura carvalhoi 26 10 9 4 ASTEROIDEA Astropecten brasiliensis HEMICHORDATA No total de indivíduos 1 1 684 558 197 484 681 3 30 30 307 159 188 275 33 308 190 51 241 318 TABELA IV - Número de indivíduos das espécies da macrofauna bêntica obtidos pelos aparelhos quantitativos e pela draga Estações da quebra da plataforma e talude superior.Para o box corer são mostrados os valores obtidos em cada horizonte da coluna sedimentar (superior e infereior) Quebra da plataforma GRUPOS PORIFERA Pegador 1 2 X X Talude superior Box Corer 1o lance sup. inf. Pegador 2o lance total sup. inf. draga total 1 2 Box Corer 1o lance sup. inf. 2o lance total sup. inf. draga total X CNIDARIA HYDROZOA X X X X 1 ANTHOZOA SCLERACTINA 4 3 X Deltocyathus italicus Deltocyathus eccentricus GORGONACEA NEMATODA NEMERTINEA 3 1 X 7 1 1 1 MOLLUSCA GASTROPODA FISSURELIDAE Fissurelidae sp 1 2 Eumarginula sp Cranopsis granulata 5 3 SCISSURELIDAE Anatoma sp 5 Cranopsis bilsae 1 2 7 8 1 2 2 3 9 10 5 2 5 2 3 1 4 2 2 7 1 1 9 1 1 16 2 1 1 TROCHIDAE Mirachelus clinocnemus Calliostoma cf. dnoferum Ancistrobasis sp 2 1 Brokula conica 2 1 Trochidae sp 3 1 Solariella lubrica 1 1 Dentistyla dentiferum 5 6 2 2 3 1 3 1 9 14 SEGUENZIDAE Seguenzia hapala TURBINIDAE Aerene sp Homalopoma sp RISSOIDAE Alvania sp 2 3 5 2 1 3 Benthonellania xantias BARLEEIDAE Barleeia sp 1 1 CAECIDAE Caecum sp 2 2 3 3 2 2 2 4 2 1 3 10 2 VITRINELLIDAE 1 Vitrinellidae sp 2 2 TURRITELLIDAE 1 Turritella hookeri Turritelopsis sp 1 2 1 1 3 NATICIDAE 2 Naticidae sp 1 1 1 1 1 1 2 CERITHIOPSIDAE Cerithiopsidae sp 1 EPITONIDAE Epitonium sp3 1 Epitonium polacia Epitonidae sp 4 2 EULIMIDAE Eulimidae sp 20 7 2 6 8 1 1 4 6 6 2 8 ACLIDIDAE Aclididae sp 1 BUCCINIDAE Colus sp COLUMBELLIDAE Amphissa cancelata Columbellidae sp 3 2 7 1 TABELA IV - continuação Quebra da plataforma GRUPOS Pegador 1 2 Talude superior Box Corer 1o lance Pegador 2o lance sup. inf. total 2 3 5 2 2 sup. inf. draga total 1 2 Box Corer 1o lance sup. inf. 2o lance total sup. inf. draga total NASSARIDAE Nassaridae sp VOLUTIDAE Nanomelon sp OLIVIDAE Olivella sp 1 1 1 2 1 1 3 5 1 1 1 1 MURICIDAE 1 1 2 1 3 1 1 5 2 1 4 6 3 3 4 1 1 1 7 10 4 1 3 1 1 1 2 Muricidae sp MARGINELLIDAE 2 Granulina ovuliformis Marginellidae sp1 Marginellidae sp2 TURRIDAE Drilliola loprestiana Mangelia sp Pleurotomella sp 1 4 1 1 Daphnella corbicula 1 Veprecula morra Leptadrilla sp 3 1 Ithycythara sp Fissiturricula sp 1 Turridae sp2 1 2 1 2 1 Turridae sp3 Turridae sp4 ARCHITECTONICIDAE 1 Architectonicidae sp 1 PYRAMIDELLIDAE Pyramidellidae sp2 7 7 5 1 6 2 8 Pyramidellidae sp3 2 BIVALVIA NUCULIDAE Adrana sp 2 1 Nucula puelcha 11 1 1 19 11 11 7 2 5 5 3 25 3 6 6 6 4 4 PECTINIDAE Chlamys tehuelchus 1 1 13 1 1 6 24 1 24 SEMELLIDAE Abra lioica 10 1 Abra cf. brasiliana CORBULIDAE 1 1 1 1 Corbula patagonica CUSPIDARIDAE Cuspidaria sp 1 LIMIDAE Limaria sp 2 UNGULINIDAE Diplodonta sp 2 SCAPHOPODA GADILIDAE 2 Cadulus brasiliensis 2 4 4 Cadulus cf. parvus Cadulus platensis Cadulus sp 4 GADILINIDAE 1 Gadilinidae sp1 Ephisiphon sp2 3 DENTALIDAE Antalis circuncictum Dentalium laqueatum Fissidentalium cf. candidum 4 7 7 2 2 2 35 1 ENTALINIDAE Entalina platamodes APLACOPHORA sp1 POLYCHAETA 10 5 8 TABELA IV - continuação Quebra da plataforma GRUPOS SPIONIDAE Laonice sp Pegador 1 2 6 1 1o lance sup. inf. 1 Spionidae sp3 Talude superior Box Corer 2o lance total sup. Box Corer Pegador inf. draga total 1 1 1 2 1o lance sup. inf. 2o lance total sup. inf. draga total 8 HETEROSPIONIDAE 1 Heterospionidae sp1 1 AMPHARETIDAE Ampharetidae sp4 1 3 1 1 11 11 9 Ampharetidae sp5 5 Ampharetidae sp6 17 17 2 2 TEREBELLIDAE 4 Terebellidae sp1 SABELIDAE 2 Sabelidae sp1 2 SABELARIDAE 3 Sabelaridae sp SERPULIDAE 8 Serpulidae sp1 CIRRATULIDAE Cirratulidae sp2 1 5 1 9 1 2 3 5 1 1 1 6 18 8 7 4 14 14 3 1 2 2 3 9 4 4 4 1 1 1 2 2 ONUPHIDAE Kimbergonuphis cf atlantica Hyalinoecia sp 1 6 Nothria sp 6 Onuphidae sp1 45 45 Onuphidae sp2 27 4 6 Onuphidae sp3 PILARGIDAE Pilargidae sp1 1 1 Pilargidae sp2 HESYONIDAE Hesyonidae sp1 1 2 ARABELLIDAE Arabellidae sp2 3 LUMBRINERIDAE Lumbrineridae sp1 4 2 2 1 1 2 1 1 1 1 1 CAPITELLIDAE Capitellidae sp2 Capitellidae sp3 2 Dasybranchus cf caducus GLYCERIDAE 1 Glyceridae sp1 1 1 1 1 4 Glyceridae sp2 Glyceridae sp3 GONIADIDAE 4 Goniadidae sp1 2 2 2 MAGELONIDAE 2 Magelona cf. nonatoi Magelonidae sp APHRODITIDAE Laetmonice sp 1 3 SIGALIONIDAE Sigalionidae sp4 1 3 2 2 3 Sigalionidae sp5 1 PECILOCHAETIDAE Poecilochaetidae sp1 1 CHRYSOPETALIDAE Chrysopetalum sp 1 1 2 2 7 9 2 2 1 3 2 1 1 8 SYLLIDAE Syllidae sp3 1 1 15 1 1 26 1 NEREIDIDAE Nereididae sp3 Nereididae sp4 Neanthes sp 1 2 2 TABELA IV - continuação Quebra da plataforma GRUPOS Pegador 1 2 4 1 Talude superior Box Corer 1o lance sup. inf. Pegador 2o lance total sup. inf. draga total 1 2 1 1 1 1 Box Corer 1o lance sup. inf. 2o lance total EUNICIDAE Eunicidae sp1 1 2 Eunicidae sp2 1 2 1 Eunicidae sp3 16 Eunice longicirrata PHYLLODOCIDAE Phyllodocidae sp2 1 1 1 1 1 1 Anaitides madeirensis 1 24 1 ORBINIIDAE 1 Orbinidae sp2 1 Orbinidae sp3 1 1 6 6 1 1 33 33 OPHELLIDAE Ophellidae sp1 1 1 1 2 Ophellidae sp2 AMPHINOMIDAE Notopygos sp Amphinomidae sp2 Amphinomidae sp3 1 2 3 1 1 2 1 2 1 1 5 1 11 Amphinomidae sp4 EUPHROSINIDAE 6 Euphrosine aurantica PHOLOIDIDAE Pholoididae sp1 PARAONIDAE Paraonis sp2 10 Paraonidae sp3 5 1 1 1 1 1 1 Paraonidae sp4 5 Paraonidae sp5 MALDANIDAE Maldanidae sp2 2 1 2 FLABELLIGERIDAE Pherusa cf scutigera 6 1 1 4 1 5 19 1 Flabelligeridae sp2 16 FAUVELIOPSIDAE 1 Fauveliopsidae sp OWENIIDAE 3 Owenidae sp2 3 4 PYCNOGONIDA NYMPHONIDAE Nymphon sp1 Nymphon sp2 1 1 1 CALLIPALLENIDAE 1 Callipallene cf. Phantoma PHOXICHILIDIIDAE Anopladactylus sp 1 1 1 3 3 1 3 4 3 4 CRUSTACEA OSTRACODA CYPRIDINIDAE Cypridinidae sp 1 1 10 3 BAIRDIIDAE 1 Paranesidea cf. albatrossa Bardiopillata cf. villosa PHILOMEDIDAE Scleroconcha sp 1 COPEPODA ISOPODA ANTHURIDEA EXPANANTHURIDAE Expananthuridae sp1 1 3 3 3 ANTHURIDAE Quantantura brasiliensis 1 HYSSURIDAE Hyssuridae sp 1 1 1 1 sup. inf. draga total TABELA IV - continuação Quebra da plataforma GRUPOS Pegador 1 2 Talude superior Box Corer 1o lance sup. inf. 2o lance total sup. Box Corer Pegador inf. draga total 1 2 1o lance sup. inf. 2o lance total sup. inf. draga total PARANTHURIDAE 1 Paranthuridae sp 2 2 1 1 1 1 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 FLABELLIFERA CIROLANIDAE Natatolana sp 1 3 3 3 3 1 1 Metacirolana sp AEGIDAE Rocinela sp 4 1 ASELLOTA Desmosoma sp JAEROPSIDAE Ianirella sp Jaeropsis sp 1 1 1 1 1 1 1 1 7 GNATHIDEA GNATHIDAE Gnathia sp 3 1 4 Gnathia ricardoi AMPHIPODA 1 1 Harpinidae sp Pseudharpinia dentata Ampelisca romigi Leucothoe sp 2 Lysianassidae sp2 Ljeborgiidae sp Amphilocus sp 6 6 3 3 1 1 Podocerus sp Aoridae sp Byblis sp 2 1 Corophiidae sp Cerapus sp Paracaprella sp 2 12 1 1 1 3 1 3 1 1 2 3 1 2 2 1 1 3 1 1 Stenothoidae sp Stenothoe sp 5 Urothoidae sp TANAIDACEA Tanaidacea sp2 2 1 1 2 SPHYRAPIDAE TYPHLOTANAIDAE METAPSEUDIDAE LEPTOCCHELIIDAE ANARTHURIDAE 2 1 1 1 1 1 2 1 1 1 5 1 3 3 TANAIDOMORPHA Tanaidomorpha sp1 Tanaidomorpha sp2 2 Tanaidacea sp3 1 Tanaidacea sp4 Tanaidacea sp5 CUMACEA Anchistylis sp1 1 Diastylis sp1 1 Eudorella sp1 1 1 Campylaspis sp4 Campylaspis sp5 1 Campylaspis sp6 1 38 13 Cyclaspis sp2 PENAEIDEA sp2 BRACHYURA 4 ANOMURA 7 PAGURIDEA GALATHEIDEA 1 Munida irrasa Munida sp2 THALASSINIDEA 1 224 7 1 TABELA IV - continuação Quebra da plataforma GRUPOS BRACHIOPODA Pegador 1 2 3 4 Talude superior Box Corer 1o lance sup. 4 inf. Pegador 2o lance total 4 sup. inf. 2 draga total 2 1 2 Box Corer 1o lance sup. inf. 2o lance total sup. inf. draga total 19 1 ECHYURA SIPUNCULA Nephasoma sp2 15 15 1 Aspidosiphon sp2 Aspidosipon gosnoldi Phascolion sp1 1 1 Apiosoma misakianum Apiosoma sp1 1 1 1 1 1 1 1 2 4 4 1 Apiosoma sp2 ECHINODERMATA OPHIUROIDEA Amphiura sp (jovem) 1 1 3 2 4 19 Amphiura flexuosa 10 Amphiura latispina Ophiura lyungmani Ophiura sp Ophiacantha cosmica 29 13 4 11 2 2 4 8 10 Ophiacantha pentacrinus Amphipholizona delicata 1 3 3 4 10 290 221 4 151 2 3 4 Ophiactis lymanis 2 1 1 Ophiactis savigny Amphipholis sp Ophioplax clarimundae Amphioplus lucyae 6 1 1 4 Amphioplus albidus Ophiotrix ratbuni Ophiomices fruterculosus Ophiomisidium speciosum 1 1 2 1 4 1 1 4 1 58 2 8 45 Ophiomisidium anaelisae Ophiomastus satelitae HOLOTHUROIDEA PSOLIDAE Psolidae sp No total de indivíduos 199 173 125 conchas de gastrópodes sem partes moles organismos endolíticos 83 208 181 23 20 201 1380 254 164 137 0 137 105