Tematizando idéias

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Tematizando idéias
TIRO AO ALVO
Chaves com piscinas aquecidas ou “Aquapark? ”
Publicado no Semanário Transmontano (Portugal) em jan/02
A edição de 14 de dezembro publicou um texto de um leitor que comentava a falta
de aproveitamento turístico das águas quentes das termas, posição com a qual
concordo plenamente. Mais adiante, o autor da carta sugeria a criação de um
“aquaparque” que aproveitasse as excepcionais condições de nossos recursos naturais e
desse um novo alento ao turismo regional. Sem sombra de dúvida, são sugestões
interessantes e merecedoras de uma análise séria por parte de potenciais interessados,
só não sei se concordo que um empreendimento com esse perfil deva ser gerido pelo
poder público!?!
Na verdade, as experiências que conheço pelo mundo afora demonstram que a
área de entretenimento sempre se desenvolve melhor num ambiente livre de pressões
políticas e do maniqueísmo partidário inerentes à administração pública! Para início de
conversa, devemos entender que um parque aquático deve ser, antes de mais nada, um
equipamento de entretenimento e lazer, pólo de atração turística, gerador de emprego e
renda, e, evidentemente, de lucro, condições sem as quais, ficará condenado ao status
de “elefante branco” que, com suas pesadas patas, irá pisotear sem dó nem piedade as
receitas municipais, acumulando prejuízos que sairão do bolso dos contribuintes. Sem
uma administração eficiente, profissional, que persiga a legitimidade do lucro, que
invista continuamente em modernização, treinamento, e excelência em serviços, nunca
teríamos mais do que um burocrático conjunto de piscinas aquecidas, que seriam
usadas de acordo com os ventos da politicagem municipal.
A idéia é muito boa e até é de estranhar como ainda não surgiu nenhum grupo
interessado em explorar esse tipo de atração, mas, já que sonhar ainda é de graça, eu
vou me permitir ir um pouco além! Já que um parque aquático em Chaves, que
aproveitasse a temperatura das águas e suas características terapêuticas, seria,
evidentemente, uma excelente oportunidade de projetar o nome da região, deveríamos,
quem sabe, pensar num projeto mais ousado, dar-lhe uma roupagem mais marketeira,
uma identidade própria, transformando o empreendimento em atração turística ímpar e
diferenciada! Como fazer isso? Talvez projetando e construindo um Parque Aquático
Temático? Poderíamos aproveitar a história milenar da Mãe Flávia e pesquisar os
hábitos, costumes, ambientação, tradições, arquitetura, design e figurino da época de
Trajano, de Flávio Vespasiano ou de Nero, (um trabalho que poderia ser entregue aos
alunos das universidades regionais como trabalho de conclusão de curso – Arquitetura,
História, Sociologia, Antropologia, Arte, Moda, etc. – caso existam cursos dessas
especialidades na região).
A partir daí, seria recriada toda a atmosfera de 2000 anos atrás, com os
funcionários do parque com trajes da época, os cenários remetendo o visitante ao
ambiente vivido nos tempos dos Caesars, passando pelos rituais utilizados pelos
romanos. Um cardápio adaptado lembrando a época, programação visual e tipologia de
todo o empreendimento respeitando os costumes do Império Romano, enfim, um
verdadeiro trabalho de reconstrução de época, cujo intuito seria transportar o visitante
para um mundo de fantasia, proporcionando-lhe uma experiência única, uma
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verdadeira viagem no tempo. Tudo isso, claro, com muito lazer, muita diversão,
piscinas, tobogãs, escorregadores, brinquedos aquáticos radicais e infantis. Área para
descanso, bares, restaurantes, museu contando a história das Caldas de Chaves e das
Termas Romanas, enfim, tudo o que a imaginação e a tecnologia pudessem conseguir
para remeter o visitante a uma época de fausto (sem trocadilho) e pompa como só os
nossos antepassados sabiam fazer!
Pode parecer loucura ou megalomania, mas devo lembrar aos leitores que Walt
Disney foi muitas vezes acusado de maluco, sonhador e megalômano! Em vez de se
amedrontar com as críticas, pôs-se a trabalhar duro e provou que quem pode sonhar,
pode realizar. Hoje, o império Disney, cheio de idéias “malucas” e projetos “inviáveis”
fatura rios de dinheiro nos cinco continentes. E olha que ele só tinha o deserto do sul
da Califórnia e os pântanos da Flórida como ponto de partida! Deu no que deu!
A meu ver, competiria às forças vivas da região, entre elas a Comissão Regional
de Turismo, a Adrat, a Acisat e outras, reunir massa crítica em torno do projeto, a ser
elaborado por empresa especializada (nossos vizinhos espanhóis têm algumas das
melhores do mundo), coordenado pela autarquia, a qual, deveria participar dando
isenção de impostos, o terreno, e a divulgação necessária à identificação de potenciais
investidores (grupos hoteleiros, grupos operadores de parques temáticos, construtores,
instituições financeiras, etc.) Só para se ter uma idéia, apenas um dos grupos
hoteleiros portugueses que estão a investir no Brasil, já aplicou mais de 110 milhões
de Euros e promete outros 100 milhões para este ano!
O “Flavius Aquae Park” pode parecer um delírio, mas talvez seja mais prudente
olhar com olhos de visionário antes de achar a idéia completamente absurda.
De uma coisa eu não tenho dúvida: o turismo é o caminho mais adequado para
levar o progresso à nossa região sem degradá-la. Entretanto, o conceito de que turismo
é apenas o deslocamento de pessoas de um lugar a outro por mais de 24 horas, está
completamente ultrapassado. A indústria do turismo, hoje, é a que mais fatura no
mundo, é a que mais gera emprego e renda e a que mais recolhe impostos. Em
contrapartida, só há lugar para profissionalismo e tecnologia, investimentos
sustentáveis e respeito pela inteligência do consumidor. Sem isso, estaremos para
sempre condenados a receber meia dúzia de parolos com seus farnéis e garrafões de
vinho!
O pensador italiano Domenico De Masi defende que o ócio é o bem mais
importante do ser humano e o sonho de consumo de uma parcela cada vez maior da
população mundial. A indústria do entretenimento e do lazer está crescendo a índices
muito superiores aos da economia tradicional. Consumidores ávidos por aproveitar o
ócio, na concepção de De Masi, existem aos milhões, compete aos empreendedores
entender essa tendência, interpretá-la, e provar que, como dizia Disney em 1955, “um
dia os banqueiros vão entender que sonhos podem ser bastante lucrativos!!!”
(Detalhe: só a marca Walt Disney está avaliada em mais 77 bilhões de Euros.)
Serviço:
Para conhecer melhor o conceito de um parque aquático, navegue nos seguintes
endereços:
www.hotpark.com.br (águas quentes)
www.beachpark.com.br (à beira mar)
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www.wetnwildsp.com.br (no interior do país)
www.hopihari.com.br (parque temático)
Eu volto.
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