Estudo da hidrodinâmica e distribuição do oxigênio
Transcrição
Estudo da hidrodinâmica e distribuição do oxigênio
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS CURSO DE GRADUAÇAO EM OCEANOGRAFIA LARISSA COELHO MOTTA Estudo da hidrodinâmica e distribuição do oxigênio dissolvido da água no Canal da Passagem, Vitória-ES utilizando modelagem numérica. VITÓRIA 2008 1 LARISSA COELHO MOTTA Estudo da hidrodinâmica e distribuição do oxigênio dissolvido da água no Canal da Passagem, Vitória-ES utilizando modelagem numérica. Monografia apresentada ao curso de graduação em Oceanografia do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Oceanografia. Orientador: Prof. Dr. Julio Tomás Aquije Chacaltana. VITÓRIA 2008 2 LARISSA COELHO MOTTA Estudo da hidrodinâmica e distribuição do oxigênio dissolvido da água no Canal da Passagem, Vitória-ES utilizando modelagem numérica. COMISSÃO EXAMINADORA ________________________________________ Prof.Dr.Julio Tomás de Aquije Chacaltana Orientador – DEA/CT/UFES _________________________________________ Examinador Interno- Prof.Dr.Renato Rodrigues Neto Co-orientador – CCHN/DERN/UFES ___________________________________________ Examinador Externo – Dra. Ieda Maria O. da Silveira VITÓRIA 2008 3 Estudo da hidrodinâmica e distribuição do oxigênio dissolvido da água no Canal da Passagem, Vitória-ES utilizando modelagem numérica. por Larissa Coelho Motta Submetido como requisito parcial para a obtenção de grau de Oceanógrafo na Universidade Federal do Espírito Santo Dezembro de 2008 © Larissa Coelho Motta Por meio deste, o autor confere ao Colegiado do Curso de Oceanografia e ao Departamento de Ecologia e Recursos Naturais da UFES permissão para reproduzir e distribuir cópias parciais ou totais deste documento de monografia para fins não comerciais. Assinatura do autor .............................................................................................. Curso de graduação em Oceanografia Universidade Federal do Espírito Santo 11 de dezembro de 2008 Certificado por ...................................................................................................... Prof. Dr. Júlio Chacaltana Dr. / Orientador DEA/CT/UFES Certificado por ....................................................................................................... Renato Rodrigues Neto Dr. / Co-orientador CCHN/DERN/UFES Certificado por ...................................................................................................... Dra. Ieda Maria O. da Silveira Prof. Adjunto / Examinador interno Aceito por ............................................................................................................. Valéria da Silva Quaresma Prof. Adjunto / Coordenador do Curso de Oceanografia Universidade Federal do Espírito Santo CCHN/DERN/UFES 4 A minha família, que sempre esteve presente, principalmente, os meus pais, e meus irmãos que sempre estiveram presentes em minha formação, e ao Markin (MB), por todo apoio. 5 “A gente pode tudo quando usa a imaginação Pode ser sim, mesmo que lhe digam que não Errar o alvo é um estímulo para se crescer Então vamos dar um gá fazer acontecer Relaxa” (Arleno Farias) 6 AGRADECIMENTOS Sou grata ao professor Júlio, pela orientação, sempre me passando confiança, e calma. Agradeço pelo apoio e pelos ensinamentos passados. Agradeço ao professor Renato Neto, por ter aceitado ser meu co-orientador, pela atenção dada e por tudo que me ensinou. E a professora Ieda Maria Silveira e o professor Arno de Oliveira por aceitar o convite de compor a banca julgadora. Ao projeto da Facitec, por ter me cedido os dados de campo, tornando possível a realização desse trabalho. Aos meus pais, Aloysio e Lúcia, meus irmãos, Marina e Vinícius, pelo carinho, apoio e compreensão nos momentos mais difíceis. E que com incentivos e tanta paciência para me ouvir tornando possível a realização deste trabalho. Ao pessoal do LABESUL, André, Fábio, Felipe, Gregório, Henery, Prússia, Renata, Thiago, pelo apoio, compreensão e pelo carinho, que me deram forças. A Marcos Boell, MB, pelo carinho, que com tantos encorajamentos, com tanta garra e sacrifícios me incentivaram a sempre ir à diante e prosseguir. A Carolina Lago, por ter cedido os dados coletados no Canal da Passagem. Às minhas amigas e amigos do curso de oceanografia (Formados e graduandos), que estiveram comigo ao longo de todo o curso, que compartilharam das mesmas angustias, dificuldades e desafios, pelo apoio, e companhia, por estarem comigo em momentos tão difíceis e em outros tão felizes. E, principalmente, a Deus, pela realização de um sonho. 7 RESUMO Os estuários são ambientes de interface entre o mar-continente, recebendo aportes de atividade biogeoquímica do continente, dos rios, e áreas costeiras. Dessa forma, grande quantidade de nutrientes de fontes antropicas, junto com a matéria orgânica, tem sido descarregada diretamente dentro dessas áreas costeiras. Uma das principais preocupações de estudos de qualidade de água tem sido a concentração de oxigênio dissolvido (OD), o qual é controlado por vários processos físicos, e processos bioquímicos. A concentração de oxigênio é um parâmetro importante para o estado ecológico nos estuários e para a vida aquática, pois indica o quão a água é aerada, sendo um indicador imediato. O objetivo principal deste estudo foi de contribuir para o conhecimento da hidrodinâmica e a distribuição de oxigênio dissolvido no Canal da Passagem tendo como forçantes a maré astronômica e uma vazão média do Rio Santa Maria da Vitória. Não foram considerados efeitos dos ventos, da vegetação de manguezal, dos efluentes da estação de tratamento de esgoto, demanda sedimentar, demanda bioquímica, respiração e fotossíntese. A metodologia baseou-se na utilização do modelo computacional DIVAST (Depth Integrated Velocity and Solute Transport) para a realização de simulações do comportamento hidrodinâmico e de oxigênio dissolvido da área de estudo. Os resultados obtidos pelo modelo mostram que a maior contribuição de oxigênio dissolvido para a região é devido ao Rio Santa Maria da Vitória, e muito pouca influência da região oceânica. Dessa forma a região do extremo norte e norte do Canal apresenta valores altos comparados com os estudos feitos na região. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Região de Estudo. A- Ilha do Lameirão; B- Rio Santa Maria da Vitoria; C- Baía de Vitória; D- Baía do Espírito Santo, E- Ilha de Vitória, Fefluente da estação de tratamento de esgoto ETE-Mumlembá, G- Bairro Maria Ortiz. ................................................................................................................. 32 Figura 2- Representação da malha computacional de espaçamento 25 m x 25 m e as localizações dos contornos abertos utilizada no estudo. ...................... 36 Figura 3- Disposição das estações amostrais ao longo do Canal da Passagem. ......................................................................................................................... 37 Figura 4- Gráfico de elevação da superfície para a estação 46. ...................... 38 Figura 5- Gráfico do módulo da velocidade para a estação 46. ....................... 39 Figura 6- Gráfico da magnitude de velocidade e elevação da superfície para a estação 46 no período de sizígia. A linha azul representa a elevação da superfície (m), e a linha vermelha representa a magnitude da velocidade (m/s). ......................................................................................................................... 40 Figura 7- Gráfico da magnitude de velocidade e elevação da superfície para a estação 46 no período de quadratura. A linha azul representa a elevação da superfície (m), e a linha vermelha representa a magnitude da velocidade (m/s). ......................................................................................................................... 41 Figura 8- Gráfico da elevação da superfície medido pelo ADCP para um ponto localizado próximo a estação 46 no período de sizígia para o dia 25/03/2008. 42 Figura 9- Gráfico da magnitude da velocidade e direção, medido pelo ADCP para um ponto localizado próximo a estação 46 no período de sizígia para o dia 25/03/2008. ...................................................................................................... 42 Figura 10- Campo de velocidade após 635h de simulação (maré de quadratura). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica (centro), e maré vazante. ................. 45 Figura 11- Campo de velocidade após 635h de simulação (maré de quadratura). (c) Região do meio do canal, (d) Estreitamento da Ponte da Passagem, (e) Região sul. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré vazante. ................ 46 9 Figura 12- Campo de velocidade após 641h de simulação (maré de quadratura). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré de enchente(a e b), locais de baixa hidrodinâmica (b). .......... 47 Figura 13- Campo de velocidade após 641h de simulação (maré de quadratura). (c) Meio do Canal, (d) Região do estreitamento da Ponte da Passagem. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica (c), formação de vórtices e maré enchente(d). ............................................................................ 48 Figura 14- Campo de velocidade após 778h de simulação (maré de sizígia). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré de enchente. ........................................................................................... 49 Figura 15- Campo de velocidade após 778h de simulação (maré de sizígia). (c) Região do meio do Canal, (d) Estreitamento da Ponte da Passagem, (e) Região sul do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica (c), formação de vórtices (d) maré enchete (c e d)...................................................................... 50 Figura 16- Campo de velocidade após 784h de simulação (maré de sizígia). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré de vazante(a e b) local de baixa hidrodinâmica no centro (b), mudança do sentido (b). .................................................................................................. 51 Figura 17- Campo de velocidade após 784h de simulação (maré de sizígia). (c) Região do meio do Canal, (d) Região sul do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica. ......................................................................... 52 Figura 18- Distribuição espacial e temporal do oxigênio dissolvido obtido em campo. ............................................................................................................. 56 Figura 19- Distribuição espacial e temporal do oxigênio dissolvido obtido pelo modelo no período de sizígia para as estações correspondentes aos pontos do campo. ............................................................................................................. 57 Figura 20- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de baixa-mar no sistema estuarino de Vitória na quadratura após a simulação de 626h. .......... 59 Figura 21- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de preamar no sistema estuarino de Vitória na quadratura após a simulação de 632h. .......... 60 10 Figura 22- Distribuição de oxigênio dissolvido na quadratura no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 635h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. ............................................. 61 Figura 23- Distribuição de oxigênio dissolvido na quadratura no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 641h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. ............................................. 62 Figura 24- Distribuição de oxigênio dissolvido na sizígia no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 778h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. ............................................................... 63 Figura 25- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de preamar no sistema estuarino de Vitória na sizígia após a simulação de 781h. ................. 64 Figura 26- Distribuição de oxigênio dissolvido na sizígia no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 784h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. ............................................................... 65 Figura 27- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de baixa-mar no sistema estuarino de Vitória na sizígia após a simulação de 787h. ................. 66 11 Sumário 1. Introdução ............................................................................................................................. 12 2. Objetivos ................................................................................................................................ 15 2.1. Objetivo geral ................................................................................................................ 15 2.2. Objetivos específicos ................................................................................................... 15 3. Fundamentação Teórica ..................................................................................................... 16 3.1. Estuários ........................................................................................................................ 16 3.2. Marés .............................................................................................................................. 16 3.3. Influência do manguezal na hidrodinâmica .............................................................. 17 3.4.Importância dos estudos de oxigênio dissolvido....................................................... 20 3.3. Modelo Divast ................................................................................................................ 24 3.3.1. Equações Hidrodinâmicas ................................................................................... 24 3.3.2. Equações para o transporte de constituintes:................................................... 26 3.3.3.Método de solução das equações matemáticas ............................................... 28 3.3.4. Critérios para implantação de modelos numéricos .......................................... 29 4. Metodologia........................................................................................................................... 30 4.1. Descrição da Área de Estudo ..................................................................................... 30 4.2.Dados Experimentais .................................................................................................... 33 4.3. Implantação do Modelo Numérico ............................................................................. 34 4.3.1. Malha Computacional ........................................................................................... 34 4.3.2. Dados de entrada do Modelo .............................................................................. 34 4.3.3. Condições iniciais e de Contorno ....................................................................... 35 4.3.3. Calibração e validação ......................................................................................... 36 5. Resultados e discussão ...................................................................................................... 37 6. Conclusões ........................................................................................................................... 67 7. Recomendações Futuras .................................................................................................... 68 8. Referências ........................................................................................................................... 69 12 1. Introdução Dentre os componentes da paisagem costeira podem ser destacados os estuários e os seus ecossistemas associados. Os estuários com suas florestas de mangue servem de habitat para diversos animais e apresentam condições ideais para alimentação, proteção e reprodução, sendo assim zonas de grande produtividade biológica. Os estuários são ambientes bastante frágeis, o que os tornam altamente vulneráveis, podendo ser amplamente modificados quali-quantitativamente, se houver alterações abruptas em algumas das suas características físicoquímicas e biológicas, tais como salinidade, temperatura, oxigênio dissolvido, pH, coliformes fecais e totais, dentre outros. A dinâmica dos estuários é particularmente complexa, devido às influências dos rios, bem como das marés e por causa dessas complexidades esses ecossistemas nem sempre são estudados de forma eficiente. Machado (1994 apud MACIEL, 2004) relatou que as regiões costeiras vêm tendo um avançado processo de desenvolvimento econômico, juntamente com a ocupação desgovernada de seus ecossistemas e o uso incorreto do solo. Exemplos são a utilização dos cursos d’água como receptores de efluentes domésticos e industriais, vazamentos de óleos de embarcações, soterramento de áreas de manguezais e a construção de barragens e regularização de vazões para geração de energia elétrica. Isto compromete o equilíbrio e a dinâmica das regiões estuarinas reduzindo a qualidade da água e a carga sedimentar. O canal que interliga a Baía de Vitória e a Baía do Espírito Santo é a região de estudo desse trabalho. O Canal da Passagem assim denominado recebe despejo de esgotos domésticos in natura ou com tratamento inadequado apresentando entre outros problemas elevados valores de coliformes fecais (BARROSO & DIAS, 1997; CASTRO, 2001 e ANDRADE, 2007), diminuição das condições de balneabilidade das praias do entorno (ROCHA, 2000; MACIEL, 2004 e ANDRADE, 2007), além de alterações significativas na sua 13 geometria devido à ocupação urbana de suas margens de forma desordenada (GUIMARÃES, 1995). Desse modo, o padrão de escoamento e o comportamento de constituintes vêm sendo estudados para melhor compreensão dessa região, dentre os estudos pode-se citar os trabalhos de Rigo & Sarmento (1993), Guimarães (1995), Donatelli (1998), Rocha (2000), Castro (2001), Barros (2002), Maciel (2004), Neto et.al (2006), Andrade (2007) e Garção (2007). Entende-se como constituinte da água um ente que descreve de alguma forma o estado da qualidade do meio em que ele se encontra. Exemplos de constituintes são o oxigênio dissolvido, a temperatura, os metais pesados, os coliformes fecais, salinidade. Em regiões que recebem aporte de esgoto in natura, a demanda por oxigênio dissolvido na água é maior devido à presença de microorganismos decompositores sendo especialmente importante em regiões de manguezal onde grande quantidade de matéria orgânica é produzida naturalmente. A determinação do oxigênio dissolvido (OD) é de fundamental importância para avaliar as condições naturais da água e detectar impactos ambientais, como eutrofização e poluição orgânica. Suas principais fontes são o gás carbônico, oxigênio molecular e a própria água, além dos íons nitrato e sulfato (BAUMGARTEN et.al, 1996). A concentração de oxigênio dissolvido depende da composição dos sedimentos, da temperatura, salinidade da água que altera a solubilidade do composto e de fatores hidrodinâmicos como velocidade do escoamento e vento. Dessa forma o conhecimento da hidrodinâmica da região é de grande importância, pois ela é resultado de diversas interações, tais como: a maré, descarga de rios, o vento, a planície de maré, a fricção com a vegetação de manguezal, fricção com fundo, entre outros. Para caracterizar o ambiente estuarino com relação ao comportamento de constituintes tem-se utilizado modelos numéricos. Esses modelos, desde que devidamente calibrados, possibilitam determinar mudanças de intensidade e 14 direção da velocidade da massa d’água das regiões estudadas e, conseqüentemente, a trajetória que um determinado constituinte poderá percorrer, ao ser lançado sob certas condições. Através de simulações o modelo, geralmente, busca reproduzir os eventos que ocorrem na natureza. Este trabalho visa conhecer melhor a hidrodinâmica da região do Canal da Passagem e qualidade da água com relação a concentração de oxigênio dissolvido. A hidrodinâmica e o oxigênio dissolvido que ocorre na região do Canal da passagem são avaliados através de simulações numéricas realizada com o modelo numérico do tipo águas rasas chamado Depth Integrated Velocity and Solute Transport (DIVAST). Pela complexidade da região estuarina e a falta de informações de parâmetros físico-químicos de qualidade são considerados apenas os efeitos de maré como forçante principal da hidrodinâmica do Canal. Neste trabalho desconsiderou-se o efeito do manguezal e fontes de lançamento de esgoto doméstico. Os principais processos que ocorrem no cálculo do oxigênio dissolvido são reaeração, demanda bioquímica e sedimentar, respiração e fotossíntese. 15 2. Objetivos 2.1. Objetivo geral Contribuir para o conhecimento da hidrodinâmica e a distribuição do oxigênio dissolvido no Canal da Passagem, Vitória-ES, através do uso de simulação numérica. 2.2. Objetivos específicos - Avaliar a hidrodinâmica do Canal da Passagem, considerando como única forçante a maré astronômica. - Avaliar a distribuição de oxigênio dissolvido da água do Canal da Passagem, considerando os principais processos como reaeração, demanda bioquímica e sedimentar, oxidação de compostos químicos (amônia, nitrito, nitrato). 16 3. Fundamentação Teórica 3.1. Estuários Os estuários são sistemas extremamente dinâmicos, que se movem e mudam constantemente em resposta aos ventos, às marés e ao escoamento do rio, por isso requer um conhecimento dos processos físicos, químicos e biológicos que nele ocorrem, provendo, assim, meios de caracterizar a sua qualidade da água. A definição de um estuário pode variar com as características e processos que o governam. A definição física clássica de Pritchard do ano de 1952, “um estuário é um corpo de água costeiro semi-fechado que tem uma conexão livre com o oceano aberto, e dentro da qual águas oceânicas são mensuravelmente diluídas com água doce derivadas da drenagem do solo.” Os estuários podem ser classificados como proposto por Dyer (1997) conforme a intrusão salina como: estuários de cunha salina, parcialmente misturado e bem misturado. No estuário de cunha salina a mistura entre a água do rio e do mar é pouco intensa uma vez que a água do mar é mais densa que a água do rio e a energia e velocidade nesse meio são baixas logo, o perfil vertical apresenta uma diferença acentuada de salinidade. No estuário parcialmente misturado, a mistura entre água doce e salgada é muito mais intensa e o aumento da salinidade se dá de maneira gradativa tanto na escala horizontal quanto na vertical. Os estuários bem misturados apresentam o perfil vertical de salinidade homogêneo variando somente no perfil horizontal onde a salinidade é mais alta próxima à região oceânica e mais baixa próxima a desembocadura do rio (SILVA et al, 2004). 3.2. Marés As marés constituem uma conseqüência de ações simultâneas das forças gravitacionais lunar, solar e terrestre, e do ciclo relativo a um adicional da Terra e Lua e da Terra e Sol (PICKARD & POND, 1983; BROWN et al., 1999). 17 Maré astronômica é a denominação dada à subida e descida alternada do nível do mar e é considerada como uma onda de grande período e comprimento, comportando-se como onda de água rasa (profundidade dos oceanos é menor do que um vigésimo de seu comprimento). Seu período médio é de 12,4 h, no caso de marés semidiurnas, ou de 24,8 h, quando se trata de uma maré diurna. Os componentes da maré semidiurna mais importantes são os constituintes M2 e S2, pois controlam o ciclo da sizígia – quadratura (PICKARD & POND, 1983; BROWN et al., 1999). As marés, que são observadas nas zonas costeiras, resultam do empilhamento e amplificação das marés oceânicas, à medida que estas se movem sobre a plataforma continental e para dentro dos estuários e baías (SILVA et. al., 2004). Os movimentos horizontais da coluna d’água na forma de corrente de maré causam mudanças no nível das águas, assim, a enchente e vazante próximas à costa são principalmente uma conseqüência da convergência e divergência, que ocorrem quando as correntes de maré escoam, resultando na inundação periódica das planícies de maré e manguezais (SILVA et. al., 2004). A onda da maré que penetra o estuário é modificada como resultado de mudanças da largura e profundidade, do aumento da fricção ocasionada pelo fundo e pela planícies de maré (áreas alagáveis) e do fluxo do rio para o mar. Essa modificação resulta na distorção da maré onde a crista viaja mais rápido que a cava. (DRONKERS, 1986; FRIEDRICHS & AUBREY, 1988). 3.3. Influência do manguezal na hidrodinâmica Vários são os fatores que oferecem resistência ao escoamento dentre eles pode-se citar segundo French (1986): rugosidade da superfície (comprimento e forma dos grãos), vegetação (altura, densidade, distribuição, rigidez e tipo e vegetação), obstrução (bloqueios devido a queda de árvores, pontes), sinuosidade (curvas suaves têm menor influência no retardamento do escoamento), e vazão. Em modelagens numéricas nestes ambientes, a influência de cada um destes fatores é de fácil determinação. O problema está 18 em representar a influência de mais de um fator em um só coeficiente (MACIEL, 2004). A rugosidade do fundo do canal, a fricção do mangue e o estreitamento do canal afetam o escoamento em canais sob a ação de marés com planície de mangue (WU et al, 2000). A presença de uma rede de raízes densa e extensa, pode ser considerada como um aumento na rugosidade do leito para o escoamento da água (AUGUSTINUS,1996). O volume de estocagem de água na região entre-marés é grande comparado com o volume de água do canal em regiões que apresentam extensas áreas alagáveis, como as planícies de maré (EISMA, 1998 apud BARROS, 2002). Desta forma, a propagação da maré nessas regiões é mais lenta próximo a preamar, devido ao atrito na região, contudo próximo a baixa-mar a maré se propaga predominantemente nos canais principais, onde o atrito é menor. E segundo Augustinos (1996), a velocidade no canal principal pode ser dez vezes maior que na planície de maré. Isto resulta, com relação ao tempo, em marés vazantes menores que as marés enchentes, apresentando velocidades maiores durante a vazante – dominância de vazante (DRONKERS, 1986; FRIEDRICHS & AUBREY, 1988; RIGO et al, 1993). Este comportamento indica conforme, Wolanski et al.(1980) e Barros (2002), que a presença das características geomorfológicas é um importante fator no controle da hidrodinâmica dessas regiões, devido à resistência ao escoamento provocada pelo atrito com a vegetação, e que qualquer tipo de alteração sejam antrópicas ou naturais, irão influenciar no meio. A influência do manguezal é notada no estudo realizado por Chacaltana et al.(2003), onde os resultados numéricos mostraram que a região alagada do manguezal tem uma influência importante nas correntes, pois quando não se considerou o alagamento, os valores de velocidade obtidos tiveram um aumento de até 45%. Wolanski et al. (1980) usaram um modelo numérico, bidimensional e integrado na vertical, HYDRO, para estudar o padrão de escoamento em regiões com a 19 presença do manguezal. Verificou-se que tanto na região da floresta de manguezal, quanto na área permanentemente alagada, as correntes induzidas pela maré variam consideravelmente em direção e intensidade com a maré, e que o arrasto provocado pela vegetação foi responsável pela assimetria da maré, onde as velocidades máximas da corrente nos canais são de 20 a 50% maiores na vazante do que na enchente. Mazda et al., (1995) usaram um modelo bidimensional para investigar a assimetria de maré induzida pela vegetação de manguezal. A região de aplicação do modelo foi idealizada. Os autores apontaram que o arrasto é o principal mecanismo no controle das velocidades e da elevação do nível da água da região. Wu et al., (2000), através de um modelo matemático bidimensional integrado na profundidade, modelaram a influência da vegetação de mangue no escoamento da área da seção transversal. Neste modelo foi incluído os efeitos da força de arrasto induzidos por árvores dos manguezais e os efeitos de bloqueio nos fluxos de massa através das florestas dos manguezais. Foram estudadas duas situações: (i) o fluxo constante no canal, com as árvores dos manguezais distribuídas no meio da extensão do canal ao longo de ambos os lados, e (ii) o fluxo de maré direto em um canal, franjada por manguezais alagados. Os autores constataram que as árvores dos manguezais têm um impacto significativo na estrutura do fluxo em um sistema de manguezal. A força de arrasto induzida pelas árvores dos manguezais, e o bloqueio das árvores dos manguezais apresentam um importante papel, quando a porosidade das árvores dos manguezais é menor que 0,8. Furukawa et al.(1997), estudaram as correntes de maré, e a dinâmica coesiva do sedimento e do transporte do carbono orgânico em um manguezal altamente vegetado, localizado em Middle Creek, Cairns, Austrália. A interação de correntes de maré e a vegetação geraram jatos, redemoinhos e zonas das águas estagnadas que foram modeladas numericamente. Um elevado valor do coeficiente de fricção Manning (n=0·1) foi devido à densa vegetação. Os autores observaram, que aproximadamente 80% do sedimento em suspensão 20 trazido na maré enchente fica retido nos manguezais, e que havia uma indicação ligeira de um inwelling do carbono orgânico. 3.4.Importância dos estudos de oxigênio dissolvido Os estuários são ambientes de interface entre o mar-continente, recebendo aportes de atividade biogeoquímica do continente, dos rios, e áreas costeiras. Com o rápido desenvolvimento da indústria e agricultura, grande quantidade de nutrientes de fontes antropogênicas, junto com a matéria orgânica, têm sido descarregadas diretamente dentro das áreas costeiras, como os estuários. A eutrofização resultante do excesso de nutriente, freqüentemente causa um bloom de algas nocivas, o qual são acompanhados pela depleção de oxigênio, toxicidade, mortalidade de peixes e organismos bentônicos. Nas últimas três décadas, a maioria dos estuários e águas costeiras tem sofrido mudanças na qual passaram de ecossistemas balanceados e produtivos para sistemas com mudanças tróficas repentinas, alterações biogeoquímicas e deterioração da qualidade do meio. Uma das principais preocupações de estudos de qualidade de água tem sido a concentração de oxigênio dissolvido (OD), o qual é controlado por vários processos físicos, e processos bioquímicos (ZHENG et al, 2004; LOPES & SILVA, 2006 ). Os processos físicos incluem advecção de correntes e mistura turbulenta. Os processos bioquímicos são a respiração, fotossíntese, e oxidação, devido à demanda bioquímica de oxigênio (DBO), nitrificação, demanda sedimentar de oxigênio (DSO), respiração do fitoplâncton e bacterioplâncton (ZHENG et al, 2004). A concentração de oxigênio é um parâmetro importante para o estado ecológico nos estuários e para a vida aquática, pois indica o quão a água é aerada, sendo um indicador imediato. O oxigênio nos ambientes aquáticos é produzido pela fotossíntese de algas e plantas, e consumido pela respiração dos seres vivos (plantas, animais, bactérias), pelo processo de degradação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda sedimentar de oxigênio (DSO) e pela oxidação de compostos químicos (LOPES & SILVA, 2006), sendo aereado através da interface água- 21 atmosfera (GAO &SONG, 2008). Quando a concentração de oxigênio cai abaixo do nível de saturação o déficit é compensado pela transferência do gás da atmosfera através da interface ar-água, dessa forma a re-aeração age como uma fonte de OD. Ao contrário, quando a concentração de oxigênio é maior que o nível de saturação, a supersaturação é reduzida pela transferência da coluna d´água para o ar, sendo a re-aeração um sumidouro de OD. A habilidade da água de reter oxigênio depende da salinidade, temperatura, hora do dia, estação do ano entre outros (GAO & SONG, 2008). O oxigênio não é muito solúvel na água, sendo menos solúvel na água salgada. Águas de elevada temperatura não conseguem reter muito oxigênio como águas mais frias. Contudo, altos níveis de OD na água são retidos durante meio-dia isto deve-se à produção fotossintética, quando a noite cai a fotossíntese para, e os níveis de OD caem devido ao processo de respiração. Os níveis de OD também são afetados pela profundidade. Diferenças de temperatura em diferentes profundidades, afetam o quanto de oxigênio a água pode reter. O oxigênio é incapaz de alcançar altas profundidades, resultando assim em altos níveis de OD na superfície e baixos no fundo (GAO & SONG, 2008). A disponibilidade de nutriente pode alterar os níveis de OD. O excesso de nutriente (eutrofização) leva a um aumento do fitoplâncton, e quando este morre, a decomposição dos compostos carbonáceos utiliza o oxigênio do meio reduzindo sua concentração (GAO & SONG, 2008). Lopes & Silva, (2006) apontam que a fixação do carbono orgânico é uma fonte importante para OD na coluna d´água, sendo proporcional a densidade e taxa de crescimento de fitoplâncton. No estudo realizado por Gao & Song (2008), o principal fator que influencia na distribuição espacial do OD é a fotossíntese fitoplanctônica. Condições de hipoxia e anoxia são uma conseqüência direta do excesso de nutriente, sendo o fator estressante mais notável da biota aquática estuarina e costeira. Sob condições limitadas de oxigênio, as taxas de re-mineralização de nitrogênio e fósforo, e redução do sulfato aumentam (LIBES, 1992). Segundo 22 Benoit et al. (2006), a hipoxia pode ser um fenômeno sazonal, ocorrendo no final do verão e permanecendo por poucos dias em estuários e fjords ou meses na plataforma. Os modelos de qualidade de água têm sido uma ferramenta essencial, para um gerenciamento efetivo dos sistemas de estuários e para um plano e otimização do regime de efluentes. Hoje em dia os modelos são focados no balanço de oxigênio dissolvido no estuário. Este balanço depende da degradação dos compostos de nitrogênio e orgânicos de carbono, fotossíntese, respiração do fundo/ re-suspensão dos sedimentos orgânicos, e re-aeração. Shen et al (2002) utilizaram um modelo tridimensional, que emprega o método das diferenças finitas, para simular a variação da qualidade da água no ecossistema da Baía de Hakata, Japão. Os parâmetros considerados foram temperatura, salinidade, oxigênio dissolvido, sólidos suspensos, nitrogênio orgânico, nitrato e clorofila a. Chao et al ( 2007) desenvolveram um modelo de qualidade de água tridimensional baseado no método numérico de elementos finitos. Além dos parâmetros de água (OD, nutrientes, fitoplâncton), o modelo calcula também o efeito do sedimento nestas variáveis, simulando os processos de adsorção e liberação de nutrientes do sedimento de fundo, estimando a influência da concentração de sedimentos suspensos na intensidade da luz e, conseqüentemente, o crescimento do fitoplâncton. Utilizando um modelo bidimensional composto por um sistema de coordenadas ortogonais curvilíneas e baseado em soluções de diferenças finitas, Chau & Jin (1999) simularam satisfatoriamente o transporte e a transformação de nove parâmetros de qualidade de água (demanda bioquímica de oxigênio, nitrogênio orgânico, amônia, nitrito, fósforo orgânico, ortofosfato, fitoplâncton e zooplâncton). Para predizer a variação do OD em estuários, Borsuk et al (2001) aplicaram simples modelos probabilísticos, os quais são principalmente baseados em relações estatísticas entre concentrações de OD e dados de campo coletados no estuário em questão. O modelo estatístico usado (GAM) explorou as principais relações entre a concentração de oxigênio do fundo, a estratificação 23 vertical e temperatura do estuário de Neuse River, Carolina do Norte. Um outro tipo de modelo que prediz a variação do OD em estuários é baseado em modelos de simulação dinâmica, este tipo de modelo usualmente começa com equação de conservação de massa, onde as fontes e sumidouros de oxigênio são expressos explicitamente (BORSUK et al, 2001). Lopes & Silva (2006) utilizaram um modelo bidimensional que resolve a equação de transporte integrada verticalmente. O modelo foi acoplado a um modelo hidrodinâmico através da equação do transporte, e foi integrado no módulo de qualidade de água, resolvendo, dessa forma as propriedades do escoamento (advecção e difusão), os processos básicos que ocorrem na coluna d´água resultado da interação entre as correntes e o fundo, e as principais interações bioquímicas. O modelo foi aplicado para predizer as concentrações de nutrientes inorgânicos, clorofila-a e oxigênio dissolvido (OD) da laguna Ria de Aveiro, Portugal. Ambos os resultados do modelo e dados coletados apontaram que a distribuição do OD na laguna é controlada pelo transporte de maré, visto que a concentração permanece relativamente alta e próxima dos valores oceânicos. Contudo, na região final da laguna, onde a região de entre-marés é importante, a concentração de OD é afetada pela reaeração, pelos processos de enchente/vazante sobre a região de entre-marés, atividade fitoplanctônica, processos de nitrificação e oxidação da matéria orgânica. Gao & Song (2008) descreveram a distribuição espacial do oxigênio dissolvido no Estuário de Changjiang ao longo de quase todo gradiente de salinidade e variação diurna em dois locais representativos, além de estimar os fluxos de oxigênio entre o ar-mar, e os principais fatores de impacto no OD. Benoit et al (2006) usaram um modelo bidimensional integrado lateralmente de oxigênio dissolvido, para verificar a possível causa da depleção de oxigênio ao longo do baixo estuário St. Lawrence, Canadá. O transporte de fluido foi parametrizado em um grid de advecção-difusão de elementos finitos, onde a sedimentação da matéria orgânica alimenta o processo que leva à depleção de oxigênio em águas profundas. Observou-se que na profundidade de 50m há 24 presença de águas hipóxicas devido ao efeito cumulativo da demanda sedimentar de oxigênio. O modelo representou bem a entrada de oxigênio do fundo e os fluxos ao longo do Golfo de St Lawrence, mas superestimou a demanda sedimentar de oxigênio no baixo estuário St Lawrence. Stanley & Nixon (1992) constataram que a hipoxia no Estuário Pamlico River se desenvolve somente quando estratificação e temperatura quente da água ocorrem concomitantemente. A estratificação inibe o fluxo de oxigênio de águas superficiais, devido à redução da mistura vertical. A temperatura da água não somente reduz a saturação de oxigênio na coluna d´água, mas também aumenta a DBO e DSO. Borsuk et al (2001) e Benoit et al (2006) identificaram também uma boa correlação entre estratificação vertical, temperatura quente, e hipoxia da água de fundo. 3.3. Modelo Divast 3.3.1. Equações Hidrodinâmicas O DIVAST (Depth Integrated Velocity and Solute Transport), modelo numérico utilizado nesse estudo, foi desenvolvido por Falconer (1976) e escrito em linguagem Fortran 77. É um modelo bidimensional horizontal integrado na vertical (2HD), portanto aplica-se para regiões em que o fluxo é predominantemente horizontal com boa mistura vertical, ou onde as variações verticais no fluxo são insignificantes. Este modelo simula a distribuição das correntes, elevação da superfície da água e alguns parâmetros de qualidade de água em função do tempo. Em modelos matemáticos hidrodinâmicos, para se descrever o escoamento da região em estudo é utilizado um conjunto de equações normalmente acopladas, não-lineares e que raramente possuem solução analítica conhecida. A resolução desse sistema de equações é feita através de técnicas numéricas, que consistem basicamente: (i) na representação de um domínio do continuo em um domínio discreto, (ii) na representação das equações diferenciais parciais (EDP) em equações algébricas pelo uso de um método numérico como diferenças finitas, volumes finitos, elementos finitos, (iii) elaboração de código computacional usando linguagem de máquina (FORTRAN). 25 Os processos físicos do movimento d’água são baseados na equação de conservação de massa e da quantidade de movimento sendo estas expressas pelas equações de Navier-Stokes. Nestas equações são feitas as aproximações das tensões de Reynolds que são parametrizadas pelos coeficientes de viscosidade turbulenta, e a aproximação de onda longa que permite a média na vertical das variáveis dependentes. As equações 1 e 2 representam respectivamente a conservação da quantidade de movimento para o eixo x e y . Os processos incluídos nas equações resultantes são: (a) aceleração local, (b) aceleração advectiva, (c) rotação da Terra (aceleração de Coriolis), (d) gradiente de pressão (aceleração devido a variação do nível d’água), (e) tensões provocadas pelo vento, (f) atrito com o fundo e (g) tensões turbulentas. Eq.1 Eq.2 A equação da conservação de massa quando integrada na vertical, reduz a seguinte forma: Eq.3 onde: U,V – velocidades média na vertical nas direções x, e y respectivamente (m/s); t- tempo (s); β- fator de correção do momentum para um perfil de velocidade vertical não-uniforme sendo igual a 1,016; f- coeficiente de Coriolis (dado por 26 f=2ωsenφ, sendo ω=7,27.10-5rad.s-1 a velocidade angular de rotação da Terra e φ a latitude local); H- profundidade total da água (m) (H=η+h; h é a profundidade abaixo do nível médio); g- aceleração devido a gravidade (9,806 m/s2); η -elevação da superfície da água em relação o nível médio (m); ρamassa especifica do ar (≈1,292 kg/m3); ρ- massa especifica da água (1024kg/m3); Cw- Coeficiente de resistência ar/fluido (adimensional); W x,W yComponentes da velocidade do vento na superfície nas direções x e y, respectivamente (m/s); C- Coeficiente de Chezy (m1/2/s); ε- viscosidade turbulenta integrada na vertical; O esquema de turbulência utilizado considera a hipótese de Boussinesq associada à teoria do comprimento de mistura de Prandtl. Assim, simula apenas a turbulência gerada pela fricção de fundo, desconsiderando a gerada pelo cisalhamento interno, sendo válida para áreas rasas e bem misturadas. Dessa forma o parâmetro ε (a viscosidade turbulenta integrada na vertical) pode ser representado pela expressão abaixo (FALCONER, 1994): onde, Ce- coeficiente de viscosidade turbulenta, com valor aproximado de 1 para escoamentos em regiões costeiras; C- coeficiente de rugosidade de Chézy (m1/2/s). 3.3.2. Equações para o transporte de constituintes: Os processos físico-químicos no transporte de constituintes para estudos de qualidade da água são inseridos na conservação da substância. A Equação de Transporte de Solutos, também conhecida como Equação da AdvecçãoDifusão para um constituinte (S) é integrada ao longo da vertical descrevendo o valor médio dos poluentes ao longo da profundidade. Eq.4 onde: 27 S- concentração média do poluente na vertical; Dxx , Dxy , Dyx , Dyy -coeficientes de dispersão-difusão médios ao longo da vertical nas direções x e y respectivamente (m2/s); Φs- Função que pode ser usada para representar fontes, sumidouros e/ou reações cinéticas. No caso desse estudo, Φs caracteriza fontes ou sumidouros internos dos componentes de qualidade de água relacionados com os principais processos de qualidade da coluna d’água. Na seguinte equação diferencial são descritos os principais processos que influenciam o oxigênio dissolvido (LOPES & SILVA, 2006): Eq. 5 Onde o termo (1) representa as trocas com a atmosfera (reaeração), onde Cs é a concentração de saturação da água em oxigênio e é uma função da temperatura da água e k2 uma constante de oxigenação. O termo (2) é uma função que calcula o consumo de oxigênio na degradação da matéria orgânica, que incluem a matéria orgânica suspensa, sedimentada e dissolvida. O termo (3) é uma função que calcula o consumo de oxigênio na nitrificação por bactérias (mineralização da matéria orgânica). Os termos (4 e 5) representam respiração e fotossíntese respectivamente. A respiração inclui a autotrófica e heterotrófica. E o último termo 6 representa o consumo de oxigênio pelo sedimento. As equações do oxigênio dissolvido inseridas no DIVAST são baseadas em equações usadas no modelo US EPA QUAL-11 (FALCONER 1976): As equações da demanda bioquímica e demanda sedimentar são apresentadas por Pereira,( 2004); Hull et.al (2007); Garcia & Tucci (2008). A concentração de saturação (Cs) de OD depende da temperatura, salinidade, pressão (MONTEIRO, 1997 apud APHA, 1985; LOPES & SILVA, 2003; HULL et.al , 2007 ), sendo representada no modelo como Cs = 28 onde T= temperatura em °C, S= salinidade em ppt. A reaeração é calculada de várias maneiras dependendo do lugar e fatores ambientais, como velocidade da corrente e vento (MONTEIRO, 1997 apud APHA, 1985; HULL et.al, 2007; GAO & SONG, 2008). A constante de reaeração K2 é calculada segundo a equação onde, Dm= difusão 2 molecular (ft /dia), U=velocidade média na vertical (ft/s), H profundidade média (ft). A correção pela temperatura é realizado por onde kT=valor da taxa constante para uma temperatura local T (°C) (LOPES & SILVA, 2003; HULL et.al , 2007), com o valor de θ a variar entre 1,005 a 1,030. Em geral, utiliza-se 1,024. 3.3.3.Método de solução das equações matemáticas As equações 1, 2, 3, 4 e 5 não apresentam soluções analíticas e para resolvêlas é usado o Método das Diferenças Finitas, que consiste na substituição das equações de derivadas parciais por equações em diferenças finitas, baseadas na aproximação em série de Taylor truncada. Tal método utiliza uma malha retangular composta por células quadradas abrangendo toda a área de estudo. O tipo de esquema utilizado no modelo DIVAST é a técnica de Direção Implícita Alternada (ADI) na qual a solução das equações é obtida pela subdivisão de cada passo de tempo em dois meio passos de tempo. No primeiro meio passo de tempo a elevação da água e a componente U da velocidade são solucionadas implicitamente na direção x, enquanto que as outras variáveis são representadas explicitamente. Similarmente, para o segundo meio passo de tempo a elevação da água, a componente V da velocidade e a concentração de soluto são solucionadas implicitamente na direção y, com as outras variáveis sendo representadas explicitamente. Falconer (1976) recomenda que se restrinja o passo de tempo de forma que o 29 numero de Courant (υ= ) seja menor que 8. Onde: ∆t o passo de tempo utilizado, ∆x o tamanho da célula. No DIVAST em cada elemento da malha computacional são determinadas a elevação do nível d’água (η), e as velocidades nas duas direções (U,V), em função das condições de contorno. A elevação e a concentração de soluto são determinadas no centro das células, enquanto que as componentes da velocidade e a profundidade são calculadas no centro dos lados de cada célula. 3.3.4. Critérios para implantação de modelos numéricos Para a realização desta etapa são necessários o fornecimento do levantamento dos dados de batimetria, maré, além de teste de malha computacional e condições iniciais e de contorno, sendo estes fatores decisivos na calibração de um modelo numérico e posterior validação. 3.3.4.1.Teste de malha Consiste na implantação de diversas malhas sobre a região de estudo para determinar o tamanho da malha a ser usada para representar o domínio de interesse para o estudo a ser realizado. No DIVAST, a grade da malha é retangular com células quadradas. Uma melhor representação da região é dada com um maior refinamento da malha, contudo pode causar um esforço computacional consideravelmente maior (maior tempo de simulação). 3.3.4.2. Condições iniciais e de contorno As condições iniciais utilizadas pelo DIVAST podem ser de dois tipos: partida a quente e partida a frio. Na partida a quente, a simulação começa a partir de valores de elevação, velocidade e concentração de soluto obtidos em simulação precedente. Já o segundo caso, a simulação inicia, normalmente, com velocidade nula ao longo do domínio, concentração de soluto nulo ou com valor constante em toda malha, e elevação próxima ao seu nível máximo ou mínimo. As condições de contorno são de dois tipos: contorno fechado e contorno aberto. O primeiro ocorre ao longo de linhas de costa ou adjacentes a 30 estruturas, através das quais não há fluxo, o segundo permite a entrada de fluxo, portanto é necessário especificar como as condições hidrodinâmicas (elevação ou velocidade) e de qualidade (concentração de soluto) variam ao longo do tempo. No caso de praias com gradientes suaves e extensas planícies de maré, onde o limite do corpo d´água varia com o tempo, Maciel (2004) apontou que estas áreas podem ser representadas no modelo através de rotinas computacionais que permitam a variação desses limites entre a situação seca e molhada. Contudo, esse efeito não é considerado neste trabalho. 3.3.4.3. Calibração e Validação A calibração consiste na verificação da capacidade do modelo de reproduzir os fenômenos que ocorrem na natureza, buscando alcançar uma boa concordância entre os resultados obtidos pelo modelo e uma serie de dados coletados em campo (series de tempo de η ou U,V; salinidade; temperatura;OD). Na validação o processo é feito através da coleta de outro conjunto de dados, independentes daqueles usados na calibração, que serão reproduzidos através de simulações computacionais. Nessa etapa verifica se o modelo está representando de forma adequada o registro temporal da variável física (η,U,V,salinidade,temperatura,OD) para depois inferir o comportamento do fenômeno ambiental em questão. 4. Metodologia 4.1. Descrição da Área de Estudo A região a ser estudada compreende todo o Canal da Passagem, que apresenta aproximadamente 10 km de extensão e situa-se na porção nordeste da Ilha de Vitória, município de Vitória-E.S entre as coordenadas (20º18’00”, 20º15’00”S e 40º17’00”, 40º19’12”W). É um estreito e sinuoso braço de mar 31 que interliga a Baía de Vitória e a Baía do Espírito Santo, apresentando uma profundidade máxima de 9m e em média de 4,7m (Guimarães, 1995). No Canal da Passagem existe um estreitamento, provocado pela Ponte da Passagem, que divide o canal em duas regiões, a região Sul do canal e a região Norte do canal, chamadas respectivamente de canal sul e canal norte. Pode-se observar que a região norte apresenta, em quase toda a extensão de suas margens, planícies de maré cobertas por vegetação de mangue e que a região sul devido à ocupação desordenada, não apresenta regiões de manguezal, apresentando um trecho mais retilíneo (Figura 1). O Canal da Passagem funciona como um divisor de águas, impedindo que as águas oriundas da Baía de Vitória alcancem a Praia de Camburi e vice-versa. O estreitamento da Ponte da Passagem influência na maré vazante e enchente, ocasionando um atraso tanto para encher quanto para esvaziar o Canal da Passagem, como observado por Maciel (2004), já que no canal sul o escoamento está sujeito ao atrito das paredes e fundo do canal, sendo confinado. As maiores áreas de inundação encontram-se entre o bairro de Maria Ortiz e o encontro com a Baía de Vitória. Nesse trecho encontram-se duas ilhas: a menor situada em Maria Ortiz e a maior é a importante estação ecológica Ilha do Lameirão. O Canal da Passagem recebe despejo de esgotos domésticos in natura ou com tratamento inadequado apresentando entre outros problemas elevados valores de coliformes fecais (BARROSO & DIAS, 1997; CASTRO, 2001 e ANDRADE, 2007), diminuição das condições de balneabilidade das praias do entorno (ROCHA, 2000; MACIEL, 2004 e ANDRADE, 2007), além de alterações significativas na sua geometria devido à ocupação urbana de suas margens de forma desordenada (GUIMARÃES, 1995) (FIGURA 1). 32 G Figura 1 - Região de Estudo. A- Ilha do Lameirão; B- Rio Santa Maria da Vitoria; C- Baía de Vitória; D- Baía do Espírito Santo, E- Ilha de Vitória, F- efluente da estação de tratamento de esgoto ETE-Mumlembá, G- Bairro Maria Ortiz. Fonte: modificado de http://www.brasil-turismo.com/espirito-santo/mapas/vitoria-imagem.htm: Guia geográfico do Espírito Santo. O padrão de escoamento é regido pela maré, e o tipo de maré na região é de micromarés, semidiurnas, sendo M2 a principal componente lunar de maré com um período de 12,42h. Por estar sujeito a ação da onda de maré em ambas extremidades, este canal apresenta um interessante comportamento hidrodinâmico com variações na direção das correntes de acordo com o momento da maré (GUIMARAES, 1995; RIGO et al ,1993; MACIEL, 2004). Esse comportamento diz respeito ao fenômeno que ocorre no canal denominado “Tombo da Maré”. 33 O primeiro pesquisador a notar a ocorrência desse fenômeno no canal foi o professor J. L. Helmer, do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Espírito Santo. A sua provável localização no interior do canal foi determinada por Rigo et al. (1993) e sua posição é variável de acordo com as amplitudes das marés (GUIMARAES, 1995; RIGO et al ,1993; MACIEL, 2004). Estes autores dizem que tal fenômeno é o resultado da presença de uma onda estacionária, visto que a interação entre duas ondas progressivas que se propagam em direções opostas produz uma onda estacionária. Maciel (2004), com a utilização do modelo Divast, afirma que o fenômeno “Tombo da Maré” é o resultado de uma convergência de ondas que é formada por uma coluna de água parada, que se desloca durante a maré vazante em direção à Ponte da Passagem, enquanto durante a maré enchente se desloca em direção à extremidade norte do canal. O deslocamento do Tombo da Maré pode ser explicado pela diferença de duração entre a maré enchente e vazante. Existir um período de tempo, em que a água do Canal da Passagem escoa em uma única direção, na direção da Baía do Espírito Santo, que Rigo et al (1993) constataram ser superior a uma hora. A principal contribuição fluvial é devida ao rio Santa Maria da Vitória cuja foz localiza-se na Baía de Vitória próximo ao Canal da Passagem. A vazão média mensal varia de 4m3/s a 30 m3/s (HIDROWEB, 2007). A vazão do rio está sujeita ao controle da usinas hidrelétricas construídas em seu curso, situadas nos municípios de Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. 4.2.Dados Experimentais Os dados experimentais incluem registro de elevação do nível do mar, velocidades de correntes (usando um correntômetro ADCP (Acoustic Doppler Current Profilers) –a fim de produzir séries temporais da distribuição vertical da velocidade média das correntes), medidas de oxigênio dissolvido (usando o sensor de OD – SO-400 – que é acoplado ao aparelho pH-1500), sendo estes obtidos no levantamento de campo realizado no ano 2008 executado pela 34 equipe do Departamento de Ecologia e Recursos Naturais- UFES, para a realização do projeto do Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia (FACITEC). 4.3. Implantação do Modelo Numérico 4.3.1. Malha Computacional Para a realização deste estudo foi utilizada uma malha computacional com células de 25 X 25 metros, sendo o eixo x composto por 630 células e o eixo y composto por 600 células. A grade computacional abrange todo o sistema estuarino da ilha de Vitória e a Baía do Espírito Santo. A orientação assumida para a grade foi de 340° em relação ao norte. Entre tanto o foco do trabalho compreende o Canal da Passagem. O efeito do manguezal neste estudo foi desconsiderado, visto que nos testes de simulações da modelagem este efeito ocasionou problemas com o transporte do soluto. Desta forma, a região de manguezal foi representada por células “secas”. 4.3.2. Dados de entrada do Modelo Os dados de entrada necessários para execução do modelo compreendem os dados de batimetria, de rugosidade do leito, e os dados de maré e dados de vazão do rio Santa Maria da Vitória para os contornos abertos. A batimetria foi adquirida no laboratório de Simulação em Escoamentos com Superfícies Livres (LABESUL) onde se tem uma boa representação do relevo de fundo para o domínio fluido modelado, e isto esta diretamente associado a resolução dos campos de velocidade obtidas pelo modelo. A rugosidade do leito foi obtida do estudo sedimentológico do material de fundo do sistema estuarino da região Metropolitana de Vitoria, ES, realizado por Paiva & Albino (2000), valores que o modelo DIVAST utiliza para o cálculo do coeficiente de Chézy, ao longo de todo o domínio modelado. Este parâmetro representa a resistência ao escoamento causada pelo atrito com o fundo. 35 Os dados de maré foram obtidos do modelo de Viegas (2006), o qual estudou o comportamento da maré no litoral do Espírito Santo. Neste modelo foram simulados 864 horas de maré no litoral do Espírito Santo, e registrada a elevação do nível médio da água nas proximidades do Porto de Tubarão e, estas 864 horas compreendem dados de maré, do dia 18 fevereiro de 2008 ao dia 5 de abril 2008. Para o dado de vazão, referente ao rio Santa Maria da Vitória, foi atribuída uma vazão de 16 m³/s. Este valor estabelecido é uma ponderação das informações de vazão e captura de água obtidas em diferentes meios (OLIVEIRA, 2003; HIDROWEB, 2007; COIMBRA,2008). Dados de oxigênio dissolvido do Canal da Passagem adotadas para aporte do Rio Santa Maria da Vitória e oceano foram de 9,3mgO2/L e 5,53mgO2/L, respectivamente. Esses valores foram obtidos nos estudos de Jesus et al. (2004) para o Rio Santa Maria,(estudou a Distribuição de metais pesados em sedimentos do sistema estuarino da Ilha de Vitória-ES medindo parâmetros físico-químicos da água), e nos estudos de Moura (2006) para o oceano, onde realizou um estudo de Análise Ambiental Integrada dos Fatores Abióticos da Baía do Espírito Santo, Vitória – ES). 4.3.3. Condições iniciais e de Contorno As condições de contorno empregada nesse estudo para a malha utilizada foram: três condições de contorno abertas: uma para o rio Santa Maria da Vitória (C1) e duas para a Baía do Espírito Santo (C2 e C3) (Figura 2). Para o contorno C1 foi atribuída condição de fluxo volumétrico, e C2 condições de elevação de maré, e para C3 fluxo volumétrico nulo. 36 Figura 2- Representação da malha computacional de espaçamento 25 m x 25 m e as localizações dos contornos abertos utilizada no estudo. Fonte: Garção, (2007). As condições inicias para a simulação foi a partida a frio, em que assumiu velocidade nula ao longo do domínio computacional, concentração de oxigênio dissolvido nulo e elevação a partir do seu nível máximo. O passo de tempo assumido na simulação foi de 6 segundos. 4.3.3. Calibração e validação A calibração do modelo como descrita anteriormente no item 3.3.4.3 foi feita utilizando os dados obtidos em campo no Canal da Passagem (velocidade, elevação e oxigênio dissolvido) que foram implementados no modelo. Após a simulação verificou-se há boa concordância entre os resultados obtidos pelo modelo e os dados de campo fornecidos. 37 5. Resultados e discussão Para registrar os valores de elevação da superfície da água, velocidade das correntes e oxigênio dissolvido foram estabelecidos estações ao longo o Canal da Passagem, sessenta e nove no total, para referenciar os resultados obtidos pelo modelo numérico (FIGURA 3). Figura 3- Disposição das estações amostrais ao longo do Canal da Passagem. 38 Os resultados mostrados a seguir (FIGURA 4 e 5) consistem em gráficos de elevação, e velocidades geradas pelo modelo num período de 864h, próximo da estação de monitoramento (estação 46) localizada no meio do canal. A elevação gerada mostra os períodos de sizígia e quadratura no qual não ultrapassaram a altura de 1,75m e 0,7m respectivamente. As maiores velocidades são observadas no período de sizígia alcançando valores de 0,20m/s e na quadratura valores de 0,13m/s, e os valores mínimos de 0,03m/s na sizígia e 0,01m/s na quadratura para o momento de enchente. Rigo et al (1993) em seus estudos para investigar a hidrodinâmica do Canal da Passagem obteve dados de velocidade para os dias 5, 15 e 19 de junho de 1993, onde a velocidade máxima apresentada foi de 0,28m/s para vazantes e 0,07m/s para as enchentes em maré de sizígia. Nestes gráficos são separados os períodos da fase da Lua, obtida em na página da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), de acordo com o tempo de simulação. 18.02.08 5h a.m 25.03.08 5h a.m Lua cheia Lua minguante Lua nova Figura 4- Gráfico de elevação da superfície para a estação 46. Lua crescente Lua cheia 39 Figura 5- Gráfico do módulo da velocidade para a estação 46. A menor variação do nível da água produzida na quadratura foi 0,20m entre os tempos de 290h e 295h de simulação. E a maior variação produzida na sizígia foi 1,75m entre os tempos 463h e 469h. Estas diferenças que ocorrem entre as quadraturas e as sizígias estão relacionadas com as componentes de maré que formam a maré astronômica. Estas componentes possuem suas amplitudes e suas fases, e ao se interagirem, produzem diferentes elevações, mesmo em maré de quadratura e sizígia. Interpolando os dois gráficos descritos acima, e mostrando no período de sizígia e quadratura entre o tempo de 600-800h (FIGURA 6 e 7) é possível notar que o módulo da velocidade atinge valores máximos depois da preamar, logo apresenta vazantes mais rápidas que enchentes. Para a maré encher demora-se mais tempo devido o preenchimento dos canais, e na baixa-mar devido ao acúmulo de água ocasionado na região, essa 40 tende a percorrer os canais principais sem sofrer muito atrito atingindo dessa forma maiores velocidades e menos tempo para vazar. Rigo et al, (1993), Barros (2002) e Maciel (2004) observaram em seus estudos que o Canal da Passagem apresenta dominância de maré vazante tanto para marés de sizígia e quadraturas conforme foi visto nos resultados de velocidade e elevação. Figura 6- Gráfico da magnitude de velocidade e elevação da superfície para a estação 46 no período de sizígia. A linha azul representa a elevação da superfície (m), e a linha vermelha representa a magnitude da velocidade (m/s). 41 Figura 7- Gráfico da magnitude de velocidade e elevação da superfície para a estação 46 no período de quadratura. A linha azul representa a elevação da superfície (m), e a linha vermelha representa a magnitude da velocidade (m/s). O aparelho ADCP mediu as velocidades da corrente e elevação na região próxima ao ponto 46 do Canal da Passagem nas coordenadas 7757067, 362729 (UTM) (FIGURA 8 e 9). Esses dados foram obtidos no dia 25 de março de 2008. 42 Figura 8- Gráfico da elevação da superfície medido pelo ADCP para um ponto localizado próximo a estação 46 no período de sizígia para o dia 25/03/2008. Figura 9- Gráfico da magnitude da velocidade e direção, medido pelo ADCP para um ponto localizado próximo a estação 46 no período de sizígia para o dia 25/03/2008. 43 Observa-se na figura 8 e 9, que o tempo de maré enchente é de aproximadamente 6horas e meia apresentando menores valores de velocidade (0,3-0,45m/s) e uma direção entre 50-60°N. Na estof a da maré (14:00h) as velocidades são quase nulas, onde ocorre a inversão da maré, ou seja o sentido de escoamento muda (200-250°N). A partir de sse ponto nota-se um aumento gradual da velocidade atingindo valores de 0,6m/s no periodo de vazante para este ponto. De acordo com as figuras 5 e 9 nota-se que a velocidade obtida em campo é duas vezes superior a obtida pelo modelo onde a região de manguezal não foi considera como dito anteriormente. Nos estudos de Wolanski et al. (1980), Mazda et al., (1995) e Chacaltana et al.(2003) observa-se a importância de se considerar a influência do manguezal, visto que este incrementa os valores de intensidade das correntes induzidas pela maré, onde as velocidades máximas da corrente nos canais são maiores na vazante do que na enchente. Com relação as figuras apresentadas acima, tanto as geradas pelo modelo quanto as obtidas em campo, nota-se que as velocidades tendem a zero nas estofas da maré. As amplitudes e fase de maré estão associadas à interação da onda de maré com a geometria do corpo d´água, e com o estreitamento da seção na extremidade sul (Ponte da Passagem). Ocorre, neste ponto, um empilhamento de água tanto nas marés de enchente quanto nas vazantes que foi observado nos resultados desse estudo e naqueles descritos por Guimarães (1995), Rigo et al(1993), Barros (2002) e Maciel (2004), que ocasiona um atraso tanto para encher quanto para esvaziar o Canal da Passagem. A principal componente geradora do escoamento é o gradiente de elevação do nível da água do mar gerado pelo movimento periódico das marés. Esse escoamento junto com as características do estuário determinará o padrão de circulação. Este fato é importante quando se menciona em maré vazante ou enchente, pois dependendo do ponto de referência tomado este pode apresentar certa elevação enquanto que em outro ponto, esta elevação pode estar defazada como verificada por Rigo et al, (1993), Maciel (2004), Garção 44 (2007). De forma geral, os gradientes de pressão que acontecem no estreitamento (Ponte da Passagem) são maiores durante a vazante do que aqueles que se desenvolvem durante a enchente (Maciel, 2004). As implicações ambientais desta característica intrínseca deste canal são de que na coluna de água ocorre a falta de movimento horizontal da água (em conseqüência disso há falta dos gradientes horizontais de pressão na coluna de água que se desloca em direção à extremidade norte do canal). Isto indica que o tempo de residência de solutos lançados no Canal pode aumentar, com possível prejuízo na qualidade da água do Canal da Passagem. Para representar as magnitudes da velocidade, estes valores foram multiplicados por um fator de 16. As Figuras 10 a 17 mostram as magnitudes em um período de enchente e vazante para marés de quadratura e sizígia. É possível observar as diferenças de velocidade entre as duas marés, e a parte norte e a parte sul do Canal da Passagem e, também, o efeito do Tombo da Maré (zona de convergência) e seu deslocamento no Canal durante a enchente e vazante. 45 a 1cm 0,5m/s b 1cm 0,5m/s Figura 10- Campo de velocidade após 635h de simulação (maré de quadratura). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica (centro), e maré vazante. 46 c c d e 1cm 0,5m/s 1cm 0,5m/s 1cm 0,5m/s Figura 11- Campo de velocidade após 635h de simulação (maré de quadratura). (c) Região do meio do canal, (d) Estreitamento da Ponte da Passagem, (e) Região sul. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré vazante. 47 a 1cm 0,5m/s b 1cm 0,5m/s Figura 12- Campo de velocidade após 641h de simulação (maré de quadratura). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré de enchente(a e b), locais de baixa hidrodinâmica (b). 48 d c 1cm 0,5m/s 1cm 0,5m/s Figura 13- Campo de velocidade após 641h de simulação (maré de quadratura). (c) Meio do Canal, (d) Região do estreitamento da Ponte da Passagem. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica (c), formação de vórtices e maré enchente(d). 49 a 1cm 0,5m/s b 1cm 0,5m/s Figura 14- Campo de velocidade após 778h de simulação (maré de sizígia). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré de enchente. 50 c e d 1cm 0,5m/s 1cm 0,5m/s 1cm 0,5m/s Figura 15- Campo de velocidade após 778h de simulação (maré de sizígia). (c) Região do meio do Canal, (d) Estreitamento da Ponte da Passagem, (e) Região sul do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica (c), formação de vórtices (d) maré enchete (c e d). 51 a 1cm 0,5m/s b 1cm 0,5m/s Figura 16- Campo de velocidade após 784h de simulação (maré de sizígia). (a) Extremo norte do Canal, (b) Região norte do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, maré de vazante(a e b) local de baixa hidrodinâmica no centro (b), mudança do sentido (b). 52 c 1cm 0,5m/s d 1cm 0,5m/s Figura 17- Campo de velocidade após 784h de simulação (maré de sizígia). (c) Região do meio do Canal, (d) Região sul do Canal. As setas vermelhas indicam a magnitude da velocidade da maré, e o seu sentido. Em destaque, locais de baixa hidrodinâmica. 53 No período de simulação de 635h para maré de quadratura, (Figuras 10 e 11), mostram a maré vazando do canal nas duas extremidades, entretanto na região norte (FIGURA 10 b) observa-se uma área de baixa hidrodinâmica onde, a partir dessa região, a maré escoa em sentidos contrários. No período de simulação de 641h para a maré de quadratura, as figuras 12 e 13, mostram a maré adentrando o canal nas duas extremidades, contudo na região norte (FIGURA 12 b) observa-se uma região de baixa hidrodinâmica escoando no sentido sul. Na região próxima à UFES (FIGURA 13 c e d) são verificadas áreas de ausência de velocidade. Próximo à Ponte da Passagem ocorre uma intensificação do fluxo ocasionado pelo estreitamento da região, gerando vórtices devido ao encontro com uma massa de água vinda da região norte do canal. Na maré de sizígia, as figuras 14-17 apresentam intensidades maiores comparadas com a maré de quadratura, que pode ser observado no gráfico de elevação e módulo da velocidade das correntes (FIGURA 5 e 6). Na região próxima a UFES (FIGURA 15 c), observa-se uma região de baixa hidrodinâmica (áreas brancas da figura), maior daquela que a que ocorre na quadratura, estando praticamente essa região sem movimento horizontal algum. E na região próxima a ponte da passagem (FIGURA 15 d) observar-se maiores intensidades da velocidade da corrente de maré enchente ocasionando vórtices após passar pelo estreitamento da Ponte da Passagem. Na vazante da maré de sizígia (FIGURA 16 e 17) nota-se que a região de baixa hidrodinâmica encontra-se no Canal na região norte onde ocorre o local de divisão das massas de águas, uma fluindo em direção oposta a outra. Sendo que na região da Ponte da Passagem e sul do Canal as intensidades das velocidades são elevadas. Vale ressaltar, que as magnitudes das velocidades das figuras 10 a 17 encontram-se multiplicadas por um fator de 16, para facilitar a visualização das mesmas, estas velocidades atingiram máximos valores na sizígia principalmente na vazante como visto nas figuras 5 e 6 e em regiões de estreitamento do canal. 54 Os resultados apresentados na simulação do modelo numérico DIVAST mostram que a região de zona de convergência chamada tombo da maré, acontece em locais diferentes. Os resultados numéricos mostram que a zona de convergência acontece desde a Ponte da Passagem até a extremidade norte do Canal da Passagem (FIGURAS 10 a 17). Segundo Maciel (2004), a zona de convergência é formada por uma coluna de água parada que se desloca para a extremidade norte do Canal da Passagem durante a enchente. Na região próxima à Ponte da Passagem (FIGURAS 13 e 15 c) observa-se uma região de baixa hidrodinâmica para um período de quadratura e sizígia durante a enchente da maré. Durante a vazante de quadratura e sizígia observa-se que a região norte do canal apresenta baixa hidrodinâmica (FIGURAS 10, 12 e 16 b). É possível notar, também na figura 16 b que nessa região o escoamento se dá em sentidos opostos. Para realizar a qualidade de água pelo modelo DIVAST foram feitas as seguintes considerações: • Os processos de fotossíntese, respiração foram desconsiderados por não se dispor de dados destes elementos. • Já os processos de demanda sedimentar e bioquímica do oxigênio e, mineralização da matéria orgânica, como o modelo necessita desses parâmetros para funcionar, valores de literatura foram utilizados. Esses processos são importantes, pois na interface água-sedimento ocorrem oxidações e reduções dos elementos químicos e de matéria orgânica pelas bactérias (LIBES,1992), que são responsáveis pela variação da concentração de oxigênio dissolvido e do potencial redox. Quando o sedimento torna-se muito reduzido, a liberação das espécies químicas reduzidas na coluna d’água (e.g., metano, sulfeto, entre outros), se dá pelo desaparecimento da camada oxidada (LIBES,1992). E a demanda bioquímica do oxigênio indica o teor de matéria orgânica biodegradável, definida pelo consumo de oxigênio dissolvido necessário para os organismos aeróbios degradarem a matéria orgânica presente no corpo de água. 55 • Foi desconsiderado, também o aporte de efluentes domésticos. • Os processos físicos, como ondas de gravidade (swell e vento), mangue e ventos foram, também, desconsiderados, dessa forma avaliou-se a distribuição do oxigênio ocasionado pela reaeração e influência da maré (FIGURAS 20 a 27). Os pontos amostrais dos dados de oxigênio dissolvido medidos em campo são mostrados na Tabela 1 e sua respectiva correspondência com as estações do Canal da Passagem, para referenciar os resultados obtidos pelo modelo numérico com os pontos. Tabela 1- Pontos de medição de oxigênio dissolvido e sua respectiva localização. Latitude Pontos (UTM) Longitude (UTM) Estações do Canal 1 365263 7755528 65 2 363916 7756216 56 3 362729 7757067 46 4 364063 7759694 26 5 362370 7760377 10 As concentrações de oxigênio dissolvido medidas em campo resultaram em altos valores, para região (FIGURA 18). O sedimento do Canal da Passagem, segundo Paiva & Albino (2000), é composto por areia média-fina, argila e silte, apresentando em sua composição elevados teores de matéria orgânica. Além de receber elevada carga de efluentes, seria de se esperar baixas concentrações de oxigênio devido ao consumo para a decomposição da matéria orgânica. Algumas das explicações para estes valores altos seria a influência de períodos chuvosos precedidos ao dia da coleta de campo, ou pela ocorrência de bloom de algas devido ao excesso de nutriente oriundos de fontes antropogênicas. 56 Figura 18- Distribuição espacial e temporal do oxigênio dissolvido obtido em campo. O ponto 1, localizado entre as Pontes Camburi e Ayrton Senna, e o ponto 3 (ponto localizado próximo ao ponto de referencia do Canal da Passagemestação 46) apresentaram uma oscilação do oxigênio dissolvido de forma similar, porém com uma defasagem de aproximadamente 1 hora, sendo que o ponto 1 observou-se concentrações maiores que no ponto 3. Antes de chegar na estofa da maré (preamar) que ocorreu as 14:00, o ponto 3 teve um aumento gradual diminuindo posteriormente, e as 16h onde tem-se as maiores velocidades para essa região conforme a figura 9, observou-se os maiores valores de oxigênio. O ponto 2 apresentou valores de quase 15mgO/L na região da Ponte da Passagem, esse aumento da concentração pode estar relacionado com as maiores intensidades da corrente de maré devido ao estreitamento da região na qual gera vórtices ocasionando uma mistura turbulenta (com relação ao ponto 47, onde o aparelho mediu a elevação e velocidade a maré estava enchendo). Antes da estofa de preamar a concentração de OD diminui para 5mgO/L, e posteriormente observa-se um aumentando gradual, agora talvez por causa do movimento turbulento ocasionado durante o período de escoamento em direção a Baia do Espírito Santo. 57 O ponto 4 apresentou altos valores de oxigênio localizando-se próximo a estação de tratamento de esgoto, variando pouco com o tempo. Já o ponto 5 localizado no extremo norte do canal obteve maiores variações de oxigênio dissolvido. A distribuição do oxigênio dissolvido gerada pelo modelo (FIGURAS 20-27) não foi satisfatória para todos os dados obtidos em campo, contudo obteve-se maior aproximação com os estudos de monitoramento do Canal da Passagem realizados pela empresa Tecma (Tecnologia em Meio Ambiente Ltda) e Gaia (Gestão Ambiental da Industria Ltda). Os dados simulados pelo modelo apresentaram máximo valor de oxigênio 8,7mgO/L para o extremo norte do Canal da Passagem (FIGURA 19). Figura 19- Distribuição espacial e temporal do oxigênio dissolvido obtido pelo modelo no período de sizígia para as estações correspondentes aos pontos do campo. Na figura 19 nota-se a periodicidade do comportamento do oxigênio dissolvido, variando no tempo conforme a movimentação da maré, e variando espacialmente, a medida que os pontos se distanciavam da influência do Rio Santa Maria da Vitória. Foi constatado empiricamente que as concentrações de 58 oxigênio dissolvido são mais altas próximas a região norte do canal onde se tem a maior influência do Rio Santa Maria da Vitória e qualitativamente o modelo representou essa tendência, sendo possível notar nas figuras 18 e 19, para os pontos 3, 4 e 5 e as estações 10, 26, 46. As estações 56 e 65 apresentam um comportamento periódico diferente, pois estes pontos são governados pela qualidade da água da Baía do Espírito Santo. 59 OD (mg/L) Figura 20- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de baixa-mar no sistema estuarino de Vitória na quadratura após a simulação de 626h. 60 OD (mg/L) Figura 21- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de preamar no sistema estuarino de Vitória na quadratura após a simulação de 632h. 61 OD (mg/L) Figura 22- Distribuição de oxigênio dissolvido na quadratura no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 635h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. 62 OD (mg/L) Figura 23- Distribuição de oxigênio dissolvido na quadratura no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 641h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. 63 OD (mg/L) Figura 24- Distribuição de oxigênio dissolvido na sizígia no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 778h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. 64 OD (mg/L) Figura 25- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de preamar no sistema estuarino de Vitória na sizígia após a simulação de 781h. 65 OD (mg/L) Figura 26- Distribuição de oxigênio dissolvido na sizígia no sistema estuarino de Vitória após a simulação de 784h. Os quadrados vermelhos indicam os pontos do campo do dia 25/03/2008. 66 OD (mg/L) Figura 27- Distribuição de oxigênio dissolvido no período de baixa-mar no sistema estuarino de Vitória na sizígia após a simulação de 787h. 67 De acordo com as figuras 20 a 27, observa-se que na extremidade sul do Canal da Passagem está com concentrações de oxigênio muito baixas praticamente zero (ambiente anóxico), esta representação pelo modelo devese as considerações feitas previamente, onde uma das influências de oxigênio para essa região é o vento, pois através dele, dependendo do tamanho da pista, e intensidade, ocorre a formação de pequenas ondas, quando a crista colapsa, oxigena a camada superficial da água, e a quebra de onda na praia. Na quadratura observa-se que os menores valores foram obtidos na região sul do Canal (1mgO/L) aumentando gradualmente até o norte do Canal (7mgO/L). E na sizígia estes valores são ainda maiores, 8,5mgO/L e 3mgO/L na região norte e sul, respectivamente. O Monitoramento Ambiental realizado a montante da ETE de Mulembá apresentou valores de 1,4mgO/L e 3,8mgO/L na vazante e enchente. No ponto de lançamento da ETE valores de 2,3 e 3,6mgO/L foram obtidos na vazante e enchente, respectivamente (TECMA, 2004). Barroso & Dias (1997) obtiveram para o ponto de lançamento da ETE valores de 1,10mgO/L e a montante desse ponto valores de 2,4mgO/L. O modelo obteve valores entre 5 e 6,5mgO/L em períodos de sizígia e quadratura para essa região, que corresponderia ao ponto 4 do campo. De acordo com a Resolução Conama N° 357/05 para águ as salobras classe 1, os limites estabelecidos para as concentrações médias de oxigênio dissolvido é de 5 mgO/L. Os dados obtidos no trabalho de Gaia, (1999) foi realizado num ponto na região sul do Canal, onde observou-se valores de 2,76mgO/L na enchente e 2,28mgO/L na vazante. Os valores obtidos pelo modelo estão nessa margem, porém atingindo valores inferiores devido a Baia do Espírito Santo se comportar como um ambiente anóxico. 6. Conclusões Os resultados obtidos pelo modelo mostram que a maior contribuição de oxigênio dissolvido para a região é devido ao Rio Santa Maria da Vitória, e muito pouca influência da região oceânica. Dessa forma a região do extremo 68 norte e norte do Canal apresentam altos valores quando comparados com os estudos feitos na região (BARROSO & DIAS, 1997; GAIA, 1999; TECMA, 2004). Os fatores que podem ter levado há obter esses valores discordantes deve-se as a desconsiderações feitas, ausência de manguezal, ventos, ausência de lançamentos de esgotos domésticos e possivelmente pela condição de contorno adotada, no qual para o contorno C3 (FIGURA 2) foi atribuído somente a ocorrência de fluxo de massa e não a entrada de maré astronômica. Uma vez que a parte norte do Canal da Passagem é toda composta por tal vegetação de manguezal, a sua desconsideração fez com que ocorresse uma canalização deste corpo d’água. Dessa forma, processos advectivos mais intensos impulsionam a penetração de oxigênio dissolvido oriundo do Rio Santa Maria da Vitória adentrando no Canal a distâncias maiores. Conclui-se, então, que a região de manguezal tem grande importância na hidrodinâmica do Canal da Passagem e qualidade da água. E para um melhor gerenciamento da qualidade da água do canal, o conhecimento desta hidrodinâmica do manguezal e qualidade da água é de fundamental importância, principalmente no controle de poluentes lançados no Canal da Passagem. 7. Recomendações Futuras - Incluir as outras fontes do oxigênio dissolvido para o Canal da Passagem na aplicação do modelo, como fotossíntese, respiração, vento. - Incluir dados realísticos do ambiente para os parâmetros DBO, oxidações químicas, SOD. - Utilizar uma malha mais refinada na área de estudo a fim de ter maior detalhamento dos resultados. - Incluir a área de manguezal nas simulações. 69 8. Referências ANDRADE, R.R. Simulaçao numérica do transporte da pluma de esgosto domestico lançada no canal da passagem e sua influencia na qualidade da água da Baía do Espírito Santo. 2007 Monografia (Graduaçao em Oceanografia) Universidade Federal do Espírito Santo. AUGUSTINUS, P.G.E.F.Geomorphology and sedimentology of mangrofes. In: PERILLO, G.M.E. (org). Geomorphology and Sedimentology Fo Estuaries. Amsterdã: Elsevier, 1996, cap 12, p. 333-353. BARROS FILHO, G. C., Identificação dos Processos Físicos na Hidrodinâmica das Águas do Entorno da Ilha de Vitória,2002. Dissertação (Mestrado de Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental 2002. BARROSO, G.F; & DIAS ,Jr, C. Avaliação preliminar da qualidade da água do Canal da Passagem/ Manguezal do Lameirão. Vitoria (ES). In: SEMINARIO REGIONAL DE ECOLOGIA, 8, 1996, São Carlos. Anais do VIII Seminário Regional de Ecologia. PPG-ERN/UFScar, São Carlos, 1997. BAUMGARTEN, M.G.Z;ROCHA, J.M.B; NIENCHESKI, L.F.H. Manual de analises em oceanografia química. Santa Catarina: Editora da FURG, 1996. BENOIT, P.; GRATTON,Y.; MUCCI, A.Modeling of dissolved oxygen levels in the bottom waters of the Lower St. Lawrence Estuary:Coupling of benthic and pelagic processes. Marine Chemistry. v.102, p.13-32, 2006. BORUSK, M.E.;STOW,R.A.; LUETTICH Jr, R.A.; PAERL, H.W.; PINCKNEY, J.L. Modelling oxygen dynamics in intermittently stratified estuary: estimation of process rates using field data. Estuarine, Coastal and Shelf Science. v.52, p.33-49, 2001. BROWN, J. et al. Waves, tides and Shallow-water Processes. Walton Hall: Open University, 1999. CASTRO, M.S.M. Analise da influencia das águas do Canal da Passagem sobre o padrão de escoamento na Baía do Espírito Santo. 2001. Dissertação (Mestrado de Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, 2001. CHACALTANA, J. T. A; RIGO, D.; MARQUES, A. C. ; PACHECO, C. G. . Influência do Manguezal no Padrão de Escoamento do Sistema Estuarino da Ilha de Vitória. In: V Seminário Estadual Sobre Saneamento e Meio Ambiente, 2003, Vitória-ES. p. 1-7. 70 CHAO,X.; JIA,Y.; SHIELDS Jr, F.D.;WANG, S.S.Y.;COOPER, C.M. Numerical modeling of water quality and sediment related processes. Ecological Modelling, v.201, p.385-397, 2007. CHAU, K.W.; JIN, H.S. Depth-average, two dimensional eutrophication modeling for Tolo Harbour, Hong Kong. Environmental Modeling & Assessment, v.64, p.189-199, 1999. MONTEIRO,A.J. Modelação do oxigênio dissolvido em rios. Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura. Qualidade a água e controle da poluição. 1997. COIMBRA, U. Ambientalista: rios Santa Maria e Jucu estão em situação dramática. Edição de 6 de dezembro de 2006. Disponível em:< http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/dezembro/06/noticiario/meio_ambi ente/06_12_09.asp>.Acesso:26 out,2008. DONATELLI. M.R. Modelagem da hidrodinâmica e da qualidade da água da Baía de Vitória. 1998. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental)Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. 1998. DRONKERS, J. Tidal asymmetry and estuarine morphology. Netherlands Journal of Sea Research. v. 20. 117-131 p. 1986. DYER, K.R. Estuaries: A Physical Introduction. 2 ed. Chichester: John Wiley &Sons, 1997. FALCONER, R.A. A Introduction to Nearly-Horizontal flows. In: ABBOOTT, M.B., PRICE, W.A. Coastal, estuarial and harbor engineer’s reference book. p. 27-36.1. ed. Londres: E&FN Spon, 1994. FALCONER, R.A. Mathematical Modelling of Jet-Forced Circulation in Reservoirs and Harbours. Thesis (Doctor of Philosophy), Dept. of Civil Engineering, Imperial College. London. 1976. FRENCH, R.H. Open-Channel Hydraulics. Cingapura: McGraw-Hill Book Co., 1986. FRIEDRICHS, Carl T.; AUBREY, David G. Non linear Tidal Distortion in Shallow Well-mixed Estuaries: a Synthesis. Estuarine, Coastal and Shelf Science. Elsevier Science Publishers B.V. v. 27. p 521-545, 1988. FURUKAWA,K; WOLANSKI,E.;MUELLER,H. Currents and sediment transport in mangrove forests. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v.44, p.301-310. 1997. GAIA. Monitoramento Ambiental do Canal da Passagem. 1999. GAO,X.;SONG,J. Dissolved oxygen and O2 flux across the water-air interface of the Changjiang Estuary in May 2003. Journal of Marine Systems. 2008. doi: 10.1016/j.jmarsys.2008.02.003 71 GARÇÃO, H.F. Estudo da hidrodinâmica e da distribuiçao de temperatura na Baía de Vitória através de modelagem computacional. 2007 Monografia (Graduação em Oceanografia) Universidade Federal do Espírito Santo. 2007. GARCIA,R.L; TUCCI, C.E.M, Simulação da qualidade da água em rios em regime não permanente: Rio dos Sinos. Instituto de pesquisas Hidráulicas UFRGS. Porto Alegre. Disponivel:<www.iph.ufrgs.br/corpodocente/tucci/publicacoes/qualidade.PDF>. Acesso: 14 set, 2008. GUIMARAES, M.B. Modelo matemático hidrodinâmica unidimensional para o canal de interligação entre as Baías de Vitória e Espírito Santo. 1995. 130p. Dissertação (Mestrado de Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, 1995. HIDROWEB, Sistemas de informações hidrológicas. Versão 1.0.8. Brasília: Agencia Nacional de Águas, 2007 Download em http://hidroweb.ana.gov.br. HULL, V; PARRELLA, L; FALCUCCI, M. Modelling dissolved oxygen dynamics in coastal lagoons.Ecological modelling. v.211, p.468-480.2008. JESUS, H.C.DE; COSTA,E.A;MENDONÇA, A.S.F; ZANDONADE,E. Distribuição de metais pesados em sedimentos do sistema estuarino da Ilha de Vitória-ES. Quím. Nova vol.27 no.3 São Saulo May/June 2004. LIBES, S.M; An introduction to marine biogeochemistry. Canada: Wiley, 1992. LOPES, J.F.; SILVA, C. Temporal and spatial distribution of dissolved oxigen in the Ria de Aveiro lagoon. Ecological Modelling, v.197, p.67-88, 2006. MACIEL, M.A. Modelagem do padrao de escoamento no Canal da Passagem (Vitória- ES). 2004. Dissertação (Mestrado de Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Espírito Santo, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, 2004. MARTIN , J.L.; MCCUTCHEON, S.C. Hydrodynamics and transport for water quality modeling. 1 ed., p.111-115, Boca Ranton: Lewis, 1999. MAZDA, Y.; KANAZAWA, N.; WOLANSKI,E. Tidal asymmetry in mangrove creeks. Hydobiologia v.295, p.51-58, 1995. MOURA, M.G. Análise Ambiental Integrada Dos Fatores Abióticos Da Baía Do Espírito Santo, Vitória – ES. Monografia (Graduação em Oceanografia) Universidade Federal do Espírito Santo. 2006. NETO, R.R.;BARROSO, G.F.;OLIVEIRA, T.K.P.de. Utilização e biomarcadores lipídicos na avaliação da poluição ambiental na Baía de Vitória e Canal da Passagem. 2006. Relatório final- FACITEC. Laboratório de 72 Geoquímica Orgânica e Hidrogeoquimica e Laboratório de Limnologia e Planejamento Ambiental, UFES, Vitória, 2006. OLIVEIRA,R.M.S. Distribuição dos sedimentos em trechos do Rio Santa Maria da Vitoria, ES. Dissertação (Mestrado de Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, 2003. PAIVA,D.S.; ALBINO, J. Estudo sedimentológico do material de fundo do Canal da Passagem e trecho da Baía de Vitória-ES. V Simpósio de Ecossistemas Brasileiros, v. 2,p.206 Universidade Federal do Espírito Santo, 2000. PEREIRA, R.S. Modelos de qualidade de água. Revista Eletrônica de Recursos Hidrícos. v.1, p.37-48.2004. PICKARD, George L.; POND, Stephen. Introductory Dynamical Oceanography. 2. ed. Oxford - New York – Beijing - Frankfurt: Pergamon Press, 1983. RIGO,D. Modelagem e monitoramento do escoamento em regiões estuarinas em manguezais. Tese. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Oceânica. COPE. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004. RIGO,D; SARMENTO, R; GUIMARÃES, M.B. Determinação do Tombo da Maré para o Canal da Passagem. Relatório de pesquisa feita pela CESAN em parceria com a UFES. Vitória , 1993. ROCHA, A.B. Estudo da hidrodinâmica e do transporte de solutos na Baía do Espírito Santo através de modelagem computacional. 2000. Dissertação (Mestrado de Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, 2000. SHEN, Y.; ZHENG, Y.; KOMATSU, T.; KOHASHI, N. A three-dimensional numerical model of hydrodynamics and water quality in Hakata Bay. Ocean Engineering, v.29, p.461-473, 2002. SILVA, C.G;PATCHINEETAM, S.M.;NETO, J.A.B; PONZI, V.R.A. Ambientes de Sedimentação Costeira e Processos Morfodinâmicos atuantes na Linha de Costa. In: NETO,J.A; PONZI, V.R.A.;SICHEL,S.E (orgs). Introdução à Geologia Marinha. Rio de Janeiro: Ed. Interciência,2004, cap.8, p. 175-218. STANLEY, D.W.;NIXON, S.W. Stratification and bottom-water hypoxia in the Pamlico River Estuary. Estuaries. v.15, p.270-281, 1992. VIEGAS, N.J.F. Modelagem numérica das mares no litoral do Espírito Santo. 2006 Dissertação (Mestrado de Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 2006. 73 TECMA. Programa de Monitoramento Ambiental biológico do Canal da Passagem. 2004. WOLANSKI, E., JONES, M., BUNT, J. S. Hydrodynamics of a Tidal CreekMangrove Swamp System. Australian Journal of Marine Freshwater Research, v. 31, p. 431-450, 1980. WU,Y.,FALCONER,R.A.,STRUVE,J. Mathematical modeling of tidal currents in mangrove forests. Elsevier, Environmental Modelling & Software. v.16, p. 19-29. 2000. ZHENG, L.; CHEN, C.; FRANK, Z. Development of water quality model in the Satilla River Estuary, Geórgia. Ecological Modelling, v. 178, p. 457-482, 2004.