MPECM_ Dissertação de Mestrado_ Tiago Destéffani Admiral_ 2013
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MPECM_ Dissertação de Mestrado_ Tiago Destéffani Admiral_ 2013
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA TIAGO DESTÉFFANI ADMIRAL A UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS ALTERNATIVAS E EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS ARGUMENTATIVAS EM SALA DE AULA Vitória 2013 TIAGO DESTÉFFANI ADMIRAL A UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS ALTERNATIVAS E EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS ARGUMENTATIVAS EM SALA DE AULA Dissertação apresentada ao curso do Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática do Instituto Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Matemática. Orientador: Dr. Emmanuel Marcel Favre-Nicolin Vitória 2013 (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo) A238u Admiral, Tiago Destéffani. A utilização de metodologias alternativas e experimentação no ensino de física: um olhar sobre as práticas argumentativas em sala de aula / Tiago Destéffani Admiral. – 2013. 92 f. : il. ; 30 cm Orientador: Emmanuel Marcel Favre-Nicolin. Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática. 1. Física – Estudo e ensino. 2. Física - Metodologia. 3. Didática (Ensino médio). I. Favre-Nicolin, Emmanuel Marcel. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título. CDD 21: 530.07 . . Dedico esta dissertação a todos os amigos e amigas que, de alguma forma, fizeram parte da caminhada durante o mestrado. minha AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas que acreditaram no meu êxito. Agradeço pela ajuda dos amigos em muitos momentos importantes durante o curso, especialmente Adriane e Leonardo que me acompanharam em todos os momentos bons e ruins, alegres e tristes, de tranqüilidade ou absoluto desespero, em meio à calmaria ou em momentos em que não sabíamos o que fazer para conseguir seguir em frente. Muito provavelmente sem a presença desses dois amigos, e de alguns outros, não teria sido tão rica essa jornada até aqui. Agradeço aos meus familiares que me apoiaram em todos os momentos independentemente dos altos e baixos durante esses dois anos, sem o seu apoio e suporte teria sido consideravelmente mais árdua a minha passagem por essa experiência. Agradeço também aos professores que durante todo o curso mostraram grande interesse em desenvolver um trabalho de qualidade, nos exigindo o máximo que podíamos e, ao mesmo tempo, nos possibilitando um crescimento acadêmico proporcional à nossa vontade de aprender. Agradeço ao professor Emmanuel, meu orientador, que diferentemente de uma relação de autoritarismo, mostrou-se um parceiro e mediador da minha aprendizagem, me propiciando autonomia para pensar sobre minhas reais expectativas enquanto pesquisador e, ao mesmo tempo, me auxiliando em aspectos que nortearam a minha forma de pesquisar em ensino de Física. Agradeço ao coordenador e idealizador do programa de pós-graduação Sidnei, pois, em grande parte, foi devido a ele que hoje tive a oportunidade de ter um curso de mestrado. Devo agradecimentos à vários colegas de trabalho da escola Waldemiro Hemerly que tantas vezes me substituíram nas aulas para que eu pudesse assistir às aulas do mestrado, foram muitas quintas e sextas feiras em que precisei me ausentar do meu trabalho e pude contar com a ajuda de muitos colegas. Agradeço à diretora Deusa Lourencini que fez o possível para ajudar no que precisei enquanto trabalhava na escola, além das 50 horas semanais de carga horária escolar consegui cumprir os créditos em uma cidade que fica a mais de 100 km de distância e escrever parte da pesquisa. Realmente não foi fácil. Não poderia deixar de agradecer a Gorete e Neto que me cederam um teto quando mais precisei, durante todo o mestrado, nas quintas feiras, a casa desses dois era minha casa também, pois me sentia acolhido como no meu lar. Por fim ficam os meus cumprimentos de agradecimento a todas outras pessoas que, indiretamente, contribuíram com minha caminhada até aqui. “Todo o conhecimento implica numa trajetória de um estado A, designado pela ignorância, para um estado B, designado por saber. As formas de conhecimento distinguem-se pelo modo como caracterizam os dois pontos e a trajetória que conduz de um ao outro. Não há, pois, nem ignorância em geral nem saber em geral”. Boaventura de Souza Santos RESUMO Esta pesquisa teve como principal objeto de estudo as relações entre a aprendizagem, alfabetização científica e aplicação de recursos tecnológicos. Um dos conceitos que foram desenvolvidos com os alunos nesse projeto foi o conceito de energia, geralmente mal compreendido mesmo sendo um dos conceitos mais importantes da Física, mesmo envolvendo questões do dia-a-dia assim como fenômenos como o aquecimento global. Foram aplicadas duas sequências didáticas, a observação participante foi acompanhada de relatórios em sala e questionários. Devido à relativa simplicidade matemática de resolução de problemas de energia no ensino médio, comparado com outros assuntos de física, o método de ensino frequentemente usado por um professor que expõe as equações e aplica exercícios numéricos, tende a dificultar a discussão e a avaliação dos conceitos dos alunos. Como resultado imediato a metodologia adotada possibilitou um diálogo entre professor-aluno e aluno-aluno, o que facilitou a aprendizagem e a avaliação dos conceitos ensinados. Como produto da pesquisa foi organizado um pequeno caderno de práticas que em geral, utilizam material de baixo custo, e são facilmente aplicáveis em diversos contextos em uma aula de Física. A pesquisa foi realizada com uma turma de ensino médio Integrado ao Ensino Técnico do Instituto Federal Fluminense – Campos RJ Palavras-chave: Ensino de Física. Alfabetização Científica. Metodologias de Ensino. Sequência Didática. ABSTRACT This research had as its main object of study the relationships between learning, scientific literacy and application of technological resources. One of the concepts that were developed with the students in this project was the concept of energy, often misunderstood despite being one of the most important concepts of physics because it involves issues of day-to-day phenomena as well as of great importance, such as global warming. Two teaching sequences were applied, participant observation was accompanied by reports and questionnaires in class. Due to the relative simplicity of mathematical problem solving power in high school, compared to other subjects of physics, the teaching method often used by a teacher that exposes the equations and apply numerical exercises, tends to hamper the discussion and evaluation of the concepts of students. As an immediate result the methodology enabled a dialogue between teacher-student and student-student, facilitating learning and assessment concepts. As a product of the research was organized a small notebook of practices that generally use low cost material, and are easily applicable in various contexts in a physics class. The survey was conducted with a group of high school Integrated Technical Education of the Instituto Federal Fluminense – Campos – RJ. Keywords: Physics Teaching. Scientific Literacy. Teaching Methods. Teaching Sequence. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Esquema de relação entre Ciência Pura/Aplicada ..................................... 23 Figura 2 – Maquete sobre conversão de Energia eólica em Elétrica ......................... 52 Figura 3 – Exemplo de cooler utilizado .......................................................................... 53 Figura 4 – Exemplo conceitual de energia mecânica ................................................... 55 Figura 5 – Exemplo de uma resolução de problemas com a utilização das caixas de fósforos ............................................................................................................................. 56 Figura 6 – Grupo de alunos discutindo uma situação problema usando as caixas de fósforos ............................................................................................................................. 58 Figura 7 – Uma aluna explica à outra um problema utilizando a metodologia das caixas de fósforos ............................................................................................................ 59 Figura 8 – Montagem da vara rosqueada com a trena ao lado ................................... 67 Figura 9 – Durante a demonstração do experimento ................................................... 72 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Atividades da Sequência Didática sobre Energia ...................................... 51 Tabela 2 – Atividades da Sequência Didática de cinemática ...................................... 62 Tabela 3 – Exemplo de tabela utilizada no experimento ............................................. 71 LISTA DE SIGLAS CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade CTSA – Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente EDUCIMAT – Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática FAPES – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo IFES – Instituto Federal do Espírito Santo ISBN – International Standard Book Number (Número Padrão Internacional de Livro) PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PCN – Orientações educacionais editadas pelo Ministério da Educação que complementa os PCN PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 18 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................... 18 2.2 O CONCEITO DE CIÊNCIAS ................................................................................... 21 2.3 ENSINO DE CIÊNCIAS E IMPLICAÇOES SOCIAIS ............................................. 26 2.4 CURRÍCULO E ENSINO DE CIÊNCIAS ................................................................. 30 2.5 A ARGUMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA ..................................................... 33 3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 37 3.1 O ESTUDO ................................................................................................................. 37 3.2 LOCAL DA PESQUISA ............................................................................................. 37 3.3 SUJEITOS .................................................................................................................. 37 3.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS ........................................................................... 40 3.5 CATEGORIAS DA PESQUISA................................................................................. 40 3.6 LIMITES DA PESQUISA ........................................................................................... 41 3.7 PRODUTO FINAL ...................................................................................................... 41 4 DESCRIÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR ..................................................................... 42 4.1 DESCRIÇÃO GERAL ................................................................................................ 42 5 DESCRIÇÃO DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS (ENERGIA E CINEMÁTICA) ..... 44 5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS ............... 44 5.1.1 Planejamento das aulas ...................................................................................... 47 5.2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE ENERGIA .......................................................... 48 5.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE CINEMÁTICA .................................................... 49 6 DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA SOBRE ENERGIA.................................. 51 6.1 RELATO GERAL ....................................................................................................... 51 6.2 A DINÂMICA DAS CAIXAS DE FÓSFOROS ......................................................... 55 6.3 A APLICAÇÃO ........................................................................................................... 57 6.4 A AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 60 7 DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE CINEMÁTICA ....... 62 7.1 RELATO GERAL ....................................................................................................... 62 7.2 PROBLEMATIZAÇÃO ............................................................................................... 62 7.3 ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO ................................................................. 66 7.3.1 A experiência da arruela ..................................................................................... 66 7.4 A AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 73 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 77 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 80 APÊNDICES ..................................................................................................................... 83 APÊNDICE A .................................................................................................................... 84 Lista de exercícios sobre energia ............................................................................... 84 APÊNDICE B .................................................................................................................... 86 Questionário I ................................................................................................................. 86 APÊNDICE C .................................................................................................................... 87 Questionário II ................................................................................................................ 87 APÊNDICE D .................................................................................................................... 88 Dicionário de cinemática .............................................................................................. 88 APÊNDICE E .................................................................................................................... 89 Termo de utilização da pesquisa ................................................................................ 89 APÊNDICE F .................................................................................................................... 90 Modelo de relatório ........................................................................................................ 90 APÊNDICE G.................................................................................................................... 92 Produções acadêmicas decorrentes da pesquisa .................................................. 92 16 1 INTRODUÇÃO Uma crescente preocupação em torno do Ensino de Ciências, especialmente na área de Física, tem se constituído no sistema Educacional Brasileiro. Preocupação que tem gerado uma série de pesquisas especificamente nessa área. Os olhares para o Ensino de Ciência vão se construindo através do contexto histórico e social, sofrendo influência dos interesses sociais, econômicos e políticos. Podemos destacar especialmente a influência de interesses econômicos na construção curricular que, em boa medida, constroem a representação de Ciência dogmática que tentamos desconstruir atualmente. Enfrentamos hoje, em muitos ambientes escolares, uma situação de afastamento entre os conceitos ensinados em Ciências e a dimensão prática do cotidiano da Ciência. Esse afastamento se dá quando priorizamos o saber teórico em detrimento do saber prático. A construção do conhecimento científico passa por todas as dimensões: Teóricas, Práticas e Implicações Históricas/Sociais. A utilização do laboratório nas aulas, por exemplo, se torna uma ferramenta a mais para ajudar na construção do conhecimento científico, mesmo em um laboratório não estruturado. De acordo com Barbosa (1999) a prática experimental exerce importância fundamental no Ensino de Ciências, especialmente em Física, pois: Empregando-se a experimentação com laboratório não estruturado verificase que há uma maior eficiência quanto à ocorrência de mudança conceitual nos estudantes e, consequentemente, maior facilidade de aprendizagem de conceitos científicos quando se utiliza um ensino experimental baseado em uma abordagem que explora este tipo de atividade em comparação com o ensino tradicional. (Barbosa 1999) Construir um conhecimento científico tecnológico, a partir e para os fins da alfabetização científica, se torna uma demanda crescente cada vez mais nas salas de aula. Utilizar os recursos mais simples e acessíveis pode ser uma boa alternativa na busca por um Ensino de Ciência mais significativo para os alunos. Tornar o Ensino de Ciências, em especial o Ensino de Física, mais interessante, 17 aplicado à vida do aluno e contextualizado pode ser uma estratégia bem sucedida para atingir uma aprendizagem mais emancipadora e libertadora. A base dessa perspectiva de Ensino deve se pautar em conceitos cotidianos de temas Científicos, a partir de uma abordagem Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente – CTSA. Dessa óptica buscamos identificar em que medida a alfabetização científica e a aplicação de metodologias alternativas, nas aulas de Física, contribui para aumentar o interesse na disciplina e promover seu aprendizado? A hipótese inicial se refere diretamente à questão central do projeto. Para responder à questão central do projeto, assumimos que a utilização de metodologias alternativas nas aulas de Física serão mais agradáveis e tornarão o processo ensino aprendizagem mais efetivo. Esse é o principal pressuposto do projeto. A partir desse pressuposto inicial, identificaremos a forma que essas metodologias contribuem para o Ensino de Física. 18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS Analisando os aspectos qualitativos e quantitativos no que tange ao Ensino de Ciências, podemos destacar algumas informações relevantes quanto às pesquisas realizadas nessa área. Podemos considerar um campo fértil de discussões em Ensino de Física, a alfabetização científica. Alfabetizar cientificamente configura-se como um dos princípios do Ensino de Ciência, isso porque se o aluno não se apropria da linguagem própria da Ciência dificilmente construirá um conhecimento científico de fato. Considerar o Ensino de Ciências com um olhar mais amplo corrobora com o ideal de Educação libertadora. Assumir a importância social do conhecimento científico traz, ao mesmo tempo, o significado real do conhecimento e seu aspecto humanizador, constituinte no ato aprender. Freire (1987) nos mostra a importância do aspecto libertador da Educação, pela qual o individuo deve conquistar sua autonomia. Tratar de Educação significa retomar o papel da escola, tema sobre o qual Chassot (2000) desenvolve um breve apanhado sobre suas características e seu se papel no decorrer da história. Ressalta que, antes, o espaço escolar possuía o status de lugar de origem dos conhecimentos, e sugeriu um óbvio fluxo de conhecimento de dentro para fora da escola. Entretanto, após um imenso processo de globalização, hoje existem várias fontes de informação fora do espaço escolar, e devemos agregar as informações externas à escola. Essa dinâmica deve refletir na forma de Ensinar do professor. Vale ressaltar a diferença entre conhecimento e informação, a informação pode ser compreendida, nesse contexto como sendo um dado que apresenta, por si só, um fato isolado, ao passo que o conhecimento possui uma característica mais abrangente no sentido de que é um conjunto de fatos ou dados, que compõem uma competência ou habilidade específica, podendo ser estendida para contextos distintos daqueles apresentados inicialmente. 19 Ainda sobre a diferença entre informação e conhecimento, Santos (2002) deixa claro que, mesmo que cada vez mais o acesso à informação venha sendo democratizado, o acesso (ou não) ao conhecimento possui o poder de acentuar ainda mais as diferenças sociais, tendo em vista que o conhecimento pode ser considerado como um fator importante na inclusão social do cidadão. Com a ampliação do acesso às formas de comunicação como TV e internet, a escola deixou de ser a única fonte de informação, desta forma se torna necessário que a escola desempenhe cada vez mais o papel de construtora de conhecimento. Essa demanda torna necessário pensar um espaço escolar diferenciado, que não apenas seja destinado a passar informações, mas que se configure como um espaço para a reflexão e formação cidadã. De acordo com Chassott (2000), devemos romper com a visão na qual Ensino de Ciências na escola tem caráter de transmissão de informações, em que o melhor aluno é aquele com maior capacidade de “armazenar” mais informações (mesmo que não faça nenhuma relação lógica entre elas). Nesse ponto, pode-se ilustrar o tipo de educação chamada de Educação Bancária por Freire (1996). Ainda de acordo com Hazel &Trefil (2005); [...] é ter o conhecimento necessário para entender os debates públicos sobre as questões de ciência e tecnologia [...] O fato é que fazer ciência é inteiramente diferente de usar ciência. E a alfabetização científica refere-se somente ao uso da ciências.(p.12) Podemos compreender melhor as necessidades da Alfabetização Científica de acordo com a perspectiva apresentada. Tendo em vista a necessidade primeira de romper com o paradigma da Educação Bancária, a Alfabetização Científica se propõe a produzir um conhecimento mais significativo e libertador. O autor cita uma pesquisa sobre os PCN‟s para destacar que, mesmo com os esforços de romper a lógica estratificada das disciplinas, o documento não dá conta de conseguir a tão desejada interdisciplinaridade. Auler (2003) nos remete a duas formas de conceber a alfabetização científica. A concepção reducionista e a ampliada. A primeira trata da alfabetização científica 20 como uma perspectiva metodológica, que se atém aos aspectos técnicos, desconsiderando as conseqüências sociais do conhecimento científico. A segunda concepção envolve uma visão mais abrangente da alfabetização científica, relacionando o conhecimento científico a discussões que envolvem questões tecnológicas e sociais (CTS). Para que haja uma compreensão crítica das Ciências, em especial da Física, é importante que o aluno compreenda o conjunto semiótico científico e se aproprie dele, a fim de utilizar esse conhecimento de forma fluente e significativa. A linguagem possui um papel central nessa questão. De acordo com Bachelard (1972), existem obstáculos inerentes à aprendizagem, como os obstáculos epistemológicos, por exemplo. A linguagem também pode se apresentar como um obstáculo, na medida em que o aluno, por não se apropriar da linguagem científica, não consegue compreender o discurso científico, por vezes. Outro aspecto importante para contribuir para a alfabetização científica é a consciência de inacabamento da Ciência. Devemos possuir a visão de Ciência como uma sistematização do conhecimento, que possui momentos de estabilidade e instabilidade. A Ciência não tem caráter dogmático, estático e imutável, mas se constitui de conceitos válidos durante o tempo necessário para sua evolução. De Acordo com Popper (1975), a Ciência deve ser falsificável, mas não falsificada. O conceito de Falsificação faz referência a uma crítica ao positivismo de Comte, que via a ciência como sendo perfeita e acabada, pronta para oferecer respostas a qualquer pergunta com precisão e sem espaços para questionamentos. Popper é um dos autores que sustentam a ideia do falsificasionismo. Para ele uma teoria deve ser falsificável, mas não falsificada. No sentido que o conhecimento pode, e deve, ter espaços para o questionamento, deve admitir seu inacabamento e limites. CAROPRESO (2006) explica que, a partir da Visão de Popper: A falsificação de uma teoria levaria à busca de uma nova teoria que contivesse as partes não falsificadas da anterior, que explicasse as partes falsificadas desta e que, talvez, fosse aplicável a novos fenômenos. Embora não seja possível afirmar que uma teoria é verdadeira, é possível afirmar que ela é “a melhor disponível”, que ela é superior as suas predecessoras 21 no sentido de que ela é capaz de superar os testes que falsificaram as precedentes. (p 65). Dessa forma o conhecimento científico apresenta uma construção, que apoia-se em conhecimentos prévios, confirmando-os ou negando-os quando necessário. Essa dinâmica de estruturação do conhecimento científico, historicamente construído, deve ser apresentada aos alunos, de forma que eles formem uma representação social mais próxima da realidade do conhecimento científico. Uma das formas de levar o aluno a construir uma representação mais significativa de ciências pode se estabelecer pela linguagem, através da competência comunicativa científica. Segundo Bachelard (2007) os obstáculos epistemológicos, sejam eles estabelecidos por uma prática pedagógica ou por uma experiência cotidiana, formam uma condição necessária para a compreensão de um determinado conceito, fornecendo condições ideais para o aprendizado. O obstáculo epistemológico pode ser produzido por uma concepção incompleta, por exemplo. Quanto mais o aluno for levado a refletir sobre suas próprias decisões, em relação ao conhecimento a ser apreendido, maiores serão as possibilidades de transpor esses obstáculos. Malheiro (2005) ressalta a importância de trabalhar o aprendizado baseado em problemas ABP, pois nesta abordagem o aluno é levado a refletir em problemas reais com soluções em aberto. Não são oferecidas aos alunos as respostas certas, mas sim as perguntas certas, e a partir desse processo dialógico constitui-se um espaço fértil para o aprendizado. Devemos considerar um assunto quando tratamos de Ensino de Física em especial, a matematização do saber científico. Não podemos negar, nem negligenciar, os óbvios benefícios da relação do saber científico com os modelos matemáticos. Entretanto devemos ter a consciência que o saber não deve se aprisionar a uma visão matemática apenas, não deve se reduzir aos procedimentos aritméticos em si. 2.2 O CONCEITO DE CIÊNCIAS Em seu livro A construção das Ciências Gerard Fourez diferencia de forma bem clara as origens e aplicações das nomenclaturas de ciências diferentes. Explicitando 22 os fatores que diferenciam ciências puras e aplicadas. O autor discute sobre as noções espontâneas dos conceitos de ciências, e as diferencia em três aspectos: ciência “pura”, “aplicada” e “tecnologia”. Segundo o autor a visão aceita socialmente com mais frequência do primeiro tipo de ciência, é a de que a ciência pura é aquela que não apresenta implicações sociais de imediato. Ao passo que as outras duas representam uma ciência voltada para o desenvolvimento de conhecimento usado diariamente e produção tecnológica. De acordo com o autor: Chama-se Ciências puras, ou também Ciências fundamentais uma prática científica que não se preocupa muito com as possíveis aplicações com um contexto societário, concentrando-se na aquisição de novos conhecimentos. Desse modo, um físico que estuda partículas elementares será considerado como fazendo ciência pura ou fundamental. (FOUREZ, 1995, p.195) Em seguida o autor reflete sobre os processos de legitimação das ciências e conclui, de forma clara e fundamentada, uma relação de reciprocidade entre a legitimação dos dois tipos principais de ciências, pura e aplicada. Segundo o autor quando questionado em relação a validade e relevância de uma pesquisa de ciência pura, o pesquisador busca encontrar legitimação em uma possível aplicação futura de sua teoria em uma prática, ou afirma a importância do conhecimento por si mesmo. Em contrapartida quando é questionada a validade e relevância de uma pesquisa claramente aplicada, esta busca subterfúgios teóricos em busca de legitimação. A esse movimento de troca de legitimação o autor denominou como legitimações recíprocas. É definido o tipo de ciência de acordo com o seu objeto de estudo, o autor caracteriza que as ciências ditas puras possuem objetos de estudo definidos pelos seus próprios paradigmas internos. Enquanto que as ciências aplicadas possuem, em geral, um objeto de estudo que é definido e avaliado por um publico externo, atendendo, por exemplo, uma demanda social ou econômica. Ao apresentar um breve histórico da ciência, o autor assinala alguns momentos históricos que, segundo ele, influenciaram a criação das nomenclaturas. No campo das ciências puras ele destaca que o conceito foi criado pelo químico Liebig, no início do século XIX, quando se deu conta que era importante a formação de 23 doutores em ciências puras. O autor atribui, em parte, o surgimento do termo ciência aplicada à árvore da ciência de Porfírio, Século III d. C. Segundo ele, esse conceito de ramificação julgava como ciências puras o tronco da árvore, e as demais ramificações seriam subdivisões da ciência. Ideia que contribuiu para divisões internas dentro do conhecimento científico. O autor reflete sobre as relações de poder do conhecimento, e contextualiza de o termo „aplicada‟. Na visão do autor o que diferencia a ciência, neste ponto de vista, não é o fato de ser ou não aplicada, mas o lócus de sua aplicação. Cada conhecimento possui seu espaço, sua temporalidade e relevância, um conhecimento puro possui sua aplicação dentro da própria comunidade científica, enquanto que o conhecimento dito aplicado apresenta um espaço de utilização maior, que compreende do meu ponto de vista uma interseção com a comunidade científica uma vez que esta também faz parte da sociedade como um todo. Para ilustrar esse pensamento, podemos considerar uma simples representação de conjuntos (FIGURA 1), aqui o circulo maior representa a sociedade como um todo, onde se encontra a influência das ciências aplicadas (CA), interiormente, o circulo menor denota a sociedade científica, em que a ciência pura (CP) possui aplicação, juntamente com a ciência aplicada. Uma vez que a comunidade cientifica faz parte da sociedade como um todo. Figura 1 – Esquema de relação entre Ciência Pura/Aplicada Fonte: Fourez, Gérard (1995). 24 Esse esquema concorda com a ideologia do autor no esforço de reduzir a diferença epistemológica entre ciência pura e aplicada, trazendo para esse contexto a discussão de qual o tipo de aplicação estamos nos referindo. As ciências fundamentais e aplicadas possuem uma tendência de se justificarem reciprocamente (FOUREZ, 1995, p.204) Apesar de sua ampla utilização, o termo Ciência gera controvérsia quanto à sua definição. Para alguns contextos, a expressão pode remeter ao conjunto de conhecimentos sobre biologia que aprendemos nas séries finais do Ensino Fundamental, em outro contexto pode nos remeter ao fazer científico, nos remetendo a uma representação social de cientistas vestidos de jalecos brancos com expressões idiossincráticas clássicas, que povoam nosso imaginário. Em uma definição de dicionário “ciência (do latim scientia, traduzido por “conhecimento”) refere-se a qualquer conhecimento ou prática sistemáticos. Em sentido estrito, ciência refere-se ao sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido por meio de tais pesquisas”. Entretanto será que o método científico, a qual se refere essa definição, é uma condição sine qua non para definir um conhecimento como ciência? Podemos citar que, em casos recorrentes na história, o conhecimento científico foi construído de forma diferente do que se prescreve o método científico. O próprio Newton, que fora inspirado pelo método científico cartesiano, chegou a conclusões científicas por caminhos diferentes desse método (Chalmers 1993). O que difere, em termos gerais, esse conhecimento produzido por Newton do conhecimento popular que se acumula historicamente, baseado em evidências e experiências cotidianas? Uma teoria científica, legitimada e aceita como tal, exige alguns pressupostos segundo Khun (2003), além de ser verificável e geral deve ser coerente com o conhecimento científico construído até então. Enquanto um conhecimento popular não necessita de verificação imediata, um conhecimento científico deve ser verificável. Khun (2003) vai mais além e diz que se a teoria não mais se adapta ao comportamento natural das coisas, podendo-se então iniciar uma crise 25 epistemológica e uma nova teoria (paradigma) pode tomar o lugar da anterior, processo chamado por ele de revolução científica. Uma visão muito comumente encontrada sobre ciências, inclusive entre acadêmicos e cientistas, está relacionada com o caráter salvacionista da ciência, aproximando-se do conceito de que a ciência produz verdades inquestionáveis sobre os fenômenos aos quais se propõe estudar. Seria essa visão, quase dogmática, do conhecimento científico adequada? Bom, se nos referimos às inúmeras vezes em que uma teoria foi substituída por outra por demonstrar um comportamento natural errôneo, seria razoável dizer que não. Pensadores que estudaram o comportamento dos planetas, que possuíam uma visão ptolomaica do sistema solar mostraram-se incrivelmente equivocados após estudos e evidencias que revelaram, com o passar do tempo, o sistema heliocêntrico. Entretanto, esse conhecimento era de sua maneira específica, científico também. Isso nos traz elementos para considerar que o conhecimento científico possui caráter provisório e, sobretudo, questionável. Construir o saber científico pressupõe, a priori, utilizarmo-nos de conhecimentos e axiomas pré-estabelecidos por outros antes de nós que, por sua vez, estiveram sujeitos a influências sociais, políticas e econômicas da época que foram desenvolvidos. O conhecimento científico, nesse sentido, sofre influência do período histórico a que pertence, podemos então considerá-lo neutro como pressupõe a lógica de Descartes? Por esse ponto de vista a resposta pode ser considerada óbvia. A visão de incompletude do conhecimento científico pode ser encontrada em vários pensadores, entre eles Khun (2003), que define as revoluções científicas que ocorrem quando há rupturas de paradigmas científicos estabelecidos, sendo estes substituídos por novos. Essas revoluções de paradigmas só são possíveis quando o sujeito é levado a formular uma análise crítica em relação à sua práxis. De forma análoga temos que pensar na alfabetização científica como ferramenta para construir esse tipo de conhecimento, sob a óptica de Bruner, Oliveira (1973) 26 cita que “a descoberta de um princípio, ou de uma relação, por uma criança, é essencialmente idêntica – enquanto processo – à descoberta que um cientista faz no seu laboratório”. 2.3 ENSINO DE CIÊNCIAS E IMPLICAÇÕES SOCIAIS A partir de uma leitura aos artigos e publicações recentes sobre Ensino de Ciência encontramos com freqüência as crítica ao modelo de ensino tecnicista e às suas características de “despolitização” e desvinculação com a sociedade. De forma análoga ao sistema bancário de ensino, justificado pela falta de significados associados aos conteúdos. De acordo com (TEIXEIRA, P.M.M, 2003, p.178); [...] quando avaliamos o ensino de ciências (Biologia, Química, Física e Matemática); é notável que o perfil de trabalho de sala de aula nessas disciplinas está rigorosamente marcado pelo conteudismo, excessiva exigência de memorização de algoritmos e terminologias, descontextualização e ausência de articulação com as demais disciplinas do currículo. Em decorrência desse modelo excludente de ensino, são relacionadas algumas consequências da formação dos alunos. Do ponto de vista conceitual fica evidente uma estruturação incompleta e sem conexões entre os conteúdos. Outro problema visível é a ausência de conteúdos procedimentais e atitudinais. Mas talvez o pior de todos os fatores seja a ausência de visão crítica em relação ao conhecimento, Ciência e Tecnologia. O autor expõe uma análise panorâmica da Pedagogia histórico-crítica, baseada no conceito de Demerval Saviani, onde explicita que se trata de uma pedagogia que se empenha em compreender a questão educacional a partir do desenvolvimento histórico objetivo (Saviani, 1989, p. 23). Segue apresentando as principais características dessa Pedagogia, dando ênfase ao seu aspecto solidamente social. Nessa perspectiva a prática social é o ponto de partida do conhecimento, as relações sociais são as impulsionadoras do conhecimento. A partir de uma questão social (e a fim de solucioná-la muitas vezes) inicia-se o processo de construção de conhecimento. De maneira que o conhecimento final possua um significado e possa 27 ser utilizado para modificar a sociedade de forma dialética. Nesse ponto podemos apontar uma convergência entre a Pedagogia HistóricoCrítica e o movimento CTS. Primeiramente é citada a prática social das duas teorias que, como o próprio autor explicita, é a característica mais marcante entre elas. É apresentado um diagrama, adaptado por Ainkenhead (1990), em que é apresentada a dinâmica da produção do conhecimento na perspectiva CTS e Histórico-Crítica. Em que o conhecimento começa e termina na/para sociedade. Outras características comuns são citadas, entre elas: Objetivos Educacionais, Metodologias de Ensino, Conteúdos e Papel dos Professores. Todos esses aspectos apresentam notável semelhança nas duas correntes teóricas, o que evidencia uma tendência de aproximação ideológica entre elas. Por fim Teixeira evidencia sua preocupação com a formação de professores que, segundo sua opinião e indícios em pesquisas citadas, não dá conta das dimensões sociais, humanas e políticas necessárias para o desempenho da atividade pedagógica. Nesse eixo ele se refere à falta de olhar crítico na formação dos professores e na despolitização do olhar do professor. Indica também, lembrando Freire neste ponto, os perigos de uma educação neutra, sem visão crítica e não formadora de cidadãos conscientes. Dentro da temática que relaciona o conhecimento e suas implicações sociais, podemos citar (Santos, 2002) que trabalha com o conceito de que o conhecimento pode ser tratado como um capital, que, assim sendo definido, tem o poder de excluir ou incluir um indivíduo socialmente. A partir dessa óptica podemos considerar que, em um processo de ensino aprendizagem democrático e inclusivo, reside uma importância que vai além das fronteiras didáticas, mas também uma importância social. De acordo com (Santos, 2002) todo conhecimento é um autoconhecimento, o autor sustenta sua afirmação por meio de uma releitura da definição entre sujeito e objeto. Considerando-se que todo objeto de estudo deve ter suas especificações, condições, restrições e especificidades escolhidas pelo sujeito que o estuda, o autor 28 afirma que o objeto de estudo é influenciado diretamente pelo sujeito, não em sua natureza, mas na forma com que é estudado, colocando nas palavras do autor: Sabe-se hoje que as condições do conhecimento científico são mais ou menos arbitrárias, assentando em convenções que, entre muitas outras condições possíveis, selecionam as que garantem o desenrolar eficiente das rotinas de investigação. O objeto de investigação não é, afinal, mais do que o conjunto das condições não selecionadas. Se, por hipótese, fosse possível levar até o fim a enumeração de condições do conhecimento, não restaria objeto para conhecer. Por outras palavras, é tão impossível um conhecimento científico sem condições como um conhecimento plenamente consciente de todas as condições que o tornam possível. A ciência moderna existe num equilíbrio delicado, entre a relativa ignorância do objeto do conhecimento e a relativa ignorância das condições do conhecimento que pode ser obtido sobre ele. (Santos, 2002, p.82). Embora a concepção do autor, em relação ao conhecimento científico, vá além das concepções falsificacionistas já apresentadas neste trabalho, elas convergem no que diz respeito ao olhar para a Ciência enquanto a construção de um conhecimento que se dá superando conceitos e, sobretudo, historicamente. Neste ponto podemos destacar o aspecto de inclusão que o conhecimento científico pode conter, ao ser visto como um conhecimento não dogmático, mas um conhecimento pautado na investigação. Podemos, a partir desse olhar, assumir uma postura mais investigativa incluindo o aluno de forma ativa no processo de aprendizagem, tirando o aluno de uma posição de “observador”. Os autores (Angotti, J. A. P, Auth, M. A. 2001) ressaltam a problemática envolvida em sua pesquisa, a forma como historicamente o homem se relaciona com o ambiente. Chama a atenção o fato de que a relação exploratória do homem com a natureza possui grande influência na forma como vemos e nos relacionamos com o meio ambiente. É destacado o fato de que o desenvolvimento tecnológico, outrora visto como impulsionador do desenvolvimento social, foi se mostrando prejudicial para uma grande parcela da sociedade. O que inicialmente parecia um bem inegável a todos, com o passar dos anos revelou outras facetas. À medida que o uso abusivo de aparatos tecnológicos tornava-se mais evidente, com os problemas ambientais cada vez mais visíveis, a tão aceita concepção exultante de C&T, com a finalidade de facilitar ao homem explorar a natureza para o seu bem-estar começou a ser questionada por muitos. (Angotti, J. A. P, Auth, M. A. 2001, p.15) 29 Com o passar do tempo a lógica da exploração e do crescimento como busca de uma sociedade melhor foi mostrando suas fragilidades. Aumento da desigualdade, degradação dos recursos naturais entre outros fatores negativos. Com essa dinâmica de mudança de paradigmas, alguns países europeus (como a Itália) começaram a adquirir uma postura de redução de crescimento na tentativa de minimizar os efeitos colaterais já identificados. Mais tarde, no ano de 1972 acontece a conferência de Estocolmo, da qual o Brasil fez parte, mesmo não tendo aderido à lógica de desenvolvimento sustentável. Nesta época o Brasil mantinha conscientemente um ritmo alto de crescimento econômico/industrial, o que tornou sua participação na conferência um tanto quanto irônica, na visão dos autores. Com o passar do tempo, uma ideia da conferência foi sendo discutida de forma um pouco mais avançada até que com a reunião Rio 92 é consolidada a ideia de desenvolvimento sustentável que, na época, praticamente não influenciou as ações do Governo ou iniciativa privada. Inclusive suscitou a desconfiança de alguns autores acerca do termo, que se mostrava vago e facilmente manipulável. Os autores fazem também uma reflexão interessante sobre o fato de que em uma sociedade determinista e excludente, por mais forte que seja esse paradigma, em algum momento haverá uma dinâmica de revolta contra a evidente exclusão social, conclusão fundamentada em Freire (1996). Seguimos a discussão aprofundando o conceito de Educação Ambiental para além das especificidades ecológicas/biológicas, visto que esta é uma abordagem de apenas um dos aspectos da problemática Ambiental. O conceito de Educação Ambiental vai além da Ecologia, ele perpassa as demais ciências da Natureza e também engloba as relações do meio ambiente com a sociedade. Áreas de conhecimento como Sociologia e Filosofia devem estar intimamente relacionadas com a discussão de CTS, de forma dialética inclusive. O tema central do texto de (Angotti, J. A. P, Auth, M. A. 2001) trata de como a Educação Científica pode se envolver nas questões ambientais para humanizar e criar consciência crítica no indivíduo. É de extrema necessidade que a Educação Ambiental consiga romper com a visão antiga de ciência onde nós somos parte 30 separada da natureza, e conseguir fazer com que o homem se reconheça parte de um todo, que depende do Ambiente para existir. E, obviamente, devem coexistir de forma sustentável. No percurso do texto os autores citam uma experiência bem sucedida com um grupo de professores. Foi realizado um trabalho de intervenção buscando a cooperação de um grupo de professores de Física, Química e Biologia, a fim de tentar minimizar a fragmentação do conhecimento. Durante a pesquisa eles citam algumas dificuldades, como horário de planejamento reduzido, e outras de ordem pessoal, como a resistência à mudança. Para (CHASSOT, 2002, p.93) a ciência pode ser considerada como uma linguagem. Ao assumir essa perspectiva o autor considera um paralelo existente entre a linguagem científica e um idioma. Ele faz uma comparação entre uma pessoa que não conhece a linguagem tipicamente científica e outra que não se apropriou de algum idioma desconhecido, e ambas não são capazes de reconhecer ou diferenciar elementos desses tipos de linguagem. Nesse sentido ser Alfabetizado Cientificamente deve incluir uma apropriação da semiótica científica, a fim de utilizar esse conhecimento de forma fluente e significativa em seu cotidiano. Ainda de acordo com Chassot (2002), é importante para o processo de Alfabetização Científica possuir a visão de Ciência como uma evolução do conhecimento, que possui momentos de estabilidade e instabilidade. A Ciência não tem caráter dogmático, estático e imutável, mas se constitui de conceitos válidos durante o tempo necessário para sua evolução. E esse modelo dogmático precisa ser repensado para a verdadeira construção de um Ensino de Ciências. 2.4 CURRICULO E ENSINO DE CIENCIAS Os autores Franco, C. & Sztajn, P. (1999) ressaltam que as inovações tecnológicas ao longo da história, em especial o programa espacial de lançamento do Sputnik, impulsionaram a área de pesquisa em Ensino de Ciências, tanto no exterior quanto 31 no Brasil. Ainda nesse tópico os autores lembram o advento da SBF e demais comunidades cientificas, como grupos que aderiram à nova tendência de pesquisas. O que representou um marco que influenciou no pensamento científico da época e na maneira de pensar o Ensino de Ciências. (LOPES, A. C. & MACEDO, E., 2004), ressaltam de forma significativa o preconceito, desenvolvido na época da ditadura, em relação aos livros acadêmicos de origem soviética. Durante o forte período de opressão ao comunismo no Brasil, o governo considerou tais livros como livros de autores vermelhos, de maneira que eles não eram aceitos nas academias Brasileiras devido aos seus ditos conteúdos comunistas. O autor relembra que havia uma lista de livros expressamente proibidos, lista que se assemelha ao Index librorum prohibitorum. Essa dinâmica política influenciava diretamente a construção curricular em geral, principalmente no Ensino de Ciências. Ainda sobre a evolução da área de Ensino de Ciências e Matemática, os autores chamam a atenção para as ações do CNPq que, no seu comitê assessor da área de Educação, passou a incorporar um membro para a área de Ensino de Ciências e Matemática, relacionando a esse fato o aumento dos programas de pós-graduação nesta área. Tomando como referência o considerável aumento de pesquisadores nesta área, deu-se início a um processo de trocas de conhecimento entre outras áreas de forma recíproca. Na análise dos autores esse fluxo de conhecimento apresenta-se de forma natural e desejável, entretanto, simplesmente esse fato de reciprocidade não define a aceitação por completo da área do conhecimento. Os autores tratam exclusivamente da interação entre os campos e exemplos de influências acadêmicas recíprocas. Para iniciar a reflexão eles citam um trabalho desenvolvido na França, por Chevallard, que inicialmente teria sido publicado em um periódico específico de Educação Matemática. Posteriormente houve uma apropriação do trabalho de Chevallard por pesquisadores de outras áreas, dando à pesquisa um caráter integrador que dialoga com outras áreas de conhecimento. 32 Em outro exemplo o autor cita um trabalho sobre multiculturalismo, que passou por um processo de apropriação semelhante. Neste segundo exemplo, torna-se evidente a preocupação de fazer com que o Ensino de Matemática leve em consideração também o aspecto cultural do aluno. Levando uma visão mis crítica ao Ensino de Matemática. Outra abordagem realizada trata da formação continuada do professor. Dentro desse contexto os autores se validam da visão de que o saber docente vai além da formação acadêmica, ele depende muito da própria experiência de prática pedagógica e da maneira de olhar o mundo. Para legitimar essa ideia os autores fazem algumas citações de Nóvoa. Tendo em vista esta forma de analisar a formação docente, os autores continuam desenvolvendo sua argumentação no sentido de que a própria escola é o lócus da formação continuada, no sentido mais límpido da expressão. Posteriormente algumas políticas públicas são elencadas como exemplo de formações continuadas que não corroboram com a ideia central de Nóvoa. Especificamente o programa Proficiências é alvo de análise neste ponto. Segundo os autores, a natureza desse programa de formação continuada não favorece a real mudança de práxis em sala de aula. De acordo a análise realizada, os conhecimentos desenvolvidos nesses tipos de programa apresentam divergências em relação à sua aplicação em sala de aula, fato constatado por alguns relatos de coordenadores do programa. Visto que algumas habilidades docentes só podem ser desenvolvidas no ambiente escolar em si. Para fechar a sua explanação, os autores reforçam a identidade da área de pesquisa em Ensino de Ciências, esclarecendo que essa identidade possui caráter libertador e emancipador. Relembram que mesmo os programas analisados no texto apresentam suas contribuições, mesmo que não da melhor forma possível. E completa, de forma essencial e crítica, que os resultados na Pesquisa Educacional devem ser acompanhados de políticas públicas adequadas para implementação, para que, efetivamente, a sociedade possa se beneficiar do conhecimento produzido na academia. 33 Com vistas a contribuir para a visão de proposta curricular apresentada até aqui, que passa por um Ensino de Ciências de caráter significativo, contextualizado e libertador, podemos citar um trecho dos PCN´s sobre o Ensino de Ciências: Enfim, a aprendizagem na área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, indica a compreensão e a utilização dos conhecimentos científicos, para explicar o funcionamento do mundo, bem como planejar, executar e avaliar as ações de intervenção na realidade. (Brasil, p.20, 2000) A partir de uma perspectiva mais abrangente podemos considerar que o currículo vai muito além da proposta curricular em si, mas compreende todas as ações desenvolvidas dentro e fora do espaço escolar, que constituem o fazer pedagógico da escola. A partir desse prisma podemos considerar que, de certa forma, mesmo que uma proposta curricular seja a mesma para escolas diferentes, o currículo de fato, não é o mesmo. A importância dessas considerações reside no fato de que os conteúdos, a metodologia e os recursos utilizados pelo professor devem sofrer influências do contexto no qual está inserido. Freire (1987), por exemplo, considera o contexto social dos alunos um fator decisivo para determinar sua prática docente, na alfabetização. Pois, é a partir dessa realidade, que são desenvolvidas atividades que tornam coerente a produção de conhecimento para o aluno, ou seja, a partir do seu próprio contexto são desenvolvidas as situações de Ensino. 2.5 A ARGUMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA Um aspecto importante do processo de ensino aprendizagem reside na linguagem, mais precisamente na dimensão argumentativa da linguagem. É através da argumentação que os conceitos científicos são construídos e validados, e da mesma forma podem ser aprendidos. Para (NASCIMENTO, S. e VIEIRA, R. 2008) a linguagem pode ser considerada como uma mediadora entre o homem e a natureza. É através da linguagem que se dão os processos de aprendizagem e apropriação do conhecimento, em especial do conhecimento científico. Dentre os diferentes discursos possíveis na linguagem, a 34 argumentação se mostrou um dos discursos com maior possibilidade de promover a aprendizagem. As práticas argumentativas em sala de aula se mostram excelentes instrumentos no processo ensino aprendizagem, (VILLANI, 2002) indica que, apesar de pouca utilização desse tipo de prática argumentativa em sala, ela apresenta uma série de benefícios no aprendizado, principalmente no que diz respeito à participação do aluno durante as aulas. De acordo com o autor, fazer com que os alunos exercitem a argumentação, além de promover mais participação nas aulas, promove também a construção mais clara dos conceitos desenvolvidos em sala uma vez que, ao desenvolver um argumento o aluno deve, a princípio, pensar a respeito das premissas que irão fundamentar sua fala. A experiência também proporciona aos alunos uma vivência do discurso utilizado na ciência normal. Além disso, melhorar a habilidade argumentativa dos alunos é importante no sentido que a argumentação é utilizada em diversos aspectos da vida, em diversas situações além da sala de aula. De acordo com (TOULMIN, 2001) um discurso argumentativo possui um padrão e, se os elementos que compõem esse padrão são válidos, então a estrutura completa do argumento também pode ser validada. O padrão de argumento de Toulmin pode ser ilustrado pelo esquema a seguir: Dos seis elementos estruturais que compõem um discurso argumentativo, três são 35 essenciais para a construção de um argumento válido, o dado (D) que são o conjunto aos quais serão fundamentadas as afirmativas, a garantia de inferência (G) que realiza a mediação entre o dado (D) e a conclusão (C) e a conclusão (C) que é a afirmação, o objetivo final do argumento. Apenas com esses três elementos já é possível estabelecer uma argumentação válida. Os demais elementos propostos por Toulmin dão suporte e validade à construção do argumento. O apoio (A) é um suporte dado à garantia de inferência (G) com o intuito de reforçar a relação estabelecida entre (D) e (C), o apoio (A) pode ser, por exemplo, uma referência indiscutível como um axioma ou uma lei. O qualificador modal (Q) deve ser um elemento que confere uma maior confiabilidade à conclusão, uma referência externa ao próprio argumento a qual legitime a conclusão como correta. Por fim a refutação (R) que estabelece as condições sob as quais o argumento possui validade é a refutação que limita o poder do argumento quanto suas condições de contorno, se a condição estabelecida pela refutação não é obedecida então o argumento não é válido, e em contrapartida se as condições são satisfeitas então a garantia de inferência, junto com os outros elementos, garante a validade do argumento. A estrutura de argumentação, da forma como foi apresentada, mostra a estrutura argumentativa num monólogo, entretanto para que haja diálogo entre interlocutores alguns pressupostos devem ser observados. De acordo com (BRETON, 1999) para que um orador consiga expor seu argumento a um auditório de ouvintes, por exemplo, eles devem compartilhar, em boa medida, os códigos utilizados na construção do argumento. Os elementos, fatos e códigos utilizados para validar o argumento do orador devem ser compartilhados pelo auditório, de forma que as conclusões estabelecidas pelos envolvidos no diálogo sejam as mesmas. Isso ressalta a importância que deve ser destinada à linguagem utilizada durante uma argumentação, em sala de aula, por exemplo, a linguagem científica deve ser utilizada, mas a compreensão ficará prejudicada se os alunos não tiverem se 36 apropriado dessa linguagem antes. Neste caso, em que os alunos não compartilham dos mesmos códigos do professor, a argumentação em forma unilateral (Apenas o professor) pode perder o sentido. Santos (2002) defende, de um ponto de vista social, a prática argumentativa como uma prática que favorece a conquista da autonomia do educando enquanto sujeito em seu conhecimento, de acordo com o autor a argumentação deve incitar a busca pelo significado. O autor trata a falta de interesse pela interpretação, pelo significado, como sendo um grave problema que deve ser combatido. A renúncia à interpretação, renúncia paradigmaticamente patente no utopismo automático da tecnologia e também na ideologia e na prática consumista. (Santos, 2002, p.95). Com isso podemos considerar que a utilização de uma prática argumentativa, como opção metodológica, pode ser justificada não apenas pela sua aplicação cognitivista instrumental, mas também por seu caráter inclusivo. Santos (2002) considera também que há uma monopolização na interpretação do conhecimento, sobretudo o conhecimento científico. Fato que, de acordo com o autor, deve ser considerado também como um problema do ponto de vista da democratização do conhecimento. Ele afirma que devemos almejar o conhecimento emancipatório que, de certa forma, dialoga com o conceito de Emancipação defendido por Freire, e com o conceito de alfabetização científica. 37 3 METODOLOGIA 3.1 O ESTUDO Para a realização da pesquisa foram aplicadas duas sequências didáticas que envolveram uso de metodologias alternativas para o Ensino de Física. O grupo observado foi uma turma do primeiro ano do Ensino Médio. Durante parte do ano letivo de 2012. Para a coleta de dados foi realizado um levantamento etnográfico do grupo e a observação participante, de caráter qualitativo. A observação participante ou ativa consiste na participação real da vida de um grupo, chegando ao conhecimento da vida deste grupo a partir do interior dele próprio. Ela pode assumir duas formas distintas, a natural, (adotada nessa pesquisa), quando o observador pertence ao grupo, e a artificial onde o observador se integra ao grupo para realizar uma observação. (GIL, 2006). 3.2 LOCAL DA PESQUISA A pesquisa em questão aconteceu, tendo a devida autorização da direção escolar, no Instituto Federal Fluminense rua Dr. Siqueira, Pq Dom Bosco - Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro, Brasil. Em capítulos posteriores será realizada uma descrição do espaço escolar incluindo aspectos importantes para a melhor compreensão do contexto no qual se passa a pesquisa. 3.3 SUJEITOS A classe que participou da aplicação da Sequência Didática é uma turma de primeiro ano de Ensino Médio Integrado ao Ensino Técnico em Automação Industrial. Essa sala apresenta um total de 37 alunos. Em todas as passagens do texto em que se torna necessária a narrativa sobre as falas dos alunos, foi tomado o cuidado de não revelar a identidade dos alunos 38 envolvidos na pesquisa. Para tanto as falas dos alunos foram identificadas apenas por números. Toda a pesquisa foi desenvolvida observando as normas sugeridas em comissões de ética em pesquisa, para resguardar os dados gerados na pesquisa de forma ética. Para um melhor conhecimento do público em questão foi aplicado uma breve questionário para os alunos, na ocasião 32 alunos responderam ao questionário. 1 Os dados abordados nessa caracterização farão menção à esse número de alunos, visto que não podemos considerar na estatística as opiniões dos que não responderam ao questionário a princípio. Durante a aplicação do questionário foi dito aos alunos que não era necessário a identificação, que não se tratava de nenhuma espécie de teste ou avaliação de conhecimentos. Foi explicado à turma que era um questionário para um levantamento de dados e opiniões e que eles deveriam responder às perguntas sem se preocuparem de estarem certos ou errados. Essa orientação foi dada pelo fato de haver questões que, aparentemente, aparentam avaliar o conhecimento. A média de idade dos alunos da turma é de 15 anos aproximadamente e do total de alunos 18 são do sexo masculino e 14 do sexo feminino, configurando-se uma turma que não apresenta grande hegemonia de um gênero especificamente, de forma que o gênero pode ser considerado, em boa medida, uma variável que pouco influencia a diferença entre os dados. Do total de alunos entrevistados aproximadamente 28% responderam que estudaram em instituições públicas no Ensino Fundamental, os outros 72% dos alunos estudaram em instituições particulares. Quando perguntado a todos os alunos se haviam estudado Física no Ensino Fundamental, apenas 12% responderam negativamente. O que mostra que, de alguma forma, a maior parte dos alunos já havia tido contato com a Física como uma disciplina acadêmica. Os alunos que responderam negativamente de certa forma também já tiveram contato com a Física, talvez não como um componente curricular distinto dos outros, mas dentro da disciplina Ciências. 1 Questionário disponível em apêndice. 39 No sexto ano do Ensino Fundamental, por exemplo, um dos componentes curriculares de Ciência propõe o estudo do sistema solar, planetas e órbitas. Entretanto quando questionados sobre o estudo de Física os alunos não conseguiram estabelecer essas relações. Quando perguntado, aos alunos que disseram ter estudado Física anteriormente, se haviam estudado sobre Energia apenas 18% responderam que não tinham estudado. Essa pergunta em especial teve o objetivo de ajudar a identificar os conhecimentos prévios que os alunos possuíam sobre o tema abordado na Sequência Didática, pois a partir de então, poderiam ser planejadas as ações da problematização. E quando perguntados se consideravam que Energia era um tema importante apenas um aluno assinalou que não era importante, o que indica que o tema é de alguma forma relevante aos alunos. O convívio com os alunos, ao longo do tempo, foi revelando características idiossincráticas da turma. Essas características foram evidenciadas não através de questionários, mas através da convivência e observação. Quando comparada a outras turmas com que trabalhei, esta apresenta alunos com um foco maior nos estudos, o que eu caracterizaria como maior maturidade. A turma não apresenta linguagem de baixo calão ou inadequada para o ambiente escolar, a maioria dos alunos é de fácil convivência e interessados no propósito de estudar, obviamente essa característica em particular ajuda o sucesso da metodologia em si. Entretanto apresenta algumas características de qualquer outra turma de Ensino Médio, como muita conversa e barulho nos momentos ociosos. A estrutura física da sala de aula é adequada para o trabalho docente, a sala apresenta carteiras para todos os alunos, o tipo de carteira é com braço embutido. A sala conta com dois ventiladores de teto, duas grandes janelas no fundo da sala, um quadro branco e uma TV com entrada para conexão com computador. A sala fica no terceiro andar do bloco D da escola, e possui acessibilidade para cadeirantes, embora não haja nenhum nesta sala em particular. 40 3.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS Os instrumentos de coleta de dados envolveram basicamente a observação participante, relatórios escritos durante, e imediatamente após, a aplicação das sequências didáticas, aplicação de questionário, leituras de documentos oficiais, leitura de livros e artigos na área de ensino e registro fotográfico de momentos durante a aplicação. 3.5 CATEGORIAS DA PESQUISA Realizar uma categorização de dados pode se resumir em focar a análise em aspectos específicos que podem estar associados aos aspectos semânticos, comportamentais sociais e de linguagem. De acordo com Moraes (1999) a categorização pode ser dada por critérios pré estabelecidos, analogias ou semelhanças entre os dados. Ainda de acordo com Moraes (1999): A categorização é, portanto, uma operação de classificação dos elementos de uma mensagem seguindo determinados critérios. Ela facilita a análise da informação, mas deve fundamentar-se numa definição precisa do problema, dos objetivos e dos elementos utilizados na análise de conteúdo. Ao analisar as falas dos alunos durante a aplicação das sequências didáticas, em especial na sequência sobre cinemática, a categorização incluiu: A frequência da ocorrência de expressões Repetição de idéias ou modelos entre os alunos Núcleo lógico de cada ideia apresentada (comparação com modelos) Contexto de sala de aula em que se deu a fala De acordo com o objetivo de cada análise algumas categorias foram adicionadas, e em todas as análises devemos incluir, sobretudo, a característica subjetiva da análise que está relacionada com aspectos intangíveis enquanto categorização. 41 3.6 LIMITES DA PESQUISA A pesquisa tem caráter qualitativo e se baseou na análise de metodologias alternativas que fizeram parte de duas sequências didáticas aplicadas em uma mesma turma. Não foi objetivo dessa pesquisa realizar comparações do desempenho da turma, ou a eficiência da metodologia, com outra turma distinta. 3.7 PRODUTO FINAL A pesquisa tem como um de seus objetivos gerar um produto final, destinado aos professores que trabalham com a disciplina de Física, trazendo alguns resultados da pesquisa bem como as metodologias utilizadas no desenvolvimento do projeto. O produto final é um Guia Didático que compõe a coleção de guias didáticos produzidos pelo programa EDUCIMAT, com a capa colorida e em formato de livreto, trazendo as práticas pedagógicas desenvolvidas na pesquisa. Esses guias serão impressos pela gráfica do IFES, de forma que receberão ISBN e estarão disponíveis no site do programa EDUCIMAT. A principal característica do produto final deve ser sua utilidade prática para o professor, como um material de consulta que disponibilize fontes bibliográficas, resumos e conceitos que auxiliem o professor de Física a nortear sua práxis de acordo com as demandas atuais no Ensino de Ciências. 42 4 DESCRIÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR 4.1 DESCRIÇÃO GERAL A escola que atualmente é o campus Campos – Centro do Instituto Federal Fluminense iniciou seu funcionamento em 23 de Janeiro de 1910 junto com outras escolas que eram denominadas, pelo então presidente da república Nilo Peçanha, como Escolas de Aprendizes e Artífices. A escola tinha como finalidade oferecer às pessoas menos favorecidas um ofício para que pudessem exercer uma profissão. Assim que foi inaugurada a escola oferecia cinco cursos: alfaiataria, marcenaria, tornearia, sapataria e eletricidade. Pouco mais de uma década mais tarde a escola mudaria sua denominação para Escola Industrial e Técnica. Vale ressaltar que a escola em questão originalmente funcionava em um endereço diferente do atual. Atualmente a escola está situada na rua Dr. Siqueira, Pq Dom Bosco - Campos dos Goytacazes - RJ. Esse é o endereço desde março de 1968. A escola apresenta uma infraestrutura de grande porte, na escola existem aproximadamente 530 servidores, atuando em diversas áreas, e aproximadamente 2 5300 alunos no total. A escola funciona, quase em sua capacidade máxima, em três turnos e oferece cursos que vão de qualificações de mão de obra de curta duração até cursos de mestrado. Entretanto o maior número de matrículas está no Ensino Médio, Médio Integrado ao Técnico e cursos Técnicos concomitantes e subsequentes. Como a escola oferece uma grande diversidade de cursos a sua clientela possui também uma característica heterogênea. Os cursos de Ensino Médio e Médio Integrado, em geral, apresentam alunos com idade regular e com condições socioeconômicas de classe média. Esse perfil pode estar associado ao fato de haver um processo seletivo para 2 De acordo com o site oficial do Instituto, disponível em “Referências”. 43 ingresso e, neste caso, os alunos que estudaram em instituições particulares, em geral, são mais bem sucedidos em relação aos que estudaram em instituições de Ensino Médio estaduais. Os cursos de PROEJA por sua vez possuem um público alvo composto, em grande parte, por alunos mais velhos que já estão inseridos no mercado de trabalho. Uma característica marcante se encontra nos cursos superiores que apresentam um grupo significativo de alunos que são provenientes dos cursos de nível médio da própria escola. No que diz respeito ao modelo de gestão escolar, a escola segue a estrutura dos demais Institutos Federais, por apresentar um grande espaço físico, diversos cursos diferentes, muitos alunos e muitos servidores, a escola possui uma cadeia hierárquica extensa que vai do Reitor até os coordenadores de áreas dos cursos. Dentro dessa organização um professor do Ensino Médio responde à coordenadoria de Ensino Médio e Médio Integrado. Essa coordenação é a responsável por revisar as ementas dos cursos de nível médio e ajustar o Projeto Político Pedagógico (PPP) a cada ciclo letivo. A escola possui seu próprio PPP, entretanto o documento geralmente não é apresentado aos professores que ingressam na Instituição, e não existe um espaço para o estudo desse documento. A orientação pedagógica é fornecida em reuniões com a coordenação semanalmente, ocasião em que são dadas informações burocráticas e administrativas da instituição, tais como atualização de calendário e prazos para entrega de notas. 44 5 DESCRIÇÃO DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS (ENERGIA & CINEMÁTICA) 5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS Durante a aplicação das sequências didáticas, e mesmo antes disso, a práxis de Ensino têm sido pensada em longo prazo, planejada em etapas previamente estabelecidas. A elaboração de todos os planos de aula aconteceu no tempo do planejamento e preferencialmente em casa. Particularmente antes da execução dessas SD‟s, em particular, houve uma preparação e reflexão sobre quais atividades deveriam ser mais adequadas. As concepções de Ensino que orientaram o planejamento e a execução das SD‟s foram aparecendo a partir da necessidade de incluir os alunos que apresentam dificuldade na matéria e dificilmente participariam de uma aula tradicional. A pedagogia do oprimido (Freire, 1988), a pedagogia da autonomia (FREIRE, 1996), o sócio-interacionismo de Vygotsky são alguns dos princípios que justificam a escolha da metodologia. Em sua tese, “A função do problema no processo ensino-aprendizagem de Ciências: Contribuições de Freire e Vygotsky”, Gehlen (2009) faz considerações sobre as possíveis aproximações entre as teorias cognitivistas de Vygotsky e as considerações sociais de Freire. Um ponto de convergência entre as contribuições desses autores está na problematização dos temas a serem estudados. Em relação ao suporte Institucional o professor recebe as oportunidades que, em linhas gerais, são necessárias para a realização do trabalho docente. Semanalmente são realizadas reuniões com as coordenações dos cursos, o professor tem acesso livre à uma biblioteca bem equipada. Na escola em questão o professor tem à sua disposição um computador exclusivo para uso em atividades didáticas como planejamento de aulas, elaboração de notas e utilização em sala de aula. Além disso, os profissionais têm o apoio da instituição para a participação em eventos acadêmicos como congressos por exemplo. Fato que contribuiu para a elaboração e aplicação das SD‟s. 45 Particularmente em relação à turma observada o relacionamento do professor com a turma é leve, com poucos e isolados casos de indisciplina. Em grande parte do tempo os alunos conseguem manter a atenção tanto nas atividades quanto nos momentos de aula expositiva do professor. Durante a aplicação das SD‟s, em especial, houve um grande esforço do professor para que os momentos de aula fossem agradáveis. O processo de aplicação de metodologia foi paralelamente acompanhado pelo registro escrito das manifestações dos alunos durante as aulas. Essas anotações, realizadas em um caderno, tiveram o objetivo de registrar para análise futura a evolução da metodologia e suas influências sobre os alunos. Baseado nessas informações pode-se perceber que houve alto índice de participação por parte dos alunos, uma vez que em diversas circunstâncias surgiram perguntas e exposições de pensamentos por parte dos alunos. Como um dos objetivos propostos pela abordagem era propiciar maior liberdade para que os alunos expressassem suas ideias e modelos, referentes ao assunto (Energia ou Cinemática) ou não, pode-se concluir que houve êxito nesse aspecto. Inicialmente durante o levantamento etnográfico inicial a reação dos alunos foi claramente de estranhamento porque, mesmo explicando o propósito do questionário, ainda lhes parecia diferente responder a um questionário que não tivesse questões com o objetivo de avaliar, dar uma nota. Essa conclusão se justifica pela observação dos alunos realizada na ocasião, nesta oportunidade foi observado que alguns alunos trocavam olhares de desconfiança, outros buscavam opiniões de colegas para elaborar suas próprias respostas, talvez em busca de uma resposta “certa”. Observou-se que o estigma do “certo” ou “errado”, incentivado principalmente pelo modelo escolar, atrapalhava alguns alunos de confiarem em seus próprios conhecimentos e opinar sobre um assunto. Posteriormente nas etapas de problematização e organização do conhecimento os alunos tiveram um comportamento mais natural, principalmente durante a problematização. Durante a organização do conhecimento, por apresentar 46 momentos de aulas expositivas, não houve indícios de grandes surpresas por partes dos alunos em relação à metodologia, possivelmente porque as aulas expositivas representam para eles um lugar comum. Uma observação relevante que pode ser mencionada é em relação às dificuldades dos alunos durante o processo de aprendizagem. Em aulas expositivas habituais é relativamente comum que o professor, após a explicação de um novo conteúdo, se volte para a turma e faça a pergunta: “alguma pergunta?” ou ainda “alguém não entendeu?”. Obviamente qualquer pergunta dessa natureza tende a desencadear várias reações imediatas. Um aluno que não possui pudor em expor aos colegas suas dúvidas provavelmente aproveitaria o momento para tirar sua dúvida. Outro aluno que possuir alguma dificuldade de compreensão poderá evitar perguntar por vergonha de expor sua dúvida por diversos motivos. Ao perguntar se alguém não entendeu o professor automaticamente cria dois grupos distintos: os que entenderam e os que não entenderam. Se o conteúdo é compreendido por grande parte dos alunos de imediato então, de forma automática, os que estiverem no grupo da não compreensão são a minoria “incapacitada” da turma, configurando-se aí uma situação de exclusão. Desta forma evitou-se a todo o momento fazer questionamento que coloquem os alunos nesse tipo de situação, e uma observação interessante foi que, ao assumir essa postura, percebeu-se um alto índice de perguntas por parte dos alunos que possivelmente não teriam sido feitas sob outra circunstância, possivelmente outros fatores como o contexto e a abordagem fizeram diferença nesse aspecto. Um traço de comportamento frequentemente observado durante as aulas foi a cooperação. Em várias atividades foi orientado que os alunos trabalhassem em grupos, com aparente liberdade na escolha dos integrantes. Um aspecto que foi observado durante esses momentos foi a participação efetiva dos componentes dos grupos. Uma situação indesejada durante um trabalho em grupo é quando um ou dois alunos, que por terem mais facilidade, se encarregam de todo o trabalho 47 enquanto os outros apenas observam ou fazem tarefas triviais como “passar a limpo”. Para ajudar a evitar essa situação os alunos foram orientados a cooperar uns com os outros, e que os alunos que tivessem maior entendimento do assunto pudessem ajudar os colegas. Vale ressaltar que esse tipo de orientação deve ficar implícita de forma que a ênfase se encontre na cooperação e não na hierarquização entre alunos por meio de seus conhecimentos. 5.1.1 Planejamento das Aulas Para a preparação das aulas que compõem a sequência didática foi utilizado o referencial Demétrio & Delizoicov (1990) para a estruturação das ações na sequência didática, Problematização, Organização do Conhecimento e Avaliação. 3 Os vídeos utilizados foram selecionados na internet , os materiais utilizados durante a construção das maquetes foram conseguidos pelos próprios alunos, em geral material de baixo custo e fácil obtenção. Durante a elaboração das aulas existiram algumas preocupações centrais, primeiramente em relação à viabilidade das metodologias quanto à sua aplicação. A metodologia foi planejada para que pudesse ser aplicada em situações comuns de sala de aula, sem que seja necessária nenhuma condição especial como presença de recursos que nem sempre estão disponíveis em qualquer escola. Durante a aplicação da sequência didática, em cada momento pedagógico diferente, tiveram que acontecer alguns ajustes no planejamento. Durante a problematização foram incluídos mais vídeos motivadores que despertassem a atenção dos alunos para o tema em questão, alguns vídeos sobre energias alternativas foram adicionados à lista inicial. Essa mudança foi necessária para que os alunos tivessem mais oportunidades de relacionar os seus conhecimentos prévios com os temas abordados em cada situação diferente. 3 http://www.youtube.com 48 Durante a organização do conhecimento a grande dificuldade encontrada foi a de conseguir fazer com que os alunos conseguissem perceber as ligações entre os temas da problematização e os conteúdos de sala de aula. Uma estratégia para favorecer essa conexão foi utilizar como ponto de partida para introduzir um conceito novo, situações descritas nos vídeos utilizados anteriormente. Por exemplo, como foi exibido um vídeo sobre o funcionamento de uma hidroelétrica, essa foi a situação utilizada como pano de fundo para exemplificar o conceito de Energia Potencial Gravitacional, e posteriormente, o mesmo exemplo serviu para ilustrar as transformações de Energia Potencial em Cinética. As pequenas mudanças que se seguiram durante a aplicação da sequência foram sempre produto de uma reflexão sobre a prática em sala. Partindo de um pressuposto que a sequência didática deve ser um norteador da prática, mas que se submete ao feedback de sala de aula. Dessa forma configurando-se uma práxis pedagógica em que o planejamento influencia e é influenciado pela prática. 5.2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE ENERGIA A sequência didática descrita foi aplicada no período de 16/04/2012 ao dia 12/06/2012. Ela compreendeu os seguintes conteúdos, em sua ordem cronológica: Energias Alternativas, produção e aplicações. Energia Mecânica (Cinética e Potencial (Gravitacional e Elástica)); Transformação de energia; Teorema da Conservação de Energia Mecânica; Teorema trabalho-Energia. A sequência possuía como objetivos promover a apropriação dos conteúdos envolvidos por parte dos alunos. Como objetivo complementar a sequência deveria despertar o interesse dos alunos para o tema principal “Energia” e tornar o processo de aprendizagem participativo e democrático. A classe escolhida foi uma turma de primeiro ano de Ensino Médio Integrado ao 49 Ensino Profissional em Automação Industrial. A escolha dessa turma se deu por alguns fatores 1º: A turma é bastante heterogênea no que diz respeito à classe social, etnia e gênero. Podemos assumir que essa característica é favorável para a pesquisa uma vez que, se constatarmos padrões de aprendizados semelhantes em um grupo tão diversificado poderemos deduzir que a metodologia foi mais efetiva, ao passo que, em um grupo mais homogêneo, seria supostamente mais fácil obter essa regularidade no aprendizado. 2º Se trata de uma turma de primeiro ano do Ensino Médio. Esse fator se torna favorável uma vez que esse é o primeiro momento em que Física, para a maioria dos alunos, é tratada como uma disciplina separada, pois até então, no Ensino Fundamental, a Física é ensinada junto com a disciplina Ciências. Dessa forma pode-se observar quais são as perspectivas dos alunos em relação à Física como uma disciplina, e quais as representações que eles possuem da Física. 3º Para fins práticos o professor da turma, que é também o pesquisador, disponibilizando uma carga horária adequada para a aplicação da metodologia de forma adequada e bem planejada. 5.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE CINEMÁTICA A sequência didática sobre Cinemática foi aplicada em seis compreendendo os seguintes conteúdos, em sua ordem cronológica: semanas Conceitos iniciais de cinemática (Como repouso, deslocamento etc.) Velocidade Média (MRU) Aceleração e MRUV Gráficos dos movimentos Assim como a sequência didática sobre energia, esta sequência possuía como principal objetivo a apropriação dos conteúdos e conceitos envolvidos no tema proposto. A proposta foi adotar uma metodologia que favorecesse uma perspectiva autônoma do aprendizado. 50 As atividades foram organizadas pensando-se na participação ativa dos alunos na maior parte dos momentos. A construção do dicionário de Cinemática, por exemplo, se deu através das falas dos alunos intermediadas pelo professor, que atuou como um moderador da atividade garantindo o caráter científico dos conceitos construídos em sala. Tendo em vista essa perspectiva podemos considerar que essa tática se resumiu em uma negociação de significados, mediada pelo professor, com a finalidade de aproximar os conceitos de senso comum, já trazidos pelos alunos, dos conceitos compatíveis com os estudados na Física. Outra atividade dessa sequência se configurou como a resolução de um problema prático, por meio de uma experimentação aberta, sem roteiro, desenvolvida em sala pelos alunos e supervisionada pelo professor. 51 6 DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA SOBRE ENERGIA 6.1 RELATO GERAL A Tabela 1 resume algumas ações que constituíram a Sequência Didática sobre Energia e os momentos pedagógicos correspondentes. Tabela 1 – Atividades da Sequência Didática sobre Energia Semanas Momento Pedagógico 1ª e 2ª P Atividades Realizadas Apresentação da Proposta da SD Apresentação de vídeos sobre Energia Alternativa 3ª a 5ª O Aulas expositivas sobre os temas Atividade com caixas de fósforos 6ª a 8ª A Apresentação de maquetes em grupos Avaliação individual Resolução de problemas conceituais Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Em várias aulas durante a aplicação da sequência houve momentos em que se percebeu grande envolvimento da turma em geral, entretanto a aula que mais se destacou em relação à participação dos alunos foram as duas aulas de apresentação das maquetes. Na primeira aula de apresentação os alunos estavam apreensivos para a apresentação de seus trabalhos, entretanto os alunos foram orientados a ficarem tranquilos em relação à apresentação explicando que o mais importante era a participação e cooperação, de forma que eles pudessem se expressar de forma mais natural. O primeiro grupo apresentou uma réplica, em escala reduzida, de um rotor utilizado nas turbinas que transformam a Energia Cinética em quedas d água em Energia Elétrica. O grupo construiu o próprio motor com fios de cobre, alguns pedaços de cobre e ferro que foram usados como suportes e duas pilhas AA. A apresentação foi acompanhada de um seminário sobre a Energia Elétrica produzida em hidroelétricas, os aspectos físicos da transformação bem como as vantagens e desvantagens 52 econômicas e ambientais desse tipo de geração de Energia. A apresentação do grupo foi a mais longa, teve duração de 22 minutos. Foi uma recomendação inicial que cada grupo fizesse uma reflexão sobre os aspectos sociais envolvidos em cada forma de obtenção de Energia, de forma a incentivar nos alunos o senso de criticidade em relação ao conteúdo estudado. Uma característica forte durante essas duas aulas de apresentação foi a forma com que os alunos se interessavam nas apresentações dos colegas. Em geral não é tarefa simples conseguir que os alunos prestem atenção nas apresentações feitas pelos colegas, entretanto nessas aulas isso aconteceu de forma natural. O que podemos avaliar como um ponto positivo da metodologia adotada. O segundo grupo foi o que demonstrou o melhor resultado no que diz respeito à aprendizagem do conteúdo e consciência crítica. O grupo abordou o tema de Energia Eólica, construiu uma maquete replicando uma rua com casas, postes de iluminação pública, carros e outros detalhes que foram adicionados com muito cuidado à réplica. Os postes de iluminação possuíam lâmpadas de Led que eram alimentadas por um gerador Eólico improvisado. A Figura 2 mostra a maquete do grupo. Figura 2 – Maquete sobre conversão de Energia eólica em Elétrica Fonte: Elaborado pelo autor (2013). 53 Dois coolers, utilizados em processadores de computador, foram ligados em série para que, quando suas hélices fossem colocadas em movimento, eles pudessem gerar energia elétrica para as lâmpadas. Um secador de cabelo era o equipamento responsável por simular o vento nas pás das hélices dos coolers Figura 3. Figura 3 – Exemplo de cooler utilizado Fonte: Elaborado pelo autor (2013). O mais surpreendente na apresentação desse grupo, no entanto, não foi a engenhosidade da maquete, mas a forma com que o tema da Energia Eólica foi abordado. O grupo fez uma discussão sobre a importância de explorar outras fontes de Energia, tanto ecologicamente quanto economicamente. Durante o seminário o grupo mencionou ainda problemas sociais que possuem relação direta e indireta com problemas na produção de Energia, que acarretam custos mais altos e ressaltou ainda que ainda há regiões no mundo em que a Energia elétrica é escassa. A apresentação dos outros grupos, e principalmente desse segundo grupo citado, deixou claro que os alunos tiveram que fazer pesquisas extra classe para darem conta de executarem as tarefas do trabalho. Para a montagem do equipamento do segundo grupo, eles tiveram que pesquisar assuntos que não haviam sido explorados até então em sala, como circuitos elétricos (para montagem dos coolers, bateria e lâmpadas). 54 Durante essa aula apenas mais um grupo se apresentou, e os demais grupos se apresentaram na aula seguinte. Mas o que chamou atenção nessas duas aulas foi a autonomia mostrada pelos alunos durante a apresentação, ficou claro que quando os alunos conseguem se identificar de alguma forma com o conteúdo o aprendizado se torna mais significativo e fácil para eles, e o trabalho pedagógico também muda, o professor deixa de ser o ditador da verdade para o orientador do aprendizado, indicando a direção e permitindo que os alunos busquem o conhecimento por si próprios. Esses dois momentos deixaram claro que o planejamento permitiu que a aula ocorresse da forma esperada trazendo os resultados esperados. Despertar a motivação dos alunos, promover um aprendizado prático e útil e constatar a cooperação entre os alunos realmente é uma experiência que vale a pena o esforço, a preparação e o planejamento de uma atividade metodológica diversificada. Outro aspecto interessante nos momentos de apresentação foi perceber que os alunos se sentiam seguros para fazer perguntas aos colegas durante as apresentações. Quando há uma apresentação em grupo e os alunos que estão apresentando demonstram insegurança sobre o assunto é raro acontecer perguntas direcionadas aos grupos, em geral quando há dúvida ou a pergunta não é feita ou é direcionada ao professor. A observação citada é uma observação prática, não sendo um assunto que fez parte de pesquisas. Entretanto durante a apresentação dos grupos ficou claro que os alunos perguntavam diretamente aos grupos que estavam apresentando, uma vez que o professor se absteve de responder às perguntas, mesmo em momentos em que o grupo não se mostrava tão seguro da resposta. Baseado em todas as observações, anotações e principalmente nas falas dos alunos pode-se concluir que esse momento (que estava dentro do momento avaliação da sequência didática) teve seu objetivo alcançado com êxito, mostrando que a metodologia surtiu o efeito esperado na aprendizagem. 55 6.2 A DINÂMICA DAS CAIXAS DE FÓSFOROS Em uma das aulas da sequência didática sobre energia foi desenvolvida uma atividade sobre transformação e conservação de Energia Mecânica, a atividade das caixas de fósforos. A dinâmica das caixas de fósforos consiste em utilizar as próprias caixas de fósforos como quantidades, como em um gráfico de barras, para visualizar em cada instante de um movimento como se distribui a Energia Mecânica. Por exemplo, na Figura 4 está representada uma situação em que um objeto pontual de massa m parte, a partir do repouso, de uma altura h e desce por uma rampa até atingir a parte mais baixa, sem atrito. No início do percurso, quando está na eminência do movimento, consideraremos como situação inicial. Quando o objeto atingir metade da rampa h/2 chamaremos de situação intermediária, e quando ele atingir a parte mais baixa da rampa chamaremos de situação final. Figura 4 – Exemplo conceitual de energia mecânica Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Considerando que não há perdas significativas de Energia Mecânica, podemos dizer 56 que a quantidade total de energia (EM) se mantém constante durante o trajeto. Entretanto para momentos diferentes do movimento temos essa energia distribuida de forma diferente, como uma soma de cinética e potencial, de forma que; EM = EC + EP Para ilustrar essa distribuição ao longo dos diferentes momentos do movimento utilizamos as caixas de fósforo. Se considerarmos, por exemplo, que a quantidade total de energia nesse sistema equivale a seis caixas de fósforos, podemos ilustrar essas situações conforme a Figura 5. Figura 5 – Exemplo de uma resolução de problemas com a utilização das caixas de fósforos Fonte: Elaborado pelo autor (2013). A folha de papel está dividida nas três situações, inicial, intermediária e final, de modo que em cada uma das situações existem dois espaços: Energia Potencial Gravitacional (EPG) e Energia Cinética (EC). Na situação inicial, todas as seis caixas estão colocadas no espaço EPG, na situação intermediária metade está no espaço EPG e a outra metade no EC, e na situação final todas as seis caixas estão colocadas na posição EC. Dessa forma podemos visualizar a Energia Mecânica sob diversas possibilidades apenas movimentando as 57 caixas de acordo com o instante analisado do movimento. 6.3 A APLICAÇÃO Para a aplicação da metodologia foi necessário dividir a turma em grupos de até cinco alunos, cada grupo recebeu seis caixas de fósforos e folhas A4 para resolverem os problemas propostos utilizando as caixas. Após a distribuição dos materiais e dos grupos era colocada no quadro uma situação problema, o grupo tinha um tempo para discutir como a energia se distribuía nos momentos diferentes de cada situação proposta. Nas duas primeiras situações houve certa dificuldade por parte de alguns grupos para compreender como funcionava a metodologia, mas a partir da terceira situação as discussões nos grupos funcionavam de forma mais fluente. Um comportamento muito comum no dia-a-dia de sala de aula quando formamos grupos, é o domínio de um ou de mais de um integrante que possui mais facilidade de aprendizado e, em geral, esse indivíduo tende a realizar as tarefas enquanto os que têm mais dificuldade apenas observam. Mas como, nessa dinâmica em especial, não havia nenhum tipo de repreensão quanto ao certo ou errado foi observado que houve grande participação em todos os grupos. Esse foi um dos fatores positivos na utilização de problemas conceituais. A idéia central da metodologia era fornecer ao aluno um momento de liberdade para expressar suas idéias, e permitir que, a partir dos seus erros, os alunos pudessem aproximar suas inferências aos conceitos trabalhados em sala. Podemos considerar que o aspecto sócio-interacionista tem uma grande influência nessa metodologia, pois é através do diálogo entre os alunos do grupo que o conhecimento individual é colocado em xeque. A interação entre os alunos aconteceu de forma natural, possivelmente porque possuem muitas semelhanças de linguagem. Sem que fosse pedido aos alunos, durante a aplicação, eles iniciaram novas atividades utilizando o seguinte método: uma parte do grupo propunha uma situação problema enquanto outra parte 58 procurava solucionar a situação usando as caixas de fósforos. Essa atitude demonstra que além de compreender satisfatoriamente o método, os alunos foram capazes de pensar em outras formas para sua utilização. A Figura 6 mostra os alunos no momento da aplicação da metodologia: Figura 6 – Grupo de alunos discutindo uma situação problema usando as caixas de fósforos. Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Nessa dinâmica de interação podemos identificar os processos de construção de conceitos sendo desenvolvidos; Quando se examina o processo de formação de conceitos em toda a sua complexidade, este surge como um movimento do pensamento dentro da pirâmide de conceitos, constantemente oscilando entre duas direções, do particular para o geral e do geral para o particular (VYGOTSKY, 1998, p. 101). Esse desenvolvimento conceitual ocorre simultaneamente com um desenvolvimento na linguagem utilizada pelos alunos. Nesse período do desenvolvimento é comum a utilização de artifícios como exemplos ou metáforas para a explicação de uma expressão, por exemplo: [...] quando se pede a um adolescente para definir uma determinada palavra 59 e ele recorre a uma situação concreta para explicá-lo. Este fato comprova que a evolução dos conceitos segue um caminho diferente das experiências concretas e que antes de definir um conceito utilizando apenas palavras, o adolescente as relaciona com a realidade. (VIEIRA, R. e GHEDIN, E. 2012) Se partirmos desse olhar para a linguagem, percebemos que faz sentido que os alunos se sintam mais à vontade para interagir e trocar conhecimentos com seus colegas de classe, nesse ponto o professor deve agir como intermediário do diálogo entre aluno-aluno para inserir ao conhecimento que está sendo construído o caráter científico. Em vários momentos durante a aplicação pode-se observar como o diálogo entre os alunos pode ser um grande criador de obstáculos epistemológicos, essa curiosidade epistemológica que é a grande mola propulsora para o conhecimento científico (Freire, 1996). A Figura 7 ilustra uma situação em que uma aluna pede ajuda à outra do seu grupo para identificar a distribuição de Energia de um problema conceitual: Figura 7 – Uma aluna explica à outra um problema utilizando a metodologia das caixas de fósforos Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Nesta situação descrita pela Figura 7 podemos perceber que além de compreender a teoria sobre o assunto Energia, a aluna também é capaz de aplicar uma metodologia nova para ensinar uma outra pessoa, de certa forma, esse se mostra um conhecimento concreto, útil. Para a construção de um conceito é necessário ir além de uma definição. Tendo em vista essa característica se torna de extrema relevância proporcionar meios alternativos para que o aluno estabeleça inferências entre a teoria e situações práticas. 60 6.4 AVALIAÇÃO Como citado anteriormente, a avaliação dos alunos, da sequência didática e das metodologias aplicadas, ocorreu durante todo o desenvolvimento da pesquisa. A avaliação conceitual dos alunos ocorreu em diversos momentos, e de formas distintas, através de questionários, depoimentos, avaliações escritas, apresentação dos trabalhos e observação. Os momentos que mais se caracterizaram como avaliativos foram durante as apresentações das maquetes e seminários e durante as avaliações escritas (avaliação individual e lista de exercícios). O desempenho dos alunos nessas avaliações foi acima da média, tanto quantitativamente, quanto qualitativamente. Em relação à opinião dos alunos sobre as estratégias de ensino adotadas foi utilizado um questionário (Questionário II - Apêndice) e a observação. Não era preciso identificação no questionário, de forma que os alunos poderia se manifestar sem que fossem identificados caso desejassem, embora alguns alunos fizeram questão de se identificar. Quando perguntados se gostaram da forma de trabalhar os conteúdos (pergunta 3) e se gostariam que os outros conteúdos tivessem momentos semelhantes aos presentes nessa Sequência Didática (pergunta 4) os alunos foram unânimes em afirmar que sim. Quando perguntados sobre quais foram as maiores dificuldades apresentadas nos momentos da montagem das maquetes e das apresentações (pergunta 2) as respostas foram variadas mas, em geral, a obtenção de informação sobre o assunto não era uma delas. Alguns alunos citaram a construção das maquetes como uma dificuldade maior, enquanto outros consideraram o momento da apresentação, perante a turma, como sendo a parte mais complicada. Destoando da maioria das respostas, cinco alunos responderam de forma similar, afirmando que a maior dificuldade, ao invés da execução ou apresentação do trabalho, foi, na verdade, decidir qual seria a forma da maquete, e qual tipo de 61 energia utilizar. Segue uma resposta da pergunta 2 de um dos alunos: “Foi difícil saber o que tinha que fazer na maquete, já que não tinha um modelo do que era pra fazer agente teve inventar que ia construir” (Resposta 2 – Aluna 1) Analisando a resposta desse aluno podemos inferir que, por não ter recebido um comando específico, teve que decidir por si próprio o que gostaria de fazer. Aparentemente o exercício da autonomia pode não ser muito comum para esse, e os outros alunos que colocaram respostas semelhantes. Uma expressão interessante que aparece nessa resposta é “inventar”, na verdade os alunos tiveram que “pesquisar” para saber o que iriam fazer, muitos deles disseram que viram vídeos para obter idéias do que fazer, outros olharam no próprio livro didático (que apresenta uma parte destinada à experimentação). A aplicação da metodologia das caixas de fósforos, juntamente com as outras ações da Sequência Didática, proporcionou um aprendizado conceitual acima da média, fato que foi verificado com a resolução dos problemas conceituais e lista de exercícios. Ainda em relação à metodologia, podemos pontuar outros aspectos positivos interessantes, as principais vantagens são: Fácil obtenção das caixas e baixo custo total Fácil aplicação da metodologia Promove trabalho em grupo em sala Facilita a verificação de aprendizagem dos conceitos 62 7 DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE CINEMÁTICA 7.1 RELATO GERAL Outra parte da pesquisa envolveu a aplicação de uma sequência didática sobre cinemática. Assim como a sequência didática sobre Energia, essa também foi dividida em momentos distintos. A Tabela 2 resume as atividades da Sequência Didática sobre cinemática, bem como os momentos pedagógicos correspondentes: Tabela 2 – Atividades da Sequência Didática de cinemática Semanas 1ª e 2ª Momentos Pedagógicos P Atividades Realizadas Apresentação da Proposta da SD Brainstorm sobre cinemática Elaboração de dicionário da cinemática 3ª e 4ª O Elaboração de dicionário da cinemática (continuação) Aulas expositivas sobre cinemática Experimento da arruela 5ª e 6ª A Atividade em grupo (produção de relatório) Avaliação individual Fonte: Elaborado pelo autor (2013). 7.2 PROBLEMATIZAÇÃO O momento inicial da sequência didática deve proporcionar ao aluno um vínculo entre seu conhecimento prévio e o conhecimento científico que desejamos trabalhar em sala. Na primeira aula, antes de começar a definir os conceitos, começo perguntando sobre quais são as situações que vêem em mente quando se trata de cinemática. Uma espécie de brainstorm para forçar que os alunos estabeleçam uma possível relação entre situações que eles vivenciam cotidianamente e a cinemática. De acordo com Gehlen (2009) essa etapa “[...] problematiza-se o conceito 63 espontâneo do estudante mediante a introdução do conceito científico para abordar um problema que está vinculado a uma situação real do contexto do estudante [...]”. A partir dessa fase o educando consegue relacionar o conteúdo a ser estudado com alguma situação, ou contexto do seu cotidiano. Uma grande dificuldade encontrada no Ensino de Ciências, e de Física em particular, se encontra na diferença entre a linguagem cotidiana e a linguagem científica, para (CHASSOT, 2002, p.93) a ciência em si pode ser considerada uma linguagem. Muitas expressões utilizadas na cinemática não são do uso comum dos alunos, e outras são usadas com sentidos diferentes. Por exemplo, a expressão “escalar” que no cotidiano é utilizada exclusivamente como um verbo, na cinemática é utilizada como um adjetivo para classificar uma dada grandeza, enquanto escalar ou vetorial. Tendo esse problema sido considerado uma das ações da problematização foi construir um dicionário com as principais expressões utilizadas na cinemática. O dicionário não foi apresentado diretamente aos alunos. Durante a primeira aula cada palavra foi colocada no quadro e os alunos foram explicitando suas opiniões sobre cada item. Para chegar a uma conclusão sobre o conceito foi utilizado o padrão IRF (Interrogação – Resposta - Feedback) (Mortimer e Machado, 1997). O dicionário está disponível em “Apêndices”. Com o intuito de analisar a construção argumentativa dos alunos, o padrão IRF foi aplicado de forma que os alunos fossem expondo suas idéias até serem conduzidos a um conceito mais preciso em relação aos que eles já possuíam como senso comum. Após discutir o conceito de referencial foi perguntado aos alunos qual seria a melhor definição para o “Repouso”. A ordem dos eventos é expressa pelos turnos abaixo. Nas falas o professor aparece com a letra P enquanto que os alunos são enumerados pela ordem de suas falas; 1. P: “Então... como vocês definiriam repouso... o que é um corpo estar em repouso para vocês?” 64 2. Aluno 1: “É não ter movimento ué...” 3. Aluno 2: “Estar parado...” 4. Aluno 3: “Em relação a um referencial... tem que ter um referencial...” 5. Aluno 2: “É... parado em relação a um referencial...” Nesse trecho há um momento de silêncio, aparentemente à espera que o professor responda se as respostas estão certas ou erradas. 6. P: “E aí gente?... E então?...” 7. Aluno 4: “Tem haver com ficar na mesma distância... da referência...” 8. P: “Será?...” [fala em tom de desafio] 9. Aluna 5: “Acho que não tem haver não...” 10. Aluno 4: “Tem sim...[ênfase na afirmação]... se a distância não mudar então é porque tá parado... repouso... né fessor...?” No turno 10 podemos perceber que, de acordo com a estrutura argumentativa de Toulmin (2001), o aluno 4 constrói um argumento mais elaborado com mais elementos em seu discurso argumentativo. De acordo com a construção argumentativa transcrita acima podemos dizer o aluno usa como garantia de inferência (G) a permanência da distância, isso fica claro no trecho: “...se a distância não mudar então...” Com isso ele considera implicitamente a grandeza “variação da distância” é o seu apoio (A) e conclui que há o repouso (C). Entretanto não podemos identificar mais elementos em sua construção argumentativa, por exemplo, a refutação (R). Entretanto os elementos encontrados são suficientes para a construção de um argumento satisfatório. Entretanto, nesse ponto, os conceitos elaborados coletivamente através dos processos argumentativos dos alunos são submetidos a uma situação de teste (uma crise). Um dos alunos elabora um conceito de repouso no qual, se não há mudança entre a distância entre o referencial e o objeto não há movimento. Esse conceito esteve muito próximo do conceito final, entretanto como os alunos não conseguiam enxergar a falha nesse modelo o professor fez uma intervenção com uma pergunta. 65 11. P: “Então se a distância entre o referencial e o objeto não mudar então o objeto estará em repouso? É isso?... [um grupo de alunos responde que sim]. Então se um objeto se mover em um círculo, e o referencial for o centro do círculo a distância muda?... Significa que ele está em repouso?...” Nesse ponto alguns alunos perceberam imediatamente que havia uma inconsistência naquele conceito de repouso, havia um caso que não era compatível com aquele modelo, o caso do movimento circular. Ao perceber essa inconsistência os alunos que concordavam com esse modelo experimentaram um obstáculo epistemológico (BACHELARD, 2007), a partir desse momento houve uma intenção de reestruturação dos argumentos. 12. Aluno 2: “Então é estar parado... sem velocidade...” 13. Aluno 1: “É isso aí mesmo fessor... velocidade zero” 14. Aluno 4: “É quando a posição não muda... a posição, tipo, fica a mesma, em relação ao referencial...” 15. P: “Ah... e agora será que é isso mesmo?... pensa no caso do movimento circular?... dá certo essa ideia?...” 16. Aluna 5: “Aí sim fessor, agora se ficar na mesma posição é porque tá parado... como se ficasse num lugar só... aí tá em repouso...” 17. P: “Então chegamos numa definição melhor né?... um corpo está em repouso em relação a um referencial se a sua posição não muda em relação àquele referencial... tá aí ó... vamos anotar esse então...” Dessa forma conclusão sobre o conceito de repouso se tornou mais completa do que o conceito que os alunos elaboraram no turno 10, pelo fato de que a grandeza “distância” foi corretamente substituída pela grandeza “posição”. Outro conceito que causa distorções na compreensão, que é a diferenciação entre intervalo de tempo Δt e instante t, foi discutido de forma semelhante em sala. Se o conceito tivesse sido estabelecido pelo professor, a priori, a sutileza da diferença entre as expressões “distância” e “posição” possivelmente não teria sido percebida pelos alunos, de forma que, em problemas futuros, essa confusão semiótica poderia causar problemas na aprendizagem de outros conceitos. 66 7.3 ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO Nesse momento específico almejamos fornecer subsídios suficientes para que o aluno alcance a compreensão conceitual. De acordo com Gehlen (2009) num estágio final do processo de construção conceitual, o aluno deve começar a associar elementos científicos às explicações dos fenômenos envolvidos nas situações problemas estudadas. A construção do dicionário de cinemática, que havia começado durante a problematização, continuou na organização do conhecimento, na medida em que uma expressão gerava algum tipo de dúvida ela era inserida no dicionário. Nesse Momento Pedagógico aconteceram aulas expositivas sobre cinemática, principalmente sobre gráficos dos movimentos e resolução de problemas com os alunos. Entende-se que é necessário o momento de uma organização mais formal do conhecimento, para tanto foram necessárias as aulas expositivas para trabalhar com exercícios e representações gráficas comumente adotadas na Física. 7.3.1 A experiência da arruela Uma das ações desenvolvidas nesse momento foi a realização de um experimento em sala: Experimento MRU – “O parafuso e a arruela – queda livre ou movimento uniforme?” A intenção durante esse momento de experimentação não era realizar uma experiência de caráter de mera verificação, ou seja, uma repetição de ações previamente estabelecidas com a finalidade de chegar a uma conclusão previamente conhecida. Foi proposto aos alunos uma situação problema para que, a partir da discussão em conjunto, encontrássemos as respostas para o problema, caracterizando assim esse experimento como um experimento que incentiva a investigação. Essa experiência consistia em determinar qual era o tipo de movimento de uma pequena arruela que era deixada cair livremente em torno de uma vara rosqueada. 67 Apesar de parecer relativamente simples, essa situação problema, por si, apresentou possibilidade para uma série de discussões. Materiais: Vara rosqueada (de qualquer diâmetro) Suporte (para manter a vara rosqueada na vertical) Arruela (de diâmetro compatível com da vara rosqueada) Trena métrica Cronômetro Procedimento: Com um suporte, que pode ser feito de madeira, colocamos a vara rosqueada na vertical. Ao seu lado esticamos uma trena. Como mostra a Figura 8: Figura 8 – Montagem da vara rosqueada com a trena ao lado Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Com o sistema montado o procedimento é deixar a arruela cair livremente do ponto mais alto da vara rosqueada, depois marcamos intervalos de tempo de descida em 68 espaços iguais de distância percorrida. Ao chegar na sala os alunos foram informados que, durante aquela aula, eles teriam que descobrir uma maneira de resolver um problema relacionado ao movimento de um corpo. Inicialmente o professor colocou uma mesa menor, sobre a mesa do professor, para servir como parte do suporte da vara rosqueada. Antes de iniciar a demonstração, foi perguntado aos alunos qual seria o tipo de movimento esperado quando abandonássemos a arruela, como esperado, a maioria dos alunos respondeu que a arruela desceria com um movimento muito parecido com o de uma queda livre. 1. P: “Pessoal... prestem atenção... se eu deixar essa arruelinha cair daqui como ela vai descer? Se deixar por conta da gravidade ela vai cair como? Acelerada?” 2. Aluno1: “claro né fessor... vai cair normal.” Vários alunos falam simultaneamente, impossível diferenciar outras falas 3. Aluno1: “tipo acelerada normal...” 4. Aluna2: “vai ser diferente por causa do parafuso” 5. Aluno3: “não muda nada isso não vai cair normal mesmo” Nesse ponto podemos inferir que as opiniões expressas por esses alunos não estão baseadas em quaisquer pressupostos Físicos, mas estão mais relacionadas à previsões baseadas em suas experiências e observações do senso comum. Essa inferência pode ser feita a partir da construção dos argumentos que, não possuem elementos que indicam uma categorização de grandezas físicas que os sustentem. 6. P: “Então gente... vamos olhar aqui o que acontece então?” Professor passa a arruela por debaixo da vara rosqueada e a leva na posição mais alta para deixá-la “cair”. 7. Aluna2: “não tá acelerando não olha lá” 8. Aluno4: “tá caindo devagar...” 9. Aluna2: “é constante a velocidade” 69 10. Aluno1: “é... é constante mesmo tá parecendo” Ao deixar cair a arruela o movimento descrito pela mesma se aproxima muito de um movimento uniforme. No turno 9, a Aluna 2, introduz o termo “velocidade constante” em sua observação, o que configura uma construção argumentativa mais coerente com o esperado, uma vez que os alunos já conheciam MRU e MRUV, deseja-se uma apropriação desses conceitos e uma incorporação dos mesmos nos processos argumentativos. Nesse ponto os alunos ainda não tinham visto os outros materiais como a trena, por exemplo, foi então que, ao invés de responder de fato que movimento era esse os alunos foram perguntados sobre como poderíamos resolver esse problema. 11. P: “E aí? É uniforme então o movimento? Como agente pode provar isso? Tem jeito?” 12. Aluno5: “Mede o comprimento da vara e... o tempo que desce... e divide” 13. Aluna2: “é... aí dá a velocidade constante” Em suas falas nos turnos 12 e 13 os alunos disseram que se fosse medido o comprimento total da vara, e esse valor fosse dividido pelo tempo total o problema estaria resolvido. Entretanto esse método serviria apenas para calcular a velocidade média no percurso, e não para determinar se o movimento era ou não acelerado. O que mostra que houve uma compreensão sobre velocidade média, mas não o suficiente para utilizar a equação em uma situação problema real. 14. P: “Ah... mas pensa o seguinte: imagina que eu deixo a arruela cair assim... sem nada... se você medir a altura que ela caiu e dividir pelo tempo vai dar um valor não é? Isso quer dizer que o movimento é uniforme? Quer dizer que a velocidade não muda?” [Os alunos ficam em silêncio por uns instantes] 15. Aluno1: “aí a velocidade muda nesse caso” 16. Aluno5: “porque tem aceleração...” 17. P: “Então... não dá pra dizer como é o movimento só com isso dá?” 70 18. Aluno5: “não” 19. Aluno3: “não” 20. P: “E aí faz como então?” [Mais uma vez os alunos fazem silêncio] 21. Aluna6: “mede dois pedaços... metade... e vê se a velocidade é a mesma na outra metade” 22. Aluno5: “se for igual é porque não mudou a velocidade, aí é uniforme” 23. Aluna2: “divide em três então... ou mais... fica mais real” Só então os alunos perceberam que o procedimento não era compatível com a situação, mostrando que os alunos ainda não tinham clareza em diferenciar as características entre MRU e MRVU. No turno 23 novamente a Aluna 2 introduz um princípio experimental de forma intuitiva. Dividir o movimento em intervalos cada vez menores nos faz ter uma melhor noção se a velocidade é mantida durante todo o movimento. A velocidade instantânea pode ser compreendida como sendo a medida da velocidade média em um intervalo de tempo muito pequeno, infinitesimal, dessa forma ao considerarmos um intervalo de tempo cada vez menor do movimento temos uma velocidade média que se aproxima cada vez mais da velocidade instantânea do movimento. Em uma linguagem matemática isso resulta na equação 1: (equação 1) Dessa forma a aluna pode ter percebido, de forma intuitiva, que se o intervalo fosse dividido mais vezes, e as velocidades fossem comparadas, teríamos uma maior certeza quanto a manutenção da velocidade durante o trajeto. Podemos sugerir essa interpretação a partir do momento em que, nas palavras da aluna, a velocidade ficaria “mais real”, expressão que pode sugerir que o valor seja mais compatível com o ocorrido no experimento. O procedimento foi organizado pelos alunos sob supervisão do professor da seguinte maneira: Os alunos fizeram rodízio nas medições, a sala foi dividida em 71 grandes grupos de sete pessoas, cada grupo era responsável por fazer três medições e preencher uma tabela semelhante à tabela 3: Tabela 3 – Exemplo de tabela utilizada no experimento ΔS (Espaço percorrido – cm) Δt (Intervalo de tempo – s) Fonte: Elaborado pelo autor (2013). As grandezas envolvidas nessa experiência eram o espaço percorrido pela arruela (em cm) e o tempo decorrido no percurso (em segundos). Dessa forma cada grupo podia escolher uma medida e dividir a vara em intervalos iguais para cronometrar o tempo de descida em cada um, por exemplo, um dos grupos dividiu a vara em intervalos de 10 cm, de forma que, a cada 10 cm percorridos, o tempo era anotado na tabela e a velocidade média em cada trecho era calculada pela equação 2: (equação 2) Para o grupo que dividiu os intervalos percorridos em trechos de 10 cm, por exemplo, a equação tinha a seguinte característica: Velocidade média (em cm/s) = 10 (cm) / tempo (segundos) No final cada grupo chegou a uma velocidade média, juntou-se os 5 valores e foi feita uma média entre os grupos para determinar a velocidade média do movimento, mas o que realmente ficou claro que, para que se caracterizasse o movimento como uniforme era necessário que a arruela percorresse mesmos espaços em mesmos tempos, independentemente de quanto valessem. A condição que comprovava o movimento (aproximadamente) uniforme foi compreendida pelos alunos, que mesmo realizando cálculos diferentes para os valores de velocidade média encontravam valores similares. Um dos alunos chegou a declarar que: “tem que dar [o valor da velocidade média] a mesma coisa, não faz diferença como agente divide os pedaços [intervalos de comprimento percorrido]” 72 A Figura 9 mostra o momento durante em que foi feita uma medição como exemplo para ilustrar o experimento: Figura 9 – Durante a demonstração do experimento Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Vale ressaltar que um procedimento experimental, por mais simples que seja, pode ser um ponto de partida para iniciar nos alunos um interesse científico mais elaborado, desde a elaboração de hipóteses até as discussões sobre as discrepâncias entre os resultados, os alunos experimentam os passos que levam ao fazer da ciência. Cabe ao professor aproveitar esses momentos de abertura para atribuir ao conhecimento que está sendo construído um caráter formal. Tanto a compreensão dos conteúdos quanto a compreensão da linguagem cientifica em si, se deu não por meio da imposição dos conhecimentos científicos sobre os alunos, mas sim através da negociação de significados. Os alunos já possuem suas interpretações, modelos e linguagem próprias para descrever os eventos que os cercam, o espaço de argumentação e discussão tem o poder de intervir na aquisição de significados, e de ressignificação de conceitos prévios dos alunos. 73 7.4 AVALIAÇÃO A avaliação dos conhecimentos durante a sequência foi baseada em observações e participação dos alunos em sala nas atividades propostas. Houve uma avaliação individual sobre o assunto e duas atividades em grupo, uma delas foi a medição da velocidade média da arruela. O desempenho da turma, tanto nas avaliações individuais como nas avaliações em grupo, foi acima da média. Outro instrumento de avaliação foi o relatório das atividades da experiência, os alunos tiveram uma orientação no fim da aula de como iriam proceder para a elaboração do relatório, para tanto receberam um modelo de relatório (Apêndice). Esse relatório foi iniciado em sala de aula e os alunos puderam terminar em casa para entrega posterior. Entre os quesitos que foram observados na correção do relatório, estava a clareza nas explicações e a acuidade nos cálculos, o que demonstraria uma compreensão adequada dos conceitos trabalhados em sala. Alguns trechos retirados dos relatórios dos alunos podem servir como indicadores em relação ao aprendizado conceitual sobre as situações de MRU e MRUV envolvidas na experimentação. “O experimento mostrou que, se medirmos a velocidade média em pequenos espaços do percurso e compararmos essas velocidades podemos dizer se a velocidade se mantém ou se muda” (Trecho de relatório – 1) Essa construção argumentativa, por exemplo, indica uma excelente compreensão do que foi realizado em sala e, por si só, sugere o aprendizado do conceito esperado na atividade. Uma categoria que pode ser analisada nessa fala é a inserção de expressões próprias da linguagem científica, que antes não apareciam com frequência nas falas dos alunos. No trecho 1 apresentado anteriormente, podemos destacar categoricamente os elementos argumentativos de acordo com o padrão Toulmin (2001): 74 A expressão: “O experimento mostrou que..” Pode ser considerada o dado (D), o princípio a partir do qual todo o discurso argumentativo se estrutura. Continuando, a expressão: “...se medirmos a velocidade média em pequenos espaços do percurso[...]podemos dizer...” Pode ser considerada a garantia de inferência (G) e, compreendido nessa expressão identificamos o qualificador modal (Q): “...e compararmos essas velocidades...” É o qualificador modal que confere maior confiabilidade à conclusão, neste caso a garantia que, ao compararmos as velocidades a velocidade pode ser considerada constante faz o papel de qualificador da conclusão. Ao analisarmos o trecho seguinte: “podemos dizer se a velocidade se mantém” identificamos a conclusão (C) e posteriormente: “ou se muda” é a refutação (R), o elemento que determina o valor (verdadeiro ou falso) do argumento, neste caso a expressão “ou se muda” faz referência ao caso de que, ao se fazer a comparação entre as velocidades, o valor ser diferente (caso negativo) mostrando que o movimento não é uniforme. Ao analisar cuidadosamente cada trecho do discurso argumentativo podemos identificar, de forma mais acentuada, uma construção argumentativa mais completa, contendo mais elementos e expressões que as aproximam da argumentação desejada para o Ensino de Ciências. Segue outro trecho retirado de um relatório: “De acordo com as velocidades médias encontradas pelos outros grupos pode-se concluir que o movimento era praticamente uniforme e sua velocidade era de aproximadamente 2,15 cm/s” (Trecho de relatório – 2) O trecho acima foi retirado da conclusão de um dos relatórios e indica, assim como o trecho anterior, a agregação de expressões científicas nas explicações dos alunos, de forma que podemos associar um ganho não apenas conceitual, mas também em relação à linguagem dos alunos. Um dos trechos mais marcantes, no que diz respeito ao aprendizado e também à compreensão procedimental do experimento, foi retirado das conclusões de um dos relatórios: 75 “A velocidade calculada pelo experimento não é exata, é apenas aproximada. Em alguns momentos a arruela descia de forma diferente (mais rápida) ao passar em alguns pontos principalmente se esbarramos no parafuso, então a medida que temos é apenas uma média” (Trecho de relatório – 3) Ao analisarmos o conteúdo desse trecho de relatório encontramos duas grandes informações importantes sobre o desenvolvimento do experimento: primeiro sobre a aproximação do valor obtido, e segundo sobre as possíveis fontes de erros do experimento. A afirmação que inicia esse trecho deixa claro que o aluno tem plena consciência de que os valores medidos na experimentação são apenas aproximados, o que demonstra um conhecimento de um elemento procedimental importante. Dessa forma a repetição das medidas, por vários grupos, e a média geral dos resultados foi necessária para uma melhor aproximação do valor da velocidade média. A segunda parte da transcrição possui uma análise ainda mais minuciosa. Durante o experimento, eventualmente alguém esbarrava na mesa em que estava montado o experimento, cada vez que isso acontecia a arruela perdia a “regularidade” em seu movimento e, por uma fração de segundo, descia com velocidade diferente. Obviamente esse acontecimento implicava em uma variação significativa na medida da velocidade naquele trecho. O que o aluno escreveu em seu relatório então é a justificativa, em relação à uma das fontes de erro do experimento. O mais interessante é que essa possível fonte de erro não fora discutida em nenhum momento durante a prática, o que indica que foi considerada devido à observação do aluno, que compreendeu corretamente o que é uma fonte de erro experimental. Analisando as considerações feitas até aqui sobre as práticas argumentativas dos alunos, utilizando um prisma social, podemos perceber o quanto é importante trabalhar nos alunos a autonomia. A aula dialogada, fundamentada em discussão, argumentação e negociação de significados, torna o fazer docente mais significativo 76 não apenas para o professor, mas também para os alunos. As práticas realizadas nas duas sequências didáticas, especialmente na sequência sobre cinemática, revelaram o quanto pode ser diversificada a construção de modelos físicos dos alunos. Ao ouvirmos os conceitos prévios dos alunos percebemos exatamente quais são os problemas conceituais apresentados por eles, e podemos traçar a melhor estratégia para aproximar esses conceitos e conhecimentos prévios em conhecimento científico. Freire indica que as expressões Ensino e Aprendizado são dependentes entre si, de forma que só há Ensino se houve aprendizado, ou seja, não se pode dizer que o professor Ensinou se o aluno não aprendeu. E é nesse sentido que acreditamos as práticas e estratégias utilizadas em sala de aula devem ser voltadas para o aprendizado, as negociações de sentido e práticas argumentativas deste projeto foram pensadas de acordo com essa premissa. 77 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final da experiência com a sequência didática descrita são inúmeras as contribuições que podemos contabilizar para prática docente. Organizar a proposta metodológica de acordo com a especificidade da turma, dos objetivos desejados, dos recursos disponíveis foi um aprendizado que servirá para todas experiências de sala de aula a partir desse momento. A grande dificuldade de iniciar um trabalho, diferente do que se está habituado, está em não conhecer as dificuldades que serão enfrentadas no processo. Entretanto esse anseio é facilmente superado quando há devido planejamento das ações que serão tomadas no percurso metodológico. Em algumas ocasiões nos deparamos situações não habituais durante as aulas diversificadas, na problematização, por exemplo, quando os alunos começavam a se expressar simultaneamente a impressão que temos é de caos, entretanto esse aparente caos é expressão natural da libertação dos alunos ao se perceberem enquanto participantes. Em uma aula expositiva não existe espaço para essas manifestações, e uma conversa entre alunos nesse contexto seria considerada algo indesejado, uma indisciplina. Mas durante a problematização, da forma como aconteceu, o fato dos alunos se expressarem mais mostrou o real objetivo da sequência didática. Para um professor que não sabe lidar com essa situação ela pode ser desconfortável, a ponto de o professor achar que está tendo bagunça quando, na verdade, está havendo aprendizado. As práticas dessa sequência tiveram a força para revelar, nosso papel, enquanto professor, no aprendizado dos alunos e do meu próprio. Não se aprende se não há curiosidade, como Freire comparava que não se pode comer se não há fome. Cada aluno aprende por um motivo, seja por uma pressão dos pais, da sociedade, seja por uma afinidade com o conteúdo, enfim, para criar condições para o aprendizado deve-se (re) significar o objeto de estudo, trazendo-o para a realidade do aluno ou, a partir dessa mesma realidade, deve-se chegar ao conceito desejado. Além de despertar o senso de dever do professor, as práticas adotadas em sala 78 aumentaram o interesse em pesquisar o comportamento dos alunos diante de situações inovadoras em sala. Situações que acontecem todos os dias em sala de aula podem ter outras significações sob um olhar mais crítico e apurado. As inquietações dessa pesquisa estavam voltadas, em especial, para as influências que as metodologias alternativas para o Ensino de Ciências teriam sobre o aprendizado, e se essas atividades desenvolvidas ao longo da pesquisa despertariam um maior interesse dos alunos no conhecimento científico. Ao analisar as falas dos alunos, os questionários, o desempenho na disciplina, e todas as demais informações que constam nos relatos das atividades desenvolvidas, podemos inferir que, em boa medida, houve uma excelente aceitação da metodologia por parte dos alunos que demonstraram grande participação em todos os momentos. Se considerarmos que os instrumentos avaliativos, que foram aplicados durante todo o desenvolvimento da pesquisa, possam ser considerados como indicadores para o aprendizado, concluímos que houve êxito no aprendizado dos conteúdos trabalhados nas duas Sequências Didáticas. Isso levando em conta tanto o resultado quantitativo (notas) das avaliações, quanto o resultado qualitativo das avaliações, que é obtido através da observação de quesitos como participação, interesse dos alunos, comprometimento nas atividades etc. Com base no estudo realizado durante o acompanhamento de toda a pesquisa, articulado com a análise das discussões tendo suporte os referenciais teóricos citados, podemos considerar que os objetivos da pesquisa foram alcançados com êxito. A hipótese inicial de que as metodologias diferenciadas poderiam, além de produzir um aprendizado conceitual, terem uma boa aceitação por parte dos alunos, foi confirmada. Acreditamos que os depoimentos dos alunos, bem como os relatos registrados durante as aulas dão suporte a essa afirmação. Repensar o Ensino de Ciências e, sobretudo, repensar a nossa própria prática pedagógica requer uma reflexão contínua sobre as demandas atuais na área de ciências. As pesquisas na área de ensino podem (e devem) alcançar a sala de aula 79 real, cada vez mais é necessário que o profissional da Educação possua a oportunidade de entrar em contato com os olhares e discussões sobre o Ensino de Ciências. É com base nessa necessidade que esperamos que essa pesquisa possa contribuir, mesmo que minimamente, para melhorar a percepção nessa área de estudo. 80 REFERÊNCIAS ANGOTTI, J. A. P, AUTH, M. A. Ciência e Tecnologia: implicações sociais e o papel da educação. Ciência & Educação, v. 7, n. 1, p. 15-27, 2001. AULER, D. Alfabetização Científico-Tecnológica: um novo “Paradigma”? Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v. 5, n. 1, março 2003. BACHELARD, G. Estudos. 2. ed. Contraponto, 2007 ______. Gaston. Conhecimento comum e conhecimento científico. In: Tempo Brasileiro. São Paulo. 1972. BARBOSA, J. C. R. Experiências de Física. Caderno Catarinense de Ensino de Física, n. 16, 105, 1999. BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. 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Dissertação de mestrado – Faculdade de Educação – UFMG, 2002. 83 APÊNDICES 84 APÊNDICE A Lista de exercícios sobre energia Aluno(a):______________________________________________________________________________ Turma:_______ Data:___________ LISTA DE EXERCÍCIOS FÍSICA – Primeiro Ano Ensino Médio 01- Um garoto abandona uma pedra de massa 200 g do alto de um viaduto de 5 m de altura em relação ao solo. Considerando g = 10 m/s2, determine a velocidade e a energia cinética da pedra ao atingir o solo. (Despreze os efeitos de resistência do ar.) 02- Um corpo de massa 500g é lançado, do solo, verticalmente para cima com velocidade de 43,2 Km/h. Desprezando a resistência do ar e adotando g = 10 m/s2: a) calcule a altura máxima, em relação ao solo, que o corpo alcança deverá alcançar. b) Se esse mesmo experimento for realizado considerando a resistência do ar o que acontecerá de diferente? 03- Um pêndulo de massa 1,5 kg é levado a posição horizontal e então abandonado. Sabendo que o fio tem um comprimento de 80 cm e g=10m/s2, calcule a velocidade do pêndulo quando passar pela posição de altura mínima. 04- Do alto de uma torre de 61,6 m de altura, lança-se verticalmente para baixo, um corpo com velocidade de 8 m/s. Calcule a velocidade com que o corpo atinge o solo. Adote g = 10 m/s 2 e despreze os efeitos do ar. 05- Um corpo de massa 400 kg é lançado do solo, verticalmente para cima, com velocidade de 50 m/s. Sabendo que, devido ao atrito com o ar, o corpo dissipa 80 J de energia sob a forma de calor, determine a altura máxima atingida pelo corpo. Adote g = 10 m/s2. 06- Um corpo de massa igual a 500 kg e velocidade constante de 10 m/s choca-se com uma mola de constante elástica 800 N/m. Desprezando os atritos, calcule a máxima deformação sofrida pela mola. 07- Consideremos uma mola de constante elástica 400 N/m, e um corpo de massa 1 kg nela encostado que produz uma compressão de 0,8 m. Liberando a mola, qual é a velocidade do corpo no instante em que perde contato com ela? Despreze as forças de resistência. 08- No escorregador mostrado na figura, uma criança com 30 kg de massa, partindo do repouso em A, desliza até B. Sabendo que, devido ao atrito, 20% da energia mecânica foi dissipada durante a descida, e admitindo g = 10 m/s2, calcule a velocidade da criança ao chegar a B. 85 09- Um corpo de massa m é empurrado contra uma mola cuja constante elástica é 600 N/m, comprimindo-a 30 cm. Ele é liberado e a mola o projeta ao longo de uma superfície sem atrito que termina numa rampa inclinada conforme a figura. Sabendo que a altura máxima atingida pelo corpo na rampa é de 0,9 m e g = 10 m/s2, calcule m. (Despreze as forças resistivas.) 10- Um corpo de massa 20 kg está sobre uma mola comprimida de 40 cm. Solta-se a mola e deseja-se que o corpo atinja a altura de 10 m em relação à sua posição inicial. Determine a constante elástica da mola. Adote g = 10 m/s2 e despreze os efeitos do ar. 11- Uma esfera parte do repouso em A e percorre o caminho representado até B. Na parte mais baixa do caminho há um trecho, de 5m de comprimento, cujo coeficiente de atrito cinético vale 0,36 Determine a velocidade da esfera no ponto B. 12- Um carrinho situado no ponto (veja a figura), parte do repouso e alcança o ponto B. a) Calcule a velocidade do carrinho em B, sabendo que 50% de sua energia mecânica inicial é dissipada pelo atrito no trajeto. b) Qual foi o trabalho do atrito entre A e B? 13- Uma esfera é suspensa por um fio ideal. Quando abandonada da posição A sem velocidade inicial, ela passa por B com velocidade de 12 m/s. Desprezando as resistências, determine o valor da altura h, de onde a esfera foi solta. Adote g = 10 m/s2. 14- Um objeto de massa m está posicionado no alto de uma rampa, a uma altura h em relação ao solo. No fim da rampa existe uma mola que servirá para “absorver” a energia da colisão, cuja constante elástica vale k. Mostre que a compressão máxima causada nessa mola é determinada pela relação: Em que g é o valor da gravidade local. √ 86 APÊNDICE B Questionário I Questionário I 01 – Idade: __________ 02 – Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 03 – A maior parte do Ensino Fundamental foi cursado em qual tipo de instituição escolar? ( ) Escola Pública ( ) Escola Privada 03 – No último ano do Ensino Fundamental (9º Ano – 8ª Série) você estudou Física? ( ) Sim ( ) Não Em caso de ter respondido Sim à questão anterior, responda à questão 4, caso contrário passe para questão 5. 04 – Você estudou o conteúdo Energia? ( ) Sim ( ) Não 05 – O que é “Energia” para você? _____________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 06 – Você considera que Energia é um assunto importante? Em quais contextos na sociedade você considera que a Energia tem importância? _____________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ 87 APÊNDICE C Questionário II Questionário II 01 – Você considerou importante o estudo sobre Energia? Porque? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 02 – Quais foram as maiores dificuldades para executar o trabalho sobre energia? Montar a maquete, apresentar os trabalhos sobre Energia? Outras? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 03 – O que você achou da maneira como o conteúdo foi ensinado, com a apresentação de vídeos, maquetes e com o uso das caixas de fósforos? Justifique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 04 – Você gostaria que os outros conteúdos de física fossem trabalhados de forma similar? Sim ou não e porque. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 88 APÊNDICE D Dicionário de cinemática DICIONÁRIO - Expressões comuns em cinemática Cinemática escalar É um ramo da física mecânica que estuda o movimento realizado pelos corpos, sem se preocupar com suas causas. Ponto Material É todo corpo em que as dimensões são desprezíveis em relação a um dado referencial. Corpo Extenso É todo corpo cujas dimensões influenciam o estudo do seu movimento em relação a um dado referencial. Referencial O referencial ou referência pode é o sistema adotado como referência para indicar e medir uma grandeza física, por exemplo, se o ponto está em movimento ou em repouso. É de praxe utilizar a terra como referencial. Repouso É a situação na qual um corpo não muda sua posição em relação a um dado referencial. Movimento Movimento existe quando o corpo analisado muda de posição no decorrer do tempo, em relação a um dado referencial. Trajetória É uma linha formada pela união de todas as posições ocupadas por um móvel durante o seu movimento. Essa trajetória também depende do referencial adotado. Deslocamento Escalar É a medida que representa a distância entre as posições inicial e final, ou seja, é a mudança de posição de um móvel sobre uma trajetória. Velocidade Escalar Média É a rapidez com que o móvel realiza um percurso. Matematicamente é representada pela equação: Em que: Vm = velocidade média ΔS = variação do espaço Δt = variação do tempo Velocidade Escalar Instantânea É a velocidade escalar to móvel em um instante t do seu percurso. Movimento Uniforme É quando o móvel percorre distâncias iguais em intervalos de tempo iguais, obedecendo à regra de que a velocidade instantânea seja igual à velocidade média em qualquer intervalo de tempo. 89 APÊNDICE E Termo de autorização da pesquisa 90 APÊNDICE F Modelo de relatório Relatório de Física – Experimento da Arruela Aluno (a):____________________________________________ Data:___/___/________ Professor: Tiago Destéffani Admiral Introdução: Escreva aqui um pouco sobre o experimento, como ele foi desenvolvido e qual situação problema ele abordou. Objetivo: Indique quais foram os objetivos do experimento Materiais: Materiais utilizados no experimento Métodos/Dados coletados: Aqui neste item entram os métodos usados na coleta de dados e as tabelas, gráficos e outras informações que foram coletadas durante o experimento. Exemplo: S t Tabela de intervalos de distância e intervalos de tempo. Conclusões: Aqui você escreverá quais foram as conclusões que foram tiradas da atividade experimental, pode apresentar um gráfico contendo uma informação relevante e pode escrever o que você pode entender a partir do experimento. Mencione também 91 quais são as possíveis fontes de erros do experimento, por exemplo: A falta de precisão ao cronometrar o tempo, a imprecisão na divisão dos intervalos de distância percorrida etc. 92 APÊNDICE G Produções acadêmicas decorrentes da pesquisa Apresentações de Trabalho 1. ADMIRAL, Tiago Destéffani; LEITE, S. Q. M. PROPOSTA DE SEQUENCIA DIDÁTICA DE FÍSICA PARA DEBATER O CONCEITO DE CINEMÁTICA. ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA A PARTIR DOS TEMAS TRÂNSITO E SAÚDE. 2012. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). 2. ADMIRAL, Tiago Destéffani; FAVRE-NICOLIN, E. ENSINO DE FÍSICA NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA COM A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS ALTERNATIVOS. 2011. (Apresentação de Trabalho/Seminário). 3. ADMIRAL, Tiago Destéffani; LEITE, S. Q. M. PROPOSTA DE SEQUENCIA DIDÁTICA DE FÍSICA PARA DEBATER O CONCEITO DE CINEMÁTICA. ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA A PARTIR DOS TEMAS TRÂNSITO E SAÚDE. 2012. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). Participação em eventos 1. Jecim – Jornada Científica de Educação em Ciências. Uma Análise Preliminar Sobre o Ensino do Conceito de Energia em uma Turma de Ensino Médio. Estabelecendo Relações entre a Física e a Sociedade. 2012. (Encontro). 2. SECIM – I SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA. ENSINO DE FÍSICA NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA COM A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS ALTERNATIVOS. 2011. (Seminário). 3. Sinect – III Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – UtfPR – Ponta grossa 2012 (Participação/Comunicação).