3 Vol. XXII 2013 - Revista Nascer e Crescer
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3 Vol. XXII 2013 - Revista Nascer e Crescer
Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto | Departamento de Ensino, Formação e Investigação Ano | 2013 Volume | XXII Número | 03 Diretora | Editor-in-Chief | Sílvia Álvares; Diretor Adjunto | Associated Editor | Rui Chorão; Diretora Executiva | Executive Editor | Luísa Lobato Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto | Director | Fernando Sollari Allegro Corpo Redatorial | Editorial Board Ana Rita Araújo, ULSAM Armando Pinto, IPOPFG Artur Alegria, CHP Braga da Cunha, CHTS Carmen Carvalho, CHP Cláudia Pedrosa, CHVNG/E Cláudia Tavares, CHAA Conceição Mota, CHP Cristina Rocha, CHEDV Gabriela Soares, CGMJM Gustavo Rocha, CHSJ João Barreira, CHSJ Laura Marques, CHP Margarida Guedes, CHP Rui Almeida, HPH/ULSM Vasco Lavrador (CHP) Editores especializados | Section Editors Artigo Recomendado – Helena Mansilha, CHP; Maria do Carmo Santos, CHP Perspetivas Atuais em Bioética – Natália Teles, CGMJM Pediatria Baseada na Evidência – Luís Filipe Azevedo, FMUP; Altamiro da Costa Pereira, FMUP A Cardiologia Pediátrica na Prática Clínica – António Marinho, CHUC; Fátima Pinto, HSM/CHLC; Maria Ana Sampaio, HCV, Maria João Baptista, CHSJ; Paula Martins, HPCM/CHUC, Rui Anjos, HSC/CHLO; Sílvia Álvares, CHP Ciclo de Pediatria Inter-Hospitalar do Norte – Armando Pinto, IPOPFG; Carla Moreira, HB/EB; Conceição Santos Silva, CHPVVC; Fátima Santos, CHVNG/E; Inês Azevedo, CHSJ; Isalita Moura, HSMM; Isolina Aguiar, CHAA; Joaquim Cunha, CHTS; Susana Tavares, CHEDV; Cármen Carvalho, CHP; Rosa Lima, CHP; Sofia Aroso, HPH/ULSM; Sónia Carvalho, CHMA Caso Dermatológico – Manuela Selores, CHP; Susana Machado, CHP Caso Eletroencefalográfico – Rui Chorão, CHP Caso Endoscópico – Fernando Pereira, CHP Caso Estomatológico – José Amorim, CHP Caso Radiológico – Filipe Macedo, CHAA Genes, Crianças e Pediatras – Esmeralda Martins, CHP; Gabriela Soares, CGMJM Educação Científica – Margarida Lima, CHP, ICBAS-UP Pequenas Histórias – Margarida Guedes, CHP Consultor Técnico | Consultant Gama de Sousa, Porto Consultora de Epidemiologia e de Bioestatistica | | Advisor of Epidemiology and Biostatistics Maria José Bento, IPOPFG Conselho Científico Nacional | | National Scientific Board Alberto Caldas Afonso, CHSJ, FMUP, Porto Almerinda Pereira, HB/EB, Braga Ana Maria Leitão, HSSM, Barcelos Ana Ramos, CHP, Porto António Martins da Silva, CHP e ICBAS/UP, Porto Arelo Manso, Porto Braga da Cunha, CHTS, Penafiel Cidade Rodrigues, CHP, Porto Conceição Casanova, CHPVVC, Póvoa de Varzim Eurico Gaspar, CHTMAD, Vila Real Fátima Praça, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia Gonçalves Oliveira, CHMA, Famalicão Helena Jardim, CHP, Porto Henedina Antunes, HB/EB, Braga Hercília Guimarães, CHSJ, FMUP, Porto Herculano Rocha, CHP, Porto Ines Lopes, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia José Barbot, CHP, Porto José Carlos Areias, FMUP, Porto José Cidrais Rodrigues, HPN/ULSM, Matosinhos José Pombeiro, CHP, Porto Lopes dos Santos, HPH/ULSM, Matosinhos Luís Almeida Santos, CHSJ, FMUP, Porto Manuel Salgado, HPCM/CHUC, Coimbra Manuela Selores, CHP, Porto Marcelo Fonseca, ULSM, Matosinhos Margarida Lima, CHP, ICBAS/UP, Porto Maria Augusta Areias, HPBN, Porto Norberto Estevinho, HPP, Porto Óscar Vaz, ULSN, Mirandela Paula Cristina Ferreira, CHP, Porto Pedro Freitas, CHAA, Guimarães Rei Amorim, CHAM, Viana do Castelo Ricardo Costa, CHCB, Covilhã Rosa Amorim, CHP, Porto Rui Carrapato, CHEDV, Santa Maria da Feira Teresa Oliveira, CHP, Porto Teresa Temudo, CHP, Porto Conselho Científico Internacional | | International Scientific Board Alain de Broca, Centre Hospitalier Universitaire Amiens, Amiens Annabelle Azancot-Bergel, Hôpital Robert-Debré, Paris Francisco Alvarado Ortega, Hospital Materno Infantil Universitario La Paz, Madrid Francisco Ruza Tarrio, Hospital Materno Infantil Universitario La Paz, Madrid George R. Sutherland, St. George’s Hospital Medical School Cranmer Terrace, Londres José Boix Ochoa, Barcelona Jean-François Chateil, Hôpital Pellegrin, Bordéus José Quero, Hospital Universitario La Paz, Madrid Juan Tovar Larrucea, Hospital Universitario La Paz, Madrid Juan Utrilla, Fundacion Pedro Borras, Madrid Luis Callís, Hospital Vall d’Hebron, Barcelona Peter M. Dunn, University of Bristol, Bristol Assessores Editoriais | Editorial Assistants Carolina Cortesão Paulo Silva Publicação trimestral resumida e indexada por Catálogo LATINDEX EMBASE / Excerpta Médica Index das Revistas Médicas Portuguesas SciELO Scopus Artigos disponíveis no Repositório Científico do CHP http://repositorio.chporto.pt Design gráfico bmais comunicação Execução gráfica e paginação Papelmunde, SMG, Lda Vila Nova de Famalicão ISSN 0872-0754 Depósito legal 4346/91 Tiragem 2.500 exemplares Autorização CTT DE 0005/2005 DCN Propriedade, Edição e Administração / Publisher Departamento de Ensino, Formação e Investigação Centro Hospitalar do Porto Largo do Prof. Abel Salazar – 4099-001 Porto Telefone: (+351) 222 077 500; fax: (+351) 222 082 166 Telemóvel: (+351) 915 676 516 [email protected] Condições de assinatura Anual Nacional (4 números) - 40 euros Anual Estrangeiro (4 números) - 80 euros Número avulso - 12 euros CGMJM, Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães, CHAA, Centro Hospitalar do Alto Ave; CHAM, Centro Hospitalar do Alto Minho; CHCB, Centro Hospitalar da Cova da Beira; CHEDV, Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga; CHMA, Centro Hospitalar do Médio Ave; CHP, Centro Hospitalar do Porto; CHPVVC, Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim – Vila do Conde; CHSJ, Centro Hospitalar de São João; CHTMAD, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro; CHTS, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa; CHUC, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; CHVNG/E, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho; DEFI, Departamento de Ensino, Formação e Investigação; FMUP, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; HB/EB, Hospital de Braga/Escala Braga; HCV, Hospital Cruz Vermelha; HPBN, Hospital Privado da Boa Nova; HPCM/CHUC, Hospital Pediátrico Carmona da Mota; HPH/ULSM, Hospital Pedro Hispano/Unidade Local de Saúde Matosinhos; HPP, Hospitais Privados de Portugal; HSC/CHLO, Hospital de Santa Cruz/Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental; HSM/CHLC, Hospital de Santa Marta/Centro Hospitalar de Lisboa Central; HSMM, Hospital Santa Maria Maior; ICBAS/UP, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto; IPOPFG, Instituto Português de Oncologia do Porto, Francisco Gentil; ULSN, Unidade Local de Saúde do Nordeste. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 I Reunião de Pediatria e Obstetrícia do Centro Hospitalar do Porto Presidente da Reunião Comissão organizadora Instituições colaboradoras Sollari Allegro Ana Guedes Ana Ramos António Braga Bruna Vieira Conceição Mota Maria do Céu Rodrigues Paula Cristina Fernandes Paulo Sarmento Rosa Maria Rodrigues Sílvia Alvares Teresa Oliveira Vasco Lavrador CH Porto CH Alto Ave CH Entre Douro e Vouga CH Médio Ave CH Póvoa de Varzim I V. Conde CH São João CH Tâmega e Sousa CH Trás-os-Montes e Alto Douro CH V. N. de Gaia e Espinho Hospital de Braga Hospital Santa Maria Maior IPO-FG Porto ULS Alto Minho ULS Matosinhos ULS Nordeste Patrocínios científicos Organização Ordem dos Médicos Sociedade Portuguesa de Pediatria Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal Sociedade Portuguesa de Ginecologia Associação Portuguesa de Diagnóstico Pré-Natal Centro Hospitalar do Porto Ademi Comissão científica Almerinda Pereira Armando Pinto Braga da Cunha Caldas Afonso Cidade Rodrigues Conceição Casanova Eurico Gaspar Fátima Carvalho Fátima Praça Fernando Pereira Gonçalves Oliveira Goretti Lobarinhas Herculano Rocha Jorge Braga José Rei Amorim Manuela Selores Óscar Vaz Paula Soares Pedro Freitas Rui Carrapato Serafim Guimarães Teresa Temudo Virgílio Senra Zulmira Correia NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 índice número3.vol.XXII 139 Editorial 140 Artigos Originais Natália Oliva Teles Deteção pré-natal de artéria umbilical única: qual o seu significado? Vânia Ferreira, Inês Vaz, Ana Paula Reis, Maria José Mendes, Maria do Céu Rodrigues 145 Depressão nos adolescentes – mito ou realidade Catarina Resende, Elisabete Santos, Paulo Santos, Alzira Ferrão 151 Grande queimado numa unidade Cuidados Intensivos Pediátrico – experiência de 20 anos Telma Francisco, Sara Nóbrega, Rosalina Valente, Margarida antos, Gabriela Pereira, João Estrada, Zínia Serafim, Lurdes Ventura 158 Celulite Periorbitária e Orbitária: casuística de 11 anos Georgina Monteiro, Andreia Dias, Elsa Teixeira, Joana Pereira, Elisabete Santos, Gabriela Laranjo, Cristina Faria 162 Artigo de Revisão Abordagem da má evolução ponderal Mónica Tavares, Inês Matos, Anabela Bandeira, Margarida Guedes 167 Neofobias alimentares – importância na prática clínica Ana Silva, Andreia Teles NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 171 Casos Clínicos Deformidade postero-medial congénita da tíbia: a propósito de 2 casos clínicos Ângela Dias, Liliana Pinheiro, Eduardo Almeida 174 Colecistite aguda alitiásica na criança Sofia Antunes, Tiago Santos, Sofia Deuchande, Ana Martins 178 Deleção intersticial 8p23.1-8p23.2 – Caso clínico de diagnóstico pós-natal Vânia Ferreira, Raquel Maciel, João Casanova, Sílvia Álvares, Natália Oliva Teles, Manuela Freitas, Maria do Céu Rodrigues, Maria José Mendes 182 Pitiríase liqueinóide crónica na criança Iolanda Fernandes, Susana Machado, Pedro Farrajota, Manuela Selores 185 Qual o seu Diagnóstico? Caso dermatológico Catarina Dias, Ana Maia, Manuela Selores 187 Caso endoscópico Fernando Pereira 189 Caso radiológico Ana Cristina Freitas, Telma Barbosa, Filipe Macedo 191 Genes, Crianças e Pediatras Joana Correia, Marta Rios, Paula Ferreira, Esmeralda Martins, Anabela Bandeira 193 Educação Científica Conceção, redação e publicação de artigos científicos - redação de artigos: tamanho e forma Margarida Lima 198 Normas de Publicação NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 summary number3.vol.XXII 139 Editorial 140 Original Articles Natália Oliva Teles Antenatal detection of single umbilical artery: what does it mean? Vânia Ferreira, Inês Vaz, Ana Paula Reis, Maria José Mendes, Maria do Céu Rodrigues 145 Depression in adolescents - myth or reality? Catarina Resende, Elisabete Santos, Paulo Santos, Alzira Ferrão 151 Severely burned patient in a pediatric intensive care unit – 20 years experience Telma Francisco, Sara Nóbrega, Rosalina Valente, Margarida antos, Gabriela Pereira, João Estrada, Zínia Serafim, Lurdes Ventura 158 Orbital and periorbital cellulitis: an 11-year case series Georgina Monteiro, Andreia Dias, Elsa Teixeira, Joana Pereira, Elisabete Santos, Gabriela Laranjo, Cristina Faria 162 Review Articles Approach of failure to thrive Mónica Tavares, Inês Matos, Anabela Bandeira, Margarida Guedes 167 Food neophobia – importance in clinical practice Ana Silva, Andreia Teles NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 171 Case Reports Congenital posteromedial bowing of the tibia: report of 2 cases Ângela Dias, Liliana Pinheiro, Eduardo Almeida 174 Acute acalculous cholecystitis in children Sofia Antunes, Tiago Santos, Sofia Deuchande, Ana Martins 178 Interstitial deletion 8p23.1-8p23.2 – a case report of a postnatal diagnosis Vânia Ferreira, Raquel Maciel, João Casanova, Sílvia Álvares, Natália Oliva Teles, Manuela Freitas, Maria do Céu Rodrigues, Maria José Mendes 182 Pityriasis lichenoides chronica in a child Iolanda Fernandes, Susana Machado, Pedro Farrajota, Manuela Selores 185 What is your Diagnosis? Dermatology case Catarina Dias, Ana Maia, Manuela Selores 187 Endoscopic case Fernando Pereira 189 Radiological case Ana Cristina Freitas, Telma Barbosa, Filipe Macedo 191 Genes, Children and Paediatricians Joana Correia, Marta Rios, Paula Ferreira, Esmeralda Martins, Anabela Bandeira 193 Scientific Education Design, writing and publication of scientific manuscripts – manuscript writing: size and form Margarida Lima 198 Instructions for Authors NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 editorial Quem trabalha há mais de 30 anos em Genética Médica e Humana sabe que o que melhor se lhe adequa, enquanto ciência, é “evolução” e, enquanto exercício profissional, é “mudança”. Como exemplos podemos citar conceitos – desde o homúnculo (Grécia antiga) ao feto (século XIX), teorias – de transmissão segundo Lamarck e de evolução segundo Darwin (ambos século XIX) ou características – do fenótipo (aquilo que se vê) ao genótipo (à sua constituição genética). Após a evolução lenta durante vários séculos verificaram-se, no século XX, grandes mudanças – igualmente fruto de grandes descobertas: cromossomas, estrutura do DNA e genes. Finalmente, a partir dos anos 80 do século passado, houve significativos contributos para o estudo de doentes e de famílias com patologias genéticas, sendo o objetivo destes estudos o estabelecimento de um diagnóstico para uma doença genética grave ou a investigação do seu estado de portador e, consequentemente, do aconselhamento genético adequado. A partir dessa altura, não houve estagnação possível e a regra passou a ser a “mudança” – de estudo e, consequentemente, de técnica; de atitude e, por isso, com preocupações de ordem ética. Como continuidade natural, surgiu alguma legislação, nomeadamente a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro: Informação genética pessoal e informação de saúde. Esta lei, que visa sobretudo os profissionais de Genética Médica e Humana, define “o conceito de informação de saúde e de informação genética, a circulação de informação e a intervenção sobre o genoma humano no sistema de saúde, bem como as regras para a colheita e conservação de produtos biológicos para efeitos de testes genéticos ou de investigação”. A regulamentação desta lei tem vindo a ser sucessivamente adiada pelos diversos governos desde a sua publicação – o que não tem impedido que o exercício da Genética Médica e Humana em Portugal se tenha sempre realizado ao mais alto nível de profissionalismo. De igual importância se reveste o Decreto-Lei n.º 97/95, de 10 de Maio que, não sendo exclusivo de Genética Médica ou Humana, determina a necessidade de existência de Comissões de Ética para a Saúde (CES), às quais compete “zelar pela observância de padrões de ética no exercício das ciências médicas, por forma a proteger e garantir a dignidade e integridade humanas, procedendo à análise e reflexão sobre temas da prática médica que envolvam questões de ética”. Nos últimos anos a Genética adquiriu uma aceitação crescente na nossa sociedade e, paulatinamente, passou a colaborar com cada vez mais especialidades médicas, como cardiologia, gastroenterologia, neurologia, obstetrícia/ginecologia, oncologia e pediatria. As palavras-chave, de início simples e compreensíveis, passaram de “doença genética” e “gene” a, por exemplo, genoma, varioma e exoma ou, mais recentemente a designações como ferramentas in-silico. O nível de resolução e de especificação foi-se também alterando com o tempo – se o cromossómico continua a resolver muitas situações correntes, as doenças monogénicas necessitam de pesquisa a nível génico e outras situações mais complexas irão requerer investigação a nível molecular. Mais complicado? Não, mais bem definido e caraterizado. Mudanças em Genética? Sim, obrigado! Natália Oliva Teles1,2 __________ 1 2 Centro de Genética Médica Jacinto de Magalhães, CH Porto, 4099-028, Porto, Portugal Departamento de Ciências Sociais e Saúde, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, 4200-319 Porto, Portugal editorial 139 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Antenatal detection of single umbilical artery: what does it mean? Vânia Ferreira1, Inês Vaz1, Ana Paula Reis1, Maria José Mendes1, Maria do Céu Rodrigues1 ABSTRACT Introduction: The presence of a single umbilical artery (SUA) is recognised as a soft marker for congenital anomalies, aneuploidy, earlier delivery and intra-uterine growth restriction and/or low birth weight. The aim of this study was to assess the incidence of SUA in a selected population. And secondly, to examine the clinical significance of this soft marker. Material and methods: A retrospective analysis, over a 36-month period, of all cases of pregnancy interruption due to medical causes, up to 16 weeks of gestation, with prenatal diagnosis of SUA; cases of live born with a prenatal diagnosis of SUA or after delivery, at the routine examination of the placenta. Fetal growth and the risk of preterm labor are also to consider in the surveillance of these pregnancies. Results: Thirty nine cases of SUA were identified during the study period. Incidence of SUA in live born was 0.32% (n=30) and in pregnancy interruption due to medical causes was 12.9% (n=9). The antenatal detection rate was 77%. This ecographic soft marker was an isolated finding in 27 live born (90%). In live born with SUA and associated malformations (13.3%), urinary abnormalities were identified in three cases (75%), and a skeletal with esophageal malformation was identified in one case (25%). Preterm birth occurred in seven cases (23.3%) and birth weight below 10th percentile in four cases (13.3%). Discussion and conclusions: The presence of SUA in antenatal period should alert the sonographer and clinician for the need of a detailed examination of the fetus to exclude other anomalies. Fetal growth and the risk of preterm labor are also to consider in the surveillance of these pregnancies. Keywords: Congenital malformation, prenatal diagnosis, single umbilical artery, ultrasonography. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 140-144 INTRODUCTION Single umbilical artery (SUA) is the most common developmental abnormality of the umbilical cord.(1) The incidence of this malformation varies significantly in large series of newborns, though a range of 0.2 to 1.5% is most widely accepted.(2) __________ 1 U. diagnóstico Pré-Natal, S. Obstetrícia, Maternidade Júlio Dinis, CH Porto, 4050-371 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 140 artigo original original article The etiopathogenesis, although, not definitively clarified, has been attributed to primary agenesis of umbilical cord, secondary atrophy or atresia of a previously normal umbilical artery or persistence of the original allantoic artery of the body stalk.(3) A SUA is likely due to secondary atresia or atrophy rather than primary agenesis of the artery. The left umbilical artery is absent more often than the right. One series detected an absent left umbilical artery 73% of the time vs an absent right umbilical artery 27% of the time.(4,5) The side of absence can be determined by evaluating the umbilical arteries as they course around the fetal urinary bladder laterally. In fact, this is the best place to evaluate these vessels as they may fuse at the region of the umbilical cord insertion into the placenta.(6-8) There are reports, however, in which two umbilical arteries were seen around the urinary bladder with only a single umbilical artery seen in the “free floating cord”. In the series by Bornemeier et al this occurred in 14% of their cases.(9) Although the absence of one umbilical artery was first reported a century ago by Hyrtl(10), the significance of a SUA has only been realized since a retrospective study by Benirschke and Brown(11) showed it was associated with increased incidence of congenital anomalies. 30%-60% of fetuses with single umbilical arteries will have associated anomalies or chromosomal abnormalities.(6, 12-19) Virtually any organ system can be involved with an anomaly in fetuses with a single umbilical artery, however, genitourinary, cardiac and central nervous system abnormalities are the most common.(2, 18,20- 25) Although this has not been true at all centers, a study by Abuhamad et al(26) found complex congenital and chromosomal abnormalities exclusively when the left umbilical artery was absent. In a study by Nyberg et al(24), fetuses with a known central nervous system abnormality and a single umbilical artery were found to have a significantly higher frequency of extra-CNS malformations, fetal mortality and chromosomal abnormalities than fetuses with two umbilical arteries. A SUA in the second trimester of pregnancy has a high association with Trisomy 18, 13, 21 and other chromosomal defects, but all chromosomally abnormal fetuses had associated malformations detected by ultrasound(5).Trisomy 21 is not commonly associated with a single umbilical artery. In addition to malformations and karyotypic abnormalities, infants with a single umbilical artery have an increased incidence of prematurity, low birth NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 weight and intrauterine growth retardation.(2,14, 27-32) The remaining single artery is often quite large approaching the size of the umbilical vein. Sonography is often able to accurately diagnose this condition, especially with the use of colour Doppler flow imaging. There are reports however, of sensitivities and positive predictive accuracies of only 65%. In addition, in one report obstetricians and paediatrician missed the diagnosis at delivery as often as 24% and 16% of cases.(9,25) With this study we pretend to determine the association between diagnosis of SUA and perinatal outcome (malformations, prematurity, low birth weight, intrauterine growth retardation, delivery type) as well as to determine the clinical significance of antenatal detection of a single umbilical artery. MATERIAL AND METHODS For the purpose of this study were considered all cases of pregnancy interruption due to medical cases, up to 16 weeks of gestation, with prenatal diagnosis of SUA; all newborns with prenatal diagnosis of SUA and those who were identified at the routine examination of the placenta after delivery, over a 36 month period. Pregnancy data (maternal age, parity, gestational age at diagnosis of SUA, adverse pregnancy outcomes, prenatal diagnosis of other anomalies, gestational age at delivery), perinatal outcome (delivery mode, gestation weeks, birthweigth, posnatal anomalies) were reviewed. A variety of methods, previously described(6-9,25), were employed by different sonographers to detect the presence of a single umbilical artery. In some cases, a free loop of the umbilical cord was viewed in cross-section and the vessels were counted. In other cases, the umbilical cord insertion at the abdominal wall or the umbilical arteries, as they traverse either side of the fetal bladder, was viewed with colour power angiography. The methodology used was not recorded by the sonographer at the time of the examination. Fetuses were evaluated in posnatal period with transfontanelar ultrasound, echocardiography, and bladder-kidney ultrasound. The data were analysed in SPSS19. RESULTS During the study period there were 9518 fetuses delivered after 24 weeks gestation and 70 pregnancy interruption due to medical causes. 39 cases of SUA were identified, nine from pregnancy interruption and thirty newborns with SUA. The incidence of SUA in live born was 0.32% (n=30) and 12.9% (n=9) in pregnancy interruption due to medical causes. The presence of only one umbilical artery was detected antenatally in 30 of the 39 cases with SUA, representing a detection rate of 77%. One of the nine cases with a single umbilical artery not recognised antenatally was diagnosed by the routine examination of the placenta after delivery. It was a delivery at 31 weeks and the newborn presented unilateral renal agenesis. The maternal and pregnancy characteristics of live borne cases with SUA are shown in Table 1. Of the total cases with SUA detected antenatally, 12 had suspicious malformations associated. Nine of those cases (75%) went to termination of pregnancy and three (25%) were born. Of these three live born, two presented associated malformations and in one case the malformation recognized antenatally was not confirmed in postnatal period. The description of cases with a SUA and other anomaly recognised antenatally are shown in Table 2. The principal complications of pregnancy were: preeclampsia (one case), oligoamnios (three cases) and intrauterine growth restriction with oligoamnios (four cases). Preterm birth occurred in seven cases (23.3%) and birth weight below 10th percentile in four cases (13.3%). Ecocardiography and transfontanelar ultrasound in posnatal period did not revealed alterations. Bladder-kidney ultrasound revealed a horseshoe kidney in one case (recognized in prenatal period) and unilateral renal agenesis de novo (not recognised in prenatal period). SUA was an isolated finding in 27 liveborns (90%). In live born with SUA and associated malformations (n=4; 13.3%), urinary abnormalities were identified in three cases (75%) and in one case (25%) a skeletal with esophageal malformation was identified. Table 1 – Characteristics of the population SUA in newborns (N=30) Characteristics n Maternal age (years): % 29.2± 5.2 (16-37) Parity: Primiparous 12 40% Para 1+2 16 53.3% Para 3+ 2 6.7% Singleton 30 100% Multiple -- -- Multiple pregnancy: Birth weight (grams): mean Gestational age at diagnosis (weeks): mean 2865± 721 (610-3980) a Gestational age at delivery (weeks): mean Birth weight percentile: (% fetuses <10th birth weight percentile) 22.6± 4.6 (18-34) 37.7± 2.6 (29-40) 4 13.3% Unassisted vaginal delivery 14 46.7% Assisted vaginal delivery 2 6.6% Caesarean section 14 46.7% Mode of delivery: a 21 cases of SUA identified antenatally. artigo original original article 141 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 DISCUSSION There are two main sources of data on SUA and its association with other abnormalities: 1) abortuses, cases of fetal death, and terminations of aneuploid or anomalous fetuses, and 2) live births(12). The first source of data produces a higher incidence of SUA, as well as more frequent association with structural and genetic abnormalities and perinatal mortality. The second data set suggests a lower incidence and frequency of associated anomalies, as many of the most severely affected infants have aborted or been voluntarily terminated early in pregnancy. A meta analysis of these data highlights the differences: the autopsy data estimate the incidence of single umbilical artery at 0.34-7% and the associated malformations at 0.25-81.8% (generally 20-50%). (15,26,33-35) Live born data estimate the incidence of single umbilical artery at birth at 0.2-1.13% and anomalies at 8.7-66%.(9) Estimates of the frequency of aneuploid range widely, between 4-50% in cases of SUA with other anomalies.(15-19,26) With isolated SUA, the rate of aneuploidy is not known; however, most authors do not recommend routine karyotype.(15-19,26) Reports of association between SUA and other anomalies have created an imperative to identify or exclude the presence of such anomalies and detailed sonography is advised for all fetuses with SUA.(15,21,26,27) It is therefore not clear not how a couple with this sonographic finding should be counseled and what further management should be offered.(14) In our study, we found that a SUA was present in 0.32% of live born and in 12.9% of the cases of interruption of pregnancy due to medical causes. This is similar to published data.(9,12,15,26,33-35) The antenatal detection rate of a SUA in this population presents a value quite acceptable, with only one-quarter of cases not identified. There are possible explanations for this, including technical difficulties or lack of training; failure by the sonographers to spend much time examining the cord vasculature because of a lack of understanding of the implications of the presence of a SUA and due to the fact that other anomalies are noted with ultrasonography before the presence of a SUA is confirmed and examination of the cord then becomes lower in priority. The presence of malformations was identified in four cases of live born with SUA (13.3%), which is similar to the published data.(9) Among the 30 live born with SUA, seven (23,3%) were born before 37 weeks, which means that the proportion of premature infants in this group was twice that in the general institution (11,5%). Four of the 30 live born with SUA were born below tenth percentile, contrastating well with the proportion of live born in global sample (3.92%). These findings were similar to previous reports of an increased risk of prematurity as well as birth weight below the tenth percentile in live born with single umbilical artery.(2,14,27-32) However, future studies with larger number of patients and adequate power analysis are required to confirm this regard. Table 2 – Cases with a single umbilical artery and other anomaly(s) (structural or karyotypic) recognised antenatally Description 1- Hidrocephaly at 20 weeks. Normal karyotype. TOPa at 20 weeks 2- Polymalformative Syndrome with pericardial effusion, with hypertrophy of the right chambers at 23 weeks. Normal karyotype. TOP at 23 weeks 3- Interruption of the aortic arch interventricular communication, stenotic aortic valve, at 23 weeks. Normal karyotype. TOP at 24 weeks 4- Double outlet of the right ventricle, hypoplastic left ventricle and mitral valve at 21 weeks. Normal karyotype. TOP at 21 weeks 5- Ventriculomegaly, hipoplastic right ventricle, interventricular communication at 21 weeks. Normal karyotype. TOP at 21 weeks 6- Double outlet right ventricle, hypoplastic left ventricle, hyperechogenic bowel, at 20 weeks. Normal karyotype. TOP at 20 weeks 7- Anamnios, bilateral renal agenesis, agenesis of the corpus callosum, at 18 weeks. Normal karyotype. TOP at 18 weeks 8- Transposition of great vessels, pulmonary atresia at 18 weeks. Karyotype 46,XY,inv(7)(p13q22). TOP at 18 weeks 9- Interruption of the aortic arch interventricular communication, stenotic aortic valve, at 18 weeks. Normal kayotype. TOP at 18 weeks 10- Single kidney at 30 weeks 11- Dilated pelvicalyceal system at 22 weeks 12- Right hydronephrosis at 31 weeks a Pregnancy outcomes – TOP – termination of pregnancy 142 artigo original original article Live birth at 40 weeks. Horseshoe kidney recognised post-natally. Live birth at 38 weeks. No alterations recognised post-natally. Live birth at 35 weeks. Oesophageal atresia, radial dysplasia recognised pos-natally. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 In this study only one chromosomal abnormality established by fetal karyotyping was found (2,6%) and it occurred in a fetus with multiple malformations, which went to termination of pregnancy. Our results indicate that the identification of a SUA should be regarded as a significant finding associated with other congenital anomalies and a poorer perinatal outcome. The detection rate, despite having an acceptable value, should be improved. Further training is required together with rising the awareness of the implications of this finding. When identified at a routine antenatal scan, the presence of a SUA should alert the sonographer and clinician of the fact that the fetus requires a more detailed examination to exclude other anomalies. If other anomalies are detected, then the case should be managed according to the type and severity of the abnormalities. Since the presence of a SUA with an associated anomaly carries an aneuploidy risk(5,15-19,26), karyotyping should be advised if another anomaly is detected. However, advice regarding karyotyping in the presence of an isolated SUA is more difficult. Any advice should be tailored to the particular pregnancy, taking into account other factors such as age, but we would not strongly recommend karyotyping in agreement with other authors.(19,29) In light of the poorer perinatal outcome in fetuses with an apparently isolated single umbilical artery, further ultrasound scans in the third trimester to examine growth and continuous fetal-heart-rate monitoring during labour should be offered. Parents should be advised of the increased risks associated with the presence of a SUA and the need for extra surveillance, and it may also be advisable to counsel parents of the possibility of an associated abnormality that may only be detectable after delivery. DETEÇÃO PRÉ-NATAL DE ARTÉRIA UMBILICAL ÚNICA: QUAL O SEU SIGNIFICADO? RESUMO Introdução: A presença de artéria umbilical única (AUU) é um marcador ecográfico associado a malformações, aneuploidias, parto pré-termo e restrição de crescimento intra-uterino e/ou baixo peso ao nascimento. Este estudo tem como objetivo determinar a incidência de AUU numa população selecionada e verificar qual o significado clínico deste marcador ecográfico. Material e métodos: Análise retrospetiva, durante um período de 36 meses, dos casos de interrupção médica da gravidez, acima das 16 semanas, com diagnóstico pré-natal de AUU; casos de recém-nascidos com diagnóstico pré-natal de AUU ou após o parto, através do exame da placenta. Resultados: Foram identificados 39 casos de AUU durante o período de estudo. A incidência de AUU nos recém-nascidos e nos casos de interrupção médica da gravidez foi de 0,32% e 12,9%, respetivamente. A taxa de deteção pré-natal foi de 77%. Este achado ecográfico ocorreu isoladamente em 27 casos de recém-nascidos (90%). Nos recém-nascidos com AUU e outras malformações associadas (13,3%), foram identificadas malfor- mações do sistema urinário em três casos (75%) e malformação esquelética associada a malformação esofágica em um caso (25%). Ocorreu parto pré-termo em sete casos (23,3%) e peso ao nascimento abaixo do percentil 10 em quatro casos (13,3%) Discussão e conclusão: A deteção pré-natal de AUU deve alertar o ecografista e o clínico para o fato do feto necessitar de uma avaliação ecográfica detalhada a fim de excluir outras anomalias. O crescimento fetal e o risco de parto pré-termo, são também de considerar na vigilância destas gestações. Palavras-chave: Artéria umbilical única, diagnóstico prénatal, ecografia, malformações congénitas. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 140-144 REFERENCES 1. Peckham CH, Yerushalmy J. Aplasia of one umbilical artery: incidence in race and certain obstetric factors. Obstet Gynecol 1965; 26:359-66. 2. Heifetz SA. Single umbilical artery: a statistical analysis of 237 autopsy cases and review of literature. Perspect Pediatr Pathol 1984; 8:345-78. 3. Persutte WH, Hobbins J. Single umbilical artery: a clinical enigma in modern prenatal diagnosis. Ultrasound Obstet Gynecol 1995; 6:216-29. 4. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Vânia Gisela Costa Arcanjo Ferreira Centro Hospitalar do Porto – Maternidade Júlio Dinis Serviço de Obstetrícia – Unidade de Diagnóstico Pré-Natal Largo da Maternidade Júlio Dinis 4050-371 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 14.05.2013 | Aceite a 25.08.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Depressão nos adolescentes – mito ou realidade? Catarina Resende1, Elisabete Santos1, Paulo Santos1, Alzira Ferrão1 RESUMO Introdução: A adolescência é um período de grandes mudanças a nível biopsicossocial, o que torna esta fase mais vulnerável a alterações psicológicas. A depressão surge como uma entidade clínica cada vez mais prevalente, podendo ser precursora de psicopatologia no adulto. Objetivos: Avaliar a prevalência e caracterizar a população de adolescentes com síndrome depressivo na consulta de adolescência. Material e métodos: Estudo retrospetivo e analítico, com base nos dados obtidos dos 91 processos clínicos dos doentes seguidos na consulta de adolescência com o diagnóstico de distúrbio depressivo, no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2011. Resultados: O diagnóstico de distúrbio depressivo foi feito a 91 adolescentes (N=91). Verificou-se um predomínio do sexo feminino. A idade média do diagnóstico foi de 14,8 anos. Os adolescentes foram referenciados principalmente dos Cuidados de Saúde Primários e da Urgência Pediátrica (26,4 e 22%, respetivamente). Os principais sintomas à apresentação foram a tristeza/labilidade emocional/choro fácil (61,5%). Os sintomas psicossomáticos estiveram presentes em 30,4% dos adolescentes. Em 64,8% dos casos foi identificado um contexto desfavorável, sendo os problemas/conflitos familiares o mais frequente (38,5%). Verificou-se ideação suicida em 28,6% dos casos, com para-suicídio em 21%. Em 60,4% foi pedida colaboração de outras consultas (71% pedopsiquiatria). Iniciaram medicação 76,9% dos adolescentes, sendo a fluvoxamina o fármaco mais usado. Conclusão: A perturbação depressiva no adolescente tem aumentado nos últimos anos. Os médicos dos cuidados de saúde primários são os primeiros a tomar contacto com esta problemática. Assim, é importante a identificação precoce de adolescentes em risco de desenvolver esta patologia. Palavras-chave: Depressão, adolescência, antidepressivo, psicossomático. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 145-150 __________ 1 S. Pediatria, CH Tondela-Viseu, 3504-509 Viseu, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] INTRODUÇÃO A adolescência é uma etapa de aquisição de autonomia, caraterizada por intensas mudanças físicas e psicossociais. É um período extremamente relevante para a construção do individuo, sendo os sintomas depressivos comuns nesta fase do desenvolvimento.(1,2) Considera-se que o risco de depressão aumenta com a adolescência, sendo a sua prevalência estimada em cerca de 2% nas crianças e em 4-8% nos adolescentes.(1,3,4) Durante a infância a depressão não apresenta predomínio de género, no entanto, na adolescência as raparigas têm duas vezes maior risco de desenvolver depressão do que os rapazes da mesma idade.(3) Alguns fatores estão associados a um aumento do risco de depressão, nomeadamente: depressão em familiares do 1º grau, episódios depressivos prévios, distúrbio de ansiedade, perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA), dificuldades de aprendizagem, perdas precoces, disfunção familiar, conflitos com os cuidadores, problemas com o grupo de pares, dificuldades escolares, dificuldade em lidar com o stress, acontecimentos desfavoráveis e doença crónica.(3,5,8) De acordo com a classificação do DMS-IV, os distúrbios depressivos são classificados em episódios depressivos major, distúrbios distímicos e distúrbios depressivos sem outra especificação.(9) Num episódio depressivo major o adolescente deve apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas depressivos: humor depressivo ou irritabilidade, anedonia, perda de prazer nas atividades diárias, alterações no apetite ou peso, insónia ou hipersónia, agitação ou diminuição da atividade psicomotora, fadiga ou perda de energia, sentimentos de inutilidade ou de culpa, dificuldade de concentração e decisão, ideias recorrentes de morte ou suicídio. Estes sintomas devem estar presentes todos os dias durante pelo menos duas semanas.(3,9) No distúrbio distímico os sintomas são menos intensos mas mais persistentes. Devem estar presentes três ou quatro dos critérios supracitados, durante pelo menos um ano.(3,9) Os distúrbios depressivos sem outra especificação referem-se a adolescentes com sintomas depressivos que não preenchem nenhum dos critérios dos distúrbios de humor supracitados.(9) Alguns autores consideram que a depressão no jovem pode estar presente na ausência destes critérios de diagnóstico. Assim, acreditam que estes sintomas possam estar mascarados ou expressos em equivalentes depressivos como as queixas psicossomáticas, distúrbios do comportamento ou problemas escolares.(5) artigo original original article 145 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Os sintomas depressivos estão correlacionados com baixos níveis de autoestima e de aptidão social, associando-se frequentemente a comportamentos de risco como delinquência, promiscuidade, tabagismo, abuso de álcool e de drogas e risco de suicídio ou parassuicídio.(4,6,7) A depressão no adolescente é frequentemente subdiagnosticada e subtratada. Estima-se que cerca de 70% dos adolescentes com depressão não recebem qualquer tratamento.(8) Existem quatro tipos de intervenção terapêutica: a intervenção psicossocial, a psicoterapia, a terapia farmacológica e a terapia combinada. A terapia psicossocial e a educação do adolescente e da família são um importante componente do tratamento.(8,10,11) Esta educação permite uma compreensão dos sintomas e da forma como estes afetam as relações interpessoais. Os agentes farmacológicos usados no tratamento da depressão nos adolescentes incluem os antidepressivos tricíclicos, os inibidores da recaptação da serotonina e os compostos relacionados, sendo os inibidores da recaptação da serotonina a terapia de primeira linha.(14) A terapêutica ideal será a combinação destes últimos com a psicoterapia, nomeadamente a terapia cognitivo-comportamental, que parece ser superior a qualquer medida isolada.(8,12,13) Alguns autores sugerem que a depressão nos adultos tem as suas raízes na adolescência.(6,7) Dadas as implicações potenciais dos distúrbios depressivos os médicos dos cuidados de saúde primários, os pediatras e os pedopsiquiatras devem trabalhar em conjunto de forma a ultrapassar as dificuldades que encontram com estes adolescentes. Este estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de depressão entre os adolescentes seguidos na consulta de Adolescência do nosso hospital, bem como caracterizar esta população e os fatores associados com esta patologia. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se um estudo observacional, retrospetivo e analítico dos processos clínicos dos adolescentes referenciados à consulta de Adolescência do nosso hospital, com o diagnóstico de distúrbio depressivo. O estudo foi efetuado no período de 1 de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2011. O diagnóstico de distúrbio depressivo foi realizado de acordo com os critérios do DMS-IV e incluiu a depressão minor, a distimia e a depressão major. Foram excluídos outros transtornos psiquiátricos, que cursem concomitantemente com depressão. Procedeu-se à análise dos processos clínicos com a colheita dos seguintes dados: ano da primeira consulta, sexo, proveniência, sintomatologia, contexto, antecedentes familiares de psicopatologia, antecedentes patológicos, ideação suicida e para-suicídio, e tratamento farmacológico. A informação recolhida foi inserida e trabalhada numa base de dados Microsoft Excell ®2007. RESULTADOS Num total de 1823 primeiras consultas de Adolescência, foi feito o diagnóstico de distúrbio depressivo em 91 adolescen- 146 artigo original original article tes (5%). Verificou-se um aumento progressivo do diagnóstico ao longo dos anos (Figura 1), exceto no ano de 2010 e 2011. Verificou-se um grande predomínio do sexo feminino, com apenas 8 rapazes fazendo parte desta amostra (83 versus 8). Os adolescentes apresentavam idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, com uma média de idades de 14,8 anos (mediana de 15 anos). Verificou-se um pico de diagnóstico aos 14-15 anos, correspondendo a 54,9% do total (Figura 2). A quase totalidade dos adolescentes frequentava a escola (96,7%), sendo que a maioria (52,7%) frequentava o 9º e 10º anos de escolaridade. Dos estudantes 34 (38,6%) já tinham reprovado, pelo menos, uma vez. Apenas 4 adolescentes tinham alguma ocupação dos tempos livres e dois trabalhavam em horário pós-escolar. Os adolescentes foram referenciados principalmente dos Cuidados de Saúde Primários, da Urgência Pediátrica e do Internamento de Pediatria (26,4; 22 e 15,4%, respetivamente). Quatro adolescentes foram referenciados do GASA (Gabinete de Apoio à Saúde do Adolescente), existente na Escola Alves Martins, com o Figura 1 – Distribuição do diagnóstico por ano. Figura 2 – Distribuição etária. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 apoio da Unidade de adolescência do nosso hospital (Tabela I). Os principais sintomas à apresentação foram a tristeza/labilidade emocional/choro fácil, presente em 56 adolescentes (61,5%), seguido dos distúrbios do sono com insónia (41 casos; 45,1%). A sintomatologia psicossomática ocupou o terceiro lugar, estando presente em cerca de 30,8% dos adolescentes (28 casos) (Figura 3). Dentro dos sintomas psicossomáticos destacam-se as cefaleias em 46,7% (14/30), lipotimias em 23,3% (7/30), tonturas em 16,7% (5/30), a toracalgia em 6,7% (2/30), a dor abdominal inespecífica em 3,3% (1/30) e a sensação de dispneia em 3,3% (1/30). Importante salientar que a quebra do rendimento escolar se verificou em 23% dos casos. Cerca de 60,4% dos adolescentes já tinha procurado ajuda previamente. O médico de família surgiu como primeiro apoio em 43,6% dos casos (24 adolescentes), seguido do psicólogo da escola (14 casos, 25,4%), do psiquiatra particular (6 casos, 10,9%) e do GASA (4 casos, 7,3%). Trinta e dois adolescentes (36%) já tinham iniciado algum tipo de medicação: 40,6% (13 casos) antidepressivo, 28,1% (9 casos) benzodiazepinas, 18,7% (6 casos) polivitamínicos e 12,5% (4 casos) combinação de antidepressivos e benzodiazepinas. Em 64,8% dos casos foi identificado um fator desencadeante dos sintomas ou um contexto favorável ao seu aparecimento, sendo o contexto familiar desfavorável o mais frequente, presente em 38,5% dos adolescentes (Tabela II). Quando avaliado o ambiente familiar verificamos que cerca de 31,9% eram famílias monoparentais, 8,8% famílias recombinadas (fruto de mais do que uma relação) e quatro adolescentes estavam institucionalizados. Em cerca de 27,5% dos casos havia perturbação depressiva na família, sendo a mais frequente a depressão materna (60%). Em relação aos antecedentes patológicos cerca de 27% (25 casos) dos adolescentes apresentavam uma doença crónica, sendo as mais prevalentes a asma/rinite alérgica (9 casos; 9,9%) e a obesidade (5 casos; 5,5%) (Tabela III). Tabela I – Referenciação dos adolescentes à consulta. Proveniência N Médico de Família 24 Serviço de Urgência 20 Internamento 14 Consulta de Pediatria Geral 9 Psicóloga da Escola 8 Pediatra Assistente 7 GASA 4 Consulta de Ginecologia da Adolescência 4 Desconhecido 1 Tabela II – Contexto psicossocial. Contexto N Disfunção familiar 35 Acidente/doença Parental 7 Problemas escolares 6 Falecimento parental 6 Falecimento familiar 5 Conflitos com namorado 5 Problemas socioculturais e económicos 4 Emigração 3 Abandono 1 Violação 1 Tabela III – Antecedentes Patológicos. Figura 3 – Motivo de consulta. Antecedentes N Asma/Rinite Alérgica 9 Obesidade 5 Epilepsia 4 PHDA 3 Gastrite 4 Problemas ginecológicos 3 Psoriase 2 Cardiopatia 1 Sindrome de Raynaud 1 HTA 1 artigo original original article 147 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Verificou-se ideação suicida em 26 adolescentes (28,6%) e parassuicídio em 19 jovens (20,9%) (18 intoxicações medicamentosas voluntárias e um intoxicação com organofosforados). Em 60,4% (55 casos) foi pedida colaboração de outras consultas (71% pedopsiquiatria, 23,6% psicologia clínica e 5,4% de ambas). Iniciaram medicação 70 adolescentes (76,9%), sendo a Fluvoxamina o psicofármaco mais prescrito em 47,1% dos casos, seguido pela Fluoxetina em 17,1%. Só foram prescritas benzoadizepinas em duas adolescentes com distúrbio de ansiedade marcado. A medicação foi iniciada pelo pedopsiquiatra em 32 dos casos (45,7%), pelo pediatra em 31 dos casos (44,3%) e em seis casos foi mantido o fármaco iniciado pelo médico que avaliou o adolescente antes da consulta (seis pelo médico de família e um pelo neurologista). DISCUSSÃO A prevalência de depressão na nossa consulta de adolescência (5%) vai ao encontro de outras séries.(17,20-22) De acordo com a literatura verificou-se um aumento do número de diagnósticos ao longo dos anos até 2009.(3,4,18,21) No ano de 2010 e 2011 o número de casos foi menor (14 e 6 casos, respetivamente). Este decréscimo nos últimos dois anos deve-se provavelmente, à referenciação direta à consulta de pedopsiquiatria por parte do médico assistente. Verificou-se um forte predomínio do sexo feminino.(3,16,17,18) A patologia foi mais prevalente nos jovens dos 14 aos 15 anos, sendo o grupo etário mais crítico, de acordo com outros estudos (16,20), embora alguns autores tenham encontrado uma maior prevalência na adolescência tardia.(17) A depressão no adolescente torna-se um problema cada vez mais importante, pelo que os profissionais de saúde que trabalham com estes jovens assumem uma função primordial na sua suspeição, intervenção e eventual referenciação. Os Cuidados de Saúde Primários e os Pediatras têm um lugar privilegiado na identificação dos sintomas depressivos, visto serem os profissionais que primeiro contactam com estes jovens. A depressão nesta faixa etária é subdiagnosticada pois pode manifestar-se por sintomas inespecíficos. É importante estar atento aos sinais, por vezes subtis, desta patologia. Num número importante de adolescentes o motivo de referenciação foram os sintomas psicossomáticos (30,8%) (1,21,22,24), nomeadamente as cefaleias e as lipotimias que são motivos de referenciação frequente à urgência pediátrica (22). Assim, este grupo de jovens constitui uma população particularmente difícil de abordar em carácter de urgência e consulta. Um sinal também muito frequente de patologia depressiva é a diminuição do rendimento escolar, tornando estes alunos mais suscetíveis a reprovações(22). Tal como noutras séries a maioria dos adolescentes apresentaram fatores de risco para o desenvolvimento de depressão(1,3,18,21,22,25) sendo os conflitos familiares o fator de risco de maior importância, presente em 38,5%. Assim, tal como mostra a literatura, o ambiente/estrutura familiar é essencial para o bem-estar psicológico do adolescente (17,18, 20,21,22,25). Fatores familiares específicos também têm sido foco de destaque, nomeadamente a privação de um ou ambos os pais, quer por doença, falecimento ou abandono (18,25). 148 artigo original original article Tal como descrito na literatura(1,25) a presença de antecedentes familiares de psicopatologia, nomeadamente depressão na mãe, está fortemente relacionada com o desenvolvimento de síndrome depressivo no adolescente(22). A presença de uma doença crónica também é um fator de risco importante(18) , embora não tenha tido alta prevalência no nosso estudo. Para minimizar o risco de depressão é necessária a existência de suportes sociais na família e na comunidade (escola e grupo de pares), que são cruciais para o desenvolvimento saudável do adolescente(15). O suicídio no adolescente é uma manifestação particularmente dramática e grave. Atualmente há uma tendência entre os autores para denominarem a tentativa de suicídio de comportamento autodestrutivo deliberado (“Deliberate Self-Harm”). O suicídio é três a quatro vezes mais comum nos rapazes, enquanto as tentativas de suicídio são mais comuns nas raparigas(22), embora não tenhamos encontrado diferenças significativas no nosso estudo. Consideramos que o número de parassuicídios existentes na nossa consulta foi significativo (20,9%) e tal como na literatura as intoxicações medicamentosas foram o método mais utilizado.(22) Uma percentagem significativa de adolescentes, para além da intervenção psicossocial, iniciou tratamento farmacológico (76,9%) e em 44,3% este foi inicialmente prescrito pelo pediatra da consulta de adolescência. Isto torna-se possível devido a uma boa articulação com a pedopsiquiatria e uma familiarização do pediatra com este tipo de medicação. Assim, a abordagem ao adolescente deve ser feita de forma multidisciplinar e o pediatra deve estar familiarizado com a utilização dos psicofármacos nesta faixa etária. Apesar do fármaco mais utilizado no tratamento da depressão nos adolescentes ser a Fluoxetina, no nosso trabalho o psicofármaco prescrito com mais frequência foi a Fluvoxamina (47,1%). Embora o seu uso em crianças e adolescentes nos EUA não esteja aprovado, é comummente usado na Europa para o tratamento de depressão nesta faixa etária.(8,14) A escolha da Fluvoxamina como terapêutica de primeira linha na nossa consulta deveu-se à frequente associação da insónia e da ansiedade ao quadro depressivo.(26-29) Sempre que o pediatra sente dificuldades na abordagem da depressão em idade pediátrica, deve pedir colaboração ou referenciar a criança/adolescentes a um especialista de saúde mental. Uma das limitações do nosso estudo foi caracterizar apenas a população de adolescentes seguidos na consulta hospitalar de Adolescência não refletindo a realidade da população geral de adolescentes. CONCLUSÃO A depressão em crianças e adolescentes só foi reconhecida como patologia psiquiátrica a partir da década de 70, sendo atualmente considerada um importante problema de saúde pública. (22) A organização mundial de saúde (OMS) aponta a depressão como a principal causa de incapacidade em todo o mundo.(25) Estudos epidemiológicos têm sido escassos em Portugal.(18) Para minimizar o risco de depressão é necessária a existência de suportes sociais como a família, o grupo de pares e a escola, que são de valor significativo para o adolescente.(17) NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 A identificação precoce de adolescentes em risco potencial de sintomas depressivos deve ser foco não apenas dos profissionais de saúde mental, mas de todos os clínicos que tomam contacto com este grupo etário. É igualmente importante uma intervenção no meio em que o adolescente está inserido de forma a minimizar os fatores desencadeantes. DEPRESSION IN ADOLESCENTS - MYTH OR REALITY? ABSTRACT Introduction: Adolescence is a period of changes, making this phase more vulnerable to psychological disturbances. The Depressive Disorder is a clinical entity increasingly prevalent and may be a precursor of adult psychopathology. Objectives: To evaluate the prevalence and characterize the population of adolescents with depressive syndrome in an adolescent consultation. Methods: Retrospective and analytical study, based on data obtained from 91 medical records of patients followed in the adolescence office with the diagnosis of depressive syndrome in the period of January 2003 to December 2011. Results: The diagnosis of depressive syndrome was made in 91 adolescents. There was a predominance of females. The average age of diagnosis was 14.8 years. The adolescents were referred mainly from the Primary Health Care and Emergency Paediatric (26.4 and 22%, respectively). The main symptoms at presentation were sadness / emotional lability / tearfulness (61.5%). Psychosomatic symptoms were quite prevalent accounting for 30.8%. In 64.8% of cases an unfavourable context was identified, and the family conflicts were the most frequent (38.5%). There was suicidal ideation in 28.6% of cases with para-suicide in 21%. In 60% it was necessary collaboration from other specialties (71% child psychiatry). Medication was started in 76.9% of adolescents, the most widely used drug was fluvoxamine. Conclusion: Depressive disorder in adolescents has been increasing in recent years. Frequently, the Primary Health Care physicians are the first to contact with this situation. It is important the early identification of adolescents at risk of developing this disease. Keywords: Depression, adolescence, antidepressant, psychosomatic. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 145-150 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Cook MN, Peterson J, Sheldon C. 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Duarte 3504-509 Viseu, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 19.12.2012 | Aceite a 13.05.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Grande queimado numa Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos – experiência de 20 anos Telma Francisco1, Sara Nóbrega1, Rosalina Valente2, Margarida Santos2, Gabriela Pereira2, João Estrada2, Zínia Serafim3, Lurdes Ventura2 RESUMO Introdução: A abordagem inicial do grande queimado até à sua estabilização hemodinâmica e hidroeletrolítica é fundamental para diminuir a morbimortalidade. Material e Métodos: Estudo retrospetivo, descritivo e analítico, de todos os internamentos por queimadura numa Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos durante o período de 20 anos (Abril/1991 a Dezembro/2010). Avaliaram-se parâmetros nosodemográficos, agente causal, gravidade e extensão da queimadura, procedimentos, terapêutica, complicações e resultados. Resultados: Ocorreram 137 internamentos por queimadura correspondentes a 123 doentes e a 1,8% do total de internamentos na UCIP. A mediana de idade foi 3,6 anos e 62,4% era do sexo masculino. Verificou-se maior incidência em Agosto (13,0%). Foram agentes da queimadura: líquido fervente (38,1%), fogo (38,1%) e eletricidade (23,9%). A mediana da superfície corporal queimada foi de 30% (0,5-92,0%), com queimaduras do terceiro grau em 59,0% dos doentes. Necessitaram de ventilação mecânica 45,5% e de cateter venoso central 64,2% dos doentes. As complicações incluíram: sépsis (29,2%), falência respiratória (21,1%), falência cardiovascular (16,5%) e falência multiorgânica (18,8%). Verificou-se melhoria em 88,6% dos casos e ocorreram 10 óbitos (8,1%), nove dos quais nos primeiros 10 anos do estudo e nove devido a causa infeciosa. No entanto, o score avaliador do risco de mortalidade (PRISM), índice de intervenção terapêutica (TISS) e o risco de probabilidade de morte (RPM) foram mais elevados no segundo decénio. Conclusões: Nos últimos anos do estudo, apesar do maior número de admissões e da sua maior gravidade, verificou-se uma diminuição do número de mortes, o que poderá dever-se à melhoria dos cuidados prestados. Palavras-chave: Doente queimado, criança, Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 151-157 __________ 1 2 3 Dep. Pediatria, H Dona Estefânia, CH Lisboa Central, 1169-045 Lisboa, Portugal. [email protected]; [email protected] U. Cuidados Intensivos Pediátricos, H Dona Estefânia, CH Lisboa Central, 1169-045 Lisboa, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] S. Cirurgia Pediátrica, H Dona Estefânia, CH Lisboa Central, 1169-045 Lisboa, Portugal. [email protected] INTRODUÇÃO Os acidentes por queimadura são bastante frequentes e estão associados a elevada morbilidade e mortalidade. Nos Estados Unidos da América ocorrem cerca de 120000 casos de queimadura em crianças por ano com necessidade de tratamento num serviço de urgência, correspondendo a 15 casos/10000 residentes por ano.(1) O número de doentes portugueses queimados é elevado, com uma incidência estimada de 21,4/100000 (pacientes hospitalizados/100000 habitantes por ano).(2) Num estudo retrospetivo incluindo todas as faixas etárias e 91 hospitais portugueses entre 1993 e 1999, foram internados 14797 doentes por queimadura, registando-se uma taxa de mortalidade de 3,7%(2). Cerca de 6% das crianças com queimadura necessitam de internamento hospitalar e a mortalidade por queimadura é superior nas crianças mais novas comparativamente às mais velhas.(1) As campanhas de prevenção permitiram reduzir os acidentes por queimaduras nos últimos anos, nomeadamente no grupo etário mais suscetível a estas lesões, as crianças dos 0-10 anos. (2) Um reflexo desta intervenção global, foi a legislação do vestuário infantil, com regulação da inflamabilidade da roupa infantil, nomeadamente da roupa de dormir, o que diminuiu as lesões e mortalidade relacionada com queimadura neste grupo etário.(3) A nível mundial, o número de mortos por queimadura/fogos declinou desde os anos sessenta. A melhoria nos cuidados a estes doentes reduziu a mortalidade no período pós queimadura imediata. Os progressos nos cuidados e antibioterapia reduziram igualmente a morte, nomeadamente por infeção. A identificação e tratamento precoce das lesões de queimadura, a ressuscitação hemodinâmica, o controlo da dor e a referenciação para centros com experiência no tratamento do grande queimado podem melhorar o prognóstico dos doentes. Dois estudos anteriores caracterizaram os internamentos por queimadura na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos (UCIP) do Hospital Dona Estefânia (HDE), nos primeiros 8,5(4) e 12 anos(5) desta unidade. Este estudo pretende analisar o tipo de doente queimado pediátrico internado na UCIP do HDE, sua evolução e tipo de cuidados prestados nas últimas duas décadas. MATERIAL E MÉTODOS Estudo retrospetivo, descritivo e analítico, de todos os internamentos por queimadura na UCIP do HDE, entre Abril de 1991 e Dezembro de 2010. Foram consultados os processos clínicos e os parâmetros avaliados incluíram: parâmetros nosodemográ- artigo original original article 151 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 ficos, agente causal, grau de queimadura, percentagem de área de superfície queimada (método de Lund-Browder), procedimentos e terapêuticas realizadas, complicações, evolução, grau de intervenção terapêutica (TISS), grau de instabilidade fisiológica (PRISM), risco de probabilidade de morte (RPM) e número de reinternamentos. Os resultados obtidos referem-se ao número total de doentes, exceto em alguns parâmetros, devidamente assinalados, em que foi contabilizado o número total de internamentos. A análise estatística foi realizada com auxílio do programa SPSS® versão 17. As variáveis categóricas foram expressas em frequência e respetiva percentagem e comparadas com o teste χ2 para um nível de significância de p<0,05. RESULTADOS No período de estudo, foram internadas 123 crianças por queimadura na UCIP, correspondendo a 137 internamentos e a 1,8% do total de internamentos nesta unidade (N=7699). Alguns doentes (10,2%), após um internamento inicial em cuidados intensivos e transferência para uma enfermaria, foram readmitidos por complicações, nomeadamente sépsis e pneumonia. Na Figura 1 encontra-se representada a distribuição por anos do número total de internamentos e do número de internamentos por queimadura na UCIP. Os anos em que se registaram mais internamentos por queimadura foram 2002 (n=13), 2008 (n=10) e 2010 (n=15). Comparando o número total de internamentos na UCIP com o número total de internamentos por queimadura, verificamos que o primeiro tem demonstrado tendência decrescente, sobretudo no primeiro decénio, enquanto o segundo tem-se mantido estável, registando-se inclusivamente um ligeiro aumento nos últimos cinco anos, tal como representado na Figura 1. Figura 1 – Evolução do número total de internamentos e do número de internamentos por queimadura na UCIP. 152 artigo original original article No período de Janeiro de 2000 a Dezembro de 2010, o total de internamentos por queimaduras no Hospital de Dona Estefânia foi de 1770, com 4,9% (n=86) dos doentes queimados a necessitarem de cuidados intensivos. O maior número de internamentos verificou-se em doentes do sexo masculino (63,4%). A mediana da idade foi de 3,6 anos (mínimo 0,1 anos, máximo 16,8 anos). A distribuição por grupo etário encontra-se representada na Figura 2. Figura 2 – Distribuição etária dos doentes internados por queimadura na UCIP do HDE. Os meses em que se verificaram mais admissões foram Maio (13,0%), Agosto (13,0%), Julho (10,6%) e Outubro (10,6%). Relativamente à proveniência dos doentes, a maioria destes era residente na região de Lisboa e Vale do Tejo (61,0%), destacando-se ainda o número considerável de doentes provenientes das Regiões Autónomas (10,6%). De salientar também que nos últimos anos parece existir um aumento do número de doentes provenientes do Norte e das Regiões Autónomas e uma diminuição dos doentes do Centro e do Alentejo. Quanto ao agente causal, os líquidos ferventes e o fogo foram os mais frequentes e com igual percentagem (38,1%), ao passo que a eletricidade foi o agente menos implicado neste tipo de acidentes (23,9%). Analisando a distribuição das queimaduras por época do ano de acordo com o agente causal, verificamos que nos meses frios foram mais frequentes as queimaduras por água fervente, enquanto no Verão o agente mais prevalente foi o fogo (Figura 3-A). Quanto à distribuição das queimaduras por faixa etária, constatamos que nas crianças mais pequenas os líquidos ferventes foram o principal agente causal, ao passo que nos adolescentes predominaram as queimaduras elétricas (Figura 3-B), com diferença estatisticamente significativa (p<0,001). Relativamente à distribuição por sexos, de destacar que as queimaduras elétricas e as queimaduras por líquido fervente foram mais frequentes no sexo masculino (Figura 3-C), com diferença estatisticamente significativa (p=0,018). NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Figura 5 – Distribuição por superfície queimada, de acordo com o agente causal. Figura 3 – Distribuição das queimaduras por agente causal e por época do ano (A), idade (B) e sexo (C). A maioria dos doentes tinha uma área queimada ≤20% de superfície corporal, (Figura 4) com mediana de 30%, sendo que 7,3% dos doentes tinha queimaduras atingindo pelo menos 80% da superfície corporal. As queimaduras por fogo foram responsáveis pelas queimaduras atingindo maior extensão corporal, ao passo que as queimaduras elétricas atingiram menor superfície (Figura 5). diferença estatisticamente significativa entre os agentes em relação ao grau de queimadura (p=0,005), o mesmo não ocorrendo relativamente ao sexo (p=0,983). Os doentes foram submetidos a vários procedimentos e tratamentos, nomeadamente cateterismo venoso central (64,7%) e ventilação mecânica (45,5%) (Quadro I). Nos doenças sujeitos a estes procedimentos invasivos as medianas de duração foram prolongadas (25,0 dias de cateter venoso central, 24,8 dias de nutrição parentérica, 15,4 dias de algaliação e 7,5 dias de ventilação mecânica). Os hemoderivados foram também frequentemente necessários, tendo sido administrado concentrado eritrocitário em 49,6% dos internamentos e albumina em 45,9% destes (Quadro I). Quadro I – Procedimentos realizados nos internamentos por queimadura na UCIP. Procedimentos e Terapêuticas realizados Percentagem de internamentos Demora mediana (dias) Cateter venoso central 64,7 25 Ventilação mecânica 45,5 7,5 Algaliação 37,6 15,4 Drogas vasoativas 24,1 6 Nutrição parentérica 21,8 24,8 Reanimação cardiorrespiratória 3,8 Hemodiafiltração 0,8 Hemoderivados Concentrado eritrocitário Figura 4 – Distribuição por superfície queimada. Relativamente à gravidade da lesão, a maior parte das admissões foram devidas a queimaduras de terceiro grau (59,0%) e do segundo grau (28%). Verificámos a existência de 49,6 Albumina 45,9 Plasma fresco congelado 32,3 Concentrado plaquetário 5,3 Imunoglobulina endovenosa 4,5 Crioprecipitado 2,3 artigo original original article 153 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 A mediana da demora do internamento foi de cinco dias, mas a dispersão foi grande (mínimo 0,04 dias, máximo 212 dias). A maioria dos internamentos teve uma demora entre um e cinco dias (49,6%). Entre cinco e 10 dias verificaram-se 27 casos (19,5%), entre 10 e 30 dias 30 casos (21,9%) e em 12 casos (8,8%) o internamento teve uma duração igual ou superior a 30 dias. Encontrámos uma diferença estatisticamente significativa (p=0,003) relativamente à demora do internamento em relação aos diferentes agentes causais da queimadura, sendo que o fogo foi responsável pelos internamentos mais prolongados. Constatámos ainda uma diferença estatisticamente significativa entre a demora do internamento e a superfície queimada (p=0,002), com as lesões mais extensas a registarem maior demora. Das complicações registadas destacam-se: sépsis (29,2%), falência respiratória (22,6%), falência cardiovascular (21,1%) e falência multiorgânica (18,8%) (Quadro II). Todos os óbitos ocorreram nos primeiros 10 anos de estudo, tal como representado na Figura 6. Quatro dos óbitos ocorreram em reinternamentos na UCIP e os restantes ocorreram com mais de um dia de queimadura (1,1 – 26,1 dias de internamento). A causa de morte foi infeção em 90% dos casos e paragem cardiorrespiratória por aspiração num doente. Em metade dos casos a queimadura fora causada por fogo e na outra metade por líquido fervente. No grupo dos óbitos a mediana de superfície queimada foi de 60% (mínimo 27,0%, máximo 80,0%). Comparando as duas décadas, verificamos que entre 1991 e 2000 ocorreram 56 internamentos por queimadura e nove óbitos (16,1% neste período) e entre 2001 e 2010 houve 77 internamentos e apenas um óbito (1,3%) (p=0,001). Quadro II – Complicações verificadas nos internamentos por queimadura na UCIP. Complicações verificadas Sépsis Falência respiratória Falência cardiovascular Falência multiorgânica Patologia aguda de stress Pneumonia Infeção urinária Falência hematológica Complicações neurológicas Falência renal Hemorragia digestiva alta Derrame pleural Tubulopatia Ileus Falência hepática Pneumotórax Endocardite Trombose venosa Percentagem de internamentos 29,2 22.6 21,1 18,8 11,3 7,3 6,8 4,5 3,8 1,5 1,5 1,5 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 Foram isolados 17 agentes infeciosos diferentes em 66 doentes, sendo que os mais frequentemente encontrados foram: Staphylococcus aureus (9,0%), Pseudomonas aeruginosa (6,8%), Candida albicans (6,0%), Enterococcus faecalis (3,0%) e Proteus miralis (2,3%). A grande maioria dos doentes melhorou (88,7%), mas ocorreram 10 óbitos (8,1%). Não encontrámos diferença estatisticamente significativa entre o sexo e a evolução da doença (p=0,176). 154 artigo original original article Figura 6 – Distribuição do número de internamentos e de óbitos por queimadura, na UCIP do HDE, por ano. Para a análise da gravidade utilizámos: a percentagem de área queimada, o índice de instabilidade fisiológica (Pediatric Risk of Mortality score – PRISM), o risco de probabilidade de morte (Risk Probability of Death – RPM, calculado pelo PRISM), o índice de intervenção terapêutica (Therapeutic Intervention Scoring System (TISS) e a razão entre mortalidade prevista e a real (calculada pelo RPM). Globalmente a percentagem de área queimada foi de 30% (mediana), o PRISM variou entre 0 e 33 (média = 9,3), o RPM entre 0,25% e 87,7% (média = 8,17%) e o TISS entre 4 e 67 (média = 26,9) Comparando as duas décadas em relação à percentagem de área queimada (mediana 25% vs 30%; p=0,05), ao PRISM (média 8,9 vs 9,6; p=0,016), ao RPM (7,37% vs 8,83%) à mortalidade esperada (3,6 vs 6,5) e ao TISS (média 23,0 vs 28,5; p=0,049), verifica-se que todos estes marcadores de gravidade foram significativamente mais elevados na segunda década. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 A relação entre a mortalidade prevista/mortalidade real foi de 2,5 no primeiro decénio (previstos 3,6 óbitos/verificados nove óbitos) e de 0,15 no segundo decénio (previstos 6,5 óbitos/verificados um óbito). DISCUSSÃO Enquanto algumas causas de admissão em cuidados intensivos têm diminuído de frequência, nomeadamente as causas infeciosas e as intoxicações, graças, sem dúvida, à melhoria das condições de vida e às medidas preventivas, os acidentes e as queimaduras continuam a ser uma importante causa de mortalidade e morbilidade no nosso país. A época do ano em que se verificaram mais queimaduras foi nos meses quentes, talvez ao contrário do que seria de esperar, pois é no Inverno que se acendem as lareiras, se preparam mais alimentos e bebidas quentes. No entanto, nos meses de Verão, as crianças estão mais tempo em casa, o que poderá propiciar a realização de algumas atividades que levem à ocorrência deste tipo de acidentes. A maioria dos doentes era do sexo masculino e da faixa etária entre os dois e os cinco anos. Em outros estudos detetou-se igualmente uma preponderância destes acidentes em crianças com menos de seis anos(1), com uma idade média de 3,5 anos(6), e do sexo masculino(6), sendo reportada uma relação masculino/feminino de 1,44/1(2). Estes achados devem-se, certamente, às diferenças de comportamento entre os sexos, sendo que os rapazes são mais exploradores e ao tipo de brincadeiras deste grupo etário, em que as crianças têm uma grande curiosidade, mobilidade e autonomia, mas ainda uma grande ou total incapacidade para antever riscos. Para além disso, observa-se uma glorificação das chamas e explosões nos desenhos animados, filmes e jogos de computador, o que poderá predispor a várias explorações pelas crianças. Pudemos constatar o grande número de queimaduras por líquido fervente, sobretudo nas crianças pequenas, o que reflete a importância dos acidentes domésticos, nomeadamente na preparação de alimentos, temperatura da água do banho, etc., estudos internacionais apontam também para as queimaduras térmicas como agentes preponderantes de queimadura. Na criança mais nova a queimadura deve-se frequentemente ao contacto com água quente doméstica (52,5% dos casos), bebidas quentes e acidentes com superfícies quentes.(1,6-8) Na nossa população acima dos cinco anos, o fogo foi o agente mais frequente de queimadura, o que está de acordo com a literatura. As crianças queimadas em incêndios domiciliários têm maior risco de lesões graves e de mortalidade, atingindo os 49% num estudo do Texas.(7) As queimaduras elétricas foram mais frequentes no sexo masculino e com idade crescente. Este facto está certamente relacionado com as atitudes próprias dos rapazes pré-adolescentes e adolescentes, como por exemplo, suspensão em catenárias de ferrovias (comportamento responsável pelas queimaduras em três dos doentes – resultados não apresentados). O fogo foi responsável por queimaduras de maior extensão, pois trata-se de um agente que rapidamente poderá atingir uma grande superfície. Metade dos doentes teve queimaduras inferiores a 30% da superfície corporal. No entanto, o internamento numa Unidade de Cuidados Intensivos justificou-se plenamente pela zona da queimadura, com risco de atingimento da via aérea (face), pela idade da criança (<1 ano) ou por se terem tratado de queimaduras elétricas, dado o risco de arritmias, rabdomiólise e hemorragia intracraniana. A grande percentagem de doentes admitidos por queimaduras extensas e de terceiro grau e o facto de os doentes terem apresentado índices de instabilidade fisiológica e de intervenção terapêutica elevados confirma a extrema gravidade dos doentes admitidos. Esta gravidade reflete-se também na percentagem elevada de procedimentos e tratamentos realizados, na elevada duração dos mesmos e ainda na demora dos internamentos, tendo mais de 10% destes tido uma duração superior a um mês. Ocorreram várias complicações, sendo as infeciosas as mais comuns. Vários estudos demostraram o papel da superfície queimada, a duração da ventilação mecânica, dos cateteres venosos e urinários e do internamento como fatores de risco infecioso.(10) Sendo que a maioria destes doentes apresentava cumulativamente estes fatores de risco, não será assim de estranhar a existência de elevado número de infeções. Apesar de esta ser uma complicação frequente, não nos devemos esquecer que os antibióticos não têm indicação profilática no doente queimado e que deve ser a clínica e as alterações laboratoriais a determinar o início de antibioticoterapia, sempre que possível suportada por isolamentos culturais e antibiograma. Devemos ter também sempre presente que a própria queimadura leva à libertação de citoquinas que provocam febre e elevação de parâmetros inflamatórios, mesmo sem haver sobreinfeção.(11) O uso indiscriminado de antibióticos nestes doentes poderá aumentar o risco de resistência e não é, portanto, recomendado.(11) A maioria dos doentes foi transferida para uma enfermaria de cirurgia apresentando boa evolução clínica, muito embora tenham ocorrido 10 reinternamentos, na maioria dos casos por complicações infeciosas. Verificaram-se 10 óbitos, 90% na primeira década do estudo. O fato de nenhum dos óbitos ter ocorrido nas primeiras 24 horas de admissão, ou seja, na fase aguda de estabilização do choque, revela a eficácia das intervenções iniciais a nível da estabilização hemodinâmica. No segundo decénio, a gravidade dos doentes foi maior, mas a relação entre a mortalidade esperada e a real (0,15) foi bastante inferior à do primeiro decénio (2,5). Se estes resultados poderão indiciar que o PRISM não deve ser aplicado com preditor de mortalidade ao grupo de queimados (tanto mais que nunca foi aferido para este efeito), é igualmente lícito considerar que se verificou uma franca melhoria do desempenho terapêutico e uma evolução muito favorável nos cuidados assistenciais na UCIP e no HDE. De salientar a importância da abordagem multidisciplinar no tratamento destes doentes, no qual estão envolvidos médicos intensivistas, cirurgiões, enfermeiros, fisiatras, fisioterapeutas, oftalmologistas, otorrinolaringologistas, pedopsiquiatras, dietistas, assistentes sociais, entre outros profissionais. artigo original original article 155 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Em todo o mundo a ocorrência de queimaduras nas crianças está relacionada com negligência, descuido parental e más condições socioeconómicas como a sobrelotação das habitações.(6,12) De forma relevante, a maioria dos acidentes por queimadura verifica-se no ambiente doméstico como a cozinha ou casa de banho e, portanto, durante as atividades da vida diária.(6) A queimadura térmica é frequentemente relacionada com objetos do quotidiano como, portas de forno, ferros de passar, secador de cabelos e lareiras.(1) Muito embora, e tal como anteriormente exposto, as campanhas de prevenção tenham contribuído para a diminuição destes acidentes, muito ainda pode ser feito. De facto, nos últimos anos, foram relativamente comuns os alertas nos meios de comunicação social para a importância do uso de cadeirinhas adequadas para o transporte de crianças em automóveis e para a facilidade com que uma criança se afoga, mas pouco tem sido referido relativamente ao risco de acidentes por queimadura. O sítio da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (www.apsi.org.pt) explora os cuidados a ter na habitação e espaços de recreio, devendo ser do conhecimento de todos os médicos, pais e cuidadores de crianças. Assim, existe ainda um enorme trabalho a fazer a nível da educação dos pais e restantes cuidadores, de forma a evitar muitos acidentes com consequências potencialmente graves. CONCLUSÕES Apesar do número significativo de doentes queimados com grande gravidade, não houve nenhum óbito na fase aguda de estabilização e apenas um nos últimos 10 anos do estudo, o que revela a qualidade dos cuidados prestados. No entanto, muito existe ainda por fazer em termos de prevenção, que será, sem dúvida, o fator que poderá fazer reduzir a incidência destes acidentes na vida de muitas crianças. SEVERELY BURNED PATIENT IN A PEDIATRIC INTENSIVE CARE UNIT – 20 YEARS EXPERIENCE ABSTRACT Background: Initial approach of severely burned patient until hemodynamic and hydroelectrolytic stabilization is crucial to minimize morbidity and mortality. Material and methods: Retrospective descriptive and analytic study of all burned patients admitted in a Paediatric Intensive Care Unit during a 20 year period (between April/1991 and December/2010). Nosodemographic data, causal agent, severity and extension of burn, procedures, treatment, complications and outcome were analyzed. Results: There were 137 admissions for burn, corresponding to 123 patients and to 1.8% of all admissions in the PICU. The median age was 3.6 years, and 62.4% were male. Higher incidence of cases was found in August (13.0%). Burning agents were: boiling liquid (38.1%), fire (38.1%) and electricity (23.9%). The median total body surface burned area was 30% (0.5 - 92.0%), 59.0% corresponding to third degree burns. Mechanical ventilation was needed in 45.5% and central 156 artigo original original article venous catheter in 64.2% of patients. Complications included: sepsis (29.2%), respiratory failure (21.1%), cardiovascular failure (16.5%) and multiorgan failure (18.8%). Patients recovered in 88.6% of cases and there were 10 deaths (8.1%), nine of them in the first 10 years of the study, and nine due to infection. However, the paediatric risk of mortality score (PRISM, the therapeutic intervention scoring system (TISS) and the risk probability of death (RPM) were higher in the second decade. Conclusion: In the last years of the study, despite the higher number of admissions and greater severity, there was a decrease in the number of deaths, which may be related to the improvement of care in these patients. Keywords: Burned patient, child, Paediatric Intensive Care Unit. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 151-157 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. D’Souza AL, Nelson NG, McKenzie LB. Pediatric burn injuries treated in US emergency departments between 1990 and 2006. Pediatrics 2009; 124:1424-30. 2. da Silva PN, Amarante J, Costa-Ferreira A, Silva A, Reis J. Burn patients in Portugal: analysis of 14,797 cases during 1993-1999. Burns 2003; 29:265-9. 3. Cusick JM, Grant EJ, Kucan JO. Children’s sleepwear: relaxation of the Consumer Product Safety Commission’s flammability standards. J Burn Care Rehabil 1997; 18:469-76. 4. Vale MC, Estrada J, Vasconcelos C. Grande Queimado em Cuidados Intensivos Pediátricos. Acta Pediatr Port 2000; 6:427-30. 5. Soares MR, Valente P, Vale MC, Estrada J, Ventura L, Barata D, et al. Perfil do grande queimado em cuidados intensivos pediátricos - Experiência de doze anos. Nascer e Crescer 2007; 16:70-3. 6. Serour F, Gorenstein A, Boaz M. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Telma Sofia de Carvalho Francisco Centro Hospitalar Lisboa Central Hospital Dona Estefânia Serviço de Pediatria Rua Jacinta Marto, 1169-045 Lisboa, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 13.12.2012 | Aceite a 20.08.2013 artigo original original article 157 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Celulite Periorbitária e Orbitária: casuística de 11 anos Georgina Monteiro1, Andreia Dias1, Elsa Teixeira1, Joana Pereira1, Elisabete Santos1, Gabriela Laranjo1, Cristina Faria1 RESUMO Introdução: As celulites da região orbitária são uma patologia relativamente comum, em idade pediátrica, com um potencial de gravidade estimável. Objetivos: A presente casuística tem como objetivo a revisão da epidemiologia, etiologia e abordagem terapêutica dos casos de celulite da região orbitária internados no Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV), no período de 11 anos. Material e Métodos: Estudo retrospetivo dos processos clínicos de crianças internadas entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2010. Resultados: Das 93 crianças internadas, 94% foram celulites periorbitárias (CPO) e 6% celulites orbitárias (CO). A média de idades foi de seis anos e o sexo masculino predominante (61%). O traumatismo foi a causa conhecida mais comum (12 %). O cefuroxime foi o antibiótico de primeira linha em 84% dos casos que, na sua maioria, evoluíram favoravelmente. Verificaram-se complicações em cinco dos seis doentes com CO (83%). Não se verificaram óbitos. A maioria foi orientada para o médico de família. Conclusões: Destaca-se a importância do reconhecimento de uma CPO vs CO pela necessidade de diferentes abordagens clínicas e maior incidência de complicações nas últimas. Palavras-chave: Celulite orbitária, doenças da órbita, criança, adolescente. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 158-161 INTRODUÇÃO As celulites da região orbitária consistem na infeção dos tecidos moles que envolvem esta estrutura. Subdividem-se em pré-septal ou CPO quando a infeção se localiza nos tecidos moles anteriores ao septo orbitário, e em pós-septal ou CO quando ocorre posteriormente ao mesmo, que constitui a parte periférica da camada fibroelástica da pálpebra.(1-9) Trata-se de uma entidade relativamente frequente em Pediatria. Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento significativo da sua incidência __________ 1 S. Pediatria, CH Tondela-Viseu, 3504-509 Viseu, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 158 artigo original original article e complicações.(1-3) A CPO é a forma de apresentação mais frequente. Habitualmente surge em crianças com idade inferior a três anos e na sequência de infeções respiratórias superiores, conjuntivites, traumatismos ou picadas. A sinusite é responsável por 13-27% dos casos. A disseminação hematogénea, embora rara, é outra das causas de CPO.(1,2,6,9) A CO é, na grande maioria dos casos (75-90%), secundária a uma sinusite e, por isso, ocorre sobretudo em crianças com idade superior a seis anos. (1,2,4-9) Propicia-se face à fina espessura da parede óssea da órbita - a lâmina papirácea do etmóide que é fenestrada e acolhe uma vasta rede venosa entre os seios perinasais e a cavidade orbitária.(1,2,4,8,9) O diagnóstico da CPO assenta na história clínica e exame físico e as alterações consistem em edema e eritema periorbitários. Já na CO acrescem, às últimas, o edema e inflamação dos tecidos moles e músculos da órbita, que se traduzem por dor com os movimentos oculares (embora esta possa existir na CPO), proptose, oftalmoplegia, diplopia e quemose - sinais orbitários.(1,2,4,6,9) A última pode também ocorrer em casos graves de CPO.(4) O diagnóstico da CO depende, portanto, destes critérios clínicos e da confirmação radiológica por Tomografia Computorizada (TC).. Apesar da CO ser mais rara que a CPO, as suas complicações são mais graves e frequentes, podendo mesmo conduzir à cegueira e/ou morte.(1,11) A etiologia da celulite varia com o modo de aquisição da infeção. Na CPO associada a infeções das vias aéreas superiores o Streptococcus pneumoniae é o microorganismo mais frequente. Porém, nas situações de traumatismo cutâneo, as bactérias mais implicadas são o Staphylococcus aureus (S. aureus) e o Streptococcus pyogenes. Antes da vacinação contra o H. influenzae tipo b, este era também um agente frequente. Os patógenos mais comummente identificados são o S. aureus e o estreptococo embora também possam ser encontrados os anaeróbios e Moraxella catarrhalis. A CO é por vezes uma infeção polimicrobiana.(1-9,11-13) O presente trabalho tem por objetivo rever a epidemiologia, etiologia, abordagem terapêutica e evolução dos casos de celulite da região da órbita, das crianças internadas no Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar Tondela-Viseu. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se um estudo retrospetivo dos processos clínicos referentes a crianças internadas com o diagnóstico de CPO e CO, entre um de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2010. Considere-se o fato de, no Serviço de Pediatria do CHTV,EPE, serem admitidas crianças até aos 18 anos de idade. Na revi- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 são dos processos clínicos foram analisados os seguintes parâmetros: sexo, idade, distribuição anual e mensal, clínica de apresentação, causa, localização, intervalo entre o início dos sintomas e o diagnóstico, exames auxiliares de diagnóstico, terapêutica prévia e instituída, duração do internamento, complicações e evolução. O diagnóstico de CO foi baseado em critérios clínicos sugestivos e na presença de lesões posteriores ao septo orbitário, visualizadas na TC. Os restantes casos foram incluídos no grupo das CPO. RESULTADOS No período de 11 anos estudado (2000-2010 inclusive) foram internadas 93 crianças com diagnóstico de celulite da região orbitária. Oitenta e sete casos constituíram CPO (94%) e seis CO (6%). A variabilidade do número de internamentos/ano foi relativamente semelhante nas CPO, destacando-se, no entanto, o ano de 2007 com maior número absoluto (17 casos) e o ano de 2003 e 2010 com apenas um caso (Gráfico 1). O escasso número de CO resulta numa média de 0,5 casos/ano. Gráfico 1 – número de internamentos/ano por celulites periorbitárias (CPO) e orbitárias (CO). No que respeita à distribuição mensal, os meses de Maio e Agosto foram os mais incidentes, não se podendo assumir predomínio por qualquer estação do ano. O sexo masculino foi predominante em ambos tipos de celulite (60% CPO, 59%CO). As crianças com CPO tinham menos de três anos em 53% dos casos; 83% das crianças com CO tinha mais de seis anos de idade. Na CPO a quebra de barreira cutânea não traumática, traumatismos e conjuntivite assumiram as causas conhecidas mais comuns com 20%, 11% e 9% dos casos, respetivamente. Em 37 crianças (40%) não foi possível esclarecer a etiologia. Na CO 75% tiveram origem numa sinusite (Quadro I). Todas as crianças com CPO apresentaram-se com edema periorbitário 91% rubor periorbitário, 47% febre e 5% sinais orbitários. Quadro I – Fator desencadeante das celulites periorbitárias (CPO) e orbitárias (CO). Fator desencadeante de celulite da região orbitária Nº CPO Nª CO % total Desconhecida 37 0 40% Quebra de barreira cutânea não traumática 20 1 23% Traumatismo 11 1 12% Conjuntivite 9 0 10% Sinusite 2 4 7% Infecções dentárias 5 0 5% Infeção respiratória superior/otite 3 0 3% Na CO todos apresentaram edema, rubor, febre e sinais orbitários. Quanto à localização, 95% das CPO eram unilaterais e destas, 52% localizavam-se à esquerda. Na CO 67% eram unilaterais com 65% à esquerda. Em 31% dos casos o tempo decorrido entre o início do quadro e o diagnóstico foi inferior a 24 horas. No total de casos de CPO e CO a hemocultura foi efetuada em 45 crianças (48%) e somente uma delas (CPO) foi positiva identificando-se S. pneumoniae. Numa criança com CO foi realizado o exame bacteriológico do exsudado do empiema subdural com identificação de um agente anaeróbio (Prevotella loescheii). Em dois casos de CPO foi colhido exsudado de secreções oculares/nasais, porém sem isolamento de agente. A radiografia dos seios perinasais foi realizada em dez crianças (11%) revelando sinusite maxilar em apenas duas delas. Das 11 tomografias axiais computorizadas (TC) cranioencefálicas/seios perinasais, quatro revelaram sinusite, duas abcesso do periósteo, uma um mucocelo intra-orbitário, outra sinusite e abcesso periósteo e uma foi normal. Em dois dos casos foi necessário complementar com ressonância magnética que corroborou o diagnóstico de uma pansinusite, e um abcesso da órbita com empiema subdural. Antes do internamento, 44% das crianças com celulite da região da órbita tinha iniciado terapêutica com antibiótico por via oral (Gráfico 2), 12% aplicou antibiótico tópico, 5% anti-histamínico e 1% corticóide tópico. Gráfico 2 – Antibioterapia prévia ao internamento; n= 33. artigo original original article 159 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Todas as crianças durante o internamento fizeram terapêutica por via parentérica. Em 83% dos casos o antibiótico utilizado foi uma cefalosporina de 2º geração – cefuroxime. Em seis casos houve necessidade de alterar a terapêutica ou de associar antibióticos: ceftriaxone, vancomicina, doxiciclina, metronidazol. Após a alta, foram medicados com antibiótico oral até completar duas a quatro semanas de tratamento. Ocorreram complicações em um de 87 casos de CPO e em cinco dos seis casos de CO (Quadro II). Quadro II – Complicações das celulites periorbitária (CPO) e CO (celulite orbitária). Complicações CPO – 1/87 • Abcesso palpebral - 1 CO – 5/6 • Abcesso periósteo - 2 • Abcesso da órbita+empiema subdural - 1 • Empiema subdural - 1 • Mucocelo intra-órbitário -1 DISCUSSÃO Conforme relatado por outros autores, os casos de CO representaram a menor parcela de internamentos (6,4%).(6) Não se verificou predomínio por estação do ano provavelmente devido à reduzida taxa de infeções respiratórias como fator etiológico. Sendo assim, a distribuição anual e sazonal não foi concordante com a literatura.(1-3,7) O sexo masculino predominou em ambos tipos de celulite (60% CPO, 59%CO) o que pode correlacionar-se com a sua maior predisposição a doenças infeciosas. Na CPO verificou-se que 53% tinham menos de três anos, e na CO 83% mais de seis. Outros estudos corroboram esta tendência, pelo fato das CPO estarem mais frequentemente relacionadas com infeções das vias aéreas superiores, também estas mais frequentes em crianças com menos de três anos, e pelo fato das CO terem como causalidade a sinusite, mais frequente em crianças com mais de seis anos, face ao natural desenvolvimento biológico dos seios perinasais.(1,2,4,9) Ainda assim, no que respeita às infeções respiratórias superiores, este estudo não vai de encontro às estimativas da literatura uma vez que apresenta esta causalidade em apenas 3% dos casos de CPO, muito provavelmente face ao subdiagnóstico.(1-5,7,10) A quebra de barreira cutânea não traumática, os traumatismos e conjuntivite dominaram a lista de causas conhecidas da CPO. Já a sinusite foi a causa mais comum de CO, conforme descrito na literatura.(4,6,10) Porém, o registo de apenas seis casos, (2 CPO e 4 CO), pode relacionar-se com o seu subdiagnóstico. A apresentação clínica das CPO foi de encontro aos achados mais comuns – edema (100%) e rubor 160 artigo original original article periorbitários (91%). A CO destacou-se pela expectável existência de sinais orbitários, em 100% dos casos.(1,2,4,6,9) Ambas celulites foram predominantemente unilaterais (67% CPO, 65% CO), como tem sido relatado na bibliografia.(2,6,7,10) Na generalidade não foi possível concluir o diagnóstico nas primeiras 24 horas, à semelhança de outros estudos.(6) Apenas metade das crianças foram submetidas a estudos analíticos. A hemocultura foi efetuada em 45 crianças (48,4%) e somente numa (CPO) foi possível identificar S. pneumoniae. Este baixo índice de isolamento do agente é também referido na literatura.(2-7) A TC cranioencefálica, da órbita e dos seios perinasais justifica-se quando existem sinais sugestivos de CO, suspeita de corpo estranho intraorbitário e sempre que a evolução clínica não é favorável. Neste estudo, nove (82%) das TC efetuadas apresentaram alterações, seis das quais confirmaram a existência de atingimento pós-septal. A grande maioria das crianças fez terapêutica com uma cefalosporina de segunda geração, com boa resposta clínica. Houve necessidade de alterar a medicação em apenas 6% dos casos. Todas completaram um esquema terapêutico adequado de duas a quatro semanas, conforme preconizado na literatura.(1,2,4-7) As complicações mais frequentes e graves (Quadro II) ocorreram nas CO (83% CO vs 1,1% CPO) como também corroboram outros estudos.(1,2,4,6) O reduzido número de casos, em particular de CO, e a ausência do tratamento estatístico de dados, podem no entanto estar na origem de alguns viés, nomeadamente no que respeita às comparações estabelecidas com outras séries. CONCLUSÕES A CPO é uma patologia frequente em idade pediátrica, geralmente com evolução favorável, demonstrada pela reduzida taxa de complicações. No entanto é uma patologia que não deve ser subestimada, pois pode conduzir a lesões irreversíveis, caso não seja diagnosticada e tratada precoce e adequadamente. Perante uma criança com sinais inflamatórios periorbitários é importante a exclusão de sinais clínicos sugestivos de envolvimento pós-septal (CO), uma vez que estes condicionam a abordagem diagnóstica, terapêutica e o prognóstico. ORBITAL AND PERIORBITAL CELLULITIS: AN 11-YEAR CASE SERIES ABSTRACT Introduction: Cellulitis of the orbital region are a common pediatric illness, which can be potentially severe. Objectives: The present study reviews the epidemiology, etiology and therapeutic approach of cases of cellulitis of the orbital region admitted at the Pediatric Department of Hospital Center Tondela-Viseu (CHTV), in 11 years. Material and Methods: Retrospective analysis of the clinical records of children admitted between January 2000 and December 2010. Results: Of the 93 children admitted, 94% had periorbital cellulitis (POC) and 6% orbital cellulitis (OC). The average age NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 was six years and they were predominantly male (61%). Trauma was the most common known cause (12%). Cefuroxime was the first line antibiotic in 84% of cases, and the majority had a good outcome. There were complications in five of the six patients with OC (83%). There were no deaths. The majority were referred to their family doctor. Conclusions: We highlight the importance of the distinction between POC vs OC, as they require different clinical approaches. OC is associated with a higher incidence of complications. Keywords: Orbital cellulitis, orbital diseases, child, adolescent. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 158-161 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Madalena C, Costa M, Oliva T, Guedes M, Monteiro T. Celulite da região orbitária. Saúde Infantil 1998; 20:33-41. 2. 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Métodos: Revisão de artigos pertinentes publicados sobre a designação de “má evolução ponderal”, “fallo de medro” ou “failure to thrive” usando as bases de dados Cochrane e Pubmed. Desenvolvimento: A maioria das causas de má evolução ponderal envolve uma ingestão calórica inadequada condicionada por problemas psicossociais e comportamentais. De facto apenas 5% das causas de má evolução ponderal podem ser atribuídas a patologia orgânica o que dificulta uma abordagem sistematizada destas crianças. Os exames complementares de diagnóstico na avaliação destas crianças contribuem muito pouco para o diagnóstico e não estão recomendados por rotina. O seguimento multidisciplinar destas crianças e suas famílias, idealmente com acompanhamento domiciliário, associado a uma otimização da ingestão alimentar mostrou-se eficaz no ganho ponderal e na melhoria da interação da criança com os cuidadores. Conclusões: Uma identificação precoce desta situação associada a uma intervenção multidisciplinar que vise uma otimização da ingestão calórica minimiza as sequelas a longo prazo. Palavras-chave: Má evolução ponderal, avaliação nutricional, diagnóstico, tratamento. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 162-166 INTRODUÇÃO A má evolução ponderal (MPP), constitui um motivo frequente de referenciação à consulta de pediatria. Este problema não deve ser encarado como uma patologia mas sim como um __________ 1 2 S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] Instituto Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, 4050-313 Porto, Portugal 162 artigo de revisão review articles sinal de que a criança está a receber uma nutrição inadequada para o seu ótimo crescimento e desenvolvimento(1-4). Os protocolos de seguimento são variáveis nos diversos centros, tornando-se difícil uma homogeneização de critérios e atitudes. OBJETIVO Definir má evolução ponderal e orientar a abordagem e seguimento destes doentes, tendo em conta a melhor evidência científica atual. MÉTODOS Foram analisados os artigos em Inglês e Espanhol mais relevantes encontrados na Cochrane e Pubmed usando os termos “fallo de medro” ou “failure to thrive” de 2005 a 2011. DESENVOLVIMENTO Definição de má evolução ponderal Embora não exista uma definição universal(5) a mais consensual é um peso abaixo do percentil 3 (- 2 desvios-padrão) numa curva adaptada à população em mais do que uma ocasião, ou cruzamento de mais do que dois percentis nas curvas de crescimento standard(1,3,6-8). Esta definição aplica-se a crianças com menos do que dois a três anos de idade(1), com uma prevalência de 5-10% nos países desenvolvidos(3,9-11). As variantes normais do crescimento que englobam a baixa estatura familiar e o atraso do crescimento e maturação, não se incluem nesta definição(3,8-10). Do mesmo modo, as crianças que nasceram pequenas para a idade gestacional e as restrições do crescimento intra-uterino embora possam apresentar um peso ou comprimento abaixo do percentil 3 aos dois ou três anos de idade podem estar a crescer a um ritmo esperado, pelo que não devem ser classificadas como má evolução ponderal(3,8-10). Excluem-se ainda os lactentes que tendo nascido com um peso superior ao determinado pelo seu património genético, fazem um “catch down” podendo ultrapassar em sentido descendente duas curvas de percentis e não constituírem uma má evolução ponderal(3,5,8-10). Do mesmo modo, o facto de as curvas de crescimento utilizadas não serem corretamente interpretadas e não serem sempre as mesmas dificulta ainda mais a tarefa(4,12). Mei e Grummer-Stawn compararam as curvas de percentis do CDC 2000 com as da WHO de 2006 e verificaram que com a utilização destas últimas os médicos vão encontrar mais crianças até aos seis meses de idade a cruzarem de formas descendente mais do que dois percentis de peso em relação com a idade, levando a um NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 maior número de referenciação por má evolução ponderal(12). Entre os 12 e os 24 meses as diferenças entre os dois gráficos são muito pequenas(12). Etiologia A etiologia da má evolução ponderal pode-se subdividir em causas não orgânicas ou funcionais (responsáveis por 70%(9) dos casos); causas orgânicas (responsáveis por menos de 5% dos casos(10,13)); ou uma etiologia mista (25% dos casos(2,9-10)). No Quadro I estão apresentadas as causas não orgânicas de má evolução ponderal(2,6-8,14) e no Quadro II algumas patologias que se podem manifestar como má evolução ponderal (2,6-8,11,15-16). Abordagem diagnóstica Na abordagem da criança com má evolução ponderal, a idade poderá ser um factor orientador do diagnóstico, como apresentado no Quadro III (2,7,9,14,18,19). Uma anamnese pormenorizada, um exame objetivo minucioso e a observação da interação entre os pais e a criança, em conjunto com as curvas de crescimento, a determinação da velocidade de crescimento e da estatura alvo permitem orientar o diagnóstico na grande maioria das situações(6,10). As variantes normais do crescimento, como é o caso do atraso constitucional do crescimento e maturação e a baixa estatura familiar idiopática, embora constituam diagnósticos de exclusão, são também suspeitados nesta primeira abordagem da criança(8-10) . Os antecedentes obstétricos e a estatura dos pais são dados importantes na avaliação destas crianças. Aspetos importantes na história clínica relacionam-se com a condição socioeconómica do agregado familiar, a frequência de infantário/ama e o ambiente em que as refeições decorrem(9,10,17). A história alimentar, modo de preparação e cronologia da introdução dos alimentos (nomeadamente o glúten e o leite de vaca em natureza), o trânsito intestinal e os hábitos de sono são dados fundamentais na anamnese(1,9). Um registo alimentar das últimas 24 horas ou do consumo alimentar de três dias não consecutivos que inclua um dia de fim-de-semana são alternativas para a avaliação da ingestão de calorias, macronutrientes e micronutrientes, bem como dos hábitos alimentares da família (vegetarianos, dietas restritivas hipocalóricas,...)(6-9,12,17). Os dados antropométricos incluem o peso, o comprimento/ altura e o perímetro cefálico, devendo ser assinalados nas curvas de crescimento para quantificação do percentil. Uma das determinações importantes é a avaliação do peso ideal para a altura (WFH- Weight for Height), ou seja o P50 de peso para a idade estatural(2). A relação entre o peso atual da criança e este valor permite determinar o grau de desnutrição (ligeira, moderada ou grave), como apresentado no Quadro IV. A medição do perímetro braqueal permite inferir as principais reservas proteicas do organismo (braço não dominante, a meia distância entre o acrómio e o olecrâneio), utilizando-se como referência os valores de Frisancho(20). As medidas das pregas tricipital, bicipital e subescapular tornam-se um processo simples de avaliação da gordura subcutânea. Olsen e colaboradores compararam vários critérios antropométricos (peso, peso ideal para a altura, peso ideal para a idade, índice de massa corporal, comprimento ideal para a idade, diminuição do incremento de peso através do cruzamento de percentis) para avaliação da má evolução ponderal e concluíram que estas determinações isoladas têm uma baixa sensibilidade e um baixo valor preditivo positivo na identificação da má evolução ponderal(21). Raynor e Rudolf chegaram às mesmas conclusões, Quadro I – Causas não orgânicas ou funcionais de má evolução ponderal. Causas psicossociais Erros na dieta - Carência afetiva - Crenças culturais/ religiosas - Doenças psiquiátricas familiares (depressão e ansiedade) - Família disfuncional - Negligência e maus-tratos - Pobreza - Síndrome de Munchausen por procuração - Anorexia - Desconhecimento das necessidades nutricionais da criança - Dificuldades no aleitamento materno - Deficiência de Ferro e Zinco - Evicção de alimentos hipercalóricos - Má preparação do leite adaptado - Má transição para os alimentos sólidos - Técnicas de alimentação errada Quadro II – Causas orgânicas de evolução ponderal. Doenças cardiopulmonares Doenças hematológicas/ oncológicas Asma grave Cardiopatia congénita Displasia bronco-pulmonar Fibrose quística Anemia ferropénica Doença neoplásica Drepanocitose Talassemia major Doenças endócrinas Doenças renais Diabetes mellitus Hiperaldosteronismo primário Hipertiroidismo Acidose tubular renal Infeção do trato urinário recorrente Insuficiência renal crónica Doenças infeciosas Doença do sistema nervoso central Infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) Infeções de repetição Tuberculose pulmonar Doença neuro-muscular Doença neuro-degenerativa Lesões ocupantes de espaço Paralisia cerebral Doenças gastrointestinais Outras doenças Alergia alimentar Atresia biliar Doença celíaca Doença de Hirschsprung Doença do refluxo gastro-esofágico Doença inflamatória intestinal Fístula esófago-traqueal Mal formação congénita do tubo digestivo Má-rotação intestinal Aminoacidopatias Citopatias mitocondriais Erros do metabolismo dos hidratos de carbono Imunodeficiências congénitas Mucopolissacaridose e mucolipidose Defeitos do ciclo da ureia Apneia obstrutiva do sono artigo de revisão review articles 163 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Quadro III – Algumas causas de má evolução ponderal segundo o grupo etário. Idade de Início . . . . . . Pré Natal Causas funcionais 0-6 Meses Causas orgânicas Causas funcionais 6-12 Meses Causas orgânicas Causas funcionais >12 Meses Causas orgânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Diagnóstico Exposição a tóxicos Infeções pré-natais Prematuridade Restrição do crescimento intra-uterino (RCIU) Síndromes congénitas Alterações psicológicas maternas – depressão, défice de ligação Aporte inadequado de leite materno/ Preparação inadequada do leite adaptado Dificuldades na sucção e deglutição Más condições socioeconómicas Recusa alimentar Acidose tubular renal Alergia/ Intolerância às proteínas do leite de vaca Infeções perinatais Infeções recorrentes Doença cardíaca congénita Doença do refluxo gastro-esofágico Erros inatos do metabolismo Fibrose quística Infeção pelo vírus da imunodeficiência humana Alterações psicológicas maternas – ansiedade separação/individualização Desconhecimento das necessidades alimentares do lactente Dificuldade na transição para alimentos sólidos Más condições sócio económicas Acidose tubular renal Alergia alimentar Doença celíaca Doença do refluxo gastro-esofágico Fibrose quística Infeção pelo vírus da imunodeficiência humana Problemas psico-sociais Dieta inadequada Alergia alimentar Doença celíaca Doenças crónicas Doença do refluxo gastro-esofágico Fibrose quística Infeções recorrentes Quadro IV – Avaliação do grau de desnutrição segundo o peso ideal para a altura (WFH). Grau de desnutrição % Peso ideal para a altura (WFH) Sem desnutrição > 90 Ligeira 81-90 Moderada 70-80 Grave <70 Peso ideal para a altura WFH - Weight for Height - (P50 de peso para a estatura real): compara o peso atual com o peso esperado para a estatura/altura % = [peso atual/ peso no percentil 50 para a estatura] x 100 164 artigo de revisão review articles Quadro V – Estudo complementar a realizar na abordagem da má evolução ponderal(2,6,10) 1º Nível . . . . . . . . . . . . . . . Hemograma com plaquetas Glicemia Sódio, Potássio, Cloro, Cálcio e Fósforo Ureia e creatinina AST, ALT, Fosfatase alcalina e gama-GT Proteínas totais e Albumina Cinética do ferro (ferritina, índice de saturação da transferrina, receptores da transferrina e ferro sérico) Velocidade de sedimentação Gasimetria venosa Exame sumário de urina e urocultura Exame parasitológico das fezes Serologias da doença celíaca: IgA antitransglutaminase e IgG antigliadina; IgA antiendomísio Doseamento de Imunoglobulinas (IgA, IgM, IgG) Teste de Suor Prova da tuberculina 2º Nível . . . . . . . . . . . Quantificação da gordura fecal Pesquisa de sangue oculto nas fezes Função tiroideia (TSH, T3 e T4 livre) IgE total, IgE específica para as proteínas do leite de vaca, IgE específica a alimentos suspeitos Serologias do Grupo TORCH e VIH, VDRL Ecografia renal Ecografia abdominal Ecocardiograma pH-metria Teste de intolerância à lactose Pré-albumina e cistatina C (quando indicado pelos exames 1º nível) 3º Nível . Estudo metabólico: amónia, lactato, piruvato, cromatografia dos aminoácidos séricos e urinários e cromatografia dos ácidos orgânicos urinários . Estudo do sono . Endoscopia digestiva, biopsia intestinal . Orientação para subespecialidades consoante a patologia encontrada. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 advogando que se nenhum dos outros parâmetros relaciona a má evolução ponderal com o grau de desnutrição podemos continuar a usar o peso para avaliar estes doentes(22). Embora a avaliação da tensão arterial só esteja preconizada por rotina acima dos três anos de idade, nestas crianças deve ser sempre determinada. O exame físico nunca estará completo sem a avaliação da existência de dismorfias, sinais de abuso ou de negligência. Exames complementares de diagnóstico O recurso a exames subsidiários é orientado pela história clínica e pelo grau de desnutrição, devendo ser realizados de forma sequencial(1,2). Hoje em dia não existe evidência que suporte a utilização sistemática e extensiva de exames laboratoriais na avaliação da má evolução ponderal(1,17). Os exames complementares referidos no Quadro V estão subdivididos em três níveis, de acordo com a suspeita diagnóstica. Estes exames devem ser realizados de forma racional, tendo em conta a relação custo-eficiência e a criança em causa(1). Alguns estudos revelaram que os exames realizados, mesmo quando positivos, contribuíram pouco (1,4-2%) para o diagnóstico etiológico da má evolução ponderal(17,23), e mesmo quando contribuíram para o diagnóstico este estava fortemente indicado pelos achados da história clínica e exame físico(23). Assim, na ausência sinais de alarme ou de sinais ou sintomas sugestivos de uma patologia orgânica, preconiza-se adiar o estudo complementar para uma segunda consulta(2,17,24). A criança deve ser reavaliada após instituição de uma dieta adequada, que deve ter em conta as necessidades para a recuperação do crescimento (“catch-up”) e as calorias recomendadas para a idade(2). Estratégia de orientação multidisciplinar A abordagem destes doentes beneficia de um apoio multidisciplinar que pode incluir nutricionista, psicólogo, assistente social ou a colaboração de outras subespecialidades pediátricas(6). Wright e colaboradores demonstraram através de um estudo populacional que o seguimento destas crianças pelos Cuidados de Saúde Primários, com acompanhamento domiciliário resulta num seguimento mais próximo e com melhores resultados ponderais do que a abordagem hospitalar(25). Independentemente da etiologia da má evolução ponderal e com exceção das variantes normais do desenvolvimento, todas estas crianças necessitam de calorias adicionais para atingirem o peso esperado. Em casos excecionais, associados a compromisso grave do estado geral ou suspeita de negligência, há necessidade de internamento(7,10). Prognóstico O prognóstico depende da etiologia e da idade em que se instalou a má evolução ponderal. Uma má evolução ponderal que ocorre antes do ano de vida (principalmente se antes dos seis meses) está associada a um risco de complicações psicológicas e do comportamento(7,26). Black e colaboradores cons- tataram que as crianças com má evolução ponderal em idade precoce eram mais baixas e mais leves que o grupo controle, mas que esta diferença se atenuava quando estas crianças eram intervencionadas por profissionais de saúde no domicílio(27). O benefício da intervenção domiciliária na progressão ponderal foi também confirmado por Wright e colaboradores(25). Rudolf e Logan numa revisão de metanálise verificaram que as crianças que tiveram má evolução ponderal durante a infância eram mais baixas, mais leves e apresentavam menor pontuação no desempenho psico-motor que os seus pares, mas questionaram a significância das diferenças encontradas(28). Nesta revisão verificaram que as diferenças no quociente de inteligência (QI) encontradas eram pequenas e de significado clínico duvidoso(28), o que levou alguns autores a levantarem a questão se os défices cognitivos não estariam mais associados com as circunstâncias sociais adversas do que com o problema da desnutrição(2,10,17,28). No entanto, segundo Corbett um número significativo de crianças com má evolução ponderal apresenta um défice persistente intelectual(7,26), e é impossível prever quais as crianças que apresentarão dificuldades mais tarde(1,24,26). CONCLUSÕES Uma identificação precoce desta situação associada a uma intervenção multidisciplinar que vise uma otimização da ingestão calórica minimiza as sequelas a longo prazo. O desafio no seguimento destas crianças reside na identificação daquelas que necessitam de investigação ou intervenção, sem gerar demasiada ansiedade naqueles que não necessitam(1,13,28). APPROACH OF FAILURE TO THRIVE ABSTRACT Introduction: Failure to thrive is one of the most frequent consultation referrals in Pediatrics. Both the difficulties in its definition and the different approaches lead to a lack of consensual management. The fact that, in about 70% of the cases, the causes of failure to thrive are non organic, complicates this issue. Objective: With this review the authors aim to propose a diagnostic and management strategy to evaluate and monitor these patients. Methods: Review of relevant articles published on the designation of “failure to thrive” or “fallo of medro” using the databases PubMed and Cochrane. Development: The most frequent cause of failure to thrive is related to an inadequate energy intake conditioned by psychosocial or behavioral problems. In fact only 5% of the causes of poor weight gain can be attributed to organic disease, which makes a systematic approach of these children even more difficult. The random use of laboratory tests contributes very little to the underlying diagnosis and is not recommended. A multidisciplinary approach of these children and their families, ideally with home monitoring, associated with an artigo de revisão review articles 165 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 optimization of food intake is effective in weight gain and in a better interaction between the children and the caregivers. Conclusions: Early recognition of this situation, associated with a multidisciplinary approach, optimized the energy intake, minimizes the long-term consequences. Keywords: Failure to thrive, nutritional assessment, diagnosis, treatment. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 162-166 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Jaffe AC. Failure to Thrive: Current Clinical Concepts. Pediatr Rev 2011; 32:100-8. 2. Gahagan S. Failure to Thrive: A Consequence of Undernutrition. Pediatr Rev 2006; 27:e1-11. 3. Zenel JA. Failure To Thrive: A General Pediatrician’s Perspective. Pediatr Rev 1997; 18:371-8. 4. Wright CM, Weaver LT. Image or reality: why do infant size and growth matter to parents? Arch Dis Child 2007; 92:98-100. 5. Hughes I. Confusing terminology attempts to define the undefinable. Arch Dis Child 2007; 92:97-8. 6. Diéguez SV. Fallo de medro en lactante. BSCP Can Ped 2005; 29:103-9. 7. Bauchner H. Failure to Thrive. In: Nelson Textbook of Pediatrics. 18th Ed. 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Métodos de revisão: Pesquisa bibliográfica da literatura em Inglês e Português, de Janeiro de 2001 a Fevereiro de 2012 através da Medline/Pubmed, sítios de Medicina Baseada na Evidência e livros de texto de Fisiologia. Resultados: O termo NA define-se como uma relutância na aceitação de novos sabores. O gosto por certos alimentos é um processo complexo que se inicia no útero, continua com o aleitamento e permanece pela vida fora. Embora exista influência de fatores genéticos, estes podem ser influenciados por exposições precoces e repetidas aos diferentes sabores, o que irá modular o paladar e diminuir o risco de patologias futuras, nomeadamente obesidade infantil. A janela para habituação aos sabores é estreita e a rejeição de alimentos introduzidos após os quatro anos é maior. A aceitação de um novo sabor até aos cinco anos necessita frequentemente de 10 a 15 exposições repetidas. As emoções, aspetos sociais e processos digestivos, são fatores influenciadores da aquisição do gosto. Conclusões: As preferências gustativas são muito estáveis e podem durar toda a vida, pelo que devemos dar uma especial atenção às crianças e pais no processo de “educação do gosto”. Ao dar à criança alguns alimentos preferidos juntamente com os novos alimentos e ao manter a calma para as neofobias temporárias, talvez seja a chave para o desenvolvimento das preferências gustativas. Reforços negativos, nomeadamente pressões, devem ser evitados, devendo-se valorizar os reforços positivos. Palavras-chave: neofobias alimentares, “educação do gosto”. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 167-170 __________ 1 2 USF Nova Salus – ACES Grande Porto VIII – Gaia, 4400-043 Vila Nova de Gaia, Portugal. [email protected] S. Pediatria, U. Neonatologia e U. Endocrinologia-Nutrição, CH Vila Nova de Gaia-Espinho, 4434-502 Vila Nova de Gaia, Portugal. [email protected] INTRODUÇÃO O paladar resulta da combinação de três sistemas sensoriais distintos: cheiro (nervo olfativo), estimulação química somatossensorial oral (nervo Trigémio) e sabor (nervos Facial, Glossofaríngeo e Vago). O recetor sensorial do paladar é a Papila Gustativa (PG). Cada PG é constituída por um conjunto de células de sustentação e células gustativas, em constante divisão mitótica, dispostas em torno do poro gustativo. Da extremidade da célula gustativa projetam-se várias microvilosidades que formam a superfície recetora da gustação. À volta dos corpos das células gustativas existe uma rede de fibras nervosas gustativas que são estimuladas pelas células recetoras gustativas.(1) As PG localizam-se nas paredes das criptas que circundam as Papilas Circunvaladas (linha em V), na superfície posterior da língua – responsáveis pelo sabor amargo, nas Papilas Fungiformes, na superfície anterior da língua – responsáveis pelo sabor doce, nas Papilas Foliáceas, nas superfícies laterais da língua – responsáveis pelos sabores salgado e ácido, e também estão presentes no palato, epiglote e porção proximal do esófago.(1) Os impulsos gustativos dos 2/3 anteriores da língua são transmitidos através do nervo lingual para a corda do tímpano, e de seguida, pelo nervo facial até ao trato solitário, a nível do tronco cerebral. Por sua vez, os impulsos gustativos da porção posterior língua são transmitidos através do nervo glossofaríngeo para o trato solitário, a um nível mais inferior. Todas as fibras gustativas fazem sinapse nos núcleos do trato solitário e enviam neurônios de segunda ordem para o núcleo medial posterior do tálamo, a partir do qual partem neurônios de terceira ordem para a ponta inferior do giro pós-central no córtex parietal (Fissura de Sylvius – que se situa ligeiramente lateral, ventral e rostral à área da língua, na área somática I), havendo estimulação das glândulas submandibular, sublingual e parótida. As sensações primárias da gustação são os sabores: doce (limiar de estimulação 0,01), salgado (limiar de estimulação 0,01), ácido (limiar de estimulação 0,0009) e amargo (limiar de estimulação 0,000008).(1) Existem centenas de paladares diferentes, que resultam da combinação das sensações elementares – à semelhança do que acontece, por exemplo, com as cores. Existe uma seleção negativa para o sabor amargo intenso, o que se justifica pelo seu baixo limiar de estimulação e leva à rejeição do alimento, demonstrando uma importante função protetora, a qual também tem evoluído com o passar dos tem- artigo de revisão review articles 167 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 pos, pois se há milhares de anos atrás essa proteção se dirigia, por exemplo, contra as toxinas perigosas presentes em certas plantas, atualmente permite-nos protegermo-nos de alimentos estragados. No entanto, algumas questões são colocadas em relação aos gostos alimentares: porque é que comemos o que comemos? Quando nos habituamos a comer o que comemos? Será por influência de fatores genéticos (atualmente, tal como num passado remoto nascemos com gosto inato para o sabor doce e com aversão para o sabor amargo/ácido)? Será por influência de fatores ambientais/culturais (é sabido que o cão é visto como uma iguaria na cultura chinesa, sendo um animal exclusivamente de estimação na maior parte dos países ocidentais)? Com vista a encontrar algumas respostas, este trabalho tem como objetivo proceder a uma revisão do tema “Neofobias Alimentares”, focando os aspetos mais importantes da sua aplicação na prática clínica. MÉTODOS Pesquisa bibliográfica da literatura em Inglês e Português, de Janeiro de 2001 a Fevereiro de 2012 através da Medline/Pubmed, sítios de Medicina Baseada na Evidência e livros de texto de Fisiologia. Dos 70 artigos encontrados foram selecionados 19, atendendo à disponibilidade integral das publicações e à relevância para o tema. Palavras-chave: “food preferences”, “taste perception”. RESULTADOS O termo Neofobia Alimentar (NA) define-se como uma relutância na aceitação de novos sabores. É sabido que os comportamentos alimentares têm milhões de anos de evolução e de programação genética. Garcia-Bailo et al identificaram vários recetores para os diferentes sabores(2). O recetor T2R para o sabor amargo, o recetor T1R associado à perceção do sabor doce, os recetores PKD1L3 e PKD2L1 ligados ao sabor ácido, o recetor CD36 para “aumento do teor de gordura “ e o recetor TRPV1 para a perceção do sabor salgado. Os vários polimorfismos genéticos são responsáveis por diferenças na perceção do paladar e hábitos alimentares, pelo que podem afetar escolhas e influenciar o estado nutricional, de saúde e risco de patologias crónicas, como a obesidade infantil que é cada vez mais uma realidade mais frequente.(2-4) Por conseguinte, a hereditariedade tem um papel determinante na relutância em aceitar novos sabores.(3-5) Posto isto, pergunta-se: será que estaremos condenados pelos genes a uma dieta monótona? A resposta é não. As preferências de sabor refletem experiências repetidas com os diferentes tipos de sabores e alimentos. Assim, podemos influenciar os mecanismos inatos de preferência alimentar através da experiência precoce, levando à modulação do paladar. E segundo diversos estudos essa experiência precoce começa logo na fase intra-uterina com a passagem transplacentar de sabores voláteis para o líquido amniótico.(6,7) 168 artigo de revisão review articles O desenvolvimento dos órgãos sensoriais ocorre durante a fase embrionária, entra a primeira e oitava semanas, e no início da fase fetal, com os impulsos gustativos a serem transmitidos para os núcleos cerebrais originando o reflexo salivar e movimentos da língua do feto.(6) O feto deglute entre 200-760 mL de líquido amniótico por dia, de acordo com a fase de desenvolvimento embrionário, estando exposto a um grande número de compostos gustativos. Estudo experimental de Mennella et al(6) mostrou que filhos cujas mães beberam regularmente sumo de cenoura durante o terceiro trimestre da gravidez tinham maior preferência por cereais com sabor a cenoura comparativamente a crianças cujas mães não ingeriram sumo de cenoura e/ou cenouras durante a gravidez. Stein et al (8) sugere que experiências precoces podem modificar a preferência das crianças por alimentos salgados e doces. Tais observações são significativas, quando pensamos que podem contribuir para patologias futuras como hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade infantil. Desta forma, padrões de gosto cultural surgem antes de se entrar em contato direto com os alimentos propriamente ditos.(6,7) Estudos com alimentos como alho, cenoura, baunilha, mostraram que durante a lactação ocorre passagem de sabores voláteis uma a duas horas após a sua ingestão para o leite materno.(7,9) No estudo de Forestell CA e Mennella JA(10) crianças amamentadas aceitavam melhor pêssegos que latentes alimentados com leite de fórmula, o que se correlacionou com a maior ingestão de fruta pelas mães durante a lactação. Conclui-se, assim, que o leite materno constitui uma oportunidade única para uma maior capacidade de adaptação à diversificação alimentar. Destaca-se a importância de uma dieta variada, tanto para mulheres grávidas como lactantes. Galloway AT et al(11) provaram que crianças amamentadas são menos exigentes e estão mais dispostas a experimentarem novos alimentos. Sabe-se que a NA é mínima entre os quatro e os seis meses de idade, altura em que se inicia a diversificação alimentar, sendo muito pronunciada entre os 18 e os 24 meses.(12) A aceitação de um novo sabor até aos cinco anos necessita muitas vezes de 10 a 15 exposições repetidas, sendo que esse número diminui à medida que uma maior quantidade de alimentos é adicionada à dieta.(13) Contudo, a janela para habituação aos sabores é estreita, pelo que a probabilidade das crianças não gostarem de alimentos introduzidos depois dos quatro anos é maior.(9) A capacidade de aceitação de novos sabores aumenta com a familiarização com esse sabor, através do seu consumo repetido, pelo que a aquisição do gosto vai-se conquistando. Neste sentido, deve-se encorajar a persistência na variedade alimentar.(12) A importância da diversificação alimentar também se manifesta quando crianças mais velhas e adultos, muitas vezes comparam novos sabores com o repertório já conhecido (exemplo: este alimento faz-me lembrar maçã), aceitando-o mais facilmente. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Os novos alimentos são mais prováveis de aceitação quando combinados com pratos conhecidos, em vez de consumidos de forma isolada, mas sem mistura de sabores e quanto maior for a diversidade de alimentos oferecidos à criança na refeição, maior será a quantidade ingerida do novo alimento.(12,14) Experiências prévias com paladares desagradáveis ou agradáveis irão determinar preferências gustativas futuras. Desta forma, a aversão por um alimento que cause sensações negativas, como náuseas ou vómitos durante o seu consumo, pode permanecer para o resto da vida, quer o alimento seja ou não a verdadeira causa da reação.(12) Em contrapartida, sensações positivas podem moldar a preferência por um alimento, pelo que as crianças gostam de alimentos que ingerem em situações agradáveis, como em festas, e rejeitam os alimentos ligados a algo negativo, como a pressão que muitas vezes é exercida para a ingestão de alimentos como frutas e os legumes.(9,12) Tal, faz-nos refletir no tipo de alimentos muitas vezes selecionados para as ocasiões comemorativas. Quanto à pressão, esta pode ser eficaz no aumento do consumo de certos alimentos numa primeira instância, mas ao longo do tempo as crianças aprendem a resistir-lhe, pelo que acaba por ter um impacto negativo sobre o consumo de qualquer alimento.(12) O estudo de Galloway, Fiorito, Francisco, e Birch (2006)(15), testou o impacto da pressão para comer sopa em crianças entre os três e os cinco anos de idade (N=27). Ao longo do tempo, as crianças que consumiram menos sopa foram pressionadas para a comer, e tinham comentários mais negativos sobre a mesma, em comparação com crianças que não foram submetidas a pressão. Também no estudo de Batsell, Brown, Ansfield, e Paschall (2002)(16), crianças que percebem que estão a ser forçadas a consumirem determinados alimentos desenvolvem uma “aversão cognitiva” pelos mesmos, associando-os com experiências alimentares negativas. Existe um período janela, entre os seis e os nove meses, crítico para a introdução das texturas alimentares, a fim de se proceder a uma correta aprendizagem da mastigação e redução do risco de dificuldades tardias na alimentação.(17) Assim, a sequência da consistência da alimentação deve ser aumentada progressivamente, começando-se por uma alimentação homogénea, depois granulosa, seguindo-se partículas mais grosseiras e, por fim, fragmentos. Existe também uma concordância entre mães e filhos nos gostos e nos não gostos, sendo essa influência contínua, mesmo após os oito anos de idade.(9) Assim, o exemplo parental de crianças mais velhas ou até mesmo de heróis de histórias encoraja a experimentação de novos alimentos, caso o modelo crie uma impressão positiva. A modelagem consiste num meio eficaz para uma alimentação saudável, tornando as crianças mais propensas a experimentarem um novo alimento, quando outras pessoas o estão a ingerir. Nos estudos de Addessi, Galloway, Visalberghi, e Birch, 2005(18) e de Salvy, Vartanian, Coelho, Jarrin, e Pliner, 2008(19), a modelagem associou-se com um aumento do consumo de legumes ao longo de 12 meses e aumentou a exposição das crianças ao sabor de novos alimentos. Será que as crianças tolerariam o seu prato preferido todos os dias? A resposta é não, devido a um mecanismo de defesa designado saciedade sensorial específica, que nos impede de termos uma dieta altamente monótona. Assim, de um dia para o outro as crianças exigem algo novo e rejeitam o prato preferido, pelo que apenas ingerem quantidades limitadas, levando a uma saciedade rápida e à rejeição de repetição mesmo que ainda queiram ingerir um alimento diferente de seguida. CONCLUSÕES O gosto por determinados alimentos é um processo complexo que começa in útero, continua com o aleitamento e permanece pela vida fora. Embora exista uma forte componente genética que influencia os nossos gostos alimentares, tal pode ser contrariado por exposições precoces e repetidas aos alimentos. O contexto das refeições exerce uma influência fundamental sobre as preferências gustativas posteriores, originando estruturação do comportamento alimentar, pelo que se devem também ter cuidados especiais na configuração das refeições, fomentando as escolhas saudáveis de alimentos. As emoções, aspetos sociais e processos digestivos, são fatores influenciadores da aquisição do gosto. As influências negativas, nomeadamente pressões, devem ser evitadas, devendo-se valorizar os reforços positivos. Dar à criança alguns alimentos preferidos juntamente com os novos alimentos e manter a calma para as neofobias temporárias, talvez seja a chave para o desenvolvimento das preferências gustativas mais benéficas para as crianças. Estas preferências são muito estáveis e podem durar toda a vida, pelo que devemos dar uma especial atenção às crianças e aos pais no processo de “educação do gosto”. FOOD NEOPHOBIA - IMPORTANCE IN CLINICAL PRACTICE ABSTRACT Objective: To review the scientific evidence of the theme Food Neophobias (FN), focus on the most important aspects of their application in clinical practice. Review methods: A systematic review was performed for papers published between January 2001 to February 2012, in Portuguese/English, in the medical databases Medline/Pubmed, Cochrane Library, National Guideline Clearinghouse, evidence-based medicine sites and Physiology text books. Results: The term FN is defined as a reluctant acceptance of new flavours. The taste for certain foods is a complex process that begins in utero, continues during breastfeeding and remains throughout life. Although there is an influence of genetic factors, these can be contradicted by early and repeated exposure to different flavours, which will modulate the taste and will reduce the risk of future diseases, including childhood obesity. As the window for habituation to new flavours is thin, the rejection of foods introduced after four years is higher. The artigo de revisão review articles 169 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 acceptance of a new flavour up to five years often requires 10 to 15 repeated exposures. Emotions, social aspects and digestive processes, are factors that influence the acquisition of taste. Conclusions: The gustatory preferences are very stable and can follow up lifelong and we should pay particular attention to children and parents in the “taste education” process. By giving the child some favourite foods with new foods and to stay calm for temporary neophobias, may be the key to the development of taste preferences. The negative reinforcement, such pressures, should be avoided, and the positive reinforcement should be implemented. Keywords: food neophobia, “taste education”. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 167-170 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Guyton A, Hall J. Tratado de Fisiologia Médica, 10ª ed. Guanabara Koogan; 2002. Cap. 53. p. 571-4. 2. Garcia-Bailo B, Toguri C, Eny KM, El-Sohemy A. Genetic variation in taste and its influence on food selection. OMICS A Journal of Integrative Biology 2009; 13:69-80. 3. Feeny E, O´Brien S, Scannell A, Markey A, Gibney E.R. Genetic variation in taste perception: does it have a role in healthy eating? Proc Nutr Soc 2011; 70:135-43. 4. Mennella JA, Pepino MY, Reed DR. Genetic and environmental determinants of bitter perception and sweet preferences. Pediatrics 2005; 115:e216-e222 . 5. Reed DR, Tanaka T, McDaniel AH. Diverse tastes: Genetics of sweet and bitter perception. Physiol Behav 2006; 88:215-26. 6. Mennella JÁ, Jagnow CP, Beauchamp GK. Prenatal and postnatal flavor learning by human infants. Pediatrics 2001; 107:88-93. 7. Beauchamp GK, Mennella JA. Flavor perception in human infants: development and functional significance. Digestion 2011; 83:1-6. 8. Stein LJ, Cowart BJ, Beauchamp GK. Salty taste acceptance by infants and young children is related to birth weight: longitudinal analysis of infants within the normal birth weight range. Eur J Clin Nutr 2006; 60:272-9. 170 artigo de revisão review articles 9. Gregory JE, Paxton SJ, Brozovic AM. Maternal feeding practices predict fruit and vegetable consumption in young children - Results of a 12-month longitudinal study. Appetite 2011; 57:167-72. 10. Forestell CA, Mennella JA. Early determinants of fruit and vegetable acceptance. Pediatrics 2007; 120:1247-54. 11. Galloway AT, Lee Y, Birch LL. Predictors and consequences of food neophobia and pickiness in young girls. J Am Diet Assoc 2003; 103:692-8. 12. Schwartz C, Issanchou S, Nicklaus S. Developmental changes in the acceptance of the five basic tastes in the first year of life. Br J Nutr 2009; 102:1375-85. 13. Williams KE, Paul C, Pizzo B, Riegel K. Practice does make perfect - A longitudinal look at repeated taste exposure. Appetite 2008; 51:739-42. 14. Yeomans MR, Gould NJ, Mobini S, Prescott J. Acquired flavor acceptance and intake facilitated by monosodium glutamate in humans. Physiol Behav 2008; 93:958-66. 15. Galloway AT, Fiorito LM, Francis LA, Birch LL. ’Finish your soup’ - Counterproductive effects of pressuring children to eat on intake and affect. Appetite 2006; 46:318-23. 16. Batsell WR, Brown AS, Ansfield ME, Paschall GY. You will eat all of that! - A retrospective analysis of forced consumption episodes. Appetite 2002; 38:211-9. 17. Butte N, Cobb K, Dwyer J, Granely L, Heired W, Rickard K. The start healthy feeding guidelines for infants and toddlers. J Am Diet Assoc 2004; 104:442-54. 18. Addessi E, Galloway AT, Visalberghi E, Birch LL. Specific social influences on the acceptance of novel foods in 2–5-year-old children. Appetite 2005; 45:264-71. 19. Salvy SJ, Vartanian LR, Coelho JS, Jarrin D, Pliner P. The role of familiarity on modeling of eating and food consumption in children. Appetite 2008; 50:524-8. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ana Isabel Silva Unidade de Saúde Familiar Nova Salus CS Soares dos Reis/Oliveira do Douro - Unidade Soares dos Reis Rua Bartolomeu Dias, nº 316 4400-043 Mafamude – Vila Nova de Gaia, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 01.06.2012 | Aceite a 01.07.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Deformidade póstero-medial congénita da tíbia: a propósito de 2 casos clínicos Ângela Isabel Miguel Dias1, Liliana Pinheiro2, Eduardo Almeida3 RESUMO Objetivo: Apresentar o caso de duas crianças com encurvamento dos membros inferiores condicionado por deformidades angulares da tíbia e discutir os seus diagnósticos diferenciais. Descrição do caso: Apresenta-se o caso de duas crianças referenciadas a uma consulta de Ortopedia Pediátrica por encurvamento dos membros inferiores. Não apresentavam manchas cutâneas ou outras particularidades ao exame objetivo. O exame clínico e imagiológico foi compatível com deformidade póstero-medial congénita da tíbia. A evolução clínica foi favorável, com resolução espontânea da deformidade e sem dismetria dos membros. Discussão: A deformidade póstero-medial congénita da tíbia é uma entidade rara, havendo escassos casos relatados. A sua incidência real permanece desconhecida. Implica o diagnóstico diferencial com pseudartrose congénita da tíbia, quase sempre relacionada com a neurofibromatose. A maioria das vezes o tratamento é conservador, atendendo a que tende a resolver espontaneamente (a maioria até aos 8 anos), sem qualquer repercussão clínica. Pretende-se alertar os Pediatras, para que estabeleçam a possibilidade desta entidade clínica perante um encurvamento dos membros inferiores, minimizando a ansiedade parental que dela resulte, ressalvando-se no entanto a importância de que sejam observados por ortopedistas atendendo a que há situações clínicas em que o diagnóstico pode não ser tão evidente. Palavras-chave: Deformidades congénitas das extremidades inferiores, tíbia, criança. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 171-173 INTRODUÇÃO As deformidades angulares da tíbia caracterizam-se pelo encurvamento da diáfise tibial, podendo o ápice da deformidade dirigir-se ântero-lateralmente, ântero-medialmente ou póstero-medialmente.(1) Cada angulação associa-se classicamente a uma etiologia distinta(2), reconhecendo-se as seguintes etiologias: encurvamento ântero-medial (associada a hemimelia peronial)(3), __________ 1 2 3 S. Pediatria, U Guimarães, CH Alto Ave, 4835-044 Guimarães, Portugal. [email protected] S. Pediatria, H Braga, 4710-243 Braga, Portugal. [email protected] S. Ortopedia, H Santo António, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected] encurvamento ântero-lateral (associada a pseudartrose da tíbia), doença de Blount (tíbia vara), raquitismo, displasia fibrocartilagínea focal, trauma (fratura de Cozen) ou displasias e encurvamento póstero-medial, sobre o qual versa o presente artigo. A deformidade póstero-medial congénita da tíbia, associa-se com frequência a pé calcâneo-valgo ipsilateral que tendencialmente evolui para resolução espontânea.(3-5) A sua etiologia é desconhecida, sendo apontadas como causas possíveis um posicionamento fetal anormal in utero, com dorsiflexão do pé contra a região anterior da tíbia, alterações embriológicas, fratura intra-uterina ou alterações circulatórias. (1) Implica o diagnóstico diferencial com as restantes causas de deformidades angulares tibiais, das quais é facilmente diferenciada atendendo às particularidades do exame objetivo, em que a direção típica do arqueamento da tíbia e a deformidade do pé, quando presente, são observados. Distingue-se do encurvamento tibial ântero-medial pois este associa-se à ausência congênita do perónio e segmentos laterais do pé. Por sua vez, a curvatura ântero-lateral associa-se à pseudartrose da tíbia, que pode ser detetável radiologicamente após o nascimento, ou pode desenvolver-se com o crescimento. Cerca de 50% das crianças com este tipo de desvio têm associadamente o diagnóstico de neurofibromatose.(1,2) CASO CLÍNICO Os autores apresentam dois doentes, em que o primeiro caso se reporta a uma criança de dois anos de idade e o segundo caso a um lactente de dois meses, referenciados à Consulta de Ortopedia Pediátrica por encurvamento dos membros inferiores. No restante exame objetivo não foram documentadas particularidades relevantes, nomeadamente manchas cutâneas. O exame clínico e imagiológico foi compatível com deformidade póstero-medial congénita da tíbia, uma vez que evidenciou a presença de desvio angular da tíbia com ápice dirigido no sentido supracitado (Figuras 1 a 3). Em ambos os casos a evolução foi favorável, com resolução espontânea da deformidade documentada clínica e radiologicamente. No primeiro caso houve resolução pelos quatro anos, no segundo caso esta foi verificada pelos 12 meses (Figuras 3a,3b,3c). Em nenhum dos casos foi objetivada dismetria dos membros inferiores ao longo do período de follow-up, destacando-se contudo que os resultados apresentados são ainda preliminares, uma vez que é mandatório manter uma vigilância seriada até ao atingimento da maturidade esquelética. casos clínicos case reports 171 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 DISCUSSÃO A deformidade póstero-medial congénita da tíbia, uma entidade rara cuja incidência real é desconhecida, pode ser detetável ao nascimento ou ainda mais precocemente, no período pré-natal em que esta hipótese de diagnóstico pode ser colocada ecograficamente. Nessa situação evocar o diagnóstico adquire ainda maior relevância pois perante a possibilidade de se tratar de uma pseudartrose da tíbia pode haver a possibilidade de interrupção voluntária da gravidez. Figura 1 – Caso 1, de uma criança de dois anos com membro inferior direito com deformidade póstero-medial congénita da tíbia. 3a Na deformidade póstero-medial congénita da tíbia, quando a angulação da diáfise é grande, a história clínica é típica e os pais procuram cuidados médicos devido à curvatura anormal da região inferior das pernas ou por anomalia do pé, conforme decorrido nos casos apresentados. Raramente, quando a angulação é ligeira, pode ser reconhecida apenas acidentalmente no decurso de avaliação radiológica dos membros inferiores.(1,6,7) Esta deformidade tende a resolver-se espontaneamente (a maioria até aos oito anos), sem que resulte qualquer repercus- Figura 2 – Radiografia evidenciando encurvamento póstero-medial da tíbia direita, correspondendo à criança da fotografia da Figura 1. 3b Figura 3 – Caso 2, com imagens radiológicas dos membros inferiores obtidas aos dois meses (Figura 3a), sete meses (Figura 3b) e 12 meses (Figura 3c), evidenciando resolução progressiva da deformidade tibial. 172 casos clínicos case reports 3c NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 são clínica, pelo que a maioria das vezes o tratamento é conservador.(1) Todavia, há casos que cursam com dismetria dos membros, que pode variar entre os 2 e os 6 cm. Nos casos mais graves pode ser necessária intervenção para minimizar a repercussão funcional da mesma. Recomenda-se por isso um seguimento periódico até ser atingida a maturidade esquelética, permitindo identificar casos com desvio residual, deformidade e fraqueza muscular que podem requerer intervenção cirúrgica corretiva.(8) Com este caso os autores pretendem alertar os Pediatras para que estabeleçam a possibilidade desta entidade clínica perante um encurvamento dos membros inferiores, minimizando a ansiedade parental que dela resulte. Todavia, o facto de existirem situações clínicas em que o diagnóstico pode não ser tão evidente, além da necessidade de manter um seguimento regular para antecipar e orientar eventuais complicações reforçam a importância de que estas crianças sejam observadas por ortopedistas, possibilitando um seguimento adequado. CONGENITAL POSTEROMEDIAL BOWING OF THE TIBIA: REPORT OF 2 CASES ABSTRACT Objective: To describe the case of two children with leg bowing conditioned by tibial angular deformities and to discuss differential diagnosis. Case report: We report the case of two patients referred to a Pediatric Orthopedics Consultation due to leg bowing. No skin patches or other alterations were found on physical examination. Clinical and imaging findings were consistent with congenital posteromedial bowing of the tibia. Favorable outcome was verified, with spontaneous resolution of deformity. Comments: Posteromedial bowing of the tibia is a rare entity, with few cases reported in literature. Its true incidence remains unknown. It implies differential diagnosis with the tibial congenital pseudarthrosis, usually related to neurofibromatosis. Most often its treatment is conservative, because it tends to resolve spontaneously (mostly under 8 years) without any clinical consequences. Our aim is to alert pediatricians to establish the possibility of this clinical entity when dealing with tibial bowing, minimizing parental anxiety resulting from it. Nevertheless we emphasize the importance of evaluation by an orthopedist as there are clinical situations in which diagnosis may not be as evident. Keywords: Congenital lower extremity deformities, tibia, child. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 171-173 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. McCarthy J. Tibial bowing. Emedicine.medscape.com. Disponível em: http://emedicine.medscape.com/ 2. Schoenecker PL, Rich MM. The lower extremity. J Pediatr Orthop 2001; 1092-95. Schoenecker PL, Rich MM. The lower extremity. In: Morrissy RT, Weinstein SL (Eds). Lovell and Winter’s Pediatric Orthopaedics, 6th ed, Philadelphia. Lippincott Williams & Wilkins; 2006. p.1158. 3. Alaseirlis DA, Korompilias AV, Beris AE, Soucacos PN. Residual malformations and leg length discrepancy after treatment of fibular hemimelia. J Orthop Surg Res 2011; 6:51. 4. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ângela Dias Centro Hospitalar do Alto Ave Unidade de Guimarães Serviço de Pediatria Rua dos Cutileiros - Creixomil 4835-044 Guimarães, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 22.11.2012 | Aceite a 23.03.2013 casos clínicos case reports 173 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Colecistite aguda alitiásica na criança Sofia Moura Antunes1, Tiago Proença dos Santos2, Sofia Deuchande1, Ana Mafalda Martins1 RESUMO Introdução: A colecistite aguda alitiásica é uma doença rara em Pediatria. Surge geralmente associada a patologias graves, sendo rara na criança saudável. Caso clínico: Os autores apresentam dois casos de colecistite aguda alitiásica, com etiologias distintas, diagnosticados em duas crianças saudáveis. Discussão: Discute-se a fisiopatologia, apresentação clínica e tratamento desta entidade, salientando-se o papel da ecografia como o exame de eleição no seu diagnóstico. Palavras-chave: Colecistite aguda alitiásica, criança. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 174-177 INTRODUÇÃO A patologia da vesícula biliar é rara na criança (1,3 casos pediátricos para cada 1000 casos em adultos).(1,2) Como tal, apesar da apresentação clínica ser semelhante à do adulto, o índice de suspeição para o seu diagnóstico é geralmente baixo.(3) A colecistite aguda alitiásica (CAA) caracteriza-se por inflamação da vesícula biliar, na ausência de cálculos no seu lúmen. (3-7) Apesar de ser geralmente descrita em doentes gravemente doentes, pode surgir na criança previamente saudável.(2,4,7,10) A apresentação clínica e os achados laboratoriais são inespecíficos. É a integração destes dados com os achados ecográficos que permite o diagnóstico e tratamento atempados, prevenindo a morbilidade e mortalidade da CAA na criança.(4,8) Os autores apresentam dois casos de CAA em crianças sem factores de risco, não só pela raridade da patologia em idade pediátrica, mas também para realçar a importância de ter em conta esta entidade na abordagem da dor abdominal em Pediatria. Caso Clínico 1 Criança de quatro anos, sexo masculino, previamente saudável, trazida ao serviço de urgência (SU) por dor abdominal e vómitos com 48 horas de evolução. Sem outros sintomas acompanhantes, nomeadamente febre, diarreia ou alterações uriná__________ 1 2 U. Funcional de Pediatria. Dep. Mulher e da Criança. HPP. H de Cascais Dr. José de Almeida, 2755-009 Alcabideche, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected] S. Pediatria, Dep. Pediatria, H Santa Maria, CH Lisboa Norte, 1649-035 Lisboa, Portugal. [email protected] 174 casos clínicos case reports rias. Sem história de traumatismo prévio. Nos últimos três meses já tinha recorrido ao SU duas vezes com os mesmos sintomas, tendo tido alta após algumas horas de hidratação endovenosa. Na admissão estava hemodinamicamente estável, apirético, anictérico; abdómen difusamente doloroso à palpação, sobretudo nos quadrantes direitos, com dor à descompressão. Ficou internado com a hipótese diagnóstica de apendicite aguda. Analiticamente apresentava leucocitose (17230/μL) com neutrofilia (91,4%) e proteína-C-reativa negativa (0,02 mg/dL); sem alterações das transaminases ou aumento da bilirrubina. A radiografia do tórax não revelou alterações e o exame sumário de urina mostrou bilirrubinúria (+++). Na reobservação palpou-se zona mais dolorosa na transição do flanco com o hipocôndrio direito, mantendo dor à descompressão, o que fez equacionar o diagnóstico de colecistite aguda. Realizou ecografia abdominal que revelou espessamento difuso da parede da vesícula biliar traduzindo edema (cerca de 6 mm), sem sinais diretos ou indiretos de litíase – sugestivo de CAA. Iniciou antibioticoterapia de largo espectro e analgesia por via endovenosa. Dos exames culturais efetuados, a hemocultura foi negativa e houve isolamento de Salmonella spp na coprocultura. Ao terceiro dia de internamento, apesar da melhoria clínica progressiva, constatou-se a presença de colestase e citólise (bilirrubina total/direta 2,6/1,9 mg/dl, aspartato aminotransferase 283 UI/L, alanina aminotransferase 123 UI/L, fosfatase alcalina 312 UI/L, gama glutamil transpeptidase 158 UI/L, amilase 41 UI/L). Repetiu a ecografia abdominal, que revelou vesícula biliar muito espessada e distendida, com conteúdo heterogéneo, pequena quantidade de líquido intra-abdominal e dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas, colocando-se a hipótese de se tratar de um quisto do colédoco com obstrução da via biliar. Por este motivo foi transferido para o centro cirúrgico de referência, onde completou 14 dias de antibioterapia, com melhoria clínica e laboratorial progressiva; teve alta hospitalar, assintomático e com intervenção cirúrgica programada. Intraoperatoriamente constatou-se presença de quisto do colédoco (tipo I), tendo sido realizada colecistectomia, excisão do quisto, hepatico-jejunostomia e montagem de ansa em Y de Roux. A histologia confirmou a presença de colecistite crónica. Aos dois anos de seguimento, a criança continua assintomática. Caso Clínico 2 Adolescente de 16 anos, sexo feminino, com antecedentes familiares de tia materna colecistectomizada aos 34 anos (após episódios recorrentes de cólica biliar) e antecedentes pessoais NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 de apendicectomia aos dez anos (com apendicite aguda não confirmada histologicamente). Trazida ao SU por dor abdominal desde essa manhã, localizada no hipocôndrio direito, contínua e de agravamento progressivo, sem irradiação. Sem fatores desencadeantes, fatores de agravamento ou de alívio. Negava náuseas, vómitos, febre, alterações do trânsito intestinal ou diminuição do apetite. Estava menstruada desde a véspera. Referia episódios anteriores, de carácter esporádico, sempre de manhã e em jejum, de dor abdominal no mesmo local, mas com menor intensidade e de alívio espontâneo. À observação estava hemodinamicamente estável mas francamente queixosa, apirética, anictérica, com abdómen muito doloroso à palpação do hipocôndrio direito, sem dor à descompressão e com sinal de Murphy vesicular positivo. Sem outras alterações à observação. Ficou internada com a hipótese diagnóstica de colecistite aguda. Analiticamente não apresentava alterações no hemograma, com parâmetros de infeção negativos (proteína-C-reativa 0,38 mg/dl), e sem alteração das transaminases (AST 25 UI/L, ALT 36 UI/L). A radiografia do tórax não revelou alterações. Realizou ecografia abdominal que revelou vesícula biliar pouco distendida, sem sinais de litíase, com pequeno pólipo milimétrico e com espessamento parietal difuso, dolorosa à compressão pela sonda ecográfica - compatível com CAA; fígado sem alterações; sem dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas (Figuras 1 e 2). Após observação pela equipa de cirurgia, que corroborou a hipótese diagnóstica, ficou internada para vigilância e repetição da ecografia abdominal. Nas doze horas seguintes manteve as queixas álgicas no hipocôndrio direito com melhoria ligeira e transitória sob analgesia endovenosa frequente. Repetiu ecografia abdominal que revelou um inequívoco espessamento da parede vesicular, não significativamente distendida; ausência de litíase e pequena quantidade de líquido intraperitoneal na loca de Morrison e fundo de saco útero-rectal. Após reavaliação pela equipa de Cirurgia, foi proposta colecistectomia por via laparoscópica, que decorreu sem intercorrências. A anatomia patológica confirmou tratar-se de uma CAA, confirmando igualmente a presença de pólipo hiperplásico (2 mm) sem transformação adenomatosa. Teve alta ao segundo dia de pós-operatório, clinicamente bem, referenciada à consulta de cirurgia, da qual teve alta com um mês de pós-operatório, sem queixas. DISCUSSÃO A colecistite aguda surge, na população adulta, associada a cálculos em 95% dos casos, parecendo ser a obstrução do cístico o factor que desencadeia a inflamação.(8) A incidência em idade pediátrica é muito baixa (1-4%), mas em 30 a 50% das vezes é alitiásica, comparada com 2 a 17% na população adulta.(1,2,10) Ao contrário da colecistite litiásica, a CAA é mais frequente no sexo masculino (♂:♀=1,5-3:1).(3,4) Classicamente surge descrita associada a sépsis, queimaduras extensas, grandes cirurgias ou traumatismos, nutrição parentérica prolongada, ventilação não invasiva ou outras infeções sistémicas como febre tifóide, giardíase, malária, pneumonia, escarlatina, sarampo ou SIDA. Está também descrita associada a patologias como a doença de Kawasaki, poliarterite nodosa, hepatite A e infeção por Ebstein-Barr. (1,2,4-6,8-11) Existem, contudo, cada vez mais relatos na literatura de CAA em doentes saudáveis, sem fatores de risco.(2,4,7,10) A sua patogénese não está ainda completamente estabelecida. Pensa-se que seja multifatorial, com vários fatores contribuindo para a estase biliar e/ou isquémia da parede, com libertação de mediadores inflamatórios pelo epitélio vesicular, causando inflamação, obstrução venosa e linfática, isquémia e necrose, que favorecem a proliferação bacteriana.(1,3,4,10) Contudo, esta tese não explica a sua ocorrência em doentes sem fatores de risco.(4) Clinicamente, a principal queixa é a dor abdominal, de grande intensidade, tipo cólica ou contínua, localizada no hipocôndrio direito e/ou epigastro, que pode irradiar para a região escapular direita ou para o dorso. Por vezes a dor é mesmo o único sintoma, mas pode ser acompanhada por anorexia, náuseas e vómitos, febre, por vezes icterícia e mais raramente, colúria. Figuras 1 e 2 – Ecografia abdominal evidenciando espessamento parietal difuso, pequeno pólipo milimétrico (seta) e ausência de cálculo. casos clínicos case reports 175 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Na colecistite aguda crónica existe sintomatologia crónica ou arrastada de dor abdominal nos quadrantes direitos, náuseas ou vómitos.(1) A dor à palpação do hipocôndrio direito é o sinal mais frequente. Podem existir sinais de irritação peritoneal, pequena hepatomegália, icterícia (em 20% dos casos, quando existe obstrução) e regra geral, sinal de Murphy vesicular (paragem inspiratória com a pressão no hipocôndrio direito) positivo.(8) Os exames laboratoriais, pela sua inespecificidade, frequentemente não ajudam ao diagnóstico e são muitas vezes normais ou com alterações relacionadas com a doença subjacente. (5,8) Pode haver discreta leucocitose (até 15000/uL nos casos não complicados) com ou sem neutrofilia. Quando existe hiperbilirrubinémia, geralmente é mista e raramente excede os 2 a 5mg/ dL (valores mais elevados de bilirrubina devem fazer pensar em hemólise ou obstrução do colédoco); 15-20% dos doentes têm aumento da fosfatase alcalina e das transaminases.(8) A ecografia e a tomografia computorizada (TC) são os meios complementares de diagnóstico de eleição(2,5), sendo a ecografia o exame de primeira escolha (muitas vezes de forma seriada), apresentando uma especificidade superior a 95%(4,9). O achado ecográfico mais frequente é o espessamento da parede vesicular (superior a 3mm), com ou sem outros achados como bílis espessa (sludge) na ausência de cálculos e coleção líquida perivesicular(4,10). A TC é menos sensível, mas permite visualizar todo o abdómen e pélvis(2,4). A CAA tem maior incidência de complicações (como gangrena, empiema e perfuração) que as formas litiásicas(3,4,7-9), podendo associar-se a elevada mortalidade (10-90%, consoante a precocidade do diagnóstico)(4,7,9). O tratamento indicado é a colecistectomia (por via aberta ou laparoscópica), realizada após estabilização hemodinâmica e, se necessário, antibioterapia(2-4,8,9). Quando a colecistite é claramente secundária a infeção bacteriana (ex.: febre tifóide), alguns autores preconizam apenas antibioterapia endovenosa(1,2). A cirurgia pode ser realizada eletivamente nos casos de sintomatologia crónica. Apesar de na literatura a CAA surgir sobretudo associada a infeções ou estado clínicos graves, os casos apresentados reportam-se a crianças previamente saudáveis, sem fatores de risco para esta patologia. No caso clínico 1, a sintomatologia prévia, com dor abdominal recorrente que já tinha motivado a observação em SU faz crer que o último episódio que motivou o internamento se tratasse de uma agudização de colecistite crónica, como foi posteriormente verificado pela histologia. Ecograficamente foi colocada a hipótese de uma obstrução da via biliar por quisto do colédoco, confirmado intraoperatoriamente, fazendo supor que este achado foi a causa da inflamação crónica da vesícula biliar. Os quistos do colédoco são dilatações congénitas do ducto biliar comum. Segundo Todani classificam-se em cinco tipos, sendo o tipo I (dilatação sacular ou fusiforme de todo o canal hepático comum e do colédoco, ou de segmentos de cada) o mais frequente (80% dos casos)(12). Apesar do tipo de quisto do colédoco encontrado no nosso doente ser o mais frequente, a associação desta entidade à CAA é muito rara(13). Faz frequentemente diagnóstico (4,5,8,10) 176 casos clínicos case reports diferencial com a colecistite aguda(14), mas pode igualmente ser causa de estase biliar e, consequentemente, ter originado os múltiplos episódios de inflamação da vesícula que se traduziram histologicamente num padrão de colecistite crónica(13). A ausência de febre ou diarreia faz supor que o isolamento de Salmonella spp na coprocultura deste doente possa ter sido um achado, sem associação ao quadro de CAA. No segundo caso clínico, a existência de episódios semelhantes de dor abdominal, inclusivamente com uma apendicectomia “branca” faz supor também a existência de episódios prévios de cólica biliar, embora histologicamente fossem apenas identificados aspetos inflamatórios agudos – eventualmente pela curta evolução da sintomatologia. Dada a exuberância das queixas álgicas e a ausência de parâmetros de infeção, optou-se pela cirurgia de urgência. A análise histológica da peça operatória confirmou a lesão polipomatosa identificada na ecografia. As lesões polipomatosas da vesícula biliar são extremamente raras na criança.(15) Apesar de existirem indicações claras nos adultos acerca da colecistectomia na presença de pólipo da vesícula biliar, a experiência na população pediátrica é escassa. No entanto, dado que a sua presença se associa a colecistite alitiásica – como se verificou nesta adolescente – e porque os seus efeitos a longo prazo são desconhecidos, a colecistectomia é recomendada nas crianças com pólipos da vesícula biliar.(15) CONCLUSÃO Tem havido um aumento crescente de relatos de CAA em doentes saudáveis, relembrando o conhecimento ainda insuficiente da sua fisiopatologia. O diagnóstico é difícil dada a inespecificidade clínica e dos exames laboratoriais, dependendo de um elevado índice de suspeição. A ecografia abdominal (por vezes seriada) permanece o gold standard no diagnóstico da colecistite e na identificação da sua etiologia. Apesar da raridade da patologia da vesícula e vias biliares na criança e no adolescente, pela elevada morbilidade do diagnóstico tardio, é fundamental tê-la presente no diagnóstico diferencial da dor abdominal em idade pediátrica. ACUTE ACALCULOUS CHOLECYSTITIS IN CHILDREN ABSTRACT Introduction: Acute acalculous cholecystitis is rare in pediatric age. It usually is associated with severe pathology, and is rare in healthy children. Case report: We describe two cases of acute acalculous cholecystitis, with distinct etiologies, diagnosed in two healthy children. Discussion: We also discuss the pathophysiology, clinical features and management of acute acalculous cholecystitis, enhancing the ultrasound contribution to its diagnosis. Keywords: Acute acalculous cholecystitis, children. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 174-177 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Tsakayannis DE, Kozakewich HP, Lillehei CW. Acalculous cholecystitis in children. J Pediatr Surg 1996; 31:127-30 [discussion 130-131]. 2. McNaughton C, Morrow S, Cico SJ. Acalculous cholecystitis in a healthy 4-year-old boy. Am J Emerg Med 2011; 29:962. e1-962.e2. 3. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Sofia Moura Antunes Hospital de Cascais Dr. José de Almeida Departamento da Mulher e da Criança - Unidade Funcional de Pediatria Av. Brigadeiro Victor Novais Gonçalves 2755-009 Alcabideche, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 11.09.2012 | Aceite a 10.03.2013 casos clínicos case reports 177 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Deleção Intersticial 8p23.1-8p23.2 – Caso clínico de diagnóstico pós-natal Vânia Ferreira1, Raquel Maciel1, João Casanova1, Sílvia Álvares2, Natália Oliva Teles3, Manuela Mota Freitas3, Maria do Céu Rodrigues1, Maria José Mendes1 RESUMO Introdução: A deleção cromossómica 8p23 apresenta um espectro clínico variável que se deve à extensão da deleção ou da região do ponto de quebra do material genético. Caso clínico: Grávida de 23 semanas de gestação referenciada ao Centro de Diagnóstico Pré Natal por bradiarritmia fetal. A ecocardiografia fetal revelou anel pulmonar estreito e foramen oval grande. Parto eutócico às 40 semanas de gestação de um feto do sexo masculino e com peso abaixo do percentil 10. A ecocardiografia pós-natal revelou: defeito perimembranoso do septo ventricular, comunicação interauricular e estenose moderada da válvula pulmonar. Durante as consultas de seguimento verificaram-se características dismórficas, atraso de desenvolvimento e alterações do comportamento. Foram realizados estudos citogenéticos e de citogenética molecular; o cariótipo de ambos os progenitores não revelou alterações. O cariótipo final da criança foi definido como: 46,XY,del(8)(p23.1p23.2)dn. Conclusão: As alterações cardíacas estão relacionadas com a haploinsuficiência do gene GATA4. A deleção desta região crítica está também associada a atraso mental ligeiro, alterações do comportamento e dismorfia facial ligeira, características presentes no espectro clínico do caso apresentado. Palavras-chave: Aconselhamento genético, alterações cardíacas congénitas, análise citogenética, deleção 8p23.1, diagnóstico pré-natal, GATA-4. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 178-181 INTRODUÇÃO A deleção cromossómica 8p23.1 está associada a um espectro de anomalias clínicas que incluem dismorfia facial, microcefalia, atraso do crescimento intra-uterino, alterações neuropsiquiátricas, défice intelectual, cardiopatias congênitas (defeitos do septo atrioventricular, defeitos septais atriais, defeitos do sep__________ 1 2 3 S. Obstetrícia e Ginecologia, U. Diagnóstico Pré-Natal, Maternidade Júlio Dinis, CH Porto, 4050-371 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] S. Cardiologia Pediátrica, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected] Dep. Genética, U. Citogenética, Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães, INSA, I.P., 4099-028 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected] 178 casos clínicos case reports to ventricular, estenose pulmonar, tetralogia de Fallot) e hérnia diafragmática congénita.(1-5) Em estudos publicados, as deleções que envolvem esta alteração genética variam desde deleções terminais extensas, que são facilmente detetadas por análise cromossómica de rotina, a deleções intersticiais que são melhor identificadas usando técnicas mais específicas como a hibridização in situ por fluorescência – FISH (fluorescence in situ hibridization) ou técnicas de citogenética molecular como a hibridização genómica comparativa – CGH. (4,6) Há relatos de deleções intersticiais e terminais do braço curto do cromossoma 8 (mais frequentemente com quebras nas bandas 8p21 a 8p23), bem como deleções ocorrendo em associação com duplicações. O quadro clínico variável deve-se à extensão da deleção ou à localização da região do ponto de quebra.(2,4,6) O facto da deleção 8p23.1 estar associada a uma incidência aumentada de malformações cardíacas, sugere que esta região contém um gene importante no desenvolvimento do coração. Nos estudos publicados, identificou-se um gene que se encontrava recorrentemente excluído nos casos de deleções 8p23.1 – o gene GATA4, que foi considerado como o responsável por defeitos cardíacos associados com este tipo de deleções. (1,3-8) Verificou-se que o gene GATA4 se situa na porção proximal da banda p23.1 e codifica um fator de transcrição (estrutura em dedo de zinco) que desempenha um papel essencial na morfogénese cardíaca, nomeadamente na regulação de genes críticos para a diferenciação e função miocárdica. O papel do GATA4 no desenvolvimento do coração é apoiado por estudos de modelos de ratos e de indivíduos com mutações no referido gene. Nos modelos de ratos, tem sido demonstrado que deleções do gene GATA4 causam defeitos cardíacos. Os estudos demonstraram que ratos homozigóticos para um alelo nulo GATA4 não conseguiam formar um tubo cardíaco central e este defeito era fatal, cerca do 7º dia ao 9º dia pós coito(6,9). O gene GATA4 tem sido implicado na regulação de genes críticos para a diferenciação e função do miocárdio, incluindo a troponina C, a α miosina cardíaca de cadeia pesada e o factor natriurético cerebral, sugerindo que os defeitos neste gene podem ter inúmeras implicações no desenvolvimento cardíaco.(7,9) Um estudo recente sugere que um outro gene, SOX7 (expresso no coração e que funciona na mesma via que o GATA4) tem também um papel importante no desenvolvimento cardíaco. Este gene está localizado na porção distal do braço curto do cromossoma 8, e nos casos de deleção 8p23 a haploinsuficiência deste gene tem também sido implicada nas anomalias cardíacas.(6) NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 O défice intelectual é o achado mais frequentemente descrito (relacionado com o desenvolvimento mental) neste tipo de deleções.(2) Parece existir uma relação entre o tamanho da região suprimida no cromossoma 8 e o grau de comprometimento intelectual - deleções terminais mais distais à banda 23.1 estão associadas a um menor compromisso intelectual.(3,8) Foram descritos outros tipos de desenvolvimento atípico neste tipo de deleções, nomeadamente défices motores, atraso da linguagem e alterações do comportamento tais como hiperatividade, défice de atenção e agressividade.(2) As deleções do gene SOX7 também têm sido propostas como tendo um papel no atraso do desenvolvimento e, possivelmente, nas características dismórficas verificadas nos indivíduos com deleção 8p23.(4,6,8) Vários estudos têm tentado encontrar uma região crítica para os problemas de comportamento associados com deleções 8p23 e propuseram um gene, TNKS (Tankyrase 1), como o responsável pelos problemas de comportamento e dificuldades de aprendizagem, uma vez que é expresso no cérebro em grande quantidade. O gene TNKS tem também sido sugerido como o responsável pelas hérnias diafragmáticas, como observado em alguns indivíduos com deleções 8p23.(4,6) O gene MCPH1 (microcefalina 1) tem sido implicado no autismo, microcefalia e atraso do desenvolvimento, e também está localizado na banda p23 do cromossoma 8.(10) Figura 1 – Ecocardiografia fetal: foramen oval grande. Figura 2 – Ecocardiografia fetal: anel pulmonar estreito. a Figura 3 – Ecocardiografia pós-natal a) Comunicação interventricular. b) Comunicação interauricolar. CASO CLÍNICO Grávida de 21 anos, foi referenciada à consulta de diagnóstico pré-natal às 23 semanas de gestação por bradiarritmia fetal. Realizou ecocardiografia fetal que revelou ritmo sinusal, frequência cardíaca normal, foramen oval grande (Figura 1) e anel pulmonar estreito (Figura 2). Parto eutócico às 40 semanas de gestação de um feto do sexo masculino, com um peso de 2290g (< percentil 10 - gráficos de crescimento de Lubchenco) e índice de Apgar 9/10. A ecocardiografia fetal pós-natal revelou uma comunicação interventricular perimembranosa (Figura 3a), comunicação interauricolar (Figura 3b) e estenose moderada da válvula pulmonar (Figura 4). Durante o acompanhamento, na consulta de cardio- b Figura 4 – Ecocardiografia pós-natal: Estenose pulmonar. casos clínicos case reports 179 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 logia pediátrica, outras anomalias foram notadas, tais como: dismorfia facial, atraso do crescimento, pectus carinatum, atraso no desenvolvimento psico-motor e da linguagem (a criança sentou-se aos oito meses, disse as primeiras palavras aos 15 meses e começou a andar aos 18 meses), assim como alterações do comportamento (hiperatividade). A análise de citogenética molecular (FISH) para o cromossoma 22 foi normal e a análise cromossómica com bandas GTG de alta resolução revelou um cariótipo 46,XY,del(8)(p23.1). Foram realizadas outras técnicas de análise citogenética: 1) sonda de pintura cromossómica total (wcp) específica para o cromossoma 8 (whole chromosome painting probes, Cytocell) que demonstrou não estar envolvido outro cromossoma além do 8; 2) sondas subteloméricas para o cromossoma 8 cujo resultado não revelou alterações, tendo-se evidenciado que a deleção era intersticial. Os estudos genéticos dos progenitores foram normais, pelo que a deleção detetada no filho foi considerada “de novo”. Assim, o cariótipo final da criança foi definido como: 46,XY,del(8)(p23.1p23.2)dn. Aos cinco anos de idade a criança foi submetida a cirurgia corretiva cardíaca, que consistiu no encerramento do defeito do septo ventricular e da comunicação interauricular com um patch pericárdico e comissurotomia pulmonar. Atualmente, com oito anos de idade, está assintomático do ponto de vista cardíaco, apresentando um atraso psicomotor e um comportamento hiperativo. DISCUSSÃO Neste caso clínico descrevemos o fenótipo atípico de um indivíduo com deleção intersticial 8p23.1-8p23.2, sendo o primeiro caso descrito em Portugal. Vários autores têm sugerido que as deleções 8p podem ser mais frequentes do que o número relativamente baixo de casos descritos na literatura.(1-3) Essa realidade deve-se ao facto de, possivelmente, apenas crianças com atraso de desenvolvimento ou anomalias major serem referenciadas para estudos citogenéticos, enquanto aqueles com poucas manifestações ou com alterações subtis permanecerem sem diagnóstico.(2) Há muitos relatos de deleções subteloméricas 8p. Os estudos iniciais, publicados no século XX, foram notificados como deleções terminais, no entanto, quando os mesmos indivíduos foram reavaliados por técnicas moleculares e citogenéticas mais avançadas (incluindo marcadores de microssatélites e análise por FISH), foram diagnosticadas deleções intersticiais em vez de terminais.(4) A criança apresentada neste caso clínico apresenta achados clínicos comumente descritos em indivíduos com deleção 8p23, tais como: atraso do crescimento, dismorfia facial leve, malformações cardíacas e atraso do desenvolvimento. Os resultados de estudos de correlação genótipo-fenótipo de indivíduos com defeitos cardíacos congênitos destacaram a região cromossómica 8p23.1 como uma região crítica para a morfogénese cardíaca. Esta região contém o gene GATA4 que codifica um fator de transcrição que desempenha um papel fulcral no desenvolvimento do coração em seres humanos. As cardiopatias congénitas nas deleções deste tipo podem ser explicadas pela haploinsuficiência do gene GATA4(1,3-10). 180 casos clínicos case reports A região crítica para o atraso mental ligeiro, alterações do comportamento e dismorfia facial também se localiza na banda p23.1 do cromossoma 8(4,6,10), e essas características estão presentes na criança do caso clínico apresentado. Estes dados reforçam a importância de realizar uma cuidadosa análise citogenética/ molecular da região 8p23.1, no período pré e pós-natal, nos indivíduos que apresentam cardiopatias congénitas. É fundamental correlacionar a análise clínica e citogenética com a finalidade de esclarecer a correlação genótipo/fenótipo, uma vez que isso nos permitirá uma maior acuidade no aconselhamento genético. Os autores esperam que, com este caso clínico, tenham contribuído para um maior conhecimento científico destes tipos de deleções. INTERSTITIAL DELETION 8P23.1-8P23.2 – A CASE REPORT OF A POSTNATAL DIAGNOSIS ABSTRACT Introduction: The features of an 8p23 deletion are likely to be a result of the loss of a number of different genes found in this region. The variable clinical features could be explained by the extent of the deletion or variation in the breakpoints. Case report: A pregnant patient was referred for fetal echocardiography at 23 weeks gestation, because of fetal bradyarrhythmia, which showed a large foramen oval and mild pulmonary stenosis. A fetal male was born at 40 weeks, with a birth weight below the 10th centile. Postnatal echocardiography revealed: perimembranous ventricular septal defect, atrial septal defect and mild pulmonary valvar stenosis. During follow-up, dysmorphic features, development delay and behavioural issues were noticed. Cytogenetic and molecular cytogenetic analysis were performed. Parental chromosomes were normal, so the child’s final karyotype was defined as 46,XY,del(8)(p23.1p23.2)dn. Conclusion: Congenital heart defects are related with haploinsufficiency of gene GATA4. The deletion of this critical region is associated with mild mental retardation, behavioral problems and mild facial dysmorphy. Keywords: Congenital heart defect, cytogenetic analysis, 8p23.1 deletion syndrome, GATA-4, genetic counselling; prenatal diagnosis. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 178-181 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Clayes I, Holvoet M, Eyskens B, Adriaensens P, Gewillig M, Fryns JP, et al. A recognisable behavioural phenotype associated with terminal deletions of the short arm of chromossome 8. Am J Med Genet 1997; 74:515-20. 2. Gilmore L, Cuskelly M, Jobling A, Smith S. Deletion of 8p: a report of a child with normal intelligence. Dev Med Child Neurol 2001; 43:843-6. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 3. 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Fernandes1, Susana Machado1, Pedro Farrajota2, Manuela Selores1 RESUMO Introdução: A pitíríase liquenóide (PL) é uma dermatose pouco comum e apresenta duas variantes major: a pitiríase liquenóide e varioliforme aguda (PLEVA) e a pitiríase líquenóide crónica (PLC). A sua classificação baseia-se essencialmente nas características clínicas e histológicas. Caso Clínico: Uma criança do sexo masculino, com seis anos de idade, foi referenciada à Consulta de Dermatologia Pediátrica com história de uma erupção cutânea generalizada recorrente, com seis meses de evolução, compatível com o diagnóstico de PLC, corroborado pelo resultado histológico. Discussão: Na PLC, as lesões cutâneas típicas são geralmente assintomáticas e consistem em pápulas eritematosas, com descamação micácea central, facilmente destacável, revelando uma superfície brilhante (liquenóide). Geralmente, tem uma resolução espontânea, após um longo período de remissões e recorrências. As opções terapêuticas incluem a corticoterapia tópica ou sistémica, eritromicina oral, helioterapia, entre outras. Palavras-chave: Infância, pitiríase liquenóide, pitiríase liquenóide crónica, pitiríase liquenóide varioliforme aguda. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 182-184 INTRODUÇÃO A pitíríase liquenóide (PL) é uma dermatose pouco comum e apresenta duas variantes major: a pitiríase liquenóide e varioliforme aguda (PLEVA) e a pitiríase líquenóide crónica (PLC). Clinicamente, a forma aguda da doença caracteriza-se pelo rápido aparecimento de pápulas eritematosas e vesículas que geralmente sofrem necrose central. Podem estar presentes sinais sistémicos, como febre e linfadenopatia. Na PLC observam-se múltiplas pequenas pápulas liquenóides e descamativas, não associadas a sintomatologia sistémica. A etiologia da PL permanece desconhecida, no entanto, alguns estudos sugerem tratar-se de uma doença linfoproliferativa, provavelmente desencadeada __________ S. Dermatologia, H Santo António, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected] 2 S. Anatomia Patológica, H Santo António, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. 1 182 casos clínicos case reports por estímulos antigénicos(1,2), como vírus e outros agentes infecciosos(3). Tem sido considerada como um processo reactivo benigno, no entanto, encontram-se descritos alguns casos raros de PL com evolução para linfoma cutâneo de células T(4,5). O tratamento pode constituir um desafio, dado tratar-se de uma doença auto-limitada e não existir nenhuma terapêutica comprovadamente eficaz. CASO CLÍNICO Uma criança do sexo masculino, com seis anos de idade e sem antecedentes patológicos relevantes, foi referenciada à Consulta de Dermatologia Pediátrica pelo aparecimento de uma erupção cutânea generalizada recorrente, com cerca de seis meses de evolução. Não havia história prévia de episódios infeciosos ou toma de fármacos. Ao exame objetivo observavam-se múltiplas pequenas pápulas eritematosas, de aspeto liquenóide, com descamação micácea central e distribuição generalizada, à exceção da face e das regiões palmo-plantares (Figura 1). Observavam-se ainda múltiplas pequenas máculas acastanhadas, arredondadas, dispersas pelo tegumento (Figura 2). Não havia envolvimento das mucosas, assim como linfadenopatia ou sintomas sistémicos gerais. A biopsia cutânea revelou epiderme com paraqueratose focal, acantose ligeira, áreas de espongiose e, na derme superior e papilar, infiltrado celular inflamatório crónico perivascular (Figura 3). O estudo analítico, que incluiu a realização de hemograma e bioquímica de rotina, não mostrou alterações. Perante os achados clínicos e histológicos foi feito o diagnóstico definitivo de PLC. O doente foi tratado com corticóide tópico (aceponato de metilprednisolona) e helioterapia, com melhoria progressiva das lesões cutâneas, sem recorrência da doença após nove meses de follow-up. DISCUSSÃO A PL é uma dermatose linfocítica que afecta todos os grupos etários, embora seja mais frequente em idades jovens(3). O aparecimento antes dos dois anos de idade não é comum(3). Durante a idade pediátrica, os picos de incidência ocorrem aos cinco e aos 10 anos de idade, com predomínio pelo sexo masculino(6). A classificação da doença em PLEVA ou PLC baseia-se essencialmente nas características clínicas e histológicas, assim como no tempo de evolução das lesões cutâneas. No entanto, alguns doentes podem revelar achados clínicos e histológicos de ambas as variantes(7), dificultando o diagnóstico. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Figura 1 – Imagem clínica mostrando em pormenor as pápulas eritematosas com aspeto liquenoide. A PLC tem um curso clínico mais indolente em relação à PLEVA, podendo a remissão completa da doença demorar vários anos. Na PLC, as lesões cutâneas típicas são geralmente assintomáticas e consistem em pápulas eritematosas/rosadas, com descamação micácea central, facilmente destacável, revelando uma superfície brilhante (liquenóide). Após a sua regressão espontânea (ao longo de algumas semanas), surgem máculas hiper- ou hipopigmentadas residuais. Atinge mais frequentemente o tronco e as regiões proximais dos membros, embora estejam descritas distribuições acrais e segmentares(7). Histologicamente, caracteriza-se pela presença de paraqueratose focal, acantose ligeira a moderada e discreta degeneração vacuolar da camada basal. Geralmente, a derme está edemaciada e observa-se um infiltrado linfohistiocitário perivascular superficial ligeiro, com extravasamento ocasional de eritrócitos(6). Geralmente a PL tem uma resolução espontânea, após um longo período de remissões e recorrências(8). O tratamento inclui a utilização de corticóides tópicos e sistémicos, eritromicina oral e metotrexato, este último em casos excepcionais. Adicionalmente, a helioterapia e a fototerapia com UVB têm constituído uma opção segura no tratamento da PL em crianças(8). PITYRIASIS LICHENOIDES CHRONICA IN A CHILD Figura 2 – Múltiplas máculas hiperpigmentadas no abdómen, correspondentes a lesões residuais pós-inflamatórias. ABSTRACT Introduction: Pityriasis lichenoides (PL) is an uncommon skin disorder with two major variants: pityriasis lichenoides et varioliformis acuta (PLEVA) and pityriasis lichenoides chronica (PLC). Its classification is essentially based on clinical and histological features. Case report: A six-year-old boy was referred to the Pediatric Dermatology Consultation with history of a recurrent generalized skin eruption since the last 6 months, favoring the diagnosis of PLC that was supported by the histological findings. Discussion: In general, the typical cutaneous lesions of PLC are asymptomatic and consist of erythematous papules with a central micaceous scale that can easily be detached to reveal a shiny surface (lichenoid). It usually resolves spontaneously following a long period of remissions and recurrences. The treatment options include topical and oral corticosteroids, oral erythromycin and heliotherapy, among others. Keywords: Childhood, pityriasis lichenoides, pityriasis lichenoides, pityriasis lichenoides et varioliformis acuta. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 182-184 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 3 – Imagem histológica da biopsia cutânea (H&E 400x), onde se observa paraqueratose, espongiose e infiltrado celular inflamatório crónico na derme papilar. 1. Magro C, Crowson NA, Kovatich A, Burns F. Pityriasis lichenoides: a clonal T-cell lymphoproliferative disorder. Hum Pathol 2002; 33:788-95. casos clínicos case reports 183 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 2. Weinberg JM, Kristal L, Chooback L, Honig PJ, Kramer EM, Lessin SR. The clonal nature of pityriasis lichenoides. Arch Dermatol 2002; 138:1063-7. 3. Ersoy-Evans S, Greco MF, Mancini AJ, Subaşi N, Paller AS. Pityriasis lichenoides in childhood: a retrospective review of 124 patients. J Am Acad Dermatol 2007; 56:205-10. 4. Fortson JS, Schroeter AL, Esterly NB. Cutaneous T-cell lymphoma (parapsoriasis en plaque). An association with pityriasis lichenoides et varioliformis acuta in young children. Arch Dermatol 1990; 126:1449-53. 5. Thomson KF, Whittaker SJ, Russell-Jones R, Charles-Holmes R. Childhood cutaneous T-cell lymphoma in association with pityriasis lichenoides chronica. Br J Dermatol 1999; 141:1146-8. 6. Bowers S, Warshaw EM. Pityriasis lichenoides and its subtypes. J Am Acad Dermatol 2006; 55:557-72. 7. Gelmetti C, Rigoni C, Alessi E, Ermacora E, Berti E, Caputo R. Pityriasis lichenoides in children: a long-term follow-up of eighty-nine cases. J Am Acad Dermatol 1990; 23:473-8. 184 casos clínicos case reports 8. Saltik-Temizel IN, Ersoy-Evans S, Demir H, Yüce A. Pityriasis lichenoides chronica: an association with autoimmune hepatitis? Pediatr Dermatol 2007; 24:71-3. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Iolanda Gisela Conde Fernandes Centro Hospitalar do Porto Hospital de Santo António Serviço de Dermatologia Edifício das consultas externas, Ex - CICAP Rua D. Manuel II, s/n 4099-001 Porto e-mail: [email protected] Recebido a 11-09-2012 | Aceite a 30-01-2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Caso dermatológico Catarina Dias1, Ana Maia2, Manuela Selores3 Criança do sexo feminino, sete anos, referenciada à Consulta de Dermatologia por múltiplas lesões cutâneas azuladas/ violáceas, dispersas por todo o corpo, com cerca de um ano de evolução. Desde o aparecimento da primeira lesão, no joelho direito, surgiram outras na região mandibular, perna esquerda, tórax e abdómen, perfazendo um total de 15. Trata-se da segunda filha de um casal saudável, não consanguíneo, sem antecedentes patológicos referidos. O tio materno apresenta lesões semelhantes desde a adolescência, localizadas apenas na região lombar, sem aumento das dimensões ou do número. 1 2 3 Ao exame objectivo são visíveis máculas e pápulas violáceas, que não desaparecem à digitopressão, com bordos irregulares mas bem definidos e diâmetros variando entre 2 mm e 1 cm (Figuras 1 e 2). A criança encontra-se assintomática e o restante exame físico é normal. Realizou estudo analítico, ecografia abdominal e ressonância magnética cerebral, que não evidenciaram alterações. Qual é o seu diagnóstico? S. Pediatria, CH Vila Nova de Gaia-Espinho, 4434-502 Vila Nova de Gaia, Portugal. [email protected] USF do Mar, ACES Póvoa de Varzim-Vila do Conde, 4490-602 Póvoa de Varzim, Portugal. [email protected] S. Dermatologia, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected] caso dermatológico dermatology case 185 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 DIAGNÓSTICO Malformações glomuvenosas múltiplas COMENTÁRIOS As malformações glomuvenosas (GVM, OMIM 138000), também conhecidas por glomangiomas, são hamartomas – malformações semelhantes a neoplasias – com células idênticas às células musculares lisas modificadas dos corpos glómicos. Os corpos glómicos são estruturas especializadas na termorregulação, localizadas na derme profunda, constituídas por anastomoses arteriovenosas revestidas por células musculares lisas epitelióides (células glómicas) e um estroma de tecido conjuntivo(1). A primeira descrição clínica e histológica detalhada foi realizada por Masson, em 1924, que denominou esta lesão de “tumor glómico”. Identificaram-se mais tarde três subtipos histológicos, segundo a proporção de células glómicas e componentes vascular e muscular – o tumor glómico sólido, o glomangioma e o glomangiomioma(2). Esta classificação foi entretanto substituída pela designação geral de malformações glomuvenosas(3,5), embora alguns autores continuem a diferenciar o tumor glómico per se e a malformação glomuvenosa, ou glomangioma(4). O primeiro corresponde à lesão isolada, esporádica, enquanto o segundo corresponde à forma genética/hereditária. As malformações glomuvenosas ocorrem habitualmente em áreas ricas em corpos glómicos, como as extremidades distais dos dedos (sobretudo a região subungueal), palmas, punhos, antebraços e pés(2-5). Localizações menos frequentes incluem os tecidos moles profundos, nervos, ossos, pénis, pulmão, estômago e intestino delgado. A apresentação subungueal é mais frequente no sexo feminino(4), não existindo preferência por género nas restantes localizações. A grande maioria dos casos surge de forma esporádica, em adultos entre a terceira e a quarta décadas de vida. A apresentação mais habitual consiste numa pápula ou nódulo pequeno e solitário, firme, de coloração vermelha, violácea ou azul, consoante a sua profundidade(3). As dimensões variam geralmente entre os 2 e os 10 mm de diâmetro(2,3). Histologicamente, são quase sempre capsulados. A estimulação local pelo frio ou pela pressão pode desencadear paroxismos dolorosos intensos, por vezes incapacitantes(3). As malformações múltiplas são mais raras, constituindo menos de 10% dos casos descritos(5). São geralmente maiores que as lesões isoladas, não capsuladas e indolores. Subdividem-se nas formas localizada, disseminada e congénita ou em placa(3). A apresentação da doença nas formas múltiplas ocorre, em média, 10 a 15 anos mais cedo que nas formas isoladas. Cerca de 60% destes doentes referem pelo menos um familiar afectado(3). Reconhece-se, nestes casos, um padrão de hereditariedade autossómico dominante, de penetrância incompleta e expressão variável. Nas formas familiares foram identificadas mutações no gene da glomulina, localizado no cromossoma 1p21-22(2,3). O diagnóstico definitivo é dado pelo exame anatomopatológico da lesão. Apesar da sua aparência epitelióide, as células glómicas são imunorreactivas à α-actina do músculo liso(5) e não expressam determinantes epiteliais. A ressonância magnética poderá ser útil para definir a extensão da doença e planear o tratamento, bem como para detectar alterações cerebrais sugestivas de neurofibromatose tipo 1, patologia que tem sido descrita em associação com as malformações glomuvenosas(6). Os exames laboratoriais são desnecessários, excepto se houver risco de sequestração plaquetária (lesões múltiplas ou extensas). 186 caso dermatológico dermatology case O diagnóstico diferencial faz-se com hemangioma, malformação venosa cutâneo-mucosa, tumor pericítico, granuloma piogénico, espiradenoma, angiolipoma, nevo intradérmico e melanoma maligno(4,5). O tratamento de eleição para as malformações glomuvenosas isoladas e dolorosas é a excisão cirúrgica, quase sempre curativa(3,4). Nos casos de lesões de grandes dimensões, a escleroterapia ou a ablação com laser poderão oferecer algum benefício(3,4). As lesões são habitualmente não involutivas mas o prognóstico é, na maioria dos casos, excelente. Embora extremamente rara, está descrita a transformação maligna de lesões recorrentes(7). Recomenda-se a vigilância anual dos doentes afectados. ABSTRACT Glomuvenous malformations, also known as glomangiomas, are tumor-like malformations or hamartomas of the glomus body. They can be sporadic or inherited as an autosomal dominant disease. Glomuvenous malformations tend to resemble hemangiomas. Clinical distinction between these entities is important due to their different therapeutic approaches. Surgical excision is the treatment of choice for isolated, painful glomuvenous malformations. We describe a case of a 7-year-old girl with multiple glomuvenous malformations. Keywords: Glomuvenous malformations, glomangioma, glomus tumor. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 185-186 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Gombos Z, Zhang P. Glomus Tumor. Arch Pathol Lab Med 2008; 132:1448-52. 2. Frumuseanu B, Balanescu R, Ulici A, Golumbeanu M, Barbu M, Orita V, et al. A new case of lower extremity glomus tumor. Up-to-date review and case report. J Med Life 2012; 5:211-4. 3. Brauer JA, Anolik R, Tzu J, Meehan S, Lieber CD, Geronemus RG. Glomuvenous malformations (Familial generalized multiple glomangiomas). Dermatol Online J 2011; 17:9. 4. Borovaya A, Kunte C, Flaig MJ, Albrecht K, Goldscheider I, Korting HC, et al. Disseminated Cutaneous Glomangiomas in an Adolescent Boy. Acta Derm Venereol 2012; 92:324-5. 5. Solovan C, Chiticariu E, Beinsan D, Zurac S, Baderca F. Multiple disseminated glomuvenous malformations: do we know enough? Rom J Morphol Embryol 2012; 53:1077-80. 6. De Smet L, Sciot R, Legius E. Multifocal glomus tumours of the fingers in two patients with neurofibromatosis type 1. J Med Genet 2002; 39:e45. 7. Brathwaite CD, Poppiti RJ Jr. Malignant glomus tumor. A case of widespread metastasis in a patient with multiple glomus body hamartomas. Am J Surg Pathol 1996; 20:233-8. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Catarina Dias Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia-Espinho Serviço de Pediatria Rua Conceição Fernandes 4434-502 Vila Nova de Gaia, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 15-07-2013 | Aceite a 27-08-2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Caso endoscópico Fernando Pereira1 A Sara foi observada na consulta de Gastroenterologia Pediátrica aos 10 anos de idade por lhe ter sido diagnosticada anemia hipocrómica e microcítica com parâmetros baixos de ferro sérico. A nossa doente era filha única de casal saudável, com normal desenvolvimento estaturo-ponderal e psicomotor, sem antecedentes patológicos relevantes e que nos últimos meses referia sentir, de forma intermitente, mal estar abdominal tipo cólica pouco intensa, mais frequentemente localizada na fossa ilíaca direita, por vezes ocorrendo pouco tempo após a ingestão de alimentos e desencadeando dejeção urgente com alívio do quadro álgico. Este quadro não interferia com a sua atividade diária, mas começou a ocorrer por vezes durante o sono, acordando a doente, razão pela qual consultou o médico de família. A consulta foi seguida de estudo analítico sumário onde foi diagnosticada a anemia referida (Hg-10,5gr/dl). Enviada à consulta de Gastroenterologia Pediátrica foi-lhe diagnosticada Doença de Crohn ileocólica(L3) com base no quadro clínico, estudo analítico e observação endoscópica do tubo digestivo e estudo histológico das biópsias digestivas. A doença envolvia todo o cólon direito até ao ângulo hepático e os últimos 7 cm do ileum terminal. A doente iniciou tratamento, inicialmente apenas com prednisolona oral (1mg/kg), a que posteriormente adicionou azatioprina (1,5mg/kg), verificando-se melhoria clínica e laboratorial. Desde então, e durante o período de cerca de um ano, foi tentada por diversas vezes a suspensão da terapêutica corticoide, verificando-se sempre rápida e intensa recidiva da sua doença inflamatória, o que motivou a opção pelo tratamento com Infliximab (Anti-TNF). Cerca de um ano depois de iniciar este tratamento com boa resposta, a doente efetuou exame endoscópico de controlo que permitiu observar ao nível do cego as imagens que apresentamos. Qual lhe parece o diagnóstico mais provável? 1 – Doença de Crohn ativa 2 – Lesões cicatriciais deformantes 3 – Tumor polipoide do cólon 4 – Aspetos normais. __________ 1 U. Gastroenterologia Pediátrica, CH Porto, 4009-001 Porto, Portugal caso endoscópico endoscopic case 187 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 COMENTÁRIOS As imagens que apresentamos mostram deformação cicatricial do cólon ascendente (Figura 1) e da válvula ileocecal com estenose e aspeto polipoide (Figura 2). Não foi possível ultrapassar a válvula ileocecal pelo que não temos observação endoscópica do intestino delgado. A atividade inflamatória era muito escassa junto da válvula ileocecal e o estudo analítico então realizado era normal, pelo que a primeira hipótese estava fora de questão. Os aspetos observados não são normais para este segmento digestivo e o aspeto polipoide evidenciado resulta de deformação cicatricial e não tem carácter tumoral. Concluímos tratar-se de deformação cicatricial resultante da cicatrização de lesões graves, profundas, do cólon direito e região valvular, resultantes do tratamento com sucesso com medicamento biológico. A deformação marcada da transição ileocecal com estenose e rigidez faz prever a necessidade de futura correção cirúrgica. Palavras-chave: Anemia, Doença de Crohn, Infliximab. ABSTRACT We present the case of a ten-year-old female patient referred to Gastroenterolgy consultation for abdominal pain and cramping, usually worse after eating , recurring diarrhoea, hypochromic and microcytic anaemia with low serum iron and ferritin levels. Moderate to severe Crohn’s disease of the terminal ileum e right colon (L3) was diagnosed, based on endoscopic image and biopsy. The patient was treated with prednisone and azathioprine, but after one year of treatment she was steroids dependent and treatment was switched to infliximab. One year after beginning this treatment, the patient achieved remission 188 caso endoscópico endoscopic case (clinical and laboratorial parameters). A control colonoscopy showed mucosal healing with scars and deformation with stenosis of ileocecal valve (Figures 1-2). Surgical intervention will be probably necessary in near future. Keywords: Anaemia, Crohn Disease, Infliximab. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 187-188 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. de Bie Ci, Buderus S, Sandhu BK, de Ridder L, Paerregaard A, Veres G, et al. EUROKIDS Porto IBD Working group of ESPGHAN “Diagnostic workup of pediatric patients with inflammatory bowel disease in Europe: results of a 5-year audit of the Eurokids registry”. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2012; 54:374-80 2. de Bie CI, Paerregaard A, Kolacek S, Ruemmele FM, Koletzko S, Fell JM, et al. EUROKIDS Porto IBD Working Group of ESPEGHAN “Disease phenotype at diagnosis in pediatric Crohn’s disease: 5 year analyses of the EUROKIDS Registry” . Inflamm Bowel Dis 2013; 19:378-85. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Fernando Pereira Centro Hospitalar do Porto U. Gastrenterologia Pediátrica 4099-001 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 23.08.2013 | Aceite a 30.08.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Caso radiológico Ana Cristina Freitas1, Telma Barbosa1, Filipe Macedo2 Criança de seis anos do sexo masculino, com radiografia do tórax realizada no Serviço de Urgência, em contexto de infeção respiratória. Observou-se uma fina opacidade linear vertical que termina numa pequena opacidade arredondada, projetada no campo superior do hemitórax direito (Figura 1). Qual o seu diagnóstico? Figuras 1 __________ 1 S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected] 2 Especialista em Radiologia, Serviço Médico de Imagem Computorizada, 4250-367 Porto, Portugal. [email protected] caso radiológico radiological case 189 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 ACHADOS Observa-se opacidade em vírgula invertida no campo superior do pulmão direito, típica de cissura ázigos, variante anatómica. rácica (ex: oclusão da veia cava inferior), podendo ser útil Tomografia Computorizada ou Ressonância Magnética para avaliação mais detalhada da anomalia. DIAGNÓSTICO Lobo da Veia Ázigos. ABSTRACT We present a case of a 6-year-old child in whom a chest x-ray is performed for a respiratory infection. An inverted comma opacity was seen in the right upper lobe, typical of an azygos fissure. This is one of the numerous anatomic variants of the azygos vein. Key-words: Azygos fissure, azygos lobe. DISCUSSÃO A veia ázigos tem inúmeras variantes. Uma das frequentes associa-se a uma cissura ou no lobo superior do pulmão direito, constituída por dois folhetos viscerais e dois folhetos parietais. Esta cissura delimita um território pulmonar chamado lobo ázigos. A veia ázigos tem inúmeras variantes. Uma das mais frequentes associa-se a uma cissura no lobo superior do pulmão direito, constituída por dois folhetos parietais – cissura ázigos – que delimita um território pulmonar chamado lobo ázigos.) O aspeto típico da cissura ázigos é o de uma vírgula invertida cujo componente inferior é arredondado ou ovoide e corresponde à croça da veia ázigos em posição ligeiramente mais supero-externa do que o habitual. Como todas as veias, modifica-se em função da posição do paciente e das variações da pressão intratorácica. A Radiografia convencional é o exame basilar, geralmente suficiente para o diagnóstico (na incidência de face). Quando a veia ázigos se apresenta anormalmente dilatada deve suspeitar-se de uma anomalia vascular com aumento da pressão intrato- 190 caso radiológico radiological case Nascer e Crescer 2013; 22(3): 189-190 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Hassan M, Valois Ph. Guide d`interprétation de la radiographie thoracique de l`enfant. Séméiologie normale et pathologique. Paris: Médecine-Sciences Flammarion; 2005. p.124-126 ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ana Cristina Freitas Serviço de Pediatria Centro Hospitalar do Porto 4099-001 Porto, Portugal e-mail: [email protected] NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2013, vol XXII, n.º 3 Genes, crianças e pediatras Joana Correia1; Marta Rios2; Paula Ferreira 2; Esmeralda Martins3; Anabela Bandeira3 Primeiro filho de um casal jovem não consanguíneo sem história de doenças heredo familiares. Gestação vigiada sem intercorrências até ao 3º trimestre, altura em que foi detetado restrição do crescimento intra uterino. Parto eutócico hospitalar induzido às 37 semanas. Índice de Apgar 9/9. Exame objetivo: Peso 2200 g (<P5); Comp. 47 cm (P25-50); P. Cefálico 34 cm (P 75). Hipotonia axial, bossa parietal posterior. Sem dismorfias e restante exame físico normal. Observado às 12 horas de vida por recusa alimentar e hipoglicemia. Apresentava volumoso cefalohematoma parieto-occipital direito com crepitação occipital. Fez radiografia do crânio (Figura 1) que mostrou fratura occipital. A tomografia axial computorizada (TAC) cerebral (Figura 2) mostrou fratura cominutiva com afundamento occipito-parietal direito; volumosa coleção extra-axial, com componente epidural fronto-parietal e subdural temporo-occipital extenso; deformação do parênquima adjacente e redução dos ventrículos laterais e III ventrículo e foco de contusão hemorrágica parietal esquerdo. Figura 1 – Radiografia do crânio com fratura occipital. A radiografia toracoabdominal revelou fraturas da clavícula direita, e das costelas. Fez radiografia dos ossos longos que mostrou fratura cubital esquerda e peronial bilateral. Foi submetido a drenagem do hematoma subdural por Neurocirurgia. Em D2 apresentava edema marcado da cabeça e pescoço, pelo que repetiu TAC cerebral que revelou novo hematoma subdural agudo retrocerebeloso. Manteve tratamento conservador com evolução clínica e imagiológica favorável. Em D 7 de vida iniciou crises convulsivas medicadas com fenobarbital. Fez cariótipo de sangue periférico que foi normal (46,XY). As ecografias renal e abdominal e o ecocardiograma não revelaram alterações. Manteve hipotonia axial marcada, sem controle cefálico com algum contacto social. Pelos dois meses de vida foi notado o aparecimento de um cabelo escasso, frágil, hipopigmentado e “enroscado” e hipopigmentação cutânea (Figura.3). Não apresentou novas fraturas ósseas. Qual o seu diagnóstico? Figura 2 – TAC cerebral com volumosa coleção extra-axial, com componente epidural fronto-parietal e subdural temporo-occipital. __________ 1 2 3 S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected] S. Cuidados Intensivos Pediátricos, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected] U. Doenças Metabólicas, S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected] genes, crianças e pediatras genes, children and paediatricians 191 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2013, vol XXII, n.º 3 COMENTÁRIOS Pela presença de fracturas ósseas ao nascimento foi colocada a hipótese de diagnóstico de Osteogénese Imperfeita. No entanto a ausência de história familiar e de escleras azuis, embora não o excluindo, tornam este diagnóstico pouco provável. Por outro lado, a associação de fraturas ósseas com hemorragia cerebral ao nascimento e a ocorrência de nova hemorragia cerebral fizeram-nos evocar a hipótese de Doença de Menkes, corroborada pela evolução clínica: a criança manteve hipotonia axial marcada com pouco controle cefálico e o aparecimento de um cabelo ralo, hipopigmentado e “enroscado” e hipopigmentação cutânea (Figura 3). Pode manifestar-se no período neonatal por fraturas congénitas e cefalohematomas uma vez que as alterações do tecido conjuntivo incluem alterações vasculares, com risco aumentado de hemorragia intracraniana. Os níveis baixos de ceruloplasmina e cobre apoiam o diagnóstico mas estes achados podem surgir no recém-nascido normal. O estudo molecular estabelece o diagnóstico definitivo. A reposição com histidina de cobre tem demonstrado alguma eficácia, sendo a resposta dependente da precocidade da sua instituição (primeiro mês de vida) e do genótipo, (melhor se persiste algum transporte residual de cobre). Estas crianças apresentam uma esperança média de vida inferior a cinco anos. ABSTRACT A male newborn, presenting hipotonia and posterior parietal bossing, developed, in the first 12 hours of life, refusal to feed and hypoglycaemia. A cranial ultrasound, skull X-ray and CT scan revealed an occipital and parietal fracture with an underlying haematoma and extensive extracranial soft-tissue swelling. He was submitted to surgical drainage. After 24 hours: new intracerebral bleeding. At the age of two-months he presented abnormal skin and sparse kinky hair. Serum copper and caeruloplasmin levels were below the normal range. Molecular diagnosis of Menkes disease was made by the identification of a new mutation in ATP7A gene. Keywords: Congenital fractures, intracerebral bleeding, sparse kinky hair. Figura 3 – cabelo escasso, frágil, hipopigmentado e “enroscado”. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 191-192 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS O doseamento de ceruloplasmina 4mg/dl (N>20mg/dl) e do Cobre 8,44μmol/l (N > 12,5 μmol/L) corroboraram este diagnóstico que foi confirmado por estudo molecular: mutação de novo (c.3868C>T) no gene ATP7A. A Doença de Menkes é uma doença genética, do metabolismo do cobre, recessiva ligada ao X, causada por mutações no gene transportador de cobre, ATP7A, cuja prevalência varia entre 1 em 100.000 a 250.000 nascimentos. Caracteriza-se por atingimento degenerativo do Sistema Nervoso Central (SNC) com epilepsia e do tecido conjuntivo com alteração da estrutura do cabelo (fino, esparso e quebradiço) e hipopigmentação cutânea. Estas características surgem pelos 2-3 meses de idade com posterior atraso do desenvolvimento psicomotor, hipotonia, má evolução ponderal por dificuldades alimentares, hipotermia e dificuldade respiratória. 192 genes, crianças e pediatras genes, children and paediatricians 1. Tümer Z, Moller LB. Menkes disease. Eur JHum Genet 2010, 18:511-8. 2. Kaler SG, Holmes CS, Goldstein DS, Tang J, Godwin SC, Donsante A, et al. Neonatal diagnosis and treatment of Menkes disease. N Eng J Med 2008: 358;605-14. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Anabela Bandeira Centro Hospitalar do Porto Serviço de Pediatria - Unidade de doenças metabólicas Largo do Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 09.10.2013 | Aceite a 25.10.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Conceção, redação e publicação de artigos científicos Redação de artigos: tamanho e forma Margarida Lima, MD, PhD1,2 RESUMO Neste terceiro artigo, de quatro que integram a rubrica “CONCEÇÃO, REDAÇÃO E PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS” da secção “EDUCAÇÃO CIENTÍFICA” da revista “NASCER E CRESCER”, abordamos os aspetos mais relevantes relativos ao tamanho, forma de apresentação gráfica e questões linguísticas de um artigo científico para submeter a publicação. Palavras-chave: Educação científica, redação de artigos científicos. 3. APRESENTAÇÃO GRÁFICA E FORMATAÇÃO A apresentação gráfica do artigo deve ser cuidada e devem ser respeitadas as normas da revista onde se pretende publicar o trabalho, pelo que estas devem ser sempre previamente consultadas. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 193-198 3.2 Margens Regra geral, a margem superior e a margem esquerda devem ser maiores do que a inferior e a direita em 0.5 cm, para cabeçalhos e encadernação. Margens superiores e esquerdas com 2.5 a 3 cm e margens inferiores e direitas com 2 a 2.5 cm são aceitáveis. 1. INTRODUÇÃO As revistas científicas impõem geralmente regras para a redação dos artigos, nomeadamente quanto ao tamanho e à formatação. No que respeita ao primeiro aspeto, embora os limites impostos variem com a revista e com o tipo de artigo, a tendência atual é para a poupança de espaço e o tamanho máximo imposto aos artigos tem vindo a reduzir nos últimos anos. Neste trabalho debruçamo-nos sobre os aspetos mais relevantes relativos ao tamanho, forma de apresentação gráfica e questões linguísticas de um artigo científico para submeter a publicação. 2. TAMANHO DO ARTIGO O tamanho imposto para o artigo depende geralmente do tipo de artigo e os limites podem ser definidos em número de páginas, palavras ou carateres, contabilizando ou não os espaços. Deve haver um equilíbrio entre o tamanho das diferentes secções e o tamanho total depende do tipo de artigo original (formato convencional, formato curto ou formato de carta) (Quadro 1). Em regra, para o resumo é imposto um limite de palavras que varia entre 150 e 350; e o corpo de um artigo original de formato convencional redigido em páginas com margens de 2.5 cm, fonte “Times New Roman”, tamanho 12, tem entre 4000 a 6000 palavras (8 a 12 páginas). __________ 1 2 Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, 4050-313 Porto, Portugal Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto, 4099-001 Porto, Portugal 3.1 Papel e cor de impressão De uma forma geral o texto deve ser digitado em papel de formato A4 (210 x 297 mm), e impresso na cor preta, com exceção das ilustrações a cores. 3.3 Fontes e tamanho da fonte As fontes mais usadas são o “Times New Roman” ou “Arial”, tamanho 12 para o texto; e menor, geralmente tamanho 10, para as citações longas, notas de rodapé, paginação e legendas das ilustrações e tabelas. 3.4 Espaçamentos O espaçamento entre as linhas é geralmente de 1.5 ou 2 pontos, conforme a revista. As notas de rodapé, o resumo, as referências, as legendas de ilustrações e tabelas, as citações textuais de mais de três linhas devem ser digitadas em espaço simples de entrelinhas. As referências bibliográficas listadas no final do trabalho devem ser separadas entre si por um espaço duplo. 3.5 Alinhamento O texto deve ser alinhado à esquerda. Contudo, as notas explicativas apresentadas na folha de rosto devem ser alinhadas a partir do meio da margem para a direita. 3.6 Quebras de página O Resumo e a cada uma das secções primárias do corpo do artigo (Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão) devem ser começados em nova página. O mesmo acontece com os Agradecimentos, as Contribuições de Autoria, a Declaração de conflitos de interesse, as Referências bibliográficas, as educação científica scientific education 193 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Tabelas (individualmente), as Legendas das figuras e as Figuras (também individualmente). 3.7 Títulos e subtítulos Os títulos e subtítulos devem ser formatados conforme a sua hierarquia, mantendo de preferência o mesmo tamanho de letra que o corpo do texto, mas destacando-se do ponto de vista gráfico pela utilização de maiúsculas, maiúsculas pequenas, negritos, sublinhados, etc. 3.8 Numeração das secções Para numeração das secções do corpo do artigo devem ser utilizados algarismos arábicos. O indicativo de uma secção secundária deve ser constituído pelo indicativo da secção primária a que pertence (ex. 1., 2., 3., etc.), seguido do número sequencial que lhe foi atribuído, com um ponto de separação (ex. 1.1, 1.2, etc.). O limite máximo de secções é geralmente de cinco ou menos; se houver necessidade de mais subdivisões, estas devem ser feitas através de alíneas. 3.9 Alíneas As alíneas devem obedecer à seguinte disposição: a) o texto que precede as alíneas deve terminar com dois pontos; b) as alíneas devem ser ordenadas por letras minúsculas seguidas de parênteses; c) a segunda linha e as seguintes de cada alínea devem ser alinhadas pelo texto da primeira linha da própria alínea; d) as alíneas devem começar por letras minúsculas; e) todas as alíneas exceto a última devem terminar por ponto e vírgula; f) e a última alínea, deve terminar por ponto. 3.10 Paginação A numeração deve ser colocada no canto direito e, dependendo da especificação da revista, pode ser feita no cabeçalho ou no rodapé, com algarismos arábicos e geralmente com tamanho da fonte menor do que o usado no corpo do texto, sendo que a primeira página (folha de rosto) deve ser numerada, embora não deva ser contabilizada. Quadro 1 – Orientações básicas relativas ao tamanho de artigos científicos originais. Secção Título † Folha de rosto Resumo Corpo do artigo Título abreviado Formato curto (Short Report) Formato carta (Scientific Letter) 50 – 100 50 – 100 50 – 100 25 – 50 25 – 50 NA Unidade de medida Nº de carateres Autores ‡ Variável Variável Variável Nº de autores Resumo § 150 – 300 100 – 200 NA Nº de palavras Nº de palavras-chave 4–8 4–8 NA Total ¶ 4000 – 6000 (8 – 12) 2000 – 3000 (4 – 6) 500 – 1500 (1 – 3) Introdução 750 – 1250 (1.5 – 2.5) 500 – 750 (1 – 1.5) 75 – 125 (0.15 – 0.25) Material e Métodos 500 – 750 (1 – 1.5) 250 – 500 (0.5 – 1.0) 75 – 125 (0.15 – 0.25) Resultados 1250 – 1750 (2.5 – 3.5) 500 – 750 (1 – 1.5) 100 – 500 (0.2 – 1) Discussão 1500 – 2250 (3 – 4.5) 750 – 1000 (1.5 – 2) 250 – 750 (0.5 – 1.5) 20 – 50 10 – 20 5 – 10 Nº de referências 5–8 2–5 1–2 Nº de ilustrações Palavras-chave Referências # Ilustrações ** † Formato convencional Tabelas Figuras || Nº de palavras (páginas) Nº de palavras (páginas) †† Os valores indicados são apenas orientadores e variam com a revista e com o tipo de artigo. † Nem todas as revistas impõem limites de carateres para o título e nem todas exigem título abreviado. ‡ Algumas revistas impõem número máximo de autores, em particular nos artigos redigidos na forma de Letter, em que geralmente não são admitidos mais do que 5 autores. § Um número cada vez maior de revistas exige resumo estruturado. || 194 As palavras-chave podem ser palavras ou expressões. ¶ A distribuição por secção é muito variável, de artigo para artigo. # Nem sempre é imposto um número máximo de referências. ** Nem sempre é imposto um número máximo de referências. †† Uma página com margens de 2,5 cm, redação em contínuo, espaçamento entre linhas 1.5, fonte Times New Roman, tamanho 12, tem cerca de 500 palavras, cerca de 2500 carateres sem contabilizar espaços e cerca de 3000 carateres, contabilizando os espaços. educação científica scientific education NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 4. QUESTÕES LINGUÍSTICAS 4.1 Linguagem científica A linguagem deve ser científica, usando o vocabulário apropriado com clareza e precisão e aplicando a terminologia técnica da área. O artigo deve ser redigido de forma concisa e objetiva, indo diretamente ao assunto e evitando expressões subjetivas e adjetivos desnecessários. Os parágrafos devem ser construídos corretamente, usando frases de abertura e encerramento. As frases demasiado longas devem ser evitadas; se a frase ocupa mais de 3 linhas, deve-se tentar dividi-la em frases menores. 4.2 Ortografia e gramática Os artigos devem ser redigidos preferencialmente na terceira pessoa e os tempos verbais devem ser usados de forma consistente; por exemplo, não se deve alternar entre passado e presente. Para além disso, é importante uma sintaxe correta, de forma que as frases sejam claras e o discurso coerente. Os corretores ortográficos e/ou gramaticais são úteis e devem ser usados, mas não substituem uma revisão cuidadosa feita pelos autores, e até por terceiros, se necessário. 4.3 Abreviaturas As abreviaturas devem ser definidas quando são introduzidas no texto pela primeira vez, colocando o seu significado entre parênteses. Por outro lado, devem ser usadas só quando são necessárias e/ou úteis, servindo para economizar palavras e/ou facilitar a leitura e não para tornar o texto mais extenso e confuso. Não faz sentido, por isso, abreviar palavras que são usadas duas ou três vezes, exceto quando são de uso muito comum; nem criar abreviaturas de compreensão difícil para o leitor. Os símbolos correspondentes às unidades de medida são sinais convencionados e não abreviaturas pelo que não carecem de pré-definição (ex. kg, para designar kilograma). Às vezes pode justificar-se o uso de uma abreviatura noutra língua, quando esta é amplamente reconhecida pela comunidade científica (ex. células NK, para células “natural killer”, em vez de células AN, para células “naturalmente assassinas”). Outras vezes a pré definição pode ser dispensada, quando as abreviaturas são universais (ex. ATP, para “trifosfato de adenosina”; ADN, para “ácido desoxirribonucleico”). No Resumo devem ser evitadas as abreviaturas e, se forem usadas, devem ser pré-definidas, voltando a redefini-las na primeira vez que são usadas no corpo do artigo; por outro lado, há que ter em atenção que muitas revistas não permitem abreviaturas no resumo. Da mesma forma, se forem usadas abreviaturas nas tabelas ou figuras, estas devem ser sempre definidas em rodapé, mesmo se já tiverem sido definidas no texto. Algumas revistas solicitam aos autores que incluam uma lista das abreviaturas, no final do artigo. 4.4 Palavras de outros idiomas As palavras de outros idiomas devem constar em itálico, sem aspas (exemplos: a priori, on-line, etc.) ou entre aspas, sem itálico (exemplos: “a priori”, “on-line”, etc.). Para dar destaque a termos ou expressões deve ser preferida a utilização do itálico ao uso de aspas, já que estas podem funcionar como um elemento “poluidor” do texto. 5. UNIDADES DE MEDIDA As unidades de medida usadas devem ser expressas em unidades métricas constantes do sistema métrico decimal e seus derivados, de acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI) (1). O mesmo se aplica aos valores analíticos (hematológicos, bioquímicos ou outros); relativamente a estes últimos, devem ser indicados, entre parêntesis, os valores de referência. 5.1 Sistema Internacional de Unidades O SI, ratificado em 1960 na 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, e atualizado até à 16ª Conferência, realizada em 1979, foi aceite por quase todos os países, sendo uma das principais exceções os Estados Unidos. O Reino Unido adotou o SI, embora sem o compromisso de substituir inteiramente o seu próprio sistema de unidades. O SI define 7 unidades de base, 2 unidades suplementares e várias unidades derivadas, calculadas a partir das anteriores (Quadro 2)(1). Embora no SI se listem como unidades derivadas apenas aquelas que são expressas pelas unidades de base ou suplementares e fatores de multiplicação ou divisão, todas as restantes unidades existentes derivam das unidades de base/ suplementares do SI. Ao escrever as unidades de medida e os respetivos símbolos devem ser respeitadas algumas regras, nomeadamente: • os nomes das unidades deve ser escritos em letra minúscula (exemplo: kilograma e não Kilograma), excepto se estiverem no início das frases e no caso de “grau Celsius”); • os símbolos devem ser escritos em letra minúscula ou maiúscula, tal como foram definidos (ex: quilograma, “kg” e não “Kg”; ampere, “A” e não “a”); • os nomes das unidades de medida aceitam o plural (1 segundo; 10 segundos); • os símbolos correspondentes às unidades de medida são sinais convencionados e não devem ser usados como se fossem abreviaturas (ex. 1 segundo, “1 s” e não “1 seg”); • pelo mesmo motivo, os símbolos não admitem plural (ex. 10 quilos: “10 kg” e não “10 kgs”), nem devem seguidos de “.” (ex. 5 quilómetros, “5 km” e não “5 km.”) • ao escrever uma unidade composta, não se deve misturar o nome de uma unidade com o símbolo de outra unidade ou vice-versa (ex.: quilómetro/hora ou km/h, e não km/ hora ou quilómetro/h). • o resultado de uma medição deve ser representado pelo seu valor numérico, seguido de um espaço, seguido do símbolo da unidade (ex. 25 metros, “25 m” e não “25m”). Entre as medidas mais usadas em artigos médicos, salientamos a altura (comprimento: metro, m), o peso (massa: quilograma, kg), a superfície corporal (área: metro quadrado, m2), a temperatura corporal (graus Célsius, ºC) e a pressão sanguínea (pressão: milímetros de mercúrio, mmHg – unidade não SI). educação científica scientific education 195 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 A unidade SI de volume é o metro cúbico (m³), embora seja muito comum utilizar o litro ou os seus submúltiplos (decilitro, mililitro), que não pertencem ao SI. O símbolo l, para o litro, foi adotado pelo Comité Internacional de Pesos e Medidas; em 1979 na Conferência Geral de Pesos e Medidas, reconhecendo-se que a letra l (impressa) podia ser confundida com o algarismo 1, foi decidido adotar, como símbolo alternativo, a letra L. Quadro 2 – Unidades do Sistema Internacional de Unidades. UNIDADE TIPO DE UNIDADES Unidades de base GRANDEZA NOME comprimento metro m massa quilograma kg tempo segundo s intensidade de corrente elétrica ampere A temperatura termodinâmica kelvin K quantidade de matéria mole mol intensidade luminosa candela cd radiano rad ângulo plano Unidades suplementares ângulo sólido Unidades derivadas (exemplos) esterradiano sr atividade becquerel Bq capacitância farad F carga elétrica coulomb C condutância elétrica siemens S dose absorvida gray Gy dose equivalente sievert Sv energia joule J fluxo luminoso lúmen lm fluxo magnético weber Wb força newton N frequência hertz Hz indução magnética tesla T Indutância henry H Luminescência lux lx Potência watt W potencial elétrico volt V Pressão pascal P resistência elétrica ohm Ω temperatura Célsius grau Célsius ºC Fonte: (1). 196 SÍMBOLO educação científica scientific education 6. ILUSTRAÇÕES As ilustrações de um artigo compreendem Figuras e Tabelas. 6.1 Figuras As Figuras incluem quadros, gráficos, desenhos, mapas, fotografias, plantas, retratos, organogramas, fluxogramas, esquemas ou outros elementos de síntese, necessários à complementação do texto e à ilustração dos resultados e das ideias(2-5). Por esse motivo não devem ser incluídas figuras que não são referidas no texto, nem para representar resultados que podem ser descritos no texto, em uma ou duas frases. Devem ter o tamanho suficiente para serem facilmente legíveis (não mais nem menos do que isso) e deve-se ter em atenção que geralmente são redimensionadas para ocuparem a largura de 1 coluna ou de 1.5 colunas. Se for permitida a utilização de cores e se os autores estiverem dispostos a suportar custos acrescidos caso existam, estas devem usadas se isso for importante para a compreensão. Se a cor for dispensável ou se o autor não puder suportar os custos, as figuras devem ser concebidas usando a cor branca, a cor preta e os tons de cinza; nos gráficos podem ser usados padrões e símbolos distintos para diferenciar as séries umas das outras. As legendas das figuras devem conter informação suficiente para o leitor as perceber sem necessidade de recorrer ao texto do artigo. Nos gráficos, os eixos devem ter títulos curtos e informativos e devem indicar sempre as unidades de medida. Os limites das escalas não se devem afastar muito dos valores mínimo e máximo dos dados apresentados. Quando se pretende que os leitores comparem dois gráficos, apresentados na mesma figura ou em figuras distintas, não devem ser usadas escalas diferentes, porque isso induz em erro. No artigo publicado as figuras aparecem sempre que possível na própria folha onde está inserido o texto a que se referem e as legendas constam por baixo das figuras correspondentes. No entanto, na versão do artigo que é submetida para publicação as legendas das figuras devem ser apresentadas a seguir às tabelas, em página própria, a que se devem seguir as figuras, apresentadas em páginas independentes, pela mesma ordem de sequência; muitas revistas exigem, no entanto, que as figuras sejam apresentadas em ficheiros separados. 6.2 Tabelas As tabelas constituem uma forma adequada para apresentar dados numéricos e devem ser preparadas de maneira que o leitor possa entendê-las sem necessidade de recorrer ao texto(6,7). As legendas das tabelas devem constar no cimo das mesmas, quer no artigo publicado, quer na versão do artigo que é submetida para publicação. Deve ser evitado um número excessivo de dígitos e, tal como nos gráficos, devem ser sempre indicadas as unidades de medida. Não devem ser incluídas colunas com dados que têm sempre o mesmo valor; se esse valor for importante, deve ser indicado na legenda ou em nota de rodapé da tabela. Não devem ser usadas linhas verticais para separar colunas, exceto quando for estritamente necessário. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Recomenda-se, pois, seguir, as seguintes normas: a) na versão submetido para publicação, as tabelas devem ser inseridas após a secção Discussão, precedidas das secções Agradecimentos, Contribuição dos autores e Declaração de conflitos de interesses, e sucedidas pelas legendas das figuras, caso existam; b) tabelas diferentes devem ser colocadas em páginas separadas; c) as tabelas devem ter um número independente e consecutivo; d) os títulos das tabelas devem ser completos, dando indicações claras e precisas sobre o conteúdo das mesmas; e) os títulos devem constar acima das tabelas, precedidos da palavra Tabela e de seu número de ordem no texto, em algarismo arábicos; f) devem ser usadas linhas de grelha horizontais e verticais para separar os títulos das colunas nos cabeçalhos das tabelas, e linhas horizontais para as fechar na parte inferior; g) no caso de tabelas grandes que não caibam numa só folha, deve-se dar continuidade às mesmas na folha seguinte, repetindo os títulos e cabeçalhos e colocando a linha horizontal de acabamento apenas no final da tabela; h) nenhum campo da tabela deve ficar vazio e em geral devem ser usadas as abreviaturas NA, para não aplicável, e ND, para não determinado ou não disponível; 6.2.1 Notas de rodapé das tabelas No rodapé da tabela devem ser indicadas as notas correspondentes, nomeadamente as notas de fonte, que informam acerca da origem dos dados que nela constam. Devem ainda constar as abreviaturas usadas nas tabelas, mesmo que tenham sido usadas e pré-definidas no texto do artigo. No rodapé também podem ser indicadas notas gerais, que servem para registar informações complementares ou esclarecer sobre o texto e os dados constantes na tabela. As notas de rodapé devem ser colocadas por baixo da tabela correspondente, pela seguinte ordem: notas que se aplicam à tabela como um todo, notas relativas a abreviaturas e, finalmente, notas com símbolo de chamada. Na elaboração das notas de rodapé devem ser respeitadas as seguintes regras: a) quando são aplicáveis à tabela como um todo (notas gerais) não devem ter símbolo de chamada; b) quando indicam a fonte dos dados utilizados na construção de uma tabela, devem ser colocadas após a ultima linha da mesma, precedida da palavra “Fonte:”; c) quando indicam abreviaturas devem ser precedidas da palavra “Abreviaturas:” e devem constar da abreviatura seguida do seu significado (exemplo: “LT significa linfócito T; LB, linfócito B; e CNK, célula “natural killer”.); d) quando são referentes a colunas, linhas ou dados individuais devem ser indicadas usando símbolos (*, †, ‡, §, | |, ¶, #, **, ††, ‡‡ ). 7. EDIÇÃO DA VERSÃO FINAL DO ARTIGO 7.1 Tradução O ideal é redigir o artigo ad inicium na língua de publicação, geralmente o inglês. Se os autores não se sentirem à vontade para o fazer e for necessária a sua tradução posterior, esta não deve ser uma tradução literal, mas sim uma tradução científica, com a utilização precisa dos termos e expressões técnicas. Há empresas que oferecem serviços de tradução “técnico-científica”, mas nem todas o fazem com qualidade e em alguns casos o preço é proibitivo(8). 7.2 Revisão É importante que a versão final do artigo seja revista por duas pessoas independentes: alguém que esteja familiarizado com a área geral de trabalho e outra pessoa que, de preferência, esteja familiarizado com o assunto específico do artigo; pelo menos uma dessas duas pessoas deve ter experiência pessoal de redação de artigos para publicação. Só assim podem ser identificados os pontos que devem ser esclarecidos ou melhorados. 7.3 Cópias de segurança É preferível começar a escrever o artigo pouco tempo após a conclusão do trabalho, quando ideias, problemas, soluções e detalhes estão mais frescos na memória, mantendo o ritmo redação e fazendo cópias de segurança com regularidade. DESIGN, WRITING AND PUBLICATION OF SCIENTIFIC MANUSCRIPTS – MANUSCRIPT WRITING: SIZE AND FORM ABSTRACT In this third manuscript, from four that comprise the heading “DESIGN, WRITING AND PUBLISHING OF SCIENTIFIC PAPERS”, as part of the “SCIENTIFIC EDUCATION” section of the journal “NASCER E CRESCER”, we cover the most relevant aspects concerning the size, layout and linguistic issues of a scientific paper to submit the publication. Key-words: Scientific education, writing of scientific manuscripts. Nascer e Crescer 2013; 22(3): 193-198 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS 1. No authors listed. The International System of Units. National Institute of Standards and Technology (NIST) [Internet]. Special Publication 330, 2008 Edition. 2008. [consultado em 4 Julho 2012]. Disponível em: http://physics.nist.gov/Pubs/ SP330/sp330.pdf 2. Ng KH, Peh WCG. Preparing effective illustrations. Part 1: graphs. Singapore Med. J. 2009;50:245-9. educação científica scientific education 197 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 3. Ng KH, Peh WC. Preparing effective illustrations. Part 2: photographs, images and diagrams. Singapore Med. J. 2009;50:330-334; quiz 335. 4. Annesley TM. Put your best figure forward: line graphs and scattergrams. Clin. Chem. 2010;56:1229-33. 5. Annesley TM. Bars and pies make better desserts than figures. Clin. Chem. 2010;56:1394-400. 6. Ng KH, Peh WC. Preparing effective tables. Singapore Med. J. 2009;50:117-118; quiz 119. 7. Annesley TM. Bring your best to the table. Clin. Chem. 2010;56:1528-34. 8. Langdon-Neuner, E, Berghammer, G. The Write Stuff: The importance of language for medical writers. Panace@. 2010;11:32-26. 198 educação científica scientific education ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Margarida Lima Hospital de Santo António Centro Hospitalar do Porto Largo Professor Abel Salazar, 1 4099-001 Porto, Portugal Telefone: + 351 22 2077500 E-mails: [email protected]; [email protected] Recebido a18.05.2013 | Aceite a 22.05.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 INSTRUÇÕES AOS AUTORES A Revista NASCER E CRESCER dirige-se a todos os profissionais de saúde com interesse na área da Saúde Materno Fetal e Neonatal e publica artigos científicos relacionados com a Pediatria, Pediatria Baseada na Evidência, Saúde Mental da Infância e Adolescência, Bioética e Gestão Hospitalar. Poderão ser publicados artigos provenientes de todos os países de língua oficial portuguesa, bem como de outros países se redigidos em português, espanhol, inglês ou francês. Os Editoriais, os artigos de Homenagem e artigos de âmbito cultural são publicados a pedido da Direcção da Revista. A revista publica artigos originais de investigação, artigos de revisão, casos clínicos e artigos de opinião. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. As opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos autores. Os artigos publicados ficarão de inteira propriedade da Revista e não poderão ser reproduzidos, no todo ou em parte, sem prévia autorização dos editores. MANUSCRITO Os trabalhos devem ser endereçados ao Diretor da revista para o seguinte endereço eletrónico [email protected] como documento anexo em qualquer versão actual de Microsoft Word, acompanhados da declaração de autoria. Os artigos estão sujeitos a um processo de revisão e cabe ao Editor a responsabilidade de os: a) aceitar sem modificações, b) aceitar após alterações propostas, ou c) rejeitar, com base no parecer de pelo menos dois revisores que os analisarão de forma anónima. Os pareceres serão sempre comunicados aos autores. CONSENTIMENTO INFORMADO E APROVAÇÃO PELA COMISSÃO DE ÉTICA É da responsabilidade dos autores garantir que são respeitados os princípios éticos e deontológicos, bem como, a legislação e as normas aplicáveis, conforme recomendado na Declaração de Helsínquia. Nos estudos experimentais, é obrigatório que os autores mencionem a existência e aplicação de consentimento informado dos participantes, assim como a aprovação do protocolo pela Comissão de Ética. É obrigatória declaração de conflito de interesses ou financiamento. NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista Nascer e Crescer subscreve os requisitos para apresentação de manuscritos a revistas biomédicas elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (Uniform Requirements for Manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated July 2011). O trabalho deve ser apresentado na seguinte ordem: 1 – Título em português e em inglês; 2 – Autores; 3 – Resumo em português e inglês. Palavras-chave e Keywords; 4 – Corpo do artigo; 5 – Referências Bibliográficas; 6 – Figuras; 7 – Quadros; 8 – Legendas; 9 – Agradecimentos e esclarecimentos. As páginas devem ser numeradas segundo a sequência referida atrás. TÍTULOS E AUTORES – O título deve ser o mais conciso e explícito possível, escrito na primeira página, em português e em inglês, não mencionando a identificação da instituição onde decorreu o estudo. – A indicação dos autores deve ser feita pelo nome clínico ou com a(s) inicial(ais) do(s) primeiro(s) nome(s), seguida do apelido e devem constar as afiliações profissionais. – Os contactos de todos os autores devem incluir endereço postal, endereço eletrónico e telefone. RESUMO E PALAVRAS-CHAVE – O resumo deverá ser redigido na língua utilizada no texto e sempre em inglês, devendo evitar-se abreviaturas. – Nos artigos originais deverá compreender no máximo 250 palavras e ser elaborado segundo o seguinte formato: Introdução, Objectivos, Material e Métodos, Resultados e Conclusões. – Nos artigos de revisão deverá compreender no máximo 250 palavras e ser estruturado da seguinte forma: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Nos casos clínicos, não deve exceder 150 palavras e deve ser estruturado em Introdução, Caso Clínico e Discussão/Conclusões. – Abaixo do resumo deverá constar uma lista de três a dez palavras-chave, em Português e Inglês, por ordem alfabética, que servirão de base à indexação do artigo. Os termos devem estar em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH). TEXTO – O texto poderá ser apresentado em português, inglês, francês ou espanhol. – Os artigos originais de investigação devem ser elaborados com a seguinte organização: Introdução; Material e Métodos; Resultados; Discussão e Conclusões. – Os artigos de revisão devem obedecer à seguinte estrutura: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Os casos clínicos devem ser exemplares, devidamente estudados e discutidos e conter uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s) e uma discussão sucinta que incluirá uma conclusão sumária. – As abreviaturas utilizadas devem ser objecto de especificação. Quando necessária a sua utilização, devem ser definidas na primeira vez que são mencionadas no texto. Quando usadas mais do que seis, recomenda-se a inclusão de um quadro onde todas serão especificadas. Não se aceitam abreviaturas nos títulos dos trabalhos. – Os parâmetros ou valores medidos devem ser expressos em unidades internacionais (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), utilizando para tal as respectivas abreviaturas adoptadas em Portugal. – Os números de 1 a 10 devem ser escritos por extenso, excepto quando têm decimais ou se usam para unidades de medida. Números superiores a 10 são escritos em algarismos árabes, excepto se no início da frase. – Relativamente aos resultados, a informação não deverá ser referida em duplicado no texto e nos quadros / tabelas, bastando salientar no texto os principais citados na figura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – As referências devem ser classificadas e numeradas por ordem de entrada no texto, com algarismos árabes, formatados sobrescritos. – Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: 4-7). Serão no máximo 40 para artigos originais, 15 para casos clínicos e 80 para artigos de revisão. – Os autores devem verificar se todas as referências estão conformes aos Uniform Requirements for Manuscript submitted to biomedical journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html) e se utilizam normas de publicação instructions for authors 199 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 os nomes abreviados das publicações adoptadas pelo Índex Medicus. Os autores devem consultar a página NLM’s Citing Medicine relativamente às recomendações de formato para os vários tipos de referência. Seguem-se alguns exemplos: a) Revista médica: listar os primeiros seis autores, seguidos de et al (em itálico) se ultrapassar 6, título do artigo, nome da revista, ano, volume e páginas. Ex.: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el-Hazmi M, el-Swailam M, et al. Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622-65. b) Capítulo em livro: autor(es), título do capítulo, nome(s) do(s) Editor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação, primeira e última páginas do capítulo. Ex.: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Livro: autor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação e número de página. Ex.: Jenkins PF. Making sense of the chest x-ray: a hands-on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d) Referência electrónica: artigo de revista em formato electrónico. Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. Janeiro, 2010. (Acedido em 8 de Maio de 2013). Disponível em: http://www.uptodate.com. – Todas as abreviaturas ou símbolos necessitam de legenda. – Se a figura ou quadro é cópia de uma publicação ou modificada, deve ser mencionada a sua origem e autorização para a sua utilização quando necessário. – Fotografias ou exames complementares de doentes deverão impedir a sua identificação devendo ser acompanhadas pela autorização para a sua publicação dada pelo doente ou seu responsável legal. – O total de figuras e quadros não deve ultrapassar os oito para os artigos originais e cinco para os casos clínicos. As figuras ou quadros coloridos, ou os que ultrapassam os números atrás referidos, serão publicados a expensas dos autores. FIGURAS E QUADROS – Todas as ilustrações deverão ser apresentadas em formato digital de boa qualidade. – Cada quadro e figura deverá ser numerado sequencialmente, em numeração árabe, por ordem de referência no texto, ser apresentado em página individual e acompanhado de título e legenda explicativa quando necessário. CARTAS AO EDITOR As Cartas ao Editor deverão constituir um comentário a um artigo da revista ou uma breve nota sobre uma importante nova prática clínica. Não devem exceder as 500 palavras e ter um máximo de 5 referências bibliográficas. AGRADECIMENTOS E ESCLARECIMENTOS Os agradecimentos e indicação de conflito de interesses de algum dos autores ou financiamento do estudo devem figurar na última página. MODIFICAÇÕES E REVISÕES No caso do artigo ser aceite mas sujeito a modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo de quinze dias. As provas tipográficas serão enviadas aos autores em formato electrónico, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da Revista. O não respeito do prazo desobriga a aceitação da revisão dos autores, sendo a mesma efectuada exclusivamente pelos serviços da Revista. ESTRUTURA DOS ARTIGOS – NORMAS DE PUBLICAÇÃO Figuras e Quadros Bibliografia Número total máximo Número máximo de referências 5000 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Discussão . Conclusões 8 40 2500 . Introdução (breve) . Caso(s) Clínico(s) . Discussão (com conclusão) 5 15 3 a 10 5000 . Introdução . Métodos . Desenvolvimento . Discussão (com conclusões) 8 80 _ 500 _ _ Resumo Tipo de artigo Número máximo de palavras Texto Estrutura Artigos originais de investigação 250 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Conclusões Casos Clínicos 150 . Introdução . Caso(s) clínico(s) . Discussão/Conclusões Artigos de revisão 250 . Introdução . Objectivos . Desenvolvimento . Conclusões Carta ao Editor _ 200 normas de publicação instructions for authors _ Palavras-chave (Português e Inglês) Número máximo de palavras (excluindo Referências e Ilustrações) 3 a 10 3 a 10 Estrutura 5 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 INSTRUCTIONS FOR AUTHORS The Journal NASCER E CRESCER is addressed to all professionals of health with interest in the area of Maternal, Fetal and Child/Adolescent Health and publishes scientific articles related with Paediatrics, Evidence Based Paediatrics , Mental Health, Bioethics and Health Care Management. The journal accepts manuscripts from all countries of Portuguese language, as well as other countries written in Portuguese, English and Spanish. The Editorials, the articles of Homage and articles of cultural scope are published under request of the Direction of the journal. The Journal publishes original articles, review articles, case reports and opinion articles. The articles submitted must not have been published previously in any form. The opinions therein are the full responsibility of the authors. Published articles will remain the property of the Journal and may not be reproduced, in full or in part, without the prior consent of the editors. MANUSCRIPT Manuscripts for publication should be addressed to the editor of the journal: NASCER E CRESCER, Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto to [email protected] Manuscripts should be saved in Word and must be accompanied by the declaration of authorship by all authors. Submitted articles should follow the instructions below, and are subject to an editorial screening process based on the opinion of at least two anonymous reviewers. Articles may be: a) accepted with no modifications, b) accepted with corrections or modifications, c) or rejected. This is based opinion of at least two reviewers who review anonymously. Authors will always be informed of the reasons for rejection and of the comments of the experts. INFORMED CONSENT AND APPROVAL BY THE ETHICS COMMITTEE It is responsibility of the authors to guarantee the respect of the ethical and deontological principles, as well as legislation and norms applicable, as recommended by the Helsinki Declaration. In research studies it is mandatory to have the written consent of the patient and the approval of the Ethics Committee, statement of conflict of interest and financial support. MANUSCRIPT PREPARATION Nascer e Crescer complies with the recommendations of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated July 2011). All the components of the paper, including images must be submitted in electronic form. The papers must be presented as following: 1 - Title in Portuguese and English; 2 - Authors; 3 - Abstract in Portuguese and English and keywords; 4 - Text; 5 - References; 6 - Figures; 7 - Tables; 8 - Legends; 9 – Acknowledgements and clarifications. Pages should be numbered according the above sequence. If a second version of the paper is submitted, this should also be sent in electronic format. TITLE AND AUTHORS - The title should be concise and revealing, written on the first page, in Portuguese and English, not mentioning the identification of the institution where the study was held. - The indication of the authors should be made by the clinical name (s) or with initial (s) (s) first (s) name (s), followed by the surname and should include professional affiliations. - At the end of the page must include: organizations, departments or hospital services of the author(s); the name of the Institutions where the study was performed; the contact details of all authors (postal address, electronic address and telephone). ABSTRACT AND KEYWORDS - The abstract should be written in the same language of the text and always in Portuguese and English. Do not use abbreviations. - Original articles should contain no more than 250 words and the abstract should consist of labelled Background, Material and Methods, Results and Conclusions. - Review articles should contain no more than 250 words and must be structured: Introduction, Objectives, Development and Conclusions. - Case Reports should contain no more than 150 words and the abstract should consist of labelled Introduction, Case report and Discussion/ Conclusions. - Each abstract should be followed by the proposed keywords in Portuguese and English in alphabetical order, minimum of three and maximum of ten, as a basis for indexing Article. Use terms from the Medical Subject Headings from Index Medicus (MeSH). TEXT - The text may be written in Portuguese, English, French or Spanish. - The original articles should contain the following sections: Introduction; Material and Methods; Results; Discussion and Conclusions. - The structure of review articles should include: Introduction; Objectives, Development and Conclusions. - The case reports should be unique cases duly studied and discussed. They should contain: a brief Introduction, Case description and a succinct discussion including a summary conclusion. - Any abbreviation used should be spelled out the first time they are used. When used more than six, it is recommended to include a table where all be specified. Abbreviations are not accepted in the titles of papers. - Parameters or values measured should be expressed in international (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), using the corresponding abbreviations adopted in Portugal. - Numbers 1 to 10 should be written in full, except in the case of decimals or units of measurements. Numbers above 10 are written as figures except at the beginning of a sentence. - With regard to the results, the information should not be referred to in duplicate in the text and tables / charts, being enough emphasize the text cited in the main figure. REFERENCES - References should be noted in the text with subscript Arabic numbers, in order from the first citation. - Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: 4-7). They should be limited to 40 for original papers, 15 to case reports and 80 to review articles. - The journal complies with the reference style in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). Abbreviate journal titles according to the List of Journals Indexed in Index Medicus. Authors should consult NLM’s Citing Medicine for information on its recommended formats for a variety of reference types. Examples: a) Journal: list the first six authors followed by et al to surpass 6, title of the article, name of the journal, year, volume, pages. Ex: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el-Hazmi M, el-Swailam M, et al. normas de publicação instructions for authors 201 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622-65. b) Chapters of books: author(s), title of the chapter or contribution, name and initials of the editors, title of book preceded by ‘In:’, number of edition, city and name of publisher, year of publication, first and last page of the chapter. Ex: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Book: author(s), title of book, number of edition, city and name of publisher, year of publication, page. Ex: Jenkins PF. Making sense of the chest x-ray: a hands-on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d) Online reference: Journal article on the Internet: Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. January, 2010. (Accessed 8 May 2013). Available at: http://www.uptodate.com. TABLES AND FIGURES - All illustrations should be in digital format of high quality. - Each table and figure should be numbered in sequence, by Arabic numerals, in the order in which they are referenced in the text. They should each have their own page and bear an explanatory title and caption when necessary. - All abbreviations and symbols need a caption. - If the illustration has appeared in or has been adapted from copyrighted material, include full credit to the original source in the legend and provide an authorization if necessary. - Any patient photograph or complementary exam should have patients’ identities obscured and publication should have been authorized by the patient or legal guardian. - The total number of figures or tables must not exceed eight for original articles and five for case reports. Figures or tables in colour, or those in excess of the specified numbers, will be published at the authors’ expense in the paper version. ACKNOWLEDGMENTS AND CLARIFICATIONS The acknowledgments and the conflict of interests must be published at the last page. All authors are required to disclose all potential conflicts of interest. All financial and material support for the research and the work should be clearly and completely identified in an Acknowledgment section of the manuscript. MODIFICATIONS AND REVISIONS If the paper is accepted subject to modifications, these must be submitted within fifteen days of notification. Proof copies will be sent to the authors in electronic form together with an indication of the time limit for revisions, which will depend on the Journal’s publishing schedule. Failure to comply with this deadline will mean that the authors’ revisions may not be accepted, any further revisions being carried out by the Journal’s staff. LETTERS TO THE EDITOR Letters to the Editor should be a comment to scientific manuscript or a small note about an important new clinical practice. A letter should not exceed 500 words and have a maximum of 5 references. FORM OF MANUSCRIPTS Abstract Article Original articles Case Reports Review articles Letters to the Editor 202 Maximum words 250 150 250 Sections Keywords (Portuguese and English) Text Maximum words (excluding References and Tables) Sections Tables and Figures References Maximum Maximum 8 40 . Background . Methods . Results . Conclusions 3 a 10 5000 . Introduction/Aim . Methods . Results . Discussion . Conclusions . Introduction . Case report . Discussion/ Conclusions 3 a 10 2500 . Introduction (short) . Clinical Case . Discussion (including conclusions) 5 15 3 a 10 5000 . Introduction . Methods . Main text . Discussion (including conclusions) 8 80 _ 500 _ 5 . Introduction . Aim . Results . Conclusions _ normas de publicação instructions for authors _ _