Esta é uma cidade que já não é “a Oriente”, essa expressão só
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Esta é uma cidade que já não é “a Oriente”, essa expressão só
B r o k en S t r a n g e r s Be i jin g — T iag o S ilva N une s www.tiagosilvanunes.com P r es s R e l ea s e Inauguração | 19 Junho 2012 | 19h00 Esta é uma Cidade que já não é | Maria do Carmo Serén Esta é uma cidade que já não é “a Oriente”, essa expressão só portuguesa que falava de um exotismo conquistado, de uma apropriação de mercador e soldado viajante. A Oriente de que Ocidente? Em 7 mágicos dípticos, duas vezes sete imagens conflituam na luta da globalização e dos conflitos da imagem fotográfica. E, como sempre acontece na habituação dos gestos e das atitudes, (e é essa a magia da contaminação), há perdas e ganhos mas uma nova identidade. Uma complexa, intangível identidade que se veste de uma aparente ocidentalização e, em paralelo, uma estranheza que a Fotografia, rompendo e fraccionando o mundo, lhe atribui e, rasgando a continuidade e a ordem das coisas, nos dificulta o olhar. A selecção não é, naturalmente, neutra. Identifica a intimidade do sujeito do fotógrafo com os valores e males deste nosso Ocidente em crise de memória. É o esplendor negativo das nossas cidades tóxicas, criadas para manter a ordem do lucro, das coisas e dos homens em pouco espaço: os prédios em altura de frieza modernista, o aparcamento pago, os jardins de oxigénio para o jogging dos que cuidam do corpo, os condomínios de “resort” dos ricos, o alcatroado, as habitações inglórias e os equipamentos standard da circulação. Nestas aglomerações funcionais que o homem constrói e dizemos sem humanidade, o mesmo homem isola-se com os seus devaneios, fecha-se em si, parte: a solidão é o nosso corolário da vida utilitariamente programada. Em busca da intangibilidade, da estranheza do diferente, daquela alma que cada cidade constrói para se sentir em casa, o fotógrafo escolheu os contrapontos que poderiam contaminar esse destino global e que nos surgem como uma velha estampa chinesa: os jardins onde árvores lânguidas se organizam no espaço para serem olhadas na sua fragilidade, os pequenos santuários da Natureza, o amontoado de periferia dos seus hutongs, velhos bairros aristocráticos agora desolados e erodidos mas ostentando, por vezes, a sua baronia, - pedras lavradas, entradas destacadas, perdidas entre arranjos apressados, o ritual na entrada daquela jovem, enfim, a Pequim da nossa literatura exótica. É pois uma cidade de signos, onde os próprios signos nos são mostrados na ambivalência dos dípticos para gerarem a compreensão do novelo onde entrançamos a vida e o futuro. Eles mesmos interpretados de antemão, porque a fotografia, que não vive sem figuração e sem criar referentes é, antes de tudo, o sujeito que manipula, enquadra, corta, isola e compõe as imagens. Esse sujeito que cria sentido é, também ele, manipulado, enquadrado, cortado, isolado e composto pelas suas crenças, pelo imaginário que se afirma com a comunidade de base. E, naturalmente, pela sua aprendizagem do meio técnico e social onde se fabricam e distribuem as imagens . O Ocidente constrói-se através de dicotomias, de bem e mal, de belo e feio, aberto fechado; afirmou o sujeito mas perdeu a Natureza no interior da paisagem. Hoje sabe da exigência da diversidade e da inevitabilidade da contaminação. O tempo falsifica as certezas e a continuidade das coisas perde-se no meio das novas soluções. Dicotomias são meros sistemas de classificação e o sentido das coisas e das ideias parte apenas dos afectos e dessas conjecturas pregnantes que o mundo nos proporciona num primeiro e incerto olhar: o que faz a rapariga num barco sem destino? Para quê o guarda-chuva da outra num dia de Sol? O que leva esses jovens, em qualquer parte do mundo como aqui em Beijing a trilharem qualquer torre de Babel para atingirem o céu? O que impele o fotógrafo a terminar a sua série com um regresso a uma Natureza de papel de prata, fluindo para a jovem que a contempla? E se o enredo desta selecção de imagens nos pode levar a diversas reflexões e devaneios cognitivos, a sua sedução repousa nesse olhar primeiro: são imagens de afecto que não voltarão a repetir-se. Nota Biográfica | Tiago Silva Nunes Tiago Silva Nunes é um fotógrafo e realizador cujo trabalho explora a relação entre Cidade, Espaço e Paisagem de um ponto de vista ficcional. O seu trabalho fotográfico está presente na colecção BESArt e Agatha Ruiz de la Prada e é representado pela Galeria Fonseca Macedo. O seus filmes já foram mostrados no Raindance em Londres, IndieLisboa, Festival de São Paulo e Illumenation Helsinki. Desde 2010 que desenvolve o projecto Broken Strangers que explora o tema da relação entre o Homem, o Urbano e a Natureza em quatro metrópoles contemporâneas: Londres, Lisboa, Beijing e Rio de Janeiro. Estudou arquitectura e cinema em Lisboa, Veneza e Amsterdão. Vive e trabalha em Lisboa. Exposições Individuais 2011 Arquivo Fotográfico de Lisboa | Os Dias Que Passam 2010 Fonseca Macedo | Broken Strangers (Places) Encontros da Imagem Braga | Broken Strangers (Places) Monografias | Edições de Autor Broken Strangers Beijing | Diptych Portraits from Contemporary China Os Dias Que Passam | Cenas da Vida nas Ruas de Lisboa, Guincho e Outros Lugares Broken Strangers (Places) | Diptych Portraits from the English Picturesque All The Things We Long For | Six American Short Stories Residências Artísticas 2011 Three Shadows Contemporary Art Centre | Beijing, China /// www.tiagosilvanunes.com 2 Selecção de Imagens /// www.tiagosilvanunes.com 3