A celebração do progresso
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A celebração do progresso
Origens A celebração do progresso Palácio de Cristal,1851 Ac e rvo Victoria & Albert Mu s e u m I dealizada pelo príncipe Alberto para comemorar o progresso e a paz entre os povos, a primeira grande feira universal, a Great Exhibition of the Work of Industry of all Nations, celebrava em 1851, em Londres, a Revolução Industrial. No Hyde Park, local escolhido para o evento, foi erguida uma estrutura pré-moldada de ferro e vidro, bastante arrojada para a época, conhecida como Palácio de Cr i s t a l . Assim, em múltiplos pavilhões, mais de 6.500 expositores de vários países exibiam suas maravilhas: esculturas italianas, peles e canoas do Canadá, perfumes, tapeçarias, porcelanas francesas e até mesmo um elefante indiano empalhado - belos exemplos de uma imensa gama de produtos apresentados aos curiosos visitantes. Em meio a tantas diversidades, destacava-se o pavilhão britânico, não apenas por ocupar metade do Palácio de Cristal, mas principalmente pela seção especial dedicada às novas máquinas: martelo a vapor, prensa hidráulica, teares mecânicos, locomotivas e outros artefatos fabricados pelo país que na é p o c a era chamado de “a oficina mecânica do mundo”. Em meados do século XIX, a Revolução Industrial propagou-se num ritmo acelerado da Inglaterra para outros países. O pro g resso e a tecnologia, portanto, continuaram a ser celebrados em novos eventos, estendendo-se por cidades como Paris, Chicago, Filadélfia e Frankfurt. Dentre outras novidades, a eletricidade surgiu como uma moderna fonte de energia, transformando a força mecânica em corrente elétrica. 17 Em 1881, ao mesmo tempo em que era realizado o I Congresso Internacional de Eletricidade, Paris sediou a I Feira Internacional de Eletricidade, exibindo surpresas como o telefone e o automóvel elétrico. Alguns anos depois, na famosa Exposição Un i versal de 1900, a capital francesa atraiu, em apenas seis meses, milhões de visitantes. No dia da inauguração, cerca de 5 mil pequenas lâmpadas iluminaram o Palácio da Eletricidade. Diante do cenário deslumbrante, um público perplexo e maravilhado aplaudia essa nova energia, prolongando a festa noite adentro. A eletricidade consagrava-se então como um dos maiores símbolos da modernidade. Responsável pelo aprimoramento da iluminação pública, dos transportes e dos novos meios de comunicação, tornou-se o ícone dos novos tempos. Na Europa e nos Estados Unidos surgiram algumas das grandes empresas de geração e distribuição de eletricidade: a Siemens e a AEG - Companhia Geral de Eletricidade (Allgemeine Elektricitäts-Gesellschaft), na Alemanha; a General Electric, a Western Electric Company e a Westinghouse, nos EUA. Em 1889, em Paris, outra exposição u n i versal comemora va o centenário da Re volução Francesa quando apresentou ao mundo a Torre Eiffel. Durante a exposição, a torre tinha sua iluminação a gás, mas seu construtor, Gu s t a ve Eiffel, utilizou a eletricidade para iluminar o farol situado em sua parte mais alta. Coleção Torre Ei f f e l O Pavilhão Britânico do Palácio de Cristal impressionava o público, pois e vo c a va um futuro no qual a energia a vapor substituiria cada vez mais o trabalho humano. Ac e rvo Victoria & Albert Museum 18 19 Origens Os objetos precursores Os aparelhos que hoje denominamos eletrodomésticos são filhos diletos da Revolução Industrial. Esses artefatos, presença obrigatória em quase todos os lares modernos, representam mais um grande passo no processo de mecanização e agilização do trabalho doméstico. In t e ressante lembrar que vários objetos precursores dos atuais eletrodomésticos já se faziam presentes em muitos lares da Europa e dos EUA, desde o século XIX. Máquinas de lavar mecânicas, geladeiras que nada mais eram do que grandes armários com um compartimento para guardar gelo, máquinas de costura manuais e ferros de passar a carvão são alguns dos exemplos de artefatos, verdadeiras engenhocas criadas com o objetivo de facilitar as tarefas domésticas. Com a tecnologia da energia elétrica e o i n c remento da sua distribuição nas residências, bastava acrescentar um pequeno motor à maioria desses objetos para transformá-los nos primitivos eletrodomésticos. Nesse contexto, as empresas que forneciam eletricidade logo perceberam as possibilidades de desenvolver um mercado para uma nova categoria de produtos, isto é, anteviram nos eletrodomésticos uma forma de aumentar o consumo e, portanto, de viabilizar a comercialização da eletricidade. Rapidamente entenderam que, ampliando os usos da energia, todos lucravam com a venda dos motores e dos recém-criados produtos eletrodomésticos. No início, a grande rainha dos lares era a cozinha. Como abrigava a maior quantidade dos novos aparelhos elétric o s , era comparada a uma pequena fábrica que utiliza as mais diferentes matérias-primas para produzir refeições. Prova velmente, foi pela porta da cozinha que o desenho industrial ingressou no ambiente doméstico. 20 Fe r ros de passar roupa a carv ã o. Coleção e foto Pe d ro Oswaldo Cruz Pr i m e i ra máquina de costura doméstica Si n g e r, 1851. Ac e rvo Si n g e r Máquina de lavar roupa manual. Fabricada pela Nineteen Hu n d red Company, modelo ID 548, 1903 Coleção Lee Ma x we l l Aspirador com sistema mecânico. Modelo Duntley Pneumatic Hand Cleaner Coleção Bob Kautzman Máquina de lavar roupa manual. As p i rador com sistema mecânico. Fabricada pela Maytag Company, modelo ID 672, 1909 Coleção Lee Ma x we l l Modelo Regina A Coleção Bob Kautzman 21 Origens O aspirador com sistema de fole, o fonógrafo de Edison, a geladeira com armazenamento para gelo com o objetivo de conservar alimentos, o ferro de passar a carv ã o, o gramofone, a máquina de lavar roupa e a máquina de costura manuais são alguns exemplos dos objetos p re c u r s o res dos eletrodomésticos. Gramofone. Coleção Leonardo Es t e ves Foto Pe d ro Oswaldo Cruz Vi t rola portátil movida a manive l a . Coleção Leonardo Es t e ves Foto Pe d ro Oswaldo Cruz 22 Fo n ó g rafo Edison St a n d a rd , 1 9 0 1 Detalhes do mecanismo e a c o rneta de amplificação do som. Coleção Augusto Be n c h i m o l Foto Pe d ro Oswaldo Cru z Coleção Alceu Massini. Foto Renato Riso. Re p rodução do texto da etiqueta original com instruções de uso da geladeira. “FUNCCIONA MELHOR: DEIXANDO O GELO LIVRE - RETIRANDO O DEGELO DIARIAMENTE NÃO DEPOSITANDO ALIMENTOS QUENTES EMERGINDO A MANTEIGA N’ÁGUA FECHANDO AS P O RTAS COM BREVIDADE.” Coleção Augusto Be n c h i m o l Foto Pe d ro Oswaldo Cruz 23 Origens Os primeiros eletrodomésticos Coube aos Estados Unidos a primazia de produzir em larga escala para o mercado os primeiros modelos de eletrodomésticos. Nas décadas de 1 8 8 0 e 1890 surgiram ventiladores de teto, seguidos por máquinas de lavar, ferros de passar e cafeteiras. Já em 1900 a Sears Roebuck publicava seu primeiro catálogo de implementos elétricos e, por volta de 1913, a Western Electric Company a m p l i a va a sua oferta de produtos, oferecendo torradeiras e aspiradores de pó para uma clientela em franca expansão. Os aspiradores de pó elétricos, que surgem por volta de 1907, logo se popularizaram na vida doméstica. Na Eu ropa, mais especificamente na Alemanha, a AEG – Companhia Geral de Eletricidade - foi uma das pioneiras na fabricação de eletrodomésticos. Ao abrir seu capital em 1889, a AEG organizou uma exposição de objetos elétricos, como chaleiras e um curioso acendedor de cigarros destinados ao uso doméstico. Em 1894 já fabricava cafeteiras elétricas e, na entrada do novo século, seu catálogo de e l e t rodomésticos contava com mais de 80 produtos. As primeiras máquinas Singer apresentavam formas extremamente simples e despojadas. Versões posteriores, destinadas ao uso doméstico tendo como público-alvo o segmento f e m i n i n o, adotaram formas a r redondadas e ornamentos f l o rais de modo a incrementar o apelo comerc i a l . Ac e rvo Si n g e r, 1921 Máquina de lavar ro u p a . Fabricada pela Maytag Company. Modelo ID 600, 1921 Coleção Lee Ma x well Em muitos desses primeiros eletrodomésticos, a aparência não parecia ser a prioridade maior dos fabricantes nem tampouco dos profissionais que desenhavam esses objetos. Motores e mecanismos eram expostos, como a atestar a engenhosidade dessas máquinas domésticas, em detrimento da sua imagem. As primeiras geladeiras elétricas com o motor na parte superior, as volumosas lavadoras de roupa ou os desajeitados aspiradores de pó são alguns exemplos. Ou t ros objetos, ao contrário, eram desenhados de modo a ocultar sua herança industrial e apresentavam uma forma por vezes excessivamente ornamentada. Essa prática comum em muitos dos primeiros aparelhos elétricos possuía o objetivo de evocar o mundo artesanal que a era industrial ameaçava apagar, em outras palavras, o excesso de ornamentos no design de muitos eletrodomésticos representava um apelo ao público no sentido de resgatar a imagem artesanal das peças em plena modernidade industrial. Essa geladeira elétrica possui quase a mesma forma das primeiras sem eletricidade. A diferença mais marcante é o acréscimo do motor na parte superior. Esta semelhança atesta a falta de re f i n a m e n t o no design desses aparelhos. Coleção Augusto Benchimol Foto Pe d ro Oswaldo Cruz Kwick-kleen modelo M Sandart Vacuum Manufacturing Co. Cleveland,OH 25 Origens